7 - 1 Corintios

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COMENTÁRIO

BÍBLICO Adventista

do Sétimo Dia

A BÍBLIA SAGRADA COM COMENTÁRIO EXEGÉTICO E EXPOSITIVO Em sete volumes

VOLUME 6

Casa Publicadora Brasileira Tatuí, SP

Título original em inglês: T he S eventh - day A dventist B ible C om m entary

Copyright © da edição em inglês 1953, 1957: Review and Herald, Hagerstown, EUA. Edição revisada em 1976, 1978. Direitos internacionais reservados. Direitos de tradução e publicação em língua portuguesa reservados à C asa P ublicadora B rasileira

Rodovia SP 127 - km 106 Caixa Postal 34 — 18270-970 — Tatuí, SP Tel.: (15) 3205-8800 - Fax: (15) 3205-8900 Atendimento ao cliente: (15) 3205-8888 www.cpb.com.br 1“ edição: 5 mil exemplares 2014 Coordenação Editorial: Vanderlei Dorneles Tradtição: Rosangela Lira, Fernanda C. de

Andrade Souza, Cecília Eller Nascimento, Lícius O. Lindquist, Rejane Godinho, Revisão: Luciana Gruber Projeto Gráfico: Fábio Fernandes Programação Visual: Fábio Fernandes e Renan Martin Reprodução de Ilustrações: Lívia Haydéc, Rogério Chimello Capa: Lcvi Gruber IMPRESSO NO BRASIL / Printedin Brazil Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Comentário bíblico Adventista do Sétimo Dia / editor da versão cm inglês Francis D. Nichol, editor da versão em português Vanderlei Dorneles. — Tatuí, SP : Casa Publicadora Brasileira, 2014. — (Série logos; v. 6) Título original: The Seventh-Day Adventist Bible Commentary. Vários colaboradores Vários tradutores ISBN 978-85-345-2039-3 1. Adventistas do Sétimo Dia 2. Bíblia — Comentários I. Nichol, Francis D., 1897-1966 II. Dorneles, Vanderlei. III. Série.

14-00207

C dd -220.7

índices para catálogo sistemático: 1. Bíblia : Comentários 220.7

A Primeira Epístola de Paulo aos

CORÍNTIOS

A Primeira Epístola de Paulo aos

CORÍNTIOS Introdução 1. Título — As evidências textuais atestam (cf. p. xvi) o título Pros Korinthious A, lite­ ralmente, “Aos Coríntios A [ou T]”. Esse título mais simples se encontra no manuscrito de 1 Coríntios, dos Papiros Bíblicos de Chester Beatty (ver vol. 5, p. 102), o manuscrito mais antigo desta epístola, copiado por volta do 3o século d.C. O título não fazia parte do documento original. 2. Autoria — Com exceção de alguns críticos radicais que chegam a questionar se Paulo existiu, em geral, a autoria paulina da epístola é aceita. Na verdade, acredita-se que esta, juntamente com 2 Coríntios, Romanos e Gaiatas, seja a que mais se confirma como epístola de Paulo. O nome do autor ocorre tanto no início quanto no final da epís­ tola (ICo 1:1, 2; 16:21). A epístola foi ditada a um escrevente, ou secretário, salvo a sau­ dação no final do livro, a qual Paulo afirma ter escrito “de próprio punho” (ICo 16:21). Não se sabe o motivo exato de ele ter usado secretários, mas parecia ser seu costume (ver Rm 16:22; Cl 4:18; 2Ts 3:17). Sugere-se que o apóstolo não enxergava bem (ver com de Gl 6:11). 3. Contexto histórico — A primeira epístola aos Coríntios foi escrita em Efeso (ICo 16:8). Essa cidade foi palco do ministério de Paulo por “três anos” (At 20:31) e o principal centro de suas atividades durante a terceira viagem missionária (At 19; 20:1). Ele estava prestes a partir para a Grécia e Maccdônia quando a epístola foi escrita, mas esperava per­ manecer em Efeso “até ao Pentecostes” (ICo 16:5-8). Contudo, as circunstâncias antecipa­ ram sua partida (At 19:21-20:3). Essas observações datam a carta na primavera de 57 d.C. (ver p. 90, 91). A igreja de Corinto foi estabelecida durante a segunda viagem missionária de Paulo. O apóstolo tinha passado pelo menos 18 meses naquele lugar. Sua obra tinha sido árdua, porém exitosa, sendo estabelecida uma igreja próspera (At 18:1-11). A antiga cidade de Corinto ficava no istmo que une o Peloponeso à Grécia continen­ tal. Estava no limite sul do istmo, numa planície ao pé de uma colina conhecida como-«Sj Acrocorinto, em cujo topo havia uma cidadela e um templo. A cidade, portanto, era um ponto estratégico, com o tráfego terrestre entre o Peloponeso e Ática passando pela cidade. Sua localização conveniente entre o golfo Sarônico, a leste, e o golfo de Corinto, a oeste do istmo, a tornaram um centro mercantil para a maior parte do comércio que fluía da Ásia para a Europa, e vice-versa. Alguns fenícios se estabeleceram na cidade e continuaram a fazer tintura de púrpura do Murex trunculus dos mares vizinhos. Eles também introduzi­ ram outras artes e estabeleceram o culto imoral das divindades fenícias. Importante cidade mercante, situada na passagem de rotas marítimas, Corinto era afe­ tada pela licenciosidade a tal ponto que o nome da cidade se tornou sinônimo de sensuali­ dade. A expressão “corintianizar” significava praticar luxúria desenfreada.

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Quando se compreende a religião de Corinto se percebe a evidência da maravilhosa graça de Deus em vencer as forças do mal e plantar uma igreja de santos regenerados numa cidade tal. Por sua riqueza, luxúria, comércio e população mista, Corinto merecia o título dado por Barnes: “a Paris da Antiguidade”. Sua divindade principal era Afrodite, a deusa do amor em sua forma mais degradada e da paixão licenciosa. Não é difícil imaginar o efeito dessa deificação da sensualidade. O templo de Apoio foi construído na ladeira norte da Acrocorinto. Mil lindas jovens oficiavam como cortesãs, ou prostitutas públicas diante do altar da deusa do amor. Elas eram mantidas principalmente por estrangeiros, e de sua imo­ ralidade a cidade obtinha lucro constante. O desafio enfrentado pelo mensageiro do evangelho na antiga cidade de Corinto é refle­ tido nas seguintes palavras: ‘‘Se o evangelho pôde triunfar em Corinto, pode vencer sob quaisquer circunstâncias” (W. D. Chamberlain). Três anos depois da fundação da igreja e durante a ausência de Paulo (ver p. 88), surgi­ ram vários problemas que demandaram a atenção do apóstolo. A própria epístola fala deles. Em primeiro lugar, facções tinham debilitado a igreja. Por causa da eloquência e do conhe­ cimento, Apoio era exaltado acima de Paulo por muitos na igreja (ver iCo 1:12; 3:4; cf. At 18:24-19:1). Outros se jactavam de que não eram seguidores de Paulo nem de Apoio, mas de Pedro, um dos apóstolos originais (ICo 1:12). Ainda outros afirmavam não seguir a nenhum líder humano, e professavam ser seguidores de Cristo (1:12). Alcm disso, como os membros da igreja de Corinto viviam no meio de um povo liber­ tino, muitos que tinham renunciado ao mau caminho voltaram aos antigos hábitos (ICo 5). Também, a igreja estava desacreditada pelo fato de os cristãos levarem suas queixas a tribu­ nais seculares. A ceia do Senhor tinha se tornado uma ocasião para banquetearem-se (11:1734). Também tinham surgido questões sobre o casamento e problemas sociais relacionados a isso (ICo 7), quanto ao consumo de alimentos sacrificados a ídolos (ICo 8) e à conduta apropriada das mulheres no culto público (11:2-16). Havia má compreensão também quanto aos dons espirituais (ICo 12-14). Alguns eram céticos quanto à ressurreição (ICo 15). Paulo recebeu informações sobre a condição da igreja de Corinto por meio de Apoio, que se retirou quando surgiram facções na igreja (ver AA, 280). Apoio esteve com Paulo t> em Efeso, e Paulo o instou a voltar a Corinto, mas sem êxito (ver com. de ICo 1:12). Outras informações chegaram ‘‘pelos da casa de Cloe” (ICo 1:11) e do que era provavelmente uma delegação formada por Estéfanas, Fortunato e Acaico (16:17). A situação era tal que dei­ xou Paulo apreensivo. Ele já tinha escrito uma carta para a igreja (ver com. de ICo 5:9), e há a possibilidade de que tivesse visitado brevemente Corinto durante sua permanência em Efeso (ver com. de 2Co 13:1). Ele também tinha enviado Timóteo (ICo 4:17; cf. 16:10) e Tito a Corinto (ver com. de 2Co 2:13). Além disso, Paulo escreveu a epístola conhecida como 1 Coríntios, na qual tratou de vários problemas que tinham surgido. 4. Tema — O principal propósito desta epístola é duplo: primeiro, reprovar a apostasia, que tinha provocado na igreja a introdução de práticas que corrompiam os ensinos do evan­ gelho; e segundo, ensinar, ou explicar, pontos de crença e de prática a respeito dos assuntos sobre os quais os crentes tinham solicitado esclarecimento. Paulo não condenou nem mos­ trou indulgência com relação ao pecado. Ele foi imparcial na sua condenação e não buscou adular ninguém nem encobrir a transgressão. Com firmeza e severidade condenou os desvios do caminho reto. Junto com a exposição das irregularidades e a reprovação dos crescentes males da igreja, é possível ver piedade e misericórdia que sempre se encontram no coração

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1 CORÍNTIOS dos verdadeiros colaboradores de Cristo, bem como o amor que sempre busca levantar os caídos, restaurar o desviado e curar a pessoa ferida. Paulo sabia que o amor, e não a força nem a severidade, é o poder que transforma e conquista. Portanto, a intervenção cirúrgica espiritual à qual submeteu a igreja de Corinto foi seguida pelo bálsamo consolador do amor. Isso pode ser visto em particular na exposição magistral do amor cristão, em 1 Coríntios 13. A partir do ponto de vista da instrução, a epístola trata de várias questões práticas, como casamento, uso de alimento oferecido a ídolos, comportamento na igreja, a ceia do Senhor e o exercício adequado dos dons espirituais. A epístola foi descrita como “uma das mais ricas, mais instrutivas e mais poderosas’' de todas as cartas de Paulo (AA, 301). 5. Esboço. I. Introdução, 1:1-9. A. Saudações iniciais, 1:1-3. 1. Identificação do autor c seus associados, 1:1. 2. Destino da epístola, 1:2. 3. Bênção inicial, 1:3. B. Elogio pelo crescimento espiritual, 1:4-9. II. Reprovação de irregularidades, 1:10-6:20. A. Facções na igreja, 1:10-4:21. 1. Reprovado o espírito faccioso, 1:10-13. 2. Paulo defende seu ministério e o evangelho, 1:14—2:16.

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3. A inconsistência do espírito partidário, 3:1-23. 4. Atitude adequada dos líderes espirituais, 4:1-21. B. O caso do incesto, 5:1-13. C. Censurado o litígio em tribunais seculares, 6:1-20. III. Respostas a perguntas dos crentes de Corinto, 7:1-11:1. A. Instruções sobre o casamento, 7:1-40. 1. Reconhecimento recíproco dos direitos maritais, 7:1-6. 2. Recomendação do celibato em certas circunstâncias, 7:7-11. 3. O problema de casamentos com incrédulos, 7:12-16. 4. A conversão não deve mudar a condição social, 7:17-24. 5. Instrução com respeito à virgindade, 7:25-40. B. Instrução com respeito aos alimentos sacrificados a ídolos, 8:1-11:1. 1. Recomendada a abstenção por causa do irmão débil, 8:1-13. 2. O exercício da liberdade cristã, 9:1-27. 3. Advertência contra idolatria, 10:1-22. 4. O uso correto da liberdade cristã, 10:23-11:1. IV. A conduta correta no culto, 11:2—14:40. A. As mulheres e o véu, 11:2-16. B. A observância correta da Ceia do Senhor, 11:17-34. C. O lugar e a função dos dons espirituais, 12:1-14:40. 1. A origem e a diversidade dos dons, 12:1-31. 2. Amor, o maior de todos os dons, 13:1-13. 3. Dom de línguas e o de profecia, 14.1-40.

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V. A doutrina da ressurreição, 15:1-58. A. A certeza da ressurreição, 15:1-34. B. A natureza literal da ressurreição, 15:35-50. C. A esperança da ressurreição c o segundo advento, 15:51-58. VI. Conclusão, 16:1-24. A. Instrução com respeito à coleta para os necessitados, 16:1-4. B. Planos de visitar Corinto, 16:5-9. C. Pedido para a aceitação de Timóteo, 16:10, 11. D. A decisão de Apoio de permanecer em Efeso, 16:12. E. Exortações finais, 16:13-18. F. Saudações finais, 16:19-24.

Capítulo 1 1 Saudação e ação de graças. 10 Exortação à unidade e 12 reprovação a dissensões. 18 Deus anula a sabedoria dos sábios. 21 A loucura da pregação para: 26 os sábios, poderosos e nobres; e 27, 28 para os fracos e humildes.

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1 Paulo, chamado pela vontade de Deus 10 Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso para ser apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma Sóstenes, coisa e que não haja entre vós divisões; antes, 2 à igreja de Deus que está em Corinto, aos sejais inteiramente unidos, na mesma disposi­ ção mental e no mesmo parecer. santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que cm todo lugar invocam 11 Pois a vosso respeito, meus irmãos, fui in­ o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor formado, pelos da casa de Cloe, de que há con­ tendas entre vós. deles e nosso: 3 graça a vós outros e paz, da parte dc Deus, 12 Refiro-me ao fato de cada um de vós dizer: nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Eu sou de Paulo, e eu, de Apoio, e eu, de Cefas, 4 Sempre dou graças a meu Deus a vosso res­ e eu, de Cristo. peito, a propósito da Sua graça, que vos foi dada 13 Acaso, Cristo está dividido? Foi Paulo cru­ em Cristo Jesus; cificado em favor de vós ou fostes, porventura, 5 porque, em tudo, fostes enriquecidos nEle, batizados em nome de Paulo? em toda a palavra e em todo o conhecimento; 14 Dou graças a Deus porque a nenhum de 6 assim como o testemunho de Cristo tem vós batizei, exceto Crispo e Gaio; sido confirmado em vós, 15 para que ninguém diga que fostes batiza­ ► 7 de maneira que não vos falte nenhum dom, dos em meu nome. aguardando vós a revelação de nosso Senhor 16 Batizei também a casa de Estéfanas; Jesus Cristo, além destes, não me lembro se batizei algum 8 o qual também vos confirmará até ao fim, outro. para serdes irrepreensíveis no Dia de nosso 17 Porque não me enviou Cristo para bati­ Senhor Jesus Cristo. zar, mas para pregar o evangelho; não com sabe­ 9 Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à co­ doria de palavra, para que se não anule a cruz munhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor. de Cristo.

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1 CORÍNTIOS

1:2

18 Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, cjue somos salvos, poder de Deus. 19 Pois está escrito: Destruirei a sabedo­ ria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos instruídos. 20 Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo? 21 Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não O conheceu por sua própria sabe­ doria, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação. 22 Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; 23 mas nós pregamos a Cristo crucifica­ do, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; 24 mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.

25 Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. 26 Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios se­ gundo a carne, nem muitos poderosos, nem mui­ tos de nobre nascimento; 27 pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para enver­ gonhar as fortes; 28 e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; 29 a fim de que ninguém se vanglorie na pre­ sença de Deus. 30 Mas vós sois dEle, em Cristo Jesus, o qual Se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e jus­ tiça, e santificação, e redenção, 31 para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.

1. Paulo. Sobre o significado do nome, ver Nota Adicional 2 a Atos 7. Vontade de Deus. Paulo enfatiza que é apóstolo pela vontade de Deus. Ele chama atenção para o mesmo fato nas cartas a outras igrejas (ver Rm 1:1; 2Co 1:1; G1 1:1; Ef 1:1; Cl 1:1; lTm 1:1; 2Tm 1:1). Ele sabia que não havia sido apontado para o minis­ tério por homem, mas por Deus (ver G1 1:1). Todo verdadeiro ministro do evangelho de Jesus Cristo deveria ter a mesma convicção a respeito de seu chamado, e, como Paulo, crer que um “ai” cairá sobre ele se assumir outra tarefa (ver lCo 9:16). Apóstolo. Do gr. apostolos (ver com. de At 1:2). A frase diz, literalmente, “um apóstolo chamado”. O direito de Paulo ao apostolado foi questionado em Corinto. Nesta passa­ gem e mais adiante na epístola, ele afirma e defende sem temor esse direito (ver lCo 9). Irmão. Designação comum entre os cristãos naquela época (ver Rm 16:23; etc.).

Ainda não se usava o nome “cristão” (ver com. de At 11:26). Sóstenes. De identidade incerta. É possível que seja o principal da sina­ goga de Corinto (At 18:17). A tradição, que o conta como um dos 70 discípulos (Lc 10:1), não tem fundamento. Sóstenes pode ter sido ajudante de Paulo, como Tércio, na epístola aos romanos (ver com. de Rm 16:22). A ocorrência do nome de Sóstenes na saudação introdutória não sig­ nifica que ele foi um coautor da epístola. Era costume de Paulo mencionar o nome de seus associados. 2. Igreja. Do gr. ekklêsia (ver com. de Mt 18:17). Corinto. Sobre a obra de Paulo em Corinto e o estabelecimento da igreja ali, verp. 88; At 18:1-18. Santificados. Do gr. hagiazõ, “dedicar”, “santificar” (ver com. de Jo 17:17). Neste ver­ sículo, os que são santificados são chamados

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Todas essas palavras juntas não podem de ‘‘santos’ (hagioi), literalmente “sagrados” (ver com. de Rm 1:7). Hagiazõ e hagioi têm expressar a glória, alegria, felicidade e gra­ a mesma raiz. No português não se nota tidão despertadas na mente de quem tem um vislumbre da revelação dos atributos de de forma tão clara a ligação, embora “san­ Deus manifestados ao ser humano por meio tificado” e “santo” provenham da raiz latina de Jesus Cristo. Todos esses se resumem em sanctus, “santo”. uma palavra: charis. Em Cristo Jesus. Apenas é conside­ rado santo quem busca e encontra refúgio em Os antigos gregos cultuavam a beleza. Jesus e está coberto pela justiça do Salvador. Eles usavam charis para sugerir um senti­ Chamados para ser santos. Literal­ mento de beleza ou deleite. Essa ideia depois foi transferida para o objeto que produzia mente, “chamados santos”, isto é, que são chamados à santificação. esse sentimento. O significado se esten­ Em todo lugar. Estas palavras podem deu e incluiu gratidão, graças, graciosidade ser ligadas à frase “chamados para ser san­ e agrado. Num sentido concreto, a palavra tos”, de modo que a ênfase da passagem indicava um favor feito. está no fato de que os crentes de Corinto A igreja cristã apostólica adotou a expres­ faziam parte da grande irmandade de cren­ são e aplicou a conotação de natureza gentil, tes. Paulo relembra aos coríntios que eles afetuosa, agradável e de disposição bon­ não são os únicos possuidores dos privilé­ dosa à atitude dos cristãos uns para com os gios do evangelho. outros. De forma mais particular, o termo E possível também que Paulo estivesse foi usado para expressar “a conduta de Deus usando uma frase comum em saudações da para com o ser humano pecador conforme época. Inscrições encontradas em sinago­ revelada em e por meio de Cristo, espe­ gas continham a seguinte saudação: “Que cialmente como um ato de favor espontâ­ haja paz neste lugar e em todo Israel” (ver neo” (Hermann Cremer, Bihlico-Theological Plans Lietzmann, Handhuch zum Neuen Lexicon [1886], p. 574). Esse favor de Deus Testament, com. de ICo 1:2). A epístola não de forma alguma depende da condição se destinava apenas a eles, mas continha ins­ humana. Isto é, nem seus esforços para obter truções a todos e foi preservada no cânon a graça por meio de obras dc justiça nem o sagrado para nossa instrução e edificação fracasso em alcançá-la afetam a manifesta­ (ver 2Tm 3:16). ção do favor de Deus. Portanto, cabe ao ser Invocam o nome. Ver com. de At 2:21. humano aceitar a graça, se assim o dese­ Deles e nosso. Estas palavras podem jar. Seu nível de pecaminosidade não influí se referir tanto a “lugar” como a “Senhor”. na disposição divina de conceder graça por Caso se refira a “lugar”, acrescenta pouco à meio de Jesus (ver com. dc Rm 1:7). ideia já expressa. Caso se refira a “Senhor”, Paz. Do gr. eirênê, palavra da qual deriva ^ é uma ênfase a mais no fato de que o mesmo o nome “Irene”. Conforme empregado no NT, Senhor é adorado por cristãos de todas as eirênê significa a completa ausência de tudo comunidades, com possível referência ao que perturba ou interrompe a obra plena do espírito de dissensão em Corinto (v. 11-31). Espírito Santo na vida de uma pessoa, por 3. Graça. Do gr. charis, palavra que ocorremeio do qual esta entra em perfeita harmo­ cerca de 150 vezes no NT, sendo traduzida nia com o Criador. J. LI. Thayer define esta como “graça” 123 vezes. Nos demais casos, palavra como “a condição de tranquilidade de é traduzida como “favor”, “alegria”, “recom­ uma pessoa certa de sua salvação por meio pensa”, “dádivas”, “gratidão” e “benefício”. de Cristo, e, por isso nada temendo da parte

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1 CORÍNTIOS de Deus, e satisfeita com sua sorte terrena, seja qual for’' (ver com. de Rm 1:7). 4. Dou. O singular evidencia que Sóstenes não foi coautor da epístola (ver com. do v. 1). Graças a [meu] Deus. Antes de tratar dos problemas que afetavam a igreja, Paulo elogia o que os crentes de Corinto alcança­ ram em sua experiência espiritual. O elo­ gio à fidelidade e obediência antecede a repreensão ou advertência, isso está bem exemplificado nas mensagens às sete igre­ jas (Ap 2:2-4, 13, 14, 19, 20). Deus encoraja a igreja ao mencionar o que está bem e, com isso, prepara o caminho para as advertên­ cias e repreensões necessárias, que, se leva­ das em consideração, como no caso da igreja de Corinto, resultarão em crescimento espi­ ritual e bênçãos. Graça. Do gr. charis (ver com. do v. 3). Nesta passagem, os dons da graça, os charismata (ICo 12:4), são enfatizados (ver 1:5-7). 5. Em tudo. Deus tinha abençoado grandemente os crentes de Corinto. Ele os tinha resgatado do ambiente corrupto em que viviam, levantando-os das profunde­ zas do vício e do pecado, conferindo a eles dons espirituais em abundância de modo que não lhes faltava “nenhum dom" (v. 7). Dessa íorma, íez-se abundante provisão, além das necessidades, para que a igreja não tivesse motivo para reincidências e apostasia (com­ parar com 2Co 9:11). Palavra. Do gr. lugos, que em geral sig­ nifica “palavra”, mas que designa também a expressão dessa palavra. Neste caso, prova­ velmente, denote a habilidade de se expres­ sar de forma livre e clara com respeito a Lodo conhecimento verdadeiro. O dom deve ser o mesmo designado como “a palavra da sabe­ doria” (logos sophias, ICo 12:8). Conhecimento. Do gr. gnõsis, do qual derivam as palavras “gnóstico” e “agnóstico” (sobre esse dom, ver com. de ICo 12:8). O conhecimento é um fundamento essencial

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para a fé. Os fatos básicos relativos à existên­ cia de Deus e ao plano da salvação devem ser entendidos por aqueles que desejam se tornar cristãos. Era necessário haver na igreja quem pudesse transmitir tal conheci­ mento. Paulo dizia ter esse dom (2Co 11:6). Em Corinto, alguns haviam pervertido o dom (ICo 8). 6. Assim como. Esta expressão parece indicar que o conhecimento do plano da sal­ vação por meio de Jesus Cristo foi esclare­ cido e estabelecido pela obra poderosa do Espírito Santo na igreja de Corinto. Sugere também que esse poder ainda atuava na igreja, dando prova do favor de Deus e da verdade do evangelho na mesma medida de quando a mensagem foi pregada pela pri­ meira vez naquela cidade. De Cristo. Ou, “sobre Cristo”. O re­ sultado do derramamento abundante do Espírito Santo sobre os crentes coríntios foi a confirmação de sua fé no evangelho, da convicção e aceitação da verdade do amor de Deus e do sacrifício de Jesus. O teste­ munho dos apóstolos a respeito de Cristo não foi apenas crido e aceito, mas, por meio do poder do Espírito de Deus, a igreja re­ cebeu os dons do Espírito (ver v. 7; esses dons são alistados em ICo 12:1, 4-10, 28; Ef 4:8, 11-13). Declara-se que o propósito dos dons do Espírito é o desenvolvimento da igreja até que alcance unidade e perfei­ ção em Jesus (Ef 4:12-1 5). Confirmado. Ou, “estabelecido”. A con­ cessão dos dons do Espírito à igreja, incluindo a de Corinto, revela a intenção de Deus em dar a Seu povo meios abundantes para teste­ munhar da fé a um mundo descrente. 7. Nenhum dom. “A manifestação do Espírito” foi “concedida a cada um visando a um fim proveitoso” (ICo 12:7). Os dons eram abundantes na igreja de Corinto, c cada crente recebeu algum deles. Aguardando. Do gr. apekdechomai, “aguardar ansiosamente”.

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA Revelação. Do gr. a-pokalupsis, literal­ mente “descobrimento”, “revelação”, “des­ cobrir o que está oculto”. Esta é a palavra usada para descrever a vinda de Jesus (2Ts 1:7; lPe 1:7, 13; 4:13). Cristo, que estava oculto aos olhos físicos, será revelado de modo que todo olho O verá (Ap 1:7). Uma palavra mais comum para descrever Sua vinda é parousia (ver com. de Mt 24:3). A palavra simples para “vinda”, erchomai, é também usada com frequência. A segunda vinda de Jesus era a expectativa e esperança da igreja do primeiro século, e ainda é a “bendita esperança” de todo verdadeiro dis­ cípulo (Tt 2:13). Os cristãos de Corinto, fir­ mados na fé de Jesus pelos diversos dons do Espírito, esperavam ansiosamente a mani­ festação do Salvador em Sua segunda vinda. Os dons na igreja atual confirmam o tes­ temunho de Jesus. A igreja remanescente é caracterizada como tendo “o testemunho de Jesus” (Ap 12:17), que é definido como o “espírito da profecia” (Ap 19:10). 8. O qual. Isto é, o Senhor Jesus Cristo (v. 7). Confirmará. Ou, “estabelecerá”. Até ao fim. Comparar com Fp 1:10; iTs 5:23; Jd 24. Não se deve considerar que essa declaração signifique ser impossível sair da graça. Outras passagens revelam que isso é possível (ver, por exemplo, Hb 6:4-6). Os crentes serão confirmados até ao fim somente se permanecerem fiéis (Mt 24:13; ver com. de Jo 10:28). Irrepreensíveis. Os cristãos têm a cer­ teza de que Cristo os manterá firmes em meio às provas e tentações e que os guardará no caminho da santidade por toda a vida, de modo que na vinda de Cristo serão encontra­ dos irrepreensíveis. Isto não é uma promessa de que serão perfeitos, no sentido de serem isentos de pecar, pois “todos pecaram” e “carecem da glória de Deus” (Rm 3:23). Jesus os capacitará a viverem de forma vitoriosa ao se submeterem a Ele constantemente.

Em Sua vinda, serão achados irrepreensí­ veis porque estão cobertos por Sua justiça. “Irrepreensíveis” é diferente de “perfeitos”. “Irrepreensíveis” são aqueles que não podem ser culpados de nenhum crime, que se colo­ cam perante o Juiz supremo, e contra quem não há base para acusação. 9. Fiel é Deus. Comparar com iCo 10:13; lTs 5:24; 2Ts 3:3. A dependência abso­ luta de Deus é a base para a declaração de Paulo de que os crentes serão preservados irrepreensíveis até ao fim. As promessas de Deus, assim como Seu caráter, são imutá­ veis. Essa é uma fonte de constante conforto para o cristão que vive num mundo cada vez mais instável. Chamados. Ver com. de Rm 8:30; cf. ICo 9:24; 11:29. Todos são chamados por Deus para a comunhão com Jesus. Deus usa diversos meios para influenciar os eleitos a renunciar ao pecado e a aceitar a salvação por meio de Cristo. Comunhão. Do gr. koinõnia (ver com. de At 2:42; Rm 15:26). 10. Rogo -vos. Do gr. parakaleõ, literal­ mente, “chamar para o lado de”, portanto, “admoestar”, “exortar” ou “confortar” (ver com. de Jo 14:16). Este versículo marca a transição da ação de graças e elogio para a repreensão. Após uma breve introdução, Paulo passa diretamente a abordar os pro­ blemas que demandavam sua atenção (ver com. de Mt 5:4). Irmãos. Uma forma comum de Paulo se dirigir aos leitores de suas epístolas. Neste caso, o termo carinhoso é talvez usado com o fim de amenizar a severidade da repreen­ são que Paulo está prestes a fazer. O termo também implica unidade, algo cm falta entre os crentes coríntios. Pelo nome. Jesus é o intermediário da exortação (cf. Rm 12:1; lTs 4:2). O fato de se recorrer a um nome pode ser uma repreen­ são direta contra o espírito de dissensão exis­ tente entre os crentes de Corinto.

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1 CORÍNTIOS Faleis todos a mesma coisa. Esta frase traduz uma expressão encontrada no grego clássico que significa “estar de acordo”. 0 emprego desta expressão mostra que Paulo estava familiarizado com as obras clássicas gregas (ver com. de At 17:28). Divisões. Do gr. schismata, da palavra schizõ, “partir”, “dividir”. Em iMateus 27:51, schizõ é empregado para descrever que o véu do templo se rasgou. Schisma é usado em Mateus 9:16 para se referir à rotura de uma veste. Paulo usa a palavra num sentido moral para “dissensão” e “divisão”, com referência especial ao espírito de dissensão em Corinto. A palavra “cisma” deriva de schisma. Inteiramente unidos. Do gr. katartizõ, “emendar [como uma rede de pesca rasgada]” (Mt 4:21) ou “completar”. Esta súplica fervo­ rosa pela unidade na igreja faz ressoar uma nota recorrente na pregação de Jesus e dos apóstolos (ver Jo 17:21-23; Rm 12:16; 15:5, 6; 2Co 13:11; Fp 2:2; lPe 3:8). Disposição mental [...] parecer. Do gr. nous [...] gnõmê. Nous denota o estado mental e gnõmê, a opinião, parecer ou senti­ mento que resulta de um determinado modo de pensar. 11. Irmãos. Ver com. do v. 10. Fui informado. Membros da casa de Cloe informaram a Paulo sobre a condição da igreja em Corinto. Pelos da casa. Estas palavras são um acréscimo. Não se pode especificar se esses tais eram membros da família de Cloe, parentes ou escravos. Cloe. O nome significa “imaturo” ou tal­ vez “loiro”. O nome era comum entre escra­ vos libertos, fato que sugere que Cloe deve ter sido uma escrava liberta. Sem dúvida, a família vivia em Corinto, de onde levaram a Paulo informações de primeira mão sobre as dissensões na igreja (verAA, 300). Alguns bus­ cam identificar a delegação mencionada em 1 Coríntios 16:17 com as pessoas aqui referi­ das, mas não há evidência para esta opinião.

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Contendas. Do gr. erides (singular, eris), “contendas”, “disputas” ou “discórdias”. Eris ocorre numa lista de pecados (Rm 1:29-31) e entre as obras da carne (G1 5:20). 12. Cada um de vós. Ao que parece, o espírito de dissensão tinha afetado a todos. Os vários membros da igreja apoiavam um partido ou outro. De Paulo. Primeiramente, o apóstolo menciona o partido que afirmava ser de seus seguidores. Ele não demonstra favor a nenhum deles, muito menos a seu próprio. Todos são condenados. O espírito de dissen­ são de qualquer forma é errado. Comparar um líder espiritual a outro é contrário ao espírito de Cristo. Apoio. Judeu alexandrino, seguidor dos ensinos de João Batista e homem “eloquente e poderoso nas Escrituras” (At 18:24, 25). Áquila e Priscila o instruíram nos princípios da fé cristã, em Efeso. De lá viajou a Acaia, e por um tempo trabalhou na igreja de Corinto (At 18:27, 28; cf. iCo 3:5-7). Sua instru­ ção e eloquência levaram alguns na igreja a exaltarem-no acima de Paulo. Quando pre­ gou o evangelho naquela metrópole pela primeira vez, Paulo adaptou seus ensinos à mentalidade dos que não conheciam as verdades espirituais (ICo 2:1-4; 3:1, 2). Como teve o privilégio de construir sobre esse fundamento, Apoio pôde ensinar além dos rudimentos da fé (ICo 3:6-11). Sua per­ sonalidade, modo de trabalhar e o tipo de mensagem que transmitia apelavam a uma determinada classe que começou a mostrar preferência por ele. Outros se recusavam a se desviar da lealdade para com Paulo, que levara o evangelho pela primeira vez. Entre Paulo e Apoio havia perfeita harmo­ nia (ver v. 5-10). Quando surgiram dissen­ sões, Apoio deixou Corinto e voltou para Efeso. Paulo o instou a retornar a Corinto, mas Apoio se recusou. Cefas. Isto é, Pedro. “Cefas” é uma trans1 iteração do aramaico Kepha, que significa

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“pedra” (ver Jo 1:42). “Pedro” é a transliteração do grego Petros, que também signi­ fica “pedra” (ver com. de Mt 16:18). Os que pertenciam a esse partido criam que havia mérito especial em estar unido a um dos doze apóstolos. Pedro tinha estado associado intimamente a Jesus e era um dos líderes dos doze apóstolos. Acreditavam que isso o colo­ cava acima de Paulo ou Apoio. Alguns acre­ ditam que a existência desse partido indique que Pedro visitou Corinto. Porém, essa con­ clusão não encontra evidências sólidas. De Cristo. Os que pertenciam a esse partido se recusavam a seguir um líder ► humano. Eram independentes nas suas ati­ tudes e afirmavam receber instruções dire­ tas de Cristo (ver AA, 278, 279). 13. Cristo está dividido? O absurdo da pergunta fica evidente de imediato. Foi Paulo crucificado [...]? A forma da pergunta no grego implica uma resposta negativa. Paulo diplomaticamente usa a si mesmo como exemplo, em vez de Apoio ou Pedro. Em nome de Paulo. Comparar com Mt 28:19; At 8:16. 14. Deus. Evidências textuais (cf. p. xvi) sugerem a omissão desta palavra, resultando na tradução "dou graças”. A nenhum de vós batizei. Os conversos de Paulo eram batizados por seus colaborado­ res, talvez para evitar que atribuíssem santi­ dade especial ao rito, quando realizado por certos indivíduos. O rito em si, ou o fato de ser realizado por determinado indivíduo, não confere nenhum significado especial ao batis­ mo. A exemplo de Paulo, “Jesus mesmo não batizava, e sim os Seus discípulos” (jo 4:2). Crispo. O principal da sinagoga de Corinto (At 18:8). Crispo é um nome romano. Gaio. Este é o anfitrião de Paulo e de toda a igreja de Corinto, mencionado em Romanos 16:23. Não se sabe se é o mesmo Gaio a quem a terceira epístola de João é endereçada (3Jo 1). Gaio é um nome romano.

15. Fostes batizados. Ao que parece, era comum em Corinto a crença de que havia uma relação especial entre quem batizava e o batizado. Mesmo quem afirmava perten­ cer ao partido de Paulo não podia se vanglo­ riar de ter sido batizado pelas mãos de seu líder. Paulo estava feliz por ter tomado a deci­ são de permitir que outros fizessem a maior parte de seus batismos. 16. Batizei também. Este versículo sugere que a epístola foi ditada a um escre­ vente. Do contrário, Paulo não teria acres­ centado “a casa de Estéfanas” como algo que lhe veio depois à mente, mas a teria inserido a princípio com Crispo e Gaio (ver v. 14). Estéfanas. A casa de Estéfanas foi um dos primeiros frutos do trabalho de Paulo em Acaia (iCo 16:15). Estéfanas estava com Paulo, quando escreveu esta epístola (16:17). 17. Para batizar. Paulo esperava que apenas Cristo fosse exaltado, e que homens e mulheres fossem ganhos para Ele. Por isso, ele deixou claro que batizar não era seu tra­ balho principal, mas sim persuadir pessoas a se renderem ao Salvador. Não era sua inten­ ção insinuar que não batizaria ninguém, mas que soubessem que ele não se gloriava com um grande número de batismos. Seu argu­ mento (ver v. 13-17) evidencia seu desejo de que o agente humano na obra da salva­ ção fosse perdido de vista e que os peca­ dores arrependidos contemplassem a Jesus somente. Isso mostra que Paulo estava ciente do perigo de que os batizados pelos apóstolos pensassem ser superiores a outros conversos que não tiveram essa oportunidade. Assim se iniciaria uma luta de partidos na igreja, o que de fato estava ocorrendo. Ele declara que sua obra era proclamar as boas-novas da salvação e chamar todos ao arrependimento e à fé em Jesus. Esse é o principal objetivo dos ministros do evangelho. Sabedoria de palavra. Os gregos esti­ mavam os métodos sutis e polidos que usa­ vam em seus debates e a refinada eloquência

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1 CORÍNTIOS de seus oradores. Paulo não buscou imitar o estilo complicado e filosófico da retórica deles. O êxito do evangelho não depende des­ sas coisas, e o apóstolo não as tinha exibido na sua pregação. Seu ensino e modo de falar não inspirava louvor dos sofisticados gregos. Eles não consideravam sábia sua pregação. O apóstolo anelava que a glória da cruz de Cristo não fosse obscurecida por filosofia humana e oratória elegante, exaltando-se assim o homem em lugar de Deus. O êxito da pregação da cruz não depende do poder do raciocínio humano nem do encanto de uma argumentação refinada, mas do impacto de sua verdade simples apoiada no poder do Espírito Santo. Anule. Literalmente, “esvazie”, isto é, ► vazio de seu conteúdo essencial. 18. Palavra. Do gr. logos. Talvez um con­ traste intencional com “sabedoria de palavra” (ver com. do v. 17). Da cruz. Isto é, sobre a cruz. A “pala­ vra da cruz” é a mensagem da salvação por meio da fé no Senhor crucificado. Tal men­ sagem parecia o cúmulo da loucura para os gregos amantes da filosofia e para os judeus inclinados ao ritualismo. Os que se perdem. Eles estão no cami­ nho da perdição, pois a única coisa que tem poder para salvá-los, isto é, a palavra da cruz, parece-lhes loucura. Somos salvos. Litcralmentc “estão sendo salvos”. Paulo descreve a salvação como um ato presente. As Escrituras representam a sal­ vação como um fato passado, presente e tam­ bém futuro (ver com. de Rm 8:24). Poder. Do gr. dynamis (ver com. de Lc 1:35). Para os que “estão sendo salvos”, devido à fé na genuína afirmação do evan­ gelho, a palavra da cruz é o “poder de Deus”. Esse poder é demonstrado pela transforma­ ção do caráter que ocorre quando o pecador aceita a graça. O evangelho é muito mais que uma declaração de doutrina ou um relato do que Jesus fez pela humanidade quando

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morreu na cruz. É o poder de Deus atuando no coração e na vida do pecador crente arre­ pendido, fazendo dele nova criatura (ver Rm 1:16; cf. 2Co 5:17). 19. Está escrito. Uma citação de Isaías 29:14, que se harmoniza mais com a LXX do que com o hebraico. Paulo apresenta uma evi­ dência bíblica à observação feita no versículo anterior. Todos os esforços para encontrar um caminho para a salvação por meio da filosofia humana e sem Deus serão rejeita­ dos e aniquilados pelo Senhor. 20. Onde está o sábio? Este versículo é uma citação livre que combina as idéias de Isaías 19:12 e 33:18 (cf. Is 44:25). Com a palavra “sábio”, talvez Paulo se referisse em particular aos gregos, que amavam a filo­ sofia secular; com “escriba”, ao judeu, que enfatizava a autoridade da lei; e, com “inqui­ ridor”, tanto ao grego quanto ao judeu, que apreciavam a argumentação filosófica. Este versículo destaca a completa inutilidade de todas as formas de pensamento e raciocínio humano como meio de promover a pregação e a salvação. 21. Na sabedoria de Deus. Embora rodeados de evidências da sabedoria divina no mundo natural, na glória dos céus este­ lares e na providência divina em favor da vida, os seres humanos não aprenderam a conhecer a Deus. Com amor e piedade pela humanidade caída, Deus proclamou as novas da salvação por meio da fé em Cristo. Essas novas, que para os indivíduos sábios segundo o mundo eram mera loucura, se tornaram, para os que as aceitaram, o meio escolhido por Deus para a salvação. Não O conheceu. Isto é, não alcan­ çou conhecimento de Deus. Paulo fala da sabedoria da salvação tal como é revelada no evangelho. Por sua própria sabedoria. Apesar de os homens se gloriarem de seus feitos e de sua sabedoria, não tinham conheci­ mento do verdadeiro Deus. Os gregos eram

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conhecidos pela filosofia, mas toda sua busca por coisas novas e estranhas (ver At 17:21) não os levou ao conhecimento do “Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe” (v. 24). Os judeus também se gloriavam da superiori­ dade de sua lei, mas eram ignorantes acerca do conhecimento essencial para a salvação. Pregação. Do gr. kêrugma, “anúncio”, “proclamação”, com ênfase na mensagem pregada ou proclamada. Deve-se diferenciála de kêruxis, “o ato de pregar”. A “loucura da pregação” é o anúncio do evangelho da sal­ vação por meio da fé do Cristo crucificado, que para os gregos e judeus descrentes pare­ cia loucura. 22. Os judeus. No texto grego não há o artigo definido, “os”. Assim, chama-se aten­ ção para as características do substantivo antes de sua identidade. O mesmo se dá com “os gregos”. Sinais. Sobre os judeus pedirem um sinal, ver com. de Mt 12:38; cf. Sanhedrin, 98.a, cd. Soncino, Talmude, p. 665. Ao ► falar de judeus e gregos Paulo designava as duas classes mais importantes da época. Os judeus buscavam demonstrações físicas exte­ riores em forma de maravilhas, milagres e fatos sobrenaturais. Gregos. Por séculos, este povo foi visto como intelectual e pensador. Acreditavam que o intelecto era capaz de compreender tudo. 23. Cristo crucificado. Ver com. de ICo 2:2. Escândalo. Do gr. skandalon, “o que dis­ para uma armadilha” ou “o que serve de isca numa armadilha”. E colocada de forma que, ao ser pisada, a armadilha se dispara e o ani­ mal é apanhado. Metaforicamente, skanda­ lon significa aquilo que causa pecado, erro ou ofensa. Para os israelitas, que se apega­ vam à expectativa de um Messias que gover­ naria como um rei terreno e faria de Israel o reino supremo do mundo, a mensagem do Salvador crucificado era ofensiva. O evange­ lho era diretamente contrário ao conceito que

tinham do Messias, portanto, era rejeitado por eles, para sua ruína (ver G1 5:11). A atitude dos judeus para com a ideia de que um cru­ cificado pudesse ser o Messias é ilustrada no Diálogo com Trifo, de Justino Mártir, no qual Trifo diz: “Mas esse Cristo de vocês foi tão vil e ignominioso ao ponto de que a última mal­ dição contida na lei de Deus caiu sobre ele, pois foi crucificado” (32; ANF, vol. 1, p. 210). Para os gentios. Para os que confiavam na lógica, na ciência e nas descobertas inte­ lectuais, a ideia de que alguém condenado à morte pela forma mais humilhante de punição usada pelos romanos, a crucifixão, pudesse salvá-los era completa tolice (ver AA, 245). A dificuldade que a mente filosófica enfrenta para aceitar um crucificado como o Filho de Deus se reflete na seguinte passagem de Justino Mártir: “Pois com que razão deveria­ mos crer que um crucificado seja o primogê­ nito de Deus, e que Ele próprio julgará toda a raça humana, a menos que tivéssemos encon­ trado testemunhos a respeito dEle publicados antes de Ele vir e nascer como homem, e a menos que víssemos que essas coisas aconte­ ceram assim” (Primeira Apologia, 53; ANF, vol. 1, p. 180). Nocap. 13, o mesmo apologista declara: “Eles proclamam que nossa loucura consiste nisso: o fato de darmos a um cruci­ ficado o segundo lugar depois do Deus imu­ tável e eterno” (ibid, p. 167). 24. Chamados. Para esses, o chamado não só já foi feito; também foi aceito (sobre o significado de “chamados”, ver com. de Rm 8:28, 30). Tanto judeus como gregos. Ver com. de Rm 1:16. Todos os verdadeiros cristãos, independentemente de oportunidades e privilégios nacionais ou culturais, reconhe­ cem Jesus como aquele por meio de quem o poder de Deus é exercido para a salvação. Consideram sábio o plano de Deus para a redenção do ser humano, e que Deus remove todas as barreiras e une pessoas de todas as classes e culturas numa comunidade de amor.

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25. Loucura de Deus. O meio que Deus dispôs para a salvação do ser humano parece loucura para quem está cego pela filosofia humana. A linguagem é figurada. Na realidade, não há loucura ou fraqueza em Deus, mas o modo como Ele lida com o ser humano parece completa insensatez ao coração não regenerado. De fato, os planos de Deus para a restauração do ser humano estão muito mais bem adaptados às neces­ sidades humanas do que todos os esquemas e artifícios do pensador mais brilhante que o mundo pode ter. Fraqueza de Deus. Isto é, aquilo que parece fraco ao ser humano. 26. Reparai. Ou, “contemplai”. Vocação. Ver com. do v. 24. Foram chamados. Estas palavras foram acrescentadas e, caso permaneçam, devem ser compreendidas no sentido de “chama­ dos efetivamente” (ver com. do v. 24). Seria melhor entender a passagem como: “Não há muitos sábios entre vós.” Muitos sábios. Para estabelecer a igreja, Deus não se valeu da sabedoria, riqueza, ou do poder deste mundo. Ele procura ganhar todas as classes, mas a chamada sabedoria deste mundo com frequência leva as pes­ soas a se exaltarem em vez de se humilha­ rem perante Deus. Portanto, não é grande a proporção de ricos segundo o mundo e dos considerados líderes do pensamento popu­ lar que aceitam o evangelho simples de Jesus Cristo. De fato, “o evangelho sempre alcançou seu maior sucesso entre as classes ► humildes” (AA, 461). 27. As coisas loucas. A mente cheia da sabedoria deste mundo fica confusa diante da clara e simples pregação do evan­ gelho por alguém instruído pelo Espírito de Deus, mas com pouca instrução secular. Os judeus ficaram surpresos com a sabe­ doria de Jesus, e perguntaram: “Como sabe este letras, sem ter estudado?” (Jo 7:15). Não podiam entender como alguém que

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não frequentou as escolas dos rabis fosse capaz de apresentar as verdades espirituais. O mesmo se dá hoje. O valor atribuído à instrução se calcula em geral pela quanti­ dade de anos de estudo. A verdadeira ins­ trução é aquela que torna a Palavra de Deus a fonte do saber. Quem obteve tal instrução é humilde, manso e submisso à orientação do Espírito Santo (comparar com Mt 11:25). Coisas fracas. Isto é, as coisas que o mundo considera fracas. 28. Humildes. Do gr. agenês, literal­ mente, “de nenhuma família”, portanto, empregado para descrever alguém sem nome ou reputação. Neste caso, agenês indica os desprezados pela sociedade. Paulo enfatiza que Deus não depende da habilidade ou instrução humana para o cumprimento de Seu propósito: a redenção do ser humano. Instrumentos humildes que se entregam por completo a Deus são usados para mostrar como é vão e impotente confiar na instru­ ção e no poder do mundo. Aquelas que não são. Isto é, coisas que o mundo considera não existentes ou de nenhum valor. 29. Ninguém. Isto é, nenhum ser humano (cf. Mc 13:20; Lc 3:6). Paulo resume o raciocínio dos v. 18 a 28 declarando que nenhuma classe de pessoas, ricas ou pobres, poderosas ou humildes, instruídas ou não, tem motivo para se gloriar perante Deus. Vanglorie. O tempo do verbo grego indica que não pode haver qualquer jactância. 30. Dele. Isto é, de Deus. A vida per­ tence a Deus (At 17:25, 28). Em Cristo Jesus. E a união com Cristo que torna os cristãos fortes e sábios. Eles não buscam posições honrosas, riqueza, honra ou poder para si mesmos. Deus, por meio de Jesus Cristo, supre todas as coisas. Muito embora o ser humano não reconheça, Cristo é quem provê tudo o que se possui. Todo o necessário para resgatar o ser humano da degradação em que se afundou, como resultado do pecado,

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA 31. Glorie-se no Senhor. Citação abre­ viada de Jeremias 9:23 e 24. Não há motivo para exaltação ou jactância em nenhuma conquista humana. A única coisa pela qual o ser humano pode encontrar justifica­ tiva para se gloriar é no fato de conhecer o Senhor Jesus Cristo como seu salvador pes­ soal. A maravilha do amor e da sabedoria de Deus, revelada em Cristo, é fonte con­ tínua de louvor e regozijo, diante da qual toda sabedoria e proeza humanas se per­ dem em total insignificância.

se encontra em Jesus, em quem habita “toda a plenitude da Divindade” (Cl 2:9; cf. PJ, 115). Por meio de Jesus, nos tornamos sábios, jus­ tos, santos e remidos. Sabedoria. Ver com. de Rm 11:33. Justiça. Pela fé, a justiça de Cristo é imputada e concedida ao crente arrepen­ dido (ver com. de Rm 1:17; 4:3). Santificação. Do gr. hagiasmos (ver com. de Rm 6:19). Redenção. Do gr. apolutrõsis (ver com. de Rm 3:24).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

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I -AA, 127 1- 31 - FEC, 352; TM, 481 2- 7 - San, 85 4 - DTN, 510 4- 7 - PE, 143 5- 8 - AA, 301 7-FEC, 218; T4, 447, 608 10-San, 85; Ti, 210, 324, 332; T3, 446; T4, 19; T5, 236; T6, 65; T8, 167, 251 10, 11 - AA, 302; T5, 65 II - AA, 300; T6, 684 12-T6, 401 12, 13 - AA, 280 ► 17 - AA, 127 17-21 - FEC, 196

18-AA, 240; TI, 525; T4, 585 18, 19-AA, 241; CPPE, 447; FEC, 415; MJ, 191; T2, 495 18-24 - T8, 167 18- 29-OP, 79 19- LS, 329 19-21 - CPPE, 417; FEC, 359 19-24-FEC, 332 21 - AA, 242; FEC, 361; TM, 152; T5, 300, 737; T6, 32; T8, 257 23-AA, 245; MCH, 219 23-25 -T6, 142 23-31 - TM, 481

24-

AA, 594; CES, 124; FEC, 262, 408; T8, 194 25CPPE, 447; FEC, 415; GC, 232; MJ, 191 26AA, 461; Ev, 565 26-28 - PJ, 79 26-29 - AA, 127; T2, 495 26- 31 - FEC, 352, 473 27 - T7, 267 27, 28-AA, 241; TM, 172 27- 29 - T4, 378 30-AA, 530; CE, 49; PJ, 43, 115; CPPE, 371, 435; TM, 80; T6, 147, 160, 257; T7, 272 30, 31 - CPPE, 447; OP, 80; FEC, 415; MJ, 191

Capítulo 2 I

A -pregação de Paulo não exibe ostentação de linguagem nem 4 de sabedoria. 4, 5 Consiste no poder de Deus que supera 6 a sabedoria do mundo e 9 os sentidos humanos. 14 Só o Espírito faz compreendê-la.

1 Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação dc linguagem ou de sabedoria.

2 Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. 3 E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós.

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1 CORÍNTIOS 4 A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedo­ ria, mas em demonstração do Espírito e de poder, 5 para que a vossa fé não se apoiasse em sa­ bedoria humana, e sim no poder de Deus. 6 Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada; 7 mas falamos a sabedoria de Deus em mis­ tério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória; 8 sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória; 9 mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam. 10 Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perseruta, até mesmo as profundezas de Deus.

1. Quando fui. Paulo fala de sua che­ gada a Corinto e do início de seu ministério ali (ver At 18:1-18). Desde então haviam se passado cerca de três anos. Testemunho. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a variante “mistério” (NVI; sobre a palavra “mistério”, ver com. de Rm 11:25; cf. Ef 6:19; Cl 2:2; Ap 10:7). O evangelho mostra as obras de Deus para resgatar o ser humano do pecado e restaurálo à harmonia com Ele. E o registro da evi­ dência dada por Deus, na vida de Cristo, de Seu amor pelo ser humano. Ostentação de linguagem. Paulo não tentou ganhar as pessoas por meio de retóSkrica ou oratória. Tampouco se apoiou na “sabedoria”, isto é, filosofia, para provar a verdade do evangelho (ver com. de ICo 1:1719). Os coríntios não tinham conhecimento das obras divinas. Foi necessário que Paulo

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11 Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. 12 Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. 13 Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensina­ das pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. 14 Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. 15 Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém. 16 Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo.

instruísse os novos conversos nos rudimentos do evangelho. Uma oratória humanamente sofisticada era inadequada para esse fim. 2. Decidi. Do gr. krinõ, denota um ato consciente da vontade. Neste caso, significa “resolver”, “tomar uma decisão”. A decisão de Paulo quanto ao método de trabalho não foi uma ideia do momento, mas um plano ela­ borado antes de ir a Corinto. Em Atenas, o apóstolo tinha usado argumentação e filoso­ fia erudita para combater a idolatria pagã dos gregos. Seus esforços tiveram pouco êxito. Ao relembrar sua experiência em Atenas, deci­ diu adotar um método diferente de pregação em Corinto. Planejou evitar debates próprios de um erudito e argumentos detalhados, mas apresentar a simples história de Jesus e Sua morte expiatória (ver AA, 244). Senão a Jesus Cristo e este cruci­ ficado. Paulo pregou Cristo crucificado a

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2:3

COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA a conversão de muitos coríntios, do paga­ nismo a Cristo (ver At 18:8). O ladrão se tornou honesto; o preguiçoso, trabalhador; o libertino, puro; o bêbado, sóbrio; o cruel, amável e gentil; e o miserável, feliz. Brigas e discórdias deram lugar a paz e harmo­ nia. Essas evidências do poder do evange­ lho de Jesus Cristo podiam ser observadas por todos, portanto, eram inegáveis. O evan­ gelho continua dando esse tipo de prova de sua origem divina através dos séculos. Cada crente convertido dá essa demonstração; e cada situação em que o evangelho produz paz, alegria, esperança e amor mostra que Deus é a fonte da mensagem. 5. Vossa fé. Paulo desejava que os coríntios confiassem no poder de Deus para mudar vidas. Ele não queria levá-los a deposi­ tar a confiança em nenhuma forma de poder humano. Em seus esforços, ele tinha evitado o uso de filosofias para convencer os ouvin­ tes da verdade do evangelho. Buscou esconder-se em Jesus a fim de que a fé dos crentes estivesse alicerçada no Salvador. Não é pela vontade ou os esforços humanos que alguém é levado a se entregar ao Senhor, mas pelo poder persuasivo do Espírito Santo. 6. Entretanto. Isto introduz a segunda seção da argumentação do cap. 2, no qual Paulo mostra que somente a mente subme­ tida ao Espírito Santo pode entender e apre­ ciar o evangelho. Embora Paulo não tivesse abordado os coríntios com ostentação de linguagem ou de sabedoria, levou-lhes um tesouro de verdadeira sabedoria. Experimentados. Do gr. teleioi, “cres­ cido”, “maduro” (ver com. de Mt 5:48). Paulo descreve os cristãos maduros (ver Ef 4:13, 14, contrastando a “perfeita varonilidade” (teleios) com “menino”; comparar com Fp 3:15, em que fala de si mesmo e de outros como “perfeitos” [teleioi]; em Hb 5:14, teleioi é traduzido como “adultos”). O cristão deve crescer no conhecimento da verdade e não continuar se alimentando de “leite”

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despeito de que a ideia de um Salvador cru­ cificado fosse uma ofensa tanto a judeus quanto a gregos (ver com. de ICo 1:23). 3. Grande tremor. Paulo estava ciente de suas limitações e debilidades (ver 2Co 10:1, 10; 11:30; 12:5, 9, 10). Preocupava-se com o êxito da missão em Corinto, pois sabia que tinha muitos inimigos na cidade (ver At 18:6). Porem, Deus tinha lhe assegurado que sua obra teria êxito e que ele não tinha nada a temer (ver At 18:9, 10). O apóstolo também desejava que sua obra não ficasse marcada por características meramente humanas. O ministro de Deus deve estar ciente de suas limitações e fraquezas. Tal atitude o leva a confiar em Deus em busca de força e sabedoria. “Nossa grande força está em com­ preender e sentir nossa fraqueza” (T5, 70). Eu estive. Literalmente, “eu me tornei”, no sentido de “eu vim [a vós]”. 4. Pregação. Do gr. ksrugma (ver com. de 1 Co 1:21). Linguagem persuasiva. Literalmente, “com palavras persuasivas”. Paulo não con­ fiava no poder persuasivo do raciocínio humano, nem em debates, nem buscava encantar e cativar os ouvintes com o estilo de filosofia sutil que tanto atraía os gregos. Humana (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão desta palavra. O significado da passagem não é alterado. Demonstração. Do gr. apodeixis, “expo­ sição”, “prova segura”, “evidência”, “demons­ tração”. A prova de que a mensagem que Paulo pregava era de origem divina não se estava na argumentação hábil, mas na evi­ dência, ou “demonstração”, do Espírito Santo. A obra do apóstolo em Corinto foi acompa­ nhada, bem como em outros lugares, de milagres (2Co 12:12; cf. At 14:3). Os dons do Espírito Santo foram ricamente concedidos à igreja (ver ICo 1:5-7; cf. ICo 14). A pre­ sença dos dons do Espírito na igreja era uma demonstração da verdade do evangelho pre­ gado por Paulo. Mas o maior milagre foi

1 CORÍNTIOS

viria como um rei terreno para fazer de Israel a nação dominante no mundo levou os judeus a rejeitar o Salvador. Do mesmo modo hoje, crenças errôneas e tradições cegam os olhos das pessoas para a verdade do segundo advento de Cristo. Além disso, os falsos ensinamentos da teologia popu­ lar sobre a natureza de Deus fazem com que muitos rejeitem o cristianismo e se tor­ nem agnósticos ou mesmo incrédulos (ver T5, 710). Senhor da glória. Comparar com At 7:2; Ef 1:17; Tg 2:1. Cristo é descrito como “Senhor da glória” em contraste com a igno­ mínia da cruz (ver com. de Jo 1:14; sobre gló­ ria, ver com. de Rm 3:23). 9. Mas. Do gr. alia, conjunção adversativa. Embora pessoas não convertidas não compreendam a “sabedoria de Deus em mistério” (v. 7), o Senhor fez uma revela­ ção maravilhosa de Sua sabedoria àqueles que O amam. As riquezas da graça divina não são discernidas pelos não convertidos, mas o cristão vê as coisas belas deste mundo « como uma expressão do amor de Deus e uma garantia da restauração de todas as coisas. Escrito. Citação de Isaías 64:4. Nem olhos viram. O texto diz, literal­ mente: “As coisas que olho não viu e ouvido não ouviu, e não vieram sobre o coração do homem, é o que Deus preparou para aqueles que O amam.” Os aspectos físicos da exis­ tência são percebidos pelos sentidos e usados para se adquirir conhecimento das coisas ao redor. O fato de o olho nem o ouvido pode­ rem entender as coisas de Deus prova que são necessárias outras faculdades além dos sentidos físicos para se entenderem as ver­ dades espirituais (v. 10). Coração. Do gr. kardia, palavra que se refere ao centro das faculdades huma­ nas (ver com. de Rm 1:21). A realidade dos reinos da graça e da glória não pode ser entendida pelos sentidos ou pelo inte­ lecto. Mas, por meio do conhecimento que

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espiritual (Hb 5:12, 13). O próprio Jesus sugere que a apresentação da doutrina devia ser adaptada aos diferentes estágios do cres­ cimento cristão (ver Jo 16:12). Paulo relembra aos coríntios que estava instruindo os que já tinham aprendido os rudimentos do cris­ tianismo e deviam ser capazes de apreciar as verdades mais profundas (ver ICo 3:1-3). Sabedoria deste século. Ver com. de ICo 1:21, 22. Poderosos desta época. Identificados no v. 8 como os que crucificaram Jesus. Reduzem a nada. O verbo grego indica que isso está para ocorrer. Os poderosos deste mundo, apesar de toda sua cultura e conquistas, mostram constantemente que não são dignos de confiança no reino espiri­ tual. A luz da sabedoria ensinada por Cristo, eles são ignorantes e fracos. 7. Sabedoria de Deus. Neste caso, a sabedoria de Deus conforme revelada no plano da salvação. Mistério. Do gr. mustõrion (ver com. de Rm 11:25). O plano da salvação, formulado antes da criação do mundo (ver DTN, 22; 63) e anunciado e posto cm prática por Deus quando Adão pecou (ver PP, 64-66), era um grande mistério para o universo. Os anjos não podiam compreendê-lo plenamente (ver lPe 1:12; GC, 415). Os profetas, que escreve­ ram sobre isso, entendiam apenas em parte as mensagens que transmitiam a respeito da salvação por meio de Cristo (lPe 1:10, 11). O ser humano não é capaz de compreen­ der a sabedoria de Deus porque é direta­ mente contrária à filosofia de vida mundana. Mesmo o crente consagrado é incapaz de entender plenamente o plano da salvação (ver Rm 11:33-36). Glória. Ver com. de Rm 3:23. 8. Nenhum [...] conheceu. Devido à falsa interpretação das profecias do AT sobre o Messias, os judeus não reconhece­ ram Jesus de Nazaré como o Libertador pro­ metido. A crença popular de que o Messias

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Deus confere, as pessoas podem obter com­ preensão cada vez mais ampla da verdade da salvação. Por si mesmo, o ser humano é incapaz de perceber ou valorizar as bên­ çãos do evangelho. A experiência do não convertido não se pode comparar com a paz que enche o coração do pecador que se entrega a Cristo e recebe a certeza do perdão de Deus. O que. Tudo o que Deus tem planejado para Seu povo está incluído nesta expressão. Na aplicação imediata, a declaração trata do que é provido pelo evangelho para o bemestar e felicidade do povo de Deus nesta Terra. Isso inclui perdão de pecados, jus­ tificação e santificação, alegria e paz que a graça de Deus confere ao crente, e seu livramento deste mundo. Por extensão, a declaração também compreende a maravi­ lha, beleza e alegria do reino da glória, o lar eterno dos salvos. Todo esse conhecimento está além de tudo que o ser humano conhece neste mundo (ver com. de Is 64:4). Preparado. Comparar com Mt 20:23; 25:34. 10. Deus no-lo revelou. Deus plane­ jou uma revelação contínua da verdade a Seu povo (ver T5, 703). A compreensão das coi­ sas de Deus é dada àqueles que O amam e apreciam o que Ele é e tudo o que tem feito por eles. E provida aos que buscam a verdade como a um tesouro escondido. Pelo Espírito. A terceira pessoa da divindade proporciona a compreensão da ver­ dade à humanidade (ver com. de Jo 14:16). A contínua aquisição do conhecimento espi­ ritual só é possível àqueles que se submetem voluntariamente à direção e iluminação do Espírito Santo (ver Rm 8:5, 14, 16). Perscruta. Como membro da divin­ dade, o Espírito Santo sabe todas as coisas. Ele perscruta, não a fim de descobrir algo que desconhecia previamente, mas para tra­ zer à luz os conselhos escondidos de Deus. E obra do Espírito trazer as coisas de Deus à

lembrança de Seu povo e guiá-lo na investi­ gação da verdade (jo 16:13, 14). Esta passagem mostra que o Espírito Santo não é uma força impessoal. Perscrutar é um atributo da personalidade que envolve pensamento e ação. O Espírito conhece e entende todos os planos e conselhos de Deus. Eis uma clara prova da onisciência e, por conseguinte, da divindade. 11. O seu próprio espírito. Os pensa­ mentos, desejos, intenções e planos particula­ res de um pessoa são plenamente conhecidos e compreendidos apenas por ela mesma. Nenhum amigo pode conhecê-los a menos que a própria pessoa escolha revelá-los. Mesmo quando ele decide revelar os pen­ samentos e planos a outros, estes só podem saber e entender o que lhes for revelado. Ninguém. Inclui seres humanos e anjos. 12. Espírito do mundo. Esta expressão pode ser paralela à “sabedoria deste século” (v. 6). Nesse caso, o mundo é representado como possuindo um espírito cuja natureza é essencialmente má. O “espírito do mundo” se opõe ao Espírito de Deus. Quem o possui não tem prazer nas coisas celestiais, mas se concentra nas coisas temporárias desta vida. Espírito que vem de Deus. Ou, “Espírito que é de Deus”. A referência é ao Espírito Santo. *► semelhante e, no contexto, transmitem a ideia de consagrar o pão por meio da ação de graças pelo amor e a misericórdia de Deus. Partiu. Jesus partiu o que, daquela hora em diante “até que Ele venha” (v. 26) seria um símbolo de tudo o que Seu sofrimento expia­ tório significa para a raça humana. O ato de partir o pão indicava o sofrimento pelo qual estava prestes a passar em nosso favor. Isto é o Meu corpo. Sobre esta figura de linguagem, ver com. de Mt 26:26. O sig­ nificado espiritual de compartilhar do pão deve ser compreendido a partir do contexto do estado original de perfeição do homem, sua queda e sua redenção por meio de Jesus Cristo. O homem foi originalmente criado à imagem de Deus, tanto na forma quanto no caráter; sua mente estava em harmonia com a mente de Deus (ver Gn 1:26, 27; PP, 45). Ele mantinha comunhão com Deus e com os anjos e se alimentava do fruto da árvore da vida (ver Gn 2:15, 16; PP, 47, 50). Mas, ao pecar, tudo isso mudou. Ele perdeu o privi­ légio da comunhão com Deus, e em vez de estar em harmonia com a mente divina, sua mente se perverteu, e o temor tomou o lugar do amor (ver Gn 3:8, 10, 12; Is 59:2; Jr 17:9). Deixado a si mesmo, o ser humano não pode encontrar o caminho de volta para Deus e para a felicidade; não pode escapar das garras de Satanás, e está destinado à morte eterna (ver Jr 13:23; PP, 62). Em sua infinita miseri­ córdia, Deus Se revelou ao mundo por meio de Seu Filho e possibilitou a restauração de

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Sua imagem no ser humano (ver SI 2:7, 12; 40:7; Jo 14:9-11; 2Co 5:19). Em Sua sabedoria, o Pai escolheu falar à humanidade por meio do Filho, por isso o Filho é chamado de o Verbo de Deus (ver Jo 1:1-3, 14; DTN, 19, 22, 23). É por meio do estudo e da assimilação da Palavra de Deus que os crentes mantêm comunhão com o Céu e podem ter vida espiritual. A assimi­ lação de Suas palavras é descrita por Jesus de forma simbólica no ato de comer o pão, Seu corpo, e beber do vinho, Seu sangue (ver Jo 6:47, 48, 51, 54-58, 63; DTN, 660, 661). O pão partido da Ceia significa a mara­ vilhosa verdade de que, assim como o ser humano obtém vida física de Deus, que é a fonte da vida, também o pecador arrepen­ dido obtém vida espiritual de Jesus, a Palavra de Deus. O alimento material é provido a todos pelo poder e pela graça de Deus. O ali­ mento físico assimilado pelo corpo é trans­ formado por meio da digestão em tecidos do cérebro, músculo, nervo e osso; e tornase a pessoa em si. Assim, o ser humano, fisicamente, é aquilo que come. Da mesma forma, aqueles que assimilam a Palavra de Deus e vivem em conformidade com ela pelo poder de Deus são transformados. O rebelde que vivia em contínua oposição a Deus e, portanto, buscava os próprios interesses, se transforma num filho de Deus obediente, cujo propósito é refletir a imagem de seu Criador (ver DTN, 660). Essa experiência preciosa é possível ao ser humano somente mediante o sacrifício de Cristo. E dado. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a omissão deste verbo. Em memória de Mim. Esta frase indica que Cristo não estaria presente quando os discípulos comessem a Ceia posterior­ mente. A fim de incutir nos seres huma­ nos a natureza terrível da desobediência, Deus ordenou aos hebreus o sacrifício de animais. Mas os sacrifícios não podiam, por si só, mudar o caráter do pecador que

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fazia o sacrifício; podiam apenas apontarlhe o Redentor que viria e que faria, com Seu próprio corpo, o grande sacrifício pelo qual o ser humano pudesse se reconciliar com Deus. A Ceia do Senhor, que subs­ tituiu a Páscoa como memorial do livra­ mento da escravidão do Egito, foi dada não como um sacrifício, mas para relembrar ao cristão de forma vivida tudo que foi alcan­ çado para ele pelo único e grande sacri­ fício do Filho de Deus (ver Hb 9:25-28; 10:3-12, 14). O sacrifício de Cristo foi perfeito; por­ tanto, foi oferecido apenas uma vez. Mas, para torná-lo eficaz a todos que buscam o perdão do pecado, Jesus tornou-Se o sumo sacerdote no Céu depois da ascensão. Ali, apresenta os méritos do sacrifício de Seu próprio corpo em favor dos pecadores arre­ pendidos, “até que Ele venha” (ICo 11:26; Hb 4:14-16; 7:24, 25; 8:1, 6; 9:11, 12, 14, 24). Assim como o Salvador ministra em nosso ► favor no Céu, diante do Pai pelos méritos de Seu sacrifício, Ele exorta Seu povo na Terra a observar o rito que mantém diante deles o mistério da expiação. 25. Por semelhante modo. Isto é, com a mesma solenidade e propósito, e para ensi­ nar a mesma grande verdade. Estas palavras também indicam que o Senhor deu graças antes de convidar os discípulos a beberem do vinho (ver Mt 26:27; Mc 14:23; Lc 22:17). Depois de haver ceado. E impossí­ vel determinar em que ponto no ritual da Páscoa o novo rito foi introduzido (ver com. de Jo 13:2). Era para ser um rito completamcntc novo, não uma continuidade da cele­ bração pascal, cujo significado veio ao fim quando Cristo morreu. O cálice. O vinho da Páscoa não fer­ mentado (ver com. de Mt 26:27). Aliança. Do gr. âiathêkê, “pacto”, “acordo”, “arranjo”. Neste caso, âiathêkê se refere ao acordo que Deus fez com o ser humano, por meio do qual, por causa da

reconciliação obtida pela morte sacrifical de Cristo, Deus provê a vida eterna a todos que creem (ver Jo 3:16, 36; 5:24; IJo 5:12). Este pacto para a salvação do ser humano estava vigente antes de Jesus vir à Terra, pois Abraão, entre outros, foi salvo pela fé no Redentor prometido (Rm 4:3, 16-22; Hb 11:39, 40). Como, então, poderia esta ser chamada de nova aliança? Não era “nova” em relação ao tempo, mas por causa de sua ratificação pelo sangue de Cristo (sobre a relação entre a nova aliança e a antiga, ver com. de Ez 16:60). No Meu sangue. Na época do AT, era costume ratificar ou selar acordos entre duas partes mediante o sacrifício de um animal. Em alguns casos o animal era cortado em pedaços e os envolvidos na aliança anda­ vam entre as partes do animal, simbolizando com isso seu voto de fidelidade aos termos da aliança (Gn 15:9-18; Jr 34:18, 19). A antiga aliança entre Deus e Israel foi confirmada pelo sangue de animais (Ex 24:3-8). A nova aliança entre Deus e o ser humano, baseada totalmente nas promessas divinas, foi rati­ ficada pelo sangue de Jesus (ver Hb 10:12, 14, 16, 20; PP, 371). O pecador que se arre­ pende e aceita o plano divino para sua reden­ ção entra na nova aliança e testifica de sua aceitação desse plano ao beber do vinho da comunhão, símbolo do sangue de Cristo que ratificou a aliança. Todas as vezes. Deus definiu o tempo e a frequência para a observância da Páscoa (Ex 12:1-20), mas não para a Ceia do Senhor, cuja frequência de celebração é deixada à escolha dos crentes. E natural que aque­ les que amam ao Senhor e são cientes de sua grande necessidade dEle, em todos os momentos, se sentirão felizes em participar do rito com frequência. Em memória de Mim. E essencial que o grande sacrifício do Calvário, com todas as suas implicações, nunca esteja ausente do pensamento de todos que valorizam a

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1 CORÍNTIOS vida eterna. O estudo da ciência da salva­ ção ocupará a atenção dos remidos por toda a eternidade. Cristãos verdadeiros deseja­ rão meditar sempre nesse tema inesgotável enquanto esperam pela volta do Senhor (ver Ed, 126; DTN, 659). 26. Todas as vezes. Ver com. do v. 25. Anunciais. Do gr. kataggellõ, “procla­ mar”, “declarar”. Ao participar do rito da Ceia do Senhor, os cristãos proclamam ao mundo sua fé na obra expiatória de Cristo e em Sua segunda vinda. As palavras do Salvador: “até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco no reino de Meu Pai” (Mt 26:29) encorajam Seus seguidores a desejar ansiosamente, em meio às provas e dificuldades, o glorioso dia quando Ele voltará para levar Seu povo deste mundo de pecado para a morada de paz e eterna felicidade (ver DTN, 659). Essa declaração sobre anunciar, ou proclamar, a morte do Senhor sugere que o rito não deve ser obser­ vado em segredo. Sua observância pública, com frequência, causa profunda impressão em quem a testemunha. De acordo com este versículo, é óbvio que todos os crentes devem comer o pão e tomar o vinho no rito da comunhão. Nenhum ele­ mento é exclusivo dos oficiantes. Ao comer e beber os emblemas do pão e do vinho, os crentes declaram sua fé na plena reconci­ liação efetuada pelo corpo quebrantado e 3* pelo sangue vertido dc Cristo, e em Seu retorno a este mundo para receber Seu povo (Jo 14:1-3). O rito deve ser observado enquanto durar esse tempo, por todos os que creem. A observância cessará somente quando todos os crentes virem Jesus face a face. Então, não haverá necessidade de nada que os relembre d Ele, pois todos O verão como Ele é (ljo 3:2; Ap 22:4). Os sacrifícios oferecidos no tabernáculo dos dias de Moisés e, mais tarde, no templo em Jerusalém apon­ tavam para a morte de Jesus ao longo dos séculos, até que Cristo veio pela primeira vez.

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Da mesma forma, a celebração da Ceia do Senhor declara que Ele pagou o preço pelos pecados da humanidade e continuará a declarar isso “até que Ele venha” pela segunda vez. 27. Por isso. Em vista do que foi dito sobre o propósito da Ceia do Senhor. Indignamente. Ou, sem a devida reve­ rência pelo Senhor, cujo sofrimento e sacrifí­ cio estão sendo lembrados. Pode-se dizer que a indignidade consiste na conduta imprópria (ver v. 21) ou na falta de fé vital e ativa no sacrifício expiatório de Cristo. Réu. Os que ignoram a dívida incalculá­ vel que têm para com o Salvador e que tra­ tam com indiferença o rito designado para relembrar aos crentes a morte de Cristo, são culpados de desrespeito para com Ele. Essa atitude se assemelha com a dos que condena­ ram e crucificaram o Senhor. Tal atitude na Ceia do Senhor deve ser considerada como rejeição do próprio Senhor, portanto, quem a mantém compartilha da culpa daqueles que O crucificaram. 28. Examine-se. Antes de participar da Ceia do Senhor, a pessoa deve rever sua experiência cristã e certificar-se de estar pronta para receber as bênçãos que esse rito proporciona a todos que estão em rela­ cionamento com Deus. Deve refletir se, dia a dia, tem experimentado a morte para o pecado e o novo nascimento para o Senhor, se está ganhando a batalha contra os peca­ dos que o afligem e se sua atitude para com o próximo está correta. Palavras, pensamen­ tos e ações devem ser inspecionados, bem como hábitos de devoção pessoal e tudo que influencie no progresso em direção a um caráter que reflita a imagem de Jesus (ver 2Co 13:5; G1 6:4). O autoexame e o desviar-se de tudo que é contrário à vontade de Deus é um exercício que os cristãos devem fazer todos os dias (ver Lc 9:23; ICo 15:31; T7, 252). A Ceia do Senhor representa uma oca­ sião especial para a declaração pública de

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novas resoluções. O rito do lava-pés deve auxiliar o crente nessa preparação espiri­ tual (ver com. de Jo 13:4-17). Assim. Depois de cuidadoso exame da vida e do relacionamento com o Senhor, o cristão deve se aproximar da mesa da Ceia com gratidão por tudo o que o Salvador cru­ cificado significa para ele. 29. Indignamente (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam a omissão desta palavra. Se omitida, o sentido da passagem é: “pois quem come e bebe e não discerne o corpo”. Discernir. Do gr. diakrinõ, “distinguir”, “discriminar”. Neste caso, o sentido é de que os coríntios não distinguiam entre uma refei­ ção comum e os emblemas consagrados do rito. Eles não faziam diferença entre o ali­ mento regular e aqueles preparados para relembrá-los da morte expiatória de Cristo. Há grande diferença entre ritos memoriais de eventos comuns e o memorial do evento pelo qual se tornou possível a restauração do pecador. Os cristãos não devem conside­ rar a Ceia como uma cerimônia meramente comemorativa de um acontecimento his­ tórico. E muito mais. E uma renovação da consciência do que o pecado custou a Deus e da dívida que o ser humano tem para com o Salvador. E também um meio de manter vivo na mente do discípulo o dever de tes­ temunhar de sua fé na morte expiatória do Filho de Deus (ver DTN, 656). Juízo. Do gr. krima, não necessaria­ mente a punição futura e final do ímpio. Ao participar de forma imprópria da Ceia do Senhor, a pessoa se expõe ao desagrado de Deus e à punição, tal como a mencionada nos v. 30 e 32. t» 30. Fracos e doentes. Em geral, acredita-se que estes adjetivos descrevam doença física e sofrimento. Pode ser que a intemperança e a glutonaria associadas aos ban­ quetes que precediam a Ceia em Corinto fossem fatores que contribuíssem para os

males mencionados. Pecado é desobediên­ cia e produz sofrimento e morte. Dormem. Do gr. koimaomai, pala­ vra usada nas Escrituras com frequência para indicar morte (Jo 11:11, 12; At 7:60; ICo 7:39; 15:51; lTs 4:13-15). Embriaguez e glutonaria têm sua própria recompensa, que é doença e morte. A intemperança dos crentes coríntios nas refeições da amizade deve ter sido de natureza tal a merecer essa advertência. Mas ela pode se aplicar a todos os casos em que se cometa excesso seme­ lhante. No entanto, ela não pode ser sepa­ rada do tema da observância da Ceia do Senhor. A pessoa que, por conduta descui­ dada na Ceia, mostra desrespeito pelos sofri­ mentos de Cristo perde as bênçãos que Deus deseja que receba. Essa mesma pessoa é pro­ pensa a ser descuidada em outros manda­ mentos divinos, o que atrai sofrimento sobre si mesma e até a morte. 31. Julgássemos. Do gr. diakrinõ, “dis­ cernir”, “discriminar”. E traduzido como “discernir”, no v. 29. A palavra indica autoexame, um diagnóstico da própria condição espiritual à luz da norma divina. Se exami­ nassem estritamente suas atitudes e con­ duta e participassem do rito com a devida reverência, os coríntios não seriam conde­ nados por Deus. Não seríamos julgados. Isto é, por Deus. Um autoexame adequado poderia salvar os coríntios do juízo divino. A expe­ riência deles está registrada para nosso aprendizado. Se os cristãos se lembrarem dessa experiência da igreja de Corinto e forem criteriosos no exame de seus pen­ samentos, sentimentos e motivações, serão muito mais abençoados ao participar do rito e evitarão desagradar a Deus. 32. Julgados. Os sofrimentos que o Senhor permitiu aos coríntios por causa da forma descuidada com que celebravam a Ceia foram um meio misericordioso de lidar com suas falhas. A disciplina tinha o propósito

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1 CORÍNTIOS

da igreja, a Ceia do Senhor, não deve haver qualquer traço de orgulho, egoísmo, glutonaria e intemperança. A mente deve estar vol­ tada para Cristo e Seu sacrifício, e não se deve dar lugar ao coração natural. 34. Fome. Isto se refere ao desejo físico por alimento, não o anseio espiritual pelo pão da vida. A Ceia do Senhor não tem o obje­ tivo de satisfazer a fome física. Seu propósito é ser um memorial do maior e mais solene evento, e não um banquete. As instruções dadas neste capítulo, quando seguidas cui­ dadosamente, fazem da Ceia do Senhor um serviço cheio de consolo e santa alegria (ver DTN, 660, 661). ■< Quanto às demais coisas. Podia haver outros assuntos sobre os quais os coríntios queriam saber, questões que Paulo enten­ deu que podiam ser tratadas quando fosse a Corinto. Esta declaração mostra que ele pla­ nejava visitar Corinto novamente, o que de fato o fez, mas não antes de escrever outra epístola (ver p. 89-92, 903, 904). Este capítulo enfatiza a necessidade de se exercer cuidado com tudo o que está rela­ cionado à adoração a Deus. Os adoradores devem se aproximar de Deus com motivações corretas e consciência pura, e com o objetivo de glorificá-Lo e receber as bênçãos que Ele deseja conceder (ver SI 24:3-5; 29:2; 95:2, 3, 6; 100:4; Jo 4:23, 24). 766

de salvá-los de contínua transgressão. E melhor ser “disciplinado” pelo Senhor nesta vida, e ser levado a mudar o que não está de acordo com a vontade dEle, do que continuar no pecado e estar para sempre perdido (ver ICo 5:5; lTm 1:20). O sofri­ mento resulta em refinamento e purifi­ cação da vida do verdadeiro crente (ver Hb 12:5-11). Condenados com o mundo. Isto se refere ao juízo final condenatório, do qual não há escapatória. O “mundo” compreende todos os que se recusam a se arrepender de seus pecados, a se humilhar perante Deus e a aceitar Jesus como Salvador. Esses são dig­ nos da morte eterna (ver SI 34:16; Ez 18:24; Ml 4:1, 2; 2Ts 1:8, 9). 33. Esperai. Existem duas opiniões a respeito deste versículo; ambas parecem apropriadas. Alguns creem que a referência seja ao comportamento adequado na refeição da amizade que antecedia a Ceia do Senhor (ver p. 45) na igreja de Corinto. Outros entendem que se refere estritamente ao rito em si. Em ambos os casos, o cuidado é con­ tra a desordem e o egoísmo. Alguns se embe­ bedavam; outros negligenciavam os pobres. Tudo isso era contrário ao espírito de Cristo (ver v. 21, 22). Deus requer ordem e discer­ nimento em tudo o que pertence ao culto a Ele (ver ICo 14:33, 40). Nesse solene rito

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COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE 1 - PP, 719 3 - DTN, 414 7 - Ed, 20

23-26 - DTN, 652; PE, 101, 217 24 - Ev, 273

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26 - DTN, 149, 659 27-29 - DTN, 656 31 - DTN, 314

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Capítulo 12 1 Os dons espirituais são diversos. 7 São para edificação da igreja. 12 Os membros do corpo 16 apoiam, 22 servem e 26 socorrem uns aos outros. 27 Assim deve ser com os membros da igreja, o corpo de Cristo. 1 A respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. 2 Sabeis que, outrora, quando éreis gentios, deixáveis conduzir-vos aos ídolos mudos, segun­ do éreis guiados. 3 Por isso, vos faço compreender que nin­ guém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema, Jesus! Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo. 4 Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. 5 E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. 6 E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo cm todos. 7 A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso. 8 Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria; e a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento; 9 a outro, no mesmo Espírito, a fé; e a outro, no mesmo Espírito, dons de curar; 10 a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um, variedade de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las. 11 Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente. 12 Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo. 13 Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gre­ gos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito. 14 Porque também o corpo não é um só mem­ bro, mas muitos.

15 Se disser o pé: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de ser do corpo. 16 Se o ouvido disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o ser. 17 Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde, o olfato? 18 Mas Deus dispôs os membros, colocan­ do cada um deles no corpo, como lhe aprouve. 19 Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo? 20 O certo é que há muitos membros, mas um só corpo. 21 Não podem os olhos dizer à mão: Não pre­ cisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós. 22 Pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários; 23 e os que nos parecem menos dignos no corpo, a estes damos muito maior honra; tam­ bém os que em nós não são decorosos revesti­ mos de especial honra. 24 Mas os nossos membros nobres não têm necessidade disso. Contudo, Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais honra àquilo que menos tinha, 25 para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cui­ dado, cm favor uns dos outros. 26 De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam. 27 Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individual­ mente, membros desse corpo. 28 A uns estabeleceu Deus na igreja, primei­ ramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, gover­ nos, variedades de línguas.

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I CORÍNTIOS

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outras línguas? Interpretam-nas todos? 31 Entretanto, procurai, com zelo, os melho res dons. E eu passo a mostrar-vos ainda um ca minho sobremodo excelente.

1. A respeito. Este capítulo marca o início de um novo tema, que continua no capítulo 14. O tema são os dons espirituais, sobre os quais havia muita incompreensão. Também é evidente que havia certo abuso dos dons, bem como rivalidade entre os que possuíam vários dons. Dons espirituais. A palavra “dons” foi acrescentada, porém, corretamente, con­ forme o contexto indica. Estes dons foram concedidos à igreja quando Jesus ascendeu aos céus (Ef 4:8, 11). Tinham o objetivo de levar a igreja à unidade e de prepará-la para se encontrar com o Senhor (ver Ef 4:12-15). Pode ser que os coríntios tivessem indagado sobre a grandeza relativa desses dons, e que alguns deles se orgulhassem dos dons que exerciam como se fossem mais importantes do que os concedidos a outros (ver ICo 12:1823). Paulo aproveitou a oportunidade para instruí-los acerca da obra do Espírito no corpo de Cristo, isto é, a igreja. O Espírito Santo sempre esteve com a igreja (ver A A, 37, 53; PP, 593, 594; PJ, 218). Portanto, os dons não foram limitados à época do NT. Isso é evidente porque existiram muitos profetas antes de Cristo. E a vontade e o plano de Deus que a igreja seja capacitada pelos dons até o fim dos tempos (Ef 4:8, 11-13; AA, 54, 55). Todos os dons provêm de Deus; por­ tanto, não há razão para que um cristão se glorie em relação aos demais por ser um ins­ trumento para a manifestação do poder de Deus para benefício da igreja como um todo (ver ICo 12:11). Deve-se observar que os dons do Espírito não são os mesmos que o fruto do Espírito (G1 5:22, 23). Os primeiros compreendem atributos do poder divino concedidos aos

crentes para o cumprimento do propósito de Deus na edificação da igreja. O fruto do Espírito são qualidades de caráter dos membros da igreja que se entregam à dire­ ção do Espírito Santo e são movidos pelo supremo atributo do Espírito, que é o amor (ver ICo 13:13; G1 5:22, 23; AA, 388; PJ, 68, 69; T5, 169; T4, 355). Ignorantes. Paulo ansiava que os corín­ tios não fossem enganados com respeito à verdadeira natureza dos dons espirituais nem do uso correto desses dons na igreja. A neces­ sidade de esclarecimento com respeito ao assunto se devia ao fato de os coríntios serem cristãos recém-convertidos (ver v. 2). Antes, como pagãos, eles não possuíam o conheci­ mento da revelação do verdadeiro Deus e da obra do Espírito Santo. Portanto, não podiam ter opiniões corretas sobre essas novas expe­ riências, a menos que fossem instruídos e aceitassem essa instrução sem reservas. Quando aceitaram o Salvador, eles foram libertados do poder que antes os influen­ ciava, e o poder de Deus tinha sido confir- * mado neles pelos dons do Espírito. 2. Gentios. Do gr. ethnê, termo usado para designar todos que não eram judeus, mas que também adquiriu o sentido de “pagão”, para os cristãos. Neste versículo, esse parece ser o significado. A ideia é que os coríntios tinham sido pagãos, adoradores de ídolos, sem nenhum conhecimento do verda­ deiro Deus, e dados a superstições. Os pode­ res que os conduziam eram das trevas, dos espíritos maus representados pelos deuses falsos aos quais adoravam (ver ICo 10:20). Se tivessem percebido as vantagens que estavam desfrutando desde que aceitaram o cristia­ nismo, eles valorizariam sua condição como

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29 Porventura, são todos apóstolos? Ou, todos profetas? São todos mestres? Ou, operadores de milagres? 30 Têm todos dons de curar? Falam todos em

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA natureza prova que a pessoa que a pronun­ cia definitivamente não é influenciada pelo Espírito Santo. O Espírito de Deus sempre, e sob todas as circunstâncias, honra a Cristo e motiva qualquer pessoa sob Sua influên­ cia a amar e reverenciar o nome de Cristo (ver ljo 4:1-3). Senhor Jesus! Alguém não influenciado pelo Espírito de Deus não reconheceria que Jesus é o Filho de Deus. Isso não nega a possibilidade de que se pronunciem pala­ vras que pareçam reconhecer Cristo como senhor ou salvador, sem a influência do Santo Espírito, pois pessoas más fizeram isso como zombaria. Mas a confissão genuína de que Jesus é o Senhor vem somente dos lábios de alguém dirigido pelo Espírito (cf. Mt 16:16, 17). Os que verdadeiramente hon­ ram o nome e a obra de Jesus provam que são influenciados pelo Espírito Santo. Jamais alguém terá verdadeiro apreço por Cristo, nem amará Seu nome ou Sua obra, a menos que seja dirigido pelo Espírito a perceber a natureza divina do Salvador. Ninguém pode mostrar seu amor pelo nome e pela obra de Cristo seguindo as inclinações e motivações do coração não regenerado. Em todos os casos em que alguém aceita a Cristo, é por meio do Espírito de Deus. A pessoa que fala de Jesus de modo leviano ou desacredita de Sua obra, ou ainda ensina doutrinas contrárias à Sua Palavra, prova « com isso que não é dirigida pelo Espírito (ver DTN, 412). Deve-se orar pela presença do Espírito Santo e aceitá-la. Entristecer o Espírito Santo, recusando-se a seguir Sua direção, é tirar do coração todo verdadeiro conhecimento do Salvador. Isso resulta em frieza, ignorância e morte espiritual (ver Ef 4:30; DTN, 587, 588). 4. Dons. Do gr. charísmata, literalmente, “dons da graça”. Neste caso, a palavra se refere aos dons extraordinários do Espírito Santo que habita e opera nos crentes. A diver­ sidade de dons é dada nos v. 8 a 11.

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seguidores de Cristo. Essa referência à antiga condição de pagãos é usada por Paulo em outros textos para estimular os cristãos a ser gratos pela misericórdia de Deus demons­ trada a eles por meio do evangelho (ver Rm 6:17; Ef 2:11, 12; Tt 3:3). Conduzir-vos. Esta expressão indica que não eram capazes de se controlar, que estavam sendo atraídos ao culto dos ídolos por um poder exterior. Esse poder que atuava sobre suas paixões e apetites para enganálos, levando-os a crer que estavam se benefi­ ciando dos ritos idólatras, quando na verdade eram destruídos. Mudos. Os ídolos para cujos altares e templos eles eram atraídos, fosse para ado­ rar, sacrificar ou consultar, são chamados de “mudos” em contraste com o Deus vivo, que Se revelou por meio do Verbo encar­ nado e que concede dons espirituais que capacitam Seus seguidores a falar em Seu nome. Com frequência, o Senhor chama a atenção para essa característica dos deuses falsos pagãos como um argumento contra a tolice de adorá-los (SI 115:4, 5; 135:15-17; Hc 2:18, 19). Portanto, quaisquer manifestações sobrenaturais ou vozes provinham de pode­ res demoníacos e não dos ídolos ou deuses representados por eles. 3. Por isso. Os coríntios precisavam formar uma opinião correta sobre a obra do Espírito Santo; em particular, sobre pala­ vras ou vozes que afirmavam ser do Espírito. Para isso, Paulo lhes deu uma regra pela qual pudessem distinguir o falso do verdadeiro. Anátema. Do gr. anathema, “devotado à destruição” (ver com. de Rm 9:3). Eis uma regra simples mediante a qual se pode saber se alguém que se diz estar sob a influência do Espírito Santo é realmente dirigido por Ele. Quem está sob a direção do Espírito Santo não dirá que Cristo é amaldiçoado ou que merece destruição. E impossível que alguém inspirado pelo Espírito rebaixe a Jesus, em vez de exaltá-Lo. Qualquer afirmação desta

1 CORÍNTIOS O Espírito é o mesmo. Os diferen­ tes modos de atuação dos dons são produ­ zidos e controlados pelo Espírito Santo (ver v. 8 a 11). A finalidade de Paulo ao se refe­ rir aos diferentes dons era mostrar aos coríntios que, visto que todos os dons são dados pelo mesmo Espírito e têm o mesmo propó­ sito, nenhum deve ser desprezado ou con­ siderado menos importante. Ninguém que receba determinado dom do Espírito deve olhar com desprezo para outro crente por não ter sido favorecido do mesmo modo. A distri­ buição que Deus faz dos dons deve ser aceita com gratidão, e o devido reconhecimento deve ser dado Àquele que concede esses atri­ butos, e não a quem os recebe como se fosse superior a seus irmãos. 5. Serviços. Do gr. diakoniai, “ministrações”, “serviços” (ver Rm 15:31). Com frequência, a palavra é traduzida como “ministério” (ver At 1:17, 25; 6:4; 20:24; Rm 12:7; ITm 1:12). Existem diferentes tipos de serviços na igreja, mas todos são contro­ lados por um único Senhor. Senhor. No NT, em geral, este termo se refere a Cristo. E um dos nomes pelos quais Ele é conhecido pelos discípulos (Jo 20:25). O propósito deste versículo parece ser o de estabelecer que as variadas formas de minis­ tério na igreja se originaram em Cristo. Por causa disso e por causa de todos os tipos de ministrações necessárias, ninguém deve se orgulhar de sua posição na igreja nem se sen­ tir desapontado por ter sido designado a uma função considerada humilde (cf. iVlt 23:8; lPe 5:2, 3). 6. Realizações. Do gr. energêmata, “funcionamento”, de energeõ, “estar no tra­ balho”, “estar em ação”, “operar”. A palavra “energia” vem dessa raiz. No NT, energêmata ocorre apenas neste e no v. 10. A palavra tal­ vez se relira ao poder divino que dá energia à igreja e talvez a toda a natureza. O mesmo Deus. Após ter apresentado o Espírito e o Filho nos v. 4 e 5, Paulo completa

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a menção das três pessoas da Divindade refe­ rindo-se ao Pai como o originador e sustentador dos dons e poderes espirituais providos para o cumprimento da missão da igreja. Existem diferentes “dons”, “ministérios” e “realizações”, mas todos procedem de um Deus, um Senhor, um Espírito, isto é, do Pai, do Filho e do Espírito Santo. 7. A manifestação do Espírito. A refe­ rência é aos dons espirituais como manifes­ tações produzidas pelo Espírito e, ao mesmo tempo, como manifestações que revelam o caráter e a obra do Espírito. A cada um. Isto é, cada cristão. Na igreja apostólica, os dons foram distribuídos de forma ampla e universal entre os mem­ bros. A frase “a cada um” pode significar a cada um a quem foi dado certo dom. Fim proveitoso, isto é, para o bem comum ou benefício da igreja como um todo, embora não se exclua o benefício particular (ver ICo 14:4, 12). Os dons são distribuí­ dos de acordo com as necessidades da igreja em cada situação. Na sabedoria de Deus, a igreja de Corinto recebeu uma generosa pro­ fusão de dons (ICo 1:7). As manifestações sobrenaturais confirmaram a fé dos cren­ tes, que não tinham a evidência histórica que se tem hoje do poder do cristianismo. Tampouco tinham dirigentes treinados ou homens peritos e experientes na Palavra de Deus. As Bíblias, que consistiam apenas do AT, eram raras. Para satisfaz.er as diversas 4 necessidades, Deus concedeu dons sobre­ naturais de forma ampla. 8. Palavra da sabedoria. Isto é, expres­ são de sabedoria. A pessoa que possuísse este dom não era apenas sábia, mas tam­ bém capaz de transmitir a sabedoria a outros (sobre sabedoria e a relação entre sabedoria e conhecimento, ver com. de Pv 1:2). Palavra do conhecimento. Isto é, a expressão do conhecimento. Em termos gerais, conhecimento é a habilidade de apreen­ der fatos. Com relação ao evangelho, seria

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

a habilidade de apreender a verdade espi­ ritual e apresentá-la de forma ordenada. Essa apreensão da verdade vem do estudo das Escrituras ou diretamente de Deus, por meio da inspiração. A “palavra do conhe­ cimento” é, portanto, o poder para discor­ rer sobre essas verdades, apresentando-as de forma correta aos ouvintes a fim de que sejam convencidos do que ouvem. 9. Fé. Esta não é a fé que todo cristão possui. E um tipo especial de fé que capa­ cita o possuidor a fazer coisas excepcionais para Deus (ver Mt 17:20; 21:21; ICo 13:2). Dons de curar. Referem-se a poderes sobrenaturais como os exercidos pelos após­ tolos (Mc 16:18; At 3:2-8; 14:8-10). É privi­ légio de todos pedir a cura para o enfermo e receber respostas à oração. Mas isso deve ser diferenciado dos “dons de curar” menciona­ dos neste caso. Parece que as pessoas com esse dom recebiam conhecimento e direção divinos para curar apenas aqueles a quem Deus lhes indicava. Portanto, possuíam certo conhecimento do resultado. 10. Operações de milagres. Como no caso dos “dons de curar” (ver com. do v. 9), este era um dom especial executado sob direcionamento divino. Contudo, é privilégio de quem não o possui orar por intervenções miraculosas e ter suas orações atendidas se for essa a vontade de Deus. Profecia. Poder para falar com autori­ dade como porta-voz de Deus, ou em favor de Deus, seja prevendo o futuro ou decla­ rando a vontade de Deus para o presente (ver Êx 3:10, 14, 15; Dt 18:15, 18; 2Sm 23:2; Mt 11:9, 10; 2Pe 1:21). A prolécia é o meio escolhido por Deus para estabelecer comu­ nicação com o ser humano (ver Nm 12:6; Am 3:7). A Bíblia chegou às nossas mãos por meio deste dom (ver 2Tm 3:16; 2Pe 1:20, 21). As Escrituras testificam de Jesus, e o dom de profecia é chamado corretamente de “tes­ temunho de Jesus” (Ap 19:10; ver Jo 5:39; Ap 12:17). Visões, sonhos e iluminação

divina são meios pelos quais o dom de pro­ fecia atua (ver Nm 12:6; Ap 1:1-3). Assim o agente humano se torna o porta-voz de Deus (ver 2Sm 23:2; Mt 3:3; 2Pe 1:21). O propósito divino é que este importante dom do Espírito esteja com a igreja até o fim dos tempos (ver J1 2:28, 29; Ap 12:17; 19:10). De fato, é uma marca de identificação da verdadeira igreja de Deus nos últimos dias (Ap 12:17; 19:10). Deus sempre usou este canal para Se reve­ lar e transmitir Suas mensagens ao mundo desde a queda de Adão. Discernimento de espíritos. Esta é a habilidade de distinguir entre inspiração divina e contrafação (ver ljo 4:1-3; TM, 228, 229). Cristo advertiu a igreja de que surgiríam falsos profetas, em especial nos últimos dias, e todos deviam estar alerta para reconhecer e rejeitar os falsos mes­ tres (ver Mt 24:4, 5, 11, 23-25). Os após­ tolos tinham a habilidade de distinguir entre os falsos mestres e os verdadeiros (ver At 5:1-10; 13:9-11). Nos primeiros anos da igreja, houve grande necessidade deste dom, quando muitos fingiam ter dons. Satanás sempre esteve pronto a falsificar a verdade e, com frequência, apoia as falsas preten­ sões dos falsários por meio de sinais espe­ taculares (2Ts 2:9; Ap 13:13, 14). Variedade de línguas. Este dom é dis­ cutido no cap. 14, em que é contrastado com o dom de profecia. Capacidade para interpretá-las. Era necessário um dom especial para interpretar as mensagens transmitidas (ver ICo 14:27, 28; Nota Adicional a 1 Coríntios 14). 11. O mesmo Espírito. Todos os dons concedidos à igreja provêm do Espírito Santo, que opera nos crentes e por meio deles. Visto -*4 que Deus controla a atuação dos dons do Espírito, é seguro concluir que todos devem estar em perfeita harmonia com Seu plano supremo para o cumprimento de Sua obra na Terra. A consciência de que todos os dons vêm de Deus deve ser suficiente para

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1 CORÍNTIOS impedir qualquer demonstração de orgulho em possuí-los. Como lhe apraz. O Espírito Santo dis­ tribui os dons de acordo com o conhecimento das capacidades e das necessidades de cada indivíduo. Não é uma distribuição arbitrária, mas baseada em conhecimento e compreen­ são supremos. O grande objetivo de prepa­ rar a igreja para se encontrar com Cristo sem mancha e sem culpa, na segunda vinda, é o fator determinante na distribuição dos dons (ver Eí 4:12, 13; 5:27; Ap 14:5). A consciên­ cia de que os dons são concedidos a cada um, à medida que o Espírito Santo consi­ dera necessário, é motivo de encorajamento. Isso assegura que cada pessoa recebe exa­ tamente a habilidade necessária para viver corretamente e testemunhar com poder sob quaisquer circunstâncias. A cada um. Ver com. do v. 7. Da mesma forma hoje, todos os que se entregam a Cristo e se tornam membros de Sua igreja, não importando sua nacionalidade, condi­ ção social, econômica ou intelectual, têm a certeza de que o Espírito Santo os capaci­ tará a realizar sua missão com eficácia (ver DTN, 823). A personalidade do Espírito Santo é reve­ lada neste versículo, pois o ato de distribuir dons conforme Ele considera melhor para as pessoas e para o bem da igreja revela que se trata de um Ser inteligente. A soberania do Espírito também é provada aqui, pois Ele distribui os dons como Lhe apraz. 12. O corpo é um. O corpo humano é um organismo, mas é composto de diferen­ tes membros e órgãos, cada qual com sua função indispensável, unidas em harmonia num todo. Embora sejam distintos na forma, tamanho e funções, os diferentes membros do corpo são todos essenciais, unem-se para formar um corpo e estão sob o mesmo poder que os controla: a pessoa. Cristo. O apóstolo descreve a igreja como o corpo de Cristo, indicando que é um corpo

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unido, sendo Cristo a cabeça (ver ICo 12:27; Ef 1:22, 23; Cl 1:18-24). Por meio de uma figura de linguagem, uma parte representa o todo. Cristo, a cabeça da igreja, representa toda a igreja. Todos os membros da igreja são indivíduos separados, com funções e res­ ponsabilidades diferentes. Para essa tarefa, recebem dons dc Deus apropriados às suas necessidades individuais, mas todos estão sob a direção de Cristo e unidos a Ele. 13. Batizados em um corpo. Este é o batismo que acompanha o batismo nas águas de todo filho de Deus que nasce de novo (ver Mt 3:11). O batismo nas águas não tem valor a menos que a pessoa batizada tenha nascido pelo Espírito Santo (Jo 3:5, 6, 8). E por meio da obra do Espírito que as pessoas se tornam membros do corpo de Cristo. Quer judeus, quer gregos. Qualquer que tenha sido a condição anterior de uma pessoa ou sua nacionalidade, a entrega a Cristo e o batismo por meio de Seu Espírito remove todas as antigas diferenças entre ela e as demais, pois todas têm o mesmo valor aos olhos de Deus. Não é a nacionalidade que conta, mas a fé em Jesus como Salvador e a disposição de se render a Ele em todos os momentos. Quer escravos, quer livres. Ou, “escra­ vos e homens livres” (comparar com Cl 3:28; Cl 3:11). O fato de haver muitas nacionali­ dades e classes sociais formando o corpo de Cristo, enfatiza a diversidade. Porém, a des­ peito da diversidade, existe a unidade. De um só Espírito. Provavelmente, a referência seja à obra do Espírito Santo no momento do batismo, incluindo a conces­ são dos dons. Alguns interpretam a frase “e a todos nós foi dado beber” como a par­ ticipação em comum do cálice na Ceia do Senhor, ato pelo qual os crentes demons­ travam que todos pertenciam a um mesmo corpo, a igreja de Deus, e estavam unidos na fé. Porém, a forma do verbo traduzido como “dado beber” indica ter bebido num tempo

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PV passado definido, em vez de repetidas parti­ cipações no ritual da Ceia do Senhor. 14. Corpo. Nos v. 14 a 26, Paulo defende que a unidade de organização inclui, cm vez de excluir, uma pluralidade de membros. Ele ilustrou isso por meio da organização do corpo humano, um sistema em que cada parte tem seu dever essencial. Para que o corpo funcione com eficiência, nenhuma parte dele pode ser ignorada. Paulo apre­ senta os diferentes membros como se esti­ vessem discutindo esse problema. Um só membro. O corpo é composto de diferentes membros, com muitas tare­ fas a desempenhar. Espera-se semelhante variedade na igreja, e não se deve pensar que todos sejam semelhantes ou que algum mem­ bro que Deus colocou ali seja inútil. Não é meramente de uma multiplicidade de par­ tes que o corpo precisa, nem de mera multi­ plicidade de pessoas que a igreja necessita. Em ambos os casos, o que se requer é que os membros se complementem de forma plena, desempenhando, unidos, todas as funções necessárias para o bem do todo. O corpo humano não tem lugar para membros inati­ vos nem pode haver algum que não contribua para a eficiência geral do organismo inteiro. Do mesmo modo, a igreja precisa de mem­ bros consagrados e ativos que continuamente deem sua contribuição ao desempenho da igreja em salvar pessoas para o reino de Deus (ver 14, 590; T5, 456, 457; T6, 434, 435). 15. Não sou do corpo. Nenhum mem­ bro do corpo pode dizer que não é necessário por não desempenhar um papel elevado nas funções do corpo. Da mesma forma, nenhum membro da igreja de Cristo pode dizer que não é essencial por não exercer determi­ nada função supostamente mais importante. O membro mais humilde da igreja faz parte do corpo de Cristo tanto quanto aquele que recebeu muitos dons (ver Mt 23:8-12; Tg 3:1; lPe 5:3). Todos os membros são importan­ tes para Cristo. Ele deu Sua vida por todos,

e teria morrido por uma só pessoa (ver Lc 15:4-7; DTN, 480; T8, 73). 16. Ouvido. O argumento é o mesmo que o do v. 15 (ver com. ali). 17. Olho. Se todos os membros da igreja tivessem os mesmos dons e fossem aptos para o mesmo serviço, fases importantes da ativi­ dade da igreja na proclamação do evangelho seriam negligenciadas e a igreja declinaria em espiritualidade e força. Cada parte deve dar sua contribuição ao bem-estar do corpo, caso contrário não é possível manter sua efi­ ciência máxima. Olfato. Para desfrutar a vida de forma plena, não se pode prescindir de nenhum sentido corporal. O olfato pode ser conside­ rado como menos importante do que a visão ou a audição, mas facilmente se percebe que a pessoa que não tenha o olfato está exposta a certos riscos detectados por esse sentido. 1'udo o que Deus faz para a igreja é benéfico. Seus planos para ela são bons (ver Jr 29:11; Ef 5:27). Todos os diversos atributos espi­ rituais que Ele provê para o crescimento e edificação da igreja são úteis, e não se pode omitir nenhum sem que haja perda para o todo. Cada membro deve ter consciência de sua grande dívida para com o Senhor e ser tão submisso à Sua vontade que aceite qual­ quer função que lhe for designada no ser­ viço da igreja. 18. Deus dispôs. Em Sua sabedoria, Deus designou as várias partes do corpo para funções diferentes. O ser humano não tem controle sobre essa disposição, visto que está totalmente a cargo de Deus. Do mesmo modo, Ele designou diferentes indivíduos em Corinto para vários tipos de serviço. Cada um foi escolhido segundo a sabedoria de Deus e dotado de dons que o capacitaram a cumprir suas responsabilidades (ver v. 27, 28). Os dons são distribuídos por Deus; o ser humano não tem parte nisso (ver com. do v. 11). Ao recla­ mar e se opor ao seu papel na igreja, o mem­ bro pode estar se rebelando contra Deus.

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19. Um só membro. Aparentemente, havia descontentamento por parte de alguns em Corinto, com o modo como os dons foram distribuídos. Os que não tinham cargos pro► eminentes na igreja deviam estar insatisfei­ tos, entendendo que se não eram ministros ou mestres não eram importantes. Com uma ilustração eficaz do corpo humano, Paulo buscou eliminar essas idéias falsas, apon­ tando para o absurdo que resultaria se todas as partes do corpo humano se fundissem em um só membro. Corpo. Para que mãos, pés, olhos e ouvi­ dos realizem seu trabalho designado, devem estar unidos no corpo. Se essa união é des­ feita, nenhum deles poderá funcionar. Se toda a força do corpo fosse canalizada a um membro em particular, tal como os olhos, todas as outras partes sofreriam, e os pró­ prios olhos se tornariam inúteis. Assim, Paulo enfatiza que qualquer interferência no plano do Criador, quanto à atuação orde­ nada do corpo, resultaria em danos, não cm benefícios. 20. Mas. Há paz e alegria em aceitar o plano de Deus. Um só corpo. Unidade na diversidade, e diversidade na unidade, é a disposição que produz os melhores resultados (ver Ez 1:28; 10; T5, 751; OE, 489). As mãos de Deus estão sobre todos, e cada cristão deve se rego­ zijar em ser considerado digno de desem­ penhar uma parte, por menor que seja, no grandioso plano da redenção. 21. Não precisamos. Este versículo repreende o orgulho de quem se sentia mais importante. Paulo mostra que o orgulho que fazia alguns pensarem que podiam pres­ cindir dos dons menores é errado. Existe dependência mútua nos diferentes departa­ mentos de atuação da igreja para o bom fun­ cionamento do todo. Os membros da igreja que possuem mais dons são tão dependen­ tes dos que possuem menos dons quanto esses últimos dependem dos primeiros.

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Sendo assim, não existe lugar para orgulho ou descontentamento. Cada parte do corpo tem um dever peculiar a realizar, e a falha de uma parte afeta a eficiência das demais. Então a contribuição da função aparente­ mente insignificante é importante para a operação eficaz e o desenvolvimento har­ mônico de toda a organização. Em vez de orgulho e descontentamento, os cristãos devem manifestar amor e simpa­ tia uns pelos outros. Aqueles que parecem ter mais dons devem apreciar seus irmãos menos destacados e fazer com que saibam que esti­ mam o que fazem pelo corpo de Cristo (ver T5, 279). Oue todos os crentes se lembrem de que o amor e a unidade vistos entre os cristãos é o meio apontado por Deus para informar ao mundo que Ele enviou Seu Filho a esta Terra (ver Jo 17:21). 22. Parecem ser mais fracos. Não se sabe ao certo a quais membros do corpo Paulo se refere. Talvez seja a certas partes do corpo que parecem ser estruturalmente mais fracas do que outras e precisam ser protegidas. Necessários. Uma pessoa continua viva se perder uma mão, uma perna, um olho ou uma orelha, mas não se perder o cora­ ção, pulmões ou cérebro. Portanto, embora esses órgãos pareçam mais frágeis e neces­ sitem de proteção, de fato são de importân­ cia vital, portanto mais essenciais do que membros aparentemente mais fortes como braços e pernas. 23. Menos dignos. Paulo não iden­ tifica esses membros, mas seriam os que normalmente estão cobertos pela roupa. A diferença entre esses e os que “não são decorosos” parece ser de grau, sendo que talvez os últimos sejam os órgãos sexuais e excretores. E costume deixar a face exposta, sem nenhum tipo de cobertura. O mesmo se dá com as mãos; mas existem certas par­ tes do corpo que a modéstia, decência e o pudor exigem que sejam cobertas. A origem

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dessa prática de cobrir certas partes do corpo se encontra no registro da queda do ser humano. Antes da entrada do pecado, os primeiros pais estavam cobertos com um traje de glória, mas o pecado fez com que esse lhes fosse retirado, e Adão e Eva, per­ cebendo que estavam nus, se cobriram (ver Gn 2:25; 3:7, 10, 11; PP, 45, 57). Deus espera que Seu povo se vista de forma adequada e se certifique de que as exigências da modéstia e da pureza cristãs sejam satisfeitas. Muito maior honra. A face fica des­ coberta e é considerada atrativa, ao passo que outras partes do corpo são cobertas. Isso sugere que os membros da igreja providos de ► dons espirituais menos evidentes não devem ser desprezados nem tratados como inferio­ res. Os dons mais simples não devem ser menos estimados, mas tratados com mais consideração e cuidado, pois são indispen­ sáveis para o corpo como um Lodo. 24. Não têm necessidade. O rosto e as mãos ficam descobertos, e a exposição deles não implica vergonha ou desonra. Da mesma forma, os membros da igreja com mais dons não precisam da mesma direção e instru­ ção espiritual como os que têm menos dons. Deus coordenou o corpo. Do gr. sugkerannumi, literalmente, “misturar junto”. A palavra é encontrada apenas neste versí­ culo e em Hebreus 4:2. Neste caso, a palavra pode significar juntar num arranjo ordenado. Deus fez com que uma parte do corpo depen­ desse da outra e fosse necessária à função específica da outra. Todas trabalham juntas numa união harmoniosa. Muito mais honra. No sentido de exigir mais atenção e cuidado. Os demais devem trabalhar para prover cobertura adequada a essas partes. 25. Divisão. Do gr. schisma (ver com. de ICo 1:10). Os diferentes talentos e dons dos membros da igreja não devem ser motivo para a formação de partidos. Ninguém deve ser constrangido a concluir que não pertence ao

grupo que tem dons supostamente superio­ res. Parece haver uma referência aqui às divi­ sões na igreja de Corinto (ver ICo 1:10-12; 11:18). Todas as partes do corpo humano são necessárias e dependem umas das outras. O mesmo se dá com a igreja: cada membro é necessário em seu lugar designado. Igual cuidado. Não importa que parte do corpo esteja afetada por dor ou enfermi­ dade, os recursos e energias de todo o corpo se concentram em aliviar essa dor e restaurar o membro prejudicado. Da mesma forma, no corpo espiritual todos os membros devem se interessar em promover os interesses de seus irmãos sem acepção de pessoas nem de dons. 26. Sofre. Quando um membro do corpo sofre, todo o corpo é afetado. E assim tam­ bém com a igreja; deve haver estreita e viva ligação entre os membros, de modo que o sofrimento de um seja sentido por toda a igreja, e todos se esforcem para ajudar o sofre­ dor. E responsabilidade de toda a igreja ali­ viar o sofrimento do membro pobre, aliviando suas necessidades materiais. Se alguém é perseguido por causa da fé, todo o corpo de crentes deve apoiá-lo (ver Rm 12:13, 15, 16; G1 6:2; T7, 292). A igreja é uma organiza­ ção intimamente entrelaçada; nela deve haver a mesma unidade existente entre os mem­ bros da Divindade (Jo 17:21, 23; Rm 12:4, 5). Cristo Se identifica com Seu povo e sente a dor de cada membro de Seu corpo (Mt 25:40, 45; At 9:5). No corpo físico, a dor de uma picada no dedo se estende ao braço e a todo o corpo. Na igreja, igualmente, quando dar­ dos do maligno atravessam o coração de um membro, toda a igreja é afetada. Honrado. A saúde de um membro é refletida no bem-estar de todo o organismo. O mesmo se dá na igreja. A honra que advém a um de seus membros por um dom espe­ cial é compartilhada por todos, pois todos são beneficiados. 27. Vós. O pronome é enfático no grego. Paulo se dirigia a todos os crentes coríntios,

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1 CORÍNTIOS entre os quais havia alguns que causavam divisões na igreja, outros que não tinham se desligado por completo da idolatria e ainda outros que tinham caído em imoralidade (ver lCo 1:10, 11; 3:3; 5:1, 2; 8:1). Eles deviam se ► esforçar para permanecer como membros firmes e saudáveis, fazendo a parte que lhes correspondia na igreja. Deviam ser fiéis e leais a Cristo e um ao outro. Corpo de Cristo. Comparar com Ef 1:22, 23; 4:4, 12, 16; 5:23, 30; Cl 1:18, 24; 2:19; 3:15. Os membros da igreja devem se sujeitar a Cristo em tudo, assim como as partes do corpo são regidas pela vontade da pessoa; e, assim como todos os membros do corpo man­ têm ligação vital com a cabeça e uns com os outros, os crentes devem manter entre si a relação de membros do mesmo corpo; todos sujeitos à mesma cabeça, Cristo. Individualmente. Do gr. ekmerous, litcralmente, “de parte”, que neste caso signi­ fica “individualmente” ou “separadamente”. A ideia é que cada membro individual tem sua responsabilidade em servir a Deus no posto designado e segundo sua função. Isso parece ser ampliado nos v. 28 a 31, que des­ crevem as diferentes funções dos membros individuais de acordo com os dons distribuí­ dos pelo Espírito. 28. Uns. Paulo quer dizer, alguns após­ tolos, alguns profetas. Estabeleceu Deus. Literalmente, “esta­ beleceu Deus para Si”. No v. 11, o Espírito Santo é representando como quem distribui os dons; neste versículo, é Deus. üs mem­ bros da Divindade trabalham em unidade. Primeiramente. Isto é, não apenas em relação a tempo (ver Mt 10:1-8; DTN, 290, 291), mas também em hierarquia, como os ofícios mais importantes da igreja. Apóstolos. Literalmente, “enviados”. O termo não deve ser limitado aos doze. Outros também foram chamados de apósto­ los (ver lCo 15:7; G1 1:19). As igrejas parecem ter estado sob jurisdição geral dos apóstolos.

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Profetas. Ver com. do v. 10. Mestres. Aqueles dotados de habili­ dades especiais para expor as Escrituras. Provavelmente os mesmos que possuem a "palavra do conhecimento”, que sabem expor os mistérios do reino de Deus a mentes inquiridoras (v. 8). Pregar e ensinar estão estrei­ tamente relacionados. O pregador proclama a verdade de forma a alcançar o coração do ouvinte e o motivar a agir segundo o que ouviu. O mestre analisa e resume a verdade com tal clareza e lógica que os que a ouvem entendem a mensagem. Assim, são capazes de dar razão à esperança que foi implantada no coração pelo pregador. Milagres. A operação de milagres era um dos dons mais espetaculares do Espírito. Os milagres tiveram uma parte importante no ministério de Cristo na Terra, e Ele deu a Seus discípulos o poder de operar mila­ gres (ver Mt 10:8; DTN, 350, 351; PE, 189). Era o plano de Cristo que Seus seguidores tivessem poder para realizar milagres e fazer avançar Sua obra na Terra (ver Mc 16:15-18; DTN, 823; ver com. de lCo 12:10). Curar. Ver com. do v. 9. Socorros. Do gr. antilêpsis, derivado de um verbo que significa, literalmente, “apoderar-se de”. A palavra ocorre apenas neste versículo no NT, mas é frequente nos papi­ ros, com a ideia de “assistência” e “socorro”. Em geral, entende-se que este dom é confe* rido aos que realizam o trabalho de diaconato na igreja, particularmente nos casos em que esse cargo requer ministrar às necessidades do pobre e do doente. Esse é um trabalho de pouca publicidade, mas é parte importante da vida da igreja. Visitar os doentes e lhes estender ajuda real e solidária, física e espi­ ritualmente, é um meio poderoso para fazer com que o coração se volte para o Salvador. Cuidar do pobre e do necessitado, aliviando suas necessidades materiais, é algo que pode ser bem feito somente por aqueles que são dirigidos pelo Espírito. Esse é um ministério

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

frutífero (ver Is 58:7; T5, 612, 613; T6, 282, 306, 307; CBV, 147, 148). Governos. Do gr. kubernêseis, derivado do verbo que significa “dirigir”, “atuar como piloto”, daí, “guiar”, “governar”. Kubernêseis deve se referir aos dons de administração dentro da igreja. Línguas. Ver com. de lCo 14; ver Nota Adicional a 1 Coríntios 14. 29. São todos apóstolos? A forma da pergunta no grego requer resposta nega­ tiva. Os v. 29 e 30 mostram que Deus não concede nenhum dom específico a todos os crentes. Eles são distribuídos de acordo com a necessidade de uma dada situação que confronta a igreja em determinado tempo e : lugar. Os dons nunca são para glorificação e exaltação do ser humano, mas para o cumpri­ mento dos planos e propósitos de Deus, que concede esses poderes a Seu povo como Lhe apraz, e não segundo idéias e opiniões huma­ nas (ver v. 4, 5, 11). Nem todos os crentes de Corinto foram qualificados pelo Espírito Santo para algum ofício particular na igreja, como o de mestre ou profeta. A distribuição foi feita pelo Espírito Santo às pessoas que escolheu para certos propósitos específicos. Isso deve remover dos que recebem os dons

o orgulho e qualquer ideia de superioridade sobre seus irmãos. 30. Dons. Este versículo dá sequência ao raciocínio do v. 29 (ver com. ali). 31. Procurai, com zelo. Do gr. zêloõ, “ser zeloso por”. Os coríntios são admoesta­ dos a continuar suplicando fervorosamente a Deus para que derrame o Espírito sobre eles e lhes conceda os dons necessários para cumprir sua missão. Receber um dom ou cer­ tos dons não é o final da experiência cristã. Como na parábola dos talentos (ver com. de Mt 25:14-30), a fidelidade ao dever pode levar ao aumento dos atributos alcançados. Os melhores. Do gr. kreittonci. Evidên­ cias textuais (cf. p. xvi) favorecem “mais excelentes”. Os dons espirituais são conce­ didos pelo Espírito Santo para a edificação da igreja à perfeição e unidade em Cristo (ver Ef 4:12, 13). Sem dúvida, aqueles dons relacionados diretamente com o principal propósito da igreja, isto é, pregar o evange­ lho, e que contribuem mais para a edifica­ ção geral (ver ICo 14:1), são considerados de mais importância. Um caminho sobremodo excelente. Isto é, o caminho do amor, descrito no cap. 13.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE 4-CPPE, 314; Ev, 98; T3, 446 4-12-AA, 92; TM, 29 6-T9, 145 7 - PJ, 364 8, 9-T9, 144 8-11 - PJ, 327; MCH, 37

11 -CPPE, 315; DTN, 823 12-FEC, 413, 466 12- 27-T7, 174 13- CBV, 25 13- 21 - AA, 317 14- 21 -T4, 128; T5, 279; T6, 288; BS, 123

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24-27-AA, 318 26 - T7, 292 26, 27-BS, 23 27- T5, 731; T7, 296; T8, 174 28- AA, 92; T3, 446

1 CORÍNTIOS

13:1

Capítulo 13 I Os dons nada valem sem o amor. 4 A excelência do amor. 13 Sua superioridade sobre a esperança e a fé. ] Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. 2 Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. 3 E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará. 4 O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, 5 não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; 6 não se alegra com a injustiça, mas regozi­ ja-se com a verdade;

7 tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. 8 O amor jamais acaba; mas, havendo profe­ cias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará; 9 porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. «y 10 Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado. 11 Quando eu era menino, falava como meni­ no, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino. 12 Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como tam­ bém sou conhecido. 13 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor.

1. Ainda que. Paulo enumerou e defi­ niu o papel dos dons do Espírito na igreja (lCo 12). Neste capítulo, ele mostra que possuir dons e qualidades adicionais não torna alguém um cristão se ele não tiver o dom supremo do amor. Este lindo poema em prosa é chamado de “a maior, mais forte e mais profunda declaração feita por Paulo”. Paulo apresenta a natureza, o valor e a duração eterna do amor em comparação com os dons temporários. Este capítulo continua a discussão do cap. 12 sobre os dons espiri­ tuais. O apóstolo observou que os vários dons espirituais foram conferidos para a edifica­ ção da igreja (ver lCo 12:4-28). Ele mostra então que os dons já mencionados, por mais excelentes que sejam, podem ser substituí­ dos por um atributo que é mais valioso do

que todos os dons, e que esse dom está dis­ ponível a todos (cf. G1 5:22). Línguas dos homens. Pode ser uma referência ao poder de expressão dos oradores mais qualificados e talentosos ou aos muitos idiomas usados pelas nações da Terra. Se ao orador lhe falta amor, uma das característi­ cas básicas de Deus, sua eloquência superior ou sua facilidade com os idiomas é tão inú­ til para promover o reino de Deus quanto os ruídos sem sentido de um pedaço de bronze que retine ou um sino que soa (ver ljo 4:8; DTN, 22; GC, 487, 493). Dos anjos. Paulo pode estar se refe­ rindo ao dom de línguas tão estimado em Corinto (ver com. de lCo 14) ou ao idioma dos anjos. Contudo, a manifestação espeta­ cular do dom de línguas ou mesmo a habili­ dade de falar na língua dos anjos não confere

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honra a ninguém, tampouco tem valor real se não estiver associado ao amor. O propó­ sito do apóstolo era corrigir a avaliação errada que os Coríntios faziam do dom de línguas e motivá-los a buscar o amor como o atributo mais valioso. Amor. Do gr. agapê, o tipo mais elevado de amor, que reconhece o valor da pessoa ou do objeto amado; amor baseado em prin­ cípio, não em emoção; amor que emana do respeito pelas qualidades admiráveis de seu objeto. Esse é o amor existente entre o Pai e Jesus (ver Jo 15:10; 17:26); é o amor reden­ tor da Divindade pela humanidade perdida (ver Jo 15:9; ljo 3:1; 4:9, 16); é a qualidade especial demonstrada no relacionamento dos cristãos uns com os outros (ver Jo 13:34, 35; 15:12-14); c demonstra a relação do crente com Deus (ver ljo 2:5; 4:12; 5:3). O amor a Deus é demonstrado pela aceitação de Cristo e pela conformidade com Sua von­ tade; essa é prova do amor (ver Jo 2:4, 5; ver Nota Adicional ao Salmo 36; ver com. de Mt 5:43, 44). A palavra “caridade” não é suficiente para indicar a amplitude de interesse no bem-estar dos outros que contém a pala­ vra agapê. Na verdade, “caridade” pode transmitir uma ideia limitada de assistên­ cia material. A palavra “amor” é melhor, mas deve ser entendida à luz de tudo o que é dito neste capítulo sobre esse dom. Esse “amor” (agapê) não deve ser confundido com o que é chamado de amor, qualidade composta em grande parte de sentimento e emoção que se centraliza no eu e nos desejos do eu. Agapê enfatiza o interesse e a preocupação pelos outros e leva à atitude apropriada para tanto. A igreja de Corinto sofria grande per­ turbação com discórdias internas resultan­ tes de divisões e partidos (ver lCo 1:11, 12). Alguns se jactavam de suas qualificações e dons superiores (ver ICo 3:3-5, 8, 18, 19, 21; 4:6, 7). Este capítulo mostra que ter vários

dons do Espírito não significa nada se a pes­ soa não tiver amor. Bronze. Do gr. chalkos, “bronze”, ou qualquer coisa feita de bronze. Neste caso, devido à frase “que soa”, provavelmente se refira a um gongo ou um trompete. A ideia é de um instrumento que ressoa, que produz um som alto e que dá a impressão de grande importância, mas que é apenas um emissor de som sem vida. Retine. Do gr. alalazõ, palavra onomatopeica que originalmente expressava os ala­ ridos de um exército ao ir à batalha. Desse emprego original veio a significar qualquer som alto, tal como um gemido de lamenta­ ção. Aqui, alalazõ é usado para descrever o som monótono de um sino. 2. Profetizar. O apóstolo se refere então ao mais importante, embora talvez menos sensacional, dom de falar como mensageiro inspirado por Deus e que transmite à igreja as instruções do Céu. A superioridade desse dom sobre o de línguas e outros dons espi­ rituais é enfatizada em 1 Coríntios 14:1 e 39. O profeta que está entre Deus e o ser humano e que revela a vontade divina deve ser dominado pelo amor, do contrário suas mensagens terão pouco efeito nos ouvintes. Mistérios. Do gr. mystêria (ver com. de Mt 13:11; Rm 11:25). Por causa do pecado, as faculdades mentais foram enfraquecidas; a capacidade de entender as maravilhas da vida, tanto naturais quanto espirituais, é muito inferior àquilo que Deus original­ mente planejou para o ser humano (ver Is 6:9, 10; Jo 12:37-40; 2Co 4:4; T4, 585; T5, 698, 701). São necessários longos e árduos perío­ dos de estudo e pesquisa para se descobrirem certos segredos da natureza, que eram logo percebidos por Adão antes do pecado (ver PP, 50, 51). A mente dominada pelo pecado e não convertida não consegue entender as coisas de Deus. Isso se deve à completa mudança efetuada pelo pecado na natureza espiritual do ser humano, de modo que seu proceder é

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1 CORÍNTIOS diametralmente oposto ao do Criador (ver Is 55:8, 9). Deus considerou conveniente reve­ lar aos profetas a forma como Sua vontade atua em favor do ser humano. Por sua vez, os profetas têm o dever de instruir as pessoas quanto à relação com Deus e com o próximo (ver SI 25:14; Am 3:7). Ciência. Por “ciência”, Paulo se refere não à ciência em geral, mas ao dom do conhe­ cimento, descrito em 1 Coríntios 12:8 como “a palavra do conhecimento”, que também representa a “expressão do conhecimento" (ver com. de ICo 12:8, 28). Fé. Isto é, o dom da fé (ver com. de ICo 12:9). Amor. Ver com. do v. 1. Nada. Depois de enumerar os dons de profecia, conhecimento e fé, atributos espi­ rituais notáveis e muito desejados, Paulo declara que todos eles, por mais admiráveis e importantes que sejam, são ineficazes sem o amor. O mesmo ocorre com dons adquiridos, como habilidades intelectuais. Satanás tem grande poder intelectual e conhecimento que excedem os do ser humano, mas não é san­ tificado por isso (ver T2, 171; PP, 36; T5, 504). A mente que não é submissa a Cristo nem dirigida por Seu Espírito fica sob o controle de Satanás, que trabalha nela para cumprir seus próprios objetivos (ver T5, 515). Portanto, mera habilidade intelectual, sem o amor de Deus, serve apenas para ajudar o inimigo a alcançar seus propósitos e pouco contribui com os interesses espirituais (ver IJo 4:8). A pessoa que tem a sabedoria deste mundo e compreende teoricamente a relação entre o ser humano e Deus, mas não conhece o amor, ainda estará perdida. Seus esforços para fazer o bem a outros serão infrutíferos, e ela não chega a cum­ prir o grande objetivo da vida que é glorifi­ car a Deus (ver Jo 4:7, 8; MDC, 37). 3. Distribua. Do gr. psõmizõ, literal­ mente, “alimentar dando pedaços do alimento

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na boca”, “distribuir”, “alimentar em boca­ dos”. Este termo é empregado no NT ape­ nas neste versículo e em Romanos 12:20. Aqui, a palavra pode ser aplicada à distribui­ ção de bens aos pobres em pequenas por­ ções. Provavelmente, na época de Paulo, pessoas ricas tivessem o costume de distri­ buir esmolas aos pobres nos portões de suas propriedades (ver Lc 16:20, 21). Pode ser que distribuíssem esmolas em pequenas quanti­ dades a muitas pessoas de modo que haveria um número maior de beneficiados e mais pessoas para louvar o doador. Dar esmolas era considerado uma grande virtude, com «4 frequência, praticada com ostentação. Jesus reprovou esse desejo de aclamação popular (ver com. de Mt 6:1-4). Para destacar a inuti­ lidade desse tipo de caridade, Paulo enfatizou que se alguém distribuísse tudo o que pos­ suía, mas sem o verdadeiro amor, seria isso uma hipocrisia de nenhum valor espiritual. Embora essa atitude pudesse resultar em bem para os outros, não seria aprovada por Deus, pois lhe faltariam as qualidades requeridas. Para ser queimado. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante “para que me glorie". Assim, o significado da passagem seria: “Ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo a fim de me gloriar, nada disso me aproveitará.” A ideia é que o martírio em busca de glorificação própria não tem mérito algum. Nos dias de Paulo, não era costume a exe­ cução em fogueira. Apedrejamento, crucifixão c decapitação pela espada eram os métodos comuns de execução. A pergunta é: por que então Paulo se referiu ao martí­ rio na fogueira? A resposta seria que esta é uma das formas mais dolorosas de execução. Entregar o corpo para ser queimado repre­ senta uma forma extrema de autossacrifício. Alguns consideram que esta passagem é uma profecia da tortura pelo fogo que a igreja sofreu na época de Nero e posteriormente.

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA A palavra retrata a natureza bondosa da pes­ soa dirigida pelo Espírito de Deus e que sem­ pre procura revelar, por palavras e ações, simpatia e preocupação pelas lutas e difi­ culdades de outros. A ideia da palavra é de que, sob todas as circunstâncias da vida, quer sejam duras ou desafiadoras, dolorosas ou tristes, o amor é suave e gentil. O amor é o contrário do ódio, que se manifesta em severidade, ira, dureza e vingança. Quem realmente ama trata bem, alegra-se em ser gentil e cortês, pois não deseja ferir os sen­ timentos de ninguém e promove a felicidade do próximo (ver lPe 3:8). Não arde em ciúmes. Do gr. zêloõ, “ser zeloso”, tanto no bom quanto no mau sentido. < Neste caso, no mau sentido, “ter ciúmes”, isto é, demonstrar sentimentos negativos por causa de vantagens que alguém possua. Tais sentimentos provocam luta e divisão, o que contraria os ensinos de Jesus, pois Ele exortou ao amor uns pelos outros e a viver em unidade (ver Jo 15:12; 17:22; ljo 3:23). Inveja e ciúmes são fraquezas cruéis e des­ prezíveis (ver Pv 27:4; Ct 8:6). Lúcifer, o anjo privilegiado por ser um dos querubins da guarda junto ao trono de Deus, foi ven­ cido pela inveja e perdeu sua posição elevada (ver Is 14:12-15; Ez 28:14, 15). Desde sua queda, Satanás procura implantar seu pró­ prio atributo de inveja no coração dos seres humanos, para que todos se percam como ele se perdeu. Somente o amor pode elimi­ nar o ciúme. Porém, sentir-se satisfeito com o que o Senhor nos permite ter não exclui o desejo sincero de buscar os melhores dons e ansiar pelo “caminho sobremodo exce­ lente” do amor, descrito neste capítulo (ver lCo 12:31). Não se ufana. Do gr. perpereuomai, “vangloriar-se”, “jactar-se”. O amor não louva a si mesmo; é humilde e não tenta se exal­ tar. Aquele em cujo coração se encontra o verdadeiro amor mantém em mente a vida e a morte de Jesus e, assim, repele qualquer

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Assim, consideram as palavras de Paulo uma advertência contra o engano de que se pode obter mérito pelo martírio em fogueira. Nada disso me aproveitará. Se a pes­ soa executada em fogueira não tiver “amor” {agapê), morrerá sem esperança de vida eterna e, por conseguinte, perderá tudo. Por isso, o amor é mais precioso e valioso do que os dons do Espírito que os coríntios deseja­ vam ter (v. 1, 2), ou do que atos singulares de beneficência e autossacrifício. Nada pode substituir o amor. Deus aceita apenas o ser­ viço motivado pelo amor (ver Jo 14:15, 21, 23; 15:9, 10, 12, 14; ljo 4:11, 12, 16-21; 5:1-3). 4. Paciente. Nos v. 4 a 7, Paulo con­ tinua a analisar o amor. Ele enfatiza sete excelentes características do amor e oito ati­ tudes estranhas à sua natureza. Nessa apo­ logia, ele apresenta as qualidades superiores do amor tanto no aspecto positivo quanto no negativo. A personificação do amor nes­ tes versículos exalta a beleza da descrição, pois Paulo atribui ao amor as característi­ cas encontradas em todos os que verdadei­ ramente amam. No parágrafo há vislumbres ocasionais das falhas da igreja de Corinto em contraste direto com as qualidades do amor. Num mundo onde prevalecem a impaciên­ cia e a intolerância, a paciência e a longanimidade são um atributo precioso. O amor é paciente com as faltas, quedas e fraquezas do próximo. Reconhece que todos os seres huma­ nos são falíveis e que, portanto, são previsí­ veis os erros que resultam de sua natureza pecaminosa. A paciência é o oposto de preci­ pitação, de expressões e pensamentos apaixo­ nados e de irritabilidade. O adjetivo “paciente” denota o estado mental que capacita a pessoa a ser tranquila e a suportar opressão, acusa­ ção c perseguição injustas (ver Ef 4:2; Cl 3:12; 2Tm 4:2; 2Pe 3:15; cf. Mt 26:63; 27:12, 14; ver com. de Mt 5:10-12). A pessoa paciente pos­ sui o fruto do Espírito (ver G1 5:22). Benigno. Do gr. chrêsteuomai, “ser gen­ til”, “exercer gentileza”, “ser atencioso e suave”.

1 CORÍNTIOS pensamento ou sugestão que possa levá-lo à autoglorificação (ver PE, 112, 113). Como dom do Espírito, o amor leva a pessoa a con­ siderar que tudo o que é bom provém de Deus e é concedido por Ele, e que, portanto, não há razão para se jactar por possuir algum dom divino. Não se ensoberbece. Do gr. 'phusioõ, “inchar”, “inflar”, metaforicamente, “se orgu­ lhar”. Phusioõ vem de phusa, “berro”. O amor não infla a pessoa de vaidades; não produz uma condição de convencimento e exalta­ ção própria. Esta expressão aponta para o estado subjetivo de orgulho e satisfação pró­ pria que, com frequência, caracteriza os que se destacam em conhecimento e habilidades diversas (ver ICo 8:1). O amor não se com­ praz na exaltação própria, na alegação de se ter os melhores dons, nem em se vangloriar. O amor não produz sentimentos de impor­ tância própria, nem procura exaltar alguém por alguma conquista (ver T5, 124). 5. Não se conduz inconveniente­ mente. Do gr. aschêmoneo, “agir indecorosamente”, “comportar-se de modo desonroso”. Na LXX, a palavra é usada com o significado “estar nu” (ver Ez 16:7, 22). O amor nunca é descortês, rude ou tosco; nunca se comporta de modo a ofender os outros. Cristo, quando esteve na Terra, sempre Se preocupava com os sentimentos das pessoas e era amável com todos (ver OE, 121). O verdadeiro segui­ dor de Cristo será cortês em todo tempo e nunca responderá aos impulsos do coração natural para reagir de forma rude e dura ante qualquer descortesia (ver OE, 123). O amor busca o que é certo e apropriado em todos os relacionamentos, porque promove a felici­ dade dos outros e, assim, evita tudo que possa ofender ou atrapalhar a alegria. Nestas palavras, pode haver alusão a conduta imprópria de alguns dos coríntios quanto à adoração pública e às festas pagãs (ver ICo 8:10-12; 11:4-6, 20-22). Para o cris­ tão, opiniões pessoais, desejos e práticas

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egoístas são suplantados pelo amor, em bene­ fício do conforto, conveniência e felicidade dos demais. O comportamento correto do amor impede fanatismo e extremismo que levam a explosões emotivas desenfreadas e deson­ ram a causa de Deus. A declaração de que o amor nunca se porta de forma inconveniente mostra que está sob o controle da razão cons­ tantemente e que não é mera emoção ou sen­ timento. Aquilo que é apenas uma resposta ao sentimento e à emoção, e que é falsa­ mente chamado de amor, não age pela razão, nem considera os sentimentos dos outros. Os seus interesses. Literalmente, “suas próprias [coisas]”. O oposto do amor é a busca de vantagem própria, influência ou honra como o grande objetivo na vida (ver ICo 10:24, 33). De todas as características do amor, esta é a mais difícil para a pessoa cujo coração não está santificado. Naturalmente, o ser humano se interessa em primeiro lugar por si mesmo; e, com frequência, esse inte­ resse predomina sobre todos os demais. Mas o caminho de Cristo, o caminho do amor, coloca o eu em segundo lugar e os outros, em primeiro (ver com. de Mt 5:43-46; 7:12). A natureza egoísta do ser humano é mais uma evidência de que o pecado inverteu por completo a ordem divina, levando o ser humano a concentrar as afeições e os interes­ ses em si mesmo (ver Jr 17:9; Rm 7:14-18, 20; 8:5-8; Tg 4:4; ver com. de Mt 10:39). Aqueles que possuem o amor de Deus esquecem o eu e são dominados pelo desejo de fazer a vontade divina. E por isso que estão dispos­ tos a dar a vida no ministério em favor de outros (ver Mt 22:37-39; At 10:38; OE, 112; T7, 9, 10). Jesus “andou por toda parte, fazendo o bem” (At 10:38). Essa declaração deixa claro que ninguém pode ser um cristão genuíno e um verdadeiro seguidor de Cristo se vive para promover os próprios interesses. O cris­ tão segue e imita a Cristo. Por isso, nega os

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COiMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

apelos do coração natural para se dedicar a si mesmo e está disposto a sacrificar conforto, tempo, tranquilidade, riqueza e talentos para promover o bem-estar dos outros. Não se ira facilmente (NVI). O advér­ bio “facilmente” foi acrescentado e, ao que tudo indica, sem autorização. De fato, ele confere um sentido errado à frase. O amor não se ira, quer facilmente ou não. Nada pode perturbar a tranquilidade do perfeito amor nem causar demonstração de pertur­ bação, impaciência ou raiva. Inserir a pala­ vra “facilmente” seria sugerir que, às vezes, se permite raiva, irritabilidade ou ressenti­ mento, mas isso não acontece com o amor (ver SI 119:165; Hb 12:3; lPe 2:23). O cris­ tão sabe que o eu, o coração natural, se opõe à vontade de Deus; mas que, ao sc entregar ao Senhor, o eu morre para o pecado. Por isso, não tem motivo para se irritar nem se perturbar. Ele simplesmente entrega tudo a Deus, sabendo que qualquer coisa que ocorra estará sob o olhar atento e amoroso dAquele que controla todas as coisas para o seu bem (ver Rm 6:11; 8:28; lPe 5:6, 7). Um dos efeitos mais evidentes da conversão é a mudança no caráter. A pessoa que era naturalmente irritável, ressentida e pronta a se irar, sob a influência do Espírito Santo, torna-se calma, suave e gentil. Todos os esforços de Satanás para perturbá-la e fazer com que desista e se renda a seu antigo tem­ peramento são infrutíferos. Não se ressente do mal. Literalmente, “não considera o mal”. A expressão grega sugere não levar em consideração o mal que foi feito; não imputar o mal a alguém, nem acusar. Este é outro belo atributo do amor. Mostra que o amor entende da melhor forma o comportamento dos outros. Quem é diri­ gido pelo amor não é severo nem disposto a encontrar falhas ou a atribuir motivos erra­ dos a outros. 6. Injustiça. Do gr. adikia. O amor não tem prazer na injustiça, seja da parte de

amigo ou inimigo. A injustiça é um pecado (ver ljo 5:17) e é contrária à natureza divina do amor; portanto, aquele que ama não se alegra com o que está em desarmonia com a vontade divina. O amor não se alegra com os defeitos dos outros ou em que outros sejam tidos como culpados de erro. Não se alegra em saber que alguém errou (ver Pv 10:12; 11:13; 17:9; lPe 4:8). A pessoa cujo coração não é santificado fica feliz quando um ini­ migo peca ou quando um oponente comete um erro que o envolva em desgraça. Mas isso não acontece com o amor. Ele toma o caminho oposto e procura ajudar mesmo um inimigo que esteja em dificuldades (ver Pv 24:17; 25:21; Mt 5:44; Rm 12:20). Somente aqueles que não são santificados pela verdade se deleitam cm fazer o mal a outros (ver Rm 1:32; 12:9). Verdade. Neste caso, “verdade” con­ trasta com “injustiça” e significa virtude, justiça, bondade, ü amor se deleita, não nos defeitos, mas nas virtudes dos outros. Está interessado no avanço da verdade e na própria felicidade, portanto, é grato sempre que a causa da verdade é fortalecida (ver Mc 9:35-40; Fp 1:14-18). O amor não se alegra com o pecado nem com a punição do pecador. Ao contrário, encontra prazer no livramento do ser humano dos grilhões do pecado, pois isso o coloca em harmonia com a verdade e o torna um can­ didato à felicidade no Céu, para a qual foiig criado (ver Ez 18:23, 32; 33:11; Jo 8:32; 17:17; ljo 4:8; PJ, 290). 7. Sofre. Do gr. stego, “cobrir”, “prote­ ger”, “sustentar”, “apoiar”. O amor cobre os erros e faz silêncio sobre as falhas das pes­ soas, o que o egoísmo do coração natural divulgaria com satisfação. O amor não sente a necessidade de inspecionar as debilidades dos outros nem de permitir que sejam ins­ pecionadas por alguém. Tudo crê. Isto não significa que a pes­ soa que ama o próximo é crédula a ponto de

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1 CORÍNTIOS acreditar em coisas absurdas, nem de ser inca­ paz de distinguir entre o que é verdade e o que não é. O amor está disposto a pensar o melhor possível da conduta dos demais, impu­ tando-lhes bons motivos. Essa é a atitude do amor, pois procura promover a felicidade dos outros e não apoia nada que possa lhes preju­ dicar, exceto uma evidência irrefutável. Com relação a Deus, o amor crê sem questionar a vontade divina revelada. Não há dúvida sobre a palavra de Deus e Suas instruções. O amor tudo aceita e obedece com gratidão. Espera. Independente de quão más sejam as aparências e de haver motivos para se questionar a sinceridade das pessoas, o amor ainda tem esperança de que tudo acabará bem. Por isso, mantém sua posi­ ção até que se prove o contrário. Essa fé no próximo, inspirada pelo amor, motiva o indivíduo a ser um defensor da justa causa alheia, mesmo em face da oposição. O amor se baseia na confiança, e essa confiança se baseia em Deus. Portanto, o amor está dis­ posto a enfrentar o ridículo, a luta e o des­ prezo, em defesa de outros, esperando que no tempo devido a verdade seja confirmada. Suporta. O amor suporta de forma serena as dificuldades, provas, perseguições e os danos infligidos pelo ser humano, e todos os ataques que Deus considera conveniente permitir que o adversário faça (ver Jó 13:15). Esta declaração sobre o amor mostra a infinita paciência daquele que está sob o domínio do amor. Tal pessoa suporta com paciência o com­ portamento estranho dos outros, mesmo que planejado para feri-la ou perturbá-la. Pois vê no próximo alguém pelo qual Cristo morreu, alguém enganado por Satanás e que, portanto, deve ser ajudado e tratado com compaixão em vez de dureza e condenação. Como a expres­ são perfeita da lei de Deus, o amor trabalha para o bem dos demais e, como consequên­ cia, está preparado para considerar a con­ duta desfavorável dos outros com paciência, compreensão e simpatia inspiradas por

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Deus (ver Mt 22:37-40; Rm 13:10; ljo 4:7, 12, 16, 18, 20, 21). 8. Acaba. Do gr. ekpiptõ, “cair de [ou ‘desde’]”, “cair de seu lugar”, “falhar”, “pere­ cer”. Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a variante piptõ, a forma simples do verbo. O amor genuíno não cai como uma folha ou uma flor (verTg 1:11; lPe 1:24). Quando uma flor exala sua beleza e fragrância durante as horas de brilho do sol, cumpre seu propó­ sito. Logo, vem o vento frio e a faz murchar e cair. Isso não acontece com o amor. Tanto nos dias difíceis quanto nos de bonança, o amor sempre permanece o mesmo, exalando sua fragrância de confiança, esperança e fé ao redor. Assim deve ser, pois o amor é o fundamento da lei, e a lei de Deus é eterna (ver SI 119:160; Mt 5:17, 18; Lc 16:17). Todo crente deve cultivar esse fruto do Espírito e estar certo de que não existe circunstância para a qual o amor não encontre uma saída; o cristão conta sempre com o amor para solu­ cionar os problemas. Profecias. O dom de profecia foi con­ cedido por Deus para guiar a igreja ao longo dos séculos (ver SI 77:20; Os 12:13; Ap 12:17; 19:10). Quando não houver mais necessidade dessa direção, isto é, quando o povo de Deus alcançar seu lar celestial, as profecias cessarão. Desaparecerão. Do gr. katargeõ, “anu­ lar”, “findar”. Línguas. Como a profecia, este dom, que teve grande utilidade na igreja apostó­ lica (ver Nota Adicional a 1 Coríntios 14), já não será mais necessário. Cessarão. Do gr. -pauõ, “pausar”. Ciência. Ou, conhecimento. Não o conhecimento em geral, mas o dom do conhecimento que capacita as pessoas a explicar a verdade de forma clara e lógica (ver com. de ICo 12:8). Paulo apresenta a superioridade do amor sobre os vários dons espirituais que são úteis na edificação da igreja, mas que não serão necessários para a igreja triunfante no reino da glória.

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Passará. Do gr. katargeõ, “anular”, “fundar”. 9. Em parte. Os dons de conhecimento e profecia fornecem apenas vislumbres parciais dos tesouros inextinguíveis do conhecimento divino. Esse conhecimento limitado desa­ parecerá diante da luz superior do mundo eterno, como a luz de uma vela perde a sua importância diante do brilho da luz solar. 10. Perfeito. Do gr. teleios, “completo”, “inteiro”, “plenamente maduro”. Mesmo o conhecimento adquirido pelo mais brilhante ser humano é insignificante quando com­ parado ao vasto oceano de conhecimento do universo. Assim, a jactância dos coríntios estava completamente fora de lugar (ver lCo 8:1, 2). Quando Jesus Cristo vier outra vez para buscar os Seus, então a iluminação parcial da mente humana baseada no conhe­ cimento hoje disponível se desfará em vista da iluminação superior da verdade. Assim, ocorre como a luz das estrelas que desapa­ rece quando o sol desponta no horizonte. Será aniquilado. Do gr. katargeõ (ver com. do v. 8). Estas palavras não sugerem que o conhecimento da verdade cessará ou pas­ sará. A verdade é eterna, e o conhecimento que o ser humano tem da verdade eterna sempre permanecerá. E a natureza parcial desse conhecimento que cessará quando o ser humano for transformado de mortal a imortal (ver v. 12; cf. ICo 8:2). Do mesmo modo, quando este mundo terminar, e o ser humano tiver comunhão face a face com Deus, a profecia terá cumprido seu propó­ sito e não mais será necessária. 11. Menino. Do gr. nêpios, literalmente, “alguém que não fala”, um “infante”. O após­ tolo usa as diferenças entre as experiências da infância e da vida adulta para ilustrar a grande diferença entre a obscura compreen­ são que o ser humano possui e a luz brilhante do conhecimento que terá no Céu. Falava. Ou, “costumava falar”, isto é, era meu hábito falar. Os sons sem sentido de uma criança, que está aprendendo a falar, são

contrastados com a sabedoria que substituirá o conhecimento terreno na condição imortal futura. Quando alguém chega à fase adulta, deixa de lado, como se não tivessem valor, as idéias e os sentimentos da infância, que antes pareciam tão importantes. De forma seme­ lhante, quando alcançarem o Céu, as pessoas vão deixar idéias, opiniões e sentimentos tão estimados e valorizados nesta vida. Sentia. Ou, “costumava sentir”, isto é, “era meu hábito sentir”. Isto se refere ao exer­ cício rudimentar da mente infantil, um modo de pensar que não pode ser considerado como raciocínio completo. Essa compreensão era estreita e imperfeita, e o conhecimento, escasso. Coisas que chamavam a atenção antes perdem seu valor na fase adulta. Pensava. Ou, “costumava pensar”, isto é, “era meu hábito pensar”. O pensamento e o raciocínio da infância parecem pueris, de curto alcance, inconclusivos e errados para um adulto. Assim será quando o povo de Deus estiver no reino da glória. Os sal­ vos perceberão uma grande diferença entre os planos, opiniões, compreensão e faculda­ des de raciocínio da vida nesta Terra e do Céu, assim como se vê entre os da infância e da fase adulta. Desisti. Do gr. katargeõ (ver com. do v. 8). 12. Como em. Ou, “por meio de”. Espelho. Do gr. esoptron. Outra ilus­ tração para mostrar a imperfeição do mais elevado conhecimento que se possa obter na Terra. Espelhos antigos eram feitos de peças de metal polido (ver com. de Ex 38:8). A imagem vista nesses espelhos era com fre­ quência borrada e turva. O conhecimento da verdade eterna é obscuro e limitado em comparação com o que será no Céu. Agora, a visão está anuviada pelas debilidades físi­ cas próprias da condição de pecado; mesmo a percepção mental está enfraquecida pelos hábitos errôneos, de modo que as coisas espi­ rituais são percebidas apenas obscuramente (ver T7, 199, 257, 258; T2, 399, 400).

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I CORÍNTIOS Obscuramente. Do gr. en ainigmati, “num enigma”, como num quebra-cabeças em que faltam peças e, por isso, não pode ser montado corretamente. Assim é a visão pre«>► sente da verdade espiritual. E parcial, obs­ cura e limitada. No entanto, aquilo que se pode entender hoje é suficiente para trazer alegria ao cristão fiel, pois é capaz de ver algo da beleza do plano que Deus fez para a redenção do ser humano. No Céu, aquilo que obscurece a visão espiritual será reti­ rado, e as coisas que confundem a huma­ nidade se tornarão claras; o conhecimento se ampliará e, com isso, haverá alegria cres­ cente (ver T8, 328). Conhecerei. Isto é, conhecer plena­ mente, reconhecer, entender. A ideia de se conhecer plenamente não está na palavra traduzida como “conheço”, antes no mesmo versículo. Como também. Isto é, da mesma maneira; não necessariamente com o mesmo alcance. Quando passarem as imperfeições desta vida e ocorrer a grande mudança do “cor­ ruptível” para a “incorruptível”, quando “o que é mortal” se revestir de “imortalidade” (lCo 15:52-54), então a visão turva será substituída por uma visão clara, pois todas as obstruções serão removidas. Haverá comunhão face-aíace, de modo que a pessoa redimida, segundo sua habilidade cada vez mais ampla, conhe­ cerá e entenderá plenamente todas as coisas. Sou conhecido. Ou, “fui plenamente conhecido” ou “tenho sido plenamentc conhecido”, por Deus. Embora, nesta vida, o ser humano conheça a Deus de forma parcial, o conhecimento que Deus tem das pessoas é completo. O conhecimento mais completo que o ser humano terá no mundo porvir é comparado ao conhecimento que Deus tem dele nesta vida. Porém, o conhe­ cimento do ser humano jamais se igualará ao de Deus, nem se aproximará dele. Por essa razão, as palavras “como também” não devem ser interpretadas como “igual em alcance”.

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Alguns usam este versículo para afirmar que, no reino da glória, as pessoas vão reconhe­ cer umas às outras (ver DTN, 804). Mas esse não é o significado que Paulo quis atribuir à passagem. De fato, haverá tal reconheci­ mento, mas o apóstolo está falando das pre­ sentes perplexidades que serão explicadas no porvir e do conhecimento imperfeito que lá se tornará completo (ver T5, 706). 13. Permanecem. Com exceção do amor, tudo o que foi mencionado neste capí­ tulo, incluindo profecias, línguas e outros dons do Espírito, deixará de ter valor ou findará. Mas os três elementos básicos da experiência cristã não passarão; eles são per­ manentes. Portanto, o cristão é exortado a concentrar a atenção nesses três dons. A fé tem valor eterno, pois sempre será um elemento essencial à harmonia na nova Terra. Neste caso, a fé não é o dom espiritual conhecido como fé (ver com. de lCo 12:9), mas a experiência descrita em Hebreus 11 (cf. com. de Rm 4:3). A esperança, como desejo de algo bom e expectativa de obtêlo, será por sua própria natureza uma parte da experiência no Céu, onde sempre haverá novas realidades a se explorar e novos praze­ res a desfrutar (ver lCo 2:9; Ed, 306, 307). Os remidos não podem desfrutar de uma vez todos os tesouros do Céu; e, enquanto hou­ ver algo desejado e esperado para o futuro, haverá esperança. Maior. De todas as qualidades de cará­ ter, o amor é a que as Escrituras usam para descrever a própria natureza de Deus. Por isso, é fácil entender por que o apóstolo afir­ mou que acima de todos os dons do Espírito, está o amor (ver ljo 4:7, 8, 16). Como filoso­ fia de vida, o amor é mais eficaz, mais vito­ rioso e mais satisfatório do que a posse e o exercício dos vários dons do Espírito enu­ merados em 1 Coríntios 12 (ver lCo 12:31). O amor por Deus e pelo próximo é a mais elevada expressão de harmonia com Deus (ver Mt 22:37-40; T8, 139). A maior prova da

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sinceridade do cristianismo é o amor (ver Is 58:6-8; Mt 25:34-40; T6, 273-280). Ser cristão é ser como Cristo, que "andou por toda parte, fazendo o bem” (At 10:38). Portanto, cristãos são aqueles que no espí­ rito de Cristo fazem o bem a todos que preci­ sam. Fazem isso sem interesse próprio, mas por causa do amor de Deus no coração que torna impossível eles agirem de outra forma (ver T6, 268; T3, 524). Amor é o caminho sobremodo excelente, porque sua expressão prática é a prova que decidirá o destino eterno de todos os seres humanos. Aqueles cuja reli­ gião é mero cumprimento exterior de formas ► e ritos descobrirão que isso não é aceitável a Deus (ver T5, 612). O amor que nega o eu,

produzindo unidade entre os crentes, conven­ cerá o mundo de que Deus enviou Seu Filho a esta Terra para salvar a humanidade. Esse é o método que Deus escolheu para Seu povo testemunhar da verdade do evangelho (ver Jo 17:21, 23). Tal amor, que não deseja se exal­ tar, justificar ou com prazer-se egoistamente, mas que se dedica a ajudar os necessitados, é um argumento irrefutável. Os descrentes veem nesse amor algo incompressível à sua filosofia de vida. O coração deles é tocado e sua inteligência responde à evidência do poder da piedade na vida dos fiéis de Deus. Sendo assim, o amor demonstra ser o caminho sobre­ modo excelente para se pregar o evangelho e fazer avançar o reino de Deus.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE 1 - CS, 560; CM, 29; Ev, 507; T2, 116, 581; T4, 133; T5, 98 1-3 -AA, 318; MDC, 38 1-5 -T5, 168 3 -T2, 116; T4, 133 3- 7-T2, 169 4- Ed, 114; FEC, 279; MCH, 179, 334; T4, 65; T5, 123 4, 5 - AA, 543; DTN, 549; FEC, 283

4-7 - T4, 257; T5, 290 4- 8-AA, 319; Ed, 242; MDC, 16 5 - OP, 44; DTN, 20, 439; PE, 112; MCH, 84; T2, 276, 313; T3, 397; T5, 124; T7, 243 5- 7 - OE, 448 6 - FEC, 279 6- 8-T5, 169 7CBV, 498; T2, 135; T4, 27; T5, 404

11 - LA, 119, 213; T3, 194 12 - LA, 544; DTN, 804; Ed, 303, 306; GC, 676, 677; MDC, 27; CBV, 466; MCH, 12, 353, 366; CC, 113; HR, 432; Tl, 30; T3, 540; T5, 706; T6, 309; T8, 328 13-AA, 319; MS, 251; T3, 187; BS, 32

Capítulo 14 1 O dom de profecia é recomendado e 2, 3, 4 é preferível ao dom de línguas. 6 Paulo ilustra a questão com instrumentos musicais. 12 Ambos os dons devem ser usados para a edificação e 22 para propósito bom e verdadeiro. 26 O emprego apropriado de cada um deles. 21 O abuso é desaprovado. 34 As mulheres são proibidas de falar na igreja. 1 Segui o amor e procurai, com zelo, os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis.

2 Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios.

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1 CORÍNTIOS 3 Mas o que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e consolando. 4 O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja. 5 Eu quisera que vós todos falásseis em ou­ tras línguas; muito mais, porém, que profetizás­ seis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar, para que a igreja receba edificação. 6 Agora, porém, irmãos, se eu for ter convosco falando em outras línguas, em que vos apro­ veitarei, se vos não falar por meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina? 7 E assim que instrumentos inanimados, como a flauta ou a citara, quando emitem sons, se não os derem bem distintos, como se reconhe­ cerá o que se toca na flauta ou citara? 8 Pois também se a trombeta der som incer­ to, quem se preparará para a batalha? 9 Assim, vós, se, com a língua, não disserdes palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis? Porque estareis como se falásseis ao ar. 10 Há, sem dúvida, muitos tipos de vozes no mundo; nenhum deles, contudo, sem sentido. 11 Se eu, pois, ignorar a significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala; e ele, es­ trangeiro para mim. 12 Assim, também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir, para a edi­ ficação da igreja. 13 Pelo que, o que fala em outra língua deve orar para que a possa interpretar.

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14 Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente

► fica infrutífera. 15 Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente. 16 E, se tu bendisseres apenas em espírito, como dirá o indouto o amém depois da tua ação de graças? Visto que não entende o que dizes; 17 porque tu, de fato, dás bem as graças, mas o outro não é edi ficado. 18 Dou graças a Deus, porque falo em outras línguas mais do que todos vós.

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19 Contudo, prefiro falar na igreja cinco pa­ lavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua. 20 Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos. 21 Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor. 22 De sorte que as línguas constituem um sinal não para os crentes, mas para os incrédu­ los; mas a profecia não é para os incrédulos, e sim para os que creem. 23 Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras lín­ guas, no caso de entrarem indoutos ou incré­ dulos, não dirão, porventura, que estais loucos? 24 Porém, se todos profetizarem, e entrar algum incrédulo ou indouto, é ele por todos con­ vencido e por todos julgado; 25 tornam-se-lhe manifestos os segredos do coração, e, assim, prostrando-se com a face em terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus está, de lato, no meio de vós. 26 Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reu­ nis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação. 27 No caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou quando muito três, e isto sucessivamente, e haja quem interprete. 28 Mas, não havendo intérprete, fique cala­ do na igreja, falando consigo mesmo e com Deus. 29 Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem. 30 Se, porém, vier revelação a outrem que es­ teja assentado, cale-se o primeiro. 31 Porque todos podereis profetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem consolados. 32 Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas; 33 porque Deus não é de confusão, e sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos, 34 conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar;

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mas estejam submissas como também a lei o determina. 35 Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio ma­ rido; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja. 36 Porventura, a palavra de Deus se origi­ nou no meio de vós ou veio ela exclusivamente para vós outros?

37 Se alguém se considera profeta ou espi­ ritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo. 38 E, se alguém o ignorar, será ignorado. 39 Portanto, meus irmãos, procurai com zelo o dom de profetizar e não proibais o falar em ou­ tras línguas. 40 Tudo, porém, seja feito com decência e ordem.

1. Segui. Do gr. diõkõ, “buscar”. Os coríntios foram advertidos a usar toda dili­ gência em buscar o amor e fazê-lo crescer. Antes de analisar o dom de línguas, Paulo faz uma exortação final e urgente sobre o cami­ nho sobremodo excelente que louva e des­ creve de forma tão vivida em 1 Coríntios 13. Amor. Do gr. ágape; ver com. de ICo 13:1. Com zelo. Do gr. zêloõ, “ser zeloso por”. A palavra é traduzida como “procurai com zelo” (ICo 12:31; ver com. ali). Que profetizeis. Sobre o dom de pro­ fecia, ver com. de ICo 12:10. No capítulo 14, Paulo contrasta o dom de profecia com o de línguas, mostrando que o pri­ meiro traz mais benefícios a um maior número de pessoas. Os coríntios exalta­ vam o dom de línguas acima do de pro­ fecia, sem dúvida, devido a sua natureza espetacular. Alguns talvez desprezassem a profecia, como parece ter acontecido em Tessalônica (lTs 5:20). Os coríntios foram advertidos a buscar o amor, que leva as pessoas a obter dons que beneficiam os outros, bem como a si mesmos. Não se deve buscar os dons para exaltação própria, mas para servir melhor a Deus e ajudar a igreja (ver At 8:18-22; 19:13-17). 2. Língua estranha (ARC). A palavra “estranha” foi acrescentada (sobre diferentes pontos de vista da natureza dessas línguas, ver Nota Adicional a 1 Coríntios 14). Não fala a homens. Ver Nota Adicional a 1 Coríntios 14.

Em espírito. Isto é, sob influência do Espírito, como ao de um profeta quando está “em Espírito” (ver com. de Ap 1:10). Mistérios. Ver com. de Rm 11:25. O Espírito revelaria verdades divinas a quem falasse em línguas. Contudo, a revelação beneficiaria apenas a pessoa que tinha esse dom. Os sons que emitia não eram inteligíveis aos que o ouviam e não eram dirigidos a eles. 3. O que profetiza. Isto é, aquele que fala sob inspiração. O profeta falava numa língua conhecida a quem o ouvia. Seus ser­ viços traziam bênçãos e instruções à igreja, ao passo que quem falava em línguas edificava apenas a si mesmo (v. 4). Aos homens. O profeta é chamado por Deus para ser um agente por meio do qual os mistérios divinos são revelados (ver ls 6:9; Jr 1:5-7; Jl 1:1, 2). Edificando. Literal mente, “construindo”. As mensagens dos profetas serviam para edificar a experiência do cristão em estágios progressivos. Exortando. Do gr. paraklêsis, “admoestação”, “conforto”, “encorajamento”. A pala­ vra de mesma origem, paraklêtos, é um nome dado ao Espírito Santo (Jo 14:16, 26; 15:26; 16:7; sobre o significado do nome, ver com. dc jo 14:16). Consolando. Do gr. paramuthia, cujo significado é quase idêntico a paraklêsis. 4. Língua estranha (ARC). Literal­ mente “uma língua”. A palavra “estranha” é um acréscimo.

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I CORÍNTIOS

igreja” (v. 27, 28).

Edificação. Ver com. do v. 4. 6. Falando em outras línguas. Paulo afirmou que falava em línguas mais do que todos os coríntios (v. 18). Revelação. Do gr. apokalupsis, “tirar o que cobre”, “tirar o véu”. Aqui, o termo se refere à atividade de Deus de revelar aos seres humanos aquilo que não pode ser des­ coberto pelas faculdades naturais da mente. De ciência. E provável que Paulo se refira ao dom conhecido como “palavra do conhecimento” (ver com. de lCo 12:8).

De profecia. É difícil distinguir entre “profecia” e “revelação”, pois o profeta fala mediante a revelação. E provável que Paulo faça distinção entre novas revelações da ver­ dade e declarações inspiradas que adaptam verdades conhecidas a aplicações especí­ ficas. O primeiro tamhém pode se referir ao conteúdo, e o último, ao meio em que é transmitido. Doutrina. Do gr. didachê, “ensino”. Ins- 4 truir era a obra dos “mestres” (ver lCo 12:29). 7. Flauta. Do gr. aulos, na LXX o equi­ valente ao heb. chalil (ver vol. 3, p. 23, 24). A palavra aidos no NT talvez se referisse a uma flauta simples. Citara. Do gr. kithara, “lira” ou “citara”. Distintos. Mesmo instrumentos sem vida, para que emitam sons que toquem a emoção dos ouvintes, devem produzir sons possíveis de ser discernidos. Eles devem ser regidos pelas leis reconhecidas de tom, ritmo e de intervalos de escala e medida; do contrário, seus sons não produzem o efeito desejado. 8. Trombeta. Sobre chifres antigos e trombetas, ver no vol. 3, p. 23, 24. A lingua­ gem da trombeta era inteligível para o exér­ cito. Mas, se a pessoa que tocava a trombeta não fizesse um chamado claro, resultaria em confusão, e o exército não estaria preparado para a batalha. 9. Língua. Neste caso, talvez se refira ao órgão da fala em vez de ao exercício do dom. Este versículo seria uma ilustração adicional à ideia dos v. 7 e 8. Ao ar. Isto é, que não produz efeito. 10. Vozes. Do gr. phõnai, “tons”, “sons”, “vozes”. Alguns preferem traduzir a pala­ vra como “línguas” (NTLH). As línguas são faladas com a intenção de transmitir alguma ideia inteligível aos ouvintes. Todas têm o propósito de ser úteis e não de ostentar. 11. Estrangeiro. Termo comum para indicar quem não era grego, que estava fora da esfera da língua e da cultura gregas.

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A si mesmo se ediflca. Portanto, o dom desempenha uma função útil e tem o seu lugar, mas não em assembléias públicas, a menos que haja um intérprete (ver v. 5, 19). Tendo em vista que eram raras as cópias das Escrituras do AT, havia mais necessidade de revelações pessoais da verdade divina. Edifica a igreja. O profeta recebe reve­ lações divinas, mas ele é meramente um agente pelo qual essas revelações são trans­ mitidas à igreja, para edificação. 5. Que vós todos falásseis. Para que não fosse acusado de menosprezar algum dom do Espírito, Paulo expressou o desejo de que todos os crentes falassem em lín­ guas. Este era um dom importante e tinha um papel a desempenhar na igreja. No entanto, o dom não devia ofuscar o menos espetacular, porém mais importante, dom de profecia. Superior. O dom de profecia era supe­ rior devido a seu valor para a igreja. Mais pessoas eram beneficiadas por ele do que pelo dom de línguas. Os dons do Espírito devem ser avaliados segundo a utilidade e não segundo sua natureza espetacular. Salvo se as interpretar. Aparentemente, quem falava em línguas nem sempre era capaz de interpretar os mistérios revelados a ele. Paulo aconselha a orar para que “a possa interpretar” (v. 13), mas adverte que “não havendo intérprete, fique calado na

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] 4:12

COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA 16. Indouto. Do gr. idiõtês, “alguém sem conhecimento profissional”, “sem habilidade”, “sem educação formal”. Neste contexto, parece se referir a uma pessoa “ignorante” quanto ao dom de línguas. Se alguém que pudesse falar em línguas exer­ cesse esse dom na igreja sem interpretação, então os demais presentes seriam incapa­ zes de participar da adoração. Dessa forma, seriam privados de compartilhar das bên­ çãos do serviço. Amém. Do gr. amãn, do heb. amen, que significa “firme”, “estabelecido” (ver com. do Mt 5:18). Quando empregado pela congrega­ ção, no final de um sermão ou de uma ora­ ção, expressa concordância com o que foi dito (ver lCr 16:36; Ne 5:13; 8:6). Também era dito pela congregação no final de uma oração para indicar confiança de que a prece seria atendida (ver Dt 27:15-26; Ne 8:6). Dava-se muita importância a essa prática; fato comprovado por declarações de alguns rabinos, por exemplo: “maior é aquele que « responde amém do que quem profere a bên­ ção” (Berakoth, 53.b, ed. Soncino, Talmude, p. 325). “Que seja bendito o nome de quem responde amém, com toda sua força, retirase sua sentença. [...] Quem responde amém com toda sua força tem os portões do pa­ raíso abertos para ele” (Shabbath, 119.b, ed. Soncino, Talmude, p. 589). Se a palavra fosse usada sem a devida consideração, era chamada de “amém órfão” (Berakoth, 47.a, ed. Soncino, Talmude, p. 284). O costume de responder com “amém” era comum na sinagoga, de onde foi adotado pela igreja cristã (ver Justino Mártir, Primeira Apologia, 65; Tertuliano, De Spectaculis, 25). 17. Bem. Ou, “corretamente”. Para não se pensar que quem louvava em oração ou cântico por meio do dom de línguas não se aproximava de Deus de modo aceitável, Paulo diz que essa adoração é boa e cor­ reta. Embora não edifique a igreja, edifica só quem louva desse modo (ver v. 4).

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Neste caso, é usado para indicar uma pes­ soa que falava outra língua. 12. Dons espirituais. Literalmente, “espíritos”. As diferentes manifestações dos poderes espirituais são representadas aqui como espíritos. Edificação. Não há nada de errado em desejar dons espirituais. Deus quer que Seu povo seja abençoado com dons espi­ rituais, mas o grande objetivo do derrama­ mento do Espírito, a saber, a edificação da igreja, deve ser a meta da busca pelos dons. Os dons não devem ser buscados de forma egoísta, para exaltar o eu e satisfazer ambi­ ções pessoais. 13. Língua estranha (ARC). Literal­ mente, “a língua”. O adjetivo “estranha” foi acrescentado. Interpretar. Ver com. do v. 5. 14. Língua estranha (ARC). Literal­ mente, “a língua”. Meu espírito ora. O dom de línguas era exercido sob influência do Espírito. Mistérios divinos eram manifestados “em espírito” (cf. com. do v. 2). A experiência talvez fosse semelhante ao de um profeta “em visão” (ver com. de Ap 1:10). Mente. Do gr. nous. Infrutífera. Isto pode ser entendido de dois modos: (1) a oração é infrutífera porque não é entendida pelos ouvintes e, assim, não transmite benefício; ou (2) a mente cons­ ciente fica em parte, se não totalmente, ino­ perante durante o exercício do dom, como no caso de um profeta em visão. 15. Que farei, pois? Qual c o caminho correto a seguir? Uma expressão similar se encontra em Romanos 3:9; e 6:15. Com o espírito. Isto é, num estado de êxtase (ver com. do v. 2). Mas também orarei com a mente. Esta combinação se daria se quem fala numa língua fosse capaz de interpretá-la ao mesmo tempo (ver com. do v. 5). A interpretação seria na língua dos ouvintes.

I CORÍNTIOS 18. Dou graças a Deus. Deus deve ser reconhecido como a fonte do dom de línguas. Este versículo mostra que Paulo não dimi­ nuía nem desprezava o dom. Mais do que todos vós. Porém, a Bíblia não registra nenhum caso em que o apóstolo tenha exercido esse dom. 19. Igreja. Do gr. ekklêsicr, ver com. do Mt 18:17. A referência não é ao edifício no qual ocorrem as reuniões, mas ao corpo orga­ nizado de crentes, independente do local onde estejam reunidos. Cinco palavras. No NT, o número “cinco” é usado com frequência como indi­ cando uns poucos. Então havia cinco pardais (Lc 12:6), cinco numa casa (Lc 12:52), cinco juntas de bois (Lc 14:19), etc. Com o meu entendimento. Ou, “com minha mente”, isto é, num modo diferente ao de “línguas”, a fim de ser inteligível aos outros. Instruir. Do gr. katêcheõ, “instruir oral­ mente”, “ensinar por palavra ou boca”. Desta palavra vem o termo “catecismo”, que origi­ nalmente significava instrução oral, como no caso dos dogmas da fé. E melhor dar uma exortação breve à igreja, como indicado pelas “cinco palavras”, para edificação, do que um longo sermão que não é compreen­ dido pelos ouvintes e assim não serve para instruí-los. Língua desconhecida (ARC). Ou, “outra língua” (ARA). 20. Irmãos. Palavra comumente usada por Paulo para exortar (ver com. de ICo 1:10). Meninos. Os coríntios tinham muito orgulho de sua sabedoria (ver ICo 1:20; 8:1, 2). Eles exultavam por suas conquis­ tas intelectuais, mas estavam se compor­ tando como crianças em relação aos dons do Espírito. Tinham mais interesse nos dons espetaculares, como o de línguas, do que nos dons que atuavam de forma mais dis­ creta, contudo, com mais eficiência para a igreja, como o de profecia. Com essa con­ duta, eles estavam colocando de lado a

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inteligência superior da qual se gloriavam e se rebaixando ao nível de crianças, pois avaliavam os fatos por sua aparência exte­ rior. Muitas coisas triviais ocupam o tempo e a atenção dos cristãos, em detrimento do que é de fato digno. Várias questões que assumem importância serão comparadas a brincadeiras de crianças quando os seres humanos encararem a realidade do juízo. Malícia. Do gr. kakia, “maldade”, “impie­ dade”, “depravação”, “malignidade”. Com res­ peito a essa qualidade, as crianças pequenas são consideradas inocentes. Essa é a atitude que será vista em todos que estão cheios do Espírito de Cristo. Sede crianças. Do gr. nõpiazõ, “ser bebês”. Esta expressão indica uma condi­ ção mais infantil do que paidia, traduzida por “meninos” na frase anterior. Ela sugere que cristãos que verdadeiramente nasceram de novo não terão familiaridade com a cor­ rupção moral do mundo. E provável que essa inocência com respeito à “malícia” seja parte do que Jesus tinha em mente quando afir­ mou que quem quer herdar o reino dos céus deve ser como uma criança (ver Mt 18:3). Homens. Do gr. teleioi, “plenamente crescidos”, “maduro”, “de idade plena”. Em outras palavras Paulo diz: “Demonstrai com vosso pensamento que sois adultos”. 21. Lei. Do gr. nomos. Neste caso, é evi­ dente que se refere a todo o AT (ver com. de Jo 10:34).

Está escrito. A citação é de Isaías 28:11, mas concorda apenas vagamente com o texto hebraico ou com a LXX. «g A passagem original é uma advertência para Israel com respeito à descrença e ao des­ prezo com que tratavam os mensageiros de Deus. Eles devem ter perguntado com escárnio se deviam ser tratados como meni­ nos por ter sido repetido aos ouvidos deles como se ensinavam aos pequeninos “linha sobre linha” e “preceito sobre preceito”. Por meio do profeta, Deus respondeu que, pelo

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fato de terem desprezado uma instrução tão simples, seriam instruídos por um povo estrangeiro, de língua diferente. Essa é uma referência às nações gentílicas, cm espe­ cial, Assíria e Babilônia, às quais os judeus foram levados em cativeiro. No cativeiro, eles ouviam apenas uma língua que lhes era ininteligível e bárbara. Porém, parece que no emprego dessa passagem do AT, Paulo enfatiza que, assim como Deus antigamente usou outras línguas com um propósito, Ele usa o dom de línguas para servir a um pro­ pósito importante na era cristã. 22. De sorte que. Esta expressão liga a frase seguinte à observação anterior. Assim como Deus outrora usou os assírios e os babilônios para convencer os israeli­ tas incrédulos, Ele usa o dom de línguas para convencer os incrédulos e fracos na certeza de que a mensagem do evangelho tem o selo do Céu. Um exemplo disso pode ser o Espírito Santo derramado sobre os que estavam reunidos na casa de Cornélio (At 10:24, 44-47). Sinal. Era um sinal para os que não criam. Isso não significa que, no momento em que se aceitava a fé, o dom não mais era útil. Ele deixava de ser um “sinal”, mas con­ tinuava a edificar o crente (ver com. do v. 4). Para os que creem. A profecia edifica a igreja, o corpo de crentes (v. 2-4). E um sinal da presença contínua de Deus. 23. Toda a igreja se reunir. Este caso representa um uso errôneo do dom de lín­ guas. Esse dom tinha o objetivo de ser um sinal para os incrédulos (v. 22), mas, quando exercido como o era em Corinto, com todos falando ao mesmo tempo, o dom tinha o efeito contrário. Indoutos. Do gr. idiõtai (ver com. do v. 16). Neste caso, a palavra parece se refe­ rir a pessoas não familiarizadas com o fenô­ meno das línguas. Incrédulos. Podem ser judeus ou pagãos. A menção a incrédulos mostra que não

cristãos frequentavam as reuniões dos cris­ tãos. Talvez por curiosidade, ou por desejo de conhecer algo sobre a religião. Como os “indoutos”, eles também seriam incapazes de compreender o que estava acontecendo. Loucos. Do gr. mainomai, “estar fora de si”. A palavra ocorre também em João 10:20; Atos 12:15; 26:24 e 25. A confusão resul­ tante da situação mencionada não podería transmitir nenhuma ideia de verdade ou san­ tidade a estranhos ou visitantes presentes. Pelo contrário, criaria uma impressão errada do cristianismo, sugerindo ser uma religião de confusão e loucura. 24. Todos profetizarem. O efeito do dom de profecia sobre crentes e pessoas igno­ rantes é então contrastado a uma demons­ tração confusa do dom de línguas. Quem profetiza fala numa língua conhecida à congregação. Por todos convencido. Ou, “conven­ cido de todos”. O Espírito Santo convence do pecado (ver com. de Jo 16:8), neste caso, por meio da mensagem dos que profetizam. 25. Tornam-se-lhe manifestos. Isto podia ocorrer por que a consciência era des­ pertada e os desígnios e motivações reais do coração eram revelados pelo Espírito Santo. Também podia ser que fatos secretos sobre os estranhos presentes na reunião seriam revelados sob inspiração do Espírito Santo. Foi a revelação de segredos de sua vida que convenceu a mulher samaritana de que Jesus era um profeta (Jo 4:19; cf. v. 29). Prostrando-se. Postura de adoração comum no Oriente. Testemunhando. Do gr. a-paggellõ, “declarar”. A reação, neste caso, seria o oposto da manifestada pelos visitantes que frequentavam as reuniões em que havia uma demonstração desordenada de línguas (v. 23). A convicção interior resultante do testemunho poderoso daqueles que têm o dom de profecia, quando cada um apresenta com clareza, lógica e persuasão a revelação

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1 CORÍNTIOS concedida pelo Espírito, leva o incrédulo ou indouto a confessar sua fé no poder de Deus. 26. Que fazer, pois, irmãos? Isto é, “o que se deve concluir do que foi dito?”; “o que deve ser feito, então?” Cada um de vós (ARC). Paulo não quer dizer que todos possuíam os vários dons alis­ tados aqui, mas que todos os dons estariam na igreja ao mesmo tempo, distribuídos entre os vários membros segundo a sabedoria e a vontade de Deus (ver lCo 12:6-11). Tem salmo. Isto é, uma pessoa teria a habilidade de cantar um cântico sagrado do livro dos Salmos; ou um crente poderia ser inspirado a compor um cântico de louvor e desejar cantá-lo na reunião (cf. Ex 15:20, 21; Jz 5:1; Lc 2:25-32). Doutrina. Ou, “ensino” (ver com. do v. 6). Revelação. Provavelmente uma referên­ cia àquilo que é revelado a alguém que tem 0 dom de profecia. E uma comunicação de Deus para benefício da congregação. Interpretação. Ver com. de lCo 12:10; 14:5. Edificação. Comparar com os v. 3-5; ver com. do v. 12. 27. Sucessivamente. Isto é, não ao mesmo tempo. E haja quem interprete. Ver com. de lCo 12:10; 14:5. E possível que alguém pudesse interpretar tudo o que era dito pelo que falasse em línguas. 28. Fique calado. Isto mostra que a pessoa com o dom de línguas teria certo con­ trole sobre o exercício do dom (cf. com. do v. 32). Consigo mesmo. Edificação pessoal seria o principal propósito do dom conforme exercido em Corinto (ver Nota Adicional a 1 Coríntios 14). 29. Dois ou três. O conselho aos profe­ tas é similar ao dado a quem falava em lín­ guas: evitar confusão (ver v. 33). Julguem. Do gr. diakrinõ, “discrimi­ nar”, “discernir”. Alguns acreditam que a

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expressão “os outros” se refere a outros na igreja que tinham o dom de profecia e tam­ bém o dom de discernimento, que deviam avaliar os dizeres dos profetas que falavam e determinar se a mensagem deles era de Deus ou se era inspirada por outro poder (cf. lTs 5:21; ljo 4:1). Jesus advertiu a igreja de que haveria “falsos profetas” que surgi­ ríam e tentariam enganar os crentes, e que a igreja deveria estar alerta contra estes a todo tempo, em especial à medida que se aproximasse do fim (ver Mt 24:5, 11, 24; 2Ts 2:9-11). Outros creem que o conselho de Paulo é dirigido aos ouvintes, cujo dever era fazer uma aplicação adequada da mensa­ gem a suas experiências individuais. 30. Vier revelação. Deus é quem revela. Em respeito à nova revelação, quem estivesse falando deveria concluir sua fala. Apenas um profeta devia falar por vez (v. 31). Assentado. Isto indica que a congrega­ ção estava assentada, e quem se dirigia à con­ gregação estava em pé (cf. com. de Lc 4:16). Cale-se. Do gr. sigaõ, “ficar em silêncio”, “manter silêncio”. 31. Todos podereis profetizar. Se na reunião houvesse ordem, e cada pessoa por vez se dirigisse à igreja, seria possível a todos transmitirem a verdade recebida. Para todos [...] serem consolados. Ou, “todos possam ser exortados”. As men­ sagens combinadas instruiríam apropria­ damente a todos. Um membro poderia ser encorajado e ajudado ao ouvir um falante em particular, ao passo que outros dariam exor­ tação a outros membros da congregação, e assim todos seriam edificados. 32. Estão sujeitos aos próprios pro­ fetas. Devia haver pessoas que afirma­ vam não poder ficar em silêncio quando estavam sob inspiração do Espírito Santo. Paulo rejeita essa pretensão. Os verdadei­ ros profetas tinham controle de sua mente e podiam falar ou permanecer em silêncio. A inspiração não elimina a individualidade

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e o livre-arbítrio. O agente humano expressa em seu próprio estilo e pensamento as verda­ des reveladas a ele (ver GC, v-vii). 33. Confusão. Deus não é de desordem, desunião, discórdia ou confusão. O verda­ deiro culto a Deus não encoraja desordem de nenhum tipo. Este versículo apresenta um princípio geral que rege o cristianismo e deriva da natureza divina. Ele é o Deus da paz, e não se deve ensinar que Ele Se agrada­ ria de uma forma de culto caracterizada por confusão de algum tipo (ver Rm 15:33; 16:20; iTs 5:23; Hb 13:20). O cristianismo tende a promovera ordem (ver lCo 14:40). Ninguém submisso à direção do Espírito Santo estará disposto a se envolver em desordem e con­ fusão como a que resultaria de várias pes­ soas falando ao mesmo tempo em línguas ou profetizando. O adorador estará pronto a expressar amor e gratidão a Deus em ora­ ção e testemunho, mas o fará com seriedade, delicadeza e um respeito genuíno à manuten­ ção da ordem na casa de Deus, e não com desejo de interromper e perturbar o culto. Todas as igrejas. Paulo observa que o princípio de procedimento ordenado no culto a Deus prevalece em todas as igre­ jas. Portanto, devia ser aceito também em Corinto. Deus é o autor da paz em todos os lugares, e quem realmente crê nEle busca preservar a paz ao adorá-Lo, refreando todo desejo de se exaltar em vista da demonstra­ ção dos dons do Espírito dados a ele. Alguns editores e tradutores ligam a lrase “como em todas as igrejas dos santos” ao v. 34. Não é possível definir a qual declara­ ção pertence a frase. 34. Mulheres caladas. Se a última frase do v. 33 está ligada ao v. 34 (ver com. do v. 33) a passagem diria: “como em todas as igrejas dos santos, conservem-se as mulheres caladas”. Com essa divisão, a ordem para que as mulheres fiquem em silêncio demonstra ser não uma mera restrição regional devido a alguma circunstância local, mas um reflexo

do costume geral em todas as igrejas. É pos­ sível que o costume fosse geral, pois, sem especificar nenhuma igreja em particular, Paulo adverte: “a mulher aprenda em silên­ cio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autori­ dade de homem; esteja, porém, em silêncio” (lTm 2:11, 12). Alguns encontram dificuldades em entender esta proibição, não só com base no conceito atual do lugar da mulher na igreja, mas também no lugar e no serviço da mulher na história da Bíblia (ver Jz 4:4; 2Rs 22:14; Lc 2:36, 37; At 21:9). O próprio Paulo elo­ giou as mulheres que trabalharam com ele no evangelho (Fp 4:3). Não há dúvidas de que elas desempenhavam parte importante na vida eclesiástica. Então, por que deveríam ser proibidas de falar em público? A resposta encontra-se no v. 35. Lei. As Escrituras ensinam que, devido a seu papel na queda do homem, a mulher foi designada por Deus a uma posição subordi­ nada ao marido (ver Gn 3:6, 16; Ef 5:22-24; lTm2:ll, 12; Tt 2:5; lPe3:I,5,6). Por causa da mudança na natureza humana resultante da entrada do pecado, a harmonia que o ser humano desfrutava foi alterada. Não con­ vinha mais que o homem e a mulher tives­ sem a mesma autoridade na direção do lar, e Deus escolheu colocar sobre o homem mais responsabilidade na hora de tomar decisões e instruir a família (ver PP, 58, 59). 35. Interroguem [...] a seu próprio marido. Este procedimento preveniría inter­ rupções inadequadas no serviço de culto e evitaria a confusão resultante. E vergonhoso. Isto era assim por causa do costume dos gregos e dos judeus de que as mulheres deviam se retirar quando se dis­ cutiam assuntos públicos. A violação desse costume seria considerada vergonhosa e tra­ ria desonra à igreja. 36. No meio de vós. A igreja de Corinto não foi a primeira, mas uma das últimas,

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I CORÍNTIOS fundadas por Paulo. Por isso, essa igreja não estava em posição de estabelecer regras de conduta para as demais ou de reivindicar se diferenciar das outras. Ela não estava sozi­ nha na proclamação do evangelho; portanto, devia dar a devida consideração aos prin­ cípios de conduta e aos procedimentos na adoração aceitos em geral. Aparentemente, a igreja de Corinto tinha adotado costumes incomuns, como permitir que as mulheres participassem dos serviços públicos sem o véu (ver com. de ICo 11:5, 16) e que falasgV sem na igreja de uma forma não praticada em outras congregações. Eles permitiram que houvesse irregularidade e confusão na igreja. Mas não tinham o direito de se dife­ renciar assim de outras igrejas, nem de dizer às outras igrejas que elas também deviam tolerar confusão e desordem. Deviam ter reconhecido o dever de se harmonizar às prá­ ticas do conjunto das igrejas cristãs. Exclusivamente para vós. A igreja de Corinto não foi a primeira a ser estabelecida, nem era a única. Por meio de Seus servos, Deus estava estabelecendo igrejas em mui­ tos locais. Se uma igreja tinha o direito de ter seus próprios costumes e hábitos, outras também o teriam. Se essa ideia fosse ado­ tada, resultaria em confusão e desordem. Portanto, todas as igrejas deviam adotar o mesmo plano geral para procedimento na adoração pública, e costumes que não eram seguidos em outras igrejas não deviam ser permitidos em Corinto. 37. Se alguém se considera pro­ feta. Quem afirmasse ter qualquer dom do Espírito, mas se recusasse a reconhecer que a instrução dada por Paulo provinha do Senhor, demonstraria que sua inspiração não era divina. Senhor. Paulo não falava com sua própria autoridade ou em seu nome. Ele falava aos coríntios no nome do Senhor e inspirado pelo Espírito. Ao aceitar o conselho do apóstolo e obedecer às instruções que lhes eram dadas

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por meio dele, os coríntios demonstrariam estar dispostos a ser dirigidos pelo Senhor. A verdadeira fé sempre demonstra sua legi­ timidade por meio do respeito para com os mandamentos de Deus. Por outro lado, qual­ quer profissão de fé que não leve em consi­ deração os mandamentos divinos, que rejeite a autoridade das Escrituras e não zele pela paz e ordem na igreja prova não ser genuína. 38. Ignorar. Do gr. agnoeõ, “não reco­ nhecer”. De fato, Paulo disse que se alguém não reconhecia que ele era inspirado por Deus e, por isso, não recebia suas instru­ ções como ordens divinas, o fazia para seu próprio mal. O apóstolo tinha dado evidên­ cias suficientes de estar cumprindo uma mis­ são designada por Deus e não precisava dizer nada mais a esse respeito. Quem rejeitasse seu conselho pagaria as consequências. Não havia mais nada a se fazer por essa pessoa; ela respondería perante Deus por sua rebelião. A ignorância voluntária acerca das ordens divinas não será desculpa para ninguém, mas resultará em ruína. O Espírito Santo não con­ tinuará a rogar eternamente por alguém que se apega com obstinação às próprias idéias errôneas, mesmo depois de ter conhecido o caminho correto (ver Gn 6:3; Os 4:17). Tal obstinação e ignorância voluntária dos pla­ nos dc Deus para o mundo é uma atitude característica de certos tipos de pessoas dos últimos dias, e é um sinal da proximidade do fim (ver 2Pe 3:3-5). E perigoso rejeitar a luz divina para continuar a satisfazer os desejos do coração natural, que está sempre em ini­ mizade contra Deus (ver Rm 8:6-8; Gl 5:16, 17; ljo 2:15, 16). Será ignorado. Nesse caso, essas pes­ soas não seriam reconhecidas por Deus. Essa experiência é o oposto da descrita em 1 Coríntios 8:3: “Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido por Ele.” 39. Com zelo. Do gr. zêloõ, “ter zelo por”. Resumindo seu raciocínio, Paulo rea­ firma a prioridade dada ao dom de profecia

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

no v. 1, em que aponta esse dom como o mais desejado ao qual os cristãos podem aspirar. E maravilhoso que alguém seja capaz de falar inspirado pelo Espírito Santo de forma que toda a igreja seja edificada. Não proibais. Não pode haver nenhum obstáculo ao exercício do dom de línguas. O que se deve evitar é o uso desse dom nas reuniões públicas quando não houver intér­ prete (ver Nota Adicional a 1 Coríntios 14). 40. Ordem. Do gr. kata taxin, “segundo a ordem”, “segundo a distribuição”. A expres­ são foi empregada como termo militar, indi­ cando a regularidade e ordem com que se formam as fileiras de um exército em dis­ posição ordenada. Podem surgir muitas per­ guntas sobre os métodos e formas de culto nas igrejas, mas o bom-senso e a devida reverência a Deus indicam o que é apro­ priado e evita erros. Tudo deve ser feito com decoro na adoração ao onipotente Criador.

Na igreja, não deve haver confusão, ruído desnecessário nem desordem (ver Hc 2:20; Ev, 314, 636, 637; Ed, 243; PR, 48, 49; PP, 303; T4, 626). O cristão deve sempre se guardar con­ tra o mal da formalidade no culto público. Deus não deseja demonstração exterior ou exibições de talento, mas a devoção sincera com amor externada em oração e louvor (ver Jo 4:24; T9, 143). Dignidade e reverên­ cia são essenciais, mas serão inspiradas por um genuíno senso da majestade e da gran­ deza de Deus, e não pela resposta ao impulso do coração natural por exaltação própria. Para que a adoração pública a Deus seja de fato reverente deve ser conduzida de modo que todos os presentes possam participar de forma inteligente de tudo o que é feito. Portanto, o uso de línguas ininteligíveis é inadequado, a menos que sejam interpreta­ das para o benefício de todos.

NOTA ADICIONAL A 1 CORÍNTIOS 14 Há dois pontos de vista principais com respeito ao dom de línguas discutido em 1 Coríntios 14. Alguns entendem que a manifestação deve ser explicada com base no fenô­ meno de línguas no Pentecostes (At 2). O idioma falado sob a influência do dom era estran­ geiro, mas podia ser facilmente compreendido pelo que o falasse. Os coríntios estariam pervertendo o emprego do dom ao falar numa língua estrangeira na igreja quando ninguém presente podia entender. Isso seria o mau uso do dom, o que Paulo reprovou. Outros afirmam que a manifestação do dom em Corinto era diferente da ocorrida no Pentecostes. A língua não seria um idioma falado por seres humanos. Por isso, ninguém poderia compreendê-la a menos que estivesse presente um intérprete que possuísse o dom do Espírito (ICo 12:10). A função desse tipo do dom seria a de confirmar a fé dos novos con­ versos (lCo 14:22; cf. At 10:44-46; 11:15) e prover edificação espiritual pessoal (ICo 14:4). O exercício desse dom em assembléias públicas, com o fim principal de edificação pessoal, seria o que Paulo condenou em 1 Coríntios 14. Outros pontos de vista combinam elemen­ tos dessas duas opiniões principais. Ao analisar essa questão, é útil enumerar as características do dom de línguas manifes­ tado no Pentecostes e em Corinto. Havia claramente a habilidade de falar línguas estran­ geiras, e seu propósito era facilitar a divulgação do evangelho (cf. AA, 39, 40). Uma segunda função pode ser vista na experiência de Pedro na casa de Cornélio, em que a manifestação do dom convenceu Pedro e os cristãos judeus que estavam com ele de que Deus aceitava os gentios (ver com. de At 10:46) e, sem dúvida, também convenceu Cornélio e os que esta­ vam com ele de que a obra de Pedro era divina.

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1 CORÍNTIOS A respeito do dom posteriormente manifestado em Corinto, observam-se as seguintes características: o dom é inferior ao de profecia (ICo 14:1); quem fala em línguas se dirige a Deus e não aos seres humanos (v. 2); ninguém entende o que fala em línguas (v. 2); quem fala está “em Espírito”, isto é, em êxtase (ICo 14:2, 14; cf. com. de Ap 1:10); a pessoa que fala em línguas fala de mistérios (ICo 14:2; sobre mistérios, ver com. de Rm 11:25); o falante edifica a si mesmo e não a igreja (ICo 14:4); Paulo gostaria que todos tivessem o dom (v. 5); quem tinha esse dom devia orar para que pudesse interpretar, a fim de que a igreja fosse edificada (v. 12, 13); o entendimento, ou seja, a mente, não recebe proveito quando se ora em “línguas”, indicando que a experiência não corresponde a um estado mental consciente (v. 14); o dom devia servir de sinal para os que não criam (v. 22); o dom devia ser usado na igreja somente se um intérprete estivesse presente (v. 27); do contrário, a pessoa devia falar apenas para si e para Deus (v. 28); e os coríntios foram admoestados a não proibir o falar em línguas (v. 39). «3! A lista das características do dom implica que o apóstolo não lida com um dom falso. Ele alistou o dom de línguas entre os dons genuínos do Espírito (ICo 12:8-10) e, em nenhum texto, sugere que o dom descrito em 1 Coríntios 14 não seja de Deus. Pelo contrário, ele o louva (ICo 14:5, 17) e afirma que falava em línguas mais do que os coríntios (v. 18). Expressa 0 desejo de que todos tivessem esse dom e insta os crentes a não proibir seu exercício (v. 39). O propósito de Paulo nessa discussão é mostrar o lugar e a função do dom e adver­ tir contra o mau uso. É evidente que os coríntios faziam mau uso desse dom. Falavam em línguas na igreja quando não havia intérprete e quando ninguém era beneficiado, exceto aqueles que fala­ vam. Aparentemente, vários falavam ao mesmo tempo enquanto outros profetizavam e ensi­ navam. Isso resultava em confusão geral (v. 26-33, 40). A questão se as línguas eram um idioma conhecido ou não, ou se eram simplesmente sons inarticulados, é muito debatida pelos comentaristas. Quem acredita que se falava numa língua estrangeira, desconhecida do falante, mas compreendida por aqueles familiarizados com ela, argumentam com base no que chamam de analogia das Escrituras, que o dom em Corinto deve ser explicado com base na manifestação do Pentecostes (At 2) e em outras ocasiões (At 10:44-46; 11:15; 19:6) e que, portanto, o propósito era claramente o de habi­ litar as pessoas a pregar o evangelho em línguas antes desconhecidas para eles. Explicam 1 Coríntios 14:2, em que se diz que nenhum dos presentes pode entender, como indicando que ninguém que estava ah podia entender, embora estrangeiros o pudessem. Eles ainda observam que é difícil conceber que o Espírito Santo Se manifestaria numa língua desco­ nhecida, levando em consideração o contexto de 1 Coríntios 14. Aqueles que defendem que o fenômeno consistia de sons não inteligíveis, não relacio­ nados a uma linguagem humana, argumentam que esse é o modo mais natural de se inter­ pretar as várias passagens que tratam do tema, e que essa é a conclusão inevitável a que se chega quando se leva em conta todas as características alistadas. Creem que a ilustra­ ção de Paulo nos v. 7 a 10 tem o propósito de mostrar que o que se ouviam eram sons inar­ ticulados ou uma língua não compreendida, a menos que também estivessem possuídos pelo Espírito e tivessem o dom da interpretação (ICo 12:10). Qualquer que seja o ponto de vista adotado, uma coisa é certa: a manifestação do dom no Pentecostes e os objetivos pelos quais foi dado (At 2) diferiam em muitos aspectos do dom manifestado em Corinto. O dom em Corinto servia para edificar quem falava, não a outros (ICo 14:4). Paulo não encorajou seu uso em público, a menos que houvesse um

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COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE 2-TI, 412, 419 7-T1, 231 7- 12-CPPE, 243 8- CPPE, 459; OP, 111; Ev, 119, 218, 397, 523, 689; FEC, 407, 483;

T5, 719; T6, 61, 375, 431; T8, 168; T9, 29 13-19-CPPE, 244 15-Ev, 127, 507, 508, 509, 510; Tl, 146; T2, 582, 699; T9, 143

32, 33 - AA, 200 33-A A, 96; TM, 54; Tl, 231, 653; T7, 284 40 - Ev, 207; PE, 97; PP, 376; Tl, 145; T5, 274; T6, 98, 169

Capítulo 15 3 Por meio da ressurreição de Cristo, 12 Paido afirma a certeza da ressurreição. 21 Cristo é as primtcias dos que dormem. 51 A transformação a ser experimentada no dia final. 1 Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; 2 por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. 3 Antes de tudo, vos entreguei o que tam­ bém recebí: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras,

4 e que foi sepultado c ressuscitou ao ter­ ceiro dia, segundo as Escrituras. 5 E apareceu a Cefas e, depois, aos doze. 6 Depois, foi visto por mais de quinhen­ tos irmãos de uma só vez, dos quais a maioria sobrevive até agora; porém alguns já dor­ mem. 7 Depois, foi visto por Tiago, mais tarde, por todos os apóstolos

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intérprete presente (v. 12, 13, 27). Não recomendou seu uso na igreja (v. 19, 28). A mensa­ gem era direcionada a Deus, não às pessoas (v. 2, 28). Quem falava em línguas ficava em êxtase e inconsciente (v. 14). Isso não aconteceu quando esse dom foi dado aos discípulos no Pentecostes. A habilidade de falar em línguas estrangeiras foi claramente designada para edificar a outros. Foi concedida para que os discípulos pudessem pregar o evangelho sem os serviços de um intérprete. A mensagem se dirigia às pessoas, não a Deus, e quem falava não se encontrava em êxtase, mas agia como quem tivesse adquirido uma nova língua por meio de estudo (ver com. de At 2). Devido a alguns aspectos obscuros com respeito à maneira em que o dom de línguas se manifestou no passado, Satanás encontrou facilidade em falsificar esse dom. Nos cultos pagãos, o fenômeno se manifestava com frequência, e seus sons incoerentes eram bem conhe­ cidos. Também mais tarde, sob disfarce do cristianismo, surgem várias manifestações do suposto dom de línguas de tempos em tempos. Porém, quando se comparam essas manifes­ tações às especificações bíblicas do dom de línguas, conclui-se que são algo bem diferente do dom outrora concedido pelo Espírito. Portanto, devem ser rejeitadas como espúrias. Contudo, a existência da falsificação não deve levar a se ignorar o dom genuíno. A manifestação ade­ quada do dom abordado em l Coríntios 14 tinha uma função útil. E verdade que foi mal empregado, mas Paulo tentou corrigir os abusos e atribuir ao dom o seu devido lugar e função. «

1 CORÍNTIOS 8 e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo. 9 Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus. 10 Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a Sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo. 11 Portanto, seja eu ou sejam eles, assim pre­ gamos e assim crestes. 12 Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afir­ mam alguns dentre vós que não há ressurrei­ ção de mortos? 13 E, se não há ressurreição de mortos, então, Cristo não ressuscitou. 14 E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé; 15 e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que Ele ressuscitou a Cristo, ao qual Ele não ressus­ citou, se é certo que os mortos não ressuscitam. 16 Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. 17 E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. 18 E ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram. 19 Se a nossa esperança em Cristo se limi­ ta apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens. 20 Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo Ele as primícias dos que dormem.

21 Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. 22 Porque, assim como, em Adão, todos mor­ rem, assim também todos serão vivificados em Cristo. 23 Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na Sua vinda. 24 E, então, virá o fim, quando Ele en­ tregar o reino ao Deus e Pai, quando houver

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destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. 25 Porque convém que Ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. 26 O último inimigo a ser destruído é a morte. 27 Porque todas as coisas sujeitou debaixo dos pés. E, quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas, certamente, exclui Aquele que tudo Lhe subordinou. 28 Quando, porém, todas as coisas Lhe es­ tiverem sujeitas, então, o próprio Filho também Se sujeitará Àquele que todas as coisas Lhe su­ jeitou, para que Deus seja tudo em todos. 29 Doutra maneira, que farão os que se ba­ tizam por causa dos mortos? Se, absolutamente, os mortos não ressuscitam, por que se batizam por causa deles? 30 E por que também nós nos expomos a pe­ rigos a toda hora? 31 Dia após dia, morro! Eu o protesto, irmãos, pela glória que tenho em vós outros, em Cristo Jesus, nosso Senhor. 32 Se, como homem, lutei em Efeso com feras, que me aproveita isso? Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã morreremos. 33 Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes. 34 Tornai-vos à sobriedade, como é justo, e não pequeis; porque alguns ainda não têm conhe­ cimento de Deus; isto digo para vergonha vossa. 35 Mas alguém dirá: Como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêm? 36 Insensato! O que semeias não nasce, se primeiro não morrer; 37 e, quando semeias, não semeias o corpo que há de ser, mas o simples grão, como de trigo ou de qualquer outra semente. 38 Mas Deus lhe dá corpo como Lhe aprouve dar e a cada uma das sementes, o seu corpo apropriado. 39 Nem toda carne é a mesma; porém uma é a carne dos homens, outra, a dos animais, outra, a das aves, e outra, a dos peixes.

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40 Também há corpos celestiais e corpos ter­ restres; e, sem dúvida, uma é a glória dos celes­ tiais, e outra, a dos terrestres. 41 Uma é a glória do sol, outra, a glória da lua, e outra, a das estrelas; porque até entre estrela e estrela há diferenças de esplendor. 42 Pois assim também é a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupção, ressus­ cita na incorrupção. Semeia-se em desonra, res­ suscita em glória. 43 Semeia-se em fraqueza, ressuscita em poder. 44 Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual. 45 Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante. 46 Mas não é primeiro o espiritual, e sim o natural; depois, o espiritual. 47 O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu. 48 Como foi o primeiro homem, o terreno, tais são também os demais homens terrenos; e, como é o homem celestial, tais também os celestiais. 49 E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também a ima­ gem do celestial.

50 Isto afirmo, irmãos, que a carne e o san­ gue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção. 51 Eis que vos digo um mistério: nem to­ dos dormiremos, mas transformados seremos todos, 52 num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. 53 Porque é necessário que este corpo cor­ ruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. 54 E, quando este corpo corruptível se re­ vestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a pa­ lavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória. 55 Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? 56 O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. 57 Graças a Deus, que nos dá a vitória por in­ termédio de nosso Senhor Jesus Cristo. 58 Portanto, meus amados irmãos, sede fir­ mes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso tra­ balho não é vão.

1. Também (ARC). Do gr. de, “mas” ou “agora”, marcando uma mudança na linha de pensamento e a introdução de um novo tema: a ressurreição. Este capítulo contém o que se pode cha­ mar de a glória com a qual culmina a epís­ tola: uma exposição da verdade sobre a ressurreição. A discussão pode ser dividida em quatro partes: a realidade da ressurreição (v. 1-34); a natureza do corpo ressuscitado (v. 35-50); o que ocorre aos vivos por oca­ sião do segundo advento de Cristo (v. 51-54); e as consequências práticas dessa doutrina (v. 55-58). O testemunho da ressurreição de Jesus nos v. 3 a 8 se refere a acontecimentos

não registrados nos evangelhos (ver v. 6, 7). Paulo declara que a morte e a ressurreição de Cristo foram profetizadas antes e foram testemunhadas por pessoas que ainda viviam (v. 5, 6). Este é um dos primeiros testemu­ nhos da ressurreição, escrito dentro dos pri­ meiros 25 anos depois de acontecido o fato (ver p. 89-91). Paulo argumenta que a evi­ dência da ressurreição como um fato literal e histórico foi suficiente para convencer um poderoso intelecto de um contemporâneo hostil: ele mesmo. Dentre os erros inseridos na igreja de Corinto como resultado do rebaixamento do padrão moral por alguns dos crentes,

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os cristãos sejam com frequência relembra­ dos do evangelho mediante o qual o Espírito Santo realizou neles a conversão. Isso os ajuda a permanecer humilde e impede de confiar nas próprias filosofias (cf. Cl 2:8). 2. Salvos. Literalmente “estão sendo sal­ vos”. A salvação é uma experiência contínua (ver com. de Rm 8:24; cf. PJ, 65). Se retiverdes. Ou, “se apegarem”, isto é, ao que Paulo pregou a eles. Este apego signi­ fica mais do que concordância com as dou­ trinas, indica convicção absoluta do que se crê. Essa convicção os levaria a se conduzir em harmonia com a fé, e não lhes permitiria abrigar pensamentos errados. Crido em vão. Não havia nada de errado com a mensagem pregada, mas a forma como os coríntios criam na mensagem podia dar espaço a questionamentos. Se a crença deles era indiferente, teria pouco valor. Se a fé fosse firme, então considerariam a doutrina de Paulo suficiente para guiá-los no cami­ nho da salvação. Tendo dito isso, o apóstolo garante que de fato lhes anunciou o verda­ deiro evangelho. 3. Antes de tudo. Em ordem de apre­ sentação ou de importância. O apóstolo * alista os quatro “primeiros” fatos que tinha ensinado aos crentes: Cristo morreu por nos­ sos pecados, foi sepultado, foi ressuscitado, e apareceu aos discípulos (v. 3-5). Alguns sugerem que esses fatos formam a base para o mais antigo credo cristão de que se tem conhecimento. Entreguei. Paulo nunca afirmou que era o autor do evangelho que pregava. Ele deixou claro que transmitia uma mensagem dada a ele pelo Senhor (cf. ICo 11:2, 23; G1 1:12; Ef 3:2, 3). Isso enfatiza a origem divina da doutrina que ele pregava, exaltando dessa forma a mensagem e tornando imperativa sua observância. Pelos nossos pecados. A palavra grega traduzida como “pelos” (hyper) tem o signi­ ficado de “em favor de” ou “por causa de”.

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estava a rejeição da crença na ressurreição (ver ICo 3:3; 5:1, 2; AA, 319). A discussão detalhada de Paulo dessa doutrina enfatiza sua importância vital (cf. Jo 5:28, 29; 11:25; At 23:6; 24:14, 15; Rm 1:3, 4; Fp 3:10, 11; Ap 20:6). Satanás sempre deseja ocultar uma verdade vital e substituí-la por um engano; portanto, os cristãos fazem bem em revisar com frequência as principais verdades do evangelho, preenchendo a mente com elas a fim de não haver lugar para idéias errôneas (ver com. de 2Tm 2:15). Lembrar-vos. Do gr. gnõrizõ, “tornar conhecido”, “fazer saber”, mas, visto que Paulo está repetindo o que já disse aos coríntios, a palavra deve ser usada no sentido de “reiterar”, “relembrar”. O apóstolo sente necessidade de repetir o conteúdo de sua pregação e, ao fazer isso, enfatiza a doutrina da ressurreição. Evangelho. Ver com. de Mc 1:1.0 con­ teúdo do evangelho, ou “boas-novas”, que Paulo pregou aos coríntios pode ser reunido de 1 Coríntios 1:7 a 9, 17 a 24; e 2:2, em que a cruz de Cristo é o destaque. A dou­ trina da morte expiatória do Salvador está necessariamente associada a esse tema cen­ tral (ICo 15:3). Tudo relacionado à vida de Cristo na Terra é de interesse e importância para o crente, mas Paulo revela que as glo­ riosas novas da salvação atingem seu clímax na ressurreição. Recebestes. Paulo tinha pregado fiel­ mente o evangelho, e relembra aos membros da igreja que eles receberam e aceitaram a mensagem. Perseverais. A forma grega do verbo sugere que eles tinham permanecido e con­ tinuavam a permanecer na fé que Paulo lhes transmitira. Ele tinha fundado a igreja em Corinto (ver At 18). Portanto, era apropriado que ele lhes relembrasse as grandes verda­ des sobre as quais a igreja tinha sido esta­ belecida, mas das quais tinham desviado a atenção por causa de erros introduzidos entre eles, como brigas e contendas. E bom que

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

Jesus, o Cordeiro de Deus, morreu como uma oferta expiatória pelos nossos peca­ dos. Ele morreu para fazer expiação pelo pecado (ver com. de Rm 3:24-26; 4:25; 5:8; 2Co 5:21; G1 1:4; lPe 2:24). Essa foi a pri­ meira grande verdade que Paulo ensinou aos coríntios. A morte vicária de Cristo expiou nossos pecados, mas Ele não permaneceu sob o poder da morte. Visto que não pecou, a morte não podia retê-Lo, e Ele ressurgiu triunfante da sepultura (ver com. de Jo 10:17; At 2:22-24). Escrituras. E evidente que Paulo deu a seus conversos uma base bíblica sólida para sua fé e recorreu a muitas das profecias do AT sobre o Messias (cf. com. de Lc 24:26, 27, 44). Suas aplicações sábias das passagens que falam da vida, dos sofrimentos e da morte do Messias prometido levaram convicção aos que creram e silenciaram a oposição dos crí­ ticos judeus (ver com. de At 9:19-22; 13:1441; 17:3; 18:4-6; 24:14; 26:4-8, 22, 23; 28:23). 4. Sepultado. O sepultamento certifi­ cou que o Salvador, de fato, tinha morrido e proporcionou a condição necessária à ressur­ reição. O pedido de José de Arimateia para remover o corpo de Cristo da cruz fez com que Pilatos perguntasse se Ele tinha morrido (Mc 15:43-45). A preparação para o sepulta­ mento conforme registrada nos evangelhos, e o relato de como foi posto na tumba e vigiado por soldados romanos, diante da sugestão dos principais sacerdotes, confirmam Sua morte (ver Mt 27:57-60, 62-66; Lc 23:5056; Jo 19:38-42). Ressuscitou, O verbo está na voz pas­ siva do tempo perfeito e, assim, indica que “foi ressuscitado e ainda está vivo”. Os ver­ bos “morreu” (v. 3) e “foi sepultado” (v. 4) estão no modo aoristo, como eventos histó­ ricos no passado, em contraste com o sentido de continuidade implícito no tempo perfeito. Assim, Paulo não só enfatiza que Jesus tinha ressuscitado dos mortos, mas que Ele estava vivo, e que essa condição é permanente.

Terceiro dia. Sobre o intervalo entre a morte e a ressurreição de Cristo, ver vol. 5, p. 246-249; comparar com Mt 12:40; Lc 24:46. 5. Apareceu. Neste caso, a ação é credi­ tada ao Senhor ressurreto em vez de a Pedro. Paulo continua a alistar os pontos princi­ pais do evangelho que transmitiu aos corín­ tios (v. 3). Cefas. Do gr. Kephas, uma transliteração do aramaico Kepha, que é traduzido para o grego como Petros, “Pedro” (ver com. de Mt 4:18; sobre a aparição de Cristo a Pedro, ver com. de Lc 24:34). Paulo recorre ao testemu­ nho daqueles que em primeiro lugar soube­ ram da ressurreição, e em especial aos que ainda viviam para atestar sua veracidade. Como estava apenas relembrando a eles a doutrina previamente ensinada, ele não bus­ cou reproduzir toda a evidência disponível, mas apenas resumiu o que eles já sabiam. Doze. Evidências textuais (cf. p. xvi) apoiam o número “onze”, que seria uma tentativa de harmonizar este versículo com o número de apóstolos que permaneceram após a morte de Judas e antes da escolha de Matias (cf. At 1:26). Na primeira aparição de Cristo aos apóstolos, apenas dez estavam presentes, visto que Tomé não se encontrava no grupo (Jo 20:24). Mas, sem dúvida, Paulo usou o número "doze” como uma designação oficial do grupo de apóstolos. Portanto, não há discrepância vital entre este versículo e os fatos históricos. 6. Mais de quinhentos. Os evange­ lhos não mencionam que Jesus tenha apa­ recido a um grupo tão numeroso, mas uma declaração de Mateus sugere esse ajunta­ mento (ver Mt 28:10, 16; Nota Adicional a Mateus 28). Os onze, em obediência à ins­ trução do Senhor ressuscitado (Mt 28:9, 10), foram para a Galileia. E pouco provável «§ que guardassem para si essa grande notí­ cia. Devem ter informado aos crentes que Jesus planejava se encontrar com eles. Mais de 500 compareceram, demonstrando que o

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1 CORÍNTIOS Senhor tinha muito mais discípulos do que em geral se supõe. A maioria sobrevive. Isto é, a maior parte dos 500 ainda estava viva quando Paulo escreveu esta epístola. Unidos, podiam dar poderoso testemunho da ressurreição de Cristo, pois algo confirmado por tantas tes­ temunhas não podia ser descartado. Dormem. Do gr. koimaõ (ver com. de Jo 11:11). Esta expressão é usada nas Escrituras para indicar a morte (ver Mt 9:24; At 7:60; iCo 15:18; lTs 4:13-15; 2Pe 3:4). 7. Tiago. Não há evidência acerca de qual Tiago se fala aqui, mas a maioria dos comentaristas o identifica com Tiago, o irmão de Jesus (sobre os diversos homens chamados Tiago, ver Introdução à epístola de Tiago). Não existe outro registro da apari­ ção do Senhor a Tiago, mas se o Tiago men­ cionado neste versículo era de fato o irmão do Senhor, e quem presidiu o concilio da igreja em Jerusalém (ver com. de At 12:17; 15:13), então Paulo o tinha encontrado em Jerusalém e, sem dúvida, teria ouvido o tes­ temunho pessoal de Tiago sobre a aparição à qual se refere. Por todos os apóstolos. Sem dúvida, esta é uma referência à última aparição de Cristo aos apóstolos, por ocasião da ascen­ são aos céus (ver At 1:6-12). 8. Depois de todos. Esta frase sugere que a enumeração anterior de aparições está em ordem cronológica e que Paulo foi o último a quem Cristo apareceu pessoalmente. Nascido fora de tempo. Do gr. ektrõma, “aborto”, “natimorto”. A palavra ocorre somente nesta passagem no NT grego, mas é usada na LXX (Nm 12:12; Jó 3:16; Ec 6:3). O apóstolo quer dizer que, comparado aos outros apóstolos, ele não passa de um bebê que nasce morto. Os outros cresceram e amadureceram no minis­ tério, ao passo que Paulo foi introduzido ao apostolado de forma abrupta. Ele também pode ter expressado aqui sua indignidade de

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ser contado com os discípulos, por causa do modo como tinha tratado os que criam em Cristo (ver com. de At 7:58; 8:1, 3; 9:1, 13, 21; 26:10). Por sua incansável diligência, o apóstolo parecia mostrar que sentia grande obrigação de compensar a falta de relacio­ namento pessoal com Jesus quando esteve na Terra. 9. O menor. Ele tinha sido o último de todos (v. 8) e afirma ser o menor (cf. com. de Ef 3:8). Não sou digno. Isto é, não qualificado o suficiente. Paulo reconhece que ninguém, em sentido algum, é digno de ser chamado ao serviço de Deus (ver com. de 2Co 3:5). Pois persegui. Parece que ele nunca se perdoou por sua antiga oposição feroz aos crentes, e a lembrança dessa experiência o mantinha humilde e grato pela bondade do Senhor (ver At 22:4; 26:9-11; Cl 1:13; lTm 1:13). No coração verdadeiramente conver­ tido, o perdão divino produz percepção do pecado bem como sentimentos de grati­ dão e humildade. Tal experiência capacita a testemunhar. 10. Graça de Deus. Sobre a graça, ver com. de Rm 3:24. Tudo o que ele tinha se tor­ nado ou o que tinha alcançado no serviço do Senhor, Paulo atribuiu à misericórdia ime­ recida, ao favor e poder de Deus. Ele havia aprendido a lição essencial de que todas as conquistas não têm valor na obra de Deus se a pessoa não recebeu a dádiva espiritual do Pai, chamada “graça”. Paulo sabia que todo zelo, piedade, habilidade e o êxito como após­ tolo eram resultado do favor imerecido de Deus. Pela graça de Deus ele foi habilitado a realizar mais do que os outros. Sou o que sou. A frase enfatiza a con­ dição espiritual de Paulo e não contém jactância. Não se tornou vã. Nestas palavras se manifesta uma nota de grata satisfação. Ele está feliz porque a graça de Deus não lhe foi concedida em vão.

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Trabalhei muito mais. Isto é, com mais intensidade. Consagração e trabalho duro gr- quase sempre produzem colheita abundante. Mas, como revela a frase seguinte, o após­ tolo não permitia que o orgulho destruísse seu êxito evangelístico. Não eu. Paulo não deu margens para alguém imaginar que tomava o crédito para si. Ele confere toda a glória a Deus. Todos os que alcançam êxito verdadeiro na obra de Deus reconhecerão que todo bem alcançado resultou da graça de Deus que os habilitou para Sua obra (cf. Cl 2:20; Fp 2:13; 4:13). 11. Portanto. Paulo encerra a compara­ ção entre ele e os outros apóstolos (v. 9, 10), e conclui: visto que todo poder de um teste­ munho cristão válido vem de Deus, a iden­ tidade e personalidade do agente humano é insignificante. Assim pregamos. Oue corajosa afirma­ ção quanto à unidade do testemunho apos­ tólico! Todos os apóstolos davam o mesmo testemunho sobre a ressurreição de Cristo. Portanto, não importava qual deles tinha levado a mensagem aos coríntios. Esse prin­ cípio tem aplicação universal e pode ser sempre útil na igreja. O agente humano é meramente um porta-voz usado pelo Espírito Santo para transmitir a verdade às pessoas; c, se o êxito coroa seus esforços, o crédito per­ tence a Deus (cf. ICo 3:6). Assim crestes. Paulo recorda os corín­ tios de terem aceitado sua doutrina, a mesma de todos os apóstolos. 12. Ora. Com este versículo, o apóstolo dá início a seus argumentos sobre a ressur­ reição. Nos v. 5 a 8, estabelece a base histó­ rica da ressurreição por meio do testemunho fidedigno de uma multidão de testemunhas oculares. Ele então pergunta como, à luz desse fato comprovado, algum crente coríntio poderia negar a ressurreição dos mortos. Não há ressurreição. Devia haver em Corinto alguns que negavam a ressurreição. Nos v. 13 a 19, Paulo demonstra a natureza

nociva dessa negação e mostra como essa crença é incompatível com o fato compro­ vado da ressurreição de Jesus (ver v. 16). De mortos. Literalmente, “de dentre os mortos”. 13. Cristo não ressuscitou. Se a res­ surreição dos mortos é considerada impos­ sível, e a crença nela é absurda, então se deve concluir que Cristo não levantou da sepultura, pois a objeção geral à ressurrei­ ção dos mortos se aplicaria ao Seu caso também. Portanto, não seria possível negar a ressurreição geral sem negar a comprova­ da ressurreição de Jesus. Isso, diz Paulo, é o resultado inevitável de se negar a ressurrei­ ção, e envolve negar o cristianismo e elimi­ nar a esperança cristã da vida eterna. 14. Pregação. Do gr. kêrugma, “o que é pregado”. A ênfase está no conteúdo da pre­ gação (ver com. de ICo 1:21). Vã. Do gr. kenos, “vazio”, “sem conteúdo”, “carente de verdade” (cf. com. do v. 17), uma descrição adequada de qualquer tentativa de pregar o evangelho sem a ressurreição de Jesus. Tal pregação de fato seria “vã”, sem um de seus fatos históricos centrais. Se Cristo não foi ressuscitado, o testemunho cristão é falho por dois motivos: (1) Jesus declarou várias vezes que ressuscitaria dos mortos (ver Mt 16:21; 17:22, 23; 20:17-19), e, se Ele não ressuscitou, seria um impostor; (2) os após­ tolos baseavam sua pregação num fato que afirmavam ter acontecido; portanto, seriam cúmplices do impostor, pregando sobre uma esperança que não poderia ser cumprida. Vossa fé. A descrença na ressurreição invalida não só a pregação apostólica, mas também a crença nessa pregação. Ao duvidar da possibilidade da ressurreição, os incrédu­ los estavam destruindo tudo o que outrora estimavam. 15. Falsas testemunhas de Deus. A implicação é que teria sido um pecado pregar que Cristo ressuscitou dos mortos, se isso não fosse verdade. Seria errado dizer

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1 CORÍNTIOS que Deus tinha feito algo que não fez, como seria o caso se a ressurreição não tivesse acontecido e Cristo não tivesse ressurgido. Os apóstolos teriam anunciado a ressurreição como um ato de Deus e afirmado ter teste­ munhado algo que não aconteceu. Ele não ressuscitou. Paulo considera a atitude cética em relação a ressurreição. Seu argumento trata da suposição de que os mortos não ressuscitam, embora rejeite tal opinião. Negar a possibilidade de uma res§>► surreição geral demonstra a impossibilidade de Cristo ter ressuscitado, e assim se nega toda a base para a crença em Cristo. 16. Não ressuscitam. A repetição da conclusão já declarada no v. 13 mostra a preocupação de Paulo com o ensinamento insidioso que desviara alguns dos crentes coríntios da verdade acerca da ressurreição. Satanás tenta minar a fé na ressurreição a fim de tornar mais fácil que as pessoas acei­ tem a primeira grande mentira, com a qual negou a sentença de morte pronunciada por Deus aos desobedientes (ver Gn 2:17; 3:4). Se o ser humano não morre de luto quando esta vida terrena chega ao fim, então não há necessidade de uma ressurreição. Se, por outro lado, a morte é o fim da existência, então a vida posterior depende da ressur­ reição (ver com. de SI 146:4; Ec 9:5, 6, 10). 17. Vã. Do gr. mataios, “inútil”, “sem objetivo”, “sem propósito” (cf. com. do v. 14). A atenção é dirigida à absoluta falta de obje­ tivo da fé cristã se Cristo não tivesse sido levantado dos mortos. Os membros de Corinto eram fortes o suficiente para rejei­ tar a sugestão de que sua fé era “vã”; por­ tanto, se sentiríam ainda mais inclinados a crer na ressurreição. Pecados. Nos v. 16 e 17, Paulo repete a linha de raciocínio dos v. 13 e 14, mas com uma diferença. Antes, ele enfatiza o vazio da fé sem a ressurreição de Cristo; depois, ele revela a condição perdida e sem espe­ rança da humanidade sem a ressurreição.

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Embora seja verdade que “Cristo morreu pelos nossos pecados” (v. 3), também é ver­ dade que “ressuscitou por causa da nossa jus­ tificação” (Rm 4:25; ver lCo 10:9). Se Jesus não foi ressuscitado dos mortos, então Ele seria um impostor; a fé nEle não traria per­ dão pelo pecado, e o pecador permanecería culpado. Tal afirmação não poderia ser tole­ rada por ninguém que tivesse experimentado a alegria de ter seus pecados perdoados. Além disso, o batismo, que é um símbolo da morte, sepultamento e ressurreição de Cristo, perde­ ría sua importância se não houvesse ressurrei­ ção, pois se dá a exortação de que “andemos nós em novidade de vida”, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos (ver Rm 6:3, 4). 18. E ainda. Paulo apresenta outra conse­ quência inevitável de se negar a ressurreição. Dormiram. Ver com. do v. 6. Em Cristo. Para os coríntios, isto se referia em primeiro lugar aos cristãos mor­ tos, mas num sentido mais amplo, referese a todos que, desde Adão até o final da história humana, morreram crendo que a confissão dos pecados e a fé no sangue expiatório do Salvador lhes assegurariam perdão e vida eterna. Pereceram. Se não há ressurreição, então os que morreram permanecem mor­ tos, as perspectivas defendidas pelo cristia­ nismo são um engano cruel, e todos os justos mortos estão condenados a permanecer em seus túmulos. Nenhuín cristão pode acei­ tar conclusões que destruam sua esperança. Assim, o raciocínio de Paulo outra vez enfa­ tiza a posição vital da ressurreição na dou­ trina cristã (ver com. do v. 16). 19. Apenas a esta vida. Evidências tex­ tuais (cf. p. xvi) favorecem a seguinte ordem de palavras: “se nesta vida em Cristo espera­ mos apenas”. Essa ordem mostra que Paulo não enfatiza “esta vida”, mas o fato de que a fé cristã está baseada em algo mais do que mera esperança. Ele então retrata a futili­ dade de um cristianismo sem vitalidade.

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A descrença na ressurreição priva o ser humano da certeza da vida após a morte e o deixa com uma fé ineficaz na existência presente. Infelizes. Do gr. eleeinos, “infeliz”, “des­ graçado”, “miserável”. Esta expressão diz, literalmente, “somos mais miseráveis do que todos os homens”. Deve-se notar que Paulo não sugere que piedade e conformidade com a vontade revelada de Deus nesta vida não sejam acompanhadas por felicidade. O crente sc torna mais feliz do que os demais. Mas, se a ressurreição é um engano, então os cristãos são mais dignos de pena do que qualquer outra pessoa. Ninguém teve tantas esperan­ ças elevadas de desfrutara eternidade, então ninguém podería experimentar um desapon­ tamento tão profundo se essas esperanças fossem destruídas caso se comprovasse a fal­ sidade da ressurreição. O apóstolo emprega esse raciocínio para demonstrar aos coríntios que negar a doutrina cristã da ressurreição é ilógico e destruiría a fé. Além disso, os cris­ tãos estavam sujeitos a grandes provas e pergie- seguições mais do que outro povo. Portanto, se após sofrerem por causa de sua fé, fossem desapontados na esperança da ressurreição, sua condição seria de fato miserável. Uma forte demonstração da genuinidade do cristianismo pode ser encontrada neste versículo. E concebível que alguns estejam dispostos a enfrentar provação e dificuldades se tiverem a certeza da recompensa por seu sacrifício. Mas é inconcebível que os após­ tolos trabalhassem e sofressem sabendo que a gloriosa esperança que proclamavam era uma ilusão, que Cristo não tinha ressusci­ tado. Negar a ressurreição, portanto, seria negar a sanidade deles. 20. Mas, de fato. Paulo demonstrou historicamente a verdade da ressurreição de Cristo (v. 5-8) e enfatizou os efeitos destruti­ vos de se negá-la (v. 13-19). Ele pôde afirmar ter demolido o ensinamento nocivo e triun­ falmente atestar a certeza da ressurreição

de Cristo. A expressão “mas, de fato” imprime essa certeza na mente dos leitores de Paulo. Ele se desvia das considerações negativas dos v. 12 a 19 e foca os resultados positivos deri­ vados da crença na ressurreição (v. 20-34). Ressuscitou. Ver com. do v. 4, em que ocorre a mesma forma do verbo grego. E foi feito (ARC). Evidências textuais (cf.p. xvi) atestam a omissão destas palavras. Primícias. Os antigos israelitas deviam apresentar um molho das primícias da colheita de cevada ao sacerdote, que o movia diante do Senhor como uma promessa da colheita completa que se seguiría. Essa cerimônia devia ser realizada no dia 16 de nisã (abibe; ver com. de Lv 23:10; ver v. 11). A Páscoa era celebrada no dia 14 de nisã (ver com. do v. 5) e, no dia 16, se realizava a oferta das primícias. O molho das primí­ cias da colheita tipificava Cristo, as “primí­ cias”, ou promessa, da grande colheita que se seguirá quando todos os justos mortos forem ressuscitados na segunda vinda de Jesus (ver ICo 15:23; lTs 4:14-16). Cristo levantou dos mortos no mesmo dia que as primícias foram apresentadas no templo (ver com. de Lv 23:14; Lc 23:56; 24:1; ver vol. 5, p. 246-249). Assim como as primícias eram uma promessa e uma certeza da reunião de toda a colheita, também a ressurreição de Cristo é uma promessa de que todos os que confiam nEle serão ressuscitados dos mortos. Dos que dormem. Sobre o sono como metáfora da morte, ver com. do v. 6. O termo se refere aos que morreram como cris­ tãos, crendo no Senhor Jesus Cristo como seu Salvador. 21. Visto que. Com este versículo, Paulo introduz a comparação entre o primeiro e o segundo Adão (v. 21, 22, 45-47). A linha de raciocínio é muito semelhante à de Romanos (ver com. de ICo 5:12-19). A morte veio. O pecado entrou na vida do ser humano pela desobediência de um homem. Como resultado do pecado,

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1 CORÍNTIOS a morte se tornou o destino de todos (ver com. de Rm 6:23). Se não tivesse pecado, o ser humano não morrería. Se o pecado não existisse, jamais haveria morte (ver com. de Gn 2:17; ver PP, 49, 51, 53). Por um homem. Adão (cf. v. 22). Por um homem. Cristo (cf. v. 22). Ressurreição, Paulo ainda está no tema da ressurreição. Visto que a morte entrou na experiência humana por meio de um homem pecaminoso, era necessário que, no plano de Deus, o livramento do ser humano da morte se desse por meio de um Homem sem pecado, Cristo Jesus. O pecado entrou no mundo por meio de um homem, e a eli­ minação de seus efeitos acontece por meio de outro Homem. 22. Em Adão. Este versículo esclarece o v. 21. Também fornece um resumo admi­ rável do tema, o qual Paulo trata de forma mais completa em sua epístola aos Romanos (ver com. de Rm 5:12-18). Aos coríntios, ele aponta os contrastes entre os resultados da vida de Adão: “todos morrem”; e os resultados da vida de Cristo: “todos serão vivificados”. Todos morrem. Ver com. de Rm 5:12. A sentença pronunciada sobre Adão afetou toda a raça humana, envolveu todos na cer­ teza da morte e trouxe consequências assim que Adão pecou. Assim também. Isto é, da mesma maneira. Porém, é necessário lembrar que as obras de Adão e a de Cristo não são com­ pletamente paralelas, visto que Adão é um ► pecador, e Cristo não pecou. Todos serão vivificados. Todos estão sujeitos à morte por causa do pecado de Adão e de sua própria pecaminosidade, mas os que estão “em Cristo” compartilharão dos bene­ fícios eternos da ressurreição do Salvador. Nesse aspecto, o primeiro “todos”, neste ver­ sículo, é universal, ao passo que o segundo “todos” é necessariamente limitado. Alguns interpretam que o segundo “todos” abrange a humanidade, os ímpios e os justos. A partir

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da frase “em Cristo”, e da comparação com os v. 51 a 53, em que “todos” se refere ape­ nas aos crentes, pode-se ver que essa inter­ pretação não é correta. Em Cristo. Isto é, por meio da fé na morte expiatória e na ressurreição vivificadora de Cristo. 23. Ordem. Do gr. tagma, “aquilo que foi posto em ordem”, “tropa [de soldados]”. Tagma não ocorre em outra parte no NT. A palavra era originalmente um termo militar e se refere a uma série de categorias, como sugerido neste versículo. O Cristo triunfante abriu o caminho na manhã da ressurreição e será seguido pelas fileiras de Seus santos que dormem. Primícias. Ver com. do v. 20. Outros, como Moisés (ver com. de Mt 17:3) e Lázaro (ver com. de Jo 11:43), morreram e foram res­ suscitados antes de Jesus ressurgir. Mas isso aconteceu apenas em virtude e na expectativa da ressurreição do próprio Cristo (cf. DTN, 530). Sem a vitória de Cristo sobre a morte, nenhuma ressurreição tcria sido possível. Nesse sentido real, Cristo é as primícias daqueles que são vivificados. Depois. Do gr. epeita, “daí em diante”, “então” ou “depois”, usado para enumerar eventos sucessivos e, em geral, sugere uma ordem cronológica. E empregado dessa forma nos v. 6 e 7, ocorrendo nos v. 7 e 24 com sen­ tido semelhante. A ressurreição do próprio Cristo como as primícias é separada da res­ surreição dos justos. De Cristo. Isto é, o povo que pertence a Cristo, os que morreram confiando no Redentor. Esse grupo inclui todos que foram justificados pela fé na época do AT, que cre­ ram em Cristo nos dias de Paulo e os que desde então têm crido nEle. Os redimidos de todas as eras são “de Cristo”, pois o Redentor comprou cada um com Seu próprio sangue. Na Sua vinda. Sobre a “vinda” (do gr. parousia), ver com. de Mt 24:3. Paulo rela­ ciona a ressurreição dos remidos à volta de

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Cristo (ver com. de Jo 14:3; ICo 15:51-53; lTs 4:14-16; Ap 20:6). 24. Então. Do gr. eita, “seguinte”, “depois” (ver com. do v. 23). Eita nunca sig­ nifica “ao mesmo tempo”. Em Marcos 4:17 e 28, as palavras “logo”, “depois”, “por fim” [eita] são usadas para indicar sequência cro­ nológica. Portanto, não se diz que o evento seguinte ocorre ao mesmo tempo em que a ressurreição dos justos. Em vez disso, eita introduz uma nova época, que segue um intervalo de tempo. Virá o fim. O significado de “o fim” poderia ser questionado se Paulo não o tivesse explicado na sequência. Ele se refe­ riu à grande controvérsia que traz dor e sofri­ mento ao universo. Não se pode ir além disso com segurança, visto que as Escrituras não dão luz específica sobre o assunto. Quando. Do gr. hotan, “no tempo que”, usado frequentemente em referência a acon­ tecimentos dos quais o autor está certo, mas cujo tempo não se atreve a estabelecer. Reino. E difícil estabelecer o sig­ nificado exato da palavra “reino” neste contexto, mas ela pode ser considerada legitimamente a partir dos seguintes pon­ tos de vista: (1) O reino deste mundo se rebelou contra Deus. Cristo veio restaurá- lo ao governo de Deus e, quando Sua tarefa estiver completa, Ele entregará, por assim dizer, o reino restaurado ao Pai. (2) O Salvador veio estabelecer “o reino dos céus” (ver com. de Mt 3:2; 4:17; Mc 1:15) e, quando esta obra estiver finalmente con­ cluída, Ele dará esse reino ao Pai. Isso se harmoniza a todo o teor da vida de Cristo, pois Ele viveu para glorificar a Deus (Lc 2:49; Jo 4:34; 6:38; 17:4). Assim que isso acontecer, o Pai receberá novamente a como^pleta soberania, pois toda a oposição terá sido vencida, e a unidade reinará em todo o universo (GC, 678). Quando houver destruído. Ou, “assim que tiver abolido”.

Principado. Do gr. archê, “soberania”, “governo”. O plural, archai, é traduzido como “principados” (Rm 8:38; ver com. ali). Potestade. Do gr. exousia-, ver com. de Rm 13:1. Poder. Do gr. dynamis, “governo”, “autori­ dade”, neste caso, descreve os poderes que se opõem a Deus, tanto terrestres quanto celes­ tiais (cf. com. de Ef 1:21; 6:12). 25. Convém que Ele reine. E neces­ sário, segundo o plano divino (ver SI 110:1; Mt 22:43, 44), que Cristo continue reinando até que estejam subjugados todos os inimigos de Deus. Fica claro a partir de 1 Coríntios 15:24 que é Cristo quem subjuga os adversá­ rios. Os v. 27 e 28 mostram que Ele faz isso por ordem do Pai. Haja posto. Isto é, o Pai (v. 28). Debaixo dos pés. Isto corresponde a “escabelo” (SI 110:1, AA). 26. O último inimigo. A morte é per­ sonificada, como no v. 55 e em Apocalipse 6:8. Não há artigo no grego, e a palavra para “último” ocupa o primeiro lugar na frase, enfatizando a finalidade da vitória de Cristo sobre toda a oposição, mesmo sobre o ini­ migo mais temido: a morte. O fim da morte coincidirá com o fim do pecado. Quando não houver mais pecado, não haverá mais morte, pois a morte é a consequência do pecado (ver com. de Rm 6:21, 23; Tg 1:15). Alguns afirmavam que não havia ressurrei­ ção e que a morte era o fim de tudo. O após­ tolo dá a surpreendente resposta de que, no plano de Deus, finalmente não haverá morte, pois ela será destruída (ver com. de Is 25:8; Na 1:9; Ap 21:4). Destruído. Do gr. katargeõ, “eliminar”, “abolir”, “pôr abaixo” (v. 24). 27. Porque. Os v. 27 e 28 são explica­ ções adicionais do tema apresentado nos v. 24 e 25, e começam com uma citação do Salmo 8:6. Paulo toma as palavras que foram primeiramente escritas quanto ao domínio do homem sobre a criação de Deus e as

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1 CORÍNTIOS

(ver com. de Ef 4:6; Fp 2:11) e nada esteja fora da órbita do controle de Deus. 29. Doutra maneira. Paulo volta a sua linha de raciocínio principal sobre a ressurreição. < Os que se batizam por causa dos mortos. Esta é uma das passagens difíceis dos escritos de Paulo. Comentaristas elabo­ raram 36 tentativas de solucionar os proble­ mas suscitados por este versículo, sendo que a maioria das sugestões não é relevante. Na busca de uma compreensão da passagem, é preciso considerar que Paulo ainda trata da ressurreição, e qualquer sugestão deve estar estritamente relacionada ao tema principal do cap. 15. Além disso, uma interpretação razoável precisa estar em harmonia com a tradução correta da frase em grego hyper tõn nekrõn (“pelos mortos”). Há um consenso geral de que hyper (“pelos”) significa, neste caso, “em favor dos”. Sugerem-se três possí­ veis interpretações: (1) A passagem deve ser traduzida como “o que farão então os que são batizados1? [São eles batizados] pelos mortos? Se os mortos não ressuscitam de forma alguma, por que são batizados? Por que também corremos perigo a toda hora por eles?” Essa tradução, embora possível, não explica de modo satis­ fatório a frase “por causa dos mortos”. (2) Paulo está se referindo a um cos­ tume pagão pelo qual crentes vivos eram batizados em nome de parentes e amigos mortos que não tinham sido batizados, que então supostamente seriam salvos por esse ato. Os pais da igreja fazem várias referên­ cias a essa prática, citando o costume dos hereges marcionitas (Tertuliano, Contra Marcion, v.10; A Ressurreição da Carne, 48; Crisóstomo, Homílias em 1 Coríntios, xl.l). Além disso, Tertuliano se refere ao festi­ val pagão Kalendae Fehruariae, em que os adoradores se submetiam a uma purifica­ ção na água em favor dos mortos (Contra Marcion, v.10). Marcion viveu em meados

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aplica ao governo de Cristo sobre “todas as coisas”. O primeiro Adão perdeu seu domínio e sucumbiu à morte; o segundo Adão recupe­ rou esse domínio perdido e destruiu a morte. Sujeitou. Do gr. hupotassõ, “sujeitar”, “subordinar”. Este verbo é usado nos v. 27 e 28, sendo traduzido como “sujeitou debaixo”, “sujeitas”, “subordinou”. As Escrituras asse­ guram que nada será excluído da completa sujeição a Cristo, principalmente a morte (cf. Fp 3:21; Hb 2:8). Diz. Isto é, o Pai. Exclui aquele. Deus não está incluído nas coisas postas sob os pés de Cristo. Paulo tem cuidado de evitar qualquer sugestão que pudesse exaltar o Filho acima do Pai (ver vol. 5, p. 1014-1016). Ele entende que Deus delegou alguns poderes a Cristo para o cum­ primento do plano de ambos para subjugar o pecado, mas reconhece que o relaciona­ mento eterno de Pai e Filho não é afetado por causa do papel desempenhado por Cristo no grande conflito. 28. Quando, porém. Do gr. hotan de. O v. 27 trata da liderança de Cristo na vitó­ ria sobre o pecado. O v. 28 fala da relação subsequente entre o Filho vencedor e o Pai. Filho. No plano divino para a reden­ ção do mundo, o Pai confiou tudo nas mãos do Filho (ver com. de Mt 11:27; Cl 1:19). Quando a missão de Cristo estiver com­ pletada, e os inimigos de Deus subjugados, então o Filho entregará “o reino ao Deus, e Pai” (ICo 15:24). Esse ato não indica que o Filho seja inferior ao Pai. E uma demonstra­ ção da unidade de propósito entre os mem­ bros da Divindade, em que as atividades de um são vistas como cumprimento da von­ tade de todos (vol. 5, p. 1014-1016; ver com. de Jo 10:30). Para que Deus seja. Este é o resumo do objetivo supremo da missão de Cristo: o Filho viveu para glorificar o Pai (ver Jo 17:1, 4, 6). Cristo não descansará até que a supremacia do Pai seja reconhecida em todo o universo

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA “se os mortos não ressuscitam” (v. 16, 32). A constante coragem dos apóstolos em face da morte é uma importante evidência de sua fé na ressurreição. Muitas passagens bíblicas declaram que não é possível, como ensinam alguns, que cristãos sejam batizados em favor de paren­ tes e amigos mortos. A pessoa deve crer em Cristo e confessar seus pecados para poder ser batizada e salva (At 2:38; 8:36, 37; cf. Ez 18:20-24; Jo 3:16; ljo 1:9). Mesmo os justos “salvariam apenas a sua própria vida” (Ez 14:14, 16; cf. SI 49:7). A morte marca o fim da provação e das oportunidades huma­ nas (ver SI 49:7-9; Ec 9:5, 6, 10; Is 38:18, 19; Lc 16:26; Hb 9:27, 28). 30. Nós nos expomos a perigos. Do gr. kinduneuõ, de kindunos, “perigo”. Por que os apóstolos deviam constantemente arris- •« car a vida para pregar arrependimento c fé em Cristo se não existisse ressurreição dos mortos? Os mensageiros do evangelho não têm outro objetivo ao encarar os perigos por terra e mar além de divulgar a verdade acerca do glorioso futuro no reino de Deus. Se não existisse felicidade futura, não faria sentido correr tais perigos. 31. Dia após dia, morro! Paulo exibe seu orgulho e sua glória pelos frutos de seu ministério, a fim de apoiar seu raciocínio e enfatizar seu “protesto” sobre morrer dia após dia. Ele não atribuía a si mesmo o mérito por sua obra, e sim a “Cristo Jesus, nosso Senhor”. A vida do grande apóstolo dos gen­ tios foi tão cheia de provas, perseguições, perigos e dificuldades, que podia se asse­ melhar à morte em vida (ver Rm 8:36; ver com. de 2Co 4:8-11). Mas, se não existisse ressurreição dos mortos, esse morrer diário parecería tolice. Portanto, mais uma vez a experiência do próprio Paulo fortalece a cer­ teza da ressurreição. Eu o protesto. Esta expressão é uma tra­ dução da partícula gr. nê, usada para uma vigorosa afirmação ou um juramento da

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do 2o século d.C. Para este segundo ponto de vista é necessário supor que a prática data cios dias de Paulo. Levantou-se a objeção de que o apóstolo dificilmente citaria uma prática pagã ou herege em apoio a uma doutrina cristã fundamental. Mas Paulo de modo algum apoia essa prática. Portanto, em essência, poderia estar dizendo: “Até os pagãos e hereges afirmam sua fé na espe­ rança da ressurreição, e se eles têm essa esperança, tanto mais nós.” Jesus usou o relato do rico e Lázaro como contexto para uma parábola, embora não apoiasse sua apli­ cação literal (ver com. de Lc 16:19). (3) E possível interpretar o v. 29, com base no contexto (v. 12-32), como outra prova para a ressurreição: (a) As palavras “doutra maneira” se referem ao argumento dos v. 12 a 28 e podem ser parafraseadas como: “mas se não há ressurreição [...]”. (b) A palavra “batizam” é usada de forma figu­ rada, significando exposição a um perigo extremo ou morte (como em Mt 20:22; Lc 12:50). (c) A expressão “os que se bati­ zam” se refere aos apóstolos, que constan­ temente enfrentavam a morte ao proclamar a esperança da ressurreição (lCo 4:9-13; cf. Rm 8:36; 2Co 4:8-12). Paulo escreveu esta epístola em Efeso e, devido às dificuldades que enfrentou ali, declarou que estava “a perigo a toda hora” (lCo 15:30), que tinha se desesperado “até da própria vida” (2Co 1:810) e que morria dia após dia (lCo 15:31). (d) Os “mortos” do v. 29 são os cristãos mor­ tos dos v. 12 a 18 e, potencialmente, todos os cristãos vivos, que, de acordo com alguns de Corinto, não tinham esperança além da morte (v. 12, 19). Segundo essa interpreta­ ção, o v. 29 poderia ser parafraseado assim: “mas se não há ressurreição, o que devem fazer os mensageiros do evangelho, se con­ tinuamente encaram a morte em favor de pessoas destinadas a perecer na morte de qualquer forma?” Para eles, seria tolice (v. 17) enfrentar a morte para salvar outros,

1 CORÍNTIOS certeza do que se declara. Paulo dificilmente afirmaria sua convicção de forma mais forte. Pela glória que tenho. Ver ICo 9:2; cf. Rm 15:17. A frase “dia após dia, morro” pode tam­ bém ter uma interpretação homilética. Ela contém o segredo da experiência vitoriosa de Paulo. Em toda sua vida de serviço fiel ao Salvador que encontrou na estrada para Damasco, Paulo viu que sua natureza antiga não regenerada lutava por reconhecimento e tinha que ser constantemente reprimida (ver com. de Rm 8:6-8, 13; Ef 4:22). Ele sabia bem que a vida do cristão devia ser de abnegação a cada passo do caminho (ver com. de GI 2:20; cf. com. de Mt 16:24-26). Cristãos cientes de que os desejos antigos ainda clamam por satisfação, a despeito de suas boas intenções de servir ao Senhor, devem ser animados pelo fato de que Paulo teve experiência semelhante. A vida cristã é uma luta contínua, bem descrita como uma batalha e uma marcha, sem descanso até a volta de Jesus (ver CBV, 453). Mas a ideia da ressurreição, e a vida gloriosa da qual é apenas o começo, sustenta o crente em todas as provas. 32. Como homem. Ou, “do ponto de vista humano”. Lutei em Efeso com feras. Esta parece ser uma referência figurada ao episódio da luta de Paulo com adversários ferozes em Efeso (cf. At 19:23-41). Um cidadão romano não podia ser punido sendo forçado a lutar com animais ferozes. Ele pergunta: “O que ganhei ao me expor a perigos comparáveis a lutar com animais ferozes, se a mensagem de ressurreição para a vida eterna por meio de Jesus Cristo não fosse verdadeira? Por que passaria eu por tais riscos para anun­ ciar um falso ensinamento? isso não faria sentido. Eu poderia ter deixado as pessoas a sua sorte e não lhes dizer nada.” Não se sabe a quais experiências em Efeso Paulo se refere. Na sua fúria insana, os adoradores

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pagãos da deusa Diana (ou Artêmis) se pare­ ciam mais com animais selvagens do que com seres humanos. Paulo, no entanto, não poderia ter se referido a esse incidente em particular neste versículo, pois isso acon­ teceu depois de esta carta ter sido enviada (cf. ICo 16:8, 9). Comamos e bebamos. Citação de Isaías 22:13, na LXX. Seria tolice de Paulo, ou de qualquer pessoa, passar por privações, dificuldades e perseguição a fim de pregar o evangelho da salvação do pecado e da felici­ dade futura e eterna se os mortos não ressus­ citarão. Ele deveria, em vez disso, aproveitar ao máximo esta vida desfrutando os praze­ res, sabendo que a morte será o fim de tudo. Essa de fato parece ser a filosofia hedonista de muitos, principalmente à medida que o segundo advento de Cristo se aproxima (ver Mt 24:38, 39; 2Tm 3:1-4). 33. Não vos enganeis. Ou, “parai de serdes desviados”. Conversações. Ou, “companhias”. Este é um verso da poesia de Menandro (343c. 280), talvez um provérbio comum. Visto que todos são grandemente influenciados por aqueles com quem se associam, a esco­ lha de amigos e companhias requer cuidado. Paulo exortou os crentes a ter cuidado com os argumentos enganosos dos falsos mes- «© tres, que negavam a ressurreição dos mor­ tos. A companhia de tais indivíduos deveria ser evitada. A associação com aqueles que têm opiniões errôneas, ou cujas vidas são impuras, tende a corromper a fé e a moral. A associação diária com os que não criam na ressurreição dos mortos e as frequentes conversações sobre esse assunto poderiam fazer com que os crentes perdessem sua com­ preensão clara da verdade. A familiaridade com o erro tende a remover a objeção a ele e a minimizar o cuidado contra ele. Por essa razão, Deus sempre aconselhou Seu povo a não se associar aos incrédulos (ver Gn 12:13; Êx 3:9, 10; Dt 7:1-4; Is 52:11; Jr 51:6, 9;

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA O que semeias. A dificuldade pro­ posta no v. 35 poderia ser solucionada com a ilustração sobre o crescimento do grão, fenômeno com o qual todos estavam fami­ liarizados. Quando se coloca um grão no solo, ele morre. Esse processo é essencial para que nasça uma nova planta. Se esse processo natural é bem aceito sem questio­ namentos, por que deveria haver problema com a ressurreição de um novo corpo a par­ tir do antigo que se desfez? 37. Simples grão. Isto é, uma semente sem folhas, nem talos. Assim é o grão quando semeado. A planta que brota não é a mesma que a semente. Assim, o corpo que ressurgirá do túmulo na ressurreição não será o mesmo que foi depositado ali. E claro que haverá semelhanças, mas, ao mesmo tempo, diferenças. O novo corpo não é composto das mesmas partículas de matéria que formavam o antigo. Contudo, a identidade do indivíduo será preservada (ver Ellen G. White, Material Suplementar sobre os v. 42 a 52). 38. Deus lhe dá corpo. O milagre da natureza que produz os muitos tipos de grão tem sua fonte em Deus, o autor de toda vida e todo crescimento. Não há nada na semente que por si, sem auxílio, a faça brotar para a vida (ver T8, 259, 260). Do mesmo modo, não há nada no corpo desfeito que, por si só, resulte na ressurreição. No entanto, Deus ordenou que houvesse uma ressurreição, e é somente por Seu poder que o milagre acontece. Na ressurreição, cada um terá um -ü corpo apropriado. Os justos terão corpos glorificados, e os ímpios ressurgirão com cor­ pos carregando as marcas de sua condição de perdidos (ver GC, 644, 645, 662). 39. Nem toda carne é a mesma. Carne é a matéria da qual se compõe o corpo. A natureza tem diferentes tipos de matéria. Se Deus ordenou que houvesse tan­ tas variedades de carne, e assim de corpos, não é de se surpreender que Ele venha a

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2Co 6:14-17; Ap 18:4), o que não exclui o testemunho. 34. Tornai-vos. Do gr. eknõphõ, “des­ pertar-se de um sono profundo [ou 'estu­ por]”- A palavra era aplicada com frequência àqueles que acordavam sóbrios após terem se embriagado. Aqui indica eliminar o ator­ doamento mental e se apartar da confusão e tolice de duvidar da verdade da ressurreição. E um chamado a se desviar do pensamento errôneo e a se voltar para o que é correto, uma advertência contra o perigo da apatia que se compraz em si mesma. Os cristãos precisam estar em constante alerta contra as infiltrações de ensinos falsos. Não pequeis. Ou, “parai de pecar”, “não continueis pecando”. Sede vigilantes con­ tra o erro; não aceiteis um ensino que não só é falso, mas também tende a conduzir ao pecado. A rejeição da crença na ressurreição poderia levar ao total desprezo por toda res­ trição e a complacência desenfreada. Para o apóstolo, negar a doutrina da ressurreição tinha consequências perigosas para a con­ duta e o modo de vida cristão. Conhecimento de Deus. Alguns den­ tre os coríntios não conheciam a Deus como o Onipotente; a crença deles era mera teo­ ria. Como resultado, podiam aceitar pron­ tamente a ideia de não haver ressurreição. A presença dessas pessoas era uma desonra para toda a igreja e não devia ser tolerada. 35. Como [...]? A mente natural levanta objeções à ideia da ressurreição dos mortos. A constatação é a de que depois da morte vem a decomposição e, por fim, o corpo se esvai por completo. Portanto, pode-se per­ guntar como o pó poderia ser reunido para a ressurreição do indivíduo como era antes (ver Jó 34:15; Ec 12:7). Outra pergunta que traz perplexidade é: como o corpo reconstituí­ do será comparado ao corpo que se desfez? 36. Insensato. Do gr. wphrõn. A insi­ nuação nas perguntas (v. 35) mostra que quem indaga fala sem reflexão ou inteligência.

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essa variedade na natureza e não está limi­ tado em poder para fornecer um corpo novo e diferente para Seus santos na ressurreição. 42. Semeia-se o corpo na corrupção. Paulo volta à comparação entre o reino vege­ tal e o ser humano (v. 37, 38). Ele fala dos corpos dos remidos como sementes lançadas ao solo que produzirão uma colheita para o reino de Deus. O cemitério é apropriada­ mente chamado, algumas vezes, de campo de Deus. A decomposição que silenciosa­ mente acontece ali, sem ser vista, é o preâm­ bulo da ressurreição gloriosa, quando findar a história deste mundo e começar a do eterno reino celestial, com o retorno de Cristo (ver lCo 15:52; lTs 4:16). Ressuscita. Paulo afirma que a ressur­ reição dos justos mortos com corpos glorifica­ dos não só é possível, mas de fato acontecerá. Essa é uma das verdades mais encorajadoras aos que lutam contra uma enfermidade e que temem a morte. Incorrupção. O corpo ressuscitado do crente jamais será sujeito outra vez à enfer­ midade, decomposição e morte. 43. Semeia-se. Em certo sentido, o cadáver é uma desonra. Devido à rápida decomposição, torna-se repugnante e deve ser sepultado. Fraqueza. Do gr. astheneia, “falta de força”, “fragilidade”, “doença”. Isso não se refere simplesmente à debilidade do corpo terreno quando vivo, mas também à sua com­ pleta impotência como cadáver e à incapa­ cidade de resistir à corrupção. As débeis energias do corpo terreno são logo prostradas pela doença, e sua vitalidade rapidamente desaparece diante da morte. Ressuscita. Dignidade, beleza, honra e perfeição caracterizarão os santos ressusci­ tados. Seus corpos serão semelhantes ao de Cristo (Fp 3:20, 21; GC, 645). Poder. Do gr. dynamis, “força”, “ener­ gia”, “poder”. O poder de Deus se manifes­ tará no milagre da ressurreição. O corpo

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prover, na ressurreição, um tipo glorificado de corpo para o ser humano. 40. Celestiais. Do gr. epourania, “exis­ tente no céu”. Os comentaristas se dividem na interpretação desta palavra. Alguns creem que Paulo se refere ao Sol, à Lua e às estre­ las, ao passo que outros aplicam a expressão aos anjos. Ambas as aplicações são apropria­ das como ilustração de que todos os corpos não possuem a mesma forma e aparência. No entanto, a referência no versículo seguinte ao Sol, à Lua e às estrelas parece apoiar a pri­ meira interpretação. Dois tipos diferentes de corpos são apresentados como exemplo: um totalmente fora desta Terra, e outro confinado a ela. Após se notar a ampla diferença entre esses dois tipos de corpos, não é difícil per­ ceber que haverá uma grande diferença entre os corpos humanos terrenos atuais e os cor­ pos glorificados na ressurreição. Glória dos celestiais. O esplendor, a beleza e a magnificência dos corpos celes­ tes é bem diferente dos corpos desta Terra. Embora pássaros, flores, árvores, minerais e seres humanos tenham sua beleza e atrativo, diferem do que é celestial. Os seres humanos não questionam a diferença entre a beleza das coisas celestiais e das coisas terrenas. Então, por que deveria haver alguma hesi­ tação em reconhecer uma diferença entre o corpo do ser humano adaptado à vida nesta Terra e o adaptado à vida no Céu? 41. Uma é a glória do sol. Os corpos celestes, o sol, a lua e as estrelas têm níveis variados de esplendor e beleza. Existem estrelas de diferentes magnitudes e até de diferentes cores. No v. 40, Paulo mostra que há diferença entre os variados tipos de cor­ pos celestes e terrenos. Neste versículo, ele declara que há diferenças entre os corpos do mesmo tipo, a saber, corpos celestes. Eles diferem não só dos corpos terrenos, mas tam­ bém entre si. Dessa forma, ele fortalece seu raciocínio de que o corpo ressurreto será diferente do corpo mortal. Deus estabeleceu

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ressuscitado não experimentará nenhuma das debilidades e falta de resistência que afligem o corpo terreno (ver Is 33:24; 40:31; Ap 7:15, 16; 22:5; GC, 676). 44. Natural. Do gr. psuchikos, adjetivo derivado da palavra psychê, traduzida em geral como “alma”. Psychikos significa per­ tencente a esta vida presente. E uma pala­ vra difícil de ser traduzida para o português. A tradução da ARA, “natural”, é inadequada e sugere idéias não presentes em psuchikos. Por exemplo, natural pode significar “mate­ rial”, mas o contraste não é entre um corpo material e um imaterial, embora o último seja por definição uma contradição. Os santos res­ suscitados terão corpos reais. Paulo apresenta o contraste entre o corpo que pertence a esta breve vida terrena e o corpo glorioso com que os remidos serão erguidos para a vida eterna no reino de Deus (ver ICo 15:50, 52; Fp 3:21; Cl 3:4; ljo 3:2). O corpo natural é o que está sujeito às limitações da existência temporal, como dor, doença, fadiga, fome e morte. Esse corpo é posto no túmulo no fim da vida mor­ tal (ver Jó 14:1, 2, 10-12; 21:32, 33). O corpo espiritual será livre de todas as marcas da maldição do pecado (ver GC, 644, 645). Se há corpo natural. O raciocínio de Paulo não está totalmente claro. Parece se basear na suposição de que o corpo inferior pressupõe a existência do superior. Ou tal­ vez Paulo baseie sua declaração nas observa­ ções que fez sobre a certeza da ressurreição. O corpo corruptível semeado brotará para a vida como um corpo incorruptível assim como uma semente lançada no solo produz sua planta. 45. Assim está escrito. A referência é a Gênesis 2:7. Paulo parafraseia a decla­ ração, acrescentando as palavras “primeiro” e “Adão”. Alma. Do gr. psychê, de que deriva psychikos, “natural” (ver com. do v. 44). Ultimo Adão. Isto é, Cristo (ver com. de Rm 5:14). O ser humano deriva sua natureza

terrena de Adão, o primeiro homem, e obtém a ressurreição por meio de Cristo. Um é a cabeça dos que têm uma existência tempo­ ral; o outro é a cabeça de todos que pela fé nEle receberão, na Sua segunda vinda, um corpo espiritual e herdarão a vida eterna (ver Rm 5:15-18; ICo 15:51-54). Espírito vivificante. Isto é, um ser que tem o poder de dar vida. Adão se tor­ nou “alma vivente”, mas Cristo é o doador de vida. Jesus afirmou poder ressuscitar os mortos (ver Jo 5:21, 26; 11:25) e exer­ ceu esse poder ao ressuscitar alguns nesta vida temporal (ver Lc 7:14, 15; 8:54, 55). Essas demonstrações de Seu poder de dar vida devem ser aceitas como evidência de Seu poder para ressuscitar os mortos no segundo advento. 46. Primeiro o espiritual. Os corpos espirituais que os santos terão na ressurrei­ ção são uma continuação de seus corpos naturais. O natural vem primeiro. O corpo espiritual não existe ainda, e não existirá antes da ressurreição. Deus dá a cada santo um corpo novo. 47. Da terra. Do gr. choikos, “feito de pó". Adão, o primeiro homem, cabeça da raça humana, foi feito por Deus do “pó da terra” (Gn 2:7). Segundo homem. Isto é, Cristo (cf. com. do v. 45). O Senhor (ARC). Evidências textuais (cf. p. xvi) favorecem a omissão destas pala­ vras, mas isso não altera o significado da passagem, pois Jesus é o único que veio do Céu para se tornar cabeça da humanidade. Esse “segundo homem” já existia antes de Se associar ao ser humano, mas Se humilhou e ocultou Sua divindade com humanidade (ver G1 4:4; DTN, 48, 49) na encarnação. 48. Como foi o primeiro homem, o terreno. Isto é, Adão. Todos os descenden­ tes de Adão partilham sua natureza peca­ minosa. Eles são frágeis, mortais e sujeitos a corrupção e morte.

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1 CORÍNTIOS Celestial. Na ressurreição, o corpo dos santos será transformado, e o novo corpo será “igual ao corpo da Sua [de Cristo] glória” (Fp 3:20, 21). 49. Devemos trazer também. As evi­ dências textuais se dividem (cf. p. xvi) entre esta e a variante “que também tenhamos”. Porém, o futuro simples parece estar mais em harmonia com o contexto (ver com. do v. 44). 50. Isto afirmo. Paulo mais uma vez enfatiza o que apresentou nos v. 35 a 49, que a ressurreição do corpo será diferente do corpo presente. O corpo corruptível é inadequado para desfrutar o reino da glória. Antes da entrada do pecado, o corpo humano era adap­ tado às condições de um mundo perfeito (ver Gn 1:31). Tudo que Deus criou era perfeito; portanto, o corpo de Adão e Eva também era perfeito, livre de corrupção, e adequado ao ambiente perfeito. Quando o homem pecou, sua natureza foi mudada. Portanto, antes de desfrutar a bem-aventurança do Éden res­ taurado, o corpo será mudado e adaptado à perfeição celestial. Alguns creem que esse texto ensina que o corpo ressuscitado não será de carne e sangue. Mas essa conclusão não tem fundamento. “Carne e sangue” é uma figura de linguagem que designa as condi­ ções humanas no contexto de pecado (ver Mt 16:17; G1 1:16; Ef 6:12). Portanto, não deve ser tomada com significado literal. Paulo apenas afirma que o corpo presente é inadequado para entrar no reino de Deus. O corpo ressuscitado terá carne e sangue, e isso se pode deduzir do fato de que o novo corpo terá a semelhança do glorioso corpo do Cristo ressuscitado (Fp 3:20, 21), que consistia de carne e ossos (Lc 24:39; cf. DTN, 803). Também é razoável concluir que o corpo dos santos ressuscitados não será muito diferente do tipo de corpo que Adão possuía quando foi criado (Gn 2:7). Se não tivesse pecado, ele teria permanecido com esse corpo para sempre.

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51. Mistério. Ver com. de Rm 11:25. Nem todos dormiremos. Sobre o sono como metáfora da morte, ver com. de Jo 11:11. Paulo chama atenção para o fato de que alguns não morrerão, mas serão trans­ ladados do estado físico imperfeito para o estado celestial perfeito. Essa mudança ins­ tantânea os fará como os santos ressuscita­ dos (ver GC, 322, 323; HR, 411, 412). Transformados seremos todos. A ex­ pressão “todos” inclui os que estiverem vivos quando Jesus voltar e os que morreram. Os primeiros terão o corpo mortal transfor­ mado em corpo imortal instantaneamente; os últimos serão ressuscitados com corpo imortal (cf. com. de 2Co 5:1-4). 52. Num momento. Do gr. en atomõ, “num ponto do tempo indivisível”, “num ins­ tante”. Átomos ocorre apenas nesta passagem no NT. E a palavra da qual deriva “átomo”. Junto com a expressão “piscar de olhos”, esta frase indica a extrema rapidez com que se dará a mudança do corpo dos santos vivos. Da última trombeta. O tempo em que se dará essa gloriosa transformação é indi­ cado a seguir. Será na segunda vinda de Cristo, pois é então que a “trombeta de Deus” soará, e os fiéis que tiverem morrido serão ressuscitados com corpo inteiramente livre de todos os efeitos do pecado (Cl 3:4; ver com. de lTs 4:16). Então, os salvos que esti­ verem vivos e ansiosos pela vinda do Senhor passarão por uma maravilhosa mudança, em que todos os traços de corrupção e imper­ feição serão removidos de seu corpo, que se tornará como o corpo glorioso de Cristo (ver Fp 3:20, 21; ljo 3:2). Eles passarão pela maravilhosa experiência de serem levados da Terra para o Céu sem morrer, como Elias, que foi um símbolo de todos os salvos que estarão vivos quando Cristo retornar (ver 2Rs 2:11; PR, 227). 53. E necessário que. É essencial que ocorra uma mudança no corpo dos santos, seja pela ressurreição com corpo imortal

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

incorruptível (v. 42), ou pela transformação sem ver a morte; pois não podem entrar no paraíso com as marcas da corrupção (v. 50). Este corpo [...] se revista. Do gr. enduõ, “colocar-se”, como veste. Isto indica a manutenção da identidade individual e pes­ soal quando houver a mudança do corpo. Cada remido manterá seu caráter individual ► (ver PJ, 332, 361; T2, 266, 267; T5, 215, 216; Ellen G. White, Material Suplementar sobre iCo 15:42-52). Mortal. Isto é, “sujeito à morte”. Só os que aceitam a oferta divina de salvação por meio de Jesus Cristo receberão o dom da imortalidade, e isso acontecerá quando Jesus retornar (ver Jo 3:16; Rm 2:7; 6:23; 2Co 5:4). 54. Tragada foi a morte. A citação é de Isaías 25:8, embora não concorde exatamente com o hebraico nem com a LXX. Quando, por ocasião da volta de Cristo, ocorrer a trans­ formação da mortalidade para a imortali­ dade, tanto nos justos mortos como nos que vivem, o grande inimigo não mais perturbará os remidos. O último pensamento que lhes ocupava a mente à medida que a sombra da morte os envolveu foi o do sono que se apro­ ximava, seu último sentimento foi o da dor da morte. Ao verem que Cristo voltou e lhes concede o dom da imortalidade, a primeira sensação será de grande regozijo, pois jamais sucumbirão ao poder da morte (ver GC, 550). 55. O morte. Alusão a Oseias 13:14 (ver com. ali). Neste clamor feliz e vito­ rioso, tanto a morte quanto a sepultura são personificadas, e as palavras são-lhes diri­ gidas, provavelmente por todos os santos triunfantes, que estarão libertos para sem­ pre do sofrimento e da separação impos­ tos pela morte. O domínio que esse inimigo exerce sobre todos desde a queda de Adão será para sempre removido dos remidos na segunda vinda de Cristo. Aguilhão. Do gr. kentron, “ponta aguda”, “um ferrão [como de abelha, vespa e escorpião]”.

56. O aguilhão da morte. Ou, o “pe­ cado”. A morte, como o escorpião, tem um ferrão, um poder fatal concedido a ela por meio do pecado, a causa da morte (ver Rm 6:23). Mas os remidos não pecarão outra vez; portanto, jamais sentirão de novo o ferrão da morte (ver Na 1:9; Is 11:9; Ap 21:4). A lei. Ver com. de Rm 7:7-11. 57. Graças a Deus. Este versículo apre­ senta o tema ou objetivo de toda a Bíblia, a saber, que a restauração do ser humano ao favor de Deus e à condição original de perfeição e liberdade de todos os efeitos do pecado ocorre pelo poder de Deus que opera por meio de Cristo (ver Ed, 125, 126; cf. Rm 7:25). Os remidos darão louvor e gra­ ças a Deus por toda a eternidade por esse triunfo sobre o poder do adversário (ver Ap 5:11-13; 15:3, 4; 19:5, 6). 58. Portanto. Em vista da gloriosa ver­ dade revelada sobre a ressurreição, os cren­ tes são exortados a resistir a todos os esforços que os agentes de Satanás possam fazer para minar a fé em Cristo. Meus amados irmãos. Em toda sua vida, Paulo demonstrou a verdade de que os discípulos de Jesus amam uns aos outros (ver Jo 13:34, 35). Esse amor é manifesto na disposição de sofrer uns pelos outros (ver G1 4:19; Cl 1:24; 2:1, 2; lTs 2:8, 9; 3:7, 8). Sede firmes, inabaláveis. Os cren­ tes são instados a permanecer firmes na fé, sem permitir que nada os perturbe. Este apelo para se manter uma firmeza inabalá­ vel é reforçado pela verdade da ressurrei­ ção exposta pelo apóstolo neste capítulo. À luz de garantias maravilhosas para o futuro, crentes não deveríam ser influen­ ciados pelas tentações do diabo, seja para satisfazer a carne ou se desviar dos fatos evidentes do evangelho por meio da influ­ ência das filosofias mundanas. Não se deve permitir que nada nem ninguém abalem o crente do fundamento de sua fé e esperança.

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1 CORÍNTIOS Abundantes. O grande incentivo à con­ tínua atividade na causa da verdade é a cer­ teza de que tais esforços não serão vãos no

16:1

Senhor, mas resultarão na salvação de pes­ soas e no avanço da glória de Deus (ver SI 126:6; Ec 11:6; Is 55:11; lCo 3:8, 9).

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

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3, 4-AA, 123 4-8-AA, 320 6 - DTN, 818 8 - AA, 123 ► 10-MCH, 99 13-20-A A, 320 16-18-GC, 546 20-GC, 399 22 - PE, 149; FEC, 382; GC, 544; HR, 60 23 - GC, 399 30-AA, 297 31 - PE, 67; CBV, 453; LS, 237; San, 60; T2, 132; T3, 221, 324; T4, 66, 299; T5, 538;

T8, 313 32 - PP, 182 33-CPPE, 121; Tl, 388; T2, 325; T3, 125 41 - SC, 109 42, 43-PJ, 87; Ed, 110 45 - DTN, 270; GC, 647; MCH, 323; Tl, 659 47-FEC, 133 50 - GC, 323 51, 52-PE, 110; PR, 227; PP, 89 51-53-DTN, 422; GC, 322 51-55-AA, 320 52 - CG, 566; DTN, 632; PE, 273, 287; GC, 550;

Tl, 36, 184 52, 53 -GC, 645 53 - CM, 350 54 - MJ, 273 54, 55 -GC, 550; PR, 239 55-AA, 590; CM, 350; PE, 110, 273, 287; GC, 644; MCH, 349; T2, 229 57-Ed, 126; GC, 470; MCH, 317; MJ, 114; San, 93; Tl, 188; T3, 43 57, 58 -AA, 321 58 - MCH, 320; T2, 395; T5, 521; T9, 220

Capítulo 16 1 Paulo exorta os coríntios a ajudar os necessitados de Jerusalém. 10 Ele recomenda Timóteo. 13 Faz admoestações amistosas e 16 encerra a epístola com saudações. 1 Quanto à coleta para os santos, fazei vós também como ordenei às igrejas da Galácia. 2 No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua pros­ peridade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for. 3 E, quando tiver chegado, enviarei, com car­ tas, para levarem as vossas dádivas a Jerusalém, aqueles que aprovardes. 4 Se convier que eu também vá, eles irão comigo. 5 Irei ter convosco por ocasião da minha pas­ sagem pela Macedônia, porque devo percorrer a Macedônia. 6 E hem pode ser que convosco me de­ more ou mesmo passe o inverno, para que me

encaminheis nas viagens que eu tenha de fazer. 7 Porque não quero, agora, ver-vos apenas dc passagem, pois espero permanecer convosco algum tempo, se o Senhor o permitir. 8 Ficarei, porém, em Efesoaté ao Pentecostes; 9 porque uma porta grande e oportuna para o trabalho se me abriu; e há muitos adversários. 10 E, se Timóteo for, vede que esteja sem receio entre vós, porque trabalha na obra do Senhor, como também eu; 11 ninguém, pois, o despreze. Mas encami­ nhai-o em paz, para que venha ter comigo, visto que o espero com os irmãos. 12 Acerca do irmão Apoio, muito lhe tenho re­ comendado que fosse ter convosco em companhia

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COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

dos irmãos, mas de modo algum era a vontade dele ir agora; irá, porém, quando se lhe deparar boa oportunidade. 13 Sede vigilantes, permanecei firmes na fé, portai-vos varonilmente, fortalecei-vos. 14 Todos os vossos atos sejam feitos com amor. 15 E agora, irmãos, eu vos peço o seguinte (sa­ beis que a casa de Estéfanas são as primícias da Acaia e que se consagraram ao serviço dos santos): 16 que também vos sujeiteis a esses tais, como também a todo aquele que é cooperador e obreiro. 17 Alegro-me com a vinda de Estéfanas, e de Fortunato, c dc Acaico; porque estes supriram o que da vossa parte faltava.

18 Forque trouxeram refrigério ao meu es­ pírito e ao vosso. Reconhecei, pois, a homens como estes. 19 As igrejas da Ásia vos saúdam. No Senhor, muito vos saúdam Áquila c Priscila e, bem assim, a igreja que está na casa deles. 20 Todos os irmãos vos saúdam. Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo. 21 A saudação, escrevo-a eu, Paulo, de pró­ prio punho. 22 Se alguém não ama o Senhor, seja anátema. Maranata! 23 A graça do Senhor Jesus seja convosco. « 24 O meu amor seja com todos vós, em Cristo Jesus.

1. Quanto à coleta. Paulo estava pro­ movendo um projeto especial em favor dos crentes necessitados de Jerusalém (cf. 2Co 8; 9). Anos antes, ele tinha sido o por­ tador de uma dádiva especial para os afe­ tados pela fome na igreja de Antioquia (cf. com. de At 11:28-30; 12:25). Paulo se preo­ cupava com seus amigos cristãos de origem judaica (cf. G1 2:10). As condições econômicas e os encargos na Palestina oprimiam tanto judeus como cris­ tãos. Estima-se que os impostos civis e reli­ giosos combinados alcançavam um total de quase 40 por cento da renda de um indivíduo. Para o povo comum não havia esperança de escapar da pobreza. Além disso, a igreja de Jerusalém sofria perseguição. A maioria dos crentes dali era pobre, alguns deles como resultado de terem se tornado cristãos (cf. At 4:34, 35; 6:1; 8:1; 11:28-30). Eles preci­ savam da ajuda de seus irmãos mais afortu­ nados de outros lugares (ver At 8:1; AA, 70). Paulo tinha assumido a responsabilidade de pedir ajuda em nome deles para outras igrejas que visitava, e apelou aos coríntios que fizessem sua parte ao lhes apresentar o exemplo de suas igrejas irmãs na Acaia e Macedônia (ver Rm 15:25, 26; 2Co 8:1-7).

Como ordenei. Os crentes de Corinto deviam aceitar esse dever assim como tinham feito os gaiatas. A obra de ajudar os pobres é dada à igreja em todas as épocas a fim de que seus membros desenvolvam simpatia e amor e revelem a outros o poder do evangelho de Cristo (ver Lc 14:13, 14; T6, 261, 270, 273, 280; T4, 619, 620; DTN, 369, 370). A ati­ tude para com os menos favorecidos da socie­ dade exerce importante papel em determinar o destino final (ver Is 58:6-8; Mt 25:34-46; T5, 612). O próprio Jesus deu o exemplo em ministrar às necessidades da humanidade sofredora; Ele passou mais tempo curando os doentes do que pregando o evangelho (ver T4, 225; DTN, 350). 2. No primeiro dia da semana. Ver com. de Mt 28:1. Ponha de parte. A construção grega indica que eles deviam fazer isso regular­ mente, a cada primeiro dia da semana. Em casa. Do gr. par’ heautõ, literal­ mente, “por si próprio”. Conforme a sua prosperidade. Dar proporcional mente à prosperidade pode envolver cuidadosa análise das finanças, tarefa que Paulo não recomendaria ser feita num dia de descanso sagrado.

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H8

16:1

1 CORÍNTIOS Juntando. Literalmente, “entesourando”, “armazenando”, talvez em algum recipiente ou em parte da casa. Coletas. Do gr. logeiai. Paulo queira as contribuições prontas quando chegasse. Este versículo é citado com frequência para apoiar a observância do domingo. No entanto, quando analisado em relação ao pro­ jeto do apóstolo em favor dos crentes pobres de Jerusalém, observa-se que é uma exorta­ ção a um planejamento sistemático da parte dos membros da igreja de Corinto para que fizessem a sua parte. Não há nada no ver­ sículo que sugira alguma santidade ao pri­ meiro dia da semana (ver T3, 413; cf. F. D. Nichol, Answers to Objections, p. 218, 219). Se todos os crentes adotassem esse prin­ cípio de benevolência sistemática, haveria abundância de meios para levar a mensa­ gem de salvação ao mundo de forma rápida (ver T3, 389). 3. Com cartas. Literalmente, “por car­ tas”. Há uma diferença de opinião sobre o autor das “cartas” mencionadas por Paulo, as quais podem ser dele mesmo ou da igreja. A frase pode ser ligada tanto às palavras ante­ riores quanto às seguintes. A ARC sugere que as cartas foram escritas pelos líderes da igreja de Corinto e que, por meio delas, eram nomeados e autorizados os portadores como ► seus representantes. As versões ARA e NVI afirmam que Paulo se ofereceu para escrever as

cartas

recomendando

os

representantes

dos irmãos de Corinto à igreja de Jerusalém. Porém, não há nenhum nome de Corinto na lista de Atos 20:4. 4. Convier. Do gr. axios, “digno”, “apro­ priado”, “vale a pana”. Se a quantia a ser levada justificava que ele acompanhasse os mensageiros, Paulo estava disposto a ir a Jerusalém a fim de assegurar que não hou­ vesse suspeita sobre a oferta enviada pela igreja de Corinto. Isso evidencia sua cautela em evitar dar motivos para incompreensão ou crítica (cf. Rm 14:13, 16, 21; ICo 8:9, 13).

16:10

5. Macedônia. Ver com. de At 16:9. 6. Passe o inverno. Paulo queria per­ manecer por mais tempo em Corinto e não apenas estar só de passagem (v. 7). Por isso, ele propôs primeiro completar seu itinerário na Macedônia (v. 5) e, então, passar os meses de inverno com a igreja de Corinto. Para que me encaminheis nas via­ gens. Ver com. de At 15:3; cf. At 20:38; 21:16. 7. Se o Senhor o permitir. Ver com. de At 18:21; ICo 4:19. 8. Éfeso. Ver com. de At 18:19. Pentecostes. Ver com. de At 2:1. 9. Uma porta [...] se me abriu. Paulo se referia a oportunidades incomuns em Éfeso para a pregação do evangelho como o motivo pelo qual desejava permanecer ali por algum tempo em vez de seguir de vez para a Macedônia e Corinto (ver v. 7, 8). Éfeso era um centro importante de adoração pagã na província romana da Ásia. A deusa Diana (ou Artêmis) era a mais popular (ver com. do At 19:24). Nessa cidade, quase comple­ tamente entregue a idolatria, superstição e vícios, Deus manifestou Seu poder por meio de Paulo para a conversão de peca­ dores e para confundir os adversários (ver At 19:8-12, 18-20). Adversários. Quando a oposição se levantou em Éfeso, Paulo não deixou a cidade, mas trabalhou ainda mais para o avanço do reino de Deus. A oposição pode em geral ser considerada como evidência de que Satanás está alarmado com a ameaça de seu domínio sobre os seres humanos e como indício de que o Espírito de Deus está operando. 10. Timóteo. Um dos conversos de Paulo e seu auxiliar na obra de Deus (ver com. de At 16:1). Ele foi enviado à igreja de Corinto para ajudar os irmãos com seus pro­ blemas (ver com. de ICo 4:17). Paulo bus­ cou preparar o caminho para ele, solicitando a hospitalidade e cordialidade dos coríntios em seu favor, de forma que o jovem Timóteo

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16:11

COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

não se sentisse constrangido quando tivesse que instruir aquela igreja. 11. Despreze. Do gr. exoutheneõ, “não dar importância”, “tratar com desprezo”. Encaminhai-o. Isto é, providencie o necessário a ele para sua viagem. Em paz. Ou seja, com a boa vontade dos coríntios. Paulo esperava que não houvesse pontos de incompreensão entre Timóteo e os crentes de Corinto. Visto que o espero. Paulo esperava notícias de Corinto (ver com. de iCo 4:17). Sem dúvida foi na Macedônia que Timóteo encontrou Paulo, pois ele estava com o apóstolo quando este escreveu a segunda carta aos coríntios (ver com. de 2Co 1:1; cf. AA, 323). 12. Apoio. Ver com. de At 18:24; cf. At 19:1; ICo 1:12. De modo algum era a vontade dele ir. Ver com. de ICo 1:12. 13. Sede vigilantes. Isto é, “estejam des­ pertos”, como os sentinelas ao redor do acam­ pamento de um exército ficam alerta a todo tempo diante da menor insinuação de perigo. O fato de haver no NT vários textos em que se encontra essa exortação enfatiza a neces­ sidade do cristão de estar alerta aos esfor­ ços do inimigo para destruí-lo (ver Mt 24:42; 25:13; Mc 13:35; At 20:31; lTs 5:5, 6). Neste versículo, a admoestação se aplicava cspccialmente aos perigos peculiares que ameaçavam os crentes coríntios. Eles deviam cuidar para que sua salvação não ficasse ameaçada por dissensões, falsas doutrinas, falsos mestres, práticas errôneas e idolatria. Permanecei firmes na fé. Sobre “fé”, aqui, ver com. de At 6:7. Jesus advertiu que haveria muitos falsos mestres e falsos profe~>> tas que buscariam desviar o povo da pureza do evangelho e levá-los a aceitar doutrinas de Satanás (ver Mt 24:4, 5, 11, 23, 24, 26). E preciso determinação para se apegar deci­ didamente à Palavra de Deus (ver Is 8:20; Mt 24:13; Fp 1:27; 4:1; lTs 5:21; Ap 2:10).

Portai-vos varonilmente. Do gr. andrizõ, “agir como homem”. Ser cristão requer coragem, intrepidez, perseverança e ânimo. Não há lugar para covardia, timidez ou medo. Apenas os que se colocam sem reservas sob a liderança do Salvador desen­ volverão caráter nobre (ver Eí 6:10). 14. Amor. Do gr. agapê, “amor” como princípio (ver com. de ICo 13:1; sobre o verbo agapaõ, ver com. de Mt 5:43, 44). O amor é a solução para todos os problemas. O conse­ lho dado aqui pode ser considerado como a característica suprema da instrução de Paulo aos crentes coríntios e aos cristãos de todos os lugares e épocas. O amor supremo a Deus e o abnegado amor ao próximo silencia toda contenda e divisões despertadas pelo orgu­ lho humano (ver Pv 10:12; Mt 22:37-40; Rm 13:10). Este atributo básico do caráter divino (ljo 4:8) deve estimular todo filho de Deus, de forma que sua vida seja uma demons­ tração do poder do amor e uma prova da verdade do evangelho de Jesus Cristo (cf. Jo 14:23; 15:9, 10, 12; ljo 3:14, 18, 23, 24; 4:7, 8, 11, 12, 16, 18, 20, 21; 5:2). 15. Eu vos peço. Do gr. parakaleõ, “exor­ tar”, “admoestar” (ver com. de Jo 14:16). Casa de Estéfanas. Uma família influente cujos membros foram batizados pelo próprio Paulo (ver ICo 1:16). Primícias. Isto é, eles foram os primei­ ros de uma grande conversão na Acaia. Acaia. Uma província composta pelo Pcloponeso e a parte principal da Grécia, ao sul da Macedônia. Sua capital era Corinto. Consagraram ao serviço. Isto é, dedi­ caram-se à tarefa. 16. Também vos sujeiteis. Isto é, mos­ trar deferência e respeito pelo que é fiel no serviço da igreja. As opiniões e os conselhos desses irmãos (v. 15) deviam ser merecedo­ res de séria consideração. Todos os que aju­ dam na grande obra divina na Terra devem ser tratados com respeito e ter todo o auxí­ lio de que necessitem.

898

817

1 CORÍNTIOS 17. A vinda de. Os três mensageiros nomeados deviam ser de Corinto. Fortunato e Acaico não são mencionados em nenhuma outra passagem. E provável que os três homens fossem portadores da carta dos coríntios a Paulo (iCo 7:1), bem como da carta de Paulo a eles, conhecida como 1 Coríntios. Supriram. Literalmente, “encheram”. Comparar com a tradução “supriram a vossa ausência” (BJ). Da vossa parte faltava. A expressão grega significa “deficiência”, isto é ausên­ cia ou falta. 18. Refrigério. A presença e as pala­ vras desses mensageiros de Corinto leva­ ram encorajamento e consolo a Paulo. Tudo indica que informaram ao apóstolo sobre a igreja de Corinto (v. 17), o que o ajudou a compreender a situação (ver Pv 15:30). 19. Ásia. Ver com. de At 2:9; ver Nota Adicional a Atos 16. Áquila e Priscila. Ver com. de At 18:2. Igreja que está na casa deles. Os cris­ tãos primitivos tinham suas reuniões nos lares. A construção de igrejas passou a ser comum só no final do 2° século. 20. Todos os irmãos. Sem dúvida, os crentes de Efeso. Eles deviam ter inte­ resse pela igreja de Corinto e desejavam que soubessem do amor c preocupação por eles. O mesmo Espírito atua em todos os que amam o Senhor e a igreja. Eles se inte­ ressam por todos os demais membros da grande família de Deus. Esse Espírito de amor entre os irmãos, dominante entre o povo de Deus, é motivo de assombro para os que não conhecem o amor de Deus e é uma evidência do poder do evangelho (ver Jo 17:23; T3, 446, 447; SC, 115). Osculo. Forma comum de saudação no Oriente. O beijo santo era uma prova da afei► ção cristã (cf. Rm 16:16; 2Co 13:12; lTs 5:26; lPe 5:14). Paulo parece ter desejado que os crentes de Corinto se saudassem desta forma

16:22

uns aos outros quando recebessem a carta, como demonstração de terem renovado a unidade e o amor cristãos. Como consta das Constituições Apostólicas (2:57; 8:11), o cos­ tume era que os homens se saudassem assim entre si, e as mulheres, entre si. Segundo o costume da Palestina, o beijo era na face, testa, barba, nas mãos ou nos pés. 21. De próprio punho. Paulo tinha o costume de contar com a ajuda de um secre­ tário para escrever suas epístolas às igrejas. Ele dava autenticidade à carta, assinando seu nome e expressando suas saudações aos irmãos (cf. Cl 4:18; 2Ts 3:17). Essa assinatura era uma prova de que o conteúdo da carta era de fato dele, assim como uma indicação de seu inte­ resse pela igreja. Ele tinha sido incomodado por cartas forjadas em seu nome (ver com. de 2Ts 2:2). Sua assinatura pessoal tinha o pro­ pósito de frustrar os desígnios desses falsários. 22. Ama. Do gr. phileõ, “amar com afei­ ção humana” (sobre agapaõ, outro tipo de amor, ver com. de Mt 5:43, 44). O signifi­ cado aqui é “se alguém não sente nem amor humano pelo Senhor [...]”. Anátema. Uma transliteração do gr. anathema, que significa “amaldiçoado” ou “devotado à destruição”. Aqueles que não acreditam nem amam o Senhor Jesus Cristo não podem ter a esperança da salvação. Pelo ato de rejeitar o único meio de salvação, esco­ lhem a ruína eterna (ver Mc 16:16; Jo 12:48; At 16:30-32; ljo 5:11-13; cf. Cl 1:8, 9). Maranata. Uma transliteração do gr. maran atha, que, por sua vez, é uma trans­ literação do aramaico maran athah. Esse é o único texto da Bíblia em que ocorre a palavra. A expressão em aramaico pode ser traduzida como “nosso Senhor vem” ou “vem, nosso Senhor”. A epístola aos corín­ tios foi escrita em grego, assim como todas as demais, mas Paulo era bilíngue e conhe­ cia o aramaico, o vernáculo do povo da Palestina. Ao se aproximar da conclusão de seu enérgico apelo aos coríntios para que

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16:23

COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

abandonassem as facções, falsas doutri­ nas e práticas e se entregassem ao Senhor por completo, ele culmina seus argumentos com esse poderoso pronunciamento sobre a vinda do Senhor. A expressão segue a pala­ vra “anátema”, mas separadas por ponto, não havendo uma conexão direta entre elas. Nos primeiros dias da igreja cristã, a expres­ são “maranata” parece ter sido usada pelos crentes como uma saudação (ver Didachê, 10:6). A vinda de Jesus deve ser o tema da vida de todo cristão (ver T6, 406; T7, 237; PE, 58). 23. A graça. Paulo conclui a epístola com uma bênção comum (ver Rm 16:24; 2Co 13:14; G1 6:18). 24. Amor. Que bênção mais bela pode­ ría seguir a repreensão dirigida àqueles que rejeitam o amor de Deus? Esta epístola, que lida de forma franca com determinados

abusos na igreja, é encerrada com uma expressão de amor e de interesse pelo bemestar eterno dos destinatários. O pós-escrito depois do v. 24 (ver KJV) não ocorre em nenhum manuscrito antigo. Seu conteúdo é incorreto, ao menos em par­ te, pois informa que o local em que a carta foi escrita é “Filipos”, ao passo que a própria epístola menciona o lugar de origem como Efeso (ICo 16:8). O pós-escrito de um ma­ nuscrito uncial (P), do 9o século, diz “de Efeso” em vez de “de Filipos”. Visto que a informação sobre o lugar de onde a carta foi escrita está errada, surge a pergunta quanto a se Estéfanas, Fortunato e Acaico foram os portadores da carta aos coríntios (ver com. do v. 17). O pós-escrito foi um acréscimo edi­ torial posterior, não parte do registro origi­ nal inspirado.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE 206, 325; T3, 389, 411, 412; T5, 382 9 - AA, 286 13-CES, 180; Ed, 295;

900

OE, 127; CBV, 136; MCH, 69, 319; MJ, 24; Tl, 370; T5, 584; T7, 236

818

1, 2-CES, 129; T3, 398 2 - LA, 368, 389; CM, 80, 81, 85; CES, 130; Tl, 191,

«
7 - 1 Corintios

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