2 A Mulher que Amei - Soares - Aline Padua

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A mulher que amei Trilogia Soares – Livro 2 Aline Pádua

Copyright 2016 © Aline Pádua 1° edição – outubro 2016 Todo o enredo é de total domínio da autora, sendo todos os direitos reservados. Proibida qualquer forma de reprodução total ou parcial da obra, sem autorização prévia e expressa da autora. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Ilustradora: Queen Designer Revisão: Aline Pádua Diagramação: Aline Pádua

Sumário Sumário Nota da autora Sinopse Playlist Parte I Prólogo Capítulo I Capítulo II Capítulo III Capítulo IV Capítulo V Capítulo VI Capítulo VII Capítulo VIII Capítulo IX Capítulo X Capítulo XI Capítulo XII Capítulo XIII Capítulo XIV Capítulo XV Capítulo XVI Capítulo XVII Parte II Capítulo XVIII Capítulo XIX Capítulo XX Capítulo XXI Capítulo XXII Capítulo XXIII Capítulo XIV Capítulo XV Capítulo XVI Capítulo XVII Bônus Capítulo XVIII Bônus Capítulo XIX Capítulo XXX Capítulo XXXI Capítulo XXXII Capítulo XXXIII Capítulo XXXIV

Capítulo XXXV Epílogo Bônus especial Anexo I A quem amei para sempre Agradecimentos Contatos da autora

Nota da autora

A Trilogia Soares é composta por vários livros, e todos são interligados, porém cada um trata de um casal específico. Portanto é necessário ler o livro anterior para entender este.

Sinopse Castiel Soares ao contrário do que muitos pensam sempre foi o mais centrado e obediente dos irmãos. Cometeu erros como qualquer ser humano e alguns deles atormentavam seu sono... Até conhecê-la. Danielle Campos sofreu uma grande perda no passado que transformou sua vida completamente. E mesmo com a dor que sentia nunca deixou nenhum sentimento ruim a corroer... Até conhecê-lo. Ele pensou que ela seria sua salvação. Ela quer de todas as formas sua destruição. Um sentimento arrebatador entre a linha tênue do amor e do ódio. Qual falará mais alto?

Playlist Dancing on my own – Callum Scott Don’t you remember – Adele Lady – Lionel Richie One and Only – Adele Seize the day – Avenged Sevenfold Simple Man – Lynyrd Skynyrd Stone Cold – Demi Lovato Take me to church – Hozier



Parte I “O meu grande amor não foi escolhido, assim como o da maioria. Ele veio sem pedir passagem e muito menos me deu escolha. Ouvi uma vez que os grandes amores são covardes, e o meu caso não foge a essa regra.” - Danielle Campos



Prólogo

Danielle

No futuro Lágrimas grossas rolam pelo meu rosto. O olhar gélido e ao mesmo tempo magoado de Castiel me persegue, não importa para onde eu corra. Encosto-me na beirada da grande pia do banheiro e desabo. Deixo-me quebrar. Não foi ele! — Por que, Annie? — pergunto, encarando o espelho. Sei que as respostas não virão, sei que não há como entender nada disso. Mas eu não consigo acreditar. Não dá. Sem mais forças, deixo meu corpo desabar no chão frio do banheiro do hospital. Levo as mãos à cabeça e choro. Tudo o que me neguei chorar quando perdi minha irmã um dia. Mas ao invés de lembranças sobre ela me atormentarem, o que vem em minha mente, são os piores momentos ao lado de Castiel. Os quais, eu o humilhei, o julguei, o machuquei... Ele não se afastou, ele continuou ali... Por que? Porque ele realmente me ama, como sempre disse. Ele não ficou comigo por pena ou por culpa, ficou por amor. E é tarde demais para enxergar isso. Encosto a cabeça no azulejo frio e limpo o rosto de qualquer jeito. Meu corpo paralisa por alguns instantes, tentando absorver tudo. Busco em minhas memórias algum deslize de minha irmã, qualquer indício... Mas não há nada. Ela nunca sequer o citou. — Não consigo entender. — digo para o vazio. Encaro meus dedos e começo a divagar sobre todos meus erros. Sobre todos os momentos felizes que perdi, por ter sido tão rudemente enganada. E assim, perder Castiel. Seu olhar há minutos atrás, deixou claro que não tinha volta. Que se insistíssemos nisso, voltaríamos a ter mais três anos de tristeza. Mas eu não consigo aceitar. Lembro dos dias felizes, dos sorrisos ao seu lado, de quando o conheci...

Eu sempre soube que era ele. E sempre será. Sempre pensei que Castiel Soares fosse a minha maldição nessa vida, mas pelo contrário, ele se tornou a minha salvação.

Capítulo I

Danielle

No presente Acordo assustada com o som de uma voz me chamando. Miro meus olhos para cima e encontro um dos seguranças da casa, me encarando um pouco sem jeito. — Algum problema? — pergunto preocupada. — Desculpe acordá-la, senhorita Campos. — diz formalmente. — É que o irmão do senhor Soares está na porta, e ainda ninguém abriu. — Mas por que Chris não entrou? — pergunto confusa. — Tudo bem, estou indo lá. Obrigada. O segurança assente e dá passos para longe de mim. Ajeito meus cabelos, que devem estar parecendo um ninho devido ao modo como dormi nessa rede no jardim. Pego o livro que acabou me acompanhando em meu sono e entro na casa. Ouço o soar da campainha e bufo sozinha, enquanto me encaminho até o causador do som. O que será que deu em Chris hoje? Passo pela cozinha e vejo Vic sentada na bancada, com um papel em mãos. Noto que há lágrimas em seus olhos, mas que ela desajeitadamente, tenta disfarçar. — Me desculpe a demora, Vic. Acabei apagando na rede do jardim e só acordei quando um dos seguranças praticamente me jogou dela. — justifico-me e ela me encara zombeteira. Ok, exagerei! — Não sei porque está se desculpando. — zomba. — Já disse que não é a governanta dessa casa, você trabalha fora há tempos Dani, não precisa ficar... — É o mínimo que posso fazer por ainda atormentar você e Caleb. — a corto. — Porém, com o dinheiro que estou guardando, logo vou conseguir comprar um apartamento e... — Você sabe muito bem que nunca atrapalhou nada, aliás precisamos conversar. — diz e suspira fundo. — Eu acabei de saber que... — a campainha soa novamente. — Um minuto! — grito e corro em direção a sala.

Já com o verbo na ponta da língua, para irritar Christopher por essa besteira de apertar a campainha, abro a porta de uma vez. Os olhos verdes do homem a minha frente são um enigma para mim. O queixo quadrado com a barba por fazer, e os cabelos negros bem aparados despontam por sua testa. Ele leva a mão ao queixo e passa dois dedos por ali, abrindo um sorrio cínico, que me faz queimar por dentro. — Quem é você? — pergunto assustada. — O amor da sua vida, quem sabe? — zomba e minha expressão para ele ganha outro foco. Babaca! — Quem é você? — insisto. — Castiel Soares, ao seu dispor. — faz uma reverência e sem que eu possa evitar, pega minha mão direita e a beija. Sinto meu coração bater freneticamente e então puxo minha mão rapidamente. — E você, loira? — Que original! — bufo. — Posso chamá-la de feiticeira. — continua me encarando profundamente. Seu rosto me é familiar, e só agora me lembro do que o segurança disse. “O irmão do senhor Soares está na porta...” — Como entrou aqui? — pergunto, e dou um passo para trás da porta. — Sou parte dessa família também. — diz e seu semblante muda por completo. — Nunca me disseram nada... — respiro fundo e dou dois passos para trás. Fechando a porta em seguida, na cara dele. Disco pelo interfone para a segurança e eles me asseguram que o homem parado a minha porta é um dos irmãos de Caleb... Quem diabos é Castiel Soares? Vou em direção a cozinha e encontro Vic no mesmo lugar. Ela me encara com as sobrancelhas arqueadas. Pareço tão mal assim? — Pela sua cara, alguém não muito bonito está aí. — brinca, porém a encaro brava. — Quem está aí? — O irmão de Caleb. — digo, e sem conseguir evitar retorço o rosto. Ok, não engoli esse cara. —O que Chris fez para odiá-lo tanto assim e não o deixar entrar? — pergunta, obviamente não entendendo minha expressão. — Não é Chris. — explico. — É um tal de Castiel.

O rosto de Victória se torna pálido no mesmo instante. — O que? — praticamente grita. Ela o conhece? — Não entendi muito bem, nunca ouvi falar nele. Porém, um dos seguranças me assegurou que ele mostrou a identidade e como Caleb deixou livre a entrada dos irmãos... — Vamos lá! — bufa e se levanta, passando por mim. Assim, a sigo. — Dani! — diz de repente. — Fique longe dele, ok? — Ok, mamãe. — zombo, sem entender. Ela então abre a porta. Os olhos verdes praticamente se prendem em mim, e eu reviro os olhos. Mesmo sentindo minhas mãos gélidas, não consigo entender que droga de efeito esse cara tem sobre mim. Ele então, sorri cinicamente e pisca em minha direção. Idiota! — O que quer aqui, Castiel? — Vic pergunta. A encaro desconfiada. Ela realmente o conhece. — Por que essa agressividade morena? Meu irmão não está fazendo o serviço direito, estou por aqui agora caso... O encaro perplexa e sinto um raiva descomunal. Ele dá em cima de todo mundo? — Direto ao ponto, Castiel! — agradeço a Vic mentalmente por cortá-lo. Não sei porque, mas o modo que ele fala com ela, me incomoda profundamente. — Bom, vim fazer uma visitinha ao meu querido e amado irmão mais novo. Ele está? — ele pergunta. Os dois continuam a conversar e eu apenas presto atenção no homem a minha frente. Seus traços são fortes como os de Caleb, ambos, muito parecidos com o pai. Mas os olhos de Castiel são diferentes, completamente. Em poucos minutos ele se despede e praticamente corre pra fora da casa. — Ele é mesmo irmão de Caleb? — pergunto e Vic assente. — Ele é um idiota. — constato. Victória vai em direção a um dos seguranças e eu apenas observo de longe. — Onde está indo? — pergunto, ao ver que ela pede um táxi. Ela apenas manda beijos e desaparece pelos portões. Por não entender muito do que está havendo, corro para dentro de casa e

abro meu notebook. Procuro o nome “Castiel Soares” , mas aparecem pouquíssimas informações. Fotos antigas de quando ele era mais novo, em um evento da empresa dos pais. Ao menos descubro sua idade, 42 anos. Apenas sete anos mais velho... Foco, Danielle! Caleb está ao lado dele em uma foto, onde os dois sorriem amigavelmente. Como eu nunca vi isso antes? Isso que dá não ser ligada no mundo virtual. Pesquiso mais um pouco, mas não encontro nada de concreto. Não sei por que, mas Castiel despertou um interesse em mim, como algo a ser desvendado. Mas sinto também, que algo por aqui, está prestes a mudar.

Capítulo II

Castiel Ligo para Isaac e ele me informa a localização de Caleb. Já havia um tempo que tínhamos começado a rastrear o celular de meu irmão, tudo isso pela sua própria segurança. Depois de vinte anos vindo ao Brasil escondido de meus irmãos, mentindo para todos sobre meu paradeiro, poder estar em casa novamente é como o céu e o inferno ao mesmo tempo. Não sei como vou encarar meu irmão e lhe contar sobre o que descobri, mal sei como ele vai reagir ao descobrir sobre o passado de nossos pais. Mas dessa vez, ele merece saber. Quando finalmente estaciono na frente do prédio, pago o taxista e respiro fundo antes de sair do carro. O diferente clima me atinge, os dias nublados de Londres me fizeram desacostumar com o calor do Rio. Disco o número de Isaac, que me atende no mesmo instante. — O encontrou? — pergunta. — Têm seguranças na recepção, estão disfarçados. — digo. — Eles já estão avisados sobre você, e já falei com o porteiro para liberar sua entrada. Quarto 402, quarto andar. — Ok, obrigado amigo. — desfaço a ligação. Passo pelos seguranças e me encaminho até o elevador. Assim que as portas se fecham, um filme passa por minha cabeça. Só consigo pensar em Jô, a mulher que praticamente foi minha mãe quando ainda era jovem, e em seu estado atual. Vê-la em uma cama de hospital, parte meu coração. O elevador para e as portas se abrem. Dou passos incertos até o quarto de meu irmão e tento me concentrar no que dizer. Oi, não temos a mesma mãe. Ah, e nosso irmão pode estar correndo perigo, pois está se relacionando com a filha da minha mãe biológica. A qual, suspeito ser a culpada pela falência de nossa família anos atrás. Droga! Respiro fundo e toco a campainha de uma vez. Assim que a porta se abre, noto a raiva no rosto de meu irmão. Eu queria poder explicar a ele tudo o que houve no passado, fora o que estou desconfiado agora, mas seu olhar frio me deixa sem fala.

Sorrio cinicamente pra ele, para tentar quebrar o clima, porém ele fecha os olhos subitamente. Antes que eu possa processar algo, sinto meu corpo sendo levantado e meu irmão bate comigo na parede. — O que faz aqui? — pergunta com raiva. — Olá irmãozinho, quanto tempo não? — pergunto indignado. Que recepção calorosa! — Sem brincadeiras Castiel, o que faz aqui? E como me encontrou aqui? — Se me soltar, será mais fácil de lhe dizer. — digo frustrado, mas meu irmão continua me segurando. Tenho duas opções, posso entrar em um embate com ele ou simplesmente tentar levar as coisas na paz. E pelo olhar raivoso de meu irmão, opto pela segunda opção. — Caleb, me solte! Não sei que bicho te mordeu, mas eu preciso conversar com você. — digo alto, porém ele parece ainda desconfiado a meu respeito. — Ok, eu sei que não confia em mim, mas é sobre Luna... — Não fale dela! — grita e segura meu pescoço com força. Tento afastá-lo, mas meu consciente não deixa. Ok, eu não vou machucar meu irmão. Sua raiva com certeza vem de algum lugar, e pela cara de Victória quando fui a sua casa, tem a ver com ela. Levanto meu olhar para o lado e me espanto ao encontrá-la vindo do elevador. Não sei se nesse momento sua presença é algo bom ou ruim. — Olhe só, quem veio participar da festa. — digo e Caleb afrouxa um pouco da pressão em meu pescoço. — O que faz aqui, Victória? — ele pergunta, finalmente me soltando. Levo as mãos a meu pescoço e tento respirar devagar. Ok, meu irmão é forte. — Queria saber o que fez Castiel voltar de Londres. — Victória diz, e só assim volto a realidade. — Responda logo o que quer Castiel, ou eu mesmo te coloco no próximo voo pro Alasca. — Caleb praticamente rosna. A tensão entre os dois é notável, e não consigo não sorrir da cena. Mas assim que noto os punhos fechados de meu irmão me arrependo. Ele então, me acerta no rosto. Merda! De onde ele tira tanta raiva e força? Eu havia me esquecido de como ele é explosivo e sequer pensa nesses momentos. — Por Deus, Caleb, não faça isso. É isso que ele quer. — Victória

intervém e eu agradeço por isso. Ok, vou ter de atuar na frente dela. Pois não sei se meu irmão vai querer que ela saiba de tudo por mim, sendo que nem eu ainda consigo discernir tudo que descobri. Hora do show! — Ah então agora você defende o maridinho querida cunhada, sabe tudo o que ele esconde ou quer que eu conte? — pergunto e no mesmo instante me arrependo. Mas preciso fazer isso, ela ainda não pode saber sobre tudo. Tomara que eu seja realmente um bom ator, como na época de colégio. — Eu apenas sei que você é um ser humano miserável que teve coragem de querer matar a própria filha! — grita com raiva e tenta vir pra cima de mim. Suas palavras me atingem em cheio, tenho vontade de gritar o contrário, mas ainda não tenho certeza de nada. E nada justifica ter abandonado Annie naquela época, pois eu não tinha ideia disso antes. Respiro fundo e começo a bater palmas, assim digo: — Nossa, que lindos, o casal perfeito! Mas finalmente chegamos ao ponto que eu queria. — Qual? — Caleb grita, enquanto segura a esposa pela cintura. — Luna. — solto o ar, pois nunca sequer pensei em ter que dizer isso a meu irmão. — O que quer com nossa filha? — pergunta gritando. — Minha filha. — respondo e tento manter a expressão fria. — Ficou louco? — Caleb pergunta e vem pra cima de mim. — Não irmãozinho, apenas voltei para pegar o que é meu. O clima fica ainda mais tenso e meu irmão começa a me bater sem parar. Quero revidar mas sei não devo, sei que ele está agindo assim pois realmente acredita que sou capaz de alegar algum tipo de paternidade por Luna. Mas eu jamais farei isso, ainda mais porque fugi disso o tempo todo. E hoje, ela é filha de Caleb e Victória. — Caleb! Para! Para! — Victória grita, mas de nada adianta. Meu irmão ao mesmo tempo que me pune por minhas palavras, está descontando sua raiva por algo. Sei disso, pois apenas consigo controlar minhas explosões descontando minha raiva em alguma outra coisa depois, e essa coisa geralmente é um saco de pancadas.

Quando Caleb finalmente para, ele me joga contra a parede e grita: — Que fique bem claro. Fique longe da minha filha! Abro um sorriso, pois mesmo estando praticamente desfigurado por ele, não consigo me manter sério nesse momento. Olho para Caleb como quem diz “sei que não sou o único problema”. Como se entendesse meu olhar, ele soca com força a parede ao lado do meu rosto. Arregalo os olhos por perceber o quão afetado ele está. Merda! — Ouviu bem? — pergunta e entra no quarto, sem sequer esperar uma resposta minha. Levo as mãos a meu rosto e pego o celular no bolso. Meu reflexo é horrível, mas acho que mereço essa surra, por todas as porcarias que disse. Victória me encara por alguns instantes, abre a boca algumas vezes, mas logo entra no quarto de Caleb. A passos largos vou em direção ao elevador e tento organizar um pouco minha situação diante do espelho. Assim que saio do hotel, peço um táxi e me encaminho para meu apartamento. Ligo para Isaac e informo que ainda não consegui conversar com Caleb, pois Victória apareceu. Ele fica furioso mas entende que não podemos envolve-la nisso. Encaro meu celular e tento não olhar novamente no documento que tenho salvo, porém não consigo. Nele consta tudo sobre Luna Soares, até mesmo seu tipo sanguíneo, o que toda vez que leio, tento não acreditar ser real. — Merda! — exclamo. — Pode por favor, voltar duas quadras? — peço ao taxista que assente. Assim que ele para o carro em frente à casa de Caleb, tomo coragem de seguir em frente. Penso em ligar para Isaac para liberar minha entrada, mas os seguranças pedem minha identidade e confirmam com ele no mesmo instante. — Obrigado. — digo ao segurança a minha frente, e ele meneia a cabeça. A passos incertos, entro na imponente mansão e tento me lembrar de onde fica o escritório. Com certeza é lá que Caleb guarda os registros de Luna. Subo as escadas com cuidado, pois sei que eles não moram sozinhos, e assim, os olhos verdes ou azuis da mulher que me abordou mais cedo vem em minha mente. — Ei, o que faz aqui? — paraliso e me viro no mesmo instante. A dona dos meus pensamentos me encara feito uma leoa. Ou ela me odeia ou também está afetada. — Meu Deus! — exclama assustada.

— Estou tão mal assim? — pergunto e abro um sorriso pra ela. — Está péssimo. — diz e pega minha mão. Sinto meu corpo estremecer e ela solta um suspiro fundo. Ok, acho que ambos estamos afetados. — O que foi? — pergunto enquanto ela me puxa até um sofá. — Sente aqui, vou pegar o kit de primeiro socorros. — Não precisa se incomodar... — Não sei o que veio fazer aqui, mas não vai sair enquanto não estiver ao menos com esses ferimentos limpos. — toca de leve meu olho. — Por que não foi a um hospital? Pode ser algo grave e... — Me avaliei e percebi que não é tão sério assim. — É médico por um acaso? — pergunta zombando e sai no mesmo instante. Ela volta em poucos minutos e deposita a caixinha de primeiro socorros ao meu lado. — Sou. — digo e ela me encara sem entender, enquanto pega uma gaze do kit. — Han? — Sou médico. — seu semblante é impagável. Ela abre a boca pra dizer algo mas não sai nada, apenas fico observandoa, enquanto cuida de meus ferimentos. — O que veio fazer aqui? Victória não me pareceu muito feliz ao te ver, aliás ela foi atrás de você... — Bom, digamos que o encontro com Caleb não foi tão agradável. — brinco e ela me encara estática. — Ele que te bateu? — ela arregala os olhos. — Sempre imaginei que ele fosse forte mas nem tanto. — Eu não o enfrentei. — esclareço. — É complicado. — Imagino. — diz e finalmente sorri ao terminar seu trabalho. — Pronto. — Obrigado. — digo já me levantando. — Disponha. Ficamos nos encarando por alguns segundos e fico sem reação, tentando desvendar a cor de seus olhos e entender o que estou sentindo por essa mulher. Nenhuma mulher conseguiu estar sob minha pele antes, e um simples toque dessa me fez estremecer. — Posso tentar algo?

— O que? — pergunta desconfiada. — Me dê sua mão. — peço e ela estende com cautela. Assim que entrelaço nossos dedos, sinto meu coração bater mais forte e ela me encara assustada. — Me diz que não estou pirando sozinho. — Não entendo do que está falando, eu... — ela tira a mão. — O que veio fazer aqui? Pisco tentando entender sua reação, que mais que comprova o que desconfio. Há algo entre nós dois. — Vim ver se Isaac está por aqui, já que não o encontrei na casa dele. — minto. — Você não é muito bom mentindo. — diz e me encara séria. — É um assunto que não posso compartilhar, feiticeira. — ela cora e eu sorrio. — Por que me chama assim? — pergunta e eu me viro, a passos largos saio da mansão. Sem conseguir me concentrar em mais nada, a não ser os olhos dela, tenho a certeza de que ela me enfeitiçou. E algo dentro de mim mudou assim que ela abriu aquela porta.

Capítulo III

Danielle Divago sozinha sobre o que deu em minha cabeça de cuidar de um homem que sequer conheço, e que pior, Victória me pediu pra ficar longe. Sento-me no sofá e passo a mão esquerda sobre a direita, onde ele entrelaçou nossos dedos. Meu corpo ainda queima pelo toque dele e não sei a razão disso. Suas palavras me acertaram em cheio e ainda não sei dizer se de modo bom ou ruim. Pois de alguma maneira estranha, ele também sentiu algo. O silêncio na casa é notável, sei que nem Caleb e Victória ainda apareceram. Mas espero que ao menos estejam se estendendo, eles acham que não ouvi suas brigas, mas escutei boa parte. Pra mim já era óbvio o sentimento que Caleb tem por ela, mas não faço ideia do que Vic fará a respeito. Mesmo com preguiça, tomo coragem e me levanto. Vou até meu quarto no andar de cima e pego meu caderno de desenhos. Encaro o papel branco por alguns segundos, mas assim que pego o lápis, começo a esboçar algo. Quando termino, apenas consigo encarar o sorriso cínico de Castiel, e é impossível não sorrir também. Deito-me na cama, abraçada ao desenho e acabo mergulhando em pensamentos. Agradeço por estar de férias e não ter de acordar cedo amanhã. Enquanto encaro a folha, imagino o quão Castiel se parece com os vários modelos que vejo diariamente na revista. Ser uma das designers de capa não é algo fácil, mas é gratificante, ainda mais por ter conseguido entrar numa das melhores revistas do país. Ele seria o modelo perfeito que estão procurando para fazer par com a modelo do momento. Fecho os olhos com força ao imaginá-lo sem camisa abraçado a ela e um sentimento ruim se apodera de mim. O que está acontecendo comigo, afinal? E com o desenho dele agarrado a mim, acabo adormecendo.

*** Acordo com os raios solares entrando pela janela e tento me levantar.

Meu corpo parece ter sido destroçado e nem sei por que, já que não faço praticamente nada há alguns dias. Assim que estico as mãos, esbarro em um papel amassado e encontro o sorriso de Castiel. Isso parece perseguição! A passos lentos vou até o banheiro e tomo uma ducha fria. Assim que me seco, coloco uma roupa de ginástica e pego meu celular com os fones. Nada melhor que correr para acordar de verdade. Comprimento os seguranças e vou em direção a garagem. Por mais que pudesse correr pelo condomínio, sempre preferi correr no calçadão da praia, e como ainda são apenas 8 da manhã, o sol não está tão forte. Pego meu carro e logo estou de frente pro mar. Aqueço assistindo esse espetáculo da natureza, onde as ondas quebram e ao mesmo tempo parecem se abraçar. Talvez eu seja doida por pensar isso ou como Victória diz, uma poeta. Assim que já estou pronta, coloco meus fones de ouvido e ligo a música. Escolho Beyoncé para ser minha primeira companheira do dia e começo minha corrida. No meio do caminho já estou praticamente viajando junto a música e sem querer esbarro numa pedra no chão. Paro no mesmo instante para evitar cair, mesmo assim acabo tropeçando. — Droga. — murmuro quando bato de frente com alguém. Posso não tê-lo visto, mas é como se meu corpo o reconhecesse. — Acho que seus truques são mais fortes do que imaginei, feiticeira. Travo ao ouvir sua voz e me afasto no mesmo instante. Assim que levanto meu olhar, encontro Castiel me olhando zombeteiro, e com o sorriso cínico estampando no rosto. — Por que insiste em me chamar assim? — pergunto, tentando não focar meu olhar em seu peitoral desnudo. — Talvez porque ainda não sabe seu nome. — responde tranquilamente. — Duvido muito. — rebato. — Bom, confesso que pedi para Isaac informações sobre você, mas seu namoradinho não quis me passar... — O que? Namorado? Isaac? — gargalho alto. — Nem nessa vida, nem nunca. — Pensei que... — noto seu semblante envergonhado. — Não é porque ele não quis falar sobre mim que é meu namorado, ele apenas preservou minha imagem. — digo enfática. — Danielle.

— O que? — pergunta confuso. — Meu nome é Danielle. — ele sorri de lado. — Já sabe que sei seu nome, não é? Então me poupe disso. Ele faz uma careta e eu mesma não entendo o porquê de estar sendo rude. Mas é melhor me manter longe dele de qualquer forma. — Se fosse um cara qualquer poderia dizer que está me dispensando. — ele toca o queixo e sorri. — Mas deixa eu adivinhar, não é um cara qualquer? — zombo. — Até que sou. — dá de ombros, me deixando confusa. — Mas não tem porque me dispensar já que meu objetivo aqui não é dar em cima de você. — Eu... — gaguejo pela vergonha. Óbvio que um cara como ele não está interessado em mim. De onde tirei isso? — Nunca disse que você deu em cima de mim. — rebato. Ele sorri e então noto que estamos nos desafiando. — Bom, já que não há interesses a mais aqui, não se importa de tomar uma água de coco comigo, não é? — pergunta. — Ok, não tenho nada pra fazer mesmo. Vou caminhando ao seu lado, até que ele encontra um vendedor, tento impedi-lo de pagar minha água, mas ele simplesmente me corta. — Eu ia pagar. — digo indignada. — Bom, você paga o sorvete depois, que tal? — Sorvete? — pergunto e o encaro. Caminhamos lado a lado, mas evito ao máximo buscar seus olhos, querendo ou não, eles me confundem. — O que achou? Que iríamos parar na água de coco? — brinca. — Preciso conhecer mais da garota que Isaac tanto protege, e pelo jeito, minha cunhada e irmão também. — Eles não me protegem. — tomo um pouco da água. — Eles se importam, é diferente. — Qual é a sensação de quando alguém se importa com você? — pergunta e noto sua voz vacilar. — Ela sempre está lá, não importa o que aconteça, mesmo nas suas piores horas. — digo e ele apenas assente. — Está tudo bem? — Só tenho medo de estar perdendo uma das poucas pessoas que se importam comigo, não sei lidar com isso.

— Isso o quê? — pergunto e faço-o parar de andar. — Com a morte. — responde e desvia o olhar. Num ato de coragem toco seu rosto, ele me encara e abre um sorriso fraco. — Alguém da sua família está doente? — pergunto preocupada. — Sei que não nos conhecemos, e sua família nunca o mencionou, mas por favor me diga... — Você conhece Jô, não é? — pergunta e é como se levasse um tiro no peito. — Ela não vai morrer. — digo nervosa e saio andando. Não sei como diabos ele a conhece e muito menos porque está falando da morte dela. Ela vai melhorar, ela vai! — Danielle. — ele me chama, porém ignoro. Dou passos mais largos e vou diretamente pra areia. Sem me importar com a roupa, sento-me e levo as mãos à cabeça. Sinto um corpo rodear o meu e uma paz descomunal se faz presente. Não sei porque permito seu abraço, mas nada parece mais certo do que isso agora. — Me desculpe. — diz baixinho. — Sei que não me conhece, mas saiba que Jô é como uma mãe pra mim. — Pra mim também. — deixo algumas lágrimas caírem. — Ei. — ele levanta meu queixo e tira os braços de meu redor. Fazendome sentir a falta de seu calor no mesmo instante. Pisco sem entender seu olhar profundo e seus cabelos negros despencam sobre a testa. — Você é linda. — ele acaricia minha bochecha. — Linda demais. — Cas... — Me desculpe. — ele se levanta de repente e fico estática. Ele ia me beijar? Levanto-me e fico à sua frente. Seu olhar parece culpado e sinto meu coração acelerar. — Por que se desculpou? — pergunto e ele olha pra qualquer direção, menos pra mim. — Eu sou um homem mais velho, tenho uma vida praticamente consolidada, Danielle. Eu nunca me senti tão afetado por alguém como por você. E merda... Eu sequer sei sua idade, e sei que meus demônios são ruins demais... — Sou sete anos mais nova que você. — digo e sorrio ao me lembrar das

notícias a respeito dele, foram poucas, mas sua idade constava. — E sobre demônios, todos nós temos. — Como sabe minha idade? — pergunta e finalmente me encara. — Google? Tenho certeza de que estou vermelha, mas já não posso voltar atrás. Apenas assinto em resposta e ele meneia a cabeça. — Acho melhor irmos. — diz de repente e pega seu celular. — Ok. — digo e ele se vira pra ir. Lembro-me então de todas as vezes que assisti filmes, séries e li livros onde o cara tem medo do que sente. E pelo que vejo, Castiel sente algo por mim, mesmo que nós dois não saibamos identificar o que é. Dane-se, vou arriscar pelo menos uma vez. — Você não está pirando sozinho. — digo e ele se vira no mesmo instante. — Repete isso. — chega bem próximo a mim. Mesmo que nossas alturas impeçam nossos rostos de estarem próximos, ele se inclina em minha direção. Não consigo dizer nada e pela primeira vez em meus 35 anos, estou praticamente implorando por um beijo. E melhor, quero realmente que aconteça. — Repete. — ele pede novamente e toca meu rosto. — Não. — digo e ele se retrai. — Há algo melhor que palavras. — O que? — seu rosto parece tenso. — Isso. O puxo pelo pescoço e nossos lábios se chocam, como se ele já estivesse esperando o beijo, toca com cuidado meus lábios. Uma de suas mãos desce para minha cintura e ele me traz ainda mais pra perto de seu corpo. Quando eu puxo seu lábio inferior com os dentes, ouço seu suspiro e ele invade minha boca com sua língua. Sinto que meu coração vai explodir, pois nunca havia me sentido assim antes. Quando nos falta ar, Castiel me dá um beijo casto e apenas separa nossos lábios. — Estou morrendo por isso desde que te vi. — confessa baixinho. — Quer passar o dia comigo? — pergunta subitamente. — Pensei que não estivesse dando em cima de mim. — retruco e ele abre um sorriso cínico. — E não estou, quero conhecer você e entender o que estou sentindo. —

diz e entrelaça nossos dedos. — Passe o dia comigo. Toco seu rosto de leve e lhe dou um selinho. — Só peço uma coisa a você. — digo sem jeito e ele assente. — Não minta pra mim. — Por que acha que posso estar mentindo? — pergunta franzindo a testa. — O problema é que não acho, e assim é muito mais fácil enganar. — confesso com medo. — Serei apenas eu pra você, feiticeira. — suspira fundo. — Sei que está tudo muito intenso, mas não consigo me afastar. — Então não se afaste. E dessa vez ele me beija, e não consigo não sorrir durante. Pois mesmo que tudo me diga para me afastar, há algo em Castiel que me atrai demais. — Começamos pelo sorvete? — pergunta ao se afastar e entrelaça nossos dedos. — Bom, acho que sim. — dou de ombros. — Sabe que irá pagar e que não sou um homem pequeno. — ele brinca. — Não estourando meu cartão de crédito está tudo certo. — digo e ele sorri. Mas no fundo, sei que minha conta bancária é o de menos.



Capítulo IV

Castiel Seus dedos estão entrelaçados aos meus e não sei ao certo de onde veio essa vontade de ter contato. Não posso mentir e dizer que não me envolvi com várias mulheres ao decorrer dos anos, isso aconteceu várias vezes. Mas nunca cogitei algo a mais com nenhuma delas. Não como eu imagino com Danielle. — Perdido em pensamentos? — pergunta e abre um sorriso. Estamos andando a algum tempo já, enquanto cada um toma seu sorvete. — Me deu vontade de entrar nesse mar. — disfarço. — Por que não entra? — Não trouxe nada adequado, nenhuma toalha e tal. — Entendo. — ela dá de ombros. — Esse sotaque é inglês, não é? — pergunta, me surpreendendo. — Sim, como sabe? — Bom, na empresa que trabalho, algumas vezes vou a eventos e converso com estrangeiros. Além dos filmes que assisto legendados. — sorri lindamente. — Trabalha com o quê? — pergunto. — Bom, sou a designer das capas das revistas da Toda demais*. — A revista dos Gonçalves? — pergunto surpreso. — Sim. — diz simplesmente. — Eu não acompanho a revista, mas conheci o dono há alguns anos. Sei o quão grande ela é no mercado. Parabéns! — Obrigada. — fica sem jeito. — Falta pouco para poder comprar meu apartamento e deixar Vic e Caleb em paz. — Por que diz isso? — estranho o seu tom de voz receoso. — Sei lá, é que sinto que está na hora de ter meu lugar. Sinto que atrapalho os dois e... Não sei ao certo. — confessa. — Ei. — forço-a me encarar. — Eles te adoram, e saiba que é muito. — Como sabe disso? — pergunta desconfiada. — Bom, como já deve ter percebido, não tenho uma relação íntima com

minha família, principalmente com Caleb. Tivemos problemas no passado, que me fizeram ir embora do país. E como já percebeu pelo sotaque, eu moro na Inglaterra, Londres pra ser mais exato. — os olhos dela brilham. — Eu nunca deixei de acompanhar o que acontece por aqui, pois eu me importo com todos. Isaac e Joaquim sempre me ajudaram com isso, além de Jô, claro. Mas nenhum deles citou você, ao menos não disseram seu nome em nenhuma ocasião, mesmo que eu seja da “família”. Isaac sequer quis falar quando perguntei sobre você ontem, fez mil e uma ameaças, aliás. — Isaac é um brutamontes. — sorri fraco. — Jô sempre me chamou de pequenina, na realidade. — diz e noto seus olhos marejados. — Quero tanto que ela saia daquele hospital. — Eu também. Por isso não aguentei ficar longe, não mais. Ela é como uma mãe para mim. — digo, e me lembro de minha infância. Dói muito essa lembrança. Como se percebesse, Danielle toca meu rosto e acaricia. — Se um dia quiser me contar, tudo bem. Cada um tem seus demônios, não é? E ainda é cedo para dizer algo. Os olhos dela me confundem tanto, de uma maneira que faz querer segurá-la e não soltar mais. E eu preciso estender nosso dia, ao menos algum tempo a mais ao lado dela. — Passa essa noite comigo? — pergunto e ela se afasta no mesmo instante. — O que acha que eu sou? — praticamente grita. — Eu não sou uma qualquer que... Merda, ela entendeu errado! — Ei, calma! Estou pedindo no sentido literal, vamos jantar, sair... — Isso é coisa de namorado. — ela me encara inquisitiva. — Podemos ainda não ter nada, mas eu quero estar com você. — digo convicto. — Você é um homem decidido. — ela mantém o semblante fechado. — Nos conhecemos a menos de um dia e quer que eu... — Me conheça. — Não estamos fazendo isso? — pergunta, e vejo que está irredutível. — Tudo bem. — suspiro derrotado. — Desculpe por minha falta de tato, e minha ansiedade. Vou levá-la pra casa assim que terminar seu sorvete. — Ok. — diz simplesmente. O que eu imaginava? Que ela iria comigo até meu apartamento e

ficaríamos juntos abraçados de frente ao sofá? Merda! Não sei de onde veio essa vontade repentina de ter tudo isso. Minha melhor amiga, Alice, havia me contado das várias vezes que isso ocorreu em seus namoros, porém isso nunca me instigou... Até agora. Mas é como Danielle falou, não somos namorados. Sequer somos algo. Não sei onde estou com a cabeça pra convidá-la assim. O silêncio paira sobre nós e não consigo dizer nada. Apenas escuto os barulhos ao nosso redor e termino meu sorvete. Danielle parece perdida em pensamentos e sequer me olha. Ouço o toque do meu celular e atendo prontamente. — Soares. — Oi, meu filho. — sua voz me acalma. — Pedi o celular emprestado para uma enfermeira que está louca pra te ver novamente. — Eu sou irresistível, sei disso. — ouço sua risada fraca. — Mas me diga, está precisando de algo? — Não, não. Apenas queria falar com você, meu filho. — diz. — Vou indo aí. E nem adianta tentar me persuadir. — ouço sua gargalhada fraca. — Não quero te atrapalhar, Castiel. — Você nunca atrapalha. Eu te amo, sabe disso. — Eu também, meu filho. — Até daqui a pouco. — digo e ela se despede. Jô sendo Jô! Não consigo evitar sorrir por ela ainda estar tão hiperativa quanto antes. Mesmo com a idade avançada, e com as várias doenças que a fizeram ir parar no hospital, ela continua com a mesma luz. Olho para o lado e Danielle me encara com uma expressão de horror. — Está tudo bem? — pergunto confuso. — Victória tinha razão sobre você. — diz e sai andando. — Danielle. — grito e corro atrás dela. Consigo alcançá-la e seguro seu braço. — Olha, sei que te chamar pra passar a noite foi algo estúpido. Quer dizer, nem nos conhecemos direito e... — Me solte agora ou vou gritar. — diz com raiva. — Mas...

Ela se solta bruscamente de mim e me encara com ainda mais raiva. — Adeus, Castiel! Ela então sai e fico pasmo com sua reação. O que aconteceu com ela? Sem entender nada, acabo indo na direção do carro que emprestei de Isaac e saio dali. Eu ia convidá-la para ir comigo ver Jô, mas pelo que parece Danielle não me quer por perto. Droga! Estraguei tudo!

Danielle Estúpida! É isso que eu sou. Babaca! Idiota! Cretino! É tudo que ele é. Como ele simplesmente me convida pra "passar a noite" como se fôssemos namorados, e minutos depois diz que ama outra? Mil vezes babaca! Entro no meu carro e bato a porta com força. Não me importo muito com a sujeira que faço no banco ou com o sorvete que simplesmente perdi por estar nervosa demais para terminar de tomar. Mas por que diabos ele mexe tanto assim comigo? Babaca! Tento colocar uma música pra me animar, porém a playlist de meu pen drive é a pior. Todas músicas melosas. Suspiro fundo e praticamente soco o som para que ele silencie. Penso em ir pra casa, mas não consigo pensar em outra coisa que não seja socar a cara de Castiel. Merda! Respira, Danielle! E foca no trânsito a sua frente! Dou voltas e mais voltas com o carro, até que tomo coragem e vou pra casa. Assim que chego a mansão, noto que está silenciosa e já imagino que Caleb e Victória não estão. Pelo menos, Vic não deve estar, pois ela sempre coloca música alta. Tomo um banho relaxante e resolvo me deitar um pouco logo após. Ouço alguns barulhos do lado de fora do quarto, os quais me despertam. — Ei, bonitão! Espera aí! Essa é a voz de Victória. Quem diabos é esse "bonitão"?

A passos silenciosos, abro minha porta com cuidado e olho pela fresta. Espera aí, é Caleb que está saindo do quarto dela... Ela o chamou de bonitão? Isso está muito confuso. Nunca os vi interagir de tal forma, ou melhor, nunca os vi interagir. Vejo-a sorrir pra ele. Ok, acho que o sorvete não me fez bem. Assim que os dois descem, tento controlar minha vontade de beber algo, mas não consigo. A passos incertos vou até o andar debaixo, da escada consigo vê-los brincando com as almofadas. Pisco uma, duas, três vezes... Mas é realmente isso que vejo. Fico observando em silêncio, mas quando Caleb a beija... Penso rápido, melhor passar a noite fora. Seja lá o que está acontecendo, não quero atrapalhar. Sei que Caleb, mesmo negando, a ama. Pego meu celular no mesmo instante e digito uma mensagem, avisando que passarei a noite fora. Faço uma pequena mala de roupas e desço as escadas com cuidado. Os dois estão tão absortos um no outro que sequer me veem. Saio pelos fundos e finalmente respiro aliviada quando estou fora de casa. Ufa! Não atrapalhei nada! Peço para que nenhum dos seguranças os avise que saí nesse horário e entro em meu carro. Assim que finalmente saio da mansão, sorrio. Caleb está com Victória, finalmente! Estaciono o carro há poucos metros da mansão e ligo para Isaac. Por mais que saiba de alguns hotéis para passar a noite, sei que ele tem um apartamento que pode me emprestar só por hoje. — Fala, peste. — diz, assim que atende. — Ei, brutamontes, preciso de sua ajuda. — E quando não precisa? — zomba. — É sério, Isaac. — Ok, fala. — Sabe o apartamento que você ia dar pra sua ex, mas no fim das contas... — Ok, sei. — me corta. — Não vai dizer que resolveu aceitar minha proposta e vai ficar com ele? — Claro que não. — o corto rapidamente. Ele havia tentado me dar esse apartamento várias vezes, porém não aceitei em nenhuma delas. Eu tenho algo de querer poder ter as coisas por mim mesma. Eu não posso aceitar isso.

— O que é então? — pergunta. — Posso passar hoje à noite lá? — pergunto envergonhada. — Claro, mas por que? — pergunta, e sei que está desconfiado. — Bom, aconteceram algumas coisas e não quero atrapalhar Victória e Caleb, não hoje. — Ok, peste. Vou confiar em você. — diz. — Vou pedir para um dos seguranças levar minha chave pra você. E, Dani? — Sim? — Não coloque fogo na cozinha. — provoca. — Te odeio! — digo e ele gargalha, antes de desligar na minha cara. Brutamontes! Sigo até o prédio e fico ao menos feliz por chegar rápido. Assim que abro a porta do carro, reconheço um dos seguranças, pois ele usa o crachá especial dos Morgan. — A senhorita pode estacionar na garagem privativa. — diz e me entrega a chave. — Obrigada. — digo e ele sai. Adentro o imponente prédio e fico ainda pasma com o luxo. Cumprimento a todos na portaria e eles sorriem em minha direção. Olho a chave que o segurança me deu e noto que Isaac fez questão de colar um papel com o número do apartamento e o andar. Ok, eu havia esquecido mesmo! Entro no elevador com minha pequena mala e quando vou tocar o andar no painel, percebo que não tem a opção. Encaro a chave novamente e só assim noto o escrito em parênteses: cobertura. Então tá! Quando as portas estão quase se fechando, uma mão se coloca entre as portas, fazendo-as abrir novamente. Isso só pode ser brincadeira! — Oi, feiticeira.

Capítulo V

Castiel Dirijo algum tempo até meu prédio, mas o trânsito realmente não ajuda. Mesmo estando sem camisa e um pouco suado, o porteiro não se incomoda de que eu use o elevador comum. O que é bom, pois senão demoraria mais. Vejo que as portas do elevador estão se fechando e praticamente corro para impedir. Felizmente, consigo. Abro um sorriso para quem quer que seja que esteja ali dentro, mas me surpreendo ao ver os olhos azuis/verdes de Danielle. Ela faz uma careta e sei que não gostou de me ver. — Oi, feiticeira. — provoco. Ela bufa baixinho e se encosta no lado esquerdo do elevador. Reparo que está com outras roupas e com os cabelos molhados, e se for possível, ainda mais linda. — Os acasos de destino são mesmo impressionantes, não? — pergunto brincando, porém ela simplesmente encara o chão. Por que será que ela está me tratando assim? — Olha, eu realmente estou perdido aqui. — digo frustrado e encaro o painel do elevador, vou selecionar a cobertura, mas vejo que já está. — O apartamento de Isaac? — pergunto enraivecido. Esse prédio tem duas coberturas e uma é dele, tenho certeza disso, pois as escolhemos juntos. Não acredito que ela mentiu e na verdade tem algo com ele. Se controla, Castiel! Ela me beijou! Merda! — Vai continuar muda? — insisto. — Talvez deva ligar pro seu namorado e dizer a ele que me beijou mais cedo. — Que namorado? — finalmente diz algo. — Você que deveria ligar para seu amor e contar, tão hipócrita. — O que? — pergunto confuso. — Qual é? — ela me encara com raiva. — Está me cobrando algo, sendo que declarou seu amor para outra na minha frente e... Paro de prestar atenção em suas palavras no mesmo instante e começo a rir. Ela acha que meu "te amo" mais cedo foi para alguma namorada? Sério isso?

Rio ainda mais. — E ainda tem a cara de pau de rir. — o elevador para finalmente e ela praticamente corre dele, levando sua pequena mala. — Babaca! — Você deveria ser um pouco mais educada. E não sei porque está com ciúmes, já que namora Isaac. — seguro seu braço e a puxo pra mim. — Me solte! — diz brava. — E pare de insinuar que namoro Isaac. — E o que veio fazer no apartamento dele? — pergunto com raiva. — Eu só... Quer saber, não te interessa! — tenta se soltar. — Me deixa em paz! Pelo que parece, ela realmente não tem nada com ele. Ele teria me contado, tenho certeza. — Admita que está com ciúmes, então. — instigo e a empurro contra a parede do corredor. — Castiel. — diz brava. — Sou eu. — sorrio ironicamente e continuo encarando-a. — Eu não tenho ciúmes de você, mal te conheço. — diz e tenta sair de meu aperto, porém a impeço. — O que quer? Encaro sua face e noto que está corada, seja por raiva e por toda tensão que emana entre nós dois. Não consigo mais raciocinar, eu a quero. — Isso. — digo e a beijo. Ela não resiste como pensei que faria, se entrega completamente. Suas mãos delicadas entram em meus cabelos e subo seu corpo a minha cintura. Não consigo raciocinar e ela sequer me evita. Ela me quer, do mesmo modo que a quero. Mas aos poucos vou diminuindo a necessidade do beijo, não posso fazê-la minha, não ainda. Não enquanto ela realmente nem sabe quem sou. Lhe dou um leve selinho e ainda em meus braços ela me encara envergonhada. — Não tenho namorada. — passo as mãos por seu rosto. — Estava falando com Jô. Seu semblante é impagável, ela fica totalmente constrangida. — Me desculpe. — diz sem jeito. — Só se me dizer o porquê de estar com uma mala e estar vindo ao apartamento de Isaac. — instigo. — Bom, encontrei uma cena não muito agradável de Vic e Caleb, e resolvi dar espaço a eles. — diz e sorri. — Como assim? — indago sem entender. — Os dois estavam namorando no meio da sala de estar. — ela cora e eu

fico incrédulo. — Não acredito. — admito. — Nem eu, mas não iria interferir. — sorri lindamente. — Eles merecem ficar juntos. — Concordo. — beijo de leve a ponta de seu nariz. — Mas já que está aqui, porque não fica comigo, no meu apartamento. — Castiel... — Antes que pense pouco de mim, apenas quero que vá comigo ver Jô e que conversemos. — sorrio pra ela. — Me deve isso por ter me abandonado falando sozinho hoje cedo. — Você é um aproveitador. — diz e sai do meu colo. — Mas apenas ficarei com você agora, vou dormir no apartamento de Isaac. — Não me oponho. — digo e pego minha chave no bolso do short. Claro que gostaria de tê-la em meus braços, mas há tempo. E essa noite pode ser apenas um começo pra nós.

Danielle Assim que adentro sua cobertura, sinto vontade de correr no mesmo instante. É tudo realmente lindo. — Vou tomar um banho, mas pode bisbilhotar o que quiser. — ele sorri e me dá um beijo casto. — Ok. Assim que ele some pelo corredor, fico parada encarando sua sala. Não consigo imaginá-lo decorando isso. Pego minha mala e vou andando pelos cômodos. A cozinha é simplesmente fantástica e fico admirando a linda visão que ele tem, da grande parede de vidro que mostra os outros prédios. Penso em ir pelo corredor, mas me contenho. Aqui é o apartamento dele e é preferível esperar aqui do que sair por aí olhando tudo, mesmo que ele tenha autorizado. Sento-me no sofá e pego meu celular. Encaro meu reflexo na câmera frontal e me assusto. Estou horrível! Cabelos bagunçados, boca inchada, pele vermelha... Tento então me deixar apresentável. Fico alguns minutos nas redes sociais, mas ao mesmo tempo me pergunto

em como Castiel tem esse apartamento e Isaac sabe, sendo que o próprio Caleb nunca disse nada sobre o irmão. Ainda mais porque Castiel disse que mora em Londres. Estranho! — Não quis olhar por aí? — Castiel adentra a sala e meu coração dá pulos dentro do peito. Ele está simplesmente lindo. Numa simples calça jeans e uma camiseta leve de verão, que se molda perfeitamente em seu corpo. — Eu... — limpo a garganta. — Apenas estou no celular. — Certo. — diz e se senta no outro sofá. — Quer trocar de roupa para irmos ver Jô ou já está pronta? Encaro minhas roupas e sinto-me diminuída por seu comentário. Será que não estou bonita? — Ei. — o encaro. — Você está linda assim, apenas estou perguntando. — Ok então. — digo sem jeito. — Podemos ir se quiser. — Pensei em comermos algo antes, mas se o fizermos, perderemos o horário de visitas. — assinto. — Babi não vai estar lá hoje, não me pergunte como sei sobre ela e tudo mais, por favor. Não agora. Mas ela não me conhece e espero que continue assim. — Por que se esconde de sua própria família? — pergunto intrigada. — É uma longa história. — diz pensativo. — Mas prometo te contar tudo, apenas tenha paciência comigo. Penso e repenso sobre minha decisão, mas não consigo fugir dele. É como se estivesse cravado em minha pele. Lembro das palavras de minha irmã já falecida: Você precisa dar chance a felicidade. Assim, estendo minha mão para ele e o beijo com carinho. Sim, eu darei uma chance a nós.

Capítulo VI

Castiel — Posso falar com meu menino a sós, pequenina? — Jô pede sorrindo e Dani lhe dá um beijo na testa, saindo longo em seguida do quarto. Suspiro fundo com o cheiro de Danielle que fica no ar e não consigo conter o sorriso em meu rosto. — Ei. — encaro Jô que aperta de leve minha mão. — Fico tão feliz em vê-lo sorrir assim, meu menino. Balanço a cabeça negativamente e sorrio pra ela. — Estou apaixonado, Jô. — admito e sinto como se algo dentro de mim se tornasse leve. Os olhos de Jô se enchem de lágrimas e mesmo com a expressão cansada, ela sorri emocionada. — Não sabe como esperei pra ver isso. — sorri amplamente. — Ainda mais com uma menina de ouro feito ela. — Eu percebi. — sorrio. — Como está se sentindo hoje? — Estou feliz como se fosse meu último dia. — gargalha falsamente. — Posso dizer que herdei meu humor negro de você, né? — brinco e beijo sua testa. — Quero você forte, pra ir para Londres comigo. — Quero ver todos vocês felizes, meu menino. Quando descobri que era infértil há muitos anos atrás, nunca pensei que a vida me presentearia com anjos como vocês. Você e seus irmãos, Dani e Babi, são meus filhos de coração. — E você é minha mãe, sabe disso, não é? — tento segurar as lágrimas. — Não me faz chorar, menino. — ralha, me fazendo sorrir novamente. Continuamos conversando por alguns minutos e tento não mostrar o desespero que habita em mim, por medo de perdê-la. Josiane Oliveira, ou apenas Jô, como a chamamos, realmente é minha mãe. Foi ela quem me deu amor, o amor que quando mais novo não tive de meus pais. Mesmo que há anos atrás tenha me acertado com meus pais, Jô ocupa um lugar insubstituível dentro de mim. Por isso tive a coragem de reaparecer depois de tantos anos me escondendo. Por amor a essa mulher a minha frente. Noto que Jô já boceja e olho a hora em meu celular. Já são oito da noite e

o horário de visitas já se encerrou. Felizmente arrisquei certo e Babi apareceu apenas mais cedo, como Jô havia me dito. — Estou indo, mainha. — digo e Jô me encara emocionada. — Você nunca vai perder a mania de me chamar assim? — finge estar brava. — E você minha pequenina, pare de espiar e entre. Olho para trás e vejo que Danielle está vermelha. — Me dê um beijo e prometa que vai cuidar do meu menino. — ela fica ainda mais corada e eu finjo estar sério, mas por dentro estou ansioso por sua resposta. — Eu prometo, Jô. E só assim, sorrio de novo.

Danielle Sinto-me estranha e minha curiosidade está aguçada por tudo que vi acontecer entre Castiel e Jô. Os dois realmente interagem entre si como mãe e filho, e só consigo imaginar o que Leandra pensa disso. — Você está em qualquer outro mundo, menos neste. — Apenas com sono. — minto. — Se você diz. — encaro Castiel e ele sorri, sem insistir no assunto. O silêncio paira sobre nós e por mais estranho que pareça, não é algo ruim. Me traz calma e paz, de um jeito que nunca senti. Quando finalmente chegamos a cobertura, fico sem graça sobre o fazer. Não porque ele possa me forçar a algo, mas porque parece errado querer que ele tenha iniciativa. Eu me sinto atraída por ele, mas meu interior grita que não é apenas isso. E quando seus olhos verdes me encaram, como se zombassem de mim, sinto-me encorajada. Eu o quero, pelo menos um pouco dele hoje. — Está me olhando estranho. — diz e caminha até a porta de seu apartamento. — Como se eu fosse sua presa. — Como dizem por aí, um dia da caça e outro do caçador. — ele então para no mesmo instante e vira para me olhar. — E em que dia estamos? — pergunta e me puxa para dentro do apartamento com ele. — Ei, eu não disse que...

— Acho que é o dia da caça então. — assim me beija, empurrando-me contra a porta do apartamento. Suas mãos descem um pouco mais e ele me levanta em seu colo. — Não precisamos fazer nada, só me deixe tê-la ao meu lado hoje. — diz e beija com leveza meu pescoço. — Cas, eu não sei se... — É estranho gostar de você me chamando por esse apelido. — sorrio sem entender. — Praticamente ninguém me chama. — Combina com você. — esclareço. — Mas então, vai ficar? — pergunta e noto sua ansiedade. — Diz que não há segundas intenções, correto? — ele assente. — Mas eu estou em seu colo e... — Eu a quero perto de mim, e para isso não precisamos fazer amor. — me dá um beijo casto. — Não agora. — E seria isso que faríamos? — pergunto confusa. As poucas colegas de trabalho que tenho, sempre me disseram que homens preferem usar outros termos para rotular o sexo. Fazer amor, segundo elas sobre os homens, dá esperanças a mulher que ele transa. E isso parece ser algo ruim pra eles... Até mesmo pelos livros que já li, em sua maioria, os homens não dizem logo de cara isso. — Por que o espanto? — sorri cinicamente e praticamente me derreto. — Faria amor com você a noite toda e boa parte da manhã também. — Cas. — tento conter meu sorriso. — Sou eu. — toco seu rosto e respiro fundo. — Me diz uma coisa primeiro. — ele assente. — Gosta de café? Ele me encara atordoado e seu semblante parece confuso. Ok, é um teste bobo sobre compatibilidade. — Adoro, por que? Praticamente pulo de seu colo e balanço a cabeça negativamente. — Então temos um impasse, você não poderá fazer café amanhã cedo se eu ficar. — declaro. — Posso saber o porquê minha senhora? — debocha. — Porque eu odeio o gosto e principalmente o cheiro. Ele então sorri e me puxa pela cintura. — Sem café. — diz próximo a minha boca. — Então eu fico.

— Não irá se arrepender. — Sei que não. E dessa vez, eu o beijo. As mãos dele devagar se apropriaram de meu corpo, mas sem avançar muito além. Castiel fez o que prometeu e não me forçou a nada. E por mais que eu o quisesse, o nervosismo me impediu. Tinha medo de fazer algo errado ou simplesmente travar. Mas agora, olhando-o dormir serenamente ao meu lado, não consigo encontrar desculpas pra isso. — Devo ser um belo espécime dormindo. — diz me assustando. — Deve ter ouvido muito isso e ficou convencido. — retruco. Parte de mim odeia imaginá-lo com outras mulheres, mas sei que não tem como culpá-lo por isso. — Bom, na verdade não. — abre os olhos e me encara. — Nunca dormi com ninguém. — O que? — pergunto espantada. — Você está brincando comigo. — Claro que não. — me puxa para debaixo do seu corpo. — Nunca apenas dormi com alguém. — Ah sim, "apenas". — zombo e ele sorri em meu pescoço. — Bom dia, linda. — beija meus lábios. — Já vi que tem um péssimo humor de manhã. — Na verdade não. — bufo. — Ok, só um pouco. — Alice tinha razão. — diz de repente e sinto meu coração acelerar. Quem é essa? — Do que está falando? — pergunto já furiosa. — Que um dia encontraria você. — ele sorri. — Estou perdida aqui. — declaro, tentando me controlar. Droga de ciúmes sem fundamento! — Que um dia encontraria a mulher que iria abaixar todas as minhas barreiras. — o encaro sem jeito. — Eu sinto muito por isso. — Por que? Agora sim, me perdi mais. — Por estar sendo tudo rápido demais. Mas eu preciso que saiba de uma coisa, não consigo controlar o que sinto. — Não controle. — ele fecha os olhos e quando os abre, encontro novamente seu brilho.

— Então sente-se. — diz e sai de cima de mim. — Por que? — pergunto curiosa. — Me dê um segundo. — ele vai até o seu closet e volta com um violão em mãos. — Que droga, não há tomates e repolhos aqui. — brinco e ele sorri cinicamente. — Você que pediu para que eu não controlasse, lembre-se disso. — Ok, meu senhor. — brinco. Ele então senta na ponta da cama e apoia o violado em uma perna. E logo dali, começa a sair um som impecável. "Aproveite o dia ou morra lamentando o tempo perdido Está vazio e frio sem você aqui, tantas pessoas sofrendo. Eu vejo minha visão queimando, eu sinto minhas memórias desaparecendo com o tempo Mas sou tão jovem para me preocupar, essas ruas em que viajamos sofrerão do mesmo passado perdido Eu te encontrei aqui, então, por favor, fique mais um tempo Eu posso continuar com você por perto Eu te entrego minha vida mortal, mas isto será para sempre? Eu faria qualquer coisa por um sorriso, segurando sua mão até nosso tempo acabar Nós dois sabemos que o dia irá chegar, mas eu não quero te deixar Nova vida substituindo todos nós, mudando esta fábula que vivemos Não precisamos ficar muito aqui, então para onde iremos? Irá você seguir esta jornada esta noite, me seguir além das paredes da morte? Mas garota, e se não houver vida eterna? Experimentando a vida, perguntas de nossa existência aqui, não quero morrer só sem você aqui Por favor, diga-me que o que temos é real Então, e se eu nunca mais te abraçar, ou beijar seus lábios? Então eu não quero te deixar e as memórias que nós dois temos Eu imploro não me deixe” Seu olhar encontra o meu é só então percebo que estou chorando. Ele

está dizendo estas palavras diretamente pra mim, e felizmente, sei inglês perfeitamente. Sua voz é tão linda, com uma rouquidão única e afinação perfeitas. Meu Deus! Que homem é esse? “Aproveite o dia ou morra lamentando o tempo perdido Está vazio e frio sem você aqui, tantas pessoas sofrendo. Experimentando a vida, perguntas de nossa existência aqui, não quero morrer só sem você aqui Por favor, diga-me que o que temos é real Eu caminho aqui sozinho Me afastando de você, sem chance de te levar de volta para casa.” (Seize the day - Avenged Sevenfold) Ele então para e me encara sem jeito. Pela primeira vez o vejo completamente sem graça. — Isso é real. — digo e ele arregala os olhos. — Você entendeu toda a música? — pergunta, parecendo surpreso. — Sim, eu falo inglês fluentemente. — Droga, eu não queria te constranger e... — Já disse que é real. — vou até ele e toco seu rosto. — Apenas aproveite o dia comigo, Cas. — Eu e você? — pergunta próximo ao meu rosto. — Só eu e você. Pelo brilho em seu olhar, eu já sei. "Eu e você" é o nosso eu te amo mascarado. E sim, eu me apaixonei por Castiel Soares.

Capítulo VII

Danielle — Por que ir de táxi se posso te levar? — Castiel insiste e eu apenas nego pegando minha bolsa.

Acabei deixando minha mala com roupas no apartamento de Isaac, caso tenha que fugir de mais uma cena constrangedora de Caleb e Vic. Talvez até aceite a oferta de Isaac e fique por um tempo no apartamento, acho que está mais do que na hora de sair da casa de Caleb. — Estou falando com você “senhorita nada de café”. — reviro os olhos de seu deboche. — Vem aqui. Como dizer a ele que ainda não quero que ninguém nos veja juntos? E pior, será que estamos juntos? Viro-me pra ele, que está encostado na ilha da cozinha e pior, sem camisa. Esse homem quer acabar com o resto de sanidade que tenho. — O que é “senhor eu tenho um carro e posso levá-la”? — ele sorri cinicamente e me puxa de encontro ao seu corpo. — Tecnicamente o carro é de Isaac, mas isso não importa. — diz e me beija castamente. — Vá de táxi, mas terá que jantar comigo hoje à noite. — Cas... Seus olhos verdes não deixam brechas sobre o que quer, sei que não vai aceitar um “não” como resposta. E droga! Eu quero mesmo encontrá-lo novamente. — Ok. — digo e ele sorri convencido. — Tire esse sorrisinho idiota do rosto, senão não vou... — Você gosta dos meus sorrisos, eu sei. — dá de ombros. — Como sabe? — pergunto e ele sorri ainda mais. — Eu não devia ter admitido em voz alta. — bufo sozinha. — Ei! — pousa suas mãos em minha cintura. — Toda vez que sorrio, você leva uma mecha do cabelo atrás da orelha e morde o lábio. — E? — paro no mesmo instante com a mão atrás da orelha. Eu realmente faço isso? — Bom, prefiro acreditar que é uma mania boa. Que gosta dos sorrisos cínicos que dou a você. — Então sabe que são cínicos? — indago já irritada e ele sorri ainda mais. — Alice lhe disse isso também? — pergunto e ele arregala os olhos. — O que minha melhor amiga tem a ver com meus sorrisos? — pergunta e arqueia a sobrancelha. — Espero que nada. — sou sincera e ele encosta sua boca na minha. Não sei porquê, mas desde que ele disse o nome dela com tanto carinho, algo dentro de mim se remexeu. Ciúmes não!

— Temos além de uma feiticeira aqui, uma leoa também? — zomba e eu tento sair de seu aperto. — Ei, eu e você, lembra? Eu, você e sua melhor amiga? Penso, mas não consigo abrir a boca pra dizer nada. Ok, essa tal Alice me irritou sem eu ao menos conhecê-la. Droga de paixão. — Ok. — tento me soltar e ele não permite novamente. — Tenho que ir. — Não entendi ainda porque não pode passar o dia comigo. — Tenho algumas coisas pra fazer. — lembro-me de meus desenhos ainda não acabados, e principalmente do desenho que fiz dele. — Não pode mesmo ficar? — pergunta e tenciono dizer “sim”. Mas sei que preciso pensar sobre tudo, e quem sabe tirar algo de Victória sobre Castiel. Ainda não entendi ao certo o modo nada hospitaleiro que Caleb o tratou, principalmente porque o rosto de Castiel ainda tem marcas. — Nos vemos a noite, ok? Mesmo contrariado, ele finalmente me deixa ir. Mas não antes de tirar todo meu fôlego na cozinha. Esse homem é problema. Quando finalmente chego em casa, peço um benção e torço para não encontrar Vic e Caleb em alguma situação constrangedora na sala. Então abro a porta da sala com cuidado e entro a passos leves. — Estou ouvindo seus passos. — ouço a voz de Vic e estaco no lugar. Tirando o susto que ela me deu, está tudo certo. Olho na direção de sua voz e encontro-a sentada numa poltrona que fica praticamente escondida entre a escada e o grande sofá. Doida! — Se escondendo na sua própria casa? — pergunta e me olha com deboche. — Não enche, Vic. — já ando em direção as escadas. — Qual é, Dani? — ouço seus passos atrás de mim. — Isso está com cara de amor. Droga! — Não, eu não... — tento dizer algo, mas minha língua parece travar. Castiel e seus sorrisos idiotas! — Quem é ele? — pergunta curiosa e eu a encaro. — Posso não falar nisso ainda? — assente e fico aliviada. Lembro-me da noite passada e de parte dessa manhã. Castiel não avançou nenhum sinal, ou fez algo que não quisesse. Mas será que poderia me segurar mais? Tudo bem, faz apenas alguns dias que nos conhecemos.

Mas como saber qual é a hora certa para se entregar? Esperei 35 anos e ninguém mexeu comigo como ele faz. Será que chegou a hora? — É que não sei se gosto dele o suficiente pra... — travo e Vic me encara inquisitiva. Ok, ela é minha melhor amiga. Ela tem que me ajudar com isso. — Como assim? — pergunta. — O conheci há poucos dias e... Nós nos beijamos, o clima esquentou e eu fiquei com medo. — confesso de uma vez. — Mas você queria seguir em frente? — Sim. — sinto meu rosto queimar. — Tenho medo de estar sendo fácil demais e... É que eu nunca senti isso na minha vida, Vic. Eu tenho 35 anos, já sou uma mulher, mas nunca fiz sexo com ninguém. — confesso e ela sorri. — Bom, eu desconfiava disso. — Eu não sei o que fazer. — me sento num degrau e ela apenas me encara por alguns segundos. — Confia nele? — pergunta. — Ele me passa algo que nunca senti na vida. — dou de ombros e me lembro da tranquilidade que ele me deu a cada momento. — O jeito que sorri, como me olha, me toca, me beija... O modo como fala comigo. É totalmente diferente. — Sei bem como é. — assume e vejo um brilho diferente em seu olhar. Aposto que está pensando em Caleb. Finalmente! — E o que acha que devo fazer? — pergunto. — Siga seu coração, Dani. — sorri sonhadora. — Às vezes, o amor, simplesmente acontece. Não podemos nos negar viver. — Obrigada Vic, eu farei isso. — digo e a abraço. — Use proteção em. — diz e eu bato em seu braço. Ridícula! Então subo para o andar de cima com vários pensamentos em minha cabeça. Não faço ideia se devo me entregar, mas sei que não demorará para acontecer.

Castiel Seu cheiro parece que está em todos os lugares da casa. Esse apartamento nunca teve tanta vida antes, sequer me lembro do momento em que gostei de

estar aqui. Deito-me novamente na cama e inalo o seu cheiro em meu travesseiro. Como ela pôde me ganhar tão fácil? Ouço meu celular tocar e espreguiço-me, olhando o visor. — Ligações internacionais são caras, madame. O que posso fazer por você? — coloco meu inglês em prática. — Você é tão estúpido. Ainda me pergunto como te aguento. — Alice diz brava e eu sorrio. — Você não resiste a mim, eu sei. — Idiota. — diz e eu suspiro, lembrando das várias vezes que Dani me chamou assim. Feiticeira linda! — Eu ouvi mesmo um suspiro? — gargalha. — Castiel Soares está... — Completamente apaixonado. Silêncio se faz do outro lado da linha e eu só consigo imaginar Alice caindo no chão dura com a surpresa. — Ali? — pergunto e ouço um risinho. — Você é previsível, senhorita Calaway. — E você acabou de me matar de infarto, senhor Soares. — gargalho com sua pronúncia de meu sobrenome. — Pare de rir e me conte sobre ela. — Bom, não sei nem por onde começar. — Pelo começo, oras. — sorrio de sua ansiedade e começo a contar sobre Dani. Por volta de uma hora fico no telefone com Alice, falando sobre Dani, sobre o Rio... Sobre tudo o que ela sabe sobre mim, o que ainda é bem pouco, mesmo sendo umas das pessoas mais próximas e a conhecendo desde a época da faculdade, a qual fomos colegas. Meus demônios ninguém conhece ao certo, e nem teria porquê. Há coisas que são feitas para serem enterradas, mas infelizmente voltar ao Brasil me traz lembranças as quais não posso evitar. Lembranças sobre uma época em que fui fraco e estúpido demais para ser adulto. E que ao mesmo tempo, pode não ser minha culpa. Assim que termino de falar com Alice, deixo o celular no quarto e vou em direção ao escritório. Abro a pasta que tem alguns documentos enviados por Isaac e releio mais algumas vezes. Encaro a ficha de Luna Soares, minha filha... Quer dizer, minha sobrinha, e tento entender como isso é possível. Fecho a pasta novamente e tento não remoer isso, pode ter erros nos

dados, já que faz muito tempo desde que os laudos foram feitos. E isso não tira minha culpa sobre a morte de Annie, a mulher que abandonei grávida há anos atrás. E mesmo querendo esquecer meu passado, é como se ele voltasse com força em minha mente, a cada instante. E apenas ao lado de Dani consegui dormir bem, depois de anos com pesadelos. Danielle me trouxe uma paz descomunal. Que me faz esquecer meu passado por alguns instantes e principalmente o que houve com Annie. Ao lembrar de nossa noite juntos e como ela se encaixa perfeitamente a mim, seja de qualquer forma, eu não consigo não temer sua reação quando contar tudo ela. Pois eu preciso contar, preciso dizer que ela me tirou de minha própria escuridão. E eu devo a verdade a ela, só espero que ela não me abandone após isso.

Capítulo VIII Danielle Encaro as mensagens de Castiel em meu celular e sorrio sozinha. Virando-me para o quadro que finalmente terminei de pintar, vejo o seu belo rosto sonolento, as expressões bem marcadas e os cabelos negros rebeldes caindo sobre sua testa. Levanto-me e vou em direção ao grande espelho do meu quarto. Encaro o simples vestido preto longo que escolhi e fico divagando se a fenda nas costas não parece ousada demais, ou se não estou simples demais. Os meus saltos também pretos, com certeza me deixarão próxima ao rosto dele, meus olhos estão bem marcados em contraste com o batom nude em minha boca. Ok, isso tem que servir. Ouço meu celular tocar e nem preciso olhar no visor pra saber quem é. — Estou te esperando. — Mas ainda são... — encaro o relógio do meu celular. Droga! — Perdi a hora, estou saindo já. — Sério? — pergunta e fico sem entender. — Quer dizer, pensei que tinha mudado de ideia e... — Você é uma pessoa ansiosa. — brinco, porém não ouço sua risada. — Apenas nunca fiz isso antes, confesso que estou nervoso. — Como assim? — indago, retocando um pouco de meu batom. — Nunca tive um encontro antes. — ouço seu sorriso. — Isso é constrangedor, mas é a verdade. — Bom, eu já tive alguns. — faço uma careta ao me lembrar. — Todos péssimos. — Então minha missão de hoje será te dar o melhor encontro possível. — diz já com a voz relaxada. — Preparei uma surpresa pra você. — Agora estou curiosa. — olho-me pela última vez no espelho. Ok, estou pronta! — Bom, estou agora há duas quadras abaixo da casa de meu irmão. — confessa e eu me espanto. — Ok, eu não consegui ficar parado em meu

apartamento. — Não iríamos jantar lá? — pergunto. — Mudança de planos. — Ok, estou indo. — digo e desligo. Saio do quarto ainda encarando meu celular e nem noto direito quando Vic para a minha frente. — Vai encontrá-lo hoje? — pergunta, ao mesmo tempo que meu celular vibra. Venha logo, feiticeira! Sorrio com a mensagem dele. — Vou. — digo e suspiro fundo. — Acho que sei o que fazer. — Caso se sinta pressionada, não faça nada, ok? — assinto e Vic me olha sorrindo. — Ah, use camisinha! — grita e sai correndo. Sem me dar tempo de acertá-la com alguma coisa. Ridícula mesmo! Como notei que ela desce as escadas e vai em direção a saída da casa. Espero por alguns instantes e só depois tomo meu caminho. Assim, quando finalmente saio de casa, respiro fundo e vou a passos incertos até a saída. Já na rua, ando devagar até as quadras que Castiel havia indicado e meu coração falha uma batida, quando o vejo de longe. Encostado em um carro preto, vestido com uma camisa azul escura que destaca ainda mais seus olhos verdes e uma calça jeans preta que lhe dá um ar jovem. Completamente lindo. Aperto com força a bolsa em minhas mãos e tento pensar em como agir. Abro a boca pra dizer algo, mas o olhar profundo dele me faz travar. — Oi. — diz e me puxa a seu encontro. — Boa noite, feiticeira. — Oi. — encaro-o, dessa vez sem precisar estar na ponta dos pés. — Não sei se gosto desses saltos. — diz e toca meu rosto. — Por que? — Posso envolve-la completamente quando sua cabeça bate praticamente no meu peito. — bato em seu braço. — Ei, é a verdade. — Convencido como sempre. — ele sorri cinicamente. Sem mais esperar, ele cobre meus lábios com os seus e me beija apaixonadamente. Suas mãos me envolvem e sinto um arrepio correr meu corpo. — Estava morto de saudades. — diz e sinto sua respiração em meu

pescoço, onde ele beija demoradamente. — Vamos? — Sim. — digo, ainda atordoada com sua declaração. Ele abre a porta do carro e entro, enquanto ele dá a volta, tento arrumar um pouco de meu rosto e parecer alguém normal. Por que ele me deixa tão sem ar? Assim que ele se senta ao meu lado, coloca o cinto e se vira pra mim. — Pronta? — diz e deposita a mão direita em minha coxa. — Pra onde? — pergunto e ele nega com a cabeça. — Surpresa. Fico ainda mais curiosa, enquanto ele arranca com o carro e segue pelas ruas do Rio. O silêncio entre nós como sempre parece algo natural, mas sinto que preciso dizer algo a ele. Como o que acontece normalmente nos primeiros encontros, as pessoas se conhecem. Ok que nós já não somos completos desconhecidos, mas ainda necessito saber mais. — Cas. — Sim. — diz e me olha rapidamente. — Me fala de você. — peço e sinto meu rosto queimar. Isso foi estranho. — Bom. — suspira fundo. — Vamos aos poucos, ok? — Ok. — Sabe que meu nome é Castiel Soares e tenho 42 anos. Moro há vinte anos em Londres e vim ao Brasil esporadicamente nesse tempo. — Por que nunca o conheci? — pergunto e ele suspira pesadamente. — Tudo bem, não precisa... — Eu passei por problemas quando mais novo, era imaturo e bom... Acabei destruindo a forte relação que tinha com meus irmãos, principalmente Caleb. Prometo te contar com mais detalhes após o jantar. — Ok. — sorrio fraco, pois não parece ser algo bom. — Como é sua relação com seus pais? — Bom, essa é uma história e tanto. — sorri. — Há coisas no passado de minha família que duvido que muitas pessoas saibam, e eu descobri em um momento muito doloroso para minha mãe, Leandra. — O modo como você e Jô conversam é como se fossem realmente mãe e filho. — digo e ele sorri.

— Ela quem cuidou de mim quando criança, foi praticamente minha mãe. — ele balança a cabeça. — Meus pais tem certos problemas que não cabe a mim te contar, mas resumindo, eles nunca me trataram como seu filho até que descobri uma verdade. Depois disso, a relação entre nós mudou, realmente nos tornamos uma família. — Parece complicado. — digo meio perdida. — E é. — ele sorri. — Desculpe não te dar detalhes, mas é que não é apenas minha história. — Eu entendo. — sorrio pelo jeito doce como ele fala comigo. — E como é Londres? — Um sonho basicamente. — sorri. — Lá que fiz minha vida, me formei em medicina, onde fica minha casa e os poucos amigos que tenho. — Você é especializado em que? — pergunto curiosa. — Pediatria. — fico encantada. — Amo as minhas crianças. — Nunca me imaginei em uma profissão assim. — confesso. — Sempre fui ligada as artes e bom, biológicas não são meu forte. — Eu pesquisei e vi umas capas da revista em que trabalha. — diz e me assusto. — São sensacionais, parabéns. — Obrigada. — digo sem graça. No momento em que paramos em um sinal vermelho, Castiel me dá um beijo casto e eu sorrio. — Eu amo meu trabalho, mas ainda assim não é meu grande sonho. — confesso. — Como assim? — Trabalhar com a alta sociedade, ter de ir a eventos e todo esse blá blá blá, não me agradam. — dou de ombros. — Gosto de desenhar, na realidade. Criar. — Já criou muito? — pergunta. — Bom, minha casa dos sonhos, o vestido de casamento, paisagens que sequer conheço... — respiro fundo ao lembrar-me do desenho que fiz dele. — Muitas coisas. — Poderia me deixar ver um dia. — Se o encontro for bom, prometo que lhe mostro hoje mesmo. — ele sorri e me encara, finalmente o sinal abre. — Aceito esse desafio. — diz. — Ok. — sorrio.

— Já acabou o momento de perguntas sobre mim? — pergunta debochado. — Por enquanto. — respondo e encaro a paisagem pelo vidro do carro. — Bom. — ele manobra o carro e estaciona em frente a um lindo prédio. — Onde estamos? — pergunto. — Na sua surpresa. — diz e tira o cinto. Ele desce e dá a volta, abrindo minha porta. — Obrigada, milorde. — zombo. Ele entrega as chaves a um rapaz parado em frente ao prédio e me guia para dentro. — É um lugar simples, mas espero que goste. Fico em silêncio enquanto adentramos o grande restaurante, mas que não parece ser algo tão fino, está mais para aconchegante. — Castiel, querido. — ouço uma voz feminina e fico tensa no mesmo instante. — Sentimos sua falta. — Oi, Lu. — ele diz e só assim encaro a bela morena a nossa frente. O que está havendo aqui? Eles se cumprimentam com um abraço e tento me afastar de Castiel, porém ele enlaça com força minha cintura. — Lu, essa é Danielle... — A namorada dele. — dou um beijinho no rosto dela e me afasto rapidamente. De onde saiu isso? Castiel me encara com seu sorriso cínico e a vergonha me bate. — É um prazer, querida. — a tal “Lu” diz e fico ainda mais sem graça, ela não parece nem um pouco interessada nele. Por que fiz essa cena? — Bom, a mesa de vocês está arrumada no lugar que pediu. — diz e sorri pra ele. — Parabéns aos dois. De cabeça baixa, sorrio e Castiel praticamente me puxa para seu corpo. Assim que paramos na mesa correta, ele puxa minha cadeira e me sento rapidamente. Ele se senta à minha frente e me encara zombeteiro. — Então, namorada. — dá ênfase na última palavra. — O que vai querer pedir? Ignoro sua fala e apenas respiro fundo. — Confio no seu gosto. — digo e ele assente.

Minha vergonha está acima de tudo agora, não consigo nem encará-lo direito. Ele chama o garçom e faz os pedidos, enquanto encaro minhas unhas. — Ei. — ele toca meu rosto delicadamente. — Me desculpe pelo que disse, eu não quis... — Gostei do que disse. — sorri. — Antecipou meu pedido, mas tudo bem. — Como assim? — pergunto surpresa. — Vamos jantar e você verá. — Ok. — digo vencida e ele aperta minha mão. A noite está só começando.

Castiel Tento voltar ao clima de antes de Luciana aparecer, mas Dani parece querer fugir a qualquer a momento. Ela parece envergonhada e nunca imaginei que a veria assim, tão frágil. Assim que terminamos de comer, respiro fundo, pois está quase na hora de fazer o que tanto planejei pra hoje. Eu já havia cantado nesse restaurante várias vezes, eu e Luciana somos velhos amigos da escola e seus pais sempre nos colocaram pra cantar para os clientes. Mas hoje é diferente, vou pedir a mulher que me ganhou em namoro. Sua fala mais cedo parece que previu o que ia acontecer. — Já volto. — digo e Dani finalmente me encara. — Não fuja! Vou rapidamente para trás do palco e Lu sorri ao me entregar o microfone. — Eu nunca imaginei vê-lo fazendo isso. — sorri. — Ela vai amar. — Espero que sim. Respiro fundo uma e duas vezes. E finalmente subo no pequeno palco, onde se encontra um o violão. — Boa noite. — digo e encaixo o microfone. — Bom, espero que a comida esteja como sempre magnífica. — as pessoas sorriem. — Há um tempo atrás, na verdade, quando ainda era jovem, eu cantava aqui. — suspiro fundo e busco o olhar de Dani, ela parece pasma. — Hoje é um dia especial, pois quero dizer a linda mulher que enfeitiçou meu coração que a quero como minha namorada, apenas minha.

Vejo Danielle levar as mãos a boca e algumas mulheres sorriem. — Bom, que a sua resposta seja sim, feiticeira. É uma música antiga a qual meu pai sempre ouviu, e ela nunca fez tanto sentido quanto agora. "Dama, sou seu cavaleiro em uma armadura brilhante e eu te amo Você me fez o que eu sou, eu sou seu Meu amor, existem tantos modos que eu quero dizer: Eu te amo Deixa-me te abraçar em meus braços para sempre Você foi e me fez bobo Estou tão perdido em seu amor E oh garota, nós não permanecemos juntos Você não vai acreditar na minha canção? Dama, por tantos anos eu pensei que nunca iria te encontrar Você entrou na minha vida e me fez completo Para sempre, deixe-me acordar para te ver cada e toda manhã Deixe-me ouvir você sussurrar levemente em meu ouvido Em meus olhos eu não vejo ninguém a não ser você Não há outro amor como nosso amor Oh sim garota, eu vou sempre querer você perto de mim Estou esperando por você por tanto tempo Dama, você é o único amor que eu preciso E ao meu lado é onde quero que você esteja Porque meu amor, existe uma coisa que eu quero que você saiba Você é o amor da minha vida, você é minha dama" (Lady - Lionel Richie) Assim que termino, solto o ar e sorrio em direção a mulher que está em lágrimas sentada na mesa. Ela se levanta e vem até mim, antes mesmo de dizer algo. Me levanto e coloco o violão no suporte. — Eu... — tento dizer algo quando ela se aproxima, porém ela não permite. — Eu também te amo. — diz me surpreendendo e sem me dar chance de resposta, me beija. Ouço uma salva de palmas e ela sorri durante o beijo. Assim que ela se afasta, segura minha mão e me encara de forma doce. — Vem comigo. — pede e eu assinto.

Sigo até fora do restaurante e ela pede para que eu pegue o carro. — Pra onde estamos indo? — pergunto ela sorri me beijando novamente. — Pro meu quarto. Surpreendo-me com sua resposta mas a sigo, mesmo não sabendo o que me espera e ainda mais por ter de ir à casa de meu irmão, porém não me importo. Ela me ama e eu também. Nada mais importa agora.

Capítulo IX Danielle O caminho até minha casa é feito em silêncio, mas com nossos dedos entrelaçados. Eu não sei ao certo o que Castiel pensou sobre meu pedido, mas naquele momento não haviam segundas intenções, por mais que parecesse. Quero apenas mostrar a ele o desenho que fiz, mostrar um pouco de mim, do meu espaço. Quando ele finalmente estaciona, resolvo descer primeiro. Um dos seguranças havia me dito que Castiel tinha de ser autorizado a entrar. — Eu já volto, um minuto. — peço e ele assente. Vou até um dos seguranças que me encara sem expressão e aviso sobre Castiel. Eles assentem e discam o número de alguém. Pela cara que fazem, a pessoa não atende e não duvido que essa seja Isaac. — Olha, eu estou autorizando que ele entre. — aviso. — Já falei com Isaac sobre. — minto e o segurança me encara desconfiado, mas cede. Volto para fora e entro no carro novamente, enquanto os portões se abrem. — Caleb não me deixaria entrar sem autorização de alguém, não é? — pergunta e força um sorriso. Aperto sua mão com carinho e ele me encara rapidamente. — Talvez devessem conversar sobre o que aconteceu anos atrás. — digo, enquanto ele estaciona. — Eu vi uma foto antiga de vocês na internet, pareciam tão... — Unidos? — pergunta e tira o cinto. — Foi uma boa época. — Pode ser novamente, não acha? — pergunto. — Acho que devemos conversar sobre isso. — respira fundo. — Tenho algumas coisas pra te contar, a verdade. — Ok. — digo e saio do carro, ele faz o mesmo. — Primeiro quero te mostrar algo. — Tudo bem. — diz e me segue. Entramos na mansão e ele enlaça minha cintura. — O que fazia no dia que o encontrei aqui dentro?

— Vim ver alguns papéis no escritório de Caleb. — confessa. — Bom, ele não sabia, não é? — pergunto e Castiel nega. — Por que não pediu a ele? — Eu vou te contar sobre esse assunto e acho que vai me entender. — beija de leve meu rosto. — Ok, vem. — o puxo e subimos as escadas. Assim que estamos no corredor que dá para meu quarto, respiro fundo. Eu nunca trouxe um homem aqui e mal sei como agir. Mas será apenas para ele ver os desenhos, certo? Não seja tola! Abro a porta e Castiel me encara curioso. — Uau. — diz ao entrar. — Eu sempre pensei que a casa fosse grande, mas os quartos são imensos. — Acho o mesmo. — sorrio de sua expressão. — Fique à vontade, vou pegar algo. Deixo-o perto de minha cama e vou em direção ao armário que tenho no closet. Lá estão minhas pastas com desenhos, é onde se encontra o desenho dele. Pego a pasta e abro, encarando novamente seu lindo rosto. Só torço para que ele goste. E isso me faz lembrar de sua declaração. Ele me ama! Sorrindo, volto para o quarto e o encontro encostado em uma das paredes. — Aqui. — lhe entrego a pasta. Ele me encara desconfiado e arqueia uma sobrancelha. — Abra. Fico encarando-o com expectativa e meus saltos parecem desconfortáveis. Enquanto ele folheia a pasta, vou até minha cama e me sento. Tirando os sapatos logo em seguida. — Meu Deus. — exclama, e tenho certeza de que encontrou seu desenho. — Gostou? — pergunto receosa e ele me encara, vindo até mim. Ele então se ajoelha a minha frente e mesmo estando sentada na cama, nossos rostos estão praticamente da mesma altura. — Quando fez os desenhos? — Desde que o vi. — confesso e sinto meu rosto queimar. — Devo confessar que me encantei por você desde que a vi pela primeira vez? — suspira fundo. — Seus desenhos são tão perfeitos como você, amor. Meu coração falha uma batida por sua declaração.

— Lindo. — toco seu rosto. — Estou com medo. — Eu também. — declara. — Mas não tem como fugir do que sinto por você... — É forte demais, eu sei. — ele levanta e me puxa para seus braços, me fazendo sentir o melhor abraço do mundo. — Preciso te contar algumas coisas. — diz em meu pescoço. — Sim. — respondo, tentando ignorar o arrepio que percorreu todo meu corpo. Ele então me encara e sei que quer revelar algo, mas não consigo desviar meu olhar de sua boca. É como se estivesse presa a todo seu corpo. E eu não me importo se faz apenas alguns dias que nos conhecemos, eu quero ser dele. — Dani, eu... — Depois. — digo e toco seus lábios com meus dedos. Sem mais esperar o beijo com toda vontade e desejo que sinto. Castiel corresponde no mesmo instante, devorando-me com fúria. Ele me toca com certo cuidado e eu sei que está se segurando, mas não quero isso. — Não se segure. — peço e ele me encara, com os olhos verdes nublados pelo desejo. — Eu e você, lembra? — Sim. — ele me pega em seu colo. — Eu e você, feiticeira. Aos poucos, não há roupas no caminho e sinto minha pele queimar com o toque da sua. Seu corpo grande cobre o meu e sinto prazer em lugares que nunca imaginei. — Cas, eu nunca... — ele me encara e toca de leve meu rosto, colocando uma mecha de meu cabelo atrás da orelha. — O que? — pergunta, enquanto distribui beijos por meu pescoço. — Eu nunca fiz amor. — revelo e ele para no mesmo instante, me encarando surpreso. Ficamos assim por alguns segundos, até que ele encosta sua testa na minha. — Nunca mais te deixarei ir, sabe disso, não é? — pergunta e eu sorrio. — Sou sua. — digo e ele me beija com carinho. — E eu também nunca fiz amor com ninguém. — diz baixinho, e sei que não se refere ao ato físico, mas ao modo como já fez sexo. — Só a você entrego meu corpo e coração. Fico emocionada, pois nunca imaginei que realmente seria apenas do homem que amo. Mas aqui estou eu, entregue a ele, de corpo e alma.

— Eu te amo. — digo e lágrimas correm por meu rosto. — E eu a você, feiticeira. E então, as palavras dão lugar a algo sublime. Os toques de Castiel pelo meu corpo me fazem ferver e a cada instante em que ele me beija, meu coração acelera ainda mais. O nervosismo que sinto dá lugar ao prazer assim que ele me faz sua e sinto cada parte do meu corpo sofrer com sua invasão. Agora eu sou dele, apenas dele. E ele, apenas meu.

Capítulo X Danielle — Eu nunca fui o filho favorito dos meus pais. — Castiel diz de repente, enquanto estou deitada sobre seu peito, apenas vestindo sua camisa. — Quando mais novo eu não entendia ao certo o porquê deles não me tratarem como meus irmãos, mas segui em frente. Quando completei 22 anos, eu comemorei praticamente sozinho aquela data, senão fosse a empregada que tínhamos em nossa casa. E foi naquela noite que minha vida virou do avesso. Semanas depois, a mesma empregada alegou a mim que estava grávida. Travo no lugar e ele sente minha tensão, pois diz: — Me desculpe, mas eu preciso te contar isso. — apenas assinto e ele continua. — Eu não conseguia entender pois me protegi e bom, acabei falando coisas que não devia, como dizer que daria dinheiro a ela para abortar. — Meu Deus! — levanto-me de seu peito e ele se encosta na cabeceira da cama, noto dor eu seu rosto e me aproximo novamente de seu corpo. — Caleb havia chegado do exterior naquele mesmo dia e pelo que sei hoje, ouviu toda a conversa. — ele limpa uma lágrima que cai. — Ele me deu dinheiro para sumir e não correr riscos de fazer algo contra o bebê quando nascesse. Mas eu não fui embora porque pensei em fazer algo contra a vida daquela mulher e do meu... Bom, eu fui porque estava em pânico, nunca tive o amor dos meus próprios pais, como poderia ter um filho? — lágrimas correm livremente pelo seu rosto e não consigo me segurar também. — Mais ou menos um ano e meio depois, eu voltei ao Brasil, para ver de longe o que estava havendo. Jô me contava tudo e foi assim que descobri algumas coisas sobre meus pais, e foi nessa época que descobri não ser filho biológico de Leandra. — O que? — pergunto surpresa. — Pois é, sou filho de Lívia Albuquerque com Rodrigo Soares. — confessa. — Meu pai traiu minha mãe com a irmã gêmea quando mais novo, e foi só assim que entendi de onde vinha o receio de Leandra comigo. — Eu sinto muito. — digo e Cas segura com força minha mão. — Mas e seu filho, onde ele está? — pergunto e ele engole em seco. — Filha, é uma menina. — respira fundo. — Descobri algumas coisas recentemente, mas isso não tira minha culpa da morte da mãe dela no parto.

— Meu Deus! — levo as mãos a boca. — E com quem ela vive? Com quem ela está? — Com meu irmão. — confessa e fecha os olhos com força. — Como assim? — pergunto confusa. — Minha... — ele respira fundo. — Eu sou o pai biológico de Luna. Meu mundo para. Meu coração sangra. Os gritos de desespero de minha irmã ensurdecem meus ouvidos. Ele, ele foi a causa da morte dela. Ele matou Annie. — Você... — lágrimas grossas cobrem meu rosto e Castiel me encara assustado. — Eu sei que é difícil entender e que... — Eu preciso... — levanto-me rapidamente e pego meu celular no criado mudo, correndo para o banheiro e me trancando lá. Caio sentada no chão e choro amargamente. Eu me entreguei ao homem que destruiu minha vida há quinze anos atrás. E pior, eu amo esse homem. — Não! — sussurro em meio ao desespero e disco o número de Caleb. — Alô! — Foi ele não foi? Foi por isso que me socorreu... Por culpa? Droga Caleb, foi ele que matou minha irmã? — pergunto desesperada. Por favor, diga que não! — Dani, se acalma. Uma coisa de cada vez... — Você quer que eu me acalme como Caleb? Foi ele ou não? — insisto, tentando conter as lágrimas. — De quem você está falando, afinal? — pergunta. — Não me engane mais, Caleb. Sabe que estou falando de Castiel. — o outro lado da linha fica em silêncio e tenho me constatação. É Castiel, ele é o culpado. — Dani, eu sinto muito. — diz simplesmente. — Não me diga que sente muito, Caleb. Meu Deus, ele praticamente matou minha irmã e eu ainda... — choro e tento me levantar. — Você o que? — pergunta nervoso. — Dani, me diga que não chegou perto dele. — Não, não é nada demais. — minto. Ouço batidas fortes na porta e sei que é Castiel. Encaro o espelho a

minha frente e tento me recompor. Eu preciso enfrentar isso, eu preciso... — Feiticeira, está tudo bem? — pergunta e seguro com força contra a pia. Lembro-me das noites que passei velando o sono de minha irmã, de seu desespero. Não consigo responder, minha vontade é gritar pela angústia que me invade. Não sei quantos minutos fico parada apenas encarando o espelho, mas me assusto ao ouvir o banheiro ser destrancado. — Por que se trancou nesse banheiro e está no telefone? — Castiel pergunto, parecendo preocupado. Não consigo mais raciocinar quando ele tenta me tocar. — Não se aproxime de mim! — grito e tento passar por ele. — O que houve feiticeira? Hum? — pergunta, tentando me segurar novamente. Dessa vez me solto bruscamente e praticamente corro para o quarto. — Já disse pra ficar longe de mim. Eu tenho nojo de você! — grito e pego o celular novamente. — Caleb, me ajuda! Estou na mansão e... — peço e não consigo mais controlar o choro. A expressão de Castiel muda no mesmo instante e ele me encara como se estivesse magoado. Tiro sua camisa no mesmo instante e corro para o closet. Coloco a primeira roupa que encontro e tento tomar coragem pra sair dali. Assim que saio, vejo Castiel parado encarando o nada a sua frente. Assim que me vê, ele abre a boca pra dizer algo, mas simplesmente permanece calado. Ele dá passos em minha direção, mas não consigo evitar sentir medo. Encolho-me no canto do lado de minha cama e choro feito criança. Meu pânico toma conta de tudo, sequer consigo me mover. Castiel diz algumas coisas, mas nada faz sentido em minha mente. — Annie Marie Campos era o nome dela, não era? — pergunto de repente e ele me encara perplexo. — Como sabe? Você está com meu irmão nisso tudo? Fez-me apaixonar para... Sei conseguir mais ouvi-lo, levanto-me e acerto seu rosto. — Isso é por ela. — digo baixinho e me encolho novamente. Castiel me encara sem palavras e noto seu rosto frio, de um jeito indecifrável. "Eu o amo irmã, eu preciso dele aqui"

A voz de Annie me ensurdece e sinto vontade de gritar. — Não, não pode ser! — choro ainda mais e levo as mãos aos ouvidos, tentando evitar tudo isso. — Então era isso sua vadiazinha? Meu irmão que te mandou pra me seduzir, não foi? — Castiel pergunta e não consigo encará-lo. Então essa é sua verdadeira face? Não quero ver, não quero ouvir! — O que faz com ela, Castiel? — ouço o grito de Caleb no telefone. — Responda, maldito. Antes que eu possa falar com ele, Castiel tira o celular de minhas mãos. — Estou indo embora agora mesmo de sua casa. — ele diz. — Não sei como fui capaz de vir até aqui por ela. Parabéns, irmão! Me enganaram direitinho. Sinto medo pela forma como Castiel fala e tomo coragem de sair. Preciso ficar longe dele! Corro para fora do quarto e me jogo no meio do corredor, sem mais forças para continuar. Dói demais! Castiel sai do quarto já vestido e bate palmas, sinto meu coração quebrar. Eu amo a minha própria destruição. Por que? — Parabéns irmãozinho, quase conseguiu me enganar! Pelo menos acertou no meu gosto, sempre gostei de loiras com olhos claros, ainda por cima gostosinhas. — tento evitar ouvir, mas é impossível. — Dani. — só assim noto a presença de Caleb e corro para seus braços. — Sinto muito, querida. Me desculpe por não ter lhe dito a verdade. Estar abraçado ao homem que praticamente salvou minha vida e tem sido um irmão/pai pra mim há quinze anos, faz com que tenha força. Tenha força de honrar minha irmã. — Você vai se arrepender do que fez! — digo e me viro para encarar Castiel. Seus olhos verdes estão apagados e sinto sua dor, mas isso não importa. É tudo culpa dele. — Eu vou acabar com você, pode ter certeza disso! Fui fraca por um momento pois não controlo minhas crises, mas pode guardar que vou acabar com sua vida, assim como acabou com a minha. — Faça me rir garota, isso é uma ameaça? Pode parar já, a farsa acabou. Sei que ficou comigo apenas para me manter longe do idiota romântico aí. — Castiel zomba e raiva se apodera de mim... — Você acha que eu perderia minha virgindade com você porque tenho um combinado com seu irmão? Acha mesmo que iria ficar com você sabendo quem de fato é, e tudo que fez? Acha mesmo que diria que estava apaixonada sabendo o verme que é? — grito, próxima ao rosto dele.

— Podem parar com o teatrinho, está ficando tedioso. — Castiel diz e abre um sorriso cínico. O sorrio que eu a... — Teatro? Você acha que isso tudo é a merda de um teatro? — grito e tento acertá-lo, porém Caleb me segura. — Acha que o mundo gira em torno de você, Castiel? Pois saiba que não. Nunca ouvi falar de você antes! O único irmão do qual ouvi falar e conheci foi Christopher, pra você ter noção do quanto sua família o considera, não é? — Castiel fica mudo. — Não passa de um verme sem escrúpulos e vou fazê-lo pagar por tudo. — Você é uma ótima atriz, admito. Mas pra continuar a ceninha ridícula, por que não me diz pelo que tenho que pagar? Pela noite de hoje? — ele zomba. — Claro, eu posso... — Vai pagar por dar dinheiro a minha irmã para tirar o filho seu que ela carregava! Vai pagar por permitir que seu irmão mais novo assumisse o seu filho! Vai pagar por ter matado minha irmã! — grito e vejo a expressão dele mudar drasticamente. — É irmã de Annie? — ele fica estático. — Não pode ser. — diz baixo. — Ela morreu no parto, no parto o qual você deveria estar presente. Minha irmã sofreu uma depressão profunda durante toda a gravidez porque foi tola o bastante para amar um fraco como você. Ela quase perdeu Luna várias vezes, e fui eu quem a ajudou no meio da noite e afastava todas as lâminas e remédios possíveis para que ela não cometesse nenhuma loucura. — digo de uma vez e Castiel me encara com lágrimas no rosto. Eu sofro. Ele sofre. Mas ninguém aqui sofreu mais do minha irmã. E ele vai pagar por isso. — Sabe o que ela me dizia todos os dias super animada? "Irmã, se eu tirar essa coisa de dentro de mim, ele vai voltar pra mim e vamos ser felizes de novo." O silêncio se instala entre todos nós. Agarro-me ao corpo de Caleb, tentando segurar as lágrimas. Preciso ser forte. — Então saiba que Caleb não tem nada a ver com o que tivemos, e tudo o que terei pra lembrar disso é nojo. E nada irá me fazer parar até conseguir mandá-lo de vez para o inferno, se é que você já não está nele. — digo e Castiel se retrai. — Feiticeira, me escuta eu posso... — Pode se explicar, Castiel? — o corto. — Explicar que não passa de um

invejoso? Pois é isso que transparece pra mim. E não se dirija a mim, muito menos com esse apelido ridículo. Tenho pena de você! — Vamos? — Caleb pergunta e eu assinto. — Vá na frente. Sem conseguir mais encarar o rosto de Castiel, praticamente corro pelas escadas e me jogo no sofá. Chorando amargamente por tudo que houve. Pelo homem que amo ser culpado pela pior parte de minha vida.

Capítulo XI Castiel Encaro a parede a minha frente e não sei quanto tempo estou aqui. Lembro-me da escolha que fiz há anos atrás, quando decidi abandonar Annie e fugi como um covarde. Eu não sou uma boa pessoa, sempre soube. Danielle parecia ser minha luz em toda escuridão que carrego pela culpa da morte de Annie... Que por ironia ou brincadeira do destino é sua irmã. Que feridas eu devo ter deixado no coração da mulher que amo? Com certeza aquelas que nunca irão se curar. Mas eu não consigo simplesmente ignorar e então choro pela dor que causei, pela dor que sinto. A frase que Dani contou que Annie dizia todas as noites vem a minha mente e tento interpretá-la a todo instante. "Irmã, se eu tirar essa coisa de dentro de mim, ele vai voltar pra mim e vamos ser felizes de novo." Como assim “felizes de novo”? Eu e Annie nos envolvemos uma vez e não passou disso. Não quero pensar agora sobre o que descobri há algum tempo, pois não alivia em nada minha culpa, mas pensar sobre isso, talvez faça com que um dia consiga perdoar a mim mesmo. Talvez eu não seja o pai biológico de Luna. Meu telefone toca e mais do que desesperado olho o visor, na esperança de que seja Danielle, porém é um número desconhecido. Assim que descubro o porquê da ligação, meu mundo para e tudo se torna ainda mais escuro que antes. — Não! — grito em desespero. — Como puderam deixar isso acontecer, vocês não... Desligo o telefone sem dar a chance de dizerem mais alguma coisa. Eu preciso ir ao hospital, eu sei que Jô está viva. Ela tem que estar! A passos incertos e no estado horrível que me encontro, corro para fora do apartamento e os minutos até chegar ao hospital parecem ainda mais infinitos. Quando finalmente piso naquele lugar, o grito feminino que ouço faz com que eu caia de joelhos no chão da recepção. Encaro a jovem garota que implora para ver Jô e é negada. Babi, a filha de Caleb, está fora de controle e

pede para ver a mãe. — Não. — digo baixinho e choro desesperado. Sinto uma mão em meu ombro e não consigo sequer encarar a pessoa. Tento pensar e encontrar um jeito de assimilar tudo isso. Não pode ser real! Há poucas horas estávamos sorrindo com ela, brincando com ela... Ela é minha mãe, uma delas, uma das mulheres mais importantes da minha vida. Aquela que me fez sentir amado e especial quando criança, ela não pode simplesmente ter partido após ter tido melhoras no seu caso. Não pode! Encaro então a enfermeira que toca meu ombro e ela sorri fraco. Os gritos de Babi continuam e resolvo ajudá-la. Jô também a fez se sentir amada e especial, tenho certeza. A passos incertos chego próximo a Babi e os olhos negros puxados me encaram assustados e vermelhos. — Olá. — digo baixinho. — Eu sou Castiel Soares. — O que? — pergunta e limpa as lágrimas, que caem ainda mais. — Você é irmão de meu pai? — Caleb falou de mim? — ela nega sem jeito e vira-se para olhar para o corredor que nos impede de ir até Jô. — Eu sinto muito, sinto muito mesmo. — Não. — diz desesperada e abraça o próprio corpo. — Jô está bem! — grita. — Ela não pode ter ido, não justo hoje que não estava com ela... Não! Sem saber o que fazer e por medo do que os seguranças possam fazer se ela continuar gritando, puxo-a para encontro de meus braços e ela se agarra a mim como se fosse sua tábua de salvação. — Ela é minha mãe também. — digo em seu ouvido e choro do mesmo modo que ela. Estamos perdidos. Perdemos Jô. — Eu preciso que se acalme e respire fundo, tudo bem? — peço e ela soluça em meus ombros. — Como soube? — Eu senti saudade e vim vê-la agora de madrugada, um dos enfermeiros sempre me deixava entrar para apenas lhe dar um beijo de boa noite. — soluça alto. — Ela morreu comigo no quarto. — confessa e chora ainda mais. — Ela pediu para entregar algo ao menino dela e dizer que a pequenina dela o faria feliz. Ela disse seu nome e me entregou um papel... Voltou a dormir e daí lhe dei um beijo na testa, fui ao banheiro e quando voltava pelos corredores, ouvi alguém gritar o número do quarto dela e... Voltei pra lá na hora... Era como se ela soubesse que... — as palavras incertas de Babi, mostram que ela não tem o

que dizer, mal sabe como agir. Nenhum de nós sabe nesse momento. Fico estático e puxo Babi novamente para meus braços. Eu não consigo imaginar como tenha sido para essa menina ver sua mãe falecer e não poder fazer nada. — Posso te levar pra casa e... — Não saio daqui sem ela. — me corta. — Ela ia sair daqui em poucos dias, não é verdade o que aconteceu. — balança a cabeça e chora ainda mais. Eu entendo sua autonegação, pois vivo o mesmo nesse momento, mas preciso ser forte ao menos para cuidar de Babi, sei o quanto ela é importante para meu irmão e... Para Jô. Insisto para que Babi então vá ao menos beber um chá pra acalmar e mesmo negando aceita uma água que uma das enfermeiras traz para ela. Pego meu celular e encaro o número que há anos deveria ter discado, o número de meu irmão. — Soares. Respiro fundo ao ouvir sua voz, e finalmente tomo coragem pra dizer algo: — Caleb, irmão... — Castiel? — pergunta surpreso. — Ela se foi, Caleb. — suspiro fundo, com a dor que sinto ao admitir isso em voz alta. — Eu não sei como te dizer isso, mas... — Castiel, não quero uma brincadeira agora! — praticamente grita e sinto-me um lixo. — Chega dessa merda, combinamos de nos falar mais tarde e... — Jô se foi. — digo de uma vez e silêncio se instala entre nós. Observo de longe Babi sentada e estática encarando a parede cinza a sua frente. Sentado algumas fileiras atrás espero a resposta de Caleb. Não quero que Babi ouça que estou contando a ele, ela havia impedido os funcionários de ligarem para Caleb, alegando que já tinha o avisado, pois com certeza sabe que ele a tirará daqui. — Não brinque com isso! — ouço o grito de Caleb. — Onde Jô está? — Ela... Não consigo dizer isso em voz alta. — meu soluço impede que continue minha fala. Dói muito! — Castiel...

— Babi está aqui, Caleb. Ela precisa de você, irmão. — Onde estão? — No hospital. — digo. — Babi não quer sair daqui, eu tentei levá-la até você mas... — Estou indo. Começo a ouvir barulhos estranhos, penso em desligar porém não consigo. — Caleb. O que houve? Escuto a voz de Victória um pouco abafada. — Jô... Não pode ser verdade, Castiel está na linha dizendo isso... Ele está mentindo, Vic! Choro ainda mais agora, por sabe que sequer meu irmão acredita em mim. Que ele acredita que eu possa mentir sobre algo assim. — Caleb, querido. Deixe que um dos seguranças dirija, por favor. — Não, eu preciso... — Eu estou com você. Vem! Continuo ouvindo os barulhos através da ligação e tento dizer algo, para que Caleb perceba que ainda estou aqui, mas não consigo encontrar as palavras certas. — Caleb. — o chamo diversas vezes, porém apenas tenho o silêncio como resposta. Quando estou para desligar, ouço a voz de meu irmão: — Cas, por favor, diga que está me enganando. — Foi por ela, Caleb. — confesso. — Foi para ver Jô que voltei, e agora... — A perdemos. — diz e sinto-me quebrar ainda mais. Tento dizer algo mas como sempre sou o covarde. — Estou com você, querido. — a voz de Victória sai abafada novamente. E assim, encerro a ligação. Encaro o nada a minha frente e desvio meu olhar para o contato de Danielle em meu telefone. Disco uma, duas, três, quatro... dez vezes e não obtenho resposta alguma. Eu preciso de seu abraço para dizer que tudo vai ficar bem, mesmo que nunca mais fique. Mas sei que ela não virá, nunca por mim. Mudo meu foco e ligo para Isaac, tento ser claro para ele sobre o que houve, mas sei que meu choro interferiu. Mas no fim, ele entendeu que preciso que cuide de tudo a respeito do que houve agora... Não consigo fazer isso.

Quando finalmente meu irmão chega, Babi praticamente se joga em seus braços e chora ainda mais se possível. Victória encara a cena por alguns segundos e logo é ela quem está com Babi em seus braços. Abaixo a cabeça e me concentro em mandar mensagens para Danielle. Implorar para que ela apenas me escute hoje, apenas hoje. Só quero poder ter seu abraço. Essa só pode ser a pior noite de minha vida. — Cas. — Caleb me chama e finjo não ouvir. Limpo as lágrimas rapidamente e levo as mãos aos cabelos em desespero. — Ela foi como uma mãe pra mim. Sempre será. — confesso. — Há coisas que não entendo no momento, mas não importa. — diz. — Precisamos sair daqui, Cas. — Eu sei. — me levanto no automático. — Eu pedi para que Isaac cuidasse de todos os trâmites... Eu não consigo fazer isso e... — Eu entendo. — diz e eu assinto. — Estava ligando para Isaac? — pergunta e travo no lugar. — Não. — dou de ombros. — Não é nada demais. — minto. — Vou apenas tomar um banho e ver Isaac. — Venha pra minha casa. — Caleb pede e eu o encaro surpreso. — Não sei ao certo o que Jô significa pra você Castiel, mas eu te conheço. — Caleb... — Não seja um covarde agora! — diz nervoso. — Você iria a minha casa de toda forma. Mesmo com tudo que houve somos uma família e você sempre fez parte dela! Me assusto com sua afirmação e Caleb me encara imponentemente, mas ao mesmo tempo parece o mesmo garoto que eu protegia há décadas atrás, quando ainda éramos crianças. — Somos uma família. — digo e sem conseguir me conter, o abraço. Precisamos um do outro agora.

Danielle Acordo num sobressalto e sinto um frio horrível correr através de mim. Olho os dedos e noto minha pele enrugada, assim como várias partes do meu corpo. Afundo na água fria e seguro o ar o máximo de tempo possível. Assim que me levanto, meus dentes batem um nos outros, como sempre acontece.

Fiz muito isso durante o tempo em que minha irmã estava grávida, desde então, toda vez que entro em desespero apenas a água gelada me ajuda. Como se fosse um vício constante e pudesse levar um pouco da dor embora. Penso então na causa da minha dor, o homem que simplesmente destruiu tudo de mim e sem que soubesse a verdade, me conquistou. Ele foi o culpado, apenas ele. E eu não posso amá-lo, não devo. Enrolo-me na toalha e caminho em direção ao quarto de hotel, o qual Caleb alugou pra mim, sem sequer importar com o rastro de água que deixo. A dor em meu peito é demais, como se estivesse sufocando. Mas parece agora um aperto, algo que dói profundamente. Tem algo errado! Eu senti a mesma coisa no dia em que perdi Annie. Encaro meu celular e vejo que Victória está me ligando, atendo prontamente. — Preciso que venha pra casa. — pede baixinho. — Já fechamos sua conta no hotel, só venha. — Mas... — Dani, por favor. — insiste e desliga. Preocupação toma conta de mim, e assim que vejo várias ligações e mensagens de Castiel, sinto-me quebrar. “Preciso de você, feiticeira.” “Apenas um minuto nos seus braços, é o que peço.” “Me deixe apenas... Eu te amo.” Choro ao ler cada uma delas e dou um jeito de meu arrumar rapidamente e correr para casa. Algo ruim aconteceu, tenho certeza. Meu Deus, será que ele... Não! Apresso-me em colocar minha roupa e praticamente corro pra fora do hotel, e pego o primeiro táxi que consigo. Assim que adentro a mansão, encontro Castiel em pé ao lado de umas das grandes colunas da sala. Em desespero, me aproximo dele, o qual simplesmente me encara. Ele está bem! E por um momento respiro aliviada. Mas por que esse aperto no peito continua? Ele então me abraça de surpresa e não consigo negar. Eu preciso disso

também. Doeu tanto imaginar que tivesse o perdido, que... — Eu sinto tanto, meu amor. — diz baixinho e soluça em meu ombro. — Ela se foi, Dani. Paro um segundo para raciocinar e finalmente junto as peças. As suas várias ligações e mensagens, o aperto em meu peito, a voz triste de Victória... Jô! — Não! — grito e o afasto no mesmo instante. — Seu cretino! — bato contra seu peito e Castiel não reage. Braços fortes me seguram e me impedem de continuar. Raiva se apodera de mim e a realidade me bate... Ele destrói tudo. Assim como matou minha irmã, ele... — Para, Dani! — Caleb diz baixo. — Mande-o sair daqui! — choro desesperada. — Ele veio para acabar com a minha vida de novo. — Dani! — Caleb grita em tom de ordem e eu o ignoro. Quero Castiel longe de mim! — Nos vemos no enterro, irmão. — Castiel diz e vai em direção a porta. Caleb finalmente me solta e então vira-me pra ele. Ele está com os olhos vermelhos e com o semblante acabado. — Diga pra mim que é mentira. — imploro e Caleb apenas me puxa para um abraço. Não consigo mais raciocinar. Perdi uma das pessoas mais importantes pra mim, e sequer sei porque culpo Castiel por isso também. Ele parece quebrado, mas sei que jamais estará tão quebrado quanto minha irmã. E dessa culpa, eu não posso livrá-lo. Mesmo que meu coração pertença a ele, irei arrancá-lo de mim. — Estou aqui. — Caleb diz e me ajuda a permanecer em pé. O que era pra ser a melhor noite de minha vida, tornou-se a pior.

Capítulo XII

Castiel Apenas respire! Digo essa mesma frase acho que um milhão de vezes. Encaro meu reflexo no espelho e noto que o aspecto está até melhor, mas apenas dos machucados que meu irmão havia deixado, pois os meus olhos inchados e o semblante de derrota, estão intactos. Meu telefone toca e sei já está no horário de ir, e eu sequer sei como vou fazer isso. Pensei em ligar para Alice e lhe contar o que houve, tentar buscar algum conselho, mas a única pessoa a quem quero recorrer quer distância de mim, e o jeito é fazer tudo sozinho desta vez. Minutos após sair de casa estaciono o carro em frente ao cemitério. Olho meu relógio e noto que ainda falta cerca de meia hora para todos chegarem, então, resolvo tomar coragem e fazer algo que jamais cogitei. Talvez seja o começo de uma confissão á Annie, eu devo isso a ela. Desço do carro e encaro a anotação antiga que tenho em meu celular, não sei por que a guardei até hoje e nem sei ao certo se é o local certo, mas irei arriscar. Ando pelas extensas ruas e procuro a quadra correta, quando finalmente a encontro, o ar se torna escasso novamente. Ajeito meus óculos escuros e a passos lentos vou até onde é meu destino. Encarando as lápides a minha frente e estaco no lugar ao ver que estou realmente no local certo. Annie Marie Campos Filha, irmã e mãe amada. Tiro os óculos e apoio-me em umas das pernas, ficando quase ajoelhado. Pego a delicada flor amarela que trouxe e coloco ali. Encaro apenas por alguns segundos a frase estampada em sua lápide e o remorso me bate com força. — Eu sei que não pode me ouvir e que isso não faz sentido algum. — respiro fundo, olhando diretamente pro céu. — Mas eu amo sua irmã, Annie. — confesso. — E se tiver a mínima possibilidade de Luna não ser minha filha, quero poder contar a ela. Pelo menos ter a chance de não ter sido eu o homem a

qual você atribuiu como “seu amado”. — limpo uma lágrima que teima em descer. — Mesmo assim, a culpa pelo modo como te tratei e pelas ameaças que fiz, o modo covarde como fugi, ainda me assombrarão... Eu nunca vou me perdoar pelo que te fiz, Annie. E se o destino me permitir, quero ao menos poder cuidar de sua irmã, a qual sei que te ama mais do que tudo, e mostrar a ela o que é ter uma família novamente. — toco de leve sua lápide. — Não tenho palavras para pedir perdão, mas sei que estou no lugar certo agora. E mesmo que Luna não seja minha filha, saiba que ela é uma linda e boa garota, aliás, ela é sua cópia fiel. — abro um sorriso fraco. — Eu espero que você esteja em paz, você merece. Levanto-me e coloco novamente os óculos, limpando de maneira falha as lágrimas que cobrem meu rosto. Olho mais uma vez para a flor amarela que deixei em sua lápide, não sei ao certo qual a espécie, e mesmo não conhecendo muito bem Annie, conheço um pouco de Luna. E sei que é uma cor que ela gosta, talvez Annie gostasse também. De volta as ruas do cemitério, caminho tentando espairecer um pouco da dor que me atinge. Lembrando de quando era apenas uma criança, até o momento que Jô ainda esteve ao meu lado, mesmo tendo fugido. Como poderia seguir sem sua presença agora? Chego até o local onde Jô será enterrada e minhas mãos, assim como meu corpo todo, tremem. Apenas respire! – digo e tento não surtar novamente. Geralmente o que me acalma nesses momentos de extrema tristeza é a bebida. Mas faz muito tempo que não recorro a isso, e eu não me deixaria levar por esse caminho novamente, não mais. Assim que vejo minha família de longe, minha mãe corre em minha direção, me abraçando de forma preocupada. E assim, desabo. — Eu sinto tanto, meu amor. — diz e chora junto a mim. — Eu nunca poderei pagar a Jô o quanto lhe devo, por ter cuidado tão bem de você, ter lhe feito o homem maravilhoso que é. — Ela não pode ter partido, mãe. — choro ainda mais. — Ela não... Sinto os braços fortes de meu pai me envolvendo e ele praticamente nos cerca, como se pudesse realmente nos proteger de toda dor, e por um nano segundo, sinto-me um pouco mais leve. Assim que meus pais se afastam, mamãe toca meu rosto com cuidado e analisa os resquícios de machucados. Ela vai dizer algo, tenho certeza, mas antes mesmo que ela diga, conto a verdade: — Caleb não reagiu muito bem com minha volta. — digo sem jeito.

— Meu Deus! — diz horrorizada. — Eu preciso dar um jeito nesse menino. — Mãe. — chamo sua atenção. — Sabe que ele tem seus motivos. Mesmo contrariada, ela cede e me dá um beijo no rosto. Sendo logo abraçada por meu pai, que apenas me olha como quem diz: “Está escondendo algo”. É como se ele pudesse saber o que se passa dentro de todos nós assim, apenas nos olhando, mas não entrarei em detalhes, não agora. Um dos motivos de minha dor está presente há alguns passos daqui, e eu teria de ao menos tentar me aproximar. Primeiro a olho de longe, sentada em um banco, olhando para o nada, perdida em pensamentos. Vamos lá, Castiel! — Eu já volto. — digo a meus pais, que assentem e apenas observam. Sigo até ela e não sei se devo ou não chegar perto, da última vez não foi nada agradável. Dói demais saber que ela pensa que sou um assassino, que sou um monstro. Não que seja o melhor ser humano no mundo, tenho meus demônios assim como ela mesma sabe, mas doeu demais ouvir isso dela. Justo por ser ela. — Dani. — arrisco e ela sequer mexe, continua olhando para o nada e me ignora. — Eu só quero dizer que sinto muito. Sei que minhas palavras não te comovem e que... Que não se importa. — dói demais admitir isso. — Mas eu estou aqui, para o que precisar. E feiticeira... — ela continua imóvel. — Você sempre será minha dama. Respiro fundo tendo seu silêncio como resposta e volto até onde meus pais estão. Meu pai me encara desconfiado e minha mãe não segura a língua: — Ela é uma boa garota. — diz e sorri fracamente. — Formam um belo casal, não acha, Rodrigo? — Sim, minha rosa. — meu pai responde, mas sei que ele percebeu algo estranho entre mim e Dani. — Eles formam. — Eu só queria que esse dia não existisse. — confesso e minha mãe me abraça novamente, ficando com a cabeça encostada em meu peito, já que é a menor que todos nós. — Quando perdi meus pais, ainda muito nova, meu mundo acabou ali. — respira fundo e lágrimas correm pelo seu rosto. — Mas eu tinha Lívia, e por ela resolvi seguir em frente. Você precisa encontrar algo que te dê força para continuar, meu filho. — toca meu rosto com carinho. — Você deve isso a Jô, ela sempre quis sua felicidade. — Eu sei. — respondo emocionado.

É como se eu pudesse ouvir Jô dizer: “Meu menino, você tem que lutar pela sua própria felicidade, não é justo um homem tão bonito chorar assim, além de beber dessa maneira.” E foi por ela que acordei pra vida e parei de beber, parei de ser o cara inconsequente e tentei me tornar um homem responsável, que lhe desse orgulho. Mas o que fazer quando sua felicidade não te quer? Continuo de longe a olhando, tentando ao menos receber um olhar de volta, mas ela está concentrada demais, abraçada a Isaac. Ciúmes se apodera de mim, mas acabo não cedendo a esse mal. Volto a realidade quando Joaquim chega e o enterro se inicia. Choro amparado pelos braços de meu pai, tento controlar mas não consigo. Assisto Babi gritar e quase passar mal quando o caixão é enterrado. Fecho os olhos com força e mordo a boca para não gritar em desespero. E é nesse momento que finalmente consigo enxergar que Jô se foi. Que não terei mais minha “mainha” aqui. Uma parte de mim foi embora com ela, e sei que ninguém preencherá o local que ela ocupa em meu coração, pois dentro dele, Jô sempre estará.

*** Encaro a mansão de meu irmão e penso se devo ou não entrar. Eu já havia estado ali mais cedo, tínhamos tido a conversa que tanto precisávamos, mesmo sendo um dia horrível. Caleb finalmente soube de toda verdade, de que sou apenas seu meio irmão e que Leandra teve câncer anos atrás. E que foi justamente na época de sua doença que nos aproximamos, e ela acabou morando comigo um período em Londres, o qual ele imaginava ter sido as férias dela. Doeu ver sua reação quando nossos pais contaram tudo, e ainda mais porque escondemos isso dele. E por isso resolvi adiar nossa conversa sobre Luna. O que eu faço aqui então? Sendo que já disse tudo a ele? Não sei ao certo, mas queria ao menos ver Danielle. Sinto-me fraco e sozinho, mesmo sabendo que meus pais estão ao meu lado, dói demais a perda de Jô e não poder recorrer a Dani, me machuca ainda mais. Mesmo assim, resolvo entrar na casa. Por mais absurdo que isso pareça. Assim que adentro a mansão, noto-a silenciosa, e a passos leves subo as escadas, em busca da mulher que quero tanto ver. Quando paro em frente ao seu quarto, respiro fundo várias vezes, o que já se tornou um hábito meu. Levanto minha mão e vou bater, mas a porta se abre no mesmo instante.

— O que faz aqui? — pergunta surpresa e dá passos para trás. — Eu apenas... — respiro fundo novamente. — Eu... Seu olhar é frio e sinto-me quebrar ainda mais, como se pudesse sentir algo dentro de mim se estilhaçar. Lágrimas descem por meu rosto e as limpo rapidamente. — Desculpe, eu não deveria ter vindo e... — Eu entendo. — diz por fim, me surpreendendo. — Eu já vou. — anuncio covardemente. Ficamos nos encarando por um momento, mas vejo que ela não vai mudar de ideia ou tentar me impedir de ir. Viro-me pra sair e ela não diz nada. Derrotado é como me sinto. Um grito vindo do andar debaixo nos chama atenção, encaro Danielle e ela passa por mim, correndo pelo corredor e descendo as escadas, vou em seu encalço. — Meu Deus, está tudo bem por aqui? — pergunto ao chegar a cozinha e estaco ao ver Luna ali. Esse dia pode piorar ainda mais? — Esse é... — meu irmão trava em sua fala e encaro Luna, completamente perdido. — Oi, tia Dani. — Luna diz e abraça Dani ao meu lado. — Oi, Castiel! Travo e fico ainda mais estático se possível. Encaro Danielle e ela me olha ainda mais assustada, assim como Luna me olha. — Você o conhece? — Caleb pergunta — Bom, eu sei a verdade. — ela diz e me assusto. — Sei que ele é meu pai biológico. O que? — Luna. — Victória a chama. — Olha, não precisam ficar assim. — respira fundo. — Eu nunca tinha o visto pessoalmente antes, quer dizer... — ela balança a cabeça, como se espantasse alguma lembrança. — Mas sei de tudo que houve. — Mas... — Caleb trava novamente e fico apenas absorto nesse momento. Ela sabe de mim... — Uma vez entrei no seu quarto sem permissão, li uma das cartas... — confessa. — Desculpe por isso, papai. — Filha... — Victória a encara em lágrimas. — Não precisam ficar assim, sério. — nos olha e sorri. — Sei disso há

muito tempo, não muda nada. O clima tenso se apodera do local e meu olhar parece perdido, como se estivesse fora de órbita ou a gravidade não fizesse mais efeito. — Você então sabe que sou... — Sei que é minha tia, Dani. — ela sorri e abraça Dani novamente. — Sempre foi, mas sei que é de sangue também. — Desculpe por termos escondido isso, querida. — Dani diz e fico ainda mais sem reação. — Não precisa pedir isso, ninguém precisa. — nos olha inquisitiva. — Nunca me faltou amor, carinho... Por que teriam que pedir desculpas? — Desculpe mesmo assim, princesa. — Caleb diz. — Nem vou dizer nada. — ela diz e o encara brava. Ok, tenho que sair daqui! — Desculpem, eu tenho que ir. — saio da cozinha e praticamente corro pra fora da casa. Eu sempre imaginei como seria minha conversa com Luna ou até o que diria a ela. Hoje sei que nunca estarei preparado para isso, para admitir o quão fraco fui. Ela sim é uma boa garota, madura e gentil. Eu não teria nada a oferecer a ela, assim como não tenho nada a oferecer para Danielle que não seja meu amor. Sou vazio.

Capítulo XIII

Danielle

Duas semanas depois Tento não chorar, mas novamente, encarando o desenho que fiz dele, o qual tem seu cheiro, acabo desmoronando. Rasgo-o em mil pedaços, soluçando em desespero, por ser tão fraca e tão manipulável. Eu não posso amá-lo, e eu tenho que odiá-lo. Mas como fazer isso depois dos momentos ao seu lado, que mesmo sendo poucos, não saem de minha memória? Encaro novamente o resultado da pesquisa que fiz na internet e tento não pirar. Isso não pode estar acontecendo comigo, não com ele. Choro, agarrada agora, ao resto de sua imagem e ao meu celular, tentando entender como pude ser tão descuidada assim. Como pude não ter percebido isso antes? Não que esperasse que acontecesse ou muito menos que pudesse realmente desconfiar disso tão rápido. Mas o medo se apodera de mim desde aquela fatídica noite, onde me entreguei a ele e no fim, fui quebrada. Toda felicidade que havia perdido com a morte de minha irmã, pensei que iria recuperar ao lado dele, ledo engano. Desde aquela noite não há um dia que consiga dormir direito, que não tenha sonhos com minha irmã. Em todos eles eu vejo Annie pequena, correndo por um imenso jardim, mas não é de fato minha irmã, eu sinto isso. A menina de meus sonhos tem os olhos de Castiel, e isso somado ao que venho sentindo, só me remeteu a uma coisa: gravidez. Posso não acreditar em destino, mas o meu e de Castiel mesmo que de uma forma ruim sempre estiveram entrelaçados. Mas como lidar se realmente estiver grávida dele? Como assumir que mesmo nos protegendo, isso aconteceu? E nesse momento, levo as mãos ao meu ventre, tentando não pirar, não querendo acreditar. Mesmo que não possa sentir basicamente nada fisicamente, meu estômago já se mostra embrulhado. Quase quatro semanas após tudo o que houve, e me descubro aqui, com medo de estar grávida do homem que não posso amar. Do homem que me tirou a pessoa mais importante. E dessa vez, choro pelo desespero de não saber o que fazer ou como lidar com isso. Corro para o banheiro e deixo a água fria cair sobre mim, tentando me acalmar, não pirar dessa vez. Mas lembranças sobre as noites ao lado de minha

irmã, vem com força em minha mente. Após os gritos apavorados dela, Annie finalmente dorme. Os remédios não podem ser pesados por conta da gravidez, mas de vez em quando, conseguem fazê-la dormir serenamente. Encosto-me na parede, abraçada aos meus joelhos e choro sozinha, perdida em meus próprios pensamentos, com a chave do quarto ao lado pendurada em uma corrente no meu pescoço. Por medo de que durma e ela a pegue sem que eu veja, e faça algo contra a vida do seu bebê. Já que escondi qualquer tipo de coisa que ela possa se ferir lá. Annie se tornou outra pessoa desde a gravidez, na realidade, até um pouco antes de sabermos disso. Ela já não chegava tão cedo do trabalho e parecia até mais feliz, mas eu não disse nada, gostava de vê-la sorrir. Mas desde que contou sobre sua gravidez, tudo mudou. Minha irmã feliz desapareceu e deu origem a alguém que não conheço. Alguém que é capaz de tudo por ser apaixonada pelo homem que a abandonou grávida. Se não fosse seu amigo, Caleb, não sei o que teria acontecido. Annie acabou saindo do trabalho, segundo ela, pela gravidez. Então como nos sustentaríamos? Caleb é um anjo em nossas vidas, pois não tenho outra definição. Mesmo com apenas quinze anos, li alguma vez em um lugar que anjos ajudam pessoas. E é isso que ele faz a nós. Mesmo assim, não acho justo dizer a ele sobre o que Annie ameaça ou quer fazer com o bebê. Ele sempre a trata com carinho e tenta acalmá-la. Queria muito que ele fosse o pai do bebê, assim minha irmã poderia ser feliz. Mas não entendo muito de sentimentos, nem sei ao certo como ela se envolveu com um cara, o qual ela chama de amor, mas denomino monstro. Pois ele a transformou em outra pessoa. Grito alto, tentando apagar essas lembranças de mim, mas elas parecem cravadas em minha memória, como se nunca pudesse esquecê-las. E elas machucam, demais. Pois sempre remetem ao dia que perdi Annie. Ansiedade é o que me define. A bolsa de Annie estourou e arrumamos rapidamente as suas coisas, entrando no carro de Caleb, assim seguindo para o hospital. Minha irmã finalmente sorri, e sei que é verdadeiro. — Você é tudo pra mim, irmã. — diz, antes de seguir em uma maca. — Confie em Caleb. Antes que eu possa dizer algo, os enfermeiros a levam. Caleb me abraça carinhosamente e eu sorrio em meio a emoção. Minha sobrinha finalmente iria

nascer e assim, tenho certeza, Annie ficará feliz novamente. Seríamos três garotas agora. — Vou acompanhar o parto, tudo bem? — Caleb pergunta e eu assinto. Horas depois e o desespero já toma conta de mim. Pergunto na recepção várias vezes sobre minha irmã, mas eles não tem resposta alguma. Pesquiso na internet e vejo que as vezes o parto leva um bom tempo. Mas algo parece errado. Sinto uma pontada forte no peito e é como se faltasse ar. Encaro o chão do hospital e as palavras de Annie vem em minha mente: Confie em Caleb. Por que ela disse isso? Minutos depois, ele mesmo aparece. E se já não bastasse a dor em meu peito, quando meus olhos se encontram com os dele, vejo-os vermelhos. — Não! — grito. — O que aconteceu? — Dani, eu... — Luna está bem? — pergunto em desespero. — Por que está chorando? — Se acalma. — me abraça. — Luna está bem. — diz baixinho. Mesmo assim, não consigo me sentir bem. — Annie... — digo e ele então me encara. Seu semblante cai ainda mais e só assim as palavras de minha irmã fazem sentido. — Não! — grito e tento correr pelo corredor, querendo vê-la. — Ela não... — Annie escolheu a vida de Luna. — confessa e choro descontroladamente. — Ela salvou a vida de... — Não, ela não pode ter... — Eu sinto muito, Dani. — ele chora junto a mim. E depois disso, soube que nunca seria a mesma novamente.

*** Encaro o teste a minha frente e sinto a ânsia vir com força. Entro em casa e noto-a silenciosa, tento controlar a ânsia, porém ela só piora. Quando vou ver já estou caída de joelhos no chão e desabo, em meio a choro e a dor em estômago, no banheiro do corredor. Mesmo com a ânsia, o vômito não se faz presente e sinto ainda pior a dor em meu abdômen. Assim, choro ainda mais. Levanto-me, lavo o rosto e encaro novamente o resultado. Positivo.

Faço mais dois testes, para ter a certeza e fico apenas esperando dar o tempo. Assim que meu celular vibra, fecha os olhos com força e tento tomar coragem para ver os outros dois testes. Quando abro os olhos, mais lágrimas descem e tento não gritar. Todos positivos. Ouço batidas na porta e me assusto, enrolando rapidamente os testes em um pedaço de papel higiênico e jogando-o no lixo vazio. — Um minuto. — digo. Respiro fundo e abro a porta. Victória me encara desconfiada e eu abro um sorriso fraco, tentando disfarçar minha atual situação. — Tudo bem? — pergunta e eu assinto. — Comeu algo diferente? — Acho que foi o sushi que comi ontem. — minto e passo as mãos por meu rosto. Sinto novamente ânsia e franzo a testa, tentando reprimir isso. — Tente descansar um pouco, já levo um remédio ótimo pra enjoo que tenho no quarto. — ela diz. — Não precisa, Vic. — Claro que sim, vai lá! — insiste e eu cedo. — Obrigada. — digo e saio mesmo a contragosto. A passos lentos tento fingir ir para meu quarto, assim que ouço os passos dela se afastarem, viro-me e espero algum tempo, até que tenha certeza de que Victória está em seu quarto. Assim que estimo um bom tempo, faço o caminho de volta ao banheiro. Assusto-me ao encontrar Victória dentro dele e ainda mais com os testes em mãos. Droga! — Vic, não é o que está pensando. — tento dizer, mas ela simplesmente me encara séria. — Então me dê uma luz. — pede. — São... — Castiel é o pai? — pergunta e suspiro fundo. — Sim. — confesso e não consigo mais controlar o choro. — Shhhh. — me abraça. — Está tudo bem. — Não, nunca mais estará. — digo e a realidade vem em minha mente, assim saio dali. Nada será como antes a partir de agora. Nada.

Capítulo XIV

Castiel Uma semana depois

As últimas semanas pareceram se arrastar, como se fossem apenas parte de minha sobrevivência. Ao mesmo que a saudade de Jô me dói, a de Dani parece me atormentar. Pelo menos tive algo para ocupar minha cabeça durante todo o tempo que se passou, buscando mais sobre o passado de minha família. Tentando descobrir onde minha mãe biológica está e se a mãe de Victória, Julianne, pode estar envolvida nisso. Ainda mais porque nosso irmão mais novo, Christopher, pode estar no meio disso também. — Preciso de uma pausa! — peço, após horas concentrado em papéis junto a Caleb. — Não entendo o porquê de ter tantos tipos de uísque aqui. — pego uma água e encaro meu irmão. — Talvez por que antes de me acertar com Victória, a bebida era a única coisa a qual podia recorrer? — pergunta desgostoso. — Como pude ter um irmão tão maricas? — zombo. — Me diga você como está fazendo para esquecer Dani? Já que bebida está fora de cogitação. — provoca e enrijeço no mesmo instante. — Ok, fez seu ponto! — dou de ombros— Mas me diga, quem está cuidando do escritório? — Herrera por enquanto assumiu meu lugar, mas espero poder voltar logo. — Nenhuma de suas filhas está interessada em assumir seu lugar? Digo futuramente. — pergunto. — Luna mesmo tendo casado cedo, ainda está terminando a faculdade de medicina... — Eu soube disso através de Jô, confesso que fiquei assustado. — intervenho. — Por que? — pergunta sem entender. — Você por um acaso mandou me investigar durante esses anos que se passaram? — pergunto. — Sim, mas a única informação que obtive foi que você mora em

Londres. — esclarece. — Foi o que pedi para que Joaquim dissesse. — ele arregala os olhos e eu sorrio sem jeito. — Aliás, sou médico. — Ela realmente tem muito de você. — diz e fico completamente desconcertado. Se ele soubesse do que desconfio... Mas com tudo que está havendo resolvi deixar isso pra depois, pois pode esperar. — Caleb, eu não... — Não fico nenhum pouco chateado com isso, aposto que ela vai amar saber que tem um médico na família. — sorri e fico aliviado. — Obrigado. Espero um dia ter coragem de falar abertamente com ela. — sento-me na cadeira. — E Babi? — Babi vai prestar os vestibulares este ano, os resultados saem no máximo até fevereiro do ano que vem eu acho. Porém nada tem a ver com direito... Ela quer ser designer. — Ela já tem um estágio garantido com o senhor Rodrigo Soares, aposto. — concluo e ele sorri. Passamos alguns minutos conversando sobre amenidades, e é bom ter esse contato com ele novamente. Quanto tempo pensei que jamais teria uma relação sequer com meu irmão? É bom tê-lo próximo a mim. — Melhor voltarmos ao trabalho. — digo por fim, e lá vamos nós de novo. Analisamos vídeos, documentos, assinaturas e tudo mais que foi possível de se encontrar até o momento. Assim como não sabemos onde Lívia foi parar, sendo que os laudos constam que ela morreu no parto, e minha mãe confirmou que na realidade foi tudo algum tipo de armação, muito bem formulada. Então, Lívia está viva e sabemos que foi a culpada da falência de nossa família anos atrás, o que acarretou o casamento de Victória e Caleb. Minhas suspeitas sobre Julianne ter envolvimento com tudo estão ainda mais alarmantes devido a isso, ainda mais depois que meus pais nos contaram sobre como a relação deles com ela ficou abalada após o casamento e nenhum deles sabe onde ela está desde então. As horas passam rapidamente e mesmo assim ainda não tínhamos encontrado muita coisa. Haviam algumas suspeitas de porquê a tal filha de Lívia, Paula está envolvida com nosso irmão, Christopher, mas isso ainda não nos convenceu. Tudo ainda parece estranho, Chris nunca me pareceu fã de

relacionamentos sérios e Caleb que é mais próximo, confirmou o mesmo. Talvez fosse apenas uma fachada para ele e ela tivesse um plano por trás. Continuo passando alguns papéis e estaco ao ver fotos. Dominic Donatello, o grande concorrente da Soares Mídia, juntamente com Julianne em uma foto. — Caleb, olhe isso! — mostro a meu irmão. — O que? — pergunta confuso. — Olhe mais um pouco, com atenção. Ele analisa a foto por alguns segundos e me encara assustado, um pouco perdido ainda. — Dominic. — esclareço. — O que? — Olhe só! — jogo uma outra foto. — São a mesma pessoa, Dominic Donatello tem alguma ligação com Julianne. — Então eles... O toque alto do seu celular faz com que Caleb se cale e ele atende prontamente. Fico em silêncio, voltando minha atenção para as fotos, mas o tom de Caleb me chama atenção. — Ok, estamos indo! — ele finalmente desliga e eu o encaro confuso. — O que houve, Caleb? — pergunto. — Preciso que seja o homem que de fato é dessa vez, Castiel! — Mas... Do que está falando? — fico completamente perdido. — Você ama Dani? — pergunta e nervosismo toma conta de mim. O que aconteceu? — Sim, eu a amo mas... O que houve Caleb? Ela está bem? — pergunto, já desesperado. — Eles sofreram um acidente e Dani foi quem... — Onde ela está? — pergunto, já me levantando e procurando as chaves. — Ela quase perdeu o bebê. — diz e paro no mesmo instante. Fecho os olhos com força e tento absorver suas palavras. — Bebê? — pergunto receoso e finalmente o encara, o qual assente. — Eu vou ser pai? — pergunto mais a mim mesmo do que a ele. — Você vai. — responde. — Dani não pode sofrer nenhum abalo Castiel, por favor. — Eu estarei ao lado dela, isso é uma promessa. — digo e tento não pirar.

Eu vou ser pai. O caminho até o hospital é feito em silêncio, e a ansiedade de vê-la aumenta a cada segundo. Meu coração está acelerado e meu corpo anseia por alívio, algo que possa me acalmar. Fecho os olhos várias vezes e pela primeira vez, agradeço aos céus por isso. Pois para mim, por mais que ainda não seja a melhor pessoa do mundo e esteja apavorado. Eu não consigo deixar de ficar feliz com a notícia, pois vou ter um filho com a mulher que amo. Parece uma ironia do destino, mas prefiro acreditar que seja o nosso destino. Assim que adentramos o hospital, respiro fundo várias vezes tentando ficar calmo. A preocupação com Dani é tanta que assim que liberam nossas entradas, troco meia palavra com meu irmão e vou para o quarto dela. Quando chego até ele, vejo-a deitada em uma cama, com os olhos fechados, em sono profundo. Há alguns arranhões em sua pele, mas nada parece grave. Vou até ela e toco com cuidado sua barriga, apenas sentindo pela primeira vez a sensação verdadeira do que é ser pai. O que tanto fugi há anos atrás. E dessa vez, choro. Pela emoção de ter uma segunda chance e só consigo imaginar a felicidade de Jô ao saber que seria avó. Sorrio em meio as lágrimas e levo minhas mãos até o rosto de Danielle, acariciando-o de leve. — Eu te amo, feiticeira. — declaro e tento conter as lágrimas. Horas depois permaneço sentado em uma poltrona ao lado de sua cama. Havia conversado com seu médico e ele me deixou claro que foi por pouco que ela não perdeu o bebê. Senti-me ainda pior naquele momento, pois não sei ao certo como ser pai e muito menos como agir. Mas por ela eu darei meu melhor, por ela e nosso bebê. Para que sejamos uma família.

Danielle É um local branco, há apenas uma névoa passando ali. Onde eu estou? Noto rapidamente duas perninhas gorduchas correndo em minha direção. — Quem é você? Ei, onde você vai? — pergunto sem obter respostas do pequeno bebê que se afasta de mim. Os cabelos loiros e olhos verdes me remetem a... Minha bebê! — Não! — grito, porém ela se afasta ainda mais e de repente tudo fica negro.

— Eu queria te falar tantas coisas... Queria poder tocá-la novamente e estar ao seu lado a cada segundo a partir de agora. Eu a amo tanto minha Dani e ainda mais o nosso bebê. Eu sei que só posso estar sonhando, a voz baixa de Castiel dizendo tais palavras me acalmam e pude me sentir feliz pela primeira vez após essas semanas guardando nosso bem mais precioso. Levo então minhas mãos ao ventre e logo sinto uma outra mão quente pousada ali. Mas o que? — Dani, você está bem? — forço meus olhos a se abrir e encaro os olhos verdes do homem que amo. Ele realmente está aqui, então ele disse mesmo aquelas palavras. Ele ama nosso bebê. Analiso o resto do ambiente e tento me enquadrar ali. Estou em um hospital? — Ah meu Deus! — grito assim que me lembro do baque da batida e do sonho. — Nossa bebê está bem Castiel? Ela... — Quase perdemos ela. — diz e as lágrimas descem livremente pelo meu rosto. — Espera um pouco aí, você já sabe o sexo? — Eu tive um sonho, apenas isso. Sinto que é uma menina. — digo e sorrio ao pensar no nome dela. — O que faz aqui? — pergunto abruptamente. — Vim passar a noite com você e... — A noite? Que horas são? — pergunto confusa. — Duas da madrugada. Mais tarde se tudo estiver bem, você já será liberada. — responde e eu apenas assinto. O silêncio toma conta do ambiente e ficamos nos encarando por alguns minutos sem dizer nada. E há tanto a ser dito. — Eu só queria a chance de poder me explicar, contar o meu lado da história... Sei que o que fiz a sua irmã não tem perdão, mas eu não poderei seguir em frente sem você... Sem vocês. Um redemoinho de lembranças invade minha mente. Os gritos e desespero de minha irmã todas as noites, as quais passei em claro por medo dela tentar algo contra o bebê. Eu me apaixonei perdidamente pelo Castiel que era doce e gentil, sarcástico e irredutível... Não amo o monstro que destruiu a vida da minha irmã. E eu não posso simplesmente esquecer toda a dor que senti e sinto, apenas para brincar de casinha até que ele se cansasse de mim, e eu fosse jogada pra fora da sua vida.

Estava decidida, eu não iria cair nos jogos de Castiel. — Dani... — Não precisa fazer isso, não precisa cuidar da bebê e muito menos de mim! — o corto rapidamente. — Eu quero Dani, quero estar ao seu lado. — diz decidido. — E estarei. — Não pode me obrigar a ficar com você! — me altero e ele fecha completamente sua expressão. — Posso tanto que vou. — afirma de modo autoritário e minha vontade é de esganá-lo. — Não, não pode! Enquanto esse bebê estiver em minha barriga não pode fazer nada a respeito. — Assim que todo esse inferno acabar, vocês irão embora comigo. Será minha mulher e mãe da nossa filha, não aceito menos que isso Danielle! — diz em tom baixo e convicto, e eu me retraio um pouco. Que papo é esse de "minha mulher"? — Como você faria isso? Nos levaria pra onde? — pergunto sarcástica. — Eu jamais vou pra qualquer lugar com você, seu monstro. Por que seria mulher do homem que matou minha irmã? — grito com raiva e logo noto seu olhar magoado. Droga! — Cas... — Ok, se é assim que você quer. Duas opções: ou irá embora comigo, ou assim que a bebê nascer perderá qualquer tipo de poder sobre ela. O que acha? — diz em um tom frio. — Você não seria capaz disso... Caleb não deixaria. — Caleb não tem nada a ver com isso. — me corta. — Eu tenho ótimos advogados Dani, não ouse brincar comigo. E já que quer que eu seja o monstro, então serei. — Eu te odeio! — grito e ele se aproxima de mim. — Eu sei. — diz baixinho. — Mas eu te amo minha feiticeira e nada irá me fazer ficar longe de vocês. — confessa me olhando. — Você está me obrigando a ficar com você, eu não quero! — Eu sei que quer, sei que a mesma Dani que se entregou completamente a mim e se declarou, está aí dentro em algum lugar... E eu vou reencontrá-la. Minha mente viaja para os momentos que passamos juntos... Foram tão fortes e intensos. Eu achei que finalmente havia achado minha outra metade... Porém, Castiel está longe de ser isso.

— Sua filha nem nasceu e você está ameaçando tirá-la de mim! Como pode? — seguro as lágrimas. — Eu estou apenas fazendo o que posso pra que vá embora comigo. Eu preciso de vocês. — Pra onde diabos você quer nos levar? — pergunto sem entender. — Pra Londres, sua nova casa. — Você pirou Castiel? — pergunto incrédula. — Não é porque de repente decidiu que está preparado para ser pai que... — Apenas descanse, e me desculpe por ter me alterado. — esclarece. — Pode não acreditar, mas eu não sei o que faria caso te perdesse ou tivéssemos perdido o nosso bebê. O qual eu nem sabia que existia. — revela magoado. Apenas continuo encarando-o e num momento de covardia, dou-lhe as costas e finjo dormir. Mas o meu choro é feito em silêncio, sabendo que mesmo que sua proposta seja absurda, não posso descarta-la. Meu bebê merece uma família, por mais que seja com o homem errado pra mim, Castiel é o pai dele, e isso eu não posso mudar.

Capítulo XV

Danielle Quando finalmente tenho alta, já é outro dia. Castiel trouxe roupas para mim e tentou até me ajudar a me vestir, porém acabei pendido um socorro silencioso para a enfermeira que assistia tudo em silêncio, a qual, felizmente, entendeu. — Ele parece ser um cara legal. — diz e sorri. — Não quero ser intrometida, senhorita Campos, mas homens como ele estão em falta. — Eu... — Me desculpe, isso foi antiético. — sorri sem graça. Assim que termina de me ajudar, ela sai e eu apenas sorrio sem jeito. Ao mesmo tempo que fiquei sem reação sobre o que a enfermeira disse, fiquei com raiva pelo modo como ela o olhou. Ou melhor, o modo como a maioria das enfermeiras que vieram até aqui o olharam. Desocupadas! — Pronta? — Castiel pergunta e eu assinto. Esperamos por um tempo o médico aparecer e logo ele assina minha alta. Quando saímos do quarto, Castiel enlaça minha cintura e mesmo querendo tirar sua mão dali, acabo não o fazendo. Ele me ajuda a sentar na cadeira de rodas e sorri fraco, me levando até a saída. O que é um procedimento padrão, por conta do risco recente. Quando finalmente entramos no carro, Castiel me entrega um travesseiro e pede para que me afaste um pouco para frente. — O que está fazendo? — pergunto, enquanto ele coloca o travesseiro em minhas costas. — É para melhor conforto de suas costas. — responde e força um sorriso. — Eu li algumas coisas na internet enquanto dormiu... Eu vi que grávidas tendem a sentir dor nas costas e... — Devia parar de agir assim. — peço e ele se afasta, colocando seu cinto. — Melhor sermos sincero um com o outro sobre o que está havendo. Sobre o que disse no hospital. — Como assim? — pergunta e liga o carro, tirando-nos dali. — Ao começar por não saber pra onde vou. — digo e o encaro. —

Preciso pegar roupas na casa de Victória, vou ficar no apartamento de Isaac por um tempo. — Por que? — pergunta e noto que aperta com mais força o volante. — Porque preciso pensar sobre o que está havendo e... — Eu não sou idiota, Danielle. — diz de repente. — Não é difícil imaginar que já sabe da gravidez há algum tempo, pois meu irmão já sabia sobre. Não acha que teve tempo suficiente para pensar em como agir, ou até mesmo me contar? — pergunta nervoso. — Eu não sei como faria isso, mas eu iria te contar em algum momento. — retruco e volto minha atenção pra janela. — Por que não pode ficar no meu apartamento então? Até resolver os problemas que tenho aqui e minhas férias acabarem, assim poderíamos ir pra Londres e... — Qual o seu objetivo ao me levar pra Londres? — pergunto já cansada. — Não precisamos estar juntos para sermos pais dessa criança. — Eu sei disso. — esclarece. — Mas quero estar 100% presente na vida de nosso filho e não tenho como simplesmente abandonar meu emprego agora... Como disse que não está feliz com seu trabalho, pensei que poderia buscar realizar seu sonho de criar e ao mesmo tempo poderíamos criar nosso filho juntos. Fico em silêncio e absorvo suas palavras. Ok, meu emprego não é ruim, mas simplesmente não é minha grande paixão. Há tempos que quero sair de lá e não encontrei o motivo certo. Mas ainda sim, como será sair daqui e descobrir o exterior? Eu sempre quis conhecer Londres, mas pelo medo do avião e o medo de estar sozinha, nunca consegui viajar. Será que seria uma boa hora? Será que aceitar isso de Castiel, não é uma afronta a memória de minha irmã? Mas ao mesmo tempo penso que Annie jamais me perdoaria por não deixar que meu filho conviva com o pai, sendo que ela sofreu tanto por não ter isso. E como lidar que o mesmo homem que a abandonou, me quer ao seu lado em sua casa e em sua vida? Isso não faz sentido ainda pra mim, não mesmo. — Eu só não quero o título de sua mulher. — ouço seu suspirar fundo e me segundo para não olhá-lo. — Vou ser sincera com você Castiel, senão fosse essa gravidez, eu jamais o deixaria se aproximar de mim. — Eu sei. — diz simplesmente. — E concorda com isso? — pergunto surpresa. — Não, mas aceito. Assim, o silêncio se faz entre nós e dessa vez é torturante. Castiel o nota

em poucos minutos e logo liga o som. O som de One and Only de Adele se faz presente e eu tento não pensar na letra, e muito menos o olhar, mas parece impossível. “Você está na minha cabeça E eu adoro mais a cada dia Me perco no tempo Só pensando em seu rosto Só Deus sabe por que levou tanto tempo para deixar minhas dúvidas partirem Você é o único que eu quero Eu não sei por que eu estou com medo Eu já estive aqui antes Cada sentimento, cada palavra Já imaginei isso tudo Você nunca saberá se nunca tentar Esquecer o seu passado e simplesmente ser meu” Como se fossemos puxados um pro outro, ao mesmo tempo nos olhamos. Seus olhos verdes me encaram tristes e tento não chorar. O sinal está vermelho e eu sei que poderia beijá-lo, nos livrar dessa aflição mas algo dentro de mim impede. Infelizmente ainda não esqueci meu passado e nem sei se acontecerá. “Eu te desafio a me deixar ser sua primeira e única Juro que valho a pena Você me abraçar em seus braços Então venha e me dê uma chance Para provar que eu sou a única que pode trilhar esse caminho Até o final começar Se eu estive na sua cabeça Você se prende a cada palavra que eu digo Perca-se no tempo

Com a menção de meu nome Será que um dia eu saberei como é ficar perto de você E fazer você dizer que irá comigo para onde eu for? Eu sei que não é fácil desistir do seu coração Ninguém é perfeito Acredite, eu aprendi” (One and Only – Adele) Tento não pirar e levo minha mão ao meu ventre, quando uma nova música começa a tocar. Sinto meu corpo mais leve e a dor em meu corpo mesmo que pouca, faz com que me aconchegue ainda mais ao travesseiro que Castiel trouxe. Assim, acabo adormecendo.

*** Acordo com uma pequena dor de cabeça e sinto meu corpo pesado, porém abaixo de mim sinto um colchão macio. Respiro fundo e abro os olhos, encarando o quarto de Castiel pela pequena fresta de luz que vem de uma porta aberta. Arrasto meu corpo com cuidado até a cabeceira e aos poucos firmo meus pés no chão. Vejo duas malas minhas encostadas perto do closet e deduzo que eles a pegou na mansão. Penso em levantar, mas por medo dos cuidados que o médico pediu para que tivesse, acabo não o fazendo. Apenas sinto o chão gelado na planta de meus pés e espreguiço-me. Escuto ao longe a voz de Castiel e minha curiosidade se aguça. Ok, o médico não me proibiu de andar! Segurando-me nas paredes, ando bem devagar e saio do quarto sem fazer barulho. De longe, vejo-o sentado no sofá da sala, encarando um computador a sua frente, o qual tem uma mulher o olhando de volta. Fico então parada, apenas tentando ouvir. Os dois conversam em inglês e ao olhar novamente para a imagem no computador, reparo ser uma mulher loira de olhos azuis. Sem conseguir me conter, me aproximo mais e logo os olhos dela pairam em mim. Castiel se vira no mesmo instante e se sorri fraco ao me ver. Sinto falta do seu sorriso cínico.

— Ali, essa é Danielle. — ele diz e eu forço um sorriso a ela. Então sua melhor amiga, Alice, tem até um apelido... Ali! — Prazer te conhecer, Danielle. — diz e eu assinto, falando do mesmo modo. — Precisa de algo? — Castiel pergunta e eu penso um pouco. — Na realidade sim. — ele então assente e fico feliz, pois esquece completamente de Alice no computador, a qual vejo por canto de olho, nos encara de modo magoado. Ela gosta dele! — Preciso comer algo. — declaro. — Ok, eu vou pedir alguma coisa e... — Não, quero ir ao supermercado comprar os ingredientes... Gosto de cozinhar. Tudo para tirar a atenção dele sobre essa mulher. Vacalice! — Tudo bem. — cede e se despede rapidamente de Alice, a qual sequer me encara. — Vamos? — pergunta. — Na verdade, prefiro ir para o apartamento de Isaac, cozinhar lá. — digo e ele me encara sem jeito. — Eu não consegui deixa-la sozinha lá, fiquei preocupado. — declara. — Eu tenho um quarto de hóspedes, por que não fica nele ou no meu quarto? Tenho medo que passe mal e... — Tudo bem. — digo de uma vez, antes que me arrependa. — Mas ainda sim preciso comprar algo pra comer. — Ok, quer ir mesmo ao supermercado? — pergunta e sorri de lado. — Tem bastante comida aqui. — Posso dar uma olhada? — ele assente, então ando até a cozinha. Uma fraqueza toma conta de meu corpo e sinto-me cair, porém o seu corpo logo me segura. — Obrigada. — digo, embriagada por seu cheiro. — Sempre estarei aqui, feiticeira. — diz baixinho, o que me deixa sem resposta. Não há como fugir desse sentimento.

Capítulo XVI Danielle Alguns dias depois Deito-me na cama e fico divagando dentro do quarto de hóspedes. Os últimos dias tem sido bons e tenho que admitir isso. Castiel sempre é atencioso e está ao meu lado para ajudar. Minhas dores pelo corpo praticamente se foram e apenas espero ter uma nova avaliação médica, no caso fazer o ultrassom, que será justamente hoje. Levanto-me e coloco um vestido solto branco, encaro meu reflexo no espelho e busco algum arredondado mas ainda não há nada. Por mais que tudo seja inesperado, não consigo não sorrir ao saber que há uma vida crescendo dentro de mim. Além de que faz noites que tenho sonhos tranquilos com a mesma menininha de olhos verdes como Castiel correndo por um jardim. — Será que você é vai ser mesmo uma menina? — pergunto a minha barriga. Ouço batidas na porta e já pego minha bolsa em cima da cama. Felizmente estou bem para andar agora, quase nada me oportuna. Abro a porta e Castiel sorri pra mim, vestido despojadamente em um jeans de lavagem gasta e uma camisa branca dobrada até os cotovelos. — Pronta? — Sim. — digo e passo por ele. — Victória ligou e disse que estará lá conosco. — informa e assinto. Victória veio me ver várias vezes durantes esses dias, até eu fui em minha real casa. Na cabeça dela o que venho vivendo com Castiel é muito mais do que pra minha segurança, mas resolvi não discutir. Não quero que ela me julgue por algo e ainda mais tirar o sorriso do rosto dos pais de Castiel após contarmos a novidade. Eu só consigo imaginar o quão Jô ficaria feliz também. Quando finalmente chegamos a clínica, sorrio para a recepcionista e ela pede para que eu aguarde. Minutos depois Victória aparece e não está com a melhor cara possível. — Você acredita que Caleb acha que gravidez é doença agora? — pergunta nervosa. — Não quer me deixar sequer ficar em frente ao computador,

deve ter pirado. Caleb está em pé ao seu lado e a encara incrédulo. — Mas espera um pouco aí, você está grávida? — pergunto surpresa. Victória me olha sem graça e gargalha alto, juntamente com Caleb. — Ok, eu jurava que tinha dito. — sorri. — Você vai ser madrinha logo logo. — diz animada. — Ah meu Deus! — a abraço com carinho e sorrio ainda mais. — Parece que teremos trabalho, Caleb. — encaro Castiel e finalmente enxergo seu sorriso cínico. — Não me diga, já me basta ter os casos complicados na advocacia. Agora tenho uma mulher que insiste em querer me contrariar. — Caleb Soares! — Victória diz e o encara brava. Sorrio deles e sinto um aperto no peito. Não tenho isso com Castiel e nem posso querer. É apenas pelo bebê que ficaremos “juntos”, apenas isso. Quando finalmente somos chamadas, Victória segue para um médico e eu para outro, não sabíamos, mas sem querer nossas consultas foram marcadas no mesmo horário. — Boa tarde, mamãe. — o médico anuncia e eu sorrio pra ele. — Boa tarde, papai. Castiel o cumprimenta e logo me sento em uma cama reclinável, enquanto Castiel permanece em pé, sem querer se sentar. Os minutos passam e ele faz várias perguntas, quando finalmente ele começa o ultrassom, fico um pouco tensa, pois lembro-me que já vi tudo isso com Annie. Mas resolvo deixar isso de lado, pelo menos por agora. — Ali mamãe, aquele ali é seu bebê. — ele me indica uma manchinha borrada na tela e choro emocionada. Encaro Castiel e já o vejo com os olhos vermelhos. — Ainda é cedo para ouvir o coração ou sabermos o sexo. — ele diz. — Pelo que me disse sofreu um acidente há alguns dias, mas felizmente está tudo bem. Sorrio já aliviada e só assim noto um aperto em minha mão, a qual está por baixo da de Castiel. Puxo-a delicadamente da dele, o qual está tão feliz pela imagem na tela, que sequer me encara por isso. Querendo ou não, estamos unidos demais após isso, além do sentimento que ainda tenho por ele. Estou perdida, porém feliz.

*** Sede. Minha boca parece completamente seca, e então forço-me a levantar. Geralmente não acordo a noite e muito menos acordo com barulhos, meu sono é pesado, o que pode ser considerado bom e ruim ao mesmo tempo. Mas com a sede que estou, não há outra opção a não ser ir a cozinha. Coloco meus chinelos e saio do quarto abraçada ao meu corpo. Parece que está meio frio essa noite. Ou seria madrugada? Encaro o relógio da cozinha assim que chego lá e constato que são 1h30 da manhã. Abro a geladeira e sorrio ao ver a grande garrafa de água gelada. Coloco o líquido em um copo e vou bebendo aos poucos. Assim que termino, acabo pegando a garrafa e o copo, resolvo levar ao quarto. Voltando para lá, escuto um ruído alto, que logo se torna um grito. Noto que vem do quarto de Castiel, deixo a garrafa e o copo no chão e corro para o quarto dele. Abro a porta e estaco no lugar ao ver sua situação. — Não! — ele grita e aperta com força o travesseiro, de modo que seu corpo parece travado em posição fetal, enquanto seus dentes estão trincados. — Cas... — o chamo incerta. Chego mais perto e seus gritos parecem piorar ainda mais. — É minha culpa! — grita ainda mais alto. — Minha! — Cas... — insisto e noto seus olhos fechados. Ele está tendo um pesadelo. Tomo coragem e vou até ele, abraçando-o com cuidado, fazendo carinhos em seus cabelos. — Estou aqui. — digo baixinho e ele se mexe um pouco, ainda alterado. — Estou aqui. Ele continua por alguns momentos soltando alguns ruídos altos, mas logo seus gritos param. Continuo apenas acariciando seus cabelos e tento não assustálo. Passam-se alguns minutos e logo escuto sua respiração leve. Ele dormiu. Será que esses pesadelos são comuns? O que será que eles são? Pergunto-me e sinto sua dor, como se fossemos interligados. — O que você tem, Cas? — beijo seu rosto e ele continua dormindo. Levanto-me de sua cama a contragosto e paro na porta antes de sair do quarto. Observo-o dormir calmamente e sinto-me um pouco aliviada. Esse homem realmente tem seus demônios, e com certeza deve lutar para vencê-los sozinho.

— Dani. — fico parada e dou passos em sua direção, vendo seus lindos olhos abertos. — O que faz aqui? — pergunta surpreso. — Eu... — Eu te acordei, não foi? — pergunta sem jeito e senta-se encostado na cabeceira. — Sinto muito por isso, não se preocupe. — Mas Castiel, o que aconteceu para que... — Esqueça o que viu aqui. — diz nervoso. — Mas... — Preciso que saia do meu quarto. — pede e fico perplexa. — Por favor, Danielle. — Ok. — digo e logo saio. Arrependo-me no mesmo instante por ter feito isso e assim que alcanço o corredor, acabo retornando para seu quarto, o qual encontro trancado. Ele não quer realmente me contar e não vai. Ok, somos mesmo incompatíveis. Ele preso a seus demônios, e eu presa a meu passado.

Capítulo XVII Castiel

Cerca de um mês depois — Não! — grito e tento ir até minha mãe. Escuto o som de um tiro e ao mesmo tempo sinto minha perna queimar. Droga! — Cas! — Danielle grita. Levo as mãos a perna e tento evitar que o sangue saia. Sinto a dor forte e tento focar no que acontece a minha frente. Seja forte! Mas dessa vez vejo Paulo sacar a arma e destravá-la, acertando Danielle, Leandra, Lívia... — Não! — grito e tento chegar até elas. — Não! — Castiel. — ouço uma doce voz me chamar e sinto alívio no mesmo instante. — Castiel! Sinto braços quentes me envolverem e tento abrir os olhos, fugir novamente desse pesadelo que me assombra. Antes de tudo que houve no último mês, meus pesadelos eram baseados na morte de Annie e de Jô... Hoje imagens de Paulo tão próximo as pessoas que amo com uma arma, me atormentam até mesmo acordado. Abro os olhos e encontro Danielle agarrada a mim, noto minha camisa molhada e todo meu corpo está do mesmo modo, por conta do suor. Esse com certeza foi um dos piores. — Eu te acordei? — pergunto assustado, pois ela geralmente dorme feito pedra. — Não, na realidade estava sem sono. — conta. — Além de que já é de manhã, achei estranho não o ver tomando café esse horário, sendo que sempre vai ver Lívia... — Droga! — exclamo e me afasto com cuidado dela. — Preciso correr ou perderei o horário de visitas. — Eu sei. — sorri lindamente.

— Desculpe pelo barulho e... — Tudo bem. — diz e sai. Fico ali encarando a porta por alguns segundos, tentando entender a cabeça dessa mulher, mas como não tenho tempo a perder, acabo não querendo entende-la novamente. Tomo um banho rápido e coloco a primeira roupa que encontro. Pego as chaves do carro no criado mudo e sigo para cozinha, onde encontro Danielle bebendo um dos seus achocolatados favoritos. — Não vai comer? — pergunta e senta-se num dos bancos. — Não. — digo e me aproximo. Agacho-me até sua barriga já com um leve arredondado e a beijo. — Como estão hoje? — pergunto me levantando. — Bem. — diz e força um sorriso. Sei que ela não gosta muito de minha aproximação, mas enquanto não disser isso abertamente continuarei dando bom dia a ela desse modo. Encaro-a e logo me lembro do que compramos no dia anterior e corro para o quarto. Pego a caixinha com laço amarelo e volto novamente a cozinha. — Vai mostrar o sapatinho a Lívia? — Danielle pergunta e eu assinto. — Estou indo. Qualquer coisa me ligue. — ela assente e então saio do apartamento. Encaro meu celular e me assusto pela quantidade de mensagens que Alice deixou. Ela tem estado estranha ultimamente, mas infelizmente não tive muito tempo para perguntar sobre, os acontecimentos recentes acabaram virando minha vida de cabeça pra baixo. Descobrimos tantas coisas a respeito da família de Victória, Julianne e Paulo, as quais influenciaram diretamente nossas vidas. No meu caso, descobri que minha mãe biológica, Lívia, na realidade sempre teve problemas psicológicos e os pais de Victória se aproveitaram disso para manipulá-la, escondendo-a e fazendo com que ela não fosse encontrada. Após Julianne ser presa e Paulo morto, restaram os cacos para juntar, principalmente de Lívia, que está internada em uma clínica para se recuperar dos traumas e todo resto, o que sei que jamais se concretizará. Há feridas que não saram. Estaciono o carro em frente a clínica e o segurança me cumprimenta com um sorriso, com certeza já acostumado com minha presença, pois venho nos três horários de visitas que ela tem por dia. Entro na clínica e pego meu crachá de visitante. Pergunto a localização de Lívia já nos corredores e eles me informam

que ela está no jardim. Assim, me encaminho para lá. De longe, vejo-a sentada em uma cadeira branca exposta ao Sol. Vejo que Joaquim, como sempre, está ao lado dela, assim como esteve desde o dia em que o pesadelo dela acabou. Ele pode negar que não há nada demais, mas só de reparar no modo como ele a olha, todos sabemos que se apaixonou. — Oi. — digo e Joaquim sorri pra mim. — Vou tomar um café e já volto. — ele diz e logo sai. Sento-me no lugar dele e Lívia me encara com um sorriso fraco. Ela não demonstra muitos sentimentos e isso até é um progresso. Fico alguns segundos só a olhando e ela continua mantendo o mesmo sorriso. — Oi mãe. — digo e toco com cuidado suas mãos. — Como se sente hoje? Ela permanece em silêncio como sempre e eu aceito. Tem sido assim desde que ela saiu, e eu entendo perfeitamente, faz pouco tempo que ela se libertou de um passado horrível. Tudo bem que ainda não entendo ao certo porque ela aceitou roubar meus pais há anos atrás, claro que ela pode ter sido manipulada, mas ela poderia muito bem ter contado a verdade para sua irmã. — Bom, como já te contei, aquela moça loira que vem comigo aqui algumas vezes se chama Danielle, e é a mãe do seu neto ou neta. — conto novamente. — Nós compramos o primeiro sapatinho para o bebê ontem... Na cor amarela pois ainda não sabemos o sexo e... — Eu sinto muito. — diz fracamente, me surpreendendo. — Foi por você, meu filho. — ela diz e pega algo embaixo da cadeira, uma caixinha que nem tinha reparado. Ela me entrega com uma mão e estende a outra, entrego-lhe o sapatinho que comprei para meu bebê e pego a que ela me dá. Abro a caixinha incerto e paraliso ao ver o conteúdo. “Foi por você, meu filho.” Lágrimas descem por minha face e Lívia está da mesma maneira. — Eles ameaçaram fazer algo contra mim caso não... — Esqueça isso, Gabriel. — estranho o nome, porém ela sorri. — Desculpe, esse é o nome que te dei em minha mente. — conta e sorri sem jeito. — É um lindo nome, mãe. Me chame dele e... — Não tem problema, Castiel também é um nome de anjo, do mesmo modo, você é um pra mim, filho. — revela emocionada. Fico sem palavras e encaro novamente o sapatinho branco já amarelado pelo tempo que está dentro da caixa que ela meu deu.

— Foi por você que tive forças. — confessa. — E espero que um dia possa ser uma mãe de verdade pra você. — Você já é. — digo e sem me conter, a abraço. Pela primeira vez na vida, sinto-a mais solta comigo e sinto-me amado novamente. Estou nos braços da mulher que meu deu a vida, que sacrificou tudo por mim. Eu sempre pensei que não fosse bem vindo e muito menos amado, hoje vejo que nunca poderia ter sequer argumentado algo assim. Eu tenho tudo aqui, nesse abraço.

*** Depois de algum tempo com Lívia, acabo indo para meu apartamento. Chego lá e o silêncio, como sempre, me recebe. Procuro Dani pela casa e não a encontro. Pego meu celular no mesmo instante e ligo para ela, pois minha preocupação é constante. No terceiro toque ela atende. — Oi, Cas. — ouço a voz de Victória. — Está tudo bem? Onde estão? — pergunto já nervoso. — Estamos ótimas. — declara e ouço um barulho forte atrás. — Estamos na praia com Caleb. — Ah certo. Por que Dani não atendeu? — pergunto. — Está com Caleb atrás de um picolé de acerola. — sorrio. — Já é terceiro dela. — Ok então. Diga a ela para me mandar mensagem caso precise de algo e... — Por que não vem ficar conosco? — pergunta. — Melhor não, Vic. Não quero estragar o dia de vocês com minha presença, sabe que Danielle se transforma quando estou por perto. — digo a verdade. Sempre que estamos todos juntos, Dani dá um jeito de me evitar ao máximo, sendo que praticamente foge. Em casa, ela me ignora completamente na maioria do tempo. Seu abraço mais cedo me assustou, pois ela só deixa-me aproximar para beijar sua barriga, de resto, não sou ninguém. — Eu sei disso, Cas. — ela suspira fundo. — Sei também que ela vai se arrepender. E você deveria parar de mendigar amor. — Como assim?

— Viver com a parte de alguém não é saudável, disse isso a você um tempo atrás, lembra? — concordo. — Então, por que ainda faz isso? — Eu amo Danielle, Vic. — declaro derrotado, sentando-me no sofá da sala. — E ela te ama, só está deixando o passado atrapalhar tudo. — Eu a entendo, Vic. — confesso. — E vou lutar por ela. — Então faça isso, lute! — diz convicta. — Não mendigue mais nada, Cas. — Eu vou fazer isso. — digo e logo nos despedimos. Encaro meu celular novamente e não tenho coragem de falar com Alice. Sim, estou sendo um péssimo amigo, mas não quero levar problemas pra ela. Encaro o quadro na parede e sorrio pela foto. Por mais que não tivéssemos certeza ainda do sexo, eu realmente acredito que é uma menina. Levanto-me e toco de leve o pequeno borrão da foto, a primeira foto de nossa filha... Nossa Annie.



Parte II “Porque quando perdemos alguém, finalmente temos noção do quão ela é importante, de como faz falta. E eu te perdi pro meu passado, restando a mim um futuro sem você.” - Danielle Campos



Capítulo XVIII Castiel Dois anos depois Preparando-me para mais um dia exaustivo, mais uma briga... Mais uma das cansativas discussões com Danielle. Danielle ainda continua sendo um enigma para mim, mas não de modo bom. Mesmo após o nascimento de nossa pequena, quando pensei que ela me daria uma chance, nada mudou. Ou melhor, tudo apenas piorou. Se antes para ela eu era um fracasso como homem, agora eu sou como pai. Como eu podia convencê-la do contrário? Os poucos momentos que ainda compartilhamos juntos são com Annie, ou quando ela decide que me quer e viramos a noite fazendo amor como loucos. Como eu sinto falta de como ela era antes de descobrir a verdade! Pego minha maleta e penduro o jaleco no ombro. Os poucos momentos que saio dessa maldita rotina de brigas angustiantes são trabalhando ou quando ficamos apenas eu e minha pequena. Porém eu ainda quero paz com a mulher que me fez sentir amor pela primeira vez. — Ficará de plantão essa noite? — a voz dura de Dani se faz presente e a olho sobre o ombro assentindo. — Tem passado muito tempo no hospital, não acha? Lá vamos nós! — É o meu trabalho Danielle, se não sabe eu sou... — Trabalho, Castiel? — pergunta ironicamente — Você passa a maioria do seu tempo trabalhando e mal me pergunta como estou... — Que merda você quer de mim? — grito já exausto e ela me olha assustada. Eu nunca havia gritado com ela antes. Com certeza estou no meu limite. Ao analisá-la sinto meu coração esfriar e os meus músculos tencionarem. Onde foi parar o calor e a paz que ela me trazia? Seus olhos se enchem de lágrimas e só assim percebo que me excedi. Droga, estou apenas piorando as coisas.

— Querida me perdoe, eu... — Cale a boca — grita e me empurra fazendo com que minha maleta caia. — Estou farta de você, Castiel!

Quem é essa mulher a minha frente? Gritando comigo como se eu fosse um monstro... Eu nunca fui o cara perfeito e sei muito bem dos meus erros, os quais ela conhece muito bem também, e todos nós um dia erramos. Danielle não é perfeita, e acho que demorei tempo demais para perceber isso. Quem ela pensa que é pra me crucificar dessa maneira? Dois anos de nossas vidas baseados no que acha e no modo como ela quer me tratar... Estou farto disso! — Chega! — exclamo com raiva e ela em olha sem entender. — O quê? — pergunta. — Tudo o que quer é me afastar, não é? — pergunto e ela fica estática — Responda, porra! — grito sem me conter e jogo a primeira coisa que encontro na parede. — Cas. — sinto-me ainda pior. — Agora eu sou Cas? — pergunto e sorrio ironicamente — Cansei de você, Danielle! Cansei de viver a sua disposição, viver mendigando um amor que praticamente não existe mais! — O que quer dizer com isso? — pergunta e noto sua voz temerosa. Pior é não me sentir mal com isso, só consigo pensar em pôr um ponto final. Por mais que tivesse tido várias oportunidades disso, nunca me vi longe dela, mas nesse momento, apenas quero distância. Foram mais de dois anos lutando por um amor que ela insiste em me negar. Foram nove meses da gestação de Annie sendo culpado e desmoralizado todo dia. Foram dias e mais dias de humilhação. Isso já não é amor, não o que senti pela mulher que me conquistou assim que a vi... Danielle não é mais a mesma, assim como eu também não sou. — Quero que isso termine aqui. — sou sincero. — Desisto de nós, Danielle. — Só pode estar de brincadeira... — tenta balbuciar mais alguma coisa, porém eu me aproximo e ela se cala. — Não, essa será nossa realidade agora. — declaro friamente. — Vai abandonar Annie assim como... — Assim como abandonei Luna? — já estou completamente fora de mim — Eu não sou mais um fraco, Danielle, só você não consegue enxergar isso! Eu cansei de tentar fazê-la esquecer o passado. Tenho amor a minha filha, não a

você. — respiro fundo e tento controlar meu tom de voz. — Não me ama mais, é isso? — pergunta. Ela morde o canto esquerdo do lábio inferior e leva uma mecha para trás da orelha. A mania que tanto me encantava e hoje... Nada. — Não. — vejo seus olhos vacilarem e noto seu ar de incredulidade. — É ela, não é? — pergunta e eu a olho sem entender. — Dormiu com ela, Castiel? — pergunta enfurecida. — De quem diabos você está falando? — pergunto sem paciência. — Vacalice! — vocifera. — Pare de chamá-la assim! — exclamo com raiva e vejo que lágrimas banham seu rosto. Não, eu não posso ceder! — A sua protegida, a mulher perfeita... — zomba — Deve mesmo ficar com ela já que não foi homem suficiente para ser fiel a mim. — Por mais que tenha me feito de seu capacho todo esse tempo, eu jamais desejei outra mulher que não fosse você. Não venha querer me culpar pelos seus erros ou melhor, nossos erros. — grito transtornado. — Espere aí, meus erros? — gargalha em meio as lágrimas — Você destruiu a minha vida e ainda quer me cobrar algo? — pergunta no tom que já conheço muito bem, o qual usa sempre pra me ferir. — Eu não quero mais nada de você Danielle, nada! — digo e saio do

quarto. Preciso sair daqui, preciso de espaço. Deus, havia acabado! Tudo pelo que lutei havia ido embora porque Danielle não consegue me perdoar pelo passado. — Merda! — praguejo, batendo com força as mãos no volante. Éramos para ser uma família feliz, era para eu finalmente ter o que sempre sonhei. Só consigo me perguntar o porquê tudo sempre se complicar de modo irreversível para mim. Isso é uma merda!

*** — Bom dia doutor! — Angeline me saúda assim que passo pela recepção do hospital e sorrio em sua direção.

Mais um sorriso falso. A manhã é bastante movimentada e felizmente nenhum dos meus pequenos pacientes estavam com algo grave. Algumas gripes e nada com que as mães tivessem que se importar. Depois que minha mãe superou a leucemia, tomei para mim a função de tentar salvar vidas também; assim como seu médico, John, o fez. Ser pediatra foi um dos sonhos que me levou ao começo de minha redenção com o passado... minha redenção comigo mesmo. — Perdido em pensamentos? — levanto o olhar e encontro Alice, que sorri gentilmente para mim. Um alívio se instala em meu peito ao vê-la, ela é uma das poucas pessoas que fazem meu dia melhorar. Mesmo os piores deles. — Só um pouco. — sorrio em resposta. — Está indo almoçar? — pergunto. — Exatamente, queria saber se o belo moço pode me acompanhar. —diz divertida. — Claro que sim. — desligo meu notebook e retiro o jaleco. — Vamos? Não há comparação entre Danielle e Alice, por mais que as duas fossem muito parecidas fisicamente, por dentro são completamente diferentes. Não sei porque Danielle sempre insistiu em julgar minha amiga, sendo que conheço Alice desde os meus 23 anos e nada aconteceu. Enquanto Danielle é tempestade, Alice é calmaria; além de Alice ser viciada em café, o que Dani detesta. Não podia dizer que os últimos tempos tenho me sentido sozinho, claro que sim, mas depois de Danielle, não desejei mais ninguém e Alice está fora de cogitação. — Está calado hoje — Alice me olha curiosa enquanto degusta seu café. — Mais um de seus mistérios? — pergunta e sorri. — Mais um dos meus finais não felizes. — zombo de mim mesmo. — Sinto muito. — diz e eu assinto com um sorriso fraco - Você e Dani não... — Terminamos. — digo e assim percebo que é a primeira vez que assumo isso. Isso machuca demais, do mesmo modo que as palavras de Danielle. — Eu nem sei o que dizer. — Não precisa dizer nada Ali, está tudo bem. — minto. — Certeza? — insiste e eu sorrio com sua preocupação. — Irá me odiar se eu fizer algo agora?

— Como assim? — pergunto confuso. — Nos conhecemos desde a faculdade Castiel, assim que começamos a trabalhar juntos pensei que finalmente teria minha chance com você... — Ali, mas.. — Deixe-me continuar. — pede e eu assinto nervoso, Dani não pode estar certa sobre Alice. — Eu sei que é recente sua separação e talvez possam voltar, mas não vou desistir sem lutar. Não dessa vez. — Ali... Ela não me deixa terminar e sela nossos lábios. O gosto doce de sua boca junto ao café me embriaga. Não consigo pensar direito, mas também não correspondo. Querendo ou não, não são esses lábios que quero. — Uma chance, Cas! — Alice pede com sua boca quase colada à minha. Encaro minha melhor amiga sem saber o que dizer, sem saber como agir. Eu nunca pensei que Alice me olharia de tal modo, que pudesse gostar de mim assim. — Ali, desde quando... — Desde sempre, Cas. — suspira fundo. — Me desculpe, eu agi impulsivamente e... — Eu sinto muito, Ali. — declaro sem jeito. — Sinto muito por não... — Está tudo bem. — dá de ombros. — Eu preciso ir. — Ali, olha... — Está tudo bem, Castiel, mesmo. — sorri fraco. — Não é sua culpa. Ela então sai e me deixa abismado. Como nunca percebi que Alice gosta de mim como homem? Deus! Isso não faz sentido algum! Permaneço sentado, sem coragem de ir atrás dela. O que eu poderia fazer?

Danielle — Como pude ser tão cega? — questiono ao quarto vazio e sento-me no chão, já com as lágrimas descendo por meu rosto. Castiel vem sendo um homem maravilhoso tanto comigo quanto com nossa filha, Annie. Confesso que quando ele me contou sobre o nome que daria a ela, no mesmo dia que descobrimos o sexo, fiquei surpresa e ao mesmo tempo

aliviada, pois tinha pensando neste exato nome. Mas tudo o que fiz, em vez de contar a ele que gostei, foi brigar. Brigar pelo fato dele querer homenagear minha irmã... Olhando pra trás, vejo o quanto fui infantil. Ajo na maioria das vezes por impulso e Castiel é uma grande vítima disso, pois venho descontando nele boa parte daquilo que acho que ele merece. Mas quem sou eu afinal para julgá-lo? Mesmo que eu tenha sofrido no passado junto a minha irmã, e ele seja uma das causas disso, não é meu dever julgar ninguém. Não sou perfeita. Sem mais saber o que fazer, pego meu celular e ligo para Victória. — Espero que tenha boas notícias! — Vic diz ao atender e sinto meu coração se quebrar. — Alô? Dani? — Acabou, Vic. — confesso. — Como assim? — pergunta. — Castiel terminou tudo. — digo derrotada e ouço seu longo suspiro. — Dani, ele deve estar de cabeça quente e... — Ele já admitiu que não me ama mais Vic, eu sabia que a qualquer momento ele iria ficar com a tal Alice. — digo em desespero, mas no fundo sei que é mais uma paranoia de minha mente. — Espera aí? Eles ficaram juntos? Eu vou matá-lo. — diz nervosa. — Ele negou, mas mesmo assim sei através da forma que ele a defende que gosta dela. — choro ainda mais. — Ele a defende do mesmo modo que me defendia. Isso é verdade! — Dani, se acalma por favor! — pede. — Ele pode até ter terminado tudo agora mas duvido que irá jogar o amor de vocês fora tão facilmente. — Ele não me ama mais, Vic. — dói muito admitir isso. — Dani... — Mommy? — escuto a voz de Annie pela babá eletrônica. — Depois nos falamos, Annie acordou. — digo rapidamente, já me levantando, indo ao quarto de minha filha. — Por favor, me ligue assim que puder. — pede e logo nos despedimos. Já no quartinho de minha princesa, a encontro sentada na cama, traçando um modo de descer, mas a proteção a impede. — Oi, sweet heart! — ela sorri do apelido e vem para meu colo. — Onde daddy está? — pergunta. Digo a ela que o pai foi trabalhar e ela assente. Mesmo não tendo [1]

[2]

completado nem dois anos, Annie é uma criança muito esperta. Ela mistura inglês e português em suas frases frequentemente, tanto porque tentamos mostrar a ela as duas línguas. — Quero andar, mommy . — diz e a coloco no chão. Fico ao seu lado, por medo dela cair ou algo assim, mas felizmente ela já tem um bom domínio disso. Annie é a mistura perfeita de Castiel e eu. Os cabelos loiros e a pele alva meus e os olhos verdes do pai. E olhando para ela, em meu colo, enquanto a amamento, é impossível não sentir falta de Castiel. Como eu poderia olhar para ela e não sentir a dor da perda do homem que amo? Eu sei que não venho sendo a melhor mulher do mundo e muito menos seria um dia sua esposa, pois minhas atitudes egoístas e as várias brigas que tivemos aos longos desses dois anos são provas disso. Quanto mais Castiel se portava como o homem perfeito, mais a culpa me invadia. No fim, eu não consegui aceitar que ele me ganhou por completo, mesmo que o passado ainda me atormente. Além da briga sem fim que tivemos durante toda gestação de Annie até o dia do parto, a qual consistia no fato de que ele não me prometeu que a escolheria, caso tivesse que fazer isso. Ele não prometeu, mas felizmente tudo correu bem. Mas há também as perguntas que sempre me atormentam, as quais nunca tive coragem de dizer em voz alta: Por que eu mereço todo seu amor? Por que ele não pode ser tão maravilhoso assim com minha irmã? Não me sinto digna desse sentimento, porque não consigo entender a profundidade disso. O porque dele não ter estado ao lado de minha irmã, mas comigo é um homem completamente diferente. Castiel abriu muito mais que seu coração para mim, ele me entregou sua alma e sua vida, e pelo o que sei ele nunca fez tal coisa por outra mulher. O que eu tenho de especial, afinal? — Pronto, mommy. — Annie diz, após terminar sua papinha e eu sorrio para ela, tentando não demonstrar minhas aflições. — Que tal ver um pouco de tv enquanto limpo aqui e depois desenharmos? — pergunto e ela concorda sorrindo. Deixo Annie na sala, sentada em meio a vários brinquedos, enquanto arrumo um pouco a cozinha. Felizmente tenho uma boa visão dela daqui, pois a cozinha e sala são integradas. Enquanto Annie se distrai, lavo a louça e coloco-a para escorrer, mas ao mesmo tempo meus pensamentos estão a mil. Eu tenho duas opções nesse momento. A primeira é pegar minhas coisas e de Annie e partir no primeiro voo [3]

para o Brasil, fingindo que odeio Castiel e jamais daríamos certo; e a segunda é me entregar de vez a esse amor e me redimir por toda a dor que o causei durante esse tempo juntos, sem deixar de dizer a ele o quanto o amo. — Ai. — reclamo ao bater o dedo mindinho do pé na quina de uma parede. Olho para cima e noto que é a parede de crescimento de Annie, a qual tem sua marca de altura por casa semana que passa. Na realidade é um quadro que Castiel comprou e começou a riscar com nossa filha, desde o primeiro dia dela em casa. Após terminar de limpar, vou até a sala e chamo Annie, mas logo noto que dorme serenamente em meio aos brinquedos. — Ei, sweet heart! — acaricio seus cabelos lisos. Ela raramente dorme tanto, mas pelo seu semblante tão calmo, resolvo deixa-la dormir um pouco no tapete macio da sala. Deitando-me ao seu lado, fico por alguns minutos divagando sobre tudo. Se não fosse por ela, jamais estaria aqui hoje, sei disso. Annie amoleceu meu coração e fez com que Castiel permanecesse ainda mais aceso dentro de mim. — Eu te amo, princesa. — beijo sua testa. Olho para a parede a nossa frente e lágrimas vem ao meu rosto, fazendome lembrar de tudo. O nosso primeiro dia em Londres, em como nossa vida modificou por estarmos aqui. Encaro os quadros a minha frente e sorrio ao ver o tamanho de minha barriga em cada uma delas. Castiel registrou tudo, de todas as formas possíveis, até mesmo o nascimento de nossa filha. E por mais que eu seja uma impulsividade ambulante e possa me arrepender da escolha, acho que sei o que devo fazer. Ouço o som da campainha e levanto-me. Abro a porta e Lívia sorri pra mim. — Oi, entre. — peço e ela passa por mim. Noto que há um embrulho em suas mãos e fico curiosa. — Mais um presente para netinha? — pergunto sorrindo. — Bom, pelo jeito ela só o verá depois. — ela vai até Annie e beija sua testa. — Preguiçosa. — Muito. — sorrio. — Já tomou café da manhã ou quer comer algo? — ofereço. — Não, estou bem. — ela senta-se no sofá e me encara inquisitiva. — Parece inquieta hoje. — diz e arquei a sobrancelha. Tal mãe, tal filho. — Problemas com Cas. — digo sem jeito.

Com toda distância do Brasil e das pessoas que amo, Lívia e eu nos aproximamos muito desde que ela resolveu morar perto do filho. Mesmo com Castiel oferecendo a ela para morar conosco, o que seria ótimo em minha opinião, ela acabou se mudando para o apartamento a nossa frente, juntamente com Joaquim, o qual mesmo controlando ainda a empresa de segurança, vive aqui hoje. — Eu sei que ele está sofrendo. — confessa e fico estática. — Eu sei parte da história, pois foi o que ele me contou, mas pela sua versão dos fatos, posso imaginar um pouco da dor que sente. — Como assim? — indago, pois Lívia nunca interferiu em nada em nosso relacionamento. — Castiel me disse sobre o que houve com sua irmã, do mesmo modo que você me contou, mas ele nunca me disse como se sente agora, ou o quanto sofre. — revela. — Ele carrega o mundo nas costas e não percebe isso. Ele pode ter errado muito, Dani, eu concordo com você, mas não acha que já basta? — pergunta. — Eu vejo o modo como trata você e Annie, vocês tem tudo para ser uma família. Ele é um bom homem, Dani. Sei que o ama e ele também, mas também sei que amor não é o suficiente. Faça-o feliz menina ou deixe-o ir. — ela me encara com um fraco sorriso e eu assinto. — Ele terminou tudo hoje. — confesso. — Acho que ele chegou a exaustão. — Um dia isso aconteceria, não acha? — pergunta e eu concordo. — Eu tenho uma escolha a fazer, não é? — ela assente e se levanta, abraçando-me em seguida. — Obrigada por não me julgar. — digo. — Eu conheci pessoas ruins, Dani. Sei quando alguém faz o que faz apenas para machucar, mas você está tentando se proteger de algo que não precisa. Viva esse amor ou o entregue para outra pessoa. — Deveria ter ouvido esses conselhos antes. — sorrio em meio as lágrimas. — Não sou tão boa com isso mas o tempo me ensinou muita coisa. — ela sorri cinicamente. — Vocês sorriem do mesmo modo. — conto e ela aumenta ainda mais o sorriso. — Ao menos isso ele puxou a mim, pois o humor negro só pode ser convivência com minha irmã. — brinca. — Sei... — zombo. — Onde Joaquim está? — pergunto. — Foi resolver algo da empresa.

— Sei que nunca perguntei mas... — Se estamos juntos? — pergunta e fica corada. — Bom, não sei ao certo, ele nunca disse nada e... — Vocês formam um casal indo, além do mais, Joaquim é a cara do George Clooney. — brinco e ela sorri abertamente. — Isso é verdade. Continuo conversando com Lívia por algum tempo, acabamos até almoçando juntas. Annie ficou super animada ao ver o presente da avó, o qual é uma nova remessa de tintas para ela usar. Fico feliz em ver que minha filha gosta do mesmo que eu, criar. — Posso passar o dia com ela? — Lívia pergunta e eu assinto. Ouvimos a campainha e enquanto as duas olham cores, vou até a sala atender. Abro a porta e me deparo com Joaquim, vestido em seu terno típico. — Ei, sogro. — brinco e ele sorri. Peço para que ele entre e meio inseguro ele o faz. Não sei porque Joaquim é tão cuidadoso com tudo, mas talvez seja por sua profissão. — Você é uma peste, menina. Assim como Isaac sempre disse. — sorrio. — E falando em Isaac, alguma notícia dele e Paula? — pergunto. — Eles estão viajando ainda. — diz rapidamente. — Eu acho que ele está nos escondendo algo. — Eu também. — diz cabisbaixo. — Não corra! — ouço a voz de Lívia e vejo o furacão de Annie pular no colo de Joaquim. — Vovô! — Annie grita e Joaquim fica completamente sem graça. Gargalho junto a Lívia da situação, enquanto Joaquim e Annie conversam. Mesmo os dois negando que estão envolvidos, sei que de alguma forma estão. Annie tem percepção disso como eu e Castiel, afinal eu considero Joaquim um sogro e Castiel brinca o chamando de padrasto. Ajudo Annie a se arrumar e logo ela sai com eles, com certeza irão caminhar por algum parque, o programa que adoram. Sozinha no apartamento, arrumando e limpando tudo, vejo que de certa forma todos os meus sonhos se realizaram. Me tornei independente no trabalho, sendo uma designer de capas de livros, tenho uma filha linda e um homem que me ama; os quais são minha família. E eu quero isso, quero mesmo. Só tenho que pensar por onde começar. Castiel me ganhou com seu jeito cínico, o olhar sincero e as piadas que

não cabem em sua boca. Jamais me perdoarei se o deixar escapar assim. Eu lutaria pelo seu amor, mesmo que este não exista mais.

Capítulo XIX

Castiel O dia já tinha amanhecido e finalmente fui liberado. Depois do beijo de Alice, até pensei em procurá-la e dizer algo, mas acabei não o fazendo. Só consigo pensar na reação de Danielle, de como direi isso a ela. Se tudo já estava perdido, agora não há mais chances. Dentro do carro, fico divagando sobre isso, em como Alice não me despertou nada com o beijo, e no fim entendi sua ação. Alice não gosta realmente de mim, pode até ter gostado antes, mas hoje, foi apenas por impulso. Poucas horas depois do nosso beijo, encontrei Alice chorando em sua sala. Assim que entrei ela limpou as lágrimas rapidamente e tentou disfarçar, mas eu sabia que tinha algo de errado com ela. — Ei, o que houve Lice? — pergunto receoso e ela me abraça com força. Assim que ela se afasta um pouco, a porta de sua sala se abre e seus olhos se arregalam. — E ainda quer cobrar algo de mim? O reconheço de imediato, ele é o novo neurologista do hospital. Devia estar trabalhando aqui no máximo há uns cinco meses. Ele me encara com ódio e fico ainda mais perdido. — Evan, espere por favor! — Alice grita, porém ele simplesmente balança a cabeça e sai. — Não o deixe ir Cas, não deixe... — chora em meu peito e a aconchego ainda mais. — Shhh está tudo bem, Ali. — tento acalmá-la — Me diga o que está havendo. — Me perdoe por hoje mais cedo, Cas. — pede e me encara. — Eu confesso que fui apaixonada por você e... — Por que nunca me disse nada? — pergunto angustiado. Nós nos conhecíamos desde a graduação, não há como alguém esperar tanto tempo pra se declarar... ou há? Se bem que meu irmão levou vinte anos pra dizer seus verdadeiros sentimentos por Victória. — Eu fui covarde, Cas e... — soluça alto. — Agora estou perdendo o

homem que amo por medo novamente. — Como assim? — pergunto já perdido. — Hoje mais cedo quando lhe pedi uma chance, eu agi por impulso — confessa e fico aliviado. — Eu e Evan dormimos juntos pela primeira vez há dois dias. Como era minha folga no dia seguinte, acabei por ficar vasculhando o apartamento dele. — ela chora ainda mais. — Não precisa me contar se não quiser. — digo ao notar a expressão de dor em seu semblante. — Ele me fez sentir coisas novas, coisas que jamais pensei. Na minha cabeça Cas, pensei que só seria feliz um dia se fosse com você, mas Evan entrou em minha vida e fez uma bagunça, desde que chegou aqui nós saímos juntos... E quando finalmente me entreguei a ele, pensei que seria diferente. Que eu fosse especial. — Alice... — Eu observei no dia seguinte a nossa noite todo o apartamento dele. O quão era clean e muito bem decorado ao mesmo tempo. Não era algo másculo como imaginei. Quando cheguei a cozinha senti vontade de tomar café, assim como você sabe que amo. Quantas vezes não lhe pedi para trazer grãos do Brasil para mim, não é? — sorri fracamente. — Usei a cafeteira normalmente e me sentei em uma das poltronas da sala. Quando a porta da frente abriu, me assustei e acabei derrubando o café no tapete. Foi só por esse acaso do destino que soube da verdade. — Que verdade, Ali? — pergunto nervoso. — Evan gritou comigo e me expulsou de seu apartamento. Eu estraguei sem querer o tapete que a ex mulher dele tanto amava, a qual morreu há dois anos. Eu juro que não sabia Cas... Como eu poderia saber? — ela chora ainda mais e eu abraço com força. Alice esteve comigo em vários momentos. O mínimo que eu posso fazer agora é ampará-la. Ambos sofremos por amor e tentamos buscar um no outro uma válvula de escape. Porém estamos presos demais aos nossos próprios sentimentos. — Então foi por isso você me beijou? — pergunto e ela assente sem graça. — Eu queria esquecê-lo Cas... — confessa. — Me perdoe por isso. Lembranças vem em minha mente e sorrio sozinho. — Se eu lhe contar algo, acho que irá morrer de rir. — ela me encara curiosa. — Você não nega ser sobrinha de John.

— Como assim? — Ó minha cara, senhorita Callaway, seu tio John fez isso com minha mãe. — conto lembrando-me da cena, ainda mais de meu pai o batendo em seguida. — Tio John beijou sua mãe para esquecer tia Jude? — confirmo e ela arregala os olhos. — Deus do céu! — Pois é. — afirmo sorrindo. — Cas. — se afasta um pouco de meu abraço. — O que sente por Dani? — Sinceramente? — pergunto e ela assente. — Amor e mágoa, dois sentimentos que de jeito nenhum combinam. — Vocês dois são opostos Castiel. — fico curioso. — Danielle é preto e você branco... Ao mesmo tempo são perfeitos um para o outro. — Você acha? — pergunto sem graça. Há poucos minutos eu só podia pensar em como falar com Alice novamente após nosso beijo, porém nossa amizade ainda está aqui, intacta. — Tenho certeza, Cas! — diz e me abraça com carinho. — Espero que um de nós dê sorte no amor. — digo sorrindo e ela gargalha. — Evan está louco por você, Alice! — Ele pensa que eu te amo, pois foi isso que alguns de nossos colegas disseram. Além do mais, ele praticamente me expulsou do apartamento por ainda amar a ex... — Talvez ele esteja apenas confuso. — tento amenizar a situação. — Pode ter certeza que terei uma conversa de homem para homem com ele, se é que me entende? — pisco para ela que me dá um tapa no braço. — Não me venha usar sua força. — me repreende. — Ele vai sair correndo homem. — Isso prova que ele não te merece! — olho as horas no relógio e já são cinco e meia da manhã. — Preciso ir. — Espero que tudo dê certo. — diz. — Eu também. O som de meu celular me desperta de meus pensamentos e suspiro fundo, vendo que Danielle está ligando. Deixo tocar pois já estou na frente de nosso prédio e poderei falar com ela pessoalmente. Na subida no elevador deixo meu corpo cair para trás na parede, sentindo-me esgotado, tanto mentalmente quanto fisicamente. Sei que ao abrir a porta de casa iria encontrar meu travesseiro jogado na sala. Pela minha demora, Danielle com certeza vai me colocar pra dormir no sofá, mas dessa vez eu sinto

que realmente mereço. Ao abrir a porta a cena que me aguarda é surpreendente. Danielle está sentada desconfortavelmente na poltrona e pior, com a camisola que eu tanto adoro. O que ela faz ali? Chego próximo a ela e toco seu rosto, como ela não acorda pois seu sono é pesado, coloco minha maleta no chão e pego-a no colo. Carrego-a até nosso quarto e ela se aconchega ainda mais aos meus braços. Nesse momento lembro-me de sua doçura e de como se entregava a mim sem barreiras... É, eu ainda amo minha feiticeira. Deposito-a na cama e resolvo tomar um banho, pois como será meu dia de folga, tenho um bom tempo para isso. Tomo um banho calmo e canto sozinho, tentando tirar essa tensão de mim. Penso e repenso sobre o que passamos e tento ver o que ainda vale a pena, mesmo sabendo que nunca conseguirei deixa-la ir. Após tomar o banho, vou até o quarto de Annie e lhe dou um beijo na testa. Minha pequena dorme tranquilamente e sei que ainda tem um tempo até acordar. — Bons sonhos, sweet heart. Assim que saio do quarto, sorrio sozinho, pensando o quão essa pessoinha tão pequena me faz ver que valeu a pena lutar. — Está feliz? — sua doce voz me faz suspirar. Poderia ter negado meu amor mais cedo, ainda mais por estar esgotado de nossas brigas, mas esse tom que ela usa quando é doce, faz-me de bobo por completo. — Nossa filha é linda. — digo e viro-me para Dani. Linda! — Eu sinto muito. — diz de repente. — Por tudo. — Como assim? — pergunto assustado e ela se aproxima. — Por ter te machucado tanto por todo esse tempo juntos. Por não ter dito o quanto te amo todos os dias. — fico sem fala. — Eu sinto muito, Cas. — Eu também. — confesso. — Será que... — Olha, Dani, isso está estranho pra mim. — digo e passo por ela, indo para nosso quarto. — O que houve para... — Eu vi que não posso te perder. — confessa. — Eu preciso de você. — Não quero mais ser seu saco de pancadas. — digo, lembrando-me de todas as suas palavras frias e sua recusa. — Eu e você, lembra? — pergunta e fico estático.

O nosso “eu te amo” camuflado está de volta e eu só consigo pensar em como contar a ela sobre o beijo de Alice. — Cas? — insiste. — Tenho algo para contar. — digo rapidamente. — Aconteceu que mais cedo, contei a Alice que terminamos e... — travo. — O que aconteceu? — pergunta irada. — Alice me beijou. — digo e Dani arregala os olhos perplexa. — E o que você fez? — pergunta e se aproxima de mim. — Correspondeu a ela, Castiel? Beijou ela também? Responda! — diz friamente. — Eu não correspondi. — digo por fim, sem querer olhá-la. Ela até pode vir com esse papo de arrependimento e até estar mesmo arrependida, mas seu lado ruim sempre vem em conjunto, e eu não sei mais lidar com isso. — Eu vou falar com ela. — diz e eu a encaro incrédulo. — Eu avisei você, Castiel. Eu avisei que ela te amava, que ela iria se aproveitar da primeira oportunidade... — Ela ama outro cara, Danielle! — retruco. — Ela apenas agiu por impulso e... — A mesma impulsividade que nós tivemos quando transamos dois dias após nos conhecermos? — praticamente grita. — Eu não engulo isso, Castiel. Não sei onde estava com a cabeça pra achar que poderíamos dar certo, não mesmo. — Olha, eu... — Me deixe! — diz e vai para o banheiro, batendo a porta com força. Isso só piora.

Danielle Retiro minha roupa e a jogo com força no chão do banheiro. Permito-me desabar debaixo da ducha fria. Caio sentada no chão e as lágrimas descem com força, tentando esvaziar essa dor de dentro de mim. Ela o beijou e ele ainda a defende, achando que ela ama outro... Minha vontade é de esganá-la. Porém o que mais dói é saber que isso é minha culpa, pois eu permiti que ele terminasse tudo. Burra! Encosto minha cabeça no azulejo frio e respiro fundo, tentando não pirar.

Tudo em mim agora é frio, congelante... Menos meu coração, que parece sangrar. O barulho do box se abrindo faz com que eu me assuste, mas logo sinto o corpo do homem que amo me levantando e me abraçando, fazendo-me chorar ainda mais. Alguns minutos se passam e meus soluços cessam, assim sinto-me relaxar em seus braços. Levanto meu olhar e o encaro, em nossos olhos há a mistura entre mágoa, amor e principalmente saudade. Saudade dos nossos momentos juntos, da nossa primeira vez. — Cas... — sussurro e o abraço com força fechando os olhos. — Lembra-se de quando disse que me amava pela primeira vez? — pergunta e apenas balanço a cabeça confirmando. — Eu nunca esqueci. — Eu ainda amo. — sinto seu queixo movimentar em minha cabeça. Com certeza ele havia aberto o sorriso cínico que eu tanto amo. — Quero que ouça com atenção. — pede me abraçando com ainda mais força e eu apenas assinto novamente. A água antes fria se torna quente e sei que foi ele quem a modificou. Nós somos isso, completamente opostos. “Amar pode doer, amar pode doer às vezes mas é a única coisa que eu sei quando fica difícil Você sabe que pode ficar difícil às vezes mas é a única coisa que nos mantém vivos Nós mantemos este amor numa fotografia Nós fizemos estas memórias para nós mesmos Onde nossos olhos nunca fecham Nossos corações nunca estiveram partidos E o tempo está congelado para sempre Então você pode me guardar no bolso do seu jeans rasgado Me abraçando perto até nossos olhos se encontrarem Você nunca estará sozinha, espere por minha volta para casa” (Photograph – Ed Sheeran) Seus olhos verdes me encaram ansiosos e vejo lágrimas em seu rosto. Ele sempre gostou de cantar pra mim e muitas vezes fingi não entender as músicas que ele canta para nossa filha, mas sei que a maioria são por minha causa.

— É tudo tão complicado, Castiel. — digo devastada. — Foram dois anos difíceis e só agora conversamos. — ele toca meu rosto e eu o encaro. — Não há como passar uma borracha em tudo, não é? — Podemos tentar e... — Tentar não é suficiente, precisamos aprender a lidar com a carga que temos. — diz sem jeito. — Nesse momento só preciso de você. — confesso e toco seus lábios. — Dani. — Eu sei que tem sido difícil pra você, que as várias vezes que fizemos amor eu fui para o outro quarto, e que da última vez... — suspiro fundo. — Mas eu prometo que... — Cansei de promessas. — diz e se afasta. — Eu não deveria ter entrado aqui. — Mas, Cas... — Agora não, Danielle. — diz e coloca um roupão. — Agora não. Fico perdida, enquanto a água escorre por meu corpo. Castiel está muito magoado e eu não sei o que fazer, e muito menos como agir. Ele pode ter gostado do beijo dela, querer mais disso... E eu não posso recriminá-lo, pois acabou tudo entre nós. Eu perdi o homem que amo.



Capítulo XX

Castiel Duas semanas depois Os dias tem sido difíceis, ainda mais porque não sei até quando resistirei a Danielle. Ela nunca se aproximou tanto de mim, mas sei que se ceder, posso me quebrar novamente e dessa vez pode ser pior, pois realmente chego a acreditar que ela me quer. — Daddy! — Annie grita e eu a pego no colo. — O que foi, pequena? — pergunto. — Quando vamos comprar o presente pra mommy? — pergunta e fico perdido. — Pra que presente? — É o birthday da mommy. — arregalo os olhos surpreso, eu havia me esquecido completamente. — Quem te lembrou disso? — pergunto. — Vovó. — ela então sorri. — Podemos ir hoje, o que acha? — pergunto. — Yes[4]! — grita feliz e eu sorrio pra ela. — Ok, vamos fazer um trato. — sussurro e seus olhinhos verdes me encaram curiosos. — Vou dizer a sua mãe que vamos passear e que será um programa pai e filha, ok? Pra ela não desconfiar que iremos comprar o presente. — Ok. — assente várias vezes. — Já volto, fique aqui vendo seu filme. — beijo sua testa e vou até o escritório de Dani. Bato na porta algumas vezes e não tenho resposta alguma. Em meus dias de folga geralmente passo com minha mãe, Joaquim e Annie; Dani nunca gostou muito de ficar comigo, talvez hoje ela também não se importe, mas com sua mudança, pode ser que queira ir junto e isso atrapalhará Annie escolher o presente. Vou até nosso quarto e encontro a porta entreaberta. Vejo-a sentada ao

lado do criado mudo e noto que tem uma caixinha em mãos, e consigo ver que é de veludo. O que me trazem lembranças não boas da última vez que fizemos amor. Eu havia a pedido em casamento. Sento-me na cama fria novamente, que há poucos segundos estava coberta de nosso suor e calor. Mais uma vez Danielle me deixou sozinho no quarto após fazermos amor. Mais uma vez ela deu a mesma desculpa de que não pode dormir comigo. Qual é o problema dela afinal? Ela se entregava de corpo e alma todo o tempo que fazemos amor e de repente, quando nossas respirações se acalmavam, ela se levanta e sai. — Dani! — a chamo e ela se vira me olhando com culpa. — Sei que vai dar pela milésima vez a mesma desculpa, mas eu quero lhe pedir algo. — Castiel, vou para o quarto de hóspedes. — diz simplesmente e sai. Frustrado e ainda mais inseguro, me levanto indo em direção a ela. A encontro encostada nas grandes janelas de vidro da sala de estar. Sua pele alva está apenas coberta por um lençol e me seguro para não arrancá-lo de seu corpo e torná-la minha novamente. Volto para o quarto e pego a pequena caixinha que permaneceu escondida há duas semanas em minha maleta, e sorrio sozinho imaginando sua resposta. Vamos completar um ano que nos mudamos para Londres, e sei o quanto ela ama o lugar. Sei que o apartamento é uma das suas distrações favoritas, ela ama sentar em uma poltrona em frente as mesmas janelas de vidro e assistir a cidade ao vivo. Danielle e suas manias me fazem a cada dia mais me apaixonar por ela, mesmo com sua rejeição e palavras frias durante as várias brigas. Mas eu não desistirei facilmente, e foi por isso que decidi fazer o grande pedido. O pedido que formalizará nossa situação e relacionamento, que a marcará mesmo como minha. — Dani. — a chamo inseguro e ela se vira me olhando friamente. Por que ela sempre age assim? — O que quer? — pergunta e se vira novamente para as janelas. — Eu ainda tenho um pedido para fazer. — digo e me ajoelho. — Mas que merda você... — ela para no meio da frase assim que nota meu estado. — Sei que é inesperado e que devia começar pelo pedido de namoro mas eu não consigo me controlar, feiticeira. Você impregnou meu ser, foi a primeira mulher que me fez sentir algo além... Você é o meu além, Danielle.

— Não! — grita de repente e eu a olho estupefato. — Amor, sei que temos passado por momentos difíceis e que talvez ainda seja premeditado, mas eu te amo loucamente e quero estar ao seu lado pelo resto dos meus dias. — Castiel! — abaixa o tom. — Eu já lhe dei a resposta. — diz e noto lágrimas em seus olhos. Não posso desistir ainda! — Se você me ama Dani, por favor, aceite ser minha mulher, amante, companheira, tudo o que pudermos ser um do outro. — respiro fundo. — Casa comigo? Meus joelhos doem mas não pela posição que me encontro, mas sim pelo triplo do peso que meu corpo parece ter. Danielle não me olha feliz e muito menos animada. Há apenas pena. — Não. — diz e sai da sala em meio a lágrimas. Penso em ir atrás dela e insistir, mas sei que não adianta. Ela negou... E o pior é que ela não me ama. Feito uma criança indefesa, choro ali, ajoelhado no meio da sala, abraçado a caixinha a qual guarda a aliança que comprei para ela. — Cas? — sua voz doce me traz a realidade. Encaro seus olhos azuis/verdes, eu nunca saberei a cor real deles. — Você está bem? — pergunta e balanço a cabeça confirmando. — Vou sair com Annie, programa de pai e filha. — digo e seu sorriso morre. — Voltaremos logo. — Tudo bem. — diz e força um sorriso. — Tentei falar com sua melhor amiga a semana toda mas ela simplesmente fugiu. — Dani... — Você pode até não me desejar e amar mais, Castiel. — diz e suspira fundo. — Mas eu vou ter uma conversa de mulher pra mulher com ela. — Você que sabe. — digo e saio, deixando-a pensar sobre isso. Não irei me intrometer entre ela e Alice, pois estou cansado disso. Não tenho culpa alguma do que houve, e também estou cansado de viver com a culpa de algo. — Pronta, sweet heart? — pergunto e pego Annie. — Yes! Pelo menos passarei o dia com minha filha e esquecerei um pouco dos problemas.



Danielle O silêncio do apartamento me deixa ainda mais exausta, sei que o modo frio como Castiel vem me tratando tem um porquê, e fico me perguntando como ele aguentou ficar comigo deste modo, o ignorando, por esses dois anos. Finalizo mais uma capa pra um cliente e envio, fecho meu notebook e retiro os óculos. Solto uma respiração profunda, e resolvo me arrumar. Já que Alice não quer atender minhas ligações, eu sei muito bem onde posso encontrála. Pego meu carro e em poucos minutos estaciono em frente ao hospital que Castiel trabalha. Retoco meu batom vermelho e sorrio para meu reflexo, com a frase de Mallu Magalhães em mente. — “Nem vem tirar meu riso frouxo com algum conselho, que hoje eu passei batom vermelho.” — abro um sorriso e ajeito meus cabelos. Vamos lá! Entro no hospital e Angeline a recepcionista sorri pra mim, uma das poucas mulheres daqui que não olham Castiel de outra forma. — Doutor Soares não veio trabalhar hoje. — indaga e sorri. — Preciso falar com a senhorita Callaway. — sou direta. — Prometo não fazer nada demais. — Dani... Na última festa eu tive que te segurar para não ir até ela e... — Prometo não fazer nada. — minto e Angeline mesmo contrariada me entrega um crachá, com o qual posso ir até a sala de Alice. — Obrigada! — Te dou meia hora e depois vou até lá verificar. — avisa. Assinto e sigo pelos corredores, em busca da sala de Alice. O que me deixa possessa é encontrar a sala dela ao lado da de Castiel. Merda! Bato na porta e tento abrir, mas está trancada. Espero por alguns instantes ali na frente e nada dela. E mesmo sabendo que é errado, resolvo vasculhar um pouco o local. Ando por alguns corredores e minutos depois, encontro uma das enfermeiras que nunca engoli, uma tal de Rose, conversando com alguém num tipo de copa. — Alice pode estar grávida. — escuto-a dizer e paraliso. — Como assim? Ela parece não se envolver com ninguém pois ama o

doutor. — uma outra voz feminina diz, tento ver quem é, mas não consigo, pois a porta está entreaberta. — Encontrei-a abraçada a ele dias atrás, os dois parecem bem próximos. — ouço uma voz masculina. — Com certeza o filho é de Castiel. Fico estática por alguns segundos, tentando raciocinar. Como assim abraçados há dias atrás? Saio dali meio zonza, sentindo meu coração acelerar. Chego a recepção e vejo de relance Angeline com alguém. — Tem que se cuidar, Alice. — ela diz. — Agora está comendo por dois. Levanto meu olhar e encaminho-me para mais perto. Alice ao me ver fica pálida e Angeline não diz mais nada. — Grávida? — pergunto em um sussurro. — Danielle, olha... É como se sua voz sumisse e saio dali no mesmo instante, sem conseguir raciocinar direito. Ele me traiu? Não, não pode ser! Será por isso que ela não me atendeu ou respondeu minhas mensagens? Por medo de eu descobrir sobre a gravidez? Os batimentos do meu coração aceleram e minha boca seca. Saio meio desorientada e assim que vejo a rua tento respirar novamente. Ele vai ter um filho com ela? Meu corpo está pesado e é como se tudo estivesse esmagado dentro de mim. Buzinas soam e não me importo. Um baque forte faz meu corpo ser levantado. Dor se instala em meus ossos. Tento manter os olhos abertos e em minha mente apenas vejo os olhos verdes de minha filha. Depois disso, mergulho na escuridão.



Capítulo XXI

Castiel Annie sorri animada com a grande compra que fizemos para sua mãe no shopping, tudo escolha dela. Penso então no que pensei em dar de presente para Dani, mas sei que ainda é cedo pra isso, e talvez nunca aconteça. Coloco a chave na fechadura para abrir o apartamento e logo escuto o grito de minha filha, que solta minha mão e corre na direção contrária. — Vovó! — ela diz e escuto a voz de minha mãe. — Oi, mamãe! — digo e abro a porta. — Quer entrar? — pergunto e ela assente, mas já noto-a estanha. — Filho, está tudo bem por aqui? — noto seu tom apreensivo e fico preocupado. — Está tudo sim, por que? — pergunto desconfiado e ela respira fundo. — Annie, por que não vai chamar sua mãe para mostrarmos a ela o presente? — instigo minha filha que vai animada para os quartos, procurar a mãe. — Tive um pesadelo com Dani e... — fico estático. — Desculpe filho, deve ser bobagem da minha cabeça. — Como assim? Pesadelo? — meu corpo fica tenso. — Sonhei com ela e senti um grande aperto no peito. Acordei agora e resolvi te ligar prontamente. Mas já que todos estão bem... — Daddy, mommy não está aqui. — paraliso e encaro Annie incrédulo. Em passos rápidos vasculho o apartamento e grito por Dani. Perco o fôlego e respiro várias vezes tentando me conter. Danielle está bem, ela tem que estar. — Filho? — escuto minha mãe me chamar, mas apenas consigo pegar meu celular e discar o número de Dani. — Filho, foi apenas um pesadelo e... Disco o número de Dani várias vezes e todas as chamadas vão direto para a caixa postal. Onde diabos ela se meteu? — Daddy! — encaro Annie e fico sem palavras, sei que ela está estranhando meu jeito. — Mãe, pode ficar com Annie um pouco? — peço e ela assente. — Joaquim deve estar chegando, talvez ele possa ajudar a encontrá-la. —

tenta me tranquilizar. — Foi só um pesadelo e uma sensação ruim, filho. Vou até o quarto e tento ligar novamente para Dani, e dessa vez ela atende. — Amor, está tudo bem? Onde você está? — a encho de perguntas e por alguns instantes ouço apenas sua respiração. — Cas... — essa não é a voz de Dani. — Alice? — pergunto já perdido. — O que faz com o celular de Dani? Onde ela está? — Se acalme, estou no hospital e... — O que houve com ela? — lágrimas já se formam em meus olhos. — Foi tudo muito rápido, Cas. — funga. — Ela entendeu tudo errado e... — Alice. — chamo sua atenção. — O que aconteceu com ela? — grito com raiva. — Ela sofreu um acidente. Desligo no mesmo instante e corro para fora do quarto. Passo por minha mãe sem conseguir explicar nada. — Apenas fique com Annie. — peço e ela assente. Saio do apartamento e tento me controlar, não posso pirar agora. Entro em meu carro e seguro com força o volante, tentando ficar atento na direção. Apenas consigo imaginar como Danielle está, meu celular toca mas ignoro. Preciso vê-la. — Por favor Deus, não me tire a mulher que amo. — peço, já com lágrimas nos olhos e tento chegar o mais rápido possível ao hospital. Quando finalmente adentro o hospital, praticamente corro até a recepção. — Danielle Soares, por favor! —peço rapidamente e recebo alguns olhares curiosos dos recepcionistas. Todos ali sabem que eu tenho uma mulher mas a falta de aliança em meu dedo anelar esquerdo sempre os fez desconfiar que fosse mentira. — Doutor. — Angeline me saúda com um sorriso fraco. — Danielle Campos? — pergunta discretamente e eu assinto. Como pude esquecer que Dani ainda não leva meu sobrenome? — Ela está bem? — pergunto em desespero e assim que ela abre a boca pra responder, Alice aparece. — Cas. — diz um pouco sem fôlego. — Não foi nada grave. Meu coração se acalma um pouco, porém raiva toma conta de mim. — O que aconteceu? — pergunto.

— Venha, vamos conversar na minha sala. — pede e eu permaneço parado. — Quero ver a minha mulher. — respiro fundo. — Agora! — Ela está sendo medicada no momento Castiel, ainda não pode vê-la. — esclarece. — O que aconteceu com ela? — pergunto e mesmo não querendo, sigo Alice até sua sala. — Como te disse no telefone, foi um mal-entendido. — Como assim? — pergunto ansioso. — Eu não sei ao certo como ela descobriu sobre minha gravidez mas... — Como? — Ela me perguntou se estava grávida e sem ouvir minha resposta, correu pra fora do hospital. — diz calmamente. — Um carro a acertou. — Não! — solto quase sem voz e Alice pousa sua mão na minha. — Felizmente ela apenas teve uma fratura na perna direita. Talvez apenas o gesso já a faça melhorar rapidamente. — diz e abre um sorriso fraco. Com tal esclarecimento sinto-me um pouco melhor e alívio toma conta de mim. — Me perdoe por isso, Cas. — Alice começa a dizer e lágrimas correm por seu rosto. — Eu jamais faria algo contra ela, sei o quanto a ama e... — Está tudo bem, Ali. — digo. — Ainda não pode visitá-la, mas daqui algumas horas já poderá. — ela diz e eu sorrio em concordância. — Pode olhá-la através do vidro, quarto 24. Saio de sua sala e ando pelos corredores, parando em frente ao quarto que Dani está. Através do vidro gelado eu posso ver alguns arranhões no rosto de minha mulher. A perna direita engessada e imóvel. Com certeza ela ainda sente dores no corpo e por isso a colocaram pra dormir. — Eu te amo. — sussurro contra o vidro e saio dali. Vou até a recepção para preencher alguns papéis da internação de Dani. — Seu filho da... — Victória! — me viro e encontro Caleb segurando a mulher que parece querer voar no meu pescoço. — O que fazem aqui? — pergunto surpreso e Caleb suspira fundo enquanto imobiliza os braços de Vic. — Se você não me soltar, Caleb Soares...

— Vic. — ele respira fundo. — Minha rainha, há muitas pessoas aqui e não queremos dar um show, não é? A cena é de fato cômica. Eu conheço Caleb desde sempre, mas nesse momento qualquer um pode jurar que ele é o bom samaritano da relação. O que as pessoas sentadas na recepção não sabem, é que esses dois são o casal mais explosivo que existe. — Ele ainda tem a cara de pau de abrir esse sorrisinho. — ela diz incrédula e Caleb me encara de forma dura. Lá vamos nós! — Venham até minha sala. — peço e mesmo xingando baixinho, Victória nos segue. Assim que entro na sala ouço o praguejar baixinho de Caleb e um soco é dado na minha mesa. De onde Victória tirou tanta força? — Pode começar a dizer o que houve com Danielle! — diz com raiva. — Victória Soares! — Caleb a adverte duramente. — Castiel com certeza tem uma explicação plausível para tudo isso. — Acho bom ele ter mesmo, porque senão... — Eu mesmo quebro a cara dele. — Caleb completa e eu sorrio em resposta. Eles são completamente doidos. — Posso falar agora? — pergunto e silêncio da sala é minha resposta. — Ainda não sei ao certo o que houve, Alice me disse que Dani de algum modo descobriu que ela está grávida e... Bom, nem eu sabia da gravidez de Alice. — sou sincero. — Grávida... — ela sussurra baixinho e me encara com ainda mais raiva. — Como pode? — grita e Caleb tem que segurá-la mais uma vez. — Não sou o pai. — esclareço e eles me escutam atentamente. — Danielle também entendeu tudo errado, e acho que por isso acabou sofrendo o... acidente. — digo e fecho os olhos com força. — Como ela está? — Caleb pergunta de forma preocupada e eu me sinto totalmente incapaz. — Pelo que sei, ela apenas fraturou a perna direita e tem alguns arranhões pelo corpo. — respondo já acabado. — Espero que ela seja liberada logo. — Quando podemos vê-la? — ele pergunta.

— Em poucas horas. — respondo e os dois assentem. — Onde Annie está? - Victória pergunta. — Com minha mãe. — digo e os encaro. — O que fazem aqui? — pergunto e Victória bufa. — Resolvemos fazer uma surpresa pelo aniversário de Dani, e todos viemos para cá no avião da empresa. — sorri sem jeito. — Tínhamos acabado de pousar em Londres quando recebi uma ligação do hospital me falando sobre Dani. — Vic esclarece. — O meu número foi o último que ela discou antes do acidente então... — Sinto muito. — declaro sincero. — Mas fico feliz por estarem aqui. — Nós também. — Caleb responde e olha para Victória que assente a algo que apenas os dois entendem

*** Horas depois eu já não aguento mais a espera para ver Dani. Preciso esclarecer o mal entendido e tentar entender de onde ela tirou a gravidez de Alice. Algo está estranho. — Ela vai entender, irmão. — Caleb diz ao meu lado e eu sorrio em resposta. É bom tê-lo aqui nesse momento. — Onde está Miguel? — pergunto me lembrando do meu sobrinho e ele sorri. — Todos vieram. — esclarece. — Devem estar todos babando por ele. — Família de Danielle Campos? — Nicolas, um de meus colegas aparece e eu me levanto. — Ela já pode receber visitas, Castiel. — assinto. — Ela está bem doutor? — Victória pergunta e ele sorri para ela. Noto o olhar furioso de Caleb e é minha vez de sorrir. Nicolas está ferrado! — Fizemos todos os exames, e felizmente nada além da perna fraturada é grave. — esclarece e sorri em direção a minha cunhada. — Certo. — Caleb diz duramente e Victória o olha questionadora. — Que foi? Olho para os dois e sei que mesmo estando no hospital, com certeza Caleb não irá segurar o ciúme. E com isso acabo entrando primeiro, indo até minha mulher.

Nicolas me diz todas as recomendações necessárias sobre o estado dela e o escuto atentamente. Assim que paramos na porta do quarto peço alguns minutos de privacidade com Dani e felizmente ele cede. Ao entrar no quarto, seguro firme o buquê de rosas amarelas que comprei, seus lindos olhos se abrem e eu a encaro sorrindo. Minha linda está com o rosto machucado e com certeza sentiu muita dor. — Oi. — arrisco dizer e lhe estendo as flores. — O que faz aqui? — sua voz sai falha e sinto dor em meu peito. Ela parece tão frágil. — Amor, eu sei que... — Acabou, Castiel. — diz de repente. — Não vou deixar que destrua minha vida assim como destruiu a de minha irmã. — Dani... — minha voz sai falha. — Sai daqui! — grita e Nicolas entra no quarto, encarando-me surpreso. — Não quero esse homem me visitando, eu o proíbo de vir me ver. — Dani... — insisto. — Preciso que saia, Castiel! — ele diz e mesmo contrariado, dou passos para trás, saindo do quarto dela. — Não faz isso. — suplico para Danielle que vira o rosto e ao mesmo tempo quebra meu coração. Suas palavras cortam novamente meu ser. Logo agora que pensei termos nossa segunda chance isso acontece. Dani ainda me culpa pela morte da irmã e pior, dessa vez não havia raiva ou mágoa em seu olhar. Havia apenas ódio.



Capítulo XXII

Danielle A dor em meu corpo não é nada comparada ao meu emocional destruído nesse momento. Encaro a foto de Castiel sorrindo lindamente em minha direção... Uma das poucas fotos que tenho dele. Ela estava em meu bolso na hora do acidente e fiz questão de tê-la de volta assim que acordei. O médico foi gentil e me entregou rapidamente. Não sou de muitas crenças, mas senti que Castiel estava comigo naquele momento. Quando tudo ficou escuro e senti que não podia mais respirar... Os olhos de Annie e a voz doce dele me fizeram lutar para tentar me manter acordada. Essa foto havia me protegido como eles. A foto do homem que amo. — Oi. — Castiel aparece no quarto e eu seguro as lágrimas que querem descer. Escondo a foto embaixo de meu corpo. — O que faz aqui? — minha voz sai falha tanto pela dor física quanto pela emocional. Não posso mais o ferir. — Amor, eu sei que... Não me chame de amor! Droga! — Acabou, Castiel. — o corto rapidamente. — Não vou deixar que destrua minha vida assim como destruiu a de minha irmã. Dou-lhe a facada final e imagino o quanto essa frase deve tê-lo machucado. É a última vez que o machuco assim. — Dani... — ele insiste e vejo dor em sua face. — Sai daqui! — grito e o médico entra. — Não quero esse homem me visitando, eu o proíbo de vir me ver. — Dani... — Preciso que saia, Castiel! — o médico diz e Cas dá passos para trás saindo do quarto.

— Não faz isso! — ele suplica pelo vidro que nos separa e eu não consigo mais encará-lo. Lágrimas escorrem de meu rosto e meu coração se quebra mais uma vez. A dor que vi nos olhos dele reflete a presente nos meus. Por mais sincero que ele pareça, por mais que as rosas amarelas sejam minhas favoritas, eu simplesmente não consigo aceitá-lo de volta. Sei que o perdi no momento em que o médico o tirou desse quarto, mas como posso continuar com esse relacionamento se o passado ainda me assombra? Pensei que depois que viesse falar com Alice, conseguiria superar tudo, porém bastou algumas palavras em um momento inoportuno para fazer todo minha auto confiança se esvair. — Ele não me traiu. — repito baixinho para mim mesma enquanto o travesseiro recebe minhas lágrimas. — Não mesmo. — a voz de Vic se faz presente e eu me assusto. O que ela faz aqui? — Surpresa? — ri sem humor. — Disse para você que faria uma surpresa de aniversário e aqui estou. — Mas faltam alguns dias para meu aniversário. — digo sem graça e ela me abraça devagar. — Vic, ele... — as palavras parecem sufocar em minha garganta e deixo lágrimas caírem novamente. — Ele não te traiu, Dani — me encara triste. — E você sabe disso. — Eu... — gaguejo limpando as lágrimas com o torso da mão. — Não consigo mais fazê-lo sofrer, não o mereço, Vic. — Dani. — uma lágrima desce por sua face. — Eu não sou a expert em relacionamentos mas sei que tudo o que precisa é um tempo... Talvez deva ir para o Brasil um pouco. — Não sei ainda. — sussurro. — Eu o amo tanto, por que simplesmente não consigo ignorar o passado e... — Porque o nosso passado é uma parte de nós. Olha, não é fácil saber que meus pais são monstros mas... — suspira cansada. — Eu aceitei isso porque é parte do passado e o enfrento todos os dias. Cada um tem seu tempo de aceitar o próprio passado Dani e o deixar em seu devido lugar. — Obrigada. — digo sem jeito. — Onde Annie está? — Caleb deve ter levado todos para o apartamento que alugamos aqui. — confessa. — Mas com certeza ela deve estar grudada com Felipe, sabe que ela o adora.

— Eu também o adoro. — sorrio. — Caleb está arrancando os cabelos por medo dele desistir de seguir a carreira de advogado. Passamos alguns minutos conversando e rindo um pouco. É bom ter Victória aqui comigo, além de poder desabafar meus demônios, ela me faz esquecer de cada um deles. — Tenho que ir agora. — diz olhando o relógio. — Caleb vai passar a noite com você, ok? — Não precisa Vic, eu... — Fique quieta, não tem como contrariar a mim e muito menos Caleb. — reviro os olhos e ela gargalha. — Amo você. — diz beijando minha testa e se vai. O silêncio no quarto faz com que todo meu medo volte e tudo o que temo fique presente em minha mente. O olhar magoado de Castiel é o único pensamento que tenho. Sua voz, seu cheiro, seu abraço, seu carinho... Seu amor. — Ei. — Caleb aparece e me abraça com carinho. — Senti saudades. — Eu também. — respondo de relance, tentando disfarçar meu estado e ele me olha curioso. — Sabe que não precisa mentir pra mim, não é? — aceno com a cabeça e ele continua me olhando. — Não quero falar sobre isso agora Caleb, não consigo. — Está doendo aqui? — pergunta indicando meu coração e acaricia meus cabelos. — Sei que está. — Queria tirar essa dor de mim e poder tirar toda a dor de Castiel. — Ele não está nada bem, Dani. — afirma e meu coração se afunda. Se tem uma coisa que tanto Caleb e Castiel são parecidos é na honestidade. Caleb não inventa algo para dar uma notícia, ele simplesmente diz. — O que houve? — pergunto temerosa e ele passa as mãos nos cabelos. — Eu o encontrei em um bar, completamente bêbado e tive de carregá-lo até em casa. — Mas ele nunca bebe nada alcóolico. — digo assustada. — Pois é. — suspira. — Alice que convive com ele há mais tempo, disse que nunca o viu nesse estado antes. Meus pensamentos se povoam pelo nome Alice e tento sentir algo ruim. Seja raiva ou a inveja que sempre senti por ela, mas não sinto mais nada.

Pelo menos um dos meus fantasmas havia se dissipado. — Dani. — me chama e eu volto a prestar atenção. — Ele não é o pai do filho que ela espera. — Sei disso. — respondo e Caleb me encara surpreso. — Mas por que... — Eu não quero mais magoá-lo, Caleb. — digo sinceramente. — Passei dois anos de nossas vidas o culpando e magoando simplesmente porque me sentia com esse direito. Mas eu não tenho direito disso, nunca tive. — Precisa conversar com ele Dani, mesmo que seja para colocar um fim digno nessa relação. — Não consigo dizer adeus para ele. — deito minha cabeça no travesseiro. — Muitas vezes pedi para que ele fosse embora ou então que era nosso fim, mas nunca... Nunca de fato quis isso. — Você o ama. — confirma meus pensamentos e eu o olho triste. — Mais do que tudo, Caleb. Não posso mais brincar com o coração dele. Muito menos magoar nossa filha com meus traumas. — Ele acha que é o fim, Dani. — diz cauteloso. — Não acha que ele merece no mínimo uma explicação? Tenho certeza que se for sincera com ele, ele irá entender e te esperar. — Não quero mais que ele espere. — digo e Caleb arregala os olhos. — Quero que ele seja feliz, nem que for ao lado de outra mulher. — Não seja tola, Dani, ele ama você e enquanto esse sentimento for vivo, ele não irá te deixar. Esses dois anos que passaram são a prova disso. — Não se ele me odiar... E tenho certeza que amanhã quando acordar ele estará sentindo isso. — Por que está afastando-o de sua vida? — pergunta confuso. — Porque o amo demais para dizer adeus e ainda mais para continuar vendo ele sofrer por alguém que não vale a pena. — Dani... — Caleb tenta me interromper, porém levanto a mão pedindo só mais um segundo. — Ele merece uma mulher que dê valor ao amor que ele entrega e... Eu não sou essa mulher. — Não posso obrigá-la a não fazer isso, mas não vou mentir caso ele me pergunte algo. — Sei que não, mas vou correr o risco. — ele assente. — Estarei sempre aqui Dani, sabe disso, não é? — pergunta temoroso e

eu sorrio em sua direção. Caleb é como irmão e pai para mim, sempre esteve ao meu lado nos piores e também nos melhores momentos. E por mais vaca que eu tenha sido com seu irmão, ele não tinha me abandonado. — Obrigada por seu uma das melhores pessoas do mundo, Caleb. — digo e ele beija minha testa com carinho. Ele sabe que a conversa se encerrou e sei que não irá mais voltar a tal assunto. Horas depois Caleb já dorme serenamente na poltrona ao lado da cama e me sinto culpada por ele estar aqui. Mas como convencer uma pessoa tão teimosa como ele? Tentei dormir várias vezes mas o máximo que consegui foi um cochilo, onde todo o passado com minha irmã me fez despertar rapidamente. Não quero e não reviverei os dias ruins ao lado dela novamente. — Sinto sua falta, irmã. — digo fechando os olhos com força e lembro do sorriso sincero que Annie sempre me dava. Castiel não foi um santo com ela, mas tudo o que houve não foi apenas culpa dele. Nesse momento posso finalmente enxergar isso. Eu tinha feito minha escolha e nada mudaria isso. Cada dia que ficar longe de Castiel me quebrará ainda mais, porém dessa vez faria o correto. Irei deixá-lo inteiro, para que ele sim possa ter e viver o grande amor que merece.

Capítulo XXIII Castiel A primeira coisa que sinto ao acordar é uma dor de cabeça insuportável. Forço os olhos a se abrir e me assusto ao notar que estou em minha cama. Será que tudo não passou de um pesadelo? Levanto meio sem jeito e vou direto para debaixo da ducha. A água gelada cai sobre meu corpo e alguns flashes vem em minha memória. O pior deles é o olhar ferido e raivoso de Dani para comigo. Desligo a ducha e fico alguns segundos encostado na parede gelada do box. O mesmo lugar onde já fizemos amor por tantas vezes... Com um fio de esperança me enrolo na toalha e saio do banheiro em busca dela. Tudo podia ser apenas um pesadelo e aí eu poderia consertar tudo... Não pode ser verdade que a perdi. — Dani! — a chamo e o silêncio é minha única resposta. Chamo mais algumas vezes e começo a vasculhar todo o apartamento. Nem mesmo Annie está aqui. Minutos depois já vencido pelo cansaço, sento-me no sofá da sala e deixo com que as lágrimas desçam. Ela estava diferente, talvez eu devesse ter cedido logo de uma vez, não ter sido frio com ela e... Ela sofreu o acidente... Ela me mandou embora e dessa vez não foi nada parecido como das outras. Passamos dois anos como gato e rato, tentei de todas as formas conquistá-la e por mais que ela me negasse, ou melhor, se negasse a me amar... Eu sabia que ela me amava. Hoje, eu já não tenho mais certeza. Minha cabeça lateja e forço a me lembrar do que aconteceu assim que saí do hospital. Acabei brigando com Alice também e fui para o bar mais próximo. Bebi como nunca havia bebido e muito mais do que um dia pensei conseguir. Ali estava a explicação para a tamanha dor de cabeça, estou de ressaca. A porta da frente se abre e Caleb adentra a sala com um sorriso fraco no rosto. — Melhor? — pergunta sem jeito e eu minto assentindo. — Beba isso. — me entrega uma cartela de comprimidos. Me levanto e já vou direto para a cozinha. Tomo dois dos comprimidos e

esfrego minhas têmporas com força. — Odiava quando bebia além da conta e tinha essa maldita dor de cabeça no dia seguinte. — zomba entrando na cozinha e eu lhe dou um sorrio forçado. — Estou ainda tentando assimilar tudo o que houve. — digo sincero e ele me olha cúmplice — Ela realmente me mandou embora? — pergunto receoso. — Cas. — suspira fundo. — Eu sinto muito por isso mas Dani barrou sua entrada no quarto dela. Fico quieto e bebo mais um pouco de água. Ela realmente não quer me ver. — Sei que ela está com raiva, mas só queria lhe explicar que... — Castiel, dê esse tempo a ela e melhor, dê esse tempo a você mesmo. — O que quer dizer? — indago sem entender. — Você passou dois anos se humilhando e correndo atrás dela... Talvez ela precise de espaço para sentir sua falta. — Não sei se consigo, Caleb. — levo as mãos à cabeça em desespero — Eu a amo. — Sei disso, mas não pode amar por dois. — diz e sai da cozinha, me deixando perdido em pensamentos. Será que eu havia amado por dois? Será mesmo que amei sozinho? Fico por mais um tempo ali parado, encarando o copo e por fim desisto. Acho que esse foi nosso maior erro. Eu ouvi, aceitei e quis tudo... Transbordei amor enquanto Danielle me afogava em sofrimento. Mesmo que doesse, a partir de agora eu viveria apenas para minha filha. Colocarei meu coração em segundo lugar e tentarei deixar Danielle em segundo plano... Pelo menos tentarei. Horas depois minha cabeça já tinha melhorado e havia comido o suficiente para suportar esse dia. Caleb continuava em meu apartamento porém não tocou em nenhum assunto e nem eu fiz questão. Estava me segurando para perguntar sobre Dani, sobre como ela está e até mesmo quando ela finalmente sairia do hospital. Por mais que tudo entre nós pareça ter acabado, eu ainda tenho que me segurar para não procura-la e tentar entender o que houve, lhe dizer que não sou o pai do filho de Alice. Mas se ela não quer me ouvir, eu não posso fazer mais nada. Eu amo essa mulher, mas um amor unilateral não é saudável, nunca foi. — Annie está com o resto de nossa família, certo? — pergunto quebrando silêncio e Caleb sorri em concordância.

— Ela e Miguel devem estar acabando com todos. — sorri feliz. — Os dois estão grandes. — Annie arrisca tantas palavras em inglês que eu já nem me surpreendo mais com sua facilidade de falar. — sorrio orgulhoso. — Eu e minha... Quer dizer, eu e Danielle sempre falamos em português em casa, mas a nossa pequena sempre pega algo em inglês dos programas que assiste. Contamos algumas proezas de nossos pequenos e gargalhamos juntos algumas vezes. Finalmente o clima havia melhorado e posso sorrir pelo simples fato de estarmos falando de nossos filhos. Eles são nossa maior felicidade. — Castiel? — me chama de repente. — Diga. — respondo e o semblante de Caleb muda. — O que foi? — Quando irá para o Brasil? — pergunta. — Em alguns meses serão minhas férias, então logo estarei lá. Mas venho pensando no que conversamos esses tempos, talvez seja hora de o fazer. — Nosso lar é onde nosso coração está, Cas. Já estava mais do que na hora de você voltar para o Brasil. — diz e eu concordo. Minha volta para o Brasil é sempre um assunto delicado. Eu amo meu país de origem, ainda mais por toda minha família viver lá. Porém Londres é minha casa por tanto tempo que me acostumei com a saudade e até gosto de senti-la. Mas talvez o clima tropical seja bom para Annie, além de conviver com os tios, primos e avós. A casa cheia é algo que poucas vezes ela teve e eu sei o quão a família é essencial. Talvez voltar para o Brasil me traga muito mais que a mudança de ares que necessito... Quem sabe um novo amor.

Capítulo XIV

Danielle

Quatro meses depois — Está tudo bem, tia? — a pergunta de Felipe é tão inocente e ao mesmo tempo tão desafiadora. — Sim, Lipe. — minto com um sorriso e ele apenas me encara. Annie dorme tranquilamente em meu colo enquanto saímos do avião. Felipe traz nossas malas e eu agradeço imensamente a Caleb por tê-lo incentivado a fazer uma curso no exterior. Felipe é literalmente meu porto seguro depois de tudo o que houve. Desde o acidente e da última conversa com Castiel meu mundo havia dado várias voltas. Meu aniversário, há cerca de quatro meses atrás foi comemorado dentro de um quarto de hospital, sem Castiel. Annie havia me presenteado com telas novas para pintar, as quais ela contou que escolheu no dia em que saiu com o pai. E naquele momento, doeu demais não ter Castiel por perto, mesmo todo resto de minha família estando presente. Além de perder o homem que amo, tinha que cuidar de Annie com apenas uma perna boa. Felipe entrou definitivamente em nossas vidas e além de estudar, morou conosco e cuidou de nós duas. Além de Lívia que praticamente passou os dias no apartamento conosco. Castiel sempre vinha ver a filha e passar o dia com ela, porém pouco nos falamos, ou melhor, se é que em algum momento nos falamos. Ele não tinha perguntado sobre mim e pouco fez questão de se aproximar. Eu sei que o feri além do que imaginei poder, desde então ele deve estar seguindo em frente, pois saiu de seu próprio apartamento por minha causa. Assim como eu queria que fizesse. Na maioria das vezes eu ouvi de longe a conversa dele com Felipe e vi o modo carinhoso com o qual ele trata o sobrinho. Castiel continua o mesmo com os outros, apenas eu estava completamente perdida e fui totalmente ignorada por ele. Meses se passaram e continuei definhando no apartamento que havia me acostumado tanto a chamar de lar. Continuei com meu trabalho, pois a perna engessada não me impedia, e fazia o máximo para cuidar de Annie, tentando

manter uma rotina normal. Mas como um lugar é nosso lar se nosso coração não está nele? Meu coração havia ficado com Castiel desde o momento que pus os olhos nele pela primeira vez... Eu jamais o recuperaria de volta. Atravessando o portão de acesso do pequeno aeroporto particular vejo de longe Victória e Caleb. Eu sei que Castiel, Lívia e Joaquim já haviam chegado ao Brasil, pois Felipe me confidenciou isso, mesmo assim uma parte de mim doía por saber que ele não veio me receber, ou ao menos receber Annie. Abraço os dois com força e tento achar conforto neles. Talvez aqui eu me reencontre, mesmo que seja para ficar por poucos dias. Estou em casa, o lugar onde nasci e cresci, e logo mais na casa onde praticamente me criei. O motivo de estarmos aqui é a festa de fim de ano da empresa e advocacia dos Soares, além de comemorarmos o Natal em família. Óbvio que eu não sou uma Soares, mas minha pequena é, além de Victória, Caleb, Luna e todo resto da família terem me intimado a estar presente. De qualquer forma é bom estar aqui, pois independente do sangue eles são minha família. — É bom estar em casa. — exclamo mais animada e percebo que os olhares de Vic e Caleb não parecem tão alegres. — O que foi? — Precisamos contar algo. — Caleb diz cauteloso. — Castiel já está aqui e... — ele para e olha para Vic. — E? — pergunto ansiosa. Quem sabe ele queira falar comigo ou até mesmo tenha perguntado sobre mim. Por mais que não estivéssemos juntos, não posso negar que sonho todos os dias com um recomeço. Já se completavam quatro meses longe dele. Mal sei como aguentei tanto tempo. — Ele trouxe alguém com ele. — Vic diz um pouco sem jeito. — Uma mulher. — Alice? — pergunto no automático e eles negam veemente. — Não sabemos ao certo o que eles são... — Está tudo bem. — digo e eles me olham assustados. — Eu sabia que um dia ele iria seguir em frente... Apenas espero que ele esteja feliz. Victória abre a boca algumas vezes porém nada sai. O silêncio permanece entre nós enquanto caminhamos até o carro e Felipe aperta de leve meus ombros. — Se precisar de algo sabe que estou aqui. — diz e sorrio em sua direção.

— Você é o melhor sobrinho do mundo. — digo e ele cora instantaneamente. Felipe não é muito de demonstrar sentimentos, mas quando diz algo, por mais simples que seja, sei que é sincero. Talvez sinceridade seja algo indispensável no pacote Soares. — Bem vinda novamente. — Vic diz quebrando o silêncio no carro e eu sorrio em sua direção. Coloco Annie na cadeirinha, e ela continua dormindo. Conversamos amenidades e forço um sorriso a cada brincadeira que eles fazem. Não estou bem. Por mais que tenha feito o que fiz para que ele seja feliz com outra pessoa, agora vejo que não consigo aceitar isso. Dói demais! Minutos depois eles estacionam em frente a mansão e saímos do carro. Tiro Annie da cadeirinha e ela finalmente acorda, sorrindo em minha direção. — Chegamos, mommy? — pergunta quando a coloco no chão, mas antes mesmo que eu responda, ela grita: — Daddy! — então corre em direção a casa. Levanto meu olhar e encontro Castiel, sorrindo instantaneamente, porém meu sorriso morre na hora, assim como o resto de coração que ainda guardava em meu peito. Castiel pega Annie no ar e a beija várias vezes, mas não é essa cena que me chama atenção. A mão direita dele está entrelaçada a mão esquerda de uma mulher morena, mesmo com Annie no colo, ele não solta. Ao que tudo indica, essa é sua nova mulher. Encaro-a por alguns instantes e logo a reconheço, é Luciana, a filha do dos donos do restaurante que ele me levou, onde me pediu em namoro. Respiro fundo, tentando controlar as lágrimas que querem descer, e encaro minhas sapatilhas por alguns segundos. — Tia! Onde quer que eu deixe as malas? — Felipe praticamente me grita e eu me viro indo em sua direção. — Obrigada. — sussurro e ele me lança um olhar cúmplice enquanto entramos na casa. Eu podia muito bem ir até Castiel e cumprimentar tanto ele quanto Luciana. Mas que armadura eu ostentaria nesse momento? Pouco havia percebido, mas nos últimos tempos eu havia voltado a ser um pouco do que sempre fui. Não tenho mais casca ou armadura, e muito menos conseguirei ser gélida com ele. O que diria?

Ele havia seguido em frente e eu não posso ao menos me opor a isso. Eu havia destruído nós dois e sabia agora que não teria volta. Não mais.

*** Entro no meu antigo quarto e deposito minhas malas no chão. Felipe vem até mim e eu o abraço com carinho. Mesmo sendo bem mais novo ele é bem mais alto do que eu. Assim me conforta em seu peito e deixo que minhas lágrimas rolem. — Tia, eu sei que não devo me intrometer mas... Não seria mais fácil dizer ao tio que o ama? — pergunta baixinho e eu o encaro sem ter a resposta. Seria mais fácil? Claro que seria! Mas será que eu já estou pronta para lhe recompensar por todos os erros? Será que eu mereço uma segunda chance com ele? — Não posso, Lipe. — digo e me coloco na ponta dos pés e beijo sua testa. — Sinto muito por isso. — peço indicando sua camisa molhada pelas minhas lágrimas. — Está tudo... — Danielle, preciso falar com você. — Castiel aparece de repente na porta e me assusto com sua intromissão. Felipe sai sem dizer mais nada e com ele vai embora todo meu conforto. Sem poder me conter analiso minuciosamente as mãos de Castiel e busco alguma aliança. A falta dela faz meu coração se acalmar um pouco. Ele ainda não está totalmente preso, talvez ainda exista alguma esperança para nós. — Entra. — digo e ele então atravessa a porta e a fecha em seguida. — Mas... — Que merda você pensa que está fazendo? — praticamente rosna e eu o encaro sem entender nada. — Do que você está falando? — pergunto em um sussurro e ele me encara ainda mais raivoso. — Você pode até se sujeitar a esse papel ridículo, mas eu não deixarei que minha filha viva no meio... — faz um gesto incompreensível com as mãos. — No meio disso! — Eu não estou entendendo, Castiel. — digo sincera e ele sorri de lado. O mesmo sorriso cínico que eu tanto amo, mas que no momento parece

apenas sombrio. — Acho bom entender, se você quer ficar com Felipe eu não vou me opor a isso. — diz e fico sem palavras — Mas não quero que confunda a cabeça de Annie e ela ache que tem mais de um pai. — O que? — pergunto perplexa. — Isso mesmo que ouviu. — leva as mãos aos cabelos e logo se aproxima de mim. Seu corpo praticamente me prensa contra a parede e vejo algo além de raiva em seu olhar. Há desejo. — Eu e Felipe não temos... — Não me importo. — diz friamente. — Se Annie disser mais uma vez para mim que tem dois pais, eu juro que a tiro de você. — me ameaça e eu me encolho sem ter o que dizer. — Não sei porque ela pensou isso, Felipe sempre a ensinou a chama-lo de primo ou Lipe, jamais... — Cale a boca. — grita em meu rosto e me encolho ainda mais. Quem é esse homem a minha frente? O que fiz com o homem que amo? — Droga, me desculpe eu... Batidas na porta o interrompem e ele se afasta rapidamente. Me viro e abro a porta, Luna me olha um pouco assustada e então entra a passos incertos no quarto. — Atrapalho? — pergunta olhando entre mim e Castiel. — Já havíamos terminado. — digo e Castiel vai em direção a porta. Olho o carinho extremo que ele trata Luna, e antes mesmo de sair ele beija sua testa. Eles nunca conversaram ao certo sobre tudo, pelo que sei, mas com a convivência se tornaram próximos. Ele jamais será o pai dela, mas com certeza há um grande sentimento entre eles. — Não queria ter atrapalhado. — diz sem jeito. — Seja o que for, não é mais importante. — seguro as lágrimas. — O que foi que ele fez? — ela pergunta brava e eu sorrio em sua direção. — Você é a única que entende um pouco o meu lado, ou melhor, você e Lipe. — Sabe... Me casei cedo com Lucas porque nosso amor falou mais alto, mas sei agora que amor não é o suficiente para sustentar uma relação. Há vários

outros sentimentos envolvidos. — diz e não consigo não compará-la com minha irmã. Fora os olhos verdes, ela é a verdadeira cópia de Annie. Hoje vejo que minha tristeza pela perda de minha irmã está finalmente se dissipando e assim só me resta a saudade. — Acho que está mais do que na hora de voltar para o Brasil. — sugere um pouco insegura. — Seus pais lhe pediram para me dizer isso? — pergunto e abro um sorriso fraco. — Não, quer dizer, eu já os ouvi falando sobre mas... — Mas? — A mulher que está com Castiel não é de Londres ou do exterior, é uma antiga colega de escola dele. — Sim, eu sei. — digo sem jeito. — Eu a conheci no dia em que ele me pediu em namoro. — revelo. — Mas o que isso tem a ver? — Ele está hospedado aqui em casa faz dois dias, mas não dormiu aqui nenhum deles. — Espera. — levanto as mãos em sua direção. — Como sabe disso? — pergunto espantada e Luna sorri. — Calma, não faça essa cara! Apenas quero a felicidade de vocês. — se exalta já levantando e eu a olho mesmo sem querer. — Ouvi uma conversa de meu pai com Castiel e sei que ele irá voltar em breve a morar no Brasil. — O que? — grito sem me conter. — Pelo jeito ele irá mudar pra cá, por conta da tal Luciana. — diz entortando o rosto em uma careta. — Mas ele não faria isso, tem o hospital, amigos, Annie... Eu. — solto num sussurro. — Me desculpe dizer isso assim na lata, mas eu precisava te contar e aconselhar a fazer algo. Sei o quanto se amam e... — Luna. — a chamo e ela continua tagarelando. — Luna! — Oi. — me encara. — Castiel parece feliz? — pergunto cabisbaixa e Luna vem até mim, me abraçando com força. — Ele não a olha como olha para você. — diz e fico um pouco feliz com isso. — Aliás o que ele queria aqui? — Eu não entendi ao certo, acho que está com medo de perder Annie

para Felipe. — sorrio sem vontade. — O que é impossível, já que Annie ama o pai mais do que tudo. Encaro Luna e ela está com as mãos na boca, me encarando inquisitiva. — Que foi? — Está aí o incentivo que precisa para lutar por ele. — Han? Como assim? — Castiel não está com medo de perder Annie para meu irmão, está com medo de perder você. — diz e gargalha. — Não fale besteiras, Luna. — Isso é óbvio! Pelo que mamãe me disse vocês não se falam diretamente há meses e de repente quando você volta para o Brasil ele te enfrenta e... — Quem te disse que ele me enfrentou? — Ouvi os gritos através da porta. — confessa corando e eu gargalho. — É sério, ele ainda é louco por você. Só não sei o que ele faz com a tal Luciana. — Talvez ela esteja dando a ele o que eu não fui capaz. — digo e abaixo a cabeça, lembrando de todas as palavras frias que usei contra ele. — O que? — ela pergunta e eu me calo. — É complicado, espero que você nunca tenha que passar por isso. — ela me abraça. — Mas onde está o bonitão do seu marido? — Trabalhando. — diz. — Vou ver as crianças, qualquer coisa me chame. — assinto e ela sai. Mesmo amando conversar com Luna, há momentos que preciso me trancar em meus próprios sentimentos. Ela me entende tão bem, assim como minha irmã me entendia antigamente. Pego minhas malas e começo a abrir, arrumando as minhas roupas e as de Annie no closet. Sem querer mais pensar em Castiel, ou até mesmo chorar, apenas dando-me um tempo para absorver tudo o que ela me disse. Será que ele vai realmente mudar para o Brasil por conta dela? Estou tão quebrada que não tenho mais como me despedaçar, não há como me sentir pior do que nesse momento. Eu o havia deixado ir e agora terei de arcar com as consequências, por pior que elas sejam.

Capítulo XV

Castiel Dentre todas as coisas que pensei que um dia pudessem me acontecer, me apaixonar definitivamente não era uma delas. Ainda mais me apaixonar do modo como aconteceu, sem medos, negações ou mentiras. Apaixonar-me por Danielle foi o mesmo que me jogar em um buraco negro, eu não fazia ideia do que tinha do outro lado ou se realmente existia outro lado. Passar esses quatro meses longe dela apenas fortaleceu a ideia de que não existe outro lado do buraco, assim como a própria ciência diz. E em meu caso, onde o amor ainda impera, não existe outra chance de felicidade que não seja ao lado de Dani, mesmo que ela não me queira. E apenas uma palavra me define: Acabado. Posso atuar muito bem e sempre manter o máximo de distância possível dela quando vou buscar Annie no apartamento, onde passo sempre algum tempo conversando com Felipe, mas a verdade é que tento a sorte de talvez vê-la, nem que seja de longe. Essa mulher está cravada em minha pele e parece que não tenho chances de retirá-la. Pensei que o tempo a faria mudar de ideia, que um dia qualquer a encontraria em frente ao apartamento e ela se jogaria em meus braços. Bom, isso realmente só acontece em filmes. Pois na vida real, eu tive de ver a mulher que amo morar com outro homem. E por mais que esse homem seja meu sobrinho, não consigo controlar meus ciúmes. Danielle parece tão segura ao lado dele, enquanto eu estou completamente perdido sem ela. Como posso não ficar possesso ao notar a relação deles? Mesmo que ela não aceite e muito menos saiba, ela ainda é minha mulher e se depender de mim continuará sendo. — Perdido em pensamentos? — Luciana caçoa e eu sorrio em sua direção. — Como sempre. — Tem certeza que não quer que eu fique? — pergunta sem jeito. — Fez mais do que necessário, Lu. — Por Deus, Castiel! — exclama brava. — Você praticamente me

salvou, o mínimo que podia fazer era te ajudar, ou ao menos tentar. — Pena que não funcionou. — zombo de mim mesmo e ela sorri um pouco mais relaxada. — Obrigada! — diz e me abraça com carinho. — Não sei o que faria se você não tivesse aparecido, Cas, saiba que sempre estará em meu coração. — Isso por um acaso é um adeus? — pergunto cínico e ela deixa algumas lágrimas rolarem. — Quero que me ligue assim que chegar, ok? — Manteremos contato, e eu quero saber tudo sobre essa noite. — diz enfática. — Sinto que algo vai acontecer. — Espero que o Cara lá de cima te dê ouvidos! — brinco e nos despedimos com mais um abraço. Às dezenove horas pela janela do quarto vejo Luciana entrando em um táxi que vai direto para o aeroporto. Pelo menos um de nós tinha a chance de recomeçar. — Sabia que não conseguiria. — Victória diz ao entrar no quarto e eu reviro os olhos. — Nem adianta revirar seus lindos olhos verdes que não irá me enrolar mais. Me diga de uma vez, por que a trouxe aqui? — Qual é, Vic? Vou em direção ao espelho e tento arrumar a franja que insiste em cair em meus olhos. Isso me faz lembrar que antes de perder Dani, meu cabelo não era problema algum. Pois mesmo dentre todas nossas brigas, ela sempre fez questão de penteá-lo com sucesso. Só ela consegue domar a droga dessa franja. — Cortar o cabelo ajuda sabia? — Vic zomba. — Diz isso para o seu marido. — respondo com uma piscadela e ela bufa. — Acha que já não tentei fazê-lo cortar aquela juba? Mas nem tente me distrair com isso, responda minha pergunta. — Qual era mesmo? — pergunto, me fazendo de desentendido. — Castiel! — diz brava. —Ok, ok! — exclamo levando as mãos para o alto em sinal de rendição. Abro a boca para começar a falar mas paro no mesmo instante que Caleb entra no quarto. — Atrapalho? — pergunta e eu passo por ele dando tapinhas em seu ombro. — Time perfeito irmão.

— Volte já aqui, Castiel! — Victória exclama brava e eu apenas me viro para lhe soprar um beijo. Caleb que se entendesse com essa mulher, não iria falar sobre meus problemas com Danielle hoje e muito menos sobre Luciana. Ela que segure sua curiosidade. Desço até a cozinha para comer algo pois desde ontem não havia comido nada direito. A chegada de Danielle, meu ataque de ciúmes com ela, a nossa proximidade naquele momento, me fez perder até a fome. Preparo um simples sanduíche e acabo viajando em minhas próprias memórias. Porém preciso focar no presente, ainda mais agora que Danielle com certeza irá querer me matar por ser intimada a ir comigo a festa anual. Ela com certeza não irá parecer mais a gatinha indefesa que vi ontem, ela se tornará a leoa que tanto mexe comigo. — Filho. — me viro e encontro Leandra sorrindo lindamente. Desde que aterrissei no Brasil estava hospedado na casa de Caleb porém não havia ido falar com minha mãe ainda. — Como vai, mamãe? — pergunto e ela vem até mim, abraçando-me com força. Agora sim, eu estou de fato em meu lar. — Senti tanto sua falta meu filho. — exclama emocionada. — Me desculpe por ter ficado tanto tempo longe. — digo sincero e limpo as lágrimas que descem por seu rosto. — Prometo nunca mais me afastar assim. — É bom mesmo menino! — chama minha atenção e puxa de leve minha orelha. — Estava a ponto de ir buscá-lo a chineladas do outro lado do atlântico. — Acho que logo mais não precisará me buscar tão longe. — confesso e ela me olha surpresa. — Não me diga que... Ah meu Deus filho, você vai mesmo voltar a morar no Brasil? — pergunta e eu aceno afirmativamente. — Estava mais do que na hora, não acha? — zombo. O som de algo se partindo, faz com que levante meu olhar no mesmo instante. — Droga! — Dani pragueja baixinho ajoelhada no chão. Vou até ela e me agacho também, tentando ajudá-la a pegar todos os pedaços do copo que derrubou, porém ela é mais rápida e retira tudo. — Me dê isso. — peço e ela reluta contra mim. Seguro seu braço com cuidado e impeço que se levante. — Não quero que se machuque. — Impossível me machucar mais do que estou agora. — diz e sai do meu

aperto. Ela joga os cacos dentro do lixo e praticamente corre da cozinha. — Você já disse a ela sobre sua volta para o Brasil? — mamãe pergunta de repente e eu nego. — Acho que ela não digeriu muito bem a ideia Cas, talvez seja bom conversarem de uma vez. — Não se preocupe, mamãe. Falarei com ela essa noite, não podemos mais adiar essa conversa. — sorrio. — Agora me revele algo, quando Lívia e Joaquim irão assumir que estão juntos? — brinco. — Esses dois já é outra história. — sorri.

*** — Quem vai acompanhar Felipe? — pergunto. — Ninguém. — Caleb responde e eu me espanto. — Mas e Babi? — pergunto curioso pois havia visto segundos atrás Babi passar pelo corredor pronta. — Christopher vai com ela. — responde tranquilamente e fico estático. Será que ele não enxerga os olhares de nosso irmão para Babi? — Por que essa cara? — pergunta e eu apenas sorrio de lado. — Ela já sabe? — pergunto mudando de assunto e ele assente. — Não a machuque, Castiel. — diz e se levanta passando por mim. Mas o que? Olho na direção que ele vai e o vejo beijar Victória delicadamente nos lábios, assim ele a elogia. Como queria eu ter a sorte de tratar a mulher que amo assim. — Onde Isaac está? — Vic pergunta animada e Caleb abaixa a cabeça. — Caleb... — Eles desmarcaram novamente. — conta e noto os olhos de Vic perderem o brilho. — Por que Paula... — Minha rainha, vamos dar um jeito nisso, ok? — tenta tranquiliza-la. Mesmo desconcertada Victória sorri pro marido e coloca novamente um sorriso rosto. As atitudes de Paula para com ela são completamente fora do comum. Por que ela insiste em deixar a própria irmã fora de sua vida, sendo que Vic desde que descobriu esse laço tentou se aproximar? Isaac mal aparece por aqui pelo que Caleb contou, em nenhuma

comemoração eles apareceram e ele sempre vinha com a mesma desculpa: "Paula disse que não está preparada" Caleb sente que algo está errado, assim como eu, mas não ousamos intrometer, esperaríamos o momento certo para questionar Isaac, o qual parece que nunca chega. — Vou apenas dizer tchau para Annie e já os encontro. — digo e subo as escadas. No quarto de Miguel, encontro ele e Annie deitados na cama, assistindo um filme. Pelos olhinhos sonolentos sei que logo estarão dormindo. Como todos da família irão para a festa que será demorada e até cansativa para as crianças, eles ficarão com a babá de Miguel, Sara. — Oi, Sara. — digo e ela sorri pra mim, como sempre animada. — Tudo bem por aqui? — Os anjinhos como sempre estão vidrados na tv. — brinca. — Eles não dão trabalho algum. Sorrio para ela e por um segundo a vasculho por inteiro. Sara é uma mulher jovem, de apenas vinte anos, a qual apareceu na frente da casa em busca de emprego há pouco tempo atrás, porém seu jeito doce ganhou toda família Soares. — Mesmo assim, obrigado por cuidar deles. — digo e ela assente. — Sweet heart. — Annie finalmente me encara. — Logo estaremos de volta, ok? — beijo sua testa. — Ok, daddy. — beija meu rosto e eu acaricio de leve seus cabelos louros. — Amo você pequena! — digo e ela sussurra um simples I love you too . Me despeço de Miguel e Sara, e saio do quarto em seguida. Quando me viro para o corredor acabo apenas sentindo um baque contra outro corpo. O cheiro forte e característico de Danielle me embriaga como sempre. Em uma casa enorme como essa, como seria possível esbarrar justamente nela? Sem poder me conter analiso minuciosamente como ela está. Um vestido vermelho destaca ainda mais sua pele clara, o caimento é perfeito como se fosse feito sob medida. Seu corpo tão próximo ao meu, faz meu coração disparar instantaneamente e quando seus olhos encontram os meus, me sinto completamente sem forças. Não tenho como fugir dela nesse momento. — Me desculpe por isso. — diz abaixando a cabeça e tenta sair, porém a impeço. [5]

— Já está pronta? — pergunto e ela assente. — Vamos então. A puxo delicadamente pelo braço e ela vai mesmo de mal grado. Saímos de casa em casais, todos em carros separados e durante todo o caminho Dani evita olhar para mim. — Preciso falar com você. — quebro o silêncio e ela me olha curiosa. Sem ter mais palavras apenas continuo olhando-a. Ela está tão linda. Penso no que dizer a ela ou se deveria tentar conversar porém nada sai. Durante todo o trajeto ela fica analisando as ruas pela janela da limusine e eu apenas a admiro.

*** Minutos depois chegamos a festa e Dani logo dá um jeito de fugir para o banheiro. Perambulo pelo salão e cumprimento várias pessoas, as quais pouco conheço e outra que há muito tempo não vejo. — Quem é vivo sempre aparece. — Herrera caçoa e eu lhe dou um tapa nas costas. — Admita que morreu de saudades. — abro um sorriso cínico e ele bufa. — Onde está Isaac? — pergunta e eu simplesmente dou de ombros. — Quero saber quem foi a mulher capaz de fazê-lo sossegar depois do fiasco com Tânia. Conversamos amenidades por um tempo mas logo me afasto. Danielle está demorando muito para voltar do banheiro e já estou ficando preocupado. Andando mais um pouco pela festa a encontro conversando animadamente com o senhor e um homem mais jovem. Um homem que não tira os olhos dos seios dela. Merda! — Te achei querida. — enlaço sua cintura e todos me olham confusos. — Castiel Soares, o namorado. Em poucos segundos o clima ruim vai embora e interajo bastante com o senhor que está aqui. Logo entendi que ele foi o patrão de Dani no passado e que quer muito poder contar com ela novamente na revista. Meu orgulho por ela apenas aumenta a cada elogio que o senhor diz. O que me enfurece é o fato do filho dele não parar de flertar com ela, e Danielle não se importar em dar continuidade ao flerte. Segurei o máximo que

pude essa situação, mas tudo tem um limite. — Que tal sairmos qualquer dia desses, Dani? — o rapaz sugere e sinto meu sangue ferver. — Claro. — ela responde e isso acaba levando meu autocontrole para o lixo. — Se nos derem licença. — peço e saio praticamente arrastando Dani pelo salão. Atravessamos cômodos e mais salas, depois do que pareceu uma eternidade consegui tirá-la do prédio. — Mas o que pensa que está fazendo? — pergunta nervosa. — Que merda você pensa que está fazendo? Será que dá pra parar de agir feito uma qualquer? As palavras saem da minha boca antes mesmo que eu possa medi-las. Os olhos magoados de Dani são o suficiente para me fazer arrepender. Eu havia estragado tudo mais uma vez.

Capítulo XVI

Danielle Praticamente fujo de Castiel assim que adentramos a festa. Eu não consigo confiar em mim perto dele. Por mais que esteja magoada, ainda mais agora por saber que ele realmente vai se mudar pra Brasil, não conseguiria me controlar junto a ele. Talvez fosse química e até mesmo biologia, mas a beleza e a presença dele me afetam de uma maneira descomunal. Se ele me beijasse a qualquer momento eu não iria conseguir negar ou muito menos afastá-lo. Pois no fim, isso é tudo o que quero, tudo o que sonhei nesses últimos meses. Perambulando pelo salão, cumprimento algumas pessoas e sigo meu caminho até o banheiro. Tento entender o porquê de ele não ter trazido a tal Luciana, do porquê de tê-la visto sair da casa em um táxi mais cedo. Talvez ela tenha tido um compromisso inadiável e Castiel esteja me usando como segunda opção na festa. Volto para o salão, já sem nenhuma vontade de permanecer nessa festa. Apenas queria estar em casa, debaixo das cobertas, com minha filha em meus braços. — Sempre distraída. — uma voz conhecida diz ao meu lado e eu me viro para olhar. — Sempre belo, senhor Caetano! — cumprimento meu ex chefe com uma grande abraço e ele sorri com graça. Ele é uma das poucas pessoas que pude contar na vida, sempre me deu todo apoio enquanto trabalhei em sua revista e sempre disse que não viveria sem mim lá. Bom, eu era há muito tempo atrás, a responsável por arrumar todos os looks e as posições que as modelos ficariam nas fotos. Por mais que não tivesse tamanha especialização, ele sempre confiou em mim. E mesmo com o meu pedido de demissão, ele nunca deixou de me olhar de forma carinhosa. — Esqueça o senhor menina, apenas Caetano, sabe muito bem disso — ralha fingindo estar bravo e eu sorrio. — Agora me diga, como está tudo? Conversamos por alguns minutos, sorrio junto a ele, que conta da família com grande orgulho. Um belo homem de olhos castanhos claros como os dele se aproxima, o qual me olha de cima embaixo, fazendo meu semblante se fechar no

mesmo instante. Caetano o apresenta como seu filho e eu forço um sorriso. O modo como esse cara me olha é como se eu fosse um pedaço de carne. — Não sabia que haveriam moças tão belas nessa festa, pai. — o rapaz diz galante e eu me seguro para não revirar os olhos. — Bruno, essa é Danielle, aquela moça que salvava minha vida na revista. — Caetano diz e eu sorrio cúmplice. — Bom, apenas fazia meu trabalho. — dou de ombros. — E você garoto, me lembro que vivia na revista apenas por querer posar para as fotos. — digo e sorrio pela lembrança. Eu devo ser uns dez anos mais velha que ele, lembro bem que quando trabalhava lá ele era apenas um menino. Hoje, olhando mais atentamente vejo que se tornou um homem lindo, porém não sinto absolutamente nada. Castiel é o mais belo para mim, sem dúvida alguma. — Bom, como vê agora sou um homem. — pisca brincalhão — Mas gostaria muito de ter sua companhia novamente na revista, a qual em breve vou presidir. — Eu... — Te achei querida. — Castiel aparece e enlaça minha cintura com força. — Castiel Soares, o namorado. Namorado? A cara de tacho de Bruno me faz querer rir mas me controlo ao máximo. Ele deve saber muito bem que a festa é da família Soares e com certeza não esperava a intromissão abrupta de alguém dessa família se apresentando como meu namorado. Bom, nem eu. Pouco entendo o que Castiel está fazendo aqui, mas resolvo aproveitar o momento. Em poucos minutos Castiel já conversa animadamente com Caetano e eu apenas fico sem graça por todos os elogios que recebo. Há um brilho diferente no olhar de Castiel, como se ele estivesse orgulhoso de mim e isso já compensa minha noite. — Que tal sairmos qualquer dia desses, Dani? — Bruno pergunta do nada e fico pasma. — Claro. — respondo educadamente e seguro novamente a vontade de revirar os olhos. Jamais sairei com ele. — Se nos derem licença. — Castiel diz e eu o olho confusa. Sem me dar a chance de perguntar algo, ele praticamente me arrasta pelo salão. Tento impedi-lo porém é em vão, e quando vejo já estamos do lado de fora

do salão. — Mas o que pensa que está fazendo? — pergunto nervosa. — Que merda você pensa que está fazendo? Será que dá pra parar de agir feito uma qualquer? Suas palavras me machucam profundamente. Desvio meu olhar para o chão e sinto um pingo de chuva cair em minha nuca. — Danielle, me desculpe eu... — Não precisa dizer nada, Castiel, já entendi muito bem o que acha de mim. — digo e saio andando em outra direção. Vou pegar um táxi e ir pra casa, não aguento mais encará-lo e muito menos ouvir mais palavras frias saírem de sua boca. — Dani! — Castiel grita e eu me viro para encará-lo. Nesse mesmo momento, quando nossos olhos se conectam uma chuva forte despenca do céu e nos molha completamente. Parece clichê demais, sem graça demais, porém tudo o que consigo fazer diante dele é chorar. — O que quer de mim, Castiel? — pergunto em meio as lágrimas e ele fica parado no mesmo lugar. — Sabe muito bem o que quero, feiticeira. — diz o mais calmo possível e sinto meu coração explodir no peito. — Não. — digo enquanto ele vem andando até mim. Quando faltam apenas alguns passos para ele me alcançar, nossos olhos se conectam novamente e sinto-me segura. Assim como foi na nossa primeira vez. Eu amo esse homem, por tudo o que é. Pelos erros e acertos, qualidades e defeitos. Nada mais me afastará dele. Em um ato impensado simplesmente corro até ele e me jogo em seus braços. Nossas bocas se encontram imediatamente e seu gosto me embriaga. — Vamos sair daqui. — diz e morde com vontade meu pescoço. — Cas... — solto um gemido sem me conter e ele praticamente me arrasta para o primeiro hotel que encontra. Ao entramos no quarto não houve tempo para perguntas ou cobranças. Não pude nem sequer perguntar para ele sobre a outra mulher e muito menos do porquê de estarmos ali nesse instante. Seus toques, suas carícias, seus beijos, me fazem esquecer de todo e qualquer problema, e até mesmo do passado.

Nessa noite quando ele me tomou para si novamente, me senti livre. Enquanto nossos corpos se uniam com perfeição e toda a intensidade do meu ser se juntava ao dele, sussurrei com toda sinceridade que o amo. Aquela parte de mim que antes apenas o repelia se entregou completamente sem sequer pensar. E foi nesse momento que deixei definitivamente o passado para trás, toda a dor e tristeza que me separaram do homem que amo se dissiparam. Estou finalmente preparada para lutar por ele.

*** Acordo sentindo os raios solares queimarem minha pele e sorrio ao sentir meu corpo dolorido. Foi a melhor noite de minha vida, disso eu não tinha dúvida alguma. Tateio a cama em busca de Castiel porém apenas encontro o lençol frio. Abro os olhos instantaneamente e olho para o quarto em busca dele. Levanto-me enrolada em um lençol e vou até o banheiro procurá-lo. Tudo o que encontro pelo quarto é vazio e silêncio. Onde ele havia se metido? Vasculho por mais um tempo e espero sentada na cama pela sua aparição, porém nenhum sinal de que ele vá aparecer ali. Já preocupada procuro meu celular e assim que o acho disco o número de Castiel. Um pequeno papel em cima do criado mudo me chama atenção e assim que a ligação vai direto para caixa postal, o pego e leio a pequena mensagem. Não posso mais. - Castiel Meu coração se quebra apenas ao ler as três palavras. Ele havia realmente desistido de nós dois.

Capítulo XVII Castiel Ela dorme serenamente, enquanto o pânico toma conta de meu ser. Penso sobre nosso passado, esses dois anos juntos, e é horrível ter de admitir que meu amor por ela parece doentio. Um amor unilateral. Penso em me aconchegar mais em seus braços e por aqui mesmo ficar. Depois da noite maravilhosa que tivemos, tudo o que quero é estar ao seu lado assim que acorde. Mas eu sei que ela não vai estar, que vai fugir assim que perceber o que fez. Levanto da cama e me visto rapidamente. Penso em todos os conselhos que tive de Alice e Luciana, de todas as conversas intermináveis com Caleb... E eu sei que está na hora de parar. Parar de ser o mesmo idiota de sempre. Idiota, pois não há palavra melhor para me definir. Escrevo um simples bilhete e deixo no criado mudo. Sei que ela ficará brava ao ler e até pensará que é uma mini vingança, mas sei que no fundo pouco se importa. Se ela se importasse teria me ouvido e saberia que o pai do bebê de Alice não sou eu e tão pouco conseguiria ficar quatro meses longe de mim. Os piores quatro meses de todos os tempos. Doeu demais vê-la de longe machucada, sem poder cuidar e muito menos a mimar. Eu quis muitas vezes socar a cara de Felipe, apenas porque ela permitia ele por perto, ele fica no apartamento com ela... O mesmo apartamento que comprei especialmente para nós. Mas não tinha mais volta há muito tempo e eu me neguei a ver o fim. Não que a nossa história estivesse finalizada, pois duvido muito que meu amor por Dani um dia vá embora. Só não adianta mais tentar em vão, atirar no escuro... Saio do quarto do hotel tanto com um peso no coração, quanto na consciência. Ligo então para a única pessoa que poderia me entender nesse momento. — Ali, preciso de ajuda. — digo rapidamente. — O que houve, Cas? — pergunta apreensiva.

— Eu e Dani transamos e... Droga, eu a deixei no quarto de hotel dormindo. — suspiro cansado. — Não podia acordar e não tê-la lá novamente, Ali. Entende? — pergunto já desesperado. — Cas, primeiro se acalme, ok? — pede e respiro fundo. — Vou voltar para lá e ficar com ela, não devia ter saído e... — Cas! — Alice grita e eu estaco no elevador. — Conte devagar o que houve e depois resolveremos o que fazer, ok? — Certo. — respondo e começo a contar para ela tudo o que houve. — Onde você está? — pergunta. — Estou parado do lado de fora do hotel, sem saber o que fazer. E se ela me odiar por tê-la deixado lá sozinha? — pergunto já angustiado. — Já ouviu dizer que entre o amor e o ódio existe uma linha tênue? — pergunta e me sinto ainda mais frustrado. — Sem adivinhações, Alice! — Pare de ser burro. — exclama. — Você já sabia o que fazer assim que saiu do quarto, não precisava nem ter me ligado. Você pela primeira vez, desde que a conheceu, escolheu proteger os seus sentimentos ao invés dos dela. Eu já te disse mil vezes que primeiramente devemos amar a nós mesmos e só assim... — Seremos amados de verdade. — complemento. — Como queria que fazer isso. — Bom, você o fez hoje. — Acha que fiz o certo? — pergunto. — Acho que fez o que achou certo, se vai dar algum resultado, logo saberemos. Vá para casa e descanse um pouco. — sugere e eu concordo. Um silêncio paira no telefonema e assim que penso em perguntar sobre a gravidez, uma voz masculina soa no fundo. — Quem é no telefone? — Deixe-me adivinhar, Evan? — pergunto zombeteiro e ouço o bufar de Alice. — Ele não me deixa em paz. — diz em um sussurro, com certeza ele está perto. — Evan, será que pode me dar um pouco de privacidade? Está no meu apartamento e ainda por cima nem foi convidado! — Parece que alguém aprendeu a lidar com ele. — digo e ouço sua risada. — Como queria que fosse isso. — suspira fundo. — No fim, sei que ele está aqui apenas pelo bebê e não que seja ruim, pelo contrário, é bom saber que

meu filho terá um pai presente. O problema é... — Amar o pai do bebê? — pergunto e ela sussurra um simples "sim". — Mas e se ele te amar de volta? — Não. — diz em um tom baixo. — Ele apenas faz por obrigação. — Ali... — Somos dois ferrados Castiel, não podemos negar. Mas eu sei que mesmo negando, Danielle ama você e sei que não irá desistir de vocês... Não agora. — Como pode acreditar nisso? — pergunto parando um táxi em frente ao prédio. — Bom... Eu simplesmente sei. — diz, me deixando intrigado. Alice nunca foi de afirmar algo sem ter muita certeza e não sei como ela está tão convicta do amor de Dani por mim. Nem eu tenho tal convicção. Conversamos por mais alguns minutos porém Evan nos interrompia a todo momento. Alice com os hormônios a flor da pele, se despediu rapidamente e tenho certeza que o celular foi jogado na cabeça de Evan. Só torço para que eles se acertem. Os minutos voam e continuo ainda apreensivo por minha decisão, porém assim que chego a casa de Caleb uma cena me faz mudar de foco. Felipe está sentado no quintal junto ao violão. Ele canta e toca baixo mas consigo entender perfeitamente a letra. “Como pode ser gostar de alguém E esse tal alguém não ser seu Fico desejando nós gastando o mar Pôr do Sol, postal, mais ninguém Peço tanto a Deus Para esquecer Mas só de pedir me lembro Minha linda flor Meu jasmim será Meus melhores beijos serão seus Sinto que você é ligado a mim Sempre que estou indo, volto atrás Estou entregue a ponto de estar sempre só Esperando um sim ou nunca mais” (Amado – Vanessa da Mata)

Assim que me vê ele trava e me olha assustado. — Não me olhe assim. — levo as mãos para cima em sinal de rendição — Vejo que aprendeu perfeitamente a tocar. — Obrigado tio, tive um ótimo professor. — revira os olhos e eu sorrio. — Seu tio é o melhor, eu sei! — zombo e ele bufa Nesse tempo em Londres acabei dando algumas aulas de violão e canto para Felipe, o qual aprendeu rapidamente. — Mas agora me diga, quem é ela? — indago. —Ela? — pergunta sem entender e é minha vez de revirar os olhos. — A garota para quem canta a música. — Ela... — ele começa a gaguejar e eu sorrio. Mais um Soares apaixonado e completamente fisgado! — Ela é filha de um dos amigos do meu pai. — confessa e me olha apreensivo. — Se conheceram em uma das festas e... — Não. — me corta. — Eu a conheço há muito tempo, ou melhor, pelo menos me lembro dela. — Você se lembra dela mas ela não se lembra de você? — pergunto tentando entender e ele assente. — Eu a revi no casamento dos meus pais, de longe em meio aos convidados, mas ela não me notou e... Deixa pra lá. — dá de ombros. — Quando quiser falar, sabe que estou aqui, assim como seu pai. — digo e ele assente. — Obrigado, tio. — diz e volta a tocar novamente. Felipe querendo ou não já é um garoto maduro para a própria idade, mas duvido muito que ele saiba lidar com que está sentindo. Na realidade, cada um de nós sabe muito pouco. Deixamos a conversa de lado e aproveito para cantar junto com ele. Ensino algumas músicas novas e tudo ia bem, até que um táxi para em frente à casa, chamando nossa atenção. Danielle sai do mesmo e assim que me olha, mesmo de longe, consigo notar que seu rosto não está com a raiva que eu esperava. Ela me olha por alguns segundos e logo desaparece dentro da casa. — Torça para que o que sinta por essa moça não seja amor, Lipe. — digo e ele me olha sorrindo.

— Por que? — Se seu relacionamento um dia estiver no nível de Caleb ou no meu, você está literalmente ferrado. — confesso e ele gargalha. — Acho que conheço alguém pior. — diz e eu o olho curioso. — Christopher. — diz e gargalhamos juntos. — Caleb irá matá-lo. — penso alto. — Não duvido. — complementa e sorrimos cúmplices. Todos já haviam percebido os olhares de Christopher para com Babi. E assim que Caleb notar algo diferente, eu sei que não vai prestar. Esse com certeza será o relacionamento Soares mais complicado. — Tia Dani está bem? — Felipe pergunta e me sinto desconfortável. O que poderia dizer? — Ela vai ficar. — Ela não está bem com sua volta para o Brasil, não sabe como irão fazer para que Annie possa vê-lo e... — Ela acha que vou voltar para o Brasil sem ela? - pergunto e ele assente. — Claro que não, ela virá comigo, sei o quanto ela sente falta de casa. — Mas tem a Luciana e ela não quer... — Vou falar com ela, fique tranquilo. No fim, tudo dará certo. — digo tentando ser convincente e logo Felipe se perde na música. Preciso ter uma conversa franca com Danielle, a respeito da volta para o Brasil, meus motivos para isso e esclarecer a ela tudo sobre Luciana. Só espero que isso seja o suficiente e que tudo o que precisemos seja um recomeço. Um recomeço escolhido por nós. Essa será a última vez que lutaria por esse sentimento, caso ela diga não, eu aprenderei, nem que fosse sofrendo ainda mais, que amor as vezes simplesmente existe pra nos machucar.

Bônus Alice —Será que eu posso ter um momento de privacidade no meu próprio apartamento? — grito sem me conter. Evan me olha furioso ao mesmo tempo que passa as mãos pela barba rala com força. Eu sei que ele está com raiva, só não sabia o motivo idiota que o levou a isso. — Eu estou aqui desde cedo tentando colocar na sua cabeça que temos que comprar coisas para o quartinho da nossa menina e você simplesmente fica nessa merda de celular. — explode. — Já disse que só vou comprar algo para minha filha quando alguém especial puder ajudar. — Não me diga que esse alguém especial é seu queridinho Castiel? — desdenha. — E se for? — retruco de volta — O que você tem a ver com isso, afinal? — Eu sou o pai da criança que você carrega e... — E mais nada, Evan! — grito. — Você disse corretamente, o pai da criança que carrego, não meu pai. Pare de achar que é algo além. Sento-me já cansada no sofá e continuo encarando Evan que me olha cauteloso. — Eu só queria começar a organizar tudo para ela e... — vira de costas para mim. — Lia comprou tudo antes mesmo de sabermos o sexo do bebê. — sussurra, porém escuto. Suas palavras quebram meu coração ainda mais. E isso é o que Evan sempre faz comigo. Dói ouvi-lo falar com tanta reverência da esposa que perdeu há alguns anos. Ele sempre me compara com Lia, mesmo sem querer. Ela sempre será uma sombra na vida dele, uma sombra do seu passado. — Acontece que eu não sou Lia. — digo e ele se vira assustado. — Alice eu não... — Não precisa se explicar, Evan, sei bem como se sente a respeito disso.

— respiro fundo e levo as mãos a minha barriga em busca de apoio. Como se sentisse o que queria, minha pequena dá um chute. Sorrio sozinha encarando minha barriga e a acaricio de leve. — Eu te amo, minha bebê. — sussurro baixinho. — Está tudo bem? — Evan pergunta e eu apenas assinto. Me levanto e vou em direção a cozinha. Enquanto bebo um copo d'água, penso sobre tudo o que passei desde que conheci Evan. Desde o momento que me senti perdida, no qual cometi o erro de beijar meu melhor amigo, e também no momento que fui expulsa do apartamento de Evan. Com certeza nunca mais pisarei naquele lugar. Quando descobri sobre a gravidez, senti que seria uma chance para ter o meu felizes para sempre com ele, mas Evan, não é nem de longe o homem que pensei que fosse. Ele é bipolar, neurótico e ainda por cima não cansa de idolatrar o próprio passado. Do quanto a vida dele, com a mulher e o filho, era perfeita. Claro que entendo sua dor, ou pelo menos tento entender. Perdi meus pais muito nova e sei bem como é lidar com a saudade no dia a dia. Mas eu não tento revive-los na realidade, porque a saudade por si só me mostra que eles estão vivos em mim. E isso já me basta. Já Evan não age de tal forma. Ele guarda e mantém o apartamento deles intacto. Assim como ninguém pode tocar em algo que foi deles. Até hoje não sei o porquê dele ter me levado até o apartamento em nossa primeira vez, e me sinto suja por isso. Sinto como se ele tivesse pensado nela quando esteve comigo. E isso não é algo saudável para mim, não mesmo. — Se quiser posso fazer algo para comer. — diz de repente ao entrar na cozinha e eu nego. — Já comi bem hoje e não preciso de mais cuidados. Se quiser escolher algo para o quarto de Blair, sinta-se à vontade. — Blair? — pergunta surpreso. — Já escolheu o nome? — Sim. Tento sair da cozinha, porém ele me impede. Eu o encaro estupefata. O que ele está fazendo? — Eu pensei em alguns nomes também. — diz cauteloso. — Quais? — indago. — Se sugerir Lia, eu juro que te jogo para fora desse prédio. — Não permito que fale dela desse jeito. — diz mudando totalmente de postura, me encarando com raiva e eu sinto ainda mais vontade de matá-lo.

Por que eu me apaixonei por homem preso ao passado? — Não permito você dentro da minha casa e olhe só. — aponto para ele. — Você está aqui. — Estou falando sério Alice, não quero que fale mais nada sobre Lia ou... — Ou o que Evan? Vai me bater? Ou melhor, vai embora? — zombo. — Acha mesmo que vou morrer caso você desapareça e nunca mais volte? — rio sem humor. — Alice... — Não querido, eu não sou você. Eu sei muito bem que é incapaz de amar outra pessoa e eu jamais vou me apaixonar por um homem tão rude como você. Não sou tola assim, então se não está satisfeito, vá embora! — ele me olha boquiaberto. — Há um ditado que aprendi com um amigo: “a porta da rua é a serventia da casa.” Saio da cozinha o empurrando para o lado e praticamente corro até o quarto. Tranco-me por dentro e lá permaneço. — Alice. — ele me chama porém ignoro. Me agarro a um dos bichinhos de pelúcia enormes que tenho e choro baixinho. Choro por ser tão boba e ter me apaixonado por Evan. Esse amor é destrutivo e sei que apenas eu sairei machucada. Na vida do homem que amo apenas existe espaço para uma mulher e infelizmente não sou eu.

Capítulo XVIII Danielle Sou acordada com carinhos de leve em meu cabelo e me espreguiço sem querer. — E aí? Onde a senhorita passou a noite? — Vic pergunta e eu sorrio fraco. — Com Castiel. — Eu sabia, ganhei 50 reais de Caleb. — exclama alegre e eu reviro os olhos. — Não parece tão animada. — Ele me deixou sozinha no quarto. — conto e ela me olha sem saber o que dizer. — Eu te avisei sobre tudo isso, Dani. — Eu sei. — digo e ela faz carinhos em meu cabelo enquanto choro baixinho. — Talvez ainda não seja tarde demais. — diz e eu a encaro. — Pensei em algo. — confesso. — Ele lutou por nós dois durante esses anos, nada mais justo do que eu fazer o mesmo por ele agora. — Mas a pergunta principal é o por que você fará isso? — Vic indaga. — Porque eu o amo e mesmo conseguindo seguir em frente sem ele, eu não quero. — sou sincera. — Boa resposta. — zomba e sorrimos. — Você perdeu o ponto alto da noite. — Como assim? — pergunto curiosa. — Christopher foi para cima de Donatello, receio que por ciúme de Babi. — conta e sorri. — Mas Donatello é casado. — reflito alto. — Pois então, ninguém sabe ao certo o que Donatello e ele conversaram, ou se chegaram a conversar. Só sei que em um momento estava tudo bem e no outro Caleb correu para evitar que Christopher fizesse alguma besteira. — diz sorrindo. — O que Babi disse sobre isso? — pergunto e ela bufa.

— Babi continua negando qualquer envolvimento com Chris e também disse que não sabe o porquê dele ter atacado Donatello. Caleb acha que Chris foi para cima de Donatello por conta de algo das empresas, o que é um alívio. Porque se ele desconfiar do interesse do irmão em Babi ou vice-versa, estamos ferradas. — Tudo isso em uma só noite? — sorrio cúmplice. — Não acredito que perdi isso. — Você com certeza estava em um lugar melhor. — caçoa. — Com certeza Passamos um bom tempo conversando sobre tudo e contei tudo o que houve na noite que passou. A melhor parte de minha amizade com Victória é que ela sabe o momento certo de intervir e o momento de me deixar desabafar. E as lágrimas que tanto segurei molharam seu colo e ela nem se importou. — Lute pelo seu amor, Dani, sei que quer fazer isso. E estava decidido, eu lutarei pelo homem que amo.

*** Horas depois eu brincava animada com Annie, ela insistia em jogar tinta guache em Miguel que apenas sorria pela provocação. Os dois já falam bastante, então praticamente me enlouquecem com sua animação. Ambos também já não mamavam mais no peito e tinham acabo de começar a tomar leite na mamadeira. Nesta noite, Caleb e Victória sairão para um programa de casal, o que eles não tinham há algum tempo, já que ambos não conseguem ficar muito tempo longe do filho. — Sweet heart! — exclamo assim que Annie joga tinta vermelha em meu cabelo. — Desculpe, mommy. — pede meio chorosa e noto sua boquinha abrir de sono, assim como Miguel está. — Vamos para o banho, minha pequena. — a pego no colo e chamo Sara para dar banho em Miguel. Tomamos banho juntas e brincamos por alguns minutos na banheira. Esses pequenos momentos fazem tudo valer a pena. E assim tinha ainda mais certeza que meu envolvimento com Castiel jamais foi um erro. Na verdade, ele foi meu maior acerto. Minutos depois todos já estávamos de banho tomado e coloco ambos para deitar ao meu lado e assistirmos um filme.

— Ei. — Vic aparece no quarto acompanhada de Caleb e sorrio por ver toda produção dos dois. Eles realmente combinam um com outro. — Até amanhã, bebê. — Victória se despede de Miguel e ele lhe dá um beijo no rosto. — Vocês dois irão aprontar hoje, não é? — brinco e ela me lança uma piscadela. — Pronta, Vic? — Caleb pergunta e logo eles se despedem. Miguel então deita a minha direita e Annie a minha esquerda. O filme começa e logo sorrio ao ver que mesmo sendo de princesas, Miguel está adorando. Minutos depois meus olhos começam a pesar e noto que os dois também estão assim. Ajeito os travesseiros para cada um de nós e deixo que o sono nos leve. — Danielle. —alguém me chama e demoro alguns segundos para me situar. — Oi, o que foi? — pergunto e Castiel me ajuda a levantar sem acordar os pequenos. — Só vim acordá-la para ir dormir em seu quarto. — sussurra. — Dispensei Sara. — Obrigada. — sussurro e dou um beijo de boa noite em cada um deles, antes de sair do quarto. Ao fechar a porta com cuidado procuro por Castiel, mas não há sinal dele no corredor.Ele está me evitando. Vou até meu quarto e tomo um banho gelado. Sento-me no chão frio e deixo com que algumas lágrimas rolem. Desde quando fiquei tão chorona assim? Meu coração dói ao relembrar o modo como a mão dele se unia a de Luciana. E se eles fossem namorados? Não tive tempo de questioná-lo a respeito. Me entreguei a ele sem pensar duas vezes e sem ter tempo para estragar tudo. Seu toque parece que ainda queima em minha pele e os roxos pelo meu corpo deixam claro que a noite foi de extrema luxúria e paixão. Mas será que ainda há amor? Começo a cantar baixinho a música que traduz perfeitamente meu momento. Eu realmente me sinto fria como pedra. “Fria como pedra, fria como pedra Você me vê de pé, mas estou morrendo no chão) Fria como pedra, fria como pedra

Talvez se eu não chorar, eu não sentirei mais Fria como pedra, baby Deus sabe que eu tento me sentir feliz por você Saiba que eu sou, mesmo que eu não consiga entender Eu aguentarei a dor, me dê a verdade Eu e meu coração, nós vamos conseguir superar” (Stone Cold – Demi Lovato) Batidas na porta me fazem levantar em um salto. — Quem é? — pergunto assustada. — Sou eu, preciso falar com você. — Castiel diz e engulo seco. — Um minuto. — peço e desligo o chuveiro em seguida. Me enrolo fortemente em um roupão e coloco uma toalha nos cabelos molhados. Respiro duas vezes antes de destrancar a porta e entrar no quarto. Meu coração falha uma batida ao encontrá-lo sentado de costas, apenas vestindo uma calça de moletom. Deveria ser proibido alguém ser tão bonito assim. — Oi. — sussurro e seu olhar encontra o meu. — Está tudo bem? — pergunta. — Sim, apenas estava no banho. — dou de ombros. — Precisamos conversar Danielle. — diz sério. — Eu sei. — Quer que eu espere você se trocar ou... — Está tudo bem, pode começar se quiser. — digo, pois simplesmente não sei como dizer a ele o que sinto. — Ficarei apenas mais alguns meses em Londres e já consegui um emprego aqui no Rio. — fico estática. — O que? — pergunto em um fio de voz. Ele vai me deixar por ela. — Vou voltar para o Brasil. — Por que? — pergunto e ele suspira fundo. — Quero tentar pela última vez. — diz e em desespero me jogo em colo. — Por favor, não faça isso. Só me dê mais uma chance, Castiel, prometo não...

— O que está dizendo? — pergunta sem entender e me segura com força pela cintura. — Não fique com a Luciana, por favor. — peço e lágrimas correm por minha face. — Minha volta para o Brasil não tem nada a ver com Luciana, ela é apenas uma amiga, a qual você conheceu naquela vez... — diz calmo e limpa minhas lágrimas com as pontas dos dedos. Enfim, quero tentar a nossa última vez. — Sério? — pergunto sem acreditar. — Não posso desistir ainda. — diz e eu me permito sorrir. — Como faremos isso? — pergunto e saio do seu colo. — Não faço ideia. — diz e abro seu sorriso cínico. Meu sorriso favorito. — Dani. — me chama. — Você... Você quer mesmo tentar por nós dois? — Quero ser a mulher que você merece. — sou sincera. Um silêncio constrangedor se faz no ambiente e fico apenas o encarando por alguns minutos. — Temos tudo para sermos felizes Dani, espero que saiba disso. — Hoje eu sei. — revelo envergonhada. — Vou deixá-la a vontade e dormir. Teremos tempo para conversar sobre todo o resto. — Tudo bem. — digo decepcionada, já que queria dormir em seus braços. — Você não tem nenhuma dúvida sobre Alice ou sobre Luciana? — pergunta incerto. — Eu confio em você, Castiel. Sei que não me enganaria. — afirmo e ele sorri. — Quero ser feliz ao seu lado. — diz e me dá um beijo na testa. — Boa noite, feiticeira. Ele sai do quarto e me deixa parada no meio do cômodo. Então seria assim? Iríamos mesmo recomeçar? Não há mais problemas ou passado para nos atormentar. Pelo menos por enquanto. E assim me permito dormir sorrindo, com a aposta de um futuro feliz ao lado de Castiel.



Bônus

Antonella (Babi) Olho para o espelho em minha frente e suspiro fundo ao vê-lo atrás de mim. Por que ele sempre faz isso? Aparece em meu quarto de surpresa como se fosse algo comum, como se nós fôssemos algo. — Está linda. — elogia e eu me viro para ele. — O que quer aqui Christopher? — Vim avisar-lhe que iremos juntos a festa dessa noite. — O que? — pergunto incrédula — Eu vou com Felipe e... — Irá comigo. — afirma convicto e eu bufo em resposta. — Não sei por que insiste nisso. — Sabe muito bem porquê. — diz se aproximando e não consigo desviar meu olhar do seu. Desde que o vi pela primeira vez é assim. Meus olhos parecem ter uma conexão sem igual com os dele. E por mais ingênua que eu seja a respeito de desejos e sentimentos, eu sei que meu coração disparar e meu corpo se arrepiar em sua presença, não é algo que comum. E infelizmente, é algo além de um simples desejo. Seus dedos fortes deslizam levemente pelos meus lábios pintados de vermelho e como se fosse o correto, meus braços rodeiam seu pescoço. — Sabe que isso é errado. — o alerto. — Também sei que é inevitável. — devolve, descendo seus dedos para meu pescoço onde faz círculos. — Não posso lutar pelo que sinto por você, Antonella. — Sabe que é a única pessoa que me chama assim, não é? — zombo e ele sorri enigmático. — E espero que seja assim para sempre. Apenas minha, Ella. — e assim sela nossos lábios. Penso em pará-lo e fico tensa ao pensar que tanto meu pai ou qualquer um de nossa família pode entrar em meu quarto nesse momento, mas

simplesmente não consigo. Christopher tem algo sobre mim, que pouco sei explicar e muito pouco sei a respeito, mas no momento decido deixar acontecer. Pelo menos, por enquanto. Batidas na porta fazem com que eu me afaste dele imediatamente e eu respiro aliviada ao ouvir a voz de Lipe do outro lado da porta. — Não podemos continuar com isso. — digo e Christopher fecha o semblante na mesma hora. — Já tivemos essa conversa Ella, não vou me afastar de você enquanto ainda me quiser. E sei que ainda me quer. — Babi. — Lipe chama novamente e fico ainda mais tensa. — Sente ali na cama e não diga nada. — peço. — Não, Felipe sabe muito bem sobre nós e... — Christopher insiste. — Não existe nós dois Christopher, pelo amor de Deus! — exclamo já exausta e com medo. — Existe e você sabe disso. O ignoro e abro a porta para Felipe. Ele entra desconfiado no quarto e bufa ao ver que Christopher está aqui. Ele é o único que sabe realmente sobre meus sentimentos para com Christopher e com certeza sabe que não permiti de bom grado ele aqui, sabe que novamente Christopher entrou sem pedir. — Não vi nada. — diz e Christopher sai do quarto na mesma hora. Covarde! — Quer falar sobre isso? — Lipe pergunta e eu nego enquanto coloco meus brincos. — Ok. — cedo ao notar seu olhar curioso — Ele veio até aqui para me contar que não vou com você a festa e... Nos beijamos. — Isso não é novidade. — diz e fico envergonhada. — Sabe que ele não vai desistir até que você ceda e aceite o pedido de namoro. — Eu não quero Lipe... Eu não posso querer. — Babi — chama minha atenção. — Ele não tem laço sanguíneo algum com você, não tem porque achar que isso é proibido ou... — Não serei um desgosto para nosso pai. — Não diga besteiras. — reluta — Sabe que... — Chega desse assunto. — digo alisando o vestido e vou até ele arrumando sua gravata. — Queria saber o porquê de toda essa produção. — zombo e ele fica sem graça.

No tempo que se passou, Lipe e eu, assim como Luna nos tornamos de fato irmãos. Pode ser algum estranho, mas entre nós sempre foi algo comum, como se tivéssemos o mesmo sangue, sendo que isso pouco nos importou. Lipe é um cara lindo e arranca suspiros por onde passa, seja na empresa ou na advocacia onde passa a maioria do tempo aprendendo com nosso pai. Muitas mulheres são candidatas a se tornarem a sua, porém ele apenas se interessa por uma. — Talvez ela esteja lá, talvez me note e... — Sabe que haverá muitos olhares em você essa noite. — provoco já sabendo sua resposta. — Eu apenas estou interessado em um par de olhos verdes. — Sei bem disso. — o abraço com carinho. — Ela não te reconheceu pois ainda não se esbarraram, mas sei que irá. — Eu espero, irmã.

*** Horas depois já estou com dor nos pés por ficar transitando de um lado para o outro no salão com Christopher. Não nasci realmente para usar saltos, mas infelizmente uma ocasião como essa exige tal aparato. — Quer algo para beber? — Chris pergunta e eu nego, porém tudo que consigo pensar é em uma coca-cola bem gelada. Eu não o encarei de modo algum, sua beleza me deixa sem foco e o modo como une nossas mãos faz com que meu coração bata descompassado. Não sei ao certo o que sobrará de mim nessa noite. — Não acredito! — um gritinho feminino faz com que nos viremos e uma morena alta e bela praticamente se joga nos braços de Christopher. Fico pasma e minha vontade é arrancá-la de cima dele ou simplesmente chorar, chorar de raiva por ele ter soltado minha mão e retribuído com todo afinco tal gesto. — Paola, essa é Antonella Soares... — Ah, a filha de Caleb não é? — dá dois beijinhos em meu rosto enquanto assinto com a cabeça. — Sua sobrinha é linda Chris, parabéns! Sinto um nó em minha garganta e minha vontade de chorar apenas aumenta, mas não irei desabar aqui. Não na frente deles. Christopher apenas sorri amigavelmente e logo eles entram em uma

conversa sobre viagens e festas que foram, e pouco sei o que ainda faço aqui. Facilmente me afasto e vejo o quão ele realmente me queria ali consigo, pois sequer nota minha ausência. Idiota! Ando por alguns minutos e tento encontrar nossa mesa. Em meio a tantas pessoas que conversam, sorrio para algumas e tento não arrancar os saltos que novamente me incomodam. E em uma das tentativas de não tropeçar em meus próprios pés, acabo tendo de me segurar em uma mulher que está parada no caminho. — Me desculpe por isso, eu... — ela sorri amigavelmente e nem me deixa prosseguir. — Eu também odeio esses saltos, mas como acompanho Dom nessas festas e ele me faz o favor de ter quase dois metros de altura, sou praticamente obrigada a isso. — sorrio cúmplice a ela, pensando no quão alto Christopher também é. Por que estou pensando nele? — Prazer, sou Antonella Soares. — me apresento e ela me abraça apertado. — Ah então você é neta de Leandra? — pergunta se afastando. — Você é linda, assim como ela falou. — Obrigada. — digo sem jeito, pois ainda não sei nome dela. — Me desculpe a indelicadeza, sou Elena Donatello. Um minuto, tem alguém que vai adorar conhece-la. — ela se afasta e em poucos segundos volta com um homem realmente alto, olhos negros e cabelos da mesma cor. — Dom, essa é a neta de Leandra. — Elena me apresenta e ele me cumprimenta também com um abraço. — Ela é linda, assim como Rodrigo não se cansa de dizer. — ele diz sorridente e Elena o cutuca com cotovelo. — Está deixando a menina sem graça. — o repreende. — Você com certeza já fez isso, querida. — sorrio pelo tratamento que os dois tem e fico admirada ao ver o sentimento forte que seus olhares transmitem um para o outro. — Desculpe por ser tão distraído, mas Elena consegue me confundir. — ela o olha brava e ele sorri. — Sou... Sua frase paira no ar e logo vejo Christopher o acertar com um soco. Mas o que? Tudo acontece muito rápido, quando penso em pular em cima de Christopher para impedi-lo de fazer qualquer idiotice que esteja pensando ou

piorar ainda mais a situação, meu pai aparece e o tira de cima de... Espera, eu ainda nem sei o nome do homem atingido. Também, na hora que ele ia se apresentar Christopher me faz essa cena. Isso é tão constrangedor. — Elena, eu não sei o que dizer. Não sei porque Christopher fez isso e... — Está tudo bem, Antonella. — o tal homem diz e Elena sorri docemente — Christopher nunca foi muito com a minha cara. — Mas não entendo o porquê dele ter feito isso. — digo. — Nem nós. — Elena diz e passa a mão pela boca do marido que tem um leve corte. Ele podia ter revidado porém nem tentou. — Não faz ideia de quem nós somos? — Elena pergunta divertida. — Sinto muito, mas não. — digo envergonhada. — Sou Dominic Donatello. — ele diz e fico pasma. — O grande concorrente de vovô? — pergunto pasma. — Eu sempre imaginei... — Um velho? — ele zomba, passando a mão no lugar onde levou o soco. — Mais ou menos isso. — sorrio junto a eles. — É um prazer conhecelos. — Para nós também, espero que quando nos encontrarmos novamente seja em um momento menos inesperado. — Elena sorri e Dominic enlaça sua cintura. — Até breve Antonella, e caso queira visitar nossa empresa, as portas estão abertas. — Dominic diz e eu assinto. — Podem me chamar de Babi, é o meu apelido. — digo e eles logo se despedem. Me afasto dali e vou em direção onde vi meu pai sumir junto a Christopher. As outras pessoas que ainda estão na festa parecem achar a atitude de Christopher algo comum, como se já estivessem acostumados. Tudo bem que ele é o Soares que mais sai nas notícias e sempre presenteia todos com algum escândalo referente a briga com os rivais. Mas por que ele brigaria com o maior rival, justo na festa de comemoração da família? — Babi. — mamãe me chama e vou até ela. — Sabe o que aconteceu lá, ou por que Christopher fez aquilo? — Não tenho ideia. — sou sincera. — Sei o que rola entre vocês Babi, não precisa mentir pra mim. — ela insiste e eu nego veemente.

— Eu realmente não sei o que houve e sobre o que disse, não rola nada entre nós. — Deixarei passar dessa vez. — diz rindo de lado e eu solto o ar aliviada. Onde eu estou me metendo? — Não me faça mais uma merda dessas Christopher! — ouça a voz brava de meu pai — Estou cansado de ver suas atitudes de moleque nos prejudicando. — Não irá assumir a presidência enquanto continuar com isso e espero que peça desculpas o mais rápido possível para Donatello. Não tem motivo algum para agir assim. — meu avô diz e mamãe abraça meus ombros com carinho. Caminhamos até onde eles estão e fico pasma ao ver Christopher fumando. Como eu nunca o vi fumando antes? — Vocês não entendem. — ele grita. — Claro que não! — papai revida — Você age como se ainda tivesse vinte anos, sendo que já está quase na casa dos quarenta. — Cale a boca, Caleb. — diz e se levanta. O olhar de papai em sua direção é matador e sinto pena ao ver o estado que Christopher está, mas realmente ele merecia ouvir aquilo. E mais um dos problemas que cercam meus sentimentos por ele - a nossa grande diferença de idade. Eu havia completado 20 anos a pouco tempo e ele já estava com quase 38. Dezoito anos de diferença podem significar muita coisa, ou não, mas eu não posso parar para pensar nisso agora. Nós, não irá mesmo existir. — Vou embora, já que meu lugar não é aqui. — diz como um garoto mimado e meu avô bufa. — Trate de voltar para festa e agir como o homem que sei que é. Christopher levanta seu olhar e encontra o meu. Sorrio sem graça para ele e vejo apenas raiva em seus olhos. Por que ele está assim? Apenas uma coisa me intriga nesse momento e não é sobre um possível futuro para nós dois. Mas sim, o porquê Christopher ter agredido Dominic Donatello e me encara como se eu fosse culpada de algo. Descobrirei a resposta para essa pergunta, cedo ou tarde.

Capítulo XIX Danielle Um mês nunca passou tão rápido em minha vida. Assim como os últimos dias no Brasil antes de voltarmos para Londres, o nosso último mês aqui passou voando, e agora as malas já estão quase todas prontas para voltarmos, e por lá ficarmos. Mudanças não são fáceis e organizar dois anos de nossas vidas em caixas e malas que não fossem um exagero, está sendo algo muito trabalhoso. Castiel principalmente, por ter vivido a maior parte de sua vida aqui, teve de doar boa parte de tudo. Fiquei com minha parte e de nossa princesa para organizar, a qual nesse momento está emburrada pois o pai ainda não chegou do hospital. —Sweet heart, sabe que trabalho do seu pai não tem um horário correto. — sorrio para ela, mas que continua olhando fixamente para porta de entrada do apartamento. Ela tem a mistura de nossos gênios e como ambos somos teimosos, não tinha como sair com uma personalidade diferente. Olho para o relógio e noto que já passaram duas horas do horário que geralmente Castiel chega em casa. Mesmo seus atrasos sendo algo comum, resolvo ligar. Talvez estivesse preso no trânsito e assim terei uma desculpa para dar pra Annie. — Oi, querida. — diz ao atender e meu coração se derrete. Não que já tivéssemos resolvido e conversado a respeito de tudo. Pelo contrário, Castiel esteve tão ocupado com o hospital e eu com a mudança que praticamente não tivemos tempo para nós. Apenas combinamos que assim que chegássemos ao Brasil, colocaríamos tudo em pratos limpos. Mas qualquer gesto carinhoso que ele tem para comigo faz meu coração ter uma reação. Não nos ignoramos mas também não dormimos juntos, mesmo assim nunca me senti tão próxima dele quanto agora. — Ainda vai demorar muito para chegar em casa? — pergunto. — Bom, passei no shopping para comprar a boneca que Annie tanto pediu, mas em poucos minutos estarei aí. Desculpe não ter avisado. — Ela é quem está ansiosa para que chegue, quer que a ajude a levar as

caixas para doação. — Já disse que ela irá trabalhar em uma ONG? — pergunta e eu gargalho. Nos últimos dias, Annie insistiu em doar tudo o que podia para as outras pessoas, o que achamos um gesto muito nobre. Ao contrário de mim, que sou apegada a vários objetos materiais, Annie simplesmente os dá de bom grado, sem pensar. Isso que nossa pequena logo completará apenas dois anos, imagine quando for mais velha. E depois de vê-la assistindo tão animada reportagens sobre ONGs, Castiel insiste em dizer que Annie com certeza seguirá esse caminho. Eu não posso me orgulhar menos por isso, seja o que for que ela queira, sei que dará seu máximo. — Ela disse que quer salvar as baleias. — conto o que ela disse mais cedo, após assistirmos um documentário. Ela não o entendeu muito bem, pois tudo passou muito rápido, mas quando a expliquei do que se tratava, ela simplesmente adorou. Vi um brilho sem igual no olhar de minha filha, o qual só havia visto quando ela começa a pintar algo. A gargalhada de Castiel explode do outro lado da linha. — Essa menina me surpreende a cada dia. Me deixe falar com ela rapidinho. — pede. — Ok. Annie, papai no telefone! — digo e ela já estica os braços para cima. — Daddy! — diz animada. Alguns minutos de conversa e sorrisos de Annie depois, ela me devolve o celular já com a ligação desfeita. — Daddy disse que vai demorar um pouco, mas é por uma boa causa. — diz e sorri largamente. — O que será que ele tanto faz? — brinco. — Não posso contar, é segredo. — diz e sai da sala, indo em direção ao quarto. Fico ali sentada no sofá sem entender. Que segredo é esse que Annie disse? Vou até o seu quarto e sorrio ao encontrá-la deitada no tapete felpudo, cochilando gostosamente. Não acredito que ela adiou o próprio sono à espera do pai, acho que ele é a única pessoa que consegue isso dela. Já que ela é tão sonolenta quanto eu.

Enquanto ela dorme, aproveito para esvaziar os criados mudos do quarto de hóspedes, já que muitas vezes Castiel passou a noite ali. Tenho certeza que ainda há algo por lá e como nosso voo é daqui dois dias, não custa já deixar isso arrumado para ele. Sorrio ao retirar vários álbuns de fotos e cifras de músicas da primeira gaveta. Tão típico dele. Abro um álbum que nunca tinha visto antes, logo noto que é na verdade um baú e me espanto ao avistar uma pequena caixinha de veludo preta ali. Não pode ser! Assim que abro a caixinha, minha visão embaça em meio a lágrimas e fico pasma por saber que mesmo eu negando seu pedido... Ele guardou a aliança. Aliso o discreto diamante em formato de coração no centro da joia e choro ainda mais. Arrisco então colocá-la em meu dedo anelar esquerdo e sorrio ao ver que cabe perfeitamente. Como Castiel me conhece tão bem? A pedra é perfeita, o formato, o tamanho... Fico perplexa com isso. Me perco em pensamentos e fico divagando sobre tudo o que passamos. Sobre os momentos felizes, as tempestades e até mesmo o nosso primeiro olhar. Essa aliança simboliza tanto para mim que pouco sei o que pensar. Nunca liguei para joias, mas esse símbolo de união parece algo tão nosso que pela primeira vez, me encanto com algo do tipo. Queria ser sua esposa, acho que na verdade sempre quis. E agora, temo nunca mais ouvir tal pedido. — Ei. — dou um pulo de susto e tento esconder minha mão esquerda nas costas. — Oi. — digo e Castiel sorri desconfiado. — Pensei em ajudar a retirar algumas coisas, já que vamos embora depois de amanhã. — Tudo bem. Vi que Annie acabou não conseguindo me esperar acordada. — sorri de lado e eu fico um pouco mais aliviada. Ele ainda não percebeu que mexi na aliança. — Bom, vou tomar um banho e já venho te ajudar. — diz e vai em direção ao banheiro. Suspiro aliviada assim que ele fecha a porta do banheiro atrás de si, assim arrisco dar uma última olhada na aliança. —Você é tão previsível para mim. — diz ao sair com tudo do banheiro e fico perplexa. Como ele percebeu? — Cas, eu... — começo a gaguejar e tento dizer algo, mas nada sai. Castiel se aproxima de mim com um olhar tão profundo que

simplesmente travo. Abro a minha boca, mas novamente não consigo dizer nada. — Não precisa dizer nada. — diz e coloca uma mecha de meu cabelo para trás. — Eu te quero tanto. — ele me puxa para cima, fazendo-me levantar e encará-lo. Seus olhos verdes são a única coisa que vejo e assim que suas mãos apertam com força minha cintura e me puxam para ele, é como estar novamente em casa. Fecho os olhos e sinto sua respiração em meu rosto. Quando sinto seus lábios nos meus, meu corpo vibra pelo contato. Porém, o gritinho de Annie quebra nosso momento. — Oi, sweet heart. — Castiel diz se afastando e Annie salta em seu colo. — Onde está a surpresa? — pergunta ansiosa. — Venha, vamos lá no carro pegar. — ele diz e estranho tal coisa. Por que ele não trouxe a tal boneca já aqui pra cima? — Let’s go[7].! — ela grita novamente e desce do colo dele, correndo em direção a porta. Sorrio da cena e ao mesmo tempo me sinto um pouco sem jeito ao encontrar o olhar de Castiel no meu. — Mais tarde. — sussurra em meu ouvido e sinto meu corpo fraquejar. Assim que ele sai do quarto sento-me novamente na cama e fico ali repensando sobre o que houve. Pensei que ele me julgaria ou até ficaria bravo por eu estar usando a aliança, porém como sempre, fiz pouco dele. Sorrio ao sentir que parecemos os mesmos de antes. Há o mesmo frio na barriga, a ansiedade da espera... E com a volta para o Brasil, sinto que finalmente construiremos nosso lar. Tenho muito o que contar para ele, sobre os meses que passamos separados e todas as decisões e reflexões que tive a respeito de nós. Preciso desabafar a ele sobre Alice, sobre a conversa franca que tive com ela e da atual “relação” que temos. Preciso saber sobre a tal Luciana, mas isso não me sufoca, sei que ele não mentiria a respeito dela. Mas a verdade é algo essencial para seguirmos adiante. Porque não basta apenas amar, e foi o que aprendi nesse últimos anos juntos. Amor nos dá sonhos e principalmente a vontade de estar perto, mas a base que necessitamos é a confiança. E confiança apenas se constrói quando somos honestos. E é assim que quero encarar Castiel daqui pra frente. Sem mentira alguma.

Capítulo XXX

Castiel Sinto a claridade tomar conta de meu rosto, o peso leve em meu ombro faz com que acorde um pouco confuso. Mas ao olhar para o lado, tudo volta a fazer sentido. Danielle está deitada em meu ombro e dorme serenamente, sua respiração é calma e contenho a vontade de alisar seu rosto. Como ela consegue ficar ainda mais linda a cada dia? Do outro lado, Annie olha sem piscar para a janela do avião e sorri alegre. Esse é um desses momentos que queremos guardar para sempre. Onde tudo está em seu devido lugar e que nosso maxilar pode chegar a doer por todo tempo que ficamos com o sorriso aberto. Mas eu prefiro ficar eternamente com esse sorriso, poder ter minha família tão próxima assim. Quando Annie percebe que estou acordado, leva as mãos a boca e abafa uma pequena gargalhada. — O que foi, pequena? — Mommy ainda não descobriu sobre a surpresa. Ela acha que era a boneca. — sorrio junto a ela e afago seus cabelos. — Logo contaremos a ela. — sussurro. — Acha que ela irá gostar? — questiono. — Yes! — sussurra. — Obrigada por me ajudar, sweet heart. — ela me dá um beijo na bochecha e volta novamente sua atenção para a janela. Fico nesse momento questionando a mim mesmo se fiz o correto ao tomar uma decisão tão importante por Dani. Logo agora que queremos recomeçar, ou melhor, que ela finalmente aceitou recomeçar juntamente a mim. Espero que essa surpresa não estrague tudo. Jamais me perdoaria se a perder novamente por minha culpa.

*** O clima quente do Brasil nos recebe em seu auge. Há muito tempo que sinto falta desse clima, desse lugar, de poder voltar sem me preocupar com o que

minha família irá pensar. Mas agora, ao saber que realmente me querem aqui, posso chamar novamente esse país de minha casa. — Pegou tudo, Annie? — Dani pergunta e nossa pequena assente pegando seu elefante de pelúcia. Pego a sua pequena mochila e coloco em minhas costas. Eu havia dito a ela várias vezes que não necessitava trazer os seus livros de colorir favoritos junto a ela na cabine do avião, pois como meu pai cedeu o jatinho da empresa para nós, havia espaço de sobra nas malas e não tínhamos que nos preocupar com o peso limite de bagagem. Mas ela insistiu tanto que acabei cedendo. Annie ama colorir e eu jamais negaria algo que a faz feliz. — Tudo certo, Castiel? — Dani pergunta e eu confirmo com a cabeça. Sei que é algo natural ela me chamar pelo nome, mas dói não ouvi-la me chamar de “amor”. Eu quero mais que tudo ser realmente seu amor. —Vamos? — pergunto e elas me seguem para finalmente sairmos do avião. Essa viagem acabou conosco. Annie solta um gritinho e tenta correr, porém a impeço. — Annie, cuidado! — chamo sua atenção. Logo noto que sua pressa foi por conta de toda nossa família estar aqui para nos receber. Ela tenta correr novamente, porém só permito quando já descemos todas as escadas, assim ela corre em direção a todos e logo se joga em cima de Felipe que a pega no ar. Minhas mãos se fecham com força em torno da mala de mão que carrego e sinto meu coração disparar. Meu problema jamais foi com Annie e sua relação com Felipe, mas o meu maior medo era perder Dani para ele. Claro que eu também sei que ele é apaixonado por outra mulher e jamais se envolveria com Dani, principalmente por conta de Caleb. Mas o que eu podia fazer a respeito do meu gênio possessivo? Sou um homem ciumento ao extremo e sei o quão isso é errado. Mas há momentos que simplesmente não consigo me segurar. Dani conhece pouco desse meu lado, pois nunca me senti ameaçado por outro homem até agora e isso me permite respirar leve. Mas eu nunca deixei de enxergá-la como é, completamente linda e o sonho de qualquer homem em são consciência. Eu aprenderei a me controlar, pois merecemos ser felizes juntos, e ciúme algum irá nos separar. — Não faça essa cara. — Dani sussurra ao meu lado e eu apenas nego com a cabeça. — Eu entendo a relação dos dois. — suspiro cansado. — Ele esteve com ela um bom tempo e além disso, é claramente o primo favorito dela.

— Miguel parece não estar gostando disso. — olho em direção onde ela aponta e vejo Miguel emburrado no colo de Caleb. — Ciúmes de primos Dani, isso é normal. — digo. — Cadê meu sobrinho nervosinho? — grito e Miguel pula do colo de Caleb e corre até mim. Deixo a mala no chão e o pego no colo, jogando para cima. Olho para o lado e vejo que Dani já está abraçada a Victória e lágrimas correm pelos rostos das duas. — Isso parece mais uma despedida e não uma chegada. — zombo. — É bom te ver irmão. — Caleb me abraça. — Até quando as duas vão ficar chorando? — pergunta ironicamente. — Até quando acharmos necessário. — Dani responde o abraçando e noto os olhos dele marejados. — Você é uma florzinha mesmo, assim como Levi o chama. — sorrio cínico e ele bufa. Noto que Felipe que se aproximava sorridente de repente fechou o semblante, e engole seco. Bingo! Já sei quem é a garota que ele está apaixonado. — E aí, Lipe? — o abraço. — Não faça essa cara. — digo baixo e ele fica vermelho de vergonha. Permito-me gargalhar nesse momento. — O que disse ao meu filho Castiel? Mal chegou e já está deixando o menino sem graça. — Victória diz se aproximando e logo me abraça fortemente. — Mesmo sendo insuportável é bom tê-lo aqui. — Não tem como apenas dizer que me ama e que morre de saudades? — ela me dá um tapa e Caleb me olha fingindo ciúmes. — Vocês parecem crianças. — papai diz ao se aproximar e logo pega a pequena Annie no colo. — Pronta para passar os fins de semana na casa do vovô? — I'm ready[6]! — grita feliz e meu pai gargalha. — Menina, você não cansa de me surpreender com esse inglês perfeito. — a elogia e logo Miguel está cercando-o. — Mas olhe só, temos um menininho ciumento aqui. Venha cá! — pega-o com o outro braço e Miguel finalmente sorri. — Não sei o que faço com seu pai. — mamãe diz ao me abraçar. — Quem vê pensa que ele aguenta duas crianças no colo. — zomba e todos riem, confirmando novamente de onde veio meu humor ácido. — Ah Lea... Sorte que nossos netos estão aqui senão contaria algumas verdades e.... — Nem comece, papai. — Caleb o corta. — Não quero saber como fui

feito, muito obrigado! — Mas eu quero. — Miguel diz de repente. — Como papai foi feito, vovô? — pergunta inocentemente e todos ficamos sem fala. — Quero ver se livrar dessa agora. — mamãe diz em meio a gargalhada. — Eu sei. — Annie diz e sinto minhas pernas amolecerem. — Sabe o que querida? — pergunto. — Como o vovô fez o tio Caleb. — diz convicta. — Assim como fez o senhor. — Annie, querida, do que está falando? — pergunto já sentindo meu sangue gelar. — Daddy, uma vez mamãe me contou que vocês se amam de montão e assim eu nasci. Aconteceu o mesmo com vovô e vovó, não é? — pergunta e solto finalmente o ar que estava segurando. — Isso mesmo, querida. — meu pai concorda. — Viu, Mi! — ela diz e Miguel apenas concorda com a cabeça como se fizesse todo o sentido. Não sei se devo me emocionar, mas estou me segurando no último para não chorar. Dani vai em direção a Annie e a pega no colo, a abraça com força e deixa algumas lágrimas correrem. Enquanto todos se recuperam do momento constrangedor que no fim foi emocionante, vamos em direção aos carros para irmos para casa. Dani já sabe vamos morar na casa ao lado de Victória, as duas agora podem tricotar o dia todo. Durante a viagem de carro sorrio de Caleb, Victória e Dani brigando pelo som do carro. Parece que nunca iríamos crescer. Annie havia ficado tão animada por ver Felipe, que quis ir com ele em seu carro e deixei que assim matassem a saudade. Para não ficar de fora, Miguel acabou pedindo para ir também. — Essa música! — Vic e Dani gritam em uníssono e mesmo contrariado Caleb cede. — Sem força alguma em! — zombo de Caleb e ele simplesmente mostra o dedo do meio em minha direção. — Tão maduro! —Vocês são os irmãos mais idiotas que conheço. — Vic diz para não perder a oportunidade. — Falando em irmãos, onde Christopher está? — Dani pergunta. — Ficou preso em uma reunião na empresa. Babi também não pode vir, pois está na faculdade. — Caleb responde e ela sorri largamente. — Ela está gostando desse negócio de artes? — pergunto e Caleb bufa.

— Tive sorte de Felipe ir para o direito, porque Babi vive suspirando pela casa por estar fazendo a faculdade dos sonhos. Não sei como ela consegue gostar de desenhar aquelas coisas. — Nem eu. Só de pensar tenho calafrios. — digo fingindo frio e Dani bate em meu ombro. — Amo arte, é algo lindo. Podem parar de rir disso. — ela avisa e Caleb dá de ombros. — Não vem não, Vade Mecum! — todos gargalhamos e Caleb apenas revira os olhos. — Nem me darei ao trabalho de responder. — diz. — Mas e Lívia, deu alguma previsão de quando virá para o Brasil? — Bom, Joaquim me explicou que está tentando resolver alguns problemas da filial de segurança que abriu em Londres, e assim, virão para cá. — Então sem data prevista? — Victória pergunta, parecendo decepcionada. — Não. — digo e forço um sorriso para ela. Entendo o seu jeito, pois ela sabe que se Lívia vier para o Brasil, Paula talvez se aproxime dela. Tudo está a estranho a respeito da relação de Paula com nossa família, pois mesmo nesses anos que se passaram, eu nunca a vi de fato perto de minha mãe ou qualquer outra pessoa. — Chegamos! — Caleb diz e estaciona em frente à sua casa e logo todos os outros chegam. Annie ao descer do carro de Felipe já se joga em meu colo e pede ansiosamente para ver seu novo quarto. — Um minuto, sweet heart! — peço, colocando-a no chão e chamo Victória para perto. — Tudo como combinado, Vic? — ela assente e entrega as chaves da casa em minhas mãos. — Não sei como agradecer. — Apenas faça minha melhor amiga feliz. — pisca. — Parece que estão de segredinhos. — Dani diz ao se aproximar. — Faça as honras. — lhe entrego a chave e ela me olha sorrindo. Vamos em direção a casa e Dani me encara já um pouco surpresa. Ao abrir a porta, a sala de estar linda assim como está nos desenhos de Dani nos recebe. Bom, essa é a surpresa. — Como você.... Como? — Dani começa a gaguejar e lágrimas escorrem por sua face. — Enquanto arrumava as malas, encontrei uma grande pasta escondida debaixo da cama do quarto de hóspedes. — revelo e ela leva as mãos a boca. —

Me surpreendi ao abri-la, pois lá estava a casa dos seus sonhos. Desenhos lindos feito por você. Então pensei, por que não tornar isso real? — dou de ombros. — E aqui estamos. — Não tenho palavras, Castiel. — chora ainda mais e vem até mim. — Só tenho a dizer obrigada. Eu jamais esperei que isso seria real. — Seus sonhos se tornarão realidade Danielle, basta me aceitar. —digo convicto e de repente o ar da sala de transforma. Ficamos presos em nosso mundinho e sinto vontade de beijá-la, querendo nunca mais deixá-la se afastar. — Tia Dani! — Felipe a chama quebrando nosso momento e eu sorrio de lado. — Desculpem, eu volto depois. — O que foi, Lipe? — Dani pergunta ainda me encarando. — Annie está com vontade de sorvete, então pensei se não poderia levála para tomar. Miguel iria junto também. — Claro que sim. — respondo por Dani e Lipe logo sai da sala. Olho por um instante ao redor e noto que não há mais ninguém aqui. Passos no andar de cima me alertam de que nossa família toda acabou correndo pra lá, para nos deixar a vontade nesse momento. — Espero que tenha gostado. — digo. — Victória me auxiliou em tudo e bom... Sabe que ela só poderia ter me ajudado a fazer isso ser ainda mais perfeito. — Você é perfeito. — ela diz e toca de leve meus lábios. — Sei que precisamos conversar e há muito ainda para ser superado, mas quero que tenha certeza de que... Eu amo você. — se declara e sai praticamente correndo em direção as escadas. Fico parado ali, no meio da sala de estar de seus sonhos, sorrindo feito um bobo. Feito um adolescente apaixonado que descobre que a rainha do baile o ama também.

Capítulo XXXI

Danielle Subo a grande escada e me surpreendo novamente ao encontrar o corredor do primeiro andar tão parecido com meus desenhos. A única diferença é que na grande parede branca do corredor há apenas um quadro, diferente dos vários que desenhei. Me aproximo e sorrio ao notar que a foto do nascimento de Annie que está colocada ali. O dia mais feliz de minha vida. — Tentei convencê-lo a colocar todas as fotos que tem de vocês, mas sabe como Castiel é. — Victória diz e se aproxima de mim. — Como assim? — pergunto e Vic revira os olhos. — Castiel não colocou outros quadros como no desenho porque quer fazer isso junto com você. Como se estivessem reconstruindo tudo, entende? — Entendo. — suspiro apaixonada. — Nunca pensei que ele seria como Caleb, sabe? — Romântico? — pergunta e assinto. — Dani, tudo o que percebi esses anos junto com Caleb é que o romantismo deles é intenso mas em certos momentos. Estou mais acostumada com as explosões do meu marido do que com os cafés da manhã na cama. — gargalho de sua afirmação. — Pode parar com isso. Todos sabemos que Caleb é o mais romântico. — retruco e ela finge indignação. — Não seja abusada. — zomba e sorrimos. — Ela sempre é. — Caleb aparece. — Então agora os dois estão contra mim? — pergunto e Caleb dá de ombros abraçando a esposa por trás. — Miguel não está por aqui? — ela pergunta. — Ele foi tomar sorvete com Annie e Felipe. — respondo. — Certo. — Caleb assente. — O que as meninas tanto tricotam? — Isso que você chama de romantismo? — Vic pergunta indignada e eu gargalho. — Está dizendo que não sou romântico, senhora Soares? — ele devolve contrariado. — Não seja chorão.

— Esse apelido é de Castiel, não meu. — Caleb diz e gargalhamos. — Falando pelas minhas costas? — a voz de Cas se faz presente e ele abre seu típico sorriso cínico. Lá vem uma pérola. — Acho que vou escrever uma carta sobre isso e esconder. O que acha disso, irmão? Não me aguento e quando Castiel se aproxima de mim, lhe dou um tapa no braço e gargalho abafado em seu peito. Victória não se aguenta e encosta na parede de tanto rir. Caleb apenas olha furioso para o irmão e dá de ombros. Os olhos de Castiel se encontram com os meus e ele me olha em expectativa. Ele ia continuar brincando com Caleb, tenho certeza. — Nem continue. — peço já sem fôlego. — Não tenho culpa se meu irmão não aguenta. — aponta para Caleb e essa é a vez de Vic segurar o marido. — Viu só? Ele resolve tudo na força física, eu sou o esperto da família. — Um minuto que o nerd da família chegou. — viramos em direção a escada e Christopher aparece em um lindo terno azul marinho. — Agora ferrou. — Caleb solta e Vic morde os lábios para não gargalhar novamente. Todos sabemos que quando os três se juntam, Caleb sempre é o maior prejudicado. Por ser o mais transparente dos três, histórias e gracinhas sobre ele não faltam. — A cada dia mais linda cunhada. — Chris me abraça com carinho. — Traidor. — Vic o acusa. — Sabe que você é minha cunhada morena favorita. — lhe manda um beijo. — Já a cunhada loira favorita é essa daqui. — Chris me faz dar uma voltinha e logo sinto as mãos fortes de Castiel me puxando. — Não abuse. — diz para Chris que dá de ombros e o abraça em seguida. Castiel sabe que tudo entre nós não está certo e essa reação é até um pouco estranha, porque nunca o vi como um homem ciumento. O ciúmes que demonstrou por conta das investidas do filho de meu ex patrão na festa foi algo surpreendente para mim. Acho que finalmente estou conhecendo esse lado dele e não sei ainda se é algo bom ou ruim. — Onde estão meus sobrinhos? — Chris pergunta olhando ao redor. — Foram tomar sorvete. — respondo. — Babi já chegou? — ele pergunta e sinto o corpo de Castiel ficar tenso atrás de mim. Ele também desconfia da relação dos dois. — Hoje ela teria uma apresentação importante na faculdade. Pelo o que me disse houve um problema nas duplas e algum garoto teve que ajudá-la a se

posicionar em frente a turma, por isso a demora. — Vic informa. — Ela te mandou mensagem falando quem é o garoto? — Caleb pergunta já nervoso. Se tem algo que o tira do sério, é ver sua garotinha perto de homens. Mal sabe ele que o perigo parece estar mais perto do que imagina. — Ah, um minuto. — Vic digita algo no celular e logo ouvimos um aviso de mensagem. — É o Theo, querido, não precisa se preocupar. Assim como eu, Cristopher a olha sem entender de quem se trata. — O filho mais velho de Donatello. — explica e logo Chris praticamente desce correndo as escadas. — Que merda! —Castiel exclama. Assim ele e Caleb correm atrás do irmão. — Christopher precisa aprender a se controlar ou... — Caleb está desconfiado de algo, mas por enquanto apenas acha que Chris teme pela perda de ações na empresa, caso Babi fique próxima dos Donatello. — Vic diz já preocupada. — Ele não irá gostar nada disso. — digo e ela assente nervosa. —Que tal me ajudar a arrumar as roupas no lugar? — Melhor do que ficar arrancando os cabelos pela bagunça que Chris deve estar aprontando. Vamos lá! — sorri e me leva em direção a um dos quartos. — Esse é o de Annie. — diz e abre a porta. Um quarto grande e espaçoso me recebe. Como se fosse separado em dois ambientes distintos, vejo que a esquerda há a cama e o closet dela, e a direita algo como um estúdio de desenho. — Ele fez uma parte específica para que ela possa pintar? —pergunto e Vic confirma. — Obrigada por isso Vic, sei que o ajudou. — a abraço com força e ela acaricia meus cabelos. — Sabe que só quero sua felicidade. Então aproveite que está ganhando sua segunda chance e lute com garras por esse homem. — me instiga. — Vou lutar com tudo o que tenho.

*** Horas mais tarde eu já havia conseguido organizar praticamente tudo no quarto de Annie. Castiel e Caleb não haviam voltado ainda, muito menos

Christopher deu as caras. Porém, Castiel me mandou uma mensagem dizendo que logo estariam em casa, e foi isso que nos tranquilizou um pouco. Então me distraio cozinhando, enquanto Felipe brinca com os primos no grande tapete da sala. Victória que não tem um fio de paciência, continua discando o número de Caleb incansavelmente ou tenta contatar Babi. — Seus dedos irão cair. — digo. — Estou ficando louca, Dani. — bufa contrariada. — Custa mandar uma simples mensagem? Ou então Babi atender o bendito celular? — Castiel disse que logo eles estarão aqui. Talvez esteja nervosa à toa. — digo provando o molho que faço. — Babi consegue me fazer ficar mais nervosa do que quando Luna me disse que iria se casar tão cedo. — sorri da própria fala e eu reviro os olhos. — Vamos combinar que seu genro é uma coisa, não é? — digo e Vic se abana, fingindo sentir calor. — Falando nisso, esses dias atrás ela me mandou uma foto linda deles em Paris. Até quando eles irão ficar por lá? — Segundo Luna, essa segunda lua de mel está sendo um sonho. Acho que o estresse da especialização que os dois acabaram por agora desgastou demais a relação forte que tinham. Finalmente a vejo falando dele com todo aquele carinho, sabe? — Que Luna seja mais esperta que nós duas no amor. — Ela é, só pelo homem que escolheu. — Vic brinca e gargalhamos. — Não reclame do seu moreno de olhos azuis, Vic. — finjo repreende-la. — Você também não pode reclamar do seu moreno de olhos verdes. Somos vacas sortudas. — exclama e a acerto com o pano de prato. — Sabe o que estava pensando esses dias? — pergunto. — Diga. — me olha curiosa. — Sobre Lipe. — sussurro por saber que ele está na sala e pode entrar na cozinha a qualquer instante. — Algum problema com ele? — pergunta e franze o cenho sem entender. — Ele já está arrasando corações. — digo. ---- Sabe quantas vezes fomos almoçar e quando eu me levantava, alguma mulher ia até a nossa mesa e se oferecia pra ele? — ela me encara curiosa. — Todas. — Sério? — assinto sorrindo. — E o tanto de filhas dos acionistas e sócios de Caleb que tentaram fisgá-lo? O mais engraçado disso é que ele parece alheio aos olhares e sempre que são diretas com ele, ele simplesmente age como se não entendesse. — Um cavalheiro. — complemento e ela assente.

— Mamãe. — Lipe diz ao entrar com tudo na cozinha e nós duas estacamos no mesmo momento. — Tudo bem? — pergunta confuso e apenas confirmo com a cabeça. — O que foi filho? — Vic finalmente se manifesta e ele continua nos encarando estranho. — Bom, papai pediu pra avisar que está na casa da vovó. O celular dele e de tio Cas descarregaram e só agora ele conseguiu ligar. — Filho da... — Vic! — chamo sua atenção ao ver Miguel entrar na cozinha com Annie. — Eu vou acabar com ele. — diz frustrada. — Me empresta seu celular filho? — Lipe a encara assustado e mesmo sabendo que ela vai acabar com a raça de Caleb pelo telefone, entrega-lhe o celular. — Meu menino de ouro. — exclama pegando o celular. — E eu mamãe? — Miguel pergunta choroso. — Você é meu príncipe. — abaixa e o beija na testa com carinho. — Um minuto que eu vou acabar com o rei da cocada preta agora mesmo. Ela sai da cozinha e Lipe coça a nuca com força, uma mania que tem quando está nervoso. — Não acredito. — Vic volta rapidamente pra cozinha e nós a encaramos. — Esse é o problema de ser casada. Caleb sabia que iria pegar seu celular e ligar pra ele. — entrega o celular de volta pra Lipe. — Sabe o que ele fez? Desligou o celular! — diz revoltada. — Deus, Vic! — gargalho alto e ela me lança um olhar fulminante. — Deixe isso pra lá mamãe, logo eles aparecem. — Lipe tenta acalmá-la. — Já pode separar um lugar na sua cama para seu pai, porque comigo ele não dorme. Me viro para terminar a comida gargalhando e logo Miguel consegue distrair a mãe contando histórias sobre o sorvete que comeu hoje mais cedo. — A comida já está pronta. — aviso minutos depois. — Oba! — Miguel grita animado e Victória finalmente sorri um pouco menos tensa. Ela me ajuda a montar uma mesa linda na sala de jantar e logo todos já estão sentados. — Está uma delícia, tia Dani. — Felipe elogia e eu sorrio pra ele.

— Obrigada, querido. Ouvimos a porta da frente sendo aberta e vejo o sorriso de Victória sumir no mesmo momento. Ela para com o garfo no mesmo lugar quando vê Caleb entrando na sala de jantar. Castiel me encara com um sorriso no olhar e sei que está se divertindo com a situação. Finjo estar como Vic e logo seu semblante se fecha. Vamos ver quem ganha suas brincadeiras, querido! — Oi papai. — Miguel quebra o silêncio que se instalou de repente. — Não fale de boca cheia, príncipe. — Vic chama sua atenção. — Vic... — Não ouse, Caleb. — o corta. — Depois conversamos. Logo Annie e Miguel começam a falar várias coisas, assim o ar parece ficar leve novamente. Em vários momentos Castiel me olha, mas continuo fingindo que estou brava com ele. Mereço um Oscar pela boa atuação. Depois que terminamos o jantar, logo todos se despedem. Annie abre a boca de sono e já a levo até seu novo quarto. Ela havia amado aquele lugar, como se finalmente se sentisse em casa. — I love you[8], mommy. — diz ao se enrolar no edredom e eu beijo seus cabelos. — Amo você também, sweet heart. Deixo uma luz bem fraca iluminar o ambiente e fecho a porta atrás de mim. Esses pequenos momentos com ela, fazem tudo valer ainda mais a pena. — Já sabe onde é o nosso quarto? — Castiel diz se aproximando de mim e eu nego. — Victória me proibiu de desvendar o resto dos cômodos. Disse que você queria fazer isso comigo. — ele sorri confirmando e logo abre a porta do quarto a frente de Annie. Entro cautelosa e espero que ele acenda a luz, mas simplesmente ouço a porta sendo fechada e continuamos no escuro. — Acho que começamos nossa relação assim, totalmente às cegas. — a voz rouca dele me causa arrepios e sinto meu corpo reagir no mesmo segundo. — Cas... — Quero que saiba também às cegas quem eu sou. — diz e o ouço respirar fundo. — Está muito brava? — pergunta e eu sorrio. — Não estou. Apenas fingi para ver qual seria sua reação a respeito e pelo jeito você caiu na minha brincadeira.

— Você me enfeitiça a cada dia mais mulher. — sem mesmo poder vê-lo, tenho certeza que seu sorriso está aberto. — Você é a única pessoa depois de minhas mães que consegue brincar comigo. — Devo gostar disso? — provoco. — Deve amar. — sinto seu corpo próximo a minhas costas e prendo a respiração. — Quero que conversemos sobre tudo, sejamos sinceros. — Eu também. — complemento e ele se afasta. — Podemos nos conhecer devagar, digo, contar sobre nós dois aos poucos. Algo que um não saiba do outro, até que estejamos prontos para falar sobre tudo. Como um casal normal sempre faz. Pode me perguntar o que quiser sobre mim e eu respondo. Sem mentiras. — Certo. — diz. — Pode começar se quiser. — Não, quero que você comece. — respondo e ouço sua risada. — Tão imprevisível. — diz e ficamos em silêncio. Por alguns segundos apenas escuto o barulho de alguns carros passando lá fora. — Sem perguntas então? — indago. — Pela primeira vez na vida não sei o que dizer e muito menos o que perguntar. — diz. — Sabe o quanto amo isso? Eu amo o fato de você ter todo o poder sobre mim e ao mesmo tempo não ter a consciência do que fazer a respeito. Me coloca dentro do nosso quarto e não me permite ver nada, apenas aguça meus sentidos pra saber o quanto isso mexe comigo. E tenha certeza que isso mexe demais. Sinto-me segura, nervosa, ansiosa com uma pitada de loucura. — Dani. -— Deixarei com que faça duas perguntas amanhã já que não tem o que dizer hoje, mas eu tenho uma pergunta. — respiro fundo. — Faça. — pede. — Por que não desistiu? — pergunto e uma lágrima desce pelo meu rosto. — Por que não desistiu de mim? Sinto seu corpo próximo ao meu e um pouco de medo me toma. Talvez eu não goste da resposta. — Porque eu nunca busquei o amor, Dani. E você nem sequer me pediu, simplesmente exigiu para que te amasse mesmo sem saber ou ter consciência disso. Quando nos amamos pela primeira vez, soube que meu corpo nunca mais seria de outra mulher, porque só você me fez sentir vivo. Você me fez pensar em casamento, filhos... Família. Algo que eu pensei jamais poder ter. — coloca as mãos em minha cintura e me puxa para perto. — Porque com você eu sempre

pude ser eu mesmo. Com você, todos os meus demônios parecem desaparecer e após anos eu consegui ter uma noite inteira de sono. Porque... — Não precisa dizer mais nada. — o calo com um beijo. Seguro seus cabelos já grandes e os puxo com força. A resposta que tenho é um gemido rouco e logo sinto suas mãos tomarem conta de mim. A saudade que sentimos parece maior que tudo. — Não faça isso. — pede afastando nossos lábios. — Sou sua. — Mas... — Você sempre me pediu pra deixar o passado no lugar dele, faça isso agora também. De repente o quarto fica iluminado e noto um controle nas mãos de Castiel. Seus olhos verdes tem um brilho que há muito não via. Ignoro totalmente o ambiente e apenas consigo focar no homem a minha frente. Toco seu rosto com leveza e sinto a barba por fazer em meus dedos. Ele fecha os olhos por um instante e quando os abre, sei que continua batalhando consigo mesmo se deve seguir adiante ou não. Se devemos conversar sobre tudo e depois ficarmos juntos, porém acabo decidindo por nós. — Eu e você, Cas. — repito nosso “eu te amo” camuflado de tempos atrás. — Apenas eu e você. — diz e sorrio, logo sinto seus lábios nos meus. Não há mais volta depois disso. Iríamos enfrentar o que viesse pela frente ou qualquer passado que insistisse em nos atormentar. Apenas eu e ele, e o nosso “doce coração” – Annie.

Capítulo XXXII

Castiel Um remexer em meu peito faz com que desperte. Abro os olhos lentamente e não consigo enxergar muito bem, pois o quarto está com apenas uma fresta de luz que vem da janela. Porém é impossível não sentir a mulher enroscada a mim. Mesmo sem poder ver com clareza seu rosto, sei que ela está me usando de travesseiro. Sua respiração é leve, o que significa que está em sono profundo. — Minha. — sussurro em seu ouvido e ela sequer mexe. Levanto-me com cuidado e coloco um travesseiro embaixo de sua cabeça. Vou em direção a janela e fecho as persianas. Acendo um dos abajures e sorrio ao notar que nossas roupas estão todas espalhadas pelo chão. Como eu senti falta desses momentos com ela. Meu corpo ainda parece um pouco pesado, devido as horas no avião e assim decido tomar um banho. A água quente desce por minha pele e todos meus músculos parecem se acalmar. Vapor se forma ao meu redor e sorrio ao me lembrar do quando Dani odeia isso. Eu quente, ela frio. Me perco em pensamentos e acabo não acreditando em tudo o que está havendo. Parece um sonho que finalmente se tornou realidade. Mas há uma insegurança dentro de mim que não me permite me jogar de cabeça novamente, um medo que não sei explicar e muito menos consigo compreender. Na realidade, ainda há uma coisa que preciso contar a ela, só não sei como o farei. Passo as mãos pelos cabelos e quando vou colocar o shampoo, ouço a porta do box sendo aberta e o ar frio me atinge. Dani me encara ainda com o rosto sonolento e dá um singelo sorriso. — Te acordei? — pergunto. — Sabe que isso é meio impossível. — fecha o box atrás de si. — Durmo feito pedra. — Sei bem disso. — sorrio. Ela então coloca a mão na água e tira rapidamente. — Não sei como consegue tomar um banho tão quente. — reclama fazendo uma careta. — Ok, resmungona. — mudo a temperatura para o morno e finalmente

ela entra debaixo. — Obrigada. Encosto-me por um tempo nos azulejos e aprecio a mulher a minha frente. Ela está tão envolta em seu mundo que cada detalhe dela fica ainda mais explícito. Os cabelos loiros compridos que já batem em sua cintura estão colados nas costas. Ela passa as mãos por eles várias vezes como uma carícia. Totalmente linda. — Vem aqui. — me aproximo e com o chuveirinho ela molha meus cabelos. — Estão a cada dia mais cumpridos. — Isso é um elogio? — pergunto sorrindo de lado. — Com certeza é. — suspira fundo. Sinto seus dedos tocando minha barba e abro os olhos para encará-la. — O que foi? — Tem noção do quão lindo é? — pergunta. — Bom, mamãe sempre disse algo sobre meus olhos, cabelos, pele... — Metido. — me corta sorrindo. — Eu te amo tanto, Cas. Tanto que chega a doer. — Linda. — contorno seu rosto com as mãos e a pego no colo em seguida. — Ai. — se assusta. Passo as mãos de leve pelo seu corpo e vejo-a queimar sob meu toque. — Como eu senti falta disso. — solta baixinho e tenho certeza que não teve a intenção de que a ouvisse. — Eu também. — seus olhos se abrem e nem lhe dou tempo pra pensar. A beijo com delicadeza e seus braços me envolvem. Não há outro lugar do mundo que gostaria de estar nesse momento.

*** Arrumo minhas roupas em nosso closet e sorrio ao notar que todos meus jalecos já estão devidamente pendurados. Dani com certeza teve o maior cuidado com eles, como sempre fez. — Sweet heart, vamos tomar café. — ouço a voz sonolenta de Dani. Entro no quarto e encontro as mulheres de minha vida brincando em cima da cama. Annie deve ter vindo nos acordar e como não me encontrou, atacou a mãe.

— Então temos uma mocinha esperta aqui? — pergunto indo até ela. — Bom dia, daddy. — pula da cama e corre em minha direção. A pego no colo e beijo diversas vezes. — Bom dia, pequena. — ela se esquiva de mim e logo deita na cama novamente. Observo Danielle se espreguiçar na cama e noto algumas manchas vermelhas em seu corpo. Isso é apenas a prova de que pertencemos um ao outro. — Bom dia novamente, meu amor. — diz vindo em minha direção e me dá um simples selinho. A enlaço pela cintura e puxo-a para um verdadeiro beijo: — Bom dia, feiticeira. — Pode cuidar de Annie enquanto mando alguns e-mails pendentes? — pergunta e eu assinto. — Ei, vamos tomar café? — pergunto a Annie, que senta-se no mesmo instante. Minutos depois, enquanto Annie conta animada sobre o sorvete que tomou com os primos, faço panquecas. Poderíamos ter contratado uma empregada, mas resolvi esperar por enquanto. Temos um padrão de vida alto, no meu caso, desde sempre fui acostumado com o melhor. Porém, meu maior orgulho é poder dizer que conquistei o que tenho hoje por mérito próprio. Mas o dinheiro não é nada, quando não se tem alguém para ser feliz. Sei ainda mais sobre isso agora, após tantos erros. Poder ter minha família, minha filha falando animadamente sobre algo no café da manhã, coisas do cotidiano que sempre pensei serem descartáveis, mas hoje percebo que são indispensáveis. E isso, o dinheiro não consegue comprar. — Hum, que cheiro delicioso. Termino de montar as panquecas de chocolate e pego uma caixa de achocolatado na geladeira. Quando Dani vê o achocolatado, sorri maravilhada e me manda um beijo no ar. — Obrigada, amor. — sorrio pelo modo que me chama e é impossível não me sentir finalmente completo. Enquanto observo as duas comerem devagar o meu feito, agradeço em silêncio por essa nova chance. Quantas vezes eu me martirizei por ter abandonado Luna? Quantas vezes não consegui dormir por conta da morte da irmã de Dani no parto? Com toda certeza, muitas de milhares. — Perdido em pensamentos? — Dani pergunta. — Apenas estou feliz. — sorrio de lado.

— Não me abra esse sorriso cínico, amor. — brinca. — Sabe quantas vezes imaginei você me chamando assim? — Assim como? De amor? — assinto e ela sorri. — Você sempre foi isso. — Mas agora você admite, é diferente. — Tudo tem o momento certo. — complementa. — Realmente. — sento-me ao lado dela. — Tudo tem seu momento certo.

*** — Bom dia, posso ajudá-los? — a mocinha a nossa frente sorri largamente e a olho inquisitivo. Caleb me encara impaciente e Christopher já se apoia no balcão e olho sedutoramente para a garota. Coitada! — Sou Christopher Soares. — se apresenta e os olhos da garota brilham. Olho para Caleb e ele ostenta uma carranca, seguro-me para não gargalhar. A cena de nosso irmão mais novo flertando com alguém é simplesmente cômica, para não dizer ridícula. — Meu irmão veio falar com o... — Com licença. — Caleb se intromete. — Gostaríamos de falar com o dono do hospital. Direto como sempre. — Tem hora marcada? — ela pergunta. Passo pelos dois e suspiro fundo. Babacas! Quando avisei a eles que teria de vir acertar minha admissão com o diretor do hospital, eles fizeram questão de vir junto para que eu não me perdesse no português, mesmo eu sendo fluente. O pior é que eles apenas complicaram ainda mais a situação, como se eu fosse um garoto de 15 anos. — Castiel Soares, do horário das quinze horas. — aviso e ela assente, digitando algo no computador. Viro-me para meus irmãos: — Qual o problema de vocês? — pergunto. — Se Caleb não tivesse se intrometido, já teria... — Ei, não me venha com isso! — Caleb o olha furioso. — Vocês não negam o sangue. — zombo. — O que foi? Meu sangue é A! — Christopher diz orgulhoso e o olho

como quem diz “Cresça”. — O meu também, babaca! — Caleb responde já passando as mãos nos cabelos. Viro-me para a recepcionista e a olho impaciente, porém ela continua digitando algo. Ajude-me, Deus! — E você, Cas? — encaro Chris, sem entender a pergunta. — Qual o seu tipo sanguíneo? — Isso é mesmo importante? — pergunto com desdém. — Para de ser idiota. — reclama. — Ok, moleque. — ele me encara irado. — Sou do tipo O. — O que? — Caleb praticamente grita. — O que o que, meu Deus? — pergunto ainda mais perdido, já totalmente impaciente, pois a recepcionista não diz nada. — Como você pode ser do tipo O se Luna tem o sangue AB? — pergunta e eu me calo no mesmo instante. Fico tenso e tento não demonstrar muito minha surpresa por sua perspicácia. Eu nunca toquei em tal assunto pois pensei não ser importante. — Caleb, olha... — Castiel, você não é o pai biológico dela? — pergunta incrédulo e anda para trás. — Não, não pode ser! Annie não mentiria assim e... — ele me encara ainda mais incrédulo. — Você não me parece surpreso com isso ou... Meu Deus! Por que não me disse? — Caleb! — chamo a atenção dele, de forma mais rude. — Você devia ter me contado! — diz nervoso. — Luna merece saber disso, eu não acredito que não é o pai biológico dela. — Olha, não é local para falarmos disso. — digo rapidamente. — Caleb, se acalma, é melhor... — Chris tenta dizer algo, porém Caleb o corta: — Quando seria o local bom? — pergunta revoltado. — Desde quando sabe disso? Suspiro fundo e encaro a recepcionista, porém ela continua digitando alguma coisa. Merda! — Eu não tinha certeza se o sangue dela era mesmo AB e não tive coragem de confrontá-lo a respeito disso. — sou sincero. — Por mais que não tenhamos um teste de DNA, é praticamente impossível eu ser o pai biológico de

Luna. — confesso e sinto-me um pouco mais aliviado. — O que? Paraliso. Não, ela não pode estar aqui... Continuo parado e encaro o chão. — Cas... — ela me chama. — Isso é verdade? — pergunta. Viro-me para Danielle e encaro-a sem jeito. Ela traz em seus braços um dos meus jalecos brancos. Droga! Ela deve ter achado que o esqueci e resolveu trazer até mim. — Dani, olha... — Diz a verdade pra mim. — pede e noto seus olhos marejados. — Eu posso não ser o pai de Luna. — sou sincero. Sem dizer mais nada, ela corre e vejo-a seguir em direção ao banheiro. Tento ir até ela, porém Chris me impede. — Dá um tempo pra ela. — diz e eu assinto. — Eu não queria que fosse assim, eu não tenho certeza se... — Castiel. — Caleb me chama e eu o encaro. — Precisamos descobrir a verdade sobre isso, irmão. — Eu sei. — sou sincero. — Mas ela não podia ter ouvido isso assim, não quero perde-la novamente e... — Vamos resolver isso. — Chris diz e eu o encaro perdido. — Todos juntos. — Senhor Soares, o diretor do hospital teve um imprevisto e não poderá atende-lo hoje. — viro-me para a recepcionista. — Mas ele pediu para lhe perguntar se pode ser amanhã no mesmo horário. — Claro. — respondo de relance. — Certo, desculpe-me pela demora. — pede e assinto, saindo de perto do seu balcão. Penso no olhar perdido de Dani e tento não pirar. Tem coisas que acontecem conosco que parecem vir a acontecer apenas nos momentos bons, como se fosse para destruir tudo. Não posso perde-la por conta disso! Não posso!

Capítulo XXXIII Danielle Lágrimas grossas rolam pelo meu rosto. O olhar gélido e ao mesmo tempo magoado de Castiel me persegue, não importa para onde eu corra. Encosto-me na beirada da grande pia do banheiro e desabo. Deixo-me quebrar. Não foi ele! — Por que, Annie? — pergunto, encarando o espelho. Sei que as respostas não virão, sei que não há como entender nada disso. Mas eu não consigo acreditar. Não dá. Sem mais forças, deixo meu corpo desabar no chão frio do banheiro do hospital. Levo as mãos à cabeça e choro. Tudo o que me neguei chorar quando perdi minha irmã um dia. Mas ao invés de lembranças sobre ela me atormentarem, o que vem em minha mente, são os piores momentos ao lado de Castiel. Os quais, eu o humilhei, o julguei, o machuquei... Ele não se afastou, ele continuou ali... Por que? Porque ele realmente me ama, como sempre disse. Ele não ficou comigo por pena ou por culpa, ficou por amor. E é tarde demais para enxergar isso. Encosto a cabeça no azulejo frio e limpo o rosto de qualquer jeito. Meu corpo paralisa por alguns instantes, tentando absorver tudo. Busco em minhas memórias algum deslize de minha irmã, qualquer indício... Mas não há nada. Ela nunca sequer o citou. — Não consigo entender. — digo para o vazio. Encaro meus dedos e começo a divagar sobre todos meus erros. Sobre todos os momentos felizes que perdi, por ter sido tão rudemente enganada. E assim, perder Castiel. Seu olhar há minutos atrás, deixou claro que não tinha volta. Que se insistíssemos nisso, voltaríamos a ter mais três anos de tristeza. Mas eu não consigo aceitar. Lembro dos dias felizes, dos sorrisos ao seu lado, de quando o conheci... Eu sempre soube que era ele. E sempre será.

Sempre pensei que Castiel Soares fosse a minha maldição nessa vida, mas pelo contrário, ele se tornou a minha salvação. A porta do banheiro se abre e uma senhora entra, encarando-me surpresa. — Desculpe. — digo sem jeito e ela sorri amigavelmente. — Todos temos nossos dias ruins, querida. Encaro novamente o espelho e tento limpar a bagunça de meu rosto, controlando o choro que insiste em querer vir com força. Eu o culpei sem ele sequer ser o homem que minha irmã amou, sem ser o pai da criança que ela estava grávida. Eu não consigo imaginar como tudo em minha vida teria sido se soubesse sobre isso antes. Por que ele não me contou? A porta do banheiro se abre novamente e Victória me encara preocupada. — Ei. — diz e vem até mim, abraçando-me forte. — Por que ela mentiu pra todos, Vic? — choro ainda mais. — Por que ele não me contou? — Chore tudo que tem que chorar, Dani. — assim, desabo. Penso em todos os momentos que julguei Castiel, que o culpei. Ele sofreu, eu sofri, todos sofremos por algo que Annie mentiu há anos atrás. Minutos se passam e quando finalmente me afasto de Vic, vejo que ela ainda está preocupada. — Melhor? — pergunta. — Sim, obrigada. — ela assente. — Ele está aí ainda? — Paradinho na recepção. — Preciso que peça para ele ir pra casa. — peço. — Preciso fazer algo. — Dani. — Por favor, Vic. — digo e ela me encara inquisitiva. — Preciso ir ao cemitério. — Tem certeza? — pergunta e solta uma respiração profunda. — Sim, diga para ele que logo vou pra casa. Vou de táxi e logo estarei lá. — ela assente, mesmo contrariada. Ela vem até mim e me abraça com força novamente. — Se cuida e me manda mensagem assim que puder. — Ok, obrigada. — ela então sai. Espero alguns minutos ainda dentro do banheiro e logo recebo uma mensagem de Victória, pedindo para que eu seja rápida e o quanto foi difícil tirar Castiel do hospital.

Saio do banheiro após conseguir ficar ao menos apresentável e vou em direção a saída do hospital, em busca de um táxi. Assim que consigo um, entro e desabo no banco de trás.

*** Respiro fundo ao encarar o local a minha frente, e tomo coragem pela primeira vez de entrar ali sozinha. A passos lentos caminho e limpo as lágrimas já secas em meu rosto. Por mais que quisesse chorar, é como se meu corpo se negasse a isso. Como se não conseguisse mais suportar essa dor. Assim que avisto meu destino, seguro com força a bolsa ao meu redor e tomo coragem de seguir em frente. Há quanto tempo eu não vinha até aqui? Quanto tempo não consegui simplesmente aceitar? Acho que de fato nunca aceitarei. Pego a rosa branca que comprei de uma senhora na frente do cemitério e coloco com cuidado sobre sua lápide. Passo os dedos com cuidado sobre seu nome e meu coração se aperta. Como queria que ela estivesse aqui. Leio atentamente o escrito e lembro como se fosse hoje, o dia que a perdi. Annie Marie Campos Filha, mãe e irmã amada. — Sinto sua falta. — sussurro olhando para o céu. O motivo maior de ter vindo ao cemitério, não é por acreditar fielmente que possa sentir minha irmã mais próxima de mim aqui. Mas parece algo do ser humano, ir ao último lugar que deixamos a quem mais amamos e conversar. Tentar acreditar que a perda foi mesmo real. — Por que, Annie? — pergunto baixinho. — Por que não me disse o nome do homem que amava? O silêncio paira sobre mim e como se fosse um estalo, sinto-me culpada. Culpada por tudo. — Eu me martirizei por tanto tempo, irmã. Sentia que estava vivendo seus sonhos, seus momentos. — mesmo meu corpo protestando, as lágrimas descem e parecem queimar sobre minha face. — Eu sei que não importa onde esteja, que torce por mim. Você foi a melhor pessoa do mundo pra mim, foi além

de minha irmã, foi minha mãe. Eu só não consigo agora imaginar o porquê de você ter tentado enganar a todos e ter insistido nessa mentira. — fecho os olhos com força. — Como eu vou consertar tudo isso, irmã? Como posso saber o que fazer se você não está mais aqui? Eu nunca soube o que fazer sem você. Levo minhas mãos ao rosto e seguro-o com força. Toda a verdade que neguei, parece agora clara como água em minha mente. Por mais que tivesse Victória, Caleb e Luna, eu nunca consegui seguir por mim mesma. Sempre esperei o impulso de alguém ou algum conselho. Pois foi assim que Annie me criou, ela era minha estrela guia, eu nunca me senti perdida quando a tinha. Agora, eu sou apenas uma sucessão de erros. Tento me colocar no lugar de Castiel e penso em como reagiria se fosse o contrário. Meu coração parece se cortar novamente e sei que nunca me perdoarei por toda dor que causei a ele. Mas como eu poderei contornar essa situação e faze-lo feliz? — Eu o amo, irmã. — suspiro fundo. — Eu me sinto culpada por tudo, mas ao mesmo tempo, sinto que estou no caminho certo. Eu só queria você aqui para me guiar, como sempre fez. Levanto os olhos para o céu e levo minhas mãos ao peito. Nunca fui uma mulher religiosa, mas sempre tive fé em tudo o que foi criado. Sei que por mais que nos sentimos sozinhos em vários momentos, Ele está aqui, ao nosso lado. Só queria um sinal. Minutos se passam e sinto o primeiro pingo de chuva cair sobre meu ombro. Encaro novamente o nome de minha irmã e ajeito a rosa com cuidado. Meu coração ainda sangra pelo que houve, mas um pouco de paz se apodera de mim. Sem ao menos conseguir explicar, caminho em direção a saída do cemitério antes que a chuva engrosse. Assim que um táxi parou a minha frente, antes de entrar, olhei para o céu. Mesmo com as nuvens carregadas e o céu já quase totalmente escuro, procurei por algo... Mas infelizmente não obtive resposta alguma. Já sã em salva dentro do carro, soltei uma respiração profunda quando a tempestade despencou do lado de fora. E foi aí que me toquei. Me toquei de que não é preciso esperar a tempestade cair para correr, que apenas um pingo de chuva é o suficiente como aviso prévio. E mesmo que isso não faça sentido algum, que fosse apenas um acaso, descobri que posso seguir meu caminho com meus próprios pés. Mesmo com tudo o que houve, eu não preciso me perdoar por algo ou esperar por Castiel, não mais. Eu irei até ele. Eu provarei a ele, o quanto o amo. Da minha maneira, eu o farei.

Capítulo XXXIV Castiel — Preciso saber onde ela está, Victória. — digo pela milésima vez e Vic me olha com pesar. — Olha, ela apenas pediu um pouco de tempo, prometo a você que ela está em segurança. — respira fundo. — Dê esse tempo a ela, Cas. Sabe que não a deixaria em perigo. Fico em silêncio e apenas observo as ruas pela janela do carro. Christopher e Caleb estão em completo silêncio e eu apenas consigo pensar em Danielle, sobre como contar a ela sobre tudo isso, essa bagunça. Quando finalmente Caleb estaciona, desço do carro e me encaminho para sua casa, pois sei que Annie ficou com a babá de Miguel. Christopher aperta meus ombros, como em sinal de força, mas apenas o olho em desespero. Não sei o que fazer. Assim que abro a porta, estaco no mesmo lugar. Não, isso não! — Ei, não vai deixar ninguém passar mesmo? — Christopher zomba, porém assim que passa por mim e vê o mesmo que eu, limpa a garganta. — Luna? — pergunta descrente. — Surpresa! — ela grita e quando vejo, todos estamos parados na porta, sem saber o que fazer. — Não parecem felizes em me ver. — diz e franze o cenho. — Daddy! — finalmente acordo e encontro Annie puxando minha calça. — Oi, pequena. — levanto-a no meu colo e beijo seus cabelos. Logo Annie pula de meu colo e corre para os braços da prima. Eu estou perdido. — Luna, querida, por que não nos avisou que vinha? — Victória é a primeira a se aproximar e abraça Luna com carinho. Forço-me a mexer em sua direção, porém parece tudo no automático. Penso em como encarar isso, como essa surpresa de Luna parece um sinal para que eu lhe diga o que desconfio, para que tiremos isso a limpo. Faz muito tempo que quero ter uma conversa sobre tudo o que houve

com sua mãe, mas nunca conseguimos isso. Por mais que tivéssemos nos encontrado nos vários encontros familiares, a vida e o tempo pareciam não colaborar. E hoje, nada parece nos impedir disso. Vejo todos cumprimentarem ela, mas apenas assisto a cena, sem conseguir decidir o que fazer. — Castiel? — escuto-a me chamando e apenas aceno. — Algum problema? — ela insiste e se aproxima. — Podemos conversar? — pergunto de repente, sem ao menos saber como as palavras saíram de minha boca. — Castiel, não acho que seja uma boa hora para... — Caleb tenta se intrometer porém o impeço. — Preciso falar com você a sós Luna. — encaro-a sério e ela assente, indo em direção as escadas. Assim, a sigo, porém logo Caleb me para e me encara estupefato. — Acho melhor... — Sabe que já está mais do que na hora de fazermos isso. — sou sincero. — Por que adiar isso ainda mais? Passo por meu irmão e subo as escadas, sem saber ao certo como agir. Assim que encontro o corredor principal, vejo Luna parada em frente a um quarto, o qual ela entra, então faço o mesmo. — Parece sério. — diz e força um sorriso. — Não será a conversa mais agradável do mundo, mas acho que é preciso isso. — confesso. — Certo. — ela se senta em frente a uma espécie de escrivaninha. — Quer sentar? — pergunta e eu assinto, sentando-me na cama a sua frente. — É sobre minha mãe biológica, não é? — pergunta sem jeito. — Basicamente. — dou de ombros. — Vou aos poucos, ok? — ela assente. — Eu não fui um homem bom com Annie, sua mãe biológica, naquela época eu não consegui lidar quando ela me contou sobre a gravidez e fugi. Deixei a responsabilidade que era minha, inteiramente para ela e Caleb. Não vou dizer que isso alivia minha culpa, mas sei o quanto Caleb a criou com amor e carinho, assim como Victória, e sei também que jamais seria tão bom quanto eles. — Castiel, você é ótimo com sua filha, sabe disso. — sorri fraco. — Eu assumo minha covardia naquela época, era um jovem renegado pela família e sem saber para onde ir, completamente perdido, mas isso de nada alivia o que fiz. Sinto a culpa todos os dias pela morte de Annie, pelo mal que

causei a ela... Mas hoje, o passado não me dói tanto quanto antes por “n” motivos, um deles, claro, é Danielle e Annie, que me mostraram que sim, é possível ser feliz com amor. — suspiro fundo. — Mas há algo que preciso te contar. — Sim. — indaga curiosa. — Quando voltei ao Brasil e nos encontramos pela primeira vez, eu já estava desconfiado de algo. — Como assim? — Eu sempre cuidei como pude de todos por aqui, sabendo do que ocorria por Jô e meus pais, e isso inclui você. — levo as mãos aos cabelos, já nervoso. — Recebi certa vez um documento de Isaac, o qual falava que você teve anemia e precisou receber sangue. — Sim, eu tinha quinze anos na época, mas o que isso tem a ver? — pergunta confusa. — Eu apenas li todo documento pouco antes de vir para o Brasil, não achei que fosse preocupante pois logo Isaac me contou que você havia se curado. — ela assente. — Mas algo no documento me chamou atenção, para ser mais específico, seu tipo sanguíneo. — O que? — Eu vi que seu tipo sanguíneo é AB, estou certo? — pergunto e ela me olha estranha, porém confirma. — O meu sangue é do tipo O. — O que? — ela pergunta novamente e se levanta. — Eu não quero afirmar nada, e nunca quis voltar a isso porque complicaria tudo... — Eu não sou sua filha biológica. — afirma incrédula e eu a encaro sem saber o que fazer. — Eu não consigo acreditar que minha mãe mentiu para todos e... — Eu não sei o que levou Annie a mentir mas... Não acho que isso mude algo, sabe que tem seus pais, uma família, isso vale muito mais que sangue. — Eu sei. — sussurra e respira fundo. — Eu só estou chocada, passei por isso uma vez quando descobri que meus pais na realidade não eram meus pais biológicos... Mas acho que o melhor que podemos fazer é um teste de DNA. — Tem certeza, Luna? — pergunto incerto. — Sim, para tirar isso a limpo. — concordo e ela sorri fracamente. — Obrigada por me contar isso, sei que meus pais demorariam muito para isso, apenas para me proteger, então... — Está tudo bem. — digo sem jeito. — Eu na realidade quero te pedir

perdão apesar dos apesares. — Você é parte da minha família, Castiel. Somos uma família. — ela se aproxima de mim e sorri, seus olhos verdes se parecem com os meus, uma coincidência dramática. — Fico feliz por ouvir isso, você também é Luna. — a abraço com carinho e ela retribui com força. E nesse momento, finalmente deixei o passado para trás, só espero que Dani faça o mesmo.

*** Quanto mais as horas passam, mais meu nervosismo aumenta. Preciso ver Danielle, falar com ela, fazer com que entenda que não expus isso a ela e a ninguém porque também não tenho certeza. Claro que é olhando apenas pelos fatos que temos, biologicamente, é impossível de Luna ser minha filha, mas poderia ter algum erro nos documentos dela que vi há anos atrás. Porém, a confirmação dela sobre seu tipo sanguíneo, deixa claro que não é mesmo minha filha. Vou até o quarto de Annie e encontro-a já dormindo serenamente. Deitome ao seu lado na cama e toco de leve seus cabelos loiros. — Eu te amo, sweet heart. — beijo sua testa. — Se tem algo que me orgulho na vida é você. Abraçado a ela, lembro-me de como foi tudo difícil até chegarmos aqui e como não quero que essa paz acabe. — Senti tanto medo de te perder, pequena. — confesso, já afogado em lembranças. Ouço passos vindos de fora do quarto e levanto-me no mesmo instante. Praticamente corro para fora do quarto. Assim que atravesso a porta um corpo bate contra o meu, o cheiro da mulher que amo me embriaga. — Desculpe. — digo sem jeito e me afasto um pouco. — Oi, tudo bem. — diz e sorri fraco. — Eu... — Vem, vamos conversar! — pega minha mão e me puxa até a sala de estar. Ela se senta no sofá e bate no assento ao lado, me convidando a sentar

também. Isso não será fácil!

Danielle — Eu fui até o cemitério hoje. — os olhos de Castiel se arregalam. — Falei com minha irmã pela primeira vez sozinha. O que disse no hospital me fez acordar e... Finalmente fosse atrás dos conselhos dela, que estivesse próxima dela novamente sem medo algum. Não consegui respostas diretas, bom, disso eu já tinha certeza. Mas sabe o que entendi ao ir lá sozinha? — Castiel nega com a cabeça. — Que mesmo que ela fosse a minha estrela guia, eu tinha que aprender a andar por mim mesma. — Fico feliz que tenha ido até lá. — diz baixinho, mas seus olhos mostram sinceridade. — Eu fui até o túmulo dela certa vez. — Jura? — pergunto incrédula. — No começo de tudo, antes de irmos para Londres... Eu também me culpei por te amar. — O que? — pergunto surpresa. — Pode parecer mentira mas eu me culpei por amar a irmã da mulher que eu destruí a vida. — confessa. — Depois de tudo o que fiz a sua irmã, eu não me sentia digno do amor que sentia por você. Meu mundo para por alguns instantes e palavras me faltam para fazer qualquer tipo de pergunta. Eu jamais imaginei que ele se culpasse por me amar, mas também, como poderia? Estava tão focada em minha autonegação que simplesmente ignorei tudo a minha volta. Castiel está tão quebrado quanto eu. Ele se levanta e começa a andar de um lado pro outro da sala. — Cas! — o chamo. — Você foi a única pessoa que eu deixei entrar, a única que tem o poder de me destruir e renovar ao mesmo tempo. — ele passa as mãos nervosamente pelos cabelos e eu me levanto indo até ele. — Depois que te conheci, eu nunca mais consegui pensar em outra mulher e muito menos desejar. A cada segundo do meu dia, eu pensava na mulher que cuidou dos ferimentos que meu irmão causou. Castiel fica olhando para o teto e fico sem jeito de me aproximar. Quando

ele se vira pra mim e nossos olhos se conectam, tomo coragem e o abraço com força. — Eu encontrei Luciana no hospital em Londres, ela estava toda machucada e mal conseguia falar. — o encaro surpresa, havia até me esquecido que tínhamos que conversar sobre tudo. — Assim que ela pôde receber visitas, fui até o quarto dela e conversamos. Ela me contou que havia deixado tudo pra trás no Brasil para viver o amor da sua vida, com um cara estrangeiro. Esse cara foi a causa dos hematomas no corpo dela, ele praticamente a espancou. — fico chocada. — Eu disse que a ajudaria, e assim aluguei um apartamento para ela assim que saiu do hospital e garanti sua volta segura para o Brasil. O tal cara nunca apareceu e felizmente, Luciana não se importou. — Meu Deus, Castiel! — digo indignada. — Mas por que ela ficou na casa de Caleb com você e... — Ela disse que queria me ajudar de alguma forma, assim, tentamos fazer ciúmes em você. — diz envergonhado e fico surpresa. — Eu não fiquei apenas com ciúme, pensei que tudo havia acabado. — confesso. — Mas foi bom para que abrisse os olhos. Castiel senta-se no sofá e me puxa para seu colo. Tocando de leve meu cabelo e colocando uma mecha atrás da orelha. — Foi complicado isso. — diz e abre um simples sorriso. — Sobre Alice... — respiro fundo. — Eu conversei com ela durante os meses que estivemos separados, coloquei tudo em pratos limpos. Ela me confessou que você nunca fez nada, que depois do beijo, ela mesma se afastou e você não foi atrás. — Mas você achou que tivéssemos nos envolvido depois do beijo? — pergunta sem entender. — Eu ouvi uma conversa de duas enfermeiras e um cara que não conheço, ele disse que viu vocês dois abraçados e... Olha, vou ser sincera. — respiro fundo. — Eu não te expulsei do hospital por achar que era o pai do filho de Alice, eu sei que não faria isso comigo. — ele arregala os olhos. — Eu fiz pois estou cansada de fazê-lo sofrer, por não ser forte o suficiente para deixar o passado no lugar dele. — Então me afastou para não me magoar? — pergunta e eu assinto. — Eu quase morri longe de você, feiticeira. — Eu também. — sou sincera. — Essa distância mais a suspeita de um relacionamento seu com Luciana me fez acordar pra vida. — sinto uma lágrima descer por meu rosto. — Eu consegui superar meus demônios, ou ao menos, boa

parte deles. — Falei com Luna hoje, ela quer fazer um teste de DNA. — diz cansado. — Castiel, posso não ser a melhor pessoa do mundo em biologia, mas sei que a probabilidade de você ser o pai de Luna não existe. — digo e ele suspira fundo. — Por que não procurou a certeza sobre isso? — Porque não muda nada e não tira minha culpa por ter fugido. — ele encosta a cabeça no encosto do sofá. — Mas eu devo isso a Luna, pois ela me pediu para fazermos o teste, mesmo não sendo importante. — Sinto tanto por tudo, tudo mesmo. — toco seu rosto. — Me perdoe! Ele pega minha mão e beija delicadamente, e só assim abre seus olhos verdes. — Não precisa se desculpar pelo que passou, não precisamos reviver os dias de arrependimentos. — beija meu pulso. — Eu não sei o que fiz para merecer você, mas agora eu não dou a mínima pra isso. — sussurra — Só quero recomeçar Dani, como se nosso relacionamento fosse novo. Me afasto de seu corpo e o forço a levantar. Empurro-o em direção a porta de saída e ele me encara perplexo. — Saia! — exijo e ele me encara sem entender nada. — Amor, por favor, não me afaste. — implora e eu apenas o encaro friamente. — Saia agora! — o empurro novamente e mesmo contra a própria vontade, ele sai. Sorrio ao fechar a porta e tenho a certeza de que ele continua do outro lado. — Está aí ainda? — pergunto. — Sim. — responde rapidamente. — Bata na porta. — O que? — Apenas bata na porta, Castiel. — peço e logo ouço três sons de batidas. Toc, toc, toc... Abro a porta com cuidado e seus olhos verdes me encaram curiosos. Deixo a porta entreaberta e o encaro fingindo confusão. Parece realmente a primeira vez o que vejo. A grande diferença é que agora temos uma filha. Porém, tudo apenas parece melhor. — Quem é você? — repito a mesma pergunta de anos atrás e Castiel me

encara estupefato. Demora alguns segundos, mas ele olha para o chão e balança a cabeça negativamente. Ele entendeu minha intenção. Quando me encara, o sorriso cínico que tanto amo está aberto de um modo cafajeste que nunca vi. — Talvez seu futuro marido. — meu coração dispara e sem fazer cerimônia alguma, Castiel se ajoelha no chão. — Você não está seguindo o roteiro. — digo segurando as lágrimas. — Desde que pus os olhos em você pela primeira vez, soube que era meu fim. Nada mais justo do que ser minha esposa, loirinha. — Muito original. — zombo em meio a gargalhadas pelo apelido idiota. — Posso chamá-la de feiticeira. — indaga. — Posso ser sua feiticeira? — Quem não está seguindo o roteiro agora? — pergunta e eu sorrio. — Não somos bons atuando. — ele sorri e beija minha mão esquerda. — Quero colocar uma aliança aqui, Dani. — diz convicto. — Quero que seja minha mulher no papel também. — Já sabe a minha resposta, não? — brinco, porém ele não sorri. Noto fragilidade em seus olhos e ele desvia rapidamente. Ele realmente teme que não o aceite, como fiz quando me pediu em casamento pela primeira vez. — Se me disser sim agora, tenha certeza de que esse não é o pedido de casamento oficial. Não sou um homem romântico, mas te darei o melhor de mim. — Não preciso de romantismo. — Não? — pergunta incrédulo. — Apenas eu e você. — Tem certeza? — pergunta e eu assinto. — Casa comigo? — Sim. — grito antes mesmo que ele termine e Castiel me pega em seus braços. — Eu te amo tanto. — diz e beija de leve minha boca. — Vou ser o melhor para você, daqui por diante, serei o homem que merece. — Você já é, Cas. — o encaro com amor. — Você sempre foi. Não quero pensar no porquê minha irmã mentiu, nem mesmo me importarei com isso. Seja o que for, eu ficarei ao lado do homem que amo.

Capítulo XXXV Castiel Uma semana depois — Eu só quero ficar na cama, querido. — Dani diz e se enrola novamente no lençol. — Pensei em irmos passear, curtir esses últimos dias que tenho livre. — ela levanta seu olhar e seus cabelos loiros caem bagunçados. — Podemos aproveitar na cama, assistindo um filme com nossa filha. — sorri fraco. — Por favor. — insiste. — Ok, feiticeira. — coloco minha regata e vou até ela, beijando de leve seus lábios. — Vou alimentar nossa ferinha. — Tudo bem. — diz e se joga de volta nos lençóis. Saio do quarto e vou em direção ao de Annie. Encontro-a dormindo serenamente e toco de leve seus ombros. Ela mexe um pouco, porém não acorda. Igualzinha a mãe! — Sweet heart! Espero alguns segundos e nada, por isso a balanço um pouco. Como não funciona, a encho de beijos e chamo várias vezes. — Ah! — ela solta um gritinho. — Bom dia, dorminhoca. — beijo de leve sua testa. — Bom dia, daddy. — Vamos fazer o café da manhã e depois assistir um filme no quarto com sua mãe? — pergunto e ela praticamente se joga em meus braços. Descemos as escadas cantando animadamente, uma das músicas que sempre cantei para ela – Leãozinho de Caetano Veloso. — “Gosto muito de você leãozinho.” — canto e Annie tenta acompanhar, mas ainda se perde um pouco. Coloco-a em sua cadeirinha e ela bate firme na pequena mesa ao seu redor. — Panqueca! — pede alto. — De novo, pequena? — pergunto, colocando um avental.

— Yes! — bate palmas e sorri animada. Annie é meu bálsamo para todo e qualquer problema. — Ok, panquecas. — digo. Passamos um bom tempo na cozinha até conseguir terminar as panquecas e cantamos várias músicas que coloquei em meu celular. Após alimentar minha pequena, arrumo uma bandeja com comida para Dani, e subimos as escadas. Assim que abro a porta do quarto, estranho a falta de Dani na cama, porém um barulho me chama atenção no closet. Deixo a bandeja em cima de uma mesinha e sigo com Annie até lá. — Mommy! — Annie chama. — Aqui! Sigo sua voz e encontro Dani enrolada com o botão de um vestido. — Pensei que ficaria na cama. — ajudo-a a fechar o vestido. — Bom, acabei dando uma animada há pouco. — beija de leve meus lábios. — Bom dia, princesa. — ela pega Annie no colo. — Bom dia, mommy. — Trouxemos o café para você. — digo e ela sorri animada. Saímos do closet e Dani vai até a bandeja, pegando um dos morangos que estão sobre a panqueca. — Obrigada. — sorrio para ela e sinto-me realizado. Ajudo-a com a bandeja, colocando em cima da cama, enquanto Dani e Annie se ajeitam contra os travesseiros. Pego o controle remoto e ligo a tv. — Qual o filme, Annie? — pergunto. — Leão! — diz animada. — Rei Leão 1, 2 ou 3? — ela fica pensativa e encara Dani. Fico sem entender sua reação mas continuo esperando sua resposta. — Annie? — insisto. — Ah, nossa. — encaro Dani, e ela corre em direção ao banheiro com a mão na boca. Annie me encara assustada e vou até ela. Pegando-a no colo. — Tudo bem, pequena. — digo baixinho, porém os olhinhos verdes dela continuam arregalados. Vou até perto do banheiro e Annie força a descer. Coloco-a no chão, porém não solto sua mão. — Dani? — bato na porta.

— Um minuto. — diz e logo abre. Noto-a pálida e seu rosto está molhado. — Algum problema, feiticeira? — pergunto. — Eu não tenho certeza mas... E também não está como antes, quer dizer, como foi com Annie que tive vários sintomas nas primeiras semanas... — O que? — pergunto perdido. — Lembra que dormimos juntos na noite da festa dos Soares? — pergunta e eu assinto. — Mas o que isso tem a ver... Paro o mesmo instante em que Annie vai até a mãe e toca sua barriga plana. — Meu Deus! — exclamo estático. — Eu sei que não planejamos e... Meu Deus, devíamos aprender a usar proteção e... Eu estou atrasada há duas semanas, não pensei que... Ajoelho-me no chão e assim como Annie, toco sua barriga. — Tem quase certeza? — pergunto, olhando para cima. Dani está em prantos e acena afirmativamente. — Um bebê? — pergunto para o nada. — Nosso bebê. — diz e sorrimos um para o outro. Annie continua apenas tocando de leve a barriga de Dani e não expressa nada. Encaro-a intrigado por alguns segundos, em meio a emoção desse momento. E só assim consigo entender algumas coisas. Não sou um homem religioso, mas tenho minhas crenças, minha fé. Acredito que algumas coisas estão destinadas, e olhando para minha filha agora, consigo perceber isso. Eu e Danielle estávamos destinados a ficarmos juntos, Annie veio para nos unir. Eu não posso estar mais grato por isso. Porque nunca fui tão feliz quanto agora.



Epílogo

Danielle

Quatro meses depois — Isso nunca vai entrar em mim,Victória! — exclamo irritada e ela gargalha entrando no quarto. — Deixa de ser resmungona. — passa as mãos na minha barriga já acentuada de cinco meses. — Sua mãe é uma chata, bebezão. — Gabriel. — corrijo-a e ela abre os olhos espantada. — Escolheu o nome do seu filho e nem me contou? — se faz de ofendida e eu reviro os olhos. — Danielle... — E ainda tem mais, se for uma menininha vai se chamar Josiane. — O que? — praticamente grita e eu gargalho. — Shhh, é uma surpresa. Você está sabendo agora porque eu já não aguento mais segurar. — Sua vaca. — bate de leve em meu ombro. — É uma linda homenagem, Dani. — Pensei em vários nomes masculinos mas nenhum veio em mente, mas daí me lembrei dos momentos em que Lívia chama Cas de Gabriel, que seria o nome que ela daria pra ele, portanto, seja Josiane Soares ou Gabriel Soares, eu ficarei mais do que satisfeita. — digo sincera. — Os dois nomes me parecem fortes. Precisamos apenas agora que esse bebezinho nos mostre o que é, não é mesmo pequeno? — Vic diz. Sentimos um chute e sorrio olhando minha barriga. — Sua madrinha está te importunando, pequenino? — Victória arregala os olhos. — Isso mesmo, você será a madrinha. Você e Caleb terão que me ajudar a manter ele ou ela, assim como Annie, na faculdade, ok? — Você faz os momentos felizes se tornarem os piores. — brinca e me abraça. — Esse pequenino terá a madrinha mais linda do mundo. — Convencida. — olho para seu vestido que cai impecável no corpo e bufo. — Olhe só pra você, não vai parecer uma baleia amarrada como eu. — Credo Dani! Coloque logo esse vestido azul e as botas, é a nossa noite

de meninas e vamos arrasar. — insiste. — Ok. — pego o vestido. — Mas quero saltos confortáveis, porque não vou usar sapatos baixos com isso. Castiel que ouse me impedir. — Ele saiu com Caleb há um bom tempo, estão jogando póker ou sei lá o que com uns amigos da faculdade de Caleb. — conta e eu estremeço. — Ou talvez Caleb o tenha levado para treinar, algo assim. E sobre os sapatos, já trouxe as botas pra você. — Há mulheres nesse jogo? Ou nesse treino? — pergunto já brava. — Acha mesmo que Caleb iria jogar pôquer com outra mulher que não seja eu? Nem morta. Muito menos treinaria com alguma outra. — Ok, fico mais tranquila assim. — começo a me trocar. — Não olhe pra mim! — Você é tão chata. — lhe mostro o "dedo" e ela gargalha. — Sabe o que estava pensando? — pergunta ao me ajudar com o laço do vestido — Que o vestido lhe caiu perfeitamente. — provoca. Vou até o espelho e encaro o resultado espantada. — Meu Deus! — levo as mãos a boca surpresa. — Eu sei, de nada. — Ok, admito que você acertou dessa vez. — coloco as botas marrons lindas sem salto que ela trouxe. — Para onde vamos? — Lembra aquele barzinho em frente a praia que sempre vamos? — assinto. — Lá mesmo. — Acho que vou abrir mão da música para sentar na areia e... — Nem pensar. — me corta. — Vamos ouvir música boa ao vivo e comer aquele camarão que você tanto queria. — O que estamos fazendo aqui ainda? — pergunto já ansiosa e Victória pega as chaves do carro. — Let's go.

*** Enquanto enfrentamos o trânsito carioca, Victória canta loucamente alguma música clássica que toca no rádio. O seu gosto musical geralmente é bom, mas essa música em particular, é deprimente. Encosto a cabeça no vidro do carro e tento controlar minha ansiedade por frutos do mar, estou louca para comer isso desde cedo.

Assim que ela estaciona o carro, o barulho das ondas se quebrando nos recebe em sua majestade. Saio do carro e sinto o calor do pôr do sol tocar minha pele. Eu amo Londres, mas o Rio sempre será meu lugar favorito por vários motivos. — Não podemos mesmo pular a parte do barzinho e ir ver o mar? — pergunto. — Jamais. — Vic me encara brava. — Hoje tem MPB ao vivo, você ama esse tipo de música. Então faça o favor de mover sua bunda para o barzinho junto comigo. — Ok. — respondo e Vic me guia até a entrada. O lugar é simplesmente lindo e de uma leveza impressionante. O preto que se encontra na maior parte da decoração apenas me faz sentir melhor, minha cor favorita. — Vamos sentar ali. — ela indica uma mesa que fica próxima ao palco e sorrio. — Só espero que toque Caetano Veloso. — a repreendo. — É bem capaz de alguém tocar sua música favorita. — sugere. — Conhece o cantor? — pergunto. — Bom, sim. — dá de ombros. — Caleb veio comigo aqui algumas vezes. — Entendi. Já pediu nossa comida? — pergunto ao ver um garçom passar próximo a nós. — Jesus, mulher! — sorri. — Vou pedir quando o garçom voltar. Agora me conte, como estão as coisas com Cas? Nenhuma briga eu suspeito. — Algumas sempre tem. — Vic me encara estupefata. — Quem manda ele fazer café em casa? A gravidez apenas me fez odiar ainda mais o cheiro de café e ele insiste em fazer aquilo. — Por isso o encontro várias vezes bebendo uma caneca de café na minha cozinha. — reflete e gargalhamos. — Castiel não tem salvação. — ela assente. Noto que Vic enquanto fala mexe várias vezes na aliança em seu dedo anelar esquerdo. Olho para minha mão direita e ali encontro a minha. Simples e tão linda. Ideias passam por minha mente e lembro de tudo o que passei com Castiel nos últimos meses. Além de estar ao meu lado a cada minuto e nossa relação amadurecer, Castiel se tornou insubstituível para mim. Desde o momento em que colocou a aliança em meu dedo anelar direito e fez a promessa de casamento, além de

entender o fato de não querer me casar grávida. — Ei. — Vic estala os dedos na minha frente, o que me faz voltar a realidade. — Desculpe, eu estava apenas... — Pensando no cínico. — provoca. Olho para minha aliança novamente e sorrio ao lembrar o sorrio de Castiel. Olho para o palco a nossa frente e uma ideia vem em minha mente. — Vic, sei que Castiel está armando algo com Caleb sobre um pedido de casamento. — solto e ela pisca várias vezes. — Não me olhe assim, eu o ouvi no telefone esses dias, falando a respeito de igreja ou ar livre... Somei um mais um e... Ok, isso não interessa. Quero que me ajude com algo, antes que Castiel conclua os planos dele. — Como assim? Endoideceu? — pergunta surpresa. — Ele sempre fez de tudo por nós e continua fazendo. Nada mais justo do que invertermos o jogo um pouquinho. — Dani. — Apenas ligue pra ele e invente qualquer desculpa para que venha até aqui. — digo já decidida. — O que pensa em fazer? — Pedirei o homem que amo em casamento.

Castiel — Eu só queria saber onde elas se enfiaram, eu juro que se Victória levou Dani para alguma balada... — Pare de reclamar Castiel, se concentre no treino. Enquanto as crianças estão distraídas com Christopher, temos tempo pra isso. Então, foco! — acerta meu abdômen e devolvo o golpe. — Isso, florzinha. — Daddy! — Annie grita e me viro para ela. — O que o tio Chris fez agora? — pergunto já nervoso, pois Chris sempre a mima demais. — Nada, o seu celular que está tocando. — Christopher grita, e logo Annie vem até mim, entregando o aparelho. — Oi amor. — silêncio do outro lado. — Dani? — Cas, preciso que venha até nós...

— O que aconteceu, Vic? — a corto e Caleb me encara preocupado. — Preciso que venha nos buscar, agora. — diz nervosa. — É o barzinho que fica em frente à praia de sempre, Caleb o conhece. Por favor, venha logo! — Victória! — grito e apenas ouço a ligação ser desfeita. Disco novamente seu número e todas as minhas tentativas são falhas. — Algo está errado, Caleb. — passo as mãos no cabelo nervoso. — Precisamos ir. — Merda. — pragueja baixinho. — O que houve, daddy? — Annie pergunta e apenas lhe dou a mão. — Preciso que você e Miguel fiquem com o tio Chris enquanto eu vou buscar sua mãe e sua tia, ok? — ela assente. — Se comporte. — Chris, cuide deles. — Caleb grita. Encaro Caleb e só assim noto que estamos com a roupa de treino. Droga! Corro até o vestiário e coloco a calça que trouxe e uma camisa. Quando volto, noto que Caleb fez o mesmo, mas não parece tão preocupado como antes. — Já liguei para Isaac e pedi para que fosse até elas primeiro, ele mora mais perto do que nós. — informa. — Ok, vamos. — e assim saímos rapidamente. Quando Caleb finalmente estaciona o carro ao lado do tal barzinho, praticamente pulo dele. Ele vem logo atrás e vamos o mais rápido possível até o barzinho. Assim que entro, a primeira coisa que vejo me espanta. Isaac está sentado ao lado de Victória em uma mesa. — Onde minha mulher está? — pergunto nervoso e Isaac sai rapidamente. — Onde pensa que vai? — rosno. — Deixe ele ir, Castiel. — Vic diz calmamente. — Como você me liga, me faz vir correndo aqui e... — Sente a bunda nessa cadeira e apenas espere. — O que? — passo as mãos pelo cabelo. — Não vai dizer nada, Caleb? Meu irmão dá de ombros e beija levemente os lábios da mulher. — Onde minha mulher está? — quase grito e eles me encaram impassíveis. Minha fúria e preocupação aumentam, fecho meus punhos com força e continuo esperando respostas. Até que uma voz se faz presente no ambiente. — Boa noite a todos. — me viro para a voz de Dani e assusto-me a encontra-la em cima de um simples palco. — Gostaria primeiramente de

agradecer pelo espaço cedido pelo dono, para que eu pudesse estar aqui. — Dani. — a chamo, porém minha voz sai em um sussurro. — Sente logo, homem. — Vic exclama sorrindo. Sento-me então completamente confuso e sem saber o que esperar. Isaac surge com um violão ao lado de Dani e fico sem chão. Ela não... — Essa música em particular diz muito do como me sinto no momento. Ela diz claramente o que sinto pelo homem que amo, o homem que me ensinou a amar. O homem que eu quero que se case comigo. Meu coração parece vir a boca e fico sem fala. Nada ao nosso redor parece existir, apenas consigo enxergá-la em cima do palco. “Quando vou ver você de novo? Você partiu sem um adeus, nem uma única palavra foi dita Nenhum beijo final para selar qualquer pecado Eu não tinha ideia do estado em que estávamos Eu sei que tenho um coração inconstante e amargurado E um olhar errante, e um peso na minha mente Mas você não se lembra, você não se lembra? A razão pela qual você me amou antes Baby, por favor, lembre de mim mais uma vez” Fico de boca aberta ao ouvir sua voz doce, a letra linda e todo o resto ao meu redor desaparece de vez. Eu tenho planejado há um tempo meu pedido de casamento para ela, mas até agora não havia conseguido encontrar o lugar ou modo perfeitos. E ali está ela, improvisando um pedido de casamento para mim. “Quando foi a última vez que você pensou em mim? Ou você me apagou completamente de suas memórias? Porque muitas vezes eu penso onde eu errei E quanto mais eu penso, menos eu sei Mas eu sei que tenho um coração inconstante e inseguro E um olhar errante, e um peso na minha mente

Mas você não se lembra, você não se lembra? A razão pela qual você me amou antes Baby, por favor, lembre de mim mais uma vez Eu te dei o espaço para que você pudesse respirar Eu mantive minha distância, assim você iria ser livre Eu espero que você encontre a peça perdida Para trazê-lo de volta para mim Por que você não se lembra, não se lembra? A razão pela qual você me amou antes Baby, por favor, lembre de mim mais uma vez Quando vou ver você de novo?” (Don’t you remember – Adele) Assim que ela encerra, nem a espero dizer nada e me encaminho até o palco. — Como pode? — pergunto assim que ela se aproxima. — Te amar ainda mais? — devolve em meio a lágrimas. — A culpa dessas lágrimas e do nosso pequeno Gabriel ou... Jô — Você escolheu os nomes? Você... — Sabemos o quanto Jô foi importante para nós e bom, lembrei-me que Lívia daria seu nome de Gabriel, nada mais justo que... — a vejo ficar sem jeito e sorrio ainda mais. Como pude ter tanta sorte? — Obrigado. — digo e a puxo pela cintura. — Obrigado por existir, minha feiticeira. — Casa comigo? — pede e então abro o sorriso cínico que ela tanto diz amar. — Quero ser a sua mulher no papel também. — E eu quero ser seu. — acaricio seu rosto com carinho. — Ainda mais do que já sou. Meus lábios descem fortes nos seus e ela corresponde com fervor. Palmas e assovios são ouvidos e sorrimos durante o beijo. Nada mais nos separaria e hoje tinha a certeza. Nossa Jô ou Gabriel veio apenas para complementar ainda mais nossa pequena grande família. E eu não

poderia estar mais feliz, porque mesmo com todos os imprevistos e tempestades, a mulher que amo está ao meu lado. Agora e para sempre.

Bônus especial

Danielle

Anos depois As coisas da vida não são complicadas, pois no fim, somos nós que a complicamos. Tornamos o fácil em difícil, o certo em duvidoso... Eu o fiz várias vezes. Seja por ser infantil ou ter um gênio difícil, e cometi muitos erros por conta disso, e um dos piores, julguei o homem que amo por culpa do passado, achando-me a responsável por isso, mas nunca tive sequer o direito de dizer algo. — Parece emocionada, mommy. — viro-me para a porta do quarto e encontro Annie me encarando. — Pensando na vida, minha pequena. — bato no colchão e ela vem até mim. — Você está prestes a se casar e não sei como lidar com isso ainda. — Mommy! — reclama e sorri ao mesmo tempo, encaro seu semblante mais velho, e realmente tenho que admitir, Annie já é uma mulher. — Eu morei fora por um bom tempo e você nunca ficou assim. — É que você ainda era solteira, não imaginei que encontraria o amor lá fora e... — suspiro emocionada. — Você sempre será meu sweet heart, mas agora o seu coração pertence a seu futuro marido. — Iremos morar na mesma cidade, mommy. Sabe que a família de Ezequiel não o quer longe e ele tem uma empresa para gerir. — noto o pesar em sua voz e tento entende-la. — Tem certeza que quer esse casamento, Annie? — pergunto séria. — É óbvio que o ama, me contou a história toda e entendi. Mas vejo em seu semblante que não está completamente feliz com isso. — É difícil, mommy. — ela suspira fundo. — Ezequiel tem se mostrado um bom homem, diferente do que fez comigo antes, agora ele é companheiro, amigo, gentil, claro que ainda é muito fechado para o mundo, mesmo assim, o amo desse jeito. — Ok, só não cometa o mesmo erro que o meu, converse com ele, deixe tudo em pratos limpos sempre. — digo e ela assente. — Você sabe que eu e seu pai erramos muito, você viveu no meio da nossas brigas e constantes separações... Não quero que...

— Mommy, eu prometo dar o melhor de mim. E caso Ezequiel seja um idiota, sei para onde correr. — força um sorriso, mas noto-a já emocionada também. Abraço-a com carinho e acabo desabando junto a ela. Por mais que Annie sempre tenha sido um espírito livre, viajou o mundo, conheceu vários costumes, sempre soube que ela voltaria para nossa casa. E agora que vai se casar e ter sua própria casa, é algo diferente. Sei o quanto minha menina sofreu por amor, por sempre acreditar nas pessoas, temo que se machuque. Mas se Ezequiel a faz feliz, espero que seja real. Escutamos um barulho de um celular e Annie se afasta, sorrindo para mim. — Vai lá. — digo e ela corre para fora. Levanto-me da cama e vou em direção ao closet. Coloco um simples vestidinho azul e acabo me atrapalhando com o zíper nas costas. — Sempre complicando tudo, feiticeira. — sorrio ao sentir sua respiração em meu pescoço e ele beija de leve meu pescoço. — Onde estão as crianças? — pergunto e me viro para ele. — Gabriel saiu com alguns amigos dele, “coisas de homem” segundo ele. — ri cinicamente. — Deixe o menino. — bato em seu ombro e passo por ele. — Só não quero um neto tão cedo. — diz e paro no mesmo instante. — Espero que tenha ensinando a ele direitinho, em como se prevenir... — Sabe que se depender de meus ensinamentos, já teríamos vários netos. — gargalho e ele me acompanha. — Após termos dois filhos que finalmente nos lembramos que existe “proteção”. — Não seja chato. — digo e vou até o espelho perto da cômoda, tentando dar um jeito em meu cabelo. — Por que estava chorando? — pergunta e me encara através do espelho. — Casamento de Annie. — sou sincera. — Eu quem deveria estar assim, mulher. — brinca e me abraça por trás. — Para quem está se produzindo toda? — Talvez para o meu marido. — seu olhar me encontra e ele sorri cinicamente. — Esse cara com certeza tem muita sorte. — diz e beija minha bochecha. — Não, eu que tenho. Ele sorri cinicamente e dá um beijo em minha bochecha antes de sair do

quarto. Assim que termino de arrumar meu cabelo, encaro o quadro pendurado em minha parede, o qual guarda as palavras que Jô escreveu há anos atrás, um papel que ela entregou a Babi, a qual encontrou este um tempo antes de meu casamento com Castiel. Emolduramos o papel com a escrita de Jô e sempre me emociono ao vêlo. Peça a minha pequenina, que cuide do meu menino. Ele é feito de ouro e ela de prata, serão imperfeitos juntos, mas valerá a pena. — Obrigada, Jô. — digo sozinha no quarto, e limpo uma lágrima que tende em descer. Isso me faz viajar para o dia em que visitamos Jô anos atrás no hospital, no qual prometi que o faria feliz para ela. — Ei, feiticeira. — limpo a lágrima que desce e me viro em direção a porta. — Vamos almoçar? — pergunta com o seu sorriso cínico estampado em seu rosto. Aceno afirmativamente e ele me encara desconfiado. Viro-me novamente para o quadro e fecho os olhos um instante. — Eu acho que finalmente o faço o feliz, Jô. E vou cumprir para sempre essa promessa. — sussurro e vou em direção a Castiel. Ele sorri e beija meus lábios com delicadeza. — Parece estranha. — diz. — Apenas eu e você? — indago e ele sorri. — Eu e você, feiticeira. E esse será nosso eterno “eu te amo”. Fim

Anexo I [1] Sweet heart: doce coração. [2] Daddy: papai. [3] Mommy: mamãe. [4] Yes: sim. [5] I love you too: eu também te amo. [6] I’m ready: eu estou pronto(a). [7] Let’s go: vamos lá. [8] I love you: eu te amo.





A quem amei para sempre Trilogia Soares – Livro 3



Sinopse Antonella "Babi" Laira pouco sabe sobre seu passado, mas tinha a certeza de um futuro ao lado do amor de sua vida, o qual mesmo sendo proibido, ela lutaria. Christopher Soares encontrou em Babi a oportunidade perfeita para finalmente concluir seus planos. O que ele não contava era que no meio do caminho sua maior ambição se tornaria algo desprezível perto da dor que causou a mulher que o escolheu. Segredos serão revelados Mentiras serão descobertas Christopher verá a mulher que ama se afastar em um piscar de olhos. Será ela capaz de perdoar um amor falho e se entregar novamente ao homem que mais a enganou? Será ele capaz de fazer a escolha certa entre o amor e a ambição? Alguns amores valem por uma vida, outros não passam de uma mentira.





Agradecimentos Esse livro foi um grande desafio para mim, tomando uma temática bem diferente do primeiro. E agradeço todo momento a cada um que me acompanhou nessa jornada, que me instruiu e deu força. Agradeço a Deus por me proporcionar o dom e a vontade da escrita, por abençoar esse caminho. A minha família, por novamente me dar todo suporte. A meu namorado pela paciência e orientação. A Manuele Cruz e Aline Lima por serem minhas fiéis escudeiras em tudo. E por último e não menos importante, a todos os meus leitores, por sempre me ajudarem e me apoiarem. Por serem críticos e sinceros, além de claro, adoráveis. Vocês são os melhores! Obrigada! Aline Pádua



Contatos da autora Wattpad - Facebook - Grupo - Página - E-mail Até a próxima! Beijos e unicórnios

Table of Contents Sumário Nota da autora Sinopse Playlist Parte I Prólogo Capítulo I Capítulo II Capítulo III Capítulo IV Capítulo V Capítulo VI Capítulo VII Capítulo VIII Capítulo IX Capítulo X Capítulo XI Capítulo XII Capítulo XIII Capítulo XIV Capítulo XV Capítulo XVI Capítulo XVII Parte II Capítulo XVIII Capítulo XIX Capítulo XX Capítulo XXI Capítulo XXII Capítulo XXIII Capítulo XIV Capítulo XV Capítulo XVI Capítulo XVII Bônus

Capítulo XVIII Bônus Capítulo XIX Capítulo XXX Capítulo XXXI Capítulo XXXII Capítulo XXXIII Capítulo XXXIV Capítulo XXXV Epílogo Bônus especial Anexo I A quem amei para sempre Agradecimentos Contatos da autora
2 A Mulher que Amei - Soares - Aline Padua

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