Brittainy C. Cherry - Art & Soul (Livro único)

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Art & Soul Brittainy C. Cherry

Para Vovó Eu te amo Estou com saudades Eu te amo um pouco mais



"A alma é tingida pela cor dos seus pensamentos.” - Marcus Aurelius

cor | Substantivo, frequentemente atributivo 1. a qualidade de um objeto ou substância em relação a luz refletida pelo objeto, geralmente determinada visualmente por medição da matiz, saturação e brilho da luz refletida; saturação ou chroma; matiz. 2. Ela. 3. Eu. 4. Nós.

Capítulo Um Levi, dezessete anos de idade Mamãe estava se preocupando novamente. Sentimento de culpa começou a infiltrar, uma vez que eu não me sentia mal com as suas preocupações. Ela disse que eu estava abandonando-a, mas eu tentei o meu melhor para fazê-la ver que não era o caso. O telefone celular pendurado frouxamente no meu ouvido enquanto sua voz cheia de um medo desnecessário, mas muito familiar. Mamãe se preocupava demais com tudo, fazia tempestade em copo d'água. Minha tia, Denise, sempre dizia à mamãe que seus pensamentos eram a principal causa dos seus relacionamentos fracassados. “É por isso que as coisas não deram certo com Kent, Hannah. Você afastou-o”, ela repreendia. “É por isso que você nunca vai a encontros, Hannah. Você é uma montanha-russa emocional que teme a intimidade.” Denise estava casada há dois anos agora, então eu imaginava que isso fez dela uma guru em relacionamento. — Eu só não quero que você se machuque novamente, Levi. — mamãe suspirou no receptor. Ela se culpava por eu estar em Wisconsin, mas foi minha escolha vir passar o ano com o papai. Eu não o via desde que eu tinha onze anos, e eu tive essa ideia maluca de que se eu não tentasse agora algum tipo de relacionamento com o cara, então eu nunca conheceria o meu pai verdadeiramente. Além disso, a mamãe precisava do seu espaço. Eu precisava do meu espaço. Depois de receber educação em casa toda a minha vida, chegou ao ponto em que ela me tratava como se eu fosse sua outra metade. Ela quase não falava com mais ninguém, exceto Denise e eu. — Você não é bom para a minha irmã mais velha, Levi Myers. Eu sei que você é filho dela, mas você não é bom para ela. — Denise sempre me dizia. — Eu vou ficar bem, mãe. — ela não disse mais nada, mas eu a imaginei nervosamente batendo as unhas contra a superfície mais próxima, enquanto tomava um gole de café aguado. — De verdade, mãe. — Está bem. Bem, se ele for muito ruim, você vai ficar com Lance, certo? Ou

você voltará para casa? — ela fez uma pausa. — Você vai voltar para casa se ​ficar muito difícil, está bem? — nós dois sabíamos que não era realmente uma escolha. Eu não era bom para ela e sua saúde mental. Esperançosamente eu seria melhor para o papai. Eu balancei a cabeça, como se ela pudesse me ver, e ela continuou a falar: — Então, onde você está agora? — Esperando o ônibus para me levar para a cidade. — Ônibus? — Eu acho que o carro do papai não está funcionando. Alguns xingamentos escorregaram da sua língua, e eu sorri da sua aversão óbvia pelo homem. Era difícil imaginar que em algum momento eles foram apaixonados. Eu não sabia muito sobre o pai, e as coisas que eu sabia, aprendi com a mamãe. Eu costumava visitá-lo por uma semana durante o verão até que fiz onze. Ele costumava me enviar cartões com dinheiro no aniversário e Natal e um Post-it com uma mensagem curta. Nada demais, apenas uma pequena nota dizendo feliz aniversário ou feliz Natal. Eu ainda tenho todos eles em uma caixa de sapatos. Então, um ano parou tudo. Ele disse à mamãe que era melhor se eu não o visitasse mais, nunca deu uma explicação. Meu objetivo para este ano inteiro com o papai era descobrir a resposta de por que ele parou nossas visitas e suas cartas de repente. Eu faria tudo ao meu alcance para tentar descobrir o que aconteceu entre nós. — Eu vou ligar para Lance e pedir para buscá-lo. — Não, mãe. Ele está no trabalho. Não é grande coisa. Lance era meu tio, irmão do meu pai e a única razão pela qual ela permitiu-me vir passar o ano escolar com o papai. Ele me ajudou a convencer a mamãe que esta visita poderia ser boa para todos nós. Ele prometeu ficar de olho em mim. Eu não precisava que Lance ficasse de olho em mim, no entanto. Eu não era mais uma criança e tinha visto caos suficiente durante toda a minha vida com a mamãe para ser capaz de sobreviver a um ano com o meu pai. Eu aprendi rápido como crescer e ser um homem quando mamãe e eu não tínhamos ninguém por perto. Inclinando-me contra o poste da parada de ônibus, eu deixei cair minha mochila antes de colocar o case do meu violino no chão. — Está tudo bem. O ônibus está estacionando agora, de qualquer maneira. — eu menti. Ela me manteria no telefone por muito mais tempo do que eu queria falar. — Eu te ligo mais tarde, certo?

— Bem. Ligue-me mais tarde. Ou eu vou ligar. Eu ligo para você, está bem? E, Levi? — Sim? — Eu te amo até o fim. Eu ecoei as palavras que ela dizia para mim por tanto tempo quanto eu conseguia lembrar. Ela tinha um estranho amor pela música do The Pogues, “Love You Till The End”[1], por alguma razão e por toda a minha vida, essa música tocou em nossa sala de estar, pelo menos uma vez por dia. Todo o percurso de ônibus até o meu pai eu me perguntei que tipo de música tocava na sua casa. Eu estava apostando que não era The Pogues. O mais próximo que o ônibus da cidade poderia me levar ao bairro do papai ficava há uma caminhada de vinte minutos. Estava tudo bem, de verdade - exceto as nuvens escuras carregadas. Começou a chuviscar na metade do caminho, então apressei o passo, usando uma velocidade estranha, um movimento de caminhada / corrida lenta. Quando eu finalmente cheguei ao papai, vi o carro dele descansando no seu gramado da frente. O capô estava amassado, um farol quebrado e ele não se preocupou em fechar a porta do condutor. A varanda da frente tinha uma luz tremeluzente que dificilmente atrairia quaisquer moscas ou mariposas. Havia uma cadeira de gramado no quintal que parecia estar lá desde 1974 e uma marmita meio comida na grama acastanhada. A melhor coisa que poderia ter acontecido com seu gramado era a chuva que estava caindo. Eu dei um passo para a varanda de madeira, que rangia e gemia cada vez que eu fazia o menor movimento. Havia uma boa chance de que desmoronasse apenas com o meu peso corporal. A porta estava aberta, então não me incomodei em bater. — Pai? Não houve resposta.

Saindo do hall de entrada, vi-o no sofá da sala. Pelo menos a casa é mais limpa do que o gramado da frente. Suas pernas estavam penduradas sobre o braço do sofá, e ele estava dormindo. — Pai. — ele mexeu contra as almofadas, mas não acordou. Vêlo pela primeira vez depois de todos estes anos trouxe emoções mistas. Eu estava feliz, triste, amargurado e com raiva, tudo de uma vez. Eu queria gritar com ele por me abandonar e abraçá-lo por me deixar voltar depois de todos esses anos. Eu queria que ele dissesse que sentiu minha falta, pedisse desculpas e explicasse por que foi tão distante ao longo dos últimos anos. Mas, principalmente, eu queria que ele acordasse da sua soneca. Tentando o meu melhor para afastar essas emoções, eu limpei minha garganta. — Pai. — eu disse mais alto desta vez, empurrando a perna dele com a sola do meu tênis azul. Ele resmungou antes de rolar para encarar o interior do sofá. — Você está brincando comigo? — eu murmurei sob a minha respiração antes de pegar minha mochila e atirá-la no lado dele. — Pai! Sentou-se, carrancudo. — Que diabos? — as palmas das suas mãos esfregavam os olhos cansados. Seus dedos se curvaram em punhos, e ele inclinou a cabeça para olhar para mim. — Você fez isso? — Sim. Eu pensei que você gostaria de saber que estou aqui. Ele coçou a barba grisalha antes de virar de novo no sofá. — Seu quarto é no corredor à direita. — não demorou muito para que ele roncasse novamente. — É bom ver você também. Indo em direção a meu quarto, olhei para dentro e vi uma cama recém-arrumada e uma cômoda com toalhas e suprimentos de banho em cima dela. Pelo menos ele pensou em mim. Algumas das minhas caixas que a mamãe enviou estavam no chão. Nada mais. Meu celular começou a tocar e o nome de Lance brilhou em toda a tela. — Alô? — Ei, Levi! Chegou bem? Eu soube que Kent o buscaria no aeroporto, mas eu só queria checar. — Sim, eu estou aqui. O carro do meu pai não está funcionando, então eu peguei o ônibus, mas eu estou aqui.

— Cara, você deveria ter me ligado, eu poderia ter te buscado. — Não é grande coisa, eu sabia que você estava trabalhando. Foi uma viagem fácil. — Bem, da próxima vez que precisar de alguma coisa, não hesite em perguntar. Família antes do trabalho, tudo bem? Você está se instalando? Kent está te tratando bem? — Ele está, na verdade, tirando uma soneca. Lance ficou em silêncio por um momento. — Sim, ele vem fazendo muito isso ultimamente. Tem certeza de que não precisa de nada? Comida? Companhia? Comida e companhia? Eu posso ir e falar na sua orelha até a morte. — ele riu. — Eu estou bem, realmente. Acho que vou simplesmente desempacotar as minhas coisas. — Tudo bem. Mas ligue-me se precisar de alguma coisa, dia ou noite. — Obrigado, Lance. — Claro amigo. Vejo você em breve. Eu desliguei o telefone, sentei na cama e olhei para as paredes brancas. Estava longe de ser um lugar que eu chamaria de casa. Sentia-me estranho. Mamãe e eu vivíamos no Alabama e nossa casa era uma cabana na floresta. A única coisa boa sobre o lugar do meu pai era o quintal cercado por árvores. Sem essas árvores e as memórias que eu tinha do papai, eu provavelmente sentiria como se estivesse em Plutão ou algo assim. Abri uma das minhas caixas, retirei minha coleção de músicas, as coisas mais variadas que eu tinha. Eu poderia facilmente ter alcançado a coleção e pego um CD de jazz, depois Jay Z e seguido de The Black Crowes. Mamãe era uma musicista e acreditava que valia a pena explorar todos os estilos de música. Ouvíamos todos os tipos de gêneros e estilos de música durante o dia, nunca tínhamos um momento de silencio na nossa casa. A casa do meu pai era muda. Outra caixa estava cheia de diferentes conjuntos de dicionário de capa dura: o dicionário Merriam-Webster, o Collegiate Dictionary Merriam-Webster e dois volumes do Dicionário de Inglês Oxford. Cada dia durante a educação doméstica, mamãe

folheava os livros e encontrava dez novas palavras que eu não conhecia e então usaríamos em canções que escrevíamos juntos. O resto das minhas caixas incluía minha coleção do Harry Potter, Os Jogos Vorazes e As Crônicas de Nárnia, cada romance de Stephen King, junto com dezenas e dezenas de outros livros. Eu levantei o dicionário Merriam-Webster e comecei a folhear as páginas. querer | verbo desejar ou ansiar (alguma coisa) precisar (alguma coisa) ficar sem (algo necessário) Eu queria que papai me quisesse um pouco. Eu queria que a mamãe parasse de me querer tanto. Eu queria ser desejado, mas não queria muito. O congelador da cozinha tinha uma variedade de comidas congeladas. A geladeira foi abastecida de cima a baixo com sanduíches de carne, frutas, restos de pizza, cerveja do papai e root beer[2]. Ele se lembrou do meu refrigerante favorito. Comi no jantar purê de batatas ruim ​e bolo de carne, engolindo tudo com dois root beer. Papai comeu a mesma coisa, mas ele, em um cômodo diferente. Eu fiquei fora da sua vista o resto da noite, passeando na floresta durante a tempestade. Nos galhos retorcidos altos estava a casa da árvore que ele e eu construímos quando eu tinha nove anos. Na minha cabeça costumava ser muito maior, mas imaginei que era a coisa sobre memórias - elas nem sempre eram exatamente verdade. Talhadas, no tronco da árvore, estavam as nossas iniciais acima das palavras ‘homens da caverna’. Meu dedo rolou sobre cada palavra. Eu não me lembrava de esculpir as letras. Eu me perguntava o que mais eu esqueci sobre esse lugar. Subi os degraus molhados na árvore, que ainda estavam bastante resistentes, e sentei-me dentro da casa agora pequena, que estava coberta de teias de aranha, besouros mortos e latas de cerveja antigas. No canto mais distante estava um aparelho

de som velho, onde meu pai e eu costumávamos sempre colocar nossos CDs favoritos enquanto jogávamos conversa fora e passávamos o tempo. Sem pensar, eu liguei o aparelho de som, mas estava morto como os besouros. Sentei-me na frente da janela com os braços cruzados, vendo a chuva cair. A chuva sempre me lembrava da mamãe. Talvez eu estivesse começando a sentir um pouco a falta dela.

[1] Te amo até o fim. [2] Tipo de refrigerante muito popular nos EUA.

Capítulo Dois Aria, dezesseis anos de idade Eu deveria estar dormindo. A chuva martelava contra o telhado da casa em velocidade implacável, deixando-me com os olhos arregalados. Virei-me para o despertador na minha mesa de cabeceira. As luzes laser vermelhas eram brilhantes e lembravam-me uma e outra vez por que eu não deveria ter sido acordada. 02:22 Eu levantei meu corpo, minhas costas ficaram contra a cabeceira. Tirando meu edredom pêssego e cor de amora do meu corpo suado, eu tomei fôlego. Meu polegar foi para os meus dentes e continuei a lascar a minha unha curta. Eu odiava a calma do ambiente familiar. Eu odiava como todo mundo na minha família era capaz de dormir com os sons da tempestade que estava passando por Mayfair Heights. Eu odiava como eles provavelmente estavam sonhando com algo magnífico e feliz enquanto eu estava sentada na cama pensando demais em tudo. Levantei-me do meu colchão e fechei a porta do quarto, que estava coberto com os meus trabalhos artísticos aleatórios e fotos minhas e da minha família. As letras recortadas 'A-R-I-A' que se curvavam sobre o batente da minha porta exibiam meu elemento frio. Ou a falta disso. Meus pés escorregaram em um par de rasteiras velhas e verdes. Joguei a alça da minha bolsa de franjas no meu corpo, e não demorou muito para eu escalar da minha janela do primeiro andar. Eu não tinha tido inteligência suficiente para pensar em vestir um casaco para cobrir a minha regata e shorts de pijama. O ar de agosto estava frio quanto roçou minha pele, mas a chuva não teve remorso. Ela tomou conta de mim, ensopando-me da cabeça aos pés antes de chegar à esquina da rua. Coloquei minha cabeça para pensar e tomei um atalho através da floresta do Sr. Myers no final do bloco. Parecia uma grande ideia, até que comecei a escorregar

através da grama enlameada, transformando instantaneamente minhas sandálias verdes em nogueira marrom. A forte tempestade estava me torturando, quase tanto quanto a minha mente tem atacado o meu coração. Eu sabia que era estúpido sair tão tarde da noite, mas quando o seu coração está sob ataque, apenas algumas pessoas podem colocar um escudo de proteção em torno do dito coração. Quando cheguei ao limite da floresta, um suspiro de alívio me deixou quando alcancei a propriedade do Sr. Myers. Era a única casa deste lado da estrada por quilômetros, e em sua maior parte, a casa era exatamente como a pessoa que vivia dentro: quebrada. Era uma casa de apenas um andar com mais lixo do que tesouros, incluindo a luz piscando na varanda, o gnomo quebrado ao lado da caixa de correio e o carro batido que parecia mais velho do que o meu avô. Sr. Myers não me conhecia, e provavelmente era melhor dessa forma. Ele era o tipo de pessoa que eu nunca tive a necessidade de conhecer. Mamãe chamava-o de solitário do bairro. Papai era muito menos agradável sobre ele, chamando-o de nada, além de idiota estúpido. No fim de semana anterior o Sr. Myers tinha batido seu carro na caixa de correio da Srta. Sammie na Ever Road. A maioria das pessoas teria relatado à polícia, mas Srta. Sammie disse que o cara só precisava de uma bíblia e uma conversa com Jesus. Ela ainda fez um sanduíche depois de levarem seu carro. Do outro lado da estrada eu podia ver a luz da varanda do Simon brilhando. Graças a Deus. Simon era o meu melhor - e único - amigo. Nós nos conhecíamos desde que usávamos fraldas. Nossas mães eram melhores amigas, então Simon e eu estávamos destinados a ser unidos pela amizade. Eu acho que ambos os pais ficaram um pouco decepcionados quando não apaixonamo-nos loucamente e vivemos felizes para sempre. Simon era mais para cabelo loiro do que o meu ruivo, e eu era mais a fim de meninos que me chamavam de bonita e então fingiam que eu não existia, por isso a nossa história de amor nunca foi viável. A chuva estava congelando. Eu tentei o meu melhor para cobrir minha regata branca ensopada e transparente quando escapei para o quintal de Simon e bati na janela do seu quarto, na esperança de não acordar seus pais. Embora eu fosse próxima da sua família, a ideia do Sr. Landon me encontrar de pé em uma camisa transparente seria motivo para uma boa rodada de terapia. Eu tremia de pé em uma poça de água.

Demorou alguns minutos antes de Simon acordar e caminhar para me ver. Ele piscou algumas vezes, esfregando as palmas das mãos contra seus olhos sonolentos. A janela se abriu e eu escalei para dentro, algo que eu fazia há anos. Simon passou a trancar a janela. Ele verificou duas, três vezes a tranca, em seguida - para a plena certeza - ele checou mais uma vez. A maioria dos meninos teria pelo menos me olhado no estado em que eu estava, minha regata branca grudada nos meus seios sem sutiã, mas Simon não hesitou. Além disso, ele não estava de óculos, então estava praticamente cego como um morcego. Uma vez, quando éramos mais jovens, eu estava trocando de roupa no seu quarto quando ele deparou comigo. Naquela época, ele estava de óculos e seus olhos encontraram meu seio instantaneamente. Certeza que ele corou toda vez que me viu por dois meses seguidos. — Você está bem? — ele perguntou, uma pitada de desconforto em sua voz. Se havia alguém que era mais preocupado comigo do que os meus pais, era Simon. Ele era um preocupado natural - por uma boa razão também. Depois de um passado difícil, Simon estava autorizado a se preocupar um pouco mais do que outros. — Apenas frio. — eu respondi, não querendo realmente alarmar mais o Simon. — Você decidiu aleatoriamente fazer uma caminhada às duas da manhã? — Sim. — Na chuva torrencial? — Não era torrencial quando eu saí. — eu menti. — Certeza que era quando você saiu. — Bem, eu pensei que abrandaria. — Você deveria ter verificado o tempo. — Na próxima vez. — Eu vou pegar algumas toalhas para que possa se secar e pano de chão para os pés enlameados que você está arrastando pelo meu tapete. — ele não parecia incomodado com o chão lamacento, mas eu sabia que ele estava. Simon foi para o banheiro, e eu tentei o meu melhor para manter meus pés

enlameados em um só lugar. Quando ele me trouxe as toalhas, ele abriu a última gaveta da cômoda e pegou o pijama que eu sempre deixava na sua casa. Quando entregou-me, virou-se para me dar privacidade. Depois de retirar toda a minha roupa encharcada, eu peguei meu top novo e deslizei sobre a minha cabeça. — Você precisará trazer mais roupas para deixar no meu armário, se você está pensando em morar comigo. — disse Simon sarcasticamente, ainda extraordinariamente doce. — Diga-me quando. Meu novo calção subiu nas minhas pernas muito brancas, e alisei-os com os meus dedos. — Eu estou bem. Ele caminhou até seu armário, onde estava a capa dos seus óculos. Abriu-a e colocou os óculos sobre os olhos verdes. Seu cabelo laranja avermelhado estava levantado em alguns lugares, ainda completamente achatado nos outros. Ele parecia exatamente como eu sempre imaginei que qualquer pessoa chamada Simon parecesse: meio magro, mas muito alto; tipo de nerd, mas estranhamente bonito. — Você raspou o lado direito da sua cabeça? — ele perguntou, seus olhos desviando para o meu novo penteado. — Raspei, de fato, você gosta? Sua cabeça inclinou para a esquerda e ele observou o meu novo visual. A cabeça inclinou para a direita, sem deixar de olhar. — É... artístico. Muito você. — Você odeia. — ele odiava. Eu não fiquei surpresa. — Não. Eu gosto. — ele prometeu, o que era uma mentira. Simon gostava que as coisas fossem tão normais quanto possível quando se tratava de aparência. Ele odiava se destacar, mas ele sabia claramente que tinha se tornado o melhor amigo de uma menina artística que sempre se destacaria um pouco quando se tratava da minha aparência. Sorri para sua mentira, caminhei até sua cadeira do computador e sentei-me. Seu quarto não era cheio de cores como o meu. Era tudo muito chato. Tapetes de linho com paredes brancas pérola. A única cor vinha dos poucos cartazes pendurados acima dos seus jogos favoritos de videogame. Ele abaixou seu corpo para o tapete e começou a esfregar a lama para fora. — Desculpe por isso, Si.

Ele riu os ombros subindo e descendo. — Bem, você sabe o que eles dizem, não há melhor maneira de corrigir um ligeiro caso de TOC do que os tapetes enlameados. — ele ficou de quatro e começou a esfregar mais forte. Eu me inclinei para frente, apoiando os cotovelos contra os meus joelhos ossudos. Tentando não franzir a testa, eu perguntei: — Como está indo? — Simon tinha sido sempre um pouco obsessivo sobre as coisas, mas eu nunca pensei que fosse um problema real e na verdade, a maioria das coisas parecia simplesmente reclamação. Quando éramos mais jovens todos os seus brinquedos tinham que estar na mesma direção. O volume da televisão sempre tinha que ser colocado em um número terminando com quatro. Os garfos sempre tinham que ser lavados em separado das colheres. Pequenas coisas, realmente, mas depois eu comecei a perceber, quanto mais velhos ficávamos, o grande problema que ele criava com as coisas ao lidar com o número quatro. A mesa de jantar sempre tinha que ser ajustada para quatro pessoas, mesmo que apenas duas pessoas estivessem comendo. Todas as portas e fechaduras das janelas tinham que ser verificadas duas - três e quatro vezes. Sentado sobre os calcanhares, ele suspirou e enxugou a testa. — Eu nunca vou conseguir transar ou ter uma namorada, vou? Eu serei um virgem de quarenta anos de idade. — Não seja bobo. — comentei. — Você vai transar em algum momento. — Certo. E eu serei tipo: ei, garota sexy, se você pudesse só me deixar colocar e retirar o preservativo quatro vezes antes de começarmos a parte suja, seria ótimo. Sim, sem problema. Eu ri. — Você está certo. Você nunca vai transar. Simon estreitou os olhos para mim e colocou os trapos sujos em seu cesto de roupa suja. Ele mudou-se para sua mesa de cabeceira e apertou quatro esguichos de desinfetante nas palmas da mão. — Você é uma vadia. — Eu também te amo. — sorri. Meu cabelo ainda estava encharcado da chuva, e eu comecei a trançá-lo. — Escute, se você ainda for virgem, na véspera do seu trigésimo nono aniversário, vou aparecer e nós vamos transar. Eu vou até mesmo deixá-lo tocar meus seios quatro vezes. Os olhos de Simon viajaram para o meu peito e seus lábios curvaram para cima. Seu rosto corou muito. — Bem, eu poderia ter que tocá-los seis vezes. Ou dez. Quem sabe o quão ruim estará esse meu problema até lá.

— Você é um cara às vezes. — E não se esqueça disso. — ele pulou na sua cama e empurrou os óculos no nariz. — Então, você quer continuar bancando a indiferente sobre sua visita tarde da noite ou quer discutir o que está te incomodando? — O que faz você pensar que algo está me incomodando? Ele levantou uma sobrancelha. Meu coração bateu na minha garganta enquanto peguei minha bolsa e subi na sua cama. Minhas pernas cruzadas, os meus lábios endurecidos e eu escorreguei minha mão na bolsa. Primeiro, retirei uma toalha de papel e coloquei-a em seu edredom. Alcancei a bolsa de novo. Uma. Duas. Três. Quatro. Eu coloquei as quatro varas de plástico na toalha de papel, e assisti o ar evaporar dos pulmões de Simon. Ele ficou em silêncio, o que fez mal ao meu estômago. — São...? Eu balancei a cabeça. — E eles são...? Eu balancei a cabeça novamente. Eu certifiquei de fazer quatro testes em honra ao meu melhor amigo. Bem, por isso e para o meu próprio bem-estar. — Como você pagou por todos eles? — ele perguntou, sabendo que eu era muito boa em não ter dinheiro suficiente para tomar um sorvete ou comprar um chocolate. — Eu economizei o dinheiro de babá da Grace e KitKat nestas últimas semanas. E confie em mim, a ironia de conseguir o dinheiro para eles com a atividade

de babá não passou despercebida. Quatro testes diferentes. Quatro diferentes. Quatro resultados relacionados.

marcas

diferentes.

Quatro

dias

Simon estava vazio de pensamento quando caiu para trás, passando a mão sobre sua boca. — Aria... pelo simples fato de que parece falso até que um de nós fala verbalmente as palavras, eu vou pedir para você falar. — Estou grávida. — as palavras queimaram o fundo da minha garganta e sentime ridiculamente sozinha, uma vez que saíram da minha boca. — Como? Quem? — Durante o verão. Houve um cara. — Você nunca mencionou um cara. — a curiosidade de Simon estava em um momento alto, mas eu não queria entrar em mais detalhes de como eu tinha me humilhado e me apaixonado pelo cara errado. — Eu não achei que ele valia a pena mencionar. Ele não soube o que dizer depois disso. Nem eu. Nós nos sentamos em silêncio até às 05:56 A tempestade tinha passado e eu sabia que deveria voltar para casa antes que meus pais saíssem para o trabalho. Eu lhes disse que olharia as minhas irmãs pequenas durante o dia por vinte dólares. Eu escalei de novo a janela de Simon e o agradeci por ficar comigo e nenhuma vez olhar para mim com um olhar crítico. — Você vai mantê-lo? — Simon sussurrou. Eu dei de ombros. Eu não tinha realmente pensado no fato de que eu estava realmente grávida depois de eu ter feito xixi em quatro varas diferentes e contar-lhe a notícia. — Meus pais vão ficar loucos. Simon fez uma careta. Ele sabia que eles surtariam com isso. Especialmente meu pai. — Bem, o que você precisar é só me avisar. Um triste, pequeno sorriso assumiu meus lábios. Havia algo tão notável sobre melhores amigos. Eles sempre eram um lembrete sólido que você nunca estava verdadeiramente sozinho.

Voltei em meio à mata do Sr. Myers e na metade do caminho fiz uma pausa e olhei para o céu. O sol estava acordando com um bocejo, lentamente esticando sua luz através das árvores com as folhas queimadas que em breve cairiam no chão. Eu não estava pronta para ser mãe. Eu não estava pronta para ir para casa. Eu não estava pronta para enfrentar o fato de que amanhã seria o primeiro dia de escola e eu seria aquela garota. A garota que ia começar a usar roupas largas para tentar esconder a barriga crescente. A garota que seria notada, não por causa do seu jeito artístico, mas por causa das suas más decisões. A garota que estava grávida na escola. Minhas costas inclinaram contra uma árvore, e eu permiti que o aroma do ar da manhã beijasse meu rosto. — Ei, ei, está tudo bem. A voz calma fez-me virar rapidamente. Meus olhos dispararam ao redor do bosque, procurando o som. A voz continuou falando, mas estava claro que as palavras não estavam sendo direcionadas para mim. — Você é linda. Essas palavras definitivamente não foram criadas para mim. Na maioria das vezes, quando as pessoas falavam sobre mim elas diziam: — Ah. Aria. Você é tão... única. — ou. — Você é muito magra, coma um hambúrguer. — ou. — Que diabos você fez com o seu cabelo desta vez?! A poucos passos de distância um cara estava ajoelhado na frente de um cervo. Os olhos do cervo estavam arregalados, alarmados, mas ele não estava apavorado o suficiente para correr. Eu nunca tinha visto o cara antes, mas ele parecia ser da minha idade. Eu conhecia todos no Mayfair Heights por nome e sobrenome mesmo que eles nunca tenham me notado - então era estranho que seu rosto fosse desconhecido para mim. Ele tinha cabelo castanho que estava escondido sob um boné de beisebol, e uma leve sombra de barba. Ele usava uma camiseta azul com jeans desbotados e tênis azuis frouxamente amarrados. Em sua mão tinham frutas, que ele estendia em direção ao cervo. — Você vai adorar estas. — ele prometeu. Cada vez que ele falava, reparava no sotaque preso às palavras. Ele não era daqui - disso eu tinha certeza. Havia esse sotaque sulista, que aparecia no final de cada uma de suas frases; era reconfortante. O cervo se adiantou, movendo-se para mais perto dele. Antecipação tomou conta

de mim, esperando que o cervo fizesse contato com o estranho. As pessoas alimentam cervo? Isso é uma coisa? Uma parte de mim queria olhar para longe dele, mas outra parte realmente queria continuar olhando. Meu pé esquerdo moveu para trás, pisando em um ramo, e meu pé direito bateu outro, fazendo-me cair para trás de bunda. O cervo ficou assustado e fugiu na direção oposta. — Merda! — ele sussurrou, jogando as frutas no chão antes de passar as mãos nos seus jeans. Uma pequena risada escapou dele. — Quase. Mordi o lábio e movi ao redor, fazendo mais barulho nos ramos. Ele virou para o meu lado, parecendo tão assustado quanto o cervo. Primeiro, ele ficou confuso com toda a minha existência, e, em seguida, satisfeito. Seus olhos castanhos sorriram antes que seus lábios seguissem a gentileza. Limpando a garganta, dei-lhe um olhar sério de desculpas. Dando alguns passos na minha direção, seu olhar procurou meu rosto. Ele esperou que eu dissesse alguma coisa, mas eu não sabia o que dizer, então permaneci em silêncio. Estendeu a mão para mim, mas recusei-a, empurrando-me para cima do chão. Ele continuou sorrindo conforme afastei as folhas e ramos molhados do fundo do meu bumbum. — Você está bem? — ele questionou. Eu balancei a cabeça em silêncio. Seu sorriso não vacilou. Eu me perguntei se ele sabia como não sorrir. — Tudo bem, então. — disse ele. — A gente se vê mais tarde. — ele se dirigiu para a casa da árvore e começou a subir os degraus. Uma vez que ele chegou ao topo, o cara misterioso desapareceu no interior, saiu do meu ponto de vista. Eu olhei para a esquerda, direita, para cima e para baixo, olhando em volta para as árvores tranquilas, perguntando se ele tinha sequer existido realmente. No entanto, eu sabia que tinha que ser real, porque a pilha de frutas ainda estava contra a grama umedecida.

Capítulo Três Aria Não havia um jantar de domingo, quando minha família inteira não comia junto. Na maioria das vezes durante a semana, a mamãe e o papai trabalhavam em turnos diferentes, por isso todos comerem juntos não era tão comum. Exceto aos domingos; domingos nós sempre comíamos juntos na nossa mesa de jantar porque meus pais achavam que era importante colocar a vida em dia durante uma refeição caseira, pelo menos, uma vez por semana. Mamãe passou a tigela de croissants ao redor. — Ah! Há novidade! Aria, Sr. Harper ligou sobre a mostra de arte que você se inscreveu alguns meses atrás. Ele disse que o seu trabalho vai ser destaque no museu de arte. Parece um grande negócio. — a voz da mamãe estava embebida em orgulho e envolta em aprovação feliz. Ela nunca se importou que eu estivesse mais para o mundo criativo do que para o mundo médico em que ela vivia. Ela era um daqueles pais que acreditavam que seus filhos deviam seguir o próprio caminho. A tigela de croissant passou pelas minhas mãos e eu passei para Mike, sem corresponder a emoção da mamãe. — Eu pensei que você ficaria animada. — uma carranca se formou nela. — Eu pensei que fosse isso que você queria. Nada de mim. — Aria, sua mãe está falando com você. — papai disse com comando em seu tom, mesmo que seus olhos estivessem olhando através da mesa da sala de jantar, para a televisão na sala de estar passando Sports Center. Papai tinha uma maneira de apoiar a mamãe quando ele quase não estava prestando atenção. Ele sempre entrava nas conversas precisamente no momento certo, como um sexto sentido esponsal. — Estou grávida. — eu disse calmamente, colocando uma colher de ervilhas na minha boca. As palavras rolaram da minha língua como se fosse uma coisa normal para dizer. Como se eu tivesse tentando há meses ficar grávida do amor da minha vida. Como se fosse o próximo passo lógico na minha vida.

Mike segurou o croissant no meio do ar, os olhos indo para frente e para trás entre os nossos pais. Os olhos de Grace, minha irmã mais nova, saltaram. Minha irmã bebê KitKat jogou algumas ervilhas no papai, mas isso era normal, porque ela tinha um ano de idade e sempre jogava ervilhas no papai. Eu supus que suas reações tiveram aparências precisas, com base no que eu disse a eles 20 segundo antes. Eu desejei que fosse invisível. Meus olhos fecharam. — Brincadeira. — eu ri, ficando atenta ao estranho silêncio que encheu a sala de jantar. Eu cutuquei o bolo de carne especial da mamãe com o meu garfo. Os rostos de todos suavizaram, o choque diminuindo. — Você está brincando? — mamãe sufocou. — Ela está brincando. — Mike suspirou. — Brincando? — papai cantou. Grace assentiu com compreensão. — Totalmente brincando. KitKat riu, mas, novamente, ela estava sempre rindo tanto, uivando em lágrimas, ou jogando ervilhas. — Sim. — eu murmurei, minha voz querendo tremer. Eu não permitiria isso. — Sem brincadeira. Papai inclinou a cabeça e estava assustadoramente calmo. — Mike, Grace, levem KitKat lá para cima. — Mas! — Mike começou a discutir. Ele queria estar no meio da primeira fila para assistir nossos pais me atacarem verbalmente e minhas más decisões. Ele normalmente era o único a ter problemas por beber e festejar com alguns dos outros jogadores de futebol, por isso deve ter sido bom não ter os pais encarando-o com olhos duros para variar. Eu sempre fui a garota bem comportada que prometia e entregava seguidamente boletins com ‘A’ cada semestre. Meus atos de rebelião eram pequenos em comparação: a cabeça raspada e muito delineador foram a extensão da minha loucura e selvageria - até agora. Papai virou seu olhar calmo enganador para Mike. Isso o calou rápido. Ele levantou KitKat da sua cadeira e saiu da sala.

A conversa na mesa de jantar deu uma guinada para o pior, e eu sabia que deveria ter contado primeiro só para a mamãe. Ela era uma pediatra e trabalhava em estreita colaboração com as crianças e seus problemas, então talvez ela tivesse entendido. Mas em vez disso, eu tentei ser toda indiferente sobre a questão e decidi largar a minha grande notícia na frente do meu pai. Ele não era um pediatra. Ele não “entendia” as crianças. Ele era um encanador. Ele lidava com a porcaria do povo durante quarenta ou mais horas por semana. Banheiros entupidos, pias, drenos sujos de banheira - você dava nome, ele consertava. O que significava que na hora do jantar, ele estava bastante irritado com a merda das outras pessoas. Incluindo a minha. — Grávida, Aria? — papai sussurrou, seu rosto ficando cada vez mais vermelho a cada segundo. A careca no topo da sua cabeça estava brilhante e fumegante de raiva. Papai era um homem corpulento de poucas palavras. Ele nunca teve muita razão para levantar a voz para nós. Éramos, em geral, crianças decentes. Mesmo com a bebida e festas de Mike, papai o repreendia calmamente. Ele nos criou com muita facilidade, até cerca de três minutos atrás. Eu não respondi à sua pergunta. Minha incapacidade de resposta deixou pior. — Grávida?! — sua voz tornou-se um grito quando os punhos bateram contra a mesa, derrubando o saleiro. Minhas unhas afundaram nas palmas das minhas mãos, e eu acidentalmente mordi o interior do meu lábio. Os olhos azuis do papai estavam severos com a decepção e sua boca estava tão decidida a formar uma carranca que isso me fez sentir triste, também. — Adam. — mamãe fez uma careta, incomodada com a maneira como ele estava erguendo a voz para mim. — Você quer que os vizinhos ouçam? — Eu duvido que isso importe, porque eu tenho certeza que eles conseguirão ver em breve! Ele estava gritando completamente e eu estava apavorada. — Gritar não vai torná-lo melhor. — mamãe explicou.

— E falar em voz baixa não vai também. — respondeu o papai. — Eu não gosto do seu tom, Adam. — E eu não gosto que a nossa filha de dezesseis anos de idade, esteja grávida! Meu corpo ficou tenso. Se havia alguma coisa pior do que eu dizer a palavra grávida, era ouvir a palavra voar da boca do meu pai. Meu estômago estava firmemente em nós e senti meu jantar subindo de volta até minha garganta. Eu nunca cometi qualquer erro que fizesse meus pais parecerem tão quebrados. Como estraguei tudo tanto assim? Eles estavam brigando. Eles nunca brigavam. A última vez que os ouvi fazer algo próximo à briga foi quando eles estavam tentando escolher um apelido para KitKat, e que tinha terminado com o pai beijando a testa da mamãe e esfregando seus pés durante um episódio de NCIS[3]. Minhas mãos caíram para o meu colo, e eu queria tentar explicar-lhes como havia acontecido. Eu queria que eles entendessem que eu sabia que ficar grávida na adolescência era uma coisa terrível. Repito: ter dezesseis anos e grávida é uma coisa terrível. Eu assisti o programa “16 & Pregnant[4]”, na MTV, muitas vezes, e eu deveria saber que precisava manter minhas partes femininas longe daquele cara, mas algo estranho aconteceu com o meu cérebro quando ele me chamou de linda. Bem, não linda, mas bonitinha, o que era mais do que eu já tinha sido chamada antes por outra pessoa que não fosse os meus pais. Estranha e anormal, sim. Bonitinha? Nem tanto. Mamãe passou os dedos pelos cabelos pretos ondulados. Ela tinha arrepios correndo pelos braços pardos. Eu parecia mais com ela, mais mexicana do que caucasiana, como o meu pai. Seus lábios eram cheios e seus olhos eram da cor de doces de chocolate. Aqueles mesmos olhos estavam atualmente preenchidos com desapontamento e confusão. — Talvez eu devesse falar com ela sozinha primeiro. — mamãe ofereceu. Papai grunhiu antes de empurrar-se para longe da mesa. Ele não tinha o mesmo olhar de confusão e decepção, ele simplesmente parecia irritado comigo. — Fique à vontade. Quando ele saiu do cômodo a conversa com a mãe mudou muito rapidamente.

— Como você sabe que você está grávida? — ela perguntou. — Fiz quatro testes. — eu respondi. — Como você sabe que fez os testes corretamente? — Vamos lá, mamãe. — É o Simon...? — O quê? De jeito nenhum! — Por que diabos você não usou proteção? — Eu cometi um erro. — eu limpei minha garganta, sentindo-me envergonhada. Depois de ver o olhar condescendente em seus olhos, eu abandonei a lógica e tentei uma abordagem mais lúdica. — Você não disse para o meu pai que KitKat foi um acidente, também? Você não pode ver como essas coisas podem acontecer? — Aria Lauren, preste atenção às suas palavras. Você está tão perto do limite. — ela me repreendeu. Quando a mamãe ficava chateada, seu rosto apertava e as linhas de sorriso ao redor da sua boca desapareciam. Ela também puxava sua orelha direita quando extremamente irritada. Ela estava certa. Eu estava por um fio do limite, estendendo a mão para ela para me puxar para cima, mas ela estava muito ocupada puxando sua orelha até a morte. — Amanhã eu vou buscá-la depois da escola e nós vamos ao médico e te examinar. Por agora, direto para o seu quarto para que eu possa falar com seu pai. Meus pés arrastaram em direção ao meu quarto e fiz uma pausa nos painéis de piso de madeira antes de virar o meu calcanhar para encará-la novamente. — Você pode pedir ao meu pai para não me odiar demais? Sua boca suavizou e aquelas linhas do sorriso voltaram. — Eu vou me certificar de que seja a quantidade perfeita de ódio. Foram 54 minutos de gritaria e berreiro entre os meus pais. Mesmo que eles estivessem realmente chateados comigo, estavam determinados a jogar em cima um do outro. Eu sentei de pernas cruzadas na minha cama, fones de ouvido nas orelhas e uma

tela em branco na minha frente. O volume da música foi dobrado para um ensurdecedor para evitar ouvir meus pais desmoronarem. Gostaria de me perder nos meus trabalhos de arte e música para tentar esquecer que eu tinha quebrado a minha família. Pelo menos esse era o plano até que Mike veio e ficou na minha porta. Seus lábios moviam em uma velocidade constante, mas por sorte minha música estava bloqueando tudo o que ele estava dizendo. Levantando o meu iPod, eu estupidamente abaixei o som. — Você arruinou isso, você sabe. Meu último ano era para ser épico, mas em vez disso eu vou ser o cara com uma irmã mais nova grávida. — Você está certo. Eu deveria ter realmente pensado sobre como isso afetaria o meu irmão mais velho, popular. Era muito mais fácil quando ninguém reparava em mim, certo? — eu revirei os olhos sarcasticamente. Mike era um cara enorme, o running back estrela da equipe de futebol e no seu caminho para ser oferecida bolsa completa para jogar futebol em algumas das maiores universidades no CentroOeste. Com seus olhos azuis e cabelo castanho claro, ele parecia mais com o papai do que com a mamãe. — Você é tão estúpida. Você realmente não sabe o que você fez, não é? Ouça-os. — ele fez um gesto em direção à sala de estar. — Cale-se, Mike. — eu aumentei de novo o volume da minha música. Ele continuou latindo por uns bons minutos antes dele virar dramaticamente e sair com raiva. Meu irmão, meu herói. Horas se passaram antes que as luzes da casa escureceram. Mamãe e papai nunca vieram me checar. Eu não consegui pintar também. O pincel descansou no meu punho, pronto, mas eu nunca o empurrei na minha tela. Grace enfiou a cabeça no meu quarto, mas ela não sabia o que dizer para a sua irmã mais velha, que estava grávida. Ela caminhou para frente e para trás por um tempo tentando descobrir alguma coisa para dizer, olhando para o meu quarto antes de me dar um sorriso malicioso. — Você sabe, KitKat vai ser tia de alguém que é apenas um ano mais novo do que ela? Isso é assustador. Crianças de doze anos eram muito mais adiantadas do que eu queria que elas fossem, isso era certo.

— Vai te catar, pestinha. — Você é uma pestinha, pestinha! — ela zombou de volta, colocando as mãos nos quadris e rolando o pescoço para trás e para frente como se ela não fosse nada além de um corpo insolente. — Eu tenho perguntas. — Claro que você tem. — Você faz xixi nas calças? — O quê? — eu arqueei uma sobrancelha. — Você. Faz. Xixi. Nas. Calças? Minha professora, Sra. Thompson, estava grávida no ano passado e ela fez xixi em todo o corredor quando nós estávamos caminhando para a aula de música. — Eu não faço xixi nas calças. — ainda não, pelo menos. Era algo que eu deveria estar preocupada? Eu vou começar a fazer xixi nas calças aleatoriamente, por algum motivo estranho? Nota mental: pesquisar no Google sobre fazer xixi durante a gravidez. — Eu aposto que você vai ficar muito gorda também. Algumas pessoas são realmente bonitas grávidas, como a Sra. Thompson, mas eu não acho que você vai ser uma dessas pessoas. — Você pode sair a qualquer momento, Grace. — Eu não vou trocar quaisquer fraldas sujas. Você nem sabe como trocar uma fralda?! — Você não deveria estar na cama? — Você não deveria não estar grávida? Touché. Eu fiz a única coisa madura que eu pude pensar. Tirei minhas meias sujas e joguei-as no seu rosto, atingindo direto a sua boca. — Eca! Você é nojenta! — ela choramingou, passando a língua na palma da sua mão. — Eu vou contar! Certo, porque o maior problema dos nossos pais, naquele momento, era o fato de

eu colocar meias sujas na boca da minha irmã. Fui cavando minha cômoda e peguei calcinha e uma das minhas camisetas para dormir de grandes dimensões. Eu sabia que já deveria estar na cama. A escola realmente não se importava se eu estivesse cansada de manhã. A escola não se importava que a minha vida estivesse passando por uma revolução completa. A escola não se importava que eu estivesse a momentos de distância de um colapso. A escola só me queria lá no primeiro sinal. Eu pulei no chuveiro para tentar limpar a névoa que estava residindo dentro da minha cabeça. A água choveu em mim por mais de uma hora antes de eu sair e secarme com uma toalha. O espelho na minha frente parecia zombeteiro. Meus dedos desceram para o meu estômago e eu olhei para o espelho tentando entender como eu poderia parecer a mesma, mas estar tão diferente. Enfiei a camiseta sobre a minha cabeça e olhei para mim mais uma vez antes de sair do banheiro. Eu me encolhi quando vi o papai deitado no sofá da sala. Ele parecia um gigante tentando ficar confortável em uma concha, torcendo e girando sem sucesso. Meus lábios se separaram. Meu cérebro procurou as palavras certas. Depois de ficar parada por um minuto, ficou claro que não havia quaisquer palavras certas. Então eu saí. Segunda de manhã Mike se recusou a me levar para a escola. Ele disse que era porque ele precisava estar lá uma hora mais cedo para levantar pesos antes do início das aulas, mas aquilo nunca o impediu no passado. Eu sempre acabava indo para a sala de arte e mexendo por lá uma hora antes da escola. Mesmo assim, ele foi muito inflexível que eu não iria de carona com ele. Eu queria reclamar com meus pais sobre isso, mas o timing não poderia ter sido pior, então o ônibus foi a minha única escolha. A parada de ônibus ficava há duas quadras da minha casa. Quando eu peguei a minha mochila e saí, vi Simon já parado na esquina. No momento que parei ao lado dele, ele poderia dizer tudo o que eu ainda não tinha vocalizado - melhor amigo, percepção extrassensorial. — Você contou para eles? — perguntou.

Eu balancei a cabeça. — Mike está fazendo você tomar o ônibus? Eu balancei a cabeça novamente. — Você está bem? Eu balancei minha cabeça, meus olhos estudando a calçada. — Mas se nós pudéssemos passar o hoje sem falar sobre isso, seria ótimo. — Certo. Bem, eu vou certificar de enterrá-la profundamente nos meus próprios problemas que você vai esquecer completamente sobre o seu. Confie em mim, eu tenho muita coisa acontecendo neste meu cérebro estranho. Antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, um par de tênis azul apareceu ao meu lado. Minha cabeça levantou para a pessoa ao meu lado. Meus olhos encontraram o par de olhos castanhos que sorriam, sem ao menos tentar, e eu me perdi. O Garoto do Cervo. Seus lábios afrouxaram em um pequeno sorriso, combinando com seus olhos. Eu sorri de volta. Pelo menos eu achei que fiz isso. Eu não poderia dizer. Seu sorriso se alargou, fazendo meu estômago fervilhar com borboletas. Você é lindo. Ele era tão bonito que era quase ofensivo. Ele parecia um som sussurrado. Doce, gentil e romântico. Ele estava me deixando tonta. Eu não deveria estar olhando para ele. Realmente. Pare de olhar fixamente. Talvez mais um olhar? Talvez mais dois olhares? Minha cabeça caiu novamente. Olhei para os nossos sapatos. Minhas mãos agarraram as alças da minha mochila e eu as puxei mais perto de mim, meus cotovelos empurrando contra os meus lados.

— Oi. — ele disse. Borboletas fervilhando, palmas das mãos suadas. Eu não tinha certeza se ele estava falando com Simon ou comigo, então fiquei quieta. Com o canto do meu olho eu podia vê-lo ainda sorrindo. Eu queria que ele parasse de fazer aquela coisa de sorrir. Exceto, não de verdade. — É aqui que o ônibus nos pega? Eu balancei a cabeça uma vez antes de começar a chutar em torno de uma pedra invisível com o meu pé esquerdo. Seus tênis azuis começaram a imitar o movimento. Nós chutamos pedras invisíveis juntos até que o ônibus escolar parou. Simon foi o primeiro a entrar no ônibus, mas não sem entrar e sair quatro vezes antes de deslizar no banco da frente. Eu dei um passo para trás para deixar o “Garoto do Cervo” entrar no ônibus antes de mim. Ele fez um gesto em direção ao veículo enjaulado amarelo. — Damas primeiro. — Obrigada. — eu respondi, dando um passo para o ônibus. Uma pequena risada foi ouvida enquanto ele seguia atrás de mim. — Então, ela realmente fala.

[3] Série americana, Naval Criminal Investigative Service, no Brasil: Unidade de Elite. [4] 16 & Grávida.

Capítulo Quatro Levi Minha primeira aula do dia era cálculo com o Sr. Jones. Se eu tivesse que escolher a minha pior habilidade, seria qualquer aula de matemática. Sendo educado em casa, eu praticamente evitava as sessões de matemática até o final do dia. Mas agora, com uma programação pré-estabelecida, eu fui forçado, na primeira parte da manhã, a enfrentá-la. Era um tipo especial de inferno. Sr. Jones estava de pé do lado de fora da sua sala de aula, cumprimentando a todos. — Eu não faria isso se eu fosse você. — uma voz me advertiu. Eu estava prestes a colocar meus livros em uma mesa na primeira fila. Virando para trás eu vi um cara com cabelo espetado, uma corrente de ouro em volta do pescoço e algo que parecia um bigode pretenso. — Sr. Jones é o Frajola do Mayfair Heights. — O que isso significa? — Você sabe. — ele elevou a voz estridente e acrescentou em língua presa com uma tonelada de cuspir. — Santa Estupidez[5]! Ele está mais para pulverizar do que falar. — ele deu um tapinha no assento ao lado dele na fileira de trás. — Você é livre para se juntar a mim aqui atrás. Eu aceitei a oferta. — Você é a carne fresca que cada garota está olhando, hein? — perguntou. — Nah, eu acho que você pegou o cara errado. Ninguém disse uma palavra para mim ainda. — exceto a garota no ponto de ônibus que disse obrigada, mas mesmo aquilo foi como arrancar dentes. — E é exatamente por isso que você é a carne fresca. Elas estão estudando suas presas antes que ataquem. E com esse sotaque? — ele assobiou baixo. — Cara. Você vai engravidar as meninas só de olhar para elas. Dê uma piscada e elas terão gêmeos. É por isso que você vai precisar de mim. — disse ele, acariciando minhas costas. — O meu nome é Connor Lincoln e eu sou sua graça salvadora, meu amigo.

— É mesmo? — eu disse, tirando um lápis e um caderno da minha mochila, mesmo que eu não fosse tomar notas. — Sim. Você vê, eu sou os olhos, os ouvidos e a voz do corpo discente. Eu sei tudo sobre todo mundo que importa, e eu posso ajudar a mantê-lo fora do caminho do mal. — Bem, não é muito legal da sua parte. — O que posso dizer? Eu sou um humanitário. — ele estendeu a mão para mim para balançar. — Você tem um nome? — Levi. — De onde você é, Levi? — Alabama. — Tudo bem, tudo bem, tudo bem. — disse ele com um sotaque do sul - ou mais para um sotaque de Matthew McConaughey, que tinha uma liga própria. — Você será para sempre conhecido como Alabama. Vendo como Connor me salvou do professor cuspidor, eu imaginei que ele poderia me chamar de Alabama. A garota do ponto de ônibus entrou na sala e sentou-se duas fileiras à minha frente, a cabeça baixa o tempo todo. Metade do seu cabelo castanho era raspado e a outra metade, vermelho escuro. Ela parecia diferente da maioria das meninas Barbie nos corredores. Mais escura. Mais ousada. Bonita. Ela enfiou a mão na mochila, pegou um caderno e começou a escrever nele. Ela continuou colocando a franja para trás da orelha, mas nunca olhou por cima de tudo o que quer que ela estivesse fazendo em seu caderno. — O que tem ela? — perguntei ao Connor. — Quem é? Os olhos de Connor desviaram para o assento que eu estava apontando e sua sobrancelha levantou. — Ah. Essa é uma das esquisitonas. Não tenho certeza do nome porque a maioria das esquisitonas não merece espaço na minha mente. Sobra mais espaço para pessoas como aquela. — ele apontou para outra menina que tinha um rosto engessado com maquiagem e estava vestindo uma camisa preta apertada que empurrava os peitos dela para cima. — Agora aquilo é digno do meu cérebro. Oi, Tori. — disse ele, acenando.

Tori se virou e dispensou o Connor. Seus olhos cruzaram com os meus e ela me deu um sorriso antes de voltar a rir com a menina sentada ao lado dela. — Ah, cara, você viu isso?! — exclamou Connor. — Tori Eisenhower sorriu para mim! Eu não lhe disse que o sorriso dela na verdade tinha sido para mim, ele parecia muito entusiasmado com isso. — Bem, tudo bem, ela estava sorrindo para você, mas desde que você é meu novo cara principal, isso conta como um sorriso para mim também. Cara você vê isso? — ele acenou com as mãos ao redor da sala. — Ver o quê? — O mar cheio de vagina doce, doce. É nosso para tomar, meu homem. Eu ri desconfortavelmente. Na maioria das vezes quando eu conhecia as pessoas eu não encontrava necessidade de falar sobre usar meninas e referir a elas como vaginas doces. Com aquela frase, eu estava certo de que eu não gostava do Connor. Esperemos que esta fosse a nossa única aula juntos. O primeiro sino tocou. Sr. Jones entrou e começou a falar, cuspindo em todos os que estavam nas primeiras fileiras. Connor continuava sussurrando coisas sobre 'foder garotas' e 'conseguir dígitos’, enquanto puxava seu colar de ouro. Eu deveria ter sentado na primeira fila. Connor me seguiu até a aula de ciências, e no começo eu debati a ideia de que ele era um perseguidor, mas então percebi que os deuses do horário realmente me odiavam. Eu gostaria que houvesse uma maneira decente para dizer, ‘deixe-me sozinho, caramba e pare de falar sobre sexo’, sem soar como um idiota. Quando ele pegou um pente e começou a escovar os pelos inexistentes do queixo, eu estava determinado que a escola realmente ficava no inferno. Eu considerei chamá-lo de Eminem, mas falar com ele encorajava as conversas sobre vaginas. Eu viajei na maioria das minhas aulas matinais - percebendo que elas eram todas iguais. Programas, metas do professor, quebra-gelos. Lavar, enxaguar e repetir. Sendo educado em casa toda a minha vida, eu fiquei feliz em ver que a escola era exatamente o mesmo que todos os filmes que a retratavam: armários azul-marinho arranhados, garotas bonitas rindo pelo bebedouro, pôsteres de clubes de estudantes pendurados e

um monte de vozes fofoqueiras. De tempos em tempos eu via a ‘Garota do Ponto de Ônibus” nos corredores, mas ela sempre mantinha a cabeça baixa ou estava conversando com um cara de cabelo vermelho. Ele é o namorado dela? Eu não sei por que eu me importava. O cara a fez sorrir, que era como um deleite escondido. Ela não fazia isso muitas vezes - ela era mais carrancuda. Era estranho, mas suas carrancas a deixavam mais intrigante para mim. Ela e o cara nunca se tocavam. Ela abraçava principalmente o mesmo caderno que eu a vi escrevendo mais cedo. Deus. Agora eu parecia o perseguidor. Eu embaralhei meus pés e corri para a minha próxima aula. Por este ponto não foi uma surpresa que Connor estivesse esperando dentro da minha aula de história mundial.

[5] Frase muito repetida pelo personagem Frajola, em inglês: Suffering succotash!

Capítulo Cinco Aria As horas na escola se arrastaram como anos, o que foi bom, porque eu sabia que no final do dia eu teria que ir a uma consulta médica, algo que eu realmente não queria fazer. Eu prefiro correr da realidade a enfrentá-la. Sempre que Mike e seus amigos cruzavam o meu caminho, ele fazia questão de não fazer contato visual. A maioria dos seus amigos não sabia que éramos parentes. No almoço, sentei-me com Simon e observei-o abrir e fechar seu jarro de leite enquanto seus olhos ficaram colados na sua paquera histórica e duradoura, Tori, também conhecida como a garota mais popular da nossa classe júnior. Além disso, também conhecida como a garota que jogou ovos na casa de Simon no ano passado. Ele ainda estava em negação sobre isso, alegando que era Eric Smith por trás das gemas. Como todos os românticos incorrigíveis, o amor cegou-o da verdade. Era tudo muito trágico, mas de alguma forma esperançoso, tudo ao mesmo tempo. Simon continuou falando sobre Tori, como se ela fosse o seu maior sonho tornando-se realidade. — Ela se senta três fileiras atrás de mim em química. Eu sei que você provavelmente vai discordar, mas ela é inteligente, Aria. — suas palavras eram bêbadas em um romance de ficção enquanto falava da sua amante imaginária. Às vezes eu me perguntava se ele via pequenos pássaros voando em torno dela, como a Branca de Neve ou algo assim. — Você seria aquele a ter uma queda pela garota mais rude na nossa classe. A forma como o seu sorriso se espalhou pelo seu rosto me fez sorrir. — Ela não é rude, ela só está danificada. Esses são meus tipos favoritos de garotas, as imperfeitas. Fica mais fácil para elas aguentarem as minhas falhas. — É por isso que eu sou a sua melhor amiga? Porque eu sou imperfeita? — Não. Você é minha melhor amiga, principalmente, porque você está vestindo uma camiseta adolescente das Tartarugas Ninja com os rostos dos quatro artistas

renascentistas sobre ela. Olhei para minha camisa favorita e sorri. — É quase embaraçoso quão legal eu sou. — Quase. — Simon brincou antes de se virar para Tori. — Ela é tão bonita. — Você é bom demais para ela. Descansou os cotovelos contra a mesa de refeitório e as mãos em concha no queixo. — Ela é o sol, e eu sou o homem pálido almejando a sua luz. Eu ri. — Eu vou fingir que você não acabou dizer algo tão extremamente estranho. — Imagine os nossos filhos... — ele soltou um suspiro de felicidade. — Crianças louras nerds impressionantes com sardas e óculos. — ele fez uma pausa, olhou para mim e franziu a testa. — Desculpe. Infração pessoal de melhor amigo. Sem conversa de filhos. Eu mexi no meu lugar. — Você sabe que seu cabelo não é realmente loiro, certo? É um trabalho ruim de pintura. — Diz a menina ruiva que nasceu de cabelo muito preto. — Simon respondeu convencido. — Touché. Mas não vamos esquecer a questão principal com o amor da sua vida. — fiz um gesto em direção do Eric, que estava sentado ao lado da Tori. — Ela está fora do mercado. — Por enquanto. Há rumores de que ele vai terminar as coisas com ela. — E de onde são esses rumores? Suas bochechas levantaram. — Tenho minhas fontes. — Srta. Givens? — perguntei. Ele não respondeu, mas eu sabia que era a sua única fonte de fofocas da escola. Srta. Givens era a bibliotecária que passava muito tempo escutando escondida os sussurros pelos corredores. — Vamos apenas dizer, Eric está dando o fora e Tori vai ficar de coração partido e, em seguida, tcharam! Simon Landon está lá para o rebote. — a excitação na voz dele era divertida.

— E então o que? Você vai se precipitar magicamente e confortá-la? O cara que mal pode fazer contato visual com a garota, muito menos falar com ela? Como vai gerir essa, Romeu? Ele balançou a cabeça como se eu tivesse feito um ponto que ele ainda não tinha considerado. Quando o sino tocou para a nossa próxima aula, a fantasia de Simon chegou a um impasse conforme levantou a bandeja do almoço e colocou-a de volta mais e mais e mais e mais uma vez. Seus lábios viraram para baixo quando ele notou Tori saindo do refeitório com o braço de Eric envolvido nos seus ombros. O sentimento de derrota quase o arrastou. Eu peguei a bandeja do seu aperto firme. — Ela nunca vai querer uma aberração como eu, vai? — ele perguntou derrotado. — Você não é uma aberração, Si. Além disso, há rumores de que os dois vão terminar em breve. Ela já namorou todos os outros na nossa classe, então esteja pronto para fazer o tcharam! Você é o próximo na fila de Tori! — minha voz foi adoçada com conforto e mentiras. Ele sabia que o que eu disse não era verdade, mas ele ainda sorriu amplamente. — Tcharam! Eu aprendi mais sobre o novo garoto com as fofocas dos corredores do que da sua boca real. — Você sabia que ele é do Sul? — Como, Brasil? — Ouvi dizer que ele fala francês. — Ele é tãooo quente. — Sua mãe chamou-lhe de Alabama! — Ele tem tatuagens no você-sabe-o-quê! — Aquele sotaque é falso. — Ele já ficou com uma garota no vestiário! — Ouvi dizer que era um ménage à trois! — Ele é um mago da palavra.

— Eu o vi primeiro! Pelo sexto horário as garotas do segundo ano, júnior e sênior já estavam colocando a reivindicação sobre o novo cara enquanto o calouro se escondia nas sombras. Elas cercavam seu armário como cachorros apaixonados, girando seu cabelo e empurrando o peito para fora. Eu me senti mal pelo cara. Ele não tinha uma chance de permanecer misteriosamente novo com um rosto como aquele e um sotaque do sul como o dele. Fiquei no meu armário, olhando para ele e seus fanáticos. De vez em quando ele dizia alguma coisa para eles, e as meninas viravam na minha direção e me encaravam. Eu nunca fui encarada no passado, mesmo com todas as minhas cores diferentes do cabelo, maquiagem dramática e roupas estranhas. Os alunos da Mayfair Heights High School estavam determinados a manter-me invisível, o que estava completamente bom por mim. Até agora. Agora eles estavam virando na minha direção rindo e lançando o cabelo sobre seus ombros antes de olhar para o novo garoto. Ele está zombando de mim? Todos eles estão zombando de mim? Era incrível como algumas balançadas de cabelo casual e riso sarcástico poderiam fazer uma pessoa querer entrar no seu armário e ficar escondida pelos próximos 179 dias. Ou, pelo menos até a campainha final. Bati meu armário e continuei meu caminho na direção oposta do grupo de idiotas e divas. Cambada de idiotas. — Você sabe onde é a sala 1-12? — o Garoto do Cervo perguntou, correndo até mim. Eu arqueei uma sobrancelha, um pouco irritada com a sua personalidade presunçosa de ‘Eu sou sexy e eu sei disso’. — O enxame de meninas te atacando não pôde ajudá-lo? — Então, você notou. — Notei o quê? — perguntei. — Você notou-as me reparando?

Hesitação caiu contra a minha língua. — Sim... — O que por sua vez significa que você reparou em mim. Eu não estava me divertindo. — Não se iluda. — Está bem. — Está bem o quê? — perguntei. — Está bem, eu não vou me iludir. Seus olhos estavam cheios com tanto conforto e sinceridade que eu quase me perdi neles. Eu pisquei. — Você é estranho. — Estranho de uma forma encantadora ou apenas... estranho-estranho? — perguntou. Eu não tinha certeza ainda qual era. Talvez ambos. — Por que vocês estavam me olhando? — Ah. Perguntei-lhes o seu nome. Nenhuma delas sabia, no entanto, e por algum motivo elas pensaram que era cômico. — ele deu de ombros. Figuras. Eu sabia o nome de todos na nossa escola e eles não poderiam ter o tempo para descobrir o meu. — Por que você estava perguntando sobre mim de qualquer maneira? — Eu não sei. Eu acho que fico curioso sobre garotas que caminham pela floresta às seis da manhã aos domingos. — Ah. — Eu sou Levi Myers. — ele fez um gesto como se fosse se curvar diante de mim quando me falou o seu nome. Então ele foi em frente e fez isso. Ele se curvou totalmente. Ele estava apontando para o território estranho-estranho. — Você é filho do Sr. Myers? — fiz uma pausa, pensando. — Eu nunca soube que o Sr. Myers tinha um filho. — Sim, bem, esse é o meu pai para você. — suas sobrancelhas franziram. Uma

ligeira expressão de decepção passou pelos olhos de Levi antes que ele piscasse e a suavidade retornasse ao seu olhar. — E você é? — Aria. — Sério? Aria? — Sim... — Não Becky? Ou Casey? Talvez Katie? — Não. Aria. Ele cruzou os braços, e meus olhos tomaram conhecimento da tatuagem de olho na sua mão esquerda, entre o polegar e o dedo indicador. — Passei o dia todo tentando descobrir o seu nome e Aria não estava no top vinte de nomes. — Lamento decepcionar. — Não, não. Eu gosto disso. Aria. — ele sorriu e colocou o polegar entre seus dentes enquanto estudou o meu rosto. — Aria. — sua cabeça inclinou para a esquerda e direita. — Arrriaaa. Pare de falar o meu nome. Mudei meu peso corporal no lugar. Agora ele estava nadando no território estranho-estranho, e eu tinha que admitir, sua personalidade estranha estava tão longe do seu exterior quente. Ele era o seu próprio paradoxo. Se houvesse uma lista dos cinco melhores paradoxos do mundo seriam parecidos com esses: Ótima depressão; Comédia trágica; Cópia original; Camarões jumbo; Levi Myers. — Então, você sempre anda por aquela mata às seis da manhã? — ele questionou. Ele esfregou a palma da sua mão contra o queixo um pouco desalinhado e

depois escovou o polegar contra seu lábio superior. Demorei alguns segundos, tentando absorver todas as suas características faciais. Meus olhos piscaram duas vezes. — Às vezes. Você sempre alimenta cervos aleatórios às seis da manhã? — eu perguntei sarcasticamente. — Sempre. — ele disse com confiança. Eu não podia mais encarar os seus olhos porque eles estavam me deixando tonta. Na verdade, todo o corredor estava fazendo minha cabeça girar. Eu respirei e fechei os olhos. Quando eu os abri, seus olhos castanhos ainda estavam olhando para mim. Merda. Meu estômago virou. Limpando minha garganta, eu gesticulei para o corredor. — Sala 1-12 é ali. À direita após o café. Comida. Ugh. Mais reviravolta no estômago. Seus olhos se moveram para além de mim e ele olhou na direção que eu apontei. — Obrigado, Aria. — ele se afastou. Quanto mais longe ele desaparecia pelo corredor, mais calmos meus batimentos cardíacos ficavam, mas a sensação de náusea rolando através do meu estômago não parou quando passei a minha mão sobre meus lábios. Movendo meus pés o mais rápido possível, me empurrei para o banheiro mais próximo e mal consegui fechar a porta do box antes de vomitar o meu café da manhã e almoço. Sentando-me sobre os calcanhares, eu estendi a mão para o papel higiênico e limpei a minha boca. Eu odiei hoje.

Capítulo Seis Aria A única coisa que eu ansiei durante o dia na escola foi o oitavo período. O oitavo período era o meu favorito, não só porque era o último, mas também porque era a aula de arte com o Sr. Harper. Sr. Harper e eu nos conhecíamos desde que eu pisei em sua aula de Introdução à Arte no meu ano de caloura. Ele era um fumador de cachimbo, magro, usava bigode, gay, de sessenta e dois anos de idade, que sempre atribuía seu amor pela arte com um caso de amor que teve com Leonardo da Vinci. Claro, o caso de amor pode ter sido nada mais do que uma viagem de ácido impressionante que ele experimentou, sabendo que Leonardo da Vinci morreu 433 anos antes do Sr. Harper nascer, mas era uma história de amor para eras, pela forma como o meu professor favorito contava. A aula que eu estava atualmente participando era de exploração, onde o principal objetivo era descobrir uma nova maneira de olhar para a arte como um todo. Nossa sala de aula era configurada de forma diferente de todos os outros cômodos no edifício. Nossas mesas eram viradas para dentro em um semicírculo e havia pelo menos quinze cadeiras extras na sala. Na abertura do círculo ficava um grande quadro-negro. Sr. Harper rabiscou as palavras Parceiro de Exploração no quadro. — Gritem o que vocês pensam quando pensam em explorar. Prontos? Vai! — Harper disse, segurando o giz em suas mãos. A classe começou a gritar palavras aleatórias no volume mais alto que podia. — Floresta! — Cristóvão Colombo! — Jet skis! — Sexo! Sr. Harper escreveu todas as palavras no quadro e colocou ‘sexo’ em letras

maiores. Ele nunca foi movido por quaisquer travessuras adolescentes, apenas considerava-as como uma experiência de aprendizagem. — Ah! E as palavras que vocês pensam quando ouvem a palavra parceiro? Vai! — Sexo! — Sexo! — Relação sexual! Todas as palavras relacionadas a sexo vieram de Connor, o júnior mais pervertido da nossa classe, que sempre estava falando sobre sexo ou fazendo expressões sexuais com sua língua. Eu estava certa de que ele tinha um pênis pequeno e nunca transou ou algo assim, porque uma pessoa que falava daquele tanto sobre sexo claramente estava compensando alguma coisa. — Time. — eu sussurrei suavemente, quase sem voz. Os olhos do Sr. Harper desviaram para mim e ele sorriu amplamente. Eu sabia que os professores não eram autorizados a dizer que tinham favoritos, mas era um fato que eu estava bem no topo da lista do Sr. Harper. Em letras maiores ainda ele escreveu ‘time’. — Para o semestre eu vou emparelhá-los com um parceiro. Vocês vão explorar os domínios da arte, considerando ambas as suas personalidades e criando uma peça final do trabalho que mostra os dois mundos colidindo em um. Vocês aprenderão os seus gostos, desgostos, sonhos, desejos e maiores medos. Vocês devem aprender tudo e qualquer coisa que possa pensar sobre o seu parceiro. — ele pegou o apagador de giz e começou a limpar as palavras que envolviam qualquer forma de sexo. — Mas, infelizmente, vocês não terão permissão para ter relações sexuais com seu parceiro. Connor queixou-se, afirmando que o sexo era a única coisa ‘não chata’ da aula. Sr. Harper continuou a apagar o quadro e disse secamente: — Não seja dramático Connor. Ninguém estava pensando em dormir com você de qualquer maneira. — a classe irrompeu em gargalhadas. Todo mundo estava gostando do humor do Sr. Harper, como sempre. Bem, todos, menos eu. Meus olhos estavam correndo ao redor da sala para tentar descobrir de quem eu seria parceira. O único problema com os projetos em equipe era a ideia de trabalhar em equipe. A pior sensação do mundo era olhar ao redor de uma sala de aula e perceber que você conhecia todo mundo, mas ao mesmo tempo você não conhecia ninguém.

— Não aja como se eu não visse todos em pânico e procurando com quem serão emparelhados. Os parceiros de vocês não estão aqui. — o Sr. Harper levantou um dedo, silenciando nossas mentes questionadoras antes de sair da sala. Connor bufou. — Se ele não voltar em dois minutos, eu estou fora! Ninguém se importa, Connor. Por favor, saia. Em um minuto e 50 segundos o Sr. Harper voltou com a Srta. Jameson a apenas alguns passos atrás dele. Ela era a professora de música que ria muito alto e tinha uma barba que era muito perceptível. Alguém poderia pensar que ela rasparia por agora, vendo que ela ensinava em uma escola secundária com alguns dos agressores mais brutais da história das intimidações, mas eu imaginava que ela se amava do jeito que ela era. Atrás da Srta. Jameson vieram os alunos da sala de aula dela segurando instrumentos. Minhas bochechas coraram quando vi Levi andando com um violino ao seu lado. Eu mudei meu olhar para o chão e tentei fingir não notá-lo. Eu olhei para cima. Ele sorriu para mim. Eu não sorri de volta. — Arte. — o Sr. Harper fez um gesto na direção da nossa classe e, em seguida, na direção da classe da Srta. Jameson. — Encontro de almas. — ele passou a explicar como três dias por semana nós encontraríamos com os nossos parceiros de música para trabalhar com a nossa peça criativa, mas eu parei de ouvir quase imediatamente. Eu tentei o meu melhor para não perceber que ele estava andando na minha direção. Eu tentei o meu melhor para não notar que o assento ao meu lado estava vazio. Eu tentei o meu melhor para esperar que eu acabasse parceira da Ellie Graze, que falava muito e tocava flauta. — Oi, Aria. — disse Levi, tomando o assento ao meu lado. Eu nunca tinha ouvido o meu nome sendo falado tanto em um dia. Talvez ele tivesse um vício estranho com as letras a-r-i-a. — Eu acho que isso é um sinal, hein? Você tem sido tão onipresente desde que te conheci. — O quê? — eu pisquei, olhando em volta para o resto da minha classe que estava se associando. — O que significa onipresente?

— Foi a minha palavra do dia, esta manhã. Significa estar em todos os lugares. Muito oportuno. O universo está obviamente nos empurrando para ficar juntos e gritando: — Ei! Conheçam-se! — Eu não acho que seja qualquer coisa assim. — argumentei. — É mais do que uma coincidência. Ter uma aula com alguém é muito comum. Não analise muito isso. — o olhar de prazer em seu rosto estava me mostrando que ele estava realmente pensando muito profundamente sobre o assunto. — Realmente. — eu suspirei. — Pare. — Parar com o quê? — Sorrir. Tinha que ser dolorosa a quantidade de tempo que ele passava sorrindo. — Eu vou parar de sorrir no momento que você parar de franzir a testa. Nós podemos trocar de expressões. — Eu não... — fazendo uma pausa, notei quão apertado meus lábios estavam. Balançando minha boca, eu soltei meu rosto e dei-lhe um pequeno sorriso falso. — Melhor? Seus lábios fizeram beicinho e acenou com o mais triste dos olhares. — Muito melhor. — ele colocou seu violino no colo. — Então os rumores são verdadeiros? — perguntei. — Rumores? Que rumores? — Que você é do sul - embora eu duvide que seja do Brasil - e que você é um mágico com palavras. — eu considerei mencionar suas partes íntimas tatuadas, mas isso parecia como cruzar uma linha para o que era apenas a nossa segunda conversa. Eu esperaria para a nossa terceira. — Eu sou do Sul, mas não do Rio, e eu realmente gosto de palavras, mas um mágico com palavras? Eu não sei sobre isso sabendo que ainda não fui colocado na minha casa em Hogwarts. Dedos cruzados para a Grifinória. — Você parece mais com um Sonserina. — Isso não significa muito para mim vindo de uma Lufa-Lufa. Eu sorri, porque as referências de Harry Potter sempre resultavam em sorrisos.

— Quais são os outros rumores? — perguntou. — Bem, houve o trio que você teve no vestiário com Jessica Bricks e Monica Lawrence durante o terceiro período. — Ah, bem, obviamente, isso não é uma mentira. Foi um trio incrível com xingamentos, puxões de cabelo e tudo intenso. Estou surpreso que você não tenha ouvido falar ainda do meu apelido. — E qual é? — Sr. Selvagem. Mentira. — Tudo bem, Sr. Selvagem. Qual a cor do cabelo da Jessica e da Monica? — perguntei, sabendo que ele estava mentindo. — Loiro Platinado, duh. — Isso foi um golpe de sorte. A maioria das meninas aqui tem o cabelo loiro platinado. — E olhos azuis. — Sim, pequenas Barbies perfeitas com grandes talões de cheques esplêndidos. — Exceto você. — disse ele. — Você é diferente. — ele não disse mais nada. As palmas das minhas mãos ficaram suadas, e eu endireitei-me na cadeira. Seus olhos ficaram zoneados em mim, e fiquei chocada com o quão confortável eu estava com o nosso silêncio. E ao mesmo tempo, estava extremamente desconfortável com o nosso silêncio. Como eu poderia ser as duas coisas ao mesmo tempo? Eu saltei meu joelho direito e mordi o meu lábio inferior nervosamente. — Então você toca violino? — perguntei. — Toco. — Você é bom? — Psh. Jascha Heifetz é um dos maiores violinistas que já existiu? — meu olhar vazio encontrou sua expressão chocada. — A resposta é sim. Sim, eu sou bom. E sim, Jascha Heifetz é um dos maiores violinistas que já existiu. Deus. O que eles ensinam para as pessoas nesta escola?

— Não os melhores violinistas, isso é certo. — Bem, é uma vergonha, porque Heifetz... ele tocava violino como se estivesse lutando por sua vida, como se fosse deixar de existir se não fosse pela música que ele executava. As cordas gritavam e choravam e aplaudiam e riam de uma só vez. Eu não estava pronta para admitir ou mostrar, mas Levi me fez sorrir. Não apenas do lado de fora, mas do lado de dentro, também. — Sua personalidade é o oposto completo da sua aparência. — Eu sei que minha personalidade é excelente, então eu vou em frente e fingir que você não me chamou de feio. Eu ri. — Ah! Ela ri, também! — ele sorriu. Connor veio para trás de nós e se inclinou na direção do Levi. — Atenção, aviso, esquisitice à vista, esquisitice à vista. Salve-se. Levi deu uma risada para Connor, mas não foi real. Foi mais uma daquelas tipo eu-vou-rir-desconfortavelmente-assim-você-vai-me-deixar-em-paz. — Seu amigo? — eu questionei. — Você não pode ver? Nós somos melhores amigos. — ele comentou com sarcasmo. — Talvez você possa dar-lhe algumas dicas sobre como crescer pelo facial. Ele está escovando aquele único pelo no queixo durante os últimos quatro anos. — Eu vou pensar sobre isso. — disse ele, voltando-se para mim. — São dois, por sinal. — O que são dois? Dois pelos no queixo? — Não, eu realmente não poderia me importar menos sobre o dilema da falta de pelo do Connor. Mas você disse que era apenas uma coincidência nós termos uma aula juntos, mas temos duas. Você está na minha aula de cálculo, também, mas você nunca olhou para cima para me notar. — Então, você percebeu? — perguntei. — Percebi o quê?

— Percebeu que eu não reparei em você? Ele riu. — Touché. Os professores distribuíram folhas que devíamos preencher para ‘nos conhecer’. As folhas estavam cheias de perguntas básicas, como qual é a sua comida favorita, artista da música favorito, esporte favorito, você está em um relacionamento. Pisquei uma vez. Eu olhei para Levi e depois de volta para a folha de dados. Não falava nada sobre um relacionamento, então isso foi coisa da minha cabeça, ou Levi tinha perguntado. — O quê? — Eu disse: você tem um namorado? — Essa não é uma das questões na folha. — Não estamos autorizados a desviar da lista? — perguntou. — Não. — Eu acho que estamos. — Eu acho que você está errado. Levi levantou a mão, e o Sr. Harper o chamou; eu me encolhi. — Sim, rapaz com o violino? — Nós temos permissão para adicionar nossas próprias perguntas na folha de dados, professor de bigode impressionante? — Levi perguntou, sua voz do sul realmente aparecendo dentro da sua pergunta. Sr. Harper enrolou as pontas do bigode com os dedos. — Eu saúdo a exploração criativa do parceiro. — Menos o sexo. — Connor entrou na conversa, aborrecimento em sua voz. — Esta aula é um desastre. — Boa escolha de palavras, Connor. Seu parceiro de saxofone pode ansiar por conversas profundas sobre a vida, a política e a inteligência humana com você, tenho certeza. — o Sr. Harper sorriu antes de caminhar até Levi e eu. — De onde você é, rapaz com o violino? Eu ouço o sotaque. — Alabama, professor de bigode impressionante.

Levi era capaz de deslizar facilmente em brincadeiras confortáveis com alguém. Ele fazia isso parecer tão encantador também. — Ah! Eu conheci meu Leonardo no Alabama muitas luas atrás. Lembre-me de lhe contar a história do meu da Vinci um dia. — Sr. Harper saiu, cantarolando para si mesmo e girando o bigode em uma ofuscação de falsas memórias. — Então... namorado? — Levi se virou para mim, me dando toda sua atenção. Ele não desistiria, então desisti. — Sem namorado. — O cara com o cabelo vermelho é apenas...? — Um melhor amigo. — É bom ouvir isso. — Por quê? — Porque eu não queria pisar no pé do cara ruivo. É contra as regras, sabe? Tomar a menina de outro homem. Eu ri. — O que faz você pensar que eu estou disponível para ser tomada? Ele passou a mão na linha do seu maxilar. — Não penso, realmente. Apenas tenho esperança. — Por que eu? Você tem meninas jogando-se em você. Além disso, pessoas como você não gostam de pessoas como eu. — Pessoas como eu? — ele se inclinou para perto de mim. — Você quer dizer do Sul? Porque eu estava totalmente brincando quando eu disse que o Sul se levantará mais cedo no corredor para aquela garota. Eu sou tão Norte quanto uma pessoa poderia ser. Acho que uma panela de tater tot[6] é excelente. Os Packers são, provavelmente, uma das melhores equipes da NFL. Além disso, o queijo é delicioso. Gouda, provolone, cheddar fatiado - nomeie, eu vou comer e amar cada mordida. Eu não pude deixar de rir. — Você é tão estranho. Ele não disse mais nada. Ele só olhou para mim, os olhos e os lábios formando o mais amável dos sorrisos. Eu me mexi na minha cadeira. Eu estava desconfortável com a maneira como ele me olhava, como se visse dentro de mim. Eu preferiria ser o fantasma da escola. Seus lábios esticaram mais amplamente quando ele colocou os

antebraços sobre a mesa e apertou as mãos. Seu queixo descansou contra suas mãos. — Para registro. — ele falou suavemente — Pessoas como eu acham pessoas como você refrescantes. Eu coloquei meu lápis na minha mesa e pisquei uma vez. Então eu continuei a olhar para os meus pés o resto da aula. Mas o tempo todo eu pensei sobre seus olhos de chocolate. Quando o último sino do dia tocou, Levi insistiu em me acompanhar até o meu armário, mesmo eu tendo dito que era desnecessário. Ele discordou, fazendo-nos discutir até que ambos chegamos ao corredor que o meu armário estava localizado. — A propósito, na verdade não fiz um trio no vestiário. — ele brincou, mas eu não consegui responder. Minha respiração ficou presa. Um grupo de caras e garotas populares, incluindo a paixão estúpida de Simon, Tori, estava cercando meu armário. Quanto mais perto eu chegava, mais forte o meu coração batia contra o meu peito. Tori se virou para mim com um sorriso malicioso no rosto e seu tubo de batom vermelho na sua mão. Ela enfiou-o na bolsa e franziu os lábios para cima. — Parece que até mesmo as aberrações podem ser prostitutas. Quando li as palavras em batom vermelho espalhadas por meu armário, lágrimas começaram a se formar em meus olhos, mas eu empurrei-as e engoli em seco. Infelizmente esses idiotas ficariam altamente decepcionados. Eu não choraria na frente deles. Foda-se eles. 16 anos e Grávida Puta Prostituta Vagabunda Gótica Eu odiava um monte de momentos na minha vida. Quando eu tinha seis anos, eu odiei não ganhar a Barbie que eu queria para o Natal, e eu chorei tanto que eu fiquei fisicamente doente durante todo o dia. Quando eu tinha onze anos eu odiei não poder ir ao acampamento de arte porque eu estava com catapora. Quando eu tinha quinze anos eu odiava ser invisível.

Mas agora era um novo nível de ódio. Agora eu só odiava a mim por me colocar em uma posição de ser notada. Eu também odiava que os valentões estivessem entretidos por minhas lutas pessoais, apesar de ter escrito errado grávida[7] no meu armário. Eles deviam ter pensado realmente sobre entreter em uma aula de Inglês ou algo assim. Estúpidos. Eu suspirei. Eu sou a estúpida. Levi ficou de longe, olhando para as palavras espalhadas por todo o meu armário. Quando nossos olhos se encontraram, todas as brincadeiras que ele apresentou antes haviam desaparecido do seu olhar. Tudo o que restou foi pena e embaraço. Ele começou a vir na minha direção, e eu levantei a minha mão, balançando a cabeça de um lado para o outro, correndo pelo corredor. — Aria. — eu ouvi atrás de mim e corri ao redor para encontrar Simon me encarando com os olhos mais patéticos de sempre. Ele abriu a boca para falar, mas fechou-a com a mesma rapidez. — Você sabe o que está confuso? Apenas três pessoas nesta escola sabiam sobre isso: Mike, você e eu. Tenho certeza de que Mike não contaria a ninguém, vendo como ele tenta o seu melhor para convencer as pessoas de que não estamos sequer relacionados, e eu sei que eu não disse nada. Sua cabeça abaixou, seus olhos dançando pelo chão. — Foi um erro. Srta. Givens estava me contando sobre Tori na biblioteca, e eu posso ter escorregado e contado a ela sobre... — ele não pôde ao menos terminar a frase. Meu coração estava quebrando. Ele deveria ser meu melhor amigo. — Deixe-me sozinha, Simon. — eu forcei meus pés para deslocarem do seu local atual e viajar pelo corredor para encontrar uma saída. Minhas mãos agressivamente empurraram contra a porta do banheiro das meninas, abri uma cabine e a fechei bem rápido. Coloquei a tranca e respirei fundo. Meu pânico estava sufocando o meu coração, respirações lutando entre si para serem acolhidas e sopradas. Minhas mãos

repousaram sobre meus quadris quando comecei a tentar acalmar a minha respiração. Eu me treinei. Eu prometi que não importasse o que, eu passaria por isso. As ondas de emoções eram fortes, mas eu era forte também. Eu tinha que ser mais forte do que os meus sentimentos, mais forte do que aquelas pessoas. Às vezes não havia outra escolha. A vida já tinha tomado tanto de mim. Eu não podia permitir que ela tomasse a minha força também. Eu alisei minhas mãos sobre meu corpo trêmulo. Alguns momentos depois, eu abri a porta da cabine do banheiro. Meus olhos se deslocaram ao redor do espaço e eu quase tive um ataque de pânico quando vi Levi encostado na pia. Ah merda, não me diga que eu fui ao banheiro masculino. Este dia precisava ser excluído da existência. Este dia não foi nada além de merda. Eu estava mortificada quando fui lavar as mãos na pia mais distante dele. Ele sorriu e balançou a cabeça na direção do corredor. — Você está bem? Eu o ignorei. — Você está bem? — ele perguntou de novo. Minha cabeça inclinou na sua direção e mesmo que eu soubesse que éramos os únicos no banheiro, eu verifiquei novamente atrás de mim para certificar de que ele estava falando comigo. — Este é o banheiro feminino, Levi. — eu sussurrei. Ele riu. Ele achava que eu era engraçada. Eu estava realmente sendo extremamente séria. Em seguida, ele franziu a testa ligeiramente. — Por que você não disse alguma coisa para eles? — Eu não ligo para o que eles pensam. — É por isso que você acabou de ter um ataque de pânico? A parte de trás das minhas mãos roçou meu rosto, em seguida debaixo do meu queixo. — Eu não tive. Levantando uma sobrancelha, ele me deu um olhar ‘besteira’. Ele pulou para

fora do balcão. Antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, duas garotas entraram no banheiro e pararam de rir quando viram Levi e eu parados lá. Elas começaram a rir de novo e saíram - não antes de murmurar um comentário agradável ‘vagabunda’. Ótimo. Justamente o que eu preciso. Belisquei a ponta do meu nariz, fechei os olhos. — Olha, eu não preciso que você sinta pena de mim. Eu não preciso da sua pena. Além disso, você está se saindo como um novato realmente assustador e a última coisa que eu preciso na minha vida é de mais arrepios. Eu não quis dizer sério essas palavras, e eu lamentei no momento em que saíram dos meus lábios, mas eu estava envergonhada e não tinha certeza de quanto mais eu poderia tomar. Ter Levi em pé no banheiro das meninas com as pessoas entrando e encarando-nos e me chamando de vagabunda era demais. Estar grávida era demais. Levi me tratar de maneira tão carinhosa foi demais. Era tudo emocionalmente desgastante e afastá-lo era a única coisa que eu podia controlar. Eu não precisava dos seus olhares atenciosos e sorrisos adoráveis. Ele não respondeu. Sua cabeça abaixou e ele enfiou as mãos nos seus jeans enquanto se afastava e murmurava um pedido de desculpas. Eu era oficialmente uma idiota. Quando eu finalmente construí coragem suficiente para deixar o banheiro, eu me virei para a esquerda para ver James, o melhor amigo do meu irmão, de pé, na frente do meu armário, lendo o batom vermelho. James sempre foi um grampo na vida da minha família - ele era a versão Simon do Mike, muito bonito. Ele também foi a minha primeira, a mais longa paixão, desde que eu tinha oito anos. Eu gostava de pensar em James como um nascido na alta sociedade. Ele era amigo de todos, não importava o status social do ensino médio. Desde os drogados, aos nerds, atletas, James fazia amizade com cada grupo. Essa era a maior parte da razão pela qual foi tão fácil para me apaixonar por ele quando eu era mais jovem. Engraçado como só levou uma noite para mudar todos os meus pensamentos sobre ele. James olhou para cima e me deu um meio sorriso. — Aria. Ei. — engoli em seco e olhei em seus olhos preocupados. — É verdade? Você está...? Minha cabeça abaixou. — Sim.

— E é... — ele fez uma pausa, olhando pelos corredores vazios. Ele respirou fundo e deu um passo mais perto de mim. — Sou eu...? — Sim. Ele murmurou merda sob sua respiração. Seus dedos puxaram a gola da sua polo Calvin Klein azul clara. — Você tem certeza que é meu? Eu devo ter parecido chocada, porque ele rapidamente se retratou de suas palavras. — Desculpe. Isso foi uma coisa idiota para dizer. — ele beliscou a ponta do seu nariz e respirou fundo. — O que eu quis dizer foi, você vai lidar com isso? — Lidar com isso? — perguntei, levantando uma sobrancelha. Ele sussurrou: — Você sabe... você vai se livrar dele? Eu não respondi. Como eu poderia responder a isso? — Você tem que entender, Aria. Nadine e eu estamos em um lugar realmente bom no nosso relacionamento agora. Além disso, tenho o futebol e estou me preparando para ir para a faculdade no próximo ano. Isso arruinaria tudo para mim. Eu realmente não posso me dar ao luxo de lidar com esse tipo de coisa na minha vida agora. Meus olhos se moveram para o meu armário com batom. Certeza que você não é aquele lidando com isso. Meu estômago apertou e por um segundo eu pensei sobre o meu punho batendo no seu nariz perfeitamente delgado. — Obrigada por seu apoio amável, James. Você realmente tem um jeito com as palavras. — eu corri para fora do prédio da escola. Todos os ônibus e a maior parte dos carros no estacionamento já tinham saído. Mamãe estava sentada em seu Audi, olhando para o seu telefone. Ótimo. Agora a consulta com o médico. Meu corpo caiu. Arrastei-me até o carro e desabei no banco do passageiro. — Onde diabos você esteve, Aria?! Estou esperando aqui há mais de trinta minutos e você não atendeu ao telefone! — ela sussurrou, irritada com o meu

atraso. — Você sabe o tipo de estresse que você está nos colocando? Seu pai está à beira de um colapso, eu tive que fazer muitas chamadas para conseguir um jeito de agendá-la com um grande terapeuta, Srta. Franks só pode olhar Grace e KitKat até às seis, eu tenho que trabalhar no terceiro turno no hospital, hoje à noite, e você tem um compromisso em cinco minutos do outro lado da cidade e agora vamos chegar atrasadas! Eu olhei para ela e minha mente tentou formar palavras sobre o quanto de um dia de merda eu acabei de experimentar. Eu queria descarregar todo o meu lixo emocional no seu colo, mas os pensamentos na minha cabeça estavam todos apenas virando uma confusão gigante. Meu lábio inferior tremeu quando fixei os olhos com a mamãe. Seu olhar suavizou da sua irritação. Ela assentiu com a cabeça uma vez e apenas uma vez, em entendimento. — Tudo bem. — ela sussurrou, desafivelando o cinto de segurança e se aproximando de mim. Seus braços envolveram meus ombros, e ela me puxou para o seu lado. — Tudo bem. Eu solucei incontrolavelmente em seu lado. E ela não soltou.

[6] Tipo de mini bolinhos de batata, feitos com batata ralada e fritos em forma de um cilindro. [7] No original está pregament, quando o correto seria pregnant.

Capítulo Sete Levi Eu não era um estranho para ataques de pânico. Eu vi a minha mãe cair neles o tempo todo conforme cresci. Eles tinham uma forma de tragar uma pessoa, engolir por inteiro e cuspi-la a tal ponto que elas não ficavam reconhecíveis. Foi por isso que eu tive que verificar Aria no banheiro. Eu tinha que saber que ela estava bem, porque eu tinha visto a queda de pessoas quando elas não estavam bem devido às suas próprias mentes. Os olhos de Aria estavam tristes, da mesma forma que os da mamãe sempre foram. Do mesmo modo que os meus estariam se eu não escondesse tão bem. Eu me tornei ótimo em sorrisos. Eu me escondia atrás deles para certificar-me de que ninguém nunca percebesse como a minha vida era uma merda. Sorrir era uma maneira de evitar que as pessoas fizessem perguntas. Eu odiava as perguntas que sempre faziam quando eu viajava de volta para o Alabama. Eu odiava quase tanto quanto odiava os olhares e cochichos. Os olhares e cochichos eram os piores de todos. — Já era hora de você passar por aqui. — disse Lance enquanto eu entrava na Soulful Things. Ele herdou a loja de música no coração do centro de Mayfair Heights depois que meus avós faleceram. Lance era alguns anos mais velho do que o meu pai, mas parecia décadas mais jovem. Ele era um tipo estranho de hippie que era casado com uma mulher hippie mais estranha, chamada Daisy. Eu não tinha certeza se Daisy era seu nome real ou se ela simplesmente se droga o suficiente para realmente acreditar que ela era uma flor. Além disso, ela estava sempre vestindo amarelo brilhante, que combina com a sua personalidade superbrilhante e corajosa. Ela dava aulas de ioga às 5:00 da manhã no terraço da loja, sete dias por semana até o inverno chegar, quando as classes eram transferidas para o ginásio do colégio. Lance tomou um gole da sua bebida verde, que ele provavelmente fez com

grama e sujeira, enquanto montava a vitrine com um novo conjunto de bateria. — Como foi o primeiro dia de inferno? — A escola foi legal. — eu respondi. — Infernal, mas boa. Ele sorriu. Seu longo cabelo castanho estava jogado no topo da sua cabeça, no que ele gostava de chamar de coque viril, e ele ficava penteando de volta as partes que caíam. — E como meu irmão mais velho, Kent, te tratou? Está indo tudo bem? — Está bom. — eu menti. — Tão difícil, hein? — ele enfiou a mão no bolso, retirando dinheiro. — Aqui está um pouco de dinheiro para mantimentos. Suponho que Kent coma principalmente comida congelada. Basta tentar comprar orgânicos quando puder. — Obrigado, mas ele realmente abasteceu a geladeira. — Sério? — seus olhos se arregalaram. — Isso é... isso é surpreendente. Impressionante. Mas só para você saber, você é sempre bem-vindo à nossa casa para o jantar. — ele ofereceu. — Hoje à noite Daisy vai fazer almôndega sem carne e uma salada de couve. — Ah cara, não almôndegas sem carne e salada de couve! — eu suspirei sarcasticamente. — Essa é totalmente a minha refeição favorita. Eu passaria lá, mas tenho muito dever de casa. Ele sorriu. — Não dispense até você experimentar. — Então, o papai é sempre tão... — eu não conseguia pensar na palavra certa para descrevê-lo. Frio? Distante? Desde que eu tinha chegado ele mal havia dito duas palavras para mim. Quando ele falava, normalmente era para xingar o funcionário do correio ou o motorista entregador de pizza, por algum motivo ou outro. Ele era ótimo em encontrar razões para ser infeliz e mal-humorado. Portanto, eu ficava fora do seu caminho. Lance franziu a testa. — Ao longo dos anos o seu pai construiu muros de cimento. Há uma separação entre ele e o resto do mundo. Ele é um osso duro de roer às vezes e vive muito em sua própria mente. Mas não se preocupe, basta dar-lhe tempo. Ele está realmente feliz por você estar aqui. Ele só acha muito difícil demonstrar. — ele se sentou no banquinho na frente do novo conjunto de bateria e começou a bater nos tambores. Ele iluminou a sala com cores que facilmente voavam das suas baquetas. — Escute. — ele gritou. — Se você quiser que eu fale com ele, eu

posso. Eu vou fazer de tudo para tornar isso mais fácil para você, Levi. Apenas deixeme saber. — ele continuou batendo contra os tambores. Ele me fez sentir um pouco menos sozinho. Quando ele terminou de arrumar a bateria, ele me lançou um sorriso. — Isso sempre é bom, cara. Se você precisar de um lugar para escapar, você pode sempre vir aqui. Exceto quando você não puder porque nós fechamos às nove. Mas então você pode sempre aparecer no nosso apartamento logo acima. A porta que fica nos fundos, indo pelo beco. — Fantástico. Mais uma vez, obrigado por tudo. Ele se levantou. — Você toca? — Não bateria. — Fique à vontade. — disse ele, jogando as baquetas para mim. — A música corre no nosso sangue. Bata um pouco e veja se consegue, pode encontrar qualquer tipo de magia. Papai estava sentado na sua mesa dentro do seu escritório com a porta aberta quando cheguei em casa da Soulful Things. Ele estava usando óculos de armação preta grossa, estudando uma pilha de papéis. Fiz uma pausa na sua porta e cumprimentei-o, esperando pelo menos um olá. — Ei. — eu disse, dando-lhe um ligeiro sorriso. Ele não olhou para cima, mas disse oi. Estamos chegando a algum lugar. Desde que cheguei, eu sentia esse nó no estômago que se eu dissesse a coisa errada, ele me mandaria embora. O pai que eu lembrava era muito mais interessado em mim. Agora, mesmo que eu estivesse a poucos passos dele, havia essa estranha distância entre nós dois. Tentei manter a conversa, porque estava claro que ele não estava interessado em jogar conversa fora. — O primeiro dia de aula foi bom. Eu gosto das minhas matérias. Os professores são muito bons. E... — Escute, estou tentando terminar uma merda. Você acha que podemos conversar mais tarde? — ele interrompeu, ainda olhando para a papelada. — Feche a porta atrás de você. — Está bem. Estarei no meu quarto se precisar de mim.

Ele não respondeu. Eu fechei a porta na saída.

Capítulo Oito Aria — Eu estou com medo. — mamãe falou suavemente depois que parou na nossa garagem. — Eu estou com medo por você. Eu vejo um monte de crianças cujas vidas são mudadas para sempre por coisas como gravidez. Estou um pouco irritada também com você, comigo - mas nós vamos passar por isso, está bem? Eu quero que você saiba que você pode falar comigo. Você pode conversar comigo sobre o que aconteceu e com quem, Aria. Eu prometo que estou aqui. — ela saiu do carro, fechando a porta lentamente atrás dela. Eu a segui para dentro, mas não estava pronta para falar. Mamãe retransmitiu todas as informações da consulta médica para o papai quando voltamos para casa. Eu estava com onze semanas de gravidez, eu me recusava a mergulhar em quaisquer detalhes sobre James ser o pai, e eu nunca queria ouvir a palavra aborto. Você vai se livrar dele? Papai mencionou a palavra aborto cinco vezes naquela noite. Cada vez que eu ouvia, sentia um fragmento do meu coração quebrar. Aparentemente, sua irmã Molly teve um aborto quando ela era uma adolescente e ele disse que foi a melhor decisão que ela já tomou. — Ela se deu a vida. — argumentou. — Você poderia imaginar Molly com uma criança? Ninguém podia. Molly era o que o mundo chamava de espírito livre. Mamãe a chamava de vagabunda - mas isso era outra história envolvendo um jantar de Ação de Graças muito estranho há dois anos na casa de Simon. — Aria não é Molly. — É a mesma situação, Camila! Ela transou com Deus sabe quem. Há uma solução fácil para isso. Mamãe bufou. — Fácil?

Papai bateu com o corpo na cadeira da sala de estar e se afundou nela, passando as mãos sobre a cabeça. — Como você pôde deixar isso acontecer? Os olhos da mamãe arregalaram com horror. Mike entrou na casa apenas a tempo de ouvir a briga. Ainda usava suas ombreiras de futebol e ele segurava o capacete debaixo do braço esquerdo. — O que está acontecendo? — Estamos tentando descobrir como nos livrar de um problema. — Nós não estamos tentando descobrir isso. — mamãe repreendeu o papai, atirando-lhe o olhar mais sujo que existe. Levantei com as minhas mãos no estômago. — Isso não é algum tipo de trabalho de encanamento que você pode simplesmente dar descarga, Adam! Isso é uma vida. A vida da sua filha. Os olhos do meu pai desviaram para mim pela primeira vez desde a notícia. Ele encarou como se estivesse olhando através de mim. Suas sobrancelhas enrugaram, e ele beliscou a ponta do seu nariz antes de piscar e olhar para longe. — Tem sido um longo dia. O que você conseguiu para o jantar? — Você deveria ter buscado o jantar. Você sabia que eu ia buscar Aria. Ele murmurou, eles discutiram, ele murmurou um pouco mais, eles discutiram um pouco mais. — Eu posso pedir algo. — eu disse. — Esqueça isso, Aria. — papai suspirou. Ele se levantou da cadeira. — Você já fez o suficiente. — Isso vai virar regra agora? — Mike perguntou para mamãe. Ele tirou as ombreiras. — Porque se este lugar for ficar apenas com gritar e merdas, então eu posso ficar na casa do James. O simples som do nome de James me fez querer bater em alguma coisa. Você vai se livrar dele? — Preste atenção na sua atitude, Mike. — mamãe disse, dirigindo-se para a cozinha, puxando sua orelha. — Porque eu realmente não estou no humor hoje. Quando a pizza chegou, peguei alguns pedaços, tranquei-me no meu quarto e coloquei os meus fones de ouvido detonando música do meu telefone celular nos meus ouvidos.

Se eu não tivesse virado para fechar minha janela, eu não teria visto Simon do lado de fora, quase batendo na janela. — Ei. — ele disse, me dando o seu olhar de ‘eu realmente fodi tudo e espero que você me perdoe, melhor amiga’. — Vá embora. Ele balançou a cabeça, mas não foi. Eu fiz o meu melhor para ignorá-lo enquanto estava sentada na beira da minha cama e comecei a pintar uma nova tela. A arte abstrata encaixava melhor no meu estado de espírito atual. Eu pintei por uma hora direto. Meus olhos se deslocaram para a janela. Simon ainda estava ali, com ambas as mãos nos bolsos. Ele parecia patético. Bom. — Vá embora! — eu disse mais uma vez, mais fria do que antes. Ele balançou a cabeça, mas não foi. Ele não iria embora também. Fui até a janela e empurrei a tela para cima. Inclinando para fora da janela, eu olhei para ele. — Você é a única pessoa que não devia arruinar a minha vida. — Eu sei. — ele franziu a testa. Eu desejava que ele não fizesse isso. Ver os seus olhos tristes e sardas estúpidas era muito triste. — Eu não estava pensando, e honestamente Srta. Givens e eu estávamos falando e falando e por um segundo pareceu que era apenas mais um amigo. Parecia que eu estava falando com você. — Não jogue a carta de ‘meus únicos amigos são uma bibliotecária escolar e uma menina grávida’. — Eu não posso jogar essa carta porque é uma mentira. A carta que eu estou jogando agora é: ‘minha única amiga é uma menina grávida’. É a única carta no meu baralho. Vou ficar aqui até que você me perdoe, porque eu sinto muito. Lamento por ser estúpido. — Você não pode ficar aqui a noite toda. — argumentei. — Sim, eu posso. — seu lábio inferior tremeu antes que ele olhasse para o chão. — Eu vou ficar a noite toda. Meus olhos se voltaram para os sapatos dele. Estavam enlameados. Tinha que

estar deixando-o louco. Ele me viu olhando. — Simon... — Não importa. — ele soluçou, tentando não permitir que seu TOC o controlasse. Seu peito subia e descia com respirações rápidas. — Não é ruim. — disse ele, seu rosto estava ficando vermelho. Ele estava a segundos de distância da explosão dos seus próprios demônios. — Está bem. Está bem. Eu perdoo você. Ele se recusou a manter contato visual comigo. — Eu fui um melhor amigo de merda hoje. — Cale-se, suba na janela e limpe seus sapatos. — Ah, graças a Deus. — ele exalou, subindo para dentro. Ele passou a próxima hora limpando seus sapatos e pedindo desculpas para mim. Não era realmente necessário, porém, porque ele era a única carta do meu baralho também, e eu não podia me dar o luxo de ficar sem carta. No dia seguinte, Simon estava no ponto de ônibus ainda pedindo-me desculpas pelo seu erro. — Meu Deus, eu falei o quão perfeito seu cabelo está hoje? Fez algo diferente? — ele sorriu amplamente. — Porque parece que você passou de uma supermodelo sólida para uma super-supermodelo. Eu não respondi, mas ele continuou. — Ah! E eu fiz uma lista de razões pelas quais você é perfeita. Você quer ouvir? — Eu tenho uma escolha? — Não. Não tem. — ele enfiou a mão no bolso de trás e tirou um pedaço de papel. — Você é a única pessoa que entende que os atuns e rosbife são bons juntos. Você pode citar falas do Star Wars. Suas habilidades da arte são lendárias. Você mantém as toalhas de limpeza e desinfetante para as mãos no seu quarto para mim. Você é engraçada mesmo quando você não está tentando ser. Você é muito bonita... — ele não parou por um bom tempo, continuou indo e indo. Eu mal podia ouvi-lo, embora, porque tudo o que eu pensava era nos tênis azuis que chegou na esquina; antes tarde do que nunca. Levi quase perdeu o ônibus. Ele apareceu cerca de trinta segundos antes da gaiola amarela estacionar. Meus olhos se voltaram para ele, e eu me senti extremamente mal.

Que tipo de idiota eu era para chamá-lo de assustador? Não havia nada assustador sobre ele. A única coisa estranha era o quão bem ele me tratava, especialmente após o momento do batom no meu armário. Eu não tinha pensado no que diria a ele. Eu sabia que tinha que dizer alguma coisa, mas eu não tinha certeza de como tirar meu pé da minha boca. Parecia que ele não tinha dormido nada na noite anterior. Sua camisa estava enrugada e seu cabelo castanho ainda estava pingando do seu banho. Os nossos ombros estavam um ao lado do outro, apenas centímetros de distância, mas por alguma razão Levi parecia há quilômetros. Eu não o conhecia bem o suficiente para perguntar se ele estava com raiva de mim, ou se ele tinha tido uma noite ruim, ou se ele queria conversar. Eu não o conhecia de jeito nenhum, na verdade. Simon foi o primeiro a entrar no ônibus. Antes que ele subisse a bordo oficialmente, ele empurrou os óculos no nariz e disse: — Você fez amizade comigo, o maior esquisito do mundo! Você se voluntariou como tributo, tal qual aquela garota de Jogos Vorazes... — ele franziu a testa. — Eu não consigo lembrar o nome dela, no entanto. — Katniss. — Levi disse suavemente, inclinando a cabeça para Simon. Ele roçou o polegar contra seu lábio inferior. Eu juro que ele fez isso em câmara lenta também, fazendo-me olhar para sua boca enquanto formava palavras que fizeram meu coração saltar. — Katniss Everdeen. — Levi Myers, senhoras e senhores. O maior paradoxo de todos. — Sim! Você é Katniss Everdeen. — Simon exclamou, sem tomar conhecimento do meu coração saltando no meu peito enquanto eu olhava para Levi, que se recusou a olhar para mim uma única vez. Eu queria pedir desculpas, mas eu não sabia como. Levi estava colocando sal nas minhas feridas quando ele sentou e falou com Tori durante o almoço. Ele a pegou em flagrante com o batom vermelho no meu armário no dia anterior e em vez de gritar com ela, estava dando a ela seu sorriso estúpido que fazia toda garota na escola querer ter seus bebês. Bem, exceto eu. Uma vez que é engravidada por alguém aos dezesseis anos, a ideia de ter bebês assume um significado totalmente novo. Vê-lo falar com Tori foi

irritante. Eu deveria ter desviado o olhar, mas não consegui. — Estou tão feliz que eu não me precipitei depois que Tori e Eric se separaram. — Simon zombou. — Parece que o cara novo está todo a fim de qualquer maneira. Muito ruim para ele, ela é uma vadia. — Você acha que ele está na dela? — perguntei, tentando não parecer muito interessada, embora, secretamente, cento e dez por cento interessada. — Você está brincando comigo? Claro que ele está. Olhe para ela! E inferno, olhe para ele. Quer dizer, eu não sou a fim de caras ou qualquer coisa, mas ele é fácil o suficiente para olhar. Parece que ele saiu de uma novela em que era o personagem principal quente. — ele fez uma pausa. — Isso foi uma coisa estranha para dizer? — Um pouco. — Podemos fingir que eu não disse isso? — Provavelmente não, não. Mas, realmente, você acha que eles combinam? — É como uma combinação feita no céu de garotos populares. — disse ele. — Você não tem que odiá-la só porque eu odeio. — eu sabia que seus olhos ainda estavam na Tori. Ela era o céu dele, mas ele se recusava a dizer qualquer coisa depois do que ela fez. — De jeito nenhum. — ele me cutucou no lado. — Você é minha melhor amiga e nós odiamos Tori. Você sabe o que dizem, garotas antes... de garotas. — ele fez uma pausa. — As pessoas não dizem isso, não é? Eu balancei minha cabeça. — Provavelmente não, não. Simon ficou olhando para Tori, e eu para Levi. Ele estava rindo com ela e quando sua mão pousou no ombro dele, eu quis vomitar. Se houvesse uma maneira de descrever Levi, era que ele era reparável. Quando ele falava com as pessoas, ele encarava como se estivesse realmente notando todas as características dela. Ele realmente prestava atenção. Eu odiava o quanto de atenção ele estava prestando em Tori agora, em vez de mim, o que era estúpido, porque: 1. Eu o afastei; e, 2. Dezesseis e grávida. Tori jogou a cabeça para trás numa gargalhada e girou seu cabelo ao redor do seu dedo mindinho.

Ela era ridiculamente perfeita, e Levi percebeu esse fato. E eu notei que ele reparou nela também. Por volta do sexto período eu considerei matar aula. Eu nunca tinha matado uma aula na minha vida, mas por alguma razão, parecia o momento perfeito para fugir. As portas da frente da escola estavam apenas alguns passos de mim. Com um movimento rápido, eu poderia desaparecer nas ruas de Mayfair Heights e aproveitar alguns momentos para realmente pensar. Desde que soube que estava grávida, eu não tive tempo algum para pensar. Dei um passo em direção às portas. Vou realmente manter o bebê? James tem direito a opinião sobre isso? Algum dia vou sentir que sou boa o suficiente? Meu estômago estava chateado por causa da carne misteriosa que a senhora do almoço serviu e eu estava plenamente convencida de que iria sair. Eu sairia do prédio de qualquer forma. — Ei, Aria. Meus passos foram interceptados quando Tori e suas seguidoras deram um passo na minha frente com seus sorrisos falsos. Bem, merda. Eu levantei uma sobrancelha. Quando estava prestes a virar Tori colocou a mão no meu ombro. — Eu só queria pedir desculpas por ontem. Foi superimaturo fazer aquilo no seu armário, então, eu sinto muito. Meus escudos estavam armados. Eu não disse uma palavra. — Além disso, o seu corte de cabelo é totalmente adorável. — uma das aliadas da Tori disse. Fez-se silêncio. As três meninas estreitaram seus olhos para mim como se eu fosse um alien. O que elas estavam esperando? Que eu as perdoasse? Porque isso não ia acontecer. — Tudo bem, tanto faz. Eu apenas pensei em pedir desculpas. — Tori olhou por cima do ombro e sorriu para alguém. Quando me virei para ver Levi, revirei os olhos. Claro que essas ‘desculpas sinceras’ tinham algo a ver com Levi. No segundo

que ele saiu, a bondade das três meninas desapareceu também. — Você é tão feia[8] que é quase embaraçoso que esteja grávida. — uma das meninas disse. Presumi que feia era a palavra popular para fodidamente feio. — Você usou um saco na sua cabeça quando você deixou o cara vir para cima de você? Você é tão patética. — É fofo, realmente. Como Levi a vê como um caso de caridade. Como ele quis proteger os sentimentos da putinha esquisita. Elas continuaram. Meus dedos estavam afundando nas palmas das minhas mãos, e eu não tinha a menor ideia por que elas estavam tão interessadas ​e m mim quando menos de 24 horas atrás, elas nem sequer sabiam meu nome. Como posso voltar no tempo para quando elas não sabiam o meu nome? Lágrimas de indignação turvaram a minha visão quando me virei para longe das meninas e fui direto para o corredor. — Eu não preciso de você para lutar minhas batalhas! — eu disse, marchando em direção ao armário de Levi. Ele estava trocando os livros para a próxima aula, e eu mandei-os para o chão. Ele não quebrou o meu olhar. — Você sabe como isso é difícil para mim?! Eu não preciso de você tornando pior. Meu lábio inferior tremia enquanto eu lutava com as lágrimas. Não chore. Eu senti como se as lágrimas dessem uma espécie de poder à pessoa te observando. Eu precisava me agarrar a tanto poder quanto eu pudesse hoje em dia. Seus olhos se arregalaram em choque. Ele deu um passo na minha direção. Eu recuei. — Aria, eu sinto muito... — ele estendeu a mão para tocar o meu ombro, mas eu vacilei. Dei mais um passo para trás. — Eu não posso acreditar que iria me desculpar com você. Você está tornando tão fácil para elas me quebrarem. Deixe-me sozinha, tudo bem? Só... — a tristeza em mim aprofundou, minhas próprias dúvidas enchendo a minha mente com as palavras que a Tori e suas amigas me disseram. Elas estavam certas. Eu era patética. — Por favor, me deixe em paz. — eu sussurrei, sentindo-me derrotada.

[8] Aqui ela usa a expressão flugy: abreviação de fucking ugly (fodidamente feio).

Capítulo Nove Levi Ela estava além de aborrecida comigo. Eu me sentia uma merda sobre isso também. Eu não estava tentando estressá-la mais, mas quando Tori veio até mim pedindo-me para almoçar com ela e seus amigos, eu pensei que fosse uma oportunidade perfeita para fazê-los pedir desculpas para Aria. Eu não sei por que eu sentia uma atração na direção dela. Ela estava emocionalmente desligada do mundo, mas de vez em quando ela me dava um pequeno sorriso que me fazia pensar que ela não queria ser tão sozinha. Além disso, eu ainda sentia falta do Alabama e alguma coisa sobre sua singularidade me fazia lembrar de casa. Nossa classe de música foi para a sala de aula do Sr. Harper com nossos instrumentos. Eu fiquei meio surpreso ao ver Aria sentada na sua mesa. Por alguma razão achei que ela fosse alterar as aulas e mudar para a Flórida para ficar longe de mim. Eu deslizei na mesa ao lado dela e puxei minha folha de dados do dia anterior. — Desculpe... — ela franziu o nariz e se virou para mim. — Desculpe-me por ficar brava no corredor e por chamá-lo de assustador ontem. Eu estava constrangida e magoada. — Sem ofensa, Aria, mas eu acho que eu sou o único que tem que pedir desculpa. Ela discordou. — Minhas emoções estão simplesmente por todo lado. — cruzando as pernas em sua cadeira, sentou-se como um pretzel. — É como, eu ainda sou eu, mas... diferente. — Diferente pode ser bom. — Não. Não é esse tipo de diferente. — a voz de Aria tremeu conforme tentava controlá-la. — De qualquer forma, nós provavelmente devemos preencher esta folha hoje.

Eu não me opus à ideia. Honestamente, eu estava feliz que ela ainda estivesse falando comigo. Eu aprendi um pouco sobre ela e sua família. Seu nome do meio era Lauren. Ela adorava pizza de qualquer tipo. Sua mãe era médica e seu pai era encanador. Seu tipo de arte favorita era a abstrata (eu achava abstrato esquisito). Quando ela falava, ficava com uma pequena covinha na bochecha esquerda. Ela não me contou esse fato, mas eu não pude evitar de reparar. Eu disse para ela como amava rolinho primavera e bacon - não juntos, mas eu não seria contra a ideia. Meu nome do meio era Wesley, o futebol era o meu esporte favorito para assistir e eu só bebia root bear. — O que significa a tatuagem na sua mão? — ela perguntou, encarando o olho que ficava entre o meu polegar e o dedo indicador. — Ah, é por causa de uma das minhas canções favoritas, ‘These Eyes’, do The Guess Who. Minha mãe me deixou fazer essa e essa. — eu apontei para a caneta de pena tatuada no meu braço. — No meu aniversário. A pena é um lembrete do quanto as palavras significam para mim. Se há algo que eu amo tanto quanto o som da música, são as palavras que vêm junto com as canções. — Isso é tão legal. Meus pais nunca me deixariam fazer uma tatuagem. — Sim... minha mãe é um pouco diferente do que a maioria dos pais. — eu mordi meu lábio inferior, não querendo falar muito sobre a mamãe. Ela deve ter notado a minha necessidade de interromper a conversa, então ela prosseguiu para o próximo tópico. — Tudo bem. — ela disse, olhando para a folha. — Habilidades especiais? — Eu sou um profissional de air guitar[9] e playback. — eu disse. Ela riu e colocou o lápis sobre a mesa. — Eu não vou escrever isso. Arqueando uma sobrancelha, eu perguntei por que não. — Porque as pessoas não são profissionais em air guitar e playback. Eu sorri. — Eu definitivamente sou um profissional em air guitar e playback. — Mentira. Soou como um desafio para mim. Procurei na minha mochila, que tinha ao menos uma dúzia dos meus CDs favoritos. Eu peguei um, caminhei até o Sr. Harper e

perguntei se eu podia colocá-lo para tocar. Ele concordou, permitindo-me colocar a música no seu computador. Eu fui para frente da sala de aula, afinei a minha guitarra invisível. Aria me encarava como se achasse que eu era louco, mas não era diferente de como ela normalmente olhava para mim. ‘10:00 A.M. Automatic’ do The Black Keys começou a tocar e eu sentei em cima da mesa bagunçada do Sr. Harper e comecei a dedilhar junto. Meus dedos se moviam freneticamente, nunca perdendo uma corda invisível. Quando eu comecei a cantar silenciosamente na direção da Aria, suas bochechas coraram e seus pés bateram contra o chão ao som da música. Eu saí da mesa e comecei a me mover ao redor da sala, cantando para meninas aleatórias, que riam e giravam seus cabelos. Perdi-me na música, sentindo como se estivesse no palco tocando na frente de uma plateia real, dedilhando a guitarra. Eu senti os olhos de todos em mim, mas apenas um par de olhos castanhos realmente importava. No verso final da canção, eu fiquei na frente de Aria, tocando os últimos acordes, observando o pequeno sorriso nos seus lábios. Depois que eu terminei, a campainha final do dia tocou e todos arrumaram suas mochilas. Algumas meninas se aproximaram de mim, dizendo que eu era ótimo e Connor fez questão de mencionar a quantidade de garotas que eu pegaria por causa do air guitar, mas eu não me importava com o que elas estavam dizendo. Eu queria saber o que Aria achou. Ela pegou o lápis e escreveu air guitar e playback nas minhas habilidades especiais. Fomos os últimos a sair da sala de aula e andamos pelo corredor em silêncio. Ela abraçou um par de livros ao peito e quando saímos, esperando na fila para a nossa vez de subir no ônibus, ela olhou para a calçada. — Foi realmente bom, Levi. — ela sussurrou, balançando a cabeça ligeiramente. — Você é realmente bom na air guitar e é chocante como você soou notavelmente como The Black Keys. Eu ri. — É o meu superpoder. — Você tem muitos superpoderes?

— Basta esperar e ver, Aria Watson. Basta esperar e ver. Eu senti como se estivesse voando. Quando cheguei de volta ao papai depois da escola, ele estava olhando sob o capô do seu carro no jardim da frente. Um cigarro estava saindo da sua boca, e ele estava resmungando para si mesmo uma coisa ou outra, quando fui até ele. Os nós no estômago voltaram. — Ei, pai. Ele olhou para cima, bateu algumas cinzas do seu cigarro e voltou a consertar o seu carro. — Você precisa de ajuda? — Você sabe alguma merda sobre carros? — ele perguntou secamente. Eu não sabia. Ele riu. — Apenas vá tocar sua flauta ou algo assim. — Violino. — corrigi, segurando as alças da minha mochila. Ele levantou uma sobrancelha. — Eu toco violino. Não é flauta. — Flauta, violino, ambos soam bregas pra caralho. Ai. — Tudo bem. Bem, se você não precisa de qualquer ajuda... — esperei que ele me pedisse para entregar-lhe uma chave ou algo assim. Era muito patético o jeito que eu estava esperando, mas finalmente fui para a casa. Quando joguei minha mochila na minha cama e meu celular começou a tocar, eu sabia que era a mamãe. Depois que atendi, ela parecia tão preocupada e inquieta quanto antes. — Como você está? — ela disse, provavelmente andando para lá e para cá enquanto falava. — Firme ainda. — eu respondi, deitado no colchão. — Tem certeza de que não quer voltar para casa? Eu posso reservar um voo para você em cerca de cinco minutos.

Tentador. — Ainda não estou pronto para embalar ainda. — Por que você precisa disso? — ela perguntou, parecendo um pouco irritada. — Eu só tenho que tentar. Eu tenho que descobrir quem é esse cara. — eu queria o relacionamento pai e filho que eu me lembrava. Eu queria tentar ficar e conhecer o meu pai novamente. O problema era que eu não esperava que ele fosse tão fechado, portanto, significava que conhecê-lo novamente seria um pouco difícil. Eu não estava com medo de colocar esforço no nosso relacionamento quebrado, mas eu sabia que levaria tempo. Tempo. Temos tempo. Não seria do dia para a noite, mas aconteceria. Além disso, a mamãe passava por ciclos da sua própria estabilidade mental, e eu sabia que ela estava atualmente lutando com seus problemas. Foram esses mesmos problemas que me fizeram querer ficar longe dela e vir ficar com o papai. Eu não estava pronto para ir para casa, para ela. Mesmo que eu sentisse falta dela, eu não sentia falta o suficiente para ficar por perto e vê-la desmoronar. Ela suspirou no receptor do telefone, esperando que eu dissesse sim à ideia de ir para casa. — Eu falei com Lance não muito tempo atrás. Depois de um episódio de gritos ele finalmente soltou por que achava que era tão importante que você ficasse aí com o seu pai. — Sim? E por quê? — ela fez uma pausa. Seu silêncio me fez ficar de pé. — Mãe? — Ele está doente, Levi. Eu ri, porque era a única coisa que eu podia fazer. — Doente? O que quer dizer com ele está doente? — Ele tem câncer de pulmão. O quê?

Papai não estava doente. — O que há de errado com você? Por que você diz isso? — vociferei. — Não fale comigo neste tom, Levi. Eu estou apenas falando o que Lance disse. Não pode ser verdade. Meu coração começou a bater mais rápido quando corri para fora do meu quarto, pela casa. Mamãe ainda estava falando no telefone, mas eu não estava escutando mais. Agora tudo o que eu estava fazendo era procurar no armário de remédios do banheiro, nas gavetas da cozinha e na mesa de centro na sala de estar. Eu estava procurando por qualquer sinal, qualquer prova clara de que o papai estivesse doente. Porque se ele tivesse câncer haveria prova, certo? Ele teria que tomar remédio. Haveria papelada ou algo assim... nada. Olhei para o seu escritório. A porta estava fechada. — Levi! — mamãe falou no meu ouvido, me tirando dos meus movimentos agitados. — Você vai voltar para casa. Eu não vou deixá-lo passar por isso de jeito nenhum. — Eu ligo de volta. — disse à mamãe, desligando antes que ela pudesse responder. Meus dedos enrolaram na maçaneta da porta do escritório e eu empurrei-a para abrir. Movendo para a mesa, abri as portas laterais e olhei para os frascos de comprimidos alaranjados. Eu li os rótulos, mas não entendi uma única palavra. Continuei procurando e encontrei tudo. A papelada. Os medicamentos. Todas as provas. Eu levantei uma foto que estava empurrada na parte de trás da gaveta. A nossa viagem de pesca. Um nó se formou na minha garganta enquanto eu olhava para a prova fotográfica que nós costumávamos ser felizes juntos. — O que diabos você está fazendo? — papai gritou, de pé no batente da porta do seu escritório.

Apenas olhando para ele eu deveria ter sabido que ele estava doente. Ele parecia doente. Mais magro do que qualquer homem da sua altura deveria ser. Os círculos sob seus olhos estavam escuros também, mas eu não sabia como era o seu olhar normal e o que estava fora do normal porque eu não o conhecia. — Você é um ladrão ou algo assim? — ele sussurrou, dando-me um olhar de desgosto. — Você está procurando dinheiro? — Não. — eu limpei minha garganta, baixando a papelada na gaveta de cima. — Mamãe acabou de me contar... — Eu não me importo com o que sua mãe disse. — a mão dele bateu contra a porta. — A porta estava fechada, o que significava ficar de fora. — balançando a cabeça eu me dirigi para a porta e ele estava parado na frente dela, bloqueando meu caminho, seus olhos se encheram com menos emoção do que antes. — Não me diga que você vai chorar. Recomponha sua merda e deixe de ser um maricas. Quem é você? Passando por ele, eu senti minha respiração ficar mais e mais pesada. Entrei no meu quarto, fechei a porta atrás de mim. Minhas costas aterrissaram contra a parede mais próxima e eu bati a minha mão contra o meu peito, uma e outra vez. Câncer. Câncer. Câncer. Eu não poderia voltar para Alabama. Eu não poderia ir embora sabendo que o deixaria sozinho e doente. Além disso, havia a minha necessidade egoísta de querer saber mais sobre ele. O que o tornou tão frio? Quando ele passou do cara brincalhão que eu costumava conhecer para esta personalidade má? Como eu poderia corrigir isso? Corrigir a gente? Eu não poderia viver comigo mesmo se não continuasse tentando um relacionamento com ele antes de ele... Eu pisquei e engoli em seco.

Tempo. Eu preciso de mais tempo. Eu saí do meu quarto uma hora mais tarde e vi-o dormindo no sofá. Eu sabia que se fosse embora agora, não haveria possibilidade alguma de eu conhecer esse estranho que compartilhava o meu DNA. Eu também sabia que se eu fosse embora, ele não tinha ninguém. Ele nunca admitiria isso, mas ele tinha que estar com medo. Câncer tinha que ser assustador e ele estava passando por isso sozinho. Talvez as pessoas dissessem coisas terríveis quando estavam com medo. Talvez meu pai estivesse sempre com medo. Eu não posso voltar para o Alabama. Eu liguei e disse à mamãe. Ela chorou um pouco e me disse que não entendia. Sinceramente, eu também não entendia, mas no meu interior eu sabia que se fosse embora agora eu me arrependeria para sempre. Então, ficaria. Eu saí para a mata por volta das onze da noite com uma lanterna e meu violino. Eu amava o cheiro da floresta, a calma da natureza. Em casa, sempre que minha mente estava cheia, mamãe me fazia pisar descalço na floresta, meus dedos dos pés curvavam contra a grama e eu apenas respirava. Havia algo de outro mundo sobre a natureza, que faziam meus problemas parecerem menos importantes, fazia a minha situação parecer menos dramática. Eu olhei para a casa que estava escondida nas árvores. O pai que construiu aquele lugar comigo ainda tinha que existir. Eu não desistiria dele. Não agora. Subi os degraus e sentei no interior da casa de madeira. Eu tirei meu violino do case. Música me ajudaria com isso. Mamãe costumava me dizer que as cordas do violino eram capazes de contar histórias através da forma como o violinista as tocava; histórias de dor, de sofrimento, de beleza, de luz. Primeiro, comecei a tocar tranquilamente. O arco rolou para trás e contra as cordas, os sons do meu melhor amigo saltando por entre as árvores adormecidas, tocando a floresta que descansava. O plano era tocar até que eu parasse de me preocupar com a mamãe em casa. Eu queria tocar até que meu pai fosse meu pai novamente. Eu queria tocar até que o câncer fosse apenas uma palavra e não um aviso de morte. No entanto, acabou que eu não poderia cumprir esses objetivos, porque às três

da manhã eu ainda estava preocupado com a minha mãe, meu pai ainda estava longe do meu pai e câncer ainda era a palavra mais confusa na história das palavras. Nesse ponto, eu sentia como se estivesse desmoronando.

[9] Forma de dança e movimento em que a pessoa finge tocar guitarra.

Capítulo Dez Aria No jantar de domingo papai grelhou enquanto a mamãe fez salada de batata, milho e molho de maçã caseiro. Não sobravam mais muitos dias para churrascos em Wisconsin, uma vez que o inverno estaria aqui em breve, então eu estava muito animada. Papai fazia os melhores hambúrgueres, acrescentando seu ingrediente secreto que ele nunca revelava. Nós nos sentamos ao redor da mesa e Mike falou o tempo todo sobre o jogo de volta, em casa, que seria em algumas semanas. — Vamos contra os Falcons e o treinador disse que alguns olheiros do UW-Madison estarão lá. Além disso, no próximo fim de semana recrutas do Estado de Ohio virão aqui. — Você acha que está pronto para isso? Você está fazendo seus treinos extras? — papai perguntou, colocando uma bandeja de seus hambúrgueres no meio da mesa. — Sim, Senhor. O treinador disse que eu não tenho nada com que me preocupar, no entanto, ele disse que estou praticamente garantido em algumas faculdades. Então, eu poderia escolher a que eu mais quero. — Não deixe que isso chegue à sua cabeça, no entanto. Você tem que manter suas notas altas também. Você precisa de um plano reserva. — papai sentou-se na sua cadeira e olhou para mim antes de voltar para Mike. — As pessoas devem ter um plano reserva. Mike concordou com ele e minha mãe apenas franziu a testa para mim. Eu tentei o meu melhor para não chamar a atenção para mim durante o jantar. Afinal de contas, durante o último jantar de domingo eu deixei escapar a situação ‘Estou grávida’ e as coisas foram ladeira abaixo muito rápido. Desta vez, eu só queria aproveitar o meu hambúrguer favorito. Eu dei a minha primeira mordida e meu nariz enrugou. — Você fez algo diferente nos hambúrgueres? — perguntei. Os olhos do meu pai fixaram nos meus por menos de dois segundos antes dele desviar o olhar, acrescentando salada de batata para seu prato. — O mesmo de sempre.

Balançando a cabeça eu dei outra mordida. Meu nariz enrugou novamente. Não tinha o mesmo gosto de sempre. Tinha gosto... ruim, na verdade. Eu coloquei o hambúrguer para baixo e praticamente perdi o meu apetite para tudo que estava na minha frente. — Por que você não está comendo? — Grace me perguntou, enfiando hambúrguer na sua boca. Só de vê-la comer aquela coisa estava me dando vontade de vomitar. Como eles não sentem o sabor?! — Quando a Sra. Thompson estava grávida ela comia como uma vaca. Ela parecia uma vaca também. — Grace, essa não é uma coisa agradável para dizer. — mamãe repreendeu. Eu odiava que a conversa estivesse lentamente voltando para a minha gravidez; eu não queria estragar o jantar para o papai, de novo. Mamãe cruzou os braços e me deu um sorriso de piedade. — Chama disgeusia[10]. — mamãe disse. — Suas papilas gustativas estão apenas distorcidas devido ao bebê. Papai se encolheu e empurrou a cadeira da mesa. Sempre que ele ficava irritado a vermelhidão no rosto dele se aprofundava. — Eu acho que isso é o suficiente. — Adam... — a voz da minha mãe era baixa. — Sente-se. — Não. Não se isso vai ficar igual a semana passada novamente. Eu não quero fazer isso. Eu não quero lidar com... — ele fez um gesto para mim como se eu fosse um vírus, uma praga. — Isso. — Eu vou ficar com ele. — eu disse. Papai me deu um olhar duro, mas eu não podia aguentar ser tratada desse jeito por mais tempo. — Eu vou mantê-lo e eu sinto muito se você me odeia, mas eu vou ficar com ele. Antes que ele pudesse responder - ou mais provavelmente gritar - a campainha tocou. Ele correu para atendê-la e o resto de nós permaneceu em silêncio. Mike atiroume o mesmo olhar sujo do meu pai, Grace tentou não rir da minha chamada vida e KitKat comeu milho. — Você realmente precisa pensar em momentos melhores para falar. — disse Mike, irritado com a minha existência. Alguns momentos depois, o papai voltou para a sala de jantar e eu fiquei um pouco surpresa ao ver Levi andando atrás dele. Em um instante eu estava de pé. — O que você está fazendo aqui? — É este o garoto? — papai perguntou, apontando para mim. — Ele fez isso

com você? — O quê?!— eu assobiei, envergonhada e chocada. — Não! Levi levantou uma sobrancelha e fez uma pausa. — Eu sinto muito, se este é um momento ruim... — O que você está fazendo aqui? — perguntei novamente. — Quem é você? — mamãe falou para Levi. Eu podia sentir minhas bochechas esquentando. Meu coração estava acelerando também. Ele me deixava nervosa e animada, tudo de uma vez e mesmo que minha mente soubesse que era uma ideia estúpida sentir-me desta forma, o meu coração não se importava. — Eu sou Levi, senhora. Eu sou filho do Kent Myers. Eu vim aqui para ficar com ele durante o ano letivo. Eu sou parceiro da Aria. — o sotaque dele o fazia parecer tão inocente. — Filho do Kent? Parceiro? O que significa isso? — papai sussurrou, irritado como sempre. — Paaaai! — eu gritei, extremamente mortificada, cobrindo meu rosto. — Quero dizer, ela é minha parceira na aula de arte e música. Mamãe levantou-se e tentou o seu melhor para quebrar o constrangimento. — Desculpe, Levi. Acho que agora é apenas um mau momento. — Sinto muito, senhora Watson, realmente sinto, mas eu esperava que pudesse falar com você rapidinho. — Comigo? — Sim, senhora. — ele enfiou a mão no bolso de trás e tirou alguns papéis. — Aria mencionou que você era médica, então eu queria saber se eu poderia falar com você. Eu prometo que vai ser rápido. Ele estendeu os papéis para a mamãe, e ela começou a franzir a testa. Ela o levou para a sala e sentaram-se no sofá. Eles sussurravam enquanto nós assistíamos. Os ombros de Levi afundaram e ele ouviu tudo o que a mamãe lhe dizia. De vez em quando ele balançava a cabeça e dizia: — Sim, senhora. — mas principalmente olhava para o tapete, enxugando os olhos.

Quando terminaram, ele se levantou do sofá e agradeceu a mamãe antes de virar em direção à porta da frente e sair. Corri para a sala. — O que foi aquilo? — perguntei, movendo para a janela para olhar para Levi indo embora com as mãos enfiadas nos jeans e sua cabeça baixa. — Pobre rapaz. — mamãe balançou a cabeça, andando de volta para a sala de jantar. — Eu não quero caras passando por aqui, Aria! Especialmente um garoto relacionado a esse caloteiro do Kent Myers! Você está ouvindo? Quando a mamãe passou por ele, puxando sua orelha, ela se virou e disse: — Dê-lhe uma pausa, Adam. Você está agindo como um verdadeiro idiota. Ele não respondeu, talvez porque soubesse que era verdade. — O que foi aquilo? — eu perguntei para mamãe, que sentou na sua cadeira da sala de jantar e começou a comer como se nada de estranho tivesse acontecido. Meu coração estava batendo no meu peito querendo saber o que ela e Levi estavam falando. — É uma coisa pessoal, Aria. Eu não posso falar sobre isso. — Mas... — meus pés arrastaram. Eu puxei a barra da minha camisa. — Ele está bem? Há algo de errado com ele? Mamãe me deu seu sorriso tenso e disse que não daria mais detalhes sobre o assunto. Eu debati sobre ir lá e perguntar-lhe o que estava acontecendo, mas eu sabia que meu pai ficaria louco se soubesse que eu ia sair para encontrar com Levi. Meu despertador tocou às 5:50 da manhã seguinte. Coloquei uma calça de moletom e um moletom com capuz, calcei meus sapatos e escalei a minha janela. O ar da manhã estava fresco e refrigerado. Andei pela calçada à beira da floresta. Eu esperava que Levi estivesse aqui fora, vagando por aí, tentando alimentar o cervo. Meu estômago revirou quando eu realmente o vi. Uma parte de mim estava surpresa que ele estivesse de pé a poucos metros de distância de mim, mas, mais uma vez, ele tinha dito que tentava alimentar os cervos todas as manhãs. Ele tinha um punhado de frutos e estava inclinado contra um tronco de árvore, mas não parecia ter um cervo em qualquer lugar nas proximidades. — Oi. — eu disse, caminhando até ele. Cruzei os braços, tentando manter-me

aquecida. Sua cabeça levantou e um pequeno sorriso atingiu os lábios. Limpando a garganta, eu me inclinei contra uma árvore. — Você está doente ou algo assim? — Por que você pergunta? — Só tentando adivinhar. — Você ficaria triste se eu estivesse? — perguntou. — Sim. — Mesmo que acabamos de nos conhecer? — Sim. — sim. E sim novamente. — Eu não estou doente. — disse ele. — Meu pai tem câncer. Eu soltei um suspiro. — Sinto muito. — Eu também. Eu não sabia muito sobre câncer. A tia do Simon tinha tido isso há muito tempo, mas ela estava melhor há anos. Tudo o que eu lembrava da mãe de Simon dizer sobre isso era que o câncer sugava a vida da pessoa e de todos ao seu redor. Apenas essa ideia era terrível e triste e um pouco familiar para mim. — Ele pode lutar contra isso. — eu disse, esperando dar conforto. — Se ele quiser. — ele respondeu, secamente. — Eu não acho que ele me queira aqui. — Levi disse, mais cru do que nunca. Ele sempre era tão alegre e feliz, então vêlo assim era desanimador. — Não por causa do câncer ou qualquer coisa. Ele só não me quer aqui. Nós ficamos quietos, observando o sol começar a nascer diante de nós. Lenta e cautelosamente um cervo espiou por trás de uma grande árvore. Ele parecia um pouco assustado, os olhos arregalados enquanto olhava. Levi sussurrou para eu permanecer quieta enquanto ele jogava algumas frutas no chão. Eu fingi que eu era uma parte da árvore e abracei meu corpo na madeira conforme o cervo se aproximou calmamente e começou a comer as frutas. — Ele vem toda vez. — explicou Levi. — Ele fica cada vez mais corajoso, também. — Ele tem um nome?

Ele balançou a cabeça. O cervo continuou a comer as frutas até que ele correu mais para dentro da floresta. Levi sorriu. De alguma forma, observar o cervo comer os frutos trouxe-lhe um nível de conforto. Ele era tão diferente. Ele era tão refrescante. — Qual é a sua palavra favorita? — perguntou. — Palavra favorita? Ele balançou a cabeça. — A minha é absurdo. Minha mãe sempre me fez aprender dez novas palavras por dia, folheando o dicionário e quando eu me deparei com absurdo eu soube que era algo especial, porque o significado da palavra não tem sentido. Realmente significa nada, o que, no final, tem que contar para alguma coisa, certo? — Talvez. Eu acho. Ele sorriu. — Talvez. — Oxímoro[11]. — eu disse. — É a minha palavra favorita. E eu acho que, no final, meio que significa nada, porque ambas as partes de um oxímoro tipo que anulam-se mutuamente. — Ugh. Que absurdo! — ele lamentou, batendo a palma da sua mão em seu rosto. — Tão absurdo! — eu ri. — A palavra oxímoro é na verdade composta de duas palavras gregas que significam afiadas e sem brilho. Então oxímoro é a sua própria contradição. — É engraçado que você tenha mencionado justo essa palavra enquanto estamos sozinhos juntos. — ele disse com um sorriso, esperando que entendesse seu oxímoro. Eu entendi. Obviamente. — Sim. É muito agridoce. — Mas é uma espécie de miséria confortável. — Ah sim. É extremamente boa. — eu ri. Ele riu comigo. Nosso riso meio misturado em um som em vez de dois.

Em seguida ficamos quietos. Tão quietos. Nós ficamos em silêncio por um longo tempo. Ele era alguém com quem era muito fácil ficar quieto. Era como se nós ainda estivéssemos tendo uma conversa sem qualquer palavra. Silenciosamente alto. Mas com o passar do tempo, eu sabia que tinha que chegar em casa para ficar pronta para a escola. — Aria? — Levi afastou-se da sua árvore. — Posso levá-la para casa? Corri meus dedos pelo meu cabelo e acenei concordando com a cabeça. As folhas rangiam sob os nossos passos. Levi caminhava ao meu lado e embora não estivéssemos nos tocando, eu quase podia sentir meu coração pular com a ideia de uma coisa dessas acontecendo. Ele tinha uma característica calorosa sobre ele que me dava um nível de conforto. Levi Myers era real? Ele realmente existia? Ou meu coração triste, negro o criou por que ansiava por um pouco de cor? De qualquer maneira, eu estava feliz por ele caminhar ao meu lado.

[10] Distorção ou diminuição do paladar. [11] O mesmo que paradoxo.

Capítulo Onze Levi Quando eu tinha onze anos, eu vim visitar o papai durante o verão. Um dos primeiros dias aqui, ele me levou para Fisherman´s Creek. Alugamos um barco de madeira do cais e sentamos no meio do riacho durante todo o dia, assando no sol. Nossos anzóis de pesca estabeleceram no fundo da água, nenhum peixe parecendo nem um pouco interessado em ser apanhado. Papai comprou meia dúzia de root beer e cerveja geladas. Ele me repreendeu por não querer colocar vermes reais em nossos anzóis, dizendo que os artificiais nunca funcionavam, mas minha mãe me disse que nós deveríamos respeitar a natureza. Ela disse que se não precisávamos dele para comer, então não devíamos prejudicá-lo. Sentamos, tomamos nossa cerveja e refrigerante e ganhamos sérias queimaduras solares. O silêncio do riacho era algo que eu sempre lembrava. Como mal nos movíamos no nosso barco, a água somente ondulava em alguns momentos quando um pássaro mergulhava a procura de uma refeição rápida. Após cinco horas de suor, minha vara de pesca moveu e papai pulou para me auxiliar, me ajudando a fisgar a melhor pesca da minha vida. — Puxe! — ele ordenou e eu fiz isso. Puxei, puxei e puxei um pouco mais. O momento da verdade veio quando o peixe emergiu das profundezas da água e nós rimos. Rimos tanto que eu pensei que meu estômago fosse explodir e a root beer fosse sair pelo meu nariz. Acabou que o meu peixe era menos de um peixe e mais uma grande bota de caminhada. Quando meu pai riu, eu ri. Papai se inclinou contra a lateral do barco. — O jantar pode ser um pouco coriáceo, Levi. — nós continuamos rindo, eu agarrando minha barriga e ele rindo dos meus uivos. Essa foi a última vez que nós rimos juntos. Foi a última vez que fomos felizes juntos. Eu me perguntava o que tinha acontecido. O que mudou e o fez parar de me amar?

Agora, o mais próximo que eu conseguia ouvi-lo rindo comigo era quando ele assistia velhas comédias em preto e branco na televisão na sala de estar todas as noites. Ele nunca me pediu para acompanhá-lo e eu poderia dizer que ele ficava um pouco irritado quando me sentava com ele. Então, eu escolhia sentar no saguão à noite, no canto para que ele não pudesse ouvir ou ver-me. Quando ele ria, eu ria. Quase parecia como se estivéssemos recriando um relacionamento pai e filho que se perdeu no tempo e no espaço. Eu nunca amei tanto comédias preto e branco na minha vida.

Capítulo Doze Levi popular | adjetivo desejado ou apreciado por muitas pessoas. adequado para a maioria. frequentemente encontrado ou amplamente aceito. Eu não sabia como encaixar-me com os garotos populares. Sentava nas mesas de almoço deles, ouvia a conversa sobre festas e tentava o meu melhor para sempre sorrir, mas a verdade era que não tínhamos nada em comum. Eles vinham de famílias que tinham um monte de dinheiro e viviam vidas de luxo. Eu vim de uma cabana na floresta. Todos eles praticavam esportes e tinham outras atividades pós-escolares. Eu tinha a minha mãe e não era autorizado a juntar-me a qualquer clube fora da floresta. Eu só tinha o violino e mamãe me ensinava as lições. Nenhuns desses caras tocavam qualquer instrumento e mesmo que as meninas dissessem que era sexy eu tocar violino, elas nunca entravam em conversas profundas sobre os melhores violinistas ou a ideia interessante de misturar sons clássicos com música moderna. A maioria deles falava sobre sexo, bebida e a próxima festa. Ensino médio me incomodava. Desde que cheguei aqui fui rotulado e jogado em uma caixa devido a características que não eram minhas. Eu fui colocado em um grupo que não tinha vontade de me conhecer, por que estavam apenas preocupados com o exterior. No lado de fora eu me encaixo. No interior, eu era uma anomalia. Era um pouco perturbador como eles dormiam e transavam uns com os outros como se fosse normal. Stacy namorava Brian, que ficou com Jessica, que por sua vez, transou com Jason, que chupou a boceta da Victoria, que deu uma chupada em Eric depois que ele dormiu com Stacy, que ainda estava namorando Brian. Era como um grupo enroscado estranho consanguíneo que apenas mantinha entre a família. Além disso, com base na definição de popular, essas pessoas eram exatamente o

oposto do significado. Eles eram maus apenas por ser. Eles eram um grupo coeso em comparação com a maioria da escola. Claro, todos eles se amavam, mas a maioria das pessoas em Mayfair Heights High School odiava as entranhas deles. impopular | adjetivo não é popular: visto ou recebido desfavoravelmente pelo público. Quando olhava do outro lado do refeitório, eu sempre notava Aria e Simon rindo um para o outro. Aria não sorria muitas vezes e seus risos eram poucos e distantes entre si, mas seu amigo tinha um jeito de fazê-los surgir nela. Estive pensando sobre seu sorriso desde a manhã que ficamos na floresta falando sobre oximoros, câncer e outras coisas absurdas. Eu gostei daquela manhã, muito mais do que a conversa sobre sexo, bebidas e festas. Eu gostava da natureza e cervos e Aria Watson - que era uma garota, de alguma forma, feliz e triste ao mesmo tempo. Às vezes nossos olhares fixavam através da sala e não desviávamos. Foi um concurso completo de encarar. Quem vai desviar primeiro? Eu nunca perdi. Ela sempre afastava o olhar. Uma noite, às 3:45 da manhã, meu celular começou a tocar. Eu gemi, estendendo a mão para o outro lado da minha cama para atender. — Alô? — eu disse sonolento, minha voz embargada. — Eu tive uma ideia que quero passar para você. Eu estive pensando em abrir uma loja de discos na cidade e eu quero que você volte para casa e a gerencie comigo. Pode ser a nossa coisa, Levi. Nós podemos ter todas as melhores faixas de vinil e outras coisas. Aposto que há um armazém velho abandonado ou algo assim que poderíamos usar. E... Ela parecia tão distante através do telefone, tão distante da realidade. Eu queria que o som não fosse tão familiar. Mas era o mesmo som e mesmo pensamento que me afastaram de Alabama para Wisconsin. — Mamãe. É quase quatro da manhã.

— Ah. Você estava dormindo? Estou online agora procurando por lojas abandonadas na cidade. Estou até mesmo fazendo logotipos e outras coisas no Photoshop que poderíamos usar para a loja. O que você acha de azul e fúcsia? Precisamos inventar um nome para o lugar. Eu sei que as pessoas da cidade estão sempre falando sobre como eu sou um fracasso e não será um sucesso... — Ninguém na cidade acha isso, mãe. — Eu sei o que essas pessoas pensam, Levi. Eu sempre posso ouvi-los. Ah! E eu gravei uma música nova. Você quer ouvir? Ela não me deu chance de responder que eu tinha escola na manhã seguinte. Ela continuou falando e falando. Coloquei o telefone no meu estômago depois de uma hora ouvindo as conversas sem sentido dela e fechei os olhos. Aposto que ela não estava tomando o remédio mais. Seu telefonema tarde da noite era exatamente o que eu precisava para lembrar por que eu decidi vir ficar com o papai, em vez de com ela esse ano. Eu precisava de uma folga dela.

Capítulo Treze Aria Eu faltei à aula por uma semana porque estava passando mal pela manhã e me sentindo como um lixo completo. Depois de finalmente voltar para a escola na quintafeira, eu pedi ao meu professor de história, o Sr. Fields, para ir ao banheiro depois de passar trinta minutos dele falando sobre coisas chatas que aconteceram há centenas de anos. Eu estava com muita azia por causa do taco do almoço. Parecia que alguém estava estendendo a mão dentro de mim e acendendo minhas entranhas com fogo enquanto faziam uma chave de braço no meu coração. Eu sabia que se ficasse na sala de aula, tendo que ouvir a voz monótona do Sr. Fields falar sobre Napoleão por mais um minuto eu provavelmente desmaiaria de tédio. Andando pelos corredores, eu vi que meu armário estava coberto de novo com alguma coisa. Desta vez eram panfletos de gravidez e preservativos. Eu tinha que admitir que era um grande aviso, mas só um pouquinho atrasado. — Eu odeio a minha vida. — eu murmurei para mim mesma, tirando o lixo. — Ensino médio é uma merda. Eu me virei para ver Abigail de pé há centímetros de mim. Todo mundo na escola a chamava de Abigail Esquisita porque ela era praticamente um pária social. Eu sabia que também era um pária, mas no quesito de esquisitos, Abigail estava no topo da fila. Usava wind pants[12] todo dia com uma camiseta velha que tinha uma foto de Pink Floyd nela. Seus pés estavam sempre em um par de saltos altos que pareciam muito dolorosos. Sempre que ela caminhava, era apressadamente, o que a levava a fazer um som sibilante quando as pernas da sua wind pants esfregavam uma na outra. Seus saltos altos clicavam e a calça assobiava. Se ela não estava acelerada pelos corredores, com pressa para chegar a sua próxima aula, estava citando alguma pessoa aleatória. Suas sobrancelhas e cabelo eram louros esbranquiçados, e ela era muito pálida também. Ela não acreditava em espaço pessoal, e eu sabia disso em primeira mão, porque no momento ela estava me ajudando a tirar os preservativos do meu armário, praticamente respirando no meu pescoço. — Sim. — eu concordei. — É sim.

— Não os deixe chegar até você, no entanto. Não é uma coisa para sempre. ‘Debruce-se sobre a beleza da vida. Observe as estrelas e veja-se correndo com elas’. Você sabe quem disse isso? Marcus Aurélius. — Eu não sei quem é. — Google, Aria. A internet está agitando as pessoas apenas dizendo-lhes coisas que você não sabia. Não absorva tudo, no entanto. Um monte é apenas propaganda do governo tentando te assustar pra caralho para que consigam roubar o seu dinheiro. — e assim ela saiu, assobiando para longe. Eu não sabia que a Abigail Esquisita xingava. Tardes de quinta-feira eram a minha nova coisa menos favorita. Mamãe queria saber que eu estava bem, mas ela não tinha certeza de como me fazer abrir para ela. Eu não estava planejando me abrir com ela, talvez isso fosse parte do problema. Uma vez que eu não conversaria com ela sobre o incidente que levou à gravidez, ela acreditava que eu deveria pelo menos falar com alguém. Papai estava mais na tática parental de fingir-que-Aria-não-existe. Eu desejava que a mamãe fosse um pouco mais como ele. O nome do Dr. Ward me fazia lembrar de uma enfermaria de asilo. Três das paredes do seu consultório eram branco brilhante e a última, azul bebê. Seu mobiliário era todo feito de madeira escura polida, exceto o sofá azul contra uma das paredes, a tigela de doces azul cheia de jujuba e as canetas azuis ficavam perfeitamente alinhadas na sua mesa. Aposto que ele aprendeu o uso das cores em psicologia 101. Azul era para ser uma cor calmante que muitas vezes era usada para fazer as pessoas se sentirem em paz e confortável. Pessoalmente, ele me lembrava o período azul de Picasso, que foi um período bastante deprimente para ele, embora algumas das suas maiores obras-primas tenham saído daquele lugar escuro. Outro oximoro: Brilhantismo do Período Azul de Picasso. — O que está em sua mente, Aria? — perguntou o Dr. Ward em seu tom de voz muito terapeuta. Ele era velho, mas de alguma forma ainda jovem, provavelmente nos seus trinta anos. Idade suficiente para ser um terapeuta, mas jovem o suficiente para ainda parecer indigno. Eu não tenho a menor ideia por que a mamãe o havia escolhido para tentar invadir o meu cérebro. Dr. Ward não falava muito, mas quando fazia, ele

estava sempre me perguntando sobre meus pensamentos, meus sentimentos e meu estado atual. — Picasso. — eu disse, alcançando as jujubas na sua tigela azul. — Picasso? — ele perguntou, um embaraço na sua voz. — Durante 1901, Picasso passou por uma fase azul. Ele só usava azul e alguns tons de verde em suas pinturas. Diz-se que durante esses tempos ele era altamente deprimido, mas ele também fez alguns dos seus melhores trabalhos durante esse período. The Old Guitarist, por exemplo, é uma das minhas pinturas favoritas de todas. É estranho que durante os tempos mais sombrios da sua vida, ele criou algumas das suas melhores obras-primas. — Hmm. — ele cantarolou, colocando uma das muitas canetas azuis nos seus lábios. — E o que fez você pensar em Picasso agora? — O seu consultório. — Meu consultório? — Sim. É deprimente e abafado. — Você acha que é realmente por causa da sala ou por causa do seu estado de espírito atual? Eu não respondi; Eu não tinha certeza qual era a resposta. Talvez eu estivesse passando pelo meu próprio período azul. — Você se sente deprimida, Aria? Eu não respondi. Joguei o papel de adolescente angustiada. Ele não pareceu se importar. — Como foi o encontro? — mamãe me perguntou, afastando do consultório do Dr. Ward. — Ótimo. — eu menti. — Ele é realmente ótimo. — Bom. — ela sorriu, acenando com a cabeça. — Bom, bom, bom. Estou feliz por você ter alguém para conversar. Sim, totalmente.

Após o meu compromisso na terapia, mamãe tinha que voltar para o hospital e meu pai estava trabalhando até tarde, de modo que era minha responsabilidade pegar Grace e KitKat na casa do nosso vizinho e certificar de que tivessem jantar. Cachorrosquentes e batatas fritas cozidos eram tão sofisticados quanto eu estava ficando hoje à noite e as duas não pareceram se importar nem um pouco. Não havia nada que as minhas duas irmãs amavam mais do que batatas fritas e qualquer que fosse a merda que um cachorro-quente era feito. Nós nos sentamos à mesa comendo juntas, e Grace ficou olhando para o meu estômago. — Você realmente está ficando gorda. — disse ela, enchendo a boca com cachorro-quente, que estava se afogando no ketchup. — Cala a boca, Grace. — Você devia pensar em fazer uma dieta. Caso contrário, você vai ter um bebê de noventa quilos. O bebê da Sra. Thompson era muito gordo. — Ninguém se preocupa com o bebê da Sra. Thompson. — Isso não é legal. — ela gritou, ketchup pousou na sua camisa colorida. As roupas de Grace sempre pareciam que ela tinha caminhado através de uma fábrica de Skittles[13] e nadado no arco-íris. Das pulseiras coloridas para as meias de arco-íris, você pensaria que ela seria tão doce e brilhante quanto sua roupa. Não muito. — Você realmente não é legal mais. — Bem, chamar sua irmã de gorda não é tão legal também. — Você está tão mal-humorada. Eu só estou cansada. — Apenas coma, pestinha. — Então, o seu bebê tem um pai? — Grace perguntou, aparentemente, sem disposição para me dar uma pausa. — Grace... — o tom da minha voz tinha uma irritação nela, avisando-a para não continuar. — Ele provavelmente tem o direito de saber que sua namorada está grávida dele. Ela tinha essa ideia maluca que só as pessoas casadas ​ou, pelo menos, namorando poderiam engravidar. Se apenas isso fosse verdade. Eu me recusei a responder a sua declaração. Em vez disso, eu piquei e esfaqueei a comida no meu

prato. — Eu aposto que seu bebê vai nascer e seu rosto vai parecer com uma bunda. E vai ser desse jeito. — ela fez a cara mais feia conhecida pela humanidade, e eu não pude deixar de rir. Eu também chorei. Montanha-russa emocional louca.

[12] [13] Marca de doces com sabor de frutas. Cada doce possui uma cor diferente.

Capítulo Catorze Levi A maior parte do meu amor pela música veio da minha mãe, mas o papai foi quem me apresentou a habilidade intensa e bela do air guitar e playback quando eu tinha sete anos. Cada noite que eu me sentava na casa da árvore, mais e mais as lembranças do homem que ele costumava ser voltava para mim. Eu nunca esquecerei a primeira canção que ele me ensinou sobre o air guitar. Era uma das minhas melhores memórias com ele. Papai e eu nos sentamos no interior da casa da árvore, ele com sua caixa de cerveja, eu com minha caixa de root beer. Ele estava com um cigarro pendurado entre os lábios quando esmagou sua primeira lata de cerveja vazia e jogou-a para o lado. Eu segui o seu movimento com o meu root beer. — Eu vou te ensinar algo que vai fazer você arrumar uma namorada algum dia, Lee. É do mesmo jeito que eu consegui a sua mãe. — ele disse, acendendo o cigarro. — A arte de fingir. Eu não sabia o que ele queria dizer, mas ele virou para a esquerda, onde estava o aparelho de som, em cima de um case velho de guitarra. — Você já tocou air guitar? Ou você fez playback? — perguntou. — Não. Depois de algumas baforadas de cigarro, ele acenou com a cabeça. — Tudo certo. Você tem que observar com atenção, porque essa merda é séria e exige dedicação. Você acha que pode dedicar-se a aprender este instrumento? Eu ri e concordei com a cabeça enquanto observava seus dedos começarem a afinar uma guitarra invisível. Ele ligou o aparelho de som e quando a música encheu o espaço, seus dedos se moveram contra a guitarra e os lábios imitaram as palavras, mas ele não chegou a emitir qualquer som. ‘More Than A Feeling’ do Boston cresceu no cômodo enquanto ele tocava e ‘cantava’ cada nota, balançando a cabeça junto o tempo todo. — Uau. — murmurei quando a música terminou.

Ele sorriu. — Sim. Tenho uma coisa para você, um segundo. — ele se virou, abriu o case da guitarra e levantou uma guitarra invisível. — Meu velho me deu isso quando eu era uma criança e agora estou passando-a para você. Tome conta disso. Eu olhei para as minhas mãos vazias quando ele a colocou nelas. Eu embalei como se estivesse segurando o mundo nos meus dedos. — Uau. — murmurei novamente. — Tudo certo. Você está pronto? Eu vou te ensinar a música que eu acabei de tocar. — ele ligou o aparelho de som mais uma vez. Passamos a noite rindo, bebendo e aprendendo a ser artistas falsos profissionais. — O que você vai fazer hoje? — papai perguntou quarta-feira. Eu tive que me certificar de que ele estava falando comigo, apesar de sermos os únicos na casa. Era realmente um milagre que estivéssemos no mesmo cômodo. Na maioria das vezes, quando ele me via, ele se esquivava para a direção oposta. — Eu? — Você é estúpido? Com quem diabos mais eu poderia estar falando? — ele resmungou enquanto abria a geladeira. Eu ficava acordado até tarde todas as noites desde que descobri sobre seu câncer, pesquisando e aprendendo mais e mais sobre a doença. Eu também decidi que culparia o câncer pela personalidade mal-humorada do meu pai - desse jeito eu não me sentiria como se fosse a única razão do seu mau humor. — Eu tenho escola. Ele resmungou um pouco mais, parecendo em conflito. — Você acha que pode faltar? O médico disse que eu não deveria dirigir depois da quimioterapia e eu não tenho ninguém para me levar. Lance normalmente me leva, mas ele está fora em algum festival de música hippie ou alguma merda. Foi a primeira vez desde que eu soube que ele estava doente que ele tinha realmente admitido ter uma doença. Por alguma razão isso ficou mais real para mim. Ele realmente estava doente. Ele realmente estava lutando pela sua vida. — Eu posso fazer isso. — eu balancei a cabeça. Eu farei qualquer coisa. Ele levantou uma sobrancelha e derramou um copo de suco de laranja. Ele deslizou-o para mim. Agradeci-lhe. — Você sabe dirigir com câmbio manual? — perguntou. — Claro.

Claro que eu não sabia dirigir com câmbio manual. Tia Denise tinha me ajudado a conseguir minha carteira de motorista no Alabama, mas ela não tinha me ensinado a dirigir com marcha manual. A cada segundo papai estava xingando conforme eu nos empurrava para trás e para frente. — Jesus, Levi! Eu pensei que você soubesse dirigir com câmbio manual? Troque a marcha. — ele ordenou. — Eu não sei. — O quê? — Eu só não queria que você viesse sozinho. — eu disse. Solavanco. Parar no sinal. Dez centímetros depois do sinal. Parada. Solavanco. Parada. Merdanósvamosmorreeerrr. — Bem, isso é estúpido. Você devia saber como conduzir. Que diabo sua mãe tem lhe ensinando lá embaixo? — ele passou a mão no queixo. — Eu acho que eu vou ter que mostrar a você, uma vez que você não consegue fazer nenhuma merda direito. Entretanto, apenas tente não me matar antes do câncer. — Eu gostaria disso. — eu disse, acenando com a cabeça. — Eu gostaria que você me ensinasse. — ele nunca admitiu isso, mas achei que ele meio que gostou da ideia também. Uma enfermeira sentou o meu pai em uma sala aberta e enganchou-o em uma máquina que pingava líquidos em seu corpo. Ele gritou com elas por perderem as veias dele, chamando-as de idiotas, mas as enfermeiras permaneceram imperturbáveis com a sua atitude. Sentei-me ao lado dele em uma cadeira, querendo saber se estava funcionando, se esses produtos químicos iam salvá-lo. Então lembrei-me que a mãe da Aria tinha dito sobre o estágio quatro do câncer de pulmão e eu tentei o meu melhor para cessar as minhas esperanças. Eu gostei de como a Sra. Watson foi honesta comigo, mas reconfortante ao mesmo tempo. Havia uma pequena mesa com biscoitos e caixas de suco da qual me servi. Meu pai me repreendeu, dizendo-me que os lanches eram apenas para as pessoas doentes, mas Maggie, a enfermeira, me disse que a família era bem-vinda para os deleites também. Cerca de trinta minutos depois, uma menina da escola entrou com sua mãe. Achei que ela estivesse na mesma situação que eu, ajudando sua mãe, mas

quando ela foi aquela que se sentou na cadeira e foi ligada nas máquinas, eu percebi que eu parecia nada com ela. Sua pele era pálida, fantasmagórica, mas ela não parecia triste. Nem mesmo com medo. O mesmo não podia ser dito sobre sua mãe. Sua mãe estava apavorada, enquanto segurava a mão da filha. — Está tudo bem, mãe. — disse a garota, um grande sorriso nos lábios. — Vai melhorar depois disso. Ela estava consolando a mãe enquanto estava vivendo alguns dos dias mais sombrios da sua vida. Tentei não prestar atenção nela, mas de vez em quando eu dava uma olhada. — Onde você estava ontem? — Aria perguntou no ponto de ônibus. Simon era normalmente o primeiro na esquina, mas ele não estava em qualquer lugar para ser visto ainda. Eu estava certo de que ele estaria aqui em breve. Eu sorri para Aria e segurei as alças da minha mochila. — Você sente tanta falta de mim assim? — Não. — ela bufou, chutando seu sapato em um movimento circular. — Nós deveríamos trabalhar no nosso projeto da aula de arte ontem e tentar descobrir o que faríamos, só isso. Agora estamos um dia atrás de todos os outros por sua causa. — Calma aí, senhorita. Eu não fiquei por aí culpando-a quando você faltou a escola por uma semana. — Aquilo foi diferente. — ela sussurrou, seu sapato em movimento chegando a um impasse. — Eu tive gripe, e eu lhe enviei uma mensagem com o nome dos livros sobre arte abstrata para checar na biblioteca. — Não chamava enjoo matinal? — perguntei. — Eu não vou responder isso. — ela rebateu, esfregando os dedos nas sobrancelhas. Ela não estava usando nenhuma maquiagem esta manhã e parecia perfeita. Se eu não fosse mais esperto, eu poderia achar que ela era de faz de conta. — Por que não? — ela mantinha tanto para si mesma, não parecia justo. Perguntei-me muitas vezes sobre quem era o pai do bebê, mas não estava na posição de perguntar. Se ela quisesse que eu soubesse, teria me contado. Por outro lado, talvez ela não soubesse que eu estava disponível para ouvir. — Você pode falar

comigo, você sabe... sobre a gravidez, se você precisar de alguém para conversar. Eu nem sei se você já falou sobre isso, mas eu quero que você saiba que se você precisar de uma pessoa para conversar, meus ouvidos estão disponíveis. Seu nariz enrugou e ela deu um tapa na testa quando o ônibus escolar parou. — Nossa, Levi! É quase sete da manhã e você já está me irritando. Isso não é um bom presságio para como o nosso dia juntos vai ser. Meus lábios se transformaram em um sorriso maior. Ela era tão bonita quando ela era chata. — É muito cedo para falar do bebê? — Muito, muito, muito cedo. Uma vida muito cedo. Como se morrêssemos, voltássemos à vida, morrêssemos, voltássemos à vida novamente, morrêssemos de novo e voltássemos novamente, ainda seria muito cedo para falar sobre isso. Você entende? — Completamente. — Bom. — Então... vamos retomar a conversa sobre bebê na hora do almoço hoje? — Por que você é tão louco? — Porque minha mãe me criou assim. — eu respondi, permitindo que ela subisse no ônibus antes de mim. — O que me leva à minha próxima pergunta: eu posso almoçar com você e Simon? Quer dizer, eu sei que nós normalmente temos concursos de encaradas pesados na cantina, mas eu acho que nós podemos continuar nossos concursos de encarada na mesma mesa. — Você deixa realmente difícil para mim, não consigo ficar irritada com você quando você usa esse seu sotaque ridículo. — ela sorriu, brincando. Eu gostava desse lado dela. — Eu posso falar mais parecido com você, se quiser. — eu mudei a minha voz para o meu melhor som do Centro-oeste. — Que tal salsicha empanada no palito e então uma linguiça e tomar um gole de água da fonte? — OhmeuDeus, uma salsicha empanada no palito soa tão bom agora. — eu juro que ela realmente babou com o pensamento. — Com molho ranch[14]. Eu não tinha certeza se isso era uma coisa de grávida ou apenas uma coisa estranha de Wisconsin, mas havia uma chance significativa de que fosse ambos.

Quando ela disse que eu poderia almoçar com eles, fiz uma dança, que ela me disse para não fazer novamente. Então é claro que eu fiz de novo antes de me sentar ao lado dela. — O que você está fazendo? — ela perguntou. — Uma vez que Simon não está aqui, eu acho que é um convite aberto para que eu me sente ao seu lado no ônibus. — Você está forçando hoje, Levi. Você quer sentar comigo no almoço e no ônibus? Eu balancei a cabeça. — Mas é também para que possamos trabalhar em nosso projeto juntos. Achei que se vamos fazer este projeto o melhor que pudermos, precisamos começar a colocá-la em contato com boa música. — eu procurei na minha mochila e peguei o meu leitor de CD, em seguida, entreguei-lhe um dos meus fones de ouvido. — O que é isso? — ela disse, uma expressão de espanto nos olhos dela. — Um leitor de CD? — eu respondi, confuso com a confusão dela. — As pessoas não usam leitores de CD mais, Levi. Isso é estranho. — Hum, talvez as pessoas normais não usem, mas sabendo que eu sou claramente um hipster total, eu acho que é seguro dizer que esta é a coisa mais moderna a fazer. Os velhos hipsters ouviam discos vintage, que, vamos encarar, soam incríveis pessoalmente, mas eles são um incômodo para arrastar pela cidade. Um leitor de CD da velha escola ainda sustenta o legal, moderno sentimento autêntico, e pesa um pouco menos do que um toca-discos. Assim, principalmente, o que eu estou dizendo é que é uma honra para você experimentar a magia que está prestes a acontecer no seu ouvido. Vai ser como uma explosão de cor. — Você é sempre tão despertado na parte da manhã? — ela brincou. — Todos os dias. Ela colocou o fone no seu ouvido e eu coloquei o outro no meu. Eu liguei. — Que CD é esse? — ela perguntou. — É uma mistura que fiz na casa do meu tio no fim de semana. Ele tem todos os meus favoritos. A primeira canção é ‘Open Rhythms’ de Bodies Of Water. — eu dobrei

meus joelhos, colocando as solas dos meus sapatos no banco na minha frente. Quando a música começou a tocar, eu relaxei no assento, levantei meus dedos e toquei minha air guitar intensamente, fazendo-a rir. Ela não disse mais nada, então eu tive que observar as pistas sutis que uma pessoa sempre dava quando aprecia a boa música. Seu pé começou a bater. Seu corpo começou a balançar. Ela fechou os olhos com um sorriso. Ela perdeu-se nela e eu não poderia ter ficado mais feliz. Após o primeiro horário de cálculo, eu andei até Aria e tamborilei os dedos contra sua mesa. — Eu acho legal você rir das piadas terríveis do Sr. Jones. — eu sorri. — O que você está falando? As piadas do Sr. Jones são clássicas. E eu temo ser vista conversando com qualquer um que não pode apreciar uma boa piada matemática nerd. Eu levantei uma sobrancelha. — Então é isso que é para você? Trocadilhos ruins de matemática? Sério? Ela assentiu com a cabeça. — Nem todo mundo pode ser tão frio como Sr. Jones. — ela disse, deslizando seus livros na sua mochila quando ela se levantou da mesa. Eu sempre a acompanhava até o seu armário depois da aula e por um tempo ela reclamou, mas depois de algum tempo, eu acho que ela meio que gostava. Limpando a garganta, eu estufei o peito. — Bem, eu vou simplesmente colocar assim: eu não estou tentando ser obtuso, mas você é uma menina aguda. — OhmeuDeus, pare, Levi, isso é terrível. — ela riu. — Eu não sei se você está ao meu alcance, mas eu com certeza gostaria de levála de volta para o meu domínio. — eu segui minha primeira piada ruim de matemática com uma ainda pior, fazendo-a rir ainda mais. — Isso foi horrível, simplesmente pare. Vá embora. Segurei as alças da minha mochila com um grande sorriso. Eu comecei a andar para trás, mantendo meus olhos sobre ela. — Tudo bem, eu vou. Mas eu quero que

você saiba que essa coisa entre nós é poderosa. Não há nenhuma palavra para expressar esta nova ligação descoberta que temos, Aria. É como divisão por zero... você não pode definir. Eu aguentei merda de algumas pessoas por não comer na mesa popular durante a hora do almoço, mas eu não me importei, porque Aria sorriu para mim quando eu caminhei em direção a sua mesa. — Taumaturgo. — ela disse, desembalando seu almoço. — Ah uau, obrigado. Eu acho que você é muito bonita também, Aria. — eu respondi, sentando na frente dela. — O quê?! — suas bochechas coraram de novo. Sempre que ela ficava nervosa, ela colocava o dedo entre os dentes e quebrava o contato visual. — Desculpe, eu sempre supus que quando as meninas bonitas usam palavras grandes, é um termo de flerte. — Bem, não é. — Continue pensando assim. Tudo bem, diga a palavra novamente. — Taumaturgo. — ela repetiu. — Eu fiz o download daquele aplicativo de dicionário no meu telefone ontem à noite e essa era a palavra do dia. — E o significado? — Aquele que faz maravilhas ou milagres. Um mágico. — Tudo bem, três coisas a dizer sobre este assunto. Um, que palavra fantástica. Dois, que definição impressionante. Três, é um pouco sexy que você tenha um aplicativo de dicionário. Ela corou um pouco mais e eu adorei. — De qualquer forma, todo dia eu recebo uma nova palavra. — Deixe-me ver isso. — ela me deu o telefone dela. Eu rolei por ele e comecei a digitar. — O que você está fazendo? — Adicionando o meu número para que você me envie por mensagem a nova palavra se for algo brilhante, mas não estivermos juntos. E agora eu estou

memorizando o seu número para que eu possa te mandar mensagem de todos os meus pensamentos e conhecimentos brilhantes sobre o mundo como um todo. — Ah, eu anseio por uma explicação completa e detalhada de por que a galinha atravessou a estrada. — antes que eu pudesse responder ao seu comentário sarcástico, Simon veio andando até a mesa como um zumbi e se sentou. — Você está bem, Simon? — perguntei. Aria lhe dirigiu a mesma expressão preocupada que eu. — Eu perdi o primeiro horário. — ele murmurou. A mão de Aria pousou sobre seu coração. — Ah não! Uma risada passou por mim quando dei uma mordida em algo que era viscoso e meio cinza; as senhoras do almoço estavam tentando que passassem como peru e molho, mas não estavam me enganando. Era lavagem de porco. — Então? Eu perdi um dia inteiro. Aria perdeu semanas. — Eu estava gripada! — ela argumentou. Eu dei-lhe um meio sorriso. Seus lábios se transformaram. — Não... você não entende. Eu perdi o primeiro horário. — Simon disse, batendo a cabeça contra as palmas das suas mãos. — Simon nunca, nunca, nunca perdeu um dia de escola. Nem mesmo uma aula. Ele tem um histórico perfeito. — explicou Aria. — Tinha. — ele corrigiu. — Tinha. Tinha. Tinha! Seu rosto estava ficando vermelho com irritação e mesmo que eu devesse saber que não era o momento certo para perguntar a ele, eu realmente precisava saber exatamente por que ele atrasou. — Você dormiu demais ou algo assim? — O que? Não. Nunca. Eu coloco quatro despertadores diferentes. Mas quando eu estava na cozinha esta manhã tive uma contração na minha mão ao derramar meu suco de laranja e todo o recipiente caiu, derramando em todo lugar. — Ah, não! — Aria disse, a mão voando sobre sua boca. Não entendi. Eles estavam agindo como se Simon estivesse anunciando que ele tinha assassinado alguém a sangue frio. — Sim. — Simon balançou a cabeça, os olhos desviando de qualquer forma de

contato visual. — Foi em todos os lugares. Meu pai já tinha saído para o trabalho e minha mãe estava fora em uma consulta médica. — Você deveria ter me ligado. — Aria repreendeu seu melhor amigo. Por... derramar suco de laranja...? — Eu não pude. Eu estava esfregando. — Não é realmente grande coisa. Não deixe que chegue até você. — eu disse, bebendo em um gole meu leite com chocolate. — Não é grande coisa? — ele argumentou, erguendo a voz uma oitava. — Não é grande coisa?! Eu tinha um registro perfeito! Era perfeito! E agora... — sua cabeça caiu na mesa e ele gemeu um pouco mais. — Agora eu sou apenas imperfeito. Eu estava tendo dificuldade em saber se Simon estava falando sério ou não. Eu não poderia imaginar ter um colapso completo por faltar uma aula. Poxa, na verdade ficaria em êxtase por perder o primeiro horário de cálculo. Enquanto eu continuei a comer o meu almoço misterioso, Aria confortou seu amigo angustiado, eu olhei para cima para ver a mesma garota que eu tinha visto no dia anterior no hospital. Seu rosto estava ainda mais pálido do que antes, mas ela estava se movendo tão rápido como nunca com a bandeja na mão. — Ei, vocês? Quem é essa garota? — perguntei, balançando a cabeça na direção dela. — Você quer dizer Abigail Esquisita? — Simon disse. Eu arqueei uma sobrancelha. — Hein? — Abigail Esquisita. Ela é a garota mais estranha da escola. — disse ele, batendo os dedos contra a mesa. — Uma aberração total. Eu me perguntei se ele sabia como era estranho ele chamá-la de aberração quando metade da escola o chamou da mesma coisa. Eu estendi a minha mão para cima, na direção da Abigail e acenei. — Ei, Abigail. — Caramba, Levi! O que você está fazendo?! — Simon assobiou. — Você não pode chamá-la para cá! Isso é suicídio social e meu status social já está em perigo. — Ela parece uma garota legal. — eu disse, acenando para ela.

Quando ela se aproximou de nós com sua bandeja nas mãos, ela bateu seus saltos altos rapidamente contra o chão. — O que é? Você estava me chamando? Eu pensei que você estava me chamando para cá. — Eu estava. — eu disse. — Eu sou Levi. Eu só queria ver se você queria almoçar comigo e com os meus amigos. Seus olhos correram para trás e para frente, entre Aria e Simon. — Você quer que eu coma com vocês? Eles nunca quiseram que eu comesse com eles antes e eu os conheço desde a sexta série. Ela era muito para frente, e eu meio que gostei disso nela. — Sim, mas eu tenho certeza que eles mudaram de ideia hoje, certo, gente? — Aria e Simon permaneceram em silêncio. Eu cutuquei meu pé na Aria debaixo da mesa. — Certo, pessoal? Aria levantou uma sobrancelha para mim, mas acenou com a cabeça. — Certo. Sim, sente-se, Abigail-Esq... Os olhos de Abigail mudaram para o grande relógio na lanchonete e depois para o relógio dela. — Eu só tenho três minutos para ficar com vocês. — Três minutos parece muito bom. — eu disse. Ela colocou a bandeja ao meu lado e nós quatro sentamos em silêncio estranho, apenas olhando para trás e para frente, um para o outro. — Você usou o Google, Aria? — Abigail perguntou. — Google para que? — Aria respondeu. — Marcus Aurelius. Lembra-se? Lembra-se que eu disse a você para procurar no Google? — Ah... bem... eu não tive tempo ainda. — Durante o Renascimento, as pessoas aprendiam línguas diferentes, instrumentos, pintura, habilidades em construção e também lutavam contra pragas mortais. O fato de que a nossa geração agora mal pode procurar citações é bastante desanimador porque não estamos realmente fazendo muito com as nossas vidas. — nós três sentados calmamente, observando Abigail continuar e continuar. Ela olhou para o relógio. — Eu só tenho um minuto sobrando para sentar com vocês. Bem, o inferno. Eu gostava da coragem dela.

— Qual citação de Marcus? — perguntei. O rosto de Abigail levantou para mim e ela me deu um pequeno sorriso. — O objetivo da vida não é estar no lado da maioria, mas escapar de encontrarse nas fileiras do insano. — ela citou. Ela olhou nos meus olhos como se ela estivesse tentando me dizer: Eu sei o seu segredo. Eu me mexi e dei-lhe um pequeno sorriso. — O que fez você citar esse? — Não sei. — ela se levantou da mesa e pegou sua bandeja. — Apenas citei. Tenho que ir, o tempo não espera por ninguém, você sabe. Ela começou, mas antes de sair, ela se virou para Simon. — Eu gosto do seu suéter, Simon. Vinho faz seus olhos aparecerem. — suas bochechas coraram e ela estava fora, correndo para a sua próxima aventura. — No Sul, vocês não acreditam em suicídio social? Porque sério... você está empurrando nós todos para a terra dos brinquedos quebrados. — Simon argumentou, dando-me um olhar duro. — Eu acho que ela gosta de você. — eu disse para o ruivo em pânico. Ele abriu a boca para gritar na minha direção, mas ele fechou-a rapidamente. Seus pensamentos pareciam estar correndo por sua cabeça, suas expressões faciais mostrando sua confusão sobre o que eu tinha dito. Com pressa, ele se levantou da mesa. — Eu vou pegar o almoço. Aria sentou perto de mim, estreitando os olhos na minha direção. — Qual é o seu negócio? O que foi aquilo? Eu não respondi, porque eu não tinha muita certeza. — Duas palavras para você, cara. Suicídio. Social. — Connor estava discursando para mim no vestiário quando nós mudamos para a aula do sexto período no ginásio. — Você não pode continuar almoçando com aqueles anormais se algum dia formos convidados para as melhores festas. Como é que eu acabei tendo tantas aulas com esse cara? Eu já tinha sido convidado para as “melhores festas”, eu simplesmente não tinha encontrado qualquer razão para ir. Eu preferia ficar em casa e ser ignorado pelo meu pai que não me queria. — Eu estou dizendo a você, se nós vamos tentar fazer com que as gatinhas miem na nossa direção, nós precisamos evitar certos tabus. Isso inclui a Abigail Esquisita. Ela

é a pior coisa com quem uma pessoa poderia ser vista. — Ela não é uma coisa, Connor. Ela é uma pessoa. — eu disse, puxando minha camisa de ginástica sobre a minha cabeça. — Eu só estou dizendo, cara. Entendo que isso é provavelmente aquela coisa de hospitalidade do Sul, mas recue um pouco. Simon entrou no vestiário e abriu seu armário. Ele nunca realmente falava na aula de ginástica, mas eu poderia dizer que era a sua coisa menos favorita, vendo como metade dos caras o escolhiam e ele sempre era escolhido por último para as equipes. Connor começou a falar mais alguma besteira de uma forma doentia, mas eu estava ficando muito bom em não sintonizá-lo. Eu estaria melhor sentado na frente da aula de cálculo do Sr. Jones sendo cuspido. Durante a aula nós jogamos hóquei em campo do lado de fora, no campo de futebol. Sr. Jenson era o professor de ginástica mais gordo em Mayfair Heights e ele fazia questão de sempre menosprezar os alunos que não eram os melhores em esportes. Felizmente eu não era muito ruim, mas a maneira como ele rebaixava alguns dos outros era nojento. Eu me perguntava se ele e Connor eram parentes. — Alabama. — Sr. Jenson me chamou. O apelido tinha grudado mais do que eu queria. — Você é o capitão. Jason, você é capitão, também. — Claro que sim! — disse Connor, caminhando na direção da minha equipe como se eu o tivesse escolhido. — Eu escolho Simon. — eu disse, fazendo Connor congelar. — O quê? — ele e Simon falaram simultaneamente. — Eu disse Simon. Você, venha. Todo mundo ao nosso redor começou a rir como se eu estivesse brincando, mas o pequeno sorriso que apareceu no rosto de Simon quando seu nome não foi chamado por último valeu a pena, mesmo se nós levássemos uma surra naquele dia.

[14] Tipo de molho de salada.

Capítulo Quinze Aria Outubro chegou trazendo um tempo chuvoso, céu nublado e uma barriga crescente. Eu estava grávida de 15 semanas e começava a aparecer também. Para o jantar de domingo, Mike convidou James e Nadine em uma tentativa de evitar que o pai se enfurecesse e revirasse os olhos para mim com decepção. Mamãe fez a refeição favorita de Grace: frango a parmegiana e feijão verde. No passado, sempre que James e Nadine vinham, Nadine sempre acabava no meu quarto enquanto os rapazes jogavam videogame. Ela e eu gostávamos de falar sobre o meu trabalho de arte e sua dança. Agora era muito estranho tê-los ambos sentados alguns centímetros de mim. Eu fiz o meu melhor para não olhar do outro lado da mesa, para James, mas eu podia sentir seu olhar em mim. Isso é tão estranho. Por que ele achava que estava tudo bem aparecer na casa da minha família para o jantar? Por que ele achava que estava tudo bem trazer sua namorada com ele? Por que eu me sinto mais sozinha do que nunca, sempre que ele segurava a mão dela? — Então, eu entrei em Duke. — disse James, passando a travessa de pão de alho. — Eu serei oficialmente um Blue Devil[15] no próximo outono. Papai sorriu como se fosse o sucesso do seu próprio filho. — De jeito nenhum. Bolsa integral? James assentiu. Ele jogaria futebol na Duke e eu tinha certeza que Nadine já estava preocupada com o relacionamento de longa distância, sabendo que ela ia para uma faculdade comunitária há cerca de uma hora de distância de Mayfair Heights. Mesmo assim, ela sorriu como se ela estivesse tão orgulhosa quanto papai. Mesmo que James não tivesse conseguido uma bolsa de futebol, eu tinha certeza que ele receberia alguma por outro motivo. Ele era o primeiro da sua classe, ocupava o lugar de orador da turma. Ele e Mike combinavam muito quando se tratava de jogar

futebol - Mike podia ser melhor do que James, na verdade, mas quanto ao estudo, eles não estavam nem perto de ficar no mesmo campo. Não que Mike fosse burro. Ele só não tentava realmente. A verdade era que ele nunca teve que tentar. As pessoas o amavam facilmente. As meninas sempre queriam namorá-lo, enquanto os rapazes queriam uma amizade sólida. Professores deixavam-no passar com notas boas o suficiente para que ele não fosse chutado do time de futebol. Ele nunca foi colocado em uma posição onde tivesse que se colocar diante de muito esforço. Isso aconteceu até sua pontuação ACT[16] não ser tão boa, o que não fez uma dupla muito boa com boletins medíocres, tornando mais difícil que as bolsas de estudo rolassem para ele. Eu poderia dizer que meus pais estavam ficando muito precavidos com a possibilidade de Mike não ganhar uma bolsa completa como eles pensaram que seria. Eles estavam segurando a respiração à espera da chegada de uma carta afirmando que ele pelo menos foi aceito em uma faculdade. — Bem, eu acho que é maravilhoso, James. Você trabalhou duro para isso. Você merece todo o sucesso no seu caminho. — mamãe disse. James sorriu e agradeceu. — Espero que esse estúpido se junte a mim lá. — ele disse, empurrando o ombro do Mike. De vez em quando eu podia sentir o olhar de James em mim, mas eu quase não reagia. — Neste momento, vamos acreditar em nada. — papai bufou. Eu assisti a boca de Mike cerrar em aborrecimento. Eu me perguntava se o papai sabia o quão duro ele tem sido ultimamente. — Ah, as cartas chegarão em breve, tenho certeza disso. Mike é a pessoa mais inteligente que eu conheço, além dessa Srta. Linda aqui. — James inclinou-se para Nadine e beijou sua bochecha. Ele olhou para ela como se ninguém mais no mundo existisse, embora eu tivesse certeza de que existíamos. Fiquei imaginando qual seria a sensação de ser olhada como se eu fosse a única coisa que importava. Após o jantar, Nadine parou no meu quarto enquanto os rapazes jogavam alguns jogos de videogame. Ela se sentou na minha cama, folheando meus cadernos e me dizendo o quão talentosa eu era. Eu queria que ela soubesse o quanto ela não deveria gostar de mim. — Eu ouvi algumas das coisas que as pessoas têm dito sobre você na escola. Eles são uns idiotas. — ela disse, colocando os cadernos no meu colchão. — Para constar, eu acho corajoso o que você está fazendo, ter o bebê.

— Cada dia na escola quando sou chamada de prostituta e vagabunda, eu repenso a decisão. — Não. É corajoso. — seu olhar vacilou no chão. — James e eu passamos pela mesma coisa, mas eu tive um aborto espontâneo. — meus olhos se arregalaram enquanto eu a ouvia falar. — Ele não queria que eu tivesse o bebê de jeito nenhum. Ele disse que tinha planos para o seu futuro, como se eu não tivesse planos também. Depois do aborto, ele chorou, apesar de tudo. Eu ainda não sei se eram lágrimas felizes ou tristes. — Eu não tinha ideia. Ela balançou a cabeça. — Ninguém soube. Foi durante o verão, quando fizemos uma pausa. Mas se eu tivesse a chance, eu teria mantido também. Então foda-se todos na escola com as suas mentes pequenas. Mantenha sua cabeça erguida e continue. Mesmo nos dias ruins, basta lembrar por que você está fazendo isso. — Obrigada, Nadine. — Ah. Ela realmente, realmente não deveria gostar de mim. Ela sorriu e deixou o quarto. James apareceu no meu quarto depois, fechando a porta atrás de si. — Ei. — ele disse. Suas mãos estavam enfiadas no bolso das calças jeans enquanto ele balançava para trás e para frente. — Desculpe por aparecer esta noite, mas Mike ficou implorando para que eu e Nadine viéssemos. Eu não queria que as coisas parecessem estranhas, então achei que deveria vir. — Foi estranho. É estranho. Ele suspirou. — Nós deveríamos conversar. — Sobre? — Seu irmão disse que vai manter o bebê. Isso é verdade? — ele perguntou timidamente. Meu maxilar cerrou e eu afundei as palmas das minhas mãos na lateral do meu colchão. — Você me disse que vocês dois terminaram porque ela estava te tratando terrivelmente. Você disse que vocês dois estavam indo em direções diferentes na vida. — Nós estávamos... — sua cabeça abaixou como um cachorrinho pego destruindo uma almofada.

— Você deixou de fora o fato de que ela estava grávida. — Aria... — Você entrou no meu quarto e me contou como Nadine o tratou como lixo. Você a transformou em um monstro. Você disse que sempre gostou de mim. Você percorreu suas mãos pelo meu cabelo e chamou-o de bonito. Você chamou-me de linda e me tocou, beijando meu pescoço, meu estômago. Então hoje eu descubro que sua namorada não te tratou como uma porcaria. Ela amava você. Ela ama você. — Eu estava em um lugar ruim naquela noite. — ele sussurrou, ainda não olhando para mim. — Você me disse o quanto se importava comigo. Era tudo mentira só para dormir comigo? — Não. É claro que eu me importo com você, Aria. Você é a irmã mais nova do meu melhor amigo. — irmã mais nova. Ai. — Naquela noite, Mike e eu tínhamos bebido. Eu não estou orgulhoso disso ou qualquer coisa e eu nunca quis te machucar. Machucar-me? — James você me fodeu e me engravidou. Então por semanas você fingiu como se você nunca tivesse dormido comigo e voltou com Nadine - você sabe, a outra menina que você fodeu e ficou grávida. Você honestamente tem o esperma mais determinado na história do esperma. Ele não respondeu. Eu odiei que ele tenha culpado o álcool. Eu odiei que a razão para ele realmente ter terminado as coisas com Nadine foi porque ela queria manter o bebê. Eu odiava que ele fosse capaz de andar pela escola sem ninguém saber a verdade do que nós fizemos. Não era justo. — Qual é o negócio com você e Levi Myers? — ele perguntou, do nada. — Vocês dois têm uma coisa ou algo assim? Uma coisa? Eu e Levi? Eu não respondi, porque, que direito ele tinha de me fazer essa pergunta? James e eu estávamos em situações completamente diferentes, embora tenhamos desempenhado um papel igual na gravidez. Ninguém estava vandalizando seu armário

na escola. Ninguém estava chamando-o de prostituta. Ele era muito bem conhecido como um deus na Mayfair Heights. — Sinto muito. — ele murmurou, balançando a cabeça. — Há algo sobre o cara que eu não gosto. Você não devia sair com ele. Eu não quero que você se machuque. Eu ri. É engraçado. — Você pode sair agora, James. E parabéns pela bolsa integral na Duke. Você vai ser um fantástico blue devil. Na segunda-feira, Levi e eu passamos todo o oitavo período discutindo sobre como seria o nosso projeto final. Fiz tudo o que podia para não pensar sobre o jantar de domingo e como James sentiu a necessidade de me dizer com quem eu deveria ou não sair. Mas Levi tornou isso mais fácil. Ele deixou mais fácil não dar qualquer importância ao James. Pelo menos por algumas horas, ele me ajudou a esquecer. — Você realmente deveria verificar esses livros na biblioteca que eu te falei. — eu disse, caminhando para fora da sala de aula no sinal final. — Tudo bem. Quer ir agora? Eu levantei uma sobrancelha para ele. — Eu já vi os livros e eu entendo a importância da arte abstrata e como muda a vida. Eu preciso que você perceba isso para que eu possa começar a traçar as três peças que eu quero criar para o final. Então você pode começar a criar algum tipo de peça de música para juntar. — Então, vamos nos encontrar na biblioteca, em cerca de uma hora? — perguntou. — Levi. — eu suspirei. — Você está fazendo aquela coisa de me incomodar novamente. — não realmente. Eu gosto disso. — Mas se você realmente precisa de mim lá para orientá-lo nisso, eu acho que está tudo bem. — Tudo bem. Então, vamos nos encontrar em uma hora ou algo assim na biblioteca. É um encontro. — É uma reunião. — eu corrigi. — É uma reunião-encontro.

— É uma reunião. — eu disse mais uma vez. — É uma reunião de encontros. — ele repetiu, afastando-se. Mordi o lábio inferior e tentei abrandar o meu batimento cardíaco acelerado. É um encontro. Na viagem de ônibus para casa eu me sentei ao lado do Simon, que ainda estava em um humor terrível. Ele estava assim há semanas, desde que ele derramou o suco. Eu sabia que havia mais na sua história do que ele estava me contando enquanto ele olhava pela janela. — Você pode falar comigo, você sabe. — eu disse. Ele franziu a testa, sem dizer nada. Havia coisas no mundo que eram realmente horríveis e ver o seu melhor amigo triste tem que ser uma das piores. — Simon. — Não funcionou. — ele disse, ainda olhando para fora da janela. Seus dedos bateram contra sua calça jeans uma e outra vez. — Mamãe disse que eles iam parar de tentar. Eu sabia que ele estava falando sobre seus pais tentando a gravidez. Eles tiveram problemas nos últimos anos e Simon sempre se culpou devido a um acidente passado que ele e sua mãe se envolveram. Minhas mãos caíram para o meu estômago, e eu olhei para Simon, sem saber o que dizer. — Eu sinto muito, Si. Ele balançou a cabeça. — Sim. É uma merda, só isso. Eles têm um garoto que acaba sendo uma aberração. Eles merecem coisa melhor e é minha culpa que eles não podem ter outra criança. — Isso não é verdade. Nada disso é culpa sua. Ele não disse mais nada, mas eu sabia que na sua mente estava culpando-se mais e mais a cada dia. Não era justo o modo e quem a vida escolhia para receber o que queria e quem não. Depois de ir para casa e cair no sono durante quase duas horas, acordei assustada e atrasada. Coloquei sandália e fui para a biblioteca. Levi estava sentado no degrau mais alto da biblioteca. Suas mãos levantaram quando ele me viu e ele me deu o maior sorriso. — Você sabe o quão deprimido um cara fica com a sensação de estar sentado nos degraus de uma biblioteca esperando por uma garota que pode não aparecer? E então ela aparece 45 minutos atrasada?

Eu dei-lhe um sorriso tenso. — Desculpe. Ele abaixou as sobrancelhas. — Você está bem? Não. Eu não conseguia parar de pensar em Simon. E uma coisa que eu aprendi sobre estar grávida era que às vezes você sentia vontade de chorar, porque o sol estava brilhando, ou porque o cara da entrega da pizza esqueceu o pão de queijo. Outras vezes você sentia vontade de chorar porque Simba estava tão triste durante O Rei Leão e você só queria abraçar o pequeno filhote de leão. Minhas emoções estavam por todo o lugar e eu não sabia como encontrar o interruptor para desligar. — Sim, vamos mergulhar em alguns livros. — eu disse, dando-lhe um pequeno sorriso. — Algo está errado. — Levi... — Lembre-se que muito pouco é necessário para fazer uma vida feliz. — Marcus Aurelius disse isso. — Você procurou Marcus Aurelius no Google? — perguntei, puxando na parte inferior da minha camisa. — Sim, no meu celular, enquanto esperava por você. Achei que se as pessoas durante o renascimento poderiam tocar instrumentos e lutar contra a peste negra, eu poderia fazer uma pesquisa no Google. — Entendo. Enfim, vamos entrar e acabar logo com isso. — Aria, você precisa de um abraço? — Não, Levi. Eu não preciso de um abraço. — principalmente porque um abraço dele me faria chorar. Ele fechou os olhos com força e colocou os dedos em seus templos. — O que você está fazendo? — Você não pode sentir? Eu estou puxando você para perto de mim para um abraço com minhas habilidades mentais de Jedi. — Bem, não está funcionando. — eu disse. Eu não tinha sido tocada por um garoto desde James durante o verão e eu gostava assim. Depois de tudo o que

aconteceu, eu aprendi que eu gostava do meu espaço. Claro, ninguém percebeu esse fato, porque nenhum cara tentou me tocar. Até o Levi oxímoro vir para a cidade. — Sem ofensa, mas eu realmente não gosto de ser tocada. — Ah. — ele disse, abaixando as mãos e franzindo a testa. — Desculpe. — Não é nada pessoal. Ele subiu os degraus da biblioteca e segurou a porta aberta para mim. — Confie em mim. Isso é pessoal.

[15] Nome dos times da faculdade Duke. [16] Teste de admissão que pode ser aceito no lugar do SAT na maioria das universidades dos EUA.

Capítulo Dezesseis Levi Eu queria saber mais sobre Aria, a garota que quase não sorria, a garota cujos olhos permaneciam tristes quando ela sorria. Ela não era realmente de se abrir para as pessoas. Eu não podia culpá-la, na verdade, vendo como todo mundo a tratava na escola. Eu não me abriria também. — Tudo bem, me diga o que eu estou olhando — eu sussurrei, colocando minha cadeira mais perto dela, mas ainda dando-lhe espaço suficiente para se sentir confortável. — Eu não posso te dizer. Você tem que descobrir por si mesmo. Esse é o principal objetivo da arte, é diferente para todos. Eu balancei a cabeça, olhando para os azuis, amarelos e verdes na minha frente. Para ser honesto, parecia confuso para mim, como se uma criança de dois anos de idade tivesse invadido um quarto cheio de tinta e derramado para todo lado. Mas talvez isso fosse obra de arte para algumas pessoas. Eu simplesmente não conseguia ver. — Há quanto tempo olhamos para ele? — perguntei. — O tempo que precisar para você vê-lo. — ela respondeu. — O que é ‘ele’? — Tudo. Meus olhos começaram a ver pinturas dobradas quando fiquei vesgo com a experiência completa de olhar intensamente. — Tudo bem, bem, sua vez. — eu disse, empurrando o livro na direção dela. — Diga-me o que vê. Ela deu um suspiro de alívio, como se estivesse esperando que eu perguntasse. O laço de cabelo no seu pulso foi removido quando ela fez um rabo de cavalo. Ela afrouxou e espreguiçou antes de cruzar as pernas na cadeira e virar as páginas do livro.

Ela ficou procurando e procurando. Procurando por algo familiar. Algo que ela normalmente só se permitia ver. Quando ela o encontrou, ela sorriu. Não um dos seus meio sorrisos, mas um completo, cheio de dentes, do tipo este-é-meu-porto-seguro. A pintura era intitulada como Grounded Fly e Aria a encarava como se fosse uma parte dela. Seu corpo balançou ligeiramente para trás e para frente e os lábios entreabriram. Eu olhei para os seus lábios muito mais do que deveria, mas a maneira como eles se abriram foi quase o suficiente para que eu quisesse pressionar minha boca na dela. Forcei meu olhar para outro lugar e quando ele encontrou os olhos dela, eu esqueci completamente da ideia de piscar. Eu nunca tinha visto seus olhos sorrirem antes; eles sempre eram tão pesados e perdidos. Nesse momento, conforme ela se tornava uma parte da pintura abstrata, ela libertou-se da realidade, quase esquecendo que eu existia. Ela não falou, mas não precisava. Eu vi o que ela estava vendo quando a observei. A maneira como seu corpo iluminou com cor pela primeira vez desde que nos conhecemos era indescritível. Parte de mim queria perguntar-lhe como ela explorava a arte, mas eu me preocupava que se fizesse qualquer barulho, então, ela poderia pular de volta à realidade e seus olhos ficariam tristes novamente. Mamãe costumava me dizer que a felicidade não durava, portanto, uma pessoa devia segurá-la o maior tempo possível, sem perguntas, sem arrependimentos. Ficamos ali por alguns minutos que pareceram horas de paz. Seus olhos continuaram olhando para baixo enquanto eu a absorvia. Ela era tão linda. Eu não diria as palavras, porque toda vez que eu fiz um elogio, ela estremeceu com desconforto. Mas eu pensava isso muitas vezes. Tão linda. — Você vê isso? — ela sussurrou, seus dedos batendo na sua boca. — Sim. — eu sussurrei de volta. Eu vi. — Aria? — Sim? — Posso mostrar-lhe algo agora?

Eu a levei para a loja de música do Lance, onde fomos recebidos por Daisy que distribuía biscoitos vegan para os clientes. — Ei, Levi! Quem é a amiga? — Essa é a Aria. Ela é minha parceira da aula de arte e música. — eu disse, sorrindo para Aria. Ela sorriu de volta. Sempre que ela sorria, eu sentia como se estivesse vencendo na vida. — Eu estou supondo que você é a parte da arte do projeto? — ela perguntou para Aria. — Sim, e ele é o soul[17]. — Eu sou Daisy, querida. — ela disse, estendendo a mão para Aria. — Lance, venha falar oi para a colega de escola do Levi, Art[18]. Lance pulou o balcão da caixa registadora e correu atrás da sua esposa, em seguida, envolveu as mãos em volta da cintura dela. — O seu nome é realmente Art? — perguntou. — Não, mas perto o suficiente. — Aria riu. Eu gosto desse som também. Lance sorriu antes dos seus olhos caírem para o estômago da Aria. Quando seus olhos se encontraram com os meus novamente ele sorriu mais. Virando as costas para Aria, ele falou alto o suficiente apenas para eu ouvir. — Não é para mergulhar no papel tio chato por muito tempo, mas tenho que me certificar, Levi, o bolo naquele forno não é um croissant Myers, é? Eu ri. — Não. Lance suspirou. — Tudo bem, de volta ao papel de tio legal. — ele virou de volta e deu um high five em Aria. — Art, prazer em conhecê-la. Você é livre para encostar e tocar o que quiser. Qualquer coisa que você quebrar, meu sobrinho legal compra. — Então quebro tudo? — Aria questionou. — Ah, eu gosto da coragem dela. — disse Lance, me cutucando no lado. — Vai com tudo, minha amiga. Uma vez que você tem a aparência de uma garota roqueira durona e está vestindo uma camiseta com um gatinho malvado nela, eu posso sugerir que você comece com a loucamente nova e cara bateria acústica Crystal Pearl Bata, com cinco peças exposta na vitrine? Levi tentou tocá-la uma vez, mas soou uma merda

completa e eu tenho quase certeza que você pode fazer melhor. — ele estendeu um par de baquetas na direção de Aria e falou para ela pegá-las. Então ela pegou. Ela tocou como qualquer estrela do rock durona dos filmes. Ela bateu nos tambores, uma e outra vez, chicoteando o cabelo para trás e para frente, perdendo-se em todo o ato de ir com tudo. — Uau. — Lance disse, olhando para Aria com reverência quando ela parou. Ele começou a bater palmas lentamente com Daisy e eu me juntei. — Isso foi fodidamente horrível. É quase como se você tivesse andado até os tambores e dito: ‘eu vou pegar essas baquetas e continuar a matar a porra da alegria da música’. Não, sério, meus ouvidos estão sangrando? Porque eu acho que meus ouvidos estão sangrando. — ele brincou. Eu não conseguia parar de rir, porque ele estava certo, foi muito doloroso. Aria caiu em um ataque de risos. — Tudo bem, uma vez que eu sou terrível na bateria, você acha que você pode tocar violino para mim? — ela perguntou, apontando para o violino na vitrine. Não era qualquer violino, mas era o violino que eu meio que queria me casar. Um Karl Willhelm Modelo 64 - o melhor violino na Soulful Things. — Eu não posso tocá-lo. — eu respondi. As pessoas simplesmente não pegam um violino Karl Willhelm e começam a tocar. Especialmente um violino com um preço de três mil dólares. — Por que não? — Lance perguntou, tirando-o da vitrine. Ele entregou-me. — Eu acho que você e este violino podem ter muito em comum. Eu peguei o instrumento de madeira nas minhas mãos e sorri para ele. Lance entregou-me o arco e depois de alguns minutos afinando eu coloquei meu queixo sobre a queixeira. — Algum pedido? — perguntei para Aria. Ela sorriu. — Surpreenda-me. Deslizei o arco nas cordas do violino, tocando o clássico de Henryk Wieniawksi, Polonaise No. 1. Era uma das peças mais difíceis de música que eu já tinha aprendido a tocar. Parte de mim estava com medo de estragar e parecer um idiota. Outra parte queria impressionar Aria. Quando eu terminei os três começaram a aplaudir e Aria murmurou: — Uau.

Antes de sairmos, de alguma forma, ela conseguiu também assassinar a beleza do piano, guitarra e alguns pandeiros. Eu a acompanhei até a casa dela e fiquei de pé no final de sua calçada. Ela continuou mexendo nos dedos e sorrindo. — Obrigado por sair comigo hoje. — eu sorri. Ela não sabia, mas ela me deu algumas horas sem pensar sobre a minha palavra menos favorita: câncer. Suas bochechas avermelharam e ela continuou se mexendo inquieta. — Vejo você na escola? — ela perguntou. — Sim. — Está bem. — ela sorriu e se virou. Depois voltou e sorriu de novo. — Você é incrível no violino. Eu espero que você saiba disso. — ela virou e subiu os degraus da varanda. Ela se virou para olhar para mim. — Tipo, realmente, realmente incrível. — outro sorriso. Continue sorrindo. Ela se virou mais uma vez. Quando ela entrou na casa dela, eu comecei a ir embora e a ouvi gritando meu nome. — Levi. — Sim? Mais inquietação. Mais sorrisos. — Você acha que podemos ser amigos? Eu ri, esfregando a parte de trás do meu pescoço. — Eu pensei que já éramos. Entrei no meu quarto logo que meu telefone apitou. Olhei para baixo, no telefone celular, vi o nome de Aria e eu imediatamente corri para ler a mensagem. Aria: Celebridades – substantivo plural: Pessoas ricas ou famosas que notoriamente participam de eventos de moda. Eu: Parece brilhante. Aria: Eu aposto que eles têm aquele ponche maravilhoso que servem em copos incrustados de diamantes. Estendi a mão para o meu dicionário e comecei a folheá-lo.

Eu: Arte - substantivo: a qualidade, produção, expressão ou domínio, de acordo com princípios estéticos, do que é belo, atraente, ou mais do que ordinário. Aria: Eu gosto disso. Eu: Eu acho que você é arte. Ela não respondeu. Eu fui e fiz alguns deveres de casa, fingi que eu entendia cálculo e verifiquei meu telefone. Eu falei com a mamãe no telefone. Depois que desliguei, verifiquei meu telefone. Eu esquentei comida congelada ruim, comi tudo e verifiquei meu telefone. Sentei-me no saguão, rindo das comédias em preto e branco e verifiquei meu telefone. Eu verifiquei uma última vez antes de eu desligar a minha luz e subir na cama. Quando estava deitado no escuro, escutei o ding do telefone e a luz azul iluminou meu quarto. Aria: Boa noite, Levi. Eu sorri na escuridão. Boa noite, Art.

[17] Em inglês: alma. É também um gênero musical originado dos Estados Unidos. [18] Arte.

Capítulo Dezessete Aria No dia seguinte, na escola, Simon bateu o almoço em cima da mesa na frente de Levi e eu. Sua raiva do dia anterior parecia estar localizada na parte traseira da sua mente quando ele explodiu seu aborrecimento em outro assunto em questão. — Nós NÃO vamos permitir que Abigail Esquisita coma com a gente! Eu proíbo isso! — nas últimas semanas, Abigail vinha para a nossa mesa, sentava durante dois minutos, três quando ela não estava com pressa - falava sobre algumas citações aleatórias, elogiava Simon e depois corria para longe. Tinha realmente se tornado um tipo de destaque estranho do meu dia. — Por que não? Ela é ótima. — disse Levi. Sempre que ele falava, eu observava seus lábios. Ele poderia ter dito cocô e soaria romântico. Pare com isso, Aria. — Ótima?! ÓTIMA?! Olhe para isto!!! — ele estendeu a mão dentro da sua mochila e tirou dois sacos ziplock. Um deles tinha dois frascos novos de higienizador para as mãos e o outro tinha cookies. — Vê?! — ele disse, sua pele pálida ficando vermelha de emoção. — Higienizador para mãos e cookies? — perguntei, confusa. — Biscoitos caseiros! Sim - isso mesmo! Abigail Esquisita fez uma parada completa na frente do meu armário! E ela disse: “Oi, Simon. Eu percebi que você estava ficando sem higienizador para as mãos no almoço de ontem, assim eu compreilhe dois novos. Além disso, eu assei alguns cookies para você”. Em seguida, ela me entregou esses e saiu! — Isso é legal. — Levi respondeu. — Legal?! É uma loucura! E se alguém nos viu?! E se as pessoas acharam que ela e eu éramos... uma coisa?!

— O que há de errado com isso? — Levi perguntou. Simon bufou e riu com raiva. — Ela é - ela é... ela é Abigail Esquisita! — Sim? — disse Abigail, atrás de Simon. Seu rosto ficou mais vermelho quando ele se virou para encontrar seu olhar. — Ah. Oi. — ele deu um sorriso grande e falso. Abigail sorriu mais do que ele. — Você tem um sorriso perfeito. Muito branco e perolado. Pena que eles vão ter que retirar seus dentes de sabedoria em algum ponto, porque eu tenho certeza que seriam bons também. Eu gostaria de comer com vocês, mas... — ela olhou para o relógio. — Estou atrasada hoje. Eu vejo vocês mais tarde, eu tenho certeza. Simon, essa camiseta amarela é uma cor excelente para você. Achei que vinho ficasse bom, mas é melhor amarelo. Tudo bem. Tchau, pessoal. Com isso, ela assobiou para longe com suas wind pants, deixando Simon com sua boca aberta e confusão em seu olhar. — Ela não pode comer com a gente! — Se você gosta tanto dela, apenas chame-a para sair. — disse Levi, mordendo sua empada de frango. — Você acha que eu gosto da Abigail? ABIGAIL?! Sim, certo. — Simon riu. — Só porque ela é esquisita e meio bonita e acaba por ser uma cozinheira excepcional e tem uma covinha na bochecha direita ao lado de uma marca de nascença em forma de coração e, na verdade, cita algumas coisas interessantes às vezes, e é engraçada e estranha e, provavelmente, uma grande beijadora porque ela está sempre falando merda sem parar o que me faz querer beijá-la quatro vezes seguidas - não significa que eu GOSTO DELA E QUERO SEUS BISCOITOS! — ele gritou. Levi e eu sentamos em silêncio enquanto olhávamos com os olhos arregalados para Simon, que tinha acabado de fazer o monólogo mais estranho e confuso já feito na humanidade. Nossos olhos moveram para a Abigail, que havia retornado e estava roxa, congelada no lugar e segurando dois pacotes de biscoitos. Simon se virou para ver Abigail. Ele piscou. Ela piscou. Ele piscou novamente. Ela piscou de novo. Vários momentos estranhos de piscadas se passaram antes dela falar. — Eu esqueci de dar para Aria e Levi os biscoitos que assei para eles. — ela

estendeu-os na nossa direção e, em seguida, levantou-se ereta. Seu olhar encontrou Simon. Simon piscou novamente. Abigail piscou também. — Eu estou indo agora. — disse Abigail. — Sim, isso parece bom. — Simon concordou. Ela saiu correndo, seus saltos altos e calças assobiando e anunciando sua saída. Simon afundou na sua cadeira e enterrou seu rosto nas mãos. — Você acha que ela me ouviu? — De jeito nenhum. — Levi sorriu. — Eu acho que você está a salvo. Quando eu não estava com Levi na escola, eu me encontrava pensando sobre ele mais do que eu deveria, e cada vez que eu recebia uma mensagem dele, meu estômago virava. Levi: Eyesome - adjetivo | [ahy-s uh m]: Agradável para olhar. Eu: Você pode usá-la em uma frase, por favor? Levi: Você parecia muito eyesome quando entrou no cálculo hoje vestindo duas meias incompatíveis. Eu: Você é tão louco. Ele não respondeu. Eu fiz o jantar para as minhas irmãs e verifiquei meu telefone. Eu tirei uma soneca, acordei e verifiquei meu telefone. Eu me pesei, olhei no espelho, para o meu estômago e verifiquei meu telefone. Eu ouvi mamãe e papai discutindo sobre eu ser educada em casa no próximo semestre e então eu verifiquei meu telefone. Isso tudo foi antes das sete da noite.

Levi: Eu odeio aquela palavra. É a minha segunda palavra menos favorita. Eu: Qual? Levi: Louco. Eu: Por quê? Ele me fez esperar novamente. Eu não recebi uma resposta até às 19:39 Levi: Porque as pessoas na minha antiga cidade sempre chamavam a minha mãe de louca.

Capítulo Dezoito Levi louco | adjetivo Mentalmente perturbado, demente, insano. Insensato, impraticável; totalmente infundado. Propenso a quebrar ou cair aos pedaços. Fraco, enfermo ou doentio. Minha mãe era a melhor mãe do mundo. Exceto quando ela não era. Eu a odiava da mesma maneira que a amava: profundamente. Ambos os sentimentos vinham em ondas. Quando eu a amava, eu a amava muito. Quando eu odiava, eu não aguentava olhar para ela. Ela nunca me odiou, embora, e talvez esse fosse o problema. Talvez ela me amasse muito. Era difícil ser muito amado por alguém, porque conforme o tempo passava o amor começava a parecer um estrangulamento. Eu me preocupava sobre decepcioná-la, ou deprimi-la, porque se fizesse isso, ela desmoronava. Ela entrava em pânico, sentia-se mal-amada. Ela enlouquecia. Ser amado por um certo tipo de pessoa era uma tarefa difícil e nem todo mundo era certo para preencher esse lugar. Eu nem sempre soube que ela era instável. Crescendo no meio da floresta com apenas ela e a natureza, eu nunca soube que havia algo errado com ela. Nós nos divertíamos juntos, rindo, cantando e tocando nossos instrumentos. Quando minha tia Denise ia lá, as duas sempre riam e bebiam uma grande quantidade de vinho que Denise trazia com ela. Então Denise ia por semanas e minha mãe e eu voltávamos à nossa rotina normal. Denise era a única outra pessoa que eu via por um longo tempo, exceto quando nós íamos à cidade para compras e outras coisas, onde as pessoas cochichavam sobre minha mãe e eu.

— É genético? — eles perguntavam. — Ele está louco como ela, também? — eles se perguntavam em voz alta. Fazia o máximo para não ir até os estranhos e socá-los nos rostos por falar sobre a mamãe. Eles não a conheciam. Eles não nos conheciam. Ficávamos sozinhos no nosso mundo feliz. Por que eles não se preocupam com seus próprios problemas? Por que eles achavam que eram melhores do que nós? Voltava para casa, irritado com o ódio deles em relação a nós, quando eles nem sequer sabiam quem éramos, mas minha mãe abafava a minha raiva quando ela estava mentalmente estável. — Palavras, Levi. Palavras. São apenas palavras vazias, sem sentido, de pessoas vazias, sem sentido. Não foi até que eu comecei a ir visitar o papai durante o verão que eu percebi que talvez a nossa vida não fosse tão normal. Talvez as pessoas da cidade estivessem sussurrando sobre algo. Acabou que limpar as janelas do lado de fora da casa durante uma tempestade não era uma coisa normal a fazer. Porém, mamãe estava convencida de que usar a chuva da natureza era a única maneira de realmente limpar os vidros. Se eu não os limpasse bem o suficiente, ela achava que eu não a amava. Então, ela entrava em pânico. Ela começava a falar sobre vozes na sua cabeça, alegando que elas eram reais. Ela começava a ver coisas que não estavam lá. Denise mais tarde me disse que chamava transtorno esquizoafetivo. Eu não sabia o que era, mas parecia assustador o suficiente para me preocupar. Mamãe foi colocada em medicamentos para ajudar seus pensamentos conturbados e funcionou por um longo tempo. Ela não ficava com tanto medo das coisas. Ela era a minha mãe de novo - mais ou menos. Ela sorria muito menos, mas ela dizia que as vozes se foram. Então ela parou de tomar os comprimidos, porque ela achava que estava melhor. Ela não estava. Aprendi também que não era normal ser uma criança sem amigos. Quando eu

tinha nove anos e meu pai me perguntou se eu tive uma festa de aniversário ano passado, eu disse que sim. Quando ele perguntou quantos amigos foram, eu disse dois. Mamãe e Denise. Se eu perguntasse à mamãe se poderia participar de uma equipe de esportes, ela pensava que eu não a amava. Ela tinha essas crenças firmes que se eu fosse encontrar amigos, isso significaria que eu a tinha traído. Então, ela entrava em pânico. Ela tomou o remédio novamente por um tempo, até que pensou que estava melhor de novo. Ela não estava. A primeira vez que eu esqueci de falar minhas orações à noite, ela teve um ataque de pânico. Ela me disse que estava morrendo e que era porque eu não disse obrigado a Deus. Ela me disse que Deus falou com ela e estava com raiva e descontaria nela por causa do meu erro. Lembrei-me de chorar sobre ela, pedindo-lhe para respirar. Apenas respire, Mamãe. Eu tinha discado 9-1-1 e quando eles chegaram, ela já tinha se acalmado. Era uma das primeiras lembranças que eu tinha dela. Apenas respire, Mamãe. — Mãe, relaxe. — eu suspirei para o receptor do telefone enquanto estava sentado no terraço do meu pai. Eu não estava com vontade de falar com a mamãe, porque eu podia dizer pelo tom da sua voz que ela não estava completamente comigo. Ouvia seus ruídos, mas não era realmente ela. Ela estava tão longe que eu me perguntava se ela - minha mãe de verdade - algum dia vai voltar. — Você não sente minha falta, Levi? Por que você não volta para casa? Porque eu não quero ver você assim. — Você sabe que eu estou arrumando as coisas com o papai. — eu menti. — Estamos ficando muito próximos. — eu menti novamente. Papai começou a beber esta tarde, e realmente não tinha parado. Ele recebeu um telefonema no seu escritório antes e eu acho que não foi o telefonema que ele estava esperando, porque logo depois que ele desligou, começou a beber. Eu nunca o tinha visto bêbado antes. Ele estava no momento andando pelo quintal, resmungando para si mesmo com uma cerveja na mão, chutando as cadeiras do gramado e qualquer outra coisa que pudesse chegar perto o suficiente. Ele estava totalmente bêbado.

Eu falei para ele mais cedo que provavelmente não deveria beber tanto, sabendo que ele faria quimioterapia no dia seguinte, mas ele me disse para cair fora e cuidar da minha vida. Imaginei que não receberia as aulas de condução que ele tinha me oferecido tão cedo. — Apenas volte para casa. — mamãe chorou ao telefone. — Você não está sendo razoável. — Como está a Denise? Ela passou aí para ver você? — perguntei, mudando de assunto. Eu já sabia a resposta para a minha pergunta. Denise me ligou no início desta semana, dizendo-me que ela estava preocupada com minha mãe não tomando o remédio. Eu sabia que ela não estava tomando também, uma vez que eu estava recebendo cada vez mais chamadas dela tarde da noite. Denise queria que mamãe se internasse em algum complexo de saúde mental por algumas semanas, mas minha mãe não. Ela acreditava que estava bem. Às vezes eu me perguntava se algum dia a mamãe procuraria a ajuda que precisava. Denise disse que tudo o que podíamos fazer era orar - mas eu estava rezando por ajuda desde que eu tinha cinco anos e até agora nada havia mudado. — Ela ainda está com aquele Brian de quinta categoria. Você pode acreditar nisso? Eu não gosto dele. — mamãe disse, me tirando dos meus pensamentos. Claro que ela não gostava. O único cara que eu já tinha conhecido que ela gostava era eu. — Eu não quero ficar aqui sozinha, Levi. — ela sussurrou, fazendo-me sentir mal. — Mãe, você tem tomado seu remédio? — Aqueles que não funcionam mais para mim. E agora que você foi embora, eu estou sozinha. Você sabia disso? Eu estou sozinha. Meu estômago apertou e belisquei a ponta do meu nariz. É claro que ela não estava tomando o remédio. — Não diga coisas desse tipo. — Por que não? — Porque me irritam, porra, você sabe disso. — talvez. Talvez ela soubesse disso. — Levi Myers, não fale assim comigo. Você está parecendo mais e mais diferente de si mesmo.

Você quer dizer são? Nós conversamos sobre coisas sem sentido até que eu me forcei a dizer a ela que eu tinha que desligar. — Levi? — Sim mãe? — Eu te amo até o fim. Eu ecoei suas palavras, mas então eu me senti mal, porque às vezes eu desejava que o fim viesse mais cedo do que mais tarde. Talvez eu estivesse doente também. Não demorou muito até que meu pai tropeçou de volta para dentro da casa e foi direto para o banheiro. Ele vomitou tão alto que eu pude ouvi-lo através da porta, então fui até seu escritório e peguei algumas das suas pílulas para náuseas e um copo de água. Quando cheguei ao banheiro, a porta estava aberta e a cabeça do meu pai inclinada no vaso vomitando violentamente. Quando ele se sentou de costas contra a parede mais próxima, ele limpou a boca com o tecido. — Aqui, pai. — eu disse, estendendo as pílulas para náuseas e água. — Isso deve ajudar. — Cai fora daqui. — ele murmurou, me afastando. — O médico disse que ajudará com a dor de estômago. Aqui. — eu estendi na direção dele. — Eu não quero isso. — ele zombou. — É para a náusea, Pa... — Eu disse que não quero porra! — ele gritou, pegando o copo da minha mão e jogando-o contra a parede do banheiro, fazendo-o quebrar no chão. — Dá o fora daqui. Saí do banheiro e fiz uma pausa. Meus dedos fecharam em punhos e eu bati contra os meus lados. — Eu estou tentando! — eu gritei, voltando para encarar o papai. — Eu estou tentando ajudar. Para tornar isso mais fácil para você. Para construir algum tipo de relacionamento com você! — eu sabia que eu estava descontando a

minha raiva nele. Minha raiva com a mamãe. Minha raiva com o câncer. Minha raiva com a vida. Joguei as pílulas para ele. — Tome os comprimidos ou não, mas quando você for para a quimioterapia amanhã, vai desejar ter tomado. — Eu não vou fazer aquela merda. — Fazer o quê? — Químio, cansei. — Cansou? O que quer dizer com cansou? Há mais quatro compromissos no calendário. — Eu não vou. — Pai. — eu disse, minha raiva mudando para preocupação. — Não seja idiota, você precisa da quimioterapia para ficar melhor. Ele estendeu o pé para fora, em direção à porta do banheiro e se fechou dentro. Eu fui para o meu quarto e peguei a minha caixa de sapatos cheia com o passado que meu pai e eu costumávamos compartilhar. Todos os cartões de Natal, todos Post-it, todas as pequenas coisas que eu tinha me apegado e que de alguma forma ele escolheu esquecer. Eu devia parar de olhar para essas coisas. Eu devia ter fechado a caixa, ido para a floresta e tocado violino, mas não fiz isso. Eu continuei folheando as notas e cartões, na esperança de que naquele momento eu estivesse apenas tendo um pesadelo e que quando eu acordasse, meu pai me amasse de novo, ou ao menos gostasse de mim. Tempo. Estávamos ficando sem tempo. Feliz Natal, Lee. Eu amo você, filho. -Pai Feliz 7 º aniversário, meu rapaz. Vamos celebrar este verão.

-Pai Sentindo sua falta no antigo riacho. -Pai Talvez no próximo ano vamos passar o Natal juntos. Amo você, Levi. -Pai Vamos alimentar alguns cervos na floresta novamente quando você vier para uma visita. -Pai Te amo, filho. -Pai Sentei-me durante toda a noite, beliscando-me, tentando acordar desse pesadelo. Eu estava cansado de tudo. Eu não achava que era normal ter dezessete anos de idade e se sentir tão cansado. Eu estava cansado de fingir que era feliz na escola. Eu estava cansado de me preocupar se a mamãe se magoaria, porque eu a deixei. Eu estava cansado de imaginar se eu acordaria um dia e meu pai não estaria mais aqui. Eu estava cansado do meu pesadelo de vida, e eu só queria acordar de tudo. Na manhã seguinte, às 5:58, Aria apareceu na floresta. Eu estava chateado e cansado da noite anterior com mamãe e papai. Meu corpo doía e curvava. Eu tinha dormido nada. Aria ficou à distância, imóvel. Suas sobrancelhas abaixaram.

— Você está bem? — ela murmurou. Eu tentei dar-lhe um sorriso, mas não consegui. Qualquer outra pessoa teria recebido o maior sorriso e uma mentira, mas com ela não parecia necessário. Com ela parecia certo estar quebrado. Eu balancei minha cabeça. — Não. — eu murmurei de volta, inclinando contra uma árvore. Com um aceno de compreensão, ela caminhou na minha direção. Ela encostou-se na árvore mais próxima e me encarou. Enfiei minhas mãos nas minhas calças de moletom e nós olhamos fixamente um para o outro, em completo silêncio, mas dizendo tanto. Pela primeira vez, mostrei para Aria o verdadeiro eu. Eu mostrei a minha verdade para ela. Ela viu o isolamento nos meus olhos, que eu nunca compartilhei. Ela viu a dor na minha alma, que eu escondia atrás de sorrisos e mentiras. — Você pode falar comigo. — disse ela. — Se você quiser. Eu belisquei a ponta do meu nariz, debatendo se eu queria falar sobre isso. Falar tornava as coisas reais. Mas talvez realismo era o que eu mais precisava. — Minha mãe não estava indo muito bem. Eu queria ficar o mais longe possível dela - o que significava ficar com o meu pai. Eu pensei que seria mais fácil aqui, sabe? Mas agora meu pai está se recusando a continuar sua quimioterapia e eu não sei como lidar com isso. — Nossa, Levi. Eu sinto muito. Isso é muita coisa. — ela sussurrou. — Isso é demais. Concordo. — O que eu devo fazer sobre ele não querer a químio? Como posso convencer alguém de que sua vida vale a pena salvar, se eles não têm qualquer desejo de salvar-se? — Você não pode. — ela disse com um sorriso triste. Triste sorriso - tão absurdo. — Essa é a coisa sobre a vida. Somos todos tão emaranhados uns com os outros, mas ao mesmo tempo, somos muito sozinhos. — Ser sozinho é muito solitário. Ela assentiu com a cabeça. — Sim. Mas às vezes, ficar junto e solitário é ainda pior.

— Não agora, no entanto. — Não. Agora está tudo bem. Agora é bom. Nós não falamos mais. Ela não estava tentando me deixar feliz. Eu não estava em um lugar onde eu queria ser feliz e Aria entendia isso. Tudo o que ela estava fazendo era ficar encostada na árvore, olhando para mim com simpatia. Um olhar de compreensão completa. Era como se ela estivesse dizendo: — Eu vejo você, Levi Myers. E sou sozinha, também. Ela ficou mais perto de mim no ponto de ônibus naquela manhã, os nossos ombros quase encostando. Imaginei como seria roçar no seu braço, segurar a mão dela, ou merda, apenas segurar seu dedo mindinho. Eu me perguntei se ela era fria ou quente. Suave. Confortável. Quem tornou você intocável? — Por que você não me disse que estava triste? — ela perguntou, olhando para os sapatos, chutando pedras invisíveis. — Eu não sabia que eu tinha permissão para ser. Meus pais estavam quebrados o suficiente, por isso sentia como se eu não tivesse o direito de quebrar também. Quando os sapatos dela pararam de se mover, eu olhei para cima para encontrar seus olhos de corça olhando para mim. — Você pode ficar triste comigo. — ela ofereceu. — Você não tem que esconder mais. Limpei a garganta e assenti. — Obrigado, Art. — De nada, Levi. O ônibus parou e quando ela se afastou de mim, seu ombro roçou no meu. Nós estávamos cobertos de tecidos, ambos vestindo jaquetas e camisetas por baixo, mas seu pequeno toque foi o suficiente para eu saber o que ela sentia. De alguma forma, ela era quente e fria ao mesmo tempo, o mesmo tipo de sentimento que o sol nascente trazia para a floresta com geada no período da manhã. A única vez que me sentia assim era quando eu tocava violino e conseguia

escapar da realidade por um tempo. Fechar os olhos e sentir o arco rolando através das cordas era a única maneira que eu encontrava calor até que Aria olhou para mim. Ela olhou para mim como se ela realmente me visse, o meu verdadeiro eu, e ela estava bem com ele também. Ela olhou como se eu merecesse ser feliz. O tipo verdadeiro de felicidade. Naquela noite, meu pai estava bêbado de novo. Em vez de vê-lo tropeçar, eu fui até o apartamento de Lance e Daisy, comi tofu que tinha gosto de pés e fiquei no sofácama deles. Aria: Esta tarde eu descobri que o bebê está com 16 semanas de idade e do tamanho de um abacate, terminei minha lição de cálculo, pintei um pouco e transferi todo o CD do Mumford & Sons para o meu iPod. Sua vez. Eu sorri. Eu: Eu comi tofu. Aria: Só isso? Eu: Tivemos dever de casa de cálculo? Aria: Você nunca vai se formar. Eu: Eu acho que você é linda. Aria: Cale a boca. Eu: Seu abacate é muito bonito também. Aria: Eu aposto que você diz isso para todas as meninas grávidas na escola. Eu não consegui parar de sorrir. Imaginei o que ela estava fazendo. Quando uma pessoa não tinha permissão para tocar em alguém que realmente queria tocar, em vez disso começavam a observar cada

pequena coisa sobre ela. Quando Aria estava feliz - realmente feliz - suas covinhas aprofundavam. Quando ela estava desconfortável, ela mordia a gola da sua camiseta. Quando triste, ela mordia o lábio inferior - mas ela fazia a mesma coisa quando estava nervosa ou em pensamento profundo, então eu tinha que prestar muita atenção para certificar como ela estava. Não era difícil, no entanto. Ela era muito fácil de prestar atenção. Eu esperava que suas covinhas estivessem aparecendo. Eu esperava que eu a fizesse feliz. Eu: Por que a galinha atravessou a fita de Möbius[19]? Aria: Para chegar do mesmo lado. Você é tão nerd. E acho que eu sou mais nerd ainda, porque eu sabia a resposta para a sua piada terrível de matemática. Ainda sorrindo. Eu: Boa noite, Art. Aria: Boa noite, Soul.

[19] Símbolo conceitual matemático que revela duas faces e sugere eterna continuidade

Capítulo Dezenove Aria Cada quinta-feira, Dr. Ward olhava para mim com os mesmos olhos preocupados. Era chato o quanto ele fingia se importar. Ficava imaginando o quanto ele se importaria se a mamãe não estivesse preenchendo um cheque tão grande. Desta vez, a taça estava cheia de doces de alcaçuz preto, que era preocupante. Qualquer um que acreditasse que o alcaçuz preto era doce deveria ver seu próprio terapeuta. Nossas conversas se tornaram clichês, cada semana ecoando a última. Ele começava com a mesma pergunta toda vez, falava sobre um artista, e em seguida, ele seguia com mais uma pergunta. — O que está em sua mente, Aria? — ele perguntava. — Banksy. — eu respondi. — Quem é Banksy? — É um artista de rua incrível que utiliza a arte do grafite para expressar suas opiniões controversas sobre o mundo. Ele é intenso com sua arte, mas tranquilo, ao mesmo tempo. Ninguém realmente sabe quem ele é, mas o conhecem. The Baloon Girl é a minha peça favorita porque simplesmente capta tudo dentro dela. Ele arqueou uma sobrancelha como se não entendesse o que eu quis dizer. Eu suspirei. Eu queria dizer procure no Google e você vai entender, mas eu expliquei, porque eu gostava de conversar sobre arte. Era a única coisa que eu entendia, a única coisa que era significativa. — É uma menininha estendendo a mão em direção a um balão vermelho em forma de coração, mas o balão já está flutuando para longe. — Você sente como se estivesse flutuando para longe algumas vezes, Aria? Sim.

Muito. O tempo todo. Mas eu não disse isso para o Dr. Ward. Eu fiquei quieta e ele nunca me forçou para mais detalhes. Segunda de manhã eu andei até a parada de ônibus e sorri vendo Simon segurando quatro balões que diziam feliz aniversário na sua mão. — Feliz aniversário! — ele gritou, me entregando os balões. — Obrigada! — eu ri. Levi caminhou até nós franzindo a testa, olhando para os balões. — Eu não sabia que era seu aniversário. — ele passou as mãos pelo cabelo. — Eu não comprei qualquer coisa para você. — Está tudo bem, realmente. Não é grande coisa. — É uma grande coisa! — Simon exclamou. — Porque você, minha amiga, não tem mais dezesseis anos. O que significa que você não tem mais dezesseis anos e está grávida, o que significa... Eu definitivamente sabia o que significava. — Eu não sou mais uma estatística! Bem, eu ainda sou uma estatística de gravidez na adolescência, mas! Eu não sou o tipo de estatística do programa de televisão da MTV! — Eu acho que isso exige uma dança. — disse Simon. — Thriller? — Não. Eu acho que é hora do martelo. — ele e eu continuamos a participar da mais estranha dança MC Hammer ali mesmo na calçada, requebrando um com o outro, enquanto Levi olhava para nós como se fôssemos psicóticos, antes de se juntar com a dança. E eu juro que em um ponto, meu coração desmaiou um pouco. — Feliz aniversário, feliz aniversário, feliz aniversário. — disse Levi quando saímos do cálculo. Ele havia dito isso pelo menos trinta vezes desde que descobriu esta manhã. — Você pode parar de se sentir mal agora. Eu posso sentir o amor. — eu ri.

— Como deveria. Ah, ei. Queria saber por que eles nunca têm cervejas em festas de matemática? — ele perguntou quando chegamos ao meu armário. — Eu acho que eles não querem que as pessoas bebam e derivem. Piadas ruins de matemática de um garoto estranho do Sul. Aniversário feito oficialmente. Antes que ele fosse para a sua próxima aula, ele me entregou um pedaço de papel dobrado. Eu abri e não consegui parar as borboletas que não deveriam estar no meu estômago. Feliz Aniversário, Art! Do Soul. Havia até mesmo um desenho terrível do que era para ser um bolo comido ou algo assim. Ele era tão ruim em desenho quanto eu em bateria. Felizmente, nós compensávamo-nos. — Feliz Aniversário. — disse James atrás de mim, enviando as borboletas vibrantes no estômago para longe. — Obrigada. — eu murmurei, fechando o meu armário e saindo. James correu ao meu lado, claramente em uma missão para arruinar o meu aniversário que estava ótimo apenas alguns minutos atrás. — Escute, eu não queria ser aquele a dizer isso, mas eu ouvi um boato de que Levi estava se pegando com a Heather Randall. Eu apenas pensei que você deveria saber. — Por que você tem tanto interesse em Levi? — eu disse, revirando os olhos. Eu podia ver o ciúme que James, de alguma forma sentia, da minha amizade com o Levi. Era irritante, para dizer o mínimo. — Eu não quero que você se machuque. — Bem, você não é o tipo cuidadoso? Antes que ele pudesse responder, Nadine veio quicando pelo corredor e colocou os braços ao redor da cintura de James. — Ei, vocês! O que está acontecendo?

James quebrou seu olhar comigo e deu um sorriso para a sua namorada. — Nada, apenas checando a Aria. Nadine sorriu para mim. — Ele é tão querido. Falando de doce... qual é o negócio com você e o Casanova do Sul, Aria? Ele é bonito! James riu nervosamente. — Eu duvido que namoro seja a coisa mais importante na sua mente agora, Na. Além disso, há rumores de que ele tem uma coisa acontecendo com Heather. Oh-meu-Deus-eu-quero-bater-no-seu-pau! Em vez disso, eu dei um sorriso falso para Nadine. — Levi e eu somos apenas amigos. James suspirou - aliviado. Isso me incomodou também. — Mhmm. Só estou dizendo que se fosse comigo e o pai do bebê não estivesse no jogo, eu não dispensaria a atenção do Levi Myers. Além disso, a forma como ele olha para você é muito diferente do jeito que ele olha para qualquer outra garota aqui. — ela sorriu, puxando um James irritado na direção da sua próxima aula. Isso era verdade? Levi olhava para mim de forma diferente? Olhei para minha barriga saliente, esfregando as palmas das mãos sobre ela. Não importa. Não importava como Levi olhava para mim. Eu não tinha permissão para pensar nele de forma alguma que não fosse um amigo. Em poucos meses, eu teria um bebê e minha vida mudaria para sempre.

Capítulo Vinte Levi Na quarta-feira, Simon me convidou para sua casa para um ‘momento de caras’, como ele a chamava. Quando peguei o atalho do outro lado da rua para a casa de Simon, sua mãe atendeu. — Oi, eu posso ajudá-lo? — ela sorriu. — Ei, sim. Eu sou Levi, amigo do Simon. Nós vamos apenas passar um pouco o tempo. Seu rosto se iluminou e ela colocou as mãos nos quadris. — Você é amigo do Simon?! — Sim, nós nos conhecemos na escola e... — Quem está na porta? — disse um cara mais velho, vindo para o saguão. — Este é Levi. Novo amigo do Simon. O rosto do cara iluminou-se também. — Amigo do Simon? — Eu sei! Não é maravilhoso?! Entra, Levi. — disse a mulher, agarrando o meu braço e me puxando para dentro. — Eu sou Keira e este é meu marido, Paul. Si, venha para fora, você tem um amigo aqui. E não é Aria! Teria parecido muito estranho e um pouco rude como dramático seus pais estavam agindo sobre Simon ter outro amigo, mas realmente eles estavam apenas... muito felizes. Simon saiu correndo do seu quarto e gemeu. — Vocês não têm que assustá-lo, gente. Ei, Levi, o que tá a fim? Você pode vir e ficar no meu quarto. — Vou pedir pizza! — Keira gritou. — E eu vou fazer alguns brownies! Levi, você gosta de brownies? — Mãeeee, acalme-se. Vamos só jogar videogame por um tempo.

Keira virou-se para Paul. — Você ouviu isso?! Eles vão jogar videogame! — Eu amo brownies. — eu interrompi. Uma pessoa sábia nunca recusaria a oportunidade de brownies caseiros. Simon revirou os olhos quando ri. Ele me levou para o corredor que leva ao quarto dele. Eu observei todos os retratos de família nas paredes, e não pude evitar, exceto me perguntar sobre uma coisa que não se encaixava na história da pessoa que eu estava conhecendo mais a cada dia. Quando entrei no quarto, ele rapidamente fechou a porta atrás de nós. — Você pode perceber que eu não recebo muitas visitas? — Nada demais. — Nada demais? Meus pais acabaram de ter um ataque cardíaco porque alguém veio me visitar. De qualquer forma, estou feliz que você esteja aqui, porque eu preciso da sua contribuição. Olhei em volta do seu quarto impecável. Nada estava fora do lugar. Suas roupas estavam organizadas por cor no seu closet. Ele tinha seus jogos organizados na sua estante em ordem alfabética. Ele tinha mais suprimentos de limpeza do que jamais vi. Ele entrou no seu closet. — Então nós podemos jogar e todas essas coisas, mas eu realmente chamei-lhe aqui mais para O.G.A.A. — Ah, certo, é claro. Eu percebi que era o que íamos fazer de qualquer maneira. — eu balancei a cabeça, sentando em um dos seus pufes. — A propósito, o que é O.G.A.A.? Ele saiu do seu closet com um quadro de avisos. Ele virou-o e eu olhei para um desenho de giz pastel de uma menina com quatro grupos de quatro cartões de anotação. — Operação Pegar Abigail Esquisita[20]. — Esse é um desenho da Abigail? — inclinei a cabeça e estreitei os olhos. Ele brincava com as mãos. — Eu não captei direito o nariz dela. — A proporção do corpo está um pouco fora também. Não que Abigail seja gorda, mas ela é um pouco maior do que isso. — Bem, claramente ela não é realmente uma pessoa magrela, Levi. Aria é a artista. Eu sou apenas o melhor amigo estranho de cabelos vermelhos.

— Ah bem. Tudo certo. Desculpe, mas eu pensei que a última vez que falamos sobre este assunto você era anti-Abigail. — Mas então eu comi seus cookies. — E você gostou dos cookies dela. — eu disse com um sorriso largo. — Eles derreteram na minha boca. — ele suspirou profundamente, sentado na sua cama. — Eu amei os cookies. — Isso explica por que estamos na O.G.A.A. O que tem nas anotações? — Cenários diferentes de como convidá-la para um encontro. Aproximei-me para examinar o quadro. — Paraquedismo? Caminhadas? Um sinal em um balão dirigível? Estas são as suas ideias para convidá-la? — Sim! Pense nisso. Você está pulando de um avião, caindo, caindo, caindo, há poucos minutos de distância da sua morte, porque o seu paraquedas está preso, você olha para aqueles olhos azuis dela e diz: Abigail Esquisita, você quer sair comigo para tomar um milkshake se nós conseguirmos chegar ao chão? E então ela diria que sim e nós, obviamente, viveríamos felizes para sempre. — A menos que você morresse, você sabe, do impacto de bater no chão. Ele sorriu. — Bem, sim, existe isso. — Já pensou, eu não sei, em apenas chamá-la para sair com você? — Como, pessoalmente? — Sim. — Cara a cara? — Uh huh. Ele começou a rir histericamente, ficando cada vez mais vermelho. Então ele ficou inexpressivo. — Você sabe o quê, poderia funcionar. — ele deixou cair seu quadro no chão. — Videogame? Eu ri. Nós começamos a jogar alguma coisa onde nós filmávamos um monte de coisas,

então nós mudamos para um jogo em que matávamos um monte de coisas e então nós mudamos para um jogo em que atirávamos e matávamos mais algumas coisas. Tentando ser indiferente, no meio de algum tipo de campo de batalha onde Simon e eu estávamos explodindo cabeças de zumbis, eu disse: — Eu vi suas fotos de família no corredor. Ele limpou a garganta. — Sim. A mamãe é uma viciada em foto. — Eu não sabia que você tinha uma irmã mais nova. Ele continuou a jogar enquanto falava. — Quando eu tinha cinco anos, eu implorei à minha mãe para levar Lizzie e eu para tomarmos sorvete, embora ela já estivesse cansada de trabalhar no restaurante. Quando fomos, tivemos um acidente de carro sério e Lizzie acabou em coma por semanas. Os médicos disseram-nos que para uma criança três anos de idade ela lutou muito, mas não ia resistir. Então, um dia, ela apenas se foi. — Deus. Sinto muito, Si. Ele continuou a jogar, mas seu foco estava em outro lugar. — Então eles descobriram que a mamãe teria problemas para engravidar novamente devido ao mesmo acidente, então eles passaram anos tentando ter outro. — Você se culpa? — Você não culparia? Se não fosse por mim, minha irmã ainda estaria aqui. E mamãe e papai teriam tido mais filhos e eles não estariam atravessando o inferno nestes últimos anos. Eu sou a razão das suas vidas serem tão ferradas. — Cara, você era apenas uma criança. Você não causou o acidente. — Mas eu não? Nós nunca deveríamos nem ter saído. Nós deveríamos ter... — eu pude ver a culpa em seus olhos quando ele bateu o botão em forma de triângulo do controle quatro vezes com força, antes que ele mudasse para o botão quadrado e batesse quatro vezes também. — Próximo tópico? — ele perguntou, não querendo mais falar sobre isso. Eu não o forçaria a continuar a falar. Portanto, eu fui para um assunto mais leve. — Então, eu estava pensando sobre Aria... — Bem, duh. — ele sorriu, ficando confortável novamente.

— O que é que isso quer dizer? — Ah, eu não sei. Talvez seja o fato de que todo segundo de cada dia você olha apaixonadamente pra caramba para ela. — Cara, cala a boca. Eu não olho. De qualquer forma, eu preciso de uma ideia para seu presente de aniversário uma vez que eu perdi. Simon arqueou uma sobrancelha. — E você está pedindo meu conselho? — eu assenti. — Bem, consiga qualquer coisa relacionada à arte. Ela estava realmente falando de uma coisa, mas é meio caro. — O que é? Ele começou a me dizer e o preço me fez estremecer. Eu não via tanto dinheiro há um longo tempo, mas era o presente perfeito, o que só me deixava uma opção. — Eu preciso de oitenta dólares. — eu disse para o Lance depois da escola um dia, enquanto ele movia as coisas pela sua loja. Sempre que papai não me queria ao redor da casa, eu ia para a loja de música do Lance e mexia com alguns dos instrumentos. — Para quê? — Um projeto da escola. — Que tipo de projeto da escola faz com que você pague oitenta dólares? — Eu não sei. A escola pública é estranha. Eles até mesmo fazem você comer intestinos de vaca, eu acho. — Eu definitivamente me lembro que eram intestinos de porco quando eu frequentei lá. Eles com certeza são arrogantes hoje em dia. Esse é o problema com a sua geração. Vocês, idiotas, estão comendo como reis e rainhas. — ele inclinou as costas em uma caixa e estreitou os olhos para mim. — Então, de verdade, para que é o dinheiro? — Eu quero levar um amigo a um lugar. — Que amigo? — ele perguntou, levantando uma sobrancelha. — Eles não têm nome, na verdade. — Mhmm. É uma amiga?

— Sem gênero sexual também. — Trata-se daquela menina, não é? — Que menina? — Art. A menina que tocou bateria como merda completa e é a razão para esse sorriso estúpido no seu rosto sempre que eu a menciono. — Ah, ela? — Sim, ela. — Sim. — eu respondi. — É sobre ela. — Mais uma vez vou fazer o papel de tio chato: você acha que é uma boa ideia com todo o walking dead se formando nas suas entranhas? — Você acha que ela vai ter um bebê zumbi? — no fim de semana anterior Lance tinha me forçado a assistir, sem moderação, The Walking Dead com ele. Eu não consegui dormir por dias após assistir, mas merda, era viciante. — Inferno, talvez ele seja um bebê zumbi. Eu já usei LSD antes, assim já vi alguma merda muito estranha. Mas, falando sério, Levi. Corações humanos são assim. — ele levantou um prato dos novos biscoitos veganos da Daisy. — Eles são perfeitos quando se olha para eles de uma distância, mas então, quando você pega... — ele levantou um cookie e ele começou a desintegrar-se. — Eles têm uma maneira de quebrar. Vocês dois são jovens. Ela já tem muita coisa acontecendo. Você tem muita coisa acontecendo. Então ambos deveriam proteger seus corações. Eu balancei a cabeça, lentamente. — Então... sobre os oitenta dólares... Ele revirou os olhos. — Tire o lixo, varra o chão e depois a gente conversa. Isso praticamente significava sim.

[20] Em inglês: Operation Get Awkward Abigail, por isso a sigla O.G.A.A.

Capítulo Vinte e Um Levi Na sexta-feira, Connor estava me irritando mais uma vez durante a aula de ginástica. — Temos que ir a essa festa amanhã à noite. Você não entende a importância extrema disso. — Connor gritou, quicando uma bola de basquete por perto. — As festas da Tori Eisenhower são como fazer uma viagem para a mansão Playboy. Muitos peitos. — Você já esteve em uma das festas da Tori? — perguntei. — Não, mas eu ouvi falar. E ela convidou você?! — ele balançou a cabeça em descrença. — Apenas o topo do topo são convidados para as festas dela. Nós precisamos ir. — Desculpe, cara. Não estou interessado. Connor suspirou e me mostrou o dedo do meio enquanto se afastava. Simon se aproximou de mim com uma bola de basquete nas mãos. — Você foi convidado para a festa da Tori este fim de semana? Tori Eisenhower? — Sim, mas eu não vou. — De jeito nenhum. Você tem que ir. E você tem que me levar com você. — disse ele, com os olhos cheios de esperança. — O quê? O que aconteceu com o O.G.A.A.? — Eu a convidei para sair, ela recusou, e eu me senti como um completo perdedor. Portanto, eu preciso que essa festa aconteça. — Ela disse que não? — isso foi chocante. Eu podia jurar que Abigail estava na do Simon. — Por quê? Qual foi a razão? Ele se encolheu. — Não vamos continuar falando sobre a forma como fui rejeitado. Ela não estava a fim, então ela disse que não. Assim, em vez disso, vamos para essa festa.

— Eu não te considerava como um tipo festeiro. — Isso é só porque não sou convidado. Vamos lá, poderia ser divertido. Nós homens nos unindo por coisas masculinas. — ele brincou, atirando a bola em direção ao aro e errando por um quilômetro. Seu dedo empurrou os óculos para cima. Ele limpou a garganta, apontando para sua tentativa fantasticamente fracassada no basquete. — Eu acho que o vento interferiu nessa. Quando chegou sábado à noite, Simon estava em seu mais alto nível de excitação. — Não conte isso para Aria. — disse ele, caminhando até a casa da Tori. Ele me disse que pegou uma garrafa de vinho dos seus pais. — Eles não vão perceber que está faltando. Temos mais vinho naquela casa do que o necessário. — Simon, você tem certeza que quer fazer isso? — perguntei, sabendo que essa festa não era uma boa ideia. Ele virou para mim, garrafa de vinho na mão e começou a implorar. — Esta é a minha única chance de chegar na Tori, Levi. Não me abandone agora. Por favor. Eu preciso disso. A maneira como ele olhou para mim, tão pateticamente, me mostrava que esta era a última coisa que devíamos fazer, mas eu toquei a campainha de qualquer maneira. Tori abriu a porta vestindo um top de biquíni e short. — Alabama! — ela guinchou, balançando para frente e para trás. Eu tinha a sensação de que ela não precisaria do vinho do Simon. — Estou tão feliz que você esteja aqui! — Estamos. — corrigi-a conforme empurrei um Simon de dentes largos. — Nós estamos felizes por estarmos aqui também. — Quem convidou o Four[21]? — ela disse, olhando para Simon. Eu tinha certeza que ele ia desmaiar de emoção por estar a alguns centímetros dela. — Eu pensei que nós poderíamos trazer os amigos? — eu abri um sorriso. Ela deu uma risadinha. — Tanto Faz. Entre! Vamos tomar uma dose! Tori nos levou através da casa onde todos populares da nossa escola estavam festando, bebendo ou se pegando. Simon se inclinou para mim. — Você ouviu o que ela disse? Ela me apelidou. — O quê?

— Ela me chamou de Four! — E... isso é um elogio? — Eu sei que é provavelmente fácil para pessoas como você conseguir um apelido no primeiro dia em que chegam, Alabama, mas para pessoas como eu - nós sonhamos em chegar tão longe! Estamos praticamente esperando em um canto implorando que nossos colegas nos deem apelidos. — ele me deu um tapinha nas costas. — Agora, licença enquanto fico ridiculamente bêbado. — Simon se afastou com sua garrafa de vinho, murmurando: — Puta merda. Estou na casa de Tori Eisenhower. — Bem, olhe aqui. Se não é o Sr. Alabama na festa que ele jurou que não viria. — eu me encolhi com o som da voz de Connor. — E pensar que você trouxe uma das esquisitices com você. — O que há, Connor? — eu disse, virando para encará-lo. Pelo olhar confuso em seus olhos, ele já estava bêbado. — O que há, Connor? — ele repetiu, empurrando-me no ombro. — Você pode acreditar, Matt? Ele disse o que há. — ele empurrou o cara de pé ao lado dele, que parecia confuso pra caramba. Connor se virou para mim. — Olha, Alabama, eu sei que você quer tentar ser visto comigo agora nesta festa, porque eu sou um negócio grande, mas é tarde demais. Você não pode simplesmente caminhar de volta para mim. Eu tenho um novo parceiro no crime. Conheça Matt. Ele é o novo ‘o cara’. Ele é de um país estrangeiro, não fala Inglês e as senhoras não conseguem tirar os olhos dele. — Cara. Eu sou do Canadá. — Matt suspirou. — E eu falo inglês. — Não, se você tiver algum plano de ficar com alguém. — Connor repreendeu. — Desculpe, Alabama. Você é novidade velha. — Oxímoro. — eu murmurei. — O quê? — Novidade velha, você não pode ser velho e novidade. Isso é simplesmente estúpido. Connor franziu a testa e me deu um tapinha nas costas. — Você era um grande candidato antes e agora as esquisitices contaminaram você. Adeus, Alabama. Adeus. — eles caminharam na direção do Simon, que estava na cozinha rodeado por algumas pessoas, que enfileiraram quatro doses na frente dele e estavam cantando: ‘Quatro para Four! Quatro para Four!’

Perguntei-me toda a noite, se Simon sabia que todos na festa estavam zombando dele ou se ele estava tão bêbado que não se importava. A maior parte da festa fiquei de pé na sala de estar, falando de coisas inúteis com pessoas inúteis, observando para me certificar que Simon não desmoronasse completamente. Ele estava atualmente reordenando os armários na cozinha para que todos os copos e pratos ficassem em grupos de quatro. Os idiotas estavam gravando-o, pedindo-lhe para explicar a importância da organização das suas roupas por cores. Mas Simon estava se divertindo, então eu não interferiria a menos que achasse absolutamente necessário. Do nada, um cara bêbado se aproximou de mim e me deu um tapinha no ombro. — Eu não acho que nós já nos conhecemos. — disse ele, segurando uma lata de cerveja em suas mãos. — Eu sou James Martin. — ele falou arrastado. — E você é? — Levi Myers. — eu respondi, dando-lhe o meu famoso sorriso falso. — Vamos pegar uma bebida, Levi. — ele ofereceu, me empurrando em direção à cozinha. Eu balancei minha cabeça. — Eu não sou bebedor. — Não é um bebedor. — ele riu e tomou um gole de sua lata de cerveja antes de derrubá-la no chão. — Você é engraçado. Eu gosto disso. Mas você sabe o que eu não gosto? Eu não gosto de você fodendo com os sentimentos da Aria. Vê aquele garoto ali? — ele apontou para um cara com uma menina em seu colo. — Esse é o meu melhor amigo, Mike. Ele é como um irmão para mim. E como ele é irmão de Aria, isso faz dela uma irmã para mim. Então, se você machucá-la, eu vou... — ele me cutucou no peito. — Chutar a porra da sua bunda. — James. — disse uma menina atrás do cara. — Você está bêbado. — ela suspirou profundamente. Ele se virou para ela, dando-lhe um grande sorriso. — É claro que eu estou bêbado, Nadine. É uma festa do caralho. Só idiotas derrotados não ficariam bêbados em uma festa. Nadine me deu um sorriso de desculpas. — Talvez você devesse tomar um ar, James. — ela ofereceu. Ele zombou. — E te deixar aqui com o Casanova? Foi disso que você o chamou, certo? O Casanova do Sul? Como se já não tivesse a porra de um namorado. — suas palavras eram enroladas, fazendo-o parecer um grande idiota.

— Você está agindo como um idiota. — ela sussurrou. — Seja como for, Nadine. Talvez você precise de uma bebida também. Então você não seria tão deprimente quanto o Casanova. — ele se afastou para o outro lado da sala de estar, onde um barril estava localizado. Nadine corou de vergonha. — Desculpe por ele. Ele nem sempre é assim. Só quando bebe. — Nada demais. O álcool tem uma maneira de fazer as pessoas mais agradáveis se transformarem em idiotas às vezes. Ela franziu a testa. — Sim. Demais. Enfim, eu acho ótimo o jeito que você trata a Aria. — Ela é algo especial. — eu balancei a cabeça, desejando que minha noite envolvesse-a em vez desta festa. — Ela é. Mas eu realmente vim aqui para dizer que Simon é uma espécie de alguns minutos de distância da cidade dos bêbados na cozinha. — ao contrário de todos os outros, ela não o chamou de Four. Meus olhos mudaram para a cozinha, onde eu vi Simon de pé sobre a bancada, segurando quatro pratos nas mãos antes de deixá-los cair um por um para o chão, fazendo-os quebrar. — Opa! — ele gritou. Pelo amor de Deus! Simon estava completamente bêbado por meia-noite. Seus óculos estavam dobrados, sua camisa estava coberta de bebidas derramadas e suas palavras estavam mais arrastadas do que parecia humanamente possível. — Vo-você pode a-a-acreditar nisso? Ela disse não para mim! Abbbigaail Esquisita me deu um fora! — ele gritou. Em vez de dar em cima da Tori, ele passou a maior parte da noite falando de Abigail. — Mas agora estou a-a-a fim de coisas melhores. — ele falou arrastado. — Eu sou popular! — as pessoas estavam em pé ao redor, gravando seu colapso bêbado, rindo. — Eu sou fodidamente popular! — Tudo bem, Sr. Popular. Vamos lá. — eu murmurei, levantando seu corpo conforme andávamos através da casa. As pessoas que estavam gravando Simon nos seguiram por todo o caminho até que alguém gritou: — BRIGA! — e eles correram para a sala de estar, onde um cara

estava sendo jogado em toda a sala e em uma mesa de centro. Outro cara sobrevoou a mesma mesa de centro e começou a balançar sem parar, socando o cara repetidamente enquanto todos aplaudiam, incluindo Simon. — Briga! Briga! Briga! — ele gritava, pulando para cima e para baixo. — Chute a bunda dele, Mike! — Simon gritava em direção ao cara que estava brigando. Merda. O irmão da Aria era quem estava dando socos e ele também estava recebendo alguns golpes no seu próprio rosto. — Chame minha irmã de prostituta novamente! Eu juro por Deus, faça isso, idiota! — Mike disse, golpeando a mão no maxilar do cara. Corri e tirei Mike de cima do cara. Seus olhos estavam selvagens com raiva e ele olhou para mim uma vez antes de sair com raiva. Simon bateu palmas, animado com a loucura da sua primeira festa em casa e então gentilmente se curvou e vomitou nos meus sapatos. Que noite perfeitamente maldita. Eu estava feliz que o fim de semana da festa infernal estivesse acabado na segunda-feira de manhã. Simon me mandou uma mensagem me dizendo que ele teve o momento da sua vida, o que era bom para ele. Era estranho saber muito mais sobre ele e quanto ele se culpava pelo que aconteceu com sua irmã, portanto, eu estava meio feliz por ter conseguido contribuir com a sua noite de liberdade. Ele continuou falando sobre a festa nos próximos três dias, tentando o seu melhor para não dizer nada sobre isso perto da Aria, mas eu sabia que ele escorregaria em breve. — Vamos faltar a escola hoje, Art. — eu disse na quinta-feira quando Aria veio até mim, na floresta, às 5:55 da manhã. Ela ainda estava esfregando o sono dos seus olhos e bocejando em suas calças e blusa de pijama. Ela se juntava à alimentação dos cervos quase todos os dias de manhã, quando ela não passava mal. Sempre que ela não aparecia, eu deixava um pacote de bolachas água e sal em sua janela. — Você deixou meu melhor amigo bêbado no fim de semana passado? — ela bocejou. — Eu não tenho ideia do que você está falando.

Ela me deu um sorriso com conhecimento. — Tudo bem. Ele pode ter ficado bêbado no fim de semana passado e eu posso ter estado lá com ele. — eu sorri. — Ele estava um pouco de coração partido por causa da rejeição da Abigail, então ele me pediu para sair para uma noite de homens com ele. — Mas eu pensei que ela gostava dele? — Eu sei. Mulheres loucas, eu digo. Ela estreitou os olhos. — Cuidado. Hormônios femininos de grávida aqui. — ela riu. — Eu também quase tive meu traseiro chutado por um cara que pensou que eu estava te sacaneando. — O quê? Por quem? — James Martin. Ele me disse que se eu estivesse ferrando com suas emoções, ele chutaria a minha bunda, porque você é como uma irmã para ele. Mais tarde, naquela noite, ele também me disse que eu estava saindo com alguma garota chamada Heather, o que foi uma surpresa para mim, desde que nunca ouvi falar dela. A boca de Aria caiu. — Sério? Ele disse que eu era como uma irmã para ele? — Sim. Ele pareceu se importar com você de verdade. Pelo que eu não posso culpá-lo. — eu sorri. Ela não falou. Ela bufou. — Oh meu Deus. Eu vou matá-lo. — Eu vou colocar o seu lado assassino na pilha de coisas de grávidas hormonais também. — Não. Isso não é hormonal. São apenas os fatos. Eu vou matá-lo. — Ah. Bem, então eu estou um pouco aterrorizado, mas estranhamente excitado por este seu lado escuro. Se matá-lo é o seu objetivo, isso é fino e elegante. Mas não hoje. Hoje vamos faltar a escola. — O que você está falando? — ela perguntou, estendendo algumas frutas do meu balde para o cervo. — Nós. Vamos. Matar. Aula. Hoje. — eu repeti, mais lentamente dessa vez.

— Não seja bobo. — ela respondeu, inclinando-se contra uma árvore. Encosteime ao seu lado. — Eu não estou sendo bobo. — Você está. — Quem disse? — Eu disse. — A garota que vai matar aula hoje? — Não, a garota que não vai faltar escola hoje porque já está atrasada nas suas aulas. Eu suspirei. — Eu vou te ajudar com a lição de casa. — eu ofereci. — Você quase não faz o seu próprio dever de casa. — Dever de casa é superestimado. — Talvez. Talvez. — Estou triste que não vamos faltar a escola. — eu disse. — Por que faltaríamos de qualquer maneira? Enfiei a mão no bolso de trás e tirei um par de ingressos. Os olhos de Aria caíram para os bilhetes. — É o seu presente de aniversário. Ela pegou-os das minhas mãos. — Cale a boca. Eu calei a boca. — Você comprou ingressos para a exposição de Jackson Pollock? Eu não respondi. — São de verdade? Silêncio da minha parte.

— Por que você não está falando?! — Você me disse para calar a boca. — Bem, fale agora. — Está bem. Eu comprei ingressos para a exposição Jackson Pollock para nós, mas hoje é o último dia. Ela franziu a testa. — É em Richman. É um viagem de trem de duas horas. — Então é melhor sair logo. — Eu tenho uma sessão de terapia depois da escola. — Então é melhor voltar mais cedo. — Você realmente quer faltar a escola? — ela perguntou, um pouco de esperança na sua voz. Só se você quiser. — Sim. Ela não respondeu de imediato. Ela olhou para os bilhetes em suas mãos, enquanto eu olhava para ela. Tentei contar cada sarda no nariz dela e quando eu perdi a conta, comecei de novo. — Eu nunca faltei a escola de propósito. — Há sempre uma excitação natural em fazer algo pela primeira vez. Seus lábios se transformaram. — Nós vamos totalmente matar aula hoje. Eu queria fazer uma dança, mas ela teria pensado que eu era um idiota. Por outro lado, ela já pensava que eu era um idiota, então eu fiz uma gingada de qualquer maneira. — Você é um idiota. Em seguida, ela dançou comigo. Ela era a única pessoa que poderia me chamar de idiota e me fazer sentir como o Super-homem, ao mesmo tempo.

[21] Quatro, fazendo referência à mania dele de ordenar e fazer tudo quatro vezes.

Capítulo Vinte e Dois Aria Levi ligou para a escola fingindo ser meu pai, afirmando que eu estava doente. Em seguida, 15 minutos mais tarde, ele ligou fingindo ser seu pai, afirmando que ele faltaria a escola devido a uma emergência familiar. — Esse foi um sotaque do Centro-oeste muito impressionante, Sr. Myers. Ele segurou um prêmio invisível. — Eu gostaria de agradecer à Academia. Eu ri. — Tudo bem, temos cerca de 30 minutos de caminhada até o próximo bairro para chegar à estação de trem. Você acha que você pode lidar com isso? — ele perguntou timidamente, fechando duas mochilas. — Eu realmente não achei que fosse isso tudo. — Tudo bem. — eu disse. — Eu vou ficar bem. Eu não disse a ele que a minhas costas estavam doendo ultimamente e que meus pés estavam inchados, porque com certeza ele cancelaria a nossa aventura secreta, e cancelar uma viagem para ver pinturas abstratas de Jackson Pollock era contra a lei. Ou pelo menos deveria ser. Ele olhou para mim com cautela, então eu coloquei um sorriso extravagante e mudei de assunto. — O que há nas mochilas? — Ah. — ele disse, sua preocupação transformada em emoção. — São nossos kits de arte. Eu estava lendo on-line que os garotos mais legais levam kits de arte com eles para museus de arte e desmoronam em pensamentos profundos, com alma. — O que tem neles? — Todos os conceitos básicos. Um caderno de desenho, canetas e lápis, uma garrafa de água, uma revista de sacanagem para mim, um romance de Jane Austen para você e Oreos com recheio duplo.

Eu ri. — Parece certo. Quando chegamos à estação de trem eu já tinha comido todos os meus Oreos, e dois de Levi. Ele me ofereceu todos eles, mas eu recusei, dizendo que eu não era gulosa. Meus pés estavam palpitando e eu sentia como se ficar de pé fosse uma tarefa direta do inferno. Eu nunca fiquei tão feliz em ver um trem estacionar na estação. Quando sentamos no trem eu comi o resto dos Oreos dele. Ele riu dos meus dentes pretos. No museu de arte, eu queria olhar para cada peça e ficar até o museu fechar. Então, depois que fechou, eu queria esgueirar de volta e sentar na frente das pinturas de Jackson Pollock e me perder completamente para que eu pudesse me encontrar de novo. Uma pessoa que nunca realmente perdeu-se nunca poderia realmente encontrarse também. Arte era tudo de certo e de errado no mundo. Ela entendia o que palavras não poderiam dizer. — Oxímoro. — disse Levi quando sentamos e olhamos com espanto para o trabalho artístico de Pollock. — “Arco-íris Cinzento”. — Talvez tenha sido sua palavra favorita também. — a pintura de Pollock era uma mistura de tinta principalmente preta, branca, cinza e prata, mas na parte inferior da tela tinham minúsculos traços de amarelo, verde, laranja, azul e roxo. — Ele mal utilizava pincéis. Ele usava varas e facas e todos os tipos de ferramentas diferentes para suas técnicas de pintura de respingar e gotejar. — Eu entendo agora, Art. Eu entendo porque você ama abstrato: em um primeiro momento parece apenas confuso, mas depois você percebe que é confuso, mas ao mesmo tempo não é. É o caos controlado. — Sim. — eu assenti. — Sim, sim, sim. — Isso é o que devemos fazer para a nossa peça final. Devemos fazer três pinturas abstratas ao vivo na frente da multidão. Cada peça será um oxímoro diferente. O primeiro você vai pintar alto e eu vou tocar a música suave. Em segundo lugar, poderíamos fazer uma pintura com raiva e eu tocarei feliz. Então nós poderíamos fazer amor e eu tocarei ódio. E você poderia pintar usando varas, pedras e folhas da floresta. Explorando seu próprio Pollock.

Virei-me para ele e não consegui parar de sorrir. Brilhante. Ele não olhou para mim, mas ele ficou olhando para o trabalho de Pollock. — Eu gosto do jeito que seu cérebro funciona, Levi. — Eu estive pensando em beijar você. — ele deixou escapar, ainda olhando para frente. — Eu penso muito em te beijar. Então eu me sinto mal por pensar em beijar você, porque você está passando por algumas coisas e inferno, eu estou passando por algumas coisas e a última coisa que você precisa saber é que eu estou pensando em te beijar porque isso é inútil. É tão absurdo, mas muito, muito verdadeiro, e isso não é tudo que eu penso. — O que mais? — Penso em como você tem quarenta e duas sardas no nariz e como eu quero beijar cada uma quarenta e duas vezes. Eu penso sobre como você é a única que ri das piadas de matemática ruins do Sr. Jones e sempre que eu ouço sua risada, eu rio também. Penso em como você toca sua barriga e sorri quando ninguém está olhando. É como se fosse seu segredo pessoal que o bebê a faça feliz e você continua mantendo isso para si mesma. Sinto-me mal por ter notado, porque parecia ser o seu segredo, mas eu não consigo evitar. Engoli em seco e esfreguei os braços enquanto ele continuou. — Penso em como você é linda quando está triste e me deixa irritado quando você está brava. Eu odeio quem a deixou intocável, porque se há algo que eu gostaria de fazer mais do que beijá-la, seria abraçá-la. Eu gosto de você, Aria. Eu sei que era para não gostar pelas razões certas, mas eu não me importo. Eu gosto de você e eu espero que esteja tudo bem, porque eu não sei como impedir. Eu não estou pedindo algo para você. Eu juro que não estou. Apenas... tome o seu tempo, só isso. Meu coração pulou, torceu, rodopiou e chorou. Ele ficou em silêncio antes de dizer: — Espero que tenha gostado do seu presente de aniversário. Desculpe ser atrasado. Mas não foi. Foi na hora certa. Nossas mãos descansaram contra o banco enquanto ficamos sentados olhando para o Arco-íris Cinzento.

Lentamente coloquei meu dedo mindinho na direção da sua mão. Lentamente, ele colocou seu dedo mindinho na minha mão. Lentamente, nervosamente, calmamente, os nossos dedos mindinhos juntaram. Sim, sim, sim. De alguma forma, nós conseguimos voltar para a estação de trem com duas horas de sobra antes da aula acabar. Isso significava que após os 30 minutos de caminhada de volta para a cidade, eu conseguiria passar o oitavo horário com Levi trabalhando no nosso projeto infalível. Principalmente eu só queria passar mais tempo com ele. Ficar perto dele parecia como ficar em torno de alguém que via suas cicatrizes e as chamava de bonita quando você só via seus erros passados. — Você sabia que seu irmão entrou em uma grande briga no sábado? — Levi perguntou. — Mike? Sim, bem. Ele e seus amigos estão sempre agindo como idiotas. — Foi sobre você. — ele disse, fazendo-me dar uma pausa. — Alguém a chamou de prostituta, e ele literalmente chutou a bunda dele. — Eu pensei que ele me odiasse. — eu sussurrei quando comecei a andar novamente. — Muito pelo contrário. — ele olhou para o chão. — Seus pés estão inchados. — disse Levi enquanto caminhávamos pelas ruas em direção à Mayfair Heights. — Estão bem. — Podemos fazer uma pausa. — ele ofereceu. Eu recusei. — Ah! Antes que eu esqueça, aqui. — ele parou de andar e abriu o zíper da mochila. Ele pegou três pacotes embrulhados em jornal. — Isto é para você, este é para o Abacate... — Manga. — corrigi. — É do tamanho de uma manga agora. — O quê?! — ele alcançou em sua mochila, pegou uma caneta, riscou a palavra Abacate sobre o papel e escreveu ‘Manga’. — Você tem que me manter atualizado

sobre as estatísticas, Art. Nossa. De qualquer forma, isso é para o bebê Manga, isso é para você, e isso é para ambos compartilharem. Eu rasguei o que era para mim e do bebê Manga e sorri quando vi um novo leitor de CD com um conjunto de fones de ouvido. Em seguida, havia dois CDs mix. — O seu tem um pouco mais de música rap do que o do Manga. O dele eu tentei manter dentro do limite parental. Há um monte de clássicos de violino no do Manga. Você pode colocar os fones de ouvido em sua barriga para o bebê ouvir. Assim, a criança pode ser um verdadeiro gênio musical como você. — Por que você é tão bom para mim? — perguntei, um pouco confusa. Antes que ele pudesse responder, uma voz gritou atrás de nós. — O que diabos você está fazendo aqui?! Eu me virei para ver o meu pai sentado em seu caminhão de encanamento, com o rosto vermelho como nunca. — Papai! O que você está fazendo aqui? — O que estou eu fazendo aqui?! Por que diabos você não está na escola?! Levi deu um passo adiante. — Desculpe, Sr. Watson, a culpa é minha... eu... Papai parou seu caminhão no meio da estrada, abriu a porta e marchou. — É claro que ela está com você, seu merdinha. Fique bem longe da minha filha. — Papai! — eu gritei, observando-o ir na direção do Levi. — Não é culpa dele, eu... — Você me disse que o filho não era dele! — papai gritou para mim, com as mãos em punhos. — Eu juro por Deus, se eu pegar você em qualquer lugar perto da minha filha de novo eu vou ter que colocar você na cadeia. — Senhor. — disse Levi, levantando as mãos em sinal de rendição, mas meu pai não se importou. — Entra no maldito carro, Aria. — ele ordenou, envolvendo sua mão no meu antebraço, me puxando na direção dele. — Ai, pai! Solte! — eu gritei. Levi deu um passo adiante por reflexo e meu pai afrouxou seu agarre.

— Dê mais um passo e você vai se arrepender, menino. Aria, carro. AGORA! — ele abriu a porta do passageiro e me obrigou a subir. Em poucos segundos ele estava no banco do motorista, acelerando pela estrada, deixando Levi para trás. — O que há de errado com você?! — gritei, batendo minhas mãos contra seu braço duro. — Eu não posso acreditar que você fez isso! — Você não pode acreditar que eu fiz isso?! Cuidado, Aria, porque você está tão perto de... — De quê?! Te irritar? Conseguir que você me ignore? Odeie-me? Porque eu tenho certeza que você já faz todas essas coisas. Eu cometi um erro, o primeiro erro que eu já cometi e você decide praticamente me renegar?! Seus dedos ainda estavam segurando o volante com força. — Então este é o seu raciocínio? É por isso que você está faltando escola, correndo pela cidade com um delinquente e agindo como uma maldita criança de cinco anos de idade? Porque eu não fui falar com você?! Jesus, Aria. Cresça. Lágrimas escorriam pelo meu rosto, e eu gritei: — Ele não é um delinquente! — Besteira, eu conheço o pai dele. Eu sei a merda que se passa na casa do Kent Myers. Além disso, James me contou como o garoto está te assediando na escola! — O quê?! — Eles são imundos e eu não quero ver você em qualquer lugar perto daquele menino de novo. E, se já não estivesse claro como o dia do caralho, você não está autorizada a namorar, Aria! Ele ficou em silêncio e permaneceu assim durante o resto do trajeto enquanto lágrimas caíam dos meus olhos. Quando nós chegamos na nossa entrada, eu corri para fora do caminhão. — Eu odeio você! — eu gritei, apressando para dentro de casa e passado por uma mãe confusa. — O que diabos está acontecendo? — ela perguntou, segurando KitKat em seus braços. — Aria, o que você está fazendo aqui? Eu a ignorei e corri para o meu quarto, batendo a porta para fechar. Apressei-me para mandar uma mensagem para Levi para certificar de que ele estava bem, mas ele não respondeu. Mesmo com a porta fechada e meu próprio choro, eu ainda podia ouvir mamãe e papai brigando. — O que está acontecendo, Adam? O que você está fazendo com Aria?

— Encontrei-a andando pela cidade com aquele garoto. — Que garoto? — Filho do Kent Myers! Eu juro por Deus, eu vou matar os dois. Eles começaram a brigar - de novo: mamãe falava ao papai que ele precisava se acalmar e meu pai gritava que ela precisava parar de me mimar. — Se eu pegar o filho do Myers em qualquer lugar perto da Aria novamente, ajude-me... — Você está sendo ridículo, Adam! — Não, Camila. Você precisa parar com essa coisa toda. Você já conhece os meus pensamentos sobre aquele pedaço de merda lá e eu estou mal e cansado de você agindo como se a gravidez da nossa filha não fosse grande coisa! — Eu sei que é uma grande coisa. Tenho lidado com o problema enquanto você fica inventando desculpas para não voltar para casa e razões para nunca mais olhar na direção dela. Você nem sequer voltou para casa para o aniversário dela. Eles não pararam por uma hora. Fiquei surpresa que eles sequer ainda tinham vozes. — Tanto Faz. Eu tenho que levar Aria para a terapia antes de eu voltar ao trabalho. — Sim, porque estão funcionando muito bem. Quem vai olhar KitKat enquanto você estiver fora? Eu tenho que voltar ao trabalho também. Essa merda me fez ficar horas atrasado. — Eu vou levá-la comigo, está bem? Você, faça apenas o que você faz de melhor: vai embora. A porta da frente bateu e a casa ficou em silêncio. — Aria, eu vou colocar KitKat no carro, encontre-nos lá fora. Depois de limpar os olhos, apressei a sair para o carro. — Mãe, me desculpe. Eu posso explicar... Ela não estava interessada. — Temos que voltar rápido para casa depois da sua terapia hoje, Aria. — ela disse enquanto entrava e afivelava o cinto de segurança. —

Estou de plantão no hospital hoje à noite e seu pai disse que vai trabalhar até tarde novamente, então eu preciso que você olhe suas irmãs, uma vez que Mike está no treino de futebol. — ela continuou falando sobre por que eu tinha que olhar Grace e KitKat, mas isso não importava muito para mim. Eu sabia que ela estava à beira de desmoronar porque ela continuava puxando sua orelha e eu sabia que era minha culpa. — Eu realmente não queria que você tivesse que lidar com cuidar das suas irmãs, porque eu tenho certeza que você está muito cansada, mas há tanta coisa acontecendo e seu pai não está tornando isso mais fácil para ninguém. E a faltar à escola, Aria? Realmente? Apenas não... não é legal. Além disso, eu preciso terminar a papelada para você ser educada em casa no próximo semestre, eu preciso ir às compras e fazer biscoitos para a aula da Grace, eu preciso me certificar de que você consiga ir às suas próximas consultas no médico, e, e, e... Ela respirou fundo antes das suas mãos voarem para seu rosto e ela começar a soluçar incontrolavelmente. Eu nunca tinha visto a mamãe chorar. Havia algo tão assustador e devastador em observar a Mulher Maravilha da sua vida desmoronar na sua frente. Eu soltei o cinto de segurança e aproximei, passando os braços em volta dela. Às vezes era tão fácil esquecer que os adultos eram apenas crianças em corpos maiores e seus corações quebravam simplesmente como os nossos.

Capítulo Vinte e Três Levi Eu estava aquecendo um pouco de sopa para o papai quando houve uma batida na porta. Quando entrei na sala, eu vi meu pai abrir a porta para o Sr. Watson. Apressadamente, eu me aproximei dos dois. — Mantenha aquele seu garoto de merda longe da minha filha. — Sr. Watson repreendeu. Papai se virou para mim, a confusão em seu olhar antes de piscar e um sorriso malicioso rastejar em seu rosto. — Adam, seria melhor você sumir da minha propriedade. — Estou falando sério, Kent. Eu conheço o tipo de vida que você leva aqui e a última coisa que eu preciso para minha filha é que se envolva nesse tipo de coisa. — Você quer dizer a sua filha grávida? — papai sorriu. — Parece que ela é muito capaz de se meter em encrencas suficientes sem a ajuda do meu filho. Agora dê o fora da minha propriedade. O peito do Sr. Watson estava subindo e descendo com força, suas respirações pesadas saindo pela boca. Seus olhos se moveram para mim, de pé atrás do papai. — Falo sério. Fique longe da minha filha. — Sim, sim, sim. — papai riu. — Diga à Camila que eu disse oi. — Não fale sobre a minha esposa. — Por que não? Ela não fala de mim? — papai zombou. Sr. Watson dispensou o papai com raiva quando se dirigiu de volta para seu caminhão e foi embora. O riso do meu pai desapareceu quando ele se virou para mim. — Por que diabos você está andando pela cidade com uma garota grávida? — Ela é minha amiga. Suas sobrancelhas abaixaram. — Você é realmente estranho, garoto. Apenas

deixe aquela garota, certo? Camila já tem o suficiente acontecendo na sua vida e a última coisa que ela precisa é aquele marido idiota enchendo o saco dela porque o idiota do meu filho gosta de se apaixonar por menina grávida. Deixe-a em paz, tudo bem? — Mas... — Eu disse para deixá-la! — ele ordenou. — Está bem. Ele resmungou e passou por mim. — E pare de assistir as malditas comédias sentado no hall de entrada. Há lugar para sentar na sala de estar. Eu não sabia como reagir. Pela primeira vez, meu pai estava me convidando para assistir as comédias em preto e branco com ele de uma forma indireta, mas ele também me disse para parar de falar com Aria. Eu era um perdedor ganhador. Quando nos sentamos na sala de estar, papai me disse que tinha negociado o seu velho carro batido por outro que não era câmbio manual. Ele me entregou um par extra de chaves e me disse que eu poderia usá-lo se eu quisesse, às vezes. Eu me perguntei se isso era a sua maneira de pedir desculpas por desistir da quimioterapia. Se assim fosse, eu só desejava que ele pegasse as chaves de volta.

Capítulo Vinte e Quatro Aria Às vezes eu pego meus pais olhando para mim esperando que eu confesse que na noite em que dormi com James foi um acidente, que eu não tive opção. Mas eu tive. Eu permiti que ele me tocasse e continuasse me tocando. Quando ele me beijou, eu disse sim, uma e outra vez, sentindo como se ele fosse a única coisa que eu precisava e queria. E então ele parou de me beijar. A memória daquela noite repetia na minha mente a cada manhã que eu acordava, ficava na frente do espelho do banheiro e tocava minha barriga. Às vezes eu olhava para mim esperando confessar que na noite em que dormi com James foi um acidente, que eu não tive opção. Mas eu tive. Eu o queria. E por alguns minutos estúpidos, eu poderia jurar que ele me queria também. A escolha de doces de hoje do Dr. Ward foi o Starbursts, que era muito melhor do que seus dias de alcaçuz preto. — O que está na sua mente, Aria? — Salvador Dalí. Salvador era conhecido por sua pintura de relógios derretidos, A Persistência da Memória. Você sabia que ele tinha um irmão nove meses mais velho que ele, que morreu? O nome do seu irmão era Salvador. Seus pais lhe deram o nome Salvador por causa do seu irmão morto Salvador. Isso não é louco? Eles acreditavam que ele era a reencarnação do seu irmão. Ele disse: ‘Nós nos assemelhávamos um com o outro como duas gotas de água, mas nós tínhamos reflexos diferentes. Ele foi, provavelmente, uma primeira versão de mim mesmo, mas concebido muito no absoluto’. Imagine essa pressão. Nunca viver de acordo com o que seus pais sonharam para você. — Você sente a pressão dos seus pais, Aria? Como se tivesse os decepcionado? Eu pisquei, pensando de novo na discussão que meus pais tiveram algumas horas atrás. — Existe uma quebra de contrato? — perguntei.

— Para quê? — Para o quanto seus pais te amam. Existem diferentes tipos de erros que podem apenas fazê-los parar de te amar? Como, por exemplo, uma criança começar a usar drogas ou brigar. Ou falhar em uma aula. Ou... — Engravidar. — Sim. Há uma quebra de contrato para o amor? — Seus pais ainda se preocupam muito com você. — disse o Dr. Ward. — Mas não é a mesma coisa. Antes, meu pai costumava aparecer em meu quarto a cada noite e me falar algo sobre esportes que eu não me importava. Então eu falaria algo para ele sobre a arte que ele não se importava e então ele beijava minha testa e saía. — E agora? — Agora, todas essas memórias estão apenas desaparecendo. — Você quer falar mais sobre isso? — perguntou. — Não. Ele não me força para mais detalhes. Eu estava começando a gostar disso nele. Quando chegamos em casa, eu olhei para o meu telefone para ver se Levi tinha me mandado uma mensagem de volta. Levi: Desculpe por qualquer problema que eu causei. Aria: Está tudo bem. Não foi culpa sua. Ele não mandou mensagem de volta até o jantar. Levi: Seria melhor se nós não falássemos fora da aula de arte e de música. Eu não quero adicionar esse estresse à sua família.

Aria: O quê? Isso é estúpido. Levi: Desculpe, Art. Aria: Você não pode romper uma amizade com uma garota emocional que está grávida através de uma mensagem de texto depois de dizer a ela que gosta dela. Isso é malvado. E estúpido. Ele não respondeu até após o banho de KitKat. Levi: Eu sei. Sinto muito. É isso? Você sente muito? Aria: Você quer a definição de idiota? Ele não respondeu.

Capítulo Vinte e Cinco Levi Na manhã seguinte, no ponto de ônibus, Aria não olhou para mim, mas ela realmente definiu uma palavra para mim. — Idiota: uma pessoa estúpida, má ou desprezível. Apenas no caso de você não saber. Eu definitivamente sabia. Logo antes do almoço, Simon me informou que eu deveria sentar em uma mesa de almoço diferente, mas ele me disse que ainda podíamos conversar na aula de ginástica. Eu suspirei, pegando o meu almoço e encontrei uma mesa abandonada no canto de trás da lanchonete. Sentei-me e comi minha comida desagradável. — Você está bem? — perguntou Abigail, caminhando até mim. — Eu passei pela mesa de Aria e Simon, e Aria me disse que não ia sentar com eles. — Sim. Ela sentou-se ao meu lado. — Eu tenho alguns minutos extras hoje, se você quiser que eu sente com você. E eu, provavelmente, terei um tempo extra amanhã, também. Eu sorri. — Obrigado, Abigail. — De nada. — ela fez uma pausa, olhando para as mãos. — Por que você não contou para Simon ou Aria sobre meu câncer? — O que você quer dizer? — Eu sei que você me viu na quimioterapia no dia antes de você me convidar para sentar e comer com vocês. — Ah. Sim. Eu não achei que fosse o meu direito de compartilhar algo assim.

— Mas foi por isso que você me convidou para comer com vocês três, certo? Porque você se sentiu mal por mim? — Não. Eu convidei você porque quando você sorri, faz todo mundo feliz. Ela tamborilou os dedos na mesa. — O dia que você me pediu para sentar com vocês, eu estava indo para o banheiro chorar, porque era um dos meus dias não tão felizes. Então, obrigada por aquilo. — A qualquer hora. Ela esfregou seu ombro e olhou para o outro lado, na mesa que normalmente ficávamos. — Simon está com raiva de mim ou algo assim? Ele nem conversa comigo, muito menos olha na minha direção. Ela honestamente parecia perplexa com a distância repentina de Simon. — Ele gosta de você, Abigail. — Ah eu sei. Eu gosto dele também. — ela disse, comendo seu sanduíche. — Não, quero dizer que ele gosta de você, gosta de você. — Eu sei. Eu gosto dele, gosto dele, também. — ela levantou uma sobrancelha. — Eu pensei que estivesse claro? Eu dei-lhe biscoitos extras. — Mas você disse a ele que não queria sair com ele. — Eu não quero. — Por que não? — Porque garotas como eu não tem namorados. — ela franziu a testa. Sentou-se comigo pelo tempo mais longo que ela já tinha sentado em algum lugar. — Depois da próxima semana, no entanto, as coisas serão diferentes. — ela murmurou para si mesma antes de dizer: — Devo fazer brownies para ele desta vez?

Capítulo Vinte e Seis Aria — Fique fora da minha vida caramba! — eu sussurrei gritado na direção do James, caminhando até seu armário. Eu não podia acreditar que ele não só teve a coragem de ameaçar Levi na festa, mas também contou mentiras ao meu pai sobre o Levi, como se o conhecesse. — E fique fora da vida do Levi. Ele não fez nada para você. — Bem, eu sinto muito. — ele sussurrou de volta, olhando para os corredores, certificando-se de que ninguém estava olhando para nós. — Eu sinto muito por me importar sobre os tipos de pessoas que estão mexendo com você. — Pare com isso, James. Você não tem nada a ver com isso. Você não tem nenhuma palavra a dizer sobre quem fala ou não comigo. Sua namorada é a Nadine. Não eu. E você está a segundos de distância de realmente irritar uma menina grávida. Ele estendeu a mão para tocar o meu ombro, e eu recuei. — E realmente? Eu sou como uma irmã para você? Porque isso não é realmente perturbador e embaraçoso. — eu comentei sarcasticamente. — Eu não estou apaixonado por ela mais. — ele deixou escapar, fazendo meu estômago revirar. — James... Ele deu um passo na minha direção. Eu me afastei. — Você está sempre na minha mente. Eu me pego pensando sobre você quando não deveria. Quando estou com ela, você está passando pela minha mente. — Provavelmente porque você se sente culpado por mentir para ela. — Não. — ele balançou a cabeça. — Bem, sim. Mas não é isso. Eu só acho que ela e eu...

— Deixe-me adivinhar, vocês dois estão ficando distante? Se eu ganhasse um centavo para cada vez que eu ouvi isso. — Aria, eu quero ajudá-la. Eu quero ajudar a tirar um pouco da pressão de cima de você. Não é justo que você esteja passando por isso tudo sozinha e eu só quero ajudar. — Bem. Então diga a todos na escola que você é o pai. — eu disse. Sua boca cerrou. Seus ombros caíram. Foi isso que eu pensei. — Deixe-me em paz, está bem? Ele balançou a cabeça. — Mas é verdade. Eu não estou apaixonado por ela. — Por quem você está ou não apaixonado, não é da minha conta. Assim como Levi não é da sua. Deixei-o de pé lá, estupefato. Eu desejava que o pai do bebê fosse um estranho. Ver James diariamente era uma bagunça completa. Eu me perguntava como as pessoas desapaixonavam. James fazia parecer como se desapaixonar fosse tão simples. Era um grande evento que mudava a forma como os seus corações batiam ou era os pequenos aborrecimentos que acumulavam ao longo do tempo? Mamãe e Papai brigavam todos os dias ultimamente, mas eu tentava o meu melhor para não pensar demais nisso. Pessoas apaixonadas brigavam algumas vezes. Sempre que uma de nós, filhos, os pegavam discutindo, eles ficavam mudos. Em seguida, falariam sobre alguma coisa mundana como o clima ou a política. Eles eram profissionais em fingir ser felizes, mesmo que todos nós soubéssemos que eles não estavam. Uma vez que saíamos do cômodo, a gritaria começava de novo. Então, um dia, tudo mudou. A briga parou. Ambos se cansaram. Às vezes, eles sussurravam coisas um para o outro, outras vezes eles passavam um pelo outro como se nenhum deles existisse. Eu sentia falta da briga. — Eu li algo interessante. — disse o Dr. Ward, inclinando-se para trás na cadeira. Eu fiquei confusa com a mudança repentina do início da sessão.

— Onde está a tigela de doces? — perguntei. — Ah. Nada de doces hoje. Não gostei disso. Eu não gostei da mudança. As canetas em suas mesas não eram mais azuis. Elas eram vermelhas. Eu não gostei disso também. O sofá tinha novas almofadas amarelas. Seu escritório era o mesmo, mas... diferente. — Como eu estava dizendo. — ele continuou. Não. Você só tinha que dizer duas coisas. — Eu pesquisei um pouco mais sobre Salvador após a conversa da semana passada. Ele tinha uma pintura chamada Meu Irmão Morto. Ele usou arte pop para criála, na verdade, você sabia disso? Claro que eu sabia disso. — É claro que você sabe disso. De qualquer forma, Salvador disse algo que me surpreendeu. Ele disse: ‘Todos os dias, eu mato a imagem do meu pobre irmão... eu assassino-o regularmente, para que o 'Divino Dali' não tenha nada em comum com este antigo ser terrestre.’ Interessante, né? Eu mexi no meu lugar, desconfortável com a citação. — Pergunte-me o que está na minha mente. — eu pedi. Ele balançou a cabeça. — Não hoje. Por quê? Por que ele tem que ser tão difícil hoje? Por que ele tem que quebrar a normalidade que tínhamos caído? Por que as coisas têm que mudar? — Você está com mais ou menos 16 semanas de gravidez agora, certo? Meus olhos se encheram de lágrimas, porque ele estava me vendo, mesmo quando tudo que eu queria era ser invisível. — Dezessete semanas. — Você não é a mesma pessoa que era alguns meses atrás, não é? Aquela menina se foi agora, não é? Eu balancei a cabeça novamente. — Mas talvez isso seja bom. Talvez não haja problema em deixar de ser a pessoa que pensávamos que estávamos destinados a ser. Talvez não haja problema em sermos apenas quem nós somos agora e aceitar isso.

— Mas eu errei. Eu baguncei o futuro da minha família. — Essa é a coisa sobre o futuro e até do passado. Eles não existem neste momento. Nós só temos o aqui e agora. Se nos concentrarmos muito no passado ou sobre o futuro, nós perdemos nossos desejos atuais, as coisas que queremos agora. Eu chorei em seu escritório pela primeira vez, quebrei, porque eu já não era a pessoa que eu costumava ser. Eu era alguém novo, alguém que meu pai não ama e minha mãe tinha pena; eu me preocupava muito com o que isso significava para o nosso futuro. Dr. Ward me entregou um lenço de papel e eu assoei meu nariz nele. Ele cruzou os braços, estudando cada movimento meu ao desmoronar. — O que você quer, Aria? — perguntou. — O quê? — O que você quer? — ele repetiu como se fosse a questão mais fácil que existisse. Eu chorei um pouco mais, porque eu sabia o que eu queria, mas eu achava que isso me tornava o tipo mais horrível de pessoa. Eu queria ter o bebê. Mas eu não queria mantê-lo. — Como foi a reunião? — mamãe me perguntou, afastando do escritório do Dr. Ward. — Horrível. — eu solucei. — Ele é realmente horrível. Eu nunca mais quero voltar. — Bom. — ela sorriu, acenando com a cabeça. — Bom, bom, bom. Estou feliz por você ter alguém para conversar. Eu também.

Capítulo Vinte e Sete Levi Eu não falava com Aria ou Simon há uma semana. Quando Aria e eu trabalhávamos em nosso projeto, ela usava o mínimo de palavras possível para demonstrar seus pontos de vista. Ela era fria, distante. Não foi até sexta-feira que ela realmente me notou. — O que está acontecendo? — perguntei, caminhando até Simon, Abigail e Aria. — É Abigail. — Aria sussurrou, os olhos arregalados. — Ela não está se movendo.... Meus olhos fixaram na menina e uma parte de mim não acreditava que fosse Abigail. Ela estava usando jeans e uma camiseta preta lisa que abraçava seu corpo. Sem saltos altos - apenas tênis. — Abigail? — perguntei, acenando com a mão na frente do seu rosto. Seus olhos azuis claros estavam arregalados, mas eu não podia ler seus pensamentos. — O que está acontecendo? — Ela não está falando, nada. Não há movimentos, não há palavras. — explicou Simon. — Ela está oficialmente quebrada. Ficamos parados na frente dela conforme os corredores esvaziavam e todos se apressavam para a primeira aula depois que o sinal tocou. Os corredores ficaram em silêncio e Abigail não se moveu. — Ela nunca se atrasou para a aula. — Aria franziu a testa. — O inferno está congelando agora mesmo enquanto falamos. Abigail piscou. Nossos olhos se arregalaram como se chocados com o pequeno movimento dos seus olhos. — Eu vou dar uma festa na minha casa hoje à noite. Estão todos convidados. — disse Abigail antes de sair.

Lentamente. Sem pressa. Em ritmo de caminhada normal. Que. Merda. É. Essa? Nós aparecemos na casa de Abigail ao mesmo tempo e quando eu perguntei para Aria se ela ainda estava chateada comigo, ela me disse para não falar com ela, por isso, tomei isso como um sim. — Para dizer a verdade, eu nem sei por que estou aqui. Eu ainda estou muito irritado com Abigail depois que ela me rejeitou categoricamente sem razão. — disse Simon, arrumando a gravata. O fato de que ele estava usando uma gravata me fez perceber que mesmo que ele dissesse que ainda estava bravo, ele ainda se importava com o que essa garota pensava dele. — Mas eu só tinha que saber como seria uma festa da Abigail. Simplesmente parece... estranho. Aria tocou a campainha da casa da Abigail enquanto Simon ficava tirando e enfiando a camisa xadrez de botão do seu jeans com cinto. Quando a porta se abriu, uma mulher mais velha com cabelos loiros e olhos azuis correspondentes ao de Abigail apareceu. — Oi! Vocês devem ser os amigos da Abbi. Eu já ouvi muito sobre vocês três! — ela sorriu brilhantemente, convidando-nos para dentro. — Eu sou a mãe dela, Nancy. Entrem! Estamos apenas começando tudo com os jogos e as coisas. Significa o mundo para nós que vocês vieram! Nós a seguimos em sua enorme sala de estar, onde balões cobriam o teto e um grupo de pessoas que parecia exatamente como Abigail estavam sentadas em volta, rindo, comendo aperitivos e dançando ao redor da sala. A energia do lugar era explosiva. Sobre a lareira estava um enorme cartaz que dizia: — Festa CF da Abbi! Abigail caminhou até nós, ainda fazendo aquela coisa estranha de andar em ritmo normal e ainda vestindo roupas normais. Ela sorriu amplamente. — Ei! Obrigada por terem vindo. Sigam-me e vocês podem colocar seus casacos no meu quarto, vamos lá. Todos nós olhamos para o outro, mas fizemos o que ela disse e seguimos na direção do seu quarto. As paredes do quarto de Abigail estavam cobertas com as mesmas citações positivas que ela jorra para nós diariamente. — Vocês podem jogar os seus casacos na minha cama. Então, podemos ir...

— Intervalo. — Simon interrompeu. — O que é uma festa CF exatamente? Os olhos de Abigail caíram em Simon, e ela deu de ombros, indiferente. — Uma festa livre do câncer[22]. — Por que diabos você teria uma... — Simon abaixou as sobrancelhas e balançou a cabeça de um lado para o outro. — Espere o quê? — Abigail, você tem câncer? — Aria deixou escapar, os olhos arregalados com confusão. Eu era o único que já sabia disso, mas o choque que encheu o rosto de Aria e Simon fez meu estômago revirar. — Tinha. Até alguns dias atrás, nós acabamos de descobrir que tudo... — QUE PORRA É ESSA?! — Simon gritou, seu corpo tenso, com os punhos apertados. — QUE MERDA VOCÊ QUER DIZER COM VOCÊ TINHA CÂNCER?! Ele estava furioso, a poucos momentos de cair aos pedaços. — O que isso importa? — perguntou Abigail, levantando uma sobrancelha. — Por que você está tão chateado? Acabou. Simon soprou e bufou, arranhando a parte de trás do seu pescoço. — Certo. De modo que isso deixa tudo bem? Então, a nossa forma de descobrir que você tinha câncer é em uma maldita festa livre do câncer com fodidos balões amarelos e roxos?! — São as minhas cores favoritas. — Abigail explicou, piscando rapidamente. — Eu não entendo por que você está tão bravo. Eu convidei você para a festa. Ele bateu com o punho contra sua boca e gritou: — Quão fodidamente atencioso! — ele correu para fora do quarto, chutando os poucos balões amarelos e roxos que estavam flutuando pelo chão. Depois que Simon saiu do quarto de Abigail, eu o segui para certificar de que ele estava bem. Ele não estava. Ele ficou na sala de estar com a família dela, estourando e chutando tantos balões quanto possível. Eu dei um sorriso tenso para a família de Abigail, agarrei o braço de Simon e puxei-o para fora da casa. Simon ficou na varanda da frente, andando, gritando como se ele ainda estivesse

discutindo com Abigail. — Como você pôde ser tão egoísta de merda?! — ele gritou. — Uma festa livre do câncer, quando ninguém sabia que você tinha câncer?! — Si. — eu disse, colocando minha mão no seu ombro. Ele rapidamente se virou para mim. — Você pode acreditar nisso?! Quem faria isso com alguém?! — suas narinas alargaram conforme ele voltava a andar rápido para lá e para cá. — Ela está bem, no entanto. O câncer se foi. — Mas e se ele não fosse?! — ele gritou, batendo com o corpo para baixo ao sentar-se no degrau mais alto da varanda. As palmas das suas mãos roçaram sua testa antes de ele olhar para frente. — E se ela não estivesse bem? Você não entende. Um dia minha irmã estava lá e então ela não estava. Teria sido assim com Abigail? Teríamos apenas entrado na escola, à espera de ouvir a sua velha citação aleatória na nossa mesa, mas então ela nunca apareceria? E, em seguida, o diretor apareceria no alto-falante e nos diria que um dos nossos colegas encontrou uma morte prematura, devido à sua batalha contra o câncer? Gah! Essa menina me irrita pra caramba! Sentei-me ao lado dele, olhando para frente também. Nós nos sentamos lá até que sua respiração desacelerou e a raiva diminuiu. Ele tirou os óculos e limpou-os com a sua camiseta, então, disse: — É estranho o modo como você pode encontrar pessoas todos os dias da sua vida e nunca verdadeiramente conhecer a sua história. — Eu não deveria ter parado. — disse Abigail, de pé na sua porta. — Ninguém realmente mexe com você quando você é a garota estranha que se veste engraçado. Era para eu continuar andando sem parar, encontrar meu caminho dia após dia, nunca tendo uma pausa, nunca parando para perceber as coisas. Porque quando você percebe as coisas, você começa a ver o quanto está perdendo e quando você nota o quanto está perdendo, fica triste por estar morrendo porque você vai perder muito. E uma vez que você está triste, fica deprimido, e tem que fazer tudo o que puder para ficar positivo durante o câncer porque seus pais já choram bastante e você já se sente mal diariamente, então você tem que se lembrar de manter-se em movimento, manterse ocupado, continuar lutando, mas você não pode permitir que qualquer outra pessoa entre na sua pequena bolha, porque você não precisa que ninguém mais se sinta mal por você. — Mas, então, eu cometi um erro no meu caminho para o banheiro e eu vi Aria tirar as coisas do seu armário, e ela parecia tão triste. Então eu parei. Mesmo que eu não devesse. — seus olhos caíram em Simon e ela falou baixinho: — E então eu vi

você também. Simon não tinha olhado para Abigail uma vez desde que ela começou a falar. Ele estava olhando para os tênis, batendo os pés repetidamente. — Simon. — eu sussurrei. Ele balançou a cabeça. — Eu sei. Ele se levantou, relaxou os ombros e caminhou na direção da Abigail. Ela separou os lábios para falar novamente, mas foi interrompida quando Simon pressionou seus lábios contra os dela. Em um primeiro momento, Abigail foi surpreendida pelo abraço repentino de Simon, mas levou apenas alguns segundos antes de ela começar a beijá-lo de volta. É isso aí, Simon. *** Havia uma liberdade que tomou conta da Abigail depois que ela percebeu que tinha enganado a morte. Vida brilhava através dela. Ela ria de forma diferente. Ela sorria de forma diferente. Ela estava diferente. Naquela noite, todos nós dançamos ao redor da sala, atirando balões, comendo muito bolo e rindo demais. Fomos todos as pequenas partes da trilha sonora de Abigail naquela noite, aumentando a sensação vibrante de alegria, felicidade e a ideia do amanhã. Conforme assistia Aria girar com Abigail, rindo como bobas, meu peito se apertou quando fixei o olhar na Aria. Seu sorriso desapareceu. Seus lábios se separaram enquanto seus olhos encheram de culpa. Não era justo da minha parte sentir pena de mim mesmo e da situação do meu pai, enquanto Abigail estava tão feliz. Eu não deveria ter sido tão egoísta. Mas sinceramente, eu me sentia horrível. Então eu corri para o banheiro para um descanso. — Eu estou bem. — eu disse, virando para ver Aria na porta do banheiro. Ela entrou e fechou a porta atrás dela.

— Eu sinto muito. — disse ela. — Estou feliz por ela. — eu disse, acenando com a cabeça uma vez. — Eu realmente estou, é que apenas... uma parte de mim desejava que fosse a festa do meu pai. — eu apertei minhas mãos por trás do meu pescoço. — Nós não deveríamos estar conversando. — Só um minuto, Levi. Nós ficamos parados por sessenta segundos. Eu contei cada segundo. Tempo viajou muito mais rápido do que eu queria. Um minuto acabou e tivemos que voltar para o lugar onde nós não conversávamos, onde fingíamos que não sentíamos as coisas que nós sabíamos que sentíamos. Ela virou-se e saiu do cômodo, dando-me os poucos momentos que eu precisava para me sentir um pouco decepcionado. O mundo não fazia sentido e era longe de ser justo. Ele inclinava-se em favor de alguns, enquanto outros lutavam diariamente para manter a cabeça acima da água. Eu assistia uma família desmoronar sobre uma nova vida que estava sendo trazida para o mundo, enquanto a outra não podia ter filhos. Eu tinha visto uma família comemorar sua vitória contra o câncer, enquanto eu observava a doença varrer a chance de um futuro com meu pai. O mundo era muitas vezes feio e doloroso, cheio de ódio, tristeza e desespero. Mas Aria? Ela fazia sentido em um mundo sem sentido. Ela era o arco-íris das minhas tempestades eternas.

[22] Cancer free, por isso a abreviação CF.

Capítulo Vinte e Oito Aria — Era para eu descobrir o sexo do bebê, uma vez que eu estou com 18 semanas. Está do tamanho de uma batata-doce hoje, o que se você pensar sobre isso, é meio grande. Mas eu vou esperar para descobrir o sexo, porque eu quero que você esteja lá. Eu quero que você fique com o bebê. — eu disse, minha voz tremendo enquanto eu estava na frente da mãe de Simon, Keira, em sua sala de estar. Seus olhos estavam arregalados e ela balançava agarrada com uma pilha de papéis. Minhas mãos estavam úmidas. Eu não tinha certeza do que eu estava fazendo, mas estava liderando com meu coração em vez da minha cabeça. Não parecia justo que eu estivesse grávida e que ela não pudesse ter um filho. Não era justo que o meu melhor amigo achasse que ele não era bom o suficiente ser o único filho por causa de um erro que ele cometeu quando criança. Não era justo que o vício preocupante de Simon de fazer as coisas em grupos de quatro provavelmente vinha de uma peça do quebra-cabeça que faltava para sua família. — Aria. — disse Keira, sacudindo a cabeça. Ela colocou os papéis sobre a mesa mais próxima e dentro de um segundo suas mãos tamborilavam sobre seu coração. — É muito gentil, querida, mas... — Mas o quê? Você pode ficar com ele. Eu prometo. — Querida. — ela disse, colocando a mão no meu rosto e depois penteou meu cabelo para trás da minha orelha. Ela até mesmo tocou meu rosto como as mães faziam. — Isso é muito doce. — ela repetiu. — E tenho certeza que Simon lhe contou sobre o nosso problema, mas não é sua responsabilidade, querida. Está realmente tudo bem. — Keira, eu realmente quero que você fique com ele. Eu não estou apenas sendo hormonal e eu não estou sentindo pena de você. Eu tentei descobrir por que isso tudo aconteceu para mim, o que significa, sabe? E eu acho que... — minha voz tremeu. — Eu sei que eu deveria dar a você. Seus olhos se encheram de lágrimas. — O que sua mãe diz sobre isso? — Eu não contei para ela ainda. Eu queria falar com você primeiro.

— E o pai? — ela perguntou. Eu balancei minha cabeça. James não queria um bebê na sua vida. Isso devido à forma como ele reagiu ao dilema de Nadine. — Não é uma preocupação. Realmente, Keira. Se você e Paul quiserem, ele é seu. Eu não quero nada além de uma mãe e pai amorosos para o bebê. Suas mãos cobriram sua boca, e ela não conseguia conter as lágrimas que caíam dos seus olhos. Ela assentiu com a cabeça que sim. Meu coração virou. Ela disse que sim. — Nós vamos ter que falar com sua mãe, Aria. E se você não tiver certeza... — Eu tenho. — eu prometi. — Vamos falar com a minha mãe. Mas, bem, nós abraçamos ou alguma coisa agora? — Sim. — Keira suspirou, envolvendo os braços em mim. Ela descansou a cabeça em cima da minha. — Sim. Nós abraçamos agora. Quanto mais próximo ficava o nosso abraço, quanto mais o sentia - mais eu tinha a sensação de que essa era a coisa certa a fazer. Mas isso não significava que eu não poderia também ficar um pouco triste com isso. — Isso é loucura. — disse papai, sentado no sofá. Seus olhos ficaram na mamãe enquanto eu tentava pensar na última vez que ele olhou na minha direção. — Nós não estamos considerando isso seriamente, estamos? — ele perguntou. Ele quase nunca olhava mais para mim e quando o fazia, era um olhar de desgosto. Apenas alguns meses antes, eu era a menina dos seus olhos, seu bebê, sua Ari. Eu queria que ele soubesse o quanto me doía saber que eu o machuquei. Mike entrou em casa segurando um pedaço de papel e olhou na nossa direção, observando mais uma briga. — É uma opção. — mamãe disse. — Dar a coisa para Keira? Vamos lá. Isso está ficando ridículo! Ele o chamava de coisa com mais frequência do que de bebê. — Bem, que conselho você tem para oferecer? Porque ultimamente tudo o que você está fazendo é reclamar e evitar, o que não é realista. — O que o terapeuta que estamos pagando um braço e uma perna tem a dizer

sobre isso? Eu não sabia. Dr. Ward e eu conversamos principalmente sobre arte. — Quem é o pai? — papai me perguntou. Não falei. — Droga, Aria! Quem é o pai?! — ele gritou, batendo a mão contra o braço do sofá. Ele estufou o peito e cerrou o maxilar. — Como diabos devemos ser realistas sobre isso quando ela mesma age como uma criança? — Eu não sei, mas fica um milhão de vezes mais difícil quando o homem adulto da casa faz birra sempre que a ideia da sua filha estar grávida é mencionada! Ele jogou uma mão para cima se exonerando enquanto se levantava do sofá. — Faça o que quiser, Camila. Certamente, dê a coisa para a sua melhor amiga. Tenho certeza de que não causará qualquer tipo de problema no caminho. — Cresça, Adam! — Mamãe gritou quando meu pai saiu da sala com raiva. Sua testa caiu para suas mãos. — Nós vamos arrumar isso, Aria. Está bem? Se isso for realmente o que você quer fazer, então vamos fazer isso funcionar, com ou sem a aprovação do seu pai. Mas se você puder, você devia contar ao pai da criança. É justo. Ela saiu da sala com os ombros caídos e seu estresse elevado. Mike estava no saguão, ainda segurando seu pedaço de papel. Ele fez uma careta. — Entrei em UW-Madison. — ele disse para a sala agora vazia. Ele amassou o papel e foi embora. — Não que alguém dê a mínima. Naquela noite, depois que mamãe saiu para o trabalho, eu corri para a loja para pegar algumas coisas. Quando voltei para casa, passei horas cozinhando, contando com Grace para me ajudar. Ela me contou mais histórias de horror sobre a minha gravidez enquanto quebrava as gemas na massa de bolo. Uma vez que todo o cozimento estava pronto, ela e eu enfeitamos a sala de estar em serpentinas e balões vermelhos e brancos. Fizemos placas e penduramos ao redor da sala, e quando tudo estava no lugar, eu fiz Grace correr lá em cima para buscar Mike, porque eu sabia que ele não iria querer me ver depois que eu arruinei a sua grande notícia. Quando ele desceu, ele viu a sala decorada em cores da UW-Madison com o pior bolo confeitado na mesa de centro. Tinha um animal desenhado nele, que era para ser

um texugo, mas de alguma forma saiu parecendo um cachorro morto. — Parabéns! — gritamos quando Mike entrou. Ele tentou o seu melhor para não sorrir, mas escapou. — Eu pensei que você fosse uma artista? Esse bolo está feio. — ele comentou, entrando na sala. — Ei! Eu fiz isso! — disse Grace, jogando uma colher de plástico em Mike. Ele retirou sua declaração. — Por feio, eu quis dizer perfeito. KitKat acordou da sua soneca, poucos minutos depois, nós quatro sentamos na sala de estar e comemos bolo para celebrar a entrada de Mike na faculdade. — Eu sinto muito por tudo. — eu disse a ele, sabendo que eu era a razão dos nossos pais estarem tão distraídos recentemente. Ele olhou na minha direção antes de pegar mais bolo. — Se alguém fizer mais merda na escola, apenas envie-os para mim. Eu vou lidar com isso. Na noite seguinte, James e Nadine vieram para sair com Mike. Como sempre, Nadine e James pararam para me verificar. Imaginei que James encontrou uma forma para voltar a se apaixonar por ela. Eu odiava o quão Nadine era maravilhosa, ela merecia mais do que seu atual namorado, que estava muito mais interessado em se intrometer na minha vida do que focar nela. — Alguma novidade? — Nadine perguntou sobre o bebê. Eu balancei a cabeça. — Eu decidi dar o bebê para adoção. — meu olhar moveu para James. — Eu quero que os pais de Simon fiquem com o bebê. Eles estão se esforçando por tanto tempo, e eu realmente quero que o bebê cresça em uma família amorosa com uma mãe e um pai, que estejam juntos. Eu tenho que contar ao pai para pegar a permissão dele, mas acho que ele vai ficar bem com a ideia. As sobrancelhas de James enrugaram e sua boca cerrou. Nadine franziu a testa por uma fração de segundo antes dela sorrir. — Eu acho isso tão corajoso, na verdade, Aria. — ela assentiu com a cabeça. — Você é muito corajosa. Ele limpou a garganta antes de concordar com a namorada. — Sim, eu acho que isso é ótimo. Tenho certeza que o pai ficaria bem com a ideia.

Capítulo Vinte e Nove Levi Era engraçado como as coisas que uma vez você odiou tornavam-se as coisas que você mais sentia falta. Mamãe não me ligava há alguns dias. Os telefonemas que eu odiava com ela em horas aleatórias da noite tinham se tornado uma parte da minha rotina. Eu sentia falta dela implorando para eu voltar para casa. Eu sentia falta dela me dizendo o quão horrível eu estava tratando-a. Eu sentia falta da sua voz, da natureza superprotetora, seu amor arrogante. Quando ligava para a casa, ela atendia, mas me falava que ela estava ocupada e desligava. Eu sentia como se ela tivesse superado - superado a ideia de tentar fazer com que eu voltasse para casa para ficar com ela. Então, em vez dela se preocupar comigo, comecei a me preocupar com ela. Onde estava sua mente? Ela estava saudável? Ela estava feliz? Ela ainda estava lutando com medos falsos e duras realidades? Liguei para Denise para ver se ela tinha verificado a mamãe como havia prometido. Quando ela atendeu, pareceu extremamente satisfeita. — Levi, ela está indo a uma clínica de saúde! — Denise exclamou. — O quê? Por quê? Ela está bem? — Ela está indo para St. John Music Wellness Clinic. Eles são conhecidos pelo uso da música para ajudar pessoas que sofrem como sua mãe. É o primeiro lugar que eu queria mandá-la, mas ela nunca concordou antes. — O que a fez mudar de ideia? — Eu não sei. Você conhece a sua mãe - quando ela está a fim, ela fica

disposta. E quando ela está para baixo, ela está para baixo. Acho que a pegamos em um momento bom. Mas não importa o quê, isso é uma boa notícia, Levi. Realmente, realmente boa notícia! — Como posso falar com ela? — perguntei. Ela ficou em silêncio por um momento. — Eu acho que nós deveríamos deixá-la se instalar primeiro. Eles estão começando tratamentos com novos medicamentos. Talvez dê-lhe uma ou duas semanas. Denise passou a perguntar sobre o papai e eu continuei a mentir, porque ela teria sido como mamãe e queria que eu fosse para casa se ela soubesse como as coisas estavam ruins. Quando desligou, eu ainda fiquei pensando sobre a mamãe. Eu sentia tanta falta dela ultimamente. Sua mente confusa e tudo. Talvez desta vez fosse diferente. Talvez dessa vez, o medicamento e tratamento funcionariam. Eu fui para a floresta naquela noite e toquei meu violino para ela. Fiquei de pé na maior rocha, permitindo que o ar frio passasse por mim. Lembrei-me de como ela costumava tocar música na floresta comigo em casa. Ela era sempre a melhor musicista. O que eu sentia mais falta era do som dela.

Capítulo Trinta Aria Eu estava grávida de 20 semanas, sentada no escritório do médico com a mamãe à esquerda e os pais do Simon à minha direita. Não era totalmente oficial com a papelada e tudo, mas eu sabia o que queria fazer: eu queria dar o bebê para Keira e Paul. Eu também sabia que não havia nenhuma maneira da Keira perder esse compromisso. Mesmo que Paul nunca faltasse ao trabalho, ele tinha pegado o dia de folga para estar lá. Paul era a versão adulta do Simon, com seu cabelo vermelho e rosto sardento. Ele não usava óculos, mas era apenas porque ele colocava lentes de contato todas as manhãs. A principal diferença entre Paul e Simon era que Simon era muito mais emocional do que Paul. Paul tinha a pele muito mais espessa do que Simon e as coisas não o atingiam tanto. Ele nunca falava muito, e tudo o que eu recebia dele, principalmente, eram sorrisos quando eu ia até sua casa, mas eles sempre eram sorrisos agradáveis. A sala estava em silêncio, exceto para o zumbido da máquina de ultrassom. A técnica esfregou o gel frio na minha barriga antes de eles deslizarem o transdutor para trás e para frente sobre a minha barriga. Ela estudou o ultrassom com um sorriso nos lábios. — Este tem um batimento cardíaco forte. Em 20 semanas eles estão aproximadamente do tamanho de um... — Melão! — Keira bateu palmas conforme sorria largamente com emoção. A técnica acenou com a cabeça. — Sim! Do tamanho de um melão. Você conhece suas coisas. — eu sabia disso, também. — E nós queremos saber o sexo hoje, certo? — Sim! — Keira gritou, e então ela rapidamente cobriu a boca. Os olhos dela moveram para mim. — Quer dizer, se você quiser, Aria. — Sim, nós queremos. — eu respondi. — É um... — Menino. — eu sussurrei, já tinha essa sensação. — Um menino. — a técnica sorriu para mim. — Deve ser sexto sentido de

mãe. Parabéns. Eu vou imprimir as imagens e passá-las para o médico, que falará com vocês depois. Agradecemos quando ela saiu da sala. Paul beliscou a ponta do seu nariz e fungou antes de envolver seus braços em Keira e puxá-la para um abraço apertado. Ele beijou sua testa e eles choraram juntos. — Obrigado, Aria. Obrigado, muito obrigado por isso. Mamãe estava chorando muito, apertando a minha mão de vez em quando. Todo mundo chorava, exceto eu. Eu estava entorpecida. É um menino.

Capítulo Trinta e Um Levi De manhã cedo, na sexta-feira, eu acordei com uma batida na minha janela. Meus olhos se moveram para o despertador no meu criado-mudo. Eu esfreguei as mãos sobre meus olhos, tentando focalizar os números. 03:31 da manhã. Que merda? Puxando-me para cima da cama, eu me arrastei até a janela. Eu acordei atordoado, vendo Aria ali de pé em sua longa camisola com macacos sobre ela inteira e combinando com chinelos de macaco. Eu abri a janela e olhei diretamente nos seus olhos. — Art, qual o problema? — pânico correu através de mim quando olhei para os olhos cheios de lágrimas. — Desculpe te acordar. Eu sei que nós não estamos falando agora, e normalmente quando tenho noites onde eu não consigo dormir, eu vou para o Simon, mas ele está muito feliz sobre ter um irmão e eu não gostaria de fazê-lo se sentir mal. Se você quiser que eu vá eu posso. Eu só... eu não tenho ninguém com quem conversar. — O que está acontecendo? Venha para dentro e fale comigo. Ela escalou pela janela, para dentro. Ela limpou os olhos com as mãos para remover as lágrimas que estavam agora em queda e riu baixinho. — Sinto muito. Eu estou apenas emocional e... — seus ombros subiam e desciam. Como que por instinto, movi meus dedos para seu rosto e enxuguei suas lágrimas. Se ela soubesse o que ela fazia ao meu coração quando chorava... — Fale comigo. — eu disse de novo, guiando-a para a minha cama. — É bobagem. — alertou, sentando-se. Sentei-me ao lado dela. Ela nunca esteve na minha casa. Isso era uma primeira vez para nós.

Ela devia estar realmente quebrada. Eu queria aproximar-me dela e segurá-la contra mim. Mas eu não faria. Eu não podia. — Não é. — eu prometi. Se estava incomodando-a, se estava fazendo-a chorar, não era bobagem. — Fale comigo. — eu repeti pela terceira vez. — Ele mexeu. — ela sussurrou, colocando as mãos na barriga. Sua cabeça se levantou e seus olhos de chocolate sorriram com seus lindos lábios. — Ele está chutando. Antes eram apenas pequenas vibrações, mas agora ele está chutando completamente. Meus olhos se arregalaram e sem um pensamento minhas mãos foram para sentir sua barriga, mas depois lembrei-me. Fiz uma pausa, sem saber se eu deveria. Ela pegou minhas mãos na dela e colocou-as contra sua barriga. Eu senti também. O movimento. A vida. — Jesus. — eu murmurei. Eu nunca tinha sentido nada tão mágico, tão real. — Dê-me uma palavra para descrever isso. Parecem borboletas e estômago revirando e estômago em nós, tudo de uma vez. Há uma palavra para isso? — Felicidade. — Felicidade? — ela perguntou. — Felicidade. — eu respondi. Ela assentiu com a cabeça. — Eu não consigo parar de chorar. — Eu acho que está tudo bem. — eu disse. — É um menino? — Descobrimos hoje. — ela chorou mais. — E eu sou uma pessoa terrível, porque eu pensei em mantê-lo quando ouvi isso. Eu pensei em como chamá-lo e quem ele cresceria para ser, em seguida, eu me perguntei o que eu diria quando ele perguntasse sobre o cara que me chamou de linda, mas realmente não falou sério. — Você é linda. — eu disse, entregando-lhe uma das minhas camisetas para assoar o nariz. Ela chorou ainda mais, porque ela sabia que eu falava sério.

— Você não é uma pessoa terrível, porque você acha essas coisas, Art. — Então, o que isso faz de mim? Eu disse aos pais do meu melhor amigo que eles poderiam ficar com o bebê e então eu penso em tomar de volta. Se isso não me faz terrível o que isso faz de mim? Fiz uma pausa, procurando a palavra certa. — Humana. Isso faz de você humana. — nós nos sentamos com nossas mãos descansando na sua barriga. Cada vez que sentia um chute, meu coração vibrava um pouco. — Ele é um melão agora. — ela me disse. — Isso é muito grande, mas ainda muito pequeno, ao mesmo tempo. — eu me levantei da minha cama e acendi a luz. — Eu tenho uma ideia. — E qual é? — Levante-se. Você tem que levantar para essa ideia. Interrogativamente, ela se levantou. Fui procurando através da minha coleção de CDs, em busca de uma determinada canção. — Ah, aqui está. — eu murmurei, jogando-o no aparelho de som que ficava em cima da minha cômoda. Continuei procurando no meu closet, entre as minhas caixas e roupas penduradas. Então eu puxei para fora um antigo case de guitarra e sentei no chão na frente de Aria. — O que você está fazendo? — ela riu, enxugando os olhos. — Sempre que estou me sentindo sobrecarregado eu levo o meu violino para a floresta e toco até que eu me sinta um pouco menos quebrado. E sabendo como está frio demais para tocar lá fora e sem ofensa, você é muito terrível em tocar instrumentos, vou ensinar-lhe o dom dessa beleza. — abaixei-me e destravei o case, abrindo-o para revelar nada e tudo de uma vez. — O que estamos olhando? — ela perguntou. Abaixei-me, levantando minha primeira guitarra air. — Isso aqui é uma antiguidade da família Myers. Meu avô ensinou o meu pai sua primeira canção na Air Guitar nesta beleza aqui e meu pai me ensinou com a mesma. E agora eu gostaria de ensinar ao Melão sua primeira canção na air guitar. Por certo, eu poderia precisar que você fornecesse os dedos para tocar uma vez que o Melão não é realmente... você sabe, totalmente funcional ainda. — É compreensível. — ela riu.

Coloquei-a no seu colo e ela aceitou. — Cuidado, você tem que ser gentil. — É claro. Comprometo-me a lidar com isso com cuidado. — ela sorriu e eu quase morri. O que eu mais amava eram os sorrisos dela. Eu levantei minha air guitar e apertei o play no aparelho de som. — Que música é essa? — ela perguntou. — She Talks To Angels, do The Black Crowes. — eu disse, afinando minhas cordas. Eu sorri enquanto a observava começar a imitar meus movimentos. — Era a canção favorita do meu pai para air guitar quando eu costumava vir visitá-lo. Ele adorava. Passei a próxima hora ensinando-lhe a introdução da música e continuamos a tocar até que ela começou a bocejar. Coloquei a guitarra dela de volta no case, tirei o CD do aparelho de som e coloquei no case também. Estendi na direção da Aria. — Eu não posso levar a sua guitarra, Levi. — Sem ofensa, Art. Mas eu tenho certeza que isso é entre mim e o Melão. — eu abaixei para sua barriga e disse: — Pratique sempre que puder, amigo. Aria escalou para fora da janela e eu lhe entreguei o case. — Obrigada por esta noite. — seus pés mexiam para frente e para trás. — Você acha que podemos almoçar juntos novamente? — Gostaria disso. Ela sorriu e saiu com o case da guitarra nas mãos.

Capítulo Trinta e Dois Aria Era uma tarde de domingo quando o papai saiu de casa. 22 de novembro, domingo anterior a Ação de Graças. Mamãe disse que ele não estava realmente se mudando, mas ele ia só ficar com sua irmã, Molly, por pouco tempo. Ela disse que eles precisavam de espaço e tempo para descobrir algumas coisas. Eu o vi carregar seu caminhão com malas da minha janela. Parecia um monte de bagagem para ser uma mudança temporária. Grace entrou e ficou ao meu lado, olhando para fora da janela. Ela tinha lágrimas nos seus olhos e eu envolvi meu braço nos seus ombros, puxando-a para mais perto. Mike entrou na sala logo em seguida. Pedi-lhe para não me culpar agora porque eu estava à beira das lágrimas também. Ele não disse nada. Ele estava do outro lado da Grace e envolveu um braço nela. Cada um de nós olhou para fora da janela. Foi a primeira neve do inverno. Quando ela caiu do céu, tudo ao nosso redor caiu junto com ela. Depois que papai foi embora, nós três ficamos lá por mais algum tempo. Mamãe se juntou a nós com KitKat em seus braços. Ela provavelmente estava triste, mas não demonstrava na nossa frente. Nós não comemos o jantar na mesa naquele domingo. Não parecia certo sem ele. Durante toda a folga de Ação de Graças, eu não vi Levi, principalmente porque eu passei os dias com a minha família, tentando impedi-los de cair aos pedaços. Eu mandei uma mensagem para ele sobre o papai se mudar e ele me enviou uma palavra por dia para me impedir de ir mais ao fundo do poço. Levi: Pensamento - substantivo: a ação de usar sua mente para produzir pensamentos.

Levi: Em - preposição: utilizado para indicar a identidade específica ou um item específico dentro de uma categoria. Levi: Você - pronome: Aria Lauren Watson. Pensando em você, também, Levi Myers. Eu estava na frente do espelho do banheiro vestindo um top e calça de moletom com o case da guitarra do Melão aberta sobre a banheira. The Black Crowes explodiu e eu pratiquei a canção uma e outra vez na air guitar. Grace passou pelo banheiro. Ela recuou seus passos e chegou a um impasse. — Você está bêbada? Eu ri. — Minha professora, Sra. Thompson, disse que ela não tinha permissão para beber quando estava grávida. — Bem, sua professora Sra. Thompson, era um pouco estranha para falar sobre bebidas para crianças da sua idade. Ela piscou enquanto observava minhas mãos para frente e para trás na guitarra invisível. — Você está ficando louca? — Essa não é uma boa palavra. Ela bateu a palma da sua mão na testa e foi embora. — Oh meu Deus, minha irmã é uma grávida maluca! Quando a escola voltou em 01 de dezembro, a neve estava despencando e eu estava enrolada no meu traje de inverno. Mamãe teve que me comprar um casaco novo, porque o meu casaco normal de inverno não encaixava bem. Simon se aproximou de mim e me deu um meio sorriso. — Eu ouvi sobre o seu pai. Você está bem? — ele perguntou. Eu balancei minha cabeça.

— Você quer falar sobre isso? Eu balancei minha cabeça novamente, olhando para o chão. Quando os tênis azuis chegaram ao meu lado e chutou em torno da neve no chão, juntei-me com os meus sapatos. — Oi, Art. Eu soltei a respiração que estava segurando por uma semana. — Oi. — Qual o tamanho que estamos agora? — Uma berinjela. Ele sorriu. — Bom dia, Sr. Berinjela. Nós subimos para o ônibus e sentamos um na frente do outro. Ele tirou seu leitor de CD e me entregou um dos fones de ouvido. Ele colocou o outro em seu ouvido. Tomei algumas respirações profundas. E quando ele apertou o play, nós dois tocamos nossas guitarras invisíveis. — Eu tenho uma proposta para você e estou esperando que você diga que sim. — disse Levi quando sua aula de música apareceu na nossa de arte. Abaixou o case do violino. — Acho que devíamos ser celebridades. — Nós não somos ricos ou famosos. — argumentei. — Além disso, não temos quaisquer eventos fashions para ir. — Ah! Mas isso está errado! Porque, enquanto eu estava andando pelo corredor, eu ouvi as pessoas sussurrando e fofocando sobre como eu poderia ser o pai do seu bebê. — É esse o rumor atual? — Na verdade, é o boato corrente, e vendo como a maioria das pessoas famosas são sempre notícias nesses tabloides que você lê, então eu acho que isso tipo que nos faz famosos por definição. — E qual é essa definição? — Ter uma reputação amplamente difundida. Eu sorri. — Nós temos isso, não é? Mas não temos um evento fashion para

comparecer, então eu acho que estamos sem sorte. Você quer trabalhar em algumas amostras do nosso projeto final? Você pode tocar enquanto eu pinto e... — Ei, ei, ei. Você não pode simplesmente mudar de assunto porque nós realmente temos um evento fashion para comparecer. — E é? Ele enfiou a mão no bolso de trás e tirou um pedaço de papel dobrado. Ele desdobrou-o e estendeu na minha direção. — Aria Watson, você aceita ir ao baile de inverno comigo na noite de sábado? Eu ri. — Sério? Ele balançou a cabeça. — De jeito nenhum. Minha mãe nunca me deixaria ir. Além disso, tem essa coisa toda de grávida de seis meses que está acontecendo comigo. — Você não se preocupe com isso. Apenas tenha um vestido pronto e seus sapatos de dança. Eu vou lidar com a sua mãe. Levi pediu à mamãe na terça-feira se ele poderia me levar para o baile. Ela disse que não. Ele pediu na quarta-feira. Ela disse que não. Quinta-feira, antes da minha terapia - não. Sexta-feira - não. Quando chegou sábado à noite, eu percebi que Levi tinha desistido da ideia de eu ir para o baile de inverno com ele. Eu estaria mentindo se eu dissesse que não experimentei cada vestido no meu armário, mas a maioria deles não servia mais de qualquer maneira. Talvez assim fosse o melhor. Eu assisti Mike e seu encontro Jamie se arrumarem com James e Nadine, antes de todos saírem para o baile que eu não estava autorizada a ir. Não era justo. Trinta minutos depois que o baile começou, houve uma batida na porta da frente.

Espreitei pelo canto, eu vi mamãe abrir a porta. Levi estava ali dando-lhe aquele sorriso encantador que fazia com que todos, do mundo inteiro, se apaixonasse por ele. — Olá, Sra. Watson. Em primeiro lugar, estas são para você. — disse Levi, entregando flores para a mamãe. Meu coração começou a bater mais rápido e mais rápido. — Obrigada, Levi, mas eu acho que a resposta ainda é a mesma. Nós pensamos que é melhor Aria não comparecer ao baile de inverno de hoje à noite. Ela disse, ‘nós’, como se o papai fosse uma parte da decisão quando, na verdade, ele nem sabia que havia um baile. — Eu sei, mas eu posso? — ele fez um gesto em direção ao saguão e minha mãe deixou-o entrar. Ela não deveria ter feito isso. Uma vez que Levi entrou na casa de alguém - ou do coração - não havia nenhuma maneira de se livrar dele algum dia. Ele estava vestindo um smoking preto com uma gravata borboleta de bolinhas verdes e brancas. Ele limpou a garganta e ficou alto, dando à mamãe aquele sorriso perigoso. — Eu quero levá-la para o baile. Eu entendo por que ela não ia querer ir. Eu entendo porque você não iria querer que ela fosse. Sua vida vai mudar nos próximos meses. Nada vai ser o mesmo, tudo vai ser diferente e você tem medo que todas as mudanças sejam demais para ela. Além disso, a ideia de mim na vida dela é apenas mais uma coisa estressante adicionada à equação. Confie em mim, eu tenho tentado deixá-la sozinha nos últimos meses, mas ela é implacável em conseguir minha atenção. Eu entendo que você se preocupe com o que os outros vão dizer sobre sua barriga sempre crescente e como ela vai ser julgada e criticada por outros garotos. Qualquer bom pai se preocuparia com tais coisas e qualquer pai amoroso iria querer proteger seus filhos disso. — Mas eu quero que você saiba que eu vou protegê-la. Eu vou fazê-la esquecer que há mais alguém no salão. Eu vou fazê-la se sentir confortável e bonita, porque sua beleza é reconfortante para mim. Vou dançar lento e não muito frequentemente, para que ela não fique de pé a noite toda. Eu vou fazê-la rir das piadas de matemática realmente ruins e dar-lhe realmente ponche diluído. Mamãe colocou o polegar entre seus lábios. Ela provavelmente estava debatendo se deveria jogá-lo do lado de fora e dobrar as trancas ou se ela devia arrastar-me para o meu quarto e me colocar em um vestido.

— Levi, você tem que entender. Aria não está em uma situação onde ela deveria estar namorando. Na verdade, é a última coisa que ela deveria estar fazendo. Ele balançou a cabeça. Ele franziu a testa. Ele olhou para minha mãe e me viu escondendo atrás do canto. Ele me deu um meio sorriso. Eu dei a ele a outra metade. Seus olhos viajaram de volta para a mamãe. — Você acha que eu quero namorar Aria? Deus, não. Não há nada sobre sua filha que eu queira namorar. Ela é legal e tudo, mas certamente, ela está, oficialmente, na zona de amigos do meu livro. — Eu acho que nós dois sabemos que isso é uma mentira. — mamãe suspirou, cruzando os braços. — Não, senhora Watson, não é. Você vê, há meninas e então há Aria. Aria é o tipo de garota que você vai para a loja de música e a ouve destruir os sons da música. Ela é o tipo de garota que você fala sobre seus pontos de vista, sobre o realismo em relação ao impressionismo. Ela é a garota que lhe diz que a arte abstrata é a melhor arte, mesmo que você discuta com ela com unhas e dentes sobre isso, porque você acha que é absurda, mas a próxima coisa que você sabe é que está sentado em uma biblioteca olhando para livros cheios de fotos abstratas e seu coração parece pronto para explodir. Levi virou-se para mim quando saí de trás do canto. Nossos olhos se encontraram, e ele continuou falando. — Porque você entende, sabe? Você entende que as cores, as linhas e as curvas não estão tentando ser como qualquer outra coisa no mundo. Você entende que a arte abstrata se destaca da normal, porque é a única maneira que a arte abstrata sabe como ficar de pé. E você fica tão fodidamente feliz, porque é tão bonito. E único. E nervoso. E... abstrato. A sala encheu de silêncio enquanto nós três ficamos sem palavras nas nossas mentes. Levi ajeitou a gravata borboleta, voltou-se para a mamãe e limpou a garganta. — Então, se está tudo bem, eu gostaria de levar sua obra-prima abstrata para o baile esta noite. Somente amigos. Mamãe se virou para mim e encolheu os ombros. — Você quer ir? — ela sussurrou. — Sim. Eu queria muito ir com Levi.

— Então vá. — ela assentiu com a cabeça em direção ao meu quarto. — Vá se vestir. Sem hesitar, eu me virei e corri na direção do meu quarto com o maior sorriso que eu já não podia esconder. Quando entrei no meu quarto eu não pude deixar de rir quando ouvi Levi dizer à minha mãe: — Eu sinto muito por ter dito a palavra com f na sua casa, Sra. Watson. — Está tudo bem, Levi. Considere como seu único passe livre. Quinze minutos mais tarde, eu saí do meu quarto usando um vestido preto que provavelmente não deveria ter esticado tanto quanto esticou. Meus pés estavam em um par de sapatilhas porque eram a única coisa que não me fazia sentir exausta de pé. Mamãe me deu seu colar de pérolas e brincos. Quando entrei na sala, onde Levi estava esperando, ele se levantou do sofá. — Uau. — ele disse, olhando na minha direção. Ele não disse mais uma palavra, ou moveu um centímetro. Minutos se passaram e ainda não houve movimento. — Levi. — eu ri suavemente e nervosamente, puxando a parte inferior do meu vestido. — Você está me encarando. — Eu sei. Eu juro que estou tentando parar, mas quando eu olho para você algo estranho acontece. — E o que é? — Minha mente se cala. — Ah, merda. — mamãe murmurou, de pé contra a lareira, observando Levi e eu com uma câmera em suas mãos e as lágrimas caindo pelo rosto. — Mãe, não chore. — Eu não estou, não estou. — ela prometeu, enxugando os olhos. — É a poeira da lareira, só isso. Ela sorriu e ficou com mais poeira em seus olhos quando tirou fotos de Levi e eu. — Eu gosto dele. — mamãe sussurrou quando beijou minha testa. — Eu sei que não deveria, mas eu gosto dele. — Você e eu sofremos do mesmo problema, mamãe.

Quando Levi e eu andamos até seu carro, ele segurou a porta do passageiro aberta para mim. Ele pulou para o banco do motorista e virou a chave na ignição. Minhas mãos descansaram na minha barriga conforme nós dirigimos em silêncio. — Eu falei sério, você sabe. — ele sussurrou, seus olhos na estrada. — A parte que eu disse sobre haver meninas e então haver Aria. Eu falei sério. Meus ombros relaxaram no banco e eu olhei para frente do para-brisa. Havia meninas, e então havia eu. Lentamente minha mão esquerda foi para a metade do meio do banco da frente, a palma da mão voltada para cima. Lentamente, sua mão direita veio para a metade do meio do banco da frente, a palma da mão virada para baixo. Lentamente, nervosamente, em silêncio, nós juntamos as mãos. — Você tem certeza que não quer um ponche? Quer dizer, eu sei que eles não têm copos incrustados de diamantes, mas eles têm aqueles grandes copos de plástico. — Levi ofereceu pela terceira vez. Nós nos sentamos em duas cadeiras contra a parede. Eu balancei minha cabeça. Eu não conseguia parar de puxar o tecido do meu vestido, sentindo como se estivesse muito por fora e que eu era muito gorda para estar lá. As meninas continuavam andando até nós e chamando Levi para dançar com elas, mas ele continuava recusando. Todas as meninas pareciam muito bonitas e muito longe de estar grávidas. Talvez tivesse sido uma má ideia vir. Levi descansou as mãos em seu colo. Seus pés estavam batendo contra o chão do ginásio com a música. Ele não estava se divertindo muito e eu me senti mal por isso. — Desculpe-me, eu sou tão chata. — eu disse. — Você não é. — ele mentiu. — Eu estou envergonhada. — Por quê? — Porque eu estou gorda.

Ele aproximou sua cadeira da minha e coloquei minha cabeça no seu ombro. — O jeito de você falar sobre si mesma me deixa com raiva. — Mas olhe para todas aquelas meninas lá. Você poderia ter qualquer uma delas. Claramente todas elas querem que você. — Eu não as quero. — Por que não?! Elas são tudo o que qualquer cara quer. Elas são o que você quer. Eu o senti tenso e seu pé parou de bater. Ele tirou a minha cabeça do seu ombro. — Pare de me dizer o que eu quero, está bem? — É verdade, porém, não é? Você quer? Ele revirou os olhos e se afastou de mim. — Tudo bem. — ele começou a caminhar em direção à pista de dança e eu vi algumas das garotas populares sorrindo na sua direção. Ele sorriu de volta. Eu me senti mal. Ele estava as escolhendo. Fazia sentido. Eu estava do lado de fora do mundo delas e Levi pertencia a elas. Mas então ele continuou passando por todas. Ele saiu do ginásio. Eu queria segui-lo, mas me senti muito estúpida para fazer isso. Então eu fiquei sentada. Eu fiz uma careta como uma idiota, minhas mãos descansando contra a minha barriga. Cerca de cinco minutos se passaram antes de Levi entrar de novo no salão, parecendo muito diferente de quando ele saiu. Minhas bochechas aqueceram quando o salão irrompeu com o riso. Ele estava usando uma barriga de grávida falsa e seus olhos ficaram fixos nos meus enquanto ele atravessou até chegar a mim. — Que diabos você está fazendo? — eu ri, olhando para o quão ridículo ele parecia. — Dance comigo. — disse ele, estendendo a mão para mim. — De jeito nenhum. — Dance comigo. — ele repetiu, dando um passo mais perto. — Levi! — Dance. Comigo. — ele implorou, seus olhos suplicando-me para dizer sim. Ele pegou minhas mãos nas dele e me levantei. A música era rápida e todo

mundo estava olhando para Levi. — Basta olhar para mim. — ele ordenou, então eu não desviei o olhar. Ele começou a dançar como um macaco, em todo o lugar, nenhum senso de ritmo e sem importar que os outros estivessem olhando para ele. Eu não conseguia parar de rir e comecei a dançar com ele. Com nenhum cuidado, nenhum medo e sem arrependimento. Fiquei olhando para ele e como ele se movia, sua barriga falsa dançava também. — Algumas pessoas nasceram apenas para se destacar, Aria. Apenas lide com isso e continue dançando. Eu não tinha certeza se estava autorizada, mas eu estava me apaixonando por ele. Cada segundo era preenchido com mais amor. Eu não tinha certeza se garotas grávidas de dezessete anos de idade estavam autorizadas a se apaixonar por garotos paradoxos que faziam seu coração pular. Minha cabeça ficava me dizendo que isso estava errado, que eu não deveria estar considerando uma ideia tão louca. Minha cabeça sabia que isso era errado. Minha cabeça conhecia cada razão pela qual eu nunca deveria ter me permitido apaixonar por Levi Myers. Minha cabeça me dizia que havia limites para o amor, limites. — Você vai ter um bebê. — meu cérebro me dizia diariamente. — Você não está autorizada a namorar. — ele ordenava. — Ele vai encontrar alguém melhor. — o meu cérebro me repreendia. Mas o meu coração... meu coração acreditava em um tipo de amor tranquilo, simples. Um tipo de amor que foi criado antes de existir o tempo, um tipo de amor que era maior do que quaisquer limitações que o mundo jogava sobre nós. Era um tipo de amor que não tinha limites de idade, sem fronteiras e era visto apenas dentro das almas de duas pessoas. Meu coração não me deu muita escolha. — Ame abertamente. — meu coração sussurrou. — Ame incondicionalmente. — implorou o meu coração. — Ame as brigas. — ensinou o meu coração. — Ame no momento. Era algo feio e bonito ao mesmo tempo, não era? Como seu coração não dava a mínima para o que sua cabeça queria.

Capítulo Trinta e Três Aria Nós caminhamos para fora e estava nevando, grandes flocos brancos cobrindo a cidade. Meus pés estavam doloridos, mas não estavam muito ruins, porque Levi tinha me forçado a sentar a cada poucas músicas. Ele segurou a porta do carro aberta para mim e fechou-a. Eu queria dizer a ele. Eu queria falar como eu estava me apaixonando por ele, como era difícil para eu me concentrar em qualquer coisa quando ele falava o meu nome, ou tocava violino, ou sorria. Quando ele entrou no carro nós nos sentamos lá por um tempo, assistindo a cada floco de neve cair. — Eu me diverti muito hoje à noite. — eu disse a ele. — Eu também. Silêncio. — Art? — Sim, Levi? — O que aconteceria se eu te beijasse? — Se você me beijasse? — meu olhar caiu sobre os lábios dele. Eu exalei lentamente. — Bem, tudo mudaria. — as coisas já estavam mudando. — Isso é uma coisa ruim? Minha voz tremeu e eu podia sentir as palmas das minhas mãos ficando suadas. Eu não queria fazer contato visual, então estudei seu tapete. — Eu só beijei um garoto antes. Eu não sou tão experiente. Eu não sou uma prostituta. Eu sei que todos na escola pensam que eu sou, mas eu só estive com uma pessoa. Eu só queria que você soubesse disso. Eu não sou uma prostituta. — Eu nunca pensei isso. — Talvez você tenha pensado uma vez. Talvez o pensamento passou pela sua

cabeça quando estávamos na sala de aula, ou quando eu faltei a escola por causa da azia ou quando minha barriga começou a aparecer. É compreensível. Eu nem mesmo ficaria com raiva de você por achar isso. Eu achei também, na verdade. — Eu nunca pensei isso. — ele disse com confiança. Ele se virou para mim e colocou a mão por trás do meu pescoço. Ele se inclinou para perto. Diminuiu sua respiração. Nossos lábios estavam a milímetros de distância. Eu não conseguia parar de olhar para a sua boca e eu acho que ele estava olhando para a minha também. Ele passou a mão no meu rosto e olhou nos meus olhos. — Quem quer que tenha feito você duvidar do quão incrível você é, quem partiu seu coração... eu vou odiá-los por um longo tempo. — Está tudo bem. — Como é que está bem? — Porque eu encontrei alguém que está tipo juntando-o novamente. Seus lábios se aproximaram dos meus e quando tocaram, eu senti sua mão envolver a parte inferior das minhas costas. A sensação de calor e proteção correu por mim quando ele pressionou seus lábios contra os meus. Inclinei a cabeça para a esquerda, aprofundando o beijo e passando meus braços em volta do seu pescoço. Então, quando nossos lábios estavam trancados, eu comecei a rir contra sua boca, sentindo sua barriga falsa de grávida batendo contra a minha gravidez real. Quando comecei a rir, ele começou também, o que acabou em uma risada. Nós não afastamos um do outro, embora; nossos lábios ficaram juntos, conectados. Quando meus olhos abriram, ele estava olhando para mim com aquele olhar típico dele. Eu puxei lentamente minha boca para longe da sua, mas de alguma forma pareceu como se nós ainda estivéssemos beijando. Eu esperava secretamente que esse sentimento nunca desaparecesse. — Art, você é algo especial. — ele disse, as pontas dos dedos massageando suavemente as minhas costas. — E eu estou tão malditamente feliz por tê-la conhecido. — o sotaque sulista que apareceu com a palavra malditamente era tão bonito. Foi o primeiro beijo mais estranho que eu poderia pensar, o que fez dele o melhor. Assim que ele colocou o carro no modo drive, seu celular tocou e eu vi o nome Lance aparecer na tela. Levi foi rápido para atender. O que começou com um sorriso e um: ‘Ei, o que está acontecendo?’ rapidamente mudou a cara do Levi para uma careta

e seu maxilar cerrado. — Eu estarei lá. Ele desligou o telefone e girou a chave na ignição. — E-eu tenho que deixá-la bem rápido. — O que há de errado? — perguntei, tocando seu antebraço. — Meu pai está no hospital. Desculpe-me, eu, hum... — ele começou a gaguejar, passando as mãos pelos cabelos. — Eu-eu-não sei onde é o Mercy Hospital? Lance disse que a ambulância o levou lá? Se você pudesse me dizer ou qualquer coisa depois que eu deixá-la, isso se-seria ótimo. Seu corpo estava tremendo, que fazia o meu corpo reagir da mesma forma. Eu balancei a cabeça para trás e para frente. — É apenas alguns minutos daqui. Eu vou com você. Basta pegar à direita na saída do estacionamento. Ele balançou a cabeça e sussurrou um obrigado. Eu balancei a cabeça de volta e fiz uma oração. Chegamos ao hospital e Levi quase se esqueceu de desatar o cinto de segurança quando ele correu para dentro. Eu estava bem atrás dele. Ele estava agitado, correndo para a recepcionista, sua falsa barriga de grávida ainda estava intacta. — Eu estou procurando pelo meu pai. — ele disse, seu nervosismo voando da sua boca. — Ele foi trazido um tempo atrás. Eu fui atrás dele e desabotoei a barriga falsa, permitindo que ela caísse no chão. Bem assim, a realidade estava de volta. O mundo real desabou. — Eu sinto muito, eu só vou precisar saber alguns detalhes. — a recepcionista calmamente tentou explicar. Minha mão pousou no ombro de Levi para conforto e eu me recusei a movê-la. — O nome dele é Kent Myers. Ele é, hum, ele tem câncer e eu só... olha, eu só preciso saber se ele está bem. — Tudo bem, um segundo... Ela estava levando mais tempo do que Levi queria. Toda a sua alma vacilou e balançou diante de mim. — Você poderia se apressar? — ele retrucou, algo que ele quase nunca fazia. — Levi. — nós ouvimos atrás de nós e viramos para ver seu tio Lance de pé logo

no corredor. Com pressa, corremos na direção dele. — Ele está bem, ele está descansando. — O que aconteceu? Onde ele está? Eu quero vê-lo. — Levi tinha lágrimas nos seus olhos, e ele piscou para escondê-las. — Ele me ligou reclamando de dores no peito e disse que estava tendo dificuldade para respirar. Daisy e eu corremos para verificar. Só piorou, por isso chamamos uma ambulância para buscá-lo. Eles ajudaram com a respiração dele e agora ele está descansando. Levi começou a tremer e Lance foi rápido para envolver seus braços nele. — Eu pensei... — Levi murmurou. — Eu pensei que ele... — Eu sei, cara. Eu sei. — Você deve ligar para a sua mãe e falar para ela onde você está. — disse Lance, andando na minha direção na sala de espera. Levi estava sentado no quarto do seu pai e eu estava esperando. — Talvez ela possa vir buscá-la. Parece que ficaremos aqui por um tempo. — Ela está trabalhando. — eu disse, batendo meu pé, sabendo que eu teria que chamar meu pai para vir me buscar. — Eu vou ficar bem, Lance. Ele me deu um olhar preocupado, mas eu disse-lhe para ir ver seu irmão. Quinze minutos depois que eu mandei uma mensagem para o papai, ele veio correndo para o hospital. — Aria! — ele exclamou, correndo para mim. Eu sabia que ele ia gritar comigo por estar com Levi. Eu sabia que ele ia gritar e repreender-me por estar fora com um garoto, especialmente o filho do Kent Myers. Em pé da minha cadeira, eu comecei a falar antes que ele pudesse. — Eu sinto muito, está bem? Eu sei que você não queria que eu saísse com o Levi, mas eu gosto dele, pai. Ele é o único na escola que não olha para mim como se eu fosse uma vagabunda e o pai dele está doente, e tivemos que vir aqui e... Eu não consegui terminar porque meu pai passou os braços em volta de mim, me puxando para um abraço. — Jesus Cristo, Aria! Eu pensei que algo tivesse acontecido com você ou o bebê! Você não pode simplesmente mandar mensagens de texto para as pessoas falando que você está no hospital! Você está bem? — ele recuou, estudando meu rosto, certificando-se que tudo estava no lugar certo antes de me puxar de volta para um abraço.

A confusão encheu-me por dentro, mas então eu percebi que eu não estava sonhando, que o papai realmente estava me abraçando muito apertado. Eu agarrei o paletó, puxando-o mais perto de mim. — Eu sinto muito, pai. Por tudo. Ele beijou minha testa e me segurou mais perto dele. — Nada disso importa, certo? Está tudo bem, Aria. Está tudo bem.

Capítulo Trinta e Quatro Aria — Sinto muito. — disse papai, estacionando na nossa garagem. — Eu tenho sido terrível em toda essa coisa, e eu só quero que você saiba que não é culpa sua. Eu estou passando um momento difícil e tenho descontado isso em você. Isso não é justo. E eu sinto muito. Eu o perdoei. É claro que eu o perdoei. Ele beijou minha testa antes de eu sair do seu carro, em seguida, ele voltou para a casa da Molly. Uma parte de mim queria fingir que ele voltaria para casa naquela noite e tudo voltaria ao normal, mas isso não aconteceu. Ele foi embora de novo. Mais tarde naquela noite, Levi estava do lado de fora da janela do meu quarto. Abri a janela e disse-lhe para entrar, mas ele não fez isso. — Ele simplesmente não parou a quimioterapia. — ele disse. — Eu pensei que ele só não quisesse mais fazer isso, mas o médico disse-lhe que não estava funcionando. Ele parou porque falaram para ele que não estava funcionando. O câncer está se espalhando muito. — Levi... — Ele está morrendo. — ele sussurrou. — Os médicos disseram que a única coisa que podem fazer é ajudá-lo a ficar confortável. Você pode acreditar nisso? — ele riu, agarrando o lábio com os dentes. — Não há nada confortável sobre o câncer. Você não pode tornar o câncer confortável. Que coisa absurda para se dizer. — Entre. — eu disse. Ele balançou a cabeça. — Não, eu deveria voltar para casa. Eu só queria pedir desculpas pela maneira como a noite terminou. — Entre. — eu repeti. — Eu estou bem. — Levi. Por Favor.

Ele respirou fundo e entrou. Nós nos sentamos na minha cama na escuridão, nossos dedos mindinhos juntos. Eu não tinha certeza do que eu poderia dizer para fazê-lo se sentir melhor. Eu nem sequer pensava que eu deveria tentar fazer algo para melhorar as coisas para ele. Talvez não fosse sobre consertar corações partidos. Talvez fosse sobre amar os pedaços quebrados do jeito que estavam. Talvez quando alguém que você amava estava sofrendo, tudo o que precisava era de alguém para segurar seu dedo mindinho como um lembrete de que eles não estavam sozinhos. — Eu tenho medo de desistir dele. — eu disse. — Eu tenho esses pensamentos de chamar Keira e falar que eu mudei de ideia e quero mantê-lo. Eu montei cenários na minha cabeça de como eu poderia fazer isso, como eu poderia criar um bebê sozinha e então eu penso em quão terrível sou por querer fazer isso. Eu começo a pensar em um futuro muito distante e eu percebo como seria uma coisa de merda a fazer. Então eu choro, porque eu penso muito e quero muito e preocupo muito com o futuro. — A verdade é que o futuro não importa, e você não deve se preocupar com o seu pai morrendo porque não há tal coisa de morrer. Há vivo e há morto. Só o aqui e agora, e se sentarmos e preocuparmos com o que vai acontecer em seguida, nós perdemos a melhor coisa: ficar aqui uns com os outros. — Eu estou me apaixonando por você. — ele admitiu baixinho, quase se desculpando. Ele esfregou seu ombro. — Às vezes você passa pela minha mente e eu só quero continuar pensando em você o resto do dia. Porque sonhar acordado com você é mais fácil do que pensar sobre o câncer. Eu quero sentar na floresta e pensar em você. Eu quero rastejar para fora da cama e pensar em você. Eu quero tocar música e pensar em você. Porque quando eu penso em você o mundo parece melhor. — Então eu me lembro que meus pensamentos não podem ser sobre você, porque você não é minha. Você não passa de um sonho. E eu não sou o cara que consegue os sonhos. Eu só fico com os pesadelos. Ele colocou as mãos no meu peito, sentindo meus batimentos cardíacos. — Não faça isso comigo, Art. Não me deixe continuar me apaixonando por você. Não me deixe te amar. Porque tudo o que eu já amei tem uma maneira de cair aos pedaços e a ideia de perder você é demais agora. Não me deixe continuar sonhando. Faça-me acordar.

Suas palavras eram de dor, cruas, sem censura. Eu vi o medo e a dor que viviam dentro dele. Eu a senti também. Não parecia justo, a maneira que a vida funcionava. Enquanto eu estava a meses de trazer uma nova vida ao mundo, Levi estava se preparando para dizer adeus a uma. Eu desejei que os problemas atuais fossem meus, em vez de Levi. Ninguém merecia se machucar tanto quanto ele. Ele foi nada, exceto gentil desde o primeiro dia e o fato de que seu coração estava quebrando fazia o meu coração quebrar também. — Podemos nos beijar de novo por um tempo? — eu perguntei, querendo que ele soubesse que eu era mais do que um sonho. Ele balançou a cabeça. — Gostaria disso. O nosso segundo beijo foi nada como o primeiro. Quando sua boca encontrou a minha, eu chorei. Eu podia sentir o quão triste ele estava quando ele me beijou e isso me deixou triste. Senti as suas lágrimas misturando com as minhas enquanto nossos lábios pressionaram uns contra os outros. Nós estávamos tentando o nosso melhor para viver o aqui e agora, na escuridão, juntos. Estávamos tão quebrados. Estávamos tão cansados ​das vidas que vivíamos, mas esta noite nós nos beijamos com os pedaços quebrados. Nós nos beijamos com o medo. Nós nos beijamos com a raiva. Nós nos beijamos com tudo o que tinha dentro de nós. E então nos beijamos um pouco mais. Nós ficamos cansados juntos, criando o nosso próprio tipo de arte. Nós nos tornamos as obras-primas das almas solitárias. As cores em ambos os nossos olhos sangrados, sabendo que, por vezes, as mais belas peças de arte eram criadas a partir das mais escuras das almas.

Capítulo Trinta e Cinco Levi Eu acordei para encontrar meus braços em volta da Aria. Minha mente começou a correr quando comecei a lembrar da noite anterior. A luz que brilhava através da janela caiu contra o rosto da Aria. Luz. Manhã. Disparar! Saí da cama e corri para pegar meus sapatos, esperando que... — Não há necessidade de pressa, você já foi pego. Eu me virei para ver a Sra. Watson em pé na porta com uma caneca em suas mãos. — Sra. Watson, eu posso explicar... — Você bebe café, Levi? — ela perguntou antes de ir para a cozinha. Eu segui atrás dela, um pouco preocupado em entrar em uma cozinha, onde havia muitas, muitas facas facilmente acessíveis. Eu cautelosamente corri a mão pelo meu cabelo desarrumado conforme a assisti pegar outra caneca do armário. — Creme? Açúcar? — ela perguntou. — Ambos. — eu respondi cautelosamente, sentando em um dos bancos na ilha. Poucos segundos depois ela me passou a caneca e parte de mim se perguntou se havia uma chance de que ela tinha envenenado. — Eu soube do seu pai. — ela se inclinou contra a ilha, na minha frente. — Eu sinto muito. Dei de ombros, correndo o dedo ao redor da borda da caneca de café. — Seu pai e eu costumávamos sair. — ela disse, fazendo-me quase cuspir meu café. Ela sorriu. — Um longo, longo tempo atrás. Éramos mais ou menos das mesmas

idades que você e Aria, por isso é um pouco estranho ver vocês dois tão próximos. É muito surreal. — Eu gosto dela, Sra. Watson. Muito. — Ela gosta de você também, querido, e eu acho que esse é o problema. Ela está passando por tantas coisas. Aria mantém muito para si mesma. Há tanta coisa que ela não diz. A pior sensação do mundo para um pai é saber que seu filho está sofrendo e ser incapaz de ajudá-lo. Eu só me preocupo que o fato de ela estar tão próxima de você possa ser algum tipo de caminho para evitar lidar com suas questões mais profundas. — Você quer que eu pare de vê-la? — perguntei, esperando que a resposta fosse não. Sra. Watson fez uma careta. — Eu não sei, porque ontem à noite quando você apareceu para o baile foi a primeira vez que ela realmente pareceu... feliz. Como seu antigo eu. Eu só... você poderia ir devagar com ela? Apenas amigos? — Claro. — O que significa, sem passar a noite. — Eu sinto muito por isso. Foi uma noite realmente ruim e eu não tinha mais ninguém para conversar. Eu não queria cair no sono aqui, eu juro. Sinto muito. Ela estreitou os olhos com um sorriso. — Você parece tanto com o seu pai, é assustador. — Ele foi sempre assim? — eu perguntei me referindo à frieza do papai e personalidade áspera. — Lembro-me de ele ser diferente, mas eu não sei se eu estou apenas criando essas memórias ou algo assim. Ela balançou a cabeça, indo para a geladeira e retirando os ovos e bacon. — Kent sempre foi um pouco áspero por fora, mas no final do dia, cada escolha que ele fazia era para cuidar dos outros. Suas táticas não eram sempre as melhores, mas os motivos por trás das suas ações eram sempre do seu coração. Ele não quer ser duro. — Quando eu costumava visitá-lo, ele ficava feliz por estar comigo. — Ele está feliz que você esteja aqui, confie em mim. Seu pai não fala sobre as coisas. Ele nunca realmente falou. Ele mantém seus sentimentos para si. Depois que você parou de visitá-lo, acho que ele ficou só, e em vez de fazer algo sobre sua solidão, ele segurou-a internamente e manteve seus sentimentos enterrados.

— Vocês eram apaixonados? Ela balançou a cabeça. — Talvez amor de criança, mas ele realmente amava sua mãe, ele apenas cometeu alguns erros ao longo do caminho. E eu realmente amei somente um homem. — lágrimas escorriam dos seus olhos e ela riu quando as enxugou, parecendo um pouco embaraçada. — Isto é o que acontece quando você trabalha demais em turnos noturnos em um hospital. — Eu realmente espero que as coisas resolvam entre você e o Sr. Watson. Com um sorriso tenso, ela balançou a cabeça. — Obrigada, Levi. Agora, para as coisas importantes. Está com fome? Ela começou a fazer café da manhã para mim e eu não pude deixar de pensar em como sentia falta da minha própria mãe. Quando ela não estava muito perdida na sua mente, ela preparava café da manhã para mim e nós conversávamos no período da manhã. Eu sentia falta disso. Depois que nós tomamos café da manhã, agradeci a Sra. Watson e saí pela frente da casa para ir para casa. — Ele ama você, Levi. Você sabe disso, certo? — a Sra. Watson disse, de pé na sua porta. Dei de ombros, fazendo-a enrugar o rosto. — O dia que ele descobriu sobre o câncer, ele veio até mim. Da mesma forma que você. Sentei-me com ele e pergunteilhe se ele tivesse a oportunidade de corrigir uma coisa em sua vida, o que seria. — O que ele disse? — Nada. Ele disse nada. Mas algumas semanas depois, você apareceu e eu acho que isso disse mais do que quaisquer palavras poderiam dizer. No próximo sábado foi a noite da nossa exposição Art & Soul da aula do Sr. Harper e da Sra. Jameson. Lance e Daisy me disseram que estariam lá na primeira fila e no centro. Papai contratou uma enfermeira para ficar em casa e ajudar a cuidar dele, então ele não conseguiria ir. Não que ele fosse de qualquer maneira. Simon e Abigail apareceram também, lábios trancados durante a maior parte da noite. Deus. Beijar daquele tanto deve ser cansativo. A exposição seria no auditório, que abrigava muito mais pessoas do que eu pensava. Aria e eu nos sentamos nos bastidores do palco, observando as pessoas que se apresentaram antes de nós. Todos os outros já tinham suas obras de arte concluídas, por isso, quando eles saíam, o artista discutia as técnicas deles e, em seguida, seu

parceiro fazia um número musical. A respiração da Aria acelerava quando ela olhava para o palco. — Esta foi uma ideia terrível. — ela disse, balançando a cabeça de um lado para o outro. — Nós deveríamos apenas ter feito como todo mundo e concluído a pintura. E se eu não conseguir fazer? E se eu congelar e não puder pintar na frente de todas essas pessoas? E se... — Basta olhar para mim. — eu ofereci. — Basta olhar para mim e respirar. Você pode fazer isso, Art. Ela assentiu com a cabeça e olhou para a plateia. Seus olhos se arregalaram. — Ele está aqui. — Seu pai? — perguntei, sabendo que ela estava preocupada que ele não aparecesse. — Não. Quero dizer, sim, ele está aqui, mas eu não estava falando sobre ele. — Então, quem? — eu olhei para fora para ver meu pai sentado ao lado de Lance e um nó se formou na minha garganta. Ele parecia fraco e cansado, e mal lá, mas ele estava lá. Ele veio. Sr. Harper anunciou-nos, e nós fomos para o palco. Enquanto Aria arrumava todos os seus materiais de arte eu fiquei encarregado de saudar o público. — Olá a todos. Eu sou Levi Myers e esta é Aria Watson arrumando as coisas dela atrás de mim. Nós decidimos que queríamos fazer três peças de arte ao vivo para mostrar a nossa coleção. Nós achamos que seria legal pintá-las em tempo real, em vez de completar as peças de antemão. Ou talvez nós apenas realmente deixamos para última hora e não terminamos nosso trabalho a tempo. — eu brinquei, fazendo a sala dar risada. — Nossa coleção é intitulada: Paradoxo absurdo. Aria me deu um sorriso, indicando que estava pronta para começar. Peguei meu violino, limpei minha garganta e comecei a tocar. O arco rolou sobre as cordas, quando comecei a tocar Love You Till The End, enquanto Aria usava gravetos quebrados e folhas da floresta para criar a sua parte abstrata. Ela usou cores escuras, temperamentais: azuis profundos, roxos escuros, pretos, cinzas, marrons. Ela criou uma obra de arte cheia de escuridão, desespero, raiva. Conforme me perdi na música, ela se perdeu nas cores. Ela se afogou enquanto as cores se afogaram; ela ficou mais sombria à medida que suas cores choraram. Ela tornou-se a arte. Foi assustador e bonito ao mesmo tempo.

A segunda música foi Fix You, do Coldplay. Ela usou cores brilhantes: amarelos, rosas, laranjas. Seu corpo se soltou quando ela espirrou a tinta sobre a segunda tela com facilidade. Seu comportamento outrora sombrio foi ultrapassado com uma luz de alguém se curando, encontrando seu caminho, encontrando a sua felicidade. Ela permitiu que o som do meu violino fosse o exato oposto do que ela criou. Foi legal ver tanta luminosidade e vida na segunda tela. Por último eu toquei Masterpiece, de Jessie J, música escolhida por Aria. A canção era sobre sentir uma enorme quantidade de pressão na vida de uma pessoa. Mas também apresentava a ideia de cair e levantar de novo. Era sobre encontrar o nosso caminho, aprender a viver, aprender a respirar. Aria parou por alguns instantes, olhando fixamente para a tela vazia. Ela deixou cair os gravetos e folhas do seu domínio e seus dedos mergulharam em uma mistura de cores. Roxos, verdes, amarelos, azuis. Seus olhos encheram de lágrimas e ela começou a pintar com os dedos, passando as mãos para cima e para baixo na tela. As cores pingavam, misturavam e harmonizavam. Ela começou a pintar freneticamente, as lágrimas caindo pelo seu rosto enquanto ela enxugava com os dedos cheios de tinta. Quando eu terminei a música, as mãos de Aria caíram para os lados. Seu peito subia e descia pesadamente conforme olhava para o seu caos controlado. Ela se virou para mim. Eu sorri. Ela sorriu. A sala inteira sorriu e aplaudiu, levantando aplaudindo de pé as nossas obrasprimas. — Aquilo foi fantástico! — Abigail jorrou, saltando sobre mim e Aria depois do show, a mão de Simon segurando a dela. — Eu sabia que vocês dois eram talentosos, mas o que vocês fizeram lá em cima foi além de talentoso. Que jeito de fazer todo mundo que subiu lá parecer ridiculamente mediano em comparação. — Bem, você sabe. — Aria sorriu, suas mãos descansando na sua barriga. — Algumas pessoas nasceram para se destacar. — O que vocês dois com certeza fizeram! — Lance disse, caminhando na nossa direção com o papai seguindo lentamente atrás. — Aquilo foi incrível. Por um momento eu pensei que Art fosse chegar até lá e pintar do mesmo jeito que ela tocou bateria, mas felizmente você foi o completo oposto. Foi alucinante. E você! — ele bateu palmas, com o rosto radiante de orgulho. Ele envolveu minha cabeça nas suas mãos, beijando minha testa. — Você é o tipo de músico que eu quero ser quando eu crescer.

— Ele está certo, você sabe. — disse Sr. Watson, batendo o programa da exibição contra suas mãos. — Você é um verdadeiro negócio, Levi. Esperei que ele adicionasse “para um idiota” ou “para um perdedor fodido”, mas ele não fez isso. Ele olhou para o meu pai e deu um sorriso que pareceu quase apologético. — Ele é bom, Kent. Papai apenas balançou a cabeça uma vez e meio que sorriu, o que senti como um abraço gigante. — Se estiver tudo bem com os seus pais, Lance e eu programamos uma festa de comemoração na nossa casa com uma quantidade ridícula de música, arte e pizza! — Daisy ofereceu. Aria e eu gememos com a ideia de pizza da Daisy; provavelmente era feita de terra, ou ao menos teria esse sabor. Daisy riu com conhecimento de causa. — Não se preocupe, não é vegana. Achei que todos poderiam gostar daqueles organismos nojentos, geneticamente modificados que são preenchidos com produtos químicos e venenos mortais que estão lentamente, mas seguramente, conduzindo ao fim da humanidade como a conhecemos. — OhmeuDeus, eu espero que você tenha pepperoni. — Aria brincou. Ela virouse para seus pais para perguntar se poderia ir para Lance e Daisy. Depois de um pouco de hesitação, Simon saltou para a conversa. — Não se preocupe, eu vou ter certeza que Aria fique em seu melhor comportamento. — Apenas certifique-se de não ficar de pé. — Sra. Watson ordenou para sua filha. — E me ligue se precisar de uma carona para casa. — disse o pai dando um passo para perto dela e beijando sua testa. Seus olhos se arregalaram com a atitude do seu pai. Ele colocou a mão no ombro dela. — Você foi fantástica esta noite. Lágrimas formaram nos olhos de Aria, enquanto ela agradecia. Simon e Abigail concordaram em encontrar-nos na Soulful Things depois que passassem na casa deles. Eu tinha certeza que era apenas uma desculpa para se pegarem pouco mais.

Capítulo Trinta e Seis Aria — Você foi incrível esta noite. — eu falei para o Levi. Eu nunca tinha o ouvido tocar daquele jeito, livre e cru. — Você não foi assim tão mau. — ele disse quando entramos no Soulful Things depois de Lance e Daisy deixarem Kent em casa com a enfermeira. Daisy colocou música tocando e por todo o espaço havia mesas montadas com pizza e lanches. Passamos a próxima hora falando sobre a apresentação. Rimos sobre como as pinturas de Connor acabaram parecendo pênis estranhos, ficamos impressionados que a Sra. Jameson tivesse finalmente decidido raspar a barba e não ficamos nem um pouco surpresos que o Sr. Harper tivesse feito um longo monólogo sobre seu amor do passado com Leonardo da Vinci. — Eu vou sentir falta daquela aula. — disse Levi, sentado no chão com as pernas enroladas em um bongo que ele batia de vez em quando. — Eu também. — principalmente sentiria falta de trabalhar com o meu parceiro a cada dia. No próximo semestre significava o início de educação domiciliar para o restante do ano. Eu sentiria falta das melhores citações de Abigail durante o almoço e sentar no ônibus sujo ao lado do Simon, mas principalmente eu sentiria falta de chutar pedras invisíveis com aqueles tênis azuis todas as manhãs no ponto de ônibus. — Onde estão exatamente Simon e Abigail? — Levi perguntou, arrancando-me dos meus pensamentos, que estavam ficando um pouco tristes. — Eles disseram que estariam aqui 30 minutos atrás. Assim como mágica, Abigail abriu a porta da frente da Soulful Things. Seus olhos estavam arregalados e ela estava ofegante, como se tivesse corrido todo o caminho da casa dela. As mãos dela pousaram em seus quadris enquanto ela se inclinou para frente, tentando recuperar o fôlego. — Simon está com um humor terrível. — O quê? Por que vocês dois tiveram que parar de beijar? — eu brinquei. — Não. — ela balançou a cabeça. — Muito pior do que isso, apesar de que foi

bastante horrível também. Eu tentei acalmá-lo, dizendo: ‘Você tem poder sobre os eventos da sua mente, não fora dela. Perceba isso e você vai encontrar a força.’ Sabe quem disse isso? — Marcus Aurelius. — Levi respondeu sem pensar. Ela arqueou uma sobrancelha. — Como você sabe? — Suposição afortunada. — disse ele, piscando na minha direção. — Este não era o plano! — Simon veio intrometendo na loja. — Eu não posso acreditar que eles fariam isso comigo! — ele gritou, sua respiração pesada enquanto seus dedos estavam enrolados em um pedaço de papel. — Quem exatamente está fazendo o quê com você? — eu questionei. — Meus pais! Esta não era uma parte do plano, nós não deveríamos ir embora! Minha garganta apertou. — O quê? — Foi oferecida uma promoção no trabalho para o meu pai. — explicou. — Eu encontrei a papelada na mesa da sala de estar. Eles nem sequer me contaram isso! — O que há de errado com uma promoção? — Levi perguntou em voz alta, seus olhos se estreitaram. — É em Washington. — Simon suspirou, tirando os óculos e esfregando as palmas das mãos nos olhos. Washington? Washington?! — Quando eu confrontei-lhes sobre isso eles disseram que não se mudariam até o verão, depois que eu terminasse o meu semestre de escola e depois que o bebê chegasse. Mas por que eles não me contaram?! É como se já tivessem resolvido! Não é justo. — ele continuou reclamando, mas meus pensamentos ainda continuavam e continuavam com a palavra Washington. Keira e Paul queriam uma adoção aberta; eu queria uma adoção aberta. Eu queria ver o bebê sendo criado em uma família feliz, amorosa. Isso não poderia acontecer se eu estivesse em Wisconsin e eles estivessem em Washington. Meus olhos continuaram piscando, senti meu peito apertar quando o bebê virou

e chutou a minha barriga. Isso não fazia parte do plano. — Bem, esta é a maldita festa mais deprimente que eu já vi. — reclamou Lance enquanto descia as escadas do seu apartamento. Todo mundo estava deitado no chão, sem falar enquanto a música tocava nos alto-falantes. — Sério, pessoal. Vocês são péssimos em festas. — Nós estamos deprimidos. — explicou Simon. — Você é muito jovem para estar deprimido, a menos que tenha gonorreia. Essa é uma merda de desmancha prazeres. — Lance riu, até que ele percebeu que nenhum de nós estava rindo com ele. — Vamos lá pessoal! Piadas de gonorreia são sempre boas! Ninguém respondeu. — Tudo bem. Bem, já que vocês estão todos adolescentes angustiados agora, que tal irmos para o telhado para o jogo incrível que Daisy preparou para vocês. — Não, obrigado. — disse Simon. — Muito deprimidos. — eu concordei. Lance cruzou os braços e estreitou os olhos. — Agora ouçam, seus pequenos estúpidos, Daisy deixou de fazer as coisas dela para preparar essa próxima atividade para todos vocês, e vocês vão levar suas bundas preguiçosas até a cobertura, talvez ficarem um pouco congelados e se divertirem. — nós todos olhamos fixamente para ele antes de ele levantar a sua voz. — AGORA! Na cobertura estavam arrumadas duas guitarras, uma enorme tela e cestas com balões de água. Havia quatro marcadores ao lado das cestas e pela minha vida eu não conseguia descobrir o que estava acontecendo. Daisy estava de pé com seu sorriso brilhante-como-sempre. — Tudo bem, pessoal. Em honra da noite épica de Levi e Aria, Lance e eu pensamos que seria legal que vocês explodissem em cores. Os balões estão cheios de cores de tinta diferentes e os marcadores são para que vocês possam anotar as coisas que estão sentindo. Tudo. O bom, o mau e as partes feias. Isso é o que os tornará bonitos. Além disso, haverá música, trazida a vocês por Lance e eu. — ela andou até a guitarra e apanhou-a enquanto Lance pegou a outra. — Façam bagunça. Nós quatro fomos para os balões com tinta e começamos a escrever as palavras que estávamos sentindo naquele momento. Palavras que nós adorávamos. Palavras que nós odiávamos. Palavras, palavras, palavras.

Simon escreveu Washington e jogou-a na tela, fazendo com que o balão estourasse com um azul vibrante. Mesmo que ele odiasse Washington, a forma como a pintura explodiu na tela o fez sorrir. — Isso é realmente legal, muito legal. Palavras que foram escritas e explodiram contra a tela: saudável bebê adoção longa distância música arte dor lágrimas chutes morte câncer riso tristeza você eu nós Todas as cores sangraram contra a tela, salpicada de tinta em todos os lugares. Até o final da nossa obra-prima, nós quatro tínhamos aprendido a rir de novo conforme nossas mãos conseguiram ficar cobertas de tinta. Levi correu os dedos na minha bochecha, pintando meu rosto com roxo. Eu ri e cobri suas bochechas com verde. Ele pegou o último balão e aproximou de mim. Tão perto que eu tinha certeza que ele ia me beijar, mas ele não beijou. Em vez disso, ele pegou o seu marcador e

escreveu uma palavra sobre o balão final. Havia mais de seiscentas mil palavras do dicionário Oxford. Isso significava que existia seiscentas mil definições de palavras diferentes, com um milhão e um de significados. Algumas palavras eram bobas enquanto outras eram desoladoras. Algumas palavras eram felizes, enquanto outras eram irritadas. Tantas letras diferentes se reuniam de diferentes maneiras para formar palavras diferentes, significados originais. Tantas palavras, mas no final do dia, havia apenas uma palavra que se destacava entre as demais. Uma palavra que de alguma forma significava o céu e o inferno, os dias ensolarados e os dias chuvosos, o bom, o mau e o feio. Era a única palavra que fazia sentido quando tudo ao seu redor era confuso, doloroso e sem remorso. Amor. Com um sorriso, eu envolvi meu dedo mindinho no dele e disse: — Eu te amo. Poderia não ser certo que nos sentíssemos dessa maneira, mas eram os nossos sentimentos, nosso caminho. Meu coração explodiu quando seus lábios encontraram minha testa e eu o ouvi sussurrar: — Eu também te amo.

Capítulo Trinta e Sete Aria No dia seguinte, Keira e Paul sentaram-se na nossa sala de estar explicando para a mamãe, papai e eu como a oferta de trabalho não era algo que tinham planejado. — Eu nem sabia que estava concorrendo para a promoção. — disse Paul calmamente. — E eu sinto muito que você tenha descoberto dessa maneira, Aria. Simon não deveria ter dito a você. Eu dei de ombros. — Eu teria descoberto independentemente disso, eu acho. Keira colocou as mãos no colo, dando-me um sorriso cauteloso. — Eu sei que isso não é o que concordamos, e se não for algo que você esteja confortável, Paul vai recusar a promoção. — Sim, cem por cento. — Paul concordou. — Mesmo que ela nos deixasse dez vezes mais financeiramente estáveis, tirasse-nos de anos de dívida e de luta. Keira beliscou seu braço, fazendo-o estremecer. — Mas não é sobre o dinheiro. É sobre você se sentir confortável. Olhei para papai e mamãe, querendo que eles falassem por mim, apagassem todos os problemas e tomassem as decisões, mas eu sabia que era minha responsabilidade. Mike entrou em casa rindo com James e eles pararam quando viram todos nós sentados. Mike gemeu: — Não é outra conversa emocional sobre bebê. O olhar do James caiu sobre mim, preocupação enchendo seus olhos castanhos. — O que está acontecendo com o bebê? Ele está bem? — a tensão e o nível de preocupação na sua voz foi alarmante. Olhei em volta, certificando de que ninguém tinha notado sua urgência antes de responder: — O bebê está bem. Nós estamos apenas comemorando a nova promoção no trabalho de Paul em Washington. As mãos de Keira caíram para seu peito e ela respirou. — Estamos?

Eu cutuquei as minhas unhas e assenti: — Sim. Parabéns pessoal. James aproximou mais da sala, correndo os dedos pelos cabelos. — Então, o bebê vai para Washington? Você não vai sentir falta, Aria? Você não queria que ele ficasse perto de casa? Ele estava começando a suar enquanto limpava as mãos contra seu jeans. Papai virou-se para James e limpou a garganta. — Desculpe, James. Este é o tipo de uma conversa particular. Com algumas piscadas, James pediu desculpas. — Eu não tive a intenção de cruzar quaisquer linhas. Linhas que estavam definitivamente borradas e turvas. — Você não pode seriamente deixá-los levar o bebê para Washington! — James invadiu meu quarto sem ser convidado. Ele provavelmente estava sentado no quarto de Mike esperando que uma quantidade razoável de tempo passasse antes que ele anunciasse sua ida ao banheiro, o que aparentemente acontecia de parecer notavelmente como meu quarto. — Você deveria ter falado comigo sobre isso. Eu levantei uma sobrancelha. — Por que eu falaria com você? Não é da sua conta. — Não é da minha... — seu queixo caiu antes que ele passasse a mão sobre sua boca, espantado. — Ele é meu filho também! Corri da minha cama para fechar a porta do quarto. — Você quer dizer isso um pouco mais alto? Eu não acho que eles te ouviram no Canadá! Ele apertou a ponta do seu nariz e empurrou as solas dos seus sapatos para frente e para trás em todo o quarto, deixando ziguezagues ao longo do chão acarpetado. — Desculpe. — ele murmurou. — Eu não sei o que estou fazendo. — ele abriu a porta e saiu com a cabeça abaixada. Sentei-me na minha cadeira e esfreguei as mãos sobre minha barriga crescente. Pelo menos James e eu tínhamos isso em comum; ele não tinha a menor ideia do que estava fazendo, e nem eu.

Capítulo Trinta e Oito Levi Eu recebi um telefonema da Denise e ela falou palavras que eu nunca quis ouvir. — Sua mãe está no hospital. — O que quer dizer com ela está no hospital? A voz da Denise era baixa, quase muda. — Ela teve uma má reação a um dos seus medicamentos novos e tropeçou em alguns degraus na clínica. Os médicos não me deram todos os detalhes ainda. — ela estava chorando no receptor, suas palavras enroscando com seus pensamentos. — Ela estava indo tão bem, Levi. Ela passou a dizer-me o quanto estava assustada pela mamãe, mas ela não sabia qualquer coisa sobre estar com medo. Estar com medo, atualmente, era estar a 1200 quilômetros da sua mãe machucada, sentir-se a um milhão de quilômetros de distância do seu pai moribundo e não ter qualquer ideia do que você deve fazer em seguida. A música era o que residia na alma da minha mãe. Todos os dias antes de ela e eu termos nossas aulas de violino, ela citava Friedrich Nietzsche, dizendo: ‘Sem música, a vida seria um erro.’ Não importa como ela estava com a sua estabilidade mental. Quando ela estava mentalmente inteira comigo, ela citava Nietzsche. Quando ela estava bem distante na sua própria mente, ela ainda citava Nietzsche. Mesmo quando sua mente a levava para os lugares mais escuros dentro da sua alma, a música ainda estava lá para ela, seu medicamento, seu suporte de vida. Na véspera de Natal eu encontrei-me de pé dentro da Soulful Things, sem saber qual deveria ser o meu próximo passo. Lance sentou em uma cadeira atrás de mim, sem fazer um som. Eu nunca tinha ouvido a Soulful Things tão silenciosa. Depois que contei para ele sobre o que tinha acontecido com a mãe, ele disse: — Por que a maioria das coisas de merda acontecem com os melhores tipos de pessoas? — ele pediu desculpas várias vezes até que não sobraram palavras para serem ditas. — Como escolho? — eu sussurrei, minha mão rolando ao longo do meu pescoço

repetidamente enquanto minha mente disparava. — Como faço para escolher qual dos pais devo apoiar? — eu ficava com o meu pai que eu nunca tive a chance de conhecer, que estava atualmente vivendo os últimos dias da sua vida? Ou iria para casa, para a minha mãe, que estava batalhando com seu acidente e precisava de mim ao seu lado? Como você escolhe qual necessidade é mais importante? Como você escolhe com qual dos pais ficar, quando ambos precisam do seu apoio? Lance se levantou da cadeira e entrou na despensa. Ele voltou com um case envolto com um laço vermelho. — Eu ia dar isso para você amanhã, mas eu acho que você pode precisar dele hoje à noite. Eu abri o case para encontrar um novo violino. Não era simplesmente qualquer violino novo, era o Modelo Karl Willhelm 64, o mesmo que fiquei de olho na sua loja desde que cheguei aqui. — Jesus, eu não posso aceitar isto. Ele vale mais de três mil dólares. — Pago integralmente. Fui em frente e arrumei para você também. É seu. — ele sorriu. Eu peguei o violino e olhei para ele nas minhas mãos por um momento antes de trazê-lo para o meu nariz para cheirar. Para um músico, cheirar um novo violino era o equivalente a um leitor que cheira um novo romance. Era um aroma familiar que fazia você perceber que o mundo não era um lugar completamente terrível, que ainda havia beleza que existia. — Perca-se, Levi. — Lance disse da maneira mais carinhosa possível. — Obrigado. — eu murmurei para Lance, para a música, para a minha alma. Eu afinei as cordas. Eu brinquei com o arco. Lance virou e subiu as escadas. No momento em que ele desapareceu, eu desliguei as luzes, enchendo o espaço com a escuridão. Tudo era exatamente o mesmo, mas de alguma forma completamente diferente. Mais frio. Mais triste.

Mais solitário. Parecia certo. Meus dedos descobriram os sons de desculpas que o violino me ofereceu. As cordas choraram por mim. Música me compreendia, quando eu não me entendia. Era a minha manta de proteção contra todo medo real que existia. Eu balancei para frente e para trás enquanto viajava pela estrada de puro escapismo. Tornei-me a perder no momento, esquecendo todos os meus arredores, toda a minha dor, toda minha mágoa. Toquei até meus dedos doerem. E então eu toquei um pouco mais. Toquei até o meu corpo tremer. E então eu toquei um pouco mais. Toquei até o meu coração se partir. E então eu toquei um pouco mais. Meus dedos arrancaram o arco do violino. Minhas mãos estavam pálidas como fantasmas de tocar intensamente. Meu corpo tremia de nervoso e uma mente nublada, mas eu sabia a resposta para a pergunta. Eu sabia quem eu tinha que escolher, e isso quebrou meu coração. Segure-se, Levi. Eu precisava me acalmar, para controlar minha respiração em pânico. Gostaria de saber se o que eu estava sentindo era o que sempre a mamãe sentia. Os ataques de pânico eram tão dolorosos que eles viajavam dos seus dedos do pé para a ponta da sua cabeça? Ela sentia as paredes gritando com ela? Era sempre tão feio e assustador para ela? Eu precisava encontrar um lugar de paz. Mas eu não tinha certeza de como. A verdade era que a mamãe era a minha paz. Desde o primeiro dia, ela estava lá para mim. Mesmo quando ela estava lutando contra a mais feia das guerras, ela ainda era minha quietude. Eu era o furacão e ela era, de alguma forma, o olho da tempestade. Ela me confortou quando os cartões do papai pararam de aparecer. Ela me

segurou quando ele disse que não queria mais me ver. Ela esteve lá desde o primeiro dia, e eu a deixei. O que há de errado comigo? Como pude alguma vez odiá-la? Ela estava doente e eu fui embora. Ela me pediu para voltar para casa e eu ignorei. Ela era a minha verdadeira música. Não o tipo de música que eu tocava em um lugar escuro. Não o tipo de som que as sombras aplaudiam. Ela era as cores que encontravam as cordas. Ela era os roxos e azuis, os amarelos e os vermelhos que sangravam amor das vibrações do som. Hannah Myers era a música. E sem ela, a vida era um erro. Eu fui para casa naquela noite com a mente no lugar. Gostaria de falar para o papai que eu tinha que voltar para o Alabama e cuidar da mamãe por algumas semanas. Eu precisava saber que ela ficaria bem. Mas quando eu entrei, eu vi o brilho das comédias preto e branco brincando na televisão. Papai sentado na frente dela com o seu jantar na sua bandeja e ao lado dele estava outra bandeja com o meu jantar. Meu peito apertou quando a enfermeira se aproximou de mim, explicando que ela voltaria na noite seguinte e que ela tinha deixado todos os remédios do papai etiquetados para ele tomar de manhã. Ela saiu e fechou a porta atrás dela. — Eu fiz-lhe o congelado de frango frito e o bife Salisbury[23], eu não tinha certeza de qual deles você gostava mais. — ele disse, movendo uma colher em torno de uma tigela de sopa na frente dele. Sentei-me ao lado dele no sofá, enquanto assistimos juntos as comédias. Ele não comeu muito da sua sopa, mas quando ele levantou a mão, eu a assisti tremer repetidamente. Ofereci-me para ajudá-lo, mas ele bufou e resmungou como sempre. Eventualmente, ele abaixou a colher, derrotado, e acenou com a cabeça na minha direção. Eu lhe dei a sopa e voltei à estaca zero, sem nenhuma pista de como eu poderia

deixá-lo aqui para voltar para casa. — Sabe aquela música que você tocou na apresentação? A primeira? — Sim. Love You Till The End, de... — The Pogues. — ele balançou a cabeça, os olhos ainda na tela da televisão. — Foi a música do meu casamento com a sua mãe. Os pedaços da minha mãe que eu nunca tinha verdadeiramente compreendido foram lentamente se unindo. — O que aconteceu com vocês dois? Por que vocês se separaram? Ele se encolheu e esfregou seu templo. — Eu estraguei tudo. Sua mãe e eu entramos em uma grande briga uma noite, então eu fiquei bêbado e dei em cima da Camila Watson em um bar. É por isso que o marido dela não me suporta e é por isso que Hannah me deixou. — Você ama a Camila? — Não. Não. Eu era estúpido e jovem, um idiota que cometeu um grande erro. Acabou que o meu erro foi o suficiente para a sua mãe fazer as malas e deixarme. Eu não a culpo, no entanto. Ela era ansiosa e sempre preocupada que eu a deixaria por outra pessoa. Naquele momento eu não sabia que ela estava doente, sobre sua saúde mental. Eu deveria ter lutado, no entanto. Eu deveria ter lutado por ela. — Você a amou? — perguntei. Ele fungou e limpou a garganta, mas não disse mais nada até que estivesse pronto para a cama. Acompanhei-o para o seu quarto e, embora ele discutisse que não queria que eu o ajudasse a colocar o seu pijama, ele permitiu que eu fizesse. Quando ele estava na cama, eu fui desligar a sua lâmpada, e o ouvi murmurar: — Até o fim[24]. Denise me ligou naquela noite para me dizer que a mamãe estava bem. Ela ainda estava no hospital, mas ela estava muito melhor. Naquela noite eu chorei até dormir. No dia de Natal, eu fui para a floresta às seis da manhã, assim como todos os dias anteriores. Por um segundo eu pensei que ainda estivesse sonhando quando eu vi

meu pai de pé ao lado da casa da árvore. Ele olhou para a escada que levava até ela. Cada degrau estava coberto de neve. As mãos do papai estavam enfiadas nos bolsos da sua calça de moletom. — Você precisa de um casaco? — eu perguntei, observando sua camiseta branca, que agora era grande demais para ele por causa de todo o peso que tinha perdido. Ele balançou a cabeça. Eu fui para o lado dele, e nós olhamos fixamente para a escada da árvore juntos. — Você se lembra quando colocamos essa escada? — ele perguntou. — Você tinha nove anos e tinha que testar cada degrau para se certificar de que eles eram fortes. — Eles não eram. — eu ri. Ele riu também. Era estranho como o som da sua risada me fazia querer sorrir e quebrar ao mesmo tempo. — Eu pensei que tinha quebrado meu traseiro quando eu caí. Depois que você voltou para casa, eu coloquei compressas de gelo na minha bunda. — Eles são resistentes agora. — eu disse, acenando com a cabeça na direção deles. — Só um pouco velhos, no entanto. Deveríamos ter passado mais tempo lá em cima. — ele esfregou os dedos na parte de trás do seu pescoço, chutando a neve para fora dos seus sapatos. Seu corpo frágil tremeu quando um vento frio atravessou os galhos das árvores. — Você não deveria estar aqui fora no frio. — eu repreendi. — Da última vez que chequei, eu era o pai, não você. — ele rebateu. Ele empurrou a parte de trás da sua mão no seu nariz e olhou para longe da casa na árvore. Com um suspiro ponderado, ele falou de novo: — Escute. Você tem sido muito para eu lidar e eu acho que é melhor que você volte para ficar com sua mãe ou tia ou algo assim. Suas palavras doeram, fazendo-me recuar. — Eu não vou te deixar. — Lance me contou sobre a sua mãe.

— Ela está melhorando. — eu disse. — Ela vai ficar bem. Eu posso ficar aqui e ajudar a cuidar de você. — Você não entende, não é? — ele assobiou. — Eu não quero você, Levi. Eu não quero você aqui. — ele não olhou para mim. — Seu avião sai hoje à noite às sete e meia. Lance irá levá-lo ao aeroporto. — ele se virou e caminhou de volta para a casa, deixando-me ali, confuso e ferido. Ele está me abandonando, novamente. Segui-o para dentro da casa, mas ele me calou ao trancar-se em seu escritório. Meu punho bateu contra a porta. — Deixe-me entrar, pai! — gritei, o fundo da minha garganta queimando. — Deixe-me entrar! — eu implorei. Eu implorei, mas ele não cedeu, e na boca do meu estômago eu sabia que ele não me deixaria entrar de novo. Eu apareci duas vezes na casa da Aria. A primeira vez, eu a vi sentada na sala de estar com sua família, rindo enquanto eles abriam presentes juntos. Todos estavam cheios de vida e eu não queria arruinar seu Natal, então eu voltei para o meu pai e esperei. Todas as minhas malas já estavam prontas. Sentei-me no meu quarto olhando para o relógio na cômoda. 16:35. Lance e Daisy tinham dito que estariam aqui às cinco para me pegar e me levar para o aeroporto. Peguei os dois CDs que eu tinha feito para Aria e para o bebê Manga e enfiei no bolso do meu casaco. Eu sabia que os CDs não eram os melhores ou os mais caros presentes de Natal, mas eu esperava que eles gostassem. Enquanto eu caminhava para Aria, eu tentei descobrir a melhor maneira de dizer a ela que eu estava indo embora. Eu queria que ela soubesse que não importava o que, nós poderíamos descobrir uma maneira de fazer funcionar entre nós dois, mesmo que estivéssemos a 1200 quilômetros de distância.

[23] Prato feito a partir de uma mistura de carne moída e outros ingredientes, sua forma assemelha-se à um bife (steak) e é servido com um molho amarronzado (brown gravy).

[24] Till The End.

Capítulo Trinta e Nove Aria Tarde na véspera de Natal eu escutei o som do caminhão do meu pai estacionando na entrada da garagem. Correndo para minha janela eu o vi descarregar as malas. Ele voltou. A neve caía e mamãe saiu para encontrá-lo. Por um tempo eles só ficaram com suas testas encostadas, segurando um ao outro. Na manhã seguinte, quando Grace acordou e viu o papai no térreo, ela pulou em seus braços, mais animada por vê-lo do que todos os presentes sob a árvore de Natal. Então, é claro, ela viu aqueles presentes e foi direto para eles. As coisas pareciam que estavam finalmente se acertando - no nosso novo normal, pelo menos. Eu não tinha tido a chance de ligar ou mandar mensagem para o Levi ainda, mas a cada poucos minutos, ele passava pela minha cabeça. Após o nosso almoço tardio, eu coloquei minhas botas e casaco de inverno para ir na sua casa dar-lhe o seu presente de Natal. Quando abri a porta da frente, fiquei surpresa quando vi James de pé na varanda da frente, com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco. — O que você está fazendo aqui? — perguntei, confusa. Ele riu, suas bochechas vermelhas do frio. — Feliz Natal para você também. — eu não respondi. Seus dedos correram pelo seu cabelo bagunçado. Havia bolsas pesadas ​sob seus olhos, que coincidiam com seu olhar exausto. — Olha, nós podemos conversar? Com cautela, eu balancei a cabeça e dei um passo para a varanda. Eu descansei minhas mãos em cima da minha barriga e desloquei para trás e para frente de desconforto; minhas costas estavam me matando recentemente. — Eu não acho que nós temos algo para falar. — Eu terminei com Nadine. — ele deixou escapar. — Você o quê? — Bem, ela terminou comigo. Eu contei para ela sobre o bebê.

— Você O QUÊ?!?! — gritei, o fundo da minha garganta queimando. — Pare de gritar, tá?! — ele repreendeu, franzindo o nariz. — P-p-por que você faria uma coisa tão estúpida?! Oh meu Deus, James! Que merda é o problema com você?! — minha frequência cardíaca estava aumentando e minha respiração ficando curta. — Acho que devemos ficar com ele. — Cale a boca. — Eu vou me inscrever para faculdade comunitária. Vou arrumar um emprego. Ou dois empregos. Vamos fazer isso funcionar. Podemos alugar um apartamento... — Oh meu Deus. Você está bêbado? Por favor, me diga que você está bêbado, porque você está falando como um lunático maldito! — eu estava tentando o meu melhor para me convencer de que ele estava fazendo piada do dia primeiro de abril alguns meses mais cedo, mas o jeito que seus olhos estavam implorando junto com as suas palavras me diziam que estava longe de ser uma piada. — Você não está pensando direito. — Nós podemos fazer isso, Aria. — Não. — eu o corrigi. — Não podemos. Essa é a coisa. Ele não é mais nosso, James. — Eu fiz a pesquisa. — explicou ele, dando um passo mais perto de mim, me deixando nervosa. — Alguns sites disseram que o pai tem que dar os seus direitos para a adoção. — O que você fez. — Mas agora eu estou mudando de ideia. As pessoas mudam de ideia. — ele pegou as minhas mãos, e eu dei um passo para trás. — Não me toque. — eu pedi. — Eu quero ficar com você, Aria. — suas palavras estavam envolvidas em sonhos falsos e mentiras contaminadas. — Você não tem pensado sobre isso? Em ficar com ele?

Às vezes. — Por favor. — disse ele, olhando atrás de mim antes de mover para me beijar. Quando nossos lábios demoraram, eu sussurrei com severidade. — Não. Me. Toque. Ele deu um passo para trás e eu escutei o som de alguém limpando a garganta atrás de nós. Virando, eu vi Levi de pé no final da calçada com as mãos envolvidas em dois presentes embrulhados com jornal. — Levi. Há quanto tempo você está aí? Seus tênis azuis chutaram para trás e para frente pela neve. — Tempo suficiente para saber que ele é o pai. Que a quer. Que ele te beijou. — Não é que... — eu comecei, mas James interrompeu. — É uma espécie de problema de família, cara. Se você pudesse sair, seria ótimo. — James! — gritei. Meus olhos voltaram para Levi, que estavam cheios de rejeição. — Sim, claro. Eu só queria deixar o seu presente de Natal e do Manga. — ele bateu os presentes contra a palma da sua mão direita antes de se aproximar e entregálos para mim. — Feliz Natal, Art. Ele se virou e começou a ir embora. Eu ia segui-lo, mas James agarrou meu pulso, me parando. — Deixe-o ir. Eu arranquei minha mão do seu aperto e a lancei no seu rosto. — Eu disse para não me tocar. — O que está acontecendo aqui? — papai perguntou, dando um passo para a varanda. Seus olhos pousaram sobre James. — Ei amigo. Feliz Natal. — Obrigado, Sr. Watson. Você também. — Você está procurando Mike? Eu me encolhi e dei um passo na direção do papai. — Não, ele estava, na verdade, só... — Eu sou o pai. — disse James, me cortando mais uma vez.

Papai não processou suas palavras imediatamente. Ele ficou parado, piscando com os olhos tensos. — Eu imploro seu perdão? — oh meu Deus. Nós estávamos tão perto de ter um Natal perfeitamente decente depois de meses sendo uma família quebrada, tão perto de ser um pouco normal. — Eu sou aquele que dormiu com... — Não diga isso. — papai ordenou. —... Aria. — James terminou. Ele, obviamente, não tinha vontade de respeitar os desejos de ninguém nessa tarde de Natal. — O quê? — Mike disse, de pé na porta, olhando para o seu melhor amigo. Sua mão esquerda tinha um prato de enroladinhos recheados com presunto e a sua direita estava em um punho sólido. Ele deu um passo para a varanda, seu peito subindo e descendo duro. — Você dormiu com a minha irmã?! — suas palavras eram preenchidas com lâminas e raiva. — Mike, cara. Foi um... — o punho do Mike bateu no maxilar do James, fazendo-o cair na varanda. —... acidente. — James murmurou, roçando as costas da sua mão na boca. — Eu vou te matar! — Mike gritou, se lançando em direção ao James. Papai pegou Mike antes que ele pudesse fazer mais qualquer dano, e um James trôpego levantou de novo. — Ela é minha irmã, seu imbecil! — Mike, acalme-se! — meu pai disse, com os braços ainda agarrados no seu filho, que estava a cinco segundos de distância de matar seu melhor amigo. — Eu quero criar o bebê. — disse James, cuspindo sangue do soco de Mike. — Cale a boca. — eu gritei. — Pare de dizer isso. — Eu não vou. — ele disse, balançando a cabeça. — Porque é verdade. — O que é verdade? — mamãe perguntou ao chegar na varanda. Seus olhos pousaram sobre James e cheios de preocupação. — O que aconteceu? — Ele é o pai. — papai murmurou. — O pai? — mamãe perguntou. — O pai. — Mike rosnou.

— O pai?! — Grace disse, em pé na porta. Eu tentei o meu melhor para manter a calma, olhando para a minha família enquanto eles olhavam para nós, seus olhos movendo entre James e eu. Papai ainda segurava um Mike irritado para trás, enquanto todos os outros tentavam o seu melhor para entender a informação recém-descoberta. — Eu só vim aqui para dizer que eu quero assumir. — disse James, enfiando as mãos de volta nos bolsos do casaco. — Com você, Aria. Eu quero criar o bebê com você. — Oh meu Deus. — mamãe sussurrou, puxando sua orelha. — Eu preciso que você vá agora, James. — Mas... — Não. Sem mas. Eu preciso que você vá embora e deixe-nos entender isso. — ela disse. — Sra. Watson... — Vá. Embora. — Papai gritou, sua voz fazendo todos nós tremer. James abaixou a cabeça e acenou antes de se virar para ir embora. Os olhos de todos desviaram para mim. Papai soltou Mike e dentro de um segundo, Mike estava correndo para fora, atrás do James. Quando ele virou a esquina, tudo que eu ouvi foi um James gritando e Mike gritando que ia matá-lo uma vez que o pegasse. — Eu deveria ir buscá-lo... — papai pegou o casaco de dentro e partiu na direção dos dois rapazes. Mamãe colocou os braços em volta dos meus ombros. — Está frio, venha para dentro. Segui-a para dentro da casa, mas eu mal aqueci. Mamãe passou um longo tempo me dizendo que tudo ficaria bem, mas eu não tinha ideia de como isso podia ser verdade. Eu senti as paredes ao meu redor em colapso. As coisas finalmente estavam melhorando. Todo mundo estava se acostumando à ideia do bebê e da adoção. Então James tinha que decidir estragar tudo. — Vamos esperar até de manhã para resolver tudo isso. Está bem? Não se preocupe demais. Vai dar certo. — ela beijou minha testa e saiu do quarto. No momento em que ela saiu, algumas lágrimas caíram dos meus olhos. A situação toda era esmagadora. Meus dedos rolaram na minha barriga. Ele era a única

coisa que me mantinha respirando agora. Cada vez que eu respirava era apenas por ele. — James é o pai? — perguntou Grace, em pé na minha porta. Fechei os olhos, enxugando as poucas lágrimas que caíram. — Eu não estou de bom humor agora, Grace. — ela não respondeu, mas eu escutei seus passos vindo para perto de mim. — Grace, eu disse que eu não estou no clima. — eu abri meus olhos e a vi segurando dois colares de miçanga. — Eu usei o meu conjunto de miçangas que ganhei de Natal e fiz um para o bebê e um para você. Eu juro que senti meu coração quebrar. Agradeci-lhe os colares e ela sorriu. — Estou feliz que você não virou uma grávida feia. Fungando, eu a abracei com a minha barriga enorme. — Obrigada, Grace. Esperei até a manhã seguinte para ir até a casa do Levi e explicar o que tinha acontecido na noite anterior. Principalmente eu estava envergonhada e também com raiva do James por pensar que estava tudo bem me beijar, até mesmo me tocar. De pé na varanda do Sr. Myers, eu bati na porta, esperando por uma resposta. Quando a porta finalmente se abriu e um frágil Sr. Myers apareceu com sombras roxas sob seus olhos, eu soluçava nervosamente. — Sim? — ele murmurou, olhando fixamente para mim. — Estou à procura do Levi. — eu disse, dando-lhe um meio sorriso. Sr. Myers resmungou. — Ele se foi. — Ah. — mordi o lábio inferior. — Ele está na Soulful Things? — Não. Ele voltou para o Alabama. Primeiro suas palavras não registraram, porque essas palavras não faziam sentido. Eu tinha acabado de ver Levi ontem à tarde; como ele poderia ter ido embora? — O que você quer dizer? — Eu o mandei de volta para casa ontem. Meu batimento cardíaco aumentou enquanto eu olhava para um par de olhos castanhos que era muito mais frio do que o que pertencia ao garoto que eu tinha

conhecido. Como Levi pode ter ido embora? Como não pôde dizer adeus? Por que o Sr. Myers o mandou embora? — Por que você faria isso? — perguntei com raiva. — Tudo o que ele queria era ficar com você! — Nós nem sempre conseguimos o que queremos, garota. Isso não é nenhum conto de fadas. — Ele tem sido nada, exceto bom para você. Você o tratou como se ele fosse nada, mas tudo o que ele fez foi tomar conta de você. E então você o manda embora por que está cansado dele? Por que ele é um aborrecimento? Como você pode ser tão egoísta?! Como você pôde simplesmente escolher o caminho fácil e mandá-lo embora? — Você acha que isso é fácil?! — gritou ele, jogando as mãos para o ar em derrota. — Você acha que é fácil ter o seu filho cuidando de você, alimentando com colher, porque você está muito fraco? Você acha que é fácil viver com os demônios que tomaram conta da minha alma há muito tempo? Viver com as lembranças das coisas que eu fiz para as pessoas nesta cidade? Para Levi? Para sua mãe? Bem, menina, você é estúpida se é isso que você pensa. Você é uma idiota se você acha que alguma coisa sobre a minha vida é fácil. — E que tipo de problemas você acha que deixou com seu filho quando escolheu enviá-lo, em vez de tentar corrigir alguns desses erros do passado? — É tarde demais para corrigir alguma coisa. — disse ele, esfregando as mãos nervosamente. — Tanto Faz. Se você quer desistir, tudo bem. Parece que isso é o que você tem feito toda a sua vida. Mas você poderia ter pelo menos tentado por ele. Você não tem que ser um pai tão terrível! — Eu sou um fodido! — admitiu. — Mais e mais eu fodo com a minha vida. Eu sou um idiota, pergunte a qualquer um nesta cidade, pergunte ao seu pai. Eu. Fodo. Tudo. Mas tudo o que eu já fiz desde o dia em que a mãe dele me deixou, foi por esse menino e sua mãe. Ele não merecia ter a responsabilidade de escolher entre sua mãe e eu. Eu vi a dor nos olhos dele, estava matando-o. Então eu fiz a escolha por ele. Como pais, devemos fazer escolhas. Nós fazemos as escolhas difíceis que nós nunca queremos. Nós desistimos das coisas quando é a coisa mais difícil do mundo a fazer. Nós permitimos que os nossos filhos nos odeiem se isso significa que eles terão uma vida melhor. Nós sacrificamos a cada dia. Enviamos cartões de aniversário e de Natal até que o garoto para de responder, porque a esse ponto, ele simplesmente o

odeia. O que é melhor, porque você tem merda nenhuma para oferecer. Ele precisava estar com sua mãe. Ela precisava dele mais do que os meus desejos egoístas de tê-lo aqui. A última coisa que ele precisava ou merecia era sentar aqui e me ver morrer. — Eu me separei para tornar a vida dele melhor. Para fazer algo de bom para a vida deles. Eu era nada, exceto uma carga maldita para aqueles dois. Eu fodo tudo uma e outra vez, mas se isso significar que eles têm chance de ser felizes, então eu vou continuar fodendo. Por eles. Sempre por eles. — eu fiquei lá, com lágrimas nos meus olhos, ouvindo suas palavras, repetindo-as na minha cabeça. Ele esfregou seu templo antes de fechar os olhos e tomar um fôlego. — Às vezes amar alguém significa saber que está melhor sem você.

Capítulo Quarenta Levi Quando voltei para o Alabama, Denise estava me esperando no aeroporto. Nós não fomos para o hospital para ver a mamãe até a manhã seguinte. Brian, Denise e eu estávamos fora do seu quarto de hospital. Quando eu olhei para o seu pequeno corpo, passei mal. Vê-la ligada àquelas máquinas me rasgou por dentro. Ela parecia um pouco pálida no rosto, mas seus olhos castanhos tinham vida. Uma vida que eu não via em seus olhos há tanto tempo. — Eu estou bem, Levi. — em questão de segundos eu estava ao seu lado, segurando suas mãos e abraçando-a apertado enquanto ela me segurava. — Eu estou bem. — ela disse novamente. Abracei mais apertado. — Ela parece bem. — eu disse quando Denise e eu saímos do quarto do hospital. — Ela está bem. Eles deram alguns novos medicamentos que parecem estar funcionando bem para ela, além deste incidente. — ela enfiou a mão na bolsa e tirou uma escova de cabelo e começou a passá-la pelas suas mechas. Ela então começou a aplicar gloss e rímel. Só ela ficaria preocupada em parecer bem nos corredores de um hospital. — Você vai ficar comigo e Brian por um tempo até que ela termine as próximas semanas no St. John. Eu vou ajudá-lo com a sua educação domiciliar e tudo, até que sua mãe volte. Então, se as coisas estiverem bem, ela vai ficar no ambulatório com três consultas por semana durante os próximos meses, mas ela vai estar em casa com você. Casa. Eu tinha sentido falta de casa. Ela pediu licença para ir encontrar uma xícara de café decente. Eu olhei de volta para o quarto para encontrar a mamãe olhando na minha direção com um sorriso. Em questão de segundos, eu estava ao seu lado novamente. — Como está seu pai?

— Não muito bem. — eu andei até ela e sentei na cadeira ao lado dela. Seus dedos correram pela minha testa enquanto ela movia meu cabelo para trás. — Sinto muito, querido. Quando você vai voltar? — Eu não vou voltar. Eu vou ficar com Denise estudando em casa até você voltar para casa. Ela sentou-se na sua cama. — Isso não fazia parte do plano. Denise disse que você voltou apenas para me visitar por um tempo. — Não. Vou ficar. Balançando a cabeça, ela pegou as minhas mãos na dela. — Você tem que voltar e ficar com o seu pai, Levi. — Eu estou aqui agora, mamãe. Você queria que eu voltasse para casa e agora eu estou aqui. Ela franziu a testa. — Eu não estava estável mentalmente. Você devia passar esse tempo com seu pai. — Ele não me quer. — eu sentei na minha cadeira e soltei um suspiro pesado. — Ele me disse que não me queria. — Isso é uma mentira. Ele sempre quis você. Isso é minha culpa. — ela sussurrou, mexendo com os dedos. Não importava mais. Ele fez a sua escolha, e eu tinha feito a minha. Mais tarde naquela noite eu pedi para Denise me deixar na cabana. Eu queria finalmente dormir na minha própria cama. Ela tentou me convencer do contrário, mas concordou depois de deixar alguns mantimentos e coisas. Quando eu olhei para o meu celular, eu vi novas mensagens de Aria e abri-as. Aria: Eu desejava poder ter explicado o que você viu com James. Ele não significa nada para mim. Eu só quero que você saiba disso. Você significa tudo. Sinto muito, Levi. Eu sabia disso e eu conhecia Aria, mas uma parte de mim pensou que seria mais

fácil ir embora do que enfrentar a razão. Eu não voltaria para Wisconsin em qualquer momento em breve e não era realmente justo pedir-lhe para esperar por mim. Além disso, ela obviamente tinha coisas para resolver com James e eu, provavelmente, apenas ficaria no caminho disso. A distância era melhor para nós, para ela. Eu só estava nublando seu julgamento. Era hora de eu despertar do sonho de Aria e eu. Aria: Eu - pronome: frequentemente maiúsculo, muitas vezes atributivo: Aria Lauren Watson. Aria: Sinto falta - verbo: Sentir a ausência de. Aria: Você - pronome: Levi Wesley Myers. Sinto sua falta, também, Aria Lauren Watson. Mas eu não poderia dizer-lhe isso, apesar de ser verdade.

Capítulo Quarenta e Um Aria Eu mandei uma mensagem para Levi e esperei. Tomei um banho, olhei para a minha barriga crescente e chequei meu telefone. Eu pratiquei air guitar e então chequei meu telefone. Falei com a mamãe e o papai sobre James, e então chequei meu telefone. Eu comi o jantar, e então chequei meu telefone. Uma e outra vez, eu verifiquei meu telefone. Uma e outra vez, não havia nada para ver. Minha mente começou a se perguntar o quanto de Levi foi algo, além de um sonho. Tudo o que eu queria fazer era voltar a dormir e encontrá-lo novamente. Quinta-feira foi a minha última visita ao Dr. Ward antes do Ano Novo e eu realmente precisava sentar na frente dele e falar sobre arte. Eu não falava com James desde o Natal. Eu não tinha certeza por onde começar. Mamãe me disse que eu não deveria dizer nada para Keira e Paul até que James e eu falássemos um com o outro. A tigela de doces do Dr. Ward estava cheia de chocolate M&M vermelho e verde, e eu comi todos eles, nos primeiros dez minutos. — Então, o que está na sua mente, Aria? Era engraçado como eu aprendi a amar essas palavras. — Gustave Courbet. Era um pintor francês que praticamente liderou o início do movimento do realismo. Quando ele foi convidado a pintar anjos, sua resposta foi: ‘Eu nunca vi anjos. Mostre-me um anjo e eu vou pintar um’. Sr. Courbet e eu tínhamos visões muito diferentes quando se tratava de arte. Ele acreditava que só se deve pintar o que pode ver com seus olhos, e eu acreditava que a arte deve ser do coração e alma. — Acreditava? Não acredita mais? — Eu quero, mas cada dia que passa o realismo está me mostrando seu

apelo. Ele representa a vida de verdade, sem significados ocultos, sem dúvida, questões a serem vistas de qualquer ângulo. É apenas real. É exatamente o que ele precisa ser. Deixa-me um pouco envergonhada que eu só tenha focado em abstrato. Talvez Gustave Courbet estivesse certo. — Bobagem. — disse o Dr. Ward, estreitando os olhos. — Eu digo que é bobagem. — O quê? — Por que tem que ser um ou o outro? O oposto do real não é o abstrato. O oposto do real é falso. Abstrato pode ser real e ele pode conter mais verdade nele do que qualquer outra coisa. Você me ensinou isso. A arte abstrata pode ser tão verdadeira como arte realista, desde que ela encontre a coragem de falar suas cores para o mundo com honestidade genuína. — Mas e se a verdade abstrata machucar outra pessoa no processo? — perguntei. Ele se inclinou para frente, descansando os antebraços sobre a mesa. Seus dedos entrelaçados. — Uma verdade dói muito menos do que mil mentiras.

Capítulo Quarenta e Dois Aria — Nós não podemos mantê-lo, James. — eu sentei ao lado dele no seu balanço na varanda, observando como a minha verdade doía na sua alma. Ele repetidamente batia os dedos contra seus jeans. — Nós podemos fazer isso, Aria. Eu sei que vai ser difícil, mas podemos fazer isso. Eu balancei minha cabeça. — Isso não é verdade. — Por quê? Por que não podemos fazer isso? Por que não podemos tê-lo? — Nós não conseguimos o que queremos mais. Nós não fazemos escolhas para nós mesmos. Tudo o que fazemos é para ele. Cada escolha que fazemos é para dar-lhe uma vida melhor. Então, nós não ficamos com o bebê. — Por que não? — Porque isso significaria que estaríamos atrás do que o nosso próprio egoísmo quer e precisa. Por ele, temos que ser altruístas. Por ele, temos que deixar ir. Você e eu nunca seríamos um casal, James. Se fôssemos, nos odiaríamos. Você realmente quer criar uma criança assim? Ele não respondeu. — Keira e Paul já são pais surpreendentes. Não é como se o bebê estivesse indo para alguém que não conhecemos. Eu os conheço por toda a minha vida e eles são boas pessoas. Eles vão amá-lo. Ele estará seguro e amado. O balanço da varanda rangia enquanto ele e eu balançávamos para trás e para frente. O céu da noite gelada estava polvilhado com as estrelas e parecia como se estivesse tentando realizar um desejo em cada uma. — A noite que eu dormi com você foi a noite depois que eu tentei consertar as coisas com Nadine. — ele sussurrou em um volume que era quase mudo. — Nós já estávamos separados há mais de um mês e ela não tinha planos de voltar comigo. Eu fui conversar com Mike sobre isso, e acabamos indo para uma festa e ficamos

bêbados. Eu me sentia perdido, quebrado. — Então você estava bêbado quando dormimos juntos? — Não. — ele disse rapidamente, virando na minha direção. — Não. Eu estava sóbrio. Mas eu ainda estava perdido. Eu não lidei com as coisas depois que ela me falou que teve um aborto espontâneo. Eu ainda estava sentindo falta de algo que eu nunca tive. Algo que eu nunca quis. Que quase me destruiu. Eu estava saindo do quarto de Mike e quando passei pelo seu, você sorriu para mim de uma forma que quase fez parecer que tudo ficaria bem. E, em seguida, depois que você ficou grávida, eu reagi da mesma forma que fiz com Nadine, em busca de uma solução rápida. Mas quando o tempo passou e eu vi a sua barriga e que essa coisa toda do bebê estava realmente acontecendo, eu acho que eu senti como se fosse uma segunda chance para fazer a coisa certa. — Você está fazendo a coisa certa. — eu disse, colocando minha mão em cima da dele. — O que acontece é que às vezes a coisa certa é uma merda. Ele riu e voltou a olhar para as estrelas. — Então o que vamos fazer agora? — Você termina seu último ano, então você vai para a Duke e faça algo de si mesmo. — E você? Eu? Eu aprendo a respirar novamente. Comecei a estudar em casa na primeira semana do Ano Novo. Mamãe e papai trabalhavam em horas aleatórias e uma vez que eles não queriam me deixar sozinha em casa durante as minhas aulas on-line, eu ficava com Keira todo dia. Todos os dias na hora do almoço, eu via o Sr. Myers sair em direção à floresta. Até o momento que eu saía da Keira à tarde, Daisy ou Lance apareciam para passar a noite com ele. Quando a curiosidade teve o melhor de mim eu arrumei o meu almoço e segui-o até a floresta um dia. Ele estava no chão coberto de neve, olhando para a velha casa da árvore. — Você construiu isso para ele? — perguntei.

Ele virou-se lentamente para olhar para mim e zombou. — Você está invadindo. — Sim, eu estou, mas eu lhe trouxe o almoço, se você estiver com fome. Ele bufou e caminhou de volta para sua casa, batendo a porta na minha cara. Talvez amanhã. Eu apareci na hora do almoço todos os dias durante três semanas. Não foi até fevereiro que o Sr. Myers deixou-me entrar. Na verdade, sua enfermeira me deixou entrar, mas estava bom o suficiente para mim. — Você é muito chata, sabe disso, certo? — ele murmurou, sentado em sua cadeira assistindo um programam em preto e branco. — Eu trouxe uma canja. — eu sorri. — Sem fome. — A enfermeira disse que você não comeu muito hoje. — Provavelmente porque eu não estou nem um pouco com fome. — ele rosnou. Ele era muito mal-humorado, mas considerando que eu estava com 32 semanas de gravidez, transportando uma Jicama[25], eu tinha meus dias mal-humorados também. Abri a canja, agarrei uma colher e pairei a colher na frente da sua boca. — Qual é o seu problema?! — ele sussurrou. — Por que você não me deixa em paz? — Porque ninguém deve passar sua hora do almoço sozinho. Nem mesmo os homens mal-humorados que pensam que merecem ser solitários. Ele soprou e bufou um pouco mais, resmungando para mim, mas ele abriu a boca e tomou a canja. — Seu filho está ignorando todas as minhas mensagens de texto, e eu não sei o porquê. — eu disse depois de mais algumas colheradas de canja. — A mãe dele disse que é porque ele pensa que você está melhor assim. Eu arqueei uma sobrancelha. — Por que ele acha isso? — Eu não sei. Mas tudo que Levi faz é sempre para ajudar. É apenas quem ele é. As palavras do Sr. Myers passaram pela minha cabeça por um tempo mais longo, mas eu não falei mais sobre Levi. — Eu não sabia que você e a mãe dele ainda

conversavam. — Ela me liga toda noite. — disse ele. — Ela quer que eu saiba que não estou sozinho. Eu almocei com o Sr. Myers cada dia, até o último dia da sua vida. Às vezes, ele ficava no seu quarto, então eu colocava os CDs que Levi fez para mim e para o bebê, o que sempre ajudava o Sr. Myers dormir melhor. Outras vezes, nós assistíamos televisão juntos. Uma das últimas coisas que ele me falou foi para dizer a seu filho que ele o amou até o fim.

[25] Trepadeira perene de vida curta que pode atingir 4 ou 5 metros de altura.

Capítulo Quarenta e Três Levi Papai faleceu na segunda semana de março. Mamãe queria voar comigo para o funeral, mas eu falei para ela que achava que ela não deveria. Ela teria que faltar a seus compromissos no St. John, e eu sabia que eles estavam mantendo sua mente equilibrada. Ela estava indo tão bem, eu finalmente tinha a minha mãe de volta. Eu não queria que ela tivesse uma recaída por causa do estresse do funeral do meu pai. Minha viagem para Mayfair Heights duraria apenas uma semana antes que eu tivesse que pegar um avião de volta para o Alabama. Aria tinha me mandado uma mensagem com uma palavra por dia durante os últimos 68 dias. Eu nunca respondi, exceto uma mensagem. Aria: Você está ao menos pensando em mim? Eu: Todos os dias. Era verdade também. Eu pensava sobre ela o tempo todo, querendo saber como ela estava indo, se o bebê estava bem. Quando cheguei em Wisconsin, Lance me pegou e me levou para a cidade, então eu não precisaria pegar o ônibus. Era engraçado como tudo era o mesmo, mas de um jeito diferente. Lance perdeu alguma cor nos seus olhos. Quando estacionamos atrás da Soulful Things, ele parou o carro e nós nos sentamos em silêncio por alguns minutos. Ele jogou o cabelo para o alto da cabeça, em seguida, esfregou repetidamente os dedos sobre seu rosto. — Eu continuo acordando esperando que seja um sonho, sabe? Que meu irmão ainda é um idiota morando na rua debaixo, comendo jantares congelados. Eu não respondi. A última vez que eu soube do meu pai foi quando ele me mandou embora.

Sentia-me amargo. Irritado. Triste. Principalmente triste. — Ele amava você, sabe, Levi. — disse Lance. Uma mentira que era para me trazer conforto. — Kent não era o melhor em mostrar seus sentimentos ou expressarse, mas ele o amava. Lembro que ele... — Podemos entrar? Estou cansado. — eu disse, não querendo seguir a trilha da memória de como meu pai me amava de longe. Tudo que eu queria era acabar com este funeral e estar em um avião em poucos dias, não falar sobre quem era o meu pai, quando com toda a honestidade, eu não o conheci. — Sim, claro. Daisy já está lá em cima. Eu vou subir em um segundo. — Lance respondeu. Saí do carro e comecei a ir para a sua casa. Quando me virei, vi Lance com a palma da sua mão descansando na testa. Seus olhos estavam fechados, e sua outra mão em punho enquanto ele batia contra o volante. Eu sou um idiota. Caminhando de volta para o carro, abri a porta e voltei para dentro. Lance não estava me contando as histórias para me fazer sentir melhor. Eram para o seu próprio conforto. — Você estava dizendo? — perguntei. Ele me olhou, mordeu o lábio inferior e suspirou. — Eu costumava pegá-lo ouvindo você tocar violino na floresta. Ele se sentava na sua cadeira de gramado bem no limite das árvores e o ouvia tocar. Uma vez, quando eu apareci, ele me disse: o garoto é bom. Só isso. Então nós dois ficamos por algum tempo e ouvimos juntos. Ele não era a melhor pessoa por fora... mas ele era a melhor pessoa que ele sabia ser. Nós nos sentamos no carro durante horas. Lance me contou histórias sobre um homem que eu nunca conheci. Eu aprendi mais sobre meu pai sentado no carro do que eu já tinha conhecido. Tudo pareceu um pouco tarde demais.

No dia do funeral, ninguém da cidade apareceu. Eu sabia que meu pai não era apreciado pela cidade, mas ninguém aparecer para o seu funeral realmente tornou o fato real. Sentei-me no banco de trás, sem querer subir e ver seu rosto pela última vez. Lance e Daisy se sentaram na primeira fila enquanto o organizador do funeral falou através de todos os detalhes sobre a movimentação do meu pai para o local do enterro. Meus dedos batiam contra o banco repetidamente. A minha gravata estava me sufocando. Cada respiração era mais difícil do que a última. Eu afrouxei a gravata, mas a sensação de sufocamento ainda estava lá quando eu voltei a bater meus dedos. Lance e Daisy caminharam na minha direção e sentaram ao meu lado no banco da igreja. — Estamos indo embora? — eu perguntei para Lance. — Eles disseram que há mais uma coisa. — ele colocou a mão no meu ombro e apertou-o para confortar. Nós olhamos para frente quando o organizador arrumou três microfones no palco. Eu levantei uma sobrancelha. — O que está acontecendo? — Seu palpite é tão bom quanto o meu. — ele respondeu. Os alto-falantes na sala rangeram quando eles foram ligados e segundos depois uma música começou a tocar. Eu conheci a música no momento que a primeira nota soou no sistema de som. Um pequeno sorriso encontrou meus lábios quando Simon e Abigail foram para os dois outros microfones na parte de trás, tocando a air guitar para The Black Crowes, She Talks To Angels. — eles tocaram a introdução da música perfeitamente, Abigail até mesmo gastando um momento para afinar as cordas invisíveis. Eu me virei para ver Aria indo para o microfone no centro e na hora certa, ela começou a sincronização labial junto com a música. Seus dedos agarraram o microfone enquanto cantava seu coração, seus belos olhos fixos nos meus. — Jesus. — eu murmurei, tentando segurar as lágrimas que queriam cair conforme o lábio sincronizava cada palavra. Ela se balançou com a música, cantando com a alma enquanto ela dançava com o pedestal do microfone através do palco. Seu vestido de renda preta abraçava sua barriga conforme seus sapatos baixos negros dançavam em volta.

Ela fez um gesto para mim durante o solo da air guitar de Simon, sinalizando para me juntar a ela. Antes que eu pudesse considerar, Lance tirou um microfone do paletó e entregou para mim, piscando. Levantei-me e limpei meus olhos antes de começar a sincronização labial com Aria. Eu andei pelo corredor, e ela agarrou seu microfone, me encontrou no meio do caminho. Nós silenciosamente cantamos nossos corações, não deixando nenhuma emoção para trás, perdendo-nos na canção, perdendo-nos juntos. Após a apresentação, foi-me dito para sentar no banco da frente e Lance e Daisy foram obrigados a se juntar a mim. Aria disse que era a hora dos discursos. Simon caminhou até o pódio e limpou a garganta, batendo com o dedo contra o microfone. — Teste um, dois, três, quatro. — ele sussurrou no microfone, que disparou sua voz através da sala. — Bom, bom, bom, bom. Olá a todos, eu sou Simon Landon e eu queria dizer algumas palavras sobre Kent Myers. — ele limpou a garganta mais uma vez. — Kent Myers era um idiota. — eu não pude evitar, exceto cair na gargalhada. — Eu acho que é seguro dizer que todos nós podemos concordar com isso. Ele era um grande idiota. Lembro-me de uma vez que eu estava no supermercado para comprar um pacote de root beer porque eu e minha melhor amiga Aria íamos ficar bêbados com root beer. — Kent tinha um carrinho com dez pacotes, sem deixar nada para mim. Perguntei-lhe se havia uma maneira que eu poderia conseguir um dos pacotes, e ele bufou e disse: ‘Você deveria ter aparecido mais cedo, idiota’, antes de continuar a pegar todas elas e deixar a loja. Corri para casa e no momento que ele estacionou, eu estava importunando-o por ser um idiota e comprar todos os root beer e eu continuei a perturbá-lo sobre a razão que ele precisava de todos eles. Ele virou para mim - você sabe a virada lenta, de arrepiar a espinha do Kent Myers - e com um rugido profundo, ele disse: ‘Meu filho vai chegar aqui para visitar durante a semana e ele só bebe root beer. Agora dê o fora da minha propriedade, sua aberração ruiva’. — a risada do Simon sumiu um pouco, e ele me deu um pequeno sorriso. — Sim, Kent Myers era um idiota, mas ele com certeza amava seu filho. Bati meu punho contra a minha boca enquanto observava Abigail subir ao pódio depois. Ela sorriu na minha direção. — Kent Myers era um idiota. Tivemos o prazer infeliz de sentar na frente um do outro em nossos compromissos de quimioterapia. Ou, como Kent gostava de chamá-los: ‘Foda-se essa merda no seu cu fodido’. Ele tinha um jeito com as palavras. Ele sempre dava trabalho para as enfermeiras, chamando-as de idiotas quando elas perdiam suas veias ao colocar o soro. Ele chamava uma enfermeira

de Susie, mesmo que seu nome fosse Steven. Ele me chamava de menina irritantemente positiva do câncer que citava pessoas mortas. — Era uma espécie de coisa dele, sabe? Ser um idiota. Era assim que você sabia que ele ia ficar bem. Houve apenas um dia em que não foi rude. Lembro-me de sair da clínica e vê-lo sentado no meio-fio com a cabeça entre as mãos. Sentei-me ao lado dele e ele me disse para não citar nenhumas das malditas pessoas mortas. Então, nós apenas sentamos por um longo tempo. Em seguida, ele finalmente disse: ‘Eu deveria passar mais tempo com ele. Era para eu ter mais tempo para corrigir os meus erros.’ Kent Myers era um idiota, mas ele com certeza amava seu filho. Aria subiu por último para o seu discurso. Seus olhos se encontraram com os meus e ela me deu um meio sorriso. — Passei os últimos dois meses almoçando com Kent Myers. Há muitas coisas que eu poderia dizer sobre o seu pai, Levi. Eu aprendi muitas coisas interessantes, mas... — ela fechou os olhos e agarrou a borda do pódio. — Mas... — suas mãos estavam ficando vermelhas do quão forte ela estava segurando o pódio. — Aria? — Simon perguntou cautelosamente. — Eu estou bem, me dê um segundo. Porcaria. — ela bateu o punho contra o pódio antes de ela se levantar totalmente e me dar um sorriso. — Eu tinha um discurso realmente fantástico pronto. Ele ia ser é-épico. — ela gaguejou. — Épico. Mas, bem, eu acho que a minha bolsa acabou de romper, então eu meio que preciso chegar no hospital. Puta merda. Lance e Daisy saltaram rapidamente, conduzindo Aria para o carro deles. Simon, ligou para os pais da Aria e para os seus pais para nos encontrarem no hospital. Eu subi na parte de trás do carro com Aria. — Desculpe-me, eu arruinei o funeral do seu pai. — ela chorou. Eu não pude deixar de rir. — Você não arruinou, Art. — eu beijei sua testa, coloquei seu cabelo atrás da orelha. — Você não estragou nada. — Eu senti tanto a sua falta. Eu beijei a testa dela novamente. Eu senti muito mais.

Capítulo Quarenta e Quatro Aria Mamãe e papai já estavam no hospital no momento em que eu cheguei. Foram sete longas horas de contrações terríveis antes que os médicos decidissem que era hora de trazer o Melão para o mundo. Tudo foi um borrão. Aconteceu rápido, mais rápido do que eu pensava que seria, mais rápido do que eu queria. Era para eu ter mais algumas semanas com ele. Eu não deveria ter que deixar ir ainda. O médico me disse para empurrar. Papai segurou minha mão esquerda. Keira segurou minha direita. Mamãe colocou um lenço molhado na minha testa. O pai de Simon tentou o seu melhor para não desmaiar. Eu chorei por causa da dor. Eu chorei por causa do nervoso. Chorei porque estava realmente acontecendo. Eu estava com raiva. Eu estava deprimida. Eu estava feliz. Eu estava tão feliz. Empurre, Aria. Faça isso! E então a sala ficou em silêncio. Eles me disseram para parar de empurrar. Tudo na minha cabeça começou a girar. Meu bebê estava lá, eu podia vê-lo. Mas o médico começou a se apressar. Os enfermeiros ficaram nervosos. Todo mundo cercou o bebê. Com exceção de mim. Eu estava presa na cama, olhando para cima, perguntando o que estava errado, rezando para que nada estivesse errado. Ele não estava chorando. Ele estava muito calado. Ele era lindo. Por que ele não estava chorando?

Por Favor. Faça barulho. Faça um som. Diga. Qualquer coisa. Eu chorei por ele até que ele pudesse por si mesmo. E então ele chorou. Seus pulmões finalmente se moveram. Tornaram-se mais fortes conforme ele gritava, proclamando a sua chegada ao mundo. Ar. Pulmões. Dentro. Fora. Respire. — Você quer segurá-lo? — a enfermeira perguntou. Eu balancei a cabeça. Claro que eu quero. Ela colocou-o nos meus braços e minhas lágrimas caíram na sua pele. Eu sabia que era bobagem, mas eu jurei que ele estava sorrindo. Meus lábios caíram na sua testa. — Eu amo você. — eu falei baixinho. — Muito, demais. Meu olhar encontrou Keira quando ela sorriu na minha direção. — Você quer segurá-lo? Ela chorou e acenou com a cabeça. — Sim. Sim. Sim. Eu entreguei-o para ela e ela beijou meu rosto. Paul estava ao lado da sua mulher, olhando para a nova vida no mundo deles. A maneira como eles estudaram cada centímetro dele me mostrou o quão seguro ele estava. Ele sempre conheceria o amor. Até então todo mundo na sala estava chorando. Eu chorei um pouco mais. Daquele ponto em diante, suas lágrimas seriam

apagadas por outra pessoa. Seu riso e felicidade seriam criados de outra alma. Mas os seus batimentos cardíacos? Eu tinha certeza de que sempre os sentiria contra os meus.

Levi Eu fiquei de pé, juntamente com todos os outros, quando o Sr. e a Sra. Watson entraram na sala de espera. — Como está Aria? Como está o bebê? — perguntei, frenético. — Bem. Bem. Ambos, Aria e o bebê estão indo muito bem. Um lindo menino de quatro quilos, dez dedos na mão, dez dedos do pé e um sorriso lindo. — disse a Sra. Watson. Simon soltou a respiração que estava segurando pelas últimas sete horas e abraçou Abigail com força. Eu me aproximei dos pais da Aria. — Ela está bem? Eu posso vê-la? Sra. Watson franziu a testa. — Ela está descansando, Levi. Além disso, você teve bastante para o dia. Talvez você devesse estar descansando também. Meus ombros caíram. — Sim, está bem. — Cinco minutos não fariam mal, embora. — disse o Sr. Watson, colocando uma mão reconfortante no meu ombro. — Vamos lá, amigo. Ele me levou de volta para o quarto que Aria estava e eu olhei para vê-la encarando para fora da janela. — Ela não está bem. — ele disse. — Ela provavelmente vai dizer que está, mas ela não está, e ela pode não estar por um tempo. Eu balancei a cabeça em compreensão. — Basta deixá-la saber que está tudo bem doer um pouco, certo? Eu estarei de volta para pegá-lo daqui a pouco. — ele enfiou as mãos nos bolsos e se afastou. Com um ritmo lento, eu pisei dentro do quarto.

— Aria. — eu sussurrei. Eu assisti quando seu corpo curvou um pouco, sua resposta ao som da minha voz. — Se você quiser ver o bebê, ele está no quarto, do outro lado do corredor. O hospital tem um quarto para os pais adotivos ficarem com o bebê. Não é legal? — ela não olhou na minha direção. Seus olhos ainda estavam fixos na janela. — Não há problema em ficar triste. — eu disse, dando um passo mais perto dela. Ela ficou tensa. — Por favor, olhe para mim. — mas ela não olhou. Ela não conseguia.

Aria — Art. — ele sussurrou de novo, suas palavras soando tão perto que eu tinha quase certeza que eles vinham de dentro da minha própria alma. — Olhe para mim. Eu não podia olhar. Não. Mesmo que tudo o que eu quisesse no mundo eram os seus olhos para me darem a luz. Eu queria que aqueles lábios me dissessem que tudo ficaria bem. Minha necessidade de chorar ficou mais e mais forte conforme o meu corpo tremia, mas eu não derramei uma lágrima. — Eu estou bem. — eu finalmente disse, sentindo em cada osso do meu corpo que eu não estava bem. Eu estava vazia por dentro. Minha luz foi embora. Era tudo tão avassalador, porque nenhum livro tinha me treinado para isso. Nenhum livro me contou como seria deixá-lo. A mão do Levi pousou no meu ombro antes que ele subisse na cama de hospital e me envolvesse em seus braços. Eu tremi quando senti seus dedos tocaram minha pele pela primeira vez em muito tempo conforme seus braços me envolveram. — Eu estou bem. — minha voz tremeu quando o meu corpo tremeu junto com ela. — Shh... — ele me calou, segurando-me cada vez mais perto. — Eu amo você, Art. Eu te amo tanto. Deixe-me ser forte para nós agora. Deixe-me segurá-la enquanto

você desmorona. Seu toque era tão quente. As lágrimas caíram. Meu corpo tremeu incontrolavelmente enquanto Levi me segurava com força, recusando-se a soltar. Ficamos assim por cinco minutos direto, talvez até dez. Seus dedos pressionados aos meus lados enquanto seu rosto estava contra a minha bochecha. Suas lágrimas quentes misturadas com as minhas e nós choramos. Choramos pela recente morte nas nossas vidas e pela nova vida. Pelos começos e os fins. Pelas primeiras respirações e as últimas. Eu girei meu corpo para encará-lo. Seu olhar procurou meu rosto, como se ele estivesse perguntando para onde minha mente tinha fugido. Sua testa ficou enrugada e sombria. — Eu sinto muito, Art. — os lábios dele endureceram e ele pressionou-os na minha testa enquanto falava. — Eu sinto muito. — Eu também. — eu disse. — Eu também. — Nós vamos ficar bem. — ele me prometeu. — Só não hoje.

Capítulo Quarenta e Cinco Levi Aria ficou no hospital pelos próximos dois dias. Quando o Sr. e a Sra. Watson a levaram para casa, eu estava esperando na sua varanda com meu violino. Eu saltei e corri para eles. Ela saiu do banco de trás e me deu um sorriso cauteloso. Ela parecia exausta. — Levi, ei. Como você está? — Sra. Watson sorriu para mim. — Estou bem. Como você está? — eu perguntei a ela. Meus olhos se moveram para Aria. — Como você está? Os olhos da Aria piscaram. Ela encolheu os ombros. — Eu acho que ela só precisa de um pouco de descanso. Talvez você possa voltar daqui a pouco? — Sra. Watson ofereceu. Eu assisti os lábios da sua filha separarem como se ela quisesse que eu ficasse, mas, em seguida, seu pai concordou com a mãe dela. Meus dedos correram pelo meu cabelo e eu assenti. — Sim, claro. Volto mais tarde. Eu andei pelo quarteirão algumas vezes antes de ir para a janela do quarto de Aria, que já estava aberta, esperando que eu entrasse. Ela se sentou no colchão quando comecei a tocar o violino. Sr. Watson entrou pela porta quando ouviu os sons, mas em vez de me pedir para sair, ele fechou a porta, dando privacidade para mim e Aria. Eu toquei All Of Me, do John Legend, permitindo que as cordas expressassem as palavras que eu não diria. Eu toquei a música uma e outra vez até que ela adormeceu com um sorriso nos lábios. E eu continuei tocando até que eu soube que ela estava sorrindo em seus sonhos também. Ela estava melhorando mais a cada dia, mas eu sabia que ela ainda estava

machucada. Eu gostaria de poder levar sua dor e fazê-la ir embora. Depois de alguns dias, eu convenci Lance a me permitir ficar na casa do meu pai por uma noite. Quando eu abri a geladeira, eu quase desabei ao ver as caixas de root beer no interior. Eu ainda estou sofrendo. Eu gostaria de poder levar minha dor e fazê-la ir embora. Pegando uma embalagem de root beer eu fui para a floresta e subi na casa da árvore. A quietude da natureza era pacífica, mas eu fiquei feliz quando ouvi uma garota resmungando ao subir a escada. — Escalar árvores não é algo que se deve fazer após o parto. — Aria sorriu, entrando na casa da árvore. Eu ri. — Você sabe o quê? Eu estava pensando a mesma coisa. Mas já que você está aqui, bem-vinda ao meu oásis. À esquerda você vai encontrar nada, à direita, uma caixa de root beer. — Suas habilidades de design de interiores são impressionantes. — O que posso dizer? Eu sou extravagante. Ela mordeu o lábio inferior e inclinou a cabeça. — Eu amo você. — Eu amo você.

Aria Levi e eu ficamos na casa da árvore por horas, às vezes chorando, outras vezes rindo até as lágrimas caírem. Ele era o melhor tipo de contradição. Quando eu estava com ele eu conseguia ser uma espécie triste de feliz e me contentar com o sentimento. — Por que você almoçou com ele todos os dias? — Porque é isso que você teria feito. — eu respondi. Ele jogou a lata vazia de

root beer para o lado da sala antes de se inclinar para mim e beijar meus lábios suavemente, enviando uma onda de felicidade através de mim. — Posso ler para você o discurso que escrevi para ele? — Sim. Enfiei a mão no bolso da minha calça jeans e peguei um pedaço de papel dobrado. Abri-o, e sorri. — Kent Myers não era um idiota. A maioria das pessoas que cruzaram seu caminho discordaria com base na maneira como ele as tratava, com base nas suas ações, mas ele não era um idiota. Ele era um homem que cometeu erros. Um homem que tentou corrigir esses erros tudo por conta própria, o que às vezes o levou a tornar as coisas piores. Ele nem sempre dizia a coisa certa, ou sempre se comportava da melhor maneira, mas ele tentava. Ele tentou ser bom. Ele tentou proteger aqueles que amava. — Poucos dias antes de falecer, ele me perguntou se eu poderia segurar sua mão trêmula. Uni meus dedos com os dele e ele disse: ‘Será que ele vai ficar bem?’, falando do seu filho: ‘Será que ele vai ficar bem?’, ele repetiu várias vezes, com lágrimas caindo dos olhos. Eu balancei a cabeça para ele e disse: ‘Sim. Vocês dois vão ficar bem’. Ele fechou os olhos e murmurou: ‘Ele vai ficar bem’. Ele dormiu naquela noite mais pacificamente do que em todas as noites anteriores. Ele não falou outra frase na sua vida. Há tantas palavras no mundo e suas últimas foram pronunciadas exclusivamente para o seu filho. Hoje eu quero deixar dois fatos conhecidos: Kent Myers não era um idiota e ele com certeza amava seu filho. Levi se aproximou de mim, colocando seus lábios contra minha testa. — Obrigado. — ele sussurrou. — Sempre. — eu respondi. Naquela noite, a nossa conversa veio em ondas. Fomos do silêncio para falar sem parar, uma e outra vez. — Eles o chamaram de Easton Michael Landon. — eu disse-lhe em voz baixa. — O quê? Isso é ridículo. — ele gemeu. — Eu estava realmente esperando por algo mais relacionado com os alimentos. Maçã. Ou berinjela. Ou... — Brócolis. — eu ri. — Deus, sim. Brócolis Kale Landon. Simplesmente rola da língua. — Ou Pimenta Ervilha Landon.

— Quiabo Batata Landon. — ele riu. — É evidente que eles deveriam ter pedido a nossa opinião. — Obviamente. Mais silêncio. — Há um presente e uma carta para você no escritório do seu pai. O presente é meu. A carta é dele. Eu não tinha certeza se você viu ou não. — Eu não fui lá ainda, mas eu vou buscá-los quando eu sair. Obrigado. Mais silêncio. — Então o que acontece com a gente agora? — eu perguntei a ele, sabendo que ele iria embora em poucos dias. — Eu tenho pensado muito sobre isso, na verdade. — sua voz era sombria enquanto ele olhava para fora da janela, sentado quieto. Meu estômago deu um nó, com medo de qual seria sua resposta. — Mas se eu aprendi alguma coisa sobre o futuro, é que não importa. O futuro não é real. Portanto, é melhor viver o aqui e agora com você. Era tudo o que tínhamos, aqui e agora, e isso era bom o suficiente. Nós ficamos dentro da casa da árvore, sem olhar na direção um do outro, mas segurando nos dedos mindinhos. Nós olhamos pela janela, para o céu noturno. Foi então que nós soubemos. Soubemos que éramos pequenos. Nós éramos pequenas manchas de tinta na tela do universo. A maioria do mundo nunca conheceria o amor entre Art e Soul. Sabíamos que num piscar de olhos a vida poderia ser arrancada, deixando-nos apenas com a morte e a solidão. Mas, em outro flash, o amor poderia curar, deixando-nos apenas com a vida e esperança. Levi fez-me esperançosa, esperançosa pelos amanhãs que ainda íamos enfrentar. Bem naquele momento, estávamos muito vivos. E nós estávamos com fome de amor. Levi Myers me ensinou três coisas importantes sobre a vida: Às vezes abraço de dedo mindinho era o melhor tipo de abraço. Às vezes beijos na testa eram os melhores tipo de beijos.

E às vezes o amor temporal era o melhor tipo de amor.

Levi Deixar Mayfair Heights foi difícil. Eu não sabia quando voltaria, o que tornava ainda mais difícil, mas a única coisa que sentia que ficaria bem era Aria. De alguma forma, nós faríamos funcionar. Quando cheguei em casa, minha mãe ainda era a mamãe, o que me deixou além de feliz. Enquanto ela preparava o jantar, The Pogues tocava em toda a casa. Senteime na minha cama com a carta do papai e o presente da Aria. Eu tinha debatido qual deveria abrir primeiro e depois de um pouco demais e ir para frente e para trás, eu optei pelo presente da Aria. Eu rasguei o papel de embrulho e vi uma pintura que ela fez para mim. Anexada à tela estava uma foto do meu pai e eu, quando eu era criança. Estávamos sorrindo brilhantemente com nossas varas de pesca e eu estava segurando a bota de caminhada velha que eu peguei naquele dia de verão. Aria havia pintado a mesma fotografia usando suas habilidades abstratas, correndo amarelos e laranjas através dos céus, fazendo parecer que a tela estava explodindo com vida. Eu mandei uma mensagem para ela imediatamente. Eu: - Eu - pronome: frequentemente em letra maiúscula, muitas vezes atributivo: Levi Wesley Myers. Eu: Amor - substantivo: um sentimento de afeição forte ou constante para uma pessoa. Eu: Você - pronome: Aria Lauren Watson. Aria: Idem - substantivo: Eu também te amo.

Peguei a carta e abri-a como nós formando nas minhas entranhas. Lee, Eu sou um pai de merda. Eu sou uma pessoa de merda. E eu não sei como começar a dizer-lhe o quanto eu me odeio diariamente. Eu não vou sentar aqui e dizer que sinto muito, porque você provavelmente acha que é apenas o câncer e o medo falando. O que pode ser verdade. Eu tenho medo de morrer. Eu tenho medo de morrer, e não é uma surpresa, porque eu estava com medo de viver também. Tenho medo de que eu esteja deixando este lugar com ninguém que vá se lembrar de mim. E se eles lembrarem, serão memórias de coisas que eu desejaria não ter feito. Tratei esta cidade, estas pessoas como merda. Eu tratei você ainda pior. Mas você ainda voltou para mim. Você me amou quando eu não merecia ser amado. Eu estava com medo de chegar perto de você novamente, sabendo que eu estava morrendo. Eu estava com medo que fosse machucá-lo ainda mais quando eu morresse. Os dias mais felizes da minha vida foram com você sentado dentro daquela casa na árvore. Você é a melhor coisa que já me aconteceu. Eu não sou uma boa pessoa, eu nunca fui um amigo decente ou marido, ou pai, mas de alguma forma eu tenho uma coisa certa. De alguma forma eu não estraguei tudo, porque eu sei que isso é verdade: Você é a única coisa que resta de mim que é bom. Eu amo-o bem após o fim. - Pai Eu sentei lá com a carta na mão, reli dez vezes mais.

Eu também te amo, pai. Durante nossas aulas de violino em casa, mamãe e eu nos sentávamos fora, na floresta, tocando. Na minha frente estava um pedestal, segurando a nova canção que mamãe estava me ensinando. Os galhos da árvore balançavam para frente e para trás, lançando sombras sobre nós. Ela continuava franzindo a testa para mim a cada poucos segundos. — Está bem, pare, pare, pare. — ela bateu a mão em sua testa antes de encostar em uma árvore. — O que no mundo aconteceu? — O que você quer dizer? Eu toquei todas as notas certas. — Acertar as notas não importa se você tocar a música sem colocar a sua alma nela. Caso contrário, é apenas ruído. — sua cabeça inclinou para a esquerda. — O que está na sua cabeça? Coloquei meu violino no case e encolhi os ombros. — Não faz sentido. Eu não entendo por que o papai parou de me escrever ou que eu fosse visitá-lo. E agora, sabendo que eu nunca vou descobrir as respostas... eu não sei. Está me devorando. — Entendo. — ela empurrou-se do tronco da árvore e se dirigiu para a casa. Quando ela voltou, tinha uma pequena caixa. — Ele me fez prometer que eu não te contaria sobre isso. Eu estava em um lugar muito ruim, Levi. Eu não sei como explicar, mas eu sentia como se estivesse perdendo você para ele. Achei que você me deixaria para ficar com ele. Minha mente estava instável. Quando eu melhorei e quis dar isso para você, seu pai me pediu para não fazer isso. — Por quê? — Ele não queria que você me odiasse. Eu peguei a caixa e comecei a percorrer os cartões. Cartões de natal, cartões de aniversário. Cinco anos e meio de cartões que eu nunca soube que existiam. Eu os li uma e outra vez enquanto a mamãe estava do outro lado. — Eu não te odeio, mãe. — Ele é a pessoa que me falou para ir para o St. John. Ele pagou por tudo sozinho também. Ele praticamente me convenceu de que a única maneira de você voltar para casa desta vez era se eu fosse para o centro de tratamento. O acordo era que se eu fosse para o tratamento, ele mandaria você de volta para mim depois que eu começasse a melhorar. Além disso, ele não queria que você o visse ficar mais doente. — Por que ele fez isso?

— Porque ele sabia que sua vida estava terminando. Ele não queria que você perdesse nós dois. Havia tanta coisa sobre meu pai que eu não sabia. Eu tinha perguntas que nunca seriam respondidas por ele, mas a única coisa que eu sempre quis saber foi respondida. Ele nunca deixou de me amar. E isso estava bom o suficiente para mim. — Ele deixou-lhe uma coisa, Levi. — O que você quer dizer? — perguntei. Ela começou a andar em direção a casa e disse: — Venha para dentro. Você pode querer se sentar para este.

Capítulo Quarenta e Seis Aria Simon e sua família encaixotaram todas as suas coisas para sair de Wisconsin em junho. Eles participaram da formatura do Mike, onde James fez um discurso fantástico de orador oficial sobre os erros do passado e as oportunidades futuras. Todos nós voltamos para nossa casa para a festa de formatura do Mike, onde nós rimos, choramos e nos despedimos. Eles estavam saindo naquela noite para começar a sua longa viagem para Washington e uma parte de mim não tinha certeza de como lidar com a perda do meu melhor amigo. Simon, Abigail e eu nos sentamos na varanda da frente enquanto Keira afivelava Easton no seu assento do carro. — Então é isso, hein? — eu sorri para Simon. Ele tirou os óculos e beliscou a ponta do seu nariz. — Eu acho. Ele se virou para Abigail e deu quatro beijos em seus lábios antes que eles se despedissem, prometendo trocar mensagens entre si no caminho todo para Washington. Enquanto eles se abraçaram demoradamente, eu caminhei até o carro e beijei a testa do Easton quatro vezes, em homenagem ao seu novo irmão mais velho. Depois de um último beijo, eu me afastei do carro e abracei Keira e Paul. Simon se aproximou de mim e não me abraçou quatro vezes como eu pensei que ele faria. Foi simplesmente um abraço apertado, longo e amoroso, que quase me fez chorar. — Ah, espere! — eu disse, correndo até sua varanda e pegar o case da guitarra que estava atrás do corrimão. — Isso é do Easton. É a sua air guitar. Eu quero que você se certifique que ele aprenda a tocar quando ele estiver velho o suficiente. Promete que vai ensiná-lo? Ele balançou a cabeça. — Prometo.

— Promete que você vai cuidar dele? — eu sussurrei. — Prometo. — ele sussurrou de volta. Abigail e eu estávamos ao lado uma da outra, os braços entrelaçados, conforme observávamos o carro conduzir para a estrada. — Eu acho que é só você e eu agora, hein? — Abigail sorriu. — Praticamente. — Você acha que eu deveria estar preocupada com ele encontrar outra namorada? — O quê? De jeito nenhum. Simon é louco por você. — Eu sei. Eu sou tipo uma grande coisa. Eu queria selar o negócio do nosso compromisso um com o outro, mas decidimos não fazer sexo vendo que, você sabe, que a melhor amiga, meio que acabou grávida no primeiro ano e isso foi tudo dramático e outras coisas. Então, eu apenas dei-lhe um trato com as mãos no banheiro na noite passada. — Oh meu Deus, Abigail! — Sem querer me gabar, mas eu fui muito boa naquilo, também, depois de todas as coisas que eu li sobre o emprego das mãos. — O quê?! Você lê coisas sobre masturbação? — Google, Aria! — ela riu quando começamos a caminhar de volta para minha casa. — Sério, quantas vezes eu tenho que falar sobre isso? Eu tive uma boa sensação de que não ficaria muito solitária com esta garota ao redor. Abigail e eu éramos praticamente grudadas todos os dias durante o verão. Era diferente, mas um tipo bom de diferente. Eu nunca tive uma amiga próxima antes, e era ótimo tê-la e seu estranho comportamento. Quando eu não estava saindo com ela, eu estava na floresta às seis da manhã alimentando o cervo. Era como se eles não confiassem em mim totalmente. Levi era muito melhor em alimentá-los, mas eu não desistiria. No primeiro dia de julho, eu estava na floresta com um punhado de frutas. O

cervo estava olhando na minha direção, dando um passo mais perto. Ele estava a centímetros de distância de mim, prestes a pegar as frutas. Um galho estalou atrás de mim, fazendo o cervo correr. Eu me virei e minha respiração ficou presa na minha garganta quando eu olhei para baixo, para um par de tênis azuis, que estava chutando em torno de rochas invisíveis. Eu comecei a chutar em torno das rochas invisíveis também. Meus olhos se moveram para cima para fixar em Levi e ele me deu aquele sorriso bobo que sempre me fazia feliz. — Desculpe por assustar o cervo. — ele se aproximou de mim. — Eu não sabia que alguém estaria aqui fora. — ele estendeu seu dedo mindinho para mim. Envolvi-o com o meu. — O que você está fazendo aqui? — eu questionei. — Minha mãe e eu chegamos tarde na noite passada. Acontece que meu pai nos deixou sua casa no testamento. Vai precisar de um pouco de reforma, mas minha mãe disse que sempre foi destinada a ser nossa casa. Meu peito apertou e me movi para perto dele. Estávamos tão próximos, nossos lábios quase se tocando. Senti suas respirações quentes roçando na minha pele, na minha alma. — Você está bem? — perguntei. — Eu estou bem. — ele respondeu. — Você está bem? — ele perguntou. — Eu estou bem. — eu respondi. Meu coração virou, chutou e se atrapalhou ao redor, dentro do meu peito. — Você realmente vai ficar aqui? Ele colocou meu cabelo atrás da orelha. — Vou realmente ficar aqui. — seus lábios dançaram levemente nos meus, provocando arrepios na espinha. Ele beijou-me com tudo dele e eu o beijei de volta com tudo de mim. Com uma voz suave, o garoto com os tênis azuis surrados falou duas palavras que fizeram lágrimas caírem nas minhas bochechas. — Oi, Art. Pisquei uma vez antes de olhar para o mais belo par de olhos castanhos. Eu o amava. Eu o amava tanto, tanto. Eu o amava sem arrependimentos de ontem e sem medo do amanhã. Eu o amava no momento, em silêncio, com sussurros secretos de amor que só os nossos espíritos jovens poderiam compreender.

Com um pequeno suspiro e um coração cheio, eu sussurrei de volta: — Oi, Soul.

[1] Te amo até o fim. [2] Tipo de refrigerante muito popular nos EUA. [3] Série americana, Naval Criminal Investigative Service, no Brasil: Unidade de Elite. [4] 16 & Grávida. [5] Frase muito repetida pelo personagem Frajola, em inglês: Suffering succotash! [6] Tipo de mini bolinhos de batata, feitos com batata ralada e fritos em forma de um cilindro. [7] No original está pregament, quando o correto seria pregnant. [8] Aqui ela usa a expressão flugy: abreviação de fucking ugly (fodidamente feio). [9] Forma de dança e movimento em que a pessoa finge tocar guitarra. [10] Distorção ou diminuição do paladar. [11] O mesmo que paradoxo.

[12] [13] Marca de doces com sabor de frutas. Cada doce possui uma cor diferente. [14] Tipo de molho de salada. [15] Nome dos times da faculdade Duke. [16] Teste de admissão que pode ser aceito no lugar do SAT na maioria das universidades dos EUA. [17] Em inglês: alma. É também um gênero musical originado dos Estados Unidos. [18] Arte. [19] Símbolo conceitual matemático que revela duas faces e sugere eterna continuidade [20] Em inglês: Operation Get Awkward Abigail, por isso a sigla O.G.A.A. [21] Quatro, fazendo referência à mania dele de ordenar e fazer tudo quatro vezes. [22] Cancer free, por isso a abreviação CF. [23] Prato feito a partir de uma mistura de carne moída e outros ingredientes, sua forma assemelha-se à um bife (steak) e é servido com um molho amarronzado (brown gravy).

[24] Till The End. [25] Trepadeira perene de vida curta que pode atingir 4 ou 5 metros de altura.

Table of Contents Art & Soul Capítulo Um Capítulo Dois Capítulo Três Capítulo Quatro Capítulo Cinco Capítulo Seis Capítulo Sete Capítulo Oito Capítulo Nove Capítulo Dez Capítulo Onze Capítulo Doze Capítulo Treze Capítulo Catorze Capítulo Quinze Capítulo Dezesseis Capítulo Dezessete Capítulo Dezoito Capítulo Dezenove Capítulo Vinte Capítulo Vinte e Um Capítulo Vinte e Dois Capítulo Vinte e Três Capítulo Vinte e Quatro Capítulo Vinte e Cinco Capítulo Vinte e Seis Capítulo Vinte e Sete Capítulo Vinte e Oito Capítulo Vinte e Nove Capítulo Trinta Capítulo Trinta e Um Capítulo Trinta e Dois Capítulo Trinta e Três Capítulo Trinta e Quatro Capítulo Trinta e Cinco Capítulo Trinta e Seis Capítulo Trinta e Sete Capítulo Trinta e Oito Capítulo Trinta e Nove Capítulo Quarenta Capítulo Quarenta e Um Capítulo Quarenta e Dois Capítulo Quarenta e Três

Capítulo Quarenta e Quatro Capítulo Quarenta e Cinco Capítulo Quarenta e Seis
Brittainy C. Cherry - Art & Soul (Livro único)

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