Comentário Devocional da Bíblia - Lawrence O

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C om entário D evo cio n al da B íblia

L a w r e n c e

O.

Richards

REIS BOOK DIGITAL Todos os direitos reservados. Copyright £ 2012 paia a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina. Título do original em inglês: Devotional Commentary Cook Communicalioiis Ministries, Colorado Springs, CO, EUA Primeira edição em inglês: 2002 Tradução: Degmar Ribas Preparação dos originais: Anderson Grangeão, Caroline Tuler, Daniele Pereira, Elaine Arsenio, Tanana Costa e Verônica Araújo Revisão: Verônica Araiijo Projeto grafico e editoração: Oséas Maciel Capa: Wagner de Ahneida CDD: 3 - Comentários ISBN: 9~S->5063-0227-2 .As crações Kbikas fotam extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 1995, da Sociedade Bíblica do Brasil nidicação em contrário. Para niacces raformações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos da CPAD. '•szm aosso site: http://www.cpad.com.br. SAC — Ser>:çt> òe Atendimento ao Cliente: 0800-021-7373 Casa Pd>jcaõo(a das Assembleias de Deus Av. Brasil >1.-101. Bangu, Rio de Janeiro - RJ c e p i i ^ í : —:c I* aicão : 2’’' 12 Tiragem: 3.000

SUMÁRIO INTRODUÇÃO 05 COM O USAR O COMENTÁRIO DEVOCIONAL 06 GÊNESIS 09 ÊXODO 46 LEVÍTICO 70 NÚMEROS 87 DEUTERONÔM IO 105 JOSUÉ 131 JUÍZES 145 RUTE 160 1 SAMUEL 164 2 SAMUEL 184 1 REIS 197 2 REIS 214 1 CRÔNICAS 229 2 CRÔNICAS 238

ESDRAS 254 NEEMIAS 260 ESTER 268 Jó 272 SALMOS 285 PROVÉRBIOS 337 ECLESIASTES 350 CANTARES DE SALOMÃO 358 ISAÍAS 362 JEREMIAS 393 LAMENTAÇÕES 423 EZEQUIEL 427 DANIEL 453 OSEIAS 466 JOEL 476 AMÓS 481

OBADIAS 490 JONAS 494 MIQUEIAS 501 NAUM 511 HABACUQUE 514 SOFONIAS 519 AGEU 524 ZACARIAS 528 MALAQUIAS 538 MATEUS 546 MARCOS 594 LUCAS 619 JOÄO 662 ATOS 713 ROMANOS 761 1 CORÍNTIOS 798 2 CORÍNTIOS 822 GÁLATAS 841

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EFÉSIOS 851 FILIPENSES 865 COLOSSENSES 876 1 TESSALONICENSES 2 TESSALONICENSES 892 1 TIM ÓTEO 898 2 TIM ÓTEO 910 TITO 917 FILEMON 921 HEBREUS 925 TIAGO 950 1 PEDRO 961 2 PEDRO 970 1 JOÃO 979 2— 3 JOÃO 988 JUDAS 992 APOCALIPSE 996

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A Biblioteca de Estudo Bíblico em Casa Bem-vindo a este volume da Biblioteca de Estudo Bíblico em Casa, uma série criada especialmente para você. Como um cristão sério, você é um estudante da Palavra de Deus. Você está ávido para estudar a Bíblia de uma forma mais profunda, mas sem a linguagem técnica e a abordagem acadêmica dos livros-textos dos seminários. O que você quer são livros de pesquisas que vão fornecer ajuda prática quando você ministra como professor da Escola Dominical, líder de jovens, líder de estudo bíblico ou simplesmente como um estudante. Você quer livros de recursos que trarão a Escritura viva e vão ajudá-lo a conhecer o Senhor cada vez melhor. Este é o motivo porque temos publicado a Biblioteca de Estudo Bíblico em Casa. Estes três volumes foram escritos com uma linguagem clara e de fácil compreensão pelo Dr. Larry Richards, um professor de seminário que já escreveu mais de 200 livros e estudos bíblicos. Cada livro nesta Biblioteca de Estudo Bíblico em Casa o conduz a melhor entendimento e aplicação da Palavra de Deus, levando-o à essência das questões que estão próximas ao coração de Deus. Embora a sua Biblioteca de Estudo Bíblico em Casa conte com o mais recente e melhor conhecimento para esclarecer o texto, cada um desses volumes fala tocante e diretamente a homens e mulheres comuns. Cada volume desta série tem a sua própria ênfase distintiva, e faz a sua contribuição própria e única para o seu entendimento da Palavra de Deus. Comentário Devoáonal da Bíblia conduz o leitor à Bíblia inteira por um ano, enriquecendo o seu caminhar diário com Deus e ajudando-o a ver um significado pessoal das passagens do Antigo e do Novo Testamento. Guia do Leitor da Bíblia destaca capítulo por capítulo da Bíblia, fornecendo um fascinante entendimento ar­ queológico e cultural que enriquece a sua compreensão quando você lê as Escrituras. O livro também define os termos-chave e ajudam você a traçar temas e doutrinas-chave por meio da Palavra de Deus. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento leva o leitor ao mundo do primeiro século, trazendo os ensinamentos de Jesus e as cartas de Paulo vivas de uma maneira fresca e vital. Juntos, esses três volumes na Biblioteca de Estudo Bíblico em Casa oferecem ao leitor um ensinamento sem igual da Palavra de Deus. Estudar essas obras irá ajudá-lo a entender a Bíblia de capa a capa, aprofundando o seu relacionamento pessoal com Deus, e mostrando-lhe como falar com os outros o que Deus está lhe ensinando. Comentário Devocional da Bíblia Tenho ouvido várias vezes: “Não consigo entender nada da leitura da Bíblia, especialmente o Antigo Testa­ mento”. Longe de muitos cristãos, a Palavra de Deus parece tão vital e emocionante como um livro texto de história. Mas a Escritura não é um livro texto. A Escritura é a viva Palavra de Deus, transmitindo a sua mensagem para você e para mim hoje. Quando nos voltamos para ouvir a Bíblia, para ouvir a voz de Deus falando a nós pes­ soalmente, a Bíblia torna-se, de fato, viva. E por isso que escrevi o Comentário Devocional da Bíblia, uma aventura de um ano de duração criado para conduzi-lo através da Bíblia do começo ao fim. O meu objetivo é ajudá-lo a descobrir em toda passagem da Escritura algumas de muitas mensagens pessoais que o Espírito de Deus transmite ao povo de Jesus. Em muitos lugares surpreendentes você descobrirá palavras de conforto, palavras de desafio, boas-novas que vão encorajálo nos momentos difíceis, e compreensões profundas que vão purificar e limpar sua vida. Tenho recebido mais cartas de pessoas usando este comentário do que de leitores de algum dos mais de 200 livros que já escrevi. Muitos me dizem que têm usado o comentário em seus devocionais não só por um ano, mas por três ou quatro ou até mesmo cinco. Oro para que Deus use este livro para ajudá-lo a experimentar a sua Palavra como uma mensagem calorosa e pessoal para você a cada dia. Lawrence O. Richards

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COMO USAR O COMENTÁRIO DEVOCIONAL DA BÍBLIA Apresentamos aqui quatro formas flexíveis de usar este Comentário para enriquecer a sua vida e o seu ministério com os outros. (1) Você pode recorrer ao Comentário para aplicaçáo pessoal quando prepara uma palestra ou lição, ou quando lê a Bíblia por conta própria. (2) Você pode ler a Bíblia toda em um só ano seguindo algum dos dois diferentes planos de leitura de 1 ano! (3) Você pode seguir um dos pro­ gramas especiais de leitura que explora o Relacionamento Pessoal com Deus ou fornece uma Visão Geral da Bíblia. (4) Você pode usar as leituras do ano cristão, talvez com a sua família inteira, para ter 40 dias especiais na Quaresma, 10 dias no Natal, ou 7 dias na Páscoa. Você pode usar este comentário do jeito que quiser, e nossa oração é que ao utilizá-lo, sua vida seja en­ riquecida com o entendimento da Escritura como a Palavra pessoal de Deus para você, e o ajude a ouvir sua voz vivificante hoje.

DOIS DIFERENTES PLANOS DE LEITURA PARA UM ANO

PLANO A:

mostrando os Profetas, traçando a narrativa histó­ rica, caminhando com Jesus, ouvindo os ensina­ Plano de Leitura. Sequencial: mentos dos apóstolos, adorando com o salmista. Gênesis a Apocalipse No período de um ano, você vai ler a Bíblia inteira, cada mês vai ser cheio da estimulante variedade e Comece com Gênesis, e dia após dia siga desenro­ inesperado entendimento. lando a kistória do plano de Deus para a humani­ Ou use este Comentário Devocional único em dade. Acompanhe a história de Abraão, Moisés e uma de várias outras maneiras. a geração de Exodo. Observe a ascensão e a queda dos reinos de Israel. Investigue a literatura da sabe­ Janeiro Cantares de Salomão doria do Antigo Testamento, e ouça as vozes dos Gênesis profetas. Então veja o cumprimento da promessa Lucas em Jesus, ouça os seus ensinamentos e acompanheo em sua jornada para a cruz. Compartilhe a alegria Fevereiro 2 Coríntios da ressurreição quando a jovem igreja vibrante al­ Salmos 1— 84 cança o mundo perdido. Finalmente, reflita as li­ 1 Coríntios ções ensinadas nas Epístolas: lições que têm guiado Março a igreja cristã por mais de 2000 anos.

Josue Juizes Rute Abril Mateus Jeremias Maio Salmos 85— 150 Daniel Apocalipse 1 João

PLANO B:

Plano de Leituras Selecionadas: Alternando leituras do A T e N T Mantenha a sua leitura da Escritura atualizada al­ ternando a leitura do Antigo e do Novo Testamen­ to. O Plano “B” de leituras segue a tabela (abaixo), e mantém a sua leitura devocional estimulante e revigorante. A cada semana ou duas, você vai ex­ plorar uma faceta diferente da Palavra de Deus: 6

Hebreus %Tiago

1 Tessalonicenses Filipenses 2 João 3 João Naum Esdras

Comentário Devocional da Bíblia

Junho Neemias Ester Efésios Filemom Oseias Joel Julho Marcos Provérbios 1 Reis J f !9ydo Levítico Números 1 Timóteo

Amós Jonas Miqueias Zacarias Gálatas Judas 2 Reis Tito Colossenses 2 Timóteo Eclesiastes Lamentações

Setembro 1 Crónicas 2 Crônicas 1 Pedro 2 Pedro Outubro Romanos 1 Samuel 2 Samuel Novembro Deuteronômio Dezembro Atos

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Ezequiel Ubaaias 2 Tessalonicenses Habacuque Ageu Malaquias Zacarias João Isaias

PROGRAMAS ESPECIAIS DE LEITURA Um programa especial de leitura em 30 dias irá ajudá-lo a explorar seu relacionamento pessoal com Deus ou fornecerá uma Visão Geral da Bíblia. Se você não está preparado para se comprometer com um plano de leitura em um ano, experimente um desses programas de 30 dias e descubra como encontrar Deus em sua Palavra, e ouvir a mensagem pessoal dEle para você. VISÁO GERAL DA BÍBLIA EM 30 DIAS Dia Passagem Dia Passagem 1 16 Gn 1— 2 1 Rs 12— 14 2 Gn 3— 4 Ez 8— 11 17 3 Gn 12— 14 18 Hc 4 Gn 15— 17 19 2 Cr 34— 3 6 Êx 1— 4 20 Jr 31— 34 5 6 Êx 20— 23 21 M t 1— 2 7 Lv 16— 20 22 M t 6 —7 8 Nm 11— 14 23 M t 8—9 24 9 D t 5— 7 M t 24—25 10 Js 6 — 8 M t 2 6 —28 25 11 26 J d l— 3 A t 3— 4 12 1 Sm 16— 19 27 Rm 2— 3 13 2 Sm 6— 10 28 Rm 4 14 1 Rs 1— 4 29 1 Co 15 15 1 Rs 5— 8 30 Ap 20— 21

Dia 1 2 3 4 5

DEZ DIAS NO NATAL Passagem Dia Passagem 6 Is 7 M c 4— 5 Is 9 7 Mc 6—7 Lc 2 8 M c 8— 10 Mc 1 9 Mc 11— 12 10 Mc 2— 3 Mc 14— 16

Dia 1 2 3 4

SETE DIAS NA PÁSCOA Passagem Dia Passagem Lc 22— 23 1 Co 15 5 Lc 24 6 1 Ts 3— 5 Rm 5 Ap 21— 22 7 Rm 6—7

40 DIAS ANTES DA PÁSCOA Dia Passagem Dia Passagem 1 21 Jo 20— 21 Is 53 2 Jo 1.1-18 22 H bl 3 Jo 1.19— 2.24 23 Hb 2— 3 4 24 Jo 3 Hb 4— 5 5 Hb 6 25 J° 4 6 26 Hb 7— 8 J° 5 Jo 6 7 27 Hb 9 8 28 H b lO J° 7 Jo 8 9 29 H b ll 10 Jo 9 30 Hb 12 11 Jo 10 31 Hb 13 12 Jo 11 32 Ap 1 Jo 12 13 33 Ap 5 14 34 Jo 13 Ap 14 15 Jo 14 1 Ts4 35 16 36 Jo 15 Ap 19 Jo 16 17 37 Ap 20 18 38 Is 65.19-66 Jo 17 Jo 18 19 39 Ap 21 20 40 Ap 22 Jo 19

RELACIONAMENTO PESSOAL EM 30 DIAS Dia Passagem Dia Passagem 1 Gn 15— 17 16 Jo 17 2 Êx 1— 4 Rm 4 17 3 D t 5— 7 18 Rm 8 4 D t 28 Rm 12 19 5 1 Sm 16— 17 20 Rm 13 6 21 Rm 14 Sl 23 7 2 Sm 11— 13 22 1 Co 13 8 Sl 51 23 2 Co 8— 9 Jó 1— 14 24 E fl 9 10 S137 E f2 25 11 26 E f3 -4 Lc 5— 6 12 L c ll 27 E f5 13 Jo 10 28 ljo l 14 Jo 15 29 1 Jo 2— 3 Jo 16 30 15 1 Jo 4— 5

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GÊNESIS INTRODUÇÃO O livro de Gênesis é o primeiro dos cinco livros escritos por Moisés durante o período do Êxodo, entre 1450 e 1400 a.C. Usando como fontes a revelação direta de Deus, e as tradições orais e escritas do seu povo, Moisés examinou a história, desde a Criação até a sua própria época. O livro de Gênesis está dividido em duas partes. Gênesis 1— 11 narra as tratativas de Deus com toda a raça humana, desde a Criação até a época de Abraão, aproximadamente em 2100 a.C. Gênesis 12 intro­ duz um tema vital. Deus faz um concerto com um homem e seus descendentes. Deus irá operar por in­ termédio deste homem, Abraão, e sua família, Israel, para revelar-se à humanidade, e, em última análise, propiciar uma salvação disponível a todos. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. As Tratativas de Deus com a Raça H um ana....................................... A. A Criação................................................................................................. B. A Queda ................................................................................................... C. O Dilúvio e suas consequências........................................................... II. As Tratativas de Deus com a Família de Abraão................................. A. Abraão....................................................................................................... B. Isaque........................................................................................................ C. Jacó e Esaú .............................................................................................. D. José............................................................................................................

..Gn 1— 11 ....Gn 1— 2 ....Gn 3—5 ..Gn 6— 11 Gn 12— 50 Gn 12—25 Gn 22—27 Gn 25—36 Gn 37—50

GUIA DE LEITURA (14 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Capítulos 1— 2 3— 5 6— 8 9— 11 12— 14 15— 17 18— 21 22.1— 25.18 25.19— 28.22 29— 32 33— 36 37— 41 42— 46 47— 50

Passagem Essencial 1.26,27 3.8-19 6.9-22 9.8-17 12.1-9 15.1-19 18.16-33 22.1-19 27.1-33 32.1-21 35.1-15 39.1-23 46.1-27 50.1-21

GENESIS 1 DE JANEIRO LEITURA 1

A COROA DA CRLAÇÁO Gênesis 1— 2

“E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era Na Rússia, o Dr. Boris P. Dotsenko, na ocasião muito bom” (Gn 1.31). chefe do departamento de física nuclear no Institu­ to de Física em Kiev, começou a pensar seriamente O trabalho de cada dia da Criação se encerra com a a respeito da natureza do universo. “De repente, avaliação divina, “era bom”. Somente o trabalho do eu percebi”, escreveu ele posteriormente, “que deve sexto dia, no qual o Senhor criou a humanidade, existir uma força organizadora muito poderosa que ganhou a aprovação suprema — “muito bom”. age contrariamente à tendência desorganizadora que há na natureza, mantendo o universo controla­ Visáo Geral do e em ordem. Esta força não poderia ser material; Deus criou os céus e a terra (1.1). O processo orga­ caso contrário, ele também ficaria desordenado. Eu nizado descrito aqui passa da formação de um am­ concluí que este poder deve ser, ao mesmo tempo, biente singular para a vida (w. 3-19), à povoação onipotente e onisciente. Deve haver um Deus — da terra com vida animal (w. 20-25), à criação de um único Deus — que controla tudo” (Larry Riseres à imagem de Deus (w. 26,27). O homem, a chards, It CouldntJust Happen [Fort Worth: Sweet, coroa da Criação concluída, está destinado ao do­ 1989], pág. 17). mínio (w. 28-31). Gênesis 2 retorna para examinar Posteriormente, no Canadá para estudos adicio­ mais cuidadosamente estes seres destinados a ser a nais, o Dr. Dotsenko apanhou uma Bíblia. Ali, ele conheceu o Deus que ele tinha decidido que devia coroa da Criação de Deus. existir, e tornou-se um cristão. Entendendo o Texto Criar (Gn 1.1). A palavra hebraica bara’ não sig­ “O dia primeiro” (Gn 1.5). Os cristãos debatem o nifica “criar alguma coisa a partir do nada”, mas significado de “dia” em Gênesis 1. Alguns acredi­ dar início ou originar uma sequência de eventos. O tam que “dia” é usado de maneira imprecisa, para livro de Gênesis afirma que Deus é a causa de tudo indicar uma era. Outros, observando a “tarde” e a o que existe. Deus — e não o acaso — originou “manhã” mencionadas no texto, concluem que o toda a vida e os seres humanos formados de ma­ significado é de um dia de 24 horas. Mesmo aqui, neira singular. Contemplar a Deus como Criador é existe um debate. Os dias de 24 horas foram con­ secutivos? Ou poderiam ter sido separados por mi­ uma fonte de grande consolo. lhões de anos? “Sem forma e vazia” (Gn 1.2). A segunda lei da ter­ As Escrituras pouco fazem para satisfazer a nos­ modinâmica afirma que, se abandonado, qualquer sa curiosidade científica. Por quê? Talvez porque sistema irá decair. Mas a nossa terra contém formas “pela fé, entendemos que os mundos, pela palavra de vida que são altamente organizadas e complexas, de Deus, foram criados; de maneira que aquilo que distantes do estado “sem forma e vazia” que esta lei se vê não foi feito do que é aparente” (Hb 11.3). Mesmo se os detalhes fossem conhecidos, os inuniversal da natureza prediz.

Gênesis 1—2

de atraente e agradável a benéfico e útil. Deus criou o nosso universo com um objetivo. Da maneira como foi constituído originalmente, o universo, e tudo o que há nele, eram idealmente adequados para revelar a glória de Deus e para realizar os seus propósitos. A tragédia do pecado, introduzido em Gênesis 3, deturpou a Criação original. Ainda as­ sim, a beleza e a grandeza que Deus investiu na “Haja”(Gn 1.3,6,9,etc.). Todos, exceto um, dos atos Criação ainda podem ser vistas. criativos de Deus, foram realizados pelo simples ex­ pediente de proferir a palavra. O salmista toma este “Façamos” (Gn 1.26). Alguns sugerem que a pala­ tema, e clama: “[Ele] falou, e tudo se fez; mandou, e vra plural, Elohim, usada aqui a respeito de Deus, logo tudo apareceu” (SI 33.9). Os ecos das palavras é um “plural majestoso”. Assim como a realeza hu­ de Deus ainda são ouvidos na criação que, então, mana, às vezes, fala de “nós” quando o significado passou a existir. O Salmo 19 diz que “os céus mani­ é “eu”, também se considera que Deus se refere a si festam a glória de Deus e o firmamento anuncia a mesmo como plural. Os cristãos, no entanto, veem obra das suas mãos”. E acrescenta que “Sem lingua­ nesta antiga expressão, evidências de que o Deus das Escrituras existe nas três Pessoas, plenamente gem, sem fala, ouvem-se as suas vozes” (w. 1-3). O testemunho da Criação à existência de Deus é reveladas somente em o Novo Testamento. uma pedra fundamental do argumento de Paulo de que os seres humanos se desviaram de Deus. “Um jardim no Éden, da banda do Oriente” Em Romanos 1.20,21, Paulo diz que “as suas coisas (Gn 2.8). A descrição do Eden no livro de Gênesis invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu é significativa. Deus não somente projetou o Éden eterno poder como a sua divindade, se entendem e para a beleza (v. 9) como também para ocupar o claramente se veem pelas coisas que estão criadas, tempo e os talentos dos seres aos quais Ele tencio­ para que eles fiquem inescusáveis”. Eles ficam ines­ nava deixar encarregados do jardim. O jardim re­ cusáveis porque “tendo conhecido a Deus, não o flete o fato de que o homem verdadeiramente traz a glorificaram como Deus, nem lhe deram graças”. imagem de Deus. Como Deus, Adão podia realizar Que lembrete, para mim e para você. Quando nós um trabalho significativo (v. 15). Como Deus, Adão andamos pela praia, olhamos maravilhados para tinha uma capacidade de criar (v. 19). Como Deus, as estrelas, ou sentimos a fragrância de uma flor, Adão também tinha liberdade de escolha moral (v. nós devemos sentir que Deus está falando conosco 16). Deus não plantou a “árvore da ciência do bem e por meio da sua criação. E, vendo-o, nós devemos do mal” como uma cilada para Adão, mas para dar a ele a oportunidade de escolher aquilo que era corre­ adorá-lo e dar graças. to e bom, assim como Deus escolhe fazer o bem. “Domine” (Gn 1.26). O conceito de domínio afir­ mado aqui não é um “direito de usar”, mas uma “A djutora” adequada (Gn 2.20). A expressão não “obrigação de guardar e proteger”. A responsabili­ sugere inferioridade, pois a mesma palavra hebrai­ dade do homem moderno com o bem-estar ecoló­ ca (?zer) é usada para identificar Deus como o au­ gico da terra é declarada aqui, no livro de Gênesis, xílio do homem em Salmos 33.20 e em diversas muito tempo antes que os “progressos” da ciência outras passagens. Certamente Deus não é inferior moderna ameaçassem o equilíbrio da natureza. ao homem porque nos oferece ajuda! Na realidade, “adjutora” adequada ensina a plena igualdade entre “Frutificai, e multiplicai-vos” (Gn 1.28). A Bíblia homens e mulheres, e indica que, em Eva, em con­ mantém uma atitude saudável e positiva com traste com todo o reino animal, Adão encontrou relação à sexualidade humana. A relação sexual um ser que compartilhava plenamente da sua na­ não era, como alguns erroneamente ensinaram, a tureza, e assim podia relacionar-se com Adão física, “maçã” que Adão e Eva foram proibidos de provar! intelectual e espiritualmente. Aqui nós encontramos evidências, muito tempo antes da Queda, de que Deus sempre tencionou “Da costela” (Gn 2.22-25). Os rabinos judeus que os seres humanos aproveitassem e usassem as logo perceberam que o modo da criação da m u­ suas capacidades sexuais. lher é significativo. Se Eva tivesse sido feita do pó da terra original, Adão poderia tê-la consi­ “Bom” (Gn 1.10,12,etc.). A palavra hebraica usada derado como uma criação secundária e inferior. aqui tem uma ampla variedade de significados, des­ Formando Eva a partir da substância do próprio

crédulos zombariam e ainda se apegariam aos seus caprichos. Mas existe ainda outra razão. O livro de Gênesis nos incentiva a olhar além do material, ao imaterial — além da Criação, para o Criador. Nada deve nos distrair do reflexo de Deus que nós vemos no que Ele criou.

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Gênesis 1—2

Adão, Deus afirmou a plena identidade de ho­ mens e mulheres como pessoas que trazem a imagem divina. Adão viu as implicações ime­ diatamente, e as aceitou completamente. Eva foi

DE V OCIONAL______

A Imagem e a Semelhança de Deus (Gn 1.26,27) Uma das mais assombrosas expressões encontradas nas Escrituras está aqui, em Gênesis 1. “Façamos”, diz Deus, “o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. E o texto continua: “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou”. As duas palavras hebraicas usadas aqui para de­ finir a essência humana são selem, que significa “imagem” ou “representação”, e demut, que sugere similaridade. Quando unidas, elas fazem uma de­ claração teológica decisiva. A essência da natureza humana somente pode ser compreendida pela si­ milaridade com o próprio Deus. Nós jamais po­ deremos compreender o homem aludindo a algu­ ma suposta derivação de animais pré-históricos. Em um ato criativo totalmente singular, Deus deu a Adão não somente vida física, mas também a sua qualidade de pessoa — a sua capacidade de pensar, de sentir, de avaliar, de amar, de escolher, como um indivíduo autoconsciente. O próprio relato do livro de Gênesis enfatiza a singularidade humana. Todos os outros aspectos da Criação foram trazidos à existência pela pala­ vra proferida de Deus. Mas, quanto ao homem, Deus curvou-se, para moldar pessoalmente um corpo físico, e então, gentilmente, amorosamen­ te, infundiu vida naquele corpo. Para que não houvesse engano quanto à intenção de Deus, Ele formou Eva de uma das costelas de Adão. O livro de Gênesis é claro. Adão e Eva têm a mesma subs­ tância. Eles participam igualmente da imagem e da semelhança dadas somente aos seres humanos. Este relato faz mais do que explicar a origem do ho­ mem. Ele tem o poder de moldar as nossas atitudes mais básicas, com relação a nós mesmos e a outros. Considere. Se eu sou criado à imagem de Deus, então eu devo ter valor e importância como um indivíduo. E irrelevante comparar-me com os ou­ tros, se a minha existência essencial pode ser com­ preendida pela similaridade com Deus! Sabendo que Deus me criou à sua imagem, eu aprendo a amar e a valorizar a mim mesmo. Você já percebeu como nós tratamos as coisas que valorizamos? Nós usamos orgulhosamente o reló­ gio ou o broche novo. Quando o tiramos, nós o

recebida como “osso dos meus ossos e carne da minha carne”. Que lição está inserida aqui para os cristãos consi­ derarem seriamente!

fazemos cuidadosamente, colocando-o em uma gaveta, onde não será danificado. Se você e eu compreendermos a importância de sermos criados à imagem e semelhança de Deus, viremos a apre­ ciar a nós mesmos também. Nós nos recusaremos a ser degradados por outras pessoas, e rejeitaremos tentações que possam nos danificar física ou espiri­ tualmente. Por trazermos a imagem e a semelhança do Criador, também somos importantes demais para arruinarmos a nossa vida. Considere. Se outros são criados à imagem e se­ melhança de Deus, devem ter valor e importância como indivíduos, quaisquer que sejam as fraque­ zas que apresentem. Quando eu compreender que todos os seres humanos compartilham da ima­ gem e semelhança de Deus, eu tratarei os outros com respeito. Eu aprenderei a ignorar as falhas e a transmitir amor. Eu perceberei que a existência da imagem e semelhança de Deus, por mais distorcida que esteja pelo pecado, significa que a outra pes­ soa pode responder, como eu respondi, ao amor de Deus revelado em Jesus Cristo. E assim eu estendo a mão, para ele ou ela, com amor. Considere. Se os homens e as mulheres compar­ tilham verdadeiramente da imagem e semelhança de Deus, cada um deles deve ter uma importância e um valor que independem do sexo, raça ou da condição social. Quando eu compreender verda­ deiramente que cada ser humano compartilha co­ migo da imagem e semelhança de Deus, começarei a deixar de lado os preconceitos que orientam o comportamento humano. Eu aprenderei a ver as mulheres como pessoas, e a apreciar tudo o que elas tiverem para oferecer como contribuições na famí­ lia, no local de trabalho e na igreja. Eu me tornarei daltônico, e deixarei de lado categorias como preto e branco, rico e pobre, e começarei a tratar todas as pessoas que eu encontrar com respeito e afeição. Quando isso acontecer, eu terei aprendido o ensi­ namento de Gênesis 1.26,27, e terei começado a compreender quão preciosos os outros são para o Deus que os criou, e que me criou. Aplicação Pessoal “Senhor, ajude-me a olhar para os outros com novos olhos. Capacite-me a ver cada pessoa como o Senhor a vê, e, de maneiras práticas, transmitir respeito e amor”.

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Gênesis 3— 5

Ontem, eu vi um debate sobre pornografia, no programa “Crossfire” pela emissora CN N , e vi os argumentos de Satanás reunidos outra vez. Um advogado da ACLU (American Civil Liberties Union) ridicularizou a ideia de que até mesmo a pornografia vulgar é errada. Ele afirmou que a censura à pornografia iria negar aos leitores os seus direitos e prazeres. E afirmou que nenhum mal resultaria de encher a mente com imagens pornográficas. A nossa única proteção contra o mal é a fé que 2 D E JANEIRO LEITURA 2 Eva abandonou. Nós precisamos afirmar o que A CHEGADA D O PECADO Deus disse. Nós devemos estar convencidos de Gênesis 3—5 que os padrões divinos não pretendem nos negar prazeres, mas nos proteger do mal. E devemos “Temi, porque estava nu, e escondi-me” (Gn 3.10). perceber que haverá consequências trágicas à Um dos grandes mistérios, que confunde os filó­ violação dos padrões de Deus quanto ao que é sofos, está solucionado em Gênesis 3. O pecado certo e errado. não é o inexplicável remanescente do suposto sur­ gimento da humanidade a partir da bestialidade, “Morrereis” (Gn 3.4). Na Bíblia, “morte” é um ter­ mas uma herança que se seguiu à Queda de Adão. mo abrangente, que descreve o fim da vida bioló­ Contudo o foco, nestes dois capítulos, não está no gica. Mas também descreve a condição psicológica, social e espiritual do homem. Quando Deus adver­ fato do pecado, mas nas suas consequências. tiu Adão que não comesse o fruto proibido, expli­ cou: “Não comereis dele... para que não morrais”. Visão Geral Eva sucumbiu à tentação e persuadiu Adão a deso­ O pecado de Adão trouxe a “morte” nos seus quatro bedecer a Deus (3.1-6). Subjugado pela culpa e pela significados. Biologicamente, o processo de envelhe­ vergonha, o casal fugiu do Deus Criador, que os ama­ cimento começou quando Adão pecou; um proces­ va (w. 7-10). Deus os encontrou, e explicou as con­ so que levou à morte do primeiro casal, e à morte sequências do seu ato (w. 11-20). O próprio Deus física que espreita cada ser humano agora. Psicolo­ ofereceu o primeiro sacrifício da história (v. 21) e os gicamente, Adão e Eva foram tomados de culpa e expulsou do Jardim (w. 22-24). Adão e Eva viveram vergonha, expressas aqui na sua percepção de nudez para ver as consequências do pecado na sua própria (3.7). Socialmente, Adão e Eva começaram a ter família, quando Caim matou seu irmão, Abel (4.1- ideias divergentes, culpando um ao outro pelo seu 16). Lameque, o descendente de Caim, representa a ato. A harmonia que tinham conhecido foi rompida pela discussão (w. 11-13). Espiritualmente, Adão e sociedade pecadora que surgiu (w. 17-26). Aqui está a base da doutrina cristã da “depravação Eva foram alienados de Deus, e isso criou um senti­ total”. O homem não é tão mau como pode ser. mento de medo. O Deus de amor tinha se tomado, Mas a humanidade, separada de Deus, é tão má repentinamente, um objeto de terror (w. 8-10). Nenhum ser humano é tão mau como pode ser. como pode ser. Mas todos os seres humanos, as vítimas do legado Entendendo o Texto do pecado que é a morte física, psicológica, social e “E à mulher disse” (Gn 3.1-6). A aproximação de espiritual, são tão maus como podem ser. Satanás a Eva é um modelo clássico do raciocínio Nós estamos familiarizados com todos estes aspec­ que nos leva ao pecado. A ordem de Deus de não tos do que a Bíblia chama de “morte”. Cada um comer de uma árvore no Jardim (2.17) estabele­ deles é um testemunho — um quadro de avisos ceu um padrão. Satanás atacou este padrão, de três — que anuncia em alta voz que o pecado é uma realidade com a qual nós devemos lidar. maneiras. Satanás questionou a existência do padrão: “E as­ sim que Deus disse?” (3.1) “Coseramfolhas defigueira” (Gn 3.7). A frase retrata Satanás lançou dúvidas sobre os motivos de Deus o primeiro e inútil esforço do homem de lidar com para estabelecer o padrão: “Deus sabe que, no dia o pecado. Adão e Eva tentaram se cobrir. Mas nós em que dele comerdes... sereis como Deus” (v. 5). sabemos que a sua tentativa de lidar com o pecado Satanás negou as consequências da violação ao pa­ fracassou. Como sabemos disso? Quando Adão e Eva ouviram a voz de Deus próxima a eles, “escon­ drão: “Certamente não morrereis” (v. 4).

Citação Im portante “Lembre-se de que compartilhar significa mais do que cortar um pedaço de bolo em duas fatias iguais. Isso envolve toda a sua atitude com relação à outra pessoa. Lembre-se de todas as maneiras nas quais vocês são pessoas iguais na estima de Deus; então, equilibre a sua vida para adequar-se à opinião dEle, e não à da sociedade à sua volta.” — Pat Gundry

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deu-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim” (v. 8). Por mais que tentemos lidar com o pecado com nossos pró­ prios esforços, no fundo nós, seres humanos, con­ servamos um sentimento de culpa e vergonha que testemunha a nossa condição de perdidos. Jamais houve, e jamais haverá um ser humano salvo pelas suas próprias obras. “E fez o Senhor Deus a Adão e a sua mulher túnicas de peles e os vestiu” (Gn 3-21). Esta simples declara­ ção está cheia de significado simbólico. Ela é consi­ derada como o “primeiro sacrifício da história”. O próprio Deus tirou a vida de um animal para cobrir a nudez de Adão e Eva. Observe que Deus fez as vestes. Nós não consegui­ mos lidar com o pecado. Esta é uma situação em que o próprio Deus deve agir. Observe que houve derramamento de sangue. Aqui, como no sistema de sacrifícios da Lei mo­ saica, diversas lições são ensinadas. O pecado me­ rece a morte. Mas Deus aceitará a morte de um substituto. Não havia mérito no sangue de bois e cabras mortos nos altares antigos. O sacrifício de animais era o auxílio visual de Deus, preparando a humanidade para reconhecer, na morte de Cristo no Calvário, um sacrifício substituto que realmente tira o pecado.

pecado que se expressou na hostilidade de Caim e no seu ato homicida. A história de Caim e Abel suscita várias perguntas. Por que Deus rejeitou a oferta de Caim? Os rabi­ nos concluíram que Caim oferecera a Deus frutos podres. Uma explicação melhor é a de que Abel, ao fazer um sacrifício de sangue, seguiu uma pres­ crição que Deus tinha dado a Adão e Eva, quando os vestiu em peles pela primeira vez. Ao oferecer frutos da terra, Caim sugeriu que os seus melhores esforços eram bons demais para serem oferecidos a Deus. O lembrete de Deus, “Se bem fizeres” (v. 7) sustenta esta interpretação. Caim sabia a maneira correta de dirigir-se a Deus, mas não se dispôs a fazê-lo. Por que Caim matou Abel? Qualquer pessoa que peque e se recuse a aceitar a responsabilidade, pos­ sivelmente procurará um bode expiatório e será hostil com ela. A pessoa verdadeiramente boa atrai­ rá provavelmente a hostilidade do ímpio, pois a sua própria bondade recorda ao ímpio o seu pecado. Onde Caim obteve a sua esposa? Se Adão e Eva eram os únicos seres humanos, e Caim e Abel eram seus únicos filhos, onde Caim poderia ob­ ter uma esposa? A resposta, naturalmente, é que Caim e Abel não eram os únicos filhos de Adão e Eva. Gênesis 5.4 diz que eles geraram “filhos e filhas”. Caim e Abel foram os únicos menciona­ dos em Gênesis 4, simplesmente porque a história é sobre eles! Podemos supor, com base em 5.4, que existia uma grande comunidade de filhos de Adão, e talvez até de filhos de seus filhos, antes que Caim atacasse seu irmão. Todas estas perguntas, no entanto, nos desviam da ênfase pretendida pelo autor do livro de Gênesis. A morte que Deus tinha anunciado que seguiria à de­ sobediência atingiu não somente Adão e Eva, mas foi herdada pelos seus filhos! O pecado corrompeu a raça do homem, e todos nós vivemos com as trá­ gicas consequências do pecado de Adão.

“O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim” (Gn 3.23). A expulsão de Adão e Eva foi um ato de gra­ ça, não de punição. O primeiro casal foi expulso, para que “não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente”. Te­ ria sido horrível, inimaginável, para Adão e Eva, terem vivido ao longo de milênios, forçados a tes­ temunhar as guerras, a injustiça, o sofrimento que derivou do seu ato original de pecado. Quão apro­ priadas poderiam ter sido as palavras de Isaías, gra­ vadas sobre a entrada proibida ao Éden: “O justo é levado antes do mal. Ele entrará em paz; descansa­ rão nas suas camas os que houveram andado na sua “Eu matei um varão, por meferir” (Gn 4.23). Gênesis retidão” (Is 57.1,2). 4 continua a investigar as consequências do peca­ do. Um descendente de Caim, chamado Lameque, “Irou-se Caim fortemente” (Gn 4.1-16). Adão e Eva violou a ordem divina para a sociedade, casando-se não puderam deixar de observar esta evidência de com duas mulheres. Então, ele justificou o assassina­ morte espiritual que transmitiram a seus descen­ to, explicando que o homem que ele tinha matado dentes. Quando Deus aceitou o sacrifício de Abel, o tinha ferido. Uma mulher já não era mais conside­ e rejeitou a oferta de Caim, este encheu-se de ira. rada como companheira de um homem, mas as mu­ Caim atraiu seu irmão “ao campo”, onde o atacou lheres tinham se tornado subservientes, objetos para e matou! o uso do homem. A injustiça foi racionalizada, e o Que desoladora experiência para Adão e Eva! Um assassinato era considerado pelos orgulhosos como a filho claramente amado, morto, por outro filho. E justa recompensa por insultos. Nesta passagem, nós eles sabiam que, na verdade, a culpa era deles mes­ vemos a própria sociedade sendo arrancada de seus mos! Adão e Eva tinham introduzido na história o fundamentos morais.

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Aqui existe mais do que um toque de ironia. Gênesis 4.19-22 descreve as realizações dos filhos de Lameque. Um deles conseguiu controle sobre o reino animal (v. 20). Outro introduziu as belas artes que nós, humanos, associamos com “cultura” (v. 21). Outro aprendeu a extrair metais da terra e moldá-los para o uso do homem (v. 22). Há algu­ ma invenção, há alguma altura, à qual a humanida­ de não possa chegar? Hoje nós vivemos em um m undo assombro­ so. Nós enviamos homens à lua, sondas não tripuladas a planetas distantes. Nós aplicamos radiação para destruir células cancerosas, e inundam os o mercado com remédios que pro­ longam a vida. Nós enchemos as ondas do ar com músicas, e nos deslocamos por estradas em máquinas que são mais complexas do que a nossa capacidade de entendim ento. Mas, ape­ sar de todas as nossas realizações no universo material, a nossa sociedade permanece estra-

gada pelo sofrim ento e pelo pecado. Em pre­ sas fabricantes de cigarros, responsáveis pelas mortes prematuras de 380 mil pessoas por ano, promovem livrem ente seus produtos. Os bêba­ dos e drogados chocam seus complexos auto­ móveis contra outros seres humanos. Grandes corporações do m undo livre ajudam nações terroristas a construir indústrias para guerras químicas. M aus tratos a crianças e assassina­ tos, guerras e rumores de guerras, enchem as páginas de nossos jornais. Sim, o hom em pode conseguir maravilhas no m undo material. Mas a hum anidade está espiritualm ente m orta, in­ capaz de vencer o puxão do pecado ou de evi­ tar suas terríveis consequências. Novamente, nós não somos tão maus como podemos ser. Mas, sem Deus, nós continuam os sendo tão maus como poderíamos ser. Tudo isso é ensinado e demonstrado em Gênesis 3 e 4.

“Porque Comeste” (Gn 3.8-19) O diálogo entre Deus e Adão está no cerne des­ tes trágicos capítulos. Deus encontrou Adão e o questionou. As palavras de Adão revelaram o fato de que esta era verdadeiramente a história de uma Queda, apesar da reivindicação de alguns de que comer o fruto proibido tenha sido “a subida de um degrau”. Adão agora tinha medo do Deus cuja imagem tra­ zia (v. 10). Adão estava ciente da sua culta, e sentiu vergonha (v. 10). Adão recusou-se a encarar a reali­ dade e tentou atribuir à Eva a culpa pelo seu ato (v. 12). Eva também não aceitou a responsabilidade (v. 13). Deus, então, anunciou as consequências que deveriam se seguir às escolhas feitas por cada ator no drama de Gênesis 3. É importante ver as consequências não como al­ guma punição arbitrária, mas como um requisito exigido pela natureza moral do universo que Deus criou. A serpente que emprestou seu corpo como um veículo a Satanás perdeu a sua beleza (v. 14). Despido da ilusão, o pecado é sempre feio e degra­ dante. Satanás ganhou a hostilidade, em lugar da lealdade, da raça humana (v. 15). Diferentemente dos anjos que caíram, a humanidade não irá se alis­ tar voluntariamente seguindo Satanás na sua louca guerra contra Deus. Satanás também estava desti­ nado a ser destruído por aquEle que nasceria da raça humana caída (v. 15). Em um universo moral, é impossível que o mal triunfe. As consequências paraiíz« foram físicas, psicológicas e sociais (v. 16).

Alguns entendem que “Multiplicarei grandemente a tua dor e a tua conceição” indica um ciclo mens­ trual mais frequente. “O teu desejo será para o teu marido” indica uma nova dependência psicológica quer irá substituir o sentimento original de Eva de uma forte identidade pessoal. E “ele te dominará” introduz, pela primeira vez, a ideia de hierarquia: em um universo pecador, os seres humanos irão lu­ tar para obter o domínio uns sobre os outros, e as mulheres serão forçadas, pela sociedade, a papéis subservientes que anulam a personalidade. Aqui a causa não é a moralidade do universo, mas a dis­ torção causada pelo pecado propriamente dito. Quando Adão e Eva abandonaram a submissão à vontade de Deus para afirmar a sua própria vonta­ de independente, o conflito tornou-se inevitável. Adão também iria sofrer, desta vez pela distorção que o pecado causou à natureza (w. 17-19). O tra­ balho se tornou esforço, e a vida, uma luta contra a natureza. Em todas estas coisas, nós vemos novas evidências da destruição que o pecado traz. Mas nós também per­ cebemos uma nota de esperança. Aquilo que Adão fez, Cristo consertou, e consertará. Quando Jesus vier, a própria natureza será libertada (Rm 8.18-21). Mas você e eu podemos sentir a libertação, agora mesmo! Não, não das mudanças físicas causadas pelo primei­ ro pecado. Mas nós podemos ser liberados em nossos relacionamentos. Nós podemos ser liberados da com­ petição em nossos lares e em nossas igrejas, e pela mú­ tua submissão à vontade de Deus, voltaremos a ter a harmonia que reinava antes da Queda. Nós podemos

DEVOCIONAL______

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ser liberados do desejo de estabelecer a nossa própria superioridade, pela dominação sobre os outros. Em Cristo, nós podemos ser liberados também da repre­ ensão, do ódio, e de fazer injustiças. A imagem obscura aqui obtida, à medida que se definem as consequências do pecado, nos lembra do que houve antes da Queda. Aquela imagem do que o homem perdeu nos informa do tipo de pes­ soas que nós devemos ser em Cristo, e do brilhante futuro que Cristo promete ao povo de Deus.

na arca, Deus provocou um Dilúvio que eliminou todas as outras pessoas e animais (7.1-24). Um ano depois, a família de Noé saiu da arca, para uma terra purificada (8.1-20). Depois da adoração de Noé, Deus prometeu não destruir outra vez toda a vida — até o dia do Juízo Final (w. 20-22).

Entendendo o Texto “Nefilins” (Gn 6.4, versão TB). Não se sabe ao certo o significado deste termo. Alguns entendem que ele se refere a gigantes, resultado de uma união entre anjos caídos (sendo os “filhos de Deus” suas Aplicação Pessoal Quais indicações da Queda você vê nos seus pró­ criações diretas) e mulheres humanas. Embora os prios relacionamentos com outras pessoas? Sinta-se versículos 1, 2 e 4 sejam obscuros, o significado encorajado! Cristo morreu para libertar você exata­ da passagem é claro. A iniquidade humana alcan­ çou novos níveis, chegando a um clímax funesto: mente destas consequências do pecado. “Toda imaginação dos pensamentos de seu coração [do homem] era só má continuamente” (v. 5). Citação Im portante “Nós estamos estabelecendo um recorde de todos os tempos na produção de coisas materiais. O que “Tristeza e dor” (Gn 6.6). Observe que o texto não nos falta é uma fé justa e dinâmica. Sem ela, todo diz “ira e revolta”! Deus não se alegra em punir o resto tem pouca serventia. A falta de fé não pode aqueles que pecam. Em vez disso, Ele sente uma ser compensada por políticos, ainda que sejam há­ enorme dor — pelo mal que as suas criações cau­ beis; nem por diplomatas, ainda que sejam astu­ sam, umas às outras, e pela necessidade de punir ciosos; ou por cientistas, ainda que sejam inventi­ pessoas criadas à sua própria imagem. vos; nem por bombas, ainda que sejam poderosas.” “Varão justo” (Gn 6.9). Quando aplicadas a seres — John Foster Dulles humanos no Antigo Testamento, as palavras “jus­ 3 D E JANEIRO LEITURAto”3 e “inocente” jamais indicam que a pessoa esteja sem pecados. Em vez disso, elas são usadas para . £ l i _ O DILÚVIO PURIFICADOR retratar pessoas que respondem sinceramente a Gênesis 6 — 8 Deus, e que honestamente tentam agradá-lo. So­ “Destruirei, de sobre a face da terra, o homem que mente Noé mereceu esta descrição. criei”.... (Gn 6.7). “Trezentos côvados” (Gn 6.15). A arca era uma em­ A brilhante promessa da Criação original de Deus ti­ barcação maciça até mesmo pelos padrões modernos nha sido deteriorada pelo pecado do homem. Agora, (veja a ilustração). Ela tinha o objetivo de levar casais o livro de Gênesis introduzia um tema que ecoa por de animais reprodutores de várias espécies, e provi­ toda a Escritura. Deus é juiz moral do seu universo. sões para eles, assim como Noé e a sua família. Foram Deus não se esquivará da sua responsabilidade. Cer­ desenhados muitos modelos diferentes da arca, mas as informações obtidas do texto são insuficientes para tamente, Deus punirá aqueles que pecam. retratar com exatidão o gigantesco barco. A ilustração desta página dá alguma ideia do tamanho da arca em Visão Geral Libertados de suas restrições, os homens se dedica­ comparação com embarcações antigas e modernas. ram ao mal, e um Deus entristecido decidiu limpar a terra (6.1-8). Noé, o único homem justo sobre a “Tudo... o que tinha fôlego de espirito de vida em seus terra, obedeceu à ordem de Deus de construir um narizes... morreu”(Gn 7.22). Muitos discutem se o barco gigantesco (w. 9-22). Depois que a família Dilúvio do livro de Gênesis foi local ou universal. de Noé e casais de animais reprodutores entraram Certamente, o texto sugere um cataclisma, com águas

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subterrâneas e atmosféricas surgindo sobre uma terra destruída por terremotos. A afirmação de que “todos os altos montes que havia debaixo de todo o céu fo­ ram cobertos” foi interpretada, por um lado, como evidência de que o Dilúvio foi local, pois não exis­ te água suficiente na terra para cobrir picos como o Everest, o Ararat e o McKinley. A mesma afirmação é interpretada, por um outro lado, como a evidência a favor de um Dilúvio universal. A pressão das águas pode ter feito com que a superfície da terra, então ins­ tável, fizesse subir os picos modernos e baixar o leito do mar. Mas este debate ainda deixa obscura a mensagem que o texto enfatiza. Três vezes Gênesis 7 repete esta men­ sagem. “E expirou toda carne que se movia sobre a terra” (v. 21). “Tudo o que havia no seco, morreu” (v. 22). “Foi desfeita toda substância que havia sobre a face da terra” (v. 23). O Dilúvio não é combustível para debate geológi­ co, mas a grande afirmação histórica de que Deus é o Juiz Supremo da humanidade — e de que Deus ird julgar o pecado. Os mares revoltos sobre os

DEVOCIONAL_______ Justo e Reto em suas Gerações

(Gn 6.9-22) Noé é um dos mais impressionantes homens da Bí­ blia. Ele vivia em uma sociedade totalmente corrupta. Mas ele era comprometido com a santidade, e con­ seguiu viver uma vida irrepreensível. Ainda mais im­ pressionante é o fato de que, quando Deus lhe disse que construísse uma embarcação gigantesca, em uma época quando ainda não se conhecia a chuva (2.6), imediatamente Noé se pôs a fazer isso! Noé e seus filhos cortaram e moldaram toneladas e toneladas de vigas, para firmar a quilha e o esqueleto. Eles serraram incontáveis milhares de tábuas para as laterais. Eles plantaram, juntaram e armazenaram co­ lheitas para servirem como alimentos para si mesmos e para os animais que Deus iria trazer quando chegas­ se o momento. E durante todo o tempo eles devem ter sido ridicularizados por seus vizinhos, que ouvi­ ram e zombaram as loucas predições de Noé sobre a água prestes a cair do céu e a destruí-los. Quanto tempo Noé e seus filhos trabalharam? Gênesis 6.3 nos diz. Quando Deus tomou a deci­ são de trazer juízo, deu à humanidade 120 anos. Foi durante este tempo que Noé e seus filhos realizaram suas hercúleas tarefas. E durante todo este tempo Noé suportou as chacotas feitas às suas custas. Ele ignorou os cochichos que pretendiam que ele ou­ visse. E continuou trabalhando, rodeado pelos risos dissimulados de seus vizinhos. Apesar de tudo, Noé

quais a arca de Noé flutuou são um lembrete a ser mantido diante dos olhos daqueles que zombam e seguem os seus próprios maus desejos. Pedro convida estas pessoas a olharem para trás — e en­ tão, para frente. “Eles voluntariamente ignoram isto: que... pelas quais coisas pereceu o mundo de então, coberto com as águas do dilúvio. Mas os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se re­ servam como tesouro e se guardam para o fogo, até o Dia do Juízo e da perdição dos homens ímpios” (2 Pe 3.5-7). O Dilúvio do livro de Gênesis é o triste lembrete da história de que o pecado merece o juízo divino, e de que os pecadores serão julgados. “Não tomarei mais” (Gn 8.21). Depois de um ano na arca (cf. 7.11; 8.13), Noé emergiu, para ado­ rar ao Senhor. Naquela ocasião, Deus assumiu um solene compromisso, de jamais voltar a destruir to­ das as criaturas viventes, “enquanto a terra durar” (v. 22). Um juízo completo e purificador está agora reservado para o fim da história.

continuou fiel. Ele tinha ouvido Deus falar. “Assim fez Noé; conforme tudo o que Deus lhe mandou”. Chris, o filho adolescente do nosso pastor, Richard Schmidt, pode compreender a pressão sobre Noé. No vestiário, ele era ridicularizado pela sua determi­ nação em permanecer sexualmente puro. “E nisso que eu acredito”, disse ele, “e isso é o que eu vou fazer”. Provavelmente, você também consegue entender. Existem tantos, no nosso mundo moderno, que riem das pessoas que ouviram a voz de Deus e ten­ tam fazer “conforme tudo o que Deus lhe mandou”. Imagine! Noé conheceu exatamente esta pressão, por parte de todos, e por 120 anos! Mas Noé conti­ nuou fiel. E você e eu também podemos continuar sendo fiéis. Pedro nos deu uma ideia especial do que queria dizer a fidelidade de Noé. Sim, a fidelidade de Noé para com a Palavra de Deus significava a libertação para si mesmo e para a sua família. Mas 1 Pedro 3.19,20 sugere que, pela ação do Espírito Santo, o próprio Cristo falou por meio de Noé nas longas décadas em que “a longanimidade de Deus esperava” que Noé concluísse a sua tarefa. Quão importante é a nossa fidelidade. Quando nós, como Noé, suportarmos a pressão que vem sobre nós, Cristo, pelo seu Espírito Santo, falará, por nos­ so intermédio, às mesmas pessoas que riem e duvi­ dam. E desta vez, nós podemos responder!

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Aplicação Pessoal A nossa fidelidade, quando outros riem, fala mais poderosamente do que as palavras do mais talento­ so pregador que o mundo já conheceu.

O mesmo parágrafo lança a fundação para o gover­ no humano. Poderes menores (como fazer regras que promovam o bem-estar) são implicados no que Deus requer de nós, na punição dos homicídios.

Citação Im portante “Primeiramente o pecado é agradável, depois fica fácil, depois delicioso, depois frequente, depois habitual, e depois confirmado; então o homem se tom a impenitente, depois obstinado, e depois decidido a jamais se arrepender. E então, ele está arruinado.” — Bispo Leighton

Concerto (Gn 9.9). Esta palavra do Antigo Testa­ mento, vitalmente importante, indica um compro­ misso formal e legalmente obrigatório. A promessa de Deus de jamais voltar a destruir toda a vida com um Dilúvio não foi feita levianamente.

“Viu... a nudez de seu pai ”(Gn 9-22). Esta é a inter­ pretação da versão Almeida Revista e Corrigida. O 4 D E JANEIRO LEITURA 4 original hebraico diz “descobriu a nudez de seu pai”. NUNCA MAIS O que esta expressão sugere é incerto, mas a serieda­ Gênesis 9— 11 de com que o livro de Gênesis trata o evento indica Cam fez mais do que vislumbrar um corpo des­ “E eu, eis que estabeleço o meu concerto convosco, e que pido. A delicadeza com que Sem e Jafé trataram seu com a vossa semente depois de vós, e com toda alma pai (w. 23,24) nos serve de lembrete da modéstia vivente”(Gn 9.9,10). com que as Escrituras tratam os assuntos sociais. Noé e seus filhos trouxeram consigo a semente do “Maldito seja Canaã” (Gn 9.24-27). A “maldição” pecado ao novo mundo. Mas agora Deus introduzia proferida aqui não provocou a condição futura de um novo tema, que, com o da Criação, do pecado Canaã, mas a predisse. As maldições e bênçãos do e do juízo, ecoa por todo o Antigo Testamento. E o Antigo Testamento frequentemente são preditivas, tema da promessa-, de um compromisso divino com os seres humanos, feito apesar do que nós somos, e ainda que os povos pagãos considerassem as maldi­ ções como pronunciamentos mágicos, que podiam não por causa do que somos. prejudicar os inimigos. Aqui não existe sugestão de que Canaã participasse Visão Geral Deus permitiu que o homem explorasse o reino do ato de seu antecessor, Cam. Mas a falha moral animal, mas não outros seres humanos (9.1-7). Ele vista em Cam evoluiu, com o passar dos séculos, na fez do arco-íris um sinal da sua promessa de nunca flagrante imoralidade praticada pelos cananeus, que mais extirpar toda a vida com um dilúvio (w. 8-17). praticavam a prostituição nos rituais (ambos os se­ Mas o ato de Cam, filho de Noé, mostra que o pe­ xos), como parte da sua religião. cado ainda estava enraizado na natureza humana Devemos abrir nossas vidas inteiramente ao poder (w. 18-29). As raízes das nações antigas são estuda­ purificador de Deus. Ele pode remover até mesmo das (capítulo 10), e a origem de línguas diferentes as pequenas falhas que, de outra forma, podem ser é explicada (11.1-9). A genealogia chama a atenção amplificadas na vida dos nossos filhos. para um homem que será essencial no grande plano “Estas são as gerações” (Gn 10.1-32). O livro de Gê­ de redenção de Deus — Abraão (w. 10-32). nesis usa línguas e também áreas de terra para identi­ Entendendo o Texto ficar os povos antigos. Embora agora a identificação “Certamente requererei” (Gn 9.1-6). Neste parágrafo exata seja difícil, muitos destes nomes de povos e curto, mas crítico, Deus responsabiliza a sociedade nações foram encontrados em inscrições antigas. pelo comportamento individual. Os homens são responsáveis por colocar em vigor a proibição de “Habitaram ali” (Gn 11.1-4). Muitos concordam Deus contra o homicídio. As palavras “quem derra­ que a torre edificada em Babel era um zigurate, uma mar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue estrutura escalonada que, nos tempos antigos, fre­ será derramado” sustentam os proponentes da pena quentemente tinha um templo no seu cume. Talvez de morte, ordenando que a sociedade execute os as­ as palavras “toque nos céus” dê a entender a precoce sassinos. E afirmada a lógica, “porque Deus fez o ho­ instituição da adoração idólatra. Mas o texto sugere mem conforme a sua imagem”. A vida humana é de um pecado diferente. A torre seria um símbolo da tão supremo valor que nenhuma penalidade menor unidade racial, para que os homens não fossem “es­ por tirar a vida pode significar o quão verdadeira­ palhados sobre a face de toda a terra” (v. 4). Mas mente importante é cada indivíduo. Deus disse especificamente a Noé e a seus filhos

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que “enchessem a terra” (9.1-7). Isso pode ter pare­ cido pouca coisa. No entanto, era importante, para o plano de Deus, que o homem se multiplicasse. Aqui também há uma liçáo para nós. Tudo o que Deus nos diz é importante. Nós precisamos prestar atenção a cada ordem. “Confundamos ali a sua língua” (Gn 11.5-9). Que indicação do senso de humor de Deus. Você con­ segue imaginar, na manhã seguinte, um dos tra­ balhadores dizendo “Pode me passar outro tijolo, por favor?”, e seu amigo ouvindo “Xpul Kodlyeme kakkadoke, seppulvista?” E você consegue ver as pessoas correndo em busca de outros com quem pudessem conversar e a quem pudessem compre­ ender? Logo, as pessoas que falavam diferentes lín­ guas se encontraram, e cada grupo se afastou, para ir se estabelecer no seu próprio território. Desta maneira gentil, “dali os espalhou o Senhor sobre a face de toda a terra”. Deus frequentemente respon­ de desta maneira à nossa desobediência. Ele não envia um relâmpago, não causa grande sofrimento. Em vez disso, gentilmente e algumas vezes com hu­ mor, Ele muda a direção das nossas vidas. No verão, faz calor em Dallas. Um jovem casal, sen­ tindo uma vocação para o ministério, inscreveu-se no seminário que eu frequentava. Eles chegaram

DEVOCIONAL_______ O Sinal do Concerto (Gn 9.8-17) O concerto é uma chave para a compreensão do que o Antigo Testamento ensina a respeito do caráter do nosso Deus. Nos tempos do Antigo Testamento, um concerto (hebraico, brit) era um contrato formal, que tencionava fazer um acordo legalmente obrigatório. Em questões internacio­ nais, um concerto era um tratado. Na vida de uma nação, ele servia como constituição. Nos negócios, um concerto era um contrato. Nos relacionamen­ tos pessoais, era um compromisso. A maioria dos concertos dos tempos antigos eram acordos entre duas partes. Isto é, cada pessoa ou grupo envolvido especificava o que ele ou ela faria para cumprir o acordo. Se uma das partes deixasse de cumprir, o acordo era rompido, e a outra parte não mais estava obrigada. Mas veja o concerto de Deus com Noé. E pura pro­ messa! Deus não impôs condições. Não há “ses”. Em vez disso Deus simplesmente disse, “E eu, eis que estabeleço o meu concerto convosco, e com a vossa semente depois de vós... não haverá mais dilúvio para destruir a terra”. O que quer que faça

em agosto, e foram recebidos por uma onda de ca­ lor na qual as temperaturas chegaram a 44 graus. Depois de dois dias, a “vocação” do rapaz se derre­ teu, e eles deixaram a cidade. Como Deus deve ter rido. Como a confusão de línguas, a sua onda de calor tinha “dispersado” um casal que não estava onde devia estar. Talvez você também possa olhar para trás e ver maneiras gentis com que Deus redirecionou a sua vida. Como Deus é gracioso. Como Ele é bondoso em não irromper em ira cada vez que nós nos afas­ tamos do seu caminho. “Gerou” (Gn 11.10-32). A genealogia era vitalmen­ te importante para os hebreus. Nas genealogias hebraicas, “gerou” frequentemente significa “foi ancestral de”. Além disso, as genealogias hebraicas frequen­ temente saltam gerações, nomeando apenas os ancestrais importantes. Não há como dizer, com base em genealogias como esta, quantas gera­ ções houve, ou quanto tempo passou, desde a primeira pessoa mencionada em uma lista até a última. Em vez disso, a genealogia nos indica as pessoas verdadeiramente importantes na história da Bíblia, preparando-nos aqui para conhecer Abraão. a humanidade, Deus continua comprometido com esta promessa feita a Noé. O texto nos diz que o arco-íris deve servir como um lembrete de Deus desta promessa específica de concerto. Mas o arco-íris significa outra coisa para nós. Em vez de ser um lembrete de uma promessa específica, o arco-íris é um lembrete do caráter de Deus e da natureza do nosso relacionamento com Ele. O arco-íris nos lembra que Deus vem a nós com promessas, e não exigências; que Deus, na gra­ ça, assume compromissos conosco, que não depen­ dem do nosso desempenho. Nós podemos falhar com Deus, mas Ele jamais falhará conosco. Somente em Jesus nós compreendemos plenamen­ te. Somente na promessa de Cristo de vida eterna a todos os que confiam nEle nós compreendemos a plena maravilha da graça de Deus. Mas nós per­ cebemos algo desta maravilha aqui, no livro de Gênesis. E cada vez que vemos um arco-íris, nós nos lembramos. O Deus que prometeu não mais destruir toda a vida com um dilúvio é o Deus da promessa, o Deus da graça. Os compromissos que Ele assume conosco, em Cristo, são promessas que nunca falharão.

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Aplicação pessoal Na próxima vez que você vir um arco-íris, deixe que ele lhe recorde da maravilhosa graça de Deus.

Abençoar-te-ei ( 12.2). Engrandecerei o teu nome (12.2).

Abraão teve uma vida plena e rica. Judeus, cristãos e Citação Im portante muçulmanos honram “Deus não criou o primeiro ser humano, porque Abraão como o fun­ Ele precisasse de companhia, mas porque Ele queria dador de sua fé. alguém a quem Ele pudesse mostrar a sua generosi­ dade. Deus não nos disse que o seguíssemos porque Tu serás uma bênção As Escrituras e o Sal­ vador vieram através Ele precisasse da nossa ajuda, mas porque Ele sabia (12.2). de Abraão. que amá-lo nos tornaria completos.” — Irineu E abençoarei os que Nações se ergueram 5 DE JANEIRO LEITURA 5 te abençoarem e e caíram, de acordo • PARTINDO PARA CANAÃ com o tratamento que amaldiçoarei os que Gênesis 12— 14 dispensaram ao povo te amaldiçoarem judeu. (12.3). “Assim, partiu Abrão, como o Senhor lhe tinha dito” (Gn 12.4). A tua semente darei Esta promessa é con­ esta terra (12.7). siderada como o títu­ O foco do livro de Gênesis agora se desvia, da raça lo de propriedade de como um todo, para um único homem, Abraão. O Israel aos judeus. restante do Antigo Testamento fala sobre Abraão e seus descendentes. Abraão é, ao mesmo tempo, uma figura histórica c um exemplo. Nós devemos ver, na sua resposta de fé a Deus, a chave para um relacionamento pessoal com o Senhor, o qual todos somos convidados a vivenciar em Jesus. Õ exame à vida de Abraão nos dá ideias que podem transfor­ mar a nossa própria caminhada com Deus.

Visão Geral Seis promessas foram feitas a Abraão, e então ele viajou para Canaã (12.1-9). As suas primeiras aventuras revelaram tanto a fraqueza pessoal de Abraão (w. 10-20) quanto os seus grandes pontos fortes de caráter e fé (13.1— 14.24). Entendendo o Texto “Farei” (Gn 12.1—3,7). O tema da promessa de graça continua quando Deus disse a Abraão o que Ele iria fazer. Aqui não há sugestão de condições. Abraão tinha demonstrado a sua fé, obedecendo ao mandamento de Deus, de deixar a sua terra natal (12.1). Agora, Deus estava livre para derramar dá­ divas incondicionais sobre o seu servo. Algumas das seis promessas a Abraão foram man­ tidas. Outras teriam consequências que se estende­ riam ao futuro. As seis promessas são:

Far-te-ei uma grande Abraão foi o pai dos nação (12.2). grandes povos hebreu e árabe.

Assim como Deus assumiu grandes compromissos com Abraão, também assume compromissos com todos os que demonstrem a confiança de Abraão no Senhor. Ur dos caldeus (Gn 11.28). Escavações em Ur reve­ lam que Abraão decidiu deixar uma cidade prós­ pera, então no ápice de seu poder e influência. Esculturas de ouro e harpas incrustadas refletem a cultura de Ur. As fortes muralhas da cidade e seus edifícios públicos refletem o seu poder. Registros de transações comerciais revelam a sua prosperida­ de. Não devemos supor que Abrão era um pobre peregrino que vivia em uma tenda quando ouviu a voz de Deus. Ele era um homem rico, e vivia em uma cidade com praticamente todas as condições sanitárias modernas e com casas construídas para refrescar o ar quente do verão. No entanto, o texto diz, “Assim, partiu Abrão” (12.4). Ele não sabia para onde estava indo. Mas mes­ mo aos 75 anos de idade, Abrão estava disposto a ir para a terra a qual Deus disse, “Eu te mos­ trarei” (v. 1). De certa forma, o nosso relacionamento com Deus segue este mesmo padrão. Deus nos convida a aban­ donarmos a nossa preocupação com o que o mundo aprecia, e que partamos em uma jornada pessoal de fé. O nosso guia, nesta jornada, é a própria Palavra de Deus. O que nos sustenta é a convicção de que, cada dia, Deus nos mostrará o nosso próximo pas­ so. Como Abrão, os cristãos que consideram a vida

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como uma jornada de fé jamais podem se estabelecer nem chamar as cidades da terra de “lar”. Nas pala­ vras de Hebreus 11.16, nós “desejamos uma [pátria] melhor, isto é, a celestial”. Nós sabemos que Deus nos “preparou uma cidade”, e que a cidade celestial é nosso verdadeiro e único lar. “Desceu Abrão ao Egito” (Gn 12.10). Deus tinha levado Abrão a Canaã. Mas quando uma fome atingiu aquela terra, Abrão foi ao Egito para vi­ ver. Aqui, não há sugestão de orientação divina. O que nós percebemos é o medo de Abrão e a sua dúvida, à medida que a seca em Canaã ficava cada vez mais grave. Nós precisamos nos lembrar de que as dificulda­ des não nos liberam da obediência. As vezes, Deus quer que nós permaneçamos onde estamos, e con­ fiemos nEle, ainda que seja nas épocas secas de nossas vidas. Nós precisamos de uma palavra direta de Deus, mais do que as circunstâncias podem nos proporcionar, para nos mostrar a sua vontade.

primeira escolha pertencia ao mais velho. O fato de que Abrão não exigisse os seus direitos mos­ trou um espírito não beligerante que tem grande importância aos olhos de Deus (2 Tm 2.24). Ló escolheu “toda” a planície bem regada, deixando a seu tio somente a região montanhosa e mais seca. A escolha foi egoísta. Pode ter parecido “um bom negó­ cio”. Mas estas planícies eram dominadas por Sodoma e Gomorra, que tinham uma população já famosa pela iniquidade. Mais adiante, quando Deus julgou Sodoma e Gomorra, toda a riqueza de Ló foi destruí­ da, juntamente com estas duas cidades (Gn 19.15). O comportamento não egoísta de Abrão assegurou o seu futuro. O egoísmo de Ló assegurou a sua ruína. Deus recompensou Abrão com um lembrete. Tudo o que ele podia ver em todas as direções, da sua po­ sição no alto das colinas, foi dado a ele e à sua des­ cendência — para sempre. A posse momentânea de Ló da terra mais rica perdeu o significado quando comparada com a promessa de concerto feita pelo Deus de Abrão.

“Dize que és minha irmã” (Gn 12.11-20). Abrão tinha fé. Mas, como todos nós, Abrão também errou, pelo pecado. Na fronteira do Egito, Abrão pediu que Sarai passasse por sua irmã. O temor motivou Abrão a mentir, e, o que é ainda mais terrível, colocar em perigo sua esposa Sarai. Deus libertou Abrão, apesar destes atos. E com base no retrato totalmente honesto que as Escrituras fa­ zem da fraqueza de Abrão, nós aprendemos várias lições importantes.

“Tomaram a Ló” (Gn 14.1-16). Arqueólogos inves­ tigaram a rota percorrida por forças militares que viajassem do norte para a Palestina. Muitos exér­ citos marcharam para o sul, para atacar as cidades da Síria-Palestina, mesmo nos séculos anteriores aos eventos aqui descritos. Uma associação de quatro reis atacou e derrotou Sodoma e Gomorra, e tomou todos os seus bens e alimentos como espólio. No princípio dos tempos bíblicos, a maioria das guerras envolvia ataques em busca de espólio, e não com o objetivo de invadir e controlar áreas adicionais. Ló e seus bens foram levados com os de outros moradores de Sodoma. Quando Abrão soube disso, reuniu o seu próprio pequeno exército e perseguiu os saqueadores. Ata­ cando à noite, Abrão derrotou o exército do inimi­ go, que era maior, e libertou, não apenas Ló, como também os outros. Aqui Abrão exibiu as características de lealdade e coragem.

* Até mesmo aqueles que têm grande fé podem errar. Não devemos ficar chocados com as nos­ sas fraquezas, nem com as dos outros. * Os fracassos pessoais afetam outras pessoas. O que fazemos e o que somos sempre tem o seu impacto sobre os que estão à nossa volta. * Somente Deus pode redimir nossos erros. Ja­ mais permita que a sua culpa ou vergonha afaste você de Deus. Ele é o Único que pode ajudar. * Deus não nos abandona quando as nossas fra­ quezas nos traem. Deus pode, e irá, intervir por “Melquisedeque, rei de Salem ”(Gn 14.18-20). Os no­ nós, quando recorrermos a Ele. mes bíblicos em geral têm grande significado. Mel­ quisedeque significa “rei da justiça”, e Salém significa “Ló ia com Abrão” (Gn 13.1-18). Gênesis 13 e 14 “paz”. Õ texto diz que este rei era um “sacerdote do mostram os grandes pontos positivos do caráter Deus Altíssimo”, um dos nomes usados no Novo de Abrão, assim como 12.10-20 mostram as suas Testamento para falar do Senhor. fraquezas. Embora Abrão devesse estar ciente da sua própria A primeira característica positiva é exibida no seu importância, como alguém chamado por Deus, e relacionamento com seu sobrinho, Ló. Quando que recebeu promessas exclusivas, ele aceitou a bên­ os rebanhos de cada homem cresceram, a ponto ção oferecida por Melquisedeque. Este ato fala da de terem que se separar, Abrão, que era mais ve­ humildade de Abrão, pois nos tempos do Antigo lho, ofereceu a Ló a escolha da terra. Por direito, a Testamento, a pessoa mais importante abençoava a

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menos importante, e oferecer uma bênção envolvia uma reivindicação implícita de superioridade. Nis­ so, vemos outra das qualidades de Abrão: ele per­ maneceu humilde, apesar do seu relacionamento especial com Deus. O Novo Testamento trata Melquisedeque como uma teofania, uma representação visível de Deus como um ser humano. Somente Jesus, com uma natureza humana fornecida por uma mãe humana, pode reivindicar ser Deus encarnado. O livro de Hebreus vê Melquisedeque como o modelo para o sacerdócio singular de Jesus. O Antigo Testamento nada diz a respeito da origem de Melquisedeque ou de sua morte. Com um dis­ cernimento rabínico típico, o autor do livro de Hebreus argumenta que Cristo, cuja origem está na eternidade, e que jamais morrerá, é um Sacer­ dote “segundo a ordem” desta pessoa, e não na linhagem dos sacerdotes levitas, estabelecida por Moisés.

DEVOCIONAL

Como o Senhor lhe Tinha Dito (Gn 12.1-9) Alguns comentaristas sugeriram que as promessas de Deus a Abrão eram promessas condicionais. Eles dizem que a condição era a obediência à or­ dem de Deus de deixar a cidade de Ur. Afinal, se Abrão não tivesse partido, nenhuma das coisas que Deus prometeu poderia ter se concretizado. Esta opinião distorce tanto o texto bíblico quanto uma verdade vital a respeito da vida espiritual. As promessas de Deus não se ativam pela nossa obe­ diência. Pelo contrário, é a nossa obediência que se ativa pelas promessas de Deus. Ás vezes, você e eu cometemos o engano de pensar que Deus é como a instalação elétrica em nossas casas. Nestes fios elétricos há uma energia tremen­ da. E somos você e eu que fazemos esta energia trabalhar! Nós ativamos a energia, acionando um interruptor de luz, ligando um aparelho eletrônico ou pressionando o botão da nossa lavadora de rou­ pas. Deus também tem uma tremenda energia. E alguns cristãos supõem que podem ligar e desligar esta energia, com o que eles fazem. Se acionarem o interruptor correto, Deus age. Se colocarem o seletor no canal certo, ou se colocarem o controle no ajuste correto, Deus virá, sendo chamado. Mas não é isso o que acontece, de maneira alguma, em nossas vidas! O que acontece é que a fé estabelece um relaciona­ mento com Deus, a fonte suprema de energia. A fé conserva este relacionamento. E uma confiança

“Não tomarei coisa alguma de tudo o que é teu” (Gn 14.21-24). Quando o rei de Sodoma ofereceu a Abrão o espólio que Abrão tinha obtido de volta dos reis invasores, Abrão recusou. A sua razão é de­ clarada com clareza. Ele não desejava aceitar nada, para que, mais adiante, o povo não viesse a dizer que os homens de Sodoma tinham enriquecido Abrão. Com isso Abrão tinha em mente a glória devida a Deus. Abrão desejava somente aquilo que vinha, de maneira tão inconfundível, da mão de Deus, para que os outros fossem forçados a dizer, “Deus abençoou seu servo”. E esta é outra das grandes qualidades de Abrão. Agora ele estava pronto a confiar plenamente no Senhor, e a dar a Deus a glória por quaisquer bênçãos que pudes­ se receber. Nós podemos apreciar estas características no caráter de Abrão, e considerá-lo um modelo de altruísmo, lealdade, coragem, humildade, confiança em Deus e prontidão a dar publicamente glória a Deus por aquilo que Ele faz em nossas vidas.

ativa em Deus e nas suas promessas que nos faz obedecer. Nós a vemos muito claramente na vida de Abrão. Por Abráo crer nas promessas de Deus, deixou Ur e a sua riqueza para viver uma vida nômade em uma nova terra. A promessa de Deus ativou a obe­ diência de Abrão. A sua obediência não ativou as promessas. Mais adiante, já na terra, Abrão tirou os olhos das promessas e teve medo. Ele temeu a fome, e temeu o que poderia acontecer se os egípcios vissem e de­ sejassem a sua bela esposa. Por ter se esquecido das promessas, Abrão desobedeceu. Mas mesmo assim Deus foi fiel ao seu compromisso! Ele tirou Abrão da confusão que a sua partida de Canaã e as suas men­ tiras tinham criado, e trouxe Abrão a salvo de volta à Terra Prometida. Ali, Abráo novamente fixou os olhos nas promes­ sas. Ele foi altruísta no seu relacionamento com Ló porque acreditou que Deus lhe tinha concedido toda a terra. Ele foi leal e corajoso porque acredi­ tou na promessa de Deus, de abençoá-lo. Ele foi humilde, porque sabia que, com Deus a seu lado, ele não tinha que provar nada. Ele não desejou to­ mar a riqueza oferecida pelo rei de Sodoma porque desejava que todos vissem claramente que somente Deus era a origem de todo o bem que ele recebia. Foi a promessa, e a fé na promessa, que libertou Abráo, não somente para obedecer a Deus, mas também para se tornar o tipo de pessoa que todos admiramos, al­ truísta, leal, corajosa, humilde, e sincera.

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Entendendo o Texto “Sou teu... galardão”(Gn 15.1). O adesivo no parachoques da minha caminhonete diz, “Pescar não é uma questão de vida ou morte — é mais impor­ tante do que isso”. Aqui, Abrão foi lembrado de que, na realidade, um relacionamento com Deus é o principal na vida. O próprio Deus era o escudo e o galardão de Abrão. Tudo o que Abrão tinha ou esperava se concentrava na pessoa do seu Deus. Deus é tudo o que nós temos, também, e todas as nossas esperanças se concentram nEle. A fé nas Aplicação Pessoal “Senhor, enquanto eu conservar meu coração fixo promessas de Deus nos ajuda a continuar concen­ em Ti e nas tuas promessas a mim, faça de mim o trados no Senhor. tipo de indivíduo que Abrão foi”. “Creu Abrão no Senhor” (Gn 15.2-6). Apesar do fato de que estava envelhecendo, e ainda não tinha fi­ Citação Im portante “Frequentemente, na verdade, com excessiva lhos, Abrão creu na promessa de Deus de uma prole frequência, Deus permite que os seus maiores incontável. A Bíblia diz que “creu Abraão em Deus, servos, aqueles que mais tiveram progressos na e isso lhe foi imputado como justiça”. Nós não po­ graça, cometam os mais humilhantes enganos. demos oferecer a Deus uma vida sem pecado. Todos Isso os humilha aos seus próprios olhos, e aos nós já falhamos, e falharemos novamente. Tudo o olhos de seus companheiros. Isso impede que que podemos fazer é confiar em Deus e ter confian­ eles vejam e se orgulhem das graças que Deus ça na sua promessa. Na graça, Deus aceita a nossa lhes concede, ou das boas obras que fazem, para fé — e escreve “justo” ou “justificado” ao lado do que, como declara o Espírito Santo: ‘Nenhuma nosso nome. carne se glorie perante ele’.” — Louis-Marie “Como saberei?” (Gn 15.7-21). Abrão creu, mas Grignion De M ontfort quis saber. Deus não se aborreceu. Em vez disso, Deus disse a Abrão que preparasse a mais obriga­ 6 DE JANEIRO LEITURA 6 tória forma dos concertos antigos, o “concerto de SABER COM CERTEZA sangue”. Hebreus 6.17, 18 nos diz que Deus fez Gênesis 15— 17 isso, “porque quis “mostrar mais abundantemente “Não temas, Abrão, Eu sou o teu escudo, o teu gran­ a imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa”. Assim, Ele confirmou a sua promessa díssimo galardão ” (Gn 15.1). “com juramento, para que por duas coisas imutá­ A fé é muito mais do que a mera esperança de que veis, nas quais é impossível que Deus minta, te­ alguma coisa improvável possa acontecer. E uma nhamos a firme consolação, nós, os que pomos o profunda certeza interior, enraizada na nossa con­ nosso refugio em reter a esperança proposta”. Nós fiança no que Deus disse. Nós nos voltamos à vida cremos. Como Deus está totalmente comprometi­ de Abrão, onde temos ideias vitais que podem en­ do conosco, nós também sabemos. riquecer a nossa fé pessoal em Deus. “Saber com certeza” (Gn 15.13). Deus conhece o fu­ turo, e está em pleno controle dele. Com base nisso, Visão Geral Sem filhos, Abrão creu na promessa de Deus de que nós, como Abrão, não devemos ter dúvidas quando teria um filho, mas perguntou como poderia saber o Senhor nos revela as suas intenções. Abrão sabia, disso (15.1-8). Deus fez um concerto com seu servo, com base exclusivamente na palavra de Deus. Nós para que ele pudesse “saber com certeza” (w. 9-13). sabemos, não somente porque Deus é aquEle que Mas, devido à insistência de Sarai, Abrão teve um nos fala, mas porque podemos olhar para trás, como filho com a sua criada, Agar, gerando um conflito Abrão não podia, para as profecias cumpridas. Os familiar (16.1-16). Catorze anos depois, Deus re­ 400 anos no Egito, a escravidão imposta sobre os novou a promessa, e mudou o nome de Abrão. O descendentes de Abrão, a punição do Egito e a li­ centenário Abraão confiou que Deus lhe daria um bertação do Êxodo são história hoje em dia. Tudo filho com Sara, e com a ordem de Deus, circuncidou aconteceu exatamente como Deus disse que iria todos os homens da sua casa, como um sinal de fé acontecer. Nós realmente cremos. E sabemos. nas promessas do concerto (17.1-27).

Deve ser assim também com você e comigo. Nós podemos continuar pensando que devemos fa­ zer isso ou aquilo para merecer os benefícios de Deus — e nos perguntarmos por que, quando apertamos os botões corretos, a energia náo flui. O u podemos simplesmente conservar nossos olhos fixos em Deus, e nas suas promessas a nós, e permitir que a sua graça abundante nos capa­ cite a obedecer.

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Gênesis 15— 17

“Porventura, terei filhos” (Gn 16.1-16). Nos tempos bíblicos, ter filhos era considerado, pelas mulheres, algo que dava significado a suas vidas. Abrão tinha acreditado na promessa de Deus, mas à medida que os anos passavam e não chegava nenhum filho, Sarai ficou impaciente. Finalmente, ela insistiu que Abrão engravidasse a sua serva, Agar. De acordo com os costumes daquele tempo, este não era um ato imoral. Era uma maneira reconheci­ da de dar a uma esposa sem filhos, os filhos que ela chamaria de seus. Mas neste caso, Sarai — e Abrão — cometeram um erro trágico. O erro está expresso no pensamento de Sarai, “Porventura, terei filhos”. Que loucura, quando Deus tinha dito que Ele edi­ ficaria a família de Abrão! E que loucura a nossa, quando tentamos fazer a obra de Deus com nosso próprio esforço, ou insistir em impor o nosso cronograma em vez de esperar que o Senhor aja.

Deus, o homem de 100 anos de idade anunciou a todos os seus servos que, a partir daquele dia, eles deveriam chamá-lo de “Abraão”! O fato de que Abraão adotou este nome aparente­ mente ridículo era outra dimensão da sua fé. Abraão estava disposto, como Noé também tinha estado, até mesmo a se fazer de tolo por amor a Deus. Se você ou eu alguma vez nos sentirmos tolos, ten­ tando agradar a Deus, devemos nos lembrar deste nome, Abraão. E devemos também nos lembrar de que Abraão foi vingado. Hoje ele é honrado por to­ dos como o pai espiritual de uma multidão, que é impossível contar. “Riu-se” (Gn 17-17). A primeira reação de Abraão à declaração divina de que sua esposa, Sara, teria um filho, foi o riso. Parecia tão incrível. Mas Deus declarou novamente, “Na verdade, Sara, tua mulher, te dará um filho, e chamarás o seu nome Isaque”. E Abraão creu. A você e a mim dificilmente nos é pedido que creia­ mos no inacreditável. O u que sigamos um curso de ação que envolve grande risco. Mas, quando isso acontecer, podemos nos lembrar de que a promessa incrível de Deus a Abraão e Sara foi cumprida. Aqui­ lo que Deus diz que fará, Ele pode fazer. E Deus é capaz de fazer, por nosso intermédio, aquilo que Ele nos diz que devemos fazer.

“Sou menosprezada aos seus olhos” (Gn 16.5). A aven­ tura de Sarai no esforço próprio teve mau resultado. Agar realmente engravidou. Mas Agar então sentiu, e demonstrou, desprezo pela sua senhora! Como ela estava grávida de Abrão, estava claro que a falta de filhos do casal era por culpa de Sarai. Sarai não tinha esperado este resultado, quando se aventurou por conta própria. Este também é o nos­ so problema. Quando nós tentamos fazer as coisas à nossa maneira, com nossos próprios esforços, as coisas não saem como desejamos. O conflito que então dominou as tendas de Abrão nos recorda que devemos confiar em Deus em vez de seguir adiante sem a sua orientação. Sarai reagiu ao desprezo de Agar com hostilidade previsível. Novamente, de acordo com o costume antigo, Sarai tinha completa autoridade sobre a sua serva. Ela costumava maltratar Agar. A serva final­ mente fugiu, retornando somente quando Deus prometeu que abençoaria o filho que ela carregava. E assim, quando Abrão tinha 86 anos, nasceu seu filho Ismael, que se tomou o ancestral daquelas na­ ções árabes que vivem, ainda hoje, em perpétua hos­ tilidade contra os descendentes de Sara, os judeus. “Abraão será o teu nome” (Gn 17.1-22). Os nomes eram particularmente importantes nos tempos bí­ blicos. Eles pretendiam fazer um pronunciamento a respeito do caráter ou da identidade essencial da pessoa ou da coisa que tinha este nome. O nome de Abrão significava “pai”, e ele não tinha filhos! Que peso lhe deve ter sido este nome! Agora, Deus lhe apareceu, e lhe disse que ele seria chamado “Abraão”, que significa “pai de uma mul­ tidão”, ou “pai de muitos”! Imagine, se desejar, os risos quando, na manhã seguinte à sua conversa com

“Serd circuncidado; todo macho nas vossas ge­ rações” (Gn 17.10-14). A circuncisão era um sinal do concerto que Deus fez com Abraão e seus descendentes, através de Isaque, e tinha a finalidade de demonstrar a fé. Os judeus que, nos milênios futuros, considerassem im portan­ te o seu relacionamento com Deus, através de Abraão, deveriam ser circuncidados, e deveriam circuncidar seus filhos. Os cristãos não têm uma prática que seja análoga à circuncisão. Mas existem maneiras pelas quais nós podemos mostrar que o relacionamento com Deus é importante para nós. A nossa fidelidade na igreja. A nossa consistência na leitura da Palavra de Deus. O nosso compromisso com a oração. A nossa disposição em compartilhar as Boas-Novas de Jesus com outros. A nossa generosidade ao doar. Os nossos esforços em colocar em prática o que aprendemos de Deus. Nada disso é a rea­ lidade. Nada disso, em si mesmo, estabelece ou conserva o nosso relacionamento com o Senhor. Mas cada uma destas coisas, como a circuncisão, é um sinal. Cada uma delas é uma maneira pela qual podemos expressar o fato de que o nosso re­ lacionamento com Deus é verdadeiramente im­ portante para nós.

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Gênesis 18—21

DEVOCIONAL_________ Deus por intermédio de Jesus nos garante uma A Fé que Sabe (Gn 15.1-19) Abrão realmente creu em Deus. Gênesis 15.6 nos garante: “Creu ele [Abrão] no Senhor”. Mas ele de­ sejava uma certeza interior. Este anseio levou Abrão a perguntar, “Senhor... como saberei?” (v. 8) Quan­ do você e eu, embora sejamos crentes, desejarmos a certeza, podemos nos voltar para esta passagem. Deus falará conosco, como falou com Abrão. Deus disse a Abrão que trouxesse animais e aves, e os partisse ao meio, em preparação para o mais obrigatório de todos os concertos antigos, o “con­ certo de sangue”. Neste concerto, os participantes empenhavam suas próprias vidas. Eles simboliza­ vam este compromisso, passando entre as metades dos animais sacrificados. Quando tudo estava pronto para a cerimônia do concerto, Deus fez com que Abrão caísse em um sono profundo. Então Deus passou entre as me­ tades — sozinho. Não poderia haver prova mais clara. Deus empe­ nhou a sua própria vida, afirmando que cumpri­ ria as suas promessas do concerto. O fato de que somente Deus passou entre as carcaças divididas significou que Deus iria cumprir o seu compro­ misso — independentemente do que Abrão ou a sua descendência pudessem fazer! Uma vez que Abrão não passou entre as carcaças, nada do que ele pudesse fazer cancelaria ou anularia a obriga­ ção de Deus! Abrão agora “sabia com certeza”. Nós temos esta mesma certeza. Séculos depois, Je­ sus fez outra caminhada solitária — para a cruz do Calvário. Ali Ele fez um Novo Concerto, e o selou com seu próprio sangue. Ali Ele morreu por nós. A sua morte é a garantia de Deus — a garantia de Deus da sua própria vida — de que o perdão que nos é prometido no evangelho é verdadeiramente nosso. Nós cremos. E também sabemos com cer­ teza que fomos salvos pelo sangue de Cristo. Apesar desta evidência, nós ainda podemos, às vezes, ficar perturbados por dúvidas e temores. Deus disse a Abrão que a sua descendência seria “escravizada e afligida” no futuro (v. 13). A posse da promessa de Deus não era uma garantia de que o povo de Deus poderia evitar o sofrimento. A fé não é um título de posse de uma vida de tranquilidade. Quando tais coisas acontecem, nós precisamos nos lembrar do que Deus disse a Abrão. “Eu sou o teu grandíssimo galardão”. Deus não disse, “Uma boa vida na terra é o teu galardão”. Ele disse, “Eu sou”. Nós precisamos nos lembrar disso quando vie­ rem os problemas. O nosso relacionamento com

única coisa. Deus nos ama, e Ele está presente co­ nosco, até mesmo na mais sombria das ocasiões. Assim, não mais devemos vacilar quando vierem os tempos difíceis, como se alguma coisa estranha estivesse acontecendo. O povo de Deus frequen­ temente foi escravizado e afligido. Mas com tudo isso, nós cremos, e sabemos. Deus continua sendo nosso escudo. E Ele mesmo é nosso galardão. Aplicação Pessoal Escolha um versículo destes três capítulos para memorizar como uma barreira contra a dúvida. Citação Im portante “[Abraão] não enfraqueceu na fé, nem atentou para o seu próprio corpo já amortecido (pois era já de quase cem anos), nem tampouco para o amortecimento do ventre de Sara. E não duvidou da promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a Deus; e estan­ do certíssimo de que o que ele tinha prometido também era poderoso para o fazer.” — Romanos 4.19-21 7 D E JANEIRO LEITURA 7 ALTOS E BAIXOS ESPIRITUAIS Gênesis 18— 21 “Não se ire o Senhor que ainda só mais esta jezfalo” (Gn 18.32). Abraão hesitou em orar por alguma pessoa justa na ímpia Sodoma, preocupado com a possibilidade de que Deus se irasse. No entanto, pouco tempo depois, Abraão novamente mentiu sobre o seu re­ lacionamento com Sara. Como Abraão, algumas vezes nós deixamos de compreender as prioridades de Deus. Os altos e baixos espirituais de Abraão tomam estas prioridades muito claras para você e para mim. Visão Geral Visitantes angelicais anunciaram que Sara daria à luz dentro de um ano (18.1-15). Eles também revelaram que Deus estava prestes a destruir Sodo­ ma e Gomorra. Hesitante, Abraão intercedeu (w. 16-33). Deus destruiu estas cidades, mas salvou Ló (19.1-29). Novamente o medo motivou Abraão a mentir sobre o seu relacionamento com Sara (20.118). Isaque, o filho prometido, nasceu, por fim (21.1-7), e Ismael, o filho de Abraão com Agar, foi mandado embora (w. 8-21).

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Entendendo o Texto A hospitalidade de Abraão (Gn 18.1-8). Nos paí­ ses do Oriente Médio, uma grande ênfase era co­ locada em demonstrar hospitalidade a estranhos. Isto é exemplificado na acolhida de Abraão a três homens que apareceram próximo à sua tenda, no fato de tê-los convidado a comer, e na sua pressa em trazer-lhes comida pessoalmente. Examinando este evento, o autor do livro de Hebreus, do Novo Testamento, exorta os cristãos: “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque, por ela, alguns, não o sa­ bendo, hospedaram anjos” (Hb 13.2).

ter se preocupado. Deus estava ainda mais interes­ sado do que Abraão, e, na verdade, poupou a única pessoa “boa” que se encontrava ali: Ló. Deus se preocupa profundamente com todas as pessoas. Ele jamais se aborrece quando nós lhe su­ plicamos por outras pessoas. As orações de inter­ cessão são particularmente bem-vindas, pois quan­ do oferecemos tais orações, as nossas prioridades se igualam às de Deus. “Traze-os fora a nós” (Gn 19.T29). Somente dois dos anjos seguiram para Sodoma. Eles receberam a hospitalidade de Ló, o sobrinho de Abraão. Os homens da cidade demonstraram a extensão da sua impiedade, exigindo que Ló mandasse para fora os seus convidados, para que se tornassem vítimas de um estupro homossexual! Quando Ló se recusou a atendê-los, os sodomitas decidiram invadir a sua casa. Somente a intervenção dos anjos, ferindo de cegueira os homens, evitou consequências mais de­ sastrosas. A oferta de Ló, de enviar as suas filhas virgens, nos choca, hoje em dia (v. 8). E deveria. Mas o inciden­ te nos mostra o quanto a responsabilidade de um anfitrião para com seus hóspedes estava presente no mundo antigo. A oferta de Ló não deve desviar a nossa atenção do pecado de Sodoma, e dos resultados da ho­ mossexualidade em uma sociedade. A Bíblia iden­ tifica todos os atos homossexuais como pecados, chamando-os de detestáveis, degradantes, pecami­ nosos, vergonhosos, indecentes e perversos (cf. Lv 18.22; Rm 1.22-28). Qualquer sociedade que tole­ re, e na realidade promova este pecado, como fazia Sodoma, se precipita no juízo.

“E disse o Senhor” (Gn 18.9-15). Alguns acreditam que um dos três visitantes que Abraão recebeu era uma teofania, uma visitação pré-encarnada de Deus Filho. Nós não devemos supor que os anjos se parecem com seres humanos no seu estado real. No entanto, quando os anjos visitavam Abraão e outras pessoas, frequentemente assumiam forma humana. Não existe registro de anjos que apareces­ sem como mulheres. Em todos os eventos bíblicos, os anjos apareceram sendo homens. A palavra anjo, tanto em hebraico quanto em gre­ go, significa “mensageiro”. Quer o orador fosse ou não o Senhor, ele falou com autoridade de Deus. O Senhor estava prestes a cumprir a sua promes­ sa. Dentro de um ano, Abraão e Sara teriam um filho. “Sara riu-se” (Gn 18.12). A mesma palavra he­ braica, usada para descrever a reação anterior de Abraão (17.17), é usada para descrever a reação de Sara. Sara não deve ter sentido medo, e tentou mentir. Deus espera uma incredulidade inicial. E impossível e desnecessário esconder de Deus nos­ sos sentimentos. “E chegou-se Abraão” (Gn 18.16-33). Antes que os visitantes partissem, o Anjo do Senhor disse a Abraão que Deus estava prestes a destruir as cida­ des de Sodoma e Gomorra, porque, disse ele, “o seu pecado se tem agravado muito”. A princípio, Abraão simplesmente ficou ali, atordoado. A se­ guir, aproximou-se, para interceder por algum jus­ to que pudesse ser encontrado nas cidades. Este é um dos “altos” espirituais de Abraão — um momento em que seu coração estava realmente em sintonia com Deus. Nós podemos aprender muita coisa com este incidente. (Veja o DEVOCIONAL.) Por enquanto, observe somente uma coisa: Abraão temeu e hesitou em insistir no seu pedido de que Deus poupasse as cidades por causa de 50 pessoas justas. Depois, por 45, então por 40, então 30, en­ tão 20, e finalmente, por 10. Abraão não precisava

“Foi tido por zombador” (Gn 19.14). Aconselhado pelos anjos a fugir da cidade, Ló apressou-se a avi­ sar os dois jovens que iam se casar com suas filhas. O texto os chama de “genros” porque o dote tinha sido pago, e os contratos de casamento assenta­ dos, ainda que os casamentos ainda não tivessem acontecido. As palavras de aviso de Ló foram inter­ pretadas como uma piada. Ló tinha vivido calado em Sodoma tempo demais para ser levado a sério agora. Uma coisa é amar o pecador, como frequen­ temente nos é dito que devemos fazer. Outra coisa é ignorar o pecado. Sodoma nos lembra que nós devemos confrontar os pecados na nossa sociedade, expondo-os como são, enquanto retemos uma pro­ funda e amorosa preocupação com o pecador. Se desejarmos avisar outras pessoas que Deus definiu que um dia Ele irá julgar os vivos e os mortos, não podemos ficar quietos a respeito de questões mo­ rais. Diferentemente de Ló, que se comprometeu

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quando se estabeleceu na ímpia cidade, nós deve­ vez disso, o Senhor falou com Abimeleque, o governante a quem Abraão tinha m entido, e mos nos manifestar. identificou Abraão como profeta. E, em respos­ “O Senhor fez chover enxofre e fogo sobre Sodoma” ta às orações de Abraão, Deus abençoou o rei (Gn 19.24). Já se pensou que as ruínas destas que tinha sido enganado. ímpias cidades estariam sob a extremidade sul do Os nossos altos espirituais frequentemente são mar Morto. Recentemente, restos cobertos por seguidos por baixos espirituais. Quando isso cinzas de cinco cidades foram encontrados nas acontece, Deus é tão gentil conosco como foi planícies ao sul das suas águas, que lentamente gentil com Abraão. Deus não nos renega, pois o se reduzem. Arqueólogos acreditam que um ter­ nosso relacionamento com Ele se baseia na fé, e remoto inflamou depósitos de betume na região, não nas nossas obras. criando o inferno descrito nos versículos 23-26. No devido tempo, Deus restaurou Abraão e O pecado não é motivo para riso. E o juízo divi­ Sara, assim como restaurou a m inha motivação no não é uma piada. para m inistrar aos homens na minha ala. Ele também irá restaurar você dos seus baixos es­ “Ló e as suas duas filhas” (Gn 19.30-38). O inci­ pirituais. dente registrado aqui volta a enfatizar um tema. Ló, ao decidir fixar-se em uma cidade ímpia, “Deus me tem feito riso” (Gn 21.1-7). As Escri­ não somente comprometeu os seus próprios turas agora nos convidam a ver o cumprim ento princípios, como também sujeitou suas filhas a da promessa de Deus a Abraão. Sara deu à luz más influências. Como sempre, no Antigo Tes­ seu filho Isaque. Apesar dos anos de angústia, tamento, os pecados são exibidos como tendo Sara, por fim, conheceu a alegria. um impacto duradouro. Séculos depois, os mo- As palavras seguintes de Sara são significativas abitas e amonitas, descendentes dos filhos gera­ para nós. “Todo aquele que o ouvir se rirá co­ dos pelas filhas de Ló, se tornaram inimigos dos migo”. Por que estas palavras são significativas? descendentes de Abraão. dão a entender que a experiência de “E minha irm ã” (Gn 20.1-18). Mais um a vez, Porque Sara é um modelo para as nossas próprias expe­ Abraão, temeroso de que alguém pudesse riências. Nós podemos ter anos de es­ matá-lo para obter a sua esposa, disse a Sara pera, anos semtambém risos. Mas, no final, poderemos que mentisse a sobre o seu relacionamento. testem unhar com Sara, “Deus tem me trazido o Mais uma vez, Deus interveio. Pouco tempo riso também”. antes, Abraão teve medo de orar por qualquer pessoa justa que pudesse haver em Sodoma. fora esta serva e o seu filh o ” (Gn 21.8-13). Agora Abraão não teve medo de abandonar a A“Deita exigência Sara de que Abraão exilasse Agar confiança no Senhor, e mentir! O “alto” espi­ e Ismael eradecontrária aos costumes. Abraão a ritual de Abraão foi seguido por este “baixo” considerava um ato imoral. Além disso, Abraão espiritual. Quando eu frequentava a Universidade de Mi- se preocupava com seu filho Ismael. Foi ne­ chigan, trabalhava, em período integral, em um cessário uma ordem direta de Deus para que hospital psiquiátrico próximo dali. Eu traba­ Abraão desse o passo exigido. lhava na ala masculina, onde conduzia estudos Por que era necessário expulsar Ismael? Deus bíblicos noturnos para os pacientes que desejas­ desejava que a promessa do concerto, feita a sem comparecer. Alguns dos psiquiatras se opu­ Abraão, fosse transm itida através de Isaque. Is­ seram a isso, e eu orava seriamente pelo meu mael deveria ser expulso, para que não houvesse pequeno ministério. Finalmente, a questão foi nenhum a dúvida sobre a quem pertencia a li­ definida em uma reunião administrativa, quan­ nhagem do concerto. do o chefe da psiquiatria disse aos seus subor­ Mas Deus abrandou o golpe. Deus prometeu dinados relutantes: “Ele provavelmente deveria a Abraão que Ele também faria de Ismael uma grande nação, “porquanto é tua semente”. estar pregando para vocês\” A vitória foi seguida por um estranho declínio Deus tem um propósito para as separações pe­ espiritual. Terminado o conflito, eu perdi toda las quais passamos. Que consolo, quando elas a motivação de continuar as aulas, e tive que acontecem, perceber que os nossos entes que­ ridos são preciosos para Deus, e que Ele está lutar comigo mesmo para prosseguir. No entanto, observe: Ainda que Abraão tivesse empenhado em estar com eles, mesmo que nós errado, claramente, Deus não o renegou. Em não possamos.

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“E abriu-lhe Deus os olhos” (Gn 21.14-21). Esta foi uma passagem predileta para mim durante anos. Agar e Ismael, sem dúvida abalados e com os corações partidos, partiram errantes para o de­ serto. Quando a água que tinham acabou, Agar desistiu. Então, quando tudo parecia mais sombrio, Deus falou a ela. Ele lhe disse que náo tivesse medo, e “abriu-lhe os olhos; e [ela] viu um poço de água”. Deus náo criou uma nova fonte d’água. Ele sim­ plesmente abriu os olhos dela, para ver o que já havia. Quando nós estamos desesperados, rara­ mente Deus precisa criar alguma coisa nova, para nos libertar. Na maioria dos casos, Ele simples­ mente abre os nossos olhos, para que possamos

DEV OCIONAL______ A Emoção de Deus

(Gn 18.16-33) Quando o Senhor disse a Abraão que iria julgar a ímpia Sodoma, Abraão ficou profundamente pre­ ocupado. Ele não questionou o direito do Senhor de julgar os ímpios. Ele se preocupou com o fato de que os justos iriam sofrer um destino imerecido, juntamente com os ímpios. A preocupação de Abraão o impeliu a apelar a Deus. Esta é a primeira oração de intercessão re­ gistrada na Bíblia, e nos ensina duas importantes lições. Em primeiro lugar, Abraão estava um pouco te­ meroso de que poderia ultrapassar os seus limites, ao fazer pedidos repetidos. Às vezes, nós podemos sentir que os nossos repetidos apelos por outras pes­ soas possam, de alguma maneira, “incomodar” o Senhor. A reação de Deus a Abraão mostra que Ele não somente está disposto a ouvir, como também irá responder às nossas orações de intercessão. Em segundo lugar, o temor de Abraão era o resulta­ do de interpretar mal a Deus. Abraão se preocupou com a possibilidade de que Deus pudesse realmen­ te “destruir” a cidade e “não poupar” os justos que nela houvesse. Abraão reduziu gradualmente — de 50 para 10 — o número de justos que, segundo ele pensava, justificariam a atitude de poupar a ci­ dade. Abraão chegou a 10. Mas como a história continua no capítulo 19, nós ficamos sabendo que havia uma única pessoa que poderia ser considera­ da, até mesmo, ligeiramente boa, nas cidades — e Deus trouxe esta única pessoa à segurança. Ele até mesmo poupou as duas filhas de Ló, que não eram merecedoras! O engano de Abraão foi pensar que ele poderia se preocupar mais com as pessoas do que Deus

ver os recursos espirituais e outros recursos que estão à nossa volta. “Deus eterno” (Gn 21.22-34). A seção termina com o relato de um tratado que define um rela­ cionamento harmonioso entre Abraão e o gover­ nante o qual ele tinha enganado anteriormente. O mais importante é que o relacionamento de Abraão com Deus é plenamente restaurado tam­ bém, e ele “invocou o nome do Senhor”. Como é significativo o nome dado a Deus aqui — “Deus eterno”. Deus é nosso, para sempre. Ele está conosco, para sempre. Nada no presente, no passado, ou no futuro, pode mudar o fato de que Ele é Deus, e de que nós somos seus. se preocupa! Abraão finalmente estava disposto a ver nove justos morrer, para que os ímpios fossem punidos. Mas Deus não estava disposto a ver nem mesmo uma pessoa sofrer injustamente. Quando nós oramos por outras pessoas, devemos nos lembrar de que Deus se preocupa com eles muito mais do que nós podemos nos preocupar. Nós podemos suplicar pelos outros sem ter medo de incomodar a Deus. Ele fará tudo o que é possí­ vel para atender às nossas orações de intercessão. Aplicação Pessoal Peça a Deus que encarregue você de orar por outras pessoas que têm alguma necessidade especial. Citação Im portante “Deus não criou o primeiro ser humano, porque Ele precisasse de companhia, mas porque Ele que­ ria alguém a quem Ele pudesse mostrar a sua gene­ rosidade.” — Irineu 8 DE JANEIRO LEITURA 8 “EIS-ME AQUI” Gênesis 22.1—25-18 “Porquanto fizeste esta ação e não me negaste o teu filho, o teu único, que deveras te abençoarei” (Gn 22.16,17). A fé de Abraão foi demonstrada quando ele dei­ xou Ur, e quando, com uma idade avançada, ele acreditou na promessa de Deus de ter um filho. A profundidade da fé de Abraão foi demonstrada, não somente em um teste final, mas também no impacto que ele causou naqueles que melhor o co­ nheciam.

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deram que a oferta do heteu de “dar” a Abraão o campo era simplesmente cortesia. Como re­ tribuição, Abraão teria que dar a ele um “pre­ sente” no valor que os dois acordassem para a propriedade. O preço era elevado, em parte porque a venda da terra a Abraão lhe daria direitos na comunidade dos heteus, que, de outra maneira, ele não teria. Para nós, o significado da história não se encon­ tra no seu retrato dos costumes, mas na dor que Entendendo o Texto “Eis-me aqui” (Gn 22,1). No Antigo Testamento, Abraão sentiu quando sepultou a sua companheira “ouvir” a Deus significa que a pessoa não somen­ de tantas décadas. te entende o que o Senhor diz, mas também que irá obedecer. De maneira similar, o fato de Deus “Disse Abraão ao seu servo, o mais velho da casa” “ouvir” orações significa que Ele pretende atendê- (Gn 24.1-67). O capítulo contém um dos verda­ las. Este fato é a base da reação de Abraão quando, deiros romances registrados no Antigo Testamen­ alguns anos depois do nascimento de Isaque, Deus to. Rebeca, uma jovem muito bonita, recebeu o falou com ele novamente. Quando disse, “Eis-me pedido de casamento de um rico pretendente, aqui”, Abraão indicou a sua prontidão em atender sem vê-lo. Um servo contou a ela sobre ele, e lhe trouxe ricos presentes. Ela teve permissão de esco­ ao que o Senhor iria dizer. Abraão não fazia ideia da grandeza do teste pelo lher — e decidiu aceitar. qual a sua fé estava prestes a passar. (Veja o DEVO- Os adeptos da alegoria interpretam Rebeca como CIONAL.) Mas a prontidão de Abraão em respon­ sendo a igreja; Isaque, Cristo; e o servo cujo nome não é mencionado, o Espírito Santo, que vem do der é um modelo para todos nós. Há alguns anos, eu conduzi um grupo de estudo céu para cortejar a noiva de Jesus. Talvez. Mas exis­ Bíblico em Phoenix, no Arizona. Bárbara era uma te mais valor em um exame cuidadoso do conteúdo cristã nova convertida, entusiasmada e ansiosa para literal do texto. crescer na sua fé. Uma das mulheres do nosso gru­ O servo é identificado como o que “tinha o go­ po tinha se envolvido em um relacionamento adúl­ verno sobre tudo o que [Abraão] possuía”, ou seja, tero com um líder da sua igreja. Nós a tínhamos o “mordomo” de Abraão. Anteriormente, um ho­ confrontado e tentamos ajudá-la, mas em lugar mem chamado Eliézer de Damasco era o mordomo de romper o relacionamento, ela deixou de vir ao de Abraão, e, segundo o costume naquele tempo, estudo bíblico. Esta pessoa continuou telefonando teria herdado a riqueza de Abraão se o seu senhor para Bárbara, apresentando desculpas e tentando não tivesse filhos (cf. 15.2,3). Se este era Eliézer, justificar seus atos. Certa noite, Bárbara nos con­ toda esperança de ganhar a riqueza de Abraão ago­ tou o quanto isso a incomodava, mas disse que não ra tinha sido perdida. A importância do “mordo­ sabia o que fazer. Eu expliquei as orientações da mo” diminuiu tanto, que o autor nem se preocupa Bíblia sobre a disciplina da igreja, que nós seguía­ em registrar o seu nome! mos, e o que fazer quando uma pessoa não quer se Mas, como este mordomo cumpriu a sua missão, arrepender. Lembro-me da resposta entusiasta de vemos que ele tinha obtido algo muito mais im­ Bárbara. “Não vejo a hora dela me telefonar outra portante do que a riqueza de Abraão. Ele tinha ob­ vez, para poder lhe dizer o que eu tenho a ver com tido a fé de Abraão! Ele orou e vivenciou a resposta tudo isso”. Bárbara, uma jovem cristã, tinha desco­ de Deus à oração (24.12-17). Ele reconheceu a li­ berto um segredo que Abraão também conhecia. A derança de Deus (v. 26). E louvou a Deus pela sua nossa tarefa é dizer: “Eis-me aqui”, quando Deus bondade e fidelidade para com Abraão (v. 27). falar conosco — e, então, devemos fazer exatamen­ Nós nos surpreendemos com a fé que Abraão de­ monstrou na sua prontidão em oferecer o seu único te o que Ele disser. filho a Deus. Mas talvez mais surpreendente seja o “Sara morreu” (Gn 23.1-20). Este capítulo é um fato de que a fé de Abraão em Deus tinha conquis­ dos mais importantes do livro de Gênesis para os tado seu “mordomo”, que o conhecia muito bem, estudiosos da cultura do antigo Oriente Médio. e o tinha levado a uma confiança similarmente pro­ Ele contém um relato fascinante da polida nego­ funda e altruísta em Deus. ciação que teve lugar quando Abraão negociou O teste mais verdadeiro para a nossa fé não é a ma­ com um heteu por uma propriedade na qual neira como nós nos comportamos quando há uma sepultar Sara. Todos, daquela época, compreen­ crise. O mais verdadeiro teste é se nós somos capa­

Visão Geral A fé de Abraão foi posta à prova quando Deus lhe ordenou que sacrificasse Isaque (22.1-19). Abraão sepultou sua esposa Sara (23.1-20) e enviou o seu servo principal a procura de uma esposa para Isaque (24.1-66). Depois de muitos anos mais, Abraão morreu, e foi sepultado por seus dois filhos amados, Isaque e Ismael (25.1-18).

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zes de influenciar àqueles que nos conhecem bem, anterior de seu pai, e que os dois se reconciliaram. pela qualidade de nossas vidas. Deus verdadeiramente abençoou Abraão, como ti­ nha prometido. Que maravilhoso é o fato de que o “E sepultaram-no Isaque e Ismael, seus filhos” (Gn Deus de Abraão é o nosso Deus. Quão maravilhoso 25.1-18). Eu gosto muito deste versículo. Ele me é saber que Deus se comprometeu em nos abenço­ diz que Ismael acabou compreendendo a rejeição ar também.

DEVOCIONAL

“Deus Proverá” (Gn 22.1-19) Esta história certamente é uma das mais conheci­ das do Antigo Testamento. Deus ordenou a Abraão que oferecesse o seu filho, Isaque, como sacrifício. Abraão preparou-se para obedecer. Quando Abraão estava prestes a matar seu filho, Deus o fez parar, e apontou para um carneiro cujos chifres tinham fi­ cado presos em um arbusto próximo. Deus elogiou Abraão pela sua obediência, e voltou a confirmar as suas promessas anteriores ao seu servo. Este resumo não faz justiça à história nem às suas consequências para nossas vidas. Para isto, nós de­ vemos observar com atenção as frases do texto.

“Havendo adorado, tornaremos a vós”(v. 5). O Novo Testamento comenta este versículo, dizendo que Abraão considerou que Deus era poderoso para até dos mortos ressuscitar Isaque (Hb 11.18). Deus tinha prometido que Abraão teria descendência através de Isaque. Abraão estava totalmente con­ vencido de que Deus iria cumprir esta promessa. Abraão estava tão certo disso, que disse, confian­ te, “tornaremos a vós”. Sim, Abraão tinha a total intenção de sacrificar Isaque, como lhe tinha sido ordenado. A frase “tornaremos a vós” nos diz que Abraão também sabia que, de alguma maneira, o seu filho iria sobreviver. Mesmo se Deus tivesse que ressuscitar Isaque, Ele o faria, para cumprir as suas promessas. “Pela manhã, de madrugada” (v. 3). Pense nisso. Senhor, dá-nos este tipo de confiança nas tuas pro­ Abraão não somente estava disposto a obedecer, messas! Com este tipo de fé, a obediência fica fácil. ele parece estar ansioso! Sem perder tempo até o meio-dia, quando faria um calor excessivo para via­ “O teu filho, o teu único" (v. 12). Isaque não era jar. Sem a desculpa de que, depois da sesta, já seria o único filho de Abraão. Mas Isaque era o úni­ tarde demais para começar. De alguma maneira, co filho que importava — o único que poderia nós percebemos que para Abraão, isso parecia uma herdar o concerto e ser contado na linhagem do aventura, e Abraão estava ansioso para descobrir concerto. E, tendo Ismael sido mandado embo­ como Deus iria solucionar o seu dilema. ra, Isaque era o único filho que tinha restado a Frequentemente, nós hesitamos, quando percebe­ Abraão. mos que Deus deseja que nós façamos algo difícil. A frase é pungente, pois sugere a dor que o pró­ Nós precisamos do espírito de aventura de Abraão: a prio Deus deve ter sentido, contemplando o dia sua convicção de que Deus irá resolver as coisas, e a em que seu único Filho, Jesus, iria completar o consequente ansiedade para ver como Ele fará isso. sacrifício que Abraão tinha apenas começado.

Na época de Abraão, as moedas ainda não haviam sido inventadas. O “siclo” de Gênesis 23.16 é uma unidade de peso, determinada por pedras como estas, empilhadas em um prato de balança. A moeda tão conhecida do Novo Testamento obteve o seu nome desta unidade de peso.

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Gênesis 25.19—28.22

“Agora sei” (v. 12). O ditado antigo é exato. Falar é fácil. Muitos que dizem ser cristãos dizem ter uma boa fé. Mas o teste de uma verdadeira fé é a obedi­ ência a Deus. Abraão tinha provado, sem sombra de dúvida, que confiava verdadeiramente em Deus. “Porquanto fizeste esta ação... deveras te abençoarei” (vv. 16,17). Não devemos entender mal isso. A cau­ sa suprema de bênção era a promessa de concerto de Deus. Mas a causa mais próxima — o meio que Deus usou para trazer Abraão ao lugar onde ele po­ deria ser abençoado — foi a obediência de Abraão. Deus pretende abençoar você e eu. Ele se com­ prometeu a fazê-lo. Mas somente um caminhar obediente nos capacita a ter direito a esta bênção. E como se estivesse chovendo sobre a colina. Nós sentimos o seu frescor, e ficamos ansiosos em sentir os pingos revigorantes. E há um caminho, que se chama “Obediência”, que leva diretamente a ela. As bênçãos de Deus caem em forma de chuvas abundantes e revigorantes. Mas somente aqueles que seguem pelo caminho chamado “Obediência” é que as experimentam.

velho serviria ao mais moço (25.19-26). Esaú, o mais velho, vendeu seu direito de primogenitura — o seu direito de herdar o concerto que Deus fez com Abraão — a seu irmão mais jovem, Jacó (w. 27-34). A experiência de Isaque mostra o quanto é vital o direito de primogenitura (26.1-35). Anos depois, Jacó e sua mãe tramaram para roubar a bênção de Esaú, por quem seria transmitido o di­ reito de primogenitura (27.1-40). Isso antagonizou Esaú e forçou Jacó a fugir (27.41— 28.9). Em Be­ tei, Jacó teve a sua primeira experiência pessoal e direta com o Deus do concerto, e comprometeu-se em servir ao Senhor (w. 10-22).

Entendendo o Texto Isaque. A respeito de Isaque há menos material escrito do que sobre qualquer outro patriarca. Ele é importante principalmente como a ponte entre seu pai, Abraão e seu filho, Jacó, cujo nome foi, posteriormente, mudado para Israel. Pessoalmente, Isaque parece ter sido uma pessoa um pouco inde­ cisa e passiva, sem grande discernimento espiritual. Estas características são vistas no fato de ter fugido do conflito com Abimeleque, e na sua preferência a Esaú, porque “a caça era de seu gosto” (25.28). Aplicação Pessoal Se existe alguma coisa que Deus deseja que você Embora Isaque fosse ofuscado, tanto por seu pai faça, e você hesita em fazer, deixe que a experiência quanto por seu filho, ele vivenciou a graça de Deus, e no final a fé triunfou sobre a preferência pessoal, de Abraão o encoraje a começar agora. quando Isaque reconheceu a escolha que Deus fez de Jacó sobre Esaú, e confirmou a transmissão das Citação Im portante “Faça pequenas coisas como se fossem grandiosas, promessas do concerto ao seu filho mais jovem. por causa da majestade do Senhor Jesus Cristo, que habita em ti; e faça coisas grandiosas como se fos­ “O maior servirá ao menor” (Gn 25.19-26). Roma­ nos 9 enfatiza a importância desta declaração que sem pequenas, por causa da Sua onipotência.” Deus fez a Rebeca, antes do nascimento de seus — Blaise Pascal. filhos gêmeos. A escolha de Jacó, o mais jovem, por 9 DE JANEIRO LEITURA 9Deus, para herdar as suas promessas do concerto, foi feita antes que os meninós nascessem. Isso mos­ ' PRECIPITAR-SE trava que a escolha não dependia do que cada um À FRENTE DE DEUS deles fizesse. Deus é livre para escolher, da maneira Gênesis 25.19— 28.22 como quiser. O fato de Esaú ter provado que era “Eis que estou aponto de morrer, epara que me servi­ desinteressado pelas coisas espirituais mostra quão sábias são as escolhas de Deus. rá logo a primogenitura?” (Gn 25-32) “Para que me servirá logo a primogenitura?" (Gn 25-27-34). O primogênito tinha o direito de herdar a maior parte da propriedade do seu pai, e também quaisquer possessões intangíveis, como título ou posição. Aqui, a “primogenitura” que Esaú vendeu tão levianamente incluía o seu direito natural, como o filho mais velho, à promessa do concerto de Deus. Descobertas arqueológicas mos­ traram que, nos tempos patriarcais, o filho mais Visão Geral Deus disse a Rebeca, esposa de Isaque, antes que velho podia vender o seu direito de primogenitura, nascessem os seus filhos gêmeos, que o filho mais e às vezes realmente o fazia. Ao vender a sua priDiferentemente de Esaú, seu irmão gêmeo, Jacó, valo­ rizava muito a promessa de concerto de Deus. Mas Jacó mostrou pouca sensibilidade espiritual quando plane­ jou e mentiu desnecessariamente para obter aquilo que Deus já estava empenhado em dar a ele. Ao precipitarse à frente de Deus, em vez de esperar pelo Senhor, Jacó trouxe dor e separação à sua família.

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Gênesis 25.19—28.22

mogenitura a Jacó por uma tigela de guisado, Esaú mostrou a pequena importância que dava às pro­ messas de Deus. Aqui, a palavra “desprezar” (hazah —v. 34) quer dizer “atribuir pouco valor a” alguma coisa, e, na realidade, sugere desprezo. O caráter de Jacó tinha falhas, mas ele valorizava o seu relacionamento com Deus. O Senhor sempre poderá trabalhar na vida das pessoas que o consi­ derarem importante, apesar das fraquezas que ti­ verem. Deus não podia trabalhar na vida de Esaú, pois ele não tinha lugar para o Senhor em seus pensamentos. “Apareceu o Senhor a Isaque” (Gn 26.1-34). A histó­ ria deste capítulo pode parecer uma digressão. Mas é vital no desenvolvimento do tema de Moisés. Isaque possuía as promessas de concerto que Esaú desprezou. Que importância tinha, realmente, o concerto? Em primeiro lugar, a orientação de Deus (w. 1-6). O Senhor apareceu a Isaque, e orientou-o a permanecer em Canaã, em vez de ir para o Egito. Ele permaneceu em Canaã, na costa então ocupa­ da pelos filisteus. Em segundo lugar, a proteção de Deus (w. 7-11). Embora Isaque mostrasse a mesma falta de fé ativa que levou Abraão a mentir a respei­ to da sua esposa, por medo de que fosse morto por causa dela, Deus protegeu Isaque e a sua família. Aqui, “Abimeleque” não é a pessoa a quem Abraão mentira, aproximadamente cem anos antes. Mui­ tos acreditam que o nome é um título, como Faraó. Em hebraico, quer dizer “meu pai é rei”. Em terceiro lugar, o concerto assegurava a bênção de Deus (w. 12-22). Deus enriqueceu Isaque, mul­ tiplicou a sua riqueza. Em quarto lugar, a inter­ venção de Deus (w. 23-35). Quando disputas pelo direito de terra e água levaram Isaque a mudar-se de um lugar para outro, Deus falou com ele, in­ centivando-o a não temer. Os filisteus, finalmente, fizeram um acordo com Isaque, “porque”, disseram eles, “havemos visto, na verdade, que o Senhor é contigo”. Em cada um destes incidentes nós podemos ver — e Esaú e Jacó teriam observado — quão im­ portante era, verdadeiramente, a possessão da pro­ messa do concerto de Deus. Com o concerto, veio o comprometimento de Deus em guiar, proteger, abençoar e intervir. As realidades espirituais pare­ cem irrelevantes para alguns. Mas, na verdade, elas são muito mais importantes do que qualquer coisa que os materialistas possam tocar, ver ou sentir. A bênção de Isaque (Gn 27.1-40). Nas culturas antigas, as bênçãos conferidas pelos pais ou por alguém de autoridade eram consideradas como tendo grande poder. A bênção no leito de morte

era equivalente a um último desejo, com que uma pessoa transmitia as suas possessões tangíveis e in­ tangíveis à geração seguinte. Assim, a bênção de Isaque foi fervorosamente procurada por Esaú, e invejosamente desejada por Jacó. Jacó e sua mãe entraram em pânico quando Isaque anunciou que iria dar a Esaú a sua bênçio. Eles tramaram juntos enganar Isaque, e roubar a bên­ ção, fazendo Jacó se passar por seu irmão mais ve­ lho. Eles conseguiram enganar Isaque, então cego. Mas eles deserdaram Esaú de tal maneira, que ele tomou a decisão de matar Jacó depois que Isaque morresse! O lado trágico desta história é que a fraude deles não era necessária! Antes que os meninos nasces­ sem, Deus tinha anunciado a Rebeca que pretendia exaltar o seu filho mais jovem sobre o mais velho (25-23). O pânico levou Rebeca e Jacó a mentir e trapacear para obter algo que Deus tinha prometi­ do que Ele lhes daria! Como é tolo precipitar-se à frente de Deus. A nossa situação jamais é tão sombria para que tenhamos que adotar meios ilícitos ou pecaminosos, em um desesperado esforço de alcançar bons fins! “Vendo, pois, Esaú” (Gn 28.1-9). Esaú não era uma pessoa má. Ele era simplesmente um destes seres humanos cujos olhos estão tão cheios de imagens deste mundo que não conseguem vislumbrar reali­ dades espirituais. Depois que Jacó foi enviado (fu­ giu) a Padã-Arã, para encontrar uma esposa entre seus parentes, finalmente Esaú compreendeu que seus pais não estavam felizes com as suas esposas cananeias. Em um esforço para contentá-los, en­ controu outra esposa, entre os descendentes de Is­ mael. Que comovente, e, no entanto, que trágico. Esaú realmente fez o melhor que pôde. Mas a sua escolha por esposas cananeias foi um sintoma da sua insensibilidade espiritual, e não a causa da sua rejeição. Nós podemos encontrar qualidades ad­ miráveis naqueles que não têm interesse por Deus. Mas por mais que essas pessoas tentem, sempre estarão aquém das expectativas. O próprio esforço deles demonstra quão pouco conhecem a respeito do Deus de Abraão. “Eu sou o Senhor” (Gn 28.10-22). Jacó tinha visto a importância de um relacionamento com Deus na experiência de seu pai Isaque. Ele tinha consciência da importância do espiritual. Agora, no entanto, o próprio Jacó tinha uma experiência pessoal com o Senhor. Em Betei (que quer dizer “casa de Deus”), o Senhor confirmou a transmissão do concerto de Abraão a Jacó (w. 13-15; cf. 12.1-3,7). As palavras de Jacó,

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Gênesis 29—32

“Se Deus for comigo” (28.20-22) não são uma ne­ gociação com Deus. Em vez disso, são uma res­ posta de fé a Deus. Uma vez que Deus tinha se comprometido com Jacó, e certamente cumpriria as suas promessas, Jacó se comprometeria com o Senhor. As palavras de Jacó são importantes para nós, de duas maneiras. Em primeiro lugar, Jacó nos mostra os benefícios básicos de um relacionamento pessoal com Deus (w. 20,21). Deus é conosco. Ele cuida

DEV OCIONAL______

“Será Bendito” (Gn 27.1-33) Esta é uma daquelas histórias da Bíblia em que normalmente nos concentramos em um persona­ gem, e ignoramos os outros. Nesta história sobre o impostor, nós damos atençáo a Jacó e talvez à sua mãe, Rebeca, que tramou com ele. Algumas vezes, pensamos em Esaú, cujas lágrimas e ira são tão compreensíveis. Raramente, pensamos em Isaque. Mas eu suspeito de que Isaque foi quem aprendeu mais com o incidente, e foi o único que o aceitou com fé e nobreza. Veja, Isaque sempre tinha favorecido seu filho Esaú. Esaú era o homem que vivia ao ar livre, o atleta. Ele era, por assim dizer, o “esportista”. O tipo atlético e viril que seu pai sempre tinha de­ sejado, e talvez sempre tinha desejado ser. Jacó, o filhinho de mamãe, não era o tipo de filho que um pai sonhou! Jacó era o tipo que preferiria to­ car piano a jogar futebol; que preferiria ir a algum museu em lugar de caçar ou pescar. E assim, por Isaque ser tão cativado por seu filho mais velho, foi cego às fraquezas de Esaú, e incapaz de ver os pontos fortes de Jacó. Na verdade, durante aproximadamente 40 anos, Isaque foi cego ao fato de que Esaú não se impor­ tava com Deus, e que Jacó, pelo menos, se impor­ tava com a bênção de Deus. Até o fim, Isaque persistiu em sua opinião. Até o fim, Isaque teve a intenção de que Esaú herdasse a promessa divina. E então Isaque foi enganado, pronunciando a sua bênção a Jacó! Quando descobriu que tinha sido enganado, Isa­ que deve ter ficado irado. Ele poderia ter retirado a bênção, e tê-la substituído por uma maldição! Mas, em vez disso, Isaque finalmente percebeu que, durante todos aqueles anos, ele esteve er­ rado! Ele percebeu que Deus pretendia que Jacó tivesse a bênção, e que Jacó pelo menos se in­ teressava pelo relacionamento de concerto com o Deus de Isaque. Percebendo tudo isso, Isaque

de nós na jornada da vida, satisfazendo as nossas necessidades básicas. Ele nos dá outras pessoas com quem podemos ter um relacionamento familiar. Em segundo lugar, Jacó nos mostra a resposta bá­ sica que é apropriada. Nós devemos honrar ao Se­ nhor como Deus. Nós devemos dispor de tempo e lugares para adorá-lo. E devemos expressar o nosso comprometimento através da nossa liberalidade, utilizando o nosso tempo e os nossos recursos para servirmos ao precioso Senhor.

agiu com fé e com nobreza. Confirmou a bênção que tinha acabado de proferir, dizendo a Esaú “[ele] será bendito”. Você e eu precisamos ser tão acessíveis e nobres como Isaque provou ser. Quão dispostos deve­ mos ser, especialmente em nossas famílias, para examinar nossas atitudes — com relação a nosso cônjuge, nossos pais, nossos filhos, nossos irmãos e irmãs. Se julgarmos os outros com critérios su­ perficiais, precisamos estar prontos, como Isaque, a reconhecer nosso engano. Como Isaque nos mostra, nunca é tarde demais para mudar. Aplicação Pessoal E especialmente importante ser realista a respeito de nossos filhos e valorizar cada um deles por suas qualidades especiais. Senhor, ajude-nos a ser tão acessíveis e nobres como Isaque provou ser. Citação Im portante Eu andei um quilômetro com o Prazer Ele conversou por todo o caminho, mas não me deixou nem um pouco mais sábio com tudo o que tinha a dizer. Eu andei um quilômetro com a Tristeza e ela não disse sequer uma palavra; Mas, oh, as coisas que eu aprendi com ela, Quando a Tristeza andou comigo! — Robert Browning 10 DE JANEIRO LEITURA 10 O ENGANADOR ENGANADO Gênesis 29— 32 “Vosso pai me enganou e mudou o salário dez vezes” (Gn 31.7). Às vezes nós precisamos nos colocar no lugar do enganado, para perceber por que Deus nos convida a viver uma vida verdadeiramente santa.

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Visão Geral Jacó encontrou seus parentes, e casou-se com duas ir­ mãs, Raquel e Leia (29.1-35). O ciúme e os conflitos deturparam a casa de Jacó, mas seus rebanhos cres­ ciam (30.1-43). Finalmente, Jacó tomou sua família e seus rebanhos e fugiu de seu tio Labão, o sogro en­ ganador que “mudou o salário dez vezes” (31.1-55). Livre, por fim, de seu tio opressor, Jacó preparou-se, temeroso, para encontrar Esaú. Neste momento crí­ tico, Jacó encontrou-se Deus, e lutou com Ele, e seu nome foi mudado para Israel (32.1-32).

Leia poderia ter encontrado satisfação em seus fi­ lhos, mas ansiava pelo amor de Jacó. Labão poderia ter valorizado mais as pessoas do que a riqueza, e teria sido amado por todos. Jacó poderia ter assu­ mido uma posição contra seu sogro e suas esposas, mas permitiu que cada um deles o intimidasse ou se aproveitasse dele. No entanto, apesar das falhas de todos eles, Deus usou cada um destes indivíduos para criar uma família que se tornaria o canal da bênção divina ao mundo. E, apesar da insatisfação que cada um deles sentia, todos foram verdadeiramente abenço­ ados. Como nós precisamos aceitar a nós mesmos e as nossas limitações! Como precisamos nos ale­ grar com o que temos, em vez de nos tornarmos, e às outras pessoas, infelizes, na busca do que não temos!

Entendendo o Texto “Labão tinha duas filhas” (Gn 29.1—30.24). O ca­ samento de Jacó com duas irmãs, e a aceitação de suas servas como concubinas (esposas secundárias) não era imoral pelos costumes da sua cultura. Mas o conflito na casa de Jacó sugere o quanto é prudente adotar o casamento monogâmico, como Deus pre­ Os rebanhos de Jacó (Gn 30.1-43). A primeira vista, tendeu. Cada personagem principal desta passagem o uso que Jacó fez de varas listradas enquanto os merece cuidadosa consideração. rebanhos de Labão se acasalavam parecia ser magia. Este conceito, comum a sistemas de mágica, anti­ Labão. Labão estava disposto a usar suas próprias gos e modernos, pressupõe que algum objeto possa filhas e qualquer outra pessoa para alcançar seus influenciar outro para parecer ou ser como ele. Mas próprios objetivos. Em Labão, Jacó, que tinha agido isso não foi mágica. Certamente Jacó deu a Deus o da mesma maneira anteriormente, encontrou um crédito quando os genes recessivos, presentes nos páreo à altura. animais, se tornaram dominantes, e os rebanhos produziram uma parte maior dos animais more­ Jacó. Jacó provou que trabalhava duro. Ele serviu nos, malhados ou salpicados que Labão concordou Labão durante sete anos para conseguir sua esposa, que pertenceriam a Jacó (cf. 31.4-13). Raquel, mas foi enganado por Labão, que substituiu Deus opera confortavelmente na natureza, trans­ Raquel por Leia na noite do casamento. Casado formando eventos “naturais” para alcançar os seus com ambas, Jacó não teve paz, pois as duas irmãs se propósitos. Deus operou através dos códigos gené­ tornaram rivais pelo seu afeto. Em sua competição ticos que já estavam presentes nos rebanhos de que para gerar filhos, Raquel e Leia chegaram a forçar Jacó cuidava. Ele opera nas circunstâncias naturais Jacó a acrescentar suas duas servas, Bila e Zilpa, à sua de nossas vidas, também. lista de esposas. O enganador tinha sido enganado, e era o foco de uma disputa familiar! Anteriormente, “Não nos considera ele como estranhas?” (Gn 31.1Jacó tinha dito: “Eu vou fazer à minha maneira!” 21). Pelos costumes antigos, Jacó provavelmente Agora, ele estava ouvindo a mesma coisa! teria sido adotado por Labão. Jacó, suas esposas e seus filhos eram considerados como “pertencendo” Leia. Não sendo amorosa nem amada, Leia tentou a Labão, o patriarca da família (cf. 31.43). No en­ desesperadamente obter o afeto de Jacó, dando-lhe tanto, depois de 20 anos, Labão tinha maltratado filhos. Ela tinha inveja de sua bela irmã Raquel, e tanto a família de Jacó que as suas filhas estavam embora tivesse gerado seis filhos a jacó, jamais con­ prontas a seguir Jacó a Canaã. Elas não tinham seguiu encontrar a felicidade. confiança de que Labão fosse cuidar de seus filhos, pois ele tratava suas filhas como estranhas e não Raquel. Bela e amada por Jacó, Raquel era infeliz, como membros da família. porque não tinha filhos. Ele insistiu que Jacó dor­ misse com Bila, pois naquela cultura os filhos de “Enviou mensageiros” (Gn 32.1-21). Jacó fugiu de uma serva eram considerados filhos da sua senhora. um tio opressivo rumo a um irmão que ele pensava Cada pessoa lutava por alguma coisa que não ti­ odiá-lo. Que época incerta na sua vida! Jacó fez o nha, em vez de procurar a satisfação nos dons de melhor que pôde para preparar-se para o encontro. Deus. Raquel poderia ter ficado feliz com o amor Ele enviou mensageiros para que a sua volta não de Jacó, mas teve inveja da fertilidade de sua irmã. fosse uma surpresa (w. 1-8). Ele orou, lembrando a

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dizer “o que luta com Deus”. Embora a referência aqui seja a uma luta literal, claramente o nome tem significado literal. Jacó tinha lutado durante toda a sua vida, trama após trama, para progredir. Mas agora Jacó lutava para obter a bênção de Deus. Ten­ do obtido a bênção, Jacó recebeu um novo nome, para assinalar a sua transformação interior. Como Jacó, nós precisamos parar de lutar para pro­ gredir pelas nossas próprias forças, e lutar, em vez disso, para confiar inteiramente em Deus. Como exemplifica Jacó, isso não quer dizer que devemos “Não se chamará mais o teu nome Jacó, mas Israel” nos sentar e ficar sem fazer nada. No entanto, sig­ (Gn 32.22-32). O antigo nome de Jacó queria di­ nifica uma mudança de atitude. A nossa confiança zer “enganador”. O seu novo nome, Israel, queria deve estar no Senhor, e não em nós mesmos.

Deus de Suas promessas (w. 9-12). E enviou ricos presentes antes dele (w. 13-21). Este último ato não era suborno, mas reflete o costume de dar pre­ sentes às pessoas cuja benevolência desejamos ob­ ter. Ao dar tais presentes, Jacó deu a entender que considerava seu irmão como superior a si mesmo. Quando nós nos encontramos em circunstâncias in­ certas, devemos ser prudentes e seguir o que fez Jacó. Nós precisamos confiar em Deus, fazer tudo o que pudermos, e continuar humildes perante os outros.

DEVOCION AL_ “Esta Mensagem” (Gn 32.1-21) Pode parecer estranho, mas o temor evidente que Jacó sentia de Esaú é um sinal de crescimento pes­ soal. Os psicólogos chamam o problema anterior de Jacó de “egocentrismo”. Com isso, eles se re­ ferem a ver as coisas somente da sua própria pers­ pectiva, e estar alheio à perspectiva dos outros. Nos seus primeiros anos, Jacó tramou roubar o direito de primogenitura e a bênção de seu irmão, sem se preocupar sobre como estes atos poderiam afetar seu irmão e o relacionamento entre eles. Jacó e sua mãe, na verdade, pareceram surpreendidos com a ira de Esaú. Eles jamais tinham imaginado como Esaú poderia reagir ao ser enganado. Vinte anos depois, no entanto, o próprio Jacó ti­ nha sido vítima de uma trama. Labão tinha sido tão injusto com Jacó como Jacó tinha sido injusto com Esaú! Agora Jacó tinha vivenciado muitos dos sentimentos que Esaú deve ter conhecido, senti­ mentos vividos por todos os que são vítimas — frustração, desamparo e ira. Por fim, Jacó pôde identificar-se com seu irmão Esaú, e compreender como os seus próprios atos devem ter feito Esaú se sentir. E como compre­ endia isso, Jacó teve medo. Ninguém merece ser tratado da maneira como ele tinha tratado Esáu, ou como ele mesmo tinha sido tratado agora. Tal tratamento suscita ira e merece-punição. Com excessiva frequência, nós, cristãos, também caímos na armadilha do egocentrismo. Nós po­ demos falar ou agir de um modo que nos pareça justo, completamente inconscientes de como o que dizemos pode afetar outras pessoas. Nós tentamos alcançar algum objetivo, mas frequentemente ig­ noramos como nossos métodos ferem os outros. Deus fez Jacó sentir os sentimentos do irmão que ele

tinha enganado, fazendo do própriojacó umavítima. Eu suspeito que, algumas vezes, Deus usa o mesmcT remédio quando lida conosco. Quando nós somos feridos, isso é frequentemente um reflexo da maneira como nós ferimos os outros, um lembrete pouco gen­ til de que Deus nos incumbiu com o dever de amar os outros, assim como amamos a nós mesmos. Seria maravilhoso se você e eu pudéssemos ser na­ turalmente sensíveis aos outros. Mas esta é uma atitude que devemos desenvolver. A promessa e

Os ídolos do lar que Raquel roubou (31.22-25) prova­ velmente eram parecidos com estas estátuas, de aproxi­ madamente 1800 a.C. O roubo de Raquel pretendia ser uma garantia para o futuro. Naquela época, a posse de ídolos constituía uma reivindicação de posse das proprie­ dades da família.

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o.aviso estão claros na vida de Jacó. A promessa é que até mesmo indivíduos improváveis como Jacó podem se tornar pessoas que compreendam e considerem outras pessoas. O aviso é que, se nós vivermos vidas egocêntricas, aproveitandonos dos outros, Deus nos colocará em posições onde sentiremos as mesmas dores que causamos ao próximo.

Entendendo o Texto “Eu tenho bastante”(Gn 33.1-20). O temeroso Jacó ficou assombrado quando Esaú o recebeu com ale­ gria. Devemos acreditar que Esaú tinha um espíri­ to generoso e perdoador? Na verdade, não. Esaú sempre tinha sido materialista, incapaz de ver qualquer benefício na vida espiritual. Esta atitude tinha sido demonstrada, anos antes, quando ele desprezou a promessa do concerto de Deus, tro­ Aplicação Pessoal cando seu direito de primogenitura por uma tigela Se considerarmos os sentimentos dos outros, faremos de guisado (25.29-34). Esaú tinha ficado furioso quando Jacó roubou a bênção de seu pai, mas so­ escolhas mais prudentes e também mais piedosas. mente porque queria a herança da riqueza material Citação Im portante da família. Quando, depois da fuga de Jacó, Esaú Senhor, faze de mim um instrumento da tua paz. ficou rico, sua ira desapareceu. Para Esaú, parecia Onde houver ódio, que eu semeie amor. que Jacó tinha fugido sem nenhum dinheiro, com Onde houver ofensa, perdão. nada além de alguma promessa sem significado, de Onde houver dúvida, fé. um Deus invisível. A declaração “Eu tenho bastan­ Onde houver desespero, esperança. te” resume o ponto de vista de Esaú. Por que ter Onde houver trevas, luz; e raiva? Jacó não tinha nada de real valor. Em termos Onde houver tristeza, alegria. de riquezas terrenas, Esaú tinha tudo o que sempre O Mestre Divino, faze com que eu possa não tinha valorizado ou desejado! procurar ser consolado, mas consolar; Como Jacó era diferente. Jacó esperava que seu ir­ Ser compreendido, mas compreender; mão estivesse furioso, porque as promessas do con­ Ser amado, mas amar; certo de Deus eram as coisas mais importantes da Pois é dando que recebemos; vida de Jacó! é perdoando que somos perdoados; e De certa forma, Deus abençoou tanto Esaú quanto é morrendo que nascemos para a vida eterna. Jacó. Cada irmão recebeu o que mais desejava na — Francisco de Assis vida. Mas somente a escolha de Jacó tinha impor­ tância eterna. 11 D E JANEIRO LEITURA 11 .UM LUGAR ONDE HABITAR Estupro e vingança (Gn 34.1-31). Os irmãos de Gênesis 33— 3 6 Diná tinham razão de “se entristecer e irar-se mui­ to” quando ela foi violentada. No entanto, quando “A li farei um altar ao Deus que me respondeu no dia o rapaz de Siquém pediu permissão para se casar da minha angústia e que foi comigo no caminho que com Diná, ele estava agindo de maneira honrada, tenho andado” (Gn 35-3). de acordo com os costumes daquela época. Cer­ tamente os irmãos de Diná estavam errados em Por fim, Jacó retornou, não apenas para Canaã, vingar-se de toda uma cidade pelo ato de um de mas para casa. Os seus 20 frustrantes anos com seus cidadãos. Labão tinham se acabado, e a sua disputa com seu Jacó, cujos temores foram aliviados pela reconcilia­ irmão Esaú tinha sido resolvida. Agora, olhando ção com Esáu, agora tinha uma nova preocupação. para trás, Jacó percebia o grande papel que Deus Os outros cananeus atacariam a sua família, por­ tinha tido na sua vida. que seus filhos tinham se vingado de maneira tão sangrenta? Visão Geral Como a vida de Jacó, a nossa nunca está completa­ Jacó e Esaú se encontraram e se reconciliaram (33.1- mente livre de tensões. Uma ansiedade é aliviada, 20). A vingança que Simeão e Levi promoveram mas logo é substituída por outra. Jesus disse, “no contra a cidade de um homem que violentou sua mundo tereis aflições” (Jo 16.33). Nós precisamos irmã, criou novos temores para Jacó (34.1-31). Deus de uma paz que tenha uma fonte além deste mun­ disse a Jacó que retornasse a Betei e ali se estabele­ do, uma paz que não se abale pelo que nos acon­ cesse (35.1-15). Raquel morreu, mas Jacó encontrou teça aqui. seu pai Isaque (w. 16-29). A história dos dois irmãos gêmeos se encerra com uma genealogia de Esaú e da Morte e reunião (Gn 35.16-29). O texto somente nação edomita que ele fundou (36.1-43). toca nos pontos principais dos anos seguintes da

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vida de Jacó. Raquel, que tinha chorado pela sua condição estéril, morreu dando à luz Benjamim (w. 16-20). O filho mais velho de Jacó teve um caso amoroso com uma das concubinas de seu pai (v. 22). Jacó e Esaú sepultaram seu pai e o prantea­ ram juntos (w. 27-29). Dor, ira, desapontamento, reconciliação, e perda — tudo isso é uma heran­ ça que nós compartilhamos com Jacó, como seres humanos. Somente o relacionamento com Deus, e a confiança nas suas promessas pode tornar esta vida, com suas alegrias e tristezas mescladas, signi­ ficativa. “A s gerações de Esaú” (Gn 36.1-43). As genealogias eram particularmente importantes para o povo de Deus no Antigo Testamento. Elas propiciam uma sensação de continuidade, possibilitando que cada geração compreenda a sua identidade, examinando

DEV OCIONAL_______ “H abita ali; faze ali um altar” (Gn 35.1-15) O retorno de Jacó a Betei, a “casa de Deus”, foi es­ pecial. Foi ali que Deus falou com ele pela primeira vez. Agora, Betei iria se tornar um refúgio. Três coisas no texto estabelecem Betei como um refúgio: O altar, que traduz adoração (w. 3,7); a promessa repetida, que traduz a presença de Deus (w. 9-13); e a coluna de pedra, que traduz lem­ brança (w. 14,15). (1) A adoração é essencial se você e eu desejamos encontrar paz interior em um mundo perturbado. Como Jacó, nós precisamos de um momento e um lugar dedicados especialmente para nos encontrar­ mos com Deus. Nós precisamos habitar ali — ser constantes em observar um compromisso diário com o Senhor. Jacó disse à sua família, “Tirai os deuses estranhos que há no meio de vós”. Na ado­ ração, nós eliminamos de nossos corações e mentes tudo o que compete com Deus pela nossa atenção, e nos concentramos completamente nEle. Talvez a melhor definição de adoração seja “expres­ sar apreciação a Deus pelo que Ele é, por natureza”. Isto é, nós pensamos sobre as qualidades de Deus, os seus atributos, os seus atos de amor, e o louva­ mos por quem Ele é, e pelo que Ele é. A nossa Betei é a adoração diária. Ali nós começamos a sentir a paz que Jacó encontrou. (2) A presença de Deus é sentida quando nós ouvi­ mos a sua voz falando conosco. Foi isso o que Jacó sentiu em Betei (w. 9,11). E isso o que você e eu sentimos hoje, quando abrimos e lemos as Escri­ turas, não à procura somente de nova informação,

suas raízes. As genealogias possibilitaram que o povo hebreu investigasse estas raízes até Abraão, validan­ do assim a sua declaração de ser o povo escolhido de Deus, herdeiros da promessa que Ele fez àquele patriarca. Mas por que examinar tão cuidadosamen­ te a linhagem de Esaú? Esaú não pertence à linha­ gem prometida. Inclusive, ele voltou suas costas à promessa, considerando que ela não tinha nenhum valor. Talvez a genealogia de Esaú sirva como um im­ portante lembrete de que aqueles que estão fora da casa de Deus não devem ser ignorados nem ex­ cluídos como se não tivessem importância. Cada indivíduo tem valor e importância aos olhos de Deus, e deve ser valorizado por nós. Os 91 estra­ nhos citados nesta genealogia não têm significado para nós, mas nenhuma pessoa é insignificante para Deus. mas para ouvir e responder ao que Deus tem a nos dizer pessoalmente. Na Palavra de Deus nós ouvi­ mos as suas promessas, sentimos a sua orientação, encontramos a sua autorização. A nossa Betei são as Escrituras, pois na Palavra nós sentimos a presença daquEle que se encontrou com Jacó em Betei, há tanto tempo. (3) A lembrança é a maneira como nós voltamos a entrar na presença de Deus em qualquer momento durante o dia. A coluna de pedra que Jacó erigiu na Betei bíblica é mais bem compreendida como zikkaron. No Antigo Testamento, zikkaron repre­ senta qualquer objeto ou celebração religiosa que tenha a função de auxiliar um crente a se identifi­ car com a presença ativa de Deus na história. Sem­ pre que Jacó via a coluna de pedra, ele era levado de volta, em lembrança, à comunhão com Deus que tinha sentido naquele lugar. A Betei que você e eu criamos com a adoração e pela leitura das Escrituras serve como uma âncora para a nossa época. A qualquer momento nós po­ demos retornar, em nossa lembrança, e encontrar uma renovação de nossas forças. Como é importante que apliquemos a nós mesmos as palavras que Deus disse a Jacó: “Sobe a Betei: e habita ali”. Aplicação Pessoal Selecione um momento e um lugar em que você possa encontrar-se diariamente com Deus. Citação Im portante Louvai ao Senhor e invocai o seu nome; fazei co­ nhecidas as suas obras entre os povos.

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Gênesis 37— 41

Cantai-lhe, cantai-lhe salmos; falai de todas as suas maravilhas. Gloriai-vos no seu santo nome; alegre-se o coração daqueles que buscam ao Senhor. Buscai ao Senhor e a sua força; buscai a sua face continuamente. Lembrai-vos das maravilhas que fez, dos seus pro­ dígios e dos juízos da sua boca. — Salmos 105.1-5 ^ :£ 2 .

J

12 D E JANEIRO LEITURA 12 O S É Gênesis 37— 41

"Porventura viremos eu, e tua mãe, e teus irmãos a inclinar-nos perante ti em terra?" (Gn 37.10) Poucos personagens da Bíblia são tão admiráveis quanto José. Ele sofreu injustiça após injustiça, e, ainda assim, perseverou. A sua fé foi, afinal, recom­ pensada, e José percebeu que Deus tinha usado cada experiência dolorosa para realizar o bem.

um lado, a história de José é um relato inspirador de um jovem cuja fé em Deus é finalmente recom­ pensada. Por outro, é um lembrete de que Deus é verdadeiramente capaz de transformar “todas as coisas” na nossa experiência de modo que elas “contribuam para o bem” (Rm 8.28). Sonhos. Os sonhos são essenciais na história de José. No Antigo Testamento, os sonhos eram co­ muns (como em Jó 7.14) ou eram meios pelos quais Deus revelava informações (como em Nm 12.6). Frequentemente, os sonhos de revelação são simbólicos e requerem interpretação. Em outras re­ ligiões antigas, existiam livros que tinham o objeti­ vo de propiciar uma chave para a interpretação dos sonhos, assim como há livros sobre sonhos encon­ trados em livrarias modernas! Mas nas Escrituras os sonhos simbólicos somente podem ser interpreta­ dos pelo próprio Deus ou por um profeta ao qual Ele conceda dons. Como José disse a Faraó, “Isso [interpretar um sonho] não está em mim; Deus dará resposta de paz a Faraó” (Gn 41.16). O papel do intérprete, na maioria das histórias de sonhos das Escrituras, deveria nos advertir a não procurarmos a orientação pessoal por meio de so­ nhos, nem a interpretar os nossos sonhos como palavras diretas do Senhor.

Visão Geral José, o filho favorito de Jacó, era odiado por seus invejosos irmãos, e foi vendido como escravo (37.1-36), embora seus irmãos fossem muito me­ nos devotos do que ele (38.1— 9.23). Deus recom­ pensou a fidelidade de José com uma capacidade “Sendo José de. dezessete anos” (Gn 37.1-11). A vida de interpretar sonhos (40.1-23), o que lançou José deve ter sido emocionante para José aos dezessete da prisão ao poder político no Egito (41.1-57). anos. Ele era o favorito de seu pai, e sonhava que teria um grande futuro! Cheio de tais visões, José Entendendo o Texto não estava ciente de como o comportamento de José. A fidelidade de José possibilitou que Deus o seu pai, e o seu próprio, afetava seus irmãos. Eles ti­ usasse grandemente. A ascensão de José ao poder nham inveja, e quando José lhes contou sobre seus político no Egito lançou a fundação para que a sonhos, eles ficaram irados. família mudasse para aquela terra. Durante apro­ Não podemos culpar um rapaz de 17 anos por falta ximadamente 400 anos o povo hebreu permane­ de sabedoria. Podemos, no entanto, observar o quan­ ceu ali, a princípio como convidados e mais tarde, to é importante ser sensível a outras pessoas, e estar como escravos. Durante este período de tempo a ciente de como o que fazemos e dizemos os afeta. pequena família de 70 pessoas cresceu e chegou a milhões. Na verdade, o Egito serviu como um úte­ “Que proveito haverá.?” (Gn 37.12-36). A inveja e a ro no qual Deus fez crescer a nação que nasceu pelo ira dos irmãos transbordaram quando José foi en­ ministério de Moisés. Enquanto guerra após guerra viado para encontrá-los e a seus rebanhos. A maio­ devastavam Canaã, o povo de Deus estava a sal­ ria deles desejou matar José. Mas Judá, mostrando vo no Egito, livre para multiplicar-se “e aumentar ser um dos melhores irmãos, salvou a vida de José, muito” (Ex 1.7). Ao mesmo tempo, a história de sugerindo que ele fosse vendido como escravo a José é o retrato dramático de um homem verdadei­ uma caravana de mercadores midianitas que pas­ ramente bom que superou uma série de tragédias. sava. Nenhum dos irmãos, exceto Rúben, desejou José aceitou a posição de escravo, e depois de prisio­ que José retornasse a seu pai. Somente Rúben pa­ neiro, serviu fielmente a seus senhores e conservou receu se preocupar com a angústia que a morte de a sua confiança em Deus. Deus usou cada tragédia José certamente causaria ao seu pai (cf. w. 31-35). para colocar José onde Faraó ouvisse falar dos seus dons, convidasse José para interpretar seus sonhos “J udá” (Gn 38.1-30). Judá aplieou os padrões mo­ e então desse a José grande poder e autoridade. Por rais da sua cultura em seu relacionamento com

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Gênesis 37— 41

Tamar, a esposa de um de seus filhos mortos, que fingiu ser uma prostituta. A história sugere o quan­ to José era verdadeiramente superior. Judá parece ter feito por medo o que pensava ser certo (v. 11) e foi rápido em julgar Tamar quando pensou que ela tinha pecado (v. 24). Pressionado por tentações muito maiores, José fez o que era certo, por res­ peito a Deus (39.9), e quando, posteriormente, se encontrou com os irmãos que o venderam como escravo, José os perdoou livremente (cf. 45.4-8). Uma coisa é ser “bom” segundo os padrões de nossa cultura. E outra coisa, por amor a Deus, estar aci­ ma destes padrões para ser verdadeiramente justo. Colocadas lado a lado, as histórias de Judá e José nos lembram que Deus usa a pessoa que está com­ pletamente comprometida com Ele. Os Judás têm funções no plano de Deus. Mas os Josés encontram funções verdadeiramente significativas!

É útil fazer uma lista das experiências de José, e imaginar como ele deve ter se sentido quando cada evento aconteceu. E ainda mais útil pensar sobre o que aconteceu na sua própria vida. Você já teve experiências que afetaram você, como os eventos da vida de José o afetaram? Como é bom que Deus inclua as histórias de ho­ mens e mulheres como José, para nos dar o discer­ nimento do que Ele pode estar fazendo em nossas próprias vidas.

Infância feliz

“Pecaria contra Deus” (Gn 39.9). O nosso sistema legal faz uma distinção entre crimes com vítimas e sem vítimas. A noção é que alguns crimes, como ataque ou roubo de uma casa, criam vítimas. Ou­ tros atos criminosos, como prostituição ou homos­ sexualidade, teoricamente não têm vítimas. Cada pessoa envolvida é um adulto que consente! José foi convidado a manter uma relação sexual com a esposa de seu senhor. Ela guardaria segre­ do. Potifar jamais saberia. Quem iria se magoar por uma pequena aventura amorosa? Afinal, como sugere o sistema de classificação de censura dos fil­ mes, estas são aquelas coisas que os “adultos” fazem e gostam de fazer! José não se deixou enganar. O crime “sem vítimas” era, na verdade, “um pecado contra Deus”. Satanás coloca novos rótulos em antigos pecados, tentando confundir a humanidade e nos proporcio­ nar desculpas para fazermos o que sabemos que é errado. E importante que a nossa visão seja tão clara quanto a de José, e que sejamos tão honestos conos­ co mesmos como José foi com a esposa de Potifar. “Dois funcionários” (Gn 40.1-23). O título de “copeiro-mor” e “padeiro-mor” eram dados a dois importantes funcionários do Egito antigo. Estas descobertas dos arqueólogos são duas das muitas que assinalam Gênesis 40— 41 como surpreen­ dentemente precisos no seu relato dos costumes na corte de Faraó. Até mesmo uma lista de condena­ dos em uma prisão do rei, muitos dos quais com nomes semitas, foi recuperada. O relato do livro de Gênesis é história, não ficção. José, cuja vida nos ensina tantas lições a respeito de Deus, foi um ser humano real, com cujas tragédias e triunfos você e eu podemos nos identificar.

A Vida de José Gn 37.1-3

Irmãos invejosos

Gn 37.4-11

Maus tratos

Gn 37.12-36

Serviço fiel

Gn 39.1-6

Comprometimento com o que é correto

Gn 39.7-10

Tratamento injusto

Gn 39.11-20

Trabalho árduo Ajuda aos outros

Gn 39.21-23 Gn 40.1-22

Esquecido por outros

Gn 40.23

Oportunidade única

Gn 41.1-40

Reconhecimento, por fim

Gn 41.41-57

Sucessos/realizações

Gn 41—50 Gn 45

Perdão à sua família Reencontro, por fim

Gn 46

“Deus dará resposta de paz a Faraó” (Gn 41.1-40). Quando foi chamado da prisão para interpretar o sonho de Faraó, José poderia ter se considerado muito importante. Em vez disso, ele tomou cui­ dado para dar a Deus todo o crédito. As palavras de José, “Isso não está em mim; Deus dará...” (v. 16) são um reflexo completamente exato da nossa própria condição espiritual. Muitos líderes cristãos caíram, porque se esquece­ ram da verdade de que José se lembrou. O sucesso nos enche de autoconfiança, e logo nós começa-

39

Gênesis 37— 41

mos a agir como se as realizações pelas quais somos conhecidos fossem nossa própria obra. Nós preci­ samos nos lembrar — e dizer em voz alta o que José fez. Tal confissão levará outros a Deus. E tal confissão irá nos proteger do orgulho espiritual que tem lugar antes de uma queda.

ele pudesse desenvolver as habilidades necessárias. Na casa de Potifar, e depois na prisão, José apren­ deu a ser um administrador! Não há informação sobre como Deus pretende usar as nossas experiências dolorosas para nos capacitar para um trabalho significativo no futuro. Mas o li­ vro de Gênesis nos lembra que devemos lidar com estas experiências como José lidou, continuando positivos e aproveitando ao máximo as oportuni­ dades que recebemos. Se nós seguirmos o exemplo de José, Deus poderá nos promover também.

“Posto sobre toda a terra” (Gn 41.41-57)- José tinha apenas 30 anos de idade quando foi encarregado de toda a terra do Egito. Mas desde a idade de 17 anos, Deus tinha colocado José em posições onde

DE V“JoséOCIONAL______ esteve ali na casa do cárcere,

e o Senhor estava com ele” (Gn 39.1-23) Uma das experiências mais difíceis com que qualquer de nós tem que lidar é ser tratado de maneira injusta. Carmine passou horas incontáveis, quando adul­ to, ajudando seus pais em seus negócios. Mas re­ centemente eles disseram a Carmine que ele seria excluído do testamento, em favor de um irmão e uma irmã que jamais ajudaram, nem pareceram se importar. Jackie ainda chora sempre que pensa no acidente que tirou a vida de seu filho de 21 anos de idade, na noite do casamento dele. Don sente uma grande amargura porque ficou sa­ bendo que sua esposa, que trata tanto a ele como aos seus filhos com tanta frieza, teve um caso amoroso. Maria deixou de ser promovida no escritório de ad­ vocacia onde trabalha. Mulheres mais jovens que são mais atraentes do que ela, recebem as promo­ ções, embora ela conheça mais o assunto e trabalhe com mais afinco do que elas. Gil, forçada a mover uma ação judicial pela perse­ guição de um ex-chefe que tentava expulsá-la do campo em que ambos trabalhavam, está sendo tra­ tada de maneira cruel por amigos cristãos, por levar um irmão cristão aos tribunais. Eu conheço pessoalmente estas cinco pessoas que acabo de descrever, embora tenha alterado seus no­ mes. Eu sei quanta dor cada uma delas sente. O que mais magoa é o fato de que o que acontece a cada uma destas pessoas não é justo. José certamente compreenderia, pois ele também foi tratado injustamente. Nesta passagem, que nar­ ra a história de José, encontramos três princípios que podem ajudar a cada um de nós a lidar com as coisas injustas em nossa vida. (1) Conservar uma consciência limpa. José resis­ tiu às tentativas de sedução da esposa de Potifar. Quando ela mentiu e o enviou à prisão, a consciên-

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...

>\\ 1 Pinturas em muros egípcios mostram oficiais de altas patentes investidos com os símbolos de autoridade que Faraó deu a José. cia de José estava limpa. Ele sabia que o acontecido não tinha sido culpa sua. Nós não podemos impedir que os outros nos tra­ tem de maneira injusta. Mas vivendo uma vida correta e boa, nós podemos ter a certeza de que o que acontece conosco não é consequência de al­ gum pecado que tenhamos cometido. (2) Continuar fazendo o melhor de si. A prisão era muito diferente do palácio que José tinha adminis­ trado para Potifar. Mas mesmo ali José fez o melhor de si. Como resultado, ele foi nomeado responsável sobre “tudo o que se fazia ali”. Fazendo o melhor de nós, apesar das injustiças da vida, nós demonstramos a nossa inocência, e nos preparamos para qualquer tarefa que Deus possa ter para nós no futuro. (3) Andar sempre na presença de Deus. A Bíblia diz que “José esteve ali na casa do cárcere, e o Se­

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Gênesis 42—46

nhor estava com ele”. Deus também está conos­ co mesmo quando a vida parece mais injusta, e, o futuro, mais sombrio. Nós podemos sobreviver e triunfar, andando sempre na presença de Deus. Nós fazemos isso, recordando que Ele está conos­ co, pela oração, conscientemente confiando nEle, e fazendo o melhor de nós, cientes de que servimos ao Senhor, e não aos homens. Deus não garante que hós jamais seremos tratados de maneira injusta. Mas Deus nos assegura de que sempre teremos a sua bendita presença. Se andar­ mos em sua presença, continuarmos fazendo o melhor de nós, e conservarmos consciências lim­ pas, não apenas sobreviveremos, mas triunfaremos como José.

faziam ideia de que era José. Mas está claro que nenhum deles tinha se esquecido do que fizeram a José. A pergunta é; Eles tinham mudado? Visão Geral Quando a fome levou os meios-irmáos de José ao Egito, para comprar comida, eles não o reconhece­ ram (42.1-38). Em uma segunda visita, quando foi também o irmão de José, Benjamim, José os pôs à prova (43.1— 44.34). José finalmente se revelou à sua surpresa família (45.1-28). O clã mudou-se para o Egito, onde Jacó se encontrou com o filho que pensou estar morto (46.1-34).

Entendendo o Texto “Sois espias”(Gn 42.1-17). Quando os irmãos apare­ ceram no Egito para comprar trigo, José os acusou Aplicação Pessoal Quão injusta a vida é com você? Você está reagindo de serem espiões. Esta e as outras coisas que José fez a seus irmãos, devem ser interpretadas como testes. a isso como José reagiu? Vinte e dois anos antes, quando José tinha apenas 17 anos, seus meios-irmãos o tinham vendido como Citação Im portante Oh, nós confiamos que, de alguma maneira, o bem escravo. José quis saber se o Senhor tinha operado alguma mudança em suas personalidades. Os testes vencerá o mal, quer nas dores da natureza, nos pecados dos de­ que José planejou mostraram que sim! sejos, nas imperfeições e dúvidas, e nas manchas de san­ “Somos culpados acerca de nosso irmão” (Gn 42.1838). Os irmãos se perturbaram com seu breve gue; aprisionamento, e pelas suspeitas proferidas pelo governante do Egito. A convicção de que estavam Para que nada exista sem objetivos; sendo punidos mostra que jamais tinham se esque­ para que nenhuma vida seja destruída, nem lançada fora, como lixo, ao nada, cido dos apelos de José quando cruelmente o ven­ deram como escravo. Por mais de duas décadas eles Quando Deus tiver concluído todas as coisas; tinham vivido com esta lembrança. As pessoas pecam levianamente, como se agir mal Confiamos que nem um verme exista em vão; que nem mesmo a atividade de uma traça seja vã, não fosse nada sério. Mas, uma vez comprometi­ ainda que ela murche no fogo, haverá um propó­ dos, a lembrança do pecado nos persegue de perto, carregando-nos de culpa e vergonha. sito, Observe também a declaração de Rúben: “O seu san­ podendo servir para o ganho de outros. gue também é requerido”. Isso resume a interpretação do pecado no Antigo Testamento como (1) uma vio­ Eis q‘ue não conhecemos todas as coisas; fnas podemos confiar que o bem, por fim, lação de um padrão conhecido, (2) por alguém que deve prestar contas, (3) e que merece punição. poderá alcançar todos aqueles que o desejarem, e cada inverno se converterá em primavera. “O seu íntimo moveu-se” (Gn 43.1-34). Este capítu­ — Alfred Lord Tennyson lo é profundamente emocionante. Nós sentimos a 13 DE JANEIRO LEITURA 13 angústia de Jacó ao pensar no perigo para o outro ESPERAR PARA VER filho de Raquel, Benjamim. Nós sentimos o terror Gênesis 42— 46 dos irmãos quando enfrentaram o retorno ao Egi­ to, onde se convenceram de que o governante pre­ tendia “tomá-los por servos, e a seus jumentos” (v. “O seu sangue também é requerido” (Gn 42.22). 18). Somente a perspectiva da fome em Canaã for­ Vinte e dois anos tinham se passado desde que os çou Jacó a enviar Benjamim, e impeliu os irmãos a irmãos de José o venderam como escravo. Quando tomar novamente a estrada para o Egito. a fome os levou ao Egito, e eles se apresentaram José também foi tomado pela emoção. Ele mal ao segundo homem mais poderoso do Egito, não conseguiu se controlar ao ver seu irmão, e ter notí­

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Gênesis 42— 46

cias de seu pai. Mas José controlou suas emoções, não por necessidade, mas por prudência. O teste de seus irmãos não estava concluído. José ainda precisava conhecer seus corações. Frequentemente nós agimos com emoção, e não com prudência. É particularmente importante, quando lidamos com nossos filhos, fazer o que é melhor para eles, e não o que o nosso coração nos diz. “Para que não veja eu o mal que sobrevirá a meu pai" (Gn 44.1-34). O teste final que José planejou, colocou sobre seus irmãos uma tensão insuportável — mas revelou o que José precisava saber. Como é significativo que Judá seja aquele que faz o apelo registrado nos versículos 18-34. Anos antes, Judá tinha se oposto ao pensamento de seus irmãos de matarem José, mas estava mais do que disposto a vendê-lo como escravo e levar para casa evidências de que José tinha sido morto por um animal sel­ vagem (cf. 37.26-31). Agora Judá se oferece como escravo em lugar do jovem Benjamim, motivado pela ideia da angústia que a perda de Benjamim causaria ao seu pai! Deus tinha operado uma verdadeira transformação no coração deste homem que foi tão insensível 20 anos antes. Pode parecer estranho, mas a percepção de que nós pecamos frequentemente dá início à transformação pessoal. A culpa não pretende nos levar para longe de Deus, mas para perto dEle. Nem mesmo uma pessoa que tem alguma coisa tão terrível no seu pas­ sado, como Judá, deve se desesperar. Deus é o Deus que perdoa o pecado e que transforma o pecador!

DE V OCION A L______ Berseba

(Gn 46.1-27) Berseba está localizada no sul de Canaã. E um lugar agradável, a cerca de 300 metros acima do nível do mar. Mais para o sul, no entanto, pode-se olhar para o Neguebe e o deserto de Zim, desertos pelos quais passava um caminho antigo rumo ao Egito. De certa forma, Berseba está na fronteira de Canaã. Prosseguir mais para o sul é deixar a Terra Prometida para trás. Eu suspeito que foi por isso que Jacó parou em Berseba para edificar um altar e oferecer sacrifícios a Deus. Jacó estava muito ansioso para ver José ou­ tra vez. A terra seca e devastada de Canaã já não era um lugar onde se pudesse viver. Ainda assim, Jacó parou em Berseba. Eu aprecio a sabedoria de Jacó. Muitas décadas antes disso, Abraão, levado por outra fome, tinha

A reação de Judá oferece esperança a todos os que se sobrecarregam com lembranças de pecados passa­ dos. O nosso passado não deve determinar o nosso futuro! Nós podemos confessar os nossos pecados a Deus e, como Judá, podemos ser transformados. “José ainda vive e ele também é regente em toda a terra do Egito” (Gn 45.1— 46.34). Um Jacó surpre­ endido ouviu as novidades e percebeu que antes de morrer poderia ver o filho perdido o qual amava tanto. Emocionalmente, este é o clímax da história de José. No curso de Gênesis, não é. O significado históri­ co de José é que, pela sua ascensão, da escravidão ao poder, Deus tornou possível que a sua pequena família fosse para o Egito onde puderam se mul­ tiplicar e se tornar um grande povo. Mas a alegria que ecoa no anúncio emocionado dos irmãos com a notícia de que José estava vivo serve como um lembrete importante. Quando Deus executa o seu grande plano para as gerações, Ele jamais se esquece dos indivídu­ os. Ele se lembra de cada um de nós, e se preo­ cupa verdadeiramente com nossas alegrias e nos­ sas tristezas. Eu confesso que meus olhos ficam cheios de lágrimas quando leio Gênesis 45.2628. Falando de maneira figurada, eu suspeito que Deus ficou com lágrimas nos olhos quando tes­ tem unhou esta cena. Em última análise, as mais importantes obras de Deus não são aquelas que Ele realiza, moldando o curso da história, mas as que Ele realiza nos corações dos seres humanos. Transformando um Judá. Trazendo a Jacó uma alegria inesperada.

passado por Berseba na sua pressa para alcançar o Egito (12.10-20) — embora Deus o tivesse coloca­ do em Canaã. Jacó não iria deixar a terra na qual Deus o colocou, apesar de seus fortes motivos, sem parar em Berseba para orar. Gênesis 46 nos diz que ali Deus falou a Jacó, em uma visão, e lhe disse que não tivesse medo de des­ cer ao Egito. Ali Deus deu a Jacó a confirmação de que estava fazendo a coisa certa. Eu acredito que esta parte da história de José nos fornece um modelo para as nossas próprias to­ madas de decisão. Nós consideramos cuidadosa­ mente nossas opções. Nós observamos razões para fazer uma coisa em lugar de outra. Com base nas nossas informações e nossos desejos nós “parti­ mos”. E isso está certo. Deus nos deu mentes com as quais podemos considerar, e desejos que nos

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Gênesis 47— 50

movem para um objetivo ou para outro. As nos­ sas tomadas de decisões como cristãos não devem ser místicas, mas tão práticas e racionais quanto foi a decisão de Jacó de levar a sua família para o Egito. Mas, quando “partirmos”, nós precisamos nos cer­ tificar de que paremos em Berseba. Nós precisamos ser sensíveis à liderança de Deus e pedir ao Senhor que nos confirme ou nos corrija na direção para a qual decidimos ir. Os 70 membros da família de Jacó que se reuniram no Egito podiam ter certeza de que estavam onde Deus queria que estivessem. Jacó tinha parado em Berseba. Como é bom, quando tomarmos decisões impor­ tantes em nossas vidas, parar em Berseba e indicar a nossa disposição de continuar ou voltar, confor­ me a orientação de Deus. Quando pararmos em Berseba, teremos a confiança de que, aconteça o que acontecer, estaremos vivendo no centro da vontade de Deus.

Visão Geral A família chegou e se estabeleceu na excelente terra do Egito (47.1-31). Jacó considerou os dois filhos de José como seus (48.1-22) e abençoou os 13, antes da sua morte (49.1-33). José enterrou seu pai, reafirmou o seu perdão aos seus irmãos, e obteve a promessa de que, quando Deus trouxes­ se a sua descendência de volta a Canaã, os seus ossos retornariam à sua terra natal (50.1-26). Entendendo o Texto “Egito e Canaã” (Gn 47-1-31). Canaã dependia da chuva para obter a umidade necessária para as plantações. O Egito, no entanto, dependia do rio Nilo, que transbordava anualmente e enri­ quecia as terras ao longo de suas margens. Em antigos registros egípcios se observam tempos de fome, mas em geral o Nilo tornava o Egito a sal­ vo da fome. Relevos e registros egípcios mostram povos da Síria-Palestina pedindo permissão para permanecer no Egito durante a fome; e vindo ao Egito para comprar comida.

Aplicação Pessoal Tome decisões cuidadosamente. Mas acostume-se, “A terra ficou sendo de Faraó” (Gn 47-20). Ins­ crições antigas confirmam que o Egito era con­ quando as põe em prática, a parar em Berseba. siderado como pertencendo a Faraó, e que 20% da colheita deveriam ser dele. Registros também Citação Im portante que as terras do templo não pertenciam “O Getsêmani nos ensina que só se pode entrar mostram Faraó, o que quer dizer que os governantes do no reino de Deus pela negação da vontade própria aEgito eram perturbados por hie­ e pela afirmação da vontade de Deus. Portanto, a rarquiasfrequentemente excessivamente independentes. cruz deve estar no centro de uma compreensão do Nenhumreligiosas egípcio independente apresenta reino. Uma vez que a essência do reino é a nos­ a história registro José nem explica como o direito de sa obediência à vontade absoluta de Deus, nós a propriedadede de Faraó foi estabelecido. compreenderemos somente quando depositarmos a nossa própria vontade ao pé da cruz. Nenhuma “Os teus dois filhos... serão meus” (Gn 48.1-22). vontade própria é capaz de subsistir no reino de Às vezes, ficamos confusos. As “12 tribos de Isra­ Deus.” — Dennis Corrigan el” são frequentemente mencionadas no Antigo Testamento. Mas, se compararmos listas, exis­ 14 D E JANEIRO LEITURA 14 tem, na verdade, 13 grupos tribais! Levi não é “DEUS SERÁ CONVOSCO” incluído em algumas listas, porque a sua tribo Gênesis 47— 50 fornecia sacerdotes e líderes para adoração. Em outras listas, como a de Apocalipse 7.5-8, Levi é “Eis que eu morro, mas Deus será convosco e vos fará incluída, e Dã não. tornar à terra de vossospais” (Gn 48.21). O que aconteceu foi que Jacó “adotou” os dois filhos de José. Estes dois filhos, Manassés e O livro de Gênesis é concluído com a família de Efraim, se tornaram chefes de grupos tribais, e o Jacó estabelecida no Egito. Mas a morte dos pa­ nome “José” se perdeu. triarcas assinala o início, e não o fim, daquilo que E útil que nos lembremos disso, se outra pessoa Deus fará pelos descendentes de Abraão, Isaque e receber o crédito pelo que fizermos, enquanto Jacó. A mesma coisa acontece conosco. A morte de nosso nome não é mencionado. O livro de Gê­ uma geração não é o fim. Se confiarmos em Deus, nesis lembra-nos de que não é o reconhecimento poderemos dizer a nossos filhos, “Deus será con­ que é importante. E a contribuição. vosco”. Nós podemos confiar que Deus realizará o O nome de José pode não aparecer nas listas de seu propósito na vida deles. tribos israelitas das Escrituras. Mas nós sabemos

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Gênesis 47— 50

— e Deus sabe — que ele deu um a contribuição maior do que qualquer dos outros irmãos! A bênção de Jacó (Gn 49.1-28). O conceito de bênção é um conceito poderoso no Antigo Tes­ tamento. Ao dar uma bênção, um superior, como um pai, conferia verbalmente um dom ou doação a outra pessoa. Isso não era mágica, pois o Anti­ go Testamento deixa claro que toda bênção vem de Deus (Gn 14.19; Nm 22; D t 10.8). Somente uma pessoa que estivesse em íntimo relaciona­ mento pessoal com Deus poderia agir como um canal pelo qual Deus abençoaria outras pessoas. Em Gênesis 49, Jacó, capacitado por Deus, olha para o futuro e na sua bênção faz predições sobre o futuro de cáda grupo familiar, com base, em parte, no caráter de cada um de seus filhos (v. 28). O que é mais importante para nós, no entanto, é uma expressão encontrada na bênção dada a José. Esta expressão é a seguinte: “pelo Deus de teu pai, o qual te ajudará, e pelo Todo-poderoso, o qual te abençoará... As bênçãos de teu pai excederão as bênçãos de meus pais, até à extremidade dos outeiros eternos” (w. 25,26). A profunda fé em Deus que José demonstrou, abençoou seus filhos, e permaneceu como uma influência vital até mesmo para gerações mais distantes. Se nós desejarmos ser uma bênção para os filhos dos nossos filhos, não há maneira mais garantida do que viver tão íntimos de Deus como José viveu. Quando nós somos fiéis e obedientes, nossas “bênçãos são maiores”.

“Quarenta dias” (Gn 50.1-14). Novamente, o tex­ to fornece um retrato preciso dos antecedentes culturais. O sepultamento dos israelitas tinha lu­ gar tão imediatamente após a morte quanto fosse possível, sem nenhum preparativo para preservar o corpo. No Egito, no entanto, tinha lugar um demorado processo de remoção das vísceras e de tratamento do corpo com produtos para sua con­ servação. Jacó foi embalsamado segundo o costu­ me egípcio porque tinha pedido que seus filhos o enterrassem em Canaã, uma viagem longa demais para ser feita com um cadáver corruptível. Por que Jacó desejava ser enterrado em Canaã? O pedido de Jacó era uma afirmação de fé. Deus tinha prometido que os seus descendentes iriam herdar Canaã. Ao escolher ser enterrado com seu pai e seu avô em Canaã, Jacó afirmou sua convic­ ção de que seus descendentes iriam retornar e as promessas de Deus seriam cumpridas.

“O cetro não se arredará de Judá” (Gn 49.10). Jesus veio da tribo de Judá. Esta bênção, que prediz que um governante viria da linhagem de Judá, é uma das mais antigas e mais claras das profecias messiâ­ nicas do Antigo Testamento.

“Deus certamente vos visitara ’ (Gn 50.22-26). Quando a morte finalmente visitou José, ele tam ­ bém aproveitou a oportunidade para afirmar a sua fé no concerto de Deus. Ele teve a promessa da família de que, quando Deus tirasse os hebreus do Egito e lhes desse a Terra Prometida, seu corpo seria levado para cása. As mortes de José e Jacó nos lembram que os fu­ nerais dos crentes, embora escurecidos pela dor, também são brilhantes de alegria. Nem José nem Jacó consideraram a morte como o fim. Ambos olharam além do seu próprio tempo na terra e encontraram consolo no que Deus iria fazer no futuro. Este também é o nosso caso. Por causa de Jesus, nós compreendemos até melhor do que eles. O aguilhão da morte ainda dói. Mas nós sa­ bemos que a morte do corpo é a nossa entrada em uma experiência plena de vida eterna.

E se? (Gn 50.1-21) Eu me lembro de como me senti estranho naquela tarde. Eu entrei devagar na nossa sala de estar, pas­ sei por meu pai e me dirigi para o meu quarto. Normalmente não era assim. Normalmente, eu ia rapidamente para casa, corria para papai e pergun­ tava se nós íamos pescar naquela tarde. Mas naquele dia, não. Naquele dia eu tinha ido à escola segurando uma moeda que papai me deu, para comprar novos cadarços para os sapatos. Fui à loja de Eli Bassett, mas não consegui passar do balcão dos doces. Na escola, tentei comer o doce, mas não me pareceu correto, e então o joguei fora.

Naquela tarde eu disse a meu pai que tinha perdido o dinheiro. De alguma maneira, o fato de saber que eu tinha agido mal, distorceu o meu relacionamento com meu pai. Eu não me senti à vontade com ele na­ quela tarde. De modo nenhum. Assim, eu posso verdadeiramente entender os ir­ mãos de José. Eles se lembraram do mal que ti­ nham feito, e isso os deixou desconfortáveis. E se José tivesse guardado rancor? E se José tivesse a in­ tenção de pagá-los na mesma moeda? E se? José deve ter compreendido isso também. O texto diz que ele “os acalmou com palavras carinhosas, que tocaram o coração deles” (Gn 50.21, NTLFI).

DEVOCIONAL______

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Gênesis 47— 50

José até deixou o seu compromisso com eles ine­ quivocamente claro: “Eu vos sustentarei a vós e a vossos meninos”. O que foi que permitiu que José perdoasse tão li­ vremente? Perspectiva. José compreendeu que seus irmãos tinham desejado prejudicá-lo. Mas ele tam­ bém entendeu que Deus tinha usado seus irmãos para alcançar um fim bom e importante. Olhando além do ato de considerar a Deus, José foi capaz de ver o pecado de seus irmãos a partir de uma nova perspectiva. O fato de sentir a boa mão de Deus até mesmo no mal dos outros libertou José da ira, e de qualquer desejo de obter vingança. E estranho, não é mesmo? Os irmãos sofreram mais pelos seus pecados do que o homem contra o qual tinham pecado! Assim como quando criança eu sofri mais por utilizar mal o dinheiro que meu pai me deu, para comprar cadarços, do que ele so­ freu. Eu sofri mais porque o meu ato fez sentir-me culpado, e a consciência da culpa criou o que me parecia um abismo intransponível no meu relacio­ namento com meu pai. Quando alguém que nós conhecemos peca contra nós, nós precisamos adotar a perspectiva que José tinha das coisas. Nós precisamos compreender que Deus pode e irá usar, até mesmo as nossas mágoas, para o bem. Nós precisamos compreender que o pecado fere o pecador, talvez até mais do que fere a pessoa contra quem o pecado foi cometido. Nós podemos reagir com ira quando somos feri­ dos. Nós podemos atacar ou usar o silêncio como arma para expressar nossa dor. Ou podemos seguir o exemplo de José e falar de modo consolador com

a pessoa que peca contra nós. Isso não quer dizer que nós ignoramos o pecado. Afinal, José disse: “Vós bem intentastes mal contra mim”. Mas José continuou falando de modo consolador com seus irmãos, para assegurar-lhes o perdão e expressar outra vez seu compromisso com eles. Quando nós seguimos, o exemplo de José, deixan­ do clara nossa disposição em perdoar e nosso con­ tinuado compromisso em cuidar daquele que nos feriu, a dor do pecador e a dor daquele que sofreu o pecado podem ser curadas. E teremos seguido um caminho marcado não so­ mente por José mas também por Jesus. Aplicação Pessoal Se você sentir o seu afastamento de alguém que feriu você, ou pecou contra você, por que não ex­ perimentar a abordagem de José? Citação Im portante “Dos sete pecados capitais, a ira é, possivelmente, o mais divertido. Lamber as suas feridas, beijar tristezas antigas, passar a língua pela perspectiva de amargos confrontos ainda por vir, saborear até o último delicioso bocado a dor que você recebe e a dor que você devolve; de muitas maneiras, é um banquete digno de um rei. O grande inconvenien­ te é o fato de que aquilo que você está devorando é você mesmo. O esqueleto no banquete é você.” — Frederick Beuchner O Plano de Leituras Selecionadas continua em LUCAS

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EXODO INTRODUÇÃO Êxodo significa “sair”. O livro conta a história da libertação dos israelitas da servidão no Egito, ocorrida por volta de 1450 a.C. Êxodo conta como Deus, fiel às promessas de alianças feitas a Abraão, Isaque e Jacó, fez milagres para quebrar as cordas que prendiam o seu povo. A aventura acelerada se move rapidamente para o Sinai. Aqui Exodo se demora, e em um cuidadoso detalhe explora a Lei que Deus deu ao seu povo, pela qual desejava que vivessem. Este código teve a intenção de ensinar os israelitas como amar a Deus e como amarem uns aos outros. Exodo também apresenta Moisés, o personagem eminente do Antigo Testamento que é reverenciado no judaísmo como o legislador, e cuja fidelidade a Deus serve como um modelo para os leigos e líderes cristãos modernos. Mais significativo, porém, é o que Exodo revela a respeito de Deus. Ele usa o seu poder para remir o seu povo. Deus exige santidade daqueles que afirmam ter um relacionamento com Ele. E provê um meio para que os pecadores se aproximem dEle e sejam transformados. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. A História da Libertação ....................................................................... A. O chamado de M oisés.......................................................................... B. M ilagres.................................................................................................. C. No Sinai ................................................................................................. II. Plano de Deus para uma Comunidade Santa ................................. A. Leis para a vida ...................................................................................... B. Provisão para a adoração .....................................................................

. Êx 1— 19 ....Êx 1— 4 ...Êx 5— 13 Êx 14— 19 .Êx 20— 40 Êx 20— 23 .Êx 24— 40

GUIA DE LEITURA (9 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 15 16 17 18 19 20 21 22 23

Capítulos 1— 4 5— 11 12.1— 15.21 15.22— 19.25 20— 23 24— 27 28— 30 31— 34 35— 40

Passagem Essencial 3 5.22— 6.27 15.1-16 19.3-6 20.1-21 24.1-8 29.15-30 32— 33 37

EXODO 15

D E JANEIRO LEITURA 15

DEUS SE REVELA A MOISÉS Êxodo 1— 4

“Este é meu nome eternamente, e este é meu memorial “Os egípcios puseram sobre eles maiorais de tributos, para os afligirem com suas cargas” (Ex 1.8-22). Ini­ de geração em geração” (Êx 3.15). cialmente os israelitas desfrutavam de uma posição Nestes capítulos encontramos Moisés. Todavia, o favorecida no Egito. Eles foram estabelecidos na mais importante, é que nestes capítulos encontra­ “melhor parte da terra” e muitos foram empregados mos Deus, e ficamos conhecendo o seu nome mais pelo próprio Faraó (cf. Gn 47-5,6). Algum tempo depois da morte de José, porém, os israelitas foram pessoal, EU SOU. escravizados. Esta passagem enfatiza as terríveis Visão Geral condições sob as quais o povo de Deus foi forçado Os israelitas se multiplicaram no Egito, mas fo­ a viver. Palavras e frases como “opressão”, “traba­ ram escravizados (1.1-22). Moisés foi encontrado lhos forçados” (na versão bíblica ARA), “serviam e adotado por uma princesa (2.1-10), mas quando com dureza”, e “lhes fizeram amargar a vida com adulto se identificou com o seu povo e foi forçado dura servidão” são usadas. A opressão definitiva é a fugir (w. 11-25). Quando Moisés tinha 80 anos vista na ordem do Faraó, pela qual todos os meni­ de idade, Deus se revelou a ele como EU SOU. De nos hebreus que nascessem deveriam ser lançados posse do nome divino, Moisés foi enviado ao Faraó no rio Nilo para morrerem afogados! para ganhar a liberdade de Israel (3.1-22). Equi­ A situação dos israelitas no Egito tem por objeti­ pado com sinais miraculosos, um Moisés relutante vo espelhar a condição espiritual da raça humana. Assim como Israel era escravo do Egito, toda a hu­ retornou ao seu povo (4.1-31). manidade também era escrava do pecado. Apenas o poder de operação de milagres de Deus, que for­ Entendendo o Texto “Os filhos de Israel... multiplicaram-se” (Êx 1.1-7). çou a libertação de Israel, pôde quebrar as algemas Uma família de 70 pessoas entrou no Egito. Base­ forjadas pelo pecado e nos tornar verdadeiramente ado no número de homens em idade militar regis­ livres. trado em Números 1.46, deve ter havido entre 2 e Moisés (Êx 2.10). Moisés é a figura dominante em 3 milhões de israelitas na época do Êxodo! “Multiplicaram-se” sugere o motivo de Deus para Êxodo e nos três livros seguintes do Antigo Testa­ a permanência temporária de Israel no Egito. Ca­ mento. Ele estava com 80 anos de idade quando naã servia como uma ponte de terra entre o Egito Deus o comissionou para libertar os israelitas, e e grandes impérios do norte. Exércitos marcha­ ele guiou o povo de Deus por 40 anos. Podemos vam atravessando aquela terra e lutavam em seus aprender muito a partir da vida de Moisés, e isto montes e vales. Se os israelitas tivessem permane­ acontecerá ao lermos Êxodo, Levítico, Números e cido em Canaã, jamais poderiam ter aumentado a Deuteronômio. O Novo Testamento diz que Moisés base da população necessária para estabelecer uma foi “fiel, em toda a casa de Deus” (Hb 3.5, ARA). Podemos descobrir muito a respeito da fidelidade nação.

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nestas histórias reveladoras sobre Moisés, contadas Novamente podemos nos identificar com Moisés. em Êxodo 32— 33, e Números 12, 16 e 21. Ao envelhecermos, e descobrirmos as nossas limi­ tações, os sonhos da juventude desaparecem. Não “A filha de Faraó... o adotou” (Êx 2.1-10). Esta seremos famosos. Ou descobriremos a cura para o frase simples nos faz lembrar que Moisés, achado câncer. Ou nos tornaremos um evangelista bem por uma princesa, foi adotado pela família real do conhecido. Enquanto a nossa antiga autoimagem Egito. Como filho da princesa, Moisés pode até encolhe, percebemos que estamos menos dispostos mesmo ter reivindicado o trono do Egito! Estevão a arriscar. Em vez de oportunidades, vemos pro­ repetiu uma tradição oral correta quando disse que blemas. Em vez de tentar, pensamos em todos os “Moisés foi instruído em toda a ciência dos egíp­ motivos que podem nos levar a fracassar. cios e era poderoso em suas palavras e obras” (At Isso é o que aconteceu a Moisés. Nem mesmo as 7.22). promessas de Deus foram suficientes para mudar Apesar de suas vantagens, Moisés identificou-se uma percepção que tinha se desenvolvido durante com o seu povo oprimido e seu Deus. Hebreus 40 anos de fracasso. No entanto, em certo sentido, 11.24,25 diz que “Pela fé, Moisés, sendo já gran­ foi a consciência que Moisés adquiriu de sua fra­ de, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, queza que o tornou qualificado para o propósito Escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de de Deus! Moisés tinha finalmente percebido que Deus do que por, um pouco de tempo, ter o gozo não havia nada que ele pudesse fazer. Agora tudo o do pecado”. que Moisés precisava saber era que Deus pode fazer Esta é certamente uma fonte da grandeza de Moi­ qualquer coisa! sés. As suas prioridades não foram formadas pela O mesmo ocorre com você e comigo. E saudável riqueza ou pelo privilégio. Ele verdadeiramente se reconhecer as nossas fraquezas. Mas não precisa­ importava com Deus e com o seu povo. mos insistir nelas. O que realmente precisamos fazer é fixar os nossos olhos no Senhor, e lembrar “Ele feriu o egípcio” (Êx 2.11-24). Apesar da preo­ que não há nada difícil demais para Ele. Qualquer cupação de Moisés com o seu povo, ele aparente­ tarefa para a qual Deus possa nos chamar será uma mente hesitou até ter 40 anos. Então, quando Moi­ tarefa que Ele poderá realizar através de nós. sés viu um egípcio ferindo um hebreu, ele primeiro olhou “a uma e a outra banda, e vendo que nin­ “Que é isso na tua mão?” (Êx 4.1-9). Moisés conti­ guém ali havia”, matou o egípcio (v. 12). Moisés nuou a fazer objeções, pondo em evidência as suas estava despreparado para tomar publicamente uma fraquezas em vez da força de Deus. Finalmente posição junto aos hebreus, ou para liderar uma re­ Deus lhe deu três sinais miraculosos, cuja finali­ volta de escravos. dade era servirem de evidência aos israelitas de que Podemos nos solidarizar com Moisés. Como al­ Deus verdadeiramente tinha enviado Moisés. guém pode representar um povo oprimido aos seus Os sinais não foram espetaculares. E Deus escolheu opressores? Entretanto, quando uma ira justa é ex­ coisas simples — a vara dejpastor que Moisés carre­ pressa com atos hostis, pouco é conquistado. gava. A sua própria mão. Água do rio. Mas o que me impressiona de um modo especial “Quem sou eu?” (Ex 3.1-22). Quando Deus falou é a frase “na tua mão”. Deus tomou aquilo que com Moisés da sarça que ardia no fogo, e não se Moisés já possuía e transformou. consumia, o homem de 80 anos parecia muito di­ Podemos não fazer milagres. Mas Deus ainda toma ferente do agitador irado de 40 anos. Quatro dé­ e usa aquilo que temos na mão para convencer os cadas de vida no deserto tinham tornado Moisés outros de que Ele é real. humilde. Aquele que uma vez foi príncipe do Egito e que sonhava grandes sonhos havia aprendido que “Eu endurecerei o seu coração” (Êx 4.18-23). Antes tinha as suas limitações. Quando Deus disse, “Eu Deus havia feito repetidas promessas a Moisés. te enviarei a Faraó”, Moisés respondeu: “Quem sou Agora Ele dá ao seu servo um aviso. Por quê? As eu, que vá a Faraó e tire do Egito os filhos de Is­ vezes os seres humanos entendem as promessas de rael?” Deus de uma forma equivocada. Presumimos que O restante da passagem, que narra o diálogo de Deus tomará a nossa vida fácil e removerá todos os Moisés com o Senhor, mostra como Moisés era obstáculos do nosso caminho. Mas as promessas de hesitante. Moisés expôs a Deus dificuldade após Deus nunca sugerem isso! Em vez disso, as promes­ dificuldade — um padrão que continua em Êxodo sas de Deus expressam o seu compromisso de estar 4 apesar das repetidas promessas de Deus de estar conosco e nos ajudar, mesmo quando os obstáculos com Moisés, e de lhe trazer sucesso. forem os maiores possíveis! É somente quando en­

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frentamos e passamos pela dor e pela tragédia que Mas por que era tão importante que os filhos de Moisés fossem circuncidados? Porque Moisés seria experimentamos a fidelidade de Deus. um líder. Um líder espiritual em qualquer época “O Senhor... o quis matar” (Ex 4.24-26). Este even­ deve ser, ele próprio, obediente a Deus. to confuso ensina uma lição importante. Séculos Para sermos usados por Deus, devemos, em pri­ antes, Deus havia ordenado que os descendentes meiro lugar, ser sensíveis a Ele. homens de Abraão deveriam ser circuncidados como um sinal de que eram membros da comu­ “E o povo creu” (Ex 4.27-31). Os israelitas recebe­ nidade da aliança (Gn 17.9-14). Moisés ainda não ram bem a Moisés e creram em sua promessa de tinha circuncidado os seus próprios filhos. Parece libertação. Isso deve ter sido incentivador para provável que Zípora, sua mulher, tenha se oposto a Moisés. Mas esta resposta adiantada, como é fre­ isso, pois quando Moisés passou por uma situação quentemente o caso, logo se transformaria em acu­ mortal ela aparentemente sabia o motivo, e agiu sações raivosas quando as coisas não funcionaram imediatamente para circuncidar os seus dois filhos. como o povo de Deus esperava. A sua ira subsequente (Ex 4.25) sugere que ela ti­ A fé que conta é a fé que persiste, mesmo quando as coisas parecem estar na direção errada. nha sido contra o ritual.

DE V OCION AL_______ Deus se Revela (Êxodo 3) Quando Moisés hesitou, temeroso, na soleira da porta do compromisso, Deus lhe disse o seu nome. Nos tempos bíblicos, cada nome tinha o seu signi­ ficado. Eles tinham a intenção de transmitir algo da identidade, da essência, da coisa ou da pessoa que o recebia. Assim quando Deus disse a Moisés o nome pelo qual Ele deveria ser conhecido “eter­ namente” — o nome pelo qual “serei lembrado de geração em geração” (v. 15, ARA) — esta revelação foi significativa. O nome revelado do Senhor foi “EU SOU”. Nós o conhecemos como Jeová ou Javé. Toda vez que a maioria das versões em português apresenta SENHOR, no hebraico lê-se “EU SOU”. Este nome é formado pelo verbo hebraico “ser”, e pode ser melhor entendido como significando “O Deus que está sempre presente”. Deus, que este­ ve com Abraão séculos antes, estava presente com Moisés e com a geração do Êxodo. Deus, que os libertou então, também estaria presente com todas as gerações seguintes! No passado, no presente, e no futuro, DEUS Ê! Aquele que esteve com Moisés está com você e comigo ainda hoje. Estes capítulos de Exodo nos ajudam a ver por que este nome de Deus é tão importante. Quando Moisés hesitou em responder ao Senhor, Deus lhe deu uma série de promessas. Note cada uma delas no texto. “Eu serei contigo” (v. 12). “E ouvirão a tua voz” (v. 18).

“Eu estenderei a minha mão e... [farei] maravilhas” (v. 20). _ “Eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar” (4.12). Como Moisés poderia saber que Deus manteria as suas promessas? O nome disse a ele. Deus é o grande EU SOU. Pelo fato de estar sempre presen­ te com o seu povo, Deus pode cumprir em nosso presente toda promessa feita em nosso passado. Quando Deus disse a Moisés “este é meu nome eternamente”, Ele estava falando com você e co­ migo tanto quanto com o seu profeta. Deus verda­ deiramente é aquEle que está sempre presente. Ele está com você hoje. Ele estará com você amanhã. E pelo fato de Deus SER, toda promessa que Ele nos fez em Cristo certamente se cumprirá. Aplicação Pessoal Houve um momento ou situação em que você pre­ cisou agarrar-se ao fato de que Deus Ê, e que Ele está presente com você? Citação Im portante “Se eu pudesse lhe dar alguma informação sobre a minha vida, tentaria lhe mostrar como uma mu­ lher de habilidades comuns foi levada por Deus, por caminhos estranhos e incomuns, a servi-lo de acordo com aquilo que Ele fez em sua vida. E se eu pudesse dizer tudo, você veria como Deus fez tudo, e eu nada. Eu trabalhei arduamente, sim, de uma forma árdua demais, porém isso é tudo; e jamais recusei nada a Deus.” — Florence Nightingale

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16 D E JANEIRO LEITURA 16 DEUS REVELA O SEU PODER Êxodo 5— 11

Faraó da mesma maneira que o sol endurece os tijo­ los. Deus não endureceu o coração do Faraó contra a vontade do Faraó. Se o coração do Farão tivesse sido como a cera em vez de como o barro, ele teria “Quem é o Senhor, cuja voz eu ouvirei, para deixar ir amolecido em vez de ter endurecido quando Deus Israel? Não conheço o Senhor, nem tampouco deixarei se revelou mais completamente. ir Israel” (Êx 5.2). Se os nossos corações forem como cera, responde­ remos positivamente a Deus assim que Ele falar co­ Nos tempos antigos os deuses de uma nação eram nosco. Se os nossos corações forem como o barro, reconhecidos pelos sucessos da mesma. Quanto mais poderosa a nação, maior os seus deuses pareciam ser. Mas nestes capítulos o Deus dos escravos israelitas — o nosso Deus! — é mostrado como sendo muito mais poderoso do que os deuses da maior nação que havia sobre a terra. Definição dos Termos-Chave Milagres. As palavras hebraicas usadas para descrever as pragas que Deus trouxe sobre o Egito significam “maravilha” e “sinal miraculoso”. A maior parte das 10 pragas consistiu de desastres naturais que haviam ocorrido em algum momento no Egito. No entanto, três coisas inequivocamente os marcaram como mi­ raculosos: (1) Sua intensidade. Os desastres foram muito maiores do que o normal. (2) Seu tempo. Os desastres vieram e foram embora por ordem de Moi­ sés. (3) Seu motivo. Vários dos desastres ocorreram apenas nos territórios egípcios, deixando intocadas as áreas ocupadas pelos israelitas. Se Deus usou ou não forças naturais para trazer os juízos, o fato é que os egípcios que sofreram sob o domínio deles foram forçados a reconhecer o poder do Deus de Israel. Visão Geral Faraó rejeitou a ordem de Moisés e aumentou os trabalhos exigidos dos seus escravos israelitas (5.121). Deus prometeu agir para remir o seu povo (v. 22— 7.5). O poder de Deus foi liberado em uma série de nove milagres que atingiram o Egito, de­ vastando aquela terra (v. 6— 10.29). A praga final e decisiva tirou a vida de todo primogênito macho no Egito (11.1-10). Entendendo o Texto O coração duro do Faraó. Estes capítulos falam fre­ quentemente da condição “dura” do coração do Faraó. A imagem sugere uma teimosa resistência a Deus. O texto bíblico fala do Faraó endurecendo o seu coração (8.15), de Deus endurecendo o coração do Faraó (7.3), e do endurecimento do seu coração (w. 14,22). Para entender, precisamos apenas per­ guntar: O que Deus fez para endurecer o coração do Faraó? A resposta é que Deus revelou o seu poder de forma cada vez mais plena. Deus endureceu o coração do

quais são mostrados aqui. As pragas de Deus foram diri­ gidas contra o deus do Nilo, cujas águas mataram em vez de sustentarem a vida (7.14-24); contra a deusa da nata­ lidade, Heqt, cujas rás simbólicas se tornaram montões podres que simbolizavam a morte (8.1-15); e contra o deus sol, Rá, cuja impotência foi mostrada quando Deus impôs três dias de absoluta escuridão (10.21-29).

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seremos como o Faraó. Quanto mais Deus falar co­ que Deus havia lhe dado, os magos egípcios os du­ nosco, mas duros nos tornaremos, até que finalmen­ plicaram. Alguns sugerem que os magos do Egito usaram trapaças. Os encantadores de cobras até te Deus seja forçado a nos quebrar. mesmo hoje fazem com que as cobras se tornem “Agrave-se o serviço sobre estes homens” (Ex 5-1- enrijecidas pressionando um nervo em seus pesco­ 21). O pedido de Moisés para que o Faraó li­ ços. Eles então as lançam no chão para provocá-las. bertasse Israel para uma peregrinação tem porá­ Outros acreditam que os “encantamentos” dos ma­ ria foi desdenhosamente rejeitado pelo Faraó, gos do Egito eram mágicas reais, executadas com a que zombou do Deus dos escravos (v. 2). Ele ajuda demoníaca. Neste caso a confrontação entre ordenou que a cota de tijolos dos escravos fosse Moisés e os magos do Egito era um verdadeiro teste mantida, mas que eles fossem forçados a colher dos recursos sobrenaturais. a palha, que antes era fornecida. Palha picada Realmente não importa. Logo Deus começou a era adicionada ao barro usado na fabricação de executar atos tão poderosos que até mesmo os ma­ tijolos. As substâncias químicas presentes na gos do Egito disseram a Faraó: “Isto é o dedo de palha criavam um tijolo mais duro e de maior Deus” (8.19). Em nossos dias, os seres humanos também tentam durabilidade. A resposta espantou os israelitas e a Moisés. Eles duplicar as obras de Deus. Hospitais prometem tinham esperado uma vitória fácil porque Deus curas para o abuso de substâncias. Psiquiatras ofe­ estava do lado deles! Ao ver que não ocorreu uma recem liberdade para os que têm sentimento de vitória fácil, o povo se encolerizou contra Moisés culpa. Em certos casos eles até mesmo parecem ser bem-sucedidos! Contudo, a verdadeira libertação eArão (v. 21). Devemos nos guardar das expectativas não realis­ de toda dependência, e o perdão transformador tas. Em Salmos 37.7 está escrito: “Não te indignes de vidas, permanecem sendo obras de Deus. Faraó por causa daquele que prospera em seu caminho, não estava disposto a ver a diferença entre o que por causa do homem que executa astutos inten­ os seus magos puderam fazer e o que Deus podia tos”. Quando isso ocorrer, em vez de entrar em fazer. Precisamos estar cientes desta diferença, e de­ pânico, devemos descansar no Senhor e esperar pender do “dedo de Deus”. pacientemente nEle (v. 7). “Eu separarei a terra de Gôsen” (Ex 8.22). Uma ca­ racterística distintiva das diversas pragas é que elas caíram somente sobre os territórios ocupados pe­ As Dez Pragas los egípcios. Os territórios hebreus permaneceram O Nilo transformado em sangue 7.14-24 imunes. Isso claramente demonstrou a natureza Rãs infestam a terra miraculosa das pragas. Também deixou claro aos 8.1-15 israelitas que eles eram, verdadeiramente, o povo Piolhos enchem o Egito 8.16-19 especial de Deus. Moscas invadem os territórios 8.20-32 “Quem... temia a palavra do Senhor fez fugir os seus egípcios em enxames servos e o seu gado para as casas” (Ex 9.20). O ver­ A peste devasta os animais do 9.1-7 sículo nos faz lembrar de que os egípcios, como Egito alguns têm sugerido, não sofreram inocentemen­ Úlceras rebentam em todos os 9.8-12 te pelo pecado do Faraó. Eles participaram, como egípcios exatores, de outras maneiras, da opressão de Israel. Ninguém que vê o mal e permanece calado pode Saraiva destrói as plantações 9.13-35 ser considerado isento de culpa. egípcias Mesmo assim, Deus divulgou os decretos de juízo Gafanhotos devoram toda a 10.1-20 de Moisés para que aqueles que viessem a respei­ vegetação tar o Deus dos escravos pudessem proteger os seus bens. Deus é bom para com os culpados que se ar­ Trevas caem sobre os egípcios 10.21-29 rependem, e misericordioso para com todos aque­ Primogênitos machos do Egito 11.1-10 les que respondem positivamente à sua palavra. morrem “Esta vez pequei” (Ex 9.27). Quando falei com “Seus encantamentos” (Êx 6.28— 7.24). Quando Charlie pela última vez, ele estava deitado em Moisés mostrou ao Faraó os sinais autenticadores uma cama de hospital com duas pernas quebra­

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das. Ele tinha se deitado bêbado em uma sarjeta do Brooklyn e foi atropelado por um caminhão. Charlie era como Faraó. Quando as coisas se vol­ taram contra ele, ele se voltou oralmente a Deus. Mas tão logo o problema desapareceu, lá estava ele de volta à sarjeta. Faraó era úm “convertido de leito de morte”. Quando estava em aflição, ele pediu oração. Mas quando cada praga foi retirada, Faraó voltou para os seus velhos caminhos. Vale a pena destacar o que Faraó disse em cada con­ frontação com Moisés. Observe que cada expressão de arrependimento foi inútil. Como sabemos? En­ tendemos o que havia em seu coração observando o que ele fez quando cada praga foi removida. Falar é insignificante. As palavras de arrependi­ mento, sem uma mudança na vida, são tão vazias quanto às promessas do Faraó.

próxima geração, e através dele o nome da famí­ lia fosse preservado. As leis de herança refletem a importância do filho primogênito: ele recebia no mínimo o dobro da porção dos outros filhos da família. Assim a morte de todo primogênito no Egito foi uma perda espantosa. Somente esta praga final e devastadora iria finalmente forçar o Faraó a libertar os seus escravos. Poderíamos ver as pragas sobre o Egito como uma série de crescentes castigos dolorosos. Se o Faraó tivesse cedido em qualquer etapa, ele poderia ter evitado os problemas mais sérios que se seguiram. Porém, pelo fato do Faraó ter se mantido duro, a penalidade definitiva foi finalmente imposta. Os juízos de Deus são frequentemente misericor­ diosos, exatamente desta maneira. Eles somente se tornam mais severos quando continuamos a resistir a Ele. Quando sentimos a mão disciplinadora de “Todo primogênito na terra do Egito morrerá” (Êx Deus sobre nós, é sábio nos rendermos imediata­ 11.1-10). No mundo bíblico o primogênito era mente. Por que Deus deveria golpear aquilo que é especial. Esperava-se que ele liâerasse a família na mais valioso para nós antes de respondermos?

DEVOCIONAL______ A Poderosa Mão de Deus (Êx 5.22— 6.27) Quando o Faraó aumentou a carga sobre os isra­ elitas, Moisés ficou tão indignado quanto o povo. Mas a sua resposta na situação foi mais espiritual. Ele não culpou os outros. Em vez disso Moisés foi a Deus para expressar a sua ira e a sua confusão. Podemos sentir ambas as emoções na oração de Moi­ sés. “Senhor! Por que fizeste mal a este povo? Por que me enviaste? Porque, desde que entrei a Faraó para falar em teu nome, ele maltratou a este povo; e, de nenhuma maneira, livraste o teu povo”. E errado culpar os outros quando as coisas não dão certo. Não é errado falar livremente ao Senhor. Ao expressar as suas emoções, Moisés demonstrou que estava disposto a ser totalmente honesto consigo mesmo e com o Senhor. E ao se dirigir a Deus, Moisés reconheceu a soberania e o poder do Se­ nhor. Moisés não questionou se Deus poderia res­ gatar Israel. Ele exclamou com frustração, questio­ nando, “Por que ainda não?” Você e eu, que cremos em Deus, às vezes sentimos a mesma ira e frustração que Moisés conhecia. Tais sentimentos não sugerem necessariamente falta de confiança. Mas levantam a questão do tempo cer­ to. Por que ainda não? Deus dá a Moisés a sua resposta em Êx 6.1-8. Deus libertará com “juízos grandes” e “sabereis que eu sou o Senhor, vosso Deus”.

Quando todas as nossas vitórias são fáceis, é muito provável que percamos Deus de vista. Mas quan­ do tudo é muito sombrio e sem esperança a ponto de estarmos prestes a desistir, e então o livramento aparece de repente, sabemos que o que aconteceu veio do Senhor. Frequentemente Deus faz com que o livramento demore, não porque Ele queira que continuemos sofrendo, mas porque Ele quer que reconheçamos a sua mão quando Ele age. Aplicação Pessoal Como a experiência de Moisés fala às suas próprias frustrações e ira? Citação Im portante “Você ouvirá homens dizerem que nos tempos antigos’ as pessoas criam em milagres ‘p orque elas não conheciam as leis da Natureza”’. Um momen­ to de reflexão mostra que isso é uma grande toli­ ce. Se não se sabia que os eventos eram contrários às leis da natureza, como poderiam sugerir a pre­ sença do sobrenatural? Como eles poderiam ser surpreendentes a menos que fossem vistos como exceção à regra? E como algo pode ser visto como uma exceção até que as regras sejam conhecidas? Se houvesse homens que não conhecessem de for­ ma alguma as leis da natureza, eles não fariam a menor ideia de um milagre, e não sentiriam ne­ nhum interesse específico por ele, mesmo que um

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30). Na manhã seguinte o povo de Deus deixou a terra do seu cativeiro (w. 31-51). Os primogênitos de Israel foram separados para Deus em honra ao livramento no Êxodo (13.1-16). Israel passou com segurança pelo mar Vermelho (v. 17— 14.31), e Miriã liderou as mulheres em um canto de louvor 17 D E JANEIRO LEITURA 17 a Deus pelo seu compromisso para com o seu povo A VITÓRIA DE DEUS (15.1-21). Entretanto, três dias depois os israelitas Êxodo 12.1— 15.21 questionaram o compromisso de Deus com eles “Não temais; estai quietos e vede o livramento do Se­ (w. 22-27). nhor, que hoje vosfará” (Êx 14.13). Entendendo o Texto A grande celebração da Páscoa convoca toda fa­ “Nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpé­ mília judaica para juntos participarem da come­ tuo” (Êx 12.1-30). A Páscoa é a primeira de várias moração anual do livramento que Deus concedeu festas religiosas anuais ordenadas por Deus. A aos seus antepassados no Egito. A história contada Páscoa é a celebração da liberdade de Israel: uma nestes capítulos retrata a vitória final de Deus sobre comemoração anual ao Deus que exerceu o seu po­ os deuses do Egito, a travessia de Israel pelo Mar der para arrancar um povo escravo das garras dos Vermelho, e o cântico de louvor de Israel. senhores opressores. . Não é suficiente pensarmos de vez em quando naquilo Definição dos Termos-Chave que Deus fez por nós. Precisamos separar momentos Páscoa. A Páscoa é (1) um evento histórico, e (2) regulares para lembrar. Celebrar a obra de Deus em uma festa judaica anual comemorando o evento. nós e por nós é tão importante agora quanto celebrar Na primeira Páscoa, um cordeiro, que havia sido a Páscoa era importante para o povo judeu. levado para casa por três dias, era morto e o seu sangue era espargido do lado de fora dos umbrais “Pães asmos” (Êx 12.17). Este é o pão que não teve das portas. A carne era assada e o cordeiro era co­ a oportunidade de crescer. Nenhuma levedura ou mido pela família na noite em que Deus tirou a qualquer agente de fermentação é permitido em vida dos primogênitos do Egito. um pão asmo. O ponto alto da festa anual é uma ceia comemora­ Os judeus modernos usam pães em forma de bis­ tiva compartilhada pelos membros de uma família coito durante a semana da festa da Páscoa. O pão, judaica. A participação nesta ceia deveria ser “por como a ceia da Páscoa, serve como uma forma de estatuto para vós e para vossos filhos, para sempre” lembrar o evento do passado, pois os israelitas par­ (Êx 12.24). O propósito da ceia é permitir que to­ tiram do Egito com tanta pressa que não houve das as gerações compartilhem daquilo que Deus fez tempo para deixar o pão crescer. pelos seus antepassados. De um modo real, aquela primeira Páscoa trouxe a liberdade da servidão não “Apressando-se epartindo”(Êx 12.31-51). Quando o apenas para uma geração de judeus, mas para todas Faraó percebeu que todos os primogênitos do Egi­ as gerações que se seguiram. to haviam morrido, ele rogou que os hebreus par­ Deuteronômio 16.2, 5-7 estabelece a Páscoa como tissem. A população geral estava tão ansiosa para uma celebração nacional, como também familiar, que eles fossem embora que “emprestaram” a Israel para ser marcada por uma semana inteira de sacri­ todo o ouro, prata e roupas que eles solicitaram. fícios e regozijo público. Não haveria nada em que pudessem gastar uma ri­ A ceia que Jesus compartilhou com os seus discípu­ queza como esta no deserto. Mas posteriormente los na noite anterior à sua crucificação foi a Páscoa o povo de Israel doou boa parte desta riqueza para (cf. M t 26; Mc 14; Lc 22; Jo 13.1). ser usada na confecção do Tabernáculo, a casa de Os escritores das epístolas veem o cordeiro da Pás­ adoração portátil de Israel. coa como um símbolo de Jesus, que foi “sacrificado por nós” e cujo sangue nos liberta da escravidão do “Santifica-me todo primogênito” (Êx 13.1). A cele­ pecado e da morte (cf. Jo 1.29; 1 Co 5.7). bração da liberdade está intimamente ligada a um novo senso de obrigação de Israel. Pelo fato de Visão Geral Deus ter poupado os primogênitos de Israel, todo O sangue de cordeiros nos umbrais das portas dos futuro primogênito pertenceria a Ele! israelitas os protegeu na noite em que Deus tirou Você e eu recebemos uma liberdade ganha com o a vida de todos os primogênitos do Egito (12.1- preço do sangue de Cristo. E apropriado, uma vez

milagre fosse realizado. “A crença em milagres, longe da dependência da ignorância das leis da natureza, só é possível à medida que estas leis sáo conhecidas.” — C. S. Lewis

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que Ele deu a si mesmo por nós, que nos entregue­ mos a Ele. Quando nos lembramos do que Deus fez por nós, somos motivados a perguntar o que podemos fa­ zer por Deus. E importante nunca inverter esta ordem. Frequentemente tentamos agradar a Deus a fim de que Ele seja prestativo a nós. Entretanto, em vez disso, já somos obrigados a ser prestativos a Ele por causa da salvação que Ele nos deu! O bem pode expressar o amor pelo Deus que nos salvou, mas jamais pode servir como um suborno para al­ cançarmos o favor de Deus.

Circunstâncias desesperadoras levaram Moisés a tranquilizar Israel. Ele os convocou a permane­ cerem firmes e a observarem o que Deus faria. As vezes, podemos nos encontrar em circunstâncias desesperadoras. Quando isso acontecer, também precisamos permanecer firmes, e esperar que Deus aja. A fé de Moisés não esmoreceu. As águas que se dividiram para que Israel passasse, envolveram o exército egípcio, matando todos os soldados. As circunstâncias não devem gerar temor, ou mes­ mo nos tornar hesitantes. Certamente nenhuma circunstância deveria causar pânico desde que te­ “Uma coluna defogo” (Ex 14.1-31). Deus, de forma nhamos buscado e tentado seguir a instrução de sobrenatural, guiou o seu povo através do apareci­ Deus. Ele continua sendo capaz de nos conduzir mento de uma coluna de nuvem e de uma coluna por um caminho seguro pelo meio do mar. de fogo que ia à frente deles ou permanecia aguar­ dando sobre o arraial. Os israelitas tinham uma “O Senhor, quem é como tu entre os deuses? (Ex indicação clara, visível e inequívoca do que Deus 15.11). O livramento estimulou Moisés a compor queria que eles fizessem. um cântico. O cântico, que relembrava o que Deus Apesar de uma indicação tão clara, os israelitas fi­ havia feito, tinha o propósito de ser uma ferramen­ caram apavorados quando a coluna os guiou para ta de ensino e um instrumento de louvor. A música aquilo que parecia ser uma armadilha à beira de um pode nos servir da mesma maneira. A melodia de grande corpo de água. (Ninguém tem certeza do que um hino familiar, ou a lembrança das suas palavras era este corpo de água, como é lido no hebraico yom durante um dia difícil, nos fazem lembrar da pre­ suph, geralmente entendido como “mar de junco”.) sença de Deus e do seu poder.

DEVOCIONAL______

Celebre com Cânticos (Êx 15.1-16) A nossa filha Sara de nove anos já está aprendendo as melodias e as letras de músicas populares. Temos que tomar cuidado com os artistas que ela escu­ ta e as letras que ela ouve. De alguma forma os pensamentos colocados em uma música acham um caminho fácil para dentro do coração e da mente. Esta é uma razão de estarmos tão satisfeitos pelo fato de Sara estar no coral infantil da igreja. Ela canta pela casa as músicas que está aprendendo lá, e as letras das músicas cristãs também estão encon­ trando um lar no coração dela. O cântico que Moisés compôs, registrado aqui nes­ ta passagem, compreende três aspectos do tipo de música que devemos ouvir. O cântico de Moisés celebra o que Deus fez. Vemos este tema nos versículos 1-10. Como um guerreiro, majestoso em seu poder, Deus agiu para arremessar os carros e o exército de Faraó dentro do mar. O cântico de Moisés celebra quem Deus é. Vemos isso no versículo 11. Deus é “glorificado em santi­ dade, terrível em louvores, operando maravilhas”. O cântico de Moisés celebra o que Deus fará pelo seu povo crente. Este Deus que operou tão podero-

samente no passado irá conduzir o povo que remiu. Ele continuará a usar o seu poder até que introduza e plante o seu povo “no monte da sua herança”. Você e eu podemos decidir encher nossas casas e nossos pensamentos com melodias que celebrem o que Deus fez, quem Ele é, e o que Éle certamente fará por nós. Esta é uma das coisas mais importan­ tes que podemos fazer pelos nossos filhos, como também pelo nosso próprio crescimento espiritual e nossa paz de espírito. Aplicação Pessoal Verifique a música cristã disponível em sua livraria cristã local. Citaçáo Im portante “Se alguém lhe falasse sobre o caminho mais curto e mais certo para toda a felicidade e toda a per­ feição, esta pessoa deveria lhe falar sobre agrade­ cer e louvar a Deus por todas as coisas que lhe acontecem. É certo que se você agradecer e lou­ var a Deus por toda calamidade aparente que lhe acontecer, você a transformará em uma bênção. Se você pudesse realizar milagres, eles não seriam tão grandes quanto aquilo que você poderia fazer

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por si mesmo através deste espírito de gratidão. drões claros, serviu para tornar os israelitas respon­ Ele cura e transforma em felicidade tudo aquilo sáveis por suas ações, e deu a Deus a base sobre a qual Ele poderia disciplinar o seu povo quando em que toca.” — William Law errassem. Hoje Deus trata conosco em sua graça. Mas Ele é 18 D E JANEIRO LEITURA 18 sábio demais e amoroso demais para nos dar tudo INTENÇÕES DE DEUS o que queremos ou que pensamos que precisamos. Êxodo 15.22— 19.25 Deus continua a disciplinar os cristãos, não para “Porque toda a terra é minha. E vós me sereis reino nos punir, mas para nos guiar. Hebreus 12.10 diz que Ele nos corrige “para nosso proveito, para ser­ sacerdotal epovo santo” (Êx 19.5,6). mos participantes da sua santidade”. A insatisfação e a contenda dos israelitas em relação à jornada em direção ao Sinai demonstram o quan­ “Se ouvires atento a voz do Senhor” (Êx 15-26,27). to este povo estava longe da nação santa que Deus O princípio da recompensa pela obediência, intro­ duzido aqui, é válido em todas as épocas. Mas a queria que eles fossem. promessa específica — que a obediência preserva­ ria das doenças — foi feita a Israel, a você e a mim. Visão Geral Israel murmurava (15.22-27) e, embora Deus Entretanto, alguns entendem que a experiência de tenha providenciado carne e maná (16.1-36), o Paulo (2 Co 12.1-10) nos mostra que os cristãos povo tentava a Deus (17.1-7). No entanto, Deus podem ou não ser curados por Deus, e o Senhor concedeu uma vitória militar (w. 8-16), e Moisés pode usar as enfermidades físicas para alcançar pro­ compartilhou a responsabilidade pela solução das pósitos espirituais em nossas vidas, inclusive o de disputas (18.1-27). Eles chegaram ao Sinai, onde levar-nos para a eternidade. Deus revelou a sua santidade e anunciou a sua in­ tenção de fazer deste povo insensível uma nação “Maná e codornizes” (Êx 16.1-36). Alguns sugerem que o maná era, na verdade, a excreção de uma santa (19.1-25). planta do deserto, a tamargueira, que cai no chão e endurece formando uma substância doce. O maná, Entendendo o Texto “O povo murmurou contra Moisés” (Ex 15.22-25). porém, foi o produto de um milagre. Foi produ­ A euforia pela vitória contra os egípcios desapare­ zido o suficiente para alimentar milhões; estava ceu rapidamente quando, após três dias no deser­ disponível em todo lugar que o povo ia durante o to, apenas água amarga e alcalina foi encontrada. período de cerca de 40 anos; ele aparecia somente Moisés orou a Deus, que lhe mostrou como tornar seis dias por semana. E, diferente do produto da ta­ margueira, o maná criava bichos quando guardado a água doce. O incidente estabeleceu um padrão que foi repeti­ de um dia para o outro, derretia, era de cor branca, do na jornada até o Sinai. (1) Algo causa insatisfa­ e com ele podia-se fazer bolos. ção. (2) O povo murmura contra Moisés e Deus. Na Escritura, o maná serve como um símbolo da (3) Deus responde misericordiosamente e provê provisão de Deus. O Senhor conhece as nossas ne­ o que o povo precisa ou quer. (4) Em vez de ser cessidades básicas e age para atendê-las. agradecido, o povo se torna mais insatisfeito e mais “Cada um colheu tanto quanto podia comer” (Ex rebelde (veja também 16.1-12; 17.1-7). Há algum tempo atrás a criação “permissiva” de fi­ 16.18). É significativo que o maná não aparecia na lhos era popular. A teoria era, deixe que a criança panela, mas no chão, onde as pessoas tinham que faça o que quiser, e a sua beleza natural se abrirá colhê-lo. Deus provê, mas espera que trabalhemos como as pétalas de uma flor. O único problema era para consegui-lo. que esta criação permissiva produzia adultos ego­ E significativo que o maná aparecia diariamen­ ístas, improdutivos, e insatisfeitos, assim como a te. Jesus ensinou os seus discípulos a pedirem permissividade que Deus mostrou durante a jorna­ a Deus Pai o seu “pão” cotidiano. Deus atende da de três meses em direção ao Sinai permitiu que as nossas necessidades dia a dia, para que con­ os israelitas se tomassem mais insatisfeitos e mais tinuemos a depender dEle. Se Deus colocasse rebeldes. A graça sem a responsabilidade, como o 10 milhões de dólares na nossa conta bancária, amor sem a disciplina, não promove a santidade. teríamos pão para a “vida toda”, e não teríamos O comportamento dos israelitas na viagem em di­ necessidade de recorrer a Ele diariamente. Jesus reção ao Sinai nos mostra porque Deus considerou quer que os seus discípulos permaneçam depen­ necessário introduzir a Lei. A Lei, com os seus pa­ dentes de Deus, de forma que o busquemos dia-

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riamente e alimentemos o nosso relacionamento conselho a Deus antes de agirem de acordo com com Ele diariamente. ele. E quando estivermos dando conselho, não im­ porta quão bom ele seja, precisamos buscar a con­ “Tentais ao Senhor” (Ex 17.1-7). A presença de firmação de Deus antes de agirmos. Deus era visível a Israel através da coluna de nuvem e de fogo que os guiava, e no maná que “Tu só não o podes fazer” (Ex 18.17-27). Este capí­ aparecia diariamente. No entanto, quando o povo tulo é frequentemente citado como evidência para acampou onde náo havia água, eles acusaram a “organização” na igreja. É melhor ver isso como Moisés de tentar matá-los, e estavam quase a pon­ uma palavra para aqueles que não conseguem parar de trabalhar. to de apedrejá-lo. Deus providenciou água. Mas Moisés chamou o Um dos pregadores mais populares da rádio cristã lugar de Massá (“tentação”) porque o povo ques­ americana dos anos 80 é um viciado em trabalho. tionou se Deus estava ou não com eles. Ele leva para casa, não maletas, mas caixas de tra­ Quando as aflições sobrevêm, é natural pergun­ balho para fazer nos finais de semana e feriados. Ele tarmos onde está Deus. Mas devemos nos guardar incentiva os ouvintes a darem prioridade às suas contra a descrença mostrada por Israel em Massá. famílias, mas o seu ministério tem deixado a sua Como? Tornando uma prática relembrar todas as própria família fora da sua vida. Como Moisés, ele coisas boas que Deus fez e está fazendo por nós. precisa ser lembrado de que há “homens capazes”, Em vez de nos concentrarmos no problema, deve­ “tementes a Deus” e "homens de verdade” nas pro­ mos concentrar a nossa atenção no Senhor. ximidades. Delegar responsabilidades hoje, como nos dias do Antigo Testamento, não só é sábio, mas “Agora sei” (Ex 18.1-12). Jetro, sogro de Moisés, correto. foi até o Sinai encontrar-se com Moisés. Quan­ do Moisés lhe contou o que o Senhor tinha feito “Defronte do monte” (Ex 19.1-25). A manifestação no Egito, e como o Senhor havia salvado Israel do poder de Deus no monte Sinai é posteriormen­ em sua jornada até o Sinai, Jetro louvou a Deus e te descrita como um “fogo consumidor no cume disse: “Agora sei que o Senhor é maior que todos do monte” (24.17). Isso teve o propósito de inspi­ os deuses”. rar espanto e temor, e transmitir algo da santidade Sentar-se com amigos ou parentes e contar o que do Deus de Israel. Apenas Moisés subiria e estaria Deus tem feito em nossas vidas, ainda é a melhor diante dos trovões e dos relâmpagos que brilhavam maneira de compartilhar o Senhor com os outros. constantemente, cobrindo o cume do monte. Hebreus 12.18 descreve o monte como estando “Se... Deus to mandar”(Ex 18.13-27). Jetro aconse­ “aceso em fogo... [uma visão de] escuridão, trevas, lhou Moisés a distribuir responsabilidades para re­ e tempestade”. Era tão aterrorizante que até mes­ solver quaisquer disputas que surgissem. Mas Jetro mo Moisés disse: “Estou todo assombrado e tre­ foi cuidadoso ao reconhecer o domínio de Deus mendo” (v. 21). quando deu o seu conselho. Ele esperava que Moi­ Enquanto os cristãos vão diretamente a Deus atra­ sés consultasse o Senhor para confirmar a sabedoria vés de um Cristo amoroso, algo importante sobre existente naquilo que ele disse. a natureza de Deus foi comunicado no Sinai. A Precisamos ter esta mesma atitude quando damos carta aos Hebreus nos faz lembrar que devemos ou recebemos conselhos. Não importa o quanto servir “a Deus agradavelmente com reverência e possamos sentir que o nosso conselho seja sábio, piedade; porque o nosso Deus é um fogo consu­ é importante rogar aos outros que apresentem este midor” (w. 28,29).

DE V OCION AL______

M inha Propriedade Peculiar (Êx 19.3-6) E muito fácil ler estes capítulos e se concentrar nos defeitos óbvios do caráter de Israel. O povo era ingrato. Eles eram rebeldes. Eles eram maldosos e hostis. Eles eram egoístas e desprezíveis. Talvez uma boa maneira de resumir isto é que eles eram um tipo de gente que, se você os tivesse como vizi-

nhos, fariam com que você quisesse colocar a sua casa à venda. Ontem. Contudo, Deus libertou este povo do Egito e, diz Ele, “vos trouxe a mim” (v. 4). Deus até diz que Ele escolheu este povo “dentre todos os povos”, para ser a propriedade peculiar. A palavra hebraica aqui é significativa. Segullah significa “propriedade valiosa”, “bem pessoal”, ou

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“tesouro particular”. Deus olhou sobre toda a terra, e escolheu Israel e disse: “me sereis reino sacerdotal e povo santo” (v. 6). Estes poucos versículos nos fazem lembrar das coi­ sas maravilhosas acerca do nosso Deus. Como o mineiro de diamante que apanha uma pedra bruta e sem brilho e grita com prazer, Deus sente prazer em pessoas imperfeitas. Èle sabe que pedras pre­ ciosas, através da sua moldagem e polimento, os pecadores podem se tornar. Ê difícil para mim e para você termos este prazer em pessoas imperfeitas. Tendemos a ver apenas os pontos fracos, a forma sem graça e sem vida. Quando nos encontramos perto de pessoas que são como membros da geração do Êxodo, queremos levantar e ir embora. O que precisamos fazer é pedir a Deus que com­ partilhe a sua perspectiva conosco. Precisamos ver, nas pessoas menos agradáveis, alguém que possa ser uma propriedade peculiar de Deus. Alguém a quem Deus possa transformar e tornar belo. Al­ guém que possa se juntar ao Reino de sacerdotes de Deus, e se tornar um cidadão santo da nação santa que Ele pretende criar. Aplicação Pessoal O primeiro passo para desenvolver a perspectiva de Deus é orar diariamente por outras pessoas imper­ feitas. Citação Im portante Visto que eu não gosto de você, como posso cum­ prir a lei do amor? A sua fala, as suas maneiras, a sua própria imagem nos meus olhos... Todas estas coisas me revoltam... (e não ajuda nada ter a certeza de que você não liga para a minha opinião!) Desse modo, a cabeça e o coração, com ofensas e ressentimentos mútuos... Ficam incandescentes à luz do amor. Mas ambos, eu acho, devem certamente ser de Deus, e assim uma lição pungente diz, Que a mente deve amar aqueles que o coração se recusa a amar. Ó Deus, me ajude a tentar! — Samuel J. Miller

Êxodo 20. Os princípios expressos nos Dez Manda­ mentos são válidos para todas as pessoas, de todas as épocas, pois eles refletem a natureza moral de Deus. Definição dos Termos-Chave Dez Mandamentos. Protestantes, católicos, e judeus concordam que há Dez Mandamentos. Mas eles não concordam sobre quais são estes dez! Os protestantes tomam Êxodo 20.3 como o primeiro mandamento. Os católicos agrupam os versículos 3-6 como o pri­ meiro mandamento, e dividem o versículo 17 em 2. Os judeus entendem o versículo 2 como o primeiro, e também agrupam os versículos 3-6. Quatro características. Quatro características dos Dez Mandamentos devem ser observadas. (1) Cada um é declarado como sendo absoluto. Outros an­ tigos códigos de lei geralmente listavam os atos e as suas consequências — se você fizer isso, então acontecerá aquilo. Devemos seguir os mandamen­ tos de Deus porque eles são corretos, e não por medo de castigos. (2) Oito dos 10 mandamentos são declarados como negativos, mas cada um su­ gere um positivo. “Não roubarás” claramente nos chama a respeitar os direitos de propriedade dos outros. (3) Cada um é dirigido à segunda pessoa do singular (“tu”). Deus não falou a todo o Israel, mas a cada membro individual da comunidade de crentes. Não podemos garantir que outros obede­ cerão aos mandamentos de Deus. Mas cada um de nós deve ser responsável por si mesmo. (4) Cada mandamento é relacional. Os quatro primeiros nos mostram como viver harmoniosamente com Deus. Os seis últimos nos mostram como viver harmo­ niosamente com outras pessoas. Não podemos violar os mandamentos de Deus sem prejudicar o nosso relacionamento com Ele e com os outros.

Visão Geral Deus deu a Moisés 10 mandamentos básicos reve­ lando como expressar o amor a Deus (20.1-11) e às outras pessoas (w. 12-21). Leis específicas tratan­ do dos altares (w. 22-26), servos (21.2-11), danos pessoais (w. 12-36), e propriedades (22.1-15) se seguiram. Moisés também identificou pecados he­ diondos (w. 16-31), compaixão ordenada (23.19), descanso para a terra, para o homem, e para os 19 DE JANEIRO LEITURA 19 animais (w. 10-13), e estabeleceu três festas reli­ DEUS REVELA A SUA LEI giosas (w. 14-19). Deus prometeu fazer o seu povo Êxodo 20— 23 próspero se tão somente o adorassem e obedeces­ “E servireis ao Senhor, vosso Deus, e ele abençoará o sem as suas leis (w. 20-33). vosso pão e a vossa água” (Êx 23.25). Entendendo o Texto Os rabinos identificam 613 leis nos escritos de Moi­ “Sairáforro, de graça”(Êx 21.2-11). As leis do Anti­ sés. Os 10 mandamentos básicos estão declarados em go Testamento protegiam cada escravo muito mais

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do que outros códigos de lei da época, e requeriam que um escravo hebreu não servisse por mais de seis anos. Ele só poderia ser ligado a um senhor por toda a vida através de sua própria escolha, livre e pessoal. Esta lei do Antigo Testamento nos ensina que cada indivíduo deve ser respeitado, seja qual for a sua posição social. Nem mesmo os mais fracos deve­ riam ser oprimidos, mas antes deveriam ser pro­ tegidos. “Considerado responsável” (Ex 21.12-36). O man­ damento diz, “Não matarás”. Aqui o texto cita vários exemplos específicos mostrando que “Não matarás” é uma declaração que significa: “Respei­ tarás a vida e o bem-estar dos outros”. As pessoas que intencionalmente prejudicam outras, ou até mesmo causam dano a outros por causa da sua negligência, deverão ser consideradas responsáveis. Até deixar uma cova aberta após ser cavada, onde uma pessoa ou animal possa cair dentro dela, gera responsabilidade (w. 33,34). Mais de um médico que parou para ajudar uma pessoa ferida em um acidente automobilístico já foi posteriormente processado por ter agido con­ forme uma prática inadequada. Hoje em dia, mui­ tos estados americanos protegem o profissional que agir assim, através das leis do “Bom Samaritano”. Contudo, é fácil ver por que tantos hoje apresen­ tam um sentimento de repulsa: “Não quero me envolver”. Esta palavra reflete o espírito do nosso tempo. Mas não reflete o Espírito do nosso Deus.

rada entre o criminoso e a sua vítima, e assim o criminoso pagava a restituição. Estas leis nos fazem lembrar que quando ferimos ou prejudicamos os outros, não é suficiente dizer “Desculpe-me”. Não temos o direito de pedir per­ dão até que o dano tenha sido reparado, e a resti­ tuição seja feita. O perdão é de graça. Mas não é barato. Resoluto e compassivo (Ex 22.16-31). As leis conti­ das nessa passagem parecem quase contraditórias. Várias claramente exigem a pena de morte — por feitiçaria, bestialidade, e idolatria. Outros reque­ rem que a máxima compaixão seja mostrada às viúvas e aos órfãos. Os necessitados devem tomar dinheiro emprestado sem juros. Qualquer um que tomar uma roupa como garantia de pagamento de dívida deve devolvê-la à noite, para que aquele que tomou o dinheiro emprestado possa usá-la como cobertor. As leis “severas” do Antigo Testamento são con­ traditórias ao Deus de “compaixão” revelado em outras leis e em Jesus? Absolutamente não. Alguns pecados corrompem tanto a sociedade, e levam a tantos sofrimentos, que é necessário tomar uma posição firme e resoluta contra eles. O importante é manter o nosso senso de equilí­ brio. A inflexibilidade sem compaixão é errada, mas também é uma compaixão que falha em exigir responsabilidade. Há alguns anos atrás, ninguém questionava o con­ ceito de uma quarentena por ordem médica. Pes­ soas com uma doença contagiosa eram restringidas às suas casas ou aos sanatórios. Esta “violação dos direitos de uma pessoa doente” era aceita por todos como uma proteção necessária para a sociedade. No entanto, hoje as pessoas com AIDS, uma doença que é sempre fatal, são tratadas com tanto cuidado que nenhum político ou agente de saúde pública ousa mencionar a possibilidade de quarentena. Embora a Lei do Antigo Testamento defenda os direitos dos indivíduos, ela nunca o faz às custas da comunidade. E ela considera os indivíduos respon­ sáveis pelos seus pecados.

“Olho por olho" (Ex 23.24). As pessoas que cau­ sarem um dano sério a outros devem ser conside­ radas responsáveis. Mas o famoso lex talona — a lei exigindo olho por olho, dente por dente — é seriamente mal entendido. No mundo bíblico, as inimizades entre as famílias eram possibilidades sempre presentes. O princípio de olho por olho, dente por dente, limita a penalidade que uma pes­ soa pode impor! Uma parte prejudicada, ou a sua família irada e amargurada, poderiam tentar tirar a vida por um olho, ou um membro por um den­ te! A Lei de Deus determina a responsabilidade, e, ao mesmo tempo, não permite a escalada de uma Liberdade e justiça para todos (Ex 23.1-9). Esta ga­ disputa. rantia na Constituição Brasileira é firmemente es­ tabelecida na Lei do Antigo Testamento. Observe “Restituição” (Ex 22.1-15). Na Escritura, o roubo alguns dos princípios declarados aqui: ou outros crimes de propriedade são crimes con­ “Quando você testemunhar, não perverta a justiça tra a vítima. No sistema legal americano, eles são ficando ao lado da multidão”. crimes contra o estado. Portanto, no sistema legal “Não mostre favoritismo a um homem pobre em americano o criminoso é punido pelo estado e en­ seu processo judicial”. viado para a prisão. No sistema legal do Antigo “Não negue a justiça ao seu povo pobre em seus Testamento a harmonia social deveria ser restau­ processos judiciais”.

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Êxodo 20—23

“Não se envolva em falsas acusações”. Somente tratando a todos igualmente, sendo ab­ solutamente justos com os ricos e os pobres da mesma forma, com os famosos e os desconhecidos, podemos refletir a justiça, bem como a misericór­ dia do nosso Deus. “O sétimo dia” (Êx 23.10-13). O único dos dez mandamentos que não é repetido em o Novo Tes­ tamento como um princípio pelos quais os cristãos devem viver é o mandamento de guardar o séti­ mo dia como santo. Ainda assim, há muito para se aprender com as leis do Sábado do Antigo Testa­ mento. Uma das lições é encontrada nestes versícu­ los. O sábado foi estabelecido para o benefício do homem, não para o benefício de Deus, para que os crentes “se refrigerem” (Êx 23.12, TB)

DEV OCIONAL______

Deus Falou todas estas Palavras (Êx 20.1-21) Os Dez Mandamentos são mais do que leis que Is­ rael tinha a responsabilidade de seguir. Eles expres­ sam princípios básicos pelos quais os seres humanos 1 2 3 4 5 6 7

Não terás outros deuses diante de mim (20.3). Não farás para ti imagem de escultura (20.4-6). Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão (20.7). Lembra-te do dia do sábado, para o santifi­ car (20.8-11). Honra a teu pai e a tua mãe (20.12). Não matarás (20.13). Não adulterarás (20.14).

8 9

Não furtarás (20.15). Não dirás falso testemunho contra o teu próximo (20.16). 10 Não cobiçarás (20.17).

Nenhuma diretriz mais clara e mais significativa para a vida foi incorporada em qualquer código de lei. Se vivermos por elas, certamente agradaremos a Deus, e toda a nossa vida se tornará um ato de adoração aceitável.

Não fazemos um favor a Deus separando um dia para a adoração e o descanso. Fazemos um favor a nós mesmos. "Adorai ao Senhor, vosso Deus”(Êx23.20-33). Como a ênfase na adoração se encaixa nestes capítulos so­ bre a Lei? De forma muito simples. A adoração não consiste simplesmente em ir à igreja e cantar hinos de louvor. A adoração consiste em colocar a nossa fé em prática amando a Deus e seguindo os seus mandamentos. Quando Deus deu estas leis a Moisés, para que as compartilhasse com Israel, Ele as identificou com adoração e com sucesso. Quando colocamos Deus em primeiro lugar, e o honramos com a nossa obe­ diência, Deus nos dá uma vida plena.

devem viver. Podemos traduzir cada um deles como uma diretriz positiva, observando que cada um de­ les nos chama para mostrarmos respeito por Deus e pelos outros, de maneiras simples, mas vitais. Aqui estão os 10 princípios pelos quais devemos viver. Respeite a Deus como o teu único Senhor. Respeite a natureza de Deus e não o banalize. Mostre sempre respeito por Deus, considerando-o como Alguém real e presente. Mostre respeito por Deus separando tempo para adorá-lo. Mostre respeito pelos seus pais. Mostre respeito pela santidade da vida humana. Mostre respeito pelo casamento e pelos membros do sexo oposto. Mostre respeito pela propriedade dos outros. Mostre respeito pela verdade e pela reputação dos outros. Mostre o máximo de respeito pela santidade, guar­ dando os seus motivos bem como as suas ações. Aplicação Pessoal O respeito por Deus e pelos outros é revelado primeiramente nas escolhas que fazemos diaria­ mente.

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Êxodo 24—27

Citação Im portante “Quem fala da parte de Deus? O próprio Senhor fala muito bem por si mesmo. Ele fala através da sua Palavra santa e infalível — e da obediência si­ lenciosa dos seus servos.” — Chuck Colson

Moisés não só se aproximou do Senhor no monte, mas “permaneceu ali” na presença de Deus. E incrível perceber que hoje você e eu compar­ tilhamos os privilégios que naquela época só fo­ ram conferidos a Moisés. Através de Jesus, Deus nos convida a nos aproximarmos dEle livremente 20 D E JANEIRO LEITURA(Hb 20 4.16). Nós também podemos compartilhar . LIBERDADE COM O UM SÍMBOLO a Palavra de Deus com os outros (cf. At 8.4). Em vez de escreverem a Palavra de Deus, os nossos Êxodo 24— 2 7 corações são tábuas nas quais o próprio Deus es­ “E me farão um santuário, e habitarei no meio deles” creve (2 Co 3.3). Nós nos juntamos aos outros (Êx 25.8). para oferecermos a Deus sacrifícios espirituais (Rm 12.2). Temos sido comissionados como Alguém já observou que Deus levou seis dias para embaixadores de Deus, para reconciliarmos ou­ criar o mundo — e 40 dias para dar o projeto do tros com o nosso Senhor (2 Co 5.18-20). Em Tabernáculo a Moisés. Muito tem sido escrito sobre Jesus, Deus não só nos convidou a nos chegar­ o significado simbólico do desenho e dos materiais mos a Ele, mas a permanecermos com Ele e nEle do Tabernáculo. Mas o tema central é este: o centro sempre (Jo 15.4,7). de adoração portátil servia como um lembrete visí­ Moisés foi um grande homem. Mas você e eu te­ vel de que Deus habita entre o seu povo. mos privilégios ainda maiores. Visão Geral Os israelitas se comprometeram a guardar a Lei de Deus (24.1-8). Moisés foi instruído a edificar uma casa de adoração portátil, o Tabernáculo, que ser­ viria como um símbolo da presença de Deus com Israel (w. 9-18). As instruções abrangiam os ma­ teriais (25.1-9), os móveis e utensílios (w. 10-40), o projeto da tenda (26.1-37), seu pátio e seu altar (27.1-21). Entendendo o Texto “Tudo o que o Senhor tem falado faremos” (Êx 24.18). Deus não impôs simplesmente a sua Lei sobre Israel. Moisés cuidadosamente explicou o que Deus esperava do povo que viveria em um rela­ cionamento pessoal com Ele (Êx 20— 23; 24.3). A ratificação da Lei por parte de Israel marca uma mudança no relacionamento com Deus. O povo se comprometeu a guardar os mandamentos de Deus, e então cada um foi totalmente responsável pelos seus atos. O evento também nos diz algo sobre Deus. Ele cui­ dadosa, misericordiosa, e completamente explicou o que o relacionamento com Ele envolvia antes de pedir um compromisso. “Só Moisés se chegará ao Senhor” (Êx 24.1-18). O capítulo transmite um senso poderoso do relacio­ namento especial que Moisés tinha com o Senhor. Só Moisés se chegou ao Senhor. Moisés disse ao povo as palavras e as leis de Deus. Ele escreveu tudo o que o Senhor disse. Também supervisionou os sacrifícios a serem feitos ao Senhor. E convo­ cou o povo de Deus para. um compromisso total.

“E me farão um santuário” (Êx 25.1—27.40). O Antigo Testamento enfatiza a importância do Ta­ bernáculo, uma tenda portátil, na adoração de Is­ rael. Êxodo usa sete capítulos (25— 31) para listar as especificações do Tabernáculo, e então dedica mais seis para a sua edificação (35— 40). O Novo Testamento menciona alguns dos simbolismos, declarando que o projeto e o uso do Tabernáculo tiveram o propósito de refletir realidades celestiais (cf. Hb 9— 10). Livros já foram escritos sobre o significado simbó­ lico dos móveis e utensílios do Tabernáculo e dos materiais utilizados. Ê dito que o ouro representa a glória de Deus; a prata, a redenção; e o bronze, o juízo; enquanto a cor azul representa o céu; o roxo, a realeza; e o escarlate, o sacrifício. No entanto, de­ vido ao fato do Antigo Testamento não interpretar os símbolos, não podemos ter certeza do que os materiais realmente significam. Diversas realidades significativas refletidas no Ta­ bernáculo são: (1 )0 Tabernáculo era um lembrete visível de que Deus está com o seu povo. (2) O Ta­ bernáculo tinha apenas uma porta, pois há apenas um caminho para se chegar a Deus (Jo 14.6). (3) O altar, exatamente do lado de dentro da porta do pá­ tio, mostrava que um pecador só poderia se apro­ ximar de Deus através do sacrifício. (4) A cortina entre o átrio santo frontal do Tabernáculo, e o átrio interior do “Santo dos Santos” era um lembrete de que os seres humanos não tinham, então, livre acesso a Deus. Quando Jesus morreu, a cortina no Templo de Jerusalém rasgou-se de alto a baixo, um sinal do livre acesso a Deus que agora desfrutamos (cf. Hb 10.8-10).

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Êxodo 24—27

“De todo homem cujo coração se mover voluntaria­ mente para dar” (Ex 25.2). O relacionamento com Deus nos dias do Antigo Testamento estava longe de ser formal e legalista. Naquela época, como ago­ ra, a verdadeira obediência e a adoração real eram questões ligadas ao coração. E significativo o fato de que todos os materiais utilizados para a constru­ ção do Tabernáculo tenham sido fornecidos pelo povo, que movidos por amor a Deus, os deu es­ pontaneamente. Deus ainda quer que as nossas ofertas e serviços sejam expressões de amor, ofertadas livremente, e não atos motivados pelo temor ou por um senso de obrigação (veja 2 Cr 29.5; 1 Co 9.17; 2 Co 9.7; 1 Pe 5.2). “Faça o tabernáculo” (Ex 26.1-37). Foi dito a Moisés que fizesse o Tabernáculo, os seus móveis e utensílios, “conforme tudo o que eu te mostrar para modelo” (25.9). O capítulo 26 nos mostra quão detalhadas eram as instruções de Deus. Podemos ficar entediados ao ler passagens repletas daquilo que aparentemente não passaria de “tri­ vialidade”. Contudo, elas nos fazem lembrar que o Senhor nosso Deus é o Deus de detalhes. Que conforto isso é para nós, pois nos tranquiliza de que Deus está preocupado com todos os aspectos da nossa vida.

“Construa o altar” (Ex 27.1-8). Um altar de bronze foi colocado exatamente do lado de den­ tro da única porta que abria para o interior do pátio em torno do próprio Tabernáculo. Este al­ tar tinha um único propósito — como um local de sacrifício. O fluxo do Êxodo nos ajuda a ver porque o altar era tão importante. Deus havia libertado Israel da servi­ dão. Ele os levou para o Sinai e lhes deu a Lei pela qual deveriam viver. Embora a lei provesse padrões claros, ela também tornava culpados aqueles que a violavam. E a culpa faz uma separação entre Deus e o povo! Imediatamente Deus agiu para prover uma maneira para que os pecadores se aproximas­ sem dEle e o adorassem. Ele mandou que Moisés construísse um Tabernáculo que simbolizaria a sua presença. E ali, em sua entrada, o Senhor mandou que Moisés colocasse um altar para sacrifícios. Israe l pecaria, mas o sangue cobriria o pecado do ofertant; e permitiria que o tal se aproximasse de Deus. A realidade simbolizada pelo altar é a morte de Cristo no Calvário. Por causa do sangue de Cristo, o nosso pecado desapareceu, e nós podemos nos chegar a Deus livremente, sabendo que o perdão é nosso. Deus jamais teve a intenção de que o pecado isolas­ se os seres humanos dEle para sempre.

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Êxodo 28— 30

DEVOCIONAL__________ Comprometimento Inteligente (Êx 24.1-8) Olhando para trás, Carol percebeu o que tinha acontecido. Bem lá no fundo, parecia que ela tinha ouvido uma voz lhe dizendo para não se casar com Stan. Mas ela havia procurado tanto por ele... Dez anos depois, após um divórcio devastador que a deixou com dois filhos pequenos, Carol estava lutando com a sua dor, mas estava crescendo como cristã. Então, quando era tarde demais, ela perce­ beu que a voz interior que ela tinha ouvido era do Espírito Santojjivisando-a. “Mas você sabe”, ela disse, “naquela época eu nem mesmo sabia que ha­ via um Espírito Santo”. Hoje Carol ensina em uma classe de mulheres di­ vorciadas em sua Igreja Metodista local. E ela está espantada sobre quão pouco a maioria delas sabe a respeito da Bíblia e da vida em Cristo. Não consigo deixar de pensar em Carol e nos mui­ tos outros crentes verdadeiros como ela quando leio estes versículos. Deus tomou o cuidado de mandar Moisés explicar exatamente que compro­ metimento com o Senhor estaria envolvido. Moi­ sés contou “ao povo todas as palavras do Senhor e todos os estatutos” (v. 3). Ele então escreveu tudo o que o Senhor dissera (v. 4). Na manhã seguinte ele se levantou e “tomou o livro do concerto e o leu aos ouvidos do povo” (v. 7). Deus pediu comprometimento. Mas Ele queria ter certeza de que os israelitas tinham entendido exata­ mente o que a vida com Ele envolveria. E verdade, naturalmente, que as pessoas podem de­ positar a sua confiança em Cristo sem um entendi­ mento profundo do evangelho ou da Bíblia. Mas a menos que continuemos ouvindo todas as palavras de Deus, lendo-as repetidas vezes, dia após dia, ou­ vindo-as constantemente, estaremos em falta com o comprometimento inteligente que Deus deseja. O comprometimento inteligente, apresentando um entendimento crescente da vontade de Deus, teria protegido Carol, e guardará você e a mim.

tração, compaixão ao ajudar os pobres, firmeza ao permanecer na verdade, e rigor ao manter a disci­ plina.” — Bede, o Venerável _

21 DE JANEIRO LEITURA 21 O SACERDÓCIO Êxodo 28—30

"Santificarei a Arão e seus filhos, para que me admi­ nistrem o sacerdócio” (Êx 29.44). Somente os sacerdotes de Israel estavam qualifica­ dos para oferecer os sacrifícios exigidos daqueles que se chegassem a Deus. O Novo Testamento, en­ sinando que todo crente é um sacerdote (1 Pe 2.9), torna especialmente significativos estes capítulos que lidam com o sacerdócio de Israel. Definição dos Termos-Chave Sacerdócio. Somente os homens da família de Arão tinham a permissão para servir como sacerdotes. A sua função era apresentar sacrifícios a Deus, buscar a direção de Deus para a nação ou os indivíduos, instruir o povo nos estatutos de Deus, servir como guardiões da aliança e do santuário de Israel e dos tesouros sagrados. Os sacerdotes, portanto, eram mediadores entre Deus e a nação Israel. Eles representavam o povo diante de Deus oferecendo sacrifícios e incenso, li­ derando a adoração, e orando em busca da direção divina. Eles também representavam a Deus diante do povo, pois os sacerdotes instruíam Israel na Lei de Deus, sendo canais através dos quais Deus trans­ mitia a sua vontade, e serviam como marcos vivos para lembrar que Deus perdoa o povo pecador. Hoje, cada cristão é um sacerdote com acesso dire­ to a Deus. Cada um de nós pode interceder a favor de outros, em nossas orações ao Senhor. Cada um de nós pode ser um canal através do qual o amor e a graça de Deus alcançam homens e mulheres perdidos.

O sumo sacerdote. O sumo sacerdote do Antigo Tes­ Aplicação Pessoal Comprometimento inteligente significa conhecer a tamento tinha um único dever que o separava dos outros membros do sacerdócio. Ele, e somente ele, Palavra de Deus, e colocá-la em prática. entrava no Santo dos Santos no Dia da Expiação Citação Importante anual, levando o sangue do sacrifício, através do “Portanto, com uma mente completa, uma fé fir­ qual o Senhor Deus prometeu que cobriria todos me, uma coragem destemida, um amor perfeito, os pecados do seu povo (cf. Lv 16). estejamos prontos para o que quer que Deus de­ O Novo Testamento apresenta Jesus Cristo seje; guardando fielmente os seus mandamentos, como o verdadeiro Sumo Sacerdote, que entrou tendo inocência em simplicidade, tranquilidade no céu com o seu próprio sangue. Na qualidade em amor, modéstia no serviço, diligência na minis- de nosso Sumo Sacerdote, o Senhor Jesus fez um

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Êxodo 28—30

sacrifício único ao oferecer a si mesmo; assim, O éfode (Êx 28.6-14). Este manto exterior tinha Ele conquistou a salvaçáo eterna para todos os duas pedras fixadas uma em cada ombro. O nome de cada tribo israelita estava gravado em uma destas que creem (Hb 10.10-14). pedras. Sempre que Arão entrava no Tabernáculo, ele representava todo o povo de Deus. Visão Geral Vestes especiais foram preparadas para o sumo sa­ Hoje, Jesus, o nosso Sumo Sacerdote, representa a cerdote (28.1-43). Arão e seus filhos deveriam ser Igreja diante do trono de Deus. O Novo Testamen­ ordenados em uma cerimônia impressionante que to diz: “Temos um Advogado para com o Pai, Jesus durava sete dias (29.1-46). Deveres sagrados foram Cristo, o Justo” (1 Jo 2.1). descritos, e fórmulas para os óleos e os incensos sa­ O peitoral (Êx 28.15-30). Essa algibeira (espécie de grados foram registradas (30.1-38). bolso) era ligada ao éfode com correntes de ouro. Doze pedras preciosas eram fixadas nela, cada uma Entendendo o Texto “Farás vestes santas a Arão ” (Êx 28.1-44). Como com o nome de uma única tribo. O texto diz: “Arão sumo sacerdote, Arão recebeu vestes distintas levará os nomes dos filhos de Israel no peitoral do para “lhe conferir distinção e honra”. Cada item juízo sobre o seu coração, quando entrar no santu­ que Arão usava também tinha um significado ário”. O simbolismo é poderoso. Aqui cada tribo, em vez de ser gravada juntamente com outras so­ simbólico. bre uma tarja de pedra nos ombros, é simbolizada individualmente por uma pedra de valor bastante elevado. Cada uma é usada sobre o coração. Jesus faz mais do que nos representar no céu. Ele carrega cada indivíduo em seu coração. Cada um de nós é conhecido e amado. Cada um de nós é precioso ao nosso Salvador. O Urim e Tumim (Êx 28.30). O peitoral era uma espécie de bolso, chamado de “peitoral do juízo”. Ele continha dois itens chamados Urim e Tumim, usados pelo sumo sacerdote para discernir a vonta­ de de Deus. Ninguém sabe exatamente como eles eram usados. Talvez um representasse não e o outro sim, e eles eram puxados às cegas pelo sumo sacerdote quan­ do indagações eram dirigidas a Deus. Sabemos, porém, que Deus os usava para transmitir a sua vontade a Israel. Hoje o nosso Sumo Sacerdote nos enviou o seu Es­ pírito Santo. Não sabemos exatamente como o Es­ pírito guia ou transmite a sua vontade a nós. Mas sabemos que, quando buscamos honestamente a direção de Deus, o Espírito Santo nos conduz em sua vontade. Manto, túnica, e mitra (Êx 28.21-42). A veste usa­ da pelo sumo sacerdote era feita do material mais fino, e lindamente elaborada. Precisamos oferecer a Deus o melhor que tivermos, e o melhor de nós. Quando servimos a Deus fielmente, Ele nos dá o seu melhor. “Incenso... cada manhã” (Êx 30.1-10). Apocalipse usa o incenso como um símbolo das orações dos santos a Deus (Ap 8.3, 4). Arão “tinha a obrigação” de queimar incenso aromático sobre um altar de

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Êxodo 28—30

ouro dentro do Tabernáculo “cada manhã”. A ima­ a Deus através dos sacrifícios oferecidos pelos sa­ gem nos lembra que a oração diária é uma “obriga­ cerdotes. ção” para os cristãos, não só para o nosso próprio proveito espiritual, mas porque é um ingrediente “Uma pia de cobre... para lavar” (Êx 30.17-21). No Antigo Testamento, água fala de purifica­ vital na adoração a Deus. ção. Os sacerdotes jamais deveriam se aproxi­ “O dinheiro das expiações” (Êx 30.11-16). Um im­ mar do Tabernáculo sem antes lavarem-se na posto de metade de um siclo, recolhido de cada pia de cobre. homem hebreu, era usado para a manutenção do Tabernáculo. O imposto é descrito como uma “Toma para ti” (Êx 30.22-38). Os óleos e as es­ expiação, ou resgate. No Antigo Testamento toda peciarias aromáticas usados na adoração eram expiação está associada ao sacrifício. Isto também compostos de acordo com fórmulas especiais. é verdadeiro aqui, pois o “serviço da tenda da con­ Na Lei do Antigo Testamento, era mantida uma gregação” sugere o pagamento pelos animais para clara distinção entre o secular e o sagrado, e as os sacrifícios que eram exigidos nas ofertas diárias, coisas sagradas jamais deveriam ser usadas para nos sábados, e nas festas especiais. qualquer propósito secular. Qualquer coisa que Observe que cada israelita pagava a mesma quantia é separada para Deus deve ser totalmente consa­ pequena. Ricos e pobres tinham o mesmo acesso grada a Ele.

DEV OCION AL_______ Sobre o seu Coração (Êx 29.15-30) Em seu livro Hide or Seek, James Dobson sugere que devemos rejeitar decisivamente os valores de uma sociedade que despreza a menina simples e o homem menos inteligente como não tendo ne­ nhum valor. Em uma sociedade que dá tanta ênfase à aparência, à inteligência, às conquistas atléticas, e às riquezas, a maioria cresce com um senso de in­ ferioridade pessoal e até mesmo de insignificância. Uma baixa autoimagem, diz Dobson, é o produto doloroso de uma sociedade que menospreza o in­ divíduo. Mas esta é a opinião da sociedade — não de Deus. A diferença é refletida no plano de Deus mostra­ do através do peitoral do sumo sacerdote. Deus especificou uma pedra preciosa diferente para re­ presentar cada tribo de Israel. Cada pedra levava o nome de uma pessoa, o antepassado que represen­ ta a tribo. Cada pedra era ligada com filigranas de ouro a uma bolsa usada sobre o coração do sumo sacerdote. Cada nome era levado ali, sobre o seu coração, para o átrio interior da própria presença do Senhor. Deus vê cada um de nós como um indivíduo. No entanto, cada um de nós é diferente, cada um é uma pedra preciosa para o Senhor. E cada um de nós está próximo do coração de Jesus Cristo, o Sumo Sacerdote de Deus. A maioria de nós não será capaz de deixar riquezas para os filhos. Mas cada um de nós tem um dom importante que pode dar. Podemos dar a cada um dos nossos filhos um senso do seu valor e peculia-

ridade que refletem os valores de Deus, e não os valores da nossa sociedade. Primeiro, porém, cada um de nós precisa aceitar o dom que Deus nos oferece no simbolismo das joias usadas sobre o coração do sumo sacerdote. O dom de perceber que nós somos especiais. A despeito do que quer que os nossos pais ou a nossa sociedade tenham declarado, temos um valor infinito para Deus. Nós somos joias. E Ele leva os nossos nomes próximos ao seu coração. Aplicação Pessoal Que quaisquer anéis ou joias que você veja lhe fa­ çam lembrar do peitoral do sumo sacerdote, e o quanto você é precioso aos olhos de Deus. Citação Importante “Se os indivíduos vivem apenas setenta anos, en­ tão um estado, ou uma nação, ou uma civilização, que pode durar mil anos, é mais importante do que um indivíduo. Mas se o cristianismo é ver­ dadeiro, então o indivíduo não só é mais impor­ tante, mas incomparavelmente mais importante, pois ele é eterno e a vida de um estado ou civili­ zação, comparada à dele, é apenas um momento.” — C. S. Lewis „

22 DE JANEIRO LEITURA DEUS REVELA A SUA IRA Êxodo 31— 34

“Irá a minha presença contigo para tefazer descansar" (Êx 33.14).

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Êxodo 31—34

Arão atendeu a exigência popular e confeccionou um ídolo para o povo adorar. Israel estava prestes a descobrir que o castigo, como também a capacita­ ção divina, são obras de Deus. Visão Geral Deus capacitou os artífices de Israel (31.1-11), e enfatizou a obrigação de guardar o sábado (w. 1218). No entanto, enquanto Moisés se encontrava com Deus no monte Sinai, Arão fez um ídolo de fundição (32.1-6), despertando a ira de Deus e tra­ zendo uma rápida disciplina (32.7— 33.6). Deus mostrou a Moisés a sua bondade (w. 7-23) e deulhe novas tábuas de pedra, nas quais Ele próprio havia escrito os seus mandamentos (34.1-35).

A nossa única explicação é que o pecado corrompe tanto os seres humanos que qualquer um é capaz de ignorar a evidência da existência de Deus. Nem mesmo a “prova” pode mudar o coração e o pen­ samento de um indivíduo que está determinado a não crer.

Entendendo o Texto “O enchi do Espírito de Deus” (Êx 31.1-11). É um engano supor que todos os dons estão listados em Romanos 12 e 1 Coríntios 12. Toda habilidade especial que Deus dá pode contribuir para adorar e enriquecer a vida de outros. A pessoa cheia “de sabedoria, e de entendimento, e de ciência em todo artifício”, assim como o pregador e evangelista, exercita um dom espiritual, e precisa contar com o Espírito de Deus.

“Arão os atendeu” (Êx 32.2). Arão e Moisés nos dão inspirações contrastantes sobre a liderança espiri­ tual. Quando o povo exigiu que Arão lhes fizesse deuses, ele fez o que eles disseram (w. 2,3). Es­ pera-se que os líderes façam o que Deus requer, e não o que o povo exige. Arão foi ainda mais além. Ele “viu” a reação deles ao bezerro de ouro (v. 5). Ele então tomou a iniciativa e construiu um altar. Como um político moderno que confia em pesqui­ sas para descobrir o que o povo quer, e então faz promessas, Arão percebeu para onde os israelitas estavam se encaminhando, e apressou-se para sair na frente! As vezes cada um de nós é tentado a usar a “saída fácil” de Arão. Acompanhar a multidão pode pa­ recer um modo de evitar um conflito desconfortá­ vel. Mas não é. Ê um modo de se tornar culpado do “grande pecado”, tanto nosso como dos outros (v. 21).

“Entre mim e os filhos de Israel” (Êx 31.12-18). O sábado é para os cristãos? O texto afirma clara­ mente que o sábado é um sinal da aliança de Deus com Israel. Desde o princípio os cristãos têm se reunido no domingo, e não no sétimo dia da se­ mana. Enquanto o sábado comemora a Criação (v. 17), o primeiro dia da semana comemora a ressurreição de Jesus (Mt 28.1; At 20.7). O que liga os dois é que cada um é um dia de descanso e adoração. E cada um serve para lembrar sema­ nalmente aos crentes do seu relacionamento com Deus.

“Disse... o Senhor a Moisés”(Êx32.9-14). Enquanto por fraqueza Arão estava cedendo aos clamores dos israelitas, Moisés estava corajosamente pleiteando com Deus. O Senhor disse a Moisés o que havia acontecido no vale, expressou a sua ira, e ameaçou destruir Israel. Ele estabeleceria a sua aliança so­ mente com Moisés. O apelo de Moisés reflete duas preocupações: des­ truir Israel faria com que os egípcios entendessem errado os motivos pelos quais Deus havia liberta­ do os israelitas; e Deus sempre se manterá fiel às promessas que fez a Abraão, Isaque, e Jacó.

O bezerro de ouro (Êx32.1—33-6). Figuras de um bezerro e um touro fundidos em metal frequente­ mente serviam como ídolos na Síria-Palestina. As figuras representavam o poder viril do deus. Em alguns casos o touro ou bezerro parece ter sido visto como um trono sobre o qual uma divindade invisível ficava em pé ou sentada. Fazer tais figuras era uma rejeição pública a Deus. Ainda pior, dizer, “Estes são teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egito”, levou o povo a creditar às divindades pagãs a obra salvadora que o Senhor havia realizado! Como algo assim poderia acontecer na própria sombra do Sinai, onde os trovões e os relâmpa­ gos testificavam sobre a presença do Deus Vivo?

“Quem é do Senhor” (Êx 32.25-35). Quando Moi­ sés viu por si mesmo a adoração idólatra de Israel, a sua reação foi muito parecida com a de Deus. Ele ficou tão irado e indignado que quebrou as tá­ buas de pedra nas quais Deus tinha escrito a Lei (v. 19). Então Moisés convocou aqueles que eram “do Senhor” para irem até ele. Quando Moisés tomou uma posição, ele descobriu que não estava sozinho. Acontece o mesmo hoje. Adolescentes, jovens, e também adultos, frequen­ temente se sentem sozinhos em seu compromisso com o que é certo. “Eu sou o único rapaz na minha classe que ainda é virgem”, queixou-se um jovem de 17 anos. Porém, quando ele tomou uma posição em favor daquilo em que acreditava, e se expôs ao

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ridículo da zombaria que lhe foi dirigida no vestiá­ rio, descobriu que não estava sozinho! Outros que tinham ficado com medo de se manifestar vieram a ele e disseram que concordavam. Moisés tomou esta posição pública. A sua coragem moveu os levitas que não haviam participado do pecado dos outros, mas que o haviam apoiado em silêncio, a unirem-se a ele abertamente. Quando a consciência nos convence de que algo está errado, precisamos seguir o exemplo de Moi­ sés e tomarmos uma posição aberta. E se outra pessoa assumir o papel de Moisés, devemos estar preparados, como estavam os levitas, para “nos unirmos a ele”. “Irmão, amigo e próximo” (Ex 32.27). Moisés disse aos levitas que atravessassem o arraial e matassem aqueles que haviam se envolvido na adoração pagã. O incidente mostra um princípio vital do Antigo Testamento. Os crentes são responsáveis por manter a santidade na comunidade da fé, mesmo quando isso significa posicionar-se contra aqueles que são próximos e caros a nós. Deus deve vir em primeiro lugar. Nenhum relacionamento deve ter prioridade sobre o nosso compromisso com o Senhor.

Moisés buscou aprender os caminhos de Deus e conhecê-lo melhor (w. 12,13). Moisés apropriou-se das promessas de Deus e afir­ mou a sua dependência no Senhor (w. 14-17). Moisés expressou o seu desejo ardente de ver a Deus mais claramente (v. 18). Estas são diretrizes úteis para os nossos próprios momentos de oração privada. Quando nos en­ contramos com Deus face a face, também deve­ mos nos concentrar em aprender os seus cami­ nhos, em nos apropriarmos das suas promessas, e em conhecê-lo mais intimamente. “O Senhor passou perante a face de Moisés” (Ex 34.1-9). No Sinai outra vez, Moisés lavrou novas tábuas de pedra. O próprio Deus escreveu nelas a sua Lei. Deus mostrou a Moisés a sua bondade, resumida em uma das confissões mais famosas do Antigo Testamento:

Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e ver­ dade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniquidade, e a transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem por inocente; que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até à terceira e quarta “No dia da minha visitação, visitarei, neles, o seu geração (w. 6,7). pecado” (Ex 32.30—33-6). Quando chegar a hora de castigar, eu castigarei. Deus perdoa. Mas Deus A segunda metade desta confissão é importante. também castiga. Pela primeira vez Israel, que tinha A compaixão e o amor de Deus devem ser vistos confirmado a aliança da Lei e prometido obedecer contra o pano de fundo da obrigação divina de a Deus, se deu conta de que há um castigo pela castigar o pecado. O Deus que “ao culpado não desobediência! tem por inocente” é em primeiro lugar o Deus Despojar dos seus atavios (33.6) era um sinal de que manifesta compaixão e graça extraordiná­ tristeza e arrependimento no mundo antigo. Final­ rias. mente Israel estava impressionado com a seriedade Alguns têm questionado a justiça de Deus ao do pecado. castigar os filhos por causa dos pecados dos pais. Os cristãos possivelmente cometem um a dois E melhor entender esta e outras expressões simi­ erros ao reagirem aos pecados pessoais. Um erro lares como uma revelação de realidade. O fato é é ser tomado por tanta culpa e medo de castigo, que o pecado afeta não só o pecador, mas os seus que falhamos em nos apropriar do perdão que é descendentes. Pesquisas têm mostrado que aque­ prometido a nós em Jesus. Se esta é a nossa tendên­ les que maltratam seus filhos foram tipicamente cia, punimos a nós mesmos desnecessariamente. O maltratados quando eram jovens. O padrão esta­ outro erro é enfatizar tanto o amor de Deus que belecido pelos pais é repetido nos filhos. ignoramos a sua santidade, e agimos como se os Desta maneira os pecados dos pais trazem casti­ pecados não fossem absolutamente nada. Se esta é go aos seus filhos, pois os filhos tendem a come­ a nossa tendência, quando chegar a hora de Deus ter os mesmos pecados. castigar, Ele castigará! “Um véu sobre o seu rosto” (Ex34.29-34). Estar na “Irá a minha presença contigo” (Êx 33.7-23). Os presença de Deus fez com que o rosto de Moisés israelitas não puderam ver o que se passava den­ resplandecesse. Nenhuma mudança visível pode tro da tenda da congregação quando Moisés se ocorrer quando você e eu passamos um tem­ encontrou com o Senhor. Mas estes versículos po com Deus. Mas encontros regulares com o nos dizem. Senhor realmente fazem uma diferença real!

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Êxodo 35— 40

DEV OCIONAL__________ Face a Face ^ (Êx 32— 33) Tendo em vista Êxodo 32, fica claro que enquanto os israelitas estavam admirados com Moisés, eles tinham pouco respeito pelo seu irmão Arão. Como sumo sacerdote, Arão tinha uma posição religiosa oficial. Mas só a posição nunca é suficiente para ganhar respeito. Muitas qualidades fizeram de Moisés um forte líder espiritual. Ele era corajoso. Buscava agradar a Deus e não aos homens. Estava disposto a tomar uma posição. Ele reuniu apoio. Orava pelos pecadores, no entanto estava disposto a confrontá-los. Mas o segredo da grandeza de Moisés é encontrado na “tenda da congregação”, onde ele se encontrava com o Senhor face a face. O texto nos diz que “entrando Moisés perante o Senhor, para falar com ele, tirava o véu até que saía... e tornava Moisés a pôr o véu sobre o seu rosto, até que entrava para falar com ele”. Ninguém sabia o que acontecia dentro da tenda, embora a coluna de nuvem descesse para permanecer na porta da tenda quando Moisés estava em seu interior. Contudo, o próprio fato de que Moisés se encontrava ali com Deus causava espanto, e a evidência da presença de Deus fazia com que o povo adorasse ao Senhor. Você e eu temos oportunidades de influenciar ou­ tras pessoas. Estas outras pessoas incluem os nossos próprios filhos, os nossos vizinhos, e colegas de tra­ balho, bem como membros da nossa igreja. Como Arão, podemos ter uma posição, tal como “pai ou mãe”, que sugere autoridade. Mas a única manei­ ra de verdadeiramente influenciarmos os outros é seguir o caminho de Moisés e nos encontrar com Deus regularmente face a face. O nosso impacto na vida deles será diretamente proporcional ao tempo que passamos face a face com Deus. Outros não saberão o que acontece durante o tempo que passamos a sós com o Senhor. Mas a presença de Deus irá conosco. Estar com Deus nos muda — e a mudança que Deus opera em nós é a chave da nossa habilidade para influenciarmos outros a adorarem a Ele, e a obedecerem-no.

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DE JANEIRO LEITURA 23 SÍMBOLOS DE DEUS Êxodo 35— 40

“O povo traz muito mais do que basta para o serviço da obra que o Senhor ordenou sefizesse” (Ex 36.5)■ A importância do Tabernáculo e dos seus móveis é vista no fato de Êxodo 35— 40 repetir, frequente­ mente palavra por palavra, a descrição do centro de adoração de Israel em Êxodo 25— 30. Por aproxima­ damente 500 anos, Israel adorou nesta tenda portátil, que com os seus móveis simbolizou verdades básicas sobre o relacionamento pessoal com Deus. Definição dos Termos-Chave Símbolos. Nas Escrituras, um símbolo é um objeto, pessoa, prática, ou palavra que representa uma rea­ lidade espiritual básica. Enquanto alguns símbolos não são claros, outros são representações poderosas e óbvias das verdades espirituais. Por exemplo, o sangue espargido sobre os altares judaicos tanto en­ sinava a dura verdade de que “o salário do pecado é a morte”, como transmitia a promessa gloriosa de que Deus aceitaria um substituto. O significado total deste símbolo somente é entendido na morte de Jesus no Calvário. Mas as realidades simboli­ zadas pelo sacrifício poderiam ser discernidas no Antigo Testamento assim como nos dias do Novo Testamento. O Tabernáculo e os seus móveis, diz o escritor aos Hebreus, “servem de exemplar e sombra das coi­ sas celestiais” (8.5). Isto é, o Tabernáculo e os seus móveis são símbolos das realidades espirituais. Ao lermos estes capítulos queremos olhar não para o obscuro, mas para as representações óbvias das ver­ dades espirituais.

Visão Geral Materiais foram recolhidos e a igreja em forma de tenda foi construída (35.1— 36.38). Móveis sim­ bolicamente significativos foram preparados (37.129), como também o pátio do Tabernáculo com o seu altar e pia (38.1-31). Vestes foram confecciona­ Aplicação Pessoal das para os sacerdotes (39.1-31). Depois que Moisés O poder espiritual depende de uma vida de cons­ inspecionou o trabalho (w. 32-43), o Tabernáculo tante oração. foi levantado e consagrado (40.1-33). Ele então foi cheio da “glória do Senhor” (w. 34-38). Citação Importante “Eu não digo nada a Deus. Eu só me sento, Entendendo o Texto olho para Ele e deixo que Ele olhe para mim.” “Do que vós tendes” (Êx 35-1-29). Os materiais uti­ — Um velho camponês de Ars lizados na construção do Tabernáculo consistiram

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Êxodo 35—40

de contribuições do povo. Completar qualquer A arca (Èx 37.1-9). O Antigo Testamento tem 22 obra de Deus neste mundo requer que o povo de maneiras de se referir à arca, incluindo “a arca do Deus contribua. testemunho” (25.22), “a arca da aliança de Deus” (Jz 20.27), “a arca do Senhor” (1 Sm 4.6), e “a arca “A habilidade para ensinar a outros” (Ex 35.30— do Senhor Soberano” (1 Rs 2.26). Aarca, uma caixa 36.21). Bezalel e Aoliabe simbolizam o cristão ma­ de madeira revestida de ouro, foi o ponto focal duro. Deus lhes deu a habilidade para fazer e, com dentro do Tabernáculo onde residia a presença de isso, a habilidade para ensinar. Deus. Uma vez por ano, o sumo sacerdote deveria Espiritualmente, as duas qualidades andam juntas, espargir sangue sobre a tampa de ouro maciço da como cara e coroa de uma mesma moeda. O crente arca, como expiação por todos os pecados de Israel. deve viver a Palavra de Deus a fim de ensinar a fé Esta tampa, onde o sangue era espargido, era o de uma maneira que transforme vidas, pois as Es­ lugar específico onde Deus podia e se encontrava crituras falam a respeito da vida. Somente quando com o homem. a fé e as ações andam juntas podemos ensinar a A arca, com a sua tampa, que era chamada de outros o verdadeiro significado do relacionamento “propiciatório”, nos lembra que os seres humanos com Deus. somente podem se encontrar com Deus porque o Se você e eu formos praticantes da Palavra, o nosso sangue do seu sacrifício perfeito, Jesus, foi derra­ próprio modo de vida ensinará aos outros a respei­ mado. to do Senhor. A mesa de ouro (Ex 37.10-16). Pães eram mantidos “Todo sábio de coração... fez o tabernáculo”(Ex 36.8- nesta mesa revestida de ouro, na qual também ha­ 28). O significado simbólico central do Tabernácu­ via pratos e bacias de ouro maciço. Comentadores lo funcionou como um sinal visível da presença de discordam sobre o significado simbólico. A mesa e Deus com o seu povo. Observe aqui que foram uti­ os seus pertences representam a provisão de Deus lizados apenas os melhores e mais caros materiais para todas as necessidades daqueles que se aproxi­ em sua construção. Deus merece — e exige — o mam dEle. O pão também é tomado para simboli­ melhor que podemos dar. zar Jesus, o Pão da Vida (cf. Jo 6). O castiçal de ouro (Ex 37.17-24). Este objeto, cha­ mado de “menorah” pelos judeus, era uma lâmpada de azeite com sete braços que fornecia a única luz dentro do Tabernáculo, no qual não havia janelas. O castiçal que dá luz é um símbolo da ilumina­ ção divina concedida àqueles que se aproximam de Deus. O castiçal também é tomado como um sím­ bolo de Cristo, a Luz do mundo (cf. Jo 9). O altar de ouro (Ex 37.25-29). O altar de ouro no interior do Tabernáculo era uma versão menor do altar de bronze que ficava do lado de fora. Incenso era queimado no altar interior; animais de sacrifí­ cio eram consumidos no altar exterior. O incenso representa as orações e a adoração daqueles que ganharam acesso a Deus através do sacrifício ofere­ cido do lado de fora. O incenso é também tomado para simbolizar a vida perfeita que Jesus viveu no nosso mundo (cf. Jo 17). ”Pez também o pátio” (Ex 38.1-31). As cortinas que formavam o pátio que cercava o Tabernáculo ti­ nham aproximadamente dois metros e meio de al­ tura! Ninguém podia enxergar através das paredes de tecido para vislumbrar a beleza do Tabernáculo. No entanto, as cortinas que formavam o pátio tam­ bém eram feitas do material mais fino. Qualquer contato com a habitação de Deus causaria uma

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Díofunda impressão positiva, devido à sua beleza. y/océ e eu entramos em contato diário com não cristãos, que podem nunca ter tido sequer um vis.umbre de Deus. Quando fazemos isso, servimos como cortinas que cercam o lugar santo. A nossa rarefa é impressioná-los com a beleza do Senhor, refletindo-a em nosso caráter.

estava ligada à mitra do sumo sacerdote de Israel: “SANTIDADE AO SENHOR”.

“E fê-la Moisés; conforme tudo o que o Senhor lhe orde­ nou, assim ofez”(Ex 40.1-33). Moisés foi responsável por supervisionar e inspecionar o trabalho do povo. Mas ele mesmo sempre permaneceu sujeito à palavra de Deus. Podemos apenas confiar nos líderes que es­ "Vestes santas para Arão” (Ex 39.1-31). A veste do tão dispostos a se sujeitarem à Palavra de Deus. sumo sacerdote também tinha um significado sim­ bólico. Como crentes sacerdotes, o estilo de vida “A glória do Senhor enchia o tabernáculo ” (Ex 40.34que adotamos deve nos vestir de beleza, e refletir o 38). A presença de Deus encheu o Tabernáculo ter­ lema que estava gravado sobre a placa de ouro que minado, e foi visível aos israelitas.

DEV OCION AL_______ Símbolos Vivos (Êx 37) O missionário metodista Larry Rankins, da ALFALIT, fala de um grupo de índios no México que se mantinham estritamente isolados, evitando os bran­ cos que os ridicularizavam e os degradavam. Então, auxiliado pela ALFALIT, este grupo de índios não só aprendeu a 1er, mas recebeu ajuda para construir uma ponte que atravessava um rio perigoso que os separavam da cidade. Durante um momento de tes­ temunho, perto do fim do projeto, um dos índios mais velhos se levantou, e contou como o seu povo tinha se sentido inútil e envergonhado diante dos brancos [que se impunham como] superiores. Ago­ ra, não só capazes de 1er, mas também capazes de projetar e construir a sua própria ponte, eles perce­ beram que eram um povo que poderia se afirmar, e se orgulhar. Deus usou a ponte que os índios construíram como um símbolo — representando que eles tinham va­ lor pessoal. Que fundamento para o ministério do evangelho. Pois a Boa-Nova do evangelho é que cada ser humano tem tanto valor aos olhos de Deus, que Jesus, o Filho de Deus, deu a sua própria vida para remi-los. Deus ainda usa símbolos, e o símbolo que mais fre­ quentemente serve como uma ponte entre Deus e os perdidos é um símbolo humano — o crente. Se olharmos de perto as descrições feitas por Moisés dos artigos simbólicos no Tabernáculo, aprendere­ mos três coisas sobre as pessoas que servem a Deus, como símbolos. Os símbolos humanos devem ser bonitos. O brilho do ouro refletia cada raio de luz sobre os artigos que estavam no interior do Tabernáculo. Nós re­ presentamos melhor a Deus quando a sua beleza é vista nas nossas vidas e nas nossas atitudes em relação aos outros. 1 Timóteo 1.5 (ARA) diz que o objetivo de ensinar a doutrina cristã é “a caridade

[ou amor] de um coração puro, e de uma boa cons­ ciência, e de uma fé não fingida”. Quando verda­ deiramente amamos aos outros como Jesus amou, a sua beleza brilha através das nossas vidas. Símbolos humanos devem ser complexos. Observe o detalhe complexo elaborado no castiçal de ouro. A nossa religião não é estereotipada, tornando-nos cristãos idênticos, como se viéssemos de uma linha de produção. Cada crente é um original “especial”. Cada um de nós possuiu dons diferentes, personali­ dades diferentes, modos diferentes de servir e glorifi­ car a Deus. Precisamos apreciar as diferenças uns dos outros, pois é frequentemente na maneira que outro cristão difere de nós que descobrimos uma nova ins­ piração espiritual. Símbolos humanos são custosos. O metal mais caro então conhecido, o ouro, revestiu completamente os móveis do Tabernáculo. Contudo, um ser huma­ no redimido é o mais valioso de todos, pois fomos comprados pelo preço mais alto que já existiu e que existirá: a própria vida de Jesus Cristo. Aplicação Pessoal As outras pessoas veem os cristãos como represen­ tantes de Deus. Nós somos símbolos, quer deseje­ mos, ou não. Citação Importante “Os hereges se converterão muito mais facilmente por meio de um exemplo de humildade e outras vir­ tudes do que por qualquer demonstração externa ou batalhas verbais. Assim, armemo-nos com orações devotas e comecemos a mostrar sinais de humildade genuína, encaminhando-nos com pés descalços para combatermos Golias.” — Dominic O Plano de Leituras Selecionadas continua em LEVÍTICO

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LEVÍTICO INTRODUÇÃO Por volta de 2.100 a.C., Deus escolheu um homem, Abraão, e lhe fez algumas promessas especiais. O Senhor seria o Deus de Abraão e dos seus descendentes. Ele também disse que seus descendentes seriam escravos no Egito durante cerca de 400 anos. Aquilo que Deus havia predito aconteceu. Um grupo de seus descendentes, exatamente 70 deles, se esta­ beleceu no Egito, seus membros eram chamados de “israelitas” por causa de Israel, neto de Abraão, e lá eles se multiplicaram rapidamente. Durante esse tempo, os israelitas tornaram-se escravos dos egípcios e, porque estavam esmagados com a opressão exercida pelos egípcios, eles clamaram ao Deus dos seus país. Por volta de 1.450 a.C., o Senhor usou Moisés, um israelita que havia sido adotado pela família real egíp­ cia, para libertar o seu povo. A história dos milagres que Deus realizou para o seu povo está registrada no livro do Êxodo. Esse livro também descreve a viagem do povo até o Sinai, onde Deus lhes deu uma Lei pela qual deviam viver, e um Tabernáculo que simbolizava sua presença entre eles. O livro de Levítico focaliza o relacionamento de Deus com o povo que escolheu. Esse livro contém as instruções especiais que Ele deu a Moisés durante o ano em que os israelitas estiveram acampados diante do monte Sinai. Essas instruções mostram como o povo escolhido poderia manter um relacionamento íntimo e permanente com o Deus vivo. Levítico é essencialmente um livro sobre adoração, um livro que trata dessa intimidade com Deus. Atu­ almente, podemos aplicar muitos dos princípios vistos nas práticas estabelecidas para Israel a fim de aprofundar o nosso relacionamento pessoal com o Deus único e verdadeiro. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. A Adoração como Sacrifício e Oferta................................................... II. A Adoração como Serviço de Dedicação............................................ III. A Adoração como Separação.............................................................. IV. A Adoração como Garantia de Salvação............................................ V..A Adoração como uma Vida de Santidade......................................... VI. A Adoração como um Compromisso Pessoal..................................

....Lv 1— 7 ..Lv 8— 10 Lv 11— 15 Lv 16— 17 Lv 18— 22 ,Lv 23— 27

GUIA DE LEITURA (6 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 24 25 26 27 28 29

Capítulos 1— 7 8— 10 11— 15 16— 17 18— 22 23— 27

Passagem Essencial 4.1— 5.13 9 11 16 19.1-18 25.8-55

LEVÍTICO 24

D E JANEIRO LEITURA 24

REGRAS PARA OS SACRIFÍCIOS Levítico 1— 7

“Se qualquer outra pessoa do povo da terra pecar por erro, fazendo contra algum dos mandamentos do Se­ nhor aquilo que se não devefazer e assim for culpada” (Lv 4.27). O sacrifício e a oferta simbolizam a adoração de um povo que cometeu uma falta, que encontra o perdão e que, ao encontrá-lo, passa a gozar da comunhão com o Senhor. Nesses capítulos existe uma variedade de sacrifícios e de ofertas que falam sobre esse relacionamento. Definição dos Termos-Chave Sacrifícios. O sacrifício de animais já era um ele­ mento da adoração do Antigo Testamento antes de Deus dar a Lei a Moisés. O próprio Deus reali­ zou o primeiro sacrifício da história ao matar dois animais para providenciar roupas para Adão e Eva depois que ambos pecaram (cf. Gn 3.21). Os sacrifícios descritos em Levítico 1— 7 estão além do sacrifício pelo pecado. Os holocaustos simboli­ zavam uma consagração completa e a oferta de co­ munhão simbolizava um íntimo relacionamento. Cada sacrifício exigia que o ofertante colocasse as mãos na cabeça da sua oferta identificando-se com ela na entrega da sua vida a Deus. Que saudável lembrança para nós. Jesus deu a sua vida para podermos receber o perdão. Mas, como agora somos o seu povo, não devemos viver para nós mesmos a vida que Ele redimiu. Ao contrá­ rio, devemos nos comprometer alegremente a viver para o Senhor, em consagração e santidade.

ofertas de grãos (2.1-16), ofertas de comunhão (3.1-17), ofertas pelo pecado (4.1— 5.13) e ofertas pela culpa (v. 14— 6.7) (veja quadro adiante). De­ pois, Deus deu a Moisés instruções sobre os sacer­ dotes que faziam essas ofertas (v. 8— 7.21). Israel não devia comer a gordura ou o sangue dos animais (w. 22-27) e deveria dar aos sacerdotes, partes dos animais sacrificados (w. 28-38). Entendendo o Texto “ Trazei as ofertas” (Lv 1.1-17). Todo holocausto re­ presentava um sacrifício voluntário e simbolizava o compromisso assumido pelo adorador com Deus. Era uma expressão de gratidão, uma indicação do seu desejo de estabelecer uma comunhão com o Senhor. O derramamento de sangue representa uma expiação — cobria o pecado. Mas uma coisa fazia essa oferta ser diferente das outras: todo o animal, e não apenas uma parte dele, devia ser consumido pelo fogo. Também para mim e para você, a consagração é um ato voluntário. Recebemos a salvação quando aceitamos a Cristo, o único Sacrifício do qual todo o sistema do Antigo Testamento está falando. Mas somente respondemos inteiramente a Jesus quan­ do também decidimos dedicar a nossa vida ao Se­ nhor. Provavelmente, Paulo estava pensando nos holocaustos do Antigo Testamento como um todo quando escreveu Romanos 12.1, “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”.

Visão Geral Deus deu a Moisés instruções detalhadas para a “A s ofertas de manjares” (Lv 2.1-16). A oferta dos comunidade em relação aos holocaustos (1.1-17), grãos exigia que ela fosse feita com a flor da farinha

Levítico 1—7

e que o grão não fosse inteiro ou de qualidade infe­ rior. E os grãos deviam estar misturados com azeite de oliva, obtido depois de esmagar com grandes pedras o fruto daquela árvore. Esta oferta, que devia ser preparada pelo adorador, simboliza o trabalho das nossas mãos. A expiação era alcançada através do sacrifício do animal e serve para nos lembrar de que nada que uma pessoa possa fazer será suficiente para pagar pelos seus pecados. O sangue deve ser derramado e uma vida deve ser oferecida. A oferta de grãos lembra-nos de que uma vez que a expiação foi feita, tudo o que fizermos irá contar. Podemos usar a nossa vida redimida para trabalhar para Cristo e pelo seu reino.

ou “bem-estar”. A oferta de comunhão representa a celebração da harmonia e da paz interior expe­ rimentadas por um pessoa que está em paz com Deus. Assim sendo, ela era uma expressão de grati­ dão e de alegria (cf. 7.12,13). A família do ofertante comia, em conjunto, as partes do animal sacrificado. Isso tem um simbo­ lismo muito poderoso, pois retrata os membros da família como convidados da mesa de Deus. No Oriente Médio, servir alimentos era uma honra e uma expressão de amizade. Ao servir o alimento o anfitrião assumia a obrigação de proteger seus hóspedes. Dessa maneira, a oferta de comunhão nos lembra como a recepção de Deus é completa. Nós nos sentimos protegidos e saudáveis na pre­ “O sacrifício de comunhão” (Lv 3.1-17). A palavra sença do Senhor nosso Deus. E Ele se compro­ hebraica é shalorn, ou “paz”. O sentido básico desse mete totalmente com aqueles que se aproximam poderoso termo hebraico é “completa integridade” dEle com fé.

Oferta Queima total (animal) Cereal (grãos, bolos) Comunhão* (animal)

Pecado

Culpa (animal)

SACRIFÍCIOS E OFERTAS Levítico 1.1— 6.7 Escritura Procedimento Disposição O sangue é Lv 1.3-17; 6.8-13 Colocar as mãos N m 28.1-8 sobre a cabeça do derramado sobre animal sacrificado. o altar, o resto do Matá-lo no altar. animal é quei­ mado. Lv 2; O alimento é Uma porção preparado pelo 6.14-23 é queimada, o ofertante e levado resto vai para os ao sacerdote. sacerdotes. Lv 3; Colocar as mãos O sangue é 7.11-16 sobre a cabeça do derramado sobre animal sacrificado. o altar, parte Matá-lo na porta é queimada, do Tabernáculo. parte é dada aos sacerdotes, e parte é comida pela família do ofertante. Colocar as mãos Lv 4.1-25; O sangue nos 6.24-30; 12.6-, sobre a cabeça do chifres e na base 14.12-14; animal. Matá-lo do altar. Partes 16.10,11 são queimadas, sobre o altar. partes são dadas aos sacerdotes. Colocar as mãos Lv 5.14— 6.7; Sangue derra­ 14.12-18 na cabeça do mado no chão. animal sacrificado. Partes são dadas Deve fazer restitui­ aos sacerdotes. ção e pagar uma penalidade.

Simbolismo Compromisso total do adorador com o Senhor. Doação de talentos pessoais para enri­ quecer o compro­ misso. Refeição comum como hóspedes de Deus, estando assim sob a sua proteção.

Confissão do pecado e identifica­ ção com o animal sacrificado que morre no lugar do pecador. Confissão do pecado e restaura­ ção do relaciona­ mento com Deus a quem o adorador ofendeu.

*Ofertas de ação de graças (Lv7.12; 22.29), ofertas votivas (Lv 7.16,17; N m 6.17-20), e ofertas voluntárias (Lv 7.16; 22.29; N m 15.3), são tipos de ofertas de comunhão.

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Levítico 1—7

'Sacrifícios pelos erros dos sacerdotes” (Lv 4.1— 5.13). A oferta pelo pecado não era voluntária. Aquele que pecasse, fosse um sacerdote que fora ungido, fosse toda a comunidade, um líder ou qualquer outro membro comum da comunidade, deveria obedecer ao mesmo procedimento. Para alguns deve ter sido difícil fazer a oferta pelo pecado, pois, como se tratava de um ato públi­ co, ela servia como uma aberta admissão do pe­ cado. Levítico 5.5,6 deixa bem claro a exigência de Deus. “Será, pois, que, culpado sendo numa destas coisas, confessará aquilo em que pecou. E a sua expiação trará ao Senhor, pelo seu pecado que pecou: uma fêmea de gado miúdo, uma cordeira ou uma cabrinha pelo pecado; assim, o sacerdote por ela fará expiação do seu pecado”. Para alguns líderes deve ter sido particularmente difícil obedecer ao princípio expresso aqui. Nem mesmo os pecados involuntários, que estão sen­ do considerados nessa passagem, deveriam ser escondidos, mas tratados abertamente. As vezes, os cristãos ficam preocupados com o fato de que se os outros virem suas faltas, irão duvidar do evangelho. Portanto, esses cristãos vestem másca­ ras, fazem de conta que nada fizeram de errado, inventam desculpas e, geralmente, se recusam a tratar até mesmo os comportamentos involuntá­ rios que possam tê-los deixado em falta, ou até ferido os outros. Esse capítulo, com as suas repetidas afirmações do tipo “devem trazer” lembra-nos de que lidar com o pecado pessoal não é uma opção de uma comunidade de crentes. Trata-se de uma exigência necessária para um relacionamento saudável com Deus. “O sacrifício pelos pecados ocultos” (Lv 5.14— 6.7). A oferta pela culpa volta ao tema da oferta pelo pecado. Se uma pessoa infringir qualquer um dos mandamentos do Senhor, mesmo que seja por ig­ norância, será culpada e considerada responsável. A oferta pela culpa serve como uma penalidade pelos erros cometidos. Por um lado, Deus deve receber uma reparação pelo uso indevido de qual­ quer coisa que seja santa. Por exemplo, uma pes-

soa que utilize o dízimo do Senhor para pagar as suas próprias despesas violou uma “coisa santa”. O dinheiro usado deveria ser reposto com um acréscimo de um quinto e, a título de penalidade, um animal deveria ser apresentado como oferta pela culpa. Por outro lado, se alguém pecasse contra outra pessoa, ele ou ela deveria fazer uma restituição total e, além do acréscimo de um quinto, um ani­ mal deveria ser apresentado como uma oferta pela culpa, a título de penalidade. A oferta pela culpa lembra-nos de que somos res­ ponsáveis pelos nossos atos e pelo mal que possa­ mos fazer aos outros, mesmo quando esse mal não for proposital. “Dá ordem a Arão e a seus filhos” (Lv 6.8— 7-21). Moisés deu instruções específicas aos sacerdotes sobre como deviam fazer cada oferta. “Fala aos filhos de Israel” (Lv 7.22-36). Dois ele­ mentos do sistema de sacrifícios foram enfatizados nessas palavras pronunciadas a toda comunidade. Ninguém devia comer a gordura ou o sangue dos animais (veja Levítico 17) e as pessoas deviam certificar-se de que os sacerdotes receberiam a sua parte. “Esta é a lei do holocausto” (Lv 7.37,38). Séculos mais tarde, muitas pessoas têm discutido sobre quem teria registrado a história sagrada para justi­ ficar essas práticas. Esses dois versos nos contam, inequivocamente, que foi Moisés. Como? Estes versos foram escritos segundo um antigo sistema de inscrição da Mesopotâmia, uma forma usada no segundo milênio antes de Cristo, com o qual Moisés estava bastante familiarizado. No entanto, essa forma não foi usada nos séculos posteriores quando, segundo alguns sugeriram, os documentos bíblicos foram realmente escritos. Esses versos representam uma clara indicação da autoria mosaica e da sua data, da mesma maneira como a página de um livro moderno indica a data e o lugar da sua publicação.

DEVOCIONAL______

“Não Foi p or Querer” Não deu outra, na próxima corrida Sara chocou-se (Lv 4.1— 5.39) com Sue, sua mãe, e machucou suas costas. — Cuidado, você pode machucar alguém. — Sue — Sara! — mamãe gritou. — Isso me machucou. preveniu Sara, de nove anos, que estava correndo — Não foi por querer. — respondeu Sara. pela casa junto com Maximiliano, nosso cãozinho Essa desculpa, “Não foi por querer” se infiltrou em da raça shnauzer. grande parte da teologia popular. Mesmo agora,

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Levítico 8— 10

um dos meus amigos sofreu uma séria persegui­ ção por parte de um conhecido líder cristão cuja desculpa foi, “Não tive a intenção de machucá-lo”. Sua teoria é que se os atos que prejudicaram a outra pessoa não foram realizados através de uma viola­ ção consciente e intencional da vontade de Deus, náo houve nenhum pecado nesta situação. Portan­ to, ele não foi responsável pelo dano que causou à vida de um irmáo. Brenda, uma cristã muito imatura do nosso gru­ po de estudo bíblico, chegou ao extremo. Ela ar­ gumentava que se alguma jovem solteira tomava anticoncepcionais em uma determinada data, era porque estava planejando manter relações sexuais e isso era pecado. Mas, se “isso simplesmente acon­ tecesse”, sem qualquer planejamento, então não seria pecado! Essa é uma teologia do “não foi por querer”, levada ao absurdo. Essa passagem de Levítico nos convida a reavaliar a nossa teoria do pecado e da responsabilidade. Muitas e muitas vezes o texto diz, se alguém “pecar involun­ tariamente e praticar o que foi proibido em algum dos mandamentos da lei” esse alguém é culpado. Somos plenamente responsáveis pelos nossos atos, pela nossa involuntária violação da Lei de Deus e também por qualquer mal involuntário que cau­ samos a alguém. A vista de Deus, esses atos são pecados. Por que nessa passagem Deus insiste tanto sobre os pecados involuntários? Primeiro, porque Ele quer que aceitemos a responsabilidade daquilo que fa­ zemos. Não podemos ser amigos de Deus, ou dos outros, se continuamos a nos desculpar dos atos pecaminosos que praticamos lamentando: “Mas foi sem querer”. Segundo, Deus insiste nesses pecados porque quando confessamos e corrigimos o mal que causamos, Ele está pronto para nos perdoar. Foi difícil para Sara, com seus nove anos, enten­ der que precisava aceitar a responsabilidade e di­ zer: “Sinto muito, não vou mais correr pela casa”. Ela preferia dar a desculpa de que havia sido “Sem querer”. Na verdade, sabemos que ela não tinha in­ tenção de machucar a mamãe. Mas, com intenção ou não, o fato é que machucou. Será essencial para Sara aprender a ser responsável pelos seus atos se deseja crescer e tornar-se uma pessoa madura e gen­ til, e também aprender a pensar antes sobre como deve fazer para evitar causar danos aos outros. Isso também é difícil para os adultos. Muitas vezes, dizemos sinceramente: “Não tive intenção de fazer isso a você”, no entanto, aquilo que aprendemos nessa passagem é que dizer, “Não tive a intenção” não é nenhuma desculpa. Portanto, devemos aceitar a responsabilidade pelos nossos atos. Devemos praticar a confissão dos pe­

cados e das faltas que cometemos sem querer para, então, podermos atingir aquele novo nível de ma­ turidade espiritual que nos aguarda. Aplicação Pessoal Quando é mais provável que você diga, “Mas, foi sem querer”? De que outra maneira você poderia agir nessa situação? Citação Importante “Qual é a essência do ritual religioso na Bíblia? Ele é um meio de comunicação entre Deus e o homem, uma peça de teatro realizada em um palco e assis­ tida por espectadores humanos e divinos. Os ritu­ ais do Antigo Testamento expressam visualmente, e não verbalmente, as verdades religiosas. Eles são o equivalente antigo da televisão.” — Gordon J. Wenham 25 DE JANEIRO LEITURA 25 ADORAÇÁO COM O SERVIÇO Levítico 8— 10 “Então, disse Moisés à congregação; Isto é o que o Se­ nhor ordenou que sefizesse” (Lv 8.5). Estes capítulos descrevem a iniciação de Arão e de seus filhos no sacerdócio de Israel. De maneira significativa, cada um deles ressalta que, embora o fato de oferecer ao Senhor um serviço consagra­ do seja uma forma pela qual podemos mostrar a nossa adoração, o nosso ministério deve ser execu­ tado totalmente de acordo com os mandamentos de Deus. Visão Geral Aarão e seus filhos foram consagrados em uma ce­ rimônia comovente que durou sete dias (8.1-36). Eles oficiaram nos sacrifícios oferecidos da maneira prescrita (9.1-24). Nadabe e Abiú morreram por oferecer “fogo estranho”, e Moisés insistiu na im­ portância de servir a Deus exatamente como Ele havia prescrito (10.1-20). Entendendo o Texto “Sua consagração levará sete dias” (Lv 8.1-36). Uma comovente cerimônia de ordenação serviu para acentuar a importância do sacerdócio no Antigo Testamento e o admirável privilégio dos sacerdotes. Os homens, suas vestes e tudo que deveriam usar para servir ao Senhor eram reservados totalmente para o serviço a Deus. Durante o serviço da consagração, Moisés colheu o sangue de um carneiro e colocou um pouco dele sobre o lóbulo da orelha direita do sacerdote, sobre

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Levítico 8— 10

o polegar da mão direita e sobre o polegar do seu pé direito (w. 22,23). Aqueles que servem a Deus devem estar prontos para ouvir a sua voz, para de­ dicar todo o seu esforço ao serviço do Senhor e an­ dar segundo os seus caminhos. Esse padrão também é verdadeiro para os sacerdo­ tes de nossos dias. Se quisermos adorar a Deus com o nosso serviço, devemos também ouvi-lo, deve­ mos nos esforçar para alcançar os seus fins e manter nossa santidade pessoal através da obediência.

rar que o povo tenha “jubilado e caído sobre as suas faces” quando viu as chamas celestiais. A “Alliance Church” na cidade de Salem, Oregon, adotou a prática de colocar “Cartões de Agrade­ cimento” nos bancos da igreja. Seus membros são orientados no sentido de enviar um agradecimento às pessoas que lhes ministraram naquela semana, ou que os ajudaram de alguma maneira. Os cris­ tãos também se alegram e se sentem levados ao culto quando veem provas de que Deus aceitou seus serviços e os usou para enriquecer a vida de “Fogo saiu de diante do Senhor e consumiu o holo­ outros. causto” (Lv 9.1-24). Os sacerdotes começaram seu ministério oferecendo uma série de sacrifícios, pri­ “Fogo estranho” (Lv 10.1-7). Não podemos de­ meiro por eles mesmos, e depois pelo povo. terminar os motivos que levaram Nadabe e Abiú A sequência destes sacrifícios é bastante significa­ a fazer uma oferta que os levou à morte. Sabe­ tiva. Primeiro, a oferta pelo pecado (w. 3,8,15), mos, na verdade, que eles infringiram um claro segundo, o holocausto (w. 3,12,16), e terceiro a mandamento de Deus a respeito de como Ele oferta pacífica e da comunhão (w. 4,18). A oferta devia ser servido. A frase “Fogo estranho” suge­ pelo pecado fala da expiação pela qual os pecados re que houve uma infração. O incenso só podia do ofertante são cobertos. O holocausto fala sobre ser queimado sobre carvões tirados do altar do a consagração pessoal e voluntária da própria pes­ sacrifício (cf. 16.2). Além disso, somente Arão soa a Deus. A oferta da comunhão fala da ação de podia oferecer incenso dentro do Tabernáculo graças e do completo bem-estar. (Êx 30.1-10). Essa mesma sequência é obedecida na nossa experi­ Qualquer que tenha sido o seu motivo, os atos de ência com o Senhor. Devemos, em primeiro lugar, Nadabe e Abiú mostraram um total desprezo em confiar no Salvador que morreu pelos nossos peca­ relação às detalhadas e cuidadosas instruções de dos e depois podemos dedicar nossa vida ao seu ser­ Deus sobre o serviço sacerdotal. Imediatamente, viço. Somente então, em um relacionamento pessoal começou a surgir um fogo vindo do Senhor e os com Jesus e através do nosso compromisso com Ele, consumiu e eles “morreram perante o Senhor”. iremos encontrar a alegria e a paz interior. Deus explicou este castigo: “Serei santificado na­ Os últimos versos, que falam sobre o fogo do Senhor queles que se chegarem a mim, e serei glorificado que consumiu os sacrifícios, indicam que Deus es­ diante de todo o povo”. tava satisfeito com os sacrifícios e tinha aceitado as Aqueles que afirmam servir a Deus devem honráofertas dos sacerdotes e do povo. Não é de se admi­ lo servindo-o da maneira como Ele prescreveu. E é

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Os incensórios nos quais o incenso era queimado eram pequenos, e tinham a forma de uma pá. Muitos incensórios, como aqueles que são mostrados aqui, foram recuperados de centros religiosos por todo o Oriente Médio.

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Levítico 8— 10

particularmente importante que aqueles que afir­ mam representar a Deus sejam obedientes a Ele. Em certo sentido, Deus colocou a sua glória e a sua honra nas nossas mãos.

é chamado para ensinar não pode, simplesmente, sofrer qualquer prejuízo das suas faculdades cau­ sado pela bebida ou, como nos tempos modernos, pelas drogas.

“Vinho ou bebida forte [fermentada]... não bebereis’’ (Lv 10.9-11). No Antigo Testamento, o vinho está frequentemente associado à alegria e à celebração. O vinho [não fermentado] era bebido em banque­ tes e festas (1 Sm 25.18), oferecido como presente (2 Sm 16.1) e até derramado sobre as ofertas feitas a Deus (Êx 29.40; Lv 23.13; Nm 15.7). Embora muitas vezes o vinho seja símbolo de júbi­ lo, a embriaguez e o abuso do álcool eram rigorosa­ mente censurados. Os sacerdotes eram advertidos a nunca beber vinho quando entravam no Taber­ náculo para servir ao Senhor. Por quê? Porque os sacerdotes tinham a responsabilidade de “fazer di­ ferença entre o santo e o profano” e de “ensinar aos filhos de Israel todos os estatutos que o Senhor lhes tem falado”. Aquele que serve a Deus, e que

“Será que o Senhor ficou satisfeito?” (Lv 10.12-20). Arão e seus dois outros filhos continuaram a mi­ nistrar no Tabernáculo depois que Nadabe e Abiú foram mortos. Entretanto, podem ter sentido que somente eles podiam oferecer os sacrifícios exigi­ dos. Moisés havia ordenado que não se lamentas­ sem da maneira como os israelitas se comportavam habitualmente quando a morte os atingia (v. 6). Mais tarde, naquele mesmo dia, Arão e seus filhos não comeram a sua parte da oferta pelo pecado, como Moisés havia ordenado. Moisés ficou zanga­ do, mas Arão explicou: Será que Deus ficaria con­ tente se Arão tivesse exercido o seu privilégio como sacerdote para se regalar com a oferta pelo pecado, tendo em vista aquela trágica desobediência e as suas consequências?

DE V OCIONAL_______ Jesus E Senhor

podem ser aplicadas em um debate sobre a figura do Senhor. Em primeiro lugar, nós devemos nos aproximar de Deus através de Jesus, e essa é a nossa oferta pelo pecado. Crer nEle como nosso Salvador representa o fundamento da nossa salvação. Segun­ do, uma vez salvos, podemos nos comprometer voluntariamente com Jesus, como sendo o nosso Senhor. Terceiro, logo depois desse total compro­ misso experimentaremos a paz que Deus torna dis­ ponível a todos aqueles que são seus. Parece que essa analogia está do lado daqueles que dizem que você pode aceitar a Jesus como Salvador, sem se comprometer com Ele como Senhor. Mas, essa sequência nunca tem fim! A experiência cristã se compõe de uma série de passos em direção a essa intimidade. Deus nunca pretende que um crente salvo deixe de se comprometer totalmente com a sua comunhão. Isso representa um grande estímulo. Sim, é emo­ cionante conhecer a Jesus como Salvador. Mas a salvação é o começo, e não o fim, da nossa jornada em direção a Deus. Somente à medida que você e eu continuemos a caminhar em direção a Ele, dan­ do, diariamente nossos passos de compromisso e obediência, iremos descobrir a plenitude da alegria de conhecer as promessas de Jesus.

(L V 9teológicas ) Essa é uma das questões que as pesso­ as gostam de discutir. Você consegue aceitar Jesus como Salvador sem aceitar também que Ele é o Senhor? Um lado argumenta que tudo o que Deus exige é que creiamos sinceramente que Jesus morreu pe­ los nossos pecados, enquanto o outro afirma que, como Jesus é o Senhor, para que alguém possa ver­ dadeiramente crer nEle deverá também aceitar que é ao mesmo tempo Salvador e Senhor. Estabelecer uma analogia com Levítico 9 irá nos ajudar a resolver a questão. Observe a sequência dos sacrifícios oferecidos pelos sacerdotes e pelo povo. Primeiro, era sacrificada a oferta pelo pecado e esse sacrifício devia cobrir os pecados do ofertante. Como Levítico 4— 5 afirma repetidas vezes que a pessoa que se aproxima de Deus deve levar essa oferta se deseja ser aceita. O holocausto era sacrificado em seguida. Esse sacrifício simbolizava o total compromisso do fiel para com Deus e era uma oferta voluntária que representava o compro­ misso pessoal que se deve esperar de um cristão que, conscientemente, se compromete com Jesus como seu Senhor. Em terceiro lugar era sacrifica­ da a oferta pela comunhão. Essa oferta fala sobre a inteireza e a harmonia interior experimentadas Aplicação Pessoal pela pessoa que vive em uma íntima amizade com Procure pensar que a fé cristã é uma caminhada em o Senhor. Esse padrão sugere várias realidades que direção à intimidade com Deus. A que distância

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Levítico 11— 15

você está nessa caminhada? Do que você precisa e demonstravam que a nação devia ser separada para dar o próximo passo? para o Senhor. Separação. A ideia básica era remover uma coisa de outra coisa e, dessa maneira, fazer uma distinção entre as duas. O relacionamento da separação com as inúmeras leis encontradas nessa seção está defi­ nido em Levítico 20.24,25, onde o Senhor expli­ cou: “Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos separei dos povos. Fareis, pois, diferença entre os animais limpos e imundos e entre as aves imundas e as lim­ pas”. Essas práticas um pouco peculiares, descritas 26 DE JANEIRO LEITURA 26 nesses capítulos de Levítico, tinham a finalidade de DEVOCIONAL COM O SEPARAÇÃO lembrar, constantemente, ao povo de Deus que eles Levítico 11— 15 eram diferentes de todas as outras nações por causa do seu relacionamento pessoal com o Senhor. Você deve “fazer diferença entre o imundo e o limpo” (Lv 11,47). Visão Geral As leis tinham o propósito de separar os israelitas Algumas leis do Antigo Testamento parecem ter, dos outros povos, regulamentar sua alimentação como principal finalidade, o estabelecimento de (11.1-47) e purificá-los da imundície (12.1-8). A um estilo único de vida para o povo de Deus. Os fim de proteger a saúde de Israel, os portadores de israelitas eram constantemente lembrados a respei­ doenças infecciosas da pele eram isolados (13.1to do relacionamento com o Senhor e sobre sua 46), e as vestes que estivessem contaminadas por diferença em relação aos outros povos da terra. fungos eram queimadas (w. 47-59). Um ritual de purificação era realizado para as pessoas que tives­ Definição dos Termos-Chave sem sarado de alguma doença de pele (14.1-32), e Imundo e limpo. A palavra hebraica taher significa se houvesse uma reinfestação de fungos em alguma “ser ou se tornar puro”, enquanto Tame’ significa casa, ela deveria ser abandonada (w. 33-57). As “ser ou se tomar imundo, corrompido”. Em Leví­ várias excreções do corpo humano, que tornavam tico, assim como em Números, estas palavras estão uma pessoa impura, exigiam que ela fosse purifica­ associadas a um ritual ou a um cerimonial. Pessoas da (15.1-33). “limpas” tinham permissão de participar de todos os ritos religiosos de Israel. As pessoas que eram Entendendo o Texto “temporariamente” imundas não tinham permissão “Estes são os animais que comereis” (Lv 11.1-47). de juntar-se à comunidade nas suas orações ou de Foram apresentadas três teorias para explicar esses comer a carne que havia sido sacrificada ao Senhor. regulamentos sobre a alimentação. (1) Eles tinham Em alguns casos, a pessoa era isolada fisicamente a finalidade de ajudar Israel a evitar os ritos dos das outras enquanto estivesse “imunda”. Somente sacrifícios pagãos. (2) Eles tinham a finalidade de mais tarde nos Profetas, a Bíblia passa a empregar levar Israel a fontes saudáveis de alimentos e evi­ “limpo” e “imundo” para descrever a condição mo­ tar aqueles animais que possivelmente poderiam ral de uma pessoa. transmitir doenças. (3) Eles tinham a finalidade Nestes capítulos, as palavras limpo e imundo não de ajudar Israel a manter-se separada das outras têm nenhum sentido moral de “bom” ou “mau”, nações e fazer com que os judeus se conservassem nem seu sentido é de ser intrinsecamente “certo” constantemente cientes da sua obrigação de obede­ ou “errado”, embora ignorar alguma das leis de cer a todos os mandamentos de Deus. Deus fosse um pecado para Israel. Em Levítico, Os cristãos não têm obrigação de obedecer às leis as regras sobre a limpeza serviam para mostrar alimentares do Antigo Testamento (cf. At 10.9-22; ao povo de Deus que o Senhor estava intima­ G1 2.11-16). A nossa separação deve ser interior, e mente envolvido com sua vida diária. Ele estava não pode ser definida por aquilo que comemos ou preocupado com aquilo que comiam, com suas por quaisquer outras práticas morais neutras. No doenças, com o nascimento e a morte, e com as entanto, devemos nos manter cientes, em todo o práticas que promoviam a saúde pública. E, de tempo, de que somos um povo separado por Deus. uma maneira bastante real, essas regras faziam Ele está intimamente preocupado com aquilo que com que Israel se diferenciasse dos outros povos, acontece na nossa vida cotidiana.

Citação Importante “Almeje a presença de Deus com pequenas, mas frequentes manifestações de coração. Admire sua beleza, peça sua ajuda, coloque-se espiritualmente ao pé da sua cruz, adore a sua bondade, converse com Ele sobre a sua salvação, dê a Ele toda a sua alma mil vezes por dia.” — Francis de Sales

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Levítico 11— 15

Animais ruminantes, com unhas fendidas — carneiro, boi cabra, etc. todos os outros — camelo, cavalo, Imundos zebra, etc.

Limpos

ALIM ENTOS LIMPOS E IM UNDOS Criaturas aquáticas Aves

Insetos

peixes com barbatanas pombo, galinha, e escamas etc.

de pernas ligadas gafanhotos, etc.

todas as outras — enguias, arraiais, tubarões, etc

todos os insetos de enxame e que rastejam — abelhas, formigas, baratas etc.

“A mulher que conceber” (Lv 12.1-8). A imundície não é causada pela criança, mas pela perda de sangue e de fluidos associados ao parto (veja 15.1-33). Nesse caso, o rito da purificação exige o sacrifício de um animal, assim como um banho com água. Observe que os pobres (12.8) não eram obrigados a trazer um cordeiro, mas apenas duas rolas ou dois pombinhos. Essa foi a oferta de Maria quando cumpriu esses ritos depois do nascimento de Jesus. Cristo não nasceu apenas como um verdadeiro ser humano, Ele nasceu em uma família que vivia à beira da pobreza. “Uma doença infecciosa de pele” (Lv 13.1-46). As versões mais antigas traduzem a palavra samat como “lepra”. Na verdade, ela significa qualquer doença de pele e foi ampliada para indicar o mofo ou qualquer podridão que aparecia nas vestes ou na parede de um edifício. Quando aparecia qualquer erupção ou inchaço na pele a pessoa tinha o dever de mostrar ao sacerdote porque a lesão poderia se transformar em uma do­ ença infecciosa. Nesse caso, essa pessoa permanecia “imunda” e “habitará só; a sua habitação será fora do arraial”. Esse regulamento nos lembra que até o animal sa­ crificado a Deus devia ser sem mácula. Simbolica­ mente, isso fala sobre a pureza da vida que nos foi oferecida pela morte de Cristo. Efésios 5.25-27 nos diz que Cristo “amou a igreja e a si mesmo se entre­ gou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”. Embora as leis relativas à doença de pele tivessem uma mensagem simbólica para Israel, elas também tinham a finalidade prática de promover a saúde pública. O isolamento protegia os filhos de Deus de muitas pragas que devastavam os outros povos da antiguidade.

aves de rapina, comedores de carne putrefata — águias, gaviões, quebrantossos, etc.

“O momento da sua cerimônia de purificação” (Lv 14.1-57). Os regulamentos sobre a purificação também contribuíam para a saúde publica de Is­ rael. Para que uma pessoa recuperada de uma do­ ença infecciosa de pele pudesse retornar à comu­ nidade ela precisava raspar todo o cabelo e pêlos de seu corpo e lavar cuidadosamente suas roupas e seu corpo. Além disso, essa pessoa devia fazer a oferta pelo pecado e pela culpa. Observe que o sacerdote oficiante devia aspergir o sangue do sacrifício sobre a orelha direita e sobre o polegar da mão e do pé do fiel, exatamente como era feito na ordenação dos sacerdotes. O leigo, as­ sim como o ministro, deve ouvir e responder à voz de Deus, a fim de se comprometer com o serviço ativo e andar nos caminhos de Deus. “Se derribará a casa" (Lv 14.33-57). Uma casa onde o mofo fosse recorrente deveria ser derru­ bada. Não há nenhuma regra semelhante para o ser humano, pois para você e para mim Deus sempre estende os braços para nos acolher. Tudo que precisamos fazer é abandonar o nosso pecado, confessá-lo e Deus irá “perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9). “Qualquer homem que tiver fluxo de sua carne” (Lv 15.1-33). Qualquer tipo de fluxo da carne era suficiente para tornar um israelita impuro. Qual­ quer coisa que uma pessoa impura tocasse, assim como suas vestes, também se tornavam impuras. As pessoas e as roupas deviam ser lavadas com água e continuavam impuras “até à tarde”. A tarde era particularmente especificada porque os hebreus consideravam que a tarde representava o fim de um dia e o começo do outro. Novamente, essas especificações tinham valor para a saúde pública, mas também tinham, pelo menos, mais uma outra implicação.

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Levítico 16— 17

As religiões pagãs geralmente relacionavam a ado­ ração às divindades com o ato sexual e muitas ve­ zes incluíam na adoração a participação de pros­ titutas do sexo feminino e masculino. Mas em Israel a eliminação do sêmen tornava ritualmente imundos o homem e a mulher (cf. w . 2,16,32).

E nenhuma pessoa ritualmente imunda tinha permissão de participar da adoração ao Senhor! Dessa maneira, Deus deixou bem claro que esta­ va preocupado com a pureza moral. A adoração ao Senhor não devia ser corrompida por práticas pagãs pervertidas.

A Separação na Atualidade (Lv 11) Quando eu era um cristão novo convertido, me envolvi com uma pequena igreja Batista cujas práticas se assemelhavam às leis de separação de Israel. Tínhamos uma relação das coisas que um cristão podia ou não fazer, coisas que nos separavam dos outros. Os adolescentes levavam Bíblias de capa vermelha pata a escola secular, e nenhum de nós podia ir ao cinema, dançar, ingerir bebidas alcoólicas ou dizer algum pala­ vrão. íamos à igreja duas vezes aos domingos e também nas noites de quarta-feira. A despeito do que alguém poderia pensar, para mim não representava nenhum problema vi­ ver sob esses regulamentos. Eu até os obedecia alegremente, pois nesta mesma igreja encontrei carinho, aceitação, estímulo, entusiasmo, com­ promisso, oração fervorosa e a sincera atenção que uns dedicavam aos outros, assim como ao destino eterno dos nossos vizinhos. Foi somente bem mais tarde que comecei a en­ tender a verdade. A nossa verdadeira “separação” não era definida pelo que fazíamos ou deixáva­ mos de fazer. O que realmente nos diferenciava dos outros, por formarmos uma verdadeira co­ munidade de pessoas de Deus, era o carinho que compartilhávamos quando nos encontrávamos para amar o Jesus que existia em cada um de nós. Porém, mesmo assim, não podemos fazer aquilo que as pessoas mundanas fazem. A morte de Jesus cancelou os regulamentos que governavam Israel e fez com que eles se tornas­ sem irrelevantes para nós atualmente. Mas o povo de Deus ainda deve mostrar que é diferente e está separado de todos os outros. A diferença que é verdadeiramente importante para Deus é a diferença marcada pelas atitudes, pelo amor, pelo carinho e pelo compromisso que experi­ mentei na primeira Igreja que frequentei há tan­ to tempo atrás.

Citação Importante “Não devemos comer do seu pão porque podemos ser levados a beber do seu vinho. Não devemos be­ ber do seu vinho porque podemos ser levados a nos casar entre eles, e isso só serviria para nos levar a adorar os seus deuses.” — O Talmude

DEV OCIONAL______

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27 DE JANEIRO LEITURA AADORAÇÁO COM O GARANTIA Levítico 16— 17

“Assim, fará expiação... por causa das imundícias dos filhos de Israel e das suas transgressões, segundo todos os seus pecados” (Lv 16.16). As ofertas pelo pecado tratavam apenas dos peca­ dos involuntários. No Dia da Expiação era ofereci­ do um sacrifício que dava aos israelitas a certeza de que todos os seus pecados estavam perdoados. Definição dos Termos-Chave Perdão. No hebraico esta palavra significa “cobrir ou esconder”. Nos sacrifícios de expiação de Israel Deus cobria os pecados do seu povo para poder estabelecer comunhão com eles. Sangue. O sangue exercia um papel vital nos sa­ crifícios do Antigo Testamento. Ele representava a vida biológica do homem e dos animais. Na Bíblia, o perdão de Deus está consistentemente relaciona­ do com o derramamento de sangue. Visão Geral Deus deu aos sacerdotes e aos israelitas instruções detalhadas para o Dia da Expiação (16.1 -34), assim como as regras para a apresentação dos sacrifícios (17.1-9). Era proibido comer carne sem o respecti­ vo derramamento de sangue (w. 10-16).

Entendendo o Texto “Efiará expiação por si”(Lv 16.1-6). No Dia da Ex­ piação, o sumo sacerdote de Israel devia sacrificar um novilho para a expiação dos seus próprios pe­ Aplicação Pessoal cados e, somente então, podia fazer um sacrifício Para Deus, a separação é uma questão do cora­ pelos pecados do povo. Cada um de nós necessita ção. Faça com que aquilo que o torna diferente se aproximar humildemente de Deus, pois todos nós pecamos. dos outros seja realmente importante.

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Levítico 16— 17

O fato do sumo sacerdote de Israel oferecer um “A expiação deverá ser feita... uma vez no ano” (Lv sacrifício público para o perdão dos seus próprios 16.24-34). O sacrifício do Dia da Expiação devia pecados mostra que cada um de nós deve, também, ser repetido anualmente. Hebreus 10.3, 4 revela se manter humilde perante os outros. que a repetição desse sacrifício servia como uma “comemoração dos pecados, porque é impossível “Um bode para expiação do pecado” (Lv 16.7-22). que o sangue dos touros e dos bodes tire pecados”. Dois bodes eram escolhidos para o Dia da Expiação. Esse sacrifício realmente cobria os pecados de Isra­ Um deles era sacrificado e seu sangue era espargido el; mas, para tirar os pecados, somente um sacrifí­ sobre o altar. O outro era separado “para ser bode cio seria realmente eficaz. emissário” (azazel — conforme a versão NTLH). Como é bom saber que “temos sido santificados Essa palavra hebraica ocorre somente aqui e seu pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma significado é discutido. A explicação mais provável vez” (v. 10). é que azazel corresponde a um termo teológico que Cristo ofereceu, para todo o sempre, um sacrifício significa “remoção completa”. pelos pecados “porque, com uma só oblação, aperfei­ Na cerimônia do Dia da Expiação, depois que os çoou para sempre os que são santificados” (v. 14). sacrifícios terminavam, o sumo sacerdote estendia as mãos sobre a cabeça do bode expiatório trans­ Sacrifícios no arraial (Lv 17-1-9). Todos os sacrifí­ ferindo, simbolicamente, para ele os pecados de cios feitos pelos israelitas deviam ser oferecidos no Israel. Ele era, então, levado para o deserto e isso Tabernáculo. Essa regra colocava os israelitas à par­ simbolizava uma “remoção completa” de “todos os te das outras nações cujos povos ofereciam sacri­ pecados” da comunidade da aliança. fícios aos deuses pagãos em diferentes santuários. Esse ato de remover os pecados tinha a finalida­ Isso nos lembra das palavras de Jesus; “Eu sou o ca­ de de transmitir a Israel a segurança de que seus minho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai pecados haviam sido verdadeiramente elimina­ senão por mim” (Jo 14.6). Se desejamos ir a Deus dos. A nação havia sido perdoada e aceita pelo devemos nos aproximar dEle da maneira como Ele Senhor. nos ordenou. “Todas as iniquidades” (Lv 16.18-22). A língua he­ braica faz uma distinção entre os pecados daqueles que tentam acertar mas não conseguem, e os peca­ dos cometidos de forma voluntária e consciente. Os primeiros representam expressões inadvertidas da fragilidade humana, enquanto os outros são pe­ cados voluntários descritos com palavras hebraicas que significam “iniquidades” e “rebelião”. Os sacrifícios descritos em Levítico 1— 7 não se destinam ao perdão dos pecados voluntários, pois somente pecados involuntários podiam ser trata­ dos através de ofertas pessoais. Mas no Dia da Expiação Deus perdoava todos os pecados de iniquidade e de rebelião. O desejo de Deus é que todos nós saibamos que, qualquer coisa que tenhamos feito, Ele está pronto para perdoar. Não há nada que possamos fazer para merecer a salvação, mas no supremo Dia da Expiação Jesus morreu no Calvário, pagando, em nosso lugar, o preço por qualquer coisa que possamos ter feito.

“Porque a alma da carne está no sangue” (Lv 17-1016). Deus reservou o sangue dos animais, que é a fonte e o símbolo da vida biológica, para o sacrifí­ cio. O verso 11 diz: “Porque a alma da carne está no sangue, pelo que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará expiação pela alma”. Como o sangue representa a própria vida, e era usado na religião de Israel para o perdão dos pe­ cados, ele era um fluido sagrado. Nenhum judeu devia ingerir sangue. O sangue do animal selvagem devia ser derramado sobre o solo e coberto com terra. Comer qualquer animal, cujo sangue não tivesse sido derramado por ocasião da sua morte, tornava uma pessoa imunda. A natureza sagrada do sangue está frequentemente re­ fletida em o Novo Testamento, onde o sangue de Je­ sus representa a vida que Ele deu por nós. Efésios 1.7 diz que “temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça”.

DEV OCIONAL______ Ele Removeu os nossos Pecados (Lv 16) Não sei como ela conseguiu o número do meu te­ lefone. Mas, da cidade de Toronto, no Canadá, ela

ligava diariamente para minha casa em Phoenix, EUA. Era uma dessas pessoas que se encontram atormen­ tadas pela incerteza. Será que ela havia realmente

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Levítico 18—22

sido perdoada? Será que realmente acreditava? Será que tinha sido aceita por Deus? Depois de cada conversa, parece que ficava aliviada e tranquila. Mas, no dia seguinte, o telefone tocava novamente quando sentia necessidade de partilhar seu tormen­ to interior. A cerimônia descrita em Levítico 16 lembra-nos de que Deus não pretende nos deixar cheios de dúvi­ das. Ele deseja que saibamos que fomos perdoados. Ele deseja que o adoremos com a completa segu­ rança da fé. Mas, o que transmite segurança? A imagem do bode expiatório, a figura do sumo sacerdote, trans­ ferindo simbolicamente “todas as iniquidades dos filhos de Israel e todas as suas transgressões, segun­ do todos os seus pecados” — para o bode. E a fi­ gura deste bode sendo levado para o deserto, para nunca mais ser visto novamente na comunidade de Israel. Davi entendeu a mensagem e escreveu em um dos seus Salmos: “Quanto está longe o Oriente do Oci­ dente, assim afasta de nós as nossas transgressões” (SI 103.12). Lembre-se dessa imagem na próxima vez que se sentir inseguro quanto ao seu relacionamento com Deus. Imagine todos os seus pecados. Feche os olhos e sinta que seus pecados estão sendo levados para longe, não pelo bode expiatório de Israel, mas pelo próprio Jesus. Então, deixe que essa certeza do perdão lhe traga a paz interior. Os seus pecados foram eliminados. Eles estão mui­ to longe de você, assim como o Oriente está longe do Ocidente; isto significa que você está verdadei­ ramente livre. Livre para adorar a Deus, e oferecerlhe a sua gratidão.

acorda e lhe dá alegria para enfrentar o dia. Ele acalma a sua mente quando você dorme, e repousa sobre seus olhos para que você não tenha sonhos de medo e de mal, de malícias e de ofensas. E quando acordar novamente, ele lhe oferecerá um novo dia de felicidade e paz.” — Gerald Jampolsky, M.D. : \

28 DE JANEIRO LEITURA 28 UMA VIDA DE SANTIDADE Levítico 18— 22

“Os meus estatutos e os meus juízos guardareis; os quais, fazendo-os o homem, viverá por eles. Eu sou o Senhor” (Lv 18.5). Adorar é honrar a Deus. Nós honramos ao Senhor quando o louvamos. Mas também o honramos ob­ servando suas leis e seus mandamentos e decidindo viver uma vida santa. Definição dos Termos-Chave Estatuto. A palavra hebraica traduzida como esta­ tuto significa “gravar”. Ela sugere regras que foram gravadas na pedra e que são(Jportanto, imutáveis. Juízo, Lei. A palavra hebraica é mishpat e indica a decisão judicial feita por uma autoridade compe­ tente servindo, desse modo como um precedente estabelecido para orientar os futuros juizes. As leis descritas nessa seção não cobrem toda pos­ sível violação aos princípios encontrados nos Dez Mandamentos. Elas servem como exemplos para guiar Israel à medida que as futuras gerações ve­ nham a enfrentar novas situações.

Visão Geral Deus espera que o seu povo goze uma vida de boa moral. Agora, a nação de Israel estava sendo en­ sinada que a santidade exige pureza sexual (18.130), responsabilidade social (19.1-18) e rejeição às práticas pagãs (w. 19-37). A infração às leis morais exige um castigo (20.1-27) e os sacerdotes de Israel estabeleceram um padrão moral ainda mais eleva­ Citação Importante “O que você pode desejar que o perdão não possa do e a pureza cerimonial (21.1— 22.33). dar? Você quer paz? O perdão pode oferecer. Você quer felicidade, uma mente tranquila, a certeza de Entendendo o Texto um propósito e um sentido de valor e de beleza que “Relações sexuais” (Lv 18.1-18). Todas as sociedades transcende o mundo? Você quer cuidados e segu­ estudadas pelos antropólogos têm regras contra o rança, e o cuidado contínuo de uma proteção se­ incesto. Muitos sugerem que as regras estão funda­ gura? Você quer uma tranquilidade que não possa mentadas na genética: pais que são parentes próxi­ ser perturbada, uma benignidade que nunca possa mos têm não apenas a tendência, mas uma elevada ser ferida, um consolo profundo e permanente, e possibilidade de gerar filhos deficientes. Mas essa um repouso tão perfeito que nunca possa ser per­ passagem amplia o incesto para além do relacio­ turbado? O perdão pode lhe oferecer tudo isso, e namento sanguíneo considerando-o, por exemplo, muito mais. Ele brilha nos seus olhos quando você no caso da mulher do irmão do pai de alguém.

Aplicação Pessoal O fato de saber que você foi perdoado afeta seus sentimentos a respeito de Deus? A respeito de si mesmo? A respeito dos seus pecados e dos seus er­ ros anteriores?

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Levítico 18— T l

A razão mais provável pela qual o incesto é uma coisa ruim, e também errada, é que ele cria emo­ ções destruidoras que pervertem a própria estrutu­ ra da família, que é a unidade básica da sociedade. Quando a família é ameaçada, toda a nação corre perigo. Essas leis nos lembram uma importante verdade. As leis de Deus definem o que é certo e o que é errado. Mas, elas não são arbitrárias. Aqueles que obedecem descobrem que as leis de Deus levam a uma vida feliz e sadia. Aqueles que infringem as leis de Deus descobrem que a desobediência leva ao desastre. “Não vos contamineis” (Lv 18.19-30). Essa passa­ gem identifica várias práticas como sendo “detes­ táveis” e contaminadoras. Entre elas, as principais são a homossexualidade e a bestialidade, isto é, ter relações sexuais com animais. E impossível, para al­ guém que leva as Escrituras a sério, descartar a ho­ mossexualidade contemporânea como sendo um “estilo de vida alternativo”. Os atos homossexuais são pecados. Os estatutos de Deus permanecem firmemente gravados no tecido moral do nosso universo. “Da tua semente não darás para a fazer passar pelo fogo perante Moloque”(Lv 18.21). Esse tópico apa­ rece novamente em 20.1-5, que condena essa prá­ tica com os mais rigorosos termos. Por quê? Os es­ tudiosos hebreus acreditam que a raiz mlk deveria ser traduzida como “sacrificado como uma oferta votiva”, e não como um nome próprio, Moloque. Próximo às ruínas da antiga Cartago, uma pessoa pode, atualmente, ir a um jardim onde estão enter­ rados os restos de milhares de crianças. A maioria delas é de recém-nascidos, mas suas idades variam até quatro anos. Cada uma delas era enterrada viva como uma oferta votiva à deusa Tanat. Para obter o favor da deusa para alguma coisa que queriam, eles ofereciam um filho. Isso me lembra uma amiga, uma cristã que se sub­ meteu a dois abortos. Ela não consegue ver nada de errado naquilo que fez, “E a mesma coisa que afogar cachorrinhos”, ela diz. Mas a razão de não querer os filhos era, simplesmente, o fato de não ser conveniente. Havia outras coisas que ela queria; portanto, sacrificava uma criança que ainda náo tinha nascido. Suponho que existam casos em que, quando a vida da mãe correr perigo, o aborto poderá ser justifica­ do. Mas fazer um aborto apenas porque dar à luz é uma coisa inconveniente não deixa de ser um ato semelhante ao daqueles pais de antigamente que comerciavam a vida de seus filhos com um deus ou

uma deusa pagã na esperança de melhorar a saú­ de, ou de obter um emprego melhor, ou de obter riquezas. Aos olhos de Deus não existe nada que possa se igualar a uma vida humana. “Não” (Lv 19.1-18). O que está implícito nos Dez Mandamentos? Eles foram reescritos aqui, alguns com suas detalhadas implicações. Abaixo estão al­ guns versos que podem ser comparados com cada um deles. Mandamento I, II III IV, V VI VII VIII, IX X

Versos 4 12 3 16 29 11-16 18

“Diferentes espécies” (Lv 19.19-37). Muitas regras desta passagem, como não cruzar diferentes tipos de animais, ou usar vestes tecidas com dois tipos de material, refletem o princípio da separação. Muitas práticas de Israel tinham, simplesmente, a finali­ dade de lembrar ao povo de Deus que eles eram diferentes dos outros povos. “Amá-lo-eis como a vós mesmos” (Lv 19.33,34). Is­ rael havia passado por maus tratos no Egito. Deus insiste com o Seu povo para se lembrarem de como se sentiam quando estavam lá, e diz: “Como o na­ tural, entre vós será o estrangeiro que peregrina convosco”; em outras palavras, ele deverá ser trata­ do como se fosse um de vocês. Quando algumas pessoas são maltratadas, elas se tornam hostis e cruéis para com os outros. Qual­ quer ofensa que você e eu possamos receber deve nos deixar ainda mais sensíveis, pois lembrar a ma­ neira como fomos maltratados deve nos convencer de que devemos tomar cuidado para não maltratar os outros. “Certamente morrerá” (Lv 20.1-27). Outro antigo código legal impunha, frequentemente, a pena de morte por crimes contra a propriedade. O Antigo Testamento, ao contrário, reserva a pena capital para crimes cometidos contra pessoas ou contra o bem-estar público. Em uma comunidade santa, certos padrões de­ vem ser impostos. Cada um dos crimes relaciona­

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Levítico 23—27

com padrões morais e rituais que Deus havia es­ tabelecido. Mas, de dentro dessa santa comunidade, os sacer­ dotes haviam sido separados para o Senhor. Por­ tanto, os padrões pelos quais deveriam viver eram ainda mais elevados. Por serem crentes e sacerdotes, os cristãos são cha­ mados para viver de acordo com os padrões mais elevados de santidade. Somente confiando no Es­ pírito Santo de Deus, e contando com a sua ajuda “Aos sacerdotes” (Lv 21.1—22.33). Toda a comu­ é que podemos atender e superar os requisitos de nidade de Israel era santa e devia viver de acordo justiça da Lei do Antigo Testamento (Rm 8.4).

dos aqui é mais grave do que poderia parecer. Por exemplo, “amaldiçoar” a mãe ou o pai não signifi­ cava apenas xingar qualquer um deles. Aqui “amal­ diçoar” implica uma tentativa de lhes fazer mal pelo uso da mágica. Em Israel era proibido recorrer a qualquer poder sobrenatural que não fosse Deus (cf. v. 27). Qualquer tentativa de usar tais poderes contra os pais representava um crime especialmen­ te hediondo.

DEV OCIONAL_______ A Natureza da Santidade (Lv 19.1-18) Moisés iniciou este texto citando palavras ditas pelo Senhor Deus: “Santos sereis, porque eu, o Se­ nhor, vosso Deus, sou santo”. Para a maioria dos cristãos, “santidade” é um ter­ mo um pouco místico e enigmático. Desejamos ser santos, mas não sabemos exatamente o que é a san­ tidade. Sabemos que Deus é santo, e entendemos que devemos ser santos como Ele. Mas, como fazer para ser igual a Ele? Em Levítico 19 as leis são uma expressão do caráter santo de Deus. Se desejarmos ter uma ideia sobre a natureza da santidade tudo o que precisamos fa­ zer é meditar sobre alguns desses versos e entender aquilo que eles estão nos dizendo sobre Deus. Por exemplo:

* “Quando também segardes a sega da vossa ter­ ra, o canto do teu campo não segarás totalmen­ te, nem as espigas caídas colherás da tua sega... deixá-los-ás ao pobre” (w. 9, 10). * “Não fareis injustiça no juízo; não aceitarás o po­ bre, nem respeitarás o grande; com justiça julga­ rás o teu próximo” (v. 15). * “Não te porás contra o sangue do teu próximo” (v. 16). * “Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo” (v. 18). O que aprendemos com estes versos? Talvez tenha sido o fato surpreendente de que a santidade e o amor são gêmeos idênticos! A expressão mais verdadeira da santidade é de­ monstrar amor pelos outros através de maneiras práticas. Cuidar dos pobres. Ser igualmente justo com os ricos e os necessitados. Não fazer nada que possa fazer mal a alguém. Amar aos outros como a si mesmo.

É esse o tipo de vida que Deus nos pede para viver diariamente. E essa maneira de viver, essa simples prática de amor, é a santidade. Aplicação Pessoal Usando os critérios estabelecidos nessa passagem, qual é a pessoa mais “santa” que você conhece? Citação Im portante “Finalmente descobri qual é a minha chamada! A minha chamada é amar.” — Teresa de Lisieux 29 D E JANEIRO LEITURA 29 A ADORAÇÃO COM O UM COM PROM ETIM ENTO Levítico 23— 27 “Observai os meus estatutos, guardai os meus juízos e cumpri-os; assim, habitareis seguros na terra” (Lv 25.18, ARA). Os crentes demonstram seu compromisso com o Senhor através das decisões que tomam. Os últi­ mos capítulos de Levítico analisam algumas deci­ sões que os israelitas deviam tomar quando entras­ sem na Terra Prometida e refletissem as escolhas que eu e você enfrentamos hoje em dia. Visão Geral Eles deviam mostrar o compromisso assumido com o Senhor reservando algum tempo para a adoração (23.1-44), através da obediência diária, mesmo em meio às crises (24.1-23), pelo cuidado com a ter­ ra (25.1-7) e a compaixão pelos pobres (w. 8-55). Para estimular esse compromisso, Deus recompen­ sava a obediência (26.1-13) e castigava a desobedi­ ência (w. 14-46). Além disso, cada pessoa devia, voluntariamente, oferecer suas posses e a si mesmo ao Senhor (27.1-34).

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misso com Deus deve ser expresso através da obediência. Os versos 1-9 enfatizam termos e ideias que trans­ mitem conceitos de “continuidade”, de uma “ordem que dura para sempre”, e de “regularidade”, e falam sobre padrões repetidos na vida de cada crente. De­ vemos ter a certeza de que as coisas comuns de cada dia estejam em harmonia com a vontade de Deus. Os versos 10-23 descrevem uma crise. Um jovem, descendente de pais de diferentes origens, “blas­ femou o nome do Senhor e o amaldiçoou”. Sua implicação é que ele usou o nome de Deus para fazer um encantamento mágico com a finalidade de prejudicar um inimigo (cf. v. 10). Essa era uma situação muito incomum, e o povo, sabiamente, procurou uma decisão da parte de Deus. Quando o povo ficou sabendo qual era essa decisão, obedeceu e apedrejou o blasfemo até à morte. Quando enfrentamos uma situação de crise nós também precisamos esperar até que a vontade de Deus fique bem clara e, então, devemos agir de acordo com ela. Tanto a obediência habitual à vontade de Deus, como procurar a sua orientação, são maneiras de “Fizeram os filhos de Israel como o Senhor orde­ demonstrar o nosso compromisso com a obediên­ nara a Moisés” (Lv 24.1-23). Esse capítulo des­ cia; e o Senhor Deus recebe esta atitude como uma creve duas situações nas quais o nosso compro­ adoração aceitável.

Entendendo o Texto “As Solenidades do Senhor”(Lv 23.1-44). Os israeli­ tas deviam realizar seis festas anuais. Nenhum tra­ balho devia ser feito em nenhum desses dias, eles deviam ser dedicados à adoração e à celebração. Os feriados religiosos eram vívidas lembranças da natureza do relacionamento de Israel com o Senhor. Vários deles repetiam experiências que Israel tivera com o Senhor e tinham a finalidade de afirmar a identidade da nova geração como um povo redimi­ do, guiado, protegido e assistido pelo Senhor. Não é de admirar que a maioria dessas festas represen­ tasse uma ocasião de alegria e de júbilo. O calendário religioso de Israel estabelecia o mesmo padrão que nós, cristãos, obedecemos atualmente. No Natal nos lembramos da encarnação do Filho de Deus. Na Sexta-Feira da Paixão meditamos so­ bre a morte de Cristo por nós e em cada Páscoa nós nos alegramos com sua ressurreição que é uma garantia da nossa própria ressurreição. Podemos focar a atenção no significado espiritual dos nossos feriados e, então, fazer deles um período de celebração e de renovação espiritual.

Mês Io Nisã (março— abril)

OS FERIADOS RELIGIOSOS DE ISRAEL Data Feriado Significado 14 Páscoa Ao fazer a refeição da Páscoa, a família repetia a noite em que Deus matou os primogênitos do Egito, e trouxe a libertação de Israel. Somos um povo redimido. 15-21 16

3o Sivã (maio—junho) 7° Tisri (set.— out.)

10 15-21

PãesAsmos Ao comer pão sem fermento a família partilhava a experi­ ência da primeira geração. Somos um povo de peregrinos. Primícias Ao apresentar ao Senhor os primeiros feixes de cevada madura, Israel o louvava pela expectativa da abundância. Olhamos para o Senhor com esperança e confiança. Pentecostes Nessa alegre celebração, marcada por muitos sacrifícios, Deus é louvado por uma rica colheita. Vemos a mão de Deus nas dádivas que Ele nos dá. Trombetas Um dia de repouso marca o primeiro dia do Ano Novo civil. Deus renova nossa vida diariamente. Dia da Nos ritos solenes desse dia Deus reafirma o perdão ofe­ Expiação recido ao seu povo pecador. Deus cobre o pecado, e, assim, : ser aceitos como; Taberná­ As famílias vivem ao ar livre representando a jornada até a culos Terra Prometida. Deus está com o seu povo perdoado afim de atender as suas necessidades

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“A terra guardará um sábado ao Senhor”(Lv25■1-7). No Éden, Deus conferiu uma importante respon­ sabilidade a Adão: Lavrar e guardar o jardim (Gn 2.15). Agora, Deus diz aos israelitas que deviam deixar a terra repousar a cada sete anos e não plan­ tar nenhuma semente. O princípio é claro. Os seres humanos são responsáveis pela ecologia da terra. A chuva ácida não é apenas um jogo político entre os países, mas o reflexo da falta de disposição do homem de viver com responsabilidade no mundo que Deus confiou aos seus cuidados.

te cumpriria a sua palavra e os abençoaria quando se voltassem a Ele. Terceiro, o castigo serve para cons­ cientizar as pessoas sobre a necessidade que têm de Deus. Somente pessoas cientes de que precisam do Senhor são capazes de voltar-se para Ele. Nós precisamos entender estas raras ocasiões quan­ do Deus castiga para nos encorajar. Como diz Pro­ vérbios 3.11, 12: “Filho meu, não rejeites a corre­ ção do Senhor, nem te enojes da sua repreensão. Porque o Senhor repreende aquele a quem ama, assim como o pai, ao filho a quem quer bem”.

“Se andardes nos meus estatutos’ (Lv 26.1-46). E muito fácil alguém se enganar. Muitas vezes pen­ samos a respeito do castigo como uma penalidade, quando na verdade ele é uma forma de encorajar as pessoas. Esse capítulo lembra a Israel que Deus usa duas maneiras para encorajar a sua obediência. A primeira é a recompensa (w. 1-13). Deus pro­ mete abençoar Israel se eles andarem nos seus es­ tatutos “e guardarem os seus mandamentos”. Cada benção deve nos deixar agradecidos e motivados para continuar nos caminhos de Deus. A segunda é o castigo (w. 14-16). O castigo será aplicado “se me não ouvirdes, e não fizerdes todos estes mandamentos”. No entanto, até o castigo tem a finalidade de encorajar as pessoas e não de deses­ perá-las. Como? Primeiro, ele serve para lembrar que Deus se mantém envolvido com a vida do seu povo, até quando pecamos! Se praticarmos o mal e prosperarmos, isso é uma prova de que Deus nos abandonou! Segundo, o castigo mostra que Deus é fiel à sua palavra. O Senhor prometeu castigar Israel quando o seu povo desobedeceu. Mas Ele certamen-

“Um voto particular” (Lv 27.1-34). A Lei estabele­ ceu uma quantia mínima com a qual os israelitas deveriam contribuir para sustentar os ministros (w. 30-33). Mas cada indivíduo tinha o privilégio de fazer um voto particular ao Senhor. A pessoa que fazia esse voto podia dar qualquer coisa que possuísse; a si mesma, alguém da sua família, um animal, sua casa, a terra da família ou um campo que tivesse comprado. Na verdade, essa pessoa pa­ gava ao Tabernáculo, ou ao tesouro do Templo, o valor da coisa dedicada. Por que, então, esse capítulo não fala simplesmen­ te sobre dar várias quantias de dinheiro em vez de especificar pessoas, animais, casas e terra? Para nos ensinar que tudo que é importante para nós, cada relacionamento e cada coisa possuída, deve ser mantido sob a nossa guarda e, quando solicitado, deve ser colocado à disposição do Senhor. O di­ nheiro é algo impessoal e somente quando o pre­ sente que damos a Deus representa alguma coisa que nos é cara e preciosa, significará alguma coisa para nós, ou para Ele.

DEVOCIONAL_______ O Ano do Jubileu (Lv 25.8-55) O Ano do Jubileu devia ser um ano de júbilo. Devia ser o ano em que toda a família pobre “ga­ nhava na loteria”, e cada homem rico se alegrava por estas famílias. Quando Israel entrou na Palestina, cada família devia receber a sua própria terra para cultivar. Essa terra, e a colheita que produzisse, iria susten­ tar a família e ser a fonte da sua riqueza. Deus dis­ se que “a terra não se venderá em perpetuidade”. Nenhuma família seria lançada na pobreza e cada um devia ter e manter o seu capital. Mas o que poderia acontecer se uma família enfrentasse contratempos e se tornasse pobre? Primeiro, aqueles que pudessem, deviam ajudar emprestando dinheiro sem usura, ou vendendo

alimentos sem ter nenhum tipo de lucro (w. 3537). Segundo, se estivesse desesperado, um ho­ mem poderia vender o direito de guardar o fruto da colheita que a terra da família tivesse produ­ zido, mas nunca vender a própria terra (w. 1329). Terceiro, se ficasse na miséria, um homem poderia vender a si mesmo, mas nunca poderia ser tratado como um escravo (w. 39-53). Mas, quando chegasse o 50° ano, o Ano do Jubi­ leu, tudo deveria ser corrigido. Qualquer dívida que o pobre tivesse devia ser cancelada, qualquer terra que a família tivesse vendido devia ser devol­ vida e qualquer um que vivesse na escravidão de­ via ser libertado. Não é de admirar que a palavra “jubileu” viesse a significar “júbilo” e “regozijo”. Deus realmente se preocupa com os pobres. Atra­ vés dessas provisões anuais da Lei do Antigo Tes­

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tamento, Deus mostrou ao seu povo como eles poderiam também mostrar seu cuidado para com os pobres. No entanto, ficamos sabendo que o Ano do Jubi­ leu, da maneira prescrita aqui, nunca foi celebrado em Israel, nem uma única vez. Quando chegava o 50° ano, os ricos aumentavam o controle sobre as suas riquezas, e os pobres continuavam na sua po­ breza. O povo de Deus teve várias oportunidades de realizar um sonho, mas muitas e muitas vezes as abandonaram. Atualmente, quando lemos o código eterno que, de maneira tão maravilhosa, demonstra a preocupação de Deus para com os pobres e os oprimidos, nós também somos impelidos a sonhar com uma sociedade justa e moral. Uma comunidade de fé, na qual as pessoas têm prio­ ridade, e onde existe a preocupação com aque­ les que são menos afortunados, tem a marca da santidade.

Aplicação Pessoal Que elementos mostrados neste capítulo os cristãos podem adotar atualmente para lidar com a pobreza? Citação Importante "Não cabe ao homem cristão pensar dessa maneira: O que tenho a ver com essa pessoa?... Basta que nos lembremos de todas as coisas que o bondoso Senhor Jesus Cristo tem feito por nós, e que não devem ser retribuídas a Ele, mas direcionadas ao nosso próximo. Observe as necessidades do seu se­ melhante, e o que você pode fazer por ele. Pense da seguinte forma: ele é meu irmão no Senhor, coerdeiro em Cristo, um membro do mesmo corpo, re­ dimido com o mesmo sangue precioso, um irmão na fé, chamado para a mesma graça e felicidade da vida porvir.” — Erasmo de Rotterdam O Plano de Leituras Selecionadas continua em NÚMEROS

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NÚMEROS INTRODUÇÃO Este quarto livro do Antigo Testamento continua contando as origens de Israel. Os descendentes de Abraão, o homem de fé de Deus, foram libertados da escravidão do Egito. Eles foram guiados até o Sinai onde receberam uma complexa Lei pela qual deviam viver, e um Tabernáculo onde deviam orar. Agora os israelitas estão prestes a sair do Sinai e fazer uma peregrinação até a Terra Santa. Por causa da sua desobe­ diência, esta viagem que poderia ter terminado em repouso para o povo de Deus dentro de alguns poucos anos, foi prolongada para 38 anos. Durante a viagem morreu a geração que havia iniciado a peregrinação e ela foi substituída por uma outra geração disposta e ansiosa para seguir o Senhor. O livro dos Números tomou esse nome por causa do censo que registrou. Esse livro é em parte uma narrativa e em parte uma legislação. Seu foco é a Terra Prometida para a qual Israel estava viajando. Suas histórias e suas leis estão cheias de lições que podemos aplicar nas nossas próprias peregrinações na terra em direção ao céu. Sinai

Egito Ex 1

13 19

Lv N m

Campinas de Moabe

Cades 10 13

20 22

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ESBOÇO DO CONTEÚDO I. No Sinai.................................................................................................................................................Nm 1— 9 A. Organizando o acampamento......................................................................................................... Nm 1— 4 B. Purificação e consagração..................................................................................................................N m 5— 9 II. A Geração Perdida.........................................................................................................................N m 10— 19 A. A viagem para Cades..................................................................................................................... Nm 10— 12 B. A desobediência de Israel.............................................................................................................Nm 13— 14 C. Anos de peregrinação.................................................................................................................... N m 15— 19 III. A Nova Geração...........................................................................................................................Nm 20— 36 A. De Cades para Moabe...................................................................................................................Nm 20— 21 B. Balaão...............................................................................................................................................N m 22— 25 C. Preparação para a vitória..............................................................................................................Nm 26— 30 D. Promessas de vitória......................................................................................................................Nm 31— 36 GUIA DE LEITURA (6 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 30

Capítulos 1— 9

Passagem Essencial 9

Comentário Devocional da Bíblia

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10— 14 15— 21 22— 25 26— 30 31— 36

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14 21 22.21-41 27.1-11 32

NÚMEROS 30 DE JANEIRO LEITURA 30

PRONTOS PARA A PEREGRINAÇÃO Números 1— 9

“Segundo o dito do Senhor, osfilhos de Israelpartiam” como membros do exército de Deus. A questão (Nm 9.18). não é se somos ou não importantes, é se Deus pode contar conosco. Uma peregrinação exige que cada crente se prepare Anos mais tarde, depois que uma nova geração ha­ para a guerra e para a adoração. Quando o povo de via substituído os homens e as mulheres que acam­ Deus começou a sua marcha, eles deveriam estar param no Sinai, foi feito um outro censo e o núme­ preparados para as duas coisas. ro total obtido foi aproximadamente o mesmo, isto é, 601.730 pessoas. Mas o número de pessoas que Visão Geral formavam as várias tribos havia mudado bastante. Depois de passar um ano no Monte Sinai, o povo de Israel passou 50 dias se preparando para a via­ Tribo Números 1 Números 2 6 gem até Canaã. Moisés fez uma contagem dos ho­ mens em condição de lutar (1.1-54), determinou Rúben 46.500 43.730 os acampamentos (2.1-34) e as tarefas da viagem Simeão 59.300 22.200 para os levitas (3.1— 4.49). Ficaram decididas três Gade 45.650 40.500 questões sobre a pureza do ritual (5.1— 6.27), o Tabernáculo e os levitas foram purificados (7.1— Judá 74.600 76.500 8.26), e o povo celebrou a Páscoa (9.1-23). Issacar 54.400 64.300 Entendendo o Texto Zebulom 57.400 60.500 “Levantai o censo” (Nm 1.1-54, ARA). Esse primei­ Efraim 40.500 32.500 ro censo registrado em Números tinha a finalidade de contar os homens capazes de servir ao exército. Manassés 32.200 52.700 Essa contagem incluía todo homem acima de 20 Benjamim 35.400 45.600 anos que estivesse em boa condição física. Cada um foi relacionado “nominalmente, cabeça Dã 62.700 64.400 por cabeça” e o censo revelou o número de 603.550 Aser 41.500 53.400 homens capazes de servir. É fascinante observar a ênfase dada a cada indiví­ Naftali 53.400 45.400 duo entre centenas de milhares de homens. Quan­ 603.550 601.730 do o povo de Deus estava em peregrinação cada pessoa era importante. O mesmo acontece com a igreja atualmente. Não Mas, o que sugere o declínio de cerca de 37.000 importa quantos milhares de crentes possam exis­ pessoas da tribo de Simeão, e o aumento de mais tir, você e eu somos relacionados “nominalmente” de 20.000 da tribo de Manassés? Simplesmente

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que, mesmo que não façamos a nossa parte, ainda A tenda real era colocada no meio do acampamento assim Deus realizará a sua obra, e outra pessoa rece­ e era circundada pelas diferentes tropas do exército. Esse simbolismo não quer dizer que Deus está sendo berá a bênção que deveria ter sido nossa. protegido pelo seu povo, pois Ele é o protetor. A or­ ‘jís tendas serão armadas segundo as suas insígnias”(Nm ganização do acampamento serve para demonstrar a 2.1-34). No 13° século a.C. os exércitos egípcios usa­ todos que o Senhor é o Comandante e o Rei de Israel, ram a mesma formação que o Senhor introduziu aqui. o coração e o centro da vida da nação.

Benjamim 35.400 Manassés 32.200

A ORGANIZAÇÃO DO ACAMPAMENTO Dã Aser Naftali 62.700 41.500 53.400 Meraritas 6.200 Gersonitas Moisés Tabernáculo 7.500 Arão

Efraim 40.500 Gade 45.650

Coatitas 8.600 Leste --------->Oeste Simeão 59.300

“Tenho tomado os levitas do meio dos filhos de Isra­ el” (Nm 3.12). Os levitas não estavam incluídos entre os homens guerreiros; eles foram separados para guardar o Tabernáculo e fazer o “trabalho pe­ sado” {‘abad, abodah) de desmontar, transportar e remontar o Tabernáculo. Essas palavras hebraicas vêm de uma raiz que sig­ nifica servo, ou até escravo. Na época do Antigo Testamento a “posição” de um servo dependia de duas coisas, o quanto estava próximo do seu se­ nhor e a importância do seu serviço. A estrutura do acampamento colocava os levitas mais próximos do Tabernáculo do que qualquer outra tribo, e seu trabalho era guardar e transportar os objetos mais sagrados da fé de Israel. Fazer o “trabalho pesado” de Deus é um privilégio, pois nos coloca perto dEle e, ao servi-lo, estamos construindo para a eternidade.

Judá 74.600 Issacar 54.400 Zcbulom 57.400

Rúben 46.500

22.000 levitas, entre 30 e 50 anos, tomaram o lu­ gar dos 23.273 “primogênitos” que pertenciam ao Senhor. Deus havia afirmado que os primogênitos de Israel eram seus quando matou os primeiros pri­ mogênitos do Egito. Mas como podiam existir apenas 22.273 primogê­ nitos em uma comunidade com mais de 600.000 homens com idade para servir o exército? Alguns sugerem que esses 22.273 nasceram depois do iní­ cio do Êxodo, cerca de 13 meses antes. Mas, por que somente homens entre 30 e 50 anos fo­ ram contados? Possivelmente porque o “trabalho pe­ sado” de Deus exigia servos que estivessem, ao mesmo tempo, amadurecidos, e no auge da sua força. “Fora do arraial os lançareis, para que não con­ taminem os seus arraiais’ (Nm 5.1-4). Essa é a primeira das questões sobre a pureza que Deus

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levantou ao preparar Israel para a peregrinação. O acampamento foi organizado de forma a se preparar para a guerra. Porém, para viajar com segurança, Israel precisava depender de Deus e permanecer próximo a Ele. Qualquer um que estivesse corrom pido e pudesse interrom per a comunhão com Deus, assim como alguém que tivesse uma doença infecciosa na pele, precisava ser afastado a fim de evitar a contaminação da comunidade (veja Lv 11— 15). A sua aplicação à nossa própria peregrinação é óbvia. Precisamos purificar a nossa vida das im ­ purezas, assim como Israel recebeu ordens de limpar o seu acampamento. “E de quaisquer outras iniquidades” (Nm 5.631). A contaminação ritual por qualquer do­ ença infecciosa da pele podia ser visível, mas as falhas morais eram mais difíceis de serem identificadas. Primeiro, uma pessoa que “de qualquer forma” tivesse causado prejuízo à ou­ tra, era culpada e “devia” confessar o mal que causou e fazer a restituição total. Cada um de nós é responsável por m anter um correto rela­ cionamento com Deus e com os outros na co­ munidade da fé. Mas, e se o outro não estiver disposto a admitir o seu erro? O texto descreve um teste que deve ser aplicado a uma esposa cujo marido está sus­ peitando da sua infidelidade. Deus prometeu agir através dos ritos para purificar uma esposa inocente, ou para identificar aquela que é cul­ pada. Esse rito lembra-nos de que se nós mes­ mos não lidarmos com os nossos pecados, da mesma maneira como a esposa culpada, iremos “levar a nossa iniquidade”. “Um voto especial” (Nm 6.1-21, ARA). A pes­ soa que fazia um voto de nazireu também es­ tava fazendo um voto em relação a muitas das obrigações especiais dos sacerdotes de Israel.

Os sacerdotes não podiam beber vinho antes de oferecer sacrifícios (Lv 10.9) e o nazireu não podia usar nenhum produto da vinha. Assim, como o sumo sacerdote, o nazireu não podia se lamentar pelos parentes próximos (21.2 e ver­ sículos seguintes). Ao term inar o seu voto, o nazireu oferecia os mesmos sacrifícios que Arão ofereceu quando foi consagrado (cf. Lv 8). A presença dos nazireus lembrava Israel que toda a comunidade era santa, tanto os leigos como os levitas. Cada crente podia, voluntaria­ mente, se oferecer totalm ente ao Senhor. “A ssim abençoareis os filhos de Israel” (Nm 6.2227). Com a comunidade organizada e purifica­ da, Arão e seus filhos foram capazes de pronun­ ciar uma das mais belas bênçãos sobre Israel. As bênçãos que foram pronunciadas também são nossas quando vivemos na mesma pureza que Jesus e os seus servos viveram. O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz. Seguros da presença de Deus e organizados como uma força mais disciplinada, Israel estava pronto para a guerra. Mas, primeiro, eles preci­ savam estar prontos para a adoração. “Moisés consagrou o Tabernáculo e todos os seus utensílios” (Nm 7.1— 8.26). Um pouco antes de partir, o Tabernáculo, seus utensílios e os levi­ tas que iriam servi-lo, foram todos purificados cerimonialmente com o sangue do sacrifício, e consagrados ao serviço de Deus. As solenidades das cerimônias realçavam a im ­ portância da santidade para qualquer um que estivesse pronto para começar uma peregrina­ ção espiritual em sua vida.

DEV OCIONAL______ A Natureza da nossa Peregrinação (Nm 9) O ato final de Israel, antes de iniciar a sua viagem para Canaã, foi a celebração da Páscoa. Essa festa anual da libertação lembrava os poderosos atos de Deus para conquistar a liberdade do seu povo. Ele também servia para lembrar Israel da sua redenção do Egito, pois essa redenção havia estabelecido os fundamentos da existência de Israel, e representava

a garantia de cada indivíduo a um relacionamento pessoal com o Senhor. Nem mesmo a impureza cerimonial impedia uma pessoa de celebrar a Páscoa. Na verdade, aqueles que eram cerimonialmente impuros re­ ceberam a ordem de celebrar a Páscoa. Por quê? Porque o relacionamento pessoal com Deus de­ pende da experiência da salvação, e não de se viver uma vida boa.

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Mas observe o que se segue a essa cerimônia da reafirmação da salvação de Israel. O autor de Números vai mais adiante e faz um resumo da experiência diária de Israel na sua peregrinação. “Sempre que a nuvem se alçava sobre a tenda, [indicando a presença visível de Deus ao lado do seu povo] os filhos de Israel após ela partiam; e, no lugar onde a nuvem parava, ali os filhos de Israel assentavam o seu arraial” (v. 17). Um povo redimido podia esperar que o Senhor lhe desse orientações diárias. O mesmo acontece conosco atualmente. A con­ versão é o início, e não o fim da nossa peregri­ nação. Existem muitas dificuldades à nossa fren­ te, mas Deus pode e irá nos guiar seguramente através das provações da vida. Se desejarmos via­ jar com segurança, devemos nos lembrar de que Deus está conosco, procurando, diariamente, a sua direção e orientação. Aplicação Pessoal A organização fala de disciplina, e da pureza de um compromisso moral. Sem ambos a nossa viagem espiritual irá, certamente, ser marcada por contra­ tempos e atrasos. Citação Im portante Mestre, fale! Possa eu estar pronto Quando tua voz for ouvida, Com obediente alegria e resolução Para seguir cada palavra. Estou ouvindo, Senhor, então, Mestre, fale, oh, fale comigo! — Francês Ridley Havergal 31 D E JANEIRO LEITURA 31 AS AMEAÇAS AOS PEREGRINOS Números 10— 14

em deixar de obedecer, de alguma maneira, à Pala­ vra de Deus. Visão Geral Vários sinais de incredulidade mancharam a via­ gem à Canaã. Apesar dos cuidadosos preparativos (10.1-36) os israelitas se queixavam das dificulda­ des que encontravam (11.1-3). Até Miriã e Arão fi­ caram enciumados pela liderança de Moisés (12.116). Israel acampou nos limites de Canaã e doze homens foram enviados para tomar conhecimento das condições que lá existiam (13.1-26). A maioria dos espias voltou aterrorizada com o poder do povo de Canaã (w. 27-33) e o povo de Israel se rebelou recusando-se fortemente a atacar Canaã e, por isso, foi condenado a vagar pelo deserto durante 40 anos até que todos, com exceção de dois daquela geração incrédula do Êxodo, tivessem morrido. Entendendo o Texto “Serão por lembrança perante vosso Deus”(Nm 10.110). Josefo diz que as duas trombetas de prata que Deus mandou Moisés confeccionar tinham cerca de 42cm de comprimento. Duas dessas trombetas foram retiradas do Templo quando a cidade de Je­ rusalém foi destruída no ano 70 d.C., e estão retra­ tadas no Arco do Triunfo de Tito em Roma. As trombetas eram usadas para dirigir as tribos quando estavam em marcha e também deviam ser soadas quando Israel participava de uma batalha. Deus iria, então, “lembrar-se” do seu povo. Aqui, “lembrar” não quer dizer pensar, mas agir em be­ nefício de alguém. Deus também faz com que nos lembremos da nos­ sa peregrinação. Como veremos em seguida, a ver­ dadeira questão é: Será que vamos nos lembrar de agir de acordo com a sua Palavra?

“De olhos nos servirás” (Nm 10.11-36). Embora al­ “A té quando me provocará este povo? E até quando guns pensem assim, não parece que o pedido feito me não crerão por todos os sinais que fiz no meio de­ por Moisés ao seu cunhado, Hobabe, para que ele acompanhasse Israel, fosse prova de sua falta de fé. les?” (Nm 14.11). Os midianitas daquela época formavam um povo Cada derrota que o crente experimenta está essen­ nômade e estavam muito familiarizados com as cialmente enraizada na sua incredulidade. Nesses terras ao sul de Canaã. Moisés seguia a nuvem que importantes capítulos de Números aprendemos Deus havia ordenado para qualquer lugar que ela que a falta de confiança em Deus pode ser expressa fosse e Hobabe fornecia informações a respeito da área para qual eles estavam se dirigindo. de diferentes maneiras. Atualmente, é muito bom que os cristãos procurem o conselho de outros crentes. A única coisa errada é Definição dos Termos-Chave Incredulidade. Aqui a incredulidade não é absoluta­ permitir que os conselhos humanos tomem o lugar mente deixar de acreditar que Deus existe. Como da orientação divina. Tiago nos lembra: “Também os demônios o creem e estremecem” (Tg 2.19). Ao contrário, a incredu­ “O povo se queixava das suas dificuldades” (Nm lidade é deixar de confiar em Deus e está expressa 11.1-3). As planícies do Sinai são verdejantes com­

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paradas ao deserto de Et-Tih. O povo se sentia oprimido pela desolação e começou a se queixar. A nuvem de Deus havia guiado Israel para esse de­ serto; no entanto, depois de apenas três dias, eles começaram a se preocupar com as suas “provações” em vez de se ocuparem com a esperança das boas terras para onde estavam viajando. O fogo de Deus “consumiu” apenas alguns “que estavam na última parte do arraial”. Mas esse fogo serviu apenas como advertência e “Moisés orou ao Senhor, e o fogo se apagou”. A incredulidade é alimentada por cada provação, enquanto a fé está voltada para a esperança no futuro. “Ah, se tivéssemos um pouco de carne para comer!” (Nm 11.4-35, NTLH). O povo encontrou um ou­ tro motivo para se queixar: uma dieta monótona! O livro de Números diz que “Moisés ouviu chorar o povo pelas suas famílias, cada qual à porta da sua tenda”. Durante um ano, Deus havia mandado o maná, um alimento milagroso e perfeitamente balancea­ do que fornecia tudo de que o povo precisa para manter uma boa saúde. Em vez de ficar agradecido, o povo gritava proclamando sua insatisfação. Deus lhes deu o que queriam — carne para comer — mas com ela veio uma praga que matou milha­ res de pessoas. Em 1 Timóteo 6.8 o apóstolo Paulo retrata uma atitude que nós, crentes, devemos adotar na nossa peregrinação. “Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes”. A pessoa que verdadeiramente confia em Deus está contente com aquilo que Ele lhe dá. A preocupa­ ção com coisas materiais, sejam elas alimento ou riqueza, é uma sutil, mas real expressão da incre­ dulidade. E o que dizer sobre a codorniz? Ainda nos pri­ meiros anos deste século, grandes bandos de codornizes migravam através da península do Sinai. Cerca de 2 milhões dessas aves foram capturadas nas redes dos árabes que ali viviam. De modo que a história bíblica sobre essas aves de voo rasante tem um corolário moderno. Entretanto, em N ú­ meros, o mais importante é o resultado. Com a carne que Israel tanto desejava veio uma praga que matou milhares de pessoas. Para a maioria de nós, a abundância que tantas vezes desejamos pode ser espiritualmente desastrosa. E muito mais sábio agradecer a Deus pelo que temos do que manifestar a nossa incredulidade almejando aqui­ lo que não temos. Moisés também clamou. Ele se sentia esmagado sob o peso de liderar um povo insensível. Deus

respondeu a Moisés compartilhando o seu espírito com 70 anciãos de Israel. Nem todo descontentamento é pecado. Quando nossas preocupações são espirituais, ou as nossas necessidades são reais, nunca devemos hesitar de levá-las a Deus. “Falaram Miriã e Arão contra Moisés” (Nm 12.116). Miriã, irmã de Moisés, era a líder das mulhe­ res de Israel e uma profetisa (cf. Êx 15.20). Arão, irmão de Moisés, era o sumo sacerdote, o maior líder religioso de Israel. No entanto, estes dois co­ meçaram a sentir ciúmes de Moisés e desafiaram o seu papel profético, porque era a primeira pessoa através de quem Deus falava com o seu povo. Deus convocou os três na entrada do Tabernáculo, afirmou a primazia de Moisés e surpreendeu Mi­ riã com uma doença infecciosa de pele. Arão foi poupado porque essa doença o teria desqualificado para a posição de sumo sacerdote e Israel precisava dele para oferecer os sacrifícios de expiação. A chave para aplicar essa passagem reside na descri­ ção de Moisés como sendo um varão “mui manso” (ou “mui humilde” v. 3). A palavra hebraica ‘a naw descreve a atitude de Moisés. Ela indica a ausên­ cia de orgulho ou de autoconfiança, o que permite uma total dependência de Deus. Essa história aponta um perigo comum para os líderes através dos quais Deus tem falado. Esses líderes são suscetíveis àquelas expressões sutis de incredulidade, orgulho e ciúmes. Ao contrário, a humildade nos líderes é sinal de uma contínua confiança em Deus. “Moisés os envioupara explorar Canaã”(Nm 13.1-25). Foram enviados representantes das várias tribos para explorar Canaã. Observe que o Senhor disse a Moi­ sés para enviar os espias (w. 1-24). Tentar aprender o máximo possível sobre o lugar para onde estamos indo não é uma indicação de incredulidade. “E vieram a Moisés, e a Arão, e a toda a congregação dos filhos de Israel” (Nm 13.26-33). Os espias es­ tavam de acordo na sua descrição da terra; ela era rica e muito fértil. Mas estava habitada por povos guerreiros que viviam em cidades muradas. Mas os espias discordavam sobre o que isso significava para Israel. Dez dos espias estavam atemorizados e afirmavam: “Não podemos atacar esses povos, eles são mais fortes do que nõF>E)ois deles, Calebe e Josué discordavam: “Devemos ir e tomar posse da terra, pois certamente temos condição de fazer isso”. A fé e a incredulidade ainda estão presentes quan­ do interpretamos os desafios da vida. O problema

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raramente está nos fatos, em si; ele está na maneira como os interpretamos. É um desastre espiritu­ al esquecer o fato mais importante de todos, que Deus pode nos levar ao triunfo.

condenada iria vagar em círculos nas proximidades de Cades-Barneia, até que todos morressem. Quanto aos dez espias que haviam espalhado a má notícia, eles foram atingidos imediatamente por uma praga (v. 37). “Levantemos um capitão e voltemos ao Egito” (Nm Uma desobediência direta está sempre enraizada na 14.1-46). Os israelitas aceitaram a opinião dos incredulidade, e leva aos castigos mais rigorosos. dez espias e se revoltaram (w. 1-4). Moisés e Arão “caíram sobre os seus rostos” como uma expressão “Por que quebrantais o mandado do Senhor?” (Nm de horror perante o terrível pecado de Israel (v. 5). 14.39-45). Depois que o castigo de Deus havia Quando imploraram ao povo para não se rebelar sido anunciado o povo resolveu que, afinal de con­ contra Deus “disse toda a congregação que os ape­ tas, eles iriam atacar Canaã. Moisés, corretamente, drejassem”. identificou essa atitude como uma outra desobe­ Moisés e Arão foram salvos somente pela aparição diência. O tempo é um fator importante no relacionamen­ da visível glória do Senhor no Tabernáculo. Como castigo, o Senhor anunciou que todo ho­ to com Deus. Agir demasiadamente tarde é uma mem acima de 20 anos, exceto Josué e Calebe, iria prova de incredulidade, da mesma forma como a morrer no deserto. Durante 40 anos essa geração hesitação. Ambas levam ao desastre e à derrota.

DEVOCIONAL______

Com Medo de Obedecer? (Nm 14) “Você acha que os quatro anos que Deus me fez sofrer não são suficientes?” Esta pergunta foi feita por uma jovem em uma sala de aula da Escola Dominical, na Flórida. Durante várias semanas sua história havia sido gradualmen­ te compartilhada entre as outras mulheres da clas­ se. Ela foi noiva de um jovem que a deixou grávida, e depois rompeu o noivado e se casou com a sua melhor amiga. Depois de um ano, esse casamento terminou e o jovem voltou para se casar com ela. Porém agora, eles estavam divorciados... mas ainda viviam juntos. Gentilmente, o professor tentou explicar. “Não culpe a Deus por tê-la feito sofrer. Na maioria das vezes, o sofrimento é uma consequência das nossas próprias escolhas. Se você quiser evitar o sofrimen­ to, terá que fazer escolhas melhores”. Essa é uma lição que Israel deixou de aprender, da mesma maneira que a jovem de 22 anos daquela classe da Escola Dominical entendeu que uma pes­ soa pode crer em Deus e fazer qualquer coisa que quiser. Ambos ouviram o ensinamento de Deus, mas haviam resolvido que não iriam obedecer. Ao tomar esta decisão, cada um deles manifestou aqui­ lo que a Escritura chama de “incredulidade”. Em Números 14 sentimos a ira que os pecados da rebelião haviam criado e também a graça ainda disponível ao pecador. Deus estava suficientemen­ te irado com Israel para matar esse povo “como a um só homem” (v. 15). No entanto, Moisés lem­ brou ao Senhor sobre a sua anterior revelação de si

mesmo a ele (cf. Êx 34.6,7. Nm 14.17,18). Deus é “longânimo e grande em beneficência, que perdoa a iniquidade e a transgressão”, no entanto, “o cul­ pado não tem por inocente”. Nesta passagem, assim como na vida da jovem da Escola Dominical, o perdão e as consequências são mostrados. Deus não atingiu Israel com a morte “como a um só homem”. Eles viveram o suficiente para ver seus filhos se tornarem adultos e esses filhos realmente ganharam a Terra Prometida. No entanto, como consequência da sua incredulidade e da sua rebe­ lião, os mais velhos não puderam entrar nessa terra. Eles tiveram o mesmo destino que temiam, e mor­ reram no deserto. A incredulidade ainda nos impede de prosseguir, e bloqueia a nossa obediência ao Senhor. Às vezes, o nosso motivo é o medo. Queremos obedecer a Deus, mas temos medo. Às vezes, o nosso moti­ vo é o egoísmo. Sentimos que se obedecermos a Deus não obteremos aquilo que queremos muito. Qualquer que seja o nosso motivo, deixar de con­ fiar suficientemente em Deus para obedecê-lo traz péssimas consequências para nós. Israel vagou pelo deserto, e a jovem divorciada da Flórida sofre com as suas incertezas e com a sua dor. Seria muito mais fácil nos colocarmos simples­ mente nas mãos de Deus, obedecendo-o sem he­ sitação. Aplicação Pessoal Esteja alerta contra as muitas formas que a incre­ dulidade pode assumir na sua vida.

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Citação Im portante “Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo. Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado... Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como na pro­ vocação.” — Hebreus 3.12-15

“Certamente morrerá o tal homem” (Nm 15.32-36). Os versos 30, 31 determinam que qualquer pessoa que “pecar de propósito” (na versão NTLH) “será extirpada do meio do seu povo”. Um profanador do sábado, descoberto quando apanhava lenha para fogueira neste dia sagrado, foi apedrejado até à morte por toda a comunidade. Israel precisava entender que o pecado intencional corrompe a co­ munidade e deve ser tratado com firmeza.

“Nas franjas das bordas porão um cordão azul” (Nm 15.38). A cor azul representa a realeza e a divindade, era a cor predominante nas vestes dos sumos sacer­ dotes e também a cor do tecido que envolvia a Arca da Aliança. Um cordão azul nas franjas pendentes “Eles serão responsáveis” (Nm 18.3). das roupas dos hebreus comuns servia para lembrar A repetição das antigas leis dos sacrifícios e os ri­ que cada crente era santo e que a comunidade havia gorosos castigos que Deus infringe aos sacerdotes sido chamada para ser um sacerdócio real. desobedientes servem para lembrar Israel de que os crentes devem ser puros enquanto fazem a pere­ “Porventura, pouco para vós é que o Deus de Isra­ el vos separou1” (Nm 16.1-41). Os levitas Corá, grinação. Datã e Abirão desafiaram a liderança espiritu­ al de Moisés e Arão. Eles basearam seu desafio Visão Geral Uma revisão dos sacrifícios e das ofertas (15.1-31), a na própria verdade enfatizada pelo cordão azul: execução de um profanador do sábado (w. 32-36), “toda a congregação é santa”. Entretanto, da e uma nova lei (w. 37-41), lembram a Israel de que mesma maneira como acontece conosco atual­ o povo de Deus deve ser santo. Castigos rápidos al­ mente, eles realçaram uma verdade às custas de cançaram os levitas desobedientes (16.1-50) quan­ outra verdade. Toda a comunidade era santa, mas do Deus reafirmou a primazia de Arão (17.1-13) e Deus havia escolhido Moisés para ser o líder, e a insistiu novamente sobre as responsabilidades dos família de Arão para o sacerdócio. Precisamos ter levitas (18.1-19), assim como sobre a necessidade de cuidado com aqueles que baseiam suas teorias em uma linha do ensinamento bíblico e igno­ uma purificação contínua (19.1-22). Eles aprenderam a confiar quando o rei de Arade ram outras verdades cuja finalidade é promover foi derrotado (21.1-3), quando as picadas de cobra o equilíbrio entre elas. foram curadas simplesmente ao olharem para uma Psicologicamente, é fascinante que essa rebelião serpente de bronze (w. 4-9), e quando as forças tenha sido dirigida pelo levitas, pois eles gozavam mais importantes dos amorreus foram esmagadas de maiores privilégios espirituais do que a maioria dos israelitas. No entanto, estes levitas estavam des­ em uma batalha (w. 10-35). contentes porque não podiam servir como sacer­ dotes. Até hoje em dia, alguns que quase nada têm Entendendo o Texto “Oferta queimada, holocausto, ou sacrifício” (Nm se mostram mais agradecidos do que aqueles têm 15.1-31). A narrativa da viagem é interrompida quase tudo. Parece que quando temos quase tudo, aqui pelas regras que regem uma variedade de ofer­ aquele pouco que nos falta é justamente aquilo que tas. Por quê? Estes capítulos sobre os rituais servem mais provavelmente despertará o nosso desconten­ como comentário sobre os capítulos anteriores. tamento. O povo de Deus havia se recusado a crer e tinha Este desafio aos líderes era, também, mais uma desobedecido. Estas leis serviam para lembrá-los expressão de incredulidade. Coate e seus compa­ da exortação inicial feita por Deus a respeito da nheiros conspiradores se recusavam a reconhecer que Deus havia falado claramente e, muitas vezes, santidade. Observe, também, que estes regulamentos tinham através de Moisés. uma vigência determinada: “quando entrardes na Seu pecado também foi enfrentado com um casti­ terra das vossas habitações, que eu vos hei de dar”. go imediato e espetacular. O fogo consumiu aque­ Desse modo, estas leis também representavam a les que ousaram se aproximar de Deus com incenso promessa de que Deus levaria Israel para casa, ape­ enquanto infringiam a sua lei, enquanto a terra se abriu, engolindo Coate e os seus seguidores. sar da incredulidade de uma geração. 1 DE FEVEREIRO LEITURA 32 / ..V A PUREZA PARA OS PEREGRINOS Números 15— 21

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Números 15—21

“Vós matastes o povo do Senhor” (Nm 16.41-49)- A acusação também é um outro sinal de increduli­ dade. Novamente Deus agiu para castigar, e uma praga matou 14.700 israelitas. Desta vez a praga foi vencida com um ato de Arão que, humildemente, ofereceu incenso e se colocou entre os vivos e os mortos. Esse fato deu início a uma série de eventos dirigi­ dos a realçar a importância do sacerdócio de Israel, que, por sua exclusividade, era a única nação que podia oferecer sacrifícios que purificavam o povo, e tornavam a santidade possível.

e deve ser tratado imediatamente. Devemos cuidar dos nossos pecados sem demora. Devemos confessá-los a Deus imediatamente, fazer a restituição que for necessária, e confiar na promessa de Deus de nos perdoar e de nos purificar de toda injustiça (1 Jo 1.9). “Como... [o Senhor] tinha ordenado” (Nm 20.113). Assim que retomaram a jornada em direção a Canaã, Israel sofreu os piores infortúnios pos­ síveis. Miriã morreu e foi sepultada. Como não encontraram mais água, a oposição se levantou novamente, e Moisés ficou tão perturbado que fa­ lhou em obedecer a Deus completamente; em vez de falar à rocha da qual Deus pretendia produzir água, ele a feriu. Essa desobediência à ordem de Deus, assim como a clara rebelião de Israel em Cades-Barneia, eram expressões de incredulidade. Como consequência, Deus anunciou a Moisés que ele também iria mor­ rer antes de Israel entrar na Terra Prometida. Ninguém é tão importante para a obra de Deus, a ponto de não ser castigado. Ninguém é tão impor­ tante que possa deixar de obedecer ao Senhor de forma completa.

“Você é responsável” (Nm 17-1— 18.32). A fim de demonstrar que havia escolhido Arão, Deus fez com que, da noite para o dia, milagrosamente a vara de Arão brotasse, florescesse e produzisse fru­ tos. Tendo confirmado o sacerdócio à família de Arão, o texto continua a definir as suas responsabi­ lidades. Os sacerdotes deviam cuidar do santuário e oferecer os sacrifícios necessários para purificar um povo com tanta disposição para pecar (18.1-7). Em compensação, os sacerdotes iriam receber uma parte dos sacrifícios oferecidos a Deus, além de um décimo do dízimo pago aos levitas pelas outras tribos. Dessa maneira, os privilégios espirituais estavam “Israel se desviou dele” (Nm 20.14-29). Os dias acompanhados de sérias responsabilidades e de sombrios continuaram, pois Israel se retirou peran­ grandes recompensas. te um grande exército moabita, e Arão morreu. No entanto, mesmo na tristeza, uma brilhante es­ “A água de purificação ” (Nm 19.1-22). Em Israel, a perança estava presente. O texto diz que Arão foi impureza ritual era contagiosa. Se uma pessoa to­ “recolhido ao seu povo”. Esta frase é usada no An­ casse o corpo de um morto ela não só se tornava tigo Testamento quando fala da morte dos crentes impura como qualquer objeto que ela tocasse daí que viveram até uma idade avançada, e expressa a em diante se tornaria impuro também. Isso signi­ firma confiança de que essa pessoa irá se reunir aos ficava que a impureza devia ser tratada imediata­ seus entes queridos que já haviam partido há muito mente, antes que todo o acampamento e o próprio tempo. Tabernáculo pudessem ser contaminados. Sendo Quando sofremos a perda de um entre querido, e assim, eles conservavam à mão as cinzas de uma tudo nos parece sombrio, essa frase nos lembra da bezerra sacrificada, prontas para serem misturadas esperança que é compartilhada pelo povo de Deus com água e aspergidas sobre qualquer pessoa que em todas as épocas. A morte não é o fim, é uma tivesse tocado em um cadáver. reunião. Um dia todos aqueles que creem irão se Esse rito não era uma mágica, mas refletia as reali­ reunir à feliz companhia dos redimidos, e gozar dades espirituais. O pecado contamina realmente, plenamente o dom divino da vida eterna.

DEVOCIONAL______ Olhe e Viva

(Nm 21) Muitas vezes, a sequência dos eventos registrados na Escritura, assim como os próprios eventos, nos ensinam importantes verdades. Este é, certamente, o caso de Números 21 que apresenta um grande contraste com o capítulo 20. No capítulo anterior, Israel havia atingido um ponto extremo de infortú-

nio na sua jornada em direção a Canaã. Até Moisés havia demonstrado ser vulnerável à incredulidade. A desesperança, a derrota e a morte pareciam ser tudo que o povo de Deus podia esperar. Mas, então, o tom do texto do Antigo Testamento muda totalmente. Israel procurou a ajuda de Deus e conquistou uma vitória sobre o rei cananeu Arade (w. 1-3). Que importa se este reino do sul era in­

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Números 22— 25 significante? Era uma vitória enfim. Quando tudo parece sombrio, cada vitória é importante. E, entáo, o povo falou novamente contra Deus e contra Moisés! Dessa vez, o Senhor enviou uma invasão de serpentes venenosas e, novamente, um novo tema foi introduzido. Moisés confeccionou uma serpente de bronze, colocou-a no alto de uma haste e prometeu que as pessoas mordidas podiam simplesmente olhar para esta serpente de bronze e logo ficariam curadas. As pessoas que tinham fé olhavam e eram curadas! Embora a comunidade estivesse coberta de incre­ dulidade, ainda havia esperança para os indivíduos que estavam dispostos a confiar em Deus. E claro que a confiança é um antídoto eficiente contra a incredulidade! O próximo incidente sugere que agora a confian­ ça havia se tornado contagiosa, da mesma maneira como antes o mesmo acontecia com a incredulida­ de. Os israelitas enfrentaram os maiores inimigos em dois reinos amorreus vizinhos, e conquistaram a ambos. Deus havia dito: “Não o temas, porque eu to tenho dado na tua mão, a ele, e a todo o seu povo, e a sua terra”. Desta vez o povo creu, obede­ ceu, e venceu! Esta fase da viagem, que havia começado com ta­ manho desespero, terminou em alegria. Israel esta­ va aprendendo que um povo purificado, e desejoso de confiar em Deus, iria gozar a vitória em vez de sofrer derrotas. Essa é uma grande mensagem que precisa estar sempre em nosso pensamento. Não importa o quanto a nossa vida passada tenha sido imperfeita, nem o quanto o nosso presente seja sombrio; de­ vemos ter esperança. Podemos decidir agora que os nossos próximos passos serão passos de fé. Podemos e devemos crer, podemos e devemos obe­ decer e, quando o fizermos, venceremos! Aplicação Pessoal Devemos nos lembrar de que tanto a confiança como a incredulidade são contagiosas. Devemos ter a certeza de transmitir aos nossos entes queridos a “doença” correta. Citação Im portante Se confiarmos em nossas próprias forças, o nosso esforço será perdido; O mesmo acontecerá se não tivermos a pessoa certa ao nosso lado, o Escolhido de Deus. Você está perguntando quem poderia ser? Ele é Cristo Jesus — Jeová Sabaoth é o seu nome. De geração em geração Ele é o mesmo, E vencerá a batalha. — Martinho Lutero

2 D E FEVEREIRO LEITURA 33 í \ A HOSTILIDADE AOS PEREGRINOS Números 22— 25 “Vem, pois, agora, rogo-te, amaldiçoa-me este povo” (Nm22.6). De uma maneira ou de outra, os crentes que esta­ vam peregrinando em direção à Terra Prometida por Deus, realmente ameaçaram os outros. Quan­ do a oposição aparece é bom lembrar que embora muitos possam nos amaldiçoar, Deus prometeu que vai nos abençoar. Visão Geral Quando Israel se aproximou, os aterrorizados moabitas e midianitas chamaram Balaão, um profeta pagão, para amaldiçoar o povo de Deus (22.1-8). Apesar das repetidas advertências, Balaão foi a Moabe (w. 9-41). As três tentativas para amaldiçoar Israel falharam e, em lugar da maldição, Deus obri­ gou Balaão a abençoar Israel (23— 24). O astuto profeta sugeriu aos moabitas que deviam seduzir os israelitas e levá-los a cometer a idolatria a fim de obrigar o próprio Deus a amaldiçoar o seu povo (25.1-5). Essa conspiração fracassou através da in­ tervenção de um sacerdote de Deus (w. 6-18). Entendendo o Texto “Chamem Balaão, filho de Beor” (Nm 22.1-21). A aproximação de Israel aterrorizou os moabitas e os midianitas e Balaão foi chamado para amaldiçoar Israel. Aqui “maldição” corresponde a uma expres­ são vocal “mágica” que, segundo acreditavam, po­ dia refrear ou limitar os poderes de alguém. Invariavelmente, as passagens bíblicas retratam Ba­ laão como um indivíduo que tinha um caráter per­ verso, amava mais o dinheiro que a Deus e também estava ansioso para amaldiçoar Israel (cf. D t 23.4,5; 2 Pe 2.15; Jd 11; Ap 2.14), O Antigo Testamento diz que Balaão recebeu “o preço dos encantamen­ tos” e que, geralmente, recorria a “encantamentos”, ou seja, à bruxaria (Nm 22.7; 24.1). Estas práticas pagãs eram abominações proibidas em Israel (Dt 18.10). Números 31.8-16 diz que Balaão sugeriu aos inimigos de Israel que deviam seduzir o povo de Deus e levá-lo à idolatria na esperança de que, então, Deus seria forçado a amaldiçoá-lo. Em vista disso tudo, podemos entender melhor os motivos de Balaão e dos seus atos. A constante referência que Balaão fazia ao dinheiro deve ser entendida como uma sutil demanda por um preço maior. Sua insistência em dizer apenas aquilo que Deus queria que ele dissesse não era si­ nal de piedade, mas um esforço para se promover

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Números 22— 25 como um porta-voz escolhido por Deus. Embora, Agague e, sob o segundo rei, Davi, o reino de à primeira vista, Balaão falasse e parecesse piedoso, Israel foi “exaltado”. a piedade era apenas uma aparência com a finalida­ O nosso futuro também é certo e brilhante. de de esconder sua ganância. “Nos últimos dias” (Nm 24.10-25). Furioso, Bala­ “Edificá-me aqui sete altares” (Nm 23.1-6). Balaão que se recusou a pagar Balaão que respondeu di­ obedeceu a um procedimento escrito em uma tá­ zendo que só podia dizer aquilo que Deus man­ bua cuneiforme encontrada na Babilônia. Essa tá­ dava. Então, ele se apresentou voluntariamente bua prescrevia: “Ao amanhecer, na presença de Ea, para pronunciar mais oráculos que reproduziam o Shamash e Marduque, você deve edificar sete alta­ destino dos inimigos de Israel. res, colocar sete incensórios de cipreste e derramar A frase “nos últimos dias” (v. 14) pode significar o sangue de sete carneiros”. A posição de Balaque simplesmente “no futuro”, mas muitas vezes ela in­ “ao pé do seu holocausto”, e a escolha de Balaão dica o fim da história. A referência clara e direta a por uma elevação em busca de alguma revelação, “uma estrela procederá de Jacó, e um cetro subirá também revelam algumas práticas pagãs comuns. de Israel” está dirigida a Davi e faz uma provável Balaão era um pagão, e seguia um ritual pagão, alusão ao maior Filho de Davi, Jesus. Os papiros quando Deus aproveitou a sua iniciativa e falou do mar Morto, assim como muitos rabinos, enten­ através dele. dem que essa passagem é messiânica. Davi realmente feriu e destruiu Moabe e Edom, Balaão “alçou a sua parábola” (Nm 23.7—24.9). como Balaão havia previsto. Também se cumpri­ Os sacrifícios foram repetidos três vezes, em três ram outras profecias expressas nestes oráculos; os diferentes elevações. De cada uma delas podia se amalequitas foram derrotados (v. 20) por Saul, por ver uma seção diferente do acampamento de Israel. Davi, e, finalmente, foram destruídos por Ezequias Para aumentar a frustração de Balaão e de Balaque, (1 Cr 4.43). Provavelmente, os navios de Quitim Deus transformava em uma bênção cada tentativa levavam povos invasores, os filisteus, que derrota­ de amaldiçoarem Israel. ram as tribos costeiras de Israel; mas esses povos A primeira bênção (23.7-10) reflete a escolha di­ também foram arruinados. vina de Israel para ser um povo que “habitará só Entretanto, de qualquer maneira que essas profe­ e entre as nações não será contado”. Como podia cias sejam interpretadas, elas anunciavam a derrota Balaão amaldiçoar um povo a quem Deus não ha­ final de todos os inimigos do povo de Deus. Na via amaldiçoado? verdade, os crentes sofrem certa oposição à medida Para nós é muito importante lembrarmos disso. que se dirigem à Terra Prometida por Deus. Essa Podemos experimentar ódio e até perseguição oposição pode criar uma verdadeira e séria dificul­ em nossa peregrinação cristã. Mas, como alguém dade. Mas, “nos últimos dias”, os nossos inimigos é poderia fazer o mal a um povo que Deus não ha­ que serão derrotados pelas mãos de Deus. via amaldiçoado? Paulo reflete esta realidade em Romanos 8.31, quando diz: “Se Deus é por nós, “O povo comeu e inclinou-se aos seus deuses” (Nm quem será contra nós?” 25.1-18). O texto em Números 31.16 diz que Ba­ A segunda bênção (Nm 23.18-24) focaliza a pre­ lão advertiu os moabitas dizendo que eles iriam sença de Deus entre o seu povo: “O Senhor, seu corromper Israel tanto moral quanto espiritual­ Deus, é com ele e nele, e entre eles se ouve o mente. Então, as mulheres moabitas se colocaram à alarido de um rei”. Portanto, “contra Jacó não disposição dos homens de Israel nos limites do seu vale encantamento, nem adivinhação contra Is­ acampamento e, depois de seduzi-los, elas “convi­ rael”. Aquilo que Balaque temia iria certamente daram o povo aos sacrifícios dos seus deuses”. acontecer: o exército de Israel seria como uma Foi emitida uma sentença de morte a todos que leoa que devora sua “presa e bebe o sangue de haviam prevaricado, mas aparentemente, as execu­ mortos”. ções foram adiadas e, em seu lugar, Deus enviou Atualmente, também é a presença de Deus que uma devastadora praga. Durante esse tempo, um nos mantém salvos e, por causa dEle, são os nossos israelita trouxe abertamente uma mulher midianita inimigos que por fim, irão conhecer a derrota. à sua tenda e ambos foram seguidos por Finéias, A terceira bênção (24.3-9) prevê a instalação de um sacerdote, que matou a ambos com um simples Israel naquela terra. Depois, ela passa a prever golpe da sua lança. Esse ato deu fim à praga, mas o dia em que um rei se elevaria “mais do que até então 24 mil já haviam morrido. Agague” e que seu reino seria “exaltado” (ARA). Esta história tem duas lições para nós. Primeiro, é Saul, o primeiro rei de Israel, realmente derrotou perigoso deixar de tratar a questão do pecado ime-

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Números 22— 25 diaramentc; se não estivermos dispostos a cuidar dos nossos pecados, Deus estará. Segundo, Finéias agiu com responsabilidade ao ma­ tar o profanador israelita. Como sacerdote, ele era responsável por manter a pureza do acampamento.

DE V OCIONAL______ Quando a Jum enta Fala

(Nm 22.21-41) Foi fascinante falar com a publicitária que meus editores haviam contratado. Eu estava em Los An­ geles visitando várias estações de rádio para ser en­ trevistado sobre um dos meus livros. Entre uma e outra visita, a publicitária falou com desembaraço sobre um certo número de “grandes” homens cris­ tãos que desempenhavam importantes ministérios dizendo que eram admirados por muitos e, prova­ velmente, até idolatrados por alguns. “Por exemplo, Jerry Falwell”, ela disse, “é um dos homens mais bondosos e gentis com quem já tra­ balhei. Quando as coisas não iam bem ele nunca se alterava. E, ao contrário de alguns, depois das nos­ sas viagens ele sempre agradecia a minha ajuda”. Depois ela continuou a falar sobre um outro cris­ tão “famoso” que era muito diferente. Esse homem era impaciente, arrogante e indelicado. “Podem me pagar o que quiserem, nunca mais vou trabalhar com ele outra vez”. Lembrei-me dela ao ler novamente a história de Bakão e separei vários comentários. Alguns autores fi­ cam tão impressionados por Deus ter falado através de Balaão, que chegam a entender que isso prova que Balaão era um verdadeiro profeta, e até um ho­ mem piedoso, um verdadeiro homem de Deus. Mas esses analistas não levam em consideração a jumenta de Balaão. Veja, o texto diz que “a ira de Deus acendeu-se” (v. 22) quando Balaão começou a viagem para Moabe. Ele continuava a insistir com Deus que queria ir, apesar de saber muito bem que não tinha a permissão divina de fazer essa viagem. Quando Balaão se aproximou, e um anjo se posi­ cionou para matá-lo, a jumenta parou e se recusou a continuar. Zangado, Balaão bateu no animal que resistia à sua vontade. E, então, a jumenta falou! Que ironia! Se o fato de Deus ter falado através de Balaão prova realmente que ele era um verdadeiro profeta e um homem santo, o que prova o fato de Deus ter falado através de uma jumenta? Imagino que o fato de estar sendo usado como porta-voz de Deus não serve como prova de qualquer piedade ou santidade pessoal — como vários evangelistas da TV americana têm demonstrado ultimamente. A história de Balaão tem o seu paralelo em o Novo

Nós também somos responsáveis. Ao vermos um pecado claro e flagrante na comunidade da fé, de­ vemos tomar a iniciativa, e fazer o que pudermos para eliminá-lo. Aqueles que amam a Deus devem odiar o pecado, e se colocar sempre contra ele.

Testamento. O apóstolo Paulo adverte contra a inocente suposição de que o sucesso no ministé­ rio, ou uma boa reputação, indiquem uma piedade pessoal. Ele diz: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distri­ bua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará” (1 Co 13.1-3, ARA). Qual é a prova da santidade? Paulo responde: “Amor”. E diz: “O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (w. 4-7, ARA). Deus pode usar qualquer um para ser o seu portavoz. Devemos nos lembrar de que é o amor — não os dons espetaculares, não o “sucesso” ou a repu­ tação, ou mesmo ser usado por Deus — que é a marca da verdadeira espiritualidade, e de um rela­ cionamento íntimo e pessoal com o Senhor. Aplicação Pessoal Ser sensível a Deus, e obedecê-lo, é melhor do que qualquer reconhecimento público de ser um dos seus porta-vozes. Citação Im portante Rei Jesus, por que escolheste Um solitário jumento para te carregar? ^m ontar na tua entrada triunfal? Será que não tinhas nenhum amigo Que tivesse um cavalo, uma montaria real e espe­ cial, Adequado para ser montado por um rei? Por que escolher um jumento, um pequeno e despretencioso Animal de carga, treinado para arar, E não para carregar reis?

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Números 26—30

Rei Jesus, por que me escolheste, Uma humilde e insignificante pessoa, Para te carregar no meu mundo de hoje? Sou pobre e insignificante, treinado para traba­ lhar, E não para carregar reis, muito menos o Rei dos reis. No, entanto, Tu me escolheste para levar-te em triunfo, Neste dia a dia do mundo. Rei Jesus, conserve-me pequeno, Para que tudo que eu possa ver seja a tua grandeza. Conserva-me humilde para que tudo que eu possa dizer seja, “Bendito seja aquele que veio em nome do Se­ nhor”, e não: “que grande jumento Ele está montando.” — Joseph Bayly 3 DE FEVEREIRO LEITURA 34 O PANORAMA PARA OS PEREGRINOS Números 2 6 —30 “A estes se repartirá a terra em herança” (Nm 26.53). Novamente purificados, os israelitas se preparam para entrar na Terra Prometida. Os acontecimentos e as leis registrados nesses capítulos servem como promessas de Deus ao seu povo. Canaã estava à sua frente, e a vitória estava assegurada. Visão Geral Um censo militar revelou que Israel estava pronto para atacar Canaã (26.1-65). A confiança de que Israel iria conquistar sua herança foi mostrada atra­ vés das filhas de Zelofeade (27.1 -11 ), pela indicação de Josué (w. 12-23) e por uma revisão das ofertas a serem feitas perpetuamente depois da Conquista (28.1— 29.40). Foram esclarecidas regras para os .votos pessoais que eram feitos frequentemente um pouco antes da guerra (30.1-16). Entendendo o Texto “Entre estes nenhum houve” (Nm 26.1-66). O censo realizado com aqueles que estavam em condições de servir ao exército estabeleceu dois fatos importantes. O número total de homens disponíveis era de 601.730, com a diferença de apenas alguns milhares de 40 anos atrás. “E entre estes nenhum houve dos que foram contados por Moisés e Arão, o sacerdote, quando contaram aos filhos de Israel no deserto do Sinai” (v. 64). A geração antiga e desobediente havia morrido,

e mesmo assim a comunidade não havia perdido a sua força! Os obedientes iriam herdar a terra que os desobe­ dientes haviam desprezado. “Morreu... e não teve filhos” (Nm 27.1-11). Moisés foi abordado por cinco filhas de um homem que morreu e não deixou filhos homens. O pedido que elas fizeram, em relação às propriedades, reflete a estrutura patriarcal da sociedade israelita. Somente os filhos homens tinham o direito a herdar, e o fi­ lho mais velho recebia o dobro da herança que os mais jovens recebiam. Em primeiro lugar, o pedido mostrava que aquelas moças criam que Israel teria sucesso na tomada de Canaã. Somente a vitória faria com que houvesse terras para dividir e herdar. Este episódio mostra como muitas leis do Antigo Testamento foram desenvolvidas. Quando ocorria uma nova situação, Moisés apresentava o caso ao Se­ nhor, e a maneira como Deus agia se tornava o pre­ cedente para a solução de outros casos semelhantes. “Moisés... tomou a Josué e apresentou-o... peran­ te toda a congregação” (Nm 27.12-23). Quanto mais Israel se aproximava de Canaã, mais próxi­ mo ficava o momento de Moisés morrer. Moisés deixou de lado quaisquer receios que tivesse a este respeito, e pensou naquilo que a sua morte poderia significar para Israel. Ele orou para que Deus indicasse um homem da comunidade para substituí-lo (“ponha um homem sobre esta con­ gregação”). Esse incidente demonstra a estatura de Moisés como um verdadeiro homem santo. O Novo Tes­ tamento nos dá uma definição parcial do que é ser cristão: “Que ninguém procure somente os seus próprios interesses, mas também os dos outros” (Fp 2.4, NTLH). Deus respondeu à oração de Moisés dizendo que ele devia, publicamente, indicar Josué para sucedêlo. Aqui, o ato de colocar as mãos é um símbolo da transferência de liderança. Ê bom saber que quando as pessoas das quais de­ pendemos se afastam, Deus tem outras para tomar o seu lugar. “Da minha oferta... tereis cuidado, para mas ofere­ cer a seu tempo determinado” (Nm 28.1— 29.40). O propósito da próxima seção, com seus detalhes a respeito das ofertas rituais, parece estar fora de lugar. Por que aqui, e não em outro livro como Levítico? Estes regulamentos funcionam aqui como uma promessa divina. Deus especifica os animais que

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Números 26—30

Muitas vezes, o voto assumia uma forma de bar­ ganha: “Se Deus fizer isso, então eu farei...” (Gn 28.20-22; 1 Sm 1.11). Exatamente agora que Israel estava prestes a invadir Canaã, as leis relativas aos votos foram esclarecidas. Em poucas palavras, qualquer homem que fizesse um voto ficava comprometido com ele. Mulheres casadas ou solteiras também podiam fazer votos, mas eles poderiam ser anulados por um marido ou pai, se desejasse, quando tomasse conhecimento do voto. Essa passagem introduz um importante princípio legal. Se o marido ou o pai não dissessem nada ao saber sobre o voto da esposa ou da filha, esse voto traria uma vinculação. O silêncio implica o con­ sentimento. O mesmo acontece atualmente. Se algum de nós deixar de falar a respeito de alguma coisa que estiver errada, e ficarmos em silêncio, o silêncio significará que estamos de acordo e nos tornará participantes daquilo que estiver errado.

deviam ser oferecidos a Ele em cada dia do ano enquanto Israel ocupasse aquela terra. Somando tudo vemos que os israelitas deviam oferecer 113 bezerros, 32 carneiros e 1.086 cordeiros, mais uma tonelada de farinha e mil medidas de azei­ te e de vinho. Isso tudo e mais quaisquer outras ofertas voluntárias ou ofertas pelo pecado feitas pelo povo. A relaçáo diária das ofertas, semana após semana e mês após mês, era uma promessa com um sentido duplo. Israel iria, seguramente, ocupar a terra onde as ofertas deviam ser feitas, e a terra iria se mostrar suficientemente fértil para sustentar os israelitas, e fornecer generosas ofertas para o Senhor. “Quando um homem fizer voto ao Senhor” (Nm 30.1-16). Votos eram promessas voluntárias para dar dinheiro, ou qualquer outra coisa de valor, ao Senhor. Quando uma pessoa fazia esse juramento, ela ficava comprometida, e o juramento não podia ser quebrado.

DEV OCIONAL______

O Panoram a para as Mulheres (Nm 27.1-11) “Está na hora de deixar esta igreja” Carol insistia. “Eu simplesmente não aceito que minha filha seja criada em uma atmosfera onde as mulheres são constantemente menosprezadas”. O que incomodava Carol não era tanto aquilo que os líderes diziam, mas o que faziam. Tudo era feito pelos homens, não havia nenhuma mulher como auxiliar, elas nunca falavam no púlpito e nem mesmo davam qualquer comunicado. Somente os homens tinham a permissão para servir a Santa Ceia, e somente os homens podiam fazer parte do conselho da igreja. Carol entendia que sua igreja tinha muito para recomendá-la, mas a impressão de que as mulheres não tinham importância, sutilmente transmitida pelas práticas da igreja, criava uma sensação de opressão que ela não podia mais suportar. A questão levantada pelas cinco filhas de Zelofeade parece refletir a preocupação de Carol. Será que o sistema patriarcal de Israel discriminava as mulhe­ res? Será que também em Israel as mulheres eram cidadãos de segunda classe? Alguns poderiam até argumentar que o domínio masculino na cultura de Israel serviu como um exemplo da eliminação das mulheres de uma participação significativa nas igrejas de hoje! Mas será que havia uma discriminação contra as mu­ lheres? Superficialmente, talvez; entretanto, quan­ do uma jovem israelita se casava, seu pai precisava

providenciar um dote. Este presente de casamento, que frequentemente podia consistir de roupas, joias, móveis, dinheiro e até jovens escravas, representava a parte da noiva nas posses da família. Assim, fica bastante claro que as mulheres eram valorizadas, e que lhes era atribuído um valor justo! Elas simples­ mente recebiam a sua parte através de uma maneira diferente de se conceder uma herança. Esta história nos lembra como é importante enten­ der a maneira de viver do Antigo Testamento antes de julgarmos a justiça ou injustiça de algumas prá­ ticas específicas e antes de aplicarmos aos tempos modernos os princípios que extraímos delas. O que a história das filhas de Zelofeade nos faz pensar é que as mulheres eram realmente impor­ tantes em Israel. E a sua importância era simples­ mente mostrada de uma maneira diferente da dos filhos. No entanto, ambos eram valorizados e cada um deles recebia uma parte justa de tudo aquilo que a família possuía. Talvez o que devamos extrair desta história seja um desafio para reavaliarmos as práticas nas nos­ sas igrejas. Talvez a importânèja das mulheres não precise ser afirmada da mesma pianeira como a im­ portância dos homens é demonstrada. Mas, a não ser que as mulheres sejam reconhecidas como to­ talmente participantes da comunidade cristã, esta­ remos ofendendo a sua personalidade e negando as dádivas que Deus concedeu a todas, como também a cada uma delas em particular.

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Números 31— 36

Aplicação Pessoal “Nenhum falta” (Nm 31.25-54). Podemos ver a for­ Em nossa viajem em direção à Terra Prometida ça do inimigo através dos 800 mil animais e das 32 existe um lugar para cada peregrino. mil virgens que foram capturados como espólio de guerra. Na época da Bíblia, as jovens se casavam ain­ da na puberdade, de modo que o número 32 mil re­ Citação Importante “As Escrituras provam, sem sombra de dúvida, que presenta apenas uma pequena parte da população. o apóstolo Paulo tinha muita consideração pelo tra­ Quando os israelitas fizeram a chamada, eles desco­ balho e pelo ministério das mulheres. As Escrituras briram que essa vitória total havia sido conquistada mostram que as igrejas locais e outros ministérios sem a perda de um único homem! A vitória sobre cristãos devem se esforçar para encontrar funções Midiã era uma previsão e uma promessa do sucesso eficientes e satisfatórias para as santas mulheres que que Deus iria proporcionar ao seu povo se continu­ neles servem ao Senhor. Algumas das trágicas situ­ asse a confiar nEle. ações que se originaram de um intenso aconselha­ Desta vez Israel respondeu adequadamente, eles mento entre os membros do sexo oposto poderiam presentearam o Senhor com todo o ouro que ha­ ter sido realmente evitadas se as mulheres tivessem viam adquirido. O povo de Deus havia, finalmente, a permissão de exercer a sua vocação de aconselhar aprendido a ser agradecido. outras mulheres... Muitas outras facetas da obra de Deus são bem-sucedidas ou não, dependendo “Dê-se esta terra aos teus servos em possessão” (Nm da disponibilidade de mulheres santas e eficientes 32.1-42). No começo, Moisés entendeu que o pedi­ do dos rubenitas e dos gaditas como uma falha em para liderá-las.” — H. Wayne House obedecer completamente a Deus. Mas a promessa 4 DE FEVEREIRO LEITURAfeita 35 por estas tribos de aderir à batalha por Canaã mostrava que eles permaneciam fiéis ao Senhor. Pre­ _ .Z .X . PROMESSAS AOS PEREGRINOS cisamos avaliar os outros através do compromisso Números 31— 3 6 que têm com Deus e não se estão completamente “E tomareis a terra em possessão e nela habitareis; de acordo conosco. porquanto vos tenho dado esta terra, para possuí-la” “Estas são asjornadas dosfilhos de Israel”(Nm 33.1-49). (Nm 33.53). Alguns entendidos apresentaram uma variedade de Israel havia alcançado os limites da Terra Prometi­ teorias criativas a respeito do significado das 42 pa­ da e tudo nestes últimos capítulos pode ser inter­ radas mencionadas aqui. No entanto, uma coisa está pretado como uma firme promessa de que Deus bastante clara. Deus havia conduzido o seu povo desde o Egito até os limites de Canaã. Apesar dos pecados iria conceder vitória e paz ao seu povo. e dos erros de Israel, apesar da desolação e da secura do deserto, e apesar dos exércitos inimigos, Deus havia Visão Geral Israel havia esmagado os midianitas (31.1-54), e permanecido fiel. Analisando cada estágio da jornada, cerca de duas das suas 12 tribos receberam suas ter­ Israel podia fazer uma previsão do futuro em tudo que ras (32.1-42). Moisés fez uma revisão da viagem de havia acontecido. O Senhor que os havia conservado Israel (33.1-49), reiterou que o povo deveria des­ com segurança iria, certamente, lutar por eles quando truir completamente os cananeus (w. 50-56), fixou finalmente invadissem a Terra Prometida. os limites da Terra Prometida (34.1-29) e lembrou Analisar os eventos ocorridos no passado é uma ati­ a Israel que devia separar terras para os levitas e tude que pode ter um valor similar para nós. Sim, as cidades refúgio (35.1-34). E também ordenou encontraremos muitos exemplos de fracassos pesso­ que as mulheres que herdassem terras se casassem ais. Nós nos lembraremos de ocasiões em que a vida parecia desolada e vazia. Mas também perceberemos dentro da sua própria tribo (36.1-13). que o Senhor nosso Deus nos ajudou a atravessar estes períodos de dificuldades, sim, nos dirigiu, nos Entendendo o Texto “ Vinga osfilhos de Israel dos midianitas”(Nm 31.1 -24). fortaleceu, e nos trouxe com toda a segurança ao Além de terem se colocado contra os israelitas, os mi­ momento que estamos vivendo. Lembrarmo-nos dianitas também haviam colocado em prática a estra­ da fidelidade de Deus nos ajuda a prosseguir com tégia de Balaão e levado muitos israelitas à idolatria. A confiança, à medida que damos os nossos próximos completa destruição de Midíã foi o castigo divino que passos em direção à Terra Prometida. recaiu sobre este pecado e sobre a própria idolatria. Muitas vezes, Deus usa os seres humanos como ins­ “Lançareis fora todos os moradores da terra” (Nm trumentos para castigar o pecado. 33.50-56). Moisés repetiu a ordem de-Deus ao or-

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Números 31—36

denar que todos os cananeus fossem expulsos da Terra Prometida. Qualquer íntima associação com os povos pagãos poderia corromper Israel e o povo de Deus devia permanecer isolado e puro. O Novo Testamento reflete este pensamento, mas com uma modificação significativa. Paulo observa que a úni­ ca maneira de evitarmos contato com os pagãos e suas práticas é “sair deste mundo” (1 Co 5.10). Portanto, devemos simplesmente evitar nos “prender a um jugo” com os infiéis (2 Co 6.14). Devemos nos identificar com nossos companheiros crentes e não com os con­ denados. Se o nosso coração pertence exclusivamente ao Senhor, e os nossos desejos mais íntimos foram mol­ dados dentro de uma comunidade cristã, então iremos permanecer isolados e puros, capazes de representar Jesus perante as pessoas deste mundo. “Deem cidades aos levitas” (Nm 35.1-5). As cidades dos levitas estavam dispersas ao longo do territó­ rio das outras tribos. Dessa maneira, os levitas que, juntamente com os sacerdotes, deviam ensinar a Lei de Deus para Israel, estariam disponíveis. Não podemos influenciar aqueles com quem não temos nenhum contato. “Cidades de refúgio” (Nm 35.6-34). A Lei do Anti­ go Testamento estabelece uma clara diferença en­ tre o crime premeditado e o homicídio acidental. Foram incluídas situações especificas como eventos dos quais podemos extrair alguns precedentes. Em Israel não existia nenhuma força policial na­ cional ou local. Os membros de cada comunidade eram responsáveis pela aplicação das leis de Deus depois que um júri formado pelos anciãos locais determinava os fatos de cada ocorrência. No caso de haver uma morte, o parente mais próximo da vítima, chamado de “vingador do sangue”, era en­ carregado de executar o assassino. A lei era muito severa ao lidar com o crime preme­ ditado. “O sangue faz profanar a terra; e nenhuma expiação se fará pela terra por causa do sangue que se derramar nela, senão com o sangue daquele que o derramou”. Deus proveria a terra para o seu povo, e eles seriam responsáveis por manter a sua pureza.

As cidades de refúgio estavam localizadas de tal maneira que qualquer pessoa que matasse alguém acidentalmente teria que caminhar apenas a jornada de um dia para estar em segurança. O Deus que julga e pune os culpados pro­ tege o inocente com muita rapidez.

as tribos de Israel. Cada tribo, e cada família desta tribo, deveria conservar perpetuamente o pedaço de terra recebido, como uma herança permanente do Senhor. Embora as filhas de Zelofeade tivessem recebido a garantia da sua terra, elas foram avisa­ das de que deviam de casar dentro da sua própria tribo a fim de preservar a herança desta tribo. “Se casem na família da tribo de seu p a i” (Nm Aquilo que Deus dá não deve ser levianamente 36.1-13). A Terra Prometida seria dividida entre transferido para os outros.

DE V OCIONAL____________________________

E a Escolha deles jovem aviador que o nosso pastor tinha se conven(Nm 32) eido de que deveria se dedicar à atividade missionáMuitos anos atrás, eu fui escolhido para ser pa- ria como piloto da Missionary Fellowship Aviation. drinho de casamento de um amigo. Jack era um Lembro-me de como o pastor ficou aborrecido

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Números 31—36 quando Jack anunciou que iria se casar e perma­ necer trabalhando na sua companhia de aviação. O pastor estava convencido de que Jack havia escolhi­ do algo que estava muito abaixo daquilo que Deus havia preparado. Moisés teria entendido a reação do nosso pastor. Ele também ficou muito aborrecido quando as tri­ bos de Rúben e de Gade, junto com metade da tribo de Manassés, lhe pediram a região além do Jordão que eles haviam tomado dos midianitas. O problema era que esse território estava localizado fora de Canaã, a terra que Deus havia prometido a Abraão. Será que seu pedido era justo, ou mesmo correto? O texto não nos dá uma resposta clara, embora à primeira vista possa parecer que instalar-se fora da Terra Prometida seria uma clara rejeição do propó­ sito declarado de Deus e das suas promessas. No entanto, duas coisas sugerem que o motivo des­ te pedido não era uma falta de compromisso com Deus ou de fé. As tribos requerentes prometeram atravessar o Jordão para combater na batalha por Canaã. Aqui a palavra hebraica é comovente, pois diz realmente: “Nós nos armaremos, apressando-nos diante dos de Israel” (v. 17). As tribos de Rúben e de Gade demonstraram seu compromisso e sua dispo­ sição de liderar Israel na batalha e de suportar o ím­ peto dos ataques. Eles mostraram sua confiança em Deus com a sua presteza em abandonar suas famílias e seus rebanhos desprotegidos enquanto os homens capazes estavam indo para a guerra.

Moisés aceitou estas condições e concedeu a Rú­ ben, a Gade, e à meia tribo de Manassés, vastas áreas de terra a oeste do rio Jordão. Essa é uma coi­ sa boa para lembrarmos quando nos sentirmos ten­ tados a julgar alguém por causa de alguma decisão que tenha tomado. Moisés pode não ter gostado da decisão que Rúben e Gade haviam tomado, mas convencido do seu compromisso e da sua confian­ ça em Deus, Moisés lhes deu liberdade para colocála em prática. Nós podemos, realmente, dizer a uma pessoa o que seria o melhor de Deus para ela, mas a nossa opi­ nião não é tão importante. O que importa ainda é o seu compromisso, e a sua ativa confiança em Deus. Todos devem ter a liberdade de caminhar para onde Ele os guiar. Aplicação Pessoal O conselho mais importante que podemos dar a uma pessoa é: Confie no Senhor, e caminhe para onde Ele mandar. Citação Importante “Cada vez que dizemos, ‘Creio no Espírito Santo’ estamos dizendo que cremos que exista um Deus vivo capaz e disposto a entrar na personalidade hu­ mana e modificá-la.” — J. B. Phillips

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em 1 TIMÓTEO

DEUTERONÔMIO INTRODUÇÃO Deuteronômio é o quinto e último livro escrito por Moisés. Situado historicamente em aproximadamen­ te 1400 a.C., Deuteronômio significa “segunda lei [repetida]” e foi escrito sob a forma de um tratado do segundo milênio a.C, entre um governante e o seu povo. Os israelitas haviam sido escravos no Egito até a intervenção de Deus, por volta de 1450 a.C. Eles foram libertados por Deus através de uma série de milagres e conduzidos até o monte Sinai. Neste lugar, Moisés que fora chamado por Deus para liderar Israel deu ao povo uma Lei, um sacerdócio, um sistema de sacri­ fícios e um lugar portátil para adoração. Mas, quando as gerações do Êxodo se aproximaram de Canaã, a terra que Deus havia prometido a Abraão, antecessor de Israel, os israelitas se rebelaram. Durante 40 anos eles vagaram em círculos pelo deserto até que todo membro adulto daquela primeira geração rebelde tivesse morrido. Em Deuteronômio Moisés está falando aos seus filhos, uma nova geração que agora está pronta para obedecer a Deus e prestes a conquistar a terra que Ele havia prometido ao seu povo. Esta revi­ são da lei divina foi transmitida à nova geração de israelitas a fim de explicar a natureza do seu relaciona­ mento com o Senhor. No final desse livro, esta nova geração, conhecendo a natureza do relacionamento que Deus pretende ter com Israel, enfrenta o desafio de se comprometer plenamente com o Senhor. Deuteronômio lembra-nos de que os relacionamentos de Deus com os seres humanos sempre foram ca­ racterizados pela graça. Foi apenas o amor que o motivou a escolher Israel. A Lei que mostra a Israel como deve viver dentro de um relacionamento pactuai com Deus, também é uma expressão de amor. Esse livro também ensina que o amor a Deus é o único motivo que tem força suficiente para levar os seres humanos a responder obedientemente ao Senhor. Deuteronômio, que é citado cerca de 80 vezes em o Novo Testa­ mento, tem sido justamente chamado de “Evangelho do amor” do Antigo Testamento. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. Revisão da História Feita por Moisés.................................................... A. O que Deus fez por Israel....................................................................... B. Como Israel deve responder................................................................... II. A Apresentação que Moisés Faz do Tratado com Deus.................... A. Princípios Fundamentais do relacionamento...................................... B. Exemplos específicos dos regulamentos............................................... C. Desafios ao Compromisso Pessoal........................................................ III. Exortação de Moisés para um compromisso total........................... IV. Últimos atos de Moisés.........................................................................

.... D t 1—4 .... D t 1— 3 .......... Dt 4 .. D t 5— 28 ..D t 5— 11 D t 12— 26 D t 27— 28 ...D t 29.30 D t 31— 34

GUIA DE LEITURA (10 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 36 37 38

Capítulos 1— 4 5— 7 8— 11

Passagem Essencial 4.1-31 6.4-8 9.7— 10.11

Comentário Devocional da Bíblia

39 40 41 42 43 44 45

12.1— 16.17 16.18— 18.22 19.1— 21.14 21.15— 26.19 27— 28 29— 30 31— 34

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14.22— 15.18 18.9-22 19 26 28.15-68 30.11-20 34

DEUTERONÔMIO 5

D E FEVEREIRO LEITURA 3 6

OS PODEROSOS ATOS DE DEUS Deuteronômio 1— 4

“Estes quarenta anos o Senhor, teu Deus, esteve conti­ tendas. Eles são uma característica de todos nós, e go; coisa nenhuma te faltou” (Dt 2.7). refletem uma fraqueza humana normal. Observe que isso não atrasou Israel. Moisés simplesmente A revisão feita por Moisés do Êxodo lembrou à indicou juizes e estabeleceu os princípios norteanova geração de que Deus é fiel apesar dos erros dores. humanos. E que, somente se forem fiéis a Ele, o Todos nós estamos sujeitos às fraquezas humanas povo de Deus irá conhecer o sucesso. e a uma variedade de erros. Mas, isso não deve ser suficiente para nos atrasar em nossa jornada espi­ Visão Geral ritual. Devemos nos avaliar e continuar a jornada. Moisés fez uma revisão de cada estágio da jornada Deus não exige perfeição, mas espera que realmen­ desde o Sinai até o seu atual acampamento locali­ te lidemos honestamente com os nossos erros e zado no lado oriental do rio Jordão (1.1— 3.29). pecados. Moisés aplicou as lições da história, e desafiou a nova geração a obedecer e adorar a Deus (4.1-49). “Fostes rebeldes ao mandado do Senhor” (Dt 1.1946). O trágico atraso de Israel em chegar à Terra Entendendo o Texto Prometida foi causado por uma consciente e volun­ “Onze jornadas há desde Horebe”(Dt 1.1-5). Os três tária desobediência ao mandado de Deus. Moisés sermões de Moisés que formam o corpo principal identifica o medo aos cananeus como a causa ime­ de Deuteronômio foram proferidos ao lado do Jor­ diata da sua desobediência. Esse medo tinha as suas dão, diante da Terra Prometida. Este lugar estava raízes no fracasso da confiança no amor de Deus (v. exatamente a uma distância de 11 dias de cami­ 27) e na capacidade divina de ajudar (v. 32). nhada desde o Monte Horebe (Sinai) onde Deus A desobediência consciente é, certamente, uma havia entregado a Lei ao seu povo. Mas, esta Lei forma de atrasar o nosso progresso espiritual. En­ havia sido entregue 40 anos antes! Veja o atraso que tretanto, podemos argumentar ou explicar a re­ a desobediência causou. belião. A desobediência traz o castigo e nos torna Deuteronômio 1— 3 seleciona crises que ocorre­ vulneráveis ao desastre. ram durante a viagem a fim de explicar os frustran­ tes anos de atraso de Israel. “Estes quarenta anos o Senhor teu Deus esteve Deus se comprometeu a nos levar ao lugar da bem- contigo” (Dt 2.1-15). Esta é uma das mais co­ aventurança. Mas o período de tempo necessário moventes declarações na revisão que Moisés fez para chegarmos até lá vai depender da nossa dispo­ da história. Apesar da rebelião de Israel, e dos sição de obedecer. seus repetidos pecados, Deus, disse ele, “esteve contigo”. O Novo Testamento diz: “Se formos “Ouvi as contendas” (Dt 1.9-18). Primeiro, Moisés infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mencionou os problemas, as obrigações e as con­ mesmo” (2 Tm 2.13). O compromisso que Deus

Deuteronômio 1— 4

O monte Sinai (Horebe), rude e irregular, é um símbolo da Lei que Deus deu a Israel através de Moisés. Atualmente, existe um mosteiro no lugar onde outrora Israel acampou. Como Deuteronômio nos mostra, apesar do trovão que sacudiu esta montanha naquela ocasião, a Lei de Deus está fundamentada no seu amor, e é a expressão deste amor.

tem conosco está fundamentado nos seu próprio caráter e não em qualquer coisa que possamos ou não fazer. Até mesmo quando nos afastamos completamente de Deus, Ele continua cuidando de nós. Mas Moisés lembrou a Israel de que a nação tinha vagado durante 38 anos até que a geração rebelde tivesse morrido (Dt 2.14,15). Deus irá cuidar de nós, mas também irá nos castigar até que o sofri­ mento elimine as raízes da nossa tendência a nos rebelar. “Agora, comecem a conquistar” (Dt 2.16-—3.20). Quando a velha geração morreu, Deus começou a dar à nova geração o sabor do sucesso. Numa série de batalhas cada vez mais difíceis, Deus deu a Israel vitórias cada vez maiores. Quando retornamos ao Senhor, depois de um tem­ po de desobediência, a nossa renovada confiança se desenvolve frequentemente através de pequenas vitórias espirituais, que mais tarde crescem e se avolumam. Cada passo em direção à fé é recom­ pensado quando reaprendemos a amar a Deus completamente. “Também eu pedi graça ao Senhor” (D t 3.21-29). Moisés foi sincero ao relatar o próprio erro que havia cometido deixando de confiar em Deus, embora não entre em detalhes aqui. A imagem de Moisés, implorando a Deus a sua permissão para atravessar o rio Jordão e ver a Terra Prome­ tida, é muito comovente. Moisés havia sido um líder fiel e santo. No entanto, esse seu único ato de desobediência foi severamente castigado (cf. Nm 20). Por quê? Sem dúvida para nos lembrar de que ninguém está imune ao castigo divino. Ninguém pode pecar sem que corra um grande perigo.

O texto mostra que, em certo sentido, Deus concedeu o pedido de Moisés! O idoso líder, que tinha agora cerca de 120 anos, implorou: “Rogo-te que me deixes passar, para que veja esta boa terra”. Em vez disso, Deus levou Moisés ao topo do monte Sinai e lhe concedeu uma visão de Canaã. A vista que se tem a partir desta montanha, do outro lado do Jordão, é impressionante. Elevan­ do-se de uma planície fértil, existe uma série de montanhas que gradualmente formam uma cordilheira notável. Suas cores brilhantes e suas sombras refletem a complexidade da Palestina com a sua grande variedade de climas e de solos, fazendo com que a terra seja capaz de produzir qualquer tipo de colheita. Moisés não “passou” o Jordão, mas ele realmente viu a “boa terra” à qual havia, com tanto sucesso, liderado o povo de Deus. “Pergunta agora aos tempos passados” (Dt 4.3240). Agora Moisés deixa bem claro porque Israel precisava olhar para trás e também para frente. Ao olhar para aquilo que Deus havia feito an­ teriormente o povo iria descobrir como Deus é grande e o que eles representavam para Ele. Deus havia tomado “p ara si um povo do meio de outro povo, com provas, com sinais, e com milagres, e com peleja, e com mão forte, e com braço estendi­ do, e com grandes espantos”. Os atos de Deus na história podem definir quem Ele é. Israel pode ser definido pelo seu relacionamen­ to com Deus. Israel era um povo a quem Deus “amou”, “escolheu” e “tirou” do Egito... “para te introduzir na terra e ta dar por herança”. Tudo isso podia ser entendido quando olhassem para trás. Considerar o que Deus é, e ver nEle a sua

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Cristo; e ao lembrarmos que o seu sofrimento e o seu subsequente triunfo foram realizados por nós, e entendermos como somos preciosos para Deus, o nosso recém despertado amor nos motiva a servir ao nosso Senhor.

identidade, iria motivar Israel a obedecer e levar o povo a alcançar futuras bênçãos quando sofres­ sem alguma provação. O mesmo acontece conosco atualmente. Olhamos para trás e vemos o que Deus fez através de Jesus

DEVGarantia OCIONAL_______ de Sucesso Espiritual (Dt 4.1-31) Sempre fico fascinado com os anúncios que apare­ cem nas revistas das empresas aéreas prometendo aos homens de vendas um sucesso rápido e fácil. Conheci um vendedor, chamado Ed, que fre­ quentava regularmente os seminários anunciados nestas revistas, além de ouvir diariamente as suas gravações. Mas Ed não era exatamente um vende­ dor bem-sucedido, o que me leva a ter dúvidas a respeito das promessas feitas por estes anúncios. Por outro lado, tenho certeza de que aquilo que Moisés disse a Israel em Deuteronômio 4 pode garantir o sucesso na vida espiritual de qualquer pessoa. O que você ouviria em uma das gravações de Moi­ sés, ou em um dos seus seminários? Provavelmente, alguma coisa parecida com isso: (1) “Guardai os mandamentos do Senhor” (v. 2). Esta é uma diretriz segura para se viver uma vida boa! (2) “Guarda-te a ti mesmo e guarda bem a tua alma, que te não esqueças daquelas coisas que os teus olhos têm visto, e se não apartem do teu cora­ ção todos os dias da tua vida” (v. 9). Reveja o que Deus faz por você todos os dias e, assim, você ficará motivado! (3) “E as farás saber a teus filhos e aos filhos de teus filhos” (v. 9). Conte aos outros aquilo que Deus significa para você; isso deixará a sua fé sempre re­ novada, e fará de Deus uma realidade para as pes­ soas que estiverem à sua volta. (4) “Guardai, pois, com diligência a vossa alma... para que não vos corrompais” (w. 15,16). Não se deixe enganar, qualquer um pode escorregar e cair. Nunca dê a qualquer ídolo — seja riqueza, poder, amor ou até boas obras — o lugar central que so­ mente Deus tem o direito de ocupar em sua vida. E claro que eu não posso saber se as gravações de Moisés e seus seminários teriam boa acolhida no mercado. Veja, as pessoas estão sempre procurando uma maneira_/afz7de alcançar sucesso. Naquilo que concerne ao sucesso espiritual, não existe nenhuma maneira fácil. Portanto, talvez Moisés acrescentasse um outro conselho para nós modernos. Como, por exemplo, “Cuide do seu relacionamento com Deus”.

Certamente, Moisés e a nova geração de israelitas iriam dizer, junto com os santos espiritualmente bemsucedidos através dos séculos, “Isso vale a pena”. Aplicação Pessoal Que métodos você desenvolveu para ajudá-lo a al­ cançar o sucesso espiritual? Citação Importante “Deus nos conclama, não ao sucesso, mas à fé, à obediência, à confiança e ao serviço. E Ele orde­ na que não nos preocupemos em medir os méritos do nosso trabalho como faz o mundo. Devemos plantar; e Ele irá colher como bem entender.” — Charles Colson 6 DE FEVEREIRO LEITURA 37 AMAR A DEUS Deuteronômio 5— 7 Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu co­ ração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder” (Dt 6.5). Estes capítulos identificam os princípios fundamen­ tais do relacionamento pessoal com Deus. As regras que aparecem mais tarde são meramente exemplos de como estes princípios fundamentais devem ser aplicados por um povo que ama a Deus. Definição dos Termos-Chave Deuteronôm io 6 nos exorta a dedicar o “cora­ ção”, a “alma” e o “poder” para amar a Deus. No Antigo Testamento, o “coração” é o lugar onde estão assentadas a mente e as emoções. A “alma” é entendida aqui como o “ser” de al­ guém. Devemos amar a Deus com todo o nosso ser, sem limitá-lo aos menores compartimentos da nossa vida. “Poder” sugere a direção volun­ tária de toda a nossa capacidade em direção ao amor. O uso destas três palavras poderosas em um único verso deixa bem claro que o relacio­ namento com Deus exige uma devoção total da pessoa. A implicação destes capítulos é que so­ mente uma pessoa verdadeiramente devotada a Deus irá obedecê-lo.

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Os Dez Mandamentos. Dez regras breves e bási­ dizer e, depois, irá cuidadosamente aplicá-la à sua cas para mostrar aos seres humanos como devem vida diária. amar a Deus e às outras pessoas. Para outras ex­ plicações sobre os Dez Mandamentos veja Êxodo, “Para que bem lhesfosse a eles e a seusfilhos, para sempre!” Leitura 19. (Dt5.22-33). Alguns agem como se os padrões morais estabelecidos nos Dez Mandamentos fossem arbitrá­ rios e restritivos. Eles se ressentem das palavras: “Não Visão Geral Os dez mandamentos básicos recebidos no Sinai deverás...” contidas nas Escrituras como se elas tivessem mostram como amar a Deus e aos outros (5.1-21), a intenção de tirar a alegria da humanidade, e tornar a e obedecê-los proporciona bem-estar (w. 23-33). O vida humana tão miserável quanto possível. amor e a veneração por Deus produzem a obediência Nada poderia estar mais longe da verdade. As leis de e devem ser ensinados às futuras gerações (6.1-25). Deus têm, na verdade, a intenção de promover a fe­ Deus exige fidelidade completa. As crenças que com­ licidade humana. Nós, humanos, somos seres morais petissem com a verdadeira fé deveriam ser expulsas da criados por Deus com um senso do que está certo e terra, para que Deus pudesse dar continuidade ao seu do que está errado. Como um trem que só funciona quando está sobre os trilhos, os seres humanos so­ pacto de amor com Israel (76.1-26). mente funcionam de uma maneira feliz e sadia quan­ Entendendo o Texto do são capazes de viver uma vida moralmente boa. “Não foi com nossos pais... se não conosco” (Dt 5.1-21). Existe uma urgência especial na exortação de Moisés Os adultos que haviam se colocado perante Deus no à obediência a Deus. Israel gozava o relacionamen­ monte Horebe (Sinai), e ouviram os Dez Manda­ to do pacto feito com Deus. Nesse relacionamento, mentos pela primeira vez, já haviam morrido quando Deus tinha se comprometido não só a abençoá-los Moisés repetiu esses mandamentos para a nova gera­ pela obediência, mas também a castigá-los pela de­ ção. No entanto, ele disse que o pacto de Deus “não sobediência. foi com nossospais... senão conosco, todos os que hoje aqui Os incrédulos, assim como os crentes, se sentem me­ estamos vivos”. lhor quando vivem uma vida moralmente boa. Mas O que Moisés queria dizer? Que a Palavra de Deus Deus está ativamente envolvido na vida dos crentes tem uma mensagem importante e atual para cada e, por se preocupar tanto conosco, sentimos o efeito ouvinte. Essas palavras foram ditas pela primeira vez imediato dos nossos pecados. séculos atrás, mas se conservam tão atuais como se tivessem sido pronunciadas hoje. Em um sentido ver­ “Quando comeres e te fartares” (Dt 6.10-25). Moisés dadeiro, a Palavra de Deus é falada atualmente, e é disse, “quando” porque sabia que Deus certamente através dela que o Deus vivo interage conosco. Tudo iria abençoar o seu povo. Para Israel, isso queria dizer que Ele disse naquela ocasião também está sendo dito herdar uma terra com “grandes e boas cidades, que tu para nós agora; o efeito é o mesmo que ela teve na não edificaste, e casas cheias de todo bem, que tu não vida das pessoas das gerações passadas. encheste, e poços cavados, que tu não cavaste, e vi­ Nunca devemos ler a Bíblia como se ela fosse simples­ nhas e olivais, que tu não plantaste”. No entanto, tais mente o registro de alguma coisa que aconteceu há bênçãos são perigosas. Quando a vida é demasiado muito tempo. Devemos ler atentamente, esperando fácil, e ficamos satisfeitos com ela, temos a tendência que Deus fale agora conosco. Como diz o autor de de nos “esquecer do Senhor”. Hebreus: “Se ouvirdes a sua voz, não endureçais o Moisés explicou a maneira como os crentes deviam se vosso coração” (Hb 3.15). A Bíblia é a voz de Deus, guardar quando fossem abençoados. Primeiro, disse através dela Ele está falando não só aos nossos pais, ele, “O Senhor teu Deus temerás” Aqui, estas pala­ mas também a nós! vras significam que eles deviam tratar a Deus com respeito, lembrando que Ele é capaz de abençoar e “Ouve... e os aprendereis e guardareis para os cumprir” também de castigar. Depois, “diligentemente guar­ (Dt 5.1). Cada uma destas palavras é encontrada nas dareis os mandamentos do Senhor”. O crente deve­ primeiras palavras que Moisés dirigiu à assembleia de rá fazer “o que é reto e bom”. Finalmente, o crente israelitas (v. 1). Os Dez Mandamentos estabelecem os deverá “no tempo adiante”, no futuro, transmitir a fé princípios fundamentais que devem ser aplicados no à próxima geração. Esta é a única maneira de nos pro­ nosso relacionamento com Deus e com os outros. teger, e aos nossos filhos, de vivermos uma vida vazia E importante não confundir o amor a Deus, e aos e sem sentido. outros, com os sentimentos amorosos. O amor é uma escolha, a pessoa que ama a Deus irá ouvir a sua Pa­ “ Totalmente as destruirás” D t (7.1 -6). A ordem para lavra, estudar para entender o que esta Palavra quer que Israel destruísse totalmente os povos que habi­

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tavam Canaã antes deles, tem preocupado muitas pessoas. Como esta ordem pode estar de acordo com todas as palavras de Deuteronômio 6 sobre o amor? Como podemos entendê-la perante a revelação divina sobre o amor que Jesus Cristo tem para com todos? Para ter essa resposta precisamos fazer várias obser­ vações. Primeiro, a arqueologia confirmou o retrato feito na Escritura mostrando que a cultura dos cananeus era moral e religiosamente depravada. Cerca de 600 anos antes, Deus havia dito a Abraão que Ele não iria expulsar o povo da Terra Prometida daquela época “porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia” (Gn 15.16). Agora, aquela me­ dida completa da iniquidade havia sido alcançada, e Israel seria o instrumento da punição infligida pelo Senhor. É importante lembrar que Deus, que ama os seres humanos, também odeia o pecado. Qual­ quer conceito de Deus que deixe de considerar o seu compromisso de castigar o pecado é, essencialmen­ te, contrário às Escrituras. Segundo, a ordem para destruir os cananeus servia para realçar a chamada de Israel para ser um povo santo. Qualquer íntimo relacionamento com os cananeus iria levar Israel (como de fato levou) à idolatria. Somente a destruição deste povo que, naquela ocasião habitava

a Terra Prometida, poderia salvar Israel de uma cor­ rupção moral e espiritual. Um pai que observasse, de modo indiferente, o seu amado filho ser contaminado por uma doença mortal, seria um pai muito estranho. Deus estava protegendo os seus filhos. Uma outra observação: Israel não recebeu ordem para ir além das fronteiras de Canaã e eliminar ou­ tros vários grupos raciais representados na Palesti­ na. O primeiro cuidado de Deus estava dirigido ao bem-estar do seu povo. Sim, Deus realmente se preocupa com cada um de nós. Mas aqueles que o conhecem e amam são a sua prioridade número um.

“Comunicando o Amor de Deus” (D t 6.4-8) Amar a Deus é muito importante. Certamente, o amor ao Senhor é a herança mais importante que podemos deixar para os nossos filhos. Quando meu filho mais velho estava na sétima série do nosso ginásio cristão, eu era professor de Educa­ ção Cristã da Wheaton College Graduate School. Eu fiz uma experiência com a sua classe para saber como os meninos e as meninas dos lares cristãos “adqui­ riam” a fé dos seus pais. Descobri que a maioria das coisas que os pais faziam ou deixavam de fazer para transmitir a sua fé pratica­ mente não fazia nenhuma diferença na vida dos seus filhos. A única coisa que realmente fazia diferença está explicada aqui com as mesmas palavras usadas por Moisés milênios atrás. Moisés diz que a comunicação da fé começa com o próprio amor que os pais sentem por Deus. O amor “de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder” (v. 5). Esse tipo de amor nos abre para Deus, para que Ele possa escrever os seus man­ damentos em nosso coração (v. 6). Mas, por que isso é tão importante? Porque enquanto os manda­ mentos de Deus parecerem apenas ordens gravadas numa pedra, nunca seremos capazes de transmiti-los ou de transmitir o nosso amor por Deus. E somente

quando Ele escreve suas leis no nosso coração, e eles passam a ter alguma expressão na nossa vida, que somos capazes de “intimá-las” aos nossos filhos (v. 7). Quando o amor a Deus nos torna sensíveis aos seus mandamentos, e eles se tornam uma parte inte­ gral da nossa vida, somos capazes de falar sobre eles “assentados em nossa casa, e andando pelo caminho, e deitando-nos, e levantando-nos”. Deus, que é real para nós, também será real para os nossos filhos e, então o nosso amor por Ele encontrará guarida no coração dos nossos filhos e filhas. O que faz a diferença? Simplesmente isso: Se Deus é real para você, se você o ama e o segue fielmente, então Ele também será real para os seus filhos.

DE V OCION A L______

“Masporque o Senhor vos amava” (Dt 7.7-26). Por que Deus escolheu Israel e decidiu abençoar esta na­ ção? Por que Deus se preocupa tanto conosco atu­ almente? Este enigma pode ser desvendado através da menção de um mistério ainda maior. Por quê? Porque o Senhor nos ama. Deus não precisa de nenhuma razão além do amor para nos abençoar. Embora houvesse muitas ra­ zões, pois é para o nosso benefício que devemos obedecer, não precisamos de nenhuma outra razão para amá-lo.

Aplicação Pessoal Mostre diariamente o seu amor por Deus comprometendo-se a fazer a sua vontade. Citação Im portante “Os cristãos, com muita frequência, consideram a Lei como um conjunto de regras, e observam o povo judeu tentando obedecer a Lei à risca. Então, [os cristãos] proclamam que o Novo Pacto descreve como Deus opera na graça para redimir o seu povo, e derramar o seu amor abundantemente sobre eles. Não existe uma divisão como esta entre o Antigo e

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o seu povo na pobreza, devemos observar aquilo que o Senhor havia fornecido a Israel. Alimento (v. 3), roupas que não se estragavam (v. 4) e boa saúde (v. 4). Na terra que estavam prestes a possuir, Deus iria proporcionar a Israel a riqueza mineral e agrícola (w. 7-9). Deus pode nos privar de coisas materiais para nos ensinar a depender dEle. Mas a promessa de Isaías ainda está em vigor: “Se quiserdes, e ouvirdes, co­ mereis o bem desta terra” (Is 1.19).

o Novo Testamento. Deuteronômio descreve como Deus abençoou Israel e derramou o seu amor sobre esta nação por causa da sua graça e misericórdia. O que o Senhor esperava como retribuição por parte de Israel era um transbordamento de amor. Embo­ ra algumas pessoas tenham desviado as intenções de Deus e desenvolvido um substituto legal, um remanescente de cada geração sempre amou, hon­ rou e serviu profundamente ao Senhor, seu Deus.” — Lewis Goldberg 7 DE FEVEREIRO LEITURA 38 LEMBRANDO-SE DE DEUS Deuteronômio 8— 11 “Guarda-te para que te não esqueças do Senhor, teu Deus, não guardando os seus mandamentos, e os seusjuí­ zos, e os seus estatutos, que hoje te ordeno”(Dt 8.11). Definição dos Termos-Chave Guardar. No Antigo Testamento a palavra “guar­ dar” representa mais do que o ato mental de pensar a respeito de alguma coisa que aconteceu no pas­ sado. Seu significado mais profundo é relembrar ou prestar atenção e, depois, agir sobre aquilo que foi lembrado. Nestes capítulos Deus exorta Israel a lembrar daquilo que aconteceu na jornada para Canaã a fim de ajudar o povo a tomar decisões me­ lhores quando entrasse na Terra Prometida.

“E ele o que te dá força para adquirires riquezas” (Dt 8.10-20, ARA). O orgulho e a humildade são atitu­ des contrastantes. A pessoa humilde reconhece sua dependência de Deus, enquanto a pessoa orgulhosa credita o sucesso ao poder e à força das suas mãos. A maldição sofrida pelo orgulhoso consiste em dar a si próprio o crédito pelas habilidades que recebeu de Deus, esquecendo-se dEle. Moisés avisou que se Israel se tornasse um povo orgulhoso “certamente pereceriam”. Paulo reproduziu o ponto de vista que nós deve­ mos desenvolver: “Pois quem é que te faz sobres­ sair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?” (1 Co 4.7, ARA). Se tudo que

Visáo Geral Israel devia se lembrar dos anos passados no deserto quando Deus ensinou ao seu povo que devia de­ pender dEle (8.1-20). Os eventos daquela viagem serviram para mostrar a rebeldia de Israel (9.1-29), e também a fidelidade de Deus que continuou a exor­ tar o seu povo a viver a santificação (10.1-22). Olhar para trás iria ajudar Israel a amar a Deus, a observar cuidadosamente os seus mandamentos e, dessa ma­ neira, experimentar a sua bênção (11.1-32). Entendendo o Texto “E te humilhou” (Dt 8.1-9). A raiz da palavra he­ braica “humilde” significa ser pobre e, portanto, dependente. Durante os anos passados no deserto, Deus deixou que o povo de Israel sentisse fome, e então alimentou o seu povo para ensiná-lo a de­ pender totalmente dEle. Quando Satanás desafiou Jesus a transformar pedras em pães (Mt 4; Lc 4), Ele citou um verso desta pas­ sagem: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. Jesus sabia o que significa depender completamente de Deus e ficar satisfeito com aquilo que o Senhor nos dá. Antes de assumir que a intenção de Deus é manter

Este pequeno boi de metal foi recuperado pelos arque­ ólogos de um local elevado de adoração localizado em território anteriormente ocupado pela tribo israelita de Dã. O boi ou o touro eram, frequentemente, objetos e temas de adoração dos cananeus. Este animal repre­ sentava o deus Baal, ou era interpretado como um tro­ no sobre o qual esta divindade invisível se sentava. O touro simbolizava a virilidade nas religiões onde o ritual da prostituição e as orgias sexuais desempenhavam um papel importante. A adoração de Israel, dirigida a um bezerro de ouro, mostrava seu retrocesso a um paganis­ mo grosseiro.

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temos são dádivas de Deus, na verdade nada temos “Que é o que o Senhor, teu Deus, pede de ti?" (Dt do que nos orgulhar, a não ser agradecer por tudo 10.12-22). Fazendo uma breve revisão, Moisés resumiu a forma santa de vida que Deus esperava o que recebemos. do seu povo. Atualmente, nós também devemos “Por causa da minha justiça” (Dt 9.1-29). Como “circuncidar o nosso coração” (demonstrar um ín­ devemos interpretar as boas dádivas de Deus? timo compromisso com Deus) amando aos outros Moisés advertiu Israel de que deviam entender e adorando e louvando ao Senhor. que as bênçãos recebidas de Deus “não” eram por causa da sua “justiça”, nem pela sua “retidão”. “Guardarás fielmente” (Dt 11.1-32). Observe Na verdade, o incidente do bezerro de ouro (w. como este capítulo estabelece uma íntima rela­ 7-21) e outros vários eventos (w. 22-29) mos­ ção entre lembrar e responder. Muitas e muitas traram que Israel havia sido “povo obstinado”, vezes Moisés lembrou aos seus ouvintes aqui­ um povo de “dura cerviz”. Este termo resume o lo que Deus havia dito e realizado. Usando esse retrato feito na Escritura sobre a pecadora na­ argumento ele exortou Israel dizendo: “Amarás, tureza humana. Toda humanidade, assim como pois, o Senhor, teu Deus, e guardarás a sua obser­ Israel, é indiferente a Deus, desobediente e ati­ vância” (v. 1), “guardai... todos os mandamentos” (v. 8), “guardai-vos, que o vosso coração não se vamente rebelde. engane, e vos desvieis, e sirvais a outros deuses” A ocupação da terra, por Israel, é uma prova da (v. 16) e condicionou: “Se diligentemente guar­ fidelidade de Deus às promessas do pacto, e não dardes todos estes mandamentos que vos orde­ da justiça de Israel. no para os guardardes, amando o Senhor, vosso O amor e a fidelidade de Deus, e não as nossas Deus, andando todos os seus caminhos, e a ele boas obras, são a verdadeira explicação para to­ vos achegardes”,ementão... (v. 22). das as bênçãos recebidas. Ele pode derramá-las No entanto, Moisés fez mais do que apelar ao pas­ ainda hoje sobre você ou sobre mim. sado para mostrar o valor da obediência. Ele olhou para frente e ligou a divina promessa de futuras “Naquele mesmo tempo” (Dt 10.1-11). A incom­ bênçãos com amar e servir a Deus. Ao pensar em parável graça de Deus é retratada nestes versos. Deus, e na maneira como Ele havia tratado o seu Deus perdoou o pecado de Israel, deu-lhe novas povo, Moisés declarou: “Eis que hoje eu ponho tábuas onde estavam escritas a sua Lei e disse a diante de vós a bênção e a maldição” — as bênçãos Moisés: “Levanta-te, põe-te a caminho diante do se obedecessem os mandamentos do Senhor, seu povo, para que entre e possua a terra que jurei a Deus, e a maldição se desobedecessem. seus pais dar-lhes”. O Senhor Deus está disposto a fazer, novamente, Ao pensarmos em Deus, devemos nos sentir mara­ aquilo que já fez. Ele o fará, porque é fiel e con­ vilhados por sua graça perdoadora. sistente.

DEV OCIONAL______

Lembre-se dos nossos Bezerros de Ouro (Dt 9.7— 10.11) Eu não gosto mesmo de lembrar dos meus pecados. Aquele acesso de vergonha e aquela consciência do erro não são nada agradáveis. Além disso, como pessoas absolvidas, nossos pecados já não foram perdoados e o passado já não foi esquecido? Embora não exista nada de espiritual em naufragar na culpa, de vez em quando precisamos voltar aos lugares onde erguermos os nossos bezerros de ouro. O bezerro de ouro, feito por Israel nas planícies do Sinai, representava a derradeira afronta que este povo podia fazer a Deus. Ele havia libertado seu povo da escravidão, mas agora esse povo preferia ignorá-lo e adorar um ídolo. Deus havia alimen­ tado e protegido Israel, no entanto eles preferiram

adorar a criação das suas próprias mãos. De uma maneira bem básica, o bezerro de ouro representa­ va uma total rejeição a Deus. No entanto, a Bíblia diz: “Naquele mesmo tempo, me disse o Senhor” (10.1). Naquele mesmo tempo, quando Israel abertamente o rejeitava, Deus disse a Moisés para voltar ao monte Sinai e lá Deus lhe deu novas tábuas contendo a sua Lei (w. 2-8). E, naque­ le tempo, Deus também disse: “Levanta-te, põe-te a caminho diante do povo, para que entre e possua a terra que jurei a seus pais dar-lhes” (w. 10,11). Moisés lembrou Israel do bezerro de ouro não para envergonhá-los, mas para ajudá-los a entender como Deus é grande e bom. Essa é a razão porque de tempos em tempos pre­ cisamos visitar novamente os nossos bezerros de

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ouro: Para lembrar o quanto Deus tem sido mi­ sericordioso, gentil e bondoso conosco. “Naquele tempo” da nossa vida, no tempo do nosso maior erro, Deus veio até nós através de Jesus. Ele nos le­ vantou nos seus braços, nos perdoou e nos colocou novamente no caminho da justiça. Aplicação Pessoal Que acontecimento do seu passado torna você mais agradecido pelo perdão recebido de Deus? Citação Importante “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós. Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Ad­ vogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mun­ do.” — 1 João 1.9— 2.2 8 DE FEVEREIRO LEITURA 39 ADORAR A DEUS Deuteronômio 12.1— 16.17 “Assim não farás ao Senhor teu Deus” (Dt 12.31). Adorar é a maneira de expressar a intimidade do nosso relacionamento pessoal e coletivo com Deus. Pelo fato de Deus ser especial, a adoração também precisa ser algo especial. Definição dos Termos-Chave Adorar. As pessoas modernas têm a tendência de pensar que adorar é simplesmente cantar hinos e louvar a Deus aos domingos. Entretanto, as pala­ vras hebraicas e gregas traduzidas como “adorar” significam “inclinar-se” ou “prostrar-se” e transmi­ tem a imagem de mostrar um supremo respeito. De uma maneira mais ampla, qualquer ato pelo qual expressamos um profundo respeito por Deus é um ato de adoração. Estes capítulos de Deutero­ nômio fazem uma revisão de algumas formas pe­ las quais Israel demonstrava respeito pelo Senhor quando o seu povo entrou na Terra Prometida.

(15.1-18). Os israelitas deviam também reservar os animais primogênitos para o Senhor (w. 19-23) e observar fielmente as festas religiosas (16.1-17). Entendendo o Texto “Buscareis o lugar que o Senhor, vosso Deus, esco­ lher” (Dt 12.1-32). O povo de Canaã tinha luga­ res sagrados espalhados por toda a terra. Nestes lugares eles ofereciam sacrifícios, realizavam ritos de orgia e praticavam vários tipos de mágica com a intenção de influenciar os seus deuses. Os ritos de adoração de Israel, como os sacrifícios, deviam ser realizados num único lugar. O texto prometia que depois que Israel tivesse conquistado a terra, Deus iria escolher um lugar especial, e se identi­ ficaria com ele (“para ali pôr o seu nome”). Este lugar, que só foi escolhido no tempo de Davi, era Jerusalém. A ênfase num único centro de adoração reflete um tema comum do Antigo Testamento. Havia uma única entrada para o pátio do Tabernáculo de Is­ rael, e uma única entrada para entrar no Taberná­ culo. Mais tarde, o Templo seguiu esta planta. De­ veria haver um único altar de sacrifícios, um único sumo sacerdote e um único propiciatório onde o sangue do sacrifício era derramado todo ano, no Dia da Expiação. A verdade que estas coisas simbolizavam foi expres­ sa por Jesus: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Atualmente, pode ser bastante popular dizer que existem “muitos caminhos para Deus”. Mas este pensamento não é bíblico. As Escrituras repe­ tem este coro: “Há um caminho, e somente um”.

“Para vos apartar do caminho que vos ordenou o Se­ nhor, vosso Deus” (Dt 13.1-18). A história moderna mostra como as pessoas são vulneráveis às seitas. Como respondemos quando alguém bate na nossa porta com mensagens das Testemunhas de Jeová, dos Mórmons, dos adeptos do reverendo Moon, ou de qualquer outra religião? Se alguém nos incitar a abandonar o Senhor, trocando-o por uma outra re­ ligião, nós “não ouviremos as suas palavras’’ (v. 3); mas, antes, nos lembraremos que “após o Senhor, nosso Deus, andaremos, e a Ele temeremos, e os seus mandamentos guardaremos, e a Sua voz ouviremos, e a Ele serviremos, e a Ele nos achegaremos” (v. 4). Visão Geral Deus merece a nossa total dedicação. Adorar a Ele, Para Israel, adorar consistia em estabelecer um como Ele se revelou nas Escrituras deve ser a nossa santuário central (12.1-32), rejeitar a idolatria primeira prioridade. (13.1-18) e os ritos pagãos (14.1,2), honrar as leis concernentes aos alimentos (w. 3-21), entregar “Não vos darei golpes”(Dt 14.1,2). O povo de Deus os dízimos fielmente (w. 22-29), perdoar as dívi­ não deve adotar as práticas que refletem a atitude das e libertar os escravos hebreus a cada sete anos dos povos pagãos vizinhos em relação à morte.

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tecido através das Escrituras, está particularmente visível nas leis que explicam como tratar os pobres. Os necessitados precisam ser ajudados volunta­ riamente. A cada sete anos deveria ser perdoada a dívida de todos aqueles que não foram capazes de pagar os empréstimos. E qualquer hebreu que tivesse sido obrigado a se vender como escravo de­ veria ser libertado. Ajudar os pobres é um ato de adoração que é particularmente agradável a Deus. Esta passagem diz: “pois por esta causa te abençoará o Senhor, teu Deus, em toda a tua obra e em tudo no que puseres a tua mão” (v. 10) e, novamente: “assim, o Senhor, teu Deus, te abençoará em tudo o que fizeres” (v. 18).

“Nenhuma abominação comereis” (Dt 14.3). Alguns têm argumentado que as leis alimentares dos he­ breus proibiam, como alimento, o uso de animais portadores de doenças. A verdadeira explicação para isso é mais profunda. Deus queria lembrar ao seu povo que Ele estava envolvido em todos os as­ pectos da vida deste povo. Em tudo o que fazemos podemos demonstrar respeito pelo Senhor. Assim, tudo o que fazemos pode ser um verdadeiro ato de adoração.

“Darás os dízimos” (Dt 14.22-29). A economia de Israel era agrícola, e a sua riqueza eram a terra e os seus produtos. Deus, o Doador da terra, reclamava um décimo dessa fartura como sua parte em toda colheita. Desde o início, mostrar respeito por Deus através da nossa doação tem sido parte integral da “Guarda o mês de abibe” (Dt 16.1-17). Depois que Israel conquistasse a terra, seu povo devia realizar adoração. festas anuais de adoração às quais todos deviam “Que o teu olho seja maligno para com teu irmão comparecer. O quadro da página seguinte mos­ pobre” (Dt 15.1-18). A profundidade do relacio­ tra o calendário religioso de Israel. Para conhecer namento de uma pessoa com Deus está revelada o significado de cada festa, veja a Leitura 28, em na maneira como trata os outros. Este princípio, Levítico.

DE V OCION A L______

A Parte de Deus (D t 14.22— 15.18) “Trazei teus dízimos à casa do tesouro”, costumava pregar o Pastor L., “estão poderás dar aos outros”. Para mim está claro que o que ele queria dizer era que a igreja local devia receber o dízimo cristão. Todas as outras despesas dos cristãos estavam mui­ to acima dos 10 por cento que deveria ser entregue à igreja local. Eu entendo esta mensagem. Mas questiono a sua exegese. Particularmente quando leio capítulos com mensagens semelhantes a estas em Deutero­ nômio. Aqui existe algo que liga o dízimo que Isra­ el devia entregar, e a generosidade que os israelitas estavam sendo incentivados a demonstrar. E qual seria este elemento de ligação? A obrigação de dar, e a doação opcional, tinham, como finalidade prin­ cipal, atender as necessidades humanas. O dízimo obrigatório era entregue ao Templo para ser usado na manutenção dos levitas e dos sacerdo­ tes que serviam a Deus. Depois, a cada três anos, esse dízimo era armazenado localmente com uma finalidade específica: “Então, virá o levita (pois nem parte nem herança tem contigo), e o estran­ geiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão, para que o Senhor, teu Deus, te abençoe em toda a obra das tuas mãos, que fizeres” (14.29). Tanto as doações

exigidas por Deus, como as doações voluntárias que Ele estimulava, serviam para atender as neces­ sidades humanas. Se você examinasse as nossas declarações de im­ posto de renda nos últimos anos, veria um padrão interessante. A nossa igreja local recebe uma ajuda constante, mas a maior parte das nossas doações são dirigidas a ministérios como a Prison Fellowship que cuida diretamente dos necessitados da nossa sociedade. E algumas vão para causas que não são dedutíveis, e até “seculares”. Certamente esta importante passagem de Deutero­ nômio nos dá, pelo menos, uma visão mais recente do amável coração do nosso Deus. E talvez nos leve a parar e avaliar a maneira como nós o adoramos através das nossas doações. Aplicação Pessoal De que maneiras você mostra sua reverência a Deus nos dias de semana? Citação Im portante “A piedade consiste apenas de atos específicos como a oração e a obediência aos rituais, mas ela também está ligada a todas as atividades, e é concomitan­ te com tudo que fazemos e com todos os eventos, acompanhando e modelando as ações da vida. A res­ ponsabilidade do homem perante Deus é um palan-

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Deuteronômio 16.18— 18.22

Julho Abe

CALENDÁRIO AGRÍCOLA Oliveiras

Agosto Elul Setembro Tisri Outubro Marquesvã Novembro Quisleu Dezembro Tebete Janeiro Sebate Fevereiro Adar

Figos e Tâmaras Arar

Semear

Cítricos

Março Nisã Abril Zive Maio Sivã

Linho

Junho Tamuz

Uvas

Cevada Trigo

dos por Deus para ser um líder, Ele irá guiar os nossos passos. Defíniçáo dos Termos-Chave Profeta. Em Israel, o profeta era o porta-voz de Deus, um homem ou uma mulher que havia sido encarregado (a) de transmitir as mensagens de Deus. O papel do profeta não era hereditário. Deus chamava e dava este encargo aos indivíduos que es­ colhia em qualquer das tribos de Israel. Embora os profetas previssem os acontecimentos que ocorreriam no futuro distante, o principal mi­ nistério do profeta era desempenhado junto à sua própria geração. O profeta oferecia orientação divi­ na a qualquer indivíduo nas ocasiões especiais, mas geralmente ele se dedicava àqueles que governavam o povo de Deus. Deuteronômio 18 é uma passagem bíblica chave, que trata do profeta do Antigo Testamento. Ela fornece os critérios que devem ser usados por Israel para reconhecer alguém como porta-voz de Deus. O verdadeiro profeta deverá falar em nome do Se­ nhor, e não de outro deus (v. 20). E aquilo que um verdadeiro profeta predisser, deverá acontecer (v. 22). Visão Geral Uma grande variedade de líderes iria servir Israel sob as ordens de Deus, o Rei das nações (16.18— 18.22). Esses líderes incluíam os juizes locais (16.18-20), uma suprema corte composta por sa­ cerdotes (17.8-13), um rei (w. 14-20), e todo o sacerdócio (18.1-8). Quando Israel precisasse de uma orientação especial, Deus iria fornecê-la atra­ vés dos profetas.

Entendendo o Texto “Juizes e oficiais porás em todas as tuas portas” (Dt 16.18-20). Não existia uma força policial nacional que sobre o qual ele se coloca diariamente, enquanto em Israel. Em cada comunidade os anciãos de boa edifica a sua vida. Cada um dos seus feitos, e cada reputação deveriam servir como juizes. Estes juizes pensamento têm lugar neste palanque, de modo que iriam determinar os fatos nos casos legais e, em se­ ele se encontra trabalhando incessantemente, seja guida, aplicar a Lei de Moisés a fim de estabelecer construindo ou destruindo a sua vida, o seu lar, ou a quaisquer castigos necessários. sua esperança em Deus.” — Abraham Heschel O primeiro parágrafo a respeito daqueles que ser­ vem corretamente a Deus e ao seu povo descreve 9 DE FEVEREIRO LEITURA o40caráter dos juizes. Vemos a mesma coisa nas di­ retrizes do Novo Testamento quanto à seleção dos í -í SERVIR A DEUS líderes cristãos (1 Tm 3; Tt 1). Como preparo para Deuteronômio 16.18— 18.22 a liderança espiritual, o caráter era mais importante “Porás, certamente, sobre ti como rei aquele que esco­ do que o talento. O caráter era o mais importante porque os jui­ lher o Senhor, teu Deus” (Dt 17.15). zes não podiam mostrar nenhuma parcialidade, E algo muito especial ser chamado para servir a nem aceitar nenhum “suborno”. A palavra tradu­ Deus como líder do Seu povo. Se formos chama­ zida como “suborno” também pode ser traduzida

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Deuteronômio 16.18— 18.22

demonstrava uma falta de confiança em Deus. Segundo, Israel era uma nação destinada a ser diferente de todas as outras nações. Essa razão de ser uma nação como “todas as nações que estão em redor de mim” sugeria abandonar a chamada de Israel. No entanto, esta passagem tem uma mensagem especial e maravilhosa para nós. Deus usou até mesmo a rejeição para a sua glória, e para o bem a humanidade. Quando o próprio Filho de Deus assumiu a forma humana, Ele nasceu na linha­ gem real de Israel. Jesus, sendo tanto Deus como homem, é exaltado como Rei dos reis e Senhor dos senhores. A habilidade de Deus de introduzir os erros de Is­ rael no seu plano deve nos encorajar. Cada um de nós irá pecar às vezes, assim como Israel pecou. E, quando isso acontecer, devemos nos lembrar da graça de Deus. Devemos pedir que Ele nos per­ doe, lembrando-nos de que Ele continua sendo capaz de transformar os erros em algo bom.

como “presente”. Esta injunção reflete uma prá­ tica antiga e também moderna do Oriente Mé­ dio de dar presentes àqueles de quem uma pessoa espera receber favores. Este presente não é men­ cionado como um “suborno”, mas quem dá sente que estabeleceu um relacionamento especial que merece favores da pessoa que o recebeu. Nenhum “relacionamento especial” deveria existir na comunidade do pacto. O único compromisso do juiz devia ser com a justiça. “Tirarás o mal do meio de ti” (Dt 16.21— 17.7). Alguns podem imaginar porque as leis “religiosas” foram inseridas aqui, numa seção que trata da li­ derança humana. A razão? Deus era o Soberano de Israel, o Governante de quem os líderes humanos recebem a sua autoridade. Se Israel abandonasse a Deus, toda a estrutura da sua autoridade iria desmoronar. Portanto, Israel não devia estabele­ cer nenhum símbolo da religião pagã como, por exemplo, um bosque de árvores (ou um poste de Aserá, na versão TB) ou massebot (uma pedra sa­ grada). Israel devia honrar a Deus levando sempre o melhor para Ele como sacrifício. O total compromisso com Deus era tão vital que qualquer israelita que fosse comprovadamente culpado de ter adorado deuses ou deusas pagãos devia ser apedrejado até a morte. “Quando alguma coisa te for dificultosa em juízo” (Dt 17.8-13). Os sacerdotes do santuário central deviam ter um entendimento profundo da Lei divina. Dessa forma, eles iriam servir como uma autoritária corte suprema e decidir os casos que os anciãos locais não podiam resolver. A decisão do sacerdote era final e tinha que ser aceita. En­ tretanto, essa decisão devia ser cuidadosamente explicada e estar fundamentada na Lei (v. 11). Nós também precisamos respeitar os nossos líderes, mas os líderes também se encontram obrigados a tomar decisões baseadas na Palavra de Deus e têm a responsabilidade de explicar os princípios bíblicos sobre os quais estas decisões estão baseadas. “Porei sobre mim um rei” (D t 17-14-20). Foram necessárias várias centenas de anos, depois da entrada em Canaã, para que Israel solicitasse um rei. No entanto, esse pedido estava errado, por duas razões. Primeiro, Deus era o Rei de Israel; e o pedido para terem um rei humano

“E nele lerá todos os dias da sua vida” (Dt 17-1820). O pedido de Israel por um rei revelava uma falha espiritual no povo de Deus. Ele ainda iria governar o seu povo através deste rei humano, mas este rei deveria estar totalmente comprome­ tido com Deus. Foram determinadas quatro regras especiais para os governantes. O rei, “ele e seus filhos” deveriam ser do “meio de Israel”. Somente alguém do povo do pacto de Deus poderia governar a comunida­ de do pacto. O rei não devia “multiplicar para si cavalos” e tinha que depender de Deus e não de qualquer poder militar. O rei não poderia “multiplicar mulheres para si”. Nos tempos bí­ blicos, os casamentos entre as casas reais selavam simbolicamente os tratados entre as nações. To­ mar muitas esposas sugeria esta prática que iria (como aconteceu no caso de Salomão) introdu­ zir o paganismo na própria casa real. O rei não devia “multiplicar muito ouro nem prata para si”, mas governar em benefício do seu povo e não para o seu próprio engrandecimento. Estas regras têm uma aplicação direta aos líderes espirituais atuais. Estes líderes devem ser crentes verdadeiros, devem confiar totalmente em Deus, e devem estar completamente comprometidos com Ele, cuidando mais das pessoas a quem ser­ vem do que de qualquer ganho pessoal.

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Deuteronômio 19.1—21.14

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Deus certamente Guiará (Dt 18.9-22) Quando Karen procurou Ron, um presbítero da nossa igreja, ela estava frustrada. Precisava tomar uma decisão importante, no entanto, todos os seus amigos estavam lhe dando conselhos conflitantes. Então, Karen resolveu ir à igreja e perguntar a Ron o que ela devia fazer. Nenhuma forma específica de “irás” ou “não irás” foi aplicada e Ron mostrou-lhe várias passagens da Bíblia com princípios que poderiam ser aplicados. Finalmente, ele lhe disse para orar e perguntar a Jesus o que deveria fazer. Zangada, Karen explodiu: “Mas, você é um presbí­ tero. Você tem a obrigação de me dizer o que devo fazer”. Em certas ocasiões, todos nós sentimos necessi­ dade de uma orientação especial, de alguém que possa nos dizer o que fazer. No mundo antigo, geralmente as pessoas lançavam mão da feitiçaria ou da adivinhação, ou mesmo lançavam encantos à procura de uma orientação sobrenatural. Algumas pessoas modernas fazem a mesma coisa; elas pro­ curam cartomantes, espíritas ou a astrologia. Nesta passagem, Israel é asperamente informado de que tais práticas são “abomináveis”. O povo de Deus não deve, de maneira nenhuma, adotar nenhuma delas (w. 9-14). Então, imediatamente, Deus faz uma promessa. Sim, surgirão situações que não estão cobertas pe­ las Escrituras. Sim, haverá ocasiões em que o povo precisará de uma orientação especial e sobrenatu­ ral. Mas, então: “O Senhor, teu Deus, te despertará um profeta do meio de ti”. Deus assumiu um compromisso. Através dos pro­ fetas, Ele mesmo iria fornecer qualquer orientação espiritual de que seu povo pudesse necessitar. Israel nunca precisaria procurar nenhuma outra fonte que não fosse Deus. Karen ficou furiosa porque Ron não lhe disse o que deveria fazer. Ron explicou que Deus havia conce­ dido o seu Espírito a cada crente e Karen precisava orar sobre a sua situação e deixar que o próprio Deus lhe guiasse. “Eu não sou Deus”, Ron expli­ cou, “Não sei o que Deus definiu que seria melhor para você, mas Ele o fez. E, se você ouvir, Ele lhe mostrará o que deve fazer”. Karen permaneceu zangada durante dois dias, mas finalmente decidiu fazer o que Ron havia dito. Mais tarde, ela voltou muito animada. Deus ha­ via lhe orientado e ela encontrara uma solução na qual nem ela, nem seus amigos, tinham pensado. Ron, como bom servo de Jesus Cristo, havia aju­

dado outra pessoa a aprender que podia realmente depender de Deus.

Aplicação Pessoal Deus também deu o seu Espírito a você. Você pode, hoje mesmo, buscar diretamente a orienta­ ção de Deus. Citação Importante “Confie no Senhor de todo o coração e não se apoie na sua própria inteligência. Lembre de Deus em tudo o que fizer, e ele lhe mostrará o caminho certo.” — Provérbios 3.5,6 (NTLH) 10 DE FEVEREIRO LEITURA 41 HONRAR A DEUS Deuteronômio 19.1— 21.14 “Quando te achegares a alguma cidade... apregoarlhe-ás a paz” (Dt 20.10). A vida humana é preciosa para Deus. Mesmo nos casos em que tirar a vida era permissível — ao exe­ cutar um assassino ou na guerra — o povo de Deus deveria honrar ao Senhor demonstrando respeito pela vida. Definição dos Termos-Chave Assassinato. O hebraico faz uma distinção entre o assassinato pessoal (rasa) e o ato geral de tirar a vida (harag}. O assassinato e o homicídio premedi­ tado são rasa’, enquanto uma execução judicial, ou matar na guerra são harag. Um número adicional de palavras também é usado na descrição da morte na guerra. E importante entender que o mandamento, “Não matarás” se coloca contra a rasa’, um ato pessoal de matar, e não contra matar judicialmente ou matar militarmente. Deuteronômio 19 trata de rasa, e o capítulo 20 trata, indiretamente, de harag. Seja intencional ou não, rasa’ é pecado, mas somente a morte inten­ cional — que chamaríamos de assassinato em pri­ meiro grau ou premeditado — merece a pena de morte. Como ensinam estes capítulos, não é errado impor a pena de morte a um assassino — é uma exigência. Algumas circunstâncias até exigiam que Israel se envolvesse em guerras de extermínio. As leis do Antigo Testamento não tratam de todas as questões levantadas por aqueles que censuram publicamente a pena de morte, ou por aqueles que adotam uma posição pacífica na guerra. No entan­ to, estas leis estabelecem importantes diferenças

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que precisamos entender para discutir tais questões de, o supremo valor que Deus atribui a uma única de maneira inteligente. Estas leis mostram, real­ vida humana. mente, que Israel devia honrar a Deus mostrando “Não mudes o marco do teu próximo” (Dt 19.14). um raro respeito pela vida humana. Nos tempos bíblicos, os limites da terra de uma família eram marcados com pedras. Por que esta lei Visão Geral Regulamentos detalhados exigiam que Israel hon­ foi colocada aqui numa discussão sobre questões rasse a Deus através do respeito à vida humana. relacionadas à vida e à morte? Possivelmente, por Haviam sido estabelecidas cidades de refúgio para causa da conexão entre o meio de subsistência da proteger aqueles que haviam cometido um homi­ família — a sua terra — e a própria vida. cídio acidental (19.1-14). Regras rígidas relaciona­ O mandamento que proibia a morte estabelecia a das às evidências governavam todos os casos crimi­ importância da vida humana. Ele se coloca eter­ nais (w. 15-21), assim como outras regras rígidas namente como uma barreira a qualquer ato que, tinham que ser seguidas ao se fazer a guerra (20.1- de alguma maneira, direta ou indiretamente, possa 20). Os assassinatos não solucionados exigiam uma ameaçar o bem-estar de outro ser humano. Os cris­ purificação (21.1-9), e as mulheres prisioneiras de­ tãos dos nossos dias precisam defender as leis que veriam ser tratadas com especial cuidado e respeito promovem a justiça, sem deixar de exigir o castigo dos malfeitores. (w. 10-14). Entendendo o Texto “Preparar-te-ás o caminho” (Dt 19-1-3). A Lei do Antigo Testamento exigia o estabelecimento de ci­ dades de refúgio onde uma pessoa que tivesse aci­ dentalmente matado alguém pudesse ficar a salvo. A frase, “Preparar-te-ás o caminho” é bastante sig­ nificativa. Deus não queria que alguma coisa pu­ desse impedir ou atrasar a fuga de qualquer pessoa para o refúgio. Nós também temos a responsabilidade de procu­ rar que a justiça seja feita na nossa sociedade. Mas também somos responsáveis por “preparar cami­ nhos” que irão proteger o inocente. “A quele que por erro”(Dt 19-4-13). Em Israel, algum parente próximo da vítima de um assassinato tinha a responsabilidade de matar o criminoso. Podemos compreender que tal pessoa, um filho, um irmão ou um pai, pudesse estar suficientemente zangado para matar sem esperar a verificação das circuns­ tâncias da morte. As cidades de refúgio eram esta­ belecidas de forma que a pessoa que tivesse matado alguém pudesse estar a salvo enquanto a morte era investigada. Se fosse verdadeiramente um acidente, como no exemplo incluído no verso 5, o assassino poderia permanecer na cidade de refúgio até que o atual sumo sacerdote morresse, para depois voltar para sua casa. Mas, se a investigação mostrasse que a morte havia sido intencional, “então”, diz o verso 12, “os anciãos da sua cidade mandarão, e dali o tirarão, e o entregarão na mão do vingador do san­ gue, para que morra”. Esta lei reflete a preciosa natureza da vida humana. Nenhuma quantia em dinheiro, e nenhum castigo possível, podem repor uma vida que foi tirada. A pena de morte reafirma, perante toda a comunida­

“Uma só testemunha contra ninguém se levantará” (Dt 19.15-21). Em qualquer assunto relacionado com um crime eram necessárias duas ou três tes­ temunhas para estabelecer a culpa. Além disso, os juizes deviam examinar cuidadosamente essas tes­ temunhas. A justiça era tão importante que uma testemunha falsa devia sofrer um castigo, não o castigo por mentir, mas o castigo estabelecido pelo crime sobre o qual havia mentido. Uma rígida jus­ tiça era necessária “para que”, diz o verso 20, “os que ficarem o ouçam, e temam, e nunca mais tor­ nem a fazer tal mal no meio de ti”. A maneira mais segura de promover o crime é dei­ xar de punir os criminosos. “ Quando saíres à peleja” (Dt 20.1-9). No início, Is­ rael não dispunha da presença de um exército e, em seu lugar, se formava uma milícia composta por cidadãos, quando a nação era ameaçada ou ia à guerra. A lei bíblica concedia exceções humanitárias e qualquer um que sentisse medo era enviado para casa “para que o coração de seus irmãos se não der­ reta como o seu coração”. Estas exceções refletem a crença em Deus que os sacerdotes deviam procla­ mar antes de toda batalha. A vitória não dependia do tamanho do exército de Israel, mas de Deus. “O Senhor, vosso Deus, é o que vai convosco”. Este é um princípio importante que devemos lem­ brar sempre que nos sentimos pequenos e impo­ tentes. A questão não é a nossa força, nem a força do inimigo, a questão é se o Senhor vai conosco. “Quando te achegares" (Dt 20.10-18). Esta passa­ gem faz uma importante distinção. Quando Israel fazia guerra fora dos limites de Canaã, os exércitos

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inimigos eram convidados a se render, e somente quando a cidade inimiga resistia, o exército de Isra­ el tinha ordem para matar e saquear. Entretanto, se a guerra acontecesse dentro de Israel, seu exército tinha ordens para “destruir totalmente’ as cidades inimigas. A razão para isso foi claramente explica­ da: “Para que vos não ensinem a fazer conforme to­ das as suas abominações, que fizeram a seus deuses, e pequeis contra o Senhor, vosso Deus”.

xima deviam degolar uma bezerra que iria repre­ sentar o criminoso e, desse modo, demonstrar a sua disposição de aplicar o castigo que Deus exigia. Em seguida, eles deviam anunciar publicamente que ignoravam a identidade do assassino perante os sacerdotes que representavam a própria Lei. Esta cerimônia purificava a terra da culpa por ter derra­ mado “sangue inocente”. Esta cerimônia reflete novamente o fato de que, se­ gundo a Lei do Antigo Testamento, toda comuni­ “Não destruirás o seu arvoredo” (Dt 20.19). Náo dade de fé era responsável pela conduta individual existe nenhum paralelo com as regras de guerra das dos seus membros. outras nações da antiguidade. Somente Israel devia preservar as árvores frutíferas ao atacar uma cidade “Tu serás seu marido, e ela, tua mulher” (Dt 21.10murada. Esta lei faz mais do que refletir a preo­ 14). Os exércitos de antigamente se caracterizaram cupação de Deus com todos os povos. Ela mostra pelo estupro e pelo saque, mas a Lei de Deus subs­ que, para Israel, o estado ideai era um estado de tituiu o estupro pelo casamento. Mudar as vestes e paz, não de guerra. Os assírios e os babilônios, e cortar o cabelo da mulher prisioneira simbolizava também outros povos poderosos do mundo antigo sua separação da nação de origem, e que ela havia prosperavam com a guerra e não se preocupavam sido adotada por Israel. Em seguida, ela dispunha com as devastações que provocavam. Somente em de algum tempo para lamentar a perda dos parentes Israel a paz representava a principal preocupação e, então, era aceita como esposa e não como escrava do país. (v. 13). Se, por qualquer razão, acontecesse o divór­ cio, essa mulher deveria receber a liberdade e não ser “Sem que se saiba quem o matou” (Dt 21.1-9). Toda tratada como escrava. Os arqueólogos recuperaram a comunidade da aliança era responsável pela apli­ regulamentos de guerra de outras nações da antigui­ cação das Leis de Deus. Se acaso desconhecessem dade, mostrando que elas dedicavam às mulheres qualquer assassino, os anciãos da cidade mais pró- prisioneiras um tratamento muito mais cruel.

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Preparadores de Caminhos (Dt 19) Ouvi uns boatos a seu respeito”, disse-me alguém ao telefone, “Só queria saber por mim mesmo”. Gostei muito do seu telefonema. Tinha ouvido a história que estava circulando e me divertia com ela. Não sou nenhum ser perfeito, mas essa história era ridícula. O único problema era que as pesso­ as que a ouviam continuavam a repeti-la como se fosse verdade. Por fim, um grupo de irmãos e ir­ mãs cristãos ouviu a história, acreditou e passou a repeti-la. No entanto, o telefonema que recebi era da primeira — e única — pessoa que se preocupou em conferir os fatos pessoalmente comigo. Depois de algum tempo, esta história morreu. Em primeiro lugar, porque não era verdadeira e Deus havia protegido o meu ministério, de modo que estes boatos realmente não me prejudicaram. Mas, este incidente me faz lembrar de como nós, cristãos, estamos muito mais dispostos a pegar um machado e partir atrás de alguém que julgamos ter cometido um erro — como modernos vingadores de sangue — do que partir para construir estradas a fim de

que o inocente possa encontrar o caminho para uma cidade de refúgio. E verdade, devemos casti­ gar o culpado. Mas, antes, precisamos nos certificar de que nenhum inocente sofra injustamente. Então, o que devemos fazer ao ouvir alguma coi­ sa a respeito de um suposto erro ou problema na vida de um irmão ou de uma irmã? Deuteronômio 19 sugere diversos princípios para a preparação de caminhos. Primeiro, procure levar algum tempo antes de re­ petir um boato. A cidade de refúgio do Antigo Tes­ tamento era, primeiramente, um lugar onde uma pessoa podia encontrar um refúgio temporário en­ quanto seu caso estava sendo investigado. Segundo, verifique os fatos. Não é suficiente man­ ter-se calado, procure a pessoa que lhe contou a história — onde ela obteve esta informação? Sabe se é confiável? Se a história estiver sendo repetida sem a pessoa interessada ter conhecimento dos fa­ tos, confronte aquele que a está circulando. É peca­ do testemunhar falsamente contra qualquer um. Terceiro, se este boato continuar, fale com a pessoa que está sendo acusada. Ela tem o direito de saber

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o que está sendo dito a seu respeito e o direito de ser ouvida. O cristão não deve, de maneira alguma, absolver a culpa ou ignorar o pecado. Mas o boato, a maledi­ cência e a falsa acusação são pecados que devem ser eliminados de uma comunidade de crentes.

(cf. Êx 20.12; 21.15, 17; Lv 20.9) como fez Jesus (Mc 7.10). Segundo, os pais não tinham direitos absolutos sobre seus filhos. De acordo com a lei romana o pai podia ordenar a morte de um filho, mas em Israel um pai só podia castigar. Somente os juizes da comunidade, que tinham a responsabilidade de Aplicação Pessoal determinar a culpa ou a inocência de um filho, po­ “Para que o sangue inocente se não derrame no diam ordenar uma execução. meio da tua terra” (Dt 19.10). Terceiro, tanto o pai como a mãe deviam estar de acordo em fazer alguma acusação contra o filho. Os direitos da esposa e mãe, ignorados em mui­ Citação Im portante “Aquele que acusa toda a humanidade de corrup­ tos códigos da antiguidade, eram reconhecidos em ção deve se lembrar de que, seguramente, está con­ Israel. Para nós, a família também é uma unidade básica. denando apenas um.” — Edmund Burke Embora como pais, nós não possamos garantir que 11 DE FEVEREIRO LEITURA os42nossos filhos façam todas as escolhas certas, nós assumimos a responsabilidade de dar orientação e ■/~V OBEDECENDO A DEUS disciplina aos meninos e às meninas. Deuteronômio 21.15—26.19 “O Senhor, hoje, tefez dizer que lhe serás por povo seu “O seu cadáver não permanecerá no madeiro” (Dt próprio, como te tem dito, e que guardarás todos os 21.22,23). Nas sociedades antigas o corpo do cri­ minoso executado era, muitas vezes, pendurado ao seus mandamentos” (Dt 26.18). ar livre para servir de lição aos outros. Em Israel A Lei do Antigo Testamento abordava todos os as­ esta exposição estava limitada a um dia, “porquan­ pectos do estilo de vida dos israelitas mostrando to o pendurado é maldito de Deus”. Paulo aplica que Deus está intimamente envolvido com tudo esta frase a Jesus em Gálatas 3.13, a fim de mostrar que acontece na vida do crente sobre a terra. Mui­ que Ele se tornou realmente maldito a fim de nos tas das leis desta seção são notáveis pela preocupa­ livrar da maldição da Lei (isto é, da exigência da ção que demonstram pelos indivíduos. Lei de que o pecado deve ser castigado). “Não te esconderá deles” (Dt 22.1-4). Alguém que encontrasse alguma coisa perdida era obrigado a devolvê-la, ou cuidar dela até que o proprietário fosse encontrado. Em Êxodo 23.4,5 a obrigação de ajudar era estendida aos inimigos. Jesus aplicou este princípio quando respondeu a um “doutor da lei” que o desafiou a definir o “pró­ ximo” que, segundo a Lei do Antigo Testamento, Visão Geral devia ser amado como a si mesmo. Na parábola do As leis que abordam inúmeros aspectos da vida de Bom Samaritano Jesus mostrou que o nosso “pró­ Israel naquela terra foram agrupadas nesta seção e, ximo” é qualquer pessoa que esteja necessitada e a entre uma miscelânea de regras, existem conjuntos quem temos a capacidade de ajudar. de leis que tratam da família (21.15-21), do casa­ mento (22.13-30) e dos rituais religiosos (26.1-19). “Não haverá trajo de homem na mulher” (Dt 22.5). Tanto o homem como a mulher usavam túnicas Entendendo o Texto semelhantes na época do Antigo Testamento, mas “Um filho contumaz e rebelde” (Dt 21.18-21). Não o corte e os adornos eram diferentes. Este manda­ existe nenhum registro de pais que entregaram o fi­ mento afirma, realmente, a importância de ambos lho aos juizes locais para ser executado. Mas este caso os sexos, e os exorta a afirmar a sua identidade se­ estabelece vários princípios legais importantes. xual através da roupa, em vez de se vestirem de um Primeiro, este caso realça a importância de uma fa­ modo que negue esta identidade. mília estável, pois em Israel a família representava a unidade religiosa e econômica básica. Outras leis “ Quando edificares uma casa nova, farás no telhado também afirmam a importância de honrar os pais um parapeito” (Dt 22.8). As casas de Israel tinham Definição dos Termos-Chave “Se... então”. Muitas dessas leis são casuísticas na sua forma; elas aplicam princípios morais gerais ao examinar cada caso específico. Então, estes casos se tornavam precedentes e eram usados para orientar os procedimentos e as decisões quando surgiam ca­ sos semelhantes perante as cortes judaicas.

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um telhado plano e uma escada exterior que levava até ele. O telhado era usado pela família e os ami­ gos como ponto de reunião para conversar ou tra­ balhar. Esta lei, uma extensão da lei de não matar, exigia a construção de um muro baixo em volta da área do telhado. Aqui, essa proibição divina assim como em outro caso da lei do Antigo Testamento, foi transformada numa lei positiva que envolve um significado mais profundo. Nós também devemos promover ativamente o bem-estar dos outros, e não apenas evitar fazer-lhes algum mal.

soa é preciosa perante Deus e deve ser respeitada por nós.

“A teu irmão não emprestarás à usura”(Dt23.19,20). Arqueólogos encontraram documentos de culturas contemporâneas à do Antigo Testamento que esta­ belecem as taxas de juros. Algumas leis limitavam as taxas que podiam se cobradas, mas contratos do século XV encontrados em Nuzi, no norte da Assí­ ria, registram taxas de juros de 50%! O princípio aqui é bastante claro. Devemos ajudar as pessoas necessitadas, e não oprimi-las ainda mais visando o nosso próprio proveito. O explorador “Sinais da virgindade” (Dt 22.13-19). Tradicional­ dos pobres que cobra um aluguel exagerado está mente, esta lei tem sido usada para mostrar que cometendo uma clara violação do princípio subja­ o sangue na cama do casal recém-casado era uma cente a este regulamento do Antigo Testamento. prova de que o hímen da noiva havia sido rom­ pido. Mas aqui a palavra betulim pode significar “Seu primeiro marido... não poderá tornar a tomá“adolescência” e não “virgindade”. Portanto, será la” (Dt 24.1-4). O divórcio e um novo casamento melhor entender o “sinal” como algum tecido usa­ eram permitidos em Israel, embora demonstras­ do na menstruação. O fluxo menstrual da jovem sem um fracasso da pessoa por não viver o ideal noiva era prova de que ela não estava grávida quan­ divino do relacionamento monogâmico que du­ do se casou, e também uma prova de que ela havia rasse a vida toda. Entretanto, esta lei estabelecia, atingido a idade para se casar. em particular, um claro limite. A pessoa que tives­ se se divorciado, casado novamente, e se divorcia­ “Quando o homem for achado deitado com mulher do outra vez não podia se casar pela segunda vez casada” (Dt 22.22-30). Várias leis que tratam do com o primeiro cônjuge. adultério, sedução e estupro realçam a importância E provável que a finalidade desta lei fosse a de for­ da fidelidade sexual. As nações pagãs, situadas ao talecer o segundo casamento, pois tornava impossí­ redor de Israel, mantinham uma atitude casual em vel que uma esposa que tivesse se casado novamen­ relação ao sexo. A moderna teoria do “playboy”, em te pudesse retornar ao seu primeiro marido. nossos dias, que entende o sexo como uma diversão O divórcio nunca foi o ideal de Deus. E o casamen­ inocente, não tem nada de nova! to não deve ser tratado de maneira irresponsável, a As leis bíblicas nos lembram de que o povo de Deus ponto de quase se tomar uma competição de coros é chamado à pureza. O sexo deve ser uma parte im­ musicais. Devemos fazer o possível para conservar portante da vida, mas da vida matrimonial. O sexo e fortalecer o compromisso do casamento. deve ser algo sagrado para os crentes, uma expres­ são de intimidade e de amor que só é permitida e “Nem mesmo a mó de cima” (Dt 24.6). Em Israel apropriada dentro do contexto do casamento. era comum que alguém tomasse posse de algum objeto como garantia de um empréstimo. Essa lei “Não entregarás a seu senhor o servo que se acolher a ti menciona as mós usadas diariamente por cada fa­ de seu senhor” (Dt 23.15). O Código de Hamurabi mília israelita para moer o trigo e fazer o pão a fim condenava à morte o homem que escondesse um de estabelecer um outro princípio. Nada podia ser escravo fugido. Em Israel, o escravo que estivesse feito pelo credor que pudesse limitar a capacidade fugindo de um senhor estrangeiro deveria receber de outra pessoa de ganhar dinheiro, ou manter a refúgio e não ser oprimido pelo fato de ter sido própria vida. escravo. As leis modernas em nossa nação aplicam este prin­ O ponto de vista das Escrituras sobre o valor dos cípio para proteger a casa e o carro de uma família seres humanos, e a maneira como este valor é ratifi­ que declara a sua falência. cado, é muito diferente do ponto de vista adotado Esta lei nos lembra a preocupação de Deus com por muitas sociedades da antiguidade. cada um de nós. Todo individuo tem direito aos Devemos ter muito cuidado com a maneira de recursos necessários para manter a vida e susten­ “classificarmos” os outros. Raça, credo, religião, tar a família. Quando limitamos as oportunida­ educação, posição, riqueza — tudo isso é impor­ des de alguém estamos, na verdade, roubando a tante. Mas o que conta realmente é que cada pes­ sua “mó de cima”.

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comunhão dos santos, no perdão dos pecados, na ressurreição do corpo e na vida eterna.” — O Credo dos Apóstolos, 140 d.C.

Formas de Adoraçáo (Dt 26) “Vamos cantar este refrão novamente!" Fico muito entusiasmado quando canto (tenho uma voz bem alta). E gosto muito da informali­ dade dos cultos de adoraçáo e louvor. Certa oca­ sião até argumentei que somente o espontâneo e o informal podiam representar corretamente a adoração congregacional. Se alguma vez discuti esta afirmação devo agora confessar que estava errado. O que me convenceu foi a frequente inclusão, nas liturgias de adoração no Antigo e Novo Testamen­ tos, de certas palavras e frases que sáo repetidas pelos crentes. Este capítulo contém uma liturgia usada na Festa das Primícias e uma liturgia usada quando os dízimos eram entregues na casa do te­ souro local a cada três anos. Cada uma delas in­ clui afirmações que lembram aos crentes porque, exatamente, eles estão comparecendo perante o Senhor, e o que o Senhor representa para eles. Se você frequenta uma igreja que é rica nas suas expressões litúrgicas, junte-se conscientemente a ela. Ouça as palavras da sua liturgia como se elas estivessem sendo ouvidas pela primeira vez. Repi­ ta-as do fundo do coração. Pois a liturgia muitas vezes captura, realmente, e de forma sucinta e po­ derosa as realidades básicas da nossa fé.

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12 DE FEVEREIRO LEITURA DESOBEDECENDO A DEUS Deuteronômio 27—28

“Maldito aquele que não confirmar as palavras des­ ta lei, não as cumprindo” (Dt 27.26), Um princípio básico da Lei da Aliança diz que a obe­ diência traz a bênção e que a desobediência traz o castigo. E muito importante entendermos as trágicas consequências do pecado de desobedecer a Deus. Visão Geral Moisés e os anciãos deram instruções para a cons­ trução de um altar assim que entrassem na Terra Prometida (27.1-8). Do monte Ebal foram dadas orientações para as bênçãos e as maldições (w. 9-26), bênçãos para a obediência (28.1-14) e mal­ dições para a desobediência (w. 15-68).

Aplicação Pessoal O Credo dos Apóstolos é uma das mais antigas afirmações cristãs. Se você não o conhece, por que não decorá-lo agora? Citação Importante “Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra. Em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor que foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepulta­ do. Desceu ao inferno e no terceiro dia ressusci­ tou dos mortos. Subiu ao céu e está assentado à mão direita de Deus Pai, Todo-Poderoso de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na santa igreja universal, na

Entendendo o Texto “A li edificarás um altar ao Senhor, teu Deus” (Dt 27.1-8). Essa ordem era a última das determi­ nações do pacto, e afirmava aquilo que o povo devia fazer. As leis dos capítulos 21— 26 fazem uma lista das práticas que deviam ser obedecidas fielmente pelas futuras gerações. Este capítulo prescreve uma cerimônia que devia ser realizada uma vez, uma cerimônia na qual Deus imprimia em Israel a suprema necessidade da obediência. Através dela o povo de Israel mostrava sua com­ pleta aceitação da Lei de Deus e das consequên­ cias da desobediência. O altar e os sacrifícios ali realizados confirma­ vam a aceitação oficial das Leis de Deus por aquela geração. Precisamos ter certeza de que nossos filhos en­ tendem as consequências dos seus erros. Q uan­ do tivermos enunciado estas consequências, te­ remos uma base clara sobre a qual poderemos castigar e corrigir.

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Remanescentes de um altar maciço foram encontrados por arqueólogos no monte Ebal. A ilustração acima mostra como era a aparência deste altar quando foi construído.

RAZÕES DA MALDIÇÃO 0 Pecado Construir ídolos Desprezar os pais Mudar o marco/limite Fazer errar o caminho Impedir a justiça Pecado sexual Bestialidade Incesto Assassinato

Deuteronômio 27

D t 4.16; 5.8; Êx 20.23; Lv 19.4; 26.1 D t 21.18-21; Êx 21.15; Lv20.9 D t 19.14 Lv 19.14 D t 10.18; 24.17; Êx 22.21; Lv 19.33 D t 22.30; Lv 18.6-8 Êx 22.19; Lv 18.23 Lv 18.9-17; 20.14,17 Êx 21.12,29; 23.7

27.15 27.16 27.17 27.18 27.19 27.20 27.21 27.22,23 27.24,25

“Maldito aquele”(D t27.9-26). As leis contidas náo só em Deuteronômio, mas também em livros an­ teriores de Moisés, apresentam um resumo de doze violações. O quadro desta página relaciona passa­ gens paralelas. As pessoas deviam dizer em alta voz, “Amém” depois que cada uma dessas maldições fosse recitada. Não podia haver nenhuma confusão; Israel conhecia a Lei, e aceitava a responsabilidade de obedecê-la. “Se obedeceres plenamente” (Dt 28.1-14). As bên­ çãos prometidas a Israel por causa da sua obediên­ cia estavam dirigidas à prosperidade e à segurança dentro da Terra Prometida. O cristão dispõe de um compromisso semelhante da parte de Deus, e

Passagens Paralelas

somos informados de que, além disso, Deus “nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lu­ gares celestiais em Cristo” (Ef 1.3). As bênçãos espirituais nos garantem a amável pre­ sença de Deus em nossa vida, e que “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto” (Rm 8.28). “Se não deres ouvido à voz do Senhor” (Dt 28.1568). Encontramos aqui três grupos de maldições. Os versos 15-46 advertem que se Israel desobe­ decer, a nação irá experimentar a pobreza e não a prosperidade. Os versos 47-57 advertem que se Israel desobedecer, a nação irá viver sob a constan­

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Deuteronômio 29—30

na Terra Santa. Somente agora existe um sinal de que o povo de Israel irá se reunir na sua antiga terra natal. Quando os profetas proclamavam suas ameaças à rebelde nação de Israel, muitas das suas previsões estavam baseadas no programa divino revelado neste importante capítulo do Antigo Testamen­ to. A realização destas previsões nos lembra que ninguém pode pecar impunemente. Deus irá nos punir diretamente, ou através das consequências naturais do nosso pecado.

te ameaça de invasão estrangeira e os versos 58-68 avisam que se a desobediência persistir a nação de Israel será removida da sua terra e lançada entre as outras nações onde o povo de Deus não terá repou­ so, mas “o Senhor ali te dará coração tremente, e desfalecimento dos olhos, e desmaio da alma”. Como muitos já observaram, este capítulo faz uma previsão daquilo que realmente aconteceu a Israel. Primeiro, os assírios e os babilônios dis­ persaram o povo de Deus. Mais tarde, os roma­ nos esmagaram aqueles que haviam se reunido

DEV OCIONAL______

A “Nova” Geração (Dt 28.15-68) Um recente artigo do jornal de Sáo Petersburgo afirmou que enquanto é preciso uma média de 8 a 10 anos para alguém experimentar plenamente as consequências do poder destruidor do álcool, a pessoa que usar algum derivado da cocaína irá constatar que teve sua vida arruinada depois de apenas sete a oito meses! Ainda de acordo com o jornal, o uso do “crack” é epidêmico na cidade de São Petersburgo e atrai usuários de todas as cama­ das sociais. Isso não me surpreendeu realmente. Nós ameri­ canos estamos nos tornando gradualmente uma nação de pessoas que exigem uma gratificação ins­ tantânea. Queremos gozar os nossos prazeres agora. Tragicamente, poucos se preocupam se obter estes prazeres envolve fazer o certo ou o errado, ou se os prazeres que exigimos irão nos ajudar ou nos prejudicar ao longo do tempo. De alguma maneira, algumas pessoas somente se importam com o momento presente. O futuro, moldado de acordo com as consequências das es­ colhas feitas agora, parece muito irreal para receber qualquer consideração. Talvez esta seja a razão pela qual o livro de Deute­ ronômio dedique cerca de quatro vezes mais espaço para descrever as consequências da desobediência, do que para enumerar as bênçãos que a obediência traz. Neste aspecto, as pessoas sempre tentam, de­ sesperadamente, ignorar o futuro. Não seríamos os primeiros a fingir que o pecado é irrelevante, e que as escolhas que fazemos hoje não trarão consequên­ cias para o amanhã. Imagino que alguns iriam ficar um pouco aborreci­ dos com Deus por ter gastado tanto tempo pintan­ do um quadro tão sombrio. Mas, na verdade, essa passagem me faz lembrar como Deus é bondoso. Ele entende a nossa tendência humana de escolher o prazer, sem pensar no amanhã. Ao descrever as

sombrias consequências das nossas decisões erradas com tantos detalhes, Deus está nos obrigando a en­ frentar a realidade. Ninguém pode pecar impunemente. Ninguém pode pecar descaradamente. Ninguém pode es­ capar, por muito tempo, das consequências dos seus atos. Aplicação Pessoal Viva uma vida justa hoje, e deixe que o amanhã cuide de si mesmo. Citação Importante “O salário do pecado é a morte — graças a Deus pedi demissão antes do dia do pagamento.” — Reamer Loomis 13 DE FEVEREIRO LEITURA 44 ESCOLHENDO DEUS Deuteronômio 29— 30 “Hoje te tenho proposto a vida e o bem, a morte e o mal” (Dt 30.15). Definição dos Termos-Chave Concerto ou Aliança. A palavra hebraica brit cor­ responde a um termo usado para uma variedade de compromissos vinculantes. Entre as nações, brit representa um tratado, e entre indivíduos ela pode ser um contrato. Deus usou muitas vezes uma for­ ma conhecida de aliança/concerto para confirmar as promessas que Ele fez a Abraão. Na antiguidade também se usava a palavra brit para descrever o relacionamento entre um governante e seus súditos. Esta passagem de Deuteronômio obe­ dece ao formato usado no segundo milênio a.C. para descrever esse tipo de relacionamento. E neste sentido “constitucional” que a palavra “pacto” foi usada simbolicamente em Deuteronômio e espe­ cialmente aqui.

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Deuteronômio 29—30

Estes dois capítulos são, em essência, uma re­ visão de Deuteronômio 1— 28. Israel ouvira a longa explicação feita por Moisés a respeito do relacionamento que Deus, como Rei, desejava estabelecer com o seu povo. Agora, talvez alguns dias mais tarde, Moisés faz uma breve revisão da aliança que iria servir como a constituição nacio­ nal de Israel, e exortou o povo a se comprometer com ele e com Deus.

A questão que os israelitas enfrentavam perante Moisés naquele “hoje” era simples. Será que deve­ riam se comprometer com um Deus que já estava comprometido com eles? Esta questão é muito parecida com a questão que enfrentamos hoje. Deus realizou o seu Novo Con­ certo de amor em Jesus Cristo. A morte de Cristo na cruz, e a sua ressurreição, representam a prova do seu compromisso irrevogável conosco. A úni­ ca questão restante, e que cada um de nós precisa Visão Geral enfrentar no seu “hoje” é: Será que devemos nos Moisés resumiu a aliança existente entre Deus e Is­ comprometer plenamente com Ele? rael. Ele fez uma revisão da obra salvadora de Deus (29.1-9), e da sua exortação ao relacionamento “Terei paz, ainda que ande conforme o bom parecer de aliança (w. 10-15). Moisés advertiu sobre as do meu coração” (Dt 29.16-29). Eu me converti maldições aos rebeldes (w. 16-29), mas afirmou quando estava servindo à Marinha. Comecei a me a intenção de Deus de restaurar Israel (30.1-10). dedicar ao estudo da Bíblia na hora do almoço e Em vista disso, Moisés exigiu do povo um firme a colocar os seus versos no quadro de avisos per­ compromisso com o Senhor (w. 11-20). to da lanchonete. Isso serviu para estimular várias conversões e alguns debates. Um dos grandes argu­ Entendendo o Texto mentos que meus amigos tinham contra a minha “ Tendes visto tudo quanto o Senhor fez” (Dt 29.2- nova fé era, “Está certo, você foi salvo e vai para o 9). O relacionamento de Israel com Deus começou céu não importa o que tenha feito, não é? Então, com atos salvadores. Quando o povo estava aban­ vai poder fazer o que quiser e estará tudo bem? Isso donado e escravo numa terra estrangeira, Deus re­ não pode estar certo”. alizou “sinais e grandes maravilhas” para libertá-lo. Tentei explicar que uma pessoa que conhece a Jesus O motivo mais forte que os israelitas tinham para ama a Deus. E o amor a Deus, e não o medo dEle, se comprometer com Deus era lembrar-se de tudo que impede os cristãos de pecarem. Meus colegas aquilo que Ele já havia feito por eles. céticos da Marinha simplesmente não podiam acei­ O mesmo acontece conosco. Deus não está pedin­ tar isso. Se soubessem que poderiam ficar livres do do uma fé cega, ou um compromisso com o desco­ castigo fazendo qualquer coisa que quisessem, eles nhecido. O Deus que pede o nosso compromisso já escolheriam ter uma “overdose” de pecados. agiu através de Jesus para nos salvar do poder e do Imagino que, embora a minha resposta estives­ castigo do pecado. Conhecemos seu amor através se correta, atualmente eu poderia ter tratado esta da morte de Jesus por nós, e o seu poder através da questão de uma forma diferente. Talvez da manei­ ressurreição de Jesus. E realmente seguro nos com­ ra como Moisés tratou com Israel. Não podemos prometer completamente com Deus? Em vista de olhar para tudo que Deus tem feito por nós e de­ tudo que Ele já fez por nós, só podemos responder cidir o que significa a frase: “Terei paz, ainda que com toda segurança que sim! ande conforme o bom parecer do meu coração”. Fazer as coisas à nossa maneira nunca é seguro; é “Vós todos estais hoje perante o Senhor, vosso Deus” uma receita para o desastre. (D t29.10-15). Centenas de anos antes, Deus havia Para Israel, deixar de se comprometer com o Deus feito uma promessa a Abraão, Isaque e Jacó de que do Concerto significava a calamidade. A terra iria Ele seria o seu Deus, e o Deus dos seus filhos. Ele se tornar um deserto fumegante, o povo iria ficar já havia confirmado essa promessa inicial a Abraão fraco por causa das doenças e dos inimigos estran­ através de uma cerimônia que estabelecia o con­ geiros. Para nós, cometer um erro semelhante sig­ certo (cf. Gn 15.8-16). Este antigo concerto ainda nifica viver num deserto espiritual, sem nenhum estava em vigor, estendendo-se através dos séculos senso da presença de Deus, nenhuma experiência e proporcionando a cada geração de israelitas um da orientação divina, nenhum consolo ou garantia, relacionamento especial com Deus. e também a probabilidade de que as nossas decisões O Concerto da Lei, proposto no Sinai, era a forma irão nos levar ao desastre. usada por Deus para mostrar aos israelitas como todas as gerações poderiam experimentar as bên­ “Ainda que os teus desterrados estejampara a extremi­ çãos do relacionamento com um Deus que já havia dade do céu, desde ali te ajuntará o Senhor, teu Deus, se comprometido com eles. e te tomará dali” (Dt 30.1-10). Pesquisando a histó­

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Nós podemos pecar (e não há dúvida de que so­ freremos as consequências trazidas por cada um de nossos pecados), mas a porta estará sempre aberta para voltarmos para Deus. Podemos rei­ vindicar a promessa feita a Israel há tanto tem­ po atrás: “[Se] tornares ao Senhor, teu Deus, tu e teus filhos, de todo o teu coração... então, o Senhor, teu Deus, mudará a tua sorte” (w. 2,3, ARA).

ria Bíblica, podemos constatar que muitas gerações de israelitas realmente abandonaram a Deus e vol­ taram para a idolatria. Os desastres que Moisés ha­ via previsto aconteceram, inclusive o exílio da Terra Prometida. Mas, como Moisés deixou bem claro, Deus manteve o compromisso com o seu povo. As gerações desobedientes experimentaram o desastre, mas a desobediência delas não anulou as promessas feitas por Deus a Abraão.

DEVOCIONAL_______ “Eu Prometo” (Dt 30.11-20) Talvez a cerimônia do casamento seja a melhor analogia que se possa fazer com o compromisso que Deus nos pede para assumir com Ele. O ca­ samento acontece como o ponto culminante de um conhecimento gradual entre as pessoas depois de meses (às vezes, de anos) de convivência. Com o tempo, a amizade floresce e a atração inicial se transforma em uma profunda apreciação mútua. Em seguida, cada um percebe que “quer passar a vida com a outra pessoa” e os dois planejam o ca­ samento — uma cerimônia para anunciar a todos que estas duas pessoas resolveram apegar-se uma à outra para o melhor e o pior, na doença e na saúde, até que a morte os separe. E fascinante. Esta cerimônia que representa o pon­ to mais elevado dos sonhos de tantos jovens não é o fim, mas o começo. E o começo de uma vida in­ teira em que o casal agirá de acordo com a decisão que foi marcada por aquela cerimônia. E o começo de uma vida inteira de tomadas de decisões mol­ dadas pelo fato de que, em um determinado mo­ mento do tempo, duas pessoas se colocaram lado a lado e se comprometeram mutuamente; naquele momento, e para sempre. É exatamente este tipo de cerimônia que vemos em Deuteronômio 30. Moisés conclama a nova gera­ ção a tomar uma decisão que irá moldar a sua vida. Moisés conclama Israel a se comprometer com Deus, a escolher a vida com Ele e depois manter esse compromisso, na prática, pelo resto da sua vida. Como diz Moisés, o tipo de vida exigido por este compromisso “não é encoberto e tampouco está longe de ti”. Esta vida está contida na Palavra que Deus nos deu, uma Palavra que está junto de nós, sim, que está em nossos lábios e em nossos cora­ ções. Moisés prometeu que aderindo a este com­ promisso e mantendo-o, cada servo e cada serva do Senhor viverá, prosperará, e terá a bênção de Deus

em sua vida. Porém aqueles que pararem na jorna­ da, ou retrocederem, seráo destruídos. Nós, cristãos, precisamos compreender que o nosso relacionamento inicial com o Senhor Jesus Cristo deverá crescer e se aprofundar a ponto de também termos o seguinte sentimento: “Quero que a mi­ nha vida esteja comprometida com esta Pessoa ma­ ravilhosa, que me ama”. Este entendimento pode acontecer na igreja em resposta à exortação de um pastor. Pode acontecer na privacidade do seu quarto quando você estiver lendo uma literatura devocional como este livro. Quando isso realmente acontecer, então você precisará tomar uma decisão. Será que devo me comprometer plenamente com Deus, entendendo que esta decisáo irá determinar minhas escolhas para o resto da minha vida? Talvez o próprio Moisés esteja nos dando a mais importante razão para tomarmos esta decisão ago­ ra. Ele diz: “Os céus e a terra tomo, hoje, por tes­ temunhas contra ti, que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua semente, amando ao Senhor, teu Deus, dando ouvidos à sua voz e te achegando a ele; pois ele é a tua vida e a longura dos teus dias; para que fiques na terra que o Senhor jurou a teus pais, a Abraão, a Isaque e a Jacó, que lhes havia de dar” (w. 19,20). Aplicação Pessoal Se você ainda não assumiu o compromisso espe­ cífico de amar e obedecer a Deus, por que não faz isso agora mesmo? Citação Importante “Glorioso e poderoso Deus, ilumine a escuridão do meu coração e dê-me, Senhor, uma verdadeira fé, uma segura esperança, uma perfeita caridade, per­ cepção, e o conhecimento para que eu possa por em prática o seu santo e verdadeiro mandamento.” — Francisco de Assis

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Deuteronômio 31—34

14 DE FEVEREIRO LEITURA 45 A DESPEDIDA DE MOISÉS Deuteronômio 31—34

Livro de Deuteronômio. Este livro devia ser lido para toda a nação — “homens... mulheres... meni­ nos... e os...estrangeiros que estão dentro das tuas portas”. Esta leitura devia ser feita a cada sete anos, “Da idade de cento e vinte anos sou eu hoje; jâ não na Festa dos Tabernáculos, “todos os dias que viver­ des sobre a terra”. poderei mais sair e entrar” (Dt 31.2). Todos nós temos o direito de conhecer e entender Cada um de nós deixa para trás uma herança quan­ aquilo que Deus nos diz nas Escrituras. do chega ao fim da vida. Moisés deixou uma heran­ ça gloriosa, uma geração preparada para a vitória, “Porquanto conheço os desígnios que... estãoformulando” uma Lei pela qual Israel devia viver e a lembrança (Dt 31.14-29). Apesar de ordenar que a Lei fosse ensi­ de um Deus que cumpre as suas promessas. nada fiel e regularmente a Israel, Deus disse a Moisés que dias sombrios estavam à frente e que logo Israel Visão Geral iria voltar para a idolatria e, disse o Senhor, “anulará o Deus iria estar com Josué, o novo líder de Israel meu concerto que tenho feito com ele”. (31.1-8). A Lei devia ser lida por Israel a cada sete Deus sabe de todas as coisas: “Porquanto conheço anos (w. 9-13), mas Deus predisse uma futura re­ os desígnios que, hoje, estão formulando, antes que belião (w. 14-30). Moisés ensinou-lhes um cântico o introduza na terra que, sob juramento, prometi” singular, sob a forma de uma denúncia jurídica, a fim (v. 21, ARA). A palavra hebraica yeser (“desígnio”, de encorajar a obediência (32.1-47). Pouco antes da ou “propósito”) significa aqui uma tendência, um sua morte (w. 48-52) Moisés abençoou as tribos de impulso ou uma disposição. A revelação desta ten­ Israel (33.1-29). Mais tarde, um escritor desconhe­ dência pode ser recebida como uma surpresa, pois cido acrescentou o epitáfio de Moisés (34.1-12). os israelitas obedeciam a Deus sob o comando de Josué. Na verdade, o seu comportamento era exem­ Entendendo o Texto plar. Mas Deus, que conhece o coração das pessoas, “Da idade de cento e vinte anos sou eu hoje” (Dt reconheceu a íntima tendência que tinham ao pe­ 31.2). No Egito, o número 110 simbolizava a ida­ cado, apesar da sua aparente obediência. de dos homens sábios. Como Moisés, aqueles que Nós também precisamos ser sensíveis ao nosso co­ fundamentam a sua vida no relacionamento com ração. Esta tendência ao pecado ainda existe dentro Deus são mais sábios do que o mais sábio deste de nós. Podemos estar em uma condição de gran­ mundo. de risco, mesmo quando não exista nenhum sinal E fascinante lembrar que Moisés tinha oitenta anos de estarmos em falta em nosso comportamento quando foi chamado pela primeira vez para servir a exterior. Certa vez Jesus explicou a sua crítica em Deus. O último terço da sua vida foi o mais produ­ relação a certos fariseus que eram extremamente tivo, espiritualmente falando. A velhice não é um rigorosos na sua abordagem à Lei de Deus: “Este fim para nenhum de nós, embora algumas pessoas povo honra-me com os lábios”, Ele disse, “mas o que encontram grande satisfação em sua atividade seu coração está longe de mim” (Mc 7.6). Somente profissional frequentemente pensem assim. O tem­ um amor sincero pode nos proteger contra a ten­ po que antes era dedicado ao trabalho pode agora dência ao pecado. ser dedicado a servir a Deus, e às outras pessoas. “Moisésfalou as palavras deste cântico” (Dt 31.30 — “O Senhor, vosso Deus, é o que vai convosco” (Dt 32.47). Os israelitas deviam decorar esse longo 31.3-8). Moisés apresentou Josué como o novo lí­ “cântico” ou poema. Nas culturas onde ler e es­ der de Israel e lembrou ao povo que era o Senhor crever é um ato muito raro é comum o hábito de que havia alcançado as vitórias passadas e aquele decorar poemas extremamente longos, lendas, tra­ que “passará adiante de ti”. tados etc. Para nós, é natural depender de líderes humanos. Este fascinante poema obedece ao que é conheci­ Mas esta dependência está mal dirigida. Deus, e do hoje como o “padrão RIB”. A palavra hebraica não Moisés, havia sido a chave dos triunfos ante­ “rib” significa uma controvérsia ou uma ação legal. riores. Devemos respeitar os nossos líderes, mas Este cântico era, na realidade, a condenação divina devemos depender apenas do Senhor. de Israel por ter anulado a aliança feita com o Se­ nhor, como Soberano. “Moisés escreveu esta Lei, e a deu aos sacerdotes” (Dt O impressionante é que este poema continua a 31.9-13). E provável que aquilo que Moisés entre­ acrescentar um material adicional que não é en­ gou aos sacerdotes tenha sido a parte principal do contrado nas antigas acusações seculares! Deus as­

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segurou a Israel que embora eles fossem uma nação de “dura cerviz”, Ele ainda se compadeceria deles (w. 26-38). Mais uma vez, Deus iria libertar Israel dos seus inimigos (w. 39-43). O padrão rib do poema mostra a sua origem anti­ ga, pois ele se encaixa confortavelmente na cultura existente nos dias de Moisés. Mas a variação des­ te padrão é o mais importante para nós. Aqueles que se irritaram contra os governantes seculares haviam morrido. A declaração que exprimia a pu­ nição infligida àqueles que anularam o concerto colocou um fim à acusação. Mas mesmo quando pecamos e merecemos o juízo e o castigo, eles não representam a última palavra de Deus. Sua última palavra para nós, assim como para Israel, é uma palavra de perdão. Nós também podemos ser res­ taurados. Nós também podemos voltar e, uma vez mais, adorar o nosso Deus como um povo que foi per­ doado.

AS ACUSAÇÕES DE DEUS CONTRA ISRAEL

Uma declaração do caráter de Deus (w. 1-4) Uma acusação implícita contra Israel (w. 5,6) Relembrando os atos de Deus a favor de Israel (w. 7-14) Acusações específicas contra Israel (w. 15-18) A sentença (w. 19-25) “Esta, porém, é a bênção com que Moisés... aben­ çoou” (Dt 33.1-29). No antigo Oriente Próximo, a bênção final pronunciada por um pai moribun­ do era entendida como um testamento e tinha valor legal. A bênção de Moisés, o pai espiritual de Israel, continha elementos proféticos. Às ve­

DE V OCION AL______ O Epitáfio de Moisés

(Dt 34) Um dos privilégios mais singulares que tive foi servir como capelão da minha família. Embora já consagra­ do, eu ainda não tinha atuado como pastor de ne­ nhuma igreja, de modo que a maioria dos casamentos que eu celebrava, além de todos os funerais, foram realizados para os membros da minha família. Até agora eu já fiz a cerimônia de sepultamento da minha mãe, do meu pai, de minha madrasta, de um tio e de uma tia e, cada vez que precisava recor­ dar suas vidas, sempre encontrava alguma coisa que fazia delas pessoas muito especiais. Meus pais eram

zes, as bênçãos poéticas deste capítulo são um pouco obscuras, mas estão baseadas nas caracte­ rísticas dos patriarcas das tribos e nas revelações de Deus a respeito do futuro. Elas contêm ora­ ções, previsões, louvor e mandamentos. A ênfase de cada bênção está mostrada abaixo: Rúben Judá Levi Benjamim Efraim Manassés Zebulom Issacar Gade Dá Naftali Aser

Uma oração pela sobrevivência. Uma predição de vitória. Uma oração pela bênção, um chamado à fidelidade. Uma promessa de segurança. Uma promessa de proemi­ nência. Uma predição de poder. Uma predição de riqueza. Uma predição de riqueza. Uma promessa de terras. Uma predição de energia. Uma promessa de bênção. Uma oração por poder e segurança.

A relação das bênçãos previstas mostrava novamen­ te que Deus deseja o melhor para o seu povo. No entanto, à medida que este magnífico salmo chega ao final, precisamos lembrar de que a dádiva mais importante que Deus pode nos conceder já é nossa — Ele mesmo. Como disse Moisés: “O Deus eter­ no te seja por habitação, e por baixo de ti estejam os braços eternos”.

muito diferentes um do outro, mas Deus havia re­ alizado alguma coisa maravilhosa na vida de cada um. Sempre havia alguma coisa para nos lembrar de que eles o haviam honrado, o que tornava a lem­ brança destes entes queridos ainda mais preciosa. Então, depois da morte de Moisés, um autor des­ conhecido acrescentou um epitáfio. Ele descreveu as palavras que Deus falou a Moisés (w. 1-4), a dor que Israel estava sentindo (w. 5-8), e colocou algumas palavras sobre Josué para mostrar que a vida continuava (v. 9). Depois ele concluiu com um epitáfio cuja finalidade era mostrar o que ha­ via de especial a respeito de Moisés: “Nunca mais

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se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o Senhor conhecera face a face; nem se­ melhante em todos os sinais e maravilhas, que o Senhor o enviou para fazer na terra do Egito, a Fa­ raó, e a todos os seus servos, e a toda a sua terra” (w. 10,11). Quando Deus entra na vida de alguém, Ele usa pelo menos uma das características da pessoa, tor­ nando-a uma pessoa bela.

Aplicação Pessoal De qual das suas características os membros da sua família se lembrarão com uma grande alegria? Citação Importante “Goze a sua vida sem compará-la com a vida dos outros.” — Marquês de Condorcet O Plano de Leituras Selecionadas continua em JOÃO

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JOSUÉ INTRODUÇÃO O nome do livro se deve a Josué, que substituiu Moisés como líder de Israel. Moisés tinha liderado o povo de Israel na saída do Egito, até a fronteira da terra que Deus tinha prometido dar aos descendentes de Abraão. Josué comandava os exércitos que iriam conquistar Canaã. O livro de Josué conta a história desta conquista, e abrange um período de aproximadamente 1400 a 1375 a.C. Este é o primeiro de diversos livros que apresentam a história da nação de Israel, desde os tempos de Israel até a conquista babilônia, em 586 a.C. Também é um livro com uma mensagem. Canaã é o presente de Deus ao seu povo. Mas este presente somente pode ser reivindicado e conservado com a obediência. A desobediência assegura a derrota.

PENTATEUCO I Origens Gênesis— Deuteronômio Rumo à terra

Visão Geral do Antigo Testamento Israel como Nação HISTÓRIA II Possessão Josué—Juizes 1e 2 Samuel le 2 Reis 1 e 2 Crônicas Na terra

PROFETAS III Dispersão Isaías, outras vozes proféticas Da terra

ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Preparativos para a G uerra................................................................... .............................................. Js 1— 5 II. A Campanha M ilitar............................................................................ ............................................ Js 6— 12 III. A Divisão da T erra.............................................................................. ..........................................Js 13— 21 IV. A Convocação de Josué ao Comprometimento............................. ..........................................Js 22— 24 GUIA DE LEITURA (5 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada capítulo deste Comentário.

Leitura 46 47 48 49 50

Capítulos 1— 5 6— 8 9— 12 13— 21 22— 24

Passagem Essencial 2 6 10 19.49-51 24

JOSUE 15

DE FEVEREIRO LEITURA 46

PREPARANDO-SE PARA A CONQUISTA Josué 1— 5

“Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo para teres o cuidado de fazer conforme toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nempara a direita nem para a esquerda, para que prudentemente te conduzas por onde quer que andares” (Js 1.7). A percepção da presença de Deus deu a Josué e aos israelitas a coragem de que necessitavam para seguir adiante. Esta mesma sensação de “Deus co­ nosco” é a chave para as nossas vitórias espirituais hoje em dia. Contexto Quando Israel invadiu Canaã, por volta de 1400 a.C., a terra era habitada por vários povos diferen­ tes, organizados em cidades-estado relativamente pequenas. E muitas das cidades eram protegidas por muralhas sólidas. O povo estava acostumado à guerra, e alguns estados conservavam carros de guerra, os tanques do mundo antigo. Embora as cidades-estado fossem independentes, e frequen­ temente tivessem guerreado entre si, as cidades no norte e no sul se uniram para resistir aos seus inimigos comuns, os israelitas. Visão Geral Deus incentivou Josué, o sucessor de Moisés (1.19). Josué mobilizou Israel a se preparar militarmente (w. 10— 2.24) e espiritualmente (3.1— 5-15) para a invasão de Canaã.

desde o início. Ele liderou o exército de Israel desde o início (cf. Ex 17.9-13), um fato que levou alguns à suposição de que Josué tinha servido como oficial no exército egípcio. Isso é possível, pois textos egípcios que apre­ sentam listas de soldados com nomes semitas foram recuperados por arqueólogos. O que é mais im portante, Josué foi um dos espiões originais enviados a Canaã, aproxim adam en­ te 40 anos antes. Naquela época, somente ele e Calebe insistiram com Israel para invadir a terra, certos de que Deus iria assegurar a vi­ tória, apesar da superioridade m ilitar dos cananeus. Desta forma, as credenciais de Josué, como líder m ilitar e espiritual, estavam bem estabelecidas. Talvez, no entanto, a m aior vantagem que Josué tinha era o fato de ter servido sob o comando de Moisés. Ele observou o com­ prom etim ento daquele homem hum ilde com o Senhor, e tam bém o com prom etim ento de Deus com Moisés. Q uando Deus prom eteu, “Como fui com Moisés, assim serei contigo”, estas palavras devem ter trazido grande segu­ rança. Cada um de nós precisa de um relacionamento com alguém que possa servir de modelo. Cada um de nós precisa ver nos outros tanto a fi­ delidade a Deus, quanto a fidelidade de Deus para com todos.

Entendendo o Texto “Esforça-te e tem bom ânimo” (Js 1.1-9). Observe “Como fui com Moisés, assim serei contigo” (Js particularmente as palavras repetidas de Deus, de 1.5). Josué tinha sido o ajudante de Moisés exortação e encorajamento.

Josué 1— 5

Exortação Esforça-te e tem bom ânimo Tem o cuidado de fazer conforme toda a lei Medita no livro desta lei Tem cuidado de fazer Nâo pasmes Não te espantes

Encorajamento Serei contigo Te darei Não te deixarei Nem te desampararei Farás prosperar o teu caminho Deus é contigo, por onde quer que andares

Nestes poucos versículos, as Escrituras resumem o obras, quando recolheu os emissários e os despediu caminho para a vitória, em qualquer situação que por outro caminho?” (Tg 2.25). O incidente nos mostra que, nos tempos do Antigo possamos enfrentar. Testamento, como também hoje em dia, as pessoas “Provede-vos de comida” (Js 1.10-18). Imediata­ de qualquer nacionalidade, que confiam em Deus, mente Josué tomou medidas para preparar Israel podem encontrar salvação. E também nos lembra militarmente. O seu primeiro passo foi fazer com de que o nosso passado não é um obstáculo para que o povo examinasse suas provisões e se orga­ um relacionamento pessoal com Deus. Não foi a nizasse para cruzar o rio. O povo também se pre­ vida boa que Raabe tinha vivido que a salvou, mas parou — concordando em obedecer a Josué como a sua fé ativa no Deus de Israel. seu comandante. O próximo passo de Josué foi enviar espiões para “0 Senhor fará maravilhas no meio de vós” (Js 3.117). O primeiro elemento nos preparativos espiri­ investigar Jericó. tuais de Israel para a Conquista foi a clara evidência “Em ninguém mais há ânimo algum” (Js 2.1-24). da presença contínua de Deus. Esta evidência lhes Jericó era uma cidade murada, que controlava a foi propiciada quando as águas do rio deixaram de passagem que levava às regiões montanhosas do correr, tão logo os sacerdotes que levavam a Arca centro de Canaã. Dois espiões que se infiltraram na do Concerto puseram os pés na água. cidade foram abrigados por Raabe, uma prostituta Josué demonstrou fé quando anunciou antecipada­ que, muito provavelmente, como era muito co­ mente que isso iria acontecer. Quando o que ele ti­ mum naquela época, tinha uma hospedaria. Raabe nha dito aconteceu, a confiança de Israel em Deus escondeu os espiões e lhes pediu que poupassem a e também em Josué se aprofundou. sua vida quando Israel tomasse a cidade. Frequentemente Deus nos dá algum sinal especial da O Novo Testamento examina o ato de Raabe, e a sua presença quando nós iniciamos uma tarefa difícil. elogia por este ato de fé. Tiago diz: “De igual modo Não é errado pedir que Deus nos encoraje com uma Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas resposta à oração, ou algum sinal da sua presença.

Josué ordenou que um homem de cada tribo levasse uma grande pedra do leito do rio Jordão ao acampamento de Israel. As doze pedras, então, foram empilhadas. Aquela pilha de pedras serviu como um zikkaron, um lembrete per­ manente a Israel de que Deus dividiu as águas do Jordão para que o seu povo pudesse entrar na terra.

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Josué 1— 5

“Estas pedras serão para sempre por memorial aos fi­ lhos de Israel” (Js 4.1 -24). A palavra em hebraico para “memorial” é zikkaron. E um termo técnico teológico para uma coisa, um lugar ou evento re­ petido, que pretende servir como lembrete vívido de algum ato de Deus pelo seu povo. Por exemplo, a festa da Páscoa era um zikkaron. Aqueles que co­ miam da Páscoa reviviam a experiência da geração do Êxodo. Cada família, ao comer a Páscoa, per­ cebia que Deus tinha libertado a eles, e não apenas aos seus ancestrais. A pilha que Josué formou com as doze pedras tiradas do rio Jordão devia ser um símbolo para gerações futuras. Quando, “no futuro”, os filhos perguntassem, “O que significam estas pedras?”, os pais deveriam contar a eles a história de como Deus fez com que o rio deixasse de correr. Tocar e sentir estas pedras ajudaria a tornar a história — e Deus — real para as gerações futuras. Observe as palavras de dedicação de Josué, quan­ do a pilha de pedras foi erigida em Gilgal: “O Se­ nhor... fez secar as águas do Jordão diante de vós... como... fez ao mar Vermelho... Para que todos os povos da terra conheçam a mão do Senhor, que é forte, para que temais ao Senhor, vosso Deus, to­ dos os dias” (w. 23,24).

ela servia a um propósito religioso, mais do que de saúde pública. A circuncisão foi dada aos descen­ dentes de Abraão como sinal da sua participação no concerto da promessa que lhe tinha sido feita. Entre as promessas feitas a Abraão, estava um comprometimento de libertar os descendentes de Abraão da escravidão e dar-lhes “esta terra... as ter­ ras dos queneus, dos quenezeus, dos cadmoneus, dos heteus, dos perizeus, dos refains, dos amorreus, dos cananeus, dos girgaseus e dos jebuseus” (Gn 15.7-21, NTLH). A circuncisão, neste ponto críti­ co na história, era um ato de fé, que reivindicava as antigas promessas de Deus. Embora o livro de Josué enfatize a obediência, esta obediência era vista naqueles que tinham um rela­ cionamento fiel com Deus. A circuncisão fala de fé, não de lei. Somente a pessoa que tem fé em Deus pode reivindicar a sua ajuda.

“A estes Josué circuncidou” (Js 5-1-9). A circuncisão dos homens consiste na extirpação da pele que re­ cobre a ponta do pênis. Durante os anos de pe­ regrinação pelo deserto, os israelitas deixaram de circuncidar seus filhos, assim como deixaram de obedecer aos mandamentos do Senhor. Agora, an­ tes de iniciar a conquista, Deus disse a Josué que ordenasse que os israelitas realizassem este rito. A medicina moderna mostrou que a circuncisão tem inúmeros benefícios para a saúde. Mas em Israel,

“E cessou o maná” (Js 5-10-12). A partir de ago­ ra, Israel viveria pela fé, não pela visão. Agora, o maná cessou. Nenhuma coluna de fogo iria liderálos. Diariamente, a evidência visível da presen­ ça de Deus estaria ausente, pela primeira vez, na memória de muitos dos israelitas. No entanto, o povo liderado por Josué devia confiar em Deus, e obedecer a Ele. Visto ou não, Deus está com o seu povo. Nós podemos confiar nEle, crendo que Ele nos conduzirá à vitória.

“Os filhos de Israel... celebraram a Páscoa” (Js 5.10). Este foi o último ato da preparação espiritual: re­ cordar a provisão de Deus. Quando examinamos toda a sequência, encontra­ mos uma prescrição de prontidão espiritual: Sentir a presença de Deus. Estabelecer memoriais. Reafir­ mar a fé. E celebrar o que Deus já fez.

DEV OCIONAL______ Quando Conhecer não E Suficiente (foi J s 2assombrosa: )

A confissão de Raabe “O Senhor, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e embaixo na terra”. Esta mulher pagã, uma prostituta, tinha ouvido falar de como o Senhor secou as águas do mar Ver­ melho. Ela tinha ouvido sobre a vitória de Israel sobre os reis ao leste do Jordão. E tinha chegado a uma simples conclusão: “O Senhor, vosso Deus, é Deus”. E há algo ainda mais assombroso no relato de Raabe: “Ouvindo isso, desmaiou o nosso coração,

e em ninguém mais há ânimo algum”. Todas as pessoas de Jericó receberam a mesma informação. E todas elas chegaram à mesma conclusão que Ra­ abe: “O Senhor, vosso Deus, é Deus”. A diferença é que as pessoas de Jericó decidiram resistir de qualquer maneira, ao passo que Raabe decidiu comprometer-se com o Deus do inimigo. Eu suspeito que muitos, hoje, que não são crentes, compartilham a convicção do povo de Jericó. Eles também sabem que “o Senhor, vosso Deus, é Deus”. Mas, de alguma maneira, ainda são inimigos. Eles erigem muros, não de pedras, mas de boas obras, de desculpas, de zombaria, de crença na evolução,

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Josué 6— 8

ou até mesmo de religião, e desesperadamente ten­ tam se esconder por trás deles. Eles sabem. Mas somente o conhecimento não pode salvar. Raabe nos ensina a diferença entre conhecer a Deus como um ato intelectual, e conhecer a Deus pessoalmente. O que Raabe fez foi agir, no seu conhecimento de que “Deus é”. Raabe estava disposta a comprometer-se completamente com Deus, certa de que, de outra maneira, ela não te­ ria esperança. Que bom ter feito a escolha de Raabe. Que bom ter feito do nosso conhecimento a respeito de Deus um ponto de partida para uma decisão de nos en­ tregarmos a Ele. Que bom saber que nós também estamos salvos agora.

Visão Geral Israel obedeceu ao mandamento de Deus e atacou Jericó, com sucesso (6.1-27). Mas o pecado de um soldado, Acã, provocou a derrota em Ai (7.1-21). Acã foi executado (w. 22-26). Com o pecado pur­ gado, Ai foi tomada (8.1-29). Uma cerimônia re­ ligiosa solene lembrou Israel de obedecer à Lei de Deus (w. 30-35).

Aplicação Pessoal Como pode a história de Raabe ajudar um amigo ou parente que conhece, mas ainda não decidiu confiar em Deus? Citação Importante “Deus está mais ansioso para conceder as suas bênçãos sobre nós, do que nós estamos dispostos a recebê-las.” — Agostinho 16 DE FEVEREIRO LEITURA 47 VITÓRIA, E DEPOIS DERROTA Josué 6■—8

“Gritou, pois, o povo, tocando os sacerdotes as buzi­ nas; e sucedeu que, ouvindo o povo o sonido da bu­ zina, gritou o povo com grande grita; e o muro caiu abaixo, e o povo subiu à cidade, cada qual em frente de si, e tomaram a cidade” (Js 6.20). A obediência a uma ordem que lhes parecia tola, trouxe Israel à vitória, e lhes ensinou uma lição vi­ tal. A chave para vencer é fazer tudo da maneira que Deus quiser. Definição dos Termos-Chave Consagrado. A palavra hebraica é usada a respei­ to de itens que são dedicados a Deus, e por isso não podem ter nenhum uso comum ou secular. Quando os israelitas “consagravam” a Deus uma cidade inimiga, matavam todos os seus habitantes e rebanhos, e queimavam toda a sua riqueza, ou a traziam ao Tabernáculo, como um presente a Deus. Nesta passagem, Jericó, a primeira das cida­ des pagãs de Canaã a ser atacada pelos israelitas, foi assim consagrada. Isso significava que nenhum soldado devia separar para si nenhum bem, uma proibição que um homem, Acã, desafiou com ter­ ríveis consequências.

Entendendo o Texto “Rodeareis a cidade” (Js 6.1-27). Jericó era uma ci­ dade murada. Escavações feitas ali revelaram que as suas fortificações incluíam um muro de pedra de aproximadamente 3,4 metros de altura. No seu topo, havia um suave aclive de pedra, que se incli­ nava para cima, à razão de 35 graus para 10 metros, onde se unia a muralhas de pedras maciças que se erguiam a níveis mais altos. Na maneira antiga de guerrear, estas cidades eram cercadas, e eram privadas de alimentos até que se rendessem, ou eram atacadas. Os atacantes podiam tentar enfraquecer os muros de pedra com fogo, ou fazendo túneis. Ou podiam simplesmente fazer um monte de terra que lhes serviria como rampa. Cada um destes métodos de ataque demorava semanas ou meses, e o exército de ataque normalmente so­ fria pesadas perdas. O mandamento de Deus a Josué — de que o povo marchasse silenciosamente ao redor de Jericó, du­ rante seis dias, e depois de sete circuitos, no séti­ mo dia, gritasse — foi realmente estranho. Mas, ainda assim, Josué seguiu as instruções divinas li­ teralmente. Quando o povo finalmente gritou, as sólidas fortificações vieram abaixo, e Israel obteve uma vitória fácil. A vitória em Jericó foi orquestrada para ensinar diversas lições. A mais importante delas era que a obediência, mesmo quando os mandamentos de Deus parecem tolos, traz a vitória. A vitória mila­ grosa também confirmou a liderança de Josué. E mostrou que Deus certamente lutaria por Israel nas batalhas que se seguiriam. Cada um de nós às vezes precisa vencer uma Jericó. Mas as vitórias sobre Jericó só são ganhas quando a obediência é completa.

“Deu Josué vida à prostituta Raabe” (Js 6.25). A fé de Raabe no Deus de Israel, demonstrada quan­ do ela escondeu dois espiões israelitas (Js 2), foi recompensada. Ela e sua família foram poupadas quando caiu Jericó. Deus ainda poupa os crentes quando as nações caem. Veja Ezequiel 18.

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Josué 6— 8

“Fugiram diante dos homens de A i” (Js 7.1-9)- Ai, uma pequena cidade acima de Jericó, derrotou os três mil homens que Josué comandou contra ela, matando 36 dos israelitas. A derrota apavorou Jo­ sué. Como bom general, Josué sabia que um exér­ cito aterrorizado tinha pouca chance no campo de batalha. A vitória sobre Jericó tinha feito com que “a sua fama” corresse “por toda a terra” (6.27). Jo­ sué temia que as notícias da derrota em Ai trouxes­ sem coragem aos cananeus, e que eles se unissem e derrotassem Israel. O medo jamais está muito longe de qualquer um de nós. Mesmo depois de termos recebido alguma bênção de Deus, como tinha Josué, nós somos propensos a esquecer disso, se surge algum contra­ tempo. Olhar para trás e nos lembrarmos do que Deus fez por nós, traz consolo. Olhar para frente e nos preocuparmos com o que pode acontecer é, ao mesmo tempo, tolo e inútil.

“Israel o apedrejou” (Js 7.22-26). Alguns expres­ saram choque, pelo fato de que o roubo de Acã merecesse a punição de morte. Mas não foi pelo roubo que Acã foi apedrejado. O seu pecado tinha provocado a derrota de Israel, e as mortes de 36 homens pelas mãos do inimigo. Acã foi apedrejado porque “turbou” o seu povo. Este evento nos lembra de uma importante rea­ lidade. A qualquer momento que nós pequemos, afetamos outras pessoas. Como uma pedra é ati­ rada a um lago tranquilo, as ondas dos pecados humanos permanecem perturbando não somente a nossa própria paz mas também a paz de outros. Antes de pecarmos conscientemente, devemos fa­ zer uma pausa e considerar como os nossos atos podem afetar outros que nos amam, ou que con­ fiam em nós. Mas por que a família de Acã também foi apedre­ jada? Talvez a melhor resposta esteja na confissão de Acã, de que ele escondeu o seu roubo “no meio “Israel pecou” (Js 7.10-21). Depois que Israel foi da minha tenda”. O resto da família compartilhou derrotado em Ai, Josué, tolamente, se concentrou da sua culpa secreta, assim tornando-se também nas possíveis consequências. A sua oração (w. 7-9) responsável. claramente revela o seu pânico e a sua preocupação com o que poderia estar à frente. As palavras se­ “Olha que te tenho dado na tua mão o rei de Ai, e o guintes de Deus a Josué dáo uma nova perspectiva seu povo, e a sua cidade, e a sua terra” (Js 8.1-29). à situação. “Israel pecou”. Josué não devia se pre­ Tendo sido resolvida a causa da derrota de Israel, ocupar com as possíveis consequências da derrota, Deus concedeu ao seu povo a vitória total sobre Ai. mas procurar a causa da derrota. O motivo pelo A cidade foi exterminada com o seu povo, cum­ qual Israel perdeu a batalha era mais importante do prindo o mandamento de Deus, de expulsar ou que o que a perda poderia significar, em termos de destruir todos os cananeus, cuja idolatria e outros moral para o inimigo. pecados mereceram esta punição. Quando nós temos um contratempo, é melhor que procuremos pela causa do que nos preocupemos “Josué edificou um altar ao Senhor, Deus de Israel, com as consequências. Se nos examinarmos, e não no monte de Ebal”( Js 8.30-35)- Depois da vitória encontrarmos nenhum pecado, então poderemos sobre Ai, Josué cumpriu um mandamento dado progredir com confiança. Se encontrarmos algum por Moisés (Dt 27). Ele colocou o povo em dois pecado, ainda que não seja intencional, precisare­ montes opostos, e depois de oferecer sacrifícios mos lidar com ele imediatamente. Neste caso, Jo­ ao Senhor, pronunciou em voz alta as maldições sué aparentemente usou o Urim e o Tumim, usados (consequências desastrosas) de desobedecer à lei de pelo sumo sacerdote, para encontrar o homem que Deus. havia pecado. Então este homem, Acã, confessou Quão poderosamente esta mensagem convenceu ter tomado para si despojos de Jericó, mesmo sa­ os homens e as mulheres que tinham passado pela bendo que a cidade havia sido consagrada a Deus. derrota em Ai, que tinham participado do apedre­ A causa da derrota foi conhecida. Agora era neces­ jamento de Acã, e que tinham visto, então, a der­ sário lidar com o pecado. rota transformada em vitória.

DEVOCIONAL______ Perspectiva (Js 6) Imagine-se em pé, sobre a muralha de Jericó. Colo­ que suas mãos em uma daquelas sólidas pedras da­

quela muralha, incline-se e olhe para baixo, daquela estonteante altura. Então olhe ao redor e veja estes tolos israelitas. Durante seis dias eles marcharam, sem dizer uma palavra, ao redor da sua cidade.

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No primeiro dia, quando viu que eles se aproxima­ vam, você, e todos os seus amigos, se aterrorizaram. Vocês se lembraram de todas as histórias contadas sobre eles e o seu Deus, e vocês tremeram. Quando eles não atacaram, mas simplesmente andaram em silêncio ao redor da sua fortaleza de seis acres, to­ dos se preocuparam. Todos vocês passaram a noite acordados, conversando, imaginando qual seria o plano deles. No dia seguinte, eles fizeram a mesma coisa. No terceiro dia em que eles marcharam ao redor de Jericó, vocês começaram a se sentir um pouco me­ lhor. Quem sabe não havia um plano, afinal. No quarto dia, todos se sentiram aliviados. Você tocou as muralhas, sentiu a rocha sólida e começou a se sentir seguro. No quinto dia, e no sexto, todos se sentiram cheios de coragem. Vocês começaram a gritar insultos. Vocês riram e ridicularizaram. E claro que vocês estavam salvos! Como alguém po­ deria passar pelas muralhas de Jericó? Como pu­ deram vocês sentir medo deste bando de bárbaros, estes peregrinos do deserto, que viviam em tendas, que não faziam nenhuma ideia sobre como atacar uma fortaleza como a sua! E assim, o medo que vocês sentiram converteu-se em alívio, e o alívio, em desprezo. Estes tolos israe­ litas. Que marchem o quanto quiserem. O que eles podem fazer contra vocês? Nada! Nada, mesmo. Eu suspeito que os cristãos sempre pareceram to­ los aos povos do mundo. A nossa marcha é di­ ferente. Nós obedecemos aos mandamentos de um Deus que muitas vezes se mostra misterioso. Em um sentido real, nós somos estrangeiros, fo­ rasteiros, não somos como os outros. Não é de surpreender se nós parecemos um pouco ridículos às pessoas deste mundo. Se você já se sentiu tolo por alguma posição que tomou como cristão, lembre-se de que hoje é so­ mente o primeiro dia, ou o terceiro, ou o sexto, da sua marcha ao redor de Jericó, somente depois que vier o sétimo dia, e este mundo desmoronar como as muralhas de Jericó, é que serão revelados aqueles que foram realmente tolos.

nossa brincadeira é alegre, decente, séria, e admirá­ vel, que alegra a visão daqueles que a assistem do céu.” — Bernard de Clairvaux 17 DE FEVEREIRO LEITURA 48 A VITÓRIA COMPLETA Josué 9— 12

Assim, Josué tomou toda esta terra” (Js 11.23). A Bíblia diz que Josué fez guerra contra os reis cananeus “por muitos dias” (11.18). Deus jamais disse que a vitória seria fácil. Ele somente promete que a vitória está assegurada. Definição dos Termos-Chave Destruído. Estes capítulos falam repetidamente de destruir completamente, ou destruir totalmente, as cidades de Canaã e todos os seus habitantes. As razões para esta política precisam ser recapituladas. (1) Os cananeus eram um povo ímpio cuja religião e moral eram corruptas. A guerra e a devastação eram juízos divinos diretos sobre os cananeus pelos seus pecados. (2) Os israelitas foram convocados a um estilo de vida santo. Qualquer cananeu que ficasse na terra iria corromper Israel, em termos de religião e moral (e eles o fizeram!). A destruição dos cananeus tinha o propósito de ser uma proteção para o povo de Deus. As vitórias de Josué foram completas, mas ele não exterminou realmente todos os povos cananeus. Cada tribo israelita devia “eliminar” qualquer ca­ naneu que ainda estivesse no território destina­ do à tribo. O fracasso de sucessivas gerações em executar a política divina de exterminação levou a desastres espirituais e nacionais que a política ten­ cionava evitar. Uma última observação: os vários povos que se es­ tabeleceram em Canaã representaram uma popula­ ção maior do que a que existia em outras terras. O mandamento de Deus de exterminar estava limita­ do àqueles que viviam em Canaã, e não envolvia o extermínio de uma raça inteira.

Aplicação Pessoal Visão Geral Não importa o que os outros pensam, nunca é lou­ Os gibeonitas enganaram Josué em um tratado co ou tolo obedecer a Deus. de paz, que Israel honrou (9.1-27). Em uma sé­ rie de brilhantes campanhas, Josué, primeiramen­ Citação Importante te, esmagou as cidades-estado do sul (10.1-43), e “O que mais pensam os mundanos que nós esta­ a seguir, as do norte (11.1-23) de Canaã. A seção mos fazendo, além de brincar, quando fugimos do termina com uma lista de conquistas (12.1-24). que eles mais desejam na terra, e desejamos aquilo de que eles fogem? Nós somos como palhaços e Entendendo o Texto acrobatas que, com as cabeças para baixo e os pés Aqueles homens israelitas... não pediram conselho à no ar, atraem todos os olhares para si mesmos... A boca do Senhor” (Js 9.1-27). A história de como os

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gibeonitas, que viviam há poucos quilômetros do acampamento israelita, iludiram Josué, atraindo-o a um tratado de paz, é especialmente instrutiva. Em primeiro lugar, ela nos lembra da im portân­ cia da oração. Os israelitas examinaram o pão mofado e o vinho ruim que os gibeonitas apre­ sentaram como evidência de que viviam fora de Canaã, e aceitaram o que eles disseram, sem per­ guntar ao Senhor. Ainda que eu e você devamos examinar as situações cuidadosamente antes de tomar decisões, nós não podemos confiar exclu­ sivamente nas evidências dos nossos sentidos. Nós precisamos tornar as decisões importantes um motivo de oração. Em segundo lugar, quando os israelitas percebe­ ram que tinham sido enganados, honraram o “tra­ tado de paz” que tinham feito com os gibeonitas. Israel tinha feito um juramento e se comprome­ tido. O fato de que tinham sido enganados não invalidava a promessa. Nós precisamos honrar a nossa palavra, porque a demos. Quer os outros sejam fiéis ou não, nós devemos ser fiéis aos nos­ sos compromissos. Finalmente, Deus redimiu o engano de Israel. O capítulo a seguir nos diz que, quando outras cidades-estado em Canaã atacaram os gibeonitas, Josué veio em auxílio dos gibeonitas e atingiu os exércitos inimigos desprotegidos. Quando nós so­ mos fiéis, Deus pode usar até mesmo os nossos enganos para realizar os seus propósitos.

“Assim, feriu Josué toda aquela terra” (Js 10.29-43). A derrota dos exércitos amorreus deixou as suas fortalezas do sul sem defesa. Josué imediatamente dirigiu as suas forças para o sul, e destruiu as prin­ cipais cidades naquela região. “Saíram, pois, estes e todos os seus exércitos com eles, muito povo” (Js 11.1-23). As cidades-estado do norte uniram suas forças e reuniram um grande exército, que incluía um grande número de car­ ros. Josefo relata que este exército tinha 300 mil soldados de infantaria, dez mil de cavalaria e vinte mil carros! A palavra “apressadamente” (v. 7), que descreve o ataque de Josué, pode indicar o que aconteceu. Nos tempos bíblicos, os carros, frequentemente uma arma decisiva na batalha, eram desmontados para o transporte pelas colinas até o campo de ba­ talha, e ali eram montados outra vez. E possível que Josué tivesse atacado o inimigo antes que eles pudessem ter montado e posicionado os carros. Qualquer que fosse o elemento de tática envol­ vido, “o Senhor os deu [os inimigos] na mão de Israel”. Nós devemos lutar com prudência, mas o resultado da batalha depende inteiramente do Senhor.

“Os seus cavalos jarretards e os seus carros quei­ marás a fogo” (Js 11.6). Por que foi dito a Josué que destruísse o arsenal de guerra capturado do inimigo? M uito provavelmente, porque Israel “Cinco reis dos amorreus” (Js 10.1-28). Cinco reis devia confiar em Deus, e não no poderio militar. da mesma etnia, de cidades da região montanhosa Como Josué confiava em Deus, este mandamen­ de Canaã, uniram as suas forças para punir os gi­ to foi obedecido. beonitas por terem feito as pazes com Israel. Josué respondeu imediatamente a um pedido de aju­ “Estes, pois, são os reis da terra” (Js 12.1-24). A da, e, depois de uma marcha de toda uma noite, maioria dos acadêmicos acredita que a Conquista, surpreendeu os exércitos amorreus. Esta foi uma descrita de maneira tão impressionante nestes ca­ grande vitória estratégica, pois os exércitos amor­ pítulos, na realidade tardou cerca de sete anos para reus foram surpreendidos em campo aberto, fora ser concluída. Quando a vitória total tinha sido fi­ das muralhas das suas cidades, onde podiam ser nalmente obtida, Josué cuidadosamente listou as mais facilmente destruídos. 31 cidades-estado dos cananeus que ele tinha der­ A intervenção de Deus a favor de Israel é vista rotado. Israel podia examinar esta lista impressio­ em duas circunstâncias. Pedras de saraiva mata­ nante e sentir-se encorajado. Deus, que tinha pro­ ram muitos dos inimigos. E o “sol se deteve, e a metido vitória, manteve a sua palavra. Certamente lua parou”, de modo que a matança dos amorreus poderiam confiar em Deus para terem a vitória nas pudesse ser completa. batalhas que ainda estavam por vir.

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Em uma série de campanhas brilhantes, Josué conquistou, primeiramente, a Canaã central, dividindo a terra em duas partes. (1) A seguir, ele se dirigiu para o sul, e subjugou aquela região. (2) Finalmente, ele atacou e destruiu as principais fortalezas do norte. (3) A sua estratégia, de dividir e conquistar, as suas táticas de marchas durante a noite toda, e os ataques surpresa, ainda estão em estudo nas academias militares modernas.

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DEVOCIONAL_________ As Marchas durante a Noite toda (Js 10) Eu me lembro muito bem de como ela costumava sentar-se à mesa, esperando que Deus agisse. “Eu realmente quero servir a Deus”, ela dizia. E eu acho que ela era sincera. Mas, mesmo quando vieram as oportunidades — um convite para ensinar em um estudo bíblico, um chamado de um amigo que pedia que ela o visitasse — ela continuava esperando. “Eu não posso fazer nada por minha própria conta”, di­ zia ela. “Eu tenho que esperar até que Deus me diga para ir. Eu tenho que esperar até vê-lo agir”. Naturalmente, a minha amiga jamais conheceu Josué. Nem assistiu Josué colocando a sua fé em ação. Se tivesse visto, poderia ter ficado surpreendida. Josué não era o tipo de pessoa que ficaria esperando. Sim, ele sabia o quanto era importante ouvir a voz de Deus e obedecê-la. Mas Josué também sabia que, na maioria das situações, uma pessoa precisa usar o bom senso. Foi o que aconteceu, quando Josué recebeu a notícia de Gibeão, de que um exército de amorreus estava atacando a cidade. Josué não disse, “Eu acho melhor esperar até que Deus comece a agir”. Ele reuniu o seu exército, comandou uma marcha por toda a noite, e na manhã seguinte desferiu um ataque surpresa sobre o inimigo. E então Deus interveio, ajudando na ba­ talha, trazendo granizo sobre os amorreus, e fazendo com que o sol parasse. A marcha noturna de Josué o tinha levado ao lugar exato onde ele precisava estar, para que Deus agisse. As vezes, nós somos pouco realistas, nas nossas ex­ pectativas. Nós ficamos parados e desejamos que Deus aja por nós. O fato é que Deus normalmente age somente depois que nós tenhamos demonstrado uma fé como a de Josué. E depois daquela marcha noturna, quando a batalha está em andamento, que Deus age. Assim sendo, na próxima vez que você tiver uma oportunidade para servir — ensinar em uma classe, aconselhar um amigo — não espere. Agarre a opor­ tunidade. E espere que Deus aja quando você estiver servindo. Este é o lugar onde você precisa estar para que Deus opere por seu intermédio.

18 DE FEVEREIRO LEITURA 49 DISTRIBUIÇÃO DA TERRA Josué 13—21

“Fizeram repartir, por sorte da sua herança” (Js 14.1,2). A Bíblia diz: “Desta sorte, deu o Senhor a Israel toda a terra que jurara dar a seus pais” (21.43). A luta pode ser longa. Mas o fruto da vitória é doce. Definição dos Termos-Chave Repartir. A terra foi repartida lançando a sorte. Nós poderíamos dizer “por um jogo de dados”. Não ha­ via acaso envolvido, pois o próprio Deus governou o lançar da sorte (cf. Pv 16.33). Este método tam­ bém foi usado nas tribos, para determinar as pro­ priedades de cada família. A partir de então, cada israelita considerou a propriedade de sua família como uma dádiva dada diretamente pelo Senhor. A propriedade da família não devia ser vendida, mas conservada para sempre, como herança de Deus. Em Salmos 16.6, Davi usou a imagem da sorte lan­ çada para expressar o apreço pelo papel que Deus lhe tinha dado na vida. Quando contemplamos a bondade de Deus por nós, em Cristo, as palavras de Davi bem poderiam ser as nossas: “Caem-me as divisas em lugares amenos, E mui linda a minha herança” (ARA). Visáo Geral Josué relacionou a terra ocupada a leste do Jordão (13.1-33). Cuidadosamente, ele descreveu o terri­ tório ocupado pelas nove e meia tribos remanes­ centes nas terras de Canaã (14.1— 19.51). Foram definidas as cidades de refugio (20.1-9), e os levitas receberam cidades denrro dos limites das outras tribos (21.1-45).

Entendendo o Texto “Ainda muitíssima terraficou para possuir” (Js 13.1). O poder dos cananeus tinha sido rompido pelo poder da nação de Israel unida. Mas ainda havia bolsões de resistência em cada área designada às várias tribos. Aplicação Pessoal A população israelita não era suficientemente gran­ Quando surgirem as oportunidades para servir, de para encher toda a terra. Cada tribo era respon­ agarre-as! sável por tomar terras adicionais à medida que a sua população crescesse. Citação Importante “Você pode avaliar o que estaria disposto a fazer “Eu, porém, perseverei em seguir o Senhor, meu Deus” pelo Senhor, analisando aquilo que você já faz.” (Js 14.1-15)- Entre as listas de tribos e cidades, há — T. C. Horton uma história muito pessoal. Calebe era um dos doze

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Josué 13—21

homens que tinham espionado Canaá aproximada­ mente 45 anos antes (cf. Nm 13— 14). Somente ele e Josué tinham incentivado Israel a confiar em Deus e invadir Canaá naquela ocasião. Agora, com 85 anos de idade, Calebe ainda confiava ativamente em Deus. Ele pediu um lote de terra ocupado por um povo particularmente guerreiro, os anaquins, e disse, confiantemente: “O Senhor será comigo, para os expelir, como o Senhor disse”. Uma das dádivas que Deus me deu quando eu era um cristão novo convertido foi o privilégio de par­ ticipar de uma igreja onde os homens mais velhos eram modelos do tipo exato de fé que Calebe ti­ nha. Quão felizes somos por conhecer os Calebes de hoje em dia. Com excessiva frequência, nós te­ mos a tendência de segregar os crentes mais velhos dos nossos jovens. No entanto, os jovens das nossas igrejas precisam ter contato com homens e mulhe­ res devotos e mais velhos:

“Porém não os expeliram de todo” (Js 17.13). Ape­ sar da vitória, apareceram, entre as tribos de Israel, indicações de um desastre futuro, a desobediência. Quando a população de Manassés cresceu, a tri­ bo subjugou diversas cidades de cananeus no seu território. Mas em lugar de expulsar estas pessoas, como Deus tinha ordenado, os manassitas os es­ cravizaram. Houve uma falta de confiança. Quando desafiados a tomar a terra extra de que os membros da tribo precisavam, eles responderam: “Todos os cananeus que habitam na terra do vale têm carros de ferro” (v. 16, ARA). Apesar do registro ininterrupto de vitórias militares obtidas com a ajuda de Deus, os carros ferrados bloqueavam a visão que esta tribo tinha de Deus. As vitórias espirituais passadas não são uma garan­ tia de que a nossa fé continuará forte. Nós precisa­ mos nos concentrar, todos os dias, em obedecer a Deus e confiar nEle. “Puja para alguma daquelas cidades" (Js 20.1-9). Esta é a terceira passagem importante sobre as ci­ dades de refúgio, para onde poderia fugir alguém que matasse acidentalmente outra pessoa (cf. Nm 35; D t 19). Um princípio geral de interpretação bíblica é o fato de que aquilo que é repetido duas vezes é muito importante. Aqui temos um assunto

DE VOCIONAL

Momento de Relaxar (Js 19.49-51) É difícil imaginar Josué relaxado à sombra de uma oliveira, ou cuidando de vinhas em uma

Josué 20. As cidades dadas aos sacerdotes e aos levitas se espalhavam pelos territórios dados às outras tribos israe­ litas. Os sacerdotes e levitas tinham sido encarregados de ensinar as Leis de Deus. Cada família em Israel deveria ficar próxima daqueles que poderiam instruí-los nos ca­ minhos de Deus.

que é tratado detalhadamente em três passagens do Antigo Testamento. Isso mostra claramente a importância que Deus dá a proteger os inocentes quando se trata de assuntos relacionados a crimes. Precisamos ter cuidado para que o nosso interesse pela justiça não viole os direitos dos inocentes.

encosta atrás de sua casa. Ele é uma pessoa mui­ to ativa e dinâmica. Generais e líderes espiri­ tuais não parecem ser candidatos à aposenta­ doria.

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Josué 22—24

Mas com as vitórias obtidas e a terra dividida, Jo­ sué se instalou na sua própria herança. A Bíblia diz que ele recebeu a cidade de Timnate-Sera, e “reedi­ ficou aquela cidade e habitou nela”. Na verdade, a aposentadoria de Josué não foi sim­ plesmente uma merecida recompensa pelas suas décadas de serviço exemplar. Josué se aposentou para o bem de Israel! Por quê? Quando o povo de Manassés precisou de mais terra (Js 17), correram para Josué e reclamaram. Josué lhes disse: “Corta para ti... lugar na terra”. Os manassitas retrucaram, temerosos porque os cananeus tinham carros de ferro. Eles queriam que Josué lutasse por eles as suas batalhas. Mas, sabiamente, Josué disse: “Expelirás os cananeus, ainda que te­ nham carros de ferro, ainda que sejam fortes”. A primeira frase é a chave. “ Tu expelirás os cana­ neus”. Já era hora de Israel deixar de depender de Josué, e dar seus próprios passos. Manassés, e todas as outras tribos, precisavam confiar em Deus por si mesmas. A sabedoria de Josué em aposentar-se é uma lição que cada um de nós precisa aplicar. Nós precisamos aplicá-la, quando nossos filhos crescem, e particu­ larmente, quando deixam a nossa casa. Nós pode­ mos encorajá-los. Mas precisamos parar de fazer tudo para eles. Os conselheiros precisam aplicar esta lição no seu relacionamento com seus aconselhados. Os líderes espirituais precisam aplicá-la no seu relacionamen­ to com uma congregação, uma organização, ou com os discípulos. Chega um momento em que cada um de nós precisa abdicar da autoridade e di­ zer àqueles aos quais instruímos: “Você os expelirá. E hora de eu me retirar. E é hora de você aprender o que Deus pode fazer por você, e com vo ct.

A primeira parte do livro de Josué revelou os esfor­ ços para conquistar a terra de Canaã. Estes capítu­ los nos contam os esforços para conservar a Terra Prometida. Definição dos Termos-Chave Servir. Frequentemente Josué convocava Israel a servir a Deus. A palavra em hebraico sugere um servo ou escravo. O seu significado básico é o de realizar tarefas de acordo com a vontade e a orien­ tação de outra pessoa. Servir a Deus nos tempos do Antigo Testamento realmente significava adorá-lo, mas também obedecer a Ele em todas as coisas. Visão Geral As três tribos do leste erigiram um altar que sim­ bolizava a solidariedade com os israelitas em Canaã (22.1-34). Josué dirigiu-se aos líderes (23.1-16) e convocou as tribos reunidas a servir a Deus (24.127). Josué morreu e foi sepultado (w. 28-33). Entendendo o Texto “A vossos irmãos por tanto tempo até ao dia de hoje não desamparastes” (Js 22.1-9). Três grupos tribais tinham pedido e tinham recebido terra a leste do rio Jordão. No entanto, eles tinham prometido a Moisés que os seus guerreiros iriam acompanhar as outras tribos na guerra em Canaã. Estas tribos ser­ viram fielmente e depois foram enviadas para casa. Esta seção de conclusão do livro de Josué está cheia de exortações. A advertência feita às tribos do leste é típica: “Tende cuidado... que ameis ao Senhor, vosso Deus, e andeis em todos os seus caminhos, e guardeis os seus mandamentos, e vos achegueis a ele, e o sirvais com todo o vosso coração e com toda a vossa alma”.

Aplicação Pessoal “Edificaram um altar junto ao Jordão, um altar Em quais relacionamentos você precisa se retirar de grande aparência” (Js 22.10-34). Esta história e permitir que os outros sejam responsáveis por si mostra como é fácil interpretar mal os atos de mesmos? outra pessoa. Quando as tribos que retornavam erigiram um altar junto ao Jordão, seus irmãos in­ Citação Importante terpretaram isso como um ato de apostasia. Deus “Quando Deus tenciona realizar alguma obra tinha ordenado que os sacrifícios fossem feitos grandiosa, Ele a começa pela mão de alguma cria­ somente sobre o altar que ficava diante do Ta­ tura humana pobre e fraca, a quem posteriormente bernáculo. O altar junto ao Jordão parecia, para Ele ajuda, de modo que os inimigos que procuram as outras tribos, ser um ato de rebelião contra o destruí-la sáo derrotados.” — Martinho Lutero. Senhor, e eles estavam prontos a guerrear contra seus irmãos do leste, a correr o risco da punição 19 DE FEVEREIRO LEITURA 50 divina (w. 19,20). COMPROMISSO As tribos do leste explicaram aos representantes Josué 22— 24 que lhes foram enviados. Eles não pretendiam usar o altar junto ao Jordão para sacrifícios. Isto era sim­ “Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor” bólico da herança racial e religiosa que tinham em (Js 24.15). comum com o povo a oeste do Jordão. Edificando

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Josué 22—24

“O Senhor expeliu de diante de nós a todas estas gen­ tes” (Js 24.1-18). A seguir, Josué se dirigiu a todo o povo, e basicamente argumentou a favor do com­ promisso. Ele relembrou tudo o que Deus tinha feito. Em uma das mais famosas declarações de fé do Antigo Testamento, Josué expressa o seu pró­ prio compromisso: “Porém eu e a minha casa servi­ remos ao Senhor” (v. 15). Josué podia assumir este compromisso por si mes­ mo. Não podia fazê-lo pelos outros. Mas Josué po­ dia confrontá-los, e realmente o fez, certificandose de que cada família em Israel percebesse que o compromisso era necessário. O povo reconheceu a validade do que Josué tinha dito. O Senhor “nos fez subir... da terra do Egito, da casa da servidão”. E o Senhor expeliu os inimi­ “Anciãos, e cabeças, e juizes, e oficiais” (Js 23.1- gos. “Também nós serviremos ao Senhor”, disse o 16). Josué falou separadamente aos líderes de povo, “porquanto é nosso Deus”. Israel, que seriam os maiores responsáveis por garantir que o povo de Israel continuasse a ser­ “O Senhor... é Deus santo” (Js 24.19-27). Josué ti­ vir ao Senhor. Observe o padrão das observações nha argumentado a favor do compromisso. Agora de Josué. Ele começa com uma promessa, passa ele deixa claro o custo do compromisso. para a exortação, e conclui com um lembrete e Quem se comprometer ao Senhor deverá fazer um compromisso total. Não se pode fazer meio concer­ advertência. A promessa: Deus que tinha expelido o inimigo to com o Senhor. continuaria a impeli-los diante de Israel. Mesmo quando confrontados com o custo do com­ A exortação: Esforcem-se, tomem cuidado para promisso, o povo insistiu que serviria ao Senhor. obedecer à lei de Deus, não se associem com na­ O versículo 23 indica duas formas de demonstrar ções pagãs ou com seus deuses, e se apeguem ao o compromisso total. (1) “Deitai fora os deuses Senhor. estranhos que há no meio de vós.” Não devemos O lembrete: Deus expulsou o inimigo, como pro­ conservar nada em nossas vidas que possa competir meteu. com Deus pela nossa lealdade. (2) “Inclinai o vosso A advertência: Se vocês se afastarem de Deus, o coração ao Senhor, Deus de Israel”. Nós devemos Senhor não mais os expelirá. Além disso, “a ira do entregar ao Senhor voluntariamente tudo o que te­ Senhor sobre vós se acenderá”. mos e somos. Estas quatro funções resumem a responsabilidade e o ministério de grande parte dos líderes espirituais “Eis que esta pedra nos será por testemunho” (Js de nossos dias — incluindo os pais. Nós devemos 24.27). Uma testemunha é alguém que pode tes­ viver segundo as promessas de Deus, e transmiti- tificar o que viu ou ouviu. Às vezes, objetos ina­ las. Nós devemos ser fiéis, e exortar à fidelidade. nimados eram comissionados como testemunhas Nós devemos nos lembrar do que Deus fez, e recor­ das palavras de compromisso (cf. Gn 32— 52; dar aos outros. Nós devemos ter ciência, e advertir D t 31.21). As palavras que são ditas são forçosas. os outros, sobre as consequências de nos afastar­ Elas são tão permanentes quanto o lugar onde mos do Senhor. são proferidas.

o altar de acordo com as especificações dadas na Lei, a construção característica forneceria a evidên­ cia da herança comum. Os dois grupos agiram sabiamente ao lidar com este assunto. As tribos do oeste decidiram conver­ sar antes de agir. As do leste não se ofenderam, mas explicaram humildemente o que tinham feito. E bom relembrar o exemplo dos dois grupos quando nós ficarmos aborrecidos por alguma coi­ sa que outra pessoa ou grupo tenha feito. Antes de acusarmos, precisamos procurar as pessoas en­ volvidas e conservar sobre o que aconteceu. E se alguém interpretar mal nossos atos, antes de nos aborrecermos, precisamos ser humildes e desejo­ sos de explicar.

DEVOCIONAL______

A Época Atual (Js 24) Aqui está registrado um maravilhoso epitáfio para Josué. “Serviu, pois, Israel ao Senhor todos os dias de Josué e todos os dias dos anciãos que ainda vive­ ram muito depois de Josué”.

Josué defendeu o compromisso. Josué deixou claro o custo do compromisso. Josué deu um exemplo de compromisso, e por todos os dias da sua vida o povo de Israel serviu fielmente ao Senhor. A esta altura, provavelmente alguém irá objetar e indicar o que aconteceu depois que Josué morreu.

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Josué 22—24

É verdade que depois destas poucas décadas pro­ missoras o povo de Deus o abandonou. Durante aproximadamente 400 anos, durante a era dos Ju­ izes, Israel conheceu ciclos de breve reavivamento e aprofundamento na apostasia. Mas o que acon­ teceu durante estes séculos não teve nada a ver com Josué. O Novo Testamento assim explica: “Digo, conhe­ cendo o tempo, que é já hora de despertarmos” (Rm 13.11). O que este versículo indica é que o único tempo que você ou eu temos é o presente. Não po­ demos modificar o passado. Não podemos controlar o futuro. Mas podemos viver para Deus hoje. Foi exatamente o que Josué fez. Ele serviu a Deus enquanto viveu. E, na época de Josué, Is­ rael serviu a Deus. Você e eu não temos garantias do que irá acontecer aos nossos filhos, aos nossos netos, nem aos nossos bisnetos. Na verdade, isso não nos compete. Não podemos controlar o futuro. Tudo o que você eu podemos fazer é seguir o exemplo de Josué de com­ promisso pessoal, e assim influenciar àqueles que estão vivos na nossa época. Provavelmente, ninguém que leia isso será lembra­ do por alguma instituição que perdure por várias

gerações, como Lutero é lembrado pela igreja lute­ rana, ou como D. L. Moody é lembrado pelo Moody Blue Institute. Provavelmente nós nem mesmo seremos lembrados daqui a duas ou três gerações. Mesmo que fôssemos, isto não seria importante. O que é importante está resumido no epitáfio que as Escrituras fazem a Josué: “Serviu... Israel ao Senhor todos os dias de Josué”. Josué foi fiel a Deus enquanto viveu. Enquanto vi­ veu, Josué influenciou os homens e as mulheres da sua época. Aplicação Pessoal Tocar ao menos uma vida, trazendo-a a Deus, é a realização mais importante que qualquer ser huma­ no pode alcançar. Citação Importante “Uma vida santa produzirá a impressão mais pro­ funda. Faróis não tocam trombetas; eles somente brilham.” — D. L. Moody

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em JUÍZES

JUÍZES INTRODUÇÃO O livro de Juizes abrange o período entre a morte de Josué, aproximadamente em 1375.a.C., e a coroação do primeiro rei de Israel, Saul, aproximadamente em 1040 a. C. O livro descreve a deterioração da fé e da sorte de Israel, e explica por que o povo de Deus deixou de experimentar as suas bênçãos. O livro de Juizes tem este nome por causa dos líderes carismáticos que Deus levantou quando Israel abandonou a idolatria e voltou-se para Ele, pedindo ajuda. Os “juizes” eram líderes nacionais, no sentido mais completo. Tipicamente, funcionavam como comandantes militares, líderes religiosos e governantes das tribos às quais serviam. Este pequeno livro normalmente é apreciado pelas suas histórias sobre heróis como Débora, Gideão e Sansão, mas a sua mensagem é mais amarga. O futuro é sombrio para qualquer pessoa que abandone a Deus e o justo modo de vida que a sua Lei prescreve. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Causas da Era dos Juizes......................................................................... II. Condições durante a Era dos Juizes.................................................... Sete ciclos de opressão/libertação 1. O tniel....................................................................................................... 2. Eglom ....................................................................................................... 3. Débora e Baraque.................................................................................... 4. Gideão...................................................................................................... 5. Tola e Jair................................................................................................. 6. Jefté............................................................................................................ 7. Sansão....................................................................................................... III. Consequências Humanas da Era dos Juizes.....................................

.....Jz 1.1— 3.6 . Jz 3.7— 16.31 .......Jz3.7— 11 .... Jz 3.12— 31 ... Jz 4.1— 5.31 ,... Jz 6.1— 8.32 ..Jz 8.33— 10.5 Jz 10.6— 12.15 Jz 13.1— 16.31 Jz 17.1— 21.25

GUIA DE LEITURA (6 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 51 52 53 54 55 56

Capítulos 1— 3 4— 5 6— 8 9— 12 13— 16 17— 21

Passagem Essencial 2 5 6.25— 7.21 11.29-40 16 19

JUÍZES 20 DE FEVEREIRO LEITURA 51

DECLÍNIO ESPIRITUAL Juizes 1— 3

"Outra geração após eles se levantou, que não conhe­ Deus recusou-se a continuar ajudando o seu povo cia o Senhor, nem tampouco a obra quejizera a Isra­ desobediente (2.1-5). As gerações seguintes se vol­ el” (Jz 2.10). taram aos ídolos e celebraram casamentos com os cananeus, causando o declínio nacional. Mesmo os Existe causa e efeito, tanto no universo espiritual, juizes que Deus forneceu conseguiram um novo como no físico. A causa do fato de que a geração compromisso apenas temporário com o Senhor seguinte não conhecia a Deus estava enraizada na (w. 6-23). obediência incompleta de seus pais. Entendendo o Texto Contexto “E foi o Senhor com Judá” (Jz 1.1-26). Depois da Séculos antes disso, Deus tinha prometido a morte de Josué, a tribo de Judá demonstrava fé Abraão que os seus descendentes possuiriam Ca- continuada em Deus. Eles atacaram ousadamente naã. Sob a liderança de Josué, estes descendentes, os cananeus, ainda no seu território. As vitórias os israelitas, invadiram a Terra Prometida. Em uma que obtiveram deveriam ter encorajado toda Is­ ampla campanha militar, Josué rompeu o poder rael. das cidades-estado dos cananeus, e dividiu a terra Uma das coisas mais importantes que podemos entre as tribos israelitas. Mas ainda havia bolsões de fazer para fortalecer a nossa fé é ler as biografias resistência; áreas ocupadas pelos vários grupos ét­ de cristãos. Embora elas não sejam publicadas nicos que tinham se estabelecido em Canaã muito frequentemente, hoje em dia, as histórias de vida antes disso. Cada tribo dos hebreus era responsável de homens e mulheres de fé podem nos desafiar por expulsar os cananeus restantes, à medida que a e nos encorajar. Publicações relativamente recen­ sua população crescesse e o seu povo precisasse de tes como Through Gates ofSplendor e Bom Again, mais terras. Mas havia uma exigência. Os cananeus além de outras obras clássicas mais antigas, sobre deviam ser exterminados ou expulsos da terra, para Hudson Taylor e George Müller, podem aprofun­ que a sua religião não corrompesse o povo escolhi­ dar a nossa consciência daquilo que Deus pode do de Deus. fazer, por intermédio dos indivíduos. O livro de Juizes narra a trágica história de um Se as demais tribos de Israel tivessem aprendido povo que tinha sido abençoado por Deus, mas com a experiência de Judá, os séculos seguintes perdeu o direito ao futuro por sua obediência in­ da história de Israel poderiam ter sido muito di­ completa. ferentes. Visáo Geral “Os cananeusforam determinados” (Jz 1.27-36). As Judá atacou corajosamente os cananeus que per­ outras tribos não seguiram o exemplo de Judá. Elas maneciam no seu território (1.1-26). Mas outras hesitaram em atacar os cananeus em seu território. tribos não expulsaram os cananeus (w. 27-36). Os cananeus estavam mais determinados em per-

Juizes 1—3

“A ira do Senhor se acendeu” (Jz 2.6-23). O autor do livro de Juizes agora insere um resumo que ex­ põe uma sequência de eventos, que foi repetida por toda esta era. Cada elemento do ciclo pode ser vis­ to na maioria das histórias dos juizes, encontradas neste livro. A avaliação global do período é expressa vigoro­ samente em 2.19: “Porém sucedia que, falecendo o juiz, tornavam e se corrompiam mais do que seus pais, andando após outros deuses, servindoos e encurvando-se a eles; nada deixavam das suas obras, nem do seu duro caminho”. Cada ciclo via o povo de Deus afastando-se cada vez mais do Senhor, e os sujeitava a juízos cada vez mais difíceis. A vida cristã normal deve ser um caminhar inin­ terrupto de comunhão com o Senhor. Aqueles que veem a experiência cristã como um ciclo de peca­ do, confissão, restauração, obediência temporária e pecado, outra vez, não entenderam a mensagem deste livro do Antigo Testamento. A cada vez que decidimos nos aventurar no pecado, temos a possi­ bilidade de ir mais além. Deus está sempre disposto a nos aceitar de volta. Mas o pecado irá, em última análise, endurecer os nossos corações contra Ele.

A arqueologia confirma o relato do Antigo Testamento dos israelitas confinados na região montanhosa de Canaã (Jz 1.19). Nas planícies, os exércitos cananeus, com car­ ros, pareciam fortes demais para que os temerosos israe­ litas os atacassem. Os carros, como este, eram os tanques das guerras antigas. Nesta época, eles costumavam atacar diretamente, destruindo as formações da infantaria.

manecer do que Israel estava decidida a obedecer a Deus e expulsá-los: esta hesitação em obedecer a Deus levou à desobediência direta. Quando Israel tornou-se mais forte, em lugar de atacar os cana­ neus, simplesmente os escravizou. Qualquer ineficiência na obediência é um passo em direção à desobediência. “Estarão às vossas costas, e os seus deuses vos serão por laço” (Jz 2.1-5). Deus confrontou Israel com o pe­ cado da desobediência, e proferiu o julgamento. Ele retiraria a sua ajuda. Agora, Israel não seria ca­ paz de expulsar os cananeus. Na vida espiritual, “não farei” muito breve se torna “não poderei”.

“Os filhos de Israel clamaram ao Senhor” (Jz 3.1231). O capítulo 3 do livro de Juizes apresenta, em poucas palavras, a história dos dois primeiros jui­ zes. Observe que cada história incorpora todos os elementos do ciclo esquematizado abaixo. PECADO SERVIDÃO SÚPLICA SALVAÇÃO SILENCIO

3.7 3.8 3.9 3.9, 10 3.11

3.12 3.13,14 3.15 3.13-29 3.30

Nós só podemos romper ciclos como este em nossa vida, resistindo à tentação de pecar.

CICLO DE EVENTOS PECADO SERVIDÃO SÚPLICA SALVAÇÃO SILÊNCIO

2.11-13 2.14,15 2.15 2.16 2.18

Os israelitas se voltam à adoração de Baal e à imoralidade. Nações estrangeiras derrotam e oprimem Israel. Sob opressão, Israel confessa o pecado e ora. Deus levanta juizes para libertar o seu povo. Durante a sua vida, o juiz conserva Israel “mais ou menos” fiel ao Senhor.

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Juizes 4— 5

DEV OCIONAL_________ Criando a Próxima Geração (Jz 2) Você já se deparou com alguns daqueles ditados que parecem ter a função de fazer os pais se sentirem culpados? Por exemplo, “Pau que nasce torto, cresce torto”? ou, “A maçã nunca cai longe da árvore”? De minha parte, eu jamais aceito a sugestão. Cada pessoa é responsável por suas próprias escolhas. Eu não posso considerar que tenha algum mérito pelas escolhas devotas que meus filhos já crescidos fazem. E igualmente, não sou responsável pelas suas esco­ lhas erradas ou tolas. Mas esta passagem, como tantas nestes primeiros li­ vros do Antigo Testamento, deixa claro que cada ge­ ração influencia a seguinte. Aqui o texto nos diz que “foi também congregada toda aquela geração [que tinha lutado com Josué por Canaã] a seus pais, e ou­ tra geração após eles se levantou, que não conhecia o Senhor, nem tampouco a obra que fizera a Israel” (v. 10). De alguma forma, toda uma geração tinha deixado de transmitir a realidade da sua experiência com Deus à geração seguinte. Se você se perguntar por que eles falharam nisso, a resposta está aqui mesmo, no capítulo 1 deste livro do Antigo Testamento. Depois da morte de Josué, somente Judá exibiu confiança em Deus, e enfren­ tou o inimigo cananeu. As outras tribos hesitaram, temerosas. É quando, por puro motivo do aumen­ to de sua população, intimidaram os cananeus, em lugar de expulsá-los, os israelitas os escravizaram. Os pais deixaram de confiar em Deus. Desobedeceram-no. E os seus filhos “não conheciam o Senhor, nem tampouco a obra que fizera a Israel”. Nós — você e eu — não podemos garantir que nos­ sos filhos conhecerão o Senhor, ou que viverão para Ele. Mas se confiarmos o suficiente em Deus, para agirmos conforme a sua Palavra, se formos obedientes em nossas vidas diárias, nossos filhos jamais poderão dizer a respeito de Deus: “Eu não o conheço”. A realidade de quem é Deus está revelada na fé que mães e pais põem em prática, e na obediência à sua Palavra.

Aplicação Pessoal Não há nada mais importante que podemos fazer por nossos filhos, do que amar, confiar e obedecer ao Senhor. Citação Importante “Existe uma única maneira de criar um filho no caminho em que ele deve andar; e esta maneira é seguir este caminho, você mesmo.” — Abraham Lincoln

21 DE FEVEREIRO LEITURA 52 DÉBORA Juizes 4—5

“Assim, ó Senhor, pereçam todos os teus inimigos! Po­ rém os que o amam sejam como o sol quando sai na sua força" (Jz 5.31). As mulheres, geralmente, não eram líderes na Is­ rael patriarcal. Mas o fato de ser do sexo feminino não desqualificou Débora, cujos dons espirituais eram desconhecidos pelo povo de Deus. Visão Geral Débora, a líder e profetisa de Israel, disse ao he­ sitante Baraque que levantasse um exército (4.111). A vitória israelita (w. 12-24) é celebrada em um dos mais belos poemas antigos, o cântico de Débora (5.1-31). Entendendo o Texto Débora. Débora é identificada como uma profe­ tisa. Deus a usou como porta-voz, transmitindo mensagens especiais ao seu povo. O texto tam­ bém diz que ela “julgava a Israel naquele tempo”. Isso era muito incomum em uma sociedade que enfatizava a liderança masculina e a subordinação feminina. O texto também afirma que Débora servia como um tipo de suprema corte, e decidia disputas que não podiam ser decididas localmen­ te. Qualquer uma destas funções poderia tornar especial qualquer indivíduo, fosse homem ou m u­ lher. O fato de ter as três funções indica que Dé­ bora era uma mulher verdadeiramente incomum, com grandes dons pessoais e espirituais. Débora nos lembra que os estereótipos da socie­ dade não precisam ser mantidos quando se trata do povo de Deus. A escolha que Deus fez de Dé­ bora mostra que Ele está livre para trabalhar por intermédio de qualquer ser humano. Esta escolha nos lembra que o sexo de uma pessoa não a des­ qualifica ou qualifica automaticamente para um ministério significativo. Baraque. O caso do próprio Baraque é um estu­ do fascinante. Baraque era hesitante e temeroso, sem disposição para enfrentar o inimigo, a menos que Débora acompanhasse o seu exército (4.8), apesar de Débora lhe ter prometido a vitória em nome de Deus. A confiança em Deus é desejável. A confiança em seres humanos, mesmo naqueles que podem representar a Deus, não é. O erro de Baraque foi confiar que Deus agiria somente por intermédio de Débora, em vez de confiar em Deus

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Juizes 4— 5

diretamente. Nós podemos apreciar e honrar nos­ a Sísera a bebida que ele pediu, e o escondeu na sos líderes espirituais; mas não devemos exaltá-los sua tenda. A seguir, ela violou os costumes, e com um único golpe cravou uma estaca da tenda na ao ponto que Baraque exaltou Débora. testa de Sísera. “Jabim, rei de Canaã, que reinava em Hazor” (Jz Nós não deveríamos nos surpreender com a força 4.1-11). Hazor tinha sido destruída por Josué. de Jael. Entre os povos nômades do Oriente Mé­ Mas o local estratégico foi reconstruído, e um dio, as mulheres armavam as tendas, de modo que novo Jabim (provavelmente um nome de dinas­ o martelo e as estacas deviam ser instrumentos fa­ tia) controlava as planícies e o Israel “violenta­ miliares para elas. mente oprimido”. Esta opressão é descrita em Apesar da sua violação de hospitalidade, Débora 5.6-10. Os israelitas temiam viajar pelas estra­ abençoou Jael. Diferentemente de outras pessoas, das, abandonaram muitos vilarejos e não tinham Jael apresentou-se “em socorro do Senhor, em so­ armas suficientes. Por outro lado, os cananeus, corro do Senhor, com os valorosos” (5.23). sob seu hábil comandante, Sísera, tinha 900 car­ Há ocasiões em que os cristãos também precisam se apresentar e dar um passo à frente, mesmo ros de ferro. Um exame do mapa mostra que a opressão afe­ quando um ato de consciência for contra os pa­ tava somente a parte norte das tribos de Israel, drões da comunidade. A desobediência civil du­ especialmente Naftali e Zebulom. A posição de rante os anos 1960 — o movimento dos direitos Débora na região montanhosa de Efraim sugere civis — foi uma destas ocasiões. Eu suspeito que os protestos contra as clínicas de aborto nos anos que ela não foi diretamente afetada. Nós não precisamos ser diretamente afetados pelo 1990 tenha sido outra ocasião em que os cristãos sofrimento para nos envolvermos. Paulo diz, sobre precisavam estar dispostos a apresentar-se “em so­ o Corpo de Cristo: “se um membro padece, todos corro do Senhor com os valorosos”. os membros padecem com ele” (1 Co 12.26). “Pela janela" (Jz 5.28-31). A imagem e a ironia “Sísera convocou todos os seus carros, novecentos car­ desta curta passagem levaram-na a ser reconhe­ ros de ferro, e todo o povo que estava com ele... até cida como, talvez, o mais brilhante de todos os ao ribeiro de Quisom" (Jz 4.11-16). Na estação das poemas antigos. secas, o vale de Esdraelom (ou “vale de Jezreel”), por onde corria o ribeiro de Quisom, era ideal “Eles o exterminaram” (Jz 4.24). A vitória sobre para os combates com carros: plano e duro, com o exército de Sísera drenou a força dos cananeus. espaço para manobras. No entanto, quando mo­ A guerra não estava terminada. Mas esta batalha lhado, o vale se convertia em um lamaçal imundo, foi o ponto decisivo. O texto diz que, depois da batalha, os israelitas ficaram mais fortes, e final­ tornando o uso dos carros um grande perigo. Embora Juizes 4.15 afirme simplesmente que “o mente destruíram... o rei cananeu e o seu reino. Senhor derrotou a Sísera”, e que “Sísera desceu do Juizes 5.31 acrescenta: “E sossegou a terra qua­ carro e fugiu a pé”, o cântico de Débora explica renta anos”. a situação. Ela descreve como “até os céus goteja­ Alguns cristãos creem que a atitude de se voltar para Jesus soluciona todos os problemas automa­ ram... até as nuvens gotejaram águas” (5.4). Baal, adorado pelos cananeus, era originalmente ticamente, sem nenhum esforço pessoal. um deus de trovões e tempestades. Aqui, o Senhor Eu conheci um ou dois alcoólatras que afirmaram dirige a tempestade contra os adoradores do deus que, depois das suas conversões, jamais tiveram da tempestade, e usa a chuva para neutralizar a vontade de beber um gole. Mas eu conheço muitos sua vantagem militar! A vitória sobre os cananeus mais que dizem que é necessário lutar diariamen­ foi um juízo divino sobre a religião dos cananeus, te contra a vontade de tomar apenas uma dose. A assim como sobre o tratamento que eles dispensa­ vitória sobre Sísera lembra-nos de que temos que combater as coisas que nos oprimem na vida. Nós ram ao povo de Deus. temos que tomar uma posição e declarar a vitória. “Dá-me, peço-te, de beber um pouco de água” (Jz Mas a primeira batalha na qual o inimigo sofrer 4.17-23). O pedido de Sísera por água pode su­ uma derrota esmagadora, bem poderá ser um pre­ gerir mais do que sede. Entre os povos nômades, lúdio de anos de lutas. Nós, assim como os israeli­ até mesmo o mais mortal dos inimigos, a quem tas, precisamos nos fortalecer cada vez mais, reco­ fosse dada comida ou bebida, era colocado sob nhecendo que pode demorar algum tempo, ou até a proteção de quem o derrotasse. Na ausência de mesmo muito tempo para “destruirmos o inimigo seu esposo, Jael agiu como uma anfitriã. Ela deu da nossa alma”.

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DEVOCIONAL________ Ficar no Campo de Batalha (J*5) O cântico de Débora é um brado de vitória. Ele vi­ bra com emoção e louvor. Ele transborda de alegria e entusiasmo. E não é de admirar. A batalha contra Sísera foi um ponto decisivo para uma geração in­ teira. Vinte anos de opressão foram transformados em 40 anos de paz. Débora e Baraque lideraram um exército de homens cujo clamor mais orgulho­ so, nos anos futuros, seria “Eu estive ali, no ribeiro de Quisom”. Não é de admirar que o poema da vitória seja tão eletrizante, tão vibrante e tão cheio de alegria. Exceto por alguns poucos versículos no meio do texto. Os versículos que descrevem as tribos que deixaram de atender ao chamado para combater os cananeus. Vieram os homens de Efraim. Esta­ vam ali as tribos de Zebulom e Issacar. Mas onde estava Rúben? Onde estavam Gileade, e Dã, e Aser, quando “o povo de Zebulom expôs a sua vida à morte”? “Entre as facções de Rúben”, diz Débora, “houve grande discussão” (ARA). “Por que ficaste tu entre os currais para ouvires os balidos dos rebanhos?” (w. 16-18, ARC). Porque, quando chegouaoportunidade de fazer história, estas pessoas ficaram em casa, absortas nas tarefas comuns da vida diária? Ficaram entre os currais. Cuidando dos rebanhos. Como se nada especial estivesse acontecendo do outro lado da montanha, onde seus irmãos arris­ cavam suas vidas. Realmente, não existe resposta para esta pergunta. Foi falta de visão? Eles deixaram de ver a oportuni­ dade? Foi uma falta de preocupação, eles deixaram de se comover com o sofrimento dos outros? Qualquer que seja a razão, estes membros da casa de Deus deixaram de perceber que o momento crí­ tico tinha chegado. Eles deixaram de agir. E Deus obteve a vitória, sem eles. E que lição para nós, hoje em dia. Deus obterá as Suas vitórias, com quem quer que seja voluntário. Mas que triste seria para nós, se nós ficássemos jun­ to aos currais enquanto a história é feita. Aplicação Pessoal Que oportunidade é grandiosa demais, hoje, para que você a perca? Citação Importante “Nós ficaremos deitados por tanto tempo depois da morte, que vale a pena ficarmos em pé enquanto estivermos vivos. Vamos trabalhar agora; um dia, descansaremos." — Agostina Pietrantoni

22 DE FEVEREIRO LEITURA 53 GIDEÂO Juizes 6—8

“Vai nesta tua força e livrarás a Israel da mão dos midianitas; porventura, não te enviei eu?” (Jz 6.14). O herói hesitante desta história pediu a Deus sinais tranquilizadores. E Deus graciosamente o tranqui­ lizou. A experiência de Gideão ensina uma lição importante sobre “secar o velo”. Mas, não, talvez, a lição que esperamos. Definição dos Termos-Chave Anjo do Senhor. Muitos creem que o Anjo do Se­ nhor do Antigo Testamento é uma teofania, uma aparição de Deus em forma humana. E importante distinguir entre tais manifestações do Antigo Tes­ tamento e a Encarnação. Em Jesus Cristo, Deus Filho assumiu a natureza humana e se tornou um verdadeiro ser humano. O Anjo do Senhor sim­ plesmente se parecia com um ser humano. Visão Geral As tribos do sudeste de Israel eram gravemente opri­ midas pelos midianitas quando o Anjo do Senhor en­ carregou Gideão de libertá-los (6.1-16). Gideão obe­ deceu a Deus e derrubou um altar erigido a Baal (w. 17-35), mas pediu sinais milagrosos que confirmas­ sem o compromisso de Deus em manter a sua pro­ messa (w. 36-40). O exército de Gideão foi reduzido a 300 homens (7.1-8). Depois de novas confirmações (w. 9-14), Gideão atacou e derrotou os midianitas (w. 15-25). A humildade de Gideão evitou a guerra entre as tribos (8.1-5), mas ele puniu decididamente as cidades israelitas que se recusaram a ajudar quando ele estava perseguindo os reis midianitas (w. 6-21). Posteriormente, Gideão fez um éfode que se tornou um ídolo para Israel (w. 22-35). Entendendo o Texto “Prevalecendo a mão dos midianitas sobre Israel” (Jz 6.1-6). Os midianitas eram um povo nômade que periodicamente invadia Israel para roubar a sua co­ lheita. Este povo do sudoeste liderou uma coalizão de midianitas e outras raças do deserto sírio. Quan­ do Israel os derrotou pela primeira vez, eles tinham confiado em jumentos para seu transporte (Nm 31.32-34). Aqui, são descritos como montando camelos, talvez o primeiro uso militar em grande escala destes animais na história. Os midianitas invadiram grandes regiões do sul e do centro de Israel, roubando ou destruindo plan­

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tações e forçando os israelitas a se esconderem em tado uma noite toda de trabalho dos dez homens de Gideão! Um altar a Baal encontrado em Megicavernas. do tinha aproximadamente 1,3 metros de altura e “Não destes ouvidos à minha voz” (Jz 6.7-10). Um 8 metros de diâmetro, feito de tijolos cimentados profeta não citado nominalmente lembrou os is­ com barro! raelitas de que Deus tinha sido fiel no seu com­ O medo de Gideão dos homens da cidade era o promisso com eles. O desastre aconteceu porque resultado da sua correta avaliação da situação. Se ele tivesse agido à luz do dia, o povo da cidade cer­ os israelitas não foram fiéis ao Senhor. E loucura culpar Deus pelas más consequências de tamente o teria impedido. Deus não ordenou que Gideão derrubasse o altar durante o dia. A decisão nossos próprios pecados. Mesmo assim, Deus ouviu as orações de Israel (v. de Gideão sugere prudência, não covardia. 6) e decidiu salvar mais uma vez o seu povo de­ Não é necessário anunciar a nossa obediência. É sobediente. Como é bom compreender, quando suficiente obedecer. tivermos pecado, que Deus nos ouvirá se nos di­ “Naquele dia, lhe chamaram [a Gideão] Jerubaal” rigirmos a Ele. (Jz 6.30-35). Os cidadãos furiosos foram afastados “E que êfeito de todas as Suas maravilhas?” (Jz 6.11- pela zombaria do pai de Gideão, aparentemente 14). Quando o Anjo do Senhor apareceu, Gideão um homem influente. Este nome, quando dado estava malhando o trigo no lagar. O lugar normal pela primeira vez a Gideão, sugeria que Baal estava para malhar o trigo era uma colina onde houves­ em guerra contra Gideão. Posteriormente, depois se vento, onde a brisa separaria o trigo da palha. da vitória sobre Midiã, a ênfase sutilmente muda, Gideão usava um lagar, normalmente uma área e “Jerubaal” é usado com orgulho, no sentido de murada no pé de uma colina, para trilhar. O ato “aquele que combate Baal”. ilustra o quão temerosos estavam os israelitas de que pudessem ser vistos pelos midianitas e ter a sua “Se hás de livrar Israel... como tens dito” (Jz 6.3340). Gideão agiu corajosamente e enviou mensa­ colheita, roubada. Não é de admirar que Gideão, forçado a olhar teme- geiros a diversas tribos para recrutar um exército. rosamente em todas as direções, enquanto disfarça­ Os seus atos públicos foram corajosos, mas Gideão damente trilhava seu trigo, respondesse com sarcas­ ainda sentiu dúvidas e temores em seu interior. mo quando o anjo lhe disse: “O Senhor é contigo, As orações de Gideão no caso do velo não foram varão valoroso”. Se Gideão era um varão valoroso, um esforço para determinar qual era a vontade de por que estava se escondendo em um lagar? Se Deus Deus. Gideão a conhecia. Os pedidos foram feitos era realmente com Israel, onde estavam os milagres para o encorajamento pessoal de Gideão, e foram feitos somente depois que Gideão já rinha demons­ de libertação que Ele realizou pelos pais? Com excessiva frequência as nossas circunstâncias trado a sua disposição de obedecer a Deus. também nos roubam o senso da presença de Deus. Mas frequentemente, como no caso de Gideão, “A inda muito povo há” (Jz 7.1-8). Gideão precisa­ quando nos sentimos mais abandonados, ou mais va desta tranquilidade. Em uma série de passos, Deus reduziu o exército de Gideão, de 32 mil, a céticos, Deus já começou a agir. Deus disse a Gideão: “Vai nesta tua força”. Cada meros 300 homens. A razão é instrutiva. A vitória um de nós deve agir na força que tem, confiando ganha por 300, contra milhares, deixaria claro o no fato de que Deus verdadeiramente está conosco, papel de Deus. Às vezes, nos é pedido que empreendamos grandes mesmo se não sentirmos a sua presença. tarefas com poucos recursos, para que a glória, após “Gideão... fez como o Senhor lhe dissera” (Jz 6.15- a vitória, só possa ser atribuída a Deus. 29). A “oferta” de Gideão era o tipo de presente normalmente dado a um visitante, não um sa­ “Se ainda temes descer” (Jz 7-9-15). Gideão recebeu crifício do tipo que deveria ser oferecido a Deus. um último incentivo do Senhor, na forma de um Quando subiu fogo da penha e queimou a comida sonho relatado por um midianita, quando estava que Gideão tinha trazido, ele percebeu que o seu escondido próximo do acampamento inimigo. A convidado era o Anjo do Senhor. especificação do “pão de cevada” é importante. A Embora Gideão fosse, talvez, consciente demais cevada era o que os pobres usavam para fazer pão. das suas fraquezas (v. 15), ele obedeceu ao manda­ Ela simbolizava o Israel oprimido. mento de Deus, e destruiu o altar a Baal e cortou No mundo antigo, os sonhos eram considerados o bosque que existia ao pé dele. Isso teria represen­ um canal pelo qual os deuses se comunicavam com

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os homens. Neste caso, Deus deu o sonho e a sua interpretação. Deus não é limitado nos meios que utiliza para se comunicar conosco — nem nos ins­ trumentos que Ele escolhe.

"Espada do Senhor e de Gideão” (Jz 7.16-25). A principal arma de Gideão na batalha foi o terror. O súbito aparecimento de tochas acesas na colina, acompanhado por uma cacofonia de sons altos e ásperos, produzidos em 300 trombetas de chifre de carneiro, lançou o acampamento midianita em tal agitação que, na confusão, os soldados inimigos se atacavam, uns aos outros. O exército midianita fugiu, e os israelitas apareceram e perseguiram os inimigos. É fácil unir-se à batalha quando o seu lado está vencendo claramente. É mais difícil ser um entre 300 que combatem um inimigo antes dos demais. No entanto, sem os primeiros e ousados 300, não haveria nenhuma vitória. Devemos nos lembrar disso quando você ou eu formos desafiados a nos posicionarmos a respeito de alguma questão moral em nossa igreja ou sociedade. “A sua ira se abrandou” (Jz 8.1-3). A convocação original que Gideão fez por voluntários não chegou à tribo de Efraim. Agora, este grupo, que seguiu os midianitas que fugiam, criticou Gideão. Ele não tentou explicar. Ele não se ofendeu. Em vez disso, muito sabiamente, deu as efraimitas crédito pelo

que eles tinham feito, e sugeriu, humildemente, que eles tinham feito mais do que ele mesmo. Que as pessoas que desejam crédito o tenham. Aqueles que mais merecem crédito, como Gideão, rara­ mente o consideram importante.

“Os homens de Sucote” (Jz 8.4-17). A atitude dos homens de Sucote e Penuel, que não somente se re­ cusaram a auxiliar Gideão, mas o ridicularizaram, exigia uma retaliação. Estes israelitas se recusaram a se unir à batalha, e demonstraram desprezo pelo Deus que tinha convocado Gideão a liderar Israel em uma guerra santa. “Sossegou a terra quarenta anos nos dias de Gideão” (Jz 8.22-35). Gideão, ainda com o nome “o que luta contra Baal”, impediu que Israel adorasse a Baal, enquanto viveu. Mas Gideão mostrou dois sinais de fraqueza. O primeiro, ele fez um éfode de ouro (como um colete, usado pelo sumo sacerdote de Israel), que foi adorado como um ídolo. O segundo foi que, embora Gideão recusasse aber­ tamente a oferta de um reinado, posteriormente nomeou um de seus filhos, Abimeleque. Em he­ braico, o significado é “Meu pai é rei!” Posterior­ mente, este filho também tomou este nome muito a sério. Depois da morte de Gideão, Abimeleque matou todos os seus irmãos, e durante algum tem­ po serviu como um rei insignificante, sobre uma pequena parte da terra de Israel.

DEVOCIONAL_______

Você Pôs o seu Velo na Eira? (Jz 6.25— 7.21) Como você pode conhecer a vontade de Deus para a sua vida? Bem, uma maneira não é “por o velo na eira”. Este ato de Gideão tem um significado com­ pletamente diferente. Gideão procurou confiança e tranquilidade, e não o conhecimento da vontade de Deus. Deus graciosamente atendeu a oração de Gideão, porque Gideão já tinha demonstrado a sua disposição em obedecer. Existe um padrão nestes capítulos que é muito im­ portante.

Um Gideão temeroso e muito humano é tranqui­ lizado pelo sonho que Deus dá a um soldado mi­ dianita (7.8-15). Um Gideão, agora confiante, lidera o ataque sobre Midiã. Observe que a reafirmação foi dada depois que Gi­ deão tinha obedecido a uma ordem do Senhor, e não antes. Algumas vezes, nós colocamos equivocadamente nosso velo na eira, ou pedimos a Deus algum sinal, antes de termos obedecido a sua Pala­ vra. Então esperamos, em uma situação infeliz, e não recebemos nenhum sinal. O que a experiên­ Um Gideão temeroso obedece a Deus e derruba o cia de Gideão nos diz é que a obediência precede a reafirmação. Deus pode graciosamente nos dar altar de Baal (6.25-32). Um Gideão cheio do Espírito reúne os israelitas um sinal da sua presença. Mas tais sinais são dados àqueles que já demonstraram a fé, quando começa­ para a batalha (6.33-35). Um Gideão muito humano pede a Deus algo que ram a fazer a sua vontade. o tranquilize, e o recebe, quando póe o velo na eira (6.36-40). Aplicação Pessoal Um Gideão obediente manda para casa quase todo Se você sabe qual é a vontade de Deus para a sua o exército israelita (7.1-7). vida, não espere um sinal para depois obedecer.

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pulos, rápido em usar a religião, mas sem fé pessoal nem comprometimento religioso. Abimeleque, filho de um israelita e uma cananeia, rejeitou o Senhor e escolheu o caminho de seus antepassados pagãos.

Citaçáo Importante “A vontade de Deus nem sempre é clara, especial­ mente no tocante às complicações da conduta di­ ária em nosso mundo confuso. Mas a vontade de Deus é frequentemente clara, e as suas principais instruções também são claras. Um homem não de­ verá esperar um esclarecimento sobre a vontade de Deus para as situações de conduta mais complica­ das da vida, se não estiver disposto a seguir a von­ tade divina mais clara que está revelada nas coisas mais simples da vida.” — George A. Buttrick 23 DE FEVEREIRO LEITURA 54 ABIMELEQUE E JEFTÉ Juizes 9— 12

“E tiraram os deuses alheios do meio de si e serviram ao Senhor; então, se angustiou a sua alma por causa da desgraça de Israel” (Jz 10.16). Dois jovens desprivilegiados nos lembram que o ambiente não determina o futuro de ninguém. O que importa são as escolhas que cada indivíduo faz na vida. Visão Geral Abimeleque, filho de Gideão e uma mulher cananeia de Siquém, matou seus 70 irmãos e, com a ajuda do povo de sua mãe, se colocou como rei (9.1-21). Depois de três anos os siquemitas se re­ belaram e mataram Abimeleque (w. 22-57). Jefté (JEFF-thah), filho de pai israelita e uma prostituta, foi rejeitado por sua família e seu clã, mas foi cha­ mado de volta quando a tribo foi ameaçada pelos amonitas (11.1-12). Quando as negociações fra­ cassaram (w. 13-28), Jefté conduziu Israel à vitória (w. 29-33). Mas a vitória foi obtida com grande custo para a filha de Jefté (w. 34-40), e levou a batalhas entre as tribos (12.1-7). Entendendo o Texto “Os irmãos de sua mãe” (Jz 9.1-6). A identificação dos siquemitas como “homens de Hamor” (v. 28) e sua adoração de Baal-Berite indicam que a popu­ lação desta cidade era principalmente de cananeus. Abimeleque convocou a ajuda destes homens, (1) lembrando-lhes de que ele era sua própria carne e seu sangue, (2) dando a entender que os 70 filhos de Gideão pretendiam reinar sobre eles, e (3) sugerindo uma ameaça à sua religião, usando o nome Jerubaal, “o que combate Baal”. Os cidadãos de Siquém fi­ nanciaram o assassinato dos outros filhos de Gideão, com o dinheiro do tesouro do seu templo. A história revela o caráter de Abimeleque. Ele era ambicioso, manipulador, sem consciência nem escrú­

“Foram uma vez as árvores a ungir para si um rei” (Jz 9.7-21). O filho mais jovem de Gideão, Jotão, escapou quando seus irmãos foram assassinados. A sua parábola sobre as árvores foi incisiva. As árvo­ res que eram benéficas para os homens recusaram o título. Somente o espinheiro, que era inútil, de­ sejou a coroa. Mas ele não era apenas inútil, era também perigoso, pois os seus ramos secos rapida­ mente se incendiavam. Jotão advertiu os cidadãos de Siquém. Se não tinham procedido “em verdade e sinceridade” quando fizeram rei a Abimeleque, “saia fogo de Abimeleque e consuma os cidadãos... e saia fogo dos cidadãos... e consuma a Abimele­ que”. Qualquer pessoa que deixe de proceder “em verdade e sinceridade” espalha ao redor de seus próprios pés o combustível que irá irromper em chamas e destruí-la. “Deus fez tornar sobre Abimeleque o mal que tinha feito” (Jz 9.22-57). O pequeno reino de Abimele­ que não abrangia toda Israel. Das cidades mencio­ nadas, ele parece ter governado somente na parte ocidental de Manassés. Dentro de três anos este pe­ queno reino se desintegrou, quando os cidadãos de Siquém, perto de importantes rotas comerciais, se voltaram ao banditismo, roubando assim, de Abi­ meleque, os impostos que ele poderia ter coletado dos mercadores e viajantes (v. 25). Abimeleque atacou e destruiu Siquém. Ele foi morto atacando outra cidade rebelde. Abimeleque e seus cúmplices em Siquém se destruíram, uns aos outros, como Jotão predisse. A predição de Jotão não exigia uma fonte sobrena­ tural. Os maus atos sempre têm más consequências para os perpetradores. Abimeleque e Jefté. A história de Abimeleque nos prepara para a história de Jefté. Cada um destes jo­ vens tinha uma ascendência mista. Cada um deles pode ter sido rejeitado por seus irmãos. Mas aqui termina a semelhança. Enquanto Abimeleque re­ jeitava o Senhor, Jefté confiava nEle completamen­ te. Enquanto Abimeleque matou seus irmãos, Jefté salvou sua família e tribo. As origens de cada um destes homens podem lhes ter causado dor. Cada um deles pode ter sido tratado de maneira injus­ ta. No entanto, foi a decisão que cada um deles tomou, de rejeitar ou buscar um relacionamento pessoal com Deus, que se tornou o fator determi­ nante na sua vida.

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“E julgou a Israel vinte e três anos” (Jz 10.1-5; 12.815)• Estes capítulos falam brevemente de cinco juizes que governaram durante vários períodos de tempo. Os governos de muitos dos juizes foram sobrepostos, pois a maioria deles tinha influência sobre somente algumas das tribos e parte da terra. “Os filhos de Israel... deixaram o Senhor e não o ser­ viram” (Jz 10.6-18). A magnitude da apostasia que precedeu Jefté é sugerida (1) pela lista de cinco na­ ções cujos deuses Israel servia juntamente com os Baalins e Astarotes dos cananeus, (2) pela severa opressão, tanto por parte dos filisteus ocidentais quanto dos amonitas orientais, e (3) pela pouca disposição expressa de Deus de salvar o seu povo, embora eles se arrependessem (w. 11-13). Tudo isso mostra não somente o pecado de Israel, mas também a compaixão de Deus. Embora a punição fosse merecida, Deus “se angustiou... por causa da desgraça de Israel” (v. 16). Como é consolador nos lembrarmos, quando pe­ camos, que o Senhor “não nos [trata] segundo os nossos pecados, nem nos [retribui] segundo as nos­ sas iniquidades” (SI 103.10). “Jefté... valente e valoroso" (Jz 11.1-11). Depois da morte de seu pai, Jefté, filho de uma prostituta, foi forçado a fugir, por seus meios-irmãos, com o apoio dos anciãos de Gileade. Assim como Davi, quando forçado a fugir de Saul, Jefté reuniu um pequeno exército de aventureiros endividados ou banidos, por outro motivo. Rapidamente eles con­ quistaram reputação militar. Quando lhe pediram que retornasse e liderasse o exército de Israel, Jefté negociou com os anciãos, que lhe prometeram a posição de “cabeça e príncipe”; isto é, chefe na paz, assim como na guerra. O preconceito expulsou Jefté de Gileade. A necessidade o trouxe de volta. É fácil esquecer o passado de alguém quando precisamos de sua ajuda. Como é melhor tra­ tar a todos de maneira graciosa, antes de mais nada.

DE V OCIONAL______

O Restante da História (Jz 11.29-40) A história do voto de Jefté é uma das favoritas das pessoas que gostam de debates. Um gru­ po insiste que Jefté realmente matou sua filha, como um sacrifício de sangue. O outro grupo afirma que ele não fez isso. Como acontece fre­ quentemente com passagens difíceis da Bíblia, o debate obscurece o restante da história — e o seu objetivo.

“Enviou Jefté mensageiros” (Jz 11.12-28). Jefté en­ fatizou que os amonitas não tinham direito à terra que planejavam tomar, pois ela era de Israel, por direito de conquista, e por direito de 300 anos de ocupação. Esta mensagem é reveladora. Em pri­ meiro lugar, ela mostra que Jefté, apesar de ser rejeitado pelos israelitas, tinha uma profunda fé no Deus de Israel. Em segundo lugar, mostra que os israelitas tinham uma lembrança clara do que Deus tinha feito para trazer o seu povo à terra. A fé que este rejeitado tinha no Deus de Israel cer­ tamente envergonhou aqueles de “puro sangue”, que sabiam sobre Deus tanto quanto Jefté, mas o tinham rejeitado em favor dos ídolos. Devemos nos lembrar de que a única base que você ou eu temos para nos orgulhar é o fato de que amamos e servimos ativamente a Deus. A linhagem, a rique­ za ou a posição social não têm importância. “Jeftéfez um voto ao Senhor” (Jz 11.29-40). Fazer uma promessa de realizar alguma coisa especial por Deus, se Ele possibilitasse a vitória, não era incomum em Israel. Jefté, que, segundo o tex­ to, estava cheio do Espírito do Senhor, fez esta promessa antes da sua guerra contra os amoni­ tas. Como as casas israelitas desta época tinham espaço para animais, além de pessoas, Jefté, sem dúvida, tinha em mente o sacrifício de um animal quando fez este voto. “Os homens de Efraim... passaram para o norte” (Jz 12.1-7). Com a notícia da vitória de Jefté, os israelitas a oeste do Jordão cruzaram o rio e o ameaçaram. A queixa deles de que não tinham sido convidados à batalha era uma mentira (v. 2), e provavelmente uma exigência disfarçada para que participassem do espólio da vitória. A amea­ ça, “Queimaremos a fogo a tua casa contigo”, era pura chantagem. Jefté respondeu, convocando seus exércitos e es­ magando os invasores.

Mas Jefté realmente teria sacrificado a sua filha? De modo nenhum. A lei dos votos (Lv 27.1-8) permi­ tia a substituição. O que Jefté fez foi prometer a sua filha ao celibato, enquanto ela vivesse, servindo no Tabernáculo, como em Êx 38.8; 1 Sm 2.22. Isso é sustentado pelo fato de que (1) o texto enfatiza a sua virgindade eterna, não a sua morte (Jz 11.3739), (2) o sacrifício de filhos era condenado pela lei (Lv 18.21; 20.2-5), (3) nenhum sacerdote oficiaria um sacrifício humano, e (4) a carta de Jefté aos

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amonitas mostra que ele conhecia a lei, pois ela era a fonte da história que ele citou. Mas e o restante da história? Ele é contado, nas palavras simples da filha adolescente. “Pai meu, abriste tu a tua boca ao Senhor; faze de mim como saiu da tua boca”. Deus tinha sido fiel, ao dar a vitória a Israel. A pe­ quena família de Jefté, e a sua única filha, deveriam ser igualmente fiéis a Ele, seja qual fosse o custo.

des abertas nas quais Sansão matou pessoalmen­ te mil homens (15.1-20). Mas a paixão por Dalila levou Sansão a revelar o segredo da sua força (16.1-17). Ele foi capturado, cegado e forçado a moer grãos para seu inimigo (w. 16-22). A força de Sansão retornou, e ele morreu destruindo um templo filisteu, matando milhares de seus inimigos (w. 23-31).

Entendendo o Texto Aplicação Pessoal “Rogo-te... que nos ensine o que devemosfazer ao me­ A fé verdadeira é mais bem expressa pelo compro­ nino que há de nascer” (Jz 13.1-25). Sansão é uma misso silencioso do que pelo debate erudito. das poucas pessoas nas Escrituras cujo nascimen­ to foi anunciado a seus pais. Ele compartilha esta Citação Importante honra com Isaque, João Batista, e Jesus. “Não devemos atribuir muito valor ao que damos Os pais de Sansão eram israelitas devotos que acre­ a Deus, uma vez que receberemos, pelo pouco que ditaram na predição e pediram que Deus lhes mos­ lhe dermos, muito mais, nesta vida, e na próxima.” trasse como deviam criar seu filho. A sua oração foi — Teresa de Ávila atendida. Sansão devia ser criado como um nazireu — uma pessoa que devia ser consagrada a Deus 24 DE FEVEREIRO LEITURA 55 (veja Nm 6.1-8). Os nazireus não bebiam vinho, SANSÁO não cortavam seus cabelos, e deviam cumprir algu­ Juizes 13— 16 mas outras exigências. E surpreendente que o autor não expresse suas “Sansão julgou a Israel, nos dias dos filisteus, vinte ideias, nesta e em outras histórias do livro de Ju­ anos’’ (Jz 15.20, ARA). izes. Ele simplesmente conta a história, sem mo­ ralizar nem comentar. Mas as histórias falam por Este texto não traz a conclusão, “e a terra sossegou”. si mesmas, particularmente no caso de Sansão. Sansão, embora com toda a sua força física, não Diferentemente de Jefté, Sansão tinha pais devotos teve a força interior necessária para colocar seu e amorosos. Ainda quando era adolescente, “o Es­ povo à frente de seus próprios desejos extremos. pírito do Senhor o começou a impelir” (Jz 13.25). Os muitos defeitos de Sansão dificilmente podem Definição dos Termos-Chave ser atribuídos aos seus pais, ou a Deus. Filisteus. Grandes populações deste povo se assen­ Que consolo para os pais cristãos devotos cujos fi­ taram nas planícies costeiras da Palestina aproxi­ lhos não optaram por seguir a Jesus. Cada mãe ou madamente em 1200 a.C., depois de uma invasão pai atormentado, que olha para trás e se pergunta, malsucedida do Egito. Gradualmente, eles invadi­ “O que foi que eu fiz?” ou “O que foi que eu deixei ram o terreno montanhoso ocupado por Israel, e de fazer?” pode encontrar consolo na história de se misturaram aos israelitas. Israel não conseguiu Sansão. Os pais de Sansão não falharam. As de­ resistir à invasão, em parte porque os filisteus ti­ ficiências que posteriormente destruíram Sansão nham o segredo da fundição do ferro, e tinham estavam nele mesmo. armas superiores a tudo o que Israel possuía. Sansão conduziu uma guerra solitária contra os “Tomai-me esta” (Jz 14.1-20). O desejo de Sansão filisteus, mas jamais ordenou que seu povo resis­ de ter uma esposa filisteia indica a sua fraqueza. A tisse aos invasores. Os filisteus continuaram sendo Lei de Deus proibia o casamento entre o seu povo um inimigo poderoso durante todo o governo de e os povos pagãos (Dt 7.3). Mas Sansão era go­ Samuel e o reinado de Saul, até serem destruídos vernado por seus desejos. A sua paixão por uma por Davi, aproximadamente cem anos depois da mulher, com base meramente na sua aparência, era de Sansão. parecia mais importante para ele do que a vontade expressa de Deus. Assim, apesar das suas objeções, Visão Geral o pai de Sansão tratou do casamento. O nascimento de Sansão foi anunciado pelo Anjo O comentário de que “isto vinha do Senhor; pois do Senhor (13.1-24). Ele insistiu em se casar com buscava ocasião contra os filisteus” provavelmente uma filisteia, mas foi enganado e humilhado nas é uma observação ou um comentário feito por um bodas (14.1-15). A vingança chegou às hostilida­ editor posterior. Mas a observação é válida. Deus

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pode utilizar até mesmo as nossas fraquezas para seus propósitos. Foi provocado um confronto quando Sansão pro­ pôs um enigma que os filisteus desafiados somente poderiam responder ameaçando a sua esposa. O comentário de Sansão de que não o tinha expli­ cado sequer a seu pai ou à sua mãe (Jz 14.16) é interessante. Sendo um nazireu, ele não devia tocar um cadáver. No entanto, ele tinha extraído mel do corpo de um leão que ele tinha matado. O incidente é outra indicação do caráter devoto de seus pais, e das falhas de Sansão.

“Inocente sou esta vez” (Jz 15.1-20). Quando Sansão soube que seu sogro tinha dado sua esposa a outro homem, capturou 300 raposas (e não lo­ bos) e as soltou na seara dos filisteus com tições ata­ dos a suas caudas. Houve a retribuição. Os filisteus queimaram a esposa de Sansão e seu pai, e depois exigiram que os israelitas lhes entregassem Sansão para ser executado. Os israelitas amarraram Sansão, mas depois de ser entregue, Sansão rompeu as cor­ das e, usando uma queixada fresca de um jumento, “feriu com ela mil homens”. O texto esclarece vários aspectos a respeito do pe­ ríodo e da história de Sansão. Em primeiro lugar, a casual brutalidade dos filisteus é vista no fato de terem queimado a esposa de Sansão e seu pai (v. 6). Em segundo lugar, a atitude subserviente dos israelitas é vista no fato de não terem apoia­ do Sansão, e no seu temor aos filisteus, que, dis­ seram eles, “dominam sobre nós” (v. 11). Mas o que é mais revelador são as alusões de Sansão ao seu direito de fazer “algum mal” aos filisteus e de fazer aos filisteus “como eles me fizeram a mim” (w. 3, 11). Este é o mesmo tipo de pensamento que caracterizava os filisteus (v. 10). Sansão não pensou na opressão vivida pelo povo que ele lide­ rava. A sua vingança contra os filisteus era pessoal. Sansão odiava os filisteus, não pelo que eles ti­ nham feito ao seu povo, mas pelo que eles tinham feito a ele, pessoalmente. Deus usou o egoísmo de Sansão para “começar a livrar a Israel da mão dos filisteus” (13.5). Mas o próprio Sansão se revela como uma pessoa superficial, sem a profundidade espiritual nem a preocupação com os outros, que assinalam os que são verdadeiramente devotos. “E te daremos cada um mil e cem moedas de prata.” (Jz 16.1-21). O pagamento combinado de qua­ se 68 quilos de prata era uma grande soma para aquela época. Dalila estava tão ansiosa para obter

As passagens das portas das cidades antigas eram cuidado­ samente construídas para evitar o acesso de pessoas inde­ sejáveis. As próprias portas eram maciças, normalmente reforçadas com metal. Sansão não somente derrubou as portas de Gaza, que pesavam muitas centenas de quilos, mas as levou “ao cume do monte que está defronte de Hebrom”, a 61 quilômetros de distância!

o dinheiro, quanto Sansão estava para obtê-la! Ne­ nhum dos principais personagens desta história merece admiração. Cada um deles exibe fraquezas muito humanas, das quais você e eu devemos nos guardar.

“Foram mais os mortos que matou na sua mor­ te” (Jz 16.23-31). A oração final de Sansão su­ gere que ele pouco tinha aprendido durante a sua vida, pois a sua preocupação ainda é com a vingança, desta vez, disse ele, “pelos meus dois olhos” (v. 28). O templo ao qual Sansão foi levado provavel­ mente estava edificado de acordo com uma plan­ ta comum a estruturas deste tipo naquela épo­ ca. Sendo assim, a maioria dos filisteus estaria reunida no telhado, que era apoiado por mui­ tas colunas. Alguns entendem que a multidão, inclinando-se para ver o herói cativo, poderia ter contribuído para tornar a estrutura instável, de modo que, quando Sansão abraçou as colunas, o templo veio abaixo. “Foram mais os mortos que [Sansão] matou na sua morte do que os que matara na sua vida”. Que diferença entre este epitáfio e o de outros juizes, que comumente era: “E a terra sossegou”. Sansão matou os inimigos de Israel. Mas este va­ rão forte, moralmente fraco, não conseguiu a paz para o seu próprio povo, nem para si mesmo.

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DEVOCIONAL_________

Agora, ou Nunca? (Jz 16) A história de Sansáo e Dalila é uma das mais co­ nhecidas das Escrituras. A paixão de Sansáo por Dalila é lendária, assim como é a traição dela, por dinheiro. Porém, quando lemos a história, nós nos lembra­ mos mais de crianças do que de adultos. Sansão e Dalila, cada um deles queria desesperadamente o que desejava... agora. Lendo a história, nós nos sur­ preendemos que Sansão continuasse voltando para Dalila quando ela disse, e tão claramente mostrou, a sua intenção de traí-lo. Mas a paixão de Sansão era tão dominante que ele não se preocupou com o futuro. A sua única preocupação era que o seu desejo fosse satisfeito agora. Nós nos espantamos com a cegueira de Sansão. É muito mais fácil ver uma falha em alguém do que em nós mesmos. Com que frequência nós toma­ mos decisões porque queremos alguma coisa agora, sem considerar o futuro? Com que frequência as nossas escolhas são feitas simplesmente com base na nossa vontade, sem que paremos para conside­ rar a vontade de Deus? Sansão nos lembra de que nós, adultos, não pode­ mos adotar a perspectiva de vida de uma criança, e não podemos ser controlados por nossas paixões e desejos.

Contexto O material contido nestes últimos capítulos do li­ vro de Juizes não é datado. Ele não é associado a nenhum juiz específico. Em vez disso, trata-se de um material de “retratos de vida”: seções transver­ sais extraídas deste período, para revelar as con­ sequências religiosas, pessoais e sociais do fato de Israel ter deixado de servir a Deus. Estas histórias exemplificam o preço que as pessoas comuns paga­ ram pela apostasia da nação. Visão Geral Um efraimita, chamado Mica usou prata roubada para fazer um ídolo, e recrutou um levita para ser­ vir como sacerdote da família (17.1-13). O levita e o ídolo foram levados por danitas que procu­ ravam terra onde habitar. Eles estabeleceram um centro de adoração no norte, que competiu com o Tabernáculo durante esta era (18.1-31). Quando homens de uma cidade de Benjamim violentaram e mataram a concubina de um levita, irrompeu a guerra civil entre as outras tribos, praticamente eli­ minando a tribo de Benjamim (19.1— 21.25).

Aplicação Pessoal Na escolha entre o agora e o nunca, o nunca é fre­ quentemente melhor. Citação Importante “O amor desenfreado da carne é crueldade, porque, sob a aparência de agradar o corpo, nós matamos a alma.” — Bernard de Clairvaux 25 DE FEVEREIRO LEITURA 56 RESULTADOS DA APOSTASIA Juizes 17—21

“Naqueles dias, não havia rei em Israel, porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos" (Jz 21.25). Os livros de história raramente fornecem tanta in­ formação sobre um período como o fazem as his­ tórias dos homens e mulheres que viveram então. Em três breves retratos de vida, o autor do livro de Juizes nos mostra quão realmente sombria era esta época.

Entendendo o Texto “Agora sei que o Senhor me fará bem” (Jz 17.1-13). A simples história de Mica e seu ídolo retrata as consequências religiosas do período. As mais claras e mais importantes exigências de Deus tinham sido distorcidas ou perdidas. Sob a Lei de Deus, (1) era proibido fazer ídolos, (2) somente os descendentes de Arão deviam servir como sacerdotes, (3) os sacrifícios deviam ser feitos somente no Tabernáculo, (4) e a bênção era um resultado da obediência, e não da observância aos rituais. No entanto, Mica violou cada um destes princípios religiosos básicos — convencido de que as suas ações mereciam a benevolência de Deus! Há algo que talvez seja ainda mais revelador: Mica foi capaz de encontrar um levita disposto a servir como sacerdote para a família. Isso, apesar do fato de que os levitas eram comissionados por Deus a ensinar a sua Lei em Israel. Esta história é contada em primeiro lugar, por uma razão muito simples. A falta de conhecimento de Deus é a causa principal do desmoronamento de uma sociedade inteira.

“E chamaram o nome da cidade Dã” (Jz 18.1-31). A história continua, quando um grupo de danitas que procurava onde habitar passou pela casa de Mica. Este grupo tinha abandonado a terra des­ tinada à tribo, pela pressão de forças estrangei­

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ras. Os danitas ofereceram ao levita de Mica um posto de sacerdote para toda a tribo. Ele aceitou alegremente, e os danitas o levaram, e também aos ídolos de Mica. Indo para o norte, os danitas atacaram uma cida­ de “quieta e confiada”, e ali se estabeleceram. Esta história é significativa. Dã se tornou um impor­ tante local de adoração, e depois que o reino de Salomão foi dividido, em 931 a.C., Dã foi con­ sagrada como um centro oficial de adoração pelo apóstata Jeroboão I. A origem de Dã como centro de adoração se deve, portanto, ao roubo de um ídolo, e ao serviço de um sacerdote não qualificado. Ela conservou esta característica ao longo de sua história. Quando edificamos para o futuro, precisamos ter um sólido alicerce de integridade. “Nunca tal se fez, nem se viu” (Jz 19.1-30). A his­ tória do estupro e do assassinato da concubina de um levita por homens de Benjamim pretende dar a conhecer a situação moral em Israel. Nem um úni­ co participante desta história, e certamente nem o levita, é retratado como uma pessoa justa. “Procederemos contra ela por sorte” (Jz 20.1-48). Quando a tribo de Benjamim se recusou a entregar os homens que tinham violentado e assassinado a concubina do levita, irrompeu uma guerra civil. Sobreviveram apenas 600 homens de Benjamim.

DEVOCIONAL______

Integridade Moral (Jz 19) Alguém disse que as pessoas que vivem em casas de vidro não devem atirar pedras. Jesus esclareceu isso, insistindo que nós devemos ignorar o argueiro do olho de outra pessoa até termos lidado com a trave em nosso próprio olho. Há algo deste tipo, na história da concubina do levita. O levita não desejava passar a noite em uma cidade estrangeira (cananeia). Mas quando parou em uma cidade benjamita, os homens desta cidade recusaram hospitalidade ao casal (v. 18). Mais tarde, eles tentaram fazer dele a vítima de um estupro homossexual (v. 22). Mas o levita fez sair a sua concubina, uma esposa se­ cundária, pela porta. Os benjamitas a violentaram du­ rante toda a noite, e ela morreu pela manhã. Cheio de indignação moral, o levita cortou o corpo dela e enviou partes a todas as outras tribos, pedindo vingança. A ironia, naturalmente, está no fato de que o pró­ prio levita não mostrou preocupação com a sua

Segundo a Lei, a tribo de Benjamim era respon­ sável por entregar os malfeitores, para que fossem punidos. Em vez disso, os benjamitas decidiram protegê-los. Esta história final resume a análise que o autor faz do período. Ele começou com o declínio religioso, passou pelo fracasso moral, e agora nos mostra o impacto de rejeitar a Deus na sociedade como um todo. “Arrependeram-se os filhos de Israel acerca de Benja­ mim” (Jz 21.1-25). Para preservar a tribo de Benja­ mim, as outras tribos forneceram esposas, matando os homens de uma cidade que deixaram de atender à convocação para a guerra, e inventando uma fic­ ção religiosa. As tribos tinham jurado não “dar” esposas a ne­ nhum benjamita. Assim, eles decidiram permitir que os homens de Benjamim, que precisassem de esposas, tomassem e levassem moças que pudessem se casar, que participassem de uma festa religiosa anual. Aqui, vemos a tendência de Israel de romper re­ gras. Não existe neste texto nenhuma sugestão de que o povo apelasse a Deus pedindo orientação. Em vez disso, eles confiaram no tipo de sofisma que ignorava a intenção de enfatizar o que está es­ crito na lei. Este tipo de atitude foi criticado poste­ riormente por Jesus, quando Ele condenou muitos dos fariseus (cf. Mc 7.9-13).

concubina, quando a atirou pela porta em vez de defendê-la, nem na manhã seguinte, quando dis­ se friamente ao seu corpo morto, “Levanta-te, e vamo-nos”. A história é irônica, porque os levitas em Is­ rael deviam servir a Deus. Eles eram, com os sacerdotes, os guardiões estabelecidos da Lei e da moral. Quando um guardião perde toda a sensibilidade moral e abandona os outros, ou os trata como objetos, a sociedade está verda­ deiramente perdida. O erro do levita é uma advertência para nós. Sim, nós precisamos nos levantar contra a in­ justiça e os pecados da nossa sociedade. Mas só poderemos fazer isso estando em uma posição da integridade moral pessoal. Aplicação Pessoal As nossas vidas, mais do que as nossas palavras, de­ vem testemunhar a justiça.

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Citaçáo Importante homem faça alarde sobre o seu conhecimento da “Muitas vezes falamos muitas palavras, mas es­ Lei, se ele minar os seus ensinos com os seus atos.” tamos vazios em termos de ações, e por isso so­ — Antônio de Pádua mos amaldiçoados pelo Senhor, uma vez que Ele O Plano de Leituras Selecionadas continua em mesmo amaldiçoou a figueira quando náo encon­ RUTE trou frutos, mas somente folhas. E inútil que um

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RUTE INTRODUÇÃO O livro de Rute conta a história simples e bela de Noemi, uma mulher hebreia, e sua nora moabita, Rute. A história de Rute e Noemi, cujas circunstâncias se dão nos dias sombrios dos juizes, lembra-nos de que, até mesmo nas piores épocas, os homens e mulheres devotos vivem vidas tranquilas de fé. O livro, provavelmente escrito durante o princípio da monarquia em Israel, é importante, por outras duas razões. Ele examina a linhagem de Davi, um dos descendentes de Rute, e exemplifica o conceito do Antigo Testamento do parente remidor, que, motivado pela lealdade familiar, age para salvar um parente desamparado. Um dia, o Filho de Deus, Jesus Cristo, nascido nesta linhagem familiar, se tornaria verda­ deiramente Homem, para que pudesse ser o parente remidor da humanidade. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Rute Retoma a Israel com N oem i....................................................... II. Rute Colhe Espigas no Campo de Boaz........................................... III. Rute Procura Casar-se com Boaz .................................................... IV. Nasce Obede, Filho de R u te..............................................................

Rt 1.1-22 Rt 2.1-23 .Rt 3.1-18 Rt 4.1-22

GUIA DE LEITURA (1 Dia) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 57

Capítulos 1— 4

Passagem Essencial 2— 3

RUTE 26 D E FEVEREIRO LEITURA 5 7

A HISTÓRIA DE RUTE Rute 1— 4

“A onde quer que tu fores, irei eu e, onde quer que Visáo Geral pousares à noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu Uma fome levou a família de Noemi a Moabe, povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rt 1.16). onde os homens morreram (1.1-5). Uma nora, Rute, retornou a Belém com Noemi (w. 6-22). A história simples e emocionante desta “mulher Rute colheu espigas no campo de Boaz, um pa­ virtuosa” lembra-nos de que, por mais corrupta rente próximo de Noemi. A bondade dele (2.1-23) que uma sociedade possa parecer, ainda podem ser incentivou Noemi a fazer com que Rute procuras­ se um casamento com um parente remidor (3.1encontrados indivíduos devotos. 18). Boaz casou-se com Rute, e seu primeiro filho, Definição dos Termos-Chave Obede, se tornou o avô de Davi, o maior rei de Parente remidor. A palavra em hebraico é ga’al. A Israel (4.1-22). sua raiz quer dizer “agir como um parente”, ou cumprir as obrigações familiares. Na lei do Antigo Entendendo o Texto Testamento, isso incluía, (1) resgatar a terra ven­ “Tornai, filhas minhas, ide-vos embora” (Rt 1.1-15). dida por um parente pobre, para conservá-la na Em Moabe, morreram o esposo e os dois filhos de família (Lv 25.25-28), (2) resgatar um parente da Noemi, deixando-a sozinha e a suas duas noras escravidão (w. 48-55), (3) vingar um assassinato também. O curso normal, em tal situação, seria (Nm 35.10-28), e (4) casar-se com a viúva sem que as viúvas mais jovens se casassem novamente. filhos de um parente, sendo, neste caso, o primo­ De acordo com os costumes, se houvesse um filho gênito considerado filho do parente morto (Dt mais jovem na família do marido, ele poderia to­ 25.5-10). A palavra em hebraico expressa pode­ mar a viúva como sua esposa. Neste caso, a idosa rosamente o sentimento da obrigação de auxiliar Noemi não tinha outros filhos, e assim, nenhum os membros da família sempre que isso seja pos­ futuro a oferecer a nenhuma de suas noras. Mandásível, e tem grandes consequências teológicas. Ao las embora tencionava ser um ato de bondade. se tornar um verdadeiro Homem, um membro É trágico quando, como Noemi, sentimos que nos­ da família humana, Jesus se tornou nosso parente sos melhores anos já passaram, e não temos mais remidor, aceitando a responsabilidade de pagar o nada a oferecer aos outros. No seu luto, Noemi preço pela nossa redenção. Hebreus 2.14,15 diz: honestamente se sentia desta maneira. Mas uma de “Visto como os filhos participam da carne e do suas noras discordava. sangue, também ele [Jesus] participou das mes­ mas coisas, para que, pela morte, aniquilasse o “Não me instes para que te deixe”(Rt 1.16-22). Uma que tinha o império da morte... e livrasse todos os das noras, Rute, via mais em Noemi do que a pró­ que, com medo da morte, estavam por toda a vida pria Noemi via. Talvez Rute sentisse em Noemi sujeitos à servidão”. uma fé de que a própria Noemi tivesse se esqueci-

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do. De qualquer forma, Rute assumiu um compro­ misso — com Noemi, e com o Deus de Noemi. Isso reflete o processo pelo qual homens e mulhe­ res, hoje, frequentemente encontram seu relacio­ namento pessoal com Deus. Os indivíduos são atraídos a um cristão, ou a cristãos, e por meio de­ les, vêm a conhecer a Cristo. Bárbara, uma jovem mãe, explicou como se tornou cristã. Ela tinha me ouvido falar em uma igreja, e achou interessante. Assim, ela veio para o nosso pequeno grupo de es­ tudo bíblico, e, disse ela, “encontrei pessoas que realmente me amavam”. A princípio, Bárbara se sentiu um pouco estranha, percebendo que não era “uma verdadeira cristã”. Mas ela foi aceita e amada mesmo assim, e depois de alguns meses, recebeu a Cristo como seu Salvador pessoal. Quando compartilhamos nossas vidas com outras pessoas, mesmo quando estamos enfrentando pro­ blemas, como estava Noemi, alguma coisa sobre a realidade do nosso relacionamento com Deus res­ plandece e atrai outras pessoas ao Senhor.

“Não é Boaz... de nossa parentela?” (Rt 3.1-18). O gentil tratamento que Boaz dispensou a Rute en­ tusiasmou Noemi. Sendo parente, Boaz estava em posição de desempenhar o papel de parente remidor. Isso envolveria casar-se com Rute, trabalhar na terra da família, que teria sido herdada pelo filho de Noemi, que morrera, e dar a Rute um filho que daria continuidade à linhagem do marido de Noe­ mi. Subitamente, parecia a Noemi que ela teria um futuro, afinal! Noemi, então, instruiu Rute a ir até à eira de Boaz, à noite, e “descobrir-lhe os pés, e deitar-se”. Rute seguiu estas instruções. Quando Boaz acor­ dou, ela lhe pediu “estende, pois, tua aba sobre a tua serva”. O significado exato desta expressão e o significado de descobrir os pés de Boaz se perderam no tempo. Alguns opinam que os pés foram descobertos para que ficassem frios, assim despertando Boaz. Boaz interpretou o pedido de ser coberta pela aba como uma proposta de casamento. Não existe aqui suges­ tão de imoralidade nesta parte da história, embora, “Não vãs colher a outro campo” (Rt 2.1-23). A lei nas religiões pagãs, a eira possivelmente fosse asso­ Mosaica obrigava os proprietários de terras a dei­ ciada com ritos de fertilidade. xarem aquela parte da colheita que caísse ao chão, ou que ainda não estivesse madura, para os pobres. “Também tomo por mulher a Rute, a moabita" (Rt O nome dado ao trabalho de ajuntar as sobras no 4.1-11). Por haver um parente mais próximo na campo de outra pessoa era “colher”. cidade, Boaz tinha que oferecer a ele a primeira Como Noemi e Rute não tinham outros meios oportunidade de servir como parente remidor. de sustento, Rute saiu, para colher, em um cam­ Levítico 5.48-55 sugere que a ordem do relacio­ po próximo a Belém. O proprietário era Boaz, que namento passava dos irmãos aos tios, depois aos tinha ouvido falar sobre Rute e a sua lealdade com sobrinhos. E impossível saber o parentesco exato Noemi. Ele não somente a recebeu em seus cam­ de Boaz ou do outro candidato. pos, como disse a seus lavradores que deixassem Quando o outro homem soube que resgatar a alimento extra no chão para ela. terra da família envolvia o casamento com Rute, A bondade de Boaz e a sua óbvia confiança em recusou-se a fazê-lo. Tomar a terra e também Rute Deus (v. 12) sugerem que ele era o tipo de pessoa significaria, em primeiro lugar, pagar quaisquer dí­ que Deus desejava que cada israelita se tornasse, vidas da terra, sustentar Rute como sua esposa, e quando deu a lei a Israel. Boaz, mais que qualquer depois dar a terra ao filho que ela pudesse gerar. O outra pessoa nesta história, recorda-nos de que até custo parece ter sido maior do que o outro parente mesmo em sociedades pecadoras podem ser encon­ estava disposto a pagar. Mas Boaz, que admirava trados indivíduos devotos. Rute e a desejava como sua esposa, estava disposto Mas Boaz era incomum para esta época? O seu avi­ a pagar qualquer custo para tê-la. so aos seus lavradores para que não tocassem (vio­ O comunicado público de que estava exercendo o lentassem) Rute, e a sua advertência a ela, para que direito de parente remidor e tomando Rute como não fosse colher em outro campo, lembram-nos de sua esposa era tudo o que era exigido, naquela épo­ que a história tem lugar no tempo dos juizes, quan­ ca, para constituir casamento. A história apropria­ do “cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos” damente termina aqui, com os cumprimentos e vo­ (Jz 21.25). Boaz era uma exceção, um homem de­ tos de felicidade oferecidos pelos anciãos da cidade, voto, numa época em que a impiedade era a regra. e outros habitantes (Rt 4.11,12). Que incentivo para nós. Não importa o que os ou­ tros, à nossa volta, possam fazer; você e eu ainda “Ele te será recriador da alma” (Rt 4.13-18). Com o poderemos seguir ao Senhor. Nós não temos que tempo, Rute teve um filho, e naquele filho encon­ nos render às más influências na nossa sociedade. E trou consolo e esperança. De certa forma, como nem nossos filhos! o filho era considerado prole do próprio filho de

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Rute 1—4

O amor de Rute, tão valioso quanto um filho nos braços, é que foi capaz de renovar a vida de Noemi. Que grande presente nós damos aos outros, quan­ do os amamos. O amor ainda é capaz de levantar uma pessoa desalentada como Noemi, e renovar a sua vida.

Noemi, ele era neto de Noemi; uma indicação de que a vida continuava, e de que Noemi não seria esquecida. No entanto, mais comovedor é o elogio que as mu­ lheres de Belém fizeram a Rute. Em uma época em que ter filhos era a coisa mais importante na vida da maioria das mulheres, as mulheres de Belém po­ diam admirar “tua nora, que te ama...” e que “te é melhor do que sete filhos”.

DEVOCIONAL______

A Escolha Correta (Rt 2— 3) “Eu fiquei assustada”, disse Carrie ao conselheiro. “Eu me dei conta de que os homens que eu namo­ rava eram como o meu primeiro marido, que bebia demais, e me batia”. Os conselheiros reconhecem o problema. Homens e mulheres se veem atraídos a relacionamentos que não são saudáveis. Eles não param para analisar o que realmente desejam no casamento, ou por que acham tão atraente o tipo errado de pessoas. No entanto, provavelmente não existe nenhuma es­ colha mais importante, que qualquer pessoa possa fazer, do que a de um cônjuge. E não existe um livro mais útil, na escolha de um cônjuge, do que o livro de Rute. A primeira impressão que Rute teve de Boaz foi a da sua bondade. Até mesmo uma leitura apressada de Rute 2 mostra que Boaz era bondoso, em pala­ vras e atos. Ele era generoso, devoto e sensível aos sentimentos de Rute (cf. w. 15,16). Embora Noe­ mi ficasse impressionada pela capacidade de Boaz de propiciar um lar e segurança, sem dúvida, as qualidades pessoais de Boaz emocionaram Rute. Boaz abençoou Rute pelo seu interesse por ele, em­ bora ele fosse mais velho do que ela. Rute mostrou lealdade com a família, procurando um parente remidor, e a lealdade familiar era muito valorizada em Israel. Boaz também soube que Rute era uma “mulher virtuosa”. A palavra “virtuosa”, aqui, é um termo forte, que sugere mais do que bom caráter. Rute era considerada uma mulher ideal por toda a

comunidade, que tinha ficado impressionada com suas muitas qualidades. Assim, Rute foi atraente para Boaz, não somente por sua juventude e beleza, mas pelo tipo de pessoa que ela era. Neste caso, as duas pessoas escolheram sabiamen­ te — e a prudência de suas escolhas se reflete no caráter de seu bisneto, Davi. Observe como nós, os cristãos de nossos dias, pre­ cisamos basear a nossa escolha de um cônjuge em critérios semelhantes aos que foram usados por Rute e Boaz. As coisas superficiais enfatizadas no romance moderno — aparência, estilo, riqueza e talentos sociais — não são a base para um com­ promisso que deve durar a vida toda, que é o ca­ samento. Aplicação Pessoal Nós precisamos ser cuidadosos ao estabelecer qual­ quer relacionamento de longa duração. Citação Im portante “Não pode haver um fiel e verdadeiro aprendizado de Cristo quando não estamos dispostos a desapren­ der. Por herança, por educação, por tradição, nós estabelecemos ideias sobre a vida, e eles, frequen­ temente, são grandes obstáculos para que vivamos a verdade. Conhecer a Cristo exige a disposição de submeter cada valor que tenhamos à sua inspeção, para censura e correção.” — Andrew Murray O Plano de Leituras Selecionadas continua em HEBREUS

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1 SAMUEL INTRODUÇÃO Os livros de 1 e 2 Samuel eram originalmente um único livro no cânone hebreu. Juntos, eles fornecem a história completa da transição de Israel, de um grupo de tribos levemente aparentadas, governadas por juizes, a uma monarquia unida e poderosa. O período abrangido é de aproximadamente 120 anos, de 1050 a 931 a.C. 1 Samuel examina o surgimento da monarquia por meio da história de três homens. Samuel serviu como o último juiz de Israel. Ele ungiu o primeiro rei de Israel, Saul. Quando Saul provou não ter disposição para obedecer aos mandamentos de Deus, Samuel, secretamente, ungiu Davi, para sucedê-lo. A ascensão de Davi, depois que matou Golias, e a perseguição sofrida por parte de Saul, são relatadas neste livro, que contém muitas histórias favoritas e familiares da Bíblia. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. O Ministério de Samuel....................................................................................................................1 Sm 1— 7 II. O Governo de Saul.........................................................................................................................1 Sm 8— 15 III. A Ascensão de Davi....................................................................................................................1 Sm 16— 31 GUIA DE LEITURA (8 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 58 59 60 61 62 63 64 65

Capítulos 1— 3 4— 7 8— 12 13— 15 16— 17 18— 20 21— 25 26— 31

Passagem Esse 1 6— 7 10— 11 15 17 18 24 27

1 SAMUEL 27 D E FEVEREIRO LEITURA 58

OS MELHORES DONS 1 Samuel 1— 3

“Todo o Israel... conheceu que Samuel estava confir­ lização. A sua dor é a mesma experimentada por mado por profeta do Senhor” (1 Sm 3.20). cada pessoa que se sente inútil e um fracasso. No caso de Ana, a sua ferida era mantida aberta, pela Quando você ou eu sentirmos a frustração ou a de­ constante provocação de Penina, a segunda esposa de seu marido, que tinha vários filhos e sentia um pressão, a história de Ana poderá nos ajudar. prazer perverso em atormentar Ana por causa da Contexto sua esterilidade. Samuel nasceu na época dos Juizes. Durante a Durante anos, Ana chorou diante do Senhor quan­ maior parte da sua vida, o seu povo esteve limita­ do a família comparecia às festas religiosas, obser­ do à região montanhosa de Israel pelos poderosos vadas regularmente em Siló, onde o Tabernáculo filisteus, na costa, e pelos amonitas, do outro lado esteve durante grande parte da era dos juizes. Fi­ do Jordão. Estes primeiros capítulos que falam da nalmente, Ana fez uma promessa — uma promessa infância de Samuel, se concentram em importantes de que, se Deus lhe desse um filho, ela o entregaria influências formativas sobre aquele que se tornou o para que ele servisse a Deus no Tabernáculo. último juiz e o mais importante profeta, desde os Há muitas lições a aprender deste curto capítulo. As biografias de muitos líderes cristãos falam de dias de Moisés. mães que, antes mesmo de engravidarem, entrega­ vam seu futuro filho ao Senhor. Muitos anos de­ Visão Geral Ana prometeu dedicar seu filho ao serviço de Deus pois que iniciei o meu ministério, minha própria se Ele lhe possibilitasse dar à luz (1.1-20). Depois mãe contou-me como tinha feito uma dedicação de Samuel ter sido desmamado, ela cumpriu o seu similar — e deu continuidade a ela, com uma vida voto (w. 21-28), expressando a sua alegria em uma de orações, para que minha irmã e eu pudéssemos das mais belas orações das Escrituras (2.1-11). Sa­ servir a Deus. Nós devemos muito às mães devotas muel cresceu sob a orientação do sacerdote, Eli, que veem os seus filhos como presentes de Deus, cujos próprios filhos eram maus (w. 12-26) e fo­ que devem ser devolvidos a Ele. ram julgados por Deus (w. 27-36). Por outro lado, Outra lição é encontrada no alto custo da promessa Samuel exibia uma prontidão em ouvir a Deus que Ana fez. Ter um filho era o desejo mais profun­ (3.1-18) e logo foi reconhecido por Israel como do de Ana. No entanto, ela estava disposta a abrir profeta (w. 19-21). mão deste tesouro, caso lhe fosse dado. Frequente­ mente, você e eu devemos entregar mentalmente a Entendendo o Texto Deus o que mais desejamos, antes que estejamos “Com amargura de alma, [Ana] orou ao Senhor e preparados para recebê-lo. chorou abundantemente” (1 Sm 1.1-20). Ana era Samuel, o filho de Ana, cresceu e se tornou um uma mulher sem filhos, em uma sociedade que dos maiores profetas do Antigo Testamento, e cer­ considerava o fato de gerar filhos como uma rea­ tamente o maior dos juizes. Como Ana deve ter se

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sentido orgulhosa ao ver que, à medida que Samuel crescia, “todo o Israel... conheceu que Samuel estava confirmado por profeta do Senhor”. Como é sábio entregar os nossos bens mais preciosos nas mãos de Deus. Ele é muito mais capaz do que nós, de usá-los para a sua glória, e para a nossa completa realização pessoal. “Lá fique para sempre” (1 Sm 1.21-28). Os filhos hebreus normalmente desmamavam aos três ou, até mesmo, aos quatro anos de idade. Assim sendo, Ana teve Samuel nestes preciosos anos de infân­ cia. A resposta de Elcana ao anúncio de sua esposa, de que iria apresentar Samuel ao Senhor, é signi­ ficativa. De acordo com a lei dos votos (Nm 30), um marido podia anular o voto da esposa, quando o ouvisse. Aqui, Elcana confirma o voto de Ana: “Faze o que bem te parecer a teus olhos”. Ana precisava de um marido devoto e compreen­ sivo, pois os filhos eram bens que tinham até mes­ mo um elevado valor econômico no antigo Israel. Como é importante que um marido e uma esposa compartilhem de um compromisso comum com Deus. Deus nos aconselha a não nos casarmos com pessoas que não tenham a mesma fé que temos; o objetivo desta atitude não é nos negar algum pra­ zer. Esta regra é um preceito sábio e amoroso, que tem o propósito de nos dar lares unidos e felizes. “O meu coração exulta” (1 Sm 2.1-10). Nós pode­ mos imaginar a angústia de Ana, quando se aproxi­ mava do Tabernáculo de Siló, de mãos dadas com o pequeno Samuel, sabendo que deveria deixá-lo ali e retornar sozinha para casa. No entanto, depois de ter entregue o filho, Ana repentinamente se en­ controu cheia de alegria! O Espírito Santo de Deus tinha preenchido o vazio que ela temia. Haveria momentos de solidão à frente. Certamente, Ana sentiria falta de seu filhinho. Mas este cântico de louvor, em que Ana contemplava a grandeza de Deus, é testemunho do consolo que ela encontrou na sua fé. Um consolo que também está disponível para você e para mim. Nós vemos que Deus também consolou Ana de uma maneira prática. Ela via seu filho nas festas religiosas anuais. E Deus deu a ela mais três filhos e duas filhas (v. 21). E bom lembrar que não pode­ mos jamais superar a Deus em termos de doação.

cendentes de Arão. Desta maneira, os filhos de Eli serviam no sacerdócio, como seu pai tinha servido. Mas, embora Eli fosse devoto, seus dois filhos eram “filhos de Belial”. Eles tratavam a oferta do Senhor “com desprezo”, violando as regras dos rituais (w. 12-17), e usavam a sua posição para seduzir mulhe­ res que vinham adorar (v. 22). Os dois ignoraram a repreensão de seu pai. Apesar do exemplo deles, Samuel decidiu seguir o exemplo de Eli, e “ia cres­ cendo e fazia-se agradável... para com o Senhor”. Samuel e os filhos de Eli cresceram próximos ao lo­ cal de adoração de Israel. Mas somente Samuel per­ cebeu a realidade de Deus, e viveu na sua presença. Ir à igreja pode ser uma experiência sem nenhum significado para nós também, a menos que com­ preendamos que vamos, junto com outros crentes, sentir a presença de Deus, e adorá-lo. “Por que... honras a teus filhos mais do que a mim?" (1 Sm 2.27-36). O profeta que confrontou Eli pre­ disse a morte de seus dois filhos, “no mesmo dia”. Ele fez esta pergunta ao velho sacerdote. Mas nós podemos nos perguntar, o que mais poderia Eli ter feito? A resposta é amarga. Eli certamente conhecia as histórias de outros sacerdotes que tinham tratado com desprezo o altar de Deus, e tinham sido mor­ tos pelo Senhor (cf. Nm 16). Eli poderia pelo me­ nos ter tirado seus filhos do sacerdócio. Na melhor das hipóteses, ele teria seguido a antiga lei que per­ mitia que os pais, cujos filhos fossem incorrigíveis, os acusassem perante os anciãos, com a pena de morte, caso considerados culpados (Dt 21.18-21). A falta de ação de Eli mostrou que honrava seus filhos mais do que honrava a Deus, a quem seus filhos tratavam com desprezo. Há ocasiões em que os pais devem se posicionar do lado contrário dos seus filhos. Uma mãe ou um pai, que constantemente intervém para ajudar seus filhos a evitar as consequências de seus maus atos, os condena. E o mesmo caso da falta de ação de Eli contra os seus filhos, que tornou a morte de­ les inevitável. O ditado, “O sangue é mais espesso do que a água”,1 deve ser equilibrado por outro: “Aquilo que é certo é mais importante do que o relacionamento”.

“Fala, porque o Teu servo ouve” (1 Sm 3-1-21). A palavra “ouvir”, em hebraico, é muito significativa. “Eram, porém, osfilhos de Eli filhos de Belial” (1 Sm “Ouvir (a mesma palavra em hebraico) implica não 2.12-26). O sacerdócio em Israel era hereditário, somente o ato físico, mas também processar e rea­ um papel a ser desempenhado somente pelos des­ gir ao que é dito”. Assim, quando o salmista pede a ‘N. do E.: Este ditado significa que a família deve ser o mais importante.

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continuaram pecando. Foi a disposição de Samuel em “ouvir” que o fez adequado para ser um instru­ mento de Deus em um período crítico da história sagrada. Não há nada mais importante, para alguém que deseja ser usado por Deus, do que adotar a atitude de Samuel: “Fala, porque o teu servo ouve”.

Deus “ouve a minha oração”, ele está pedindo que Deus aja. E quando Samuel disse a Deus, “o teu servo ouve”, estava expressando a sua prontidão em responder a tudo o que Deus dissesse. Aqui o autor destaca o contraste entre a atitude de Samuel com relação a Deus, e a atitude dos filhos de Eli, que “não ouviram a voz de seu pai”, mas

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O nde Procurar Consolo (1 Sm 1) Eu acho fácil sentir-se como Ana, tão desanimada e deprimida pelo que teria parecido um fracasso total. Eu suspeito que todos nós tenhamos nossos momentos de depressão. Momentos em que a vida parece sombria e vazia, como se todos os resultados fossem maus. Com Ana, a situação havia ultrapassado os limites. A dor era tão grande que o seu coração tinha se tor­ nado amargo. Na sua amargura, o alimento perdeu todo o atrativo, e ela era incapaz de comer (v. 7). No caso de Ana, o problema foi resolvido quando ela fez sua promessa a Deus, e o Senhor atendeu à sua oração. Para alguns de nós, a resposta não vem tão rapidamente. Ou, às vezes, nunca. Assim, é importante saber onde procurar consolo durante os momentos amargos. A resposta é vista na descrição que o texto faz de Elcana, marido de Ana. A Bíblia diz que “ele a amava”. Em vez de censurá-la por não gerar filhos, Elcana tentava consolá-la, dizendo, “Não te sou eu melhor do que dez filhos?” Está claro que, apesar do que Ana sofria, o seu marido era uma bênção constante e presente. E aqui que você e eu devemos encontrar consolo, enquanto esperamos que Deus alivie a nossa dor. Não em uma esposa ou em um marido amoroso. Mas em quaisquer bênçãos presentes que Deus possa nos dar. Precisamos nos concentrar nas boas coisas, pois nelas encontramos evidência de que Deus não nos abandonou. Nelas, encontramos evi­ dência de que somos amados, ainda que possamos sentir desespero. Concentrar-se nas boas dádivas de Deus não re­ moverá a dor imediatamente. Mas pode torná-la suportável. E, com o tempo, recebamos ou não o que desejamos, a consciência do amor de Deus irá nos sustentar e nos levará a sentir alegria.

Citação Im portante “Qual é o mandamento associado a receber aquilo que o nosso coração deseja? ‘Deleite-se’. A expres­ são ‘deleitar-se’ significa ser brando e maleável. Nós poderíamos dizer: ser moldável e educáveí. O signi­ ficado é mais do que se sentir feliz ou entusiasmado a respeito de Deus.” — Earl D. Wilson 28 D E FEVEREIRO LEITURA 59 A ARCA PERDIDA 1 Samuel 4— 7 “Deus veio ao arraial” (1 Sm 4.7). Nós jamais devemos julgar os símbolos da nossa fé como sendo realidade. No entanto, para muitas pessoas, os símbolos são importantes. Definição dos Termos-Chave A Arca do Concerto, ou Testemunho. A Arca era o objeto mais sagrado na religião de Israel. Este ob­ jeto, com a forma de uma caixa, revestido de ouro, continha recordações do Êxodo — particularmente as tábuas de pedra que continham os Dez Man­ damentos, e um vaso de maná. Dois querubins de ouro foram colocados sobre a sua tampa, com suas asas cobrindo o seu centro, onde, todos os anos, o sumo sacerdote espargia sangue dos sacrifícios, no Dia da Expiação. A arca, que simbolizava a presença de Deus entre o seu povo, devia ser conservada no santuário mais interior do Tabernáculo. O ato dos filhos de Eli, removendo-a, mostrava tanto o seu desprezo pelos mandamentos de Deus quanto um respeito supersticioso pela arca, como um símbolo.

Visão Geral Os filisteus mataram os dois perversos filhos de Eli em batalha, e capturaram a Arca do Testemunho (4.1-22). Pragas assustaram os filisteus e os fizeram devolver a arca (5.1-21). Aproximadamente 20 anos Aplicação Pessoal depois, Samuel conduziu Israel de volta a Deus (7.1Deus dá boas dádivas a todos. Tudo o que preci­ 6). Deus, então, ajudou os israelitas a obter uma vi­ samos é a sabedoria para reconhecê-las, e a graça tória esmagadora contra os filisteus em Mispa, e os para apreciá-las. protegeu durante toda a vida de Samuel (w. 7-17).

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Nós podemos nos orgulhar da beleza de nossas igrejas ou catedrais. No entanto, a verdadeira glória de Deus não se encontra nelas, mas no seu amor e na sua graça. “O Senhor... os assolou... e osferiu com hemorroidas” (1 Sm 5.1— 6.21). Quando a Arca de Deus foi co­ locada no templo de Dagom, um deus filisteu, o ídolo caiu diante da Arca. Até mesmo um símbolo de Deus é maior do que os deuses dos pagãos. Muitos acreditam que os “tumores” (ARA) que Deus enviou eram realmente hemorroidas. Que conveniente que os filisteus não pudessem nem mesmo se sentar confortavelmente na presença da Arca de Deus! Por fim, os filisteus concluíram que o Deus de Israel causou o seu desconforto, e devolveram a Arca. Durante vinte anos, ela permaneceu como propriedade de um homem chamado Abinadabe. “Porquanto olharam para dentro da arca do Senhor” (1 Sm 6.19). Quando os israelitas olharam para Os arqueólogos recuperaram muitos artefatos filisteus dentro da Arca com curiosidade, Deus os feriu. que mostram um elevado nível de cultura material, e Por quê? Os dois filhos de Eli tinham demonstra­ desenvolvimento artístico. Os filisteus eram muito su­ do um desprezo a Deus, ao ignorarem as regras periores aos israelitas em suas habilidades, porém muito que Ele havia determinado para a condução da inferiores em termos de religião. adoração. Estes homens demonstraram desprezo por Deus ao tratarem a Arca, um objeto sagrado, Entendendo o Texto como se fosse um objeto comum. Embora o sím­ “Deus veio ao arraial” (1 Sm 4.1-11). A reação dos bolo não seja a realidade, os símbolos daquilo que filisteus, quando a Arca foi trazida ao acampamen­ é sagrado devem ser tratados com respeito. to dos hebreus, nos informa sobre a sua religião. Eles adoravam ídolos, e supuseram que o Deus de “Os filhos de Israel... serviram só ao Senhor” (1 Sm Israel também era um ídolo. O que é mais impor­ 7.1-6). Quando Samuel atingiu a idade adul­ tante, no entanto, é a reação de Israel. O povo de ta, ele pôde conduzir Israel de volta ao Senhor. Deus gritou de alegria, pois eles também acredi­ Samuel foi reconhecido como um porta-voz de tavam que o próprio Senhor se identificasse com Deus (3.20). Quando ele prometeu que Deus este objeto. libertaria o seu povo da opressão dos filisteus, o Nós podemos valorizar símbolos do que é sagrado. povo creu nele. Mas jamais devemos confundir estes símbolos com As vezes, somente o sofrimento nos impulsiona a Deus, ou confiar neles como se fossem o próprio retornarmos a Deus. Se isso for necessário, Deus Deus. Como Jesus nos ensinou: “Deus é Espírito, e nos abençoará com sofrimento. importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.24). “O Senhor lhe deu ouvidos” (1 Sm 7.7-17). Quan­ do os filisteus atacaram uma convocação religiosa “Foi-se a glória de Israel” (1 Sm 4.12-22). Na bata­ em Mispa, Israel lhes resistiu, enquanto Samuel lha, os filhos de Eli foram mortos, e a Arca, cap­ orava. A Bíblia diz que o Senhor respondeu ao turada. A perda da Arca era um desastre, mas não seu servo. Samuel tinha ouvido a Deus durante porque fosse um “deus”. A Arca era o único lugar toda a sua vida. Agora, Deus o ouvia. A obediên­ onde o sangue podia ser espargido no Dia da Ex­ cia à Palavra de Deus lança um bom alicerce para piação, para purificar Israel do pecado. A verdadei­ a oração. ra glória de Deus, exibida na sua bondade e no seu O texto nos diz que Samuel julgou (“governou”) amor perdoador, tinha verdadeiramente deixado Israel todos os dias da sua vida. Durante este perí­ Israel. O povo de Deus não tinha como se aproxi­ odo, a força israelita cresceu, e, por fim, eles con­ mar do Senhor, para encontrar perdão. seguiram expulsar os filisteus de suas terras.

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Os Símbolos e a Realidade (1 Sm 6— 7) A Arca de Deus era o símbolo que Ele havia esco­ lhido para a sua presença com Israel. A Arca não era Deus. Ele não habitava nela. Mas, de uma ma­ neira real, ela o representava. Como tal, o símbolo devia ser tratado com respeito. Quando os filisteus vitoriosos levaram a Arca para o templo de seu deus, eles a viram como um troféu. Ali colocada, a Arca simbolizaria a superioridade da sua divindade sobre o Deus de Israel. Em lugar disso, o ídolo de Dagom, caído e quebrado, provou que somente o Senhor é verdadeiramente Deus. Quando uma praga de hemorroidas irrompeu nas cidades dos filisteus, eles souberam o motivo. O Deus de Israel era tão santo que os filisteus não po­ diam sequer sobreviver à presença de um símbolo que o representava. Quando a Arca retornou, Deus feriu muitos do seu próprio povo, aqueles que olharam para dentro dela com curiosidade, tratando-a como se fosse um objeto comum e não algo consagrado e sagrado. Cada um destes eventos nos ajuda a compreender aqueles que hoje em dia dão importância aos sím­ bolos cristãos. Os vitrais, as igrejas, os órgãos, as cruzes, os rituais, os presépios cristãos, e até mesmo os santuários à beira das estradas, não devem ser identificados com Deus, como se Ele estivesse pre­ sente neles. No entanto, cada um deles serve como um símbolo daquilo que é sagrado. Cada um de­ les pode fazer os crentes se lembrarem de Deus, e, através desta lembrança, convidá-los à adoração. Você e eu não confiamos nos símbolos na nossa adoração, sabemos que não são necessários, e en­ tendemos que são um obstáculo à verdadeira ado­ ração. Mas a Arca de Deus, que era sagrada na era do Antigo Testamento, lembra-nos de que Deus fala a algumas pessoas por meio de símbolos. E quando Ele o faz, o símbolo passa a ter alguma utilidade.

em termos da maneira como fazem o seu trabalho diário, e do espírito amoroso que demonstrem dia­ riamente no seu contato com as outras pessoas, é que o cristianismo poderá influenciar esta vida mo­ derna, que é tão pesada, servindo como o fermento de Deus.” — Leslie D. Weatherhead 1 DE MARÇO LEITURA 60 _ O PRIMEIRO REI DE ISRAEL 1 Samuel 8— 12 “Dá-nos um rei, para que nos julgue” (1 Sm 8.6). A história da transição de Israel para uma monar­ quia nos lembra que a raiz dos nossos problemas frequentemente está em nós mesmos. Definição dos Termos-Chave Rei. Na época do Antigo Testamento, os reis con­ trolavam todas as funções do governo — legislati­ va, executiva e judicial. O povo devia total lealdade ao seu governante, e este, por sua vez, protegia o seu povo, liderando-o nas guerras, assim como nos tempos de paz. Da maneira como foi originalmente concebida, Israel era uma teocracia — um povo cujo Rei era Deus. No concerto da Lei do Antigo Testamento, Deus se comprometeu a lutar as batalhas de Israel, e a fazer com que a nação prosperasse. Em retri­ buição, o povo devia obedecer às leis promulgadas pelo seu Monarca, e dedicar-lhe completamente a sua lealdade. O papel do rei nos tempos do Antigo Testamento, e o ensinamento das Escrituras de que o próprio Deus era o Rei de Israel, nos ajudam a ver por que os pedidos de Israel, por um monarca humano, eram, na verdade, uma rejeição ao Senhor.

Unção. O ato de derramar azeite sobre a cabeça de uma pessoa. A unção era um ato simbólico de consagração de pessoas que Deus tinha escolhido para uma função especial, como um sacerdote ou Aplicação Pessoal Aqueles que possuem algum símbolo religioso pre­ um rei. cisam ter a certeza de que estes realmente dirijam Visão Geral os seus pensamentos a Deus. O pedido de Israel por um rei significava rejeição a Citação Im portante Deus (8.1-22). Samuel ungiu Saul particularmente “Está claro que nada que a igreja organizada consi­ (9.1— 10.8), e posteriormente o apresentou pu­ ga fazer através dos seus cultos, por meio de livros blicamente como o escolhido de Deus (w. 9-27). religiosos, pelo rádio ou pela televisão, irá realizar Depois que Saul conduziu Israel à vitória sobre os a mudança necessária. Somente à medida que os amonitas (11.1-11), o povo o confirmou como go­ indivíduos consigam traduzir o seu cristianismo vernante (w. 12-15). Samuel abdicou da liderança

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política, mas aconselhou Israel a obedecer a Deus, e “Ele livrará o meu povo da mão dos filisteus” (1 Sm prometeu orar constantemente por eles (12.1-25). 9.1— 10.8). O texto descreve uma série de even­ tos que deixam claro que o Senhor supervisionou pessoalmente a escolha de Saul. A perda de várias Entendendo o Texto “Constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós... como jumentas levou Saul a uma viagem que o condu­ o têm todas as nações” (1 Sm 8.1-22). Moisés tinha ziu, passo a passo, a Samuel. Deus identificou Saul predito que, um dia, Israel teria um rei (cf. Gn como aquele que Ele desejava que governasse o seu 49.10; Nm 24.17; D t 17.14-20). Mas o motivo povo. Depois que ungiu Saul como rei, Samuel fez pelo qual os anciãos de Israel pediram que Samuel uma série de predições com a intenção de conven­ lhes indicasse um rei era errado. cer aquele jovem relutante de que Deus realmente Deus tinha controlado os filisteus durante todo o o tinha escolhido (10.2-7). longo governo de Samuel como juiz (1 Sm 7.13). Uma pergunta que incomoda os crentes é: Por que Mas os filhos de Samuel, que ele imprudentemente Deus escolheu Saul, tendo em vista os erros poste­ tinha indicado como juizes, aceitaram subornos. riores que este homem cometeu? Deus pretendia Este fato, aliado à idade avançada de Samuel, criou mostrar ao povo os erros que eles cometiam, atra­ uma incerteza sobre o futuro. A necessidade pa­ vés da escolha de um líder imperfeito? De modo receu urgente quando os amonitas se prepararam nenhum. O povo tinha pedido um líder que saís­ para atacar Israel (12.12). Em vez de perguntar a se adiante deles, e fizesse as suas guerras. Quando Deus o que deviam fazer, os anciãos de Israel pro­ Deus ordenou a Samuel que ungisse Saul, o Senhor curaram maneiras pagãs de lidar com o vácuo de li­ lhe disse: “Ele livrará o meu povo da mão dos fi­ derança. Eles pediram um rei “como o têm todas as listeus” (9.16). Deus deu a Israel um rei que faria nações”. Deus enfatizou, para um Samuel visivel­ exatamente o que o povo pediu! mente preocupado, que o pedido era, na verdade, Nós precisamos avaliar cuidadosamente as nossas ora­ uma rejeição a Ele, pois desde o Exodo o próprio ções. O que pedimos é realmente o que necessitamos? Senhor tinha agido como Rei de Israel. O que pedimos é realmente o melhor para nós? Samuel advertiu Israel, mostrando os erros que O que Israel deveria ter pedido era um rei que tivesse havia no sistema pagão. Os reis exigem impostos, um relacionamento íntimo com Deus. Um rei que tomam os mais inteligentes e melhores para servir responderia positivamente a Deus, e que conservaria em suas administrações, e até mesmo transferem as Israel na santa presença do Senhor. O fato de, depois propriedades dos cidadãos a seus auxiliares (8.10- que as imperfeições de Saul foram plenamente reve­ 18). Mas o povo insistiu. Eles queriam desespera­ ladas, o Senhor ter dado ao seu povo um rei como damente ser “como todas as outras nações; e”, dis­ Davi, foi uma grande graça de Deus. seram eles, “o nosso rei nos julgará, e sairá adiante de nós, e fará as nossas guerras” (v. 20). “Vedes já a quem o Senhor tem elegido” (l Sm 10.9Como os antigos israelitas, os cristãos modernos 26). Um dos meios usados no Antigo Testamento podem se precipitar ao buscarem soluções secula­ para determinar a vontade de Deus, era lançar a res. Em tempos de incerteza, nós frequentemente sorte. Outro meio eram o Urim e Tumim — pro­ nos voltamos para o mundo. Há pastores que, por vavelmente pedras preciosas, que indicavam sim terem dificuldades para liderar a igreja, se inscre­ ou não — que eram levadas pelo sumo sacerdote. vem em seminários sobre administração. Missio­ Aqui, um destes meios foi usado para indicar a es­ nários ansiosos por alcançar um mundo perdido colha que o Senhor fez de uma tribo, de um clã, de procuram, nas estatísticas, o melhor método para o uma família e, finalmente, de um indivíduo. crescimento da igreja. Pais desesperados em busca Saul, possivelmente levado por uma modéstia co­ de orientação experimentam a psicologia popular. movedora, ou talvez, pelo medo, foi encontrado Embora cada uma destas coisas possa ser de alguma escondido em meio à bagagem. Ele era uma figura utilidade, cada sistema secular tem as suas desvan­ imponente, “mais alto do que todo o povo, desde o tagens. Mas, o que é mais trágico, cada uma delas ombro para cima”. Com base da altura média dos is­ serve como substituto para maneiras melhores, que raelitas daquele tempo, Saul provavelmente mediria Deus indicou na sua Palavra, para os crentes. entre 1,90 e 2 metros de altura. Saul foi apresentado A insistência de Israel em uma monarquia, a ao povo, e a maioria das pessoas ficou impressionada esta altura de sua história, nos serve como uma pela sua altura, e clamou, “Viva o rei!” advertência. Quando enfrentamos a incerteza, Como Israel, nós frequentemente ficamos impres­ devemos procurar a resposta de Deus, em vez sionados pela aparência. O convite de Israel, “Ve­ de adotarmos as soluções do mundo, e sermos des...”, nos lembra que não devemos julgar pelas “como todos os outros”. aparências, mas procurar a honradez e o caráter.

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“Vamos nós... e renovemos ali o reino” (1 Sm 11.115). O ataque amonita em Jabes-Gileade pode ter sido um desafio direto a Saul, que, como benjamita, podia ter antepassados nesta cidade (Jz 21.916). Saul reuniu Israel e conduziu o povo à vitória. A vitória solucionou quaisquer dúvidas ainda exis­ tentes, e Saul foi confirmado como rei por todo o povo em Gilgal. O tratamento gracioso que Saul dispensou àqueles que, antes, se recusaram a reco­ nhecê-lo, foi notável (1 Sm 11.12,13). Também o foi a humilde atitude de Saul, quando deu o crédi­ to pela vitória “ao Senhor [que] fez um livramento em Israel” (v. 13).

“Assim vós, como o rei que reina sobre vós, seguireis o Senhor, vosso Deus” (1 Sm 12.6-25). Samuel en­ tregou as rédeas do poder político a Saul na con­ gregação pública em Gilgal, embora permanecesse como líder espiritual (cf. v. 23). As suas palavras foram dramáticas. Samuel relembrou o quanto Deus tinha sido fiel quando Israel o considerava governante, e deixou claro que o motivo de Isra­ el, em procurar um rei naquela época, era errado. Para enfatizar isso, Deus enviou trovões e chuvas destruidoras. Como a colheita do trigo ocorre na estação seca em Israel, isto foi considerado como um sinal milagroso, e levou Israel a admitir que o seu pedido por um rei tinha sido um pecado. Samuel responde por nós, assim como por Israel. “Não temais; vós tendes cometido todo este mal; porém não vos desvieis de seguir ao Senhor”. O pecado é errado, mas Deus não irá rejeitar a pessoa que se afasta do pecado e se apega fielmente a Ele.

“Em nada nos defraudaste, nem nos oprimiste” (1 Sm 12.1-5). Poucos líderes políticos ou espirituais podem concluir suas carreiras como Samuel. Ele liderou por amor ao povo e por amor a Deus, e não por ganho pessoal, ou por poder.

DE V OCIONAL_______ Plenamente Equipado (1 Sm 10— 11) Cada criança que frequenta a Escola Dominical está familiarizada com o erro de Saul. Ele é o rei imperfeito, o inimigo vingativo de Davi, que repe­ tidas vezes desobedeceu a Deus. Não é de admirar que alguns questionem se Deus escolheu delibera­ damente um homem que iria falhar, como punição para aqueles que insistiam em pedir um rei. Deus preparou uma cilada para Israel? A escolha que Deus fez de Saul foi somente para que Ele pudesse dizer: “Não vos avisei”? Esta pergunta encontra sua resposta clara e firme no texto. E esta resposta é não. Na verdade, Deus preparou Saul completamente — não para o fra­ casso, mas para o sucesso. Observe. Saul recebeu sinais para assegurar que ele percebesse que tinha sido escolhido por Deus (10.1-7). Deus imediatamente fez com que Saul soubesse que Ele estava pessoalmente envolvido na escolha de Saul, e na sua vida. Saul foi cheio com o Espírito de Deus, e, o texto diz: “Deus lhe mudou o coração em outro” (w. 9,10). Deus operou em Saul para torná-lo sen­ sível a Ele. Saul repentinamente foi capaz de profetizar, pro­ vocando assombro naqueles que o conheciam (v. 11). Deus preparou os conhecidos de Saul para a sua nova função. Saul foi publicamente escolhido por Deus em Gil­ gal (w. 20-24). Deus deixou claro, para toda a na­ ção, que Saul era a sua escolha.

Saul mais uma vez foi cheio do Espírito quan­ do convocou a nação para combater os amonitas (11.6,7). Deus deu a Saul uma capacitação especial quando veio a crise. E a vitória de Saul foi evidência da presença de Deus. O novo rei percebeu que “o Senhor fez um livramento em Israel” (v. 13). O que isso mostra é que Deus não fez nada que pudesse ter provocado os erros posteriores de Saul. Em vez disso, o Senhor fez todo o possível para capacitar Saul para o sucesso! Como afirma o Novo Testamento: “Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscên­ cia” (Tg 1.13,14). Que importante mensagem para nós. Quando Deus nos convoca para qualquer tarefa, Ele deseja que tenhamos sucesso! E Ele fornece todos os re­ cursos de que necessitamos para alcançar o sucesso. Se nos conservarmos próximos a Ele, evitaremos a tragédia que posteriormente se abateu sobre Saul, o primeiro rei de Israel. Aplicação Pessoal Como cada um de nós tem defeitos, é vital que nos mantenhamos próximos ao Senhor. Citação Importante “A cada pensamento da Palavra que a sua inteli­ gência compreender, curve-se diante de Deus com dependência e confiança. Creia, com todo o cora­ ção, que Deus pode fazer todas as coisas, e que fará

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o melhor por você. Peça que o Espírito Santo opere Gilgal antes de algum grande confronto, e que es­ no seu coração até que a Palavra se tome a força da perasse ali durante sete dias (cf. 10.8). Mas esperar foi demais para Saul, que entrou em pânico quando sua vida.” — Andrew Murray viu desertarem mais homens de seu pequeno exér­ cito. Em vez de esperar por Samuel, o próprio Saul 2 DE MARÇO LEITURA 61 ofereceu sacrifício ao Senhor. Saul pecou ao oficiar . AS FALHAS DE SAUL este sacrifício. Somente os sacerdotes deviam servir 1 Samuel 13— 15 no altar. Com esta atitude, Saul desobedeceu à or­ “Porquanto tu rejeitaste a palavra do Senhor, ele tam­ dem de Samuel de esperar, e à proibição de Deus bém te rejeitou a ti, para que não sejas rei” (1 Sm de que qualquer pessoa, exceto os descendentes de Arão, oferecesse sacrifícios. Aqui, “nesciamente” é 15.23). uma palavra forte, que sugere não somente uma O sucesso frequentemente gera orgulho. Quando isso falta de entendimento, mas uma falta de caráter acontece, existe um perigo real de que nós não mais moral. Sob pressão, Saul mostrou que falhou pro­ fundamente. O texto acrescenta uma nota irônica. confiemos no Senhor — nem obedeçamos a Ele. Posteriormente, Saul contou, e descobriu que ele ainda tinha 600 homens. Era o dobro dos 300 com Visão Geral Ao enfrentar um poderoso exército filisteu, Saul que Gideão, anteriormente, derrotou um exército entrou em pânico e oficiou um sacrifício, em vez inimigo similar. de esperar por Samuel (13.1-15). No entanto, os mal equipados israelitas (w. 16-22), liderados por Armas de ferro (1 Sm 13.16-22). E verdade que Is­ Jônatas, filho de Saul, atacaram (14.1-14) e der­ rael não tinha armas. O segredo filisteu de fundir o rotaram o inimigo (w. 15-23). A intervenção do ferro lhes tinha dado uma inquestionável superio­ exército salvou Jônatas, que inadvertidamente in­ ridade militar. Mas Gideão derrotou seu inimigo fringiu a ordem de Saul (w. 24-52). Ironicamente, com 300 cântaros, 300 tochas, e 300 trombetas. o homem que se dispôs a executar seu filho, por Se Saul tivesse se lembrado do que Deus fizera, ele desobedecê-lo inconscientemente, desobedeceu teria sido menos temeroso e mais disposto a obe­ conscientemente a Deus, e foi rejeitado pelo Se­ decer. nhor (15.1-35). “Isso nos será por sinal” (1 Sm 14.1-14). O texto apresenta Jônatas, o filho de Saul, que atacou um Entendendo o Texto “Os homens de Israel que estavam em angústia”(1 Sm posto avançado filisteu depois de procurar e rece­ 13.1-7). Os filisteus eram o principal inimigo de ber um sinal de que “o Senhor os tem entregado na Israel durante este período. Eles controlavam a cos­ nossa mão”. Jônatas e suas armas também eram em ta. Arqueólogos encontraram evidências de postos menos número do que os inimigos. Mas Jônatas, avançados filisteus, até o vale do Jordão. Quando o diferentemente de Saul, confiou completamente filho de Saul atacou um destes postos avançados, os em Deus, e não temeu. filisteus ajuntaram um grande exército para esma­ “Retira a tua mão” (1 Sm 14.15-23). Depois da gar o levante dos hebreus. Anteriormente, os homens de Israel responderam vitória de Jônatas, Deus lançou temor no arraial à convocação de Saul, e combateram os amoni- filisteu. Saul, ouvindo a agitação, pediu que um sa­ tas (11.7). Agora eles correram, e se esconderam, cerdote usasse o éfode [não a “Arca”] para consultar e alguns até mesmo deixaram o país. Muitos dos a Deus. A medida que o tumulto do outro lado do homens do pequeno exército de 3 mil homens de vale aumentava, Saul não pôde esperar, e disse ao Saul começaram a desertar. Na descrição da bata­ sacerdote: “Retira a tua mão”. Ou seja, ele disse, lha amonita, o texto diz que Israel foi motivado “não se preocupe”, e partiu em batalha. pelo “temor do [respeito ao] Senhor”. Mas o que Apesar do comportamento de Saul, o Senhor aju­ todos eles sentiam era medo dos filisteus. dou Israel. Os filisteus começaram a fugir, e os is­ O Antigo Testamento diz, corretamente, que “o raelitas que tinham se escondido acompanharam a temor do Senhor é o princípio do saber” (Pv 1.7, perseguição. ARA). E loucura não ver o fato de que Deus é mais poderoso do que qualquer adversário humano. “Todo o povo se absteve de provar pão” (1 Sm 14.2445). Saul proferiu uma maldição sobre qualquer “Agiste nesciamente” (1 Sm 13.8-15). Anteriormen­ israelita que comesse até que a batalha estivesse te, Samuel tinha instruído Saul a encontrá-lo em terminada. Jônatas não ouviu esta maldição, e pro­

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1 Samuel 13— 15 vou um pouco de mel que encontrou durante a batalha. A ordem de Saul não foi sábia. As suas tropas perse­ guiram os filisteus por aproximadamente 28 quilô­ metros (desde Micmás até Aijalom)! Posteriormen­ te, eles ficaram tão exaustos, que mataram animais e comeram a carne ali mesmo. Comer a carne antes que o sangue tivesse sido drenado era uma grave violação da lei do Antigo Testamento. Quando Saul estava ansioso para ir e invadir o território filisteu, o sacerdote que Saul tinha con­ sultado antes, insistiu que o monarca pedisse orientação a Deus. Mas Deus não lhe deu resposta. (Muitos acreditam que o sacerdote levava uma pe­ dra branca no éfode, além de pedras que indicavam sim e não). Saul concluiu que algum pecado estava bloqueando a resposta. Lançada a sorte, Jônatas foi escolhido, e admitiu ter infringido a ordem de seu pai. Embora a ordem de Saul não tivesse sido sábia, quando proferida como maldição era obrigatória, e a desobediência era um pecado. Quando Saul propôs a execução de Jônatas, o exér­ cito se recusou a permitir que Saul o ferisse. Novamente, percebemos uma ironia. Saul estava pronto a matar o seu próprio filho, por desobede­ cer à sua ordem. No entanto, o próprio Saul não julgou como algo grave desobedecer ao Senhor, o verdadeiro Deus e Rei de Israel. “Houve-se valorosamente”(1 Sm 14.47,48). A maior parte do texto se dedica a uma análise das falhas de Saul. Dois versículos resumem as suas qualidades. Saul era um soldado valente, que derrotou os ini­ migos de Israel. Para o autor bíblico, que dedica apenas dois ver­ sículos para registrar as vitórias de Saul, o que im­ porta não é a valentia de Saul, mas seu orgulho.

DEV OCIONAL______ Saul e Você

(1 Sm 15) Alguns consideram a leitura a respeito de Saul amedrontadora. Saul os lembra de suas próprias fraquezas. Saul reflete as suas próprias falhas. E assim os leitores fazem perguntas a si mesmos. Talvez, como Saul, eles tenham ido longe demais. Será que também podem ser rejeitados por Deus? Mas a história de Saul não tem a finalidade de nos amedrontar. Ela está na nossa Bíblia para nos en­ corajar. E para nos ensinar a maneira como evitar a armadilha em que caiu o primeiro rei de Israel. O problema básico de Saul era o fato de que ele não

Não as suas realizações, mas as suas imperfeições pessoais. A mesma coisa acontece hoje. A verdadei­ ra medida de um homem não está no que ele faz, mas no tipo de pessoa que ele é. “Temi o povo e dei ouvidos à sua voz” (1 Sm 15-134). O incidente revelador final descreve o ataque de Saul contra os amalequitas. Esta invasão era punição divina, e a cidade atacada devia ser “con­ sagrada” a Deus. Isto é, todo o povo e todos os ani­ mais da área deviam ser mortos, e não deveria ser tomado nenhum espólio. Saul atacou. Mas retornou com grandes rebanhos e um prisioneiro da realeza. Deus enviou Samuel para confrontar o rei desobediente. A princípio, Saul insistiu que tinha obedecido a Deus. Afinal, os amalequitas tinham sido destruídos. Finalmen­ te, Saul admitiu que tinha infringido a ordem de Deus, e confessou que tinha agido assim porque “tinha temido o povo”. Que comentário. Saul, o rei, era governado pelo medo. Ele tinha temido o exército filisteu. Agora, ele tinha medo de seu próprio povo. Se Saul tivesse temido a Deus, o respeito pelo Senhor o teria liber­ tado do peso de temer meros homens. “Honra-me, porém... diante de Israel” (1 Sm 15.30). O versículo é um epitáfio adequado. Um Samuel entristecido e irado anunciou a rejeição final de Saul, por parte de Deus. Este rei desobediente não estabeleceria nenhuma dinastia em Israel. E tudo o que Saul pôde pensar, quando Samuel se virou, foi o que o seu povo pensaria disso! Que Deus permita que não nos preocupemos tanto com o que o povo pensa a nosso respeito, e sim com o que Ele pensa a nosso respeito, e nos liberte da hi­ pocrisia que é gerada por uma atitude equivocada.

estava disposto a confiar em Deus, e julgava impos­ sível obedecê-lo. Saul teve medo quando confron­ tado por um grande exército de filisteus (1 Sm 13). Ele esqueceu-se de que Deus era capaz de salvar. Não tendo confiado que Deus iria agir naquela si­ tuação terrível, Saul desobedeceu ao Senhor. Quando lemos esta última história, Saul já tem medo do seu próprio povo. Mais uma vez, o medo de Saul se origina de uma falta de confiança, e se expressa na incapacidade de obedecer ao Senhor. A única coisa que destruiu a vida de Saul e o seu futuro, foi a sua incapacidade de confiar em Deus, expressa na sua desobediência. Isso é tão encorajador na história de Saul. A medida que a lemos, com­

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1 Samuel 16— 17 preendemos a questão principal na vida espiritual. A história de Saul nos ensina que a única coisa que devemos fazer é confiar em Deus, e que a confiança irá nos libertar, para que possamos obedecer. Quando você ou eu sentirmos medo ou pânico, é o momento de fazer uma pausa e nos lembrarmos de quem é o nosso Deus. Pensar na sua grandeza. Recor­ dar o seu poder. Meditar sobre o seu amor. Quando conservamos nossos corações fixos em quem Deus é, nós nos entregamos a Ele. E obedecemos.

o prometido Libertador da humanidade, descende­ ria de Davi. Outras profecias mostram que esta Pes­ soa, o grande Filho de Davi, também seria Filho de Deus. As genealogias dos Evangelhos deixam claro que Jesus Cristo cumpre este requisito, e cumpre a promessa de Deus a Davi, de que o Governante supremo viria da sua linhagem familiar.

Visão Geral Deus enviou Samuel à casa de Jessé, onde o ve­ lho profeta ungiu Davi como o futuro rei de Israel (16.1-13). Davi começou a servir a Saul como mú­ Aplicação Pessoal A confiança em Deus nos liberta para obedecer. E a sico (w. 14-23). Quando os filisteus se reuniram para atacar Israel, somente Davi se dispôs a enfren­ obediência nos protege do destino de Saul. tar o campeão deles, o gigante Golias (17.1-37). Citação Importante No duelo mais famoso da história, o jovem Davi “Aquele que não é capaz de obedecer, não é capaz matou Golias com a sua funda (w. 38-58). de comandar.” — Benjamin Franklin Entendendo o Texto 3 D E MARÇO LEITURA 62 “O homem vê o que estã diante dos olhos, porém o PASTOR E SALVADOR Senhor olha para o coração” (1 Sm 16.1-12). Deus 1 Samuel 16— 17 enviou Samuel à casa de Jessé, em Belém, para un­ gir um de seus filhos como rei, no lugar de Saul, a “Eu vou a ti em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus quem Ele tinha rejeitado. Ali, Samuel ficou bem dos exércitos de Israel” (1 Sm 17.45). impressionado com o filho mais velho de Jessé, que tinha uma aparência esplêndida, mas não era o es­ Quando os obstáculos que enfrentamos parecem colhido de Deus. intransponíveis, é útil relembrar-se do jovem pas­ Nós vemos a sabedoria da rejeição de Eliabe por tor, Davi, cuja fé lhe deu coragem para enfrentar o Deus mais adiante, quando Eliabe não somente se gigante Golias. acovardou diante de Golias, como o resto de Israel, mas, irado, repreendeu Davi por expressar a sua fé Biografia: Davi de que Deus iria ajudar um israelita a derrotar “este Davi foi o rei ideal de Israel, um tipo do Messias incircunciso filisteu” (cf. 17.26-28). que o Antigo Testamento prediz que reinará, um E significativo que até mesmo Samuel, um homem dia, não somente sobre a Terra Santa, mas toda a sábio e com grande discernimento espiritual, fosse terra. Como rei de Israel, Davi uniu as 12 tribos em enganado pela aparência física de Eliabe. Não é de uma nação poderosa e unida. Ele subjugou os inimi­ surpreender que hoje em dia nós coloquemos de­ gos de Israel, e multiplicou 10 vezes o seu território. masiada importância na beleza quando escolhemos Davi também uniu a nação espiritualmente, fazendo um cônjuge, e na imagem da televisão quando es­ de Jerusalém a capital religiosa, além de política. Ele colhemos líderes nacionais. A repreensão de Deus a reorganizou a adoração em Israel e escreveu muitos Samuel é algo que cada um de nós precisa considerar dos salmos usados nos cultos públicos. seriamente. Como Deus, nós precisamos fazer esco­ Apesar de suas muitas realizações, Davi é retratado, lhas com base no que está no coração dos outros. nas Escrituras, como um indivíduo muito humano. Como nos falta o conhecimento perfeito de Deus, Ele era um homem que verdadeiramente amava a você e eu precisamos ser cautelosos ao desenvolver Deus, mas era um homem que tinha sérias fraque­ relacionamentos. Muitas vidas foram destruídas por zas. O que distingue Davi de Saul é a humildade um compromisso feito rapidamente, sem conheci­ de Davi, e a sua disposição em confessar os seus mento suficiente do caráter, um do outro. pecados, não somente ao Senhor, mas também pu­ blicamente (cf. SI 51). Como acontece com tantos “Desde aquele dia em diante, o Espírito do Senhor outros homens famosos, os filhos de Davi o desa­ se apoderou de Davi” (1 Sm 16.13). O Novo Tes­ pontaram, e Davi não conseguiu lidar com eles de tamento ensina que o Espírito Santo vive agora maneira sábia. em cada crente, e é a Fonte de nosso crescimento Davi é uma figura importante, teologicamente fa­ espiritual e poder (cf. 1 Co 3.16; 2 Co 3.18). Mas lando. O Antigo Testamento prediz que o Messias, não devemos entender este significado do Novo

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1 Samuel 16— 17 A pergunta, “Quem é, pois, este incircunciso filis­ teu?” é desdenhosa. Uma vez que Golias não per­ tencia ao povo do concerto de Deus, não poderia esperar nenhuma ajuda do Senhor e deveria ser derrotado facilmente.

Testamento na expressão do Antigo Testamento. No Antigo Testamento, o fato do Espírito “se apo­ derar” de alguém é uma frase teológica que signifi­ ca que Deus capacitava a pessoa mencionada para uma tarefa específica. No caso de Davi, a tarefa era governar Israel, com todas as responsabilidades mi­ litares e outras que o governo acarretaria. Deus fornece os recursos de que precisamos para realizar qualquer tarefa que Ele nos apresente. “Um espírito mau, da parte de Deus” (1 Sm 16.1423). Saul, tendo rejeitado a Deus, agora estava sujeito a acessos de ira e profundas depressões. O Antigo Testamento responsabiliza “um espíri­ to mau, da parte de Deus” pelos momentos irra­ cionais deste homem. Alguns entendem que isso indica um demônio, um dos seguidores de Sata­ nás, que tinha permissão de atormentar Saul (cf. M t 12.24). Outros acreditam que a expressão fala do próprio espírito de Saul, “mau”, no sentido de prejudicial ou doloroso. Qualquer das interpreta­ ções afirma a soberania de Deus, e sugere punição ou um último esforço para trazer Saul de volta a Deus. Davi iniciou a vida na corte quando foi elogiado como um talentoso harpista. O tocar de Davi tran­ quilizava Saul, durante seus maus momentos. Davi não ficava permanentemente com o rei, mas tinha permissão para voltar para casa, quando Saul estava bem (1 Sm 17.15). “Hoje, desafio as companhias de Israel” (1 Sm 17.116). Os exércitos de Israel e da Filístia ficaram em lados opostos. Um profundo desfiladeiro corta o vale do Carvalho (ou “vale de Elá”, ARA), e apa­ rentemente nenhum dos exércitos estava disposto a arriscar-se, atravessando-o. Assim, o gigante Golias apareceu diariamente, por mais de um mês, e de­ safiou Israel a enviar um representante para lutar contra ele. Tais duelos, antes da batalha principal, não eram incomuns nos tempos antigos. Como Golias tinha aproximadamente 3 metros de altu­ ra, e trazia uma lança cuja ponta era mais pesada do que uma bola para lançamento de peso, os is­ raelitas estavam excessivamente aterrorizados para aceitar o desafio. “Quem é, pois, este incircunciso filisteu?” (1 Sm 17-17-31). Nos tempos do Antigo Testamento, os soldados tinham que conseguir as suas próprias provisões. Desta maneira, Jessé enviou seu filho mais jovem, Davi, para levar mais alimento a seus irmãos. Davi ficou chocado ao saber que ninguém tivera disposição de lutar contra Golias, e expres­ sou abertamente sua surpresa.

Nos tempos do Antigo Testamento, o israelita mediano tinha aproximadamente 1,5 metro de altura. A ilustra­ ção mostra um israelita típico, Saul (que era uma cabeça mais alto que outra pessoa [cf. 1 Sm 10.23]), e o gigante Golias.

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1 Samuel 18— 20 As perguntas repetidas de Davi sobre a recompen­ sa oferecida a quem derrotasse Golias, e as suas ousadas declarações, enfureceram o seu irmão mais velho. Mas tiveram o efeito desejado. Saul ouviu falar das observações de Davi, e o chamou à sua tenda.

pequena que deseja tentar do que com todo um exército de soldados hesitantes.

“Eu vou a ti em nome do Senhor”(1 Sm 17.38-54). Todos nós conhecemos o resultado desta bata­ lha. Com uma única pedra lançada de sua funda, Davi matou Golias, servindo, desde então, como “Não poderás” (1 Sm 17.32-37). O coração de o exemplo supremo da fé conquistando o impos­ Saul deve ter se angustiado quando viu Davi, um sível. mero rapaz, e mais baixo do que o israelita médio, com estas intenções. Mas Davi confiantemente “De quem é filho este jovem?” (1 Sm 17.55-58). A narrou suas proezas contra animais selvagens que pergunta não contradiz a descrição, feita em 1 atacaram o rebanho de seu pai, e a sua fé de que o Samuel 16, de Davi na corte de Saul. Saul sabia Senhor “me livrará da mão deste filisteu”. Talvez quem era Davi, mas não se lembrava da sua linha­ Saul tivesse ficado impressionado. De qualquer gem. Davi identificou seu pai (que se beneficiou forma, ele deu a Davi permissão para lutar. da vitória de Davi), que ficou isento dos impostos Deus ainda pode fazer mais com uma pessoa reais para sempre (cf. 17.25).

DEVOCIONAL_______ Matadores de Gigantes (1 Sm 17) Há muitos sermões sobre o assunto para voltar a mencioná-lo. As chances pareciam impossíveis quando Davi saiu para enfrentar Golias. No entan­ to, com fé em Deus e uma simples funda de pastor, Davi venceu. Todas as pessoas passam por ocasiões em que en­ frentam um Golias pessoal em alguma situação na qual as chances parecem impossíveis. Um desafio que ninguém mais está disposto a assumir. Uma luta que parece impossível de vencer. Quando isso acontece, nós, como Davi, não temos para onde nos voltar, exceto a Deus. Nós devemos nos lem­ brar de que nós também podemos enfrentar este gigante pessoal em nome do Senhor Todo-Poderoso, o Deus dos Exércitos. Foi em nome de Deus que Davi matou Golias. E com a ajuda de Deus que os cristãos, ao longo dos séculos, têm enfrentado chances igualmente im­ possíveis — e têm vencido.

4 DE MARÇO LEITURA 63 DAVI NA CORTE DE SAUL 1 Samuel 18— 20 “Vendo, então, Saul que tão prudentemente se condu­ zia, tinha receio dele” (1 Sm 18.15). O caráter frequentemente se revela na maneira como uma pessoa reage ao sucesso. Especialmente ao sucesso de outros!

Biografia: Jônatas Jônatas é um dos mais atraentes personagens do Antigo Testamento. Embora herdeiro do trono de Saul, Jônatas permaneceu próximo de Davi e enfrentou seu pai por tratar Davi injustamente. Quando soube que Saul tinha decidido matar Davi, Jônatas avisou seu cunhado. Ciente de que Deus pretendia tirar o trono da casa de seu pai, por causa dos pecados de Saul, Jônatas prometeu apoiar Davi, e Davi prometeu fazer o bem a Jô­ natas e à sua família. Depois que Jônatas foi mor­ Aplicação Pessoal to em batalha, e Davi foi feito rei, Davi cumpriu Aprenda a ver os seus problemas como “filisteus aquela promessa. O amor incondicional de Jônatas incircuncisos”. Enfrente-os com coragem e fé. por Davi continua a servir como modelo de amiza­ de para os cristãos. Citação Importante “As dificuldades servem como missões de Deus. Visão Geral Quando somos enviados nestas missões, devemos O sucesso de Davi, agora oficial no exército de Saul, considerá-las como uma prova da confiança de fez com que o rei sentisse inveja e medo (18.1-19). Deus, e como se estivéssemos sendo cumprimen­ Saul tentou usar o amor de sua filha Mical por tados por Ele.” — Henry Ward Beecher Davi para fazer com que ele fosse morto em bata­

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lha, mas Davi mais uma vez teve sucesso e passou a fazer parte da família real pelo casamento (w. 2030). Davi evitou diversos atentados contra a sua vida, feitos por Saul (19.1-24). Quando o príncipe Jônatas, amigo de Davi, percebeu que Saul estava determinado a matar o genro, ajudou Davi a fugir (20.1-42).

deração de seu pai, assim como de outras pessoas, sem dúvida contribuiu com a amargura e a ira que ela posteriormente exibiu contra Davi e contra Deus (cf. 2 Sm 6.20-23). As ações motivadas pela inveja e pela ira são sempre prejudiciais — para o indivíduo e para todos à sua volta.

Entendendo o Texto “E temia Saul a Davi, porque o Senhor era com ele e se tinha retirado de Saul” (1 Sm 18.1-16). A der­ rota de Golias conquistou para Davi uma posição de elevada patente no exército de Saul. O sucesso militar de Davi foi tão espetacular, e a sua popu­ laridade táo grande, que Saul ficou intensamente invejoso. Anteriormente, Saul tinha demonstrado que estava mais preocupado em ser honrado pelo seu povo do que em ser fiel a Deus (15.30). A popularidade de Davi fez com que Saul tivesse inveja. Quando Saul percebeu que o sucesso de Davi se devia ao seu rela­ cionamento com o Senhor — um relacionamento que Saul tinha perdido — ele também temeu Davi. Aterrorizado com a possibilidade de que Davi pu­ desse suplantá-lo como rei, o próprio Saul tentou matar Davi duas vezes (18.11). Quando Saul ofereceu sua filha mais velha a Davi, como tinha prometido antes da batalha contra Golias, Davi percebeu que isto o colocaria em um perigo ainda maior, e recusou.

“Jônatas falou bem de Davi” (1 Sm 19.1-7). Uma reconciliação, incentivada por Jônatas, teve vida curta, apesar da promessa de Saul de não matar Davi. Não é raro, nos relacionamentos íntimos, em que uma pessoa que fere a outra mostre remorso e prometa: “Nunca mais farei isso”. Mas quando se desenvolve um padrão, com desculpas repetidas, seguidas de repetidos ataques de ciúmes e ira, tome cuidado! “Mical desceu a Davi ”(1 Sm 19.9-17). Por fim, Saul decidiu matar Davi abertamente, e acabar com ele. Mical soube do plano, e ajudou Davi a escapar. Investigações recentes sugerem que o terafim, o ob­ jeto que Mical colocou na cama de Davi e cobriu com uma coberta, não necessariamente quer dizer “ídolo”, neste contexto. Como é significante dois dos filhos de Saul tomarem o partido de Davi con­ tra seu próprio pai. Nós também precisamos agir segundo o que acreditarmos que seja certo, a des­ peito do custo desta decisão.

“Eu lha darei, para que lhe sirva de laço” (1 Sm 18.20-30). Como a popularidade de Davi cres­ cia, Saul hesitou em atacá-lo diretamente. Quan­ do soube que Mical, sua filha mais jovem, estava apaixonada por Davi, Saul enviou oficiais da corte para dizer a Davi que o rei verdadeiramente o que­ ria como genro. Saul recusou o dote, ou preço da noiva, normal, que para a filha de um rei teria sido extremamente elevado. Em lugar do dote, Saul dis­ se que se contentaria com troféus que provessem que Davi tinha matado cem filisteus. O objetivo de Saul era que Davi fosse morto pelo inimigo de Israel, para que a culpa não pudesse ser atribuída a ele. Quando Davi foi bem-sucedido, Saul não pôde fazer nada, exceto cumprir a sua promessa. No en­ tanto, esta nova evidência da bênção de Deus fez com que Saul se tornasse um inimigo ainda mais determinado. O que algumas vezes é negligenciado é o uso cruel que Saul fez de Mical. Ele não se importou com o fato de que ela amava Davi, e não pensou na infe­ licidade que a morte de Davi traria à sua filha mais jovem. Mais adiante, depois que Davi fugiu, Saul casou Mical com outra pessoa. A brutal desconsi­

“Está também Saul entre os profetas?” (1 Sm 19.1824). Quando Saul soube que Davi tinha ido à procura de Samuel, e que os dois estavam juntos em Ramá, enviou homens para capturar Davi. No entanto, quando os homens de Saul aproximaramse de Samuel, foram subjugados pelo Espírito de Deus, e “profetizaram”. Muitos acreditam que, aqui, a palavra “profetizar” seja alguma forma de discurso extasiado, talvez um corolário ao dom de línguas do Novo Testamento. O próprio Saul foi a Ramá, e também sentiu o Es­ pírito do Senhor vindo sobre ele. Lembre-se do sig­ nificado limitado, no Antigo Testamento, da “vinda do Espírito sobre” uma pessoa. Isso não era sinal de espiritualidade, nem mesmo de fé. Afinal de contas, certa vez o precioso Espírito capacitou uma jumenta para falar a Balaão, o vidente pagão (Nm 22). “Nós temosjurado ambos em nome do Senhor” (1 Sm 20.1-42). Em uma irada confrontação com seu pai, Jônatas, por fim, se convenceu de que Saul jamais deixaria de tentar matar Davi. Jônatas avisou Davi, e ambos juraram eterna amizade. Que exemplo para os cristãos! Rivais potenciais para o mesmo trono, cada um deles deixou

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de lado seus interesses pessoais pela profunda afeição que sentiam um pelo outro. Jônatas se expôs à ira de seu pai, e até mesmo arriscou a sua vida, por causa de Davi. Mais adiante, Davi restituiu as propriedades do filho mais jovem de Jônatas, apesar do fato da descendência de

DEVOCIONAL______

Lidando com a Inveja (1 Sm 18) As pessoas inseguras provavelmente se sentirão ame­ açadas pelo sucesso dos outros. O que Davi enfren­ tou não é nada incomum. Alguns maridos se sentem ameaçados quando suas esposas são promovidas no trabalho, ou obtêm um diploma na faculdade. Os chefes frequentemente se sentem ameaçados por funcionários brilhantes e competentes. Outros se sentem ameaçados quando um amigo se torna po­ pular, ou é atraente, ou se veste bem. Como Saul, estas pessoas inseguras tendem a expressar sua inveja como ira, e atacam. Normalmente, elas atacam com palavras que tencionam humilhar ou desprezar, ou roubar o crédito da outra pessoa. De certa maneira, nós devemos lamentar pela pes­ soa que é tão insegura a ponto de diminuir os ou­ tros em um esforço para elevar a si mesma. Mas ainda dói quando alguém nos ataca. Então, a per­ gunta é: “O que podemos fazer em uma situação em que nós, como Davi, somos vítimas inocentes da vingança de outra pessoa?” O texto em 1 Sa­ muel 18 nos sugere três princípios. (1) Continuar tentando fazer o bem. Davi não permitiu que o antagonismo de Saul lhe roubasse o seu entusiasmo pelo seu trabalho de oficial do exército, nem destruísse a sua eficácia. (2) Continuar próximos do Senhor. Parte do anta­ gonismo de Saul se enraizava no seu conhecimento de que o Senhor estava com Davi. O sucesso de Davi se originou desse relacionamento, pois Deus abençoava os esforços de Davi. Estar próximos do Senhor, quando somos vitimados pelos outros, irá nos confortar. E irá nos capacitar a continuar tendo vidas bem-sucedidas. (3) Conservar um comportamento humilde. Davi prudentemente recusou-se a se tornar genro de Saul quando este privilégio lhe foi oferecido pela primeira vez. Davi era sinceramente humilde. Mas ele também era sábio o suficiente para perceber que Saul não foi sincero na sua oferta. A melhor manei­ ra de evitar as armadilhas que os outros possam nos propiciar é ser sinceramente humilde. Posteriormente, Davi deixou de lado este princípio e casou-se com uma filha do rei. Deus protegeu

Davi reivindicar o trono, e Mefibosete poder se tornar um rival. Davi e Jônatas exibem a atitu­ de que Paulo, posteriormente, exortou os cris­ tãos a terem: “Que ninguém procure somente os seus próprios interesses, mas também os dos outros” (Fp 2.4, N TLH ).

Davi, mas o casamento em nada contribuiu para levar Davi ao trono, mas somente confirmou a hos­ tilidade de Saul com relação a Davi. Não podemos fazer muita coisa para modificar uma pessoa que está determinada a ser hostil conosco. Mas, se seguirmos o exemplo de Davi, podemos conservar nossos corações puros, e limitar os danos que uma pessoa hostil pode nos causar. Aplicação Pessoal Normalmente, é mais sábio e prudente evitar os indivíduos hostis do que combatê-los. Citação Importante “Se as pessoas falarem mal de você, viva de modo que ninguém acredite nelas.” — Platão 5 D E MARÇO LEITURA 64 DAVI, O FUGITIVO 1 Samuel 21— 25 “Jônatas, filho de Saul, foi para Davi ao bosque, e fortaleceu a sua mão em Deus” (1 Sm 23■16). Os anos em que esteve fugitivo foram alguns dos mais importantes para Davi, espiritualmen­ te. Das dolorosas experiências registradas nestes capítulos se originaram alguns dos mais belos salmos de Davi. Visão Geral Na fuga, Davi mentiu, para obter ajuda de uma família de sacerdotes, em Nobe (21.1-9). Ele so­ mente escapou da Filístia fingindo ser louco (w. 10-15). Davi reuniu cerca de 400 guerreiros e se es­ tabeleceu em uma região deserta (22.1-5). Ali, ele ficou sabendo que Saul tinha assassinado os sacer­ dotes que o tinham ajudado (w. 6-23). O exército de Davi salvou uma cidade da Judeia (23.1-6), mas fugiu quando Saul partiu com um exército para matá-lo (w. 7-29). Davi poupou a vida de Saul, e o rei abandonou a perseguição (24.1-27). Abigail, inteligente e bela, impediu que Davi se vingasse de seu tolo marido, e posteriormente se tornou esposa de Davi (25.1-44).

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Entendendo o Texto “Então, veio Davi a Nobe, ao sacerdote Aimeleque” (1 Sm 21.1-9). Davi mentiu a Aimeleque, dizendolhe que estava em uma missão para Saul. A mentira parecia suficientemente inocente, estando Davi de­ sesperado por comida e uma arma. Davi logo sabe­ ria que até mesmo as “pequenas” mentiras trazem trágicas consequências. Posteriormente, Jesus comentou o fato de Aimele­ que ter dado a Davi um pouco do pão sagrado, que devia ser comido somente por sacerdotes (cf. Ex 25.30; Lv 24.5-9). Jesus elogiou Aimeleque, que percebeu que a obrigação moral de auxiliar uma pessoa em necessidade era mais importante do que as regras de rituais (Mt 12.3,4; Mc 2.25,26). Davi errou ao ignorar a sua obrigação moral de ser sincero com Aimeleque. Mas Aimeleque acertou, ao dar à sua obrigação moral com Davi maior prio­ ridade do que a uma obrigação com rituais. “Davi... veio aAquis, rei de Gate” (1 Sm 21.10-15). Davi também recebeu uma arma, de Aimeleque, o sacerdote — a espada de Golias. Nós podemos compreender algo do estado mental de Davi quan­ do lemos que dali, ele foi para Gate, a terra natal do gigante, onde a arma certamente seria reconhecida! Ela foi reconhecida, e Davi somente escapou fin­ gindo ter ficado louco. Provavelmente podemos explicar a mentira de Davi a Aimeleque e também a sua fuga para Gate, lem­ brando que Davi ainda era muito jovem. A sua vida estava em perigo, e ele estava sozinho e desampa­ rado. Mas desta experiência de pânico e incerteza, Davi obteve uma inabalável fé em Deus. As verdades aprendidas neste período sustentaram Davi por toda a sua vida, e se refletem nos Salmos 34 e 56. Somente uma pessoa que conheceu o medo com­ preende a necessidade de confiar. “Aimeleque, morrerás certamente” (1 Sm 22.6-23). Quando Saul soube que Aimeleque tinha auxiliado Davi, acusou o sacerdote de conspiração. Aimele­ que respondeu racionalmente. Todos sabiam que Davi era leal — ele não era o genro do rei, e o capitão da guarda real? O paranoico Saul pode ter se enfurecido ainda mais com este elogio implícito a Davi. Com a ordem de Saul, 85 sacerdotes e suas famílias inteiras foram assassinados! Um filho, Abiatar, escapou. Quando Davi soube o que aconteceu, imediatamente confessou, “Eu dei ocasião contra todas as almas da casa de teu pai”. Davi jamais poderia ter imaginado que Saul pudes­ se ser tão perverso a ponto de matar os sacerdotes de Nobe. Mas Davi percebeu que a sua mentira tinha levado a esta tragédia.

Não existe algo como uma “pequena” mentira. Fa­ lar ou agir com a intenção de enganar os outros é errado. Sem justificar o pecado de Davi, é importante exa­ minar novamente como o seu caráter se compa­ ra com o de Saul. Em uma ocasião anterior, Saul tinha se recusado a admitir um pecado seu, mes­ mo sendo obviamente culpado, e confrontado por Samuel! (15.13-20). Imediatamente, Davi acei­ tou a responsabilidade pelas consequências da sua mentira, ainda que não houvesse indicação de que Abiatar o culpava. Se formos honestos com nós mesmos, com Deus e com os outros, também iremos crescer rumo à maturidade espiritual, como aconteceu com Davi. “Davi com os seus homens... foram-se aonde pude­ ram” (1 Sm 23.1-29). Davi usou o seu exército cada vez maior para ajudar a cidade israelita de Queila a combater os filisteus. Mas, talvez por medo, o povo continuou leal a Saul. Isso deixou Davi sem ter para onde ir, exceto a regiões desertas, onde pu­ desse se esconder do exército de Saul. O exército se aproximava, quando uma notícia de que os filisteus estavam atacando o afastou. O Salmo 54 reflete o medo de Davi, e a sua fé nesta situação crítica. Novamente, nós nos lembramos de que é quando nos encontramos em situações desesperadoras que aprendemos, “Deus é o meu ajudador, o Senhor é quem me sustenta a vida” (SI 54.4, ARA). “Jônatas... fortaleceu a sua mão em Deus” (1 Sm 23.16-18). Este encontro final dos dois amigos nos lembra do quanto Jônatas foi importante na vida do jovem Davi. Jônatas tinha salvado a sua vida. Quando Davi parecia não ter mais futuro, Jônatas expressou a sua convicção de que o Se­ nhor, um dia, tornaria Davi rei. Jônatas também expressou a sua disposição de ficar em segundo lu­ gar. Jônatas teria sido um grande e devoto gover­ nante. Mas o seu papel na vida era ser um grande e devoto amigo. Poucos de nós alcançaremos a grandeza nesta vida. Mas cada um de nós pode ser o tipo de amigo que ajuda os outros a encontrar forças em Deus. “Tu me recompensaste com bem, e eu te recompensei com mal” (1 Sm 24.1-22). Davi não matou Saul quando teve a oportunidade, mas poupou a sua vida. Mais adiante, Davi ficou a alguma distância, e mostrou a Saul um pedaço da orla de seu manto, para provar que poderia ter assassinado o rei. Chamando-se de “cão morto” e de “pulga”, Davi usou comparações para transmitir a ideia de que ele era inofensivo, e não representava ameaça a Saul.

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Saul, profundamente comovido, admitiu que es­ tava errado. Ele pediu que Davi náo matasse a sua família, quando o Senhor o fizesse rei. Davi prometeu, e posteriormente cumpriu a sua pa­ lavra. Saul pode ter sido sincero naquele momento, mas Davi sabia que Saul era inconstante e náo merecia confiança. Não se fie no que uma pessoa diz ou sente em um momento. Fie-se no que ela faz ao longo de um período de tempo. “Olha, pois, agora, e vê o que hás de fazer" (1 Sm 25-1-44). A sabedoria de Abigail em neutralizar a ira de Davi pelos insultos de seu marido Nabal nos fornece um modelo que podemos seguir (w. 2331). Observe que Abigail (1) admitiu que Nabal

DEVOCIONAL______

O Contra-Ataque (1 Sm 24) Talvez aconteça quando aquele motorista impru­ dente lhe fecha em uma esquina, fazendo com que você pise no freio para evitar um acidente. Talvez aconteça quando o chefe é elogiado uma vez mais pelo trabalho que você fez, ou pelas suas ideias. Tal­ vez aconteça quando o seu cônjuge grosseiro lhe menospreza na frente dos amigos. Mas acontece a todos nós, em alguma ocasião. Nós nos cansamos de ser vítimas. E então temos vontade de contraatacar. Eu suponho que não há problema em irar-se quan­ do as pessoas nos convertem em vítimas. Deus en­ tende este fluxo de adrenalina, o rosto enrubescido, e o repentino sentimento de fúria. Mas nenhuma ira — nem mesmo a ira justificada — nos dá o direito que algumas pessoas reivindicam. O direito de contra-atacar. “Não fique louco de raiva”, diz o mundo; “Vingue-se”. Certa vez, o próprio Davi pode ter se sentido des­ ta maneira. Mas quando Saul, inadvertidamente, entrou em uma caverna onde Davi e seus homens estavam escondidos, Davi tinha crescido espiri­ tualmente. Os homens de Davi ficaram agitados. “Veja, Davi”, sussurraram eles. “Aqui está a sua oportunidade! Deus lhe entregou Saul! Agora, ele está nas suas mãos. Mate-o!” A resposta de Davi nos ensina como você e eu, como crentes, devemos lidar com aqueles que nos vitimam. Davi não permitiu que seus homens fi­ zessem mal a Saul. Mais tarde, Davi disse ao rei, “Vingue-me o Senhor de ti; porém a minha mão não será contra ti” (v. 12).

tinha prejudicado Davi, (2) trouxe as provisões que Nabal tinha se recusado a fornecer, e (3) pediu o perdão de Davi. Abigail também levou Davi a considerar as conse­ quências de longo prazo, de agir com ira. Davi ten­ cionava se tornar rei. Matar alguns de seus futuros súditos dificilmente seria considerado prudente, pois isso criaria medo e hostilidade. Por que Davi deveria ter o peso de um derramamento desneces­ sário de sangue na sua consciência? Se desejarmos que as pessoas às quais prejudicamos deixem de lado a sua ira, precisamos dar os três passos de Abigail. Não é de admirar que, quando Deus matou o ma­ rido de Abigail, pouco tempo depois Davi a tenha desejado como esposa.

Como podemos lidar com aqueles que nos preju­ dicam? Em primeiro lugar, nós devemos entregálos ao Senhor, pedindo que Ele vingue o mal que possam nos ter feito. Esta é uma ação positiva, e nos alivia do sentimento de sermos vítimas. Na verdade, nós os “entregamos ao tribunal”. Não a um tribunal humano, mas ao tribunal mais eleva­ do de todos. A seguir, nós simplesmente esperamos que Deus os julgue. Ao mesmo tempo, nós assumimos um compromis­ so pessoal. Davi disse: “A minha mão não será con­ tra ti”. Para nós, isso significa que devemos decidir não nos vingarmos, nem tentar retribuir aos outros o mal que nos fizeram. A escolha que Davi fez não é uma escolha fácil. Quando alguém nos prejudica, quando nós nos iramos, nós temos grande vontade de contra-atacar e ferir a pessoa que nos feriu. Mas a escolha que Davi fez é a escolha cena. Isso é o que importa para Deus, e o que também deve importar para nós. Aplicação Pessoal Em qual relacionamento você precisa aplicar o ensino deste incidente? Citação Importante “Nada deve ser mais temido do que uma paz muito longa. Você se enganará se pensar que um cristão pode viver sem perseguições. Aquele que não vive sob nenhuma perseguição está sofrendo a maior perseguição de todas. Uma tempestade tor­ na um homem vigilante e o obriga a empreender seus máximos esforços para evitar um naufrágio.” — Jerônimo

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de transformação. A esta altura, Davi já sabia que Saul não era merecedor de confiança. Desanimado e temeroso, pensando, “ainda algum dia perecerei”, Davi decidiu deixar Israel. Nós podemos dar a Saul o benefício da dúvida, e di­ zer que ele foi sincero quando fez esta promessa. Às vezes, você e eu somos sinceros quando assumimos compromissos. Mas a sinceridade não é suficiente. A sinceridade nos impele a assumir compromissos. Mas é necessária integridade para mantê-los. Nós devemos evitar pensar que a nossa sinceri­ dade é suficiente quando fazemos promessas a outros. Nós devemos ser homens e mulheres de integridade.

6 DE MARÇO LEITURA 65 OS ANOS DE FUGITIVO TERMINAM / Samuel 2 6 —31 “A inda algum dia perecerei pela mão de Saul” (1 Sm 27.1). As vezes, a pressão se torna tão grande que nós tentamos escapar. Davi finalmente se sentiu de­ sanimado e fugiu para a Filístia. Como acontece frequentemente, a escuridão profunda foi um pre­ núncio de um novo amanhecer. Contexto Mercenários. Nos tempos antigos, grupos de solda­ dos desempregados frequentemente vendiam seus serviços a governantes estrangeiros. Posteriormente, o próprio Davi teve uma guarda de 600 homens de Gate, que permaneceram leais a ele quando o seu próprio povo se rebelou (cf. 2 Sm 15.16-22). Quan­ do Davi fugiu de Saul e entrou em território filisteu, o governante de Gate tratou a ele e a seus homens como um exército mercenário, e esperou que Davi fosse leal ao código mercenário daquele tempo. Visão Geral Davi e seus seguidores se estabeleceram em ter­ ritório filisteu (27.1-12). Com a proximidade da guerra, Saul procurou orientação desesperada­ mente, voltando-se, por fim, para uma feiticeira que consultava os mortos (28.1-25). Enquanto isso, Davi foi salvo da luta contra Israel quando os governantes filisteus expulsaram seus homens do exército deles (29.1-11). Davi voltou para casa, para encontrar a sua cidade queimada, e as espo­ sas e os filhos de seus homens capturados (30.1-6). Eles dominaram os inimigos e salvaram suas famí­ lias (w. 7-31). Saul foi morto na guerra com os filisteus, e os anos de fugitivo de Davi, finalmente, terminaram (31.1-13). Entendendo o Texto “O Senhor me guarde de que eu estenda a mão contra o ungido do Senhor” (1 Sm 26.1-25). Uma vez mais, Davi teve uma oportunidade de matar Saul, desta vez quando Saul dormia, rodeado por seu exérci­ to. Em vez de fazer isso, Davi tomou a lança e a bilha de água do rei, e usou estes objetos para pro­ var que tinha poupado seu inimigo uma vez mais. Saul prometeu deixar de perseguir Davi, e admitiu a respeito de Davi: “Grandes coisas farás e também prevalecerás”. O rei pode ter sido sincero — naquele momento. Mas palavras sinceras não são evidências suficientes

“Davi ... passou ... a Aquis ... rei de Gate” (1 Sm 27-1-12). O governante filisteu tratou Davi como um líder mercenário, e de boa vontade deu-lhe uma cidade na qual viver. Aqui esperava que Davi vivesse segundo o código mercenário. Davi, no entanto, atacou os inimigos de Israel, dizendo a Aquis que seus ataques eram contra os acampamentos dos hebreus. Esta mentira não foi favorável a Davi. Mas a decisão de Davi de deixar Israel quase o forçou a agir de maneira enganosa. Davi pretendia ser rei de Israel um dia, e jamais atacaria o seu próprio povo. Mas Davi estava em uma posição na qual teve que agir como súdito de um dos piores inimigos de Israel. A experiência de Davi nos ensina uma im portan­ te lição. Uma maneira de evitar o engano é ficar fora de situações em que as mentiras pareçam necessárias. “Buscai-me uma mulher que tenha o espírito de feiti­ ceira” (1 Sm 28.1-25). Saul ficou aterrorizado pela dimensão do exército filisteu que se levantou con­ tra ele. Ele não recebeu resposta, quando buscou a Deus pedindo orientação. Assim, ele ordenou que seus criados lhe encontrassem uma médium. O Antigo Testamento exigia a morte daqueles que usavam feitiçaria, adivinhação ou outras práticas ocultas (Lv 19.31; D t 18.10,11). O próprio Saul tinha tentado livrar a terra de pessoas que tivessem tais práticas. No seu medo, agora ele se voltava às forças ocultas, à procura de ajuda. A história, que é tão conhecida, nos diz como esta “adivinha de En-Dor” ficou quando a forma disfarçada de Samuel apareceu. Ela pode ter sido um canal para uma expressão enganosa (conside­ rada demoníaca por muitos), mas não tinha acesso aos espíritos dos mortos. A mensagem para Saul foi clara: era tarde demais para ele. Israel seria der­ rotado na batalha seguinte contra os filisteus, e o próprio Saul seria morto.

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E possível que uma pessoa se afaste tanto de Deus que não haja como retornar ao lugar da bênção. No entanto, para um rei que vivia em terror paranoico, vendo conspiração em todas as partes, a morte seria uma dádiva. Existem coisas piores do que a morte. Uma delas é continuar vivendo depois de perder todo o senso da presença de Deus. “A tua entrada e a tua saída comigo no arraial são boas aos meus olhos” (1 Sm 29.1-11). Como vassalo de Aquis, Davi se viu obrigado a ter seus homens se unindo ao exército filisteu. Que dilema esta ação representou! A decisão que Davi tinha tomado, quando foi desencorajado pela constante perse­ guição de Saul, o colocou em uma situação muito difícil. Não existe registro de Davi perguntando ao Senhor se deveria ir à Filístia. E importante que aprenda­ mos a não tomar decisões precipitadas quando esti­ vermos esgotados emocionalmente, e que jamais é prudente fazer escolhas importantes sem procurar cuidadosamente a orientação de Deus. Neste caso, Deus livrou outra vez a Davi. Os outros governantes filisteus se recusaram a per­ mitir que Davi servisse com Aquis, e, por isso, Aquis, desculpando-se, mandou Davi de volta para casa. Davi aprendeu a lição? Aparentemente, sim. O ca­ pítulo seguinte nos diz que ele fez uma pausa, sob a mais intensa pressão, para consultar ao Senhor antes de agir (cf. 30.7,8). Já é suficientemente ruim quando você ou eu cometemos erros sérios. E pior se deixarmos de aprender com estes erros.

“Tinham ferido a Ziclague, e a tinham posto afogo” (1 Sm 30.1-31). Retornando para casa, Davi en­ controu sua aldeia queimada, e as esposas e os fi­ lhos de seus homens, capturados. Esta era uma si­ tuação devastadora para Davi, pois os seus próprios homens estavam tão amargos, a ponto de falar em apedrejá-lo. Davi, agora, consultou ao Senhor, e foi orientado, através do Urim e do Tumim, a prosseguir e atacar os invasores. As famílias foram resgatadas, e Davi chegou a tomar espólio extra dos invasores, para dar como presentes para várias comunidades de Judá. A generosidade de Davi também lhe foi útil, ela ajudou o povo de Judá a esquecer a sua fuga à Filístia, e, posteriormente, Judá foi a primeira tribo a reconhecer Davi como rei. “Faleceu Saul, e seus três filhos” (1 Sm 31.1-13). Is­ rael foi derrotado pelos filisteus, e Saul foi morto. O texto acrescenta uma nota emocionante. Os cor­ pos de Saul e seus filhos foram tirados, à noite, dos muros de uma cidade da Filístia, onde tinham sido fixados em exibição. Isso foi feito pelos homens de Jabes-Gileade. No seu primeiro ato como rei, Saul tinha salvado esta cidade dos amonitas. Os cida­ dãos agora recompensavam a sua bondade. Durante o seu longo reinado, Saul tinha provado ser um líder militar eficaz. E ele foi, adequadamen­ te, honrado por seu povo. Se não fosse pela sua grande imperfeição, a incapacidade de confiar no Senhor e obedecer a Ele, Saul poderia ter sido um grande rei, e o seu devoto filho, Jônatas, um digno sucessor. Com a morte de Saul, os anos de fugitivo de Davi terminaram.

DEVOCIONAL______ Indo embora para a Filístia? (1 Sm 27) Meu filho de 31 anos é um “artista que passa fome”. Não, ele não é nenhum artista que contribui para as vendas de alguma marca que seja patrocinada por este nome. Paul é um pintor muito talentoso, totalmente devotado à sua arte. E vive em extrema pobreza. Paul pode entender a pressão que Davi sentia, depois de meses e anos escapando por pouco das mãos de Saul. Ele pode entender por que Davi, profundamente desencorajado, finalmente decidiu ir para a Filístia. Com frequência, meu filho se per­ guntou se ele não deveria simplesmente desistir da sua arte, e arranjar um emprego que prometa mais do que simplesmente sobreviver. Para ele, essa ati­ tude representaria uma rendição tão grande quan-

do a decisão de Davi de ir para território filisteu. Seria uma negação de quem ele é, e de quem Deus o chama para ser. Eu não posso avaliar o que meu filho deve fazer. E eu fico profundamente ferido ao ver a sua luta, e não ser capaz de ajudar. Às vezes, eu penso que seria mais fácil se ele simplesmente desistisse. Se esquecesse o seu talento excepcional, e tentasse ter uma vida melhor neste mundo. E então, eu me lembro de Davi. Ele desistiu. Mas entre os filisteus, Davi se viu for­ çado a negar quem ele era — o futuro rei de Israel. Davi viveu uma vida dupla ali, e foi novamente forçado a mentir, simplesmente para sobreviver. Pode não haver um a orientação para o meu fi­ lho na história deste período da vida de Davi.

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Ela me leva incessantemente pelas estradas da vida, às vezes trazendo perigo para mim e para os outros, pelo caminho. Se eu a trouxer diariamente a Deus, em oração, certamente Ele poderá refrear estas tendências Com o seu amor compreensivo E gentilmente a curvará à sua vontade e à sua ma­ neira durante este difícil período de crescimento, Aplicação Pessoal As circunstâncias raramente são a melhor indica­ a caminho da maturidade espiritual.” — Carolyn N. Rhea ção da vontade de Deus. Mas existem princípios segundo os quais você e eu devemos viver. Q uando a vida fica difícil, devemos evitar procurar a saída mais fácil. Com excessiva frequência, o “caminho fácil” nos co­ loca em uma situação na qual somos forçados a comprometer quem somos, apenas para so­ breviver.

Citação Importante “Esta minha vontade teimosa, adolescente, está me tornando uma delinquente espiritual!

O Plano de Leituras Selecionadas continua em 2 SAMUEL

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2 SAMUEL INTRODUÇÃO 1 e 2 Samuel eram originalmente um único livro no cânone hebreu. Os dois livros narram a transição histórica de Israel, de um grupo de tribos dispersas e governadas por juizes, a uma nação unida e poderosa. O tempo abrangido pelos dois livros é aproximadamente de 120 anos, de 1050 a 931 a.C. 2 Samuel dá continuidade à história de Davi, que já tinha sido um fugitivo, mas agora era rei, a princípio de Judá, e depois de toda a nação dos hebreus. Este livro narra as muitas realizações de Davi, mas com a mesma honestidade registra os seus fracassos pessoais e os seus problemas familiares. Através desta his­ tória, nós passamos a ter um apreço maior a Davi como ser humano, e um apreço muito maior ao Deus gracioso de Davi. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Os Triunfos de Davi........................................................................................................................2 Sm 1— 10 II. Os Problemas de D avi............................................................................................................... 2 Sm 11— 20 III. Outras Histórias sobre D avi....................................................................................................2 Sm 21— 24 GUIA DE LEITURA (5 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 66 67 68 69 70

Capítulos 1— 5 6— 10 11— 14 15— 20 21— 24

Passagem Esse 3— 4 7 13— 14 15— 16 24

2 SAMUEL 7

D E M ARÇO LEITURA 66

DAVI DÁ INÍCIO AO SEU REINADO 2 Samuel 1— 5

“Da idade de trinta anos era Davi quando começou a A reação de Davi mostrou um respeito apropriado, reinar; quarenta anos reinou” (2 Sm 5-4). tanto por Deus quanto por Saul, e claramente in­ dicou que, apesar de ter sido perseguido por Saul, Mesmo tendo deixado atrás de si os anos de fugi­ Davi não tinha desejado nenhum dano pessoal ao tivo, os primeiros anos de Davi como governante monarca. foram cheios de tensão. Não espere que a vida não tenha lutas, apesar de vitórias ao longo do cami­ “Lamentou Davi” (2 Sm 1.17-27). Davi expressou a nho. dor que sentiu pela morte de Jônatas e Saul através de um poema em que tinha a intenção de honrá-los. Visão Geral O poema fala do seu amor por seu “irmão Jônatas”, Davi lamentou a morte de Saul e Jônatas (1.1-27). e também honra Saul pelas suas realizações. A sua confirmação como rei em Judá (2.1-7) con­ A exemplo de Davi, precisamos ser suficientemente duziu a uma demorada guerra civil (w. 8— 3.5). nobres para reconhecer as qualidades daqueles que Abner, comandante do exército inimigo, decidiu forem nossos inimigos pessoais. aliar-se a Davi (w. 6-21). Davi era inocente de dois assassinatos, o de Abner e o do filho de Saul, “O capitão do exército de Saul tomou a Isbosete, filho Isbosete (w. 22— 4.12). Mas estas mortes puseram de Saul... e o constituiu rei” (2 Sm 2.8—3.5). Isum fim à guerra, e Davi foi, por fim, confirmado bosete significa “Filho da Vergonha”. O seu nome, como rei sobre um Israel unido (5.1-5). Davi cap­ na verdade, era Esbaal, “Baal vive” (cf. 1 Cr 8.33; turou Jerusalém e fez dela a sua capital (w. 6-1 6). 9.39). O autor bíblico não desejava honrar o nome Quando os filisteus atacaram, Davi lhes infligiu da divindade pagã, e assim fez a substituição pelo a primeira de uma série de derrotas devastadoras termo “vergonha”. (w. 17-25). Isbosete era, na verdade, uma autoridade simbó­ lica, embora tenha sido aclamado rei pelas tribos Entendendo o Texto do norte. O verdadeiro poder pertencia a Abner, “Arremessa-te sobre mim”(2 Sm 1.1-16). O relato da o comandante do exército. Na guerra civil que se morte de Saul aqui é diferente do apresentado em 1 seguiu, Abner matou um irmão do comandante de Samuel 31. Por que esta diferença? Este relato regis­ Davi, Joabe. Gradualmente, os exércitos de Davi tra o que disse o amalequita que trouxe a coroa de ganharam força, ao passo que os exércitos do norte Saul a Davi, e não necessariamente o que aconte­ ficavam mais fracos. ceu. O amalequita contou a sua história, esperando Neste caso é possível atribuir a responsabilidade alguma recompensa de Davi, por ter matado o seu pela guerra civil à ambição de um único homem, inimigo. Em vez de recompensá-lo, Davi mandou Abner. Tendo em vista as muitas vidas perdidas e a executá-lo, pois, pelas suas palavras, ele era culpado destruição de todo o reino, Abner mereceu a morte de ter assassinado o ungido do Senhor. que em breve receberia pelas mãos de Joabe. O des-

2 Samuel 1— 5

tino de Abner exemplifica o princípio das consequ­ devem ser valorizados, e não usados, e os seus in­ ências naturais, declarado por Jesus, quando disse teresses devem ser considerados, tanto quanto os a Pedro: “Todos os que lançarem mão da espada à nossos. espada morrerão” (Mt 26.52). “ímpios homens... mataram” (2 Sm 3.22— 4.12). “Então, se irou muito Abner” (2 Sm 3.1-21). A de­ Dois assassinatos abriram o caminho para que Davi serção de Abner, aliando-se a Davi, foi precipita­ se tornasse rei de um Israel unido; no entanto, ele da pela acusação de Isbosete de que Abner teria não teve participação em nenhum deles, pois am­ dormido com uma das concubinas de Saul. Este bos foram injustificados. O principal objetivo de ato teria tido consequências políticas no mundo Joabe ao matar Abner era vingar-se por seu irmão, antigo, sugerindo que Abner pretendia reivindicar Asael, a quem Abner havia matado em batalha. Os o trono de Israel. O comandante do exército não assassinos de Isbosete esperavam ser recompensa­ negou a acusação, mas ficou furioso com a acusa­ dos por levar “boas-novas” a Davi. ção implícita de deslealdade (v. 8). Davi rapidamente agiu para mostrar ao seu povo Na sua furia, Abner decidiu entregar o reino a que ele nada tinha a ver com nenhuma das duas Davi, e começou as negociações com esta finalida­ mortes. Ele lamentou e honrou publicamente Ab­ de. As palavras de Abner aos anciãos de Israel são ner, e executou os dois homens que assassinaram significativas: “Muito tempo há que procuráveis Isbosete. que Davi reinasse sobre vós” (v. 17). Aparentemen­ Nós podemos nos beneficiar dos atos pecaminosos te, somente o medo de Abner e dos benjamitas, a dos outros. Mas jamais devemos nos alegrar por eles. própria tribo de Saul, tinha impedido que os anci­ ãos agissem até então (cf. w. 19-21). “Ungiram Davi rei sobre Israel” (2 Sm 5.1-16). A O medo frequentemente impede as pessoas de fa­ guerra civil de sete anos chegou ao fim, e Davi ini­ zerem o que acreditam ser correto. Se os anciãos de ciou um reinado de 33 anos sobre um reino hebreu Israel tivessem temido a Deus mais do que a meros unido. seres humanos, a tragédia da guerra civil poderia A sua escolha de Jerusalém como capital foi astuta. ter sido evitada. A cidade, então ocupada por um povo cananeu, ficava na divisa entre norte e sul. A escolha de­ “Dá-me minha mulher Mieal” (2 Sm 3.13-16). Foi monstrou a ausência de favoritismo por qualquer amor ou foi política que levou Davi a exigir o re­ parte da nação de Davi. A cidade também era rela­ torno de Mical, a filha de Saul? As possibilidades tivamente segura — tão facilmente protegida que são de que a política teve sua importância, pois o os cananeus zombeteiramente predisseram que os seu casamento com a filha de Saul fortalecia a rei­ mancos e cegos poderiam protegê-la contra qual­ vindicação de Davi ao trono de Saul. quer força que a atacasse. Eles estavam errados. De qualquer forma, observe que ninguém pergun­ tou a Mical se ela desejava ou não voltar para Davi. “E os filisteus tornaram a subir” (2 Sm 5.17-25). Por exigência de Davi, ela foi tirada de seu choro­ Durante a longa guerra civil, Israel não representou so segundo marido, Paltiel, e seguiu para unir-se ameaça aos filisteus. Agora, no entanto, eles ataca­ a Davi. Mical tinha sido usada por seu pai (1 Sm ram, determinados a matar ou a capturar Davi. O 18.20-25). Aqui, aparentemente, ela era usada por Senhor guiou Davi a uma vitória decisiva. Davi. Não é de admirar que ela, mais tarde, tenha E significativo que Davi não atacasse em primei­ se tornado endurecida e amarga. ro lugar. Ele tinha vivido por algum tempo perto Nós precisamos ser especialmente cuidadosos de Gate, e tinha obrigações com o seu governante, para não usarmos as outras pessoas em benefício Aquis. Quando os filisteus atacaram, Davi estava dos nossos próprios interesses. Os seres humanos livre para combatê-los.

DE V OCIONAL______

Pelas suas Obras (2 Sm 3— 4) Você já percebeu com que facilidade as pessoas são persuadidas por palavras? “Será diferente quando estivermos casados”, promete o pretendente gros­ seiro ou ciumento. “Eu nunca mais vou fazer isso,

se você voltar para mim”, é outra promessa popu­ lar. “Eu não sou culpado de tal pecado” é uma frase que nós aprendemos a questionar, mesmo quando proferida por evangelistas contemporâneos. Não. As palavras não significam muita coisa. O que realmente importa é o que a pessoa faz.

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Isso também era válido naqueles anos turbulentos de lutas internas quando Davi era rei em Judá e o filho de Saul reinava no norte; “Você pensa que eu sou trai­ dor?”, gritou Abner para Isbosete (veja 3.8-11, NTLH), e passou imediatamente a negociar com Davi (v. 12) A seguir, o próprio Abner foi enganado, quando Joabe lhe enviou uma mensagem, em nome de Davi. Abner retornou a Hebrom, onde foi assassinado pelo comandante do exército de Davi (w. 22-28). De volta a Israel, dois oficiais de alta patente fingi­ ram visitar Isbosete com amizade, entraram na sua casa, e o esfaquearam no estômago. Em seguida, os dois correram para Davi, anunciando um motivo religioso para seus atos. “O Senhor vingou hoje ao rei, meu senhor” (4.1-8). Quando existe agitação em nossas vidas, pode­ mos facilmente nos confundir. Em especial se as pessoas parcialmente responsáveis confundem os assuntos com palavras. Quando isso acontece, nós precisamos nos lembrar de que as palavras podem ser enganosas. A evidência em que preci­ samos confiar é o que a pessoa faz, e não o que ela diz. Aplicação Pessoal Em uma pessoa digna de confiança, as palavras e os atos coincidem.

servir a todos, sofrer todos os tipos de dificuldades, por amor e para a glória do Deus que lhe demons­ trou tal graça. Na realidade, é impossível separar as obras da fé, assim como é impossível separar o calor e a luz do fogo.” — Martinho Lutero 8 DE MARÇO LEITURA 67 DAVI UNE O SEU REINO 2 Samuel 6— 10 “Foi, pois, Davi e trouxe a arca de Deus para cima... à Cidade de Davi, com alegria" (2 Sm 6.12). Os atos seguintes de Davi indicam um planejamen­ to cuidadoso e sensibilidade política, e também re­ velam outra característica apropriada das pessoas excepcionais: uma firme e jubilosa fé em Deus. Contexto Jerusalém. Moisés predisse que Deus escolheria um lugar em Canaã “para ali fazer habitar o seu nome” (Dt 16.2). Esta escolha foi feita por intermédio de Davi. A partir do governo davídico, Jerusalém pas­ sou a ser o coração da nação e da fé judaica. Ela continuou sendo a capital de Judá depois que o rei­ no de Salomão foi dividido. Foi para Jerusalém que os judeus voltaram depois do cativeiro na Babilô­ nia. Jerusalém foi o foco de grande parte do mi­ nistério terreno de Cristo, e a cidade onde Ele foi condenado. A profecia identifica Jerusalém como o lugar ao qual Jesus irá retornar, e como a capital do reino terreno que Ele irá estabelecer. Não existe ou­ tro lugar na terra tão teologicamente significativo, como a Cidade de Davi, Jerusalém.

Citação Importante “A fé é uma confiança viva e inabalável, uma crença tão segura na graça de Deus, que um homem pode­ ria morrer mil vezes por ela, se isso fosse possível. Este tipo de confiança na graça de Deus, este tipo de conhecimento dela, nos deixa felizes, animados e ansiosos em nosso relacionamento com Deus e com toda a humanidade. Isso é o que o Espírito Santo realiza, por meio da fé. Assim, o homem de Visão Geral fé, sem ser dirigido por seus semelhantes, procura Davi fez de Jerusalém a capital política e também de forma voluntária e alegre fazer o bem a todos, religiosa de Israel, ao levar a Arca para lá (6.1-23).

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Deus não permitiu que Davi erigisse um templo (7.1-7). Mas Deus prometeu a Davi uma dinastia permanente (w. 8-17), motivando Davi a louvar ao Senhor (w. 18-29). Davi derrotou inimigos vizinhos (8.1-14), criou um governo nacional (w. 15-18) e mostrou bondade ao único filho sobrevi­ vente de Jônatas (9.1-13). Com o tempo, Davi der­ rotou todos os seus inimigos, e estendeu o domínio de Israel do Golfo de Acaba, no sul, ao rio Eufrates, no norte (10.1-19). Entendendo o Texto “Levantou-se Davi e partiu com todo o povo que ti­ nha consigo... para levarem dali para cima a arca de Deus” (2 Sm 6.1-8). A primeira tentativa de Davi de levar a Arca a Jerusalém terminou em fracas­ so, causado por duas infrações à lei ritual. A Arca era a relíquia mais sagrada de Israel, um símbolo da presença viva de Deus. A Lei do Antigo Testa­ mento exigia que ela fosse carregada por membros de uma família levita em particular (Nm 3.2732), e que jamais fosse tocada (4.15). Quando o carro onde a Arca estava colocada se inclinou, e Uzá estendeu a sua mão, para firmá-la, Deus ma­ tou Uzá. Davi ficou amedrontado e contristado. Por que agia assim o Deus que ele desejava tanto honrar? Esta história incomoda a muitos que leem a Bíblia. Os atos de Deus parecem injustos. Uzá certamen­ te não teve más intenções. Talvez a resposta esteja na maneira negligente como Saul tinha tratado a Deus, por cerca de quatro décadas. Ele jamais tinha mostrado nenhum interesse pela Arca, nem mesmo em obedecer a Deus. O repentino ataque contra Uzá lembrou a Davi, e a toda Israel, que Deus é verdadeiramente santo. E o Santo de Israel não deve ser tratado de maneira negligente! “Davi saltava com todas as suas forças diante do Se­ nhor” (2 Sm 6.9-15). Antes que Davi tentasse mo­ ver a Arca outra vez, aparentemente ele consultou as Escrituras (cf. v. 13). Desta vez, a alegria de Davi foi irrefreável, e ele trocou suas vestes reais pelo tipo de éfode de linho usado pelos sacerdotes que serviam perante o Senhor. Esta roupa simbolizava o fato de que o rei encontrava a sua maior satis­ fação como um simples servo de Deus. Quando você e eu nos apresentamos a Deus, todas as nossas realizações terrenas se tornam insignificantes. Tudo 0 que importa é um coração comprometido a amar e servir ao Senhor.

que tivesse se tornado amarga. Mas Mical tinha permitido que a amargura se apoderasse de sua vida, a tal ponto, que não encontrou alegria no Senhor. Em vez de se concentrar na Arca e no Se­ nhor, Mical se concentrou na “vergonhosa” recusa de Davi de conservar sua dignidade real. Que aviso para nós. Sim, os outros podem nos usar. Mas se nós nos permitirmos ficar tão amargos, a ponto de não podermos sentir a presença de Deus, perderemos toda a perspectiva na vida. Mical pode ter tido o direito de ser amarga. Mas certamente Davi, perseguido por tanto tempo por Saul, tinha o direito de ser amargo também. Davi triunfou so­ bre a amargura, conservando seu foco no Senhor. Mical perdeu o contato com Deus, e terminou sua vida solitária e sozinha. “O Senhor... te fará casa” (2 Sm 7.1-17). Esta sig­ nificativa passagem do Antigo Testamento apre­ senta o concerto de Davi. Este é o nome dado às promessas que Deus fez a Davi, e que Davi reconheceu como um compromisso divino in­ destrutível. O âmago do concerto foi o anúncio de Deus de que Ele “faria casa” para Davi. Aqui, a palavra “casa” é usada com o significado de descendentes. No futuro imediato, o próprio filho de Davi iria edificar um templo (v. 13). Mas, como é comum com a profecia bíblica, o futuro imediato espelha uma intenção escatológica da parte de Deus. Atra­ vés da linhagem de Davi, Deus iria estabelecer um reino que “será firme para sempre”. O Novo Testamento cuidadosamente menciona a genealogia de Jesus Cristo, até o rei Davi. Mateus mostra particularmente como o nascimento de Jesus cumpre as predições do Antigo Testamento a respeito de um Rei que viria, destinado a reinar eternamente (cf. M t 1— 2). Davi não entendeu todas as implicações do concer­ to divino. Mas percebeu que Deus lhe estava dando um grande presente, quando o Senhor anunciou: “A minha benignidade se não apartará dele [dos des­ cendentes de Davi], como a tirei de Saul, a quem tirei de diante de ti” (2 Sm 7.15). O trono de Davi esteve seguro, durante toda a sua vida, e além dela!

“Davi lutou” (2 Sm 8.1-14). Os anos seguintes de Davi foram passados em batalha contra os inimi­ gos do norte e do leste. Deus lhe deu sucesso em % todas as batalhas, e ele pôde obter o controle de rotas comerciais vitais que passavam por Damasco, estabelecendo guarnições na Síria e do outro lado “Ela o desprezou no seu coração” (2 Sm 6.16-23). do Jordão, em Edom. As guerras de Davi multi­ Mical tinha sido usada, por seu pai e por Davi (cf. plicaram o território que Israel controlava, muitas 1 Sm 18.20-25; 2 Sm 3.13-16). Não é de admirar vezes mais do que na era dos juizes.

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progresso de Davi não foi alcançado através de seu talento para as invenções burocráticas. O sucesso exige habilidade e trabalho árduo. Mas o segredo da verdadeira grandeza se encontra no caráter devoto.

“Decerto usarei contigo de beneficência por amor de Jônatas, teu p a i” (2 Sm 8.15— 9.13). O autor de 2 Samuel não se dedica à obra vital de Davi, ao es­ tabelecer um governo nacional (8.15-18), mas dá grande espaço à história da bondade de Davi com Mefibosete. O filho aleijado de Jônatas, o velho amigo de Davi, recebe as vastas terras de seu avô, e um lugar na corte de Davi, em Jerusalém. Na maior parte dos casos em que as dinastias eram substituídas nos reinos antigos, os membros sobre­ viventes da família do antigo rei eram assassinados. O tratamento incomum que Davi dispensou a Mefibosete é uma das melhores demonstrações da­ quelas qualidades que lhe conduziram ao trono; o

DEV OCIONAL______

“Usarei de beneficência” (2 Sm 10.1-19). Seria er­ rado retratar Davi como um agressor e déspota. A história que detalha o início da guerra de Davi con­ tra os amonitas mostra que muitos conflitos foram, na verdade, forçados em Israel. A sequência ininterrupta de sucessos militares de Davi estabeleceu o domínio de Israel sobre a área, durante a sua vida.

Promessas Preciosas (2 Sm 7) Davi se mostrou ansioso por fazer algo para Deus. Davi deve ter ficado momentaneamente abalado quando Deus recusou a sua oferta. Mas Deus con­ tinuou. Em vez de aceitar um presente de Davi, o Senhor pretendia dar um presente a ele\ Como as tratativas de Deus conosco são semelhan­ tes a esta situação. Nós o amamos, e desejamos lhe dar o melhor de nós. Mas, não importa o que fizermos, logo aprenderemos que Deus é o maior Doador. Quando Davi teve consciência das grandes e pre­ ciosas promessas que Deus lhe tinha feito, ficou assombrado. “E que mais te falará ainda Davi?”, exclamou o rei, agradecido. E, então, Davi descobriu algo a dizer. Ele repetiu as promessas de Deus, fixando-as em sua mente e em seu coração. E então Davi simplesmente louvou a Deus. Que exemplo para nós. O que podemos dizer a Deus? O que podemos fazer por Ele? Simples­ mente repetir as suas muitas promessas para nós, fixando-as em nossos corações e mentes. E então elevar nossas vozes para louvar ao Senhor.

mas um coração cujas batidas possam ser em teu louvor.” — George Herbert 9 DE MARÇO LEITURA 68 .OS FRACASSOS PESSOAIS DE DAVI 2 Samuel 11— 14 “Pequei contra o Senhor” (2 Sm 12.13). O texto bíblico registra os triunfos de Davi. Mas, com a mesma honestidade, registra as suas dificul­ dades. Aqui não há nenhum esforço — como em outros documentos — para disfarçar os defeitos humanos de alguém que foi, reconhecidamente, o maior rei de Israel.

Definição dos Termos-Chave Pecado. Algumas palavras em hebraico fazem dis­ tinção entre tipos de pecados. Cada uma delas sugere a existência de um padrão que Deus reve­ lou. Uma das palavras retrata o pecado como estar aquém do padrão, outra como distorcer o padrão, e uma terceira como uma recusa voluntária e re­ belde de viver segundo o padrão. Salmos 51, que registra a confissão de Davi depois de seu pecado com Bate-Seba, usa todas estas palavras. A paixão Aplicação Pessoal de Davi, e seus fracassos familiares posteriores, nos A oferta mais apropriada que podemos dar ao Deus lembram de que todos os seres humanos são fraco:;. que nos dá tanto, é o louvor. Estas histórias muito pessoais de Davi também nos lembram de que o pecado tem consequências trá­ gicas. Mas, o que é mais importante, nos ensinam Citação Importante “Tu, que me deste tanto, que Deus proverá o perdão de que cada um de nós Dá-me uma coisa mais — um coração constante­ tão frequentemente necessita. mente agradecido; não somente grato, quando me aprouver, Biografia: Bate-Seba como se as tuas bênçãos fossem concedidas apenas Um estudo do texto nos indica que Bate-Seba foi em alguns dias; também uma vítima, e não apenas uma sedutora. O

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que é ainda mais terrível, ela foi vítima de um homem que todo Israel tinha vindo a conhecer e confiar como um líder devoto. No entanto, quando examinamos o relacionamento de Bate-Seba e Davi, vemos que ela conseguiu superar a ira que deve ter sentido por ser usada, conseguiu perdoar Davi e edificar um relacio­ namento amoroso e duradouro. A honesta confissão que Davi fez do seu pecado permitiu que Bate-Seba o perdoasse, assim como Deus. Quando Davi estava prestes a morrer, transferiu seu reino para Salomão, o quarto filho que Bate-Seba lhe deu, em parte para protegê-la e a seus filhos de qualquer mal (1 Rs 1.11-31). Uma tradição judai­ ca sugere que Salomão tenha escrito Provérbios 31, o seu louvor a uma nobre esposa, em honra à sua mãe, Bate-Seba. Visáo Geral Davi cometeu adultério com Bate-Seba (11.113), e depois tomou providências para que seu esposo morresse em batalha (w. 14-27). Quando confrontado por Natã, o profeta, Davi confessou seu pecado (12.1-14), mas apesar das orações de Davi, o filho concebido em adultério morreu (w. 15-31). A fraqueza de Davi se refletiu em seu filho Amnom, que violentou uma meia-irmã (13.1-22). Absalão, irmão da jovem, matou, então, Amnom (w. 23-29). Absalão fugiu, mas, posteriormente, este filho querido de Davi teve permissão para retornar a Jerusalém (14.1-33). Entendendo o Texto “Enviou Davi mensageiros e a mandou trazer” (2 Sm 11.1-5)- O texto cuidadosamente evita dar a impressão de que Bate-Seba tivesse pretendido seduzir Davi. Observe que (1) Davi devia estar na guerra, (2) ela foi vista do terraço. Isso sugere que a casa dela ficava em um nível abaixo do palácio de Davi, e provavelmente ela estaria se banhando em um pátio interno. (3) Dificilmente ela conseguiria resistir ao mensageiro real, “enviado para trazê-la”, e (4) o texto diz que “ele” se deitou com ela. Não há nada escrito no texto que transfira qualquer culpa de Davi a Bate-Seba. Não há nenhum esforço para encobrir a culpa de Davi. E uma tragédia quando alguém morre. Mas se nós pecarmos, precisaremos ser completamente hones­ tos a respeito do que aconteceu. Nenhuma descul­ pa servirá como justificativa.

em sua casa (onde Davi desejava que ele tivesse re­ lações sexuais com sua esposa, para mascarar o fato de que ela já estava grávida), Davi enviou ordens ao general Joabe, para que Urias fosse morto em batalha. O primeiro pecado de Davi o tinha levado a outro, ainda pior — um encobrimento da verda­ de. Depois que Urias foi morto em batalha, Davi desposou Bate-Seba abertamente. A frase “Um pecado leva a outro” pode parecer um ditado banal. Mas é verdade. Para estarmos prote­ gidos de nós mesmos, precisamos proteger os nos­ sos corações contra dar o primeiro passo que nos desvie dos padrões de Deus. “Por que, pois, desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o mal diante de seus olhos?” (2 Sm 12.113). Davi foi confrontado pelo profeta Natã. Em anos posteriores, os profetas que falavam de ma­ neira afrontosa aos reis de Israel se arriscavam à morte. Mas Davi, apesar de seus terríveis peca­ dos, realmente amava a Deus. Em vez de atacar o homem que o acusava, Davi admitiu que tinha pecado. O Salmo 32 retrata vividamente as emoções de Davi, depois daquele grande pecado. Quando nós estamos perturbados por nossas más obras, somen­ te a confissão pode nos trazer alívio. Ouça as pa­ lavras de Davi, e veja se elas refletem experiências que você possa ter tido. Enquanto eu me calei, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia. Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio. Confessei-te o meu pecado e a minha maldade não encobri; dizia eu; Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado Salmos 32.3-5

Davi fez mais do que confessar seu pecado a Natã e a Deus. Davi escreveu o Salmo 51, que era usado na adoração pública. Uma inscrição diz: “Salmo de Davi. Escrito após a repreensão do profeta Natã so­ bre o adultério que o rei cometeu com Bate-Seba”. Nós podemos confessar nossos pecados íntimos so­ "Urias, o heteu” (2 Sm 11.6-27). Provavelmente, mente a Deus. Mas os pecados públicos devem ser Urias era um soldado mercenário que se uniu a confessados a Deus e perante o povo de Deus. Davi, e adotou um nome que significa “O Senhor é luz”. Ele parece ter sido um homem honesto e de­ “O filho que te nasceu certamente morrerá” (2 Sm dicado. Quando se recusou a ficar com Bate-Seba 12.14-31). Davi foi perdoado, mas o filho nasci­

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pecado. Nós devemos reconhecer os nossos peca­ dos, aceitar a responsabilidade por eles, e confiar que Deus nos perdoará, e desfará o mal que nós tivermos feito a outras pessoas.

do da união adúltera devia morrer. Esta morte, na verdade, demonstra a graça de Deus. Se cres­ cesse, a criança seria um constante lembrete, a Davi e Bate-Seba, de seu pecado. E, o que ainda é pior, o próprio filho carregaria publicamente o estigma do ato de seus pais. Davi compreendeu a própria morte quando disse: “Eu irei a ela, po­ rém ela não voltará para mim” (v. 23). A morte não é o fim, mesmo para um filho natimorto. A vida após a morte é uma realidade, e existem muitas situações nas quais morrer é, verdadeira­ mente, ganhar. A morte de uma pessoa amada nos fere. Mas que grande consolo é, para os crentes, perceberem que a morte não é o fim da vida, mas o início da expe­ riência plena daquela vida eterna que nos foi pro­ metida pelo Senhor.

“Feri a Amnom” (2 Sm 13.23-39). Absalão, irmão de Tamar, insistiu que Tamar não mencionasse o estupro. Durante dois anos, ele fingiu ter amiza­ de com Amnom, a quem tinha passado a odiar. Então, ele conspirou para matar Amnom. Depois disso, temendo a punição que a lei estabelecia para assassinato, Absalão fugiu da região.

“Ela foi-se andando e clamando” (2 Sm 13.1-19). A paixão de Amnom por Tamar se converteu em ódio, depois que ele a tinha enganado e violenta­ do. As pessoas são mais propensas a odiar alguém a quem fizeram mal do que alguém que lhes fez mal. Ninguém gosta de ser lembrado de seus erros, e a visão de alguém a quem prejudicamos conserva nossas próprias falhas diante de nossos olhos. “Uma mulher solitária” (2 Sm 13.20-22). Observe o contraste entre esta história de Amnom e Tamar, e a de Davi e Bate-Seba. Nos dois casos, a mulher foi a vítima. Mas Davi acabou confessando o seu pecado, ao passo que Amnom se recusou a con­ fessar e, em vez disso, odiou (quem sabe, culpou?) a inocente Tamar. Por Davi ter aceitado a respon­ sabilidade pelo seu pecado, certamente Bate-Seba também encontrou restauração. Por Amnom não ter aceitado a responsabilidade, foi assassinado, e Tamar não conseguiu encontrar paz. Existe uma única maneira saudável de lidar com o

DEVOCIONAL______

Paternidade Tempestuosa (2 Sm 13— 14) Ken Schaeífer é um sucesso como pai. Seu filho, também chamado Ken, foi o orador da turma em um colégio local, e ganhou uma bolsa de estudos por mérito no ano passado. Sua filha, Cindy, foi oradora da sua turma neste ano, e também ganhou bolsa de estudos por mérito. Ken e Cindy são bons jovens cristãos. Mas, embora Ken seja um sucesso como pai, ele não se sente muito bem-sucedido em outras áreas. Graduado no Seminário em Dallas,

“Torna a trazer ojovem Absalão” (2 Sm 14.1-33). O general Joabe inventou uma estória que pretendia dar a Davi uma base para trazer Absalão de volta. O problema que esta estória apresentava era um conflito de princípios legais: o assassinato merecia a pena de morte; no entanto, cada linhagem familiar em Israel deveria ser preservada. Quando o caso foi apresentado a Davi, ele relutantemente deci­ diu proteger o assassino, para preservar a linhagem familiar. A mulher que apresentou o caso, então, argumentou que Davi deveria permitir que Absa­ lão retornasse, sugerindo que é piedoso encontrar “maneiras para que uma pessoa desterrada não fi­ que para sempre afastada”. Davi trouxe Absalão de volta a Israel, mas não pôde ver seu filho durante dois anos. O argumento proposto por Joabe é enganoso, por­ que Davi tinha outros filhos, além de Absalão. Os dois casos não são similares. A demora de Davi em ver Absalão sugere que ele não se sentia confortá­ vel com a sua decisão. No entanto, Deus encontra maneiras para restaurar os desterrados: o caminho do perdão. Deixando de perdoar completamente, quando Absalão retornou, o próprio Davi criou uma amargura que encontrou a sua expressão na rebelião e na guerra civil.

Ken não durou muito como pastor, e jamais foi capaz de ganhar muito dinheiro. Pode ser surpreendente, mas muitas vezes as pes­ soas mais bem-sucedidas, segundo os padrões do mundo, têm sido pais terríveis. E alguns dos “me­ nos bem-sucedidos” criaram filhos dos quais qual­ quer pessoa poderia se orgulhar. Davi, apesar de seus méritos como o maior rei de Israel, foi um pai terrível. Alguns de seus erros são destacados nestes capítulos, e permanecem como exemplos que você e eu devemos seguir — se de­

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sejarmos arruinar as vidas de nossos filhos! Quais são as recomendações de Davi para o fracasso como pai? Fique zangado, mas não castigue. Quando Davi soube o que Amnom fez à sua meia-irmã, Tamar, o texto diz que Davi “muito se acendeu em ira” (13.21). Mas não há indicação de que ele tivesse falado com Amnom, e muito menos, que o tivesse castigado. Os pais que deixam de corrigir seus fi­ lhos podem esperar problemas maiores no futuro. Ame demais os seusfilhos. Depois que Absalão fugiu, Davi “pranteava a seu filho todos os dias” (ARA). Davi parece ter sentido tanta falta de seu filho, que se esqueceu do que o rapaz tinha feito. Meninos e meninas que são amados demais, de um modo em que “vale tudo”, causarão, sem dúvida, graves problemas. Perdoe, mas não completamente. Davi finalmente permitiu que Absalão retornasse a Jerusalém, mas não o viu, durante dois anos. Se o perdão for con­ cedido, deverá ser completo. O perdão incomple­ to, repleto de pequenos lembretes dos pecados pas­ sados, cria amargura e antagonismo. Quando Deus perdoa, Ele esquece. Se nós perdoarmos um erro, nós devemos fazê-lo completamente. Davi, um sucesso em sua carreira, era um fracasso, como pai. Ele se aborrecia com o que seus filhos fa­ ziam, mas não os castigava. Ele amou tanto seus fi­ lhos que perdeu a perspectiva. E perdoava de modo incompleto. Na sua vida familiar, o maior rei de Israel foi um dos maiores fracassos da história. Ao passo que meu amigo, Ken SchaefFer, que de mui­ tas maneiras poderia ser considerado um fracasso aos seus próprios olhos, é o protagonista de uma história muito bem-sucedida. Aplicação Pessoal Nós precisamos dar tanta atenção à nossa paterni­ dade quanto às nossas carreiras, ou ainda mais. Citação Importante “Eu penso que do que as crianças dos Estados Unidos necessitam desesperadamente é um pro­ pósito moral, e muitos dos nossos filhos não estão conseguindo isso. Eles têm pais que estão muito preocupados em fazer com que eles estejam nas es­ colas certas, em comprar as melhores roupas para eles, em dar-lhes uma oportunidade para viver em bairros onde poderão levar vidas agradáveis e prósperas, e onde receberão os melhores presentes, terão férias interessantes, e todo o tipo de coisas... Os pais trabalham muito hoje em dia, e adquirem coisas que julgam importantes para seus filhos. No entanto, coisas imensamente mais importantes não estão acontecendo. Eles não passam tempo com

seus filhos, ou passam pouquíssimo tempo com eles.” — Robert Coles 10 DE MARÇO LEITURA 69 A REBELIÃO DE ABSALÃO 2 Samuel 15— 20 “Direis: Absalão reina em Hebrom” (2 Sm 15.10). Em tempos difíceis, nós podemos até nos pergun­ tar se Deus nos abandonou. Particularmente, se a nossa consciência não está limpa. A rebelião de Ab­ salão foi uma destas ocasiões para Davi. Contexto Davi governou Judá durante sete anos, antes que as tribos do norte o reconhecessem como monarca. Esta fissura entre o norte e o sul foi explorada por Absalão. A sua declaração de que apoiaria qualquer pessoa do norte, que viesse a Jerusalém com uma queixa ou caso legal, gradualmente conquistou o apoio destas tribos. Depois de derrotada a rebe­ lião de Absalão, a tensão entre as duas regiões no­ vamente explodiu, durante um período curto de tempo, antes de ser debelada por Joabe. Passado meio século, depois da morte de Salomão em 931 a.C., as diferenças entre as regiões ainda eram tão intensas que o reino se dividiu em duas partes. O Reino do Norte, chamado Israel, existiu, até a sua destruição em 722 a.C. O Reino do Sul, Judá, so­ breviveu até 586 a.C. Visão Geral Absalão gradualmente conquistou a lealdade das tribos do norte de Israel, e foi proclamado rei (15.112). Davi deixou Jerusalém junto com alguns com­ panheiros (w. 13— 16.14). Em Jerusalém, um dos aliados secretos de Davi, deu conselhos a Absalão, possibilitando que Davi fugisse para o sul (16.15— 17.29). Davi ajuntou tropas ali, e na batalha que se seguiu, Absalão foi morto (18.1-18). Davi deixou de lado a dor, para honrar seu exército (19.1-8), e retornou a Jerusalém (w. 9-43). Joabe derrotou outra breve rebelião do norte, e o trono de Davi ficou assegurado (20.1-26). Entendendo o Texto “Assim, furtava Absalão o coração dos homens de Israel” (2 Sm 15.1-12). Alguns comentaristas con­ sideram que a recusa de Davi em ver Absalão por dois anos (depois do seu retorno do exílio) foi o motivo deste belo filho ter se tornado amargurado. Mas o plano de Absalão segue um padrão estabe­ lecido muito tempo antes. Absalão tinha esperado pacientemente, para matar seu irmão Amnom

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O que os outros dizem sobre nós, importa mui­ to pouco. Eles podem nos desejar o mal. Mas se Deus estiver conosco, o que nós recebermos será bom.

(13.23). Agora, ele trabalhou pacientemente, du­ rante quatro anos, para lançar a fundação para sua rebelião. A revolta de Absalão foi bem planejada, e premeditada. Absalão não estava tão amargurado, mas determinado a conseguir ocupar o trono de seu pai. Hoje em dia, é comum desculpar os atos de uma pessoa, culpando a alguém por tratá-la de maneira injusta. Mas, na verdade, cada um de nós é respon­ sável pelas próprias escolhas e ações. “A í certamente estará também o teu servidor” (2 Sm 15.13-23). Davi tinha servido bem a seu país. No entanto, a maior parte do seu próprio povo agora o rejeitava. A infidelidade deles é evidenciada por um capitão mercenário que começou a servir Davi no dia anterior, e estava preparado para manter seu juramento de fidelidade, mesmo que isso signifi­ casse a morte. Não existe nada mais doloroso que a traição de uma pessoa à qual nós temos todo direito de espe­ rar que seja leal.

“A ssim e assim aconselhei eu” (2 Sm 16.15— 17.29). Husai, o amigo de Davi, conseguiu destruir os planos de Absalão. O conselho que ele deu per­ mitiu que Davi escapasse, ao passo que seguir o conselho de Aitofel teria assegurado a morte de Davi. Frequentemente os cristãos recebem conselhos conflitantes de amigos, parentes ou conselheiros. Frequentemente o que nós necessitamos não são mais conselhos, mas a sabedoria de Deus, para sa­ bermos qual é o melhor conselho. Como é bom ter a promessa: “Se algum de vós tem falta de sa­ bedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberal­ mente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada” (Tg 1.5). “Meu filho Absalão” (2 Sm 18.1— 19.8). Na bata­ lha que se seguiu, Absalão foi morto — contra as ordens expressas do rei. Em vez de se alegrar com o triunfo, Davi ficou alquebrado com tristeza. A censura de Joabe recordou Davi do seu dever, e o rei foi receber os cumprimentos daqueles que tinham lutado tão lealmente por ele. A tristeza de Davi pela morte de Absalão, sem dúvida, era inapropriada, porém compreensível. E difícil re­ conhecer quando os atos de nossos filhos mere­ cem punição. Mas, como Davi, às vezes nós precisamos deixar de lado os sentimentos pessoais e servir ao bem comum.

“Se, porém, disser assim: Não tenho prazer em ti” (2 Sm 15.24-37). Quando os sacerdotes e levitas se preparavam para deixar Jerusalém levando a Arca de Deus, Davi os mandou voltar. As observações de Davi revelam a sua própria incerteza. Deus po­ dia não mais estar satisfeito com Davi, e a rebelião poderia ser a maneira de Deus removê-lo do trono. Se fosse assim, Davi queria que a Arca continuasse sendo símbolo de fé. E se Deus continuasse satis­ feito com Davi, o rei certamente retornaria à Arca. Davi podia ter ficado inseguro. Mas as suas priori­ dades continuavam claras. Deus devia ser adorado, e não usado em campanhas políticas. Davi também continuou sendo um político sábio. “A masa não se resguardou da espada que esta­ Ele deixou para trás diversos homens fiéis, que te­ va na mão de Joabe” (2 Sm 20.1-13). Joabe era riam ido com ele, para que lhe dessem informações um homem ríspido, mas completamente leal a e tentassem arruinar os planos de Absalão. Davi. Como muitos homens leais, este coman­ dante do exército de Davi agiu, algumas vezes, “Sai, sai, homem de sangue e homem de Belial” (2 sem ordens, ou ignorou ordens, se julgasse que a Sm 16.5-14). Ao amaldiçoar Davi, Simei pode ter sua ação seria de interesse do rei. Anteriormen­ expressado as mais profundas dúvidas do próprio te, Joabe tinha assassinado Abner, o líder militar Davi. Davi não tinha tratado mal a família de Saul, israelita que estava negociando com Davi. Nes­ mas, indiretamente, tinha provocado muitas mor­ ta batalha, Joabe matou pessoalmente Absalão, tes. Certamente, ele tinha agido como um infame, apesar da ordem de Davi, de que Absalão fosse no seu caso com Bate-Seba. Os pecados de seus fi­ poupado. Agora, Joabe matou Amasa, que tinha lhos também devem ter pesado muito em seu cora­ comandado as tropas de Absalão. Embora Joabe ção. Isso pode estar refletido na recusa de Davi em posa ser elogiado pela sua lealdade, ele não me­ permitir que um de seus aliados silenciasse Simei. rece elogios por suas ações. Afinal, sugeriu Davi, ele podia estar fazendo a obra Muitos cristãos parecem tomar o caminho de Joabe. de Deus (cf. v. 10). Eles proclamam a sua lealdade a Deus, e realmente Davi preferiu deixar o assunto com o Senhor. Deus tentam servi-lo. Mas desejam servir a Deus à sua poderia transformar aquelas maldições em bênçãos. própria maneira, sem se submeter à sua Palavra.

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DEVOCIONAL__________ Em Fuga trás, nós nos lembramos de que Deus nos ajudou

(2 Sm 15— 16) Nós podemos imaginar o estado de espírito de Davi, quando fugiu de Jerusalém, com poucos companheiros; Absalão, com um grande exército, o perseguia. A situação parecia desesperadora. E, para piorar, Simei amaldiçoou Davi, clamando que Deus estava apenas dando a Davi o que merecia, pelo seu passado sangrento. Tudo deu errado. Além disso, a consciência de Davi não estava limpa. Havia, então, motivos para pensar que Simei podia estar certo. Não é de ad­ mirar que Davi perecesse desanimado e deprimido quando se envolveu em seu manto e correu a atra­ vessar o ribeiro de Cedrom, nas últimas sombras do entardecer. Como Davi realmente se sentia? E o que podemos fazer quando nos encontrarmos sentindo o que ele deve ter sentido? A resposta está no Salmo 3, que Davi escreveu “quando fugia do seu filho Absalão”.

no passado. Olhando para cima, encontramos paz, quando entregamos nossas vidas, e as nossas neces­ sidades, ao Senhor. E, olhando para frente, sabe­ mos que podemos esperar boas coisas de Deus.

Aplicação Pessoal Quando enfrentamos dificuldades, nós precisamos seguir o simples padrão de olhar — ao redor, para trás, para cima, e para frente — com fé. Citação Importante “Não fique deprimido sobre o que pode acontecer amanhã. O mesmo Pai eterno, que cuida de você hoje, cuidará de você amanhã, e todos os dias. Ele lhe resguardará do sofrimento, ou lhe dará a força necessária para suportá-lo.” — Francis de Sales

Em primeiro lugar, Davi olhou à sua volta.

11 DE MARÇO LEITURA 70 EVENTOS DO REINADO DE DAVI 2 Samuel 21— 24

“Vive o Senhor, e bendito seja o meu rochedo; e exal­ Senhor, como se têm multiplicado os meus adver­ tado seja Deus, a rocha da minha salvação” (2 Sm sários! São muitos os que se levantam contra mim. 22.47). Muitos dizem da minha alma; Não há salvação para ele em Deus (SI 3.1,2) Quando você conta a alguém a história da sua vida, há algumas coisas que simplesmente não se A seguir, Davi olhou para trás. encaixam em um relato cronológico. Aqui, em um apêndice, o autor de 2 Samuel apresenta mais rela­ Mas tu, Senhor, és um escudo para mim, tos sobre Davi. a minha glória e o que exalta a minha cabeça. Com a minha voz clamei ao Senhor; Ele ouviu-me Visão Geral desde o seu santo monte (w. 3,4). Davi permitiu que os gibeonitas se vingassem pela infração, por parte de Saul, de um antigo Então, Davi olhou para cima. tratado (21.1-14). As guerras contra os filisteus foram concluídas (w. 15-22). O cântico de Davi Eu me deitei e dormi; de louvor pela libertação é registrado (22.1-51). acordei, porque o Senhor me sustentou. Depois de um relato das últimas palavras de Davi Não terei medo de dez milhares de pessoas que se (23.1-7) e de uma relação dos heróis de guerra puseram contra mim ao meu redor. (w. 8-39), o livro é concluído com um relato do Levanta-te, Senhor, pecado de Davi, ao fazer uma contagem dos guer­ salva-me, Deus meu, reiros (24.1-25). pois feriste a todos os meus inimigos nos queixos; quebraste os dentes aos ímpios (w. 5-7). Entendendo o Texto “Porque matou os gibeonitas” (2 Sm 21.1-14). Na Por fim, Davi olhou para frente. época da conquista, aproximadamente 400 anos antes da época de Saul, Israel tinha jurado, em A salvação vem do Senhor; nome de Deus, não fazer mal aos gibeonitas. Saul sobre o teu povo seja a tua bênção (v. 8). rompeu este acordo, e ferozmente atacou os gibe­ onitas, que ainda estavam estabelecidos em Israel. Olhando à nossa volta, você e eu vemos nossas Quando Davi soube que uma fome vinda sobre dificuldades, realisticamente. Mas, olhando para Israel era a punição de Deus, pelo rompimento do

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Davi se sentia seguro. “Deus... estabeleceu comigo um concerto eterno, que em tudo será ordenado e guardado... toda a minha salvação e todo o meu prazer estão nele”. A morte encontrou um Davi confiante, descansan­ do nas promessas que Deus tinha feito a ele, certo da sua própria salvação e de um futuro depois da morte. A Bíblia retrata a morte como inimiga do homem, e o temor da morte como uma fortaleza que Sata­ nás tem em meio à humanidade. A confiança de Davi nos lembra que, para o crente, a morte não é o fim da existência, mas a porta de entrada para um futuro glorioso.

juramento feito em seu nome, consultou os gibeonitas sobre possíveis reparações. Os gibeonitas exigiram a morte de sete dos des­ cendentes de Saul, todos do sexo masculino. Davi ordenou que eles fossem executados, e seus corpos ficassem insepultos. A exposição do cadáver era considerada uma grande desgraça em Israel. A Lei do Antigo Testamento proíbe a punição de qualquer pessoa pelos pecados de seus pais (Dt 24.16). Por causa disso, e porque 2 Samuel 21.1 fixa a culpa em Saul e na sua “casa sanguinária”, parece provável que os sete que Davi executou ti­ vessem desempenhado papéis de liderança na ten­ tativa de exterminar os gibeonitas. O crime sem punição é uma reprovação para qual­ quer nação. Isso foi particularmente abominável para Deus, que usou a fome para trazer este terrível crime à atenção de Davi. “Falou Davi ao Senhor as palavras deste cântico” (2 Sm 22.1-51)- O salmo relembra a ascensão de Davi, de fugitivo a monarca conquistador, e louva a Deus, como a origem da libertação de Davi e de suas realizações. Deus protegeu Davi quando ele estava em perigo mortal (w. 1-7), e Davi se assombrou com o seu grande poder (w. 8-16). Deus resgatou o justo Davi de seus inimigos (w. 17-25), e Davi reconheceu a fidelidade de Deus àqueles que confiam nEle (w. 26-37). Deus ele­ vou Davi ao poder, e à proeminência internacio­ nal (w. 38-46) e Davi entoou louvores ao Senhor pela sua infalível bondade (w. 47-51). Este cântico de louvor, muito similar ao Salmo 18, reflete a ciência de Davi, de que tudo o que ele era, e tinha se tornado, era um gracioso dom de Deus. Era verdade, quando o salmo foi escri­ to, que a recompensa de Deus foi “conforme a minha justiça”. Mas este pensamento não é van­ glória. Davi simplesmente refletia sobre o fato de que Deus é fiel no cumprimento da sua promessa de abençoar aqueles que guardam “os caminhos do Senhor”. Quando eu era criança, eu ficava na varanda da casa da fazenda do meu tio, e olhava a chuva cair sobre um campo, do outro lado da estrada, en­ quanto eu continuava perfeitamente seco. O que Davi está dizendo é que, pela obediência, nós atravessamos a estrada e encontramos as chuvas de bênçãos. As bênçãos de Deus sempre são der­ ramadas. A obediência nos coloca no lugar onde jorram as bênçãos.

“Os valentes que Davi teve” (2 Sm 23.8-39). E pro­ vável que “os trinta” fossem uma corporação de elite ou uma unidade militar especial, talvez como os “boinas verdes” dos Estados Unidos. Outros supõem que estes heróis serviram como líderes das legiões de Davi. Qualquer que tenha sido a sua função, eles nos lembram de que Davi não obteve as suas vitórias sozinho. Todo líder precisa de pessoas talentosas e capazes à sua volta. “Vai, numera a Israel e a Judá” (2 Sm 24.1-17). Embora o capítulo indique que Davi cometeu um pecado ao fazer um censo militar, o texto não indica por que Davi estava errado. Alguns suge­ rem que o censo indicava autoconfiança e falta de confiança em Deus. Outros supõem que Deus ordenou que Davi não efetuasse o censo. Josefo, o historiador judeu do século I, diz que Davi dei­ xou de coletar o imposto do Templo, de meio siclo, que era exigido dos varões hebreus. Qualquer que fosse a verdadeira razão, até mesmo o general Joabe sabia que Davi estava errado, e protestou contra o censo. Quando Davi insistiu, o Senhor deu a Davi a pos­ sibilidade de escolha entre punições. Davi esco­ lheu a mais severa, porém mais curta, das três. Não é prudente insistir na nossa própria maneira, contra a convicção de outros de que o que preten­ demos é errado.

“Holocaustos que me não custem nada”(2 Sm 24.1825). A compra da eira de Araúna é teologicamente importante. Este lugar, próximo à cidade de Davi, Jerusalém, seria adicionado à cidade por Salomão, e se tornaria o local do Templo de Jerusalém. O mesmo monte é considerado, pela tradição, como o lugar onde Abraão veio oferecer seu filho Isa“A s últimas palavras de Davi” (2 Sm 23.1 -7). As úl­ que, obedecendo à ordem de Deus. Inserida aqui, timas palavras de Davi louvaram a Deus. E, o que no final do livro que registra as obras de Davi, é mais importante, mostraram o motivo pelo qual esta compra nos prepara para a apresentação de

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Salomão, que edificou o Templo que Davi tanto desejou construir. A importância pessoal do incidente é vista na res­ posta de Davi, quando Araúna quis dar-lhe a terra. “Não, porém por certo preço to comprarei, porque

DE VOCIONAL______ Quem Fez isso?

(2 Sm 24) A frase, “O Diabo me levou a fazer isso” é mais do que um provérbio. As vezes, os cristãos realmente culpam o Diabo, quando são flagrados em algum pecado. Em outras ocasiões, nós podemos cul­ par outras pessoas. Ou traumas de infância. Ou inúmeras outras coisas. Um dos piores assassinos seriais da história, Ted Bundy, culpava as foto­ grafias pornográficas que ele tinha visto quando adolescente, pelos assassinatos que cometeu por todo o país. Este capítulo levanta a questão da culpa, afirmando “Ele [o Senhor] incitou Davi” a iniciar o censo (v. 1). Em outro relato, Satanás é quem incita Davi (1 Cr 21.1). No entanto, em cada um destes ca­ pítulos, Davi aceita a responsabilidade pelo ato, e diz, “Muito pequei no que fiz” (2 Sm 24.10; veja 1 Cr 21.8). Parte da resposta é encontrada no conceito hebreu de causa. Deus é a causa suprema de tudo o que acontece. Satanás, como ser independente, embora agindo sob o guarda-chuva da vontade permissiva de Deus, é uma causa intermediária. Mas embora Deus e Satanás possam ser considerados responsáveis por suas ações — Deus sendo responsável por punir o pecado de Israel, e Satanás por tentar prejudicar o povo de Deus — Davi também é definitivamente res­ ponsável por suas próprias escolhas. Nem Deus nem Satanás obrigaram Davi a numerar Israel. Você e eu também estamos sujeitos a muitas in­ fluências. Influências feitas por nossos amigos ou familiares. Influências da nossa infância. Influên­ cias que apelam às nossas emoções, nossas paixões mais elementares, nosso desejo de fazer o bem, etc. Até mesmo Deus, o Espírito Santo, influen-

não oferecerei ao Senhor, meu Deus, holocaustos que me não custem nada”. Deus não é honrado quando ofertamos “gorjetas” que não nos fazem falta. O Deus que tanto nos ama mere­ ce ofertas custosas, sejam de dinheiro ou de serviço. cia os cristãos, e sem dúvida Satanás também tenta nos influenciar. Mas em última análise, ninguém poderá dizer, “O Diabo me obrigou a fazer isso”. Ou, “a minha infância me obrigou a fazer aquilo”. Sem defender, de nenhuma maneira, a distribui­ ção irrestrita de pornografia, podemos dizer, com confiança, que a exposição precoce de Ted Bundy à pornografia não o obrigou a cometer os seus ter­ ríveis crimes. A nossa própria vontade está entre nossos atos e as muitas influências que são exercidas em cada um de nós. Em última análise, quando nós pecarmos, deveremos dizer, como Davi; “Muito pequei no que fiz”. A culpa não é de Deus, nem do Diabo, nem da minha infância, mas minha. Por que é tão importante encarar esta verdade e aceitar a responsabilidade pelos nossos erros? Por­ que admitir o erro é o primeiro passo necessário que damos em nossa jornada em direção a Deus. Quando aceitamos o fato do nosso pecado, esta­ mos preparando nossos corações para procurar, e para encontrar, o perdão que nos é oferecido em Deus. Aplicação Pessoal Não existe ninguém mais afastado de Deus, do que aquele que se recusa a aceitar a responsabilidade por seus pecados. Citação Importante “A confissão das más obras é o início das boas obras.” — Agostinho

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em AGEU

1 REIS INTRODUÇÃO O Primeiro e o Segundo livro dos Reis compõem um único livro na Bíblia hebraica. Juntos eles narram a história do reino judaico desde 970 a.C. até 586 a.C. Metade de 1 Reis é dedicado ao reinado próspero de Salomão. O resto do livro fala da divisão deste reino em nação do norte (Israel) e nação do sul (Judá), e registra a história de cada uma por volta de 852 a.C. Os reis de cada reino são avaliados de acordo com os seus atos, ou seja, se fizeram o que era bom ou o que era mau “aos olhos do Senhor”. O impacto causado por cada governo, quer para o bem, quer para o mal, é explicado. Os eventos destacados em 1 Reis incluem a edificação e a consagração do templo de Salomão (caps. 5-9), a divisão dos reinos (caps. 12-14), o conflito entre Elias e Acabe (caps. 17-19), e o governo de Acabe e Jezabel (caps. 20-22). ESBOÇO D O CONTEÚDO I. O Reino de Salomão ........................................................................................................................1 Rs 1— 11 A. A ascensão de Salom ão.....................................................................................................................1 Rs 1— 4 B. O Templo de Salomão .....................................................................................................................1 Rs 5— 8 C. Uma avaliação de Salomão............................................................................................................1 Rs 9— 11 II. O Reino Dividido.........................................................................................................................1 Rs 12— 22 A. A divisão.........................................................................................................................................1 Rs 12— 14 B. Vários reis ...................................................................................................................................... 1 Rs 15— 16 C. Elias e A cabe..................................................................................................................................1 Rs 17— 19 D. O governo de Acabe ....................................................................................................................1 Rs 20— 22 GUIA DE LEITURA (7 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Capítulos 1— 4 CO \T\1

Leitura. 71 72 73 74 75 76 77

9— 11 12— 14 15— 16 17— 19 20— 22

Passagem L 1 8 11 13 15 19 21

1 REIS 12 DE MARÇO LEITURA 71

A ASCENSÃO DE SALOMÃO 1 Reis 1— 4

“Agora, pois, 6 Senhor, meu Deus, tu fizeste reinar teu sua promessa e nomeasse Salomão (w. 11-27). Sa­ servo em lugar de Davi, meu p ai” (1 Rs 3.7). lomão foi coroado (w. 28-53), recebeu conselhos de Davi no leito de morte (2.1-12), e agiu decisi­ Salomão mostrou prudência ao esperar que Davi vamente para consolidar o seu poder (w. 13-46). cumprisse a sua promessa e o designasse como go­ A oração de Salomão pedindo sabedoria para guiar vernante. Quando temos certeza da vontade de o povo do Senhor foi atendida (3.1-15) e ilustrada Deus, não há necessidade de conspiração e ma­ (w. 16-28). Homens chave na burocracia de Salo­ quinações. mão são citados (4.1-19), com uma narrativa de provisões diárias suficientes para alimentar uma Biografia: Salomão corte de 5.000 pessoas (w. 20-28). O capítulo ter­ Salomão foi o quarto filho de Davi e Bate-Seba. mina com um resumo das realizações intelectuais A escolha de Salomão por Deus para suceder de Salomão (w. 29-34). seu pai (2 Sm 12.24,25; 1 Cr 22.9,10; 28.4-7) é uma maravilhosa ilustração da graça perdoadora Entendendo o Texto de Deus. O pecado dos país foi removido, e Sa­ “E nunca seu pai o tinha contrariado” (1 Rs 1.1lomão, filho da união agora curada, foi elevado 10). A falha de Davi em disciplinar Adonias, as­ para se tornar rei. sim como ele havia falhado em disciplinar Absalão, Salomão desfrutou de um reinado de 40 anos, du­ gerou um resultado similar. A promessa de Davi rante o qual ele manteve todo território conquis­ de fazer Salomão rei devia ser bem conhecida. No tado por seu pai. A riqueza advinda do comércio entanto, com Davi velho e fraco, Adonias, o filho e dos tributos se acumulou em Israel durante estes mais velho que restava de Davi e que era meio ir­ anos, e Salomão empreendeu muitos projetos de mão de Salomão, tramou fazer-se governante. construção de custos elevados. A riqueza de Salo­ Os pais que falham em disciplinar seus filhos com­ mão e a sua sabedoria são discutidas nos 11 primei­ partilham a culpa quando estes escolhem fazer o ros capítulos de 1 Reis. que é mau. As realizações intelectuais de Salomão incluem a contribuição de muitos provérbios para o Livro de “Então, falou Natã a Bate-Seba” (1 Rs 1.11-27). O Provérbios do Antigo Testamento e, conforme a apelo de Natã a Bate-Seba sugere que agora existia maioria acredita, os Livros de Cantares de Salomão um profundo amor entre Davi e a mulher que antes e Eclesiastes. havia sido o motivo de uma traição. Como esposa favorita, Bate-Seba ganhou uma atenção imediata Visão Geral e o seu apelo foi seguido rapidamente pela chega­ Quando Davi estava velho e fraco, Adonias reuniu da de Natã. Não houve nenhuma intriga, mas um partidários e tentou fazer-se rei (1.1-10). O profeta apelo direto a Davi para que ele cumprisse a sua Natã e Bate-Seba rogaram a Davi que cumprisse promessa e fizesse Salomão rei.

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Davi cumpriu esta promessa, e Salomão foi pro­ movendo a culpa potencial em que Davi incorreu permitindo que os assassinatos de Joabe ficassem clamado rei. impunes. Simei, o encrenqueiro que anteriormente “Por que há tal ruído?” (1 Rs 1.28-53). O som de havia amaldiçoado a Davi, mas que teve permis­ gritos e trombetas alcançou a multidão que feste­ são de viver quando Davi recuperou o trono, foi java com Adonias. Quando chegou a notícia de advertido a não deixar Jerusalém. Quando Simei que Salomão era rei, todos os convidados foram desobedeceu esta determinação, foi executado. embora. As pessoas que são amigas por interesses Por meio destes atos decisivos e necessários Salo­ próprios nos abandonarão quando chegarem as mão ganhou o firme controle do seu reino. aflições. Adonias fugiu para o altar e segurou nas suas “pon­ “E Salomão amava ao Senhor” (1 Rs 3.1-15). Os tas”, que eram projeções semelhantes a alças sobre “altos” mencionados aqui são centros de adoração cada um dos cantos superiores. Segundo o costume locais, geralmente localizados sobre um monte no antigo uma pessoa que tivesse matado alguém aci­ campo ou sobre colinas nas cidades. Os cananeus dentalmente estaria a salvo se segurasse as pontas também usavam “altos”, e na história da adoração do altar. Este ato simbolizava colocar-se debaixo da de Israel, com muita frequência eram introduzidos proteção de Deus. A ação de Adonias mostra que elementos pagãos em sua fé, em tais lugares. Isso ele esperava que Salomão o executasse — algo que não é sugerido aqui, quando o texto explica que Sa­ ele pretendia fazer a Salomão. As pessoas que pla­ lomão e seu povo adoravam ao Senhor ali “porque até àqueles dias ainda se não tinha edificado casa ao nejam o mal tendem a ver o mal nos outros. Salomão garantiu a Adonias que, desde que ele nome do Senhor”. provasse ser uma pessoa “digna”, estaria a salvo. No Os cristãos, como Salomão, podem errar por igno­ contexto, isso implica em renunciar toda reivindi­ rância. Deus é misericordioso nesses casos, desde cação ao trono e apoiar o direito de Salomão a ele. que o nosso amor por Ele seja real e os nossos mo­ tivos sejam puros. “Guarda a observância do Senhor, teu Deus, para O amor de Salomão por Deus foi demonstrado andares nos seus caminhos e para guardares os seus es­ pela sua obediência ao Senhor e pelo seu pedido tatutos, e os seus mandamentos” (1 Rs 2.1-11). Antes de que Deus lhe desse “um coração entendido para de morrer, Davi exortou seu filho a ser fiel a Deus. julgar a teu povo, para que prudentemente discirna Fé em Deus, amor por Ele e dedicação à obedi­ entre o bem e o mal”. ência, é a herança mais importante que podemos O coração de servo que Salomão demonstrou agra­ dou a Deus, que por toda a Escritura mostra que a deixar para nossos filhos. disposição para servir tem a mais elevada priorida­ “Uma palavra tenho que dizer-te” (1 Rs 2.13-25). de (cf. M t 20.26-28). O pedido de Adonias em relação a Abisague, que tinha cuidado de Davi durante a sua doença final, “Dividi em duas partes o menino vivo ” (1 Rs 3.16era motivado por uma ambição política. Nos tem­ 28). A história é contada para ilustrar a sabedoria pos do Antigo Testamento a posse de uma concu­ de Salomão. Mas por que esta história, em vez de bina real era equivalente a reivindicar o trono (cf. 2 algum incidente ilustrando o conhecimento de Sa­ Sm 3.7,8; 12.8; 16.21,22). Salomão percebeu que lomão em arquitetura, habilidade diplomática, ou o seu irmão mais velho ainda estava tramando to­ brilhantismo em debate filosófico? Esta história é mar-lhe trono, e ordenou a sua execução. A execu­ contada porque “sabedoria” no sentido do Antigo ção não foi por capricho. Adonias havia cometido Testamento é a aplicação prática da perspicácia de alguém sobre as situações da vida. Salomão teve o crime de sedição. Salomão também tratou de débitos não resolvidos uma grande percepção da inveja que motivou a que Davi não tinha sido capaz de pagar. Abiatar, mulher cujo filho havia morrido. Ele confiava que o sacerdote, que apoiava Adonias, teve a permis­ ao pedir uma espada a inveja se manifestaria e re­ são de viver tendo em vista os seus anos de serviço velaria a verdadeira mãe, uma vez que não havia leal a Davi. O general Joabe também havia sido nenhum meio objetivo disponível para determinar leal, mas tinha agido por conta própria, frequente­ quem estava dizendo a verdade. mente para o desgosto de Davi (cf. 2 Sm 3.22-27; Salomão tinha pedido um “coração entendido” 20). A associação traiçoeira de Joabe com Adonias para julgar o povo. Foi exatamente isso que Deus deu a Salomão base para ordenar a morte de Joabe. lhe deu; sabedoria para governar. Salomão, porém, viu a execução como retribuição Não cometamos o erro de supor que uma pessoa por aqueles que Joabe havia assassinado, assim re­ que sabe muito é, portanto, sábia. A pessoa sá­

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bia aplica o que sabe para tomar decisões certas “Largueza de coração” (1 Rs 4.29-34). A sabedoria e boas. de Salomão é exaltada, mas também a sua “largue­ za de coração” (ou, “larga inteligência”, conforme “O provimento de Salomão, cada dia” (1 Rs 4.20- aversão ARA). São creditados a Salomão milhares 28). Os estudiosos calcularam o número de pessoas de provérbios e salmos, além de um cuidadoso es­ que havia na corte de Salomão (em sua adminis­ tudo de botânica e zoologia. Deus deu a Salomão tração), baseando-se na quantidade de alimentos muito mais do que ele pediu. Que Deus grande e descrita aqui. A melhor estimativa gira em torno bom nós temos! de 4 mil a 5 mil pessoas!

DE V OCION AL_

Sábio o Suficiente para Esperar (1 Rs 1) Eu não sei quanto a você, mas eu acho frustrante sentar na sala de espera de um consultório médi­ co. Esperar, quando você sente a necessidade de fazer outra coisa, nunca é divertido. Também não é divertido estar na sala de espera de Deus. Esperar, quando sentimos que deve­ ríamos estar fazendo alguma coisa. Esperar, en­ quanto a pressão aumenta e sabemos que alguma coisa tem de acontecer. A Bíblia está repleta de histórias de pessoas que, sob pressão, simplesmente não conseguiram es­ perar. Jacó não conseguiu esperar, mas tramou roubar a bênção do seu irmão (Gn 27). Saul não conseguiu esperar, mas em desespero vio­ lou a Palavra de Deus e as instruções de Samuel oferecendo sacrifícios (1 Sm 13). No entanto, Salomão, cuja própria vida estava ameaçada, pa­ rece ter esperado com tranquilidade e confiança, quando Adonias tentou roubar-lhe o reino. Mes­ mo no último momento foi Bate-Seba e Natã, o profeta, e não Salomão, que rogaram a Davi que agisse. Bate-Seba rogou a Davi que agisse, certa de que se Adonias se tornasse rei, ela e Salomão seriam “tratados como traidores” (1 Rs 1.21, NTLH). Como evidência, Bate-Seba salientou que Ado­ nias deu uma festa e convidou a “todos os filhos do rei” e outros, mas tinha excluído vários dos principais conselheiros de Davi, como também Bate-Seba e Salomão. No Oriente Médio, com­ partilhar uma refeição colocava a pessoa debaixo da proteção do anfitrião. Um convite para a festa de Adonias era uma promessa de futura segu­ rança caso ele se tornasse rei. Não ser convidado significava que Adonias pretendia executar esta pessoa quando alcançasse o poder. Em vista de tudo isso, a prudência de Salomão é ainda mais impressionante. Podemos explicar isso apenas de uma forma. Como sua mãe e o profeta Natã, Salomão sabia que Deus havia pro­

metido que ele sucederia Davi no trono de Isra­ el. E mesmo assim, Salomão teve a coragem, e a sabedoria, de esperar no Senhor. Eu não gosto daqueles momentos quando Deus me manda ficar sentado na sua sala de espera. Eu preferiria estar fora fazendo alguma coisa. Quase qualquer outra coisa! Somente lembrando-nos de que nós, como Salomão, recebemos promes­ sas grandes e preciosas, podemos encontrar a coragem e a sabedoria para esperarmos até que Deus esteja pronto para agir. Aplicação Pessoal Quando você tiver que esperar, espere no Senhor. Citação Importante “Esperei com paciência no Senhor, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor.” — Salmos 40.1 13 DE MARÇO LEITURA 72 TEMPLO DE SALOMÃO 1 Reis 5— 8 “Eis que oi céus e até o céu dos céus te não poderiam conter, quanto menos esta casa que eu tenho edifica­ do” (1 Rs 8.27). A oração deve refletir o nosso entendimento de quem Deus é, e como Ele se relaciona com os seres humanos. A oração de Salomão na dedicação do Templo de Jerusalém é um modelo deste elemento na oração. Contexto O Templo de Jerusalém. Israel deveria ter um úni­ co lugar de adoração, para demonstrar a unidade de Deus e acesso a Ele somente através de sacri­ fício. Este lugar estava fixado em Jerusalém, no Templo que Salomão construiu. A Lei do Antigo Testamento exigia que sacrifícios prescritos pelo pecado e para a adoração fossem feitos apenas sobre o altar do Templo de Jerusalém. Deus mi­

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sericordiosamente “punha a sua presença” ali como um símbolo do amor da aliança e um lugar de oração e adoração. O Templo que Salomão construiu em Jerusalém durou até a destruição daquela cidade pelos babi­ lônios em 586 a.C. Mais tarde, quando um grupo de cativos voltou da Babilônia, um templo me­ nor foi erigido no mesmo local (Ag 2.1-9). No século I, este “segundo templo” foi grandemente expandido e embelezado por Herodes, o Grande, que levou 46 anos para reconstruí-lo. O segundo Templo, onde Jesus adorou e ensinou, foi destru­ ído pelo exército romano em 70 d.C. A falta de um Templo e um altar hoje significa que o juda­ ísmo moderno não tem como apresentar os sacri­ fícios pelo pecado, exigidos sob a Lei do Antigo Testamento. Mas o Profeta Ezequiel predisse que um outro Templo será edificado naquele local, nos dias em que o Messias voltar para governar o mundo (Ez 43.7). Visão Geral Salomão organizou o seu esforço de construção (5.1-17). A construção do Templo de Jerusalém começou no quarto ano de seu reinado (6.138). Salomão também construiu o seu próprio palácio (7.1-12). O Templo foi mobiliado (w. 13-51); e quando tudo estava pronto, Salomão trouxe a Arca para dentro do Templo (8.1-21). Ele dedicou o magnífico edifício a Deus com uma oração (w. 22-61), sacrifícios, e celebração (w. 62-66). Entendendo o Texto “Eu intento edificar uma casa ao nome do Se­ nhor” (1 Rs 5-1-18). Salomão deu continuidade à amizade desenvolvida por Davi com Hirão, rei de Tiro. Aquela nação costeira tinha madeira e trabalhadores habilidosos, mas precisava dos cereais que poderiam ser fornecidos por Israel. O compromisso de Salomão de edificar o Tem­ plo de Deus era m uito conveniente a Hirão. Isso, porém, exigiu muito dos recursos de Israel. O texto menciona “trabalhadores recrutados”. Salomão contava com a “corveia”, um impos­ to sobre o tempo. Os trabalhadores israelitas davam quatro meses do ano para os projetos de Salomão, e tinham oito meses para traba­ lhar em suas próprias lavouras. Esta primeira corveia de trabalhadores para o Templo foi jus­ tificada. Posteriormente, quando Salomão de­ cidiu se concentrar em muitos outros projetos de construção, isso se tornou um dreno para a economia geral, e uma fonte de reclamações e amargura.

“No ano undécimo... se acabou esta casa” (1 Rs 6.138). A ilustração mostra o Templo terminado, des­ crito neste capítulo. Foram necessários sete anos para ser completado. De acordo com este capítulo, todo o interior foi revestido de ouro puro.

O Templo de Jerusalém

“Edificou Salomão... a sua casa”(1 Rs 7.1 -12). O pa­ lácio de Salomão foi construído em treze anos. Não porque ele o considerasse mais importante do que o Templo, ou que lhe tenha dedicado mais cuida­ do. O complexo do palácio tinha muitos edifícios, uma mistura de centros administrativos públicos e habitações privadas. Além disso, Davi tinha passa­ do os seus últimos anos juntando recursos para o Templo, o que reduziu consideravelmente o tempo que Salomão levou para terminar a construção. Foi decisão de Deus abençoar Salomão com gran­ des riquezas. Dificilmente podemos criticar como Salomão escolheu usá-las. Não há nada de errado em ser rico hoje em dia — contanto que, como Salomão, a pessoa rica coloque a vontade de Deus em primeiro lugar em sua vida. “Era cheio de sabedoria, e de entendimento, e de ciência para fazer toda obra de cobre” (1 Rs 7.1351). Aqui, como frequentemente ocorre no Antigo Testamento, a palavra “cobre” representa todo tipo de metal. Não é possível fazer desenhos precisos dos móveis do Templo a partir da descrição dada aqui. O que fica claro é que nenhuma despesa foi poupada. Salomão estava determinado a honrar a Deus fazendo do seu Templo o edifício mais boni­ to e caro possível.

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“E constituí ali lugar para a arca” (1 Rs 8.1-21). A Arca da Aliança era o objeto mais sagrado da religião de Israel. Era somente ali, no alto desta caixa de ouro, que o sangue do sacrifício era es­ pargido no Dia da Expiação, e “todo pecado” de Israel, perdoado (Lv 16). A Arca era, portanto, o único lugar na terra onde o Deus santo se en­ contrava com homens pecadores. O Templo, tão grandioso quanto era, tinha significado apenas

DEVOCIONAL______ A Oração e o Caráter de Deus

(1 Reis 8) “E frustrante”. Sue estava falando sobre a sua clas­ se de adultos, e a sua dificuldade para fazer com que eles orem em voz alta. “Eles simplesmente não parecem saber muito sobre a oração. E eles com certeza não orarão em voz alta se outros estiverem por perto”. Eu suponho que é ainda mais frustrante para as mulheres em sua classe. Querendo orar. Sentindo a necessidade de orar. Porém não se sentindo sequer capazes de tentar. A qualquer um que se sinta assim — inseguro, hesitante — a oração de Salomão por ocasião da dedicação do Templo pode ajudar. Salomão fun­ damentou as suas orações no seu entendimento de como Deus é. Por conhecer a Deus, ele sabia como orar. Salomão sabia que Deus é uma Pessoa fiel, que cumpre as suas promessas. De forma que Salomão podia reivindicar as promessas de Deus, e pedir que Ele as cumprisse (w. 23-26). Salomão sabia que Deus encheu o universo, e que, no entanto, se curva para ouvir a oração de uma única pessoa. Assim Salomão podia pedir a Deus para ouvir as orações que o seu povo oferecia no Templo (w. 27-30). Salomão sabia que Deus é o Juiz moral do seu universo. De forma que Salomão podia pedir a Deus para punir o culpado e absolver o inocente (w. 31,32). Salomão sabia que Deus perdoa aqueles que con­ fessam o pecado a Ele. Assim Salomão podia pedir a Deus para restaurar a sorte de Israel quando o povo se arrependesse (w. 33,34). Salomão sabia que Deus é Todo-Poderoso, exer­ cendo um controle soberano sobre tudo o que acontece na terra. De forma que Salomão podia pedir a Deus para intervir e agir quando o seu povo enfrentasse o desastre (w. 35-40). Salomão sabia que Deus ama toda a humanidade. Assim Salomão podia pedir a Deus para abençoar

porque alojava a Arca, na qual repousava a pre­ sença de Deus. Todas as nossas magníficas catedrais, todos os nos­ sos órgãos e vitrais, só terão significado se servirem como um lugar de encontro entre Deus e um povo que vem para adorá-lo através de Jesus Cristo. E, se Jesus Cristo estiver ali, presente nos corações das pessoas da congregação, um celeiro pode servir da mesma forma que uma bonita igreja.

até mesmo o estrangeiro que fosse a Ele em oração (w. 41-43). Salomão sabia que Deus é a favor do seu povo. De forma que Salomão podia pedir a Deus para ajudálos nos períodos de guerra (w. 44,45). Salomão sabia que Deus detesta o pecado, porém ama o pecador (w. 46-51). Assim Salomão podia pedir, não importa quão grande e quão terrível fosse a disciplina, que quando o povo de Deus se voltasse para Ele, o Senhor perdoaria e restauraria a sua sorte. E Salomão sabia que Deus tinha escolhido o povo que era conhecido pelo seu nome; esta escolha se deveu ao amor infinito do Senhor. De forma que Salomão, você, e eu, podemos ter a certeza de que Deus ouvirá e responderá as nossas orações. Podemos não precisar fazer os pedidos específicos que Salomão fez. Mas como Salomão, podemos deixar com que aquilo que aprendemos sobre Deus nos guie em nossas orações. Podemos orar confian­ temente, sabendo que Deus agirá de acordo com quem Ele é, e de acordo com o grande amor que Ele tem por você e por mim. Aplicação Pessoal Quando você não souber o que ou como orar, pense em quem Deus é, e deixe que os seus pen­ samentos sobre o Senhor o guiem enquanto fala com Ele. Citação Importante “Se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as peti­ ções que lhe fizemos.” — 1 João 5.14,15 14 DE MARÇO LEITURA 73 O GOVERNO DE SALOMÃO 1 Reis 9— 11 “O rei Salomão excedeu a todos os reis da terra, tanto em riquezas como em sabedoria” (1 Rs 10.23).

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A crescente prosperidade material de Salomão era proporcional ao seu declínio espiritual. A experiên­ cia de Salomão nos serve, hoje, como uma adver­ tência em relação à ilusão do sucesso. Visáo Geral Deus apareceu para Salomão outra vez, com uma promessa e uma advertência (9.1-9). Alguns dos projetos de Salomão são listados (w. 10-28), e a sua fama é ilustrada por uma visita da rainha de Sabá (10.1-13). A vasta riqueza de Salomão é explicada (w. 14-29). O declínio espiritual de Salomão é atribuído à paixão que sentia por suas esposas estrangeiras (ll.l-1 3 );e a perda da maior parte do seu reino, como consequência, é predita (w. 14-43). Entendendo o Texto “Se tu andares perante mim como andou Davi, teu pai, com inteireza de coração e com sinceridade” (1 Rs 9.1-9). Deus tornou a aparecer a Salomão 13 anos depois do Templo estar terminado. O Senhor lembrou a Salomão que Ele ouviu a oração de de­ dicação do rei. Agora, aproximadamente após 25 dos 40 anos do reinado de Salomão, Deus renovou a sua promessa a seu servo, mas acrescentou uma advertência solene: “Se vós e vossos filhos de qual­ quer maneira vos apartardes de mim e... fordes, e servirdes a outros deuses... então...” Por que um segundo aparecimento agora? Porque, com os seus objetivos alcançados e seus sonhos re­ alizados, Salomão estava especialmente vulnerável. O sucesso frequentemente é assim. Enquanto es­ tamos trabalhando, nos esforçando para alcançar um objetivo, permanecemos fiéis ao Senhor. Mas quando “conseguimos o que queremos”, perdemos o nosso senso de propósito e a nossa dedicação ao Senhor. A advertência de Deus, vindo neste mo­ mento crítico na vida de Salomão, foi especialmen­ te misericordiosa. A grande tragédia é que Salomão falhou em dar atenção ao que Deus disse. Para alguns, a aposentadoria é um momento críti­ co. Trabalhamos a vida inteira. Agora é hora de re­ laxar e desfrutar. Em vez de usar o seu tempo para servir a Deus e aos outros, alguns perdem o seu senso de propósito e se afastam do Senhor. Aquele momento em que pensamos ter alcançado o sucesso pode ser o momento mais perigoso para a nossa vida espiritual. “E esta é a causa do tributo ”(1 Rs 9.10-27). A passa­ gem apenas dá uma ideia das conquistas magníficas de Salomão. Por exemplo, os muitos programas de construção impressionantes de Salomão, que fo­ ram parcialmente explorados pelos arqueólogos,

receberam apenas uma ou duas palavras nos versí­ culos 18 e 19. No entanto, tais construções estão entre as mais impressionantes do mundo antigo. As empreitadas comerciais de Salomão também são mencionadas apenas de forma breve (w. 26-28). Entretanto, ele foi o único rei na longa história de Israel a captar a visão do comércio exterior e a de­ senvolver uma frota. A sua parceria comercial com Hirão de Tiro trouxe uma vasta riqueza. Estas coisas oferecem meramente uma ideia dos grandes planos e programas visionários implanta­ dos por Salomão. Contudo, eles nos lembram o quanto Salomão foi verdadeiramente excepcional. A mesma passagem nos conta que Salomão man­ tinha os rituais anuais que honravam a Deus (v. 25). No entanto, como Deus lembrou a Salomão, Ele está preocupado com a “inteireza de coração e com [a] sinceridade” (v. 4). E um amor sincero para com Deus, e não a execução fiel dos serviços religiosos, que nos mantém próximos a Ele. “Ouvindo a rainha de Sabá a fama de Salomão " (1 Rs 10.1-13). A sabedoria de Salomão é ilustrada neste relato da visita da rainha de Sabá, atual Yemen. No tempo antigo, Sabá era um centro comercial, ligan­ do Africa, índia, e as terras do Mediterrâneo. As perguntas que ela fez a Salomão foram hidot, neste contexto perguntas sobre questões que envolviam verdades teológicas práticas e profundas. Os presentes que os dois trocaram provavelmente faziam parte de negociações comerciais efetuadas durante a visita. A rainha partiu cheia de louvor a Salomão e a Deus, que tinha dado a Israel um governante tão sábio. “O rei Salomão excedeu a todos os reis da terra... em riquezas” (1 Rs 10.14-29). A passagem continua com mais detalhes a respeito do esplendor da era de Salomão. Ela registra a renda anual pessoal de Salo­ mão como sendo de 25 toneladas de ouro! Como outros reis do mundo antigo, Salomão dedicou boa parte do ouro ao Templo, e usou o resto para a os­ tentação. Apesar do registro bíblico das fontes de riqueza de Salomão, alguns comentadores moder­ nos têm rejeitado o relato bíblico considerando-o produto “de imaginação exuberante”. No entanto, a comparação com inscrições antigas mostra que os governantes antigos realmente juntavam vastas quantidades de ouro, e usavam da mesma forma que Salomão usou. Ainda mais significativo é o registro egípcio de presentes dados pelo Faraó Osorkon aos deuses do Egito de pelo menos 383 toneladas de metais preciosos. Por que isso é significativo? Porque exa­ tamente cinco anos antes deste presente, seu pai,

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Sisaque, havia atacado Jerusalém e “tomado os te­ souros da Casa do Senhor e os tesouros da casa do rei” (14.26). Salomão realmente juntou centenas de toneladas de ouro. E pelo menos parte dele foi posteriormente dado pelo Faraó Osorkon aos deu­ ses e deusas do Egito. As coisas materiais que damos a Deus não têm um significado duradouro para Ele. O que Deus deseja é um coração totalmente entregue. Isso — e só isso — é o tesouro de Deus. “O rei Sabmão amou muitas mulheres estranhas [ou “es­ trangeiras”, ARA] (1 Rs 11.1-13). A. Lei do Antigo Tes­ tamento proibia o casamento com mulheres estran­ geiras, e especificamente proibia acumular grandes quantidades de ouro e prata, assim como casamentos múltiplos para os reis (cf. D t 17.14-20). Os casamen­ tos de Salomão com mulheres estrangeiras, contraídos para selar tratados internacionais, foram desastrosos. Salomão não só permitiu que as suas esposas adoras­ sem os seus deuses e deuses antigos, como também começou a adorar tais deuses juntamente com elas. A desobediência de Salomão foi julgada severamen­ te. Deus determinou tirar a maior parte do reino dos filhos de Salomão, mas por causa de Davi reser­ vou a tribo de Judá e Jerusalém aos descendentes de Salomão. Salomão nos lembra que não devemos ficar admi­ rados com outros mais inteligentes do que nós. Os sábios deste mundo tecem as suas teorias, e podem ridicularizar a fé. Mas a verdadeira sabedoria é encon­ trada na completa confiança da pessoa simples em Deus e na fidelidade a Ele. “Levantou, pois, oSenhor... um adversário”(1 Rs 11.1443). Os últimos anos de Salomão foram arruinados pela frustração. Inimigos apareceram para despedaçar os seus planos e desenvolver a hostilidade a Israel. Contudo, Salomão não foi capaz de expulsá-los. Em Israel, um homem capacitado chamado Jeroboão foi promovido — mas voltou-se contra Salomão quando um profeta predisse que ele, e não um filho de Salomão, governaria as 10 tribos do norte. O sucesso de Salomão tinha dependido do seu re­ lacionamento com Deus, e não da sua inteligência. Não são os nossos talentos, mas o nosso Deus que nos traz o sucesso.

O que acontecerá a você a mim se formos bemsucedidos? E se todos os nossos sonhos se tomarem realidade? E se todas as nossas esperanças se reali­ zarem? E se alcançarmos a prosperidade e “vencer­ mos na vida”? Enquanto poucos de nós chegarão a conhecer este tipo de sucesso, para a maioria das pessoas mais velhas hoje em dia chegará um tempo em que po­ derão parar de lutar. Os filhos terão crescido e se mudado. Estaremos prontos para nos aposentar. Teremos o suficiente para viver bem, e uma saúde razoavelmente boa. Poderemos nos sentar confor­ tavelmente, e relaxar. Somente depois percebere­ mos que o sucesso começou a nos arruinar, como certamente arruinou Salomão. Salomão alcançou o que queria. Seus planos fo­ ram executados. Seus sonhos se realizaram. Suas riquezas foram além das estimativas. E então, sem mais nada a fazer, ele se voltou para as suas espo­ sas estrangeiras e os seus deuses. Como resultado, a velhice de Salomão foi um tempo de frustração e futilidade. A maioria acredita que Salomão escreveu o Livro de Eclesiastes durante a última e vazia década de sua vida. Neste livro Salomão relembra todas as suas realizações, olha honestamente para as suas paixões, e tristemente conclui: “Vaidade! Vaidade! Tudo é vaidade!” E Salomão estava certo em tudo o que disse. Em Eclesiastes, Salomão se propôs a encontrar sentido na vida através da “sabedoria” e “debaixo do sol”. As duas frases significam “pela razão humana, sem qualquer ajuda, não pela revelação”, e “na estrutura do universo material”. Salomão voltou suas cos­ tas para Deus e perdeu o contato com o Senhor. No entanto, este que foi o mais sábio dos homens sondou toda a experiência humana e concluiu que, fora de Deus, tudo é vaidade. E assim voltamos àquela pergunta, “O sucesso ar­ ruinará você e a mim?” E a resposta é: Ele pode. Ele pode. Mas somente o fará se, quando descansarmos dos nossos trabalhos neste mundo, também rela­ xarmos em nosso compromisso com o Senhor. Se continuarmos a colocar Deus em primeiro lugar em nossas vidas, então o sucesso pode e será uma bên­ ção. Pois nós ainda buscaremos o verdadeiro sentido da vida no nosso relacionamento com o Senhor.

DEV OCIONAL____________________________ O Fim da Vida (1 Reis 11) Eu me lembro o título de um filme antigo — Will Success Spoil Rock Hunter? (O Sucesso Arruinará

Rock Hunter?) Na verdade, isso é tudo o que eu me lembro dele. Eu acredito que o filme em si seja digno de esquecimento. Mas o título com certeza não o é.

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Aplicação Pessoal Aposente-se do trabalho, mas não de servir a Deus. Citação Importante “O coração é rico quando está satisfeito, e ele está sempre satisfeito quando os seus desejos estão fixa­ dos em Deus. Nada pode trazer maior felicidade do que fazer a vontade de Deus por amor a Ele.” — Miguel Febres Cordero Munoz 15 DE MARÇO LEITURA 74 O REINO SE DIVIDE 1 Reis 12— 14 “Ninguém seguiu a casa de Davi, senão a tribo de Judá” (1 Rs 12.20). Um antigo provérbio sugere que quando “se co­ meça bem, a metade do sucesso já está alcançada”. E igualmente verdadeiro que “o que começa mal, termina mal!” Contexto Israel. O Reino do Norte de Israel foi fundamenta­ do sobre uma religião apóstata. Nenhum dos seus 21 governantes fez o que era certo aos olhos do Senhor. Gradualmente muitos crentes verdadeiros do norte cruzaram a fronteira para se estabelece­ rem em Judá, algo ilustrado pelo crescimento dos originais 180.000 homens de Judá destros para a guerra (12.21) para 400.000 varões belicosos 18 anos depois (2 Cr 13.3). Décadas mais tarde, o Reino do Norte foi esma­ gado pela Assíria, e o seu povo deportado. Isso fez surgir a fábula das “10 tribos perdidas”. Na verda­ de, uma vez que membros de todas as 12 tribos foram encontrados em Judá ao longo de toda a era do reino, todas as 12 tribos de Israel foram repre­ sentadas, e nenhuma tribo foi “perdida”. Muitos podem se desviar do Senhor. Mas Deus preservará os que são seus. Visão Geral Israel se rebelou quando o filho de Salomão, Roboão, ameaçou aumentar os já pesados tributos (12.1-19). As 10 tribos do norte fizeram Jeroboão rei (w. 20-24). Jeroboão constituiu uma religião falsificada (w. 25-33), que foi condenada por um profeta que veio de Judá (13.1-34). O profeta Aias anunciou o juízo de Deus sobre a família de Jero­ boão (14.1-20). Judá também abandonou a Deus e sofreu uma invasão egípcia (w. 21-31). Entendendo o Texto “Roboão deixou o conselho que os anciãos lhe tinham aconselhado” (1 Rs 12.1-9). Com a morte de Salo­

mão, seu filho Roboão assumiu o trono. Nos anos finais de Salomão, pesados impostos e o aumento da corveia sobre o trabalho causaram ressentimen­ to. O norte fez da redução de impostos uma condi­ ção para reconhecer a autoridade real de Roboão. O orgulho de Roboão foi demonstrado ao rejeitar a conciliação aconselhada pelos anciãos, preferindo uma exigência arrogante de submissão. Um líder que atende às queixas justas dos liderados ganha a lealdade destes. O líder que age arrogante­ mente merece perder o apoio. “Roboão... ajuntou toda a casa de Judá” (1 Rs 12.2024). Quando o norte aclamou Jeroboão como rei, Roboão se preparou para a guerra. Apenas a inter­ venção de um profeta chamado Semaías pôs fim ao conflito. O conselho de Semaías ainda é apropriado para os cristãos, que com muita frequência encontram oca­ sião para fazer inimizade com outros crentes: “Não subireis, nem pelejareis contra vossos irmãos”. “O rei... fez dois bezerros de ouro” (1 Rs 12.25-33). Jeroboão temia que se o seu povo subisse a Jerusalém para adorar ao Senhor, como a Lei exigia, eles pudes­ sem buscar, com o passar do tempo, a reunificação política. Os seus temores o levaram a estabelecer um sistema que falsificava a religião revelada no Anti­ go Testamento. Jeroboão escolheu duas cidades há muito tempo ligadas à adoração, Betei e Dã, como centros de adoração. Ele constituiu sacerdotes que não eram da descendência de Arão, mudou as datas das festas religiosas, e ofereceu sacrifícios sobre alta­ res levantados em Betei e Dã. Este foi um abandono proposital da religião reve­ lada. No entanto, isso tinha a intenção de imitar a verdade. As falsas religiões geralmente possuem elementos em comum com a fé bíblica. Por exem­ plo, muitas das “grandes” religiões do mundo pre­ gam a moralidade. Porém, a fé falsificada carece de um ingrediente essencial — a presença e o poder do único Deus, que se revelou a nós. Só Deus pode perdoar pecadores e transformá-los de forma a vi­ verem vidas piedosas. A religião sem o Senhor é vazia, como o sistema religioso que Jeroboão esta­ beleceu era vazio e inútil. “Um homem de Deus veio de Judá a Betei” (1 Rs 13.1-10). No dia em que Jeroboão dedicou o cen­ tro religioso em Betei, um profeta apareceu e anun­ ciou que um futuro rei de Judá, por nome Josias, iria profanar o altar de Jeroboão queimando ossos humanos sobre ele. Como prova, o altar agora se fenderia, e as cinzas seriam derramadas. Jeroboão apontou para o profeta para ordenar a sua morte, mas a sua mão e o seu braço secaram! Aba­

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lado, Jeroboão rogou que o profeta orasse por ele, e a sua mão foi restaurada. Jeroboão sabia que os seus atos desagradavam a Deus. Entretanto, este primeiro rei do reino divi­ dido de Israel continuou em seu curso de pecado. Mesmo “depois dessas coisas,”, nos diz o texto, “Je­ roboão não deixou o seu mau caminho” (v. 33). Quando Deus nos adverte, é sábio mudarmos o curso!

de estima para nós, frequentemente lutam para entender. Geralmente não há nenhuma explica­ ção, e somos forçados a continuar a viver pela fé. No entanto, esta passagem nos faz lembrar que a morte de pessoas piedosas nem sempre é uma tragédia. As vezes ela tem o propósito de ser uma bênção. O pensamento é ecoado em Isaías 57.1,2: “Perece o justo, e não há quem considere isso em seu coração, e os homens compassivos são retirados, sem que alguém considere que o “Adoeceu Abias, filho de Jeroboão” (1 Rs 14.1-19). A justo é levado antes do mal. Ele entrará em paz; mulher de Jeroboão procurou, disfarçada, o profeta descansarão nas suas camas os que houveram an­ Aias. O profeta lhe deu uma mensagem de conde­ dado na sua retidão”. nação para Jeroboão. O seu filho morreria. E todo varão descendente de Jeroboão teria uma morte “E fez Judd o que era mau aos olhos do Senhor” (1 violenta. Rs 14.21-31). Roboão, filho de Salomão, permitiu O juízo era merecido, pois Jeroboão havia coloca­ grande apostasia em Judá, o Reino do Sul. Como do Israel em um curso de apostasia e idolatria que resultado, Deus enviou Sisaque do Egito para sa­ levaria ao desastre nacional. quear Jerusalém e roubar os tesouros de ouro que Talvez as palavras mais significativas sejam aquelas Salomão havia juntado (veja 1 Reis 10). A vida se ditas respeito do filho doente de Jeroboão. A sua tornou difícil no reino dividido, e uma guerra inci­ morte tinha o propósito de ser uma bênção, pois piente foi deflagrada diversas vezes entre os reinos ele foi o único na casa de Jeroboão em quem foi hebreus divididos. E fácil ganhar impulso quando se está descendo achada “coisa boa para com o Senhor” (v. 13). Aqueles de nós que sofreram a perda de um fi­ morro abaixo. Porém é muito mais difícil parar e lho, ou de alguma outra pessoa jovem de gran­ começar a subir novamente.

DEVOCIONAL_______ Náo Ouça Profetas Velhos (1 Reis 13) Um dos meus professores no seminário teológi­ co contou a história de como, quando era um pastor jovem e solteiro, uma das senhoras da sua congregação anunciou que Deus havia lhe dito que ele iria se casar com a filha dela. De certa forma, a sua experiência foi como a do jovem profeta que Deus enviou a Betei para falar contra a religião falsificada de Jeroboão. A pas­ sagem nos diz que depois que ele completou a sua missão, e estava a caminho de casa, um pro­ feta velho, que morava nas redondezas, o parou. Deus havia dito ao jovem para não comer nem beber em Israel. Mas o profeta velho tinha uma resposta pronta. O profeta mais velho mentiu, dizendo que Deus lhe havia mandado dizer ao seu jovem colega que não havia nenhum proble­ ma em parar em sua casa, e fazer uma refeição. Não sabemos os motivos do velho profeta. Talvez estivesse solitário. Talvez estivesse aborrecido pelo fato de Deus não tê-lo enviado para falar com Je­ roboão. Seja qual for o motivo, o velho profeta

estava mentindo. Quando o jovem profeta saiu, a fim de prosseguir em seu caminho de volta para casa, foi atacado e morto por um leão. O incidente trazia uma importante mensagem para Jeroboão. Se a palavra de Deus era tão importante que até mesmo um ligeiro desvio trazia a morte, quão terrível devia ser o pecado de Jeroboão. Pelo que sabemos, Jeroboão permaneceu insensível. Ele até mesmo viveu e governou Israel por mais 22 anos, perpetuando a sua própria falsa seita. A história também traz uma lição importante para nós. Uma lição que o meu professor tinha aprendido, e depois de ouvir muitas vezes des­ ta senhora do desejo de Deus que ele se casasse com a sua filha, o meu professor ensinou a lição a ela. Ele disse à senhora: “Quando Deus falar comigo para que me case com a sua filha, eu me casarei”. A lição? Exatamente esta: Nós não temos que ouvir profetas velhos, que insistem em tentar nos dizer a vontade de Deus para a nossa vida. O próprio Deus fala conosco. E somente quando Ele o fizer é que devemos agir.

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Aplicação Pessoal Deus mostrará a você qual é a sua vontade. Seja sensível a Ele, e tome cuidado com aqueles que, com lisonjas e de modo convincente, tentarem lhe dizer o que você deve fazer. Citação Importante “Se você observar alguma coisa má dentro de si mesmo, corrija; se for algo bom, preserve; se for algo bonito, incentive; se for algo sólido, mante­ nha; se for doente, cure. Leia incansavelmente os preceitos do Senhor e, suficientemente instruído por eles, você saberá o que evitar e o que buscar.” — Bernard de Clairvaux 16 DE MARÇO LEITURA 75 GUERRAS E REAVIVAMENTO 1 Reis 15— 16

simplesmente “predecessor”; alguém que anterior­ mente ocupava o mesmo trono, embora não tenha nenhuma relação de ancestral. Além disso, a ex­ pressão “meu pai” com frequência é usada como um termo de respeito por um mentor, como em 2 Reis 2.12. Visão Geral A direção pecadora estabelecida por Abias de Judá (15.1-8) foi revertida pelo seu sucessor, o piedo­ so rei Asa (w. 9-24). Em Israel, Baasa aniquilou a família de Jeroboão (w. 25-31). Por sua vez, sua família foi aniquilada por Zinri (w. 33— 16.14), lançando a nação em uma guerra civil (w. 15-20). A estabilidade foi restaurada por Onri (w. 21-28), que foi sucedido por seu impiedoso, porém talen­ toso filho Acabe (w. 29-34).

Entendendo o Texto “E Asa fez o que era reto aos olhos do Senhor, como “Por amor de Davi” (1 Rs 15.1-8). Abías, filho de Roboão, foi um dos reis de Judá que merecem ser Davi, seu pai” (1 Rs 15.11). esquecidos. Ele reinou por apenas três anos, fez o A liderança corrupta traz luta e sofrimento. O alí­ que era mau, e morreu. O texto deixa claro que ele foi tolerado como rei apenas por amor de Davi, que vio só é encontrado no retorno ao Senhor. “tinha feito o que era reto aos olhos do Senhor”. Normalmente, apenas as pessoas que fazem gran­ Contexto O quadro seguinte mostra os anos que esses capítu­ des males ou um grande bem são lembradas. O tex­ to nos lembra que as bênçãos daqueles que fazem o los abrangem e o reinado dos reis. bem transbordam para abençoar futuras gerações, bem como as suas. Anos Em Judá Em Israel “Foi o coração de Asa reto para com o Senhor todos os 930 Roboão Jeroboão seus dias” (1 Rs 15.9-24). O impacto de Asa sobre Abías 913 Judá é visto mais claramente quando comparamos o que estava acontecendo nas imediações de Israel. 910 Asa Enquanto Judá desfrutou de relativa paz e reaviNadabe 909 vamento sob o comando de Asa por cerca de 40 anos, Israel teve uma série de governantes ímpios. 908 Baasa Durante esses anos, dois dos reis de Israel e suas fa­ 886 Elá mílias inteiras foram assassinados, e a terra passou por uma sangrenta guerra civil. Verdadeiramente Zinri 885 há grande ganho na piedade (cf. 1 Tm 6.6). Onri/Tibni (guerra civil) Os atos de Asa que mostram o seu comprometi­ 885 mento estão listados. Ele expulsou as prostitutas 880 Onri que faziam parte do culto das seitas, livrou-se dos 874 Acabe ídolos, e depôs a rainha mãe, sua avó, porque esta adorava uma deusa pagã (1 Rs 15.11-13). Asa al­ Definição dos Termos-Chave cançou muitas outras realizações. O versículo 23 Pai. No Antigo Testamento, “Pai” não significa diz que ele edificou novas cidades em Judá, suge­ necessariamente “o progenitor masculino”. Nesses rindo que ele pode ter estendido as suas fronteiras. livros que tratam da monarquia, um governante Mas todas essas coisas foram registradas no “Livro com frequência é chamado de “pai” de outro. Isso das Crônicas dos Reis de Judá”. As conquistas ver­ pode significar ancestral, como em 1 Reis 15.11 dadeiramente significativas de Asa foram religiosas. onde Davi é chamado de “pai” de seu bisneto, Asa. O que ele fez para Deus é que realmente conta. Em alguma literatura antiga “pai” pode significar Quando a história da nossa vida for escrita, as nos­

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sas conquistas também ficarão opacas quando fo­ se dirigisse embriagado. “Isso não pode acontecer rem comparadas com o que fizermos a serviço do comigo”; esse é o pensamento arrogante daqueles nosso amado Senhor. que simplesmente não aprendem a partir dos erros dos outros. “Eis que tirarei os descendentes de Baasa" (1 Rs Assim como Baasa descobriu, isto pode acontecer 15-25— 16.7). Uma das melhores maneiras de comigo. Ele falhou, pois não aprendeu com os aprender é por meio dos erros de outras pessoas. erros de Jeroboão e Nadabe. E isso lhe custou Mas, para a maioria de nós, esta também parece a vida. ser a maneira mais difícil de alcançarmos o en­ tendimento. “E Onri reinou”(1 Rs 16.21-28). A Bíblia diz pouco Deus rejeitou a descendência de Jeroboão por cau­ sobre Onri, a não ser observar que ele estabeleceu sa de seu compromisso com o mal, e anunciou que Samaria como a capital do Reino do Norte. Fontes todo membro varão dessa família seria morto. Ba­ seculares dizem mais. A pedra moabita, um mo­ asa foi o instrumento que Deus usou para executar numento encontrado em 1898, nos diz que Onri o seu juízo. Porém, quando Baasa havia assassinado conquistou Moabe e impôs-lhe tributo. Ele recons­ Nadabe, filho de Jeroboão, o próprio Baasa, então, truiu a força militar de Israel, e a partir de achados “andou no caminho de Jeroboão e no seu pecado”! arqueológicos sabemos que construiu em Samaria Baasa não havia aprendido nada com a destrui­ uma cidade grande, atraente e habilidosamente ção da família de Jeroboão. Assim, como o pro­ protegida. Um século depois, os anais assírios ain­ feta Jeú anunciou, Baasa e sua casa encontraram da se referiam a Israel como a “terra de Onri”. o mesmo destino. Entretanto, todas essas conquistas são desprezadas Minha esposa com frequência detecta a atitude de no texto bíblico. O que é importante sobre esse Baasa nos adolescentes que ela ensina em suas aulas rei é que ele também fez o que era mau. Ele fez de inglês na escola. Mencionar um motorista que uma aliança com a Fenícia que foi selada pelo casa­ recentemente matou dois jovens quando dirigia mento de seu filho, Acabe, com a princesa fenícia, embriagado aqui na Flórida, provocou apenas um Jezabel. Esse casamento levou à promoção ativa em sorriso tolo na maioria dos seus alunos, até que ela Israel de uma forma muito virulenta e impiedosa os desafiou a pensar no que ele está enfrentando de adoração a Baal. por ter ido para a prisão. Ela também os incenti­ Outra vez somos lembrados de que o nosso impac­ vou a perceber que, em alguma ocasião, ele pro­ to sobre o universo material desaparecerá. Mas o vavelmente também sorriu como um tolo diante nosso impacto sobre o universo espiritual, para o da ideia de que ele mesmo poderia ter problemas bem ou para o mal, permanecerá para sempre.

DEVOCIONAL______ A Cortina de Pedras

(1 Rs 15) É praticamente impossível, para nós, não classi­ ficarmos as pessoas. “Nós” vivemos no subúrbio. “Eles” vivem na cidade. “Nós” somos educados, bem vestidos e trabalhamos com afinco. “Eles” são ignorantes, desleixados e preguiçosos. “Nós” cre­ mos em Deus. “Eles” são pagãos. “Nós” vivemos uma boa vida moral. “Eles” se comportam de for­ ma vergonhosa. Embora essas diferenças existam, suspeito que a enor­ me distância sugerida nos pensamentos “nós” / “eles” não exista. Afinal, “nós” e “eles” somos todos seres hu­ manos. Deus ama tanto a “nós” como a “eles”. Talvez este seja o motivo pelo qual considero Asa uma pessoa tão importante; e por que algo que Ba­ asa, rei de Israel, fez seja tão engraçado. De acordo com 2 Crônicas 15— 16, Asa não ficou satisfeito quando um reavivamento chegou a Judá.

Ele atravessou a fronteira indo até “eles”, o inimi­ go, e convidou todos os verdadeiros israelitas a su­ birem a Jerusalém e se juntarem na celebração das festas religiosas anuais exigidas na Lei de Moisés. Talvez tenha ocorrido algo surpreendente; “eles” foram! Na verdade, foram pessoas até demais! Tantos que Baasa, rei de Israel, ficou preocupado. Ele rapida­ mente enviou uma força de soldados até Ramá, que controlava uma passagem no monte entre as duas naçóes, e iniciou uma fortificação “para que a ninguém fosse permitido sair, nem entrar junto a Asa”. Não era uma “cortina de ferro”. Mas com cer­ teza era uma “cortina de pedras”, construída com o mesmo intento do muro de Berlim. Quando o “nós” de Asa estendeu um convite para se chegarem a Deus, muitos dos “eles” de Baasa o atenderam; sim, eles fizeram exatamente isso, se chegaram ao precioso Senhor!

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superficialidade do reavivamento popular, e se sen­ tiu deprimido e sozinho. Mas ele encontrou o des­ canso e a tranquilidade que lhe foram concedidos por Deus, e voltou para representar o Deus vivo, uma vez mais, diante de um rei e de uma nação apóstata.

Assim, Asa subornou os arameus (sírios) para ata­ carem Israel. E quando as tropas israelitas se retira­ ram de Ramá, o povo de Asa removeu as fortifica­ ções pedra por pedra. Que lição para nós. A cortina de pedras que as pes­ soas ainda levantam entre “nós” e “eles” não pro­ tege o povo de Deus. Ela protege o território de Satanás! Se removermos as pedras que nos separam dos outros, e compartilharmos as Boas-Novas de Jesus, encontraremos centenas de “eles” ansiosos para se tornarem “nós” hoje.

Visão Geral Elias anunciou uma seca a Acabe (17.1). Ele en­ tão se escondeu, primeiro em Querite (w. 2-6), e depois com uma viúva em Sarepta (w. 7-24). Depois de três anos, Elias voltou para confrontar os profetas de Baal no monte Carmelo (18.1-46). Aplicação Pessoal Não deixe que o pensamento “nós” / “eles” o separe Mas depois de uma vitória decisiva, Elias inexpli­ cavelmente fugiu para Horebe (19.1-9). O Senhor daqueles que precisam de Jesus. falou com o desanimado Elias, deu-lhe uma tarefa e também um companheiro, Eliseu (19.10-21). Citação Importante Longfellow podia pegar uma insignificante folha de papel, escrever nela um poema, e fazê-la valer Entendendo o Texto “Nestes anos nem orvalho nem chuva haverá” (1 Rs 6.000 dólares — isso é genial. Rockefeller podia assinar o seu nome em uma folha 17.1). Baal era originalmente um deus de tempes­ de papel e fazê-la valer um milhão de dólares — tades, adorado pela sua suposta habilidade em trazer chuva e tornar a terra fértil. A seca anunciada por isso é riqueza. Um pintor pode pegar um pedaço de lona de 50 Elias golpeou a força da divindade pagã que Acabe e centavos, pintar nele uma figura e fazê-lo valer Jezabel tentaram fazer dominante em Israel. A seca mostrou um grande princípio da fé bíblica: 10.000 dólares — isso é arte. Mas... Deus pode pegar uma vida pecadora despre­ “Só o Senhor é Deus!” zível, lavá-la no sangue de Cristo, colocar nela o seu precioso Espírito e torná-la uma bênção para a humanidade — isso é salvação. — The Compass 17 DE MARÇO LEITURA 76 ELIAS, O TISBITA 1 Reis 17— 19 “Depois, veio a ele a palavra do Senhor" (1 Rs 17-2). A completa humanidade de Elias tem atraído gera­ ções de crentes. A sua história contém um grande incentivo para os cristãos que se acharem deprimi­ dos e desencorajados. Biografia: Elias Elias é, sem dúvida alguma, um dos maiores pro­ fetas do Antigo Testamento. Ele apareceu em um momento crítico na história de Israel, quando o rei Acabe, instigado por sua mulher fenícia, Jezabel, fez uma tentativa determinada para eliminar a ado­ ração de Javé em Israel. Por intermédio de Elias, o Senhor entrou no conflito e decisivamente derro­ tou o deus pagão, estimulando um retorno popular à verdadeira fé. Mas o papel de confrontação de Elias desgastou o grande profeta. Mesmo na vitória, ele reconheceu a

Os arqueólogos são capazes de datar jarros de barro com uma margem de erro de, no máximo, 25 anos, pelo seu formato e decorações. Estes jarros são da época de Elias, entre 875-850 a.C. Eles nos lembram que as histórias bíblicas como a da viúva de Sarepta não são contos de fadas, mas foram extraídas da vida de pessoas reais que usavam utensílios como estes há aproximadamente 3.000 anos.

“Faze disso primeiro para mim um bolo pequeno” (1 Rs 17.7-24). Enquanto fugia de Acabe, Elias deixou Israel e foi para a terra natál de Jezabel, a Fenícia! Ali ele permaneceu com uma viúva pobre que pri­

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meiro o alimentou, e então a si mesma e seu filho, quando Elias prometeu que não faltaria azeite à sua botija quase vazia, e que a farinha de sua panela quase vazia não acabaria. A fé da viúva foi recom­ pensada. Em vez de morrerem de fome, a mulher e seu filho foram alimentados diariamente. Quando o filho da viúva caiu doente e “parou de respirar”, Elias estava lá para pedir a Deus para res­ taurá-lo. A volta do menino à vida foi uma prova final e muito feliz para a viúva. Deus verdadeira­ mente falou e operou por intermédio de Elias. Quando você e eu somos chamados à fé em Cristo, pode parecer que, como a viúva, somos exortados a renunciar a algo vital para nós. Para a viúva, a exigência foi abrir mão da pequena quantidade de alimento que lhe restava. Mas veja o que aconteceu quando ela creu na promessa do profeta. Em vez de menos, ela teve mais. Em vez de dar, ela recebeu. E, por fim, aquela escolha inicial significou a restaura­ ção do seu filho à vida. Deus nos dá muito mais do que aquilo a que re­ nunciamos quando recebemos a Cristo, por mais valioso que seja. E, por fim, temos a vida eterna. “Obadias temia muito ao Senhor” (1 Rs 18.1-15). Depois de três anos Elias retornou a Israel e encon­ trou Obadias, um alto oficial do governo de Acabe, que era um crente secreto. Presumimos que ele era um crente secreto, porque do contrário certamente teria sido eliminado por Jezabel. Alguns poderiam criticar Obadias por comprometer a sua fé. Mas a passagem que estamos estudando o recomenda como alguém que “temia muito ao Senhor”. E ve­ mos que ele usou a sua posição para salvar a vida de uma centena de profetas de Deus. Obadias nos lembra que não devemos julgar os ou­ tros. Podemos não fazer as mesmas escolhas que eles fazem, mas cada pessoa é responsável diante do Senhor pelo curso que toma na vida. Quem pode

DEYOCIONAL______

Quando a Depressão Ataca (1 Rs 19) Um livro que tenho sugere que “quase todos fi­ cam deprimidos. Esse sentimento básico de vazio, exaustão e insignificância é universal e cruza todas as fronteiras, quer sejam estas de idade, sexo ou na­ cionalidade”. O problema é que às vezes não entendemos a nos­ sa depressão. Como no caso de Elias, a depressão pode bater quando todas as coisas parecem estar indo extremamente bem. E ainda pior, não sabe­ mos o que fazer com relação à nossa depressão. Será

dizer que Obadias não foi dirigido por Deus para fazer a escolha que fez? “A junta... os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas de Aserd” (1 Rs 18.16-40). Essa confrontação no Carmelo é uma das histórias mais conhecidas das Escrituras. Há vários detalhes que devem ser observados: *“que comem da mesa de Jezabel” (v. 19). A rainha sustentava os “missionários” pagãos que ela havia importado da sua terra natal com a finalidade de converter Israel à sua fé. Durante esse período, houve um esforço planejado para suprimir a ado­ ração do Senhor. *“Elias zombava deles”(v. 27). Os adoradores pensa­ vam que seus deuses e deusas pagãos estivessem envol­ vidos nos assuntos humanos, tais como viajar, dormir e até fazer negócios. Os escárnios de Elias zombavam desse ponto de vista humanista da divindade. *Textos antigos retratam o Baal fenício como um deus lascivo e sedento de sangue. Seus sacerdotes se flagelavam com objetos cortantes na esperança de que o cheiro de sangue atraísse a sua atenção. *“reparou o altar do Senhor” (v. 30). A condição “deteriorada” de um altar dedicado a Javé mostra o quanto Acabe e Jezabel tinham sido eficientes em seu intento até esse momento. Mas o espetáculo de fogo caindo do céu em resposta à oração de Elias fez com que o povo se voltasse contra os profetas pagãos e os matasse. “Ruído há de uma abundante chuva” (1 Rs 18.4146). Com os profetas de Baal executados e o Se­ nhor publicamente aclamado como Deus, Elias sentiu que Deus estava pronto a mandar chuva, e orou para esse fim. O incidente nos faz lembrar que Deus usa as nossas orações para realizar os seus propósitos, e que o crente que está próximo do Se­ nhor orará em harmonia com a vontade divina.

que ela é o sinal de alguma imperfeição espiritual profunda? Será que a depressão indica que a nossa fé é fraca? A história do inexplicável surto de depressão de Elias depois da vitória no Carmelo nos encoraja. Se um gigante espiritual como Elias pôde sofrer de depressão, talvez pigmeus como você e eu não de­ vamos esperar demais de nós mesmos. Porém ainda há muito mais a considerar. A expe­ riência de Elias nos mostra como Deus tratou a depressão do seu profeta, e nos dá indicações de como podemos ajudar a nós mesmos.

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Quando Elias ficou desanimado e abandonou o seu ministério, Deus não ficou irado. Em vez dis­ so, na verdade, Deus providenciou alimento para mantê-lo durante a sua fuga (w. 6-9). E fácil nos sentirmos desanimados com a nossa vida quando a depressão ataca. Precisamos nos lembrar de que Deus está conosco, inclinando-se para nos susten­ tar em vez de nos condenar. Quando Elias tinha repousado, Deus deu ao pro­ feta uma missão simples a executar (w. 15,16). A depressão com frequência rouba a nossa vontade de agir. E importante nos levantarmos de manhã e sairmos para executar as nossas tarefas diárias. Quando Elias duvidou e se queixou, Deus o tran­ quilizou. Ele não estava sozinho, pois Deus havia conservado “em Israel sete mil: todos os joelhos que se não dobraram a Baal” (v. 18). A lembrança de que não estamos sozinhos em nossa experiência é algo que pode nos ajudar. Finalmente, Deus deu a Elias um amigo e compa­ nheiro para estar com ele (w. 19-21). Ter alguém que se importa é importante, mesmo que esse al­ guém não saiba o que dizer ou fazer para nos ani­ mar. A depressão é um problema para muitos. E não há respostas fáceis. Mas podemos aliviar alguma pressão que exista sobre a nossa vida, lembrandonos de que Deus ainda nos ama, realizando o nosso trabalho, lembrando-nos de que não estamos so­ zinhos, e encontrando um amigo que se importe conosco.

Contexto Os anos 800 a.C. viram a ascensão da Assíria. Na Síria-Palestina, Ben-FIadade II de Arã (Síria) levou a uma coalizão de reis determinados a resistir aos assírios. Ben-Hadade aproveitou a oportunidade criada pela fraqueza de Israel depois do período de três anos de fome para invadir Israel e forçar Acabe a juntar-se ao seu pacto anti-Assíria. Apesar das derrotas infligidas por Israel (1 Rs 20), Israel e Síria depois se uniram com outros sete estados da região. Em 853 a.C., em Qarqar, os aliados repe­ liram as forças de Salmaneser III da Assíria. Essa batalha, não mencionada na Escritura, ocorreu entre os eventos registrados em 1 Reis 20 e 22. O capítulo 22 de 1 Reis retrata a Síria e Israel no­ vamente em guerra, dessa vez quando Acabe saiu para ocupar Ramote-Gileade, que Ben-Hadade ha­ via outorgado a ele após as suas primeiras derrotas (cf. 20.34). Contra esse cenário de tensão e luta internacio­ nal, o escritor bíblico se concentrou no caráter de Acabe, rei de Israel, e no misericordioso Deus de Israel.

Visão Geral Deus interveio para ajudar Acabe a repelir duas in­ vasões sírias (arameias) (20.1-34), mas Acabe foi repreendido por ter poupado o governante arameu (w. 35-43). Quando Jezabel planejou a morte de Nabote para que Acabe pudesse obter a sua vinha, Elias confrontou o rei e anunciou o juízo de Deus (21.1-29). O profeta Micaías predisse com exati­ dão a morte de Acabe em batalha (22.1-40). Em Aplicação Pessoal Deixe que a atitude cuidadosa de Deus em relação a Judá, o temente Josafá sucedeu Asa, o seu pai pie­ Elias o dirija quando outros estiverem deprimidos, doso (w. 41-50). e o sustenha quando você sofrer uma depressão. Entendendo o Texto “E eis que um profeta se chegou a Acabe, rei de Israel” Citação Im portante “Ele não disse: Tu não serás incomodado — não (1 Rs 20.1-30). Acabe, totalmente ciente da con­ serás tentado — não serás afligido. Mas Ele disse: dição fraca de Israel, estava disposto a se entregar a Ben-Hadade da Síria. No entanto, as exigências Tu não serás vencido.” — Julian de Norwich cada vez mais absurdas de Ben-Hadade forçaram Acabe a resistir. 18 DE MARÇO LEITURA 77 Quando um profeta de Deus apareceu e predisse OS DIAS OBSCUROS DE ACABE 1 Reis 20— 22 a vitória, um sensato Acabe pediu — e seguiu! — instruções de Deus. Até mesmo os ímpios podem “Ninguém fora como Acabe, que se vendera para fazer responder positivamente a Deus se estiverem bas­ o que era mau aos olhos do Senhor, porque Jezabel, tante desesperados. Mas por que o Senhor deveria intervir em favor do sua mulher, o incitava” (1 Rs 21.25). impiedoso rei Acabe? O texto e o contexto sugerem Apesar da força da má influência da sua mulher, três razões significativas. (1) No Carmelo, o povo Deus deu a Acabe muitas chances de fazer o que de Israel reconheceu a Deus e matou os profetas de era certo. Cada um de nós é responsável pelas Baal. Deus manteve a aliança com eles lutando pelo escolhas que fazemos e pelas oportunidades que seu povo. (2) A Bíblia diz que na vitória Acabe sabe­ recusamos. ria “que eu sou o Senhor” (v. 13). Não poderia haver

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nenhuma dúvida futura na mente de Acabe de que o Senhor verdadeiramente é Deus. (3) Os sírios de­ safiaram a natureza e o poder de Deus. Cada vitória revelou mais claramente a Deus (v. 28). O compromisso contínuo de Acabe com o mal, ape­ sar da revelação misericordiosa de Deus de si mes­ mo, nos fala muito a respeito do seu caráter. Toda expressão da graça de Deus tem o propósito de nos atrair a Ele. A resposta à graça depende de nós. “A tua vida será em lugar de sua vida” (1 Rs 20.31 42). Quando em desespero, Acabe era ansioso pela ajuda e direção de Deus. Com as batalhas vencidas, Acabe rapidamente voltou a agir de forma arrogante. A frase “Porquanto soltaste da mão o homem que eu havia posto para destrui­ ção”, sugere que Acabe tinha recebido ordens para matar Ben-Hadade. Quando repreendido, Acabe não se arrependeu, mas ficou “desgostoso e indignado”. As “conversões no leito de morte” são, com muita frequência, superficiais e insignificantes. Quando o perigo passa, muitos voltam para as suas velhas ati­ tudes e caminhos. Não é o que sabemos sobre Deus que conta. O que conta é como respondemos a Ele uma vez que sabemos algo a seu respeito.

nisso! “Mas eu não fiz isso”, é uma desculpa vazia se nos beneficiarmos e tolerarmos as ações erradas dos outros. “J á me achaste, inimigo meu”(1 Rs 21.17-29). A res­ posta de Elias à exclamação de Acabe coloca a ob­ servação do rei em perspectiva. Elias só veio porque “te vendeste para fazeres o que é mau”. O inimigo do rei não era Elias, mas o próprio Acabe! Nós realmente somos os nossos próprios inimigos, e os piores. Mas também é verdade que quando escolhemos fazer o que é certo, podemos ser os nossos próprios amigos, e os melhores. O arrependimento de Acabe (v. 27) foi sincero, porém tarde demais. Deus podia apenas atrasar o juízo destinado à descendência de Acabe. Se até mesmo este mais ímpio dos reis de Israel pôde achar graça por meio do arrependimento, pense em quanta graça podemos encontrar quando nos arrependemos. “Sobe... e prosperarás” (1 Rs 22.1-28). Acabe re­ conheceu o sarcasmo na voz de Micaías e exigiu que ele falasse a verdade. Esse profeta então dis­ se ao rei que ele seria morto na batalha contra Ramote-Gileade. O espírito de engano enviado pelo Senhor pertur­ ba a muitos. Duas observações ajudam. Deus pode transformar o mal feito por Satanás e seus escravos para realizar o bem. O espírito de engano pode ter tido o propósito de enganar Acabe. Talvez o mais importante seja que Deus não en­ ganou Acabe de modo algum! Por intermédio de Micaías, o Senhor revelou totalmente o que pre­ tendia. Acabe então escolheu agir sobre a mentira dita pelos seus profetas, e assim caminhou para a sua condenação. Deus sempre revela a sua verdade aos seres huma­ nos. Ele não será o responsável se os homens rejei­ tarem a verdade e preferirem mentiras.

“Guarde-me o Senhor de que eu te dê a herança de meus pais” (1 Rs 21.10-16). A Lei do Antigo Tes­ tamento proibia a venda permanente da terra da família. O israelita piedoso via a propriedade dis­ tribuída para a família nos dias de Josué como um dom de Deus (cf. Js 13— 19). Assim Nabote re­ cusou a oferta do rei para comprar ou trocar a sua vinha por motivos religiosos. O rei foi para casa e ficou amuado (w. 3,4). Jezabel desdenhosamente lhe disse para “agir como rei” (v. 7), e prometeu conseguir a vinha para ele. Ela então ordenou, em nome de Acabe, que Nabote fosse acusado falsamente e morto para que Acabe pudesse tomar posse da sua vinha. Acabe não ordenou a morte de Nabote. Mas fi­ “Josafá... rei de Judá”(1 Rs 22.41-50). Apesar da sua cou muito feliz pelo benefício que recebeu. Sem associação com Acabe, Josafá foi um rei temente dúvida alguma, Acabe teria adotado rapidamente a Deus. Temos mais informações sobre ele em 2 a solução de Jezabel se ele mesmo tivesse pensado Crônicas 17— 20.

DEVOCIONAL_______

A Teoria de Liderança de Jezabel (1 Rs 21) “Faça porque eu a mandei fazer!”, gritou a mãe para Kata. A menina estava muito exasperada! A mãe sentia que nesses dias tivera que gritar sempre que quis conseguir a atenção de Kara.

“Você vai aparar a grama antes de ir para o treino, e não se fala mais nisso”, disse o pai severamente. “Não me importo se você perder todo o treino e for expulso do time. Eu sou o seu pai, e o que eu falo por aqui é o que vale.” O, eu sei.

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Na verdade, a teoria de Jezabel está desalinhada com o que a Bíblia ensina. Os reis do Israel bí­ blico deveriam governar, sujeitos a Deus, para o benefício do povo de Deus. A posição de rei nun­ ca foi um direito de comandar os outros para o benefício do rei. Às vezes os pais cristãos adotam a teoria de au­ toridade de Jezabel. Eles “agem como um rei” e comandam os seus filhos sem parar para ouvir e sem a devida preocupação com as necessidades da criança. E eles justificam as suas maneiras exata­ mente como Jezabel faria. “Eu sou o seu pai. Te­ nho o direito de dizer a você o que fazer”. O, sim. As vezes os pais cristãos têm que bater o pé e insistir. Talvez até gritar um pouco. Mas os pais e mães cristãos jamais podem se esquecer de que a paternidade é uma comissão para servir. Como Jesus disse: “Todo aquele que quiser, en­ tre vós, fazer-se grande, que seja vosso serviçal; e qualquer que, entre vós, quiser ser o primeiro, que seja vosso servo, bem como o Filho do Ho­ mem não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20.26-28). A armadura que Acabe usava quando foi morto era provavelmente feita de escamas de metal ligadas a uma camisa pesada, com o mostrado acima. A pessoa que usava uma armadura de escamas ficava vulnerável a flechas que penetravam “entre as juntas da... armadu­ ra” (1 Rs 22.34).

Os adolescentes podem ser irritantes. Talvez a mãe precise gritar para Kara. E talvez o pai esteja ape­ nas insistindo com veemência porque o seu filho deixou para depois uma tarefa doméstica semanal. Mas talvez alguns pais e mães que falam dessa ma­ neira com os seus filhos tenham inconscientemente adotado a teoria de autoridade de Jezabel. Podemos deduzir essa teoria a partir de 1 Reis 21. Acabe queria uma vinha? Bem, Acabe era rei, não era? Então o rei Acabe deveria ter o que quisesse. E ele poderia usar o seu poder real da forma que bem desejasse para obtê-lo!

Aplicação Pessoal Servir significa agir de modo a contribuir para os melhores interesses de outra pessoa. Citação Importante “A mansidão foi o método que Jesus usou com os apóstolos. Ele tolerou a ignorância e a grosseria deles, e até mesmo a sua infidelidade. Ele tratou os pecadores com uma bondade e afeição que fi­ zeram com que alguns ficassem chocados, outros escandalizados, e levou ainda outros a ganhar a es­ perança na misericórdia de Deus. Desse modo, Ele nos ordenou que fôssemos mansos e humildes de coração.” — John Bosco

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em 2 REIS

2 REIS INTRODUÇÃO O Segundo Livro dos Reis registra a história do reino hebreu dividido a partir do ponto em que 1 Reis parou. O declínio progressivo do Reino do Norte não foi interrompido por nenhuma indicação de recu­ peração, terminando com a sua conquista pela Assíria em 722 a.C. O Reino do Sul, Judá, sobreviveu à ameaça assíria, mas também se deteriorou espiritualmente e, por fim, foi esmagado pelos babilônios em 586 a.C. Segundo Reis apresenta outra vez as histórias dos profetas de Deus e o relacionamento destes com os governantes dos dois reinos. Os mais proeminentes entre os profetas são Elias e Eliseu, enquanto os reis piedosos responsáveis pela preservação de Judá incluem Joás, Ezequias e Josias. I. Elias e Eliseu ............. II. O Declínio de Israel III. Judá e Assíria......... IV. Judá e Babilônia....

ESBOÇO D O CONTEÚDO ............................................................................................2 Rs 1.1— 8.15 .......................................................................................2 Rs 8.16— 17.41 ....................................................................................................2 Rs 18.23 ................................................................................................ 2 Rs 24— 25

GUIA DE LEITURA (6 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 78 79 80 81 82 83

Capítulos 1— 5 6— 8 9— 13 14— 17 18— 20 21— 25

Passagem Essencial 5 6.24— 7.20 9— 10 17 20 22— 23

2 REIS 19 DE MARÇO LEITURA 78

O MINISTÉRIO DE ELISEU 2 Reis 1—5

“Assim diz o Senhor: Sararei estas águas“ (2 Rs 2.21).

internacional de Eliseu trouxe um general sírio, Naamã, a Israel, onde este foi curado de lepra e se converteu (5.1-27).

Onde Elias confrontou reis e anunciou juízos divinos, Eliseu consolou o povo de Deus com a Entendendo o Texto cura. Ambos os ministérios são importantes em “Porventura, não há Deus em Israel?” (2 Rs 1.1-18). O ministério de Elias tinha sido de confrontação, cada época. demonstrando, nos juízos decisivos, o poder e a Biografia: Eliseu santidade do Deus de Israel. Essa demonstração O pedido de Eliseu de uma “porção dobrada” do es­ foi vital em um momento quando Acabe e Jezabel pírito de Elias reflete o costume em Israel de o filho promoviam ativamente a adoração de Baal em Is­ mais velho e principal herdeiro receber o dobro da rael (veja 1 Rs 17— 22). O milagre final de Elias, quantia reservada para os outros filhos. Deus con­ invocando fogo sobre os soldados de Acazias, filho cedeu o pedido de Eliseu de se tornar o “herdeiro” impiedoso de Acabe (cf. 2 Rs 1.10), também teve de Elias e principal profeta de Deus no Reino do a finalidade de demonstrar a Israel que eles deviam Norte. O ministério de Eliseu era um ministério temer a Deus. Contudo, o Deus que é terrível em de encorajamento. Elias havia confrontado Acabe e juízo também é misericordioso. Quando o capitão Jezabel, e frustrado as suas tentativas de tornar Baal de um terceiro grupo de “cinquenta” implorou por dominante em Israel. O ministério de misericórdia sua vida, ele e seus soldados foram poupados. de Eliseu, e os ministérios dedicados à proteção da O juízo é certo quando os líderes e o povo perdem nação, demonstraram a sua sabedoria ao servir a o respeito por Deus. Deus. Onde Elias enfatizou a santidade e a justiça “Elias... feriu as águas, as quais se dividiram para de Deus, Eliseu enfatizou o amor de Deus. as duas bandas” (2 Rs 2.1-18). Após um longo e angustiante serviço, no qual Elias rebateu, pratica­ Yisáo Geral Elias anunciou o juízo de Deus sobre Acazias, fi­ mente sozinho, o desafio apoiado pelos devotos de lho de Acabe (1.1-18), e então foi tomado e levado Baal, esse profeta foi tomado e levado vivo ao céu. ao céu, e Eliseu assumiu o seu ministério profético A sua grandeza é vista na profecia do Antigo Testa­ (2.1-18). O caráter do ministério de Eliseu foi efe­ mento, que prediz o retorno de Elias antes da vinda tivado na cura das águas envenenadas (w. 19-22), final do Messias (cf. Ml 4.5,6). na sua predição de vitória sobre Moabe (3.1-27), Depois que Elias foi trasladado, Eliseu apanhou a na sua provisão de azeite para uma viúva pobre capa que havia caído do seu mentor. Voltando ao (4.1-7), na restauração da vida do filho da Suna- Jordão, ele feriu as águas como Elias tinha feito. O mita (w. 8-37) e em dois incidentes relacionados fato de as águas terem se fendido por causa dele a alimentar os famintos (w. 38-44). A reputação também mostrou a Eliseu que a sua oração fora

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atendida, e que ele deveria assumir o lugar de Elias como o principal profeta de Israel. É difícil quando um líder importante morre. No entanto, Deus levanta líderes da geração seguinte para continuar a sua obra. A lista dos líderes huma­ nos muda constantemente, mas Deus permanece o mesmo. Ele é aquEle de quem devemos sempre depender.

A promessa feita por Eliseu para a Sunamita de que ela teria um filho, e a subsequente restauração do filho à vida, mostrou a capacidade de Deus de pre­ servar a vida do seu povo (w. 8-37). A purificação do guisado envenenado realizada por meio do ministério de Eliseu, e o fato de ele ter alimentado cem homens com 20 pequenos pães de cevada, mostrou a capacidade que Deus tem para prover tudo o que o seu povo necessita, e ainda mais (w. 38-44). Assim, o ministério de Eliseu foi primeiramente um ministério da revelação do amor de Deus. Os três últimos prefiguram milagres realizados por Je­ sus com a mesma intenção. Deus anda entre nós para curar e sustentar, não para ferir ou condenar. Por intermédio de Eliseu, como por meio de Jesus, homens e mulheres descobriram o extraordinário amor de Deus.

“No nome do Senhor ” (2 Rs 2.19-25). Dois milagres simbolizam o ministério de Eliseu. Sua natureza consoladora e compassiva é mostrada na purifica­ ção das águas de Jericó. O ato simbolizava a bênção que poderia ser de Israel por meio do relaciona­ mento com Deus, aquEle que cura. A morte dos jovens (não crianças, como sugere uma determinada versão da Bíblia) que zombaram de Eliseu simbolizava o papel do profeta como re­ presentante do Deus santo. Deus anseia por aben­ çoar o seu povo. Mas Deus deve ser respeitado “E foi Geazi em alcance de Naamã” (2 Rs 5.19-27). como Senhor. Eliseu recusou qualquer recompensa pela cura da lepra do general sírio, Naamã. O seu servo Gea­ “Que te hei de eu fazer? (2 Rs 4.1-44). A pergunta zi, porém, correu atrás de Naamã, e aceitou dois de Eliseu para a viúva cujos filhos estavam prestes a talentos de prata e outros presentes caros. Sendo ser vendidos como escravos para pagar uma dívida julgado, Geazi foi amaldiçoado com a lepra de Na­ resume a missão desse ministro ao povo comum de amã, e saiu da presença de Eliseu. Israel. Elias confrontou reis. Eliseu se moveu silen­ Eliseu tinha recusado a riqueza, porque queria que ciosamente entre o povo da terra. O seu ministério Naamã visse a sua cura como um dom de Deus, revelou o que Deus faria por Israel se o seu povo se e não como algo que ele havia comprado. O mi­ voltasse plenamente a Ele. nistério oferecido gratuitamente e recebido gra­ A multiplicação do azeite da viúva pelo ministério tuitamente é o mais puro, pois reflete a qualidade de Eliseu mostrou a capacidade de Deus de libertar singular da graça que marca o relacionamento de o seu povo da servidão (w. 1-7). Deus com a humanidade.

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Princípios Gerais (2 Rs 5) Pregadores de todas as épocas já notaram isso. A história de Naamã, um general do exército sírio, espelha muitas verdades sobre o evangelho de Jesus Cristo. E fácil ver essas verdades? Por que não observar se você consegue extrair alguns prin­ cípios gerais sobre o evangelho e transmiti-lo a partir dessa experiência do general Naamã? Aqui estão vários elementos encontrados nessa história da Bíblia. * Nas Escrituras, com frequência a lepra é um sím­ bolo do pecado. Naamã foi atacado de lepra, e era incapaz de ajudar ou curar a si mesmo. * Naamã ficou sabendo por intermédio de uma menina israelita que havia esperança. * Naamã ficou aborrecido com o que o profeta lhe disse para fazer a fim de ser curado. As instruções

do profeta não se encaixavam nas suas noções pré-concebidas. * Naamã, depois de ser exortado pelos seus servos, decidiu tentar a prescrição de Eliseu assim mes­ mo. * Naamã foi completamente limpo, e percebeu que “em toda a terra não há Deus” exceto o Senhor. * Naamã prometeu adorar somente ao Senhor, e se entregou completamente a Ele. E, ó, sim! Depois que você traduzir esses elementos da história em princípios gerais, poderá desfrutar a leitura da história novamente para ver se consegue encontrar ainda mais. Aplicação Pessoal Quais dos “princípios gerais” que você encontrou nessa história são mais úteis quando você pensa em partilhar Cristo com outras pessoas?

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Citação Im portante “Eliseu tipifica o ministério que podemos ter. Ne­ nhum de nós pode ser um Elias, mas todos nós po­ demos ser um Eliseu. Se tivermos o Espírito Santo de Deus, poderemos realizar obras de misericór­ dia que serão como milagres aos olhos de outros homens. O caráter e a carreira de Eliseu são fre­ quentemente depreciados em comparação com a figura mais heróica de Elias. No entanto, a sua vida beneficente, menos espetacular e mais humana, é o símbolo inspirado de um ministério que está ao alcance de todos nós. Pequenas gentilezas, peque­ nas cortesias, pequenas considerações, praticadas costumeiramente, embelezam o caráter e com fre­ quência trazem mais benefícios ao mundo do que as grandes realizações.” — Raymond Calkins 20 DE MARÇO LEITURA 79 ELISEU E OS SÍRIOS 2 Reis 6 — 8 “O rei de Israel enviou àquele lugar, de que o ho­ mem de Deus [Eliseu] lhe falara e de que o tinha avisado, e se guardou ali, não uma nem duas vezes” (2 Rs 6.10). Mesmo nos momentos mais angustiantes, há in­ dicações do poder e da presença de Deus. Mesmo quando os inimigos cercam, a fé permanece ciente de que Deus está no controle. Contexto As hostilidades entre a Síria e Israel se estenderam neste período. Ben-Hadade II montou uma inva­ são de larga escala e sitiou Samaria. Durante esses anos não há evidência de um verdadeiro reavivamento em Israel, apesar do ministério ativo de Eli­ seu. A invasão inimiga, a menção de uma fome de sete anos, e o rebaixamento do povo de Samaria ao canibalismo, sáo juízos divinos sobre um rei e um povo insensíveis (cf. Lv 26.29; D t 28.53-57). O ministério de Eliseu, um testemunho muito claro do poder e do amor do Deus de Israel, deveria ter estimulado o povo a um retorno ao Senhor. No entanto, apesar da familiaridade com Eliseu e com os atos de Deus por intermédio desse profeta, o rei e o povo continuaram a fazer o mal. Visão Geral Eliseu continuou a ajudar as pessoas (6.1-7), mas também ajudou a nação. O profeta revelou os pla­ nos dos arameus (sírios) (w. 8-23) e anunciou que Deus levantaria o cerco de Samaria atacada pela fome. A reputação de Eliseu ajudou a mulher sunamita (8.1-6). A medida que o ministério de Eliseu

se aproximava de seu final, o profeta ungiu Hazael para ser rei da Síria (w. 7-15), enquanto, em Judá, Jeorão (w. 16-24) e depois Acazias (w. 25-29) se tornaram reis. Entendendo o Texto “Era emprestado!” (2 Rs 6.1-7). A perda do ferro de um machado era um desastre, porque sob a lei a pessoa que o tomava emprestado deveria pagar ao que lhe havia emprestado. A intervenção mi­ raculosa de Eliseu é uma indicação de que Deus está preocupado com os problemas particulares das pessoas. Deus nunca está ocupado demais toman­ do conta do mundo, que não tem tempo para você e para mim. “Senhor, peço-te que lhe abras os olhos” (2 Rs 6.817). Quando Ben-Hadade II percebeu que as suas investidas contra Israel falharam, porque o profeta Eliseu sabia com antecedência dos seus planos e dava aviso ao rei, ele enviou uma força de soldados para capturá-lo. Aqui outra vez está uma das histó­ rias mais familiares da Bíblia, talvez por ser muito confortante. Quando o servo de Eliseu viu o exército inimigo cercando a cidade onde eles haviam dormido, ficou apavorado. Mas quando Eliseu orou, Deus permi­ tiu que o servo visse o que Eliseu sabia que estava lá: que entre eles e o inimigo havia um exército protetor de anjos em cavalos e carros de fogo. Podemos não ser capazes de ver a guarda que Deus colocou ao nosso redor. Mas a fé nos assegura que ela está lá. Salmos 34.7 diz: “O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra”. “Feri-los-ei?” (2 Rs 6.18-23). Eliseu então condu­ ziu os sírios sobrenaturalmente “cegados” para a própria Samaria. Quando o rei, de forma entu­ siasmada, perguntou se ele deveria matar os seus inimigos, Eliseu mandou que ele preparasse um banquete para eles, como convidados de honra. Não somos informados do motivo por que esse tratamento interrompeu temporariamente os ata­ ques sobre Israel (v. 23). Alguns sugerem que o tratamento bondoso envergonhou Ben-Hadade. Parece mais provável que o rei sírio tenha para­ do em frustração. Por que atacar um inimigo que você nunca conseguirá ferir? De qualquer forma, o incidente ilustra o impacto de seguir um cur­ so posteriormente destacado em Provérbios 25 e ordenado pelo apóstolo Paulo: “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber”. O cristão deve seguir a exortação: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12.20,21).

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Não só é certo seguir esse princípio. Ele funciona! “Ben-Hadade... cercou a Samaria”(2 Rs 6.24—7-2). Uma invasão de Israel em grande escala quase le­ vou Samaria à morte de fome. Quando o rei deses­ perado confrontou Eliseu, o profeta prometeu que exatamente no dia seguinte medidas de cevada e fa­ rinha seriam vendidas na porta da cidade. A reação imediata de um oficial real foi: “Impossível”. Essa é uma atitude contra a qual precisamos nos guardar. Nada é impossível para Deus, como o res­ to da história nos faz lembrar. Mas também precisamos aprender com o oficial incrédulo. Eliseu disse que ele veria o que Deus faria — mas que não se beneficiaria disso. No dia seguinte, o oficial viu muita comida na porta de Samaria, mas foi pisoteado até a morte na pressa da turba faminta, ansiosa por chegar até a comida. A nossa descrença não impedirá que Deus opere os seus milagres. Tudo o que a nossa descrença faz é impedir que tenhamos qualquer proveito deles. “Este dia é dia de boas-novas, e nos calamos” (2 Rs 7.3-20). Essas palavras de quatro leprosos que descobriram que os sírios tinham fugido do seu arraial, deixando todos os seus suprimentos, são ci­ tadas com frequência em sermões com a finalidade de exortar os cristãos ao evangelismo pessoal. Boasnovas, as boas-novas de que a morte iminente deu lugar à perspectiva da vida, é importante demais para ser deixada longe do conhecimento dos ho­ mens e mulheres que perecem. Mas talvez o papel dos quatro leprosos fosse ain­ da maior do que pareça exteriormente. O texto

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Irritado com Deus? (2 Rs 6.24— 7.20) E certo alguma vez ficar irritado e com raiva de Deus? Talvez. Até mesmo Moisés ficou irritado com Deus por sobrecarregá-lo com uma multidão de israelitas intratáveis (Ex 17.4; Nm 11.11-15). Mas havia algo muito errado quando a ira de Jeorão se inflamou. Um longo cerco quase tinha levado Samaria à mor­ te de fome. Desesperado, o rei Jeorão até mesmo se vestiu de saco, uma veste grosseira e abrasiva que significava tanto dor como arrependimento. Ele, porém, não a usou abertamente, mas por baixo das vestes reais. Esta foi uma admissão rancorosa de Jeorão de que talvez os seus pecados tivessem contribuído para o desastre. Mas não foi suficiente para uma convocação aberta e pública ao arrepen­ dimento (cf. Jn 3.6-10).

hebraico diz que eles chegaram “à entrada do ar­ raial”, significando que procuravam um ponto de acesso mais distante do arraial dos sírios, onde pudessem entrar às escondidas, e possivelmente encontrar comida. Um comentarista sugere que a passagem furtiva dos quatro leprosos do lado de fora das linhas inimigas foi vital para o milagre. Talvez Deus “tenha aumentado os seus passos trôpegos”, de forma que eles se parecessem com a aproximação de um grande exército, e assim tenham apavorado os sírios que “se levantaram, e fugiram no crepúsculo” (v. 7). Seja essa teoria verdadeira ou não, certamente é verdade que quando você e eu dermos os nossos últimos passos hesitantes para compartilhar a nossa fé, Deus já estará agindo no coração da­ queles de quem nos aproximarmos. O Deus que fez o impossível e alimentou a cidade faminta ainda faz o impossível em nossos dias, voltando os corações endurecidos para si mesmo. “Foi, pois, Hazael encontrar-se com ele [Eliseu]” (2 Rs 8.1-29). Quando o ministério de Eliseu se aproximou do fim, ele foi instruído a ungir Hazael para suceder Ben-Hadade II. O profeta obedeceu, embora tenha chorado em grande an­ gústia. Eliseu sabia do plano de Hazael de ma­ tar Ben-Hadade (cf. v. 11), e também sabia que, como rei da Síria, Hazael traria o desastre sobre Israel. Quando aquela época se aproximou do seu final, dois reis governaram brevemente em Judá, que logo se afundou no pecado, por meio da ação de um governante dedicado a fazer o mal.

Então, certo dia, andando pelos muros da cidade, o rei ouviu o apelo de uma mulher que havia recorri­ do ao canibalismo. Ele exclamou em horror e fúria, e a sua raiva reprimida transbordou. “Tragam-me a cabeça de Eliseu”, ordenou Jeorão. Se o rei não podia atingir diretamente a Deus, ele pelo menos atingiria a Deus por meio do seu profeta. Antes que a sua ordem pudesse ser executada, Jeorão mudou de ideia, e correu para alcançar o executor. Na casa do profeta, o rei revelou a sua amargura. “Este mal vem do Senhor”, disse Jeorão. “Que mais, pois, esperaria do Senhor?” Pense por um momento no que as palavras e o comportamento do rei revelam. Jeorão sabia que Deus estava por trás do sofrimento do seu povo. Jeorão havia se vestido de saco em um sinal de arrependimento pessoal, e no conhecimento de

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que a única esperança de Israel estava na ação de Deus. No entanto, o “arrependimento” de Jeorão não era verdadeiro. Os seus pecados tinham sido públicos, mas ele escondeu a veste de saco que significava a dor pelo pecado e falhou em convocar o seu povo a arrepender-se. Mesmo o horror pelo canibalismo não fez Jeorão se humilhar, mas o deixou enfu­ recido! Justificando a si mesmo, Jeorão culpou a Deus por não aceitar a sua confissão rancorosa. Ao se queixar, “Que mais, pois, esperaria do Senhor?” Jeorão estava dizendo, “Eu apertei os botões certos, Deus. Agora, por que me fazes esperar?” Sim, homens e mulheres tementes a Deus po­ dem se irritar com Ele às vezes. Mas a raiva de Jeorão era de um tipo diferente. Ele ficou com raiva de Deus quando ele mesmo tinha a culpa; ele estava irado pelo fato de Deus não aceitar o seu aborrecido e rancoroso “desculpe-me”. O tipo de raiva que Jeorão sentiu, e finalmente ex­ pressou, brotou de sua recusa obstinada a admi­ tir os seus pecados e se prostrar com humildade diante de Deus.

LISTA DE REIS Data Judá 852 Jeorão 841 Acazias 841 Atalia Joás 835 814 798-782 Amazias 796-767

Israel Acazias Jorão Jeú Jeoacaz Jeoás

Visáo Geral Jeú foi ungido rei de Israel (9.1-13). Ele matou Jorão de Israel, Acazias de Judá (w. 14-29), a rainhamãe, Jezabel (w. 30-37), e o restante da família de Acabe (10.1-17). Jeú destruiu a adoração de Baal em Israel (w. 18-28), mas manteve a religião esta­ tal instituída por Jeroboão (w. 29-36). Em Judá, Atalia matou seus netos e tomou o poder (11.1). Sete anos depois, um neto que escapou, Joás, foi constituído rei (w. 2-21) e reinou 40 anos (12.1Aplicação Pessoal Sentirmo-nos irritados com Deus pode ser um 21). Em Israel, Jeoacaz (13.1-9) ejeoás (w. 10-13) sinal de que precisamos avaliar o nosso relaciona­ sucederam Jeú, e Eliseu predisse três vitórias de Is­ rael sobre a Síria (w. 14-25). mento pessoal com Ele. Entendendo o Texto Citação Importante “Deus não é um empregado cósmico que nos traz “E ferirás a casa de Acabe” (2 Rs 9.1-13). Jeú foi escolhido por Deus para cumprir a profecia contra as coisas quando apertamos um botão.” a descendência real de Acabe. Jeú estava contente — Harry Emerson Fosdick demais para aceitar a comissão e a unção como o 21 DE MARÇO LEITURA 80 próximo rei de Israel. UMA NOVA DINASTIA DO NORTE Jeú exemplifica aqueles que usam a religião para alcançar os seus próprios fins, sem terem, necessa­ 2 Reis 9— 13 riamente, uma fé pessoal. Muitos estão dispostos a “servir a Deus” desde que a vontade de Deus “E tocaram a buzina e disseram: Jeú reina!” coincida com a deles. O verdadeiro teste de com­ (2 Rs 9.13). promisso é a submissão à vontade de Deus quan­ Um novo começo é uma oportunidade dada por do a obediência parece estar contra os interesses Deus. Podemos aproveitá-la, ou perder a nossa de alguém. chance e voltar aos velhos caminhos. “Lança-o neste pedaço de campo, conforme a pa­ lavra do Senhor” (2 Rs 9.14— 10.17). Jeú entu­ Contexto Durante os anos percorridos nesses capítulos, siasticamente iniciou a tarefa de matar todos os Judá e Israel foram severamente enfraquecidos. O membros da família de Acabe e seus mais im­ Obelisco Negro de Ninrode mostra Jeú de Israel portantes oficiais. Ele com frequência se refe­ prostrado de joelhos diante do assírio Salmane- ria ao Senhor, e citava a profecia que predizia a ser, enquanto os criados trazem o tributo. Logo a destruição da casa de Acabe (9.25,26; 10.9-11). fraqueza assíria levou ao ressurgimento de Arã; e No entanto, as suas referências a Deus visavam, durante o restante desse período, as duas naçóes fo­ claramente, aos seus próprios interesses. Jeú re­ ram dizimadas em guerras com a Síria, tornando-se lembrou uma profecia de Elias que ele ouviu por incapazes de resistir às incursões de outros povos. acaso, e jogou o corpo do filho de Acabe na vi-

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Jeú, de Israel, se submete a Salmaneser.

nha de Nabote. Mas ele ordenou o sepultamento de Jezabel, embora soubesse que tinha sido pro­ fetizado que cães comeriam a sua carne. Em suas afirmações públicas, Jeú admitiu ter conspirado contra o seu mestre, mas justificou os seus atos contra a família de Acabe como tendo sido pra­ ticados por motivos religiosos. Na verdade, no antigo Oriente Médio, usurpado­ res costumavam assassinar todos os membros da casa real anterior. Nem mesmo o apelo à religião era habitual, como no caso do rei hitita (ou heteu) Murshili II (em meados do século XIV a.C.). O homem ambicioso é rápido para agarrar qualquer desculpa que possa lhe trazer o apoio público. Jeú estava fazendo a vontade de Deus. Mas Jeú esta­ va fazendo a vontade de Deus pelo motivo errado. Atualmente, às vezes os políticos tentam usar Deus para apelar a certos grupos de eleitores. Precisamos avaliar o uso político da religião com muito cuida­ do, e até mesmo com certo ceticismo. “Jeú destruiu a Baal de Israel” (2 Rs 10.18-35). A adoração de Baal há muito tempo havia sido pro­ movida pela casa real de Acabe. Como o baalismo era um dos poderes básicos do antigo regime, foi natural para Jeú procurar eliminá-lo. Então por que o chamado de Jeú a todos os minis­ tros para uma grande festa religiosa foi eficaz? Por que os devotos de Baal não ficaram desconfiados? Parece provável que como um oficial de alta posi­ ção no exército de Acabe, Jeú tivesse adorado Baal com a casa real. Como uma pessoa rápida em usar a religião para os seus próprios fins, ele pode até ter parecido especialmente devoto! Somente se Jeú tivesse participado com frequência dessa adoração,

a sua anunciada intenção de servir “muito” a Baal (v. 18) poderia ter sido acreditada! O texto mostra que nem mesmo a destruição do baalismo era evidência do compromisso pessoal de Jeú com o Senhor. Com seus fins alcançados, Jeú deixou a reforma religiosa e deu continuidade à reli­ gião estatal falsificada estabelecida por Jeroboão (w. 28-31). Como diz o texto, “Jeú não teve cuidado de andar de todo o seu coração na lei do Senhor”. Jeú tinha tentado usar Deus para conseguir o tro­ no; agora Deus não tinha nenhuma utilidade para ele. No entanto, na verdade ele tinha uma neces­ sidade desesperadora de Deus, que “começou... a diminuir os limites de Israel”, e permitiu que os sírios dominassem os israelitas “em todas as suas fronteiras”. Ninguém chega a atingir um ponto em que o rela­ cionamento com Deus não faça qualquer diferença em sua vida. “Jeoseba... tomou a Joás... e o furtou” (2 Rs 11.1,2). A história compara duas mulheres: Atalia e Jeose­ ba. Atalia, filha de Acabe e Jezabel, se casou com Jeorão, rei de Judá. Ao ouvir sobre a morte de seu filho Acazias, ela matou os seus netos para tomar o trono para si. Porém Jeoseba agiu de uma forma contrária, tendo arriscado a sua vida para salvar o filho pequeno do rei. Os ímpios tiram a vida das outras pessoas na busca causada pela ambição; porém os piedosos arriscam a vida pelos outros, pois estão comprometidos com aquilo que é certo. “Todos os dias em que o sacerdote Joiada o dirigia” (2 Rs 11.4— 12.21). O filho pequeno de Acazias foi

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“Na sepultura de Eliseu” (2 Rs 13.12-25)- O rela­ to de um homem trazido de volta à vida quando lançado na sepultura de Eliseu simboliza o poder que o Deus precioso tem para restaurar tanto a nação como também o indivíduo. Acomodada no relato de Israel, esmagada pelos sírios no período de Jeoacaz e finalmente ressurgindo quando Deus capacitou Jeoás para derrotá-los, a história serve como uma parábola para o povo de Deus. O Deus poderoso e maravilhoso pode trazer vida e vitória até mesmo quando toda a esperança estiver perdi­ da. Como é vital, então, que o povo de Deus se volte a Ele.

criado em segredo até os sete anos de idade, quan­ do foi aclamado rei e Atalia foi morta. Joás serviu a Deus até que o sacerdote que o criou, Jeoiada, morreu. Sob a tutela de Jeoiada, Joás reparou o Templo e reinstituiu a adoração ali. Mas depois da morte do sacerdote, o rei abandonou a Deus. O texto em 2 Crônicas 24 nos diz que Joás se voltou para as práticas cananeias, e até ordenou a morte de um filho de seu antigo mentor, Jeoiada, que o repreendeu. Precisamos de pessoas tementes a Deus perto de nós, para nos ajudarem a manter o nosso compro­ misso com o Senhor.

DEV OCIONAL______

Um Acordo (2 Rs 9— 10) Não demorou muito para que a palavra de ata­ que de Jeú contra a família de Acabe, ou a sua frequente menção do Senhor, se espalhasse. A no­ tícia animou um homem incomum, que correu para se encontrar com Jeú. Esse homem era Jonadabe, filho de Recabe. Sa­ bemos alguma coisa a seu respeito por intermé­ dio do profeta Jeremias, que cerca de 150 anos mais tarde colocou taças de vinho diante dos seus descendentes. Eles se recusaram a tocá-las, dizen­ do que “Jonadabe... nosso pai” ordenou que não bebessem vinho, e que vivessem uma vida nôma­ de, sem se fixarem em algum lugar. Ao que tudo indica, Jonadabe, um homem rigoroso e ascético, foi repelido pela corrupção da sociedade israelita, decidindo-se a levar uma vida separada. Deus elo­ giou os recabitas, pois a sua fidelidade às ordens de Jonadabe envergonhou a Judá, que estava com­ pletamente disposta a desobedecer às ordens do Senhor (cf. Jr 35). Esse Jonadabe correu para se encontrar com Jeú, sem dúvida para ver se o reavivamento verdadei­ ramente havia chegado a Israel. Quando eles se encontraram, Jeú perguntou: “Reto é o teu cora­ ção, como o meu coração é com o teu coração?” Jeú então convidou o firme defensor de Javé di­ zendo: “Vai comigo e verás o meu zelo para com o Senhor (2 Rs 10.15,16). Como as esperanças de Jonadabe devem ter au­ mentado quando ele testemunhou o extermínio do resto da família do ímpio Acabe, e então en­ trou no templo de Baal com Jeú e o viu massacrar todo representante daquela corrupta fé cananeia! Mas então, com os objetivos pessoais de Jeú al­ cançados, o seu “zelo para com o Senhor” desapa­ receu. Ele deu continuidade à seita de Jeroboão,

mantendo-a como a religião estatal de Israel, e voltou a sua atenção para a sua real preocupação — governar. Nada mais é dito sobre Jonadabe. Ele desapareceu até que os seus descendentes disseram a Jeremias sobre a herança deixada a eles pelo seu ancestral. “Não se fixem”, Jonadabe disse aos seus filhos. Em outras palavras: “Não fixem as suas esperanças no ‘zelo’ de políticos que tentam usar a Deus para os seus próprios fins. Vivam a vida sem se associar aos homens”. O que o incidente nos diz? Não, não que não devamos participar do processo político da nossa nação. Mas, com certeza, que não devemos fixar as nossas esperanças nas reformas que possam ser realizadas aqui. Como os descendentes de Jona­ dabe, nós cristãos somos estrangeiros e peregrinos em um mundo hostil. Fazemos o que podemos para influenciá-lo para o bem. Mas sempre nos lembramos de que os propósitos de Deus não es­ tão resumidos a quem vencerá a próxima eleição; e é com os propósitos mais abrangentes que nos identificamos. Aplicação Pessoal Seja um bom militante do partido político que es­ colher. Mas que, acima de tudo, a sua prioridade seja ser um bom cristão. Citação Im portante “Não consideremos a prosperidade ou a adver­ sidade terrena como coisas importantes demais, nem definitivas; mas estejamos desapegados das coisas desta terra, direcionando toda a nossa aten­ ção ao céu. Consideremos o pecado como o único mal verdadeiro; e não consideremos nada como verdadeiramente bom, exceto a virtude que nos une a Deus.” — Gregório de Nazianzo

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22 DE MARÇO LEITURA 81 A QUEDA DO REINO DO NORTE 2 Reis 14— 17 “E o rei da Assíria trouxe gente de Babel, e de Cuta, e de Ava, e de Hamate, e de Sefarvaim e afez habitar nas cidades de Samaria, em lugar dosfilhos de Israel” (2 Rs 17.24), A ininterrupta sucessão de reis maus desgastou os fundamentos religiosos e morais de Israel, e levou a nação, inexoravelmente, à queda diante da Assíria. Uma única escolha má pode não levar à ruína. Mas uma série de escolhas impiedosas certamente o fará. Contexto As condições em Israel se deterioraram rapidamen­ te. Casas de governo foram estabelecidas por meio de assassinatos ou impostas sobre o povo pela Assí­ ria. Enquanto a história marchava inexoravelmente para o desastre nacional, ninguém parecia sentir a necessidade de voltar-se para Deus. Visão Geral Amazias de Judá foi derrotado e humilhado por Israel (14.1-22) antes de ser sucedido por seu fi­ lho Azarias (Uzias) (15.1-7). Jeroboão II reinou 41 anos em Israel (14.23-29). Foi sucedido por uma série de reis que reinaram por pouco tempo (15.826), e sob a pressão da Assíria (w. 27-31). Em Judá, o filho de Jotão (w. 32-38), Acaz, subornou a Assíria para invadir a Síria (16.1-20). O Reino do Norte foi esmagado por Salmaneser da Assíria, e os israelitas se exilaram de sua terra porque “deixaram todos os mandamentos do Senhor, seu Deus, e fi­ zeram imagens de fundição”. A Assíria repovoou o território do norte com estrangeiros (17.1-41). Data 793 792 753 752 752 750 740 732 722 715

LISTA DE REIS Judá Israel Jeroboão II Azarias Zacarias Salum Menaém/Peca Jotão Pecaías Acaz Oseias EXÍLIO Ezequias

“Gloria-te disso efica em tua casal”(2 Rs 14.1-22). A vitória de Amazias sobre Edom inflamou a sua am­ bição e ele declarou guerra contra Jeoás de Israel. Em 2 Crônicas 25 está escrito que ele tinha confia­ do em deuses estrangeiros, e a subsequente derrota deveria ensinar Judá a não se desviar do Senhor. Todo indica que Amazias foi capturado e levado para Israel, mas solto depois da morte de Jeoás e enviado de volta para Judá. Aparentemente, aque­ les que estavam no poder ali resistiram ao retorno do rei e o assassinaram. Como é muito melhor permanecermos perto do Se­ nhor e ficarmos satisfeitos com o que Ele nos dá. “Começou a reinar em Samaria jeroboão” (2 Rs 14.23-29). O reinado de Jeroboão II é desprezado em nosso texto, que lhe dedica apenas sete ver­ sículos. No entanto, Jeroboão II foi sem dúvida alguma o governante mais bem-sucedido e mais notável de Israel. O poder militar da Síria (Aram) tinha sido destruído pelos assírios, e Jeroboão aproveitou essa fraqueza. O território que Jero­ boão capturou competia com aquele possuído nos dias de Davi e Salomão. Ele ocupou Damasco e conseguiu o controle das rotas comerciais que li­ gavam o mundo antigo, obtendo receitas que tor­ naram Israel uma rica nação. Mas a sociedade is­ raelita estava degradada, e aqueles que com a nova riqueza cultivavam a terra, obrigavam a população a se deslocar. As cidades se tornaram super povoa­ das e a pobreza aumentou. Pesados tributos foram impostos sobre todos, e os ricos corromperam o sistema da justiça em seu favor. Tanto Amós como Oseias serviram em Israel durante o período de Jeroboão II, e falaram com ousadia contra a injus­ tiça e a religião corrupta da época. Em vista da importância política e sociológica do período de Jeroboão II, é admirável que a Bíblia diga tão pouco a seu respeito. Talvez a resposta seja encontrada na perspectiva da situação. Com­ paradas com a eternidade, as conquistas terrenas contam muito pouco. Deus considerou conve­ niente conceder a Israel o alívio da opressão du­ rante o reinado de Jeroboão II. Mas nem o rei nem o povo usaram essa última oportunidade para se voltarem ao Senhor. “A zarias... cinquenta e dois anos reinou em Jeru­ salém” (2 Rs 15-1-7). A recuperação da sorte de Israel sob o governo de Jeroboão II teve como contrapartida a prosperidade de Judá durante o longo reinado de Azarias (Uzias). Como foi o caso com muitos dos reis de Israel e de Judá, du­ rante esse período estendido Uzias foi corregente com seu pai ou com seus filhos. De acordo com 2

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A associação de Acaz com os assírios foi espiritu­ almente desastrosa, porque quando o rei foi a Da­ masco para se submeter ao monarca assírio, ficou fascinado com um altar de estilo novo, e mandou copiá-lo para uso em Jerusalém. As ofertas feitas sobre ele por Acaz são classificadas na categoria de ofertas de comunhão (16.15,16; cf. Lv 1— 7). Ofertas de comunhão simbolizando um íntimo relacionamento com Deus, feitas em um altar es­ tranho, como uma violação à Lei de Moisés? E fácil afirmar que se tem comunhão com Deus. Mas a verdadeira comunhão com Deus é demonstrada “Menaém deu a Pul mil talentos de prata” (2 Rs pela obediência à sua Palavra. 15.17— 16.20). O domínio da Assíria é mostrado de forma crescente nas histórias dos reis de Isra­ “Contra ele subiu Salmaneser, rei da Assíria; e Oseias el e de Judá depois de 750 a.C. Menaém pagou ficou sendo servo dele” (2 Rs 17.1-41). A destruição mil talentos de prata a Pul, da Assíria, para apoiar final de Israel se deu quando Oseias se recusou a a sua reivindicação ao trono. Em essência, Israel pagar o tributo assírio e buscou a ajuda do Egito. se tornou um estado vassalo. Peca perdeu as ter­ Samaria foi tomada depois do cerco de três anos, e ras do norte de Israel e muitos do seu povo para os israelitas foram deportados. Então estrangeiros Tiglate-Pileser. Acaz de Judá subornou Tiglate-Pi- foram trazidos pela Assíria para repovoar a terra. leser para invadir os seus inimigos, Síria e Israel. Israel, o Reino do Norte, não mais existia. Per­ Os assírios naturalmente se sentiram deleitados manece a pergunta: Judá, a irmã do sul de Israel, aprenderia com a destruição de Israel? ao fazerem isso.

Crônicas 26, a lepra de Uzias foi um castigo por ter infringido os direitos do sacerdócio. Ele viveu em beth ha-hophshith, que pode significar “casa de liberdade”, e indicar que ele estava liberado de to­ dos os seus deveres. Não é uma bênção ser colocado de lado e ser in­ capaz de contribuir. Como é importante lembrar que os cristãos, mesmo se incapacitados, podem trabalhar orando pelos outros. Por meio da oração, podemos dar uma significativa contribuição à vida dos outros e à obra de Cristo.

DE V OCIONAL______ Céu e Inferno (2 Rs 17) Sei que muitas pessoas ficam perturbadas com a noção de inferno. Céu é uma coisa. Mas inferno? Um lugar de castigo eterno? Embora a história do declínio de Israel não inclua nenhuma menção de castigo eterno, ela incorpora princípios que apoiam a questão. Em capítulos anteriores de 2 Reis, poucos comen­ tários editoriais foram feitos. Exceto por uma fór­ mula que dizia se um governante fez o bem ou o mal aos olhos de Deus, as histórias dos reis de Israel e de Judá são contadas em prosa simples e espar­ sa, e os leitores então devem tirar as suas próprias conclusões. Mas nesse capítulo o escritor tira con­ clusões por nós. O desastre final de Israel ocorreu pelo fato de os “filhos de Israel pecarem contra o Senhor”. Eles “temeram a outros deuses. E anda­ ram nos estatutos das nações que o Senhor lançara fora de diante dos filhos de Israel”. Eles “rejeita­ ram os estatutos e o concerto”, e “andaram após a vaidade e ficaram vãos”. Também “fizeram passar pelo fogo a seus filhos e suas filhas, e deram-se a adivinhações, e criam em agouros; e venderam-se para fazer o que era mal”. O princípio que o escritor estabeleceu ecoa por toda a Escritura. Deus considera o homem como

o responsável pelos seus pecados. Os quase 200 anos durante os quais Deus reteve o juízo final sobre Israel falam de sua graça. Mas a invasão dos assírios nos faz lembrar que o juízo certa­ mente virá. Céu e inferno? Sim. A paciência de Deus hoje em reter o juízo sobre os nossos pecados ainda reflete a sua paciência. As advertências da Bíblia sobre o inferno nos lembram que, apesar da graça de Deus, o juízo certamente virá. Aplicação Pessoal Nós, como a história, precisamos testificar aos ou­ tros tanto sobre a graça de Deus como também so­ bre o seu compromisso de julgar o pecado. Citação Importante “Uma geração sentimental e hedonista tentou eliminar a ‘ira’ do seu conceito de Deus. Natural­ mente, se os termos ‘raiva’ e ‘ira’ forem usados para significar a reação emocional de uma preocupação pessoal irritada, devemos admitir que não há tais coisas em Deus. Mas se Deus é um amor santo, e se eu, em qualquer grau, for dado à impureza ou ao egoísmo, então há, nesse grau, um completo anta­ gonismo em Deus contra mim.” — William Temple

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2 Reis 18—20

23 D E MARÇO LEITURA 82 _ UM ÚNICO REINO SOBREVIVE 5 Reis 18— 20 “Foi o Senhor com ele; para onde quer que saía, se conduzia com prudência” (2 Rs 18.7). Ezequias é elogiado como um rei que confiou em Deus, e que se manteve firme nEle. Uma única pes­ soa totalmente comprometida com o Senhor pode, de fato, fazer diferença no destino de uma nação. Contexto O material sobre Ezequias está organizado por te­ mas, e não cronologicamente. A sua cura (2 Rs 20) ocorreu antes da invasão assíria (2 Rs 18— 19). Os primeiros anos de governo independente de Ezequias, de 715 a 705 a.C., foram gastos em re­ formas religiosas. Ele, então, com ousadia se re­ belou contra a Assíria, que foi enfraquecida por lutas internas. Ele atacou e derrotou a cidade vas­ sala da Assíria, a Filístia, e começou a fortalecer as defesas de Judá. Em 701 a.C., um novo gover­ nante, Senaqueribe, mudou-se para o oeste a fim de lidar com a coalizão rebelde liderada por Judá e apoiada pelo Egito. Os assírios percorreram a costa do mar e atacaram Judá a partir do oeste, destruindo a principal cidade fortificada, Laquis (veja a ilustração). Senaqueribe, então, preparouse para atacar Jerusalém. A história dramática que relata como ele foi desprezado é contada em 2 Reis 19— 20, e outra vez em 2 Crônicas 32 e Isaías 36— 39. Senaqueribe nunca retornou para Judá. Vinte anos depois, ele foi assassinado por dois de seus filhos.

de Israel — para uma celebração da Páscoa, e orga­ nizou a adoração no Templo de Jerusalém. Essas reformas religiosas receberam prioridade nos primeiros anos do reinado independente de Eze­ quias. Somente quando Ezequias soube que Judá estava firme com Deus, é que passou a trabalhar para fortalecer politicamente a sua nação. Os su­ cessos de Ezequias contra a Filístia e a Assíria re­ pousavam no firme fundamento do seu relaciona­ mento com Deus, pois ele percebeu que só Deus poderia torná-lo um homem bem-sucedido. Nós também precisamos colocar Deus em primei­ ro lugar. O nosso sucesso em qualquer empreendi­ mento deve ter como seu fundamento um relacio­ namento firme e correto com o Deus vivo. “Porventura, os deuses das nações puderam livrar, cada um a sua terra, das mãos do rei da Assíria?" (2 Rs 18.17-37). Os antigos costumavam medir os deuses pelo poder militar da terra na qual eram adorados. Segundo esse critério, os deuses da Assí­ ria pareciam supremos. O “comandante de campo” (o título rab shekka provavelmente indica uma posição administrati­ va, e não militar) falava hebraico com fluência, e a sua mensagem gritada foi uma guerra psico-

Visão Geral O caráter piedoso de Ezequias é louvado (18.1-8). Ele se rebelou contra a Assíria, levando a uma in­ vasão de Senaqueribe e à destruição de muitas ci­ dades fortificadas (w. 9-16). Mas quando Ezequias apelou ao Senhor, a Assíria foi expulsa de Jerusalém (v. 17— 19.37) e o Reino do Sul foi preservado. O relato sobre Ezequias termina com a história de uma cura anterior e da insensata recepção aos men­ sageiros da Babilônia (20.1-21). Entendendo o Texto “No Senhor, Deus de Israel, confiou [Ezequias]” (2 Rs 18.1-8). O compromisso de Ezequias com Deus é visto aqui na vigorosa purificação da terra das práticas idólatras que ele realizou. O texto em 2 Crônicas 29— 31 entra em detalhes sobre os passos positivos que ele deu. Ele purificou o Templo, con­ vocou Judá — e até mesmo convidou os homens

Relevos ilustrados do cerco de Laquis decoram o palácio de Senaqueribe na Assíria. Os registros assírios detalham o despojo tomado de Judá (cf. 2 Rs 18.14) e afirmam ter “trancado Ezequias como um pássaro engaiolado em Je­ rusalém”. Mas o grande rei fracassou em tomar a capital de Judá, antes de voltar apressadamente para casa.

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nossa confiança nEle. Podemos, porém, ter a certe­ za de que Deus pode e irá agir.

lógica dirigida ao povo de Judá, e não ao rei. O pedido de rendição assírio enfatizava a fraqueza de Judá, prometia restabelecer a população de Judá em uma terra ainda mais fértil e escarnecia da capacidade de Deus para salvar o seu povo. Era verdade que Judá e Jerusalém estavam agora fracas e vulneráveis. Mas os assírios erraram ao compa­ rar o Deus de Judá com os ídolos adorados pelos outros povos. “Assim, saberão todos os reinos da terra que só tu és o Senhor Deus” (2 Rs 19.1-19). Ezequias colocou o desafio assírio perante o Senhor, e pediu que Ele agisse por amor ao seu nome. Este é o fundamento mais firme para a oração. Quando o nosso desejo for glorificar a Deus, e se aquilo pelo que oramos trouxer glória a Deus, po­ deremos orar com a máxima confiança. “O que me pediste... eu o ouvi” (2 Rs 19.20-37). O profeta Isaías recebeu a resposta de Deus, e deveria transmiti-la a Ezequias. A resposta de Isaías está na forma de um poema fúnebre, seguindo um distinto padrão 3:2 em hebraico. Senaqueribe havia escarne­ cido de Deus (18.21-24). Portanto, Deus diz aos as­ sírios: “Porei o meu anzol no teu nariz e o meu freio, nos teus lábios e te farei voltar pelo caminho por onde vieste” (19.25-28). Ezequias foi lembrado de que aquele era o ano do Jubileu — o ano para proclamar a liberdade (v. 29) — e assim Senaqueribe “não entrará nesta cidade, nem lançará nela flecha alguma” porque o próprio Senhor a defenderá (w. 32-34). Naquela mesma noite, um anjo do Senhor dizimou o exército assírio. De manhã, o arraial estava cheio de cadáveres! Senaqueribe deixou o arraial e voltou para casa, para nunca mais voltar. Você e eu jamais podemos prever os meios que Deus usará para nos livrar quando colocarmos a

DEV OCIONAL______ Obrigado, Senhor

(2 Rs 20) Há mais na história da resposta à oração de Eze­ quias do que os olhos veem. Deus acrescentou 15 anos à vida de Ezequias. Mas observe que 2 Reis 21.1 diz que “tinha Manassés doze anos de idade quando começou a reinar”. Manassés, então, nas­ ceu durante os anos acrescidos que Deus deu a Eze­ quias em resposta à sua oração. Quem foi Manassés? O filho de Ezequias cresceu e se tornou o rei mais impiedoso de Judá, cujo reina­ do de 55 anos colocou o Reino do Sul na rota da destruição certa. Sim, Deus respondeu à oração de Ezequias, mas poderia ter sido melhor para Judá se

“[Ezequias] virou o rostopara a parede”(2 Rs 20.1-8). Ao virar o seu rosto para a parede, Ezequias dispen­ sou Isaías. Ele também se concentrou inteiramente no Senhor, e depositou a sua esperança na oração. O incidente relatado aqui aconteceu alguns anos antes da invasão assíria, mas depois da reforma religiosa de Judá feita por Ezequias. A oração de Ezequias reflete os sentimentos de muitos que se acham sofrendo, apesar de andar diante de Deus “em verdade e com o coração perfeito”. A pessoa piedosa não merece o melhor das mãos de Deus? Deus ouviu a oração de Ezequias, e considerou a sua fidelidade. Deus prometeu curar Ezequias e também que defenderia Jerusalém do rei da Assíria. “Ezequias lhes deu ouvidos” (2 Rs 20.12-21). A de­ cisão de Ezequias de mostrar os tesouros foi, no mínimo, imprudente. A riqueza mencionada na Escritura incluía pelo menos uma tonelada de ouro e, de acordo com os registros assírios, cerca de 30 toneladas de prata que, posteriormente, foram levadas pela Assíria! Por fim, esse mesmo tesouro seria arrancado da Assíria pela Babilônia, e os des­ cendentes de Ezequias iriam para a escravidão. Às vezes, a gratidão de Ezequias por “paz e segurança em meus dias” (2 Rs 19.20, na versão ARA) é criti­ cada. No entanto, esses dias de vida são tudo o que temos, e o desafio de Deus para nós é que os viva­ mos bem. As gerações futuras deverão enfrentar os desafios do seu próprio tempo. Ezequias reconheceu essa realidade, e se mostrou agradecido pelo fato de Deus dar paz ao seu povo enquanto ele vivesse. ele não tivesse respondido! A lição não declarada da oração de Ezequias é surpreendente. Às vezes, em vez de pleitearmos a cura, deveríamos simplesmen­ te dizer: “Obrigado, Senhor”, e descansar na firme convicção de que o que quer que recebamos das mãos de Deus será o melhor para nós. Aplicação Pessoal Que todo pedido que façamos seja guardado pela frase: “Se for o melhor para nós”. Citação Importante “Com certeza, um passo dado para se entregar a Deus é melhor do que uma viagem através do oce­

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ano sem estar próximo a Ele... A perfeita vontade diante de Nabucodonosor, da Babilônia, e o povo é aquela em que desejamos o que Deus deseja, e de Judá foi levado para o cativeiro (25.1— 30). queremos o que Ele quer; é isso que pode trazer a alegria; mas se a vontade de alguém não estiver LISTA DE REIS em uníssono com a de Deus, não haverá alegria. Anos Governantes de Judá Que Deus nos ajude, para que possamos estar em harmonia com Ele.” — Meister Eckhart 697-642 Manassés 642-640 Amom 24 D E M ARÇO LEITURA 83 Josias A Q U E D A D EJU D Á 640-609 2 Reis 21— 25 Jeoacaz 609 609-598 Jeoaquim “Eis que hei de trazer tal mal sobre Jerusalém e Judá, que qualquer que ouvir, lhe ficarão retinindo ambas Joaquim 598-597 as orelhas" (2 Rs 21.12). 597-586 Zedequias O reinado de 55 anos de Manassés arrastou Judá 586 CATIVEIRO BABILÓNICO a pecados detestáveis. Mesmo uma breve recupe­ ração sob o governo de Josias não pôde reverter o o Texto mergulho no juízo. A estrada do pecado só leva a Entendendo “ Manassés... a Judá fez pecar com os seus ídolos "(2 Rs um único destino. 21.1-18). O reinado bárbaro e idólatra de Manas­ sés levou Deus a pronunciar um juízo irrevogável Contexto O reinado vigoroso e bem-sucedido de Josias ocor­ sobre Judá (cf. w. 12-15). reu durante um período de declínio assírio. Na O que o longo governo de Manassés fez foi im­ década de 630 a.C. esse grande império foi enfra­ primir um padrão sobre a sociedade de Judá. Esse quecido pelas lutas internas. Em 626 a Babilônia padrão se tornou tão profundamente arraigado que se rebelou, e em uma ascensão espantosamente todos os esforços de Josias na reforma foram inca­ rápida, fez a sua investida para substituir a Assíria pazes de mudá-la. Habacuque, que servia nos dias como a potência mundial dominante. Nínive caiu de Josias, queixou-se com Deus de que a sociedade em 612 a.C., e a batalha final foi travada em 605 de Judá estava arruinada pela forte injustiça nela em Carquemis. Josias morreu em uma batalha em arraigada, apesar da restauração da adoração no 609 tentando impedir que um exército egípcio sob Templo (cf. Hc 1.2-4). o comando do faraó Neco se juntasse aos assírios. Um estudo famoso identifica os membros de duas Apesar de Babilônia ser dominante, o Egito cons­ famílias da Nova Inglaterra. Uma produziu uma tantemente incentivava insurreições nos estados longa descendência de ministros e professores de palestinos. Os reis de Judá eram com frequência escolas e faculdades. A outra produziu uma série levados a se rebelar contra a Babilônia. Em con­ de criminosos e assassinos. Nas famílias, como em sequência, Judá sofreu uma série de invasões e de­ Judá de Manassés, a vida que vivemos pode estabe­ portações babilónicas. A invasão final veio em 587, lecer o padrão para as futuras gerações. quando Nabucodonosor cercou Jerusalém. Em 586 a cidade foi destruída e o seu povo deportado “A chei o livro da Lei na Casa do Senhor” (2 Rs 22.1 para a Babilônia. Os poucos judeus que restaram 20). O compromisso religioso inicial de Josias foi assassinaram o governador babilônio e uma guarni­ demonstrado por seus esforços para reparar o Tem­ ção babilónica, e fugiram para o Egito. Os livros de plo do Senhor. Ele estava desorientado, pois apa­ Jeremias e Ezequiel retratam as condições espiritu­ rentemente durante o reinado de Manassés a maio­ ais e políticas das últimas décadas da nação, e espe­ ria das cópias das Escrituras do Antigo Testamento foi destruída. Então uma cópia da lei, que alguns cificam os pecados pelos quais Judá foi julgada. acreditam compreender todos os cinco livros de Moisés, foi achada. Um Josias abalado percebeu Visão Geral O reinado de 55 anos de Manassés colocou Judá quão desobediente Judá tinha sido. firmemente no curso do mal (21.1-25). Seu neto, Perguntas dirigidas a Hulda, uma profetisa, trouxe de Josias, liderou uma brilhante, mas breve recupera­ volta a palavra de que o destino de Judá estava selado. ção (22.1— 23.30). Reis impiedosos então se su­ Mas em razão de Josias ter sido humilde e sensível a cederam (v. 31— 24.20), até que Jerusalém caiu Deus, o desastre viria apenas depois de sua morte.

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Ezequiel, que convocaram à submissão, os últimos reis de Judá se opuseram aos babilônios. A terceira vez que as forças babilónicas apareceram diante de Jerusalém, Nabucodonosor ordenou que a cidade e o seu povo fossem destruídos, e que a maior parte do seu povo fosse levada para o cativeiro. Os poucos que restaram assassinaram o governador babilônio e a sua guarnição, e fugiram para o Egito, deixando a terra vazia dos descendentes de Abraão. Superficialmente, o cativeiro babilónico parece uma grande tragédia. No entanto, ele provou ser uma bênção incomum. Na Babilônia os judeus se voltaram para as Escrituras a fim de entender o que lhes acontecera. De forma decisiva rejeitaram a idolatria; depois do cativeiro a nação nunca mais foi atraída para a adoração a falsos deuses. E en­ quanto estavam na Babilônia, o sistema de estudo e oração nas sinagogas foi instituído; um sistema que manteve o foco de Israel nas Escrituras até o dia de hoje. Mesmo no mais terrível dos juízos Deus permane­ ceu verdadeiro ao seu compromisso em fazer o bem ao seu povo. Não obstante o que acontecer a você “E Judá foi levado preso para fora da sua terra” (2 Rs e a mim, sabemos que Deus tem um compromisso 25■1-26). Contrariamente a súplica de Jeremias e conosco. Ele nos ama, e nos fará o bem.

Deus ainda está à procura de pessoas que estão aba­ ladas pelo abandono da sociedade sobre os prin­ cípios bíblicos de santidade e de justiça. Quando formos humildes e sensíveis, Deus nos abençoará individualmente a despeito do que possa acontecer a nossa terra. O zelo de Josias era tão grande que ele começou a livrar Judá de todas aquelas práticas contra as quais a Palavra de Deus falava. A lista das suas ações su­ gere a extensão da apostasia de Judá. O que podemos apreciar sobre Josias é o seu exem­ plo de total compromisso. Nenhum de nós poderia fazer um pedido mais importante do que sermos como Josias, que “se [converteu] ao Senhor com todo o seu coração, e com toda a sua alma, e com todas as suas forças” (23.25). O reinado de 31 anos de Josias sobre Judá não mudou a direção da sua nação. Mas os seus cons­ tantes esforços para servir ao Senhor lhe renderam a honra divina. Deus não exige que sejamos bemsucedidos. Ele nos chama, porém, para sermos to­ talmente comprometidos.

DEV OCIONAL_______ Uma Visita a Tofete (2 Rs 22— 23) Uma das decisões de Josias, em seu zelo pelo Se­ nhor, foi profanar Tofete, onde eram oferecidos sacrifícios a “Moloque”. A referência a Tofete diri­ ge os meus pensamentos para um horror moderno que é muito parecido com a prática antiga. O que era “tofete”? E o que era um sacrifício fei­ to a “Moloque”? Tofete era um distrito separado para uma classe de sacrifícios indicados pelas letras hebraicas m-l-k. Esses eram sacrifícios nos quais crianças de até quatro anos de idade eram apre­ sentadas como uma oferta a um deus ou deusa de quem o ofertante buscava algum benefício. Talvez o benefício fosse um pouco mais de dinheiro. Tal­ vez uma saúde melhor. Talvez um trabalho melhor. A despeito do que estivesse em questão, esses pais não davam a menor importância à ação de levar crianças vivas ao local de sacrifício, enquanto o ru­ far dos tambores abafavam os gritos angustiantes, no momento em que elas eram queimadas vivas. O horror moderno? É a prática de alguns de co­ locar a vida de seus filhos não nascidos sobre o al­ tar de um médico que pratica o aborto — pelos mesmos motivos. Um bebê agora vai estragar as férias que planejamos. Um bebê agora me prende-

rá em casa, exatamente agora que minha carreira profissional está progredindo. Um bebê agora será inconveniente — , portanto trocarei o feto alojado dentro de mim por aquilo que espero que seja uma qualidade de vida melhor para mim. Mas as duas práticas são realmente equivalentes? Com toda a honestidade, temos que dizer que sim. As crianças dos antigos eram indivíduos. Não de­ senvolvidos, ainda não adultos, mas pessoas sepa­ radas e distintas dos pais de quem elas tinham que depender. O feto de nossos dias também é uma pessoa separada e distinta, com cada célula mar­ cada por um padrão único de genes e cromosso­ mos que são absolutamente diferentes do padrão encontrado em cada célula do corpo da mãe. O filho não nascido não faz parte da mãe, mas é um indivíduo que tem os seus próprios direitos. Um indivíduo que os modernos parecem prontos a tra­ tar com a mesma indiferença que os antigos trata­ vam as crianças pequenas. Então da próxima vez que você ouvir um argu­ mento veemente a favor do direito das mulheres de fazer o que quiserem com os seus próprios corpos, não fique confuso. O que a posição a favor da esco­ lha pede é nada menos do que o direito de recons­ truir Tofete, onde os pais podem oferecer a vida de

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seus filhos na esperança de uma vida melhor para pois eu mesmo fui julgado como sendo um fruto si mesmos. de pequeno valor. Os meus olhos jamais examinarão o céu procuran­ Aplicação Pessoal do a minha pipa que voa alto; Cada indivíduo é precioso aos olhos de Deus, seja pois quando ainda era cego, eles foram destruídos jovem ou velho, homem ou mulher. no escuro ventre da noite. Jamais ficarei sobre uma colina, com os ventos da Citação Importante primavera soprando meus cabelos; Os meus pés brilhantes jamais correrão na grama os ventos do outono do pensamento se fecharam de manhã, bem cedo; no desespero da maternidade. os meus pés foram esmagados antes de terem a Jamais caminharei nas praias da vida ou conhecerei chance de saudar o amanhecer. as marés do tempo; Os meus dedos agora jamais se esticarão para tocar pois estava chegando sem ser amado, e este foi o a fita de vencedor; meu único crime. A minha corrida acabou antes de aprender a dar os Eu não tenho nome, sou um grão de areia, um dos menores passos. incontáveis mortos; O meu crescimento jamais será registrado em uma mas a ação que me tornou um pequeno punhado parede; de cor cinza, flutua no mar que está tingido de ver­ O meu crescimento foi interrompido quando eu melho. — Fay Clayton ainda era muito psqueno, e não podiam me ver. O Plano de Leituras Selecionadas continua em Os meus lábios e língua jamais provarão os bons TITO frutos da terra;

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1 CRÔNICAS INTRODUÇÃO Os dois livros das Crônicas constituem um comentário sobre a história do reino hebreu, e foram pro­ vavelmente escritos por volta de 450 a.C. O autor concentrou-se na linhagem de Davi, que governou continuamente no reino de Judá. Ele desenvolveu os grandes temas da promessa davídica, do significado do Templo e da devoção irrestrita a Deus. Juntos, os livros das Crônicas explicam a queda dos reinos he­ breus e oferecem esperança à comunidade judaica que estava se empenhando em Judá. Deus é fiel às suas promessas, e, um dia, alguém da linhagem de Davi restauraria a glória que se perdeu. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Nomes e Genealogias................................................................................................ ............. 1 Cr 1.1— 10.14 II. O Reino de D avi..................................................................................................................1 Cr 11.1— 29.30 GUIA DE LEITURA (4 Dias)

Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada capítulo deste Comentário. Leitura 84 85 86 87

Capítulos 1— 10 11— 16 17— 21 22—29

Passagem Essencial 2— 3 11— 12 17 28— 29

1 CRÔNICAS 25

DE MARÇO LEITURA 84

AS EVIDÊNCIAS HISTÓRICAS 1 Crônicas 1— 10

“ Todo o Israelfoi contado por genealogias; eis que es­ nhagem de Saul com um relato de sua morte e re­ tão escritos no livro dos reis de Israel” (1 Cr 9.1). jeição como rei (v. 35— 10.14). A história mostra que Deus é fiel. Como prova, o Entendendo o Texto autor traça as linhagens de Davi e de Abraão, pois “Estes foram os filhos de D avi” (1 Cr 1.1— 3.24). ambos receberam promessas de aliança do Senhor. A primeira lista genealógica começa com Adão e avança rapidamente até Abraão. Ela exami­ Contexto na brevemente a linhagem de Ismael, e depois Genealogias. Os hebreus mantinham cuidado­ detém-se na linhagem de Judá, neto de Isaque e sos registros genealógicos. Eles eram importantes filho de Israel. porque as promessas de aliança foram dadas aos A linhagem de Judá é destacada por uma razão descendentes de Abraão, Isaque e Jacó (Israel). O importante. Essa é a linhagem real, a família direito de cada judeu ao relacionamento com Deus de onde veio Davi. O autor não apenas mostra baseava-se na sua condição de membro da comuni­ que todo rei de Judá era oriundo da linhagem dade da aliança, assim como na fidelidade pessoal de Davi, mas demonstra também que membros ao código da aliança. O registro genealógico era da linhagem de Davi ainda estão em Judá, após particularmente importante para os sacerdotes e o exílio! levitas, pois somente descendentes de Levi — e, no Como isso era importante! Deus prometera que caso dos sacerdotes, de Arão — eram qualificados nunca deixaria de haver um descendente de Davi para servir a Deus no Tabernáculo ou Templo. qualificado para sentar-se no trono de Israel (cf. As genealogias registradas nas Escrituras usam 2 Sm 7; 1 Cr 17). As genealogias provavam que antigos registros para traçar linhagens familiares. Deus fora fiel a essa promessa. Portanto, a pe­ Estas genealogias normalmente incluem ances­ quena comunidade de judeus que havia se reastrais representativos, não todos os indivíduos de sentado na Palestina podia alegrar-se. O Deus uma linhagem. Por isso a maioria das genealogias que fora fiel continuaria a ser fiel, e um dia um tem “lacunas”, e é impossível usá-las para contar Filho da linhagem de Davi retomaria o trono e o número suposto de anos entre Adão e Abraão, restauraria a glória perdida de Israel. por exemplo. Que mensagem para nós hoje. Deus, que foi fiel, será sempre fiel. Como a pequena Judá em 450 Visão Geral a.C., um distrito insignificante em um poderoso O autor traçou a linhagem de Davi até Adão Império Persa, nós também podemos nos esfor­ (1.1— 3.24) e dos filhos de Israel, o povo da alian­ çar agora. Mas podemos planejar grandes coisas! ça de Deus (4.1— 8.40). As genealogias continuam O Descendente prometido de Davi, Jesus Cris­ com uma lista daqueles que voltaram a Jerusalém to, nasceu, e foi elevado ao trono do céu. Um dia da Babilônia (9.1-34). Finalmente é traçada a li­ Ele voltará e então nós reinaremos com Ele.

1 Crônicas 11— 16 tência. Saul morreu “por causa da sua transgressão com que transgrediu contra o Senhor”. Mesmo um membro da comunidade da aliança, mesmo um homem exaltado à posição de rei do povo de Deus, deve se submeter a Deus e à sua vontade. O in­ fiel Saul foi rejeitado, e “o Senhor... o matou”. No entanto, mesmo a infidelidade de Saul não pôde frustrar os bons desígnios de Deus para seu povo. Saul foi afastado, mas o Senhor “transferiu o reino a Davi”. Davi seria fiel a Deus. E Deus lhe faria promessas singulares.

“Todo Israelfoi contado” (1 Cr 4.1—9.1). À medida que as listas genealógicas prosseguem, percebemos novamente o propósito do autor. Em listas cuida­ dosas, tribo após tribo é mencionada, família após família é documentada. Deus é fiel não somente à li­ nhagem real de Davi, mas a cada família em Israel. “Saul e os seus filhos estirados” (1 Cr 9.35— 10.13). O relato de Saul tem um propósito um tanto di­ ferente. Ele encerra o registro genealógico que demonstra a fidelidade de Deus com uma adver-

DEV OCIONAL______

Tedioso, Tedioso, Tedioso (1 Cr 2— 3) O livro de 1 Crônicas parece ser o livro pelo qual não se deve começar a ler a Bíblia. Uma lista de no­ mes após outra. Nomes estranhos, um após outro. Mais de um cristão tem pensado: “Tedioso, tedio­ so, tedioso”. No entanto, se alguma vez você já se sentiu sem importância e insignificante, essas listas podem ter mais significado do que você imagina. Pense nisso. Nomes. Cada nome representando um indivíduo. Cada nome representando uma pessoa, a maioria desconhecida por nós, mas todas elas conhecidas e lembradas por Deus. Não conhecemos a maioria das pessoas que cons­ tam nestas listas porque não desempenham ne­ nhum grande papel na história sagrada. Poucos são heróis. Poucos realizaram grandes feitos. A maioria levou uma vida tranquila e comum. No entanto, nenhum nome destas listas está perdido. Nenhum nome está fora de lugar. Quando paramos para pensar nisso, essas listas “te­ diosas” de nomes são um lembrete de que Deus se importa profundamente com aqueles que são dEle. Não são os grandes feitos que realizamos que con­ tam, mas o fato de que pertencemos a Ele. Insig­ nificante? Você? Para Deus, nunca! Não há como Deus lhe colocar fora do seu lugar, como também não havia o risco dEle perder uma só pessoa na li­ nhagem dos seus santos do Antigo Testamento. Aplicação Pessoal Por mais insignificante que possa se sentir, você é vitalmente importante para Deus.

26 DE MARÇO LEITURA 85 OS SUCESSOS DE DAVI 1 Crônicas 11— 16 “Tu apascentarás o meu povo de Israel e tu serás chefe sobre o meu povo” (1 Cr 11.2). Nossos maiores feitos podem não ser registrados por historiadores. Aqui o cronista omitiu três ele­ mentos da história de Davi registrados em 1 Reis: o lapso de tempo de sete anos entre o governo de Davi em Judá e sobre todo Israel, o pecado de Davi com Bate-Seba e os acontecimentos em torno da rebelião de Absalão. O escritor não pretendia se estender sobre os erros de Davi, mas concentrar-se nos seus feitos e revelar aquilo que, para o Senhor, era mais importante em Davi. Visão Geral Como rei de Israel, Davi estabeleceu uma nova ca­ pital (11.1-9). Notável é a habilidade de Davi de inspirar lealdade (v. 10— 12.40), de re-despertar a fé (13.1-14; 15.1-29), de tornar Israel um povo seguro, (14.1-17) e de guiar o povo de Deus na adoração ao Senhor (16.1-43).

Entendendo o Texto “Pelo que se chamou a Cidade de Davi” (1 Cr 11.19). Quando Davi foi reconhecido como rei pela nação inteira, ele escolheu uma capital que se si­ tuava na fronteira das seções norte e sul, mas não pertencia a nenhum dos territórios. Uma pessoa que busca unir um povo deve ser cautelosa para não privilegiar uma ou outra facção. Citação Importante Os pais deveriam se lembrar desse princípio. Pelo “Deus diz ao homem quem Ele é. Deus nos diz que fato de cada filho ser único, e por causa de diferen­ Ele criou o homem à sua imagem. Então o homem ças de idade, não podemos tratar todos os nossos fi­ é algo maravilhoso.” — Francis Schaeffer lhos da mesma maneira. No entanto, devemos nos

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1 Crônicas 11— 16 precaver contra o favoritismo e deixar que cada fi­ iniciou o governo de um Israel unido, somente a lho saiba que ele ou ela é amado como indivíduo. Palavra de Deus podia fornecer o alicerce no qual o rei e a nação podiam basear-se. “São estes os... os valentes que o ajudavam na guerra” (1 Cr 12.1-40, ARA). Davi foi de maneira notável “Subirei contra osfilisteus?”(1 Cr 14.1-17). A extensão bem-sucedido em recrutar uma força armada com­ da dominação dos filisteus está sugerida em 11.18, prometida e em inspirar sua lealdade. que observa que eles estabeleceram uma guarnição Um incidente é particularmente interessante. em Belém. Belém está situada há aproximadamente Quando Davi expressou o desejo de beber a água onze quilômetros a leste de Jerusalém. Os filisteus, de um poço localizado perto da sua casa em Be­ com seu monopólio de armas de ferro, tinham postos lém, três dos seus seguidores romperam as linhas avançados que iam até as montanhas de Israel! dos filisteus acampados ali para buscá-la. Davi se Quando Davi foi ungido rei e reconhecido inter­ recusou a beber a água, mas “a derramou perante nacionalmente (cf. 14.1,2), os filisteus decidiram o Senhor” (ou seja, como oferta a Deus). O ato de invadir. Se pudessem matar ou desacreditar Davi, o Davi náo era a rejeição do presente, mas, ao contrá­ domínio que tinham sobre Israel continuaria. rio, uma expressão do valor que ele dava à vida de Porém, porque esta história se encontra aqui, in­ seus homens. Era certo que os homens arriscassem terrompendo a história do esforço de Davi de levar suas vidas pelo Senhor, mas não para satisfazer um a arca até Jerusalém? Muito provavelmente para desejo de seu subordinador. mostrar quão bem Davi aprendera a lição ensina­ A preocupação de Davi com seus homens era uma da pela morte de Uzá. Tanto em assuntos militares das coisas que faziam dele um grande soberano e quanto naqueles relacionados à religião, era vital inspirava a lealdade de seus seguidores. buscar a orientação de Deus. Assim, o texto nos diz que Davi “consultou a Deus” e, seguindo a orienta­ “Faça-o da maneira prescrita" (1 Cr 13.1-14; 15.1- ção do Senhor, derrotou os filisteus. 29). A primeira tentativa de Davi de levar a arca Davi conseguiu a segurança do seu povo porque para Jerusalém fracassou porque ele a carregou em buscava e fazia a vontade de Deus. um carro em vez de mandar os levitas a carrega­ rem, como estava prescrito pela lei. Quando Davi “Davi... abençoou o povo em nome do Senhor”(1 Cr soube desse regulamento, entendeu porque Deus 16.1-43). Uma das contribuições mais importan­ feriu Uzá apesar das boas intenções desse indiví­ tes de Davi à vida de Israel foi sua renovada ênfase duo. Israel e Davi foram lembrados de que Deus é à adoração. Esse tema, desenvolvido mais tarde, verdadeiramente santo e de que todos os seus man­ é introduzido aqui com a celebração realizada damentos devem ser obedecidos. Quando Davi quando a arca entrou em Jerusalém, e o salmo de

Esta caixa, coberta de ouro, era o objeto mais sagrado na religião de Israel. Continha memoriais da viagem do Êxo­ do — as tábuas de pedra da lei, um pote de maná e a vara de Arão que floresceu. E ainda mais importante, uma vez por ano, no Dia da Expiação, o sumo sacerdote espargia sangue sacrificial sobre a sua tampa para a expiação de todos os pecados que o povo de Deus cometera. Ao levar a arca para Jerusalém, Davi fez dessa cidade a capital religiosa e política de Israel.

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agradecimento que Davi escreveu e deu a Asafe para ser usado em cultos públicos. Como em toda verdadeira adoração, o salmo de Davi celebra o Senhor e o glorifica por suas quali­ dades, que são muitas e maravilhosas.

DEV OCIONAL_______

Inspirando Lealdade (1 Cr 11— 12) Uma definição de líder é a seguinte: “Líder é uma pessoa que descobre a direção em que as pessoas estão caminhando, e sai na frente!” Uma definição melhor é: “Um líder é alguém que sabe para onde está indo e inspira outros a seguirem-no”. A habilidade de inspirar lealdade em outras pessoas era um dos maiores dons de Davi. Para que você ou eu causemos um impacto significativo na nossa igreja ou comunidade, precisamos imitar a liderança de Davi e inspirar lealdade em outras pessoas. O que este trecho extenso sobre os “varões valentes” de Davi e seu exército nos ensina sobre inspirar lealdade? Note primeiro a qualidade dos homens que se juntaram a Davi (11.1-47). A palavra hebraica gibborim, frequentemente traduzida por “homens poderosos”, poderia ser traduzida por “heróis de guerra”. Cada um desses homens era um antigo “Rambo”. Cada um deles, porém, em vez de agir sozinho, juntou-se a Davi e serviu sob a sua lide­ rança. Para inspirar lealdade, temos de apreciar os outros e dar-lhes oportunidades para usarem a sua capacidade. Não devemos nos sentir ameaçados ao ministrar­ mos ou trabalharmos com pessoas que se sobres­ saiam. Davi foi generoso ao avaliar seus heróis de guerra, e deu-lhes um papel significativo em seu exército. Quando ajudamos outras pessoas a ter su­ cesso, conquistamos a sua lealdade. Note o constante aumento de homens leais à me­ dida que “de dia em dia vinham a Davi para ajudálo” (12.19-22). Os homens que se juntaram a Davi não o fizeram somente por causa da sua fama, mas para ajudar Davi contra as “tropas” (v. 21). Mes­ mo antes de Davi tornar-se rei, ele lutou contra os inimigos do povo de Deus. Para inspirar lealdade, precisamos de uma causa que motive outros a se juntarem a nós. Perceba que literalmente milhares de Israelitas, fi­ nalmente, “foram voluntários para servir nas tropas do exército de Davi, e torná-lo rei” (w. 23-40). A fama de Davi, conquistada durante muitos anos de combate, conquistou a nação inteira. Se quisermos que outros sejam leais a nós, deve­ remos, em primeiro lugar, nos comprometer com

Se alguma vez você ou eu nos sentirmos em dú­ vida sobre como nos dirigir a Deus em oração, a meditação sobre este ou outro salmo de adoração de Davi, pode nos ajudar a preparar nosso coração para adorar a Deus.

uma causa. Davi permaneceu firme em seu desíg­ nio, e conquistou o respeito de todas as pessoas. Aplicação Pessoal Se Deus lhe chamar para liderar, procure pessoas habilidosas, dê-lhes tarefas significativas, e esteja comprometido com a sua causa. Citação Im portante “Um grande líder nunca se coloca acima dos seus seguidores, exceto para assumir responsabilidades.” — Jules Ormont 27 D E MARÇO LEITURA 86 A PROMESSA DE DEUS A DAVI 1 Crônicas 17— 21 “Tefiz saber que o Senhor te edificaria uma casa” (1 Cr 17.10). A fidelidade de Deus às promessas feitas a Davi proporcionou um fundamento de esperança para a pequena comunidade judaica do pós-exílio de 450 a.C. As promessas de Deus ainda são a base de es­ perança para nós hoje em dia. Contexto A aliança davídica. Deus fez uma série de promessas a Davi por intermédio do profeta Natã. Davi derro­ taria seus inimigos e levaria a paz a Israel. Um des­ cendente de Davi construiria o Templo que Davi so­ nhava em construir. Um dia o descendente de Davi viria: “o confirmarei na minha casa e no meu reino para sempre, e o seu trono será firme para sempre”. Alguns elementos das promessas feitas a Davi fo­ ram cumpridos durante a sua vida. Davi derrotou os inimigos de Israel, expandiu seu território, e ga­ nhou a fama de ser o maior rei de Israel. Outros elementos foram cumpridos em Salomão, que su­ cedeu a Davi e construiu o Templo de Jerusalém. Porém os elementos da promessa relativos a um rei­ no eterno referem-se a um “descendente” que nas­ ceria em um futuro distante. Como as genealogias do Novo Testamento mostram, este descendente distante era Jesus Cristo, que, como Filho de Deus, está destinado a governar eternamente.

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O autor dos livros das Crônicas, determinado a oferecer esperança à sua geração, relatou a pro­ messa divina e, nos capítulos seguintes, mostrou que Deus foi realmente fiel ao seu compromisso na própria vida de Davi. Na continuação das Crô­ nicas, o autor mostrará que o Templo prometido foi construído, e em 2 Crônicas mostrará que um descendente de Davi sempre esteve no trono de Judá. Deus tem sido fiel, argumenta o cronista, e, portanto, podemos esperar que Ele sempre seja fiel. Um dia, um Descendente de Davi restaurará a gló­ ria de Israel. Ele viverá eternamente, e reinará para todo o sempre. Visão Geral Davi não foi autorizado a construir um templo. Porém, Deus prometeu edificar a “casa” de Davi (17.1-15), surpreendendo o humilde rei de Israel (w. 16-27). A fidelidade de Deus à sua promessa se verifica pelas vitórias de Davi (18.1— 20.8). Deus usou o pecado de Davi para conduzi-lo até o lugar do futuro Templo (21.1-30). Entendendo o Texto “Suscitarei a tua semente depois de ti” (1 Cr 17.115). Deus não pede que façamos coisas grandes para Ele. Em vez disso, busca fazer coisas grandes por nós e através de nós. O Senhor recusou a Davi a permissão de lhe construir um templo. Em vez disso, Deus disse a Davi o que Ele faria. O que Deus pretendia fazer por Davi era enaltecer o seu nome e subjugar todos os seus inimigos. Davi teria grande sucesso como governante (w. 7,8,10). O que Deus faria através de Davi era garantir a se­ gurança do seu povo, e, da linhagem de Davi elevar uma pessoa que governaria o Reino de Deus para sempre (w. 11-14). Essa última predição segue a “lei do duplo cumpri­ mento” que com frequência governa a interpretação da profecia. A profecia é cumprida imediatamente, porém esse cumprimento imediato é um tipo de um cumprimento final, também pretendido. Deus realmente estabeleceu como rei o filho de Davi, Salomão, deu-lhe um governo pacífico, e permitiu que construísse a Casa de Deus. No entanto, num futuro distante, nasceria um descendente de Davi muito maior do que Salomão. Esse futuro Descen­ dente trará paz ao próprio universo e governará o todo Reino de Deus, não somente por alguns anos, mas para sempre. Uma das lições que aprendemos com Davi é nos submeter a Deus para que Ele possa agir por nós. Somente quando abrirmos nossas vidas ao Senhor e o deixarmos agir por nós, Deus fará coisas gran­ des através de nós.

“O Senhor deu vitória a Davi em todo lugar onde andou' (1 Cr 18.1— 20.8). Quando Davi se tornou rei, Israel era uma pequena nação rodeada por ini­ migos poderosos. Estes capítulos relatam as vitórias militares que permitiram a Davi expandir seu reino e controlar as terras adjacentes. Um incidente relatado nestes capítulos revela a convicção de Davi de que suas vitórias foram ga­ nhas somente com a ajuda do Senhor. O texto em Deuteronômio 17.16 ordenava que nenhum rei de Israel multiplicasse cavalos para si. Isso significava que Israel não teria cavalaria nem exército com carros de batalha, ambos com­ ponentes importantes das forças armadas antigas. Os carros de batalha foram armas particularmente decisivas em muitas batalhas no Oriente Médio. No entanto, 2 Samuel 8.4 nos diz que Davi cap­ turou aproximadamente mil carros de Hadadezer, “jarretou [ou aleijou] todos os cavalos dos carros e reservou deles cem carros” Esse ato de jarretar, isto é, cortar o tendão das patas dianteiras dos cavalos, inabilitou os animais e os tornou impró­ prios para a guerra. Davi escolheu obedecer a Deus e confiar inteira­ mente nEle. Ele não sucumbiu à tentação de vol­ tar-se para as “superarmas” do mundo antigo, pois sabia que sem a ajuda de Deus elas seriam inúteis — e, com a ajuda de Deus, ele não precisaria de carros de batalha. Que lição para nós hoje. Não precisamos confiar nas armas deste mundo. Sem a ajuda de Deus elas são inú­ teis. E com a ajuda de Deus não precisamos delas. “O censo de Israel” (1 Cr 21.1-7, ARA). A palavra hebraica shatan significa “adversário”. É possível que tenha sido traduzida desta forma em 21.1. Satanás não estava envolvido neste caso, mas foi o surgimento de adversários preparando-se para a guerra contra Israel que incitou Davi a realizar um censo militar. Por alguma razão, realizar o censo estava errado. Talvez Deus tenha falado contra o censo. Talvez ele refletisse uma falta de confiança em Deus. Qual­ quer que fosse a razão, o ato era um pecado, e Deus anunciou que puniria Davi e Israel. Devemos náo somente agir em harmonia com a Palavra de Deus, mas também examinar nossos próprios motivos. Romanos nos lembra: “Tudo o que não é de fé é pecado” (Rm 14.23). “O anjo do Senhor disse a Gade que dissesse a Davi que subisse Davi para levantar um altar ao Senhor na eira de Ornã” (1 Cr 21.8-30). Davi escolheu sua punição, mas ao ver a morte de tantos, pediu que o Senhor o castigasse pessoalmente. Em vez

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disso, Deus disse a Davi para construir um altar na eira de Ornã (ou, Araúna). Esta elevação do outro lado da atual Cidade de Davi era na verda­ de o lugar onde Abrão fora para imolar seu filho Isaque (Gn 22). Era também o lugar que Deus escolhera para a construção do Templo. O incidente é profético, no sentido de que no lo­ cal em que Davi construiu um altar e ofereceu

DEVOCIONAL_______

Reivindicando as Promessas de Deus (1 Cr 17) Suponho que a frase: “Reivindique as promessas de Deus” seja uma das mais frequentes exortações que os cristãos ouvem do púlpito. No entanto, como muitas palavras do jargão religioso, a frase pode ser enigmática para muitos. O que significa “reivindicar as promessas de Deus”? E como uma pessoa faz isso? A resposta de Davi às maravilhosas promessas que o Senhor lhe fez é um dos exemplos mais claros das Escrituras de reivindicação das promessas de Deus. Davi também nos mostra como devemos respon­ der às promessas de Deus e reivindicá-las para nós. (1) Davi expressou surpresa pela bondade de Deus para com ele (w. 16-19). (2) Davi louvou a Deus por seus atos passados em nome do seu povo (w. 20-22). (3). Finalmente, Davi expressou a convic­ ção de que o Senhor faria o que prometeu. Davi diz: “Tu, Senhor, a abençoaste, e ficará abençoada para sempre” (w. 23-27). Como imitamos o exemplo de Davi? Quando encontramos uma promessa na Palavra de Deus, precisamos expressar primeiro nossa surpresa pela bondade de Deus para conosco. Devemos, depois, louvar a Deus, pensando em tudo que Ele fez por nós em Cristo e em nossas vidas até o momen­ to. Depois precisamos expressar nossa confiança de que Deus cumprirá a promessa que fez e viver obedientemente na convicção de que Deus fará tudo que disse. Se você e eu reivindicarmos as promessas desco­ brindo-as, agradecendo a Deus por elas, e depois agindo como base nelas — descobriremos quão fiel o Senhor é à sua Palavra.

uma oração que desviou o julgamento divino, Sa­ lomão construiria um Templo que simbolizaria a presença bondosa de Deus junto a seu povo. Ali, pelos séculos, Israel e Judá também recorreriam a Deus. Foi o pecado que levou Davi à eira para construir um altar. Muitas vezes o pecado levaria Judá até o Templo construído naquela mesma eira em busca de perdão.

lhor; a incredulidade torna mau todo bem, e todo mal fica ainda pior. A fé ri quando a lan­ ça se agita; a incredulidade treme quando uma folha se agita; a incredulidade mata a alma de fome; a fé encontra alimento na fome, e uma mesa no deserto. Em meio ao maior perigo, a fé diz: ‘Tenho um Deus grande’. Quando a força exterior se quebra, a fé se apoia nas promessas. Em meio à tristeza, a fé retira o torm ento causa­ do por cada problema, como também a amargu­ ra de cada aflição.” — Robert Cecil 28 DE MARÇO LEITURA 87 OS PREPARATIVOS DE DAVI 1 Crônicas 22— 29 “Salomão, meu filho, ainda é moço e tenro, e a casa que se há de edificar para o Senhor se há de fazer magnífica em excelência, para nome e glória em to­ das as terras; eu, pois, agora, lhe prepararei materiais. Assim, preparou Davi materiais em abundância” (1 Cr 22.5). Confiando na promessa de que seu filho construi­ ria o Templo que ele ansiara construir, Davi dedi­ cou os últimos anos de sua vida aos preparativos para uma estrutura que nunca chegaria a ver. Nós também somos sábios ao nos prepararmos para um futuro além do período de tempo que passamos aqui na terra.

Definição dos Termos-chave Levitas. Os descendentes de Levi foram separa­ dos, durante o Êxodo, para servir a Deus. Na­ quela época, seu principal dever era atender os Aplicação Pessoal sacerdotes, montar, desmontar e transportar o Quando encontrar uma promessa nas Escrituras, Tabernáculo, e seus objetos sagrados. Com um reivindique-a como sua. templo permanente prestes a ser construído, os deveres dos levitas tinham que ser repensados. Citação Importante Davi dedicou muito tempo ao planejamento dos “A fé faz com que todo o mal se transforme em deveres dos levitas, e à organização da tribo para o bem para nós, e que todo o bem seja ainda me- serviço do Templo.

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Visão Geral Davi fez preparativos para o Templo que Salomão iria construir (22.1-3). Juntou materiais (w. 1419), organizou tarefas para os levitas (23.1-32; 24.20-31) e para os sacerdotes que serviam (w. 1-19), treinou músicos (25.1-31), nomeou vigias (“porteiros”) e criou outros ofícios (w. 20-32). Davi também reorganizou o exército (27.1-34). Perto do fim, Davi encarregou os oficias de Israel de aceitarem Salomão como rei, e apresentou-lhe planos detalhados para o Templo (28.1-21). Davi e outras pessoas fizeram doações generosas para o projeto do Templo, e Davi consagrou as ofertas (29.1-20). Ele colocou Salomão no seu trono (w. 21-25), e morreu (w. 26-30). Entendendo o Texto “Disponde... o vosso coração e a vossa alma para bus­ cardes ao Senhor, vosso Deus” (1 Cr 22.1-19). Davi lembrou a Salomão as promessas que Deus lhe fez, e exortou seu filho a construir o Templo. Entre­ tanto Davi estava muito mais preocupado com o compromisso pessoal de Salomão do que com o seu compromisso público para com Deus. Salomão tinha de ser dedicado ao Senhor e obediente, ou suas realizações não teriam sentido. O esplendor do Templo que Salomão iria construir, as atividades dos levitas e dos sacerdotes ao desem­ penharem os seus deveres ali, seriam coisas vazias se não fossem motivadas pelo amor ao Senhor. “Davi os repartiu em divisões” (1 Cr 24.1-19). Cada divisão de sacerdotes servia durante duas semanas no Templo, depois voltavam às suas ci­ dades natais. Este plano era usado no tempo de Jesus (veja Lucas 1.8). “Davi... separou para o ministério os filhos de Asafe, e de Hemã, e de Jedutum, para profetizarem com harpas, e com alaúdes, e com saltérios” (1 Cr 25.131). Uma das contribuições importantes de Davi foi estabelecer formalmente o papel da música na adoração. Muitos salmos têm notações musicais em seus títulos.

Uma variedade de instrumentos musicais era usada no tempo de Davi. Eles eram tocados em festas e celebra­ ções. Constituíam também uma contribuição vital para a adoração pública, que, em Israel, muitas vezes era ins­ pirada por um vibrante senso de entusiasmo e alegria. Harpas, liras, címbalos e vários tipos de trombetas acom­ panhavam a recitação de muitos salmos da Bíblia.

“A s divisões dos porteiros” (1 Cr 26.1-19). Os “por­ teiros” eram levitas armados que ocupavam postos de vigia no terreno do Templo. Eles deviam não apenas manter a ordem, mas também proteger a enorme riqueza a ser reunida nas salas do tesouro do Templo.

tempos de emergência nacional e depois voltavam para suas casas. A inovação de Davi foi dividir o exército de cidadãos em uma dúzia de divisões de 24.000 homens, cada um deles em serviço por um mês e de folga por onze meses. O treinamento oferecido durante o mês de serviço manteria Isra­ “A s divisões do exército ”(1 Cr 27-1-24). Israel, como el militarmente forte e de prontidão. A inovação outras nações, contava com exércitos de cidadãos. de Davi era eficiente e ilustra a doutrina moderna Agricultores e artesãos tornavam-se soldados em de “paz através da força”. Nenhuma vez durante os

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1 Crônicas 22— 29 quarenta anos do reinado de Salomão Israel teve de sabilidade daqueles que Deus escolheu conhecer o travar guerra. Os militares estavam de prontidão Senhor e servi-lo sinceramente. As palavras de Davi a Salomão também poderiam — e não eram usados. ser dirigidas a você e a mim. Deus nos escolheu "Ele escolheu’ (1 Cr 28.1-21). Uma terceira vez o em Cristo e, através dEle, nos concedeu o perdão e autor de Crônicas se refere à aliança davídica (cf. uma vida nova. Então temos que conhecer a Deus também 17.1-15; 22.1-19). Deus escolhera Davi, e servi-lo “com um coração perfeito e com uma e o elevou à posição de rei. Deus também esco­ alma voluntária; porque esquadrinha o Senhor lheu Salomão para suceder a Davi e construir o seu todos os corações e entende todas as imaginações Templo. Tudo o que aconteceu estava enraizado na dos pensamentos” (v. 9). Como Davi prometeu, se buscarmos a Deus, o encontraremos. Mas, se escolha soberana de Deus. A vontade soberana de Deus, porém, não exclui rejeitarmos a Deus, nunca experimentaremos a o exercício do livre-arbítrio do homem. E respon- sua bênção.

DEVOCIONAL______

Nossos Tesouros Pessoais (1 Cr 28— 29) A visão de Davi se estendia muito além do seu tem­ po. Ele dedicou seus últimos anos ao planejamento de um templo, sabendo que não viveria para vê-lo. Então Davi deu outro passo. Comunicou a uma assembleia de oficiais do governo: “De minha pró­ pria vontade para a Casa do meu Deus, o ouro e prata particular que tenho demais eu dou para a Casa do meu Deus” (29.3). O exemplo de Davi levou outros a ofertar de ma­ neira igualmente liberal e sincera. Ele ofereceu uma oração de consagração (w. 10-13), e depois explicou a sua filosofia da doação. Essa explicação, acolhida em nosso coração, pode tornar as nossas doações alegres e espontâneas. O que, então, Davi entendera sobre doar? Ele entendeu que “toda esta abundância... vem da tua mão e é toda tua”. Deus é o maior doador de todos. Não corremos nenhum risco ao lhe devol­ vermos o que lhe pertence. Davi entendeu que “como a sombra são os nossos dias sobre a terra”. A pessoa que acumula tesouros na terra é tola. A única maneira de guardar nossos tesouros pessoais para sempre é doá-los, pois então seremos recompensados no céu. Davi sabia que Deus prova os corações e que a sinceridade o agrada. Deus não valoriza a quanti-

dade que damos, mas a nossa intenção. Davi deu “voluntariamente” e com “sinceridade de coração”. Sua doação foi uma expressão da realidade do seu amor pelo Senhor. Se você e eu adotarmos o ponto de vista de Davi sobre a riqueza material, isso fará diferença no nosso doar. Porém, o mais importante é a con­ fiança na capacidade que Deus tem para nos manter, e a perspectiva que valoriza a eternidade mais do que o tempo, pois essa nos libertará para experimentarmos a doação como uma alegria e uma verdadeira expressão do nosso amor pelo Senhor. Aplicação Pessoal Dar não é um dever, mas um privilégio. Citação Importante “O acúmulo de uma vasta riqueza enquanto tantas pessoas definham na miséria é uma grave transgres­ são da lei de Deus, com a consequência de que o avarento ganancioso nunca tem a mente tranquila: ele é, na verdade, uma das criaturas mais infelizes.” — Angelo Giuseppe Roncalli

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em 2 CRÔNICAS

2 CRÔNICAS INTRODUÇÃO O segundo livro das Crônicas dá continuidade ao comentário do autor pós-exílico sobre a história. O autor mostrou que Deus foi fiel às suas promessas a Davi, cujos descendentes detiveram o trono de Judá ininterruptamente. O autor também avaliou cada rei pela sua dedicação a Deus, expressada em seu interesse pelo Templo construído por Salomão. Nenhum destes reis cumpriu a promessa de Deus de um soberano da linhagem de Davi, destinado a estabelecer um reino justo e eterno. Assim, a pequena comunidade judaica em Judá deveria continuar com a sua expectativa, servindo ao Senhor até que chegue o soberano prometido. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. Salomão, o Construtor do Templo..................................................................................................2 Cr 1— 9 II. Relação dos Reis de Judá.............................................................................................................2 Cr 10— 36 GUIA DE LEITURA (7 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 88 89 90 91 92 93 94

Capítulos 1— 4 5— 9 10— 13 14— 20 21— 28 29— 32 33— 36

Passagem Esse 2 6 13 20 23— 24 29 33

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D E MARÇO LEITURA 88

O TEMPLO DE SALOMÃO 2 Crônicas 1— 4

“Determinou Salomão edificar uma casa ao nome do o Templo devia estar pronto e o povo de Deus de­ Senhor” (2 Cr 2.1). via adorá-lo ali enquanto esperava o Descendente prometido de Davi. Portanto, o propósito do autor O Templo que Salomão construiu não era grande, no livro das Crônicas era demonstrar a fidelidade mas em termos de qualidade e habilidade, era o de Deus às promessas feitas a Davi, e incentivar a melhor que se podia edificar. Não precisamos fazer adoração enquanto o povo esperava ansiosamente grandes coisas para Deus. Mas qualquer coisa que que Deus mantivesse as demais promessas da alian­ lhe oferecermos deverá representar o melhor que ça davídica. Os judeus deveriam se reunir em torno pudermos fazer. de Deus e do seu Templo, e esperar. Querubim. A palavra parece ser um termo geral Definição dos Termos-chave para vários seres sobrenaturais alados que simboli­ Templo. O Templo de Jerusalém, que abrigava a zam a santidade de Deus (cf. Ez 1.4-14; 10.1-22). Arca da Aliança, simbolizava a presença de Deus Não temos indícios claros para sugerir como eram com o seu povo. Todas as celebrações religiosas e representados nas paredes internas do Templo de todos os sacrifícios de Israel deviam ser realizados Jerusalém. ali, na presença do Senhor. Como o Templo era totalmente identificado com a adoração pública de Visão Geral Deus, a postura de um rei para com o Templo era Salomão agradou a Deus ao pedir sabedoria para uma medida precisa de sua piedade. Um dos prin­ conduzir o povo do Senhor (1.1-17). Ele decidiu cipais aspectos dos reavivamentos dirigidos pelos construir um Templo dedicado a Deus (2.1-10) e reis devotos sempre foi a purificação e/ou o reparo conseguiu ajuda do rei Hirão de Tiro (w. 11-18). do Templo, e a revitalização da adoração nele. O Templo e as suas decorações e guarnições de Este fato se reflete em 2 Crônicas, que, em cada ouro (4.1-22) são descritos. descrição dos reis devotos de Judá, enfatiza a res­ tauração dos ritos do Templo, empreendida pelos Entendendo o Texto soberanos. “Salomão, filho de Davi, fiortaleceu-se no seu reino” A ênfase das Crônicas sobre o Templo reflete as (2 Cr 1.1-17, ARA). Salomão tinha defeitos. Mas 2 condições da época do autor. Um pequeno grupo Crônicas concentra a nossa atenção na preocupação de judeus se arriscou a voltar da Babilônia para de Salomão com o bem-estar espiritual de Israel, de­ Judá com o intuito de reconstruir o Templo. De­ monstrada na construção do Templo. Dessa e de ou­ pois de anos de demora o Templo foi acabado, mas tras maneiras, Salomão prenunciou o Rei ainda por somente depois que o profeta Ageu lembrou aos vir da linhagem de Davi. A similaridade é enfatizada judeus que o Messias prometido, o Descendente quando encontramos Salomão pela primeira vez. de Davi destinado a restabelecer Israel, viria à casa Ele foi designado soberano, e imediatamente cha­ de Deus e a encheria de glória (Ag 2.6-9). Então, mou todo Israel para adorar ao Senhor. Quando

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Deus o convidou a pedir um presente, ele escolheu “sabedoria e conhecimento”, para que pudesse “sair e entrar perante este povo”. O pedido desprendido agradou a Deus, que lhe concedeu sabedoria e acres­ centou a riqueza e a honra que Salomão não pedira. A história enfatiza aspectos de semelhança com Cristo que também devem nos caracterizar. Deve­ mos levar outros a encontrar e adorar ao Senhor. Também devemos colocar os outros em primeiro lugar e buscar dons que nos capacitem a servir. “Fez o rei que houvesse ouro e prata em Jerusalém como pedras” (2 Cr 1.14-17). O primeiro livro dos Reis dedica um espaço considerável a descrições da riqueza, sabedoria e dos empreendimentos comer­ ciais de Salomão. O segundo livro das Crônicas quase não os menciona, mas descreve detalhada­ mente o interesse de Salomão pelo Templo. Para

este comentarista da história, o espiritual era muito mais importante que o esplendor material. A ênfase do cronista é um lembrete válido de que nenhuma das nossas realizações terrenas é tão sig­ nificativa quanto as nossas realizações espirituais. “A casa que estou para edijicar há de ser grande”(2 Cr 2.1-18). O capítulo relaciona alguns dos preparati­ vos que Salomão fez. O número de homens envol­ vidos, assim como a grande quantidade de madei­ ra, pedra e metais preciosos são impressionantes. Contudo, Salomão expressou claramente uma verdade básica. O Templo seria grande “porque o nosso Deus é maior do que todos os deuses”. E verdade que Deus merece o melhor de nós. Po­ rém, é importante nos lembrarmos de que o pró­ prio Deus é a nossa glória, e não os monumentos que erigimos a Ele.

A maravilha do Templo de Jerusalém não estava em seu tamanho, mas na riqueza e no artesanato nele despendidos. Ele era comprido e estreito. Com cerca de 27 metros de comprimento, 9 metros de largura, e 12 metros de altura, tinha aproximadamente o tamanho de uma casa suburbana moderna. A descrição oferecida aqui, em 2 Crônicas 3— 4, não fornece detalhes suficientes para um retrato preciso, mas, provavelmente, o Templo parecia-se muito com o desenho acima.

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DEV OCIONAL.

Venha Compartilhar (2 Cr 2) As mulheres que dirigiam nossos Grupos Bíblicos Domésticos estavam preocupadas. Alguns grupos se reuniam em casas da vizinhança onde as mães não eram cristãs. Agora, algumas daquelas mães queriam ensinar! De certa maneira, suas dúvidas devem ter refletido as dúvidas de Salomão quando escreveu a Hirão, rei de Tiro. Embora Tiro mantivesse relações amigáveis com Davi, as duas nações eram de raça e religião dife­ rentes. No entanto, a carta de Salomão não somente propunha a compra de madeira e a contratação de trabalhadores, mas pedia também um metalurgista qualificado para supervisionar seus artesãos hebreus! Na verdade, Salomão convidou Hirão a desempe­ nhar um papel importante na construção de um templo dedicado ao Deus de Israel! Duas coisas são surpreendentes neste trecho. Salomão recor­ reu a um gentio para que o ajudasse a construir o Templo de Deus. E o gentio reconheceu Deus não como uma simples divindade local, mas como aquEle “que fez os céus e a terra”. Israel tinha um relacionamento exclusivo com o Senhor, enraizado na aliança abraâmica e confir­ mada na história pelos atos de Deus em favor de seu povo. Contudo, Isaías falou frequentemente de um dia em que os gentios se uniriam em torno de Deus, chamados pela brilhante luz do Messias de Israel (Is 11.10; 42.6; 49.6). O Templo de Isra­ el devia ser um Templo para toda a humanidade. Como Jeremias 16.19 prediz: “A ti virão as nações desde os fins da terra e di­ rão: Nossos pais herdaram só mentiras e vaida­ de, em que não havia proveito. Fará um homem para si deuses que, contudo, não são deuses”? Aquele dia da salvação universal é prenunciado no fato de que Deus permitiu ao gentio Hirão de Tiro contribuir tanto para o Templo de Jerusalém. E a conversão dos gentios é prenunciada pelo reconhe­ cimento por Hirão de Deus como criador do céu e da terra. De um modo interessante, as mulheres que diri­ giam os nossos Grupos Bíblicos decidiram tornar as anfitriãs “ajudantes dos professores”. Neste pa­ pel, algumas, como Hirão no passado, vieram a conhecer o Senhor. Aplicação Pessoal Quando os outros parecerem receptivos a Deus, acolha-os.

Citação Importante “Tome cuidado para não assustar, com rigor auste­ ro, pobres pecadores que tentem desnudar o esta­ do chocante de suas almas. Antes, fale com eles da grande misericórdia de Deus e facilite para eles o que, na melhor das hipóteses, é uma tarefa difícil. Seja especialmente gentil para com aqueles que, por causa da fraqueza da idade ou do sexo, não tenham coragem de confessar os pecados que praticaram. Diga-lhes que, seja o que for que tiverem a dizer, não será novidade para você. Às vezes as pessoas recebem auxílio quando lhes contamos a respeito do nosso passado lamentável.” — Francis Javier 30 DE MARÇO LEITURA 89 AS REALIZAÇÕES DE SALOMÃO 2 Crônicas 5— 9 “Que os teus olhos estejam dia e noite abertos sobre este lugar, de que disseste que ali porias o teu nome, para ouvires a oração que o teu servofizer neste lugar” (2 Cr 6.20). A preocupação inicial de Salomão com a glória de Deus e a sabedoria, que atraiu os governantes das nações vizinhas, serve como exemplo do ministério do soberano governante davídico que ainda estava por nascer. Contexto Tipos. Um “tipo” é uma pessoa, acontecimento ou instituição do Antigo Testamento que corresponde de maneira significativa a uma pessoa, aconteci­ mento ou instituição do Novo Testamento. Salo­ mão, na condição daquele que se tornou rei em conformidade com a promessa de Deus a Davi, corresponde de certa forma ao Descendente de Davi, Jesus Cristo, que cumprirá todos os elemen­ tos daquela promessa e governará para sempre. O cronista selecionou as realizações de Salomão que exemplificam o ministério do Messias vindouro. O cronista chama a nossa atenção especificamente para a preocupação de Salomão com a glória de Deus, demonstrada na dedicação do Templo. Ele também chama a nossa atenção para o fato de que a fama de Salomão se espalhou pelo mundo antigo e atraiu gentios para Israel. Como diz Isaías 60 ao falar da Era Messiânica: “As nações caminharão à tua luz, e os reis, ao resplendor que te nasceu... to­ dos virão de Sabá; ouro e incenso trarão e publica­ rão os louvores do Senhor” (w. 3, 6). Nessas coisas, pelo menos, Salomão é um tipo, ou exemplo, do Messias de cuja vinda o cronista tinha certeza.

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Visáo Geral O interesse de Salomão por Deus revelou-se na condução da Arca ao Templo (5.1-14), no louvor a Deus pelo cumprimento da sua promessa (5.1-11), na consagração do Templo com oração (w. 12-42) e sacrifícios (7.1-10) e foi confirmado pela aparição de Deus a Salomão (w. 11-22). A proeminência do reino de Salomão (8.1-18), de sua fama (9.1-12) e esplendor (w. 13-31) sugere as glórias de um futu­ ro reino messiânico. Entendendo o Texto “Trouxeram os sacerdotes a arca do concerto do Senhor ao seu lugar, ao oráculo da casa” (2 Cr 5.1-14). Quando a construção foi completada, os sacerdo­ tes transportaram os utensílios sagrados até o Tem­ plo. Foi uma ocasião de grande celebração. Cada sacerdote foi consagrado para realizar os grandes sacrifícios. O ato mais significativo foi colocar a arca da aliança no Santo dos Santos, onde ela per­ maneceria invisível, exceto uma vez por ano pelo sumo sacerdote. O Templo, luminoso com a beleza do ouro e da arte nele despendida, não era nada sem a presença da arca. Toda sua beleza era um tributo àquele objeto que simbolizava a presença misericordiosa de Deus. Hoje, Deus está presente nos corações dos crentes. Nenhum milagre da ciência médica pode esquadri­ nhar nossos corações e detectar o Espírito divino. Porém, como Salomão, podemos demonstrar o nosso interesse pelo Senhor, de uma forma gene­ rosa, oferecendo-lhe a residência mais bela e santa possível. Através da beleza de nossa vida, outros podem sentir a realidade de Deus, que é a fonte de todo o nosso amor e bondade, dentro de nós.

lomão disse ao Senhor? Por um lado, aprendemos que não há nenhuma situação em que o povo de Deus não possa recorrer a Deus em busca de per­ dão e da restituição de bênçãos perdidas. “Agora, estarão abertos os meus olhos e atentos os meus ouvidos à oração deste lugar”(2 Cr 7.1-16). Salomão dedicou o Templo ao Senhor e, como resposta, des­ ceu fogo do céu e a glória do Senhor, como uma nuvem visível, encheu o Templo. Essa evidência de que Deus escolheu morar no Templo impeliu um Israel maravilhado a adorar e louvar ao Senhor. Isso foi, sem dúvida, o que alguns chamaram de “experiência culminante”. Foi um momento em que o povo de Deus experimentou a sua presença, quando se sentiram especialmente próximos do Senhor e, naquele momento, totalmente dedicados a Ele. O problema com experiências culminantes é que, mais cedo ou mais tarde, nos encontramos de novo no fundo. A emoção desaparece; as pressões da vida cotidiana interpõem-se. Com demasiada frequên­ cia até fazemos escolhas insensatas e nos afastamos do caminho de Deus. Então, de repente, com­ preendemos que perdemos aquele brilho intenso, aquela percepção de dedicação, aquele amor avas­ salador por Deus que sentíamos quando estávamos no ápice. Como nos recuperamos depois de descer às pro­ fundezas de um vale sombrio? Após Deus ter reve­ lado sua glória a um Israel extático, Ele prescreveu a Salomão: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra”. Há um caminho de volta Humilha-te Ore e busque a face de Deus. Afasta-te dos maus caminhos. Deus promete ouvir, perdoar e curar. Deus per­ manece no cume da montanha, assim como a sua presença permanecia no Templo de Jerusalém. Por mais fundo que seja o nosso vale, Deus nos convida a nos voltarmos e subirmos de novo para perto dEle.

“ Toda a congregação de Israel estava em pé” (2 Cr 6.1-11). Como Salomão, o crente hoje se dirige tanto a outros seres humanos, como a Deus. O que dizemos aos outros? O tema de Salomão ao falar com todo Israel era simples: “Deus é fiel”. Deus prometera a Davi que Salomão se assentaria em seu trono, e construiria um Templo em nome do Senhor. O que Deus disse, agora fora cumprido. Então Salomão lembrou a Israel a promessa divina, e louvou a Deus por sua fidelidade. Quando compartilhamos a nossa fé com outros, geralmente é mais eficaz dar testemunho da fideli­ dade de Deus do que nos envolvermos em uma dis­ “A filha de Faraó’’(2 Cr 8.1-11). Nos tempos antigos, cussão teológica. Também podemos testemunhar muitas vezes acordos eram selados pelo casamento que Deus cumpriu a sua palavra, e dirigir outras de uma filha real com um rei estrangeiro. O Egito, porém, resistia a esse costume. O fato de a filha do pessoas às promessas que Ele lhes faz em Cristo. Faraó ter sido dada em casamento a Salomão é um “[Salomão] pôs-se em pé perante o altar do Senhor” forte indício da reputação, poder e glória de Israel (2 Cr 6.12-42). O que aprendemos com o que Sa­ e do próprio Salomão.

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quEle que cumprirá todas as promessas de Deus a Davi. A história é significativa também para nós. Temos de atrair não-cristãos para Jesus pela qualidade de nossas vidas. O crente amargo, que impiedosamen­ te confronta todos os conhecidos com pecados reais ou supostos não é o tipo de testemunha que Deus chama para dar testemunho da sua bondade.

“Sobrepujaste a fam a que ouvi” (2 Cr 8.12—9.30). O esplendor do reino de Salomão e a sua fama mundial exemplificam a influência que o futuro e maior filho de Davi terá. O cronista enfatizou os sucessos de Salomão, mas a história da visita da rainha de Sabá é particularmente importante. Ela representa todos os gentios que virão a Jerusa­ lém nos dias do Messias para saber a respeito da-

DEVOCIONAL_______ Quando Orar (2 Cr 6) Quanto melhor conhecemos a Deus, mais à vonta­ de nos sentimos em oração. Essa simples verdade é ilustrada na oração de Sa­ lomão durante a dedicação do Templo. Salomão entendeu perfeitamente que Deus é transcenden­ te. “Eis que o céu e o céu dos céus não te podem conter”, clamou Salomão, “quanto menos esta casa que tenho edificado?” Contudo, Salomão também percebeu que Deus está presente, aqui e agora. “Verdadeiramente habitará Deus com os homens na terra?” A resposta maravilhosa e surpreendente é: “Sim!” E, nos dias de Salomão, o símbolo desta presença vital e viva de Deus com os homens, era o Templo que Deus escolhera como o lugar onde colocar o seu nome. Mas compreendemos verdadeiramente que Deus, que é grande demais para ser contido no vasto uni­ verso, está sempre conosco? Ou às vezes esquecemos seu compromisso de estar “com os homens”? Cer­ tamente, quando pecamos ou quando falhamos de uma maneira horrível e somos dominados pela ver­ gonha, provavelmente nos sentimos longe de Deus, e até mesmo que Ele também nos abandonou. Talvez seja por isso que Salomão dê continuida­ de à sua oração, registrando as sucessivas ocasiões em que a mão de Deus pesaria sobre Israel e pede que, nestas ocasiões, quando Israel estiver mais longe de Deus, Ele possa ouvir “toda oração, e toda súplica que qualquer homem fizer ou todo o teu povo de Israel”. Que lembrete para nós, enquanto lemos a longa lista de Salomão das vezes em que há necessidade de orar, mas nas quais podemos hesitar por medo ou dúvida. Deus comprometeu-se a estar “com os homens”. Como o Deus transcendente é também o Deus que está presente conosco, podemos ir a Ele mesmo quando nos sentirmos mais distantes, sabendo que Ele ouve as nossas orações.

Citação Importante “Vem agora, homenzinho! Foge por um tempo de tuas tarefas, afasta-te por um momento do tumulto dos teus pensamentos. Vem, livra-te do fardo dos teus cuidados e põe de lado tuas buscas laboriosas. Por um momento oferece teu tempo a Deus e re­ pousa nEle um instante. Penetre na câmara interior da tua mente, exclua todas as coisas, exceto Deus e qualquer coisa que te possa ajudar na busca de Deus; e, trancada a porta de tua câmara, procura-o.” — Anselmo de Cantuária 31 DE MARÇO LEITURA 90 A QUEDA DOS DESCENDENTES DE DAVI 2 Crônicas 10— 13 “Roboão... deixou a lei do Senhor, e, com ele, todo o Israel” (2 Cr 11.1-4). Deus cumpriu a promessa feita a Davi. Seus des­ cendentes reinaram no trono de Judá. Mas, quan­ do os descendentes de Davi abandonaram a Deus, veio o julgamento. Nem mesmo aqueles que são participantes das promessas de Deus podem pecar impudentemente. Visão Geral A postura de Roboão provocou a rebelião das tribos do norte, que estabeleceram o reino rival de “Israel” (10.1-19). Aqueles que eram fiéis a Deus deixaram Israel para assentar-se em Judá (11.1-23). Quando Roboão abandonou a lei de Deus, o Senhor permi­ tiu que Sisaque do Egito invadisse Judá (12.1-16). O próximo rei de Judá, Abias, derrotou Israel em batalha porque “confiou no Senhor” (13.1-22).

Entendendo o Texto “[Seja] benigno e afável com este povo” (2 Cr 11.119). A arrogância de Roboão foi a causa imediata da rebelião de Israel. Embora o curso dos acon­ Aplicação Pessoal Deus nunca está a mais que um a oração de tecimentos viesse “do Senhor”, a insensatez de Roboão serve como um saudável lembrete. O uso distância.

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da autoridade e a postura de uma pessoa investida com autoridade conquistam ou perdem a lealdade dos outros. Ser bom com as pessoas não é somente o sinal de uma boa liderança; é a maneira como os cristãos são chamados a viver.

“E ouviram as palavras do Senhor" (2 Cr 11.1-4). Furioso, Roboão reuniu um exército para subjugar o norte. Seus planos de guerra foram interrompi­ dos pelo profeta Semaías, que falou não somen­ te com Roboão, mas com “todos” em Benjamin e Judá. O texto diz que “eles” deram ouvidos à ordem do profeta de não combater contra seus irmãos. Talvez o pronome “eles” incluísse o rei, mas parece provável que o povo, não o rei, tenha dado ouvido à palavra de Deus. Há momentos em que não devemos obedecer à lei do país. Quando a lei humana colide com os man­ damentos de Deus, temos que obedecer a Deus, como fizeram os homens de Judá. “[Aqueles] de todas as tribos de Israel” (2 Cr 11.517). No norte, Jeroboão abandonou os manda­ mentos rituais do Antigo Testamento, e estabele­ ceu uma fé falsificada. Ele confeccionou bezerros de ouro, ordenou qualquer um que quisesse servir como sacerdote, e substituiu as festas religiosas a eram celebradas em Jerusalém por festas que ele mesmo estabeleceu. Essa apostasia obrigou os levitas e todos aqueles “que deram o seu coração a buscarem ao Senhor” a abandonar o norte e mudar-se para Judá. A força desse movimento se percebe porque Judá só conseguiu reunir 180.000 soldados quando o reino se dividiu, mas, cerca de 18 anos mais tar­ de, conseguiu colocar em campo um exército de 400.000 homens! Como Deus foi sábio ao mandar que Judá não combatesse contra seus irmãos. O combate poderia endurecer os corações daqueles que Ele pretendia que o buscassem.

DEVOCIONAL______

Deus Conosco (2 Cr 13) Essas palavras encontravam-se nas fivelas dos cin­ tos dos soldados do Kaiser alemão na primeira guerra mundial. Há um lema similar na moeda americana: “Nós confiamos em Deus”. Mas quan­ do palavras como estas significam alguma coisa? Quando se tornam uma porta que nos dá acesso à intervenção e à ajuda de Deus? Talvez Abias, o

Nós também conquistamos muitos mais .irmãos para o Senhor ao amá-los do que ao combatê-los.

“Vós me deixastes” (2 Cr 12,1-5). Após um início medíocre, Roboão agiu sabiamente como rei e consolidou o seu reino. Porém, com suas defesas completas, o rei e toda a Judá “deixaram a lei do Senhor”. Deus abandonou Judá para que fosse in­ vadida pelo Egito sob o faraó Sisaque. A invasão de Sisaque é descrita na inscrição de um templo encontrada em Karnak, no Egito. Os egípcios saquearam o Templo e tomaram os tesouros que Davi e Salomão juntaram, e Judá tornou-se uma nação vassala. Deus é fiel aos que permanecem fiéis a Ele. Ele é fiel também para disciplinar os seus quando estes o abandonam. A invasão não tinha o intento de ferir Judá. Na verdade, a grande riqueza perdida fora dedicada a-Deus! De certo modo, foi custoso a Deus punir o seu povo. Ao sermos disciplinados, devemos nos lembrar de que o castigo de Deus é motivado por um amor que lhe custou muito mais do que poderia custar a nós. “Então, se humilharam os príncipes de Israel e o rei” (2 Cr 12.6-16). Duas coisas são importantes aqui. Primeiro, fala-se de Judá como “Israel”. Não é um erro no texto, embora fosse o Reino do Norte e não o do sul que tivesse este nome. O povo de Judá era “Israel” pelo fato de que todos aqueles do norte que buscavam Deus se mudaram para Judá. O Israel verdadeiro e espiritual de Deus vivia no sul e era o verdadeiro Israel que Deus agora castigava. A segunda coisa importante é que o rei e o povo reagiram adequadamente à disciplina. Eles reco­ nheceram a justiça de Deus: confessaram que me­ reciam o castigo. O texto diz: “Humilhando-se ele [Roboão], a ira do Senhor se desviou dele”. O Salmo 51.17 aplica a lição a você e a mim. “Um coração quebrantado e contrito”, diz o salmista, “não desprezarás, ó Deus”.

bisneto de Davi, tenha a resposta. Oh, Abias não era um gigante espiritual. Q livro dos Reis nos diz que Abias, que se tornou rei após Roboão, “andou em todos os pecados que seu pai tinha cometido antes dele” e que “seu coração não foi perfeito para com o Senhor” (1 Rs 15.3) Contu­ do o cronista seleciona um incidente no qual a confiança de Abias no Senhor levou à intervenção divina direta.

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2 Crônicas 14—20

Abias foi obrigado a travar uma guerra contra Jeroboão de Israel, embora tivesse em suas tropas apenas a metade dos homens que tinha Jeroboão. Contudo, Abias gritou uma advertência ao inimi­ go! Judá, disse Abias, fora fiel a Deus, manteve os serviços exigidos no Templo que o próprio Deus escolhera, que era servido por levitas e sacerdotes que Deus ordenara. Por outro lado, Israel foi para a batalha carregando bezerros de ouro que venera­ vam como deuses, com sacerdotes que Deus não chamara nem ordenara. Baseado na fidelidade de Judá ao observar as exi­ gências para a adoração que o norte abandonara, Abias proclamou: “Deus está conosco... ó filhos de Israel; não pelejeis contra o Senhor, Deus de vossos pais, porque não prosperareis” (v. 12). Alguns poderiam ignorar as palavras de Abias, como se fossem mera guerra psicológica. Outros poderiam criticá-lo por sustentar que rituais de adoração comprovam a verdadeira devoção ao Se­ nhor. Mas o texto nos diz que Deus libertou Judá. Eles foram vitoriosos “porque confiaram no Se­ nhor, Deus de seus pais”. O fascinante é que, apesar das deficiências de Abias e dos pecados de Judá, Deus veio em seu auxílio! Abias podia ter mais direito ao favor divino do que Israel, mas nada do que ele ou Judá tivessem feito merecia realmente a intervenção de Deus. Ainda assim, quando Judá confiou no Senhor — e por­ que confiou no Senhor — Deus agiu. O mesmo é verdade para você e para mim hoje. Não podemos dizer que somos perfeitos. Decepcionamos a Deus demasiadamente. Não podemos sequer afir­ mar que sejamos melhores do que as pessoas que não vão à igreja. Apenas irmos à igreja não é o suficiente para Deus. Mas, quando surge a necessidade, pode­ mos fazer a única coisa que Abias e Judá fizeram e que conquistou o favor de Deus. Podemos abandonar a autoconfiança e confiar totalmente em Deus. E a confiança, não o estar certo, ou mesmo o ser justo, que leva Deus a nos ajudar.

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DE ABRIL LEITURA 9 DOIS REIS DEVOTOS 2 Crônicas 14■—20

“Esforçaí-vos, e não desfaleçam as vossas mãos, porque a vossa obra tem uma recompensa” (2 Cr 15.7). As atividades de dois reis devotos identificam ca­ racterísticas de reavivamento espiritual que pode­ mos aplicar à nossa vida pessoal e à nossas igrejas. Os erros de cada rei nos advertem para que nos afastemos de perigos espirituais. Visão Geral Asa confiou no Senhor quando Judá foi invadi­ da (14.1-7), e incentivou a sua nação a jurar no­ vamente fidelidade ao Senhor (15.11-19). Com uma idade avançada, Asa tornou-se autocrático e deixou de confiar em Deus (16.1-14). Josafá manifestou fervor pelo Senhor, e Judá tornouse rica e poderosa (17.1-19). Seu erro foi aliar-se ao iníquo Acabe (18.1— 19.3). Contudo, Josafá manteve seu compromisso com Deus e traba­ lhou para implementar a Lei de Moisés em Judá (w. 4-11). Ele também confiou no Senhor quan­ do a nação foi invadida (20.1-17) e manifestou sua fé ao louvar ao Senhor mesmo antes da vitó­ ria subsequente (w. 18-30). Ele viveu e morreu como um rei devoto (w. 31-37). Entendendo o Texto “Mandou... que buscassem ao Senhor... e que obser­ vassem a lei” (2 Cr 14.1-7). O capítulo 14 começa com a avaliação geral de Asa e descreve a prosperi­ dade de Judá. O compromisso espiritual é o funda­ mento tanto para o bem-estar nacional como para o pessoal. Buscar ao Senhor é o primeiro passo em todo reavivamento.

‘‘Ajuda-nos... Senhor, nosso Deus, porque em ti confiamos”( 2 Cr 14.9-15). O segundo passo para o reavivamento se revela na reação de Asa a uma invasão dos cuxitas, ou etíopes, então dominados Aplicação Pessoal Confie que Deus lhe ajudará, não porque Ele lhe pelo Egito. Ele exortou seu povo a confiar no Se­ nhor. A confiança ativa de Asa em Deus era bem deva isso, mas pelo fato de Ele ser quem é. fundada, visto que o Senhor deu uma vitória de­ Citação Importante cisiva a Judá. Senhor, “Não desistais” (2 Cr 15.1-19). Buscar a Deus e Eu me arrastei pelo deserto, confiar nEle são apenas os primeiros passos. Como até chegar a ti com o meu cálice vazio, hesitando em pedir sequer uma pequena gota de Azarias, o profeta, lembrou a Asa, temos de ser per­ refrigério. severantes em nosso compromisso. Se ao menos te conhecesse melhor, Essa qualidade se verificou no apelo de Asa a toda Judá e aos muitos hebreus que deixaram o Israel Teria vindo correndo com um balde. — Nancy Spiegelberg apóstata e se estabeleceram no sul. A nação se reu­

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niu em Jerusalém no 15° ano do reinado de Asa e concordaram de todo coração em buscar o Senhor ativa e zelosamente e servir apenas a Ele. O reavivamento pode ser estimulado por um indivíduo, mas só ocorre quando o povo de Deus aceita o estabe­ lecimento de um compromisso partilhado com o Senhor. Contudo, quão importantes são o líder e seu com­ promisso pleno! Essa qualidade é demonstrada por Asa, que depôs sua avó, a rainha-mãe (que tinha um papel muito significativo na vida da corte an­ tiga), porque ela buscava ídolos em vez de o Se­ nhor (w. 11-18). Para que Deus nos use para trazer o reavivamento ao seu povo, você e eu devemos purificar a nossa vida de tudo que seja contrário à santificação.

“Porque confiaste no rei da Síria e não confiaste no Senhor” (2 Cr 16.1-14). Mesmo um reavimento vital, espiritual, não é uma garantia de devoção contínua. Temos de ficar atentos para manter nos­ so coração fixado em Deus. Cerca de 17 anos após Asa ter estimulado o reavivamento em Judá, ele próprio deixou de buscar o Senhor e confiar nEle. Em vez de confiar em Deus para alcançar a vitória ao ser ameaçado por Israel, Asa pagou os arameus (sírios) para que os atacassem, sem saber que os sí­ rios iriam tornar-se uma ameaça ainda maior no futuro. Quando repreendido por um profeta, Asa o encarcerou. Ele começou a oprimir alguns do povo e, mesmo quando contraiu uma doença grave, Asa não se voltou para o Senhor. Que advertência para nós. O fato de termos confia­ do no Senhor no passado não é uma garantia para o futuro. A única maneira de garantir bênçãos con­ tínuas é buscar a Deus e confiar nEle ativamente a cada novo dia. “Confiou nos médicos” (2 Cr 16.12, ARA). Essa crí­ tica a Asa não significa que não devemos consultar um médico quando estamos doentes. Asa não errou ao procurar a ajuda dos médicos. Errou ao procu­ rar “somente” a ajuda dos médicos. Nós, cristãos, confiamos em Deus, que muitas vezes escolhe agir por meio de medicamentos e da profissão médica. “Exaltou-se o seu coração em seguir os caminhos do Senhor” (2 Cr 17.1-6). Josafá também é apresen­ tado com um breve resumo de seu compromisso espiritual. Embora não livre de culpa, ele também era um homem devoto, preocupado com o bemestar espiritual de seu povo.

to espiritual. O reavivamento está enraizado em um regresso à Palavra de Deus. Josafá incentivou o reavivamento organizando “estudos bíblicos” em todas as cidades de Judá! Mais uma vez, construir sobre alicerces espiritu­ ais sólidos levou à prosperidade e força nacionais (v. 10-19).

“Aparentou-se com Acabe” (2 Cr 18.1— 19.3). O erro de Josafá foi “ajudar ao ímpio e amar aqueles que ao Senhor aborrecem” (19.2). O crente que busca o reavivamento não deve ser colocado sob o mesmo jugo dos descrentes, pois este é um jugo desigual. Embora Josafá tenha permanecido pessoalmente comprometido com Deus (cf. 18.6), sua associação estreita com o iníquo Acabe levou a uma derrota militar desastrosa. Mais tarde, Atalia, a princesa israelita que se casou com o filho de Josafá, assassi­ naria seus descendentes para poder tomar o trono (22.10). A lição é vital para nós. “Vede [como]julgais... porque não há no Senhor, nos­ so Deus, iniquidade, nem acepção de pessoas” (2 Cr 19.4-11). Josafá providenciou para que a Palavra fosse ensinada em toda Judá. Mas ele fez mais. Ele instituiu funcionários para administrar a Lei. Isto é, tomou as providências necessárias para que a Lei fosse vivida em Judá. Para manter o reavivamento, não basta conhecer a Palavra de Deus. Devemos colocá-la em prática, como nossa regra e guia para a vida cotidiana. “Josafiá... pôs-se a buscar o Senhor” (2 Cr 20.1-13). O texto volta novamente ao tema da confiança no Senhor. Quando Judá havia sido invadida, o rei convocou seu povo a buscar a Deus ativamente e conduziu sua nação na oração. “Em nós não há for­ ça... e não sabemos nós o que faremos”, confessou o rei, “porém os nossos olhos estão postos em ti”. O reavivamento é aceso e mantido por uma per­ cepção da nossa profunda e permanente neces­ sidade pessoal da ajuda de Deus. Manter nossos olhos voltados para o Senhor como única fonte de ajuda é uma chave fundamental para o reaviva­ mento espiritual.

“[Elefez] o que era reto” (2 Cr 20.31-37). O rei Jo­ safá não era isento de defeitos. O texto nos lembra disso ao contar sobre outra ocasião em que ele se associou imprudentemente com Israel (w. 35-37). E, apesar dos seus esforços e seu exemplo, o povo não voltou o coração para Deus durante o seu rei­ “Ensinaram em ]udá” (2 Cr 17-7-19). O texto nos nado (v. 33). Contudo, ele fez “o que era reto aos apresenta ainda outra característica do reavivamen­ olhos do Senhor”.

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Esse epitáfio de todos os reis devotos de Judá é na vida. Mas, se fizermos o que é certo aos olhos um epitáfio que poderíamos desejar para nós. Po­ de Deus, teremos vivido bem e com sucesso. demos realizar menos do que planejamos realizar

DEVOCIONAL_______

Louvor antes da Vitória (2 Cr 20) Acredito que todos nós sabemos que é adequado agradecer e louvar a Deus por sua bondade, mes­ mo que às vezes esqueçamos. Esse trecho, porém, aponta um aspecto inesperado do louvor. Podemos louvar antes de experimentar sua bondade. Pode­ mos louvar antes de receber o que pedimos. Ameaçado por uma força de invasão maciça, Josafá conclamou toda a nação de Judá a recorrer a Deus. O próprio rei tomou a frente nas orações, admitindo a falta de poder de Judá e expressando total confiança em Deus. Em resposta, Deus fa­ lou por intermédio do profeta Jaaziel e prometeu a vitória. “A peleja não é vossa, senão de Deus”, proclamou o profeta. “Nesta peleja, não tereis de pelejar; parai, estai em pé e vede a salvação do Senhor para convosco... não temais, nem vos as­ susteis; amanhã, saí-lhes ao encontro, porque o Senhor será convosco” (v. 17). Imediatamente após receber essa palavra de Deus, o rei e o povo se prostraram para adorá-lo. E depois, “com voz muito alta”, alguns levitas levantaram-se e começaram a louvar a Deus. O perigo ainda estava adiante. O exército invasor ainda ameaçava. Mas o povo de Deus começou a louvá-lo antes de conquistar a vitória prometida! No dia seguinte, Deus realmente lhes deu a vitória. Os exércitos antigos muitas vezes eram compos­ tos por uma variedade de povos, alguns contrata­ dos como mercenários e outros engajados como aliados. Neste caso, Deus fez os vários povos que compunham a força invasora se destruírem mutu­ amente antes da chegada do exército de Judá! Os louvores que ressoaram sobre os inimigos mortos eram tão altos e sinceros que deram um novo nome ao lugar: Beraca, “Vale de Louvor”. Um dia, quando a vitória final for ganha, quando estivermos com Jesus no Reino eterno de Deus, nossos brados e louvores também serão altos. Con­ tudo, também somos chamados a louvá-lo agora. Quando estamos com medo, somos chamados a louvar. Quando estamos desanimados, somos chamados a louvar. Quando enfrentamos qualquer inimigo, somos chamados a louvar.

E nós podemos louvar, pois também temos as pro­ messas de Deus! Você também pode “sair e enfren­ tar (dificuldades) amanhã”. Você também sabe que “o Senhor estará com você”. E a certeza da presença de Deus conosco, é uma razão para louvar. Louvar mesmo antes da vitória. Aplicação Pessoal Quando estiver desanimado ou com medo, louve a Deus porque, com certeza absoluta, Ele estará com você. Citação Importante “A nossa confiança em Deus tem que ser colocada em prática a cada dia, e todos os dias, como se ain­ da nada tivesse sido feito.” — C. S. Lewis 2 DE ABRIL LEITURA 92 DE JORÃO A EZEQUIAS 2 Crônicas 21—28 “Porém enviou profetas entre eles, para os fazer tornar ao Senhor, os quais protestaram contra eles; mas eles não deram ouvidos” (2 Cr 24.19). O texto de Crônicas destaca os atos justos dos reis de Judá. Contudo, está claro que a condição espiri­ tual de Judá após o tempo de Asa e Josafá realmen­ te se deteriorou. As falhas dos reis de Judá servem como avisos para você e para mim. Visão Geral O foco sobre os reis de Judá continua, com exa­ mes dos reinados de uma série de governantes moral e politicamente fracos: Jeorão (21.4-20), Acazias (22.1-9), Atalia (v. 10— 23.10), Joás (w. 11— 24.27), Amazias (25.1-28), Uzias (26.1-23), Jotão (27.1-9) e Acaz (28.1-27). Entendendo o Texto “[Jeorão] andou nos caminhos dos reis de Israel” (2 Cr 21.1-20). Reis anteriores demonstraram que buscar e servir a Deus era o caminho para a bên­ ção nacional e pessoal. Jeorão, que assassinou seus irmãos e escolheu ídolos em vez de escolher ao Senhor, mostra-nos que abandonar a Deus leva ao desastre. Apesar de prevenido pelo profeta Elias, Jeorão não mostrou arrependimento. O desastre

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nacional resultante testemunhou a rebelião das nações vassalas (w. 8-10) e ataques de outros po­ vos hostis (w. 16,17), o próprio Jeorão morreu em agonia, com “uma doença incurável nas entra­ nhas” (w. 18,19, TB).

“Sua mãe era sua conselheira, para proceder impia­ mente” (2 Cr 22.1-9). Uma das fontes da malda­ de de Jeorão foi seu casamento com Atalia, filha de Acabe e Jezabel, tão comprometida com o mal quanto sua perversa mãe. Atalia dominava seu fi­ lho de 22 anos, que reinou somente um ano, antes de ser morto por Jeú, que exterminou a família de Acabe em Israel. A curta vida de Acazias foi tão má que só lhe concederam um sepultamento por ter sido descendente do piedoso Josafá, que ainda era lembrado com afeição em Judá. Quando temos pais e avós que estabelecem ru­ mos diferentes na vida, podemos escolher qual exemplo seguir. Acazias escolheu ser influenciado pela mãe. Porém ele não era obrigado a escolher o caminho dela.

nas enquanto Joiada esteve vivo. A influência desse sumo sacerdote é percebida no fato de que ele es­ colheu esposas para o rei, o papel tradicional de um pai (w. 2,3), e na preocupação com o Templo de­ monstrada nos primeiros anos de Joás. Mas quan­ do a influência positiva de Joiada cessou, o caráter pessoal de Joás se revelou. Podemos julgar o caráter de uma pessoa só depois que ela amadurece e começa a fazer suas próprias escolhas. As escolhas que Joás fez levaram ao seu desastre e à derrota de sua nação.

“Porém não com coração inteiro” (2 Cr 25.1-26). O próximo rei, Amazias, escolheu o Senhor, mas não o seguiu integralmente. Sua confiança em Deus foi demonstrada quando, ao receber ordens de Deus por intermédio de um profeta, ele demitiu cem mil mercenários contratados de Israel (v. 6). Por causa de sua obediência, Judá conquistou uma grande vi­ tória. Amazias, porém, começou inexplicavelmente a adorar os deuses da nação que derrotara! Ape­ sar do aviso de outro profeta, Amazias foi à guerra contra Israel e foi derrotado. Amazias foi capturado e, ao que parece, mantido prisioneiro em Israel. Ele foi enviado de volta, pos­ sivelmente para criar problemas internos, já que seu filho havido sido coroado rei de Judá durante o seu cativeiro. Na luta política interna que se seguiu, Amazias foi forçado a fugir para Laquis, onde foi morto. Uma breve chama inicial de fé não substitui um compromisso que dure a vida inteira. A nossa úni­ ca proteção contra o desastre potencial é o compro­ misso consistente e diário com o Senhor.

“Atalia... levantou-se e destruiu toda a semente real” (2 Cr 22.10-12). Vendo que seu filho estava morto, Atalia decidiu tomar o trono para si. Isso rompia a tradição, mas Atalia era uma mulher determina­ da, além de má. Ela matou todos os membros da família real (exceto um bebê que foi resgatado e es­ condido) e, sem nenhum rival, reivindicou o poder real para si. Deteve o poder por cerca de sete anos, até que a criança escondida foi revelada e coroada. Ela então foi morta pelos próprios guardas do seu palácio, por ordem do sumo sacerdote, Joiada. Atalia deve ter sido uma mulher excepcional e vi­ gorosa para manter o trono, contra todos os prece­ “Enquanto buscou ao Senhor, Deus lhe deu sucesso” dentes. No entanto, quão inseguro é qualquer po­ (2 Cr 26.1-23). Uzias, que também é chamado der conquistado e exercido pelos ímpios e maus! Azarias, é ainda outro exemplo de um rei que teve sucesso apenas enquanto permaneceu comprome­ “O sacerdote Joiada” (2 Cr 23.1-21). O sumo sacer­ tido com o Senhor. Ele foi uma pessoa ativa e vigo­ dote, ciente de que Deus prometera dar a Judá go­ rosa que restaurou o poder de Judá (w. 6-15); mas, vernantes da linhagem de Davi, protegeu o príncipe quando se sentiu poderoso, foi “infiel” ao Senhor. que estava escondido, Joás. Ele também organizou O desprezo de Uzias pelo Senhor é demonstrado uma rebelião contra Atalia. E significativo o fato de pela violação das leis que governavam os rituais do que a sua insurgência incluiu todos os sacerdotes e Templo. O rei foi acometido pela lepra enquanto todos os levitas, além de todos os guardas palacia­ estava no Templo e viveu no isolamento pelo resto nos que estavam de folga. Não obstante, ninguém de sua vida (w. 16-21), enquanto a administração denunciou a conspiração a Atalia! Ela sem dúvida real era conduzida por seu filho, Jotão (v. 21). reinou por meio do terror e de assassinatos. O líder que se coloca como inimigo do seu povo cria um “Assim se fortificou Jotão, porque dirigiu os seus temor e uma hostilidade que acaba por levar a uma caminhos na presença do Senhor, seu Deus” (2 Cr rebelião em defesa própria. 27.1-9). O reinado de 16 anos de Jotão foi um período abençoado, marcado pelo domínio sobre “Depois da morte de Joiada... [eles] deixaram a Casa nações próximas. Enquanto o Senhor abençoava do Senhor” (2 Cr 24.1-27). Joás serviu a Deus ape­ a nação por causa de Jotão, “o povo... prosseguia

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com suas práticas corrompidas”. O verdadeiro o auxílio da Assíria contra a Síria e os filisteus. Os reavivamento deve tocar tanto o povo de Deus assírios ficaram muito satisfeitos com o pretexto como os líderes. para se expandirem para oeste — um movimento que “em vez de ajudá-lo, o deixou numa situação “[Ele] fez imagens fundidas a baalins ” (2 Cr 28.1- mais difícil ainda” (NTLH). 27). A lista dos pecados de Acaz é de fato terrível, O texto diz que “no tempo da sua angústia”, o rei e inclui o sacrifício de seus próprios filhos no fogo. Acaz “cometeu ainda maiores transgressões contra Desastres nacionais se seguiram, quando Judá foi o Senhor” (ARA). sucessivamente invadida por sírios e israelitas. So­ Quão verdadeiro isso sempre é. Sob a pressão mente a intervenção do profeta Obede impediu das tribulações, os seres humanos tendem a que os israelitas levassem milhares de pessoas de revelar o que está em seu coração. O crente é atraído para mais perto do Senhor. O ímpio Judá como escravas para Israel. Essas derrotas não fizeram com que Acaz se con­ volta-se contra Ele, com ira e frustração (veja vertesse ao Senhor, mas, antes, levaram-no a pedir w . 24,25).

DEV OCIONAL______

Uma Fé Emprestada (2 Cr 23— 24) Fui criado em um lar cristão, rico em amor e aceitação. Ia à igreja, vivia uma vida moral e cria em Jesus. Não era difícil fazer isso. Afinal, estava rodeado de pessoas que criam, pessoas que, de maneiras simples, silenciosas, viviam a sua fé. Contudo, depois de dois anos na Marinha, per­ cebi que tinha de tomar decisões pessoais sozi­ nho. Influenciado pelo ensinamento de Donald Grey Barnhouse, comecei a estudar a minha Bí­ blia. Comecei e conduzi na minha base um es­ tudo bíblico ao meio-dia. E tornei-me ativo em uma igreja local. Percebi que, em casa, eu vivia uma fé emprestada. Fora de lá, sozinho, percebi que tinha que desen­ volver e cuidar de uma fé própria. Esta é uma lição que a vida de Joás também nos ensina. Joás foi um rei bom e piedoso — enquan­ to esteve rodeado de pessoas de fé, como o sa­ cerdote Joiada, que o criou. Não era difícil para ele viver uma vida correta, ou mesmo “crer”. Mas quando Joiada morreu, Joás descobriu que uma fé emprestada nunca é suficiente. Quando Joás começou a tomar decisões sozinho, tomou as decisões erradas. Ele abandonou o Tem­ plo do Senhor e adorou ídolos. Ele e seu povo recusaram-se a ouvir os profetas que os advertiam. Joás até matou o filho do homem que o criara, quando o filho o confrontou por causa de seus pecados. Por fim, porque rei e povo haviam aban­ donado o Senhor, veio o desastre. Joás, que esco­ lheu o mal, foi morto em sua cama por oficiais que conspiravam contra ele. A história de Joás ressalta duas verdades impor­ tantes. Primeiro, não podemos dizer, a partir da vida de uma criança ou jovem, o que o futuro lhe reserva. Portanto, embora possamos nos regozijar

pelos sinais de um crescimento espiritual prema­ turo, não podemos ser complacentes. Precisamos continuar a orar por nossos filhos, para que, à medida que amadurecem, desenvolvam uma fé pessoal e crescente em Deus. Segundo, precisamos examinar a nossa vida, para termos a certeza de que não estamos vivendo uma fé emprestada. Para que a fé seja real, você e eu precisamos assumir a responsabilidade por nossas escolhas — e assegurar que nossas escolhas sejam guiadas por um compromisso pessoal com Jesus Cristo, como Senhor. Aplicação Pessoal Como as suas escolhas diárias refletem o s eu com­ promisso pessoal com Deus? Citação Importante Não pense que a fé pela qual os justos viverão seja um credo morto, um mapa certo do céu, muito menos um sentimento terno e fugitivo, um dom descuidado, que é retirado assim que é dado: Ela é uma afirmação e um ato que proclamam a verdade eterna como um fato presente. — Hartley Coleridge 3 DE ABRIL LEITURA 93 A ADORAÇÃO TRAZ O REAVIVAMENTO 2 Crônicas 29—32

“No ano primeiro do seu reinado, no mês primeiro, abriu as portas da Casa do Senhor e as reparou” (2 Cr 29.3). Não há nada tão revigorante para o crente quanto a adoração ao Senhor.

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Contexto Durante o reinado de Ezequias, os assírios esmaga­ ram o reino de Israel e deportaram seus cidadãos. Senaqueribe então invadiu Judá, esperando fazer o mesmo. Foi apenas a intervenção divina que salvou o Reino do Sul, e Judá continuou a ser uma nação independente por mais 136 anos. Ao contar a história desses anos fundamentais da história de Judá, o autor de 2 Crônicas enfatiza a preocupação de Ezequias com a adoração de Deus, indicada pela atenção que dispensou ao Templo e à Páscoa. A ideia do autor é que a pes­ soa ou o povo que adora a Deus verdadeiramente tem a sua fé renovada e que Deus responde a uma fé renovada agindo em favor de seus ado­ radores. Visão Geral A ênfase de Ezequias na adoração é vista na sua re-consagração do Templo (29.1-36), em sua ce­ lebração da Páscoa (30.1-27), e na reorganização dos sacerdotes e levitas que serviam a Deus (31.121). A confiança do rei em Deus foi recompensada quando o Senhor fez com que retrocedesse a força invasora de Senaqueribe (32.1-23). Mais tarde, Ezequias tornou-se orgulhoso, mas arrependeu-se e foi restaurado (w. 24-33). Entendendo o Texto “Agora, me tem vindo ao coração que façamos um concerto com o Senhor” (2 Cr 29.1-11). Ezequias foi estimulado a restaurar a adoração do Senhor em Judá ao perceber que as tribulações passadas de sua nação haviam ocorrido quando seu povo voltou as costas para Deus. A única esperança de Judá era retornar a Deus com um compromisso completo — e o rei estava determinado a fazer isso pessoal e nacionalmente. O líder que deseja influenciar os outros deve, pri­ meiro, estar inteiramente comprometido.

“Toda a congregação se prostrou [em adoração]” (2 Cr 29.12-36). Ezequias imediatamente fez os sacerdotes e levitas trabalharem para purificar o Templo e a si mesmos. Feito isto, no dia seguinte “o rei Ezequias se levantou de madrugada” e foi ao Templo adorar. A ação de Ezequias demonstrou claramente que a adoração era a sua primeira prioridade como rei. O impacto imediato dessa ênfase foi interno. Os que adoravam “louvaram com alegria” e, de boa vontade, trouxeram “sacrifícios e ofertas de lou­ vor”. A adoração continua a ser a chave da alegria do crente. E a adoração continua a ser a chave para a doação espontânea.

Uma igreja moderna que negligencie a adoração não tocará o coração de seus membros nem supe­ rará o materialismo contemporâneo.

“Que viessem... a Jerusalém, para celebrarem a Pás­ coa” (2 Cr 30.1 — 31.21). Em um Israel hostil, Eze­ quias convidou os fiéis a celebrarem a Páscoa com o seu próprio povo. O convite foi aceito por muitos, que se reuniram em adoração jubilosa. O resultado é notável. O texto nos conta que, de­ pois de participar da experiência de adoração, os israelitas que lá estavam percorreram o interior do país destruindo os centros e altares de adoração pa­ gãos em Judá e nas terras de suas próprias tribos. A adoração ainda estimula o compromisso. Se pre­ cisarmos de encorajamento para continuar plena­ mente comprometidos com Deus na nossa vida co­ tidiana, poderemos encontrar esse encorajamento adorando a Deus com os nossos irmãos na fé. Uma coisa é compartilhar uma experiência de ado­ ração espontânea. Outra coisa é manter o espírito de adoração. Ezequias organizou cuidadosamente os sacerdotes e levitas, que eram responsáveis pela adoração no Templo. Você e eu precisamos ser igualmente disciplinados. Precisamos reservar tempo para adoração diária, as­ sim como nos encontrarmos com outros em uma igreja que priorize a adoração. Se frequentarmos os cultos de adoração, o elogio que a Escritura faz a Ezequias certamente também se aplicará a nós: “Em toda obra que começou no serviço da Casa de Deus, e na lei, e nos manda­ mentos, para buscar a seu Deus, com todo o seu coração o fez e prosperou”. “Ezequias e o profeta... oraram por causa disso e clamaram ao céu” (2 Cr 32.1-23). A adoração aprofunda nossa consciência de quem é Deus e, assim, fortalece a nossa confiança nEle. Quando Judá foi invadida pelos assírios e Jerusalém ameaçada, Ezequias voltou-se imediatamente para o Senhor. E Deus respondeu. A atitude mais importante que podemos ter para enriquecer a nossa vida de oração, e aprofundar a nossa confiança em Deus, é adorá-lo. Quando a adoração é uma parte essencial de nosso relaciona­ mento com o Senhor, temos uma grande confiança quando oramos a Ele diante dos problemas. “Ezequias... era orgulhoso” (2 Cr 32.24-33, NTLH). O autor conclui com uma descrição do orgulho e arrependimento de Ezequias. Nem mesmo uma vida de adoração enriquecida nos manterá livres de pecado. Nós, seres hu­ manos, somos sempre vulneráveis à nossa na­

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tureza pecadora. Contudo, o texto nos lembra Q uanto mais próximo for o nosso relaciona­ que “Ezequias... se hum ilhou pela soberba do m ento com o Senhor, mais receptivos seremos seu coração, ele e os habitantes de Jerusalém”. à sua repreensão.

DEV OCIONAL_______ Ajoelhai-vos e Adorai

(2 Cr 29) As palavras hebraicas geralmente traduzidas como adoração significam “curvar-se” ou “prostrar-se em sinal de respeito”. O pensamento subjacente é a demonstração de reverência, de uma consciência crescente de quem Deus é, e a expressão de nosso assombro e nosso louvor. David Mains vê a ado­ ração como “louvar a Deus por quem Ele é por natureza”. Isto é, na adoração, mostramos o nosso respeito e apreciação concentrando a nossa atenção em um de seus atributos revelados e agradecendo a Deus e louvando-o por ser esse tipo de Pessoa. Esse é o significado do reavivamento baseado na adoração que Ezequias conduziu. Sim, aquela ado­ ração seguia os padrões rituais estabelecidos na Lei de Moisés. Mas precisamos apenas ler o texto para perceber que o reavivamento da adoração de Eze­ quias era uma questão do coração. O ritual servia simplesmente como um modo de expressão. Para essa adoração, Ezequias purificou-se e consa­ grou-se, pois Deus é santo (w. 18,19). Para essa adoração, Ezequias ordenou muitos sacrifícios, pois Deus merece o nosso melhor (29.20-24). Para essa adoração, cantores cantaram e tocaram trombetas, pois Deus é a fonte da alegria, e a ado­ ração deve ser alegre (w. 25-28). Para essa adoração, Ezequias e outros trouxeram ri­ cos presentes, pois Deus tem nos dado ricos presen­ tes; e somos privilegiados por podermos ofertar-lhe uma parte daquilo que Ele nos dá (29.29-31). E nessa adoração, Ezequias e todo o povo de Judá encontraram uma fonte de alegria. Sejam quais forem os modos de adoração que te­ nhamos hoje, se a nossa adoração for precedida pela consagração, expressada com alegria, e acom­ panhada por ofertas daquilo que tivermos de me­ lhor, essa adoração nos trará alegria e aprofundará a nossa confiança no Senhor.

Riqueza sem trabalho. Conhecimento sem caráter. Trabalho sem moralidade. Ciência sem humanidade. Adoração sem sacrifício.” — Cônego Frederic Donaldson 4 DE ABRIL LEITURA 94 OS ÚLTIMOS ANOS DE JUDÁ 2 Crônicas 33—36

"Falou o Senhor a Mandssés e ao seu povo, porém não deram ouvidos” (2 Cr 33■10). Depois de Ezequias, Judá entrou em um nítido de­ clínio espiritual que selou o destino do Reino do Sul. Apesar de um reavivamento breve e superficial sob Josias, a nação se precipitou no juízo. Visão Geral Manassés mergulhou Judá em meio-século de apostasia (33.1-11). A tardia conversão de Manas­ sés não conseguiu reverter a tendência espiritual para o mal (w. 12-20), assim como os esforços de Josias (34.1— 35.27). Os últimos quatro reis mere­ cem apenas uma menção breve (36.1-14). Jerusa­ lém caiu, o povo foi exilado, mas, 70 anos depois, remanescentes voltaram à Judá para reconstruir o Templo (w. 15-23). Entendendo o Texto “Fez o que era mal aos olhos do Senhor ” (2 Cr 33.1 10). Os 55 anos de Manassés foram os mais som­ brios da história espiritual de Judá. Ele manteve o Templo trancado, a não ser para usar seus pátios como centros de adoração pagã, voltou-se para o oculto em busca de orientação, e até queimou seus filhos em sacrifício.

“Angustiado, orou deveras ao Senhor, seu Deus” (2 Cr 33.11-20). Manassés foi levado cativo para a Ba­ bilônia, então uma importante cidade do Império Aplicação Pessoal Que lugar a adoração ocupa na sua vida e na sua Assírio. Lá, teve uma experiência de conversão. Manassés voltou para casa ansioso por restaurar a igreja? adoração ao Senhor em Judá. A experiência de Manassés prenunciou a da própria Citação Importante Judá. Talvez o autor quisesse que reconhecêssemos “Os sete pecados modernos: o paralelo. Deus pretendeu que o cativeiro na Babi­ Política sem princípios. lônia, para Judá, assim como para Manassés, fosse Prazeres sem consciência.

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Quando Josias descobriu exatamente o que Deus exigia de seu povo, ficou chocado. Sem dúvida, Judá era culpada e merecia as justas punições de­ talhadas no livro. A resposta imediata e humilde de Josias foi hon­ rada pelo Senhor. As maldições anunciadas não atingiriam Judá durante a vida de Josias; durante aquele breve período Judá ainda conheceria a paz (shalom, “bem-estar, conforto; tranquilidade, feli­ cidade; prosperidade”). Uma pessoa piedosa, que realmente se arrependa e busque a Deus, pode afetar o destino de uma ge­ ração inteira. .

“A todos... obrigou a que servissem ao Senhor, seu Deus” (2 Cr 34.29-33, ARA). Josias reuniu todo o seu povo para que ouvisse a Palavra do Senhor. Então, ele conclamou “todos” a guardar essa pre­ ciosa Palavra. Há uma distinção fundamental aqui. Josias estava ávido por obedecer a Deus. O texto sagrado sugere que a sua resposta espontâ­ nea não foi imitada pelo povo em geral. Antes, eles obedeceram a Palavra porque esta foi uma or­ dem do rei a “todos”. Observe que Judá só seguiu ao precioso Senhor enquanto Josias esteve vivo (v. 33). O avivamento que ocorreu no coração de Jo­ sias jamais alcançou o coração de seu povo. Podemos contagiar as outras pessoas com o amor de Deus, porém não podemos ordenar que elas o amem e o sirvam.

O Tofete em Cartago Os restos de milhares de crianças queimadas em sacrifício foram encontrados perto da antiga Cartago. As cinzas, em jarros votivos, comprovam a afirmação da Bíblia de que os pagãos — e alguns reis de Israel e Judá! — real­ mente se envolveram na terrível prática do sacrifício de crianças. Josias celebrou a Páscoa (2 Cr 35.1-19). A espeta­ cular celebração da Páscoa por Josias expressava o bom. Nós também precisamos compreender que seu amor por Deus (cf. v. 7). Alguns de seus fun­ nossos tempos de tribulação não são um castigo, cionários também foram tocados e deram “ofertas mas uma disciplina. Deus os permite e pretende voluntárias” para fornecer animais para sacrifício. nos fazer bem por meio deles. Mesmo quando nosso amor por Deus não con­ Os esforços de Manasses para conseguir o reaviva- segue contagiar multidões, alguns indivíduos são mento espiritual em Judá foram um pouco tardios. tocados e reagem. Ele não foi capaz de desfazer o mal que seu gover­ A ênfase na adoração vista aqui, como nas his­ no fizera ao povo do Senhor. Que razão para nos tórias de outros reis piedosos, novamente nos voltarmos para Deus bem cedo na vida. Por que lembra que a vitalidade espiritual exige conhecer, esperar para nos voltarmos para Deus, e corrermos amar e adorar ao Senhor. o risco de causar danos irreparáveis àqueles que amamos? “[Ele] morreu, e o sepultaram nos sepulcros de seus pais” (2 Cr 35-20-27). Alguns ridicularizaram a “Achei o livro da Lei na Casa do Senhor” (2 Cr 34.1 - previsão de que Josias seria “recolhido ao seu se­ 28). Josias, o último rei piedoso de Judá, ordenou pulcro em paz” (34.28). Como isso pode ser re­ que o Templo fosse reparado e purificado. Os conciliado com a morte de Josias em batalha? E trabalhadores encontraram o Livro da Lei, pos­ muito simples. Durante todo o reinado, Josias e sivelmente o livro de Deuteronômio ou talvez o seu reino conheceram a bênção de Deus. Só de­ Pentateuco inteiro. Não é surpreendente que a Lei pois do sepultamento de Josias a bênção de paz tivesse se perdido: a hostilidade inicial de Manassés seria removida. para com Deus sem dúvida se expressou em tenta­ Contudo, há outra implicação aqui. A morte não tivas de destruir a Escritura. é o fim das bênçãos para o crente. E o início de

252

2 Crônicas 33—36

bênçãos além da nossa imaginação. Na morte, “Deus... me encarregou de lhe edificar uma casa" (2 como na vida, Josias encontrou a paz por inter­ Cr 36.15-23). O autor das Crônicas, escrevendo após o retorno do exílio, continuou a enfatizar a médio de seu relacionamento com Deus. adoração. Deus não abandonou seu povo e trouxe“[Ele] fez o que em mau” (2 Cr 36.1-15). Os úl­ o de volta. E o foco do decreto que os libertou foi timos reis de Judá, com “todos os chefes dos sa­ novamente o Templo, cuja reconstrução foi orde­ cerdotes e o povo aumentavam de mais em mais nada por Ciro, governante da Pérsia, movido por as transgressões” contra o Senhor (v. 14). Essas Deus. pessoas não conheceram a paz, mas apenas um As promessas feitas a Davi ainda não haviam sido terror e uma incerteza que culminaram na que­ cumpridas. Mas se o povo de Deus, que foi chama­ da de Jerusalém, e no exílio dos sobreviventes na do pelo seu nome, permanecesse fiel na adoração, o Messias prometido certamente viria. Babilônia.

DEV OCIONAL_______

Além da Redenção? (2 Cr 33) Todos aqueles que acompanharam o caso Ted Bundy, ou que leram reportagens sobre outros “serial killers”, se sentiriam tanto repelidos quanto fas­ cinados por Manassés. O texto o descreve como “desprezível”. Os fatos descritos sugerem que ele era muito pior! Espiritualmente, Manassés era frio e duro. O Se­ nhor falou a ele, mas ele “não lhe deu ouvidos”. Emocionalmente, ele era duro. Conseguia queimar crianças vivas sem sentir nenhum remorso. Então veio um período atribulado de cativeiro na Babilônia. E, nessa tribulação, Manassés buscou “ao Senhor, seu Deus”. Essa simples expressão lembra-nos de uma verdade maravilhosa. O Senhor é o Deus de toda a huma­ nidade — dos justos e mesmo dos maus. Manas­ sés, decerto um dos homens mais perversos que já viveu, voltou-se para Deus, e Deus, com graça verdadeiramente maravilhosa, escolheu ser “o seu .Deus”. Que lição a lembrar quando estivermos em contato com os duros de coração, os perversos e os maus. O Senhor nosso Deus também é o Deus deles! Se

eles apenas se voltarem para Deus, Deus será o seu Deus. Ele os perdoará por amor a Jesus. E, como fez com Manassés, transformará as suas vidas. Aplicação Pessoal Como o piedoso Josias, o perverso Manassés bus­ cou ao Senhor com lágrimas. Deus fez a sua esco­ lha: Ele é o Deus de Josias e também o Deus de Manassés. Citação Importante “Alguns líderes dizem que estamos em meio a um grande reavivamento agora. Se estamos... pergun­ to onde estão as lágrimas. O que está acontecendo com o senso de convencimento tão intenso que sempre marca os avivamentos? Por que os conver­ tidos estão vindo aos poucos em vez de virem em ondas? Não estamos em um reavivamento, embora possamos estar mais próximos da sua possibilidade do que sejamos capazes de perceber.” — David Mains

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em 1 PEDRO

ESDRAS INTRODUÇÃO Durante os 70 anos de exílio, a maioria dos judeus havia se instalado confortavelmente na Babilônia e em outras cidades do oriente. Então, no ano 539 a,C., Ciro, rei da Pérsia, promulgou um decreto permitindo a qualquer judeu retomar à sua antiga terra natal e reconstruir o Templo do Senhor. Embora apenas alguns tenham respondido ao decreto real, um entusiasmado grupo de patriotas deu início às fundações do Templo. No entanto, durante 18 anos, inimigos locais atrasaram o término dessa construção. Os pri­ meiros seis capítulos de Esdras contam a história desses pioneiros e da sua luta para completar o Templo do Senhor. No ano 458 a.C., outro grupo de exilados retomou a Jerusalém, liderados pelo sacerdote Esdras. Este era um reformador que ensinava a Lei de Deus na Judeia e chamava o seu povo a voltar a dedicar sua vida ao Senhor. Esse livro, escrito por Esdras, conta a história desses dois grupos de exilados que se reinstalaram na Terra Prometida. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. O Retorno dos Exilados......................................................................... II. Reconstrução do Templo..................................................................... III. Esdras Ensina a Lei de Deus..............................................................

. Ed 1— 2 . Ed 3— 6 Ed 7— 10

GUIA DE LEITURA (2 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia e o Devocional em cada capí­ tulo deste Comentário. Leitura 95 96

Capítulos 1— 6 7— 10

Passagem Essencial

6

9.1— 10.4

ESDRAS 5

DE ABRIL LEITURA 95

O RETORNO DOS EXILADOS Esdras 1— 6

“Então, se levantaram... todos aqueles cujo espírito Visáo Geral Deus despertou, para subirem a edificar a Casa do Um decreto de Ciro permitia aos judeus retorna­ Senhor, que está em Jerusalém” (Ed 1.5). rem a Judá e reconstruir o Templo de Jerusalém (1.1-11). Esdras fez uma relação das famílias (2.1O entusiasmo daqueles que retornaram a Jerusa­ 70). Eles reconstruíram o altar (3.1-6) e iniciaram lém foi colocado à prova pela atitude de opressão e as fundações do Templo (w. 7-13). Esdras citou oposição com que foram recebidos pela população as cartas que documentavam a oposição feita aos local. Apesar de uma longa demora, o Templo foi judeus (4.1— 5.17) e o decreto de Dario autori­ reconstruído e Deus voltou a ser adorado no mes­ zando o término do Templo (6.1-12). Essa tarefa mo local que Ele havia escolhido. foi completada (w. 13-18), e a Páscoa voltou a ser celebrada (w. 19-22). Contexto Cronologia. Esta série de datas relaciona os eventos Entendendo o Texto descritos em Esdras com outros eventos pós-exílio. “Para que se cumprisse a palavra do Senhor ” (Ed 1.14). Jeremias havia previsto que o cativeiro duraria 70 anos (Jr 25.11,12; 29.10). Isaías, ao escrever na Decreto de Ciro (Ed 1.1-4) 538 a.C. época de Ezequias, havia indicado que Ciro seria Primeiro retorno (Ed 1.5— 2.70) 539 a.C. o rei que cumpriria a vontade de Deus (Is 45.15). No mesmo ano em que esse conquistador persa Início da reconstrução do 536 a.C. venceu os reis da Babilônia, promulgou um decre­ Templo to permitindo que os judeus retornassem ao seu lar. Oposição e Demora Esse decreto também autorizava a reconstrução do Templo de Jerusalém! Ministério de Ageu 520 a.C. Josefo diz que Ciro havia lido a profecia de Isaías e Ministério de Zacarias 520 a.C. se convencera de que devia cumpri-la. E mais pro­ vável que esse decreto tenha sido uma entre muitas Término do Templo 515 a.C. outras ordens semelhantes emitidas por Ciro que Eventos de Ester 4 83-473 mudavam a política da deportação ao permitir que a.C.? todos os povos cativos voltassem para casa. A profecia de Isaías, assim como os atos de Ciro, Decreto de Artaxerxes (Ed 7.1 lss.) 458 a.C. servem para nos lembrar de que Deus é soberano. Retomo sob Esdras 458 a.C. Ele controla o destino das nações e toda a história caminha em direção aos fins que somente Ele de­ Decreto de Artaxerxes (Ed 4.17ss.) 446 a.C. terminou. O Único a quem adoramos, verdadeira­ Decreto de Artaxerxes (Ed 2.1-8) 444 a.C. mente, é Deus.

Esdras 1—6

“Todos aqueles cujo espírito Deus despertou” (Ed 1.5— 2.70). Embora cerca de apenas 50 mil judeus dirigis­ sem o coração para a sua terra natal, muitos outros milhares de seus compatriotas preferiram continuar na Babilônia. O cativeiro não havia sido cruel, e re­ gistros recém-recuperados mostram que os judeus, que haviam se estabelecido num atraente bairro ao lado do canal de Quebar, participavam com bastan­ te sucesso do comércio e dos negócios da capital ini­ miga. Por que voltar e enfrentar dificuldades quando a vida era tão fácil na Babilônia? Somente aqueles a quem Deus havia despertado para se comprometer totalmente com Ele fizeram essa difícil escolha. Aqueles que permaneceram se sentiam bastan­ te confortáveis, mas estavam perdendo muito. O nome daqueles que retornaram foi registrado cui­ dadosamente nas Escrituras, e somente eles foram testemunhas da restauração do Templo de Deus e lá puderam oferecer a sua adoração. E muito importante manter o nosso coração aber­ to ao Senhor para estarmos dispostos a responder quando Ele nos chamar para executar algum servi­ ço especial.

povo do pacto, nem descendentes de Abraão, Isaque e Jacó. Essa recusa fortaleceu o antagonismo local que evoluiu para uma oposição ativa. Essa oposição, juntamente com as dificuldades enfren­ tadas pelos judeus que haviam retornado do esfor­ ço empreendido para conseguir alguma forma de subsistência nos campos destruídos, interrompeu a construção do Templo. Nesses capítulos, as cartas estão escritas em aramaico (uma linguagem diplomática usada naquela época) em vez de em hebraico. Esdras cita, clara­ mente, o material que lhe estava disponível nos arquivos de Jerusalém. Veja também que nem todas essas cartas pertencem à época do primeiro retorno. O que Esdras fez foi obter provas a partir de certo material escrito du­ rante um lapso de tempo de muitos anos a fim de documentar o fato de que o povo de Deus enfren­ tou uma séria oposição. Também devemos esperar, às vezes, enfrentar al­ guma oposição. Qualquer hostilidade que encon­ trarmos por parte dos estranhos não significa que Deus tenha nos abandonado e pode, na verdade, até sugerir que estamos fazendo exatamente aquilo “E cantavam... louvando e celebrando ao Senhor” que Deus deseja! (Ed 3.1-13). Aqueles que retornaram a Judá en­ contraram uma terra devastada. Espinhos e cardos “O rei Ciro deu esta ordem: Com respeito à Casa de sufocavam uma terra que havia sido muito fértil, Deus” (Ed6.1-12). No final, o rei Dario confirmou enquanto Jerusalém era uma montanha de ruínas. a ordem do seu predecessor, Ciro. Não só o Templo Como os corações devem ter ficado abatidos com devia ser reconstruído, como também os próprios a enormidade da tarefa que se apresentava perante funcionários que haviam se oposto a ele receberam eles, antes mesmo de chegarem em casa. ordens para pagar todas as despesas da reconstru­ No entanto, logo que as pessoas se instalaram nas ção com fundos do tesouro real! suas cidades, elas se reuniram em Jerusalém, onde O Deus do Antigo Testamento é, verdadeiramente, reconstruíram o altar, desenharam as fundações soberano. Os homens podem conspirar contra o seu para o novo Templo e louvaram a Deus. povo, mas os planos divinos serão postos em prática. Quanto maiores forem as nossas dificuldades, mais importante será colocar Deus em primeiro lugar. E, “Os filhos de Israel... fizeram a consagração desta quando assim fizermos, como fizeram aqueles habi­ Casa de Deus com alegria’ (Ed 6.13-22). Foram tantes da antiga Judeia, descobriremos que o nosso anos de luta e de desânimo, mas por fim o Templo coração também está cheio de alegria e louvor. havia sido terminado. Ao mostrar a sua capacida­ de de “mudar o coração” do rei do império que “Os adversários de Judá” (Ed 4.1— 5-17). Judá ocu­ havia suplantado a antiga Assíria, Deus os encheu pava uma área muito pequena dentro do grande de “alegria”. distrito administrativo do Império Persa. A prin­ Deus continua trabalhando, até na vida dos nossos cípio, vizinhos do que antes havia sido Israel se inimigos. A espera pode ser longa, mas Ele ainda ofereceram para ajudar a construir o Templo. Mas pode mudar os corações e também nos encher de sua oferta foi rejeitada, pois não eram membros do alegria.

DEVOCIONAL______ “De onde Viria o Dinheiro?”

ala na igreja, mas de onde virá o dinheiro? Gosta­ (Ed 6) ria de me matricular em uma faculdade de teologia. Suponho que esta seja uma das nossas preocupações Mas de onde virá o dinheiro? Gostaria de poder aju­ mais corriqueiras. Precisamos construir uma nova dar aquele missionário, mas de onde virá o dinheiro?

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Esdras 7— 10

Sinto que é desejo de Deus que eu faça um curso de enfermagem, mas de onde virá o dinheiro? Com certeza, essa mesma pergunta foi feita na an­ tiga Judá quando o povo considerou o término do Templo. O profeta Ageu descreveu as desesperadas condições daquela época: “Semeais muito e recolheis pouco... o que recebe salário recebe salário num saquitel furado” (Ag 1.5,6). Como podia um povo tão necessitado, lutando para sobreviver, levantar os fun­ dos necessários para terminar o Templo de Deus? Na sua mensagem, que conclamava Judá a dar prioridade ao Templo de Deus, o profeta fez esta declaração: “Minha é a prata, e meu é o ouro, disse o Senhor dos Exércitos” (Ag 2.8). Como o povo de Judá deve ter lutado. Eles estavam convencidos de que deviam terminar o Templo, mas de onde viria o dinheiro? E, então, chegou o decreto de Dario respondendo ao desafio que havia sido levantado pelos inimigos de Judá. Nele, juntamente com a permissão para a reconstrução, havia as seguintes palavras: “A despesa se fará da casa do rei” (Ed 6.4). Repentinamente, a infindável riqueza de um dos impérios mais podero­ sos daquela época havia sido colocada à disposição do povo de Deus, então dominado pela pobreza. Esse incidente nos ensina uma importante lição. “De onde virá o dinheiro” é uma pergunta muito séria. Mas o fato de não saber não deve nos im­ pedir de agir se estivermos seguros de que esta é a vontade de Deus. A mensagem de Deus, que Ageu nos transmitiu tanto tempo atrás, ainda hoje é ver­ dadeira. E o ouro é do Senhor. Quando nos com­ prometemos a fazer a sua vontade, o Senhor provê tudo o que é necessário.

nar em Israel os seus estatutos e os seus direitos” (Ed 7-10). Cerca de 80 anos depois do retorno do primeiro grupo, Esdras liderou um contingente menor de pessoas até a sua terra, e esse retorno foi muito sig­ nificativo. Esse homem, que havia se dedicado à Lei de Deus, conclamou o povo de Judá a assumir seu compromisso original com o Senhor. Contexto Uma emocionante revolução aconteceu na Babilô­ nia. O povo judeu, que se encontrava abatido pela perda da sua terra e do seu Templo, voltou-se para a Escritura procurando, desesperadamente, alguma esperança. Toda semana, eles se reuniam para orar e examinar as Escrituras, e foi assim que nasceu a sinagoga. Alguns homens se dedicavam a estudar, praticar e ensinar a Palavra de Deus, e foi assim que nasceu o movimento dos escribas. Depois do cativeiro na Babilônia, os judeus, finalmente livres da idolatria, voltavam a ser o “povo do Livro”. Esdras é o representante mais famoso desse grupo de escribas e, talvez, o seu fundador. O ministério que praticou em Judá é um maravilhoso exem­ plo do propósito do conhecimento judaico e do importante papel que gerações de rabinos desem­ penharam no desenvolvimento da fidelidade ao Senhor.

Visão Geral Esdras fez um resumo da viagem desde a Babi­ lônia (7.1-10). Ele registrou a autorização que havia recebido de Artaxerxes (w. 11-28), rela­ cionou seus companheiros (8.1-14) e deu deta­ Aplicação Pessoal lhes da viagem (w. 15-36). Em Judá, sua oração A falta de recursos financeiros não deve nos impe­ confessando o casamento com pessoas de outras dir de fazer a vontade de Deus. nacionalidades (9.1-15) provocou o arrependi­ mento, e os judeus se divorciaram de suas espo­ Citação Importante sas estrangeiras (10.1-44). “Ao construer, não precisamos fazer como as pes­ soas do mundo. Em primeiro lugar elas procuram Entendendo o Texto conseguir o dinheiro para, depois, começar a cons­ “Este Esdras subiu de Babilônia” (Ed 7.1-10). Esdras trução; mas nós devemos fazer justamente o con­ não tivera oportunidade de ministrar como sacer­ trário. Devemos começar a construir para, depois, dote na Babilônia, pois o Templo estava localizado esperar receber da Divina Providência aquilo que numa terra estranha. Embora estivesse especial­ for necessário. A generosidade do Senhor Deus ja­ mente preparado pela sua ascendência para servir mais será sobrepujada.” — Alphonsus Liguori a Deus, as circunstâncias tornavam essa tarefa im­ possível. Mas ele tinha as Escrituras, e estava deter­ 6 DE ABRIL LEITURA 96 minado a estudá-las e, assim, servir a Deus. UM SEGUNDO GRUPO RETORNA O problema de Esdras, e a sua solução, também Esdras 7—10 podem ser aplicados a nós atualmente. Esdras nos lembra de que quando uma pessoa está determi­ “Esdras tinha preparado o seu coração para buscar nada a servir, o Senhor encontrará uma forma que a Lei do Senhor, e para a cumprir, e para ensi­ talvez venha a exercer um impacto ainda maior no

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Esdras 7— 10

seu papel original do que naquele que essa pessoa foi impedida de executar!

“Esta ê, pois, a cópia da carta” (Ed 7.11-28). Artaxerxes I, rei persa, emitiu esse decreto no ano 458 a.C., e Esdras começou a viagem de mais de 1.400 quilômetros no primeiro dia do mês de Nisã (mar­ ço/abril). O decreto explicava a finalidade dessa expedição: Esdras levar até o Templo as ofertas dos judeus da Babilônia, e também as ofertas do próprio rei. Os levitas e os sacerdotes que acompanhassem Esdras estariam isentos dos impostos. E, mais importan­ te ainda, Esdras estava autorizado a verificar se a Lei de Deus seria oficialmente a “Lei da terra” e a nomear juizes para administrar essa lei. Dessa forma, sua autoridade nos assuntos judeus era ab­ soluta: “E todo aquele que não observar a lei do teu Deus e a lei do rei, logo se faça justiça dele, quer seja morte, quer degredo, quer multa sobre os seus bens, quer prisão”. Judá não era mais um reino independente, mas sob o esclarecido governo da Pérsia, a Lei de Deus do Antigo Testamento seria mais bem aplicada do que sob muitos dos próprios reis de Judá! “Porque me envergonhei de pedir ao rei exército e ca­ valeiros” (Ed 8.15-36). Está claro que Esdras havia representado o Senhor perante o mais poderoso dos reis da Pérsia. Mas como podia pedir para ser protegido por uma guarda de soldados durante a longa e perigosa viagem? Em vez de se dirigir ao rei, Esdras buscou a Deus e pediu aos seus companheiros que se juntassem a ele orando e jejuando. Esdras agiu de uma forma que alguns poderiam considerar uma tolice, pois havia anunciado que o seu Deus ajuda a “todos os que o buscam para o bem”, e agora tinha que “suportar, ou se calar”. Às vezes, hesitamos em fazer afirmações sobre aqui­ lo que Deus pode fazer. E se declararmos alguma coisa que, por acaso, Deus não venha a realizar? Esdras nos lembra de que o Senhor pode e irá cui­ dar daqueles que lhe pertencem. Falar sobre quem Deus é, e sobre aquilo que Ele pode fazer por aque­ les que o amam, não é nenhuma tolice, mas uma prova de fé. “E orando Esdras assim, e fazendo esta confissão... ” (Ed 10.1-44). Ao chegar, Esdras descobriu que em Judá muitos haviam se casado com esposas estran­ geiras e com elas haviam tido filhos, numa clara transgressão à Lei do Antigo Testamento. Sua an-

A Balança de Pratos Esdras 8.24-30 registra os pesos dos donativos transpor­ tados para a casa de Deus. Muitos arqueólogos demons­ traram a maneira cuidadosa como os arquivistas pesaram e registraram o ouro, a prata e os produtos básicos.

gustiada oração comoveu o povo de Judá. Logo, uma grande multidão estava chorando e orando com ele. A medida que o espírito de convenci­ mento se espalhava, toda a nação de Judá se reu­ nia em Jerusalém. Esdras lhes mostrou que Deus havia proibido esses casamentos, o povo confessou os seus pecados, organizou uma comissão de in­ vestigação, e obrigou todos aqueles que haviam se casado com mulheres estrangeiras a se “apartarem das mulheres estrangeiras e dos seusfilhos”. Esse acontecimento sugere algumas lições para nós. Primeiro, seremos mais bem sucedidos na tarefa de conduzir os outros a confessar os seus pecados se fizermos com que o sintam no coração e chorem por causa dele; porém jamais alcançaremos esse re­ sultado se agirmos como juizes. Segundo, embora tenha sido muito difícil destruir as famílias, isso era necessário. O povo de Deus devia conservar sua pureza racial. Terceiro, a dor da separação teria sido evitada se, em primeiro lugar, eles tivessem obede­ cido à Lei de Deus. Se os homens mencionados não tivessem se casado com esposas estrangeiras, não teria havido nenhuma ruptura das famílias. Quando nos comovemos por aqueles que estão so­ frendo alguma dor por causa do pecado, devemos nos lembrar de que essa dor podia ter sido evitada.

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Esdras 7— 10

DEV OCIONAL_________ Apontando o Dedo (Ed 9.1— 10.4) Quando alguma pessoa que conhecemos come­ te um pecado, somos tentados a criticá-la du­ ramente. Afinal, não é nossa obrigação corrigir os irmãos que erraram? Quanto mais evidente for o pecado, mais justificados nos sentimos em confrontá-la ou censurá-la. No entanto, Esdras nos lembra de que não é adequado apontar o “dedo do juízo”. O mais adequado, quando uma pessoa erra, são as lágri­ mas. Não lágrimas por essa pessoa, mas lágrimas porque decepcionamos a Deus, lágrimas porque falhamos, porque o povo de Deus falhou. Quando Esdras chegou a Judá, ficou sabendo que muitos judeus haviam se casado com m u­ lheres estrangeiras, numa clara transgressão à Lei do Antigo Testamento. Esdras ficou assusta­ do, mas em vez de ofender furiosamente aque­ les que haviam pecado, ele se identificou com os pecadores e confessou ao Senhor. Não falou da “sua” culpa, mas da nossa “culpa” (9.7). Não condenou a “sua” negligência para com as leis de Deus, mas declarou: Nós “deixamos os teus mandamentos” (v. 10). Em vez de se colocar farisaicamente como juiz, Esdras exclamou: “Eis que estamos diante de ti no nosso delito” (v. 15). Esdras tinha o coração partido pelo pecado que havia encontrado em Judá e, em parte, aceitava a responsabilidade pelo erro cometido por ho­ mens que nunca havia conhecido. Não podemos, nesse capítulo, ler a oração de confissão de Esdras sem perceber a profundidade do sentimento de angústia e de vergonha desse

santo homem. Ele estava se sentindo muito feri­ do pelos pecados do seu povo, ferido por eles e por Deus. A realidade do sofrimento de Esdras, expresso claramente no pranto, na oração e na confissão, comoveu os homens e as mulheres de Judá e os levou a confessar também, e a eliminar o pecado de suas vidas. Assim, da próxima vez que virmos o pecado na igreja, que é o Corpo de Cristo, não devemos apontar o dedo. Devemos entender que se a igre­ ja fosse aquilo que Deus a chamou para ser, e se nós fossemos os cristãos que Deus nos chamou para ser, o nosso irmão ou a nossa irmã talvez não tivesse caído. Em vez de julgar, precisamos deixar que o nosso coração fique quebrantado para que, por meio da confissão da nossa respon­ sabilidade pelo próximo, Deus possa purificar a igreja como Ele fez em Judá na época de Esdras. Aplicação Pessoal Devemos lamentar os pecados do próximo, assim como os nossos próprios pecados. Citação Importante “O mundo zomba daquilo que estou dizendo ago­ ra, isto é, que um homem pode chorar pelos peca­ dos do seu próximo como se fossem dele, ou até mais do que pelos seus próprios pecados, pois isso parece ser contra a natureza. Mas o amor que causa isso não é deste mundo.” — Ângela de Foligno

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em NEEMIAS

NEEMIAS INTRODUÇÃO Este livro dá continuidade à história dos judeus que retornaram a Judá depois do cativeiro na Babilônia. Neemias, um importante funcionário do Império Persa, pediu para ser nomeado para o cargo de gover­ nador da pequena Judá a fim de reconstruir os muros de Jerusalém. Ele chegou, para o primeiro período desse cargo, no ano 444 a.C., quase 100 anos depois do retorno do primeiro grupo de exilados. Apesar de sofrer uma grande oposição, obteve muito sucesso e, com a ajuda de Esdras, também executou muitas reformas espirituais. Neemias serve, atualmente, como um modelo de líder e de um homem de oração. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Neemias Reconstrói os Muros de Jerusalém....................................... II. Neemias Institui Reformas................................................................... III. Neemias Promove o Repovoamento de Jerusalém.........................

... Ne 1.1— 7.3 Ne 7.4— 10.39 ..... Ne 11— 13

GUIA DE LEITURA (3 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia e o Devocional em cada capí­ tulo deste Comentário. Leitura 97 98 99

Capítulos 1— 3 4— 7 13

Passagem Essencial 1.1— 2.6 5 8— 13

NEEMIAS 7 DE ABRIL LEITURA 97

A MISSÃO DE NEEMIAS Neemias 1—3

“Peço-te que me envies a Judá, à cidade dos sepulcros sição em Susã, então capital do Império Persa. No entanto, quando soube das condições de Judá, fi­ de meus pais, para que eu a edifique” (Ne 2.5). cou com o coração partido. A preocupação de Neemias com o estado da cidade Nem todo cristão pode ser um construtor de mu­ de Jerusalém era, na verdade, uma preocupação com a ros. Mas cada um de nós pode ter a mesma preocu­ glória de Deus. A Cidade Santa estava em mau estado, pação de Neemias quanto ao bem-estar dos nossos dilapidada, e a sua missão era recuperar a cidade que companheiros crentes. O texto em 1 Coríntios 12 nos exorta a entender a igreja como um corpo no Deus havia escolhido para representar o seu nome. qual os cristãos estão intimamente ligados uns aos outros. Dessa forma, o apóstolo escreve: “Se um Contexto Os muros da cidade. No mundo antigo, uma cidade membro padece, todos os membros padecem com sem muros era vulnerável ao ataque dos inimigos e, ele” (v. 26). portanto, uma cidade sem importância. Somente Nem todo cristão pode ser um construtor de uma cidade murada era considerada uma cidade muros, mas cada um de nós pode orar. Quando respeitável. Essa percepção explica a dor de Nee­ sabemos que outros estão necessitados, o mais mias quando ficou sabendo que as muralhas de Je­ importante que podemos fazer por eles pode ser rusalém haviam sido derrubadas e que suas portas imitar o exemplo de Neemias, e expressar a nossa haviam sido incendiadas. Ela também explica as preocupação por meio de uma oração que seja feita referências feitas por Neemias aos “problemas” dos de coração. judeus e à sua “desgraça”. Ao reconstruir os muros E devemos nos lembrar de que o grande ministério da cidade, ele iria obrigar os povos vizinhos a res­ de Neemias começou com oração. Se desejarmos peitar os judeus e a respeitar a Jerusalém de Deus. nos tornar líderes espirituais, devemos começar por onde ele começou, com oração. Visão Geral Neemias ficou comovido ao ouvir um relato sobre “O lugar que tenho escolhido para ali fazer habitar as condições de ruína de Jerusalém (1.1-4). Depois o meu nome” (Ne 1.5-11). A oração de Neemias de orar (w. 5-11), ele implorou ao rei Artaxerxes reconhecia o pecado que levou Jerusalém à des­ para nomeá-lo governador de Judá (2.1-10). Em truição. No entanto, ele se lembrou que Deus Judá, ele conquistou o apoio local (w. 11-20) e co­ havia escolhido Jerusalém “para ali fazer habitar locou o povo para trabalhar na reconstrução dos o meu nome”. Essa frase significa que Deus havia escolhido identificar-se com a Cidade Santa. As­ muros da cidade (3.1-32). sim, a glória de Deus estava intimamente ligada Entendendo o Texto às condições dessa cidade, e as condições dos seus “Estive jejuando e orando perante o Deus dos céus” muros arruinados não só indicavam as experiên­ (Ne 1.1-4). Neemias ocupava uma importante po­ cias dolorosas dos judeus em Judá, como também

Neemias 1—3

lançavam uma sombra que encobria a glória do Senhor. Este é um outro aspecto importante da oração. Ela não só expressa corretamente a nossa preocupação com nossos irmãos e irmãs que estão passando ne­ cessidades, mas também reflete a nossa preocupa­ ção com a glória de Deus. Imploramos a Deus para agir não só para sermos abençoados, mas também para que Ele seja glorificado. A Primeira Epístola de João observa que “se pe­ dirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve” (1 Jo 5.14). Neemias nos ensina uma maneira simples de verificar se nossas orações es­ tão de acordo com a vontade de Deus. Será que elas expressam a nossa preocupação para com os outros? Será que elas procuram uma resposta que o glorificará? Se a resposta a essas duas perguntas for sim, então podemos ficar confiantes de que as nos­ sas orações estão de acordo com a vontade e Deus. “Eu tomei o vinho e o dei ao rei”(Ne2.1-6). Na anti­ guidade, o “copeiro” ocupava um importante lugar na administração de um império. Esse funcionário gozava de um acesso direto ao rei, que era simbo­ lizado pelo privilégio de passar ao rei a taça com a bebida nos banquetes e nas ocasiões especiais. Por­ tanto, Neemias era uma pessoa muito importante na Pérsia, e alguém cujas funções eram bastante consideradas pelo rei. E fascinante observar que Neemias estava disposto a trocar a honra do seu posto pelo relativamente insignificante título de governador da minúscula Judá! No entanto, ele não olhava as coisas dessa maneira. Para Neemias, a importância do cargo dependia da importância da pessoa a quem ele ser­ via. Em Susã, ele servia ao rei do poderoso Império Persa; mas, na pequena Judá, ele iria servir a Deus. Devemos nos lembrar dessa verdade e entender o que ela significa para nós. O mais humilde profes­ sor da Escola Dominical é muito mais importante

DE V OCION AL______

Espiritualmente Preparados (Ne 1.1— 2.6) Um dos sermões que me lembro de ter ouvido na minha mocidade foi sobre Neemias 2.3,4. Nosso pastor mostrou que Neemias deve ter sido alguém que orava assim que as situações e desafios se apresentavam. Quando o rei lhe fez esta pergunta: “Que me pedes agora?”, o texto diz: “Então, orei ao Deus dos céus e disse ao rei...” Você pode estar certo de que ele não deixou o rei esperando por uma resposta mais do que dois minutos enquan-

do que qualquer membro da equipe do presidente, pois o Deus a quem ele serve é muito maior que qualquer ser humano. “O rei me deu tudo o que pedi” (Ne 2.7-10, NTLH ). Neemias recebeu como um favor da parte de Deus a permissão do rei para ir a Judá e reconstruir os seus muros. Podemos agradecer aqueles que nos ajudam; mas quando os nossos pedidos são precedidos por uma fervorosa oração, entendemos que essa ajuda representa uma prova da graça de Deus. “Então, lhes declarei como a mão do meu Deus me fora favorável, como também as palavras do rei” (Ne 2.11-20). Ao chegar, Neemias foi inspecionar os muros para descobrir o quanto eles haviam sido destruídos. Apesar dos montes de pedras despeda­ çadas e de madeiras queimadas, Neemias desafiou os judeus, dizendo: “Levantemo-nos e edifiquemos”. Como Neemias conseguiu obter a ajuda o povo? Em vez de dar ordens, ele os encorajou (1) contan­ do aquilo que Deus já havia feito e (2) assegurando que “o Deus dos céus é o que nos fará prosperar”. Os líderes espirituais eficientes avaliam as dificul­ dades de uma forma realista. Eles direcionam a atenção de todas as pessoas ao Senhor, e procuram edificar a confiança delas nEle. “A o seu lado, repararam os tecoítas” (Ne3.1 -32). Ne­ emias mostrou ser um líder eficiente por meio do seu plano para a reconstrução. As equipes foram formadas e receberam responsabilidades específi­ cas. O fato de cada equipe ser indicada aqui mostra que Neemias foi cuidadoso o suficiente para reco­ nhecer as realizações das pessoas. Os líderes eficientes podem aprender com Neemias a atribuir missões ministeriais específicas às equi­ pes, dando-lhes o devido crédito, revelando os seus nomes em todas as realizações que alcançarem.

to se retirava para orar. O que ele fez foi dirigir uma rápida oração ao céu para depois responder ao rei. Segundo me lembro, a finalidade do sermão era encorajar frequentes e breves orações que podem ser oferecidas durante o dia. Alguma coisa parecida com o costume da minha esposa de pedir a Deus um lugar para estacionar o carro quando vai ao shopping. E a sua oração mais importante é aque­ la em que pede a proteção divina ao ver, na nossa perigosa Estrada 19, que cinco ou seis carros atra-

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formadas por calcário macio que, quando incen­ diado, se evapora, e até as pedras mais sólidas se desfazem e se transformam em pó. A ideia de que Neemias podia “ vivificar dos montões do pó aspedras queforam queimadas” servia para divertir as pessoas que o rodeavam. Elas ridicularizavam abertamente os judeus e zombavam dos seus esforços. A ridicularização pode nos desanimar, em especial quando realizamos uma tarefa difícil. Para nós, a resposta de Neemias serve como um guia para lidarmos com a ridicularização. Ele orou a Deus pedindo: “Caia o seu opróbrio sobre a sua cabeça”. Ele não discutiu, nem defendeu a sua missão, pois sabia que Deus lhe traria o sucesso, e que somente o sucesso pode silenciar a ridicularização.

vessaram o cruzamento mesmo depois que o farol havia fechado para eles. Acho que essa mensagem foi bem entendida. As orações podem ser breves, objetivas e frequentes. Mas, ao observar Neemias, entendemos que sua breve e objetiva oração não foi suficiente. Ele mes­ mo diz: “estive jejuando e orando perante o Deus dos céus” antes de pedir permissão para ir a Judá. Na verdade, de pé e oferecendo a taça ao rei, Nee­ mias fez realmente uma breve oração. Mas ele havia se preparado espiritualmente para esse momento crítico durante os dias precedentes. As orações breves são importantes, mas elas não são suficientes em nossa vida de oração. E a dedicação de um tempo importante para ficarmos a sós com Deus, que proporcionará a preparação espiritual de que pre­ cisamos para enfrentar as emergências da nossa vida. Aplicação Pessoal Uma imprescindível vida de oração nos prepara para enfrentar, com sucesso, as nossas emergências. Citação Importante “Para mim, a oração significa o direcionamento do nosso coração a Deus; significa elevar, simplesmen­ te, os olhos para o céu numa expressão de grati­ dão e amor, que vem do auge da alegria ou de um profundo desespero. E uma grande força sobrena­ tural que abre o meu coração, aproximando-me e unindo-me a Jesus.” — Teresa de Lisieux 8 DE ABRIL LEITURA 98 OPOSIÇÃO À RECONSTRUÇÃO Neemias 4 —7

“Todos eles nos procuravam atemorizar, dizendo: As suas mãos largarão a obra, e não se efetuará” (Ne 6.9). Neemias enfrentou várias formas de oposição, e a maneira como enfrentou os vários desafios serve como um modelo para nós atualmente.

“Todo o muro se cerrou até sua metade” (Ne 4.5-23). À medida que o muro se levantava pouco a pouco, a ridicularização dos inimigos dos judeus se trans­ formava numa irada hostilidade. Ninguém gosta de mostrar que errou! Essa hostilidade logo se transformou numa clara oposição à medida que os povos vizinhos trama­ vam um ataque contra a força de trabalho de Ne­ emias. No entanto, ele enfrentou a ameaça com determinação e com sua capacidade. Ele mostrou determinação ao armar os seus ho­ mens. Essa prova de que os judeus estavam prontos para se defender frustrou os inimigos que haviam planejado fazer um ataque covarde contra uma po­ pulação indefesa. Mostrar determinação perante um inimigo muitas vezes evita o conflito. Neemias não descansou com essa primeira vitória, em que não houve um derramamento de sangue. A partir daí, a metade das pessoas se dedicava a mon­ tar guarda, enquanto a outra metade trabalhava. Foram estabelecidos sinais de trombeta para que todo o grupo pudesse responder a algum ataque contra qualquer seção dos muros. Quando conhe­ cemos os inimigos que nos rodeiam, precisamos planejar antecipadamente o que fazer para nos de­ fender dos seus ataques.

“Foi, porém, grande o clamor do povo... contra os judeus, seus irmãos” (Ne 5.1-19). Esse trabalho também estava sendo ameaçado pela injustiça da sociedade judaica. Os ricos oprimiam os pobres e, em vez de obedecer às leis de Deus, emprestavam dinheiro a juros elevados para depois reclamar as terras e levar as famílias à escravidão como paga­ mento das suas dívidas. Neemias combateu essa prática e conquistou o apoio de toda congregação ao impedir a usura e Entendendo o Texto “ Vivificarão dos montões do pó as pedras que foram obrigar a devolução das terras que haviam sido queimadas?” (Ne 4.1-5). Em Judá, as pedras são confiscadas.

Contexto Neemias enfrentou a ridicularização (4.1-5) e a ameaçados ataques dos vizinhos de Judá (w. 6-23). Ele também encontrou injustiças que atrasaram os trabalhos (5.1-19). Evitou armadilhas preparadas pelos inimigos (6.1-14) e terminou os muros (w. 15-19). Depois de verificar as genealogias, ele repo­ voou Jerusalém (7.1-73).

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Observe que Neemias foi capaz de enfrentar esse pecado doméstico porque ele mesmo era uma pessoa irrepreensível. Ao contrário de outros go­ vernantes, que viviam explorando os seus súditos com impostos, ele mesmo pagou todas as despesas do seu oficio. Os líderes devem ser pessoas irrepreensíveis se de­ sejam exortar os outros usando sua integridade. Os pais também devem, ao corrigir os filhos, estar certos de que estão dando um bom exemplo. Ne­ emias foi capaz de realizar tudo que desejava, não por causa da sua autoridade secular, mas por cau­ sa da força moral do seu exemplo de total com­ promisso com Deus.

“Para isso o subornaram, para me atemorizar” (Ne 6.1-14). Os inimigos dos judeus fizeram mais três tentativas para interromper o trabalho nos muros. Eles tentaram isolar Neemias para poderem preju­ dicá-lo (w. 1-4), mas ele se recusou a abandonar a sua missão, mesmo que fosse por pouco tempo. Precisamos nos concentrar na tarefa que recebemos de Deus, e resistir àqueles que podem prejudicar o trabalho usando a estratégia de nos distrair. Eles tentaram assustar Neemias dizendo que os judeus haviam se revoltado contra ele (w. 5-9). E muito comum que os cristãos sejam mal represen­ tados e falsamente acusados. Nesse caso, tudo que podem fazer, assim com fez Neemias, é afirmar que as acusações não são verdadeiras e continuar com seu trabalho. Eles tentaram levar Neemias a cometer um ato de incredulidade (w. 10—14), mas ele rejeitou a assim chamada profecia de um judeu que queria que ele se trancasse no Templo para se proteger. Se tivesse

DEVOCIONAL ____

Perigo! Perigo! Perigo! (Ne 5) Um dos meus programas favoritos na televisão, até muito tempo depois da sua reprise, era Perdidos no Espaço com a Família Robinson. Um dos seus per­ sonagens era um robô rotundo que, em cada show, conseguia perceber a aproximação de alguma ame­ aça, e gritava: “Perigo! Perigo! Perigo!” O perigo podia ser alguma tempestade de mete­ oros, um pirata do espaço ou a destruição de um planeta. Mas sempre havia uma ameaça que a fa­ mília precisava enfrentar unida e também vencer unida. Lendo Neemias 5, lembrei-me de que os maiores perigos à família de Deus não vêm de fora, mas de dentro. Neemias enfrentou facilmente a ridiculari­ zação dos estranhos, suas ameaças e suas tentativas

caído nessa armadilha, Neemias teria demonstrado a falta daquela fé em Deus que ele mesmo estava incentivando nos outros, e assim perderia a con­ fiança do seu povo. Se estamos exortando os outros a confiar no Senhor, devemos certamente demons­ trar a nossa própria confiança nEle. Todo esse esforço do inimigo foi incapaz de afastar Neemias da sua missão, e o resultado da sua fideli­ dade foi a bem-sucedida conclusão da sua tarefa.

“Acabou-se, pois, o muro” (Ne 6.15-19). A tarefa im­ possível havia sido realizada! Os inimigos do povo de Deus “temeram... e abateram-se” e o Senhor foi glorificado. Até os inimigos “reconheceram que... Deus fizera esta obra”. Quando somos chamados para exercer algum mi­ nistério devemos nos aproximar da tarefa como Neemias — com uma fé imutável e o entendimen­ to de que, quando formos bem-sucedidos, tudo será para a glória de Deus. “Era a cidade larga de espaço e grande” (Ne 7-175). A maioria daqueles que haviam se estabeleci­ do novamente em Judá vivia em pequenas cidades onde havia campos para cultivar. Jerusalém tinha ficado muito despovoada, e Neemias, depois de consultar cuidadosamente os registros genealógi­ cos a fim de garantir os interesses de cada família, estabeleceu um décimo das pessoas na cidade (cf. 11 . 1,2 ). Mais uma vez os filhos de Abraão, Isaque e Jacó voltaram não só a viver nas terras prometidas por Deus, como também ocuparam a cidade que Deus escolheu como um lugar de repouso para o seu nome. de intimidação. Mas o que de fato ameaçava sua missão era a injustiça da própria Judá! Os judeus ricos se aproveitavam da pobreza dos seus vizinhos para fraudá-los. Essas injustiças cria­ vam mais pobreza, fome e desespero. Como o povo de Judá podia se reunir a fim de construir os muros de Jerusalém quando tantos se encontravam per­ turbados com a profundidade das suas necessida­ des pessoais? O mesmo acontece atualmente com a igreja de Cristo. O maior obstáculo à realização da missão que Cristo estabeleceu para nós é o pecado. Quan­ do ignoramos as necessidades dos nossos irmãos, quando colocamos o dinheiro à frente do minis­ tério, quando nos mostramos insensíveis ao sofri­ mento dos outros, estamos roubando dos nossos irmãos e irmãs o amor que pode atender às suas

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necessidades e levar o corpo da igreja à unidade. A Escritura ainda tem o poder de nos levantar e nos Somente quando nos purificamos do pecado e pra­ dar a vitória sobre qualquer depressão espiritual. ticamos o amor cristão dentro da nossa congrega­ “E puseram-se em pé e fizeram confissão dos seus ção a igreja estará pronta para sua missão. pecados e das iniquidades de seus pais” (Ne 9.138). A leitura da Escritura proporcionou uma Aplicação Pessoal perspectiva ao povo de Judá. A história dos Os pecados dos cristãos devem ser levados em con­ nova pais revelava uma persistente rebelião que, ta se desejarmos causar algum impacto no mundo. seus por incrível que pareça, se manifestava em meio a contínuas expressões da graça de Deus. Agora Citação Importante judeus estavam, novamente, em uma situação “Dezesseis anos atrás, falei sobre as desesperadas os “Até na terra que deste a nossos pais... eis necessidades existentes em outras partes do mun­ difícil: que somos servos nela”, terra esta que pertencia do. Agora estou falando aos cristãos, onde quer que aos reis gentios “conforme a sua vontade, estejam, que devem ter uma ‘recaída’ no seu amor dominam sobre osquenossos corpos e sobre o nosso por Jesus. Atualmente, o cristianismo ocidental diz gado”. E isso aconteceu “por causa dos nossos que devemos ter uma igreja maior, um carro maior pecados” (w. 36,37). e uma roupa melhor. Se os cristãos deixarem de A perspectiva que se abriu para eles produziu uma amar tudo isso para se envolverem no amor a Je­ resposta. Primeiro, o povo reconheceu que a sus, não precisarei falar sobre a missão, pois eles dupla “angústia” presente era consequência da deso­ se tornarão missionários pelo fato de amarem ao sua bediência dos seus pais, e também da sua; este era Senhor.” — Helen Roseveare o resultado da desobediência a Deus. Segundo, o povo decidiu estabelecer um “um firme concerto” 9 DE ABRIL LEITURA 99 para, daí em diante, passar a obedecer a Deus. AS REFORMAS DE NEEMIAS A Escritura ainda fala da mesma maneira. Somos Neemias 8— 13 declarados culpados pelo pecado e, ao mesmo tem­ po, exortados à obediência. O convencimento leva “De dia em dia, ele [Esdras] lia o livro da Lei de Deus, à conversão, se lhe dermos ouvidos e respondermos desde oprimeiro dia até ao derradeiro” (Ne 8.18). positivamente. Neemias havia restaurado os muros da cidade e, então, passou a se dedicar à sua tatefa mais impor­ tante: restaurar o relacionamento do povo de Judá com o seu Deus. Visão Geral Esdras leu e explicou a Palavra de Deus ao povo de Judá (8.1-18). O povo confessou seus pecados (9.138) e determinou dar prioridade a Ele (10.1-39). Neemias recuperou Jerusalém (11.1— 12.27) e o povo se dedicou alegremente a restaurar seus muros (w. 27-47). Mais tarde, retornando pela segunda vez ao cargo de governante, Neemias descobriu que o povo havia deixado de cumprir os seus compromis­ sos, e deu início a outras reformas (13.1-31). Entendendo o Texto “De dia em dia, ele [Esdras] lia o livro da Lei de Deus” (Ne 8.13-18). O evento mais importante da Festa dos Tabernáculos, registrado aqui, era a leitura di­ ária do Antigo Testamento durante os oitos dias de duração dessa festa. Como passava um quarto do dia lendo (9.3), provavelmente Esdras era capaz de conhecer os cinco Livros de Moisés. Essa leitura da Escritura estabeleceu as bases para a renovação espi­ ritual que Neemias estava tão ansioso por estimular.

Neemias 8.8 diz que Esdras lia o Livro da Lei “declaran­ do e explicando o sentido”, fazendo com que, “lendo, se entendesse”. O texto bíblico que foi registrado nos anti­ gos papiros está escrito em hebraico. Na época de Esdras, o povo comum falava o aramaico, uma língua relaciona­ da com o hebraico, porém um tanto diferente. Esdras precisava traduzir e também explicar o texto.

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“Firmemente aderiram a seus irmãos... de que guar­ dariam e cumpririam” (Ne 10.1-39). As reformas religiosas estimuladas por Esdras e Neemias al­ cançaram todo o povo. Elas revelaram áreas em que Judá havia se recusado a obedecer e agir da maneira correta. Havia um compromisso geral de “andar na Lei de Deus” e foram feitas promessas específicas para evitar o casamento com os povos vizinhos, para observar a santidade do sábado, e para ajudar ativamente na adoração no Templo. O próprio conceito de “reforma” significa que identificamos as fraquezas e nos compromete­ mos a corrigi-las, e a realização de um autoexame será importante para todos os crentes, de qualquer idade. Entretanto, esse autoexame sempre deve ter como finalidade a correção dos erros, pois sem que haja um compromisso renovado, é provável que a con­ fissão sozinha não trará as desejadas reformas. “Habitaram em Jerusalém” (Ne 11.1 — 12.26). As terras agrícolas que sustentavam a pequena comunidade judaica depois do exílio estavam localizadas longe de Jerusalém. A cidade cujos muros haviam sido recém-restaurados havia sido habitada de forma escassa, principalmente porque as pessoas tinham deixado de entregar os dízimos destinados a manter os sacerdotes e os levitas que deviam administrar o Templo. A fim de ser manter, esses líderes religiosos foram obrigados a se mudar para suas vilas e trabalhar em seus próprios campos. A repopulação de Jerusalém, embora necessária à sua segurança, tinha uma motivação religiosa. Isso pode ser visto na ênfase existente no texto sobre os sacerdotes, levitas e outros funcionários do Templo (11.10— 12.28). Todas essas pessoas deviam ser mantidas com o dízimo devido pelo resto da comunidade, que só se motivava a fazer esse sacrifício pelo simples desejo de adorar e hon­ rar a Deus. O sacrifício continua a ser uma importante medi­ da do nosso compromisso e do nosso amor para com o Senhor. A liberalidade e a generosidade de muitos cristãos vão muito além de ofertar a Deus os seus recursos excedentes; eles “apertam o cinto” a fim de contribuírem ainda mais.

Jerusalém foi uma ocasião que devia ser celebrada “com alegria”. Enquanto dois corais vinham em di­ reções opostas para se encontrar em frente ao Tem­ plo, toda a comunidade se alegrava “porque Deus os alegrara com grande alegria”. Havia duas razões para essa alegria. A primeira era exterior e visível. O povo havia reconstruído os muros com todo sucesso. Essa realização visí­ vel não só honrava ao Senhor, a quem pertence a cidade de Jerusalém, como também encorajava a moral judaica. Os judeus não eram mais des­ prezados pelos vizinhos, pois eles “reconheceram que o nosso Deus fizera esta obra” (6.16). Nós realmente vivemos em um universo materialista. As realizações visíveis não só impressionam aos outros, e desta forma testemunham a realidade de Deus, mas servem também como um testemunho para nós. Temos o direito de ser alegres por causa das nossas realizações visíveis, e também por causa das nossas realizações espirituais. No entanto, a grande fonte da qual fluía a alegria de Judá era interior e espiritual. O povo de Deus havia confessado seus pecados a Ele, e se compro­ metido a servi-lo. Havia um grande sentimento de bem-estar espiritual e todos percebiam que es­ tavam, novamente, reconciliados com Deus. Também para nós, a suprema fonte de alegria deve ser encontrada no nosso relacionamento com o Senhor. Quando agimos corretamente com Ele, os sinais visíveis da sua presença se tornam me­ nos importantes para nós. Quando agimos corre­ tamente com Deus podemos nos alegrar mesmo quando as coisas externas não andam conforme desejamos.

“Não estava eu em Jerusalém” (Ne 13). Depois de um produtivo primeiro período como governador de Judá, Neemias voltou a servir ao rei da Pérsia. Durante a sua ausência, o povo voltou lentamente às suas práticas antigas de casamentos mistos, de cuidar dos seus próprios interesses no sábado e de suspender a manutenção daqueles que conduziam os serviços do Templo. Neemias voltou, e logo colocou as coisas em ordem novamente. Toda a sua vida serve para nos lembrar de um importante princípio espiritual. Os líderes têm a missão de encorajar os outros a se compro­ meter totalmente com Deus e a ajudar manter esse compromisso. Em nossos dias, assim como na “Na dedicação dos muros” (Ne 12.27-47). O tex­ época de Neemias, precisamos de líderes que nos to deixa bem claro que a dedicação dos muros de ajudem a servir a Deus com sinceridade.

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DEVOCIONAL_________ “Lembra-te de mim por isto” (Ne 13) Encontramos aqui, no último capítulo do livro que traz o nome de Neemias, a expressão mais nítida do grande coração desse líder do Antigo Testamento. Na suas declarações “Lembra-te de mim” Neemias identifica aqueles atos que considera como sendo o serviço mais importante que prestou ao Senhor. O mais notável a respeito dessa relação é que em lugar nenhum Neemias diz: “Lembra-te de mim, ó Senhor, por ter reconstruído os muros de Jerusa­ lém”. A única realização que seus contemporâneos poderiam ter considerado como a mais importante nem é mencionada por ele! Isso serve para nos lembrar de uma época em que tantos se orgulham por construir, fundar univer­ sidades, construir magníficas igrejas ou mesmo grandes redes de comunicação por meio das quais o evangelho pode ser ouvido. Certamente, estes são empreendimentos dignos, assim como a constru­ ção dos muros de Jerusalém foi uma realização dig­ na e santa. No entanto, o que vemos em Neemias 13 é que estas não são as realizações espirituais mais importantes. O mais importante para Neemias era promover a adoração a Deus (v. 14), ajudar Judá a honrar ao Senhor santificando o sábado como um dia sagra­ do (v. 22) e insistir que aqueles que serviam a Deus

se mantivessem puros (v. 30). E, para ele, ainda mais importante era o impacto de Deus na vida dos homens e mulheres da sua época. E uma bênção ver isso em Neemias. Podemos não estar entre os grandes construtores da nossa época, mas podemos ser, assim como Neemias, pessoas que encorajam os homens e as mulheres entre os quais vivemos a adorar melhor ao Senhor, a honrálo mais plenamente e a permanecer puros. Se assim fizermos, quando chegar o dia em que Deus honrará os seus servos, estaremos ao lado de Neemias, e entre as pessoas mais importantes para Deus.

Aplicação Pessoal E mais importante colocar uma vida em contato com Deus do que construir uma grande cidade. Citação Importante “Acredito que, para cada um de nós, a razão da vida é simplesmente crescer no amor. Acredito que esse crescimento no amor contribuirá, mais do que qualquer outra força, para estabelecer o Reino de Deus sobre a terra.” — Leon Tolstoi

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em ESTER

ESTER INTRODUÇÃO O livro de Ester tem como cenário a cidade de Susã, capital do Império Persa. Conta a história de uma iníqua conspiração contra o povo judeu que foi frustrada por Ester, uma jovem judia casada com Xerxes (Assuero), o governador do império. Essa vitória dos judeus sobre seus perseguidores gentios, e que ocor­ reu no ano 470 a.C., ainda é celebrada nos nossos dias na Festa de Purim. O livro de Ester é singular porque deixa de mencionar o nome de Deus; no entanto, a sua mensagem brilha claramente através do decorrer da história. Deus realmente dedicou um cuidado providencial ao seu povo do Antigo Testamento, mesmo quando esse povo estava vivendo fora da Terra Prometida. E Ele trabalha através das circunstâncias, assim como através dos milagres. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Ester se Torna Rainha da Pérsia........................................................... II. O Ódio de Hamã por Mardoqueu.................................................... III. A Queda de H am ã.............................................................................. IV. A Vitória dos Judeus...........................................................................

Et 1— 2 . Et 3— 5 . Et 6— 8 Et 9— 10

GUIA DE LEITURA (1 Dia) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia e o Devocional em cada capí­ tulo deste Comentário. Leitura 100

Capítulos 1— 10

Passagem Essencial 6— 7

ESTER 10 DE ABRIL LEITURA 100

O LIVRAMENTO DOS JUDEUS Ester 1— 10

“Porque, se de todo te calares neste tempo, socor­ Definição dos Termos-Chave ro e livramento doutra parte virá para os judeus” Providência. Providência é um termo que os teólo­ (Et 4.14). gos usam para expressar sua convicção de que Deus realiza seus propósitos por meio de processos natu­ A doutrina da providência afirma que Deus tra­ rais do universo físico e social. balha silenciosamente por meio da causa e do Neste universo, todo efeito pode ser identificado efeito do mundo natural a fim de supervisionar como oriundo de uma causa natural. No mundo da os acontecimentos. O livro de Ester mostra como causa e efeito não existe qualquer sugestão de mila­ uma série de “coincidências” se combinaram gres, e não há necessidade de introduzir Deus para para livrar os judeus de um esforço planejado e explicar o que aconteceu. No universo natural, o organizado com antecedência para exterminar a máximo que se pode chegar é à coincidência: “Que raça judia. coincidência o fato de Ester ter se tornado rainha exatamente quando Hamã tentava exterminar os Contexto judeus”. Ou “Não deixa de ser uma coincidência O autor do Livro de Ester é desconhecido, mas que o rei não conseguisse dormir e que a porção o número de palavras emprestadas do persa en­ da história do seu reino registrasse que Mardoqueu contradas nesse livro, assim como a ausência de havia descoberto uma conspiração contra sua vida”. termos gregos semelhantes, indica que ele foi es­ O crente pode dizer que Deus programou as coin­ crito numa época anterior, entre 450 e 300 a.C. cidências — enquanto o incrédulo ironiza porque Os eventos mencionados ocorreram no reinado cada evento pode ser identificado por causas natu­ de Xerxes, que ficou mais conhecido como o in­ rais que “explicam plenamente” o que aconteceu vasor cujos ataques contra a Europa foram derro­ sem fazer nenhuma referência a Deus. tados pelos gregos em Maratona. E provável que A história do Livro de Ester mostra a providência a festa mencionada em Ester 1 seja a mesma festa divina e identifica “coincidências” que levaram ao da qual falam os historiadores gregos como sendo livramento do povo judaico a partir de uma cons­ a que foi realizada por Xerxes para planejar sua piração organizada para exterminá-lo. Como esse conquista do ocidente. livro trata da providência, Deus não é menciona­ O autor teve o cuidado de deixar a história do. No entanto, o conjunto de coincidências, que transm itir essa mensagem. Ele não menciona levaram naturalmente à libertação do seu povo, é nenhum acontecimento como sendo obra de tão admirável que sua atividade está implícita com Deus, e evita criticar qualquer ato duvidoso de toda clareza. Ester ou de M ardoqueu. No entanto, vemos através da história que, embora não tenha sido O Deus do Antigo Testamento é o Deus do Pacto. mencionado, Deus opera soberanamente para o Deus se comprometeu a cuidar do seu povo es­ livramento do seu povo. colhido, isto é, Israel. Frente ao cenário do rela-

Ester 1— 10

cionamento do pacto estabelecido entre Deus e os judeus, as “coincidências” da história testemunham o seu cuidado providencial. O que aprendemos com Ester é que Deus está sempre agindo na vida do seu povo. As possíveis “coincidências” que marcam a nossa vida não são simplesmente o resultado de causa e efeito, ou de uma fortuita mudança. As “coincidências” que marcam a nossa vida são ordenadas por Deus e sua finalidade é nos fazer o bem.

“Se lançou Pur, isto é, a sorte” (Et 3.1-15). Hamã re­ agiu àquilo que entendia ser um insulto de Mardo­ queu e decidiu exterminar todo o povo judeu. Ele procurou encobrir a data para o ataque aos judeus e, supostamente por acaso, a conspiração foi mar­ cada para uma data distante, longínqua o suficiente para dar a Mardoqueu e Ester o tempo necessário para planejarem um contragolpe à conspiração. Deus é capaz de modificar as práticas ruins com a finalidade de beneficiar os seus propósitos.

Visão Geral Ester foi escolhida para ser a rainha de Xerxes (1.1— 2.23). Mardoqueu despertou o ódio de um importante funcionário real, Hamã, e por isso Hamã resolveu destruir toda a raça de Mardoqueu (3.1-15). Contra a vontade de Ester, Mardoqueu conseguiu sua ajuda (4.1— 5.14). Coincidente­ mente, Xerxes honrou Mardoqueu oferecendo-lhe uma tarefa sem importância (6.1 -14). Ester revelou que pertencia à raça que Hamã conspirava exter­ minar, e Hamã foi enforcado (7.1-10). Os judeus conquistaram o direito de se defender dos seus inimigos (8.1-17). Muitos inimigos dos judeus foram executados (9.1-16), e foi instituída a festa do Purim para celebrar o livramento (w. 17-32). Mardoqueu alcançou um elevado posto na Pérsia do qual ele se aproveitou para ajudar o povo judeu (10.1-3).

“Quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?” (Et 4.1— 5.14). Mardoqueu conseguiu a ajuda de uma Ester relutante. Para ele, estava cla­ ro que Deus a havia colocado num lugar estratégi­ co para influenciar Xerxes a favor dos judeus. Até a hesitação de Ester, quando adiou o confronto e convidou Hamã e Xerxes para jantar com ela, fazia parte do plano de Deus para os acontecimentos.

“Que honra e galardão se deu por isso a Mardoqueu?” (Et 6). Incapaz de dormir naquela noite, Xerxes mandou que a história do seu reino fosse lida para ele. O leitor, “por acaso” leu a notícia da exposi­ ção feita por Mardoqueu a respeito da conspiração contra a vida de Xerxes e o rei percebeu que Mar­ doqueu ainda não havia sido recompensado. No dia seguinte, Hamã foi obrigado a caminhar pelas ruas de Susã guiando um dos cavalos do rei sobre o qual estava sentado Mardoqueu! Furioso e frustrado, Hamã percebeu que sua conspiração Entendendo o Texto não daria certo. “Pareceram bem essas palavras aos olhos do rei e dos príncipes” (Et 1.1— 2.18). A primeira “coincidên­ “Este mau Hamã” (Et 7 — 8). Naquela noite, ao cia” desse livro é a rebelião da rainha Vasti contra jantar, a rainha Ester acusou Hamã de conspirar seu marido real. O autor descreve os argumentos contra ela e seu povo. Furioso, o rei ordenou a daqueles que aconselharam Xerxes a se divorciar da execução de Hamã, na mesma forca que o próprio sua esposa e escolher uma nova rainha. A teimosia Hamã havia mandado construir com a intenção de de Vasti e os argumentos dos conselheiros abriram enforcar Mardoqueu! E Mardoqueu foi autorizado caminho para Ester se tornar a rainha da Pérsia. a escrever um decreto em nome do rei concedendo Deus é capaz de usar os atos livres e a argumenta­ permissão aos judeus para se defender, caso fossem ção não coercitiva dos incrédulos para moldar os atacados. (O decreto anterior não foi cancelado eventos. porque, de acordo com a tradição persa, as leis em vigor não podiam ser modificadas.) “Dois eunucos do rei... procuraram pôr as mãos sobre o rei Assuero” (Et 2.19-23). Mardoqueu frustrou “O judeu Mardoqueu foi o segundo depois do rei uma conspiração contra a vida de Xerxes. Embora Assuero” (Et 9 — 10). Os judeus foram vitoriosos ao esse ato não fosse recompensado nessa ocasião, no se defender dos seus inimigos. Eles instituíram Pu­ futuro ele estava destinado a se destacar muito. rim como a festa da libertação, e Mardoqueu passou Nossos próprios atos, e as respostas dos outros, a ocupar o segundo lugar mais elevado da Pérsia, tornam-se elementos do plano providencial de uma posição que ele usou para ajudar o seu povo. Deus. Não devemos nos preocupar se não rece­ A conspiração que Hamã havia preparado contra bermos imediatamente a nossa recompensa. Os os judeus não foi apenas impedida, como teve um propósitos de Deus acontecem, com frequência, efeito totalmente contrário, pois promoveu o bemao longo do tempo. estar do povo de Deus em vez de prejudicá-lo!

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DEVOCIONAL_________ Olhe para trás claramente a mão de Deus, agindo de modo provi­ (Et 6— 7) Foi somente olhando para trás que Ester e Mardoqueu puderam ver claramente a mão de Deus naquilo que havia acontecido com eles. O mesmo acontece conosco. Raramente percebemos a oculta proteção e orientação de Deus nos acontecimentos que se desenrolaram. Mas, ao olhar para trás, so­ mos capazes de ver claramente a sua mão. Minha mãe costumava ler uma revista chamada Revelation, publicada por Donald Grey Barnhouse, da Filadélfia. Quando entrei na Marinha, fui para uma escola em Norfolk e, como havia me formado com boas notas, consegui ser nomeado para ocupar uma posição no Brooklin, em Nova York. O Dr. Barnhouse dava aulas noturnas sobre a Bíblia às segundas-feiras em uma igreja luterana em Manhat­ tan. Minha mãe, ao ler sobre isso na Revelation, sugeriu que eu fosse vê-lo. Comecei a frequentar a igreja todas as segundas-feiras, e fiquei estimulado a começar um sério estudo da Bíblia. Comecei esse estudo em minha base, e logo percebi o chamado de Deus para o ministério. Coincidências? O fato de minha mãe ler essa re­ vista e o meu trabalho numa cidade que o editor frequentava toda semana para dar aulas sobre a Bíblia? E o fato de essas aulas se transformarem em um estudo pessoal que depois me levou ao ministério? Os humanistas iriam dizer: “Sim, foi tudo uma coincidência. Se tivesse acontecido um conjunto diferente de coincidências você poderia ter sido motivado a seguir uma carreira totalmente diferente”. No entanto, olhando para trás, pude ver

dencial para me conduzir para mais próximo de si, e me guiar para o trabalho da minha vida. E existem muitas outras maneiras em que, ao olhar para trás, posso ver a boa mão de Deus, mesmo nas coisas que quando foram experimentadas por mim me pareceram verdadeiras tragédias. Talvez este seja o segredo de descobrir a obra de Deus na nossa vida. Olhar para trás. Examinar as coincidências que nos colocaram num outro rumo e entender que em cada uma das vezes Deus estava agindo, mesmo naquelas vezes em que aquele mo­ mento nos fazia sofrer. Observe que a doutrina da Providência nos diz que Deus está agindo na vida de cada membro do povo do seu pacto. Sua atividade pode estar oculta, mas é bastante real. Olhe para trás, e você poderá vê-la na sua vida; olhe para trás, e você descobrirá provas do constante amor do nosso Senhor. Aplicação Pessoal Neste exato momento, Deus está agindo através das coincidências da sua vida, para o seu bem. Citação Importante “Confiando naquEle que pode nos acompanhar, permanecer ao nosso lado e estar em toda parte para fazer o bem, vamos esperar, com confiança, que tudo dê certo.” — Abraão Lincoln

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em EFÉSIOS

Jó INTRODUÇÃO Tendo lugar no segundo milênio a.C., quando a riqueza era medida em rebanhos e o patriarca servia como sacerdote da família, o épico de Jó explora a relação entre o sofrimento humano e a justiça divina. Jó, um homem justo, foi abatido por desastres repentinos. Seus três amigos disseram que Deus o estava punindo por algum pecado oculto. Jó resistiu, mas não pôde encontrar uma explicação alternativa para o que lhe tinha acontecido. Em um extenso diálogo poético, conhecido pelo hebraico mais difícil do Antigo Testamento, Jó e seus amigos tentaram compreender os caminhos de Deus e o significado do sofrimento humano. Embora haja muitos exemplos de literatura similar no Oriente Antigo, o livro de Jó se diferencia deles pela sua visão de Deus e pela sua exploração, em profundidade, da questão do sofrimento. E impossível estabelecer uma data para a escrita deste épico, ou conhecer o seu autor. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Desastres Sobrevêm ao Justo Jó ........................................................... II. Jó Dialoga com Três Amigos ............................................................... A. Deus causou o sofrimento de Jó ?........................................................ B. Os ímpios sofrem realmente? ............................................................. C. Jó tinha realmente cometido pecados ocultos? ............................... III. Eliú Rompe o Impasse........................................................................ IV. Deus se Manifesta ................................................................................

.... Jó 1— 3 .. Jó 4— 31 .. Jó 4— 14 Jó 15— 21 Jó 22— 31 Jó 32— 37 Jó 38— 42

GUIA DE LEITURA (5 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 101 102 103 104 105

Capítulos 1— 14 15— 21 22— 27 28— 37 38— 42

Passagem Essencial 1— 2 21 25— 27 33 42

JÓ 11 DE ABRIL LEITURA 101

A ANGÚSTIA DE JÓ Jó 1— 14

“Nunca estive descansado, nem sosseguei, nem repou­ Jó, então, arrependeu-se, e foi elogiado por Deus. O Senhor restaurou a saúde de Jó, duplicou a sua sei, mas veio sobre mim a perturbação” (Jó 3.26). riqueza, e o abençoou com uma nova família e uma A angústia interior de Jó espelha a nossa própria vida prolongada. quando somos atingidos por alguma tragédia ines­ Embora o esboço desta história seja simples, o con­ teúdo do livro é profundo, investigando uma das perada e lutamos para compreender o motivo. questões mais básicas na experiência humana. Contexto A estrutura do livro. O livro de Jó começa e termi­ Visão Geral na com breves seções em prosa. A abertura retrata O ambiente é definido: Deus permitiu que Sa­ Deus dando a Satanás permissão para atacar Jó, tanás tomasse a riqueza de Jó, a sua família e as em um esforço para fazer com que Jó amaldiçoe suas riquezas (1.1— 2.10). Jó partilhou seus sen­ ao Senhor. Satanás privou Jó de suas possessões, timentos com três amigos (v. 11— 3.26). Em um de sua família e de sua saúde, mas não alcançou o ciclo de ataques e defesas, cada amigo proclamou seu intento, uma vez que Jó adorava, em lugar de a justiça de Deus e sugeriu que Jó merecia o que tinha acontecido com ele (4.1— 5.27; 8.1-22; amaldiçoar, a Deus. O livro, então, passa a uma extensa exploração po­ 11.1-20). Jó defendeu-se de todas as acusações ética do papel de Deus no sofrimento humano. Jó de seus amigos (6.1— 7.21; 9.1— 10.22; 12.1 — e seus três amigos acreditavam que Deus pune o 14.22). pecado. Os amigos de Jó concluíram que ele tinha pecado. Mas Jó estava certo de que, consciente­ Entendendo o Texto mente, não tinha feito nada errado. A medida que “Este era homem sincero, reto” (Jó 1.1-5). A expres­ os diálogos exploram a questão do sofrimento, Jó são não quer dizer que Jó não tivesse pecado. A se encontra confrontando não somente seus três palavra em hebraico para “sincero”, tamim, indica amigos, mas as suas próprias suposições a respeito uma pessoa cuja motivação é pura e que vive uma vida de boa moral. A riqueza de Jó pode ter impres­ de Deus. O diálogo termina em um impasse, que é rompido sionado seus vizinhos. Mas o seu respeito reverente por um ouvinte mais jovem, Eliú, que ressaltou o por Deus e a sua decisão de desviar-se do mal são fato de que Deus, às vezes, usa o sofrimento para as chaves do seu caráter. instruir, e não punir. Assim, os sofrimentos de Jó O que nos choca é que estas terríveis dificuldades não significavam, necessariamente, que ele tivesse sobreviessem a um homem tão devoto. Pensamos pecado, nem queriam dizer que Deus é injusto. que, se Jó era vulnerável, então certamente cada O próprio Deus, então, falou, não para explicar o um de nós também o é. que tinha feito, mas para enfatizar que a sua natu­ Esta é uma das mais importantes mensagens do livro de Jó. O relacionamento com Deus não assereza está além da compreensão humana.

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gura uma vida tranquila. O nosso relacionamento v. 26). Tal emoção é natural, pois na melhor das com Deus é mais importante do que isso! hipóteses nós, seres humanos, somos finitos, limi­ tados e fracos. Como é encorajador perceber, por “Observaste tu a meu servo Jó?” (Jó 1.6 —2.11) Deus intermédio da experiência de Jó, que a fé e o medo é quem chama a atenção de Satanás para Jó, e lhe podem estar presentes ao mesmo tempo. Um re­ dá permissão para provocar a devastadora série de demoinho emocional não é evidência de falta de tragédias que atingiram Jó em um único dia. fé, mas, em vez disso, uma oportunidade para que Satanás afirmou que Jó honrava a Deus somente afirmemos a realidade daquilo em que cremos, ape­ porque Deus lhe tinha dado bênçãos materiais, e sar de nossos sentimentos. disse que ele blasfemaria de Deus se Ele permitisse que Satanás tirasse dele essas bênçãos. “Qual é o inocente que jamais pereceu?” (Jó 4.1— Jó não agiu como Satanás esperava, mas, em vez 5-27). Elifaz, um dos três amigos, foi incapaz de disso, adorou, reconhecendo o direito que tinha responder às poderosas emoções que Jó tinha Deus de tirar o que lhe tinha dado (1.20,21). transmitido. Em vez disso, ele suscitou um tema Satanás, então, afirmou que Jó amaldiçoaria a de teologia. Não são os justos que são destruí­ Deus se a sua própria vida estivesse ameaçada. As­ dos, mas aqueles que “semeiam o mal” (4.7,8). Jó sim, Deus permitiu que Satanás afligisse Jó com deve apelar ao Deus que castiga, e que pode curar uma dolorosa e repulsiva enfermidade. Novamen­ (5-17,18). Se Jó fosse justo com Deus, o Senhor o te, Jó se recusou a amaldiçoar a Deus, dizendo: teria protegido do desastre e ele agora conheceria a “Receberemos o bem de Deus e não receberíamos paz (w. 20-27). o mal?” (2.10). Muitos de nós, como Elifaz, ouvimos conceitos e A esta altura, Satanás saiu de cena, derrotado, e não não sentimentos. Elifaz não respondeu aos senti­ é mencionado outra vez. Mas o sofrimento de Jó mentos de Jó, nem mesmo os reconheceu. Ele po­ continuou, mostrando-nos que Deus tinha os seus deria ter dito: “Jó, eu sei que você está sofrendo. próprios objetivos ao permitir o ataque satânico Sei o quanto isso é devastador para você, e eu me contra Jó. importo”. Muito pelo contrário, Elifaz saltou com Uma das razões por que Deus permite que os cris­ uma acusação indireta, sugerindo que o sofrimento tãos sofram é exibir a realidade do relacionamento de Jó seria sua própria culpa. com o Senhor. Os crentes sofrem quando feridos, Quando você ou eu respondemos a uma pessoa como acontece com outros seres humanos. Mas a que está sofrendo com declarações teológicas, nossa fé continuada na bondade de Deus testemu­ ainda que com a pia certeza de que “Deus deve nha a todos que Deus faz a diferença. Deus é glo­ ter um propósito em um sofrimento tão terrível”, rificado quando os cristãos continuam a esperar no perdemos a nossa oportunidade de ministrar. O Senhor, apesar do sofrimento. Como Cristo, neste que o sofrimento precisa é que alguém se importe. ponto da história Jó “entregava-se àquele que julga Experimentar o amor de Deus, por intermédio de justamente” (1 Pe 2.23). um amigo interessado, é a primeira e maior neces­ sidade daqueles que sofrem. “Por que não morri eu desde a madre e, em saindo do ventre, não expirei?” (Jó 3-1-26). Três amigos “Se a minha mágoa retamente se pesasse” (Jó 6.1— que visitavam Jó ficaram tão chocados com a sua 7.21). Jó tentou, outra vez, transmitir seus senti­ condição que se assentaram com ele, em silêncio, mentos e pensamentos atormentados. Ele se sentia durante sete dias. Por fim, Jó iniciou o diálogo. separado de Deus, e esmagado por Ele (6.8-10). As primeiras palavras de Jó tinham expressado as Como estava desesperado, Jó esperava de seus ami­ suas crenças. Agora, ele expressava seus sentimen­ gos um sinal de devoção, e não acusações. tos, e nós distinguimos uma angústia tão grande Jó continuou a expressar seus sentimentos, falan­ que Jó chegava a desejar jamais ter nascido. do “na angústia do meu espírito” e queixando-se Não é errado que exista uma lacuna entre aquilo “na amargura da minha alma” (7.11). A vida tinha em que cremos e nossas emoções. Intelectualmen­ perdido todo o significado para ele. Não conseguia te, Jó percebia que Deus é livre para agir como compreender o que tinha feito a Deus para me­ desejar. Emocionalmente, Jó estava dominado pela recer o que tinha acontecido, ou por que, se ele angústia e pelo medo. tinha pecado, Deus simplesmente não o perdoava Quando o sofrimento nos atinge, com frequência (w. 17-21). reagimos como Jó. Confiamos em Deus. Mas as Nas suas palavras, das quais algumas são dirigidas nossas emoções estão tumultuadas, e não descan­ a Deus, Jó expressou as dúvidas e incertezas que o samos, nem sossegamos, nem repousamos (veja atormentavam ainda mais que a perda e a dor. A

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dia nem mesmo defender o seu caso perante Deus, pois Deus não lhe tinha feito nenhuma acusação. Mais uma vez, Jó foi forçado a questionar o sig­ nificado da própria vida. Por que ele tinha nas­ cido? Como teria sido melhor se tivesse morrido na infância!

experiência de Jó nos ajuda, mais uma vez, a identi­ ficar o que acontece dentro de nós, quando alguma tragédia nos atinge. A própria fundação da nossa existência — a nossa convicção de que Deus é bom — é questionada. Se compreendermos isso, poderemos aceitar as nossas dúvidas e incertezas, sem sentimento de cul­ pa. E poderemos demonstrar empatia com outros que passam por tragédias.

“A té quandofalarás tais coisas?” (Jó 8.1-22). Bildade sentiu-se incomodado com a revelação interior de Jó. Para se proteger da avalanche de emoções, ele também se voltou à teologia. Bildade não estava disposto a aceitar o que Jó sentia porque estas emo­ ções pareciam sugerir que o Todo-Poderoso “per­ verte o direito” (v. 3). A solução de Bildade? “Eis que Deus não rejeitará ao reto” (v. 20). Se Jó fosse reto com Deus, o Se­ nhor “encheria a sua boca de riso, e os seus lábios, de louvor” (v. 21). O engano de Bildade é um engano comum. Ele supôs que conhecia tanto sobre Deus, que podia falar por Ele! A afirmação: “Deus não rejeitará ao reto”, é transformada, de uma verdade geral, em uma regra inquebrável, limitando a liberdade de ação de Deus. Bildade jamais imaginou que pode­ ria não conhecer a Deus suficientemente bem para explicar os propósitos do Senhor na vida de Jó! Quando você e eu conhecemos outras pessoas que sofrem, devemos evitar o engano de Bildade. Não podemos explicar “por que”, pois não somos sábios o suficiente para compreender os propósitos de Deus na vida de outra pessoa. Todos nós sabemos, com certeza, que Deus ama todos os seres huma­ nos, e que Ele realmente tem um propósito no que acontece a cada um. “Na verdade sei que assim é” (Jó 9.1 — 10.21). Jó sabia que o que os seus amigos tinham dito era ver­ dade. Mas isso só aumentava o seu tormento. Ele acreditava ser íntegro (9.21), e por isso não tinha explicação para o que lhe tinha acontecido. Era isso que tornava tão amarga a sua angústia! Ele não po-

DE VOCIONAL______ A Cerca de Deus (Jó 1— 2) O médico olhou casualmente para ela, enquanto estava na sala de parto. O que ele viu fez com que meia dúzia de pessoas viesse correndo. Minha esposa tinha sofrido um grave desprendimento de

“Sem que ninguém te envergonhe?” (Jó 11.1-20). O terceiro amigo de Jó ficou indignado com as pala­ vras dele. Deus não deve ser questionado! Mas Zofar não pôde resistir e sugeriu que Jó pe­ cou para sofrer tanto, e que se ele apenas lançasse para longe a iniquidade que estava na sua mão (v. 14), a vida melhoraria, pois Deus aliviaria o seu sofrimento. Mais uma vez, cuidado. Pode-se ter praticamente a certeza de que a pessoa que supõe que conhece o coração de outro indivíduo, e que compreende todos os caminhos de Deus, esteja cometendo um erro. Assumir tal posição é um tipo de orgulho espiritual, certamente um pecado tão grave quan­ to qualquer pecado de que possamos acusar os outros. “Como vós o sabeis, o sei eu também” (Jó 12.1— 14.22). Jó respondeu com sarcasmo. Ele também conhecia as verdades gerais sobre Deus que seus amigos tinham usado contra ele. Mas também sabia que, no seu caso, o sofrimento não poderia ser punição por algum pecado conhecido. Uma vez mais, Jó dirigiu suas queixas a Deus. Os seres humanos são tão fracos. Por que Deus lhe fazia isso? Por que não permitir, simplesmente, que Jó morresse, evitando assim a violência que ele sentia como sendo a ira de Deus? Novamente, sentimos a angústia que qualquer crente sente, quando o seu sofrimento não pode ser explicado. Conhecemos verdades gerais a respeito de Deus, mas não podemos conhecer as razões es­ pecíficas para o que está acontecendo conosco. E o sofrimento se parece com a ira de Deus, dirigida contra nós, em vez de parecer-se com o amor. Como é importante recordar, em tais ocasiões, que Deus ainda nos ama.

placenta, e somente uma rápida ação do médico poderia salvá-la e à nossa filha, Joy. Havia apenas um problema. Joy ficara sem receber oxigênio por vários minutos. Quando ela nasceu, o seu rosto estava azul, e o médico advertiu que poderia ter havido danos cerebrais.

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Realmente, houve. Hoje, Joy, aos 28 anos, vive em uma comunidade para adultos, retardados mentais, em Ver­ de Valley, no estado do Arizona. Ela viverá lá, ou em alguma instituição similar, durante toda a sua vida. Ê difícil expressar a experiência agridoce de criar uma filha que é forte e saudável, mas sofre de um retardo mental irreversível. Cada visita é um lem­ brete do que ela poderia ser, mas jamais será. Mas, ao mesmo tempo, cada visita é um lembre­ te de que Joy é quem Deus desejou que ela fosse. Uma jovem forte e amorosa, que ri e que chora, que se alegra e se queixa, que ora, canta e trabalha dentro de suas capacidades limitadas. Cada visita é um lembrete da acusação de Satanás, registrada em Jó 1.10. “Porventura, não o [a Jó] cercaste tu?” Não o protegeste de mim, de modo que não posso atingi-lo, nem a nada do que ele possui? A acusação de Satanás retrata uma importante reali­ dade. Deus cerca cada crente. Ele nos protege ativa­ mente dos perigos que nos ameaçam, por todos os lados. Somente se Deus baixar a cerca — e com seus próprios propósitos — o desastre pode nos atingir. Quando Joy nasceu, Deus baixou a cerca. Não sei o motivo. Mas creio que Ele teve o seu próprio pro­ pósito. E sei que Deus, mais tarde, levantou a cer­ ca. Deus protegeu a nossa Joy, e lhe deu uma vida tão abençoada quanto ela poderia esperar ter. Eu consigo identificar outros momentos em que Deus baixou a cerca ao meu redor. Mas todas as vezes, a cerca subiu outra vez, e seguiu-se a felicida­ de. A cada vez que a cerca baixou, me tomei mais consciente de que muitas vezes a cerca de Deus me rodeou e me protegeu do mal.

Embora os amigos de Jó insistissem no contrário, todos nós sabemos, como Jó também sabia, que nem todo ímpio recebe, nesta vida, a punição por suas obras más.

Contexto O destino dos ímpios. Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento descrevem Deus como um juiz moral que pune os ímpios e recompensa os jus­ tos. Jó e seus amigos compartilhavam esta visão de Deus. Mas os amigos de Jó supunham que Deus deve punir os ímpios nesta vida. Por isso, lhes pa­ recia que, uma vez que Jó estava sofrendo tanto, devia ter pecado muito. Jó sabia que era inocente. E ele tinha observado pessoas ímpias que prosperavam nesta vida. A te­ ologia de seus amigos não fazia sentido, pois era contradita por evidências que eles se recusavam a considerar. Como enfatiza o Novo Testamento, Deus pune os ímpios e recompensa os justos. Mas não necessaria­ mente nesta vida. Sim, a contabilidade será feita. Mas isso só acontecerá no final da história. Neste diálogo, somente Jó parece ter em vista a eternidade, quando diz: “Eu sei que o meu Reden­ tor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, ainda em mi­ nha carne verei a Deus” (19.25,26). Como é trágico que alguns cristãos adotem a pers­ pectiva simplista dos amigos de Jó, e entendam todo o sofrimento como punição pelo pecado. Deus permite que os santos inocentes sofram, às vezes, e às vezes os ímpios prosperam. O dia do juízo, quando tudo ficará esclarecido, está no fu­ Aplicação Pessoal Quando Deus baixar a cerca ao seu redor, consi­ turo. Até então, precisamos consolar, e não acusar, dere as muitas outras ocasiões em que você teve a nossos irmãos e irmãs em seus sofrimentos. sua proteção. Visão Geral Elifaz insistiu que os ímpios sofrem terror e afli­ Citação Importante “Quão desesperadamente as pessoas recuperam a ção nesta vida, dando a entender que Jó devia ser sua pouca fé em tempos de tristezas. E bastante ímpio (15.1-35). Jó respondeu que tinha sido jus­ fácil ver que a fé em Deus prospera por causa das to, e apesar disso, era atacado por Deus (16.1— tribulações deste mundo, e não apesar delas. E pelo 17.16). Bildade tomou o tema de Elifaz descre­ fato desta vida mortal ser considerada irrelevante vendo cruelmente o destino dos ímpios (18.1-21). diante dos principais propósitos da vida, que os Jó, aborrecido pelos ataques de seus amigos, nova­ homens adquirem a coragem de depositar a sua es­ mente expressou sentimentos de abandono (19.1perança na imortalidade.” — Reinhold Niebuhr 20). Mas concluiu com uma magnífica afirmação de fé (w. 23-27). Zofar acrescentou o seu próprio 12 DE ABRIL LEITURA 102 poema, descrevendo o terrível destino dos ímpios OS ÍMPIOS PAGAM? (20.1-29). Jó 15—21 Depois de citar os amigos que o acusavam, Jó ar­ gumentou que, na verdade, os ímpios com frequ­ “Qiiantas vezes sucede que se apaga a candeia dos ím­ ência prosperam. Os clichês que seus conselheiros pios, e lhes sobrevêm a sua destruição?E Deus, na sua usaram para sugerir que Jó era ímpio não faziam ira, lhes reparte dores!” (Jó 21.17) sentido (21.1-34).

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A imagem aqui é poderosa. Nos tempos do Antigo Testamento, uma pequena lâmpada era m antida acesa, até mesmo nas casas mais pobres, durante toda a noite. Uma casa com a lâmpada apagada era uma casa abandonada, vazia. Partindo dessa imagem de desolação, Biidade descreveu as calamidades que se abatem sobre os ímpios. Nós também nos sentimos frequentemente ten­ tados a usar a nossa teologia — ou um versículo da Bíblia — como um taco para rebater as defesas dos outros. Certamente os amigos de Jó estavam errados ao atacá-lo desta maneira, em lugar de encorajá-lo, lembrando-lhe do amor de Deus. Não devemos errar como eles, no nosso uso da Palavra de Deus.

Entendendo o Texto “Mais abominável e corrupto é o homem” (Jó 15.135). Elifaz irritou-se com Jó por aquilo que enten­ deu como sendo uma autodefesa arrogante. Elifaz via o homem como pecador, ao passo que Deus agia como se obrigado por alguma lei fixa, força­ do, invariavelmente, a punir o rebelde. Não havia lugar, na teologia de Elifaz, para a noção de que os seres humanos imperfeitos têm importância para Deus, ou que Deus é movido pelo amor e não por um senso mecânico de justiça que o força a reagir a cada pecado com uma punição apropriada. O diálogo de Elifaz estava cheio de farpas lan­ çadas diretamente contra Jó. Repetidas vezes ele mencionou coisas que tinham acontecido a Jó para exemplificar punições de Deus contra os ímpios (cf. w. 21; 1.17; 15.30,34; 1.16; 15.28; 1.19; 15.29; 1.17). Nada nos faz repensar o nosso conceito de Deus como o sofrimento. Quando o sofrimento nos atinge, ou a nossos entes queridos, precisamos nos lembrar de que o nosso Deus é um Deus de amor. “Eis que também, agora, está a minha testemunha no céu” (Jó 16.1— 17.16). Jó temia morrer antes que seus amigos reconhecessem a sua inocência. Assim, implorou que a terra não cobrisse o seu san­ gue. Mas estava confiante de que testemunhas no céu sabiam que ele estava certo. Embora se sentisse devastado, porque “na Sua ira, [Deus] me despeda­ çou, e Ele me perseguiu”, Jó tinha esperança de que um amigo e intercessor celestial daria testemunho da sua justiça e de que ele seria inocentado. E difícil quando os amigos nos acusam erronea­ mente, ou nos interpretam mal. A nossa esperança, então, como a de Jó, é de que finalmente seremos inocentados pelo Deus que parece nos atacar quan­ do sofremos. “A luz dos ímpios se apagará” (Jó 18.1-21). Bildade deu continuidade aos esforços do amigo, para im­ por suas opiniões sobre Deus a Jó. Uma vez que Jó aceitasse a sua premissa, de que Deus somente e sempre pune os ímpios, as defesas de Jó cairiam por terra. Ele duvidaria da sua própria inocência, e não mais se agarraria ao que considerava a sua “integridade”.

DEV OCIONAL______

O Mau Sujeito Abençoado (Jó 21) Agora mesmo, os nossos jornais estão cheios de re­ latos sobre uma batalha entre um homem e sua exesposa, por causa de um prêmio multimilionário da

“A té os que eu amava se tornaram contra mim” (Jó 19.19). O sofrimento de Jó, e a sua insistência de que fora prejudicado, tinham afastado, não somen­ te os seus amigos, mas até mesmo as pessoas que ele amava. Em vez de tratar Jó com respeito, até as crianças (v. 18, ARA) o ridicularizavam. Os seus servos não lhe davam atenção, e seus amigos íntimos o abo­ minavam. Um dos mais dolorosos aspectos de uma enfermi­ dade ou outro desastre pessoal é o impacto que ela causa sobre as atitudes dos outros. No momento em que mais se necessita do amor que apoia, os amigos e conhecidos se afastam. Pode ser desconfortável passar algum tempo com pessoas como Jó. Mas, como clamou Jó, é quando as pessoas sofrem que mais necessitam de amigos que “se compadeçam” delas. Novamente, somos lembrados de que, quando ou­ tra pessoa está sofrendo, não é o momento para discussão teológica. O que uma pessoa que sofre necessita é segurar uma mão, ouvir uma voz cari­ nhosa, e alguma evidência, por parte de amigos, de que ela ainda é amada e valorizada. E chocante o fato de que Jó, abandonado por seus amigos, continuasse a ter uma forte fé no Deus que ele julgava tê-lo tratado mal. “Eu sei que o meu Redentor vive”, afirmou ele. Um dia, muito tempo depois de terminada esta vida, Jó esperava: “ainda em minha carne verei a Deus”. loteria. Examinando as notícias, cresce a impressão de que os dois ganhadores são “maus sujeitos”. Com base no que cada um diz a respeito do outro — e eu suspeito que ambos estejam certos — cada um deles é egoísta, pecador e não tem moral.

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Este é apenas mais um exemplo do mau sujeito en­ riquecendo, ao passo que o cristão pobre e merece­ dor tem que continuar lutando. Naturalmente, se Elifaz, Bildade ou Zofar lessem o nosso jornal local, jamais teriam visto esse arti­ go. Os três cuidadosamente rejeitavam qualquer evidência que pudesse questionar a sua teologia. Foi isso que acabou exasperando Jó, e o levou a confrontar seus amigos. Deus sempre pune os ím­ pios? Honestamente, “Quantas vezes sucede [real­ mente] que se apaga a candeia dos ímpios?” Deus realmente esmaga o homem mau? Sejam honestos agora! “Porventura, o não perguntastes” por que no mundo todo “o mau é preservado para o dia da destruição?” O que Jó finalmente clamava, na verdade, era, “encarem a realidade!” Por que vocês não enfren­ tam os fatos? Por que não consideram o que todos nós sabemos, que às vezes os maus sujeitos são, na verdade, abençoados? Que os maus sujeitos geralmente ganham o maior prêmio da loteria, ao passo que os bons servos de Deus lutam para sobreviver? O que Jó estava dizendo era pertinente. Os seus amigos preferiam distorcer a realidade para se apegarem a uma teologia defeituosa. Mais adiante, Deus falaria com os amigos de Jó, e os condenaria, porque... “não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó” (42.7). Jó, que lutava para compreender a Deus, apesar de evidências confusas e até mesmo contraditórias, tinha “falado o que ê reto” a respeito de Deus. Jó esteve disposto a desafiar, não a Deus, mas as suas crenças a respeito dEle. Os três amigos de Jó assu­ miram que Deus estivesse em exata conformidade com as suas crenças, e se recusaram a reexaminálas, mesmo quando as evidências na sua sociedade questionavam estas crenças. Essa também é uma lição para você e para mim. A nossa confiança deve estar em Deus, e não na nossa teologia. A vida constantemente nos convi­ da a reexaminarmos as nossas crenças a respeito de Deus, enquanto nos apegamos firmemente à convicção de que Deus existe, nos ama, e recom­ pensa àqueles que o buscam (Hb 11.6). Podemos confiar plenamente em Deus. Mas não devemos ter esta mesma confiança na nossa compreensão dos caminhos de Deus. Como finalmente aprenderam os amigos de Jó, o mau sujeito, às vezes, é abençoado nesta vida, enquanto o bom sujeito sofre. Quando fatos como esses não se encaixam nos nossos escani­ nhos teológicos, é o momento de descartá-los e desenvolver uma melhor compreensão do nosso Senhor.

Aplicação Pessoal Não tenha receio de questionar as suas crenças. Deus não ficará aborrecido. Mesmo. Citação Importante “Deus permite que os seus amigos sofram muito neste mundo para que Ele possa coroá-los de uma maneira ainda mais gloriosa no céu, e torná-los cada vez mais como o seu único Filho, que jamais deixou de fazer o bem e de sofrer ofensas enquanto estava na terra, para que pudesse nos ensinar a pa­ ciência através do seu próprio exemplo.” — Robert Bellarmine 13 DE ABRIL LEITURA 103 A CONDENAÇÃO DE JÓ Jó 22—27

“Porventura, não égrande a tua malícia; e sem termo, as tuas iniquidades?” (Jó 22.5) A defesa que Jó faz de si mesmo, e as suas perguntas perturbadoras sobre a justiça de Deus, aborrecem os seus amigos. Na opinião deles, tais pensamentos ímpios provavam que Jó devia ser contado entre os ímpios. Visão Geral Elifaz ficou chocado com o aparente ataque de Jó à justiça de Deus (22.1-18) e insistiu com Jó para que se arrependesse (w. 19-30). Jó se queixou amarga­ mente de que não podia encontrar-se com Deus, nem compreender seus propósitos (23.1-17). No entanto, apesar de evidências do contrário, Jó con­ tinuava convencido de que Deus é um Juiz Justo (24.1-25). Bildade declarou a crença dos amigos, de que Deus é inacessível ao homem pecador, e que é impossível inocentá-lo (25.1-6). Jó rejeitou essa afirmação (26.1-4), e celebrou a onipotência de Deus (w. 5-14). Assumindo a sua posição como uma pessoa acusada falsamente (27.1-12), Jó con­ firmou a sua fé de que Deus é justo (w. 13-23). Entendendo o Texto “Porventura, o homem será de algum proveito a Deus?” (Jó 22.1-18). Elifaz agora estava convenci­ do da completa iniquidade de Jó. Como Jó podia sugerir que Deus podia não punir imediatamente os ímpios? Ele não podia ser inocentado por Deus, pois o simples fato de que agora Jó sofria, provava que fora um grande pecador (cf. w. 6-11). Jó pode ter ocultado dos homens a sua iniquidade, mas Deus via o que estava acontecendo, ainda que Ele se oculte dos nossos olhos. E verdade que, na sua angústia, Jó tinha desafiado a sua compreensão dos caminhos de Deus. Mas

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Elifaz estava errado ao interpretar isso como uma rejeição ao próprio Deus. Nós também precisamos ser cuidadosos para não interpretar o questiona­ mento como se fosse uma rejeição, mesmo quan­ do as questões nos parecerem tão hereges quanto o questionamento de Jó sobre a justiça de Deus pareceu a Elifaz. “Une-te, pois, a Deus, e tem paz” (Jó 22.19-30). Eli­ faz não tinha perdido a compaixão. Ele ainda mos­ trava preocupação pelo seu velho amigo, ainda que agora estivesse convencido de que Jó sempre fora, secretamente, um pecador. A solução de Elifaz era simples: Acerte a sua vida com Deus. Se Jó se arre­ pendesse, “o Todo-Poderoso” seria o seu Deus. Se Jó se arrependesse, oraria a Deus, e Ele o ouviria. Como este conselho deve ter sido frustrante para Jó, que sabia que era reto com Deus! E como Eli­ faz estava errado! Posteriormente, o próprio Elifaz seria perdoado, somente porque Deus aceitou as orações do justo Jó por ele! Elifaz, que acreditava tão firmemente que Deus é um Juiz Justo, deixou de compreender um ponto importante. Se Deus é verdadeiramente juiz, en­ tão os seres humanos devem deixar ao Senhor todo juízo. A interpretação totalmente equivocada que Elifaz fez do sofrimento de Jó nos lembra de que devemos evitar juízos quando aqueles à nossa volta passam por tempos de aflição.

“Se eu soubesse que o poderia achar” (Jó 23.1-17). Apesar de suas angustias e dúvidas, Jó desejava achar Deus, e não fugir dEle! Ele estava conven­ cido de que Deus fora injusto com ele, pois, “Nas suas pisadas os meus pés se afirmaram; guardei o seu caminho e não me desviei dele”. Os golpes que tinham atingido Jó o tinham aterrorizado, e “ma­ ceraram seu coração”. No entanto, apesar do seu medo, ele procurava por Deus ativamente. Talvez seja essa a maior evidência da santidade de Jó. Apesar de tudo, ele queria aproximar-se de Deus. Apesar de seus temores, apesar da sua con­ vicção de que Deus não tinha sido justo, Jó con­ fiava suficientemente nEle para desejar conhecê-lo melhor, e estava certo de que quando Ele lhe tivesse provado, sairia como o ouro: “Prove-me, e sairei como o ouro”. Quão sábio era Jó quanto a isso. Uma das melhores respostas que podemos dar às provações é nos apro­ ximarmos do Senhor. “Deus lho não imputa como loucura” (Jó 24.1-25). Diferentemente de Elifaz, que via Deus necessaria­ mente obrigado a impor uma punição proporcional aos pecadores agora, Jó percebia que Deus é livre

para agir como desejar. O que Jó não compreendia era “Por que o Todo-Poderoso não designa tempos de julgamento?” (ARA) Quais princípios Deus se­ gue para exigir a punição? Jó estava de acordo com seus amigos, Deus realmente julga. Mas a experi­ ência provava que Ele nem sempre julga agora. E importante, quando questionamos as nossas crenças, termos claro o que estamos desafiando. “Deus é Juiz” está declarado explicitamente nas Es­ crituras. Como e quando Deus julga pode ser alvo de dúvidas. Questionar o como e o quando das coisas não é desafiar a verdade básica. E, mesmo que não encontremos respostas às perguntas sobre como e quando, não há motivo para descartar a verdade bíblica básica.

“Como, pois, seria justo o homem perante Deus?” (Jó 25.1-6). Bildade não respondeu a Jó, mas fez uma declaração importante. Deus é tão puro que real­ mente poderia não ter nada a ver com o homem, “que é um verme”. A sua declaração era verdadeira, mas distorcida. O homem é pecador, e no seu estado pecador é somente “um bicho”. No entanto, o homem foi criado à imagem de Deus, e a graça de Deus desce para transformar os vermes à própria imagem do Filho de Deus. A maneira como Jó se considerava, como um ho­ mem justo, que cuidadosamente obedecia às leis de Deus e era comprometido em fazer a sua vontade, está em mais próxima harmonia com as Escrituras do que a interpretação dos amigos de Jó, de que o homem é um verme. Deus não nos considera sem valor. E Ele realmente se importa e valoriza as oca­ siões em que o honramos, sim, quando fazemos o que é certo. “Nem a minha língua pronunciará engano. Longe de mim que eu vos justifique” (Jó 26.1 — 27.23). Os amigos de Jó tinham falado como se o julgassem louco (26.1-4). Mas ele conhecia plenamente a grandeza de Deus (w. 5-14). Ao mesmo tempo, Jó insistia que Deus “desviou a minha causa”. Os amigos de Jó acreditavam que ele merecia tudo o que acontecera com ele, e argumentavam que as negações de Jó eram uma afronta ao Senhor. Jó rejeitava totalmente essa interpretação. Confessar o pecado jamais cometido seria apartar a sua sin­ ceridade. Enquanto vivesse, Jó “se apegaria à sua justiça” (v. 6). Jó, então, afirmou eloquentemente Deus como Deus de justiça, o mesmo tema que seus ami­ gos tinham enfatizado repetidas vezes. Existe, no entanto, uma fascinante reviravolta aqui. Nos tempos do Antigo Testamento, alguém que acu­

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sava falsamente outra pessoa de um crime estaria sujeito à punição por aquele mesmo crime. Jó, o inocente, fora acusado de iniquidade por seus amigos. Como Deus é um Deus de justiça, Ele não imporia sobre os amigos a punição por ini-

DEVOCIONAL______ O Homem, um Verme

(Jó 25— 27) Há algo terrivelmente errado quando uma adoles­ cente grávida diz: “Eu não presto. Eu não valho nada. Eu não presto mesmo”. Há algo errado quando o viciado em drogas treme e balbucia: “Eu não sou nada, cara. Nada”. Ainda existe algo errado quando abrimos os nossos hinários e entoamos as palavras familiares: “Oh, cabeça sagrada, agora ferida... Ele permitiu que aquela cabeça sagrada fosse ferida por causa de um verme como eu”. Sim, eu sei. Somos pecadores, todos nós. Como Paulo escreveu aos romanos: “Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm 7.18). Mas essa doutrina é muito diferente da popular “teologia do verme”, que diz que, por ser o homem pecador, Deus náo se importa verdadeira­ mente com o que acontece conosco. A teologia do verme insiste em que nada que uma pessoa possa fazer poderá agradar a Deus, ou dar alguma contri­ buição à sua glória. A teologia do verme, exempli­ ficada por Elifaz e Bildade, procura exaltar a Deus, menosprezando o homem. O que há de errado com a teologia do verme? Exa­ tamente isso. Deus criou o homem à sua própria imagem, de modo que cada ser humano tem valor e importância aos seus olhos. Porque somos impor­ tantes para Deus, nós, seres humanos, somos in­ trinsecamente importantes! Considerar o homem como um verme é negar a revelação das Escrituras de que o homem é a coroa da criação. E ainda mais, descartar o homem, como a um ver­ me, é trivializar a morte de Cristo. Jesus morreu para salvar seres humanos e transformar a nossa raça. Se não fôssemos vitalmente importantes aos olhos de Deus, Ele não teria entregado o seu Filho por nós. Jó não aceitava a teologia do verme. Sem entender por que, Jó sabia que era importante que conser­ vasse a sua integridade. Não saberia sobre a disputa no céu, ou que a sua posição fazia uma contribui­ ção à glória de Deus. Mas Jó sabia que era impor­ tante — tão importante que o tratamento injusto era errado, e que negar a si mesmo seria tão errado quanto negar ao próprio Deus.

quidade que eles supuseram que era o que cabia a Jó? Deus não deixa sem culpa a pessoa que acusa al­ guma outra falsamente, ainda que os seus motivos sejam os melhores. Hoje você e eu precisamos perceber que somos verdadeiramente importantes para o Senhor. Ele nos criou. Cristo morreu por nós. A maneira como vivemos trará glória a Deus, ou fará com que os outros o desprezem. Sim, somos pecadores. Mas, pecadores ou não, somos seres humanos, e cada membro da nossa raça tem importância aos olhos do nosso Deus. Aplicação Pessoal Não permita que um senso do pecado destrua a sua percepção de que você é verdadeiramente impor­ tante para Deus. Citação Importante “A nossa condição é muito nobre -— somos tão amados pelo Deus Altíssimo, que Ele se dispôs a morrer por nós, algo que Ele não poderia ter feito se o homem não fosse uma criatura muito nobre e de grande valor.” — Angela de Foligno 14 DE ABRIL LEITURA 104 A INOCÊNCIA DE JÓ Jó 28—37

“Não vê ele os meus caminhos e não conta todos os meus passos?“ (Jó 31.4) A poderosa defesa de Jó exibe uma religiosidade prática que pode ser como um guia para a santida­ de para você e para mim. E Eliú nos lembra de que o sofrimento pode ser uma dádiva. Contexto A contribuição de Eliú. Jó e seus amigos tinham chegado a um impasse. Eles acreditavam que Deus punia os ímpios. Acreditavam que os tormentos de Jó normalmente são reservados aos ímpios. Os três amigos concluíram que Jó tinha pecado. Jó, que tinha consciência de ter vivido uma vida de­ vota, acreditava que Deus o estava fazendo sofrer injustamente. Eliú rompeu o impasse, mostrando que Deus pode usar o sofrimento para castigar ou instruir. Não era necessário que os amigos de Jó o condenassem sem evidências, nem que Jó, em de­ sespero, concluísse que Deus é injusto!

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Eliú demonstrou que Deus pode ter outros pro­ pósitos, além da punição, ao permitir tragédias humanas. Jó ainda sofria. Mas não mais tinha que sentir que Deus estava contra ele. Como é importante, quando passamos por sofri­ mentos, sentir que Deus está próximo, definitiva­ mente ao nosso lado.

emprego, ou uma enfermidade séria. As esperanças são destruídas, e a nossa noção sobre o que o futuro trará se deturpa em incerteza. Em tais ocasiões, é necessário sentir a presença e o apoio de Deus. Não é de admirar que Jó sofresse angústia. Para ele, que sentia estar sendo punido, Deus tinha repentina­ mente se tornado distante e injusto. Podemos suportar o sofrimento se formos susten­ Visão Geral tados por uma reconfortante percepção da presen­ O autor inseriu o seu próprio comentário sobre a ça de Deus e do seu amor. Sem isso, o sofrimento sabedoria (28.1-28) antes de narrar a poderosa de­ é intolerável. claração de Jó sobre a sua inocência (29.1— 31.29). A seguir, um jovem ouvinte, Eliú, falou (32.1-22). “Mas agora se riem de mim” (Jó 30.1-31). Jó não Tanto Jó (33.1-33) como seus amigos (34.1-37) se encontrava sofrendo somente agora, quando via estavam errados a respeito de Deus. O Senhor é, que a atitude de todos, com relação a ele, tinha se ao mesmo tempo, justo e atencioso, e pode usar o modificado. Os homens zombavam dele, em lugar sofrimento de maneira redentora além de punitiva de honrá-lo (w. 1-15). Deus o afligia, em lugar de (35.1— 36.15). Motivado pelo pensamento de que abençoá-lo (w. 16-23). E ninguém o ajudou ou Deus se preocupa o suficiente para livrar os indiví­ consolou quando o seu “íntimo se agita sem cessar” duos “das garras da aflição”. Eliú concluiu com um (w. 24-31). péon de louvor a Deus, que “a ninguém oprime” Frequentemente as pessoas que estão no hospital (36.16— 37.24). sentem a modificação da sua situação tão atenta­ mente, como Jó sentia. Um médico, amigo meu, Entendendo o Texto passou por uma cirurgia e por um extenso trata­ “Onde se achará a sabedoria?” (Jó 28.1-28). Muitos mento contra o câncer. Ele me disse o quanto foi comentaristas acreditam que esse poema, em lou­ terrível para ele deixar de ser tratado com a reve­ vor da sabedoria, foi escrito pelo autor, e não foi rência a que os médicos estão acostumados, para pronunciado por Jó. Se for assim, ele reflete sobre que lhe dissessem quando comer, quando dormir, a futilidade da discussão anterior de Jó com seus quando virar-se para outra injeção — tudo dito em amigos. Os seres humanos podem extrair metais uma voz que se usa com crianças. preciosos da terra, mas somente Deus tem acesso à Como nós podemos suportar tais ataques à nossa sabedoria (cf. v. 23). individualidade? Somente com o apoio amoroso de Arqueólogos demonstraram que muitas técnicas de outras pessoas, e com a certeza que resulta de saber mineração, utilizando hastes horizontais e verticais, que Deus ainda nos ama e nos valoriza. foram usadas milhares de anos antes de Cristo. O homem é capaz de encontrar tesouros escondidos “Se andei com vaidade” (Jó 31.1-40). Esse capítulo na terra, mas a sabedoria, que pertence ao campo contém uma “confissão negativa”. Cada declaração espiritual, está além do alcance dos seres humanos. de “se” explica o que Jó não fez. Examinando-as, Mas Deus revelou um caminho para a sabedoria, obtemos uma visão clara de uma vida virtuosa, que é simples e claro: “O temor do Senhor é a sabe­ como a vivida por um santo do Antigo Testamen­ doria, e apartar-se do mal é a inteligência”. to. Como Jó, você e eu podemos não conhecer os pro­ Estudando essa passagem, você e eu podemos pósitos que Deus tem nas coisas que nos aconte­ aprender como “nos apartarmos do mal”, que Jó cem. Mas nós também, como Jó, podemos esco­ 28.28 diz ser a verdadeira e piedosa sabedoria. lher honrar ao Senhor e viver de um modo justo. Se o fizermos, seremos sábios, além de bons. “Eliú, porém, esperou para falar” (Jó 32.1 — 33.7). Nos tempos do Antigo Testamento, as pessoas "Eu... habitava como rei entre as suas tropas” (Jó mais velhas eram consideradas com respeito. Na­ 29.1-25). Jó recordou como era a sua vida, antes quela cultura, se esperava que anos de experiên­ que estas coisas lhe acontecessem. Ele era honrado, cia tornassem sábia uma pessoa. Por respeito aos rico, tratado com o máximo respeito. Jó esperava seus anciãos, Eliú, um jovem observador, tinha plenamente que a vida continuasse dessa maneira, ficado em silêncio até agora. Mas ele foi ficando até que finalmente morresse de velhice. cada vez mais agitado, à medida que via falhas Este é um dos mais inquietantes aspectos de qual­ nas posições adotadas tanto por Jó quanto por quer tragédia — uma morte na família, a perda do seus amigos.

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Eliú foi criticado por comentaristas, por ser prolixo e redundante. No entanto, como Eliú ressaltou, às vezes as pessoas mais jovens, que não estão acos­ tumadas a organizar os seus pensamentos tão bem como outras pessoas, recebem o discernimento do Espírito de Deus (33.1-4). Eliú nos lembra de que Deus pode falar conosco por intermédio de outras pessoas — até mesmo nossos filhos! Não devemos julgar a validade do que uma pessoa diz pela sua idade, raça ou instrução.

“Falaste” (Jó 33.8 — 36.26). Diferentemente dos amigos de Jó, Eliú não concluiu que Jó tivesse pe­ cado. Eliú afirmou que Jó estava errado, falando de Deus como tinha falado, quando estava se de­ fendendo, e com frequência citou as palavras de Jó (cf. 32.12; 33.1, 31; 34.5-7, 35— 36; 35.16). Jó tinha se concentrado na justiça de Deus. Ao fazer isso, tinha negligenciado o amor e a compaixão de Deus. Jó tinha que tentar ver o seu sofrimento no contexto do amor, e não da justiça. Na visão do amor de Deus, o sofrimento deve ser considerado como algo que traz o bem, talvez

DEVOCIONAL______

Ilumina-me (Jó 33) Mais norte-americanos morreram na Guerra Ci­ vil do que em todas as outras guerras nas quais os Estados Unidos se envolveram. Famílias perderam maridos, pais, filhos. Aproximadamente 28% dos homens do Sul pereceram, e no final da guerra muitas mulheres e crianças estavam literalmente morrendo de fome. Aqueles anos, 1861-1865, fo­ ram marcados por intenso sofrimento por todas as partes dos Estados Unidos. Mas durante a guerra, o Sul, e particularmente o seu exército, foi varrido por uma renovação, quan­ do muitos milhares vieram a conhecer a Cristo. Neste cenário de sofrimento e de reavivamento es­ piritual, uma carta encontrada junto ao corpo de um soldado aliado nos mostra como, nos tempos mais sombrios, a luz de Deus nos ilumina. Pedi forças para que pudesse ter realizações. Então Ele me fez fraco, para que eu pudesse obedecer. Pedi saúde para que pudesse fazer grandes coisas. Então recebi graça, para que pudesse fazer coisas melhores. Pedi riquezas para que pudesse ser feliz. Recebi a pobreza para que pudesse ser sábio. Pedi poder para que pudesse ter o louvor dos homens.

conduzindo o ímpio ao arrependimento e à bên­ ção (36.5-15). Sem fazer nenhum juízo a respeito do motivo por que Deus tinha permitido que Jó sofresse, Eliú sugeriu que o propósito de Deus era misericordioso e redentor. Precisamos adotar a perspectiva de Eliú quando sofremos. Também precisamos filtrar a nossa dor através de uma visão de Deus como alguém amo­ roso, e não como o juiz.

“Quem pode entender?” (Jó 36.27 —37.24). Eliú é levado a concluir louvando o poder e a sabedoria de Deus. Como Deus é grande! Como a sua sa­ bedoria ultrapassa qualquer coisa a que os meros homens possam aspirar! Nenhum ser humano pode esperar compreen­ der os propósitos de Deus, pois tanto Ele como os seus propósitos estão além do nosso alcance. Só podemos nos lembrar de que “Ele a ninguém oprime”. Se o sofrimento vier, devemos nos entre­ gar a Deus, lembrando-nos de que Ele está verda­ deiramente preocupado com todos aqueles que o conhecem e o buscam. Recebi fraqueza, para que pudesse sentir a necessi­ dade que tenho de Deus. Pedi todas as coisas que pudessem me levar a des­ frutar a vida. Recebi vida para que pudesse desfrutar todas as coisas. Não recebi nada do que pedi. Porém recebi tudo o que eu esperava. Sim, a minha oração foi atendida. Aplicação Pessoal Extraia a prata das boas dádivas de Deus, que está contida no minério bruto do seu sofrimento. Citação Importante “Deus sussurra para nós quando estamos em meio aos nossos prazeres. Ele fala à nossa consciência. Porém Ele grita quando estamos em meio às nossas dores: esse é o megafone que Ele usa para despertar um mundo surdo.” — C. S. Lewis 15 DE ABRIL LEITURA 105 BÊNÇÃOS RESTAURADAS Jó 38— 42

“E, assim, abençoou o Senhor o último estado de Jó, mais do que oprimeiro" (Jó 42.12).

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O Novo Testamento nos convida a considerar a ex­ nha levado uma vida honesta. Mas estava errado periência de Jó, e perceber que “o Senhor é muito quando pensou que Deus era injusto. O arrependimento não é algo negativo na Bíblia, misericordioso e piedoso” (Tg 5.11). embora as pessoas tenham a tendência de considerá-lo vergonhoso. Arrepender-se é mudar de ideia Visão Geral Deus desafiou Jó a considerar a sua sabedoria ou direção. Agora, Jó admitia que estivera errado a (38.1— 39.30) e o seu poder (40.1— 41.34). Jó se respeito de Deus. arrependeu (42.1-6). Deus restaurou e multiplicou Deus não se aborrece quando estamos errados a res­ peito dEle. E por isso que Ele é tão cuidadoso em nos as bênçãos de Jó (w. 7-16). instruir, de modo que possamos conhecê-lo melhor. Entendendo o Texto Pelo sofrimento, Jó tinha obtido, não uma resposta “Sobre que estãofundadas as suas basesí” (Jó 38.1 — a um “por que?”, mas um melhor entendimento a 39.30). Deus desafiou Jó a considerar a sua sa­ sobre Deus. Quem pode dizer que conhecer melhor bedoria, e perceber o quanto o entendimento do a Deus não vale todo o sofrimento que Jó enfrentou homem é limitado. A primeira vista, o tema de — ou que você e eu podemos ter que suportar? Deus parece ser a sua soberania sobre a natureza. Ele é Criador (38.4-15). Ele governa o universo “Como o meu servo Jó” (Jó 42.7-9). Jó foi elogiado inanimado (w. 16-38). Ele também governa o por Deus, por dizer “o que era reto”. Como era universo animado (38.39— 39.30). Na passagem, possível isso, quando Jó tinha demonstrado estar Deus levantou questões sobre o universo que errado e se arrependeu? confundem até mesmo a ciência moderna. Qual A resposta é encontrada na determinação de Jó é a fundação da matéria, do espaço e do tempo? em encarar a realidade. Os amigos de Jó pareciam (38.6) Qual é o padrão do clima da terra? (w. piedosos, mas não confiavam o suficiente em Deus 22-30) Como são colocados os instintos nos seres para examinar honestamente as evidências de que vivos? (39.1-18) Essas perguntas, e uma miríade Ele não pune todos os ímpios aqui e agora. Eles de outras, não podem ser respondidas por seres não tinham dito de Deus “o que era reto”, e foram perdoados somente pela intercessão das orações de humanos. Precisamos perceber os limites do nosso entendi­ Jó. Jó confiou suficientemente em Deus para ser mento e apreciar a sabedoria de Deus. E inútil le­ honesto com os fatos conforme os conhecia, ainda vantar questões do tipo “por que?” quando chega que esses fatos parecessem lançar dúvidas sobre a o sofrimento. Devemos nos lembrar de que Deus justiça de Deus. sabe o que está fazendo, e depositar nEle a nossa Não precisamos ter medo de lutar com as questões confiança. difíceis da vida, nem da Bíblia. Deus tem respostas quer saibamos ou não quais são elas. “Farás tu vão o meu juízo?” (Jó 40.6 — 41.34). O monólogo seguinte de Deus é mais do que uma “Sete filhos e três filhas” (Jó 42.10-17). Deus aben­ afirmação do seu puro poder. No mundo anti­ çoou Jó durante os muitos anos adicionais de vida go, tanto “beemote” como “leviatã” representa­ que lhe concedera. Cada símbolo da bênção men­ vam forças do mal no mundo. Jó foi desafiado a cionada aqui é duplicado — exceto o número de “atentar para todo soberbo, e abatê-lo” (40.5-14). seus filhos. Dez tinham morrido, e ele recebeu ou­ Ele não podia lidar com seres humanos ímpios! tros dez. Mas Deus controla as forças do mal representadas Por quê? Porque os dez primeiros filhos de Jó não pelos dois animais (40.15-24; 41.1-34). Em um se perderam, mas estariam com ele na eternidade. poderoso simbolismo, Deus afirmou que Ele é o Juntamente com versículos como 19.26, “depois governante moral do universo. Ele pode punir os de consumida a minha pele, ainda em minha carne ímpios, e o faz. verei a Deus”, isso claramente indica uma crença antiga na ressurreição. “Eu me abomino e me arrependo no pó e na cinza” E também nos lembra de que as bênçãos que Jó (Jó 42.1-6). Antes dessa revelação da sabedoria de recebeu são símbolos das bênçãos que certamente Deus e seu governo da ordem moral, Jó não podia desfrutaremos, algumas aqui, porém outras somen­ fazer nada, exceto arrepender-se. E verdade, ele ti­ te quando estivermos com Cristo.

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Jó 38— 42

DEVOCIONAL_________ Não uma Resposta, mas um Amigo (Jó 42) Quando Deus finalmente falou com Jó, Ele não explicou por que tinha permitido que ele sofresse. Isso confundiu a muitos, pois o livro parece não apresentar resposta para as perguntas que suscita. Por que os inocentes sofrem? Por que a tragédia atinge o homem bom? Aqui não existe resposta. Mas talvez seja essa a questão. O livro de Jó re­ trata um Deus que é sábio, e que está muito além da nossa compreensão; um Deus que pode julgar a iniquidade, e o faz. O livro também retrata um Deus que permitiu que Satanás atormentasse Jó, e que, depois da derrota de Satanás, permitiu que o sofrimento de Jó prosseguisse. Ele enfatiza o fato de que Jó era um homem sincero e reto. Como tudo isso se encaixa? À medida que lemos as palavras de Jó, percebemos que ele era um homem atormentado. Não somen­ te era atormentado por suas perdas e pela sua dor, mas por uma incerteza interior, que se mostrava persistente. Nós já vemos isso nas suas primeiras palavras, quando disse: “O que eu temia me veio, e o que receava me aconteceu” (3.25). Apesar do seu comprometimento pessoal com o Senhor, Jó estava incerto quanto à atitude de Deus com rela­ ção a ele. Quando Jó pensava sobre Deus, era com profunda apreciação e respeito, mas também com um sentimento de medo. No final do livro, Jó tinha sofrido muito mais do que poderia ter imaginado ou temido. Mas ele também encontrara a Deus. Ele tinha sido repreendido, mas também elogiado. Jó tinha ou­ vido inclusive que as suas orações por seus três amigos seriam aceitas. De repente, percebeu algo que jamais tinha aceitado antes. Deus estava do seu lado. Deus tinha observado as suas ações, e

as tinha aprovado. Mesmo quando a sua dor era mais extrema, as suas dúvidas quase insuportá­ veis, e as suas palavras eram as mais tolas, Deus se preocupou. Através dessa experiência de sofri­ mento, Jó tinha, por fim, sabido que Deus era seu amigo. A certeza de que, apesar do nosso sofrimento, Deus é nosso amigo, é talvez a verdadeira men­ sagem do livro de Jó. O cristianismo pode não oferecer nenhum a resposta intelectual satisfató­ ria para o mistério do sofrimento do inocente. Mas, por intermédio de Cristo, Deus nos oferece a certeza de que Ele é nosso amigo. Certos disso, podemos enfrentar a nossa dor, e ser vitoriosos. Aplicação Pessoal Quando o sofrimento vier, agarre-se à verdade de que Deus é seu amigo. Citação Importante “Em todas as épocas da história, quando a funda­ ção da existência é abalada, quando chega o mo­ mento das temerosas expectativas pelo que possa acontecer, quando toda explicação silencia diante do grande alvoroço, quando o coração do homem geme em desespero, e na amargura da alma ele cla­ ma ao céu... então Jó ainda corre em paralelo com a nossa corrida, e assegura que existe uma vitória. Ele assegura que, mesmo que o indivíduo saia per­ dendo na luta, ainda existe Deus, que fará com que o resultado seja tal que possamos ser capazes de su­ portar as adversidades; sim, haverá um resultado mais glorioso do que qualquer expectativa huma­ na.” — Sõren Kierkegaard

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em TIAGO

SALMOS INTRODUÇÃO O livro de Salmos é uma coletânea de 150 poemas religiosos que enriquecem a vida espiritual do povo de Deus. Eles falam de cada experiência humana e de cada aspecto do relacionamento pessoal do crente com Deus. Com imagens poderosas, nos guiam hoje em dia a adorar, louvar, confiar e esperar no Senhor. A poesia hebraica não depende de rima nem ritmo para seu vigor, mas apenas do paralelismo, da cor­ respondência ou repetição de pensamentos. Assim, cada linha irá refletir, contrastar ou reforçar a ideia introduzida em outra, de modo que a ideia original seja enriquecida. Somente esse tipo de poesia pode ser traduzido para todas as línguas sem perda de vigor ou beleza. Muitos termos técnicos são encontrados nas introduções aos salmos individuais. Tais termos refletem o uso dos salmos na adoração pública em Israel, e, aparentemente, indicam acompanhamento musical, o tipo de salmo ou ocasião em que seria usado, etc. Os Salmos estão organizados em cinco “livros”. Cada livro foi adicionado à coletânea oficial em uma data diferente. Vários tipos de salmos — de louvor, adoração, confissão, imprecação, esperança messiânica, etc. — são encontrados em cada livro, em uma ordem aparentemente randômica. Inscrições identificam alguns autores dos salmos, incluindo Davi (73), os filhos de Corá (12), Asafe (12) e outros. Como nenhum outro livro das Escrituras, o livro de Salmos nos orienta a concentrarmos os nossos pen­ samentos no Senhor, e enriquecermos tanto a nossa adoração privada como a pública. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Livro I ..................................................................................................................................................... SI 1— 41 II. Livro I I ................................................................................................................................................SI 42— 72 III. Livro III ............................................................................................................................................SI 73— 89 IV Livro I V ...........................................................................................................................................SI 90— 106 V Livro V ...........................................................................................................................................SI 107— 150 GUIA D E LEITURA (21 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 106 107 108 109 110 111 112 113

Capítulos 1— 5 6— 12 13— 19 20— 26 27— 33 34— 41 42— 49 50— 56

Passagem L 5 10 15 25 32 37 49 51

Comentário Devocional da Bíblia

114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126

57— 63 64— 72 73— 78 79— 84 85— 89 90— 98 99— 106 107— 112 113— 118 119 120— 134 135— 141 142— 150

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SALMOS 16 DE ABRIL LEITURA 106

A GRANDE MISERICÓRDIA DE DEUS Salmos 1— 5

“Mas eu entrarei em tua casa pela grandeza da tua “cômicos” da televisão que nossa filha Sarah, de benignidade; e em teu temor me inclinarei para o teu nove anos, deseja assistir, entre 19 e 20 horas. As insinuações e as declarações frequentemente ex­ santo templo” (Sl5.7). plícitas negam, claramente, a moralidade bíbli­ A grande misericórdia de Deus está reservada para ca, e nós tivemos que proibir tais programas. A aqueles que têm o seu prazer na lei do Senhor e se progressão de andar, a deter-se, a assentar-se, nos lembra de que é perigoso dar até mesmo aque­ recusam a andar no caminho dos pecadores. le primeiro passo que nos desvie do pensamento moral devoto. Visão Geral Existem dois caminhos morais, e cada um deles conduz a um destino específico (Sl 1). Resistir ao “Ele medita” (Sl 1.2). Observe, novamente, a im­ Messias, o Filho de Deus, é inútil, pois Ele está des­ portância da nossa vida mental. Se enchermos tinado a governar a terra (Sl 2). Davi encontrou nossas mentes com a lei de Deus, e tivermos pra­ paz quando fugia de seu filho rebelde, Absalão, zer nela, prosperaremos moral e espiritualmente. lembrando-se de Deus (Sl 3— 4). Davi estava con­ Hoje em dia nós dizemos, a respeito dos compu­ fiante de que o seu Deus misericordioso o abenço­ tadores: “Entra lixo, sai lixo”. H á muito tempo, aria, embora tivesse que esperar que as suas orações Deus disse isso a cerca da mente humana. Se você e eu quisermos prosperar espiritualmente, deve­ fossem atendidas (Sl 5). mos vigiar os nossos pensamentos, guardar a nos­ sa mente, e rejeitar “o conselho dos ímpios”. Entendendo o Texto Salmo 1: “Dois caminhos morais”. Existem so­ mente dois caminhos morais que um ser huma­ “O caminho dos ímpios perecerá” (Sl 1.6). Nesta no pode tomar. Esse salmo descreve vividamen- vida, o caminho dos ímpios e o dos santos co-existem, lado a lado, competindo pela nossa fidelida­ te cada um deles. de. No final, os dois caminhos se separam — para “A nda... se detém... se assenta” (Sl 1.1). A confor­ sempre. midade com a moralidade do mundo tem três es­ Devemos escolher um dos dois, e auxiliar a escolha de tágios. Andar “segundo o conselho dos ímpios” nossos filhos, pois não existe um terceiro caminho. significa ouvir aos seus pontos de vista. Deter-se Salmo 2: “A Lei do Messias”. O salmista ridicu­ “no caminho dos pecadores” significa agir como larizou aqueles que resistem ao Senhor e ao seu agem os ímpios. Assentar-se “na roda dos escarneUngido (2.1-6). O Ungido fala, anunciando a cedores” significa adotar as suas atitudes endure­ sua comissão de Deus, e o seu relacionamento cidas e imorais. com Ele (w. 7-9). O salmo é concluído com M inha esposa e eu ficamos chocados esta sema­ uma mensagem de graça, convidando a uma na quando examinamos alguns dos programas

Salmos 1— 5

submissão que trará bênçãos (w. 10-12). O Sal­ “Não há salvação para ele em Deus” (Sl 3.1,2). Mui­ mo 2 é com frequência citado no Novo Testa­ tos que se rebelaram contra Davi pareciam sentir mento (cf. M t 3.17; 17.5; At 4.25-28; 13.33; que Deus os tinha abandonado. 2 Samuel nos diz Hb 1.5; 2 Pe 1.17; Ap 19.15). que Simei acusou o rei fugitivo de ser “homem de sangue” (16.7). Muito provavelmente, o próprio “Uma vara de ferro” (Sl 2.9). A vara de ferro sim­ Davi, lembrando-se de seu pecado com Bate-Seba boliza a autoridade completa. O Messias de Deus, e outros pecados anteriores, se perguntava se Deus Jesus, fará cumprir a vontade de Deus, apesar da estava com ele, quando a rebelião irrompeu. resistência humana. É sempre difícil ouvir acusações. Quando elas são feitas por aqueles que foram nossos amigos, ou deixai-vos instruir” (Sl 2.10-12). pelas nossas próprias consciências, são particular­ Podemos decidir livremente servir ao Senhor, e mente dolorosas. Acrescente-se a isso a situação encontrar a bênção. O u resistir até o fim, e ser em que tudo parece dar errado, e todos poderiam destruídos quando a sua ira se inflamar. perguntar a si mesmos se Deus ainda estava com Jesus Cristo é o Senhor. Cada ser humano deve Davi, ou não. fazer uma escolha posicionando-se ao lado dEle, Tal experiência causa estresse, nos rouba o sono, ou posicionando-se contra Ele. e com frequência nos deixa tão ansiosos que aca­ bamos nos tornando ineficazes. Cada um de nós Salmos 3— 4: “Salmos em Fuga”. Cada um des­ precisa do que Davi encontrou na sua situação — ses salmos reflete os pensamentos e sentimentos uma maneira de aliviar o estresse e restaurar a paz de Davi, quando fugia de Jerusalém, por ocasião interior. da rebelião de Absalão (veja 2 Sm 15— 18). A imagem é poderosa, Davi refletia sobre o seu re­ “Tu, Senhor, és” (Sl 3.3,4). O que Davi fez foi lacionamento com Deus, e encontrou uma paz concentrar seus pensamentos em Deus, e lembrar que o capacitou a dormir, a despeito do perigo quem é Deus. Davi conhecia Deus como um escu­ iminente. do (“protetor”), como a sua glória (“maior valor”), como aquele que exaltava a sua cabeça (“fonte de força”). Lembrando quem Deus provou ser na sua vida, Davi orou a Deus com confiança. Quando considerarmos quem é Deus, e tudo o que fez por nós, também encontraremos a liberdade de ir até Deus em oração. Quando clamamos a Deus, tiramos o peso dos nossos ombros, e o colocamos nos seus. “Eu me deitei e dormi” (Sl 3.5-8). Davi encontrou paz através da oração. Ele transferiu a sua carga a Deus e, certo de que o Senhor o sustentaria, con­ seguiu descansar. A oração, dirigida em confiança a um Deus que sabemos que nos ama, é o segredo da paz, para você e para mim. Esse tipo de oração nos tira a tensão, e nos liberta do medo, mesmo quando milhares de inimigos parecem estar à nossa volta.

Guerreiros antigos protegiam seus corpos com escudos feitos de camadas de peles endurecidas, geralmente guar­ necidas com metal. Davi se lembrou de quantas vezes Deus o tinha protegido do perigo. Embora ele estivesse fugindo para salvar a sua vida, a imagem de Deus como um escudo (Sl 3.3) trouxe paz interior e possibilitou que o rei ameaçado descansasse.

“Sabei, pois, que o Senhor separou para si aquele que lhe é querido” (Sl 4.1-3). A palavra Selá no fim do Salmo quer dizer “pausa antes de continuar”. Aqui, ela parece unir os Salmos 3 e 4, levando muitos comentaristas a crer que os dois salmos tratam da fuga de Davi, de Absalão. Os inimigos de Davi julgaram mal, tanto Davi quanto Deus. Apesar de suas falhas, Davi era ho­ nesto na sua devoção a Deus. E Deus tinha uma importante consideração por ele. Quando temos

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Salmos 1— 5

esse tipo de relacionamento com Deus, podemos olhar com benevolência, com a intenção de fazer ter a mesma confiança de Davi de que “o Senhor o bem. Assim, Davi encontrou o seu bem e a sua alegria em ouvirá quando eu clamar a Ele”. Deus, não na abundância terrena de “trigo e vinho”. “Quem nos mostrará o bem?”(Sl4.4-8). O derrotista Como é mais sábio o caminho de Davi, de procu­ olha para os problemas à sua volta, e se desespera. rar paz e alegria no Senhor. A nossa sorte na terra Davi, no entanto, olhou para o alto, e encontrou pode mudar radicalmente, como mostra a fuga de uma fonte de alegria no conhecimento de que o Davi de Jerusalém. Mas Deus não muda. Se nós rosto de Deus se voltava para ele. A imagem do encontrarmos a nossa alegria no Senhor, esta ale­ rosto de Deus “exaltando” uma pessoa significa um gria estará conosco para sempre.

DEVOCIONAL______

Esperar (Sl 5) Lembro-me de um verão, quando eu era criança — como era difícil esperar pelas nossas férias de verão. No dia seguinte nós iríamos a Cedar Lake, para ficar na cabana do tio Duane. Enquanto esta­ va no terraço, esperando, tinha a certeza de que o amanhã jamais chegaria, que nunca iríamos entrar no carro, jamais percorreríamos a estrada atrás do lago, e nunca iríamos correr até a margem. Quando ficamos mais velhos, esperar pode ser ainda mais difícil. Normalmente, as coisas pelas quais esperamos são muito importantes. Esperar um emprego. Esperar a cura de uma doença. Es­ perar uma resposta para uma pergunta que pode mudar a vida. Esse salmo de Davi nos lembra de que ele também estava acostumado a esperar. Esperou que Saul morresse, para que pudesse se tornar rei. Mesmo depois disso, esperou muitos anos para ser reco­ nhecido por todo Israel. Como Davi lidava com a espera, e ainda continuava confiante e esperançoso? Este salmo diz — e mostra — a você e a mim como aguardar com confiança e esperança expectante. Em primeiro lugar, Davi expressou a Deus as suas emoções, e também os seus pedidos (w. 1-3). Ele era persistente em “todas as manhãs”, expressando os seus desejos e as suas necessidades. Em segundo lugar, Davi lembrou-se do caráter de Deus (w. 4-8). Deus não se deleita no mal, e destrói os ímpios. Mas Davi, pela graça de Deus, não estava contado entre os ímpios. Pela graça de Deus, ele era uma pessoa que adorava ao Senhor, e que seguia a orientação de Deus. Em terceiro lugar, Davi esperou que Deus agisse em conformidade com o seu caráter (w. 9-12). Os ímpios serão declarados culpados. Mas Deus agirá para proteger àqueles que o amam. “Pois tu, Senhor, abençoarás ao justo” é uma afirma­ ção de fé. Embora tivesse que esperar, Davi sabia — por causa de quem é Deus — que a bênção certamente viria.

Que motivo de esperança para nós, enquanto es­ peramos. Esperamos o melhor, por causa de quem Deus é. O próprio Deus e o seu caráter são os ali­ cerces da nossa esperança. Aplicação Pessoal Quando esperar for o mais difícil, medite sobre o caráter de Deus, e readquira a confiança. Citação Im portante A minha vida está entretecida com a vida do meu Senhor, E eu não posso escolher as cores com que Ele tra­ balha firmemente. Às vezes, Ele tece tristeza, e eu, em tolo orgulho, Esqueço-me de que Ele vê o lado de cima, e eu, o de baixo. Os fios escuros são tão necessários, na mão habili­ dosa do tecelão, Quanto os fios prateados e dourados no desenho que Ele planejou. Até que o tear esteja silencioso, e a lançadeira deixe de se mover, Deus não abrirá o trabalho, e não explicará os mo­ tivos. — Autor desconhecido. 17 DE ABRIL LEITURA 107 REFUGIANDO-SE Salmos 6-— 12 “Senhor; Deus meu, em ti me refugio; salva-me de to­ dos os que me perseguem e livra-me” (Sl 7.1, ARA). Quando nos damos conta de nossa fraqueza, cor­ remos em busca de refúgio em um Deus majestoso que age em favor daqueles que o amam. Visão Geral Davi, profundamente ciente das suas fraquezas, se refugiou em Deus (Sl 6,7). A obra criativa de Deus (Sl 8) e o seu governo atual (Sl 9) dão confiança ao salmista. As vítimas podem encontrar refúgio em

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Salmos 6— 12

Deus, o rei (SI 10), que dispensa justiça a partir do dores, mas mais com frequência é reservada para o juízo final, que ocorrerá no final da história. seu trono celestial (SI 11). O pedido de Davi para que Deus se levante em ira e julgue é adequadamente motivado. Davi não Entendendo o Texto Salmo 6: “O Clamor do Abatido”. Em profun­ se alegrava com a perspectiva do sofrimento dos da aflição, Davi sentiu a sua própria fraqueza, e ímpios. O que ele desejava era colocar um fim à clamou a Deus, pedindo misericórdia. malícia dos ímpios, e estabelecer os justos. Também podemos pedir que Deus expresse a sua “Sou fraco” (Sl 6). Muitas expressões nos Salmos ira contra os pecados na nossa sociedade. E pode­ nos lembram de nossa fragilidade. Esse salmo de mos trabalhar para implementar leis justas, que Davi expressa vividamente as nossas fraquezas. visem não punir, mas por um fim à violência, e Davi, consciente de que não lhe sobravam mais proteger os justos. forças para enfrentar os desafios da vida, descreveu os seus sentimentos de fraqueza. Seus ossos esta­ Salmo 8: “O Brilho Majestoso de Deus”. Pode-se vam perturbados, a sua alma, perturbada. Ele esta­ vislumbrar o brilho de Deus na criação, mas ele é va cansado de gemer; inundava sua cama com seu mais claramente revelado na assombrosa decisão pranto, e molhava seu leito com suas lágrimas. Seus do Senhor de amar e cuidar da humanidade. olhos estavam consumidos pela mágoa. Essas expressões podem parecer estranhas, vindas “Que é o homem?” (Sl 8.3-5). Davi se impressiona­ de um homem que enfrentou corajosamente o gi­ va com a glória revelada na criação (w. 1-3). Mas gante Golias, e lutou destemidamente contra os o que o maravilhava era perceber que Deus tinha inimigos de Israel. Mas nos lembram de que não decidido “lembrar-se” da humanidade. A palavra existe nada efeminado nas lágrimas, e nada vergo­ significa demonstrar atenção misericordiosa. nhoso em sentir-se desamparado. E também nos O homem secular zomba da noção de que a ter­ lembram de que temos completa liberdade no nos­ ra seja algo mais do que um pequeno fragmento so relacionamento com Deus para expressar nossos em um exército modesto de uma galáxia com 100 sentimentos honestamente a Ele. milhões de estrelas, em um universo que se estima As palavras de Davi também nos ajudam a com­ ter 100 milhões de galáxias! Mas Davi identificou preender por que ele é elogiado como um homem a maior maravilha: Deus se curva e presta atenção segundo o próprio coração de Deus. Davi era to­ especial a este fragmento particular, pois é o lar da talmente honesto consigo mesmo, e com o Senhor. humanidade, e Deus decidiu fazer dos seres huma­ Ele era realista a respeito das suas fraquezas, e ho­ nos o foco da sua preocupação amorosa. nesto a respeito de seus temores. A desonestidade — um esforço para manter uma imagem máscula “Fazes com que ele tenha domínio” (Sl 8.6-8). E — nos impede de reconhecer nossas fraquezas. E honra e glória para o homem o fato de que Deus nos impede de depender totalmente do Senhor. nos deu “domínio sobre as obras das suas mãos”. Essa posição sugere a criação à imagem de Deus, Salmo 7: “Um Pedido de Juízo”. O governo so­ pois Ele é o supremo governante de todas as coisas. berano de Deus está parcialmente expresso nos E importante observar a distinção entre “domínio” seus juízos sobre a humanidade. Davi pediu que e “exploração”. Com excessiva frequência as pesso­ Deus julgasse (punisse) os ímpios e que prote­ as interpretam a autoridade como o direito de usar gesse os justos. as coisas ou outras pessoas para benefício próprio. Aqui, “domínio” é, na verdade, “responsabilidade “Se há perversidade” (Sl 7.3-5). Davi não tinha de cuidar” do que Deus criou. Como Deus exerce medo de pedir que Deus julgasse, pois ele mesmo um cuidado amoroso por nós, permitir que a hu­ tinha sido cuidadoso em fazer o que era certo. É manidade exerça um cuidado amoroso pela criação perigoso pedir que Deus julgue os outros, se nós é um presente maravilhoso. E o que Davi aqui cha­ formos culpados de seus pecados! ma de coroar “de glória e de honra”. “Levanta-te, Senhor, na tua ira”(Sl 7.6). As Escritu­ Salmo 9: “Em Louvor ao Reinado de Deus”. Deus ras ensinam sobre a ira de Deus. Mas a ira de Deus é conhecido pela sua justiça. O seu governo se re­ não é como a nossa. (1) Ela é provocada pelo peca­ velou no destino dos ímpios e inimigos de Davi. do e pela injustiça. (2) Ela é justa, porque nunca é exagerada nas suas reações, nem é vingativa. (3) Ela “Tu tens sustentado o meu direito e a minha causa” pode ser expressa em juízos atuais sobre os peca­ (Sl 9.1-6). Davi louvou a Deus, pois via a derrota

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Salmos 6— 12 sofrida por seus inimigos como evidência de que Deus está assentado no seu trono, “julgando justa­ mente”. Aqui Davi pode estar recordando as vitó­ rias militares obtidas sobre naçóes vizinhas, que o capacitaram a ampliar o território de Israel e a sua influência.

ímpios cairão nas covas que cavam para os outros, e que seus próprios pés serão pegos nas armadi­ lhas que esconderam. A Alemanha de Hitler é um exemplo disso. Ao tratar os outros com brutalida­ de, os nazistas se tornaram a causa da sua própria queda, e um exemplo vívido da justiça retributiva.

“Ele mesmo julgará... com justiça” (Sl 9.7-10). Davi celebrou o Senhor, pois sabia que Deus não somen­ te reina para sempre, mas que julgará “o mundo com justiça; julgará os povos com retidão”. O cristianismo não é, como se sugeriu, uma crença de “promessas vazias para o futuro”. E uma crença enraizada na convicção de que Deus governa, e cer­ tamente julgará. A convicção de que Deus governa capacita uma pessoa que está oprimida ou em difi­ culdades a encontrar refúgio e esperança agora. A confiança em Deus pode não vir a modificar as nos­ sas circunstâncias, mas nos modifica! O mero fato de que podemos sentir paz, apesar da perseguição, é a evidência mais convincente de que Deus é real.

Salmo 10: “O Salmo da Vítima”. Como Deus toma parte nos relacionamentos humanos, a ví­ tima pode se comprometer com o Senhor, como Rei. (Veja o DEVOCIONAL.) Salmo 11: “A Justiça Reconhecida”. O crente pode refugiar-se em Deus, porque Deus é justo e certamente punirá o ímpio.

“O Senhor é conhecido pelo juízo” (S19.16). Aqueles que não conhecem a Deus pela fé, o conhecerão mais tarde, pois Deus é, e será, conhecido pela sua justiça. A ordem moral do universo significa que os

DEVOCIONAL______ Salmo da Vítima (Sl 10)

O filósofo grego Platão afirmou que era melhor termos o mal feito a nós do que fazermos o mal. Poucos, hoje, concordariam com ele. Ser uma víti­ ma parece, de alguma maneira, vergonhoso, fraco. Mas no Salmo 10, o poeta explicou, muito melhor do que Platão poderia explicar, por que as vítimas são mais abençoadas do que os perseguidores. Se, em algum momento, você se sentir como vítima — maltratado por seu chefe, por um amigo, pela família, ou até mesmo “pelo sistema”, este é um sal­ mo ao qual você pode recorrer. Se você o fizer, não encontrará nenhuma recomendação para modifi­ car as circunstâncias. O que você encontrará é uma descrição do que acontece dentro do perpetrador, e dentro da vítima. O perpetrador (w. 1-11) é descrito com palavras como arrogância, orgulho e vanglória. O seu su­ cesso aparente alimenta essas atitudes, e a prospe­ ridade leva o perpetrador a supor que está a salvo. Outros são descartados como fracos, e Deus parece não tomar conhecimento, ou não se importar. Por outro lado, a vítima (w. 12-15) sente o seu desamparo. Isso a leva a comprometer-se com o

“O Senhor está no seu santo templo” (Sl 11.4). Essa frase não é um chamado à adoração, mas retrata Deus no lugar do juízo. O salmista identificou o “santo templo” com o “trono celestial” de Deus, e diz que dele o Senhor examina os filhos dos ho­ mens. Como Deus detesta a violência que os ímpios fa­ zem aos inocentes, podemos nos refugiar nEle. Ainda que as fundações da nossa sociedade pare­ çam vir por terra, podemos ter certeza de que “o seu rosto está voltado para os retos”.

Senhor. No seu sofrimento, ela não tem para onde se voltar, exceto a Deus. Deus, “Rei eterno” (w. 16-18) ouve os aflitos. O conceito hebraico de “ouvir” sugere não somente escutar, mas responder. Deus, como governante do universo, agirá para julgar o ímpio e defender o oprimido. Esse salmo da vítima reconhece o fato de que as injustiças podem existir, por algum tempo. Mas nos lembra de que as pessoas que nos perseguem o fazem com um orgulho e uma arrogância mortais, e certamente serão punidas. Por outro lado, sermos vitimados nos leva para mais perto do Senhor. Como é melhor ser uma vítima, que conhece a Deus, do que um perpetrador, que zomba dEle. Aplicação Pessoal Da próxima vez que você sofrer como vítima, agra­ deça a Deus por não ser o perpetrador. Citação Importante Três vezes abençoado é aquele que recebeu O instinto de poder dizer Que Deus está no campo, Quando Ele está mais invisível.

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Salmos 13— 19

Então, aprenda a zombar do louvor dos homens E aprenda a perder com Deus, Pois Jesus venceu o mundo através da vergonha E lhe chama para seguir o seu caminho. — F. W. Faber

ce a Deus se torna corrupta e realiza obras “abominá­ veis”. O Salmo nos lembra de que ninguém que feche seu coração para o Senhor “faz o bem”.

“Não terão conhecimento?” (Sl 14.4-7). Davi pareceu agitar a sua cabeça, em confuso assombro. Até mesmo nesta vida, os malfeitores vivem com um sentimento 18 D E ABRIL LEITURA 108 de terror. Em situação muito melhor, estão os pobres UM TESOURO DE DAVI a quem eles exploram, pois têm um refugio no Se­ Salmos 13— 19 nhor. Em breve, Deus agirá, e “mudará a sorte” do “Mas eu confio na tua benignidade; na tua salvação, seu povo. Jamais devemos invejar àqueles que nos exploram. Te­ meu coração se alegrará”(Sl 13.5). mos acesso a Deus, e seremos abençoados no final. Sete salmos escritos por Davi nos ajudam a sentir a vida íntima de oração, e louvar o que era a fundação Salmo 15: “Uma Vida Irrepreensível”. Somente da sua grandeza. a pessoa que vive uma vida justa tem comunhão com o Senhor. Visão Geral O crente confia em Deus (Sl 13), mas os ímpios du­ “Morará no teu santo monte” (Sl 15.1). Nos tempos vidam da sua existência (Sl 14). O comportamento do Antigo Testamento, a presença de Deus com Israel justo (Sl 15) e um coração dedicado (Sl 16,17) trazem era simbolizada pelo Templo. “Morar” naquele santo bênçãos, pois Deus, o Todo-poderoso, salva os seus monte retrata uma comunhão íntima com o Senhor. de seus inimigos (Sl 18). Deus declara a sua glória na “Aquele que anda em sinceridade”(Sl 15.2-6). Essa des­ criação e na sua Palavra (Sl 19). crição simples fornece uma boa lista de controle com Entendendo o Texto a qual devemos nos avaliar. E que promessa! “Quem Salmo 13: “Benefícios da Confiança”. O crente, faz isso nunca será abalado.” como outros, é vulnerável ao desespero — mas pode encontrar paz por meio da oração. Salmo 16: “Um Coração Voltado a Deus”. Esse bonito salmo olha além do comportamento “Tristeza no meu coração” (Sl 13.1-6). Davi conheceu para retratar a vida interior de um homem cujo momentos de tumulto e incerteza. A sensação de um coração está cheio da presença de Deus. desastre iminente o perturbava. Ele voltou-se a Deus e honestamente expressou seus “Tu és o meu Senhor” (Sl 16.1,2). Davi conhecia a sentimentos de uma condenação iminente (w. 3,4). Deus não somente como Senhor, mas como “meu” Então Davi se lembrou do “amor inesgotável” de Senhor. Fora deste relacionamento, nada do que ele Deus, e suas emoções se transformaram. O desespero tivesse era algum “bem” (benéfico). Davi, então, pros­ foi substituído pela alegria, e Davi se encontrou can­ seguiu, considerando aquelas boas coisas que eram tando ao Senhor (w. 5,6). suas, por intermédio do seu relacionamento pessoal Este salmo nos lembra que a alegria substitui o de­ com o Senhor. sespero por meio da oração. Podemos levar nossas emoções, assim como nossas necessidades, ao Senhor. “Os santos... na terra” (Sl 16.3,4). Um bem que rece­ Quando nos concentramos em quem é o Senhor, bemos é o relacionamento com outros que também nossas emoções são transformadas. conhecem a Deus como “meu” Senhor. A comunhão com outros crentes pode ser um deleite. Salmo 14: “Os Néscios e Deus”. Os malfeitores nunca percebem que o caminho que escolheram “O Senhor é a porção da minha herança” (Sl 16.5,6). os deixou fora do círculo do amor de Deus. O termo hebraico utilizado neste texto significa “dis­ tribuir de forma proporcional”, ou “lotear”. Isso nos “Os néscios” (Sl 14.1-3). A palavra hebraica nabal é lembra a conquista de Canaã, quando a terra foi divi­ um termo que descreve uma pessoa cujo coração está dida entre as tribos, por sorte. Como Deus controlava fechado para Deus, e cuja vida é caracterizada por fla­ a distribuição da sorte (como se estivesse controlando grante imoralidade (cf. Jz 19.23,24; 2 Sm 13.12; Js o resultado dos dados de nossos dias), cada família 7.15). Este poderoso Salmo reflete o ensinamento de sentia que a sua terra era recebida diretamente das Paulo, em Romanos 1. Uma pessoa que não reconhe­ mãos de Deus. Davi usou essa comparação para ex­

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Salmos 13— 19

de Deus é uma fonte de encorajamento para os crentes hoje em dia. Este longo e belo Salmo foca a nossa atenção naqueles atributos do nosso Deus, dos quais será vital que nos lembremos quando chegarem os problemas.

pressar a sua crença de que Deus, soberanamente, lhe deu a sua própria porção na vida. Cada um de nós pode ter esta alegria, pois Deus nos colocou onde estamos, e nos usará neste lugar.

“O Senhor que me aconselhou” (Sl 16.7,8). Cada um de nós pode sentir a orientação de Deus. Quando co­ locarmos “o Senhor continuamente diante de nós”, “Ficarei livre”(Sl 18.1 -6). A oração de Davi fora aten­ conservando nossos olhos nEle, sempre seguindo dida. Deus ouve e responde aos clamores por ajuda. para onde Ele nos manda, não “vacilaremos”. “A baixou os céus” (Sl 18.7-19). O nosso Deus que “A vereda da vida”(Sl 16.9-11). Tendo o Deus como responde às orações é o “Altíssimo”. Os seus atos nosso Senhor, temos segurança nesta vida, e pode­ passados, de intervenção no mundo, revelam seu mos olhar adiante, para uma eternidade de alegria impressionante poder. na presença de Deus. “Recompensou-me o Senhor” (Sl 18.20-29). Davi não Salmo 17: “A Menina dos Olhos de Deus”. Con­ falou com orgulho, mas com louvor. Deus recom­ fiante do grande amor de Deus, o crente escolhe pensa aqueles que procuram viver uma vida justa. a justiça e olha adiante com confiança. “Deus é o que me cinge deforça”(Sl 18.30-45). Deus é "Meu clamor”(Sl 17.1-5). Aqueles que decidem não uma fonte de constante força para aqueles que con­ pecar podem ter grande confiança em oração. fiam nEle, e Ele dá vitória aos justos. “Faze maravilhosas as tuas beneficências” (Sl 17.6-9). Nós oramos, porque confiamos que há um Deus que nos ama. A “menina dos olhos” é o discípulo. A imagem pode sugerir que os olhos de Deus estão constantemente sobre o crente, observando-o e cuidando dele. Ou pode sugerir que Deus protege o crente, que é tão precioso para Ele quanto a menina dos olhos, que possibilita a visão.

“O Senhor vive” (Sl 18.46-50). O Deus da história vive hoje, e nos salva dos nossos inimigos. Servimos ao Deus Todo-Poderoso, que responde às orações, e que intervém em nosso favor, quando estamos em necessidade.

“Parecem-se com o leão”(Sl 17.10-14). Se Davi olhas­ se à sua volta, veria inimigos por todos os lados. Mas quando olhou para o alto, viu a Deus, que “com a sua mão” poderia livrá-lo dos “homens do mundo”. Existe uma diferença vital entre você e eu olharmos à nossa volta, ou olharmos para o alto. Olhar ao redor cria medo; olhar para o alto traz confiança.

“Os céus manifestam” (Sl 19.1-6). Deus fala a todo ser humano por meio da criação. Cada pessoa tem alguma verdade sobre Deus, pois o universo que exi­ be “tanto o seu eterno poder como a sua divindade” (Rm 1.20) clama aos seres humanos, “sem lingua­ gem, sem fala”.

Salmo 19: “A Glória de Deus”. A glória de Deus é revelada na criação, que exibe o seu poder, e nas Escrituras, que exibem a sua pureza moral.

“Eu me satisfarei” (Sl 17.15). Davi tinha em mente “A lei do Senhor” (Sl 19.7-14). A glória de Deus é o despertar do sono, mas o versículo possivelmente mais perfeitamente exibida na sua Palavra, que re­ vela o seu caráter, e fornece a orientação moral que expressa a sua confiante esperança de ressurreição. nos é necessária. Salmo 18: “A Grandeza de Deus”. A visão clara A Palavra oferece advertências, e promete grandes que Davi tem do impressionante poder e amor recompensas para aqueles que agradarem a Deus.

DEVOCIONAL___________________________ Orientação dos Salmos (Sl 15) Eu estava ensinando em um curso breve, de dois dias, no centro de educação continuada do Semi-

nário de Princeton, quando percebi o quanto não queria voltar no verão seguinte. Alguns meses antes, eu tinha dito que voltaria para ensinar em um curso de verão de duas semanas.

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Salmos 20—26

Mas enquanto voava para o leste, para minha casa em Phoenix, percebi o quanto tinha saudade da minha família. E me lembrei de todo o material escrito que eu teria que preparar durante aqueles meses de verão. A ideia de perder duas semanas du­ rante o próximo verão era quase insuportável. Assim, decidi, no último dia da minha curta visita, que diria no Seminário que não poderia cumprir esse compromisso. Mas, naquela manhã, “por acaso”, o meu Salmo diário era o Salmo 15. Enquanto eu lia, um versí­ culo pareceu saltar da página e me confrontar. O homem irrepreensível, “mesmo que jure com dano seu, não muda” (v. 4). Percebi, então, que tinha que retornar. Normalmente, quando leio os Salmos, o meu obje­ tivo é o enriquecimento pessoal e/ou a adoração ao precioso Senhor. Eles elevam meus pensamentos e meu coração até o Senhor. Mas de vez em quando, Deus tem uma mensagem pessoal de orientação para mim, em um Salmo. E quando Deus fala, não há nada a fazer exceto ouvir e obedecer.

tege (Sl 25), assim como a sua Palavra nos coloca no caminho plano (SI 26). Entendendo o Texto Salmo 20: “Uma Oração por Bênçãos”. Aqui está um guia para estender os “nossos melhores votos” a outra pessoa, em oração. “O Senhor te ouça” (Sl 20.1). A confiança de Davi em Deus, e não em carros (v. 7) é expressa na sua convicção de que a bênção vem de Deus. Nós, que compartilhamos a fé de Davi, devemos expressar os nossos melhores desejos e votos pelos outros, em oraçóes semelhantes às dele (cf. w. 1-5). Salmo 21: “Pelas Bênçãos Recebidas”. Lembrar o que Deus fez por nós é uma fonte contínua de alegria. Observe a litania de bênçãos que Davi relaciona:

“As vitórias conquistadas” (v. 1) “Os desejos concedidos” (v. 2) “As súplicas atendidas” (v. 2) Aplicação Pessoal “A presença bem-vinda” (v. 3) Deus pode nos dar uma orientação pessoal por “A coroa concedida” (v. 3) intermédio de qualquer passagem da sua Palavra. “A vida — para sempre e eternamente” (v. 4) A medida que lermos, precisamos ouvir cuidado­ “A glória concedida” (v. 5) samente. “A alegria na presença de Deus” (v. 6) “O amor inesgotável” (v. 7) Citação Importante “O importante neste mundo não é tanto onde Davi, conhecendo o poder de Deus e certo do seu nós estamos, mas em que direção nos movemos. triunfo no final, sabia que essas e outras bênçãos Para alcançar o porto do céu, nós devemos navegar eram suas, para sempre (w. 8-13). algumas vezes a favor do vento, e algumas vezes Você e eu faremos bem em seguir o exemplo de contra ele — mas devemos navegar, e não ficar à Davi e fazer uma lista das bênçãos que recebemos deriva, nem viver ancorados.” do Senhor. — Oliver Wendell Holmes Salmo 22: “O Messias Sofredor”. Jesus, o Mes­ sias, é revelado nesta descrição poética da expe­ 19 D E ABRIL LEITURA 109 riência de Davi. A BOA MÂO DE DEUS Salmos 20— 2 6 “Porque me desamparaste?”(Sl 22.1-8). As palavras iniciais deste salmo, citadas por Jesus na cruz (Mt “A tua mão alcançará todos os teus inimigos; a tua mão 27.46), e a clara reflexão de Isaías 53 em Salmos direita alcançará aqueles que te aborrecem” (Sl21.8). 22.6,7, marcam esse Salmo como uma predição do sofrimento e da morte do Messias. Deus tem bênçãos para os seus. Podemos reivindi­ car agora essas bênçãos, assim como esperamos o “Traspassaram-me as mãos e os pés” (Sl 22.9-21). tempo da glória do Messias. Outras referências claras à cruz são encontradas nos versículos 16-18. Visão Geral Uma oração por bênçãos (Sl 20), e uma celebração “Todos os limites da terra... se converterão ao pelas bênçãos recebidas (Sl 21) são seguidas por Senhor” (Sl22.22-31). Do sofrimento do Messias três salmos que abrangem a carreira do Messias (Sl virá o louvor ao Senhor, e aqueles que se conver­ 22— 24). Davi nos lembra de que Deus guia e pro­ terem ao Ele viverão para sempre.

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Salmos 20—26

Qualquer pessoa que compreenda o horror da cru­ cificação como uma forma de execução, ou que sin­ ta o que deve ter significado, para o santo Filho de Deus, fazer-se “pecado por nós” (2 Co 5.21) pode ver algo das emoções de Jesus no dia da sua morte. No entanto, meditando sobre esse salmo, nos apro­ fundamos nos sofrimentos de Jesus no Calvário. Como é bom continuar lendo, depois que passa­ mos pelo versículo 21, para descobrir que o que parecia uma tragédia é, na realidade, um triunfo! Através do sofrimento de Cristo, “os mansos co­ merão e se fartarão; louvarão ao Senhor os que o buscam; o vosso coração viverá eternamente”.

“A quele que é limpo de mãos” (Sl 24.3-6). Outra base para a certeza é a vida pura e sem pecado do Messias. Ele será sempre, com toda a certeza, o Bendito de Deus Pai.

Salmo 23: “Os Cuidados do nosso Pastor”. Mes­ mo à sombra da morte, Davi, o Messias, você e eu, encontramos o conforto nos cuidados do nosso Pastor.

Salmo 26: “Caminho Plano”. Uma vida devota conserva o crente em segurança.

“O Rei de glória”(Sl 24.7-10). Uma base final para a certeza é a identidade do Messias. Aquele que vem é realmente o Senhor, o próprio Rei da glória! Salmo 25: “A Orientação e a Bondade de Deus”. Davi tinha confiança de que aqueles que têm es­ perança no Senhor jamais serão envergonhados. (Veja o DEVOCIONAL.)

Salmo 24: “A Glória Futura do Messias”. No final da história, o Messias sofredor será revelado como o Senhor Todo-Poderoso, o Rei da Glória. “A terra é do Senhor” (Sl 24.1,2). Uma base para a certeza de que o Messias, no final, será vingado, é o fato de que Deus é soberano. A terra, e tudo o que nela há, pertence ao Senhor.

“Tenho andado em minha sinceridade” (Sl 26.1-8). A vida “em sinceridade” dos santos do Antigo Tes­ tamento não era uma vida sem pecado. No entan­ to, ela era caracterizada por uma profunda dedica­ ção interior a Deus, que encontrava expressão em um modo de vida devoto. Este Salmo descreve de forma linda a atitude que guarda os crentes de cada geração do pecado. Essa atitude é marcada por uma confiança inabalável em Deus (v. 1), e por constan­ te amor por Ele (v. 3). Ela se expressa pela obediên­

O pastor era uma figura familiar em Israel, e o seu amor pelas suas ovelhas era lendário. Dia e noite ele cuidava das ovelhas, e as conhecia individualmente, pelos seus nomes. A imagem de Deus como Pastor, sempre presente no meio de seu povo, é a imagem mais consoladora das Escrituras sobre o relacionamento do crente com o seu Deus.

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Salmos 27—33

cia diária à verdade de Deus (v. 3), com a rejeição dos ímpios, assim como da impiedade (w. 4,5). E a confiança também encontra expressão na ado­ ração (v. 6) e no louvor (w. 7,8). Tal dedicação pode produzir aquele “andar em sin­ ceridade” que o salmista descreve como “caminho plano”. Por que caminho plano? Grande parte da Terra Santa é íngreme e rochosa,

DEVOCIONAL______ Esperança e Vergonha

(s l 25) As ideias de “esperança” e “vergonha” com frequên­ cia são encontradas juntas no Antigo Testamento. “Esperança” é uma perspectiva confiante, não por­ que uma pessoa conheça o futuro, mas porque o crente conhece a Deus, e confia no seu caráter. “Vergonha” é a desgraça causada pela falha de al­ gum tipo, que expõe um indivíduo à ridiculariza­ ção de outros. Assim, o pensamento expresso nesse salmo é de que aquele que deposita a sua confiança em Deus jamais será exposto ao ridículo, porque Deus jamais lhe falhará! O que podemos esperar de Deus que nos liberte da vergonha? Em primeiro lugar, podemos esperar que Deus nos mostre o seu caminho, orientando-nos e ensinando-nos pela sua verdade (w. 4,5). Em segundo lugar, podemos esperar que Deus nos perdoe, libertando-nos do peso do nosso passado, e nos purificando (w. 6,7). Porque o Senhor é bom, Ele guia os humildes no que é certo (w. 8-10). Porque Ele é gracioso, Ele perdoa até mesmo grandes iniquidades (v. 11). O que o Senhor tem para aqueles que experimen­ tam o seu perdão, e continuam vivendo na sua von­ tade? Existe uma prosperidade e uma percepção da sua presença (w. 12-15) que permanece conosco, apesar da solidão, dos problemas e até mesmo das aflições (w. 16-19). Quando nos refugiamos no Senhor, e vivemos vidas justas, podemos enfrentar o futuro com confiança. E sem medo de sermos ridicularizados. Que Deus maravilhoso nós temos!

perigosa para os viajantes cujos pés não estavam calçados em confortáveis botas de escalada, mas em sandálias abertas. Seria fácil escorregar e cair, muito fácil torcer um tornozelo. Mas o caminho plano era seguro para o viajante. E assim, a imagem é clara: aquele que ama suficientemente ao Senhor, para andar em sinceridade, viaja por esta vida de maneira segura.

dade; mas também é verdade que o cristianismo controlou os movimentos de milhões de homens e mulheres que, se não fosse pelo dogma, jamais conheceriam um freio vital sobre o seu comporta­ mento. Às vezes, o freio é eficaz; às vezes, não. Mas o fato de que deva haver um freio supera qualquer preocupação sobre os excessos de Jimmy Swaggart, ou dos aiatolás, ou dos extremistas mórmons, ou daqueles que vivem na selva venezuelana — ou os relativistas europeus.” — William F. Buckley, Jr. -Q r '-

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D E ABRIL LEITURA 110 O SENHOR É Salmos 27— 33

“O Senhor é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei?” (Sl 27.1). Agora, vamos acompanhar Davi em salmos que louvam a Deus por quem Ele é, e descobrir o que as suas maravilhosas qualidades significam àqueles que confiam nEle. Visão Geral Para Davi, Deus é uma fortaleza (Sl 27), nossa for­ ça e nosso escudo (Sl 28). Ele é Rei perpetuamente (Sl 29), aquEle que cura (Sl 30), uma rocha e uma fortaleza (Sl 31). Ele perdoa os pecados (Sl 32) e os seus olhos estão sobre aqueles que esperam na sua misericórdia (Sl 33). Entendendo o Texto Salmo 27: “Deus, nossa Fortaleza”. Davi con­ centra a nossa atenção no Deus que jamais nos abandonará.

Aplicação Pessoal Deus guia o homem ou a mulher perdoados a uma “O Senhor é” (Sl 27.1). A fé não é uma emoção; não vida que seja agradável a Ele — uma vida que ja­ é nada que criamos a partir de nós mesmos. O que mais exponha alguém à vergonha. torna a fé real e vital não é “o quanto” de fé nós te­ mos. O que torna a fé real e vital é o seu objeto. Até Citação Im portante mesmo uma pequena fé, depositada em Deus, pode “O cristianismo jamais fracassou quando foi pos­ transformar. Não porque nós a “tenhamos”, mas por to à prova, diz o clichê. E, naturalmente, é ver- causa daquEle que é o depositário da nossa fé.

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Salmos 27— 33

Trazendo esse salmo e outros para a atualidade, nos concentramos, como Davi, em quem é o Se­ nhor. Quando a nossa confiança e esperança se fixam nEle, não importa o quão pequena possa parecer a nossa fé, Deus pode entrar em nossas vidas, e o fará, com um derramamento de força e alegria.

“Dai ao Senhor” (Sl 29.1,2). A palavra hebraica yahab é encontrada somente onde as palavras “ao Senhor” fazem parte da expressão. E um convite ao mais puro tipo de adoração: louvar a Deus por quem Ele é, por natureza. “A voz do Senhor” (Sl 29.3-9). A voz do Senhor é o seu poder de criar e destruir, dizendo uma palavra. “Quando os malvados” (Sl 27-2,3). Davi dedicou Os seres humanos têm que usar ferramentas físicas apenas 2 versículos dos 14 deste salmo aos perigos para edificar e para derrubar. Deus simplesmente que o ameaçavam. Os demais expressam os seus tem que proferir seus pensamentos, e está feito. pensamentos a respeito de Deus. A proporção está correta. Se pensarmos no Senhor “O Senhor se assenta” (Sl 29.10,11). O assombroso sete vezes mais do que nos preocupamos, também poder da voz de Deus afirma a sua soberania acima de todos. O Senhor é Rei perpetuamente. E dupla­ encontraremos paz. mente assombroso que este Deus “dê forças ao seu “Contemplar a formosura do Senhor” (Sl 27-4-24). povo” e “abençoe o seu povo com paz”. Esses versículos se incluem entre os mais poderosos Salmo 30: “Deus, que nos Cura”. Deus pode do livro dos Salmos, e vários exigem memorização. curar fisicamente. E Ele irá curar espiritualmente “Quando meu pai e minha mãe me desampararem, a todos os que clamam a Ele por misericórdia. o Senhor me recolherá” (v. 10), e “Pereceria sem dúvida, se não cresse que veria os bens do Senhor na terra dos viventes” (v. 13), são promessas que “Exaltar-te-ei” (SL 30.1-12). Davi louvou a Deus por uma cura física. A expressão “descer ao abismo” você e eu podemos reivindicar. (ou “descer à sepultura”, ARA) é um eufemismo Salmo 28: “Deus, nossa Força e Escudo”. Às ve­ hebraico comum para a morte e o sepultamento. zes, quando Deus não parece atender às nossas Embora o propósito aqui seja a cura física, existe uma orações, a simples atitude de confiar já funciona clara aplicação espiritual. Deus, que nos cura (v. 2) ouve o clamor dos penitentes, por misericórdia, e pos­ como uma grande ajuda. sibilita que nós “o louvemos para sempre” (v. 12). “Não emudeças para comigo” (Sl 28.1-5). Fdá oca­ Aqui, novamente, há um versículo que afirma siões em que as nossas orações parecem inúteis, quem é Deus, que nos traz grande consolo. Deus é enviadas a um céu entorpecido e silencioso. Deus alguém “cuja ira dura só um momento, mas no seu parece indiferente, disposto a permitir que sejamos favor está a vida”. Assim, ainda que “o choro possa arremessados com os ímpios. Mesmo nessas ocasi­ durar uma noite”, temos certeza de que “a alegria ões, precisamos nos lembrar de que “o Senhor é”. vem pela manhã” (v. 5). “O Senhor é a minha força e o meu escudo” (Sl 28.69). Como, quando não conseguimos sentir a pre­ sença de Deus, podemos dizer, confiantes, como Davi, que “Ele ouviu a voz das minhas súplicas”? A resposta está em quem é Deus. Ele é a fonte de nossa força e nosso protetor. Quando Davi se lembrou de quem Deus é, ele dis­ se: “Nele confiou o meu coração, e fui socorrido”. As circunstâncias não tinham mudado, mas subi­ tamente Davi percebeu que seu coração saltava de alegria inexplicável. Que presente maravilhoso do nosso Deus mara­ vilhoso. A confiança, ancorada no nosso conheci­ mento de quem Deus é, já ajuda, e muito.

Salmo 31: “Nossa Rocha e Fortaleza”. Em pode­ rosas imagens, Deus nos convidou a encontrar abrigo na sua presença. “Eu me refugio” (Sl 31.1-5, ARA). Quando Davi fugia de Saul, encontrou refúgio no deserto rocho­ so da região montanhosa de Judá. Ali, em algum monte, ele e seus homens acamparam em relativa segurança. Nós podemos imaginar Davi, sentado junto a uma fogueira — enquanto seus homens vi­ giam um ou dois acessos à sua fortaleza escarpada — sentindo que, para ele, Deus é como uma rocha de refúgio (w. 2,4). Davi se entregou alegremente nas mãos de Deus, e encontrou descanso.

Salmo 29: “Deus, Rei Perpetuamente”. E apro­ “Consideraste a minha aflição” (Sl 31-6-18). Davi priado adorar ao Senhor, que se assenta como era perseguido como um inimigo, por exércitos li­ derados por seu sogro, o rei Saul. Algumas vezes, a Rei para sempre.

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Salmos 27—33

sua situação parecia desesperadora, e ele era toma­ do por um desespero, que expressou nos versículos 9-12. No entanto, considerando Deus como sua fortaleza, Davi encontrou graça para dizer, “confio em ti”, e “os meus tempos estão nas tuas mãos”. Este é, talvez, o maior desafio que enfrentamos, quando tão pressionados. Queremos alívio agora mesmo. Não queremos esperar. Odiamos a pressão da nossa necessidade atual. Mas o nosso tempo, assim como nós mesmos, está nas mãos de Deus. Até que Deus aja, precisamos encontrar graça para esperar, agarrando-nos nEle, como nosso refúgio. “Bondade... que guardaste” (Sl 31.19-24). Deus é bom. Em razão disso, estamos certos de que Ele tem bondade guardada para nós, que o tememos. Por enquanto, estamos salvos. No futuro, seremos duplamente abençoados. E assim Davi concluiu, com uma mensagem de exortação: “Esforçai-vos, e ele fortalecerá o vosso co­ ração, vós todos os que esperais no Senhor” (v. 24).

Salmo 33: “O Amor Incessante de Deus”. Aqui há uma fonte borbulhante de alegria, que jamais secará. Deus nos ama — e nos mostrou o seu profundo amor de muitas maneiras. “Cantai a Ele... com júbilo” (Sl 33.2,3). O louvor traz alegria, pois o louvor concentra nosso coração no Senhor. “O Seu amor perfeito” (Sl 33.4-19). Quais evidên­ cias do amor de Deus são apropriadas na litania de louvor de Davi — e na nossa? * Ele é fiel, e a sua Palavra é verdadeira. * Ele ama a justiça e o juízo. * Ele criou os exércitos celestes. * Os seus planos e propósitos se realizarão. * Ele olha desde os céus tudo o que os homens fa­ zem. * Ele vigia os que o temem, para protegê-los de desastres.

Salmo 32: “Deus Perdoa”. Os santos do Antigo “A nossa alma espera”(Sl33.20-22). Por causa dessas Testamento, como também do Novo, vivencia- provas do amor incessante de Deus, a nossa alma ram a alegria, e o poder transformador, do per­ espera nEle. E enquanto confiamos nEle, a alegria dão de Deus. (Veja o DEVOCIONAL.) enche nossos corações.

DEV OCIONAL______

Um Convite à Confissão (Sl 32) Admitir quando fazemos alguma coisa de errado realmente é doloroso. Existe a vergonha. Existe o medo de que, se confessarmos, seremos punidos. Existe o terrível sentimento de que, se admitirmos que agimos mal, nos tornamos vulneráveis e perde­ mos alguma parte importante de nós mesmos. Talvez por isso o Salmo 32 seja tão importante. Davi, a partir de sua própria experiência, nos mos­ tra que, embora confessar.qualquer pecado possa parecer uma perda, na verdade é um ganho. O que Davi tem a nos transmitir? Depois de co­ meçar com a declaração de que o homem perdo­ ado é abençoado, Davi prossegue, mostrando-nos por quê. Calar-se é doloroso (w. 3,4). O pecado inconfesso se aloja em nossas consciências e ali deteriora. Como o pus que se forma sob um furúnculo, o pe­ cado inconfesso cria uma terrível pressão. O peca­ do inconfesso parecia sugar a força de Davi; parecia um enorme peso que o pressionava. Essa é uma primeira e importante razão para a confissão. O pecado inconfesso causa doenças às nossas almas.

O pecado não admitido é um pecado não perdoado (v. 5). Deus está sempre pronto e ansioso para per­ doar o pecado. Mas Ele não pode remover o nosso pecado, até que o reconheçamos e o confessemos a Ele. E isso o que faz a confissão: ela revela o nosso pecado; ela expõe plenamente o pecado, diante de Deus. E então — maravilha das maravilhas! — Deus não pune, mas perdoa “a maldade do meu pecado”! O perdão restaura os relacionamentos (w. 6,7). O pecado faz com que nos escondamos de Deus. A confissão nos restaura à comunhão, de modo que possamos nos esconder em Deus. Com nossos pe­ cados perdoados, temos certeza de que Deus nos protegerá das dificuldades e “[nos] cinge de ale­ gres cantos de livramento”. A comunhão restaurada possibilita, novamente, a orientação divina (w. 8-10). Agora Deus pode nos instruir outra vez no caminho a seguir, porque novamente confiamos nEle e estamos dispostos a seguir a sua liderança. Somos, outra vez, sensíveis ao Senhor, de modo que agora Ele pode nos guiar gentilmente, em vez de ver-se forçado a nos puxar de volta ao seu caminho, como se fôssemos algum animal teimoso, que só pode ser controlado com dificuldade.

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Salmos 34— 41

Não é de admirar que Davi, depois de concluída a sua restauração, clamasse com alegria e satisfação, no fim desse salmo. Que mensagem para cada um de nós! O pecado inconfesso distorce o nosso relacionamento com o Senhor. Mas quando reconhecemos o nosso pecado, Ele não somente nos perdoa, como nos restaura a um relacionamento íntimo consigo mesmo. Uma vez mais, Ele nos conduz nos seus caminhos.

Entendendo o Texto Salmo 34: O Amor Perfeito de Deus. Nós deve­ mos louvar a Deus em todas as ocasiões, pois, de muitas maneiras, nós experimentamos continu­ amente o incessante amor de nosso Deus.

Citação Im portante Esta é a dívida que eu pago Por um único dia de orgia; Anos de arrependimento e tristeza, Tristeza sem alívio.

“Em todo o tempo” (Sl 34.1-3). Aqui pode haver uma indicação de constrangimento. A fuga de Davi para a terra dos filisteus revela temor, não fé. Devemos nos lembrar do amor de Deus antes de agirmos de modo tolo, e não depois!

Eu a pagarei até o fim — Até que o túmulo, meu amigo, Me dê um alívio verdadeiro Me dê o abraço de paz.

“Ele me respondeu”(SL34.4-7). Mesmo depois de ter­ mos agido de modo tolo, Deus não nos abandona. Como nos conta Davi: “Clamou este pobre, e o Se­ nhor o ouviu; e o salvou de todas as suas angústias”.

Sem valor foi aquilo que eu comprei, Pequena era a dívida, pensei, Insignificante o empréstimo, na melhor hipótese, Mas, ó meu Deus, que juros! — Paul Laurence Dunbar

“Provai e vede” (Sl 34.8-22). Davi nos convida a experimentar a bondade de Deus. Devemos nos comprometer a fazer o que é certo. Às vezes po­ demos agir de modo tolo; mas se nos dedicarmos a agradá-lo, poderemos ter a confiança de que o Senhor nos libertará.

“Quando fingiu que estava louco”. O título nos for­ nece a circunstância deste salmo. Davi, entregan­ do-se ao desespero, deixou sua terra natal e entrou na terra dos filisteus. Ali foi reconhecido, e escapou à morte somente fingindo estar louco. Cheio de Aplicação Pessoal alívio, os pensamentos de Davi se voltaram ao Se­ Se você está perturbado com um sentimento de nhor, e no seu caminho de volta para Israel e para o culpa, a alegria está a apenas uma oração de confis­ seu destino, ele viu novas evidências do amor per­ são de distância. feito de Deus.

21 DE ABRIL LEITURA 111 TEMPOS DE AFLIÇÁO Salmos 34— 41 “Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor o livra de todas” (Sl 34.19). Quando oprimido pelas dificuldades, o crente pode voltar-se para Deus. O Senhor ouvirá, quan­ do expressarmos nossos sentimentos. E, o que é mais importante, Ele agirá. Visão Geral Davi expressou louvor pela libertação (Sl 34), se­ guido por dois salmos de imprecações dirigidos a inimigos (Sl 35— 36). No entanto, podemos come­ morar a confiança (Sl 37), mesmo quando somos castigados (Sl 38) ou se perdermos a perspectiva (Sl 39). Qualquer que seja a situação, podemos apelar a Deus, por misericórdia, em nossos momentos de necessidade (Sl 40— 41).

Salmo 35: Contra os Inimigos. Este salmo de imprecação invocou maldições sobre os inimi­ gos de Davi. “Pleiteia, Senhor” (Sl 35.1-28). E certo o crente pe­ dir a Deus para agir contra os seus inimigos? Tanto este salmo, como outros similares, nasceram da convicção do salmista de que ele tinha um rela­ cionamento de aliança com o Senhor. Como servo de Deus, o crente é livre para pedir que o Senhor venha libertá-lo e puna aqueles que, agindo contra os servos do Senhor, também se colocaram contra o próprio Senhor. Existe outra suposição nos salmos de imprecação. Aqueles que procuram esmagar os crentes, são ím­ pios. E absolutamente certo que Deus aja contra os homens perversos. Neste contexto, Davi clamou, apropriadamente: Tu, Senhor, o viste, não te cales;

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Salmos 34— 41

Senhor, não te alongues de mim; desperta e acorda para o meu julgamento, para a minha causa, Deus meu e Senhor meu! Julga-me segundo a tua justiça, Senhor, Deus meu, e não deixes que se alegrem de mim.

faz de seus sentimentos, entendemos quão dolo­ roso foi o castigo de Deus para ele. Davi se sentia ferido, fraco, esmagado, acometido por uma dor abrasadora. Alguns podem falar levianamente so­ bre o castigo de Deus. Mas qualquer pessoa que o enfrente sabe o quanto a descrição de Davi é adequada. No entanto, considere. Em vez de tentar se escon­ Quando Deus age para defender os justos, Ele exi­ der, Davi foi até Deus com a sua dor! E isso é o be o seu amor — e a sua justiça. certo. Como uma criança que procura a mamãe para um abraço, depois de levar umas palmadas, Salmo 36: Uma Palavra para os ímpios. Davi nós devemos nos voltar para Deus, com os braços advertiu os ímpios de que o Deus justo ama estendidos. Quando nós fizermos isso, Deus, como aqueles que têm um coração justo. qualquer pai afetuoso, nos tomará em seus braços e nos consolará. “Palavras... [de] malícia e engano” (Sl 36.1-4). O idioma hebraico tem o termo massa, uma men­ “Tu... me ouvirás" (Sl 38.13-22). Apesar do fato sagem de juízo, transmitida com um sentimen­ de que Davi percebeu que estava sendo castiga­ to esmagador de autoridade divina. Davi estava do pelo pecado, ele tinha confiança de que Deus completamente convencido de que os malfeitores, atenderia ao seu apelo. Como Davi poderia ter como definem estes versículos, serão derrubados tanta certeza? Ele nos disse: “Eu confessarei a mi­ pelo Senhor (v. 12). nha iniquidade; afligir-me-ei por causa do meu O que caracteriza um indivíduo mau? Ele não res­ pecado”. Davi compreendeu o que 1 João 1.9 nos peita nem teme a Deus (v. 1), nem mesmo reco­ transmite como uma promessa: “Se confessarmos nhece o seu próprio pecado (v. 2). As suas palavras os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos per­ são enganosas (v. 3) e ele percorre um caminho doar”. pecaminoso (v. 4). Perdoado o seu pecado, a oração de Davi certa­ mente seria atendida: “A ma justiça... os teus juízos" (Sl 36.5-12). Deus é fiel, imparcial e justo. Ele cuida dos homens e Não me desampares, Senhor; dos animais, e dá refúgio a nobres e humildes, a meu Deus, não te alongues de mim. grandes e pequenos. Apressa-te em meu auxílio, Senhor, minha salvação. “Estende a tua benignidade sobre os que te conhecem” (Sl 36.10-12). A convicção de Davi de que os ím­ Salmo 39: Uma Oração por Perspectiva. Frus­ pios cairão se baseava diretamente no seu entendi­ trado por queixas que não ousava proferir, Davi mento de quem é Deus. Por causa de quem Deus implorou que Deus lhe desse uma perspectiva. é, o coração de Davi lhe assegurou que os ímpios serão julgados. E Deus irá continuar a exibir amor “Enfrearei a minha boca” (Sl 39.1-3). Davi não de­ àqueles que o conhecem. sejou dizer nada contra o Senhor na presença dos ímpios. No entanto, ele ficou aborrecido e irado Salmo 37: Em Louvor à Confiança. Quais são as porque Deus não tinha atendido à sua oração, pe­ características, e os benefícios, da confiança no dindo ajuda (cf. v. 12). As vezes podemos sentir Senhor? Este salmo, um dos mais apreciados, ex­ a mesma frustração em relação ao Senhor nosso plica. (Veja o DEVOCIONAL.) Deus. Davi nos conduz, então, a uma maneira sur­ preendente de lidar com estes sentimentos. Salmo 38: Uma Oração em Meio ao Castigo. Os dois Testamentos nos dizem que o Senhor castiga “Faze-me conhecer, Senhor, o meu fim " (Sl 39.4aqueles a quem ama. Aqui está uma oração para 6). Davi não pediu para conhecer o dia da sua nós, quando formos castigados pelo Senhor. morte. Ele pediu que Deus lhe desse uma per­ cepção da brevidade da vida. O que acontece co­ “Estou fraco e mui quebrantado” (Sl 38.1-12). O nosco, aqui na terra, não tem uma importância Novo Testamento diz: “Toda correção, ao pre­ suprema. Nós precisamos olhar além do tempo, sente, não parece ser de gozo, senão de tristeza” para a eternidade. Se pudermos perceber o fato (Hb 12.11). Quando lemos a descrição que Davi de que a vida de cada homem “é apenas um so­

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Salmos 34—41

pro” (NTLH) obteremos a perspectiva correta. “Não detenhas para comigo, Senhor, as tuas mise­ O sofrimento que agora nos parece tão terrível, ricórdias” (Sl 40.11-17). Pode parecer estranho, dura apenas um instante. Assim, é possível su­ mas é justamente o fato de que nossos pecados nos dominam, e nossos corações falham, que nos portá-lo. qualifica para a misericórdia. Somente alguém que “Agora, pois, Senhor, que espero eu?” (Sl39.7). Com compreende a sua profunda necessidade irá clamar esta perspectiva, Davi podia suportar a espera. Ain­ a Deus, pedindo misericórdia. A pessoa que igno­ da assim, ele esperava que Deus o ajudasse no seu ra seus pecados, ou persiste em tentar sair sozinho do “charco de lodo” do pecado, jamais irá confiar breve “agora”. Que maravilha o fato de Deus considerar o nosso em Deus, mas irá confiar somente na sua própria breve momento de vida suficientemente impor­ suposta bondade. tante para nos abençoar no nosso presente; que, Que privilégio é para nós, ficar em pé, como Davi, durante o presente, “possamos nos regozijar nova­ e clamar: Eu sou pobre e necessitado; mente” antes de deixarmos este mundo. mas o Senhor cuida de mim: Salmo 40: A Celebração da Misericórdia. Davi tu és o meu auxílio e o meu libertador; recordou tudo o que Deus tinha feito por ele, e não te detenhas, ó meu Deus. encontrou liberdade para clamar pedindo novas Salmo 41: Salmo do Misericordioso. Em outro misericórdias. salmo que tem alusões messiânicas, Davi expres­ sou a sua confiança de que o Senhor demonstra­ “Tirou-me” (Sl 40.1-3). As palavras deste salmo rá misericórdia aos misericordiosos. retratam maravilhosamente a misericórdia. No Antigo Testamento, “misericórdia” retrata um in­ divíduo desamparado, clamando por compaixão, a “Aquele que atende ao pobre” (Sl 41.1-3). A pessoa alguém que pode lhe oferecer auxílio. O “charco misericordiosa é sensível a todos os que são fracos, de lodo” retrata vividamente o desamparo de um e os ajuda. Esta qualidade é ricamente exibida no homem. O fato de Deus “tirá-lo” demonstra a in­ caráter de Deus, e Ele sentirá uma grande alegria se tervenção de Deus, e “o novo cântico” de louvor é a ela estiver presente em nossa vida. Davi está certo de alegria que nós encontramos, ao percebermos tudo que Deus irá salvar o homem misericordioso, quan­ do este homem precisar da misericórdia de Deus. o que o Senhor fez. “Senhor, meu Deus” (Sl 40.4-11). A maior bênção do homem “que põe no Senhor a sua confiança” é a justiça, encontrada não em sacrifícios e ofertas, mas naquEle que veio para fazer a vontade de Deus Pai, e, assim, trazer a salvação. Os versículos 6 e 7 são messiânicos, citados na grande exposição sobre o significado do sacrifício de Cristo, em Hebreus 10. Naquele que as palavras de Davi prediziam, nós encontramos a justiça, a fidelidade e salvação do nosso Deus.

“Senhor, tem piedade de mim” (Sl 41.4-13). Que grande bênção, quando clamamos ao Senhor pe­ dindo auxílio, é saber que Ele se agrada de nós (v. 11, ARA). Em última análise, todas as palavras deste salmo são as palavras do Messias (cf. v. 9; M t 26.17-25). E nós também podemos saber que Deus se agra­ da de nós, quando confiamos nEle e procuramos servi-lo, podendo apelar, confiantemente, à sua misericórdia.

As Alegrias da Confiança (Sl 37) Se você tivesse que escolher dois salmos para me­ morizar, o primeiro provavelmente seria o de nú­ mero 23. Mas o segundo certamente seria este grande salmo, em louvor à confiança. Nenhum salmo tem versículos mais consoladores, versículos que convidem mais à demorada medita­ ção. Nenhum salmo tem mais versículos que falam tão diretamente ao coração humano. Por causa disso, é quase um sacrilégio analisar este salmo: separar suas ideias, procurar similaridades e

temas. No entanto, observe quantas informações este salmo nos transmite sobre a natureza e os be­ nefícios da confiança. Se procurarmos investigar a natureza da confiança, veremos, neste salmo, que confiar é: * Confiar no Senhor e fazer o bem (v. 3). * Deleitar-nos do Senhor (v. 4). * Entregar o nosso caminho ao Senhor (v. 5). * Não nos irritarmos quando o ímpio prospera (v. 7). * Deixar a ira, abandonar o furor (v. 8) * Ficar satisfeitos com pouco (v. 16).

DE V OCIONAL______

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* Dar generosamente a outros (v. 21). * Apartar-nos do mal e fazer o bem (v. 27). * Plantar a lei de Deus em nossos corações (v. 31). * Esperar no Senhor (v. 34). * Seguir o seu caminho (v. 34). * Buscar refugio no Senhor (v. 40).

22 D E ABRIL LEITURA 112 DOS FILHOS DE CORÁ Salmos 42— 49 “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo ” (Sl 42.2).

A confiança é, na verdade, um modo de vida, o Os músicos do Templo, descendentes de um sacer­ modo de vida que escolhemos, quando nos entre­ dote rebelde, que morreu pela mão de Deus, nos gamos ao Senhor. ajudam a explorar os mistérios da nossa fé. 0 mesmo salmo revela o resultado da confiança. Contexto Aquele que se entrega ativamente ao Senhor, pode Livro II. Muitos acreditam que esta segunda cole­ esperar os seguintes benefícios: tânea de salmos foi organizada durante a época de Salomão. Embora contendo obras de outros auto­ * Desfrutar de pastagens seguras (v. 3). res, apresenta obras de Davi. * Receber os desejos de seu coração (v. 4). * Ser justificado (w. 5,6). Osfilhos de Cord. Corá se rebelou durante o Êxodo, * Herdar a terra (w. 9,22,34). e foi morto (Nm 16). Mas seus filhos foram pou­ * Deleitar-se em abundância de paz (v. 11). pados. Alguns descendentes se tornaram guardiões * Ser sustentado por Deus (v. 17). do Templo (cf. 1 Cr 9.17 e versículos seguintes), ao * Obter uma herança duradoura (v. 18). passo que outros serviram como cantores e músicos * Fartar-se nos dias de fome (v. 19). do Templo (cf. 6.31,33,39,44). Estes descendentes * Ser segurado pela mão do Senhor (v. 24). de Corá contribuíram com 12 obras para o Livro * Viver perpetuamente em segurança (v. 27). de Salmos, das quais a maioria pode ter sido usada * Jamais ser desamparado por Deus (v. 28). nas liturgias do Templo. * Não vacilar (v. 31). * Ver que os ímpios são exterminados (v. 34). Visão Geral * Ter posteridade (v. 37). Os filhos de Corá investigaram em profundida­ * Ser ajudado e livrado pelo Senhor (v. 40). de, para nos ajudar a examinar o amor por Deus Além da beleza deste salmo, o seu ensinamento é (Sl 42), a justificação divina (Sl 43) e o mistério vital para o nosso bem-estar. Somente com uma da derrota nacional (Sl 44). Um cântico da boca verdade messiânica (Sl 45), enquanto ativa confiança em Deus, expressa pelas escolhas transmite feitas todos os dias de nossa vida, é que podemos “Deus conosco” é exaltado, como nossa fortaleza sentir os muitos benefícios de um relacionamento (Sl 46). Os três últimos salmos celebram o governo de Deus (Sl 47), a sua cidade eterna (Sl 48), e a pessoal com o Senhor. redenção deste mundo transitório (Sl 49). Aplicação Pessoal Que nós possamos compreender a natureza ativa Entendendo o Texto Salmo 42: Apaixonar-se por Deus. O amor por da confiança, entregando-nos à maneira como a fé Deus reanima o espírito abatido, e reaviva a es­ responde a Deus. perança. Citação Importante “O impala africano pode saltar a uma altura supe­ “Por ti suspira a minha alma” (Sl 42.1-5). A ima­ rior a 3 metros, e este salto pode cobrir uma distân­ gem é a de um homem apaixonado, separado, por cia maior do que 9 metros. No entanto, estas mag­ algum tempo, da pessoa amada. Ele não consegue níficas criaturas podem ser mantidas em uma área pensar em nada, além dela, e sente uma terrível fal­ cercada, em qualquer zoológico, com um muro de ta dessa pessoa. 1 metro de altura. Os animais não saltarão, se não Esta é a emoção, motivada pelo amor, do músico puderem ver onde os seus pés irão cair. A fé é a do Templo, afastado, por algum tempo, de Jeru­ capacidade de confiar no que não podemos ver; as­ salém, ansiando por uma vez mais liderar “a pro­ sim, por meio da fé, nós ficamos livres das frágeis cissão à Casa de Deus” (v. 4, ARA). O seu único áreas cercadas da vida, que nos aprisionam através consolo é a esperança de, em breve, retornar para do medo.” — John Emmons louvar a Deus ali mais uma vez.

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“Lembro-me de ti” (Sl 42.6-11). O sentimento de se­ paração é insuportável, mas o autor sabe que o Se­ nhor lhe concede “a sua misericórdia”. A separação dói, mas o autor se consola com o pensamento de que “ainda o louvarei, a Ele, meu auxílio e Deus meu”. Para este filho de Corá, o Templo simbolizava a presença de Deus, e ele desejava estar tão próxi­ mo de Deus quanto possível. Que maravilhoso que você e eu podemos simplesmente fechar os olhos, deixar de fora o mundo e estar imediatamente na presença do nosso Senhor. Quando a sua alma tiver sede de Deus, vá até Ele. Ele está ali, com você, a um pensamento de distância.

esquecido de Deus, nem violado o seu concerto. Por que, então, Deus não tinha agido?

“Desperta, Senhor”(Sl44.23-26). Confuso e entris­ tecido, o salmista implorou que Deus se levantasse e os socorresse. O salmo realmente apresenta um enigma, mas um enigma comum. Por que Deus, às vezes, per­ mite que os seus mais fiéis servos sofram? Em­ bora o salmo 44 não ofereça nenhuma resposta específica, pode haver uma indicação no versículo 22. “Por amor de Ti, somos entregues à morte continuamente” (ARA). Nem todo sofrimento é punição. Algum sofrimento pode ser o preço Salmo 43: Um Apelo por Justificação. No final, que pagamos por permanecer leal a Deus em um Deus provará que a nossa fé foi bem colocada. mundo hostil. Como Pedro nos recorda, para isso somos chamados, “pois também Cristo padeceu “Faze-me justiça” (Sl 43.1). O salmista considerava por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais Deus como Juiz, a seu lado no tribunal, contra os as suas pisadas” (1 Pe 2.21). ímpios que o tinham em seu poder. A base para Salmo 45: Um Salmo de Bodas. Aqui temos a ce­ este apelo era o fato de que “Tu és o Deus da minha fortaleza”. lebração de uma boda real que tem, como foco, oferecer um louvor triunfante ao Messias que virá. “Por quê?” (Sl 43.2). Se pertencemos a Deus, por que devemos sofrer opressão? Por que Ele parece A tua direita estava a rainha ornada” (Sl 45.1-9). nos rejeitar? Muitas coisas neste mundo são sombras lançadas Tais sentimentos são comuns, quando acontecem por realidades que serão encontradas no mundo os problemas. Nós nos perguntamos por que, e futuro. A alegria do banquete de boda nos trans­ até mesmo questionamos o comprometimento de porta a visões da união celestial que espera Deus e Deus conosco. Na verdade, nós jamais poderemos Israel, Cristo e a sua igreja. compreender por quê. Mas o salmista tem uma O Novo Testamento cita os versículos 6 e 7, dei­ solução. xando claro que este salmo realmente pretende nos transportar, da celebração terrena à celestial, “Envia a tua luz e a tua verdade” (Sl 43.3-5). A luz e capacitando-nos a sentir um pouco da alegria que a verdade de Deus, que aqui representam a sua Pa­ conheceremos quando o nosso Senhor retomar lavra, explicam as nossas dificuldades, porém, mais (cf. Hb 1.9). do que isso, nos levam de volta ao próprio Deus. “Então, eu irei ao altar de Deus”, disse o salmista, Salmo 46: Deus, nossa Fortaleza. Com Deus, e o louvarei. nosso refúgio e fortaleza, um auxílio sempre Do que mais necessitamos, quando estamos so­ presente, nós jamais precisamos temer. frendo, não são respostas, nem mesmo alívio. Do que necessitamos é ir à presença de Deus, para en­ Salmo 47: Celebração do Governo de Deus. Se contrar esperança e oferecer louvor. você pertence a Deus, bata palmas de alegria, pois Ele é o grande Rei de toda a terra. Salmo 44: O Mistério da Derrota. A história en­ sina que Deus dá a vitória, quando o seu povo o “O grande Rei” (Sl 47.1-9). Nos tempos antigos, obedece. Por que a derrota veio, agora que Israel “grande Rei” era um título exclusivo que era con­ permanece fiel? cedido somente a conquistadores do mundo, como Nabucodonosor ou Ciro. Um governante que “Ouvimos” (Sl 44.1-8). As Escrituras testemunham acrescentasse “grande” ao seu título seria ridicula­ as vitórias que Deus concedeu a Israel durante a rizado, a menos que o seu poder fosse impressio­ Conquista. nante. Como está certo o salmista, em dar a Deus o título “Agora, porém” (Sl 44.9-22). Derrotas recentes de “grande Rei”. Ele subjugou nações, e deu a Israel confundiram o salmista, pois Israel não tinha se a sua herança. Ele reina sobre todas as nações, in-

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clusive agora. Todos os reis desta terra estão sujeitos a Ele, e Ele é grandemente exaltado. Lembre-se deste salmo da próxima vez que você se sentir desencorajado ou desanimado. O nosso Deus é o “grande Rei”. Não há nada que Ele não possa fazer, ou não queira fazer, por você e por mim. Salmo 48: A Cidade Eterna. Além da Jerusalém terrena, o salmista vislumbrou as fortificações da cidade eterna de Deus. “A cidade do nosso Deus”(Sl 48.1-8). Andando pelas muralhas da Jerusalém antiga, o salmista viu mais do que pedras fortes. A cidade que Deus tinha escolhido representava todos os atos de Deus na história, que revelavam o quanto Sião e Israel eram preciosas para o Senhor.

As muralhas de pedra das cidades muradas de Israel se elevavam muito acima do solo. Maciças e seguras, pro­ jetadas para frustrar qualquer invasor, transmitiam uma ideia de segurança a todos os que viviam nas vizinhan­ ças. Bastava olhar para cima, estando nos campos, e ver a fortaleza próxima, para sentir-se seguro. O salmo 46 repete esta imagem, para nos transmitir a paz que pode­ mos encontrar em virtude do nosso relacionamento com a “nossa fortaleza”, o Senhor Todo-Poderoso.

DEV OCIONAL______

Sic Transit Gloria (SI 49) Os generais romanos bem-sucedidos recebiam, algumas vezes, um “triunfo”. Eles tinham a per­ missão de fazer um desfile de seus exércitos, com grupos de cativos e carros cheios de despojos, pelas ruas de Roma. Mas no carro do general, em pé, bem atrás dele, ia um oficial, cujo dever era sussurrar constantemente ao seu ouvido, “Es apenas um homem”. O salmo 49 tem o mesmo objetivo. E o sussurro de Deus ao nosso ouvido, lembrando-nos de que, não importa quanto sucesso nós, ou os outros, alcan­ çamos, somos apenas homens. Em breve morrere­ mos, e qualquer riqueza ou glória terrena morrerá conosco. Como disse o salmista: “Não temas quando al­ guém se enriquece, quando a glória da sua casa se engrandece. Porque, quando morrer, nada levará consigo”.

“No meio do teu templo" (Sl 48.9-14). O restante do salmo se passa dentro do Templo, em adoração. O salmista, em sua imaginação, andou pelos muros da cidade eterna de Deus, muito mais real e du­ radoura, e muito mais esplêndida, do que a rocha sólida das proteções de Jerusalém. Os muros da cidade terrena, desconhecida do sal­ mista, estavam destinados a ser derrubados por exércitos invasores. Mas a cidade eterna permane­ ce, pois “este Deus é o nosso Deus para sempre; ele será nosso guia até à morte”.

E, “Ainda que na sua vida ele bendisse a sua alma... irá para a geração dos seus pais; eles nunca verão a luz”. Por que um salmo tão sombrio aqui, entre outros que elevam os nossos corações e nos estimulam ao louvor? Provavelmente porque não é um salmo sombrio, na verdade, mas um salmo que vibra de esperança. Aqui, quase escondida entre palavras de advertência aos insensatos que são cativados pela visão de glória ou riqueza neste mundo, está esta promessa: “Mas Deus remirá a minha alma do poder da morte, pois ele me tomará para si” (v. 15, ARA). A nossa esperança não está em riquezas, nem em alguma coisa que este mundo possa ter a oferecer. A glória deste mundo desaparece, pois somos ape­ nas homens, e em breve deixaremos este cenário mutável. A nossa esperança está em Deus, que re­ dime nossas almas da sepultura, e certamente nos tomará para si mesmo.

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“Mas ao ímpio” (Sl 50.16-22). O ímpio não deve Aplicação Pessoal Aproveite as coisas boas deste mundo. Mas não se interpretar erroneamente o silêncio de Deus, como indiferença. Deus irá condenar os ímpios diante apegue demais a ele. dos seus olhos. De certa forma, os salmos de Davi que se seguem ao Citação Importante “A frase ‘Bem-aventurados os pobres de espírito’, poema profético de Asafe exemplificam este tema. significa: Bem-aventurado é o homem que perce­ Em vista do fato de que Deus é Juiz, Davi nos mos­ beu a sua própria e completa impotência e o seu tra como nós devemos reagir, em várias situações. desamparo, e que depositou toda a sua confiança Salmo 51: Confissão do Pecado. A confissão de em Deus. Se um homem percebeu a sua própria e Davi, depois de seu romance com Bate-Seba, nos completa impotência e o seu desamparo, e deposi­ mostra como devemos respeitar a Deus como Juiz, tou toda a sua confiança em Deus, entrarão na sua quando pecamos. (Veja o DEVOCIONAL.) vida duas coisas que são lados opostos da mesma coisa. Ele ficará completamente desligado das coi­ Salmo 52: Traído por um Inimigo. Davi recebeu sas, pois saberá que as coisas nada têm que tragam consolo ao relembrar o quanto era diferente de felicidade ou segurança; e ficará completamente li­ seu inimigo. gado a Deus, pois saberá que somente Deus pode trazer-lhe ajuda, esperança, e força. O homem que é pobre de espírito é o homem que percebeu que “Doegue, o edomita” (Sl 52, o título). Quando Davi as coisas não significam nada, e que Deus significa fugiu de Saul, para salvar a sua própria vida, fez uma pausa em Nobe, e pegou a espada de Golias tudo.” — William Barclay que estava com os sacerdotes dali (1 Sm 21.1-9). Doegue, um dos oficiais de Saul, o viu, e posterior­ 23 DE ABRIL LEITURA 113 PARA ÉPOCAS DIFÍCEIS mente contou isso a Saul. O rei, furioso, acusou a Salmos 50—56 família dos sacerdotes de traição; o próprio Doegue executou 85 sacerdotes inocentes, e suas famílias “Lança o teu cuidado sobre o Senhor, e ele te susterá; (22.6-19). Quando Davi soube disso, do único so­ nunca permitirá que ojusto seja abalado" (Sl 55.22). brevivente da família, assumiu a responsabilidade, pois tinha visto Doegue ali, e sabia que certamente Sete salmos escritos por Davi nos ensinam como ele iria contar a Saul (v. 20). No entanto, Davi ja­ reagir quando provocarmos dificuldades a nós mes­ mais suspeitou que o rei, que era um tanto louco, mos, e quando formos traídos pelos outros. ordenasse a execução destes homens de Deus. O salmo 52 relembra este dia, e encontra consolo no fato de que, no final, Deus irá julgar. Visão Geral Por intermédio de Asafe, Deus falou ao seu povo, e aos ímpios (SI 50). Davi modelou a confissão (Sl “Amas... o mal” (Sl 52.1-7). Os atos de Doegue 51), e, em três salmos, expressou a sua resposta à foram uma desgraça, um esforço para obter be­ traição de outros (Sl 52— 54). Davi, a seguir, re­ nefícios de Saul, ao custo da vida de outras pes­ gistrou uma oração pelos aflitos (Sl 55) e pelos te­ soas. Davi diz, “Também Deus te destruirá para sempre”. merosos (Sl 56). Entendendo o Texto “Mas eu sou como a oliveira verde” (Sl 52.8,9). A Salmo 50: Deus como Juiz. Através deste po­ diferença crítica entre Doegue e Davi era o fato de ema, escrito por um músico do Templo, Deus que “confio na misericórdia de Deus para sempre, eternamente”. Porque Davi, apesar de seu erro, fala ao seu próprio povo e aos ímpios. honrava a Deus, o seu futuro estava a salvo. “O Senhorfalou e chamou a terra” (Sl 50.1-6). Uma A única pessoa que o traidor certamente tinha tra­ imagem do sistema legal de Israel retrata Deus, fa­ ído era a si mesmo! lando do céu, anunciando seus justos juízos. Salmo 53: O Destino dos Tolos. Os malfeito­ res jamais aprendem. Deus está vigiando, e irá “Povo meu” (Sl 50.7-15). A mensagem de Deus aos julgar. seus é simples. “Paga ao Altíssimo os teus votos. E invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás”. Da mesma maneira como nós “Disse o néscio no seu coração” (Sl53.1-5). A pessoa cujo coração está fechado para Deus se torna mo­ somos fiéis ao Senhor, Ele será fiel a nós.

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Salmos 50— 56

ralmente corrupta (veja Salmo 14). No entanto, salmo como este, e orar com Davi. Tais salmos nos Deus a observa, e o terror no seu próprio coração ajudam a perceber que, quando estamos sofrendo, Deus se importa, e que podemos ir até o Senhor do testemunha contra ela. modo como estivermos. “Oh! Se... jd viesse a salvação” (Sl 53.6). Apesar do fato de Davi conhecer o destino que esperava os “A morte os assalte” (Sl 55.9-15). Dificilmente Davi malfeitores, ele ansiava que Deus agisse em breve. desejaria o bem aos ímpios! Mas ele não estava sendo vingativo. Os ímpios são caracterizados pela violên­ Salmo 54: Traição dos Amigos. A mais dolorosa cia, pelo antagonismo, pela maldade e astúcia. Tais de todas as traições é a daqueles a quem chama­ atos certamente merecem o juízo de Deus. mos amigos. “Mas eu invocarei a Deus” (Sl 55-16-23). A an­ “Os de Zife”, (Sl 54, o título). A introdução a este gústia e a ira de Davi o levaram ao Senhor. Ele salmo também nos fornece uma ambientação não podia fazer nada para alterar o planejamento histórica. Enquanto fugia de Saul, o grupo de de Deus. O que ele podia fazer, era se lembrar homens de Davi ocupou a região montanhosa de que Deus, “que preside desde a antiguidade”, ao sul de Judá. Ali, chegaram a lutar para salvar certamente destruirá os ímpios. Em vista disso, cidades como Queila, de grupos de saqueadores Davi escreveu uma das mais maravilhosas pro­ filisteus (cf. 1 Sm 23.1-18). No entanto, quando messas nas Escrituras. “Lança o teu cuidado so­ o grupo de Davi se escondeu na acidentada ca­ bre o Senhor, e Ele te susterá” (v. 22). deia montanhosa, conhecida como Zife, os seus Antes que Deus aja para destruir os ímpios, cer­ habitantes foram duas vezes ter com Saul, e se tamente Ele irá sustentar os seus. Ele jamais dei­ ofereceram para revelar o seu esconderijo (w. xará os justos caídos. 19-25; 26.1-4). Salmo 56: Oração em meio ao Medo. Davi via o temor, não como um mal, mas como uma opor­ “Salva-me, ó Deus” (Sl 54.1-7). Em um salmo an­ tunidade para confiar. terior, Davi descreveu a impiedade de um inimigo que o traiu (Sl 52). Aqui, Davi pouco diz contra “Quando os filisteus o prenderam” (Sl 56, o títu­ aqueles compatriotas que mostraram tal ingrati­ lo). O cenário deste salmo é a fuga de Davi a dão, ao traí-lo duas vezes! A sua única imprecação Gate. Deprimido e certo de que perderia a vida foi: “Ele pagará o mal daqueles que me andam es­ se permanecesse em Israel, Davi foi à terra dos piando”. filisteus. Ali, ele foi reconhecido e preso. Davi Davi, sabiamente, decidiu concentrar-se no pró­ fingiu ser louco, e foi libertado (1 Sm 21.10prio Deus, a sua ajuda, e aquEle que o sustentava. 15). Todo o incidente é carregado com o temor É especialmente doloroso quando um amigo se que Davi sentia — temor que o fez fugir, em volta contra nós. Quando isso acontece, nós de­ primeiro lugar, temor quando foi feito cativo, vemos ser prudentes e seguir o exemplo de Davi. certamente temor quando retornou à sua pátria, Não se fixe na traição. Saiba que Deus distribui as ainda como fugitivo. punições adequadas. Aliviado de quaisquer pen­ samentos de mágoa ou vingança, Davi louvou a “Tem misericórdia de mim” (Sl 56.1-13). A sensa­ Deus, e lembrou-se de como o Senhor o “livrou ção de Davi, de estar rodeado de inimigos, não era de toda a angústia”. paranóia. Ele estava sozinho, e seus inimigos eram demasiadamente reais. No entanto, por meio des­ Salmo 55: Oração em Aflição. Davi sentiu a ta experiência assustadora, Davi veio a ver o medo traição — profundamente. No seu salmo, ele como um amigo, em vez de inimigo. nos lembra que, por maior que seja a nossa afli­ Como o medo é um amigo? O medo é um ami­ ção, nós podemos entregar nossas preocupações go, porque somente quando sentimos medo é ao Senhor, e Ele nos irá sustentar. que mergulhamos nas profundezas da confiança. Nós não podemos saber o que significa confian­ “Temor e tremor me sobrevêm; e o horror me cobriu” ça, a menos que vivamos experiências nas quais o (Sl 55.1-8). Uma vez mais, Davi provou ser um Senhor é tudo o que temos para nos agarrar. homem emocional, que expressava livremente seus Por meio desta experiência de medo, Davi se tor­ sentimentos em oração. Quando você ou eu esti­ nou capaz de nos revelar uma grande e maravi­ vermos abalados ou em desespero, é útil ler um lhosa descoberta.

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Salmos 57—63

Quando a confiança nos libertar do nosso medo dos outros, nós estaremos verdadeiramente li­ vres para andar “diante de Deus na luz dos viventes”.

No dia em que eu temer, hei de confiar em ti. Em Deus louvarei a sua palavra; em Deus pus a minha confiança e não temerei; que me pode fazer a carne?

DEV OCION A L______

Noite e Dia (SI 51) Talvez os nossos momentos mais angustiosos ve­ nham quando nós nos deparamos com a percepção de que pecamos. A maneira como nós lidamos com o pecado faz toda a diferença do mundo. É como a diferença entre noite e dia. A diferença entre um sentimento esmagador de culpa, e a percepção ani­ mada de que nosso coração é puro. Este conhecido salmo que celebra o perdão de Deus foi escrito por Davi, depois de ter cometido adul­ tério com Bate-Seba, e de ter tramado a morte de seu esposo em batalha. A primeira parte do salmo retrata o lado escuro da nossa experiência. A segun­ da parte traz a brilhante renovação que Deus oferece aos crentes que confessam os seus pecados a Ele. Os versículos 1-9 trazem palavras do vocabulário do Antigo Testamento relativo ao pecado. O uso que Davi faz destas palavras reúne todo o conceito do Antigo Testamento, usando três principais ter­ mos hebraicos. Hata’ (“pecado”) é o fato de não conseguir viver de acordo com o padrão estabele­ cido de Deus. Pesha’ (“transgressão”) é a rebelião consciente ao padrão, ao passo que ’awon (“ini­ quidade”) é o desvio ou uma distorção ao padrão. De alguma maneira, as sementes do pecado se enraízam profundamente na natureza de Davi, e crescem em um emaranhado espinhoso de pecados voluntários e involuntários, que levaram o salmista a atos que repelem a melhor parte do seu ser. Existe um lado escuro em todas as nossas nature­ zas; um lado expresso em atos de pecado, que cla­ mam por perdão. Mas Davi, e eu e você, temos esperança. Existe um lado bom revelado nos versículos 10-19. Consciente da escuridão dentro de si, Davi clamou: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto”. Deus, que fez a luz existir com a sua palavra, pode realizar em nós uma obra criativa, e tornar puros nossos corações corrompidos. E quando isso acontecer? Então, outra vez, existe alegria na salvação. Então, mais uma vez, nós sere­ mos capazes de ensinar “aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores a ti se converterão”. Do coração purificado se derramam hinos de louvor, e do humilde reconhecimento do que nós somos, surge alguma coisa nova; uma vida de santidade.

Aplicação Pessoal Quando nós expomos o nosso pecado através da confissão, Deus transforma as nossas trevas em luz. Citação Importante “Quem dera se somente houvesse algumas pessoas más, em alguma parte, cometendo traiçoeiramen­ te obras más, e se só fosse necessário separá-las do resto de nós, e destruí-las! Mas a linha divisória entre o bem e o mal atravessa o coração de cada ser humano. E quem está disposto a destruir uma parte de seu próprio coração?” — Aleksandr Solzhenitsyn 24 DE ABRIL LEITURA 114 - O CORAÇÁO CONSTANTE Saímos 57 —63

“Uma coisa disse Deus, duas vezes a ouvi: que opoder pertence a Deus. A ti também, Senhor, pertence a misericórdia; pois retribuirás a cada um segundo a sua obra” (Sl 62.11,12). Estes salmos de autoria de Davi investigam o se­ gredo do seu comprometimento com o Senhor, até uma visão exaltada de quem Deus é. Visão Geral Com base na sua experiência, Davi expressou o seu comprometimento com o Senhor (Sl 57). Este comprometimento se enraizava na sua clara visão de Deus como Juiz (Sl 58), como fortaleza (Sl 59), como sua ajuda (Sl 60), refúgio (Sl 61), salvação (Sl 62), e como seu Deus pessoal (Sl 63). Entendendo o Texto Salmo 57: O Coração Firme. Davi recusou uma oportunidade de matar Saul, preferindo, em vez disso, confiar que Deus cumpriria o seu propó­ sito na vida de Davi.

“Quando Davi fugiu de Saul”, efoi para a caverna (Sl 57, o título). Davi estava escondido em uma caverna, quando Saul entrou na mesma caverna para se aliviar. Os homens de Davi encararam isso como uma oportunidade, dada por Deus,

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Salmos 57— 63

para que Davi se livrasse de um inimigo e rei­ vindicasse o trono que Deus lhe havia prometi­ do (1 Sm 24). Mas Davi se recusou a tocar em Saul, que Deus tinha ungido rei sobre Israel. Em vez de uma oportunidade para matar Saul, Davi considerou que fosse uma oportunidade, dada por Deus, para fazer o que era devoto e corre­ to. Este salmo transmite o segredo espiritual de Davi — o segredo da sua liberdade para fazer o que sabia que era o certo.

“Sê exaltado, ó Deus” (Sl 57.1-5). O que quer dizer, refugiar-se no Senhor? Davi nos mostra. Quer di­ zer orar com a confiança de que o Senhor cumprirá os seus propósitos em nossas vidas, e que Ele “dos céus enviará seu auxílio” e nos salvará. Davi preferiu esperar que Deus agisse, certo de que Deus iria cumprir o seu propósito em sua vida. Davi não tinha que agir mal, pois Deus o traria ao objetivo pretendido por Ele. Este era o segredo espiritual de Davi. Ele sabia que não havia neces­ sidade de agir mal, por maior que fosse a pressão, pois Deus certamente iria abençoá-lo e o levaria ao trono, no cronograma próprio de Deus. Você e eu também podemos ter este tipo de con­ fiança em Deus. Quando as pressões nos tentam a procurar alívio, fazendo o que é errado, podemos orar a um Deus que jamais permitirá que o seu propósito em nossas vidas falhe. “Firmeestá o meu coração” (Sl57-6-10, ARA). Ape­ sar dos muitos inimigos de Davi, o seu coração es­ tava firme. Davi aqui quis dizer que ele conservava uma confiança inabalável em Deus. Foi muitos anos depois do evento lembrado neste salmo que Deus, por fim, cumpriu o seu propósito, e colocou Davi no trono de Israel. Durante todos aqueles anos, Davi conservou uma confiança ina­ balável no amor de Deus, e na fidelidade divina. Esta confiança inabalável capacitou Davi a ento­ ar louvores mesmo durante os anos de espera e incerteza. “Sê exaltado, ó Deus” (Sl 57.11). Que lembrete. Você e eu exaltamos a Deus, engrandecendo-o e exibindo a sua beleza, para que as suas qualidades possam ser apreciadas por aqueles que têm um co­ ração firme. Salmo 58: O Deus que Julga. O coração de Davi estava firme porque ele estava convencido de que “deveras há um Deus que julga na terra”.

“O Deus, quebra-lhes os dentes na boca” (Sl 58.111). Nas imagens bíblicas, os dentes representam

Neste salmo vigoroso, Davi viu seus inimigos como cães carniceiros ruidosos, que o rodeiam e estão ansiosos para devorá-lo. Os cães não eram animais de estimação nos tempos do Antigo Testamento, e frequentemente repre­ sentavam o aspecto animalesco dos homens ímpios (cf. Sl 22.16; 68.23; Is 56.10,11; Jr 15.3; Ap 22.15).

o poder de dilacerar e destruir. Davi estava plena­ mente ciente de que este mundo está cheio de ho­ mens ímpios, que forjam iniquidades e fazem pesar violência. Mas ele sabia que existe um Deus que julga na terra. Está chegando o dia quando os ím­ pios serão exterminados. Então “o justo se alegrará quando vir a vingança”. Salmo 59: Deus, minha Fortaleza. Com a sua vida ameaçada, Davi clamou a Deus, e encontrou forças na imagem de Deus como sua fortaleza.

“Quando Saul mandou espiões para o matarem” (Sl 59, o título). Saul agiu abertamente contra seu gen­ ro, Davi, enviando homens para matá-lo na sua própria casa (1 Sm 19). Davi fugiu, desarmado e sozinho. Mas Davi viu que Deus era uma fonte de forças, e o amor de Deus, uma fortaleza, onde ele podia se refugiar. Uma expressão maravilhosa da fé de Davi é repeti­ da duas vezes. Ela é encontrada depois da sua vívi­ da descrição de seus inimigos (v. 9), e depois da sua oração confiante, pedindo a Deus para lidar em seu lugar com estes inimigos (v. 17).

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Salmos 57—63

Que versículos maravilhosos para memorizar, e ter sob a proteção divina, e todas as suas necessida­ em mente, quando você se sentir ameaçado pelas des seriam certamente satisfeitas por seu gracioso Anfitrião. E Davi considerava Deus como asas de ações de outros. abrigo: ele era como um filhote de ave, aconche­ gando-se, procurando proteção junto à sua mãe, Em ti, força minha, esperarei; e encontrando ali, não somente segurança, mas pois Deus é meu alto refúgio. também calor. Meu Deus virá ao meu encontro E fascinante observar a transição das imagens. com a sua benignidade (w. 9,10, ARA). Cada uma delas transmite segurança. Mas Deus é, primeiramente, visto como uma força vigorosa, A ti, força minha, cantarei louvores, mas impessoal; a seguir, como um Anfitrião aco­ porque Deus é meu alto refúgio, lhedor; finalmente, na intimidade máxima, como é o Deus da minha misericórdia (v. 17, ARA). um pai, caloroso e protetor. Esta transição pode Salmo 60; Deus, minha Ajuda. Davi sentia Deus espelhar a nossa própria experiência com Deus. Quanto melhor nós viermos a conhecê-lo, mais como seu aliado e seu socorro. calorosa e mais pessoal será a percepção do nosso “Quando lutava” (Sl 60, título). Este é um salmo relacionamento com Ele. de vitória, entoado depois que a guerra tinha sido Salmo 62: Deus, minha Salvação. Conhecer travada e vencida (cf. 1 Cr 18,19). Contra o cená­ a Deus como Salvador possibilitou que Davi rio dos séculos de derrota que fragmentaram Israel encontrasse repouso. (Veja o DEVOCIONAL.) durante os tempos dos Juizes (w. 1-3), o salmista agora relembrou o que Deus tinha feito, para salvar Salmo 63: Deus, meu Deus. O coração de Davi e libertar um povo que, sob a liderança de Davi, era firme, não somente porque ele sabia quem é mais uma vez honrou ao Senhor (w. 4-8). O salmo Deus, mas porque ele conhecia este Deus como termina com um reconhecimento explícito de que seu Deus. futuras vitórias também dependeriam do Senhor. “Dá-nos auxílio na angústia, porque vão é o socor­ ro do homem. Em Deus faremos proezas; porque “Quando estava no deserto” (Sl 63, o título). O ce­ nário, uma vez mais, é uma época de dificuldades, ele é que pisará os nossos inimigos” (w. 11,12). em que Davi, com um pequeno grupo de segui­ Salmo 61; Deus meu refúgio. Este breve salmo dores, vivia a vida de um fora da lei, nos desertos de louvor foi escrito depois que Davi recebeu de Judá. o trono. “O Deus, tu és o meu Deus” (Sl 63.1-11). A consci­ “A rocha que é mais alta do que eu” (Sl 61.1,2). Davi ência de que Deus é “o meu” Deus é a base de uma jamais perdeu a fé simples que tivera, quando era fé viva. Mas para sentirmos plenamente os benefí­ um jovem pastor. Apesar do fato de que agora es­ cios de nossa fé, precisamos ir além da consciência, tava exaltado como rei sobre Israel, jamais ficou para a intimidade. orgulhoso. Ele continuou sendo um humilde cren­ E isso o que distinguia Davi. Ele tinha sede de te, de olhos postos em Deus, e expressando a sua Deus; ele procurava oportunidades para adorar, no santuário de Deus (v. 2), e quando estava sozinho confiança no Senhor, em oração. (v. 6). A sua percepção do amor de Deus (v. 3) o “Tu” (Sl 61.3-5). Davi conhecia Deus, e se diri­ estimulava a louvar ao Senhor constantemente (w. gia a Ele em termos pessoais. As imagens nestes 4,5,7,11). versículos sugerem como Davi se sentia sobre o Se você e eu desejarmos sentir a Deus de uma ma­ Senhor. Davi considerava Deus como um refúgio neira profundamente pessoal como “meu Deus”, e uma torre forte: como aquEle a quem ele po­ precisamos seguir o exemplo de Davi. Aproveitan­ deria fugir em tempos difíceis e encontrar segu­ do todas as oportunidades de voltar nossos pensa­ rança. Davi considerava Deus como um anfitrião: mentos a Ele, e de louvá-lo, esta mesma percepção ele era um visitante no Tabernáculo de Deus. No da presença viva de Deus que sustentou Davi irá Oriente Antigo, isso queria dizer que ele estava nos sustentar.

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Salmos 64—72

DEVVida OCIONAL__________ Tensa, porém Tranquila (SI 62) Davi vivia uma vida cheia de tensão. O seu rela­ cionamento com Saul era tempestuoso, resultando em anos vividos como um fora da lei na terra que Deus tinha prometido que um dia ele governaria. Como rei, Davi conheceu um constante estado de guerra com as nações vizinhas. Ele foi forçado a criar e organizar um sistema nacional de governo. Ele sofreu grandes pressões em casa, quando seus filhos hostilizavam uns ao outros, e um deles aca­ bou deixando a metade da nação em um estado de rebelião. Mas estes anos de tensão foram espiritu­ almente produtivos. Davi escreveu muitos salmos, reorganizou os levitas e os sacerdotes para sustentar uma adoração nacional fortalecida, e começou a planejar um templo que seria construído por seu filho, Salomão. Hoje as prateleiras de nossas livrarias exibem mui­ tos livros sobre tensão e estresse. Parece que, em um mundo acelerado que faz tantas exigências do nosso tempo, o estresse é uma grande preocupação. As pessoas estão fortemente aprisionadas, emocio­ nalmente e fisicamente drenadas pelas pressões da vida moderna. Isso torna o Salmo 62 particular­ mente importante para a nossa época atual. Nele, Davi nos conta o segredo da vida tensa, porém tranquila. O segredo está expresso no versículo 1, e é de­ senvolvido no restante do salmo. “A minha alma espera somente em Deus; dele vem a minha salva­ ção”. No Antigo Testamento, “salvaçáo” indica li­ bertação de perigos ou inimigos terrenos. A palavra retrata Deus como aquEle que age a favor daqueles que confiam nEle. Foi a convicção de Davi de que a libertação vem de Deus — de que Deus pode e irá agir no mundo material, para salvá-lo — que trouxe descanso à sua alma. Como é poderosa esta convicção! Não importava qual fosse o desafio, não importava quão grande fosse a pressão, Davi estava seguro de que Deus poderia e iria realizar algum ato de salvação. Com esta convicção, Davi não poderia ser abalado pe­ los acontecimentos (vv. 2,6). Com esta convicção, Davi estava emocionalmente descansado, não im­ portando quão grande força as pressões externas parecessem exercer. Você e eu também podemos encontrar descanso, apesar do ritmo estressante, ou das pressões de nossa vida. Como? Seguindo o exemplo de Davi, de con­ fiar no Senhor em todo o tempo, derramando pe­ rante Ele o nosso coração. Isso, com a convicção de que Deus é forte e amoroso, e nos dará descanso.

Aplicação Pessoal Espere que Deus aja na sua vida e encontre des­ canso nEle. Citação Importante “Em tempos difíceis diga, ‘Em primeiro lugar, Ele me trouxe aqui. E pela sua vontade que estou nes­ ta posição difícil; nela eu vou descansar’. A seguir, ‘Em meio a esta situação, Ele me conservará no seu amor, e me dará graça nesta provação para me comportar como seu filho’. Então, diga, ‘Ele torna­ rá a tentação uma bênção, ensinando-me lições que Ele pretende que eu aprenda; em mim trabalhará a graça que Ele deseja conceder’. E, por fim, diga, ‘No seu momento apropriado, Ele poderá me livrar outra vez. Como, e quando, Ele sabe’. Portanto, diga, ‘Estou aqui, (1) por permissão de Deus, (2) guardado por Ele, (3) treinado por Ele, (4) durante o tempo determinado por Ele’. ” — Andrew Murray - Z X ...

25 DE ABRIL LEITURA 115 CONFIANÇA NA ORAÇÃO Salmos 64—72

“Bendito seja o Senhor, que de dia em dia nos cu­ mula de benefícios; o Deus que é a nossa salvação. O nosso Deus é o Deus da salvação; e a Jeová, o Sen­ hor, pertencem as saídas para escapar da morte” (Sl 68.19,20). Os salmistas frequentemente expressam sentimen­ tos de necessidade esmagadora. Mas eles também nos lembram de que, por maior que seja a necessi­ dade, o nosso Deus é capaz de atender às orações. Visão Geral Este grupo de salmos se inicia com um pedido de proteção (Sl 64); a capacidade de Deus atender às orações é afirmada em salmos que relembram suas obras de justiça (Sl 65), seus terríveis feitos (Sl 66), seu governo (Sl 67) e suas obras de salvaçáo (Sl 68). Dois apelos (Sl 69— 70) são seguidos por um salmo que expressa confiança em Deus (Sl 71). O livro II termina com um salmo de autoria de Sa­ lomão, relembrando o mistério do rei messiânico (Sl 72). Entendendo o Texto Salmo 64: Um Pedido de Proteção. Davi procu­ rou a ajuda de Deus contra astuciosos inimigos que tramavam contra ele.

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Salmos 64—72

Salmo 67: O Governo Justo de Deus. Deus go­ verna o seu povo com justiça, abençoando àque­ les que o louvam.

“Ouve, ó Deus, a minha voz” (Sl 64.1-10). A pala­ vra hebraica traduzida aqui como “oração”, tem, como melhor tradução, “pensamentos pertur­ bados”. Aqueles que tramam contra nós, e nos atacam pelas costas são mais perigosos do que os inimigos declarados. Davi pediu a Deus que os destruísse, para que todos pudessem ver que Deus protege aqueles que se refugiam nEle. Quando estamos em dificuldades, nós, assim como Davi, também podemos nos refugiar em Deus, que é louvado nos quatro salmos seguintes.

“Louvem a Ti, ó Deus, os povos” (Sl 67.1-7). Neste salmo, o louvor e a bênção são duas metades de um círculo. A bênção faz com que louvemos a Deus. E o louvor, a nossa resposta apropriada à sua graciosa provisão, mantém aquele relacionamento íntimo com Deus que assegura a bênção. Hoje, quando nos dedicamos a louvar, podemos ter certeza de que “Deus nos abençoará, e todas as Salmo 65: As Obras de Justiça de Deus. Davi extremidades da terra o temerão”. louvou a Deus como aquEle que ouve as ora­ Salmo 68: As Palavras de Salvação de Deus. Um ções, e cuja justiça se exibe em uma criação da dos salmos mais vibrantes e triunfantes das Es­ qual Ele continua a cuidar. crituras relembra as obras de salvação de Deus e o que elas significaram para o seu povo. “O Tu que ouves as orações” (Sl 65-1-4). Em he­ braico, “ouvir” as orações é atendê-las. O Deus que expiou os nossos pecados e nos abençoou com “Cantai a Deus” (Sl 68.1-6). O salmo se inicia com um grito triunfante; nós podemos imaginá-lo boas coisas realmente ouve as nossas orações. como o soar de cem trombetas. “Coisas tremendas de justiça” (Sl 65.5-13). Nós sa­ Alguns comentaristas acreditam que o salmo pode bemos que Deus faz o bem ao homem e através do ter sido entoado quando Davi triunfantemente homem, pois aquEle que criou o mundo (w. 5-8) trouxe a Arca de Deus a Jerusalém, e dançou diante continua a cuidar dele, de modo que a natureza do Senhor (cf. 2 Sm 6). Quer isso tenha acontecido, transborda de uma abundância de tudo aquilo de ou não, o tom deste salmo é de triunfante alegria. que os homens necessitam para aproveitar a vida. “Quando saías” (Sl 68.7-18). Deus é louvado por Salmo 66: Os Feitos Terríveis de Deus. Estes fei­ sua marcha triunfal por toda a história, em cenas tos, realizados em favor dos homens, asseguram que recordam o Êxodo, a sua aparição no Sinai, a a Davi que o Senhor irá atender as orações da­ tempestade que derrotou Sísera na época de Débo­ ra, e as chuvas que fizeram da Terra Prometida um queles que o temem. lugar de bênçãos. “Quão terrível és tu nas tuas obras” (Sl 66.1-7). Davi chama nossa atenção à história, dizendo- “De dia em dia nos cumula de benefícios” (Sl 68.19nos “Vinde e vede” o que Deus fez. No passa­ 31). O relacionamento com o Deus salvador de do, o Senhor “converteu o mar em terra seca” Israel assegurou, ao seu povo, a vitória (w. 19-23). para os ancestrais de Israel (w. 5-7). Além dis­ Israel marchou em triunfo, louvando ao Senhor so, o Senhor tinha agido também nos tempos (w. 24-27), que um dia verá até mesmo os gentios de Davi. Ele “sustenta com vida a nossa alma e se prostrando diante dEle (w. 28-31). não consente que resvalem os nossos pés” (w. 8,9). Deus também nos afinou “como se afina a “Cantai a Deus” (Sl 68.32-35). O salmo termina prata”, uma comparação que traduz a purifica­ com outro som de trombetas, que alegremente ção que vem por meio da disciplina divina (w. anuncia o poder do Deus supremo que “dá fortale­ 10-12). Como resultado da obra de Deus na sua za e poder ao seu povo”. vida, agora Davi vinha até o Templo do Senhor Salmo 69: Apelo dos Aflitos. Davi representava como um homem completamente comprometi­ do (w. 13-17). o homem vulnerável, uma vítima da difamação, A ênfase do salmo no comprometimento é im­ da traição e de seus próprios erros. Na sua afli­ portante. Como disse Davi, “Se eu atender à in­ ção, a única esperança do salmista era que Deus iquidade no meu coração, o Senhor não me ou­ o tirasse do lamaçal. virá”. Quando você e eu tentamos honestamente agradar a Deus, podemos ter certeza de que Ele “Entrei na profundeza das águas” (Sl 69.1-5). Aguas profundas frequentemente representam dificulda­ atenderá as nossas orações (w. 18-20).

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Salmos 64—72

des ou problemas terríveis. Aqui Davi sentia de­ “O Senhor ouve os necessitados” (Sl 69.29-36). Mes­ samparo perante seus inimigos (v. 4) e seus pró­ mo em meio à sua aflição, o salmista louvou a prios pecados (v. 5). “Insipiência” náo é uma má Deus, certo de que o Senhor realmente ouve e não despreza (rejeita o apelo) de seu povo cativo. interpretação, mas uma escolha pecaminosa. O louvor, apropriadamente, precede a libertação, “Sejam envergonhados por minha causa” (Sl 69.6- assim como a segue. Quando nós louvamos a Deus 12). A humilhação do servo de Deus se reflete so­ pelo que Ele fará, nós afirmamos a nossa fé nEle. bre Deus e o seu povo, como um todo. A citação No louvor, nós também encontramos a coragem feita no Novo Testamento do versículo 9 (Jo 2.17) necessária para esperar até que Deus esteja pronto nos lembra que Davi não estava falando somente a agir por nós. de si mesmo, aqui. Estas palavras também refletem Salmo 70: O Apelo dos Pobres e Necessitados. a humilhação do Messias desprezado e rejeitado. Quando você ou eu reconhecemos a nossa ne­ cessidade, nós nos voltamos a Deus, pois só Ele “Ouve-me... segundo a verdade da tua salvação” (Sl é nosso auxílio e nosso libertador. 69.13-18). Em aflição, o salmista orou a Deus, pe­ dindo a libertação. Ele esperava uma resposta, náo Salmo 71: Confiança no Senhor. As recordações porque merecesse, mas como uma expressão da da fidelidade de Deus trazem esperança aos ido­ “grandeza da tua misericórdia”. sos. (Veja o DEVOCIONAL.)

“A minha vergonha” (Sl 69.19-21). Em uma série de palavras vigorosas, Davi descreveu seus sentimentos: ele estava afrontado, envergonhado, confuso, que­ brantado e sozinho. Uma vez mais, as palavras retra­ tam não apenas os sentimentos de Davi, mas tam­ bém a experiência do Messias. Arrastado ao Calvário, Cristo não encontrou ninguém que o consolasse, e recebeu vinagre para beber (cf. M t 27.48,49).

“Sejam riscados” (Sl 69.22-28). Aqui, os sentimen­ tos naturais de Davi irromperam, e ele pediu mal­ dições sobre seus inimigos. Diferentemente, Jesus, da cruz, orou, “Pai, perdoa-lhes”. As duas expres­ sões são apropriadas. Em Cristo, Deus oferece per­ dão a todos. Mas aqueles que se recusam a confiar no Messias serão “riscados do Livro da Vida”.

DE V OCIONAL______ Envelhecer

1 7 1 ) ansiosamente o enve­ A maioria de nós não (Sespera lhecer. Nós imaginamos que a velhice nos roubará muitas coisas importantes. Nossa visão começará a falhar. Nossa audição irá diminuir. Nós sentiremos falta da força para fazermos muitas das coisas que fazemos agora. Muitos de nós perderemos grande parte do nosso sentido do paladar. Também virão dores, com uma crescente vulnerabilidade a doen­ ças sérias e sofrimentos. Não é de admirar que a velhice pareça uma ameaça sombria no horizonte do nosso futuro. Mas neste Salmo, Davi nos lembra de algo que diversas pesquisas modernas revelaram. A velhice pode ser uma época de bênçãos. Estas pesquisas

Salmo 72: O Ministério do Rei. A visão de Salo­ mão de seu próprio chamado como rei o levou a exaltar o ministério maior do Messias que viria. Embora este salmo não seja citado no Novo Testa­ mento, o seu tema foi interpretado, por comenta­ ristas judeus e cristãos como messiânicos. Um dia, um rei que virá irá julgar o seu povo com justiça e os pobres com juízo. Ele “dominará de mar a mar” e “todos os reis” e “todas as nações o servirão”. Ele libertará os fracos e necessitados “do engano e da violência, e precioso será o seu sangue aos olhos dele”. As antigas promessas de Deus a Abraão se cumprirão nEle, pois os homens serão abençoados nEle; todas as nações lhe chamarão bem-aventurado (cf. Gn 12.1-4).

mostraram que nenhum segmento da nossa popu­ lação está tão satisfeito com a sua sorte do que as pessoas acima de 60 anos! Talvez muitos de nossos cidadãos mais idosos en­ contrem consolo e esperança nas experiências da graça de Deus que tiveram no passado. Ouça ape­ nas alguns versículos deste grandioso salmo, e tal­ vez a sua visão da velhice possa mudar. Tu és a minha esperança, Senhor Deus; tu és a minha confiança desde a minha mocidade. Por ti tenho sido sustentado desde o ventre (w. 5,6). Ensinaste-me, ó Deus, desde a minha mocidade; e até aqui tenho anunciado as tuas maravilhas. Agora, também, quando estou velho e de cabelos brancos,

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Salmos 73—78

não me desampares, ó Deus, até que tenha anun­ milagres (Sl 77), sobre o qual aprendemos, através da história de Israel (Sl 78). ciado a tua força a esta geração (w. 17,18). Tu, que me tens feito ver muitos males e angústias, Entendendo o Texto Salmo 73; Benefícios da Fé. Asafe foi tomado de me darás ainda a vida e me tirarás dos abismos da inveja pela prosperidade dos ímpios. Somente uma terra. Aumentarás a minha grandeza e de novo me mudança de perspectiva lhe permitiu compreender consolarás (w. 20,21). os benefícios da fé. (Veja o DEVOCIONAL.) Quando nós envelhecermos, teremos anos de con­ Salmo 74: O Silêncio de Deus. Quando vêm os in­ fiança no Senhor e de experimentar a sua graça fortúnios, o povo de Deus só pode clamar ao Deus para nos sustentar. Tudo o que Deus nos ensinou que se manteve em silêncio. ao longo de nossas vidas irá nos enriquecer para que possamos ser capazes de abençoar a próxima geração. Se aprendermos a confiar no Senhor nas “Por que nos rejeitaste para sempre?” (Sl 74.1,2). O nossas dificuldades agora, os anos à frente podem salmo propôs uma pergunta que cada um de nós é verdadeiramente ser dourados. Nós iremos viver levado a fazer, em algumas ocasiões. Por que Deus estes anos com confiança, certos de que, depois de­ está em silêncio? Por que Ele não age? Por que Ele les, Deus restaurará a nossa vida outra vez, e então parece rejeitar o seu povo? seremos jovens para sempre. “Os teus inimigos” (Sl 74.3-8). Em imagens pode­ rosas, o poeta descreveu a destruição do santuário Aplicação Pessoal A experiência que vivemos hoje, na graça de em Jerusalém, em 587 a.C. A derrota de Judá pa­ Deus, nos prepara para qualquer coisa que o ama­ recia ter sido, para o salmista, um ataque contra o próprio Deus. nhã nos traga. Citação Importante “Como é completamente satisfatório nos voltar­ mos, das nossas limitações, ao Deus que não tem nenhuma limitação... Para aqueles que não estão em Cristo, o tempo é um animal devorador; po­ rém, diante dos filhos da nova criação, o tempo se curva com humildade, ronrona, e lambe as suas mãos.” — A. W. Tozer 26 DE ABRIL LEITURA 116 LIÇÕES PARA A VIDA Salmos 73— 78

“Lembrar-me-ei, pois, das obras do Senhor; certa­ mente que me lembrarei das tuas maravilhas da anti­ guidade. Meditarei também em todas as tuas obras e falarei dos teusfeitos” (Sl 77.11,12). O livro III de Salmos, uma coletânea organizada no tempo do Exílio, apresenta os salmos de ensi­ namentos (maskil) de Asafe, um levita que liderou um coro que louvava a Deus. Visão Geral Asafe compartilhou importantes lições de vida em salmos que exploram a inveja de ímpios prósperos (Sl 73), e a perplexidade pelo silêncio de Deus (Sl 74). Ele proclamou Deus como estando próximo (Sl 75), e como conhecido em meio ao seu povo (Sl 76). E Asafe louvou ao Senhor como um Deus de

“Já não vemos os nossos sinais” (Sl 74.9-11). Por que, então, Deus permitia que o inimigo zombasse dEle? Por que Deus se refreava, e não os destruía? Asafe perguntou, mas não teve resposta a oferecer. O silêncio de Deus estava além das explicações. O que devemos fazer, quando nós também nos sentimos esmagados, confusos, e angustiados, por­ que Deus permitiu que sofrêssemos? Asafe tinha uma única sugestão. “Todavia, Deus é o meu Rei” (Sl 74.12-23). A suges­ tão é afirmar Deus como soberano, recordar seus poderosos feitos na história, e invocá-lo para defen­ der o seu povo e a sua causa. Nós jamais poderemos explicar um silêncio de Deus no nosso presente. Mas poderemos sempre relembrar que Deus falou no passado, e falará no­ vamente. Então, tranquilizados por uma nova vi­ são de quão grande é o nosso Deus, nós podemos continuar — a esperar. Salmo 75: Deus Está perto. Deus, que irá agir no seu próprio tempo, para julgar a terra, está perto.

“O teu nome está perto” (Sl 75-1-10). O nome de Deus, que está ali para sua revelação própria, está “perto”, em dois sentidos. (1) Deus está perto ago­ ra, pois Ele sustenta as colunas morais do universo, levantando alguns homens e abatendo outros. A sua soberania é exibida no fato de que Ele escolhe

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Salmos 73—78

o “tempo indicado” para tais juízos. (2) Deus tam­ “Lembrar-me-ei” (Sl 77.10-15). Asafe decidiu lem­ bém está perto escatologicamente, pois chegará um brar as “obras do Senhor”, as suas “maravilhas da dia quando Deus irá quebrantar “todas as forças antiguidade”. Aqui, a chave não é, simplesmente, o dos ímpios”. fato de que Deus é Todo-Poderoso, mas que Deus, no passado, usou o seu poder para libertar o seu Salmo 76: Onde Deus é Conhecido. O Senhor povo. deve ser temido por aqueles que veem as suas A mesma coisa é válida para nós. Quando a aflição obras em meio ao seu próprio povo. trouxer dúvida para você e para mim, nós deve­ mos recordar o que Deus fez por nós, em Cristo. A “Grande é o seu nome em Israel” (Sl 76.1-3). O povo ressurreição de Jesus demonstra o poder de Deus. de Israel conhecia o verdadeiro Deus, e o exaltou. Mas é o fato de que o Filho de Deus morreu e ressuscitou por nós, que sela a nossa confiança e “Tu és” (Sl 76.4-10). O Deus que Judá conhecia esperança. era caracterizado pela majestade, pelo poder, e por uma justiça que era expressa ao julgar os homens “As águas te viram, ó Deus” (Sl 77.16-20). Em po­ pecadores. derosas imagens, Asafe relembrou a libertação de Israel, pelas águas do mar Vermelho. Nós também “Fazei votos, epagai” (Sl76.11,12). Asafe convocou podemos encontrar nosso consolo e nossa esperan­ o povo ao redor de Judá para que se submetesse e ça em imagens, mas imagens de Jesus sobre a cruz, trouxesse tributos (não “presentes” ou “ofertas”) a sofrendo por nós, clamando a Deus, para perdoar Deus, que deve ser temido. os seus perseguidores, prometendo o paraíso ao la­ Este curto salmo nos lembra de que o Deus que drão que creu nEle. conhecemos se revela aos outros por nosso inter­ médio. Salmo 78: Lembranças. A mensagem de Deus a Israel estava gravada na história daquele povo. Salmo 77: Deus de Milagres. Quando estamos em aflição, nós também precisamos nos lembrar Cada ato de Deus revelava mais do Senhor; cada de que o nosso Deus realiza milagres. evento era um sermão destinado às pessoas de hoje. “No dia da minha angústia” (SL 77.1-9). Asafe Este salmo é um sermão que pretende ajudar Israel falou de oração fervorosa, angustiosa e contínua a confiar em Deus, e abandonar os caminhos obsti­ (w. 1-3), que não lhe trazia nenhum consolo nados de seus antepassados (w. 1-8). No deserto, o (w. 4-6). Algumas vezes, a oração, os meios pe­ povo de Deus foi julgado quando voluntariamente los quais entregamos nossas cargas a Deus, na testaram Deus (w. 9-31). Apesar do fato de que as realidade aumentam a pressão que sentimos. gerações posteriores esqueceram os seus milagres, Quando uma resposta à oração parece demorar, e foram desleais ao seu concerto, Deus foi miseri­ nós começamos a nos perguntar se Deus alguma cordioso com eles (w. 32-39). Apesar do amor de­ vez nos mostrará a sua benevolência outra vez monstrado no Êxodo e na Conquista (w. 40-55), (w. 7-9). Israel continuou a rebelar-se contra o Senhor, e foi, O tema se ajusta à experiência dos judeus que fo­ com justiça, punido (w. 56-64). Então, apesar dos ram levados em cativeiro à Babilônia (cf. Sl 74). O pecados de Israel, Deus escolheu Davi para apas­ desastre nacional forçou o povo de Deus a reavaliar centar o seu povo (w. 65-72). o seu relacionamento com o Senhor, e questionar O ensinamento do salmo é claro. Em Davi, Israel as bases da sua esperança nEle. recebeu um recomeço. O povo de Deus tinha que A aflição também pode forçar você e a mim a re­ aprender com o seu passado, e seguir o exemplo examinarmos as bases da nossa fé. Quando isso de fidelidade ao Senhor demonstrado por Davi, se acontece, a nossa fé, finalmente, é fortalecida. esperassem evitar desastres futuros.

DE V OCIONAL______

Para que Serve a Fé, afinal? (Sl 73) Provavelmente, você consiga compreender os sen­ timentos de Asafe. Ele tinha tentado, durante toda

a sua vida, ser uma boa pessoa. Ele tinha tentado servir a Deus. Mas tudo o que ele tinha conseguido eram doenças, dificuldades, e mais problemas do que conseguia citar.

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Salmos 79— 84

Naturalmente, o que realmente incomodava Asafe era o fato de que ele conhecia pessoas que não tinham nenhuma fé, e que eram saudáveis, fortes, ricas e despreocupadas! Não é de admirar que Asafe estivesse desencorajado, e tivesse começado a se sentir mal: “Em vão tenho purificado o meu cora­ ção”. Para que serve uma fé que não funciona neste mundo? Para que serve uma fé que parece trazer mais pragas e punições sobre o crente do que os ímpios do mundo têm que suportar? O salmo nos diz que Asafe lutou com estes pensa­ mentos em silêncio. E então, de repente, um dia, no santuário de Deus, Asafe encontrou a sua resposta! Asafe percebeu que os problemas pelos quais passava eram dádivas de Deus, e que a vida fácil concedida aos ímpios era, na verdade, “lugares escorregadios”! O que Asafe obteve foi uma perspectiva que você e eu precisamos ter em mente constantemente. A vida fácil dos ímpios não é recompensa, pois os afasta de qual­ quer dependência de Deus! Por que voltar seus pen­ samentos ao Senhor quando não sentem necessidade da sua ajuda? Mas, em breve, eles serão “consumidos de terrores”, pois despertarão para perceber que este mundo é o sonho, e a eternidade é a realidade. E Asafe? Asafe, agora envergonhado de sua inve­ ja dos ímpios, percebeu que as mesmas provações que ele tinha odiado, o tinham levado várias vezes a Deus, em oração. Somente por meio de seus problemas Asafe desco­ briu que Deus era a fortaleza do seu coração e a sua porção para sempre.

por renovação. Eles captam as emoções de crentes oprimidos ao longo dos séculos, que anseiam por evidências renovadas da benevolência de Deus. Definição dos Termos-Chave As nações. No Antigo Testamento, a palavra “nações” muito frequentemente indica povos pagãos. Nos li­ vros de Salmos e dos Profetas, “as nações” normal­ mente representam povos que são hostis ao povo escolhido de Deus, e que o oprimem, injustamente. Visão Geral Poemas que expressam a angústia da Judá cativa exigem o juízo dos opressores (Sl 79), retratam Judá como uma vinha cortada (Sl 80), e apresentam o desastre nacional para os corações obstinados de Israel (Sl 81), além da injustiça (Sl 82). Asafe im­ plorou que Deus julgasse as nações pagãs (Sl 83), mas Corá lembrou as bênçãos que os crentes têm até hoje através da confiança em Deus (Sl 84). Entendendo o Texto Salmo 79: Contra as Nações. Asafe lembrou a Deus da violência feita a Jerusalém pelas nações pagãs, e invocou-o pedindo que lhes desse a de­ vida retribuição.

“As nações entraram” (Sl 79.1-4). A descrição da destruição de Jerusalém se encaixa melhor nas con­ dições da invasão empreendida pela Babilônia.

“Derrama o teu furor” (Sl 79.5-8). Asafe implorou Aplicação Pessoal que Deus julgasse as nações “que não te conhecem” As mesmas dificuldades que nos levam a Deus são e salvasse o seu próprio povo desesperado. Asafe evidências esmagadoras do seu amor. concordava que o desastre tinha vindo por causa de “iniquidades passadas”. Mas tinha surgido uma Citação Importante Eles levaram o que deveria ter sido os meus olhos, nova geração, que implorava por misericórdia. (mas eu me lembrei do Paraíso de Milton). Eles levaram o que deveria ter sido os meus ouvidos, “Pela glória do teu nome” (Sl 79.9-11). Asafe ar­ gumentou que Deus devia perdoar o seu povo (Beethoven veio e enxugou as minhas lágrimas). Eles removeram o que deveria ter sido a minha lín­ e restaurar a nação para a sua própria glória. Os gua, (Mas eu andei com Deus quando era jovem). povos antigos avaliavam a grandeza de uma divin­ Ele não iria permitir que eles levassem a minha dade pelo poder do povo que a adorava. Sob este alma —Tendo isso, eu ainda possuo todo o resto. aspecto, a condição de Judá ridicularizava o Deus Todo-Poderoso. — Helen Keller “A sua injúria com que te injuriaram” (Sl 79.12,13). Asafe invocou a Deus para que fizesse a retribuição às nações, pois, ao esmagar Judá, eles tinham insul­ tado o Senhor. Este curto salmo tem uma profundidade maior do que pode parecer, a princípio. Deus deveria julgar as nações porque a terra que elas tinham invadido A angústia sentida no cativeiro, e mesmo depois era dEle, o povo destruído era o seu, a glória man­ do retorno, é expressa em salmos que imploram chada pela derrota de Judá era sua, e a vergonha era 27 DE ABRIL LEITURA 117 ORAÇÁO POR RENOVAÇÃO Salmos 79—84 "Livrai o pobre e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios” (Sl 82.4).

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Salmos 79— 84

de que Deus está sempre disposto a libertar e a abençoar. Foi a própria incapacidade de Israel em ouvir ao Senhor e submeter-se a Ele que conduziu ao desastre. Deus, falando por intermédio do sal­ mista, disse: “Se o meu povo me tivesse ouvido! Se Israel andasse nos meus caminhos! Em breve eu abateria os seus inimigos e voltaria a minha mão contra os seus adversários” (w. 13,14). Nós também podemos clamar a Deus quando es­ tamos em aflição. Mas nós precisamos examinar a nossa vida, e verificar se a nossa própria indisposi­ ção em obedecer está impedindo que Deus nos dê Salmo 80. AVinha Cortada. Asafe desenvolveu a bênção que tão desesperadamente desejamos. uma imagem comum do Antigo Testamento. Is­ rael era uma vinha que Deus tinha plantado em Salmo 82: Levanta-te, ó Deus. Asafe expressou Canaã, que agora precisava desesperadamente a sua confiança de que Deus certamente iria se levantar e julgar as nações. dos seus cuidados.

sua. Ao punir as nações, Deus poderia exibir a sua misericórdia e a sua graça que perdoa, restabelecer a sua glória, distribuir uma justa punição, e con­ quistar o louvor eterno de seu povo. Há muito mais envolvido no nosso próprio peca­ do e na nossa punição do que podemos imaginar. Em um sentido muito real, a perda envolvida é a de Deus, e não apenas a nossa. Mas isso quer dizer que nós podemos procurar restauração confiantemente, sabendo que Deus perdoa e abençoa, não apenas por amor a nós, mas também pela sua própria glória.

Três imagens poderosas, e três apelos repetidos por A chave para compreender este salmo está no sig­ restauração formam este salmo. nificado da palavra “deuses”, nos versículos 1 e 6. A melhor interpretação a considera líderes de Israel, “Ó pastor de Israel" (Sl 80.1-3). Deus pode salvar chamados “deuses”, porque o Senhor lhes delegou aqueles que são suas ovelhas. Assim o salmista ape­ a responsabilidade de julgar (cf. Ex 21.6; 22.8,28). lou a Deus, “faze resplandecer o teu rosto [isto é, Estes “filhos do Altíssimo” eram indicados a esta olha-nos com benevolência], e seremos salvos”. alta posição para “defender o pobre e o órfão”; e “fazer justiça ao pobre e ao necessitado” (Sl 82.3). “Ú Senhor, Deus dos Exércitos” (Sl 80.4-7). Este tí­ As responsabilidades acompanham os privilé­ tulo hebraico retrata um Senhor soberano. Deus gios. Quanto maior o privilégio, maior é a res­ usou o seu poder para julgar Israel; agora o salmista ponsabilidade. Embora Deus nos tenha dado apelava a Ele para que usasse o mesmo poder, “faze- grandes privilégios, a responsabilidade suprema nos voltar, ó Deus dos Exércitos”; “faze resplande­ é sua. Assim, Asafe estava certo de que Deus, que cer o teu rosto, e seremos salvos”. considera os homens responsáveis, irá “se levan­ tar” e “julgar a terra”. “Ó Deus dos Exércitos” (Sl 80.8-19). O Senhor exer­ ceu o seu poder ao trazer o seu povo do Egito e co­ Salmo 83: Que Pereçam. O salmo é um apelo locá-lo no solo de Canaã. Ele o usou para derrubar ardente a Deus, para que esmague as nações que conspiraram e atacaram Israel. as muralhas que protegiam a sua vinha e expô-la a animais destruidores. Asafe apelou a Deus, para, uma vez mais, usar o seu poder para cuidar da sua Asafe se sentia justificado ao pedir a Deus que pu­ vinha: “Faze-nos voltar, ó Deus dos Exércitos; faze nisse os povos que tinham atacado Israel tão per­ resplandecer o teu rosto, e seremos salvo”. versamente. Os últimos versículos retomam a emo­ ção encontrada em todos os salmos de imprecação, Salmo 81: Corações Obstinados. A história re­ e expressam uma das bases teológicas nas quais tais vela a graça de Deus e também o coração obsti­ apelos se apoiam. “Confundam-se e assombremnado e irresponsável de Israel. se perpetuamente; envergonhem-se e pereçam. Para que saibam que tu, a quem só pertence o Asafe tinha clamado a Deus por restauração. Mas nome de Jeová, és o Altíssimo sobre toda a terra” neste salmo, ele explicitamente reconhecia o fato (w. 17,18).

DEVOCIONAL______

Bênçãos Ocultas (Sl 84) Imagine-se caminhando por um deserto escaldante. Você luta pela areia branda, mal conseguindo levan-

tar seus pés sobre a superfície móvel. O sol castiga a sua cabeça, queima a sua pele através da sua camisa, drena a umidade do seu corpo, de modo que a sua boca parece algodão e a sua língua está inchada.

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Salmos 85— 89

De certa forma, os Salmos 78— 83 descrevem a jornada de Asafe através de um deserto. O povo de Deus estava fraco e lutando. Eles eram vítimas de inimigos que os tinham drenado e à sua terra de todos os recursos, e os tinham deixado privados de tudo, e à morte. Não é de admirar que Asafe clamasse repetidas vezes, apelando a Deus para res­ taurar as bênçãos antes desfrutadas por seu povo. Agora, subitamente, com o Salmo 84, outro salmis­ ta nos lembra de que, não importa o quão desesperadora seja a nossa situação, qualquer deserto em que o povo de Deus possa se encontrar terá um oásis. Nos tempos do Antigo Testamento, o povo de Deus sem­ pre dirigiu os seus passos para o alto. Aproximandose de Jerusalém, incentivados pelo pensamento de que logo se apresentariam diante de Deus em Sião, o seu povo ia “de força em força”. Para você e para mim, o oásis está ainda mais disponível. Nós precisamos somente fechar nos­ sos olhos, para nos encontrarmos na presença do Senhor. Quando a nossa alma anseia por Deus, nós precisamos simplesmente dirigir nossos pen­ samentos a Ele, e estaremos ali, com o Senhor. Os nossos dias podem estar cheios de problemas, e nossos corações podem doer; mas nós podemos conhecer a bem-aventurança daqueles “cuja for­ ça está em ti, em cujo coração estão os caminhos aplanados”. Quando as pressões aumentam, nós podemos visitar a Deus em nossos corações, e ser lembrados de que Ele “não negará bem algum aos que andam na retidão”. A paz, a tranquila confiança, a força de que precisa­ mos, tudo isso está ali, disponível nos nossos deser­ tos. Enquanto nos aproximamos deles, clamamos com o salmista, “Senhor dos Exércitos, bem-aven­ turado o homem que em ti põe a sua confiança”. Aplicação Pessoal Quanto mais difíceis forem os nossos dias, mais precisaremos obter forças em Deus, e sentir a bên­ ção que é nossa, agora, por meio da confiança. Citação Importante “Quando eu penso no meu Deus, o meu coração fica tão cheio de alegria que as notas dançam e sal­ tam da minha pena; e uma vez que Deus me deu um coração alegre, posso servi-lo com um espírito alegre.” — Franz Josef Haydn 28 DE ABRIL LEITURA 118 O FIEL AM OR DE DEUS Salmos 85—89

A confiança de que Deus nos ama é a base da nossa fé. Nós confiamos nEle, não somente porque Ele é ca­ paz de ajudar, mas porque Ele realmente se importa. Visão Geral Nós sentimos o amor de Deus por meio do per­ dão (Sl 85) que desperta o comprometimento com Ele (SI 86). Deus ama Sião (Sl 87). E embora pos­ samos sentir desespero (Sl 88), nós continuamos como objetos de seu amor e de sua fidelidade para sempre (Sl 89). Entendendo o Texto Salmo 85: Perdoaste. No perdão, o amor, a fideli­ dade, a justiça e a paz de Deus, tudo isso se reúne.

“Perdoaste a iniquidade do teu povo” (Sl 85.1-3). “Iniquidade” é um pecado deliberado e rebelde. Até isso Deus perdoou, abrangendo os pecados do seu povo. “Torna-nos a trazer” (Sl 85-4-7). Como um povo perdoado, aqueles que pertencem a Deus poderão esperar bênçãos renovadas quando o Senhor mos­ trar o seu amor inesgotável. A promessa de Deus de paz aos perdoados é condicional. A paz virá so­ mente àqueles que temem a Deus e que se afastam da “loucura” (o mal moral). “A misericórdia e a verdade se encontraram” (Sl 85-10-13). Como podemos entender o perdão? Considerando-o como algo em que o amor, a fi­ delidade e a justiça de Deus se unem, para trazer paz. Porque Deus nos ama, Ele perdoa. Por ser fiel às suas promessas do concerto, Ele perdoa. Por ser justo, Ele paga, em Cristo, o preço que o perdão exige. Onde estas três qualidades se unem em perdão, o homem é restaurado àquele estado de paz (bem-estar) que Adão e Eva conheceram, no princípio. Considerando o perdão como uma expressão do caráter de Deus, e de sua atitude com relação aos homens, podemos ter certeza de que “também o Senhor dará o bem”. Salmo 86: O Coração Indiviso. O homem per­ doado responde a Deus com gratidão, compr> metimento e confiança.

“Estou necessitado e aflito” (Sl 86.1-4). O homem perdoado reconhece a sua necessidade de miseri­ córdia, e confia somente em Deus para obter sal­ vação e alegria.

“Grande é a tua misericórdia para comigo; e livraste a “Es bom, e pronto a perdoar” (Sl 86.5-10). O ho­ minha alma do maisprofundo da sepultura” (Sl 86.13). mem perdoado reconhece a origem da sua bênção

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Salmos 85— 89

no caráter de Deus. Tendo sentido o amor de Deus, Deus continuam sendo os objetos do seu amor que ele ora livremente àquEle que é o único que pode perdoa! realizar obras maravilhosas. Salmo 88: Em Aflição. Aqueles que conhecem “Ensina-me, Senhor, o teu caminho” (Sl 86.11-13). bem a Deus podem ainda sentir dor e tristeza O homem perdoado se concentra completamente persistentes. em Deus. Com um coração indiviso, ele procura aprender e andar no caminho de Deus. O homem “Tenho clamado de dia e de noite” (Sl 88.1-18). perdoado responde ao grande amor de Deus com Muitos salmos que expressam desespero ou afli­ um esforço sincero de glorificar ao Senhor. ção nos conduzem, das profundezas às alturas. Nós compartilhamos da dor do salmista. Mas “Tu, Senhor, és um Deus cheio de compaixão, e pie­ então nossos corações são exaltados, enquanto o doso” (Sl 86.14-17). Sob ataque dos arrogantes, o salmista eleva seus pensamentos ao Senhor. Ao homem perdoado apela a Deus pedindo misericór­ afirmar a grandeza ou o amor de Deus, o salmista dia, e confiantemente espera que o Senhor forneça nos mostra onde podemos encontrar paz. sinais da sua bondade. Este salmo é diferente. Ele fala de uma escuridão Quando você e eu percebermos que estamos verda­ implacável. Hemã, o seu autor, se encontrava “no deiramente perdoados, nós também respondemos mais profundo do abismo, em trevas e nas pro­ ao Senhor com um coração indiviso. fundezas”. Embora ele clamasse a Deus “todo o dia”, náo houve resposta, e o salmista se sentiu re­ Salmo 87: Sião. A cidade de Deus reflete a sua jeitado pelo Deus em quem confiava. E esta tinha glória. sido a sua sorte desde a sua mocidade! Ele tinha sido afligido, com terrores e desespero, desde que “Sião” (Sl 87.1-7). A Sião da Bíblia é a primeira Je­ se podia lembrar. rusalém, a cidade que Deus escolheu como o foco Qual é a importância de um salmo como este? da adoração do Antigo Testamento; o local da sua Ele nos lembra que a fé não promete uma solução suprema revelação de amor, em Cristo Jesus. Deus em 30 minutos para os nossos problemas, nem re­ escolheu Sião simplesmente por causa do seu amor cordes espirituais em 30 segundos. Podem passar por este lugar, de onde a sua graça brilha sobre to­ dias, semanas, ou até mesmo anos, quando tudo dos os homens. parece sombrio, e Deus continua em silêncio. Este salmo enfatiza o fato de que Sião não é Embora a fé frequentemente nos ofereça a paz in­ apenas um lugar, mas também um povo. Nascer terior em momentos de agitação exterior, alguns em Silo significa estar unido ao povo de Deus, homens e mulheres, que possuem uma fé verda­ que se congrega ao redor da sua revelação, e se deira, se encontrarão vivendo em uma escuridão alegra nEle. A surpreendente ênfase deste salmo inesperada e inexplicável. é de que aqueles que foram inimigos históricos Quando isso acontece, nós não precisamos culpar de Israel, Raabe (Egito), Babilônia e também a a nós mesmos, como se a escuridão fosse evidên­ Filístia, um dia conhecerão o Senhor. Sobre eles de alguma insuficiência espiritual pessoal. O se dirá, como também de Israel, “Este é nascido cia Salmo 88 nos revela que, para alguns, que hones­ ali”. tamente confiam em Deus, e clamam a Ele, a res­ é retirada, e as trevas permanecem. Quando Que maravilhoso lembrete da graça de Deus, ani­ posta isso acontecer, e não pudermos explicar o porquê, nhado aqui, entre salmos que celebram o perdão. E então devemos crer que até mesmo a escuridão como nós precisamos nos lembrar de que aqueles é um presente, enviado por Deus para ser nosso que parecem ser os mais implacáveis inimigos de “amigo íntimo”.

DEVOCIONAL______ Deixar de Amar

(Sl 89) Nós lemos sobre isso, todo o tempo. Algumas ve­ zes, nós chegamos a sentir isso. “Eu deixei de amar o meu marido”, escreve a jovem esposa a Ann Landers, ou se queixa a um conselheiro da coluna “Este casamento Pode Ser Salvo?” no Ladies Home

Journal, uma revista mensal norte-americana para mulheres. Ou, talvez, o brilho esmoreça no nos­ so próprio casamento, e o nosso cônjuge nos diga: “Eu simplesmente não te amo mais”. Eu suspeito que muitos casais nesta nossa terra, quan­ do o divórcio parece destinado a atingir 51 por cento daqueles que se casaram pela primeira vez, vivem com

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Salmos 90— 98

Almas que anseiam! Aproximem-se de Jesus, e, ó, venham, sem duvidar, e com a fé que confia mais corajosamente no seu imenso carinho por nós. Se o nosso amor fosse apenas mais simples, nós deveríamos acreditar na sua palavra, e a nossa vida seria ensolarada, na doçura do nosso Senhor. — F. W. Faber 29 DE ABRIL LEITURA 119 OBSERVANDO A RESTAURAÇÃO Salmos 90—98 No Antigo Testamento, o trono é um símbolo de um go­ verno não somente humano, mas divino. Na visão exal­ tada que o salmista tem de Deus, o seu trono e o trono do Messias que virá “será como o sol perante mim; será estabelecido para sempre como a lua” (SI 89.36,37). uma incerteza consciente a respeito do amor. Eles não têm a certeza de serem amados. Ou nem mesmo sa­ bem se realmente amam o seu cônjuge! Que certeza nós encontramos no salmo 89 de que o nosso relacionamento com Deus é diferente. Aqui não há incertezas. Deus realmente nos ama. Na verdade, o seu amor “dura para sempre” (v. 2, NTLH). Ele é, por natureza, uma Pessoa fiel; Ele não retirará o seu amor de nós, e promete, “Nem faltarei à minha fidelidade”. Nós podemos nos sentir confortáveis no nosso relacionamento com Deus, porque Ele nos ama, com um amor incondi­ cional e imutável. O salmo 89 é um salmo longo. Mas ele celebra algo básico na natureza de Deus, e vital ao nosso relacio­ namento com Ele. Como o amor de Deus dura para sempre, como a fidelidade o rodeia, nós, que anda­ mos na sua presença, temos assegurada a bênção, a força, e uma resposta pronta às nossas orações.

“Tu, Senhor, me alegraste com os teusfeitos; exultarei nas obras das tuas mãos” (Sl 92.4). O livro IV sugere uma coletânea datada aproxima­ damente no retorno de Judá do Exílio. Os primei­ ros salmos nos lembram que cada experiência da bênção de Deus nos ensina mais sobre o caráter do nosso Senhor, e aprofunda a nossa apreciação do seu grande amor. Visão Geral Uma oração de Moisés, pedindo a restauração (Sl 90) é seguida por salmos que celebram as alegrias de habitar em Deus e proclamar o seu amor (Sl 91— 92). Os salmos seguintes apresentam Deus como um Governante (Sl 93) e Juiz (Sl 94). Deus também é louvado pela sua voz (Sl 95), pela sua vinda iminente (Sl 96), pela sua justiça (Sl 97) e pela sua salvação (Sl 98). Entendendo o Texto Salmo 90: Uma Oração por Restauração. Moi­ sés refletiu sobre a fragilidade da vida, e apelou a Deus, “Alegra-nos pelos dias em que nos afligiste”.

Aplicação Pessoal “De eternidade a eternidade” (Sl 90.1-6). A nature­ Leia o salmo atentamente. Que evidência ele nos za eterna de Deus está em surpreendente contras­ dá de que Deus é fiel para sempre? O que a fideli­ te com a brevidade e fragilidade da vida humana. dade de Deus significa para você? Ele é o único elemento estável na realidade, e a seu lado o próprio universo é jovem. Citação Importante Não há lugar onde as tristezas da terra “Ensina-nos a contar os nossos dias” (Sl 90.7-15). A sejam sentidas, mais do que no céu; geração do Êxodo conheceu a ira de Deus quando Não há lugar onde as falhas da terra seus pecados foram expostos. Moisés desejava que recebam um julgamento tão bondoso e amável. seu povo aprendesse a lição, ensinada pela ira de Deus, para que o povo pudesse sentir a sua com­ Pois o amor de Deus é mais amplo paixão, e pudesse ficar “alegre” pelos anos em que do que as dimensões da mente humana; tiveram dificuldades. E o coração do Eterno Como aqueles que retornavam à sua pátria arrui­ é maravilhosamente bondoso e amável... nada, depois de décadas de exílio na Babilônia,

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Salmos 90— 98

devem ter se identificado com este salmo! Como é apropriado que este salmo abra este livro de salmos, que muitos consideram como uma liturgia usada na adoração pública, na comunidade pós-Exílio.

“O Deus, a quem a vingança pertence, mostra-te resp­ landecente!” (Sl 94.1-7). O crente oprimido clama, pedindo que Deus julgue, ao passo que o ímpio ri com a ideia de que Deus vê ou se preocupa.

Salmo 91: Habitando em Deus. Este salmo é o “Atendei... loucos” (Sl 94.8-11). Como é absurdo corolário do Antigo Testamento ao convite de supor que um Deus que projetou o ouvido, não Jesus ao crente, para que esteja nEle. ouça, e o olho, não veja! Deus sabe como — e irá — punir o ímpio. “A sombra do Onipotente descansará” (Sl 91-1,2). A segurança é encontrada na proximidade ao Senhor, “Bem-aventurado é o homem a quem tu repreendes” que aqui é representada como descansar “à sombra (Sl 94.12-15). Como Juiz, Deus deu ao homem a sua lei, para nos ensinar os seus caminhos. Os retos do Onipotente”. de coração a seguem e são abençoados. “Ele te livrará” (Sl 91.3-13). Cristo é o exemplo de quem descansa na própria sombra de Deus. Quan­ “A tua benignidade, Senhor, me susteve” (Sl 94.16do tentado, Jesus não teve que provar o amor de 19). Como Juiz, Deus auxilia os seus, contra os ím­ Deus, saltando do ponto mais alto do Templo. Ele pios, sustentando-os com amor quando eles ficam soube, sem nenhuma necessidade de testar a Deus, ansiosos. que o Senhor tinha ordenado que os anjos o guar­ “Fará recair sobre eles” (Sl 94.20-23). Como juiz, dassem em todos os seus caminhos (v. 11). o Deus que é o nosso atual refúgio um dia irá des­ “Livrá-lo-ei” (Sl 91.14-16). Estes últimos e mag­ truir os ímpios, e lhes retribuirá por seus pecados. níficos versículos definem o que significa habitar à Se você ou eu nos tornarmos vítimas dos ímpios, tam­ sombra de Deus. Significa amá-lo, e reconhecer o bém poderemos louvar a Deus, como Juiz. Ele vê. Ele seu nome. Quando você e eu amamos o Senhor, e nos guia com a sua Palavra, nos sustenta com o seu o reconhecemos em nossa vida cotidiana, podemos amor, e, no futuro, dará aos ímpios a retribuição. declarar esta promessa: “Ele me invocará, e eu lhe Salmo 95: A Voz de Deus. Deus é nosso Rei. responderei; estarei com ele na angústia; livrá-lo-ei Nós devemos ouvir, e responder à sua voz. e o glorificarei. Dar-lhe-ei abundância de dias e lhe mostrarei a minha salvação”. “Se hoje ouvirdes a sua voz” (Sl 95.1-11). O autor Salmo 92: Proclamando o Amor de Deus. Nós de Hebreus retorna a este salmo, duas vezes, citan­ também podemos exaltar a Deus, e cantar de do-o ou fazendo alusão a ele, em 3.7-11,15, e 4.3, alegria, contemplando as obras de Deus e os 5-11. O salmo relembra a recusa de Israel, durante o Êxodo, de obedecer a Deus e de entrar na Terra seus pensamentos. Prometida. Esta desobediência levou a quarenta “O justo florescerá” (Sl 92.1-15). Este também é anos de peregrinação por um deserto, até que uma um salmo que contém uma promessa. O “homem geração inteira tivesse morrido. brutal” não pode conhecer a Deus. Mas nós, que Este salmo louva a Deus como o grande Rei. Nós o louvamos, nos enchemos de alegria, ao consi­ reconhecemos a sua soberania, respondendo quan­ derarmos o que Ele fez. Com esta alegria, vem a do ouvimos a sua voz. Somente mostrando respeito tranquilidade para o futuro. Nós temos a promessa a Deus como Rei e Senhor, e obedecendo à sua voz, de Deus. Plantados na casa do Senhor, nós flores­ poderemos encontrar descanso. ceremos para sempre, proclamando e louvando o Salmo 96: Deus se Aproxima. Este salmo é vi­ Senhor para sempre. brante com clamores de alegria, quando Deus se aproxima para “julgar o mundo com justiça”. Salmo 93: Deus Reina. O trono de Deus se es­ (Veja o DEVOCIONAL.) tabeleceu na eternidade. Ele é o único elemento estável no universo. Salmo 97: A Justiça de Deus. O alicerce do gover­ no de Deus é composto pela justiça e pelo juízo. Salmo 94: Deus é Juiz. Deus é juiz moral do seu universo. A pessoa ansiosa pode encontrar “Vós que amais ao Senhor, aborrecei o mal” consolo no amor de um Deus justo. (Sl 97.1-12). Este salmo também é vibrante, com

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Salmos 99— 106

um sentimento de respeito, diante da grandeza de Deus. Esta grandeza é exibida em uma justiça que estabelece os justos, pune os ímpios, e liberta os retos que odeiam o mal. Se você e eu vivermos uma vida justa, recebemos a promessa de luz para nos guiar, e de alegria para nos acompanhar (w. 11,12). Salmo 98: A Salvação de Deus. Todo o universo se une ao crente, cantando louvor a Deus pela sua salvação.

“Cantai ao Senhor” (Sl 98.1-3). O cântico de sal­ vação celebra a maravilha do amor, da fidelidade e da justiça de Deus, que se unem para conquistar a glória até às “extremidades da terra”.

DEVOCIONAL_______ Enfileirados pelas Ruas (Sl 96) O que você faria se estivesse andando por uma ru­ azinha escura, e de repente encontrasse a Deus? Esta parece ser uma pergunta estranha. Mas parece ser a melhor maneira de expressar alguma coisa que eu descobri há alguns anos, quando fazia pesquisas em uma classe de crianças, em uma escola cristã. Eu queria descobrir como os alunos da oitava sé­ rie da nossa escola cristã local realmente se sentiam sobre Deus, e como estes sentimentos se relacio­ navam com o que eles conheciam a respeito dEle. Em poucas palavras, alguns dos meninos e meninas tinham um sentimento de um relacionamento ca­ loroso, íntimo e pessoal com o Senhor. Mas muitos se sentiam incertos, tensos e até mesmo distantes. A reação imediata do primeiro grupo, caso se en­ contrassem com Deus em uma rua escura, teria sido de correr para Ele, com os braços abertos, cla­ mando de alegria. Mas a reação do segundo grupo teria sido retroceder, e possivelmente fugir. Lembrando-me daquela pesquisa, eu me sinto tentado a intitular o salmo 96 de Salmo dos Fi­ lhos Alegres. E um grito de alegria. E um retrato dos filhos de Deus, enfileirados nas ruas, com os braços abertos, saltando entusiasmados, quando o Senhor se aproxima. Se o nosso relacionamento com o Senhor for ca­ loroso e íntimo, este salmo também nos entusias­ ma. O Senhor está próximo! E nós nos enfileira­ mos pela rua, ansiosos por encontrá-lo e cheios de grande alegria.

“Celebrai com júbilo ao Senhor, todos os moradores da terra” (Sl 98.4-9). A expressão “toda a terra” ge­ ralmente significa “todos os moradores da terra”. Mas aqui, parece ter um foco diferente. Ao coro se unem o mar, e tudo o que há nele, o mundo e todas as criaturas que há nele, e também os rios e as montanhas. O salmo nos lembra de que a natureza também foi deturpada de sua forma original, pelo pecado de Adão (Gn 3.17). Paulo retrata a criação como “sujeita à vaidade” e esperando ser “libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8.20,21). Quando a salvação de Deus aparecer, você e eu, e a própria criação, por fim seremos libertados.

Citação Importante Deixe-me segurar ligeiramente as coisas desta terra; tesouros temporários, que valor têm? As traças podem corrompê-los, a ferrugem pode deteriorá-los, toda a sua beleza desaparece em um dia. Deixe-me segurar ligeiramente As coisas temporárias, eu, que sou imortal, eu, que tenho asas! — Martha Snell Nicholson 30 DE ABRIL LEITURA 120 - TEMAS PARA ADORAÇÃO Salmos 99 — 106

“Louvai ao Senhor! Louvai ao Senhor, porque ele é bom, porque a sua benignidade é para sempre” (Sl 106.1). Temas desenvolvidos em salmos de adoração ten­ dem a se concentrar em quem é Deus, no que Ele fez e faz, e na maravilha do seu amor pelo seu povo.

Visão Geral Israel adorava o Senhor como entronizado (Sl 99), como Deus (Sl 100) e como um Deus de amor e justiça (Sl 101). Alguns salmos predizem os dias do Messias e seus anos sem fim (Sl 102), ao passo que outros celebram o grande amor de Deus (Sl 103), Aplicação Pessoal a sua autorrevelação na natureza (Sl 104) e particu­ Pense na vinda de Cristo, e deixe que esta perspec­ larmente na história (Sl 105), como um Deus que tiva encha o seu coração de alegria. mantém o concerto (Sl 106).

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Salmos 99— 106

Entendendo o Texto “O meu coração está ferido” (Sl 102.1-11). Em ter­ Salmo 99: Deus Entronizado. A soberania ab­ mos familiares, este salmo evoca imagens de fragili­ soluta de Deus é demonstrada na sua graciosa dade e dor, rejeição e desespero. Foi por causa da ira escolha de Israel. de Deus contra o nosso pecado, e não o do sofredor, que o Pai o levantou e arremessou. “O Senhor reina” (Sl 99.1 -9). Deus exerceu a sua so­ berania, ao escolher Israel (w. 1-3). Esta escolha foi “Tu te levantarás e teráspiedade” (Sl 102.12-17). No justa, além de soberana (w. 4,5), pois os que per­ Messias, o tempo indicado por Deus tinha chegado, tencem a Deus guardam os seus estatutos (w. 6,7). e Ele mesmo agiu com compaixão pelo seu povo. Por A sua justiça é também exibida na punição das más meio deste ato, “o Senhor irá edificar Sião” quando ações de Israel, e no seu perdão (w. 8,9). Ele se manifestar “na sua glória”. Como é importante nos lembrarmos de que Deus não usa o seu poder de forma caprichosa. Ele obser­ “Isto se escreverá para a geração futura” (Sl 102.18va os seus compromissos, e faz o que é certo. Os benefícios do ato do Messias não são ime­ Salmo 100:0 Senhor é Deus. O único Deus verdadei­ 22). diatamente visíveis. Mas eles serão conhecidos no ro se revelou no seu nome pessoal, Jeová, “o Senhor”. futuro, quando Deus declarar abertamente o seu nome e “os povos todos se congregarem, e os reinos, “Sabei que o Senhor é Deus” (Sl 100.1-5). O nome pessoal Jeová foi revelado a Moisés. Este nome, que para servirem ao Senhor”. significa “Aquele que está sempre presente”, também é mencionado da seguinte forma: “Este é meu nome “Os teus anos nunca terão fim ” (Sl 102.23-28). eternamente, e este é meu memorial de geração em Embora a morte tenha abreviado os dias do Mes­ geração” (Ex 3.15). Este salmo exulta porque Jeová sias na terra, os seus anos “alcançam todas as ge­ é Deus. “Foi Ele que nos fez povo seu”, foi Deus. O rações”. Ele é aquEle que lançou a fundação da Senhor, que é bom, e cujo amor dura para sempre, é terra. O universo irá perecer, mas não Ele, pois o governante do universo. Que motivo para dar graças. Pelo fato do Senhor ser Deus, nós estamos salvos e seguros para sempre. Pois “a sua verdade estende-se de geração a geração”. Salmo 101: Amor e Justiça. Davi encontrou uma razão para louvar, e um motivo para a vida devota, no amor e na justiça de Deus.

“Portar-me-ei com inteligência no caminho reto” (Sl 101.1-8). O salmo expressa o comprometimen­ to de Davi ao Deus cujo amor e justiça ele louvou. Este comprometimento estava expresso na deter­ minação do salmista em viver de uma maneira que agradasse a Deus. Mas observe a motivação. Davi pretendia viver de modo irrepreensível, em vista do amor e da justi­ ça de Deus. Porque Deus nos ama, nós desejamos agradá-lo. Porque Deus é um Deus de justiça, nós podemos confiar plenamente nEle, para recompen­ sar aqueles que agem bem, e punir os ímpios. A nossa motivação também, quando pura, é a res­ posta ao amor que Deus derramou sobre nós, e a confiança de que a sua justiça irá nos guardar e pro­ teger, à medida que vivemos para Ele. Salmo 102: Os Dias e Anos do Messias. Este salmo já era conhecido como messiânico nos tempos do Antigo Testamento. É um salmo que nos sensibiliza em relação aos sofrimentos do Salvador, e a um futuro moldado pela sua exaltação suprema.

O Antigo Testamento compara o amor de Deus ao de um pai pelos seus próprios filhos (Sl 103.13). Somente no Novo Testamento descobrimos que Deus é um Pai para cada crente. Foi o amor paterno de Deus que o mo­ tivou a fazer, por nós, aquelas coisas maravilhosas que estão registradas no salmo 103.

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Salmos 99— 106

“Tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim”. E, por causa do Messias, “os filhos dos teus ser­ vos continuarão” vivos na tua presença. Quando lemos estes salmos, e muitos dos textos dos profe­ tas, nós percebemos a grande frequência com que Deus voltava para o futuro os olhos do seu povo do Antigo Testamento, e com que clareza Ele re­ tratou o Salvador que viria. O mais importante, no entanto, é que nós mesmos somos levados a perceber a maravilha de um Deus que entrou em nosso mundo e aqui sofreu como um ser huma­ no, para redimir um povo que não tem benefícios a devolver para Ele, exceto a nossa adoração e o nosso louvor.

Dia 1 Gn 1.3-5 Dia 2 Gn 1.6-8 Dia 3 Gn 1.9-13 Dia 4 Gn 1.14-19 Dia 5 Gn 1.20-23 Dia 6 Gn 1.24-28

Salmo 103: O Grande Amor de Deus. Davi re­ gistrou evidências do amor de Deus em um sal­ mo que certamente nos levará à adoração. (Veja o DEVOCIONAL.)

Gn 1.29-31

luz firmamento terra, águas vegetais, árvores corpos celestes criaturas do mar animais, homem alimento para todos

Sl 104.2a Sl 104.2b-4 Sl 104.5-13 Sl 104.1418 Sl 104.1924 Sl 104.2526 Sl 104.2124 Sl 104.2730

Salmo 105: Deus na História. Deus é conhecido pelo que fez na história por seu povo, Israel.

Este salmo louva o Senhor por suas “maravilhas”. Os milagres e juízos do Senhor, vistos ao longo da história do seu relacionamento com Israel, o reve­ lam como um Deus que guarda o concerto, que cumpre suas promessas e que realiza milagres em “Envias o teu Espírito, esão criados”(Sl 104.1-35). Este favor dos seus. salmo é correspondente à narração da criação do Gê­ Salmo 106: O Amor do Concerto. Nesta sombria nesis. E adequado interpretá-lo como um comentário contrapartida ao Salmo 105, o salmista reviu a sobre Gênesis 1, não para explicar como Deus criou, evidência do erro humano na história. Contra este mas para celebrar a maravilha das suas obras. cenário, a maravilha do amor de Deus, que guarda As correspondências entre este salmo e Gênesis 1 o concerto, resplandece, brilhante e clara. são: Salmo 104. Deus na Natureza. A grandeza de Deus é exibida em todas as coisas maravilhosas que Ele fez. Nós devemos meditar sobre a evidên­ cia da sua glória na criação, e louvar o Senhor.

DEVOCIONAL______

Davi, que, mil anos antes de Cristo, apresentou uma lista, no Salmo 103, de maneiras pelas quais Deus ama a você e a mim. E a sua lista é muito mais espe­ cífica, muito mais abrangente, e muito mais maravi­ lhosa do que a lista de Browning. Como Deus nos ama? Ele perdoa todas as nossas iniquidades e sara todas as nossas enfermidades (v. 3). Ele redime a nossa vida da perdição e nos coroa de benignidade e de misericórdia (v. 4). Ele enche a nossa boca de bens (v. 5). Ele faz justiça a todos os oprimidos (v. 6). Ele fez notórios os seus caminhos a Moisés, e se revelou nos poderosos feitos da história (v. 7). E a lista continua. Ele é misericordioso e piedoso (v. 8). Ele não nos tratou segundo os nossos pecados (v. 10). E ainda há mais. Muito mais para registrar nesta breve me­ ditação. O maravilhoso poema de Browning não foi o pri­ Mas se a vida parecer difícil e se o futuro parecer tão meiro a contar as maneiras de amar. O primeiro foi sombrio que você não consiga ver nada à frente, ex-

Deixe-me Contar as Maneiras (Sl 103) Elizabeth Barrett Browning escreveu um dos mais vigorosos poemas de amor da língua inglesa. Ele começa assim: Com o eu te amo? Deixe-me contar as maneiras. Eu te amo na profundidade, na altura e na largura que a m inha alma consegue alcançar, quando se sente fora do alcance da vista... E termina assim: Como os santos que estiveram perdidos — eu te amo com a respiração, com os sorrisos, com as lágrimas, de toda a minha vida! — e, se Deus qui­ ser, eu te amarei ainda mais depois da morte.

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Salmos 107— 112

ceto trevas, abra a sua Bíblia neste salmo que celebra o amor de Deus. Enquanto você conta com Davi as maneiras pelas quais Deus lhe ama, as trevas irão se dissipar. E, com Davi, você será levantado para cantar louvores a Deus.

O padrão visto aqui é seguido em cada retrato de redenção. A calamidade deixa o povo de Deus em situações desesperadoras. Eles clamam a Deus. Ele os resgata. Cada calamidade e cada resgate enrique­ cem o nosso entendimento da redenção, para que possamos louvar a Deus.

Aplicação Pessoal Anote o número deste salmo no verso da contra­ “A [alma] que se assenta nas trevas e sombra da morte, capa da sua Bíblia, de modo a poder localizá-lo nas presa em aflição e emferro”(Sl 107.10-16). Eles clama­ ocasiões em que se sentir desanimado. ram ao Senhor, e com inesgotável amor, Ele cortou as barras de ferro. Citação Importante “Eu acredito que cada indivíduo seja precioso para “Loiwos, por causa do seu caminho de transgressão” (Sl Deus, e que um propósito divino invencível seja reali­ 107.17,22). Quando eles clamaram ao Senhor, Ele zado em cada vida; uma vida que continua depois da com inesgotável amor curou as suas doenças e os res­ morte. Mil coisas acontecem conosco, coisas que não gatou da beira da morte. são a vontade de Deus’, mas nada pode acontecer co­ nosco que possa, no final, derrotar os seus objetivos.” “Descem ao mar em navios”(Sl107.23-32). Em grande — Leslie D. Weatherhead perigo, por causa de terríveis tempestades, eles clama­ ram ao Senhor. Com inesgotável amor, Ele acalmou a tempestade e os levou ao porto desejado. 1 DE MAIO LEITURA 121 O DEUS GLORIOSO “Quem é sábio observe estas coisas” (Sl 107.33-43). O Salmos 107—112 salmo é concluído com uma visão de Deus fazendo “Exalta-te sobre os céus, ó Deus, e a tua glória sobre toda do deserto uma terra fértil, na qual o povo possa ha­ bitar. Eles se rebelaram e foram oprimidos, mas “Ele a terra” (Sl 108.5). levanta da opressão o necessitado”. Aqui começa o livro V Os seus primeiros salmos se con­ O que o salmo diz, a você e a mim? Embora o salmo centram nas glórias de quem Deus é, e do que Ele fez. se inspire em perigos físicos para suas comparações, ele simbolizava aquele perigo espiritual no qual to­ Visão Geral dos os seres humanos se encontram. O nosso Deus é Seis salmos nos levam a louvar ao Senhor como Deus um Deus de libertação, pois nos redime de todos os de Salvação (Sl 107), Deus de Vitória (Sl 108), Deus perigos. Cientes do significado da redenção também de Vingança (Sl 109), Deus do triunfo do Messias (Sl louvamos ao Senhor “porque ele é bom, porque a sua 110), Deus de maravilhas (Sl 111) e Deus do homem benignidade é para sempre” (v. 1). bom (Sl 112). Salmo 108:0 Deus da Vitória. Davi se alegrou, pois Entendendo o Texto estava confiante de que “em Deus faremos proezas, Salmo 107: Deus de Salvação. A bondade de Deus pois ele calcará aos pés os nossos inimigos”. é revelada por meio da sua salvação dos redimidos de quatro perigos simbólicos: pobreza, prisão, en­ “Firme está o meu coração” (Sl 108.1-5, ARA). Davi fermidades e tempestade. iniciou esse salmo, que é uma oração e um pedido de ajuda contra os inimigos de Israel, com uma ex­ “Digam-no os remidos do Senhor” (Sl 107.1-3). pressão de total confiança no Senhor. Até mesmo o Os quatro perigos que se seguem simbolizam pedido de Davi era um ato de adoração, pois sabia a experiência real de Judá durante o cativeiro. que “a tua benignidade se eleva acima dos céus, e a tua Uma geração recentemente restaurada à antiga verdade ultrapassa as mais altas nuvens” (ARC). pátria dos judeus pôde identificar-se com cada Que lembrete para nós. Os nossos pedidos também de­ situação, e perceber, renovada, a maravilha da vem ser feitos com completa confiança. Começar cada redenção de Deus. oportunidade de oração com louvor por quem Deus é nos dará o coração firme de que Davi fala aqui. “Andaram desgarradospelo deserto "(Sl 107.4-9). Os fa­ mintos, os sedentos e os desabrigados de Judá clama­ “Deus falou” (Sl 108.6-9). Deus prometeu a vitória ram ao Senhor. Deus os redimiu, e com inesgotável que Davi agora reivindicava. Lançar o sapato era uma amor, os conduziu a uma cidade onde pudessem se representação do domínio de Israel sobre uma Moabe estabelecer. humilde e submissa.

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Salmos 107— 112

náo devemos nos esquecer de que Deus é um Deus de justiça, além de graça. A ira e o antagonismo que Davi expressou em relação aos ímpios que atormentam os justos são apenas um pálido reflexo da ira que Deus irá liberar quando o dia de graça terminar.

Davi, mesmo antes da batalha, confiava tanto no compromisso de concerto de Deus, de estar com os exércitos de Israel, que falou como se as vitórias já ti­ vessem sido obtidas. Deus nos fez promessas? Se fez, a resposta à nossa oração é táo certa como se ela já tivesse sido cumprida.

“Em Deus faremos proezas” (Sl 108.10-13). Sublinhe cada verbo no futuro do versículo 13, na sua Bíblia. E lembre-se de orar com uma confiança em Deus se­ melhante à de Davi. Salmo 109: Deus de Vingança. Deus irá defender os justos e punir seus acusadores. “A boca do ímpio e a bocafraudulenta” (Sl 109.1-31). Jesus nos diz que devemos orar por aqueles que nos tratam mal, e fazer o bem a nossos inimigos. Como um salmo como este, no qual Davi implorava que Deus punisse os ímpios que o oprimiam, se encaixa na ênfase contrastante de Jesus? Náo podemos rejeitar os salmos de imprecação, dizen­ do que, nos tempos antigos, as pessoas eram vingati­ vas, ou contrastando o “Deus do Antigo Testamento” com o “Deus de Jesus”. O fato é que os dois Testa­ mentos retratam Deus como alguém que defende os seus e pune os ímpios. Jesus frequentemente advertia os seus seguidores sobre a punição eterna, e 2 Tessalonicenses 1.6,7 diz: “Se, de fato, é justo diante de Deus que dê em paga tribulação aos que vos atribu­ lam, e a vós, que sois atribulados, descanso”. Sim, hoje, você e eu devemos enfatizar a graça de Deus, e exibi-la em cada relacionamento com os outros. Mas

DEVOCIONAL_______ O Deus do Homem Bom

(Sl 112) Eu estava conduzindo um retiro em Washington, e pedi que cada pessoa, do grande círculo, partilhasse alguma coisa de que realmente gostasse a respeito de si mesma: uma coisa que a destacasse como uma boa pessoa. Sabia que seria difícil para alguns. Tantos de nós fomos ensinados, desde a infância, que somos apenas pecadores salvos pela graça, que, de alguma maneira, parece “erra­ do” dizer ou pensar qualquer coisa boa a nosso próprio respeito. Foi difícil para os colegas em Washington. So­ mente alguns poucos mencionaram alguma coisa sig­ nificativa. A maioria balbuciou coisas como “Bem, eu gosto de crianças”, ou “Eu me visto bem”. Mas quando chegamos à esposa do pastor, ela disse, com honestidade, “Eu não conheço nada bom a meu respeito”. Que trágico. Por quê? Porque você se lembra de que o nosso Deus não é o Deus dos pecadores. Ele é o Deus

Salmo 110: Deus do Triunfo do Messias. O Mes­ sias que virá de Deus é Deus (v. 1), destinado a unir na sua pessoa o Reino prometido a um des­ cendente de Davi (w. 2,3), e a um novo sacerdócio (v. 4) e destinado também a julgar a terra (v. 5). Embora tenha somente sete curtos versículos, esse é 0 mais citado de todos os salmos do Antigo Testa­ mento. Para compreender a sua importância, leia (Mt 22.44; Mc 12.36; 16.19; Lc 20.42,43; At 2.34,35; 1 Co 15.25; Ef 1.20,21; Cl 3.1; Hb 1.3,13; 5.6,10; 6.20; 7.17,21; 8.1; 10.12; 12.2; 1 Pe3.22). O Deus que louvamos nesse salmo é um Deus que, em Jesus Cristo, irá fazer com que todos os seus pro­ pósitos se cumpram. Ele irá redimir os seus, irá julgar os ímpios do mundo e irá estabelecer o eterno Reino do nosso Deus. Salmo 111: Deus de Maravilhas. Nós louvamos o poder milagroso de Deus, pois as suas obras nos possibilitaram a redenção. “Louvarei ao Senhor de todo o coração" (Sl 111.1-10). Aqui está outro salmo que merece ser memorizado. Os seus dez curtos versículos nos motivam a louvar, ao vermos, outra vez, que Deus decidiu exercer o seu poder para redimir e cuidar de você e de mim. que trabalha afavor dospecadores. Mas Ele é o Deus dos pecadores que estão se tornando bons! E apropriado que Davi fale da bem-aventurança do “que teme ao Senhor, que em seus mandamentos tem grande prazer”. Esse é um homem que é trans­ formado pelo seu relacionamento com o Senhor: um homem que, por meio desse relacionamento, se tornou bom. Ele é generoso e doa livremente. Ele conduz os seus assuntos com justiça. Ele confia no Senhor. Ele se preocupa com os pobres. E a sua justi­ ça, suas boas ações, “permanece para sempre”. Por que você não dedica um momento, antes de ler o Salmo 112, para fazer a si mesmo a pergunta que pro­ pus naquele retiro? Quais são algumas coisas de que você gosta a seu respeito? O que lhe destaca como uma boa pessoa? Depois que tiver feito a sua lista, leia, neste salmo, as bênçãos que Deus tem reservado para você. O Senhor fez com que você se tornasse bom, para que Ele pudesse o abençoar para sempre.

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Salmos 113— 118

Aplicação Pessoal Israel, que é exaltado acima de todas as nações, e cuja Fique feliz, mas não orgulhoso, quando você en­ glória está acima dos céus, curvou-se para, do montu­ contrar o bem no seu coração e na sua vida. ro, erguer o necessitado, para fazer com que se assente com os príncipes. Citação Importante Nós, cristãos, também temos uma Páscoa para cele­ “O maior e mais santo dos paradoxos é aquele que brar. Deus, em Cristo, se tornou um homem, e se hu­ diz que o homem que realmente sabe que não pode milhou para aceitar a morte, para que nós, aos quais pagar a sua dívida, estará pagando-a para sempre.” a fé assinala com o seu sangue, possamos ser erguidos — G. K. Chesterton acima dos príncipes, para estarmos diante do trono de Deus. Que Ele seja louvado, realmente! 2 DE MAIO LEITURA 122 LOUVOR DA PÁSCOA Salmo 114: Fora do Egito. A própria terra estreme­ ceu quando a mão forte de Deus trouxe Israel da Salmos 113— 118 escravidão para a liberdade. “O Senhor, que se lembrou de nós, abençoará; abençoará a casa de Israel; abençoará a casa de Arão. Abençoará os Os versículos desse salmo fazem alusão aos atos his­ que temem ao Senhor, tanto pequenos como grandes”(Sl tóricos de Deus ao dividir o mar Vermelho e o rio 115.12,13). Jordão (v. 3), ao fazer tremer o Sinai (v. 4) e ao fazer de uma rocha sólida uma fonte de água (v. 8). O amor Este ciclo de seis salmos, conhecido como “Hallel de Deus motivava a redenção; o seu poder a realizava. egípcio” (louvor) era usado na Páscoa. Embora so­ Então, como agora, tudo o que o seu povo podia fazer mente um dos salmos mencione o Egito, o tema de era assistir, com assombro, enquanto Deus fazia tudo todos eles se encaixa com a época durante a qual Israel isso, e oferecer-lhe louvor. celebrava a redenção de uma condição de escravidão. Salmo 115: O Louvor de Israel. Esse salmo é um Visão Geral hino, entoado por toda a comunidade, alegrandoIsrael celebrava a época da Páscoa com este ciclo de se na sua unidade como um povo do Senhor. seis salmos. Os israelitas reconheciam a Deus por ter levantado os oprimidos (Sl 113) e pela libertação do “Ao teu nome da glória”(Sl 115.1-11). A Páscoa relem­ Egito (Sl 114). Eles ofereciam o louvor da comunida­ bra eventos que separam o Deus de Israel de todas as de (Sl 115), o individual (Sl 116) e de todas as nações divindades das outras nações. (Sl 117). O ciclo era concluído com um exultante cla­ Os pagãos zombam, porque Deus não pode ser vis­ mor de louvor que se destinava ao Messias (Sl 118). to, mas os seus ídolos de prata e de ouro são massas inanimadas. Compreendendo a vasta diferença entre Entendendo o Texto Deus e todos os deuses, o povo de Deus clama, em Salmo 113: Levantando os Pobres. Deus é louvado conjunto: por curvar-se para erguer os necessitados do mon­ turo e fazê-los assentar com os príncipes. Confia, ó Israel, no Senhor; ele é teu auxílio e teu escudo. “Seja louvado o Senhor” (Sl 113.1-3). A Páscoa era Casa de Arão, confia no Senhor; verdadeiramente uma ocasião para louvor. Israel re­ ele é teu auxílio e teu escudo. lembrava tudo o que Deus tinha feito pelo seu povo, Vós, os que temeis ao Senhor, com cada família judia re-encenando a ceia que teve confiai no Senhor; lugar na noite em que a morte se abateu sobre o Egi­ ele é vosso auxílio e vosso escudo. to, mas passou sem atingir as casas assinaladas com sangue daqueles que pertenciam a Deus. Por fim, “O Senhor, quese lembrou de nós, abençoará”(Sl 115.12Faraó reconheceu o seu pecado e libertou os seus es­ 18). Em conjunto, o povo de Deus reconheceu que cravos. A Páscoa, assim, era uma festa que comemo­ Deus irá abençoar (w. 12,13) e desejaram, uns aos rava a liberdade, uma festiva celebração da salvação outros, asua bênção (w. 14,15). Em conjunto, “ben­ de Deus. Não é de admirar que esse salmo comece diremos ao Senhor, desde agora e para sempre”. com “Louvai ao Senhor” e invocasse Israel a louvá-lo Talvez aquilo que precisamos aprender com esse “desde agora e para sempre”. salmo seja o benefício, a vital importância, da adoração em conjunto. Todo o salmo revela uma “Quem é como o Senhor, nosso Deus?” (Sl 113.4-9). comunidade de adoração que, pela sua adoração, Não é de admirar que Deus seja louvado. O Deus de encoraja todos a confiarem em Deus mais pro-

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Salmos 113— 118

universo, ou como alguém que não foi criado, mas como o nosso próprio gracioso e amoroso Senhor.

fundamente. Precisamos do apoio mútuo que a adoração comunitária pode oferecer. Precisamos ser lembrados de que fazemos parte de um grande grupo que conhece a Deus, que experimentou a sua bênção, e que tem confiança que Deus conti­ nuará a nos abençoar. Não é de admirar que o Novo Testamento nos ad­ moeste: “Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns; antes, admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai aproxi­ mando aquele Dia” (Hb 10.25). Salmo 116: Agradecimentos Pessoais. A Páscoa náo relembrava somente a libertação da nação. Ela também significava a salvação dos indivíduos. O verdadeiro crente é sensível à natureza pessoal da salvação, e proclama a sua gratidão. Cada um de nós pode dizer: eu “estava abatido, mas Ele me livrou”.

“Amo ao Senhor” (Sl 116.1-7). O crente de todas as épocas tem um profundo sentimento de necessidade, e uma percepção de que Deus, de alguma maneira, agiu para satisfazer essa necessidade. A fé de que “Pie­ doso é o Senhor e justo; o nosso Deus tem misericór­ dia” foi expressa, pela invocação do nome do Senhor, dizendo: “O Senhor, livra a minha alma!” E, em todas as gerações, esse clamor tem trazido descanso à alma. Náo é de admirar que nós amemos ao Senhor. Senti­ mos a sua presença nos nossos piores momentos, e o conhecemos, não apenas como o grande arquiteto do

DEVOCIONAL_______ Este É o Dia! (Sl 118) Olhe para trás, para olhar à frente. Vire-se para on­ tem, para ver o amanhã. E quase um paradoxo. Mas é verdade. Quando, a cada Páscoa, Israel olhava para trás, para a redenção que foi conquistada para eles, do Egito, na verdade, estavam olhando à frente, e contemplando o minis­ tério do Messias. O que a sua vinda significará? Um clamor de louvor, pois “a sua benignidade é para sempre” (w. 2-4). A liberdade encontrada ao se buscar refúgio no Senhor (w. 5-9). Uma nova percepção da nossa necessidade desesperadora, aliviada pelo fato de que o Senhor nos salvou (w. 10-14). Gritos de alegria pontuam a percepção de que “não morrerei, mas viverei” (w. 1518). Louvor incessante quando entramos pelas portas dos céus para dar graças a Deus pela nossa salvação (w. 19-21). E, em tudo isso, a exaltação de Jesus, que, rejeitado pelos edificadores, se tornou a pedra de es­ quina do plano de salvação de Deus (w. 22,23).

“Que darei eu ao Senhorpor todos os benefícios que me tem feito?” (Sl 116.8-19). Quando, depois da minha conversão, tentei testemunhar a outros marinheiros, enquanto estava na Marinha, eles ficaram espantados. Como a salvação pode ser gratuita? Afinal, o que, além do medo da punição, poderia impedir uma pes­ soa de fazer qualquer mal que ela desejasse fazer? O salmista sabia o que cada crente compreende, in­ tuitivamente. Deus nos libertou da morte, e a sua sal­ vação despertou o amor. Tudo o que pedimos, tudo o que desejamos saber, é como podemos começar a retribuí-lo pela sua bondade. Esse salmo diz, simplesmente, que nós decidimos ser servos daquEle que nos libertou da escravidão. Só que­ remos servir àquEle que nos serviu. A nossa gratidão transborda, e com a nossa vida — assim como com os nossos lábios — nós clamamos, “Louvai ao Senhor”. Salmo 117: Deus como Salvador: A Páscoa é pro­ fética para todos os povos, pois revela um Deus salvador. Aqui, o salmista recorda uma verdade de que os pro­ fetas sempre falavam. Deus é o Salvador, não somente de Israel, mas do mundo todo. A interpretação desse salmo se cumpriu em Cristo. Todas as nações, todos os povos, louvam e exaltam ao Senhor pela salvação que Jesus conquistou. Então, vem a repentina percepção de que “Este é o dia que fez o Senhor” — um dia que transborda na eternidade; um dia que não terá fim, em que daremos graças a Deus, exaltando-o, pois Ele é o nosso Deus e porque “Ele é bom” e “porque a sua benignidade é para sempre”. Hoje, quando você e eu olhamos para trás, vemos o nosso amanhã na cruz de Jesus, o nosso sacrifício Pas­ cal. Na sombra do Calvário vemos o nascer do dia que o Senhor ordenou, para você e para mim. Quan­ do nos viramos, depois de olhar novamente para a cruz, e olhamos à frente, podemos ver, logo depois do horizonte do amanhã, o retorno de Cristo. O que esse retorno significará? Com que clareza esse sublime salmo nos dá a resposta. Para você e para mim, o retorno de Cristo significará liberda­ de, brados de alegria e infindáveis dias de louvor. Aplicação Pessoal Quando você olhar para a cruz, olhe atentamente, até conseguir ver o amanhã.

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Salmo 119

Citação Importante “Eu escrevi muito sobre a necessidade de lidar com o pecado, sobre o arrependimento e o dever cristão de mudar e viver de acordo com os caminhos de Deus. Talvez, então, seja um bom momento para nos lem­ brarmos de que o relacionamento entre o homem e Deus é sempre como uma rua de duas mãos. O re­ sultado do arrependimento do homem é a graça de Deus, o seu perdão amoroso. A graça compreende to­ das as bênçãos que foram trazidas naquele momento singular da história, no Gólgota. Pois é somente atra­ vés do poder da ressurreição de Cristo que poderemos encontrar o perdão, que torna a vida suportável.” — Chuck Colson 3 DE MAIO LEITURA 123 AS MARAVILHAS DA LEI DE DEUS Salmo 119

“Desvenda os meus olhos, para que veja as maravilhas da tua lei” (Sl 119-18). Esse salmo, o mais extenso da Bíblia, contém uma série de meditações de oito linhas, baseadas em cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico. Ele celebra uma revelação que traz alegria, porque cada nova pa­ lavra de Deus mostra não apenas informações, mas o seu Autor. Definição dos Termos-Chave Oito diferentes sinônimos em hebraico são usados em referência às Escrituras. São eles:

Dabar (“palavra”), um termo geral para qualquer for­ ma de revelação divina. Torah (“lei”), um ensinamento, indicando um único mandamento, os livros de Moisés ou todo o conteúdo das Escrituras. Piqqudim (“preceitos”), instruções detalhadas, for­ necidas por Deus, na qualidade de guardião de seu povo. Huqqim (“estatutos”), leis compulsórias, gravadas em um registro permanente. Mispatim (“ordenanças”), decisões tomadas por Deus, que contém os juízos de Deus a respeito de os direitos e deveres dos homens. Miswot (“mandamentos”), ordens dadas por autori­ dade competente. Edot (“testemunhos”), testemunhos vívidos e inequí­ vocos da vontade de Deus aos homens. Imra (“promessa”), um termo que é frequentemente traduzido como “palavra”, sugerindo a fidedignidade da verdade divina, sob qualquer forma. Juntas, essas palavras formam uma imagem clara das Escrituras. São a Palavra fidedigna de Deus, na qual

podemos depositar completa confiança, e pela qual aprendemos a confiar em Deus e a viver uma vida caracterizada pela santidade. Visão Geral Vinte e duas breves meditações, cada uma delas ini­ ciada com uma letra diferente do alfabeto hebraico, maravilham o leitor. Elas falam do amor revelado, em palavras que revelam o Autor, e servem de luz, para guiar o crente por toda a sua vida. Entendendo o Texto Cada uma das vinte e duas meditações aqui encon­ tradas tem grande importância. A seguir, está apenas uma amostra das riquezas que estão disponíveis para nós no Salmo 119.

“Como purificará o jovem o seu caminho?” (Sl 119.916). Dizemos a Sarah, que tem nove anos, o quanto é importante que ela use o seu aparelho ortodôntico. De alguma maneira, ela não consegue entender o fato de que, ou faz isso, ou usará metal nos dentes durante a adolescência. Sarah é como o “jovem” desse versícu­ lo. Ela também é inexperiente demais para ter obtido sabedoria, ou ser capaz de avaliar as consequências futuras de suas ações atuais. Assim como cada jovem que precisa de alguém que lhe sirva como um guia, para que a sua vida possa ir bem! De certa forma, cada um de nós é “jovem”. Nenhum de nós tem sabedoria para fazer escolhas morais ade­ quadas por sua própria conta. E assim, por meio da graça, Deus nos deu a sua Palavra, para vivermos em conformidade com ela. Ele não pretendia nos restrin­ gir nem limitar, mas nos guiar por caminhos que ga­ rantem bênçãos. E assim, nos deparamos com uma escolha simples e básica. Nós iremos, ou não, nos desviar dos seus man­ damentos? Se quisermos continuar em segurança naquele cami­ nho, precisamos esconder a Palavra de Deus nos nos­ sos corações (v. 11), declarar os seus juízos (v. 13), nos alegrarmos ao seguir os seus estatutos (v. 14), meditar sobre os seus preceitos (v. 15) e jamais negligenciar a sua Palavra (v. 16). Dizemos a Sarah, “Confie em nós. Use o seu apare­ lho, e não irá se arrepender no futuro”. Para Sarah, também, a questão é uma só. Fazer o que nós disser­ mos, não importando quão pouco deseje fazê-lo, em algumas ocasiões. Talvez o Salmo 119 possa ser interpretado como o sal­ mista falando com você e comigo, da mesma maneira como a mãe de Sarah e eu falamos com ela. “Confie em Deus”, ele disse. “Concentre-se em conhecer e obedecer à Palavra de Deus. Se o fizer, você pode ter certeza, o seu futuro será brilhante.”

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Salmo 119

“Desiria os meus olhos de contemplarem a vaidade” (Sl 119-33-40). Que necessidade desesperadora nós temos, de perspectiva. Para Sarah, nossa filha de nove anos, tudo o que ela vê, na rua ou na televisão, desperta o de­ sejo. Ela vê uma bolsa colorida, e a quer. Não importa se ela já tem várias bolsas em casa, e não precisa de mais uma. Ela vê um urso de pelúcia encantador, e o deseja. Não importa que no sótão esteja uma caixa cheia de bichos de pelúcia, que os parentes já lhe deram. Quando a advirto para que não peça outra coisa, ela me diz: “Compre este calção de banho, papai. Você merece”. Então digo a ela: “Eu não preciso de um calção de banho novo. Já tenho alguns”. Ela faz uma cara feia, e não consegue entender, quando lhe digo que, mesmo que tivesse um milhão de dólares, não compraria algo de que não precisasse. Como é difícil, em uma cultura materialista, não somente criar um filho, mas conse­ guir explicar a diferença entre o que “queremos” e o que “necessitamos”. Assim, o salmista pediu que Deus o orientasse “na ver­ dade dos seus estatutos”, e disse, “porque nela tenho prazer”. À medida que prossigo com a leitura, percebo o quanto preciso que a Palavra de Deus me dê pers­ pectiva. Sei que a alegria é encontrada no caminho dos mandamentos de Deus, e não nas posses ou nos prazeres. Mas preciso da sua Palavra a cada dia:

Não posso perder a perspectiva da realidade, que só pode ser encontrada na Palavra de Deus, que é rica e maravilhosa.

“Desviei os meuspés de todo caminho mau”(Sl 119.97104). Uma coisa da qual não se pode escapar são as pessoas. Sejam amigos ou inimigos, você e eu estamos sempre rodeados de outras pessoas. A pequena Sarah descobre que tanto os amigos quanto os inimigos exercem uma terrível influência. “Mas todos têm este tipo de lancheira”, reclama ela. “A que você comprou para mim não é boa”. Ou, “Por que eu não posso ter um caderno como o de Heather?” Fazendo cara feia, às vezes se queixando, sem­ pre temendo não ser aceita ou querida, se não tiver ou fizer o que as outras crianças têm ou fazem, Sarah, aos nove anos, está aprendendo a respeito da tirania das expectativas dos outros. Dizemos a ela que as pessoas vão gostar dela, por ela mesma, e que não precisa acompanhar a multidão. Mas isso é difícil de perceber, para os pequenos, e até mesmo para a maioria dos adultos. O salmista, no entanto, tinha assumido um compro­ misso que protegia o seu coração contra a tirania, tan­ to de inimigos quanto de amigos. “Oh! Quanto amo a tua lei”, disse ele, e “é a minha meditação em todo o dia”. Os mandamentos de Deus o tornaram “mais sábio” do que os seus inimigos, e ele pouco se preo­ cupava com a zombaria deles. Por meio da Palavra de Deus, ele tinha “mais entendimento” do que todos os seus mestres, e “mais prudência do que os velhos”. O salmista era capaz de fazer uma pausa e avaliar os caminhos que os outros seguiam, e fazer as suas próprias escolhas, e não somente imitá-los. “Medito nos teus testemunhos”, disse ele. “Guardo os teus pre­ ceitos”. E nós também, por meio daquela Palavra de Deus que se torna cada vez mais doce, à medida que a conhecemos e lhe obedecemos, encontramos liberta­ ção das expectativas dos outros, e aprendemos a odiar “todo falso caminho”.

(SI 119.105-112) Uma das mais úteis imagens do Salmo 119 é encon­ trada no versículo 105. “Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para o meu caminho”. Nos tempos da Bíblia, não havia lanternas potentes. O viajante tinha uma pequena lâmpada a óleo, cujo pavio fornecia pouca luz. Era o suficiente para enxer­ gar. Não o suficiente para ver o que estava à frente, no caminho, mas o suficiente para dar o passo seguinte, sem tropeçar nem cair. Que lembrete para nós. A Palavra de Deus é uma luz para o nosso caminho. Ela não ilumina o nosso futu­ ro, mas brilha no nosso presente. A Palavra de Deus nos dá a luz de que precisamos para dar o nosso passo seguinte na vida.

Aplicação Pessoal Se enchermos nossos corações e mentes com a Palavra de Deus, teremos a luz de que precisamos para saber o que devemos fazer a seguir. Citação Importante “Eu distinguiria o estudo acadêmico de um estudo mais geral da Bíblia. Em determinado nível — e talvez seja este o nível mais importante — busco a Bíblia com prontidão e uma expectativa de ouvir a voz de Deus nela. Mas não existe conflito entre este uso mais devocional da Bíblia, e o seu estudo acadêmico. Tenho procurado tornar disponíveis aos meus ouvintes (de uma forma na qual eles consi­ gam assimilar), os resultados de meus esforços para capacitá-los, como a mim mesmo, a reconhecer e

Inclina o meu coração a teus testemunhos e não à cobiça. Desvia os meus olhos de contemplarem a vaidade e vivifica-me no teu caminho.

DEVOCIONAL______ Um Passo por Vez

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Salmos 120— 134

aplicar a voz de Deus que está contida nas Sagradas Escrituras.” — F. F. Bruce 4 DE MAIO LEITURA 124 CÂNTICOS DE ASCENSÃO Salmos 120— 134

Salmo 123: A Dependência de Deus. O povo de Deus confia nEle, e na sua misericórdia, como um servo que depende da bondade de outras pessoas, e que olha para o seu senhor com uma grande ex­ pectativa.

“Tempiedade de nós, ó Senhor” (Sl 123.1-4). A mise­ “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do ricórdia é uma qualidade muito admirada no Antigo Senhor! Os nossos pés estão dentro das tuas portas, ó Testamento. É a compaixão e a preocupação pelo pe­ dido de uma pessoa desamparada, que encontra ex­ Jerusalém” (Sl 122.1,2). pressão no oferecimento de ajuda. A pessoa que pre­ Como nos sentimos, quando chega o domingo, e nos cisa da misericórdia está dependendo completamente dirigimos à igreja onde adoramos a Deus? Esse grupo da boa vontade de outra pessoa para ajudá-la. Como de salmos nos lembra que a adoração deve ser uma é maravilhoso saber que dependemos de Deus, e que Ele se prontifica a nos ajudar. ocasião alegre, rica de significados para o crente. Salmo 124: Deus, nosso Socorro. Somente porque Visão Geral Deus está do lado de Israel esse povo sobreviveu. Estes 15 “cânticos de ascensão”, sobre uma varie­ Assim, todo Israel louva o Criador do céu e da ter­ dade de temas, eram provavelmente entoados por ra, que provou ser o socorro do seu povo. peregrinos hebreus, quando se dirigiam a Jerusa­ lém para comparecer a uma das festas anuais de “Se não fora o Senhor, que esteve ao nosso lado” adoração do Antigo Testamento. (Sl 124.18). Nações modernas afirmaram ter Deus ao seu lado. Na Primeira Guerra Mundial, as fivelas dos Entendendo o Texto dos soldados alemães declaravam, “Gott Mit Salmo 120: A Alma que Tem Saudade de Casa. cintos Uns ”(Deus Conosco), e a moeda dos Estados Unidos O primeiro desses salmos retrata um crente an­ atualmente anuncia, “In God e Trust”(Nós confiamos gustiado, distante da sua pátria espiritual. A ter­ em Deus). Mas somente Israel teve uma base válida ra onde ele luta não é o seu lar: a sua terra natal para fazer essa declaração, pois as promessas do con­ é uma terra de paz (shalom: bem-estar geral em certo de Deus foram feitas somente a esse povo, e não todos os aspectos da vida). às nações modernas. Mesmo assim, Deus só estava o seu povo para libertá-los quando eram fiéis às “Clamei ao Senhor” (Sl 120.1-7). Em determinadas com suas próprias responsabilidades na aliança. Você e eu, épocas durante o ano, cada hebreu era convocado como indivíduos, a graça de Deus. E po­ a voltar seu coração, se não fosse possível retornar demos decidir servivenciamos fiéis ao Deus que foi e é tão bom fisicamente, a Jerusalém, e unir-se à comunidade para conosco. crente na adoração no Templo do Senhor. Esse salmo retrata uma pessoa que vive entre os Salmo 125: Um Cântico de Confiançâ. Deus faz o ímpios, que percebia, uma vez mais, nesta época bem aos que são bons. Podemos confiar nEle, pois do ano, que era um homem de paz, que vivia entre somente Ele é imutável. aqueles que eram contenciosos. Como é importan­ te que retornemos às nossas raízes, e junto à comu­ Salmo 126: Grandes Coisas! A restauração de Is­ nidade de fé, confiemos e invoquemos o Senhor. rael à sua terra natal, depois do cativeiro na Ba­ bilônia, é apenas uma das “grandes coisas” que o Salmo 121: Confiando em Deus. Não há socor­ Senhor fez pelo seu povo escolhido. ro nas colinas onde os pagãos adoram. O nosso socorro vem do Senhor. “Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria” (Sl 126.1-6). Olhando para trás, o salmista podia “O Senhor é quem te guarda” (Sl 121.5). O que po­ ver que o cativeiro de Israel tinha sido um prelúdio demos esperar do Deus que nos protege, em todos para a bênção. Quando você e eu olharmos para os momentos? Simplesmente, que Ele nos “guarda­ trás e examinarmos os mais difíceis períodos de rá de todo mal”; Ele guardará a nossa alma. nossa vida, também seremos capazes de sentir a boa mão de Deus em ação. Salmo 122: Alegria em Jerusalém. A chegada a Jerusalém, onde o povo de Deus adorava, era Salmo 127: A nossa Herança. Os filhos que Deus motivo de celebração. nos dá são a nossa “casa”, uma herança do Senhor

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Salmos 120— 134

Jerusalém está sobre as montanhas da Palestina central. Desde os tempos de Davi e Salomão, conforme essa ilustração, Jerusalém era singular — um local que Deus escolheu, por intermédio de Davi, como o único local da terra onde um templo poderia ser edificado, e onde sacrifícios poderiam ser oferecidos ao Senhor.

que não constrói casas, mas que forma e edifica famílias. “Eis que osfilhos são herança do Senhor” (Sl 127.1-5). A atitude do povo judeu com relação aos filhos está bem expressa nesse simples salmo, que os considera como um presente de Deus, e sugere que “quanto mais, melhor”.

Salmo 131: A Fé Infantil. Davi retratou a fé como uma criança, aninhada junto à sua mãe, e contras­ tou essa atitude com uma arrogância que desafia a Palavra de Deus. Salmo 132: O Juramento de Concerto de Deus. A promessa de Deus a Davi assegurou a Israel o seu destino.

Salmo 128: Temor do Senhor. As bênçãos que en­ “O Senhor jurou” (Sl 132.1-13). Jerusalém, a cidade volvem a reverência ao Senhor são celebradas aqui. de Davi, foi governada por uma linhagem contínua Nós nos alegramos no Senhor. E nos alegramos nas de seus descendentes. E um de seus descendentes se suas boas dádivas para nós. assentaria no trono de Judá, para ali governar “per­ petuamente”. Além disso, Deus escolhera Sião como “O Senhor te abençoará” (Sl 128.1-6). O temor do o local para o seu Templo. Assim, o futuro de Israel Senhor, aquele respeito por Deus, do Antigo Testa­ estava assegurado. Deus havia dito: mento, que motiva a obediência, é o caminho para a bênção para todos nós. Na maioria dos casos, a “Este é o meu repouso para sempre; bênção será óbvia: vida longa, prosperidade, uma aqui habitarei, pois o desejei. família grande e feliz. Abençoarei abundantemente o seu mantimento; Essas são as coisas que os judeus dos tempos bíbli­ fartarei de pão os seus necessitados. cos desejavam, uns aos outros, quando se reuniam Vestirei de salvação os seus sacerdotes, para adorar: Paz e prosperidade. e os seus santos rejubilarão”, (w. 14-16) Nem todos nós, que andamos nos caminhos de Deus, temos essa experiência na terra. Mas cada Você e eu também temos um futuro que está com­ um de nós, que conhece o Senhor e o serve, tem pletamente assegurado. Podemos celebrar, pois em asseguradas a paz e a prosperidade nos “dias da Cristo se cumpriu o juramento que Deus fez a Davi, nossa vida” que se estendem para sempre, pela eter­ e uma nova promessa foi feita a cada pessoa que de­ nidade. positar a sua confiança no Senhor. Salmo 129: Paz e Prosperidade. Contra o cená­ rio das dificuldades passadas, as bênçãos de paz e prosperidade parecem duplamente importantes. Salmo 130: Cântico de Redenção. O homem que se maravilha com a disposição de Deus em perdoar compreende tanto a sua própria condição de pecador quanto a extensão da “misericórdia” de Deus e da sua “abundante redenção”. (Veja o DEVOCIONAL.)

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Salmo 133: Em Louvor à Unidade. A adoração faz com que o povo de Deus se una, como uma família. O óleo “precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba” traduz celebração e felici­ dade. Também encontramos alegria, quando vivenciamos a nossa unidade com irmãos e irmãs na família de Deus. Salmo 134: Em Louvor ao Ministério. Que privi­ légio e que alegria é sermos servos do Senhor.

Salmos 135— 141

DEV“OOCIONAL__________ pois eu ainda estou subindo, querido, que Você Quer Dizer com: Pela Décima-Nona Vez?” (SI 130) Donald Grey Bamhouse costumava descrever um crente, angustiado com um sentimento de culpa, que apelava para o perdão de Deus. O crente es­ tava envergonhado, pois sabia que tinha cometido o mesmo pecado muitas vezes antes. “O, Senhor”, implorou ele, “por favor, perdoe-me uma vez mais. Eu sei que não mereço isso, pois é a décima-nona vez que cometo este pecado este mês. Mas, por fa­ vor, Senhor, perdoe-me esta décima-nona vez”. E, dizia o Dr. Barnhouse, o Senhor olhou com surpre­ sa. “O que você quer dizer com: Pela décima-nona vez?” O que esse grande intérprete da Palavra de Deus está dizendo é o que está afirmado claramente no Salmo 130.3,4: “Se tu, Senhor, observares as iniquidades, Senhor, quem subsistirá? Mas contigo está o perdão”. Deus não faz um registro dos nossos pecados! Quando confessamos, Ele perdoa, e então os nos­ sos pecados são removidos. Que bênção! O nosso passado já não é um peso que devemos carregar conosco para sempre. O nos­ so passado se foi, e podemos olhar à frente com uma esperança renovada. Por meio do perdão, fo­ mos purificados! O amanhã será diferente, e através de Cristo obteremos a vitória sobre os pecados que, no passado, significariam uma completa derrota.

eu ainda estou subindo, e a vida, para mim, não tem sido uma escada de cristal. — Langston Hughes

Citação Importante Mãe para filho: Bem, filho, eu vou lhe dizer: A vida para mim não tem sido uma escada de cristal. Ela tem pregos, e lascas, e suas tábuas estão arrancadas, e não há tapete no chão — nudez. Mas o tempo todo eu tenho subido, e alcançado patamares, e feito curvas nos cantos, e algumas vezes entrado no escuro onde não há luz. Então, menino, não volte. Não desça os degraus, por achar que é muito difícil. Não desista agora — ,

“Israel... seu tesouro peculiar” (Sl 135.1-7). O sal­ mista começou expressando o seu assombro por Deus ter escolhido o povo hebreu como o seu povo. Como testifica todo o Antigo Testamento, essa era uma escolha soberana, e não se baseava nos méritos de Israel. Deus, “que faz o que quer”, esco­ lheu Israel simplesmente porque assim o quis. Como é bom saber que a escolha que Deus faz de você e de mim também é uma expressão de sua li­ vre vontade. Deus nos ama porque Ele assim quer, não porque nós mereçamos ser amados.

5 DE MAIO LEITURA 125 AS OBRAS DAS MÂOS DE DEUS Salmos 135— 141

“Eu te louvarei, porque de um modo terrível e tão ma­ ravilhoso fui formado; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem” (Sl 139.14). Louvor e adoração nascem da revelação que Deus faz de si mesmo a nós. Quanto mais conhecemos sobre o que Deus fez, e continua fazendo, mais res­ pondemos a Ele em adoração. Visão Geral As muitas e variadas obras que Deus realiza na vida do seu povo estimulam o louvor. O Senhor é louvado por obras feitas em favor de Israel (Sl 135— 136). Em contraste, os cativos da Babilônia não podiam entoar os cânticos de Sião (Sl 137). Davi louvou a Deus pela obra do Senhor ao mol­ dar a sua vida (Sl 138— 139), e por preservá-lo dos inimigos (Sl 140— 141).

Entendendo o Texto Salmo 135: Deus Escolheu Jacó. Essa escolha, expressa na história através da derrota que o Se­ Aplicação Pessoal nhor impôs aos inimigos de Israel, incentivou o Não permita que um sentimento de vergonha im­ salmista a convocar o povo de Deus ao louvor. peça que você desfrute o perdão de Deus.

“Foi ele queferiu osprimogênitos do Egito” (Sl 135-821). O amor de Deus importa. Diferentemente dos tolos ídolos pagãos, Ele é capaz de agir em nosso favor, no mundo real. Não é de admirar que Israel fosse incentivado ao louvor! Deus tirou Israel da es­ cravidão, derrotou muitas nações, e deu ao eu povo a sua terra como herança.

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Salmos 135— 141

Salmo 136: O seu Amor É Eterno. Seis meras sílabas, em hebraico, compõem a alegre respos­ ta do povo quando uma pessoa que conduzia a adoração entoou louvor a Deus por suas muitas obras maravilhosas. Traduzimos essa resposta com seis palavras: “A sua benignidade é para sempre”.

não ter uma grande participação; podemos nem se­ quer saber agora qual é o seu plano para nós. Mas Deus tem um propósito a preencher, na sua vida, e na minha. Para Ele, somos importantes! Podemos declara como Davi: “O Senhor aperfeiçoará o que me concerne; a tua benignidade, ó Senhor, é para sempre; não desampares as obras das tuas mãos”.

Salmo 137: Nenhum Cântico para Entoar. Na Babilônia, longe da herança prometida por Deus, Israel não podia entoar cânticos de louvor.

Salmo 139: Tu me Conheces. Em um dos seus salmos mais significativos, Davi investigou a na­ tureza do seu relacionamento com Deus, até a criação, pelo Senhor, do seu “interior”. (Veja o DEVOCIONAL.)

O Salmo anterior e também o posterior nos mos­ tram que o louvor surge da revelação que Deus faz de si. Como nós o conhecemos, por meio das suas obras, nossos corações respondem. Na Babilônia, longe de sua terra natal, o povo ju­ deu se sentia esmagado e isolado de Deus. Somente quando Deus agiu outra vez, para esmagar os seus opressores e restaurá-los à Terra Santa, cânticos de alegria voltariam a jorrar de seus lábios. O Salmo nos lembra que é somente quando vemos Deus em ação, na história e em nossa vida, que conhecemos a alegria verdadeira. Jesus explica da seguinte ma­ neira: “Pedi e recebereis, para que a vossa alegria se cumpra” (Jo 16.24). Cristo não quis dizer que o fato de receber aquilo por que oramos nos trará ale­ gria. O que Ele quis dizer é que, na resposta à ora­ ção, perceberemos Deus em ação, e isso — Deus ativo em nossa vida — nos dá alegria. Salmo 138: O seu Propósito para mim. Cada crente é também uma obra das mãos de Deus, moldado para um propósito. Encontramos ale­ gria, e somos incentivados a adorar quando con­ fiamos que Ele opera em nós, e por nós.

“Engrandeceste... acima de todo o teu nome” (Sl 138.13). Davi nos convidou a concentrarmos os nossos pensamentos a respeito de Deus no seu “nome” e na sua “Palavra”. Quando o fizermos, aprenderemos a confiar nas no seu amor e fidelidade. “Quando ouvirem” (Sl 138.4,5). A palavra proferida no nome do Senhor deve estimular até mesmo os reis da terra, a louvar. “Tu me revivificarás” (Sl 138.6-8). Davi tinha um motivo pessoal para louvar. Sentira o amor e a fide­ lidade de Deus, quando o Senhor o preservou, em meio a muitas dificuldades. O que Davi compreendeu, e nós precisamos apre­ ciar, é que cada um de nós é importante para Deus. O seu amor o levou a tornar a nossa vida significa­ tiva, conectando-a ao seu plano eterno. Podemos

“Tu me conheces” (Sl 139.10-12). Davi não se preo­ cupava com o paradoxo de um Deus transcenden­ te que é também iminente. Ele reconheceu Deus como aquEle que preenche todo o universo, mas considerou o Senhor de forma constante, penetran­ temente presente entre os seus servos. Deus estava próximo, observando cada ato de Davi, consciente de cada pensamento seu. Deus é transcendente, muito acima do mais alto céu. Mas Ele também está totalmente presente nos santos, aqui e agora, dando a cada um de nós a sua atenção indivisa. “Possuíste o meu interior” (Sl 139.13-16). Davi estendeu ao futuro e ao passado a sua admiração pelo interesse de Deus pelos indivíduos. Deus tem estado conosco, supervisionando o nosso desenvol­ vimento, desde o útero. Além disso, os cuidados de Deus se estendem ao futuro: a “todos os meus dias” (ARA), os quais foram escritos no livro de Deus antes que cada um deles viesse a existir. Com que clareza este Salmo ensina o significado da vida individual; um significado enfatizado pela atenção cuidadosa de Deus ao indivíduo desde a concepção, em seu estágio fetal, passando pela sua infância, e além dela, abrangendo todos os dias da existência do indivíduo. Deus sabe, mesmo que muitos ne­ guem isso hoje, que a vida se inicia no útero, e se estende por toda a eternidade. Quão preciosos você e eu somos para Deus! E quão preciosos são aqueles que já foram gerados, mas ainda não nasceram! “Quão preciosos são para mim, ó Deus, os teus pen­ samentos” (Sl 139.17-24). Davi respondeu ao amor que sentia nos cuidados que Deus tinha com ele, com um desejo de agradar ao Senhor. Ele queria entender os pensamentos do Senhor, odiar aqueles que odiavam a Deus, e ser purificado de “algum caminho mau”. Deus realmente nos conhece, mesmo quando tentamos nos esconder dEle. E quando abrimos,

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Salmos 142— 150

as suas obras estão proteger o crente de homens violentos, e assegurar justiça aos pobres.

conscientemente, nossos corações, e nos tomamos totalmente honestos com Deus e com nós mesmos, Ele prova nossos corações, purificando-nos de ca­ minhos “maus”.

Salmo 141: Meu Refúgio. Davi buscou socorro em Deus, primeiramente para viver uma vida justa, e então para ser livre dos malfeitores que esperava que fossem julgados por Deus.

Salmo 140: Justiça para os Pobres. Davi invo­ cou a Deus, para resgatá-lo, certo de que entre

DEV OCIONAL_______

Para Ele, as Trevas São como a Luz (SI 139) Ouvi a história, faz muitos anos, de uma máe que usou as lições para pré-escola que eu escrevi. A sua filhinha entrou em casa, reclamando, “Eu queria que ele me deixasse sozinha”. A mãe saiu, mas não encontrou ninguém ali. Um pouco mais tarde, a menina de três anos voltou. “Eu queria que ele me deixasse sozinha”. Novamente, mamãe foi olhar, mas não havia ninguém ali. Quando isso aconteceu, pela terceira vez, mamãe se sentou com sua filha, e perguntou: “Quem?” A resposta foi: Jesus! A lição da Escola Dom ini­ cal da garotinha de três anos era “Jesus sempre me Vê”. A menina tinha desejado apanhar algu­ mas flores proibidas, e desejou que Jesus a dei­ xasse sozinha para que pudesse colher essas flores sem ser vista! As vezes, nos sentimos como aquela menininha. A ideia de que Deus está conosco constantemen­ te, observando cada ato, ciente de cada pensa­ mento, parece esmagadora. Davi, no entanto, tinha uma perspectiva dife­ rente. Não podemos nos esconder de Deus, pois, para Ele, até mesmo as trevas são como a luz. Mas Davi não queria se esconder! O fato é que a própria vida é como trevas para nós! Somente o Deus para quem as trevas são como a luz pode nos guiar com segurança, desde a concepção, até a eternidade. Cada vez mais, Davi percebia que Deus se apro­ xima, para expressar o seu amor, e não para nos surpreender em algum ato pecaminoso. Ele se aproxima para nos proteger, e para nos dirigir a tudo aquilo que Ele preparou, e que é o melhor para nós. Q uando sentimos que está próximo, e percebemos que o que sentimos é amor, então, como Davi, nós o convidamos: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e co­ nhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno”.

Aplicação Pessoal Deus nos conhece perfeitamente, e nos ama com­ pletamente. Não precisamos nos esconder dEle. Citação Importante “Porque os olhos de Deus estão sobre os cami­ nhos de cada um, e ele vê todos os seus passos.” — Jó 34.21 —. ü —

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DE MAIO LEITURA 126 Um Coro de Aleluias Salmos 142— 150

"Louvai-o pelos seus atospoderosos; louvai-o conforme a excelência da sua grandeza” (Sl 150.2). Que grande contribuição os Salmos trazem à nossa vida. Ao lê-los, somos levados a louvar ao Senhor. Visão Geral Quatro Salmos de Davi nos erguem de um senti­ mento desesperado de necessidade (Sl 142— 143) para a confiança em Deus como nosso libertador (Sl 144), e então, a louvá-lo (Sl 145). O livro dos Salmos termina (Sl 146— 150) com cinco belos salmos de louvor, cada um deles se iniciando e ter­ minando com o brado hebreu, Aleluia, que signifi­ ca, “Louvai ao Senhor!” Entendendo o Texto Salmo 142: Em Necessidade Desesperadora. O ce­ nário é a caverna onde Davi se escondeu do exérci­ to de Saul que o perseguia. Perturbado e desanima­ do, Davi clamou a Deus, pedindo socorro.

“Derramei a minha queixa perante a sua face” (Sl 142.1-5). Uma das lições mais importantes que aprendemos do livro dos Salmos é que, como Davi, você e eu podemos “derramar as nossas queixas” diante do Senhor. Podemos contar a Ele cada pro­ blema, cada emoção sombria e angustiada. Quan­ do ninguém mais se preocupa conosco, temos, em Deus, alguém que realmente se preocupa.

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Salmos 142— 150

Deus não quer que você ou eu nos agarremos aos nossos medos, ou à nossa dor. Deus quer que par­ tilhemos essa dor ou esse medo com Ele, sabendo que irá ouvir, e que Ele se preocupa.

ferente do alfabeto hebraico. Podemos chamá-lo de, “Louvor a Deus de A a Z ”, pois cada letra nos traz à mente uma razão diferente para louvar ao Senhor.

“Tu és o meu refúgio” (Sl 142.5-7). Compartilhar os nossos medos ou a nossa dor com o Senhor nos lembra de quem é Deus. Ele não somente nos ouve, Ele é capaz de ajudar! Os nossos inimigos po­ dem ser fortes demais para nós, mas não são fortes demais para o Senhor. O nosso apelo é dirigido ao único ser do universo que é capaz de ajudar! Nós nos apresentamos ao Senhor com nossos me­ dos e a nossa dor. Vamos embora em paz, com um senso de esperança renovado. Por fim, podemos ver à frente, uma época em que “os justos me rodearão, pois me fizeste bem”.

Salmo 146: Louvai ao Deus de Jacó. Esse prim eiro dos cinco salmos de Aleluias, que encerram o livro de Salmos, concentra a nossa atenção sobre quem é Deus, e o que Ele faz.

Salmo 143: Em Profunda Aflição. Mais uma vez, os temores levaram Davi ao Senhor. Mais uma vez, ele foi socorrido. Meditou sobre as obras passadas de Deus, e, por fim, chegou a uma cla­ ra compreensão de como devia lidar com as suas provações. (Veja o DEVOCIONAL.)

“O minha alma, louva ao Senhor” (Sl 146.1-4). Deus é louvado como nossa única fonte real de socorro e libertação. “O Deus de Jacó” (Sl 146.5-9). O nome está en­ raizado na história: este é o Deus que se com­ prometeu, por juramento de concerto, a ser o Deus de Israel. Nós o louvamos, pois este Deus é o Criador de tudo, sempre fiel, que faz justiça aos oprimidos, que solta os encarcerados, cura os enfermos, ama os justos, guarda os estrangeiros, ampara os desamparados e transtorna o caminho dos ímpios. Tudo o que o salmista conhece sobre esse Deus de Jacó o emociona e o leva a cantar louvores!

Salmo 144: Meu Libertador! Deus atendeu às ora­ ções de Davi, e o libertou de seus inimigos. Aqui, “O Senhor reinará eternamente” (Sl 146.10). Este Davi louvou ao Senhor, como seu libertador. é o ponto crucial. Aquele a quem conhecemos e louvamos é Soberano neste universo. Nele, “Bendito seja o Senhor, minha rocha” (Sl 144.1-4). que estamos salvos e seguros. Louvai ao Senhor. Maravilha das maravilhas, Deus novamente se curvou para livrar um mero mortal, e Davi ficou Salmo 147: Louvai ao que Ampara. O coro assombrado com o fato. Ecoando o Salmo 8, Davi de aleluia continua com louvor a Deus, por clamou, “que é o homem, para que o conheças?” manter o universo que Ele criou, e por cuidar Sentimos a alegria que Davi sentiu, quando acu­ de todos os que depositam a sua confiança no mulou imagem por imagem, louvando ao seu Deus seu infalível amor. amoroso, como minha rocha, minha fortaleza, meu retiro, meu libertador, meu escudo. E assombroso Salmo 148: Louvai ao Senhor, toda a Criação. que Deus seja tudo isso, para qualquer ser humano. A natureza faz mais do que revelar a sabedoria Ê emocionante que Ele seja tudo isso, para mim! e o poder de Deus. Todo o esplendor da cria­ ção se une a Israel na exaltação do nome de “Abaixa, ó Senhor, os teus céus e desce” (Sl 144.5-11). Deus, oferecendo assim louvor. Esses versículos não são tanto um apelo para que Deus aja, mas uma celebração de uma libertação que Salmo 149: Louvai-o, todos os Santos, o povo já foi vivida. De certa forma, Davi estava revivendo de Deus, a quem Ele criou e que Ele coroou o resgate que o levantou do desespero à alegria. com a salvação, exultai no Senhor e ofereceilhe louvor. “Para que” (Sl 144.12-15). O resultado da liberta­ ção é a paz e a prosperidade. Não é de admirar que Davi clamasse: “Bem-aventurado é o povo cujo “Na congregação dos santos” (Sl 149.1-8). O Deus é o Senhor!” Deus nos salva de todas as nos­ povo de Deus tem dois chamados, e cada um sas dificuldades e tem intenção de abençoar. deles é um aspecto da adoração. Em primeiro lugar, o povo de Deus é chamado a cantar seus Salmo 145: Louvai o seu nome. Esse é um salmo louvores, e a alegrar-se em quem tanto se agra­ acróstico: cada linha se inicia com uma letra di­ da deles (vv. 1-5). Em segundo lugar, o povo

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Salmos 142— 150 de Deus deve assumir uma posição, nesta terra, contra o mal (w. 6-9). Embora nos tempos do Antigo Testamento Israel literalmente entrasse em guerra contra os povos pagãos na sua terra, hoje em dia devemos nos engajar em uma ba­ talha espiritual, fazendo tudo o que pudermos para sustentar a justiça, e para fazermos justiça na nossa sociedade.

DE V OCIONAL_______ O que Posso Fazer? (SI 143) Ninguém gosta de se sentir desamparado. Pratica­ mente toda situação parece suportável, se houver alguma coisa, qualquer coisa, que possamos fazer para melhorá-la. O desespero e a depressão nor­ malmente se instalam somente quando percebe­ mos que estamós desamparados, incapazes de alte­ rar a nossa situação, totalmente à mercê das nossas circunstâncias. Penso que Davi se sentia desta maneira, quan­ do escreveu o salmo 143. Ele clamou, pedindo a Deus misericórdia e alívio (v. 1). Percebeu que não tinha direito de esperar a ajuda de Deus (v. 2). Essa situação desesperadora o encheu de desâ­ nimo (w. 3,4). Davi recordou o que Deus tinha feito e reafirmou sua confiança no Senhor (w. 5-8). Mas, como você e eu, Davi também pareceu gritar, “O que eu posso fazer?” A resposta é simples e clara. Nós a vemos nas pala­ vras de Davi: “Faze-me saber o caminho que devo seguir”, e “Ensina-me a fazer a tua vontade” (w. 8b, 10). Podemos ser desamparados para melhorar nossa situação. Mas ainda há algo que podemos fa­ zer! Cada dia, cada hora, enquanto esperamos que Deus nos livre, podemos concentrar a nossa aten­ ção em obedecer à vontade de dEle para aquele dia, para aquela hora. O que sempre podemos fazer, não importando quão desamparados possamos estar para alterar a nossa situação, é viver cada momento como servos

Salmo 150: Louvai ao Senhor. O último e jubiloso salmo neste grande livro do Antigo Testamento retrata um povo que se congrega diante do Senhor (v. 1) para louvar as suas obras e o seu caráter (v. 2), com todos os re­ cursos que possuem (w. 3-5), até que todas as coisas vivas acompanhem, com brados de alegria (v. 6). do Senhor, sempre prontos a responder quando o seu “bom Espírito” nos revelar uma oportunidade de servi-lo. Que sentimento de alívio nos domina, quando fazemos a descoberta de Davi. Não estamos de­ samparados, afinal. Há alguma coisa que podemos fazer. A coisa mais importante de todas. Podemos fazer a vontade de Deus. Aplicação Pessoal Quando você não conseguir modificar a sua situa­ ção, que a sua prioridade seja simplesmente fazer, a cada hora, a cada dia, aquilo que Deus deseja que você faça. Citaçáo Importante “Deus está procurando pessoas por cujo intermédio Ele possa abençoar o mundo. Diga, decididamen­ te: Aqui estou; darei a minha vida a esse chamado. Cultive a sua fé em uma simples verdade: Deus ouve as orações; Deus fará aquilo que eu pedir.” “Entregue-se aos outros tão completamente quan­ to você se entrega a Deus. Abra os seus olhos para perceber as necessidades de um mundo que está perecendo. Assuma a sua posição em Cristo e no poder que o seu nome, a sua vida, e o seu Espíri­ to dão a você. E continue orando e intercedendo.” — Andrew Murray

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em DANIEL

PROVÉRBIOS INTRODUÇÃO O livro de Provérbios é uma coletânea de mensagens que examinam o comportamento humano, pergun­ tando se cada uma delas é sabedoria ou tolice. As eficazes observações do livro afirmam princípios gerais que se aplicam a todos os seres humanos, e não somente aos crentes. Muitas das observações deste livro são atribuídas a Salomão (970— 930 a.C.), ao passo que Provérbios 25.1 indica que a coletânea não foi editada e colocada na sua forma final antes dos anos de Ezequias (715— 686 a.C.). Em termos de pensamentos, vocabulário, estilo e temas, os provérbios bíblicos são similares à literatura de sabedoria egípcia e babilônia, que data de um milênio antes de Salomão, e a textos fenícios que datam do século XIV Ugarit. Isso não somente suporta a datação bíblica dos Provérbios na época de Salomão, como também sugere que as questões que são abrangidas no livro refletem um interesse comum de todos os povos por conselhos sobre como viver sabiamente e bem. Entre os muitos tópicos que recebem atenção neste livro, estão a sabedoria e a tolice, a riqueza e a pobreza, a justiça e a impiedade, a generosidade e a mesquinharia, o adultério, a preguiça, a família, a educação dos filhos e a amizade. Os provérbios pro­ priamente ditos, no entanto, não estão agrupados por tópicos; pensamentos a respeito de vários assuntos estão dispersos, em uma ordem aparentemente randômica, por todo o livro. Independentemente de lermos o livro, ou de usarmos algum critério para agrupar as suas mensagens por tema, também somos auxiliados pelas palavras antigas da Bíblia aos sábios. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Em Louvor à Sabedoria......................................................................... II. Provérbios de Salomão ......................................................................... III. Palavras de Homens Sábios................................................................ IV. Mais Provérbios de Salomão................................................................ V..Palavras de Agur...................................................................................... VI. Palavras do Rei Lemuel........................................................................ VII. A Excelência das Esposas...................................................................

...............Pv 1— 9 ..Pv 10.1— 22.16 Pv 22.17— 24.33 ...........Pv25— 29 ....................Pv 30 ............Pv 31.1-9 ........Pv 31.10-31

GUIA DE LEITURA (5 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “tem” na sua Bíblia, e o Devocional em cada capítulo deste Co­ mentário Leitura 127 128 129 130 131

Capítulos 1— 9 10.1-22.16 22.17— 24.34 25— 29 30— 31

Tema central Sabedoria Pobreza Responsabilidade Ira Esposas

PROVÉRBIOS 7

DE MAIO LEITURA 127

EM LOUVOR DA SABEDORIA Provérbios 1—9

“O bom siso te guardará... do mau caminho e do ho­ Entendendo o Texto mem que diz coisas perversas ” (Pv 2.11,12). “Para se conhecer a sabedoria e a instrução” (Pv 1.1 -7). Essa introdução descreve o propósito do livro, do qual A pessoa sábia não é o indivíduo de grande êxito uma grande parte foi escrita por Salomão. Se lermos intelectual, mas a pessoa que faz escolhas apropria­ cuidadosamente, poderemos obter informações que das na sua vida diária. Saber o que é certo e fazê-lo irão nos auxiliar a “obter o ensino do bom proceder, a é sabedoria, para você e para mim, assim como era justiça, o juízo e a equidade” (v. 3, na versão ARA). para o hebreu antigo. “Se os pecadores, com blandícias, te quiserem tentar” Definição dos Termos-chave (Pv 1.8-33). Os pais de todas as eras se preocupam Sabedoria. A raiz hebraica traduzida como “sábio” e com as escolhas de seus filhos. Porém podemos “sabedoria” (H-K-M) aparece mais de 300 vezes no sentir que temos mais com que nos preocupar hoje Antigo Testamento. Juntas, retratam uma pessoa sá­ em dia: com as drogas, a violência, o sexo ilícito e o bia como sendo alguém que se sujeita a Deus e que satanismo, tão preponderantes na nossa sociedade. aplica as orientações divinas quando faz escolhas diá­ Mas cada nova geração enfrentou desafios morais rias. Por sua vez, a tolice envolve a rejeição das orien­ similares, e os pais expressaram sua preocupação. tações divinas, ou qualquer outra falta de aplicação Não podemos evitar a identificação com os temas delas, quando se toma decisões morais, ou outras. mencionados pelo pai de Provérbios 1— 9, que ad­ Diversas partes do Antigo Testamento são classifi­ vertiu seu filho contra “ceder” à pressão dos cole­ cadas como “literatura de sabedoria”. Essas partes gas e entrar no grupo errado (w. 10-19). Como incluem Jó, Provérbios, Eclesiastes e os salmos 19, ele, aconselhamos nossos filhos a pensarem além 37, 104, 107, 147— 148. A literatura de sabedoria do momento, e serem prudentes. No final, aqueles não declara a lei divina, nem registra promessas di­ que ignoram a sabedoria e fazem escolhas morais vinas, mas simplesmente descreve o comportamen­ pecaminosas serão destruídos pela calamidade. En­ to que exemplifica escolhas sábias e tolas que uma tão, será tarde demais: “Comerão do fruto do seu pessoa pode fazer. caminho”. Somente uma pessoa que ouve e segue o caminho da sabedoria “habitará seguramente e Visão Geral estará descansado do temor do mal”. Depois de resumir os benefícios deste livro (1.1- Talvez possamos perceber, nessas palavras, um pou­ 7), esses três primeiros capítulos assumem a forma co do desespero que podemos sentir algumas vezes. de um pai que exorta o seu filho a não rejeitar (w. Um número excessivamente grande de jovens pensa: 8-33), mas aceitar a sabedoria (2.1— 4.27). Ele ad­ “Isto não pode acontecer comigo”, e tolamente dão vertiu contra o adultério (5.1-23; 6.20— 7.27) e aquele primeiro passo experimental que os levará ine­ a tolice (6.1-19), retratando a sabedoria e a tolice xoravelmente por um caminho de vida que conduz como duas mulheres muito diferentes (8.1— 9.18). à destruição. Este pai percebeu, como você e eu, que

Provérbios 1—9

não podemos tomar decisões por nossos filhos. Mas recompensa imediata com consequências atrasadas. podemos apontar o caminho da sabedoria — e orar. A sabedoria exige que, ao tomar qualquer decisão, consideremos as consequências distantes, além das “Entenderásjustiça, ejuízo, e equidade, e todas as boas imediatas. Quando o assunto são os pecados sexu­ veredas” (Pv 2.1— 4.27). Prestar atenção à sabedoria ais, o desejo de satisfação imediata com frequência traz benefícios duradouros, que se expressam nesses deixa de lado qualquer pensamento sobre o futuro. versículos. Cada um dos benefícios se enraíza no fato Na nossa sociedade orientada sexualmente, o aviso de que o próprio Deus “reserva a verdadeira sabedo­ do livro de Provérbios contra o adultério é espe­ ria para os retos” e “escudo é para os que caminham cialmente apropriado, não somente para os jovens, na sinceridade” (2.6,7). Embora seja possível enca­ mas para todos nós. rar as consequências de uma boa vida moral como O que dizem essas passagens? Embora o sexo ilí­ um resultado natural, o livro de Provérbios afirma cito pareça “destilar favos de mel”, as consequên­ um elemento sobrenatural. Deus observa as nossas cias em longo prazo são “amargosas como o ab­ escolhas, e Ele mesmo “guarda as veredas do juízo”. sinto” (5.1-14). Deus nos deu o casamento para Como alcançamos esses benefícios? Diversas men­ satisfazer nossas necessidades sexuais: devemos ser sagens de Provérbios 3 e 4 são, com razão, famosas, cativados por nosso cônjuge. O homem sábio se e merecem ser memorizadas. Aqui estão apenas concentra no desenvolvimento do seu relaciona­ mento com sua esposa, de modo que o seu amor quatro delas: seja totalmente satisfatório (w. 15-20). Deus co­ “Confia no Senhor de todo o teu coração e não te nhece os nossos caminhos, e ordenou que as iniestribes no teu próprio entendimento. Reconhece- quidades prendam os ímpios (w. 21-23). A imo­ o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as ralidade tem consequências. Assim como andar sobre brasas quentes queima os pés, também co­ tuas veredas” (3.5,6). meter adultério traz infelicidade (6.20-35). Uma “Honra ao Senhor com a tua fazenda e com as pri­ pessoa controlada por seus hormônios é como um mícias de toda a tua renda; e se encherão os teus animal; um boi que vai ao matadouro ou o cervo celeiros abundantemente, e trasbordarão de mosto que corre para a rede, “e não sabe que ele está ali contra a sua vida” (7.1-26). os teus lagares” (w. 9,10). O que coloca os homens acima dos animais é o “Não detenhas dos seus donos o bem, estando na juízo: a capacidade de deixar de lado os instintos, e decidir o que fazer com base no que é sábio e no tua mão poder fazê-lo” (v. 27). que é certo. A pessoa que é atraída ao pecado sexual “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu cora­ age como um animal, pois abandona essa capacida­ ção, porque dele procedem as saídas da vida” (4.23). de humana e age somente com base na paixão. Co­ meter adultério não é simplesmente errado, é uma O que torna as palavras de um pai autênticas e negação dos dons da criação, que colocam o ho­ convincentes? Na verdade, é a sua própria vida, mem acima de todas as outras criaturas viventes. a capacidade de orientar outra pessoa (4.11) por um caminho em que nós mesmos viajamos. Se ao “Não clama, porventura, a Sabedoria?”(Pv 8.1— 9.14). transmitirmos verdades, estas forem autenticadas Esses capítulos retratam a sabedoria e a tolice como por uma vida dedicada, nossos filhos acharão mais duas mulheres diferentes. Uma delas, silenciosamente fácil aceitar as nossas palavras (v. 10). oferecendo alguma coisa mais preciosa do que todas as riquezas e a honra do mundo; a outra, ruidosamen­ “O seufim é amargoso como o absinto ” (Pv 5.1 -23— te tentando aqueles que passam, para que entrem pela 6.20-27). O adultério é tratado demoradamente, sua porta, somente para tropeçar inesperadamente nas talvez porque o impulso sexual seja extremamente “profundezas do inferno”. A voz à qual nós responde­ forte nos jovens; talvez porque a tentação sexual mos, na nossa vida cotidiana, demonstra a todos se contraste, tão vividamente, os prospectos de uma estamos entre os sábios ou entre os tolos.

DEVOCION AL______

O Início do Conhecimento (Pv 1— 2) Uma das mensagens fascinantes que salpicam as Es­ crituras dá início ao Livro de Provérbios. “O temor

do Senhor é o princípio do saber” (ARA). E claro que essa frase não quer dizer que seja inteligente ter medo de Deus. Afinal, Adão e Eva sentiram medo de Deus depois do primeiro pecado. Fugiram e ten-

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taram se esconder, o que não foi nada inteligente! Em primeiro lugar, náo podiam, na verdade, se es­ conder de Deus. E, em segundo lugar, somente cor­ rendo para Deus, em vez de correr dEle, poderiam ter encontrado alívio para a sua culpa. Não, o “temor do Senhor” não significa ter medo algum. O significado aqui, e na maioria dos textos do Antigo Testamento, é simplesmente ter respeito por Deus; estar completamente consciente e res­ peitar o fato de que Ele vive e está presente. O fato de considerarmos a existência de Deus e a sua presença, quando pensamos sobre qualquer as­ sunto ou tomamos qualquer decisão, é o “temor do Senhor”. E considerar a existência e a presença de Deus, é o princípio do conhecimento. Se levarmos Deus em consideração, o procuraremos, para rece­ ber orientação. E encontraremos esta orientação: “Porque o Senhor dá a sabedoria, e da sua boca vem o conhecimento e o entendimento” (2.6). Que bênção estar entre aqueles que temem a Deus e o procuram para obter sabedoria. Mas que desafio perceber que somos responsáveis por viver de modo sábio. Somos chamados, não simplesmente para conhecer a vontade de Deus, mas para permitir que a sabedoria entre no nosso coração para que andemos pelo “caminho dos bons” e guardemos “as veredas dos justos” (w. 10,20). Aplicação Pessoal A sabedoria de Deus é exibida na maneira como vivemos, e não no que dizemos. Citação Importante “A sabedoria é o uso adequado do conhecimento. Conhecer não significa ser sábio. Muitos homens conhecem muitas coisas, e são ainda mais tolos por isso. Não existe tolo tão grande como o tolo que tem conhecimento. Mas saber como usar o conhe­ cimento é ter sabedoria.” — Charles H. Spurgeon 8 DE MAIO LEITURA 128 AS SÁBIAS PALAVRAS DE SALOMÃO Provérbios 10.1— 22.16

“A sabedoria do prudente é entender o seu caminho, mas a estultícia dos tolos é enganar” (Pv 14.8). As palavras enérgicas do livro de Provérbios se apli­ cam à modernidade, como também aos israelitas do antigo Oriente. Billy Graham, certa vez disse que lia um salmo todas as manhãs, para enriquecer o seu relacionamento com Deus, e um capítulo do livro de Provérbios todas as noites, para guiar o seu relacionamento com os seus semelhantes.

Contexto Sobre a leitura do livro de Provérbios. As duas ma­ neiras de ler o livro de Provérbios — a leitura do livro todo, ou extraindo mensagens sobre os assun­ tos comuns — podem ser úteis. As duas maneiras são apropriadas para a leitura devocional; as duas são exemplificadas na análise das palavras de Sa­ lomão que faremos hoje. Em sua leitura, escolha a abordagem que lhe parecer mais confortável. Visão Geral Cada um destes capítulos contém dizeres que transmitem informações sobre uma variedade de questões práticas. Podemos extrair e agrupar dize­ res sobre um assunto determinado para desenvolver imagens mais completas de coisas como um modo de vida justo, a importância da disciplina, ou atitu­ des relativas a trabalho, preguiça e pobreza. Entendendo o Texto “Provérbios de Salomão” (Pv 10.1-32). Este primei­ ro capítulo dos Provérbios de Salomão aborda va­ riados fatos da vida: v. 1. As escolhas que fazemos necessariamente afe­ tam outras pessoas, e não apenas nós mesmos, w. 2,3. A riqueza obtida por meios iníquos jamais poderá trazer segurança. w. 4,5. O trabalho árduo é recompensado — e também a preguiça! w. 6,7. A bondade traz bênçãos duradouras; a im­ piedade, não. v. 8. E melhor ouvir do que tagarelar sem prestar atenção. v. 9. A pessoa que não tem nada a esconder, não tem nada a temer. v. 10. Qualquer ato que prejudique os outros é um primeiro passo no caminho para a ruína, v. 11. A palavra falada pode curar ou prejudicar outros. v. 12. O nosso caráter básico se revela na maneira como tratamos os outros. v. 13. A punição derrotará o homem cujo juízo é deficiente. v. 14. A discrição pede que se pense, antes de falar, w. 15,16. A riqueza proporciona uma dimensão de segurança. Mas a riqueza ganha injustamente somente traz desastres. v. 17. O homem disposto a aprender é o melhor professor. v. 18. O problema com o ódio é que ele corrompe aquele que odeia. w. 19-21. As palavras são importantes. Seja cuida­ doso ao usá-las. v. 22. A bênção de Deus é a única riqueza verda­ deira. (Essa ênfase é sugerida na gramática da cons­ trução hebraica).

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v. 23. Aquilo de que uma pessoa gosta revela o seu caráter. w. 24,25. Os temores e a insegurança sentidos pe­ los ímpios são bem fundamentados! v. 26. Como é frustrante trabalhar com uma pessoa preguiçosa. w. 27-30. A confiança dos justos também é bem fundamentada! w. 31,32. As palavras de uma pessoa justa sáo sá­ bias e úteis.

A expressão, “A sorte se lança no regaço, mas do Senhor procede toda a sua disposição” (Pv 16.33) exemplifica como o livro de Provérbios revela a atitude básica de uma pessoa com relação à vida. O universo bíblico não é regido pelo acaso, mas tudo está sob o controle do Deus soberano. Devemos ler os Provérbios da Bíblia tendo em vista os seus significados intrínsecos e fundamentais, além dos óbvios.

“Os pensamentos do justo são retos” (Pv 12.5). Um assunto ao qual Salomão dedica muita atenção é a justiça. O justo faz planos retos, e não violentos (v. 5; cf. 16.27,30; 21.7), pois ele realmente se preo­ cupa com a justiça (17.23,26; 18.5; 19.28). Como os justos se preocupam com os necessitados, eles são generosos (12.10; 21.25,26). Odeiam a falsi­ dade e a desonestidade (13.5), de modo que em tudo o que fazem, os justos são retos (11.3; 15.19; 21 . 8). Como resultado, os justos são libertados de proble­ mas que os ímpios trazem a si mesmos (11.8,21; 12.21; 13.17; 22.5). Com razão, se sentem segu­ ros (10.9,25,30; 12.3, 7; 14.11,32), e têm espe­ ranças para o futuro (10.11,16; 11.8,19; 12.28; 16.31; 21.21). Os justos recebem o que desejam; os ímpios, o que temem (10.24; 11.23). Os justos conhecem a alegria (10.28; 12.20; 21.15), e são recompensados; os ímpios obtêm o que merecem (11.18,31; 14.14). A linha divisória entre os justos e os ímpios é clara, não importando como uma sociedade possa tentar confundi-la, chamando o corrupto de “adulto”, e explorando a violência sob a bandeira de “livre ex­ pressão”. Deus jamais será enganado, embora os tribunais e os legisladores possam ser. Nós, que escolhemos a justiça, certamente somos e seremos abençoados. Aqueles que a rejeitam rece­ berão aquilo que as suas ações merecem. “O que retém a sua vara aborrece a seu filho” (Pv 13.24). Os judeus eram famosos por seu amor pelos filhos, e estavam entre os melhores pais do mundo antigo. Dizeres como esse não representam apoio a uma abordagem violenta à criação de fi­ lhos, mas, em vez disso, enfatizam a necessidade da disciplina, quando os meninos e as meninas fo­ rem escolher livremente o caminho de Deus como adultos. A disciplina não era árdua, mas amorosa e com propósito: “Castiga teu filho enquanto há esperança” (19.18), e “A estultícia está ligada ao coração do menino, mas a vara da correção a afu­ gentará dele” (22.15). O livro de Provérbios nos lembra de que nós, adul­ tos, também estamos sujeitos à disciplina: a de Deus. Quando Deus nos castiga, a sua motivação também é amorosa. A pessoa sábia reconhece isso, e reage com alegria, ao passo que o tolo se rebe­ la, e é punido (10.17; 12.1; 13.1,18; 15.5,12,32; 17.10; 19.16,25; 21.11). “Em todo trabalho há proveito; meras palavras, porém, levam à penúria” (Pv 14.23, ARA). Os provérbios de Salomão frequentem ente con­

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trastam os benefícios do trabalho árduo com 13.4; 14.23; 22.29). Q ualquer que seja a sua o desastre provocado pela preguiça. O que desculpa (v. 13), o hom em preguiçoso logo trabalha na sua terra produz alim ento, lucro, sentirá falta até mesmo do essencial (18.9; riqueza e posição social (10.4,5; 12.11,24,27; 20.4,13).

DEVOCIONAL______

Bem-aventurados São os Pobres? (Provérbios Selecionados) De modo geral, o livro de Provérbios parece adotar uma atitude de classe média e atribuir aos pobres a culpa pela pobreza. Essa opinião se reflete em di­ zeres como: “O que trabalha com mão enganosa empobrece” (10.4), “Não ames o sono, para que não empobreças” (20.13), “O que ama o vinho e o azeite nunca enriquecerá” (21.17), e “O beberrão e o comilão cairão em pobreza” (23.21). Ao mesmo tempo, o livro de Provérbios mostra que, às vezes, os pobres são vítimas de outras pes­ soas poderosas. “Abundância de mantimento há na lavoura do pobre”, observa 13.23, “mas alguns há que se consomem por falta de juízo”. A realidade das injustiças é exibida em advertências contra pre­ judicar os pobres indefesos (18.23; 22.16). Na rea­ lidade, os ricos devem oferecer auxílio: “O que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre também clamará e não será ouvido” (21.13). É verdade que, na sociedade, os ricos geralmente são tratados como celebridades, e os pobres, igno­ rados (14.20; 19.4,6,7). Também é verdade que a riqueza protege os ricos de perigos aos quais os pobres são vulneráveis (10.15; 18.11). Mas a rique­ za não é um bem puro, nem a pobreza, um mal. Afinal, “O rico tem de usar o seu dinheiro para pagar o resgate por sua vida, mas ninguém ameaça o pobre” (13.8, NTLH). Ninguém se incomoda em sequestrar um homem pobre! No entanto, talvez as palavras mais significativas sejam encontradas em 19.17: “Ao Senhor empresta o que se compadece do pobre, e Ele lhe pagará o seu benefício”. O que há de tão importante nesse provérbio? Ele reflete a convicção do Antigo Tes­ tamento de que Deus tem um amor especial pelos pobres. A sociedade ignora, explora ou abandona os pobres. Mas Deus faz dos pobres o objeto de seu interesse especial. Quando formos sensíveis às necessidades dos pobres, estaremos próximos de Deus, pois o próprio Deus está do lado deles.

1. Os pobres sabem que têm necessidade urgente de redenção. 2. Os pobres conhecem não somente a sua depen­ dência de Deus e de pessoas poderosas, como tam­ bém a sua dependência uns dos outros. 3. Os pobres descansam na sua segurança, não em coisas, mas em pessoas. 4. Os pobres não têm um sentimento exagerado sobre a sua própria importância, nem uma necessi­ dade exagerada de privacidade. 5. Os pobres esperam pouco da competição, e muito da cooperação. 6. Os pobres podem distinguir entre as necessida­ des e os supérfluos. 7. Os pobres podem esperar, porque adquiriram um tipo de paciência tenaz, nascida da dependên­ cia reconhecida. 8. Os medos dos pobres são mais realistas e menos exagerados, porque eles já sabem que é possível so­ breviver a grandes sofrimentos e necessidades. 9. Quando o evangelho é pregado aos pobres, fica bastante claro que são Boas-Novas, e não uma ameaça ou uma repreensão. 10. Os pobres podem responder ao chamado do evangelho com certo abandono e uma totalidade descomplicada, porque têm muito pouco a perder, e estão dispostos a tudo. — Monica Hellwig, citado por Philip Yancey. 9 DE MAIO LEITURA 129 PALAVRAS DOS SÁBIOS Provérbios 22.17—24.34 “Filho meu, se o teu coração for sábio, alegrar-se-á o meu coração, sim, o meu próprio. E exultará o meu íntimo, quando os teus lábiosfiliarem coisas retas”(Pv 23.15,16).

Falando-nos diretamente, os sábios do mundo an­ tigo recapturam o estilo dos capítulos 1— 9, de um pai que fala com sua mão apoiada sobre o ombro de seu filho. Como diz Provérbios 23.15,16, um Aplicação Pessoal bom pai se alegra quando seu filho ou sua filha fala Não devemos atribuir a alguém a culpa pela pobre­ o que é correto. za, mas, sim, ajudar os pobres. Visão Geral Citação Im portante Estas “palavras dos sábios” abandonam os dizeres As vantagens de ser pobre: curtos, adotando as observações com extensão de

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parágrafos, que transmitem a sabedoria prática do um mau negócio. Jesus disse a mesma coisa, quan­ do nos convidou a ajuntar tesouros no céu, onde mundo antigo. nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam (Mt 6.19-21). Entendendo o Texto “Ouve as palavras dos sábios” (Pv 22.17-21). Os Observe, novamente, a relação desse provérbio provérbios são valiosos para nós somente se os com a fé. Somente o crente, que vê uma realida­ ouvirmos atentamente, os levarmos a sério e os de além deste universo atual, poderá mostrar tal transmitirmos, além de praticá-los. Também de­ controle. vem ser interpretados, não como ardis que mani­ pulam os outros, mas como maneiras de expres­ “Não comas o pão daquele que tem os olhos malignos” sarmos a nossa confiança no Senhor, em nossa (Pv 23.6-8). Não é proveitoso conseguir a bene­ volência de outros, manipulando-os com elogios. vida diária. Esse parágrafo introdutório nos ajuda a compreen­ Qualquer coisa que não seja dada gratuitamente, der por que os provérbios “funcionam”. Enquanto e com liberalidade, cria hostilidade no coração de alguns simplesmente proporcionam noções pene­ quem a dá, e não nos será benéfica, no final. trantes sobre como a sociedade humana funciona, muitos servem somente porque o próprio Deus su­ “Não removas os limites antigos” (Pv 23.10,11). Em pervisiona as consequências das escolhas que você Israel, os limites marcavam as fronteiras dos cam­ pos de cada família. Mover os limites era o equiva­ e eu fazemos. lente a roubar um pedaço da terra de um vizinho. “Não roubes ao pobre” (Pv 22.22,23). O conselho Por que não? “Porque o seu Redentor é forte; Ele para não explorar o pobre, “porque o Senhor de­ pleiteará a sua causa contra ti”. fenderá a sua causa”, exemplifica o que foi dito Uma vez mais, vemos por que o temor do Senhor é acima. Viver de acordo com os provérbios exige o princípio da sabedoria. Somente uma pessoa que fé. Muitos, na verdade, se tornam ricos e parecem considera Deus plenamente o verá como o Reden­ prosperar às custas dos pobres. Somente a convic­ tor ativo dos fracos. ção de que Deus é um Juiz Justo nos assegura de que, no final, “o Senhor defenderá a sua causa em “Não tenha o teu coração inveja dos pecadores” (Pv 23.17,18). A inveja é uma mistura de ressentimen­ juízo, e aos que os roubam lhes tirará a vida”. E preciso fé para seguir as diretrizes dadas no li­ to e admiração. Se não admirarmos secretamente vro de Provérbios, assim como é necessário ter fé um pecador, e não sentirmos ressentimento porque para obedecer e seguir qualquer palavra da parte ele tem o que desejamos, nós estaremos livres de uma das influências que mais corrompem a vida. de Deus. Como encontramos essa liberdade? Sendo constan­ “Não acompanhes o iracundo”(Pv 22.24,25). Jamais temente cientes de Deus. Se o conservarmos diante suponha que você consegue evitar ser influenciado de nós, não invejaremos os pecadores, e teremos por seus amigos. Assim, não escolha como amigo esperanças para o futuro. alguém que tenha uma grande falha de caráter. Este provérbio adverte: “Para que não aprendas as suas “Não estejas entre os beberrôes de vinho” (Pv 23.1921), O estilo de vida festeiro da “sociedade” dos veredas e tomes um laço para a tua alma”. nossos dias não serve para nós — nem para eles! “Não estejas entre... os que ficam por fiadores de divi­ das” (Pv 22.26,27). Nesses provérbios, também se “Não olhespara o vinho, quando se mostra vermelho”(Pv encontram conselhos de economia. Esses versícu­ 23.29-35). A pessoa sóbria, que olha para uma pes­ los simplesmente querem dizer: jamais seja fiador soa embriagada, vê o impacto do alcoolismo (v. 29). de um empréstimo, a menos que esteja disposto a Mas o bêbado, fascinado pelo seu vinho, é incapaz de pagar por ele! compreender a realidade da sua condição (w. 30-33). Mesmo quando cambaleia, de um lado para outro, “Quando te assentares a comer com um governador” como um marinheiro em um mar tempestuoso, ele (Pv 23.1-3). O ambicioso socialmente de modo afirma que está bem — e imagina somente onde po­ provável se encontrará em uma situação na qual se derá encontrar o seu próximo gole (w. 34,35). sentirá muito desconfortável! “Não tenhas inveja dos homens malignos” (Pv 24.1“Não te canses para enriquecer" (Pv 23-4,5). A pes­ 4). Os ímpios são influências destrutivas; os sábios soa que dedica toda a sua vida para ficar rica, faz são influências construtivas. Os pecadores destro-

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em e pisoteiam coisas belas; os sábios edificam e adornam a sociedade com beleza. “Quando cairo teu inimigo, não te alegres”(Pv 24.17,18). Alegrar-se com a queda de um inimigo é um pecado tão grande como aquele pelo qual ele está sendo punido! “A resposta com palavras retas" (Pv 24.23-26). A ho­ nestidade total é essencial em qualquer relaciona-

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Uma outra Pessoa (Pv 24.11,12) Recentemente, li um poema sobre “Uma outra pessoa”. Com ironia, o poeta expressou admiração por esta pessoa que tanto faz pela igreja e pela co­ munidade. Ora, todas as vezes que alguém que ele conhecia recebia um pedido de ajuda, esta pessoa sugeria que Outra pessoa o fizesse. E, com certeza, Outra pessoa o fazia! Provérbios 24.11,12 sugere, no entanto, que você e eu não devemos recuar e deixar que outra pes­ soa assuma uma posição moral. “Livra os que estão destinados à morte e salva os que são levados para a matança, se os puderes retirar. Se disseres: Eis que o não sabemos; porventura, aquele que pondera os corações não o considerará?” Podemos alegar ignorância, mas continuamos res­ ponsáveis pelo que acontece na nossa sociedade. Penso que o reverendo Donald E. Wildmon deve ter levado a sério esse provérbio. Certa noite, quan­ do ele tentava assistir à televisão com sua família, teve que pedir aos seus filhos que deixassem de as­ sistir a programas em todas as principais emissoras. Depois de assistir durante alguns minutos, cada programa exibia algum ato imoral ou violento ao qual ele sabia que era errado expor a sua família. Isso o levou a visitar as emissoras para expressar a sua preocupação e, como as emissoras não o aten­ deram, formou uma organização que agora vai di­ retamente aos patrocinadores. Quando um progra­ ma aprovado exibe adultério, violência ou outros atos imorais, Don Wildmon se dirige ao patroci­ nador e pergunta se esses são os valores que o pa­ trocinador deseja ver associados aos seus produtos. E, se deseja, Don deixa claro que ele está disposto a exercer o seu direito de não comprar este produ­ to. Isso é censura? De modo nenhum. Wildmon diz: “Eu tenho tanto direito de tentar moldar esta sociedade quanto qualquer outro indivíduo. Eu te­ nho igual direito de tentar influenciar as pessoas. Eu tenho igual direito de criar o que eu considero como sendo uma sociedade decente, boa, limpa, íntegra e moral”.

mento, incluindo a confrontação honesta daqueles que fazem o mal. “Um pouco de sono” (Pv 24.30-34). Um exame à situação do preguiçoso nos ensina uma importan­ te lição. E perigoso pensar: “Bem, eu vou descan­ sar um pouco”. Isso logo se torna um modo de vida que assegura pobreza.

Nas palavras do livro de Provérbios, quando Wil­ dmon viu que a nossa sociedade está “destinada à morte”, ele se recusou a dizer que “não o sabia”. Em vez disso, aceitou a responsabilidade que todos os cristãos têm, de reagir quando o mal ameaça ou­ tras pessoas. E ele agiu. Ao agir como agiu, Don W ildmon apresentou um exemplo para todos nós. Aplicação Pessoal Da próxima vez que você vir uma injustiça ou um mal, pergunte a si mesmo: Serei eu a “Outra Pes­ soa” de Deus? Citação Importante E necessário ter uma base ética para uma socie­ dade. Onde a força principal é o impulso, existe a morte da ética. Os Estados Unidos costumavam ter leis éticas baseadas em Jerusalém. Agora, elas se baseiam em Sodoma e Gomorra, e as civilizações enraizadas em Sodoma e Gomorra estão destinadas ao colapso.” — Jesse Jackson 10 DE MAIO LEITURA 130 PALAVRAS DE SALOMÃO Provérbios 25— 29 “O receio do homem armará laços, mas o que confia no Senhor será posto em alto retiro” (Pv 29.25). Embora as suas observações sejam breves, esta co­ letânea de dizeres de Salomão nos dá profundas informações sobre relacionamentos pessoais. Contexto Estudo em profundidade. Até aqui, vimos duas ma­ neiras de estudar os Provérbios. Uma delas é ler um capítulo, e observar versículos específicos que “sal­ tam” aos nossos olhos. A outra é fazer um estudo por assuntos, e comparar todos os provérbios sobre um assunto em particular. Nesta unidade, vamos ver um terceiro método de estudar os Provérbios. Eu o chamo de “estudo em profundidade”, embora talvez ele pudesse ser cha-

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mado, mais apropriadamente, “meditativo”. Para adotar essa abordagem, nós simplesmente olhamos para o provérbio, e pensamos cuidadosamente so­ bre ele. O que diz este provérbio? O que ele sugere? Qual é o contexto que deu origem a ele? A quais si­ tuações pode ser aplicado? No comentário de hoje, uso este método para explorar diversos provérbios selecionados entre estes dizeres de Salomão.

ela não reagir, haverá tempo suficiente para envol­ ver outras pessoas, e possivelmente os tribunais. O que Salomão quer dizer é que, embora você deva fazer alguma coisa, o que você deveria fazer é a coi­ sa certa! E a coisa certa não é mexericar sobre o que viu, nem espalhar um boato que ouviu. A coisa certa é dirigir-se diretamente à outra pessoa, para descobrir a verdade, e para ajudar.

Visáo Geral “Fiéis são asferidasfeitas pelo que ama”(Pv 27.5,6). Estes cinco capítulos de breves dizeres atribuídos a O que é, realmente, a amizade? Hoje, nós pode­ Salomão foram adicionados ao livro de Provérbios mos tomar aulas sobre como conquistar amigos e na época de Ezequias. influenciar pessoas. Embora aqueles que nos ensi­ nam nos digam para não usar as técnicas que nos Entendendo o Texto mostram para manipular outras pessoas, frequen­ “Pleiteia a tua causa com o teu próximo” (Pv 25.8- temente o objetivo que temos, ao fazer amigos, é 10). O que devemos fazer, quando ouvimos algum exatamente esse. Nós queremos nos adular; usar o boato sobre alguém, ou vemos algum ato suspeito? relacionamento para algum ganho pessoal. Tirar conclusões precipitadas? Correr para contar a Salomão, ao explorar a amizade, faz uma proposta todos os nossos conhecidos? diferente. Para ter amigos, seja amigo. PreocupeEsse grupo de provérbios sugere que a pior coisa se verdadeiramente com a outra pessoa. Em vez a fazer é espalhar um boato, ou mesmo fazer uma de usá-la, sirva. acusação com base em alguma coisa que testemu­ Essa interpretação da amizade está por trás de nhamos. Afinal, não conhecemos toda a história. cada um dos dizeres de Salomão. Por que a repro­ Não conhecemos o motivo do ato que vimos, nem vação aberta é melhor do que o amor escondido? todas as circunstâncias que o rodeiam. Salomão su­ Porque este amor é moralmente inútil. Ele deixa geriu que nós devemos reter o julgamento, e não de dizer à outra pessoa os seus erros, deixando-a nos apressarmos para “litigar” [contra o nosso vi­ sem informação que poderia conduzir à mudan­ zinho], isto é, acusá-lo. Nós pareceremos enorme­ ça. Quando hesitamos em repreender umapessoa, mente tolos, se ele tiver uma boa explicação! a nossa motivação não é realmente amor. E medo Salomão sugeriu que nós devemos procurar o nos­ de que possamos ser rejeitados ou atacados. Não so vizinho e “pleitear a nossa causa” com ele. Isso estamos realmente preocupados com a cutra pes­ não significa repetir o que outras pessoas nos disse­ soa: estamos preocupados com nós mesmos! ram em confiança: “Bem, George disse que você...” Invertendo os dizeres, Salomão nos convida a ava­ Repetir o que outras pessoas nos disseram é trair a liar a nossa atitude com relação àqueles que dizem sua confiança. Faça isso, e, quando outros o desco­ ser nossos amigos. Nós preferimos os aduladores? brirem, você terá uma reputação com a qual jamais A pessoa que não tem nada exceto louvor por será capaz de viver! nós — quando estamos com ela — pode bem ser Por um lado, as palavras de Salomão são simples­ uma inimiga. Podemos diferenciar um verdadeiro mente um bom conselho. Elas fazem sentido. Por amigo pela sua disposição em nos ferir, quando a outro lado, se enraízam em uma visão peculiar da ferida é para o nosso próprio bem. sociedade religiosa. Em uma sociedade religiosa, Não, nem todas as pessoas que nos ferem são se você testemunhar ou ouvir alguma coisa sobre amigos. Mas devermos ser capazes de perceber a outra pessoa, você não poderá simplesmente dar de diferença entre uma pessoa insensível que nos diz ombros e dizer: “E problema dele”. Você é respon­ algo que nos fere, e diz, “Isto é para o seu próprio sável pelo bem estar da outra pessoa, e pela pureza bem”, e a pessoa que realmente se importa e mos­ da sua comunidade. Para cumprir a sua responsa­ tra que se preocupa, quando nos diz a verdade bilidade, você deve, antes de mais nada, procurar a com amor. pessoa envolvida. Você lhe diz o que ouviu ou viu, As palavras e inspirações de Salomão são tão váli­ e lhe dá uma oportunidade de se explicar. Ao fazer das hoje quanto foram há 3 mil anos. A amizade isso, você mostra a sua preocupação com a verdade, exige a honestidade, exercida em benefício do me­ e também com a outra pessoa. lhor interesse das outras pessoas, e a apreciação de Se ela puder explicar, ótimo. Se a confrontação a tal honestidade de outras pessoas, ainda que isso ajudar a esclarecer as coisas, novamente, ótimo. Se nos magoe.

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DEVOCION AL__________ Desabafe! cruz. E a cruz da sua esposa, e é o seu pecado!”’ (Pv 29.11) Surpreendo-me sempre com os novos tratamentos que os psicólogos inventam. Há alguns anos, uma mania popular era, “desabafe!” Se você sentir raiva, desabafe. Pegue este taco de espuma e bata em al­ guma coisa, com a maior força que puder. Se você sentir hostilidade, diga todas as coisas horrorosas que estiver pensando. Se você der vazáo aos seus sentimentos, diz a teoria, se livrará deles. Se você os retiver, eles ficarão ainda mais fortes. Bela teoria. Mas, é claro, ela não funciona, na verdade. Salo­ mão sabia disso, há 3 mil anos, e foi isso o que ele disse, quando escreveu: “Um tolo expande toda a sua ira, mas o sábio a encobre e reprime” (v. 11). Quando praticamos o desabafo de um sentimen­ to pecaminoso ou negativo, o que acontece é que nós nos tornamos menos capazes de controlá-los, da próxima vez. Em lugar de “desabafar” a emoção e nos livrarmos dela, percebemos que ela retorna. E, como um músculo que nós exercitamos repeti­ das vezes, esses sentimentos que nós “desabafamos” também se tornam mais fortes. A razão está profundamente enraizada na própria natureza dos seres humanos. Você e eu somos cria­ turas morais. Isso quer dizer que devemos julgar as nossas emoções. Devemos decidir contra as nossas emoções, se estas emoções forem erradas. Devemos ser controlados, não pelo que nós sentimos, mas pelo que sabemos que é certo. Quando uma pessoa decide “desabafar” a sua ira ou hostilidade, ela não está se livrando dela. Está permitindo que esse sen­ timento a domine. Como é maravilhoso que em Cristo, você e eu te­ nhamos uma maneira melhor de lidar com a nossa ira. Podemos decidir fazer o que é certo — e con­ fessar os nossos sentimentos pecaminosos a Deus, e pedir que Ele os modifique, e a nós. Quando faze­ mos isso, Deus opera a sua transformação gradual em nós, até que nos tornemos homens e mulheres amorosos, e não irados. Aplicação Pessoal Faça o que você sabe que é certo, e não o que você “sentir” que deva fazer. Citação Importante “Existem muitas ideias estranhas sobre carregar uma cruz. Lembro-me que um homem, certa vez, me disse, ‘eu tenho um temperamento violento, mas acho que esta é a minha cruz’. ‘Meu amigo’, eu lhe disse (com amor, espero!), ‘Esta não é a sua

— Alan Redpath

11 DE MAIO LEITURA 131 A ESPOSA NOBRE Provérbios 30— 31 "Dai-lhe do fruto das suas mãos, e louvem-na nas portas as suas obras” (Pv 31.31)■ A última das três seções destes dois capítulos descar­ ta a noção de que as mulheres não tinham impor­ tância na antiga sociedade dos hebreus — e desafia aqueles que, hoje em dia, consideram as mulheres de alguma maneira inferiores aos homens. Visão Geral Três autores contribuem com estes dois capítulos. Agur, humilde, mas observador penetrante da na­ tureza e da humanidade (30.1-33). O rei Lemuel, pseudônimo de um homem que transmite os pen­ samentos de sua mãe sobre o governo (31.1-9). E o autor, cujo nome náo é citado, de um poema acrós­ tico em louvor a uma nobre esposa (w. 10-31). Entendendo o Texto “Sou mais estúpido do que qualquer homem” (Pv 30.1-4, TB). A humildade era uma grande carac­ terística de Agur. Ele tinha aprendido a não se comparar com os outros homens, mas com Deus. Como resultado, não tinha vestígios de falso orgu­ lho ou de arrogância. Quando nós nos compara­ mos com o Senhor, não há lugar para o orgulho. Se não aprendermos nenhuma outra coisa no livro de Provérbios, essa única coisa será suficiente. “Duas coisas te pedi” (Pv 30.7-9). A humildade ti­ nha dado a Agur conhecimentos sobre si mesmo. Ele percebeu o quanto os meros seres humanos são vulneráveis. O seu segundo pedido, “não me dês nem a pobreza nem a riqueza; mantém-me do pão da minha porção acostumada”, reflete esta noção. As perspectivas de Agur eram muito diferentes das do homem que prega pelo rádio, clamando, “Deus quer que todos os seus filhos sejam ricos!” O que Deus, na graça, deseja para a maioria de nós é que tenhamos o suficiente — o nosso pão cotidiano. Mas não demais. As pessoas ricas muito frequente­ mente não sentem necessidade de Deus. E as que não têm nada podem roubar pelo essencial. Agur, percebendo essa vulnerabilidade, não desejava ser colocado em nenhuma das duas posições.

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Você e eu podemos nos perguntar o que faríamos se herdássemos muito dinheiro e repentinamente ficássemos extremamente ricos. Agur nos lembra de agradecer a Deus pelo que temos. Por que nós desejaríamos nos arriscar aos perigos que a riqueza traz?

da servidão. O homem, que é o “cabeça da casa”, como o rei desses versículos, não deve usar a sua autoridade para explorar ou “dominar” a sua espo­ sa, mas para servir tanto a ela, como aos filhos que tiver com ela.

“O caminho do homem com uma virgem”(Pv 30.18,19). Agur fez algumas observações deleito­ sas, comparando o comportamento humano com o que ele via na natureza. Aqui, ele expressou as­ sombro com a maneira como as águias, as serpentes e os navios em alto mar, encontravam o seu cami­ nho, quando ele não estava assinalado. Agur jamais escreveria um conselho na coluna dos apaixonados. Ele era inteligente! Não existem caminhos assina­ lados para os relacionamentos entre rapazes e mo­ ças. No entanto, de alguma maneira, os homens e as mulheres se encontram, se casam e produzem a próxima geração. O caminho do homem com uma virgem pode não estar marcado, mas apesar disso o amor também encontra o seu caminho. “Não a pode suportar” (Pv 30.21-23). Agur, um homem que detestava o orgulho, observou quatro tipos que tendem a ser insuportavelmente arrogan­ tes. O servo, quando reina (que, no mundo antigo, provavelmente teria assassinado o rei anterior). O tolo (aqui, nabal, rebelde orgulhoso e ímpio) que “se farta de pão” e abertamente zomba de qualquer necessidade de Deus. A “mulher aborrecida” (uma Nos tempos do Antigo Testamento, as mulheres usavam solteirona) que por fim encontra um marido (cer­ instrumentos simples, como o fuso e a roca, para fazer tamente não por suas qualidades, mas mais prova­ fios de lã ou linho, e depois tecer os fios, produzindo que elas usavam para fazer as roupas da família velmente por causa de um grande dote). E a jovem tecidos 19). Mas, como mostram os versículos 10-31, a espo­ serva que desperta a paixão de seu senhor e substi­ sa(v. dos tempos do Antigo Testamento era muito mais do tui a senhora como esposa dele. Em nenhum desses que uma serviçal que realizava somente tarefas simples casos, o indivíduo tem motivos para orgulho. Em e limitadas, enquanto seu esposo cuidava dos assuntos cada caso, ele ou ela tem, na verdade, motivos para importantes da família. vergonha! Você e eu podemos ter satisfação em uma posição “Mulher virtuosa” (Pv 31.10-31). Os rabinos ju­ conquistada pelo trabalho árduo e pela excelência. deus sugeriram que essas palavras foram escritas Mas como é ímpio orgulhar-se de uma posição ob­ por Salomão, em honra à sua mãe, Bate-Seba. Isso tida sem mérito. é improvável. Aqui, a mulher é uma dona de casa normal. Embora seja verdade que a família é prós­ “Não épróprio dos reis beber vinho” (Pv 31.1 -9). Es­ pera, grande crédito pela sua prosperidade é dado ses versículos de conselho, dados por um rei que a ela! ■ escrevia sob o pseudônimo de Lemuel, revelam A passagem não foca os relacionamentos pessoais uma visão elevada da responsabilidade real. O rei da esposa, mas no que pode ser chamado do seu é servo do seu povo, e deve proteger os oprimidos tino para os negócios. Ela se levanta cedo, designa e julgar com justiça. A indulgência pessoal “não é o trabalho do dia para as suas servas (empregadas), própria dos reis”. Eles devem despender a sua força certifica-se de que elas tenham os recursos necessá­ e o seu vigor servindo ao seu povo, não procurando rios para realizar o seu trabalho, e as supervisiona mulheres ou se embriagando. durante o dia. Essas palavras de uma mãe nos lembram de que Embora o foco primário nas suas atividades fosse devemos considerar toda autoridade no contexto as necessidades da família, esta esposa do Antigo

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Testamento é também uma empreendedora. Ela comercializa as vestes que suas servas produzem: ela vende panos de linho fino, e “dá cintas aos mer­ cadores”. A passagem também deixa claro que a esposa é livre para usar os lucros do seu trabalho. Ela “examina uma herdade e adquire-a”. Isso é um investimento. Ela de­ cide diversificar, e acrescenta a fabricação de vinho aos seus negócios! O controle completo que tem a esposa sobre os seus ganhos é exemplificado pela sua genero­ sidade: “Abre a mão ao aflito; e ao necessitado estende as mãos”. Em termos modernos, ela estabelece uma fundação de caridade para distribuir uma parte de seus lucros aos menos afortunados. E o que os homens desta sociedade pensam da es­ posa ativista? Ora, “Conhece-se o seu marido nas portas, quando se assenta com os anciãos da terra”. Em vez de ser uma ameaça ao seu frágil ego mascu-

DEVOCIONAL______

Dai-lhe do Fruto das suas Mãos (Pv 31.10-31) Eu suponho que seja normal aborrecer-se com os pastores, de vez em quando. De qualquer forma, pensei que fosse normal que a minha esposa estivesse aborrecida com o nosso pastor. Graham é um homem adorável, amistoso e atencioso, e nós gostamos dele. Mas, como ele rapidamente admite, é um pouco chauvinista. As mulheres devem ficar em casa. Ou fazer alguma coisa feminina, como ser professora. As decisões importantes no lar devem ser tomadas pelo ho­ mem. E todas as discussões na igreja — com fre­ quência todas as conversas sobre decisões — são somente para os homens. Assim, uma noite, quando estávamos na casa de Graham para jantar, minha esposa o confrontou. Por que as mulheres não são cidadãs de primeira classe na nossa igreja? Por que são automaticamente excluídas de tantos cargos e de tantas atividades? Graham imediatamente chegou à conclusão de que Sue estava se posicionando a favor de mulheres na pregação, e fez uma defesa fervorosa da posição. E não entendeu a questão. Eu suspeito que muitos, em nossas igrejas, não entendem a questão. A questão é que as mulhe­ res também são seres humanos. Elas também têm talentos e habilidades. As mulheres também têm dons espirituais — dons que vão além de ensinar criancinhas, trocar fraldas no berçário da igreja, e

lino, a realização da esposa é uma fonte de orgulho, e aumenta o seu prestígio! O que é tão surpreendente sobre a descrição de Provérbios 31 é o fato de contradizer tão vigoro­ samente a opinião de alguns cristãos de que uma boa esposa deve ficar em casa, ter bebês e se ocupar do trabalho de casa. Provérbios 31 nos mostra uma mulher do Antigo Testamento que é, na verdade, uma mulher de negócios, que usava ao máximo os seus talentos e as suas capacidades, e realizava o mesmo tipo de tarefas que os homens daquela sociedade realizavam. A “mulher virtuosa” do Antigo Testamento não é a mulher silenciosa e subserviente que tantos cristãos imaginam, mas uma mulher decidida e realizada, cujo sucesso a revestiu “de força e glória” e que se sabe que fala “com sabedoria”, pois “a lei da benefi­ cência está na sua língua”. encher os cálices da Santa Ceia com suco de uva. E, naturalmente, lavá-los, depois do uso. As mulheres, sendo membros do corpo de Cristo, são essenciais ao nosso crescimento e desenvolvimento espiritual. Mas em muitas igrejas as mulheres não têm um papel importante e têm ao seu alcance ministérios pouco significativos. E isso é uma vergonha. Particularmente, quando a visão que tantos têm das mulheres se baseia em uma imagem defeituo­ sa da esposa “bíblica”. A mulher que fica em casa, que cuida dos filhos e que deixa os homens lidarem com as questões importantes da vida. Às vezes, eu me pergunto: Você imagina que seja possível que o texto de Provérbios 31 tenha sido es­ crito para nossa instrução? E que as palavras “Dailhe do fruto das suas mãos”, seja a exortação de Deus aos maridos e aos líderes da igreja de hoje? Aplicação Pessoal Os dons e talentos dados por Deus devem ser usa­ dos — independentemente da pessoa que os pos­ sua ser um homem ou uma mulher. Citação Importante “Deus confiou às mulheres algumas de suas tare­ fas mais importantes. Ele enviou mulheres com a notícia da ressurreição aos demais discípulos. Jesus aceitou mulheres no discipulado pleno. Ele elogiou Maria, de Betânia, por seus esforços ao

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se assentar aos seus pés e aprender, em lugar de lhe perguntou o que uma mulher pode fazer para fazer o que seria aceito, e retirar-se à cozinha. servir a Cristo: “O que ela não pode fazer?” Àqueles que dizem que as mulheres não podem — Patricia Gundry preencher cargos de liderança, a Bíblia diz que O Plano de Leituras Selecionadas continua em as mulheres já o fizeram. Como o grande evan­ IR E IS gelista D. L. Moody respondeu, quando alguém

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ECLESIASTES INTRODUÇÃO Esse livro registra os esforços do “Pregador” — que durante muito tempo se acreditou tratar-se de Salo­ mão — para encontrar significado na vida, sem um relacionamento pessoal com Deus. A sua conclusão pessimista: uma vida assim é “sem sentido”, e levará ao desespero. Somente aquele que “teme a Deus e guarda os seus mandamentos” pode viver com esperança. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Prólogo: A Vida não Tem Sentido ....................................................................................................Ec 1.1-11 II. Prova: A Falta de Sentido É Demonstrada.............................................................................Ec 1.12— 6.12 III. Preferências: Fazendo o Melhor de uma Vida sem Sentido.................................................Ec 7.1— 12.8 IV. Epílogo: Convite para Temer a Deus............................................................................................Ec 12.9-14 GUIA DE LEITURA (3 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 132 133 134

Capítulos 1— 4 5— 8 9— 12

Passagem Essencial 2 7— 8 11.7— 12.14

ECLESIASTES 12 D E M AIO LEITURA 132

VIDA SEM SENTIDO Eclesiastes 1— 4

“Vaidade de vaidades! — diz o pregador, vaidade de Qual é, então, a importância do livro de Eclesias­ tes? Ele tem uma importante função pré-evangelivaidades! E tudo vaidade” (Ec 1.2). zadora, invocando imagens que pretendem tornar Muitos não cristãos ponderados perceberão que este o leitor sensível à inutilidade da vida sem Deus. livro reflete um sentimento de desespero comple­ Embora o descrente possa desfrutar das bênçãos tamente familiar. A vida neste mundo não mudou naturais que Deus graciosamente proporciona, ele fundamentalmente desde os dias do autor. Sem um sempre está perturbado por uma sensação secreta relacionamento pessoal com Deus, qualquer vida é da falta de significado da vida. verdadeiramente sem sentido, uma vaidade. Visáo Geral O Pregador afirmou que a vida neste mundo não Contexto O livro de Eclesiastes se encaixa em uma corrente de tem significado, é uma vaidade (1.1-11). Para literatura de sabedoria antiga, caracterizada pelo seu provar o que disse, ele examinou a sabedoria (w. pessimismo. O seu sentimento da futilidade da vida 12-18), os prazeres (2.1-16), o trabalho árduo (w. é encontrado em obras egípcias de aproximadamente 17-26), a religião (3.1-22) e a injustiça da vida 2.300-2.100 a.C., assim como em escritos da Meso- (4.1-16). potâmia desde aquela data até o século VII a. C. Uma obra, o Diálogo do Pessimismo, escrito aproximada­ Entendendo o Texto mente em 1.300 a.C., conclui que, para o homem “Vaidade de vaidades!” (Ec 1.1-11). A palavra he­ aprisionado em um universo sem sentido, só existe braica traduzida como “sem sentido” na versão um “bem”: “Ter meu pescoço quebrado, e o seu pes­ NVI, e “vaidade” nas versões ARC, ARA e TB, coço quebrado, e sermos atirados ao rio; isto é bom”. é hebel. Os seus significados subjacentes incluem O autor de Eclesiastes estabelece os limites para a futilidade, ilusão, irrealidade e brevidade. A vida sua busca pelo significado. Ele usou a sua razão (“a humana, se for composta apenas pelos nossos se­ informar-me com sabedoria”, 1.13) e dados que pôde tenta e poucos anos na terra, será considerada reunir pela observação deste mundo (“debaixo do vazia. A vida curta e não substancial neste m un­ céu”). Embora a natureza forneça evidências de que do não pode proporcionar nenhum a satisfação Deus existe, Ele pode ser conhecido como Redentor permanente. somente por revelação especial. Assim, o nome pesso­ È difícil para uma pessoa jovem, que tem sonhos al de Deus, Jeová, não é encontrado no livro de Ecle­ de conquistar o mundo profissional, expectati­ siastes. Além disso, embora as conclusões do Pregador vas de prazer, ou mesmo de casamento e família, sejam registradas com exatidão, e acompanhem o que compreender o quanto a vida será vazia, ainda que o homem pode observar na sociedade e no universo ela alcance esses objetivos. Esse talvez seja um dos material, as suas conclusões não correspondem à ver­ grandes méritos deste poderoso livro do Antigo dade revelada (cf. 3.20,21; 9.5). Testamento: a sua aparência sombria força até mes­

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mo o indivíduo mais otimista a reexaminar suposi­ ções sobre o significado da vida. Que bênção que este livro seja encontrado em uma biblioteca de 66, com os outros testemunhando que Deus não criou nenhuma vida individual para brilhar por um breve momento e depois se apagar. Sempre que invejarmos os ricos ou famosos des­ te mundo, poderemos ler o livro de Eclesiastes e recordar que o verdadeiro significado da vida está ligado, não ao tempo, mas à eternidade. “E quem aumenta ciência aumenta tristeza” (Ec 1.12-18, ARA). De modo geral, “ciência”, ou sa­ bedoria, nas Escrituras, é a capacidade de aplicar as diretrizes de Deus para a vida moral a questões práticas, decidindo, assim, o que é correto. Neste livro, que rejeita a revelação a priori, a sabedoria continua prática. Mas aqui, ela é a capacidade de compreender as implicações práticas do estudo e da observação secular. A tragédia é o fato de que a busca do conhecimento secular é “correr atrás do vento”, ou seja, inútil. Seja o que for que con­ sigamos por meio da ciência ou da filosofia, não oferecerá resposta à pergunta sobre o que dota a vida do indivíduo de sentido. Na verdade, quanto mais se explora e se conhece, maior o sentimento de tristeza. Existe uma grande diferença entre o conhecimen­ to secular e o espiritual. Embora o primeiro possa tornar a nossa vida na terra mais confortável, so­ mente o segundo pode trazer sentido e propósito à nossa vida. O resultado, como sugeriu um de nossos pastores no culto noturno dominical, é que nós devemos nos concentrar no estudo da Palavra de Deus. So­ mente ali iremos encontrar, não somente sentido e significado, como também consolo e alegria du­ radouros. “Não privei o meu coração de alegria alguma” (Ec 2.1-11). Os filósofos categorizaram os prazeres. Alguns são “prazeres da carne”. A pessoa que pro­ cura o prazer em drogas, bebida ou sexo o procura em sensações corpóreas. Também existem prazeres “mais elevados”. Entre tais prazeres, a tradição in­ clui o prazer que uma pessoa sente com suas reali­ zações, ao acumular riqueza, ou o puro prazer inte­ lectual de aprender e demonstrar conhecimento. Como ensinaram os filósofos pagãos, o problema com os prazeres da carne é que é necessário pagar um preço. O bêbado sofre de ressacas e cirrose no fígado. O viciado em drogas perde a sua percepção da realidade. Mas o Pregador faz uma contribuição distinta. Todos os prazeres são sem sentido. No que

diz respeito a acrescentar sentido à vida, cada um deles é “correr atrás do vento” (ARA). “Também eu aborreci todo o meu trabalho ”(Ec 2.1726). A busca para conquistar grandes coisas é inca­ paz de proporcionar sentido à vida. No final, tudo aquilo em que uma pessoa empenhou seu esforço e seus talentos, tudo o que lhe custou tanto trabalho, dor pessoal e sofrimento, será deixado para outra pessoa, que não trabalhou nisso. E um homem de sorte (o sentido aqui se refere a Deus) aquele que se satisfaz com o seu trabalho e os seus prazeres. Em última análise, o “grande homem” que foi levado à ambição das conquistas, é o infeliz. “Sem que o homem possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim ” (Ec 3.1-22). Embo­ ra alguns tenham interpretado este capítulo como um apelo para procurar sentido por intermédio do relacionamento com Deus, parece melhor compre­ endê-lo como uma crítica à religião natural. A na­ tureza fornece evidências de que Deus existe. Nós o vemos revelado na regularidade da sua criação (w. 1-8), e na suposição universal do homem de que a vida é algo mais, além de comer e beber (w. 9-17). Mas Deus continua sendo um mistério (v. 11). Como as religiões do homem não podem ofe­ recer conhecimentos sobre a vida depois da morte, os que as praticam devem se contentar e aproveitar a vida neste mundo. Que diferença entre as religiões humanas e a reli­ gião revelada. Somente nós podemos olhar além do tempo e conhecer o que a eternidade trará. “Voltei-me e atentei para todas as opressões que se fazem debaixo do sol” (Ec 4.1-16). A existência da injustiça contribui com a conclusão de que, se isso é tudo o que há, a vida deve ser sem sentido. Os homens tratam tão mal os seus companheiros que a morte é preferível (w. 1-3). A inveja e a compe­ titividade que motivam as realizações do homem destroem a tranquilidade interior (w. 4-6), ao pas­ so que somente a necessidade une os homens (w. 7-12). Até mesmo a posse da autoridade sobre ou­ tros é transitória e sem sentido. Nas três últimas décadas era popular supor que, de alguma maneira, existe sentido nos relacionamen­ tos entre as pessoas. Mas o único relacionamento que importa é ignorado pelo homem secular. So­ mente um relacionamento com Deus, o descanso no seu amor por nós e no seu comprometimento conosco, pode verdadeiramente satisfazer as nos­ sas necessidades.

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DEVÉ Preciso OCIONAL__________ Experimentar para Saber adicional à religião (5.1-7), às riquezas (w. 8-20) (Ec 2) Na sua busca por sentido, o Pregador usou dois métodos básicos. Observar os outros. E experimen­ tar e ver. Quando o assunto é prazer — seja o pra­ zer por realizar algum grande projeto de edificação, obter grande riqueza, ou um prazer da carne — a sua abordagem era, “Experimente, e veja”. Somos frequentemente tentados a adotar esta abor­ dagem na vida. “Como poderei dizer, a menos que experimente, eu mesmo?” A resposta é, natural­ mente, que nós conhecemos muitas coisas que não são benéficas sem ter tido que experimentá-las nós mesmos. Não devemos tentar saltar do alto de um edifício de 10 andares para ver se voar é divertido. Poderia ser. Mas a aterrissagem seria uma situação muito difícil. Como somos abençoados por termos, nas Escritu­ ras, um guia confiável para o que é verdadeiramen­ te bom para nós, e o que nos prejudicará. Em lugar de dizer, como Qoheleth: “Como posso dizer algo, antes que experimente?”, nós dizemos: “Sei que não vale a pena experimentar isto, pois a Palavra de Deus me adverte de que isso não é bom para mim”. Aplicação Pessoal Deus é um guia melhor do que a experiência. Citação Importante “A experiência é o melhor dos mestres; mas o preço destas aulas é elevado demais.” — Thomas Carlyle 13 DE MAIO LEITURA 133 UMA VIDA SEM SENTIDO Eclesiastes 5— 8 “Porque, quem sabe o que é bom nesta vida para o homem, por todos os dias da sua vaidade, os quais gasta como sombra?” (Ec 6.12) Quando sentimos o desespero que se apodera do coração do Pregador no seu papel de homem se­ cular, percebemos, de modo renovado, como é grande a salvação de Deus. Fazer o melhor de uma vida sem sentido é o destino do homem secular. O nosso desafio é tornar uma vida significativa ainda melhor!

e à brevidade da vida (6.1-12). Tendo provado este tema, o Pregador, então, sugeriu como fazer o melhor de uma vida basicamente sem sentido (7.1— 8.17). Entendendo o Texto “Sejam poucas as tuas palavras” (Ec 5.1-7). Na reli­ gião natural, os seres humanos procuram alcançar a Deus a partir da terra, e assim julgam que Ele está distante e inatingível. E isso o que quer dizer: “Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra”. Deus pode conhecer o homem, mas o homem não co­ nhece a Deus. Assim, a pessoa religiosa deve fazer com que as suas palavras sejam poucas, deve ser reverente e, se fizer um voto a Deus, deve cumprilo rapidamente, para que o Deus desconhecido não se ire. Na religião revelada, Deus é o iniciador. Ele se de­ bruça do céu para revelar-se ao homem. Este Deus é conhecido na terra, e a sua vontade também o é. Como é terrível ser levado pela razão para reconhe­ cer a existência de Deus, mas não conhecer nada sobre Ele! Como é maravilhoso que, na sua Palavra e em Cristo, o nosso Deus tenha nos falado de seu amor, da sua compaixão e da sua salvação. “Indo-se como veio” (Ec 5.8-20). Diversas razões são propostas para mostrar por que a riqueza é incapaz de proporcionar sentido à vida. Uma pes­ soa pode trabalhar arduamente — mas os seus lucros são devorados pelos impostos (w. 8,9). Mesmo um homem rico não está satisfeito com a sua riqueza. Ele simplesmente quer mais (v. 10). Quanto mais se ganha, mais se gasta (v. 11). As pessoas que têm dinheiro não dormem, preocu­ padas em guardá-lo (v. 12). A riqueza acumula­ da mais provavelmente fará mal, e não bem — e quando a pessoa morre, não pode levá-la consigo (w. 13-17). Em resumo, o único valor da riqueza é funcionar como um narcótico, a fim de manter a pessoa tão ocupada com os prazeres terrenos que ela não perceba o quanto a sua vida é vazia, na realidade (w. 18-20). Quando um cristão adota valores materiais, ele es­ colhe o modo de vida vazio e sem sentido do ho­ mem secular. Cristo morreu, em parte, para nos libertar de um amor doentio pelo dinheiro.

“A inda que vivesse duas vezes mil anos” (Ec 6.1-12). Visão Geral Um dos males mais dolorosos identificados pelo No seu papel de homem secular, o Pregador mos­ Pregador é que, não importa quanto tempo viva trou a falta de sentido da vida por uma crítica um homem, não será suficiente. Até mesmo uma

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pessoa que tem riquezas, possessões e honra morre logo, com seus desejos ainda insatisfeitos. Ao dizer que “Todo trabalho do homem é para a sua boca”, o autor sugeria que o homem secular está em uma roda de moinho. Ele trabalha para satisfazer as suas necessidades físicas e seus desejos, no entanto, por mais bem alimentado que esteja sente fome outra vez, e por mais abastecido de be­ bidas que esteja a sua sede retorna. Em resumo, a sua mais profunda necessidade, o desejo indescri­ tível de sentido, persiste como um desejo doloroso que nenhum alimento e nenhuma bebida podem mitigar. “Seja o que for, já o seu nome foi nome­ ado”. A vida na terra é uma repetição infindável, uma roda de moinho na qual cada geração cami­ nha ou corre até que “todos os dias da sua vaidade” estejam terminados. “Melhor é” (Ec 7.1— 8.17). Com o encerramento do capítulo 6, o autor termina de apresentar provas de que a vida sob o sol, sem um relacionamento pessoal com Deus, é sem sentido. Mas ele continu­ ava a sua busca. Dada a falta de sentido da vida, o que se deve fazer? Salomão, diferentemente dos autores de outras obras de literatura de sabedoria pessimista da an­ tiguidade, jamais sugeriu o suicídio. Em vez disso, ele sugeriu que um homem examine as suas opções, e escolha o menor dos males. Podemos examinar as opções que ele sugeriu, em 7.1— 12.8. Na leitura de hoje, aqui está o conselho do Pregador, a respei­ to das escolhas disponíveis ao homem secular. 7.1-12. Mesmo que a vida seja sem sentido, algu­ mas coisas, na vida, são melhores do que outras. Por exemplo, a tristeza é melhor do que o riso — pelo menos, porque ela é mais realista! Pela mesma razão, é tolice dizer que “os velhos dias” foram me­ lhores do que hoje! Embora essas conclusões possam não ser óbvias, é claro que algumas coisas são melhores do que ou­ tras. Por exemplo, o fim de um problema é melhor do que o início. A paciência é melhor do que o orgulho. Os sábios são melhores do que os tolos. Posto isso, o pregador oferece o seu conselho. 7.13,14. Adote uma atitude fatalista. O que Deus determinou, não pode ser modificado, e ninguém pode conhecer de antemão se o futuro de Deus lhe trará coisas boas ou más. 7.15-22. Evite extremos. Não seja justo demais, nem ímpio demais, e ignore o que as outras pessoas possam dizer a seu respeito.

7.23— 8.1. A sabedoria é melhor do que a estu­ pidez. Mas a sabedoria tem seus limites. Ela não capacitará uma pessoa a descobrir “o esquema das coisas”, e não tornará justa uma pessoa. Na verda­ de, a sabedoria força a pessoa a chegar à conclusão de que, embora Deus possa ter criado o homem reto, “ele buscou muitas invenções”. 8.2-10. Ajuste-se às regras da sua sociedade. E muito melhor ajustar-se do que ser rebelde. Este pensamento fundamenta o convite do Pregador a obedecer ao rei, e não perturbar o equilíbrio, desa­ fiando a sua autoridade. 8.11-14. Tema Deus como Juiz. Este é um conse­ lho difícil, pois é preciso aceitar, com fé, que no final Deus irá punir os ímpios — apesar da atu­ al prosperidade de tantos ímpios. Basicamente, o Pregador sugeriu: não se arrisque naquilo em que Deus está envolvido. A sabedoria nos diz que Ele está ali, apesar de não sabermos nada mais a res­ peito dEle. 8.15. Aproveite enquanto puder. Desfrute do pra­ zer que é possível nesta vida, embora ela seja sem sentido. 8.16,17. Finalmente, o autor faz uma confissão significativa. Mesmo as conclusões a que ele tinha chegado se baseavam em evidências insuficientes! Ninguém pode realmente “compreender o que há debaixo do sol”. A razão humana é incapaz de reu­ nir as evidências e de chegar às conclusões corretas. A razão humana não pode verdadeiramente descre­ ver, nem mesmo compreender, toda a realidade. Nós concluímos com este pensamento. As con­ clusões do homem secular, a respeito da falta de sentido da vida, são falhas, simplesmente porque o homem secular não tem toda a evidência, nem é capaz de reunir tudo, de modo exato. O melhor que o homem secular pode fazer é tentar adivinhar sobre a verdadeira natureza do universo em que ele vive. E as suas melhores hipóteses, inevitavelmente, levam à conclusão de que a vida, para o indivíduo, é vazia e sem sentido. Como é maravilhoso que você e eu não tenhamos que adivinhar! Como é maravilhoso que nós saiba­ mos. Conhecemos a origem do nosso universo e do seu destino. Sabemos que nós, seres humanos, fo­ mos criados à imagem de Deus, somos amados por Ele, e destinados a viver para sempre! Sabemos que o poder salvador de Deus foi liberado neste mun­ do, por intermédio de Jesus. E, porque sabemos, somos libertados da escravidão do homem secular ao desespero.

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Eclesiastes 9— 12

DEVOCIONAL__________ Aplicação Pessoal Escolhas “Melhores” (Ec 7— 8) Qualquer conjunto de crenças que uma pessoa adote deve ser usado como um critério para avaliar escolhas. Isso pode parecer um pouco limitante. Mas expres­ sa uma verdade vital. O Pregador de Eclesiastes concluiu que a vida é sem sentido, e a partir daí passa a distinguir opções na vida que são melhores do que outras. Nós, cristãos, começamos com um conjunto dife­ rente de conclusões. Acreditamos que a vida tem sentido. Deus nos ama, e nos escolheu, nas palavras de Deus, “para irmos e darmos frutos” (Jo 15.16). Outras passagens do Novo Testamento expressam isso de maneira um pouco diferente, mas a ideia é a mesma. Fomos escolhidos com o fim de “sermos para louvor da sua glória” (Ef 1.12). Somos feitu­ ra de Deus, “criados em Cristo Jesus para as boas obras” (2.10). Este não é um universo secular, formado ao acaso. É um universo criado por um Deus pessoal, que decidiu nos amar —e nos escolheu, para amá-lo e servi-lo. Quais opções são, então, “melhores” se o nosso conjunto de crenças a respeito do mundo é for­ mado por uma crença em Deus e pela experiência do seu amor? Bem, algumas das melhores coisas da vida para o cristão incluem: Preocupar-se mais com as pessoas do que com as coisas. Entregar-se para servir, e não para ser servido. Acumular tesouros no céu, e não aqui, na terra. Dedicar tempo para a Palavra de Deus e não para programas de TV. Dedicar tempo para as nossas famílias em vez de despender todo o nosso tempo e a nossa energia em nossos empregos. Depender de Deus, mais do que de nós mesmos, e expressar essa dependência na oração. E assim por diante. Você pode acrescentar muitas coisas a esta lista, com a mesma facilidade que eu. Você percebe que o nosso problema não está em saber quais “melhores” escolhas estão disponíveis para nós, cristãos. O nosso problema está em fazer essas escolhas diariamente. Não, este não é mais um daqueles devocionais do tipo “vamos acrescentar um pouco mais de cul­ pa”. E apenas um lembrete. A vida do homem secular realmente é sem sentido. O chamado de Deus, para mim e para você, para fazermos “me­ lhores” escolhas é o seu convite para descobrir al­ guma coisa que o homem secular jamais poderá conhecer. Uma vida significativa, e por isso, abençoada.

As “melhores” escolhas que fizermos por amor ao Senhor Jesus Cristo serão bênçãos para nós. Citação Importante “A sabedoria consiste em saber o que fazer a seguir; a habilidade consiste em saber como fazê-lo; e a virtu­ de consiste em fazê-lo.” — David Starr Jordan 14 DE MAIO LEITURA 134 A CONCLUSÃO Eclesiastes 9— 12 “Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque este é o dever de todo homem. Porque Deus há de tra­ zer ajuízo toda obra e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau” (Ec 12.13,14). A vida é realmente curta. A menos que aprenda­ mos a viver tendo em vista a eternidade, a nossa vida também será sem sentido. Visão Geral O Pregador continuou a explorar as escolhas que o homem secular pode fazer, tendo em vista a falta de sentido da vida. O seu conselho: Aproveite a vida, enquanto puder (9.1-12), prefira os caminhos da sabedoria (v. 13— 10.20), prepare-se para o futuro (11.1-6) e aproveite a sua juventude (v. 7— 12.8). Finalmente, deixando seu papel secular, o Pregador aconselhou: “Teme a Deus e guarda os Seus man­ damentos” (w. 9-14). Entendendo o Texto “Tudo sucede igualmente a todos” (Ec 9.1-10). A morte é o destino que espera por todos os homens. Isto, quando a vida é considerada a partir de um ponto de vista secular, é tudo o que se pode dizer. Os mortos não participam de “tudo quanto se faz debaixo do sol”. Até onde se pode dizer, sem a reve­ lação divina, “os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco eles têm jamais recompensa, mas a sua memória ficou entregue ao esquecimento”. Se esta vida é tudo o que existe, então tudo o que se pode fazer é aproveitar e vivê-la plenamente (9— 10). É importante recordar que o autor não estava ser­ vindo de porta-voz de Deus, mas de porta-voz para o homem secular. O texto representa o que o homem pode descobrir a respeito das mais básicas questões da vida, usando somente a razão e os da­ dos disponíveis aos sentidos. Frases como “os mor­ tos não sabem coisa nenhuma” não são revelações de Deus, mas conclusões humanas racionais.

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Eclesiastes 9— 12

10.8-11. Qualquer ato tolo tem más consequências para quem o comete, conforme exemplificado por diversos dizeres e provérbios. 10.12-14. Palavras sábias são “graciosas”, isto é, gentis, apropriadas, úteis. Mas as palavras tolas de­ generam em pensamentos e ações ainda mais lou­ cos, incluindo pronunciamentos sobre um futuro que ninguém pode conhecer. 10.15. Os tolos são guias incompetentes para a vida: Um tolo não consegue nem mesmo encontrar o seu caminho para a cidade! 10.16-20. O tolo na vida nacional, como na indi­ vidual, conduz ao desastre. Vasilhames para perfume como estes eram usados nos tempos do Antigo Testamento para armazenar unguentos aromáticos. A imagem em Eclesiastes 10.1, sobre moscas mortas inutilizando o odor do perfume nos deu o ditado: “Há uma mosca no unguento”. Nós o usamos quando queremos dizer que alguma coisa ocorreu de uma forma muito errada.

“Melhor é a sabedoria” (Ec 9.11— 10.20). Nessa extensa passagem, o Pregador expressou preferir a sabedoria à tolice. Mas existe uma mosca no unguento! Embora a sabedoria seja preferível, ela não pode assegurar uma vida melhor a nin­ guém! O que há de seriamente errado com a sabedoria? Em primeiro lugar, Salomão nos pediu que perce­ bêssemos que nada desta vida pode garantir o su­ cesso (9.11,12). O mais rápido nem sempre vence a corrida. O exército maior nem sempre é vitorioso. A sabedoria não garante a riqueza. Neste mundo, os homens são vulneráveis, e têm a possibilidade de serem “enlaçados no mau tempo, quando cai de repente sobre eles”. O acaso não é o único fator que cria a sabedoria do benefício incerto. Aqui está a lista do autor: 9.13-16. A sabedoria frequentemente não é reco­ nhecida. As pessoas prestam mais atenção a ricos tolos do que a sábios pobres. 9.17— 10.1. A sabedoria pode ser distorcida pelas pessoas que têm autoridade (9.17), pela deficiência moral (v. 18), e por interpretar conselhos deturpa­ dos como sendo genuínos (10.1). 10.2,3. A tolice, que é o oposto da sabedoria, e é associada com a impiedade, compete com a sabe­ doria, e nós somos vulneráveis. 10.4-7. Quando formos ofendidos, possivelmente reagiremos de modo tolo — e uma vez que tantos tolos estão em altas posições, é provável que seja­ mos ofendidos! Aqui, o autor se desvia ligeiramente e examina as consequências da tolice:

“Pela manhã, semeia a tua semente” (Ec 11.1-6). Embora ninguém possa controlar o futuro (v. 3), é melhor se preparar para ele, tão cuidadosamente quanto possível. “Em todos eles se alegrar” (Ec 11.7—12.6). E me­ lhor aproveitar cada dia, e especialmente, enquanto se é jovem. A exortação: “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade” não é um chamado à vida mo­ nástica, mas um convite para desfrutar de todas as boas coisas que Deus forneceu nesta criação. Cedo demais a velhice — os “maus dias” — virão quando perderemos a capacidade de desfrutar as coisas. Então, o mundo escurece (v. 2), pois o corpo se curva (v. 3), os dentes se desgastam (v. 3), os olhos escurecem (v. 3) e a audição diminui (v. 4). A fraqueza traz medo (v. 5) e drena os desejos (v. 5). Então o homem, como uma corda cortada, uma tigela quebrada ou um jarro espa­ tifado, já não tem mais utilidade, e “o pó volta à terra, como o era, e o espírito volta a Deus, que o deu”. O homem nasce. O homem vive uma vida curta e vazia. O homem morre, e retorna ao pó. Se isso é tudo o que existe, então a vida é verdadei­ ramente sem sentido. “De tudo o que se tem ouvido” (Ec 12.9-14). E con­ solador supor que o Pregador, que o texto, aqui e em outras passagens, sugere ser Salomão, deixou seu papel como representante do homem secular no final do livro de Eclesiastes. Embora nem aqui ele use o nome Jeová, falou dos mandamentos de Deus, o que, pelo menos, implica alguma autorrevelação. Se Salomão é, de fato, o Pregador, e ele deixou o seu papel secular, as suas palavras são especialmente poderosas. No final, todos nos voltamos a Deus, a fim de encontrar esperança e significado.

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Eclesiastes 9— 12

de, então descobrimos não somente quem é Deus, mas também quem nós somos. Então, percebemos que qualquer vida vivida para o Senhor encontrará nEle o seu sentido.

Quando nós não somente olhamos para trás, para ver Deus como Criador, mas também olhamos para cima, para vê-lo como nosso Senhor, e olha­ mos à frente, para vê-lo como juiz da humanida-

DEV OCIONAL______ Sábios Tarde Demais (Ec 11.7—12.14)

Salomão, que muitos acreditam ser o Pregador de Eclesiastes, foi um jovem devoto. Mas, na meia idade, como o Pregador, deixou de seguir comple­ tamente ao Senhor. O texto em 1 Reis 11 nos conta que a paixão por mulheres estrangeiras o desviou, a ponto de levá-lo a adorar os deuses delas. Durante este longo período da sua vida, Salomão viveu como um homem secular. Acumulou grande riqueza, empreendeu sólidos projetos de edificação, e não se negou nenhum prazer. Mas, tendo “tido tudo”, Salomão via o quanto a sua vida era vazia. “Vaidade de vaidades!” é um clamor de angústia que certamente se encaixa na trágica experiência do mais esplêndido rei de Israel. Como é triste que Salomão, tão sábio em tantas coisas, e de tantas formas, tenha perdido as suas amarras espirituais. Se, realmente, é Salomão que insiste conosco, “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade”, proferir essas palavras deve ter sido realmente trágico para ele. Não existe tragédia maior do que tornar-se sábio e idoso ao mesmo tempo, e olhar para trás e perceber que se viveu uma vida que pode ser considerada um des­ perdício.

aparecem à porta com as malas nas mãos. Mas pelo menos o conselho de Salomão não teve um custo elevado para nós; ele nos é dado gratuita­ mente. Porém, para ele, esse conselho foi muito custoso. Pagou por tudo o que aprendeu ao se tomar sábio tarde demais. Para nós, esse conselho precioso é grátis. Só se deixarmos de segui-lo é que pagaremos um preço elevadíssimo, um preço terrível. Aplicação Pessoal Coloque Deus em primeiro lugar em sua vida hoje. Amanhã será tarde demais; sim, será tarde demais.

Citação Importante

“Ele pertence a você, porém, mais do que isso, Ele deseja estar em você, vivendo em você e governan­ do você, como a cabeça vive no corpo e o governa. Ele deseja que o seu fôlego esteja no seu fôlego, o seu coração no seu coração, e a sua alma na sua alma, de modo que você possa realmente ‘glorificar a Deus no seu corpo, para que a vida de Jesus Cris­ to possa se manifestar em você’”. — Jean Eudes

Sei que um conselho não solicitado é quase tão bem-vindo quanto visitantes inesperados que

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em LAMENTAÇÕES

CANTARES DE SALOMÁO INTRODUÇÃO Este livro, considerado por alguns como uma alegoria do relacionamento do crente com Deus, é mais bem entendido em seu sentido simples como um poema de amor lírico. O seu retrato alegre, e às vezes erótico, do relacionamento entre um amado e a sua amada, nos faz lembrar que a intimidade dentro do casamento é uma bênção dada por Deus, que criou os seres humanos, o homem e a mulher. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. Apaixonando-se ............................................................................................................................. Ct 1.1— 2.7 II. Desejo Crescente .......................................................................................................................... Ct 2.8— 3.5 III. Canção de Casam ento............................................................................................................... Ct 3.6— 5.1 IV. Separação ....................................................................................................................................... Ct 5.2— 8.4 V..Unidos outra Vez............................................................................................................................ Ct 8.5— 14 GUIA DE LEITURA (1 Dia) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 135

Capítulos 1— 8

Passagem Essencial 4.1— 5.1

CANTARES DE SALOMÃO 15

DE MAIO LEITURA 135

CELEBRAÇÃO DE AMOR Cantares de Salomão 1— 8

Embora entendamos o papel de Salomão, o livro de Cantares em si permanece sendo um dos poe­ mas mais sensíveis e belos do mundo; uma celebra­ Esse amor antigo nos lembra que devemos nos ção alegre e comovente do amor conjugal. alegrar no dom de intim idade conjugal dado por Deus, e receber este dom sem hesitação ou Visão Geral Esse poema lírico captura a alegria e a paixão de vergonha. duas pessoas que se apaixonam (1.1— 2.7), expe­ Contexto rimentam um desejo crescente (v. 8— 3.5), e se O debate a respeito de Cantares de Salomão se casam (v. 6— 5.1). Eles são separados por um tem­ concentra em duas perguntas: Do que esse poema po (v. 2— 8.4), mas então são unidos novamente realmente trata? E, qual é o papel de Salomão? (w. 5-14). Alguns têm ficado incomodados com os elemen­ tos eróticos neste poema, e têm buscado “santifi- Entendendo o Texto cá-los” com uma interpretação simbólica e alegó­ “Beije-me ele com os beijos da sua boca” (Ct 1.1— rica. Comentadores têm sugerido que o poema é 2.7). Apaixonar-se era tão deleitável para os antigos na verdade sobre o relacionamento entre Deus, quanto é para nós. Ele a vê como a “mais formo­ como o amado, e o seu povo do Antigo ou do sa entre as mulheres” (1.8), enquanto ela pensa: Novo Testamento, como a sua amada. Ê melhor, “Como és formoso, amado meu!” (1.16, ARA). E no entanto, tomar o livro em seu sentido simples quase impossível não pensar na adolescente mo­ como uma poesia de amor, celebrando as alegrias derna, que de forma ofegante diz à amiga como do desejo e da intimidade experimentadas por um se sentiu quase pronta a desmaiar quando ele a homem e uma mulher que se tomam esposo e es­ tocou, quando lemos: “Sustentai-me com passas, posa. Nesse ponto de vista não há nada vulgar ou confortai-me com maçãs, porque desfaleço de “não espiritual” na experiência sexual, que Deus amor” (2.5). criou para aprofundar os laços de compromisso Há algo especial sobre o primeiro amor. Para aque­ les dentre nós que estão casados há anos, essa seção no casamento. O texto identifica este poema de amor como “de de Cantares nos lembra — e nos ajuda a apreciar Salomão”. Muitas características do texto hebraico — o amor maduro que se desenvolveu a partir da­ sugerem uma origem antiga, e não há nenhuma queles primeiros e volúveis sentimentos. boa razão para duvidar que ele realmente date do século X a.C. Mesmo assim, o papel de Salomão Esse poema alterna interlocutores, compartilhando não é claro. Alguns acreditam que esse poema de os pensamentos da amada, do amado, e um coro amor não foi escrito por ele, mas foi dedicado a ele de amigos. Uma versão da Bíblia identifica cada interlocutor. Se a versão que você está lendo não por ocasião de um dos seus casamentos. “Eu sou do meu amado, e ele me tem afeição” (Ct7.10).

Cantares de Salomão 1— 8

identifica, pode escrever a identificação de cada in­ 11, encontrou a futura noiva enquanto, disfarçado, terlocutor ao lado dos seguintes versículos: visitava o seu reino. Em seu retomo, ela descobriu que o seu amado era rei da terra, e que pretendia levá-la para o seu palácio real. Amada Amado Coro A seção maior que vem a seguir descreve os atra­ 1.4b 1.2 1.4c 1.8 tivos físicos da noiva (4.1-15), e finalmente muda 1.12 1.15 para o leito nupcial (v. 16— 5.1). Ali, em um sim­ 1.16 1.17 bolismo delicado, frequentemente encontrado na 2.1 2.2 antiga poesia de amor do Oriente Próximo, o ama­ 2.14 2.3 4.1 do vem “para o seu jardim” para “comer os seus 2.16 4.16 5.1 5.1c frutos excelentes”. 5.2 5.9 Embora a imagem seja delicada e agradável, a sua inten­ 5.10 6.1 ção erótica é inequívoca, (Veja o DEVOCIONAL.) 6.2 6.4 6.13a 6.13b “Para onde foi o teu amado, 6 mais formosa entre as 7.9b 8.5a 8.5b 8.8 mulheres?” (Ct 5.2— 8.4). Novamente esses aman­ 8.10 8.13 tes foram separados. Cada um deles estava inquie­ 8.14 to, e pensava nos encantos do outro. A lembrança da sua intimidade não havia diminuído, mas inten­ “Busquei... aquele a quem ama a minha alma” (Ct sificado o seu desejo. 2.8—3.5). O antigo ditado, “a ausência torna o coração mais apaixonado”, é refletido na expressão “Eu era aos seus olhos como aquela que acha paz”(Ct 8.5-14). Unido, o casal se retirou para desfrutar o desejosa desses versículos. seu relacionamento, e ambos aprenderam que um “A h! Se viesse o meu amado para o seu jardim” (Ct amor que queima “como fogo ardente” se torna, 3.6-—5.1). Muitos acreditam que Salomão, visto se com o passar do tempo, uma intimidade confortá­ aproximando com um grupo de valentes em 3.6- vel “que acha paz”.

DEVOCIONAL_______ Recuperando o Amor Sexual

(Ct 4.1—5.1)

“Sexo” tem sido sinônimo “daquela palavra de qua­ tro letras” por muitos anos. A revista Playboy, os filmes, e crescentemente a TV, exploram a nossa se­ xualidade retratando situações que deleitam e exci­ tam. Podemos pegar o telefone, discar um número, e ouvir uma estranha nos convidando a imaginar que estamos nos juntando a ela, enquanto descre­ ve atos de sexo explícito. Até mesmo filmes com restrições para até 13 anos de idade lutam pela li­ beração não só de uma cota de linguagem obscena, mas também de uma cota de cenas que promovam a imoralidade. O que tem acontecido é que o mundo reconheceu a importância do sexo, e impôs uma sexualidade tão distorcida que os cristãos se tornaram um tanto constrangidos por serem criaturas sexuais. Ler Cantares de Salomão, e especialmente es­ ses versículos que de forma tão erótica, porém sensível, retratam o amor sexual, nos lembra de que não foi Hollywood que inventou o sexo. Foi Deus. Isso nos lembra de que o sexo não é

“do mal”. Sexo é um dom que nos foi dado por Deus. O nosso Criador, que nos fez homem e mulher, criou os nossos corpos para todos os prazeres sexuais. E Ele santificou o sexo fazendo das preliminares e da relação sexual um ato de ligação, com o propósito de unir um homem e uma mulher em um relacionamento singular e exclusivo. E isso que nós cristãos temos que readquirir. Preci­ samos limpar do sexo este senso de pecado lodoso, mas latejante, com o qual está associado no mundo moderno. Precisamos purificar os nossos casamen­ tos de qualquer resíduo de vergonha. E precisamos não só anunciar ao mundo que sexo no casamento cristão é um prazer puro e realizador, mas também explorar este prazer completamente com o nosso cônjuge. E talvez aqui que Cantares de Salomão dê a sua maior contribuição para a nossa vida. Ele nos lem­ bra de que falar sobre sexo pode ser bonito, e não precisa ser sujo. E ele nos lembra de que a verdadei­ ra espiritualidade não exclui o prazer da área sexual da vida de casado.

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Cantares de Salomão 1— 8

Aplicação Pessoal que o sexo seja algo obsceno, mas por ser sagrado. Recuperar o valor do sexo, que foi deturpado pelo Ele não faria piadas sobre sexo, assim como não mundo, é uma tarefa que começa no lar cristão. as faz sobre a Santa Ceia — e exatamente pelas mesmas razões. Fazer piadas sobre esse assunto é Citação Importante tratar com desprezo algo que merece reverência.” “Sexo é santo e também saudável... ele é o meio — William Temple pelo qual podemos cooperar com Deus para tra­ zer ao mundo os seus próprios filhos que são des­ tinados à vida eterna. Qualquer pessoa que tenha O Plano de Leituras Selecionadas continua em entendido isso será tão cuidadosa quanto qualquer SALMOS 1— 84 puritano ao evitar fazer piadas sobre sexo; não por­

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ISAÍAS INTRODUÇÃO Isaías desempenhou seu ministério no crítico período de 739 a.C. até 680 a.C., durante o qual a Assíria levou o Reino do Norte, Israel, para o cativeiro e ameaçou Judá. O Sul foi temporariamente salvo devido ao reavivamento ocorrido sob o governo do rei Ezequias. No entanto, a primeira metade do livro de Isaías é obscura e com duras advertências de juízo, citando a Babilônia como o futuro opressor de Judá. A segunda metade de Isaías pulsa com esperança, quando o grande profeta descreve o livramento final do povo de Deus. Três temas repetidos são tecidos ao longo de todo esse grande livro profético. (1) Isaías nos deu uma visão exaltada de Deus, realçada por nomes que refletem os seus atributos ou caráter. (2) Isaías forneceu imagens vívidas do fim da história, e do futuro brilhante que aguardava o povo de Deus naquele tempo. E (3), Isaías constantemente se referiu ao Messias, o Redentor prometido, a quem ele descreveu tanto como um Servo quanto como o Senhor soberano da história. A ênfase de Isaías sobre o Messias, e especialmente a sua descrição do Salvador sofredor no capítulo 53, tem levado alguns a se referirem a este belo livro como o “Evangelho” do Antigo Testamento. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Visões de Juízo ......................................................................................... A. Santo de Israel.......................................................................................... B. Livro de Emanuel ................................................................................... C. Oráculos de juízo.................................................................................... D. Juízo e livramento ................................................................................. II. Interlúdio H istórico............................................................................... III. Visões de Esplendor ............................................................................. A. Além do E xílio........................................................................................ B. Messias: Servo de Deus ......................................................................... C. Redenção.................................................................................................. D. Restauração .............................................................................................

. Is 1— 35 .. Is 1— 6 . Is 7— 12 Is 13— 24 Is 25— 35 Is 36— 39 Is 40— 66 Is 40—48 Is 49— 55 Is 56— 59 Is 60— 66

GUIA DE LEITURA (13 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 136 137 138 139 140

Capítulos 1 2— 6 7— 12 13— 23 24— 27

Passagem Essencial 1 2 11— 12 14.12-15 26

Comentário Devocional da Bíblia

141 142 143 144 145 146 147 148

28— 32 33— 35 36— 39 40— 48 49— 53 54— 58 59— 62 63— 66

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29 33 38— 39 44 52.13— 53.11 55 60 65

ISAÍAS 16 DE M AIO LEITURA 136

POR TRÁS DAS CENAS Isaías 1

“A i da nação pecadora, do povo carregado da iniqui­ çamos a respeito de Isaías seja encontrada no ca­ dade da semente de malignos, dos filhos corruptores!” pítulo 6. Ali Isaías aceitou a tarefa que lhe estava (Is 1.4) sendo dada pelo Deus santo, e foi informado de que devia passar a sua vida falando a um povo que Apesar de a prosperidade material e da religiosidade ouviria, mas que jamais entenderia; que veria, mas superficial, assim como Israel, Judá necessitava de­ que jamais perceberia. sesperadamente de um despertamento espiritual. Que fardo para alguém suportar! No entanto, Isaí­ as foi fiel, não só por um ou dois anos, mas por um Contexto período de mais de cinquenta anos! Os contem­ A Vida de Isaías. Aparentemente Isaías foi um porâneos de Isaías não quiseram ouvir as palavras membro da família real, e de acordo com a tra­ ditas por ele. Contudo, as suas palavras ecoam atra­ dição, um primo do rei Uzias (Amazias), décimo vés dos séculos, e evocam imagens para você e para primeiro rei de Judá. No decorrer do ministério de mim, hoje, que nos ajudam a conhecer melhor a Isaías ele confrontou o rebelde Acaz, e trabalhou Deus, e que aprofundam a nossa admiração pela próximo ao piedoso Ezequias. Ele logo foi avisado sabedoria de Deus e pelo seu amor. de que ministraria a um povo que ouviria “até que Quando Deus chama a você ou a mim para ser­ as cidades” fossem assoladas e o Senhor afastasse da vir, e outros não parecem nos ouvir, ou rejeitam os terra os homens, e, no meio dela fosse “grande o nossos esforços, podemos nos lembrar de Isaías. Os desamparo” (6.11,12). seus anos de rejeição geraram um fruto inesperado. Entretanto, Isaías também recebeu um vislumbre E o nosso serviço fiel também gerará. do esplendor que aguarda o povo de Deus no fim da história. Isaías, mais claramente do que qual­ A Epoca de Isaías. Quando Isaías começou o seu quer outro profeta previu a vinda e o ministério do ministério em Judá, por volta de 739 a.C., ambos Messias. Isaías, mais plenamente do que qualquer os reinos hebreus eram prósperos e poderosos. No outro descreveu a bênção que Deus pretende derra­ entanto, Isaías, como os seus contemporâneos do mar igualmente sobre judeus e gentios. norte, Amós e Oséias, estava profundamente pre­ A tradição nos conta que Isaías foi martirizado du­ ocupado com a evidente deterioração espiritual. A rante o reinado de Manassés, o filho apóstata do prosperidade e o desenvolvimento da classe abasta­ piedoso rei Ezequias. Se for verdade, essa eminente da, em cada reino, vitimou os menos afortunados. figura do Antigo Testamento, de cuja vida pessoal O sistema judiciário, que contava com juizes ho­ sabe-se tão pouco além daquilo que os seus escritos nestos e testemunhas verdadeiras, foi corrompido revelam, deve ter morrido em esperança, certo de para servir aos ricos e poderosos. A religião foi se que Deus iria realizar os bons propósitos que havia tornando crescentemente uma questão de obser­ revelado ao seu servo, e por meio dele. vância ritual; e cada vez menos uma questão de Talvez a informação mais significativa que conhe­ amor pelo Senhor.

Isaías 1

No final dos anos 730, os estados da Síria e da Pa­ lestina formaram uma coalizão de resistência para lutar contra a Assíria, o grande poder do norte que estava colocando cada vez mais pressão sobre os estados mediterrâneos ocidentais. Em 722 o Reino do Norte, Israel, foi esmagado e seu povo foi deportado pelos assírios. Somente a interven­ ção divina, em resposta à oração de Ezequias, de­ moveu a Assíria da intenção de atacar Jerusalém. Durante a vida de Isaías, então, Judá gradual­ mente declinou da riqueza e de uma relativa for­ ça militar para a vulnerabilidade. A falha dos ou­ vintes de Isaías em dar atenção às suas palavras, e a contínua indiferença que demonstravam para com o Senhor, selaram o destino que a nação experimentaria quando foi invadida, não pela Assíria, mas pela Babilônia. A Judá de Isaías se parecia muito com a América do século XX. Ambas as nações foram marcadas pela prosperidade e pelo poder. Entretanto, em cada uma a estrutura da sociedade foi deforma­ da pelo declínio moral e pelo materialismo. A própria existência de tais forças na sociedade testifica da superficialidade da religião, e nenhu­ ma religião superficial pode salvar uma nação do desastre. Enquanto as acusações apresentadas por Isaías contra Judá falam a nós hoje, e as suas palavras de esperança também falam. Elas nos lembram de que o que quer que possa acontecer a qual­ quer nação, Deus permanece no controle total da história. As visões de Deus que Isaías com­ partilhou, do futuro Salvador, e do esplendor a ser manifestado no final da história, emocio­ nam os nossos corações, e nos levam a adorar o nosso Deus soberano e amoroso.

Podemos ser críticos sobre as coisas que, por ignorân­ cia, os pagãos fazem entre nós. Mas os pecados que cometemos são muito piores! Conhecemos a vontade de Deus, mas mesmo assim falhamos em fazê-la! “Porque seríeis ainda castigados” (Is 1.5-9). As pro­ fecias de Isaías não são organizadas em ordem cro­ nológica. Esses versículos sugerem que o capítulo 1 deveria ser posicionado depois da Assíria ter exi­ lado Israel. Nesta invasão, milhares de cidadãos de Judá também foram levados para o cativeiro. A repreensão de Deus aqui é mais bem entendi­ da como um clamor de angústia. Dói ao Senhor disciplinar o seu povo. Por que, ó por que, não respondemos, e o poupamos da dolorosa necessi­ dade de castigar? “De que me serve a mim?” (Is 1.10-17). Não há qualquer indicação aqui de que o povo de Judá tenha violado alguma regra cerimonial. A culpa deles, uma culpa que impediu que Deus ouvis­ se as suas orações, foi moral. Ninguém que peca contra o seu próximo pode confiar que Deus irá ouvi-lo. (Veja o Devocional.)

“A inda que os vossos pecados sejam como a escarlata” (Is 1.18-20). Deus escolheu a escarlata por uma ra­ zão simples. Essa cor vermelha brilhante era a cor mais “firme” conhecida então. Enquanto as outras cores poderiam ser branqueadas, a escarlata não. Como a promessa era poderosa. Mesmo que os nossos pecados, como a escarlata, sejam impossí­ veis de ser removidos, Deus o fará se tão somente nos voltarmos para Ele, tornando-nos dispostos e obedientes. Às vezes os cristãos não conseguem esquecer os seus pecados. O passado parece fixado, colorindo para sempre a sua perspectiva. Como é maravi­ Visão Geral Após estabelecer o cenário do seu ministério pro­ lhoso perceber que Deus pode nos purificar, e que fético (1.1), o profeta Isaías, falando em nome de em Cristo Ele tem nos purificado, de forma que Deus, proferiu uma vigorosa acusação contra a sua aos seus olhos nós somos “brancos como a neve”. sociedade (w. 2-31). “Sião será remida” (Is 1.21-31). Todas as coisas mudam. A cidade fiel caiu, e se tornou ímpia. Entendendo o Texto “O boi conhece o seu possuidor” (Is 1.2-4). A palavra Você e eu também podemos cair. Contudo, Deus “conhece” aqui, como em outras passagens, sugere não nos deixará em tal estado, não mais do que “responde a”. Até mesmo um animal irracional re­ Ele deixaria a sua antiga cidade ou o seu povo. conhece e responde à voz do seu dono. Mas Judá Deus disse: “Tirar-te-ei toda a impureza”, e, “Te não respondeu a Deus. Isaías identificou a razão. chamarão cidade de justiça, cidade fiel”. Foi uma falha em responder de forma voluntária; Que maravilhosa palavra de tranqüilidade. Você não se tratava de ignorância. Observe os três ter­ pode ter falhado com Deus. Mas Ele jamais falha­ mos descritivos: “deixaram”, “blasfemaram” e “vol­ rá com você. Ele tirará as tuas impurezas e você taram para trás”. será conhecido pela sua justiça!

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DEV OCIONAL_________ Estar Certo É apenas a Metade da Questáo!

(Isl) Um comediante tem um número no qual ele re­ trata dois cristãos se encontrando pela primeira vez. Eles fazem perguntas um ao outro, gradual­ mente descobrindo que ambos são Conservado­ res, Fundamentalistas, do Sétimo Dia, Separados, Batistas Defensores da Predestinação, do Distrito dos Grandes Lagos. Então a última pergunta é feita. Organizada em 1912, ou Reconstituída em 1934? Quando um responde 1912, o outro o em­ purra no precipício, gritando: “Morra, herege!” Podemos considerar esse diálogo como um espe­ táculo de mau gosto. Mas é engraçado. Ele enfa­ tiza uma falha em alguns de nossos pensamentos sobre a fé. Uma falha que Isaías viu cerca de 700 anos antes do nascimento de Cristo. Nos versículos 10-17 o profeta descreveu um povo religioso cujo ritual parecia estar de acor­ do com a Lei. Essas pessoas tinham a religião na ponta da língua, e estavam absolutamente “cer­ tas”. Subiam ao templo para as festas obrigatórias. Ofereciam os sacrifícios certos. Eles faziam longas orações. Mas Deus classificou todas essas coisas como inúteis. Através de Isaías Ele falou a esse povo religiosa­ mente certo dizendo: “Cessai de fazer mal. Apren­ dei a fazer o bem; praticai o que é reto; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas” (w. 16,17). A questão, naturalmente, é que o que demonstra uma fé real e vital não é que estejamos “certos”, mas que o nosso relacio­ namento com Deus produza a justiça. Presumo que seja bom estar preocupado em es­ tar certo. Mas estar certo é, na melhor hipótese, apenas a metade da questão. O que mais importa para Deus é se somos justos. Aplicaçáo Pessoal Para agradarmos a Deus, devemos prestar mais atenção em fazer o que é certo, do que em estar certos.

Citaçáo Importante Certa vez H enry David Thoreau foi para a ca­ deia por não querer pagar o seu imposto indivi­ dual para um estado que apoiava a escravidão. O seu bom amigo Ralph Waldo Emerson cor­ reu para visitá-lo na cadeia e, olhando através das barras, exclamou: “Por que, Henry? O que você está fazendo aí dentro?” Thoreau respon­ deu, “Não, Ralph, a pergunta é, o que você está fazendo aí fora?”

17 DE MAIO LEITURA 137 FILHOS D O DESTINO Isaías 2—6

“De Sião sairá a lei, e de Jerusalém, a palavra do Senhor” (Is 2.3). Com muita frequência sentimos uma grande lacu­ na entre o que é e o que deveria ser. Nesses capítu­ los de abertura, Isaías lembrou aos seus ouvintes, e a nós, de que, no final, a vontade de Deus pre­ valecerá. Visão Geral Isaías declarou a intenção de Deus para Jerusalém (2.1-5), e então pronunciou juízo sobre os seus habitantes por falharem em andar em sua luz (v. 6— 4.1). Apesar do fracasso do povo de Deus, Deus santificará Jerusalém (w. 2-6). Isaías definiu o pecado de Judá em seu “cântico da vinha” (5.1-7) e anunciou juízos como uma série de ais (w. 8-30). A seção termina com um chamado de Isaías para servir como profeta (6.1-13). Entendendo o Texto “Vinde, subamos ao monte do Senhor” (Is 2.1-5)Isaías compartilhou a visão do ideal. Deus queria que Jerusalém fosse gloriosa: um farol, chamando todas as nações a Ele e à sua Lei. Se tão somente as nações se voltassem para o Senhor e sua Lei, Deus traria paz ao mundo. Esse pensamento é expres­ so em uma das imagens mais famosas do Antigo Testamento: “Estes converterão as suas espadas em enxadões e as suas lanças, em foices”. Nos dias de Isaías o ideal não fora realizado. As condições internacionais eram severas, e Judá foi ameaçada por inimigos poderosos. No entanto, Isaías exclamou: “Vinde, ó casa de Jacó, e andemos na luz do Senhor”. Isto é, vivamos como se o ideal estivesse presente agora! Deus chama você e eu a vivermos exatamente da mesma maneira. O Reino de Deus ainda não foi estabelecido na terra. A instrução, “Como vós quereis que... vos façam... fazei-lhes vós também” é com frequência pervertida pelo mundo, que de­ seja mudar as palavras sagradas para algo do tipo: “Fazei aos outros antes que eles possam fazer a vós”. Contudo, nós que conhecemos a Jesus Cristo como Salvador devemos viver agora como se o Rei­ no de Deus já estivesse plenamente estabelecido. Devemos ignorar as “realidades” que levam os ou­ tros a se mostrar transigentes em relação à vontade de Deus, e “andar na luz do Senhor”.

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“Está cheia de ídolos a sua terra” (Is 2.6 — 4.1). Tendo descrito o ideal de Deus para a Cidade Santa e seu povo, Isaías passou a descrever a reali­ dade. Em vez de andar na luz do Senhor, o povo de Judá tinha abraçado os caminhos dos pagãos que eles tinham sido convocados a influenciar! Eles haviam, de forma arrogante, adotado as su­ perstições pagãs (2.6), o materialismo (v. 7a), a confiança no poderio militar (v. 7b), e até mesmo a idolatria (v. 8). Isaías agora advertiu os seus compatriotas. Deus agiria para julgar o seu povo arrogante: eles serão “abatidos” (w. 10-22). (Veja o Devocional.) Na­ quele dia tudo seria destruído; haveria uma anar­ quia dentro de uma nação desesperada por lideran­ ça e estabilidade (3.1-12). Dois grupos foram escolhidos: os anciãos e líderes de Judá, e as “filhas de Sião”. O pensamento parece ser que a paixão das mulheres por riqueza e luxo era uma força motriz na corrupção da sociedade. Quando viesse o juízo, essas mulheres perderiam tudo, incluindo qualquer esperança de casamento, em razão da morte de um número extremamente grande de homens de Judá. A passagem nos lembra de que nenhum povo que se recusa a andar na luz do Senhor pode prosperar. Mas há uma palavra especial para as pessoas, no versículo 10. Deus disse a Isaías: “Dizei aos justos que bem lhes irá, porque comerão do fruto das suas obras”. Seja o que for que aconteça com a nossa socieda­ de, você e eu não precisamos ficar desesperados. O nosso chamado é viver uma vida justa, e esperar que Deus cuide de nós, aconteça o que acontecer. “Aquele queficar” (Is 4.2-6). O ideal de Deus certa­ mente será alcançado. Esse é o pensamento com o qual Isaías encerra esse longo sermão. Depois que o juízo tiver eliminado os pecadores e purificado os sobreviventes, uma Jerusalém limpa e santa servirá como refúgio e proteção para a humanidade. Mas isso só será realizado pelo aparecimento de uma pessoa chamada “o Renovo do Senhor”. O termo “renovo” é um título frequentemente dado ao Messias, que deve vir da descendência de Davi e realizar o livramento final dos judeus e de toda a humanidade. Além disso, as palavras de Isaías servem como um lembrete para nós. O ideal de Deus é muito supe­ rior àquilo que poderíamos realizar através da nos­ sa própria força. Mas o próprio Deus agiu em Cris­ to para tomar possível que você e eu andássemos na luz do Senhor. Somos a sua nova criação. Tudo o que podemos fazer é honrar ao Senhor vivendo uma vida justa, embora os caminhos deste mundo sejam escuros.

“A i dos que... ” (Is 5-8-30). Um “ai” é uma excla­ mação, um grito de dor ou angústia, que está ti­ picamente associado ao juízo divino. Essa série de ais é anunciada para os pecados específicos que são particularmente repugnantes. Eles são: (1) criar um grande patrimônio pessoal às custas de proprietários de terras mais pobres (w. 8-10); (2) viver uma vida hedonista, não olhando para a obra do Senhor, nem considerando as obras das suas mãos (w. 11-17); (3) fazer o mal durante a vida toda, e zombar do juízo divino (w. 18,19); (4) chamar o mal de bem e o bem de mal (v. 20); (5) confiar no seu próprio conselho em vez de confiar na revelação (v. 21); (6) falhar em assumir as responsabilidades governamentais de forma só­ bria (w. 22,23). O juízo de Deus com certeza cairá sobre um povo assim, pois cada ação descrita mostra que eles “re­ jeitaram a lei do Senhor dos Exércitos e despreza­ ram a palavra do Santo de Israel”. Esses ais podem ser resumidos observando que os pecados que estão sendo denunciados e puni­ dos trazem a necessidade de uma reconstituição da sociedade. Um desejo de riqueza e prazer pes­ soal é expresso em valores sociais que substituem os valores revelados por Deus. Os bons valores tradicionais são substituídos por novos valores que são maus, e zombados por aqueles que são sábios aos seus próprios olhos. Mesmo aqueles que administram as leis da nação aceitam os novos valores, e assim “justificam o ímpio por presentes”. Pode ser difícil viver segundo os valores de Deus na nossa sociedade. Mas também era difícil nos tempos da Bíblia! Somente um firme compromisso com Deus e com os seus caminhos pode nos guar­ dar contra as más influências que nos pressionam de todos os lados. “Eu vi ao Senhor” (Is 6.1-8). Os estudiosos deba­ tem se este capítulo pertence a 2— 5 ou a 7— 12. Parece melhor colocá-lo aqui. Isaías tinha avisado claramente a Judá a respeito do juízo iminente. A história do seu chamado por Deus é incluída para provar que as suas palavras têm autoridade. O relato de Isaías enfatizou a santidade de Deus (w. 1-4), a ciência do profeta quanto ao seu pró­ prio pecado (v. 5), a sua purificação (w. 6-8), e a sua subsequente disposição para servir como men­ sageiro de Deus (v. 8). Em certo sentido o chamado de Isaías reflete a nos­ sa própria experiência. Quando você e eu somos perdoados, também nos tornamos responsáveis por servir como mensageiros de Deus a outras pessoas da nossa sociedade.

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“A té quando?” (Is 6.9-13). A tarefa de Isaías era co­ municar a sua mensagem de juízo até que ela se cumprisse, e até que a condenação que ele pronun­ ciou chegasse. Você e eu também devemos transmi­ tir a nossa mensagem até que as palavras de Deus

DEV OCIONAL_______ Arrogância Abatida (Is 2) E surpreendente como é extenso o vocabulário de “arrogância” do Antigo Testamento. Uma raiz he­ braica, zid, retrata o orgulho e a vaidade que levam a atos de rebeldia. Uma outra raiz, gdah, sugere uma extraordinária autoconfiança ligada à insen­ sibilidade em relação aos outros. Uma terceira, gabah, sugere um senso de presunção. O que há de errado em ser orgulhoso? Bem, nada. Desde que o nosso orgulho seja a simples satisfação nas nossas conquistas, ou a honestidade em relação às nossas qualidades e habilidades. Mas o orgulho se torna arrogância quando ele cres­ ce além da nossa satisfação para se transformar em um desdém presunçoso em relação aos outros, ou uma inchada autoconfiança que faz com que sinta­ mos que podemos pisar fora das regras morais que governam os outros e ficar impunes. Na verdade, o sentimento de que podemos “ficar impunes” por algo que “as outras pessoas” não podem, jaz no coração da arrogância. O corretor da bolsa de valores que ganha dinheiro com infor­ mações privilegiadas, o adulto que bebe mais um

sejam cumpridas. Mas a mensagem que carregamos consiste nas Boas-Novas de salvação! Não devemos ficar desanimados se outros não responderem ime­ diatamente. Devemos continuar a compartilhar, até que o evangelho gere os seus frutos. copo antes de dirigir, o adolescente que acha que apenas experimentar crack ou sexo ilícito não pode prejudicar, tudo isso cai na categoria da arrogân­ cia. E, nas palavras de Isaías, “Os olhos altivos dos homens serão abatidos, e a altivez dos varões será humilhada” por Deus (w. 11,17). Qual é o antídoto para a arrogância? Os mes­ mos versículos têm a resposta: “Só o Senhor será exaltado naquele dia”. Nós exaltamos ao Senhor quando aceitamos o nosso lugar como criaturas totalmente dependentes da sua bondade e da sua graça. Exaltamos ao Senhor quando guardamos os seus mandamentos, não só por amor, mas por uma convicção de que Deus é mais sábio do que nós. Exaltamos ao Senhor quando honramos aos outros como pessoas de valor, por serem também suas criaturas e objetos do seu amor. Exaltamos ao Senhor quando encontramos alegria nas nossas realizações, e agradecemos a Ele pelos dons que as tornaram possíveis. Aplicação Pessoal Colocando Deus em primeiro lugar, jamais estare­ mos em último lugar!

As vinhas baixas que produzem as uvas na Palestina produziam um produto que no Antigo Testamento era associado à alegria e à satisfação. Em uma das imagens mais poderosas das Escrituras, Judá é comparada a uma vinha, planejada e plantada por Deus, com a finalidade de gerar frutos que alegrassem o coração do Senhor (5.1-7). Mas em vez da justiça e do juízo que Deus buscava, a sua vinha, Judá, produziu injustiça e derramamento de sangue.

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As palavras de Isaías nessa situação são um lembrete sadio a você e a mim quando nos achamos em situ­ ações difíceis, e procuramos desesperadamente uma saída. “Não temais o seu temor, nem tampouco vos assombreis. Ao Senhor dos Exércitos, a ele santificai; e seja ele o vosso temor, e seja ele o vosso assombro. Então, ele vos será santuário” (Is 8.12-14).

Citação Importante Tu sabes, Senhor, como sirvo a Ti, com grande fervor e emoção, de forma pública. Tu sabes com que firmeza falo de Ti, quando estou com as minhas amigas. Tu sabes o quanto vibro quando promovo uma reunião que tenha como objetivo a comunhão. Tu sabes do meu entusiasmo genuíno nos grupos de estudo bíblico.

Visão Geral Um Acaz relutante recebeu o sinal do Emanuel (7.1-16), e lhe foi dito que a Assíria, em quem ele confiava, traria a devastação sobre Judá (v. 17— 8.22). No entanto, um Menino identificado como “Deus Forte” iria nascer e reinar sobre o trono de Davi (9.1-7), mas não antes que a im­ piedade de Israel, Judá e da Assíria fosse punida (v. 8— 10.19). Os sobreviventes de Judá confia­ riam no Senhor (10.20-34), e o Messias viria para estabelecer o reino de justiça de Deus em todo o mundo (11.1— 12.6).

Mas, como eu reagiria, me pergunto, se apontasses para uma bacia de água, e me pedisses para lavar os pés cheios de calos de uma mulher idosa, arqueada e enrugada, dia após dia, mês após mês, em um quarto onde ninguém visse, e ninguém soubesse! — Ruth Harms Calkin 18 DE MAIO LEITURA 138 O FIO DE PRATA DE DEUS Isaías 7—12

“Porque um menino nos nasceu, umfilho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros” (Is 9.6). Nuvens negras surgiram no horizonte internacio­ nal quando Isaías falou as palavras registradas nes­ ses capítulos. Mas, por três vezes o sol abriu cami­ nho entre as nuvens, quando Isaías talou do futuro Messias que endireitaria todas as coisas. Contexto O cenário internacional. Os estados da Síria-Palestina, liderados por Peca de Israel (Samaria) e Rezim da Síria (Damasco) formaram uma coalizão de reis com a finalidade de resistir à Assíria. Acaz de Judá se recusou juntar-se a eles, e os dois reis ameaçaram invadir Judá. Desesperado, Acaz enviou mensagei­ ros para oferecer aos da Assíria um grande suborno para atacar a Síria e Israel antes que as duas potên­ cias locais pudessem atacá-lo! Essa estratégia teve um efeito desastroso. A Assíria aceitou o suborno, e esmagou os inimigos de Judá, mas então também invadiu Judá! O texto de hoje descreve um confronto entre Isaías e Acaz, quando o profeta anunciou que Deus protegeria Judá de Peca e Rezim. Solici­ tado a pedir um sinal a Deus, Acaz se recusou. Ele não queria confiar em Deus, mas insistiu em procurar a Assíria, selando assim a devastação da sua terra natal, bem como a destruição dos seus inimigos!

Entendendo o Texto “Eis que uma virgem conceberá, e dará à luz umfilho, e será o seu nome Emanuel” (Is 7.1-16). A palavra “Emanuel” é uma construção hebraica que signi­ fica “Deus conosco”. Na verdade, é uma constru­ ção incomum que estabelece o seguinte conceito: “CONOSCO está Deus!” Isaías não teria entendido o significado total do nome. Contudo, esse nome, bem como outros no­ mes dados ao Messias nesta seção de Isaías, deixou claro que o Menino prometido deveria ser tanto humano como divino. Assim, Mateus se referiu a essa profecia quando descreveu a concepção de Jesus não através de algum pai humano, mas pelo Espírito Santo (Mt 1.23). A promessa foi um sinal a Acaz, pois identificava um período em que os seus inimigos não mais o ameaçariam. Da concepção ao nascimento são nove meses; do nascimento ao desmame, passando a alimentos sólidos, geralmente eram contados dois a três anos. Assim foi dito a Acaz que dentro de três anos os reis que ele temia não seriam mais uma ameaça. E “toda a casa de Israel” foi convidada a observar a descendência de Davi em busca de um nascimento virginal, e ouviu que o Menino seria o Libertador prometido. Cada uma das três grandes visões messiânicas nes­ tes capítulos data de aproximadamente 700 anos antes do nascimento de Cristo! Lançadas contra o pano de fundo dos tempos angustiosos de Israel e Judá, elas nos lembram de que o Senhor está no controle total da história. O que quer que aconteça conosco hoje, o nosso futuro está assegurado, pois o amanhã está na mão de Deus.

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“O Senhor fard vir sobre ti” (Is 7.17 — 8.22). A in­ vasão assíria de Israel e Judá nos faz lembrar de que Deus pode usar até mesmo pessoas ímpias para re­ alizar os seus propósitos. Contudo, a passagem nos faz lembrar algo mais. O que nos torna vulneráveis aos ímpios é o nosso próprio pecado. Isaías descre­ veu os seus compatriotas consultando médiuns e espiritualistas em vez de consultarem a Deus. Eles estavam abandonando a Lei, e agindo como um povo que, quando aflito, amaldiçoava a Deus em vez de buscar o seu perdão. Permanecer firme no Senkor é a nossa única proteção contra a “angústia e a escuridão” (8.19-22).

“Nem com tudo isto se apartou a sua ira” (Is 9.8 -— 10.40). O que deixa uma pessoa irada, bem como o que ela ama, é uma chave para entender o seu caráter. O que deixa Deus irado? Isaías nos diz em seu pronunciamento: “Ai dos que decretam leis in­ justas e dos escrivães que escrevem perversidades, para prejudicarem os pobres em juízo, e para arre­ batarem o direito dos aflitos do meu povo, e para despojarem as viúvas, e para roubarem os órfãos!” ( 10. 1, 2 ). Se essas mesmas coisas na nossa sociedade nos dei­ xam irados, então os nossos corações estão em sin­ tonia com Deus.

“Um menino nos nasceu” (Is 9.1-8). O Menino que deveria nascer era um Filho, que nos seria dado como um presente pelo seu Pai. Ele é chamado de “Deus Forte” bem como Maravilhoso, Conselhei­ ro e Príncipe da Paz. O nome “Pai da Eternidade” significa “Fonte da Eternidade”. Cada um desses nomes deixa claro que o Messias prometido não é um ser humano comum. O que nenhum descendente natural de Davi po­ deria fazer — fortificar o reino “em juízo e em justiça, desde agora e para sempre” — este Des­ cendente miraculoso, que é Deus e também ho­ mem, realizará. Nomes como esses nos ajudam a apreciar exata­ mente quem Jesus é. Sentimos o calor do seu amor enquanto andamos com Ele através dos Evange­ lhos. Mas Isaías nos lembra de que o nosso bondo­ so Jesus é o Pai da Eternidade, aquEle cujo poder infinito formou e ainda governa o nosso universo.

“Visitarei o... rei da Assíria” (Is 10.5-19). E justo que Deus castigue a Assíria, a qual Ele mesmo escolheu para disciplinar o seu povo? A respos­ ta novamente revela o equilíbrio delicado que a Escritura mantém entre a soberania divina e o livre-arbítrio humano. Deus permitiu a ascensão da Assíria para que essa nação pudesse discipli­ nar o seu povo. Mas a Assíria escolheu usar o poder dado a ela para “destruir” (v. 7). A Assíria se tornou altiva, como se Deus não fosse a fonte do seu poder. A Assíria não está sendo castigada por ter o poder que Deus lhe deu, mas pela sua soberba e mau uso do poder que lhe foi dado por Deus. Deus não pode ser culpado pela forma como algu­ ma pessoa ou nação usa a riqueza ou o poder que Ele concede. Deus nos dá a liberdade para esco­ lhermos como usar os seus dons — mas nos consi­ dera responsáveis pelas nossas escolhas.

DEV OCIONAL_______ Vivemos em Esperança (Is 11— 12) Um dos melhores filmes que já vi em nos ao lon­ go de alguns anos é A Sociedade dos Poetas Mortos. Ele conta a história de um professor que desafia os alunos de uma escola particular exclusiva a pen­ sarem por si mesmos — com resultados trágicos. Pela primeira vez em sua vida, um jovem encontra coragem para fazer o que quer em vez do que o seu pai exige. Ele atua em uma peça teatral. Seu pai irado o tira da escola, lhe diz que ele tem que passar os próximos 10 anos estudando para uma carreira médica, e o proíbe de atuar novamente. Naquela noite, incapaz de encarar um futuro assim, o jovem pega a arma de seu pai e comete suicídio. Essa é uma característica estranha relacionada ao suicídio. A maioria das pessoas que se mata faz isso porque se sente sem esperança. A maior parte da-

queles que se suicidam não comete esse ato brutal em razão de alguma falta terrível no presente. Eles têm dinheiro, alimento, roupas, abrigo e amigos. O caso é que quando eles olham para frente, não conseguem ver qualquer futuro significativo. Isaías 11 e 12 nos fazem lembrar de que é exata­ mente o oposto que ocorre com os verdadeiros crentes. O crente dos dias de Isaías enfrentava um perigo iminente de inimigos estrangeiros podero­ sos. A sua sociedade era marcada pela injustiça; muitos poderiam não ter casa e estar com fome. Contudo, o que Isaías ofereceu ao povo de Deus foi uma visão do futuro. Um descendente de Davi (11.1) virá para estabelecer a justiça sobre a terra (w. 2-5). Em seus dias a própria natureza ficará em paz (w. 6-9). Todos os poderes mundiais hostis que ameaçavam Judá se voltarão contra o Messias de Israel, e o Senhor “tomará a estender a mão para

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adquirir outra vez os resíduos do seu povo” (w. 1016). Então o povo de Deus saberá o significado to­ tal da salvação, e juntos cantarão louvores e darão graças (12.1-6). Inspirado por esta visão do futuro, o crente fica cheio de esperança. Como isso é estranho. O suicida, que tem tudo o que é necessário para a vida na terra, se mata porque não consegue encarar o futuro. Contudo, muitos crentes que sofreram perseguição ou que careciam das coisas necessárias à vida viveram vitoriosamen­ te porque a sua fé estava firmada em Deus. Em Cristo, o futuro nunca é verdadeiramente tris­ te. Além da escuridão que possamos estar enfren­ tando, qualquer que seja ela, sabemos que existe um amanhã glorioso. Aplicação Pessoal Em vez de depositar a sua esperança em algum fato ou em alguma outra pessoa, deposite toda a sua esperança em Deus. Citação Importante “Nenhum homem jamais sucumbiu sob o fardo do dia. É quando o fardo do amanhã é acrescentado ao fardo de hoje que o peso é superior ao que um ho­ mem pode suportar. Nunca se sobrecarregue dessa forma. Se você se encontrar assim sobrecarregado, lembre-se disso: foi você mesmo que fez isso, e não Deus. Ele quer que você deixe o futuro para Ele, e que cuide do presente.” — George MacDonald 19 DE MAIO LEITURA 139 CONTRA OS ÍMPIOS Isaías 13—23

traziam o povo de Deus à sujeição. No entanto, o Deus de Israel era adorado como Senhor de toda a terra e Criador do céu. Como essa visão de um Deus Todo-poderoso poderia ser apoiada em vista da relativa fraqueza do seu povo? A resposta de Isaías é achada nesta série de oráculos — anúncios proféticos de juízo — dirigidos contra os inimigos de Judá. Deus está no total controle do fluxo da história. O Senhor julgará os poderes mundiais ímpios que têm oprimido o seu povo. Um a um, eles cairão. Com o passar das décadas, a queda dos inimigos de Judá fornecerá evidências de que Deus é Deus, e que o bem que Ele planeja para o seu povo certamente acontecerá. As vezes podemos nos sentir sufocados, lendo os ca­ pítulos do Antigo Testamento que nos parecem obs­ curos ou talvez até mesmo irrelevantes. No entanto, esses oráculos contra as nações não eram irrelevantes aos seus ouvintes — nem são irrelevantes a você e a mim. Também nos lembram de que, embora os ímpios possam, às vezes, parecer prosperar, Deus é soberano. As pessoas e as nações passam e a história continua fluindo, canalizada pelo poder oculto de Deus. No tempo de Deus, a história “desaguará” em uma eternidade que Ele planejou desde o princípio, e todo o povo de Deus será abençoado. Visão Geral O nosso Deus soberano derrubará todos os inimi­ gos do seu povo. O juízo cairá sobre a Babilônia (13.1— 14.23), sobre a Assíria e a Filístia (w. 2432), Moabe (15.1— 16.14), Damasco (17.1-14), Etiópia (Cuse) (18.1-7), Egito (19.1-25), Egi­ to e Etiópia (20.1-6), Babilônia, Edom e Arábia (21.1— 17). Ele cairá sobre a Jerusalém contempo­ rânea (22.1-25) e sobre Tiro (23.1-18).

“Como cessou o opressor!A cidade dourada acabou!Já quebrantou o Senhor o bastão dos ímpios e o cetro dos Entendendo o Texto “Peso da Babilônia” (Is 13.1— 14.23). Por que a dominadores" (Is 14.4,5). Babilônia? Nos dias de Isaías, a Assíria, e não a Ba­ Esses capítulos de Isaías tomam uma nova direção, bilônia, era dominante. Nos dias de Isaías, os me­ e transmitem uma única mensagem: Deus certa­ dos, mostrados aqui como os agentes da queda da mente agirá contra os inimigos dos justos. Babilônia, eram aliados em vez de inimigos. Como Isaías poderia falar com tanta certeza dos eventos Contexto que aconteceram, não no seu próprio tempo, en­ Soberania. Uma versão da Bíblia traduz ‘adonay tretanto mais de um século depois? yahweh como “Senhor Soberano”. A primeira pa­ Tais questões têm levado alguns a insistir que Isa­ lavra hebraica é uma forma intensiva da palavra ías não poderia ter escrito esse oráculo. Mas tais para “mestre”, ou “proprietário”; uma forma usada questões lembrar-nos do poder soberano de Deus, apenas para Deus no Antigo Testamento. Embora que sabe de coisas que ainda não aconteceram, e as o nome em si, traduzido como “Senhor Deus” em revela através dos seus profetas. outras versões, nos diga pouca coisa a respeito da Talvez uma das imagens mais impressionantes seja natureza da soberania de Deus, esses capítulos de encontrada em 13.19-22, que descreve uma Babi­ Isaías revelam muita coisa. A pequena Judá era cer­ lônia deserta, um espectro tão grande que nem o cada de inimigos poderosos, que com frequência árabe armará ali a sua tenda, uma habitação para

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as feras que correrão entre as suas ruínas. Por bem mais de 2.000 anos o local da antiga Babilônia tem sido apenas este espectro. Os ventos da noite têm uivado em meio aos montões de antigos tijolos de barro, e árabes supersticiosos têm evitado e temido a desolação da Babilônia. Que imagem da glória terrena! Ela floresce por um momento. E então com o passar da história, a glória terrena se despedaça. Como são vazias as ambições e as conquistas do mundo!

‘'Foi destruída Ar de Moabe” (Is 15-1— 16.13). Moabe tinha sido um inimigo de Israel desde os dias do Exodo (cf. Nm 22—24). Isaías anunciou que Mo­ abe seria devastada dentro de três anos (Is 16.14). Alojada entre as predições de destruição está uma linda passagem que nos lembra de uma verdade im­ portante. Os juízos de Deus não são vingativos, mas tem por finalidade trazer bênção e paz. “O homem violento terá fim; a destruição é desfeita, e os opres­ sores são consumidos sobre a terra. Porque um trono se firmará em benignidade, e sobre ele no tabernácu­ lo de Davi se assentará em verdade um que julgue, e busque o juízo, e se apresse a fazer justiça” (w. 4,5). "Será diminuída, naquele dia, a glória de Jacó” (Is 17.1-14). A coalizão da Síria e Israel, formada para resistir à Assíria, estava condenada a cair. Damasco, a capital da Síria, cairia, deixando Israel exposto ao invasor brutal. Mas Isaías não viu a destruição de Israel como algo totalmente mau. Despido do or­ gulho e da glória nacionais, miserável, e morrendo de fome, “atentará o homem para o seu Criador, e os seus olhos olharão para o Santo de Israel” (v. 7). Deus com frequência tem a intenção de realizar um bem maior por meio daquilo que provavel­ mente veremos como um desastre.

DE VOCION AL_______ Querendo o Lugar de Deus (Is 14.12-15) O autor de Eclesiastes disse: “Nada há novo debai­ xo do sol”. Ele está certo. Por mais que alguém pos­ sa tentar, é impossível inventar uma coisa nova! Tenho a impressão de que é por isso que tantos comentaristas tomem Isaías 14.12-15 não só como a descrição de algum governante arrogante e des­ prezível na Babilônia, mas como uma descrição de Satanás. Provavelmente eles estejam certos ao ve­ rem pelo menos uma sombra de Satanás aqui. A passagem descreve aquilo que talvez seja a raiz de todo pecado. Alguns a chamam de soberba. Mas ela é realmente uma intenção da criatura: “Serei semelhante ao Altíssimo”. A intenção da criatura

“Nus e descalços” (Is 20.1-6). Nos anos 60, quando marchava por cidades americanas carre­ gando uma gigantesca cruz de madeira, Arthur Blessett foi muitas vezes ridicularizado. Mas Blessett se sentiu chamado, e estava disposto a ser considerado um tolo por se posicionar a favor de Cristo. Isaías deve ter se sentido um pouco como um tolo no século VIII a.C., quando Deus lhe disse para andar nu e descalço pelas ruas de Jerusalém por cerca de três anos (Is 20.2,3). Esse parente da fa­ mília real se expôs à vergonha por ordem de Deus, para servir como uma lição ilustrativa. Logo o Deus soberano executaria juízo contra o Egito e a Etiópia, e aquele povo sofreria o destino ilustrado por Isaías. E improvável que Deus peça a você ou a mim para andarmos por aí de fraldas, ou arrastando uma cruz. Mas haverá momentos em que nos sentiremos um pouco envergonhados ou tolos por pensarmos em fazer algo que estaremos convictos de que é a von­ tade de Deus. Nesses momentos devemos tomar coragem olhando para o exemplo dos servos mais corajosos de Deus, e colocar a obediência em pri­ meiro lugar. “Cidade turbulenta, cidade que salta de alegria” (Is 22.1-25). Jerusalém se alegrou com o seu livramen­ to das forças de Senaqueribe em 701 a.C. Isaías, porém, ficou angustiado. A bondade de Deus de­ veria ter levado o povo de Judá a se arrepender (w. 12,13), não festejar! Nisso Isaías refletiu um pensamento expresso mais tarde pelo apóstolo Paulo: “Ou desprezas tu as ri­ quezas da sua benignidade, e paciência, e longani­ midade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?” (Rm 2.4) é sentar-se no trono do universo, e fazer as coisas à sua própria maneira. Se Satanás está em vista aqui, a sua intenção foi bastante literal. Ele realmente disse em seu coração: “Saia já daí, Deus, eu quero o teu trono”. Não é provável que você e eu nos expressemos de forma tão espalhafatosa. Mas todos os nossos pecados refletem a mesma atitude. O que nós sentimos e pensamos é: “Eu quero... ”e “Eu farei... ” O que há de errado nisso? Simplesmente porque no universo só há lugar para um único Deus. A nossa atitude deveria ser: “O que tu farás”, e os nossos desejos, “O que tu queres”. Pode parecer estranho, mas essa pequena mudança no pronome pode nos ajudar a evitar o juízo que

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esses capítulos nos asseguram que os ímpios sofre­ mens e as nações demonstram a determinação de rão. Se no fundo do nosso coração substituirmos o Deus de punir o pecado. Mas, em segundo lugar, a mensagem mostra que nenhum fracasso humano “Eu” por “Tu”, teremos uma vida boa e santa. impedirá que Deus forme a sociedade justa que a sua santidade exige. O Deus que julga o pecado e Aplicação Pessoal Na vida cristã, diferentemente do que acontece no que perdoa aqueles que confiam nEle criará uma sociedade moral e justa no fim dos séculos. dicionário, o “Tu” vem antes do “Eu”. Citação Importante “O psicólogo Bernard Rimland, do Instituto de Pesquisas do Comportamento Infantil de San Die­ go, acabou de publicar um teste simples. ‘Faça uma lista de 10 pessoas que você conhece bem. Após cada nome escreva F (para feliz) ou I (para infeliz). Então olhe a lista outra vez, desta vez escrevendo E (para egoísta) e G (para gene­ roso) após cada nome. Uma vez que você tenha completado a sua lista, desenhe uma tabela... con­ te cada categoria, e coloque os números na célula apropriada. “Quando Rimland acrescentou os casos de 1.988 pessoas classificadas por 215 alunos em 6 classes de faculdade, observou que a categoria feliz/egoísta estava quase vazia (apenas 78 dos casos), enquanto que 827 caíram na célula feliz/generoso. Paradoxo: ‘As pessoas egoístas são, por definição, dedicadas a trazer a felicidade a si mesmas. Julgadas pelos outros, no entanto, elas parecem ter muito menos êxito do que as pessoas que trabalham para levar a felicidade às outras’. “Conclusão: Faça aos outros aquilo que você gosta­ ria que fizessem a você.” — Cris Cox

Visão Geral Isaías previu juízos devastadores (24.1-23) que re­ sultariam no triunfo de Deus (25.1-12). Para os justos, o triunfo de Deus promete uma ressurrei­ ção (26.1-21). Em seus juízos, Deus destruirá os opressores e restaurará as bênçãos aos oprimidos (v. 20— 27.13).

Entendendo o Texto “Os que habitam nela serão desolados" (Is 24.1-23). Isaías anunciou que o mundo inteiro seria punido. Nenhuma classe de pessoas (v. 2) escapará, pois os habitantes da terra “quebram a aliança eterna” (v. 5). Essa é uma referência à aliança que Deus fez com a humanidade nos dias de Noé (Gn 9.16), e que tornou o homem responsável por manter uma sociedade justa. Embora o juízo de Deus deixe a terra devastada (Is 24.6-13), o povo de Deus “proclamará a majestade do Senhor” (w. 14-16). Com todos os poderes hu­ manos e espirituais malignos julgados, “o Senhor dos Exércitos [irá] reinar no monte Sião e em Je­ rusalém; e, então, perante os seus anciãos haverá glória” (w. 17-23). O que é impressionante aqui é o retrato dos santos 20 DE MAIO LEITURA 140 louvando a Deus enquanto tudo à sua volta é des­ . DA RUÍNA PARA A RESSURREIÇÃO truído. Todo crente deve ser afetado pelo tipo de devastação descrita aqui. Contudo, a fé dá ao cren­ Isaías 24—2 7 te a habilidade de ver a mão de Deus naquilo que, “O Senhor dos Exércitos dará, neste monte, a todos os aos outros, não parece mais do que uma tragédia. A povos uma festa com animais gordos, uma festa com fé também nos dá forças para adorar a Deus e acla­ mar a majestade do Senhor quando toda esperança vinhos puros" (Is 25- 6). terrena estiver perdida. O juízo de Deus sobre o pecado faz parte do seu plano de redenção para a humanidade. Quando o “Foste a fortaleza” (Is 25.1-12). Isaías explicou o pecado for castigado, e os ímpios eliminados, a sal­ resultado dos atos de juízo de Deus, e descreveu o futuro dos benditos. O que o futuro aguarda é vação virá e “a terra dará os seus mortos”. o louvor a Deus, que humilhará o “cântico dos ti­ ranos” (w. 1-5). Com os ímpios destruídos, Deus Contexto Juízo divino. Alguns se sentem incomodados com dará uma “festa com animais gordos” a “todos os a noção do juízo divino. Isaías, no entanto, estava povos”. Nessa ocasião Deus “aniquilará a morte completamente à vontade. Nesses capítulos, que para sempre” e enxugará “as lágrimas de todos os todos os comentadores veem como uma unidade, rostos, e tirará o opróbrio do seu povo de toda a Isaías examinou o relacionamento da história, o terra” (w. 6-8). juízo divino, e as intenções finais de Deus para a Embora as imagens do futuro difiram ligeiramente humanidade. A mensagem da passagem é, em pri­ entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento, meiro lugar, que os desastres que alcançam os ho­ não há absolutamente nenhuma diferença entre a

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descrição dos dois testamentos de quem desfrutará dele. Os benditos de todas as idades são aqueles que podem dizer: “Eis que este é o nosso Deus, a quem aguardávamos, e ele nos salvará; este é o Senhor, a quem aguardávamos; na sua salvação, exultaremos e nos alegraremos”. Como é natural para você e para mim nos juntar­ mos a Isaías em louvor ao Senhor, e compartilhar­ mos a alegria de Isaías. Nós também conhecemos a Deus como o nosso Salvador. Confiamos nEle. Sabemos que Ele nos livrará do juízo futuro. Esta­ remos ao lado dEle quando o cântico dos tiranos for humilhado. “Os teus mortos viverão” (Is 26.1-21). Nem mesmo a morte pode frustrar os propósitos de Deus. Isaías olhou adiante e viu um dia quando o cântico de salvação será cantado em Jerusalém (w. 1-7). Con­ tudo, o seu próprio dia era de anseio, não de cum­ primento. “Senhor, te esperamos”, suspirou Isaías, e acrescentou: “Com minha alma te desejei de noi­ te e, com o meu espírito, que está dentro de mim, madrugarei a buscar-te”. O seu desejo era grande, porque, “ainda que se mostre favor ao ímpio, nem por isso aprende a justiça” (w. 8-10). Você e eu podemos conhecer bem a frustração de Isaías. No entanto, temos a mesma promessa que trouxe lhe esperança. Isaías olhou adiante, e soube de algo que lhe trouxe esperança: “Os teus mortos viverão, os teus mortos ressuscitarão; despertai e exultai, vós que habitais no pó, porque o teu or-

DE VOCIONAL_______ Esperando por Justiça (Is 26) Havíamos acabado de escrever uma (outra) carta para o superintendente da escola. Quando a nossa filha, que estava cursando a terceira série, mudou de escola no meio do ano, ela foi colocada em uma classe na qual sofreu sérias ofensas verbais por parte de algumas crianças, e não recebeu nenhum apoio da sua professora. O estresse causou em Sarah alguns problemas es­ tomacais sérios. Isso também nos causou sérios aborrecimentos, porque somente depois de várias reclamações conseguimos que ela fosse transferida para uma outra classe. A primeira professora pare­ cia descarregar os seus problemas em Sarah, amea­ çando reprová-la em uma de suas matérias. O mais frustrante foi que, apesar do fato de Sa­ rah ter tido uma nota A em seu primeiro semestre, e uma nota A no primeiro trimestre em sua nova escola, a professora ameaçou reprová-la naquele

valho, ó Deus, será como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos” (v. 19). Nem mesmo a morte pode frustrar os propósitos de Deus. Vivemos em esperança, porque sabemos que se morrermos antes de vermos o plano de Deus para esta terra realizado, Ele nos ressuscitará dos mortos para partilharmos o seu triunfo! “Naquele dia (Is 27.1-13). A frase “naquele dia” tipi­ camente indica o fim dos tempos, um período escatológico durante o qual Deus puxará, juntas, as cordas de todos os seus propósitos. Já foi sugerido que a frase simplesmente significa, “no tempo de Deus”. Bem, o que é que acontecerá “no tempo de Deus”? ( 1 ) 0 Senhor destruirá os poderes espirituais ma­ lignos, (27.1). (2) O Senhor restaurará e protege­ rá o seu povo do Antigo Testamento (w. 2-7). (3) Isso será realizado depois que Deus tiver expiado a culpa deles, e através de um castigo severo os tiver afastado da sua fome de idolatria (w. 8-11). (4) Isso acontecerá quando Deus tirar o seu povo do exílio, e a nação for congregada para adorar “ao Se­ nhor no monte santo, em Jerusalém” (w. 12,13). A história mantém o seu fluxo intencional se des­ dobrando da maneira como Deus o dirige. No fim dos tempos, Deus concluirá todas as coisas que planejou. Quando isso ocorrerá? Não podemos saber. Mas ocorrerá. “Naquele dia”. No tempo de Deus. ano — e apesar de a política escolar estabelecida, nós nem mesmo tivemos a permissão de verificar o livro de notas. Eu poderia continuar e listar outros abusos, mas o ponto que desejo mencionar é sim­ ples. Todos nós, mesmo nos melhores momentos, de vez em quando somos vítimas de injustiças. Sei que a nossa situação com Sarah é relativamente in­ significante. Há injustiças muito maiores sofridas por outros. Mas a experiência nos tem feito mais sensíveis à frustração experimentada pelos impotentes. Foi isso que Isaías sentiu ao exclamar: “No teu nome e na tua memória está o desejo da nossa alma”. Ele continuou se queixando que embora a graça fosse mostrada aos ímpios, eles não aprendiam a justiça, mas continuavam a fazer o mal (w. 8-10). Como é frustrante tentar, mas sempre ser mantido espe­ rando! Como é frustrante lutar, mas nunca parecer causar qualquer alteração na injustiça. Quando algo assim acontece conosco, precisamos nos lembrar da esperança que trouxe conforto a

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em consultar a Deus. Assim, um Isaías furioso in­ terrompeu a festa anunciada pelos líderes de Judá para celebrar a sua declaração de independência da Assíria. Com imagens descritivas e palavras claras Isaías denunciou os líderes de Judá. Eles estavam embriagados com a bebida servida em sua celebra­ ção prematura. Ao agirem sem consultar a Deus, demonstraram que mesmo antes de terem bebido uma única taça de vinho, tinham tão pouco juízo quanto qualquer pessoa embriagada! Precisamos visualizar um Isaías furioso e líderes embriagados e entorpecidos como lemos nesses Aplicação Pessoal Lute contra a injustiça. Mesmo que pareça que você está capítulos. perdendo, certamente ganhará no tempo de Deus. Visão Geral Isaías condenou a decisão de Judá de se rebelar con­ Citação Importante “Na Alemanha, eles primeiro vieram contra os co­ tra a Assíria e fazer um tratado com o Egito. Esse munistas, e eu não me manifestei porque não era tratado foi uma aliança com a morte (28.1-29), e comunista; então eles vieram contra os judeus, e eu o povo insensível de Deus sofreria a humilhação não me manifestei porque não era judeu. Então eles (29.1-24). Planos feitos sem consultar a Deus fra­ vieram contra os sindicalistas, e eu não me mani­ cassarão (30.1-31.9), mas o plano de Deus para festei porque não era sindicalista. Então eles vieram estabelecer um reino justo terá êxito (32.1-20). No contra os católicos, e eu não me manifestei porque seu tempo Deus se levantará. Jerusalém novamente era protestante. Então eles vieram contra mim — e experimentará a paz (33.1-24). naquela ocasião já não havia ninguém mais para se Entendendo o Texto posicionar ao meu favor.” — Martin Niemoller “Os restantes de seu povo” (Is 28.1-6). Isaías repetiu a advertência dirigida ao Reino do Norte, Israel, 21 DE MAIO LEITURA 141 O BRAÇO DE CARNE antes da queda de Samaria ocorrida aproximada­ mente 20 anos antes. A advertência anterior se rea­ Isaías 28—32 lizou. Assim também se realizariam as advertências “A t dos que... têm confiança em carros, porque são que Isaías estava prestes a pronunciar a respeito de muitos, e nos cavaleiros, porque são poderosíssimos; e Judá. não atentam para o Santo de Israel e não buscam ao Como é muito mais fácil aprender as lições a partir da história, em vez de aprender por meio Senhor” (Is 31.1). de experiências pessoais dolorosas! A Palavra Ao condenar a falha de Judá em consultar ao Se­ de Deus nos capacita a evitar erros desastrosos nhor antes de se rebelar contra a Assíria, esses ca­ mostrando-nos o que acontece quando o povo pítulos de Isaías também servem como um aviso a do Senhor falha em considerar e fazer a vontade nós. Devemos buscar a Deus, pedindo a sua dire­ de Deus. ção. E fazer a sua vontade. Os versículos 5,6 nos lembram de que a falha humana em obedecer a Deus não pode frustrar a realização dos propósitos divinos. Tudo o que a Contexto As mensagens contidas nessa seção de Isaías datam nossa desobediência faz é roubar as nossas bên­ de aproximadamente 705 a.C. Sargão, um dos çãos que do contrário teríamos experimentado. governantes mais bem-sucedidos da Assíria, tinha acabado de morrer. Os líderes de Judá viram isso “Mandamento sobre mandamento, mandamento como uma oportunidade de se rebelarem contra e mais mandamento” (Is 28.7-22). As palavras a dominação assíria, e fizeram um tratado com o de Isaías não fizeram nenhum sentido para os Egito. A decisão foi insensata porque embora o embriagados que celebravam em Jerusalém. poder egípcio mais uma vez se estendesse a todo Incapazes de compreender a mensagem de Isa­ o seu território tradicional, o Egito permanecia ías, os sacerdotes murmuraram: “A quem, pois, fraco. Ele não poderia oferecer uma ajuda militar se ensinaria a ciência?” Ou, conforme algumas significativa a nenhum aliado. A decisão também traduções da Bíblia Sagrada: “A quem ele está foi errada porque os líderes de Judá haviam falhado tentando ensinar?” Enquanto isso, o profeta

Isaías. Tudo será corrigido, no tempo de Deus. Pode não ser durante o nosso tempo de vida. Mas, “Os teus mortos viverão!” Nem mesmo a morte é o fim. Nem mesmo a morte pode frustrar a realização final da justiça para todos neste mundo. Um dia, no tempo de Deus, nós ou­ viremos a sua voz nos chamando. Ele clamará por aqueles de nós que habitam no pó, e que “desper­ tarão e exultarão de alegria”. Porque então teremos a justiça. Então teremos a paz.

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sussurrava: “A quem Ele está explicando a sua mensagem?” As frases repetidas, “mandamento sobre manda­ mento, mandamento e mais mandamento, regra sobre regra, regra e mais regra”, foram usadas para (1) representar os murmúrios dos bêbados, que só foram capazes de repetir as frases que Isaí­ as pronunciou, ou (2) para representar a maneira como as crianças aprendem os fundamentos na escola, mecanicamente e por repetição. Uma ou­ tra interpretação possível é (3) que essas frases reapresentem o modo legalista pelo qual os ou­ vintes de Isaías abordavam a fé. Eles não podiam compreender o convite à paz, através da confian­ ça em Deus, contido nas Escrituras. Tudo o que podiam ver eram as regras cerimoniais. Seja qual for a intenção, o povo dos dias de Isa­ ías não queria entender a mensagem de Deus. Assim, Deus determinou que “por lábios estra­ nhos e por outra língua” se falasse a este povo (v. 11). Os assírios falariam em uma língua que o povo de Deus não poderia deixar de entender — a língua da espada, do fogo, da devastação e da miséria. Se não dermos ouvidos à voz suave e amorosa de Deus, Ele permanecerá capaz de nos agarrar pe­ los ombros, e nos chacoalhar até que prestemos atenção!

Você e eu, no entanto, devemos ouvir este tam ­ bor distante, e ignorar o dinheiro! Sabemos que as únicas coisas que são reais, as únicas coisas que oferecem a verdadeira segurança, são espiri­ tuais e não materiais. Se mantivermos essa verdade claramente em mente, e agirmos de acordo com ela, estaremos seguros contra o pecado que trouxe o desastre sobre a antiga Judá.

“Ele o quebrará como se quebra o vaso do oleiro” (Is 30 — 31). Por diversas vezes estes capítulos enfa­ tizam a futilidade de confiar em qualquer outra coisa que não seja em Deus. Talvez a expressão mais clara disso seja encontrada em 31.3: “Os egípcios são homens e não Deus; e os seus ca­ valos, carne e não espírito; e, quando o Senhor estender a mão, todos cairão por terra, tanto o auxiliador como o ajudado, e todos juntamente seráo consumidos”. Somos muito vulneráveis à atitude vista aqui, no povo de Judá. Continuamos a depositar a nossa confiança nas coisas que podemos tocar, ver e sentir. O poeta persa Om ar Khayyam expressa essa situação da seguinte forma:

“A té que se derrame sobre nós o Espírito lá do alto” (Is 32.1 — 33.24). Isaías constantem ente contrastava os dias negros do juízo divino com o brilho do reino que o Senhor estabelecerá no futuro. O padrão é claramente visto nesses ca­ pítulos. Os compatriotas de Isaías haviam con­ denado a si mesmos à angústia e aflição. Mas os planos de Deus de abençoar o seu povo não podem ser subvertidos pela maldade de várias gerações. Em uma linda passagem Isaías disse que a Terra Prometida se tornará em assolação — mas somente...

Ah, pegue o dinheiro, E não se incomode com a dívida. Nem dê ouvidos ao estrondo de um tambor distante.

“Este é o caminho; andai nele” (Is 30.21). As li­ nhas aéreas modernas possuem um sistema espe­ cial de direção para pousos. Se o avião se desviar para a direita ou para a esquerda da rota de voo, um aviso sonoro soa, e o piloto o traz de volta para a posição correta. Deus possuía este sistema de direção muito tem ­ po antes do homem sonhar em voar! Se o nosso relacionamento com o Senhor for caracterizado por “conversão e repouso” e “sossego e confian­ ça” (v. 15), então Deus falará aos nossos corações quando nos desviarmos para a esquerda ou para a direita do caminho que Ele determinou para nós. O seu Espírito falará aos nossos corações, e nos dirá “este é o caminho; andai nele”. A vida cristã é uma vida sobrenatural. Não pode­ mos explicar como o Espírito de Deus nos diri­ ge. Mas podemos ouvir a sua voz.

“Até que se derrame sobre nós o Espírito lá do alto; então, o deserto se tornará em campo fértil, e o campo fértil será reputado por um bosque. E o juí­ zo habitará no deserto, e a justiça morará no campo fértil. E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança, para sempre.” (Isaías 32.15-17)

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DEVOCION AL_________Citação Importante Eu não Sei

(Is 29) E frustrante ensinar pessoas que simplesmente não querem aprender. A minha esposa certa vez fez a um dos seus alunos uma pergunta sobre uma história curta que eles estavam estudando. A história se cha­ mava “O Funeral do Escultor”. A sua pergunta foi: “Quem morreu?” O aluno a quem ela fez a pergunta respondeu: “Eu não sei, eu não li a história”. Ela fez a pergunta outra vez. “Bem, leia o título e me diga, quem morreu?” E o aluno irritado respondeu: “Eu disse a você que não li a história! Eu não sei”. Acho que Isaías sentiu a mesma frustração quando tentou transmitir a mensagem de Deus aos seus ou­ vintes relutantes em Judá. Eles eram embriagados e estúpidos. Era como dar um livro a uma pessoa, e vê-la devolvê-lo dizendo: “Não sei ler”. As palavras de Isaías simplesmente não faziam sentido algum para o povo de Judá. Hoje nos perguntamos, por quê? Por que as pessoas dos dias de Isaías não compreenderam a sua men­ sagem? Por que não puderam ver o que parece tão claro a você e a mim? Mas o Senhor explicou (v. 13). O povo de Judá tinha uma fé superficial. Em termos modernos, o versículo 13 diz: “Eles vão à igreja. Eles cantam hinos, e expressam aquilo em que creem. Mas en­ quanto o pregador entrega o seu sermão, os pensa­ mentos deles estão em outras coisas”. “A ‘adoração’ que estão expressando não é a que espero”. “Só estão fazendo as coisas que os outros esperam que façam — comparecer no domingo, vestir-se bem, apoiar o que para eles é mais um ‘clube’ do que uma comunidade de fé”. Quando a religião falha em colocar o foco em Deus, deteriorando-se em uma mera convenção social, então a atenção daqueles que vão à igreja se torna apática. Deus fala, mas eles não conseguem ouvir; ouvem tanto quanto um homem que está embriagado e caído na sarjeta (w. 9,10). Como nos protegemos desse tipo de embotamento? Hoje, como naquela época, é um problema do co­ ração. Ir à igreja não é algo que devemos fazer por­ que é esperado. Devemos ir à igreja para adorar a Deus, para aprender mais sobre Ele, para expressar o nosso amor em adoração, louvor e doação genero­ sa. Quando nos aproximarmos de Deus com todo o nosso coração, então você e eu o ouviremos falar conosco. E assim entenderemos o que Ele disser.

“Como é raro encontrar uma alma quieta o bastan­ te para ouvir Deus falar.” — François Fénelon 22 DE MAIO LEITURA 142 DIA DE VINGANÇA Isaías 33—35

"Porque será o dia da vingança do Senhor, ano de retribuições, pela luta de Sião” (Is 34.8). Além das aflições, a glória aguarda. O que esses ca­ pítulos nos dizem é que a fé capacita os crentes a viverem com segurança mesmo enquanto o fogo consumidor arde. Visão Geral Deus é o fundamento sólido para os nossos dias (33.1-9), e uma esperança certa para o nosso futuro (w. 10-24). Isaías contrastou o juízo que devastará as nações, representadas por Edom (34.1-17), com a alegria que aguarda os remidos (35.1-10). Entendendo o Texto “Sê tu o nosso braço cada manhã” (Is 33.1-9). Deus é o fundamento sólido para todos os momentos, “abundância de salvação, sabedoria e ciência”. Mas para desfrutar da abundância desse tesouro, deve­ mos usar uma chave para abri-lo. O texto diz: “O temor do Senhor será o seu tesouro”. Como já vimos, o “temor” de Deus é um sentimen­ to reverente de admiração que nos mantém cientes dEle em todos os momentos. A nossa ciência de que Deus é, e que Ele é soberano, nos dá confiança mesmo nos tempos mais incertos.

“Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas?” (Is 33.10-16). Isaías descreveu a Deus se levantan­ do do seu trono como um monarca para sair para a guerra (v. 10). Isso apavorou os pecadores de Sião (v. 14), que perderam a esperança de sobreviver ao fogo consumidor do juízo de Deus, exclamando: “Quem dentre nós habitará [sobreviverá] com o fogo consumidor?” Eles não esperam uma resposta. Mas Isaías apresen­ tou uma. “O que anda em justiça e que fala com retidão, que arremessa para longe de si o ganho de opressões, que sacode das suas mãos todo o pre­ sente; que tapa os ouvidos para não ouvir falar de sangue e fecha os olhos para não ver o mal.” Essas palavras não contêm nenhuma promessa de Aplicação Pessoal Prepare o seu coração, e não só a sua família, para que o crente estará imune à tribulação nestes mo­ mentos em que Deus julgar uma nação. Quando ir à igreja no próximo domingo.

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as bombas caírem, o crente e o descrente ficarão igualmente sem eletricidade e sem água potável. Mas “habitar com o fogo consumidor” é manter uma esperança que contrasta com o desespero dos ímpios. Os justos se refugiam em Deus, e têm fé de que a despeito de quão severas sejam as circunstân­ cias da vida, Deus proverá os produtos de primeira necessidade para manter a vida (v. 16).

“Eles chamarão ao reino... não serão coisa nenhuma’ (Is 34.1-17). O contraste desenhado aqui é entre a civilização e o deserto; entre a natureza domestica­ da pelo homem e os campos selvagens. As nações que Deus julgaria se recusaram a responder ao Se­ nhor. Suas terras seriam devolvidas para as aves e para as feras. O livro aqui é a profecia encontrada nos versículos anteriores. Tudo o que Deus diz que acontecerá, acontecerá. O que Deus ordenou ocorrerá com toda certeza. E impressionante que a Escritura com tanta fre­ quência contraste os campos cultivados com o de­ serto quando invoca visões de bênçãos e de juízo. Deus realmente criou a nossa terra para ser o lar do homem. “Abundantementeflorescerá” (Is 35-1-10). Esse breve capítulo conclui o primeiro livro de Isaías. Esses capítulos apresentaram retratos escuros do juízo di­ vino, com breves brilhos de luz. Mas este capítulo

DE V OCIONAL_______ Na Queima da nossa Casa (Is 33) No dia 10 de julho de 1660, a casa da poetisa Puri­ tana Anne Bradstreet queimou totalmente, deixan­ do-a destituída de bens terrenos. Ela compartilha o sofrimento que sentiu em um poema comovente que tem o título deste devocional.

As muitas vezes em que passei pelas ruínas Os meus olhos tristes se desviaram, E aqui e ali observava os lugares Onde frequentemente me sentava e por muito tempo me deitava: Aqui ficava aquele baú, e ali aquela arca, Ali ficavam os produtos que eu mais apreciava. As minhas coisas agradáveis viraram cinzas, E eu nunca mais as verei. Anne compreendeu o sofrimento que sempre acompanha a perda de bens familiares e preciosos. Anne compreendeu e expressou a dor sentida pe-

final resplandece com calor e esperança. Algumas das imagens mais bonitas e mais conhecidas de Isa­ ías são encontradas aqui. Por cerca de 10 anos morei no Arizona, em um local desértico. Seco e queimado durante a maior parte do ano, o deserto literalmente florescia com as chuvas do outono. Os tons predominantes de marrom de repente desapareciam e em seu lugar surgia um verde caloroso, decorado com uma pro­ fusão de cores delicadas. Que visão do futuro Deus tem em mente para a terra, e para nós! Tudo o que está deserto e seco na nossa vida será molhado pela chuva de Deus. En­ tão nós também exultaremos de alegria e florescere­ mos, pois a nossa vida refletirá a glória do Senhor, o esplendor do nosso Deus.

“Fortalecei osjoelhos trementes” (Is 35-3,4). Quando você e eu nos sentimos fracos e vencidos, encon­ tramos forças neste pensamento: “O vosso Deus virá”. Enquanto os outros se recolhem em terror, nós exultamos de alegria com esse pensamento. Ele vem com a punição para os ímpios, mas também vem para nos salvar. “Então” (Is 35-5-10). As palavras conclusivas de Isaías são tão vívidas que falam por si mesmas. Ne­ nhum comentário pode lhes fazer justiça. O profe­ ta compartilhou o que a vinda de Deus significará para nós, seu povo, nos versículos 5-10. los crentes de todas as eras que viveram e viverão durante os períodos em que Deus se levanta para julgar as suas sociedades. Mas Anne também compreendeu o segredo de ha­ bitar entre o fogo consumidor que os queima. O seu poema continua: Eleve os teus pensamentos acima do céu Para que as névoas da pilha de estrume possam voar para longe. Tu tens uma casa erguida no alto, Preparada por aquEle poderoso Arquiteto, Ricamente mobiliada com glória. Esta morada celestial permanecerá, Embora a terrena desapareça. Foi comprada e também paga Por aquEle que tem o bastante para fazê-lo. O preço foi alto e também desconhecido, Entretanto, pela dádiva divina nos é dada; Há riqueza suficiente, não preciso de mais. Adeus ao meu eu, adeus aos meus pertences. O mundo não me deixa mais amar as coisas terrenas,

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A minha esperança e o meu tesouro estão no uma vez que este domínio está delegado ao futuro distante, não há prova. alto. Mas havia prova de que Isaías falou a verdade; O segredo? Perceber que o fogo pode queimar ape­ prova disponível nos próprios dias do profeta! Os nas o que está destinado a desaparecer. E lembrar- assírios invadiram Judá com uma força esmagado­ se de que aquilo que Deus comprou para os seus ra. Porém, quando Ezequias orou, Deus, através de permanecerá, mesmo que tudo neste mundo de­ Isaías, prometeu libertar Jerusalém — e o fez. Os eventos registrados em Isaías 36— 39 reuniram os sapareça. principais temas dos primeiros 35 capítulos de Isaí­ as de forma a demonstrar a validade de cada um! Aplicação Pessoal Os tesouros do céu nos libertam do desespero, São esses temas e a sua demonstração que trans­ mitem a mensagem pessoal de Deus ao seu povo, quando perdemos os bens terrenos. tanto hoje como nos dias de Isaías. Citação Importante “Cuidado com uma preocupação excessiva com Visão Geral o dinheiro, com a posição ou com a glória. Um A delegação de Senaqueribe convocou Judá a se dia você se encontrará com uma Pessoa que não se render em vez de confiar em Deus (36.1-22). Isa­ importa com nenhuma dessas coisas. Então você ías predisse que a invasão se reverteria, apesar das saberá quão pobre você realmente é.” ameaças da Assíria (37.1-13). Ezequias orou (w. — Rudyard Kipling 14-20), e recebeu promessas específicas, transmiti­ das por Isaías (w. 21-38). Ezequias se recuperou de 23 DE MAIO LEITURA 143 uma doença quase fatal (38.1-22), mas foi repreen­ dido por mostrar a riqueza de Judá aos embaixado­ SOBERANIA DE DEUS Isaías 36-—39 res babilônios (39.1-8). “Porei o meu anzol no teu nariz e o meu freio, nos teus Entendendo o Texto lãbios e te farei voltar pelo caminho por onde vieste” “Que confiança é esta que tu manifestas?” (Is 36.1(Is 37.29). 22). O comandante de campo de Senaqueribe exigiu a rendição de Jerusalém. Diversas vezes ele Podemos ter toda a confiança de que a visão bíblica desafiou Ezequias, que não possuía homens trei­ do fim dos tempos se realizará. O passado demons­ nados para servir como cavaleiros mesmo se os tra que Deus está verdadeiramente no controle dos assírios fornecessem os cavalos! Eles confiavam no acontecimentos, apesar das pretensões dos grandes Egito? Ou em Deus? Nenhum dos deuses dos ou­ homens deste mundo. tros povos era capaz de proteger suas terras contra o poder militar da Assíria. “Como o Senhor livrará Contexto Jerusalém das minhas mãos?” As forças de Senaqueribe invadiram Judá em 701 A atitude expressa pelo comandante assírio é idên­ a.C. Os anais da Assíria relatam que ele cercou 46 tica à dos escarnecedores de todas as épocas. “Deus” cidades e fortes murados, e “confinou Ezequias em pode existir em algum lugar “fora daqui”. Ele pode Jerusalém como um pássaro em uma gaiola”. Pare­ ser importante para nós “daqui a pouco”. Mas Ele cia certo que Jerusalém iria cair. Mas, como esses é irrelevante agora, pois não tem poder para agir no capítulos relatam, as forças assírias de repente se universo material. Ter confiança em Deus quando retiraram, e a cidade foi salva. enfrentamos desvantagens esmagadoras não faz Por que esses capítulos históricos estão inseridos sentido para essas pessoas. aqui, entre duas coleções de profecias de Isaías? Muitos em Judá, sem dúvida alguma, se sentiram exa­ Nos primeiros 35 capítulos desta maior das obras tamente assim. Como já vimos, o ministério de Isaías proféticas do Antigo Testamento, Isaías proclamou foi dirigido a um povo que estava “sempre ouvindo, a soberania de Deus. Ele anunciou que no tempo mas nunca entendendo” (6.9,10). Toda essa conversa de Deus o Senhor libertaria o seu povo e castigaria sobre o poder soberano de Deus, todas as suas pro­ as nações pagãs que os tinham oprimido. Mas o messas de redenção futura, todas as suas palavras de tempo de Deus, identificado como “naquele dia” advertência, pareciam sem sentido para a maioria. ou “o dia do Senhor”, deve ter parecido distante “Que confiança é esta que tu manifestas?” Enquan­ e ate mesmo irreal para muitos em Judá. E fácil to os acontecimentos se desenrolavam, tornou-se dizer que o domínio de Deus se estende sobre este claro que a confiança de Isaías e do rei Ezequias mundo assim como sobre o reino espiritual. Mas estava colocada no lugar certo — em Deus. Esses

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capítulos nos lembram de que não há qualquer No entanto, Senaqueribe não só seria impedido de circunstância que possamos imaginar que limite o entrar na cidade, mas os seus soldados não con­ poder de Deus para nos salvar. seguiriam nem ao menos lançar uma única flecha sobre os muros de Jerusalém! “Não temas à vista das palavras que ouviste” (Is 37.1- Então Deus interveio, e o exército assírio sofreu um 13). Ezequias pediu a Isaías uma palavra de Deus, grande número de mortes misteriosas em uma úni­ e a recebeu. Mas os assírios continuaram a bombar­ ca noite. O historiador grego Heródoto, escreven­ dear o rei com ameaças e zombaria. Quarenta e seis do centenas de anos mais tarde, registra um relato dos fortes de Judá tinham caído diante da Assíria. deturpado do acontecimento de que foi informado Por que seria diferente com Jerusalém? “Deus” é enquanto visitava o Egito. uma boa noção, um conceito consolador. Mas os De repente, até mesmo o cidadão mais simples do assírios possuíam a maior força militar que o mun­ povo de Judá deve ter percebido isso. Deus não do já havia conhecido. Até então, nenhum “deus” é irrelevante de forma alguma! Deus é soberano. tinha sido capaz de resistir às forças da Assíria. Toda palavra da sua boca se cumpre com tanta cer­ E estranho, mas a maioria dos cristãos acha mais fá­ teza, como se já tivesse acontecido (w. 36,37). cil suportar a hostilidade aberta do que a zombaria. Quando as pessoas se enfurecem pela nossa fé em “Ouvi a tua oração” (Is 38.1-22). Deus é senhor do Deus, resistimos. Mas quando as pessoas riem das destino das nações. Mas este Deus soberano está nossas crenças, muitos crentes desmoronam. Eze­ preocupado com o destino das pessoas? quias respondeu exatamente do modo correto. Em Isaías agora inclui uma narração da luta de Ezequias vez de desmoronar ou sentir vergonha, ele foi direta­ contra uma doença fatal. O rei, de coração partido, mente a Deus e disse: “Senhor, eles zombam de ti'. rogou a Deus que lhe fossem acrescentados mais Essa é a chave que nos dá forças para suportar qual­ alguns anos de vida, alegando: “Andei diante de ti quer zombaria por parte dos nossos contemporâneos. em verdade e com coração perfeito e fiz o que era Precisamos perceber que os outros não estão escarne­ reto aos teus olhos”. Deus respondeu a essa oração cendo de nós, mas de Deus. Devemos nos voltar para prometendo a Ezequias que lhe acrescentaria mais Ele, vê-lo como o Deus “de todos os reinos da terra”, 15 anos de vida. o Deus que fez “os céus e a terra”. E assim, precisamos A história é colocada aqui em parte porque mostra dizer: “Senhor, eles estão insultando a ti”. que Deus está preocupado com cada pessoa indivi­ Como isso nos capacita a suportar? Isso nos faz dualmente. Mas o mais importante, ela mostra que lembrar quem é o nosso Deus, e como os escarne- o apelo de uma pessoa justa pode afastar o juízo cedores são tolos, e tira de nós a responsabilidade divino, mesmo depois do juízo já ter sido anuncia­ de responder a afronta; a resposta passa a ser uma do (cf. v. 1). responsabilidade do próprio Deus. Como Ezequias, Esse tem sido um dos maiores temas de Isaías podemos esperar pacientemente que Ele aja. 1— 35. Apesar do pecado de Israel, Deus havia pe­ dido diversas vezes que buscassem uma renovação “Nem... lançará nela flecha alguma” (Is 37-21-38). espiritual. Apesar das predições de juízo, um retor­ A resposta de Deus à oração de Ezequias foi uma no sincero ao Senhor traria muitas bênçãos, e tor­ promessa específica. O vasto exército assírio estava naria o juízo desnecessário. Ezequias, um rei justo há poucos quilômetros de distância de Jerusalém. de Judá, mostrou o caminho para toda a sua terra.

DE VOCIONAL______

Um Professor Severo (Is 38— 39) Certo dia, Ray Rubinski, um dos professores da escola Gulf High, onde a minha esposa ensina in­ glês, a parou no corredor. Sue estava usando uma saia preta, uma blusa branca, e um laço ainda mais preto. “Sue”, Ray disse, em tom de brincadeira, “queria que você não estivesse usando esta roupa. Ela me lembra das freiras que costumavam bater na minha mão com uma régua quando eu era peque­ no e frequentava uma escola católica”.

Algumas das freiras nas antigas escolas paroquiais realmente tinham uma má reputação. Acho que algumas delas mereciam-na. Mas se você quer co­ nhecer um professor realmente severo, conheça a história. As suas lições podem mudar a sua vida. Mas se falhar em aprender com a história, você re­ almente estará em apuros! Ezequias nos ensina uma importante lição histórica. Ele ouviu as palavras de Isaías sobre a soberania de Deus, e confiou que o Senhor removeria a ameaça assíria. Deus fez isso. Quando Ezequias ficou doen­

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te, ele se lembrou do que Deus havia dito através de Isaías a respeito da sua disposição para recuperar os piedosos, mesmo depois do juízo ter sido anunciado. Então Ezequias invocou a Deus, alegando a sua vida piedosa. E o Senhor o curou, embora anteriormente tivesse anunciado que Ezequias morreria. Mas então Ezequias cometeu um deslize. Isaías também falara da Babilônia como um inimigo do povo de Deus. Entretanto, quando os embai­ xadores da Babilônia chegaram para “congratular” o rei pela sua recuperação, Ezequias lhes mostrou cada um dos seus tesouros reais. Um Isaías furioso anunciou que estava chegando o dia em que os ba­ bilônios levariam os tesouros de Ezequias e os seus descendentes para o cativeiro. Qual é a lição que devemos aprender através da história pessoal de Ezequias? Simplesmente isto: Precisamos colocar no coração todas as palavras de Deus. Não podemos apenas crer nas partes de que gostamos, e reivindicar as promessas que queremos que sejam cumpridas. Precisamos prestar muita atenção em cada mensagem da Palavra, pois esque­ cer alguma palavra ou escolher não ouvir pode nos causar sérios problemas. A história é um bom professor. Ela fornece provas de que Deus é real, e digno de toda confiança. Mas a história é também um professor severo. Se falhar­ mos em aprender as suas lições, com certeza experi­ mentaremos as suas consequências em nossa vida. Aplicação Pessoal Aprenda com Ezequias a prestar atenção em cada palavra de Deus. Citação Importante “Há quatro coisas que devemos fazer com a Pala­ vra de Deus — aceitá-la como a Palavra de Deus, gravá-la nos nossos corações e mentes, sujeitarmonos a ela, e transmiti-la ao mundo.” — William Wilberforce 24 DE MAIO LEITURA 144 CONFORTO Isaías 40—48

“Anunciai com voz de júbilo, e fazei ouvir isso, e le­ vai-o até aofim da terra; dizei: O Senhor remiu a seu servo Jacó” (Is 48.20). A esperança para nós, assim como para a antiga Israel, está inteiramente na natureza incomparável do nosso Deus. Contexto A seção histórica de Isaías 36— 39 termina com o relato da denúncia de Isaías contra Ezequias

por ter recebido os embaixadores da Babilônia. Esses capítulos servem para ilustrar Isaías 1— 35. Mas eles também servem como uma ponte que nos leva para Isaías 40— 66, pois de repente Isaí­ as pareceu catapultado para cem anos à frente do seu tempo. A invasão babilónica era passado, e os judeus estavam cativos em uma terra estranha. Contudo, Isaías falou palavras de conforto, con­ fiantemente descrevendo a destruição da Babilô­ nia e a salvação do povo de Deus. A nação ainda será remida, e os propósitos de Deus para o seu povo serão cumpridos. A teoria de que uma ou algumas pessoas diferen­ tes tenham escrito a segunda metade de Isaías é baseada nos pontos de vista dos capítulos 40— 66. Na primeira metade de Isaías, a Assíria é o principal inimigo, e a mensagem do profeta é um severo oráculo de juízo. Nos capítulos 40— 66, a Babilônia que conquistou Judá está prestes a ser julgada; e Ciro, o seu conquistador persa, é cita­ do. Em vez da escuridão do juízo iminente, esses capítulos posteriores são brilhantes, reluzindo a confiante esperança de restauração. No entanto, a ideia de que Isaías escreveu ambas as seções não apresenta grande problema para aqueles que levam a sério uma mensagem repetida encon­ trada nos capítulos 40— 66. O Deus que falou por meio de Isaías é totalmente capaz de “nos anunciar as coisas que hão de acontecer” e “nos dizer o que o futuro aguarda” (41.22,23; 45.21). Falando pelo Espírito de Deus, Isaías, assim como outros antigos profetas hebreus, foi transportado para além do seu próprio tempo. As suas palavras de conforto e espe­ rança estavam baseadas na convicção do que Deus faria, e não do que Ele já havia feito. Algumas das passagens mais poderosas e exaltadas de toda a Bíblia são encontradas nesses capítulos confortantes. Essas passagens também podem nos encher de esperança. Elas nos fazem lembrar, como lembraram a antiga nação de Israel, de quão maravilhoso e amoroso é o Senhor nosso Deus. Visão Geral O Senhor soberano de Judá quer o bem do seu povo (40.1-31). Deus — e não os ídolos adora­ dos pelas nações — controla o futuro (41.1-29). Embora Isael tenha falhado em seu chamado na­ cional como servo de Deus, o escolhido da nação cumprirá o propósito de Deus (42.1-25) quando o Criador agir para remir o seu povo escolhido (43.1— 44.25). Como evidência, Deus constituirá um homem chamado Ciro para restaurar Jerusa­ lém (v. 26— 45.25). A opressora Babilônia será es­ magada, e a palavra de bênção de Deus para Israel será cumprida (46.1— 48.22).

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Entendendo o Texto “Eis aqui está o vosso Deus” (Is 40.1-31). A primeira vez que viajei para o oeste dos Estados Unidos, não pude acreditar no céu. Parecia tão grande que eu tinha que ficar olhando para a esquerda e para a direita para ver todo ele. Isso é algo parecido com o que Isaías está fazendo aqui, ao apresentar a Deus. Ele é tão grande que Isaías nos faz olhar para a esquerda e para a direi­ ta para tentarmos vê-lo completamente. Olhando para a esquerda, Isaías descreveu um Deus que “está assentado sobre o globo da terra” a quem as nações parecem “como a gota de um balde” (w. 6-26). Olhando para a esquerda, ficamos simplesmente impressionados com a extraordinária grandeza do poder e da imensa força de Deus. Então Isaías nos faz olhar para a direita, e vemos o Criador descer para tocar no indivíduo, e dar “vigor ao cansado”, porque o nosso Deus é aquEle que não cria, mas que também cuida: “Os que es­ peram no Senhor renovarão as suas forças e subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão; caminharão e não se fatigarão” (w. 27-31).

“Eis aqui o meu Servo, a quem sustenho” (Is 42.125). Há dois “servos” em Isaías. Um é Israel (cf. w. 8-10), que falhou em realizar o propósito de Deus. O outro, apresentado aqui, é o Messias. Esse Ser­ vo, que deve proceder do servo fracassado de Deus, “produzirá o juízo. Não faltará, nem será quebran­ tado, até que ponha na terra o juízo” (v. 4). Como um “mediador da aliança com o povo” (v. 6, na versão ARA), este Servo será o próprio funda­ mento sobre o qual Israel edificará o seu futuro — um futuro que inclui a salvação para os gentios bem como para os descendentes de Abraão (w. 6,7). No contexto, a mensagem de Isaías sobre a vinda do Servo do Senhor tem a finalidade de dar con­ forto e esperança. Mas também é um desafio. O povo de Deus do Antigo Testamento foi chamado para fazer justiça, e por meio de uma vida santa ser “uma luz para os gentios”. Na verdade, todo crente, de todas as épocas, deve ser exatamente esse tipo de servo do Senhor. Devemos fazer justiça, vi­ ver uma vida santa, e levar a luz de uma esperança que liberte “do cárcere [espiritual] os que jazem em trevas” (v. 7). O Senhor Jesus Cristo cumpriu a tarefa que Deus Pai lhe deu como “O ” Servo do Senhor. Mas agora, você e eu também somos chamados para sermos servos do precioso e bendito Senhor.

tão alguns versículos deste capítulo, criados para nos consolar. Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome; tu és meu. Quando passares pelas águas, estarei contigo, e, quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. (w. 1,2) Eu, eu mesmo, sou o que apaga as tuas trans­ gressões por amor de mim e dos teus pecados me não lembro, (v. 25)

“Eu o despertei [Ciro]” (Is 45.1-25). Uma das fontes básicas de conforto para os crentes é a convicção de que Deus está no controle total dos acontecimentos. O tema é ilustrado pelo ato de Deus ao citar Ciro, muito antes do seu nascimento, e anunciar que Ciro receberá um “sobrenome, ainda que não me conhecesses” (w. 1-7). Quer os grandes homens do nosso mundo atual honrem ou não a Deus, só Ele é a fonte da existência deles, bem como das posições que ocupam. O tema é demonstrado pela criação. O universo conhece apenas um único ser Todo-poderoso, que “fez a terra e criou nela o homem” (w. 8-17). Cer­ tamente o Criador tem todo o poder para moldar aqueles que são as obras de suas mãos na forma que Ele bem escolher. O tema é confirmado pela autoexistência inigua­ lável de Deus. Em um universo onde os homens adoram ídolos, não há “outro senão Eu” que pos­ sa salvar, que profira uma palavra “que não torne atrás”, e que no final receba a homenagem e a leal­ dade de todos (w. 18-25). Deus está no controle dos acontecimentos mun­ diais — e dos dias da nossa vida. Pelo fato de Ele existir, e em razão de o Senhor ser o “Deus justo e Salvador” (v. 21), encaramos o futuro com con­ fiança e esperança.

“Asprimeiras coisas, desde a antiguidade, as anunciei” (Is 48.3-8). Algumas pessoas sempre tentarão reti­ rar toda a parte sobrenatural da religião. Isso acon­ teceu nos dias de Isaías, e também acontece nos nossos dias. Quase podemos ouvir a frustração na voz do profeta quando Deus falou a Judá por meio dele: “As primeiras coisas, desde a antiguidade, as anunciei; sim, pronunciou-as a minha boca, e eu as fiz ouvir; apressadamente as fiz, e passaram... Já o tens ouvido; olha bem para tudo isto; porventura, não o anunciareis?” Não há uma evidência mais obrigatória da origem “Não temas, porque eu te remi” (Is 43.1-28), Como e da autoridade sobrenatural das Escrituras do que outros capítulos nessa seção, Isaías 43 é rico em a profecia cumprida. Por diversas vezes a Bíblia re­ versículos que convidam à memorização. Aqui es­ gistra a predição de algum profeta — e centenas ou

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que conforto. Ela perde o direito à paz. Deus disse através de Isaías: “Eu sou o Senhor, o teu Deus, que te ensina o que é útil e te guia pelo caminho em que deves andar”. E acrescentou: “Se tivesses dado ouvidos” então “seria a tua paz como o rio”. A pessoa que abandona a confiança na Palavra de Deus logo também abandonará os seus m an­ damentos. Quando isso acontecer, ela desco­ brirá que “não há paz”, diz o Senhor, “para o ímpio”. “Seria a tua paz como o rio” (Is 48.17-22). A A confiança na Palavra de Deus não é simples­ pessoa que falha em confiar na Palavra de Deus mente uma questão intelectual. E uma das ques­ perde completamente o direito a muito mais do tões centrais de fé e vida.

milhares de anos depois o que é predito é cumprido em detalhes. No entanto, por diversas vezes, alguns lutam para encontrar desculpas para não admitir o que Deus disse e fez. Os céticos não acham nenhum a consolação nas Escrituras porque não creem no Deus Todo-poderoso que age no mundo dos homens. Porém o crente exulta de alegria, e encontra nas Escri­ turas Sagradas um firme fundamento para a sua esperança.

DEV OCIONAL______

Maior do que eu (Is 44) Esse capítulo contém a clássica revelação de idola­ tria da Bíblia. Ele retrata um trabalhador fabrican­ do um ídolo de metal ou esculpindo-o na madeira. E ele zomba daquele que faz um ídolo, que não vê nenhuma contradição em queimar a metade da madeira de uma árvore que ele derrubou para co­ zinhar o seu alimento, e então orar para o bloco de madeira que sobrou: “Livra-me, porquanto tu és o meu deus”. Mas aquele que faz imagens é ridículo. Ele quer que alguém ou alguma coisa o salve. Mas escolhe algo que ele mesmo fez para servir como um deus. “Dáme um deus”, parece dizer aquele que faz ídolos. “Mas não me dê um deus maior do que eu. Dá-me um deus que eu possa controlar; um que eu possa formar a partir de uma árvore que eu cortei; um que eu possa formar para servir a mim mesmo”. Nos tempos bíblicos as evidências da idolatria esta­ vam em todo lugar. Qualquer pessoa podia ver e tocar as figuras dos deuses de metal ou de madeira. Hoje gostamos de pensar que o homem progrediu além da idolatria. Mas na verdade, a mesma atitude domina o pensamento de muitos nesta era “científica”. Não, nós não temos figuras de metal ou de madei­ ra. Mas temos computadores. Temos naves espa­ ciais. Temos bombas de hidrogênio e foguetes. Te­ mos muitas obras das nossas próprias mãos, e com muita frequência a humanidade diz a essas coisas que o próprio homem criou: “Salve-me. Salve-me. Estou confiando em você para me livrar”. E então a Palavra de Deus chega à nossa geração. Ele nos lembra de que os nossos artífices também “não são nada além de homens”. Ter confiança nas coisas que fizemos é a essência da idolatria. E trocar a esperança no Deus vivo pela esperança nas obras mudas e silenciosas das nossas próprias mãos.

A humanidade quer deuses. Mas deuses que este­ jam sob o controle humano. Quando nos encon­ tramos com o Deus da Escritura, encontramos um Deus que é maior do que nós. Então abandonamos as nossas tentativas de controlá-lo — e alegremen­ te nos submetemos à benignidade e à direção do Deus vivo. Aplicação Pessoal Um ídolo é qualquer coisa ou pessoa que não seja o Deus que você espera que lhe salve. Citação Importante “Os bezerros de Jeroboão ainda permanecem no mundo, e permanecerão até o último dia. Não que qualquer homem agora faça bezerros como os de Jeroboão, mas qualquer coisa ou pessoa de que ou de quem o homem depender ou confiar — colo­ cando Deus de lado — serão classificados como os bezerros de Jeroboão, isto é, outros deuses, deuses estranhos, honrados e adorados em vez do Ünico, verdadeiro, vivo e eterno Deus, o Ünico que pode e irá ajudar e consolar em tempos de necessidade. De igual modo, todos os que dependem e confiam em sua habilidade, sabedoria, força, santidade, rique­ zas, honra, poder ou em qualquer outra coisa, sob qualquer título ou nome, o qual o mundo constrói, faz e adora os bezerros de Jeroboão.” — Martinho Lutero 25 DE MAIO LEITURA 145 O SERVO DE DEUS Isaías 49—53

“Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó e tornares a trazer os guardados de Israel; também te dei para luz dos gentios, para

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seres a minha salvação até à extremidade da terra” (Is 49.6).

“Pode uma mulher esquecer-se tanto do filho que cria, que se não compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas, ainda que esta se esquecesse, eu, todavia, me não esquecerei de ti.” (Is 49.15)

O retrato de Jesus encontrado nesses capítulos de Isaías é inequívoco. A descrição do seu sofrimento vicário é uma das explicações mais claras da Escri­ “O Senhor Jeová me ajuda” (Is 50.1-11). De acor­ tura do significado da morte de Jesus. do com Isaías, somente uma coisa permitiria que o Servo de Deus tivesse êxito onde Israel falhou. Visão Geral Onde Israel se rebelou, este Servo seria totalmente A tarefa da nação serva fracassada (49.1-4) é to­ obediente. mada por um indivíduo que remirá e restaurará As palavras dessa passagem despertam um apre­ Israel (w. 5-26). Equipado por Yahweh, este Servo ço mais profundo em relação a Jesus e à vida que confiará totalmente no Senhor (50.1-11). Deus Ele viveu na terra. Ele se entregou para ajudar as remirá Israel, assim como cuidou dele no passado pessoas, obedecendo a Deus Pai completamente. (51.1— 52.12). Mas isso só será realizado por meio Somente confiando no Senhor — abrindo os seus da morte do Servo Sofredor (v. 13— 53.12). ouvidos e não sendo rebelde — Ele foi capaz de conquistar a nossa salvação. Entendendo o Texto As principais passagens de Isaías que tratam do “Debalde tenho trabalhado” (Is 49.4). A imagem em Servo do Senhor são chamadas de Cânticos do Ser­ hebraico é impressionante, e até mesmo um pouco vo. Esses cânticos falam principalmente de Jesus e rude. Como servo de Deus, Israel é comparado a da vida que Ele viveu aqui na terra. Mas eles se uma mulher dilatada e supostamente grávida. Ela diretamente a você e a mim. Nós que fo­ luta em trabalho de parto, mas em vez de uma aplicam mos remidos somos chamados para sermos servos criança, não produz nada além de gases! de Deus, como Jesus o foi (cf. M t 20.26-28). Essa Que imagem de futilidade. Deus escolheu Israel, passagem nos fala muito sobre o nosso próprio es­ pretendendo mostrar o seu esplendor por meio tilo de vida de servos. dele. Israel falhara completamente no seu papel de Devemos dar assistência ao que está cansado (v. servo. No entanto, à medida que Isaías desenvolve 4a). Para fazer isso precisamos ouvir atentamente o tema do servo, vemos que mesmo assim Deus ao Senhor (v. 4b), e obedecer em vez de se rebelar mostrará o seu esplendor em seu povo do Antigo contra o que Ele diz (v. 5). O caminho da obe­ Testamento. Esse esplendor não será visto no que diência é difícil, frequentemente nos expondo ao eles fizeram, mas no que o Senhor fez por eles! ridículo e até mesmo à perseguição (v. 6b). Mas O mesmo ocorre com você e comigo. Os nossos nós, como Jesus, devemos permanecer compro­ esforços para ganhar a salvação são inúteis. Con­ metidos, e confiar em Deus Pai, que nos vindicará tudo, Deus escolheu mostrar o seu esplendor e no final (w. 7,8). beleza em nós. O seu esplendor não é visto no que fazemos, mas no que Deus faz por nós em “Olhaipara Abraão, vosso pai” (Is 51.1 — 52.12). O Jesus Cristo. passado tem sempre a finalidade de nos dar confor­ “Pode uma mulher esquecer-se tanto do filho que to. Podemos olhar para trás, para os tempos de so­ cria?” (Is 49.5-26). O Servo de Deus remirá Isra­ frimento e para a tragédia. Mas também podemos el, e também levará os gentios a se submeterem ao achar evidências do amor de Deus. A história tem na verdade o propósito de dar espe­ Senhor. Enquanto a ênfase em Isaías 1— 35 está no juízo, rança ao povo de Deus quando as coisas parecem aqui a ênfase está claramente sobre o amor profun­ mais desesperadoras. Isaías interrompeu o seu olhar do que Deus sente tanto pelos gentios como pelos à frente, para os dias do Servo de Deus, a fim de di­ judeus. Por meio de seu Servo Deus dará o dom da rigir os pensamentos de seus ouvintes de volta às ra­ salvação a todos. O amor fez com que Deus gravas­ ízes. Os santos (51.1) foram exortados a se lembrar se os seus planos para os remidos na “palma” das de Abraão. Deus manteve a sua promessa a Abraão, e de um homem sem filhos Ele gerou um povo imen­ suas mãos (49.16). Essa referência pode não ser às marcas dos cravos so (v. 2). Com certeza o Senhor “consolará a Sião, e que Jesus tem hoje em suas mãos. Entretanto, que consolará a todos os seus lugares assolados”. lembrete. Deus estava disposto a pagar o preço do Você e eu também temos raízes. As nossas raízes se seu profundo amor. Sentimos este amor ao lermos prendem àquele momento histórico em que Cris­ as palavras de Isaías: to morreu, e poucos dias depois ressuscitou. Deus,

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dernos) do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!” (Is 52.7)

que prometeu a ressurreição de Jesus, e que mante­ ve a sua promessa de nos dar uma nova vida nEle, certamente também nos abençoará. Os cristãos debatem o significado das promessas contidas nos livros do Antigo Testamento como Isaías. Elas devem ser entendidas literalmente, como devendo se cumprir no povo judeu quando Cristo voltar? Ou devem ser entendidas espiritual­ mente, como imagens das bênçãos que agora são nossas, em nosso Senhor? Seja qual for a nossa interpretação, podemos concordar com a aplica­ ção de passagens como essa. O que Deus fez no passado — a sua total fidelidade às suas promessas — nos dá esperanças para o amanhã. A alegria está destinada ao povo de Sião, e -quando o Senhor vol­ tar, eles atenderão a exortação:

“Elefoi moído pelas nossas iniquidades”(Is 52.13— 53.12). Com que clareza esses versículos falam de Jesus Cristo? Quando eu estava na Marinha, um dos meus amigos era um marinheiro judeu chamado Gershom Magin. Lembro-me do dia em que pedi a ele que me ouvisse ler uma passa­ gem da Escritura, e o desafiei a me dizer se era do Antigo ou do Novo Testamento, e de quem se tratava. Então li Isaías 53. Imediatamente Magin disse: “Isso está no Novo Testamento. E é sobre Jesus”. Gershom não pôde acreditar quando lhe mostrei que a passagem era do Antigo Testamento, e que foi escrita sobre o Messias de Israel. A descrição é poderosa demais e clara demais para que haja qualquer dúvida de que o profeta está falando sobre o Salvador, morrendo em uma cruz cerca de 700 anos depois do seu próprio tempo.

“Clamai cantando, exultai juntamente, desertos de Jerusalém! Porque o Senhor consolou o seu povo, remiu a Jerusalém.” (Is 52.9) Pois “Quão suaves são sobre os montes os pés (tanto dos antigos judeus como dos cristãos mo-

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Santo dos Santos (Is 52.13— 53.11) Há algo que inspira um temor reverente a respeito dos lugares santos. Deus disse a Moisés para tirar os seus sapatos; ele es­ tava pisando em terra santa. O Templo de Jerusalém era santo; apenas passando pelo altar do sacrifício é que alguém poderia se aproximar. E então, dentro do Templo, além do seu átrio exterior, ficava o lugar mais santo de todos — o Santo dos Santos. Ali, somente o sumo sacerdote poderia ir, e isso apenas uma vez ao ano, de posse do sangue de um sacrifício oferecido pelo seu próprio pecado e pelo pecado do povo. Nin­ guém entra correndo de forma ousada, impensada, para dentro de um lugar verdadeiramente santo. E somente com esse mesmo senso de temor reve­ rente que devemos abrir o Antigo Testamento em Isaías 52.13— 53.12. Esta é uma terra santa: a có­ pia do projeto definitivo do Grande Arquiteto do Santo dos Santos para a história. Aqui vemos com total clareza o plano e o propósito de Deus nos so­ frimentos de Cristo — e aqui sentimos a agonia que o Cristo conheceu. Leia os versículos. Veja o Servo do Senhor, tão maltratado e desfigurado que mal parece humano. Viva com Ele enquanto é desprezado e rejeitado pelos homens. Observe-o tomar sobre si as nossas iniquidades e ser ferido pelas nossas transgressões.

Veja o sangue escorrer enquanto a sua vida é retira­ da dEle, como a oferta definitiva e suficiente pelo pecado. E perceba que Ele escolheu este destino, para que por suas pisaduras fôssemos sarados. Por que Jesus morreu? A resposta está aqui, no San­ to dos Santos do Antigo Testamento. Ele morreu para pagar pelas nossas iniquidades, a fim de que pudéssemos ser salvos. Lendo essas palavras antigas podemos apenas incli­ nar as nossas cabeças e adorar. Elas nos introduzem à própria presença do nosso Deus. Elas mesmas se tornaram uma terra santa. Aplicação Pessoal Leia essa passagem com reverência e temor. Citação Importante “Toda a vida de Cristo foi uma paixão contínua; outros morreram como mártires, mas Cristo nas­ ceu mártir. Ele encontrou um Gólgota ali mesmo em Belém, onde nasceu; porque para a sua pele macia, a palha era tão afiada quanto os espinhos que o feriram mais tarde, e a manjedoura foi tão desconfortável no princípio quanto a sua cruz no final. O seu nascimento e a sua morte foram ape­ nas um único ato contínuo; o seu dia de Natal e a sua sexta-feira Santa são apenas a manhã e a noite do mesmo dia.” — John Donne

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Isaías 54— 58

26 DE MAIO LEITURA 146 JUSTIÇA Isaías 54— 58 “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno, os seus pensamentos e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar” (Is 55.7). Deus determinou o bem para todos os que o amam. Como é importante nos entregarmos a uma vida justa, para que possamos compartilhar de todas as bênçãos que jazem à frente. Visão Geral Deus restaurará Sião (54,1-17). Ele convidou a todos para partilhar a celebração futura (55.1-13). Essas bênçãos são para os justos (56.1-8) e não para os ímpios (v. 9— 57.13); para o contrito (w. 1421), cuja fé é uma questão de fazer justiça em vez de observar jejuns cerimoniais (58.1-14). Entendendo o Texto “Me compadecerei de ti" (Is 54.1-17). A obra do Messias (Is 53) está terminada. Agora o Senhor, como o nosso “Redentor”, anuncia: “com benigni­ dade eterna me compadecerei de ti”. A imagem mais forte aqui é a de Deus como o ma­ rido de Sião (de Jerusalém). A noiva foi infiel, e “por um pequeno momento” foi abandonada pelo seu marido irado. No entanto, a aliança de casa­ mento de Deus é um compromisso inviolável. “A minha benignidade não se desviará de ti”, ele diz, e continua descrevendo a glória a ser experimentada quando o Senhor e o seu povo estiverem totalmen­ te reconciliados (w. 11-17). A imagem do marido e da esposa aqui nos faz lem­ brar de Oséias, que obedeceu a ordem de Deus e se casou com uma mulher que era, ou se tornou, uma prostituta. Oséias continuou amando a sua esposa, assim como Deus continuou amando o Seu povo infiel (cf. Os 1; 3). Às vezes nós presumimos que o adultério é “base para o divórcio”. O que Isaías e Oséias sugerem é que o adultério é a base para o perdão. O com­ promisso de casamento é para sempre. Somente se um cônjuge simplesmente se recusar a confessar o pecado e reconciliar-se, o divórcio é uma opção. Qualquer pessoa que já viveu com um cônjuge in­ fiel pode entender a dor que Deus sofre quando somos infiéis a Ele, e entender o quanto custa para Ele continuar amando uma pessoa como essa.

o preço da salvação já pago pelo Servo Sofredor de Deus (Is 53 novamente!), Deus nos convida a “com­ prar” o que precisamos “sem dinheiro e sem preço”. Mas a passagem ainda diz mais. Deus planejou uma grande festa — para os ímpios! O seu convite não é para os falidos espiritualmente; é para aque­ les que têm uma dívida impagável. O convite eterno de Deus ainda permanece. Como é importante lembrarmo-nos dessa verdade não só para nós mesmos, mas sempre que encontrarmos uma pessoa que poderíamos considerar impossível de ser redimida. Esse convite é dirigido às pessoas que vivem no pecado: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, in­ vocai-o enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno, os seus pen­ samentos e se converta ao Senhor, que se com­ padecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar.” (Is 55.6,7) “A minha salvação está prestes a vir” (Is 56.1,2). A crença de que Deus está prestes a intervir neste mundo é uma motivação poderosa para fazermos o que é certo. O Novo Testamento diz: “Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos. E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (1 Jo 3.2,3). Meditar na volta de Jesus, e orar para que esse dia chegue logo, nos estimula a viver uma vida piedosa e justa. “Os eunucos que guardam os meus sábados” (Is 56.38). A lei encontrada em Deuteronômio 23.1-8 proibia eunucos e certos estrangeiros de participa­ rem da adoração de Israel. Isaías consolou a cada grupo, anunciando-lhes uma promessa de Deus: “Também lhes darei na minha casa e dentro dos meus muros um lugar e um nome, melhor do que o de filhos e filhas”. Todos os que já se sentiram excluídos pelos outros, que conhecem a incerteza e a dúvida que a exclusão produz, podem avaliar o impacto dessas palavras de consolação. Até mesmo os “de fora” terão um lugar especial e seguro quando o Reino de Deus se manifestar em sua plenitude.

“Descansarão” (Is 57.1,2). Esses dois versículos nos dão uma perspectiva importante sobre a vida e a morte. Em geral a Bíblia vê a morte como um ini­ migo, e vê a vida longa como uma bênção e um dom de Deus. Entretanto, a morte não causa ter­ “Vós que não tendes dinheiro” (Is 55-1-7). E impos­ ror no crente. Na verdade, há momentos em que a sível para nós “comprar” a salvação. E assim, com própria vida é um fardo maior.

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Aqui Isaías observou que a morte prematura de um homem justo pode muito bem ser um dom amoroso concedido pelo Senhor. Que par de versículos pode­ rosos para se lembrar ou partilhar quando alguém que conhecemos morrer ainda jovem. Que segurança, in­ serida aqui no Antigo Testamento, de que, ao morrer, aqueles que andaram na retidão “entrarão em paz; descansarão nas suas camas”, sim, no leito de morte. “O contrito e abatido de espírito”(Is 57.14-21). Duas outras passagens nos ajudam a entender o que é um contrito e abatido de espírito. Os mesmos termos hebraicos são encontrados no Salmo 34.18 e Pro­ vérbios 29.23. Neles lemos o seguinte: Perto está o Senhor dos que têm o coração que­ brantado e salva os contritos de espírito, A soberba do homem o abaterá, mas o humilde de espírito obterá honra. O que Deus nos ordena é uma atitude humilde, que mesmo na adversidade reconheçamos que o Senhor é excelso e santo, e assim aceitemos as tribulações da vida, à medida que mantemos uma firme confiança em Deus. Deus está especialmente perto de todos aqueles que mantêm essa atitude, pois Ele é muito real para essas pessoas. “Tu o não sabes?” (Is 58.1-12). O Antigo Testa­ mento fornece quatro razões comuns para jejuar. Para expressar aflição (como em 1 Sm 31.13), para indicar arrependimento honesto (1 Rs 21.27), para enfatizar o caráter solene de certas festas reli­ giosas (Lv 16.29,31), e em associação com apelos

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Náo É Justo! (Is 55) Tendo criado cinco meninos e meninas, passei a apreciar o poder da palavra “justo”. Veja bem, “não é justo” é uma daquelas frases mágicas que as crian­ ças usam para manipular pai e mãe. Não é justo que ele possa ficar acordado até tarde e eu não. Não é justo que eu tenha que tirar os pratos da lava-louças. Não é justo o professor deixar que ela apague a lou­ sa em vez de mim. Não é justo que ela tenha cinco travesseiros na sua cama para jogar, e eu tenha apenas quatro. Depois de algum tempo, a reclamação de que “não

a Deus em oração (2 Sm 12.16-22). Isaías 58 pa­ rece combinar a terceira e a quarta razões. Essas pessoas jejuavam na esperança de conseguir algo de Deus — e ficaram bastante aborrecidas quan­ do pareceu que Deus não percebeu isso! (v. 3) A passagem deixa claro que estas pessoas queriam se relacionar com Deus nos seus próprios termos — enquanto Deus insiste que os seres humanos se re­ lacionem com Ele nos termos dEle. A “religião” era o preço que o povo de Judá estava disposto a pagar para obter o favor de Deus. Mas eles mantinham a sua religião e a sua vida cotidiana cuidadosamente isoladas uma da outra. Aos olhos de Deus, porém, o relacionamento com o Senhor jamais pode ser separado da moralidade! A pessoa que está em uma posição de ter suas orações respondidas é aquela que pratica o tipo de “jejum” de Deus. Deus responderá a oração “se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo e o falar vaidade; e, se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita” (w. 9,10). Temos que ser cuidadosos para não deixar que a nossa fé no Senhor se deteriore em uma mera re­ ligião, e assim confundir os rituais que seguimos com um relacionamento real e vital com Cristo. Uma das maneiras mais certas de testar a qualidade do nosso andar com o Senhor é examinar a maneira como respondemos àqueles que estão necessitados. Será que estamos comprometidos a seguir a exor­ tação: “Que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo, e que deixes livres os quebrantados, e que despedaces todo o jugo? Por­ ventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto e recolhas em casa os pobres desterrados? E, vendo o nu, o cubras e não te escondas daquele que é da tua carne?” (w. 6,7)

é justo”, aparentemente tem a finalidade de produ­ zir nos pais a maior culpa possível — é algo que os pais e as mães temem ouvir! Contudo, Isaías 55 exclama: “Não é Justo”. E aqui essas palavras têm o propósito de agradar. Apenas imagine alguém vir até você, e começar a falar como Isaías faz nesta passagem. “Você está com sede e com fome? Bem, pelo amor de Deus, venha até aqui! O quê? Você não pode pagar pelo que precisa? Tudo bem. Aqui você pode comprar sem dinheiro e sem preço.” “Sim, eu sei que não é justo. Você acha que deveria pagar pelo que compra. Mas você está com fome. Então esqueça o que é justo. Venha juntar-se à ce­ lebração.”

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E, “Espere um pouco! Quero falar com você. Você sabe, tem feito da sua vida uma verdadeira ba­ gunça. Você começou a caminhar em direção ao inferno. Os seus caminhos são maus e os seus pen­ samentos são malignos.” “Não. Espere um minuto. Não fuja. Este papel que estou segurando não é a sua ordem de execução. É um perdão. Sim, isso mesmo. Um perdão total.” “0 , eu sei que não é justo. Você merece o mais terrível castigo que Deus pode imaginar. Mas o que Deus quer dar a você é paz, alegria e canto. Ele quer dar a você uma terra ampla e bonita onde até mesmo as árvores do campo baterão palmas, e nenhum espinheiro crescerá.” “Por quê? Bem, não sou capaz de explicar. Tudo o que sei é que os pensamentos de Deus não são os nossos pensamentos, e os seus caminhos não são os nossos caminhos. Achamos que tudo tem que ser justo. Deus entende que o que é justo não funcio­ na quando se trata do nosso relacionamento com Ele. E então, em vez de ser justo, Deus decidiu ser misericordioso e amoroso.” “Por quê? Não compreendo isso!” “Mas posso lhe dizer uma coisa. Três das palavras mais maravilhosas em qualquer idioma são”: “Não é justo”.

Visão Geral O pecado de Judá era grande, mas um povo peni­ tente será remido pelo Senhor (59.1-21). Naquele dia, Sião será gloriosa (60.1-22), e o seu povo aben­ çoado (61.1-11). Então finalmente a terra e o seu povo serão santos (62.1-12).

Entendendo o Texto “A s vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus” (Is 59-1,2). Deus firmemente pretende abençoar o seu povo. No entanto, Judá não tinha experimentado a bênção. Quando uma coisa como essa acontece, algumas pessoas certamente tentam culpar a Deus. Isaías retratou os seus contemporâneos reclamando que a audição de Deus era ruim, ou que o seu braço esta­ va um pouco aleijado, de forma que Ele não podia fazer milagres como costumava fazer. Mas essa não foi a explicação. A culpa não estava em Deus, mas no povo. O pecado humano é a barreira que nos separa de Deus. O que o profeta quis dizer é que o pecado é como um espelho que tem um único sentido. A luz passa através dele de um lado, mas é refletida de volta pelo outro. Semelhantemente, o pecado não é bar­ reira para o juízo. Ele atravessa facilmente. Mas o pecado é uma barreira para a bênção. Não importa com que esforço se busque a bênção; as orações dos Aplicação Pessoal Não use o que é justo como a medida da maneira pecadores são refletidas de volta, sem resposta. como você trata os outros. Use a graça. “A s nossas transgressões se multiplicaram perante ti” (Is 59.9-16). O primeiro passo para lidar com o Citação Importante pecado pessoal é reconhecê-lo. O mesmo aconte­ Nós somos a única Bíblia ce com o pecado nacional. Devemos nos agarrar à Que o mundo negligente lerá, realidade da nossa situação, e nos voltar para Deus Nós somos o evangelho do pecador, Nós somos o credo do escarnecedor, sem ilusões. Nós somos a última mensagem do Senhor, A pessoa que diz: “Bem, não estamos tão mau Expressos em ações e palavras. quanto alguns”, está em uma situação tão desespeE se a nossa vida não estiver de acordo? radora quanto os piores pecadores deste mundo. E se a nossa “impressão” estiver borrada? Não é agradável ser tão honesto com nós mesmos — Annie Johnson Flint quanto Isaías foi em 57.12-15a. Mas exatamente esse tipo de honestidade brutal é a preparação ne­ 27 DE MAIO LEITURA 147 cessária para receber o perdão e a purificação que O AMANHECER DE UMA Deus está ansioso para estender. NOVA ERA Isaías 59— 62 “O seu próprio braço lhe trouxe a salvação” (Is 59.17-20). O profeta retratou a Deus consterna­ "Nunca mais te servirá o sol para luz do dia, nem do, pois não havia ninguém para interceder por com o seu resplendor a lua te alumiará; mas o Senhor aqueles que o pecado havia arruinado. Ele viu o será a tua luz perpétua, e o teu Deus, a tua glória” Senhor em pé e assumir atributos associados à re­ (Is 60.19). denção como se eles fizessem parte de uma arma­ dura de guerreiro. Nós podemos ter apenas um vislumbre do futuro Que atributos críticos estão associados à reden­ que Deus tem em mente para o seu povo. Mas o ção? ( 1 ) 0 peitoral da “sua própria justiça”. Deus que vemos é glorioso. está comprometido a fazer a coisa certa, com

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que os nossos “dias de tristeza terão fim”. Ninguém pode roubar o futuro de nós. Sabemos com certeza que no tempo de Deus “o Senhor será a [nossa] luz perpétua”.

muito amor. É por isso que o Servo Sofredor de Isaías 53 teve que morrer: “para levar sobre si [pa­ gar] os pecados de muitos”. (2) O “capacete da salvação”. Deus escolheu deliberadamente salvar aqueles que foram destruídos pelo pecado. E (3) “vestes de vingança”. Aqueles que não buscarem a Deus com fé, temendo e reverenciando o nome de Deus, devem sofrer as consequências das suas más ações. O que acontecerá quando Deus se levantar, e vier a Sião como o Redentor do seu povo? Para aqueles que se arrependeram, Deus promete que terão a posse permanente do seu Espírito e da sua Palavra, “desde agora e para sempre”. “A s tuasportas estarão abertas de contínuo”(Is 60.11). No mundo antigo as portas de uma cidade murada eram fechadas à noite, para impedir a entrada de ladrões, ou qualquer força inimiga que ameaçasse a vizinhança. A promessa de Deus de que as portas de Sião estarão abertas de contínuo é símbolo da paz perpétua. Quando o Redentor vier, nada ame­ açará o povo de Deus. A promessa se torna explícita posteriormente no capítulo. “Nunca mais se ouvirá de violência na tua terra”, diz Deus, “de desolação ou destruição, nos teus termos; mas aos teus muros chamarás salva­ ção, e às tuas portas, louvor”. O restante da passagem usa imagens que são en­ contradas no livro de Apocalipse, e usadas ali com relação à Nova Jerusalém, que será erigida em uma terra recém criada e santa (cf. Ap 21). O que o valor dessas passagens, que descrevem um tempo na margem extrema do futuro de Deus, tem para você e eu hoje? Talvez o mais importante seja que elas nos dizem exatamente para onde estamos indo, e o que nos espera no futuro. Embora o pre­ sente possa ser doloroso, recebemos a garantia de

DEVOCIONAL______ Ele Roubou o meu Futuro

(Is 60) Ela tinha uma grande vitalidade. Embora tivesse dois filhos, parecia ser muito jovem — como se tivesse acabado de sair da escola. Ela também era bem-sucedida. O workshop de aeróbica que ela ministrava foi adotado pelo nosso time de futebol profissional local. E além de tudo, tinha um mari­ do que a amava. Então ela machucou as costas. Como a dor não queria ir embora, ela seguiu o con­ selho do seu médico e submeteu-se a uma cirurgia nas costas. Nessa cirurgia algo terrível aconteceu.

“O Senhor me ungiu” (Is 61.1,2). Um dia, cerca de sete séculos depois de Isaías, Jesus de Nazaré desenrolou o pergaminho que continha a profe­ cia de Isaías. Ali, em sua sinagoga local, Jesus leu as palavras do profeta, identificando a si mesmo como aquEle a quem o Senhor havia ungido “para pregar boas-novas aos mansos” e para “restaurar os contritos de coração”. Mas Jesus interrompeu a sua leitura no meio da frase. O que Ele leu iden­ tificou a sua missão para “apregoar o ano aceitável do Senhor” — mas Ele parou ali. Por quê? Porque as próximas palavras eram, “e o dia da vingança do nosso Deus”. Já se passaram cerca de 2.000 anos desde a pro­ clamação de Cristo do ano aceitável do Senhor. Um dia, diz a Bíblia, Jesus voltará “como laba­ reda de fogo” para “tomar vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho” (2 Ts 1.6-10). Ele implicitamente re­ conheceu que séculos se passariam entre a sua pri­ meira vinda e a sua volta. Estes séculos são “o ano aceitável do Senhor”. Em suma, este é o tempo durante o qual Jesus é visto pendurado na cruz, ou ressuscitado triunfantemente, nos chamando a ir a Deus através dEle. Em breve, o ano aceitável do Senhor terá fim. Então Jesus será visto outra vez, desta vez em tre­ mendo esplendor — Ele virá para executar o “dia da vingança do nosso Deus”. Cada homem e mulher assumirão o Jesus que es­ colheram. O Salvador, que morreu por amor aos pecadores, ou o vingador, que castiga aqueles que amam pecar. Nervos foram inadvertidamente cortados. Ao sair da cirurgia, ela ficou sabendo que a dor continu­ aria com ela. E que tinha perdido o controle dos intestinos e da bexiga, e perdido a habilidade de se locomover, exceto com um desajeitado andador de metal. Desesperada foi aos melhores hospitais de nosso estado e também de outros. Os médicos apenas menearam as suas cabeças negativamente. Não havia nada que pudessem fazer. Não agora. Com o deslizar do bisturi de cirurgião, o médico havia roubado o seu futuro. Muitos de nós sabemos o que é ter o nosso futuro

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roubado. As coisas que planejamos e ansiávamos podem ser tomadas pela morte de um ente que­ rido. Por um emprego perdido. Por uma doença. Pela guerra, fogo ou assalto. Não há garantias dadas a qualquer um de nós pelo que o amanhã possa nos reservar. Mas mesmo assim, ninguém pode realmente roubar o nosso futuro. Sim, pessoas como aquele cirurgião podem roubar o amanhã. Mas além do amanhá, você e eu temos tesouros que ninguém pode to­ car. Nas palavras de Isaías, ansiamos por um tempo em que “o Senhor será a [nossa] luz perpétua, e o [nosso] Deus será a [nossa] glória. O [nosso] sol jamais se porá outra vez, e a [nossa] lua não min­ guará mais; o Senhor será a [nossa] luz perpétua, e os [nossos] dias de tristeza terão fim”. Como é bom nos lembrarmos de que mesmo que alguém ou algum acontecimento nos roube o ama­ nhã, aquEle que está além do amanhã, o nosso fu­ turo eterno, permanecerá seguro. Aplicação Pessoal Quando você olhar para frente, certifique-se de olhar longe o bastante, para que possa se sentir seguro. Citação Im portante “A piedade é uma das emoções mais nobres dispo­ níveis nos seres humanos; a autopiedade é possivel­ mente a mais ignóbil. A piedade é a capacidade de sentir a dor de outrem a fim de fazer algo a respei­ to; a autopiedade é uma incapacidade, uma doença emocional mutiladora, que distorce severamente a nossa percepção da realidade. A piedade é a adre­ nalina para os atos de misericórdia; a autopiedade é um narcótico que deixa os seus viciados inúteis e negligentes.” — Eugene H. Peterson 28 D E M AIO LEITURA 148 PAZ INFINITA Isaías 63— 66 “Como os céus novos e a terra nova que hei de fazer estarão diante da minha face, diz o Senhor, assim há de estar a vossa posteridade e o vosso nome” (Is 66.22). Além do juízo, no fim dos tempos se encontra uma paz e uma alegria infinitas. Assim como além da cruz, a paz aguarda a pessoa que vem a Jesus. Visão Geral Uma visão do dia apocalíptico da vingança de Deus (63.1-6) moveu Isaías a uma oração desesperada pelo seu povo (v. 7— 64.12). Deus respondeu. Os pecadores devem ser castigados, mas um remanes­

cente de Israel sobreviverá (65.1-16). Deus então criará um novo céu e uma nova terra (w. 17-25). Após o juízo, Sião será repentinamente repovo­ ada (66.1-17), e todos os povos adorarão como irmãos diante do trono de Deus (w. 18-24). Entendendo o Texto “Assim guiaste ao teu povo” (Is 63.7-19). Como os salmistas e os outros profetas, Isaías buscou a his­ tória em um esforço para entender a Deus. Em sua oração Isaías recordou a bondade de Deus no passado, e percebeu que a rebelião de Israel fez com que Deus se voltasse contra eles. No entanto, a imagem de Deus como um Redentor afetuoso e compassivo persistiu. Onde estava o Deus de amor que o seu povo havia conhecido? Por que é permitido que os inimigos pisem na herança de Deus e em seu lugar santo? Conflitos similares entre o Deus que conhecemos e a experiência do presente têm perturbado os santos ao longo dos séculos. Podemos pergun­ tar: “Por que, ó Senhor?” Mas nestes momentos precisamos nos lembrar de que a revelação tem a prioridade sobre a experiência. Os nossos sentimentos e as nossas experiências não fornecem nenhum conhecimento certo a res­ peito de Deus. Isso está reservado para a história e a Escritura. Somente se nos agarrarmos a essas duas fontes de certeza viveremos em esperança. “Para que sejamos salvos" (Is 64.1-12). Isaías per­ guntou: “Por quê?” Mas no caso do antigo Israel, ele sabia a resposta. Israel continuava pecando contra Deus, e evocou a sua ira. A correção ajudará? Deus se compadecerá se o seu povo se arrepender? A crença de Isaías era, no caso de Israel, não. “Todos nós somos como o imun­ do”, diz Isaías, “e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia”. Deus escondeu o seu rosto (isto é, afastou-se) do seu povo e os fez derreter, por causa das suas iniquidades (v. 7). Então o que um pecador pode fazer quando final­ mente percebe que o seu melhor é menos do que nada e que até mesmo a sua “justiça é como trapo de imundícia”? Isaías voltou ao princípio, para a intenção de Deus. Deus é o “nosso Pai”. Ele é a fonte da existência de Israel como um povo. Como um oleiro, Deus for­ mou esses descendentes de Abraão. A esperança de Isaías era que Deus não abandonasse a obra das suas mãos, e “nem perpetuamente” se lembrasse “da ini­ quidade”. Você e eu damos a mesma resposta quando nos perguntam: “Que faremos para que sejamos sal­ vos?” Nada que façamos pode nos ajudar. Os

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do Senhor, e os seus descendentes, com eles. E será que, antes que clamem, eu responderei; es­ tando eles ainda falando, eu os ouvirei. O lobo e o cordeiro se apascentarão juntos, e o leão comerá palha como o boi; e o pó será a comida da serpen­ te. Não farão mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor” (w. 23-25).

atos mais justos do homem são como trapos de imundícia. Mas nós também podemos voltar ao princípio! Podemos perceber que Deus criou os seres humanos à sua imagem, para serem amados e para amá-lo. A nossa esperança está baseada na crença de que Deus não abandonará as obras das suas mãos, mas agirá para nos remir, apesar dos nossos pecados. Essa é a mensagem central das Boas-Novas glo­ riosas do evangelho. Deus agiu, em Jesus Cristo, para nos remir. Alegremente abandonamos a nos­ sa pretensão de justiça, e então aceitamos a salva­ ção que Ele tão bondosamente escolheu nos dar, apesar dos nossos pecados. “Eis que eu crio” (Is 65.17-25). Após o juízo, Deus criará “para Jerusalém alegria e para o seu povo, gozo”. Estabelecidos em uma nova terra que esta­ rá estabelecida em novos céus, finalmente perce­ beremos o que a terra original poderia ter sido se o homem não tivesse pecado. A descrição clássica cativa tanto o desejo do ho­ mem que ela é repetida não só em Isaías, mas também na grande literatura do mundo. “Não trabalharão debalde, nem terão filhos para a perturbação, porque são a semente dos benditos

“Os céus novos e a terra nova que hei de fazer esta­ rão diante da minha face” (Is 66.1-24). Hoje todas as coisas mudam. Em nosso bairro um financis­ ta está construindo, ele mesmo, uma casa de 15 milhões de dólares. Ela tem piscinas, uma pista de boliche, e outras instalações, tudo controlado por um complicado sistema de computador. Até mesmo o “quarto de hóspedes” é maior do que as casas em que a maioria dos americanos mora. Ironicamente, pode ser que ele jamais more neste palácio particular que está construindo para si mes­ mo. Ele foi indiciado por fazer negócios usando informações sigilosas, por fraude, e vários outros crimes. Que contraste com a Nova Jerusalém de Deus. A “casa” que Deus planeja é projetada para ser ha­ bitada por um povo alegre, reunido de todas as nações e línguas. E os novos céus e nova terra que Deus projetou, permanecerão.

Os lavradores hebreus amarravam as suas túnicas em suas cinturas quando pisavam as uvas maduras. Mesmo assim, os sucos excelentes manchavam suas pernas e suas vestes. Em uma das imagens mais vívidas das Escrituras, Isaías 63.1-6 retrata Deus no dia do juízo, terrível em sua força, pisando o mundo como os lavradores pisam as uvas maduras, com os respingos do sangue dos ímpios em suas vestes.

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DEVOCION AL__________ Esta É a Verdade do Evangelho está posicionado entre os seres humanos e o castigo (Is 65) O conceito de inferno perturba muitas pessoas. Como poderia um Deus bom e amoroso destinar alguém a uma eternidade que o Apocalipse chama de “lago de fogo”? O fato é: Deus não faz isso! O capítulo 64 contém o apelo de Isaías por uma salvação que depende de Deus, visto que os melho­ res esforços do homem são apenas trapos de imun­ dícia aos olhos do Senhor. Nesse capítulo Deus respondeu a oração de Isaías. Ele disse ao profeta que sempre esteve ansioso para salvar. Mas que o Israel obstinado rejeitou a sua graça. Mesmo assim a descendência de Jacó, e de Judá possuirá “os meus montes; e os meus eleitos herdarão a terra”. As pes­ soas que buscarem a Deus serão salvas, apesar dos seus pecados. Mas então Deus fala das pessoas que continuam ' a se “apartar do Senhor”, e se “esquecem do seu santo monte’”. Tais pessoas são destinadas à espa­ da; são marcadas para morrer. Mas observe. Não é que Deus tenha escolhido o destino delas. Deus fez tudo o que podia para salvá-las. Ele as chamou, mas não responderam. Ele falou, mas não ouviram. Em vez disso, escolheram o que desagradava a Deus (65.12). Essa é uma verdade importante, que deve ser enten­ dida, e faz parte do evangelho. Sim, alguns partirão para o castigo eterno. Mas não é Deus que fixa o destino de um homem. E o próprio homem. A única maneira de uma pessoa ser condenada ao inferno é ela mesma se condenar, recusando-se a responder à revelação que Deus faz do seu poder e do seu amor. Portanto, se você conhece alguém que está preocu­ pado, pensando que Deus possa mandá-lo para o inferno, compartilhe as Boas-Novas. Deus não irá mandá-lo para o inferno. A única pessoa que pode fazer isso é a própria pessoa. Em vez disso, Deus

eterno, ainda chamando, ainda falando, ainda pro­ metendo o perdão. Tudo o que é necessário fazer é estender a mão e aceitar a salvação como um dom gratuito. E esta é, certamente, uma boa-nova.

Aplicação Pessoal Céu ou Inferno. A escolha é realmente nossa. Citação Im portante “Amos Gbaa da Libéria me ensinou muitas coi­ sas, embora eu fosse o seu professor. O trabalho de Amos era traduzir cada seção [da Escritura] e identificar as partes que precisavam de melhoria. Quando chegou uma frase em que eu havia usado a palavra ‘oferta’, Amos havia usado a palavra ‘dom’ ou ‘presente’. “Eu expliquei a importância da distinção. O evan­ gelho não é ‘dado’ mas ‘oferecido’. A pessoa que ouve deve fazer uma escolha.” “Amos disse que eu não estava entendendo o seu ponto de vista. ‘Na Libéria nós não fazemos ofer­ tas’, ele disse. ‘Nós só damos presentes. Se eu for à sua casa e disser: Aqui está um abacaxi do meu campo, isso não é uma oferta. E melhor você acei­ tá-lo. Se não aceitá-lo, você estará me fazendo um terrível insulto’”. “Eu pensei mais a esse respeito. Com uma oferta, o comprador é totalmente livre para decidir a favor ou contra o produto, ou para simplesmente ignorálo. O ouvinte do evangelho, por outro lado, pode aceitá-lo ou rejeitá-lo, mas não ignorá-lo, porque ele é um dom ou presente. Amos estava certo. Atra­ vés do evangelho, Deus está dando a você o dom da vida.” — Stan Nussbaum

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O Plano de Leituras Selecionadas é concluído aqui.

JEREMIAS INTRODUÇÃO Jeremias ministrou nas quatro décadas" turbulentas que precederam a queda de Jerusalém, ocorrida em 15— 16 de março de 597 a.C. Essas décadas foram marcadas pelo súbito colapso da Assíria, e uma subsequente luta de forças entre o emergente império babilônio e um Egito ressurgente. Presa no meio, a minúscula Judá vacilava, alternadamente se rebelando e se submetendo a um, e depois ao outro, dos grandes poderes. Próximo ao início do ministério de Jeremias, Josias instituiu algumas reformas religiosas. Apesar das reformas, Jeremias advertiu a nação de que em breve sofreriam invasão e exílio. Corajosa­ mente, Jeremias confrontou Josias com os pecados que exigiam juízo divino. Mas uma Judá endurecida recusou-se a ouvir os avisos do profeta. O próprio Jeremias sofreu perseguição e foi rejeitado por seus compatriotas. Mas ele viveu para ver cumpridas as suas predições de desastre, e os que o atormentaram serem silenciados. Apesar de seu ministério de condenação, Jeremias também transmitiu uma mensagem de esperança. Judá iria cair. Mas Deus faria um novo concerto com o seu povo infiel. Em um dia futuro, ainda que distante, os pecados de Judá seriam perdoados, e o seu povo teria um novo coração. A vigorosa apresentação que Jeremias faz da promessa do novo concerto de Deus torna este livro resplandecente de esperança, apesar de seu repetido tema de julgamento. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. A Missão de Jeremias............................................................................................................................. Jr 1— 10 II. O Concerto Rom pido...................................................................................................................... Jr 11— 20 III. O Juízo Está Próximo...................................................................................................................... Jr 21— 29 IV. Promessas do Novo Concerto........................................................................................................ Jr 30— 38 V..A Jerusalém Caída.............................................................................................................................. Jr 39— 51 VI. Apêndice Histórico.................................................................................................................................... Jr 52 GUIA DE LEITURA (10 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 149 150 151 152 153 154 155 156 157 158

Capítulos 1 2— 6 7— 10 11— 15 16— 20 21— 29 30— 33 34— 39 40—45 46— 52

Passagem Essencial passagens selecionadas 3— 4 9.17— 10.16 15 19— 20 29 31— 32 38 45 50— 51

JEREMIAS 29

DE M AIO LEITURA 149

UM HOMEM COM UMA MISSÃO Jeremias 1

“A ntes que eu te formasse no ventre, eu te conheci; e, Aqui é apresentada uma breve cronologia dos anos antes que saísses da madre, te santifiquei e às nações te tumultuados durante os quais este profeta viveu e ministrou. dei por profeta” (Jr 1.5). Jeremias é frequentemente chamado de “profeta chorão”. Ele foi chamado por Deus para sofrer com um povo destinado ao juízo, que persistente­ mente rejeitou o profeta e a sua mensagem. Nós podemos desejar ser comissionados pelo Senhor para algum ministério vital. Mas Jeremias nos lembra de que a espiritualidade proeminente tem um preço a pagar.

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Visão Geral Jeremias foi encarregado de comunicar a palavra do Senhor em um período crítico da história de Judá. Esse capítulo registra o seu chamado, e fornece a chave para entender tanto as pressões sobre o servo de Deus quanto as promessas que o sustentavam.

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Entendendo o Texto “Durante o reinado” (Jr 1.1-3). Os primeiros ver­ sículos do livro de Jeremias especificam os reis durante cujos reinados o profeta clamou ao povo de Deus. O chamado de Jeremias teve lugar du­ rante o reinado do devoto rei Josias, em 627 a.C., e os primeiros 10 capítulos deste livro registram mensagens transmitidas durante o reavivamento de Josias. Os capítulos 21— 39 registram mensa­ gens transmitidas durante os reinados dos maus governantes, Jeoaquim e Zedequias. Em 587 a.C. Jeremias foi aprisionado por traição, e os capítulos 40— 52 registram os eventos culminantes da sua vida — e da queda de Jerusalém.

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Governo do ímpio Manassés. Nasce Josias. Amom sucede Manassés. Josias sucede Amom. Josias se converte ao Senhor. Morre Assurbanípal da Assíria. Josias inicia as reformas. Jeremias inicia o seu ministério. Nabopolassar se torna rei da Babilônia. O livro da Lei é encontrado no Templo. Nínive, capital assíria, é tomada pelos babilônios. Josias é morto em batalha. Jeoacaz governa por três meses. Jeoaquim é colocado no trono pelos egípcios. Os egípcios são derrotados pelos babilônios. Nabucodonosor se torna rei da Babilônia. Os primeiros judeus cativos são de­ portados à Babilônia. O grupo incluía Daniel.

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direitos como um ser humano separado. Talvez o exemplo de Jeremias de comprometimento com uma causa impopular, apesar da ridicularização e da violência da sua sociedade, possa nos encorajar a tomar posição, com Deus, a favor dos não nasci­ dos, e não contra eles.

A Babilônia invade o Egito, e é obrigada a retroceder. Joaquim se torna rei de Judá, mas é levado à Babilônia em abril de 597. Zedequias se torna rei de Judá. Os babilônios iniciam o cerco de Jerusalém em 15 de janeiro. Jerusalém cai, em 14 de agosto. Tem lugar a deportação final. O governador babilônio de Judá é assassinado em 7 de outubro. Os judeus remanescentes rejeitam o conselho de Jeremias e fogem para o Egito.

Durante este período, a Palavra de Deus é mais desesperadamente necessária. Mas essa palavra, transmitida pelo porta-voz de Deus, Jeremias, era constantemente rejeitada pelo povo judeu e seus governantes, náo obstante que o seu mundo esti­ vesse desmoronando à sua volta. Precisamos ser particularmente sensíveis à Palavra de Deus nos nossos próprios momentos de estresse, ainda que o que ouvimos condene nossas atitudes e desafie nossos valores. Em última análise, a Palavra de Deus náo tem a intenção de destruir, mas de curar. “Eu te formei no ventre” (Jr 1.5). Essas palavras ditas a Jeremias nos lembram de que Deus está profundamente envolvido na formação de cada ser humano, desde a concepção. Por um lado, isso é um grande consolo. Deus conheceu a você e a mim como indivíduos, antes do nosso nascimento. Ele nos conheceu, nos amou e participou de cada es­ tágio do nosso desenvolvimento. Os dons e talen­ tos que você tem foram cuidadosamente nutridos, quando você ainda se desenvolvia no embrião. Isso quer dizer que você e eu podemos nos alegrar por quem somos. Somos as pessoas que Deus preten­ deu que fôssemos. As capacidades que temos são os seus dons, e Ele pode usar você e a mim para a sua glória. Por outro lado, esse versículo nos oferece um de­ safio. Muitos se confundem com a retórica dos modernos que não julgam valioso o feto humano, eliminando os não nascidos como uma parte insig­ nificante do corpo de uma mãe, tão facilmente des­ cartável quanto o cabelo que é comprido demais, ou uma unha quebrada. As palavras de Deus a Je­ remias: “Eu te formei no ventre”, nos confrontam com o fato de que a criança não nascida é um indi­ víduo separado, precioso para Deus e com plenos

“Sou uma criança” (Jr 1.6-8). No tempo em que Deus chamou Jeremias, quando ele era ainda mui­ to jovem, no início dos seus vinte anos, ele se sentia terrivelmente vulnerável e inadequado. Ele certa­ mente tinha seus motivos. Jeremias tinha crescido em uma família sacerdotal, durante o reinado de Manassés, que tinha assassinado muitos homens religiosos. Ele era jovem e inexperiente, inseguro de si mesmo, como qualquer jovem pode se sentir. A ideia de que Deus o considerava especial, e tinha uma missão especial para ele, era devastadora. E apropriado, quando iniciarmos em qualquer ministério, compartilhar as emoções de Jeremias. Somos, em nós mesmos, inadequados, como meras crianças. A pessoa que inicia qualquer serviço espiritual com arrogante autoconfiança certamente fracassará. Precisamos compreender, como Jeremias compre­ endeu, que não importa quais sejam os dons natu­ rais que Deus nos deu, não podemos fazer nada em nós mesmos, nem por nós mesmos. Neste caso, no entanto, os protestos de Jeremias indicam mais do que mera humildade. A objeção do futuro profeta foi rejeitada, como se ele estivesse usando o seu sentimento de fraqueza como uma desculpa para rejeitar o chamado de Deus. Deus respondeu, “Irás”. No entanto, mesmo a repreen­ são de Deus transmite uma promessa. Deus disse a Jeremias que não tivesse medo, “porque eu sou contigo para te livrar”. Quando Deus convoca qualquer pessoa para um ministério, Ele se compromete a estar com este in­ divíduo. Deus estará com você enquanto o servir, apesar das suas fraquezas, e apesar de quaisquer te­ mores que você possa ter. “Sobre as nações e sobre os reinos” (Jr 1.9-16). Esses versículos fornecem uma visão prévia da mensa­ gem que Jeremias iria transmitir a Judá. Era uma mensagem impopular, pois transmitia a intenção que Deus tinha, de trazer um poderoso reino novo do norte sobre o seu povo e a sua terra. Foi dito a Jeremias, como profeta de Deus, que ele estaria “sobre” os reinos deste mundo. Isto é, eles se comportariam como ele dissesse que o fariam. Com frequência nos julgamos sujeitos aos pode­ res políticos da nação na qual vivemos, jeremias foi lembrado de que a verdadeira autoridade per­

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tence a Deus — e que uma pessoa que proclama a Palavra de Deus é maior do que qualquer poder terreno. Em última análise, o mundo irá se sub­ meter à autoridade de Deus, e certamente fará o que Ele desejou. Você e eu também vivemos em tensão, entre as forças deste mundo e a Palavra de Deus. Se nos comprometermos a fazer a vontade de Deus e a viver em conformidade com a sua Palavra, nós, como Jeremias, estaremos “sobre as nações e sobre os reinos”. “Cinge os teus lombos” (Jr 1.17-19). Jeremias esta­ va prestes a partir para uma grande aventura. Ele tinha sido chamado para viver, não segundo os valores e as crenças da sua sociedade, mas segundo a palavra de Deus. E ele tinha sido chamado para proclamar esta Palavra, qualquer que pudesse ser

DEV OCIONAL______ O Preço do Compromisso

(Passagens selecionadas) Se nós folhearmos as páginas seguintes do livro de Jeremias, aprenderemos algo sobre o preço que ele teve que pagar por causa do seu comprometimen­ to completo com Deus. A sua mensagem era tão impopular que alguns realmente conspiraram para matá-lo (cf. 11.1820). Outros tentaram neutralizar a influência de Jeremias, caluniando-o. Disseram, “Vinde, e firamo-lo com a língua e não escutemos nenhuma das suas palavras” (18.18). Outros, ainda, sim­ plesmente ridicularizaram o fiel profeta de Deus. Isso, aparentemente, foi o que mais magoou Jere­ mias, pois ele escreveu: “Sirvo de escárnio todo o dia; cada um deles zomba de mim... Porque se tornou a palavra do Senhor um opróbrio para mim e um ludíbrio todo o dia”. (20.7,8) Posteriormente, Jeremias foi aprisionado e a sua vida ameaçada por governantes de Judá. Ele foi acusado de traição e considerado uma desgraça nacional. Nada disso era fácil para o sensível profeta. Em uma passagem que capta o desespero que ele fre­ quentemente sentia, Jeremias clamou: “Maldito o dia em que nasci”. E concluiu o seu clamor com este lamento: “Por que saí da madre para ver tra­ balho e tristeza e para que se consumam os meus dias na confusão?” (w. 14,18) Mas Jeremias não terminou os seus dias na vergo­ nha. As suas predições de maldição se tornaram

o custo para ele, pessoalmente. Agora, Jeremias tinha que se preparar: ele tinha que tomar uma decisão firme, e comprometer-se somente com o caminho de Deus. Você e eu somos desafiados a fazer o mesmo com­ promisso. Não devemos ser levados pela vida, crendo em Deus, mas vivendo como homens e mulheres do mundo. Devemos assumir uma posi­ ção como Jeremias. Devemos tomar uma decisão firme para viver em conformidade com a Palavra de Deus, e dar testemunho dela. Novamente o desafio de Deus é acompanhado por uma promessa. Uma promessa que você e eu, como Jeremias, podemos reivindicar. “Eis que te ponho hoje por cidade forte... pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; porque eu sou contigo, diz o Senhor, para te livrar” (w. 18,19).

realidade, e foram os seus inimigos que se enver­ gonharam, no final. Ainda assim, o que sustentou Jeremias ao longo dos anos difíceis não foi a convicção de que estava certo, mas uma profunda compaixão por aqueles a quem ele falava. Jeremias advertiu sobre o juí­ zo — com a esperança de que alguns ouvissem, se arrependessem e fossem salvos. “O Senhor me enviou a profetizar contra esta casa e contra esta cidade”, afirmava um de seus sermões. Mas ele tinha uma grande esperança em relação aos seus ouvintes: “Melhorai os vossos caminhos e as vos­ sas ações e ouvi a voz do Senhor, vosso Deus, e arrepender-se-á o Senhor do mal que falou contra vós” (26.12,13). Sim, se nos comprometermos plenamente com o Senhor, haverá um preço a pagar. Mas como a Palavra de Deus é verdadeira, provaremos estar certos, no final. Até então, seremos sustentados pela consciência de que a nossa fidelidade poderá ser o meio de trazer outros ao Senhor. Aplicação Pessoal As recompensas do compromisso excedem, em muito, qualquer custo. Citação Im portante “Eu saio para pregar com duas propostas em men­ te. Em primeiro lugar, todos devem entregar a sua vida a Cristo. Em segundo lugar, independente­ mente de alguém entregar ou não a sua vida a Ele, eu Lhe entregarei a minha.” — Jonathan Edwards

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sar o nosso amor exatamente da mesma maneira. Mas se nós crescemos no nosso relacionamento com o Senhor, olhar para trás e recordar pode nos trazer aquele mesmo sentimento de renovada intimidade “Sábios são para malfazer, mas para bem fazer nada que minha esposa e eu sentimos em Michigan. E se recordar não nos trouxer nenhuma alegria, nós po­ sabem” (Jr 4.22). demos interpretar isso como um aviso de Deus, de Os pecados de Judá são expostos, e o juízo é defini­ que devemos investigar e verificar se nos desviamos. do. Jeremias julgava amargo o seu ministério, pois seu coração angustiado sabia que o povo de Judá “O meu povo fez duas maldades” (Jr 2.10-37). Essa jamais ouviria nem se arrependeria. passagem assume a forma de um rib, ou uma acu­ sação apresentada em tribunal. Deus fez duas sérias Visão Geral acusações contra Judá. Judá tinha abandonado a Deus, em favor de ídolos O povo de Deus o tinha abandonado, a Ele, o pagãos, apesar da sua preocupação amorosa (2.1- “manancial de águas vivas”. Era a água que fazia 37). Mesmo assim, a Judá espiritualmente infiel que a Terra Santa tivesse safras. Assim, a água era a foi convidada a retornar (3.1-25) antes que o juízo única coisa essencial de que Judá precisava para ter viesse do norte (4.1-31). A reforma religiosa de Jo- prosperidade. Embora Deus fosse a única necessi­ sias não tinha comovido o coração de Judá (5.1- dade completa na vida do seu povo, Ele “há muito 31) e o inimigo estava encarregado de punir a Ci­ quebrava o teu jugo e rompia as tuas algemas”; e dade Santa (6.1-16). Todos os que ouviam Jeremias diziam eles, “Não quero servir-te” (v. 20, ARA). ficavam em uma encruzilhada: a escolha que eles O pecado, cada vez mais sério, de Judá, foi cavar fizessem determinaria o seu destino (w. 17-30). “cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas”. As cisternas eram poços subterrâneos onde a água Entendendo o Texto era armazenada para ser usada durante as secas. “A beneficência da tua mocidade” (Jr 2.1-8). Na se­ Aqui, elas representam os deuses pagãos para os mana passada, minha esposa e eu caminhávamos quais Judá se voltou. As duas decisões combina­ pela praia na pequena cidade de Michigan onde das, de rejeitar a Deus e de se voltar à idolatria, nos conhecemos. Foi uma ocasião especial, pois são inexplicáveis. Nenhuma nação pagã jamais nos lembrávamos de como aquele encontro tinha trocou os seus deuses. Mas Judá abandonou o Se­ crescido e se tornado amor, e tinha levado à desco­ nhor. Algo mais próximo de uma explicação é for­ berta de que Deus pretendia que nos casássemos. É necido nos versos 23,24. O povo de Judá tinha se assim que deve ser olhar para trás, para o primeiro comportado como uma jumenta selvagem no cio, amor. Sim, o nosso amor mudou, à medida que dominada por um desejo incontrolável. Não existe vivemos juntos. Mas a mudança se deu em razão explicação racional para alguém rejeitar a Deus, e do crescimento e da maturidade. Agora, nós somos muito menos para procurar uma ajuda espiritual, mais próximos. Mas lembrar daquele amor ainda ou outro tipo de ajuda, em outra parte! tem o poder de nos fazer sorrir, e olhar, um para o Talvez seja esta a mensagem dessa lamentação. Os outro, com um afeto ainda mais profundo. seres humanos não são “racionais” ao fazer escolhas. Que contraste vemos aqui. Deus sente somente Em vez disso, nos encontramos, frequentemente, dor, quando olha para trás, para o seu relaciona­ dominados pelo pecado, que se expressa como uma mento com o povo de Israel e Judá. O amor da rejeição instintiva ao único Deus verdadeiro, e por esposa que o seguia então não desapareceu, sim­ uma fome que faz com que os homens se voltem a plesmente. Apesar de todas as bênçãos que Deus outras partes, em busca de substitutos. Somente a derramou sobre os seus (w. 6,7), o povo que Ele graça de Deus pode preservar qualquer um de nós amava tinha se afastado dEle, e eles “andaram após do poder do pecado interior. Somente a graça de o que é de nenhum proveito”. Deus pode nos ajudar a recordar os seus benefícios Somente uma pessoa que foi traída por um espo­ e honrar ao Senhor como a única fonte essencial so ou uma esposa que amava pode compreender a para o nosso bem estar. profundidade da dor de Deus — ou a seriedade do pecado de Judá. “Tu tens a testa de uma prostituta” (Jr 3.1-13). Essas Nós precisamos olhar para trás, para aqueles dias em primeiras mensagens de Jeremias foram transmitidas que conhecemos o Senhor, e nos lembrar do nosso durante o avivamento religioso promovido pelo de­ primeiro amor por Deus. Podemos não sentir exata­ voto rei Josias. Essa reforma é descrita em 2 Crônicas mente a mesma coisa que sentimos então, ou expres­ 34— 35. Josias reformou o Templo e voltou a insti30 D E MAIO LEITURA 150 O CORAÇÃO PECADOR DE JUDÁ Jeremias 2— 6

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tuir ali a adoração. Quando o livro perdido da lei do Antigo Testamento foi encontrado, Josias convocou o arrependimento nacional. Ele organizou um culto de Páscoa de que o povo participou alegremente,'«, fez tudo o que pôde para expulsar a idolatria, pro­ fanando locais de adoração idólatra. Mas, como este capítulo nos mostra, todos os seus esforços não con­ seguiram comover os corações do povo de Judá. O fracasso é retratado na referência de Jeremias a uma lei específica do Antigo Testamento. Um ho­ mem que se divorciasse da sua esposa, poderia vol­ tar a se casar, mais jamais poderia desposar outra vez a primeira esposa se ela ou ele tivessem estado casados com outras pessoas neste ínterim. Judá, como uma esposa infiel, tinha abandonado seu Es­ poso, Deus, e tinha se unido, não a um, apenas, mas a uma série de amantes. Ainda assim, Deus es­ tava disposto a receber de volta a Judá infiel! E Judá pareceu voltar. Mas o povo de Judá tratou a ques­ tão de maneira leviana. Era como se a sua infideli­ dade espiritual não tivesse nenhuma importância! Judá voltou com um sorriso falso, “Pai meu, tu és o guia da minha mocidade”. Essas eram as palavras que uma jovem esposa com frequência dizia a um esposo mais velho. Mas não eram apropriadas para serem proferidas por Judá, como se ela ainda fosse inocente e não tivesse rejeitado ao Senhor e se vol­ tado a ídolos! E assim, Deus disse, por intermédio de Jeremias: “Tu tens a testa de uma prostituta e não queres ter vergonha”. A graça de Deus é assombrosa. Mesmo depois de termos sido infiéis a Ele, está disposto a nos receber de volta. Mas nós devemos vir como penitentes, profundamente conscientes do nosso pecado, e curvados de vergonha. Não devemos vir com audá­ cia, nem com leviandade, como se a nossa infideli­ dade a Deus não tivesse nenhuma importância. “Eis-nos aqui, vimos a ti” (Jr 3.14-25). A geração de Jeremias não retornou a Deus. Mas o profeta olhou à frente, e previu um dia em que o povo de Deus retornaria novamente a Ele. Nestes versos, ele descreveu o que o arrependimento e o retorno ver­ dadeiro envolveriam. Existe a decisão de retornar a Deus (v. 22b). Existe uma compreensão renovada da futilidade dos caminhos passados (w. 23,24). E existe um sentimento esmagador de vergonha, pois a grandeza dos pecados passados é esmagadora (v. 25). Nenhum desses sinais de arrependimento es­ tava presente em Judá. Que eles possam ser encon­ trados em nossa vida, sempre que nos desviarmos, e depois retornarmos ao Senhor. “Toda esta terra será assolada” (Jr 4.1-31). Apesar do chamado de Deus a Judá, para limpar o mal de seu

coração, o povo se recusou a dar ouvidos. Jeremias não teve escolha, e anunciou o juízo que viria, por causa do seu caminho e das suas obras. Este é um conceito importante que temos que en­ tender. Deus não pune o povo sem motivo. São as nossas próprias ações, e não Deus, que trazem o desastre sobre nós. E que desastre estava à espera de Judá! Por inter­ médio do seu profeta, o Senhor disse: “Toda esta terra será assolada; de todo, porém, a não consu­ mirei. Por isso, lamentará a terra, e os céus em cima se enegrecerão; porquanto assim o disse, assim o propus e não me arrependi nem me des­ viarei disso”. “Negam ao Senhor” (Jr 5-1-17). A mentira parti­ cular a que Jeremias chama a atenção desafiou a justiça e o poder de Deus. Judá tinha sido “com­ pletamente infiel” a Deus. A sua idolatria espiritual havia se combinado com a sua deterioração moral. Eles tinham abandonado a moralidade, e agido como “cavalos bem fartos”, pois “levantam-se pela manhã, rinchando cada um à mulher do seu com­ panheiro” (v. 8). Eles tinham abandonado a justi­ ça: Jeremias não conseguiu encontrar “um homem que pratique a justiça ou busque a verdade” (v. 1). Apesar disso, Judá disse, complacentemente, “Ne­ nhum mal nos sobrevirá” (v. 12). Esta foi a mentira que Jeremias identificou. Eles tinham dito: Deus “não vai fazer nada” (v. 12, NTLH). Não devemos nos esquecer jamais de que Deus é o juiz moral da humanidade. Ele não somente pode julgar o pecado, como agirá para julgar o pecado. “Temamos, agora, ao Senhor, nosso Deus” (Jr 5.1831). Temer a Deus significa considerá-lo com res­ peito e reverência: levá-lo a sério. Aqui, Deus re­ cordou a Judá da sua grandeza. Ele é aquEle que colocou os mares em seus leitos, e estabeleceu os limites da terra. “Não temereis diante de mim?” Hoje existem muitas pessoas, nos Estados Unidos, que não têm um verdadeiro temor a Deus. Isso é verdadeiramente trágico. Mas a maior tragédia de todas é descrita por Jeremias. “Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: os profetas pro­ fetizam falsamente, e os sacerdotes dominam pelas mãos deles, e o meu povo assim o deseja.” Há pou­ co que possamos fazer para influenciar o tom secu­ lar da vida moderna. Mas o mais importante é re­ termos o nosso próprio temor, respeito e reverência a Deus, e levar a sério a sua presença e o seu poder. Nós devemos dizer a nós mesmos, constantemente, aquilo que o povo de Judá se recusou a dizer: “Te­ mamos, agora, ao Senhor, nosso Deus”.

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“Esta é a cidade que bá de ser visitada’ (Jr 6.1-15). Judá se recusou a ouvir a Palavra de Deus. Assim, agora Jeremias, usando a autoridade que Deus lhe dera, sobre as nações, encarregou a Babilônia de atacar a Cidade Santa. Como a palavra do Senhor era ofensiva ao povo de Judá, a “cidade há de ser visitada”. “Ponde-vos nos caminhos, e vede” (Jr 6.16-30). O convite é um chamado a considerar. As “veredas antigas” representam os caminhos estabelecidos na lei de Deus. São bons caminhos, pois, caminhando por eles, “achareis descanso para a vossa alma”. Jeremias agora descrevia a consequência da única outra escolha disponível. A pessoa devia andar

DEV OCIONAL______

Com Compaixão (Jr 3— 4) E fácil se considerar justo quando se olha para os pecados dos outros. Nós podemos nos tornar bas­ tante fervorosos contra a injustiça e a impiedade. E neste processo, podemos parecer mais do que ligeiramente críticos. Lendo esses dois capítulos que resumem a prega­ ção inicial de Jeremias, realmente sentimos uma indignação justa. O profeta foi brutalmente fran­ co. Israel e Judá eram “rebeldes”. O povo peca­ dor de Deus era insolente e desavergonhado. Os ídolos que tinham adorado eram detestáveis, e o povo alimentava maus pensamentos. Mas apesar da brusca confrontação que caracteri­ za o estilo desse profeta, ele proclama suas iradas palavras com o coração partido. Ouçam Jeremias ecoando a dor amarga do próprio Deus: Ah! Entranhas minhas, entranhas minhas! Estou ferido no meu coração! O meu coração ruge; não posso me calar, porque tu, ó minha alma, ouviste o som da trombeta e o alarido da guerra (4.19).

pelas veredas antigas, ou lutar para encontrar um novo caminho, por sua própria conta. Mas os novos caminhos não oferecem descanso a nin­ guém. Em vez disso, olhando com Jeremias este caminho alternativo, nós vemos a distância, nu­ vens de pó, erguidas por homens que marcham. Vemos o sol que brilha nas pontas das lanças, e ouvimos o ruído dos cascos dos cavalos que se aproximam, em formação de batalha. E, repen­ tinamente, somos dominados pelo medo, pois percebemos que, ao longo desse caminho, o juí­ zo vem correndo ao nosso encontro. Como devemos ser gratos por termos escolhido o bom caminho, a vereda antiga, e por andarmos por ele!

H á ocasiões em que nós, cristãos, devemos con­ frontar outras pessoas pelos seus ímpios atos. H á ocasiões em que devemos adotar uma posição firme contra o pecado. Mas em tais ocasiões, devemos proteger cuidadosamente nossos cora­ ções. Não há lugar, então, sequer para uma indi­ cação de orgulho espiritual. Não há lugar sequer para um brilho de alegria, pois os ímpios serão castigados, no tempo adequado de Deus. Em lugar disso, precisamos sentir, como Jeremias, a dor que Deus conhece — não somente pelo pecado, mas também pela necessidade de julgar o pecador. Se nós tivermos compaixão, quando estivermos anunciando o juízo futuro, outros podem pres­ sentir em nossas palavras o que Deus mais deseja transmitir. O seu maior desejo não é punir, mas redimir. Não condenar, mas salvar. Não rejeitar, mas dar as boas-vindas ao pecador, perdoado, por causa de Jesus. Aplicação Pessoal Fale corajosamente aos outros, mas sempre com amor e compaixão, lembrando-se de que você também é vulnerável ao pecado.

O que agitava o profeta não era apenas uma preo­ cupação com a justiça. Ele era impulsionado pela compaixão por um povo cujas próprias escolhas ímpias os destinavam ao desastre. Como Deus e o seu profeta ansiavam pelo arrependimento de Judá! Não havia alegria pelo fato de estarem cer­ tos. Não havia satisfação com a ideia do juízo que certamente deveria cair sobre o povo de Judá pelo seu pecado. Em vez disso, havia angústia e dor.

Citação Importante “Como supõem os autores de histórias de assas­ sinatos, e como a maioria de nós aprende, pela experiência: temos, em nós, a capacidade de sentir fúria, medo, inveja, ambição, desprezo, crueldade, e ódio, que, com a provocação cor­ reta, podem nos tornar assassinos — babás ou piratas Barba Azul, criminosos profissionais ou amadores que atacam os homens. O padre Brown, de G. K. Chesterton explicou o seu méto­

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do de detecção, dizendo: ‘Você entende, fui eu quem matou todas estas pessoas’ — no sentido de que ele olhava para o seu próprio interior para encontrar a mentalidade que produziria o crime que ele estava investigando, e, na verdade, o descobria ali... Brown, embora sendo um per­ sonagem de ficção, declara um fato. Quando as fontes incompreensíveis de ira e ódio do coração humano normal são abertas, os resultados são amedrontadores. ‘Para lá, se não for pela graça de Deus, eu irei’. Somente a graça, que restringe e renova, capacita uma pessoa a guardar os man­ damentos.” — J. I. Packer 31 D E M AIO LEITURA 151 A M ORTE SUBIU Jeremias 7— 10 “Porque nunca... lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios. Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz” (Jr 7.22,23). Em uma imagem vigorosa, Jeremias advertiu a sua nação de que “a morte subiu pelas nossas janelas” (9.21). Precisamos levar as palavras de Jeremias a sério hoje, pois algumas das mesmas atitudes que caracterizavam a antiga Judá predominam na América “cristã”. Visão Geral O assombroso “sermão no templo” proferido por Jeremias condenou a religião superficial de judá (7.1-19) e avisou da matança que viria (v. 20— 8.4). O juízo deveria atingir a terra corrom­ pida; a punição divina estava fixada e assegurada (v. 5— 9.26). Mas depois de zombar da idolatria de Judá (10.1-22), Jeremias orou para que o sofri­ mento que estava à frente pudesse corrigir, e não destruir (w. 23-25). Entendendo o Texto 24porta da Casa do Senhor” (Jr7.1,2). Jeremias 26 nos fornece outro registro deste sermão e estabele­ ce a sua data. Jeremias falou no outono ou no in­ verno de 609 a.C. Josias, o reformista devoto, fora morto em batalha recentemente. Jeoaquim tinha sido entronizado como rei pelo Egito. O sonho de independência que tinha florescido no governo de Josias estava morto. Mas Judá tinha uma última fonte de confiança e esperança: o Templo do Senhor. Certamente, Deus jamais abandonaria a nação onde estava o Templo que Ele tinha designado como “Meu repouso para sempre” (SI 132.14). O sermão de Jeremias desafiava de uma forma tão convincente

essa crença que estava (e está!) tão profundamente enraizada, que muitos pediram a sua morte! O que o sermão de Jeremias nos diz hoje? Sim­ plesmente que, por uma nação ter uma forma su­ perficial de religião, o seu povo não tem garantia de paz nem prosperidade. A América não se sente confortável por ser uma nação “que frequenta a igreja”. O que Judá e a nossa própria nação pre­ cisam ser é uma nação santa, e não apenas uma nação religiosa. “Não vos fieis em palavras falsas” (Jr 7.3-11). O sermão de Jeremias condenava uma “teologia de templo” distorcida. O povo de Judá acreditava que, por estar o Templo do Senhor encerrado nos muros da sua Cidade Santa, eles estariam a salvo. Certamente Deus não agiria contra a sua própria casa! Jeremias eliminou a base dessa crença popular. “Furtareis vós, e matareis, e cometereis adulté­ rio, e jurareis falsamente, e queimareis incenso a Baal... e então vireis, e vos poreis diante de mim nesta casa, que se chama pelo meu nome, e direis: Somos livres?” Hoje também, alguns estão confiantes de que Deus não irá permitir que o desastre sobrevenha à América. Não é verdade que a maior parte dos missionários no mundo se origina dos Estados Unidos, e não é verdade que são financiados pe­ los cristãos que vivem nos Estados Unidos? Não é verdade que todas as pesquisas mostram que uma grande porcentagem da nossa população acredi­ ta em Deus? A teologia popular moderna geral­ mente iguala a nossa nação ou a democracia a um Templo do Senhor. Como Deus poderia permitir que fracassássemos? No entanto, quando ouvimos as notícias, há re­ petidas reportagens sobre os mesmos pecados que destinaram Judá à destruição. Os maus tratos às crianças são uma manchete constante. Homicídio é algo corriqueiro. Na semana passada, uma jovem que tinha combatido as drogas no seu quarteirão, em St. Petersburg, foi assassinada na sua própria casa. E descobriu-se que funcionários do HUD, um órgão supostamente dedicado a auxiliar os pobres, tinham desviado milhões de dólares de modo fraudulento para amigos ricos. Precisamos encarar o fato de que a religiosidade sem santida­ de é completamente sem valor. A única coisa que tal religião assegura para alguém é o juízo divino! Tragicamente, a falácia também é encontrada na igreja. Os “Jim Bakkers” da televisão e do rádio, de alguma maneira supõem que, por apresentarem o evangelho verbalmente, não serão considerados responsáveis por depravações morais e financei­

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ras. Eles estão tão errados hoje quanto os líderes na época de Jeremias. Sim, devemos apresentar a verdade. Mas a verdade sem a santidade é uma zombaria e um insulto a Deus. E Deus não será escarnecido nem insultado.

abomináveis costumes são despidos de seus no­ mes enganosos, e identificados pelo que realmen­ te são. Até então, você e eu devemos defender a verdade, e falar a verdade, como Jeremias fez, no seu tempo.

“Não ores por este povo" (Jr 7■12-29). Chegará um momento quando será tarde demais para que o povo evite o juízo. Deus disse a Jeremias que esta era a situação de Judá. Nós veremos este tema — “Não ores por este povo” — repetido em capítu­ los futuros. Como podemos identificar quando um povo já está neste estado lamentável? Deus disse a Jere­ mias que olhasse para trás — e depois, olhasse à sua volta. Olhando para trás, Jeremias se lembrou de que, durante gerações, o povo de Judá tinha seguido “os propósitos de seu coração malvado”. Eles “não ouviram, nem inclinaram os ouvidos” aos profetas. Agora, ao olhar à sua volta, Jeremias percebia a reação das pessoas quando ele falava: “Não te darão ouvidos; chamá-los-ás, mas não te responderão”. E a persistente recusa em ouvir e responder à Pala­ vra de Deus que coloca um povo além do alcance da oração. No entanto, observe que se passaram séculos, e gerações de rejeição, antes que Deus dis­ sesse a Jeremias para não mais orar por Judá. Nem o nosso país, nem nossos amigos, nem nossas fa­ mílias persistiram por tanto tempo na descrença. Nós podemos, e devemos continuar orando para que a nação e as pessoas que amamos respondam ao Senhor, antes que seja tarde demais.

“Levantar” (Jr 8.4-17). Jeremias introduziu uma extensa passagem sobre o juízo com uma pergun­ ta peculiar. Cairão os homens e não se tornarão a ievantar? Desviar-se-ão (perder-se-ão) e não voltarão? (v. 4) O povo de Judá fora contrário à própria natureza, por ter caído na idolatria, eles simplesmente ficaram caídos. E tendo se afastado de Deus, em vez de procurarem um caminho de volta, na verdade se recusaram a retornar! Jeremias ofereceu duas explicações. O próprio povo se recusava a se arrepender: “Cada um se des­ via na sua carreira” (w. 6,7). Os escribas que eram responsáveis por interpretar a Palavra de Deus ti­ nham trabalhado falsamente. O texto sugeria que eles distorciam a lei, para fazer com que ela disesse o que eles desejavam. Muitas passagens, no livro de Jeremias, sugerem que o seu principal engano era dar a impressão de que Judá podia pecar com impunidade, em lugar de afirmar a necessidade da santidade. A falha nestes líderes espirituais é a sua motivação: “Cada um deles se dá à avareza; desde o profeta até ao sacerdote, cada um deles usa de falsidade” (w. 8-17). Como resultado, o povo e os sacerdotes perecerão.

“Nunca se chamará mais Tofete" (Jr 7.30— 8.3). O vale aqui mencionado se localiza fora de Jerusalém e era uma área sagrada onde os judeus ofereciam seus filhos em sacrifício: “o que nunca ordenei, nem me subiu ao coração” (7.31). Deus advertiu, por intermédio de Jeremias, que estes recintos “sa­ grados” seriam profanados pelos ossos das pessoas que adorassem divindades pagãs ali. Naquele dia, pelo menos, o vale será chamado pelo seu nome correto: “o vale da Matança”. Uma das estratégias favoritas de Satanás é dar às abominações nomes enganosos. Nos tempos de Jeremias, o lugar onde os inocentes eram assas­ sinados era chamado de “tofete” — um “local sagrado”. Hoje, eles são chamados de “clínicas de planejamento familiar” e a defesa à decisão de matar o feto é apresentada como o “direito de de­ cisão” da mulher. A homossexualidade é chamada de “estilo de vida alternativo”, e a televisão e o cinema exaltam a imoralidade como “para adul­ tos”. Quando Deus age em juízo, todos os nossos

“Estou quebrantado pela ferida da filha do meu povo” (Jr 8.18—9.2). A profunda compaixão de Jeremias pelo povo pecador de Judá nos lembra de que até mesmo as mais ásperas palavras de juízo devem ser proferidas com amor. Mas a resposta de Deus nos lembra de que devemos evitar outro perigo. Não devemos ser tão piedosos a ponto de nos encontrarmos do lado daqueles que merecem o julgamento! Jeremias estava despedaçado por estas duas forças opostas, e desejou que pudesse simplesmente deixar o seu povo e se apartar dele, “porque todos eles são adúlteros, são um bando de aleivosos”. Mas nem Jeremias nem você ou eu podemos evitar essa tensão quando tentamos vi­ ver uma vida devota e amorosa na nossa socieda­ de. O mais difícil desafio que podemos enfrentar será dizer a verdade com amor, sem comprometer a verdade pelo amor, ou o amor pela verdade. “Porventura, por estas coisas não os visitaria?” (Jr 9.4-16). Jeremias se lembrou de que vivia “no meio do engano”. Mesmo aqueles que ele con­ siderava seus amigos eram, secretamente, inimi­ gos. H á pessoas que “falam de paz” com o seu

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companheiro, mas no seu interior “armam-lhe ciladas”. O jornal de hoje fala de uma jovem que fundou uma instituição de “caridade” para ajudar as víti­ mas de espinha bífida. Ela coletou mais de 250 mil dólares... e ficou com tudo (menos 6%) para custear a sua casa na praia, e a sua Mercedes! Ela é como aqueles que usam o engano para se apre­ sentarem como “amigos”, enquanto, na verdade, tentam simplesmente usar os outros para seu pró­ prio lucro. Deus lembrou a Jeremias: “Por estas coisas não os visitaria?” A pergunta é retórica. E a resposta é, “Sim”. Deus deve, e irá, punir. Ele diz: “Das cidades de Judá farei uma assolação, de sorte que fiquem desabitadas”. Ninguém pode pecar e ter expectativa de prosperar.

norte (Babilônia) e desolaria Judá e levaria o seu povo cativo. Podemos falar e debater e argumen­ tar sobre o significado de várias passagens das Es­ crituras. Mas algumas são inequivocamente cla­ ras. Essa é uma dessas declarações claras e finais, que Deus proferiu, por intermédio de Jeremias, a Judá. Chega de falar! Façam suas malas! O juízo se aproxima, e em breve estará aqui.

“Não é do homem... o dirigir os seus passos” (Jr 10.23-25). Agora, Jeremias se submetia ao ine­ vitável. Deus é soberano. A vida do homem não pertence a ele: ele deve viver no tempo, lugar e nas circunstâncias que Deus ordenou. Mas, embora Jeremias reconhecesse a inevitabi­ lidade do juízo que viria, tinha um pedido. Ele pediu que Deus usasse a derrota de Judá para a sua correção, e não para a destruição total (v. 24). “A junta da terra a tua mercadoria” (Jr 10.17-22). Que a destruição seja o destino daquelas nações Jeremias transmitiu a mensagem implacável de que se recusam a reconhecê-lo e devastaram a Ter­ Deus. Ele iria julgar Judá. Um inimigo viria do ra Santa (v. 25).

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A Morte Subiu pelas nossas Janelas (Jr 9.17— 10.16) Criar filhos é realmente difícil, hoje em dia. Acho que é muito mais difícil com a nossa filha de 9 anos de idade do que foi com a minha “primeira” família de meninos, que agora têm 31 e 27 anos. Agora, Sarah está enamorada por uma banda de música. Ela adora as músicas dessa banda, quer comprar as revistas de adolescentes que falam sobre ela, e pensa que o componente magrinho de 16 anos é um “pão”. Ela também é muito consciente sobre a moda. Não adianta levar para casa uma mochila escolar, até que ela tenha visto o que as suas colegas usam. E náo ter alguma coisa que as outras tenham é um desastre social total. E isso me incomoda. De alguma maneira, continuo pensando nos versículos destes capítulos do livro de Jeremias, e imaginando como posso aplicá-los na minha própria casa. Deus advertiu Judá de que “os costumes dos povos são vaidade” (10.3). Sim, eu sei que a passagem está falando de idolatria. Mas, para mim, ela diz que todo o sistema de valores adotado em qualquer sociedade basicamente pagã náo tem valor. E que o povo de Deus náo deve cair como uma presa de tais noções “sem sentido”. Por um lado, não tenho dúvidas sobre a nossa de­ cisão de bloquear diversos canais da televisão com um controle de “censura paterna”. Mas fico pertur­ bado com uma incerteza sobre até onde chegar, ao restringir a minha filha, de outras maneiras.

O que mais me perturba é a observação de jeremias de que “a morte subiu pelas nossas janelas e en­ trou em nossos palácios” (9.21). Podemos impedir a entrada da sorridente cabeça da morte que bate à nossa porta. E a morte que sobe pelas nossas janelas quando estamos desavisados, que nos estraga — e também aos nossos filhos. Eu sei disso. Não posso confiar na minha sabedoria hoje em dia. Tudo o que posso fazer é lutar para seguir o conselho de Deus em Jeremias 9.24, e lu­ tar diariamente para alcançá-lo: “O que se gloriar glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor, que faço beneficência, juízo e justi­ ça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor”. Aplicação Pessoal Nós temos uma necessidade especial, atualmente, de sabedoria divina, para que possamos enxergar através dos enganos da nossa sociedade. Citação Importante “A escolha de Adão lhe custou o Éden; a de Esaú, a sua primogenitura; a de Acã, a sua vida; a de Ló, sua casa e seus rebanhos; a de Absalão, o trono de seu pai; a de Saul, o seu reino; a do jovem rico, a comunhão com Deus. Judas perdeu seu apostolado; Demas, o seu discipulado. Pilatos, Agripa e Félix fi­ zeram escolhas erradas e perderam a vida eterna com Deus. A escolha de Ananias não enganou a nin­ guém, exceto a ele mesmo. Calebe e Josué fizeram

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Dois temas que já vimos antes são repetidos aqui. “Carnes santas” (v. 15) representam a religião pú­ blica superficial. Nenhuma mera reforma de ritu­ al, sem um comprometimento moral e espiritual completo poderia ajudar. E, mais uma vez, foi dito a Jeremias, “Não ores por este povo” (v. 14). Para eles, era tarde demais. Não é tarde demais para nós. Mas o nosso com­ prometimento deve ser mais do que nos assentar confortavelmente em algum banco de igreja aos 1 DE JU N H O LEITURA 152 domingos, e depositar dinheiro na salva da oferta. Somente o comprometimento moral e espiritual • O CONCERTO ROM PIDO completo é apropriado em um relacionamento cor­ Jeremias 11— 15 reto de concerto com Deus, em Cristo Jesus. “Assim diz o Senhor: Os que são para a morte, para a morte; e os que são para a espada, para a espada; e os “Os homens de Anatote” (Jr 11.18-23). Jeremias fi­ que são para a fome, para a fome; e os que são para o cou abalado quando Deus revelou uma trama con­ tra a sua vida, idealizada pelos homens de Anatote. cativeiro, para o cativeiro” (Jr 15.2). O profeta ficou chocado: ele jamais teria esperado O relacionamento com Deus é caracterizado pelo que a sua pregação provocasse uma reação tão vio­ comprometimento — dos dois lados. Quando nós lenta. Ele disse: “Eu era como um manso cordeiro”, não cumprimos com o nosso compromisso com querendo dizer que ele era totalmente ingênuo. Deus, Ele continua comprometido conosco. Mas o E melhor para nós que sejamos ingênuos e não compromisso de Deus inclui a punição, para que, cínicos. E geralmente é melhor para nós que não conheçamos as tramas que outros possam planejar pela disciplina, Ele possa purificar e restaurar. contra nós. Se formos tão fiéis quanto Jeremias ao Visão Geral cumprir a vontade de Deus, podemos ficar descan­ Jeremias anunciou a punição de Judá por romper sados. O Deus que protegia Jeremias nos protegerá seu concerto com Deus (11.1-17). A vida de Jere­ também. mias estava ameaçada, e Deus respondeu ao apelo do irado profeta (v. 18— 12.17). Jeremias transmi­ “Falarei contigo dos teus juízos” (Jr 12.1-17). Je­ tiu cinco avisos simbólicos (13.1-27) a um povo remias estava em um estado do tipo “apresse-se”, que “tanto amou o afastar-se” (14.1-15) e então como, geralmente, você e eu também estamos. A retratou, vividamente, o desastre que viria (v. 16— sua pergunta: “Por que prospera o caminho dos 15.9). Mas o profeta, que trazia sobre si o nome de ímpios?”, na verdade, quer dizer, “Por que não ages para punir os ímpios agora?” Em termos de quem Deus, seria conservado a salvo (w. 10-21). está sedento de sangue, Jeremias clamou: “impeleos como a ovelhas para o matadouro”. Entendendo o Texto “Apregoa todas estas palavras” (Jr 11.1-17). M ui­ Como resposta, Deus lhe deu uma visão plena do tas pessoas acreditam que este sermão foi trans­ que Ele pretendia. Ele conhecia bem o caráter de mitido durante o reinado de Josias, pouco de­ Judá, e advertiu Jeremias a não confiar em nin­ pois que a lei do Senhor, que tinha sido perdida, guém — nem mesmo na sua própria família (w. foi reencontrada no Templo. Apesar de os ativos 5,6). Deus iria abandonar este povo ímpio, para esforços de Josias na reforma, o profeta Jeremias que se tornasse uma presa para as nações pagãs (w. foi chamado para lembrar a Judá os termos do 7-13). Mas Ele “tornaria, e se compadeceria deles”, seu antigo concerto com Deus. Se o povo obe­ e restauraria o seu povo no final (w. 14-17). decesse sinceramente, disse Deus, Ele cumpriria O que é impressionante aqui é a dor que Deus sen­ “o juramento que fiz a vossos pais de dar-lhes tia com a perspectiva de punir Judá. O Senhor cla­ uma terra que manasse leite e mel”. Mas Jere­ mou, com angústia: “Entreguei a amada da minha mias também recebeu a instrução de confron­ alma na mão de seus inimigos” (v. 7). Deus não se tar a nação. Deus sabia que a casa de Judá tinha alegra com as punições. Ele castiga, porque precisa rompido o concerto que fizera com seus pais e fazê-lo. E porque, em última análise, a disciplina que as suas cidades estavam cheias de ídolos pa­ traz a restauração à comunhão. gãos. Por causa do concerto rompido, o Senhor Sempre que você ou eu sentirmos a mão pesada “pronunciou contra ti o mal”. da disciplina de Deus, é importante que nos lem­

boas escolhas, ao passo que a primeira escolha de Jonas quase o fez naufragar junto com a sua tripu­ lação. E vocês, que são mais velhos, qual seria a sua resposta, como um pai, como uma mãe, como um líder cristão, se, a respeito dos seus jovens, Deus lhes dissesse hoje: ‘Peça o que você quiser que eu faça com estes jovens’? Será que a sua resposta provaria que você sabe como escolher as coisas que são mais importantes?” — Robert G. Lee

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bremos do que o Senhor disse a Jeremias. Nós ain­ da somos “a amada da sua alma” mesmo quando merecemos, e recebemos, a sua punição. E a disci­ plina divina não é um abandono. O Senhor disse: “Tornarei, e me compadecerei deles, e os farei tor­ nar cada um à sua herança e cada um à sua terra”.

cificou a razão para o desastre vindouro. Este povo está tão acostumado a fazer o mal que nem mesmo sabe como fazer o bem! (v. 23). Eles serão dispersos como o restolho, por causa dos seus odiosos costu­ mes morais e espirituais. A única maneira de ser bom é praticar o bem. Nós nos tornamos o que fazemos. Os homens e as mu­ “O rebanho do Senhorfoi levado cativo”(Jr 13■1-27). lheres modernos, como o povo de Judá, podem ser O capítulo apresenta cinco avisos diferentes dados tornar tão acostumados a fazer o mal que fazer o a Judá por intermédio de Jeremias. O primeiro foi bem será estranho para eles. por um ato simbólico: o “cinto” de linho do pro­ feta foi enterrado junto a um rio, simbolizando o “Tanto amaram o afastar-se” (Jr 14.1-16). Jeremias distante Eufrates (w. 1-11). Quando foi desenter­ foi instruído, uma vez mais, a não orar por Judá. rado, meses depois, estava apodrecido e destruído. Como o povo “não deteve os pés” (de andar), o Se­ Este cinto de linho era, muito provavelmente, uma nhor “agora se lembrará da maldade deles e visitará espécie de camiseta que chegava às coxas, usada os seus pecados”. próxima ao corpo, e simbolizava a intimidade do Jeremias observou que os profetas de Judá tinham relacionamento que Deus pretendia ter com Israel uma mensagem diferente. Esses reconhecidos líde­ e Judá. Mas em Judá, o linho tinha passado a repre­ res espirituais continuavam pregando: “Não vereis sentar luxúria e orgulho. Somente a saída da terra, espada e não tereis fome”. A resposta de Deus foi e um enterro simbólico na Babilônia, iriam des­ que todas as promessas de paz duradoura eram truir o orgulho de Judá e fariam com que o povo mentiras. O desastre tinha sido decidido, e mesmo respondesse positivamente a Deus outra vez. os mais santos dos santos de Israel não poderiam A segunda mensagem se baseava em um ditado po­ evitá-lo, ainda que estivessem presentes (15.1,2). pular associado com a embriaguez: “Todo odre se Os profetas falavam, mas Deus “nunca os enviou”, encherá de vinho” (w. 12-14). Aqui, um “odre” era e eles diziam mentiras (14.14,15). um nebel, um grande jarro de barro. O povo e os A pregação “popular” não é alguma coisa que os líderes de Judá seriam tão tolos quanto bêbados, e líderes espirituais procurem, ou que você e eu de­ Deus os esmagaria e os destruiria a todos. vamos buscar. Qualquer mensagem popular de O terceiro aviso foi dito em palavras claras, conde­ prosperidade sem suor, de bênção sem batalhas, de nando a arrogância e anunciando o cativeiro (w. sucesso sem sofrimento, de grandeza nacional sem 15-17). O quarto convocou o rei e a rainha mãe justiça social, ou de aprovação divina sem santida­ a descerem de seus tronos e irem ao cativeiro (w. de pessoal, assinala a pessoa que a transmite como 18,19). O aviso final foi uma denúncia dos pecados alguém a quem Deus não enviou, e a mensagem de Judá, e novamente, em palavras claras, anunciou é claramente classificada como inferior à genuína o exílio vindouro (w. 20-27). Aqui o Senhor espe- mensagem de Deus.

DEVOCIONAL______

Não Voltes para ELes (Jr 15) Dói estar ali, visível — e sozinho. Sempre doeu. Entendo essa pressão que mencionei no devocional de ontem; a pressão que se reflete na compulsão da nossa filha de nove anos para estar na moda e ser como as outras meninas da sua classe. Os adultos sentem a mesma pressão. E os cristãos adultos, talvez, especialmente. M uitos cristãos fazem um esforço real para se encaixar e não se im portam muito com a sua fé ou com as suas convicções cristãs. Adotar al­ guma posição, particularm ente se você parece ser o único em uma posição impopular, é uma proposta dolorosa.

Jeremias sentiu essa dor. Ele adotou uma posição e anunciou a mensagem de juízo de Deus sobre a sua sociedade. Como resultado, ficou isolado; ele era considerado “homem de rixa e homem de conten­ da para toda a terra” e, além disso, cada um deles o amaldiçoava. E isso dói. Ele “se assentou solitário” e, como resultado, sentiu “dor continuamente”. Não suponho que nenhum de nós teria escolhido estar no lugar de Jeremias, apesar do fato de que gerações posteriores o honraram. Esse capítulo nos diz, no entanto, o que motivava Jeremias — e o que o sustentava. A motivação está explicada no verso 16: “Achando-se as tuas pala­ vras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu

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nome me chamo”. O profeta levou a sério as pala­ vras de Deus. Elas se tornaram parte do seu próprio ser. Quando ele digeriu o seu significado, se encheu de alegria e prazer. E quanto mais se banqueteava com as palavras de Deus, mais percebia o que sig­ nifica ter o nome de Deus. Essa também é a nossa principal fonte de motivação. Devemos nos banquetear com as palavras de Deus: “comê-las”, digeri-las e aplicar o seu significado. Quando nós o fizermos, perceberemos como é ma­ ravilhoso trazer o nome de Deus, e seremos motiva­ dos a honrá-lo em tudo o que fizermos e dissermos. Quando trouxermos o nome de Deus, com frequên­ cia seremos motivados a representá-lo publicamente por nossas palavras, assim como por nosso modo de vida. E quanto mais “comermos” e nos alegrarmos nas palavras de Deus, mais claramente veremos esses assuntos dos quais devemos falar. Mas o que nos sustentará se, como pode acontecer, falar nos trouxer ridicularização e isolamento social? Deus prometeu a Jeremias: “Eu te porei contra este povo como forte muro de bronze” (v. 20). Nada, e ninguém, podem traspassar o muro de proteção que Deus erigiu ao redor do seu servo. Mas com esta pro­ messa de proteção, veio um aviso: “Tornem-se eles para ti, mas não voltes tu para eles” (v. 19). Aqueles que se opõem a nós podem encontrar o seu caminho para dentro do muro, pois a Palavra de Deus é uma porta aberta, que os convida a entrar. Mas você e eu jamais devemos sair “da brecha”, abandonando o nosso completo comprometimento com as Escritu­ ras, para adotar os valores, as crenças ou os costumes de um mundo perdido. Sim, normalmente nos dói, assumirmos uma posi­ ção pela nossa fé, e nos sentirmos isolados dos ou­ tros. Todos desejamos ser populares, e nos encaixar, ganhar aceitação. E frequentemente podemos fazer isso, sem fazer concessões em relação ao pecado. Mas quando surge um conflito, devemos nos lem­ brar de que trazemos o nome de Deus. Devemos ser guiados por suas palavras. E, ao procurarmos representar o nosso Senhor, precisamos ser susten­ tados pelas suas palavras a Jeremias: “Eu sou conti­ go para te guardar” (v. 20). Aplicação Pessoal Quando reconhecemos o fato de que trazemos o nome de Deus, a sua Palavra nos orienta a respei­ to daquelas coisas sobre as quais devemos assumir uma posição pessoal. Citação Im portante “Quando tinha catorze anos, ouvi Lyman Beecher pregar sobre a soberania de Jesus Cristo. Fui ao meu quarto, tranquei a porta e me atirei ao chão.

E eu disse o seguinte: ‘Ó Deus, eu pertenço a ti. Toma o que é teu. Alegremente reconheço o fato de que te pertenço. Agora eu te recebo como meu Senhor e Mestre’. Desde então, tenho sentido uma aversão pelas coisas que, mais tarde, descubro que são erradas. Além disso, passei a sentir uma atração pelas coisas que são certas.” — Wendell Phillips 2 DE JU N H O LEITURA 153 O OLEIRO Jeremias 16-—20 “Portanto, eis que lhes farei conhecer, desta vez lhes farei conhecer a minha mão e o meu poder, e saberão que o meu nome é Senhor” (Jr 16.21). Não existe nas Escrituras nenhuma imagem mais poderosa da soberania de Deus do que a do olei­ ro, que molda o barro para formar o vaso que Ele desejar. Essa passagem nos recorda que Deus é so­ berano. Mas o exercício do seu poder soberano é temperado com amor — mesmo no caso do quei­ xoso Jeremias. Visão Geral Em vista do desastre vindouro, Jeremias foi proi­ bido de viver uma vida humana normal (16.1-21). Três causas da queda de Judá foram identificadas (17.1-13), levando Jeremias a clamar pela cura pes­ soal (w. 14-18). Judá, então, foi desafiada a dar prioridade a Deus, honrando o sábado (w. 19-27). Na casa de um oleiro, Deus anunciou novamen­ te o desastre que estava preparando contra Judá (18.1— 23). Jeremias quebrou uma botija de barro para simbolizar a devastação destinada a Jerusalém (19.1-15). Pasur ordenou que o profeta fosse es­ pancado (20.1-6), levando a outra queixa angustia­ da de um amargo e cansado Jeremias (w. 7-18). Entendendo o Texto “Não tomarás para ti mulher, nem terás filhos nem filhas neste lugar” (Jr 16.1-21). Deus limitou Je­ remias. O seu profeta não deveria viver uma vida normal na cidade destinada à destruição. Ele não deveria se casar (w. 1-4). Ele não deveria se lamen­ tar com outras pessoas em enterros (w. 5-7). Ele não deveria comemorar festividades tais como ca­ samentos (w. 8,9). Jeremias estava destinado a ser um perpétuo intruso: um fantasma, que caminha­ va silenciosamente entre os membros da sua socie­ dade, mas cujo amargo isolamento devia ser um lembrete do juízo que pendia sobre a terra. Esse estranho comportamento pretendia suscitar per­ guntas — e criar oportunidades para que Jeremias anunciasse a Palavra de Deus.

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Precisamos encarar a recusa de Deus em permitir que Jeremias se casasse como um dom da graça ao seu profeta, embora isso certamente deva ter pare­ cido ser um fardo doloroso. Mas quando a popu­ lação da cidade passou fome, e os seus jovens fo­ ram extirpados pelo exército invasor, e suas moças violentadas pelos soldados invasores, Jeremias foi poupado da angústia de ver seus próprios filhos so­ frerem este destino. O ditado popular diz: “Existe luz em toda escuridão”. Uma expressão mais exata é: “Cada fardo que Deus nos pede que carregue­ mos traz uma bênção escondida”. “Por ti mesmo te privarás da tua herança que te dei” (Jr 17.1-18). Novamente, somos lembrados. Quando o juízo vier, não culpe a Deus. O Senhor identificou três falhas que asseguravam o desastre. Um: O pecado estava gravado na tá­ bua dos corações de Judá (w. 1-4). A imagem da gravação no coração é comum nas Escrituras (cf. 2 Co 3.2,3). Ê uma referência à índole da pes­ soa; ao âmago da personalidade de cada um. Não existe o mais leve arranhão no coração de Judá que indique alguma resposta à Palavra de Deus. O que há, gravado profundamente por golpes de uma ponta de diamantes, é pecado. Dois: Judá tinha se afastado de Deus para confiar em meros homens (Jr 17.5-8). Não existe remédio para o pecado, exceto a confiança em Deus. Mas Judá não quis depositar a sua confiança no Senhor. Três: O coração humano está corrompido, além da possibilidade de qualquer cura (w. 9-13). O coração de Judá constantemente se voltava para o mal. Certamente, Deus não poderia ser culpa­ do por condenar um povo de caráter pecador e coração corrupto, que se recusava a depositar a sua confiança nEle. Sabiamente, Jeremias con­ siderou pessoalmente essa revelação, e clamou “Sara-me, Senhor” (w. 14-18). Apesar do fato de não ter se apressado “em ser o pastor” para Judá, Jeremias estava temeroso e inseguro. Se apenas o povo de Judá tivesse respondido, como o profeta respondeu agora! Se apenas eles tivessem clamado a Deus, pedindo cura. Mas, em vez disso, zomba­ ram e ridicularizaram Jeremias, dizendo: “Onde está a palavra do Senhor?” Como o desastre não estava ali, eles não podiam vê-lo à frente! Que bênção termos visto o juízo que se aproxima, e com Jeremias, clamado a Deus por uma cura es­ piritual. E que alegria saber que, por causa de Jesus Cristo, a cura é nossa. Deus apagou o pecado gra­ vado nos nossos corações, e o substituiu pela sua própria Palavra viva. Ele nos curou por dentro, e nos ensinou a não confiar no homem, mas somente nEle. Um dia de “dobrada destruição” se precipi­

tava sobre Judá. Mas nós esperamos que as bênçãos redobradas sejam nossas quando Jesus vier. “Santificai o dia de sábado” (Jr 17.19-27). Por que, com todos os muitos pecados cometidos pelo povo de Judá, Deus disse a Jeremias que concentrasse a sua pregação na santificação do sábado? Certamen­ te a prática de idolatria em Judá era pior do que a prática de carregar lenha! Certamente a imoralida­ de que Jeremias tinha mencionado era muito mais séria do que fazer um pequeno trabalho no dia de descanso de Deus! E melhor ver esta imagem, com a sua promessa de bênção pela obediência (w. 24-26), como um caso de teste. Se o povo de Judá desse prioridade a Deus no sábado, eles lhe dariam prioridade na vida co­ tidiana. O fato de que Judá não honrasse a Deus no dia consagrado para este propósito revelava uma inversão em todos os seus valores.

No tempo de Jeremias, os oleiros colocavam montes de argila sobre uma plataforma redonda, que faziam girar com seus pés. Sob suas mãos talentosas, a argila assumia qualquer forma que eles desejassem. Quando Jeremias observava um oleiro trabalhando, Deus lhe disse que lembrasse a Judá que as naçóes são como argila nas suas mãos! Ele pode destruir ou restaurar. Mas o povo de Judá rejeitou este convite explícito de retornar ao Senhor. Eles disseram: “E inútil. Nós vamos continuar com os nossos próprios planos”. Sim, Deus é soberano. Mas essa verdade pretende trazer esperança! O oleiro celestial decidiu soberana­ mente abençoar todos aqueles que retornarem since­ ramente a Ele.

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Nós devemos dar prioridade a Deus no dia que reservamos para adorá-lo, e também em nossas devoções particulares, a sós com o nosso Senhor. Quando dermos ao Senhor a prioridade nisso, as nossas outras prioridades serão devidamente or­ ganizadas. “A casa. do oleiro” (Jr 18.1— 19.15). O sermão sobre a soberania de Deus, que foi encorajado na casa de um oleiro de Jerusalém, levou a outra explosão de fúria contra Jeremias. Em vez de responder ao convite de Deus, uma população irada decidiu “ferir [Jeremias] com a língua” e “não escutar nenhuma de suas palavras” (18.18). Depois de anos de tal rejeição, Jeremias clamou, irado, contra seus perseguidores: Que seus filhos sejam entregues “à fome... sejam suas mu­ lheres roubadas dos filhos e fiquem viúvas... e seus maridos sejam feridos de morte” (v. 21). Não devemos julgar esta explosão cáustica de ira. A verdade é que o povo de Judá merecia — e em bre­ ve receberia — exatamente este destino. No entan­ to, devemos nos lembrar de que, apesar das mais terríveis provocações, o Senhor convidava o povo de Judá a voltar para Ele repetidas vezes. Quando sofremos injustamente, como Jeremias certamente sofreu, é difícil não nos lembrarmos de “todo o seu

DEVOCIONAL______ Colocar-se no Lugar do outro

(Jr 19— 20) Sob alguns aspectos, entendo que Jeremias pode ter sido considerado um sujeito chato. Sempre amar­ gurado. Sempre condenando. E, o pior de tudo, sempre se queixando. Vemos cada uma destas características nos capítu­ los 19 e 20. O amargo Jeremias é, sem dúvida, um homem que profetiza a condenação (19). Uma vez que o povo de Judá merecia plenamente o desastre iminente, Jeremias parecia, às vezes, estar entusiasmado com um pouco de excesso. Ele qua­ se se alegrou com o destino do povo! (cf. 18.1922). Também é verdade que Jeremias enfrentou momentos difíceis. Não é divertido ser espancado publicamente e amarrado no cepo por proclamar a Palavra de Deus (20.1-6). Mas quando lemos as palavras de queixa de Jeremias ao Senhor depois desse incidente, quase podemos ouvir os lamentos na sua voz. E isso nos irrita. “Senhor, tu me iludiste para servir-te. Eu não esperava ser ridicularizado! Mas isto é o que eu sou” (w. 7,8). “Senhor, eu tentei não falar. Mas me deste esta dor, e a única maneira de conseguir alívio é falar nova­ mente” (v. 9).

conselho contra mim para matar-me”, e esperar pela justa retribuição aos ímpios. Ainda na casa do oleiro, Jeremias foi instruído a comprar uma botija de barro e levá-la ao “local sa­ grado” (Tofete) onde os anciãos e o povo de Judá praticavam sacrifícios pagãos. Ali Jeremias quebrou a botija, e anunciou, em nome de Deus: “Dissipa­ rei o conselho de Judá e de Jerusalém, neste lugar, e os farei cair à espada diante de seus inimigos”. Então Jeremias retornou à cidade, e repetiu a sua mensagem da destruição que viria. De certa forma, Deus atendeu a oração de seu pro­ feta. Os perseguidores de Jeremias, que eram os inimigos declarados de Deus, também sofreriam exatamente o destino que o profeta desejava. “Pasur... o sacerdote” (Jr 20.1-6). Esse funcionário do Templo, que tinha um cargo elevado, ouviu a pregação de Jeremias, e ordenou que ele fosse es­ pancado e amarrado ao cepo. Depois de libertado, Jeremias corajosamente predisse que Pasur veria seus amigos morrerem, veria serem roubados os te­ souros do Templo que ele supervisionava, e que ele e sua família morreriam no exílio. Não é agradável nem divertido ser perseguido pela nossa fé. Mas é melhor ser o perseguido do que o perseguidor! “Senhor, todos estão murmurando e tramando contra mim” (v. 10). “Senhor, pelo menos, deixa-me vê-los aniquilados” (w. 11,12). “Senhor, eu tento louvar-te, e tu me livraste (v. 13). Mas eu ainda amaldiçoo o dia em que nasci, e ainda estou irado porque se alegraram com meu nascimento (w. 14-16). “Eu queria”, e aqui o la­ mento fica mais pronunciado, “que alguém tivesse feito um aborto e tivesse me matado no ventre de minha mãe” (v. 17). Por que eu saí do útero, para ver trabalho e tristeza e para terminar meus dias em vergonha?” (v. 18) Hoje, eu conheço algumas pessoas que se queixam. E não é divertido estar junto a elas. Na verdade, depois de pouco tempo nos cansamos tanto de seus lamentos que “desligamos” estas pessoas, ignoran­ do tanto a elas como os seus sentimentos. Mas duas coisas me impressionam sobre as quei­ xas de Jeremias. Em primeiro lugar, tudo aquilo de que ele se queixava estava enraizado na realidade. Ele realmente reve uma vida dolorosa e difícil. Em comparação com a de Jeremias, a minha vida tem sido um mar de rosas. Talvez, então, eu devesse ouvir com mais paciência, com mais compaixão,

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e perceber que, se eu tivesse sido forçado a estar no lugar dele, poderia ter me sentido exatamente como Jeremias se sentiu. Talvez eu consiga apren­ der com Jeremias. Apesar de todas as suas queixas, apesar da depressão e do desespero que com frequ­ ência o dominavam, Jeremias era completamente fiel a Deus. Ele transmitiu a palavra de Deus aos outros, mesmo quando sabia, de antemão, que eles ouviriam com hostilidade e tornariam a sua vida ainda mais difícil. O que são algumas poucas quei­ xas, em comparação com isso! Mas, em segundo lugar, quando Jeremias se quei­ xava, Deus ouvia! Deiis não/pareçia ficar impacien­ te/ ou,irado, ou ignòrar o^eu profeta. E eu pos^o aprentier cohi isso. As pçssoas que sofrjém com frequência sê queixarão. E aquilo de que tinais pre­ cisam pode ser simplesmente a compreensão e a solidariedade de outra pessoa. Uma pessoa disposta a ouvir, e disposta a admitir, “Sim, seria difícil es­ tar no seu lugar”. Uma pessoa disposta a expressar uma admiração por pessoas como Jeremias, que decidiram, apesar de seus problemas, entregar a sua causa ao Senhor (v. 12).

apresentados em uma ordem cronológica especial dos últimos meses frenéticos de independência de Judá. Visão Geral Zedequias não recebeu ajuda divina contra a Ba­ bilônia (21.1-14) e Jeremias condenou os reis per­ versos de Judá (22.1-30). No futuro distante, o Messias restaurará um Israel disperso (23.1-8), mas o futuro imediato trará o juízo, apesar das mentiras dos profetas de Judá (w. 9-40). Deus abençoaria aqueles que foram levados em cativeiro (24.1-10), e, depois de 70 anos, traria Judá de volta à sua terra (25.1-14). Posteriormente, Ele puniria os seus per­ seguidores pagãos (w. 15-38). Jeremias foi considerado traidor e ameaçado de morte (26.1-24). Mas não deixou de convocar Judá a sut>meter-se à Babilônia e à vonta/de de Deus (27.1-22). As suas palavras são autenticadas pela morte predita do falso profeta Hananias (28.1-17), mas úma carta aos judeus cativos já na Babilônia levanta uma nova acusação de traição contra Jere­ mias (29.1-32). / ,

Aplicação Pessoal Entendendo o Texto Quando você sofrer, procure os ouvidos de Deus. “Pode ser que o Senhor opere conosco segundo todas as Quando outras pessoas sofrerem, seja os ouvidos suas maravilhas” (Jr 21.1-14). Com a cidade sitia­ de Deus para elas. da, o rei Zedequias, por fim, voltou-se a Jeremias e ao Senhor, pedindo ajuda. Amargamente, o pro­ Citação Importante feta repetiu a mensagem que transmitira fielmente Se nós conhecêssemos as preocupações e as prova­ por tantos anos. Deus não iria lutar a favor do seu ções, povo, mas contra ele. Se conhecêssemos os esforços feitos em vão, Jeremias ofereceu uma única esperança. Aque­ E o amargo desapontamento, les que deixassem a cidade de Jerusalém e se ren­ Se compreendêssemos a perda e o ganho; dessem a Nabucodonosor sobreviveriam. Os que Será que a aspereza amarga e eterna permanecessem na cidade para resistir a Nabuco­ Seria, eu me pergunto, a mesma? donosor morreriam. Foi esse convite à rendição Nós ajudaríamos, onde agora atrapalhamos? que provocou tanto furor, e levou às acusações de Nós teríamos compaixão onde agora nós culpa­ traição contra Jeremias. “Esta é a minha nação, e mos? — Rudyard Kipling desejo que possa estar sempre certa; mas, quer este­ ja certa ou errada, esta é e continuará sendo a mi­ nha nação”; esse era, claramente, o sentimento em Judá. Esse slogan patriótico popular é tão errado, 3 DE JUNHO LEITURA 154 hoje em dia, quanto naquela época. Em um confli­ O DIA DO JUÍZO, HOJE to entre o certo e a nação, ou entre Deus e a nação, Jeremias 21— 29 devemos fazer a mesma escolha que Jeremias fez. Devemos assumir uma posição ao lado de Deus e “Pergunta, agora, por nós, ao Senhor, por que Nabu- daquilo que é certo. codonosor, rei de Babilônia, guerreia contra nós” (Jr 21.2). “Reinarás tu, só porque te encerras em cedro?” (Jr 22.1-30). O rei dessa passagem é Jeoaquim, que A cena agora passa para os últimos anos da exis­ recebeu uma repreensão de Jeremias por forçar, tência de Judá. As predições de Jeremias estavam tiranicamente, o trabalho escravo para expandir se cumprindo: a terra estava sitiada. Esses capítu­ seu palácio enquanto a terra gemia sob os tribu­ los registram uma série de incidentes, que não são tos exigidos por Faraó-Neco, do Egito (cf. 2 Rs

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se na santidade do seu ministério: nenhum chama­ do para o compromisso completo com Deus. Três: Eles “vos enchem de vãs esperanças” (v. 16, ARA). Pregam mensagens populares; mensagens que o povo deseja ouvir. As suas promessas de paz, saúde e prosperidade são “visões do seu coração”. Quatro: “Farão que o meu povo se esqueça do meu nome, pelos sonhos que cada um conta ao seu compan­ heiro, assim como seus pais se esqueceram do meu nome, por causa de Baal” (v. 27). Proferiam o nome de Deus, quando transmitiam mensagens que, su­ postamente, vinham dEle. Mas como as mensagens são, na verdade, somente sonhos, que roubam uns dos outros, o resultado é que seus ouvintes conhe­ cem cada vez menos a respeito de Deus, e assim “se esquecem” do seu nome. Não devemos julgar algum pregador moderno, nem rotular publicamente algum indivíduo com o “Levantarei a Davi um Renovo justo ” (Jr 23■1-8). O título de “falso profeta”. Mas devemos usar esses ímpio Jeoaquim, que abusou de seu poder, deveria critérios para avaliar a quem podemos ouvir — e a ser levado à Babilônia e teria o sepultamento de quem devemos ajudar financeiramente. um jumento (22.19), sem honra ou pesar. Agora, o profeta fez a última comparação. Um dia, o rei “A té este dia (que é o ano vinte e três)... vo-la anun­ deposto seria substituído por outro, da linhagem ciei a vós” (Jr 25.1-38). A mensagem, durante estes real de Davi, uma pessoa justa que “praticará o juí­ 23 anos, era sempre a mesma: “Convertei-vos... zo e a justiça na terra” e proporcionará a uma Judá da maldade das suas ações e habitai na terra”. Mas Judá se recusou a ouvir as palavras que Deus profe­ restaurada salvação e segurança. O Messias, que sabemos hoje que é Jesus Cristo, ria por intermédio do seu profeta. está verdadeiramente em contraste com os reis fa­ Vinte e três anos! Podemos imaginar a frustração lhos de Judá. Para proporcionar segurança e salva­ do profeta, tendo feito advertências e convites ção ao seu povo, o Rei Jesus voluntariamente sofreu repetidas vezes — e repetidas vezes tendo sido ig­ uma morte criminosa. E, ao morrer, demonstrou, norado ou perseguido. Vinte e três anos. Podemos de uma vez por todas, que aquilo que qualifica uma compreender mais da graça de Deus quando per­ pessoa para governar — que caracteriza uma pessoa cebemos que foi Ele quem realmente foi ignorado como um líder verdadeiro — é a disposição para e rejeitado. E uma vez que, conforme o predito, a servir os outros, mesmo com custos pessoais. invasão estava em andamento e o exílio estava asse­ gurado, Deus acrescentou uma nova nota de pro­ “Cometem adultérios, e andam com fabidade” (Jr messa. O cativeiro deveria durar somente “setenta 23.9-40). Uma vez mais, o contraste nos leva a um anos”. Então, “quando se cumprirem os setenta novo assunto, embora correlato. Judá estava cheia anos” a Babilônia terá sua retribuição. Na verdade, de profetas. Eram líderes religiosos profissionais todas as nações que são inimigas do povo de Deus que afirmavam ser canais por meio dos quais Deus serão punidas. comunicava a sua palavra. Diferentes de Josias, que Três temas estão relacionados neste capítulo, (1) estava comprometido em fazer o bem, e diferentes Deus traz o desastre sobre os seus, para disciplinádo Messias, que era justo e reto, esses profetas eram los. (2) O objetivo da disciplina é restaurar os que falsos profetas. Jeremias disse que, quanto a estes pertencem a Deus ao relacionamento adequado. homens ímpios, “sua carreira é má, e a sua força (3) Se Deus está disposto a punir assim o pecado não é reta”. dos seus, como o resto da humanidade escapará ao O que os caracterizava como falsos profetas? As juízo? mesmas características que diferenciam os minis­ Existe outro motivo importante para a profecia dos tros devotos dos ímpios, hoje em dia. Um: “Come­ setenta anos. Na Babilônia, o povo de Judá olharia tem adultérios, e andam com falsidade” (v. 14). A para trás, e angustiados, se perguntariam se Deus vida pessoal deles não exibe a pureza moral que o os teria abandonado para sempre. Ali, considera­ ministério da Palavra de Deus exige. Dois: “Esfor­ riam a sua terra assolada e as ruínas do Templo, e çam as mãos dos malfeitores” (v. 14). Não há ênfa­ se perguntariam se, por causa do seu pecado, te-

23.34,35). Isso foi uma violação direta à lei do Antigo Testamento (cf. Lv 19.13; D t 24.14,15), e marcou Jeoaquim como alguém que usava, e não servia o seu povo. A pergunta de Jeremias, citada acima, concentra a nossa atenção na natureza de toda liderança espiri­ tual. Na sua acusação a Jeoaquim, Jeremias com­ parou este rei ímpio com seu piedoso pai, Josias. Josias era um verdadeiro rei: um verdadeiro servo de seu povo. Essa descrição de Josias pode servir como lema e guia para qualquer pessoa que estiver em uma posição de liderança espiritual: “Acaso, teu pai não comeu e bebeu e não exercitou o juízo e a justiça? Por isso, tudo lhe sucedeu bem. Julgou a causa do aflito e do necessitado; então, lhe sucedeu bem; porventura, não é isto conhecer-me? — diz o Senhor” (w. l 5,16).

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riam perdido o seu antigo relacionamento. Entáo se lembrariam da predição de Jeremias, de que, de­ pois de 70 anos, os restantes retomariam. E, nesta profecia, os exilados encontrariam esperança. “Este homem não é réu de morte” (Jr 26.1-24). Esse capítulo retrocede para o início do ministério pú­ blico de Jeremias. Ele fornece detalhes sobre a re­ ação ao “sermão do templo” de Jeremias que está registrado no capítulo 7. Ele é inserido aqui para demonstrar a coerência da reação de Judá à men­ sagem de Jeremias, desde o início, passando por décadas de rejeição e frustração. Essa reação inicial foi intensa, e os líderes religiosos foram os primeiros a pedir a execução de Jeremias (26.7-12). Nesta ocasião, as autoridades reais e o povo resistiram, enfatizando que transmitir uma mensagem em nome do Senhor não era um crime capital (w. 16-18). Certamente seria perigoso ma­ tar um profeta (v. 19). A libertação de Jeremias, depois de ser ameaçado de morte, sugere alguma abertura à palavra de Deus? De modo nenhum. Ela somente mostrava que Deus estava protegendo Jeremias, pois outro profeta que pregava a mesma mensagem foi exe­ cutado pelo rei que estava no poder, Jeoaquim (w. 20-24). Alguns ignoram as mensagens de Deus; alguns re­ agem com raiva; alguns acreditam. Alguns mensa­ geiros são protegidos por Deus; alguns são mortos pelos inimigos de Deus. A única garantia que al­ guém tem, quando assume o papel de um Jeremias, é que Deus é soberano, e que a sua Palavra deve ser ouvida. “Colocai o pescoço no jugo do rei da Babilônia, e servi-o, a ele e ao seu povo, e vivereis” (Jr27.1-22). A cena retorna à época de Zedequias, com as forças invasoras da Babilónia ameaçando o reino. Jeremias anunciou que Deus, o Criador, tinha decidido en­ tregar Judá e as outras nações da Síria-Palestina aos babilônios. Se Zedequias entregasse a nação a Nabucodonosor, ele e seu povo viveriam. Nesta ocasião, inúmeras das melhores famílias de Judá já tinham sido deportadas à Babilônia, em 605 a.C. Agora, era o ano de 597 a.C., e dentro de um ano os exércitos da Babilônia estariam do lado de fora dos portões da cidade. Não existia motivo para esperança, no entanto, Zedequias não quis ouvir Jeremias. O livro do Apocalipse descreve uma reação similar­ mente irracional, no fim da história. A própria terra

será atingida, por desastre após desastre; até que a origem sobrenatural dos juízos fique clara a todos. Observando isso em uma visão, João disse que to­ dos os seres humanos “se esconderam nas cavernas e nas rochas das montanhas e diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono e da ira do Cordeiro, porque é vindo o grande Dia da sua ira; e quem poderá subsistir?” (Ap 6.15-17). Nem mesmo a certeza do juízo pode afastar um homem de seus pecados. Somente a mensagem do amor salvador de Deus em Jesus pode alcançar e derreter o coração humano endurecido. Jeremias foi chamado para proclamar o juízo, e a sua geração não se comoveu. Você e eu somos chamados a compartilhar as Boas-Novas do evan­ gelho, e essa mensagem ainda é “o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16). “Eu quebrei ojugo do rei da Babilônia” (Jr 28.1-17). Jeremias recebia a constante oposição de falsos pro­ fetas, que, em alta voz, proclamavam mensagens que contradiziam as suas. Nessa ocasião, quando Jeremias insistia com Zedequias para se entregar aos babilônios, um falso profeta, chamado Hananias, anunciou que Deus libertaria Judá do poder dos babilônios e traria de volta os cativos que ali já estivessem. A seguir, ele quebrou o jugo de madei­ ra que Jeremias usava para simbolizar a submissão à Babilônia. Jeremias, então, foi instruído a forjar um jugo de ferro, e a anunciar que, por Hananias afirmar que falava no nome de Deus, quando Deus não o tinha enviado, ele morreria antes que o ano chegasse ao fim. Dentro de dois meses, Hananias estava morto! Nos tempos do Antigo Testamento, os profetas eram autenticados como mensageiros de Deus ao fazer predições que em breve se cumpriam, ou ao realizar algum sinal milagroso. Dessa maneira não haveria enganos sobre quem eram realmente os porta-vozes de Deus. Embora Hananias tivesse morrido como Jeremias predisse, o povo de Judá ainda se recusava a ouvi-lo. Hoje também existe uma obra autenticadora de Deus que nos ajuda a reconhecer os seus portavozes. Essa é uma obra do Espírito Santo, realizada dentro dos crentes. Jesus falou desta obra, quando disse: “Conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido” (Jo 10.14,15). Precisamos autenti­ car os ensinamentos modernos primeiramente pelo padrão objetivo da Palavra de Deus, e depois pelo padrão subjetivo da voz interior do Espírito.

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DEV OCIONAL_________ as boas-novas de Deus e fazer parecer que são más Más Boas-Novas (Jr29) Quase parece uma contradição de termos. “Más” boas-novas? Mas é exatamente disso que trata Jere­ mias 29. Leia o capítulo, e você e eu veremos somente boasnovas. Ele contém uma carta que Jeremias escreveu para instruir e encorajar os judeus que já tinham sido transportados à Babilônia. Nela, Jeremias enco­ rajava os cativos a se estabelecerem, construir casas, aproveitar a vida e prosperar naquela grande capital (w. 4-9). Jeremias também transmitiu a promessa de Deus de trazer o seu povo de volta à sua própria terra depois de 70 anos. “Eu bem sei os pensamen­ tos que penso de vós”, disse Deus por intermédio do seu profeta, “pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que esperais” (w. 10-14). E difícil imaginar notícia melhor do que essa! Você imagina­ ria os exilados saltando de alegria, ou pelo menos se recostando com um suspiro de alívio e agradecendo a Deus. Em vez disso, os líderes no exílio enviaram uma carta ao sacerdote principal de Judá, exigindo, em nome de Deus, que Jeremias fosse amarrado ao cepo e acorrentado pelo pescoço! Jeremias era um louco, que deveria ser silenciado, de uma vez por todas! Para os exilados na Babilônia, as boas-novas que Jeremias transmitia pareciam ser más notícias. Eles não queriam ouvi-las! Queriam voltar para casa, imediatamente. Outro dia, ouvi o programa “Crossfire” pela CNN. O debate era entre- um pouco conhecido evangeli­ zador e um homem que promovia um livro no qual ele rotula de desonesto todo pregador que utiliza o rádio ou a televisão. E a pior acusação que o autor arremessou contra o evangelizador foi: “Você acre­ dita que quem não crê em Jesus Cristo irá para o inferno, não acredita?” Que caso de “más” boas-novas! A mensagem do evangelho é que todos merecem o inferno. No entanto, por amor, Deus enviou Jesus Cristo para morrer por nós, de modo que pela fé nEle os seres humanos poderão ser perdoados e receberão a vida como um dom gratuito. De alguma maneira, aquele crítico de evangeliza­ dores distorceu toda a mensagem, e fez parecer que Deus condenava o povo por não crer no seu Filho, ignorando o fato de que toda a humanidade está perdida e condenada, sem Ele. Bem, não fique excessivamente surpreendido se o que aconteceu a Jeremias, e o que aconteceu na tele­ visão, acontecer a você, em alguma ocasião. As pes­ soas têm uma surpreendente capacidade de distorcer

notícias. Mas se acontecer com você, não permita que o seu crítico alcance o seu objetivo. Mantenha o foco no que há de “bom” nas boas-novas, e alegre-se com aquilo que o Senhor quer dizer a você. Aplicação Pessoal Argumentar com pessoas determinadas a fazer com que as boas-novas pareçam más notícias, é quase tão improdutivo quanto tentar cultivar feno na lua. Citação Importante “Quando Tennyson passou pelo chalé de uma se­ nhora idosa, perguntou: ‘O que há de novo esta manhã?’ A senhora respondeu: ‘Senhor Tennyson, eu conheço apenas uma novidade — que Jesus Cris­ to morreu por toda a humanidade’. ‘Senhora’, disse Tennyson, ‘esta é uma notícia velha, mas também uma novidade, e uma boa notícia’!” — Howard A. Banks 4 D E JU N H O LEITURA 155 PROMESSAS DO NOVO CONCERTO Jeremias 30— 33 “Porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu coração', e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo... porque perdoarei a sua maldade e nunca mais me lembrarei dos seus pecados” (Jr 31.33,34). A chave para compreender a obra de Deus nos crentes, hoje em dia, é compreender o impacto do novo concerto, e perceber que este concerto foi ins­ tituído através da morte de Jesus Cristo. Visão Geral Uma coletânea de~ sermões que se concentram na restauração (30.1-11) e na cura (w. 12-24) da co­ munidade de fé do Antigo Testamento. O amor eterno de Deus assegurou bênçãos futuras, apesar da tristeza atual (31.1-30). Mas para realizar os seus objetivos, Deus tinha que fazer um novo concerto com seu povo (w. 31-40). Jeremias comprou um campo ocupado pelo inimigo, para demonstrar a sua confiança pessoal nas promessas de restauração de Deus (32.1-44), que ele repetia, embora estives­ se aprisionado (33.1-26). Entendendo o Texto “Farei tornar do cativeiro o meu povo” (Jr 30.1-11). As mensagens desses capítulos são unificadas pelo tema da restauração. Embora possam ser extraídas de períodos diferentes do ministério de Jeremias, é

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mais provável que datem, como os incidentes dos capítulos 32 e 33, dos últimos dias de Judá, com Jerusalém prestes a cair. Essas mensagens enfatizam uma característica peculiar da pregação profética. Quando o povo de Deus prospera e está confortável, os profetas censuram os seus pecados e predizem juízos. Mas quando vem o juízo, e o povo de Deus sente temor, os mesmos profetas o consolam, com promessas de perdão e restauração. Não existe conflito entre os dois temas. As predições de punição pretendem trazer arrependimento e, se não houver arrependi­ mento com a advertência, a própria punição trará o arrependimento posteriormente. O que nós real­ mente vemos é que Deus sempre se preocupa em transmitir exatamente a mensagem que o seu povo necessita naquela ocasião particular. Um pregador moderno observou que o seu chamado pretendia “afligir os que estão confortáveis, e consolar os afli­ tos”. Se você e eu estivermos muito confortáveis neste mundo, precisamos das palavras firmes de Deus para nos lembrar de que devemos perma­ necer comprometidos com a justiça e a santidade. Se sofrermos, precisamos de palavras amorosas de promessa, que nos lembrem do amor de Deus e do seu comprometimento em nos fazer o bem.

dância da sua “amável benignidade”, a expressão que traduz o misericordioso comprometimento de Deus com suas promessas de concerto, que está na raiz dos seus atos. A mesma coisa é válida conosco, hoje em dia. Quando Deus enviou o seu Filho ao mundo, foi para salvar seus inimigos! Ele nos salvou, apesar do que somos, e não por causa do que somos. “Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). Não devemos jamais cair no erro de pensar que Deus nos salvou, ou salvará alguma outra pes­ soa, por sermos “bons” ou “agradáveis” ou por me­ recemos, de alguma maneira, a sua benevolência. E que bênção é isso! Os melhores entre nós são defeituosos, e se tivéssemos que depender das nos­ sas próprias obras, jamais receberíamos os dons de Deus. Mas, uma vez que tudo depende do amor de Deus, podemos estar confiantes e seguros. O amor de Deus não tem limites, e, como diz Jeremias, ele é “eterno”. Somente por confiarmos plenamente no amor de Deus podemos dizer, com confiança, que fomos, estamos sendo, e certamente seremos “salvos”. Não é de admirar que Jeremias convocasse Judá para “cantar com alegria” e “cantar louvores”. A confiança no amor de Deus converterá o nosso “pranto em alegria” e nos dará “consolo e regozijo, “Restaurarei a tua saúde e sararei as tuas chagas” (Jr em lugar de tristeza”. 30.12-24). Aqui, as “chagas” de que Deus fala são espirituais. O seu povo não pode ser curado em “Lamentação e choro amargo” (Jr 31.15-30). As virtude da “grandeza de tua maldade e multidão de palavras são citadas no Evangelho de Mateus teus pecados”. (2.17,18), e se aplicam à matança de bebês ino­ Antes que Deus possa restaurar a prosperidade ma­ centes por ordem de Herodes, no esforço inútil terial do seu povo, Ele deverá restaurar a sua saúde daquele rei em matar o Menino Jesus. Mas aqui, a espiritual. Isso é impossível para o povo de Judá: as referência é, claramente, a Raquel, a ancestral das suas chagas são “incuráveis” e “não podem ser cura­ tribos do norte, chorando pela deportação de Israel das”. Mas Deus encontrará uma maneira, e então à Assíria, em 722 a.C. A sua trágica figura também os restaurará ao relacionamento com Ele (v. 22) e à chora em Ramá, o mesmo lugar onde os exilados prosperidade nacional. foram reunidos antes de serem deportados à Babi­ A ordem aqui é importante. Deus está ansioso por lônia (Jr 40.1). Deus lhe disse que parasse de cho­ nos abençoar. Mas, antes disso, devemos ser cura­ rar, pois Ele restauraria a sua descendência banida, dos interiormente, e estar no relacionamento cor­ tornando-os, outra vez, uma fonte de alegria e não reto com Ele. Como Jesus explica, a nossa primei­ de tristeza. ra preocupação deve ser buscar o Reino de Deus A citação em Mateus não pretende ser um cum­ e a sua justiça. Então “todas essas coisas vos serão primento direto, mas uma aplicação. Em ambos os acrescentadas” (M t6.33). casos, Deus predominará. A tragédia fará surgir a bênção; a tristeza fará surgir a alegria. “Com amor eterno te amei” (Jr 31.1-14). Se procu­ rarmos alguma razão para a promessa de restaura­ “Farei um concerto novo com a casa de Israel” (Jr ção de Deus no próprio povo de Judá, ficaremos 31.31-40). Um concerto era uma promessa ou desapontados. Nada, no caráter deste povo, ou nos compromisso legal e formal. Jeremias predisse que seus atos, era atraente. Nada merecia a considera­ dias viriam quando Deus faria um novo concerto ção de Deus. Mas a razão que Jeremias forneceu foi com Israel, para substituir o “antigo” código mosai­ simplesmente o fato de que Deus tinha escolhido co, sob o qual os judeus viviam. Observe que Deus amar o seu povo “com amor eterno”. E a abun­ não “fez” este concerto nos tempos de Jeremias,

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mas prometeu substituir o antigo por uma nova aliança, em alguma data futura. O Novo Testamento deixa claro que o “novo con­ certo” prometido foi formalmente instituído pela morte de Cristo. Este concerto assumiu a mais obrigatória de todas as formas do Antigo Testamento: ele foi um “con­ certo de sangue”, formalizado pela oferta de um sacrifício de sangue. Como Jeremias deveria ter se perguntado, e curvado sua cabeça em reverência, se tivesse sabido que o sacrifício necessário para cum­ prir as promessas incrustadas no novo concerto se­ ria o próprio Filho de Deus. Jeremias descreveu a natureza do novo concerto. “Não conforme” o código mosaico, que registrou as leis de Deus em pedra e deixou de oferecer o per­ dão completo. Por meio do novo concerto, Deus disse: “porei a minha lei no seu interior e a escreve­ rei no seu coração”. O novo concerto oferece reno­ vação espiritual interior e transformação. Por meio do novo concerto, Deus seria “o seu Deus”, unido por um elo que nada, nem no céu nem no infer­ no, poderia romper. E por meio do novo concerto, Deus disse: “perdoarei a sua maldade e nunca mais me lembrarei dos seus pecados”. Hoje, você e eu desfrutamos dos benefícios espiri­ tuais deste novo concerto por meio da nossa fé em Jesus Cristo. Um dia, segundo Jeremias, um Israel restaurado habitará outra vez em Judá e Jerusalém,

DEVOCIONAL______

Aja para Comprovar a sua Fé (Jr31— 32) “Eu creio! Eu creio! Eu sei que você consegue!” O rapaz saltou quando o acrobata da corda bam­ ba perguntou quem acreditava que ele poderia carregar um homem sobre seus ombros, quando atravessasse, em sua corda bamba, as cataratas do Niágara. Mas quando lhe disseram, “Ok, amigo, você é o primeiro”, o rapaz sumiu! E uma história antiga, mas certamente exemplifica a questão. Se você realmente acredita em algo, deve estar dispos­ to a mostrar a sua fé, por suas ações. Isso foi o que Deus pediu que Jeremias fizesse. O profeta tinha corajosamente anunciado uma restauração futura e uma bênção para Jerusalém (cap. 31). Agora, ele era instruído a comprar um campo, embrulhar cuidadosamente a escritura, e enterrá-la onde pudesse ser encontrada 70 anos mais tarde, quando o restante dos judeus retornas­ se da Babilônia. Havia um único truque. O campo que Jeremias foi instruído a comprar ficava fora de

protegido na antiga Terra Prometida. Então Israel também reconhecerá o seu Messias, e os benefícios espirituais de que você e eu desfrutamos pertence­ rão a este povo ao qual Deus escolheu para amar com um “amor eterno”. “Clama a mim, e responder-te-ei e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes, que não sabes” (Jr 33.1-26). Jeremias estava na prisão, por causa do seu con­ selho “desleal” de que Judá deveria render-se aos babilônios. Deus lhe falou outra vez, e lhe revelou “coisas que não sabes”. Aqui está o plano de Deus para o futuro do seu povo: um futuro que ninguém poderia imaginar, exceto por revelação divina. Quais são as linhas gerais deste futuro? Judá seria levada em cativeiro (w. 1-5). O povo seria trazido de volta à terra, e a sua produtividade e prosperida­ de seriam restauradas (w. 6-13). O cumprimento total desta promessa espera pela aparição de um Descendente de Davi, que pode, adequadamente, ser chamado de “O Senhor é Nossa Justiça”. Até esta ocasião, sempre haverá um descendente de Davi qualificado para se assentar no trono de Isra­ el (w. 14-18). E, anunciou Jeremias, esta intenção de salvação de Deus é tão firme como a intenção da criação, que colocou as estrelas no seu curso e estabeleceu o ciclo rítmico de dia e noite (w. 1926). De uma coisa, podemos ter certeza: Deus não rejeitou o seu povo, Israel. E Ele não nos rejeitará.

Jerusalém, e era ocupado pelo exército babilônio, que estava, então, sitiando as muralhas da cidade! E Jeremias foi instruído a pagar o preço integral, em prata, por aquilo que todos, então, devem ter considerado uma terra sem valor (32.6-15). Jeremias ficou atônito. Depois de obedecer ao Senhor, ele manifestou a sua surpresa, em oração (w. 16-25). Deus lembrou ao seu profeta: “Eis que eu sou o Senhor, o Deus de toda a carne. Acaso, seria qualquer coisa maravilhosa demais para mim?” (v. 27) Que mensagem para nós. Cremos, mas às vezes, quando somos levados ao que parece ser um ato arriscado ou custoso, recuamos. Como o rapaz que fugiu do acrobata, quando convidado a fazer a tra­ vessia, temos a tendência de fugir, quando somos desafiados a colocar a nossa fé em prática. Quando vem a tentação de fugir, como é bom recordar a instrução de Deus a Jeremias, de com­ prar um campo aparentemente sem valor. Este ato “tolo” ecoa até os nossos próprios dias, como evi-

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dência da fé do profeta — e evidência da sabedoria “Apregoar a liberdade” (Jr 34.8-22). Esta passagem de obedecer até mesmo ordens aparentemente “to­ sugere que Zedequias fez realmente algum esforço las” e custosas, da parte de Deus. para a reforma. Esperando obter a benevolência de Deus, ele instruiu seus oficiais e os cidadãos Aplicação Pessoal de Jerusalém a libertar os escravos hebreus. A lei A resposta à pergunta de Deus: “Acaso, seria qualquer do Antigo Testamento exigia que os escravos he­ coisa maravilhosa demais para mim?” ainda é “Não!” breus fossem libertados depois de alguns anos de serviço (Dt 15.12-18). Mas a riqueza de Jerusalém Citação Importante infringia esta lei e mantinha os judeus em servidão “Eu cra um homem livre, em uma posição secular. perpétua. O povo agora era convidado a corrigir Meu pai era um decurião; na verdade, eu abandonei esta situação, e libertar os escravos hebreus. Mas a minha posição aristocrática — pelo que não me quando o falso ataque de um exército egípcio er­ envergonho nem lamento — para o benefício de gueu, temporariamente, o cerco a Jerusalém (cf. outras pessoas. Em resumo, eu sou um escravo em Jr 37.4,5), “se arrependeram, e fizeram voltar os Cristo para uma nação longínqua, por causa da in­ servos e as servas que tinham libertado, e os sujeit­ descritível glória da vida eterna que existe em Cristo aram por servos e por servas”. Jesus, nosso Senhor.” — Patrício, da Irlanda Com isso, não somente desobedeceram ao Senhor, como também violaram um solene “concerto de 5 DE JUNHO LEITURA 156 sangue”, que era celebrado passando-se entre as SITIADOS duas porções de um bezerro dividido em duas partes. Esse ato simbolizava a punição que merece­ -39 riam, se rompessem a promessa de concerto, feita “Teus olhos verão os olhos do rei da Babilônia... e en­ “diante do Senhor”. Agora, Deus imporia exata­ trarás na Babilônia” (Jr 34.3). mente essa punição. O problema com muitas “conversões no leito de mor­ Jerusalém estava sitiada; Jeremias estava aprisiona­ te” é o fato de que, quando a morte parece iminen­ do; o rei, impotente — e o povo, impenitente. te, praticamente qualquer promessa será feita. Mas quando o perigo retrocede, o povo geralmente retor­ Visão Geral na aos seus antigos costumes. A realidade do arrepen­ Jeremias aconselhou Zedequias a render-se (34.1 - dimento e da fé jamais pode ser verificada por meras 7). A desobediência de Judá aos mandamentos palavras. O verdadeiro arrependimento e a verdadeira de Deus (w. 8-22) contrastava com a obediência fé somente podem ser exibidos por uma vida inteira dos recabitas ao mandamento de um antepassado de obediência aos mandamentos de Deus. (35.1-19). A destruição efetuada por Jeoaquim de um pergaminho anterior de Jeremias é lembrada “Obedecestes ao mandamento de Jonadabe, vosso pai” (36.1-12). De volta à época de Zedequias, Jeremias (Jr 35-1-19). Os recabitas eram uma família de nô­ foi aprisionado e atirado em um calabouço lama­ mades que tinham seguido cuidadosamente as ins­ cento, para ali morrer (37.1-38.13). O impotente truções de um antepassado, de não beber vinho e de Zedequias questionou Jeremias em particular (w. não viver em casas, nem trabalhar com agricultura. 14-28), pouco tempo antes que a cidade fosse fi­ Deus enfatizou esta obediência e a comparou com nalmente tomada (39.1-18). a persistente recusa de Judá em obedecer a alguém muito superior a Jonadabe, o próprio Senhor. Judá Entendendo o Texto seria punida pela sua recusa em obedecer a Deus. “Vai, e fala a Zedequias, rei de Judá” (Jr 34.1-7). Quanto aos recabitas, foram recompensados com Em um esforço final para poupar a cidade, Deus a promessa: “Nunca faltará varão a Jonadabe, filho enviou Jeremias a falar com Zedequias. Havia so­ de Recabe, qué assista perante a minha face todos mente alguns bolsões de resistência aos babilônios os dias”. invasores em Judá (v. 7); estava claro que continuar O que importa a Deus não são protestos emo­ resistindo era inútil. Mesmo agora, se Zedequias se cionais de fé, nem súbitas conversões no leito de rendesse, Deus prometia poupar a sua vida e dar- morte. Essas coisas podem ou não ser reais. O que lhe um sepultamento honroso. agrada a Deus é a vida persistente e consistente do O incidente nos recorda os dois ladrões na cruz. Já crente, de simples obediência à sua Palavra. não mais há esperança de viver. A morte espreita assustadoramente à porta. Mesmo então, Deus dá “0 rei queimara o rolo, com as palavras que Baruque aos pecadores uma chance de arrependimento. escrevera da boca deJeremias”(Jr36.1-32). O contraste

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entre os recabitas e o povo de Judá continuou com esta história, dos tempos de Jeoaquim, aproximada­ mente 15 anos antes dos outros incidentes registrados nesses capítulos. Os recabitas tinham se lembrado das palavras de Jonadabe; Deus fez com que as suas palavras, por intermédio de Jeremias, fossem escritas com tinta, tornando-se um testemunho inesquecível. O que tinha acontecido? O rei Jeoaquim tinha, na verdade, queimado o manuscrito — uma tentativa inútil de apagar a Palavra de Deus! A tentativa realmente era inútil. Jeremias simples­ mente ditou outra cópia — acrescentando algo — a seu secretário, Baruque, enquanto o profeta e seu escrivão se escondiam de Jeoaquim. E o que o rei Jeoaquim conseguiu com essa tenta­ tiva de apagar as Escrituras? A completa rejeição de Deus. Ele e a sua família seriam deixados de lado, e a linhagem real de Davi continuaria por um irmão, e não pelo rei apóstata. O povo ainda tentou ignorar ou desacreditar a Palavra de Deus. Mas os seus esforços foram tão inúteis quanto os de Jeoaquim — e têm a mesma consequência de rejeição pelo Senhor.

durante anos sobre o que aconteceria se continuas­ sem a desobedecer a Deus. Eles o atacaram, em vez de aceitar a responsabilidade pela situação. Culpar os outros é uma das mais inúteis e destru­ tivas de todas as possíveis reações, em qualquer situação. A única reação positiva é encarar hones­ tamente as causas, aceitar a responsabilidade pelo seu próprio papel, e então tomar alguma atitude apropriada. Em Judá, o povo ainda se recusava a aceitar a responsabilidade pelos atos que trouxeram o ataque dos babilônios sobre eles. O povo de Judá simplesmente culpava Jeremias, e dirigiu sua frus­ tração e sua ira contra ele.

“Roga, agora, por nós ao Senhor, nosso Deus” (Jr 37.1-10). Zedequias ignorou completamente a pa­ lavra de Deus (v. 2), mas desejou que Jeremias oras­ se por ele! Isso é típico dos que não se convertem! Deus não merece a sua atenção — a menos que eles desejem alguma coisa dEle. Deus respondeu ao pedido de Zedequias. Ele en­ viou Jeremias para dizer ao rei que a retirada dos exércitos babilônios, para o encontro com uma ameaça egípcia, era temporária. Os babilônios iriam retornar, retomariam o seu ataque, e destrui­ riam Jerusalém a fogo. Sim, qualquer pessoa pode orar. Mas, como Zede­ quias, aqueles que ignoraram a Deus por toda a sua vida podem não gostar da resposta que receberão. “Tu foges para os caldeus” (Jr 37.11-21). Durante uma trégua no cerco, Jeremias tentou deixar Jeru­ salém, a trabalho, mas foi barrado à porta e acusa­ do de desertar para o lado dos babilônios. A constante insistência de Jeremias pelo arrepen­ dimento tinha antagonizado os “patriotas”. Na sua ira, eles, e os oficiais do rei, espancaram e aprisio­ naram Jeremias. Na primeira de várias entrevistas particulares com Zedequias, Jeremias, uma vez mais, insistiu na rendição. Em vez de ser enviado de volta a uma prisão onde corria risco de morte, Jeremias foi mantido “no átrio da guarda”, e era alimentado diariamente. A reação dos “patriotas” é típica. Na tensão do cer­ co, o povo culpou Jeremias, que os tinha advertido

Jeremias foi colocado em uma cisterna muito parecida com esta, e ali foi deixado para morrer.

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Jeremias 34— 39 A mesma coisa é comum em pessoas que maltra­ tam cônjuges e crianças, e nos alcoólatras. Eles se recusam a aceitar a responsabilidade pelos seus atos, e, em vez disso, culpam suas vítimas! Até que a pessoa aceite a responsabilidade por seus próprios atos, não existe esperança de mudança. Tais pessoas continuarão a castigar os inocentes, assim como as autoridades de Judá vitimaram o justo Jeremias. “Morra este homem” (Jr 38.1-13). A ira compulsiva de homens culpados que negam a sua responsabili­ dade é exibida, também, na reação de altas autori­ dades à continuada pregação de Jeremias. Uma vez mais, o profeta advertia que somente aqueles que deixassem Jerusalém sobreviveriam para ir ao cati­ veiro. Essa pregação “desleal” adicional, que, sem dúvida, ameaçava a moral das autoridades, levou a exigências de que Jeremias fosse morto. Zedequias, sem querer resistir a essa pressão, deu de ombros, e entregou Jeremias a eles. Jeremias, então, foi colocado em uma cisterna vazia da cidade, um gigantesco poço para armazenamen­ to de água. Ele se atolou na lama, e ali foi deixado, para morrer. Jamais pense, se você estiver em um relacionamen­ to com uma pessoa que lhe maltrata, ou um alco­ ólatra, que, de alguma maneira, as coisas melho­ rarão. Mesmo se você fizer o que é correto, como fez Jeremias, poderá contar com perseguição ainda mais intensa. Somente quando o indivíduo que maltrata aceitar responsabilidade pela iniquidade de séus próprios atos, existe alguma esperança de mudança. Até então, você poderá esperar mais hos­ tilidade, mais ira, além de maus tratos adicionais. A situação de Jeremias, no entanto, não era desesperadora. Deus enviou outro oficial, chamado Ebede-Meleque, para ajudá-lo. Jeremias foi içado da cisterna, e retornou ao átrio da guarda. Uma vizinha nossa, seriamente maltratada por seu marido, orava desesperadamente, para que Deus lhe enviasse alguém, a fim de aconselhá-la. Naquele dia, minha esposa a encontrou na piscina da nossa comunidade, e passou uma hora conver­ sando com ela. Três semanas mais tarde a vizinha, sentindo-se novamente desesperada, pronunciou a mesma oração. Novamente, ela “casualmente”

encontrou minha esposa, que, novamente, passou várias horas conversando com ela. Deus tem um Ebede-Meleque também para você, quando você estiver desesperado. Ore, como fez a nossa vizi­ nha, e peça a Deus que envie alguém que pode ajudar. “Arrancou os olhos a Zedequias” (Jr 39.1 -10). Zede­ quias caiu, como Jeremias tinha predito. Zedequias tentou fugir, mas foi capturado. Seus filhos foram assassinados diante dele, e então seus próprios olhos foram arrancados, de modo que a última coi­ sa que o rei viu foi o assassinato de sua família. A seguir, Zedequias, e todos, menos alguns dos mais pobres de Judá, foram levados em cativeiro, com a fumaça da Jerusalém em chamas erguendo-se por trás deles. O rei tinha se recusado a dar ouvidos à palavra do Senhor. A responsabilidade pelo que lhe tinha acontecido era sua. O rei cego e sem filhos, sendo arrastado acorrenta­ do, é um lembrete vívido de uma verdade espiritual básica. Qualquer pessoa pode decidir ignorar a pa­ lavra de Deus. Mas ninguém pode evitar as conse­ quências desta escolha. “Vai e fala a Ebede-Meleque” (Jr 39.11-18). Os babilônios se preocupavam com Jeremias, a quem deviam considerar como um grande aliado. Tendo o direito de escolher, Jeremias escolheu permanecer com o pequeno grupo de judeus que ficou na ter­ ra, em vez de acompanhar os cativos à Babilônia. Afinal, Ezequiel e Daniel estavam na Babilônia. Os exilados não estariam sem orientação. Mas quem se preocuparia com os pobres restantes que permane­ ceram em Judá? A missão primordial de Jeremias era de consolo. Ebede-Meleque, que anteriormente tinha salvado o profeta, foi informado de que, embora a cidade devesse ser destruída, ele seria salvo, “porque con­ fiaste” no Senhor. O resgate que este homem fez, de Jeremias, fora um ato de fé. Esse incidente nos encoraja. Assim como houve consequências à desobediência de Zedequias, tam­ bém houve consequências ao ato de fé de EbedeMeleque. Como diz o livro de Hebreus, Deus “é galardoador dos que o buscam” (Hb 11.6).

DEVOCIONAL______

a pessoa normal os inveja. Riqueza! Poder! O que mais um ser humano poderia desejar? A televisão encontrou um sucesso, quando decidiu Mas Jeremias apresentou uma noção totalmente apresentar “Lifestyles of the Rich and Famous” (“O diferente dos “ricos e famosos” de seu tempo. O Estilo de Vida dos Ricos e Famosos”). Ah, como seu retrato de Zedequias, o rei de Judá, nos leva aos Tenha Pena do Rei Pobre e Impotente

(Jr 38)

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Jeremias 40— 45 bastidores, e revela um homem que mais merece pena do que inveja. Pois esse rei era impotente! Quando as autoridades exigiram a sentença de morte para Jeremias, Zedequias deu de ombros, e disse: “Eis que ele está na vossa mão, porque o rei nada pode contra vós” (v. 5). Depois que Jeremias foi resgatado pelo corajoso Ebede-Meleque, Zede­ quias falou sozinho com Jeremias, para perguntarlhe o que aconteceria com ele no futuro (w. 14-16). O rei foi informado de que, caso se rendesse, ele e sua família viveriam (w. 17-18). Zedequias hesi­ tou, e expressou o seu receio de que os babilônios pudessem entregá-lo aos judeus que tinham fugido e passado para o lado dos babilônios, e ele poderia ser maltratado (v. 19). Novamente, Jeremias insis­ tiu na rendição (w. 20-23), mas o rei somente im­ plorou que Jeremias não contasse aos seus oficiais o que eles tinham conversado, mas simplesmente dissesse que Jeremias tinha implorado por sua vida (w. 24-28). Que retrato de um rei! Medo do futuro. Com medo de seus próprios oficiais. Sabendo o que era certo, mas totalmente incapaz de fazê-lo, mesmo que o desejasse. O mais poderoso homem em Judá era o menos livre para agir; o menos capaz de fazer o que era sábio e certo. Oh, sim, devemos ter pena do pobre e impotente rei. E devemos aprender com ele. O maior presente que Deus pode nos dar é a li­ berdade — a liberdade para fazermos o que acre­ ditamos ser o certo. Com frequência, os ricos se preocupam demais com a sua riqueza, para faze­ rem o que acreditam ser o certo. São cativos do que possuem. Geralmente, os famosos também se preocupam demais com o que os outros vão pen­ sar, a fim de fazerem o que acreditam ser o certo. São cativos da sua fama. E com frequência os po­ derosos também se preocupam demais em manter a sua posição para agir de acordo com o que acre­ ditam ser o certo. São cativos do seu próprio poder, e não têm controle sobre ele. Somente aqueles que se preocupam, acima de tudo, em fazer a vontade de Deus, são verdadeiramente ricos, pois somente eles são verdadeiramente livres.

E sempre humano quando falava, mas acelerava as pulsações, quando dizia, “Bom dia”, e reluzia quando andava. E era rico — sim, mais rico do que um rei — e admiravelmente culto em toda a graça: Em resumo, pensávamos que ele era e tinha tudo o que nos fizesse desejar estar no seu lugar. Assim nós trabalhamos, e esperamos pela luz, mas prosseguimos sem a carne, e amaldiçoamos o pão; e Richard Cory, em uma calma noite de verão, Foi para casa, e deu um tiro na própria cabeça. — Edward Arlington Robinson iT \.

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DE JUNHO LEITURA 157 A FUGA PARA O EGITO r 40— 45

“Enganastes a vossa alma, pois me enviastes ao Sen­ hor, vosso Deus, dizendo: Ora por nós ao Senhor, nosso Deus” (Jr 42.19,20). O fato de conhecermos a vontade de Deus nos obriga a cumpri-la. E melhor não perguntar qual é a vontade de Deus, a menos que você pretenda cumpri-la! Visão Geral Breves capítulos nos narram o assassinato do gover­ nador indicado para a Babilônia, Gedalias (40.1— 41.15) e a apressada fuga dos judeus restantes ao Egito, apesar das advertências de Jeremias (v. 16— 43.13). Agora, a destruição sobrevinha à popula­ ção em fuga, que persistia na idolatria (44.1-30). Uma nota de rodapé contém a promessa de Deus a Baruque, e a repreensão a ele (45.1-5).

Entendendo o Texto “Pecastes contra o Senhor” (Jr 40.1-6). Jeremias se encontrava acorrentado com outros cativos que deviam ser enviados à Babilônia. Nós não sabemos se o capitão babilônio realmente acreditava no que disse a Jeremias, quando libertou o profeta (w. 1-3). Mas as suas palavras mostram que o inimigo estava bastante familiarizado com a mensagem do Aplicação Pessoal profeta. Faça a vontade de Deus, e você será maior — e Não podemos saber até onde as nossas palavras al­ cançam, quando damos um testemunho da nossa mais feliz — do que qualquer rei. fé em Deus, ou transmitimos a sua mensagem a outras pessoas. Citação Importante Sempre que Richard Cory ia à cidade, “Jurou Gedalias [para tranquilizá-los]” (Jr 40.7— Nós, o povo, da rua, olhávamos para ele; Ele era um cavalheiro, desde a alma até a coroa. 41.15). Gedalias é um dos personagens menos co­ De aparência esplêndida, e imperialmente magro. nhecidos das Escrituras, mas um dos mais atraentes. Quando foi indicado para governar Judá, empeE sempre tranquilo.

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Jeremias 40— 45 nhou-se para tranquilizar a população restante. Ele prometeu representar seus interesses junto aos babi­ lônios, e os instalou em uma terra produtiva, onde teriam alimento e, em última análise, prosperariam. A princípio, tudo estava bem. Tranquilizados pela nomeação de Gedalias, os judeus que tinham fugi­ do para as nações vizinhas retornaram, e a colheita inicial foi abundante. Quando soube de um plano para assassiná-lo, Gedalias o ignorou, recusando-se a pensar mal de uma pessoa que ele julgava honrosa e um amigo. Apesar de tudo, Gedalias mostrou ser um homem realmente bom. Mas ele era uma exce­ ção, e homens bons não prosperam na terra dos ím­ pios. Ele foi assassinado, juntamente com a pequena guarnição de soldados babilônios deixada em Judá. Talvez somente as palavras de Isaías forneçam com­ preensão quando uma pessoa como Gedalias morre antes da sua hora, e os ímpios parecem prosperar. “Perece o justo, e não há quem considere isso em seu coração, e os homens compassivos são retira­ dos, sem que alguém considere que o justo é le­ vado antes do mal. Ele entrará em paz; descansarão nas suas camas os que houveram andado na sua retidão” (Is 57.1,2). “Caia, agora, a nossa súplica diante de ti”(Jr 4 l.l(>— 42.3). Os assassinatos aterrorizaram a população judia. Certamente, os babilônios vingariam esse ato terrorista! Todos os judeus restantes, sob oficiais do exército recuperados, liderados por Joanã, filho de Careá, se reuniram e imploraram a Jeremias que per­ guntasse a Deus o que deveriam fazer. À primeira vista este passo parece ser devoto e sá­ bio. Mas, como observamos antes, é perigoso pedir orientação a Deus, a menos que tenhamos a inten­ ção de fazer exatamente o que Ele nos orienta.

Uma das mais empolgantes descobertas dos arqueólogos em Jerusalém é o bullae (sinete ou selo) usado por Baruque, o escriba a quem Jeremias ditou este livro do Antigo Testamento. O sinete, aqui ilustrado, era usado como um selo de autenticação e dele constam os dizeres “para /de “Seja o Senhor entre nós testemunha da verdade e Baruque // filho de Nerias // o escriba”. fidelidade, se não fizermos conforme toda a palavra com que te enviar a nós o Senhor" (Jr 42.4-22). De­ “Entraram na terra do Egito, porque não obedeceram” pois de uma espera de 10 dias, Jeremias trouxe ao (Jr 43.1-13). O povo da época de Jeremias tinha grupo ansioso a resposta de Deus. A mensagem era decidido, de antemão, o que desejavam que Deus inequívoca e clara. Os judeus deviam permanecer dissesse. Uma vez que a mensagem de Jeremias não na terra; Deus providenciaria que Nabucodonosor correspondeu às suas expectativas, acusaram Jere­ os tratasse com bondade. Definitivamente, não mias de mentir! deviam ir ao Egito. Se o povo tentasse fugir para Parece uma saída fácil. Você não gosta do que a Bí­ o Egito, “deles não haverá quem reste e escape do blia diz? Então é só decidir não acreditar! Sente-se mal que eu farei vir sobre eles”. Como os homens desconfortável com esta ou aquela passagem? Sim­ da época de Jeremias estavam prestes a descobrir, plesmente, ignore-a, ou revise-a e acomode-a à sua não é o que não conhecemos a respeito da von­ vontade. Uma paráfrase contemporânea feita por tade de Deus que pode ser o nosso problema. O Shirley Maclaine, a New Age Version, assim traduz fato de conhecermos a vontade de Deus nos traz Romanos 3.23: “Pois todos tivemos lapsos momen­ a obrigação de cumpri-la. Deixar de fazer o que tâneos e chegamos a uma ideia um pouco tímida sabemos que é certo é muito mais sério do que não da vontade da divina entidade; mas, ora, ninguém compreender o que o Senhor deseja. é perfeito. Assim, não se preocupe. Alegre-se!”

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Jeremias 46— 52 ao Egito, de qualquer maneira. Além disso, quei­ maremos “incenso à deusa chamada Rainha dos Céus e oferecendo-lhe libações, como nós e nossos pais... temos feito... nas ruas de Jerusalém”. Este desacato a Deus e à sua Palavra foi a demons­ tração final da atitude que custou ao povo de Judá o seu reino. Os poucos remanescentes se arrasta­ ram ao Egito, aterrorizados pelos babilônios atrás deles, mas cegos à destruição que Deus lhes assegu­ rou que estava à frente. “Não se humilharam até ao dia de hoje, nem teme­ E assim os remanescentes desapareceram no deser­ ram” (Jr 44.1-30). Com rebeldia, os líderes e o to, pois o foco dos planos de Deus para o seu povo povo remanescente de Judá anunciaram que iriam passou a ser o destaque dos cativos na Babilônia.

Boa tentativa, Shirley. Mas essas palavras, reconhe­ cidamente mais animadoras, náo modificam a ver­ dade declarada no texto original. “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. E isso não altera o fato de que “o salário do pecado é a morte” (6.23). Podemos decidir negar, ignorar ou reinterpretar a Palavra de Deus. Mas nada que alguém faça pode modificar o fato de que o que Deus diz é verdadeiro e obrigatório.

DEVOCIONAL______ Procurando Grandezas (Jr 45)

Baruque era um homem frustrado. A sua confron­ tação com Jeoaquim, sobre as palavras que Jeremias lhe ditou, tinha arruinado as suas expectativas! Ele viu uma brilhante carreira descendo pelo ralo. Sabemos, com base no texto de Jeremias, que Ba­ ruque era membro de uma respeitada família de Jerusalém (36.4), e que seu irmão era um oficial na corte real (51.59). Ele tinha treinamento de es­ criba, provavelmente para servir no governo. Tudo a respeito de Baruque — criação, educação, cone­ xões — sugere que ele poderia normalmente espe­ rar conseguir uma posição de grande importância e de elevado salário na aristocracia local. Então, de alguma maneira, ele se envolveu com Je­ remias, se envolveu com aquele profeta impopular na opinião do rei Jeoaquim — e isso foi o suficien­ te! Nada mais de elevados salários. Nada mais de carros elegantes. Nenhum trabalho com o rei. Aca­ bou! Assim, Baruque ficou amuado, e se queixou, “Ai de mim”. Suponho que possamos nos identificar com Baru­ que, até certo ponto. Ele tinha grandes planos para si mesmo, e uma verdadeira expectativa de realizálos. Quando seus planos desmoronaram ao seu redor, ele ficou desanimado, “cansado do seu ge­ mido” e sem achar “descanso”. A vida não parecia valer a pena para Baruque, a menos que alcançasse os seus objetivos, e se encaixasse na cidade grande. Foi então que Deus falou a Baruque, e o repreen­ deu. Deus estava prestes a destruir toda a socieda­ de! “E procuras tu grandezas?” Rispidamente, Deus disse a Baruque “Não as bus­ ques”. E então, Deus lhe fez uma promessa. No desastre iminente, o Senhor daria a Baruque algo mais precioso do que posição — Deus permitiria que Baruque “escapasse com vida” (v. 5, NTLH).

Às vezes precisamos ser lembrados, como Baruque foi. Podemos não ver a concretização de nossos sonhos. Podemos não alcançar o potencial que pensamos ter. Podemos jamais assumir o nosso lugar entre os ricos e famosos deste mundo. Mas, em comparação com o presente que Deus nos deu, o dom da vida, essas coi­ sas pouco representam. “Não as busques” ainda é um dos melhores conselhos que as Escrituras têm para os devotos. Em vez de desejar o que não temos, devemos ser gratos pelo dom da vida que Deus nos deu. E usar a nossa vida para servi-lo. Aplicação Pessoal A satisfação não se encontra em conseguir o que se deseja, mas em desejar o que se consegue. Citação Im portante “A grandeza, afinal, apesar do seu nome, não pa­ rece ser uma certa dimensão, mas uma certa qua­ lidade na vida humana. Ela pode estar presente em vidas cuja abrangência seja muito pequena.” — Phillips Brooks 7 D E JU N H O LEITURA 158 CONTRA AS NAÇÕES ESTRANGEIRAS Jeremias 46—52 “Este dia é o dia do Senhor Jeová dos Exércitos, dia de vingança para se vingar dos seus adversários” (Jr 46.10). Se o juízo realmente começa na casa de Deus, como sugere o livro de Hebreus, como consegui­ rão os inimigos de Deus escapar? Nesses capítulos, Jeremias dirigiu a sua mensagem sobre o juízo imi­ nente às nações que tinham maltratado o povo da aliança de Deus.

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Jeremias 46— 52

Visáo Gerai Conclui o livro uma coletânea de oráculos que condenam os inimigos estrangeiros. Jeremias des­ creveu o juízo que estava prestes a se abater sobre o Egito (46.1-28), a Filístia (47.1-7), Moabe (48.147), Amom (49.1-6), Edom (w. 7-22), Damasco [Síria] e outras nações (w. 23-29), mas particular­ mente sobre a Babilônia (50.1— 51.64). O livro é concluído com uma recapitulação da queda de Jerusalém (52.1-34). Entendendo o Texto “Acerca do Egito” (Jr 46.2-28). Por cerca de mil anos, o Egito tinha tentado ampliar a sua esfera de influência para incluir Canaã — e com frequ­ ência fora bem-sucedido. O devoto rei Josias caiu em 605 a.C., combatendo Faraó-Neco, e os últi­ mos reis de Judá foram encorajados a se rebelarem contra a Babilônia, por promessas vazias de auxílio dos egípcios. O Egito tinha provado ser um senhor brutal e um aliado enganoso. Assim, Jeremias retra­ tou o Egito como uma nação beligerante, com in­ tenção de conquistar (w. 1-9). Mas o dia da bata­ lha pertence ao Senhor. Faraó era apenas um “som” (v. 17): a espada “devorará, e fartar-se-á” (v. 10). Existe ironia nos versos 11 e 12. Desde o terceiro milênio a.C., o Egito era famoso por seus médicos, remédios e livros sobre curas. Mas agora, para o próprio Egito, “não há cura”. Embora o verso 28 deixe claro que Jeremias está falando de uma derrota contemporânea do Egito pelos babilônios, o Senhor deseja que os eventos transmitam uma mensagem atemporal. Deus está encarregado da história. A derrota do Egito é uma evidência de que o Senhor pode libertar — e um dia o fará — o seu povo e fazê-lo retornar à sua terra (w. 27,28). A história ainda é testemunha da natureza moral do nosso universo e transmite uma mensagem de esperança. As nações se edificam sobre o mal, como aconteceu com a Alemanha nazista, levando as se­ mentes de sua própria destruição. Deus valoriza a justiça e a paz, e um dia dará ambas ao seu povo. “Contra osfilisteus, antes que Faraóferisse a Gaza”(Jr 47.1-7). A observação cronológica é obscura, mas sugere que Jeremias se referia aos eventos atuais. Os egípcios estavam prestes a esmagar os remanescen­ tes dos antigos inimigos de Judá, aterrorizando-os tanto, que os pais nem mesmo se viravam para aju­ dar seus próprios filhos (v. 3). Observe que Deus usou um dos inimigos do seu povo para trazer destruição a outro. Você e eu não precisamos nos vingar daqueles que nos maltratam ou que nos prejudicam. Essas pessoas têm muitos

outros inimigos que Deus poderá usar — e irá usar — para recompensá-los! “Contra Moabe” (Jr 48.1-47). Os moabitas origi­ nalmente ocupavam as altas planícies a leste do rio Jordão. Moabe tinha tentado levar os israelitas à imoralidade e à idolatria na sua jornada para o Egi­ to (Nm 25-1-3), e os dois povos geralmente se hos­ tilizavam, depois daquela época. As profecias deste capítulo parecem resumir os oráculos que outros profetas do Antigo Testamento dirigiram contra este povo (cf. Is 15— 16; Ez 25.8-11; Am 2.1-3; Sf 2.8-11). A destruição aqui descrita é merecida, pois na sua complacência (Jr 48.11-15) e na sua arrogância (w. 26-34) Moabe “se engrandeceu contra o Se­ nhor” (v. 42). Não obstante, o Senhor lamentou por Moabe (v. 36), e no futuro “fará voltar os seus cativos” (v. 47). Uma das mais significantes características das pro­ fecias bíblicas sobre o juízo é o fato de que elas se concluem exatamente como o oráculo contra Mo­ abe. Os pecados são expostos, o juízo é decretado, e, apesar disso, sempre, Deus expressa o seu amor e as suas promessas de que, depois da punição necessária, o seu povo será restaurado. Mesmo as nações estrangeiras, que não reivindicam um rela­ cionamento de concerto com o Senhor, devem ser, de modo justo, punidas por seus pecados; mas, no final, também serão restauradas. Podemos entender estas promessas feitas a Israel e a Judá. Afinal, Deus, por um concerto formal e legal, se comprometeu a abençoar os filhos de Abraão. Mas Ele não tem a mesma obrigação com as nações estrangeiras que não somente deixaram de conhecê-lo, mas também são inimigas do seu povo escolhido. Mas, por repetidas vezes, nós ve­ mos que Deus tem a intenção de abençoar todos os povos — não porque Ele tenha que fazer isso, mas simplesmente porque deseja fazê-lo. Os teólogos falam de uma doutrina chamada “gra­ ça comum”. De alguma maneira, Deus se determi­ nou a abençoar todos os seres humanos de muitas maneiras, quer o conheçam e confiem nEle quer não. Lendo o oráculo contra Moabe, nós sentimos, apesar do seu tema de juízo, uma forte corrente da uma graça muito incomum! O amor de Deus salta­ rá cada obstáculo. Ele encontrará uma maneira de redimir seus inimigos, assim como o seu povo. “Contra” outros (Jr 49.1-39). Esse capítulo trata de vários povos hostis. Novamente, o foco está no contexto contemporâneo histórico, e não nos “últi­ mos dias”. Babilônia, o agente que Deus usará para castigar o seu povo, também atacará os inimigos

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Jeremias 46— 52

um oficial que acompanhou Zedequias à Babilônia em 594/3 a.C. (cf. v. 59), devia ler estas profecias contra Babilônia aos cativos que já estavam ali, e en­ tão jogar a sua cópia no rio, para simbolizar a impos­ sibilidade de que a Babilônia voltasse a se erguer.

dos judeus. Com um ato, Deus castigará o seu pró­ prio povo e também punirá àqueles que historica­ mente lhes eram hostis. A mensagem desses capítulos deve ter sido encorajadora aos exilados, uma vez que estavam na Babi­ lônia. Quando eles lutassem para entender o por­ quê, como todos nós fazemos, quando a tragédia se abate sobre nós, a revelação do propósito de Deus de punir as nações, assim como Judá, ajudaria o seu povo a perceber a coerência e a justiça do Senhor. Deus é um juiz moral, que corrigirá todo o pecado. Sim, Ele nos castiga. Mas Ele é justo e imparcial nos seus atos. Ele nos castiga. E pune àqueles que não são seus. E, o que é ainda mais maravilhoso, oferece perdão a todos. “Contra a Babilônia, contra a terra dos caldeus” (Jr 50.1— 51.64). O principal oráculo de Jeremias contra as nações estrangeiras estava reservado à Babilônia. A espetacular ascensão deste poder dos caldeus seria equiparada por uma queda repentina (50.1-20). Deus convocaria outras nações contra ela, pois “O Senhor abriu o seu tesouro e tirou os instrumentos da sua indignação” (w. 21-27). Os exilados de Judá retornariam triunfantemente à sua terra natal (w. 28-40) depois que Deus convocasse um exército do norte para esmagar o conquistador de Judá (w. 41-46). Entre descrições adicionais da condenação da Babilônia (51.1-5,11-19), o profeta acrescentou uma advertência ao povo de Judá. A Babilônia estava além da cura. Quando chegasse o momento de voltarem para casa, o povo de Judá “fugiria da Babilônia”. Essa extensa profecia traz um pós-escrito. Seraías,

“Sucedeu... contra Jerusalém e Judá” (Jr 52.1-34). Jeremias tinha escrito, em linguagem veemente, sobre os pecados de Judá e sobre o juízo iminente. Mas agora, em um curto apêndice, existe somente um relato áspero e direto sobre a queda de Jeru­ salém. E quase como se toda a emoção tivesse se exaurido, e toda a paixão, esgotado. Sequer exis­ te uma capacidade de sentir horror, pois o terrível tinha se tornado comum. Zedequias se rebelou. Os babilônios finalmente tomaram a cidade de defensores famintos. Executaram os filhos do rei, e o cegaram. O Templo foi queimado e seus uten­ sílios sagrados foram quebrados para serem levados à Babilônia. Os líderes militares e espirituais que ainda estavam vivos foram executados. Os poucos milhares de sobreviventes foram, então, transpor­ tados à Babilônia. Cabe a nós ler nas entrelinhas, se desejarmos. Sen­ tir a fome e o medo; a angústia de ver a morte dos entes queridos. Sentir a ira e o ódio que surgiram — frequentemente contra Jeremias — à medida que a inutilidade da resistência se tornava cada vez mais clara. Mas tudo isso agora era passado. Esta­ va acabado. E, na Babilônia, os remanescentes do povo de Judá teriam um novo começo. O juízo jamais é agradável. Mas os relatos histó­ ricos das Escrituras nos lembram de que o juízo é garantido.

A Babilônia Tem que Cair (Jr 50— 51) O impressionante fantasma da Babilônia domina muitos capítulos dos livros históricos e proféticos do Antigo Testamento. A impressão causada sobre o povo de Deus por este antigo reino é tão grande que o nome se con­ verteu em um símbolo. O símbolo é visto mais claramente em Apocalipse 17 e 18, onde a Babi­ lônia é sinônimo, em primeiro lugar, de religião humanista, e depois, de sociedade humana mate­ rialista. Todas as realizações do homem, tudo pelo que lutam os seres humanos, tudo o que esperam neste mundo, se resume em uma única palavra, Babilônia. Não sou um defensor da interpretação alegórica das Escrituras, nem da espiritualização do Antigo Testamento. Mas nesses capítulos, que descrevem

a destruição iminente da Babilônia histórica, algo mais do que a história está em jogo. O profeta diz; “Como Babilônia fez cair os traspassados de Israel, assim em Babilônia cairão os traspassados de toda a terra” (Jr 51.49). E de alguma maneira, nessas palavras, percebo uma mensagem para mim, hoje. A Babilônia, com suas esperanças terrenas e seus costumes mundanos, com seu foco na riqueza e no poder, com o seu orgulho pelas realizações huma­ nas, é responsável por muitas mortes espirituais. A emoção de fazer uma viagem à Babilônia, de cres­ cer na Cidade Grande, fez com que as prioridades de Deus e os seus caminhos parecessem monóto­ nos, e até mesmo tolos, a muitas pessoas. Sim, a Babilônia tem que cair, porque muitos são mortos pela sua atração superficial. E o primeiro lugar de onde a Babilônia tem que cair é do meu coração.

DE VOCION AL_______

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Aplicação Pessoal chamados, uma vida vazia de ideais sublimes. É um Somente um coração fixado em Deus deixará de olhar sempre na horizontal, e jamais na vertical.” ter lugar para o amor do mundo. — J. Henryjowett Citação Importante “O mundanismo é um espírito, um temperamen­ to, uma atitude da alma. E uma vida sem grandes

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em 1 TESSALONICENSES

LAMENTAÇÕES INTRODUÇÃO Cinco poemas melancólicos de lamentação ou fúnebres expressam pesar pela perda da pátria judaica e pela destruição de Jerusalém. Esses poemas, em uma meditação sobre a tragédia e suas causas, refletem uma longa tradição literária no Oriente Médio. Claramente, foram escritos por uma testemunha ocular da queda de Jerusalém. A tradição identifica Jeremias como seu autor. O número de versículos em cada poema é divisível por 22, porque são poemas acrósticos: cada versículo ou conjunto de versículos começa com uma letra diferente, entre as 22 consoantes do alfabeto hebraico. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. A Cidade Abandonada ...............................................................................................................................Lm 1 II. A Cidade Rejeitada................................................................................................................................... Lm 2 III. Um Convite ao Autoexame ...................................................................................................................Lm 3 IV. A Glória Passada E Recordada............................................................................................................... Lm 4 V..Oração pela Restauração ..........................................................................................................................Lm 5 GUIA DE LEITURA (1 Dia) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 159

Capítulos 1— 5

Passagem Essencial 3

LAMENTAÇÕES 8

DE JU N H O LEITURA 159

CLAMOR DE DESESPERO Lamentações 1— 5

“Olha, Senhor, quanto estou angustiada; turbada está a minha alma, o meu coração está transtornado no meio de mim, porque gravemente me rebelei” (Lm 1.20).

Como é melhor o indivíduo humilde e afetuoso, que silenciosamente serve a Deus e aos outros, e que, quando enviúva, se vê cercado por uma famí­ lia amorosa e amigos que se preocupam.

Um sentimento de desespero por alguma grande “O jugo das minhas prevaricações está atado” (Lm perda não é estranho a nenhum ser humano. No 1.12-22). Você já percebeu quantas pessoas pensam entanto, a reflexão sobre nossas tragédias pode sobre a “liberdade” como a libertação das restrições nos oferecer importantes esclarecimentos, e ajudar morais, ou o direito de fazer qualquer coisa errada muito a restaurar a esperança. que desejem? Jeremias enfatizou que a insistência de Judá em seguir os deuses pagãos e as paixões Visão Geral pecaminosas de Judá não era liberdade, mas escra­ O autor lamentou o esplendor perdido de Jerusa- vidão! Cada pecado era como outro ramo, intima­ lém (1.1-22) e a destruição impiedosa de seus habi­ mente entrelaçado e atado no formato de um jugo tantes (2.1-22). Compreendendo que isso era uma que ficaria sobre o pescoço de Judá e se tornaria um consequência do pecado, o autor ousou ter espe­ peso insuportável. rança em Deus (3.1-66). A punição, embora grave, Vendo o sofrimento de Jerusalém e de Judá, o ob­ terminará (4.1-22) e uma humilde Judá poderá ser servador devia investigar a sua causa até a rebelião restaurada (5.1-22). contra os mandamentos do seu justo Deus. Se levarmos a sério essa mensagem, jamais cometere­ Entendendo o Texto mos o engano de Judá e supor que o pecado, que “Tornou-se como viúva” (Lm 1.1-11). Esse primeiro nos aprisiona para o juízo, nos oferece uma manei­ poema personifica Jerusalém. A cidade é comparada ra de sermos livres. a uma viúva que perdeu o contato com todos os seus Saber que o pecado é a causa do nosso sofrimen­ filhos. Ela não apenas está solitária, mas é ignora­ to pode causar um “transtorno no meio de nós” da por antigos amigos, e ridicularizada por vizinhos que corresponde a todas as aflições externas (v. 20). impiedosos. Tudo o que tem são recordações de dias Mas reconhecer o pecado é um primeiro passo, e melhores. Mas, quanto a ela, a recordação é amarga. necessário, rumo à restauração. As recordações somente a fazem perceber a sua soli­ dão e a fazem chorar lágrimas amargas. “Tornou-se o Senhor como inimigo” (Lm 2.1-22). O Que conceito penetrante! Como Jerusalém, muitos autor está certo em acrescentar “como” a esta des­ seres humanos têm vidas egoístas, pecadoras. A ri­ crição. Deus tinha feito a Jerusalém e a Judá o que queza ou a beleza, ou o poder, os torna populares, um inimigo poderia fazer. durante algum tempo. Mas, quando isso é perdi­ Deus destruiu as fortalezas de Judá e multiplicou do, estas pessoas se veem abandonadas e sozinhas. a sua lamentação (v. 5). Ele destruiu o seu Templo

Lamentações 1— 5

(w. 6,7). Enviou ao exílio o seu rei e o seu povo (v. 9). E estes atos causaram uma angústia completa. Falando como uma testemunha ocular, o autor dis­ se: “Já se consumiram os meus olhos com lágrimas, turbada está a minha alma, o meu coração se der­ ramou pela terra, por causa do quebrantamento da filha do meu povo; pois desfalecem os meninos e as crianças de peito pelas ruas da cidade” (v. 11). Com tudo isso, “fez o Senhor o que intentou” e “cum­ priu a sua palavra” (v. 17). Ele convocou “de toda parte os meus receios... Não houve no dia da ira do Senhor quem escapasse ou ficasse” (v. 22). Que desafio para a fé quando Deus age “como ini­ migo”. Nesse momento devemos nos lembrar de que, apesar de qualquer tragédia que nos atinja, Deus não é nosso inimigo. No caso de Judá, a causa dos atos de Deus pode ser encontrada no pecado persistente. Em nossos mo­ mentos de sofrimento, não conseguimos encontrar uma razão definida. Mas, mesmo — e particular­ mente — se estivermos incertos quanto à causa de nosso sofrimento, podemos nos apegar à verdade que esta frase de Lamentações afirma. Deus pode agir como um inimigo, mas Ele não é nosso ini­ migo! “De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados”(Lm 3.34-66). O autor de Lamentações era realista. Não tentou explicar o so­ frimento, murmurando que, naturalmente, Deus não faria nada tão terrível como trazer a destruição que esmagaria Judá e Jerusalém. Muitos homens, hoje, tentam “proteger” Deus, negando-lhe o po­ der. “Deus estava tão triste e surpreso sobre o que aconteceu quanto você”, dizem eles, em um esfor­ ço inútil de consolar. Mas não o autor de Lamen­ tações. Simplesmente, e com uma firme convicção, ele disse que o Senhor assim decidiu (2.8). Ele disse outra coisa, também. Se a tragédia é real­ mente punição pelos pecados conhecidos, então,

DEVOOCIONAL______ Homem que Viu a Aflição

(Lm 3) Não é muito impressionante quando uma pessoa que não conheceu nada além da bênção tenta con­ solar um sofredor. Como pode o rico compreen­ der a pobreza? Como pode a criança, cujos pais a amam, compreender as maltratadas? Como pode a mulher que tem marido e filhos compreender a perda da viúva, ou a dor da divorciada? E muito mais significativo ouvirmos palavras de consolo de uma pessoa com quem podemos nos identificar: de um companheiro de sofrimento.

com que base alguém pode se queixar? Deus é um juiz moral: Ele deve, então, punir os pecados! Se a tragédia deve vir, é sábio que reconheçamos o controle soberano de Deus nos eventos, e então, olhemos, em primeiro lugar, para nós mesmos. Se tivermos consciência de pecados sérios em nossa vida, então podemos seguir as prescrições encon­ tradas nos versículos 40-42: “Esquadrinhemos os nossos caminhos, experi­ mentemo-los e voltemos para o Senhor. Levan­ temos o coração juntamente com as mãos para Deus nos céus, dizendo: Nós prevaricamos e fo­ mos rebeldes; por isso, tu não perdoaste”. Se o pecado inconfesso e sem arrependimento for a causa do nosso sofrimento, podemos esperar que Deus ouça essa oração. Mas mesmo se o pecado não tiver sido a causa, podemos continuar confian­ tes de que Ele nos responderá como fez com o au­ tor de Lamentações, nos versículos 55-57: “Invoquei o teu nome, Senhor, desde a mais pro­ funda cova. Ouviste a minha voz; não escondas o teu ouvido ao meu suspiro, ao meu clamor. Tu te aproximaste no dia em que te invoquei; disseste: Não temas”. “O castigo da tua maldade está consumado” (Lm 4.1-22). Não podemos imaginar os horrores do cerco a Jerusalém, vividamente descrito aqui em versos como 9-11. Mas o retrato não pretende so­ licitar simpatia ou solidariedade. Em vez disso, o retrato do sofrimento nos convence da imensidão do pecado que fez com que Deus esmagasse o seu povo tão amado. Qualquer horror que sintamos, deve ser o horror do pecado, e a fonte do nosso alívio é a convicção de que, para o povo de Deus, até mesmo o sofrimento causado pelo pecado ter­ minará. E por isso que as palavras do autor em Lamentações 3 são tão poderosas. Imediatamente ele se identificou como “o homem que viu a aflição”. Aqui estava al­ guém que falava sobre o sofrimento com experiência de primeira mão. Para garantir que nós soubéssemos que ele entendia, prosseguiu, mostrando o quão ex­ tremo tinha sido o seu sofrimento. Então, quando percebemos que aqui está uma autoridade, uma pes­ soa que pode se identificar plenamente conosco, ele disse: “Disso me recordarei no meu coração; por isso, tenho esperança. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos” (w. 21,22).

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Lamentações 1— 5

O autor de Lamentações compreenderia qualquer sofrimento que você ou eu tivermos que enfrentar. E depois de ouvir a nossa queixa, ele nos falaria de modo áspero, e diria que “as misericórdias de Deus não têm fim”. Ele nos lembraria: “Novas são cada manhã”, e nos convidaria a louvar ao Senhor, dizendo a Deus: “grande é a tua fidelidade”. O autor, como um “homem que viu a aflição”, nos daria mais um conselho. Ele nos diria que dissés­ semos a nós mesmos, como ele fez, quando a dor fosse maior: “A minha porção é o Senhor, portanto, esperarei nele”. Â medida que estivermos esperando na fé, seremos sustentados pela convicção que sustentou Jeremias. Também sabemos, apesar de tudo, que “Bom é o Senhor para os que se atêm a ele, para a alma que o busca. Bom é ter esperança e aguardar em silêncio a salvação do Senhor” (w. 25,26). Aplicação Pessoal Os santos sofredores, ao longo dos séculos, nos aconselham a aguardar, em silêncio, a salvação do Senhor.

Citação Importante “Quando os problemas, os temores inquietantes, a preocupação ansiosa lutam para dominar a alma, a nossa segurança está em dizer: ‘Meu Deus, eu creio na tua perfeita bondade, e na tua sabedoria e mi­ sericórdia. O que fazer, eu não consigo compreen­ der agora; mas um dia verei tudo claramente. En­ quanto isso, eu aceito a tua vontade, qualquer que seja ela, sem questionar, sem reservas’. Não haverá perturbação inquieta, nem sentimento de comple­ to desconforto ou embaraço em nossas almas, se nós estivermos livres de qualquer — mesmo que quase inconsciente — oposição à vontade de Deus. Mas nós lutamos, nós resistimos; e enquanto durar a nossa resistência, não poderemos ter paz. A paz, e até mesmo a alegria, são bastante compatíveis com uma grande quantidade de dor — até mesmo com a dor mental — mas jamais com uma condição de antagonismo ou resistência.” — H. L. Sidney Lear

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em 1 CRÔNICAS

EZEQUIEL INTRODUÇÃO O Profeta Ezequiel ministrou aos exilados na Babilônia. As suas profecias, cuidadosamente datadas, ocor­ rem entre 593 a.C. e 585 a.C. Em poesia e em prosa, ricas em alegoria, parábola, provérbio e visão profética, Ezequiel ecoou o chamado de Jeremias à submissão à Babilônia. Servindo como um atalaia, chamado para dar aviso de perigo iminente, o profeta proferiu uma série de predições sombrias relativas ao pecado e à queda de Jerusalém. Elas cessaram quando a cidade caiu em 586 a.C., e foram substituídas por promessas de esperança para o futuro. Na primeira metade do livro o tema das mensagens de Ezequiel é visto em sua revisão da história moral e religiosa de Israel; na segunda metade o tema de esperança é expresso em visões da restauração e futura adoração de Israel. Três temas adicionais, de particular relevância até os dias de hoje, também são tecidos por todo o livro de Ezequiel. Estes temas são: a natureza de Deus, o propósito do juízo divino, e a responsabilidade pessoal de cada indivíduo pelas suas próprias ações. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Chamado de Ezequiel ........................................................................... II. Juízo de Ju d á.......................................................................................... A. Advertências de um atalaia.................................................................. B. A Glória de Deus se ausenta................................................................ C. Desculpas condenadas ......................................................................... D. Falhas de liderança ............................................................................... III. Destino das Nações Estrangeiras...................................................... IV. Bênçãos Futuras ................................................................................... A. Restauração de Judá .............................................................................. B. Restauração da adoração .....................................................................

....Ez 1— 3 ,.E z4— 24 ....Ez 4— 7 ..Ez 8— 11 Ez 12— 19 Ez 20— 24 Ez 25— 33 Ez 34— 48 Ez 34— 39 Ez 40—48

GUIA DE LEITURA (9 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura Capítulos Passagem Esser. 160 1— 3 3 161 4 4— 7 162 8— 11 10— 11 18 163 12— 19 164 20— 24 20 25— 32 165 28.11-19 166 33— 36 36 39 167 37— 39 168 43—44 40— 48

EZEQUIEL 9 JUNHO LEITURA 160

O CHAMADO DE EZEQUIEL Ezequiel 1—3

“Tu lhes dirás as minhas palavras, quer ouçam quer deixem, de ouvir, pois são rebeldes. Mas tu, 6filho do homem, ouve o que eu te digo, não sejas rebelde como a casa rebelde; abre a boca e come o que eu te dou” (Ez 2.7,8). O chamado de Ezequiel nos lembra qualquer pes­ soa que reconheça quem é Deus, e que em virtude desse conhecimento se sinta obrigada a transmitir a sua Palavra, quer os outros decidam ouvir quer não. Contexto Ezequiel era membro de uma família sacerdotal que fora deportada para a Babilônia com os cativos que foram levados para lá em 597 a.C. Ele tinha 30 anos (1.1) — idade em que os descendentes qualificados de Arão tinham a permissão de assu­ mir os seus lugares como sacerdotes ministradores — quando Deus apareceu a ele em uma visão e o chamou para servir como profeta. O ano era 593 a.C., e até a destruição de Jerusalém em 586 a.C. Ezequiel enfatizou o pecado de Judá, advertindo sobre a vinda da destruição da Cidade Santa e do seu Templo. Essa mensagem foi tão impopular na Babilônia quanto as palavras de Jeremias o foram em Judá. Os exilados esperavam desesperadamente por um retomo à sua terra natal; uma esperança que foi incentivada por falsos profetas. Contudo, até que o povo de Judá reconhecesse a total extensão do seu pecado, e abandonasse toda a esperança de sus­ pensão da pena divina, nenhuma cura ou restaura­ ção espiritual poderia ter início. Em Judá, Jeremias convocou a nação a se arrepender. Na Babilônia,

Ezequiel enfatizou a importância do arrependi­ mento e de um novo compromisso individual. Como Jeremias, Ezequiel enfrentaria resistência, e conheceria o desânimo. Havia pouca glória em ser um profeta cujas palavras provocavam pouca mudança. No entanto, como Jeremias, Ezequiel permaneceu fiel a Deus. E as palavras que ele falou há muito tempo têm grande significado para você e para mim hoje. Que nós, diferentemente dos exi­ lados entre os quais Ezequiel viveu, possamos ouvir — e responder. Visão Geral Ezequiel viu a glória de Deus em uma visão (1.128), e foi-lhe dito que falasse as palavras de Deus ao seu povo rebelde (2.1-9). Um Ezequiel relutante comeu um rolo que continha as palavras de Deus, e foi outra vez avisado de que os israelitas não ou­ viriam (3.1-15). Contudo, Ezequiel deveria ser um atalaia, dando avisos, e tinha que falar quan­ do Deus lhe desse uma mensagem para transmitir (w. 16-27). Entendendo o Texto “A semelhança da glória do Senhor” (Ez 1.1-28). A visão de Ezequiel tem fascinado os estudiosos bíblicos. Não era incomum que os profetas tives­ sem visões (cf. Is 6). Mas o conteúdo desta visão é singular, e o hebraico que a descreve é de difícil tradução. Resumidamente, Ezequiel descreveu uma grande plataforma cristalina circular, apoiada sobre qua­ tro criaturas viventes verticais. Cada criatura tinha quatro rostos, representando a obra criativa de Deus em um animal humano, selvagem e domés-

Ezequiel 1—3

tico, e do reino das aves. Toda a estrutura se movia de forma ágil, mas ruidosa em todas as direções. Apesar do espanto que estes detalhes possam criar, o foco da visão está em um ser que estava assen­ tado em um trono situado acima da plataforma cristalina (que a Bíblia chama de “firmamento”). Essa pessoa, claramente Deus, parecia humanóide, mas o seu aspecto ardia num fogo tão brilhante que Ezequiel não pôde ver outros detalhes. Até mesmo a luz que o cercava com um brilho semelhante ao arco-íris era extraordinária demais para que Eze­ quiel a pudesse suportar, e ele caiu com o seu rosto em terra diante do Senhor. Artistas têm se divertido com representações des­ sa visão. Estudiosos têm lutado com o hebraico, e considerado traduções alternativas. No entanto, Ezequiel mudou rapidamente a sua descrição, pas­ sando do veículo para o seu condutor. Por mais espantosos que possam ser os detalhes que ele dá das rodas dentro de rodas, e de estranhas criaturas viventes, o foco da visão de Ezequiel é o próprio Deus. E o vislumbre que Ezequiel tem de Deus — j glorioso demais para ser esquadrinhado ou descrito — que fez com que o profeta caísse no chão, assu­ mindo a postura tradicional de adoração e louvor. Há ocasiões em que a nossa atenção é atraída por cenários espetaculares — catedrais grandiosas, vi­ trais, milhares de pessoas cantando, programas de TV lindamente apresentados — talvez tudo isso realce a nossa adoração. Mas às vezes eles podem nos distrair, tirando a nossa atenção do Senhor. O desafio que você e eu enfrentamos é olhar acima destes “firmamentos” para a adoração, e ver a glória intrínseca daquele a quem eles querem honrar. Para que a nossa adoração seja significativa, precisamos ver o Senhor e, em admiração ao seu esplendor e amor, nos prostrar diante dEle, como fez Ezequiel.

“Filho do homem, põe-te em pé, e falarei contigo” (Ez 2.1,2). Que versículo espantoso! “Filho do ho­ mem” aqui simplesmente significa “ser humano”. Em hebraico “filho de” tem o significado, de “com­ partilhando a natureza de”. Aqui o texto enfatiza o fato de que Ezequiel, um mero homem, é aceito por Deus! O Senhor não só se dirigiu a Ezequiel, mas também disse a ele para “pôr-se em pé”. No antigo Oriente uma pessoa se prostrava até mesmo diante de um governante ou suserano humano. Ser solicitado a ficar em pé diante da presença de uma dessas pes­ soas era um sinal de aceitação e honra. Aqui Deus é aquele que disse a Ezequiel: “Põe-te em pé”. Finalmente, foi dito a Ezequiel: “Falarei contigo”. Deus não apenas presta atenção a um mero homem, e o levanta, mas também se comunica com ele!

Neste único versículo sentimos a maravilha do amor de Deus por toda a humanidade. Deus se chega a nós, pois não conseguimos achá-lo ou nos aproximar dEle. Ele nos levanta, embora de­ vamos apenas nos prostrar aos seus pés. E fala conosco, transmitindo a sua vontade, para que possamos participar da introdução da justiça no seu universo. E bom que, como Ezequiel, nos prostremos diante do Deus santo. Mas também é bom lembrar que este Deus nos convida a ficarmos em pé e, ainda que sejamos meramente humanos, servi-lo como mensageiros para o resto da humanidade.

“Não temas as suas palavras, nem te assustes com o rosto deles” (Ez 2.3-8). Mesmo nos tempos bíbli­ cos, as palavras pareciam temíveis. Não é como se Ezequiel estivesse em perigo de execução ou de ser posto na prisão. O que Ezequiel teve que enfrentar foram simplesmente as palavras duras e hostis. Pa­ lavras furiosas, sim. Palavras escarnecedoras, sim. Mas palavras justas. E assim em nossos dias. O medo de testemunhar aos outros não é muito racional quando paramos para pensar a respeito. Não é provável que sejamos espancados por falar de Jesus. Não é provável que sejamos despedidos dos nossos empregos, ou que percamos as nossas casas, ou que sejamos presos. O pior que pode acontecer é que alguém a profira com veemência algumas palavras hostis a nós, ou que falem mal de nós pelas nossas costas. Entre­ tanto, muitos cristãos têm medo de falar aberta­ mente. Deus não zombou dos temores de Ezequiel, e Ele não zomba dos nossos. Simplesmente disse ao pro­ feta, cuja sociedade era muito mais endurecida do que a nossa própria sociedade: “Não temas as suas palavras, nem te assustes com o rosto deles”. E en­ tão Deus lembrou a Ezequiel da sua obrigação em razão da sua própria experiência pessoal com o Se­ nhor: “Mas tu lhes dirás as minhas palavras”. A maneira como as pessoas reagem quando com­ partilhamos o evangelho é irrelevante. Porém a or­ dem de Deus para que falemos não é irrelevante. “Come este rolo” (Ez 3.1-3). Comer o rolo simboli­ zava digerir e aplicar as palavras de Deus. Somente quando colocamos as palavras de Deus no coração é que podemos compartilhá-las com os outros. “Tu não és enviado a um povo de estranha fala, nem de língua difícil, mas à casa de Israel” (Ez 3.4-15). Ezequiel é o modelo de um missionário não pro­ clamado: um homem que evangeliza em seu pró­ prio país. Sim, há uma necessidade de missionários

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Ezequiel 1— 3

estrangeiros. Mas a maioria dos cristãos é chamada para ministrar às pessoas em sua própria sociedade, cuja língua e costumes lhe são familiares. Um ansioso jovem de 20 anos que se candidatou para o quadro de missões no exterior, ouviu a se­ guinte pergunta: Para quantas pessoas você teste­ munhou durante a semana passada. A sua resposta

DE V OCION AL_______ Atalaia, Atalaia

(Ez 3) Algumas descrições de trabalho são complicadas, e outras são relativamente simples. Para ajudar Eze­ quiel a entender a natureza do seu ministério, Deus lhe deu um título pertencente a uma pessoa cujas responsabilidades eram absolutamente bem defini­ das. Ezequiel deveria servir como um “atalaia”. Este posto, embora com pesadas responsabilidades, não exigia nenhuma habilidade ou treinamento es­ pecial. Nos tempos bíblicos o atalaia simplesmente permanecia em pé nos muros da cidade, e se qual­ quer perigo surgisse, ele soava o alarme para avisar os cidadãos da cidade. Eles então eram responsáveis por reunir as forças de defesa da cidade. O, eu suponho que poderia ser necessário ter uma voz alta e a habilidade de permanecer acordado durante a noite. Mas, além disso, não havia muita coisa no trabalho de um atalaia. De que maneira Ezequiel deveria ser como um ata­ laia? Bem, deveria avisar o povo de Judá da conde­ nação iminente: gritar a respeito do perigo que se aproximava. Então cabia, às pessoas que ouvissem os seus clamores, dar atenção e lidar com o perigo. Como Deus disse a Ezequiel: “Se avisares o ímpio, e ele não se converter da sua impiedade e do seu ca­ minho ímpio, ele morrerá na sua maldade” (v. 19). Ninguém poderia culpar o atalaia se os cidadãos, avisados sobre o perigo, tapassem os seus ouvidos, virassem para o outro lado, e voltassem a dormir! Mas embora o trabalho do atalaia fosse fácil, ele carregava uma pesada responsabilidade. E se o pe­ rigo se aproximasse, e o atalaia não gritasse? Nos tempos bíblicos este atalaia perderia o direito à sua vida! E então Deus disse a Ezequiel: “Não o avisando tu, não falando para avisar o ímpio acerca do seu ca­ minho ímpio, para salvar a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua maldade, mas o seu sangue da tua mão o requererei” (v. 18). Hoje é útil pensarmos na “descrição de trabalho” de cada cristão da mesma maneira. Nenhuma qua­ lificação especial é necessária para servir como ata­ laia ao nosso próximo. Não é requerido nenhum diploma de seminário teológico. Nem mesmo um

foi: “Bem, nenhuma”. E no mês passado? E nos últimos seis meses? Novamente, a resposta foi: “Nenhuma”. O responsável pela banca entrevista­ dora então lhe perguntou: “Meu jovem, o que lhe faz pensar que estar no exterior fará de você um missionário, uma vez que não faz nenhum trabalho missionário em sua própria pátria?” mestrado nas Escrituras, ou uma grande profun­ didade espiritual. Tudo o que é exigido é a cons­ cientização de que os amigos que não têm Cristo estão em um perigo terrível, e uma voz que possa ser utilizada a fim de dar-lhes aviso. Não podemos garantir que alguém responderá. Mas se permanecermos em silêncio, teremos algu­ ma responsabilidade pelo destino de outros. Aplicação Pessoal Uma palavra de aviso a uma outra pessoa nos livra da culpa, e pode conduzi-la à vida eterna. Citação Importante “Jesus Cristo não entregou o evangelho a uma agência de propaganda; Ele comissionou discípu­ los. E Ele não lhes ordenou que afixassem placas e distribuíssem folhetos; Ele disse que eles seriam as suas testemunhas.” — Joe Bayly 10 DE JUNHO LEITURA 161 ESPADA, FOME, PRAGA Ezequiel 4 —7

“Efarei em ti o que nuncafiz e o quejamaisfarei, por causa de todas as tuas abominações” (Ez 5.9). Há momentos quando o mais severo dos juízos é necessário. Foi assim nos dias de Ezequiel. Como atalaia de Deus, o profeta começou o seu ministé­ rio proferindo palavras obscuras e terríveis. Contexto Não era desconhecida, para os profetas, a neces­ sidade de representarem as suas mensagens. Em Jerusalém, Jeremias colocava um jugo sobre os seus ombros quando exigia a submissão à Babilônia. Na Babilônia, Ezequiel transmitiu uma certeza de juízo divino fazendo da rua em frente à sua casa um palco, realizando ali uma encenação aparente­ mente estranha. Com que rapidez o boato teria se espalhado, e os membros da comunidade dos ca­ tivos teriam aparecido para ver e ficar intrigados com os atos peculiares do seu excêntrico profeta. E, quando todos estivessem falando e imaginando

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Ezequiel 4— 7

o que tudo aquilo significaria, Ezequiel o explicaria em palavras abruptas e poderosas. O drama atraía o público. A explicação deve ter provocado o mais extremo horror, bem como recusa e descrédito. Visáo Geral Ezequiel encenou publicamente o cerco de Jeru­ salém (4.1-17), e raspou a sua cabeça e barba para simbolizar o destino da cidade (5.1-17). Ele profe­ tizou contra os montes de Israel onde cultos pagãos de adoração eram executados (6.1-14), e então anunciou claramente que o dia do juízo estava ali: a condenação seria proferida (7.1-27). Entendendo o Texto “Isso servirá de sinal à casa de Israel” (Ez 4.1-8). Por cerca de 400 dias Ezequiel ficou deitado amarra­ do, primeiro sobre um lado e depois sobre o outro, diante de um modelo que representava Jerusalém sob o cerco. Cada um dos 400 dias representava um ano durante os quais Israel e Judá deveriam “levar as suas maldades”. Se fizermos o cálculo para

frente, a partir da datação que Ezequiel usa (o pri­ meiro ano do exílio de Joaquim), os 400 anos ter­ minaram em 167 a.C. — o ano inicial da revolta dos macabeus, que deu a Judá uma independência limitada dos poderes estrangeiros.

“Eis que eu torno instável o sustento de pão” (Ez 4.917). O pão era costumeiramente feito de cevada ou trigo. Ele que era feito juntando “trigo, e cevada, e favas, e lentilhas, e trigo miúdo, e aveia” era o “pão de aflição”. Isto é, era comido apenas quando as pessoas estivessem morrendo de fome, misturando qualquer resto de comida que pudessem encontrar. Durante os meses que Ezequiel deveria encenar o cerco, ele podia receber apenas 227 gramas des­ te pão por dia! Essa minúscula ração, e a própria condição deteriorante de Ezequiel, falavam pode­ rosamente da fome e do sofrimento que seriam experimentados quando Jerusalém caísse. O dra­ ma que Ezequiel representou nos faz lembrar que quando Deus julga uma sociedade, mesmo aqueles que falam contra os seus pecados sofrem com os

Por mais de um ano, Ezequiel se deitou diante de um modelo rústico de Jerusalém debaixo de cerco, retratando o ataque babilónico final sobre a Cidade Santa. Era desnecessário que ele explicasse o que as suas ações queriam dizer: o significado terrível era claro a todos os observadores.

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Ezequiel 4—7

demais. Não há lugar seguro onde alguém possa se esconder quando o juízo vem. E muito melhor pronunciar-se antes que seja tarde demais, fazendo com que a nossa naçáo se volte para a justiça.

“Navalha de barbeiro... tomarás e afarás passar por cima da tua cabeça e da tua barba” (Ez 5.1-17). Nos tempos do Antigo Testamento era considerado ver­ gonhoso para um homem raspar a sua cabeça ou barba. Foi dito a Ezequiel que suportasse a zom­ baria e a reprovação. O seu cabelo foi dividido em três partes, e disposto de forma a ilustrar o destino que Deus pretendia para os habitantes de Jerusa­ lém (w. 11-12). Outra vez sentimos o horror do pecado, não tan­ to por relacionar os males, mas pela descrição dos castigos que Judá sofreria. Ao ler que, desespera­ do, o povo de Jerusalém se voltou ao canibalismo, comendo até mesmo os membros da sua própria família, sentimos uma reação súbita que capta algo dos sentimentos de Deus acerca dos atos pecami­ nosos que levaram a essas terríveis consequências. Se você e eu não nos sentirmos horrorizados com o pecado em si, e retrocedermos, Deus nos deixará horrorizados com o castigo que os nossos pecados nos trarão! “Aos montes, aos outeiros” (Ez 6.1-14). Os montes e os outeiros são destacados nesta profecia porque os locais de adoração pagã se localizavam nos lugares “altos”. Esses locais seriam o cenário de matança, e

DEVOCIONAL_______ Atos Simbólicos (Ez 4) Como alcançamos as pessoas no nosso mundo? Essa é uma pergunta que tem atormentado profe­ tas e pregadores, bem como crentes comuns, desde o princípio. Adão náo conseguiu alcançar Caim — e Caim matou seu irmão Abel. Moisés não conse­ guiu mudar a geração do Exodo, e eles pereceram no deserto por causa da sua persistente desobediên­ cia. Isaías, Miqueias e Jeremias, todos convocaram o povo de Judá a se arrepender e mudar os seus caminhos. Mas as suas exortações foram ignoradas, e o povo de Deus saltou alegremente pela estrada do pecado — apenas para morrer pela espada, pela fome e pelas pragas. Como nós alcançamos as pessoas? Com muita fre­ quência as palavras não são suficientes. E por isso que Ezequiel encenou a mensagem de Deus aos exilados na Babilônia. Eles não quiseram ouvir as palavras? Bem, foram observar com admi-

os centros de adoração construídos ali seriam de­ molidos. A profecia não é de modo algum peculiar, em vista do fato de que os lugares sempre tiveram um sig­ nificado simbólico para os seres humanos. Na nos­ sa própria nação só precisamos pensar em Bunker Hill, Valley Forge, e Gettysburg, para percebermos que um grande significado está frequentemente li­ gado aos lugares. Os lugares assumem uma aura ligada aos eventos que ali ocorreram. Isso é algo a se considerar quando pensamos nas nossas próprias casas. Os montes de Judá estavam associados ao paganismo e à imoralidade. Vigia­ mos as nossas atividades em casa — e controlamos os nossos aparelhos de TV — para que na mente dos membros da família o lugar em que moramos esteja para sempre associado com amor, cuidado, hospitalidade, ministério e justiça?

“A violência se levantou em vara de impiedade” (Ez 7.1-27). As mensagens simbólicas encenadas por Ezequiel agora dão lugar a um anúncio feito em pa­ lavras claras e terríveis. Deus estava prestes a derra­ mar a sua ira sobre Judá. Não haveria como escapar, pois a espada devastaria do lado de fora, enquanto a praga e a fome acometeriam as suas vítimas no inte­ rior da Cidade Santa. O aviso que Ezequiel deu é tão válido hoje quanto foi aproximadamente 600 anos antes do nascimento de Cristo. Deus certamente julgará... “conforme os teus caminhos, e porei sobre ti todas as tuas abominações” (v. 8).

ração o profeta abatido, extremamente magro, dei­ tado amarrado ao lado da Jerusalém de brinquedo. E observar aquele que, sem dizer palavras, moia o trigo e cozinhava a sua minúscula porção diária de pão de péssima qualidade. Eles podem não ter ouvido. Eles podem não ter se arrependido. Mas Ezequiel ao menos conseguiu a atenção deles. Finalmente, ouviram o que os pro­ fetas anteriores haviam gritado de forma estridente durante séculos. É por isso que, recentemente, minha esposa e eu assinamos um cartão de compromisso, e o en­ viamos aos escritórios de duas grandes empresas identificadas por uma impressionante ’coalizão de grupos cristãos como patrocinadores de programas de TV que exibem cenas excessivas de sexo e vio­ lência. Esse cartão de compromisso diz que no ano seguinte não compraremos mais os seus produtos. E, queira Deus, que milhões de outros cristãos as­ sinem, e firmem o mesmo compromisso.

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Ó, o boicote provavelmente não gerará nenhuma conversão. Ele pode nem mesmo provocar qual­ quer restrição no mundo da televisão. Mas ele é um ato simbólico; um ato que envia uma mensagem que fala um pouco mais alto do que as palavras. Pelo menos este ato, multiplicado por milhões, pode chamar a atenção de alguém. Ele pode dizer o que precisa desesperadamente ser dito. Que os limites morais da nossa sociedade têm sido encolhidos. Que os pecados, uma vez execra­ dos publicamente, são agora retratados como com­ portamento normal. E que a menos que os cristãos tomem uma posição, e que a nossa voz seja ouvida, Deus certamente agirá contra o nosso país também, e, diz Ele, “julgarei conforme os teus caminhos, e porei sobre ti todas as tuas abominações”. Aplicação Pessoal Se os cristãos não tomarem uma posição pública a favor da justiça, quem tomará? Citação Importante “Todos nós gostamos da penumbra em questões espirituais e morais; não gostamos de definições como preto ou branco, nem das linhas claras de demarcação —salvos e perdidos. Preferimos que as coisas sejam nebulosas, agradáveis, e indefinidas, sem a luz clara. Quando a luz aparece, a dificulda­ de é experimentada, porque, quando um homem acorda, vê muitas coisas. Podemos nos sentir com­ placentes com um ambiente de cor parda; mas ser­ mos colocados contra o ambiente branco de Jesus Cristo é uma coisa imensamente desconfortável.” — Oswald Chambers 11 DE JUNHO LEITURA 162 O TEMPLO ESVAZIADO Ezequiel 8— 11

Deus” o termo está tipicamente ligado a imagens poderosas. Deus é visto em esplendor resplande­ cente. O poder em sua forma mais natural, e a san­ tidade fervorosa, são impressos naqueles que têm a permissão de vislumbrar as suas revelações da sua natureza essencial. Mas a “glória de Deus” está, acima de tudo, asso­ ciada à participação de Deus em nosso mundo de espaço e tempo. O tecido do universo é rasgado, e por um momento o poder elementar de Deus é vis­ to — como um relâmpago brilhando no Sinai, na coluna de fogo e na nuvem que guiaram Israel no deserto, como um fulgor desconhecido que desceu sobre o Tabernáculo quando Deus fixou residência de uma forma inigualável entre o seu povo do An­ tigo Testamento (cf. Ex 29.43). E esta presença sin­ gular de Deus que originalmente encheu o Templo de Salomão e então se achou no Santo dos Santos, o átrio interior do Templo (2 Cr 7.1-3), que Eze­ quiel descreve nestes capítulos. Há um significado trágico na visão que Ezequiel tem da glória de Deus deixando o Templo. Aqueles que haviam buscado este edifício sagrado em busca de proteção, a partir deste momento confiariam no que era agora meramente uma concha vazia. Com a glória de Deus terido se retirado, o Templo não passava de uma construção de pedras embelezada, isento de significado e poder. Visão Geral Ezequiel teve uma visão de idolatria no próprio Templo de Jerusalém (8.1-18). Na visão, ele teste­ munhou a morte dos idólatras (9.1-11) e a retirada gradual da glória de Deus do Templo (10.1-22). O povo que habitava Jerusalém seria castigado (11.115), embora no futuro os corações dos exilados fossem mudados, e eles fossem restaurados à sua própria terra (w. 16-25).

“Então, saiu a glória do Senhor da entrada da casa e Entendendo o Texto “Estando... os anciãos de Judâ, assentados diante de parou sobre os querubins” (Ez 10.18). mim” (Ez 8.1-4). A visão narrada nestes capítulos Nenhum prédio de igreja, mesmo que seja espeta­ foi dada apenas 14 meses depois do chamado de cular, tem qualquer valor a menos que a presença Ezequiel. Naquela época ele tinha sido reconhe­ de Deus esteja ali. As igrejas, como o Templo de cido como profeta, de forma que os anciãos da Judá, estão vazias a menos que o Senhor seja hon­ comunidade de exilados judeus foram até ele para consultá-lo. Não há qualquer indicação de que eles rado, e a sua presença sentida ali. tenhâm recebido as suas palavras, ou que tenham respondido. Mas eles sabiam que um profeta estava Definição dos Termos-Chave A glória. A palavra hebraica traduzida como “gló­ entre eles. ria” significa “forte” ou “pesado”. Figurativamente Como um novo convertido na Marinha, eu co­ ela sugere magnificência: o peso social de um ho­ mecei a falar a outros marinheiros a respeito do mem rico, ou os símbolos da majestade de um go­ Senhor Jesus. Um dia o nosso oficial comandan­ vernante, são ambos identificados como “glória”. te estava conduzindo uma corte marcial, mas não Quando o Antigo Testamento fala da “glória de conseguiu achar uma Bíblia para fazer o juramento

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antes de um testemunho. Imediatamente, um dos oficiais disse: “Encontre o Richards. Ele terá uma Bíblia em sua mesa”. Nem mesmo o cristão mais fervoroso, como Eze­ quiel, pode ganhar convertidos imediatamente. Mas com que rapidez as pessoas percebem que Deus colocou um porta-voz entre elas!

Deus é muito misericordioso conosco. Ele conti­ nua a exercer a sua bondade muito tempo depois de merecermos o castigo. No entanto, nem mesmo um Deus tão misericordioso quanto o nosso pode ser tratado com desprezo para sempre. Deus jul­ gará quando as açóes humanas o forçarem a lidar com os nossos pecados.

“Vês tu o que eles estão fazendo?” (Ez 8.5-18). En­ quanto os anciãos de Judá estavam presentes, Ezequiel foi transportado para Jerusalém em uma visão, onde ele observou uma adoração no Tem­ plo. As coisas que ele testemunhou demonstraram a completa corrupção religiosa do povo, e serviu como a base do anúncio de Deus: “Eu procederei com furor; o meu olho não poupará, nem terei pie­ dade” (v. 18). Um ídolo e um altar para uma divindade pagã ti­ nham sido levantados dentro do átrio do Templo, na porta norte (w. 5,6). Esta porta levava ao palá­ cio real, e assim sugere a participação ativa do rei em rituais pagãos. Dentro de um dos depósitos do Templo, cerca de 70 dos anciãos de Judá foram reunidos para adorarem imagens de animais (w. 7-13). Este não era um gru­ po oficial, como o Sinédrio. Contudo, o seu próprio tamanho, e o fato de que ele era composto de líderes reconhecidos que também praticavam a idolatria na privacidade de seus lares (v. 12), sugere o quanto a apostasia em Judá havia se tornado generalizada. Ezequiel também viu mulheres “chorando por Tamuz” (w. 14,15). Tamuz era uma divindade agrária sumeriana, que “morria” com o inverno e “voltava a viver” a cada primavera, e foi o precursor de uma multidão de deuses pagãos da natureza. Tanto os rituais de pranto como os de fertilidade estavam associados à adoração de Tamuz. Finalmente foi mostrado a Ezequiel 25 homens no átrio interior do Templo adorando o sol (w. 1618). O que é tão significativo sobre isso? Primeiro, suas costas ficavam voltadas para o Templo. Era a prática no judaísmo orar na direção do Templo, o local da Presença Divina. Segundo, estar nos átrios interiores exclui estes homens como sacerdotes e levitas, que eram os únicos a ter acesso aos seus li­ mites! Não só a casa real, não só os anciãos, não só as mulheres, mas os próprios líderes religiosos de Judá eram corruptos, praticando a idolatria no único e santo local de adoração de Judá. No entanto, o que mais nos admira quando lemos o capítulo é que quando Ezequiel foi levado para a Cidade Santa e seu Templo, ele notou que “a glória do Deus de Israel” ainda estava lá! (v. 4) Apesar de toda provocação, Deus não tinha ainda abandona­ do o seu povo.

“Homens que suspiram e que gemem” (Ez 9.1-11). Ezequiel viu um sinal colocado sobre todos em Jerusalém que tinham um coração voltado para Deus, e que lamentavam a condição espiritual de Judá. Em sua visão, Ezequiel viu o resto da popu­ lação, morta. O derramamento de sangue era tão grande que Ezequiel perdeu a esperança de que houvesse sobreviventes. Dois pensamentos devem ser destacados aqui. Pri­ meiro, o sinal colocado sobre os crentes verdadeiros nos lembra que Deus é capaz de cuidar daqueles que são seus mesmo quando há devastação em toda parte. Segundo, Deus disse aos anjos destruidores: “Começai pelo meu santuário” (v, 6). O cristianis­ mo não deve ser usado como uma capa para o pe­ cado. Aqueles que usam mal a religião, para ganho ou mérito pessoal, receberão maior condenação. “O resplendor da glória do Senhor” (Ez 10.1-22). Em sua visão, Ezequiel viu a glória visível do Senhor, que, como em sua visão anterior, repousava sobre um veículo impulsionado por anjos guardiões, aqui identificados como querubins. Enquanto Ezequiel observava, a glória de Deus se levantou do Templo e se moveu para além da sua entrada, preparandose para deixar a própria cidade (cf. 11.23). Quando ela partiu, as brasas acesas que havia em seu centro foram espalhadas sobre Jerusalém. Brasas quentes, representando o juízo divino, são frequentemente encontradas nas Escrituras nas passagens apocalípticas que descrevem o fim da história (veja Ap 8— 9). A devastação total é um sinal bíblico do juízo de Deus, um lembrete de que um dia de recompensa aguarda a todos os que se recusarem a dar ouvidos ou a adorar ao Senhor. “Príncipes do povo” (Ez 11.1-12). Os 25 homens descritos neste capítulo representam a aristocra­ cia, uma vez que serviam como príncipes de Judá. A comparação com Jeremias 37 mostra que nem mesmo o próprio rei Zedequias tinha poder para revogar as decisões políticas deles. Embora o co­ mentário a respeito deles , em Ezequiel 11.3 seja obscuro, é melhor entender isso como um consen­ so para a guerra em vez da paz, e uma afirmação ar­ rogante de que eles mesmos são os membros mais dignos da nação (a “carne”), e que os exilados são

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meramente os restos. Eles dizem isso apesar do fato de Jeremias ter falado fielmente a Palavra de Deus em Jerusalém, e ter aconselhado que eles se rendes­ sem à Babilônia em vez de resistir! Através de Ezequiel, Deus anunciou que aqueles judeus que os príncipes haviam impiedosamente matado, eram os verdadeiros membros dignos da nação (v, 7). Na Judá daqueles dias, o “único judeu bom era o judeu morto!” Mas Deus disse a Ezequiel que, tendo em vista que os príncipes gostavam de pensar em si mesmos como a “carne” de Judá, Ele zombaria deles. Ele faria de Jerusalém uma pane­ la, e enquanto as chamas do juízo queimassem em torno deles, eles mesmos — a carne dentro do cal­ deirão do juízo — ferveriam em angústia! Um poema de Robert Burns descreve uma mulher sentada orgulhosamente na igreja, com a cabeça para cima, para que todos possam ver o seu gor­ ro novo. Burns ironicamente observa que o que a congregação notou foi um piolho, grudado em uma das suas fitas brilhantes. “O que Deus nos conceda o dom”, o poema conclui, “de vermos a nós mesmos como os outros nos veem”. O poema de Burns chega quase ao ponto da inten­ ção de Ezequiel. O dom definitivo é ver a nós mes­ mos como Deus nos vê! Desprovidos de fingimento, arrogância, ilusões e enganos compartilhados, nós, como o povo de Jerusalém, precisamos compreen­ der a nossa verdadeira natureza, e o que fazemos. Como os príncipes de Judá, algumas pessoas hoje dizem umas as outras, “Nós somos a carne”. Elas insistem na proteção de estilos de vida alternativos em nome da tolerância; eles envolvem a imoralida­ de da mídia no manto da liberdade de expressão; e elas acusam de censura aqueles que exigem padrões públicos de decência. E então elas arrogantemente dizem umas as outras: “Nós somos a carne”.

DEV OCIONAL_______ Sabereis (Ez 10—11)

Os devocionais devem ser calorosos, e não preci­ sam trazer, em si, a precisão. Pelo menos, eu sem­ pre pensei assim. No topo deve haver algum trecho positivo da Escritura, e então uma historinha feliz, seguida de uma oração de uma ou duas linhas. Nós lemos, nos sentimos bem, e então podemos seguir satisfeitos o nosso caminho, porque compartilha­ mos um tempinho com Deus e recebemos no bra­ ço a nossa injeção espiritual diária. O problema é que boa parte da Escritura não é ca­ lorosa e imprecisa. Ela nem mesmo faz com que nos sintamos bem, e, às vezes, não nos deixa muito

O que estas pessoas falham em fazer é ver a si mes­ mas como Deus as vê. E o que elas falham em per­ ceber é que elas também serão colocadas no caldei­ rão do juízo divino.

“Profetizando eu, morreu Pelatias” (Ez 11.13). Aparentemente Ezequiel descrevia as suas visões em voz alta enquanto as vivenciava. Enquanto ele falava na Babilônia, Pelatias, em Jerusalém, caiu morto. O acontecimento perturbou Ezequiel, e ele exclamou, perguntando se o remanescente de Judá seria completamente destruído. A morte de Pelatias serviu para um outro pro­ pósito além de provocar a indagação angustiada de Ezequiel. Mais tarde, quando a notícia de que Pelatias tinha morrido chegasse de Jerusalém, a comunidade de exilados iria perceber que isso aconteceu exatamente no momento observado pelo profeta. A mensagem de Ezequiel seria, as­ sim, autenticada como uma verdadeira visão do Senhor. “Dar-lhes-ei um coração de carne” (Ez 11.16-25). O coração de carne é comparado com um cora­ ção de pedra. Um é sensível, o outro é insensível. A solução definitiva e única para o problema de Judá era a transformação interior. E Deus, cujo atributo supremo é a graça, daria ao restante do seu povo um novo coração, apesar da tradição centenária que tinham, de se desviarem dos seus caminhos. Mas tudo isto ficaria para um futuro distante. Eze­ quiel foi sacudido de volta ao seu presente por uma visão final da glória de Deus, subindo de dentro da cidade, movendo-se acima dos montes para o oriente, onde a futura devastação de Jerusalém po­ deria ser facilmente vista.

satisfeitos. Considere estes capítulos de Ezequiel, por exemplo. O capítulo 10 descreve a glória de Deus, a sua presença vital, deixando o Templo. E o povo de Judá nem mesmo soube disso! Eles iam ao Templo, adoravam ao que era agora apenas um monte de pedras polidas, e nunca perceberam que Deus não estava mais lá. Agora, que tipo de alimento é este para um devocional? Quem quer ser advertido a tomar cuidado com a superficialidade na religião? Quem quer ser desafiado a examinar se as suas próprias práticas estão ou não meramente simulando coisas que, afinal, não tenham nenhum impacto sobre o seu relacionamento com Deus?

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O capítulo seguinte é ainda pior! Quem quer ouvir que o que se pensa de si mesmo, e o que os outros pensam, não tem importância alguma? Quem quer ser lembrado de que, o que Deus pensa a respeito da pessoa é tudo o que importa? E quem quer ser advertido de que, se a sua opinião estiver equivo­ cada, e estiver disposto a mudar, o juízo de Deus removerá todas as ilusões e o deixará moído e ex­ posto? Estas palavras de ameaça e advertência, “Sa­ bereis [então] que eu sou o Senhor”, simplesmente não são o tipo de palavras que você espera encon­ trar em um livro devocional! Não há nada caloroso e impreciso nisso! Apenas um calafrio horrível. Talvez fosse melhor se os nossos devocionais apre­ sentassem menos pontos indistintos e, como a própria Escritura, nos chamassem para confron­ tar as questões verdadeiramente críticas da vida. É isso o que esses capítulos de Ezequiel fazem. Eles nos confrontam, e fazem exigências. Deus é real na sua vida? Ele está realmente aí, ou você está se enganando, passando por rituais vazios em salas grandes e vazias? E, você é honesto consigo mesmo? Você vê a si mesmo como Deus o vê, e avalia as suas ações pelos padrões de amor e bon­ dade divinos? Náo há nada caloroso e impreciso nisso, não é? Na­ turalmente poderá haver algo ainda mais impor­ tante. Poderá haver um verdadeiro encontro com Deus. Aplicação Pessoal Use os devocionais para explorar todo o conselho de Deus, e para se expor a Deus. Citação Importante “Algumas pessoas querem ver a Deus com seus olhos, como elas veem uma vaca, e amá-lo como amam a sua vaca — pelo leite, pelo queijo, e pelos benefícios que ela lhes proporciona. E assim com as pessoas que amam a Deus por causa das riquezas exteriores ou dos confortos interiores. As pessoas não amam a Deus corretamente, quando o amam para seu próprio benefício e vantagem. Com cer­ teza, eu lhe digo a verdade, qualquer distração que você tenha em sua mente, mesmo que se trate de algo bom, será um obstáculo entre você e a Verdade mais interior e profunda.” — Meister Eckhart

“Talvez algum dia, mas não agora”, e “Talvez ou­ tra pessoa, mas não eu”, ainda são reações comuns a advertências sobre as consequências do pecado. Esta passagem lembra àqueles que vivem nos tem­ pos modernos de que tais esperanças são vazias. Contexto Os exilados judeus esperavam um breve retorno para a sua terra natal. O otimismo era fomentado por falsos profetas, e incentivados por noções po­ pulares — que um Deus de amor nunca julgaria realmente; que as visões de Ezequiel não se cumpri­ riam; que, se o juízo viesse, ele atingiria uma outra geração. Nesta seção de Ezequiel, o profeta lidava com as falsas esperanças do povo que ainda se mostrava obstinado em relação a Deus. Através dele, o Se­ nhor anunciou que os juízos profetizados atingi­ riam a geração da época. Em um pronunciamento sobre a responsabilidade pessoal, que é de forma vital relevante para nós hoje, Ezequiel mostrou que as escolhas individuais afetam o destino das pesso­ as. Era tarde demais para Judá como uma nação, mas cada indivíduo ainda poderia responder posi­ tivamente a Deus, e estar a salvo. Visão Geral Ezequiel encenou a iminente deportação da po­ pulação de Jerusalém (12.1-20). A esperança de adiamento era vã (w. 21-28): os profetas que es­ timulavam tal esperança mentiam (13.1-23), pois o juízo purificador (14.1-11) é inevitável (w. 1223). Duas ilustrações mostram a justiça do espe­ rado juízo (15.1— 16.63), enquanto uma terceira mostra a futilidade de uma aliança militar contra a Babilônia (17.1-24). Ezequiel então proclamou que cada pessoa viveria ou morreria conforme a sua própria decisão de obedecer ou desobedecer à Pa­ lavra de Deus (18.1-32). A seção é concluída com um poema de lamentação pelos príncipes de Judá (19.1-14).

Entendendo o Texto “A vista deles” (Ez 12.1-16). Outra vez Ezequiel encenou uma profecia. Desta vez ele representou o papel de um habitante de Jerusalém, juntando os seus poucos pertences de manhã, e à noite ca­ vando através de uma parede de tijolos de barro da sua casa, para rastejar para fora com eles e se 12 DE JUNHO LEITURA 163 mudar para outro local. Exatamente desta maneira SEM BASE PARA ESPERANÇA os poucos sobreviventes do cerco de Jerusalém ras­ Ezequiel 12— 19 tejariam para fora da cidade destruída, a caminho da Babilônia. “Porque em vossos dias, ó casa rebelde, falarei uma pa­ Mas as ações de Ezequiel tiveram uma referência lavra e a cumprirei, diz o Senhor Jeová” (Ez 12.25). mais direta ao “príncipe que [estava] no meio de­

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les”. Este é Zedequias, chamado de príncipe por­ que o rei de Judá por direito, Joaquim, estava vivo na Babilônia. Zedequias deveria partir através de um buraco na parede, tendo a sua cabeça coberta (indicando um disfarce), mas seria apanhado pelos babilônios e levado para a terra do inimigo, embo­ ra “com os seus olhos, não veja a terra”. Dentro de poucos anos, quando a cidade de Jerusa­ lém caiu, Zedequias tentou fugir. Ele fugiu para o Jordão, mas foi apanhado pelas forças de Nabucodonosor. Ali os seus filhos foram mortos enquanto ele observava, e teve seus olhos cegados. Zedequias foi para a terra da Babilônia como um cativo. Mas, de acordo com as palavras de Ezequiel, o rei cego nunca viu a terra do seu exílio. A Palavra do Senhor é certa. Aquilo que Deus diz é totalmente digno de confiança. Como os exilados precisavam desesperadamente ouvir, e crer! Mesmo hoje a nossa geração precisa ouvir as palavras das Escrituras, e crer nelas.

“O teu pão comerás com tremor” (Ez 12.17-20). Foi dito a Ezequiel que tremesse enquanto comesse e bebesse para retratar o total terror que em breve seria sentido pelos habitantes de Jerusalém. As pessoas que falham em temer a Palavra do Se­ nhor sentirão medo quando as coisas preditas nesta Palavra acontecerem. “Perecerá toda visão” (Ez 12.21-28). Ezequiel agora começou a lidar com as falsas esperanças que ti­ nham os cativos na Babilônia bem como os judeus deixados na terra natal. Uma base para estas coisas está na observação de que os avisos do passado, feitos pelos profetas de Deus, parecem ter “perecido”. Ezequiel não se dá ao trabalho de explicar que o juízo tinha sido retar­ dado por um Deus misericordioso, cuja bondade tinha sido expressa em sua atitude paciente a um povo não arrependido. Ezequiel simplesmente dis­ se que os desastres preditos pelos antigos profetas seriam cumpridos “em vossos dias”. Este pensamento é reenfatizado, pois um outro pro­ vérbio popular diz que as visões proféticas de juízo são “para muitos dias”. Sem dúvida, Deus faria o que havia dito. Mas certamente não agora! Outra vez Deus falou através de Ezequiel: “Não será mais retardada nenhuma das minhas palavras”. Há aqui um descuido que é frequentemente refleti­ do na igreja cristã. Quando Cristo instruiu os seus discípulos a respeito da sua volta, Ele enfatizou a importância de estar pronto (veja especialmente M t 25— 26). O Senhor poderá aparecer a qual­ quer hora, e assim os Seus servos deverão conduzir os seus negócios ativamente, ansiosos e entusias­

mados com a perspectiva da sua volta repentina. O mesmo é válido para nós: devemos estar cons­ tantemente alerta, pois Jesus pode vir hoje — esta manhã, esta tarde! No entanto, à medida que os anos passam, e come­ çamos uma carreira, nos casamos, e fazemos proje­ tos para a faculdade dos nossos filhos e para a nossa aposentadoria, o senso de iminência é, de alguma forma, perdido. Alguns, olhando para mais de dois mil anos atrás, rejeitam toda a ideia, dizendo que “perecerá toda visão”. Outros, mais conservadores, simplesmente presumem que a volta de Cristo “é para muitos dias”. E então nos acomodamos neste mundo, adotamos os seus valores, e perdemos de vista o nosso chamado como servos de um Senhor que pode aparecer a qualquer momento. Um Se­ nhor que espera encontrar os seus servos prontos, ativamente envolvidos no cuidado com os seus ne­ gócios. Nós não sabemos, como Ezequiel sabia, que esta visão é para a nossa geração. Pode não ser. Eu me lembro claramente de minha mãe me dizendo, quando eu era uma criança de cinco ou seis anos, que ela esperava o Senhor voltar durante o seu pe­ ríodo de vida. Ele não voltou. Mas eu espero que Ele volte no meu período de vida. E se Ele demorar além da duração dos meus anos, nada mudará. A visão da volta de Jesus ainda será válida para cada crente, a cada dia. E a expectativa de que Cristo poderá voltar a qualquer momento permanece sendo uma das doutrinas mais purifica­ doras da Palavra de Deus.

“Profetas loucos, que seguem o seu próprio espírito” (Ez 13.1-16). Os falsos profetas são um dos gran­ des temas tratados em Jeremias e em Ezequiel. A ênfase nos faz lembrar de que devemos ser muito cuidadosos em nossa resposta a líderes espirituais modernos. Ezequiel notou que tais pessoas podem ser totalmente sinceras: eles “esperam que as suas palavras sejam cumpridas!” Ele também observou que eles tendem a anunciar mensagens populares. As pessoas querem ouvir sobre a paz? Tudo bem, o tema do sermão de hoje será a paz, embora não haja paz (v. 10). A sinceridade sem a verdade é tão inútil quanto um mapa de Kentucky quando você está viajando pelo Texas. Muitas pessoas boas, totalmente sinceras no que elas acreditam, estão na estrada para o inferno, e muitos pregadores totalmente sinceros estão ocu­ pados colocando placas ao longo da estrada. “Rebocam de cal não adubada” (Ez 13.10). Que imagem poderosa. Edifique uma parede de lodo, reboque de cal não adubada, e tudo parecerá bem.

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Mas não importa quão boa seja a aparência, uma parede de lodo continua sendo de lodo. Os ensinos dos falsos profetas podem parecer atraentes. Mas por mais grosso que seja o rebo­ co de cal que eles recebem, os ensinos ainda são de lodo, e desaparecerão na torrente do juízo de Deus.

gerava; portanto, era um símbolo apropriado do povo de Deus como a sua possessão estimada. Mas a videira era estimada apenas pelo seu fruto. A madeira é fibrosa e torcida, e não tem nenhuma serventia pata a construção nem valor para a fa­ bricação de móveis. Uma videira infrutífera é boa para ser queimada. Uma Judá infrutífera, já car­ bonizada pelas chamas do juízo de Deus, era to­ “Eis aí vou eu contra as vossas almofadas” (Ez talmente sem valor, e destinada a ser queimada. 13.17-23). Suponho que Shirley Maclaine é sin­ cera em seus escritos e palestras da “nova era”. A “O meretriz, ouve a palavra do Senhor” (Ez 16.1febre dos cristais, a noção de que há poder em 63). Em uma alegoria estendida o Senhor com­ pirâmides, o encanto com a “canalização” e o su­ parou o seu povo com uma bebezinha não dese­ posto contado com setes que viveram há muito jada, rejeitada no nascimento. Deus salvou a sua tempo atrás, estão relacionados com o tema no vida, a alimentou, e por fim a aceitou como sua qual Ezequiel tocou aqui. Adivinhação. Mágica. esposa e lhe encheu de presentes. Então a infiel Encantamentos. Esforços para encontrar e m ani­ Judá quebrou a relação de aliança procurando pular o sobrenatural enquanto ignoram a Deus. deuses pagãos para adorar, e se voltou à imora­ Seja qual for a “coqueluche”, a Escritura possui lidade. Deus castigaria Judá por seu adultério e uma mensagem simples: Deus é contra “as filhas prostituição espiritual, e por sua “soberba, far­ do teu povo que profetizam de seu coração”. tura de pão e abundância de ociosidade”, e tam­ bém por nunca ter esforçado “a mão do pobre “Livrariam apenas a sua alma” (Ez 14.12-23). e do necessitado”. No entanto, quando o tem­ Um outro argumento levantado pelos exilados po do castigo passar, Eu, o Senhor, novamente e pela população de Jerusalém contra o juízo “estabelecerei o meu concerto contigo”, e farei a iminente, estava baseado em Gênesis 18. Deus expiação pelos pecados de Judá. ouviu a oração de Abraão, e prometeu poupar Sodoma se cinco homens justos pudessem ser “A alma que pecar... morrerá” (Ez 18.1-32). Ao encontrados nela. Certamente Deus não destrui­ ler este capítulo é importante entender que no ria uma nação que deveria possuir pelo menos hebraico a palavra “alma” é usada no sentido alguns homens e mulheres piedosos! comum de “pessoa” ou “indivíduo”. Também, a Ezequiel destruiu esta noção — a qual, aliás per­ morte, neste capítulo, é física e não espiritual. A maneceu popular no judaísmo — dizendo que mensagem de Ezequiel é que aqueles que obe­ mesmo se várias das pessoas mais justas da histó­ decerem a Deus serão poupados por ocasião da ria sagrada (Noé, Daniel, e Jó) vivessem em Je­ futura devastação de Jerusalém, enquanto Deus rusalém, a cidade pereceria, embora estes justos usará a invasão babilónica para tirar a vida dos fossem salvos. ímpios. Dessa forma, as escolhas de cada indiví­ Um pensamento similar sobre o nosso próprio duo determinarão o seu próprio destino. (Veja o país é errôneo do mesmo modo. Você sem dúvida DEVOCIONAL.) já ouviu, ou pensou, algo como... Deus poupará os Estados Unidos porque (a) nós fornecemos a “Para que se não ouvisse mais a sua voz” (Ez 19.1maior parte dos missionários do mundo, (b) nós 14). A seção termina com um poema de lamen­ temos a maior porcentagem de fiéis do mundo tação, um lamento cuja finalidade é expressar Ocidental, (c) nós somos uma nação “cristã”, (d) a aflição e tristeza. Este poema se refere aos legíti­ democracia está mais perto do ideal divino do que mos reis de Judá, e particularmente a Joaquim, qualquer outra forma de governo, (e) qualquer que foi lançado em uma jaula, acorrentado e pre­ outra razão semelhante. Ezequiel sugeriu que es­ so a ganchos, e levado para a Babilônia. A Terra tas noções geram uma falsa esperança. Deus trata Prometida, uma vez tão frutífera, tornou-se um cada nação conforme as suas ações. A justiça dos deserto, seco como uma videira arrancada da ter­ poucos de modo algum preservará os ímpios. ra e deixada, sem raiz, sobre a areia escaldante. Sim, o juízo vem. Ele vem sobre os indivíduos, “A madeira da videira” (Ez 15.1-8). O Antigo como também sobre as nações. E quando o juízo Testamento frequentemente retrata Israel e Judá vier, embora seja merecido, seremos livres como como uma videira (cf. Gn 49.22; SI 80; Is 5.1-7; Ezequiel para lamentar sobre o que era, e o que Os 10.1). A videira era estimada pelo fruto que poderia ter sido.

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DEVOCION AL__________ Quem Fez isso? Aplicação Pessoal (Ez 18) Recentemente um colunista fez uma aguda obser­ vação sobre a gangue de rapazes que estupraram e quase mataram uma mulher que corria no Central Park, em Nova York. O colunista observou que al­ guns psiquiatras já haviam se manifestado, ansiosos para explicar o ataque, chamando o ato de expres­ são de frustração e raiva por parte de jovens de condições desfavoráveis que foram forçados, pela sociedade, a odiar. O colunista observou que, ao serem perguntados sobre o “porquê” de suas ações, os rapazes envolvidos apenas deram de ombros e disseram: “Foi divertido”. Sem dúvida, o colunis­ ta sugeriu ironicamente que, no momento do seu julgamento, os adolescentes saberiam o suficiente para redefinir o seu ato, e culpariam a sociedade por vitimá-los. O argumento de que a sociedade tem a culpa quando uma pessoa age de um modo criminoso não é novo. Mesmo nos dias de Ezequiel, as pessoas diziam que se o juízo viesse, seria por culpa de seus pais, e não por culpa delas (w. 1,2). É isso que a frase, “Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram”, significa. O que aconte­ ce comigo, o que eu faço, não é minha responsabi­ lidade. Õs meus atos são determinados pelo que os outros me fizeram. Ezequiel 18 confronta este ponto de vista ainda po­ pular, e categoricamente nega a sua validade. Sim, podemos ser influenciados por outros. Mas perma­ necemos responsáveis pelas nossas escolhas. O que escolhemos fazer não é, de forma alguma, determi­ nado por outra pessoa. Quando alguém pergunta, “Quem fez isso?” não adianta apontar o dedo de responsabilidade para outra pessoa, e gritar: “Na verdade não fui eu”. Para explicar este ponto, Ezequiel apresenta vários casos. E quanto ao homem bom que tem um fi­ lho mau? Os méritos do pai não salvarão o filho das consequências dos seus atos. E quanto ao filho bom de um pai mau? Os pecados do pai não serão apresentados contra o filho. Cada pessoa é respon­ sável por suas próprias escolhas. Portanto, a mensagem é clara. Não culpe seu que­ rido pai pelo que você faz, mesmo que seu pai não seja tão querido. E não culpe a sociedade, mesmo que a sociedade não tenha lhe dado uma porção justa. O mais importante. Não embarque na noção de que você não teve uma chance devido ao seu passado. Você tem uma chance. Você pode ter êxi­ to. Porque você pode escolher.

A liberdade de escolher é um dos muitos dons que Deus lhe deu. Citação Importante “O poder da escolha individual é o segredo da responsabilidade humana. Eu posso escolher que linha seguirei, mas não tenho o poder para alterar o destino desta linha, uma vez que a te­ nha tomado — contudo, eu sempre tenho o po­ der de sair de uma linha e ir para outra.” — Oswald Chambers \

13 DE JUNHO LEITURA 164 LIDERANÇA DEFEITUOSA Ezequiel 20—24

“Eis que os príncipes de Israel, cada um conforme o seu poder, tiveram domínio sobre ti, para derramarem o sangue” (Ez 22.6). Os líderes carregam uma pesada responsabilidade. Eles estabelecem o tom moral de uma nação ou co­ munidade, e são responsáveis pelos defeitos e falhas do povo que lideram. Visão Geral A história de Israel foi de rebeldia (20.1-31), mas depois do castigo a nação seria restaurada (w. 3244). Ezequiel profetizou que um imediato juízo de fogo (w. 45-49) e espada (21.1-32), estava prestes a descer sobre Jerusalém e seus líderes corruptos (22.1-31). O pecado do povo foi retratado em uma famosa alegoria (23.1-49), e mesmo quando o cer­ co de Jerusalém começou na distante Judá, Eze­ quiel anunciou o acontecimento (24.1-15). Quan­ do a mulher de Ezequiel morreu, Deus lhe disse, “Refreia o teu gemido”, como o povo de Jerusalém que ficaria mudo em sua angústia (w. 16-27). Entendendo o Texto “Faze-lhes saber as abominações de seus pais” (Ez 20.1-31). Em julho/agosto de 591 a.C. os anciãos do povo foram “consultar o Senhor”. A frase signi­ fica consultar o profeta sobre o resultado de planos que eles estavam considerando. Deus nem mesmo quis ouvi-los, mas disse a Ezequiel para apresentar claramente as acusações contra eles. Assim, a partir da história, Ezequiel demonstrou que o povo de Israel sempre tinha sido rebelde. E denun­ ciou que a geração atual havia se contaminado da mesma maneira “até este dia” (v. 31).

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O ponto da passagem estava claro. Era tempo de se arrepender, e não de fazer planos! Os anciãos de Judá formaram comitês e estabeleceram planos de contingência, quando o que eles deveriam estar fa­ zendo era convocar o povo de Judá a abandonar a idolatria e voltar-se para Deus. Você e eu também devemos colocar as primeiras coisas em primeiro lugar. E bom fazer planos cui­ dadosos pata o futuro. Mas a maior prioridade do homem deve ser o seu relacionamento pessoal com Deus. Se este relacionamento estiver errado, quais­ quer que sejam os planos que possamos fazer serão irrelevantes. E inútil pedir direção a Deus, ou orar a respeito de planos que estejamos lutando para con­ cretizar, se um pecado grave estiver interrompendo a nossa comunhão com Deus. Nesses momentos, o arrependimento é a maior prioridade. Este era um dos defeitos mais sérios nos líde­ res de Judá. Eles pareciam ignorar totalmente a sua própria condição espiritual como também a do seu povo. Líderes insensíveis, sem comunhão com Deus, só podem levar o povo de Deus ao desastre.

“Pois a mim me não quereis ouvir” (Ez 20.32-49). Deus está tão determinado a nos encontrar, quanto estamos determinados a fugir dEle! Judá sofreria o juízo. Mas não havia uma maneira de Deus permi­ tir que o seu povo se desviasse permanentemente para a idolatria e para o pecado. (Veja o DEVOCIONAL.) “Tirarei a minha espada da bainha” (Ez 21.1-17). O Antigo Testamento frequentemente retrata na­ ções inimigas como uma vara de disciplina. Aqui a Babilônia foi retratada como uma “espada”. Em hebraico a palavra para espada indica um “instru­ mento de destruição”. Assim, Ezequiel exclamou: “A espada, a espada está afiada e polida; afiada para matança, polida para reluzir como relâm­ pago” (w. 9, 10a). Judá havia “desprezado a vara” de castigos mais brandos. Agora ele deveria suportar o castigo maior infligido pela espada de Deus. Vemos o mesmo traço peculiar em algumas crian­ ças. Uma criança responderá positivamente a um olhar duro ou a uma leve palmada. Uma outra re­ sistirá com raiva a uma surra, recusando-se a mudar de atitude ou a ceder. A rebelde Judá era como uma criança obstinada, determinada a agir à sua própria maneira, apesar da correção. Como resultado, um Deus angustiado deve aumentar a intensidade do castigo. Judá deve ser ensinada a responder.

“Propõe dois caminhos, por onde venha a espada do rei da Babilônia” (Ez 21.18-32). Foi dito a Ezequiel que desenhasse um mapa na terra, marcando clara­ mente a rota da Babilônia até a Síria-Palestina. Ali, acima de Damasco, a estrada se bifurca, com uma rota levando a Judá, e a outra ao longo das regiões montanhosas, cruzando o Jordão até a terra dos fi­ lhos de Amom. Ezequiel foi informado de que o rei da Babilônia, ao alcançar aquela encruzilhada na estrada, convocaria os seus sábios para adivinhar e para ter um sinal que lhe mostrasse com que povo deveria guerrear. Deus faria com que o prognóstico o dirigisse a Judá! O que Ezequiel explicou aqui foi que os Babilônios não tinham que invadir Judá. Deus interveio para fazer com que Nabucodonosor escolhesse os judeus como as suas vítimas do momento. Mas por quê? O destaque está na liderança de Judá. O príncipe de Judá é “profano e ímpio” (v. 25). No juízo esperado, esta pessoa exaltada perderá os símbolos de nobreza, e estes não serão restaurados “até que venha aquele a quem pertence de direito” (v. 27). “Eis que os príncipes de Israel, cada um conforme o seupoder, tiveram domínio sobre ti, para derramarem o sangue” (Ez 22.1-31). Outra vez temos um tema recorrente. Os líderes devem servir o rebanho de Deus, e não tosquiá-lo! Aqueles que usam o poder para tratar pai e mãe com desprezo e para oprimir o estrangeiro e maltratar os órfãos são usuários, e não servos. Os pecados do povo de Jerusalém são listados (w. 9-12), e em vez de se posicionarem contra este comportamento, os líderes conspiram para tirar proveito da situação (w. 23-29). Não é de admirar que Deus diga: “Eu derramei sobre eles a minha indignação; com o fogo do meu furor os consumi; fiz que o seu caminho recaísse sobre a sua cabeça” (v. 31). Qualquer pessoa que aceite o papel de um líder espiritual assume uma responsabilidade terrível. Ele ou ela deve se despir de todo motivo egoísta, e colocar-se diante do Senhor “na brecha” do muro em favor da terra. Os líderes espirituais devem se dedicar a estar diante do Senhor, e servir o povo de Deus. Qualquer compromisso diferente deste fará com que nos desviemos — e que encaremos o juízo. “Beberás o copo de tua irmã” (Ez 23.1-49). Em uma extensa ilustração, Israel e Judá foram comparadas a duas irmãs prostitutas. Judá não tinha aprendido com o castigo de Israel; portanto, iria sofrer o mes­ mo destino terrível. Você e eu podemos aprender com as duas nações. “Te esqueceste de mim e me lançaste para trás das

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tuas costas”. Nós nos lembramos do Senhor dia­ profeta foi avisado, e lhe foi dito que não expres­ riamente mantendo a Ele e a sua Palavra sempre sasse nenhum sinal externo de pranto. Ele deveria diante de nós. apenas refrear o seu gemido. Quando a devastação em Jerusalém terminasse, e a morte levasse os filhos “Deste mesmo dia” (Ez 24.1-14). No dia 15 de ja­ e as filhas dos poucos sobreviventes, eles“ também neiro de 588 a.C., Nabucodonosor começou o cer­ ficariam espantados e sufocados demais para cho­ co a Jerusalém. Naquele mesmo dia, na Babilônia, rar. Ezequiel anunciou o que estava acontecendo na Por que Ezequiel deveria sofrer a morte de sua terra natal, e comparou Jerusalém com uma pane­ esposa? A melhor resposta provavelmente é, “Por la prestes a ser levada para ferver, e os habitantes que não?” Nem mesmo o mais querido santo de como a carne que é cozida até que toda a água se­ Deus está imune à angústia que é comum a todos que da panela, e até que os restos sejam carboniza­ os homens. Os amigos mais íntimos de Deus fre­ dos e tornem-se inúteis. “Chegou o momento em quentemente passam pelas tribulações mais tristes. que agirei”, disse Deus, “Eu não reterei”. Durante estes períodos, podemos ter um sentimen­ Deus também estabeleceu uma data para o juízo to de identificação com o resto da humanidade; e do nosso mundo. Quando esta data chegar, nada com o sofrimento compartilhado, frequentemente poderá detê-lo. se desenvolve um ministério mais eficaz. Nas nossas tribulações, nós, como Ezequiel, somos frequente­ “Eis que tirarei de ti o desejo dos teus olhos” (Ez mente o sinal de Deus para os outros, apontando o 24.15-27). Antes da esposa de Ezequiel morrer, o caminho para a consolação, e para Ele.

DEV OCIONAL_______ “Isso nunca Acontecerá” (Ez 20) Qual é a coisa mais improvável que você pode ima­ ginar? Você andando na lua? Sendo visitado por homenzinhos verdes? Bem, confesso que estas coisas são bastante impro­ váveis. Na verdade, elas se encaixam na mesma ca­ tegoria de algo de que Deus zomba neste capítulo. A categoria “de maneira alguma!” Encontramos esta categoria no versículo 32: “E o que veio ao vos­ so espírito de maneira alguma sucederá”. Este “de maneira alguma sucederá” é uma das frases mais consoladoras das Escrituras, especialmente para os pais cujos filhos parecem ter abandonado a fé. Veja bem, o povo de Judá queria abandonar a Deus. Eles queriam adotar outros caminhos e ser “como as nações, como as outras gerações da terra”. Eles estavam fugindo de Deus tão rapidamente quan­ to as suas pernas lhes poderiam carregar. E apesar disso, Deus disse: “O que veio ao vosso espírito de maneira alguma sucederá”. Podemos parafrase­ ar desse modo: “Vós não quereis ser o meu povo, ou viver a boa vida que Eu escolhi para vós? Bem, podeis correr — mas Eu não vos deixarei ir lon­ ge. Embora me rejeiteis, eu não vos rejeitarei. Sois meus, e Eu jamais vos deixarei partir”. Deus estava determinado a resgatar o seu povo do paganismo, apesar do modo como eles agiam. Esta passagem é consoladora aos pais cujos filhos fazem escolhas insensatas. Um filho ou uma filha se afasta de Deus, adota uma conduta moral duvido­ sa, comete erros após erros, e sofre consequências

dolorosas. E muito fácil, então, os pais se entrega­ rem ao desespero. Meu filho está perdido. Toda a esperança se foi! Mas esta passagem nos diz para não desistirmos! Fugir de Deus? “O que veio ao vosso espírito de maneira alguma sucederá!” Aban­ donar os valores do pai e da mãe? “E o que veio ao vosso espírito de maneira alguma sucederá!” Fez tantas tolices na vida que não há como voltar para Deus e para a bondade? “O que veio ao vosso espí­ rito de maneira alguma sucederá!” Ó, haverá a dor da disciplina até que o andarilho volte. O povo de Judá logo iria descobrir como a disciplina divina poderia ser dolorosa. Mas ser abandonado? Nunca! Deus é um Amante feroz. Ele nunca desiste, mas busca impetuosamente os seus amados até que se voltem a Ele. E então, se os seus ou os meus filhos fizerem uma conversão proibida na estrada da vida, não deve­ mos abandonar a esperança. O que eles tinham em mente quando se desviaram do Senhor nun­ ca acontecerá! Deus não deixa que os seus amados fujam. Aplicação Pessoal Deposite a sua esperança onde a sua fé está depo­ sitada. Em Deus. Citação Importante Eu fugi dele de noite e de dia; Eu fugi dele, pelos arcos dos anos; Eu fugi dele, pelos caminhos confusos Da minha própria mente;

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E em meio às lágrimas Eu me escondi dele, Também sob a risada solta. Tendo em vista a esperança, eu corri; E me lancei, me precipitei Nas tristezas colossais dos temores profundos, Daqueles Pés fortes que me seguiam, e me se­ guiam. Mas com uma perseguição sem pressa, E um ritmo tranquilo, Velocidade lenta, ocasião majestosa, A batida — e a batida de uma Voz Mais urgente do que os Pés — “Todas as coisas traem a ti, que me trais”. Eu roguei, com sabedoria proscrita, Por muitas janelas sentimentais, Com cortinas vermelhas, Entrelaçadas com caridades; (Pois embora eu conhecesse o amor daquEle que me seguiu, Senti terrível dor, Porque, não tendo a Ele, eu de fato não teria mais nada). “Quem amaria alguém tão ignóbil como tu, Exceto Eu, sim, Eu mesmo? Tudo o que tomei de ti, apenas tomei, Não para te prejudicar, Mas para que pudesses procurar tudo em meus braços. Tudo o que a tua imaginação infantil e equivocada considera perdido, Eu guardei para ti em casa: Levanta-te, aperta a Minha mão, e vem.” — Francis Thompson

esperar ansiosamente a notícia do que estava acon­ tecendo em sua terra, há cerca de 1.100 quilôme­ tros de distância. Nesse ínterim, Ezequiel levantou a sua voz contra outras nações que se tornariam vítimas da Babilô­ nia. A implicação para os cativos judeus era dupla. Primeiro, o Deus deles era Deus de toda a terra. Ele não estava indefeso contra as nações que tinham historicamente perturbado Judá, como poderia sugerir a atual sujeição de Israel e Judá. Segundo, Deus é Juiz de toda a terra. Os pecados nacionais de agressão e atrocidade, de quebra de tratados e arrogância, seriam castigados onde quer que fos­ sem encontrados! Judá e Jerusalém, que estavam prestes a cair nas mãos da Babilônia, não estavam sendo tratados injustamente, mas estavam sendo considerados responsáveis por um padrão de justi­ ça que Deus exige de toda a humanidade. Estes capítulos sobre o juízo de nações há milênios atrás, nos lembram, como aconteceu com os cati­ vos judeus então, que os países são moralmente res­ ponsáveis, perante Deus, pelo seu comportamento internacional. As nações que apoiam o terrorismo, que violam compromissos de tratados, que adotam políticas de repressão, e que usam a força para co­ agir os vizinhos, se colocam inexoravelmente sob o juízo do Deus que age na história, e que infligirá as justas punições a cada nação.

Visáo Geral Enquanto aguardava uma notícia de Jerusalém, Ezequiel predisse o juízo que cairia sobre as nações pagãs. Ele falou do destino de estados próximos a Judá (25.1-17), e se concentrou em Tiro (26.1— 28.26) e no Egito (29.1— 32.32). 14 DE JUNHO LEITURA 165 /I CONTRA AS NAÇÕES Entendendo o Texto Ezequiel 25—32 “Te alegraste de coração em toda a tua maldade contra a terra de Israel” (Ez 25.1-7). Os filhos de Amom “A li estão os príncipes do Norte, todos eles, e todos os foram uma possível vítima da atual campanha ba­ sidônios, que desceram com os traspassados, envergo­ bilónica, mas foram poupados quando Nabuconhados com o terror causado pelo seu poder” donosor se voltou para o Ocidente, em direção a (Ez 32.30). Judá (cf. 21.18-23). A alegria deles pela queda de Jerusalém, porém, era baseada tanto na maldade Deus é o Governante do mundo todo. Aqueles que contra um antigo inimigo quanto no alívio. Agora não creem nEle, bem como nós que cremos, estão Ezequiel anunciou que a virada deles viria logo — sujeitos ao seu poder. E nós seremos julgados. como de fato aconteceu. A passagem também reflete um elemento da pro­ Contexto messa de Deus a Abraão: Aqueles que abençoarem Esta série de predições contra nações estrangeiras, os seus descendentes serão abençoados, e aqueles aparentemente foi dada enquanto os exilados na que os amaldiçoarem serão amaldiçoados (cf. Gn Babilônia aguardavam uma palavra sobre o destino 12.3). A ascensão e a queda de nações em nossos de Jerusalém. Ezequiel havia anunciado o início do próprios dias, sugerem que Deus continua a aben­ cerco daquela cidade: agora tudo o que os cativos çoar aqueles que recebem bem e apoiam o povo da judeus que estavam na Babilônia podiam fazer era sua aliança.

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“Executarei juízos” (Ez 25-8-17)- O mesmo pensa­ mento é enfatizado em profecias contra outras na­ ções próximas a Israel e Judá. Moabe zombou de Judá em seu desastre (v. 8); Edom “se houve vin­ gativamente para com a casa de Judá, e se fizeram culpadíssimos” (v. 12); os filisteus “com perpétua inimizade” procuraram destruir Judá (v. 15). Em cada caso, a naçáo náo só foi antagonista aos judeus como também desprezou o seu Deus. Em cada caso, Deus disse: Eles “saberão que eu sou o SENHOR”. O uso, no texto, de todas as letras em maiúsculo no nome SENHOR nos informa que no hebraico se lê YAHWEH. Este nome pessoal singular de Deus tem grande significado, e o identifica como “Aquele Que Está Sempre Presente”. Este é o nome que está associado aos grandes milagres de Deus no Êxodo, e às suas intervenções posteriores na história em favor do seu povo. Ele sugere uma visão de Deus como vivo, ativo, presente, e Todo-Poderoso. As naçóes pagãs em torno de Judá (e até mesmo Judá) não conseguiram enxergar Deus dessa forma. Mas quando o juízo caísse, então a verdadeira na­ tureza de Deus seria compreendida. Como é maravilhoso saber que, através de Jesus Cristo, você e eu conhecemos a Deus como vivo, ativo, presente, e Todo-Poderoso na nossa própria vida. Com os olhos da fé vemos evidências constan­ tes da sua obra em nós e por nós. Somente aqueles que se esquecem de quem Deus realmente é, e se comportam como se Ele não estivesse presente, é que precisam do castigo para lembrá-los. “O Tiro, farei subir contra ti muitas nações” (Ez 26.1-21). A cidade de Tiro ficava há apenas 160 quilômetros de Jerusalém, e num dia claro podia ser vista das suas alturas. A cidade foi edificada me­ tade no continente, e metade em uma ilha no mar, e possuía dois portos seguros. Tiro era um famoso centro comercial, e possuía uma frota dominante que fazia com que as pessoas cressem que aquela cidade cercada pelo mar fosse invencível. Enquan­ to outros estados na Síria-Palestina estavam sendo esmagados pelos poderes do norte, Tiro manteve a sua independência e prosperou. A profecia contra Tiro é complexa, e possuí cinco divisões principais. O capítulo 26 descreve a des­ truição da cidade. O capítulo 27 é uma lamentação que descrevendo Tiro como um navio mercante car­ regado de mercadorias que é afundado de repente. O capítulo 28.1-10 é um oráculo sobre o príncipe de Tiro; os versículos 11-19 são uma lamentação sobre o rei de Tiro; e os versículos 20-26 são uma profecia contra Sidom, uma nação próxima. A data no início da profecia (26.1) sugere que Eze­ quiel falou abertamente contra Tiro cerca de um

mês depois da queda de Jerusalém, mencionando notícias possivelmente trazidas por mercadores da própria cidade de Tiro. “Farei de ti uma penha descalvada” (Ez 26.14). Este é um dos versículos mais citados do Antigo Testa­ mento, citado por aqueles que estudam a profecia preditiva da Escritura. Nele lê-se; “Farei de ti uma penha descalvada; virás a ser um enxugadouro das redes, nunca mais serás edificada; porque eu, o Se­ nhor, o falei, diz o Senhor Jeová”. Apesar da escassez de bons portos naturais na costa mediterrânea oriental, e apesar dos portos naturais existentes naquele local, Tiro jamais foi reconstruí­ da. Onde outrora ficava uma grande cidade, alguns pescadores ainda secam as suas redes. Mas a penha descalvada permanece desolada e vazia, à medida que as ondas chegam à sua praia em um processo infindável. “Negocia com os povos em muitas ilhas” (Ez 27.136). Uma das características mais fascinantes des­ te capítulo é o registro de comércio encontrado nos versículos 10-2 5 a. A lista de parceiros comer­ ciais de Tiro, começando com Társis no ocidente, e movendo-se para o oriente, é o mais importante documento existente usado por aqueles que estu­ dam o comércio do antigo mundo mediterrâneo. Que livro incomparável é a nossa Bíblia! As pes­ soas frequentemente dizem coisas como, “A Bíblia não é um livro didático de ciências”, como se a nossa religião devesse ser encontrada nas ciências, e assim desconsideram a riqueza infindável que está contida na Palavra de Deus. No entanto, os escritos de Ezequiel sobre Tiro descrevem, em detalhes grandes e exatos, a campanha militar de Nabucodonosor, e refletem, com cuidado e exatidão, as práticas comerciais e as mercadorias comerciais da época. A total autenticidade destes detalhes históricos nos lembra que a Bíblia não é um livro de mitos e mistérios religiosos. E um relato histórico e exato do que Deus disse e fez no espaço e no tempo. Podemos confiar comple­ tamente na Bíblia e em todos os detalhes, apesar das tentativas de alguns de desafiar a exatidão da Escritura, e de negar o seu caráter como uma obra divinamente inspirada. “O rei de Tiro” (Ez 28.11-19). A mudança no meio do capítulo de príncipe (naged) de Tiro para rei (melek) de Tiro parece significativa para mui­ tos comentadores. Eles acreditam que neste ponto o foco da profecia muda do príncipe humano da cidade-estado contemporânea para Satanás. Esta opinião é apoiada pelas referências do texto ao

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Éden (v. 13), à posição do sujeito como um “que­ rubim protetor” (w. 14,16), e à referência da sua criação por Deus (v. 15). O que temos aqui é uma análise da queda de Satanás, e uma percepção ini­ gualável sobre a entrada do mal no universo de Deus. Além disso, este ponto de vista sugere que mes­ mo antes da criação do homem, a terra era o foco dos propósitos de Deus no nosso universo. Sa­ tanás, então um querubim de posição, pisava os céus acima da terra em um Éden de cristal, um ambiente cintilante com joias gloriosas. Embora criado como “um modelo de perfeição” e “irrepre­ ensível”, o orgulho corrompeu este ser angelical, e ele foi lançado à superfície da terra. Incalculáveis eras mais tarde, Deus reformou o planeta, e no Éden plantou um Jardim, cheio de animais que brincavam alegremente, onde Ele colocou Adão e Eva. Ali eles foram tentados pelo anjo deposto, e levados pelo agora hostil inimigo de Deus e do homem a fazer a escolha mais terrível e equivo­ cada: pecar. Será realmente isso que temos aqui, ou as palavras e frases são simplesmente uma poesia cheia de sím­ bolos, não tendo a intenção de serem entendidas literalmente? Seja qual for o ponto de vista que defendamos, podemos ter certeza de que o pecado

DE V OCIONAL_______ O Poderoso “Eu” (Ez 28.11-19) Ela estava chorando enquanto falava ao telefone com a locutora noturna do programa “TalkNet”, que dá conselhos no rádio. Ela tinha 17 anos e esta­ va grávida. Até então as coisas transcorriam muito bem. Depois de ter sido enviada para o internato, ela estava outra vez em casa com seu pai. Ela tinha amigos. Estava se divertindo. Muito mesmo. E en­ tão isso! Ela tinha que fazer um aborto, claro. As coisas esta­ vam indo bem demais para serem estragadas. A sua pergunta era: ela deveria contar ao seu pai? Ele di­ ria a ela para fazer um aborto, mas também poderia ficar furioso e mandá-la embora outra vez. A locutora do programa demonstrava solidarieda­ de. Esta era mesmo uma decisão difícil. Ela tinha um terapeuta regular? Bom. Por que não conversar com o terapeuta primeiro, e perguntar a ele se de­ veria contar ao seu pai? Tudo o que eu consegui pronunciar foi, “Coitada da criança”. Não, não a criança não nascida que a ouvinte ao telefone já havia decidido matar. Coitada da me­ nina de 17 anos.

do orgulho, a ênfase no poderoso “Eu”, permanece na raiz da queda de Satanás e também do homem. (Veja o DEVOCIONAL.) “Dirige o rosto contra Faraó, rei do Egito... e contra todo o Egito” (Ez 29.1—32.32). Os quatro últimos capítulos desta seção, e na verdade um doze avos das palavras de Ezequiel, são dirigidas contra o Egi­ to. Por quê? Historicamente, a pequena Judá esteve sujeita aos caprichos dos grandes poderes mundiais da época — Babilônia e Egito. Sendo menos que um peão no jogo de xadrez internacional, Judá havia sido manipulada e traída pelo Egito. No entanto, por mais incapaz que Judá parecesse, o Deus de Judá é o Deus de toda a terra. Agora, atra­ vés de Ezequiel, o Senhor anunciou que iria usar o seu poder para executar juízo sobre esta nação que manipulava o seu povo. As pessoas que têm algum poder tendem a me­ nosprezar os fracos. O que pode fazer uma pessoa incapaz contra homens ricos e de elevada posição? Nada. Mas o Deus dos incapazes não é impressio­ nado por nenhum ser humano. Ele pode agir, e agirá. Assim, Ezequiel disse que o Egito seria destruído, e que o seu príncipe cairia. Pobre garotinha, ela pensava apenas em seu di­ vertimento e na ameaça que a gravidez significava para os seus bons momentos. Nunca o mais tênue lampejo de uma ideia de que a vida que ela carre­ gava dentro de si deveria ser considerada. Nunca um pensamento de que possivelmente ela deveria aceitar a responsabilidade pelas consequências da sua aventura sexual. Apenas as lágrimas, apenas o terror, de que ela pudesse perder a chance de con­ tinuar se divertindo. Pobre garota. Como é frágil este universo que criamos — um universo que tem a nós mesmos como único ha­ bitante e todas as outras pessoas apenas como algo para se usar no nosso divertimento. Que situação ameaçadora quando só o “Eu” conta, e então apa­ rece algo para ameaçar a nossa autoindulgência. Pobre garota. Como ela vai descobrir que Deus é o centro do verdadeiro universo? Como ela vai perceber que é uma criatura, cuja verdadeira identidade só pode ser encontrada quando se coloca a Deus em pri­ meiro lugar, e cuja felicidade depende de escolher viver pelos padrões que Ele estabelece de certo e errado?

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Eu devo confessar que fiquei aborrecido com a locutora do programa de rádio. Ela cacarejou e arrulhou e se solidarizou, e nem sequer uma vez imaginou que a gravidez era uma chance para esta adolescente pensar em outro ser humano. A lo­ cutora, nem mesmo em seus sonhos mais loucos, suporia que colocar o ego de lado e agir responsa­ velmente poderia ser a maneira desta jovem de 17 anos encontrar tanto o melhor de seu ser interior, como a paz. Eu sei. Eu deveria ter esperado mais. Vivemos em uma sociedade onde se presume que o ego é o centro legítimo da vida de cada pessoa. Por que a adolescente que telefonou não deveria ter pensa­ do somente, e sempre, em si mesma? Não é o que todos fazem? Pobre menina. Quem jamais a ajudará a perceber que a expressão mais insidiosa do pecado inicial de Satanás (que é o orgulho) é o egocentrismo? Sim, que o nosso maior defeito espiritual, e o inimigo mais persistente é a nossa própria concentração no nosso ego, que é o poderoso “eu”.

Embora Jerusalém estivesse em ruínas, Deus não havia abandonado o seu povo. Não importa que circunstâncias presentes desagradáveis possam surgir, haverá sempre um futuro para o povo de Deus. Contexto Do capítulo 33 em diante, as profecias no Livro de Ezequiel olham para frente. Antes disso, Ezequiel concentrou a atenção dos seus ouvintes na história dos pecados que tornaram certa a queda iminente de Jerusalém. Mas com a cidade caída e a terra na­ tal despovoada, o profeta foi capaz de falar sobre o futuro. Deus iria restaurar o Israel disperso. Muitas promessas maravilhosas encontradas nestes quatro capítulos sublinham esta esperança gloriosa. Con­ tudo, o destino do indivíduo ainda depende de sua escolha pessoal — ouvir e obedecer a Palavra de Deus, ou ignorá-la e rejeitá-la. Para nós também, a Escritura está cheia de ama­ nhãs promissores que nós podemos reivindicar. Mas hoje, como na antiga Babilônia, a experiência da bênção de Deus requer que nós ouçamos e viva­ mos pela sua Palavra.

Aplicação Pessoal Geral A antiga prescrição ainda funciona: Deus primeiro, Visão Ezequiel começou uma nova fase de seu ministé­ os outros em segundo, e eu por último. rio reforçando verdades-chaves: ele era um atalaia (33.1-11), e cada indivíduo era responsável por res­ Citação Importante ponder à Palavra de Deus (w. 12-20). Para evitar ILUSÃO a destruição de Jerusalém, o povo de Deus deveria Há pilhas de alegria no viver, levar a sua Palavra ao coração (w. 27-33). Deus Quando vivemos como deveríamos; substituiria os líderes ímpios pelo Messias (34.1E a maior alegria é dar, 24), e haveria paz (w. 25-31). Edom cairia (35.1Pois isso nos faz o maior bem. 15), mas os montes de Israel seriam purificados e Assim chegamos à seguinte conclusão: repovoados por um povo transformado pelo Se­ Quanto mais da vida vemos, nhor (36.1-38). Entendemos que ela é meramente uma ilusão, Quando a vivemos de uma forma egoísta. Entendendo o Texto “Te constituípor atalaia”(Ez 33.1-11). Nós o vemos Esta é uma história antiga, mas verdadeira: mesmo na natureza. Quando o rebanho pasta, um Se lutarmos por um grande sucesso, macho permanece alerta, com a cabeça levantada, E vencermos, ainda faltará a glória, cheirando o ar. O animal de guarda fica afastado Se ganharmos por egoísmo. do grupo, e o bem-estar do rebanho depende do Para acharmos o prazer mais doce da vida, quanto ele é vigilante. Depois que tudo for dito e feito, Ezequiel era um atalaia de Israel. Isso foi estabe­ Devemos dar aos outros na medida mais plena, lecido no capítulo 3, e o cargo é repetido aqui. Das riquezas que ganhamos. — Frank C. Nelson Ezequiel foi fiel ao avisar o povo de Judá antes da cidade cair: ele devia continuar a avisar. 15 DE JUNHO LEITURA 166 Foi solicitado a Ezequiel que estivesse alerta, para ....1 ^ .... RESTAURAÇÃO À FRENTE avisar o seu povo dos perigos espirituais. A respon­ Ezequiel 33— 3 6 sabilidade era grande e pesada: Ezequiel ficaria fre­ quentemente sozinho, separado da multidão. Mas “Levantarei sobre elas... o meu servo Davi é que as há a própria vida dos seus companheiros judeus de­ de apascentar; ele lhes servirá de pastor” (Ez 34.23). pendia da sua fidelidade.

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Será que estamos prontos para pagar o custo de ser atalaias em benefício dos nossos amigos e vi' zinhos? Estamos preparados para compartilhar Je­ sus, avisando os outros do custo eterno da rejeição, convidando-os a aceitar o perdão e a nova vida que Cristo morreu para dar? “J uízo e justiça fez, certamente viverá” (Ez 33.1220). A mensagem de responsabilidade pessoal tam­ bém foi encontrada na primeira metade do livro de Ezequiel, no capítulo 18. Ali Ezequiel avisou que a aceitação à Palavra de Deus era a chave para a sobrevivência daqueles que estavam sob o cerco em Jerusalém. Agora o cerco estava acabado, e os ossos dos ím­ pios de Judá foram espalhados pelas ruas destruídas de Jerusalém. Mas o princípio da responsabilidade pessoal não tinha sido alterado. No futuro, Deus também fará uma distinção entre o homem bom que ouve e obedece à sua Palavra, e o homem ím­ pio que vira suas costas para o Senhor. As promessas de Deus são para todo o seu povo. Mas elas só podem ser reivindicadas por aqueles que confiam — e obedecem.

A verdadeira medida de um ministério moderno é ouvir. Após a mensagem, a congregação põe em prática a Palavra de Deus? “Profetiza contra os pastores de Israel” (Ez 34.1-10). No Antigo Testamento, o termo “pastor” é fre­ quentemente usado para designar os reis de Israel e os seus líderes espirituais. Agora Ezequiel olhou para trás e identificou as falhas de liderança que contribuíram para o recente desastre de Judá. O verdadeiro propósito que Ezequiel tinha em men­ te, porém, era mostrar um contexto no qual um esperado Pastor, que ele estava prestes a descrever, iria se destacar. Que falhas nos líderes de Israel e de Judá levaram a nação ao desastre? Os príncipes dos reinos hebreus tinham pensado apenas em si mesmos em vez de pensar no rebanho (v. 2). Eles gananciosamente exploravam o rebanho para ganho pessoal (v. 3). Eles se recusaram a intervir em favor dos fracos e doentes (v. 4). E eles permitiram que o rebanho de Deus fosse espalhado por todas as nações (w. 5,6). Devido a estes pecados, Deus disse: “Demandarei as minhas ovelhas da sua mão; e eles deixarão de apascentar as ovelhas e não se apascentarão mais a si mesmos” (v. 10). O Novo Testamento adverte contra colocar-se no papel de liderança presunçosamente; Tiago 3.1 diz: “Muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo”. Qualquer um que veja a liderança como uma posição “superior” à dos outros, em vez de vê-la como uma posição que tem como finalidade servi-los, ainda não está pronto para ser um líder espiritual.

“Os moradores destes lugares desertos da terra de Is­ rael” (Ez 33.21-29). Os poucos milhares de judeus deixados em Judá não tinham aprendido nada com a recente assolação. Apesar de continuarem pecan­ do (w. 25,26), eles presumiram que haviam herda­ do a escritura da terra de Abraão! Mas Deus não reserva os seus dons para os ímpios. O que Ele reserva para eles é o castigo. O Livro de Jeremias conta como o remanescente de Judá se recusou a aceitar a direção de Deus, e fugiu para a “Eu apascentarei as minhas ovelhas, e eu as farei re­ destruição no Egito após o assassinato do seu go­ pousar” (Ez 34.11-23). Os líderes humanos têm vernador babilônio constituído (cf. Jr 40-44). falhado miseravelmente em proteger o rebanho de Deus. Nesta poderosa passagem messiânica, Deus “Tem voz suave" (Ez 33.30-33). Ezequiel tinha, de promete intervir diretamente. Ele mesmo apascen­ repente, se tornado popular entre os exilados da tará as suas ovelhas. Deus diz: “Levantarei sobre Babilônia! Todos se aproximaram para ouvi-lo, e elas um só pastor, e ele as apascentará; o meu servo expressavam muitos elogios. Onde quer que fosse, Davi”. Quando o prometido Descendente de Davi Ezequiel ouvia: “Ótimo sermáo, Ezequiel”. As pes­ se manifestasse, o rebanho de Deus teria finalmen­ soas simplesmente adoravam comparecer todas as te um Líder cuja única preocupação seria o bemvezes que Ezequiel as reunia! estar das ovelhas. O problema era: isso era diversão para os exila­ Esta é uma linda característica de Jesus, que em dos (cf. v. 32). Eles ouviam, sorriam e gritavam: João 10 se identificou como o Bom Pastor. Em “Amém” — e provavelmente convidavam o prega­ Cristo, o povo de Deus tem um Pastor que volun­ dor desolado para um lanche após o culto — tudo tariamente “dá a sua vida pelas ovelhas”. Em vez sem colocar as suas palavras em seus corações. Eles de tomar, este Pastor dá. Ele não é mercenário, “ouvem as tuas palavras”, Deus disse a Ezequiel, mas tem um cuidado profundo pelas suas ovelhas. “mas não as põem por obra”. O sacrifício que Ele ofereceu, dando a sua pró­ A verdadeira medida de um ministério moderno pria vida, prova, de uma vez por todas, que somos não é o quanto um pregador se torna popular, ou amados e estamos seguros. Quando ouvirmos a sua voz, e o seguirmos, Ele só nos fará o bem. quantos milhares saem para ouvi-lo.

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“E farei com eles um concerto de paz” (Ez 34.25). Como Jeremias, Ezequiel introduziu o conceito de um Novo Concerto que Deus fará com o seu povo. Neste capítulo Ezequiel enfatizou as bênçãos ma­ teriais associadas a esta aliança, enquanto Jeremias enfatizou as espirituais. Que bênçãos materiais são previstas para o tempo futuro? O profeta enfatizou um resgate dos judeus das terras onde eles foram espalhados. Então, em sua antiga terra natal, eles conhecerão um tempo de paz, segurança, e prosperidade. Este retrato dos judeus restaurados a uma terra natal abundantemente fértil é frequentemente en­ contrado em imagens proféticas de uma esperada

DEVOCIONAL_______ O Santo Nome de Deus

(Ez 36) Olhando ao meu redor, em nossa congregação em Phoenix, eu vi muitos rostos familiares. Havia um jovem que tinha estado tão atraído pelo sexo que perdeu o emprego, a família, e quase perdeu a pró­ pria razão. Havia um ex-hippie, que não pensaria em comprar o disco que queria, caso os seus filhos estivessem precisando comprar sapatos. Ali, quase em minha frente, sentada ao lado do seu marido, estava uma mulher que havia sido apanhada em adultério com um amigo da família. Para todos os lugares que eu olhava havia pessoas que eu ama­ va. Pessoas que trouxeram honra ao santo nome de Deus. Muitas pessoas ficariam chocadas com esta última declaração. Mas este é exatamente o tipo de coisa de que Ezequiel está falando no capítulo 36 do seu livro. Anteriormente, no capítulo 6, Ezequiel pro­ fetizou “contra” os montes de Israel. Os seus altos, lugares escolhidos para rituais de adoração pagã que eram mesclados com orgias, deveriam testemunhar a destruição do povo rebelde de Deus. Judá havia desonrado o Senhor, e Ele proclamaria a sua santi­ dade castigando-os (36.16-21). Mas agora Ezequiel profetizou “para” estes mesmos montes. As suas encostas serão novamente povoa­ das e férteis (w. 8-15). Os montes observarão os descendentes dos pecadores, dançando e se ale­ grando no Senhor. E neste repovoamento, Deus afirmará a sua santidade. Como o Senhor disse através de Ezequiel: “Quando eu for santificado aos seus olhos” (v. 23). Como? O que é que os montes e os povos em re­ dor testemunharão que demonstra a santidade de Deus? Os próximos versículos nos dizem, à medida que o Senhor continua falando através do seu pro­ feta. Quanto aos exilados que voltaram, Deus dis-

era de ouro (cf. Os 2.22; J1 3.18; Am 9.13-15; Zc 8.12). Tudo isso é prometido a Israel quando final­ mente o Descendente prometido de Davi aparecer como Príncipe de toda a terra. Muitos entendem tais profecias como tendo a finalidade de ensinar uma restauração literal do povo judeu à terra de Israel, na segunda vinda de Cristo. Mas também há uma aplicação espiritu­ al. Quando Cristo reina na vida de uma pessoa, seja qual for a luta exterior que ela enfrente, ha­ verá paz em seu interior. Escondido nos nossos corações, além do alcance das circunstâncias, há um jardim para ao qual podemos nos retirar, e ali achar descanso. se: “E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei o coração de pedra da vossa carne e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu espírito e farei que an­ deis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis” (w. 26,27). Foi isso que eu vi na igreja no domingo de manhã. Pessoas que eram pecadoras. Mas pessoas a quem Deus tinha transformado. E a glória da santidade de Deus foi revelada na transformação de cada uma delas. Aplicação Pessoal Os pecadores transformados ainda são um tes­ temunho da santidade de Deus. E os santos que pecam continuam sendo uma mácula para o seu santo nome. Citação Im portante “Deus nunca nos pede para fazer algo que pos­ samos fazer. Ele pede que vivamos uma vida que nunca poderíamos viver, e que façamos uma obra que jamais poderíamos fazer. C ontu­ do, pela sua graça, estamos vivendo conforme a sua vontade, e fazendo aquilo que Ele quer. A vida que vivemos é a vida de Cristo vivida no poder de Deus, e a obra que fazemos é a obra de Cristo, que é executada através de cada um de nós pelo seu Espírito, a quem obedecemos.” — W atchman Lee 16 D E JU N H O LEITURA 167 OS OSSOS SECOS VIVEM Ezequiel 3 7 —39 “Porei nervos sobre vós, efarei crescer carne sobre vós, e sobre vós estenderei pele, e porei em vós o espírito, e vivereis, e sabereis que eu sou o Senhor” (Ez 37.6).

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As pessoas que acham difícil acreditar nos avisos sim, mas ali. Os ossos secos começaram a se juntar. de juízo divino também acham difícil acreditar nas Talvez até tendões e carne tenham aparecido. Mas boas-novas de Deus. outra vez usando as palavras de Ezequiel, podería­ mos dizer que ainda não há “fôlego neles”. Mesmo assim, como um estado secular, ainda dependendo Contexto Panorama Profético Geral. Os estudiosos bíblicos do braço de carne em vez de depender de Deus, tendem a aceitar um dentre dois pontos de vista Israel aguarda o milagre que Ezequiel disse que cer­ sobre passagens como a que exploraremos hoje. Ou tamente viria. E então os ossos secos viverão. eles veem a passagem como um uso visionário de E nós também viveremos, pois estes eventos, que o linguagem altamente simbólica para afirmar algu­ fluxo da história sugere que podem ocorrer pouco ma realidade espiritual, ou veem a passagem como além do amanhã, significam que Cristo, Sucessor e uma descrição literal, embora frequentemente obs­ Filho de Davi, se manifestará. Então, o tempo de cura, dos acontecimentos que na verdade ocorrerão Deus para a celebração que será feita pelos remidos de todas as eras, finalmente chegará. no futuro. Aqueles que aceitam a primeira abordagem veem estes capítulos de Ezequiel como uma afirmação Visão Geral simbólica do poder de Deus sobre todas as forças A visão de um vale de ossos secos enfatizou o poder do mal ao longo de toda a história, e uma afirma­ de Deus de vivificar e restaurar Israel e Judá (37.1 ção da sua vitória definitiva. No tempo de Deus, o 14). Haverá novamente uma nação unida debaixo de um rei davídico (v. 28). Mas a restauração esta­ mal será eliminado, e somente o bem reinará. Aqueles que aceitam a segunda abordagem veem va ligada com a invasão por um grande poder do estes capítulos de Ezequiel como uma pré-estreia da norte (38.1-17), cuja destruição pelo próprio Deus (v. 18— 39.21) precipitaria a duradoura conversão história. A cronologia pode ser obscura, e a sequên­ nacional (w. 22-29). cia exata dos acontecimentos pode ser incerta, mas quanto ao que o profeta descreve — um reagru- Entendendo o Texto pamento do povo de Deus do Antigo Testamento “Estes ossos são toda a casa de Israel” (Ez 37.1-14). O em Israel, a invasão da Terra Santa, a intervenção texto interpreta a visão de Ezequiel dos ossos secos divina direta, uma conversão nacional de Israel, o que se juntam à sua ordem, são recobertos de car­ governo da terra por um Descendente de Davi — ne, e finalmente revivem. Os ossos representam Is­ tudo isso é entendido como coisas que ocorrerão rael, cujo povo está espalhado e desamparado entre no futuro, talvez nem mesmo nas manchetes do as nações. Embora desprovidos de esperança, Deus noticiário dos nossos dias. trará “de volta para a terra de Israel” (reagrupaQualquer que seja a opinião que uma pessoa possa os mento ossos). As sepulturas (representando as defender hoje, não há dúvida de que Ezequiel e os nações dos para quais os judeus foram espalhados) outros profetas do Antigo Testamento esperavam serão abertas,aspermitindo o retorno, e o Espírito de um cumprimento literal de suas visões do futuro. Deus será dado ao seu povo. A crença de todos eles estava baseada na convicção Seja qual for o significado profético, a aplicação de que o Deus da aliança seria totalmente fiel às para a nossa vida é clara. Com muita frequência suas promessas a Abraão, as quais incluíam a posse nós também desistimos. Sentimos-nos enfraque­ de uma terra natal judaica como também a bênção cidos, secos. Tudo parece árido; sentimos-nos to­ espiritual do relacionamento íntimo com o Senhor. talmente destruídos. Quando estes sentimentos E os profetas falam com uma voz unida quando chegam, precisamos nos lembrar dos ossos secos. descrevem o futuro terreno do povo de Deus do Deus pode pegar as nossas esperanças mortas e Antigo Testamento. Eles podem ter entendido espalhadas, colocá-las juntas, e soprar vida dentro mal o significado do que eles previram. Mas, seja delas novamente. Pelo fato de conhecermos ao Se­ anunciando a destruição de Jerusalém, a queda de nhor, e pelo fato dEle nos amar afetuosamente, nós Nínive, ou a restauração do Israel disperso, cada temos uma esperança e um futuro. profeta esperava que as suas palavras fossem cum­ pridas literalmente. “Nunca mais serão duas nações” (Ez 37.15-27). Esta Eu não quero me deter excessivamente no lado poderosa profecia messiânica olha novamente para literalista. Mas é fascinante notar que há apenas um futuro retorno dos judeus à sua terra natal, e o 60 anos atrás, se alguém tivesse sugerido que o estabelecimento de uma nação governada por um povo judeu poderia ter uma nação própria na Pa­ rei davídico. lestina, todos teriam zombado. No entanto, hoje Uma vez unida sob Davi e Salomão, em 931 a.C., esta nação está firmemente estabelecida: lutando, a nação hebraica se dividiu nos reinos do Norte e

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possíveis de identificar, embora muitos estudantes de profecia ensinem que eles representam a Rússia. De maior significância é o fato de que as forças ini­ migas são procedentes de nações de todos os pon­ tos da bússola; o leste (Pérsia), o sudoeste (Cuse: Etiópia), o oeste (Pute: Líbia, e as “ilhas do mar”), o norte (Gomer: possivelmente os cimerianos). Você e eu podemos, às vezes, ter uma sensação desagradável; “Todos estão contra mim”. O que Ezequiei está dizendo é que no final dos tempos, “todos” estarão contra o povo de Deus. Mas o texto mostra algo mais. O Senhor diz aos seus inimigos: “Hei de trazer-te contra a minha terra”, e então acrescenta, “para que as nações me conheçam a mim, quando eu me houver santifica­ do em ti”. Deus usará o mau intento dos ímpios para trazê-los para um lugar onde Ele possa agir abertamente contra os maus. Que lembrete para você e para mim. Todos podem na verdade estar contra nós. Mas Deus não está. Ele permitiu que os nossos inimigos atacassem, apenas para colocá-los em uma posição onde eles estarão vulneráveis ao juízo. Portanto, da próxima vez que você se sentir perseguido, não sinta pena de “Dirige o rosto contra Gogue, terra de Magogue” (Ez si mesmo. Sinta pena dos seus perseguidores! 38.1-16). Agora Ezequiei descreveu a união de uma força invasora composta por muitas nações, prestes “No meu zelo, no fogo do meu furor” (Ez 38.17— 39.24). Em uma série de pronunciamentos (38.17a atacar um Israel pacífico e confiante. Várias frases hebraicas, tecidas na mensagem, fixam 23; 39.1-16,17-24) Deus disse o que faria com as o tempo. O que Ezequiei previu acontecerá “depois forças invasoras. Ele mesmo iria intervir e, com de muitos dias” (v. 8), “no fim dos anos” (v. 8). milagres que lembram os seus atos a favor da ge­ Uma outra frase, traduzida como “no fim dos dias” ração do Êxodo, destruiria totalmente o inimigo. (v. 16) ajuda a fixar a profecia no fim dos tempos, Estes atos estabeleceriam o Senhor como Deus, perto do fim dos séculos. Alguns veem isso como para sempre, tanto à vista de Israel como das na­ um ataque que ocorrerá pouco antes do estabeleci­ ções (39.22). mento de um Milênio de paz no retorno de Cristo; Mas Deus é justo ao estabelecer a sua identidade outros o localizam depois do Milênio e o identifi­ ao preço de tantas vidas humanas? O texto nos res­ cam com uma rebelião final da humanidade contra ponde. Em tudo o que Deus fez, a Israel e às na­ ções, Ele agiu com eles “conforme a sua imundícia Deus, estimulada por Satanás (cf. Ap 19.17-21). Etimologicamente “Gogue” e “Magogue” são im- e conforme as suas prevaricações” (v. 24).

do Sul. A população do norte (Israel) foi deportada pelos assírios em 722 a.C., e espalhada por muitas cidades. A população do sul (Judá) foi esmagada pelos babilônios, e a sua população levada em uma série de deportações que terminaram em 586 a.C. Agora Ezequiei disse que Deus pretende unir as tri­ bos dispersas de Israel, levá-las de volta à sua terra natal, e estabelecer um reino unido a ser governado por um Descendente de Davi. Até hoje isso não aconteceu. Houve retornos par­ ciais, e um tipo de semi-independência sob os macabeus. Mas nenhum reino independente e uni­ do surgiu nos quase 2.600 anos desde os dias de Ezequiei. Na verdade, o único descendente linear conhecido de Davi que ainda vive é Jesus Cristo! Assim, esta profecia, que liga a restauração de Israel com a terra (v. 21), que prevê uma renovação es­ piritual (w. 23,24), e um governo desempenhado por um Descendente de Davi (v. 24), é uma das muitas que fazem com que aqueles que aceitam um ponto de vista literal da profecia acreditem que aquilo que é descrito aqui ainda está no futuro, e se cumprirá quando Jesus voltar.

DEVOCIONAL______ O que Esquecer

(Ez 39) A minha esposa diz à nossa filha de nove anos que Deus tem uma filmadora focalizada nela. Um dia, quando nos encontrarmos com o Senhor, Ele irá mostrar a fita, e dar a ela o seu galardão. E, toda vez que ela faz algo especialmente bom, Sue lhe diz, “Isso está na sua fita de vídeo”. Eu gosto da ênfase de Sue. A ênfase de muitas mães pode ser oposta a esta, e quando a filha faz algo ruim, elas gritam, “Agora, isso vai para a sua fita de vídeo!”

Não consigo deixar de pensar no método de Sue quando leio Ezequiei 39. A passagem retrata poderosamente o ódio de Deus pelo pecado e o juízo que o pecado merece. Lendo isso, nós quase nos encolhemos de medo com o pensa­ mento das nossas próprias faltas e da lembrança dos nossos fracassos. Mas então lemos o resumo de Deus, no último parágrafo. Ali, escondido em versículos que expressam a compaixão que Deus mostrará quando o juízo for passado, está um versículo que diz, “Esquecerão a sua vergonha

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e toda a perfídia com que se rebelaram contra mim” (v. 26, ARA). Que promessa maravilhosa! Sim, nós somos fracos. Nós tropeçamos, e às vezes caímos. E então que fardo de vergonha e culpa suportamos. Mas Deus promete que quando o virmos, quando verdadeira­ mente soubermos que Ele é “o Senhor”, não per­ manecerá nenhum fragmento de lembrança dos nossos pecados para estragar a nossa alegria. Aplicação Pessoal Perdoado significa esquecido! Agora mesmo pode­ mos deixar para trás o nosso passado, e viver com alegria. Citação Importante “Um dia um cristão visitou um ministro em sua casa. Ao se sentar no escritório, ele começou a ler um dos livros do ministro. De repente ele gritou: ‘Glória! Louvado seja o Senhor’. O ministro en­ trou correndo no escritório, perguntando: ‘O que houve?’ ‘Puxa, este livro diz que o mar tem oito quilômetros de profundidade! A Bíblia diz que os meus pecados foram lançados no fundo do mar, e se ele é assim tão fundo, não tenho medo de que eles apareçam novamente! Nem precisamos trazê-los de volta!”’ — Walter B. Knight 17 DE JUNHO LEITURA 168 A GLÓRIA DE DEUS RETORNA Ezequiel 40— 48

As principais especificações detalhadas não ofere­ cem problema para o literalista. Entretanto, para a pessoa que vê a descrição de Ezequiel aqui como uma predição do que realmente acontecerá no fu­ turo, há outras dificuldades. Por exemplo, onde as cenas descritas aqui se encaixam na visão geral da Escritura no que diz respeito ao futuro de Israel? E, particularmente, como ele se relaciona com a descrição similar do estado eterno em Apocalipse 21— 22. E, quanto aos sacrifícios a serem ofereci­ dos no altar fiituro? O Novo Testamento não ensi­ na que o sacrifício único que Cristo fez, entregan­ do a sua própria vida, colocaria, para sempre, um fim na necessidade das ofertas de animais? (cf. Hb 7.18; 9.12,25-28). Tais perguntas podem, natural­ mente, ser respondidas. Os sacrifícios da era mo­ saica tinham por finalidade simplesmente retratar a redenção. Aparentemente os sacrifícios do templo de Ezequiel também servem como lembretes da obra de Cristo. Visto que várias festas da era do Antigo Testamento não são mencionadas em Eze­ quiel, parece que ele descreve um sistema de adora­ ção completamente novo, que deve ser utilizado na presença do Messias. Embora ao lerem estes capítulos muitos sintam prazer em especular sobre tais questões, o nosso propósito é diferente. Em vez de tentarmos encai­ xar a visão final de Ezequiel, sobre o futuro, em qualquer plano profético, queremos ver o que esta visão sugere para a nossa vida hoje. E aqui há algo que podemos aplicar.

Visão Geral Ezequiel deu detalhes de um novo Templo que seria construído em Jerusalém (40.1— 42.20). A glória de Deus encherá esta estrutura (43.1-12), e sacrifícios comemorativos serão oferecidos em seu altar (w. 13-27). Sacerdotes e levitas novamente servirão a Deus (44.1-31) em seus limites sagrados Os últimos capítulos de Ezequiel descrevem a ado­ (45.1-12). Israel celebrará as festas de Deus (46.1ração de um Israel restaurado, e um retorno da 24) enquanto um rio que flui do santuário rega a glória de Deus. Aqui, Ezequiel olhou para frente e terra (47.1-12), que mais uma vez foi repartida en­ garantiu aos exilados: A glória de Deus voltará. tre as tribos de Israel (w. 13— 48.35). “O aspecto da visão que vi era como o da visão que eu tinha visto quando vim destruir a cidade; e eram as visões como a que vi junto ao rio Quebar; e caí sobre o meu rosto. E a glória do Senhor entrou no templo ” (Ez 43.3,4).

Contexto Profecia Confusa. Esta é uma das mais difíceis pro­ fecias de todo o Antigo Testamento. Para aqueles que espiritualizam as profecias bíblicas, o proble­ ma está na abundância de detalhes fornecidos com relação à construção do novo templo. Não é so­ mente uma questão do que cada detalhe poderia significar. A cuidadosa estrutura verbal nos lembra as instruções que Moisés recebeu para a construção do Tabernáculo — e aquelas instruções deveriam ser seguidas literalmente.

Entendendo o Texto “Levou-me à terra de Israel” (Ez 40.1-5). No ano 573 a.C. Ezequiel teve a última visão relatada neste livro. Nela, ele foi transportado para Israel, e rece­ beu ordens para transmitir tudo o que viu à casa de Israel. A primeira coisa que o profeta viu foi um templo glorioso. Ele foi guiado através dele, e toda a di­ mensão relevante do que viu lhe foi revelada. Um dia estas palavras podem servir como um pla­ no verbal para ser seguido pelo povo de Deus. Mui­

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cipes do povo seriam os mais próximos do Senhor. Assim disse Deus através do profeta: “Afastai a violência e a assolação, e praticai juízo e justiça” (45.9). Com uma visão clara daquilo que o futuro reserva para nós, os grilhões dos ganhos egoístas são relaxados, e começamos a agir em harmonia com aquilo que verdadeiramente somos e nos tor­ naremos no Senhor.

tos creem nisso. Todavia, para nós hoje, a fixação imediata sobre o Templo lembra-nos de que Deus deve ter a prioridade nas nossas vidas. Enquanto Ezequiel prosseguia, o seu olhar inquiridor se al­ ternava entre o palácio do rei, a cidade, a geografia alterada de Jerusalém, e por fim, a própria terra, mais uma vez repartida entre as 12 tribos de Isra­ el. Mas a visão mais extraordinária dentre todas, a mais impressionante, a que mais atraiu a sua aten­ ção inicial, foi o Templo. Você e eu podemos ser abençoados de muitas maneiras, e as visões que temos ao nosso redor podem ser gloriosas. Mas não há nada mais lindo, nada mais digno da nos­ sa atenção, do que o próprio Deus. Se Deus for o centro da nossa vida, assim como o Templo é o ponto focal do futuro Israel, todas as demais coisas se ajustarão completamente. “Eis que a glória do Deus de Israel vinha do caminho do oriente” (Ez 43.1-12). Este é o elemento mais significativo na visão de Ezequiel. Nos capítulos 8— 11 temos um relato da visão que Ezequiel rece­ beu da partida da glória de Deus. Agora o profeta descreveu um retorno. Mais uma vez, a presença viva e vital do Senhor Todo-Poderoso residiria en­ tre o seu povo do Antigo Testamento. Qual é o significado da instrução de Deus ao pro­ feta: “Mostra à casa de Israel esta casa, para que se envergonhe das suas maldades”? Simplesmente que a descrição do futuro esplendor demonstrará muito poderosamente o que Israel se tornará, que o pró­ prio contraste guiaria o povo de Deus à santidade. Encontramos um pensamento similar no Novo Testamento. Em 1 João 3 o apóstolo vislumbrou a vinda de Cristo, e anunciou que embora não sai­ bamos agora o que seremos, sabemos que quando Jesus voltar seremos como Ele. E João disse: “Qual­ quer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (v. 3). Saber o que Deus pretende para nós, perceber o que esta­ mos nos tomando, é uma motivação poderosa para uma vida santa. Este mesmo tema é visto posteriormente, em Eze­ quiel 45.9-12, uma passagem dirigida aos atuais “príncipes” (líderes) de Israel. Ezequiel tinha aca­ bado de descrever a terra que deveria ser separada para a cidade de Jerusalém e seu governante, em torno do próprio Templo. Dentre todos, os prín­

“Eles terão uma herança; eu serei a sua herança” (Ez 44.1-26). As obrigações dos sacerdotes e levitas representam as suas responsabilidades na era mo­ saica. Mas depois de destacar as suas obrigações, o Senhor acrescentou o versículo acima. Seja no passado, seja no futuro, os sacerdotes de Israel não receberam terra tribal. Eles não possuíam nenhuma herança de terra. Eles deveriam perten­ cer ao Senhor, e o próprio Senhor seria a herança deles. Que bênção ser libertado da tirania dos bens. Como é maravilhoso se concentrar somente em Deus, desejar apenas agradá-lo, e saber que as coi­ sas materiais que possuímos estão, na verdade, em­ prestadas a nós; nós não as possuímos — e elas não nos possuem! “E vós a herdareis, tanto um como o outro” (Ez 47.13— 48.35). A profecia de Ezequiel termina com o povo de Deus de volta à sua terra. Há um lugar igual separado para cada grupo tribal. Nos dias de Josué os territórios que foram reparti­ dos para as tribos eram desiguais. Algumas famílias eram maiores que outras, e tinham necessidade de mais espaço. Mas agora, no fim dos tempos, todas estas distinções serão perdidas. Nenhuma é maior, nenhuma é menor. E cada tribo possui um lugar igual no reino glorioso de Deus. Agora há muitas distinções que as pessoas fazem entre elas mesmas e os outros. Distinções de ri­ queza, de educação, de posição ou prestígio. Nós até fazemos distinções em nossas igrejas, mental­ mente posicionando os nossos irmãos em Cristo como acima ou abaixo na escada espiritual. Isso é um erro. Um erro que jamais será repetido na eter­ nidade. Ali também a graça de Deus será dividida igualmente, pois cada um de nós só desejará fazer uma alegre afirmação, sim, uma única afirmação: Somos pecadores salvos pela graça.

DEV OCIONAL____________________________ Adorar ao Senhor manho e beleza. Os detalhes cuidadosos com que (Ez 43— 44) ele registrou cada medida nos diz isso. Mas há um Quando em sua visão, Ezequiel caminhou pelo versículo que nos fala mais — sobre o Templo, sofuturo Templo, ele ficou admirado com o seu ta- bre Ezequiel, e sobre nós mesmos.

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Ezequiel 40— 48

Ezequiel 44.4, descreve o profeta indo para a frente do Templo e dizendo ali: “Olhei, e eis que a glória do Senhor encheu a Casa do Senhor”. O que aprendemos sobre o Templo? Em sua visão, Ezequiel ficou impressionado com o Templo. Ele tinha olhado com admiração para o pórtico do átrio exterior. Ele tinha andado através das salas separadas para os sacerdotes. Mas quando se apro­ ximou da frente do Templo, e captou um vislum­ bre da glória do Senhor, Ezequiel caiu sobre o seu rosto, e adotou. Você e eu podemos ficar impressionados com a beleza das nossas igrejas. Podemos olhar admira­ dos para as multidões reunidas ali. Podemos ficar impressionados com as qualificações dos nossos ministros. Mas todas estas coisas são externas; ape­ nas a fachada. O que precisamos fazer é, figurati­ vamente, nos aproximarmos da frente do Templo. Precisamos esquecer o que vemos ao olharmos para a nossa fé a partir da parte de trás e da lateral, e espreitar na porta da frente. Quando fazemos isso, tudo o mais parece desaparecer, pois ali, no centro do santuário, nós também somos capazes de ver a glória do Senhor. Muitas coisas sobre as nossas igrejas são importan­ tes. Mas a única coisa que é verdadeiramente essen­ cial é que, ao adorarmos, vejamos e respondamos a Deus. O que aprendemos sobre Ezequiel? Que ele era al­ guém que buscava. Ele ficou impressionado com a estrutura que examinou. Mas ele não ficou satisfei­ to. Somente quando foi trazido para a frente e viu a glória do Senhor, ele se prostrou e adorou. Ezequiel queria o próprio Deus, e achando-o, adorou.

O que aprendemos sobre nós mesmos? Como Ezequiel, não conseguimos ficar satisfeitos com o templo, a despeito do quanto ele possa ser impres­ sionante. O nosso destino, como o de Ezequiel, o fim da nossa busca, só é alcançado quando vemos o Senhor, e o adoramos. Aplicação Pessoal Seja na igreja, seja em devoções pessoais, procure ter um encontro com Deus, e adorá-lo. Citação Importante “Alguns louvam a Deus pelos bons sentimentos que isso lhes traz; eles o louvam porque acham que isso faz com que todas as outras pessoas se sintam bem; eles o louvam porque acham que este ato é simplesmente o que todo bom cristão deve fazer. Eles não concentram todo o seu pensamento em Deus. O resultado é que o seu falso louvor exclui o verdadeiro louvor que poderia estar sendo ofereci­ do a Deus. O louvor se torna uma mera tagarelice em que se sente prazer. Precisamos falar diretamente com Deus, e não co­ nosco ou com os nossos vizinhos. Quando olhar­ mos para Ele, nós o louvaremos naturalmente pelas verdadeiras qualidades que veremos. Toda a nossa falta de habilidade desaparecerá quando a nossa atenção estiver cada vez menos focada em nós mes­ mos, e cada vez mais focada nEle.” — Tim Stafford

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em OBADIAS

DANIEL INTRODUÇÃO O livro de Daniel contém as lembranças de um jovem judeu cativo, levado à Babilônia em 605 a.C. Ele e outros jovens, membros da nobreza judaica, foram treinados para trabalhar como servidores civis, na administração de Nabucodonosor. Os incidentes e as profecias registradas neste pequeno livro abrangem a carreira de 70 anos de Daniel, como oficial do alto escalão do governo. A primeira parte do livro apresenta histórias sobre o relacionamento de Daniel com os governantes dos impérios babilônio e persa. A segunda parte registra visões proféticas dadas a Daniel, sobre o futuro pró­ ximo e distante. O livro de Daniel contém muitos ensinamentos para o crente. A vida de Daniel ilustra o poder da oração, e como viver pela fé em uma sociedade hostil. As poderosas imagens do futuro contidas no livro de Daniel continuam a nos lembrar de que Deus está plenamente no controle da história. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. A Carreira Política de Daniel.............................................................................................................. Dn 1— 6 II. As Visões Proféticas de D aniel....................................................................................................... Dn 7— 12 GUIA DE LEITURA (4 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 169 170 171 172

Capítulos 1— 3 4— 6 7— 9 10— 12

Passagem Essencial 3 5 9 11

DANIEL 18 DE JU N H O LEITURA 169

O COMPROMETIMENTO DOS CATIVOS Daniel 1— 3

“Daniel assentou no seu coração não se contaminar com a porção do manjar do rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto, pediu ao chefe dos eunucos que lhe concedesse não se contaminar” (Dn 1.8). A pressão para se ajustar é intensa, em qualquer sociedade. Mas os cristãos de hoje, como o ado­ lescente Daniel, são convidados a expressar o seu comprometimento com o Senhor, assumindo uma postura pessoal favorável ao que é direito. Contexto Críticos modernos supuseram que o livro de Daniel foi escrito no período dos macabeus, aproximada­ mente em 165 a.C., por alguém que usou o nome de Daniel para obter aceitação para seus textos. A razão subjacente para esta opinião é a recusa em crer que alguém que escrevesse em aproximadamente 573 a.C., quando, aos 90 anos, Daniel editou suas memórias, pudesse, com completa exatidão, ter pre­ dito a bistória do Oriente Médio. No entanto, as visões de Daniel descrevem aproximadamente 400 anos de bistória com tanta clareza, que somente existem duas opções: admitir a origem sobrenatural de suas revelações, ou datar o livro posteriormente aos eventos que ele descreve. Mas evidências inter­ nas mostram que o autor conhecia intimamente os trabalhos internos nos tribunais babilônio e persa, e tinha informações que não estavam disponíveis na era dos macabeus, quando os críticos afirmam que o livro de Daniel deve ter sido escrito! Detalhes como títulos administrativos específicos, foram modifica­ dos posteriormente, a corregência de Belsazar com seu pai, além de outros detalhes, se encaixam tão perfeitamente no cenário histórico que a falsificação

pode ser descartada. Além disso, Daniel é mencio­ nado em Ezequiel 14.14,20 e em 28.3, reconheci­ damente um livro anterior. E o livro de Daniel foi aceito como parte das Escrituras pelos judeus da era dos macabeus. A noção de que os escribas judeus, que tanto respeitavam seus livros sagrados, pudes­ sem ter sido enganados e aceito a falsificação, pres­ siona a credulidade. Ao ler este livro fascinante do Antigo Testamento, é bom sabermos que quaisquer ensinamentos que obtenhamos da experiência de Daniel, estão enrai­ zados nas experiências de vida de uma pessoa como nós mesmos, e não nas atividades de ficção de um herói mítico. E é consolador perceber, à medida que exploramos as revelações proféticas de Daniel, que, assim como a Palavra preditiva de Deus veio a se cumprir no passado, a sua Palavra preditiva, a respeito do que está à nossa frente, é igualmente certa e assegurada. Visão Geral Daniel e três amigos seguiam cuidadosamente as leis alimentares dos judeus enquanto estavam em treinamento para servir na Babilônia (1.1-16) e fo­ ram abençoados com sabedoria por Deus (w. 1721). Daniel alcançou um cargo de alto escalão no governo, explicando o sonho profético de Nabucodonosor (2.1-49). Deus livrou três companheiros de Daniel, atirados em um forno de fogo ardente por se recusarem a adorar um ídolo erigido por Nabucodonosor (3.1-30). Entendendo o Texto “Criados ... para que no fim deles pudessem estar diante do rei” (Dn 1.1-7). O jovem Daniel, e pelo

Daniel 1— 3

menos três colegas judeus, foram registrados na academia real, para serem educados durante três anos. No final deste período, seriam testados e re­ ceberiam cargos apropriados na administração da Babilônia. A primeira vista, parece que os quatro jovens he­ breus tiveram uma grande oportunidade. Mas há outra maneira de encarar isso. Eles foram inscritos com jovens de outras terras conquistadas. Este não foi um ato de benevolên­ cia de Nabucodonosor, foi apenas boa política. Por que desperdiçar talento, quando você tem um im­ pério gigantesco para governar? Tome o que há de mais brilhante e de melhor em cada pessoa, e use. Daniel e seus amigos, como os estudantes de ou­ tras nações, estavam completamente cientes de sua condição de minoria. Um indivíduo poderia conquistar poder e riquezas, mas sempre seria, de algum modo, inferior à verdadeira nobreza dos ba­ bilônios. As pessoas que estão em minoria frequentemente tentam se ajustar, adotando os pontos de vista e os costumes da maioria. Eles se adaptam e ansio­ samente imitam seus mestres. Ou podem fugir da assimilação, tornando-se mal-humorados, irritados e rudes. E sempre doloroso sentir-se inferior — particularmente, se você sabe que está sendo usa­ do. Mas Daniel e seus amigos nos mostram uma maneira melhor de reagir, quando sentimos que estamos sendo usados por causa da nossa condição de minoria. “Daniel assentou no seu coração não se contaminar com a porção do manjar do rei, nem com o vinho que ele bebia” (Dn 1.8-10). O primeiro passo para ajustar-se à condição de minoria é determinar quais limites são estabelecidos pelo nosso comprometi­ mento com Deus. Sendo judeu, limitado pelas leis alimentares do Antigo Testamento, Daniel soube que não podia adotar a dieta dos babilônios. Na noite passada, eu ouvi um adolescente que telefonou para “Talk-Net”. Ele também era um membro de uma minoria — um rapaz de 18 anos de idade que ainda não tivera relações sexuais com uma garota. A sua namorada vinha insistindo para ter relações sexuais com ele. Ele resistia, sentindo que isso não era correto e desejando esperar o ca­ samento. Mas estava cheio de receios. E se a sua namorada contasse a outros jovens? E se circulasse a informação de que ele era “diferente”? A adoles­ cência é muito importante; ele desejava, desespera­ damente, ser um adolescente bem ajustado. Desta vez, o apresentador de “Talk-Net”, um homem, o encorajou a conservar a castidade e viver de acor­ do com seus próprios valores. Seria um grande

erro, disse o apresentador, trair a única pessoa com quem ele teria que viver durante toda a sua vida — ele mesmo. Foi um bom conselho. Mas ainda faltou algo. Deve haver uma âncora ainda mais resistente para as nos­ sas escolhas morais, mais forte do que os valores pessoais. Resistir firmemente a pressões intensas para se ajustar, que existem em todas as socieda­ des, sempre é algo difícil. Para ser bem-sucedida, a pessoa precisa ter o que Daniel tinha: um forte sen­ timento de identidade, como pertencente ao povo de Deus, e a determinação de viver para agradar a Deus e não aos outros. “Experimenta, peço-te, os teus servos” (Dn 1.11-16). Alguns crentes tentam se proteger da pressão social, sendo antipáticos. Se você desenvolver uma atitude de desprezo com relação “àquelas pessoas”, e mos­ trar este desprezo em tudo o que fizer, a maioria das pessoas irá deixar você sozinho. Daniel adotou um caminho diferente. Embora vi­ vesse segundo seus próprios valores, ele era amis­ toso e respeitoso. Sem ser desafiador, de maneira alguma, ele “pediu permissão” para escolher a sua própria dieta. Ele foi sensível às possíveis dificul­ dades que a sua posição poderia criar para o oficial babilônio superior a ele, e propôs um período de experiência de 10 dias para aliviar os temores desse oficial. Daniel nos mostra que o crente pode se relacio­ nar de maneira positiva com as pessoas do mundo, mesmo que rejeite os valores da sociedade. Pelo fato de Daniel ser este tipo de pessoa, ele pôde dar testemunho a respeito de Deus às pessoas mais im­ portantes da Babilônia, incluindo o próprio Nabu­ codonosor. Deus não deseja que nós nos isolemos das pessoas deste mundo. Ele simplesmente deseja nos imuni­ zar contra os seus valores. “Deus deu o conhecimento e a inteligência” (Dn 1.17-21). Aqui, “conhecimento” é a informação exata e a habilidade necessária para aplicar este co­ nhecimento para solucionar problemas práticos do governo, ao passo que “inteligência” é a capacidade de percepção necessária para distinguir o falso do verdadeiro, tomando, assim, boas decisões. Como é surpreendente que Daniel fosse dotado das habilidades necessárias para administrar um grande império. Deus coloca os seus filhos em to­ das as camadas da sociedade. Nenhum grupo deve ficar sem uma testemunha do poder e da graça de Deus. Quando Nabucodonosor testou pessoalmente os graduados da sua academia real, Daniel e seus ami­

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Daniel 1—3

gos foram achados “dez vezes mais doutos”, não somente do que os outros graduados, porém mais do que os seus instrutores. A impressão que Daniel causou no campo secular lançou a fundação para o seu posterior impacto espiritual sobre o rei. “Tive um sonho; e, para saber o sonho, está pertur­ bado o meu espírito" (Dn 2.1-10), Os arquivos da Babilônia continham muitos livros sobre interpre­ tação de sonhos. Acreditava-se popularmente que os sonhos eram um dos meios pelos quais os deuses falavam com os seres humanos. Não é de admirar que Nabucodonosor desejasse compreender este sonho perturbador! Ele também parece ter suspeitado de seus próprios magos. Ele insistiu que eles lhe contassem o sonho, antes de interpretá-lo! Parecia ser um teste razoável. Uma vez que a classe profissional que dava conse­ lhos ao rei afirmava ser capaz de interpretar o so­ brenatural, eles deviam demonstrar acesso às fontes sobrenaturais de informação. Esta manhã, os jornais de negócios noticiaram um surpreendente crescimento de revistas de as­ trologia, e descreveram um novo produto para as classes altas que entrará no mercado americano. E intrigante o número de pessoas que se voltam para a astrologia, jamais pensando, como pensou Nabucodonosor, que poderia ser prudente testar as supostas habilidades sobrenaturais de tais con­ selheiros. Somente Daniel foi capaz de narrar o sonho, e de interpretá-lo. E ele teve o cuidado de dar a Deus a glória, explicando a Nabucodonosor que ele, Da­ niel, não tinha habilidades sobrenaturais, mas que existe um Deus no céu que “revela o profundo e o escondido”. Se nós desejarmos, verdadeiramente, ajuda sobrenatural, por que não deveríamos buscar a Deus? “Para que pedissem misericórdia ao Deus dos céus so­ bre este segredo ” (Dn 2.11-23). Observe duas coisas a respeito da abordagem de Daniel a Deus. Em primeiro lugar, ele recrutou outros que orassem com ele pedindo a ajuda de Deus. Sim, Deus nos ouve, quando oramos. Mas reunir outros para orar conosco e por nós é um ato de fé: nós temos fé de que Deus ouve a todos os seus filhos, e temos fé de que quando os crentes oram juntos, Deus opera poderosamente por intermédio deles. Em segundo lugar, observe que, quando veio a resposta à ora­ ção, Daniel se dedicou a louvar, antes mesmo de ir até o rei! Daniel realmente colocou Deus em primeiro lugar. Este era, sem dúvida, o segredo da sua religiosidade pessoal e suas realizações públicas.

“O teu sonho e as visões da tua cabeça”(Dn 2.28-49). A grande estátua que Nabucodonosor viu em seu sonho representava o seu império mesopotâmio, e os posteriores. Estes são os mesmos impérios vistos em visões posteriores de Daniel. Cada um dos im­ périos está destinado a ser sucedido, até que todos eles sejam definitivamente esmagados e suplanta­ dos. No final, “o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e esse reino não pas­ sará a outro povo”. Daniel tinha demonstrado ter a habilidade que Nabucodonosor tinha exigido. Aqui houve evi­ dência de contato com o sobrenatural. Aqui houve evidência de que existe um Deus nos céus. Como resultado, Nabucodonosor promoveu Daniel e deu a seus três amigos hebreus cargos importantes. E, o mais importante, a experiência foi o início do que podemos considerar como a conversão do próprio Nabucodonosor. Deus está em ação inclusive agora, no mais im­ provável dos incrédulos. O rei pagão, autor de um poema recuperado em que expressa a sua arrogân­ cia e também a sua gratidão pelo seu deus e pelo seu progresso, tinha recebido um sonho de Deus. Isso deu início a uma sucessão de eventos que fez com que ele se impressionasse com Daniel, e com o Deus de Daniel. Quem sabe o que Deus pode estar fazendo, agora mesmo, no coração de algumas das pessoas “improváveis” da sua vida? “O Rei Nabucodonosor fez uma estátua de ouro” (Dn 3.1-30). A construção, por Nabucodonosor, de um ídolo gigantesco e coberto de ouro não está em con­ flito com a narrativa do seu respeito pelo Deus de Daniel. Naqueles dias, era comum a adoração de diversas divindades diferentes, e a ideia de uma de­ voção exclusiva a um único Deus parecia estranha. Desta forma, a recusa de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, os três colegas hebreus de Daniel, em ado­ rar o ídolo do rei, parecia totalmente incompreensí­ vel. Nabucodonosor a interpretou como uma ofensa pessoal, e quando os três calmamente se recusaram a participar da adoração, o rei furioso mandou atirálos em uma fornalha de fogo ardente. Ali os três receberam a companhia de uma quarta Figura, e saíram em segurança, apesar das chamas. Nabucodonosor ficou impressionado. Novamente, este autocrata absoluto tinha testemunhado o po­ der de Deus, desta vez, anulando a sua irada de­ cisão de executar os três hebreus. Rapidamente, o rei emitiu uma ordem para que ninguém dissesse nada contra o Deus dos três hebreus. Afinal, que governante, excetuando o Faraó do Êxodo, seria suficientemente tolo para buscar problemas? E ele promoveu os três fiéis, outra vez.

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Daniel 4— 6

Muitos se perguntam onde estaria Daniel quando este grande culto de adoração teve lugar. Alguns supõem que ele estava viajando, outros, que es­ tava doente, em casa. Mas, o mais importante é: por que Daniel não estava ali? Eu suspeito que o motivo seja o fato de que Nabucodonosor já tinha algum respeito por Daniel, e não teria ficado sur­ preso se ele tivesse se recusado a adorar, ou se fosse resgatado por um milagre. Mas aqui estavam três desconhecidos entre os milhares de funcionários

DEVOCIONAL_______ Mas mesmo se (Dn 3) Eu gosto de garantias. Ê por isso que, depois de visitar todos os estabe­ lecimentos locais que prometem proteger a nossa casa de cupins subterrâneos, eu contratei a Sears. A Sears não somente oferecia um preço competitivo, mas prometia consertar qualquer dano causado por cupins subterrâneos ao imóvel ou ao seu conteúdo — até um valor de 250 mil dólares! Isso é que é garantia! Naturalmente, em nosso caminho com o Senhor não existem tais garantias. Sadraque, Mesaque e Abede-Nego sabiam disso, quando compareceram diante de um furioso Nabucodonosor. “Eis que o nosso Deus, a quem nós servimos, é que nos pode livrar; ele nos livrará do forno de fogo ardente e da tua mão, ó rei”. Deus certamente pode fazê-lo. E eles continuaram: “E, se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste”. Deus pode nos livrar. Nós acreditamos que Ele o fará. “Mas mesmo se Ele não o fizer”, nós serviremos ao Senhor, e somente a Ele. O que os três homens mostraram foi uma quali­ dade de que você e eu necessitamos em nossa vida espiritual. Comprometimento total. Um compro­ metimento tão completo que, mesmo se Deus não exercer o seu poder realizador de milagres a nosso favor, mesmo assim nós serviremos a Deus, e so­ mente a Ele. Eu não tenho certeza, mas eu suspeito de que a fé dos três hebreus foi quase tão impressionante para Nabucodonosor quanto o milagre. Pelo menos, foi para mim. E isso lembra-me de que, por mais que eu goste de garantias, eu preciso comprometer-me com Deus em cada situação da vida, sem ter nenhuma certeza de que Ele realizará milagres a meu favor. Mas, você e eu temos uma garantia, afinal. O nosso Deus, que tem poder para fazer tudo o que desejar,

da administração do império de Nabucodonosor. Estes três homens, como Daniel, eram fiéis exclu­ sivamente ao Deus de Judá, e o seu Deus agiu para salvar as suas vidas. Vendo que os três assumiram esta postura, e não Daniel, o foco do rei passou do servo de Deus, Daniel, para Deus. Deus mostrou que agiria a favor de qualquer pessoa que estivesse completamente comprometida com Ele. Que importante lição a ser aprendida por qualquer pessoa em sua jornada rumo à fé!

é suficientemente sábio para não fazer o que eu de­ sejo, mas o que é melhor. E esta é a melhor garantia que há. Aplicação Pessoal Seja leal a Deus e Ele certamente será leal a você. Citação Im portante “Eu não devo perder a confiança nEle, Meg, ainda que no momento eu esteja enfraquecendo, e à beira de me ver dominado pelo medo. Eu me lembrarei de como o apóstolo Pedro, com um golpe de ven­ to, começou a afundar por causa da sua falta de fé, e farei como ele fez: invocarei a Cristo e orarei pedindo ajuda a Ele. E então, eu terei confiança de que Ele colocará a sua santa mão sobre mim, e im­ pedirá que eu naufrague nos mares tempestuosos.” — Thomas More - ü .

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D E JU N H O LEITURA 1 HISTÓRIAS DE TRÊS GOVERNANTES Daniel 4— 6

“Os homens tremam e temam perante o Deus de Dan­ iel; porque ele é o Deus vivo e para sempre permanen­ te, e o seu reino não se pode destruir; o seu domínio é até ao fim. Ele livra, e salva, e opera sinais e maravil­ has no céu e na terra” (Dn 6.26,27). Durante toda a sua vida, Daniel constantemente deu testemunhos do poder de Deus, e deixou uma indelé­ vel impressão em uma série de governantes do mun­ do. As pessoas à sua volta não podiam deixar de ob­ servar o indivíduo verdadeiramente comprometido. Contexto O livro de Daniel reflete fielmente os diferentes costumes das cortes da Babilônia e da Pérsia. Na­ bucodonosor, da Babilônia, tinha total autoridade: a sua palavra era a lei. Na Pérsia, a palavra do go-

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Daniel 4—6

vernante tinha força de lei, mas uma vez que um pronunciamento oficial fosse feito, não poderia ser alterado. A diferença esclarece dois elementos da história de Daniel. O sonho de Nabucodonosor (Dn 2) retra­ tou os impérios posteriores como progressivamente inferiores ao seu. A inferioridade é de perspectiva: o poder absoluto de Nabucodonosor (w. 37-39) gradualmente se diluía em cada império posterior. Para o governante da Babilônia, até mesmo uma passagem gradual da autocracia absoluta pareceria um sinal de inferioridade. A mudança também se reflete na história de Da­ niel, da sua luta contra os leões. Ainda que o gover­ nante persa desejasse salvar Daniel, ele era impo­ tente para mudar a tradição que o obrigava, assim como a outros, a seus pronunciamentos. Assim, os inimigos de Daniel puderam enganar e manipular Dario, algo impossível de acontecer com Nabuco­ donosor. Mas Nabucodonosor estava tão atado pela sua ar­ rogância quanto Dario por seus oficiais traidores. Ninguém, por mais poderoso que possa parecer, é totalmente livre. Cada ser humano está sujeito, em última análise, ao seu próprio caráter, às suas circunstâncias, e, certamente, a Deus.

boa para você”, dirão, condescendentemente. “AJgumas pessoas precisam de Deus.” Mesmo aqueles que pensam que Deus existe, frequentemente dei­ xam de dar o passo lógico e procurar um relaciona­ mento pessoal com Ele. Este certamente era o caso de Nabucodonosor. Ele era um homem grandioso demais para precisar de Deus. Ora, veja tudo o que ele conseguiu! O sonho advertiu Nabucodonosor da sua necessi­ dade de se submeter pessoalmente ao Senhor. O próprio Daniel insistiu que o rei se arrependesse, sabendo que as proclamações de juízo de Deus são condicionais. Mas dentro de um ano, o rei, com o coração inchado de orgulho, foi acometido de loucura. Talvez o maior milagre aqui seja o fato de que por “sete tempos”, um período que indica tipicamente sete anos, o trono da Babilônia permaneceria va­ zio. Finalmente, depois de meses ou anos vivendo como um animal em campos abertos, a sanidade mental do rei foi restaurada, e ele, por fim, louvou, honrou e glorificou o Altíssimo. Muitos, talvez acertadamente, encaram isso como a conversão de Nabucodonosor. Por fim, o podero­ so governante se humilhou, e assumiu o seu lugar como um simples adorador do Senhor do céu e da terra. Com muita frequência é necessário somente isso — algum desastre — para humilhar uma pessoa antes que ela esteja pronta para buscar a Deus. Eu suspeito que Nabucodonosor iria concordar: se isso é o que é necessário, o desastre é uma bênção dis­ farçada.

Visão Geral Daniel interpretou um sonho que anunciava des­ graças a Nabucodonosor (4.1-27) e testemunhou o seu cumprimento (w. 28-37). Já idoso, Daniel interpretou um sinal que indicava a queda do im­ pério babilônio (5.1-30) e se tornou um conceitu­ ado administrador do império persa que o sucedeu (6.1-3). Deus frustrou o plano dos inimigos de “Rei Belsazar” (Dn 5.1). Durante muitos anos, a Daniel e milagrosamente o libertou de uma cova identificação que Daniel faz de “Belsazar” como rei de leões famintos (w. 4-28). foi considerada prova de que o livro foi de origem tardia. Somente uma pessoa que ignorasse a histó­ Entendendo o Texto ria do período teria “inventado” tal indivíduo. “A fim de que conheçam os viventes que o Altíssi­ Mas então os arqueólogos descobriram documen­ mo tem domínio sobre os reinos dos homens” (Dn tos que mostravam que Daniel, e não os críticos, 4.1-27). Mais uma vez, Nabucodonosor teve um estava certo! O registro do texto de que Daniel re­ sonho alarmante e chamou Daniel para interpre­ cebeu a oferta do terceiro posto mais elevado no tá-lo. Desta vez o sonho era dirigido contra ele governo (v. 16) tem tom de autenticidade, pois o mesmo: ele predizia que o rei seria acometido próprio Belsazar era o segundo, corregente, sob seu de loucura, até que reconhecesse a soberania do pai Nabonido! Deus de Daniel. Como, então, pode Nabucodonosor ser chamado de “pai” de Belsazar no texto bíblico? Um dos sig­ “Para glória da minha magnificência”(Dn 4.28-37). nificados de “pai” é “predecessor”. Esta palavra é Duas vezes Deus tinha mostrado a Nabucodonosor frequentemente usada nas genealogias, para indicar o seu poder, e o governante babilônio tinha ficado um indivíduo que pode ser um ancestral distan­ profundamente impressionado. No entanto, apa­ te. “Pai” também era usado, nos tempos bíblicos, rentemente ele pensava em Deus como um Deus com o sentido de “predecessor” em um trono real. dos hebreus, e não um Deus soberano sobre ele. As Até mesmo um suplantador, como Jeú, que assas­ pessoas arrogantes têm essa tendência. “A religião é sinou a família de Acabe para instalar a sua própria

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dinastia, é chamado, nos registros assírios, “filho de Omri”, o fundador da linhagem real anterior. Uma terceira consideração é o fato de que frequen­ temente um rei como Belsazar se casaria com uma filha da linhagem fundadora, e neste sentido tam­ bém seria “filho” do “pai”. Que impacto tem uma informação como esta no nos­ so uso Devocional da Bíblia? Talvez pouco. Mas isso confirma a nossa convicção de que a Bíblia é verda­ deiramente a Palavra de Deus. E nos lembra de que não somente podemos confiar nesta Palavra, como devemos, voluntariamente, nos submeter a ela. “Tu... não humilhaste o teu coração, ainda que sou­ beste de tudo isso” (Dn 5.1-30). Quando apareceu uma mão e escreveu na parede, em uma festa que dava Belsazar no dia 15 de Tisri (em setembro de 593 a.C.), o rei quase desmaiou de terror. A rainha mãe insistiu que ele chamasse Daniel, que tinha explicado os sonhos para Nabucodonosor. Daniel, agora nos seus 80 anos de idade, apareceu e explicou as palavras misteriosas. As palavras eram “contado”, “pesado”, “dividido” e indicavam que era chegado o fim do reinado de Belsazar (cf. w. 26,27). Embora Belsazar devesse ter ouvido sobre o Deus de Israel e sobre a conversão de Nabucodo­ nosor, o rei bêbado tinha trazido os utensílios de ouro consagrados para uso no Templo de Jerusa­ lém para a sua mesa, para serem usados em brindes, oferecidos a deuses e deusas pagãos. As palavras de Daniel dizem tudo. “Tu, seu filho Belsazar, não humilhaste o teu coração, ainda que soubeste de tudo isso”. Ao se colocar contra Deus, Belsazar selou a sua própria condenação e a de seu reino. Naquela mesma noite, caiu a Babilônia. Ugbaru, o capitão do exército persa que cercou a Babilônia, desviou as águas do rio que atravessava a Babilônia. Quando o nível da água desceu abaixo

DEVOCIONAL______ As tuas Dádivas Fiquem contigo

(Dn 5) Eu aprecio a imagem que este capítulo me traz à mente. Ali está Belsazar, tão assustado que “as jun­ tas dos seus lombos se relaxaram, e os seus joelhos bateram um no outro” (v. 6). Ali ficou ele, tremen­ do, diante de um grupo repentinamente sério de oficiais, tentando, desesperadamente, parecer rei. E entrou Daniel, andando de modo um pouco rígi­ do sobre as suas pernas de 80 anos de idade, mas calmo e digno. Lutando para impedir que a sua voz tremesse, Bel­ sazar implorou que Daniel interpretasse o texto

das comportas do rio, o exército invasor entrou na cidade e tomou a cidade “inexpugnável” na qual Belsazar tinha festejado. “Pareceu bem a Dario”(Dn 6.1). O “Dario” de Daniel 6 provavelmente é um vice-rei que governou o impé­ rio enquanto Ciro, seu conquistador, estava fora em campanha militar. Nada se sabe sobre ele, com base nas fontes seculares agora disponíveis, mas 9.1 diz que ele “foi constituído rei”, o que sugere que, apesar de seu título, ele estava sujeito a outra autoridade supe­ rior, assim como os reis de Judá estiveram, durante suas últimas décadas, sujeitos aos babilônios. Apesar de sua avançada idade, Daniel foi nomeado a um posto extremamente alto na administração de Dario, e despertou a inveja (e talvez o medo!) de ou­ tros oficiais menos honestos. Estes oficiais enganaram Dario e o levaram a emitir um decreto religioso ao qual sabiam que Daniel não iria obedecer. A seguir, acusaram Daniel, e apesar dos melhores esforços de Dario, ele se viu forçado a ordenar que Daniel fosse atirado em uma cova de leões. O resgate de Daniel persuadiu também este gover­ nante da grandeza de Deus, e ele decretou que “em todo o domínio do meu reino os homens tremam e temam perante o Deus de Daniel”. Eu suspeito que a ordem real pouco fez para criar a fé daquele povo no Deus de Israel. Afinal, não se pode ordenar fé! O que realmente criou fé, pelo menos no rei, foi a fidelidade de Daniel ao Senhor. Apesar da ameaça à sua própria vida, Daniel continuou a adorar a Deus abertamente. A fidelidade de Deus ao seu leal servo, como a sua fidelidade a nós, faz florescer a fé em outras pessoas. Você e eu não podemos ordenar que os outros creiam. Mas podemos encorajá-los a crer — dando testemu­ nho aberto, despretensioso, e sem sentir vergonha, do nosso Senhor.

milagroso que apareceu na parede. E então prome­ teu, se Daniel pudesse fazer isso: “Serás vestido de púrpura, e terás cadeia de ouro ao pescoço, e no reino serás o terceiro dominador” (v. 16). Você deve cumprimentar o velho Daniel. Ele não riu. Ele permaneceu sério, acusou Belsazar de ar­ rogância e anunciou que o seu reino cairia sob os medos e os persas. Daniel nem mesmo riu. Você consegue imaginar? Daniel disse ao rei: “As tuas dádivas fiquem con­ tigo, e dá os teus presentes a outro”. Mas o rei insis­ tiu. E mesmo quando eles trouxeram a prometida cadeia de ouro e a puseram ao redor do pescoço de

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Daniel, e envolveram seu corpo magro em púrpu­ ra, o velho profeta náo riu. Eu receio ter estado no lugar de Daniel. Foi tão ridí­ culo. Aqui estava Belsazar, distribuindo recompen­ sas, e naquele mesmo momento o nível do rio que atravessava a Babilônia diminuía! Naquele mesmo momento, exércitos persas se concentravam, pron­ tos a passar pelas águas rasas, sob as comportas, e avançar, sem oposição, invadindo a inexpugnável Babilônia. E o jovem Belsazar, com o rosto cheio de espinhas, esperando que Daniel ficasse impres­ sionado, distribuía presentes que naquela manhã poderiam valer tanto quanto o dinheiro do jogo Banco Imobiliário vale em bancos verdadeiros. E Daniel nem sequer riu. Provavelmente nós náo ri­ mos o suficiente. Você percebe, o mundo está sem­ pre distribuindo recompensas, esperando que nós fiquemos impressionados. Riqueza. Status. Poder. Aceitação. E todo o tempo, do lado de fora das comportas, Deus está se preparando para invadir a terra. Quando Ele o fizer, e os reinos deste mundo se tornarem o reino do nosso Deus, tudo o que a terra tem a oferecer valerá menos do que o dinheiro do jogo “Banco Imobiliário”. Assim, da próxima vez que alguma recompensa ter­ rena oscilar diante de você, e o seu coração começar a bater com entusiasmo, lembre-se de Daniel no banquete de Belsazar. Diga ao mundo que fique com os presentes. Ou, se outras pessoas insistirem, e lhe entregarem uma cadeia de ouro ou um man­ to púrpura, ria por dentro, como Daniel deve ter feito. Eles não poderão suborná-lo. Você sabe que amanhã, quando este mundo desmoronar, como deverá acontecer, o seu ouro e os seus mantos se converterão em pó.

Alguns elementos das visões de futuro de Daniel já tinham se cumprido. Outros ainda esperam o seu cumprimento.

Contexto A segunda parte do livro de Daniel está cheia de registros de visões proféticas que ele recebeu de Deus. A maior parte delas se refere “ao tempo do fim”, seja descrevendo eventos que então terão lu­ gar, seja a sequência de eventos que conduzem à conclusão da história. Na profecia do Antigo Testamento, “toda a terra” é interpretada como “toda a região”, repercutindo sobre a Terra Santa, e influenciando a vida ali. As­ sim, as profecias de Daniel se concentram em even­ tos do mundo mediterrâneo, incluindo toda a Ásia Menor, a Mesopotâmia e forças como a Grécia e Roma que exerciam controle sobre a região. Muitos descartam os seis capítulos finais de Da­ niel como “literatura apocalíptica”, querendo dizer que as imagens trazem uma mensagem espiritual poderosa, mas que quaisquer verdades que possam expressar não podem ser encontradas em uma in­ terpretação literal. Mas está claro que as visões de Daniel 7 e 8 devem ser interpretadas literalmente — e que os reinos descritos realmente surgiram nas centenas de anos que se passaram entre a escrita de Daniel e o nascimento de Cristo. Assim, parece melhor tentar compreender as visões e suas interpretações literalmente, como retratos, sabidamente obscuros às vezes, do que seria o futu­ ro quando Daniel escreveu. Não é possível entrar em detalhes de interpretação neste momento, pois o nosso enfoque está em implicações devocionais do texto bíblico. Mas mesmo uma leitura superficial destes capítu­ los mostra que as visões correspondem ao sonho de Aplicação Pessoal de uma grande estátua que repre­ Sirva a Deus, pois somente as suas recompensas Nabucodonosor sentava reinos que sucederiam ao seu. Mesmo um durarão. conhecimento superficial da história deixa claro que os impérios medo-persa, grego, e romano cor­ Citação Im portante em cada detalhe, às visões preditivas “Os olhos deste mundo náo veem além desta vida, respondem, encontradas neste surpreendente livro profético. como os meus não veem além desta parede, quan­ do a porta da igreja se fecha. Os olhos do cristão Visão Geral enxergam muito. Ele enxerga a Eternidade em sua As visões que Daniel teve de quatro animais (7.1excelência.” — John Vianney 28) e de um carneiro e um bode (8.1-27) retratam as futuras forças do mundo. A grande oração de con­ 20 D E JU N H O LEITURA fissão 171 de Daniel (9.1-19) precede uma revelação do - .J O k - VISÕES D O FUTURO cronograma das “setenta semanas” de Deus para a Daniel 7— 9 conclusão de seus propósitos na terra (w. 20-27). “Eis que te farei saber o que há de acontecer no úl­ Entendendo o Texto timo tempo da ira; porque ela se exercerá no determi­ “Feroz de cara, e... entendido em adivinhações” (Dn nado tempo do fim ” (Dn 8.19). 8.23-25). Esses três versículos exemplificam tanto

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a dificuldade em interpretar passagens proféticas, quanto o cuidado que se deve tomar. Observe que este governante surge durante a época do bode de Daniel 8, e é similar, embora diferente, ao rei que surge na época do quarto animal de Da­ niel 7. Na verdade, o bode de Daniel 8 correspon­ de ao leopardo alado de Daniel 7: Cada um deles representa o reino conquistado por Alexandre, o Grande, da Macedônia, e que, na sua morte, foi dividido entre quatro de seus generais. Historicamente, comentaristas de cada tendência identificam o governante hostil de Daniel 8 como Antíoco Epifânio, que tentou extirpar a religião judaica, profanou o Templo de Jerusalém, assassi­ nou centenas de judeus, e cujos exércitos foram, no final, derrotados por combatentes macabeus. O próprio Antíoco morreu de uma enfermidade mui­ to parecida com câncer de estômago, e como disse Daniel, “sem mão, será quebrado”.

E o que aconteceu com o rei de Daniel 7? Em o Novo Testamento, Jesus fala sobre ele, e as suas ati­ vidades, como ainda futuras (cf. M t 24). Surgindo do quarto animal — Roma, e não a Grécia — a sua hostilidade, os seus atos, e o seu fim, serão como os de Antíoco. Ê a semelhança entre estes dois gover­ nantes que faz de Antíoco um modelo apropriado para um anticristo que aparecerá, quando a história chegar ao seu clímax. Assim, nas visões de Daniel sobre o futuro, Antíoco corresponde ao Anticris­ to, mas as profecias a respeito do Anticristo foram, pelo menos parcialmente, cumpridas em aconte­ cimentos que tiveram lugar na Judeia e na Galileia, aproximadamente 165 anos antes de Cristo. O principal enfoque das visões de Daniel continua sendo o tempo do fim — um período que está à frente, para você e para mim. A conclusão de tudo isso é simples. Nós podemos esperar que as predições de Daniel, que ainda não

Os impérios medo-persa, grego e romano sucederam o babilônio, exatamente como Daniel previu. A expressão final do reino romano, destinada a ser abertamente hostil a Deus e ao povo de Deus, e a ser destruída pela intervenção pessoal do Filho de Deus, ainda não surgiu (veja Daniel 9).

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foram cumpridas se cumpram, da mesma maneira que as partes cumpridas se cumpriram — literal, histórica, e reconhecidamente. Sejam ou náo apo­ calípticas por natureza, as visões de Daniel dizem respeito a acontecimentos que realmente terão lugar aqui na terra. Enquanto esperamos o cumprimento futuro literal das palavras de Daniel, nós percebe­ mos que ainda não temos as chaves necessárias para desvendar todos os mistérios. Nós reconheceremos os eventos quando acontecerem. Muitos detalhes permanecerão confusos, até então. De modo que, uma vez mais, nós nos deparamos com o fato de que a nossa Bíblia é um livro ver­ dadeiramente merecedor de confiança — um livro cuja origem sobrenatural e cujo caráter podem ser demonstrados a todas as pessoas. Percebendo isso, nós compreendemos como é importante que trate­ mos as Escrituras com respeito, estudando-a para ouvirmos a voz divina, e reagindo com obediência ao Espírito que nos deu a Palavra viva de Deus, e que a interpreta. “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade” (Dn 9.20-27)- As pro­ fecias de Daniel sobre as “setenta ‘semanas’” estão entre as mais intensamente estudadas, de todas as passagens das Escrituras. Interpretando cada ‘se-

DEVOCIONAL______ Não um simples “Desculpe”

(Dn 9) Eu vejo isso o tempo todo, em casa. A nossa filhinha faz alguma observação ou esperneia em desobediência. Quando ela se acalma, nós dize­ mos, “Eu acho que seria bom pedir desculpas”. E muito provável que ela estique seu lábio inferior, sussurre um “desculpe” relutante, e vá para o seu quarto. Eu acho que, às vezes, nós somos como Sarah, quando a questão é lidar com nossos pecados. Nós simplesmente murmuramos nosso “Desculpe” a Deus, quando nos damos conta de algum erro, e corremos para prosseguir com nossas vidas. Mas havia alguma coisa muito diferente sobre Daniel, quando ele se dirigia ao Senhor, humilde e com o coração partido. Daniel tinha lido a profecia de Jeremias de que o exílio de Judá duraria 70 anos, e percebeu que o tempo estava acabado! Se Dario fosse verdadeira­ mente um vice-rei de Ciro, é provável que naquele mesmo ano Ciro tivesse emitido seu decreto, per­ mitindo que os judeus retornassem e reconstruís­ sem o seu Templo (cf. v. 17).

mana’ como um conjunto de 7 anos, a predição identifica 490 anos, ao fim dos quais o programa de Deus para os séculos estará concluído (v. 24). A contagem regressiva teve início com um decreto para a reconstrução de Jerusalém. Ele foi emitido a Esdras por Artaxerxes, em 458 a.C. Mas as setenta ‘semanas’ são ainda divididas. Um primeiro grupo de sete ‘semanas’ (49 anos) nos leva a 409 a.C., e à repovoação de Jerusalém, sob Neemias e Esdras. O grupo seguinte de 62 ‘semanas’ nos leva a 26 d.C., que, segundo alguns cálculos, assinala o batismo de Jesus, a “unção do Santo dos santos” de Daniel. Outros calculam que chegamos à entrada de Cristo em Jerusalém, no domingo de Ramos. Falta apenas um grupo de anos, até o fim. Mas o versículo 26 diz que, depois das 62 ‘semanas’, “será tirado o Messias e não será mais”. Claramente, há um intervalo entre o fim das 62 ‘semanas’ e o últi­ mo grupo de sete anos — um intervalo que se es­ tende desde o tempo de Cristo até os nossos dias. Muitos estudiosos das profecias acreditam que, um dia, a contagem regressiva de Deus estará concluí­ da. Então, os últimos sete anos da profecia de Da­ niel, a que dizem respeito a maior parte das visões destes três últimos capítulos, também serão cum­ pridos, e a história terá chegado ao fim pretendido — e predito — por Deus. Por que, então, Daniel parecia tão quebranta­ do, quando orou? As suas primeiras palavras nos trazem a resposta a esta pergunta: Daniel sentiu, subitamente, uma grande reverência perante a lembrança do amor que Deus demonstra em seu concerto (v. 1). Contra o cenário do amor de Deus, Daniel sentia a completa depravação do seu povo. Israel e Judá se beneficiaram da graça de Deus, e receberam as suas leis justas. Mas eles ignoraram as suas palavras e deram as costas aos profetas que Ele lhes enviou. Profundamente perturbado, Daniel se identificava com seu povo e seus erros, e como um humilde pecador, clamou a Deus. Ele recordou os atos de graça de Deus (cf. v. 15) e compreendeu o quanto era terrível que, apesar da bondade do Senhor, “pe­ camos; procedemos impiamente”. A oração de Daniel foi mais do que uma litania de fracasso. Foi um apelo, por ainda mais graça. Daniel implorou que Deus ouvisse as orações do seu povo, e, através da sua graça restaurasse a terra, a Cidade Santa, e o seu Templo. O que Daniel nos ensina é que, nas nossas próprias orações de confissão ou até mesmo de súplica, não

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devemos ser como uma criança mal-humorada, que diz “Desculpe”, ainda que não esteja plena­ mente convencida de que o seu erro seja tão ruim assim. Em vez disso, devemos equiparar a nossa resposta a Deus com a sua graça, e, profundamente comovidos por termos falhado, devemos vir a Ele em penitente humildade. Então, na sua presença, inclinando a cabeça e o co­ ração, nós, como Daniel, podemos apelar a Deus, pedindo uma graça ainda maior, clamando, “Não lançamos as nossas súplicas perante a tua face fia­ dos em nossas justiças, mas em tuas muitas miseri­ córdias” (9.18). Aplicação Pessoal O orgulho anula a oração; porém, a verdadeira hu­ mildade lhe dá asas que a elevam ao Senhor. Citação Importante “Foi o orgulho que causou a queda de Lúcifer e de Adão. Se você me perguntasse quais são os ca­ minhos para Deus, eu lhe diria que o primeiro é a humildade, o segundo é a humildade, e o terceiro ainda é a humildade. Não que não existam outros preceitos a observar, além da humildade, mas se a humildade não preceder tudo o que fizermos, os nossos esforços serão infrutíferos.” — Agostinho de Hipona 21 DE JUNHO LEITURA 172 VISÕES DO FIM Daniel 10— 12 “Esse rei... se engrandecerá sobre todo deus; e contra o Deus dos deusesfalará coisas incríveis e será próspero, até que a ira se complete” (Dn 11.36). Entre os grandes movimentos de pessoas e de exér­ citos, descritos nesse capítulo, se destaca o caráter dos oponentes de Deus.

se passado nem 21 dias antes que Deus prestasse atenção à oração de Daniel, nem Ele tinha atrasado a sua resposta. Que versículo ao qual podemos nos agarrar quan­ do Deus parece retardar a sua resposta às nossas orações. Tão logo as nossas orações são proferidas, Deus realmente ouve, e responde. Pode demorar para essa resposta chegar. Mas não precisamos du­ vidar, nem do amor de Deus, que o leva a ouvir, nem do poder de Deus, que assegura a sua capaci­ dade de fazer o que for melhor. “O príncipe do reino da Pérsia” (Dn 10.13-21). O anjo que falou com Daniel lhe propiciou uma vi­ são fascinante do mundo invisível. A sua menção a Miguel deixa claro que os “príncipes” desse texto também são anjos, de posição significativa. Pode-se fazer mais deduções com base na capaci­ dade do “príncipe da Pérsia” angelical para impedir que o mensageiro alcançasse Daniel, até que Mi­ guel interviesse. O incidente sugere, em primeiro lugar, que os anjos têm graduações e poderes dife­ rentes. Em segundo lugar, os anjos caídos de Sata­ nás se opõem ativamente às intenções de Deus. Em terceiro lugar, uma guerra invisível entre os exér­ citos angelicais até agora acontece em campos de batalha ocultos. Em quarto lugar, o que acontece nessa guerra pode ter um impacto — e realmente tem — nos acontecimentos daqui da terra. Mas o futuro está “escrito na escritura da verdade”. Todos os esforços dos servos de Satanás provarão ser inúteis. Como tudo isso pode ter relação com você e comi­ go? Isso nos lembra do que o Livro de Hebreus diz a respeito da função dos anjos. Eles são “espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação” (Hb 1.14). O prê­ mio na guerra invisível de Deus contra Satanás não é simplesmente a vitória final. É o bem ou o mal feito às pessoas a quem Deus ama. E os anjos de Deus, um grande exército, ministram ativamente a você e a mim, protegendo-nos do mal que o grande inimigo de Deus e nosso procura nos fazer.

Visão Geral A persistente oração de Daniel foi atendida (10.121). Ele obteve novas revelações a respeito de tribu­ lações futuras sob Antíoco (11.1-35) e o Anticristo “Agora, te declararei a verdade” (Dn 11.1-35). (w. 40-45). O livro de Daniel é concluído com um Daniel tinha recebido uma visão de uma terrível retrato da Tribulação final e do triunfo do povo de guerra futura, e implorou que Deus lhe desse mais Deus do Antigo Testamento (12.1-13). informações. O anjo mensageiro foi enviado para explicar. A palavra em hebraico para “verdade” está Entendendo o Texto enraizada nos conceitos de fidelidade e realidade. “Desde o primeiro dia... são ouvidas as tuas palavras” O que o anjo revelasse certamente viria a aconte­ (Dn 10.1-12). Depois de 21 dias de jejum, a oração cer, e dentro do espaço e do tempo do mundo de do idoso Daniel foi atendida, pela aparição de um Daniel. mensageiro angelical. Daniel foi elogiado, a princí­ Em resumo, o anjo brevemente relatou o que iria pio (w. 10,11), e depois encorajado. Não tinham acontecer, desde aquela época até a morte de Ale-

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xandre (w. 1-4), descreveu guerras que seriam tra­ vadas entre os ptolomeus do sul e os selêucidas do norte (w. 5-20), e então se concentrou na terrível perseguição aos judeus, que seria conduzida por Antíoco Epifânio, nos anos 160 a.C. (w. 21-35). Tudo isso agora é história passada. Mas a cena, então, tem uma mudança, como acontece com frequência nas profecias, passando a uma analogia de Antíoco. Assim como Antíoco perseguiu os judeus, o seu equivalente do fim dos tempos, o Anticristo, destruirá a última geração de judeus (w. 36-39). Mas o seu triunfo inicial ter­ minará com ódio e frustração, e “virá ao seu fim, e não haverá quem o socorra” (w. 40-45). “Um tempo de angústia, qual nunca houve" (Dn 12.1-13). O capítulo final do livro retorna à gran­ de Tribulação do fim dos tempos (v. 1). Embora muitos elementos da profecia sejam “selados” (não devem ser conhecidos nem compreendidos de antemão), o anjo prosseguiu fornecendo um cronograma específico. A partir da ocasião quando o Anticristo erigir uma imagem abominável (cf. M t 24.15-27) em um templo de Jerusalém ainda por ser construído, somente restarão 1.290 (três anos e meio, pelo calendário lunar judeu) até o fim. Nós costumamos fazer uma brincadeira na nossa família. Enquanto esperamos ser servidos, em um restaurante, nós dizemos: “Quanto tempo falta para a comida chegar?” Cada um de nós dá um palpite, e vigiamos atentamente para ver quem está certo. Ou estamos viajando de carro, e adivi­ nhamos quantos quilômetros faltam para o nosso destino. Nós anunciamos nossos números, e então, como a melhor coisa que podemos fazer é dar nos­ so palpite, esperamos, e vemos quem se aproxima mais do número exato. Aqui não existe essa hesi­ tação. Não existe palpite. Números específicos são anunciados.

DEV OCIONAL______ Será Próspero, até que...

(Dn 11) Em poucas palavras, o tema desse capítulo é a luta de homens excepcionais em se sobressair, ao custo da paz mundial. O tema é desenvolvido quando o anjo de Deus mostra para Daniel a intensa competição que exis­ tirá entre os generais que dividiram as terras con­ quistadas por Alexandre, o Grande. O seu esforço por se destacarem, e o esforço de seus sucessores, foi marcado por uma violenta competição por ter­ ritório, riqueza e glória.

Deus conhece com exatidão os seus números. Ele sabe o que e quando. Podemos não entender os elementos selados das visões de Daniel hoje. Mas nós sabemos, com base na especificidade das Escri­ turas, que o futuro é conhecido por Deus, e está, seguramente, nas suas mãos. “Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão” (Dn 12.2). Esse versículo é uma das mais claras ex­ pressões, no Antigo Testamento, da esperança da ressurreição pessoal. Os mortos ressuscitarão, para encontrar o seu Criador e enfrentar o juízo. Então, alguns dos que despertarão irão herdar “a vida eter­ na”, e outros, “vergonha e desprezo eterno”. E uma característica do Antigo Testamento enfocar os planos de Deus, à medida que eles se relacionam com esta terra e com o futuro terreno do seu povo do Antigo Testamento. Assim, os profetas do Anti­ go Testamento parecem preocupados com o clímax da história, com grandes batalhas a serem decididas pela manifestação do Messias e com a bênção de uma existência pacífica aqui, em um mundo gover­ nado, por fim, pelo Deus de Israel. Por outro lado, o Novo Testamento olha além deste céu e desta ter­ ra, e concentra a nossa atenção em uma eternidade na qual os crentes, individualmente, passam por uma transformação pessoal, e vivem a eternidade com o Senhor. De certa maneira, as visões das Escrituras do que acontecerá são como um caleidoscópio. Cada giro desse brinquedo faz com que pedaços coloridos de vidro caiam de uma maneira diferente, revelando constantemente novos e complexos padrões. A vi­ são de uma perspectiva pode ser diferente da visão de outra. Mas cada visão é válida: cada uma delas nos mostra outro aspecto dos complexos e variados propósitos de Deus, e nos impressiona mais uma vez com a sabedoria e a assombrosa complexidade do plano eterno de Deus. Ao descrever essas lutas dos antigos governantes, o texto bíblico nos dá entendimento sobre o caráter daqueles cujo objetivo na vida é “prosperar”, sem se preocuparem com o custo dessa prosperidade. Esses homens “agitam” sua força e coragem para atacar e competir com outros. Com “corações aten­ tos para fazerem o mal”, mentem e tramam. Usan­ do de adulações ou de força, corrompem outros, para alcançar seus objetivos pessoais. O exemplo primordial desse tipo de homem é visto nos versículos 36 a 40. Levado por paixões irresistíveis, este “fará conforme a sua vontade”, e

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“se engrandecerá sobre todo deus”. Sem nenhuma consideração pela divindade ou pela restrição mo­ ral, “sobre tudo se engrandecerá”. Pode parecer estranho, mas algo a respeito dessas pessoas parece contribuir para a realização. Eles são determinados, é verdade. Eles usam outras pessoas, é verdade. Eles são amorais, é verdade. E essas mes­ mas características lhes dão uma vantagem acima daqueles que têm desejos menos intensos, maior consideração pelos outros e um costume de avaliar as escolhas moralmente. O que nos incomoda é o fato de que, embora critique essas características, toda a humanidade parece aplaudir o seu sucesso. A maioria dos ditadores da história eram homens como esses; a maioria dos barões de negócios, cuja preocupação era unicamente o lucro, também era como esses homens. Para muitas pessoas, o sucesso e o pecado parecem ser gêmeos, sempre encontra­ dos na companhia do outro. Naturalmente, existe uma nota de rodapé no re­ trato de Daniel 11. Ela é encontrada no versículo 36, e muda de maneira radical a nossa avaliação do homem de sucesso. Diz o versículo: “ele será próspero, até que a ira se complete”. Próspero. Até que... Sim, os métodos do pecado funcionam para o homem que é motivado pelas realizações. Mas só funcionam durante algum tempo. Só funcionam “até que”. Até que Deus intervenha. Até que chegue o dia da sua ira. Então, quando se completar esse dia, o

sucesso do homem se tornará em pó, e toda a hu­ manidade saberá que a pessoa realmente próspera é aquele indivíduo humilde cujo desejo é fazer a vontade de Deus, em vez de impor a sua própria. Aplicação Pessoal Avalie o sucesso não apenas pelos resultados que um homem alcança, mas pela maneira como ele alcança esses resultados. Citação Importante “Como pessoas que fazem parte da igreja, às vezes supomos que somos imunes às tentações do poder. Nós não ganhamos muito dinheiro. A sociedade nos dá tão pouco poder que pensamos que a ambi­ ção — a vontade de ser bem-sucedido, alcançar e ter prestígio e influência sobre outras pessoas — é um problema somente das pessoas que estão nos negócios ou na política, e não de pessoas como nós. Assim, às vezes deixamos de ver como somos apri­ sionados, pela mais nobre das razões, nas mesmas ambições que motivam a todos. No final, aqueles que alcançam posições elevadas no Corpo de Cris­ to, podem se parecer exatamente com aqueles que escalam até o topo de grandes empresas como, por exemplo, a General Motors. Com frequência, não é possível ver muita diferença entre os nossos líde­ res e os dos gentios.” — William H. Willimon

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em APOCALIPSE

OSEIAS INTRODUÇÃO Oseias começou seu ministério próximo ao fim do reinado de Jeroboão II de Israel (793-753 a.C.). Na­ quela época, Israel prosperava economicamente, mas era marcada pela injustiça e pelo declínio espiritual. A mensagem de Oseias constitui o aviso final de Deus ao apóstata Israel, e o profeta vive para ver suas predições de juízo se cumprirem, quando o reino caiu diante da Assíria, em 722 a.C. A característica singular de Oseias é o relacionamento do profeta com a sua esposa infiel. Gomer aban­ donou seu esposo para cometer adultério, quando Israel tinha rompido seu concerto com o Senhor. Mas, como Deus, Oseias tinha um amor genuíno pela sua esposa. No final, ele a encontrou abandonada, a res­ gatou e a trouxe de volta. Hoje, como nos tempos do Antigo Testamento, o livro de Oseias dá testemunho do inabalável amor de Deus pelos seus. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. A Infidelidade de Israel........................................................................... II. A Acusação de Israel por D eus............................................................ III. A Punição de Israel............................................................................... IV. A Restauração de Israel........................................................................

....Os 1— 3 .... Os 4— 6 ..O s 7— 10 Os 11— 14

GUIA D E LEITURA (4 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia e o Devocional em cada capí­ tulo deste Comentário. Leitura

Capítulos

Passagem Essencial

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1— 3 4— 6 7— 10 11— 14

3 6 10 11

OSEIAS 22 D E JU N H O LEITURA 173

UM POVO ADÚLTERO Oseias 1— 3

“Vai, toma uma mulher de prostituições e filhos de É essa analogia que é desenvolvida no livro de prostituição; porque a terra seprostituiu, desviando-se Oseias. Para demonstrar a Israel a dinâmica da sua rejeição ao Senhor, Deus permitiu que o profeta do Senhor” (Os 1.2). Oseias desposasse uma mulher que foi infiel. O vi­ Hoje, os cristãos devem imitar pelo menos um as­ sível sofrimento de Oseias, pela traição de uma es­ pecto da vida de Oseias. Devemos moldar a manei­ posa que ele sinceramente amava, representou, para ra como vivemos com os outros de acordo com a o povo de Deus, o sofrimento do próprio Senhor, pela traição que lhe fizeram! Mas então, maravilha maneira como Deus se relaciona conosco. das maravilhas, Oseias procurou e encontrou sua esposa prostituta, resgatou-a da escravidão em que Contexto Desde o seu início, por Jeroboão I, em 731 a.C., ela tinha caído e a trouxe de volta para casa! o Reino do Norte de Israel vinha praticando falsa Como os vizinhos de Oseias devem ter assistido as­ religião. Esse governante, certo de que uma nova sombrados! Ela merecia ser abandonada, no entan­ união com Judá seria a consequência se o seu povo to, um amor inextinguível levou Oseias a restauráfosse regularmente a Jerusalém para adorar, como la. Exatamente como o amor inextinguível de Deus exigia a Lei de Deus, instituiu um falso sistema levará o Senhor, depois de permitir que Israel pro­ religioso na sua própria terra. Ele estabeleceu dois vasse as consequências de seu adultério espiritual, a centros nacionais de adoração, em Betei e Dã, e eri­ resgatar Israel e também trazê-lo para casa. giu bezerros de ouro nos dois locais, sobre os quais Que poderoso lembrete para nós, acima de tudo, da Jeová supostamente cavalgaria. Ele ordenou um sa­ característica genuína do amor de Deus. Mas, em cerdócio não descendente de Arão, e reorganizou o segundo lugar, do fato de que Oseias foi chamado por Deus para representar, na terra, a realidade do calendário religioso. Em seguida, Israel provou ser particularmente vul­ céu. Assim, você e eu devemos responder aos ou­ nerável a uma forma virulenta de adoração a Baal, tros, não como eles merecem, mas como Deus, em promovida de forma ativa pelo rei Acabe e sua es­ sua graça, respondeu a nós. posa Jezabel. Embora isso tivesse sido reprimido Como Oseias, cada um de nós, que conhece a Jesus, durante a época de Elias, a adoração de Jeová em deve ser um exemplo vivo do seu amor eterno. Israel continuava sendo corrupta. Não somente era mantido o sistema falsificado de Jeroboão I, como Visão Geral alguns elementos da adoração a Baal, incluindo ri­ Deus ordenou que Oseias desposasse uma mulher tos de orgias e prostituição ritual, eram praticados que lhe seria infiel (1.1-11), como Israel tinha sido em nome de Deus. Israel tinha rompido o concerto infiel a Deus (2.1-23). Demonstrando genuíno que a ligava ao Senhor; um ato que era análogo amor por sua esposa, Oseias a encontrou e a trouxe ao de uma mulher que rompe o concerto do ca­ de volta, da mesma maneira como Deus, um dia, irá restaurar a nação de Israel exilada (3.1-5). samento.

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Entendendo o Texto “Nos dias de Jeroboão” (Os 1.1). Com a Assíria e a Síria temporariamente enfraquecidas, os 40 anos de reinado de Jeroboão foram marcados pelo res­ surgimento militar e econômico em Israel. O rei estendeu as fronteiras do norte e do leste de Israel, para ocupar a maior parte do território dos dias de Davi. A riqueza era abundante em Israel, pelo co­ mércio, e a agricultura local florescia. Tudo parecia estar indo muito bem! No entanto, espiritualmente, a adoração de Israel era corrupta, salpicada de práticas pagãs. A própria sociedade era corrupta, uma vez que os marcos morais também tinham sido tirados. Mais adiante, Oseias clamou: “Não há verdade, nem benigni­ dade, nem conhecimento de Deus na terra. Só prevalecem o perjurar, e o mentir, e o matar, e o furtar, e o adulterar, e há homicídios sobre homicí­ dios” (4.1b,2). E um trágico engano confundir o Produto Nacional Bruto como uma verdadeira medida do bem-estar de uma nação. Isso aconteceu durante o reinado de Jeroboão II, quando Oseias começou a ministrar. E o povo próspero e complacente de Israel foi surdo aos avisos de Oseias. Mas existe uma mensagem sutil nesse versículo, que situa o ministério de Oseias no tempo de Je­ roboão de Israel, mas também no tempo de Acaz e de Ezequias, de Judá. Essa mensagem? Duran­ te o reinado de Ezequias, cerca de 30 anos depois que Oseias começou a pregar, a Assíria invadiu e esmagou totalmente a nação de Israel. O profeta viveu para ver cumpridas as suas amargas palavras de advertência. De muitas maneiras, alguns países estão na mes­ ma encruzilhada. Muitos dos marcos morais da sociedade foram tirados. Existe violência demais, existem homicídios demais, roubo e adultério de­ mais. E a força das nações não pode ser avaliada em termos de Produto Nacional Bruto e em termos de sistemas de armamentos, mais do que a da antiga nação de Israel. A infidelidade espiritual e moral continua sendo a precursora de um desastre nacio­ nal garantido. “Vai, toma uma mulher de prostituições” (Os 1.2,3). Estudiosos debatem que Gomer talvez fosse uma prostituta de seitas pagãs quando Oseias a despo­ sou. Isso parece improvável, principalmente por­ que Deus tencionava que o seu casamento imitasse a própria experiência do Senhor com Israel. Parece quase certo que Gomer era casta quando eles se ca­ saram, como Israel foi, inicialmente, fiel ao Senhor. Mas o tempo passou, e ela abandonou seu marido para buscar outros amores.

Não consigo explicar isso. Dois de meus amigos íntimos, ambos bons líderes cristãos, foram aban­ donados por suas esposas. Nos dois casos, a esposa deixou o casamento para seguir em uma série de outros casamentos ou casos amorosos, da mesma maneira como fez Gomer depois de deixar Oseias. Por que uma mulher deixaria um marido que a ama, que a sustenta e com quem ela teve filhos? Por outro lado, por que alguém daria as costas ao seu relacionamento com Deus? Por que abandonar o Deus que nos ama, que nos sustenta, que sacrifi­ cou o seu próprio Filho por nós? Talvez a explicação deva ser buscada no poder que o pecado tem sobre o coração humano. Nós não podemos explicar isso. Mas cada um de nós deve permanecer ciente de que, lá no fundo, está a ca­ pacidade de nos desviarmos. Dentro de cada um de nós está um desejo de nos desviarmos. Quan­ do pensamos em Gomer — ou quando penso em meus amigos e suas ex-esposas — precisamos reco­ nhecer a nossa própria vulnerabilidade. E precisamos pedir que o Senhor nos ajude a con­ tinuar próximos dEle. “Põe-lhe o nome de Jezreel” (Os 1.4-9). Cada nasci­ mento dos três filhos de Gomer, enquanto ela esta­ va casada com Oseias, foi uma ocasião para profe­ cia. Com cada nascimento, e por meio dos nomes que foram dados a cada filho, Oseias transmitiu uma nova mensagem a seus contemporâneos. “Jezreel” era a cidade onde Jeú tinha assassinado a família do rei Acabe, e simbolizava uma destrui­ ção similar que sobreviria a toda Israel. Lo-Ruama significa “não amada”, ou “não merecedora de compaixão”. Logo Deus deixaria de mostrar gene­ rosidade ao seu povo. Lo-Ami significa “não o meu povo”. A nação que tinha rejeitado a Deus logo se­ ria rejeitada. Deus retiraria, não a si mesmo, mas a sua proteção. Cada nome confronta um Israel, que se recusou a dar ouvidos, com o fato de que o pecado tem suas consequências. Deus não mais intercederia para proteger o seu povo das consequências naturais dos seus atos. Hoje alguns sugerem que a AIDS é uma punição de Deus sobre aqueles que praticam a homossexuali­ dade. Outros expressam choque: Deus não poderia ser tão malvado! Talvez. Mas se a AIDS não é uma punição, certamente é uma consequência. O pecado sempre tem consequências. Algumas são mais fáceis de identificar do que outras. Jezreel sempre está pró­ xima àqueles que praticam o pecado. E “não amado” e “não o meu povo” são as consequências no relacio­ namento para aqueles que se recusam a estar próxi­ mos de Deus e que violam os seus preceitos.

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Ela simplesmente voltará, como se estivesse fazen­ do um favor ao seu esposo, retornando por algum tempo, antes de abandoná-lo outra vez! Deus anunciou, por intermédio de Oseias, que Ele iria forçar sua esposa Israel a enfrentar a realida­ de e lidar com os seus pecados. Todas as bênçãos materiais seriam tiradas, e ela se veria despida da prosperidade. A prosperidade ainda isola muitas pessoas das reali­ dades espirituais. E pode ser uma bênção que todas as nossas “boas coisas” nos sejam tiradas.

“Dizei a vossos irmãos: ‘A m i’ [‘m eu povo’] ’ (Os 1.10—2.1). Com a mensagem do abandono, o Antigo Testamento sempre inclui uma promessa de restauração. O abandono, no Antigo Testamento, não é rejeição. E como um agricultor, que deixa seus campos abandonados por algum tempo, dei­ xando que as ervas dominem um campo que deve­ ria florescer. Na maioria das passagens do Antigo Testamento, a palavra que é traduzida como “aban­ dono”, na verdade, significa “retirada”. Se persistirmos no pecado, Deus pode retroceder e permitir que sintamos as consequências naturais de nossas escolhas erradas. Mas, como Oseias disse a Israel, certamente Deus intervirá outra vez. Ele limpará o seu jardim das ervas daninhas, e uma vez mais afirmará “Meu povo” e “Meu Favor” (2.1, ARA). “Descobrirei a sua vileza” (Os 2.2-13). Em imagens poéticas e vívidas, Oseias agora revelava a infide­ lidade espiritual de Israel, fazendo a comparação com uma esposa adúltera. Ela é totalmente ego­ cêntrica. Ele procura amantes (outros deuses), mas quando eles a decepcionam, ela simplesmente vol­ ta ao seu marido, dizendo: “porque melhor me ia, então, do que agora” (v. 7). Não existe a percepção do pecado, nem vergonha, nem arrependimento.

DEVOCION AL______ Como o Senhor Ama

(Os 3) O divórcio é uma das experiências mais traumá­ ticas pela qual uma pessoa pode passar. Embora eu não creia nas estatísticas que, teoricamente, indicam que cerca de 70% dos estudantes do sis­ tema escolar americano vivam com um pai ou com uma mãe solteiros, ou casados novamente, sei que há um número excessivo de adultos e crianças que conhecem essa terrível dor. Tenho certeza de que alguns divórcios não so­ mente são justificados, mas são necessários. To­ davia, há um número excessivo deles que não são necessários, de maneira alguma. Mesmo quando um dos cônjuges tem um caso extraconjugal, o casamento não precisa terminar em divórcio. A dor da traição é intensa. A ferida, a vergonha, a raiva, tudo se acumula. Às vezes, parece algo excessivo para suportar — continuar “vendo-o” (ou “vendo-a”) todos os dias. Imaginar o cônjuge com o amante. Para alguns, isso é impossível de suportar. Ainda assim, antes que uma pessoa dê início a um a ação de divórcio, é im portante considerar

“E lhe darei as suas vinhas” (Os 2.14-23). Uma vez mais, vemos a extensão do comprometimento de Deus com os seus. Apesar da infidelidade de Isra­ el, um dia o Senhor restaurará o seu povo. “Des­ posar-te-ei comigo para sempre; desposar-te-ei comigo em justiça, e em juízo, e em benignidade, e em misericórdias. E desposar-te-ei comigo em fidelidade, e conhecerás o Senhor” (w. 19,20). Se você já se sentiu culpado demais, ou envergonha­ do demais, para se dirigir a Deus, lembre-se desse versículo. Não importa o que você possa ter feito no passado, Deus ama você. O objetivo dEle é torná-lo santo, torná-lo pertencente a Ele. E Deus será bem-sucedido com você, e com a sua amada do Antigo Testamento, Israel.

as palavras de Oseias. E recordar o que Deus disse a ele: “Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo e... adúltera”. E o Senhor acrescentou: “Como o Senhor ama os filhos de Israel”. Que desafio! Nos nossos relacionamentos mais íntimos, aqueles relacionamentos que têm a ca­ pacidade de nos causar a mais profunda dor, de­ vemos amar como o Senhor ama. Amar através da dor. Amar através dos mal-en­ tendidos. Amar através da falta de consideração, do egoísmo e da indiferença. Algumas vezes, amar até mesmo quando há traição! Contudo, por mais difícil que possa ser, nós, cristãos, somos chamados a amar como o Senhor ama. Sei que, se levarmos esse princípio a sério, e o praticarmos em nossos lares, o percentual de di­ vórcio entre os cristãos diminuirá. E, apesar da dor desse amor, as recompensas serão grandes. Aplicação Pessoal O amor de Deus conquistou você. Quando você amar como Deus ama, conquistará outras pessoas.

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Citação Importante * Rapaz de 18 anos, líder de um grupo de adoles­ “Se você realmente deseja auxiliar a alma do seu centes de 15 anos, acusado de ameaçar três deles próximo, você deve, em primeiro lugar, se aproxi­ com tacos e barras de ferro mar de Deus, com todo o seu coração. Peça que Ele * Rapaz de 13 anos e garota de 14 acusados de furto simplesmente o encha com o amor, que é a maior de todas as virtudes; com o amor, você poderá rea­ lizar o que desejar.” — Vincent Ferrer Não li as matérias detalhadamente. E não incluí aqui as mais espetaculares manchetes de cidade 23 DE JU N H O Leitura 174 grande, como a que fala da sentença de morte O POVO DE ISRAEL É ACUSADO contra uma mulher que, para poder pagar pela Oseias 4— 6 cocaína que consumia, entregou a sua filha de 13 anos de idade a um estuprador condenado para “O Senhor tem uma contenda com os habitantes da um estupro. terra” (Os 4.1). De certa maneira, as histórias locais são mais as­ sustadoras. Elas sugerem que a corrupção se espa­ O Antigo Testamento reflete o coração de Deus. lhou em nossa sociedade, mais do que podemos Nas acusações feitas por Oseias, podemos ver aque­ suspeitar. Talvez nós devêssemos ouvir atentamente las questões de justiça e juízo com que precisamos a Oseias, pois a nossa época está muito parecida lidar hoje em dia, na nossa sociedade. como a época em que Oseias ministrou! Visão Geral Depois de algumas acusações preliminares (4.14), Oseias detalhou os pecados dos sacerdotes (w. 5-11) e do povo (w. 12-19). Ele advertiu as pessoas (5.1-7) e a nação (w. 8-15), mas houve apenas um arrependimento superficial (6.1-3). Assim, a acusa­ ção de Deus ao seu povo continua (w. 4-11). Entendendo o Texto “Uma contenda” (Os 4.1-3). Depois dos três pri­ meiros capítulos, autobiográficos, este capítulo oferece uma amostra da pregação de Oseias. Essa seção, sob a forma de acusações legais contra Is­ rael, começa com uma descrição geral da socieda­ de de Oseias. As acusações são; “Não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus na terra. Só prevalecem o perjurar, e o mentir, e o matar, e o furtar, e o adulterar, e há homicídios sobre homicídios”. Por curiosidade, peguei o jornal desta manhã e dei uma olhada nas manchetes da seção dedicada ao nosso condado da Flórida. Aqui estão algumas das histórias que apareciam: * 13 lojas de shopping centers foram roubadas * Destacamento policial extra para o Dia do Tra­ balho, para prevenir acidentes de automóvel motivados pelo excesso de álcool * Janela de automóvel destruída por tiro * Ladrão armado foi preso * Guerra contra o crack prende mais quatro * A dolescente acusado de ten tar atropelar m enino * Ex-bombeiro acusado de falsificação * Homem acusado de homicídio por dirigir alco­ olizado em acidente de 1988

“Eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus”(Os 4.4-11). Os líderes espirituais de Israel foram o pri­ meiro grupo a ser acusado. Eles deveriam conduzir o seu povo à santidade; em vez disso, “a incon­ tinência, e o vinho, e o mosto tiram a inteligência”. Eles chegam a saborear “a sua maldade”. Hoje a televisão mostrou um Jim Bakker encur­ vado, sendo levado a um tribunal da Carolina do Norte. Ontem, um antigo membro da seita “Praise the Lord” prestou um depoimento muito prejudi­ cial a ele. Hoje, o seu advogado disse: “Ele estava encolhido em posição fetal, deitado no chão de meu escritório, com a cabeça debaixo do sofá, di­ zendo que pessoas más estavam tentando feri-lo”. O Senhor precisa me proteger da minha primeira reação, que é dizer que ele merece o que lhe acon­ tecer. Entretanto, em vez disso, preciso ficar opri­ mido. Oprimido e humilhado, porque um líder espiritual da minha época “trocou a glória” encon­ trada no serviço fiel a Deus por coisas desprezíveis, como milhões de dólares, casas e carros luxuosos, e encontros sexuais com secretárias da igreja. A acusação a Jim Bakker é uma acusação a todos nós. “Porque... se rebelou Israel” (Os 4.12-19). Oseias prosseguiu, apresentando uma acusação a todo o povo de Israel. Eles procuraram ídolos e permiti­ ram que suas filhas se tornassem prostitutas nas sei­ tas pagãs. A sua adoração era corrupta. Eles usavam jargões religiosos em suas palavras (v. 15), mas ado­ ravam seus costumes indecorosos. E bonito clamar: “Vive o Senhor”. Mas a menos que o nosso clamor de louvor seja acompanhado por igual entusiasmo

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De modo consciente, devemos rejeitar os cami­ nhos e as atitudes de Israel, sempre que surgirem em nossas vidas. Devemos nos agarrar à mão que “Ouvi isto” (Os 5.1-7)- Deus fez acusações contra Deus nos estende. os sacerdotes, o povo e a casa real de Israel, e os “Ele não poderá curar-vos” (Os 5-8-14). Israel tam­ condenou. “A vós pertence este juízo.” O que significava o veredicto de “culpado”? Signi­ bém renunciou a uma política nacional de confian­ ficava que a sentença divina tinha sido ditada, uma ça em Deus. Em vez disso, a nação confiou em um sentença que envolvia o fato de o Senhor ter se reti­ acordo com a Assíria, para se proteger da Síria. A rado do seu povo (v. 7). Quando vieram os proble­ Assíria ficou muito feliz em ter esse acordo como mas, e Israel procurou desesperadamente que Deus uma desculpa para marchar para o oeste. Ela de­ vorou a Síria — e então se dirigiu à sua “aliada”, a ajudasse, Ele não pôde ser encontrado. Não existe, na realidade, maior punição. Sem o Israel. Senhor, somos desamparados diante das circuns­ Quando uma nação rejeita a Deus, ela corre perigo. tâncias, dos inimigos e das consequências de nossas E necessária uma renovação nacional — a admis­ próprias escolhas tolas. Se Deus não estivesse aqui, são da culpa e uma busca apaixonada por Deus (v. para que nos voltássemos para Ele, não haveria ab­ 15) para dar segurança a qualquer sociedade. solutamente nada que poderíamos fazer.

em obedecer ao Senhor, a nossa religião também será sem sentido.

DEVOCIONAL______ O Amor como a Névoa da Manhá

(Os 6) Algumas pessoas são incuravelmente otimistas. “Eu sei”, dizem elas. “Eu sei que agi mal, e Deus me puniu por causa disso. Mas tudo o que tenho que fazer é voltar para Ele. Se eu apenas disser: ‘Perdoeme’, tudo ficará bem. Não é verdade?” Esse é o tipo de otimismo descuidado que os ver­ sículos 1-3 retratam. E isso faz com que Deus ba­ lance a cabeça, com frustração. Essas pessoas pare­ cem pensar que o que Deus deseja é algum retorno superficial à religião. Elas parecem pensar que, se vierem até Deus e disserem “por favor”, o Senhor ficará tão feliz que tropeçará em si mesmo para cor­ rer e fazer-lhes o bem. Mas Deus não estava interessado em religião super­ ficial naquela ocasião. E Ele não fica impressionado com isso hoje. Os juízos de Deus pretendem moti­ var uma mudança fundamental em atitudes, e não um retorno à igreja! E, assim, Deus disse: “a vossa beneficência é como a nuvem da manhã”, e “Eu quero misericórdia e não sacrifício”. Õ que essas duas frases nos dizem? Em primeiro lugar, que Deus não está interessado em emoções fugazes que possamos sentir com relação a Ele. Ele deseja comprometimento completo. Existe uma grande diferença entre os “eu te amo” trocados no assento traseiro de um automóvel, e os “sim” troca­ dos em uma cerimônia de casamento! Em segundo lugar, o amor por Deus deve ser de­ monstrado, não em cerimônias religiosas, mas na vida diária. É agradável receber flores. Mas o amor verdadeiro é mais bem demonstrado na ajuda para

lavar a louça, para trocar fraldas, e “estar ali” quan­ do se precisa de apoio e encorajamento. Deus não fica satisfeito com um buquê atirado na sua dire­ ção aos domingos. Ele quer que demonstremos o nosso amor por Ele diariamente, cumprindo a sua vontade. Assim, Deus parece agitar a cabeça, e, em frustração, se perguntar em voz alta: “Que te farei, ó Efraim?” Apesar do testemunho da Lei de Deus e das palavras dos seus profetas, o conceito que Israel tinha de um relacionamento com o Senhor ainda continuava sendo superficial. E hoje em dia, nós também temos a tendência de ter um conceito su­ perficial de Deus. Deus não aproveita um “amor” que é fugaz e insubstancial como a névoa da manhã. Aplicação Pessoal Ame a Deus sempre, e assim você sempre obede­ cerá a Ele. Citação Importante “Você quer ouvir, da minha boca, por que, e como, Deus deve ser amado? A minha resposta é a seguin­ te: a razão para amar a Deus é o próprio Deus, e a medida com que devemos amá-lo é amá-lo sem medida.” — Bernard de Clairvaux 24 DE JUNHO LEITURA 175 A PUNIÇÃO DE ISRAEL Oseias 7— 10 “O meu Deus os rejeitará, porque não o ouvem; e desocupados andarão entre as nações” (Os 9.17).

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A punição deve ser adequada ao crime. Aqui, os vários crimes que levaram ao exílio de Israel são descritos, juntamente com predições do juízo que se precipitava sobre eles.

governantes de Israel foram assassinados e substi­ tuídos por seus assassinos! Zacarias, por Salum (2 Rs 15.10); Salum, por Menaém (v. 14); Pecaías, por Peca (v. 25); e Peca, por Oseias (v. 30). Essa destrutiva situação doméstica minava qualquer do­ mínio de lei, e demonstrava a condição corrupta da nação. Fico perturbado pela quantidade de revelações recen­ tes de crimes praticados por nossos líderes em Wa­ shington. Um deputado republicano foi condenado por perjúrio — por mentir sobre um empréstimo que tomou de um indivíduo, que lhe disse que eram re­ cursos oriundos de lavagem de dinheiro de drogas. Um deputado democrata homossexual admitiu ter tido relações com um “garoto de programa”, e poste­ riormente tê-lo empregado na sua equipe. Funcioná­ rios respeitados foram acusados de usar sua influência para obter milhões de dólares da Secretaria da Ha­ bitação para clientes que defraudaram o governo e, o que é ainda mais repreensível, os pobres. Portanto, os avisos de Deus, nesses capítulos, soam um alarme oportuno. “Sarando eu a Israel”, disse Ele, “se desco­ briu a iniquidade de Efraim, como também as mal­ dades de Samaria”. A nossa nação precisa hoje de cura espiritual. A medida que se remove cada camada de curativo que cobre nossas feridas, mais e mais pecados e crimes são revelados. Precisamos enfrentar o fato de que, se desejamos evitar o desastre nacional, nós, cris­ tãos, precisamos nos arrepender — e orar.

Contexto Exílio. Quando Moisés deu a sua Lei a Israel, na época do Exodo, incluiu uma lista de bênçãos que seria concedida se o povo de Deus obedecesse — e uma lista de punições a serem impostas se Israel se rebelasse e pecasse. Cada lista é encontrada em Deuteronômio 28, com as “maldições” para a desobediência listada nos versículos 15-68. Essas maldições, ou puni­ ções, têm gravidade crescente. O objetivo é que o povo retornasse a Deus depois dos castigos mais leves. Mas, se persistissem em pecar, punições cada vez mais severas seriam impostas, com o intuito de trazer o arrependimento e a renovação. Na época de Oseias, Israel tinha passado por todas as consequências mais leves de seu pecado. Tudo o que Deus poderia fazer era impor a punição men­ cionada nos versículos 63-66. A leitura desses ver­ sículos nos ajuda a compreender o horror do juízo que estava prestes a cair sobre o Israel de Oseias — e nos ajuda a perceber que Deus tinha feito todo o possível para evitar a sua necessidade. Esse juízo (o exílio da terra) estava prestes a cair sobre uma nação que tinha sido advertida durante séculos, pela Palavra escrita, por mensageiros pro­ fetas e por persistente disciplina. “Um bolo que não foi virado ” (Os 7.8-16). Minha Como é perigoso não dar ouvidos aos avisos de esposa me diz que eu sou estranho, mas eu gosto de Deus. Devemos ser receptivos aos avisos, pois eles panquecas grudentas. Sabe, aquelas panquecas que pretendem nos evitar grandes dores. não foram bem passadas, cruas por dentro. Aparentemente, Deus não aprecia o meu gosto. A Visão Geral imagem desse versículo, usada para descrever Israel, Os desastrosos costumes domésticos (7.1-7), exte­ é de um bolo assado somente de um lado, por ter riores (w. 8-16) e religiosos (8.1-14) exigiam pu­ sido colocado ao lado de um forno de barro aque­ nição. Israel seria levada cativa (9.1-9), a sua glória cido — mas por não ter sido virado, não assou do seria removida (w. 10-17). A ímpia nação de Israel outro lado. Um lado está assado, o outro é massa seria punida por seus pecados (10.1-15). crua, e, consequentemente, não serve para nada. O que fazia com que Israel não servisse para nada, Entendendo o Texto aos olhos de Deus? Oseias olhou a maneira como “A s maldades de Sumaria” (Os 7.1-7). O caráter Israel reagia ao perigo. Como uma pomba assus­ nacional está refletido na liderança nacional. Em tada e irracional, correndo para um lado e depois Samaria, a capital de Israel, os reis se deleitavam para outro, Israel procurou, em primeiro lugar, o com a impiedade de outros — e se tornaram suas Egito, e depois a Assíria, em busca de ajuda (v. 11). vítimas. A imagem do forno quente representa as Mas Israel jamais olhou para cima, onde reside o paixões inflamadas daqueles que conspiravam con­ Altíssimo (v. 16). Em vez disso, o povo rejeitou os tra os governantes de Israel, aproximando-se deles seus caminhos e disse mentiras contra Ele (v. 13). com intrigas, mas com o intuito de “devorá-los”. Quando enfrentarmos perigos, devemos nos lem­ Os crimes são “descobertos”, pois todos, em Israel, brar de que nós também temos asas, e podemo;' saberiam da queda dos reis (v. 7). voar. Ao olharmos para cima, e nos dirigirmos a Mas de que, especificamente, Oseias estava falan­ Deus em oração, encontraremos toda a ajuda de do aqui? Durante a vida de Oseias, quatro dos que precisamos.

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“Israel rejeitou o bem” (Os 8.1-14). Ê fácil dizer: “Deus meu! Nós... te conhecemos”. Mas, nova­ mente, Oseias confrontou Israel pela sua hipocrisia. Em primeiro lugar, uma pessoa que realmente conhece a Deus náo rejeitará o bem. A moralidade e a fé genuína andam de mãos dadas, e jamais podem ser separadas. Em segundo lugar, o capítulo enfatiza, repetidas ve­ zes, o fato de que a religião de Israel era humanista. Isto é, as práticas religiosas de Israel não se baseavam na revelação que Deus faz da sua vontade, e dos seus caminhos, mas nas ideias dos próprios israelitas so­ bre como agradar a Deus. Eles conheciam a Deus — mas erigiam ídolos em forma de bezerros em cen­ tros de adoração dedicados a Ele (w. 4-6), em clara violação à sua vontade revelada. Os seus “altares para sacrifícios” multiplicados tinham se tornado “altares para pecar” (v. 11). A religião humanista sempre traz essa mesma carac­ terística. A revelação é ignorada, e os mandamentos expressos de Deus são deixados de lado, para serem substituídos pelas noções dos homens. Hoje o povo também pode clamar: “Deus meu! Nós... te con­ hecemos!” Mas, a menos que a “adoração” esteja de acordo com a revelação bíblica, é pior do que algo sem sentido. “Efraim tornará ao Egito” (Os 9.1-4). Aqui, como acontece com frequência em outras passagens, “Egi­ to” representa o exílio e a escravidão. Mas dessa vez os israelitas “na Assíria comerão comida imunda” (v. 3). Eles iriam para o norte, não para o sul. Mas a experiência seria a mesma. Se você ou eu tivéssemos que ser desligados de Deus, não faria diferença se estivéssemos estabelecidos no norte, no sul, no leste ou no oeste. Em qualquer lugar onde estivéssemos isolados do Senhor, seria o exílio; e até mesmo a mais confortável das circuns­ tâncias seria uma escravidão.

DEV OCIONAL______

Semear a Justiça (Os 10) Gosto de adesivos de para-choques. Há alguns que eu não gostaria de ter no meu carro. Mas não me importo com o que minha esposa colou no meu carro: “Pescar não é uma questão de vida ou morte. E mais importante do que isso”. Nem me importo com o que diz: “Se você consegue ler isso, está perto demais!” E gosto de muitos dos adesivos cristãos que já vi — exceto quando a pessoa que os tem colados no seu para-choque traseiro acelera para entrar à minha frente quando aciono a luz de seta para mudar de faixa, na congestionada Rodovia 19.

“O homem de espírito é um louco” (Os 9.5-9). A re­ jeição da mensagem de Deus, e a ridicularização de seus mensageiros, é uma indicação de hostilidade com relação ao próprio Deus (v. 7b). Os israelitas dos tempos de Oseias não gostaram da mensagem que dizia: “Chegaram os dias da visitação, chegaram os dias da retribuição” (v. 7). Há partes das Escrituras de que você ou eu também podemos não gostar. Mas essa passagem nos lembra de que quanto menos gostarmos de uma verdade particular, mais precisamos ouvi-la! E essencial pro­ teger-se contra a hostilidade reprimida que corrom­ peu o relacionamento de Israel com o Senhor. “Quanto a Efraim, a sua glória, como ave, voará”(Os 9.10-17). E fácil supor que as condições são per­ manentes. Ficamos deprimidos quando as coisas vão mal, e sentimos que jamais irão melhorar. E temos a tendência de ser complacentes quando as coisas vão bem, supondo que os maus momentos se acabaram, para sempre. As coisas iam bem nos dias de Jeroboão II, quando Oseias pregou a sua mensagem de juízo. As pesso­ as não somente não gostaram do que Oseias disse, como se riram dele. Como o próspero e poderoso Israel poderia sofrer tal queda? No entanto, trin­ ta anos depois da morte de Jeroboão II, enquan­ to Oseias ainda vivia, tudo aquilo com que Israel contava voou pela janela! A sua glória “voou como uma ave” e a mensagem de Deus sobre o juízo se tornou uma completa verdade: “Eu os privarei... Ai deles... os lançarei fora de minha casa”. O que aconteceu, e o que acontece, não é base para confiança a respeito do que acontecerá. Nós devemos esperar que o nosso mundo mude — até mesmo que caia sobre a nossa cabeça. Devemos de­ positar a nossa confiança somente em Deus.

Poderia ter sido bom se nos tempos de Oseias eles tivessem adesivos para bigas, ou para carruagens, ou para jumentos. Oseias 10 sugere algumas possi­ bilidades. Poderia ser: “Um ídolo é o que um ídolo faz — nada” (w. 5-9). Ou: “Não olhe para trás, os seus pecados o estão alcançando” (w. 9,10). Ou: “Não gostou da colheita? Então observe melhor aquilo que você planta” (v. 15). Ou talvez: “Somos fortes o suficiente para fracassar” (v. 13). Não imagino que tais adesivos tivessem feito um grande bem. Algum brincalhão teria encontrado alguma maneira de inverter o seu propósito, como os adesivos contrários aos da campanha “Eu encon­

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Oseias 11— 14 trei!”, das Cruzadas do Campus, que proclamavam “Eu perdi... devolva!” Mas há um adesivo em Oseias 10 que todos nós deveríamos colocar em lugar proeminente, onde pudéssemos vê-lo todos os dias. Qual é? “Semeai para vós em justiça, ceifai segundo a misericórdia” (v. 12).

Centenas de anos haviam se passado, e Israel ainda não tinha aprendido. A recusa de Israel em arrepender-se significava que a espada cairia “sobre as suas cidades”. Quantas pessoas que têm uma imagem do Senhor como um Deus amoroso não conseguem compreen­ der o fato de que o amor verdadeiro deve procurar o melhor para o destinatário desse amor? Um Deus de Aplicação Pessoal amor irá punir, como um pai sábio punirá um filho Náo é um simples ditado; é um fato; nós colhemos que continuamente se desvia do caminho correto. aquilo que plantamos. “ Como te deixaria, ó Efraim?”(Os 11.8-11). Diferen­ Citação Importante temente dos seres humanos, que são dominados por “Algumas pessoas se entregam aos prazeres ilícitos fortes emoções, quando essas emoções são suscita­ durante a semana, e correm para a igreja no do­ das, o Senhor é “Deus, e não homem”. Apesar da sua mingo para orar e tentar evitar a perda da safra.” ira justificada contra o Israel pecador, Ele também — Rex Humbard sentia compaixão. Deus será fiel ao seu amor por Is­ rael. Um dia, Ele bramará como um leão, chamando seus filhotes de volta à segurança da caverna. 25 DE JUNHO LEITURA 176 ISRAEL DEVERÁ SER RESTAURADA Oseias 11— 14 “Eu sararei a sua perversão, eu voluntariamente os amarei; porque a minha ira se apartou deles. Eu serei, para Israel, como orvalho; eleflorescerá como o lírio e espalhará as suas raízes como o Líbano” (Os 14.4,5). Há poucas passagens nas Escrituras que se aproxi­ mem das expressões emocionais do amor de Deus que vemos em Oseias 11— 14. Quando ouvimos o seu clamor, “Como te deixaria, ó Efraim?”, pode­ mos sentir a dimensão do grande amor de Deus, por você e por mim. Visão Geral O amor de Deus é visto no cenário da rebelião de Israel (11.1-7). Nos últimos dias, Deus res­ taurará Israel (w. 8-11) apesar da sua loucura (v. 12— 12.14). Israel pecou (13.1-16), mas retornará a Deus e será abençoada (14.1-9).

“Segundo os seus caminhos” (Os 11.12— 12.14). Não foi Deus quem trouxe o castigo que viria sobre Israel. Foi o próprio povo. O que Israel tinha feito para trazer sobre si o juízo? O povo de Deus o “cercou com mentira” e “domi­ na com Deus”. O povo de Deus tinha multiplicado “a mentira e a destruição”. O povo de Deus tinha falhado em guardar “a bene­ ficência e o juízo”. O povo de Deus usou “balança enganadora” e amou “a opressão”. Tudo isso tinha provocado Deus, amargamente, à ira. O seu Senhor “deixará ficar sobre ele o seu sangue e... fará cair sobre ele o seu opróbrio”. A passagem, no entanto, deixa a Israel e a nós um exemplo a ser seguido. O homem Israel, então co­ nhecido pelo nome de Jacó, “como príncipe se hou­ ve com Deus” (v. 3). A alusão é à experiência de Jacó em Betei, onde ele lutou com o Anjo do Senhor, em uma luta desesperada, para obter a sua bênção (cf. Gn 32.25-29). Jacó venceu e obteve a bênção de Deus. O antepassado é, assim, mostrado como um exemplo para a contemporânea Israel, a fim de exemplificar a intensidade com que eles devem lu­ tar para serem abençoados. O que envolve essa luta? Nos tempos de Oseias, ou no nosso tempo, para obter a bênção de Deus, o que precisamos fazer é converter-nos ao nosso Deus; guardar a beneficência e o juízo e em nosso Deus esperar sempre (12.6).

Entendendo o Texto “Quando Israel era menino” (Os 11.1-7). Oseias agora retratava o relacionamento de Deus com Is­ rael como o de um pai com um filho pequeno. O filho sai correndo; é trazido de volta; sai correndo outra vez, só para cair e machucar o joelho; é gen­ tilmente socorrido por seu pai; e corre outra vez, completamente despercebido do amor demonstra­ “Serei, pois, para eles como leão” (Os 13.1-16). Em do pelo pai, cuja orientação ele ignora. vez de lutar para obter a bênção de Deus, o povo Que comparação: Deus, inclinando-se para dar-lhes de Israel tinha se dedicado ansiosamente a buscar o mantimento e o seu povo inclinado a desviar-se dEle. pecado. Os seus artesãos criaram “ídolos segundo

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Oseias 11— 14 o seu entendimento”, e eles ofereceram “sacrifícios humanos”. E fizeram tudo isso, apesar de tudo o que Deus tinha feito por eles. Esse povo sem gratidão, que tinha vivenciado a bondade de Deus (w. 4-7), agora o sentiria de uma maneira diferente. “Serei, pois, para eles como leão”, disse o Senhor (v. 7). “Para tua perda” (v. 9). “O arre­ pendimento será escondido de meus olhos” (v. 14). Porém, mesmo quando pronuncia juízo, o Senhor não consegue resistir a uma mensagem de consolo. “Eu os remirei da violência do inferno e os resgata­ rei da morte” (v. 14). Se você vier a sentir o açoite da disciplina de Deus, lembre-se desse capítulo de Oseias. AquEle que age para punir, e para destruir, também é aquEle que resgata. Podemos voltar para Ele confiantemente, pois Ele nos dará as boas-vindas em casa.

ção é repetida: Venham pedindo perdão. Venham confiando somente nEle. “Eu sararei a sua perversão”(Os 14.4). Deus nos diz, antecipadamente, como reagirá a tal apelo. Ele li­ dará com a nossa perversidade e, de modo voluntá­ rio, nos amará. Ele fará mais do que simplesmente perdoar. Deus nos transformará, para que a sua ira possa estar desviada para sempre.

“Ele florescerá como o lírio” (Os 14.5-9). Usando comparações com a agricultura, o Senhor predisse uma época quando Israel iria, novamente, prospe­ rar na sua terra. Com seus ídolos deixados de lado de forma definitiva, Israel iria voltar a desfrutar da bênção de Deus. O livro é concluído com uma pergunta: “Quem é sábio, para que entenda estas coisas? Prudente, “Dizei-lhe” (Os 14.1-3)■ Repetidas vezes o Antigo para que as saiba? Porque os caminhos do Senhor Testamento nos mostra como nos dirigirmos a são retos, e os justos andarão neles, mas os trans­ Deus depois de termos pecado. Aqui, a recomenda- gressores neles cairão”.

DEVOCIONAL______ Sozinho, jamais

(Os 11) O homem era amargo. A vida lhe fora injusta. Ele tinha sido vítima de violência quando criança. Sem ser particularmente dotado, teve mau desempenho na escola e dificuldade para encontrar um bom em­ prego. Embora agora fosse cristão, casado e com filhos, com frequência se sentia frustrado e irado. Um conselheiro sensato abriu a Bíblia nesse capí­ tulo de Oseias. Nos versículos 1-3, o crente ferido viu que, embora o povo de Deus não tivesse tido ciência disso, durante toda a sua vida como nação, Deus estivera ali. Deus os tinha tomado pelo bra­ ço, e eles não tinham sentido o seu toque. Deus os liderou gentilmente, com cordas de amor. A mão de Deus tirou jugos do pescoço deles, e Ele se incli­ nou para alimentá-los. O conselheiro lhe mostrou, nos versículos 8 e 9, que Deus tinha sentido cada ferida, e que o seu coração tinha se agitado com compaixão pelo so­ frimento de Israel, mesmo sendo era merecido. E o conselheiro lhe mostrou, no versículo 11, que até mesmo o mais vulnerável dos seres virá, tremendo, quando Deus chamar, e assim poderá se assentar em segurança no seu lar. E então o conselheiro pediu ao amargurado cristão que fechasse os olhos, e que revivesse aquelas expe­ riências que tinham lhe causado tanto sofrimento. Mas dessa vez, ele devia imaginar Deus em cada situação. Ele devia sentir Deus ao seu lado, e que o Senhor o estava conduzindo em segurança. Ele

devia sentir Deus tocando e curando cada dor. Ele devia sentir Deus tirando seus jugos, e curvando-se para alimentá-lo, quando ele estava pronto a des­ maiar de fraqueza. Com os olhos fechados, o homem reviveu suas experiências, e, de modo consciente, convidou o Deus de Oseias 1 1 a revivê-las com ele. Deus ti­ nha estado ali todo o tempo! E quando ele teve consciência desse fato e se permitiu sentir o toque amoroso de Deus, a sua amargura foi curada e a sua dor deu lugar à paz e alegria. Aplicação Pessoal O Deus de Oseias 11 está com você durante todos os momentos da sua vida. Convide-o para curar as suas lembranças, e purificá-lo de toda amargura e de toda dor. Citação Importante “Os corações mais felizes, mais doces e mais ter­ nos não são aqueles onde jamais houve tristeza, mas aqueles que foram ofuscados pela tristeza, e onde o consolo de Cristo foi aceito. A lembrança da tristeza é uma bênção suave que ajuda a edificar a casa, como o silêncio que acontece depois da ora­ ção. Existe uma bênção enviada por Deus em cada fardo de tristeza.” — J. R. Miller

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em JOEL

JOEL INTRODUÇÃO A vívida e apaixonada profecia de Joel foi motivada por uma terrível infestação de gafanhotos que des­ truiu as plantações de Judá. Joel interpretou o desastre não somente como um juízo contemporâneo, mas como um evento que representava o futuro “Dia do Senhor”, no final da história. Com palavras e comparações poderosas, Joel retratou o Deus soberano que certamente irá julgar os peca­ dores. O povo de Deus deve se arrepender sinceramente para conseguir escapar ao iminente desastre. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. A Praga de Gafanhotos......................................................................... II. Um Chamado ao Arrependimento.................................................... III. Uma Prévia do Juízo............................................................................ IV. Judá Restaurada....................................................................................

..Jl 1.1-12 J1 1.13-20 ...........J12

GUIA DE LEITURA (I Dia) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia e o Devocional em cada capí­ tulo deste Comentário. Leitura 177

Capítulos 1— 3

Passagem Essencial 2

JOEL 26 D E JU N H O LEITURA 177

DIA DO GAFANHOTO Joel 1— 3

“O que deixou o gafanhoto cortador, comeu-o o ga­ fanhoto migrador; o que deixou o migrador, comeuo o gafanhoto devorador; o que deixou o devorador, comeu-o o gafanhoto destruidor’’ (JL 1.4, ARA). Os desastres naturais em Israel e em Judá eram ti­ picamente interpretados, no Antigo Testamento, como juízos de Deus. Joel propôs uma pergunta importante para que a respondamos: Qual deve ser a nossa reação aos desastres pessoais? Contexto Gafanhotos. Ao longo dos registros da história, a África e o Oriente Médio foram vítimas de pragas por nuvens destes insetos voadores do tipo do ga­ fanhoto. Mesmo nos anos 1900, foram registrados nuvens tão grandes que bloquearam o sol. Quando uma nuvem voadora de milhões e mais milhões de insetos aterrissa, eles comem todas as plantas, dei­ xando a terra completamente devastada. E, o que é ainda pior, frequentemente põem ovos antes de continuar sua jornada, e quando as novas plantas começam a brotar, as larvas atacam a vegetação que se recupera. Para um povo como os antigos israelitas, cuja subsistência dependia da agricultura, uma pra­ ga de gafanhotos ameaçava a própria existência. Foi uma invasão de gafanhotos, muito pior do que qual­ quer de que se pudesse lembrar (1.2,3) que devastou a Judá nos tempos de Joel. O profeta interpretou este evento como um juízo divino, e convocou o povo de Judá ao arrependimento. Mas, além disso, a com­ pleta devastação causada pelos gafanhotos suscitou uma visão profética de devastação a ser provocada por exércitos invasores, no fim da história, quando finalmente chegar o Dia do Senhor.

Visão Geral Uma nuvem de gafanhotos que devastou Judá (1.1-12) levou Joel a proferir um chamado para o arrependimento nacional (w. 13-20). O desastre retratou antecipadamente o “Dia do Senhor” (2.111), e mostrou que o retomo a Deus era urgente (w. 12-17). Mas quando este dia chegar, Deus irá salvar o seu povo, e os abençoará (w. 18-32). En­ tão Deus irá julgar as nações hostis (3.1-16), e Judá conhecerá o perdão de Deus (w. 17-21). Entendendo o Texto “Aconteceu isto em vossos dias?” (Jl 1.1-4). E típico das pessoas de hoje em dia pensar que as coisas simplesmente “acontecem”. Uma tragédia pessoal é somente “má sorte” ou “azar” que “poderia ter acontecido a qualquer pessoa”. A mesma atitude era também típica entre algumas pessoas na antiga Judá. Mas quando uma enorme nuvem de gafanhotos devastou Judá, o profeta Joel clamou: “Ouvi!” Esta é a força da sua pergunta, “Aconteceu isto em vossos dias? Ou também nos dias de vossos pais?” Ás vezes acontecem coisas tão terríveis que não po­ demos considerá-las como mero acaso. Sustentando o clamor de Joel estava a convicção de que Deus controla os eventos deste mundo. Quan­ do um desastre acontece, uma reação apropriada não é dar de ombros e dizer, “Foi azar”, mas exa­ minar nossos corações e ver se, talvez, Deus está pedindo nossa atenção. “Despertai, ébrios, e chorai” (Jl 1.5-12). Não há nada tão frustrante para um pai como a indiferen­ ça. Você tenta se relacionar com seus filhos, você os

Joel 1—3

confronta, você os castiga, até mesmo grita. E em vez de arrependimento, ou até mesmo rebelião, há simplesmente o dar de ombros, e um murmúrio, “Oh, bem...”. Foi isso o que frustrou Joel e o Senhor com respeito à reação de Judá à praga de gafanhotos. Eles não choraram. Eles não ficaram nervosos. Eles simples­ mente se assentaram, bebendo seu vinho, dando de ombros e dizendo “Oh, bem...”. Como Deus quer que seja a nossa reação, quan­ do nós somos castigados? Em primeiro lugar, nós precisamos despertar e chorar! (v. 5) A punição é destinada a obter a nossa atenção e nos fazer retornar ao Senhor, e não simplesmente nos ferir. Despertar e chorar frequentemente é o primeiro sinal de que nós começamos a prestar atenção à mensagem de Deus. O profeta acrescentou mais verbos, para retratar uma reação apropriada ao castigo divino. Nós la­ mentamos (v. 8). Nós nos envergonhamos (v. 11). Estas emoções não são agradáveis, mas são benéfi­ cas. Elas mostram que estamos levando os aconte­ cimentos a sério. Uma tristeza segundo Deus, de acordo com o Novo Testamento, opera arrependi­ mento (2 Co 7.10). “Cingi-vos e lamentai-vos, sacerdotes” (Jl 1.13-20). Joel convocou os líderes religiosos do seu tempo para servirem de exemplo sobre como reagir ao de­ sastre nacional. Primeiramente, eles deveriam vestir panos de saco — vestes gastas para indicar tristeza e angústia — e passar a noite em oração (v. 13). A seguir, deviam fazer uma convocação para um dia nacional de oração, quando todos clamariam ao Senhor (v. 14). Por mais terrível que tivesse sido a praga de gafanhotos, era somente uma prévia dos terrores do Dia do Senhor que viria. Fica bastante claro que os ministros dos tempos de Joel deixaram de interpretar corretamente a praga de gafanhotos. Eles mesmos não se arrependeram, e não convocaram um retorno nacional ao Senhor. O que acontece quando os ministros são insensíveis ao Senhor? Pouco depois da praga de gafanhotos, Deus levantou outro mensageiro, Joel, que era sen­ sível a Ele! Você e eu não precisamos esperar que os ministros nos liderem quando os nossos próprios corações estiverem angustiados, ou quando senti­ mos que temos sobre nós um fardo pela nossa ter­ ra. O que precisamos fazer é levar a situação a sério e expressar a nossa própria tristeza e angústia ao Senhor. Então, como Joel, nós precisamos clamar!

qualquer ocasião quando Deus age diretamente na história. Mas a sua principal referência na profecia é aos eventos destinados a ocorrer nos anos prece­ dentes ao fim da história. Estes anos são obscuros e ao mesmo tempo bri­ lhantes. Eles são obscuros porque introduzem uma época de tribulação global, e especialmente uma devastadora invasão de Israel que provoca inten­ so sofrimento para o povo judeu. E são brilhantes porque terminam com os remanescentes sobrevi­ ventes de Israel restaurados ao íntimo relaciona­ mento com Deus, e incessantemente abençoados por Ele. Aqui, no entanto, Joel concentra sua atenção no lado obscuro do Dia do Senhor. Ele o vê como “dia de trevas e de tristeza; dia de nuvens e de trevas es­ pessas” (v. 2). Um exército invasor, como a praga de gafanhotos, deixaria a terra destruída e derrotaria qualquer defesa. E, o que é mais terrível, Joel retra­ tou Deus do lado dos invasores (v. 11), usando-os como seus instrumentos para punir o seu próprio povo. Não é de admirar que Joel clamasse, “o dia do Senhor é grande e mui terrível, e quem o poderá sofrer?” (v. 11). Todas as passagens semelhantes do Antigo Testa­ mento lembram à humanidade que Deus determi­ nou um dia para o Juízo Final. E este dia do Juízo está se aproximando rapidamente. Mas não impor­ ta o quão vívidas sejam as imagens do seu terror, a maioria dos seres humanos continua indiferente. A maioria de nós simplesmente não deseja lidar com coisas incômodas, até que seja necessário fazê-lo. O que Joel estava dizendo a Judá era que o tempo que Deus tinha determinado para eles estava muito próximo. E o momento de lidar com este perigo muito real e imediato tinha chegado! E isso o que o evangelho também nos diz. Cada indivíduo deve encarar a Deus, o Juiz, e o momento de celebrar a paz com Deus é agora, e não mais tarde! Por que esperar para receber Cristo em nossa vida e receber o seu perdão? Amanhã poderá ser tarde demais.

“Agora mesmo... Convertei-vos a mim de todo o vosso coração” (Jl2.12-17). Eu não sei como ela conse­ guiu o meu número de telefone em Phoenix, Ari­ zona. Mas eu comecei a receber seus telefonemas de Toronto, no Canadá. Ela estava atormentada com o medo de que Deus não a aceitaria. O que ela tinha feito parecia tão terrível no seu ponto de vista, que ela temia que fosse já tarde demais. A mensagem de Joel a Judá foi a mesma mensagem de Jesus Cristo a nós, hoje. Não é tarde demais. “O dia do Senhor vem, ele está perto" (Jl 2.1-11). A A expressão “Agora mesmo” nos lembra de que, expressão, “Dia do Senhor” é um termo técnico na enquanto for “hoje”, é possível retornar a Deus e literatura bíblica, e pode ser usada para descrever encontrar o perdão.

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Joel 1—3

Joel, no entanto, advertiu Judá de que Deus não está interessado em nenhuma experiência religiosa superficial. Não se trata de levantar uma mão, ou caminhar por um corredor, ou prometer deixar de beber. Joel disse: “Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes” (v. 13). Nos tempos bíblicos, as pes­ soas frequentemente rasgavam suas vestes, para ex­ pressar tristeza ou angústia. Joel clamava que qual­ quer retomo ao Senhor devia ser sincero e real. O que podemos esperar se realmente nos voltar­ mos para Deus? Nós podemos esperar que Ele aja de maneira adequada! Ele nos dará as boas-vindas, “porque ele é misericordioso, e compassivo, e tar­ dio em irar-se, e grande em beneficência” (v. 13). “O Senhor... se compadecerá do seu povo” (Jl 2.1827). A geração que estiver viva no fim da história se arrependerá, no final. O que está destinado para ela é um exemplo do que você e eu podemos esperar quando nos convertermos ao Senhor. Em primeiro lugar, Deus proverá por nós, satisfa­ zendo as nossas necessidades básicas (v. 19). Em se­ gundo lugar, Deus nos salvará de nossos inimigos (w. 20,21). Em terceiro lugar, Ele derramará tantas bênçãos que os tempos difíceis pelos quais passamos parecerão ser nada se comparados ao que teremos ali — nós seremos plenamente recompensados (v. 25). Vendo a mão de Deus em tudo isso, nós louvaremos e bendiremos ao Senhor, pois saberemos, por expe­ riência, que Deus está presente, e que Ele é nosso Deus (w. 26,27). (Veja o DEVOCIONAL.) “Depois, derramarei o meu Espírito” (Jl2.28-32). O foco principal desta promessa está nas consequên­ cias do Dia do Senhor. Então Deus irá abençoar todo Israel, desde as crianças até os mais idosos, derramando o seu Espírito sobre todos. Nos tempos do Antigo Testamento, o Espírito era dado para capacitar um crente para alguma

DEVOCIONAL______ Os Anos que Foram Consumidos pelo Gafanhoto (Jl 2) Durante anos, ela chorou todas as noites. Deitada sozinha, com suas lágrimas encharcando o traves­ seiro, ela soluçava, “Por quê?” Eles estavam casados há oito anos, e ela estava grávida de três meses da sua filhinha, quando seu marido simplesmente foi embora. Ele não pôde suportar continuar preso, foi o que disse a ela. E assim, ele a deixou, com um filho de dois anos e meio, e grávida.

tarefa específica ou ministério. Agora Joel previa uma época em que o Espírito será derramado so­ bre todo Israel e toda Judá. Este evento, depois do juízo do Dia do Senhor, estará ligado ao final da história com vários prodígios nos céus e na terra. Mas, se Joel considerava o derramamento do Espí­ rito como alguma coisa destinada a Israel, e situado no final da história, como poderia Pedro explicar eventos do Dia de Pentecostes como “o que foi dito pelo profeta Joel”? (At 2.16) Da mesma maneira como a praga de gafanhotos foi uma prévia do Dia Supremo do Senhor, também os eventos do Pentecostes foram uma prévia do derramamento supremo do Espírito. Hoje você e eu possuímos, com Jesus, o dom do Espírito Santo. Com Ele e nEle nós podemos experimentar a bên­ ção suprema a ser dada a todos, pelo nosso Deus amoroso. “Congregarei todas as nações” (Jl 3.1-16). O retrato do fim, fornecido no texto de Joel, está de acordo com o retrato encontrado em outros profetas do Antigo Testamento. Deus provocará a hostilidade natural da humanidade com relação a Ele e ao seu povo. Os que foram inimigos do povo escolhido do Senhor irão invadir novamente. Deus deixará que venha uma grande horda; e então, quando parece­ rem estar prestes a triunfar, Ele julgará as nações de todas as partes. “Os montes destilarão mosto ” (Jl 3.17-21). O peque­ no livro de Joel é concluído com a promessa da bem-aventurança. Os inimigos de Israel e Judá se­ rão punidos, o povo de Deus novamente será san­ to, e o povo perdoado de Deus viverá para sempre na sua presença. A jornada que fazemos poderá ser longa e difícil. Mas o nosso destino é glorioso.

Era tão difícil tentar lidar com a sua solidão, as suas dúvidas, as suas perguntas do tipo “O que foi que eu fiz?”, e, o mais terrível de tudo, “O que vai acontecer comigo agora?” Ela teve que viver com estas perguntas não durante dias, ou semanas, ou mesmo meses, mas durante anos. O aviso de Joel a Judá sobre o Dia do Senhor que se aproximava desafiou o povo de Deus a se arre­ pender e se converter a Deus, para ter a cura. O capítulo pressupõe um povo que tinha se afastado de Deus e que precisava tomar uma atitude bas­ tante clara: “Convertei-vos a mim de todo o vosso

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coração” (v. 12). Tinham sido anos de devastação. Mas Joel prometeu ao povo rebelde de Deus que o Senhor tinha o bem em mente para eles. Apesar dos anos de devastação, um Deus amoroso tem o poder de restituir-vos “os anos que foram consumi­ dos pelo gafanhoto”. Hoje, a jovem mulher que chorou antes de dormir por tantas noites está casada outra vez, com um marido que a ama. Ela ama o seu emprego de pro­ fessora, e adora os momentos que passa com a sua filha, que agora tem nove anos de idade. A vida é boa, e a mulher percebeu que a promessa de Deus: “restituir-vos-ei os anos que foram consumidos pelo gafanhoto” .

Aplicação Pessoal Agarre-se à promessa de restituição de Deus, a des­ peito da duração do seu sofrimento. Citação Importante “Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as po­ testades, nem o presente, nem o porvir, nem a altu­ ra, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” — Romanos 8.38,39

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em AM ÓS

AMÓS INTRODUÇÃO Amós era um pastor em Judá ao qual Deus enviou ao vizinho Israel, onde ele denunciou os pecados da­ quele reino. A sua acusação contra Israel incriminou o povo por afastar-se de Deus, explorar os pobres e cometer graves imoralidades. A pregação de Amós foi caracterizada por visões assombrosas do juízo vindouro, e por um ríspido retrato dos pecados sociais que tornavam extremamente corrupta a próspera época de Jeroboão II. Por intermé­ dio da pregação de Amós, nós obtemos uma percepção da preocupação de Deus pela justiça social, e da responsabilidade dos que pertencem a Deus, em se manifestar pelos pobres. Como acontece com outras obras proféticas do Antigo Testamento, o livro de Amós conclui com uma promessa. O pecado deve ser punido. Mas depois um Israel purificado será restaurado. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. Oráculos de Juízo............................................................ A. Contra as nações........................................................... ...............................................................Am 1.1— 2.5 B. Contra Israel.................................................................. II. Visões de Juízo............................................................... ............................................................ Am 7.1— 9.10 III. Uma Predição de Renovação....................................................................................................... Am 9.11-15 GUIA DE LEITURA (3 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura

Capítulos

Passagem Essencial

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1— 2 3— 6 7— 9

2 5.1-17 8

AM ÓS 27 DE JUNHO LEITURA 178

POR TRÊS TRANSGRESSÕES Amós 1—2

“Vendem o justo por dinheiro e o necessitado por um par de sapatos. Suspirando pelo pó da terra sobre a cabeça dos pobres, eles pervertem o caminho dos man­ sos” (Am 2.6,7). Este profeta, que falou contra a corrupção que in­ flamava o antigo Israel durante uma era de pros­ peridade incomparável, nos lembra de que a jus­ tiça, e não a riqueza, é uma dimensão de riqueza nacional. Contexto A era de Jeroboão II, no século VIII a.C., foi uma época de prosperidade inigualável tanto em Israel como em Judá. Juntos, os dois reinos recuperaram grande parte do território que lhes pertencia no tempo do reino unido de Davi e de Salomão. Je­ roboão não somente ampliou o território da sua nação, mas também assumiu o controle de antigas rotas comerciais do Oriente, fazendo com que vas­ tas riquezas afluíssem para Israel. Esta riqueza não foi distribuída igualmente, fato que causou grande deslocamento social. Muitos foram forçados a deixar as terras da família e mu­ dar para as cidades, onde lutaram para sobreviver. Os novos ricos usaram sua riqueza para obter no­ vas propriedades, violando o estatuto bíblico que prescrevia que as famílias mantivessem a sua terra perpetuamente. Os ricos controlavam o sistema ju­ diciário; assim, depois de alguns anos, a maioria da população estava moída e espalhada como o pó, no chão, figurativamente, desdenhada pelos ricos que a explorava, sem compaixão ou preocupação. Ao mesmo tempo, a religião era popular, e muitas casas elegantes foram construídas nos principais

centros de adoração de Israel, Betei e Dã. Ali era praticada entusiasticamente uma religião que mes­ clava ritos bíblicos e pagãos — e fortemente conde­ nada por Amós e outros profetas daquela era. E neste cenário de uma sociedade próspera e com­ placente, inundada pela injustiça e pela indiferença a Deus, que o livro de Amós deve ser compreen­ dido. Amós foi bem recebido em Israel? De modo ne­ nhum. Os seus breves meses de ministério susci­ taram oposição e o profeta, com a sua missão con­ cluída, aparentemente retornou a Judá e às suas ovelhas. Mas as palavras escritas de Amós permane­ cem como um legado incomparável: um chamado à justiça, ao qual é tão importante que nós demos ouvidos hoje, assim como era importante que o Is­ rael indiferente, desse ouvidos há tanto tempo. Estudo Etimológico Justiça. O conceito bíblico de justiça encontra em Amós uma de suas mais poderosas expressões. O profeta clamou urgentemente contra aqueles que “convertem o juízo em alosna” (5.7) e implorou que o povo de Israel “estabelecesse o juízo na porta"' (v. 15). Com detalhes penetrantes, o profeta definiu a justiça que desfigurava a sociedade de Israel: “Aborrecem na porta ao que os repreende e abominam o que fala sin­ ceramente. Portanto, visto que pisais o pobre e dele exigis um tributo de trigo, edificareis casas de pedras lavradas, mas nelas não habitareis; vinhas desejáveis plantareis, mas não bebereis do seu vinho. Porque sei que são muitas as vossas transgressões e enormes os vossos pecados; afligis o justo, tomais resgate e re­ jeitais os necessitados na porta. Portanto, o que for prudente guardará silêncio naquele tempo, porque o

Amós 1—2

tempo será mau” (w. 10-13). Mas o que é justiça? As palavras em hebraico são mishpat, usada quando o texto fala de fazer o que é justo, e shapai, que indica as várias funções do governo. Fazer justiça é agir de acordo com os direitos e deveres, segundo a lei, e im­ plica um código objetivo contra o qual os atos de uma pessoa podem ser avaliados. Em Israel, como para os cristãos hoje, este código objetivo era encontrado nas Escrituras. A revela­ ção de Deus, por intermédio de Moisés, definiu o dever dos israelitas para com Deus e para com o próximo. Este padrão era mais do que uma lista de regras e preceitos. Era um chamado para que amassem a Deus e aos outros, com estatutos que exemplificavam as implicações práticas do amor na esfera social. E, ainda mais importante, o código era uma expressão da natureza amorosa do próprio Deus, que está comprometido em fazer o bem a toda a sua criação. Esta lei era uma expressão do caráter de Deus; um modelo para todos os que an­ siavam por ser como o Senhor. Os seres humanos não resgatados jamais podem ser completamente justos, pois a justiça é, em úl­ tima instância, uma qualidade exclusiva de Deus. A preocupação que expressamos pelos outros deve demonstrar, em cada relacionamento social, e em cada instituição social, o espírito do amor que im­ buía as Escrituras dos hebreus. A justiça, então, é mostrar o amor fazendo o que é certo, da maneira como o certo é definido na reve­ lação que Deus faz de si mesmo, e da sua vontade para a humanidade. E exatamente isso que Israel, nos tempos de Jeroboão II, deixou de fazer. Não havia amor, somente egoísmo. Não havia preocu­ pação pelos outros, somente uma paixão pelo con­ forto pessoal. Não havia comprometimento com os padrões de Deus, somente convenções sociais que favoreciam abertamente os pobres. Deus ainda chama o seu povo para fazer justiça. Nós devemos mostrar preocupação pelo bem-estar dos nossos colegas, seres humanos, e aplicar os pa­ drões de Deus em nossa vida pessoal e nacional. Somente com um comprometimento com a justiça nós podemos esperar evitar a ira que Amós anun­ ciou que em breve cairia sobre Israel. Visão Geral Amós, de Judá, viajou a Israel, para anunciar uma iminente deflagração da ira de Deus sobre os vizi­ nhos hostis de Israel (1.1— 2.5), e sobre a própria nação de Israel (w. 6-16). Entendendo o Texto “A s palavras de Amós” (Am 1.1). Pouco se sabe so­ bre Amós, além do que está escrito neste versículo.

Ele habitava em Tecoa, nas terras de Judá. Ele se identifica como um noqed, um pastor, a quem foi dada uma visão, e que foi chamado por Deus para um ministério profético. Esta não é, contudo, uma palavra comum para “pastor”. Ela sugere um rico fazendeiro, embora Amós se descrevesse cuidando ativamente de seus rebanhos (cf. 7.15). Como foi apropriado que Deus enviasse Amós. Al­ guém tinha que ser enviado ao próspero Israel, para acusá-lo de injustiça e egoísmo. O fato de que o próprio Amós fosse rico acrescentava importância às suas palavras — e mostrava que um homem rico pode ser verdadeiramente justo. Uma coisa é os pobres criticarem os ricos. Uma coisa completamente diferente é um homem rico se levantar e falar contra a sua própria classe. O homem vestido de trapos que grita nas esquinas é facilmente ignorado pelos elegantes da socieda­ de. Mas o homem vestido em um temo elegante, o membro do clube que se levanta e confronta os outros membros com a característica pecaminosa do seu comportamento, não pode ser ignorado tão facilmente. Cada um de nós, como Amós, pertence a uma clas­ se social. Embora Deus possa nos chamar para con­ denar os pecados de pessoas de uma classe diferente da sociedade, é mais provável que sejamos ouvidos — e que estejamos certos! — se assumirmos uma posição contra os pecados que caracterizam a nossa própria classe. “Por três transgressões... epor quatro”(Am 1.3— 2.5). A expressão, encontrada em cada oráculo que Amós proferiu contra cada um dos vizinhos hostis de Is­ rael, quer dizer, simplesmente, “por repetidos pe­ cados”. Nós podemos imaginar Amós, subindo em algum lugar proeminente, falando ao “povo formo­ so” de Israel. Ele começou o seu sermão apontando para o nordeste, para a Síria e Damasco. Em voz alta, ele proclamou as suas notícias: em virtude dos repetidos pecados desta nação, tão hostil ao povo de Deus, o Senhor “não retirará o castigo”, ou seja, a sua ira (1.3). Então, girando ligeiramente, Amós prosseguiu, de­ nunciando outras nações, cada uma por sua vez. Ele falou contra Gaza e a terra dos filisteus, contra Tiro, contra os edomitas e os amonitas, contra Moabe. Como os seus ouvintes devem ter concordado com a cabeça, e sorrido! Este era o tipo de pregação de que eles gostavam! E então, quando Amós tinha feito o círculo com­ pleto, apontou para o sul, e clamou: “Por três transgressões de Judá e por quatro, não retirarei o castigo” (2.4). E, com isso, a multidão de israelitas deve ter irrompido em grandes aplausos. Por fim,

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Amós 1— 2 seus irmãos alienados iriam obter o que mereciam. Eu imagino que os israelitas que ouviram o seu ser­ mão desde o início jamais suspeitaram onde Amós queria chegar. Eles jamais se deram conta de que, fazendo um círculo ao redor deles, Amós tinha fei­ to de Israel o centro do alvo! Todas as vezes que você e eu nos alegrarmos pelos problemas de alguém que “merece o que acontecer com ele”, estaremos seguindo o exemplo destes is­ raelitas. Nós jamais paramos para pensar que nós também somos culpados de erros e falhas! Quando aplaudimos o juízo de outros, nós condenamos a nós mesmos, pois concordamos que pecados e er­ ros devem ser julgados. “Porei fogo a Judá” (Am 2.4,5). Amós era de Judá, mas não tinha ilusões sobre seus compatriotas. Ele sabia que muitas pessoas “rejeitaram a lei do Sen­ hor e não guardaram os seus estatutos”. Ele sabia que muitos “se deixaram enganar por suas próprias mentiras”. Antes de condenarmos os pecados de outras pesso­ as, precisamos estar prontos a confessar os nossos próprios pecados. Nós não podemos pronunciar juízo, como se fôssemos juizes. Tudo o que pode­ mos fazer é confessar a justiça de Deus ao condenar

DEVOCIONAL______ O nde o Dinheiro E im portante

(Am 2) A prosperidade tende a esgotar a vitalidade de qualquer povo. Isso aconteceu com o antigo Israel. Aconteceu com Roma. Aconteceu com o império britânico. E tam­ bém está acontecendo com os Estados Unidos. Por quê? Porque, com a prosperidade, vem uma mudança sutil nos valores observados pelos cida­ dãos de uma nação. Esta foi a mensagem de Amós aos seus contemporâneos. Os seus valores estão in­ vertidos. Estes valores distorcidos condenam vocês ao juízo. Amós identificou os valores críticos que condenam uma pessoa, na sua primeira acusação contra Isra­ el. O materialismo substitui o humanitarismo. O egoísmo empurra de lado a moralidade. E a religião secular substitui a fé revelada. Observe como cada uma destas coisas é descrita. O povo de Israel “vende o justo por dinheiro” (v. 6). A lei do Antigo Testamento ordenava que os israelitas que tinham dinheiro o gastassem para resgatar compatriotas que tinham se tornado escra­ vos (Lv 25.39-52). Na Israel de Amós, os ricos se importavam com o dinheiro, e não com os pobres! Esta é a natureza do materialismo. O amor pelas

os nossos pecados, e assim assumir o nosso lugar com aqueles a quem advertimos. Amós não vinha de uma sociedade justa para criticar uma sociedade injusta. Amós vinha de uma sociedade que ele sabia estar doente com o pecado, para insistir que uma nação que era como um doente terminal enfren­ tasse o fato de que estava morrendo, e se voltasse a Deus, em busca de cura. Esta é a atitude que precisamos adotar quando procuramos levar Cristo a outras pessoas. Não a atitude “sou mais santo do que você”, que alguns adotam, mas a insistência humilde de alguém que sabe o quão desesperadamente ele mesmo precisava da cura que recebeu através do toque de Jesus. “Eis que eu vos apertarei’’ (Am 2.6-16). Amós, en­ tão, dirigiu-se a Israel e segurou um espelho para que o povo pudesse se ver como Deus os via. Ele começou com uma breve listagem dos pecados que revelavam a injustiça que caracterizava a sociedade israelita. Deus jamais é indiferente ao pecado, onde quer que ele se encontre. Mas o pecado que mais inco­ moda o Senhor é o pecado encontrado naqueles que afirmam ser seus. coisas substitui o amor pelas pessoas, como a força motriz na vida. “Um homem e seu pai entram à mesma moça” (v. 7). Os homens, de modo egoísta, “usam” as mulhe­ res, em vez de valorizá-las como pessoas. A vontade de experimentar prazeres egoístas se estende além dos frouxos limites da moralidade. Padrões morais tradicionais se tornam objetos de ridículo e são ar­ rogantemente deixados de lado. “E se deitam junto a qualquer altar” (v. 8). Eles são religiosos, mas praticam uma religião de ritual sem realidade. A lei do Antigo Testamento ordenava que as roupas empenhadas como garantia de paga­ mento de um empréstimo fossem devolvidas à noi­ te, pois estas roupas frequentemente eram o único cobertor dos pobres. Mas o povo de Israel não via nenhum conflito entre ser religioso e, ao mesmo tempo, ser desobediente a Deus e indiferente aos pobres. A religião secular é uma ferramenta para oprimir ou uma esponja para a consciência, ao pas­ so que a fé bíblica é um chamado ao comprome­ timento. O tema do primeiro sermão de Amós, e deste Devocional, é realmente simples. Nós precisamos ava­ liar nossos relacionamentos, avaliando nossos valo­ res. O lucro é mais importante para nós do que as

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Amós 3— 6 terra do Egito”, pois somente com eles, Deus tinha estabelecido um relacionamento íntimo. E muito pior que um povo que conhece a Deus se entregue ao mal do que é para aqueles que não têm contato pessoal com o Senhor. Hoje também, o relacionamento com Deus traz responsabilidades, além de privilégios.

pessoas? Os padrões segundo os quais vivemos são os da nossa sociedade, ou os do nosso Deus? A fé é uma questão de comparecimento aos domingos, ou aquele compromisso de toda a semana, em fazer a vontade de Deus? A maneira como respondermos a estas perguntas, e a maneira como a nossa nação as responde, poderá determinar o futuro da nossa terra. Aplicação Pessoal A diferença entre o povo de Deus e o mundo não está simplesmente naquilo em que cremos; está no que nós julgamos importante, e no que fazemos. Citação Importante “Se tivermos que escolher entre tornar os homens cristãos, e tomar a ordem social mais cristã, deve­ mos escolher a primeira opção. Mas não existe tal antítese... Não existe esperança de estabelecer uma ordem social mais cristã, exceto pelo esforço e sa­ crifício daqueles em quem está ativo o Espírito de Cristo, e a primeira necessidade para o progresso é que mais e melhores cristãos assumam plena res­ ponsabilidade como cidadãos do sistema político, social e econômico, sob os quais eles e seus compa­ nheiros vivem.” — William Temple 28 DE JUNHO LEITURA 179 UMA SOCIEDADE MORAL E JUSTA Amós 3— 6 “Visto que pisais o pobre e dele exigis um tributo de trigo, edificareis casas de pedras lavradas, mas nelas não habitareis; vinhas desejáveis plantareis, mas não bebereis do seu vinho” (Am 5-11). A visão do Antigo Testamento de uma sociedade moral e justa estava deturpada e distorcida nos tempos de Amós. Agora, como então, uma socie­ dade imoral deve cair, e irá cair.

“Entesourando nos seus palácios” (Am 3.3-14). Nes­ ta passagem, Amós desenvolveu um tema simples: as causas têm relação com os resultados. Assim, as pessoas andam juntas porque concordam em fazêlo (v. 3); nenhuma ave cairá em um laço se nenhum laço tiver sido armado (v. 5), e o som de uma trom­ beta de aviso de um vigia fará tremer os cidadãos de uma cidade (v. 6). Então, Deus enviou o seu profeta para unir qual causa e qual resultado? As nações hostis foram chamadas a testemunhar uma coisa estranha. Normalmente uma nação sa­ queia as fortalezas de seus inimigos. Mas Israel, que “não sabe fazer o que é reto”, “entesourando nos seus [próprios] palácios” (v. 10). Como a sociedade era corrupta e os ricos saqueavam injustamente os pobres da sua própria terra, “um inimigo surgirá” (v. 11). A causa do desastre vindouro era a injustiça que estava profundamente entrincheirada na socie­ dade de Israel. Exercendo seu dom profético, Amós previu um dia em que Israel seria punido por seus pecados, quan­ do seus centros de adoração seriam destruídos, e as mansões dos ricos seriam deixadas como ruínas fumegantes (w. 14,15). Causa e efeito operam no aspecto moral, e tam­ bém no físico. Este é o impacto do ensinamento de Amós, e nós precisamos levá-lo a sério, hoje em dia. Qualquer indivíduo ou nação que abandone a orientação da justiça em atos pessoais e sociais, na verdade, saqueia os seus próprios palácios. A única defesa segura contra o desastre desmorona, e certa­ mente se seguirá à ruína.

“Vós, vacas de Basã” (Am 4.1-3). Com penetrante sarcasmo, Amós comparou as esposas elegantes, mantidas no luxo por seus ricos maridos, com o gado gordo de um distrito que era famoso pelas suas vacas. A acusação de que elas “oprimem os po­ bres e quebrantam os necessitados” implicava que a fome de luxo das esposas motivava seus maridos a usar quaisquer meios para conseguir o dinheiro necessário para satisfazer suas exigências. E muito semelhante à fábula moderna do jovem contador que faz apropriações indébitas para conservar o amor de sua namorada. Entendendo o Texto “A vós somente conheci” (Am 3.1,2). Deus iria lidar Mas Amós aqui estabeleceu um importante princí­ estritamente com “toda a geração que fiz subir da pio. A pessoa que lucra com a injustiça é tão culpa­

Visão Geral Os pecados de Israel exigiam punição (3.1-15). Amós clamou contra as esposas mimadas dos ricos (4.1-3), contra a adoração corrupta (w. 4,5) e contra a indife­ rença a Deus (w. 6-13). A nação tinha que procurar o Senhor e fazer justiça (5.1-15), ou enfrentar o som­ brio “Dia do Senhor” (w. 18-20). Deus detestava a religião corrupta de Israel (w. 21-27), e iria julgá-la pela sua complacência e pelo seu orgulho (6.1-14).

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Amós 3— 6 da como a pessoa que a comete. Uma pessoa que se beneficia, de alguma maneira, da injustiça, é, com razão, submetida a juízo. Assim, Amós proferiu o juízo de Deus. As esposas elegantes dos ricos seriam arrastadas em cativeiro, e todo o seu luxo seria perdido.

tavam muito dedicados em fazer o mal para prestar atenção à sua voz. Que lembrete para nós. Nós podemos dar toda a nos­ sa atenção a Deus, e reagir positivamente à sua voz. Ou Deus, com amor, poderá nos bater com algum pedaço de madeira, para captar a nossa atenção!

“Vinde a Betei e transgredi” (Am 4.4,5). Amós retra­ tou os ricos de Israel, vestidos no seu melhor traje de sábado, do lado de fora do santuário depois de um culto, vangloriando-se uns aos outros sobre as suas doaçóes. Que cena moderna! Oh, sim, você encon­ tra muitas pessoas “do seu tipo” nos cultos. E faz tantos contatos importantes de negócios. E, natural­ mente, é útil ser visto pelas “melhores pessoas” como uma pessoa que sustenta ativamente a comunidade. Isso é uma parte da razão pela qual Amós atacou a adoração de Israel. Os ricos de Israel “gostavam” (v. 5) de apregoar seus sacrifícios, usando a religião como uma forma de uma polida competição social. Mas a outra razão para a condenação de Amós foi o fato de que Deus jamais ordenou centros de ado­ ração em Betei ou em Gilgal. Na verdade, a lei do Antigo Testamento exigia que Ele fosse adorado so­ mente no Templo de Jerusalém, e que os sacrifícios fossem feitos somente no altar do Templo. Se você e eu desejarmos verdadeiramente adorar a Deus, nossos motivos devem ser puros. E a nossa ado­ ração deve estar de acordo com a revelação que Deus faz da sua vontade.

“Buscai o Senhor e vivei” (Am 5-1-16). A Bíblia faz uma diferença entre Deus bater nos seus com o pe­ daço de madeira, para captar a sua atenção, e o juízo divino. Às vezes, quando pensamos que estamos sen­ do punidos, tudo o que Deus realmente está fazendo é gritar conosco, em voz alta, em um esforço para nos ajudar a ouvir o que Ele tem a nos dizer. Amós agora advertia o povo de Israel de que Deus estava prestes a julgá-los, realmente. A menos que houvesse uma mudança radical em seus valores e em seus comportamentos (w. 4-15, veja o DEVOCIONAL), a nação seria dizimada (w. 1-3), e cada família lamentaria a morte de seus entes queridos e da pró­ pria nação (v. 16). Nós precisamos aprender a dar as boas-vindas a qual­ quer sofrimento que nos aproxime do Senhor. Tal dor é insignificante, em comparação com os seus benefí­ cios — e em comparação com o juízo que podemos sofrer se nos recusarmos, obstinadamente, a nos vol­ tarmos a Ele.

"Também vos cki limpeza de dentes em todas as vossas cidacks”(Am 4.6-13). A princípio, parece um “presen­ te” estranho. Especialmente quando Deus prosseguiu lembrando Israel, por intermédio de Amós, de que Ele reteve a chuva (v. 7), atingiu os jardins com mofo e geada (v. 9), enviou pragas (v. 10) e ordenou derro­ tas em batalhas (w. 10,11). Nós percebemos a razáo pela qual estas coisas são “pre­ sentes” quando percebemos o seu propósito. Deus en­ viou estes desastres esperando que Israel despertasse da sua condição pecadora e retomasse ao Senhor. A velha história fala do sujeito que tentou cavalgar uma velha mula. Ele gritou “Levante” e “Ande”. Ele vociferou e se enfureceu. Mas a velha mula não moveu sequer um músculo. Finalmente, veio um fazendeiro, pegou um pedaço de madeira e bateu na cabeça da mula com toda a força que tinha. O fazendeiro, então, disse à mula, “Levante”, e a mula se levantou! Lentamente, o fazendeiro explicou: “A mula anda, sim. Mas, primeiro, você precisa captar a atenção dela”. E isso o que diz Amós 4. Deus bateu em Israel com um pedaço de madeira. Mas, mesmo então, o Senhor não conseguiu captar a atenção do seu povo. Eles es­

“Dormis em camas de marfim”(Am 6.1 -7). Amós ago­ ra voltava a falar sobre o modo de vida dos ricos com­ placentes de Israel. Eles se deitavam em sofás caros e se banqueteavam com carne diariamente, divertindose com instrumentos musicais e bebendo vinho em taças cheias. Mas não era a luxúria propriamente dita que era errada. Havia uma atitude e uma postura er­ rada: “Não vos afligis pela quebra de José”. Não havia nenhum interesse pelos pobres; nenhum sentimento de qualquer obrigação de usar a sua riqueza para aju­ dar os menos afortunados. Gênesis 4 narra que, depois de ser confrontado por Deus, Caim, que tinha assassinado seu irmão Abel, murmurou: “Sou eu guardador do meu irmão?” A lei de Deus tinha respondido a esta pergunta com um decisivo “sim”! Nós devemos amar ao nosso próximo como a nós mesmos, e exibir este amor de maneiras práticas. O rico complacente de Israel negava este prin­ cípio fundamental, não apenas sendo indiferente aos seus vizinhos pobres, mas também explorando-os. O irado profeta anunciou o veredicto de Deus. “Ireis em cativeiro entre os primeiros que forem cativos, e cessarão os festins dos regalados.” “Tenho abominação pela soberba de Jacó”(Am 6.8-11). Não é errado nos sentirmos bem com as nossas rea­ lizações. Não é o orgulho que Amós condenou. Na

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Amós 3— 6 verdade, Amós falou contra a arrogância de homens e mulheres que prosperavam às custas dos pobres, e agora se consideravam com arrogância por causa de suas terras, e mansões, e seus luxos. Os indivíduos que vivem em uma sociedade marca­ da pela injustiça institucionalizada devem chorar e se arrepender, e não considerar com orgulho o que possam possuir. “Poderão correr cavahs na rocha?” (Am 6.12-14). Os hebreus, como outros povos antigos, amavam chara­ das. Assim, ao concluir a sua acusação, Amós fez uso de uma mensagem sob esta forma. Poderão correr ca­ valos na rocha? Poderão lavrá-la com bois? A resposta, naturalmente, é não. Os cavalos cairiam, e nenhuma colheita cresceria neste solo. Israel, ao converter a justiça em veneno, tinha asse­ gurado a sua própria queda, e tinha semeado uma colheita destinada a produzir amargura. Não havia como explicar esta decisão. E não havia como evitar as suas trágicas consequências. O Senhor “levantará sobre vós, ó casa de Israel, um povo” e esta nação, a Assíria, “oprimir-vos-á”. Como Israel, você e eu temos a liberdade de escolher o nosso próprio caminho. Mas não somos livres para evitar as consequências de quaisquer escolhas que fi­ zermos. Como é importante que escolhamos, então, com prudência e sabedoria, e estejamos dispostos a fazer a vontade de Deus.

DEVOCIONAL______ Buscai-me e Vivei

(Am 5.1-17) Amós 5 descreve um povo cujos valores estão inver­ tidos. O capítulo é um chamado poderoso para que o povo de Deus estabeleça a sociedade justa e moral que o Senhor ansiava por ver. E um capítulo relevante para nós, hoje em dia, porque, como o antigo Israel, a nossa próspera sociedade também está confusa a res­ peito de valores básicos. O que é necessário para que qualquer povo ou socie­ dade seja verdadeiramente justa? Nós devemos buscar o Senhor, e viver (w. 4-6). Ob­ serve que o texto enfatiza: buscar “o Senhor”. Não é a religião que produz uma sociedade justa, mas o rela­ cionamento pessoal com o Deus vivo. Nós devemos exaltar a justiça (w. 7-10). O texto re­ trata um povo que “deita por terra a justiça” em vez de exaltá-la. Mas Deus, que estabeleceu as leis na­ turais que sustentam o universo físico, é a fonte de padrões morais igualmente garantidos. Os valores de Israel eram o oposto dos divinos: as pessoas “aborre­ cem na porta ao que os repreende e abominam o que fala sinceramente” (v. 10). Nenhuma sociedade que

Os arqueólogos encontraram pedaços de mármore tra­ balhado em Samaria, a capital de Israel, em poltronas ou sofás como aqueles que foram mencionados por Amós. Enquanto os pobres de Israel passavam fome, os seus ricos exploradores continuavam a se encontrar para banquetes diários, indiferentes ao sofrimento de seus concidadãos.

abandona os padrões bíblicos de justiça ou que exibe antagonismo contra eles, pode construir uma socie­ dade justa. Nós devemos cuidar dos pobres. Em Israel, os pobres eram oprimidos por instituições como os tribunais, e pelos indivíduos, que lhes extorquiam dinheiro. O explorador é culpado, mas também o é qualquer sis­ tema social que nega ao pobre os direitos concedidos pela lei aos ricos. Nenhuma sociedade que explora os que são destituídos economicamente pode ser justa ou moral. Mas o que você ou eu podemos fazer sobre a “so­ ciedade”? Como pode um indivíduo ter alguma influência no seu mundo? Talvez seja pouco o que possamos fazer. Mas Amós nos mostrou que podemos fazer alguma coisa. Amós disse, “Buscai o bem” (v. 14). O verbo está na voz ativa; e tanto você como eu devemos buscar ativamente qualquer bem que possamos fazer, e re­ almente fazê-lo. Amós disse, “Aborrecei o mal, e amai o bem” (v. 15). Novamente, os verbos estão na voz ativa. Nós devemos estar cientes do que está deturpado na

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nossa sociedade, e realmente nos preocupar. Nós devemos odiar o mal e amar tão apaixonadamen­ te a ponto de agir com nossas convicções e adotar uma posição. Amós disse, “Estabelecei o juízo na porta” (v. 15). Novamente, o verbo está na voz ativa, e o chamado é claro. Há pouco que possamos fazer, mas devemos fazer o pouco que pudermos! É fascinante que Amós não nos tenha dado nenhum esquema para uma revolução social. O que ele podia fazer, e fez, foi nos chamar, para que nos preocu­ pemos, para que nos preocupemos tão profunda­ mente, tão apaixonadamente, que façamos o que pudermos para sustentar a justiça como um ideal resplandecente.

frequentemente usavam o prumo metaforicamente como uma ferramenta usada por Deus para medir a retidão moral de uma geração. O prumo de Deus indicava que o juízo de Israel não poderia mais ser adiado. O Novo Testamento nos ajuda a compreender o princípio do juízo adiado. É uma expressão da bon­ dade, tolerância e paciência de Deus. Mas a pessoa ou nação que persistir em exibir desprezo pela tole­ rância de Deus entesoura ira para si “no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus” (Rm 2.4-6). Israel não estava escapando à punição pela impieda­ de entrincheirada em sua sociedade. Cada vez que ela deixou de perceber uma nova oportunidade que Deus dava ao seu povo de se arrepender, simples­ mente tornou mais garantido o juízo vindouro.

Aplicação Pessoal Mesmo que haja pouco que você possa fazer, faça o “O sacerdote de Betei” (Am 7.10-18). A atitude do pouco que puder. povo de Israel com relação a Amós é exemplificada na reação de Amazias, que, aparentemente, tinha Citação Importante de sumo sacerdote no centro de adoração em “Se você acrescentar pouco a outro pouco, e fizer função Betei. Amós claramente desafiando a ordem isso com frequência, logo este pouco se tornará mui­ social. Assim,estava o sacerdote informou ao rei: “Amós to.” — Hesíodo tem conspirado contra ti”. Amazias, então, expulsou Amós, ordenando que ele 29 DE JUNHO LEITURA 180 não profetizasse porque Betei “é o santuário do rei e VISÕES DE JUÍZO a casa do reino” (v. 13). Que declaração reveladora! Amós 7—9 O santuário não pertencia a Deus, mas ao rei, pois em Israel a religião era dedicada a manter a posição “Então, disse o Senhor: Eis que eu porei o prumo no meio do meu povo Israel; nunca mais passarei por ele” social, e não para desafiar males sociais! A fé bíblica jamais é uma fé verdadeiramente con­ (Am 7.8). fortável, pois nos convoca a examinarmos constan­ Amós olhava à frente, e previu o julgamento asse­ temente a nossa vida e a nossa sociedade. A fé bíblica gurado de um povo que tinha se recusado, durante é radical, porque jamais deve ser identificada com décadas, a dar ouvidos ao chamado de Deus ao ar­ uma teoria política, um partido político ou uma ideologia política. As Escrituras nos dizem que de­ rependimento. vemos examinar a nossa cultura e julgá-la quando ela estiver errada. Visão Geral Três visões de um julgamento assegurado (7.1-9) Isso era algo que o sumo sacerdote da religião de são interrompidas por um relato da reação de Israel Israel não estava disposto a fazer. Voluntariamente, à pregação de Amós (w. 10-17). O reino pecador, ele subordinou a religião à política, e quando Amós pronto para o juízo (8.1-14) certamente seria des­ se levantou e anunciou o juízo de Deus sobre a so­ truído (9.1-10), mas um dia a prosperidade de Israel ciedade pecadora de Israel, o sumo sacerdote furio­ seria restaurada (w. 11-15). samente ordenou que ele saísse da cidade! Mas não foi o radical Amós que foi julgado por este Entendendo o Texto sacerdote. O sacerdote julgou a si mesmo, pelas suas “Nunca mais passarei por ele” (Am 7-1-9). Em uma ações. E Deus anunciou que ele viveria para ver as visão, Amós viu juízos de destruição que Deus estava consequências do seu conformismo (w. 16,17). se preparando para liberar sobre Israel. Ele conse­ Quanto ao povo de Israel, que não se arrependia, guiu desviar os dois primeiros. Mas finalmente Deus “será levado cativo para fora da sua terra”. se recusou a adiar mais o seu juízo. O prumo é uma ferramenta usada por carpinteiros. Trata-se simples­ “Chegou ofim sobre o meu povo Israel” (Am 8.1-14). mente de um peso preso a uma linha, que é encos­ Minha esposa examina cuidadosamente as bananas tada a um muro ou outra construção para medir a sobre o balcão da cozinha. Ela as quer no ponto exa­ sua verticalidade. Os profetas do Antigo Testamento to — nem verdes demais, nem maduras demais.

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Amós 7— 9

Deus, por intermédio de Amós, anunciou que Israel estava no “ponto” exato: pronto para o juízo. (Veja o DEVOCIONAL.) Israel tinha rejeitado a justiça. Deus “não” se esqueceria “de todas as suas obras para sempre” (v. 7). Todos lamentarão em amargura, e mesmo que busquem por todo o mundo uma pala­ vra de Deus, “não a acharão” (v. 12). “Vi o Senhor, que estava em pé sobre o altar” (Am 9.110). O altar e as brasas do altar simbolizam o juízo no Antigo Testamento. Um sacerdote pode assumir a sua posição no altar para apaziguar a Deus, ofere­ cendo um sacrifício. Mas nesta visão, Amós viu o próprio Deus no altar. Ele estava ali, não para rece­ ber um sacrifício, mas para executar o juízo. O texto deixa isso abundantemente claro. Deus iria matar os ímpios com a espada. “O que fugir dentre eles não escapará, nem o que escapar dentre eles se salvará” (v. 1). Deus se comprometeu em caçá-los e aprisioná-los, pois o Senhor porá os seus olhos sobre eles “para mal e não para bem” (v. 4). Este assombroso retrato de um Deus comprometido em executar juízo é uma correção apropriada para uma ênfase excessiva no amor de Deus. Sim, Deus é amor. Ele deseja ansiosamente estender os benefícios da salvação a todos. Mas aqueles que se recusarem a responder a um Deus de amor deverão enfrentar

DEVOCIONAL______ Madura para o Juízo

(Am 8) Um dos melhores truques de marketing de que eu já ouvi falar foi criado por um sujeito cuja colheita de maçãs foi destruída pelo granizo. Em todos os pontos onde caía uma pedra de granizo, surgia uma marca marrom, tornando as maçãs praticamente sem valor. Mas o esperto proprietário do pomar descobriu uma maneira de reverter o seu desastre. Ele iniciou uma campanha publicitária aconselhando os clientes a comprar somente as maçãs que tivessem aquelas marcas marrons, que mostravam que tinham ama­ durecido nas árvores! Israel também trazia marcas que a distinguiam. Mas não havia uma maneira de disfarçar a natureza des­ tas marcas. Em qualquer sociedade, estas marcas a caracterizam como realmente madura, mas madura para o juízo. Ali se pisa nos pobres. Ali há indiferença com a religião verdadeira. Ali há desonestidade nos negócios.

— e enfrentarão — o Deus das Escrituras, de juízo e justiça. Aqueles que vivem em um reino de pecado poderão ter certeza absoluta de que Deus “irá destruí-lo” e de que “todos os pecadores do meu povo morrerão à espada” (v. 10). “Naquele dia, tornarei a levantar” (Am 9.11-15). Em alguns versículos breves, Amós, como os outros profetas do Antigo Testamento, acrescentou uma mensagem de esperança. Esta geração injusta do povo de Deus deve cair. Mas Deus restaurará o povo escolhido. Amós relaciona esta restauração especificamente à manifestação de um Governante que virá na linha­ gem familiar de Davi. Este é o significado de “Na­ quele dia, tornarei a levantar a tenda de Davi” (v. 11). Quando Ele aparecer, os judeus serão reunidos na sua terra, e conhecerão uma época de prosperida­ de inigualável. E como Amós retratou vividamente esta época: “o que lavra alcançará ao que sega, e o que pisa as uvas, ao que lança a semente; e os montes destilarão mosto”. Israel rejeitou a Deus, mas Ele não os tinha abando­ nado. Chamando-se de “o Senhor teu Deus”, Deus prometeu: “os plantarei na sua terra, e não serão mais arrancados da sua terra que lhes dei” (v. 15). Ali há exploração dos fracos e dos que são social­ mente desamparados. Talvez estas marcas ainda não estejam visíveis na superfície da nossa sociedade. Mas se você as obser­ var, não se deixe enganar. Elas não são evidências de “amadurecimento na árvore”. Elas são sinais de que a nossa sociedade também amadureceu para o juízo. Aplicação Pessoal As marcas que aparecem em qualquer sociedade dizem aos cristãos que é hora de se arrepender, e de orar. Citação Importante “Assumir uma posição declarada contra toda a im­ piedade e a injustiça que se espalha sobre a nossa terra como uma inundação é uma das mais nobres maneiras de professar Cristo diante dos seus inimi­ gos.” — John Wesley

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em JONAS

O BADIAS INTRODUÇÃO Obadias é uma profecia de destruição, dirigida contra Edom, uma terra localizada do outro lado do rio Jordão, que era habitada por descendentes de Esaú, o irmão de Jacó (Gn 25). Obadias disse que os edomitas colaboraram com os invasores de Judá e maltrataram os sobreviventes de Jerusalém: uma acusação que se encaixa, em seis diferentes ocasiões, na história de Judá! É muito provável que Obadias tenha predito a destruição de Edom pouco tempo depois da invasão babilônia a Judá, em 586 a.C. Edom, como um reino independente, desapareceu na segunda metade do século VI a.C., e a sua destruição é mencionada em Ml 1.3,4. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. O Legado de Edom..................................................................................................................................Ob 1-9 II. A Acusação contra Edom ..................................................................................................................Ob 10-14 III. O Dia do Senhor...............................................................................................................................Ob 15-21 GUIA DE LEITURA (1 Dia) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário.

Leitura 181

Capítulo 1

Passagem Essencial w. 11-12

OBADIAS 30 DE JUNHO LEITURA 181

PERECEM OS INIMIGOS DE JUDÁ Obadias

“Por causa da violênciafeita a teu irmão Jacó, cobrir- Você e eu devemos adotar a perspectiva de Oba­ dias. Oh, é verdade, nós somos importantes — te-á a confusão, e serás exterminado para sempre” (Ob 10). importantes para um Deus que nos ama pelo que nós somos, e não pelo que fazemos por Ele. Mas As pessoas hostis ao povo de Deus correm um quando nós recebemos a missão de falar em nome grande risco quando agem contra eles. de Deus, nós devemos exaltar a mensagem. Oba­ dias não faria nada para diminuir a sua mensagem, Contexto atraindo a atenção para si mesmo. Nomes em Obadias. O profeta usou alguns termos geográficos e raciais diferentes neste curto livro. “O que habita nas fendas das rochas” (Ob 2-4). Os Muitos deles são sinônimos usados para identificar centros habitados dos edomitas eram edificados so­ Edom ou Judá. Estes nomes refletem o costume he­ bre uma grande cadeia montanhosa, do outro lado braico de identificar as pessoas por seus antepassados do mar Morto. Esta altitude, de 1.200 a 1.700 me­ (assim, “Esaú” é outro nome para Edom, e “Jacó” tros, tornava a região de fácil defesa, e ela estava, de é outro nome para Judá) ou por nomes de lugares fato, protegida por uma série de fortalezas rochosas (assim, “Temã” também se refere a Edom, e “monte construídas para vigiar as estradas que rodeavam os Sião” a Judá). Se isso for mantido em mente, a men­ precipícios e margeavam gargantas amedrontadosagem de Obadias ficará muito mais clara. ramente profundas. Estas defesas naturais contri­ buíam para o orgulho de Edom, refletido na sua Visão Geral pergunta retórica, “Quem me derribará em terra?” Edom seria saqueada e o seu povo, assassinado (w. Como é perigosa uma sensação de segurança! Os 1-9) como punição pela violência que dirigiu con­ edomitas se sentiam intocáveis. Arrogantes, eles tra Judá (w. 10-14). No vindouro Dia do Senhor, atacaram Judá por trás das barreiras que julgavam todas as nações serão julgadas e suas terras ocupa­ que os protegeriam. Sem dúvida, se eles tivessem das pelos que pertencem ao Senhor (w. 15-21). se sentido vulneráveis, jamais teriam se arriscado, tentando prejudicar seus vizinhos. Entendendo o Texto Deus disse a Edom: “Dali te derribarei”. Ao dizer “Visão de Obadias” (Ob 1). Nada se sabe a respeito isso, Obadias recordava a todos nós que ninguém de Obadias como pessoa. No entanto, o seu nome está fora do alcance de Deus. Cada pessoa é res­ significa “servo do Senhor”. Obadias não julgou ponsável por seus atos, e cada pessoa está ao alcan­ que fosse importante se identificar, como faziam ce da mão disciplinadora do Senhor. muitos hebreus, declarando o nome de seu pai ou da sua família. Obadias se considerava simples­ “Por causa da violência feita a teu irmão Jacó" (Ob mente um servo de Deus. O que era importante 10). O antigo concerto que Deus tinha feito com era a mensagem que ele tinha a transmitir. Abraão assegurava que Deus abençoaria àqueles que

Obadias

o abençoassem, e a seus descendentes, e amaldiçoaria àqueles que o amaldiçoassem e a seus descendentes. Deus relembrou a sua promessa, e anunciou, por in­ termédio de Obadias, que Edom seria exterminada “para sempre” por causa desta ofensa. Que revelação da natureza do compromisso de Deus com a sua palavra. Se Obadias realmente profetizou pouco depois da queda de Jerusalém aos babilônios, como acreditam muitos, a geração de judeus que foram vítimas de Edom era uma gera­ ção apóstata. Voluntariamente, eles abandonaram a Deus para servir a ídolos, e conscientemente re­ jeitaram a sua Palavra. Eles mesmos se expulsaram: eles mesmos se condenaram ao juízo. Ainda assim, Deus tinha a intenção de manter a sua antiga pro­ messa. Aqueles que amaldiçoavam o seu povo de­ veriam ser amaldiçoados. Edom devia cair. Lembre-se deste versículo e do seu contexto his­ tórico da próxima vez em que você falhar, consigo mesmo e com Deus, e, sobrecarregado com um sentimento de vergonha, pergunte-se se Deus po­ derá perdoá-lo. Deus permanece completamente comprometido com todas as promessas que Ele lhe fez em Cristo, assim como permanecia completa­ mente comprometido com Judá, apesar de pecados muito piores. Deus mantém a sua palavra. Você pode confiar que Ele continuará amando você, continuará operando em você, até que, por fim, você reflita o caráter de Cristo.

com relação a Judá. A princípio, com o desenrolar da invasão, os edomitas se mantiveram à distância, para observar e apreciar o desconforto de Judá (w. 11,12). Quando ficou claro que o povo de Judá es­ tava perdendo, os edomitas se tornaram mais corajo­ sos. Eles marcharam pelas portas da cidade destruída para reunir todos os despojos que pudesse haver so­ brado. A seguir, eles ficaram ainda mais ousados, e posicionaram suas tropas ao longo de rotas de fuga, para “exterminar os que escapassem” e “entregar os que lhe restassem”. Este foi um caso clássico de espe­ rar até que a batalha tivesse acabado, e então correr para chutar e maltratar os derrotados. Chutar uma pessoa que está caída sempre foi po­ pular, porque traz poucos riscos. Pelo menos, pou­ cos riscos de que a vítima chute de volta. O que as pessoas precisam recordar, no entanto, é que Deus sempre toma o partido do oprimido. Assim, se no seu lar, no seu trabalho ou na sua co­ munidade, você se sentir tentado a se unir à multi­ dão que chuta um dos perdedores da vida, lembre-se de Edom. A vítima pode parecer indefesa. Mas ela terá Deus do seu lado.

“Sobre todas as nações” (Ob 15-21). Obadias anun­ ciou que os princípios vistos no seu oráculo contra Edom tinham aplicação universal. E têm. Um dia, Deus irá agir abertamente em favor das vítimas de todo poder opressor. Até mesmo as nações irão res­ ponder a Ele. Quando isso acontecer, toda Esaú será destruída, e Judá, o “perdedor”, irá ocupar o seu ter­ “Não devias olhar, satisfeito, para o seu mal, no dia da ritório. sua calamidade” (Ob 11-14). O texto mostra uma Não há “ganho mal obtido”. Somente “perda mal progressão fascinante no comportamento de Edom obtida”.

DEVOCIONAL______ Um deles

(Ob 11,12) Eu confesso! Eu gosto de ler os quadrinhos do jor­ nal quando me levanto, pela manhã. Pelo menos, eu gosto de ler três deles — Calvin and Hobbes, Sally Forth, e For Better or For Worse. Na semana passada — no primeiro dia de aula — a menina de For Better or For Worse atirou seu ursinho de pelúcia contra o ônibus escolar. Ela teve que realizar a dolorosa tarefa de escrever um pedido de desculpas. Nos quadrinhos seguintes, ela mirou cuidadosamente com seu ursinho, e atingiu seu irmão mais velho na cabeça. Por quê? Porque foi ele quem a encorajou a atirar o ursinho contra o ônibus, em primeiro lugar, e depois riu, quando ela foi pega e punida. Eu não creio que a cartunista Lynn Johnston tivesse lido Obadias. Mas poderia ter lido. Obadias 11 e 12

diz: “No dia em que estiveste em frente dele, no dia em que os forasteiros levavam cativo o seu exército, e os estranhos entravam pelas suas portas, e lançavam sortes sobre Jerusalém, tu mesmo eras um deles. Mas tu não devias olhar para o dia de teu irmão, no dia do seu desterro; nem alegrar-te sobre os filhos de Judá, no dia da sua ruína”. Nas palavras dos quadrinhos, “Eu não atirei nenhum urso!” E, ainda nas palavras dos quadrinhos, “Na Naa Naaa! O condutor do ôni­ bus te pegou. Ha ha ha!” Eu imagino que todos con­ tiveram um sorriso de satisfação, quando o ursinho caiu silenciosamente e repentinamente sobre a cabeça do seu irmão; certamente ele mereceu isso! Foi o que Deus disse a Edom, por intermédio de Obadias, e o que Ele diz a nós. Você não pode ficar olhando quando vê que o seu irmão é uma vítima, incitando os que o maltratam, e ser inocente. Se

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Obadias

você não oferecer ajuda, você será “um deles”. A fé bíblica não nos deixa ficar parados, à parte, quando outros são maltratados. Mesmo que “os outros” não sejam, particularmente, amigos nos­ sos. Mesmo que sejam nossos inimigos.

Citação Importante “Quando um homem ama os seus inimigos, ele sabe que Deus operou nele uma grande obra, e todos os demais também sabem disso.” — Oswald Chambers

Aplicação Pessoal Não fique parado, olhando, quando você vir outras pessoas em necessidade. Ajude-as.

O Plano de Leituras Selecionadas continua em 2 TESSALONLCENSES

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JONAS INTRODUÇÃO Jonas é o relato de um profeta de Israel e de sua missão em Nínive, capital da Assíria. Temendo que o inimigo de sua nação pudesse se arrepender se prevenindo do julgamento iminente, Jonas tentou fugir. Deus lidou com seu relutante profeta e Nínive humilhou-se e foi salva, ensinando a Jonas, e a nós, uma lição sobre a compaixão de Deus. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. A Fuga de Jonas ............................................................................................................................................ Jn 1 II. A Libertação de Jonas .................................................................................................................................Jn 2 III. A Pregação de Jonas...................................................................................................................................Jn 3 IV A Admoestação de Deus ...........................................................................................................................Jn 4 GUIA DE LEITURA (2 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada capítulo deste Comentário. Leitura 182 183

Capítulos 1-2 3-4

Passagem Essencial 1 4

JONAS 1 DE JULHO LEITURA 182

O PROFETA PATRIÓTICO Jonas 1—2

“Jonas se levantou para fugir de diante da face do Visáo Geral Senhorpara Társis” (Jn 1.3). Jonas recebeu a ordem de pregar contra Nínive (1.1,2), mas tentou fugir para Társis (v. 3). Iden­ Jonas tinha o que julgava serem boas razões para tificado como a causa de uma grande tempestade fugir do Senhor e da missão que Deus lhe dera. Sua que ameaçava o navio, Jonas foi atirado à água (w. história lembra-nos de nunca substituir a vontade 4-16), onde foi engolido por um grande peixe (v. de Deus por “boas razões”! 17). De dentro do peixe, Jonas orou e foi libertado (2 . 1- 10). Contexto Oprofetapatriótico. 2 Reis 14.25 identifica “Jonas, fi­ Entendendo o Texto lho de Amitai”, como um profeta que viveu nos dias “Vai à grande cidade de Nínive” (Jn 1.2). Não há in­ de Jeroboão II de Israel e que previu muitas vitórias dicação de que Deus tenha explicado a Jonas o pro­ daquele rei. Nos dias de Jeroboão II, as fronteiras do pósito de sua missão. O capítulo 4, porém, indica Reino do Norte foram estendidas quase até as fron­ que Jonas suspeitava. Ali, Jonas disse: Eu “sabia que teiras conseguidas durante a época de ouro de Davi és Deus... que te arrependes do mal” (v. 2). Jonas e Salomão. Como profeta chamado a preanunciar suspeitava que, se fosse a Nínive, a cidade poderia as vitórias do rei, Jonas deve ter gozado de grande arrepender-se da “sua maldade” e Deus iria absterpopularidade, especialmente porque a vida em Israel se da destruição ameaçada. fora sombria antes do vigoroso governo de Jeroboão. A explicação de Jonas nos ajuda a entender a na­ Sem dúvida, o profeta também sentiu grande satis­ tureza exata da fuga do profeta. Ele não fugiu de fação pessoal ao ver seus compatriotas começarem Deus porque não entendeu os propósitos do Se­ a prosperar em conformidade com a palavra do Se­ nhor, mas porque os compreendeu! Jonas simples­ nhor que ele tivera o privilégio de proferir. mente não gostou destes propósitos. Contudo, a ordem de Deus a Jonas, de ir pregar Deus não pede que concordemos com o que Ele contra Nínive, era outra história! A Assíria havia planeja. Tudo que Ele pede é que reconheçamos sido, e ainda era, uma ameaça à própria existência que Ele sabe mais — e obedeçamos. de Israel! Jonas não queria parte nenhuma em um ministério junto àquele grupo específico de estran­ “Um navio que ia para Tdrsis” (Jn 1.3). A maioria geiros! Tudo o que Jonas queria fazer era continuar dos comentaristas crê que o porto em questão era a pregar sua mensagem positiva de prosperidade na Tartesso, na Espanha. O exame de um mapa revela sua terra natal. a sua importância. Nínive ficava no norte. Társis A motivação patriótica de Jonas, que é explicada ficava tão ao sul no Mediterrâneo quanto podia ir no capítulo 4, era tão grande que ele decidiu fugir uma embarcação. da presença de Deus. E neste ponto que a história E típico de jovens que decidem abandonar a fé de Jonas começa. e o estilo de vida dos pais irem tão longe quanto

Jonas 1— 2

julgam possível na direção oposta. Se um de seus filhos tomou o caminho de Társis, a história de Jo­ nas é reconfortante. Não havia nenhuma maneira de Jonas escapar a Deus. Ele irá atrás dos nossos jovens, como foi atrás do seu profeta.

dispostos a jogá-lo do navio até que todas as outras esperanças estivessem esgotadas. Finalmente, im­ plorando a Deus que não os punisse por tirarem a vida de Jonas, fizeram como o profeta os instruiu e o atiraram ao mar. Este também é um importante lembrete. É fá­ cil desenvolver uma visão “nós/eles” dos outros, como se não houvesse pessoas boas e de moral no mundo, além da igreja. Os marinheiros, to­ dos adoradores de outros deuses, e aterrorizados por suas vidas, ainda assim fizeram tudo o que puderam para salvar Jonas. Devemos apreciar tais qualidades nos outros. Na verdade, tais qua­ lidades deviam tornar todos nós mais ansiosos para compartilhar as Boas-Novas da salvação disponível para todos em Jesus. (Veja o DEVOCIONAL.)

“O Senhor mandou ao mar um grande vento” (Jn 1.4-6). No século VIII a.C., as embarcações que percorriam o Mediterrâneo mantinham-se perto da costa, prontas a buscar abrigo contra as tem­ pestades. A tempestade que atingiu o navio aterrorizou os marinheiros e, aparentemente, deixou Jonas, um homem de terra firme, desnorteado. Jonas foi acor­ dado e pediram-lhe que orasse pelos marinheiros desesperados. E possível que Jonas não tivesse consciência de quão desesperada era a situação e que os marinhei­ ros experientes conhecessem muito bem a medida “Deparou... o Senhor um grande peixe” (Jn 1.17). do perigo. O hebraico não indica uma baleia, embora al­ gumas traduções o façam (Mt 12.39,40, ARC). “Por que razão nos sobreveio este mal” (Jn 1.7-9). A Isso toma irrelevantes todas aquelas histórias de medida que a tempestade piorava, os marinheiros baleeiros engolidos e depois encontrados inteiros tiraram a sorte para descobrir quem era responsável vivos (ou mortos) no estômago de uma baleia. E pela calamidade. Isso era mais do que superstição. compreensível que aqueles determinados a provar Refletia a consciência dos marinheiros de que tais a confiabilidade da Bíblia recorressem a tal indício. tempestades nunca ocorriam naquela estação es­ Mas é inteiramente desnecessário. Por quê? Porque pecífica. Parecia claro para eles que alguma causa o texto diz que o Senhor “deparou” o grande pei­ sobrenatural estava envolvida. O problema era que xe. Não era um peixe comum, mas Golias entre os marinheiros sentiam-se expectadores inocentes, os peixes, preparado especialmente para a tarefa presos no conflito entre alguma divindade e al­ de engolir Jonas. Assim como foram miraculosos guém a bordo do navio. o aparecimento do peixe para engolir Jonas e sua A desobediência de Jonas colocara em grave peri­ sobrevivência no estômago dele, foi miraculoso o go um navio cheio de inocentes. Isso ilustra um próprio peixe. princípio básico de toda vida humana. Nossa vida e a vida dos outros estão entrelaçadas. Não pode­ “Tornarei a ver o templo da tua santidade” (Jn 2.4). mos desobedecer a Deus sem, de alguma maneira, Jonas 2 é um poema que recapitula a experiência afetar maleficamente a outros. Tampouco podemos de Jonas. Ele retrata para nós as correntezas que o obedecer a Deus sem afetá-los beneficamente. envolviam, e as algas pegajosas, algumas das quais com 15 metros de comprimento, ou mais, que en­ “Eu sei que, por minha causa... ” (Jn 1.11-16). Jonas volviam a sua cabeça enquanto ele afundava. sabia que era responsável pelo perigo em que todos Perto da morte, “Eu me lembrei do Senhor; e en­ se encontravam e mostrou que estava disposto a trou a ti a minha oração, no templo da tua santi­ aceitar esta responsabilidade. Ele disse aos mari­ dade”. nheiros que o atirassem ao mar e assegurou que a Estas referências ao Templo lembram a oração de tempestade cessaria. Salomão por ocasião da consagração deste. Na Podemos admirar esta atitude em Jonas. Há mui­ oração, ele pedia a Deus que restaurasse qualquer tos que cometem erros e não estão dispostos a membro do seu povo que pecasse, “conhecendo aceitar a responsabilidade e que tentam desespera­ cada um a sua praga e a sua dor e estendendo as damente evitar as consequências de suas escolhas. suas mãos para esta casa” (2 Cr 6.29, cf. w. 26,27). Jonas estava pronto a aceitar as consequências que A oração de Jonas era uma confissão tácita de seu percebeu serem necessárias para salvar os compa­ pecado de desobediência, e um compromisso tácito nheiros de navio. de ser obediente. Então, resgatado e jubiloso, Jonas Contudo, também podemos admirar os marinhei­ afirmou abertamente: “O que votei pagarei”. ros. Apesar da confissão de Jonas, eles não estavam Quantas vezes vemos isso no Antigo Testamento.

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Jonas 1—2

Os seus fracassos passados, ou os meus, não nos desqualificam para a participação nos grandes pro­ pósitos que Deus está engendrando mesmo agora em nosso mundo. Que motivo para nos entregar­ mos a Ele e, mais uma vez, estarmos plenamente comprometidos em fazer a sua vontade!

Qualquer que seja o pecado, por maior que seja a desobediência, Deus está disposto a aceitar o peca­ dor que retorna para Ele. Na confissão, o pecador é restaurado não apenas à comunhão, mas, no caso de Jonas, ainda permanece incumbido de sua mis­ são original.

DEVOCIONAL______ Faça de mim uma GRANDE Bênção (Jn 1)

De vez em quando me deparo com a ideia de que, a menos que um cristão esteja realmente em íntima comunhão com o Senhor, Deus não pode usá-lo para abençoar os outros. Na verdade, isso é falso, como ilustra a história de Jonas. Jonas estava tão longe de estar em comu­ nhão com Deus quanto pode estar um crente — estava fugindo de Deus — quando surgiu a tem­ pestade que se abateu sobre o navio e amedrontou todos a bordo. E então veja o que aconteceu. Jo­ nas admitiu que era responsável pela tempestade, e fez com que os marinheiros o atirassem ao mar e a tempestade parou — e os marinheiros, conven­ cidos pelo poder do Deus de Jonas, “Temeram... ao Senhor com grande temor; e ofereceram sacrifícios ao Senhor e fizeram votos” (v. 16). Deus usou um Jonas desobediente para apresen-

tá-lo a uma tripulação de marinheiros pagãos! E os marinheiros pagãos creram. Naturalmente, Jonas não estava por perto para usufruir o seu “sucesso”. Ele estava se afogando: afundando no mar, com os pulmões estourando, sentindo o toque frio e pegajoso das algas marinhas envolvendo a sua cabeça. Penso que esta é a mensagem que os pregadores de­ vem transmitir aos cristãos. Deus pode usar um crente carnal e desobediente para alcançar os seus propósitos? E claro! Mas tal crente experimentará a bênção que ge­ ralmente vem do serviço a Deus? Não. Como Jonas, o crente sem contato com Deus perde a bênção, pois está se afogando no mar de seus problemas e dores. Oh, sim. Há mais uma coisa a observar. Quando Jo­ nas não estava em comunhão com o Senhor, Deus o usou para salvar uma tripulação. Mas, quando Jonas retornou à comunhão e prosseguiu até Nínive, Deus o usou para salvar uma cidade inteira.

Os arqueólogos estabeleceram o tipo do trágii navio que navegava pelo Mediterrâneo na época de Jonas. O navio de carga de uma vela podia carregar alguns passageiros, mas a maior parte da tripulação trabalhava e dormia no convés. A maior parte dos comandantes destas embarcações não se aventurava a navegar no Mediterrâneo durante a estação mais tempestuosa, e a tempestade inesperada que atingiu a embarcação de Jonas foi entendida como uma calamidade causada por Deus (Jn 1.7).

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Jonas 3— 4

Conclusões? Penso que quero pedir a Deus que faça lembra-nos de que ainda podemos nos voltar nova­ de mim uma GRANDE bênção. Ele pode me usar mente para Deus e ser usados por Ele. mais se eu permanecer em comunhão com Ele. E, com certeza, desfrutarei muito mais. “Era, pois, Ninive uma grande cidade” (Jn 3.3,4). A população de Ninive na época de Jonas foi Aplicação Pessoal estabelecida pelos arqueólogos como, no máxi­ Sirva a Deus sinceramente, e desfrute as suas mo, 175.000 pessoas. Esta supera, em muito, as bênçãos! 30.000 de Samaria, a capitai da nação de Jonas. Os números condizem com os 120.000 mencio­ Citação Importante nados em Jonas 4.11. A referência aos três dias “Há mais alegria em Jesus durante 24 horas, do necessários para atravessar Ninive podem signi­ que no mundo durante 365 dias. Já experimentei ficar que Jonas levou três dias para atravessar os as duas coisas.” — R. A. Torrey campos e subúrbios em torno de Ninive, não a parte murada da cidade. 2 DE JULHO LEITURA 183 A ideia no texto, porém, é simples. A missão de _ _ O DEUS DE COMPAIXÃO Jonas estava dirigida a uma metrópole: uma cida­ Jonas 3— 4 de que estava fervilhando de seres humanos. Esta ênfase nos ajuda a perceber por que a missão de “Não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Jonas era tão importante. Milhares de vidas esta­ Ninive, em que estão mais de cento e vinte mil ho­ vam em jogo. mens, que não sabem discernir entre a sua mão dire­ ita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?” “Os homens de Ninive creram em Deus” (Jn 3.5-9). (Jn 4.11) Surpreendentemente, o aviso de destruição iminen­ te foi acolhido por toda Ninive. O rei abandonou o Deus tem compaixão de todos. Precisamos desen­ trono para sentar-se publicamente “sobre a cinza”, volver uma postura que espelhe a dEle — não a usando a roupagem rude que indicava tristeza, dor de Jonas! e arrependimento naquela cultura. Ele emitiu um decreto que convocava todos a jejuar, invocar Deus Visão Geral e “se converter, cada um do seu mau caminho e da Quando Jonas pregou em Ninive, os assírios se ar­ violência”. rependeram (3.1-10). Jonas, perturbado e zanga­ Considerando que o livro de Jonas foi datado como do, pediu a Deus que lhe tirasse a vida (4.1-4). Em sendo do tempo de Jeroboão II de Israel, o Império vez disso, Deus usou uma trepadeira para ensinar a Assírio, cuja capital era Ninive, estava seriamente Jonas uma lição de valores (w. 5-11). ameaçado por tribos hostis do norte, conhecidas como Urartu, Mannai e Madai. O inimigo havia Entendendo o Texto empurrado as suas fronteiras para até cento e ses­ “Veio a palavra do Senhor segunda vez a Jonas” (Jn senta quilômetros de Ninive, e a própria existência 3.1). Jonas havia deliberadamente desobedecido ao do antigo império estava ameaçada. Uma percepção chamado de Deus para que pregasse em Ninive. de fraqueza e fatalidade iminente pode ter ajudado Deus deu-lhe outra chance. a criar a abertura para a mensagem de Jonas. Con­ Precisamos nos lembrar de três coisas a respeito de tudo, a resposta espontânea da população inteira a segundas chances. Deus queria preservar Ninive, um profeta estrangeiro, que vagava pela cidade sem e Ninive seria prevenida, quer fosse Jonas, quer ser anunciado, com uma mensagem impopular, su­ fosse outro o agente de Deus. A desobediência de blinha o fato de que a resposta a qualquer palavra Jonas merecia disciplina, não rejeição! Deus deu de Deus tem raízes sobrenaturais. ao seu profeta uma segunda chance. Geralmen­ Deus estava trabalhando nos corações dos pagãos te, Ele dá a mim e a você muitas oportunidades de Ninive. Quando eles ouviram, creram. de responder à sua orientação. E muito melhor Precisamos contar com um trabalho similar de responder a Deus quando sua palavra nos chega Deus quando pregamos, ensinamos ou compar­ pela primeira vez. Jonas teria evitado o terror de tilhamos o evangelho em alguma conversa. Deus ser atirado ao mar e engolido pelo grande peixe pode muito bem trabalhar nos outros para que ou­ se estivesse disposto a fazer a vontade de Deus ao çam as suas Boas-Novas. Seu Espírito pode levar saber dela pela primeira vez. as Boas-Novas aos seus corações de maneira con­ Não contemos com as segundas chances. Mas, se vincente, sejam quais forem as inadequações do cairmos em desobediência, a experiência de Jonas mensageiro.

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Jonas 3—4

“Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhesfaria e não ofez”(jn 3.10). Um dos princípios mais cla­ ramente estabelecidos na profecia do Antigo Testa­ mento é o de que a maioria dos avisos proféticos de fatalidade sáo condicionais. Eles invariavelmente se cumprem — a menos que as pessoas a quem são dirigidos se arrependam. Percebemos este princípio em incidentes anteriores, como aqueles registrados em 2 Samuel 12.14-23; 1 Reis 21.27-29, e 2 Reis 20.1-6. O arrependimento aplaca a ira de Deus. Não se deve compreender isso erroneamente, como uma mudança na mente de Deus. É mais como as luzes vermelhas e sinos que anunciam a aproxima­ ção de um trem. Qualquer um que esteja nos tri­ lhos será esmagado. Mas uma pessoa que saia dos trilhos estará a salvo. Quando Jonas pregava, estava, na verdade, dizen­ do: “Vocês, povo de Nínive, estão prestes a ser atro­ pelados”. Quando o povo de Nínive se arrependeu, eles, na verdade, saíram dos trilhos! A jamanta do julgamento divino passou — e não os atingiu! Que exemplo para Israel. Os profetas de Deus, não estrangeiros, mas compatriotas, haviam gritado avisos da iminente fatalidade por décadas. Aqui, na experiência de Nínive, uma nação pagã, estava sendo um exemplo para o próprio povo de Deus. Se Israel ouvisse os profetas e se arrependesse, Deus se compadeceria deles. A tragédia é que o povo de Israel não se arrepen­ deu. A lição foi desperdiçada com eles. A ironia é que o próprio povo que foi salvo pela pregação de Jonas, os assírios, foram os agentes que Deus usou para julgar um Israel que estava muito endurecido para prestar atenção. “Peço-te, pois, ó Senhor, tira-me a minha vida” (Jn 4.1-4). Uma vez que a cidade não foi destruída, Jonas ficou perturbado e zangado. Como muitos de nós, Jonas achava que Deus devia comportar-se como ele queria. Havia mais envolvido no caso de Jonas (veja o DEVOCIONAL), mas tal reação não é bem típica? Nós entendemos tudo e temos certeza de que Deus devia resolver um problema de determinada ma­ neira, outro problema de outra maneira. Quando Ele não faz do nosso modo, ficamos amuados ou zangados. O que devíamos fazer em tal caso é agra­ decer a Deus por não ter feito do nosso jeito! Nossa ideia de como as coisas devem ser é limitada pela nossa falta de conhecimento — e, muitas ve­ zes, pela indiferença. Deus não se limita a saber o que é melhor. Ele ama sempre. Agradecer a Deus mesmo quando suas decisões não refletem nossa primeira escolha é um sinal de maturidade espiri­ tual. E de bom senso.

“Jonas se alegrou em extremo por causa da abob­ oreira” (Jn 4.5,6). Mal humorado e zangado por causa do arrependimento de Nínive, Jonas insta­ lou-se em uma colina de onde se via Nínive, para mergulhar na autopiedade e ver o que aconteceria com a cidade. Enquanto estava sentado sob uma tenda típica do deserto, uma aboboreira brotou do chão e cresceu o suficiente para dar sombra. Jonas não ficou feliz apenas por causa da sombra. Jonas estava feliz. Uma coisa tão pequena e, além disso, algo verde e vivo, e Jonas sentiu-se confor­ tado com sua presença. Muitas vezes Deus oferece uma coisa pequena as­ sim para nos confortar quando as coisas grandes parecem ter dado errado. Jonas estava certo em ficar feliz com a aboboreira. E nós estamos cer­ tos em ficar felizes com as pequenas coisas que nos lembram do amor de Deus. Se formos sábios, sempre que houver sofrimento, procuraremos ati­ vamente por uma dessas pequenas coisas, deixare­ mos que ela nos lembre do amor de Deus e nos traga alguma felicidade, a despeito de nossa dor. “Deus enviou um bicho” (Jn 4.7-11). A princípio, o fim do livro de Jonas parece estranho. Deus re­ tirou a aboboreira que dera a Jonas aquele peda­ cinho de felicidade e, tendo em vista que Jonas ficou ainda mais triste, Deus perguntou: “E acaso razoável que assim te enfades por causa da abob­ oreira?” Podemos entender por que Jonas respon­ deu “sim!” Mas Deus tinha um motivo. Jonas teve “com­ paixão da aboboreira” que brotara em uma noite e morrera na seguinte. Jonas ficara feliz por tê-la ao seu lado. Mas Jonas não se importava em absoluto com a vida dos milhares e milhares de pessoas de Nínive, sem falar nos animais. Que contraste com Deus, que se interessa por toda a sua criação e que se interessou pelos mi­ lhares de Nínive. Apesar de serem idólatras, e ini­ migos de seu próprio povo, eles eram importantes para o Senhor. O desafio a Jonas era claro. Jonas, tu te importaste com a aboboreira. Por que não te importas com outros seres humanos? Ficaste feliz com a existên­ cia da aboboreira, apesar de ser efêmera. Por que não ficas feliz com a vida dada aos milhares em Nínive em vez de ficar ansioso por ver todas aque­ las vidas tomadas? Há um desafio para nós aqui. Com que nos im­ portamos? O que nos deixa felizes? São as coisas insignificantes da vida? Ou compartilhamos os valores de Deus e nos importamos com o que é importante para Ele?

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Jonas 3— 4

DEV OCIONAL_________ Certo, mas Errado Na verdade, era por estar certo que Jonas estava

(Jn4) Os cristãos tendem corretamente a enfatizar a dou­ trina certa. Afinal, devemos nos apegar ao que a Bíblia ensina. A história de Jonas, porém, nos lem­ bra que podemos estar totalmente certos e muito, muito errados. Jonas 4 começa com uma afirmação de Jonas sobre a doutrina mais correta que existe. “Eu sa­ bia”, disse Jonas, “que és Deus piedoso e miseri­ cordioso, longânimo e grande em benignidade e que te arrependes do mal” (v. 2). Esta declaração de Jonas é uma das afirmações de fé centrais do Antigo Testamento, uma caracterização de Deus encontrada primeiro em Êxodo 34.6,7, mas re­ petida em Números 14.18; Neemias 9.17; Sal­ mos 86.15; 103.8; 145.8 e Joel 2.13! E a expres­ são “piedoso e misericordioso” é encontra muitas outras vezes em descrições do Senhor no Antigo Testamento. Portanto, a doutrina de Jonas era tão pura quanto possível. Só havia um problema. Jonas disse: Eu sabia “por isso, me preveni, fugindo paraTársis” (Jn 4.2). E é por isso que Jonas estava zangado. Aquelas pessoas corrompidas de Nínive se arrependeram! Seria bem próprio do Senhor não destruí-los. E, novamente, Jonas estava certo. Sua doutrina era tão pura quanto possível. Era bem próprio do Se­ nhor não destruir Nínive, e Ele não a destruiu.

errado. Veja: o crente não é simplesmente chamado a conhecer algo a respeito de Deus. O crente é cha­ mado a ser como Ele. Não devemos simplesmente saber que Deus é compassivo. Porque Deus é com­ passivo, devemos ser compassivos também. Não é suficiente sabermos que Deus se importa com o pagão ou com o pobre. Devemos nos importar com eles também. Jonas, que estava doutrinariamente correto, esta­ va tão longe da harmonia com o coração de Deus quanto qualquer crente pode estar! Que lembrete para você e para mim. Uma pessoa que está totalmente correta a respeito de Deus, em seu intelecto, pode estar totalmente errada. Saber algo (ou muito!) a respeito de Deus não substitui o dever de ser como Ele no caráter, nos valores e no interesse pelos outros. Aplicação Pessoal Ao estudar a sua palavra, peça a Deus o conhecimen­ to de coração, além do conhecimento intelectual. Citação Importante “O coração de um homem está certo quando ele deseja o que Deus deseja.” — Tomás de Aquino

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em MIQUEIAS

MIQUEIAS INTRODUÇÃO Miqueias foi contemporâneo de Isaías e Amós. Uniu-se a eles para prevenir Israel e Judá do iminente julgamento pouco antes da grande invasão assíria de 722 a.C., que resultou no cativeiro do Reino He­ breu do Norte. Miqueias mostrou a necessidade do julgamento ao retratar a injustiça desenfreada de cada sociedade, e uma religião corrompida pela idolatria. Embora avisos severos de julgamento dominem este livro, Miqueias previu uma futura restauração do povo de Deus à sua terra. Isso será conseguido por um Descendente de Davi, que nasceria em Belém. O Rei vindouro estabelecerá o reino de Deus na terra e governará na força e majestade do Senhor. I. Reinos Corruptos .. II. O Rei Vindouro ... III. O Reino de Deus

ESBOÇO DO CONTEÚDO ......................................................................................................M q 1— 2 ......................................................................................................M q 3— 5 ......................................................................................................M q 6— 7

GUIA DE LEITURA (3 D i as) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 184 185 186

Capítulos 1— 2 3— 5 6— 7

Passagem Essencial 2 5 7

MIQUEIAS 3

DE JULHO LEITURA 184

DOIS REINOS CORRUPTOS Miqueias 1—2

“Cobiçam campos, e os arrebatam, e casas, e as profetas, que proclamavam o que seus benfeitores tomam; assim fazem violência a um homem e à sua quisessem ouvir em vez de quaisquer palavras incô­ casa, a uma pessoa e à sua herança" (Mq 2.2). modas de Deus. A religião também foi corrompida. Em Israel, um A corrupção em qualquer sociedade é prelúdio de corpo de sacerdotes não vindos de Arão ministra­ desastre. As pessoas da época de Miqueias não que­ va em centros de adoração onde ídolos em forma riam ouvir essa mensagem. Mas é vital para qual­ de touro supostamente representavam o trono de quer pessoa ouvir e prestar atenção. Deus. Em ambos os países, ritos e práticas pagãs haviam se tornado elementos do que se pensava Contexto ser a adoração a Deus. Em nenhuma das nações a Miqueias, contemporâneo de Isaías e Amós, mi­ pureza moral ou a justiça social eram vistas como nistrou perto do final do crítico século VIII a.C. essenciais para a religião, a qual, para a maioria das Israel e Judá experimentaram um ressurgimento pessoas, era simplesmente uma questão de obser­ de poder e grande prosperidade material. Durante vância ritual. algumas décadas, as grades potências, a Assíria, ao Cada um dos grandes profetas do século VIII a.C. norte, e o Egito, ao sul, estiveram fracas e indecisas. condenou vigorosamente os pecados de sua so­ Sob a agressiva liderança de Jeroboão II, em Israel, ciedade. Juntos, eles avisaram sobre a fatalidade e de Ezequias, em Judá, os hebreus ampliaram seu iminente e incentivaram o povo de Deus a se arre­ território, que veio a incluir a maior parte da área pender. Contudo, cada um deles estava consciente possuída na época de ouro de Davi e Salomão. de que Israel e Judá estavam muito presos ao mate­ A prosperidade, porém, não era universal. Os no­ rialismo e ao egoísmo para pensar em Deus. Cada vos ricos de ambos os reinos usaram sua riqueza um falou sobre um dia de julgamento que estava para explorar os pobres, o que resultou em tem­ prestes a raiar. po de grande deslocamento social. Muitas famílias Os avisos dos grandes profetas não foram ouvidos, perderam a terra dada por Deus a seus ancestrais, e a catástrofe prevista ocorreu. Durante a vida de que pretendiam que fossem da família para sem­ Miqueias e Isaías, uma Assíria renascida invadiu a pre. Os ricos também controlavam os tribunais, Terra Santa. O reino de Israel foi esmagado e sua onde fraude e suborno eram ferramentas usadas população arrastada para o cativeiro, juntamente para perpetuar a injustiça. Muitos dos pobres eram com cerca de 200.000 pessoas do povo de Judá. obrigados a venderem-se e às suas famílias como Judá, salva temporariamente pelo reavivamento escravos, e os ricos ignoravam a Lei Mosaica, que estimulado pelo piedoso rei Ezequias, sobreviveu exigia a libertação de um escravo hebreu depois de por mais 136 anos. Contudo, não houve nenhuma sete anos de serviço. mudança espiritual real no Reino do Sul, e Judá A aristocracia da riqueza, que incluía a casa real e sofreu o mesmo destino de Israel ao ser esmagada os principais sacerdotes, corrompia até mesmo os pelos babilônios, em 586 a.C.

Miqueias 1—2

Apesar dos lembretes sombrios e constantes dos pecados que causaram a destruição dos dois reinos corruptos, cada um dos profetas do século VIII deu motivo de esperança para o povo de Deus. Um remanescente sobreviveria no exílio e retornaria à antiga pátria judaica. Isaías chama nossa atenção para um Servo de Deus que, pelo seu sofrimento, redimiria o povo de Deus. Miqueias via um Rei vindouro, um Descendente de Davi. Nascida em Belém, esta Pessoa real governaria um Reino Unido e estenderia a glória de Deus aos confins da terra. A história dos dois reinos corruptos não é uma tra­ gédia total. E uma história que afirma a soberania do Deus que irá julgar o pecado, mas que então es­ tabelecerá o seu reino na terra. Um reino de justiça, paz e alegria. Um reino incorruptível, que durará para sempre. Visão Geral Deus logo julgaria Samaria e Jerusalém pelos seus pecados (1.1-7). Miqueias chorou e lamentou o prospecto (w. 8,9a), mas apenas o dia do julga­ mento humilharia o povo de Deus (w. 9b-16). As classes opressoras conheceriam a ruína (2.1-5) apesar das promessas vazias dos falsos profetas (w. 6-11). Contudo, um dia Deus unirá novamente o seu povo (w. 12,13). Entendendo o Texto “Samaria e Jerusalém” (Mq 1.1). As capitais men­ cionadas na Bíblia muitas vezes representam na­ ções. Assim, Nínive representa a Assíria, Damasco representa a Síria e, aqui, Samaria representa toda Israel, e Jerusalém toda a terra de Judá. Contudo, há mais coisas implícitas neste simples recurso literário. A capital era a residência da fa­ mília real e da aristocracia: a classe dominante que estabelecia a política e o tom moral e político da nação. Em um sentido real, a capital resume o ca­ ráter da nação que ela encabeça. É por isso que na profecia bíblica tantas das palavras condenatórias dos profetas são dirigidas contra as capitais e seus habitantes. Hoje, muitas vezes ouvimos dúvidas quanto a ser imperioso ou não examinar a “vida privada” de um candidato a cargo público. Que questão tola. E claro que sim! A moralidade pessoal e social dos indivíduos que conduzem qualquer governo terá impacto dramático, não apenas pelos seus exem­ plos, mas também sobre a legislação aprovada. O foco de Miqueias na profecia sobre Samaria e Jerusalém lembra-nos de que devemos examinar a vida privada e as convicções pessoais dos candi­ datos a cargo público. E devemos votar em con­ formidade.

“O Senhor, desde o templo da sua santidade” (Mq 1.2-7). Sempre que o Antigo Testamento retrata Deus falando no “templo da sua santidade”, a ima­ gem sugere o julgamento divino. A santidade é um dos mais importantes conceitos bíblicos. No Antigo Testamento, santo é aquilo que é reservado a Deus, separado de todas as coisas que são comuns ou profanas. Os objetos santos, como os recipientes de ouro usados no Templo, o solo sagrado, e especialmente o povo santo, eram con­ siderados pertencentes a Deus e deviam ser apenas de seu uso e serviço. O próprio Deus é intrinsecamente santo. Esta santidade é exibida de duas maneiras principais: no seu compromisso fiel com o que é bom e no seu julgamento dos que abandonaram o cami­ nho da santidade e se desviaram de sua condição “separada”. Miqueias começou sua profecia mostrando a Israel e Judá o Deus que é santo e que está no Templo da sua santidade. Este Deus estava prestes a mos­ trar sua santidade julgando o seu povo perverso. Na punição pelo pecado que Israel e Judá experi­ mentariam, a santidade de Deus seria novamente demonstrada. E, portanto, Deus disse por meio de Miqueias: “Farei de Samaria um montão de pedras do cam­ po, uma terra de plantar vinhas, e farei rebolar as suas pedras no vale, e descobrirei os seus fun­ damentos. E todas as suas imagens de escultura serão despedaçadas” (w. 6,7). Que lembrete para você e para mim. Fomos sepa­ rados para Deus também. Devemos servi-lo e reve­ lar a sua bondade por meio de vidas marcadas jus­ tamente por esta qualidade. Mas se nos desviarmos e seguirmos o caminho tomado por Judá e Israel, Deus ainda assim exibirá sua santidade em nós. Deus nos julgará e nesse julgamento revelará sua santidade a todos. “Por isso, lamentarei, e uivarei” (Mq 1.8,9a). Nos tempos bíblicos, os indivíduos mostravam sua hu­ mildade perante Deus, sua dor pelos pecados e sua confissão, chorando ruidosamente, lamentando-se, uivando e gemendo. Também rasgavam suas me­ lhores roupas e usavam apenas os trajes mais velhos e mais gastos. Aqui, Miqueias expressou sua reação à visão do julgamento vindouro. Ele percebeu quão perversa era a sua nação, e respondeu imediatamente com ações que mostravam sua própria percepção de culpa e dor. Que lição. Este homem que proferiu a mensagem de julgamento de Deus identificou-se com seu povo pecador.

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Miqueias 1—2

É fácil demais nos comportarmos como juizes no relacionamento com os que ficam aquém dos padrões de certo e errado de Deus. Contudo, Mi­ queias, em vez de adotar uma postura de superio­ ridade, sentiu-se esmagado pela enormidade dos pecados que prevaleciam em sua sociedade. Ele era membro daquela sociedade e, portanto, não estava isento de culpa. E, assim, Miqueias, esmagado pela compreensão de que, de alguma maneira, ele tinha participação nos pecados de seu tempo, chorou e lamentou-se em dor e pesar. Como pessoas tementes a Deus, você e eu também devemos chorar pelos pecados em nossa socieda­ de. Não somos isentos de culpa, mas carregamos alguma responsabilidade por tudo que acontece em nossa nação e comunidade. Para que causemos um impacto em nosso mundo, devemos reconhe­ cer este fato, humilharmo-nos como Miqueias se humilhou, e então fazer tudo o que pudermos para efetuar a mudança. “Passa... com nudez vergonhosa” (Mq 1.9b-16). Miqueias humilhou-se diante da visão do julga­ mento iminente. O povo de Judá e Israel ignora­ ram a visão e rejeitaram a pregação de Miqueias. Contudo, logo seriam humilhados — pelos acon­ tecimentos. Israel seria humilhado, quando seus sobreviventes, com cabeças inclinadas em vergo­ nha, cambalearam acorrentados pela estrada para a Assíria (v. 11). Judá seria humilhada, quando Laquis, a última cidade fortificada que protegia a rota para Jerusalém, caísse diante de Senaqueribe (v. 12). As pessoas sempre têm uma escolha. Não é uma es­ colha entre a arrogância e a humildade, entre a in­ dependência orgulhosa e a submissão a Deus. Ah,

DEV OCIONAL______ Não Fazem bem as minhas Palavras?

(Mq 2) Eu suspeito que muitos pregadores perderam os seus púlpitos porque as congregações não gostavam do que eles lhes diziam. Foi mais ou menos assim com Miqueias. E eu pos­ so entender por quê. Afinal, Miqueias atingia os abastados, os que pagavam as contas, como hoje (w. 1-5). Você não pode dizer “Deus vai pegar vo­ cês!” à elite da comunidade e esperar incentivo para continuar a pregar. Até mesmo outros profetas tentaram refreá-lo. “Não profetize deste modo”, disseram-lhe (w. 6,7). Tenhamos sermões que tragam conforto, não con­ fronto. Tenhamos pregação positiva, náo negativa.

não. A escolha é submetermo-nos a Deus quan­ do Ele nos falar por meio de sua Palavra ou nos submetermos, curvados de vergonha, quando as circunstâncias esmagarem o nosso orgulho. Quão sábio é nos submetermos a Deus de boa vontade, e deixar que Ele nos levante. Quão tolo é resistir arrogantemente a Deus e fazer com que Ele nos esmague. “A i daqueles que... intentam a iniquidade” (M q2.15). Miqueias ofereceu aqui um retrato da explora­ ção dos pobres pelos ricos. Sendo bons negocian­ tes, os ricos faziam seus projetos cuidadosamente. Conseguiam os campos que cobiçavam porque estavam dispostos a trapacear... “porque está no poder da sua mão”. O que os opressores dos pobres não sabiam era que, enquanto eles planejavam, Deus estava fazen­ do planos para derrubá-los! E Ele certamente tinha o “poder de fazê-lo”! Eis um lembrete sadio: Aqueles que parecem ter o poder de oprimir e de praticar injustiças na nossa sociedade estão cegos para os planos que Deus está preparando contra eles. Podemos sofrer danos ago­ ra. Mas sabemos que o dia de Deus está chegando, quando os exploradores dirão: “Nós estamos intei­ ramente desolados!” “Pô-los-ei todosjuntos”(Mq 2.12,13). Miqueias ter­ minou este primeiro oráculo com uma nota posi­ tiva. O futuro imediato era sombrio por causa das nuvens do julgamento divino. Ainda assim, as nu­ vens se dissipariam e o povo de Deus, dispersado, seria reunido novamente, para viver em um reino não mais corrompido. Então, seu rei, o Senhor, es­ tará “à testa deles”.

Miqueias ficou zangado. Podemos ouvi-lo res­ mungando: “Se um mentiroso e trapaceiro viesse e dissesse: ‘Profetizarei para vós fartura de vinho e cerveja’, ele seria o melhor profeta para este povo!” Eles queriam alguém que lhes dissesse o que que­ riam ouvir, não o que Deus queria lhes dizer. Fiquei impressionado enquanto trabalhava com os livros dos Profetas na preparação deste livro pelo fato de que muitas vezes Deus não tem palavras confortadoras a dizer. Muitas vezes Ele nos con­ fronta. Muitas vezes Ele exige. Muitas vezes Ele nos obriga a examinar nossa vida, a examinar nossa sociedade, com olhos límpidos. Náo queremos ou­ vir que sociedades pecaminosas clamam por julga­ mento e não queremos encarar a injustiça, o crime,

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Miqueias 3— 5

a corrupção morai que marcam a nossa nação hoje. E, no entanto, Deus nos diz por meio de Miqueias: “Não é assim que fazem bem as minhas palavras ao que anda retamente?” (v. 7, TB) Se estivermos comprometidos com Deus e com os seus caminhos, as suas palavras não irão nos fazer bem? Elas não faziam bem às pessoas dos reinos para os quais Miqueias pregou tempos atrás. Não faziam bem porque as pessoas de Israel e Judá não estavam dispostas a andar retamente. Eles não estavam dis­ postos a acolher no coração as palavras de Deus e agir de acordo com elas. Mas se você e eu acolher­ mos no coração as palavras desconfortáveis de Deus e agirmos de acordo com elas, estas palavras certa­ mente nos farão bem. E farão bem à nossa nação.

Visão Geral Miqueias acusou os governantes (3.1-4) e líderes religiosos (w. 5-8) de Israel, que haviam levado a nação à beira do desastre (w 9-12). Contudo, no final, Sião será exaltada (4.1-13) sob um Reio (5.14), que trará paz (w. 5,6) e pureza (w. 7-13).

Entendendo o Texto “Não é a vós que pertence saber o direito?” (Mq 3.14). Miqueias começou seu segundo sermão dirigindo-se aos líderes de Israel. O desafio era adequado. Certamente, aqueles que estão no governo, que têm a responsabilidade de administrar a justiça, devem ser capazes de reconhecer o que é justo e correto. Miqueias, porém, retratou um grupo de líderes que odeia o bem e ama o mal. Em termos vívi­ Aplicação Pessoal dos, Miqueias retratou uma nação cujos cidadãos Deixe que as palavras desconfortáveis de Deus lhe eram como gado, que deveriam ser tratados como façam bem. Escute-as com cuidado, e obedeça-as. animais, que eram abatidos e preparados para se­ rem comidos. Os líderes exploravam o povo e só se Citação Importante importavam com o lucro pessoal que conseguiam Eu o busquei no lugar calmo e distante onde arrancar das massas sofredoras. as flores desabrocham, no solo banhado de sol; A acusação de Miqueias pode parecer extrema, mas reflete uma postura básica adotada em toda a Eu o encontrei onde os milhares de rios da vida fluem, em meio ao pecado e ao labor. Escritura. Os líderes são chamados a servir outros, Tentei ouvir Seus passos no claustro profundo nunca a explorá-los. Um jovem Salomão agradou e silencioso, do santuário do pensamento secreto; grandemente a Deus quando, em vez de pedir ri­ Ouvi acima do tumulto do coração do mundo, queza pessoal ou glória, pediu “sabedoria e con­ hecimento, para que”, disse ele, “possa sair e entrar a Voz divina que ainda buscava. Pensei que distante, e sozinho, poderia sentir a sua perante este povo” (2 Cr 1.10). Esta é a postura presença ao meu lado, e conquistar a sua alegria; adequada a qualquer posição de liderança, seja ela secular ou espiritual. Senti seu toque no pulso cansado da vida ao lado de um leito de dor. Qualquer oportunidade que tenhamos de liderar Portanto, aqueles que buscam o Mestre seguindo exige que examinemos cuidadosamente nossos co­ o seu próprio caminho — rações. Somos motivados por um profundo inte­ do ganho, ou da perda — resse pelo bem-estar dos outros? Ou somos motiva­ irão encontrá-lo onde os sonhos do eu são postos dos por interesses egoístas, por orgulho da posição de lado, ou paixão pelo poder? E, ali — uma cruz. Líderes exploradores renunciam ao seu maior re­ — Dorothy Clark Wilson curso. Miqueias disse que, quando a tribulação viesse, “eles clamarão ao Senhor, mas Ele não res­ 4 DE JULHO LEITURA 185 ponderá” (Mq 3.4). O Líder cujos motivos e ações O REI QUE VIRÁ são puros pode clamar a Deus e esperar que Ele Miqueias 3—5 responda!

“E tu, Belém Efrata, posto quepequena entre milhares de Judá, de ti me sairá o que será Senhor em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq 5-2).

“Para os que lhes pagam eles prometem paz” (Mq 3.5-7, NTLH). Novamente, Miqueias concentra nossa atenção nos motivos. Os profetas em Israel, responsáveis por comunicar a mensagem de Deus, eram motivados pelo ganho potencial. Se alguém Os líderes antigos não conseguiram levar Israel à prá­ os pagasse, se apressariam a dizer o que o emprega­ tica da justiça. Deus remediaria as falhas do homem dor quisesse ouvir! provendo o Seu próprio Governante. Alguém que As consequências de abordar o ministério desta apascentará o rebanho de Deus, na força do Senhor. maneira são as mesmas do mau uso da liderança

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secular. “Todos eles cobrirão os seus lábios, porque não haverá resposta de Deus” (v. 7). A coisa mais importante que você e eu podemos fa­ zer é viver em comunhão com o Senhor. Isto man­ tém aberto o canal que permite que nós falemos com Deus e que Deus fale conosco.

“Ouvi agora isto, vós... que abominais o juízo e per­ verteis tudo o que é direito” (Mq 3.8-12). As conse­ quências espirituais das falhas de líderes e profetas são grandes. Mas as consequências materiais tam­ bém o são. A aristocracia de Israel havia criado uma sociedade injusta. “Os seus chefes dão as sentenças por presentes, e os seus sacerdotes ensinam por in­ teresse, e os seus profetas adivinham por dinheiro”. Como resultado, a própria nação não podia contar com a ajuda de Deus em tempos de necessidade. Uma sociedade injusta será destruída. Como Mi­ queias disse: “Sião será lavrado como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de pedras, e o monte desta casa, em lugares altos de um bosque” (v. 12). Não conte com a ajuda de Deus se estiver compro­ metido com um estilo de vida pecaminoso. Em vez disso, conte com Deus para trazer o desastre. “Nos últimos dias” (Mq 4.1-5). Os pecados dos lí­ deres da nação haviam levado Israel à beira da des­ truição. Mesmo assim, o plano final de Deus para Israel será realizado. O plano é que todos os povos do mundo busquem o Deus de Jacó. No fim, no tempo de Deus, a palavra do Senhor fluirá de Jeru­ salém e se tornará o princípio de vida pelo qual as disputas serão solucionadas. A guerra cessará, e os indivíduos usufruirão o produto dos seus campos e vinhas em paz duradoura. Então, Israel andará “no nome do Senhor... Deus, eternamente e para sempre” (v. 5). Coisas terríveis realmente acontecem neste mun­ do, causadas por homens e mulheres egoístas e gananciosos. Mas não era assim que devia ser. E não será assim. No tempo de Deus, a vida nesta terra irá tornar-se tudo o que originalmente Deus pretendeu que fosse. “Congregarei os exilados” (Mq 4.6-13). O povo de Deus será dispersado. Mas, quando o tempo de Deus chegar, eles serão reunidos. O Deus que ex­ pulsa, restaurará. Ele, que pune, abençoará. Precisamos nos lembrar disto. Por mais sombria que seja uma experiência presente, a luz brilhante do dia encontra-se logo adiante. “E tu, Belém” (Mq 5-1-5). Miqueias proferiu uma das previsões messiânicas mais significativas e cla­

ras. Surgirá um Governante que trará as bênçãos prometidas a Israel. O Governante nascerá em Belém, embora as suas “origens” sejam “desde os tempos antigos” (v. 2). Este Governante apascen­ tará o seu rebanho (Israel) “na força do Senhor” (v. 4). Ele garantirá a segurança e paz deles, pois a sua grandeza alcança “os confins da terra” (v. 4). Como outras profecias messiânicas, esta previsão não faz distinção entre a primeira e a segunda vin­ da de Cristo. Ele nasceu em Belém, como Miqueias previu. Ele ainda não estabeleceu aquele governo que trará paz à terra. Embora a profecia do Antigo Testamento frequen­ temente deixa de especificar tempos, as profecias bíblicas foram cumpridas de maneira literal. Jesus, como o Filho de Deus, tinha origens em “tempos antigos”. E Jesus nasceu em Belém exatamente como Miqueias especificou 700 anos antes. Raramente somos capazes de compreender as im­ plicações completas das visões bíblicas do futuro. Mas podemos ter a confiança de que aquilo que Deus afirma que acontecerá, está adiante. E po­ demos esperar ansiosamente e com entusiasmo para ver desenrolar-se o plano de Deus para nossa terra. Sua grandeza chegará “até aos fins da terra” (v. 4). E nós a veremos!

“Estará o resto de Jacó no meio de muitos povos, como orvalho do Senhor” (Mq 5.6-15). Pode parecer estranho, mas o exílio de Israel e Judá serviu aos melhores interesses do povo de Deus. Foi uma pu­ nição. Mas foi uma bênção também. Na pequena Palestina, a multiplicação do povo judeu teria sido limitada pelo tamanho limitado da terra e pelos poderosos inimigos que fizeram da Terra Santa um campo de batalha por tantos mi­ lênios. Mas, espalhado por todo o mundo, o povo judeu atingiu vastos números. Quão vastos? Estu­ dos recentes sugerem que, nos tempos do Novo Testamento, uma entre dez pessoas no Império Ro­ mano era judia! E que, no reino parto, que incluía boa parte dos antigos territórios babilónico e persa, a proporção chegou a uma em cada cinco! A vida não era fácil para os exilados! Havia conflito frequente com os gentios que viviam nas cidades dos mundos romano e oriental. Mas Deus preser­ vou seu povo. Sempre houve um remanescente. E, na verdade, um “remanescente” muito maior do que jamais habitara a Terra Santa durante seus anos de glória! Que pensamento a considerarmos. Mesmo os cas­ tigos de Deus têm como intenção abençoar. Não devemos desistir, mas lembrar que, mesmo por meio do sofrimento Deus quer nos fazer bem.

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DEV OCIONAL_________ Balançando a cabeça devagar, o jovem olhou para O Rei Jesus (Mq 5) “Mas o que realmente significa esta promessa de um Rei vindouro?” O velho judeu sorriu e desenrolou um pergaminho específico até o trecho que identificamos como Mi­ queias 5. “O que significa? Bem, primeiro, veja aqui que o Rei de que estamos falando é Deus, o Ancião de Dias. Ele virá para nós como nosso Messias, nasci­ do em Belém, da linhagem de Davi (v. 2). Por ser quem Ele é, Ele pretende o que pretende.” “Então, senhor, o que Ele pretende?” “Primeiro, Ele pretende que sejamos vazios e in­ completos sem Ele. Veja aqui. Até que Ele venha e Belém o dê à luz, seremos um povo abandonado. Precisamos dEle para que possamos descobrir a nós mesmos” (v. 3). “Segundo, Ele significa segurança. Sem Ele, esta­ mos à mercê das circunstâncias e dos inimigos. Mas quando Ele vier na força do Senhor, Ele cuidará de nós como um pastor cuida do seu rebanho. Como ovelhas de Deus, estaremos seguros” (v. 4). “E terceiro, filho, Ele significa paz. Sua grandeza alcançará os confins da terra, e seu poder garanti­ rá nossa segurança. Quando Ele finalmente estiver presente conosco, sua própria presença nos trará paz perfeita”. O garoto assentiu em silêncio. Olhando para o céu, disse: “Espero que Ele venha logo”. Outro jovem perguntou ao pai: “Pai, o que signifi­ ca conhecer a Cristo?” E seu pai abriu a sua Bíblia em Miqueias 5. “Veja”, ele disse. “Lembre-se de que o Bebê nascido em Belém não era uma criança qualquer. Ele era Deus, o Ancião de Dias, vindo ao nosso mundo. Pelo fato de Jesus Cristo ser Deus, conhecê-lo tem um valor muito alto.” “Então, Pai”, o jovem perguntou, “o que significa?” “Primeiro, significa que sem Ele estamos sós, sem ninguém que nos ajude, como um bebê abando­ nado”. “Segundo, significa que, quando o conhecemos, não estamos mais sozinhos. Ele é como um pas­ tor que ama e cuida de suas ovelhas. E nós somos como ovelhas. Somos indefesos sozinhos. Mas se­ guros quando Jesus está cuidando de nós”. “E, terceiro, filho, significa que nunca precisamos ter medo de coisas que são grandes demais para nós. Como o poder de Jesus chega a todo lugar na terra, podemos ter paz interior. Conhecer a Jesus significa que somos de Deus, que estamos seguros de tudo que pode nos fazer mal”.

o céu. “Com certeza estou feliz porque nós agora o conhecemos. Você não está?”

Aplicação Pessoal A presença de Jesus significa para nós, hoje, tudo o que o Jesus, então vindouro, significaria para o povo de Deus do Antigo Testamento. Citação Importante Para além das nuvens de guerra e dos caminhos avermelhados, Vejo a Promessa dos Dias Vindouros! Vejo o seu Sol surgir, carregado de graça, Para secar as lágrimas da terra e apagar todos os seus males! Cristo vive! Cristo ama! Cristo governa! Nunca mais a Força, Ainda que aliada de todas as Forças da Noite, Suplantará o Correto. Nunca mais o Mau Feito Prolongará as agonias brutas do mundo. Quem espera o seu Tempo certamente verá O triunfo de sua Constância; — Quando, sem obstáculo, barreira ou empecilho, A vinda de seu Dia Perfeito Varrerá os Poderes da Noite; — E a Fé, a nova plumagem para um voo mais no­ bre, E a Esperança, acessa com brilho radiante, E o Amor, vestido de beleza, Saudarão a luz da manhã! — John Oxenham 5 DE JULHO LEITURA 186 o REINO DE DEUS Miqueias 6 —7

“Ele te declarou, 6 homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus?” (Mq 6.8). Um dia, o reino de Deus encherá a terra. Até lá, nós, que conhecemos o Senhor, podemos viver como cidadãos desse reino, de modo que a nossa vida demonstre a nossa fidelidade ao Rei Jesus. Contexto O Reino de Deus. O conceito bíblico de reino difere da visão moderna. Tendemos a pensar em um reino como um lugar: uma terra com fronteiras, dentro da qual se fala uma língua comum. No Antigo Tes­ tamento, um “reino” é uma esfera dentro da qual um rei é supremo.

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Miqueias 6— 7

Em um sentido, o universo inteiro é um reino de Deus, pois Ele é seu Criador e tem a autoridade final. Contudo, desde a queda de Satanás, o uni­ verso tem sido um reino em rebelião contra seu Governante legítimo, assim como, desde a queda de Adão, a terra tem sido um planeta rebelde. Contudo, a Bíblia revela o Deus que, gentil e amo­ rosamente, busca recuperar os rebeldes da terra. Deus falou a Abraão e fez-lhe promessas amplas o suficiente para abranger toda a sua semente. Deus exerceu seu poder para libertar os filhos de Abraão, o povo judeu, da servidão no Egito e levá-los à ter­ ra que Ele prometera aos seus ancestrais. E Deus lhes deu uma Lei, para ensinar a Israel o caminho do amor — para mostrar-lhes como viver tendo-o como Rei, submetendo-se voluntariamente à sua vontade. Miqueias retratou um povo que havia abandonado a vida da aliança, e que se recusava a viver tendo Deus como o seu Rei. Contudo, neste terceiro ser­ mão, Miqueias lembra a Israel, e a nós, três grandes verdades. Deus ainda é Rei, e o povo de Deus ainda pode escolher aquele estilo de vida simples que é a vontade dEle para os seus. Deus ainda é Rei, e, mesmo em uma sociedade rebelde, um indivíduo pode conservar a cidadania do reino de Deus. E Deus será Rei sobre toda a terra. Por fim, sua sobe­ rania será reconhecida por todos, e o mundo todo será o reino do nosso Deus. Visão Geral Miqueias explicou a contenda de Deus contra Is­ rael (6.1-8), e anunciou a sentença de Deus (w. 9-16). Ele lamentou o rompimento da vida con­ forme a aliança (7-16), mas viveu na esperança (w. 7-10) da vitória final de Deus (w. 11-20). Entendendo o Texto “O Senhor tem uma contenda com o seu povo” (Mq 6.1-5). Miqueias retratou os montes de Israel, aquelas testemunhas eternas do relato histórico da redenção, como juizes, que ouvem Deus expor sua contenda contra Israel. A pergunta que Deus fez a Israel, “Em que te en­ fadei?” (v. 3), pode ser parafraseada como: “O que fiz para que te cansasses de me obedecer?” O que Deus havia feito? Oh, tudo que Deus fizera fora ser fiel às suas obrigações na aliança como Gover­ nante de Israel e proteger o seu povo. Deus redi­ miu Israel da terra de sua escravidão, deu-lhes um grande líder, Moisés, protegeu-o de seus inimigos e conduziu-os em segurança através do deserto até a Terra Prometida (w. 4,5). Sempre que Israel, você e eu nos desviamos do Se­ nhor, não podemos culpá-lo. Deus é inteiramente

fiel ao seu povo, plenamente comprometido com as suas promessas na aliança. Se nos alienamos de Deus, podemos ter certeza de uma coisa: Não foi Deus que se afastou de nós. Fomos nós que nos afastamos dEle! “Com que me apresentarei ao Senhor?” (Mq 6.67). O que este Deus fiel queria do seu povo? M i­ queias, assumindo o lugar de Israel, usou de ironia para resumir o que o povo havia estado disposto a oferecer-lhe: holocaustos. Milhares de carneiros. Até mesmo os próprios filhos, como os pagãos. Que arremedo. Israel havia respondido ao amor de Deus praticando uma religião de detalhes ex­ teriores, uma religião de rituais. O povo havia até mesmo corrompido essa religião, violando a von­ tade expressa de Deus e oferecendo crianças em sacrifício. Deus, o nosso Rei, não está satisfeito, hoje, com uma mera religião, assim como não estava nos tem­ pos do Antigo Testamento. Deus tem sido fiel a nós. Ele quer que respondamos a Ele com o cora­ ção, e sejamos fiéis ao que Ele, como Rei, nos diz que deseja de nós. “Ele te declarou, ó homem, o que é bom” (Mq 6.8). Quando meu pai morreu, escolhi este texto para o culto fúnebre. Meu pai não tinha nenhum di­ reito especial à fama. Foi carteiro rural por mais de 30 anos, juiz de paz por mais 10 anos e um pescador entusiasmado. Tinha um senso de humor seco, olhos brilhantes, boa memória e voz, e uma fé silenciosa, sobre a qual raramente falava, mas que nunca escondia. Todos que conheciam meu pai o respeitavam, mas suspeito que poucos pensavam nele como uma pessoa especial. Foi por isso que escolhi este texto de Miqueias para o funeral. Tive a chance de encontrar e conhecer alguns dos “grandes” homens da nossa fé. E gos­ to deles. Meu pai, porém, representa para mim o cidadão leal do reino de Deus, que, não corrom­ pido pela fama, responde ao Senhor das maneiras mais simples e, no entanto, mais belas. O que Deus quer? Rituais religiosos? Milhares de sacrifícios? Não, Ele nos mostrou o que é bom. O que Deus, nosso Rei, pede é simplesmente que, em sua honra, ajamos com justiça, amemos piedosamente e ande­ mos humildemente com o nosso Deus. Você e eu podemos nunca vir a fazer parte da lista dos grandes cristãos aqui na terra. Mas, muito mais importante do que isso, é encontrarmo-nos no pa­ pel dos cidadãos do reino de Deus que respondem sinceramente à vontade do nosso Rei e que a de­ monstram em um estilo de vida simples, de justiça, piedade e humildade.

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Miqueias 6— 7

“Eu também te enfraquecerei” (Mq 6.9-16). O vere­ dicto foi a favor de Deus. Ele fora fiel como Rei de Israel. Israel havia se rebelado contra a sua vonta­ de. Alguns tentam zombar da justiça e da piedade, e pensam que podem fazer com que a humildade seja uma piada (w. 10-12). Deus é o Rei Supremo, e tais violações da sua vontade certamente seráo punidas. A vívida descrição do castigo de Israel nestes versos nos lembra de que Deus é o grande Rei. A rebelião contra Ele deve ser, e sempre será debelada. “A i de mim!” (Mq 7-1,2). Miqueias então expres­ sou, não a infelicidade de Israel, mas a de um in­ divíduo devoto em uma sociedade corrupta. Seu primeiro lamento foi de solidão. Ele procurou de­ sesperadamente pelos “devotos” com quem pudesse ter comunhão. Mas a terra estava vazia de pessoas devotas como um campo depois da colheita fica vazio de frutos para saciar a fome. Cada um de nós tem uma necessidade básica de co­ munhão com outros crentes. Precisamos de apoio mútuo. Precisamos saber que não estamos sozinhos em nosso compromisso com o Senhor. Se quiser crescer no seu relacionamento com Deus e como cristão, talvez sua primeira prioridade deva ser esta­ belecer vínculos com amigos cristãos que compar­ tilhem seu compromisso e desejos. “Não confieis no companheiro” (Mq 7-3-6, ARA). Uma sociedade em rebelião contra Deus, como a sociedade que Miqueias descreveu aqui, corrompe as relações. Podem ocorrer vínculos entre os devo­ tos porque se pode confiar que aqueles que proce­ dem com justiça, piedade e humildade se impor­ tem com os outros. Mas, em uma sociedade em que estas qualidades estão ausentes, o indivíduo experimenta isolamento e alienação. Os membros de uma sociedade corrupta sabem que não podem confiar em si mesmos e, portanto, não conseguem confiar em mais ninguém. Que maneira horrível de viver: “Não confieis no companheiro” e “Guarda a porta de tua boca daquela que reclina sobre o teu peito” (v. 5, ARA). Não é apenas certo viver como cidadãos leais do reino de Deus. E a única maneira de viver com fe­ licidade.

“Se morar nas trevas, o Senhor será a minha luz” (Mq 7.7-13). Miqueias havia procurado por pessoas de­ votas com quem ter vínculos e não encontrou nin­ guém. Encontrou apenas inimigos, satisfeitos com o aparente fracasso de suas previsões da fatalidade por vir. E, então, Miqueias, fez uma pergunta que milhões fizeram ao longo das eras. Como pode so­ breviver a pessoa devota, que procura viver como um cidadão do reino de Deus, enquanto viaja atra­ vés do mundo de Satanás? Miqueias disse simplesmente: “Eu, porém, espera­ rei no Senhor; esperei no Deus da minha salvação; o meu Deus me ouvirá” (v. 7). Apesar de agora estarmos nas trevas, podemos ver a luz que está começando a surgir no horizonte distante da histó­ ria. Deus está vindo e, quando Ele surgir, todos os reinos deste mundo tornar-se-ão o reino do nosso Deus e do seu Cristo. O que nos dá esperança ape­ sar da presente escuridão é a certeza de que o dia de Deus chegará. Como Miqueias disse, aguardar ansiosamente por um Israel restaurado: O dia de reconstruir teus muros virá (v. 11). “Apascenta o teupovo com a tua vara”(Mq 7-14,15). Quando Deus, o Rei, vier, Ele mostrará o seu po­ der. Este é o significado de apascentar “com a tua vara”. A vara era um bastão forte carregado pelos pastores. Não apenas o ajudava a caminhar em ter­ reno acidentado, mas também servia como uma arma para afastar animais selvagens que atacassem as ovelhas. Quando Deus, o Rei, vier, Ele protegerá os seus. Ele usará sua vara, paralelamente às “ma­ ravilhas” (milagres, atos de poder, como as pragas que atingiram o antigo Egito) no versículo 15, para esmagar todo e qualquer inimigo do seu povo. E bom lembrar que Deus é Rei. Ele merece a nossa fidelidade. Mas, como Senhor soberano, Ele tem o poder supremo, e a palavra final. Um dia, Ele o usará a favor dos seus, contra todos os inimigos. Como será bom então sermos bons cidadãos do seu reino, e não rebeldes contra o seu governo. “Com pavor virão ao Senhor, nosso Deus" (Mq 7.16,17)- A exibição do poder de Deus convence­ rá até mesmo um mundo hostil de que Ele é Rei. Privadas de seu poder, as nações finalmente se vol­ tarão a Ele.

DE V OCIONAL____________________________ Deus Será sempre Deus Experiências como a de Miqueias não são tão inco(Mq 7) Não é fácil dizer, quando nos sentimos sozinhos e indefesos como Miqueias obviamente se sentia: “Eu, porém, esperarei no Senhor” (v. 7).

muns quanto podem parecer. Mais de um cristão em nossas cidades sente a mesma angústia que Miqueias expressou. Mais de um sente-se só (w. 1,2). Mais de um sente-se rodeado de uma violência e

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Miqueias 6—7

corrupção com as quais simplesmente não conse­ gue lidar (w. 3-6). A promessa da vinda do nosso Rei existe, mas, para muitos, esse dia parece muito distante. Muito irreal. O que mantém a nossa fé viva em situações em que não há esperança? Miqueias fechou seu livro com uma explicação simples. Nossa esperança é manti­ da viva pelo simples fato de que Deus é Deus. Sua natureza, seu caráter, são a fundação firme sobre a qual nossa esperança é edificada. E porque Deus é quem é que sabemos que tudo ficará bem. Quem é Ele? Ouça as palavras de Miqueias: “Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade e que te esqueces da rebelião do res­ tante da tua herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na benignidade. Tornará a apiedar-se de nós, subjugará as nossas iniquidades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar. Darás a Jacó a fidelidade e a Abraão, a benignidade que juraste a nossos pais, desde os dias antigos” (w. 18-20).

Portanto, quando estiver se sentindo triste ou der­ rotado, releia estas palavras de Miqueias. E, nova­ mente, lembre-se de que Deus será sempre Deus. E, como Ele será quem é, você e eu podemos aguardar na esperança de que Ele aja. Aplicação Pessoal O caráter de Deus é a garantia que temos de que boas coisas nos sucederão, mais adiante. Citação Importante “Se o Senhor está conosco, não temos motivos para temer. Seu olhar está sobre nós. Seus braços estão sobre nós. Seus ouvidos estão abertos para as nossas orações — A sua graça é suficiente, e a sua promes­ sa é imutável.” —John Newton

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em ZACARIAS

NAUM INTRODUÇÃO Naum profetizou contra Nínive, capital da Assíria, enquanto aquele império ainda estava no auge de seu poder, na metade do século VII a.C. O profeta, um cidadão de Judá, previu a queda da cidade e descreveu vividamente a maneira como ela foi efetivamente tomada. Este breve livro lembra-nos que Deus é um Deus de vingança, além de amor. Apesar da graça de Deus, Ele não poupa os ímpios. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. A Ira de D eu s......................................................................................... II. A Queda de N ínive..............................................................................

......Na 1 Na 2— 3

GUIA DE LEITURA (1 Dia) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 187

Capítulos 1— 3

Passagem Essencial 1

NAUM 6 D E JU LH O LEITURA 187

CONTRA NÍNIVE Naum 1— 3

“O Senhor é um Deus zeloso e que toma vingança; o Senhor toma vingança e é cheio de furor; o Senhor toma vingança contra os seus adversários e guarda a ira contra os seus inimigos” (Na 1.2). Qualquer visão de Deus que não leve em conta sua. ira é uma visão distorcida. Mas, corretamente com­ preendida, mesmo a doutrina da ira de Deus é um conforto para os seus santos. Visão Geral A ira de Deus assume a forma de um julgamento judicial dos pecadores (1.1-14) que isenta os seus (v. 15). A destruição de Nínive (2.1— 3.17), a or­ gulhosa capital da Assíria, demonstra a vingança judicial de Deus (w. 18,19). Entendendo o Texto “O Senhor toma vingança contra os seus adversários” (Na 1.1-8). Quando pensamos sobre a ira de Deus, ou a vingança divina, é útil lembrar que a vingan­ ça é dirigida contra os inimigos de Deus. Naum descreveu Deus como “tardio em irar-se”, mas nos lembra que “ao culpado não tem por inocente”. A ira, ou vingança, de Deus, está ligada a um ato ju­ dicial. E certo que Deus puna os ímpios e maus. Na verdade, é igualmente justo que Ele puna os maus, já que cabe a Ele cuidar dos “que confiam nele”. Não cometamos o erro de pensar que a vingança, de alguma maneira, vai contra o caráter de Deus. Como Naum disse: “O Senhor é bom” (v. 7). Con­ tudo, a “bondade” não está apenas em contraste com o mal; ela se coloca contra o mal! Se Deus não estivesse disposto a vingar-se dos maus e a tratá-los como objeto da sua ira, Ele não seria bom.

“Um que pensa mal contra o Senhor”(Na 1.9-15). O ninivita que pensou o mal contra o Senhor e que era um conselheiro de Belial, alguém que aconse­ lhava a “maldade” é identificado, em Naum 3.18, como o “rei da Assíria”. E provável que a referência específica seja a Senaqueribe, o mais agressivo dos conquistadores assírios, que, segundo registros as­ sírios, devastou cerca de 47 cidades fortificadas de Judá em 701 a.C. E feita alusão a um importante princípio nesta pas­ sagem. Deus usara a Assíria para afligir Judá (1.12). Mas os assírios continuaram a ser responsáveis pe­ los seus motivos e ações. A Assíria não atacou Judá como uma resposta consciente à vontade de Deus. Na verdade, o ataque assírio foi um indício de me­ ditação do mal contra Deus. Vimos isso claramente na ridicularização dirigida contra o Senhor pelo co­ mandante de campo assírio, que pediu a rendição de Jerusalém (veja Isaías 36). O princípio que isso ilustra é o seguinte: Deus pode usar e usa os atos maus dos homens maus para alcançar os propósi­ tos divinos. Mas Deus não faz os ímpios fazerem o mal. Portanto, os maus continuam responsáveis peio mal que fazem. Então, Deus declarou por meio do seu profeta: “Contra ti... o Senhor deu ordem [Nínive]... fa­ rei o teu sepulcro, porque és vil”. Este é o destino de todos os que maquinam e fazem o mal. (Veja o DEVOCIONAL.) “Asportas do rio se abrirão”(Na 2.1—3.1). O restan­ te do Livro de Naum é dedicado a quatro diferentes descrições da queda de Nínive. Sem dúvida, a mais significativa é a descrição da abertura das portas do rio e a subsequente inundação e o fogo na cidade.

Naum 1— 3

“Eis que eu estou contra ti, diz o Senhor” (Na 3.217). Estas descrições adicionais da queda de Nínive estão contidas nestes versos (w. 2-7, 8-11, 12-17). Juntos, eles têm como propósito inculcar o horror daquele dia e retratar tão vividamente quanto pos­ sível as implicações da ira de Deus. Não há nenhuma visão de piedade aqui. Apenas visões de morte e sangue. São imagens impressionantes que inculcam a realida­ de da ira de Deus. Imagens que nos ajudam a perceber que a “vingança de Deus” não é um conceito teoló­ gico abstrato, mas um terror que paira sobre a cabeça dos maus, estejam eles conscientes disso ou não.

Nínive estava situada junto a três rios — ela pos­ suía um sistema de canais que dirigia as águas para os diferentes bairros. Assim que os subúr­ bios de Nínive foram tomados, as portas destes canais (como bab-nari, “comporta do rio” pode indicar) puderam ser abertas e as defesas da ci­ dade inundadas. Quando as paredes do palácio ruíram, soldados inimigos invadiram a cidade e a saquearam. Que destino para a capital de um império que havia pilhado o mundo. Todos os tesouros que haviam sido juntados foram tomados. “Vazia, e esgotada, e devastada ficará” (2.10), e todos aqueles que haviam levado o terror a vítimas indefesas foram tornados indefesos. “Derrete-se o coração, e tremem os joelhos, e em todos os lombos há dor; e os rostos de todos eles empali­ decem” (v. 10). Deus estava contra Nínive. Na sua ira, Ele ha­ via decretado sua destruição e, portanto, sua destruição era certa. Então, “Ai da cidade en­ sanguentada!” (3.1).

DEVDeixar OCIONAL______ os Culpados sem Punição

“Sobre quem não passou continuamente a tua malí­ cia?” (Na 3.18,19). Novamente o profeta nos lem­ bra que a vingança descrita no seu livro foi decre­ tada como um ato judicial. Tudo o que sobreveio aos assírios era algo que eles haviam trazido sobre si com seus próprios atos. A ira de Deus nunca é ca­ prichosa. Jamais é um ataque descuidado de raiva. Deus, o Juiz, determinou uma punição que é justa.

(Na 1) Ver Deus como um Deus de vingança, cheio de ira, é um tanto inquietante. Mas é importante para ter­ mos um conceito adequado de Deus e para lidarmos adequadamente com o crime em nossa sociedade. Eis o que é tão impressionante neste primeiro capítu­ lo de Naum: O profeta disse, sem qualquer restrição: “O Senhor é bom” (v. 7). Mas, ao mesmo tempo, dis­ se: “O Senhor é um Deus zeloso e que toma vingança; o Senhor toma vingança e é cheio de furor; o Senhor toma vingança contra os seus adversários e guarda a ira contra os seus inimigos” (v. 2). O que coloca em perspectiva a visão que Naum tinha de Deus é o fato de dizer: “O Senhor... ao culpado não tem por inocente” (v. 3). Ao ler, per­ cebemos que a ira de Deus e a vingança de Deus são conceitos judiciais. Deus, que é bom, deve e irá colocar-se contra o mal. Deus, que é bom, deve e irá punir os culpados. Esta é uma lição que nossa sociedade precisa deses­ peradamente aprender. Criminosos devem ser julga­ dos e punidos, não para que sejam “reabilitados” ou mesmo para que sejam “tirados das ruas”. O crime deve ser punido porque um estado, como Deus, deve estar ao lado do que é justo e bom. E, quando uma pessoa faz o mal, é bom para a sociedade, assim como é bom para Deus, que venha a justa punição. E verdade que as expressões da ira de Deus nunca

se desencaminham, como as expressões humanas de ira judicial podem se desencaminhar, sim, o que muitas vezes acontece. Contudo, o princípio é cla­ ro. Os seres humanos são responsáveis pelos atos maus que cometem. E é correto que aqueles que fazem o mal sofram punição por seus crimes. Aplicação Pessoal Guarde a sua compaixão para a vítima, e não para o criminoso. Citação Importante “Uma sociedade moderna que bani a pena de mor­ te não envia uma mensagem de reverência pela vida, mas uma mensagem de confusão moral. Quando banimos a pena de morte, dizemos ao assassino que — não importa o que ele possa fazer com as pesso­ as inocentes sob nossa custódia e cuidado, mulheres, crianças, idosos, as posses mais preciosas — a vida dele, mesmo sendo um assassino, estará assegurada. Nós o garantimos — antecipadamente. Assim como uma nação que declara que nada a fará ir para a guerra encontra-se à mercê de regimes belicosos, uma socie­ dade que não executa os seus piores criminosos estará à mercê dos criminosos, que não têm escrúpulos, e matam pessoas inocentes.” — Patrick J. Buchanan

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em ESDRAS

HABACUQUE INTRODUÇÃO Habacuque escreveu no tempo do devoto rei Josias. O profeta estava perturbado com as injustiças que prevaleciam na sociedade de Judá apesar do renascimento religioso. Deus revelou sua intenção de usar os babilônios para punir Judá. O Senhor prosseguiu e mostrou ao perturbado profeta que os maus apenas parecem ter sucesso. Fortificado pela sua fé, Habacuque sabia que Deus o sustentaria em meio à desordem vindoura. Habacuque tem grande valor para os cristãos, pois nos ensina que a “prosperidade” dos ímpios é uma ilusão, pois o ímpio nunca tem verdadeiramente sucesso. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. Princípios da Disciplina ....................................................................... II. Princípios do Julgam ento................................................................... II. Fé Pessoal...............................................................................................

........Hc 1.1-11 Hc 1.12— 2.20 ..................Hc 3

GUIA D E LEITURA (1 Dia) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 188

Capítulos 1— 3

Passagem Essencial 2

HABACUQUE 7 D E JU LH O LEITURA 188

FÉ APERFEIÇOADA Habacuque 1— 3

“Jeová, o Senhor, é minha força... e me fará andar estava sendo assediada e tendo sua família amea­ çada. Nosso sistema de justiça não distribui a res­ sobre as minhas alturas” (Hc 3.19). ponsabilidade à maneira do Antigo Testamento. A fé cresce mais rápido quando desafiada. O que Contudo, o que cada indivíduo faz continua a ser a Habacuque nos ensina é que, por meio de nossas chave para uma sociedade justa. dúvidas e sofrimento, nossa fé pode ser e será aper­ Habacuque, vendo a corrupção de sua sociedade, perguntava-se como Deus podia permitir que Judá feiçoada. continuasse em tal estado. A resposta, naturalmen­ te, é que Deus não permitiria que uma sociedade Visão Geral Habacuque queixou-se a Deus da injustiça em injusta o representasse. Pode haver um custo em Judá (1.1-4). O Senhor lhe disse que estava levan­ colocar-se a favor da justiça. Mas há um custo ain­ tando os babilônios para disciplinar o seu povo (w. da maior se deixamos de fazê-lo! 5-11). O profeta perguntou como Deus poderia permitir que os ímpios triunfassem (w. 12-17) e “Eis que suscito os babilônios” (Hc 1.5-11). No tem­ Ele lhe demonstrou que, apesar das aparências, o po em que Deus falou a Habacuque, por volta de ímpio nunca tem um verdadeiro sucesso (2.1-20). 621 a.C., os babilônios (caldeus) eram um povo Deus então mostrou a Habacuque os horrores da sujeitado dentro do Império Assírio. Em 625 a.C., invasão vindoura (3.1-16). Abalado, o profeta de­ Nabopolassar tomou o trono da Babilônia e, em terminou-se a confiar em Deus e, então, chegou ao duas décadas, esmagou os poderosos assírios. Esta súbita e surpreendente derrubada do poder mun­ ápice da fé (w. 18,19). dial dominante é mencionada nos versículos 5 e 6: “Porque realizo, em vossos dias, uma obra, que vós Entendendo o Texto “Injustiça” (Hc 1.2-4). Sob a Lei do Antigo Testa­ não crereis, quando vos for contada. Porque eis que mento, os anciãos locais reuniam-se para solucionar suscito os caldeus”. as disputas. Não havia força policial nem um siste­ Pode não haver no horizonte nenhuma ameaça evi­ ma de justiça nacional. Se os anciãos locais acei­ dente capaz de destruir uma sociedade injusta. O tam subornos, ou se as testemunhas mentem, “a livro de Habacuque nos lembra quão rapidamen­ lei se afrouxa, e a sentença nunca sai”. Habacuque te Deus pode erguer e derrubar nações, para não queixou-se de que o entusiasmo religioso gerado mencionar indivíduos. pela renovação de Josias (veja 2 Reis 23) não havia tocado o coração da maioria. Como a maioria era “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal” má, os justos eram cercados (superados em núme­ (Hc 1.12,13). Enquanto considerava o plano de Deus, de usar os babilônios para punir Judá, H a­ ro) e, portanto, “o juízo [era] pervertido”. No jornal desta manhã, um artigo descrevia como bacuque ficou ainda mais profundamente per­ uma testemunha contra traficantes de drogas locais turbado.

Habacuque 1— 3

bacuque. Porém, mais que isso, ele sabia que re­ pugnava ao Senhor. Deus é o Santo de Israel, puro demais até para ver (isto é, “permitir”) o mal. Como, então, Deus per­ mitiria que um povo pior do que o seu triunfasse sobre eles. Muitas vezes, podemos compartilhar a perplexi­ dade de Habacuque. Nós também vemos os maus triunfarem e também fazemos perguntas. Como pode, o nosso Deus Santo, permitir que tais coi­ sas aconteçam sem que entre em juízo? A resposta, encontrada no capítulo 2, é surpreendente. Deus não faz vistas grossas para o mal! Agora mesmo, Deus está julgando ativamente aqueles cujo apa­ rente sucesso nos faz ter dúvidas. (Veja o DEVOCIONAL.)

Memorial da guerra babilónica mostra um judeu cativo sendo levado para a Babilônia. Deus os designou para executar o juízo sob o pecado do seu povo.

Você e eu não podemos compreender o terror causado por um exército invasor na Antiguidade. Os versículos 8-11 retratam vividamente a guerra antiga, com ágeis ataques de cavalaria em espaço aberto, e rampas de terra construídas contra os muros das cidades sitiadas. Os exércitos atacantes eram verdadeiramente inclinados à “violência”. Os inimigos derrotados estavam sujeitos à tortura, as mulheres e meninas, ao estupro, e mesmo as crian­ ças eram espetadas em lanças ou agarradas pelos calcanhares e atiradas contra muros de pedra. A absoluta crueldade dos babilônios repugnava Ha­

“Escreve a visão e torna-a bem legível” (Hc 2.1-19). Habacuque havia se preparado para esperar a res­ posta de Deus. Quando ela veio, foi-lhe dito que a escrevesse e a tornasse legível — para você e para mim! Podemos parafrasear os princípios do pre­ sente julgamento dos ímpios por parte de Deus de maneira bem simples. O homem mau nunca está satisfeito (w. 4,5). O homem mal está fadado à insatisfação. Ele é como uma fornalha, e cada sucesso é como combustível acrescentado ao fogo. Quanto mais ele ganha, mais quente o fogo queima e mais vazia se torna a sua vida! Que julgamento forte é este: conquistar e nunca ser capaz de usufruir. Os maus estão isolados (w. 6-8). O homem mal consegue seus ganhos à custa dos outros. Isso cria hostilidade, e torna temeroso o homem mau. Ele sabe que conquistou o ódio dos outros e, portanto, vê-se isolado e vulnerável. Que julgamento forte é este: olhar em volta e saber que os outros o odeiam e temem. Saber que você está verdadeiramente só. Os maus sentem-se inseguros (w. 9-11). Impelido pela sua insegurança, os maus concentram-se no ganho material. Contam com a riqueza ou o poder para colocarem “o seu ninho no alto”. A imagem é a de um abutre, que se aninha em uma monta­ nha para ter segurança. E como os maus vivem, tentando desesperadamente erguer barreiras. Que julgamento é este: saber que a justiça exige a sua ruína, tentar desesperadamente proteger-se, mas nunca ser capaz de sentir-se seguro e a salvo. As esperanças do homem mau serão esmagadas (w. 12-14). O homem mau constrói monumentos às suas conquistas, como Herodes construiu cidades para preservar seu nome e Hitler lutou por um “Reich milenar”. Contudo, mesmo tal esforço é vão: eles se “fatigam em vão” (v. 13, ARA). Deus pretende que este mundo seja cheio do conheci-

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cuque viu Deus “com indignação” vir como um guerreiro poderoso para vencer os exércitos do Egi­ to e libertar seu povo da escravidão (w. 11-15). Cada uma destas visões foi concedida com uma única finalidade. Mostrar a Habacuque o que real­ mente significa experimentar a disciplina nas mãos do Deus santo.

mento dEIe, e não de monumentos a assassinos. Que julgamento forte é este: ter esperança, e ver toda a esperança dar em nada. Os maus serão pagos na mesma moeda (w. 15-17). As ações do homem mau suscitam o antagonismo de todos aos seu redor. Certamente haverá uma re­ ação. E que julgamento é este: a violência, a ferra­ menta de que ele se vale na sua busca de riqueza e poder, será usada contra ele, e ele, por sua vez, será destruído. Nunca pense que os maus realmente têm sucesso. Pode parecer que um império mau, ou uma pessoa má, prospera. Mas, um pouco além dos sinais do sucesso, está enterrada no coração dos maus uma infelicidade, um vazio, um medo, que é a marca do julgamento presente do Deus que é santo demais para ver o mal.

“Entrou a podridão nos meus ossos, e estremeci dentro de mim” (Hc 3.16). Por fim, Habacuque compre­ endeu. Deus satisfizera suas dúvidas. Agora, Deus estava pronto para uma obra mais profunda no co­ ração de Habacuque. Veja: a crença não é simplesmente um exercício in­ telectual. A fé não é construída apenas sobre o in­ telecto. O profeta finalmente percebeu que estaria

“O Senhor está no seu santo templo ”(Hc 2.20). Aqui e em outras passagens em que Deus é retratado “no seu santo templo”, a imagem fala de um julgamen­ to iminente. Note que, na visão de Habacuque, Deus anuncia que Ele “está” no seu santo templo. Há um grande dia por vir, um dia de julgamento final. Mas nunca pense que Deus está sem poder ou inativo agora. Habacuque nos mostrou que Deus julga os ímpios mesmo quando eles parecem prosperar. Contudo, ao ver Deus no seu santo templo, o profeta foi confrontado com o fato de que o dia do juízo para Judá — sua própria terra — estava próximo! “Deus veio de Temã” (Hc 3.1-15). A princípio, Ha­ bacuque acolheu o julgamento vindouro. Deus se lembraria da misericórdia mesmo ao derramar sua ira. Talvez, como Habacuque, você e eu considere­ mos a disciplina com leveza. Que venha, pensamos, sem nos darmos conta da dor que pode ser neces­ sária para que sejamos purificados. Deus logo corrigiu seu impaciente servo. Estes ver­ sículos descrevem três períodos históricos de julga­ mento, não do ponto de vista de um homem, mas do ponto de vista de alguém que enxerga através do véu que nos isola do universo espiritual. Ali, ele descobre um Deus irado, vestido de santidade. Na sua visão, Habacuque não viu a praga que de­ vastou a geração do Êxodo nas planícies de Moabe (Nm 25), mas o próprio Deus, ardendo em ira, Seu poder elementar abalando as fundações da terra, vindo do Sinai para executar o julgamento que a Lei exigia (Hc 3.3-7). Em uma segunda visão, Habacuque viu um Deus enraivecido varrendo a terra com o Dilúvio do Gênsesis (w. 8-10). Em uma terceira visão, Haba­

O Sinai simboliza não apenas a Lei de Deus, mas a sua santidade (Ex 3.4,5; 18.16-24). As localidades mencio­ nadas em Habacuque 3.3-7 dizem-nos que Habacuque viu o Senhor, partindo do Sinai, vindo para as planícies de Moabe para julgar Israel pela idolatria e imoralidade que aquele povo praticava (Nm 25).

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entre os que experimentariam a horrível devastação da guerra. Suas figueiras seriam destruídas, suas vi­ deiras murchariam. Por fim, o profeta percebeu que, quando os campos deJudá não produzissem alimen­ to, ele e os seus passariam fome. A disciplina divina significava que tudo o que ele tinha, tudo o que ele esperava, e tudo o que ele possuía — seria tomado. E então, quando o profeta tremeu diante da pers­ pectiva, uma estranha paz entrou em seu coração. Embora todas estas coisas devessem acontecer... “todavia, eu me alegrarei no Senhor”. Em triunfo, o profeta Habacuque alcançou a profundidade e encontrou uma paz que o sustentava.

DEVOCIONAL______ De dentro para fora (Hb 2) Não é justo, é claro. Muitas vezes os ímpios real­ mente prosperam. Pecadores ficam ricos, enquanto aqueles que buscam a Deus lutam para apenas pa­ gar as contas. O homem profano, que zomba de Deus, permanece saudável, enquanto um crente sofre com uma horrível dor nas costas ou é aco­ metido pelo câncer. O funcionário preguiçoso, que mente sobre os colegas, consegue a promoção, en­ quanto a pessoa que trabalha arduamente e ajuda os outros é ignorada. Vistas de fora, todas estas coisas parecem injustas. E são. Vendo de fora, você e eu poderíamos con­ cluir que Deus está se abstendo, desinteressado, deixando que as pessoas se safem de tudo que qui­ serem. Ou, pior ainda, poderíamos concluir que Deus ajuda os maus a passar a frente dos justos. Habacuque 2, porém, lembra-nos de que isso acontece quando olhamos as coisas que estão do lado de fora. Tais conclusões baseiam-se apenas no que podemos observar. E, então, Deus nos convi­ da, neste fascinante capítulo, a olhar para aquilo que está dentro de cada um. Quarto, as esperanças dos maus destinam-se a ser desapontadas. Deus pretende que a terra seja cheia do conhecimento dEle, não de monumentos a as­ sassinos (w. 12-14). Finalmente, os atos dos maus criam hostilidade. O mal que uma pessoa má faz aos outros criará uma reação, e a violência que ela usou seja dirigida contra ela mesma. Os atos maus plantam as sementes da destruição de seu perpetra­ dor (w. 15-17). Eu sei. H á vezes em que é difícil não invejar o homem mau que prospera. Mas apenas se olhamos tais pessoas de fora. Tente olhar de dentro. E, então, pare e pense em tudo que recebeu em Cristo. Você tem uma vida que é plena, Quando olhamos para dentro, descobrimos

Quando uma nação é julgada pelos seus pecados, os justos sofrem com os maus. A fé não torna nenhum homem imune às tribulações que são comuns à hu­ manidade. Mas, quando Habacuque avistou uma “corça” (conforme a versão ARA) fazendo seu ca­ minho na encosta da montanha, alheia ao perigo de uma queda, ele percebeu uma verdade maravi­ lhosa: Descansando em Deus, o crente permanece seguro, sejam quais forem as suas circunstâncias. Mesmo nos dias horríveis por vir, Deus capacita­ ria seu servo Habacuque a seguir seu caminho em segurança — como a corça — apesar da altura es­ tonteante. que a pessoa má, que parece mais bem-sucedida, é a que, na verdade, se encontra em pior situação! A pessoa má está em pior situação porque Deus está atuando por dentro, julgando o pecado e tornando sem sentido todos os sucessos do homem mau. O que Habacuque 2 nos diz que está acontecendo dentro da pessoa que alcança o sucesso de uma forma ímpia? Primeiro, nenhum sucesso de tal tipo pode satisfazer, apenas criar mais desejos (w. 4,5). Segundo, ganhos conseguidos à custa dos outros isolam o “vencedor” das outras pessoas. Cada vez mais, o homem mau vê-se sozinho e so­ litário (w. 6-8). Terceiro, tais ganhos criam uma sensação de insegurança. Um homem mau ten­ tará, desesperadamente, assegurar a sua seguran­ ça; mas a importuna consciência de que merece as punições rouba-lhe qualquer sensação de paz (w. 9-11). não vazia. Você tem comunhão com amigos cristãos. Você tem o conhecimento de que está seguro no amor de Deus. Você tem a certeza de que tudo aquilo que espera será realmente seu. E sabe que, se for pago na mesma moeda pela ma­ neira como trata os outros, receberá uma bênção, não uma maldição. Olhando de dentro para fora, você e eu descobrire­ mos a verdade. Aqueles que o mundo consideram como vencedores, perderam. E nós vencemos. Aplicação Pessoal Aprenda a avaliar de dentro para fora, e agradeça a Deus pelas suas muitas bênçãos. Citação Im portante “Deus não fica sozinho quando é rejeitado pelo ho­ mem. Mas o homem fica.” — Abraham Heschel

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em ROMANOS

SOFONIAS INTRODUÇÃO Sofonias profetizou durante o reinado de Josias de Judá (640-609 a.C.). Incomodado com a superficiali­ dade da resposta de Judá à reforma do devoto rei, Sofonias anunciou que um extenso julgamento estava prestes a cair sobre Jerusalém e sobre nações pagãs. Sofonias, o último dos profetas pré-exílio, resumiu boa parte do ensinamento sobre julgamento e salvação dos profetas anteriores. Sua ênfase recai sobre os aspectos mais sombrios do Dia do Senhor, a ser prefigu­ rado dentro de décadas pela invasão babilónica da Terra Santa. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. Julgamento de Judá ............................................................................... II. Julgamento dos G entios...................................................................... III. O Destino de Jerusalém....................................................................

.Sf 1.1— 2.3 .... Sf 2.4-15 ..............Sf 3

GUIA DE LEITURA (1 Dia) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 189

Capítulos 1— 3

Passagem Essencial 3

SOFONIAS 8

DE JU LH O LEITURA 189

O GRANDE DIA QUE ESTÁ A CAMINHO Sofonias 1— 3

“Estáperto o grande Dia do Senhor; estáperto e muito dia de trevas e de escuridão, dia de nuvens e de se apressa. Atenção! O Dia do Senhor é amargo” densas trevas” (1.15). Para o povo pecaminoso de (Sf 1.14, ARA). Deus, agora não pode haver escapatória. Perto do fim do reinado de Josias, o mundo antigo Imagine a história como um trem que avança rapi­ experimentou grande convulsão política. Quando damente e os profetas como condutores que anun­ a Assíria se envolveu em uma luta mortal com a Ba­ ciam a estação seguinte. O grito de Sofonias seria: bilônia repentinamente emergente, Judá conquis­ “Ultima parada! Estamos entrando em julgamento. tou uma breve independência. Josias envolveu-se Desembarquem todos!” na tentativa de influenciar o balanço de poder en­ tre as duas e o Egito e foi morto em batalha em 609 Contexto a.C. Dentro de poucos anos, Judá foi reduzido a A Época de Josias. Josias foi o último rei devoto um estado vassalo do Império Babilónico. Em três de Judá. Ele assumiu o trono após meio século décadas, os babilónicos desnudaram a terra de Judá de apostasia sob Manassés e Amom, e logo deter­ e seu povo, e fizeram de Jerusalém, com o seu belo minou conduzir seu povo de volta ao Senhor. Ele Templo, um monte de ruínas. tentou purificar a terra da idolatria e reinstituiu a Quando lemos Sofonias, não encontramos nenhu­ adoração no Templo. Contudo, Habacuque e So­ ma revelação inesperada. Tudo o que Sofonias disse, fonias, que ministraram no tempo de Josias, viam a profetas anteriores disseram muitas e muitas vezes. reforma como superficial, na melhor das hipóteses. O que percebemos, porém, é um tom final. Deus Habacuque retratou a corrupção do sistema jurí­ concedeu ao seu povo oportunidade após opor­ dico e da própria sociedade (Hc 1.1-4), enquanto tunidade. Agora, era tarde demais. O julgamento Sofonias citou indícios de que as religiões assíria "está perto e muito se apressa” (v. 14, ARA). e cananeia mantinham domínio sobre o povo (Sf Quão desesperadamente precisamos responder 1.4,5). Os profetas e sacerdotes eram falsos à sua a todas as palavras de aviso divino. Se deixar­ vocação (w. 2,3) e os líderes políticos ainda recor­ mos de responder, um dia certamente será tarde riam à violência e perpetravam injustiças (w. 2,3). demais. Havia nas reformas de Josias indicações exteriores de um retorno a Deus, mas o estilo de vida do povo Visão Geral não mostrava indícios de arrependimento ou retor­ Sofonias previu o "Dia do Senhor”, um dia de jul­ no a Ele. gamento que era devido contra Judá (1.1— 2.3), E contra este pano de fundo que Sofonias clamou nações gentias (w. 4-15), e contra Jerusalém (3.1sobre o Dia do Senhor e enfatizou os seus aspectos 8). Contudo, além do julgamento encontra-se um de julgamento. O Dia do Senhor, que se aproxima dia de alegria, no qual o povo disperso de Deus rapidamente, será “um dia de indignação, dia de retornará e terá o seu relacionamento com Ele res­ angústia e de ânsia, dia de alvoroço e de desolação, taurado (w. 9-20).

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dade, renderam-se à superstição, como a prática de recusar-se a pisar no limiar de uma casa de adora­ ção pagã (Sf 1.8; cf. 1 Sm 5.5). Eles se recusaram a obedecer a Deus e criaram uma sociedade na qual cada pessoa era egoísta, onde a violência e o engodo eram a norma (Sf 1.9). Eles se recusaram a obedecer a Deus e, ao afirma­ rem a sua liberdade, perderam toda percepção da realidade espiritual, de modo que, por maior que fosse sua necessidade, nunca pensaram em buscar o Senhor ou perguntar a Ele qual caminho deviam seguir. As pessoas hoje parecem ter o mesmo insisten­ te desejo por “liberdade”. Os caminhos de Deus parecem restritivos e, portanto, elas “deixam de andar em seguimento do Senhor”. Mas sempre que os seres humanos exigem tal liberdade, eles se veem presos em uma teia monstruosa. Eles são aprisionados, tornam-se vítimas de religiões falsas, humanistas e sobrenaturalistas, da superstição, da confusão, da perda de identidade e, finalmente, da perda de todo o contato com a realidade. Vivem em um mundo de ilusão, não apenas perdidos, mas sujeitos à ira do Deus que previne: “Castigarei... naquele dia” (w. 8-13). Quão alegres somos por nos renunciarmos a tal “liberdade” ilusória e escolher seguir o Senhor. Nós, que o seguimos alegremente, somos real­ “Os que deixam de andar em seguimento do Senhor” mente livres. (Sf 1.2-13). Estes versículos anunciam um julga­ mento extenso, e expressam as razões para a ira de “O grande Dia do Senhor” (S f 1.14-18). O “Dia do Deus. Porém eles também fazem mais. Eles nos Senhor” é uma expressão usada pelos profetas do ajudam a compreender a futilidade da busca hu­ Antigo Testamento para indicar acontecimentos mana por “liberdade”. associados ao envolvimento direto de Deus nos O povo de Judá deixou de seguir o Senhor. Acha­ assuntos humanos para levar a cabo alguma fase ram que a obediência a Ele era restritiva. Mas o que do seu plano para a humanidade. Embora o “Dia conseguiram efetivamente? do Senhor” seja, na maioria das vezes, um termo Recusaram-se a adorar o único verdadeiro Deus e escatológico usado na descrição do fim da história, viram-se adorando uma hoste confusa de divinda­ qualquer ato de Deus pode ser identificado com des pagãs: baalins cananeus, a “hoste estelar” assí­ aquele dia. Assim, há “o” Dia do Senhor escatológi­ ria, o Moloque fenício. Alguns até acrescentaram o co e “um” Dia do Senhor não escatológico. Senhor a este rol de deuses, como se Ele estivesse O que é importante observar é que “um” Dia do no mesmo nível dos ídolos (w. 4,5). O povo de Senhor merece esta identificação porque tem mar­ Judá ainda estava atado à profunda necessidade hu­ cada semelhança com “o” Dia do Senhor. mana de relacionamento com o sobrenatural. Isso é o que Sofonias previu aqui. “Um” Dia do Eles se recusaram a obedecer a Deus e, ao buscarem Senhor precipitava-se sobre Judá, o qual, como a liberdade, adotaram “vestidura estranha” (v. 8). “o” Dia do Senhor, seria um dia de indignação, de Como nos dias de hoje, a roupa que alguém esco­ angústia, de ânsia, de alvoroço e de desolação. Os lhia indicava posturas e orientações básicas. A es­ horrores da iminente invasão babilónica só podem colha de vestidura estranha sugere uma rejeição da ser comparados com o grande dia do juízo que identidade judaica e uma tentativa de identificação marcará o fim da história. com povos egípcios ou babilónicos (cf. Nm 15.38; Este é um im portante lembrete. O juízo final Dt 22.11,12). Eles estavam “livres”, mas, na sua de Deus parece distante para a maioria das pes­ busca por liberdade, perderam seu verdadeiro eu. soas. Mas para aqueles que, como Judá, persis­ Eles se recusaram a obedecer e, ao exigirem liber­ tem no pecado, muitas vezes há “um” dia do

Entendendo o Texto “Sofonias” (Sf 1.1). O nome do profeta provavel­ mente significa “guardião do Senhor”, ou ainda, “o Senhor tem guardado”. Mas o que é interessante é que Sofonias forneceu mais informações genealógicas a respeito de si do que qualquer outro profeta do Antigo Testamento. Ele remontou seus ancestrais a quatro gerações, até “Ezequias”. A maioria dos comentaristas acredita que se trata do rei Ezequias, o último rei devoto antes de Josias. Alguns veem aqui simplesmente a tentativa de So­ fonias de ligar-se à família real de Judá. A genealo­ gia sugere, porém, algo ainda mais importante. Ela nos lembra que se passaram duas gerações inteiras, mais de cinquenta anos, durante os quais Judá não teve uma liderança devota. A família real vacilou no seu compromisso com o Senhor e, como re­ sultado, toda a terra voltou-se avidamente para a idolatria e o pecado. Você e eu não podemos nos permitir negligenciar a criação de nossos filhos, assim como os reis de Judá também não podiam. Deus pode muito bem trazer uma geração futura de volta para si, assim como trouxe de volta para si os bisnetos de Ezequias, Jo­ sias e Sofonias. Mas quão grande será a tragédia se os filhos e os netos se perderem.

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julgamento, assim como “o” dia do julgamento! Deus náo é menos hostil ao pecado hoje do que era no tempo do profeta. Um Dia do Senhor pode não estar distante de nós, como não estava de Judá.

“Eu vosfarei destruir”(Sf2.4-15). O Dia do Senhor, que se aproximava, não apenas devastaria Judá, mas também os povos pagãos que foram hostis ao Se­ nhor. Depois, o remanescente daqueles que são do Senhor estará finalmente seguro. Sofonias disse de sua terra: “Será a costa para o resto da casa de Judá “Vós todos os mansos da terra” (S f 2.1-3). O aviso para que nela apascentem; à tarde, se assentarão nas de Sofonias foi concluído com um convite. Antes casas de Asquelom, porque o Senhor, seu Deus, os do dia designado para o julgamento, podemos en­ visitará e reconduzirá os seus cativos” (v. 7). contrar abrigo no Senhor. Tudo o que se exige é mansidão (ou, “humildade”). “O meu juízo é ajuntar as nações e congregar os re­ O que é humildade? E uma postura em nítido inos” (Sf 3.1-8). Agora Sofonias concentra a sua contraste com a dos que exigem o direito de vi­ atenção em Jerusalém, que era a capital de Judá, e a ver suas próprias vidas. Os humildes submetem-se sua cidade principal. O que ele viu, apesar da reno­ de bom grado a Deus. Os humildes expressam sua vada atividade no monte do Templo, que se elevava submissão buscando ao Senhor e fazendo o que Ele acima dos lares e locais de atividade comercial de ordena. Os humildes não são ansiosos por riqueza, Jerusalém, era uma cidade de opressores, rebeldes e mas por justiça, não por posição elevada, mas por corrompidos (w. 1-5). A cidade havia falhado em curvarem-se diante do Senhor. Há abrigo para os responder à correção de Deus, e agora deveria ser humildes, mesmo quando a tempestade irrompe punida. ao nosso redor. Deus nunca se impressiona com as aparências. O Há esperança para os humildes. Não há esperança seu interesse hoje, como no tempo de Sofonias, é para os que exigem ser “livres”. o coração.

DEV OCIONAL______ Oh, Dizei, Podeis Ver f 3 ) história. Uma frota Sempre fui fascinado( Spela britânica estava diante de Baltimore, bombarde­ ando o forte que guardava o porto. Durante toda a noite, as armas rugiram. Em meio às nuvens de fumaça pungente, podiam-se ver explosões acima do forte, quando bolas ocas e cheias de pólvora, chamadas de bombas, explodiam no ar. A escuri­ dão envolvia as muralhas de pedra do forte, mas a cacofonia de sons — o assobio agudo dos obuses, o estrondo do canhão, o barulho oco de impacto após impacto — convencia todas as testemunhas a bordo de que o forte deveria cair, e que Baltimo­ re seria conquistada. E, então, quando a primeira luz da aurora afastou as sombras, as testemunhas viram algo surpreen­ dente. O forte ainda estava de pé! E lá, desfraldada orgulhosamente sobre as ameias, estava a bandeira americana. Uma testemunha desceu apressada, tomou da pena e escreveu linhas que todo cidadão americano ou­ viu milhares de vezes: “Oh, dizei, podeis ver” — es­ creveu Francis Scott Key, que naquela noite era um prisioneiro da nau capitânia britânica — “através da primeira luz da aurora, o que tão orgulhosamen­ te saudamos no último lampejo do crepúsculo”. O forte e a bandeira haviam sobrevivido.

Que retrato da cena vemos em Sofonias 3. A cidade de Jerusalém estava sitiada, sendo punida pelos seus pecados (w. 1-7). O próprio Senhor era a força ata­ cante, derramando a sua ira, golpeando a cidade na sua ira feroz. A devastação parecia suficiente para consumir o mundo inteiro em um impressionante incêndio (v. 8). E, então, no resto do capítulo, fazemos uma des­ coberta surpreendente. Quando aquela noite terrí­ vel de julgamento chega ao fim e o dia amanhece, percebemos que há sobreviventes! Vemos o povo disperso de Deus, purificado, voltar a adorar o seu Deus (w. 9,10). Percebemos que a arrogância que caracterizava Jerusalém fora consumida e a cidade agora abrigava apenas os mansos e humildes, que não fariam nenhum mal (w. 11-13). E ouvimos uma voz erguida em canto, hesitante a princípio, mas logo erguendo-se em um refrão de alegria quando o povo da cidade percebe que Deus, po­ deroso para salvar, está com eles e os tranquilizará com seu amor (w. 14-18). E, de repente, vemos a própria cidade começar a brilhar, quando Deus dá ao seu povo, agora santo, a honra e o louvor que pensavam ter perdido para sempre por causa do pecado (w. 19,20). Da mesma maneira, precisamos nos lembrar de algo muito importante. Quando você ou eu sofremos sob a disciplina de Deus, tudo parece muito escuro.

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Sentimo-nos esmagados, incapazes de prosseguir; nesta situação, podemos ter um vislumbre do pano­ rama visto por Key, e também por Sofonias. Diga: Você consegue ver, logo além do horizonte da sua hora escura de hoje, o alvorecer daquilo que Deus pretende para você? Purificado e restaurado, tornado humilde o suficiente para aceitar o amor de Deus, você também será tranquilizado com o seu amor e receberá louvor e honra em uma terra pacífica.

Citação Importante “Dou meu testemunho, de boa vontade, de que devo mais ao fogo, ao martelo e à lima do que a qualquer outra coisa na oficina do meu Senhor. As vezes me pergunto se alguma vez aprendi alguma coisa que não fosse pela vara. Quando a minha sala de aula fica escura, então consigo enxergar ainda mais.” — Charles H. Spurgeon

Aplicação Pessoal Olhe para além das suas circunstâncias presentes, e fixe seus olhos no bem que Deus certamente lhe fará.

O Plano de Leituras Selecionadas continua em DEUTERONÔMIO

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AGEU INTRODUÇÃO Ageu foi o primeiro dos profetas pós-exílio. Quando uma companhia de judeus retornou da Babilônia em 538 a.C., deitaram as fundações de um novo Templo. Mas, durante os 18 anos seguintes, os membros da comunidade se concentraram em construir suas próprias casas, deixando a Casa do Senhor inacabada. Ageu instou o povo a colocar Deus em primeiro lugar e terminar o Templo. O povo respondeu a Ageu, e recebeu, como um presente, a promessa de Deus: “Desde este dia vos aben­ çoarei”. O projeto foi retomado em 520 a.C., e o Templo foi terminado em 515 a.C. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. O Chamado à Construção .........................................................................................................................Ag 1 II. A Glória do Novo Templo .................................................................................................................Ag 2.1-9 III. Bênçãos para Judá .........................................................................................................................Ag 2.10-23 GUIA D E LEITURA (1 Dia) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 190

Capítulos 1— 2

Passagem Essencial

2

AGEU 9 D E JU LH O LEITURA 190

COLOCANDO DEUS EM PRIMEIRO LUGAR Ageu 1— 2

“Épara vós tempo de habitardes nas vossas casas estu­ para trás. Foi neste ponto que Ageu foi enviado cadas, e esta casa há de ficar deserta.?” (Ag 1.4) por Deus para falar aos pioneiros desencorajados e encorajá-los a novamente colocar Deus em pri­ A queda de Israel diante da Assíria, e de Judá diante meiro lugar. da Babilônia, ilustram o que acontece quando as Ageu é um livro encorajador para os crentes hoje. pessoas deixam de colocar Deus em primeiro lugar. Ele nos lembra de que as bênçãos encontram-se A resposta da comunidade pós-exílio à pregação de adiante para os que colocam Deus em primeiro Ageu ilustra o que acontece quando as pessoas co­ lugar. locam Deus em primeiro lugar. Visão Geral Contexto Em 29 de agosto de 520 a.C., Ageu exortou Judá O Retorno. Os babilônios haviam levado o povo a terminar o Templo (1.1-11). O povo obedeceu à judeu para o Cativeiro em uma série de depor­ voz de Deus e pôs-se a trabalhar (w. 12-15). Em tações entre 605 e 586 a.C. Foi somente após a 17 de outubro, Ageu prometeu que o Templo, queda da Babilônia e a ascensão de Ciro da Pérsia completado, seria cheio de glória (2.1-9) e, em 18 em 538 a.C. que um pequeno contingente de cer­ de dezembro, Ageu prometeu que, daquele dia em ca de 50.000 pessoas retornou à pátria devastada. diante, Deus os abençoaria (w. 10-23). Durante os anos do Exílio, campos antes férteis estavam cobertos de ervas daninhas e espinheiros, Entendendo o Texto casas haviam se tomado ruínas, enquanto pomares Aplicai o vosso coração aos vossos caminhos” (Ag e vinhas tinham morrido. Aqueles que retornaram 1.1-11). A mensagem inicial de Ageu foi abrupta estavam diante de uma tarefa formidável: tinham e prática. Ele lembrou à comunidade como haviam de recuperar a terra, plantar e reconstruir casas, lutado para sobreviver nos últimos 18 anos. Ha­ pois a outrora próspera Judá era agora uma fron­ viam trabalhado constantemente e, no entanto, teira selvagem. pareciam não ter feito nenhum progresso. Ele tam­ No entusiasmo inicial, foi lançada uma fundação bém os lembrou de que haviam deixado de lado a para um novo Templo a Deus. O entusiasmo, po­ reconstrução do Templo para concentrarem-se na rém, logo se foi sob as pressões da sobrevivência. satisfação das próprias necessidades. E Ageu tinha O foco da comunidade deixou de ser colocar Deus apenas três perguntas para eles: em primeiro lugar e passou a ser a satisfação de suas Havia funcionado? próprias necessidades. Eles realmente estavam em melhor situação do que Durante cerca de 18 anos, eles lutaram para esta­ antes? Colocar Deus de lado os havia ajudado a belecer uma sociedade viável. Mas, de alguma ma­ prosseguir e progredir? neira, pareciam incapazes de conseguir progresso. A resposta é não! “Olhastes para muito, mas eis que Todo passo à frente parecia corresponder a dois alcançastes pouco”.

Ageu 1—2

O fato era que a prosperidade da comunidade pósexílio dependia inteiramente de Deus. Era Ele quem controlava os reinos, era Ele que podia fazê-los pros­ perar. Ao deixarem Deus de lado, eles abandonaram o único elemento essencial para o sucesso. Os cristãos também poderiam ser práticos. Em ne­ nhum momento pense se é certo ou não colocar Deus de lado por algum tempo para concentrar-se em prosseguir e progredir. Apenas faça a seguinte pergunta: “Vai funcionar?” A resposta, hoje, como no tempo de Ageu, é não! Nosso Deus é um Deus soberano, capaz de abençoar os nossos esforços ou deixar de abençoá-los. Se colocamos Deus de lado e deixamos de lhe dar a prioridade que Ele mere­ ce, abandonamos o único recurso essencial para o nosso sucesso. “Vieram e trabalharam na Casa do Senhor dos Exér­ citos, seu Deus” (Ag 1.12-14). Embora o argumento prático seja convincente, é preciso mais do que ar­ gumentação para fazer uma pessoa mudar as suas prioridades. O texto diz que “O Senhor levantou o espírito” dos líderes e do povo (v. 14). Você e eu podemos dar aos outros a melhor das razões para confiar no Senhor ou segui-lo. E há muitas razões boas e práticas. Contudo, as pessoas só responderão se o próprio Senhor levantar o es­ pírito dentro delas. O testemunho cristão e o aconselhamento cristão pedem mais do que conhecimento e mais do que habilidade para apresentar boas razões para que as pessoas façam escolhas sábias. O testemunho e o aconselhamento eficazes exigem a oração para que Deus use as nossas boas razões e os nossos bons conselhos, e abra os corações dos ouvintes, levan­ do-os a responder positivamente. “Esforçai-vos... e trabalhai” (Ag 2.1-4). Quando o trabalho começou, tornou-se claro que o novo Templo seria bem menos esplêndido que o primei­ ro. Então, as pessoas ficaram desencorajadas. Não parecia valer a pena, já que o que estavam fazendo ficava muito aquém daquilo que outros haviam feito. Você e eu muitas vezes caímos nesta armadilha. Comparamos as nossas realizações ou as tarefas que somos chamados a fazer com as dos outros. O que estamos fazendo parece tão sem importância. Ficamos então desencorajados e deixamos nossas mãos esmorecerem. A primeira resposta de Deus a tal postura é dar-nos uma prescrição simples. Ele diz: “Esforçai-vos... Esforçai-vos... Esforçai-vos... e trabalhai” (w. 3,4). Somos chamados não a comparar, mas a ser fortes e trabalhar na tarefa que Deus nos dá. As dimensões

do novo Templo eram muito menores do que as do Templo de Salomão. O novo Templo também não teria a ornamentação cara da primeira casa de ado­ ração. Contudo, Deus não apenas prometeu encher a nova casa com glória, mas disse: “A glória desta última casa será maior do que a da primeira” (v. 9). Os antigos rabinos viram isso como uma profe­ cia messiânica. Eles consideraram “o Desejado de todas as nações”, que viria (v. 7), como sendo o Messias. O Templo se encheria de glória não por causa de seus adornos materiais, mas por causa da sua presença. Quão exato é este discernimento. Mais de meio mi­ lênio se passou. Mas, então, Jesus de Nazaré veio ao segundo Templo, primeiro como menino e depois como adulto. Herodes havia aumentado e embele­ zado a estrutura original. O Templo, porém, não era glorioso por causa de sua riqueza ostensiva, mas por causa da presença encarnada do Deus em cuja honra fora construído. Há uma lição para nós aqui: O que fazemos pode parecer sem importância quando comparado com o que alguns conseguem. Contudo, contanto que aquilo que fazemos seja feito para Cristo, sua pre­ sença inunda de glória a mais simples tarefa. “Minha é a prata, e meu é o ouro ” (Ag 2.8). A co­ munidade batalhadora de Judá, mal capaz de se sustentar, deve ter se sentido desencorajada com sua pobreza. Como podia dar conta dos altos custos da construção, para não falar no alto custo dos equipamentos exigidos para a adoração? Aqui, Deus simplesmente lembrou o seu povo: “Minha é a prata, e meu é o ouro.” O povo de Judá era responsável pelo trabalho. A responsabilidade de Deus era prover. E Deus o fez! Esdras 6.8-12 nos conta que, quan­ do os oponentes locais dos judeus se queixaram, o governante persa ordenou que financiassem o projeto inteiro com os recursos provenientes dos impostos! Não precisamos saber de onde os nossos recursos virão. Mas precisamos ter certeza de que aquilo que fazemos é da vontade de Deus. “Desde este dia vos abençoarei” (Ag 2.10-19). Deus prometeu abençoar seu povo obediente. Mas Ele protegeu a pequena comunidade, e nós, de um erro comum. Ageu foi incumbido de suscitar uma questão de pureza ritual junto aos sacerdotes. Se uma pessoa corrompida tocasse um objeto sagrado, ele não se tornaria santo? A resposta era não. Na verdade, se uma pessoa impura tocasse um objeto sagrado, aquele objeto se tornaria impuro!

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Ageu 1— 2

Deus estava prestes a derramar bênçãos sobre seu povo na Judeia. Eles poderiam concluir que era por­ que, mais uma vez, eles adoravam em um Templo. As perguntas e suas respostas mostraram que nin­ guém se tornaria santo indo ao Templo. A bênção de Deus seria derramada não por causa da santidade do povo, mas por causa da graça do seu Deus. Ao escolher colocar Deus em primeiro lugar, a pequena comunidade havia se colocado no único caminho que conduzia à bênção que Deus estava ansioso por conceder. A bênção de Deus hoje é a prova da sua graça. Nunca podemos conquistar as boas coisas. Ele no-

DEV OCIONAL______ Depois de Colocar Deus em Primeiro Lugar

(Ag 2)

Ageu 1 nos convida a olhar os espaços vazios de nossa vida, as decepções e frustrações e perguntar se é isso que queremos que nossa vida seja. Ele en­ tão nos exorta a parar de viver de maneira egoísta e colocar Deus em primeiro lugar. A pequena comunidade judaica que vivia na Judeia no tempo de Ageu fez exatamente isso — e decidiu mudar suas prioridades. Dali em diante, eles colo­ cariam o Senhor em primeiro lugar. Acho que se isso fosse tudo o que houvesse neste pequeno livro, a leitura já valeria a pena. Mas, na verdade, há muito mais. Ageu 2 prossegue e nos mostra como a vida muda quando colocamos o Se­ nhor em primeiro lugar em nossa vida. O que vemos aqui? Primeiro, encontramos im­ portância mesmo nas pequenas coisas. O Tem­ plo reconstruído parecia pequeno quando com­ parado com a espetacular estrutura de Salomão. Mas, então, o Senhor disse: “Eu sou convosco” e sabemos que, quando o colocamos em primeiro lugar, o que fazemos é realmente importante. Na verdade, temos a garantia de que há muito mais glória na menor coisa que fazemos para o Senhor

las dá. Contudo, nossa obediência realmente leva à margem do rio em que fluem as suas bênçãos. “Farei tremer os céus e a terra” (Ag 2.20-23). O livro se encerra com uma palavra a Zorobabel. Este membro da família real representava a li­ nhagem davídica. As palavras significam que, embora a presente geração viesse a ser abençoa­ da, uma geração futura experimentaria a bênção plena prometida por Deus. Então, em uma data futura, Um da casa de Davi, o Messias, surgirá. Ele fará tremer as nações e estabelecerá o reino terreno de Deus.

do que em qualquer coisa que já tenhamos feito antes (w. 1-9). Segundo, encontramos repetidas provas de bênçãos que não merecemos. Descobrimos que, ao colocar Deus em primeiro lugar, colocamo-nos no centro da­ quele canal por onde a graça flui constantemente. Há bênçãos materiais, sim. Porém, mais impor­ tante ainda, há o conhecimento de que estamos agradando a Deus e nos preenchendo. E nisso en­ contramos paz. Aplicação Pessoal A única maneira de prosseguirmos e sermos bemsucedidos, é colocando o Deus precioso e bendito em primeiro lugar em nossa vida. Citação Importante “Não espere para fazer uma grande coisa. A opor­ tunidade pode nunca chegar. Mas, como pequenas coisas estão constantemente pedindo a sua atenção, faça-as por um grande motivo — para a glória de Deus e para fazer bem aos outros.” — F. B. Meyer O Plano de Leituras Selecionadas continua em MALAQUIAS

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ZACARIAS INTRODUÇÃO Zacarias ministrou para o pequeno grupo de judeus que retornou a Judá depois do Cativeiro Babilónico. Sua primeira profecia data de apenas dois meses após o chamado a Ageu, para que terminasse de recons­ truir o templo de Jerusalém (520 a.C.). Zacarias também encorajou os construtores do templo. Mas ele foi além de Ageu ao pedir renovação espiritual pessoal e social. Apenas o compromisso contínuo com o Senhor e a justiça impediriam mais julgamento. Zacarias realmente previu que Judá seria dominada por potências gentílicas durante séculos. Contudo, ele previu o surgimento do Messias, que, no tempo de Deus, estabelecerá uma Jerusalém purificada como capital de Seu reino glorioso. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Oito Visões N oturnas............................................................................. II. O Verdadeiro Jejum .............................................................................. III. Advento/Rejeição do Messias............................................................ IV. Retomo e Reino do Messias ...............................................................

__Zc 1— 6 ....Zc 7— 8 ...Zc 9— 11 .Zc 12— 14

GUIA DE LEITURA (3 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 191 192 193

Capítulos 1— 6 7— 9 10— 14

Passagem Essencial 1 9 11

ZACARIAS 10 DE JULHO LEITURA 191

VISÕES NOTURNAS Zacarias 1—6

“Olhei de noite e vi um homem montado em um cav­ alo vermelho, e parava entre as murtas que estavam na profundeza; e atrás dele estavam cavalos vermel­ hos, morenos e brancos. E eu disse: Senhor meu, quem são estes?” (Zc 1.8,9) Boa parte do livro de Zacarias é composta de visões que podem parecer difíceis de interpretar. Cada visão, porém, comunicava uma importante mensa­ gem para sua comunidade, e fala a nós hoje. Contexto Havia apenas 50.000 judeus na pequena provín­ cia da Judeia. Eles haviam conseguido permissão para retornar à antiga pátria quando Ciro da Pérsia derrotou o Império Babilónico. Eles estavam na Ju­ deia por quase 20 anos quando Zacarias começou a ministrar e foram movidos pelo entusiasmo reli­ gioso a completar a reconstrução do Templo de Je­ rusalém. Apesar do pequeno número, eles tinham grandes esperanças. Um dia, segundo as promessas de Deus, Jerusalém seria o centro do mundo, a ca­ pital do Messias destinado a estabelecer um reino mundial de justiça e paz. Em uma série de visões noturnas, Zacarias encora­ jou esta esperança. Mas, ao mesmo tempo, preve­ niu a pequena comunidade de que haveria séculos de dominação gentia antes que a esperança se con­ cretizasse. Zacarias, cujo nome significa “O Senhor se lembra”, é corretamente chamado o “profeta da esperança”. Nenhum profeta do Antigo Testamento falou mais claramente do Messias vindouro ou do seu reino. Kenneth L. Barker, na série Exposistors Bible Commentary, resume estes dois temas irmãos: “Zacarias

previu a primeira vinda de Cristo em humildade (6.12), sua humanidade (6.12), sua rejeição e trai­ ção por trinta peças de prata (11.12,13), o golpe da espada do Senhor (13.7), sua divindade (3.4; 13.7), seu sacerdócio (6.13), sua condição de rei (6.13; 9.9; 14.9,16), seu reinado e segunda vinda em glória (14.4), a edificação do templo do Senhor (6.12,13), seu domínio (9.10,14), e o estabeleci­ mento, por Ele, de paz e prosperidade duradouras (3.10; 9.9,10)”. “Quanto ao aspecto apocalíptico e escatológico, Zacarias previu o cerco final de Jerusalém (12.13; 14.1,2), a vitória inicial dos inimigos de Israel (14.2), a defesa de Jerusalém pelo Senhor (14.3,4), o julgamento das nações (12.9; 14.3), as mudan­ ças topográficas em Israel (14.4,5), a celebração da Festa dos Tabernáculos na Era do Reino messiânico (14.16-19), e da santidade final de Jerusalém e seu povo (14.20,21)”. Poucos livros do Antigo Testamento (apesar da obscuridade das visões de Zacarias) contêm um retrato mais claro da primeira vinda de Cristo ou dos acontecimentos associados com aquele retor­ no triunfante que você e eu hoje esperamos an­ siosamente. Assim, para nós também, Zacarias é o “profeta da esperança”. O poder do nosso Deus soberano garante uma salvação e uma restauração que vêm a você e a mim por meio do Messias de Deus, Jesus Cristo. Visão Geral Deus chamou Zacarias (1.1-6) e deu-lhe uma sé­ rie de oito visões referentes à restauração de Israel (w. 7-17), às potências mundiais vindouras (w. 18-21), ao julgamento das nações (2.1-3), ao fu-

Zacarias 1—6

turo Sacerdote-Rei (3.1-10), aos presentes recursos espirituais (4.1-14), ao julgamento dos culpados (5.1-4), à purificação do mal (w. 5-11), à vitória final de Deus (6.1-8) e, por fim, ao domínio do Messias (w. 9-15). Entendendo o Texto “Tomai para mim... e eu tornarei para vós” (Zc 1.14). Zacarias, que mais tarde tornou-se chefe de uma família sacerdotal que retornou da Babilônia (cf. Jr 11.4), começou seu ministério com uma lição de história. Deus havia exortado gerações anteriores a se voltarem para Ele e a se converterem de seus “maus caminhos e... más obras”. Elas haviam recu­ sado e, como haviam rejeitado ao Senhor, Israel e Judá haviam caído. Zacarias preveniu sua geração: “Não sejais como vossos pais”. Note a associação de voltar-se para Deus converterse dos maus caminhos e más obras. Ninguém que tivesse se voltado para o Senhor continuaria a pra­ ticar o mal. Contudo, note também a lição que Zacarias ex­ traiu da história: Os maus caminhos e obras têm consequências. Alguém disse que a experiência é o melhor professor. Mas quão mais fácil é para nós aprendermos esta lição a partir da experiência dos outros do que da nossa!

Em Zacarias 1.18-21, os quatro chifres são potências mundiais que dominarão Jerusalém, como em Daniei 7 e 8. O trabalhador representa forças históricas que operam para derrubar cada uma delas por sua vez, à medida que a história marcha rumo à grande conclusão de Deus. Esta visão realmente lida com a pergunta do profeta quanto a “quando?” Ela diz: “Não em breve, mas com certeza!”

“Serei para ela um muro de fogo em redor” (Zc 2.113). A terceira visão foi a de um homem medindo a cidade de Jerusalém. O anjo a explicou a Zacarias. Deus esmagaria as nações que haviam despojado seu povo. A Cidade Santa não precisará de nenhum muro de pedra então, pois o próprio Deus será um “muro de fogo” guardando um povo que é “a me­ nina do seu olho”. Foi dito ao profeta até mesmo sobre um grande movimento rumo a Deus que varreria “muitas na­ ções” para junto de si. Judá e Jerusalém, porém, seriam sua parte especial. Que surpreendente! Quando Zacarias falou, a Judeia era um pequeno distrito em uma das 120 províncias do vasto Império Persa. Contudo, Judá e sua capital, Jerusalém, estavam destinadas a se tomar, um dia, o centro do mundo! O que dava esperança aos exilados não eram as bênçãos presen­ tes, pois a Terra Santa era então um deserto estéril e cheio de espinheiros. O que dava esperança aos exilados era a visão daquilo em que a Terra Santa se transformaria. Nós também podemos encontrar poucos motivos para orgulho ou confiança na nossa situação pre­ sente. Mas, quando olharmos adiante e nos lem­ brarmos das promessas de Deus, esbanjaremos confiança! O que nos dá esperança é a visão da­ quilo que seremos — à medida que Cristo conti­ nuar a fazer a sua obra em nós, e quando Ele vier novamente.

“A té quando não terás compaixão?”(Zc 1.7-17). Embo­ ra os primeiros versículos de Zacarias olhem para trás, o resto do livro olha para frente. Podemos ser preve­ nidos pelas lições do passado. Mas somos motivados pelas perspectivas brilhantes para o futuro. A primeira visão de Zacarias oferece justamente tal esperança. Os cavaleiros da sua visão haviam acabado de ins­ pecionar as nações e encontrado o mundo em paz. Isso, em si, não eram boas notícias, pois as potên­ cias mundiais gentias tinham de ser vencidas antes que o reino do Messias pudesse ser estabelecido. Contudo, o Anjo do Senhor disse a Zacarias que o Senhor estava irado com as nações “com grandíssi­ ma ira”. Ele as derrubaria e voltaria “para Jerusalém com misericórdia”. Esta primeira visão não responde a pergunta: “Até quando?” Essencialmente, o Senhor estava dizendo que o “quando” não deveria ser uma preocupação do seu povo. O que Ele queria que soubessem era que Ele triunfaria. Você e eu devemos edificar a nossa vida na certeza do triunfo final de Deus, sem nos preocuparmos com quando este triunfo acontecerá. Cristo pode retomar durante o período da nossa vida. Ou não. O que nos dá esperança e nos motiva a servir ao Senhor não é saber quando, mas saber que a vinda “Homens simbolizando coisas por vir” (Zc 3.1-10). O que deve acontecer antes que a Terra Santa possa de Cristo certamente ocorrerá.

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Zacarias 1— 6

Simplesmente pelo fato de que, quando os culpa­ dos são punidos, os inocentes na comunidade estão seguros. Se aqueles que fazem o mal não forem pu­ nidos, em breve ninguém estará seguro! A sociedade moderna só pode estar segura quando as suas leis estiverem enraizadas nos mandamentos de Deus e quando essas leis forem cumpridas.

experimentar a restauração que as visões de Zaca­ rias prometem? O profeta recebeu outra visão, na qual o anjo diz que os personagens “simbolizam coisas por vir”. A visão era complicada, mas sua ideia principal é clara. Quando o Messias vier e re­ novar o sacerdócio assumindo o seu ministério sa­ cerdotal, o povo de Deus finalmente estará seguro. Há implicações também para nós no simbolismo. Para que qualquer ser humano conheça a paz de Deus, ele deve ser purificado por Deus e vestido com a sua justiça (w. 1-5). Então, quando an­ darmos nos seus caminhos, teremos assegurado o acesso ao Senhor e ao poder de viver vidas santas (w. 6-8). “Um castiçal... com as suas sete lâmpadas” (Zc 4.114). Esta quinta visão ensina a dependência do Es­ pírito de Deus, o recurso que nos capacita a viver vindas santas enquanto esperamos o surgimento do Prometido. A visão era dirigida a Zorobabel, o governador que também era da linhagem de Davi. Apesar de, naquele “dia das coisas pequenas”, a Ju­ deia parecer completamente insignificante e sem forças, o Senhor lembrou ao governador que se faz progresso “Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito” (v. 6). Este é um dos versículos do Antigo Testamento que todos fariam bem em lembrar. Em tudo o que fazemos, devemos nos valer não de nosso poder ou força, mas do Espírito de Deus. Se o servirmos na sua força, nada do que fizermos pelo Senhor será uma “coisa pequena”. Deus usará até mesmo os menores de maneira grandiosa. “Esta é a maldição que sairá pela face de toda a terra” (Zc 5-1-4). O rolo que Zacarias viu era um livro enrolado, no qual estavam escritos os manda­ mentos de Deus. Estes são chamados de maldição porque a violação dos mandamentos traz punição. Como isso pode ser uma mensagem de esperança?

DE VNáoOCIONAL______ em Breve, mas com Certeza

(Z cl) “Vamos ao shopping hoje à noite, mamãe?” Sarah, de nove anos, quer desesperadamente uma pasta especial para seu diário escolar. Ela tem “apenas” 15 ou 20 pastas, mas você sabe como são estas coi­ sas. Especial é a que ela não tem! O que me fascina, porém, é a sensação de urgência. “Vamos procurar. Agora!” A mãe prometeu que elas vão procurar. Mas não agora. A mãe trabalha o dia inteiro, tem que le-

“Isso é um efa” (Zc 5.5-11). As primeiras visões fo­ ram explicadas a Zacarias, ou o seu simbolismo era claro. Agora chegamos às visões que são mais obscuras. O que está claro é que nesta visão a iniquidade, personificada como uma mulher, é levada para a Babilônia. Hoje temos uma escolha similar. Podemos insistir na iniquidade e sofrer terríveis consequências. Ou podemos deixar que o Senhor retire a iniquidade e o mal dos nossos corações, isolando-nos do poder destes. O Espírito Santo pode fazer em nossos co­ rações o que Zacarias previu que Ele fará um dia pelo seu povo, Israel. “Os quatro ventos do céu” (Zc 6.1-8). Nesta visão final, Zacarias viu quatro carros com quatro guer­ reiros celestiais voltados para todas as direções. O pronunciamento sobre um repouso (v. 8) sugere a vitória final de Deus. “O homem cujo nome é Renovo” (Zc 6.9-15). Ter­ minadas as visões, foi dito a Zacarias que fizesse um coroa de prata e ouro e coroasse Josué, o sumo sacerdote, que representava o “Renovo”, um termo profético comum para o Messias vindouro. A co­ roa não é a cobertura normal para a cabeça de um sacerdote, mas para um rei. O impacto deste ato simbólico é afirmar que as promessas que Deus fez ao seu povo serão cumpri­ das — mas apenas pelo Messias, que unirá na sua pessoa os ofícios de Sacerdote e Rei.

var Sarah para as aulas de música, e teve que ir a uma reunião na escola na noite passada. Sim, elas vão procurar aquela pasta. Mas a mãe não quer se comprometer quanto ao momento. Sarah vai ter de ficar satisfeita com um compromisso simples. Pode não ser em breve, mas é certo. Elas vão pro­ curar a pasta. Compreendo por que Sarah não está feliz com o “não em breve, mas com certeza”. Para uma crian­ ça, tudo é urgente. Tudo tem que ser “agora” — ex­ ceto, é claro, limpar o quarto, praticar o piano ou

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Zacarias 7— 9

fazer a lição de casa. Ainda assim, tudo o que ela quer tem que ser “agora”. Zacarias nos lembra de que Deus, como um bom pai, nos diz para ficarmos satisfeitos com o “com certeza”. E até mesmo para ficarmos satisfeitos com o “não em breve, mas com certeza”. O profeta começou lembrando ao seu público os desastres que atingiram os seus ancestrais por cau­ sa da desobediência (w. 2-4). O julgamento com que Deus ameaçou virá. Náo em breve. Mas com certeza. Então, Deus deu a Zacarias duas visões. Após ver a primeira, o profeta implorou que Deus lhe dissesse: “Até quando não terás compaixão de Jerusalém?” Deus não respondeu a princípio, apesar de fazer uma promessa incondicional. “Voltei-me para Je­ rusalém com misericórdia”. O compromisso de Deus de fazer bem ao seu povo é certo (w. 7-17). Mas então Deus deu a Zacarias outra visão, a visão de uma série de potências mundiais que surgiriam para dominar a Terra Santa e que apenas gradual­ mente se dissolveriam. Esta foi a resposta de Deus à pergunta de Zacarias sobre o quando. “Não em breve”. Zacarias teve que se satisfazer com aquilo. Deus havia prometido. As promessas seriam cumpridas. Não seria em breve. Mas era certeza. Às vezes, você e eu temos que viver justamente com este tipo de resposta às nossas orações. “Deus, eu sinto dor”. “Deus, preciso de ajuda”. “Deus, traba­ lhe na vida de quem amo”. “Deus, satisfaça as nos­ sas necessidades”. Quando uma resposta demora, ficamos impacientes. Como a pequena Sarah, que­ remos agora aquilo que achamos que precisamos! Na próxima vez que sentir este tipo de pressão, lembre-se da mensagem de Deus a Zacarias. Sua palavra para nós muitas vezes é a mesma. “Náo em breve. Mas com certeza.” Se nos concentramos no “não em breve”, ficaremos agitados e perturbados. Mas, se nos concentrarmos no “com certeza”, teremos paz. Aplicação Pessoal Seja qual for a circunstância, o compromisso de Deus de lhe fazer bem é garantido e seguro. Citação Importante “Deus, na sua indizível providência, fez todos os preparativos para que alguns recebessem a recom­ pensa por seus esforços antes mesmo de começarem a trabalhar; outros, quando tivessem efetivamente trabalhado; outros, quando o trabalho estivesse feito; e outros, ainda, por ocasião da sua morte. Que o leitor se pergunte qual deles se tornou mais humilde.” — João Clímaco

11 DE JULHO LEITURA 192 JUSTIÇA, NÃO JEJUM Zacarias 7—9 “Eis as coisas que deveisfazer: falai verdade cada um com o seu companheiro; executai juízo de verdade e de paz nas vossas portas; e nenhum de vós pense mal no seu coração contra o seu companheiro, nem ame o juramento falso ” (.Zc 8.16,17). Esta passagem lida com um repetido tema do An­ tigo Testamento. A medida da verdadeira religião não está em nenhuma observância exterior, mas na qualidade da nossa vida diária. Contexto Jejum. Nunca se fez jejum nos tempos do Antigo Testamento para perder peso. O jejum sempre ti­ nha um fim religioso. Um jejum podia ser empre­ endido por uma pessoa desesperada por resposta a uma oração, como em 2 Samuel 12.16-22 ou Jere­ mias 36.1-10. O jejum muitas vezes expressava dor e sofrimento profundos, como em 1 Samuel 31.13. Ou podia indicar arrependimento, como em Joel 2.12-15. O jejum também estava associado ao Dia da Expiação. Jejuar para mostrar arrependimento é o único jejum ordenado no Antigo Testamento (Lv 16.29,31) e tinha a intenção de sublinhar o caráter solene daquele dia santo. Jejuar nos tempos bíblicos geralmente significa abster-se de alimento apenas do nascer ao pôr do sol. No tempo de Cristo, especialmente os judeus religiosos jejuavam todas as segundas e quintas-fei­ ras. Um dos primeiros pais da igreja encorajou os cristãos a jejuar também, mas mudou os dias para terças e sextas-feiras! O Novo Testamento descreve dois tipos de jejum: um, como uma exibição pública com o intuito de promover a ideia de que a pessoa que está jejuan­ do é especialmente espiritual (cf. M t 6.16-18; Lc 18.12); e o outro, conduzido pelo Espírito Santo, na busca de orientação ou poder divino (cf. M t 4.1,2; Lc 4.1-3; At 13.2; 14.23). Zacarias 7— 8, que é a discussão mais direta a res­ peito do jejum na Escritura, sugere que examine­ mos cuidadosamente os nossos motivos antes de empreendermos um jejum, e deixa claro que Deus está muito mais interessado em que o seu povo viva uma vida justa e santa do que em um jejum de tolos. Visão Geral Quando uma delegação de Betei perguntou sobre o jejum (7.1-3), Deus os admoestou (w. 4-7) e pediu compromisso com a justiça (w. 8-14). Deus pro­

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Zacarias 7—9

meteu seu favorecimento a Israel (8.1-17). O seu pelo Senhor ou ainda estamos interessados apenas povo conhecerá a alegria na adoração (w. 18-23), em nós mesmos? e os seus inimigos serão castigados (9.1-8) quando o seu Rei vier (w. 9-13), sim, quando o Senhor se “Assim falou o Senhor dos Exércitos” (Zc 7.8-14). Os homens de Betei haviam perguntado: “Devemos manifestar (w. 14-17). jejuar?” Deus pareceu rejeitar a pergunta como despida de importância e respondeu: “Executai Entendendo o Texto “Devo chorar e jejuar?” (Zc 7.1-3). Os jejuns sobre juízo verdadeiro, mostrai piedade e misericórdia os quais os homens de Betei perguntaram eram cada um a seu irmão; e não oprimais a viúva, nem jejuns instituídos pelos exilados para comemorar o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem in­ acontecimentos associados à queda de Jerusalém, tente o mal cada um contra o seu irmão, no seu cerca de 68 anos antes. A primeira geração de exi­ coração” (w. 9,10). lados sentiu aquela queda profundamente t, sem Quantas vezes nos preocupamos apaixonadamente dúvida, havia chorado com grande sinceridade. com questões sem importância! No tempo de Jesus, Agora, porém, outra geração, apenas dois anos de­ os fariseus tinham o cuidado de dizimar as folhas pois de terminar um novo Templo de Jerusalém, das pequenas ervas que cresciam nas suas soleiras. perguntava-se se havia alguma razão para manter Mas, Cristo disse, “desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé” (Mt 23.23). os jejuns tradicionais. Observe duas coisas sobre a questão. Primeiro, Um dos ardis mais eficazes de Satanás é fazer com Deus não havia ordenado aqueles jejuns e, por­ que os crentes deem muita atenção àquilo que não tanto, eles não eram obrigatórios. Contudo, era merece atenção. Quando aquilo que é menos signi­ correto os homens de Betei suscitarem a questão ficativo domina o nosso pensamento, ignoramos os junto aos líderes espirituais de Jerusalém e buscar aspectos verdadeiramente centrais da nossa fé. a orientação de Deus. Seja como for que as nossas Observe que tanto Zacarias como Jesus se concen­ tradições religiosas tenham começado, é sábio bus­ traram em um estilo de vida marcado pela justiça, misericórdia e compaixão. Se formos fiéis na de­ car a orientação de Deus antes de modificá-las. Segundo, os jejuns haviam se tornado uma mera monstração do nosso compromisso com o Senhor tradição para a geração presente. Há uma diferen­ vivendo uma vida santa e amorosa, as “coisas pe­ ça entre “tradição” e “mera tradição”. O que pode quenas” encontrarão o seu lugar. ser uma forma vital de expressar uma experiência Você sente que Deus quer que jejue? Então jejue. espiritual real raramente pode ser legado à geração Mas você sabe que Deus quer que você faça justiça, seguinte sem se tornar uma mera tradição: a for­ demonstre misericórdia e se importe com os ne­ ma sem o significado ou a vitalidade. Cada geração cessitados. Comparado a estes, o jejum, na melhor deve ter a liberdade de encontrar as melhores ma­ das hipóteses, tem um papel menor na sua vida neiras para expressar a sua experiência pessoal com espiritual. o Senhor. “Voltarei para Sião e habitarei no meio de Jerusalém” “Quando jejuastes... jejuastes vós para mim?” (Zc (Zc 8.1-15). Quando Deus disse: “Zelei por Sião 7.4-7). Deus respondeu à pergunta sobre o jejum com grande zelo”, Ele queria dizer: “Tenho um por meio do profeta Zacarias. Sua resposta foi dada desejo apaixonado de fazer-lhe bem”. A palavra he­ por meio de uma pergunta contundente. As pes­ braica traduzida como “zelo” descreve uma paixão soas haviam realmente jejuado “para Mim” todos profunda e duradoura pelo seu objeto. O que Deus disse por meio de seu profeta aos ho­ aqueles anos ou jejuado para si mesmas? Em essência, Deus perguntou: “Vocês sentiram mens preocupados com o jejum foi o seguinte: “E uma tristeza pelos seus pecados — ou só se senti­ o meu amor que me motiva a fazer o bem a vocês, ram tristes por terem sido apanhados no pecado?” não o fato de vocês jejuarem ou não”. O motivo para o jejum era a culpa pelos pecados O que o amor de Deus o motivará a fazer pelo seu que causaram o Exílio? Ou a dor, em primeiro lu­ povo do Antigo Testamento? Ele encherá as ruas de gar, era simplesmente uma autopiedade, uma ex­ Jerusalém com pessoas saudáveis e felizes (w. 4,5). pressão egoísta da própria postura que levara gera­ Ele trará de volta ao lar os que estão dispersos (w. 7,8). Ele tornará a terra produtiva (v. 12) e fará do ções anteriores a abandonar a Deus? Que pergunta para nós fazermos quando experi­ povo uma bênção para todas as nações (v. 13). mentarmos a disciplina do Senhor! Sentimos. Dói. Podemos ter confiança em que o Senhor, no seu Mas o nosso coração dói pelo pecado ou apenas amor, fará o mesmo por nós. Às vezes, podemos ex­ pelo castigo? Mudamos o foco de nosso interesse perimentar a disciplina. Mas podemos reivindicar

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para nós a promessa que o Senhor fez à pequena comunidade na Judeia: “Pensei de novo em fazer bem a Jerusalém e à casa de Judá nestes dias; náo temais” (v. 15). “Eis as coisas que deveis fazer” (Zc 8.16,17). Quão significativo é que esta expressão da vontade de Deus suceda em vez de preceder a promessa do versículo 15. Por que é significativo? Se “as coisas que deveis fazer” viessem primeiro, poderíamos concluir que Deus nos abençoa por causa do que fazemos por Ele. Como, porém, “as coisas que de­ veis fazer” seguem a promessa, entendemos que a nossa obediência é motivada pela gratidão. O legalista faz o que é correto numa tentativa de conquistar o favor de Deus. O crente faz o que é correto porque sabe que já obteve o favor de Deus por meio da graça. Obedecemos a Deus porque o amamos. Procuramos agradá-lo porque compreen­ demos tudo o que Ele fez por nós. “0 jejum... será... gozo, e alegria, e festividades solenes” (Zc 8.18-23). O Talmude judaico liga cada uma destas festas a um acontecimento específico relacionado com a queda de Jerusalém em 586 a.C. O jejum do quarto mês celebrava o dia em que os muros de Jerusalém haviam se rompido; o do quinto, o dia em que o Templo foi incendiado; o do sétimo, a data em que Gedalias foi assassinado (cf. Jr 41.2); o do décimo, o dia em que a cidade foi sitiada. Por que estas datas deviam ser celebradas com jú­ bilo em vez de lembradas com dor? Em parte, pelo menos, porque estes momentos de intensa angústia

DEVOCIONAL______

Amável, mas, ah, tão Duro (Zc 9) Durante anos, Nicholson veiculou anúncios que retratavam um trabalhador robusto, de aspecto rude, com um belo sorriso, segurando uma de suas lixas. E os anúncios sempre diziam: “Duras, mas, ah, tão amáveis”. Este capítulo me lembra um pouco esses anúncios. E claro que Zacarias fez circular os anúncios para nos apresentar à Pessoa que cumprirá todas estas maravilhosas promessas que Deus fez ao seu povo. Contudo, em apenas alguns versículos, ele mostrou um lado dócil e terno, e um lado duro do Messias vindouro. Primeiro, há o lado dócil (v. 9). A imagem é significativa, pois, no Oriente antigo, os reis iam para a guerra em cavalos. Quando que-

para os habitantes de Jerusalém eram, ao mesmo tempo, ocasiões de purificação divina. Das ruínas da cidade e do Templo vinha uma renovação es­ piritual que afastava o povo judeu da idolatria e o trazia de volta à Escritura, e a Deus. Em última análise, todo julgamento purificador que Deus impõe aos seus, não importa quão do­ loroso possa parecer, será um dia lembrado com alegria. No tempo de Deus veremos o seu propósi­ to e perceberemos como o Senhor o usou para nos aproximarmos dEle. Então, quando a alegria fluir e expulsar até mesmo a memória da angústia, nós compreenderemos. “Acampar-me-ei ao redor da minha casa para de­ fendê-la contra forças militantes” (Zc 9.1-8, ARA). Quando Deus falou por meio de Zacarias, Judá era um distrito completamente insignificante em um poderoso império gentio. Estando fracos e indefe­ sos, os judeus podiam olhar para trás e ver sécu­ los de opressão por muitas potências estrangeiras. À medida que o tema da bênção prossegue, Deus promete lidar com os inimigos externos de Judá. Você e eu também estamos sujeitos a dois tipos de forças hostis. H á forças hostis dentro de nós — o impulso para o pecado, o fascínio pelas tentações — e as forças fora de nós — circunstâncias, uma sociedade corrupta, inimigos pessoais, o próprio Satanás. Somos responsáveis por lidar com apenas um: o inimigo que há dentro de nós. À medida que comprometemos os nossos corações e até mesmo a nossa vontade com o Senhor, podemos ter a certeza de que Ele também nos defenderá, e que não pas­ sará mais sobre nós “o opressor”.

riam comunicar paz, viajavam em um jumento. Pensamos, naturalmente, na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, que Zacarias previu aqui. Je­ sus veio em paz, para trazer paz. O povo judeu, porém, queria um conquistador, que conduzisse uma insurreição contra Roma. Contudo, apenas pela aliança selada pelo sangue do Homem de Paz todos os que estavam cativos pelo pecado poderiam ter uma perspectiva de paz. Mas Zacarias prossegue. O Homem de Paz surgi­ rá novamente, desta vez como “o Senhor... sobre eles” (v. 14). Então, Ele soará a trombeta da guerra, para defender o Seu povo e destruir todos os seus inimigos (v. 15). Ele virá novamente como o con­ quistador pelo qual Israel ansiou — “naquele dia, os salvará, como ao rebanho do seu povo”. Só então todos perceberão que o Rei amável é tam­

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tas visões está invariavelmente nesta terra e na Ter­ ra Santa. Estas passagens retratam universalmente um papel especial para o povo de Israel e repetem o compromisso consistente de Deus em restaurar Israel a um lugar de bênção. Estudiosos da profecia que tratam estas passagens de maneira literal procu­ ram juntar as diferentes passagens, para conseguir um retrato tão exato quanto possível do plano de Deus para o fim dos tempos. Outros cristãos ten­ dem a tratar tais passagens de maneira alegórica ou espiritual e, assim, estudam-nas para aplicação pes­ soal hoje. As duas escolas veem as mensagens dos profetas como afirmações do controle soberano da história por Deus, de seu total comprometimento com o seu povo, e do triunfo final da justiça. Ao chegarmos a uma passagem extensa como esta, podemos adotar qualquer das abordagens. Ou po­ demos adotar uma terceira. Um dos aspectos mais instigantes destes capítulos de Zacarias é que eles se concentram na pessoa e Aplicação Pessoal no papel do Messias. Aqui, temos sugestões do que Se você conhece Jesus apenas como Salvador, não Jesus faria na sua primeira vinda e do que Ele fará no seu retorno. Portanto, para a leitura devocional sente falta de conhecê-lo como Senhor? destes capítulos, pode ser mais significativo exami­ nar imagens messiânicas específicas — e ver o que Citação Importante “Ele pede apenas que te entregues a Ele, para que estas imagens têm a nos dizer sobre quem é o nosso Ele possa trabalhar em ti para desejares e fazeres Salvador e o que Ele fará. segundo o seu grande poder. Tua parte é te entrega­ res. A parte dEle é trabalhar; e nunca, nunca Ele te Visão Geral dará um mandamento que não seja acompanhado Zacarias retratou o cuidado futuro de Judá por por um amplo poder para obedeceres.” parte de Deus (10— 12), apesar da rejeição do seu Rei-Pastor (11.1-17). Quando Jerusalém for sitia­ — Hannah Whithall Smith da e depois salva (12.1-9), Israel primeiramente reconhecerá e depois chorará por aquEle “a quem 12 DE JULHO LEITURA 193 traspassaram” (w. 10-14). Judá será purificada do O REINADO DO MESSIAS Zacarias 10— 14 pecado pelo Pastor ferido (13.1-9), que retornará para reinar para sempre (14.1-21). “Sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Je­ rusalém derramarei o Espírito de graça e de súpli­ Entendendo o Texto cas; e olharão para mim, a quem traspassaram; e o “De Judá sairá a pedra angular” (Zc 10.4, ARA). O prantearão como quem pranteia por um unigénito; e Targum judaico via a Pessoa identificada neste ver­ chorarão amargamente por ele, como se chora amar­ sículo como o Messias, destinador a vir de Judá (cf. Gn 49.10; Jr 30.21). Aqui, o Messias é retratado gamente pelo primogênito” (Zc 12.10). como a pedra angular, ou o alicerce para o futu­ Não há nenhuma passagem no Antigo Testamen­ ro. Ele também é a “a estaca da tenda”, o principal to que explore mais completamente a relação do apoio do futuro estado, e o “arco de guerra” ou o Messias com o plano de Deus para o seu povo do seu líder guerreiro. Antigo Testamento. Aninhados aqui, encontramos Em essência, Zacarias disse que o futuro de Israel retratos vívidos de Cristo tanto em sua primeira depende desta Pessoa. Quão verdadeiro isso é para nós. E também para nós, Ele é a fundação, o prin­ vinda, como na segunda. cipal apoio, a única esperança que temos. Contexto O Fim da História. O Antigo Testamento oferece “Não vos apascentarei mais" (Zc 11.4-14). No An­ muitas visões dramáticas dos acontecimentos que tigo e no Novo Testamento o “Bom Pastor” repre­ hão de ocorrer no fim da história. O foco sobre es­ senta um governante devoto. Cristo assumiu, es­

bém o Senhor Todo-Poderoso, o Senhor soberano do universo. Amável, sim. Mas Deus; e, como Deus, poderoso para salvar. De certa maneira, a história é recapitulada na nos­ sa experiência com Jesus. Nós o vemos primeiro sofrendo e morrendo pelos nossos pecados. Somos tocados pelo seu amor, respondemos à sua brandu­ ra. Entáo, quando respondemos na fé, descobrimos o seu poder de ressurreição. O Salvador sofredor é também o nosso Senhor ressuscitado, e nos ajoe­ lhamos perante Ele em plena rendição. Quão importante é não ter uma visão unilateral de Jesus. O Rei silencioso do Antigo Testamento é também o Deus esmagador de Israel. Nosso Jesus amável é o Senhor de todos. Só conhecemos bem a Jesus quando estamos familiarizados com ambos os aspectos da sua identidade. Só conhecemos bem a Jesus quando o conhecemos como Senhor e como Salvador.

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pecificamente, este título para Si (cf. Jo 10). Aqui, Zacarias retratou não apenas a rejeição do Messias, mas sua traição pela soma de 30 peças de prata. A primeira irresistível impressão é simplesmente esta: A rejeição do Messias traz o desastre. “O que morrer morra, e o que for destruído seja” (v. 9). E a mesma coisa hoje. Nosso destino depende de acei­ tarmos ou rejeitarmos a Cristo, o Bom Pastor que Deus escolheu para apascentar o seu rebanho. As trinta peças de prata mencionadas aqui são pro­ féticas. Foi o preço que Judas recebeu para trair Je­ sus na noite anterior à sua crucificação. Na antiga nação de Israel, 30 peças de prata eram o preço de um escravo (cf. Êx 21.32). Mas em tempos poste­ riores, foi usada como o nosso “qualquer trocado”. Por que as pessoas rejeitam Cristo hoje? Essencial­ mente porque o veem como insignificante para si pes­ soalmente. Elas não sentem necessidade de salvação pessoal ou de libertação e, portanto, não dão nenhum valor à cruz do Salvador. (Veja o DEVOCIONAL.) A referência ao campo do oleiro também é proféti­ ca. Depois que Cristo foi levado, Judas não sentiu prazer no dinheiro, e tentou devolvê-lo. Os sacer­ dotes recusaram-se a aceitá-lo e, então, Judas atirou as moedas no chão. Como eram “preço de sangue”, os sacerdotes não estavam dispostos a recolocá-las no tesouro do Templo e as usaram para o sepultamento de indigentes, cumprindo assim literalmen­ te a profecia de Zacarias. Quão estranho é que os sacerdotes tentassem dis­ tanciar-se do dinheiro — quando, para começar, eles mesmos pagaram o dinheiro. Não há nenhu­ ma maneira de nos separarmos da responsabilidade pela nossa resposta a Jesus — não importa a força com que tentemos.

DEVOCIONAL______ O Custo da Salvação

(Zc 11) As trinta peças de prata que Judas aceitou para trair Jesus refletiam o valor dado à sua vida por aquele discípulo. O preço, previsto aqui em Zaca­ rias, era a quantia paga por um escravo no tempo de Moisés (cf. Êx 21.32). No século I, embora representasse cerca de 30 dias de trabalho de um empregado, 30 peças de prata eram vistas pelos abastados como uma quantia insignificante. O preço nos diz que, aos olhos dos inimigos de Cris­ to, sua vida e morte eram totalmente sem impor­ tância. Que contraste com o valor implícito em uma his­ tória contada por Jesus. Jesus falou de um servo que devia ao seu rei “dez mil talentos”. Converti­ da, a quantia representa milhões de dólares. Nem

“Olharão para mim, a quem traspassaram” (Zc 12.10). Esta é uma referência evidente a Cristo, transpassado pelos cravos na cruz do Calvário. O texto hebraico está muito bem traduzido pela expressão “olharão para”. O pensamento aqui é que, na segunda vinda de Cristo, depois que Deus destruir todas as nações que atacam Jerusalém (v. 9), Israel olhará para Jesus com fé (conforme Nm 21.9; Is 45.22). “Fere o Pastor” (Zc 13.7). Esta é outra passagem que o Novo Testamento aplica a Jesus (cf. M t 26.31,32). O termo hebraico “ferir” indicava claramente a morte do Pastor. O Talmude ba­ bilónico, um antigo comentário judaico, lida com as imagens divergentes do Messias no seu sofrimento e triunfo, sugerindo que existem dois Messias: um Messias sofredor e um Mes­ sias triunfante. Até a ressurreição de Cristo, não estava claro como uma Pessoa podia morrer pe­ los pecados do povo e depois ressurgir em poder para resgatá-los. “Estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras” (Zc 14.1-21). Depois que o Pastor é ferido, Ele retor­ na como “o Senhor” para lutar contra os inimigos de Israel e se posiciona fisicamente na terra. No­ vamente, apenas acontecimentos do Novo Tes­ tamento nos permitem compreender como isso é possível. O Messias é homem e Deus, ferido e triunfante. Quando retornar, Ele se colocará sobre os montes de Israel, e, pela sua presença, mudará a sua topografia — e, ao mesmo tempo, transfor­ mará a terra inteira, até que, por fim, ela seja santa para o Senhor. que tivesse mil vidas uma pessoa poderia conse­ guir tal soma trabalhando. E, contudo, na histó­ ria, Jesus retratou o rei — que representa Deus — perdoando a dívida completamente. O que é significativo, naturalmente, é que Deus perdoa os pecadores unicamente com base na morte do seu Filho. O valor que Deus Pai atri­ bui à vida e morte de Jesus é infinitamente supe­ rior a 30 peças de prata. E mais do que qualquer ser humano poderia ter a esperança de ganhar; o mais impressionante é que o Senhor não julgou que este preço fosse alto demais para pagar pela nossa salvação. Quão importante é Jesus para você e para mim? Isso depende de quão conscientes de nossos peca­ dos nós somos, e de quão conscientes estamos da grandeza do perdão que Jesus conquistou para nós

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às custas da sua própria vida. Quando compreen­ Jesus, meu Salvador. Ele é o meu Tudo, e desejo demos isso, nada mais no universo tem qualquer pertencer inteiramente a Ele. E a mais extrema in­ sensatez e ilusão procurar a verdadeira felicidade valor, quando comparado com Ele. em outra parte. Renunciemos, então, a todas as ou­ Aplicação Pessoal tras coisas com veemência e coragem, e busquemos Não valorize nada e ninguém mais do que Jesus. apenas a Ele.” — Jean Eudes Que Ele seja o bem mais precioso de sua vida. Citação Importante “Não desejo mais encontrar a felicidade em mim mesmo, ou em coisas criadas e perecíveis, mas em

O Plano de Leituras Selecionadas continua em GÁLATAS

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MALAQUIAS INTRODUÇÃO Malaquias é o último dos três profetas pós-exílio. Ele ministrou para os descendentes daqueles que re­ tornaram à Judeia do Cativeiro Babilónico. Quando Malaquias escreveu, os sacerdotes e o povo haviam se tornado displicentes na adoração no Templo reconstruído, terminado em 515 a.C. Por meio de uma série de perguntas retóricas incisivas, Malaquias desafiou sua geração a livrar-se de sua letargia espiritual, e incitou as chamas do compromisso completo com o Senhor. Malaquias serve aos crentes, hoje, nesta mesma função. Também precisamos examinar os nossos corações e as nossas práticas, e manter aquele entusiasmo que é adequado ao povo do Deus vivo. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. A Nação Favorita de Deus .................................................................... II. Os Sacerdotes Desrespeitosos............................................................. III. O Povo Infiel........................................................................................ IV. As Promessas de Deus .........................................................................

...........Ml 1.1-5 ....M l 1.6— 2.9 MI 2.10— 3.12 ..M l 3.13— 4.6

GUIA DE LEITURA (2 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 194 195

Capítulos

Passagem Essencial

1— 2

2

3— 4

3

MALAQUIAS 13 D E JU LH O LEITURA 194

DESONRANDO A DEUS Malaquias 1— 2

“Se eu sou Pai, onde está a minha honra? E, se eu sou grupo, o escriba Esdras conduziu outro pequeno Senhor, onde está o meu temor? — diz o Senhor dos contingente de volta à Terra Santa. Depois, Deus Exércitos” (Ml 1.6). forneceu outro líder devoto em Neemias, que ser­ viu como governador e reconstruiu os muros de Como podemos honrar a Deus em nossa adora­ Jerusalém. Cada um destes líderes, porém, encon­ ção e vida diárias? As perguntas contundentes que trou um povo menos comprometido com Deus, Malaquias fez à sua geração ajudam-nos a avaliar com um estilo de vida negligente, que revelava o nosso relacionamento com o Senhor e aponta uma pronunciada falta de respeito pelo Senhor. maneiras pelas quais nós, o seu povo, podemos A maioria dos comentaristas acredita que Mala­ honrá-lo. quias, cujas palavras condenavam as mesmas en­ fermidades espirituais, ministrou algum tempo Contexto depois do governo de Neemias. Se for assim, não Vida Pós-Exílio. Cerca de 50.000 judeus viajaram podemos deixar de nos admirar — e de sermos avi­ da Babilônia para a Judeia em 538 a.C. O persa sados — de quão rapidamente a comunidade do Ciro havia suplantado os governantes babilónicos Antigo Testamento novamente se desviou de seu e decretara que os povos cativos podiam retomar compromisso com o Senhor. às suas pátrias. Então, um pequeno grupo de pio­ Talvez esta seja a principal contribuição de Mala­ neiros judeus, motivado pelo entusiasmo religioso, quias para a nossa vida. Vemos quão vulneráveis partiu para a Judeia. Eles pretendiam reconstruir o todos nós somos à deriva espiritual. Aqui nos são Templo de Deus e uma comunidade de fé na terra mostradas maneiras de descobrirmos se nós mes­ prometida aos descendentes de Abraão. mos estamos fora do rumo. E somos encorajados A história, como contada em Esdras e Neemias, e pela promessa de que, enquanto permanecermos como refletida nos profetas pós-exílio, Ageu, Zaca­ fiéis ao nosso compromisso de honrar a Deus, es­ rias e Malaquias, é uma história de triunfos e tragé­ taremos entre aqueles que constituem a posse mais dias. Depois de lançadas as fundações do Templo, preciosa de Deus. as dificuldades de recuperar fazendas e lares no que era então uma fronteira desolada, pareciam formi­ Visão Geral dáveis. O compromisso de reconstruir o Templo Deus amara o seu povo (1.1-5). Contudo, os seus definhou enquanto os exilados se concentravam sacerdotes o trataram com desprezo (w. 6— 2.9), em satisfazer suas próprias necessidades. Cerca de e o seu povo o cansou com a sua infidelidade 18 anos depois, os profetas Ageu e Zacarias rea­ (w. 10-17). cenderam as chamas espirituais e o Templo foi completado em 515 a.C. Novamente, porém, as Entendendo o Texto chamas da renovação esfriaram. “Eu vos amei, diz o Senhor” (Ml 1.1-5). O alicer­ Cerca de 80 anos depois do retorno do primeiro ce do nosso relacionamento com o Senhor não é

Malaquias 1—2

a nossa fé, mas o amor de Deus por nós. É a con­ vicção inabalável de que Deus nos ama e mostrou o seu amor por nós em Cristo que cria a fé e faz crescer o nosso amor pelo Senhor. Quão significativo, então, é que o povo de Judá tenha respondido à afirmação do amor por Deus com uma resposta cínica: “Amor? E mesmo? Em que nos amaste?” Esta é apenas a primeira de uma série de sete per­ guntas feitas pelos sacerdotes ou pelo povo de Judá que revelavam a sua letargia espiritual. Toda a con­ versa a respeito de Deus e todas as ocasiões de ado­ ração haviam se tomado terrivelmente enfadonhas para o povo de Deus. Usando uma terminologia moderna, a adoração havia se tornado tediosa! A menos que você e eu mantenhamos um cla­ ro foco sobre o amor de Deus e retribuamos esse amor, nossa fé logo se tomará sem sentido. Perde­ remos nossa percepção de alegria e as coisas que fizermos para agradar a Deus parecerão tarefas sem significado. Manter o “pessoal” no nosso relacionamento com Deus deve ser a nossa primeira e mais importante prioridade. “A mei a Jacó e aborreci a Esaú” (Ml 1.1-5). Aqui, “Jacó” e “Esaú” referem-se primariamente aos povos descendentes dos dois irmãos. Deus havia demonstrado seu amor pelo povo judeu (“Jacó”) restaurando-os à sua pátria. Mas os edomitas (“Esaú”) haviam sido expulsos de suas terras pelos nabateus, e o território havia se tornado uma “as­ solação” herdada por “dragões do deserto”. Este foi um julgamento divino de um povo que, bem cedo, havia sido hostil ao povo escolhido de Deus e que merecia punição (cf. Êx 17.8-16; Jz 3.12,13; 1 Sm 27.8; Ob). “Eu amei” e “Eu aborreci” são maneiras de expressar aceitação e rejeição e têm duas referências. O texto descreve a rejeição por Deus de qualquer reivindi­ cação de direito que Esaú pudesse ter de herdar a promessa de aliança feita por Deus a Abraão (Gn 25.23; Rm 9.13). E o texto faz um contraste com o que aconteceu ao povo judeu e aos edomitas. Tanto a escolha original de Jacó, como a subsequente ex­ periência do povo judeu, mostram o amor de Deus pela sua raça escolhida. Hoje, se alguém fosse tolo o suficiente para desa­ fiar a Deus dizendo: “Em que nos amaste?”, nós apontaríamos para a cruz. E testemunharíamos como Jesus mudou a nossa vida. A decisão de Deus, de sacrificar o seu Filho e a subsequente experiência, pelos cristãos, da grande salvação que Jesus conquistou para nós, comprovam, sem dú­ vida, o amor de Deus.

Pode haver ocasiões em que você e eu perguntamos “por quê?” Mas nunca precisamos nos perguntar se Deus nos ama. Ao entendermos a extensão desse amor, diremos com os devotos do tempo de Mala­ quias: “O Senhor seja engrandecido”. “Em que desprezamos nós o teu nome?” (Ml 1.6-14). Quando Deus, por intermédio de Malaquias, con­ frontou os sacerdotes da Judeia por terem deixado de honrá-lo, eles responderam indiferentemen­ te com outra pergunta cínica: “Desprezar o teu nome? Nós não!” Malaquias prosseguiu e identificou três maneiras pelas quais aqueles líderes religiosos mostravam desprezo pelo Senhor. Primeiro, eles demonstravam desrespeito ao ofere­ cerem “pão imundo” sobre o seu altar (w. 6,7). A Lei do Antigo Testamento descrevia em detalhes como os sacrifícios deviam ser oferecidos (cf. Lv 1— 6). Não era mero ritual: a observância cuidado­ sa das regras que governavam os sacrifícios era uma maneira de mostrar respeito pelo Senhor. Os sa­ cerdotes, porém, desconsideravam os regulamentos da Lei e, portanto, tornavam impuros os sacrifícios (tornando-os cerimonialmente imundos). É como se os nossos pais viessem para jantar e servíssemos a eles comida de cachorro. Segundo, eles demonstravam desrespeito ao ofere­ cem sacrifícios desqualificados (Ml 1.8,9,13,14). A Lei do Antigo Testamento exigia que os animais para sacrifício não tivessem defeitos. Aqueles sacer­ dotes aceitavam animais doentes ou aleijados para o sacrifício. Malaquias disse, de um modo contun­ dente: “Ora, apresenta-o ao teu príncipe; terá ele agrado em ti?” Contudo, eles se atreviam a oferecer tais animais a Deus, que não é um mero príncipe, mas o grande Rei do universo! Terceiro, eles desdenhavam do privilégio de condu­ zir a adoração, que julgavam ser uma “canseira” e para a qual torciam o nariz dizendo “sua comida, é desprezível” (w. 10-14). Haviam perdido toda per­ cepção da presença de Deus e estavam meramente realizando os movimentos da adoração. Que ferramentas claras e simples — e, no entan­ to, tão avassaladoras — para usarmos ao avaliar o nosso relacionamento pessoal com Deus. Será que temos o cuidado de demonstrar respeito por Deus na maneira como adoramos, ou somos descuidados na frequência e na prática na igreja? Damos a Ele o que temos de melhor ou o Senhor recebe apenas as nossas sobras? Ansiamos por adorar a Deus pri­ vadamente e com outros ou a adoração tornou-se aborrecida e sem sentido? Se seguimos as maneiras dos sacerdotes do tempo de Malaquias, precisamos confessar agora. Precisa-

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Malaquias 1—2

mos nos concentrar novamente no amor de Deus por nós em Jesus e pedir ao Senhor que reavive nosso amor pelo Senhor e o transforme em cha­ mas. Precisamos então retornar à adoração cheios de uma percepção vital da presença viva de Cristo, ao nos inclinarmos perante Ele. “Se não propuserdes no vosso coração dar honra ao meu nome... enviarei a maldição contra vós” (Ml 2.1-9). O fracasso dos sacerdotes era crítico, pois um sacerdote devia guardar “a ciência”, e da boca do Senhor “buscar a lei” (v. 7). Qualquer falha no sacerdócio tinha de afetar o povo que eles eram chamados a servir. Malaquias acusou os sacerdotes do seu tempo: “Vós vos desviastes do caminho, a muitos fizestes tropeçar” (v. 8). Um corpo de sa­ cerdotes que falhasse na missão de servir a Deus e instruir o povo certamente seria punido. O aviso é diretamente aplicável a nós. Os crentes do Novo Testamento são chamados a um “sacerdó­ cio santo”, servindo sob Jesus, nosso Sumo Sacer­ dote (1 Pe 2.9). Nós também estamos incumbidos de adorar a Deus e instruir os outros nos seus cami­ nhos. Como a nossa vida tem um grande impacto sobre os outros, devemos guardar cuidadosamente o nosso compromisso. Quanto mais elevado o cha­ mado, maior a responsabilidade. E o nosso chama­ do é o mais elevado de todos! “Enfadais ao Senhor com vossas palavras ” (Ml 2.17). A maioria de nós lembra-se de como as crianças

DEV OCIONAL______ Seja Sempre Fiel

(Ml 2) Uma canção infantil apreende o significado do séti­ mo mandamento. “Sempre seja fiel”, ela diz. “Seja sempre fiel àquele com quem você se casou”. Malaquias também apreendeu este significado. “Judá foi desleal”, o profeta proclamou. Os homens casavam-se com mulheres pagãs. Os homens des­ cartavam esposas mais velhas para se casarem com outras mulheres mais jovens e sexualmente atra­ entes. De muitas maneiras, mas particularmente estas, o povo do tempo de Malaquias demonstrava que havia compreendido de maneira inteiramente errada o conceito de lealdade que se encontra na raiz de todas as relações humanas e na raiz do rela­ cionamento com o próprio Deus. Você sabe: Deus há muito havia se comprometido com Abraão e sua descendência. Esta descendência muitas vezes se mostrara rebelde e desobediente. Contudo, ao longo dos séculos, Deus permaneceu

ouvem uma expressão ou dito e ficam a repeti-lo vezes e vezes. Depois de algum tempo, parece que você não aguenta ouvir aquilo nem mais uma vez. Tenho este problema com música popular. No mo­ mento, um determinado grupo musical cativou nos­ sa filha de nove anos. Tudo o que ouço são pedaços de suas canções cantaroladas e cantadas vezes e vezes, ou “Joe gosta de pizza”, Joe isso, Joe aquilo. Tenho certeza de que não aguento mais. Pelo menos apren­ di o que significa estar “enfadado com palavras”. Malaquias retrata Deus como também enfadado. Ele ouvia seu povo falar e eles diziam sempre as mesmas coisas. Mas Deus não se irritava apenas com que eles diziam. Deus era caluniado! Seu pró­ prio povo afirmava que Ele se agradava desta ou daquela pessoa que se queixava: “Onde está o Deus do juízo?” Em outras palavras: “Deus não está sen­ do justo!” De certa maneira, a perspectiva das pessoas da Ju­ deia havia se tornado distorcida, e nem o Senhor nem os seus caminhos eram compreendidos. Quão perigoso é supor que podemos julgar o que Deus faz. Quão perigoso é supor que podemos relegislar a moralidade e pronunciar como “bons” aqueles que fazem o que Deus diz ser errado. E justamente este espírito que está solto em nossa terra hoje, quando as questões morais são obscure­ cidas por retórica e reivindicações do “direito” de errar. Como crentes, somos obrigados pela Palavra de Deus. Devemos nos colocar com Deus em sua identificação do que é certo e do que é errado.

fiel à sua promessa de aliança. Deus amaria, eter­ namente, mesmo que seu povo não retribuísse o amor. E isso que significa aliança. Compromisso. Lealda­ de. Sempre ser fiel. O casamento foi pretendido por Deus como um relacionamento de aliança. Devia ser um pacto de lealdade, pelo qual duas pessoas do seu povo, comprometiam-se mutuamente. Também podia ocorrer uma situação incomum em que a dureza de uma pessoa tornava impossível a continuida­ de do casamento, e o divórcio se tornava, então, uma necessidade. Mas não podia haver desculpa para o que estava acontecendo então na Judeia. Os homens evidentemente estavam se casando para satisfazer a paixão, sem nenhuma percepção do significado mais profundo do casamento. Despo­ savam estrangeiras, que certamente não os atraíam pelo caráter ou pela fé! E repudiavam esposas mais velhas na pressa ardente de encontrar uma noiva

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mais jovem, que não seria para eles mais do que um objeto sexual. Onde estava o compromisso tão essencial para uma relação de aliança? Onde estava a lealdade? Perdida! E, Malaquias disse: Deus é testemunha ao lado da esposa que é tratada de maneira tão vil. Malaquias disse que Deus não presta mais atenção nas ofertas de tais maridos nem as aceita. Tal divórcio Deus odeia, pois é um ato de violência, que rasga e destrói o próprio coração da esposa abandonada. Lendo esta passagem não posso deixar de pensar em um casal que conheço. Ele começou um caso com uma colega de trabalho e depois decidiu dei­ xar a mulher e os dois filhos adolescentes para ca­ sar-se com ela. Ele realmente partiu. E aconselhei a mulher e os garotos e vi o terrível mal que sua escolha causou. Ao vê-los magoados, compreendo por que Deus odeia tal divórcio. Aquele marido nunca enfrentou a natureza aterrado­ ra de sua traição nem reconheceu a nenhum dos três que prejudicou que seu abandono era um pecado. O marido e sua nova esposa vão à igreja regularmente. Cantam no coro. Mas pergunto-me se ele nunca sen­ te o terrível fato de que o Senhor “não olha mais para a oferta, nem a aceitará com prazer da [sua] mão”?

sustentar os sacerdotes e levitas que ali ministra­ vam. A cada três anos, um dízimo adicional devia ser reservado e retido localmente para o sustento de viúvas, órfãos e outros necessitados. Embora o princípio do dízimo possa ser visto an­ tes que a Lei fosse dada (cf. Gn 14.20), o conceito subjacente é específico da Lei do Antigo Testa­ mento. O Senhor possuía a Terra Santa, na qual o seu povo estava assentado. Como aquEle que lhes deu Canaã, Deus tinha direito ao “aluguel” devi­ do sobre a terra que o seu povo trabalhava. Malaquias desafiou a sua geração, chamando-os a “fazer prova” de Deus nisso. Começai a entregar o dízimo, e “fazei prova de mim, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança” (3.10) Embora o dízimo não seja mencionado no Novo Testamento como padrão de doação (veja 2 Cr 8— 9), certos princípios básicos são comuns ao ensinamento de cada Testamento. Tudo o que temos vem de Deus e a Ele pertence. Somos ape­ nas guardiões de suas posses. Honramos a Deus ao doar, mostrando com as nossas contribuições para o sustento dos ministérios modernos que o Aplicação Pessoal Senhor é importante para nós. E mostrando tam­ Devemos moldar os nossos relacionamentos com bém que confiamos em Deus o suficiente para os outros, através do relacionamento de aliança que não roubá-lo de sua parte por medo de não ter­ Deus tem conosco. mos o suficiente.

Visão Geral Citação Importante “Há mais pessoas que desejam ser amadas do que Malaquias previu um dia de julgamento purifi­ pessoas dispostas a amar.” — S. R. N. Chamfort cador (3.1-5). O Senhor exortou o seu povo a mostrar arrependimento por intermédio de seus 14 DE JULHO LEITURA 195 dízimos (w. 6-12) e conversas (w. 13-15) e pro­ A POSSE PRECIOSA DE DEUS meteu abençoar àqueles que o temem (w. 16-18). Malaquias 3— 4 Malaquias encerra com uma vívida imagem do Dia do Senhor (4.1-4) e uma promessa do retorno de “Eles serão meus, diz o Senhor dos Exércitos, naquele Elias (w. 5,6). dia que farei, serão para mim particular tesouro; poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho que Entendendo o Texto o serve” (M l3.17). “Virá ao seu templo o Senhor, a quem vás buscais” (M l 3.1). Estas palavras não eram uma promessa, A pequena comunidade judaica na Judeia pode ter mas uma ameaça. O povo da pequena Judá quei­ se desviado do Senhor. Mas Deus acompanhou xava-se de Deus. “Onde está o Deus do juízo?”, cuidadosamente aqueles que o amavam e lembra­ perguntavam (2.17). Agora Malaquias os prevenia vam-se dele. Da mesma maneira, Deus mantém de que aquEle que eles diziam desejar, viria. nossos nomes no seu “rol de lembrança”. Nós também ansiamos pelo Dia do Senhor e pela segunda vinda de Cristo. Mas precisamos nos fazer Contexto uma pergunta que aquelas pessoas nunca pensaram Dízimo. Sob a Lei mosaica, um décimo de tudo em fazer. “Estamos prontos?” o que a terra produzisse pertencia ao Senhor. Este Não há nada que possamos fazer para apressar sua dízimo de rebanhos e produção era levado ao Tem­ vinda. Mas podemos e devemos nos preparar para plo, onde era usado para proporcionar ofertas e o seu surgimento.

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Na Judeia do tempo de Malaquias, as pessoas fala­ vam sobre o surgimento do Messias. Mas não pres­ tavam atenção no compromisso, na pureza moral pessoal e no zelo pela obra de Deus, que os prepa­ raria para aquele dia. E certo que aquEle que desejamos virá. Assegure­ mos que, quando Ele surgir, estaremos cheios de prazer, não de arrependimentos.

Nenhuma imagem sugere uma experiência agradá­ vel. Cada uma implica purificação. Como resulta­ do do doloroso trabalho de purificação de Deus, Malaquias disse: “A oferta de Judá e de Jerusalém será suave ao Senhor”. A disciplina divina hoje também pode parecer tão desconfortável quanto um fogo de refinador ou tão detestável quanto um poderoso sabão de lavandeiro. Portanto, quando submetidos à disciplina, você e eu precisamos manter os olhos concentrados no resultado. Quando Deus nos tiver purificado, nos­ sas ofertas a Ele — nossa adoração e nossa vida — serão aceitáveis outra vez.

“Assentar-se-d, afinando e purificando a prata” (Ml 3.2-5)- Metais preciosos eram colocados em um ca­ dinho sobre o fogo quente. O minério derretia, as impurezas eram retiradas e o metal puro era despe­ jado em moldes. O “sabão dos lavandeiras” era um poderoso composto químico usado para embeber “Chegar-me-ei a vós para juízo” (Ml 3.5). Quão o tecido recém-tecido. Os pedaços de goma que melhor é não precisar de purificação porque já vi­ restavam eram dissolvidos e o novo tecido ficava vemos uma vida pura! Aqui, Malaquias relacionou algumas das posturas e ações que pedem julgamenbrilhante e purificado.

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to. Mais importante, ele resumiu a sua causa: estas coisas são feitas por aqueles que “não me temem”. Se você e eu mantivermos um temor reverente por Deus, assim como amor por Ele, não precisaremos nos preocupar com o julgamento. Se verdadeira­ mente temermos e amarmos a Deus, sempre fare­ mos, pelos outros, o que for certo.

Sim, às vezes podemos nos perguntar se vale a pena servir a Deus. Quando o fazemos, temos a Palavra de Deus de que existe, e existirá, uma distinção “en­ tre o que serve a Deus e o que não o serve” (v. 18). “Nascerá o sol da justiça e salvação trará debaixo das suas asas” (Ml 4.1-4). Malaquias encerrou com ou­ tra distinção entre os justos e os ímpios. Quando o Dia do Senhor vier, “todos os soberbos e todos os que cometem impiedade serão como palha... o dia que está para vir os abrasará”, mas para aqueles que temem o nome do Senhor, será como o sol que aquece e cura. Que pensamento! Quando Jesus vier, Ele parecerá belo para você e para mim. Exultaremos em júbilo e nos apressaremos a estar junto dEle. Mas aquEle que achamos tão belo aterrorizará os corações da­ queles que deixaram de se ajoelhar perante Ele. Como podemos ter certeza de que acolheremos Cristo com prazer? Malaquias disse: “Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo, a qual lhe mandei em Horebe para todo o Israel”. Se fizermos estas coisas que sabemos que agradam a Deus, não te­ remos temores nem arrependimentos por ocasião da sua vinda.

“Em que te roubamos?” (M l 3.6-12). E possível um crente dizer honestamente ao ouvir um chamado para que retorne a Deus: “Em que hei de tornar?” Isso acontece porque muitas vezes não temos cons­ ciência de estarmos nos desviando do Senhor. Como Saul, não sabemos que o Senhor se retirou de nós (veja 1 Sm 16.14). Malaquias sugeriu um teste simples: Examine o seu talão de cheques! Você está dando a Deus uma por­ ção justa do que ganha? Ou está roubando a Deus, usando de maneira egoísta aquilo que Ele lhe deu, sem se preocupar com os outros nem com o minis­ tério do evangelho? A pergunta vem com um desafio. Se você tem re­ tido por medo de que não terá o suficiente, Deus convida-o a fazer prova dEle. Afinal, a riqueza do universo é dEle. Livre-se do medo, Deus diz: “Fazei prova de mim... se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que “Eu vos envio o profeta Elias” (M l 4.5,6). O An­ dela vos advenha a maior abastança”. tigo Testamento se encerra com esta promessa. Podemos confiar em Deus. Não precisamos reter o Jesus disse que João Batista tinha um ministério que pertence a Ele por medo. como o de Elias. Ele pregava o arrependimento e, portanto, movia os corações. Mas o povo de “A s vossas palavras foram agressivas para mim ” (Ml Israel não acolheu o seu Messias. Eles o rejeitaram 3-13-18). Não é incomum mesmo para os crentes e o entregaram aos romanos para ser crucificado. imaginar se a fidelidade realmente vale a pena. E, Assim, Malaquias previu outro Elias, destinado a quanto aos não crentes, eles zombam ruidosamen­ surgir antes que o Messias retorne e “antes que te, preferindo os caminhos dos ricos arrogantes aos venha o dia grande e terrível [do julgamento] do dos humildes. Senhor” (v. 5). Há, porém, duas falhas em tal pensamento. Pri­ Que encerramento para o Antigo Testamento! As meiro, toda a ideia de que adoramos a Deus para antigas questões não mudaram. Deus ainda luta “ganhar” alguma coisa é defeituosa. Cumprimos as com os homens, chamando os seus para a fé e a exigências de Deus porque Ele é Deus e nós o ama­ obediência, prevenindo os arrogantes e exortando mos. Não obedecemos a Deus para sermos pagos ao arrependimento. A história do povo de Deus com a moeda do reino da terra. está repleta de ciclos de renovação e pecado, de res­ Segundo, a ideia de que as bênçãos de Deus são tauração e julgamento. Através de tudo isso, pensa­ materiais também é defeituosa. E, portanto, Mala­ ríamos que nós, e todo o seu povo, devemos certa­ quias disse daqueles que temiam ao Senhor e fala­ mente aprender a lição tão claramente ensinada. vam sobre o seu nome: “eles serão meus... naquele Deus realmente nos ama. Ele nos chama a confinar dia que farei, serão para mim particular tesouro” nEle e a mostrarmos a nossa confiança na obedi­ e “poupá-los-ei”. A distinção entre os justos e os ência. Se o fizermos, podemos ter certeza: há uma ímpios não pode ser determinada pela linha de bênção adiante. Mas, para todos os que se recusam resultados deste mundo, ou seja, este cálculo não a confiar e abandonar a iniquidade, o futuro reser­ deve seguir os padrões do mundo. O saldo de nossa va apenas o julgamento. conta bancária não tem nenhuma relação com o Ele está vindo. Não muito depois de amanhã entesouro guardado para nós no céu. contra-se o grande e terrível Dia do Senhor.

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DEVOCIONAL_________ O Olhar daquEle que Vê Todas as Coisas (Ml 3) De vez em quando, quase todos os dias, digo à mi­ nha esposa que ela é bonita. Ela geralmente sorri e diz: “É o que você acha”. Ela acha que sou tendencioso, embora eu con­ tinue a lhe dizer que sou totalmente objetivo quanto a ela. Devo admitir que, na maioria dos casos, a beleza está no olhar de quem olha. O que parece belo para uma pessoa não parecerá para outra. Tudo depende da nossa perspectiva. É o que Malaquias disse neste capítulo de seu pequeno livro. Nossa postura depende de como olhamos a vida. Malaquias até identificou três coisas que precisamos olhar a partir da perspec­ tiva de Deus. A primeira é a disciplina (w. 1-5). Quando algu­ ma coisa dolorosa ocorrer, não se desespere. Vejaa como um fogo purificador. Veja a beleza que existe dentro de você, a qual Deus está tão ansioso para mostrar. Deus está disposto a queimar as suas impurezas, apesar de isso ser doloroso para você. Não pense na experiência presente. Qlhe para além dela e alegre-se com aquilo em que você se transformará. A segunda são as finanças (w. 6-12). Não veja o pouco que você tem, nem se preocupe se será sufi­ ciente. Isso apenas fechará o seu coração para o Se­ nhor, e o tornará sovina em relação a doar e ofertar. Em vez disso, lembre-se de que Deus possui toda a riqueza do universo. Confie nEle o suficiente para doar livremente e espere que Ele lhe dê tudo de que precisa. A terceira são as bênçãos (w. 14-18). Alguns evangelistas da mídia parecem muito com os des­ contentes do tempo de Malaquias. Eles pedem que meçamos as bênçãos pelo bem-estar finan­ ceiro e então nos pedem que doemos para o seu ministério, prometendo que Deus retribuirá em dinheiro vivo. Malaquias, porém, exortou-nos a servir a Deus não por lucro, mas por amor. Mesmo assim, temos uma paga abundante, aqui não em dinheiro, mas em bênçãos guardadas para nós quando Cristo re­ tornar. Apenas na eternidade veremos a distinção que Deus faz entre os que o servem e os que não

o servem; portanto, não devemos esperar grandes pagamentos em dinheiro agora! E não espere que aqueles que não estão em Cristo vejam a vida como nós a vemos. Muitos cristãos talvez náo compartilhem estas perspectivas. Mas você e eu precisamos abraçar a maneira de olhar a vida que Malaquias adotou. Precisamos olhar para além de nossa dor, olhar para além dos recur­ sos limitados e olhar para além das recompensas materiais. Quando vemos a beleza que Deus busca criar em nós por meio da disciplina, os recursos ilimitados de nosso Deus e a glória que espera por nós na eternidade, serviremos a Deus com alegria transbordante. Aplicação Pessoal Seja sábio e veja a vida com olhos espirituais. Citação Im portante Deus colocou em minhas costas uma carga penosa, Uma pesada cruz a carregar estrada a fora. Eu cambaleei e, veja! Num dia fatigante, Um leão zangado cruzou meu caminho. Orei a Deus e rapidamente, sob o seu comando, A cruz tornou-se uma arma em minha mão. Ela matou meu enfurecido inimigo e então Tornou-se outra vez uma cruz nas minhas costas. Cheguei a um deserto. Pela trilha ardente Eu perseverei — a cruz nas minhas costas. Nenhuma sombra havia e no sol cruel Afundei por fim, achando que meu dia chegara. Mas, veja! O Senhor opera muitas surpresas aben­ çoadas. A cruz tornou-se uma árvore diante de meus olhos! Dormi — e acordei — sentindo a força de dez ho­ mens. Encontrei a cruz novamente nas minhas costas. E assim, todos os dias desde então, A cruz — meu fardo — tornou-se minha bênção. Jamais deitarei meu fardo no chão. Pois Deus um dia fará da minha cruz uma coroa. — Amos R. Wells

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em SOFONIAS

MATEUS INTRODUÇÃO O Evangelho de Mateus inicia o Novo Testamento com um grito triunfante. E chegado o Messias pro­ metido no Antigo Testamento! Ele é Jesus de Nazaré, cuja morte e ressurreição oferecem o perdão para todos. A fome da Igreja Primitiva em conhecer mais a respeito do Senhor levou a quatro retratos de Jesus, pre­ parados por quatro autores diferentes. Este é feito por Mateus, um dos discípulos de Cristo, que prova­ velmente o escreveu antes de 70 d.C. Mateus citou com frequência passagens do Antigo Testamento para mostrar que Jesus é o Messias ali prometido. Entre os seus relatos do que Jesus fez, ele escreveu resumos do que Jesus ensinou: sobre o Reino de Deus (Mt 5— 7), sobre o discipulado (Mt 10), sobre o plano de Deus (Mt 13), sobre a grandeza espiritual (Mt 18— 20) e sobre o futuro (Mt 24— 25). Talvez a maior contribuição de Mateus seja nos ajudar a ver Jesus como um Rei-Servo, e nos ajudar a perceber o nosso próprio chamado a uma condição de servos como a sua. Lendo este livro, compreen­ deremos por que o Evangelho de Mateus é o mais citado pelos autores cristãos dos três primeiros séculos da nossa era. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. A Linhagem do Rei ...............................................................................................................................M t 1— 2 II. Os Propósitos do Rei ..........................................................................................................................M t 3— 7 III. A Autoridade do R ei....................................................................................................................... M t 8— 15 IV. A Atitude servil do R ei..................................................................................................................M t 16— 20 V..O Sofrimento do R ei...................................................................................................................... M t 21— 27 VI. A Ressurreição do R e i............................................................................................................................M t 28 GUIA DE LEITURA (14 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 196 197 198 199 200 201 202

Capítulos 1— 2 3— 4 5 6— 7 8— 9 10— 11 12— 13

Passagem Essencial 1.18— 2.6 4.1-11 5.21-48 6.5-13 9.1-13 10.16-31; 11.28,29 12.1-37

Mateus

203 204 205 206 207 208 209

14— 15 16— 17 18 19— 20 21— 23 24— 25 26— 28

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15.21-39 17.1-13 18.18-35 20.17-34 23 25.31-46 27.32-56

MATEUS 15 DE JU LH O LEITURA 196

A LINHAGEM DO REI Mateus 1— 2

“Onde está aquele que é nascido rei dosjudeus? Porque Como “Filho de Davi” Jesus cumpriu a promessa vimos a sua estrela no Oriente e viemos a adorá-lo” que Deus fez a Davi, de que um descendente seu se (M t 2.2). assentaria no trono de Israel, e governaria um rei­ no universal (cf. 2 Sm 7.12-16; Is 9.6,7). Citações Mateus nos convida a olhar além das cenas do adicionais dos profetas nestes dois capítulos são de nascimento mais crucial da história. O que ele nos passagens do Antigo Testamento que destacam o mostra é que Jesus teve a sua origem no plano eter­ tema do governo do Messias (Jr 23; Os 11; M q 5). no de Deus, e que o Menino de Belém personifica (Veja DEVOCIONAL.) o cumprimento desse plano. Como “Filho de Abraão”, Jesus cumpriu a promes­ sa feita ao pai da raça judia. Ele é a “semente”, por Visáo Geral meio de quem toda a raça humana seria abençoada A genealogia de Jesus estabelecia a sua descendên­ (Gn 12.1-3; cf. Gl 3.16). Dessa maneira, as pri­ cia de Abraão e Davi (1.1-17). O seu nascimento meiras palavras de Mateus nos alertam. Jesus é o virginal cumpria a profecia de Isaías (w. 18-25). foco de todas as Escrituras. Ele é a essência — a Outros eventos (2.1-23) provam que Jesus é ver­ substância e o espírito da sua mensagem. Ele é, ao dadeiramente o Messias predito pelos profetas do mesmo tempo, Senhor e Salvador. A nossa reação a Antigo Testamento. Jesus determina o nosso destino. Entendendo o Texto “Livro da geração de Jesus Cristo, Filho de Davi, Filho de Abraão” (M t 1.1). A expressão grega, “li­ vro da geração” é encontrada na Septuaginta so­ mente em Gênesis 1 e 5. Isso indica que Mateus tencionava que esta expressão significasse “registro da origem”. Assim, o primeiro versículo nos leva imediatamente ao assunto central do Novo Testa­ mento. Quem é Jesus? Qual é o seu papel no plano de Deus e na nossa vida? A resposta de Mateus é dada nesta introdução de dois capítulos, que de­ monstra que Jesus é o “Ungido” predito no Antigo Testamento. Esta palavra, “Messias”, no Antigo Testamento em hebraico e “Cristo”, no Novo Tes­ tamento em grego, é o título de Jesus. Isso significa que Ele é aquEle por cujo intermédio todas as pro­ messas de Deus serão cumpridas.

“Gerou” (M t 1.2-17). Como outras genealogias antigas, esta é organizada de modo a cumprir um propósito específico. Embora seja estilizada e não inclua todos os antepassados, está enraizada na informação histórica que estava disponível a Ma­ teus em documentos do Antigo Testamento, e em registros genealógicos arquivados no Templo de Jerusalém. Já nos anos 90 d.C., depois que o Templo fora des­ truído, quando o imperador Domiciano ordenou que todos os descendentes de Davi fossem mortos, os poucos remanescentes eram localizados pela re­ ferência a registros genealógicos judeus. Eusébio, o historiador da igreja, nos conta que, quando os dois últimos compareceram diante do imperador, ele olhou para as suas mãos calejadas e deixou que vivessem. Que ameaça poderiam repre-

Mateus 1—2

sentar dois meros fazendeiros, qualquer que fosse a sua linhagem? Que fascinante. Jesus, nascido de pais pobres, cres­ cendo na obscuridade, trabalhando com suas pró­ prias mãos no ofício de carpinteiro, provavelmente teria provocado a mesma impressão desprezível so­ bre o governador romano. Como é difícil julgarmos a grandeza e a humildade, se considerarmos somente as aparências exteriores. Jesus, o Filho de Deus, o governante do universo designado, Rei de um reino eterno, viveu a mais humilde das vidas, e teve a mais abjeta das mortes. A medida que prosseguimos a leitura deste Evange­ lho, veremos isso, repetidas vezes. Jesus foi um Rei, mas um Rei-Servo. E como nosso Rei, Jesus nos chama a um estilo de vida servil, como o seu. “De Raabe” (Mt 1.5). As genealogias hebraicas caracteristicamente mencionavam somente os an­ tepassados do sexo masculino. Mateus deixou de lado este padrão, e incluiu quatro mulheres, das quais três eram gentias, e a quarta fora casada com um gentio (Bate-Seba, “que foi mulher de Urias [um heteu])”. Além disso, com exceção de Rute, dificilmente as mulheres eram modelos de morali­ dade! Tamar, Raabe e Bate-Seba, todas tinham co­ metido adultério, embora no século I fossem tidas em alta consideração pelo povo judeu. Qual era o objetivo de Mateus? Talvez possamos sugerir alguns. Quem sabe Mateus quisesse nos dizer que, na nova era que Cristo iniciou, as mu­ lheres teriam um papel cada vez mais importante ao lado dos homens. Muito possivelmente, Mateus estaria nos lembrando de que Jesus veio para ser o Salvador do mundo, e não somente do povo ju­ deu. Deus introduziu sangue gentio na linhagem do Salvador como um grande lembrete de que Ele valoriza cada vida humana, e enviou o seu Filho, para redimir a todos. E, talvez, estas mulheres em particular estejam nesta genealogia para nos lem­ brar de que os erros humanos não nos impedem de recebermos a graça de Deus. Na verdade, são os nossos erros que levaram Deus a nos enviar o seu Filho, para que, em um único e grande ato reden­ tor, Jesus pudesse purificar não somente os nossos pecados, mas também aqueles das gerações que an­ tecederam o seu nascimento. “José, seu marido... era justo” (Mt 1.18-25). José é um dos personagens mais admiráveis das Escritu­ ras. Seguindo o costume judeu, ele tinha selado o contrato de noivado, que era o primeiro estágio do compromisso do casamento. Muitos supõem que José fosse um homem idoso, e que depois do noivado, Maria permaneceu com seus pais, até que

tivesse idade suficiente para concluir o casamento e mudar-se para a casa de José. Quando José soube que Maria estava grávida, demonstrou uma com­ paixão incomum. Apesar de seus sentimentos de mágoa e traição, ele “não a queria infamar”. Explicando isso, Mateus chamou José de um ho­ mem “justo”. A punição da lei pelo adultério era o apedrejamento, por que isso sugeriria justiça? Alguns podem pensar que teria sido mais “justo” exigir que Maria fosse punida, em toda a extensão da lei! A resposta está no fato de que a “justiça” no Antigo Testamento é a conformidade com o coração de Deus, assim como com a sua lei. O próprio Saul percebeu que a graça exibe melhor a justiça do que a rígida legalidade, pois certa vez clamou a Davi: “Mais justo és do que eu; pois tu me recompensaste com bem, e eu te recompensei com mal” (1 Sm 24.17). José levava a sério esse princípio, e ainda que pensasse que Maria o tinha tratado mal, ele se decidiu tratá-la bem. Assim, em um sentido es­ piritual, além do físico, José era verdadeiramente “filho de Davi” (Mt 1.20). O Novo Testamento pouco nos fala sobre José, além disso. Mas quanto essas poucas palavras trans­ mitem! Ele era um homem como seu antepassado, que tinha um coração voltado a Deus e profunda compaixão pelos outros. Não importa quão pouco conhecidos, além do nosso próprio círculo familiar e de amigos, sejamos — se as palavras de Mateus a respeito de José também forem verdadeiras a nosso respeito, espiritualmente somos grandes. “Eis que a virgem conceberá” (M t 1.20-25). A pa­ lavra hebraica ‘almâh significa “jovem mulher”, e embora seja tipicamente usada a respeito de jovens solteiras, não tem o mesmo significado teórico de “virgem”. No entanto, não se questiona a palavra grega que Mateus escolhe aqui: parthenos. Esta é uma jovem que jamais teve relações sexuais com um homem. Quando o anjo apareceu a José em um sonho, ci­ tando Isaías 7.14, ele definitivamente interpretou o que o profeta quis dizer: foi Maria (uma virgem) que gerou Jesus como seu Filho. A mensagem de que Maria estava grávida pelo Espí­ rito Santo, foi aceita por José, como tem sido aceita pelos cristãos por toda a história. O nome, “Ema­ nuel”, explica as implicações. O Filho concebido pelo Espírito Santo é Deus: Deus, que veio para estar “conosco” não simplesmente como uma presença, mas como um de nós. Por que o nome “Jesus”? Esse nome significa “libertador” ou “salvador”, e expressa o objetivo da sua vinda. Deus se tornou um de nós, para “salvar o seu povo dos seus pecados”.

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Alguns que afirmam ser cristãos negam o nas­ cimento virginal. Mas se Jesus não fosse, ao mesmo tempo, Deus e homem, unidos por um milagre no útero de M aria, Ele seria um mero homem. E nenhum mero homem, condenado a lutar contra seus próprios pecados, seria livre para nos salvar dos nossos. Sem o nascimento virginal não existe cristianismo bíblico. Com ele, o nosso destino está garantido. Pois com ele, o Jesus em quem confiamos é Deus, e como Deus, Ele assegura a salvação que conquistou para nós no Calvário. “Onde está aquele que é nascido rei dos judeus?” (M t 2.1-80). A história familiar dos magos, um nome dado na Pérsia a um tipo de filósofo, é nar­ rada para definir com mais detalhes quem é Jesus. Alertados pela aparição de uma estrela incomum, os magos viajaram à Judeia, para honrar aquEle nascido para ser rei. A sua chegada causou cons­ ternação, e Herodes exigiu saber onde esta pessoa nasceria. A resposta está em Miqueias 5.2: o go­ vernante prometido nasceria em Belém. A afirmação de Hetodes, de que, se o menino fosse identificado, ele “iria e o adoraria” era uma men­ tira reveladora! Era uma mentira, porque o idoso Herodes, destinado a viver somente mais alguns meses, pretendia matar o menino. O determinado rei, que tinha ordenado a execução de seus pró­ prios filhos, quando pensou que ameaçavam o seu trono, não podia suportar a ideia de que qualquer pessoa, que não ele, governasse os seus domínios. A expressão “ir e adorar” era reveladora, porque a palavra “adorar” nos ajuda a perceber que os ju­ deus estudiosos no século I compreenderam que o Antigo Testamento ensina que o Messias seria Deus, além de homem (cf. M q 5.4). Nunca é suficiente que saibamos quem é Jesus. Aqueles que reconhecem o seu nascimento sobre­ natural, mas deixam de se comprometer com Ele como Salvador, são muito parecidos com Herodes. E também não têm vontade de reconhecer o direi­ to de Jesus ao trono — desta vez, o trono de suas vidas. Mas, por causa de quem é Jesus, devemos nos inclinar alegremente, adorando e dando-lhe as boas-vindas, não somente como Salvador, mas também como o nosso Senhor. “Alegraram-se muito com grande júbilo”(M t 2.9-12). Os magos servem de modelo positivo de resposta a Jesus, assim como Herodes serve de modelo negati­ vo. Esses visitantes estrangeiros vieram alegremente até a casa onde estava a pequena família. Ali, ado­ raram o menino, e “abrindo os seus tesouros, lhe ofertaram dádivas”.

Os presentes registrados são aqules tradicionais que eram dados à realeza — ouro, incenso e mir­ ra. Mais importante, no entanto, é o padrão que vemos aqui. Eles adoraram a Jesus. A seguir, abri­ ram seus tesouros. E então lhe deram presentes. Com muita frequência, nós, seres humanos, co­ meçamos a adorar os nossos tesouros. O dinhei­ ro, ou as coisas que o dinheiro pode comprar, se tornam o foco de nossa vida. Quando adoramos a riqueza, não deixamos espaço para Jesus, ou para os outros. Abraçamos nossos tesouros, sem dese­ jar nos separar deles por nenhum motivo. Adorar a Jesus nos liberta do materialismo. Os nossos “tesouros” perdem o controle de nossos corações, e à medida que descobrimos a alegria de servir a Cristo, alegremente lhe damos nossos tesouros materiais, como presentes.

“Toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito” (Mt 2.13-17). Embora os magos não retornassem para en­ caminhar o enlouquecido Herodes a Jesus, Herodes decidiu vê-lo morto. Para ter certeza de que destruiria o menino, Herodes ordenou que fossem mortas to­ das as crianças do sexo masculino com menos de dois anos de idade, na região de Belém. O ato enfatiza a crueldade de Herodes, e também a futilidade de tal crueldade. Deus tinha falado nova­ mente a José em um sonho, e, sem dúvida, usando os presentes trazidos pelos magos, para financiar a jornada, Maria e José escaparam para o Egito, com o menino Jesus. Aqui Mateus cita Jeremias 31.15, retratando a an­ gústia daqueles que perderam seus filhos na matan­ ça de Herodes. Mas Mateus 2.16,17 nos lembra de uma grande verdade. Mesmo as pessoas da época de Jesus sabiam que, depois do seu sofrimento, “eles voltarão da terra do inimigo”, de modo que, pela cruz, os meninos que morreram viverão outra vez. E o Senhor declarou, por intermédio de Jeremias: “Há esperanças, no derradeiro fim, para os teus des­ cendentes”. Jesus realmente viveu para morrer por nós. Por causa dEle, mesmo quando sofremos tragédias do­ lorosas, também temos esperança para o futuro. “E chegou e habitou numa cidade chamada Nazaré” (Mt 2.19-23). Depois da morte de Herodes, um anjo orientou José, a retornar. A família se instalou em Nazaré, na Galileia, e ali Jesus cresceu e iniciou o seu ministério. Essa é a terceira ocasião em que José recebe orien­ tação de um anjo que lhe aparece em um sonho. Como José atendia ao Senhor! Em cada um dos casos, o texto diz que, “ele se levantou” e fez o que o anjo do Senhor tinha ordenado. No versículo 14,

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Deus. Mas que pai humano substituto Jesus teve em José! Ele era, verdadeiramente, um homem especial, e a sua obediência era muito honrosa a Deus. Que você e eu possamos honrá-lo da mes­ ma maneira, e também pela nossa prontidão para obedecer.

lemos que “levantando-se ele, tomou o menino e sua mãe, de noite, e foi para o Egito”. José não so­ mente estava disposto a obedecer, mas o fazia sem nenhuma hesitação. Maria é, com razão, honrada como mãe de Jesus. Ela era uma jovem especial, altamente honrada por

DEV OCIONAL______ Eis o vosso Rei

(Mt 1.18— 2.6) Os bebês são bonitinhos. Não se supõe que inspi­ rem respeito. Talvez seja esta a razão por que as pessoas achem tão fácil banalizar o Natal. O menino Jesus, deita­ do indefeso na manjedoura, pode ser considerado com moderada afeição. As pessoas podem sorrir para Ele, e continuar com seus interesses da oca­ sião — compras, férias, estar com a família, enviar cartões que dizem “Boas-Festas”, e será improvável que ofendam alguém com uma mensagem excessi­ vamente religiosa, ou que sejam ofendidos por ela. Apesar do que as pessoas possam supor, Mateus não estava interessado em nos apresentar o “meni­ no Jesus”. Sabemos disso, porque muitas vezes esse autor do Evangelho fez citações do Antigo Testa­ mento. E as passagens que ele selecionou e aplicou diretamente a Cristo são passagens que insistem em que não vejamos um menino, mas um Rei; não um bebê, mas o Senhor do universo. Quem é Jesus, para Mateus? Mateus 1.23 o define como um menino, nascido de uma virgem, confor­ me predito por Isaías. O que disse Isaías a respeito dEle? Ele é “Emanuel”, um nome que, em hebrai­ co, significa “Deus conosco!” Olhe para o bebê na manjedoura, não com moderada afeição, mas com respeito. Pois neste menino resplandece toda a glória de Deus. Mateus também citou Miqueias 5, onde foi predi­ to o nascimento, em Belém, de um governante que seria o Pastor do povo de Deus, Israel. Examinando a citação de Miqueias, descobrimos que “ele per­ manecerá e apascentará o povo na força do Senhor”. Na verdade, “na excelência do nome do Senhor, seu Deus”. O seu povo estará seguro, pois Ele será “en­ grandecido até aos fins da terra”. Por que não, quan­ do a sua força é a força de Deus, e a sua excelência é o nome do Senhor, que Ele ostenta! E quando for Natal outra vez, não se preocupe se a suprema corte emitir um parecer contrário à exibição dos presépios. As réplicas de plástico, por mais bonitas que sejam, dificilmente representam o Rei dos reis. Para captar o espírito do Natal, leia outra vez o relato de Mateus — e as profecias que ele cita. E então, incline-se, em reverência.

Aplicação Pessoal O Cristo que precisamos observar no Natal não é o menino, mas o Rei dos reis. Citação Importante “Napoleão estava certo, quando disse: ‘Eu conheço os homens e eu lhes digo, Jesus é mais do que um homem. K comparação é impossível, entre Ele e qualquer outro ser humano que já viveu, porque Ele é o Filho de Deus’. Emerson estava certo quan­ do respondeu àqueles que lhe perguntaram por que não incluía a Jesus entre os seus Homens Represen­ tativos: ‘Jesus não foi apenas um homem’. Arnold Toynbee estava certo quando disse: ‘Quando nós nos levantamos e olhamos, com os olhos fixos no horizonte distante, uma figura simples se levanta do dilúvio, e enche todo o horizonte com a histó­ ria. Ali está o Salvador’.” — Billy Graham 16 DE JULHO LEITURA 197 A PREPARAÇÃO DO REI Mateus 3— 4 “Então, foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (M t 4.1). Antes que Jesus começasse a pregar, João Batista preparou a Judeia para a sua aparição. E Deus re­ alizou uma obra de preparação na vida do próprio Cristo! Biografia: João Batista João era primo de Jesus, aproximadamente seis me­ ses mais velho do que Cristo. Ele tinha sido cheio do Espírito desde o seu nascimento, em preparação para a sua missão (Lc 1.14-17). Não sabemos du­ rante quanto tempo João viveu uma vida de eremi­ ta no deserto de Judá (Mt 3.4). Mas quando Jesus tinha cerca de 30 anos de idade, João apareceu nas margens do rio Jordão e começou a pregar. A aparição de João entusiasmou a população dos judeus. Sobrecarregados com pesados impostos e governados por um Herodes cada vez mais bru­ tal, os judeus tinham um desejo intenso de que o Messias aparecesse, um anseio atestado em muitas fontes do século I. João, austero e ascético, ardendo

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de paixão por Deus e pela santidade, parecia um provável candidato. A sua proclamação de que “é chegado o reino dos céus” despertou o anseio judeu e levou a fervorosa expectativa. João negava com persistência ser o Messias (Jo 1.19-28). Em vez disso, ele convocava seus ouvin­ tes para que confessassem seus pecados, se arre­ pendessem e se preparassem espiritualmente para o verdadeiro Messias, que Deus tinha lhe revelado que já vivia entre eles. Mateus cita Isaías 40 para definir o papel de João. Essa passagem iniciou a segunda parte da poderosa profecia do Antigo Testamento, em que o tema do­ minante passa do juízo para a alegria. A missão de preparação de João era a de preparar o povo espi­ ritualmente, pois em um breve momento “a glória do Senhor se manifestará, e toda carne juntamente verá” (Is 40.5). Suspeito que, quando João negou ser o Messias, muitos tenham se retirado. “Não é nada além de um mensageiro”, poderiam ter pensado. Mas esse mensageiro preparou corações para Jesus e, consequentemente, para a alegria eterna. Não existe um ministério que algum de nós possa ter que seja maior do que o de João. Não podemos satisfazer as mais profundas necessidades dos outros. Mas podemos apresentá-los àquEle que pode satisfazer a todos. Visão Geral João predisse a aparição do Messias, e pregou o batismo como um sinal de arrependimento (3.112). Cristo foi batizado para se identificar com a mensagem justa de João (w. 13-17). Então o Espírito levou Jesus ao deserto, onde Ele venceu a tentação e demonstrou o seu compromisso com Deus (4.1-11). Assim preparado, Jesus começou a pregar (w. 12-17), chamou os seus primeiros discípulos (w. 18-22) e demonstrou a sua autori­ dade, concedida por Deus, para realizar milagres de cura (w. 23-25).

A ênfase de João é importante. No século I, os judeus se banhavam em um mikuah para ficarem ritualmente puros para a adoração. Em contraste, João pedia uma modificação interior de coração e mente (arrependimento), que deve produzir uma vida pura e santa. O arrependimento sempre foi uma parte essencial do evangelho cristão. Não apenas o “arrependi­ mento” como um lamento pelo pecado, ou um esforço de reforma pessoal. Nas Escrituras, o arre­ pendimento é uma mudança de coração e mente, a respeito de Deus, que produz frutos em uma vida santa. Sem o arrependimento, não existe salvação simplesmente porque sempre que Jesus entra em uma vida, pela fé, Ele realiza esta obra de transfor­ mação no coração humano.

“Assim nos convém cumprir toda a justiça” (Mt 3.15). Muitos discutiram sobre o motivo por que Jesus desejou ser batizado. João, seu primo, que o conhecia bem, ficou embaraçado em batizar Jesus, mesmo antes de saber que Jesus era o Messias. O batismo de João era pelo arrependimento — e João conhecia Jesus como um judeu devoto que não ti­ nha necessidade de se arrepender. Quando eu era um jovem marinheiro, fui com os jovens do meu grupo da igreja a um encontro com Billy Graham, no Madison Square Garden. Quan­ do Billy pediu que aqueles que entregariam sua vida ao Senhor ficassem em pé, todos os jovens do meu grupo se levantaram. Eu permaneci sentado. Já tinha me entregado a Deus, e não parecia certo “acompanhar a maré”. O Senhor sabia do meu re­ lacionamento com Ele, e eu me satisfiz com isso. Se eu tivesse compreendido melhor esses versículos de Mateus, teria me levantado com eles. Por quê? Porque eu teria percebido que Jesus foi batizado, não porque precisasse ser batizado, mas para se iden­ tificar com a mensagem de João! Era apropriado que Jesus assumisse a sua posição perante João. Assim como teria sido apropriado que eu me identificasse com o chamado de Billy a um compromisso. Este é um importante princípio que devemos apli­ car. Nós também precisamos nos identificar com o que é certo e o que é justo. Também precisamos estar dispostos a assumir uma posição pública. O Evangelho de João nos diz que foi somente quan­ do Cristo entrou na água, ao lado de seu primo, e o Espírito desceu sobre Ele como uma pomba, que João percebeu quem era Jesus — o Messias que ele tinha sido encarregado de anunciar.

Entendendo o Texto “Naqueles dias, apareceu João Batista pregando... e dizendo: Arrependei-vos” (Mt 3.1-6). Está claro, com base em Mateus, e especialmente em Lucas, que a pregação de João, como a dos profetas do Antigo Testamento, se concentrava nos pecados pessoais e sociais que deturpavam a sociedade. João pregava contra o materialismo e o egoísmo (Lc 3.11) e contra pecados amplamente disseminados, como a coleta exagerada de impostos (v. 13) e a extorsão (v. 14). Aqueles que confessavam os seus “Então, foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, pecados eram aconselhados a produzir “frutos dig­ para ser tentado pelo diabo” (Mt 4.1). Esse versículo nos de arrependimento” (Mt 3.8). enfatiza a importância da tentação, na preparação

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de Jesus pata a sua missão. O Espírito de Deus especificamente levou Cristo ao deserto para “ser tentado”. Por que a tentação era tão importante na vida de Je­ sus? Porque em breve Ele começaria a pregar, apresen­ tando não somente o Reino, mas a si mesmo, como Rei. E como Rei, Cristo deve ser vitorioso — não meramente sobre os ínfimos poderes da natureza ou de Satanás, mas sobre o impulso da sua natureza hu­ mana. Adão e Eva foram incapazes de resistir à tenta­ ção, e toda a humanidade caiu. Cristo agora tinha que triunfar sobre a tentação e, ao triunfar, se qualificar para levantar toda a humanidade outra vez. As nossas tentações parecem insignificantes ao lado das suas: não há questões cósmicas em jogo. Mas a tentação de Jesus coloca as nossas sob uma luz es­ pecial. As tentações não são “más”. Nem têm a in­ tenção de nos enganar. Deus permite que sejamos provados, e às vezes até mesmo coloca provas no nosso caminho, para que possamos triunfar sobre elas. Cada prova pela qual passemos vitoriosamen­ te nos fortalece para a vida produtiva que Deus de­ seja que tenhamos. “Nem só de pão viverá o homem” (Mt 4,2-4), A me­ dicina demonstrou que, depois de 30 a 40 dias de jejum, a fome, que desaparece no segundo ou tercei­ ro dia, retorna. Todos os recursos armazenados no corpo foram usados, e o retorno da fome é um sinal de que o corpo necessita de alimento outra vez. Jesus tinha jejuado por 40 dias, e “teve fome”, quando Satanás se aproximou dEle e o desafiou a transformar pedras em pães. Afinal, como sugeriu Satanás, seria um milagre sem importância para o Filho de Deus realizar! Jesus respondeu citando uma passagem de Deuteronômio: “Nem só de pão viverá o homem”. Talvez “homem” seja a palavra mais importante aqui. Pense nisto. Jesus não reagiu às tentações convo­ cando seus recursos como Filho de Deus, mas, em vez disso, deparou-se com cada uma delas, como “homem”. Se Cristo tivesse vencido as tentações usando a sua divindade, não haveria ajuda para nós no seu exemplo. Mas uma vez que Jesus venceu a tentação como homem, sem usar recursos além dos que estão disponíveis para qualquer ser humano, você e eu podemos ter esperança! Também pode­ mos vencer nossas tentações. Nós podemos seguir os exemplos de Jesus, usar os recursos que Ele usou, e triunfar! (Veja o DEVOCIONAL.) Esta primeira tentação foi dirigida à natureza fí­ sica de Jesus. Ele tinha fome. Sentia falta de pão. Por que não fazer pão? Cristo citou Deuteronômio 8.3, que convida os homens a viver pela Pa­ lavra de Deus.

O que a resposta de Cristo queria mostrar era o seguinte: os seres humanos são criaturas físicas. Mas nós somos mais do que animais. Temos uma natureza espiritual que deve controlar a natureza física. A vontade de Deus, e não as nossas neces­ sidades físicas ou nossos desejos, deve governar nossas escolhas. Hoje, muitas pessoas dizem que, se você deseja al­ guma coisa, deve tomá-la. Se você tiver necessidade de sexo, satisfaça essa necessidade. Afinal, é “natu­ ral”. Sim, é natural que os animais satisfaçam seus desejos. Mas, por sermos mais do que animais, não é “natural” que o homem seja conduzido por ne­ cessidades físicas. Somos seres espirituais, e o que é correto e natural para nós é sermos conduzidos pela Palavra viva do Senhor nosso Deus. “Lança-te daqui abaixo” (Mt 4.5-7). Essa tentação é sutil. A sua compreensão depende da natureza da palavra “se” que Satanás usou ao falar com Jesus. Cristo tinha sido levado pelo Espírito ao deserto. Ele tinha jejuado durante 40 dias, e estava faminto e enfraquecido. E então, quando Ele estava mais enfraquecido, Satanás apareceu! Seria apenas natu­ ral se Jesus, agindo por sua livre escolha, em sua humanidade, tivesse tido dúvidas. Você ou eu cer­ tamente teríamos tido. “Deus”, nós poderíamos ter clamado, “se realmente me amas, por que fazes isso comigo agora?” Satanás aproveitou-se dessa dúvida e disse: “Se Tu és o Filho de Deus...”. Esta não é a palavra “se” que usamos no lugar de “uma vez que”. É a palavra “se” de incerteza. Satanás estava tentando alimentar alguma semente de dúvida que pudesse existir no coração humano de Cristo. E Satanás sugeriu uma maneira de descobrir. “Lança-te do pináculo do templo, e a Bíblia promete que anjos te apanharão antes que alcances o solo. Então saberás que tens um relacionamento especial com Deus”. Novamente, Jesus citou Deuteronômio, desta vez 6.16. Os seres humanos não devem tentar a Deus; devem confiar nEle. Deus demonstrou o seu amor ao longo da história, e não tem necessidade de pro­ vá-lo outra vez aos seus. Essa é uma tentação à qual somos particularmente suscetíveis. Quando vêm os problemas, sentimos pânico e incerteza. Começa­ mos a duvidar, e a imaginar se Deus está ou não conosco. Jesus nos lembra de que o caminho para o triunfo em tais situações não é exigir que Deus prove a sua presença, mas simplesmente confiar no amor que Ele demonstrou tão claramente. Para nós, a demonstração suprema está na morte e res­ surreição de Cristo. Certamente, aquEle que deu o seu próprio Filho para nos redimir jamais abando­ nará ou desamparará os seus.

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O “pináculo” era a extremidade de uma das grandes muralhas que estavam em volta do pátio do Templo, e se debruçava no vale de Cedrom, ao fundo. Jesus náo teria sido observado mergulhando no vale. O teste que Satanás propunha náo tencionava ser um atalho para a popularidade, mas uma confirmação do amor de Deus. Veja Mateus 4.5-7.

“Tudo isto te darei”(Mt 4.8-10). A terceira tentação de Satanás também foi sutil. Ele ofereceu a Cristo autoridade direta sobre todos os reinos deste mun­ do. Por que isso seria uma tentação? Decerto o Criador do mundo dificilmente poderia ser subor­ nado com o que já possuía, e um dia reivindicaria. Suspeito que Satanás apelava para a compaixão de Jesus. O mundo daquela época, como o de hoje, cheirava a injustiça, e estava submerso pelas lágri­ mas da tragédia humana. Pense em todas as guer­ ras que poderiam ter sido evitadas se Jesus estivesse governando hoje. Pense nos enfermos que seriam curados, nas injustiças que seriam corrigidas. Cer­ tamente, seria bom se Jesus governasse: bom no que diz respeito a você e a mim. Jesus respondeu, recusando-se a pagar o preço. Deus, e não Satanás, deve ser adorado. A vonta­ de de Deus deve ser a nossa autoridade suprema, e devemos nos curvar a Ele em tudo. Nem mes­ mo alguma coisa “boa” poderia ser um obstáculo à obediência de Jesus à vontade de Deus. Ainda que isso o levasse a uma cruz. Com muita frequência, os cristãos são tentados pelas oportunidades de fazer o bem. Nós nos precipitamos, certos de que Deus ficará satisfei­ to pelos nossos motivos serem tão puros. Mas até mesmo a oportunidade de fazer o bem pode ser uma das armadilhas de Satanás. Como Jesus, nós devemos entender qual é a vontade de Deus

para nós, e escolher essa vontade, mesmo quando a vontade de Deus nos impedir de fazer alguma coisa que pareça ser boa. Sou muito mais tentado por oportunidades de fa­ zer o bem do que de fazer o mal. Recentemente, fui convidado a passar algumas semanas na África do Sul, onde alguns de meus livros parecem estar causando um impacto positivo na igreja. Tudo o que eu pude investigar a respeito do convite o caracterizava como uma oportunidade para fazer o bem, e eu queria aceitá-lo. Mas eu estava incer­ to, e depois de pedir a oração de alguns amigos, finalmente decidi que o Senhor não queria que eu aceitasse o convite naquela ocasião. Como é difícil recusar oportunidades de fazer o bem. Su­ ponho que muitos de nós, já sobrecarregados com tarefas da igreja, consideremos difícil resistir ao convite de fazer alguma coisa a mais. Precisamos adotar o hábito de não dizer “sim” negligente­ mente. Precisamos nos lembrar de que devemos viver a nossa vida como Jesus viveu, segundo a vontade de Deus. E que às vezes Deus tem outras prioridades para nós, que não são um “bem” que possa nos deixar superativos, mesmo que sejamos ativos “por amor a Ele”.

“Desde então, começou Jesus a pregar” (Mt 4.1217). Tendo obtido a sua vitória e demonstrado a sua autoridade sobre as fraquezas interiores hu­ manas, Jesus começou o seu ministério público. Ele retornou à Galileia, e fez de Cafarnaum a sede da sua missão. E significativo que as questões pessoais internas fossem resolvidas antes do início do ministério público. Deus também quer realizar uma obra em nossa vida interior, para nos qualificar, para que então possamos desempenhar um ministério vol­ tado aos outros. “Pregando o evangelho... e curando todas as enfermi­ dades e moléstias” (Mt 4.23-25). Os milagres que Jesus realizou conferiram autenticidade à sua decla­ ração de ser enviado por Deus. Mas precisamos ob­ servar algo importante a respeito desses milagres. Jesus não realizou nenhum milagre para diminuir as suas próprias dificuldades — nem mesmo o mi­ lagre de transformar pedras em pão. Os seus mi­ lagres eram realizados para o benefício de outras pessoas, e mais frequentemente assumiam a forma de cura dos enfermos e de restauração dos feridos. Existe algo apropriado a respeito desse tipo de milagre. Jesus veio oferecendo cura interior a uma hum anidade perdida. E para demonstrar a compaixão de Deus, Ele curava também os seus corpos.

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É ainda apropriado que aqueles que partilham o a compaixão de Deus hoje, quando atendemos, evangelho com outras pessoas tenham igual preo­ não somente à alma dos homens, mas também às cupação com as doenças sociais e físicas que cau­ necessidades físicas. sam tanta dor aos seres humanos. Demonstramos

DEVOCIONAL______

Vencendo a Tentação (Mt 4.1-11) Memorizei o versículo da Bíblia. Eu o repeti para mim mesmo muitas vezes. Pensei que ele certa­ mente me daria a vitória sobre uma tentação parti­ cular que tinha me derrotado tantas vezes. Todavia, por mais que o repetisse, nenhuma vitória veio. Eu estava tão vulnerável com o meu versículo da Bíblia como sem ele. Imagino que muitos de nós tenham tido essa ex­ periência. Vemos Jesus recordando versículos do Antigo Testamento e citando-os para Satanás. Jesus foi vitorioso. Por que não somos vitoriosos quando fazemos a mesma coisa? A resposta está na distinção entre magia e fé. Magia é usar um objeto ou cântico, em um esforço deses­ perado para evitar o mal ou controlar as circuns­ tâncias. A fé é uma confiança silenciosa de que o que Deus diz é verdadeiro o suficiente, e que pode­ mos agir conforme a sua palavra. Eu vinha usando o meu versículo da Bíblia como um talismã má­ gico, acenando-o desesperadamente para repelir a tentação. Mas quando nós examinamos Mateus 4, vemos que Jesus usou as Escrituras de uma maneira bastante diferente. Ele examinou a Palavra, encon­ trou um princípio ou verdade e disse: “Agora vou viver de acordo com essa verdade”. Jesus considerava a Palavra de Deus como verda­ de, e decidiu-se a agir de acordo com essa verdade. Foi esse exercício de fé que lhe deu a vitória sobre as suas tentações. E é exatamente esse exercício de fé que nos dará a vitória quando formos tentados hoje em dia. Sim, devemos procurar a chave para a nossa vitória na Palavra de Deus. Mas não devemos usar a Bíblia de uma maneira pagã e mágica. Devemos crer que a Palavra de Deus é verdadeira, agir de acordo com o que Ele diz e permitir que Deus use a nossa fé para nos dar a vitória.

de Cristo, isto é, a tentação que levou à queda do homem, e a tentação que levou ao fracasso de Sata­ nás. Todas as outras tentações da história humana têm a ver com essas duas histórias de tentação. Ou somos tentados em Adão, ou somos tentados em Cristo. Ou o Adão em mim é tentado — e neste caso, eu peco. Ou o Cristo em nós é tentado — e neste caso Satanás certamente fracassará.” — Dietrich Bonhoeffer 17 DE JULHO LEITURA 198 REINO DE JUSTIÇA Mateus 5

“Não cuideis que vim destruir a lei ou osprofetas; não vim ab-rogar, mas cumprir” (Mt 5. 17). Jesus falava como Rei, com absoluta autoridade no seu reino. E Jesus falava como Deus, não abolin­ do, mas reinterpretando o significado das palavras bíblicas cujas implicações tinham sido perdidas há muito tempo. Se ouvirmos atentamente, as passa­ gens familiares das Escrituras também se tornarão novas para nós.

Contexto Reino. No mundo antigo, um “reino” era uma re­ gião governada por um rei. A definição não é tão simples como parece. O reino antigo não era defi­ nido por território, ou pela linguagem dos habitan­ tes, mas pelo governante. Onde a vontade de um rei fosse suprema, este seria o seu reino. Onde um rei fosse livre para agir, e o povo lhe obedecesse, este seria o seu reino. As Escrituras apresentam Deus como Rei do uni­ verso, no sentido de que a sua vontade é soberana. No entanto, muitos, neste Reino abrangente de Deus, estão em rebelião. E, dessa maneira, o signi­ ficado mais pleno da palavra reino não é alcançado no nosso universo. O Antigo Testamento, particularmente, mas tam­ Aplicação Pessoal Encontre a vitória, seguindo o exemplo de Cristo e bém o Novo, fala de uma época futura quando Cristo governará um Reino que se estende sobre vivendo a Palavra de Deus. toda a terra. Então, os rebeldes serão julgados, e todos se submeterão à sua vontade. Então, o Rei­ Citação Importante “A Bíblia conta somente duas histórias de tenta­ no universal e o reino terreno serão um, e serão ções; a tentação do primeiro homem e a tentação completos.

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As Escrituras, no entanto, também apresentam Jesus como Rei de um reino espiritual atual. Esse reino ^existe, juntamente com o atual reino universal e re­ belde de Deus, e também dentro dele. Onde os seres humanos se inclinarem a Cristo, como Senhor, e obedecerem à sua vontade, ali terá chegado o Reino de Jesus. E ali Cristo, o nosso Rei, age com autorida­ de para guiar e proteger os seus. Precisamos compreender a natureza do reino atual de Cristo, pois a principal motivação do que é conhecido como “Sermão do M onte”, re­ gistrado em Mateus 5— 7, é nos ensinar como viver como cidadãos deste Reino. Essas palavras nos são ditas, tão vitais e cheias de poder como quando Cristo as pronunciou pela primeira vez, aproximadamente há 2 mil anos. Quando as le­ varmos a sério, e as aplicarmos à nossa vida, nós nos submeteremos a Cristo, nosso Rei, e vivenciaremos o seu bendito Reino.

e valores que produzem frutos espirituais. Não é a pessoa que afirma ser bem-sucedida espiritualmen­ te que encontra o Reino, mas o indivíduo que reco­ nhece o quanto é pobre (v. 3). Não é a pessoa que está satisfeita com o que o mundo lhe oferece, mas a pessoa que chora, e olha além do brilho do mun­ do, a que encontra consolo (v. 4). Não é a pessoa que é arrogante, mas o manso, que responde à voz de Deus, o que herdará a terra (v. 5). Os que serão fartos não são aqueles que estão satisfeitos com a sua própria justiça, mas aqueles que têm fome e sede de uma justiça que não têm (v. 6). Para viver no Reino de Jesus, precisamos rejeitar os valores e as atitudes deste mundo e adotar os valores aqui retratados pelo nosso Senhor.

Visão Geral Jesus anunciou bênçãos para os cidadãos do seu Reino (5.1-12). Ele espera que os cidadãos do seu Reino realizem boas obras (w. 13-16), pois Ele exi­ ge uma justiça que ultrapassa até mesmo a dos ze­ losos fariseus (w. 17-20). Cristo examinou por trás dos atos que a Lei regulamentava, exigindo pureza de coração (w. 21-42) e aquela expressão culmi­ nante da justiça do Reino: um amor como o do Pai celestial pelos inimigos (w. 43-48).

As Bem-Aventuranças: Mateus 5.3-10 Os Valores de Jesus Valores Opostos BEM-AVENTURA­ BEM-AVENTURA­ DOS OS QUE... DOS OS QUE... são autoconfiantes (v. 3) são pobres de são competentes espírito são autossuíicientes procuram o prazer (v. 4) choram são hedonistas são “gente bonita” são orgulhosos (v. 5) são mansos são poderosos são importantes são satisfeitos (v. 6) têm fome e são “bem ajustados” sede de justiça são práticos

Entendendo o Texto “Bem-aventurados os pobres de espírito” (Mt 5-112). O rei Herodes estabeleceu muitas novas cida­ des durante os quarenta anos do seu reinado. Em cada ocasião, ele recrutou cidadãos, prometendolhes muitos benefícios especiais, incluindo cidada­ fanáticos nia, redução de impostos, terras, etc. Este era um (v. 7) são misericor­ são são “capazes de tomar costume comum no Império Romano, durante a diosos conta de si mesmos” era de Augusto, quando muitas cidades novas fo­ ram fundadas. são “adultos” Mas é difícil imaginar um governante convocan­ (v. 8) são limpos de são sofisticados do cidadãos, e anunciando que no seu reino os coração são tolerantes recrutados receberão pobreza de espírito, mansi­ dão, choro, fome, e sede, e até mesmo perseguição. (v. 9) são pacifica­ são competitivos No entanto, essas são as bênçãos que Jesus oferece dores são agressivos àqueles que reivindicam a cidadania que Ele des­ crevia. Além disso, o Rei Jesus disse que os pobres de espí­ (v. 10) sofrem perse­ são adaptáveis rito, os mansos e os que choram são bem-aventura- guição por causa da são populares dos! Ele não oferece uma mudança nas condições, justiça não perturbam mas a bênção nas condições que desgostam aos cidadãos deste mundo. As Bem-Aventuranças per­ manecerão um mistério, a menos que nos demos “A ssim resplandeça a vossa luz diante dos homens” conta de que Jesus está falando de atitudes básicas (M t 5.13-16). Nos tempos bíblicos, toda casa ti­

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Neste exemplo, e nos seguintes, Jesus enfatizou a preocupação de Deus com o coração. Cumprir a lei sobre não matar não torna ninguém justo. O ho­ mem verdadeiramente justo é aquele que não se ira! Na verdade, esse tipo de justiça perfeito está além de todos nós. E por isso que devemos nos tornar cidadãos do Reino de Jesus. Somente a obra de Cristo em nosso coração pode nos transformar nas pessoas que Deus nos chama para ser.

nha sua lâmpada ardendo durante toda a noite. A lâmpada não irradiava muita luz, mas teste­ munhava o fato de que a casa era habitada. Estas lâmpadas, pequenos recipientes cheios de azeite, eram colocados em posição elevada, em suportes de cerâmica. Jesus disse aos seus ouvintes que os cidadãos do seu Reino devem ser como lâmpa­ das, luzes no mundo. As boas obras realizadas pelo povo de Deus devem testemunhar o fato de que este mundo, por mais sombrio que possa ser, ainda é habitado pelo Rei. Quando as boas obras do povo cristão forem vistas, os homens compre­ enderão a sua origem e louvarão “vosso Pai, que está nos céus”. Não permita que ninguém negue o papel das boas obras na vida cristã. Um cristão que não realiza boas obras é tão inútil para Deus e para os outros quanto uma lâmpada escondida debaixo de um cesto.

“Não vim ab-rogar, mas cumprir” (Mt 5-17-20). Muitos ficam confusos com a afirmação de Jesus de que veio para cumprir a Lei e os profetas. Cristo aqui fala como um judeu dedicado, como outros rabinos do século I, a uma única tarefa: explicar o verdadeiro significado das palavras de Deus, e, assim, “cumpri-las”. Mas Cristo imediatamente se distingue de outros mestres. Os fariseus eram zelosos em guardar tan­ to a lei escrita quanto a oral. Mas, ao explicar o verdadeiro significado da Palavra de Deus, Cristo estava prestes a revelar uma justiça que “ultrapas­ sava” qualquer justiça que os fariseus imaginassem possuir, guardando os mandamentos. Como cidadãos do Reino de Jesus, você e eu so­ mos chamados para viver uma vida justa. Mas de­ vemos evitar o engano dos fariseus. Não devemos confundir a verdadeira justiça, ou supor que, por fazermos determinadas coisas e evitarmos outras, alcançamos elevada espiritualidade. O que fazemos é importante, é verdade. Mas Deus está mais inte­ ressado no que somos. “Ouvistes quefoi dito aos antigos: Não matarás” (Mt 5-21-26). Este é o primeiro de seis exemplos que Jesus usou para explicar a justiça inigualável. To­ dos tinham ouvido a lei do Antigo Testamento que legislava contra o homicídio. O ato de matar era errado. Mas Jesus prossegue, explicando que Deus não está apenas preocupado com o homicídio. Ele obser­ vava a ira que se acendia e levava ao homicídio. A pessoa justa de fato não é aquela que simplesmente evita cometer assassinato. E aquela que não reage com ira aos outros.

“Deixa ali diante do altar a tua oferta”(M t5-23,24). Adorar a Deus é importante? Sim! Mas Jesus enfa­ tizou a importância do coração puro, dizendo que, se nos lembrarmos de que alguém tem alguma coisa contra nós, devemos fazer as correções neces­ sárias, ainda que isso signifique um adiamento da adoração. Mas o que é mais importante é a frase “Se... teu irmão tem alguma coisa contra ti”. Não somente somos responsáveis pela nossa própria ira, mas pela de nosso irmão! Se tivermos feito alguma coisa que aborreceu alguma pessoa, devemos resolver essa questão imediatamente, para preservar nosso irmão de uma ira que é inapropriada no Reino de Deus. Isso talvez pareça ser demais! Já parece difícil de­ mais cuidar do nosso próprio relacionamento com Deus. E a verdade é que é realmente difícil demais. Mas é o que o nosso Rei espera. Se obedecermos, Ele fará em nós e nos nossos relacionamentos o que jamais poderíamos fazer sozinhos. Essa é a glória de viver no Reino de Cristo. Jesus é o Senhor. E Ele pode fazer, em nós e nos outros, o que jamais poderíamos fazer sozinhos. “Qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar” (Mt 5-27-30). Novamente, vemos a mudança de ênfase. O adultério é usar outra pessoa como obje­ to sexual. A luxúria é considerar outra pessoa como objeto sexual. Cristo deseja que percebamos que tanto o ato quanto a atitude são pecaminosos. A justiça exige que consideremos todos os seres hu­ manos como pessoas dignas e de valor. Devemos servir os outros, e não usá-los. Novamente, Deus nos convoca para considerarmos a lei como uma revelação do coração de Deus — e uma revelação do tipo de pessoas que se tornarão aqueles que vi­ vem no Reino de Jesus, quando o Rei usar o seu poder para transformá-las. “Qualquer que deixar sua mulher” (Mt 5.31,32). Esse preceito segue o padrão dos outros. A Lei per­ mitia o divórcio, mas Cristo retornava ao ideal de Deus. Embora o divórcio possa não ser adultério, teoricamente, é uma violação da lealdade da alian­ ça que os cônjuges devem um ao outro.

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Mateus 5

Esta não é uma lei de “não divórcio”, não mais do que os princípios de “não ira” e “não luxúria” pre­ tendem ser leis nos livros do Reino de Cristo. Mas é, como os outros, um lembrete de que aquilo de que o homem precisa não são leis a seguir, mas uma renovação interna que os torna verdadeira­ mente justos. Somente a verdadeira justiça encon­ trará a liberdade da ira, a liberdade da luxúria e a liberdade do desejo de divorciar-se. Somente no Reino de Jesus, pelo poder do Rei, é possível uma vida justa. “De maneira nenhuma, jureis” (M t 5.33-37). Era comum, no judaísmo do século I, fazer uma dis­ tinção entre as promessas compulsórias e as não compulsórias. Por exemplo, uma pessoa que ju­ rasse pelo altar do Templo não se via obrigada pelo seu juramento, mas se jurasse pelo ouro do altar, era obrigada a cumprir seu juramento. Jesus eliminou o engano envolvido, e disse: “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim”. Seja o tipo de pes­ soa cuja palavra signifique um forte compromisso.

“Não resistais ao mal”(M t5.38-42). O princípio de “olho por olho” no Antigo Testamento estabelecia limites na retribuição que uma pessoa podia exigir. Se alguém o ofendesse e lhe custasse a visão de um olho, você não poderia, por exemplo, tirar-lhe a vida, de maneira justificável. Tudo o que você po­ deria reivindicar seria tirar-lhe a visão de um olho. Agora Jesus dizia: não governe as suas relações com os outros segundo o que é “justo”, de maneira ne­ nhuma! Em vez de tentar vingar-se dos outros que o prejudicaram, faça o bem a eles! A passagem não tem aplicação direta na questão do pacifismo. Na verdade, ela se aplica diretamente ao desafio de Jesus a valores e atitudes, e descreve a “justiça excelente” e abundante que se espera de nós, no Reino de Jesus Cristo. Nós não exigimos retribuição. Nós fazemos o bem até mesmo àqueles que nos prejudicam. A pessoa que aprende a amar até mesmo a seus inimigos é uma pessoa que viveu o suficiente no Reino de Cristo e uma pessoa que conheceu o seu toque transformador.

(Mt 5.21-48) Jesus, a princípio, parece um Rei muito exigente. Neste trecho do seu Sermão do Monte, Jesus dei­ xou claro que Ele espera que os cidadãos do seu Reino façam algo além de obedecer às leis. Ele es­ pera que sejamos o tipo de pessoa que jamais dese­ jará infringi-las! Em uma série de exemplos, Ele explicou que os seus cidadãos não devem irar-se, e muito menos ferir uns aos outros. Nós, cidadãos, não devemos sentir luxúria, e muito menos cometer adultério. Não devemos desejar um divórcio, nem planejar enganar alguém, nem desejar vingança quando ofendidos (w. 21-42). Mas, então, Jesus completou. Os cidadãos do seu reino têm uma tarefa im portante: “Amai a vossos inimigos... e orai pelos que vos mal­ tratam e vos perseguem (v. 44). Ele explicou que Deus é o tipo de Pessoa que “faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos” (v. 45). E devemos ser “filhos do Pai que está nos céus”. E realmente simples. Nós podemos resumir tudo o que Jesus nos pede em uma única frase. “Simplesmente, seja como Deus”. Isso seria impossível, se não fosse por um detalhe. Jesus disse: “filhos do Pai que está nos céus”. Você percebe, todas as pessoas no Reino de Jesus for­ mam uma só família.

Por meio da fé em Cristo, iniciamos um rela­ cionamento exclusivo com Deus, em que Ele é o “nosso Pai”. E Deus estabelece um relaciona­ mento exclusivo conosco. Nas palavras de Pedro, Deus partilha conosco a sua semente “incorrup­ tível” (1 Pe 1.23). Por Deus ter derramado a sua própria vida em nós, não é nem um pouco irra­ cional esperar que todos nós demonstremos uma semelhança familiar. Lembro-me de descobrir, quando era adolescen­ te, porque eu tinha o costume de erguer a ca­ beça, de um lado, quando andava de carro. Um dia, sentado no banco de trás, percebi que meu pai fazia a mesma coisa, devido a um antigo feri­ mento. Desde criança eu o vinha imitando, sem nem mesmo perceber isso. Deus não está interessado na maneira como dis­ pomos nossas cabeças. Mas Ele deseja que o ob­ servemos com atenção, que vejamos como Ele se relaciona conosco e com os outros, e assim, pouco a pouco, nos tornemos cada vez mais pa­ recidos com Ele internamente. Quando vivemos como fiéis cidadãos do reino atual de Jesus, é isto que acontece: Nós perce­ bemos, para nossa surpresa, que não somente fazemos o bem, mas nos tornamos bons! Trans­ formados, internamente, pelo poder do Rei, nos pareceremos cada vez mais com nosso justo e perfeito Deus.

DE V OCIONAL______ Ame seu QUEM?

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tigo Testamento fala de Deus como Pai, mas no Aplicação Pessoal Não devemos nos satisfazer com fazer o bem, mas sentido de fundador de Israel e da religião de Israel (cf. D t 32.6). Deus se preocupa com o seu povo devemos pedir que o Rei nos ajude a ser bons. “como um pai” faria (1.31; SI 103.13), mas o An­ tigo Testamento não chega a sugerir um real rela­ Citação Importante cionamento de pai e filho entre Deus e os crentes. Faz de mim, Oh Senhor, a tua roca completa. Aqui, Cristo introduziu uma nova e assombrosa Da tua Santa Palavra, faz o meu fuso. perspectiva do relacionamento com Deus. Deus é Fai dos meus afetos a tua elegante acionadora, o Pai daqueles que vêm a Ele por intermédio de E faz que a minha alma seja a tua santa bobina. Jesus Cristo. Que a minha vida seja o teu carretel, O que esse novo relacionamento significa para você e gire o fio que a tua roca fiou. e para mim? Significa que podemos confiar que Faz de mim o teu tear, tece este fio: e faz do teu Espírito Santo, Senhor, plumas ao vento: Deus como Pai (1) nos recompense (Mt 6.4,6,18), então tece, tu mesmo, a teia. O fio é bom. (2) compreenda completamente as nossas necessi­ dades (w. 8,32), (3) perdoe nossos pecados e erros As tuas ordenanças enchem meus moinhos. Então, tinge o tecido com as cores escolhidas pelos (v. 14) e (4) nos conceda boas dádivas quando lhe céus. pedimos (7.11). Alguns de nós temos pais humanos que traíram Salpicado com flores envernizadas do Paraíso. Então, reveste com ele o meu entendimento, a mi­ nossa confiança. Deus é o Pai ideal, e todos os seus atos são motivados por amor. Com que beleza esses nha vontade, dois capítulos expressam o inesgotável e infalível afetos, juízo, consciência, lembrança, minhas palavras e meus atos, para que o seu brilho amor paterno de Deus. possa encher os teus caminhos com glória, e glorificar a ti. Visão Geral Então a minha veste mostrará, diante de ti, Os cidadãos do Reino têm um relacionamento “se­ que estou vestido com santos mantos, para a glória. creto” com Deus (6.1-5), e sabem como (w. 6-8) e o que (w. 9-15) orar. Essa oração não tem nada — Edward Taylor a ver com demonstrações exteriores (w. 16-18). Com nossa atenção no céu (w. 19-24) e nossa con­ 18 DE JULHO LEITURA 199 fiança em Deus como Pai, somos livres para nos _ORAÇÃO E REINO concentrar na vida do Reino (w. 25-34). Mateus 6 —7 Pelo fato do relacionamento com Deus ser “secre­ “E teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará” to”, não devemos julgar os outros (7.1-6), mas de­ vemos conscientemente confiar no nosso Pai (w. (Mt6.6). 7-12) e escolher a sua “porta estreita” (w. 13,14). A oração é a expressão de um relacionamento ínti­ Quando o fazemos, o poder de Deus é demonstra­ mo com Deus. Aqui, Jesus nos convida a explorar do na vida abençoada que vivemos (w. 15-23) e o que é a oração — e o que ela pode significar, para em nossa obediência (w. 24-29). você e para mim. Entendendo o Texto Definição dos Termos-Chave “Teu Pai, que vê em secreto” (Mt 6.1-6). Mateus 6 Hipócrita. A palavra grega significa “alguém que inter­ repete a expressão “secreto” quatro vezes, e duas preta um papel”, um personagem em uma obra tea­ vezes enfatiza o fato de que Deus está “oculto”. tral. Dezesseis dos 27 usos dessa palavra no Novo Tes­ Por quê? Porque Jesus deseja que compreendamos tamento são encontrados no Evangelho de Mateus, o nosso relacionamento com Deus como um rela­ que caracteriza o hipócrita como uma pessoa (1) cujos cionamento profundamente pessoal e íntimo, uma atos pretendem impressionar os observadores (6.1-3, conexão do nosso coração com Ele. A religião não 16-18), (2) cujo foco está nos enfeites, e não nas ques­ é uma questão de demonstração exterior. tões centrais da religião (15.1-21), e (3) cuja conversa Muitas pessoas frequentam a igreja e demonstram espiritual esconde motivos corruptos. Em Mateus 6, ser religiosas sem ter um relacionamento pessoal e o hipócrita está em contraste com a pessoa de fé, cujo secreto com o Senhor. Cristo deseja que compreen­ damos que, no seu Reino, o relacionamento com relacionamento com Deus é “secreto”. Deus deve ser real e pessoal, não como a “atuação” Pai. Nesses dois capítulos, Deus é identificado do hipócrita, que faz o que faz para impressionar como “vosso Pai” ou “nosso Pai” dez vezes! O An­ outros seres humanos.

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Mateus 6— 7

Essa ênfase em Mateus nos lembra de que preci­ samos dedicar algum tempo para alimentar nosso relacionamento secreto com o Senhor. Precisamos entrar no nosso aposento, fechar a porta e orar ao nosso Pai, “que está oculto”. Quando realmente alimentarmos esse relacionamento com o Senhor, poderemos ter certeza de que o nosso “Pai, que vê em secreto”, nos “recompensará”. “E, orando” (M t 6.7-13)■ Jesus não deu aos seus discípulos o que chamamos de Oração do Senhor para que nós a repetíssemos juntos quando nos reuníssemos na igreja. Ele a ensinou como um mo­ delo, mostrando como cada um de nós deve orar “em segredo”. Isso não quer dizer, é claro, que não devamos usála na igreja. O que isso significa é que precisamos explorar a oração padrão para discernir o que ela ensina, a você e a mim, sobre o desenvolvimento de um relacionamento “secreto” mais profundo com o nosso Deus. O desafio para explorar o significado é claro na comparação de Cristo com os pagãos, “que pensam que, por muito falarem, serão ouvi­ dos” por causa de suas “vãs repetições” (v. 7). Deus deseja que compreendamos a natureza da oração, e que dotemos a nossa oração de significado. (Veja o DEVOCIONAL.)

‘'Quando jejuardes, não vos mostreis contristados” (Mt 6.16-18). Muitos fariseus jejuavam duas vezes por semana como um dever religioso. Estes não eram je­ juns de 24 horas, mas jejuns de 12 horas, de sol a sol. Jesus não criticou o costume de jejuar. O que Ele re­ almente criticou foram aqueles que anunciavam seu jejum, desfigurando seu rosto. O que fazemos por Deus deve ser feito por Deus. O que fizermos para “mostrar aos homens” estará corrompido. “Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida”(Mt 6.2534). Jesus jamais sugeriu que é errado preocupar-se com as necessidades básicas. Ele simplesmente disse que isso é desnecessário. O pagão é dominado pela ansiedade, porque ele enfrenta um amanhã incerto. O cristão, que tem um relacionamento pessoal com Deus como seu Pai, confia naquele que não somente conhece, como também controla o amanhã. Quan­ do compreendermos o quanto Deus realmente nos ama, não mais nos sentiremos pressionados para “correr atrás” das necessidades da vida. Isso nos li­ berta para estabelecer as prioridades corretas, e bus­ car “primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça”. Que alegria, não se preocupar com nada, exceto agradar a Jesus! “Não julgueis, para que não sejaisjulgados” (M t 7.16). Aqui, “julgar” não é “avaliar”, mas “condenar” ou “criticar”. Como o relacionamento de cada cristão com Deus é “secreto”, não temos nenhuma base para julgar os motivos ou as convicções dos outros, nem mesmo seus fracassos e suas fraquezas. Se desejarmos ser críticos, devemos ser críticos de nós mesmos. Existe uma diferença entre essa advertência, e o chamado de Paulo para que a igreja discipline os pecadores (1 Co 5.1-12). Quando um crente professante insiste em um comportamento que a Bí­ blia claramente identifica como sendo pecado, de­ vemos concordar com as Escrituras e punir. Neste caso, nós não julgamos, mas concordamos com o julgamento da Palavra de Deus. Jesus estava falando, no texto de Mateus, sobre um espírito de crítica, ou uma arrogância que nos leva a supor que temos o direito de julgar o coração dos outros. Não é isso. Assim como a verdadeira na­ tureza do nosso relacionamento com Deus é uma coisa “secreta”, também o é a verdadeira natureza do relacionamento dos outros. Aqueles que dese­ jam ser bem-sucedidos vivendo no reino atual de Cristo devem se proteger contra esse espírito de crítica e orgulho.

“Se perdoardes aos homens as suas ofensas” (Mt 6.14,15)- Alguns se incomodaram por Jesus dizer que Deus nos perdoará “se” perdoarmos “aos ho­ mens as suas ofensas”, mas não nos perdoará se não perdoarmos. Não é o evangelho as Boas-Novas de que Deus perdoa os nossos pecados, não por causa do que fazemos, mas porque Jesus morreu por nós? (cf.E fl.7; 4.32; Cl 1.14) O conflito é aparente, e não real. As epístolas descre­ vem uma realidade teológica. O perdão é assegurado a todos os que creem verdadeiramente em Cristo. Aqui, Jesus descreveu uma realidade psicológica. O perdão é sentido somente por quem perdoa. O perdão é como uma moeda. Uma moeda tem dois lados, cara e coroa. É impossível ter um único lado de uma moeda. O perdão é assim. Os seus dois lados são aceitação e concessão. Não podemos compreender um só lado dessa moeda. Uma pessoa humilde, que tem ciência das suas próprias fraque­ zas, e das dos outros, aceitará o perdão de Deus. Essa atitude de humildade, que nos liberta para sentirmos o perdão, é a mesma atitude que nos ca­ pacita a ter compaixão dos outros e a perdoá-los. Deus não perdoa os que não perdoam, porque não deseja fazê-lo. A nossa atitude rancorosa com rela­ ção aos outros nos impede de sentir o perdão que o “Pedi, e dar-se-vos-ã” (M t 7.7-12). Cada uma nosso Pai deseja que conheçamos. dessas imagens de oração sugere persistência.

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Mateus 6—7

começássemos a apertar o fruto dos crentes para ver se era bom! Talvez a razão seja o fato de que o bom fruto precisa de tempo para amadurecer. A vida cristã produzirá bons frutos — mas levará algum tempo para que esses frutos amadureçam. Devemos dar aos outros — e a nós mesmos — o tempo necessário para que o fruto de Deus amadureça, em vez de exigir evi­ “Por seus frutos os conhecereis” (Mt 7.15-23). Ao dências imediatas da sua obra em nossa vida. longo das Escrituras, o fruto é um símbolo da obra transformadora de Deus nos crentes (cf. Is 5.1-7; “Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e Jo 15.1-11; G1 5.22,23). Embora o nosso relacio­ as pratica” (Mt 7-24-29). A mais clara evidência de namento com Deus seja “secreto”, o produto desse um relacionamento vital com Deus é o fato de que ouvimos as palavras de Deus — e que as colocamos relacionamento é altamente visível! Mas aqui Jesus falou de reconhecer os falsos pro­ em prática. A pessoa que ama verdadeiramente a fetas pelo seu fruto amargo. Ele não sugeriu que Jesus obedecerá aos seus mandamentos.

Cada uma delas também transmite uma promes­ sa. “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á”. O que nos encoraja a estar envolvidos ativamente na oração, e reivin­ dicar essas promessas, é a certeza de que Deus é nosso Pai. Como nosso Pai, Ele deseja nos dar boas dádivas.

DEVOCIONAL______ Como Orar

(Mt 6.5-13) Qualquer pessoa que planeja construir uma casa deve ser prudente e examinar o projeto antes. Da mesma maneira, qualquer pessoa que procura desenvolver o seu relacionamento “secreto” com Deus deve ser prudente e estudar cuidadosamente a “Oração do Senhor” que Jesus ensinou. Ela reve­ la as atitudes básicas com que você e eu devemos nos dirigir a Deus em oração. Observe como cada pedido nos ensina. “Santificado seja o teu nome”. Nós reconhecemos a Deus como Ele se revelou. Expressamos o nosso respeito por Deus, sabendo que Ele é vivo e ativo, certos de que Ele é capaz de agir em nossa vida. “Venha o teu reino”. Nós reconhecemos a Deus como Rei justo sobre todos, e assumimos o nos­ so lugar como seus súditos. Fazemos uma escolha consciente de viver como cidadãos do seu reino, convidando-o a entrar plenamente em nossa vida, assim como no mundo todo. “Seja feita a tua vontade”. Nós nos submetemos a Deus, decidindo obedecer à sua Palavra revelada, mas cientes de que também devemos ser sensíveis a qualquer orientação pessoal que Ele possa desejar nos dar por meio do seu Espírito Santo. “Tanto na terra como no céu”. Esperamos que a vontade de Deus para nós tenha um impacto sobre o que fazemos aqui na terra. Não compartimen­ tamos o “sagrado” e o “secular”, mas procuramos constantemente maneiras de honrar a Deus com nosso trabalho, nossa diversão, nosso relaciona­ mento diário com outras pessoas. “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”. Nós con­ fiamos tanto em Deus, que estamos seguros de que

Ele suprirá todas as nossas necessidades a cada dia; assim, não somos levados a acumular tesouros na terra para o amanhã. Vemos cada novo dia como uma oportunidade para alguma nova experiência da bondade de Deus para conosco. “Perdoa-nos as nossas dívidas”. Nós nos humilha­ mos diante de Deus. Estamos profundamente cien­ tes de nossos erros e defeitos, mas nos alegramos por sermos amados mesmo assim. Ainda mais humilha­ dos pelo amor misericordioso de Deus, temos com­ paixão daqueles que nos ferem ou nos prejudicam. Interpretamos essas ofensas como uma oportunida­ de para demonstrar a realidade da misericórdia de Deus, perdoando voluntariamente aos outros. “Não nos induzas à tentação”. Nós descansamos em Deus. Sabemos que Ele nos liberta do mal e, embora não procuremos confrontação com o mal, sabemos que, quando as tentações vierem, Deus estará presente para nos livrar. Quando dirigirmos a nossa oração “secreta” imbu­ ída dessas profundas convicções, o nosso relacio­ namento pessoal com o Senhor certamente irá se aprofundar e crescer. Aplicação Pessoal Dê início ao seu tempo de oração com a Oração do Senhor, ciente da fé e da dependência que ela expressa. Citação Importante MEDITAÇAO SOBRE A ORAÇÃO DO SENHOR Senhor, não posso dizer “Nosso”... se a minha religião não tiver lugar para outras pes­ soas e suas necessidades.

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Mateus 8— 9

Senhor, não posso dizer “Pai”... se eu deixar de me parecer contigo, na maneira como levo a minha vida diária. Senhor, não posso dizer “que estás nos céus”... se a minha atenção estiver somente nas coisas ter­ renas. Senhor, não posso dizer “Santificado seja o teu nome”... se eu, que sou chamado pelo teu nome, não for santo. Senhor, não posso dizer “Venha o teu reino”... se não reconhecer a tua soberania na minha vida. Senhor, não posso dizer “Tanto na terra como no céu”... a menos que eu esteja verdadeiramente disposto a servir-te, aqui e agora. Senhor, não posso dizer “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”... sem realizar o trabalho diário honesto, e sem consi­ derar as necessidades dos menos afortunados. Senhor, não posso dizer “Perdoa-nos as nossas dí­ vidas”... se eu abrigar um rancor contra meu irmão ou mi­ nha irmã. Senhor, não posso dizer “Não nos induzas à ten­ tação”... se deliberadamente eu escolher permanecer em uma situação onde é provável que serei tentado. Senhor, não posso dizer “Livra-nos do mal”... se não estiver preparado para assumir uma posição contra a injustiça na minha sociedade. Senhor, não posso dizer “Teu é o Reino, e o poder, e a glória, para sempre”... se não me submeter a Cristo como Rei, se eu deixar de confiar que Tu agirás na minha vida, ou se, por orgulho, procurar a minha própria glória. Senhor, não posso dizer “Amém”... a menos que possa dizer sinceramente “aconteça o que acontecer, esta é a minha oração”. — Adapta­ do de “Lamplighter”, Speedway Christian Church, Indianapolis, Indiana 19 DE JULHO LEITURA 200 O PODER D O REI Mateus 8—9

“Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra autoridade para perdoar pecados — disse então ao paralítico: Levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa'' (M t9.6). Jesus tinha convocado cidadãos para povoarem o seu reino. Agora, Ele demonstra um poder real so­ bre todas as forças, no mundo natural e também no sobrenatural.

Definição dos Termos-Chave Autoridade. A palavra grega para “autoridade” é exousia. O seu significado básico é “liberdade de ação”. Uma pessoa com total autoridade tem total liberdade de ação. Nenhum ser humano tem total liberdade de ação. Todos nós somos limitados por outros que agem de maneiras que limitam a nossa liberdade, assim como um escravo é limitado pelo seu senhor, um soldado pelo seu capitão, um aluno pelo professor, ou um cidadão pelo seu governante. Nós também somos limitados pelas circunstâncias: nosso estado de saúde, nossa condição financeira, sexo, tamanho, etc. Mas em Mateus 8— 9, Jesus demonstrou uma au­ toridade que é total! Ele não é limitado por leis na­ turais, pela doença ou pelo pecado que atrapalha a humanidade, nem pelas forças demoníacas que nos atacam. Sua liberdade para agir não está limitada nem mesmo pela morte! No Sermão do Monte (Mt 5— 7), Jesus estabeleceu princípios pelos quais devemos viver. Os seus mila­ gres de cura nos lembram de que podemos nos en­ tregar totalmente a Ele, pois Ele é Senhor de tudo. Visão Geral O rei Jesus, desejoso e capaz de curar (8.1-17) es­ pera lealdade total (w. 18-22). A sua autoridade de vencer a natureza (w. 23-27), demônios (w. 28-34) e até mesmo o pecado humano (9.1-13) mostra que Deus estava fazendo uma nova obra entre os homens (w. 14-17). Jesus ressuscitou uma menina morta (w. 18-26), e continuou a curar e expulsar demônios (w. 27-34), fornecendo um modelo de ministério para os que trabalham no seu reino (w. 35-38). Entendendo o Texto “Senhor, se quiseres, podes tomar-me limpo ” (Mt 8.14). O antigo argumento proposto por céticos afir­ ma que, se Deus tem poder para corrigir os males que atormentam a humanidade, Ele não deve ser bom, pois não fez isso. Por outro lado, se Ele não tiver esse poder, não deve ser Deus. O argumento desmorona tão logo introduzimos o elemento do livre-arbítrio. Um Deus bom e TodoPoderoso deu aos seres humanos a liberdade de esco­ lha, ainda que as escolhas que os homens fizeram te­ nham introduzido a dor e o mal no nosso mundo. O argumento também desmorona quando lemos esses capítulos do Evangelho de Mateus. Aqui ve­ mos um Jesus que é bom e também Todo-Poderoso. Repetidas vezes, Jesus exerceu o seu poder como Deus, e em cada uma destas o motivo foi ajudar ou curar um ser humano necessitado. Cristo está disposto, e também é capaz.

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Mateus 8— 9

“Não sou digno de que entres debaixo do meu telha­ do” (Mt 8.5-8). O centurião era um soldado do exército romano, e não um judeu. Mas quando um de seus criados estava ferido, ele mesmo correu até Jesus. Cristo estava disposto a ir com o centurião e curar seu criado enfermo. Mas o soldado romano, da raça conquistadora que dominava a Judeia e a maior parte do mundo, humildemente respondeu: “Não sou digno”. Que exemplo é este. Aos pés de Jesus, todas as dis­ tinções humanas são perdidas, e todo homem se toma um suplicante, não importando quão elevada seja a sua posição neste mundo. Na nossa igreja local, com frequência a Santa Ceia é feita diante do altar. Cada pessoa vem e se ajoelha ali, para receber o pão e o vinho. Ricos e pobres, jo­ vens e idosos, homens e mulheres, doentes e sadios, todos se ajoelham juntos para adorar e receber os elementos que nos lembram do preço que Jesus pa­ gou pela nossa redenção. Ajoelhados ali, nenhum de nós é nada mais do que um pecador salvo pela graça, e, no entanto, nada menos do que um cida­ dão do Reino de Jesus e um membro da família de Deus para sempre. Ao se curvar diante de um mero judeu, o centurião romano afirmou uma grande verdade. A posição mais importante que um ser humano pode ter é a de súdito do Rei dos reis. “Também eu sou homem sob autoridade” (Mt 8.913). Há algo mais para nós na história do centu­ rião. Ele se sentia indigno de receber a Jesus sob o seu telhado. Mas ele também sabia que a autori­ dade de Jesus sobre a doença não era limitada pela distância. Quando disse “também eu sou homem sob autori­ dade”, o centurião quis dizer que a sua autoridade no exército romano não dependia dele, mas lhe era concedida pelos seus comandantes, em uma cadeia que, em última análise, levava ao próprio impera­ dor. As ordens do centurião eram obedecidas por­ que todo o peso da poderosa Roma estava por trás de cada ordem. Ao pedir a Jesus: “dize somente uma palavra”, e ao afirmar a sua fé de que “o meu criado sarará”, o centurião confessou a sua cren­ ça de que Cristo também estava “sob autoridade”. Quando Jesus falava, todo o peso do poder sobera­ no de Deus ficava disponível para colocar em vigor o decreto de Cristo. A fé do centurião foi honrada. Cristo pronunciou a palavra, e o poder de Deus, que nem a distância nem as forças do mal podem limitar, fluiu. Quando orarmos, devemos nos lembrar da fé do centurião. Jesus tem o poder de satisfazer toda e qualquer necessidade.

“Permite-me que, primeiramente, vá sepultar meu pai” (Mt 8.18-22). A primeira onda de curas es­ timulou grande agitação. Muitos ficaram ansio­ sos para se unir à “Brigada de Jesus”, sem dúvida supondo que Cristo usaria os seus poderes para romper o domínio de Roma e dar início à Era Messiânica. Dois incidentes esfriaram o ardor anterior. Um “doutor da Lei”, ou escriba, se ofereceu para se­ guir a Jesus, onde quer que Ele fosse. Essas pesso­ as eram muito respeitadas no judaísmo do sécu­ lo I, e tipicamente eram bem-sucedidas na vida. Quando Cristo respondeu que “o Filho do Ho­ mem não tem onde reclinar a cabeça”, o fervor do homem desapareceu! Um seguidor de Jesus devia estar disposto a viver como Ele vivia, e abandonar a esperança de ganhos terrenos. Outro homem prometeu segui-lo, mas “primeira­ mente” queria ir “sepultar seu pai”. No judaísmo, o corpo era sepultado no mesmo dia da morte. O pai desse homem ainda não havia morrido. O que o homem queria dizer é: “Primeiramente, deixa-me cumprir com minha obrigação de estar com meu pai, até que ele morra”. A resposta de Jesus: “Segue-me e deixa aos mortos sepultar os seus mortos” foi compreendida com clareza. Ne­ nhuma lealdade deve superar a nossa lealdade a Cristo, o Rei. Essas palavras de Cristo são proferidas também para nós. Deus nos dá muitas bênçãos materiais, e muitos relacionamentos satisfatórios. Mas nem as possessões nem os relacionamentos podem ser mais importantes para nós do que servir a Cristo.

Nos tempos de Jesus, cerca de 300 pequenos barcos de pesca, como este, eram usados no mar da Galileia. Os restos preservados de um desses barcos foram recente­ mente encontrados, enterrados no fundo do lago, e nos informam como o barco foi construído e como foi pro­ jetada a sua estrutura interna. Sem dúvida, Jesus estava exatamente neste tipo de barco quando acalmou a tem­ pestade que ameaçava tanto a Ele como aos seus discípu­ los (w. 23-27).

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“Por que temeis?” (Mt 8.23-27) Aqueles que já eram seguidores comprometidos de Jesus foram privile­ giados por vê-lo demonstrar seu poder sobre a na­ tureza. Uma tempestade enfurecida surgiu quando o pequeno grupo viajava, por barco, no mar da Galileia, aterrorizando até mesmo os discípulos pesca­ dores de Jesus. A pergunta de Cristo, depois de ter acalmado a tempestade, é uma pergunta que pode­ mos fazer a nós mesmos quando enfrentamos pro­ vações ou perigos hoje em dia. “Por que temeis?” A pergunta parece tola, se considerarmos somente as ondas agitadas e ouvirmos somente o vento agu­ do. Se pararmos para perceber que jamais estamos sozinhos, mas que o próprio Cristo está conosco, a pergunta realmente é prudente. Jesus tem todo o poder, e Ele pode usá-lo para livrar os que são seus. Nada pode nos atingir se Ele não o permitir. Não precisamos passar pela vida “temendo”. “Rogaram-lhe que se retirasse do seu território” (Mt 8.28-34). A libertação de dois endemoninhados re­ alizada por Jesus em uma região gentia trouxe uma reação inesperada. Aparentemente, os demônios que Cristo expulsou entraram em uma manada de porcos, e “toda aquela manada de porcos se preci­ pitou no mar por um despenhadeiro, e morreram nas águas”. A população local ficou terrivelmente contrariada. Dois homens podiam ter sido liber­ tados da possessão demoníaca, mas seus porcos estavam mortos! Onde os seres humanos derem mais valor às posses­ sões do que às pessoas, Jesus não será bem-vindo. Devemos ter certeza de que jamais o expulsemos, preocupando-nos mais com nossos “porcos” do que com nossos irmãos. “O Pilho do Homem tem na terra autoridade para perdoar pecados” (Mt 9.1-7). Cristo tinha demons­ trado a sua autoridade como Rei — sobre a doen­ ça, sobre a natureza, e até mesmo sobre os espíritos malignos. Mas como poderia Cristo demonstrar a sua autoridade sobre o maior antagonista dos ho­ mens, o pecado? A resposta está contida nesta his­ tória e na seguinte. Quando Jesus disse a um paralítico que os seus pe­ cados estavam perdoados, alguns “doutores da Lei [bíblica]” pensaram que Ele estava blasfemando. Afinal, somente Deus pode perdoar pecados. As­ sim, Jesus propôs um teste. Seria fácil para qual­ quer pessoa dizer: “Estás perdoado”. Afinal, não há maneira de provar o perdão de uma forma ou de outra. Mas Jesus podia provar que Ele falava com a autoridade de Deus. Ele podia dizer ao paralítico: “Levanta-te e anda”. Então, todos poderiam ver se o paralítico andaria ou não.

Foi exatamente isso o que Jesus fez, e a Bíblia diz que a multidão que viu isso “maravilhou-se”. E acrescenta: “e glorificou a Deus, que dera tal poder aos homens”. As obras de Jesus provaram que Ele falava com autoridade de Deus. As suas obras, no campo físico, foram prova conclusiva de que a sua promessa de perdão era realmente válida. Deus ainda nos dá provas físicas do perdão interior — uma verdade que descobrimos no chamado de Mateus (w. 9-13). (Veja o DEVOCIONAL.)

“Deita-se vinho novo em odres novos” (Mt 9.1417). Jesus confundiu praticamente todos os que o observavam e o ouviam falar. Nem os seus atos nem os seus ensinamentos pareciam se adequar à religião que eles tão bem conheciam. Até mesmo os discípulos de João Batista ficaram confusos, e lhe fizeram perguntas sobre as suas práticas. Jesus respondeu com dois exemplos da vida normal. Ninguém deita remendo de pano novo em veste velha. Nem se deita vinho novo (não fermentado) em odres velhos. Nos tempos bíblicos, alguns recipientes para líqui­ dos eram feitos de pele animal, escovada e limpa da carne, e costurada nas pernas e outras aberturas. O suco de uva recém-espremido era derramado em uma pele nova, que se esticaria conforme o vinho fermentasse. As peles velhas perdiam a capacidade de esticar, e romperiam se nelas fosse colocado vi­ nho novo. Com essas histórias, Jesus advertia os seus ouvin­ tes para que não tentassem adequá-lo ou aos seus ensinamentos nas categorias em uso no judaísmo do século I. Jesus devia poder definir uma nova maneira de pensar e de viver no Reino que estava prestes a estabelecer. Você e eu também devemos ter cuidado. É fácil forçar os ensinamentos de Jesus a se adequarem ao nosso antigo modo de pensar. Jesus é Senhor, e so­ mente Ele tem o direito de definir o nosso modo de vida. Jamais devemos tentar forçar um ensina­ mento de Jesus a se encaixar em um de nossos pre­ conceitos. Devemos deixar que as palavras de Jesus revelem a sua própria e nova maneira de encarar os desafios da vida. “Minha filha faleceu agora mesmo” (Mt 9.18-26). O Novo Testamento retrata a morte como “o último inimigo” (1 Co 15.26). Quando Jesus foi à casa de um governante e falou à sua filha morta, ele a ressuscitou. Que antecipação da vitória nós sentire­ mos quando Cristo nos ressuscitar dos mortos, nos der corpos ressurrectos e nos der as boas-vindas a uma eternidade com Ele.

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cisão de nos submetermos a Jesus como Senhor? E muito simples. Nós assumimos a incumbência de continuar a sua missão em nós mesmos. Nós nos tomamos os trabalhadores que, motivados pela compaixão pelos perdidos, saem, como fez Jesus, “pregando o evangelho do Reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo”. Os evangélicos têm sido acusados de enfatizar a evangelização e desconsiderar as necessidades físi­ cas e sociais da humanidade. Devemos nos lem­ brar de que Jesus, com sua terna compaixão, estava sempre disposto a curar todas as pessoas, e a sua cura sempre foi completa. Devemos pregar e ensi­ nar, é verdade. Mas devemos modelar o nosso mi­ nistério segundo o de Cristo, e transmitir o amor de Deus como Jesus fez, também alimentando os “A seara é realmente grande, mas poucos são os cei­ famintos, cuidando dos doentes e fazendo justiça feiros” (M t 9.35-38). Como expressamos uma de- aos oprimidos. “Nunca tal se viu em Israel” (M t 9-27-34). A evi­ dência da autoridade do rei Jesus que Mateus apre­ senta é aqui resumida, no relato de muitas outras curas e outras expulsões de demônios. A evidência foi conclusiva: todos os que viram essas curas e es­ sas expulsões de demônios reconheciam que nem mesmo nas eras dos milagres de Moisés e Elias ha­ via sido operado algum milagre comparável. Nem mesmo os fariseus puderam negar os milagres, mas murmuraram: “Ele expulsa os demônios pelo príncipe dos demônios”. Esta era a evidência. E cada pessoa, hoje em dia, também deve decidir por si mesma se irá se sub­ meter alegremente a Jesus como Senhor, ou se irá rejeitá-lo e dar-lhe as costas.

DEVOCIONAL______ Para que Saibais

(Mt 9.1-13) Algumas pessoas zombam do cristianismo como sendo “algo inalcançável”. Outros simplesmente dão de ombros, e dizem que vão esperar e desco­ brir depois de sua morte. Quando Jesus esteve aqui, Ele se certificou de que ninguém tivesse que esperar para ver. Ele disse a um paralítico: “Perdoados te são os teus peca­ dos” (w. 1-8). Quando alguns espectadores se in­ quietaram com essa declaração, Ele lhes ofereceu uma prova: “Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra autoridade para perdoar pecados — disse então ao paralítico: Levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa”. Quando o homem se levantou, e andou, a autoridade de Je­ sus ficou provada. Os homens daquela época sou­ beram que Jesus podia perdoar pecados. Mas e quanto à nossa época? A próxima história é para nós. E a história de um homem chamado Mateus, que estava assentado na alfândega (w. 9-13). No século I, tais homens eram desdenha­ dos como pecadores, e a maioria exigia mais di­ nheiro do que era devido. Jesus veio até Mateus e lhe disse: “Segue-me”. E Mateus se levantou e o seguiu. Mateus, o coletor de impostos. Mateus, cujos amigos eram os párias da sociedade religiosa, tornou-se um seguidor de Jesus. Esta é a prova, e a vemos ao nosso redor, do fato de que, quando Jesus diz “Perdoados te são os teus pecados”, nossos pecados verdadeiramente são per­ doados. O perdão produz uma mudança tão radi-

cal na vida moral do crente como a cura de Jesus produziu nos membros imóveis do paralítico. Um mundo que deseja provas de que Jesus salva pode encontrá-las na vida transformada daqueles que o aceitaram como Salvador. Aplicação Pessoal A sua vida deve ser apresentada ao mundo como uma evidência de que Jesus salva. Citação Importante “Os não cristãos, prim eiramente, devem de­ tectar a realidade de uma experiência cristã genuína em nossa vida. Eles serão atraídos por nossas palavras a respeito de Jesus Cristo, e o que significa conhecê-lo pessoalmente. Depois de uma palestra minha a um grupo, os estu­ dantes costumam se aproximar com perguntas pessoais: ‘Como é que funciona?’ ‘Como posso ter o tipo de vida de que você está falando?’ ‘H á alguma esperança para mim?’ E sempre um privilégio sentar-me com eles e explicar como o perdão, a purificação e o poder podem ser individualmente nossos no Senhor Jesus Cristo, e por Ele.” — Paul Little

20 DE JULHO LEITURA 201 DISCÍPULOS DO REI Mateus 10— 11

“Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas” (M t 10.16).

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Não existe desafio maior do que viver nossa vida Cada um dos Doze, com exceção de Judas, era um como discípulos de Jesus, o Reí-Servo. seguidor de Jesus completamente comprometi­ do. Mas não há dúvida de que alguns eram mais Definição dos Termos-Chave próximos de Cristo do que outros. Devemos não Discípuh. No século I, havia um sistema de apren­ somente ser discípulos de Jesus, mas ser discípulos dizado para treinar líderes espirituais. As pessoas que se concentram em permanecer próximos do sob treinamento ficavam sob a tutela de um rabi­ nosso Senhor. no, e literalmente moravam com ele. O seu objeti­ vo era aprender tudo o que o seu professor sabia, e “De graça recebestes, de graça daí” (M t 10.5-10). A também imitar o seu modo de vida. princípio, o ministério de Cristo era destinado ao Jesus usou esse modelo, então familiar, para treinar povo do concerto com Deus, os judeus. os seus doze discípulos. Mateus 10 registra instru­ Esta primeira missão dos discípulos também era ções especiais que Jesus lhes deu para uma missão destinada a Israel. O que é mais importante aqui, de pregação, e instruções adicionais que dizem res­ no entanto, é a instrução de Cristo, para que não peito ao período após a sua morte e ressurreição. aceitassem dinheiro extra, nem roupas, nem arti­ A palavra “discípulo” é também usada em um gos para viagem. Os discípulos deviam se afastar da sentido mais amplo nos Evangelhos, significando luxúria. Eles deviam confiar que Deus satisfaria as “crente” ou “seguidor”. Porém é usada no sentido suas necessidades por intermédio da hospitalidade mais restrito e teórico de “líder em treinamento” dos outros. Eies deviam dar de graça aquilo que sempre que aplicada aos Doze. eles mesmos tinham recebido de graça. Se cada cristão no ministério hoje em dia adotasse Visão Geral as atitudes aqui ordenadas — um desprezo pelas Jesus deu uma comissão aos Doze (10.1-4). Ele os possessões materiais, equiparado por uma corajosa instruiu em uma missão de pregação imediata (w. confiança em Deus, somente — muitos que expu­ 5-16) e falou de desafios futuros (w. 17-31). Jesus seram o evangelho ao ridículo hoje estariam servin­ explicou o que esperava de seus discípulos (w. 32- do para a glória de Deus. 39) e a recompensa dos discípulos (w. 40-42). Um João Batista humilhado foi encorajado (11.1- “Procurai saber quem nela seja digno” (M t 10.16) e elogiado (w. 7-19) por Jesus, que condenou 15). Nos tempos do Novo Testamento, os viajan­ as cidades que se recusaram a se arrepender, ape­ tes dificilmente se alojavam em hospedarias. Em sar dos seus milagres (w. 20-24). No entanto, os vez disso, eles ficavam com alguma família que os cansados que vierem a Jesus encontrarão descanso convidasse. A hospitalidade era considerada uma (vv. 25-30). grande virtude entre os judeus, e poucos viajantes tinham que passar a noite ao relento, a menos que Entendendo o Texto desejassem fazê-lo. “E', chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder” Mas Jesus encorajou os seus discípulos a encontrar (M t 10.1-4). Podemos ficar impressionados com o alguma pessoa “digna” com quem se hospedar. O poder que Jesus deu aos seus discípulos. Expulsar texto define uma pessoa digna; é alguém que “vos espíritos malignos e curar os enfermos parece mui­ recebe” e que “escuta as vossas palavras” (v. 14). to impressionante. Mas observe que Jesus deu esse As duas qualidades são importantes. Os discípulos poder somente aos Doze aos quais Ele tinha esco­ vinham como emissários de Jesus, e não como via­ lhido e treinado. jantes comuns. Os “dignos” também são identifica­ Você e eu, às vezes, podemos desejar que tivésse­ dos pela sua resposta ao Mestre, não ao discípulo, e mos poderes espirituais. Mas devemos nos lembrar pela sua disposição em ouvir as suas palavras. de que a única maneira de receber tais poderes é manter o nosso aprendizado com Jesus, como fize­ “Sede prudentes como as serpentes e símplices como as ram os Doze. Devemos ficar próximos de Jesus, e pombas” (M t 10.16). Os discípulos de Jesus eram aprender com Ele, antes que qualquer autoridade como ovelhas, rodeadas por uma alcateia de lobos. espiritual nos possa ser confiada. Eles não tinham defesas óbvias contra a hostilidade Esta é uma das quatro listas dos Doze encontradas do mundo, de modo que tinham que ser “pruden­ no Novo Testamento (cf. Mc 3.16-19; Lc 6.13- tes” e “símplices” ao mesmo tempo. No Oriente 16; At 1.13). Simão Pedro é o primeiro de cada Médio, as serpentes eram consideradas animais lista, e André, Tiago e João sempre completam os prudentes, que evitavam o perigo. Oseias 7.11 re­ quatro primeiros. Em todas as listas, Judas Isca- trata as pombas como “facilmente enganáveis e sem riotes é o último. entendimento”. Mas a pomba também era uma ave

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sas. Normalmente, uma pessoa sem esse tipo de especialista poderia esperar que o veredicto fosse contrário a ela! Mas Jesus disse aos seus que não se preocupassem quando fossem aprisionados, pois o Espírito de Deus lhes mostraria o que dizer quando chegasse o momento de falar no tribunal. Que promessa! Quem fala por nós quando so­ mos perseguidos ou acusados injustamente? O próprio Deus é nosso Advogado. Nós jamais pre­ cisamos temer tendo o Espírito Santo cuidando da nossa defesa!

A maioria das pessoas do século I viajava a pé. Com base em Mateus 10 e outras fontes, assim como nas descober­ tas de arqueólogos, podemos entender qual deve ter sido o aspecto dos discípulos quando partiram em duplas na sua missão de pregar e curar.

“Não temais” (M t 10.24-31). Jesus tinha advertido os seus discípulos, de forma solene, de que eles pre­ cisariam enfrentar o perigo e a hostilidade (w. 1723). Agora, Ele lhes dizia que não deveriam temer. Alguns temores — como aquelas coisas que fazem ruído à noite — são imaginárias. Mas às vezes os discípulos enfrentam perigos muito reais e inimigos verdadeiramente hostis. Nesta passagem, Jesus não estava falando sobre um medo neurótico, mas so­ bre o medo gerado por perigos muito reais. Como os discípulos lidam com o medo de perigos reais? Em primeiro lugar, devemos nos lembrar de que os homens da época de Jesus foram hostis a Ele. Por que nós, que seguimos a Jesus, deveríamos esperar uma situação melhor do que a do nosso Senhor? Em segundo lugar, devemos nos lembrar de que, um dia, tudo o que essas pessoas nos fazem virá à luz — e elas enfrentarão o julgamento. Em terceiro lugar, devemos nos lembrar de que mesmo se os inimigos de Cristo matarem o nosso corpo, o nosso ser essencial não perecerá, e entraremos no campo da vida eterna. Finalmente, devemos nos lembrar de que nada acontece conosco “sem a vontade do nosso Pai”. A confiança no amor de Deus Pai nos sustenta. Se você é uma pessoa ansiosa, medite, du­ rante algum tempo, sobre esses versículos. Permita que a perspectiva de Jesus modifique a sua maneira de olhar a vida e lhe traga paz.

inofensiva e inocente, ao passo que a serpente era considerada perigosa e repulsiva. De alguma ma­ neira, o crente deve andar em uma linha muito fina, realizando a missão de Deus para o mundo. Os discípulos de Jesus deviam ser prudentes, sem serem perigosos, e inocentes, sem serem tolos. “Qualquer que me confessar diante dos homens” (Mt Como necessitamos da ajuda de Cristo para lidar 10.32-42). Quais são as características dos discí­ prudentemente com os desafios da nossa vida pulos de Jesus e suas recompensas? Nós podemos cristã! listar as seguintes. Um discípulo de Jesus o confessa diante dos ho­ “Sereis até conduzidos à presença dos governadores e mens (v. 32). Um discípulo de Jesus coloca a leal­ dos reis, por causa de mim” (M t 10.17-23). Nesses dade para com Cristo acima dos laços familiares versículos, o foco da instrução de Cristo parece (w. 34,35). Um discípulo de Jesus toma a sua passar da missão local e imediata para a missão pós- cruz e segue a Jesus, uma expressão que significa ressurreição para o mundo inteiro. Jesus advertiu sujeitar a sua vontade a Deus, assim como Jesus sobre a hostilidade e o sofrimento futuros, mas fez decidiu submeter-se à cruz (v. 38). Um discípulo uma promessa muito especial. de Jesus abandona tudo, por causa do seu Senhor No século I, as pessoas acusadas em tribunal de­ (v. 37). (veja Mateus 16, sobre “Tomar a cruz” e pendiam de advogados, para a defesa de suas cau­ “perder-se”).

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Até aqui, parece que a vida do discípulo é somente “abandonar” e não “ganhar”. Mas existem recom­ pensas! No mundo do Novo Testamento, o repre­ sentante de uma pessoa era tratado como a própria pessoa. Quando os discípulos de Jesus servem, al­ guns lhes darão as boas-vindas, como emissários de Cristo. Aqueles que o fizerem, receberão recompen­ sas no mundo que há de vir — e o seguidor de Jesus terá a alegria de saber que por seu intermédio outras pessoas foram abençoadas. O apóstolo Paulo assim explica, na sua epístola aos tessalonicenses: “Qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória? Porventura, não o sois vós também diante de nosso Senhor Jesus Cristo em sua vinda? Na verdade, vós sois a nossa glória e gozo” (1 Ts 2.19,20). Você e eu, com Paulo, temos a mesma alegria que Jesus teve no discipulado ao cumprir a sua missão. Jesus teve a alegria de saber que, por causa da sua fidelidade, muitos seriam salvos. Quando as outras pessoas responderem positivamente ao nosso teste­ munho a favor de Cristo, nós, que compartilhamos os sofrimentos de Cristo no discipulado, também sentiremos essa alegria. "Es tu aquele que havia de vir?” (M t 11.2-6) João Batista estava preso há mais de um ano na fortaleza de Macaero, a leste do mar Morto. Ali, ele come­ çou a duvidar. João tinha anunciado um Messias que iria abençoar, mas também julgar (3.11,12). Jesus verdadeiramente abençoava o povo com suas curas e seus ensinamentos. Mas onde estava o juízo dos homens maus, como Herodes, que tinha apri­ sionado João? Jesus respondeu com uma citação de Isaías 35.5,6; 61.1, com possível referência a 26.19 e 29.18,19. Cada uma dessas passagens fala de bênçãos — e ju­ ízo! Basicamente, Jesus estava dizendo a João: “Eu estou abençoando agora. No tempo apropriado de Deus, também irei julgar”. Queremos nos lembrar da escolha cuidadosa de Cristo das seções de bênçãos desses versículos. Também enfatizamos adequadamente a graça e o amor de Deus. Afinal, hoje é o dia da bênção! Va­ mos transmitir as Boas-Novas enquanto pudermos. O dia do juízo virá antes que nos demos conta.

profetas do Antigo Testamento. Por quê? Porque, entre todos os profetas, João foi o que mais cla­ ramente apontou para o Messias. Muitos profetas falaram dos tempos de Jesus. Mas João foi privi­ legiado, não somente por anunciar que o Messias era chegado, mas também por apontar diretamente para Jesus e dizer: “Eu vi e tenho testificado que este é o Filho de Deus” (Jo 1.34). O que Jesus quis dizer quando afirmou que “aquele que é o menor no Reino dos céus é maior do que ele [João]”? Simplesmente que, agora, olhando de volta para a cruz de Jesus, o mais simples dos crentes pode apontar com mais clareza para o Messias, e expressar de modo mais pleno o significado da sua vida, morte e ressurreição pela humanidade perdida. Que pensamento assombroso. Quando você ou eu conduzimos alguém a Jesus Cristo como Senhor e Salvador, nós realizamos um ministério maior do que o de qualquer profeta de antigamente. “A i de ti, Corazim!”(M t 11.16-24). João e Jesus pre­ garam o evangelho de Deus e apresentaram a Israel o seu Rei. Mas o povo, como crianças entediadas por brincar com jogos de crianças (w. 16,17), não se satisfez com nada disso. Assim sendo, Jesus pronunciou: “Ai”, uma expres­ são que transmite dor e acusação, contra as cida­ des onde Ele havia realizado tantos milagres. Até a cidade pagã mais ímpia teria respondido se tais milagres tivessem sido realizados nela. Mas o povo de Deus se recusava a crer. Devemos ter cuidado para não perder a nossa sen­ sibilidade à voz de Jesus. É muito fácil deixar que aquilo que aprendemos feche nossas mentes a no­ vas interpretações das Escrituras, ou à orientação do Espírito de Deus.

“Vinde a mim, todos os que estais cansados" (Mt 11.25-30). Deus revela o seu Filho aos pequeninos, mas o esconde dos “sábios e instruídos”. Cristo não está ensinando predestinação, mas juízo. As crianci­ nhas respondem confiantemente à palavra de Jesus. Os “sábios e instruídos” recuam, avaliam e confiam no seu próprio julgamento. Da mesma maneira, a pessoa que está cansada e oprimida está pronta a responder a Cristo, ao passo que o indivíduo que “Não apareceu alguém maior do que João Batista” arrogantemente corre com suas próprias forças não (M t 11.7-14). Jesus elogiou João como o maior dos vê necessidade do Senhor.

DE V OCIONAL_______ O Custo do Discipulado

(Mt 10.16-31; 11.28,29) Aqui, outra vez? Uma descrição de um emprego que ninguém quer ter.

Quero dizer, quem quer trabalhar como uma ovelha entre lobos? (10.16) Quem quer ser entregue a conselhos locais para ser açoitado? (v. 18) Quem quer ter conflito familiar? (v. 21) Quem quer ser

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odiado? (v. 22) Quem quer ser perseguido? (v. 23) E fácil dizer coisas como “tudo isso aconteceu antes com Cristo” (w. 24,25). E, ora, eles podem matar somente o seu corpo, não é verdade? (v. 28). Mas não importa como você o dilua, esse negócio de ser um discípulo não parece nem um pouco atraente. Tente colocar esse tipo de anúncio no jornal, e veja quantos candidatos você consegue. Mas, então, no final de Mateus 11, Jesus acrescen­ tou algo que faz tudo valer a pena. Ele convida: “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim” (11.29). O jugo, que ficava sobre os ombros dos bois amarrados a um arado, era usado para distri­ buir o peso do trabalho. Os bois puxavam juntos e nenhum deles era sobrecarregado. Estar preso a Jesus não significa tanto que nós va­ mos assumir as suas cargas, mas que Ele, puxan­ do ao nosso lado, assume as nossas. Sim, é difícil ser um discípulo. Ê uma vida de desafios e disci­ plina. Mas o discípulo, pelo próprio fato do seu comprometimento, está preso a Jesus. E nesse re­ lacionamento, com Jesus assumindo a maior parte da carga, não encontramos novas cargas, mas um surpreendente descanso interior. Apesar de todas as aparências, o discípulo de Jesus conhece a verdade. O jugo de Jesus “é suave”, e o seu fardo “é leve”.

as Escrituras. Ao longo dos anos, muitas regras so­ bre a observância do sábado foram propostas pelos rabinos. Essas regras pretendiam ajudar o judeu observante a não infringir o sábado inadvertida­ mente. Mas estas regras, que os fariseus defendiam como sendo lei oral fornecida por Moisés sobre o monte Sinai, e, portanto, tão obrigatórias como a lei escrita, eram, na verdade, apenas noções dos homens. Embora Jesus fosse acusado de infringir o sábado, na verdade Ele somente violou regras hu­ manas que não eram obrigatórias. E fácil demais elevar as nossas aplicações ou interpretações das Escrituras ao status das próprias Escrituras. Essa é uma tendência contra a qual cada indivíduo, cada congregação e cada denominação deve se proteger cuidadosamente. Visão Geral A declaração de Jesus de ser o Senhor do sábado (12.1-14) e o servo predito por Isaías (w. 15-21) provocou um conflito direto com os fariseus (w. 22-37). Cristo rejeitou a sua exigência de um si­ nal milagroso (w. 36-45), mas anunciou parentes­ co com aqueles que fazem a vontade de Deus (w. 46-50). Em uma série de parábolas, contadas para confundir as multidões (13.1-35) e em outra série contada a seus discípulos (w. 36-52), Jesus expli­ cou os aspectos inesperados do seu reino.

Aplicação Pessoal Até mesmo a carga mais leve que tentarmos carre­ Entendendo o Texto “Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito gar sozinhos será esmagadora. fazer num sábado” (Mt 12.1-13). Dois incidentes ocorridos num dia de sábado levaram ao conflito Citação Importante “Li, nas obras de Platão e Cícero, palavras sábias e declarado com os fariseus. O primeiro foi provoca­ muito bonitas; mas eu jamais li, em nenhum dos do pelos discípulos de Jesus, que colheram e come­ textos deles, ‘Vinde a mim, todos os que estais can­ ram espigas no sábado. No século I, os grãos eram plantados à margem de caminhos e trilhas. De sados e oprimidos’.” — Agostinho acordo com a lei do Antigo Testamento, o viajan­ te poderia quebrar uma espiga e comer, enquanto 21 DE JULHO LEITURA 202 caminhava. Os fariseus objetaram, porque classi­ OPOSIÇÃO AO REI ficavam isso como “colheita”, um dos 39 tipos de Mateus 12— 13 trabalho que os filósofos proibiam no sábado. “Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém Cristo respondeu na forma familiar de um argu­ não se lhe dará outro sinal, senão o do profeta Jonas” mento rabínico. As Escrituras dizem que nenhum leigo deve comer o pão sagrado do Templo. Mas (M t 12.39). Davi comeu, e não foi condenado. Se alguém qui­ Como ficava cada vez mais claro que era necessário ser argumentar que Davi era especial, tudo bem: escolher a favor ou contra Jesus, a oposição a Ele e ao Jesus é mais especial. Novamente, a lei diz que não seu Reino endurecia. Hoje também, alguns rejeitam se deve trabalhar no sábado. Mas os sacerdotes tra­ a Cristo, não porque sabem muito pouco sobre Ele, balhavam, então, oferecendo sacrifícios. Se alguém mas porque não gostam do pouco que sabem! quiser argumentar que o serviço do Templo é espe­ cial, tudo bem: Jesus é mais especial. Definição dos Termos-Chave O argumento consegue o seu duplo objetivo. O Sábado. O sábado era consagrado no judaísmo. rígido legalismo dos fariseus não era suportado Não se podia trabalhar, mas adorar, orar e estudar pelo Antigo Testamento. A lei escrita mostrava que

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Mateus 12— 13

Deus estava mais preocupado com a misericórdia do que com sacrifício (isto é, mais com relaciona­ mentos do que com regras e rituais). E, na pessoa de Jesus, o Deus que deu o sábado isentou os discí­ pulos: eles eram inocentes dos crimes de que eram acusados (w. 7,8). Pouco tempo depois, Jesus entrou em uma sina­ goga onde havia um homem com uma das mãos mirrada. Procurando algum crime do qual acusar Jesus, os fariseus perguntaram se era lícito curar (novamente “trabalhar”) no sábado. A resposta de Jesus foi desdenhosa. Eles mesmos resgatariam, num sábado, um animal que tivesse caído em uma cova. E claro que é lícito fazer o bem no sábado. E então Jesus curou a mão do homem. Que revelação do coração de Jesus — e do coração dos fariseus. Esses homens, que estavam tão preo­ cupados com as suas regras, não se preocuparam nem um pouco com o sofrimento do homem alei­ jado. Eles somente queriam usar a sua deficiência para atacar Jesus. Em contraste, Jesus se preocupou com o homem, e voluntariamente enfrentou as crí­ ticas para ajudá-lo. Você e eu estaremos muito mais próximos de Jesus quando considerarmos quando podemos satisfazer as necessidades dos outros do que quando tentar­ mos forçar os outros a viverem segundo as nossas convicções. “Os fariseus, tendo saído, formaram conselho contra ele, para o matarem" (M t 12.14). As palavras e os atos de Jesus revelavam os frios corações dos fari­ seus, e o vazio de uma abordagem à religião à qual tinham dedicado as suas vidas inteiras. Depois de revelados, somente há dois cursos de ação. A pessoa pode se humilhar, confessar e se arrepender. Ou, com fria ira, pode atacar a pessoa que ameaça a sua própria identidade. Os fariseus decidiram atacar, e decidiram matar Jesus. Não devemos nos surpreender quando algumas pessoas se enfurecem com a mensagem do evange­ lho. Como os fariseus, hoje em dia muitas pessoas edificam suas vidas sobre uma fundação defeituosa, à qual se apegam. “Jesus... retirou-se dali" (Mt 12.15-21). Jesus res­ pondeu à hostilidade dos fariseus, simplesmente deixando o lugar. Mateus explicou, citando uma passagem de um dos “cânticos do servo” de Isaías.

O Messias “não contenderá, nem clamará”. Ele será táo gentil que nem sequer esmagará a cana quebra­ da e não apagará o morrão que fumega. Você e eu raramente conquistaremos aqueles que são profundamente antagônicos. E muito melhor deixá-los, como fez Jesus, e continuar curando os enfermos. A discussão jamais é tão eficiente como o serviço afetuoso. Nós conquis­ tamos mais demonstrando compaixão por aque­ les que estão em necessidade do que debatendo com aqueles que desejam discutir. “Não é este o Filho de Davi?” (M t 12.22-29). O texto grego sugere que a pergunta deveria ser “este não pode ser o Filho de Davi, pode?” H a­ via dúvidas. Mas havia a crescente consciência de que Jesus poderia ser o Messias profetizado. Os fariseus provavelmente ficaram perturbados quando souberam que as multidões estavam fa­ zendo essa pergunta. Os zelosos fariseus eram respeitados por todos e considerados como os exemplos primordiais de homens devotos e es­ pirituais. Se Jesus fosse aceito como o Messias, este Homem que exibia o vazio espiritual do caminho que eles tinham escolhido, certamente lhes roubaria todo o respeito. Desesperados, os eles deram início a uma campanha de difamação. Não podiam argumentar que Jesus não tivesse realizado milagres. Mas podiam semear a dúvi­ da, sugerindo que Ele estava aliado ao Diabo. Quando as pessoas não podem fazer nada além de prejudicar os crentes, podem mentir a nosso respeito. O importante é que nossa vida seja tão pura que todos vejam que as mentiras são tão ridículas quanto a acusação feita contra Jesus. “A blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens” (M t 12.30-32). Qual é o pecado im­ perdoável? E uma negação daquilo que se sabe que Deus está fazendo, tendo em vista que es­ tava claro que Cristo realizava os seus milagres pelo Espírito de Deus. O pecado é imperdoável porque a pessoa que o comete está tão endure­ cida que voluntariamente rejeita o que sabe ser verdade. Se você já se preocupou, pensando que pode ter cometido este pecado, decanse. O próprio fato de você estar preocupado mostra que o seu coração não está endurecido, como o coração dos fariseus.

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Mateus 12— 13

1.

A Parábola Semeador 13.3-9,18-23

2.

Trigo/Joio 13.2430,37-43

3.

Grão de mostarda 13.31,32

Parábolas do Reino Característica Inesperada Forma Esperada Os indivíduos reagem de modo diferente ao O Messias traz Israel e todas as nações para si. convite da Palavra. Os cidadãos justos do Os cidadãos do reino estão entre os homens Reino governam o mundo do mundo, crescendo juntos, até o tempo da com o Rei. colheita de Deus. O reino começa em majes­ O reino se inicia na insignificância; a sua gran­ tosa glória. deza vem como uma surpresa.

4.

Fermento 13.33

Somente a justiça entra no reino; outra ‘matéria prima’ é excluída.

5.

Tesouro escondido 13.44 Pérola de grande valor 13.45,46 Rede de pesca 13.47-50

O reino é público e para O reino é oculto e para ‘compra’ individual. todos.

6. 7.

O reino é implantado em uma ‘m atéria prima’ diferente e cresce para encher toda a personali­ dade com justiça.

O reino exige que todos os outros valores sejam abandonados (cf. 6.33).

O reino traz todas as coi­ sas valiosas aos homens. O reino começa com a separação inicial entre justos e injustos.

“Acha-a desocupada” (M t 12.43-45). A transfor­ mação individual é possível. Benjamim Franklin desenvolveu uma lista de características desejáveis, e trabalhou arduamente para desenvolvê-las. Mas mesmo que os nossos maus hábitos sejam venci­ dos, a nossa vida será vazia, a menos que convi­ demos Cristo a entrar, para nos capacitar a viver de modo piedoso. Os fariseus eram excelentes na eliminação. Mas o fato de terem deixado de rece­ ber Jesus os deixou vulneráveis a demônios muito piores do que aqueles aos quais trabalhavam tão ar­ duamente para eliminar. Devemos ser cuidadosos para abrir nossas vidas a Jesus, e permitir que o seu amor nos encha com a compaixão, a misericórdia e o amor que faltavam a esses mesmos religiosos oponentes de Jesus. “E falou-lhe de muitas coisas por parábolas” (Mt 13.1-35). Uma parábola é uma história com uma mensagem, e cada elemento na história está rela­ cionado com essa mensagem. As parábolas desse capítulo dizem respeito ao Reino de Deus, mas não são óbvias. Na verdade, Jesus disse que falava em parábolas para que aqueles que criam pudessem compreender — e aqueles que não criam não com­ preenderiam (w. 11-15). Que exemplo da graça de Deus. Aqueles que mos­ travam que não iriam ouvir ao Rei foram poupados

O reino termina com a separação final dos justos e dos injustos. da revelação de verdades adicionais, pelas quais te­ riam sido considerados responsáveis. Aqueles que estavam dispostos a responder receberam a verdade de uma forma que somente eles poderiam enten­ der. Essa seção do evangelho é concluída com o retor­ no de Cristo a Nazaré, sua terra natal. Agora Ele era famoso, conhecido por toda a Galileia e Judeia por seus milagres e ensinamentos. Os conterrâneos desenrolaram o carpete vermelho, a fim de dar as boas-vindas ao herói que voltava? Não. Em vez disso, eles se ressentiram com a sua fama. Ele não era o filho do carpinteiro? Os seus ir­ mãos não eram pessoas comuns? Como Jesus teria se destacado, conquistado tanta importância? Com frequência, as pessoas mais difíceis às quais temos que atender são aquelas que nos conhecem bem. Outras pessoas ficam impressionadas. A nos­ sa família e nossos vizinhos parecem ressentidos. Se isso aconteceu com você, tente não ficar aborreci­ do. Aconteceu antes com Jesus. Naturalmente, também há o resto da história. En­ tre estes conterrâneos que rejeitaram Jesus estavam seus próprios irmãos (cf. Jo 7.3-5). Mas, em Atos 1.14, em uma lista daqueles que estavam reuni­ dos no cenáculo, depois da ressurreição de Cristo, orando e esperando pela vinda do Espírito, nós ve­ mos “Maria, mãe de Jesus, e seus irmãos”.

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Mateus 14— 15

Sim, é doloroso ser mal interpretado e rejeita­ do em casa. Mas, no final, toda a família res­ pondeu. Todos vieram a conhecer Jesus como Salvador e como Senhor. Que encorajamento,

DEVOCION AL______ Palavras Ociosas

(Mt 12.1-37) Os fariseus simplesmente não perceberam o que estavam dizendo, até que fosse tarde demais. Eles imaginaram que tinham praticamente condenado Jesus quando criticaram os seus discípulos por co­ lherem espigas no sábado. E depois, esfregaram as mãos de contentamento quando pensaram enganálo, levando-o a curar um aleijado no sábado. Então, Oops! Perceberam que tudo o que tinham feito era expor o seu próprio fracasso em compre­ ender a Palavra de Deus e os seus próprios corações frios. Tinham acusado os inocentes (os discípulos), e usado os desamparados (o homem com a mão mirrada). Não tinham pensado quando falavam. Este é o significado das “palavras ociosas” de que Jesus fala, no versículo 36. Não foram as acusações infames e odiosas que os fariseus levantaram contra Cristo que os expuseram (w. 22-32). Na verdade, o coração de cada pessoa pode ser lido nos seus atos e palavras. Aquelas coisas que dize­ mos sem pensar, como os desafios dos fariseus a Je­ sus, revelam o coração. No caso dos fariseus, as suas palavras, tão rapidamente pronunciadas, revelaram corações frios e insensíveis, totalmente despreo­ cupados com a culpa ou a inocência daqueles aos quais acusavam, ou com o sofrimento que usaram para armar uma cilada a Jesus. O que as pessoas dizem, ao sair da igreja, ou em público, não revela seus corações. São as palavras que saem despercebidas quando falam casualmente com a sua família, com os colaboradores ou com amigos. E bom, de vez em quando, examinar as nossas pró­ prias palavras ociosas. Se o fizermos, seremos capa­ zes de exibir a qualidade do nosso relacionamento pessoal com Cristo.

para você e para mim! Nós podemos ser mal in­ terpretados, e até mesmo desprezados, em casa. Mas um testem unho fiel e amoroso produzirá frutos. amoroso a Ele, e eu farei o melhor que puder, em tudo, por causa dEle.” — J. L. Packer 22 D E JU LH O LEITURA 203 MAIS MINISTÉRIO Mateus 14— 15 “E veio ter com ele muito povo, que trazia coxos, ce­ gos, mudos, aleijados e outros muitos; e ospuseram aos pés de Jesus, e ele os sarou” (Mt 15.30). Nas suas curas, e quando alimentou os 5 mil, e de­ pois os 4 mil homens, Jesus satisfazia as necessida­ des físicas do seu povo. Mas eles permitiriam que Ele satisfizesse as suas necessidades espirituais? Biografia: Herodes O Herodes aqui mencionado não é Herodes, o Grande, que morreu pouco tempo depois do nas­ cimento de Cristo. Este é Herodes Antipas, seu filho, que era somente tetrarca da Galileia, embo­ ra, pela cortesia, recebesse o título de “rei”. Este Herodes tinha desposado a ex-esposa de seu meio irmão, que também era sua prima, e foi acusado de incesto por João Batista. Herodes aprisionou João Batista, mas depois vacilou. Ele queria ma­ tar João, contudo se preocupava com a reação do povo, sentindo, ele mesmo, reverência pelo austero profeta. Herodes e sua esposa Herodias nos lembram de Acabe e Jezabel. Ele, ímpio, mas fraco. Sua esposa, ímpia e brutalmente dura. No final, ela conseguiu que João, a quem ela odiava, fosse morto. Posteriormente, a consciência culpa­ da de Herodes, combinada com a superstição, o convenceram de que aquEle realizador de mila­ gres, Jesus, era João Batista, que havia retornado dos mortos.

Aplicação Pessoal Visão Geral As palavras ociosas podem revelar um coração Os eventos se sucedem rapidamente. João Batista amoroso, e também um coração insensível. foi decapitado (14.1-11). Jesus, milagrosamente, alimentou cinco mil homens (w. 12-21), e andou Citação Importante sobre as águas (w. 22-36). Mas a hostilidade oficial “O que significará, na prática, para mim, colocar crescia. Jesus condenou abertamente uma delega­ Deus em primeiro lugar? Pelo menos, isto: as 101 ção de Jerusalém (15.1-20). Em contraste com a coisas que eu tenho que fazer, todos os dias, e as dúvida na sua terra natal, uma mulher cananeia 101 exigências que eu sei que devo tentar satisfazer, creu (w. 21-29). De volta à Galileia, Jesus alimen­ todas serão encaradas como aventuras do serviço tou outra grande multidão (w. 29-39).

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Mateus 14— 15

Entendendo o Texto “Por causa do juramento e dos que estavam à mesa com ele” (M t 14.1-12). Herodes tinha razões políti­ cas, além de pessoais, para desejar a morte de João. Mas ele conteve seu impulso de realizar este projeto — até que, embriagado, fez uma promessa, diante de convidados para um banquete. Esta situação nos lembra de uma luta interior que todos nós sentimos, às vezes. Queremos fazer algu­ ma coisa que sabemos que é errada, mas nos con­ temos. Até que alguma coisa nos leva a ultrapassar o limite. O que levou Herodes a agir contra o seu bom senso? Uma tola observação. E o medo daqui­ lo que os outros poderiam pensar. Herodes não estava pensando com clareza, quan­ do cedeu ao que, claramente, era pressão de ou­ tras pessoas. Ele tinha outras opções. Poderia ter reprovado sua enteada. Poderia ter anunciado que a vida de um dos profetas de Deus não lhe perten­ cia. Mas, sob a pressão do momento, fez aquilo que sabia ser errado. Este é o perigo da pressão dos outros. A nossa pre­ ocupação com o que os outros poderão pensar ou dizer obscurece tanto o nosso pensamento que não conseguimos encontrar outras opções. Nós cede­ mos, e fazemos o que sabemos que é errado. A história de Herodes e João Batista nos lembra de que há sempre uma opção em aberto, quando ou­ tras pessoas nos pressionam a fazer o que sentimos que é errado. Podemos dizer não, e decidir agir de acordo com nossas convicções. Somente se fizer­ mos esta escolha, poderemos evitar o sentimento de culpa — e o juízo — que Herodes posterior­ mente enfrentou. “Jesus, ouvindo isso... retirou-se dali num barco, para um lugar deserto, apartado” (M t 14.13). O texto nos diz que, depois que João Batista foi decapitado, os seus seguidores vieram e contaram a Jesus. Foi então que Jesus foi para um lugar “apartado”. Não sabe­ mos o motivo disso. Mas, normalmente, quando os Evangelhos registram que Jesus foi a um lugar “apar­ tado”, era para orar e conversar com o Pai. Que consolo, conversar com Deus, quando a tra­ gédia se abate sobre nós. Se Jesus precisou se retirar e passar algum tempo com o seu Pai naquele mo­ mento, certamente precisamos de um isolamento, quando sofremos. “Jesus, saindo, viu uma grande multidão e, possuído de íntima compaixão para com ela, curou os seus en­ fermos”(Mt 14.14). Jesus tentou ficar sozinho, para satisfazer a sua própria necessidade. Mas as multi­ dões o seguiram, e já haviam chegado, quando Ele desembarcou! Desta vez, como em muitas outras

ocasiões, Jesus deixou de lado as suas próprias ne­ cessidades, porque “teve compaixão” da multidão. A palavra “compaixão” é significativa. Ela indica não somente um profundo interesse emocional pelos outros, mas também um esforço para satisfazer as necessidades dos outros. Quando o sofrimento dos outros nos força a deixar de lado nossos próprios interesses para satisfazer as suas necessidades, não devemos nos sentir obrigados. Podemos nos alegrar. Estamos seguindo os passos do nosso Senhor. “Dai-lhes vós de comer" (M t 14.15-21). Os discípu­ los exibiram uma preocupação similar à de Jesus, quando o encorajaram a enviar a multidão para comprar comida. Mas havia uma grande diferença, ressaltada pela sugestão de Jesus de que os discí­ pulos dessem de comer à multidão. Os discípulos sentiam pela multidão, mas não podiam satisfazer as suas necessidades! Você e eu frequentemente nos encontramos na mesma situação. Sentimos profundamente pelos outros que sofrem em relacionamentos destrutivos, que lutam financeiramente, que estão subjugados por enfermidades, ou que estão vivendo as conse­ quências de suas próprias escolhas imprudentes. No entanto, repetidas vezes entendemos que, na realidade, não há nada, ou muito pouco, que pos­ samos fazer. Sem dúvida, foi isso o que sentiram os discípulos, quando objetaram: “Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes” (v. 17). O que aconteceu a seguir é um grande incentivo para nós. Jesus tomou o pouco que seus discípulos tinham, e milagrosamente o multiplicou. Aqueles cinco pães, do tamanho de biscoitos, e os dois pei­ xes, alimentaram cinco mil homens. Somando as mulheres e as crianças, talvez vinte mil pessoas! Jesus ainda realiza milagres. Se nós tivermos a com­ paixão e a vontade de oferecer aos outros o que temos, Jesus poderá, milagrosamente, multiplicar o pouco que temos para satisfazer as necessidades de muitos. “Homem de pequena fé, por que duvidaste?” (M t 14.22-35). Essa é, sem dúvida, uma das mais co­ nhecidas histórias dos Evangelhos. Os discípulos viram Jesus caminhando sobre as águas de um mar tempestuoso. Pedro clamou: “Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo por cima das águas”. Pedro saltou do barco, e caminhou sobre as águas, em direção a Jesus. Então ele tirou os olhos do Se­ nhor e olhou para o mar assustador — e começou a afundar. Esta história é a base de centenas de sermões, a maioria deles nos lembrando de conservar nossos olhos em Jesus, e não nas nossas circunstâncias.

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Mateus 14— 15

Mas é importante observar outra coisa. Aqui, Pe­ dro é um exemplo de fé e também de descrença. Somente ele confiava em Jesus o suficiente para saltar do barco e se arriscar nas ondas. Se, depois, ele se acovardou diante das assustadoras ondas, foi somente porque tinha fé suficiente para atrever-se. A fé não é uma coisa estática nas nossas vidas. Ela é constantemente posta à prova pelas nossas circuns­ tâncias, à medida que passamos pela vida. Não de­ veríamos ficar surpresos se aqueles que têm grande fé algumas vezes vacilam. E não deveríamos ser du­ ros demais conosco, se, às vezes, o medo nos deixar afundando e cheios de dúvidas. Quando ocorrem momentos como este, precisamos nos lembrar das palavras de Jesus a Pedro: “Por que duvidaste?” Es­ sas palavras não são uma censura, mas um lembrete. Quando, como Pedro, recuarmos, por um momen­ to, à “pequena fé”, tudo o que precisamos fazer é per­ guntar “Por que duvidar?” Jesus está aqui, conosco, como estava ali no mar com Pedro. As ondas podem destruir tudo ao nosso redor. Mas caminharemos so­ bre elas, e não afundaremos nelas, se conservarmos nossos olhos fixos no nosso Senhor. “Uns escribas e fariseus de Jerusalém” (M t 15-1-9). A observação “de Jerusalém” sugere que esta pode ter sido uma delegação oficial de membros do Si­ nédrio, o conselho judaico, que vinha para inter­ rogar Cristo. Eles desafiaram Cristo diretamente, acusando-o de não ensinar os seus discípulos a “la­ var as mãos” antes de comer. Esse ato não visava a higiene, mas era uma questão de “pureza” ritual. Por volta do século I, muitas regras detalhadas so­ bre o lavar-se antes de comer já tinham sido desen­ volvidas. Todo um tratado do Mishná, o código de costumes judaicos, organizados pelo rabino Judá, o príncipe, na segunda metade do século II, discute “mãos”, explicando como devem ser posicionadas quando estão sendo lavadas, a quantidade de água que deve ser usada, etc., para que um judeu estives­ se ritualmente “limpo” para comer. Cristo atacou severamente a delegação, não somen­ te quanto a esse assunto, mas quanto à abordagem à religião bíblica que eles representavam. Ele apon­ tou para uma área onde esta meticulosidade dos ra­ binos servia para evitar um mandamento claro do Antigo Testamento, dado por Deus, e disse: “Assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus” (v. 6). Jesus condenou como hipócritas estes homens que tinham vindo julgá-lo: Eles seguiam um padrão que Isaías tinha condenado, há muito tempo, de honrar a Deus com seus lábios, “mas o seu coração está longe de mim”. Se há algo que podemos aprender com este inci­ dente, é não julgar os outros por seus costumes.

A fé em Cristo não é uma questão de aparência. É uma questão do coração. As convicções podem ser diferentes em tradições e comunidades cristãs. Mas o que importa é: nós amamos a Deus, e o que fazemos expressa este amor? Se nossos corações es­ tiverem certos, nossos costumes são irrelevantes. “Isso ê o que contamina o homem” (M t 15.10-20). Na religião do Antigo Testamento, estar “limpo” significava estar em um estado de pureza ritual que permitia que uma pessoa se aproximasse de Deus e o adorasse. Coisas como tocar um cadáver, ter relações sexuais, ou ter uma erupção na pele, tornavam uma pessoa temporariamente “imun­ da”. Isso a desqualificava a comparecer à adoração no Templo, até que o estado de pureza ritual ti­ vesse sido restaurado. Os fariseus e escribas (rabi­ nos, ou filósofos) tinham multiplicado as regras a respeito da pureza ritual, e as tratavam como se as suas regras tivessem a mesma força que as Escrituras. Jesus atacou diretamente todo este modo de pen­ sar, quando ensinou que “o que contamina o ho­ mem não é o que entra na boca”. O que realmente desqualifica uma pessoa para a adoração são aque­ las coisas que “saem da boca”. A lista que Mateus apresentou deixa claro que o modo de vida correto (e não o ritual correto), é a chave para um relacio­ namento íntimo do crente com o Senhor. Precisamos nos certificar de que a nossa própria abordagem à fé espelha o princípio que Jesus es­ tabeleceu aqui. Devemos manter a nossa vida livre desses pecados que saem da boca, e não nos preo­ cuparmos com os “faça isto, faça aquilo” que, para algumas pessoas são critério de espiritualidade. “Filho de Davi, tem misericórdia de mim” (Mt 15-21-28). Essa história intriga muitas pessoas. Mas as pistas que nos ajudam a entendê-la estão ali mesmo, no texto. Jesus tinha se retirado, temporariamente, do terri­ tório judeu. Uma mulher cananeia veio até Ele e implorou por misericórdia e cura para a sua filha, dirigindo-se a Jesus como “Filho de Davi”, seu tí­ tulo judeu e messiânico. A princípio, Cristo ignorou os apelos da mulher. A seguir, Ele pareceu rejeitar os seus apelos, dizendo: “Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel... Não é bom pegar o pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos”. Ao dizer isso, Jesus refletia uma importante realida­ de: nenhum gentio podia reivindicar as bênçãos de Israel, pois as promessas do concerto de Deus foram feitas à semente de Abraão. A mulher não discutiu, nem alegou alguma necessidade especial. Simples­

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Mateus 16— 17

mente observou que os filhos e os cães comem o pão da mesa. A diferença é que os filhos comem até fi­ carem satisfeitos, e os cães recebem as migalhas que sobram. Essa demonstração de fé foi recompensada. A filha foi curada “desde aquela hora”. O incidente enfatiza a prioridade que Jesus dava aos judeus no seu ministério terreno. Ele era o Messias deles: eles tinham direito, antes dos demais, a cada bênção que Ele oferecesse. Até hoje, muitos acre­ ditam que Paulo ensinou que os cristãos deveriam dar prioridade à evangelização dos judeus, quan­ do disse que o evangelho era “primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1.16). Mas Jesus curou, como resposta à fé da mulher. A fé em Cristo é o grande nivelador. Através do prin­ cípio da fé, tanto judeus como gentios são bemvindos à única família de Deus. Hoje, ninguém

DEVOCIONAL______ Coma, mas não se Sacie

(Mt 15.21-39) A comida tem um papel importante nos dois inci­ dentes relatados aqui. Uma cananeia implorou por migalhas da mesa do povo do concerto de Deus, e a sua forte fé foi recompensada. A sua filha foi curada “desde aquela hora”. De volta à Galileia, Jesus encontrou grandes multi­ dões, que ficaram maravilhadas quando Ele curou, voluntariamente, seus coxos, cegos, paralíticos e mudos. Quando já tinham estado com Ele por três dias, sem nada para comer, Jesus realizou outro mi­ lagre. Ele multiplicou sete pães e uns poucos pei­ xinhos, e alimentou quatro mil homens, “além de mulheres e crianças”. E o texto diz: “todos comeram e se saciaram”. E a multidão se dispersou. Que contraste. A filha da mulher, curada “desde aquela hora”, teve a sua vida modificada para sem­ pre. A multidão da Galileia, saciada com a refei­ ção, partiu — todos eles — e depois de algumas horas, teriam fome outra vez. E maravilhoso que Cristo, com graça, satisfizesse a necessidade física momentânea da multidão. E magnífico que Ele saciasse a sua fome. Mas é trágico que eles, então, “se saciassem”. Sim. Eu sei. Tudo o que o texto quer dizer é que comeram tudo quanto queriam; que se saciaram. Ainda assim, isso me recorda que muitas pessoas ficam saciadas se suas necessidades materiais são satisfeitas. Se tiverem um lugar onde morar. Co­ mida para comer. Um carro bonito. Dinheiro no banco. Como é trágico que tantos jamais possam sentir a necessidade que dominou a cananeia e a levou a Jesus. Porque em Jesus, e por meio da fé

mais pode afirmar que recebe a benevolência de Deus a não ser pela fé. Mas observe isto, Jesus tinha acabado de ser inter­ rogado pelos homens céticos e antagonistas, que representavam Israel. E, inesperadamente, Ele en­ controu fé em uma mulher cananeia — uma des­ cendente daqueles povos pagãos que Israel tinha sido incumbido de expulsar da terra. E isso o que é estimulante, a respeito da fé. Ela consegue fazer com que tenhamos colheitas inesperadas. Às vezes, aqueles que pensamos que deveriam crer recuam, e nós nos desencorajamos. E então, repentinamen­ te, a fé aparece em uma pessoa que normalmente descartaríamos, e o poder revolucionário de Deus transforma a sua vida. Então, agradecemos a Deus e, com entusiasmo renovado, continuamos a fazer a sua vontade. nEle, sentimos uma transformação espiritual que tornará a vida completamente diferente, “desde aquela hora”. Aplicação Pessoal Espere mais do seu relacionamento com Jesus do que a satisfação de suas necessidades materiais. Citação Importante “E fácil para Deus satisfazer as maiores necessida­ des, e também as menores; pois Ele tem o poder de formar um sistema ou um átomo; Ele é capaz de criar um sol escaldante com a mesma facilidade com que acende a luz do vaga-lume.” — Thomas Guthrie 23 DE JULHO LEITURA 204 REI E FILHO DE DEUS Mateus 16■— 17 “E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, re­ spondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.15,16). Estes capítulos marcam um momento decisivo no Evangelho de Mateus. A partir de então, Jesus fa­ lou menos sobre o reino, e mais sobre a cruz. Visão Geral Jesus rejeitou um pedido oficial por um sinal mila­ groso (16.1-12). Somente os seus discípulos o re­ conheciam como Filho de Deus (w. 13-16). Jesus elogiou Pedro (w. 17-20) e começou a instruir os discípulos a respeito da cruz (w. 21-28). A transfi­ guração de Cristo exibiu a sua glória aos discípulos

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(17.1-13) antes que uma geração incrédula deixas­ se de ver a glória de Cristo em um ato de cura (w. 14-22). Mesmo então, Jesus não insistiu nos seus direitos como Filho de Deus (w. 23-27).

muito que aprender com Ele, é certo. Que pena que foi crucificado e morreu antes da sua hora”. As pessoas podem respeitar Jesus, como uma pes­ soa boa. Mas Deus quer que reconheçamos Jesus como Senhor e Salvador. Qualquer coisa inferior Entendendo o Texto a adorá-lo como Filho de Deus é rejeitá-lo com­ “Chegando-se os fariseus e os saduceus para o tenta­ pletamente. rem” (Mt 16.1-12). Esses dois grupos discordavam, teológica e politicamente. Mas ambos considera­ “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16.15-20). vam Jesus uma. ameaça. Como ambos eram repre­ Jesus não enviou os seus discípulos porque estava sentados no Sinédrio, esta é, provavelmente, outra curioso sobre o que pensava a multidão. Ele os en­ exigência oficial de que Jesus provasse as suas decla­ viou para que ouvissem, para que fossem forçados rações, por “algum sinal do céu”. a tomar uma decisão pessoal decisiva. E surpreendente que essa exigência fosse feita, ten­ Não importa o que os outros dizem a respeito de do em vista as centenas de curas e outros milagres Jesus. Não importa se nossos pais, ou nossos ami­ que Cristo tinha realizado, na Judeia e na Galileia. gos, ou toda a nossa família, são cristãos ou não. Quando eu estava na faculdade, trabalhei em um Cada um de nós deve responder por si mesmo à hospital para doentes mentais, e ali ministrava um pergunta que Jesus fez aos seus seguidores. “E vós, curso sobre a Bíblia. Um dos alunos estudava fi­ quem dizeis que eu sou?” losofia na Universidade de Michigan, como eu, e Se dissermos, como Pedro, “Tu és o Cristo, o Filho não era crente. Sugeri que a profecia cumprida pro­ do Deus vivo”, e assim nos entregarmos a Ele, tere­ piciava a prova que ele disse necessitar da origem mos a salvação e passamos da morte para a vida. Se sobrenatural das Escrituras, e ele aceitou o desafio. concordarmos com a multidão, não importando o Depois de estudar por vários meses, ele concordou. quanto aprovemos Jesus como líder moral e espiri­ A profecia cumprida realmente provava as decla­ tual, estaremos perdidos. rações das Escrituras. Mas ele ainda se recusava a Houve muita discussão sobre o significado das pa­ aceitar a Cristo. Ele não estava realmente aberto, lavras de Cristo a Pedro, “Sobre esta pedra edifica­ nem desejava provar que o cristianismo era verda­ rei a minha igreja”. Também houve muita discus­ deiro. Esperava provar que era falso. Apesar de toda são sobre “as chaves do reino dos céus” de que Jesus a evidência apontando na direção oposta, ele insis­ falou aqui. Não existe uma razão gramaticalmente tia na sua descrença. convincente pela qual Cristo não estivesse se refe­ Não se surpreenda quando algumas das pessoas às rindo a Pedro como a “rocha”. O que é importante quais você testemunha continuar descrente, embo­ é o fato de que Cristo disse “edificarei” e “minha ra vejam respostas na oração e evidências de Deus igreja”. Durante anos, Cristo esteve derramando a em ação na sua vida. Milagres não produziram fé sua vida sobre os seus discípulos, incluindo Pedro. nos tempos de Jesus. Pedro era, claramente, o melhor dos doze. Nada do Tudo o que podemos fazer é o que Jesus fez. Con­ que Jesus diz aqui sugere sucessão apostólica, ou frontar a incredulidade e continuar ministrando que Pedro fosse “papa”. A igreja era então, é ago­ àqueles cujas mentes ainda não estão decididas. ra, e sempre será de Cristo, e Ele é o seu supremo edificador. “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” E a respeito das “chaves”? Os doutores da lei, nos (M t 16.13). Depois de anos de ministério em tempos de Jesus, tinham “tirado a chave da ciência” Israel, Jesus enviou seus discípulos para circular (Lc 11.52), e obrigado o povo judeu a multiplicar em meio às multidões e ouvir o que as pesso­ regras que, na verdade, “impediam os que entra­ as diziam a seu respeito. Eles estavam cheios de vam [no Reino de Deus]”. Pedro, ao pregar o pri­ louvores a Jesus; todos o identificavam como al­ meiro sermão aos judeus (At 2) e aos gentios (At guém grandioso do Antigo Testamento. 10), usou a chave do conhecimento do evangelho Era um caso claro de rejeição com um fraco lou­ e “libertou” aqueles que foram obrigados, direciovor. Como se você ou eu olhássemos um retrato nando-os a Jesus. feito por Rembrandt, e disséssemos: “É um bom retrato”. “Começou Jesus a mostrar... que convinha ser morto, Isso é quase pior do que a hostilidade aberta dos e ressuscitar ao terceiro dia” (M t 16.21-27). Pedro, líderes religiosos. E atualmente se toma a mesma elogiado há pouco, é agora repreendido por Jesus. posição! “Oh, Jesus é legal. Certamente Ele foi um Ele não gosta da ideia de Cristo enfrentando a bom homem, e um maravilhoso professor. Temos morte pela crucificação. Assim, insistiu que Jesus

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evitasse isso! Jesus o repeliu com ira. A atitude de Pedro não tinha a perspectiva de Deus. Jesus continuou, explicando que cada discípulo precisa aprender a examinar a sua vida, da perspec­ tiva de Deus. Cada um de nós “tome sobre si a sua cruz e siga-me”. Não que devamos ser crucificados, literalmente. Mas, em vez disso, cada um de nós deve, como Jesus, descobrir e fazer a vontade de Deus para si. A cruz do crente não representa so­ frimento ou morte, mas o plano e o propósito de Deus para ele. Jesus prosseguiu, enfatizando que o propósito de Deus frequentemente parece mais negativo do que positivo, para nós. Com frequência, parece que, se fizermos a vontade de Deus, “perderemos a nossa vida”. O que precisamos compreender é que, em vez de perder a nossa vida, nós vamos “salvá-la”. Somente fazendo a vontade de Deus, nos tornamos pessoas melhores e purificadas. Assim, tomemos a nossa cruz. Diariamente. E com alegria. Se você e eu decidirmos cumprir a vontade de Deus a cada dia, qualquer que seja o custo, nos tornaremos o que mais desejamos ser. “Vejam vir o Filho do F[omem no seu Reino” (Mt 16.28— 17.8). A promessa que Jesus fez não era de que alguns viveriam até a segunda vinda de Cristo. Era de que alguns que tinham crido nEle como Fi­ lho de Deus veriam a glória que estava temporaria­ mente escondida pela sua humanidade. Alguns pensam que a divisão dos capítulos é infe­ liz, pois 17.1 nos diz que somente seis dias depois Jesus levou Pedro, Tiago e João ao topo de uma montanha, onde “transfigurou-se diante deles” (v. 2). Nos raios que eram emitidos da sua figura fami­ liar, na nuvem brilhante que os envolveu, e na voz que anunciou Jesus como Filho de Deus, a glória essencial de Cristo pôde ser vista. E importante observar que somente aqueles que o conheciam como Filho de Deus puderam ter esta visão, e assim sendo, nem todos os discípu­ los puderam vê-la. Às vezes, hoje em dia os cren­ tes passam pela vida sem jamais ter uma intuição da glória excelente de Jesus, ao passo que outros parecem viver na sua presença. Devemos dedicar algum tempo para estudar e meditar sobre quem é Jesus. Quando fizermos isso, Cristo nos mostrará também a sua glória. “Não puderam curá-lo” (Mt 17.M-21). Quando Jesus retornou ao vale, descobriu que os nove discí­ pulos que tinham ficado para trás tinham tentado curar um rapaz epiléptico, sem sucesso. Jesus curou o rapaz, e repreendeu seus discípulos pela sua “pequena fé” (v. 20). A palavra grega, oli-

gopistia é mais bem interpretada como fé deficiente ou defeituosa. Alguns defeitos da fé dos discípulos são mencionados nesta seção do Evangelho de Ma­ teus (14.26-31; 15.16,23,33; 16.5,22; 17.4,10,11). Não era a dimensão da fé, mas uma falha na fé que devia ser censurada. Como sabemos disso? Porque imediatamente Jesus disse que uma fé pequena “como um grão de mos­ tarda” pode mover montanhas! (v. 20) Qual era, então, a falha? Aqui, a falha estava no objeto da fé dos discípulos: “Por que não pude­ mos nós expulsá-lo?” Os discípulos tinham co­ meçado a confiar no poder que Jesus lhes tinha

O sacerdócio do século I exigia o uso desta moeda de prata para pagar o imposto do Templo, de meio siclo, que era cobrado anualmente de cada judeu do sexo masculino. Jesus lembrou a Pedro que os reis só cobram impostos dos estrangeiros, e não da família (17.24-27). Se Pedro tivesse se lembrado disso, teria percebido que Jesus, o Filho de Deus, não devia nenhum imposto ao Templo do Senhor!

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dado anteriormente, e a considerá-lo seu próprio poder. Na verdade, qualquer poder que tivessem, fluía de Jesus, e somente dEle. Esta é, na verdade, uma história encorajadora para nós. Geralmente hesitamos em estender a mão para ajudar os outros, terrivelmente conscientes da

DEVOCIONAL_______ Ninguém, senão Jesus (Mt 17.1-13) Os episódios espirituais cristãos têm uma impor­ tante contribuição à vida de cada um de nós. Isso é exemplificado na história da transfiguração — e nas suas consequências imediatas. Observe como os discípulos caíram diante do Jesus transfigurado, e como, quando levantaram os olhos, “ninguém viram, senão a Jesus”. Que experiência culminan­ te foi essa! Eles tinham estado de forma profunda, completa e totalmente imersos em adoração. E começaram a descer o monte, e quase que ime­ diatamente mudaram de assunto. “A propósito, Jesus”, quase podemos ouvir um deles dizendo, “eu sempre me perguntei sobre aquela passagem de Malaquias 4. Ela realmente quer dizer o que dizem os escribas: que Elias deve vir antes do Messias?” O momento de adoração tinha passado, e foi substi­ tuído por perguntas sobre a Bíblia e teologia. Eu sei. A Bíblia e a teologia são importantes. Estou tão convencido disso, que passo a minha vida estu­ dando e ensinando as Escrituras. Mas há ocasiões em que conseguir outra resposta do livro, ou fazer outra pergunta, são atos que desmerecem a vida es­ piritual de uma pessoa. Assim como essa pergunta sobre Elias deve ter re­ tirado um pouco da admiração da lembrança da sua adoração, e diluído um pouco da sua reverência gelo nosso Senhor. E isso o que os místicos têm a nos ensinar. Em últi­ ma análise, o que é vital não é ter todas as respostas, mas adorar a Cristo. Não saber mais, mas conhecer a Ele. Não estudar, mas ajoelhar-se em reverência diante daquEle que encontramos na Palavra de Deus.

Aplicação Pessoal O estudo da Palavra de Deus irá nutrir a sua vida espiritual — se for acompanhado pela contempla­ ção e pela adoração a Jesus. Citação Importante “Se você deseja saber como estas coisas acontecem, peça graça, e não instrução; desejo, e não enten­ dimento; o murmúrio da oração, e não a leitura

nossa inadequação. É quando precisamos nos lem­ brar de que a nossa fé está em Jesus, não na nossa própria força ou nos nossos recursos. A fé defeitu­ osa dos discípulos serve como lembrete de que até mesmo uma fé em Cristo do tamanho de um grão de mostarda é suficiente para operar milagres! diligente; o Esposo, não o professor; Deus, não o homem; e não apenas a luz, mas o fogo que nos in­ flama e nos leva a Deus através de unções de êxtase, e fervorosos afetos.” — Bonaventuta 24 DE JULHO LEITURA 205 A GRANDEZA D O REINO Mateus 18 “Se não vos converterdes... de modo algum entrareis no Reino dos céus. Portanto, aquele que se tornar hu­ milde como esta criança, esse é o maior no Reino dos céus” (Mt 18.3,4). A questão da grandeza é importante. Hoje tam­ bém, os cristãos precisam compreender a resposta de Cristo. Visão Geral A marca de grandeza no Reino de Cristo é uma sensibilidade de criança ao Senhor (18.1-5), que protege os outros (w. 6-9) procurando os perdidos (w. 10-14), buscando reconciliação (w. 15-19) e perdoando voluntariamente, assim como nós fo­ mos perdoados (w. 20-35). Entendendo o Texto “E Jesus, chamando uma criança, a pôs no meio de­ les” (M t 18.1-5). O significado de tantas histórias e mensagens do evangelho depende do que aconte­ ceu pouco antes delas. Mateus 16 registrou o fra­ casso de Israel em responder a Jesus, expresso na rejeição declarada dos líderes e no fato de o povo não reconhecer a Cristo como o Filho de Deus. Agora, em resposta a uma pergunta sobre grande­ za, Cristo “chamou uma criança”. A criança, sem hesitar, veio em resposta ao chamado de Cristo e ficou “no meio deles”. A chave para a grandeza no Reino de Deus está em responder com a mesma determinação e firmeza, ao chamado do Rei. Você e eu podemos “nos con­ verter e agir como criancinhas”. Podemos ouvir e obedecer à voz de Jesus. Na vida simples da obedi­ ência, alcançamos o que tantos desejam: a grandeza à vista de Deus.

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Que bênção tremenda é essa! Poucos de nós se tornarão famosos, ou serão lembrados por feitos extraordinários. Mas o cristão simples pode res­ ponder à voz de Deus, e ao responder, pode ser verdadeiramente grande. “Qualquer que escandalizar um destespequeninos que creem em mim” (M t 18.6-9). Os de fora (o “mun­ do”) tentarão “escandalizar um destes pequeninos que creem em mim” (v. 6). Os de fora tentarão, ativamente, fazer tropeçar os discípulos de Cristo. Seria melhor que tivessem se afogado antes de fazer isso (w. 6,7) ou que perdessem o membro do cor­ po que provocar o pecado (w. 8,9). Essas palavras ressaltam a importância de encorajar a atitude de “crianças”. E suficientemente difícil conservar uma atitude infantil de confiança e sensi­ bilidade que deve caracterizar os cidadãos do Reino de Jesus. Na verdade, uma das mais importantes missões da igreja é alimentar essa atitude nos seus membros. Devemos nos lembrar de que as crian­ ças não são lançadas ao mundo sozinhas. Somos mantidos a salvo no contexto caloroso e amoroso da família. Na família cristã, a igreja, podemos nos ajudar, uns aos outros, a nos tornarmos verdadei­ ramente grandes. As vezes, os cristãos, em vez de ajudar, impedem que outros respondam a Jesus com simples fé. Uma pergunta que precisamos fazer constantemente a nós mesmos é a seguinte: Como posso ajudar ou­ tras pessoas a amar e responder a Jesus Cristo? Se estivermos certos sobre a resposta a esta pergun­ ta, então o restante de Mateus 18 é particularmen­ te importante. Aqui, nós vemos como ajudar ou­ tras pessoas a viverem em um relacionamento “de criança” com Cristo e a sua igreja! “Se algum homem tiver cem ovelhas”(M t 18.10-14). A história famosa nos lembra de que nós, seres humanos, somos muito semelhantes às ovelhas. Temos a tendência de seguir pelo caminho errado. Aqui Jesus retratou o pastor que se apressou para encontrar uma das suas cem ovelhas, que tinha se perdido. Versões mais antigas captam magnifi­ camente as emoções do pastor que encontra a sua ovelha perdida: ele “a traz para casa, exultante”. Alimentar a “qualidade de criança” nos outros sig­ nifica nos lembrarmos de que também eles são pro­ pensos a seguir pelo caminho errado, e que também são preciosos. Quando alguém segue pelo caminho errado, nós devemos tomar a iniciativa e procurar a restauração. Talvez o mais impressionante, quando encontramos a desgarrada, seja o fato de a trazer­ mos para casa, exultantes. Não há recriminações. Nenhuma tentativa de fazer com que a pessoa que

se desviou se sinta culpada. Existe simplesmente alegria pelo fato de que a pessoa que estava perdida foi encontrada. Precisamos recordar e aplicar este princípio ao li­ dar com nossos filhos. Sim, eles seguirão pelo ca­ minho errado, algumas vezes. Quando retornarem, devemos evitar recriminações. Demonstrar a nos­ sa alegria porque estão de volta fará mais do que evitar futuros desvios do que qualquer punição do mundo! “Se teu irmão pecar contra ti” (M t 18.15-20). Uma nova analogia é introduzida, acompanhando a comparação que Cristo faz das crianças sendo como ovelhas. O povo de Jesus é uma família. E, como em qualquer família, os filhos certamente pecarão, uns contra os outros. Haverá inveja. Ha­ verá competição. Haverá mentiras. Haverá feridas provocadas e recebidas. Como podemos lidar com as disputas familiares que são tão destrutivas para a atitude do cristão, como um “pequenino”? Jesus nos fornece um procedimento de três etapas. Dirija-se à pessoa e mostre-lhe o seu erro. Se ela ouvir (e aqui o nosso perdão está implícito, cf. v. 21), a harmonia familiar estará restaurada. Se ela não ouvir, traga uma ou duas outras pessoas, e tente outra vez. Finalmente, envolva toda a famí­ lia da igreja. Se o irmão ainda se recusar a ouvir, então “considera-o como um gentio e publicano”. Essa expressão aponta para a disciplina da igreja: nenhum membro da comunidade cristã deverá ter comunhão com este indivíduo. Como isso preserva a atitude do cristão, como um “pequenino”? A quem esse processo pretende auxi­ liar? Ele ajuda a todos! Ele ajuda a pessoa errada, pois o processo disciplinador encoraja a confissão e a restauração. Ajuda a pessoa ofendida, pois a confissão remove o obstáculo à reaproximação. E ajuda a congregação, que participou de um proces­ so que confirma a importância de relacionamentos íntimos e amorosos como o contexto da nossa vida juntos, como pequeninos de Jesus. Com essa co­ munhão intacta, temos uma confiança especial na oração (w. 19,20). Eu sei. E difícil ir até uma pessoa e dizer-lhe que o que ela fez nos ofendeu. O confronto é difícil. Mas Jesus o ordena. E, lembre-se, obedecer à voz do Rei é a chave para a grandeza no Reino de Deus. “A té quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lheperdoarei?”(M t 18.21,22). Pedro é um perso­ nagem muito atraente. Ele é um líder. Ele assume riscos. Ele é rápido em falar, ansioso por agradar, e sempre muito humano nos seus pontos fortes e nas suas fraquezas.

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Desta vez, ele demonstrou aquilo que deve ter considerado como uma dedicação muito especial. “Está bem, Senhor”, ele pareceu dizer, “Eu estou disposto a tentar isso. Bem, perdoarei o meu irmão, mesmo que ele peque contra mim sete vezes!” O razão de isso ser uma dedicação muito grande é exemplificado pelo ensinamento rabinico daquela época. Os rabinos declaram que uma pessoa pode­ ria ser perdoada do mesmo pecado três vezes. Mas para a quarta vez, não haveria perdão. Pedro estava dizendo que estava disposto a ir além do que qual­ quer pessoa esperaria, para obedecer ao Senhor. Muitas vezes, somos como Pedro. Depois que você serve 25 jantares na igreja, e ninguém sequer diz: “obrigado”, ao servir o 26° você começa a pensar.

DE V OCIONAL______ Dívidas Perdoadas

(Mt 18.18-35) Quando o nosso Senhor ordenou que os irmãos e as irmãs da família de Deus oferecessem perdáo ilimitado, uns aos outros (w. 15-22), Ele não ex­ plicou como isso ajudaria o pecador insistente a crescer em santidade. Isso foi deixado para que o apóstolo Paulo explicasse, em 2 Coríntios 5O que Jesus fez foi nos dar o motivo mais con­ vincente de todos, para que nos perdoemos uns aos outros. Essa razão é apresentada na história de um servo que devia uma grande quantia a um rei. Quando o servo não pôde pagar, o rei, “movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívi­ da” (v. 27). A seguir, o servo encontrou um de seus conservos, que lhe devia uma soma desprezível, e “foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida” (v. 30). O rei se enfureceu, quando soube disso. Não era nada apropriado que alguém a quem tanto tinha sido perdoado, fizesse tamanha confusão por uma dívida tão pequena. A moral da história depende, em grande parte, das quantias de dinheiro a que Jesus se referia. No sé­ culo I, um dinheiro era uma moeda de prata que representava o salário de um dia para um traba­ lhador. Um talento era equivalente a três mil dinheiros, de modo que a dívida do primeiro servo era equivalente ao salário de 30.000.000 dias! Se o primeiro servo tivesse trabalhado, durante todos os dias laborais, durante 50 anos, e tivesse dado ao rei cada centavo ganho, ele teria precisado de cerca de 2.725 vidas para pagar a sua dívida! Mas cada um de nós tem uma única vida para viver. Tudo indicava que a dívida que o servo devia ao rei era impossível de pagar, e os 100 dinheiros que o segundo servo devia eram insignificantes.

Começa a pensar que está sendo explorado, e não é mais uma questão de uma obra de amor. Quan­ do perdoa uma pessoa por pecados repetidos, à medida que as ofensas váo se somando, você fica cada vez mais aborrecido. Sente que, se a pessoa realmente se arrependesse, não faria mais isso. Sim, nós estamos dispostos a fazer mais do que qualquer pessoa tem o direito de esperar. Mas há limites. A ordem de Cristo, de “setenta vezes sete”, estabele­ cia um princípio totalmente novo. Na comunidade da fé, não deve haver limites no perdão recíproco. Não deve haver limites na obediência! Devemos continuar a viver como “pequeninos”, obedecendo a Jesus, não importando o que as pessoas ao nosso redor possam dizer ou fazer.

Que lembrete, quando encontramos nossos co­ rações endurecidos por um irmão ou uma irmã, depois de algumas ofensas repetidas. Deus, o gran­ de Rei, nos perdoou uma dívida absolutamente impossível de pagar. Ele perdoou nossos pecados, simplesmente porque foi movido de compaixão por nós. Ao contemplarmos o perdão que recebe­ mos de Deus, encontramos a graça de que precisa­ mos, para perdoarmos, uns aos outros. Aplicação Pessoal Da próxima vez que você achar difícil perdoar, me­ dite sobre o perdão que recebeu do nosso Senhor. Citação Importante “Se você deseja trabalhar para o Reino de Deus, e trazê-lo, e entrar nele, existe uma única condição para ser aceito. Você deve entrar nele como criança; caso contrário, jamais entrará.” — John Ruskin

25 DE JULHO LEITURA ....I '' í .... AINDA MAIS SOBRE A GRANDEZA Mateus 19— 20 “Todo aquele que quiser, entre vós, fazer-se grande, que seja vosso serviçal; e qualquer que, entre vós, quiser ser o primeiro, que seja vosso servo, bem como o Filho do Homem não veio para ser servido, maspara servir epara dar a sua vida em resgate de muitos”(M t20.26-28). O mundo tem as suas próprias noções sobre como alcançar a grandeza no campo espiritual. Mas é ne­ cessário fazer um retomo de 180 graus no caminho que os religiosos recomendam, sim, uma completa mudança de direção, a fim de que possamos andar no caminho de Jesus.

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Que lição para nós! Não devemos nos vangloriar de tudo o que fazemos ou não fazemos, por causa de Cristo. Devemos, simplesmente, examinar a sua Palavra, ouvir a sua voz e responder. Como peque­ ninos, precisamos nos lembrar de que a nossa vida com Ele está enraizada, não no que nós fazemos por Ele, mas na graça que Deus derrama sobre nós.

Visão Geral Jesus exibiu a falácia dos caminhos tomados pelos fariseus legalistas (19.1-15) e por um jovem rico (w. 16-30). Jesus contou uma parábola para mostrar que a grandeza não é uma questão de trabalho árduo (20.1-16). A verdadeira grandeza está em obedecer à vontade de Deus, servindo aos ou tios (w. 17-26) e deixando de lado as nossas próprias necessidades para satisfazer as dos outros (w. 27-34). Entendendo o Texto “Chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o" (Mt 19.1-9). Como na disputa anterior de Jesus com os fariseus, sobre a observância do sábado, a ver­ dadeira questão, aqui, era a visão que os fariseus tinham da lei, e não a questão que propuseram so­ bre o divórcio. No século I, havia duas escolas judaicas de pensa­ mento sobre o divórcio. Uma dessas escolas afirma­ va que o divórcio deveria ser permitido somente no caso de infidelidade. A outra permitia o divórcio por qualquer motivo. Qual delas seguia Jesus? Jesus não escolheu nenhuma, mas enfatizou que o ideal de Deus era um relacionamento que durasse a vida inteira. Qualquer coisa inferior ao ideal en­ volveria o pecado, pois um dos aspectos do pecado é não permitir que alcancemos o melhor que Deus tem a nos oferecer. Os fariseus objetaram. Por que, então, Moisés per­ mitia o divórcio? Jesus respondeu: “por causa da dureza do vosso coração”. Compreendendo a dure­ za dos corações humanos, Deus tolerou o divórcio, mesmo não sendo este a vontade divina! Essa resposta destruiu completamente a confiança que os fariseus tinham na lei, pois mostrou que a lei de Deus não era, afinal, o padrão espiritual mais elevado! A própria lei continha a prova. A lei de Deus era um padrão mais simplificado, o que, por si só, era uma evidência da sua graça ao lidar com a raça humana. Esta lição foi confirmada pelo incidente a seguir. Foram trazidas criancinhas a Jesus, que anunciou que dos “tais é o Reino dos céus”. No judaísmo, uma criança se tomava responsável por obedecer à lei aos 12 ou 13 anos de idade. Nem mesmo o mais rígido fariseu consideraria os “pequeninos” responsáveis por obedecer às leis de Deus! O que Jesus disse mostrava que Deus se relaciona conos­ co em graça, e não por meio da lei. Os filhos de Deus respondem à voz de Jesus, em vez de viver segundo regras do tipo “faça isso e não faça aquilo”. Nenhum fariseu poderia alcançar a grandeza, não importando o quanto fosse zeloso em guardar as regras que eram observadas, como uma maneira de promover a espiritualidade e agradar a Deus.

“O que Deus ajuntou não separe o homem” (Mt 19.6). Esse versículo não significa que os cristãos, hoje em dia, não devem se divorciar? Na verdade, não é só isso. Jesus estava respondendo a uma pres­ suposição, oculta na pergunta dos fariseus. Eles debatiam o divórcio, porque acreditavam que era o direito de uma corte eclesiástica decidir quem poderia e quem não poderia se divorciar e voltar a casar-se. Em Deuteronômio 24, a lei simplesmente dizia que, quando acontecia um divórcio, o marido deveria dar à esposa uma "carta de divórcio”. Esse documento escrito era prova de que ela estava livre e poderia voltar a se casar (e na maioria dos casos, o fazia). No século I, tribunais de filósofos, men­ cionados nas Escrituras como “doutores da lei”, se assentavam para julgar quem podia e quem não podia se divorciar. Em algumas ocasiões, chegavam a obrigar maridos a conceder cartas de divórcio às respectivas esposas. O que Jesus quis dizer, quando disse, “não separe o homem”, é que nenhuma corte eclesiástica tinha o direito de julgar um caso de di­ vórcio. Como decretava o Antigo Testamento, isso é um assunto que somente o marido e a mulher podem determinar. Que lembrete para nós, pois também temos a ten­ dência de nos assentar para julgar esta que é a mais dolorosa e trágica das situações. Não podemos to­ lerar o divórcio. Mas, como Jesus, devemos confes­ sar que, em alguns casos, ele é permitido. Nenhum pastor, conselho ou tribunal de inquéritos tem o direito de dizer não a um casal e sim a outro. E ne­ nhuma corte eclesiástica tem o direito de autorizar uma pessoa a voltar a se casar, e negar essa possibi­ lidade a outra pessoa. O costume dos fariseus é inaceitável a Deus — tan­ to nos tempos de Jesus, como nos nossos. “Que bem farei, para conseguir a vida eterna?” (Mt 19.16-22). O jovem rico representa outra aborda­ gem que as pessoas faziam, em um esforço para al­ cançar a grandeza espiritual. Quando questionado, esse jovem mostrou que, diferentemente de muitos na sua época, ele tinha consistentemente tentado fazer o que é certo, em todos os relacionamentos humanos. Mas cada um dos mandamentos citados por Jesus (w. 18,19), vinha da “segunda tábua” dos Dez

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Mandamentos. Esta tábua estabelece os padrões para o relacionamento do homem com outros ho­ mens. E quanto à “primeira tábua”, e os manda­ mentos que tratam do relacionamento pessoal dos homens com o Senhor? A resposta de Jesus “Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres... e vem e segue-me” (v. 21) pre­ tendia mostrar ao jovem que, em seu coração, a sua riqueza vinha antes de Deus. O rapaz “retirou-se triste”, porque era rico. Tendo que escolher entre Deus, na pessoa do Filho de Deus, e o dinheiro, esse jovem escolheu o dinheiro. O primeiro dos Dez Mandamentos é: “Amarás o Senhor, teu Deus”. Não importa o quanto uma pessoa possa ser benevolente ou justa nos seus re­ lacionamentos com outras pessoas, a menos que ame, acima de tudo, a Deus, não haverá crescimen­ to nem realização espiritual. Devemos nos lembrar disso quando o humanista louvar as boas obras, e supuser que tudo o que im­ porta é ser bom, ou fazer o bem. A melhor pessoa do mundo, se não amar a Deus, infringiu o primei­ ro e maior de todos os mandamentos, pois a nossa suprema obrigação é amar ao Senhor. “Quem poderá, pois, salvar-se?” (M t 19.23-26). Quando Jesus mostrou que é difícil que um rico entre no Reino de Deus, os discípulos ficaram cho­ cados. O homem comum considerava a riqueza como uma bênção de Deus, pois tinha a oportu­ nidade de fazer o bem com a sua riqueza, e, assim, obter algum mérito junto a Deus. Jesus tinha uma perspectiva diferente. Quanto mais temos, mais as nossas posses nos possuirão! E mais consideraremos como uma escolha virá a afetar o nosso resultado financeiro, e não como a nossa escolha honrará a Deus. E difícil que uma pessoa que tenha muitos recursos empregados neste mundo concentre suas atenções no próximo. Graças a Deus, Ele pode fazer o que não podemos. Podemos ser salvos por toda a eternidade. E po­ demos ser salvos da escravidão da nossa riqueza, de modo que possamos nos tornar servos de Deus. “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos” (Mt 19.2730). Pedro e os outros discípulos não escolheram seguir a Jesus pelo que obtivessem. Mas, como eles, às vezes nos perguntamos: “Que receberemos?” A resposta de Jesus é reconfortante. Ninguém que siga a Cristo perderá! O que ganharmos será cem vezes mais valioso do que aquilo perdermos (v. 29). Tudo isso... e a vida eterna também! “Ajustando com os trabalhadores a um dinheiro por dia” (M t20.1-15). Essa história perturba a muitos.

É óbvio que o dono da vinha não foi justo. Oh, ele pagou os primeiros trabalhadores com justiça: sabemos que um dinheiro era o salário de um dia, no século I. Mas podemos entender por que aque­ les que tinham trabalhado durante todo o dia, pelo salário combinado, se aborreceram quando, no fim do dia, aqueles que tinham trabalhado apenas algu­ mas horas ganharam o mesmo que eles. Então, o que é que Jesus estava dizendo? Simples­ mente isto: algumas pessoas desejam colocar o re­ lacionamento com Deus em uma base de trabalho por encomenda. “Eu trabalharei mais arduamente do que outros, para ser um bom cristão. Compa­ recerei a mais reuniões. Trabalharei em mais equi­ pes.” “Estarei fora todas as noites da semana.” E essas pessoas frequentemente supõem que serão recompensadas por trabalharem tanto. O problema é que o relacionamento de tais pes­ soas com Deus está baseado na sua generosidade (v. 15). Deus se relaciona conosco em graça, e não com base nas obras. A pessoa que serve a Deus por amor será, é claro, recompensada. Mas a pes­ soa que serve ativamente, porque pensa que essa é a maneira de ganhar pontos com o Senhor, está condenada ao desapontamento. Não progredimos espiritualmente sendo pessoas ocupadas com os nossos afazeres. Essa também é uma lição que precisamos aprender. Deus nos chamou para amá-lo, e servir aos outros. Podemos nos tornar tão envolvidos em fazer coi­ sas para Ele, que nos esquecemos de simplesmen­ te amá-lo. E nos esquecemos de parar, de ouvir as pessoas, e de tentar atender às suas necessidades. A pessoa que é tão ativa na igreja pode muito bem estar se esgotando espiritualmente, e gastando suas energias de uma maneira improdutiva. “Assim, os derradeiros serão primeiros, e os primeiros, derradeiros”(M t 20.16). Essa é a segunda repetição destas palavras nos nossos capítulos (cf. 19.30). O que isso quer dizer? Simplesmente, que aqueles que parecem ser os primeiros, na fila espiritual, com base em sua religião rígida, sua benevolência, ou seu envolvimento ativo nos assuntos da igreja, não serão os primeiros, quando chegar o dia do Juízo. Quando comparecermos diante do trono do Juízo de Cristo para receber nossas recompensas, as pes­ soas que estarão nos primeiros lugares da fila serão as pessoas simples que ouviram a mensagem de Cristo sobre a grandeza, e a levaram a sério, aqueles que, como Jesus ensinou em Mateus 18, procura­ rem os perdidos e se alegrarem com eles, procu­ rarem harmonia no corpo de Cristo, e estiverem prontos a perdoar os outros, porque eles mesmos foram perdoados por Deus.

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DEV OCIONAL__________ mentos que puder, a todas as pessoas a quem pu­ Que Quereis que vos Faça? (Mt 20.17-34) De alguma maneira, não parece que nós estamos compreendendo isso, parece? Eu imagino que é assim mesmo. Até mesmo os discípulos de Jesus demoraram um longo tempo para compreender a simplicidade daquilo que Ele ensinava. Você quer ser grande? Então, sirva. Tiago e João não compreenderam. Eles pediram à sua mãe (ou assim pensaram os demais discípulos!) que intercedesse por eles junto a Jesus, para que tivessem as posições superiores no seu reino. Jesus simplesmente balançou a sua cabeça, e disse aos dois que não sabiam o que estavam pedindo. As posições elevadas no Reino de Jesus exigem que se beba do seu cálice (w. 22,23). E este cálice, no caso de Jesus, era a morte na cruz (w. 17-19). Jesus tentou explicar. As posições elevadas no mundo secular significam ter autoridade: signifi­ cam governar as pessoas. Jesus, por outro lado, veio para ser um servo e, como um escravo, colocar o bem dos outros antes do seu próprio (w. 25-28). Suspeito que os discípulos ainda não haviam en­ tendido o que Jesus queria dizer. Talvez nem nós entendêssemos, não fosse pelo incidente que con­ cluí este capítulo. Jesus tirou os seus discípulos de Jericó, subindo a caminho de Jerusalém e da sua crucificação. Como devia estar pesado o seu coração, pois sabia o que o esperava. Quando estava partindo, dois cegos, ouvindo, pela multidão, que Jesus estava próxi­ mo, clamaram com insistência. A multidão tentou silenciá-los. Mas os homens gritaram ainda mais alto. E Jesus parou. Ele os chamou e perguntou: “Que quereis que vos faça”? E, por fim, compreendemos. A grandeza, no Reino de Jesus é parar para as necessidades dos outros. E deixar de lado, por um momento, nossos próprios sofrimentos e inquietações, para ouvir, e então per­ guntar: “Que quereis que vos faça”? Podemos ser pequenos, aos olhos de outros ho­ mens. Mas se seguirmos o exemplo de servir, que nos foi dado por Cristo, seremos grandes, aos olhos de Deus.

der, e enquanto puder.” — John Wesley

26 DE JULHO LEITURA 207 JESUS EM JERUSALÉM Mateus 21— 23 “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento ’’ (Mt 22.37,38). Jesus agora iniciava a sua última semana na terra. Nós vemos, nos eventos que se seguem, o quanto é profundo o seu amor por seu Pai. Visão Geral Jesus entrou em Jerusalém, saudado como o Messias (21.1-11), enfurecendo os líderes do Templo (w. 12-17). Ele condenou uma figueira sem frutos, que simbolizava Israel (w. 18-22), e contou uma série de histórias que explicam a incapacidade do seu povo de produzir frutos (22.14— 23). Jesus desviou dois ata­ ques verbais (w. 15-33) e silenciou os seus críticos (w. 34-46). Então, Jesus lamentou, pelos fariseus e escri­ bas, pela sua cegueira espiritual (23.1-36), e lamentou pela cidade condenada de Jerusalém (w. 37-39).

Entendendo o Texto “Eis que o teu Rei aí te vem, humilde e assentado sobre uma jumenta” (M t 21.1-11). Um anseio fervoroso pelo Messias ardia sob a superfície do judaísmo do século I, e encontrou expressão em algumas revol­ tas de curta duração, lideradas por pseudos mes­ sias. Os impostos eram pesados e a vida era difícil para as pessoas comuns. Ao aclamar Jesus, muitos dentre a multidão, sem dúvida, esperavam que Ele expulsasse os romanos e estabelecesse um reino po­ deroso e independente. Mas Mateus lembrou-lhes da profecia de Zacarias (9.9). Este Rei veio “assentado sobre uma jumenta”. No mundo antigo, os reis montavam cavalos, quan­ do iam à guerra. Uma visita de um rei sobre um ju­ mento significava que ele vinha em missão de paz! Esse é um lembrete útil para aqueles que temem se entregar completamente à soberania de Cristo. Ele Aplicação Pessoal Comece cada dia pedindo a Deus uma oportuni­ veio em paz, para trazer paz. Render-se a este Rei tranquilizará os nossos conflitos interiores, e não dade de servir. aumentá-los. Render-se a este Rei oferece, a cada um de nós, o dom da paz perfeita. Citação Importante “Faça todo o bem que você puder, por todos os meios que puder, de todas as maneiras que puder, “Entrou Jesus no templo” (M t 21.12-17). A vinda em todos os lugares que puder, em todos os mo­ de Jesus não significa paz para todos. Dentro de

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Jerusalém, Ele entrou no pátio amplo, onde merca­ dores com permissão do sumo sacerdote, trocavam moedas e vendiam animais para sacrifícios, e dali os expulsou. Isso enfureceu os principais dos sa­ cerdotes, que lucravam com este comércio e, como sugerem algumas fontes antigas, não deixavam de extorquir um valor maior do que o justo. Mas eles se sentiram incapazes de agir contra Ele, porque as multidões clamavam de modo extremamente en­ tusiástico por Ele. Nem todos se sentem confortáveis quando Jesus entra, hoje em dia. Pode haver um conflito em nós, como houve no Templo do primeiro século. Mas a casa de Deus deve ser uma “casa de oração”. O cristão, que é o templo vivo de Deus, deve dedicarse completamente ao Senhor. Qualquer coisa deso­ nesta ou profana deve ser expulsa de nossas vidas. “Não achou nela senãofolhas”(M t 21.18-22). Como frequentemente acontece, os discípulos fizeram a Jesus a pergunta errada, quando viram como secou em um dia uma figueira que Ele amaldiçoou. A pergunta que eles fizeram? “Como secou imedia­ tamente a figueira?”, ou seja, “Como fizeste isso?” Jesus, na verdade, deu a entender que o milagre não tinha nada de especial. Mesmo com pequena fé, os próprios discípulos podiam realizar milagres. A pergunta que deveriam ter feito era: “Por que fi­ zeste isso?” E a resposta a essa pergunta seria: “Por­ que esta figueira me lembra tanto de Israel!” Como a figueira, o povo de Deus parecia prosperar. Eles eram dedicados a Deus e praticavam a sua religião zelosamente. Mas quando a sua religião era cuida­ dosamente examinada, não havia nada ali, exceto folhas. A árvore não produzia frutos! Em ambos os Testamentos, o fruto representa o produto moral do relacionamento pessoal e íntimo com Deus. Uma visão geral do Novo Testamento descreve fruto como “amor, alegria, paz, longa­ nimidade, benignidade, bondade” etc. (G1 5.22,23, ARA). Essas qualidades interiores poderiam ser ex­ pressas socialmente como a justiça e a compaixão, tão exortadas pelos profetas do Antigo Testamento (veja Is 5.1-7). O que é importante para nós é que este evento é seguido por uma série de parábolas que explicam por que os judeus do tempo de Jesus deixaram de produzir frutos, e nos alerta contra atitudes que nos impedirão de ter vidas que produzam frutos.

A pergunta de Jesus a respeito de João Batista, no entanto, revelou a sua hipocrisia. Se eles verdadei­ ramente tivessem autoridade divina, revelariam a verdade. O fato de deixarem de responder, por medo das multidões, mostrava que realmente sa­ biam que o Senhor não estava por trás das suas palavras. Nós, também, seremos infrutíferos, a menos que reconheçamos a autoridade de Jesus em todas as áreas das nossas vidas, e obedeçamos à sua Palavra. “Eu vou, senhor; e não fo i” (Mt 21.28-32). A pará­ bola de Jesus sobre os dois filhos nos convence de um ponto importante. Não é o que nós dizemos que revela a nossa atitude básica em relação a Deus. E o que nós fazemos. Eu conheço algumas pessoas que falam muito bem de religião e santidade. E eu sei que muitas delas são como os fariseus, que dizem estar prontos a obedecer a Deus, mas não colocam a sua Palavra em prática diariamente. As palavras religiosas são as folhas que algumas pessoas usam para encobrir a sua falta de frutos.

“Matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança” (Mt 21.33-46). Essa parábola se concentra nos motivos. Por que os líderes religiosos do judaísmo do século I se recusaram a responder à revelação de Cristo, da sua divindade e da sua qualidade messiânica? A análise de Cristo é, simplesmente, porque eles queriam “apoderar-se da sua herança”. Não que­ riam reconhecer a sua posse do povo de Deus, mas estavam viciados na emoção de conduzir as coisas à sua própria maneira! E como os líderes religiosos odiaram Jesus, por expor seus verdadeiros motivos! (w. 45,46). Com excessiva frequência, temos o mesmo proble­ ma. Por que não nos submetemos à soberania de Cristo? Porque nós queremos conduzir as nossas vidas à nossa própria maneira! Não importa que Jesus tenha todo direito de reivindicar nossa leal­ dade total. Não importa que Ele faça escolhas mais sábias e melhores, que sejam verdadeiramente para o nosso bem. Desejamos ser capazes de dizer, com a canção familiar: “I did it my way” (“Eu fiz à mi­ nha maneira”). Qual é, então, a prescrição de Jesus para dar frutos? Três passos simples são ensinados, nestas três pará­ bolas. Reconheça a autoridade de Jesus. Faça o que “Com que autoridade fazes isso?” (Mt 21.23-27). Es­ Ele lhe ordenar. Renda-se à sua vontade. tava claro, pelos milagres de Cristo, que Ele era um Se colocarmos esses passos em prática diariamente, porta-voz confirmado pelo Senhor. Mas os líderes re­ certamente daremos frutos espirituais. ligiosos dos judeus se recusavam a aceitar a sua autori­ dade. Em vez disso, como sucessores de Moisés (veja “Eis que tenho o meu jantar preparado... vinde às 23.2), eles afirmavam ser autoridades religiosas. bodas” (M t 22.1-14). Uma das perguntas mais ins-

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tigantes que se pode fazer sobre Jesus é: “Ele fracas­ sou?” Ele veio para o povo escolhido de Deus, e o rejeitaram, o mataram. E agora? A parábola do banquete das bodas responde à pergunta. O banquete de salvação de Deus terá convidados em abundância. Uma vez que aqueles que foram convidados em primeiro lugar julgaram adequado recusar o convite, o convite de Deus foi estendido às esquinas e às ruas de todo o mundo, e assim Deus congrega “todos quantos [os seus ser­ vos] encontrarem”. Certamente o salão das bodas estará “cheio de convidados”. Mas o que quer dizer essa observação sobre um in­ truso “que não estava trajado com veste nupcial”? Era costume dos reis vestir seus convidados para os banquetes com vestes elegantes. Uma pessoa que tivesse o direito de se unir aos festejos seria vestida pelo rei. Muitos pregadores fizeram várias pregações sobre esse assunto. A menos que sejamos vestidos com justiça pelo próprio Jesus, não seremos bem-vindos no céu. E isso é, naturalmente, verdade. Mas não se deve deixar de entender o ponto prin­ cipal da história de Jesus. Deus não falha quando algum indivíduo rejeita o convite para ser salvo. O fracasso é completamente do convidado, que sem a fé em Cristo jamais poderá desfrutar das boas coisas que Deus tem guardadas para nós na eterni­ dade. E, verdadeiramente, o convite é para todos. Devemos fazer a nossa parte, compartilhando este convite com outras pessoas, e não nos sentirmos desencorajados se, dos muitos aos quais convidar­ mos, poucos decidirem aceitar (v. 14). “Então, retirando-se os fariseus, consultaram entre si como o surpreenderiam em alguma palavra” (Mt 22.15-46). Os textos judaicos, dos séculos I a III documentam a visão desdenhosa que os líderes so­ fisticados da Judeia do século I tinham pelo povo “caipira” da Galileia. Os fariseus, que eram judeus, não podiam desafiar os milagres de Jesus. Mas eles pensavam que, na arena verbal, certamente conse­ guiriam desmascará-lo! O restante do capítulo examina quatro diálogos entre Jesus e estes homens que passavam suas vidas no estudo das tradições da sua fé. Antes de examinar a primeira armadilha, observe como os fariseus usavam as palavras. A primei­ ra coisa que fizeram foi tentar desarmar Cristo por um elogio no qual não eram nada sinceros: “Mestre, bem sabemos que és verdadeiro e ensinas o caminho de Deus, segundo a verdade” (v. 16). Eles tentaram atrair Jesus a uma cilada, que pro­ curaram armar utilizando as palavras que o Senhor dissera; mas as palavras que proferiram revelavam

seus corações enganosos, e, na verdade, eles mes­ mos caíram na cilada! Você e eu podemos ter cer­ teza de que o que dizemos é igualmente revelador a nosso respeito! Por que os fariseus tentaram fazer que Jesus con­ firmasse ou rejeitasse o pagamento de impostos a César? No século I, os impostos representavam uma carga pesada para a pátria judia, na verdade, ameaçando a sobrevivência de alguns. Não é de ad­ mirar que esse fosse um tema incendiário. Se Jesus confirmasse os impostos, Ele perderia o apoio da multidão. Se falasse contra os impostos, os roma­ nos certamente o tratariam com crueldade! Podemos apreciar a astúcia da resposta de Cristo. Mas é mais importante compreender o princípio. Todos nós temos uma cidadania dupla — parti­ cipamos de uma sociedade humana, e ao mesmo tempo, do Reino de Deus. Devemos viver como bons cidadãos nos dois ambientes, honrando a Deus e também ao nosso governo. “Os saduceus, cpie dizem não haver ressurreição” (Mt 22.23-33). Novamente, o que é assombroso é a óbvia falsidade daqueles que desafiavam a Cristo. Eles acreditavam que não existe ressurreição. Por que fazer uma complicada pergunta hipotética so­ bre isso? Suponho que a pergunta tivesse sido útil em deba­ tes com os fariseus, que acreditavam na ressurrei­ ção. A forma da pergunta é reductio ad absurdum. Tentar reduzir a opinião da outra pessoa a um ab­ surdo (w. 24-28). Cristo simplesmente rejeitou a hipótese sobre a qual se baseava o argumento — de que existe algo como um casamento na ressurreição. E prosseguiu, revelando a descrença básica dos saduceus. “Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus.” Em última análise, toda a nossa filosofia, toda a nossa cuidadosa lógica, não resiste. A nossa crença se baseia na confiança nas Escrituras, e na certeza do poder de Deus que por elas se revela a nós. “O grande mandamento da lei” (M t 22.34-40). O que tinha desviado os fariseus e os saduceus? Eram homens realmente religiosos, comprometidos com as suas crenças. A resposta de Cristo à última per­ gunta que lhe foi feita expôs o erro. Tudo o que a lei e os profetas falaram tencionava alimentar o amor a Deus e o amor ao próximo. Nós perver­ temos as Escrituras se as usarmos como faziam os vários grupos judeus no século I, para se edificarem e diminuir seus irmãos. Se estudarmos a Bíblia para descobrir como amar melhor a Deus e aos outros, evitaremos as atitudes

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que levaram à corrupção do judaísmo do século I Por que é que “ninguém podia responder-lhe uma e que foram tão veementemente condenadas por palavra”? Não era porque nenhum professor tives­ se jamais visto evidências, nas Escrituras, de que o nosso Senhor (veja M t 23). Messias seria o Filho de Deus. Era simplesmente “De quem é filho?" (M t 22.41-46), Jesus, então, porque estes líderes religiosos não queriam reco­ inverteu a situação, e fez perguntas sobre pala­ nhecer a autoridade de Cristo. vras a seus adversários. Se o Messias é descen­ Com tanta frequência, é isso o que acontece hoje. dente de Davi, como é que Davi reconhece a Não é que o povo não possa compreender a Bíblia. sua superioridade (isto é, “lhe chama Senhor”)? A razão é simplesmente que o povo não deseja se Tendo em vista que, no judaísmo, o pai é sem­ submeter aos seus ensinamentos. Que bênção é nos pre considerado superior ao filho, existe somente livrarmos de tais atitudes, e nos entregarmos fervo­ um ancestral. Sob inspiração, Davi confirmou a rosamente às Escrituras! Que bênção é amar a Deus, e fazer todos os esforços, somente para agradá-lo! sua divindade.

DEVOCIONAL______

Fracassos Perfeitos (Mt 23) Suponho que quase todos sabem que sete é o nú­ mero da perfeição nas Escrituras. A Criação foi concluída em sete dias. Cada semana contém um ciclo de sete dias. A cada sete anos, os israelitas de­ viam deixar os campos descansar, não semeando nada neles. Uma lâmpada de sete ramos no Tem­ plo representava a obra de iluminação do Espírito Santo. E assim por diante. Em vista disso, é fascinante notar que as palavras finais de Jesus sobre os fariseus e escribas do seu tempo são resumidas em sete “ais”. (“Ai” é uma expressão de tristeza e de acusação). Suponho que por haver sete destas declarações de “ais” indica que os líderes eram fracassos “perfeitos”. Assim, como é que conseguimos evitar sermos fra­ cassos perfeitos em nossa vida espiritual? Evitamos os sete pecados mortais que eles cometeram, cada um dos quais associados com a exaltação de si mes­ mo acima dos outros, em lugar de levar vidas hu­ mildes e amorosas. Os sete? 1. Excluir os outros. 2. Converter as pessoas à nossa própria causa, fa­ zendo com que se tornem semelhantes à nossa pró­ pria imagem. 3. Estabelecer regras para os outros, apesar da falta de discernimento espiritual. 4. Estudar detalhes religiosos sem importância, e ao mesmo tempo ignorar as verdadeiras priorida­ des de Deus. 5. Preocupar-se com as aparências e não com a jus­ tiça pessoal. 6. Encobrir motivos pecaminosos com palavras e ações enganosas. 7. Professar sensibilidade a Deus como um disfarce à hostilidade.

Oh, sim. Se você desejar uma prescrição positiva, experimentará um exercício elementar. Simples­ mente deixe de lado cada um desses sete, e faça a sua própria lista de sete qualidades que contribuem para o sucesso espiritual! Aplicaçáo Pessoal Tenha cuidado, pois também somos vulneráveis às atitudes que condenaram os fariseus. Citação Importante “A humildade e o desprezo a nós mesmos conse­ guirão realizar os nossos desejos muito mais rapida­ mente do que o orgulho obstinado. Embora Deus seja exaltado, os seus olhos consideram os humil­ des, tanto no céu como na terra, e nós lutaremos em vão para agradá-lo de qualquer outra maneira que não seja nos humilhando.” — João de Ávila 27 DE JULHO LEITURA 208 A PROFECIA DE JESUS Mateus 24— 25 “Daquele Dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas unicamente meu Pai” (Mt 24.36). Jesus fez predições específicas sobre o futuro. Mas enfatizou o que os seus servos devem fazer até que chegue o futuro. Visão Geral Jesus respondeu às perguntas dos seus discípulos sobre o fim dos tempos (24.1-28), os sinais da sua vinda (w. 29-35), e quando essas coisas acontece­ rão (w. 36-44). E prosseguiu enfatizando a impor­ tância de estar preparado (w. 45-51), enfatizando

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a importância do serviço em duas parábolas (25.1- que a humanidade exige redenção. Sem uma obra 30). Em última análise, Jesus virá outra vez, e esta­ transformadora de Deus, nenhuma modificação duradoura ocorrerá. belecerá o seu Reino (w. 31-46). E, tragicamente, a maior parte dos seres humanos persistirá rejeitando Jesus e suas declarações. Entendendo o Texto “Não ficará aqui pedra sobre pedra” (M t 24.1,2). O Templo de Jerusalém era uma das maravilhas do “Aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem” (Mt mundo antigo. Os pagáos, assim como os judeus, 24.30-35). Jesus retornará. Como Ele virá? A sua vinham de todas as partes do Império Romano primeira vinda foi silenciosa. Ele se esgueirou despara vê-lo. Não é de admirar que os discípulos de percebidamente em nosso mundo, um pequeno Jesus tenham ficado assombrados quando Cristo Menino, e cresceu sob a aparência de um judeu disse que todas as pedras do magnífico edifício vi­ normal. A sua segunda vinda será espetacular: to­ riam abaixo — uma predição cumprida por tropas das as nações da terra o verão aparecer “com poder romanas em 70 d.C., menos de quatro décadas de­ e grande glória”. Não precisamos jamais nos perguntar se Jesus terá pois da crucificação de Cristo. Quando você e eu pensarmos sobre o futuro, pre­ se esgueirado entre nós, despercebido, outra vez. cisamos fazê-lo com a atitude exibida por Cristo. A sua próxima aparição chamará a atenção — e o Este mundo, com todas as suas maravilhas, virá respeito — de todos. abaixo, será destruído. Todas as coisas materiais às Jamais precisamos ficar envergonhados ou embara­ quais nos apegamos cairão por terra, ou serão des­ çados por dar testemunho do Jesus despercebido, truídas com a própria terra em chamas ardentes (cf. a quem nossos amigos ignoram hoje com tanto 2 Pe 3.10). Podemos apreciar todas as realizações sucesso. Eles não poderão ignorá-lo ou deixar de do homem. Mas devemos fixar nossas esperanças vê-lo quando Ele voltar. no mundo que virá. “Daquele Dia e hora ninguém sabe” (M t 24.36-44). “Que sinal haverá... do fim do mundo?” (M t 24.3- Não consigo imaginar quantos livros e panfletos 29). Jesus respondeu a três perguntas propostas foram escritos, prometendo informar a data do re­ pelos seus discípulos (v. 3), mas na ordem reversa. torno de Cristo. Como alguém pode ser tão tolo, Em primeiro lugar, Ele advertiu contra confundir quando o próprio Jesus disse: “daquele Dia e hora as tragédias comuns das guerras, da peste, da fome ninguém sabe”? e dos desastres naturais, com uma indicação de que Mas existe uma característica positiva em cada um o mundo está prestes a terminar. Todas essas coi­ desses textos. Os autores esperam que Cristo retor­ sas são o que sempre constituiu a história humana, ne durante as suas vidas. desde o pecado de Adão. O mundo não melhorará, Desde o primeiro século, os cristãos têm esperado nem o Reino de Cristo virá por meio de uma exal­ o retorno de Jesus. Lembro-me da minha mãe, há tação gradual da nossa raça pecadora. 53 anos — eu tinha cinco anos — me dizendo que O curso da história humana é descendente, e não esperava que o Senhor viesse enquanto ela estava ascendente. Em última análise, ela descerá aos abis­ viva. Hoje espero que Jesus retorne durante a mi­ mos descritos por Daniel, onde alguém conhecido nha vida. Pode ser que Ele não retorne nesta época. como o Anticristo profana o santuário e o mundo Mas o importante é que pode ser que Ele o faça. mergulha na mais terrível tribulação (w. 15-21). Por que isso é importante? Porque Jesus assim o en­ Muitos tentaram encaixar o que Jesus ensinou aqui fatizou. Ele disse: “Estai vós apercebidos também, em uma sequência rígida de eventos proféticos. porque o Filho do Homem há de vir à hora em Não há dúvida de que as palavras de Cristo estão que não penseis”. Se reconhecermos a característica na mais completa harmonia com as dos profetas perecível deste mundo, e se esperarmos que Jesus do Antigo Testamento, e de que elas se “encaixam” venha a qualquer momento, como nossos valores e no quadro do fim da história, obtido das revelações prioridades mudarão! Que Deus possa dar, a cada mais antigas. Mas aqui há um ponto mais impor­ um de nós, um sentimento profundo da iminência tante. do retorno de Jesus. Não concentre o seu coração no que este mundo oferece. Porque ele está condenado. “Quem é, pois, o servo fiel e prudente?” (M t 24.45Isso não quer dizer, é claro, que você e eu não de­ 51). Essa parábola é dirigida aos líderes — os res­ vamos fazer tudo o que pudermos para promover ponsáveis pelo cuidado e pela supervisão dos ou­ a paz entre as pessoas, entre as sociedades e a paz tros. Os líderes devem considerar e se preocupar internacional, mas simplesmente nos lembra de com o bem estar dos outros. O servo bom, que

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trata os outros com bondade, será recompensado quando Jesus voltar. Mas há servos “maus” na lide­ rança, que exploram e maltratam os outros. Igno­ rando a possibilidade do retorno do senhor, estes servos tosquiam, em vez de apascentar o rebanho de Deus. Quando estava escrevendo este parágra­ fo, fiz uma pausa, e liguei a televisão. Eu vi uma notícia rápida. Jim Bakker tinha sido condenado por 24 contas fraudulentas: por mentir aos seus parceiros da TV sobre projetos que ele sabia que não seriam concluídos, e por tomar para si mesmo e sua esposa 3,7 milhões de dólares das contribui­ ções. Posteriormente, Tammy Faye falou, e contou aos repórteres reunidos que este júri terreno não tinha dado o veredicto final. Pergunto-me se ela ou Jim teriam lido esta pará­ bola? Ou a sua conclusão. Em termos vívidos e severos, Jesus fala de punições para aqueles servos maus, que “espancam seus conservos e... comem e bebem com bêbados” (v. 49). “Dez virgens... tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo” (M t 25.1-13). O costume dos casamentos judeus ditava que o noivo fosse à casa da noiva e a acompanhasse à sua própria casa. As amigas da noiva esperavam que ele viesse. Ainda que tenham sido apresentadas muitas in­ terpretações fantasiosas desta parábola, o tema principal está claro. O noivo não veio quando era esperado, mas se atrasou. E algumas das jovens que esperavam acompanhar a festa não trouxeram azei­ te suficiente para suas lâmpadas, e o azeite acabou. Neste conjunto de explicações sobre a espera pela segunda vinda do Salvador (que parecia demora­ da), essa parábola esclarece um ponto simples.

DEV OCIONAL_______ Senhor, quando te Vimos?

(Mt 25.31-46) Ás vezes, é melhor ignorar a teologia, quando lemos a Bíblia. Oh, eu não quero dizer que não se deva fazer perguntas teológicas. Ou que não devamos tentar respondê-las. Só quero dizer que, às vezes, o nosso estudo ansioso nos atrapalha, de modo que deixamos de perceber alguma coisa simples, que contém uma grande bênção. Mateus 25.31-46 é um bom exemplo: a parábola das ovelhas e dos bodes. O significado da parábola é acaloradamente debatido. Os “sedentos e famin­ tos”, como Jesus chamou seus irmãos, têm sido identificados de várias maneiras. Eles são os pobres e oprimidos, ou o povo judeu na era da Tribulação, ou os habitantes do mundo cristão.

Esperem-no a qualquer momento. Mas estejam preparados para uma longa espera. Esta é a perspectiva que você e eu devemos adotar enquanto vivemos na terra. Devemos esperar, to­ das as manhãs, pelo retorno de Jesus, e viver como se Ele fosse voltar antes do anoitecer. Mas devemos nos preparar para uma vida aqui, dispostos a espe­ rar o tempo que for preciso para a sua vinda. “Entregou-lhes os seus bens” (Mt 25.14-30). Essa parábola familiar também se concentra no que de­ vemos fazer enquanto esperamos pelo retorno de Cristo. Ela explica que Deus nos confiou recursos — dinheiro, dons pessoais, habilidades — e que Ele espera que usemos estes recursos a seu serviço. Talvez a maior maravilha aqui seja o fato de que Deus confia muito em nós, e então nos dá a liber­ dade para usar o que Ele nos deu da maneira como quisermos. Deus não fica nos vigiando, dando or­ dens, colocando pingos nos “i”s. Em vez disso, Ele recua. Deixa que tenhamos o prazer de tomar a ini­ ciativa, a alegria de conseguir. Ele nos dá liberdade e apoio, e embora nos dê a responsabilidade, deseja que sejamos bem-sucedidos. O servo que enterrou no solo seu talento retrata cada cristão que já teve medo de se arriscar a dar um passo por Deus, ao passo que os servos que ti­ veram lucro representam cada um de nós que já sentimos alegria ao agirmos, pela fé, para servir o nosso Deus. Como as demais parábolas dessa seção, esta termi­ na com um amargo retrato da punição adequada ao servo que falhou. O que fazemos nesta vida re­ almente importa. Nós verdadeiramente devemos cuidar dos negócios do nosso mestre.

Da mesma maneira, as ovelhas e os bodes têm sido interpretados de várias maneiras. São grupos na­ cionais, ou indivíduos? Se a passagem fala sobre a salvação, será a “justiça” realmente a intenção? Embora essas perguntas sejam importantes, talvez seja suficiente, para a nossa leitura devocional, ob­ servar um ou dois fatos essenciais. Em primeiro lugar, Cristo se identificou com “estes meus peque­ ninos irmãos” que vivem na terra. Aquilo que nós fazemos para atender às necessidades dos outros, não é simplesmente feito “por” Cristo, mas, em um sentido especial, a Ele! Em segundo lugar, como discípulos de Jesus, que têm fome ou sede, podemos nos consolar com o fato de que Cristo compartilha a experiência co­ nosco. Ele não assiste: Ele participa.

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realmente negou o seu Senhor (w. 69-75) e Judas se enforcou (27.1-10). Jesus foi condenado por Pilatos (w. 11-26), ridicularizado por seus executores (w. 27-31) e crucificado (w. 32-56). Foi sepultado (w. 57-61) e o seu sepulcro foi colocado sob vigi­ lância (w. 62-66). Mas a morte não é o fim! No terceiro dia, Jesus ressuscitou dos mortos (28.1-15) e posteriormente encarregou seus discípulos a “ir e fazer discípulos” (w. 16-20).

Tanto os justos, que ajudam os irmãos de Jesus, quanto os ímpios, que não o fazem, ficaram sur­ presos quando a base do seu julgamento foi expli­ cada. Assim como nós poderemos nos surpreender, quando Jesus retornar, por sabermos o quão pro­ fundamente Ele esteve envolvido em cada uma de nossas experiências. Mas, se voltarmos os nossos corações e mentes ao que Jesus ensina aqui, uma grande e maravilhosa paz nos alcançará. Verdadeiramente não estamos sozinhos, qualquer que possa ser o sofrimento pelo qual passamos, ou a necessidade que tenhamos. Je­ sus está conosco. Na sua presença podemos encon­ trar consolo e paz. Aplicação Pessoal Enquanto você aguarda a volta de Jesus, lembre-se de que Ele está com você. Citação Importante “Receba cada problema, interior ou exterior, cada desapontamento, dor, desconforto, tentação, escu­ ridão e desolação, com ambas as mãos, como uma verdadeira oportunidade e uma ocasião abençoada de morrer para si mesmo, e entrar em uma comu­ nhão mais ampla com o seu Salvador sofredor. Não considere nenhum problema interior ou exterior de outra maneira; rejeite qualquer outro pensamento a respeito dele; e cada tipo de provação e pressão se tornará o dia abençoado da sua prosperidade.” — William Law 28 DE JULHO LEITURA 209 A CRUCIFICAÇÃO Mateus 26-—28 “O centurião e os que com ele guardavam a Jesus, vendo o terremoto e as coisas que haviam sucedido, tiveram grande temor e disseram: Verdadeiramente, este era o Filho de Deus” (Mt 27-54). Com esses três capítulos finais do Evangelho de Mateus iniciamos o santo dos santos cristão. Com uma sensação de mais profundo respeito, testemu­ nhamos novamente a morte e a ressurreição do nosso Senhor. Visão Geral Jesus predisse a sua morte iminente (26.1-13) e Ju­ das tramou com os principais dos sacerdotes para traí-lo (w. 14-16). Durante uma última refeição, Jesus instituiu a Santa Ceia, e predisse a negação de Pedro (w. 17-35). Jesus orou no Getsêmani (w. 36-46) quando foi preso (w. 47-56) e levado dian­ te da corte suprema dos judeus (w. 57-68). Pedro

Entendendo o Texto 'Aproximou-se... dele uma mulher com um vaso de alabastro, com unguento de grande valor” (M t 26.113). Este é um dos relatos fascinantes das Escritu­ ras. Quando a suprema corte dos judeus planejava prender Jesus; quando Judas contemplava a possi­ bilidade de traí-lo; quando o próprio Cristo falava da iminente crucificação; uma mulher, anônima, se esgueirou na casa em Betânia onde Jesus estava hospedado. Sem dizer uma palavra, ela derramou unguento na sua cabeça e, como outro Evangelho nos conta, lavou seus pés com suas lágrimas. E Je­ sus, referindo-se ao que ela tinha feito como “uma boa ação”, prometeu que “onde quer que este evan­ gelho for pregado, também será referido o que ela fez para memória sua”. Mas, por quê? O que havia de tão especial? Talvez seja somente o fato de que todos estavam surpre­ endidos pelos grandes eventos que então se desen­ rolavam. A cidade estava agitada com rumores, depois da entrada triunfal de Jesus. Os sacerdotes e Judas estavam conspirando. Os discípulos estavam entusiasmados com a possibilidade de que Cristo pudesse, em breve, estabelecer o seu Reino. Mas ninguém foi sensível a Jesus e à dor que Ele sentia tão profundamente, então. Ninguém, exceto esta mulher anônima, que chorou com Ele, e por Ele, e o ungiu com seu maior tesouro. Você e eu podemos ser muito atarefados. Podemos ficar aprisionados nos nossos planos, nossos so­ nhos. Mesmo quando a nossa atividade alvoroçada é religiosa — fazer coisas por Jesus — podemos ser como as pessoas que então rodeavam Jesus. Como nós precisamos fazer uma pausa, deixar de lado nossos projetos, e esperar silenciosamente para sen­ tir o estado de espírito de Cristo, e derramar nossos maiores tesouros — adoração e amor. “Isto é o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados” (M t 26.1730). Com essas palavras, Jesus resumiu o significa­ do da sua morte. A sua morte é a garantia que Deus nos dá de que as novas promessas à humanidade entraram em vigor. Por meio da morte de Cristo, o perdão do pecado se faz disponível a todos os seres

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humanos. E a sua ressurreição é a garantia de que Jesus voltará, para nos acompanhar ao nosso lugar no “reino do seu Pai” (v. 29). Quando compartilhamos aquilo que diferentes tra­ dições chamam de Comunhão, Ceia do Senhor ou Eucaristia, declaramos a nossa total confiança nas suas promessas. Celebramos o nosso perdão. E nós antecipamos o retorno de Jesus.

minação de rejeitar qualquer outra opção que não fosse a vontade de Deus. É fácil para você ou para mim, comovidos por alguma emoção, nos ren­ dermos, de forma privada ou pública, ao Senhor. Entoamos o antigo hino: “Farei o que desejas que eu faça, amado Senhor”, e seguimos em frente. E somos sinceros, com todo o coração. Naque­ le momento. Mas até mesmo a rendição sincera é insignificante, a menos que seja expressa, mais “Não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mt adiante, em firme determinação. Assim como Jesus 26.36-46). Por todo o Antigo Testamento, como demonstrou tal determinação, também devemos também em o Novo Testamento, “cálice” frequen­ viver nossas vidas. temente representa alguma experiência distinta. Assim, o “cálice do seu furor” (Is 51.17) representa “Conjuro-te... que nos digas se tu és o Cristo, o Fi­ a experiência do juízo divino, e o “cálice da salva­ lho de Deus” (Mt 26.57-68). Novamente, o nosso ção” (SI 116.13) representa a experiência de salva­ foco está em Cristo. Poderíamos, naturalmente, ção do salmista. O cálice de Jesus não era tanto o estudar com sucesso a suprema corte dos judeus, tormento físico que Ele estava prestes a vivenciar, que já tinha decidido condenar Jesus e lutava para mas a terrível perspectiva de tomar sobre si mesmo encontrar alguma acusação que justificasse a sua o pecado da humanidade. Diante dessa perspecti­ intenção. Mas, em vez disso, olhamos para Jesus, va, Ele disse: “A minha alma está cheia de tristeza em silêncio, até que lhe foi pedido que confessasse até à morte” (v. 38). a sua divindade. Os discípulos não puderam compreender, nem E Ele confessou, e acrescentou que no juízo final mesmo permanecer despertos e vigiar, para parti­ eles o veriam outra vez, “assentado à direita do lhar com Ele a terrível solidão. Mas hoje podemos Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu” vigiar, adorar e aprender. Cada uma dessas coisas é (v. 64). importante. Vigiamos, meditando sobre os sofri­ Com essa declaração, Jesus deixou cada homem mentos de Cristo, voltando nossos corações com com uma única escolha. Reconhecer Jesus como empatia. Adoramos, louvando e dando-lhe graças Deus — ou rejeitá-lo. Cristo é quem Ele disse ser, pelo amor tão grande que Ele exibiu. E aprende­ ou é um louco. mos, crescendo na convicção de que, como Jesus, A corte, naturalmente, já tinha tomado a sua deci­ precisamos tomar qualquer que seja o cálice que são. Para eles, o que Jesus afirmava era uma blasfê­ Deus nos oferecer, e dizer, com nosso Senhor: “Não mia, e exultaram com o fato de que, sob a lei judai­ seja como eu quero, mas como tu queres”. ca, a blasfêmia exigia a pena de morte (w. 65,66). Como a ressurreição prova, a vontade de Deus é Hoje, muitos estudiosos judeus parecem separar o melhor. Jesus histórico do Cristo do cristianismo. O ho­ mem Jesus, argumentam, era um Hasid, um judeu “Legiões de anjos” (M t26.47-56). Examinando essa piedoso e carismático que enfatizava uma fé íntima parte da descrição de Mateus, somos tentados a nos e vital no Deus de Israel. Versículos como esses, no concentrar na perfídia de Judas, ou na corajosa ten­ Evangelho de Mateus, devem ter sido acrescenta­ tativa de defender Jesus por parte de “um dos que dos depois que a igreja desafiou o jovem rabino, estavam com Jesus”, que outros Evangelhos dizem cuja morte prematura foi tão trágica. ser Pedro. Mas é apropriado, neste relato das últi­ Mas não funcionou. Jesus ainda está diante da cor­ mas horas de Jesus, nos concentrarmos no nosso te da mente de cada pessoa, ainda afirmando ser Senhor. Cristo, o Filho de Deus. E o nosso destino eterno O que é tão impressionante aqui é o fato de que, depende do nosso veredicto ser sim ou não. para Jesus, fazer a vontade de Deus não era simples­ mente submeter-se, mas também determinar-se. “Saindo dali, chorou amargamente” (M t 26.69-75). Jesus tinha acabado de dizer: “Não seja como eu Por um momento, a cena parece transferir-se, de quero, mas como tu queres”. Mas, quando as mul­ Jesus para Pedro. Mas a transferência é somente tidões avançaram para prendê-lo, Jesus ficou ple­ aparente, não real. Quando Pedro se assentou jun­ namente ciente de que não tinha que ir com eles. to ao fogo que ardia no átrio do sumo sacerdote, Mesmo então, Ele poderia ter chamado seu Pai e amaldiçoando e negando ser um dos seguidores pedido legiões de anjos! Mas não fez isso. A sua “de tal homem”, parecemos ver a figura entristeci­ rendição foi real, pois foi expressa na firme deter­ da de Jesus assentado junto à mesa, anteriormente,

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e ouvir a sua voz carregada de tristeza, dizendo a Pedro, “nesta mesma noite... três vezes me nega­ rás” (v. 34). Sentimos uma sensação esmagadora da presença de Jesus, inclusive quando Pedro falava. E, repentinamente, Pedro também a sentiu! Ele percebeu o que tinha feito, e “saindo dali, chorou amargamente” (v. 75). Jesus sabia, o tempo todo, o que Pedro iria fazer. E, durante todo o tempo, Ele estava disposto a sacrificar-se por homens e mulheres que, mesmo com as melhores intenções, não resistiriam. Todo o tempo, Jesus sabia. Como Ele sabe agora. Ele sabe quando você e eu o desonramos, com nossas palavras e ações. Ele observa tristemente. E quando, como Pedro, nós, por fim, sentirmos no­ vamente a sua presença, não há problema se cho­ rarmos. E mesmo quando o fizermos, temos a cruz para nos lembrar de que o seu amor por nós jamais falhou ou desapareceu. “Retirou-se e foi-se enforcar” (M t 27.1-10). Nova­ mente, o foco somente parece se afastar de Jesus. Desta vez, vemos Judas, repentinamente tomado pelo remorso, tentando devolver as 30 moedas de prata que tinha recebido por trair o Senhor. Os sa­ cerdotes não se sensibilizaram, quando ele clamou, “Pequei, traindo sangue inocente”. O seu único co­ mentário foi “Isso é contigo”. E os sacerdotes, desta vez, estavam certos. Quando lemos sobre o incidente, a figura invisível de Jesus novamente domina a cena. Pois deveriam ser aquelas lembranças de Jesus que agora enchiam a mente de Judas. Com os olhos da sua mente, ele viu Jesus, cansado, recusando descanso, para po­ der ajudar e curar. Ele ouviu Jesus falar de Deus como um Pai celestial amoroso. Ele sentiu o toque da mão de Cristo no seu braço, e se lembrou de como o Senhor estendia a mão com compaixão, para curar os leprosos. Todo o tempo, Judas sabia que Jesus era inocente, mas agora, quando era tar­ de demais, a percepção do seu esplendor e do seu amor o dominou. Incapaz de se livrar dessas ima­ gens de Cristo, esmagado por um sentimento de culpa, mas sem desejar humilhar-se e pedir perdão, Judas saiu e se enforcou. Para os não salvos, assim como para os crentes, Jesus permanece como o único homem inesque­ cível da história. A sua imagem pode nos encher de esperança e amor, ou pode permanecer como um fantasma inconfundível, apontando silenciosa­ mente para a nossa culpa.

Ele não se interessava pelas crenças ou a sensibili­ dade do povo da província que governou durante aproximadamente 10 anos. E, sem dúvida, enri­ queceu quando servia como administrador roma­ no da Judeia. Mas mesmo Pilatos sentiu-se desconfortável quan­ do Jesus lhe foi trazido para ser sentenciado. No final Pilatos se rendeu à pressão feita pelos líderes judeus e pela multidão, e condenou Jesus à morte. Ele não queria fazer isso. Contudo era mais fácil entregar Jesus do que ordenar a sua libertação e arriscar-se a enfrentar um tumulto. Novamente vemos o domínio de Jesus. Ele força cada indivíduo que o encontra a parar, fazer algu­ ma escolha crucial, e decidir. Pilatos tentou disfarçar a sua escolha, dizendo aos judeus: “Estou inocente do sangue deste justo”. Isso não era verdade, é claro. Somente Pilatos tinha o poder de ordenar a crucificação de Cristo. E Pi­ latos tinha a autoridade para libertá-lo. Ele tentou transferir a responsabilidade pela sua decisão, mas não importa o que ele e os ansiosos líderes judeus disseram, Pilatos continuou responsável pela sua decisão no caso de Jesus Cristo. Também continuamos nós, e também continuam todas as pessoas. Jamais podemos transferir a res­ ponsabilidade por qualquer decisão que possamos tomar a respeito dEle. Ninguém mais será conde­ nado por nós. E a fé salvadora de ninguém mais salvará, a você ou a mim. Como aconteceu com Pilatos, Jesus está diante de nós, e nós, sozinhos, devemos decidir o seu caso.

“O véu do templo se rasgou em dois, de alto a bai­ xo” (M t 27.32-56). As crucificações, embora re­ servadas para criminosos e escravos, não eram incomuns no Império Romano do século I. Mas esta foi diferente. Quando inúmeros espectado­ res assistiam e ouviam (Veja o DEVOCIONAL.), Jesus clamou ao seu Pai, os céus se escureceram, e no momento da sua morte, a terra tremeu. Até mesmo os insensíveis soldados romanos ficaram aterrorizados, exclamando: “Verdadeiramente, este era o Filho de Deus”. Talvez o mais significativo acontecimento tenha passado quase despercebido, pois deve ter sido ra­ pidamente reparado pelos sacerdotes e levitas cho­ cados que cuidavam do Templo. Ali, um véu espes­ so foi milagrosamente rasgado, de alto a baixo. Esse véu isolava o Santo dos Santos, a câmara interior onde, uma vez por ano, o sumo sacerdote entrava, para fazer a expiação dos pecados de Israel. “Tendo mandado açoitar a Jesus, entregou-o para ser O autor do livro de Hebreus nos conta que o véu crucificado" (Mt 27.11-26). Todos os relatos do sé­ era simbólico, e mostrava que ninguém tinha culo I afirmam que Pilatos era um homem cruel. acesso imediato ou direto a Deus. O pecado ain­

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da mantinha a humanidade longe da presença de Deus. De modo que o rasgar do véu anunciava uma nova era! O caminho para o Santo dos Santos estava aberto! Por meio da morte de Cristo, os pe­ cadores perdoados têm acesso direto e imediato ao Deus de Israel. Sim, o corpo de Cristo foi rasgado. Mas por meio dos pregos cravados em suas mãos, e da lança que perfurou seu lado, fluiu o sangue car­ mesim que, uma vez derramado, preencheu o antigo vazio entre Deus e o homem, e até agora garante que podemos ir, corajosamente, ao tro­ no da graça, para encontrar auxílio para cada necessidade.

líderes tentaram desesperadamente ocultar o fato (w. 11-15). Mas talvez esta seja uma pergunta que deveríamos fazer aos nossos amigos que hoje emitem opiniões sobre Jesus. “Eu sei que você não acredita”, pode­ ríamos dizer, “mas e se Jesus realmente ressuscitou dos mortos?” E se Jesus é o Filho de Deus? O que significaria para você, Se?” E feitas essas perguntas, podemos nos afastar, e es­ perar. Porque Jesus ressuscitou. Ele está vivo. Ele é o Filho de Deus. E Ele enviou o seu Espírito Santo ao mundo, para exaltar Jesus diante das mentes e dos corações dos homens, até que cada um dê a sua resposta para estas perguntas hoje.

“A quele enganador, vivendo ainda, disse: Depois de três dias, ressuscitarei” (M t 27.57-66). Os seus ami­ gos o sepultaram, com o coração partido. Somente os seus inimigos se lembraram da sua promessa de ressuscitar — e para eles, isso era uma ameaça, e não uma promessa. Colocaram uma guarda, para impedir que os discípulos roubassem o corpo, fin­ gindo que a ressurreição tinha ocorrido. Mas eles devem ter se sentido inquietos, quando foram dor­ mir naquela noite. E se Jesus tivesse dito a verdade? E se Jesus fosse o Filho de Deus? Essa pergunta era terrível demais para contemplar, e eu suspeito que nenhum dos líderes imaginou que Jesus realmente ressuscitaria. Na verdade, mesmo depois que Ele ressuscitou dos mortos, os

“Eu estou convosco todos os dias” (Mt 28.16-20). Mateus encerra o seu Evangelho com o que é cha­ mado de “grande comissão”. Devemos ir a todos os lugares, e fazer discípulos. Devemos batizar, e ensinar os outros a obedecer às palavras que foram ensinadas pelo nosso Senhor. E não temos que fazer isso sozinhos! Esta figura maravilhosa que domina os quatro Evangelhos, e especialmente os últimos capítulos do Evangelho de Mateus, ainda está em pé. Aquele que ensinou e curou com tanta autoridade, aquEIe que morreu e ressuscitou, e que foi “declarado Filho de Deus em poder” (Rm 1.4) detém “todo o poder no céu e na terra”. Nós o encontramos nos Evangelhos. E agora vivemos com Ele todos os dias.

DE VOCIONAL_______ Ficar ali (Mt 27.32-56) Um dos mais comoventes estudos da Bíblia que eu já acompanhei aconteceu na nossa sala de es­ tar. Era pouco antes da Páscoa, e nosso pequeno grupo de amigos abriu suas Bíblias nessa passagem. Dei a cada um deles um desenho desta cena: um desenho que tinha três círculos desenhados a dis­ tâncias variadas, nas proximidades da cruz. Juntos, examinamos a passagem e descobrimos os que es­ tavam mais próximos da cruz — o centurião, os soldados, os ladrões nas outras cruzes, o homem que se apressou a oferecer vinagre a Cristo. Preen­ chemos o segundo círculo, e depois o terceiro. E então pedi que cada membro do grupo escolhesse a pessoa que mais provavelmente teria sido — , ou seja, que assumisse o lugar desta pessoa — para testemunhar a crucificação — então nos contasse o que sentiu e pensou enquanto testemunhava a morte do nosso Senhor. Que exercício, para você e

para mim, em qualquer época do ano. Estamos in­ sensíveis, protegidos contra sentimentos por uma casca protetora, como os soldados romanos? Nós estamos treinados, educados, competentes, como o centurião romano? Estamos sobrecarregados com o conhecimento da nossa culpa, como um dos la­ drões na cruz, ou amargos e irados como o outro? Estamos simplesmente curiosos, como o homem com a esponja com vinagre? Os nossos corações estão partidos, como o de Maria, sua mãe, e o das outras mulheres? Estamos cínicos, como os sacer­ dotes e os escribas? Qualquer que seja a nossa natureza ou estado atu­ al, podemos encontrar uma pessoa com quem nos identificar neste capítulo. Podemos ficar junto a eles, próximos da cruz. Podemos assistir a morte do Sal­ vador. E, talvez, quando ali estivermos, nós também poderemos ser repentinamente tomados por reve­ rência, com o desenrolar dos acontecimentos, e per­ ceber que, não importando quem sejamos, ou qual a

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nossa condição — Jesus está suspenso ali por nós! E Louve ao Senhor, louve ao Senhor, por meio do seu sofrimento, nós seremos curados. que a terra ouça a sua voz! Louve ao Senhor, louve ao Senhor, Aplicação Pessoal Que o povo se alegre! Visite com frequência a cruz, e encontre ali respos­ Oh, venha para o Pai, por meio de Jesus, o Filho, tas para as suas necessidades mais profundas. e dê a Ele a glória — grandes coisas Ele fez.” — Fanny J. Crosby Citação Importante “A Deus seja a glória — grandes coisas Ele fez! Amou tanto o mundo que nos deu o seu Filho, que deu a sua vida para expiar o pecado, O Plano de Leituras Selecionadas continua em e abriu a porta da vida para que todos possamos JEREMIAS entrar.

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MARCOS INTRODUÇÃO Segundo tradições muito antigas, este Evangelho se baseia na pregação e nas histórias de testemunho ocular contadas pelo apóstolo Pedro. Foi provavelmente escrito entre 65— 70 d.C. As muitas explicações de termos em aramaico e costumes hebreus sugerem que Marcos escrevia para leitores gentios. Nas pala­ vras ásperas e vigorosas de um homem comum, o intérprete de Pedro, João Marcos, retratou Jesus como um Homem de açáo, cuja natureza e missão podem ser mais bem compreendidas observando as suas obras. Quase uma terça parte deste Evangelho é dedicada à crucificação e aos eventos da última semana de Cristo na terra. ESBOÇO DO CONTEÚDO I.Prólog o Mc 1.1-13 II..O Início do Ministério na Galileia......................................................................................... Mc 1.14— 3.6 III. A Última Fase do Ministério na Galileia..............................................................................Mc 3.7— 6.13 IV. A Saída da Galileia...................................................................................................................Mc 6.13— 8.30 V..A Ida a Jerusalém....................................................................................................................Mc 8.31— 10.52 VI. O Ministério em Jerusalém...........................................................................................................Mc 11— 13 VII. Morte e Ressurreição...................................................................................................................Mc 14— 16 GUIA DE LEITURA (9 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura

Capítulos

210 211 212 213 214 215 216 217 218

1 2— 3 4— 5 6— 7 8— 9 10— 11 12— 13 14 15— 16

Passagem Essencial 1.35-39 3.20-30 5.1-20 7.1-23 9.30-50 10.17-31 13 14.43-65 15.21-41

MARCOS 29 D E JU LH O LEITURA 210

O FILHO DE DEUS Marcos 1

“E ouviu-se uma voz dos céus, que dizia: Tu és o meu lugar, eles nos advertem. Não devemos ser rápidos demais em desistir dos jovens. Eles podem come­ Filho amado, em quem me comprazo” (Mc 1.11). ter erros, e o farão. Mas com o tipo de preocupa­ ção amorosa e uma segunda chance que Barnabé Praticamente sem introdução, o autor mergulha no lutou para dar a Marcos, eles podem crescer, e se relato dos eventos que provavam o seu tema: Jesus modificar. Em segundo lugar, esses versículos nos encorajam. é o Filho de Deus. Como João Marcos, você e eu podemos, às vezes, retroceder no nosso comprometimento com o Se­ Contexto João Marcos. Uma antiga tradição, de origem atri­ nhor ou com o ministério. Como é maravilhoso buída ao próprio apóstolo João, identifica Marcos perceber que essas falhas não nos desqualificam. como o autor deste Evangelho. Aparentemente, ele João Marcos não apenas prosseguiu e se tornou um acompanhou Pedro, quando ele esteve em Roma, líder na Igreja Primitiva — Deus o escolheu para e, segundo os primeiros historiadores da igreja, re­ escrever um dos livros da nossa Bíblia! fletiu a pregação de Pedro em seu Evangelho. Sempre que abrimos a Palavra de Deus no Evan­ Mas o próprio João Marcos tem uma história fasci­ gelho de Marcos, somos lembrados de que Deus nante. Ele era o filho mais jovem de uma converti­ deseja nos dar também outra chance — e se a acei­ da de Jerusalém, uma mulher a cuja casa Pedro foi tarmos, Ele a usará para a sua glória. depois de ser solto da prisão (At 12.12). Marcos viajou, por pouco tempo, com Paulo e Barnabé na Visáo Geral sua primeira viagem missionária (13.5), mas aban­ João Batista veio, em conformidade com as pro­ donou o grupo de missionários (v. 13). Paulo ficou fecias, para anunciar a aparição de Jesus (1.1-8). tão aborrecido com ele, que quando Barnabé insis­ No batismo de Cristo, Ele foi identificado como o tiu em levar Marcos (que também era seu primo) Filho de Deus (w. 9-13). Ele começou a sua obra em outra viagem, os dois capacitados missionários chamando discípulos (w. 14-20), expulsando espí­ se separaram (15.36-41). ritos malignos e curando (w. 21-34). Jesus encon­ E mais tarde, nós encontramos Marcos outra vez, trou forças na oração quando viajava pela Galileia nas epístolas de Paulo! Ali vemos que a atitude de (w. 35-39), demonstrando a compaixão de Deus Paulo tinha mudado: Marcos não somente devia por intermédio das curas que operava (w. 40-45). ser bem recebido pelas igrejas que o apóstolo tinha fundado (Cl 4.10), mas também, na prisão, Paulo Entendendo o Texto pediu que Marcos viesse até ele, “porque me é mui­ “Filho de Deus” (Mc 1.1). Em hebraico e no arato útil para o ministério” (2 Tm 4.11). maico falado pelos judeus no século I, “filho de” Que lição estes poucos versículos a respeito de frequentemente representava descendência ou de­ Marcos têm para nós hoje em dia. Em primeiro pendência. De certa forma, os seres humanos e os

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anjos sáo “filhos de” Deus (seres criados por Ele). Mas “filho de” pode ter outro significado: um sig­ nificado que está enraizado na identidade. Dizer que uma pessoa é “filho de homem” significa que é um ser humano. Com que sentido Marcos usou “Filho de Deus” no seu primeiro versículo? Claramente no sentido mais significativo: Jesus é um com Deus. Jesus é Deus. Marcos não discutiu esse ponto. Em vez disso, re­ latou uma série de eventos e atos exclusivos que deixaram claro exatamente quem é Jesus. Talvez seja esta uma das grandes qualidades do cur­ to Evangelho de Marcos: A medida que o lemos, somos lembrados, repetidas vezes, de que aquEle cujas aventuras nós compartilhamos é o Filho de Deus, que viveu no nosso mundo. Ele veio mos­ trar, em tudo, o que faz, e nos revelou mais sobre o caráter do nosso Deus. Se mantivermos isso em mente, sentiremos reverência frequente pela exibi­ ção de Jesus do amor e da graça de Deus. E muitas vezes seremos levados a fazer uma pausa e orar. “Apareceu João batizando” (Mc 1.2-8). Sem mais nenhuma introdução, Marcos passou aos emocio­ nantes acontecimentos que precederam a aparição pública de Jesus. Em cumprimento à profecia, Deus enviou um mensageiro para preparar o cami­ nho para o seu Filho. O mensageiro, João Batista, predisse que “Aquele que é mais forte do que eu” apareceria em breve. Ele convidava seus ouvintes para que se preparassem, com arrependimento, e oferecia o batismo nas águas como um sinal de ar­ rependimento e um apelo por perdão. Ontem, um membro do time de softball da nos­ sa igreja recebeu um prêmio cristão desportista. Quando o prêmio “Jim Smith” foi entregue, o apresentador teve que engolir suas lágrimas. Per­ ceba, Jim Smith tinha sido o seu “João Batista”. Alguns anos antes, Jim o tinha guiado a Cristo, e lhe tinha mostrado como viver uma vida cristã. Você e eu também podemos dar continuidade ao ministério de João Batista. Como Jim Smith, pode­ mos falar “daquEle que é mais forte” que está pres­ tes a aparecer outra vez. Também podemos convi­ dar as pessoas para que modifiquem seus corações e mentes a respeito de Deus e recebam o perdão. Po­ demos prometer que aqueles que esperarem o Fi­ lho de Deus, Jesus, não somente seráo perdoados, mas também receberão o dom do Espírito Santo de Deus. Podemos compreender a nossa missão na vida, como Jim Smith e João Batista compreende­ ram as suas — a missão de mensageiros enviados para “preparar o caminho do Senhor” nos corações e nas vidas de nossos amigos.

“Tu és o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mc 1.9-12). João pouco falou sobre o batismo e a tentação de Jesus. O que ele disse foi evidência clara da divindade de Cristo. Durante o batismo, João viu o Espírito descendo sobre Jesus como uma pomba, e ouviu uma voz que identificou Cristo como Filho de Deus (v. 11). E, depois de ser tenta­ do por Satanás, “anjos o serviam”. Assim, três linhas de testemunho identificam Jesus como Filho de Deus: o testemunho dos profetas do Antigo Testamento, o testemunho do próprio Deus, e o testemunho de eventos milagrosos. E encorajador recordar, quando iniciamos um ministério como o de João Batista e encaminha­ mos outros a Jesus, que Deus ainda testemunha a identidade de Cristo, quando o compartilhamos. Temos o testemunho externo das Escrituras. Te­ mos o testemunho interno da voz de Deus, falando diretamente ao coração das pessoas que estamos testemunhando. E temos o milagre da obra trans­ formadora de Deus em nossas próprias vidas. “Deixando logo as suas redes, o seguiram” (Mc 1.1420). Os outros Evangelhos deixam claro que Jesus e estes pescadores tinham passado algum tempo jun­ tos, antes do chamado aqui descrito. Mas observe o que Marcos enfatizou na sua história. Quando Jesus chamou Pedro e André, eles deixaram “logo” suas redes (v. 18). “Logo” Ele chamou João e Tiago, e eles o atenderam tão rapidamente que deixaram “o seu pai... no barco” (w. 19,20). A urgência que pressentimos aqui permeia o livro de Marcos. Jesus precisava alcançar tantos quanto possível nos poucos e curtos anos de seu ministé­ rio. E Ele precisa agora, como precisou então, de discípulos que sintam a mesma urgência. “Ordena aos espíritos imundos, e eles lhe obedecem” (Mc 1.21-34). Marcos continuava a demonstrar a verdade da divindade de Jesus. Ele ensinava com “autoridade”. Expulsava espíritos malignos, que o conheciam e identificavam como “o Santo de Deus”. Ele curava todos os tipos de doenças. À me­ dida que as notícias se espalhavam pela Galileia, fi­ cava cada vez mais claro que um indivíduo singular tinha aparecido. Por alguma estranha razão, os nossos tempos têm visto um crescente interesse no oculto. Livros e fil­ mes de horror falam de coisas demoníacas, e mais de um assassino em série cometeu os seus crimes em nome do demônio. Muitos colégios chegam a ter pequenos grupos de adoradores de Satanás, talvez imitando grupos musicais que exploram o lado obscuro da espiritualidade. No nosso peque­ no condado da Flórida, o gabinete do xerife pediu

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mas também por isolamento e rejeição. Quando uma pessoa leprosa veio até Jesus, o texto diz que Ele foi “movido de grande compaixão”. A palavra grega indica que Cristo ficou profundamente co­ movido. Mas indica mais do que isso. Ela sugere uma empatia, e uma reação emocional, que leva uma pessoa a agir. Com a sua ação, Jesus não ape­ nas curou a lepra, mas também tocou o leproso. Cristo percebia a necessidade de curar, mas tam­ bém percebia a necessidade deste homem rejeita­ do pelo toque de outra mão humana. O amor de Cristo o levou a atender à necessidade psicológica, e também a física e a espiritual. Nenhum ser humano deve ser ignorado por aque­ les cuja missão é apresentar outras pessoas a Jesus Cristo, pois o interesse de Cristo se estende a cada necessidade que um ser humano pode ter.

aos professores que relatassem quaisquer indicações de adoração a Satanás por adolescentes! Como é bom lembrar que Jesus é verdadeiramente o Filho de Deus. Todas as forças de Satanás são impotentes diante dEle. “Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o”(Mc 1.40-45)- Se alguma vez nos pergun­ tamos se o ministério do evangelho deve se con­ centrar somente na pregação da salvação, ou deve envolver a satisfação de uma grande variedade de necessidades humanas, aqui está a nossa resposta. Seguimos o exemplo de Jesus. Os leprosos, nos tempos bíblicos, não eram apenas doentes, mas também eram párias sociais. Eram privados de qualquer contato normal com pessoas saudáveis, e sofriam, não apenas pela sua doença,

DEVOCION A L______ Enfadonho e Ofensivo

(Mc 1.35-39) Foi o que minha esposa disse a respeito do sermão de ontem. “Enfadonho e ofensivo”. Não, eu não estava pregando. E nem o nosso pastor. Era um pastor convidado, que exortou a nossa congregação a um maior envolvimento em ações sociais. Mas no processo ele subestimou a importância de ali­ mentar um relacionamento pessoal com o Senhor. “Isso”, insistia mais tarde a minha esposa, “é um exemplo perfeito de humanismo secular”. E ela foi muito severa a respeito disso. Como sempre, a análise da minha esposa foi bastan­ te precisa. O último incidente neste capítulo retrata o profundo interesse de Jesus pela saúde física e psi­ cológica de um leproso! Isso não é ação social? Claro que sim. E ele nos diz, como o pregador de ontem tentou nos dizer, que você e eu também devemos ter uma preocupação sincera pelas ne­ cessidades sociais e psicológicas, assim como pelas espirituais, dos outros. O problema surge somen­ te quando isolamos o nosso relacionamento com Deus das nossas obras. O que aborreceu a minha esposa foi o fato de que todos os tipos de ministério devem estar enraizados no nosso relacionamento pessoal com Jesus Cristo, e devem crescer a partir desse relacionamento. O ministério não é substitu­ to para a comunhão com Deus, assim como as boas obras não são alternativas para a salvação. O que podemos ver, nesta história, é que o próprio ministério de Jesus, de pregação e serviço, estava enraizado no seu relacionamento pessoal com o Pai, e crescia a partir desse relacionamento. Isso é o que é tão desafiador. Jesus era muito ativo. Ele se preocupava com cada necessidade do povo

da Galileia. Estava constantemente em atividade; sempre no ministério. E nem mesmo Jesus podia negligenciar algum tempo sozinho com seu Pai. Assim, o que Jesus fazia? Ele se levantava cedo. Saía para orar “estando ainda escuro”, porque sabia que cada hora com luz do dia seria dedicada a servir aos outros e a pregar as suas Boas-Novas. “Para isso vim”, disse Jesus, referindo-se à sua pre­ gação. Ele tinha que realizar o seu trabalho. Mas para poder servir eficazmente, tinha que ter o seu tempo com Deus também. Exatamente isso que estava no sermão de ontem. Ele não nos lembrou de que, o que quer que façamos, deverá fluir do nosso relacionamento com Jesus, e que mesmo a realização de boas obras jamais deve suplantar o tempo dedicado ao aprofundamento do nosso relacionamento com nosso Senhor. Aplicação Pessoal Para ser eficaz em qualquer ministério, passe antes algum tempo significativo em oração. Citação Im portante “Na verdade, eu tenho tanta coisa para fazer hoje, que passarei as três primeiras horas em oração.” — Martinho Lutero 30 D E JU LH O LEITURA 211 SENHOR DO SÁBADO Marcos 2— 3 “O Filho do Homem até do sábado é senhor”(Mc 2.28). Jesus continuava a agir decididamente, apesar da oposição. De incidente em incidente, Jesus de­ monstrava que Ele é o Filho de Deus.

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Contexto Galileia. A maior parte do ministério relatado por Marcos teve lugar na Galileia. No século I, a Judeia e a Galileia eram distritos predominantemente ju­ deus. Mas os homens sofisticados da Judeia menos­ prezavam os seus correligionários da Galileia, como sendo caipiras. Os galileus também eram conside­ rados com desprezo porque tinham a tendência de serem muito menos rígidos na sua observância de múltiplas leis acrescentadas pelos filósofos aos 613 estatutos que estudiosos judeus tinham identifica­ do no Antigo Testamento. Os fariseus e os escribas mencionados em Marcos eram, é quase certo, da Judeia, e desceram para ouvir e avaliar a figura ca­ rismática que diziam estar ensinando e curando na Galileia. O espírito crítico destes especialistas em leis do Antigo Testamento e na lei rabínica é visto claramente nestes dois capítulos. Jesus, no entanto, continuou a agir tão corajosa e espontaneamente como antes, mesmo quando os seus atos o levaram a um conflito direto com os homens que o povo, de maneira geral, respeitava como líderes espiritu­ ais do judaísmo. No conflito, Cristo não somente declarou, mas demonstrou, a sua soberania. Como os eventos deixam claro, é preciso aceitar as de­ clarações de Jesus, ou rejeitá-las. Não pode haver concessões na nossa atitude com relação ao Filho de Deus. Visão Geral A declaração de Jesus de perdoar pecados (2.1-12), a sua convivência com pecadores (w. 13-17) e o fato de não jejuar (w. 18-22) incitaram oposição. A declaração de Jesus de ser senhor do sábado des­ pertou a hostilidade assassina dos fariseus (v. 23— 3.6). No entanto, multidões e os seus discípulos ainda seguiam a Jesus (w. 7-19). Jesus censurou a acusação de que Satanás estava por trás de seus milagres (w. 20-30), e declarou que tem um rela­ cionamento com todos os que obedecem à vontade de Deus (w. 31-35). Entendendo o Texto “Por que diz este assim blasfêmias?” (Mc 2.1-12). A expressão “Este” mostrava o desprezo que a delega­ ção erudita da Judeia tinha por Jesus e por outros galileus. Mas eles entenderam claramente o pro­ nunciamento de perdão de Jesus ao pecado de um homem paralítico como um ato que sugeria uma declaração de divindade (v. 7). A declaração foi provada, quando Jesus realizou um milagre de cura, depois de designar evidência do seu poder de perdoar pecados: o homem paralí­ tico se levantou e andou, a uma ordem de Jesus. Como muitos hoje em dia, estes líderes religiosos

reconheceram o significado das palavras de Cristo. Mas não estavam dispostos a aceitar a evidência dos seus atos. E este era o objetivo de Marcos. Marcos tencionava provar, com um relato preciso do que Jesus fez na Galileia, que Ele é, como declarou ser, o próprio Filho de Deus. “E Jesus, vendo-lhes a fé ” (Mc 2.1-5). O que foi que levou ao maravilhoso exercício da autoridade de Jesus, descrita nessa história? Foi a fé “deles”. Foi a fé do homem paralítico, unida e fortalecida pela fé dos amigos que se importaram o suficiente para carregá-lo até Jesus, e então para abrir um buraco no telhado, para alcançá-lo. Devemos aprender, com essa história, a importância do apoio mútuo. Cada um de nós precisa de outras pessoas que con­ fiem em Deus conosco, e que venham ao Senhor conosco. “Também estavam sentados à mesa com Jesus e com seus discípulos muitos publicanos e pecadores” (Mc 2.13-17). Um princípio básico dos religiosos no século I era o de que, para permanecer “limpo”, eles deviam se isolar dos “pecadores”. Se tivessem qualquer contato com pecadores, certamente se­ riam contaminados! Ver Cristo comendo com es­ sas pessoas chocou a delegação de líderes religiosos, que tinham vindo à Galileia para julgar o jovem profeta. Precisamos seguir sinceramente o exemplo de Jesus, e meditar sobre a sua resposta. Jesus veio para curar os espiritualmente doentes, e não para retirar-se a algum “spa” onde pudesse repousar com os justos. A nossa missão não é com os espiritualmente sau­ dáveis, mas com os pecadores que precisam ser tra­ zidos de volta a Deus. Jesus viveu, e nos ensina a viver, um tipo dinâmi­ co de santidade. A nossa santidade não é obtida

Os telhados planos das casas da Galileia eram feitos de barro, emplastado em camadas de vigas retas e transver­ sais, e então eram nivelados em uma fase de acabamento. A imagem descrita por Marcos, de “descobrir” (ou “ca­ var”) o telhado para baixar o homem até Jesus, é total­ mente precisa.

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isolando-nos dos pecadores, mas enchendo-nos classificassem o arrancar das espigas como “colher”, constantemente do amor por Deus e pelos outros. e assim “trabalhar” no sábado. A resposta de Jesus lidou com a abordagem dos fa­ “Por que jejuam os discípulos de João e os dosfariseus, riseus à lei. As Escrituras falam de uma ocasião em e não jejuam os teus discípulos?” (Mc 2.18-22). Esse que um sumo sacerdote violou um mandamento tipo de pergunta ainda é proposto com frequência divino direto, dando a Davi e a seus companheiros hoje em dia. Não é uma pergunta de teologia — pão do altar, quando tiveram fome (v. 25). Por que, por que você acredita no que você faz? Náo é sequer então, os seus discípulos deveriam passar fome, por uma pergunta sobre moralidade — por que você um estatuto meramente humano? vive desta maneira? Não, é uma pergunta sobre um Quando a mesma questão foi levantada em outra ocasião, Jesus restaurou a mão de um aleijado, di­ costume que não é essencial. O Antigo Testamento exigia o jejum somente um zendo, como Senhor do sábado, que fazer o bem é dia por ano — no dia da expiação (Lv 16.31). Mas sempre correto, mesmo no sábado. no século I, os ultra-religiosos jejuavam duas vezes Por que isso deixou os fariseus tão furiosos? Porque por semana, às segundas-feiras e às quintas-feiras. toda a sua reivindicação de superioridade espiritual Era um jejum de 12 horas e não de 24 horas, da estava baseada na rigorosa observância desse tipo de manhã até a noite. Contudo era algo a mais que se regra criada pelos homens. E Cristo ousava deixar fazia para agradar a Deus — ou para parecer espe­ essas coisas de lado, como irrelevantes! cialmente religioso. Era um daqueles “faça isso e não Essa passagem nos força a parar e avaliar. Avaliamos faça aquilo” (referindo-se a algo que náo tinha nada a espiritualidade por alguma lista de “faça isto e não a ver com a Palavra de Deus), adotados para distin­ faça aquilo”? Ou tomamos Jesus como nosso mo­ delo, e nos concentramos, não nos nossos atos de guir uma pessoa religiosa dos “menos espirituais”. Jesus falou dos remendos novos que jamais se adap­ piedade, mas em uma resposta espontânea às neces­ tam a uma roupa velha, e dos odres velhos que arre­ sidades dos outros, por Cristo? bentavam se fossem cheios de suco de uva não fer­ mentado. A revelação que Jesus trouxe simplesmente “Seguia-o uma grande multidão da Galileia, e da Ju­ não se encaixava nas categorias de espiritualidade deia, e de Jerusalém, e da Idumeia, e dalém do Jordão” judaica do século I. Da mesma maneira, a qualidade (Mc 3.7-12). Enquanto os líderes religiosos eram da vida de um crente moderno em Cristo náo pode repelidos por Jesus, grandes multidões se reuniam a se enquadrar nas categorias que alguns cristãos uti­ Ele, vindas de quilômetros de distância. O entusias­ lizam para avaliar comportamento. Assim, devemos mo não era gerado pelo que Ele ensinava, mas pelo nos concentrar em celebrar Jesus, e amar aos outros, desejo de vivenciar ou ver algumas de suas curas. Não há nada verdadeiramente errado nisso. Todos por causa dEie. nós provavelmente viemos até Cristo, primeira­ “Por que fazem no sábado o que não é lícito?” (Mc mente por uma percepção de necessidade pessoal, 2.23—3.6). O Antigo Testamento exigia que o povo esperando que Ele pudesse satisfazê-la. Mas depois judeu observasse o sábado como um dia santo. Mas, precisamos aprender a amá-lo por Ele ser quem é, e além de proibir o “trabalho” no sábado, e atividades não pelo que faz por nós. como comprar e vender, não são fornecidos detalhes sobre a observância do sábado. Preocupados para “Nomeou doze”(Mc 3.13-19). A palavra apóstolo quer que ninguém, ainda que inadvertidamente, fizesse dizer “enviado em uma missão”. Nos tempos do Novo o que não devia ser feito no sábado, os filósofos, ao Testamento, um apóstolo representava a pessoa que o longo dos séculos, desde o exílio babilônio, tinham enviou, e era tratado com a cortesia que era devida a desenvolvido longas listas, explicando o que não quem o enviou. Ao mesmo tempo, o apóstolo devia, devia ser feito. As restrições eram especificadas com com precisão e fidelidade, refletir quem o enviou. detalhes. Por exemplo, um indivíduo podia cuspir Os doze aqui nomeados desempenharam essa mis­ em uma rocha no sábado. Mas não sobre terra seca. são, ao ponto de expulsar demônios. O que é impor­ A saliva poderia mover um pouco de pó, desta ma­ tante que observemos é que, mesmo na era do evan­ gelho, o Filho de Deus realizou a sua obra por meio neira, “arando”. Era exatamente este tipo de detalhe que os fariseus de representantes. Hoje, você e eu também temos criticaram quando os discípulos de Jesus colheram o privilégio de representar Jesus a outras pessoas. espigas para comer, quando passavam por ali. A lei Devemos nos alegrar porque a eficácia do nosso mi­ do Antigo Testamento permitia que uma pessoa que nistério não depende de nós, mas do Filho de Deus, andasse por um caminho comesse o que era planta­ que opera ativamente por nosso intermédio. do à sua margem. Bastou isso para que os fariseus Aquilo de que nos incumbirmos, Ele fará.

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DEVOCIONAL_________

Sua Opinião, por Favor (Mc 3.20-30) Parece tão implacável. Tão final. O pecado “imperdoável”. Aquilo que uma pessoa faz e que a coloca além de qualquer esperança de salvação. Suponho que não seja de admirar que algumas pessoas se atormentem, imaginando se cometeram este pecado. Mas o único fato absolutamente cer­ to é, ninguém que esteja se preocupando poderia possivelmente ter cometido o pecado de que Jesus estava falando, nesta passagem. Pense nisso. Uma delegação de líderes religiosos tinha descido de Jerusalém para ver este jovem recém chegado, Jesus, que pegava e curava sem a sua permissão. Eles ficaram na Galileia durante algumas semanas, questionando-o e assistindo suas curas. Ficou cada vez mais claro que Jesus não era alguém que eles pudessem controlar. E também que o que Ele es­ tava ensinando contrariava a sua abordagem à reli­ gião. Na verdade, Ele era uma ameaça! Mas também ficou claro que Ele estava realizando milagres verdadeiros. As curas estavam acontecen­ do. E os espíritos malignos estavam sendo expul­ sos, clamando que Jesus é o Filho de Deus (v. 11). E o que os escribas de Jerusalém iriam fazer? Teriam que abandonar as suas crenças mais profundamen­ te enraizadas (e suas posições) ou que encontrar al­ guma base para acusar Cristo e rejeitar suas reivin­ dicações. E foi isso o que eles fizeram. Chegaram à sua conclusão, e a anunciaram: Jesus estava aliado com Satanás! Estava expulsando demônios porque o príncipe dos demônios assim permitia. Essa é a chave para compreender o “pecado imper­ doável”. E examinar todas as evidências fornecidas pelo Espírito Santo, por meio dos atos de Jesus, considerar cuidadosamente as opções, e decidir ver o que Cristo fazia como uma obra de Satanás, e não de Deus. Por que, então, eu digo que alguém que se preocu­ pa com a possibilidade de ter cometido o pecado imperdoável hoje em dia pode ter a certeza de que não o cometeu? Simplesmente porque, se alguém está ansioso com a possibilidade de que Jesus não o salvará, obviamente acredita que Ele pode fazê-lo. Você pode estar preocupado com a qualidade da sua fé. Mas a sua opinião é que Jesus é o Salvador. Você não rejeitou o testemunho do Espírito a res­ peito de Jesus: você concorda com ele! Então, o que você deve fazer? Tenha esperança. Jesus veio, como nos lembra Marcos 2.17, para chamar os pecadores. Ele está disposto, desejoso e

ansioso para aceitar você na sua família. E, uma vez que você acredita que Ele pode salvá-lo, tudo o que precisa fazer é aceitar o presente da vida que Ele traz. Diga a Ele, “Eu aceito”, e, feita a transação, a salvação eterna será sua.

Aplicação Pessoal Você e eu satisfazemos a única qualificação que as Escrituras exigem dos candidatos à salvação: nós pecamos. E Cristo morreu para perdoar os peca­ dores. Citação Importante “Um homem que se considera um pecador, que se sente pecador, já está às portas do Reino do céu.” — François Mauriac 31 DEJULHO LEITURA 212 PARABOLAS E PODERES Marcos 4—5 “E com muitas parábolas tais lhes dirigia a palavra, segundo o que podiam compreender” (Mc 4.33). Podemos não compreender completamente as ima­ gens do reino que Jesus nos fornece nesses capítulos. Mas não há como confundir o poder que Ele exerce sobre todas as forças naturais e sobrenaturais! Contexto A palavra traduzida como “parábola” está enrai­ zada no conceito do Antigo Testamento de um “enigma” ou uma “charada”. O enigma ou a pa­ rábola pode ser algum jogo de palavras: um curto ditado, uma imagem vívida, uma história mais longa. Cada tipo de “enigma” tenciona exibir e, até certo ponto, ocultar informações. E neles, espera-se que o ouvinte decifre o significado pre­ tendido pelo orador. Há muitas indicações de que o povo hebreu apreciasse os enigmas e as parábolas, e apreciasse contá-los e decifrá-los. Mas, nesta passagem, Jesus tinha em mente um propósito mais profundo do que manter os seus ouvintes ativos e atentos. Ele desejava que as suas parábolas revelassem segre­ dos (grego: musterion, “mistérios”) sobre o reino aos que “os que estão de fora”, e se recusavam a reconhecê-lo como Filho de Deus seriam capazes de compreender (4.11). Ele não permitirá que os indivíduos insensíveis, que examinaram as declara­ ções de Cristo e chegaram à conclusão de que Ele está louco ou aliado com Satanás, compreendam o que Deus pretende (v. 12).

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Que lembrete para nós. A primeira e mais essencial pergunta com que nos deparamos, quando lemos as Escrituras, é: “Qual é a nossa visão de Jesus Cris­ to”? Toda a nossa compreensão da Palavra de Deus, assim como a nossa salvação, depende da maneira como respondemos a essa pergunta. Se o aceitar­ mos como quem Ele é, o Filho de Deus e nosso Salvador, a Palavra de Deus gradualmente se abrirá para nós, e produzirá frutos em nossas vidas.

Novas onde nós mesmos andamos. Apesar de todo o seu aparente poder, as rádios e televisões cristãs deixam de depositar a semente onde ela deve estar, para que cresça e produza frutos. “Os que estão junto ao caminho são aqueles em quem a palavra é semeada” (Mc 4.10-20). Nesta parábola, a “semente” tem duplo significado. Ela se refere à palavra semeada, e ao solo no qual a semente caiu. A parábola sugere que cada um de nós tem duas responsabilidades. Devemos semear a palavra quando andamos em nossos próprios campos. E devemos preparar os nossos próprios corações, de modo que, quando ouvirmos a Palavra, ela cresça e produza uma colheita em nossas vidas.

Visão Geral A extensa parábola do Semeador (4.19) foi expli­ cada por Jesus (w. 10-20), que prosseguiu dando outras imagens do seu reino (w. 21-34). O poder divino que fará com que o Reino de Jesus floresça na terra foi revelado, quando Cristo acalmou uma tempestade (w. 35-41), expulsou demônios (5.1- “Não vem, antes, para se colocar no velador?” (Mc 20), curou (w. 21-34) e até mesmo trouxe uma 4.21-23). Uma das características mais fascinantes criança morta de volta à vida (w. 35-43). das parábolas é o fato de que a mesma parábola pode ser usada para transmitir diversos conceitos, Entendendo o Texto em diferentes contextos. Em Marcos 4, o enigma “Saiu o semeador a semear” (Mc 4.1-9). A primeira da candeia no velador tem um propósito diferente parábola que Jesus contou é familiar, talvez por­ do de Mateus 5. que Ele a tenha interpretado depois, para que nós Aqui, Jesus fala “da” candeia, e não, como na ver­ compreendêssemos o seu significado. O que o se­ são NTLH, de “uma” candeia. Em Marcos, a refe­ meador semeou, espalhando as sementes com arre­ rência é ao próprio Cristo. Embora nessa ocasião messos cuidadosamente medidos, era a Palavra de a sua verdadeira identidade estivesse oculta, Deus Deus. Embora algumas sementes caíssem em solo certamente a revelaria, pois a sua identidade deve onde não cresceriam, certamente a Palavra produ­ “ser descoberta”. ziria uma boa colheita. Como a verdadeira identidade de Cristo, oculta Hoje, mais de 1.500 estações de rádio, centenas de durante a sua vida na terra, foi descoberta? Paulo emissoras de televisão e milhares de igrejas nos Es­ disse, em Romanos 1.4, que Jesus foi “declarado tados Unidos transmitem a Palavra de Deus a nos­ Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de sa população. No entanto, recentemente percebi o santificação, pela ressurreição dos mortos”. Não há quanto nós somos ineficientes, como comunicado­ dúvida sobre quem é Jesus. res. A minha esposa ensina Literatura Americana, aqui na Flórida. Muitos dos nossos antigos escri­ “A tendei ao que ides ouvir” (Mc 4.24,25). Esse é tores, impregnados da tradição Puritana, fizeram um princípio básico da vida espiritual. Devemos alusões à Bíblia em sua poesia e nas suas histórias. nos apossar do que aprendemos, e usá-lo. Quanto O que Sue percebe é que mesmo nas suas melhores mais aplicarmos a verdade, mais capazes seremos classes, a maioria dos adolescentes é completamen­ de compreendê-la e aplicá-la mais. te ignorante sobre a Bíblia. Eles leem Huck Finn, Por outro lado, se deixarmos de aplicar o que mas não têm ideia do que Twain está falando quan­ aprendemos, logo perderemos isso, e a capacidade do menciona “Moisés e os juncos”. Eles jamais ou­ de aprender mais. Existe um ditado que resume efi­ viram falar do Dilúvio, e um adolescente expressou cazmente este ensinamento. Use isso, ou perca-o. admiração quando Sue explicou o nascimento vir­ ginal, “Isso realmente aconteceu?” “A semente brotasse e crescesse” (Mc 4.26-29). O rei­ A imagem que Jesus usou foi a de um semeador, no atual de Cristo tem duas dimensões: a huma­ andando pelo seu próprio campo, e não a de um rei na e a divina. A parábola do semeador enfatizou ou imperador, sentado no seu palácio e emitindo ambas, falando tanto da capacidade da Palavra de decretos. Qual é a diferença? O semeador possuía produzir uma colheita quanto do ouvinte, como apenas um pequeno campo, mas o cultivava cuida­ solo. A cooperação divina/humana produziu uma dosamente. Ele mesmo caminhava onde espalhava colheita abundante. a sua semente. Para que a transmissão da Palavra Nos versículos 24,25, Jesus enfatizou a importân­ de Deus seja eficaz, precisamos espalhar as Boas- cia de considerar cuidadosamente o que ouvimos.

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À medida que respondamos à sua Palavra, mais verdade nos será dada. O ditado quase dá a en­ tender que o crescimento espiritual é unicamente nossa responsabilidade. Mas aqui, nos versículos seguintes, Jesus examinou o elemento sobrenatu­ ral, e traçou uma analogia. Um semeador semeia a semente, ela se enraíza, e de alguma maneira, “por si mesma”, a semente brota e cresce. Milagrosa­ mente, o solo produz uma colheita. O semeador compreende o processo, ou o controla? De modo nenhum. Ele simplesmente semeia a semente, e observa, enquanto a transformação acontece. Da mesma maneira, a Palavra de Deus recebida em nossas vidas “brota e cresce, não sabendo nós como”. De alguma maneira misteriosa e sobrena­ tural, “a terra por si mesma frutifica”. Náo sabemos explicar como Deus opera em nossas vidas. Nem mesmo observamos o processo de transformação, embora certamente vejamos os resultados. O que podemos saber, e realmente sabemos, no entanto, é que Deus está em ação em nós quando recebemos a sua Palavra transformadora.

Que privilégio hoje, sermos provas vivas de que Jesus vive; testemunhas de que em breve Ele re­ tornará.

“Levantou-se grande temporal de vento” (Mc 4.3541). Agora chegamos a uma série de relatos de mi­ lagres que Jesus realizou. Por que Marcos os insere aqui, e não em outra passagem qualquer? Porque Jesus estivera falando sobre a obra oculta do Reino de Deus na vida do seu povo. Embora uma vida transformada seja evidência da obra de Deus entre nós, não é uma evidência objetiva. Não é o tipo de prova clara e visível que tantos pareciam exigir. Assim, em uma série de histórias sobre milagres, Marcos demonstrou a cada leitor o poder supre­ mo que Jesus possui. Quão sábios nós somos por confiar em um Jesus Todo-Poderoso, mesmo que a sua obra atual seja vivenciada subjetivamente na vida humana. E o que dizer desse primeiro milagre? Ele mostra a autoridade de Jesus sobre a natureza. Cristo pode parar os ventos e acalmar as ondas com uma palavra. Mesmo as leis naturais, às quais nós, humanos, deve­ “E como um grão de mostarda”(Mc 4.30-32). O grão mos nos adaptar, estão sujeitas à vontade de Jesus. de mostarda não é a menor das sementes, mas era a menor das sementes então plantadas no Oriente “Sai deste homem, espírito imundo” (Mc 5.6-20). Médio (v. 31). Há muitos pensamentos úteis a desenvolver, com O povo judeu, ansioso para que o Messias viesse e base nessa passagem. Podemos nos concentrar no os salvasse do domínio romano, esperava que Ele problema do homem possuído (w. 1-5, Veja o aparecesse em grande poder e glória imediata. Em DEVOCIONAL). E observar a reação das pesso­ vez disso, Cristo veio como um homem simples as, que valorizavam mais os seus porcos do que a da Galileia e, em vez de reunir exércitos, ensina­ sanidade do homem atormentado (w. 11-17). Po­ va e curava os enfermos. Isso era insignificante aos demos observar o testemunho de um homem que olhos de muitos. Mas embora a origem do Reino teve uma experiência pessoal do poder de Cristo de de Jesus possa parecer pequena, o reino está desti­ modificar vidas (w. 19,20). Mas o tema principal nado a dominar, como “a maior de todas as hor­ da história é afirmar o poder de Jesus sobre todas taliças”, em última análise, domina o jardim no as forças sobrenaturais que se enfurecem contra a qual é plantada. Um dia, Cristo virá, e o seu reino humanidade. encherá toda a terra. A medida que nos comprometemos a viver como cidadãos do seu reino, podemos ter certeza da sua “Muitas parábolas” (Mc 4.33,34). Há um padrão proteção. nessas parábolas. Ao falar do seu reino, Jesus se concentrou, em primeiro lugar, na obra atual de “A virtude de si mesmo sãíra” (Mc 5.21-34). Quan­ Deus dentro do crente, e concluiu falando de uma do Jesus estava a caminho da casa de uma menina obra óbvia e futura de Deus no mundo. morta, foi tocado por uma mulher que sofria de Agora, a Palavra do reino é semeada, e produz hemorragia. A busca de uma cura lhe tinha custado frutos — frutos muito pessoais e subjetivos. tudo o que ela tinha, e drenado todas as suas espe­ Mas o poder do reino foi exibido abertamente ranças. Mas quando ouviu falar sobre Jesus, ficou na ressurreição de Jesus (w. 1-23). Agora, a Pa­ convencida de que, se pudesse ao menos tocar a sua lavra do reino é ouvida somente pelos crentes. veste, seria curada. E foi isso o que aconteceu. Mas o reino está destinado a dom inar todos, Novamente, Marcos escolheu um milagre em par­ quando Cristo retornar (w. 24-34). A maior ticular para esclarecer o seu tema. Cristo, gover­ evidência atual da autoridade real de Cristo é nante do Reino de Deus (um reino que, por não encontrada na vida de homens e mulheres que vermos, é “secreto” para nós), tem poder sobre a ouviram e responderam à Palavra de Deus. natureza, sobre os poderes demoníacos, e sobre to­

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Marcos 6—7

das as enfermidades. Saber que Jesus tem tal poder nos dá confiança de viver segundo a sua Palavra, ainda que Ele decida não curar as doenças de todos os crentes agora. “Menina, a ti te digo: levanta-te” (Mc 5-35-43). O último milagre demonstrou o poder de Cristo so­ bre a própria morte. Em uma tranquila demons­ tração da sua suprema autoridade, na privacidade de um quarto, Cristo trouxe uma menina morta de volta à vida. Até mesmo o maior inimigo dos homens (a morte) deve se curvar ao poder de Je­ sus Cristo.

DEVOCIONAL______ Ossos do Ofício

(Mc 5.1-20) Quando Richard Rameirez, o “caçador noturno” e adorador de Satanás, e também assassino de pelo menos 13 pessoas, foi levado, depois de ouvir o ve­ redicto “culpado” do júri, ele observou: “Grande coisa. Ossos do ofício”. É isso o que observamos nos cinco primeiros ver­ sículos de Marcos 5. Nesse capítulo vemos um ho­ mem endemoninhado, que vivia entre os sepulcros e perambulava pelos montes, e clamava noite e dia, e se feria com pedras. Vemos um homem atormen­ tado, sem amigos e sem esperanças. E Marcos de­ seja que nós compreendamos que também isso são “ossos do ofício”. Qualquer pessoa sob o domínio de Satanás certamente não somente ferirá os ou­ tros, mas ela mesma sofrerá! Mas, então, Jesus apareceu, e libertou o endemo­ ninhado de seus torturadores sobrenaturais. E, de repente, nós o vemos, saudável outra vez, vestido e em seu perfeito juízo (v. 15). Que contraste! E que mudança, quando o homem retornou à sua casa, contando alegremente a todos o que o Senhor tinha feito por ele. Talvez seja essa a chave para que compreendamos o verdadeiro poder do reino atual de Jesus. Deus está fazendo alguma coisa mais importante do que comandar exércitos, reconstruir um templo e estabelecer a sua autoridade abertamente nesta terra. Ele está trabalhando nos corações e nas vi­ das daqueles que perambulam pela escuridão, e os está aliviando de cada tormento que é o resultado do controle de Satanás. Para você e para mim, cidadãos do Reino de Jesus, que lhe juramos lealdade, existe a experiência da graça de Deus, que nos liberta para amar aos ou­ tros, e para servir ao Senhor que está comprometi­ do em nos fazer o bem.

Ao relatar esses milagres, Marcos mostra que po­ demos esperar repetições, hoje em dia. O reino atual de Deus tem também uma expressão inte­ rior “secreta”. Um dia, quando Jesus voltar, todos estes poderes serão exibidos abertamente. Então, não haverá mais sofrimento nem morte. Até en­ tão, viveremos pela fé em um Rei que pode, mas que muitas vezes prefere não demonstrar o seu po­ der abertamente, porém apenas particularmente, a cada um de nós. Jamais devemos nos esquecer de que a fé tem as suas recompensas, hoje mesmo. Através do fruto que a obra de Deus produz em nós, o Reino de Jesus Cristo floresce hoje. Aplicação Pessoal Procure evidências do Reino de Deus na sua vida, e na vida de outras pessoas. Citaçáo Importante “E se você não estiver no Reino de Cristo, é certo que pertence ao reino de Satanás, que é este reino do mal.” — Martinho Lutero 1 DE AGOSTO LEITURA 213 ....EVENTOS DE TRANSIÇÃO Marcos 6■ —7 “Percorrendo toda a terra em redor, começaram a tra­ zer em leitos, onde quer que sabiam que ele estava, os que se achavam enfermos” (Mc 6.55). Agora era a hora para que as pessoas comuns, os reis e a elite religiosa, todos, se convencessem de quem é Jesus. Visáo Geral A medida que o ministério de Jesus na Galileia se aproximava do final, “escandalizavam-se nele” (6.16). Embora tivesse dado poder aos seus discípulos (w. 7-13), as pessoas comuns ainda não o conside­ ravam como alguém mais do que um profeta (w. 14,15), e Herodes se convenceu de que Ele era João Batista ressuscitado (w. 16-29). Jesus demonstrou seu poder, alimentando 5 mil homens (w. 30-44), andando sobre as águas (w. 45-52) e curando (w. 53-56). Jesus confrontou a elite de Israel (7.1-23) e anunciou o evangelho universal, curando gentios que creram nEle (w. 24-37). Entendendo o Texto “Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, e de José, e de Judas, e de Simão?” (Mc 6.1-6)

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Que lembrete da natureza secreta do reino atual de Jesus. Ele continuava sem ser reconhecido em sua terra natal, que se considerava ofendida. Eles o tinham conhecido durante toda a sua vida, e talvez tivessem mobília feita por Ele em seus lares. Toda a Galileia podia estar agitada, falando entusiasmada sobre Jesus. Mas os seus conterrâneos não ficaram impressionados. Não, senhor! E, além disso, eles se ofendiam com Jesus, pensando que Ele estivesse se exibindo, ou se colocando em uma posição supe­ rior à que tinha. Não se surpreenda se a mesma coisa acontecer com você, às vezes. Você fala sobre o seu relacionamen­ to com Deus, em Jesus, e sobre o que Ele fez por você. E as pessoas que conhecem você bem são as que mais provavelmente zombarão ou se mostra­ rão ofendidas. Quando isso acontecer, o que temos que recordar é que Cristo realmente governa. Mais adiante, a mãe e os irmãos de Jesus vieram a ter fé (cf. At 1.14). Se você tiver uma vida cristã, e conti­ nuar a compartilhar simplesmente, quando houver oportunidade, o Senhor pode romper esta formi­ dável barreira à fé (e o fará): a familiaridade.

A resposta foi desapontadora. Ele era um profeta “como um dos profetas.” Para qualquer outra pes­ soa, isto teria sido um grande elogio. Mas não para Jesus, que era, e é, o Filho de Deus. Este veredicto, na verdade, representava a rejeição, tanto de Cris­ to quanto do reino secreto que Ele oferecia. Em cada Evangelho, este veredicto assinala um ponto crucial. A partir deste ponto, nós vemos uma mu­ dança na ênfase da mensagem de Jesus, e uma cres­ cente ênfase na Cruz. “Este é João, que mandei degolar; ressuscitou dos mortos” (Mc 6.16-29). Herodes Agripa, o tetrarca da Galileia, é um exemplo fascinante de pessoa cuja hesitação a leva à descrença. Ante­ riormente, Herodes aprisionara João, mas, por respeito ao profeta, deixara de executá-lo, apesar da insistência de sua esposa, Herodias. Ela de­ testava João, que pregou contra o seu casamen­ to, pelo fato de Herodias ter sido casada com o meio-irmão de Herodes, e o relacionamento era, portanto, incestuoso. Na época, houve também razões políticas pelas quais Herodes desejava ver­ se livre de João. Mas Herodes não conseguiu matar João. Ele sentia, ao mesmo tempo, fascinação e repulsa pelos ensi­ namentos de João, e frequentemente o ouvia falar. O que condenou Herodes foi a hesitação. Ele espe­ rou até que, preso pelas circunstâncias, permitiu a execução de João. Examinando a história no Evangelho de Mateus, su­ geri que Herodes foi vítima da pressão dos presentes. Aqui, sugiro outro fator que foi crucial: hesitação. Se Herodes tivesse se decidido, antes de se encontrar preso pelas circunstâncias. Se ele tivesse decidido arrepender-se, e divorciar-se de Herodias, e libertar João. Mas ele esperou, até que fosse tarde demais. A vida no reino de Jesus exige que nós sejamos de­ cididos a respeito de questões morais. Nós deve­ mos decidir o que é certo, e fazê-lo. Quanto mais tempo se espera para comprometer-se com o que se sabe que é o certo, maior é a probabilidade de uma escolha errada.

“Começou a enviá-los... e deu-lhes poder” (Mc 6.713). A falta de fé dos seus conterrâneos não limitou o poder de Cristo; meramente limitou a capacida­ de daqueles que não acreditavam de vivenciaremno! Como sabemos disso? Pouco tempo depois, Jesus deu a seus discípulos poder sobre os espíritos imundos, e os enviou a pregar. E eles exerceram com sucesso este poder. Alguém pode se desviar, neste ponto, para um deba­ te a respeito dos crentes de hoje terem ou não poder sobre doenças e demônios. Mas o importante é o fato de que o poder de Jesus é tão grande que pode ser ex­ presso por intermédio de outras pessoas, como você e eu, da mesma forma que Ele mesmo o expressa. Você e eu podemos servir a outros, não porque tenhamos algum poder ou alguma habilidade em especial, ou mesmo algum dom espiritual especial. Você e eu podemos servir, porque Jesus Cristo nos escolheu para trabalhar com aqueles que creem nEle. O poder para servir é dEle: os pés, as mãos e a boca que Ele usa, pertencem a nós. “Abençoou, e partiu os pães” (Mc 6.30-44). Aqui, a Se nós nos entregarmos a Cristo, Ele certamente história familiar tem uma pungência especial. Jesus nos usará hoje, com muito poder, para atrair outros fora rejeitado em sua cidade, mal interpretado pela ao reino oculto que Ele governa. sua nação, e havia se tornado objeto do terror su­ persticioso de um rei. Mas Jesus continuou a agir “E um profeta ou como um dosprofetas”(Mc 6.14,15). com compaixão, e exibiu o seu poder, ao alimentar Cristo servira por muitos meses, e talvez por anos, cinco mil homens. na Galileia. Em breve, Ele faria a sua última viagem Mas, observe. A expressão, “Levantou os olhos ao a Jerusalém, para enfrentar a crucificação. E apro­ céu”, nos lembra que, não importa o quanto era mal priado, neste momento, perguntar a qual veredicto interpretado na terra, Jesus mantinha um relaciona­ sobre Jesus os seus conterrâneos tinham chegado. mento seguro com Deus Pai. Nenhuma dúvida, e

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que à motivação, e a ações simbólicas do que a rela­ cionamentos interpessoais. Os rostos bonitos e bem dispostos dos domingos, e as roupas bem passadas, jamais foram um critério adequado para se avaliar a participação no reino secreto de Cristo. (Veja o DEVOCIONAL.)

nenhuma rejeição de meros homens, poderiam afe­ tar o canal pelo qual fluía o poder de Cristo. A mesma coisa é válida para nós. Nós podemos ser mal interpretados. Nós podemos ser rejeitados pelas pessoas mais próximas de nós. Mas, enquan­ to conservarmos um relacionamento íntimo com Deus, teremos uma fonte de força inesgotável. O reino de Cristo pode ser invisível. Mas é muito real. O poder do Rei ainda flui para os seus discí­ pulos, e por meio deles, hoje em dia. “O seu coração estava endurecido” (Mc 6.45-56). O milagre seguinte foi testemunhado somente pelos discípulos de Jesus. A sua reação mostrou que nem mesmo os mais próximos de Cristo compreendiam completamente quem Ele é, nem o seu poder. Jesus andou sobre as águas, acalmou a tempestade, e no dia seguinte, continuou curando todos os necessi­ tados. Nestes atos, Ele não somente mostrava que é o Filho de Deus, mas também revelava quão profunda­ mente Deus se preocupa com o homem. Se você e eu desejarmos sentir a plenitude da vida no reino atual e invisível de Jesus, nós precisamos nos lembrar: Jesus pode; e Jesus se preocupa. Se deixar­ mos que nossos corações se endureçam, por meio da descrença, perderemos as maravilhas que Deus tem para que nós vivenciemos, aqui e agora.

“A mulher era grega, siro-fenícia de nação” (Mc 7.2430). Até este ponto, o ministério de Jesus tinha se concentrado em regiões judias, ao redor da Galileia. Os capítulos 6 e 7 registram a recusa do povo de Deus em reconhecer Jesus como Filho de Deus. Os seus vizinhos se ofendiam por causa dEle (6.1-8), as multidões o viam somente como profeta (w. 14,15) e Herodes supersticiosamente pensou que Ele era João Batista que havia ressuscitado dos mortos (v. 16). Até mesmo os seus discípulos estavam endurecidos, e dei­ xaram de compreender toda a extensão do seu poder (w. 51,52), ao passo que os fariseus conseguiam pen­ sar apenas em suas regras e tradições. Por isto, aqui Marcos contou a história de uma mulher gentia que anunciou o futuro. O povo do Antigo Testamento de Deus não tinha dado as boasvindas ao Filho de Deus? Então os gentios o farão! O povo do concerto de Deus deve ser procurado em primeiro lugar, mas há bastante para todos na mesa da sua graça.

“Os fariseus e alguns dos escribas” (Mc 7.1-23). Os lí­ deres religiosos dos judeus se reuniram, e novamente percebemos quão insensíveis estavam às coisas que diziam respeito a Jesus. Eles queriam falar sobre a lavagem das mãos. Jesus estava dedicado a um rela­ cionamento sincero com o Pai (w. 3-7). Eles estavam preocupados com a aparência externa: Jesus estava comprometido com a purificação do homem interior (w. 8-23). A religião interior e exterior entra em conflito sempre que nós damos maior ênfase ao comportamento do

“Tudofaz bem”(Mc 7.31-37). A observação de Mar­ cos sobre a localização coloca este acontecimento também em território gentio, sem identificar a nacio­ nalidade do surdo-mudo. Também isto pode ser um prenúncio, pois na igreja fundada sobre a divindade de Cristo, tanto judeus quanto gentios teriam um lugar, e assumiriam uma nova identidade: a cristã. O último versículo resume não apenas esta cura, mas todo o ministério de Jesus até então. “Tudo faz bem.” Se alguns não creem, é porque há falhas neles, e não em Cristo.

DEV OCIONAL______

O que Há de Errado com a Tradiçáo? (Mc 7.1-23) Todos nós temos nossas tradições. A minha esposa enfeita a árvore de Natal no dia 1 de dezembro, e a retira no dia 1 de janeiro. Esta é uma tradição simples e inofensiva que ela não tem intenção de impor a ninguém. Mas outros tipos de tradições não são tão inofensivas. Sue se sentiu nitidamente humilhada quando o pas­ tor emérito da igreja que frequentamos disse a ela, em um almoço: “Nós damos a volta à mesa por este lado, e não por aquele!” Ele ficou terrivelmente incomoda-

do pelo fato de que ela não fez o que vinha sendo feito ali durante anos. E ela ficou aborrecida por pensarem que ela devesse agir como todas as outras pessoas! As tradições são de modo geral sentidas desta ma­ neira. Elas não são apenas a maneira confortável “como nós fazemos as coisas”, mas também são uma exigência para que os outros também as fa­ çam à nossa maneira. E, na religião, a tradição é particularmente prejudicial. Por quê? A passagem sugere quatro razões. As nossas tradições podem se tornar um teste de aceitação (w. 1-5). Sempre que nós nos encontrar­

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mos avaliando os outros, segundo determinados comportamentos, em vez de dedicar algum tempo para conhecê-los como pessoas, nós caímos vítimas deste perigo. As tradições podem se tornar uma dimensão de es­ piritualidade, se não formos cuidadosos (w. 6,7). Sempre que nós nos preocuparmos mais com a nossa adequação às expectativas dos outros do que em agradar a Deus, nós caímos vítimas de um se­ gundo perigo. As tradições podem ser usadas para deixar de lado os mandamentos de Deus (w. 8-13). Sempre que a interpretação que o nosso grupo faz da Bíblia é mais importante para nós do que as próprias Escri­ turas, nós caímos vítimas deste perigo. A tradição pode descolar a nossa ênfase na religiosi­ dade pessoal e na santidade para aspectos externos. Sempre que estivermos mais preocupados em pare­ cer justos do que em ser justos, nós caímos vítimas, talvez do mais sério perigo da tradição. O que Jesus pede, em lugar da tradição? Ele espe­ ra uma reorientação radical da nossa perspectiva, de uma preocupação com a aparência das coisas, a uma preocupação pelo que elas realmente são. Se o seu e o meu coração, na presença de Deus, forem mais importantes para nós do que qualquer uma de nossas tradições, então, e somente então, seremos livres. Aplicação Pessoal Não permita que nada desvie o foco do seu próprio coração, e do coração dos outros. Citação Importante “O Espírito de Deus é sempre o espírito de liber­ dade; o espírito que não é de Deus, é o espírito de escravidão, o espírito de opressão e depressão. O Espírito de Deus condena vividamente, mas Ele é sempre o Espírito de liberdade. Deus, que criou os pássaros, jamais fez gaiolas; é o homem que faz gaiolas, e depois de algum tempo, nós sentimos cãibras e não podemos fazer nada, exceto gorjear e ficar sobre uma perna só. Quando nós entramos na grande vida livre de Deus, nós descobrimos que esta é a maneira como Deus deseja que nós viva­ mos ‘a liberdade da glória dos filhos de Deus.”’ — Oswald Chambers 2 DE AGOSTO LEITURA 214 DISCIPULADO Marcos 8— 9 “Jesus tomou consigo a Pedro, a Tiago e a João, e os levou sós, em particular, a um alto monte, e transfigu­ rou-se diante deles” (Mc 9.2).

Os discípulos que permanecem comprometidos com Jesus, apesar da oposição, podem sofrer. Mas todos nós somos privilegiados em testemunhar ex­ pressões do poder de Cristo. Visão Geral A refeição para 4 mil homens (8.1-9), o conflito com os fariseus (w. 10-21) e outra cura (w. 22-26) ajudaram a abrir os olhos espirituais dos discípu­ los a uma compreensão mais profunda de quem é Cristo (w. 27-30). Jesus explicou os requisitos do discipulado (v. 31— 9.1) e exibiu a sua glória no monte da Transfiguração (w. 2-13). No vale, Jesus expulsou um demônio (w. 14-29), falou sobre a sua morte iminente (w. 30-32), e deu mais expli­ cações sobre o que significa segui-lo (w. 33-50). Entendendo o Texto “Os discípulos... levantaram sete cestos” (Mc 8.113). Algumas vezes, os milagres de Cristo causa­ vam maior impacto sobre os seus seguidores do que sobre os espectadores. Certamente, este foi o caso, aqui. Os quatro mil homens comeram — e se saciaram. Era suficiente que se alimentassem. Entretanto, mais tarde, os discípulos recolheram as sobras, e juntaram “sete cestos.” Aqui, um “cesto” é um spyris, e não, como na refeição an­ terior dos cinco mil, um kophinos. O primeiro é um cesto muito grande, o suficiente para conter Paulo, quando foi baixado dos muros de Damas­ co (At 9.25). Já o segundo, é como a nossa cesta de piquenique. O que Jesus pretendia, com este milagre, era não somente demonstrar compaixão pelas multidões famintas, mas edificar a fé dos seus seguidores! Que resposta à queixa anterior dos discípulos: “Donde poderá alguém satisfazêlos de pão aqui no deserto?” (v. 4) Ocasionalmente, até mesmo aqueles dentre nós que estiverem mais familiarizados com Cristo se esquecerão de quão grande é o seu poder. E então, com graça, o Senhor agirá, e nos lembrará. Quan­ do isto acontecer, não devemos ficar satisfeitos, como ficavam as multidões, com o fato de que Ele satisfaz as nossas necessidades imediatas. Devemos compartilhar o assombro que seus discípulos de­ vem ter sentido, quando recolheram sete grandes cestos de sobras, que testemunhavam a transbordante abundância de sua graça e seu poder. “O fermento dosfariseus e ofermento de Herodes”(Mc 8.11-21). Os Evangelhos descrevem os milagres de Jesus como dynameis, “atos poderosos.” O que os fa­ riseus agora exigiam eram semeia, “sinais” do céu. Estes homens, que tinham se recusado a crer, apesar de tudo o que Cristo fizera na terra, insistiam que

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pessoa com visão espiritual obscura poderia olhar para o nosso Salvador em sofrimento, e esperar que a vida cristã fosse somente rosas, e nenhum espinho. Em segundo lugar, reconhecer Jesus como o Cristo implica confirmá-lo como Senhor. Se Jesus é o Filho de Deus, a sua vontade, e não a nossa, deve imperar. Pedro foi totalmente inconveniente quando objetou à vontade de Deus para Jesus, como nós também, às vezes, somos inconvenientes, quando objetamos à vontade de Deus para nós. Nós precisamos ter a visão espiritual clara. Nós pre­ cisamos ultrapassar o estágio de ver com olhos espi­ rituais distorcidos.

Deus, no céu, realizasse algum ato sobrenatural ób­ vio que autenticasse as reivindicações de Jesus. O suspiro de Jesus expressou tristeza e desaponta­ mento com a incredulidade deles. E, mais adiante, Ele advertiu os seus discípulos contra o seu “fer­ mento.” Aqui, “fermento” é a sua atitude perigosa e duvidosa, que continua exigindo mais milagres, e maiores, como prova da divindade e dos poderes de Cristo. Nós também precisamos ter cuidado, pois a nossa vida em Cristo deve ser vivida pela fé. Cristo continua a realizar seus “atos poderosos” em nossas vidas, quando transforma nossos corações e nossos relacionamentos. Somente a incredulidade pode estar por trás de exigências de “sinais do céu” como prova adicional do seu amor. “E, cuspindo-lhe nos olhos e impondo-lhe as mãos”(Mc 8.22-26). Esta é uma história singular, não somen­ te porque Jesus adotou um método incomum de cura, mas pelo fato de que Jesus tocou duas vezes o homem, enquanto restaurava a sua visão. Calvino comentou: “Provavelmente, Ele fez isto, com o propósito de provar, no caso deste homem, que Ele tinha total liberdade para escolher o seu método de proceder, e não se limitava a uma regra fixa”. Este é um lembrete salutar. Deus não precisa agir segundo nenhum padrão, mas é livre para expressar a sua graça, da maneira como desejar. Mas parece haver outro motivo para que Marcos in­ sira esta história aqui. Assim como os olhos físicos do cego se abriram gradualmente, e as suas primeiras imagens do mundo foram distorcidas, também os olhos espirituais dos discípulos de Jesus se abriram gradualmente. Nos eventos que se seguem nós ve­ remos que a sua visão — e a nossa também — fica cada vez mais clara.

“Se alguém quiser vir após mim.”(Mc 8.34-38). Quais são os requisitos do discipulado? Deixar de fazer de si mesmo o objeto de sua vida e seus atos, e, em lu­ gar disto, preferir orientar a sua vida a Deus (v. 34). Entregar a sua vida ao serviço a Cristo, e descobrir, ao servir, a pessoa nova e melhor que você se torna­ rá (w. 35-38). E assumir a sua posição diariamente, em Jesus Cristo e de acordo com as suas palavras (v. 38).

“E transfigurou-se diante deles” (Mc 9.1 -8). Anterior­ mente, Jesus advertiu seus discípulos contra a atitu­ de dos fariseus, que exigiam um “sinal do céu.” O crente deve viver pela fé, e não apoiado em uma série de eventos sobrenaturais. Mas aqui nós somos lembrados de que, algumas vezes, nós recebemos sinais do céu, não como au­ xílio à fé, mas como dádivas da maravilhosa graça de Deus. Observe que somente três, dos Doze, acompanha­ ram Jesus ao monte da Transfiguração. Nem todos presenciam milagres. Mas, como quando estava aqui na terra, Jesus “transfigurou-se diante deles”, tam­ “Quem dizem os homens que eu sou?" (Mc 8.27-30). bém Deus pode realizar milagres aqui, hoje em dia, A pergunta crucial ainda é a mesma hoje em dia. e às vezes realmente o faz. O que as pessoas pensam e dizem, a respeito de Jesus, não importa. Quando Deus pergunta: “Mas “Por que o não pudemos nós expulsar?” (Mc 9.14-29). vós quem dizeis que Eu sou?”, nós devemos dar a O relato que Marcos apresenta deste incidente é resposta que Pedro forneceu: “Tu és o Cristo.” Tu és mais longo do que o de Mateus ou o de Lucas. Ele o Filho de Deus. retrata claramente a frustração de Cristo com seus discípulos (v. 19), e o desespero do pai que cria, mas “Pedro o tomou àparte e começou a repreendê-lo” (Mc duvidava, ao mesmo tempo (v. 24). 8.31-33). Que exemplo de visão embaçada! Pedro Suspeito que nós somos, com grande frequência, reconheceu Jesus como o Cristo, mas, quando Jesus como o pai e os discípulos. Nós cremos, mas tam­ começou a falar de sofrimento e morte, Pedro obje­ bém duvidamos. Nós agimos em nome de Jesus, tou veementemente! mas às vezes falhamos completamente. Aqui, duas coisas são importantes. Em primeiro Quando os discípulos perguntaram por que tinham lugar, sofrimento não era inapropriado ao papel de fracassado, Jesus disse: “Esta casta não pode sair Cristo — e não é inapropriado para o cristão. Se o com coisa alguma, a não ser com oração e jejum” Filho de Deus sofreu, nós podemos esperar que ou­ (v. 29). Mas, quando Cristo chegou, Ele não orou, tros filhos de Deus sofram, também. Somente uma mas disse: “Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: sai

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Marcos 10— 11 dele e não entres mais nele” (v. 25). Por que, então, oração? Suponho que seja porque a oração serve para nos lembrar de quem Deus é, e da nossa dependência dEle. “Por que o não pudemos nós expulsar?” tinham perguntado os seus discípulos. Mas não é todo mi-

DE V OCIONAL_______ Aos Pés da Cruz

(Mc 9.30-50) Confusos com facilidade? Você pode apostar que sim! Assim estavam os discípulos de Jesus. Quando Jesus falou sobre o seu iminente sofrimento e a sua morte, eles simplesmente não conseguiram enten­ der isto (w. 30-32). O Cristo? Sofrer? Mas Cristo estava destinado a governar! Somente mais tarde, depois da ressurreição, os dis­ cípulos de Jesus começaram a ver que não existe um conflito verdadeiro entre sofrimento e glória. Que a cruz era um caminho que levava a um se­ pulcro vazio. E que a coroa de espinhos era um prenúncio de uma coroa de glória. As vezes, nós também ficamos confusos sobre a vida cristã. Nós não conseguimos ver como o so­ frimento se encaixa nela. Deus não nos ama? Deus não quer o melhor para nós? E, se alguém sugere que o sofrimento é melhor, no momento, nós po­ demos sacudir a cabeça e ir embora. A menos que levemos mais a sério passagens como Marcos 9. Aqui, Jesus nos lembra do caminho do discípulo. Um caminho que envolve sofrimento e a adoção de atitudes que parecem tolas à humanida­ de egoísta. Para nos tornarmos grandes, devemos nos tornar servos (w. 33-35). Para nos elevarmos, precisa­ mos nos curvar para receber uma criança (w. 36,37). Para proteger a verdade, nós devemos dar a outras pessoas a liberdade para falar e servir, como desejarem (w. 38-41). Para sentir o reino de Deus agora, nós nos dedicamos a proteger os outros do pecado, mesmo à custa de mãos, ou pés, ou olhos (w. 42-48). Para adorar, nós aceitamos o sofrimento (v. 49). Para não nos tomarmos sem valor para Deus, nós alimentamos um espírito de sacrifício próprio e devoção a Deus (v. 50). E, ao viver este tipo de vida, nós nos expomos ao sofrimento, assim como Jesus, quando escolheu o caminho da cruz. Esta é outra razão para nos assentarmos, de vez em quando, aos pés da cruz de Jesus. Não somen­ te para nos lembrarmos de que Cristo morreu por nós. Mas para impedir que fiquemos confusos. Para nos lembrarmos de que não existe conflito entre sofrimento e glória; de que o nosso caminho para o céu pode passar por vales de dor.

nistério realizado por Deus, por nosso intermédio, e não por nós mesmos? Quando nós oramos, somos lembrados de quem Deus é, e a nossa fé aumenta. A oração é um antídoto para a descrença, porque ela transfere o nosso foco daquilo que nós podemos ou não fazer, ao Senhor, que pode fazer todas as coisas.

Aplicação Pessoal Considere a cruz de Jesus Cristo, e lembre-se de tudo o que ela representa, para você e para mim. Citação Importante “Por que eu deveria começar com o arado do meu Senhor, que produz sulcos tão profundos em mi­ nha alma? Ele não é um lavrador ocioso, Ele visa uma colheita.” — Samuel Rutherford 3 DE AGOSTO LEITURA 215 A JERUSALÉM Marcos 10— 11 “Bendito o Reino do nosso pai Davi” (Mc 11.10). Cristo foi aclamado ao entrar em Jerusalém, mas muitos incidentes revelaram que Ele não era esti­ mado por todos. Visão Geral A incredulidade persistente é exibida pelos fariseus (10.1-12) e um jovem rico (w. 17-31), a quem Marcos contrastou com criancinhas (w. 13-16). A predição de Jesus da sua morte (w. 32-34) foi ig­ norada por seus ambiciosos discípulos (w. 35-45), que tinham que aprender sobre a natureza do ser­ vir (w. 46-52). Jesus foi recebido com entusiasmo em Jerusalém (11.1-11), expulsou os mercadores do templo (w. 12-19), e na saída da cidade, elogiou o poder da oração (w. 20-26). No dia seguinte, Ele se recusou a explicar a sua autoridade a líderes hostis (w. 27-33). Entendendo o Texto “Aproximando-se dele os fariseus, perguntaram-lhe, tentando-o” (Mc 10.1-12). A intenção de “tentar”, ou melhor, “amar uma cilada” a Jesus, revela a con­ tinuada hostilidade e descrença da elite religiosa. Com respeito a comentários sobre os ensinamentos de Jesus sobre o divórcio e o novo casamento (veja Mateus 19.1-12, Leitura 206). “Dos tais ê o Reino de Deus”(Mc 10.13-18). O relato que Marcos faz deste incidente é particularmente

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Marcos 10— 11 vigoroso. Somente ele nos diz que Jesus “indignouse” quando seus discípulos afastaram as crianças. Ele também usou uma palavra intensa para descre­ ver a bênção que Cristo concede às crianças: katalogein, “abençoar fervorosamente”. Marcos inseriu o incidente aqui para comparar a confiança e receptividade das criancinhas com o duro legalismo dos fariseus, e as obras do jovem cuja história é narrada a seguir. Qualquer pessoa que tem esperança de entrar no reino de Deus não pode fazer nada, exceto recebê-lo como uma dá­ diva, confiando não em suas próprias obras, mas somente em Deus. Ao mesmo tempo, a indignação de Jesus e o seu fervor ao abençoar as crianças nos lembram do quanto às crianças são importantes para Deus. Isto é algo de que devo me lembrar constantemente. Com muita frequência, vejo-me envolvido com o trabalho e o ministério, e esqueço-me de que os interesses das crianças são vitais para elas — e são vitais, para Deus e para mim. Jesus alegremente dedicou algum tempo para abençoar as crianças com fervor. Preciso fazer das crianças uma das minhas prioridades. “Quefarei para herdar a vida eterna” (Mc 10.17-23). Diferentemente das criancinhas, o jovem rico não deseja receber ou tornar-se dependente. Ele desejava “fazer”, para ganhar um lugar no Reino de Deus, e ele confiava que a sua riqueza iria ajudá-lo. Não é de admirar que seja tão difícil que as pessoas entrem e vivam no reino de Cristo. No nosso relacionamento com Deus, nós devemos realmente abandonar tudo aquilo em que aprendemos a confiar, como adultos, e retornar à infância. Não ganhar, mas receber é a chave para a entrada. A chave para o sucesso não é a confiança em si próprio, mas a dependência cons­ ciente. (Veja o DEVOCIONAL.) “Eis que nós tudo deixamos e te seguimos”(Mc 10.2831). O que ganharemos se retornarmos à infância e abandonarmos tudo, para confiar completamen­ te em Jesus? Os discípulos perguntaram, e Cristo identificou três coisas: (1) Aqui e agora, cem vezes mais! Em Cristo, nossos relacionamentos mais ín­ timos se multiplicam. Nós nos tornamos membros de uma família de irmãos e irmãs, muitos dos quais se tornam mais próximos do que parentes de san­ gue. (2) Perseguição. Como Cristo, nós também sofreremos. (3) Mas o sofrimento origina a glória, e no século futuro compartilharemos com Jesus da plena alegria da vida eterna. Suponho que cada um de nós se pergunte, às ve­ zes: “O que vou ganhar em troca daquilo de que devo abrir mão?” A resposta de Jesus é: “Deus, em

troca do barro. A vida eterna, em troca de alguns anos passageiros de prazer egoísta.” Nós ganhamos o que jamais poderemos perder, em troca do que jamais poderíamos conservar. "Tornando a tomar consigo os doze, começou a dizerlhes as coisas que lhe deviam sobrevir" (Mc 10.32-34). Esta é a terceira vez em que Jesus fala aos seus Doze sobre a sua morte iminente (cf. 8.31; 9.31). Aqui, a predição foi mais detalhada. Mas não há indicação de que os discípulos compreendessem — ou dese­ jassem ouvir. Certa vez, visitei um amigo cujo irmão, um piloto de uma companhia de aviação missionária, morre­ ra recentemente. Lembro-me de como a visita foi desconfortável. Queria ajudar, mas não sabia como, nem o que dizer. Levado por meu próprio descon­ forto, devo ter parecido muito pouco solidário com meu amigo. As palavras de Jesus tencionavam preparar os discípu­ los para o que estava prestes a acontecer. Mas também eram uma expressão da sua necessidade humana. Nós percebemos esta necessidade mais adiante, quando, no Getsêmani, Ele perguntou: “Não podes vigiar uma hora?” Até mesmo Jesus precisou de amigos solidários e carinhosos, quando enfrentou sua cruz. Devemos aprender, com o silêncio dos discípulos, como não se deve ouvir os outros. Nós precisamos deixar de lado qualquer desconforto que possamos sentir, e ouvir com atenção. Nós precisamos esten­ der uma mão amorosa, tocar, abraçar, e assim mos­ trar que ninguém da família de Jesus precisa supor­ tar sozinho a sua cruz. “Concede-nos que, na tua glória, nos assentemos, um à tua direita, e outro à tua esquerda" (Mc 10.35-45). Fica claro, com o uso que Marcos faz de “então” (v. 35, ARA) que este incidente teve lugar imedia­ tamente depois da predição que Jesus fez da sua morte. E outra coisa fica clara. Os discípulos não “ouviram” realmente Jesus — porque seus pensa­ mentos estavam cheios de planos para o seu pró­ prio futuro. Tiago e João sonhavam com uma elevada posição no reino vindouro de Cristo, e os outros discutiram com eles, quando o descobriram. Eles não ouviram Jesus, porque seus pensamentos estavam cheios de si mesmos. Com muita frequência, é isto o que acontece conos­ co. Nós nos ocupamos tanto com nossos próprios pensamentos e sonhos que simplesmente não ou­ vimos, ou não nos importamos. Não é de admirar que Jesus continuasse explicando aos seus discípu­ los que a grandeza, no seu reino, não é encontrada nas posições elevadas, mas na servidão. Se você e eu

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desejarmos nos tornar realmente grandes, devemos deixar de lado os pensamentos sobre nós mesmos, e pensar nos outros. “Porque o Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (v. 45).

“Tem misericórdia de mim” (Mc 10.46-52). Em um ato simples, Jesus demonstrou a grandeza que Ele ensinava. Apesar da perspectiva imediata do seu próprio sofrimento, Ele parou, para ajudar um cego que as multidões, insensíveis, tentavam silen­ ciar. Quando você e eu aprendermos a pensar nos outros, apesar de nossas próprias mágoas e preo­ cupações, seremos verdadeiramente grandes. Pois seguiremos o exemplo do nosso Senhor.

(w. 12-14). O templo era espetacular, mas esta­ va cheio de avareza e não de oração (w. 15-17). Quando o vazio da religiáo foi exposto, os líde­ res religiosos “buscavam ocasião para o matar.” Não é antissemita ser honesto sobre os fracassos da religião institucionalizada do século I. E não é anticristão ser honesto sobre a frequente falta de frutos de muitas igrejas da atualidade. Não devemos avaliar a realidade espiritual pela prosperidade, nem por grandes edifícios. Devemos retornar aos princípios do reino: a confiança em Jesus Cristo, e o serviço a todos os nossos semelhantes.

“Tudo o que pedirdes, orando” (Mc 11.20-25). As figueiras secam, porque estão vazias de po­ “Jesus entrou no templo”(Mc 11.12-19). A figueira der espiritual. Onde nós encontramos o poder e o templo simbolizavam o judaísmo do século I. para seguir os princípios do reino? Jesus indicou A árvore parecia prosperar, mas não tinha fruto a oração aos seus discípulos. Mas Ele também os lembrou de que a fé em Deus tem um corolário essencial — o coração de um servo. Nós devemos conservar a nossa confiança em Deus e também a nossa comunhão com os outros na sua família. É engano supor que nós temos um relacionamento saudável com Deus, se alimentarmos a animosidade em vez de perdoar.

Como as multidões que aclamaram Jesus, quando Ele entrou em Jerusalém, puderam pedir a sua morte, apenas três dias mais tarde? Eles clamaram: “Bendito o Reino do nosso pai Davi.” Eles não queriam o Rei, mas a glória terrena que pensaram que Ele lhes traria. Nós precisamos contemplar Cristo sobre a jumenta, e recebê-lo pelo que Ele é, e não pelo que Ele possa nos trazer (Mc 11.1-11).

DEVOCIONAL______

O que Há de Errado com a Riqueza? (Mc 10.17-31) Os discípulos ficaram chocados, quando Jesus fa­ lou da riqueza como um obstáculo para a entra­ da ao seu Reino. No século I, o homem rico era considerado abençoado. Somente os ricos tinham tempo para estudar a Torá, a Palavra escrita e oral de Deus. Somente os ricos tinham os recursos ne-

“Com que autoridade?” (Mc 11.27-33). O con­ selho dos principais dos sacerdotes, escribas e anciãos afirmava falar com a própria autoridade de Moisés (cf. M t 23.2). Mas quando desafiados por Cristo a fazer uma declaração confiável sobre João Batista, recuaram. Se possuíssem verdadeira autoridade espiritual, eles teriam falado a verda­ de — e a teriam vivido. Jesus não precisava explicar a origem da sua auto­ ridade. Os seus milagres, os seus ensinamentos, o seu próprio estilo de vida, tudo testemunhava o fato de que Ele vinha de Deus. Deve ser assim também conosco. A autoridade espiritual não se enraíza na posição eclesiástica, mas em um relacionamento com Deus, expresso em uma autêntica vida de servo.

cessários para fazer as boas obras que caracteriza­ vam os justos. Isto, em parte, explica o choque do jovem que se recusou a abandonar a sua riqueza, para seguir a Jesus. Ele confiava no seu dinheiro para ajudá-lo a encontrar o caminho para a vida eterna. Ele não ti­ nha nenhuma vontade de abandonar a sua riqueza, e passar a confiar somente em Cristo.

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ram armar-lhe uma cilada com perguntas sobre impostos (w. 13-17) e a ressurreição (w. 18-27). Jesus mencionou o maior mandamento (w. 2834), e para alegria da multidão, silenciou aqueles que o atacavam (w. 35-37). A doação de uma po­ bre viúva exemplificou a verdadeira piedade (w. 38-44). Quando Jesus deixou o templo, predisse a sua queda, e falou do fim dos tempos (13.1-37).

Suponho que náo exista nada realmente errado com a riqueza. Tenho um ou dois amigos cristãos que são milionários e também são cristãos comprometidos. Mas muitos de nós não estamos preparados para lidar com grandes somas de dinheiro e conservar a nossa perspectiva. Muitos de nós, como o jovem rico que veio a Jesus, descobriremos que o nosso dinheiro im­ pede a completa dependência em Deus, em lugar de encorajá-la. E que a liberdade de fazer qualquer coisa, e ir a qualquer lugar, que o dinheiro traz, impede uma busca disciplinada da vontade de Deus todos os dias. As vezes penso que gostaria de tentar ser fiel a Deus, apesar de ter uma grande riqueza. Até suspeito que se­ ria capaz de usar a riqueza com sabedoria. Mas quan­ do confiro o meu saldo bancário, deparo-me com o fato de que Deus não me concede nenhum extra! Então, quando me lembro destas palavras, penso no jovem rico, e agradeço a Deus pela expressão es­ pecial da sua graça. Ele me livrou de uma tentação que causou a queda de muitos. Aplicação Pessoal Agradeça a Deus pelo que Ele decidiu não dar a você, assim como pelo que Ele lhe dá. Citação Importante “Todas as vezes que Jesus apresenta uma opinião so­ bre a riqueza, é negativa. Todas as vezes que Ele ensina sobre o uso da riqueza, Ele aconselha os discípulos a se desfazerem dela. Como pessoas que levam a Bíblia a sério, e que levam Jesus mais sério do que tudo, quão seriamente devemos reagir a estes ensinamentos sobre a riqueza? Pode ser o momento, para a maioria dos crentes, de considerar a opção mais óbvia e menos confortável: obedecer a estes ensinamentos — ade­ quar nossas vidas aos mandamentos do nosso Senhor, em vez de tentar o contrário.” — Thomas Schmidt 4 DE AGOSTO LEITURA 216 ENSINAMENTOS DA ÚLTIMA SEMANA Marcos 12— 13

“E, ensinando-os, dizia-lhes: ‘Guardai-vos dos es­ cribas... que devoram as casas das viúvas e isso, com pretexto de largas orações. Estes receberão mais grave condenação” (Mc 12.38-40). Algumas vezes, um confronto é necessário. E, em tais ocasiões, de modo geral são necessárias palavras ásperas. Visão Geral Na área do templo, a parábola dos lavradores ex­ pôs a elite religiosa (12.1-12), que não consegui­

Entendendo o Texto “Quefará, pois, o Senhor da vinha?” (Mc 12.1-9). A mensagem da alegoria estava clara para os líderes e o povo. Isaías falou de Israel como a vinha de Deus, preparada como na descrição de Jesus (cf. Is 5.1-7; Mc 12.1). A situação também era familiar. No século I, a maior parte das melhores terras de Judá era de propriedade de senhores que se ausen­ tavam e que a alugavam a lavradores contratados, por uma porcentagem da colheita. Muitas terras excelentes eram de propriedade de Herodes e seus amigos. Era fácil imaginar a fúria destas pessoas, se os lavradores ousassem enganá-las! A história de Jesus identificou os atuais líderes re­ ligiosos como lavradores rebeldes, que desejavam a vinha do Senhor para si mesmos. Logo, eles mata­ riam o Filho. Mas eles seriam punidos, quando o Senhor voltasse. Os líderes sabiam que Jesus “con­ tra eles dizia esta parábola” (v. 12). Eles poderiam tê-la interpretado como um aviso, e poderiam ter se arrependido. Em vez disto, eles tentaram, com ainda mais empenho, encontrar uma maneira de se livrar de Jesus. Nós precisamos encarar todas as advertências das Escrituras sob esta luz. Elas são, ao mesmo tempo, um convite para o arrependimento, e um estímulo para mais pecados. A maneira como vamos reagir determina se um aviso trará vida, ou morte. Não devemos seguir o exemplo dos fariseus e es­ cribas. Se apenas dermos ouvidos aos avisos das Escrituras, elas se tomam canais de amor e graça abundantes. “A pedra que os edificadores rejeitaram” (Mc 12.1012). Aqui, Jesus aplicou Salmos 118.22,23 a si mes­ mo. Embora rejeitado pelos “edificadores” Ele mes­ mo é a “cabeça de esquina” da edificação de Deus. A palavra grega pode significar “pedra fundamen­ tal” que sustenta um edifício, ou “pedra angular” que completa um arco ou construção. A implica­ ção é a mesma, em cada caso. Jesus é a fundação sobre a qual deve ser edificado o nosso entendi­ mento das Escrituras. Ele é aquEle que nos capa­ cita a reunir o Antigo Testamento e o Novo em um conjunto harmonioso. Ninguém que aborde as Escrituras sem fé em Jesus como o Filho de

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Deus pode esperar compreender a sua mensagem, amar a Deus acima de tudo, e ao teu próximo ou usá-la de maneira adequada para edificar a sua como a ti mesmo. E um dos escribas que o ouviam concordou! vida espiritual. Que lição para nós! Não, não uma lição sobre a “E lícito pagar tributo a César ou não?” (Mc 12.13- primazia do amor, mas um lembrete de que havia 17). Há mais do que um toque de ironia nesta his­ homens devotos, espiritualmente sensíveis no juda­ tória. Muitos fariseus eram ricos, e os herodianos, ísmo do século I, que não estavam “longe do reino especialmente, tinham lucrado muito com a domi­ de Deus.” E um erro classificar todos os membros nação romana da Judeia. Nenhum dos dois grupos de um grupo com base nos atos de alguns poucos julgava as taxas romanas como uma carga particular. visíveis. Não devemos caracterizar ninguém pelo Eram as pessoas comuns que sofriam. Observe, tam­ grupo ao qual pertence, mas devemos procurar co­ bém, que quando Jesus respondeu à pergunta, Ele nhecer as pessoas como indivíduos. teve que pedir uma moeda. E “eles lha trouxeram.” Nós poderemos nos surpreender por descobrir que A resposta de Jesus foi, adequadamente, interpretada há pessoas, hoje em dia, que também não estão como ordenando os crentes a viverem como súditos longe do reino de Deus. leais em reinos terrenos (veja M t 22, Leitura 207). Mas o diálogo também deixa claro que os que acusa­ “Como é?" (Mc 12.35-38). A grande declaração ram Cristo não davam “a Deus o que é de Deus.” de superioridade espiritual feita pelos “escribas” Nós devemos ser bons cidadãos dos dois reinos. Mas era o fato de que dominavam as Escrituras e o a lealdade ao reino de Deus deve ter a prioridade. complexo conjunto de interpretações tradicio­ nais que tinha crescido ao seu redor. Pessoas “Eu sou o Deus de Abraão”(Mc 12.18-27). Como po­ comuns, que não tinham o tempo nem os recur­ demos confiar completamente nas Escrituras? Aqui, sos necessários para se dedicar ao estudo, eram Jesus baseia todo o seu argumento no tempo de um desdenhosamente descartadas como am ha eretz, verbo! Quando Deus falou com Moisés, Ele disse: simplesmente “pessoas da terra.” Não é de admi­ “Eu sou o Deus de Abraão.” Ele não disse: “Eu fui rar, então, que as multidões o ouvissem “de boa o Deus de Abraão.” Se Ele tivesse dito “fui”, então vontade”, quando Ele propôs uma pergunta que Deus teria confirmado a morte de Abraão. Uma vez os especialistas não podiam, ou não ousavam, que o Senhor disse “sou”, Ele confirmou o fato de responder. que Abraão ainda estava vivo! Você e eu podemos De alguma maneira, a maioria das pessoas reco­ ter total confiança na confiabilidade da Palavra de nhece a hipocrisia e a vergonha, quando as vê. A Deus. E podemos encontrar consolo no conheci­ pessoa que se orgulha do seu conhecimento das mento de que os nossos entes queridos não estão Escrituras, mas não leva uma vida justa e amorosa, perdidos, mas vivos, com nosso Deus, e nEle. não engana a ninguém, exceto a si mesma. E muito mais importante, para você e para mim, “Não estás longe do Reino de Deus” (Mc 12.28-34). viver o que aprendemos do que dominarmos as De que trata, realmente o Antigo Testamento? coisas secundárias da Bíblia ou sermos teólogos de Como se pode resumir a sua mensagem? Esta renome. pergunta dizia respeito aos filósofos do judaísmo, que tentaram resumir os 365 estatutos positivos “Guardai-vos dos escribas” (Mc 12.38-44). Muitos e os 248 negativos que identificaram no Antigo dos pregadores de hoje em dia tendem a ser rela­ Testamento. Hilel, desafiado por um gentio a fa­ tivamente pobres. No século I, muitos “escribas” zer dele um prosélito, ensinando toda a Lei en­ eram ricos. Por exemplo, nós sabemos de um ra­ quanto o gentio ficava em pé em um pé só, disse: bino rico, que não somente possuía vastas terras, “O que você não desejar para você, não faça ao como também tinha um negócio de transportes, seu próximo: esta é toda a lei, o resto é comentá­ que, depois da queda de Jerusalém recebia dos seus rio; vá e aprenda.” vizinhos o dízimo que deveria ser separado para Tanto a pergunta quanto a resposta refletem um os levitas. Ele não precisava do dinheiro. Mas no entendimento do Antigo Testamento como justiça antigo judaísmo, era considerada uma boa obra de obras, como o ponto de vista comum de que contribuir com uma pessoa que passasse a sua vida amor e sacrifício (dever interpessoal e ritual) eram estudando. os dois pilares no modo de pensar do Antigo Tes­ Jesus advertiu contra os escribas que se vangloria­ tamento. vam abertamente, cujas orações eram um espetá­ Mas quando pediram a Jesus que resumisse a men­ culo religioso, e cuja ambição era tão grande que sagem do Antigo Testamento, a sua resposta foi, os levava a “devorar as casas das viúvas” — tirando

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doar tudo. O “homem grandioso” considerado com respeito pela sociedade, e a mulher insignificante, tida em alta consideração somente por Deus. Embora você e eu possamos ser nem ricos nem pobres, as nossas escolhas provavelmente serão governadas pelos valores expressos por uma destas duas pessoas. Com qual das duas nós escolhemos parecer?

dinheiro dos que são notoriamente necessitados. Estes homens, disse Jesus, “receberão mais grave condenação.” Para efeito de comparação, Marcos imediatamente registrou um incidente no qual Je­ sus elogiou uma mulher que voluntariamente de­ positou suas últimas moedas na arca do tesouro. Que estudo sobre valores! O rico e avarento, que sempre queria mais, e a pobre viúva, que desejava

DEVOCION A L______ Tempos Difíceis

(Mc 13) Sue mencionou isto ontem. “Eu penso que o Se­ nhor deve vir logo.” Ela esteve lendo algo no jornal a respeito de drogas, e sobre os alunos que levam armas à escola. Em seguida, ela recebeu uma carta de uma amiga nossa que trabalha com aconselha­ mento a crianças violentadas, e faz terapia com os que as violentaram. Nesta carta, nossa amiga men­ cionou duas situações particularmente terríveis. Uma delas envolvia duas mães lésbicas, adorado­ ras de Satanás, que prostituem seus seis filhos para conseguir cocaína! Esta foi a última gota para Sue. O Senhor deve vir logo, ela sentiu, com a nossa sociedade se tornando tão corrupta. Marcos 13, uma complexa passagem apocalípti­ ca que traça um amargo retrato do futuro, nos diz que esperemos tragédias e sofrimento neste mundo. Não devemos ficar alarmados com guer­ ras ou desastres naturais (w. 7,8), ou pela cor­ rupção da sociedade (v. 12). Não são estas coisas, mas o cumprimento de uma antiga profecia de Daniel, que significa que o fim está próximo (v. 14). E depois disto, as coisas piorarão ainda mais (w. 15-23). Há, todavia, três coisas em Marcos 13 que preten­ dem nos encorajar. Em primeiro lugar, Jesus nos advertiu com antecedência. Ele sabia as terríveis coisas que iriam acontecer. Deus não se surpre­ ende, e retém o controle da história. Em segun­ do lugar, nós somos encorajados pela promessa da presença de Deus. Mesmo quando os cristãos são ativamente perseguidos pela sua fé, o Espírito Santo permanece conosco (v. 11), e salvará os que perseverarem (v. 13). Em terceiro lugar, e o mais importante, Jesus virá outra vez “com grande po­ der e glória” (v. 26). No final, Deus corrigirá as coisas. E nós somos instruídos a esperar, e vigiar (w. 33-35). Assim, de certa forma, Sue interpretou correta­ mente os eventos da atualidade. Não que sejam predições de quando Jesus retornará. Mas os hor-

rores que presenciamos nos lembram de que não podemos confiar neste mundo para o nosso futuro. Nós precisamos olhar para cima. E vigiar. Aplicação Pessoal “As coisas que vos digo digo-as a todos: Vigiai” (Mc 13.37). Citação Importante “A verdade da segunda vinda de Cristo transfor­ mou todo o meu pensamento a respeito da vida; ela rompeu o poder do mundo e a sua ambição sobre mim, e encheu a minha vida com o mais radiante otimismo, mesmo sob as circunstâncias mais desencorajadoras.” — R. A. Torrey ....

5 DE AGOSTO LEITURA 217

a v é s p e r a d a c r u c if ic a ç ã o

Marcos 14

“Basta; é chegada a hora. Eis que o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores” (Mc 14.41). Os acontecimentos da noite anterior à crucificação de Jesus são detalhados em cada Evangelho. Embo­ ra familiar cada narrativa fala profundamente aos nossos corações. Visão Geral Jesus foi ungido com um caro unguento em Betânia (14.1-11). Ele teve uma última ceia com seus discí­ pulos em Jerusalém (w. 12-26). Mais adiante, Jesus predisse a negação de Pedro (w. 27-31) e orou no Getsêmani (w. 32-42) onde foi preso (w. 43-52) e levado diante do Sinédrio (w. 53-65). No pátio externo, Pedro negou seu Senhor (w. 66-72). Entendendo o Texto “Esta fez o que podia” (Mc 14.1-11). Embora o Evangelho de Marcos seja o mais curto dos Evan­ gelhos, ele de modo geral fornece detalhes mais vívidos de testemunhos oculares do que os outros. Este é o caso nesta passagem. Somente Marcos re­

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gistrou que algumas pessoas (outro Evangelho diz que foram os discípulos) “se indignaram” e foram quase ofensivas. Mas o presente da mulher foi, ao mesmo tempo, um ato de amor e um ato de fé. De certa forma, também foi uma confissão de futilidade. “Ela an­ tecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura.” Nada podia alterar o trágico curso que os eventos deviam tomar agora. Mas, com amor e fé, ela fez o que podia, por Jesus. Nós nos sentimos profundamente frustrados pela nossa incapacidade de auxiliar àquelas pessoas às quais amamos. Se pudéssemos, nós mudaríamos tanta coisa. A agonia do divórcio de um ente que­ rido. A incerteza de seu emprego. A ansiedade de sua enfermidade. Talvez uma das razões pela qual esta “boa obra” que esta mulher fez por Jesus seja lembrada, seja nos encorajar. De coração partido, ela não podia fazer nada mais; ela fez o que podia. E foi uma “boa obra.” Devemos fazer tudo o que pudermos pelos outros. Por amor, e sofrendo por elas, e sofrendo por não podermos fazer mais. A defesa que Jesus fez da mulher de Betânia nos asse­ gura de que, quando fizermos o que pudermos, nós faremos o suficiente.

“Foram à cidade, e acharam como [Jesus] lhes tinha dito” (Mc 14.12-16). Alguns comentaristas viram, nesta história, a evidência de que Jesus tomara providências para a sala da Ultima Ceia com o seu proprietário. Certamente, nesta época do ano, Je­ rusalém estaria cheia de gente; nas grandes festivi­ dades muitos peregrinos eram forçados a acampar fora dos muros da cidade. O que devemos ver, contudo, é outra indicação de que Deus estava no controle dos acontecimentos que levaram à crucificação de Jesus. Simplesmente porque coisas ruins acontecem a pessoas boas, não devemos jamais supor que Deus tenha retirado a sua mão soberana. De modo que devemos nos consolar com o en­ contro “casual” dos discípulos com um homem (e não a mulher, que seria usual) que levava um cântaro de água, e o cenáculo disponível e deso­ cupado na sua casa. Com isto, aprendemos que o “acaso” não tem lugar na experiência do crente. O que vemos não é o resultado das circunstâncias, mas uma sábia e boa providência da mão de nosso Pai amoroso. “Eles começaram... a dizer-lhe um após outro: Por­ ventura, sou eu, Senhor?” (Mc 14.17-21). Gosto da hesitação e da dúvida exibidas na pergunta dos abalados discípulos. Cada um deles parece ter se examinado profundamente, e apesar do seu com­

promisso com Jesus, pressentiu fraqueza suficiente para produzir-lhe dúvidas. Poderia ser eu? E muito mais seguro que nós façamos esta pergun­ ta, do que fazer o tipo de ousada afirmativa que os mesmos discípulos fizeram mais tarde, naquela mesma noite. Quando Jesus predisse a negação de Pedro, este apóstolo confiantemente clamou: “De modo nenhum te negarei.” E Marcos acrescenta: “E da mesma maneira diziam todos também”. Quando sentirmos nossa fraqueza, você e eu deve­ mos nos apegar ao Senhor, em busca de força. Mas quando somos vítimas de uma tola autoconfiança, nós nos arriscamos, por nossa própria conta, e cer­ tamente caímos.

“Tomou Jesus pão... e deu-lho [aos seus discípulos]” (Mc 14.22-26). O Evangelho de João nos diz que, antes desta cerimônia simples, Judas saiu furtiva­ mente, para completar as negociações da traição a Jesus. O presente do pão e do vinho, então, foi con­ sumido somente pelos discípulos, porque o corpo partido e o sangue de Jesus só são apropriados para aqueles que nEle creem como Salvador. Neste sentido, a nossa celebração da Ceía do Se­ nhor é algo mais do que anunciar “a morte do Se­ nhor, até que venha” (1 Co 11.26). E também uma afirmação de um discipulado comum: a declaração de uma família de crentes de que, de uma manei­ ra singular, nós pertencemos uns aos outros, pois Cristo pertence a cada um de nós. Talvez seja este o motivo pelo qual não há indicação, nas Escrituras, de que a Ceia do Senhor deva ser celebrada por uma pessoa sozinha. Ele a ofereceu a todos eles. A refeição sagrada deve ser compartilhada, confir­ mando que Jesus Cristo une a todos nós, que cre­ mos nEle. “Ficai aqui e vigiai” (Mc 14.32-42). Novamente, Marcos amplia um relato também encontrado em outros Evangelhos (veja M t 26.36-46, Leitura 209). Marcos também registrou a angustiada ora­ ção de Jesus. Mas Marcos parece enfatizar os discí­ pulos sonolentos. Sim, já era tarde da noite. Eles estavam cansados. Mas Jesus tinha aberto seu coração a eles, expres­ sando a sua profunda aflição: “A minha alma está profundamente triste”, disse Jesus, escolhendo pa­ lavras poderosas. “Profundamente triste até a mor­ te.” E então, Jesus fez um pedido simples: “Ficai aqui e vigiai.” O termo para “vigiai” é gregoreite, um verbo no imperativo. Não era um mero pedido. Era uma ordem urgente. Contudo, apesar do pungente ape­ lo de Jesus e de sua ordem urgente, os discípulos exaustos adormeceram. Quando Jesus retornou,

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peito que você deva ser do tipo que julga. Afinal, Pedro amava verdadeiramente o seu Senhor. E, de todos os discípulos, Pedro, aparentemente, era o único com coragem de seguir a multidão e tentar descobrir o que estava acontecendo com Jesus. Pedro não foi, para negar Jesus: de modo nenhum. E, quando Pedro finalmente percebeu o que fizera, ao jurar: “Não conheço este homem”, seu coração se partiu. Como Jesus mostrou, posteriormente, as pessoas que têm o coração partido, depois de agir mal, devem ser consoladas, e não condenadas. Mas se nós não aprendermos com a traição de Pedro, você e eu deixamos de compreender o maior significado da sua experiência. É melhor não negar a Cristo, e não ter nada de que se ar­ repender, do que derramar as mais sinceras lágri­ mas depois. “Retirando-se dali, chorou” (Mc 14.66-72). Se Um pouco de fé, um pouco de coragem, e não você não sentir pena de Pedro a esta altura, sus- teremos nada de que nos arrepender.

Ele os encontrou ali, aparentemente deitados no cháo (v. 42). Jesus disse: “O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (v. 38). Mas isto não era uma desculpa para os discípulos adormecidos. Era uma advertência. Sabendo que a carne era fraca, os dis­ cípulos jamais deveriam ter se deitado, em primeiro lugar! Incentivados pela urgência do apelo de Jesus, eles deveriam ter ficado em pé para vigiar e orar. Que mensagem para nós! Nós também somos fracos. Quando ouvimos Jesus falar tão apaixo­ nadamente de seus desejos para nós, então nós, seus discípulos modernos, precisamos reconhecer a nossa fraqueza, e evitar situações nas quais pro­ vavelmente iremos falhar. Se nos deitarmos, o sono pode nos derrotar. Por isto nós devemos ser ainda mais cuidadosos e ficar em pé.

DEVOCIONAL_______ Sem Justiça (Mc 14.43-65) Nossa filha de nove anos tem três palavras que nós ouvimos com muita frequência. “Não é justo.” Não que ela esteja certa. E apenas a sua maneira de dizer que ela não gostou de alguma coisa que lhe foi dito que fizesse, ou que deveria fazer. Mas, de uma maneira geral, ela está certa. A vida neste mundo não é justa. E não devemos esperar que seja. A vida, certamente, não foi justa, no caso de Jesus. Um de seus amigos mais íntimos o traiu. Jun­ tos, os “principais dos sacerdotes, e os escribas, e os anciãos” constituíam o Sinédrio, a suprema corte, legal e religiosa, da Judeia. E estas pessoas, responsáveis por administrar a lei, secretamente planejaram prender Jesus, e o arrastaram a um julgamento ilegal à noite (w. 43-53). O mesmo tribunal, responsável por ouvir as evidências, procurou fabricá-las (v. 55) e até mesmo recru­ tou falsos testemunhos (w. 56-59). Quando Je­ sus afirmou a sua divindade, imediatamente foi condenado, embora a Lei exigisse que se passasse um dia inteiro, no caso de um crime de morte, entre a declaração de culpa e a sentença (v. 64). Não, não houve nada justo, de maneira algu­ ma, no julgamento nem na condenação de Jesus Cristo. Ele veio, Ele curou, Ele ensinou sobre o amor de Deus Pai, e depois do escárnio de um julgamen­ to, os seus inimigos se divertiram, cuspindo nEle

e atingindo-o com seus punhos. Isto é algo de que devemos nos lembrar quando julgarmos que a vida é injusta conosco. A vida neste mundo deturpado pelo pecado jamais foi justa, nem mesmo para o Filho de Deus. O apóstolo Pedro, lembrando-se daquela noite, e do dia seguinte, escreveu: “Mas, se fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados, pois também Cristo padeceu por nós, deixandonos o exemplo, para que sigais as suas pisadas” (1 Pe 2.20,21). Aplicação Pessoal Se você também sofrer por fazer o bem, isto não será justo. Mas será uma bênção. Citação Importante “O sofrimento é uma dor breve, e uma alegria que dura muito tempo.” — Henry Suso 6 DE AGOSTO LEITURA 218 ELE RESSUSCITOU Marcos 15— 16

“Buscais a Jesus, o Nazareno, que foi crucificado; já ressuscitou, não está aqui; eis aqui o lugar onde o pu­ seram” (Mc 16.6). O ato supremo que prova a divindade de Jesus, e a eficácia da sua morte, é a ressurreição que Marcos e os outros autores dos Evangelhos registram.

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Visão Geral Pilatos ordenou que Crisro fosse crucificado, para satisfazer uma multidão em tumulto (15.1-15). Os soldados romanos zombaram (w. 16-20), e de­ pois crucificaram Jesus (w. 21-32). A sua morte foi testemunhada por muitos (w. 33-41), e Ele foi sepultado (w. 42-47). Mas, mais adiante, quan­ do vieram algumas mulheres para ungir o corpo, encontraram um anjo junto a um sepulcro vazio (16.1-8). Posteriormente, o Cristo ressuscitado apareceu (w. 9-14) e incumbiu os seus discípulos de pregar “a toda criatura” (w. 15-20). Entendendo o Texto “E os principais dos sacerdotes o acusavam de muitas coisas” (Mc 15-1-5)- Com respeito a muitas coisas, os romanos se satisfaziam em permitir que os po­ vos subordinados a eles se governassem. Na Judeia, e em várias outras províncias, os romanos daquela época reservavam para si mesmos o poder de deter­ minar a pena de morte. Isto representava um pro­ blema para os principais dos sacerdotes. Afirmar ser o Filho de Deus podia ser blasfêmia e um crime de morte para os judeus. Mas não para os romanos! Assim, embora o condenassem por um crime, eles tinham que manipular Pilatos para condená-lo por algum outro crime! Desesperadamente, eles ten­ taram inventar um crime de morte — e, quando não puderam fazê-lo, confiaram na ameaça de uma revolta, para forçar Pilatos. A história nos diz que Pilatos não tinha conside­ ração pelos judeus aos quais governava. Mas por que procurar confusão, em uma ocasião em que Jerusalém estava cheia de peregrinos fanaticamente religiosos, que tinham vindo de todo o mundo? A preocupação de Pilatos era simples. Não, isto é certo? Mas, é adequado? Isto vai me tirar deste apuro? Sempre que nós nos deparamos com alguma de­ cisão moral, nós avaliamos os fatores como os que Pilatos considerou. Ele sabia que os sacerdotes sim­ plesmente sentiam inveja de Jesus (v. 10). Mas era mais fácil entregá-lo a eles, do que ter que relatar outra revolta sangrenta em uma cidade que ele go­ vernava. Somos repelidos por Pilatos, o homem que orde­ nou a crucificação do nosso Senhor, e devemos abominar a sua maneira de tomar uma decisão. Devemos nos comprometer em fazer o que for cer­ to, qualquer que possa ser o custo desta decisão.

“Barrabds” (Mc 15-6-9). Pilatos tentou manipular a multidão, oferecendo-lhes a escolha entre Jesus, o Mestre que curava, e Barrabás, um amotinador que tinha “cometido uma morte.” Aparentemente,

Pilatos ficou chocado quando a multidão escolheu Barrabás. Ele não deveria ter ficado chocado. Uma seção, de um relatório de 800 páginas, sobre suicídio de jovens, publicado em janeiro de 1989, pelo Departamento de Saúde e Serviços Sociais dos Estados Unidos, culpa as igrejas cristãs que conde­ nam a homossexualidade pelos suicídios de jovens homossexuais. O relatório diz que as igrejas devem “reavaliar a homossexualidade em um contexto po­ sitivo” e devem “exigir” uma atitude de solidarieda­ de com relação ao comportamento homossexual. Como sempre, o mundo clama pela libertação de Barrabás, e pela crucificação de Cristo. A menos que os cristãos levantem as suas vozes, pedindo a verdade, tão alto quanto outros clamam pedindo a mentira, os legisladores, como Pilatos, agirão para satisfazer a multidão. E Barrabás correrá desenfrea­ do em nossa terra.

“Os soldados”(Mc 15.16-20). Os soldados baseados na Palestina, naquela época, não eram as tropas de elite romanas, mas auxiliares, recrutados em algu­ ma província distante. Hoje, você pode ver, em Je­ rusalém, tabuleiros de jogos, que muitos acreditam que foram esculpidos no piso de pedra do antigo palácio, talvez pelos soldados que zombaram de Jesus. Os soldados não queriam fazer-lhe nenhum mal em particular. Eles simplesmente estavam entedia­ dos. E Jesus iria morrer logo, de qualquer maneira. Por que não ter um pouco de diversão? Pode ser difícil para nós percebermos agora, mas espancar Jesus, para eles, não era nada além de um pouco de diversão. Mesmo se Jesus não fosse o Filho de Deus — mesmo se Ele não fosse o Mestre que curava, e se interessava pelas pessoas — tal brutalidade já seria horrível, uma atitude terrivelmente errada. Sempre que um ser humano é brutalizado de al­ guma maneira, o alvo da zombaria não é aquele indivíduo, mas o Deus de cuja imagem aquele in­ divíduo compartilha. Recentemente, li uma carta escrita pelo presiden­ te da empresa Mennen, dirigida a um grupo que estava fazendo um boicote em reação a programas que enfatizam a violência e o sexo vulgar. O presi­ dente censura o boicote, e sugere que os especta­ dores ofendidos “simplesmente deixem de assistir aos programas que os ofendem.” Afinal, é somente diversão; se você não gosta, por que privar os que gostam? Suponho que um soldado do grupo que zombou e espancou Jesus poderia ter dito a mesma coisa. Isto incomoda você? Bem, simplesmente não olhe.

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Deixe que a zombaria e o espancamento conti­ nuem. Simplesmente, olhe para o outro lado. Mas não podemos. O sofrimento de Cristo nas mãos dos soldados nos lembra que a brutalidade é sempre terrivelmente errada. Ninguém que re­ almente se importe com Deus ou com o homem pode olhar para o outro lado.

“Um certo Simão Cireneu... por ali passava” (Mc 15-21-32). Suspeito que, a princípio, Simão tenha ficado frustrado e irado, quando forçado a carregar a cruz de Jesus. O que Ele carregava era, na reali­ dade, o patíbulo, ou barra transversal, que pesava somente 13 a 18 quilos. Isto não é nada, para um homem forte, embora para Jesus, enfraquecido pela perda de sangue de seu espancamento, isto era mais do que Ele podia carregar. O problema, para Simão, era o fato de que carregar a cruz, um instrumento de morte, o tornava cerimonialmente impuro, e incapacitado de participar da festa para a qual ele viajara desde Cirene, no norte da África, para comparecer. Como nós nos zangamos, quando nossos planos dão errado, ou alguma coisa pela qual lutamos para obter é perdida de maneira repentina e inesperada. Mas, posteriormente, como Simão deve ter ficado agradecido. Pois a menção de seus dois filhos, in­ cluídos, muito provavelmente porque estes filhos eram conhecidos pela igreja romana a quem Mar­ cos escrevia (cf. Rm 16.13), sugere que, posterior­ mente, Simão se tornou cristão, e teve o privilégio de saber que somente ele, dentre toda a humanida­ de, tinha servido a Cristo a caminho do Calvário.

DEVOCIONAL_______ Por quê? (Mc 15.21-41) Quando Jesus estava à morte, clamou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (v. 34) Estas palavras são, sem dúvida, as mais misterio­ sas das Escrituras. Não é que não possamos com­ preender o que elas significam. Ãlguns, é claro, dizem que as palavras refletem a dolorosa sur­ presa de um homem cheio da presença de Deus, que finalmente percebeu que Deus não o tirou da cruz. Mas o Novo Testamento nos dá uma explicação melhor. Paulo disse que Jesus foi feito “pecado por nós” (2 Co 5.21). Em um momen­ to, foi liberada a inundação represada de pecado humano, e se derramou com terrível força sobre o Filho de Deus.

Quando os nossos planos são interrompidos, po­ demos sentir a frustração e a ira que quase sempre surgem. Mas quando estes sentimentos realmente surgirem, devemos nos lembrar de Simão. E deve­ mos olhar ao nosso redor, à procura de alguém cuja carga sejamos capazes de aliviar. Talvez seja apenas um momento para eles, agora. Porém, mais tarde, será para nós uma fonte de glória.

“Já ressuscitou, não está aqui”(Mc 16.1-20). De todas as promessas de Cristo, os seus seguidores não espe­ ravam a ressurreição. Passou-se muito tempo antes que se convencessem das palavras do anjo. Mesmo então, Jesus teve que aparecer diante de muitos, antes que o pequeno grupo dos seus seguidores co­ meçasse a crer. Mas quando, por fim, os discípulos perceberam que Jesus havia ressuscitado dos mor­ tos — que Ele era Senhor — clamaram uma men­ sagem de Boas-Novas que não somente percorreu como fogo selvagem o mundo antigo, mas tem se mantido ardendo por quase dois mil anos. Os últimos versículos do Evangelho de Marcos (w. 9-20) são debatidos. Eles não fazem parte de alguns manuscritos, e por esta razão alguns estu­ diosos questionam o poder para realizar milagres que Jesus prometeu aos discípulos, mesmo estando bastante claro que o livro de Atos testemunhe mui­ tos milagres da igreja primitiva. Seja como for, as palavras são verdadeiras; Jesus realmente se mani­ festou, ressuscitado, a muitas pessoas. E a convicção de que Jesus vive impeliu a sua igreja a prosseguir e a pregá-lo confiantemente. Em todos os lugares. Naquele momento, quando o Filho de Deus se tornou pecado por nós, o Pai olhou para o outro lado. Pela primeira e única vez em toda a eternidade, o Pai e o Filho foram brutalmente separados. De modo que nós sabemos o que as palavras sig­ nificam. O que jamais poderemos compreender é o que a experiência que elas representam quis dizer a Pai e ao Filho. Nós jamais poderemos mergulhar na profundeza da angústia de Jesus, nem sentir as ondas de dor que ecoaram por toda a eternidade. Nós jamais poderemos visualizar as cicatrizes corrosivas que o pecado gravou naque­ le que é sem pecado. Tudo o que podemos fazer é ficar aos pés da cruz, ouvir este clamor, e perceber que o que Jesus fez por nós lhe custou muito mais do que podemos

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começar a imaginar. E dizer: “Obrigado, Senhor.” Aplicação Pessoal O melhor agradecimento que podemos fazer não está contido em palavras, mas em nossa vida. Citação Importante “Tu me deste tanto, dá-me ainda uma coisa - um coração agradecido,

não agradecido quando me agradar, como se as tuas bênçãos tivessem dias vagos, mas um coração cujo pulsar possa ser o teu louvor.” — George Herbert

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em PROVÉRBIOS

LUCAS INTRODUÇÃO Este Evangelho e o livro de Atos foram escritos pela mesma pessoa. A antiga tradição e as evidências inter­ nas identificam o autor como Lucas, um médico e companheiro de Paulo em muitas viagens missionárias (2 Tm 4.11). Lucas foi um historiador cuidadoso, que entrevistava testemunhas oculares para estabelecer a base efetiva da fé cristã (Lc 1.1-4; cf. At 10.39). Contudo, a história de Lucas não tem nada de monótona. Este Evan­ gelho está cheio de registros solidários do povo que Jesus conheceu e a quem ministrou. Entre eles há mais mulheres, mais crianças, e mais pobres, do que são mencionados em outros Evangelhos. Esta obra rica e complexa apresenta Jesus não só como uma Pessoa histórica e admirável, mas também como o Salvador que veio “buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc 19.10). Outros temas enfatizados por Lucas são a vida de oração de Jesus, e o ministério do Espírito Santo. Apropriadamente, expressões de alegria e louvor abundam neste Evangelho da glória de Deus, como revelado em seu Filho (1.46-55; 2.13,14; 7.16; 10.21; 18.43; 19.37,38). ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Introdução ................................................................................................ II. Nascimento e Infância .......................................................................... III. Preparação para o Ministério ............................................................. IV. Ministério na Galileia .......................................................................... V..Ensino e Viagens ..................................................................................... VI. A Ultima Sem ana.................................................................................

............... Lc 1.1-4 ......Lc 1.5— 2.52 ......Lc 3.1— 4.13 ....Lc 4.14— 9.50 ..Lc 9.51— 19.44 Lc 19.45— 24.53

GUIA DE LEITURA (16 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 219 220 221 222 223 224 225 226

Capítulos 1 2— 3 4— 5 6 7— 8 9 10 11

Passagem Essencial 1.26-55 3.1-20 5 6.27-42 7.36-50 9.28-36 10.25-37 11.1-10

Comentário Devocional da Bíblia

227 228 229 230 231 232 233 234

'

12 13— 14 15 16— 17 18— 19 20— 21 22— 23 24

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12.22-34 14.15-24 15.11-32 17.1-10 19.28-48 21.5-36 22.66— 23.25 24.13-35

LUCAS 7 DE AGOSTO LEITURA 219

NO TEMPO DE DEUS Lucas 1

“Eis que em teu ventre conceberás, e darás à luz um disse que ele tinha escrito: “para que conheças a filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande e certeza das coisas de que já estás informado.” Jesus será chamado Filho do Altíssimo” (Lc 1.31,32). viveu; Jesus ensinou e operou milagres; Jesus mor­ reu e ressuscitou. Exatamente como este e outros O Espírito de Deus se mostra ativo sempre que o Evangelhos dizem. Senhor está prestes a fazer uma obra em seu povo, Então viaje com Lucas. Conheça as pessoas que re­ e por ele. almente conheceram a Jesus, e ouça o testemunho delas a respeito dEle. Ao fazer isso, você percebe Visão Geral novamente que a nossa fé está fundamentada na Lucas declarou o seu propósito (1.1-4), e imedia­ realidade, e não em mitos e lendas. tamente iniciou a sua história. Ele relatou visitas angelicais antes do nascimento de João Batista (w. “E não tinham filhos”(Lc 1.5-7). A dor da estéril 5-25) e Jesus (w. 26-38). Ele relatou a visita que era particularmente aguda em Israel, onde esta Maria fez à máe de Joáo (w. 39-45) e registrou o condição também era uma fonte de vergonha. Mas “Cântico de Maria”, um hino de louvor (w. 46- observe que o texto enfatiza o caráter reto tanto de 56). Quando Joáo nasceu (w. 57-66) seu pai, Za­ Zacarias, o sacerdote, quanto de sua mulher Isabel. carias, predisse o seu ministério como o precursor Só então ele diz: “E não tinham filhos.” Ligando o caráter do casal com a condição da es­ do Messias (w. 67-80). posa, Lucas deixa claro que a infertilidade de Isabel Entendendo o Texto não era uma consequência de pecado. Ele também “Os mesmos que os presenciaram desde o princípio e nos tranquiliza. Nós também podemos experimen­ foram ministros da palavra” (Lc 1.1-4). Muitos acre­ tar sofrimentos que não têm qualquer relação com ditam que Lucas teve a oportunidade de viajar pela pecados pessoais. Palestina e entrevistar Maria, Isabel, Zacarias, e ou­ Deus, que só tinha o bem em mente para Zacarias tros, durante os dois anos em que Paulo foi man­ e Isabel, e que por fim os abençoou, no final aben­ tido preso em Cesareia (cf. At 24.27). O próprio çoará também a você e a mim. Lucas disse que ele já havia se “informado minu­ ciosamente de tudo desde o princípio”, indicando “Coube-lhe em sorte” (Lc 1.9-12). Os sacerdotes que ele buscou muitas fontes e comparou os seus eram divididos em 24 grupos, sendo que cada relatos antes de escrever. um servia por uma semana, duas vezes ao ano, no Lucas não estava interessado em passar adiante bo­ templo de Jerusalém. Mas o privilégio de queimar atos ou “histórias de velhas.” Ele ofereceu um es­ incenso dentro do templo era distribuído por sor­ tudo efetivo e cuidadosamente pesquisado da vida te, e um sacerdote poderia ter a sua honra apenas de Jesus. Por quê? Ao enviar este relato a Teófilo, a uma vez durante toda a sua vida! Agora, já na idade quem o livro de Atos também é endereçado, Lucas avançada de Zacarias, a sorte caiu sobre ele.

Lucas 1

Aqui vemos que as bênçãos de Deus são de modo geral retardadas. Embora seja difícil, você e eu tam­ bém precisamos esperar pacientemente pelo mo­ mento certo de Deus.

de idade, treinamento teológico, ou alta posição religiosa. O mais jovem e o mais simples de nós pode ter uma fé vital em Deus e ser profundamente amado por Ele. (Veja o DEVOCIONAL.)

“E será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe” (Lc 1.13-17). O anjo que apareceu a Za­ carias transmitiu a promessa de Deus de um filho, que seria o precursor do Messias prometido (v. 17). O relato contém a primeira menção do Espírito Santo, cuja atividade domina este capítulo (w. 35,41,67). Deus escolhera aquele momento espe­ cífico na história para intervir pessoalmente, para trazer a salvação para a humanidade. Note também a referência em cada contexto à ale­ gria. João, que será cheio do Espírito Santo, trará “prazer e alegria” a Zacarias (v. 14). Isabel e seu bebê, cheio do Espírito, “saltou de alegria” quando Maria “a mãe do meu Senhor” foi visitá-la. Nem Maria nem Zacarias puderam conter o transbordamento de louvor quando o Espírito operou em suas vidas (w. 46-55; 67-79). Quando nos abrirmos para o Espírito de Deus e nos entregarmos a Ele, nós também descobriremos uma alegria que transborda em louvor.

“Quem será, pois, este menino?” (Lc 1.57-66). A his­ tória do nascimento incomum de João foi contada e recontada durante anos na região montanhosa da Judeia, onde ele nasceu. Enquanto Jesus nasceu na obscuridade, João foi o foco de atenção durante a in­ fância (v. 80). Um nazireu desde o nascimento, João usava o cabelo cumprido e não bebia vinho, o que o separava dos outros (v. 15). Isto, somado aos aconte­ cimentos incomuns que cercavam o nascimento de João, podem ter sido um dos meios que Deus usou para estimular a atitude de expectativa que prendia a atenção de muitos no século I, que estavam aguar­ dando ansiosamente o aparecimento do Messias. Deus não só preparou um lugar para o seu Filho, Ele preparou o povo que seria convidado a crer nEle. E útil nos lembrarmos disso quando tivermos uma oportunidade de testemunhar. Deus já terá ope­ rado, preparando a outra pessoa para aquilo que temos a compartilhar.

“Porquanto não creste nas minhas palavras”(Lc 1.1825). Pedir a Deus um sinal especial de confirmação pode ser certo — ou errado. Neste caso, o pedido de Zacarias por um sinal era proveniente de sua incredulidade; portanto era errado. Mas observe que a descrença de Zacarias não fez com que Deus voltasse atrás em sua palavra. Ás vezes os crentes verdadeiros como Zacarias têm dificuldade em tomar posse das promessas do Se­ nhor. Não deixe que os outros assustem você com o ensino de que a menos que você creia, jamais se beneficiará das promessas de Deus ou receberá os seus dons. Muitas promessas são incondicionais, e dependem da fidelidade de Deus e não na força da fé do crente. Quando você se deparar com uma promessa na Palavra de Deus, reflita sobre como Deus é digno de confiança, e simplesmente agrade­ ça a Ele pelo seu dom.

“E Zacarias, seu pai... profetizou” (Lc 1.67-79). O pronunciamento de Zacarias é uma profecia: uma predição feita por inspiração do Espírito Santo. Sendo assim, ele resume as implicações de todos os acontecimentos que Lucas descreveu neste pri­ meiro capítulo. Flá um padrão aqui, com cada afirmação da ação de Deus sendo contraposta com um louvor pelos seus benefícios. Deus visitou e remiu o seu povo (v. 68). Deus levantou da casa de Davi um capaz de manter a sua promessa de livrar o Sue povo de todos os seus inimigos (w. 69-71). Deus executou um ato de misericórdia garantido pelo concerto (w. 72,73) e não só nos salvou, mas nos capacitou a servi-lo “em santidade e justiça... todos os dias da nossa vida” (w. 74,75). Quanto a João, ele seria um profeta (v. 76), que se manifestaria antes do Messias para dar ao povo “o conhecimento da salvação, na remissão dos seus pecados” (v. 77). Anteriormente, Gabriel havia dito a Zacarias: “Te­ rás prazer e alegria” por João (v. 14). Sei que quase todos os filhos são uma alegria para os seus pais. Mas que alegria especial, saber que os nossos filhos servirão ao Senhor! Houve apenas um único João Batista. Mas muitos pais cristãos têm compartilhado da alegria de Za­ carias, e visto os filhos confiarem em Deus, e então amadurecerem na fé.

“Para Deus nada é impossível” (Lc 1.26-38). Como é fascinante ver uma jovem, certamente não ado­ lescente, aceitar sem hesitação a promessa de Ga­ briel de um Nascimento Virginal. Zacarias, um sa­ cerdote temente a Deus e de idade avançada, tinha duvidado da promessa feita pelo mesmo anjo de uma maravilha muito menos admirável! Maria é certamente uma das personagens mais comoventes da Escritura. Ela nos lembra de que alcançar o favor de Deus e crer nEle não depende

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Lucas 2— 3

DEVOCIONAL_________ Aplicação Pessoal A Máe do meu Senhor (Lc 1.26-55) Há uma enorme diferença entre chamar Maria de a “mãe do meu Senhor”, como fez Isabel, e a “mãe de Deus.” Em Jesus, Deus assumiu a natureza hu­ mana, e esta natureza humana foi originada de sua mãe, Maria. Deus o Filho, como Deus o Pai, existindo eternamente, não teve mãe. De forma alguma a natureza divina de Cristo pode ser atri­ buída a Maria, que foi meramente uma criatura como você e eu. E isto que Lucas parece enfatizar no amável retra­ to que faz de Maria. Ela foi uma criatura, como você e eu. Mas a resposta incomum de Maria a Deus nos dá um exemplo. Maria é um exemplo de submissão. “Eis aqui a serva do Senhor”, ela disse: “cumpra-se em mim segundo a tua palavra” (v. 38). Maria sabia muito bem o risco que ela corria como uma mulher não casada: a rejeição de José, a zombaria e o desprezo dos seus vizinhos. Entretanto, Maria não hesitou. Ela se entregou totalmente ao plano do Senhor para a sua vida. Maria é um exemplo de humildade. Duas ve­ zes neste poema conhecido como o “Cântico de Maria”, ela menciona a sua condição humilde (w. 48,52). Embora somente a Maria tenha sido concedido o privilégio de ser a mãe do Messias, o “amor das mulheres” (Dn 11.37), ela nunca se tornou soberba. Muitos homens da Escritura, através dos quais Deus operou, sucumbiram de­ pois à soberba. Maria, que teve muito mais do que se vangloriar do que qualquer um deles, nun­ ca perdeu o seu espírito de dependência generosa de Deus. Maria é um exemplo de gratidão. Ela respondeu ao toque de Deus com toda a sua alma e espírito, louvando e exaltando ao Senhor. Ela viu na obra de Deus em sua própria vida evidências do seu amor por todo o seu povo, e ficou emocionada com o poder, a graça, a misericórdia, e a fidelida­ de de Deus. Hoje devemos honrar Maria, e agradecer a Deus por sua simples confiança. Mas a melhor ma­ neira de honrar Maria é não orar a ela. Antes, a melhor maneira de honrar Maria é moldar o nosso próprio relacionamento com Deus nas características que ela exibiu. Os atos de reco­ nhecimento que Maria aprovaria permanecem os mesmos: submeter-se prontamente ao nosso Senhor, nutrir um espírito humilde, e expressar o nosso apreço a Deus em louvor, como Maria fez há muito tempo atrás.

Não ore a Maria. Mas honre-a, seguindo o seu exemplo. Citação Importante “A humildade é como os pratos de uma balança; quanto mais baixo desce um lado, mais alto sobe o outro. Sejamos humildes como a bendita virgem e seremos exaltados.” — John Vianney 8 DE AGOSTO LEITURA 220 JESUS E JOÃO Lucas 2—3

“Respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias” (Lc 3.16). A história de João chama a atenção para os sinais especiais associados ao nascimento de Jesus e o anúncio que João faz do mesmo. Verdadeiramente, Lucas está nos dizendo, Jesus é o Filho do Homem e o Filho de Deus. Visão Geral Lucas datou o nascimento de Jesus (2.1-7), e re­ latou outra visita angelical (w. 8-20). Quando foi apresentado no templo, o menino Jesus foi identi­ ficado como o Messias por Simeão (w. 21-32) e a profetiza Ana (w. 33-40). Com a idade de 12 anos Jesus visitou o templo e disse que convinha tratar dos “negócios do meu Pai” (v. 41-52). Lucas então datou e descreveu o ministério de João (3.1-20), relatou o batismo de Jesus (w. 21,22) e apresentou a genealogia de Jesus (w. 23-38). Entendendo o Texto “E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cida­ de” (Lc 2.1-7). Lucas foi cuidadoso ao apontar a data com precisão. Mas a passagem do tempo fez com que os pontos de referência estivessem perdi­ dos hoje, e o tempo específico do nascimento de Cristo e o censo continua a ser debatido. Não há dúvida, porém, de que a prática romana exigia que os cidadãos das províncias fossem alistados em suas cidades de origem. Por que isto é importante? Miqueias tinha predito que Cristo nasceria em Belém. Deus usou um senso, convocado por um imperador romano pagão, para providenciar que Maria e José viajassem para Belém exatamente no tempo certo. Como o nosso Deus é maravilhoso! Ele assim moldou a história de forma que o de-

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ereto de Augusto se tornou um meio de realizar o seu próprio decreto divino. Não há nenhuma cir­ cunstância que o poder do nosso Deus não possa controlar — ou superar.

quase qualquer mensagem. Mas os sentimentos rapidamente passam, e com eles o nosso interesse na mensagem desaparece. Maria não reagiu com exagero aos acontecimentos extraordinários. Ela escolheu pensar sobre eles, meditando neles por muito tempo. E verdade que Deus toca as nossas emoções bem como as nossas mentes. Mas, assim como a fé de Maria, a nossa fé deve estar fundamentada na con­ templação do que Deus fez e no seu significado para nós, não em sentimentos primeiramente — ou apenas neles.

“Não havia lugar para eles” (Lc 2.7). Esta frase co­ movente tem tocado os cristãos desde que Lucas a escreveu. Pode não ter sido uma “estalagem” que não deixou o casal entrar: a palavra grega também é usa­ da para definir quartos de hóspede em casas parti­ culares. Na ocasião em que multidões voltaram para Belém para se registrar, um espaço foi finalmente encontrado para Maria no que a tradição diz ter sido uma gruta usada como estábulo de animais. Somos “Pelo Espírito” (Lc 2.21-40). Lucas relatou mais informados de que o Cristo nasceu ali. dois incidentes que servem para demonstrar a Contemplando o ambiente humilde e os animais identidade de Jesus. No quadragésimo quarto dia como espectadores, um escritor de hinos escreveu: após o seu nascimento, a mãe de Jesus foi ao tem­ plo para oferecer o sacrifício que era exigido dos “Tu deixaste o teu trono e a tua coroa real, pobres para a purificação depois de dar à luz (v. Quando vieste à terra por mim. 24; cf. Lv 12.8). Ali o Espírito Santo levou dois Mas no lar em Belém, não foi achado nenhum santos idosos a identificarem Jesus como o Messias lugar prometido. Para o teu santo nascimento. Embora os incidentes sirvam como evidências O venha para o meu coração, Senhor Jesus; históricas, eles com certeza tiveram um significa­ Há lugar em meu coração para ti.” do especial para José e Maria. Pouco depois disso, — Emily E. S. Elliott Mateus nos diz que o casal foi obrigado a tomar o menino Jesus e fugir do país. A lembrança de cada “Eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será palavra incomum a respeito de seu Filho serviria para todo o povo” (Lc 2.8-18). Um grande grupo muito para encorajar José e Maria então. de anjos apareceu aos pastores nos campos que Muitas das obras mais incomuns de Deus são exe­ ficavam nas proximidades de Belém, louvando a cutadas mais para o conforto dos que lhe perten­ Deus. O significado de suas palavras, uma vez tra­ cem do que para algum grande propósito teológi­ duzidas: “Paz na terra aos homens de boa vonta­ co. Aqui Deus consolou quatro pessoas: Simeão e de”, são melhor traduzidas como “Paz aos homens Ana perto do final de suas vidas; José e Maria no sobre quem repousa o favor de Deus”, ou “Paz na princípio de um período difícil de suas vidas. Os terra e boa vontade para com os homens.” Em próprios propósitos pessoais vistos aqui nos incen­ vez de limitar a promessa de alegria aos homens tivam a esperar que o Senhor também atenda às de boa vontade, o brado angelical proclama uma nossas necessidades. graça de Deus que é uma Boa-Nova e uma pro­ messa de alegria a todos! Em Cristo, o Salvador, a “Me convém tratar dos negócios de meu Pai” (Lc necessidade mais profunda do homem é atendida. 2.41-52). Com a idade de 12 anos, quando o cos­ Através de Cristo, o favor de Deus é derramado tume ditava que um menino se tornava responsável sobre todo aquele que crer. perante a Lei, os pais de Jesus o levaram ao templo, por ocasião da Páscoa. Poderíamos nos concentrar “Mas Maria guardava todas essas coisas, conferindo- na conversa de Jesus com os doutores que, duran­ as em seu coração ” (Lc 2.19). Apesar de tudo que foi te os períodos de festa, ensinavam publicamente mostrado a Maria, ela mal podia compreender a nos átrios do templo. O que é mais significativo, implicação total do seu chamado para ser a mãe de porém, é Lucas mencionar a atitude de Jesus em Jesus. O texto grego faz uma comparação fascinan­ relação a Deus. te. Enquanto os pastores e o povo que ouviu o re­ A “pessoa teantrópica” — um nome que os teólo­ lato deles estavam admirados e empolgados, Maria gos dão à ligação entre a Divindade e a humani­ ao contrário (“mas”) escolheu guardar essas coisas dade em Jesus — permanece um grande mistério. em sua mente e meditar nelas. Está claro que o Cristo encarnado não exerceu to­ A atitude de Maria é a melhor. Alguns de nós res­ dos os seus atributos Divinos. Como diz Lucas, ele pondem com uma emoção grande e imediata a “crescia em sabedoria” como também em estatura.

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“Sendo (como se cuidava) filho de José” (Lc 3.23-37). A frase “de quase trinta anos” naquela cultura é um número aproximado. Cristo poderia estar com trinta e poucos anos quando começou o seu mi­ nistério. Mas embora a idade fosse tratada impre­ cisamente, a genealogia no antigo Israel era uma questão séria, e os registros eram meticulosamente guardados. Lucas teria tido acesso a registros que continham a data encontrada neste capítulo. A genealogia de Lucas difere da genealogia encon­ trada em Mateus. Os lugares onde as linhagens divergem foram explicadas presumindo-se que Mateus seguiu a linhagem legal através de José, enquanto Lucas seguiu a linhagem real de Jesus através de Maria. Outras explicações das diferenças também foram sugeridas. Nós não temos informa­ ções suficientes para saber qual explicação é a ver­ dadeira fonte da variação. O que é mais significativo, no entanto, é que en­ quanto Lucas deixou claro que José era apenas o suposto pai de Jesus (v. 23), Lucas segue a sua ge­ nealogia não até Davi ou Abraão, mas até Adão. Lucas quer que entendamos que Jesus foi um ser humano verdadeiro; um de nós, assim como o Filho de Deus.

Contudo, não parece haver dúvida de que mesmo em sua pouca idade Jesus já estava consciente do seu relacionamento especial com Deus, seu Pai. Entretanto, durante todo o tempo Jesus viveu a sua vida como um ser humano temente a Deus, tendo sido, mesmo quando criança, “obediente a” seus pais. Nós jamais desvendaremos o mistério, ou seremos capazes de isolar a Deus do homem em Jesus. E de modo geral, como aqui, seremos lembrados por Lu­ cas tanto do mistério quanto da história da nossa fé. “Orando ele, o céu se abriu” (Lc 3.21,22). Lucas é o único dos escritores do Evangelho a nos dizer que Jesus estava orando quando foi batizado e quando o Espírito desceu do céu. Só Lucas nos diz que Cristo também orou antes de escolher os Doze (6.12) e no monte da Transfiguração (9.29). Outras ocasi­ ões em que Jesus estava orando são encontradas em 5.16; 9.18-, e 11.1. Jesus viveu a sua vida na terra como um ser huma­ no, mas como um Homem perfeito. A confiança de Cristo na oração nos lembra do quanto precisa­ mos nos comunicar constantemente com o nosso Pai Celestial.

DE V OCION A L ______ Matar para Vivificar

(Lc 3.1-20) João não foi um pregador suave e agradável. Ele era rude, confrontador. Ele não era leniente, e pregava uma mensagem de ira vindoura. Ele foi um daque­ les pregadores que confrontam o “pecado” que as pessoas hoje parecem achar tão desagradável. A advertência de João para não confiarem na des­ cendência de Abraão (v. 8) como segurança, ata­ cava um fundamento da fé judaica do século I. Como o povo escolhido, a semente de Abraão, e possuidores da Lei de Deus, muitos achavam que a sua posição com Deus era segura. João atacou esta doutrina de favorecimento, e exigiu o arrependi­ mento combinado com a correção moral. Talvez seja surpreendente, mas as pessoas de modo geral anseiam apenas por este tipo de pregação. Bem lá no fundo, todas as pessoas sentem que não são o que poderiam ou deveriam ser. Há uma sen­ sação de alívio quando as falsas aparências são re­ movidas, e somos forçados não só a encarar a nossa necessidade — mas recebemos a esperança de que, de alguma maneira, podemos nos tornar melhores do que somos. E isto que mantinha as multidões vindo para ou­ vir João, e questionando em seus corações se João

poderia ser o Cristo. E é isto que também toma as modernas mensagens de arrependimento e de “fogo inextinguível” como as de João, em mensa­ gens de “boas-novas” (w. 17,18). A palavra “condenatória” da Bíblia sobre o pecado não é, de modo algum, condenatória! Ao exigir que encaremos a nossa culpa, a Escritura nos traz esperança em vez de aniquilá-la. Somente quando encaramos a culpa é que buscamos o perdão e encontramos a nova vida no Jesus que João pregou. Assim, à medida que você e eu crescemos no corre­ to entendimento da graça de Deus, quando com­ partilhamos a Cristo com os outros não é errado nos posicionarmos, como João, e destemidamente repreendermos o pecado e o pecador, quando se fizer necessário. A palavra que condena é, às vezes, a porta de esperança. Aplicação Pessoal Deixe que Deus lhe dirija e lhe mostre quando você deverá compartilhar as Boas-Novas, que, mo­ mentaneamente, podem parecer más notícias para alguém. Citação Importante “Os ministros que forem capazes de pregar o evan­ gelho de Jesus no nosso tipo de civilização sem dei­

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xar ninguém incomodado merecem um automóvel como prêmio pelo feito tão difícil, E eles precisam de um para compensá-los pela falta de vitalidade espiritual que torna a execução do feito possível.” — Reinhold Niebuhr

Jesus sofreu. Aqui precisamos distinguir entre três tipos de tentação. (1) Quando Satanás tenta, ele engana uma pessoa induzindo-a a fazer o mal. Satanás teve êxito ao tentar Adão e Eva (Gn 3), mas fracassou completamente em sua tentativa de tentar a Cristo. (2) Quando tentamos a Deus (cf. 9 DE AGOSTO LEITURAD221 t 6.16), agimos contrariamente à fé e exigimos _ j í l i .. UM M INISTÉRIO DE CURA que Ele prove a si mesmo pata nós. (3) Quando Lucas 4 —5 Deus nos coloca em uma situação difícil, Ele faz isto para nos testar — para que possamos passar no “Todos os que tinham enfermos de várias doenças lhos teste, e não para sermos reprovados! Tiago 1.13 nos traziam; e, impondo as mãos sobre cada um deles, os assegura que “Deus não pode ser tentado pelo mal curava” (Lc 4.40). e a ninguém tenta”. Deus nos deu o seu Espírito para que nós, como Jesus, possamos ser vitoriosos Ao descrever o início do ministério de Jesus, Lucas sempre que formos tentados a pecar. dirige a nossa atenção para o poder de cura e per­ dão de Cristo. O que Jesus fez, como também o “Chegando a Nazaré” (Lc 4.14-21). Jesus escolheu que Ele disse, mostra que Ele é o Filho de Deus. a sinagoga de Nazaré para anunciar publicamente que Ele era o esperado Messias de Israel. Ele fez Visão Geral isso lendo parte de uma bem conhecida passagem Depois de ser tentado por Satanás (4.1-13) Jesus messiânica de Isaías. Tanto o que Jesus leu, como começou seu ministério na Galileia (w. 14,15). o que Ele não leu são palavras importantes. Ele se Jesus escolheu Nazaré para se identificar como o concentrou na capacitação do Espírito para anun­ Messias (w. 16-21), onde Ele foi furiosamente re­ ciar as Boas-Novas, especialmente pregando aos jeitado (w. 22-30). Ao prosseguir, Jesus expulsou pobres, aos cativos, aos cegos, e aos oprimidos — espíritos malignos (w. 31-37) e curou (w. 38-44). todos os que não tinham esperança, exceto pela es­ Ele também chamou os seus primeiros discípulos, perança em Deus — que o momento do favor de tipificados por Pedro (5.1-11). Jesus provou que Deus havia chegado. A vinda de Jesus significava, tinha poder para perdoar os pecados (w. 12-26) e e ainda significa que há esperança para os desespe­ para transformar o caráter (w. 27-32), mas, mes­ rançados. mo diante de tudo isto, os seus ouvintes fizeram O que Jesus deixou de fora foi uma frase encontra­ apenas perguntas triviais (w. 33-39). da no texto original de Isaías: “o dia da vingança do nosso Deus”. A primeira vinda de Cristo foi para Entendendo o Texto derramar o favor de Deus sobre a humanidade. “Jesus, cheio do Espírito Santo... foi levado pelo Es­ Somente na sua segunda vinda a vingança e a ira pírito” (Lc 4.1). Estes capítulos também enfatizam transbordarão. o ministério do Espírito Santo na vida de Jesus na Neste anúncio Jesus também estabeleceu o progra­ terra. O Espírito levou Cristo ao deserto pata ser ma para a igreja. Nós somos chamados para anun­ tentado (v. 1). Jesus começou o seu ministério no ciar a graça de Deus hoje — e demonstrá-la como poder do Espírito (w. 14,15), e anunciou que o Es­ fez Jesus, em atos de amor e bondade. pírito do Senhor estava sobre Ele para anunciar as Boas-Novas e proclamar o ano aceitável do Senhor. “E todos, na sinagoga, ouvindo essas coisas, se enche­ Todos os atos e obras que Jesus fez foram inspira­ ram de ira” (Lc 4.20-29). Por que os vizinhos de dos e imbuídos da dinâmica do Espírito de Deus. Jesus reagiram dessa maneira? O povo já estava per­ Mas há outra coisa que devemos notar. Percebemos turbado, primeiro devido ao fato do Filho de um que o Espírito nos capacita a servir ao Senhor. Mas de seus vizinhos ter ousado fazer tal reivindicação raramente pensamos nEle nos conduzindo para (v. 22), e segundo, pelo fato de Jesus ter deixado de tempos de tribulação. Aqui Lucas nos lembra que lado o dia da vingança para falar apenas da graça o Espírito pode até nos levar à tentação! Quando (por exemplo, “palavras de graça”). Quando Cris­ a vida trouxer dificuldades e desafios, não devemos to prosseguiu, sugerindo que a sua mensagem se duvidar da direção do Espírito — ou do seu poder mostraria uma bênção para os gentios (w. 25-27), para nos tornar vitoriosos. e não seria reservada somente para Israel, o povo ficou irado o suficiente para tentar matá-lo (v. 29). “Ele foi tentado pelo diabo” (Lc 4.2-13). A leitura Jesus havia desapontado as esperanças mais oti­ 197 (Mt 4) discute as tentações específicas que mistas do povo, e rejeitado a reivindicação que eles

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Alguns não cristãos, mas nem todos, se sentirão como Pedro, incomodados com o pensamento de estar na presença de Deus. Nós devemos tranquili­ zá-los. Jesus não está preocupado em ser contami­ nado por pecadores. Ele veio para salvar pecadores, e tem o poder espiritual necessário para tornar bom até mesmo o mais ímpio dos homens.

faziam de serem os únicos que possuíam o favor divino. Os judeus queriam um Messias que remo­ vesse o jugo romano e exaltasse a sua nação. Eles não queriam um Messias que meramente curasse e perdoasse pecados. O pensamento de que eles não seriam favorecidos acima dos odiosos gentios dei­ xou a multidão ensandecida. Sejamos advertidos pela reação dos vizinhos de Je­ sus. Devemos tomar o cuidado de irmos a Deus sem condições ou expectativas. Não podemos ditar a Ele o que Ele fará. E devemos perceber que o amor de Deus é universal. Embora sejamos espe­ ciais para Ele, outros são tão especiais quanto nós. E necessária uma verdadeira humildade para se re­ lacionar com Deus nesta era da graça. Devemos ser humildes em relação ao Senhor, buscando apenas fazer a sua vontade. E nós devemos ser humildes em relação aos outros, e estar dispostos a colocá-los em primeiro lugar. “Um espírito de um demônio imundo” (Lc 4.31-37). Lucas, um médico, faz uma distinção cuidadosa entre a doença normal e uma possessão demonía­ ca. Não há nenhuma “crença supersticiosa de que toda enfermidade seja causada por demônio” no Evangelho de Lucas! O que há nos faz lembrar que Jesus é todo-poderoso. “Com autoridade e poder ele [ainda] manda aos espíritos imundos e eles saem.” “A o pôr do sol” (Lc 4.38-44). O povo esperou até o pôr do sol, porque era considerado ilegal carregar uma carga no sábado (cf. v. 38), embora a carga pu­ desse ser uma pessoa doente. Jesus, todavia, tinha curado a sogra de Pedro no dia de sábado. Você e eu nunca temos que esperar para levar os nossos fardos ou necessidades a Cristo. “Senhor, ausenta-te de mim, porque sou um homem pecador” (Lc 5.1-11). Uma das técnicas literárias de Lucas era contar a sua história através de esboços de indivíduos. Aqui ele retratou o chamado dos discípulos de Cristo concentrando-se em Pedro, o principal discípulo. A história é rica em inspiração psicológica. Jesus agiu de uma maneira que Pedro entendeu como miraculosa. Embora o que Jesus fez tenha sido para o benefício de Pedro, Pedro de repente foi tomado por uma sensação de culpa, e rogou a Jesus que fosse embora. Como Adão e Eva no Jardim, a pri­ meira reação de Pedro quando se tomou ciente de que estava na presença do Senhor, foi fugir. Jesus, porém, não se incomodou. Ele tinha vindo para encontrar pecadores exatamente como Pedro — e para transformá-los em “pescadores de homens”.

“Estavam ali assentados... que tinham vindo de todas as aldeias da Galileia” (Lc 5.17-26). Lucas deixou claro que os “fariseus e os doutores da Lei” presen­ tes eram uma delegação oficial, vinda para conferir o Pregador e Mestre da Galileia. No século I uma pessoa poderia ser reconhecida como um doutor da Lei — um rabi, ou sábio — somente após passar por um longo período de trei­ namento sob um mestre reconhecido. Jesus não tinha tal treinamento, e assim uma comissão ecle­ siástica cética desceu para observá-lo. Jesus pôde sentir a condenação deles quando per­ doou os pecados do paralítico. Ele então anunciou que iria curar o paralítico para provar que Ele tinha o poder de perdoar pecados. Se Ele falhasse, Deus não o teria ouvido, e o seu pronunciamento de per­ dão não teria sentido. Mas uma cura real mostraria que Deus estava operando através dEle, e confir­ maria a sua reivindicação de ser capaz de perdoar pecados. Comissões eclesiásticas ainda têm uma tendência de fazer julgamentos sobre a operação do Espírito Santo através de pessoas que não possuem o reco­ nhecimento “oficial.” Muitas mulheres hoje, com significativos dons espirituais, são incapazes de exercê-los na igreja. Mas a chave para um ministé­ rio eficaz permanece a mesma — os dons de Deus, e o seu chamado. E a evidência do chamado de Deus ainda é visto nos resultados transformadores do ministério de um indivíduo aos outros. “Os teus comem e bebem” (Lc 5.33-39). Permane­ ço espantado com a mentalidade das pessoas que podem testemunhar obras maravilhosas executadas por Deus e então argumentar a respeito do insigni­ ficante. Pelo amor de Deus! Jesus estava expulsan­ do demônios! Ele estava curando os enfermos! Ele estava reivindicando, e provando, a sua capacidade para perdoar pecados! E algumas pessoas lhe fize­ ram uma pergunta sobre o jejum! A resposta de Jesus, basicamente, foi esta: livremse das velhas categorias através das quais vocês têm pensado na religião e no relacionamento com Deus. Vocês não devem tentar adaptar o que eu digo e faço às suas velhas maneiras de pensar, mas vocês devem colocar o meu “vinho novo” em “odres novos”.

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Como precisamos estar abertos ao que Jesus está fa­ zendo no nosso mundo, e ao que Ele ensina em sua Palavra. A nossa melhor teologia náo pode conter os pensamentos ou os propósitos de Deus. Se nos

DEV OCION A L______

Aquela Palavra de Seis Letras (Lc 5) A maioria dos pais tende a tomar cuidado com palavras de quatro letras. Mas hoje muitos adultos têm pelo menos o mesmo forte sentimento de não gostar de uma palavra de seis letras: pecado. Ela certamente está fora de moda hoje, e é provável que qualquer pessoa que fale a esse respeito seja acusada de tentar “impor a sua moralidade aos outros”. De acordo com pessoas como Norman Lear e o seu povo em favor do jeito Americano, falar sobre o pecado é o maior pecado de todos! Na verdade, a Bíblia de forma alguma trata o “pe­ cado” como uma palavra horrível. Na realidade, o pecado é algo que a Escritura declara, com bastan­ te segurança, que Deus é capaz de tratar. Por que evitá-lo então, se ele não é mais uma ameaça? Lucas 5 contém histórias progressivas sobre o pe­ cado. Os versículos 1-11 contam como Pedro veio a perceber que Jesus era verdadeiramente o Senhor (note o v. 5, e então o v. 8), e que quando isso aconteceu, Pedro de repente ficou ciente de que era um homem pecador. Ele rogou que Jesus partisse, mas Cristo não quis ir. Em vez disso, Cristo ofe­ receu a perspectiva de uma nova vida para Pedro: “De agora em diante, serás pescador de homens”. Jesus também não é repelido pelo nosso pecado. Ele sabe que tem poder para nos transformar, e mudar a nossa vida. Os versículos 17-26 nos mostram como Jesus lida com os nossos pecados. Ele os perdoa. Assim como Ele quebrou o poder de paralisia que mantinha o homem imóvel sobre a sua esteira, o seu perdão também quebra as amarras que paralisam a nossa capacidade de fazer o bem. Os versículos 27-32 demonstram exatamente este poder. Observe que Levi, o cobrador de impostos e pária social, não era outro além de Mateus, o discí­ pulo que escreveu o Evangelho que leva o seu nome (cf. M t 9.9). Cristo não apenas chama os pecadores ao arrependimento, mas também transforma em servos de Deus aqueles que se arrependem. Portanto, não seja repelido pela palavra “pecado”, e não se desculpe por ela. O pecado ainda é uma realidade que todo ser humano precisa enfrentar. A boa nova que temos para compartilhar é que o pecado não é um problema... para Deus. Em Jesus há perdão e uma nova vida.

tornarmos rígidos em nosso pensamento a respeito de Deus, cairemos na armadilha daqueles que ig­ noraram as maravilhas de Jesus e se maravilharam com aquilo que seria melhor ter sido ignorado.

Aplicação Pessoal Chame o pecado de pecado para abençoar os ou­ tros, e não para amaldiçoá-los. Citação Importante “Quem não sabe o que é se levantar de um fracasso — percebido, confessado, e perdoado — com uma sensação quase alegre de nova energia, força, e von­ tade de perseverar?” — H. L. Sidney Lear 10 DE AGOSTO LEITURA 222 ENSINAMENTOS DE JESUS Lucas 6 “Mas a vós, que ouvis, digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem. aos que vos aborrecem, bendizei os que vos maldizem e orai pelos que vos caluniam” (Lc 6.27,28). O “ensino na campina” de Jesus (v. 17) é um ser­ mão típico de Cristo, durante o seu ministério na Galileia. Visão Geral Lucas resumiu o conflito de Jesus com os fariseus em relação ao sábado (6.1-11) e listou os Doze que Cristo escolheu como apóstolos (w. 12-16). Ele também resumiu os elementos comuns na prega­ ção de Cristo: sua lista de bem-aventuranças e ais (w. 17-26), o seu chamado para amar os inimigos (w. 27-36), a sua proibição de julgar (w. 37-42), a sua exigência de evidências de justiça (w. 43-45), e o seu chamado para colocar em prática os seus ensinamentos (w. 46-49). Entendendo o Texto “O que não é lícito fazer nos sábados?” (Lc 6.1,2). Cada Evangelho registra uma discussão en­ tre Jesus e os fariseus. Esta se concentrava nas múltiplas leis de observância do sábado que os rabis haviam acumulado durante os séculos an­ teriores. As discussões sobre o sábado serviram como casos de teste, em que a abordagem do judaísmo rabínico às Escrituras foi vista mais claramente. E importante manter em mente que na verdade nem Jesus nem os seus discípulos violaram a lei

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padrão nos “discursos de linhas diretrizes” que Cristo repetia de modo frequente quando apre­ sentava o seu reino. As características que encon­ tramos aqui são, com certeza, elementos básicos no atual reino de Cristo, e são fundamentais para a nossa vida como cidadãos nele. O foco de Jesus sobre os seus discípulos (v. 20) deixa claro que este sermão é para nós.

bíblica, embora os discípulos tenham violado uma regra rabínica. Nas discussões sobre o sábado Cristo exerceu o seu direito como Senhor para definir com autoridade qual era o propósito do sábado — e qual não era. Essencialmente Cristo ensinou que (1) o sábado foi instituído para o benefício do homem (cf. Mc 2.27) e que, portanto, ações úteis são permitidas (Lc 6.9); (2) que o próprio Jesus é Senhor do sába­ do (v. 5); e (3) que como Deus trabalha no sábado, é lícito que o Filho também trabalhe (Jo 5.17). As interpretações humanas da Escritura devem ser sempre cuidadosamente analisadas — particular­ mente quando estão na forma de leis e restrições! “Passou a noite em oração a Deus”(Lc 6.12-16). Lucas descreveu algumas das pressões sofridas por Jesus. Ele estava cercado por uma multidão opres­ siva que estava em busca de cura. Ele era o centro da discussão. E Ele teve que tomar uma decisão crítica, escolhendo doze dentre os muitos que o se­ guiam para receberem “o nome de apóstolos.” Quando as pressões são as maiores e as decisões as mais significativas, o melhor a fazer é passar um tempo em oração. “Ele... parou num lugar plano” (Lc 6.17-20). Este resumo do ensino de Jesus foi chamado em al­ gumas versões da Bíblia de “sermão na campina” em contraste com o “Sermão da M ontanha” de Mateus (Mt 5-7). Lucas pode estat descrevendo o mesmo acontecimento, mas não necessariamente. Muito provavelmente ele relatou características

Lucas retratou com frequência a Jesus em uma sinagoga no sábado (4.16,33; 6.6). Até mesmo as pequenas co­ munidades tinham sinagogas, que serviam como casas de estudo, como também de adoração. Arqueólogos escavaram esta sinagoga do século I, cuja fundação foi encontrada debaixo de uma sinagoga do século IV, em Cafarnaum. O desenho mostra a estrutura da sinagoga descoberta, a qual é muito provavelmente a própria sina­ goga de Cafarnaum em que Jesus ensinou!

“Bem-aventurados vós” (Lc 6.20-23). A bem-aventurança a que Jesus se referiu é a alegria incom­ parável experimentada somente por aqueles que participam do seu reino. Note que Jesus usou o tempo verbal no presente aqui: “Bem-aventurados vós”. Daquilo que os outros chamam de privação flui uma alegria inigualável de experimentar a pre­ sença viva de Deus. Nós que olhamos para além do mundo material não temos somente grande re­ compensa no céu, mas mesmo nas ocasiões em que sofremos nós folgamos e exultamos. Que erro presumir que a alegria e a bênção depen­ dem do nosso saldo bancário, ou armários bem cheios. A alegria e a bênção fluem do relaciona­ mento com o Senhor, e são dependentes apenas da nossa proximidade com Ele. “A i de vós, ricos!” (Lc 6.24-26). Os ais estão em con­ traste direto às bênçãos. A infelicidade que Lucas as­ socia com a riqueza não está baseada nas riquezas em si, mas no impacto das riquezas sobre o indivíduo. Os ricos são tentados a buscar a satisfação nas coisas que eles podem comprar agora, em vez de darem prioridade ao mundo por vir, e tendem a ignorar as realidades espirituais. E os ricos parecem considerar aquilo que os outros pensam deles mais importante do que o que Deus pensa deles. Tiago 2.6,7 parece supor, como Lucas pode supor aqui, que todos que eram ricos no século I tinham obtido a sua rique­ za às custas de outras pessoas. Seja qual for a fonte das riquezas, Cristo claramente ensinou que elas são enganosas. Quer sejamos ricos ou pobres, devemos aprender a depender unicamente do Senhor. “A mai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos abor­ recem” (Lc 6.27-36). Os sociólogos chamam o padrão que Jesus criticou de “norma de reciproci­ dade.” Em qualquer cultura, as pessoas tenderão a manter as suas “contas sociais” equilibradas. Se você convidar a família Jones para jantar em sua casa, eles sentirão que devem um convite a você. Se você emprestar à Sra. Smith alguns pedaços de chocolate, provavelmente ela trará a você alguns dos biscoitos que ela fizer. Jesus não criticou esta norma. Ele simplesmente observou que até mesmo os pecadores viviam por

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ela, de forma que não é nada especial mostrarmos amor por aqueles que amamos. E Ele nos cha­ mou para vivermos pelo padrão estabelecido, não o padrão estabelecido pela nossa sociedade, mas o padrão estabelecido por Deus. Visto que Deus faz coisas boas e amáveis mesmo por aqueles que o odeiam, nós, que somos filhos de Deus e cidadãos do seu reino, devemos fazer o mesmo. Não devemos viver pela norma da reciprocidade, mas pela norma da redenção.

ritual bem como em natureza. Os frutos de uma figueira são figos. Os frutos de um coração bom são palavras amáveis e ações piedosas. Alguns acreditam que estas palavras foram dirigidas contra os fariseus, que enfatizavam uma obediência rígida às muitas regras feitas pelo homem, além da­ quelas estabelecidas nas Escrituras. Certamente as palavras de Jesus desprezam o ritual do qual eles ti­ nham tanto orgulho, e exaltam a bondade comum. Porém, o mais importante, é que as palavras de Jesus nos lembram que a qualidade da nossa vida depen­ de dos nossos corações. Se o seu e o meu coração transbordam de amor por Deus e de um desejo de agradá-lo, a nossa vida será cheia de uma bondade óbvia e transbordante. E por isso que Agostinho pôde dizer, corretamente: “Ame a Deus e faça o que você desejar”. Agostinho descobriu que se uma pes­ soa verdadeiramente ama a Deus, tudo que tal pes­ soa desejar será para agradar a Deus!

“Não julgueis” (Lc 6.37-42). Existe uma grande diferença entre usar a nossa capacidade de distin­ guir (julgar) entre o certo e o errado, e o que Jesus está falando aqui. Lucas cuidadosamente excluiu qualquer mal entendido usando repetição para­ lela, comum na poesia hebraica e na literatura de sabedoria. Devemos ser moralmente perspicazes — mas não podemos usar este discernimento para condenar os outros. Se tivermos a tendência de ser críticos, devemos voltar o nosso olhar crítico para o “Qualquer que vem a mim, e ouve as minhas pa­ nosso próprio comportamento — e corrigi-lo! lavras, e as observa” (Lc 6.46-49). Não há me­ lhor fundamento sobre o qual podemos edificar “Não há boa árvore que dê mau fruto” (Lc 6.43-45). a nossa vida. Nós fomos a Ele. Agora ouçamos as O ensino de Jesus aqui não consiste em uma co­ suas palavras — e as coloquemos em prática. Se missão para que você e eu nos tornemos “inspeto­ fizermos isso, permaneceremos firmes quaisquer res de frutos.” Ele é, portanto, a afirmação de um que sejam as tempestades que possam assolar a princípio que se mantém verdadeiro no reino espi- nossa vida.

DEV OCIONAL_______

A Medida que Você Usar (Lc 6.27-42) A princípio, o chamado de Jesus para amar os ini­ migos nos assusta. Se amarmos os nossos inimigos, eles certamente se aproveitarão de nós! Se amar­ mos os nossos inimigos, seremos mais vulneráveis ao ataque. A princípio Jesus pareceu ignorar esta objeção bas­ tante óbvia. Ele apenas nos lembrou de que Deus ama os inimigos, e que, como filhos de Deus, es­ pera-se que nós ajamos como Ele age. Não se in­ comode com os aspectos práticos. Apenas faça o que é certo. Mas então Jesus prosseguiu para nos lembrar que fazer o que é certo também é prático! “Daí, e servos-á dado... porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo” (w. 37,38). Você pode romper com os padrões de hos­ tilidade e animosidade! Você pode usar o princípio inato de reciprocidade que Deus implantou na na­ tureza humana, rompendo o padrão de golpe por golpe, de dor dada por dor recebida. Você pode dar início a um novo padrão retribuindo o ódio com

o amor, o mal com o bem, estabelecendo assim a medida pela qual, a seu tempo, você será medido. Afinal, Deus não fez a mesma coisa? Nós seres hu­ manos éramos “inimigos no entendimento pelas nossas obras más” (veja Cl 1.21). E Deus rompeu o padrão por um único ato ousado de amor, envian­ do o seu Filho para sofrer e morrer pelos nossos pecados. Quando respondemos a este amor, acei­ tando a salvação que Cristo nos ofereceu, toda a nossa atitude em relação a Deus mudou, e agora amamos e queremos agradar a Deus. Deus também tem recebido na medida que tem dado. O, eu sei. Isto nem sempre funciona. Alguns que aparentemente conhecem a Cristo permanecem tão hostis a Deus quanto antes. E, às vezes, as pes­ soas que tratamos com carinho continuam a nos fazer o mal. Mas o princípio permanece válido e verdadeiro, seja qual for a exceção individual. Há uma maneira de romper um padrão de hostilidade nos relacionamentos. E esta maneira é tomar a ini­ ciativa e começar, agora, a dar amor onde há ódio, compaixão onde há hostilidade, e devoção onde há antagonismo. Quando fazemos isto, vivemos

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putação de Cristo. Os líderes religiosos com certeza teriam criticado a Cristo se Ele tivesse entrado na casa de um gentio! Que Deus possa nos dar dons semelhantes: grande fé — e uma profunda preocupação de que tudo o

o nosso chamado como filhos de Deus. E damos início a uma mudança transformadora. Aplicação Pessoal Quanto maior a medida de amor que você usar, maior será a possibilidade de receber amor como retribuição. Citação Importante “E possível ter compaixão sem amor, e é possível ter bon­ dade sem amor; mas é impossível que alguém que esteja revestido de amor seja rude e não tenha compaixão, por­ que o amor em si não é apenas um acessório que se ves­ te. O amor é o traje completo que tem todos os outros acessórios embutidos em si, de forma que o amor é um modo de vida completo.” — Ray Anderson 11 DE AGOSTO LEITURA 223 O PODER DE JESUS Lucas 7— 8 “Os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama” (Lc 7.47). Os milagres de Cristo mostraram o seu poder sobre todas forças naturais e sobrenaturais, e de modo geral a importância da fé. Visão Geral Jesus curou o servo de um centuríão que creu (7.110) e ressuscitou o filho de uma viúva (w. 11-17). Jesus identificou João como um profeta — e a si mes­ mo como “Filho do Homem” (w. 18-35). Ele deixou um fariseu espantado por ter aceitado o toque de uma mulher pecadora, e por perdoá-la (w. 36-50). “Depois disso” Jesus começou a ensinar por parábolas (8.1-15) e enigmas (w. 16-18). Ele continuou a demonstrar o seu poder, acalmando uma tempestade (w. 22-25), expulsando um demônio (w. 26-39) e curando uma mulher que sofria de uma enfermidade crônica (w. 40-48). Ele coroou estes milagres ressuscitando uma menina (w. 49-56). Entendendo o Texto “Tanta fé ” (Lc 7.1-10). “Fé” é um fio que percor­ re ambos os escritos de Lucas: este Evangelho, e o livro de Atos. Aqui Lucas apresentou um gentio, um centurião, que demonstrou “grande fé” expres­ sando a convicção de que Jesus era capaz de curar o seu servo gravemente enfermo simplesmente falan­ do uma palavra — a distância! O centurião também mostrou grande sensibilida­ de. Ao dizer que não era digno de que Jesus entras­ se em sua casa, ele mostrou preocupação com a re­

Estes oficiais de carreira que lideravam “centenas” no exército romano são apresentados de uma maneira po­ sitiva no Novo Testamento (cf. At 10,11). A estes ho­ mens bem treinados, responsáveis, e inteligentes, eram de modo geral confiados deveres especiais e eles eram en­ viados para resolver diversos assuntos do império. Vários deles sáo mencionados no Novo Testamento como “te­ mentes a Deus”, gentios que adoravam a Deus, mas que não se converteram ao judaísmo. Nos escritos de Lucas os centuriões crentes representam todos os gentios que passaram a crer em Jesus.

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que façamos contribua para a reputação do nosso Senhor. “E, chegando-se, tocou o esquife”(Lc 7.11-17). A pa­ lavra grega para esquife indica uma padiola aberta semelhante a uma maca, sobre a qual os mortos eram carregados. A compaixão de Cristo pela viúva que havia per­ dido seu único filho levou-o a ajudá-la. Ao fazer isto Ele tocou o esquife. Este ato tornaria um judeu comum “imundo”, e incapaz de se aproximar de Deus no templo. Isto não afetou a Jesus, pois ime­ diatamente Ele invocou a Deus, e o morto voltou à vida! O poder dinâmico de vida que inspirava Jesus não poderia ser refreado por meras leis rituais. O ato de Jesus convenceu os espectadores de que Cristo era um Profeta. Isto sem dúvida alguma fez a multidão se lembrar de Elias, que também tinha ressuscitado o filho único de uma mulher. Você e eu agora reconhecemos a Jesus como alguém que é mais do que um profeta. O seu toque ainda é capaz de fazer os mortos ressuscitarem, e purificar o impuro. Nós experimentamos o poder doador de vida quando confiamos nEle todos os dias. “A nunciai a João o que tendes visto e ouvido” (Lc 7.18-23). Até mesmo João parecia esperar que Jesus estabelecesse um reino terreno. Para dirimir dúvidas, João enviou os seus discípulos jaara apre­ sentar a pergunta a Jesus diretamente: “Es tu aque­ le que havia de vir?” Jesus listou obras específicas de curas que os discí­ pulos de João tinham visto, porque o Antigo Testa­ mento declarava que na Era Messiânica exatamente estas obras seriam executadas! Isaías 35 diz: “Eis que o vosso Deus virá”, e embora a passagem fale de re­ compensa divina, ela também diz: “Então, os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se abrirão. Então os coxos saltarão como cervos, e a lín­ gua dos mudos cantará” (w. 4-6; cf. 61.1,2). A evidência das obras de Cristo, sozinha, era sufi­ ciente para identificá-lo como o Messias: como o Deus de Israel, que veio finalmente! Com certeza a resposta foi suficiente para João. Ele deixaria de lado as suas ideias pré-concebidas de como Deus devia trabalhar, e simplesmente confiaria. Outro dia a nossa loteria na Flórida alcançou 22 milhões de dólares. “Estou orando a respeito de um bilhete”, disse um amigo: “Deus com certeza iria querer que um dos seus tivesse esse dinheiro. Somente um cristão poderia usá-lo de forma sá­ bia”. Parece lógico, tudo bem. Contudo, esta é uma ideia sobre como Deus deve trabalhar, que é base­ ada no raciocínio humano. Como o João do pas­ sado, você e eu devemos estar dispostos a colocar

de lado todas as ideias pré-concebidas. Nós temos a evidência do amor de Deus na Cruz. Agora de­ vemos simplesmente confiar que o que Ele escolhe fazer é o melhor. A propósito, o meu amigo não ganhou na loteria. Ainda. “São semelhantes aos meninos que... clamam uns aos outros” (Lc 7-24-35). Jesus identificou a João como um grande profeta. Enquanto os pecadores da sociedade o reconheceram, e responderam à sua mensagem, os “fariseus e os doutores da lei” tinham rejeitado a João — e os propósitos de Deus para eles! Por quê? Jesus usa a ilustração de uma cena familiar de crian­ ças, brincando nas ruas. Elas brincam de “casamen­ to” (v. 32b, NTLH) e brincam de “funeral” (v. 32c, NTLH). E elas reclamam quando os outros não querem participar da sua brincadeira. E isto, Jesus disse, é o que os líderes religiosos tinham feito. Eles tinham feito brincadeiras, e se lamentavam porque nem João, aquele abatido e austero homem do de­ serto, nem Jesus, um Mestre social e amigável, par­ ticipavam das mesmas brincadeiras que eles! Jesus os descreveu dizendo: “Se vocês não brincarem do nosso jeito” (e podemos ver claramente a cara de zangados em seus rostos petulantes e infantis), “a gente não brinca mais. E pronto!” Mas Jesus não estava brincando. E se você e eu qui­ sermos ter um relacionamento significativo com Ele, nós também não podemos brincar! Em Jesus, o nosso Deus chegou. E agora devemos estar total­ mente entregues a Ele. “Ela começou a regar-lhe os pés com lágrimas” (Lc 7.36-50). Não pense que a mulher foi perdoada depois de ter regado os pés de Jesus com suas lá­ grimas. Ó, não. Ela foi perdoada antes. Este foi um ato de amor; uma expressão de gratidão. Os seus “muitos pecados” haviam sido purificados, e as suas lágrimas eram lágrimas de alegria. Os comentários posteriores de Jesus foram expli­ cações a Simão, o fariseu, e uma confirmação para a mulher (w. 48,50). E o mesmo acontece na nos­ sa vida. A fé e o perdão precedem tanto a alegria como o serviço. “Um semeador saiu a semear a sua semente” (Lc 8.115). Esta parábola familiar também é contada em Mateus e Marcos. Em cada narração o foco está ou na semente, ou na terra na qual ela caiu. As vezes você e eu colocamos o foco no semeador — nós mesmos, os semeadores da Palavra de Deus. Nós somos essenciais. Mas os resultados dependem, acima de tudo, do poder inerente do evangelho, e da nature-

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za da terra na qual ela cai. Assim, você e eu podemos semear livremente. Em sua breve menção do semea­ dor, esta parábola ajuda a apaziguar os medos como “Eu ainda não sei o suficiente”, ou “Eu posso dizer alguma coisa errada”. Tudo o que precisamos fazer é espalhar a semente. Deus trabalhará naqueles que ou­ virem, para produzir a colheita, conforme a disposição que demonstrarem para responder positivamente. “A tua filha já está morta” (Lc 8.26-56). Estes ver­ sículos relatam como Jesus lidou com os casos que podem ser considerados “sem esperança”. O homem endemoninhado tinha sido acorrentado “muitas ve­ zes”, mas sempre quebrava as prisões e se soltava (v.

DEV OCION A L______ Não Fale consigo Mesmo

(Lc 7.36-50) G. K. Chesterton assinalou que em todos os cam­ pos, exceto na religião, as pessoas tendem a chegar a um acordo. Os cientistas em todo o mundo con­ cordam sobre a estrutura atômica. Os nutricionis­ tas concordam com o que é melhor para se comer. Regras comuns são desenvolvidas para a contabili­ dade, e todas as nações concordam que o uso de esteróides nas Olimpíadas não é certo ou justo. Mas não há acordo sobre religião! E isto apesar de mi­ lhares e milhares de anos de pesquisa e discussão. O relato feito por Lucas de um jantar do qual Jesus participou na casa de um fariseu nos ajuda a ver por que. Uma mulher conhecida por ser pecadora — muito provavelmente uma prostituta local — entrou furtivamente na sala de jantar e começou a ungir os pés de Jesus, chorando. O fariseu obser­ vou o que estava acontecendo e concluiu (“disse a si mesmo”). Ele também foi lógico. (1) Um profeta saberia que ela era uma pecadora. (2) Um profe­ ta não permitiria que uma pecadora o tocasse. (3) Logo, Jesus não era profeta! (v. 39). O único problema é que o fariseu estava totalmen­ te enganado em uma das suas premissas. Jesus sabia que ela era uma pecadora. Mas Ele sabia que ela era uma pecadora perdoada, e que o seu amor e lágrimas fluíram da fé nEle. Quando Jesus explicou, até mesmo o fariseu teve que admitir de má vontade que uma pessoa que foi “muito” perdoada amará mais do que uma pessoa que foi pouco perdoada (w. 41-43). Jesus então confirmou a mensagem que a mulher já havia ou­ vido: “Os teus pecados te são perdoados”, e, além disso: “A tua fé te salvou” (w. 48-50). O que há de errado com os esforços humanos para construir religiões? Como aconteceu com o fariseu, cada esforço é meramente “dizer a si mesmo”. O

29). A mulher que tocou em Jesus, tinha um fluxo de sangue, havia “doze anos”, e “por nenhum [médico] pudera ser curada” (v. 43). E a filha de Jairo estava morta: toda a esperança havia desaparecido, e os ami­ gos o aconselharam: “Não incomodes o Mestre” (v. 49). Contudo, Jesus expulsou o demônio, restaurou a saúde da mulher, e ressuscitou a menina dos mortos! Colocadas juntas, como Lucas reuniu estas histórias, elas nos lembram de uma verdade maravilhosa: Não há “casos sem esperança” para o Senhor. E também não há pessoas para as quais não exista esperança. O poder de Jesus Cristo é grande o bastante para aten­ der a toda necessidade, e também para transformar qualquer pecador. religioso faz afirmações que parecem lógicas, mas são imperfeitas em uma ou mais das premissas envolvidas. Somente quando Deus fala através de Jesus, a verdade pode ser discernida. A única verda­ de religiosa que podemos ter deve vir de Deus por revelação, pois ela jamais pode ser descoberta pelas pessoas que falam apenas consigo mesmas. Portanto, não fique perturbado quando as pessoas tiverem crenças e ideias a respeito de Deus diferentes das suas. Ponha a sua confiança na Palavra de Deus. Deixe que os outros falem tudo o que quiserem con­ sigo mesmos. Você fala — e ouve — a Deus. Aplicação Pessoal Creia no que Deus diz, e não naquilo que as outras pessoas pensam. Citação Importante “Quando você tiver lido a Bíblia, saberá que ela é a Palavra de Deus, porque nela você terá descoberto a chave para o seu próprio coração, a sua própria feli­ cidade e o seu próprio dever.” — Woodrow Wilson 12 DE AGOSTO LEITURA 224 JESUS, O CRISTO Lucas 9 “£ disse-lhes: E vós quem dizeis que eu sou?” (Lc 9.20) Em cada Evangelho, a confissão que Pedro faz de Jesus como o Cristo serve como um ponto crítico. Foi a partir deste ponto que Jesus começou a falar da sua cruz. Visão Geral Jesus intensificou o seu impacto enviando os seus discípulos para ensinar e curar (9.1-6), despertan­

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do mais especulações sobre quem Ele poderia ser (w. 7-9). Jesus alimentou 5.000 (w. 10-17), e de­ pois da confissão de Pedro de que Jesus é o Cristo (w. 18-20), Ele falou da sua morte (w. 21,22) e o custo do discipulado (w. 23-27). Oito dias de­ pois Jesus se transfigurou (w. 28-36), expulsou um espírito maligno (w. 37-45), e falou sobre a gran­ deza (w. 46-50). No caminho para Jerusalém Ele foi mal recebido em Samaria (w. 51-56), e avisou das dificuldades a serem enfrentadas por qualquer pessoa que o seguisse (w. 57-62). Entendendo o Texto “Deu-lhes virtude e poder” (Lc 9.1-6). Eram ne­ cessários poderes milagrosos para curar. Mas era necessário ter autoridade para expulsar demônios. Como vemos posteriormente no mesmo capítulo, esta autoridade náo foi retida pelos discípulos (v. 40). Penso que o poder e a autoridade foram dados aos discípulos para que eles realizassem a missão específica que Jesus lhes dera. Você e eu podemos ter a confiança de que, se formos chamados para desempenhar qualquer ministério ou serviço, Deus concederá a força e os dons de que precisarmos para desempenhá-lo. Não devemos esperar possuir dons incomuns sem que os utilizemos na obra de Deus. Se possuís­ semos poderes especiais permanentes, certamen­ te começaríamos a pensar que isto seria devido a alguma característica especial de nossa própria pessoa. Não. Deus nos mantém humildes para que depen­ damos dEle. Quando Ele nos chama, a obediência que demonstramos é um ato de fé, e não de au­ toconfiança. Então, quando servimos, e somente quando servimos, descobrimos que Cristo conce­ deu exatamente os poderes e a autoridade de que precisamos para realizar a tarefa designada. “Quem é, pois, este?” (Lc 9.7-9). A questão que a atividade intensificada de Jesus e seus discípulos levantou na mente de Herodes, ecoou, sem dúvida alguma, em toda parte. Ao relatá-la, Lucas estava preparando os seus leitores para responderem esta pergunta para si mesmos — e preparando-os para a resposta que Pedro em breve daria. Surpreendo-me quando percebo o quanto o “tes­ temunho” se concentra em: “Que igreja você fre­ quenta?” ou “Qual é a sua opinião a respeito da Bíblia?” ou mesmo “Qual é a sua posição com re­ lação ao aborto?” Há apenas uma única pergunta que o nosso testemunho deveria levantar. Devemos levar outros a Jesus, e levantar a questão da qual depende o destino eterno de cada pessoa: “Quem é, pois, este?”

“Dai-lhes vós de comer ” (Lc 9.10-17). O fato de que os quatro Evangelhos falam dos 5.000 que foram alimentados, sugere que isto é importante. E que devemos olhar com cuidado cada um dos relatos dos Evangelhos. Por enquanto, porém, observe que quando os dis­ cípulos sugeriram insatisfatoriamente que a multi­ dão deveria se dispersar e tentar encontrar comida, Cristo atribuiu a responsabilidade aos Doze! “Dailhes vós de comer.” O que podemos não ter pensado é no fato de que, no final, os discípulos realmente deram de comer à multidão! Eles distribuíram a comida que Jesus milagrosamente providenciou. Neste aspecto, a história com certeza é para nós. Nós também somos chamados por Jesus para su­ prir as necessidades dos outros. Com frequência percebemos que nós simplesmente não temos os recursos. Contudo, as palavras de Jesus: “Dai-lhes vós de comer”, nos chama para assumirmos a nos­ sa responsabilidade. Felizmente, o fato de Jesus ter milagrosamente provido comida para a multidão nos lembra de que Cristo ainda provê tudo o que Ele nos pede que compartilhemos. Que alívio isto é para nós! Podemos ser responsá­ veis por distribuir. Mas Jesus permanece responsá­ vel por prover os recursos. “O Cristo de Deus” (Lc 9.18-20). Anteriormente, Jesus havia identificado a si mesmo como o Mes­ sias, por seus atos (cf. 7.21-23) e por referências a si mesmo como o “Filho do Homem”. Esta era a primeira vez, porém, que um discípulo se referia a Jesus como o Messias (cf. 2.11,26; 3.15; 4.41). Este é um lembrete saudável para nós. Se os ho­ mens que, naquela época, tinham passado anos com Jesus, tinham ouvido os seus ensinos, e tes­ temunhado os seus milagres, levaram tanto tempo para reconhecê-lo, por que nós deveríamos esperar que amigos e entes queridos se tomassem cristãos depois de ouvirem apenas um pouco do evangelho? Com frequência, a fé salvadora se desenvolve em uma pessoa ao longo do tempo. Podemos nutrir o crescimento da fé através de um testemunho con­ sistente e amoroso por meio da palavra e do nosso modo de viver. Nós também podemos arrancar uma semente que esteja germinando, se pressionarmos alguém cedo demais para uma decisão. “Tome cada dia a sua cruz”(Lc 9.23). Há muito mal entendido a respeito da cruz do cristão. Um cristão falou sobre a raiva que sentia de um ministro, mostrando indiferença e dizendo: “é ape­ nas a cruz que eu tenho que suportar”. O pregador

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lhe disse (gentilmente), “Não. Pode ser a cruz que a sua esposa tenha que suportar; mas para você é apenas pecado.” A cruz do cristão também não é sofrimento. O fato é simplesmente que, assim como a cruz do Calvário foi a vontade de Deus para Jesus, tam­ bém a nossa “cruz” será aquilo que for a vontade de Deus para nós a cada dia. Esta vontade pode envolver dor, mas frequentemente envolve alegria. Pode haver lágrimas, mas a nossa cruz também tem clamores e canto. A única coisa da qual pode­ mos ter certeza, contudo, é que a nossa cruz nos chama para escolhermos diariamente a vontade de Deus em detrimento da nossa própria vonta­ de, e desse modo exige um tipo mais significativo de renúncia.

e tornou-se o inimigo condenado e desprezível de Deus e da humanidade. Você e eu, a despeito de quão deformados estiver­ mos pelo pecado, recebemos a escolha de nos agar­ rarmos ao velho eu, ou, por meio de uma entrega completa a Deus, experimentarmos a transforma­ ção que nos tornará amáveis, belos e novas criatu­ ras. Se escolhermos rejeitar a vontade de Deus, e nos agarramos ao velho eu, nós perderemos. Mas se escolhermos rejeitar o velho eu e fazer a vontade de Deus, nós ganharemos. E o nosso prêmio é o novo eu que Jesus nos ajudará a ter.

“Qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida a salvará” (Lc 9.24). A palavra grega traduzida como “vida” épsyche, que aqui pode ser melhor entendida como se referindo à própria essência da pessoa. A palavra parece obscura até pensarmos mais detida­ mente nela. Satanás é um bom exemplo do contrário daquilo que Jesus ensinou. O Antigo Testamento o retrata como Lúcifer, o “portador de luz”, um anjo grande e belo. Mas um dia ele fez uma escolha, e deter­ minou desafiar a vontade de Deus e exaltar-se a si mesmo. Nesta escolha ele negou o belo ser que era,

“Queres que digamos que desça fogo do céu?” (Lc 9.5155). Jesus pode realmente nos dar um novo eu? Os dis­ cípulos ficaram enfurecidos quando uma aldeia de samaritanos se recusou a receber e mostrar hospitalidade a Jesus dando-lhe pousada, simplesmente porque Ele estava viajando para Jerusalém. Tiago e João ficaram tão aborrecidos que perguntaram a Jesus: “Queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma?” O que? João? João, o apóstolo cujas cartas e Evan­ gelho constantemente enfatizam o amor? O, sim. O velho João. Mas nunca o novo. Este eu de fogo e destruição é o eu de um João per­ dido. O eu de luz e amor é o eu que João encontrou ao seguir Jesus. Você e eu também podemos encontrar o nosso novo eu seguindo a Jesus Cristo.

Tudo bem, Mesmo (Lc 9.28-36) Eu sei que a Transfiguração foi um evento incom­ parável e santo. E eu poderia ser acusado de trivializá-la. Mas, afinal, Lucas a escreveu. “Não sabendo o que dizia”, Lucas escreveu, refe­ rindo-se às palavras que Pedro falou sem pensar. Esta frase é colocada entre parênteses em uma das versões da Bíblia. Lucas não estava menosprezando a Pedro aqui. Na verdade, ele estava sendo gentil. Ele estava nos mostrando que a tolice que Pedro disse quando maravilhado e animado pela visão da glória de Cristo não deveria ser criticada. Sim, Pedro dei­ xou escapar a primeira coisa que veio à sua men­ te. Ele disse isso, e então provavelmente sentiu-se totalmente tolo. E embora o historiador Lucas tenha sido compelido a registrar este detalhe, ele não relatou nenhuma censura por parte de Cristo, e disse na prática; “Tudo bem. Pedro apenas não sabia o que estava dizendo”. Lembro-me de um momento, quando eu era um cristão novo convertido, em que estávamos con­

tando os membros da igreja, e faltou um para o quórum necessário para conduzir os assuntos que íamos tratar. Eu falei sem pensar: “Ei! Onde 2 ou 3 estiverem reunidos em nome de Jesus, Ele está ali. Portanto Ele nos torna 50!” Tão logo eu disse isso me senti bastante tolo. Mas ninguém riu. Foi quase como se eu pudesse sentir a observação calorosa e cuidadosa de Lucas fluir dos corações compreensíveis, e me liberar. “Tudo bem. Ele não sabia o que estava dizendo.” E ninguém nunca mencionou este incidente para mim. Nin­ guém. Eu suspeito que às vezes, na prática da nossa fé, nós nos tornamos um pouco insensíveis às pessoas. Lucas não. Mesmo quando estava descrevendo um dos acontecimentos mais admiráveis e significati­ vos do Novo Testamento, Lucas teve tempo para pensar nos sentimentos de Pedro e assegurar que ninguém pudesse, depois, acusá-lo de insensibili­ dade espiritual. Sim, Pedro disse uma tolice. Todos nós fazemos isso às vezes. Como somos abençoados quando os outros nos deixam tagarelar, e então dei­ xam os nossos erros para lá. E como somos sábios,

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quando ouvimos uma pessoa falar alguma coisa tola sem pensar, e nos lembramos de que está tudo bem. Apenas dizemos a nós mesmos que, como Pe­ dro: “Ele não sabia o que estava dizendo”. E então, nem sequer pense no incidente outra vez. Aplicação Pessoal As palavras, “Não sabendo o que dizia” são de modo geral um unguento para duas feridas: a de outra pessoa, e a nossa. Citação Importante “Mantenha em seu quintal um cemitério de tama­ nho adequado, no qual você possa sepultar os de­ feitos dos seus amigos.” — Henry Ward Beecher 13 D E AGOSTO LEITURA 225 EM UMA MISSÁO Lucas 10 “E, depois disso, designou o Senhor ainda outros se­ tenta e mandou-os adiante da sua face, de dois em dois, a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir” (Lc 10.1). Se desejarmos servir a Jesus, deveremos ter um sen­ so de missão, como também uma mensagem.

homens (w. 21 -24). Ele contou a história do Bom Samaritano (w. 25-37), e depois descansou na casa de Maria e Marta em Betânia (w. 38-42). Entendendo o Texto “Rogai, pois, ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua seara”(Lc 10.1,2). O objetivo do evangelismo é a multiplicação. Enquanto os 72 ministras­ sem, eles deveriam orar não simplesmente para que aqueles que ouvissem cressem, mas para que eles se tornassem obreiros. O mundo continua sendo uma seara. E o nosso alvo não é simplesmente trazer outros à fé, mas trazê-los para a maturidade, de forma que possam ganhar outros também. “Não leveis bolsa, nem alforje”(Lc 10.3-5). Estas instruções do envio de quaisquer discípulos como mensageiros especiais são encontradas nos relatos de cada um dos quatro Evangelhos. Os represen­ tantes de Jesus convocaram outros para depende­ rem de Deus. Eles tinham que demonstrar depen­ dência do Senhor por meio do próprio estilo de vida que levavam. O princípio continua o mesmo hoje. Devemos praticar o que pregamos. A nossa vida dão teste­ munho da confiabilidade das nossas palavras.

Contexto De dois em dois. O Sinédrio enviava regularmente pares de representantes às comunidades judaicas espalhadas por todo o mundo romano. Os mensa­ geiros eram tipicamente rabis e sábios, cuja missão era comunicar as datas estabelecidas para as festas religiosas anuais, para aquele ano. Eles também serviam como juizes para resolver disputas que sur­ giam entre os judeus. Um motivo para enviar estes mensageiros em pares é encontrado em Deuteronômio 17.6; 19.15. Era necessário haver pelo menos duas testemunhas para estabelecer um fato em qualquer tribunal da lei ju­ daica. Assim, eram requeridas duas testemunhas para qualquer comunicação oficial do Sinédrio. Jesus também enviou os seus discípulos em pares. Mas houve três testemunhas que apoiaram o teste­ munho que eles deram dEle. Havia dois discípu­ los — e o poder milagroso que Jesus lhes deu para expulsarem demônios em seu nome. Deus ainda nos oferece uma testemunha sobrena­ tural da autenticidade do evangelho — o Espírito Santo operando em nós e por meio de nós confir­ ma a verdade a todos os que dão ouvidos.

“Ê chegado a vós o Reino de Deus” (Lc 10.8-16). A expressão, “Boa notícia, má notícia” não foi inven­ tada por um comediante moderno. Temos um caso clássico disso nessa passagem. Qual é a boa notícia? “E chegado a vós o Reino de Deus” (v. 9). Está bem. Qual é a má notícia? “Já o Reino de Deus é chegado avós” (v. 11). O que faz a diferença não é a mensagem, mas se os mensageiros foram recebidos. Aqueles que com alegria recebessem os mensageiros de Jesus, e, por­ tanto, a Ele mesmo (v. 16), teriam um lugar no reino de Cristo e conheceriam a sua alegria. Mas aqueles que rejeitassem os mensageiros, e portanto o Rei (v. 16), poderiam apenas esperar pelo juízo. Outro dia Ted Turner, o construtor do império da TV a cabo que inclui a WTBS, CNN, e TNT, dis­ se a um público de proprietários de sistemas de TV a cabo que ele não precisava que ninguém morresse na cruz por ele. Claro, ele tinha tido algumas mu­ lheres e feito algumas outras coisas, mas se Deus quisesse enviá-lo para o inferno por causa disso, ele iria. Para Ted, o evangelho de Jesus é uma má notícia. Ele ouviu a mensagem que milhões têm recebido Visão Geral com alegria, e a rejeitou. Ele agora enfrenta um juí­ Jesus comissionou e capacitou 72 (10.1-20), e zo que é o mais severo de todos (w. 13-15). louvou a Deus pelo privilégio de revelar o Pai aos Nós temos uma tremenda responsabilidade de apre­

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para amar a Deus de forma suprema, e amar ao nosso próximo como a nós mesmos. Estas duas exi­ gências resumem a mensagem religiosa e moral do Antigo Testamento. Mas o fato dele estar “certo” criou um problema terrível. Pois Jesus então disse, “Faze isso e viverás!” “Faze isso e viverás” são palavras que confrontam a todos com a impossibilidade de ganhar a salvação. Muitas das religiões do mundo possuem uma alta visão moral. Mas nenhuma dá aos seus membros a capacidade que eles precisam para “ir e fazer” o bem que a fé define. Ao dizer ao doutor da lei de Deus para “ir e fazer” o que ele sabia ser certo, Jesus o forçou a encarar o fato da sua própria inadequação, e o convidou a olhar a Escritura com novos olhos. O que toda pessoa deve buscar não é mais leis para seguir em uma vã tentativa de ganhar a salvação, mas um Deus que perdoa e ama, que providenciou um ca­ minho para que os pecadores confessos cheguem até Ele.

sentar o evangelho de forma tão clara e agradável quanto possível. Porque o que é uma Boa Notícia para aqueles que a recebem com prazer, certamente é uma má notícia para aqueles que zombam. “Alegrai-vospor estar o vosso nome escrito nos céus”(Lc 10.17-20). O que dá alegria a uma pessoa é uma medida dos seus valores, e da sua maturidade espi­ ritual. Posso entender por que os 72 estavam em­ polgados com o poder sobre os espíritos malignos. Isto devia ser animador! Mas Jesus sugeriu que isto não era um motivo apropriado para se alegrarem. E como colocar uma pérola em seu bolso e pular para cima e para baixo sobre uma concha de ostra comum. O que Jesus sugeriu é que embora apreciemos os nossos dons e realizações, se quisermos conhecer a verdadeira alegria devemos colocar a máo dentro dos nossos bolsos espirituais e tirar a pérola da sal­ vação. Ao olharmos para ela e percebermos que os nossos nomes estão escritos no céu, conheceremos a verdadeira alegria. “Querendo justificar-se a si mesmo” (Lc 10.25-29). Aqueles “doutores da lei” que encontramos com tanta frequência em Lucas são rabis, ou sábios, que se dedicavam ao estudo do Antigo Testamento e do conjunto de interpretações que havia se desenvol­ vido em torno dele naquela época. O intérprete e mestre do judaísmo que agora abor­ dou Jesus cometeu o erro típico dos membros da sua classe. Ele perguntou: “Que farei para herdar a vida eterna?” Quando Jesus lhe perguntou a sua opinião, ele res­ pondeu corretamente que a Escritura nos chama

DEVOCIONAL______ Quem E o Meu próximo? (Lc 10.25-37)

Levítico 19.18 diz: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”. O doutor da lei do Antigo Testamento que veio a Jesus estava certo ao retirar este mandamento de uma longa lista de mandamentos específicos, e o apresentar como um dos dois requisitos fundamentais do Antigo Testa­ mento para uma vida correta. Apesar do seu motivo (Lc 10.29), a pergunta que o doutor da lei fez: “E quem é o meu próximo?” é uma boa pergunta. Quem é exatamente aquele a quem você e eu devemos amar “como a nós mesmos”? Para responder, Jesus contou a história de um ho­ mem que foi espancado e roubado na viagem de

“Uma só é necessária”(Lc 10.38-42). As pessoas têm especulado qual é a “única coisa” nesta história. Jesus estava dizendo a Marta, perturbada e abor­ recida enquanto corria para preparar uma refeição para Cristo e seus discípulos, que ela estava fazen­ do demais? “Apenas uma caçarola, Marta. Não um serviço de bufê!” Talvez. Certamente precisamos, às vezes, parar e perguntar: estamos fazendo tanto que não temos tido tempo para sentar aos pés de Cristo e apren­ der? Estar ocupado demais para Jesus é, realmente, estar ocupado demais — seja o que for que estiver­ mos fazendo. 27 quilômetros de Jerusalém até Jericó. Dois com­ panheiros judeus, ligados por raça e religião ao ho­ mem espancado — um sacerdote e um levita — o viram deitado ali, e o deixaram! Eles estavam sain­ do de Jerusalém, e por dedução tinham acabado de sair de um culto no templo. Eles então haviam acabado de mostrar obediência ao “maior” manda­ mento, demonstrando amor por Deus. O fato de que eles estavam saindo os deixou sem desculpas: se estivessem subindo para Jerusalém, eles pode­ riam ter alegado (erradamente) que a adoração a Deus tinha prioridade. O samaritano, por outro lado, não tinha ligação com os judeus. Na verdade, uma longa hostilidade racial e religiosa marcava ao relacionamento entre judeus e samaritanos (cf. Lc 9-51-56). Contudo,

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o samaritano “usou de misericórdia” para com o homem, o ajudou, e até pagou para que cuidassem dele enquanto se recuperava! Quando perguntado, “Qual... foi o próximo da­ quele homem?” o doutor da lei respondeu um tan­ to incomodado, “O que usou de misericórdia”. E ele estava certo. Então, quem é o seu próximo? O que aprendemos com a história de Cristo é que ser um próximo não tem nada a ver com a proximidade com que vivemos dos outros, ou com alguma semelhança entre a nossa religião ou raça. Ser um próximo depende simples­ mente da nossa humanidade — e da necessidade. Qualquer pessoa com quem você ou eu entrarmos em contato, que tenha uma necessidade, é o nosso próximo. E amar ao nosso próximo significa im­ portar-se o suficiente para estender a mão, e ajudar da melhor maneira que pudermos. Aplicação Pessoal Jesus lhe disse: “Vai e faze da mesma maneira” (10.37). Citação Im portante “Pelo fato de não podermos ver a Cristo, não pode­ mos expressar o nosso amor a Ele; mas sempre pode­ mos ver o nosso próximo, e assim podemos fazer pelas pessoas aquilo que, se víssemos a Cristo, gostaríamos de fazer por Ele.” — Agnes Gonxha Bojaxhiu 14 D E AGOSTO LEITURA 226 ENSINO SOBRE A ORAÇÃO Lucas 11 “Eu vos digo a vós: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á” (Lc 11.9). Lucas enfatizou a vida pessoal de oração de Jesus, e o seu ensino sobre como você e eu devemos orar.

3.21; 6.12; 9.28). Agora, finalmente, os discípulos pediram a Jesus que os ensinasse a orar. O exemplo de Cristo motivou os discípulos. O mesmo acontece em nossos lares. O exemplo do pai e da mãe é a ferramenta mais poderosa disponível para motivar os filhos na direção do temor de Deus. Se a oração for uma parte natural e observada na nossa vida, os nossos filhos apren­ derão a orar. Se a leitura da Bíblia for uma prática regular dos pais, é mais provável que os filhos e filhas adquiram o mesmo hábito. Não há qualquer indício neste Evangelho de que Jesus tenha pedido aos seus discípulos que oras­ sem. O seu exemplo era muito mais poderoso do que qualquer exortação que Ele poderia ter feito. “Santificado seja o teu nome; venha o teu Reino” (Lc 11.2). Os elementos contidos nesta oração são explorados mais completamente na leitura de Mateus 6 (veja 18 de julho, Leitura 199). Note aqui que as duas primeiras “petições” consistem mais de adoração do que pedidos. Quando oramos, é adequado que antes de qual­ quer coisa exaltemos a Deus, louvando-o pela sua santidade e pela glória do seu Reino. Em essência, orar é falar com Deus, e não necessariamente pe­ dir coisas a Ele. Quando consideramos a grande­ za e o amor do nosso Deus, é adequado que as primeiras coisas que dissermos a Ele expressem a nossa apreciação e louvor. “Não nos conduzas em tentação” (Lc 11.4). Deus nunca tenta um crente a pecar (Tg 1.13). Contu­ do, o Espírito Santo especificamente levou Jesus para o deserto onde Ele foi tentado por Satanás (Lc 4.1). Algumas pessoas ficam incomodadas com a noção de viver pela fé. Elas continuam procurando tes­ tes, para provarem a si mesmas que Deus está com elas, que elas estão crescendo espiritualmente, que elas são importantes, ou por alguma outra razão. Aqui Jesus nos ensina a pedir que não venhamos a cair em tentação. Ás vezes, Deus permitirá que passemos por ten­ tações. Quando Ele o permitir, Ele providenciará uma maneira para que possamos escapar sem pe­ car (1 Co 10.13). Mas é presunção e tolice nossa buscar testes para a nossa fé.

Visão Geral Jesus forneceu um modelo de oração (11.1-4). Ele ensinou a confiança pelo contraste (w. 5-8), pela promessa (w. 9-10), e pelo lembrete da Paterni­ dade de Deus (w. 11-13). Cristo refutou uma acusação de que Ele estava associado com Satanás (w. 14-28), e se recusou a dar um “sinal milagroso” (w. 29-32) para aqueles que eram intencionalmen­ te cegos (w. 33-36). Jesus concluiu confrontando os fariseus e os doutores da lei com os defeitos que “Pedi, e dar-se-vos-á” (Lc 11.9-13). Vários ensina­ exigiam o juízo deles (w. 37-53). mentos específicos são combinados aqui para nos dar grande confiança em oração. (Veja o DEVOEntendendo o Texto CIONAL.) Deus, o bom Pai, dá dons bons aos “Estando ele a orar num certo lugar” (Lc 11.1). Lu­ seus filhos — incluindo o melhor de todos os dons, cas com frequência descreveu a Jesus em oração (cf. o Espírito Santo (v. 13).

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Mas observe que nós somos exortados a “pedir”. Devemos levar os nossos pedidos a Deus, ex­ pressando a nossa dependência dEle. O apósto­ lo Paulo exortou: “As vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças.” E ele acrescentou esta promessa: “E a paz de Deus, que excede todo o entendim ento, guardará os vossos cora­ ções e os vossos sentimentos em Cristo Jesus”

(Fp 4.6,7).

“Sobrevindo outro mais valente” (Lc 11.14-26), Talvez os fariseus tivessem assistido a uma luta, como a luta livre que passa em nossa televisão. Se assistiram, com certeza notaram que a maior parte do público não conseguia enxergar o fato óbvio: que os ataques eram encenados, e quase todos os golpes eram falsos. Se as pessoas são su­ ficientemente tolas para considerar o falso como algo real, talvez possamos fazer com que elas pen­ sem que o que é real é falso! Algum raciocínio como este deve tê-los levado a acusar Jesus de estar associado com Belzebu (um nome comum no século I para Satanás). Jesus neutralizou o ataque de forma simples e decisiva e o devolveu. Ele mostrou que, uma vez que a sua obra de expulsar demônios não poderia ser de­ sempenhada com a cooperação de Satanás, devia ter sido realizada com a cooperação de Deus. Os fariseus poderiam apenas reconhecer que o Reino de Deus estava presente em Cristo — ou então se aliarem ao maligno. O que é mais fascinante é o comentário final de Jesus. Ele descreveu um espírito maligno que sai (não “é expulso”) de um homem. Depois de vagar por algum tempo, ele retorna — e traz “consigo outros sete espíritos piores do que ele; e, entran­ do, habitam ali”. Jesus tinha poder sobre os espíritos malignos. Mas os seres humanos comuns são descritos como sen­ do impotentes diante deles. Tais espíritos saem e voltam como bem querem, aparentemente sem a necessidade “da sua permissão”. Como é bom saber que em Cristo temos alguém que é “mais forte” do que todas as forças malig­ nas; alguém que “excede em poder” a todos eles (v. 22) e nos liberta permanentemente. “Vos, fariseus” (Lc 11.37-54). Quando estava co­ mendo na casa de um fariseu, Jesus identificou seis pecados comuns dos “religiosos” dos seus dias que os impediam de ver a luz. Os fariseus e os doutores da lei que Jesus culpou ficaram furiosos. Em vez de examinarem-se a si mesmos, eles reagi­ ram defensivamente e o atacaram.

Os ricos podiam colocar lâmpadas de azeite em suportes de metal. Na maioria dos lares, porém, as lâmpadas quei­ mavam em nichos ao longo do muro ou eram colocadas em suportes de barro como este. Na ilustração de Jesus, o “olho” é uma lâmpada através da qual o corpo recebe luz. Se os ouvintes de Jesus estavam cegos em relação ao significado das obras que o viram fazer, eles com certeza estavam em trevas!

Não devemos ler estes versículos para que possa­ mos acumular mais munição contra os fariseus do século I. Devemos lê-los com o mesmo critério pelo qual podemos examinar a nós mesmos. Se o utilizarmos, descobriremos — e é de se esperar que o utilizemos — uma lista como esta: — Eu gasto mais tempo tentando parecer santo, ou procurando ser santo? (w. 39-41) — As minhas prioridades refletem as prioridades de Deus? (v. 42) — Eu dou mais valor à aprovação dos outros, ou a aprovação de Deus? (w. 43,44) — Eu torno a vida cristã mais difícil para as pes­ soas devido às minhas expectativas, ou as incenti­ vo e as ajudo? (v. 46) — Eu resisto à Palavra de Deus trazida a mim pelos seus ministros, ou estou aberto e sou “educável”? (w. 47-51) — Eu distorço o evangelho para mim mesmo e para os outros através de uma atitude e de uma abordagem legalista à fé cristã? (v. 52) Se alguma vez alguém acusar você de um ou mais destes defeitos, a sua maneira de reagir será uma boa pista da sua culpa ou inocência.

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DE V OCIONAL________ Continuar Batendo? Citação Importante (Lc 11.1-10) “Apenas continue orando e orando. Depois de algum tempo, Deus responderá se você perseve­ rar por tempo suficiente.” Com certeza não quero desencorajar a persis­ tência na oração. Mas a escola de pensamento que diz que “Deus ouvirá você se você perseverar pelo tempo suficiente” definitivamente entende erroneamente algo que Jesus ensinou na Parábo­ la do Amigo Importuno, em Lucas 11. Na época do Novo Testamento, a hospitalidade era uma obrigação da família anfitriã e de toda a aldeia. Então, quando um hóspede chegava tarde da noite, o anfitrião poderia ir até o vizinho e pe­ dir alguns pães extras. Não havia problema. Mas não era conveniente. Quando o anfitrião da his­ tória de Jesus bateu na porta do seu vizinho tarde da noite, foi um sofrimento! Era comum que toda a família dormisse junta, em um único quarto, de modo geral sobre uma esteira comum desenrolada sobre o chão (“Os meus filhos estão comigo na cama”, v. 7-). Levantar-se, e passar por cima de toda a família, possivelmente acordando alguns, não era, de modo algum, conveniente para um pai. Mas Jesus disse que este chefe de família iria se levantar mesmo assim — se o vizinho se tornas­ se importuno e continuasse batendo. Esta história não tem a intenção de nos ensi­ nar a persistência. Na verdade, ela desenha uma série de contrastes entre Deus e o melhor dos vizinhos. Primeiro, embora o anfitrião e o seu vizinho tivessem o dever da hospitalidade, o dever de um pai (v. 2) para com os seus filhos era muito maior. Segundo, não é inconveniente para Deus responder as nossas orações. Ele não tem que acordar de um sono profundo e passar por cima de anjos que cochilam, para de forma cambaleante achar alguns pães velhos para nós. E, em terceiro lugar, não temos que nos tornar importunos para forçar um Deus irritado a res­ ponder. O nosso Pai nos ama. Ele provê o que precisamos, não porque o incomodamos, mas porque Ele se importa. E assim Jesus nos diz hoje: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á”. Quando entendemos quem Deus é, e a natureza do nosso relacionamento com Ele, podemos pe­ dir com confiança e com alegria.

“Nenhuma voz de oração pode subir a Ti, Tão rapidamente quanto a resposta do teu amor, Que chega com a velocidade da luz; Na verdade, nem sempre recebemos o que pedi­ mos, Mas sim, O mais Bondoso! o que mais precisa­ mos.” — H. M. Kimball ...O ,..

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DE AGOSTO LEITURA 2 SOBRE OS TESOUROS Lucas 12

“Fazei para vós bolsas que não se envelheçam, tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão, e a traça não rói. Porque onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lc 12.33,34). A nossa atitude com relação aos bens materiais é um bom indicador da nossa profundidade espiritual. Visão Geral Jesus advertiu contra a hipocrisia dos fariseus (12.1-12), e convocou os seus ouvintes a serem ricos “para com Deus” (w. 13-21). Conhecer a Deus como Pai nos liberta da ansiedade mesmo com relação às necessidades básicas (w. 22-34), e permite que nos concentremos em servir ao Se­ nhor (w. 35-48). As pessoas ficarão amargamente divididas sobre Cristo (w. 49-53), contudo, todo sinal aponta para o fato de que chegou o dia da decisão (w. 54-59).

Entendendo o Texto “O fermento dosfariseus, que é a hipocrisia" (Lc 12.13). Lucas 16.14 explica a ligação entre a hipocrisia dos fariseus e o tema dos “tesouros” deste capítulo. Ali ele identificou este grupo rico e hipócrita como homens “que eram avarentos”, isto é, amavam o di­ nheiro. Piedosos exteriormente, a maioria não era motivada pelo amor a Deus. As palavras que Jesus fala a seguir servem como um lembrete saudável para você e para mim. Sejam quais forem os nossos motivos, eles não podem ser escondidos. Nenhuma máscara pode sobreviver ao exame minucioso de Deus. Um dia, aquilo que sussurramos quando achamos que ninguém pode nos ouvir, “sobre os telhados será apregoado”. Como somos abençoados quando o que pensa­ Aplicação Pessoal mos, o que dizemos em segredo, e o que dizemos Não confie na sua persistência. Confie no amor pe­ em público, reflete o profundo amor que senti­ netrante de Deus. mos pelo Senhor.

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“Também o Filho do Homem o confessará diante dos anjos de Deus” (Lc 12.4-9). Estas palavras também servem para apresentar o tema dos tesouros — de duas maneiras. A medida que Jesus ministrava, tornou-se cres­ centemente claro que os religiosos eram hostis a Ele. João 9.22 nos diz que eles “tinham resolvido que, se alguém confessasse ser ele o Cristo, fosse expulso da sinagoga.” Esta era uma ameaça terrível, sugerindo, em primeiro lugar, o isolamento total da família de toda a comunidade, e, em segundo lugar, sugerindo uma ameaça de morte. “Confessar [Jesus] diante dos homens”, então, poderia signifi­ car a perda de todos os bens terrenos e até mesmo da própria vida. Contudo, Cristo nos lembra que o maior dos te­ souros não é a vida neste mundo, mas a vida no porvir! Devemos decidir qual mundo é mais im­ portante para nós — e demonstrar o nosso com­ prometimento com ele. O maravilhoso é que escolher a Jesus e o mundo por vir não significa que perdemos o agora! Pelo contrário, Jesus nos lembra que aqueles que o valo­ rizam serão valorizados por Deus! Os próprios fios de cabelo da nossa cabeça estão “todos” contados (v. 7). Deus nos guardará neste mundo, ainda que todas as autoridades deste mundo fiquem furiosas contra nós. Que alegria! Entregar o que não conseguimos guar­ dar, ganhar o que não podemos perder. E viver o resto da nossa vida aqui na terra tratados com cari­ nho e protegidos por Deus! “Vos ensinará o Espírito Santo o que vos convenha falar” (Lc 12.10-12). Há um nítido contraste aqui. Os fariseus, ao acusar Jesus de realizar os seus mi­ lagres pelo poder de Satanás, tinham acabado de falar e blasfemar contra o Espírito Santo (11.1428). Mas os discípulos de Jesus têm a garantia de que em tempos de necessidade eles falarão pelo Espírito Santo. Na perseguição, temos o apoio e direção diretos da própria Pessoa que capacitou Jesus a operar os seus milagres aqui na terra! “Louco... o que tens preparado para quem será?” (Lc 12.13-21). Os rabis judeus eram, com frequência, chamados para servir como juizes e resolver dispu­ tas. Assim a pessoa da multidão que pediu a Jesus, “Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança” estava agindo de acordo com o costume. Jesus se recusou. Ele não tinha vindo para ser juiz em tais disputas, mas para nos chamar a fim de jul­ garmos as nossas atitudes básicas com relação aos tesouros terrenos e celestiais.

A história do fazendeiro rico tem sido matéria prima para muitos sermões, mas permanece sendo um de­ safio contundente para cada um de nós. Por que acu­ mular riquezas aqui na terra? Por que trabalhar para juntar mais do que você irá precisar? A pergunta de Cristo: “O que tens preparado para quem será?” nos faz lembrar as palavras de Eclesiastes 2.18,19: “Eu aborreci todo o meu trabalho, em que tra­ balhei debaixo do sol, visto como eu havia de deixá-lo ao homem que viesse depois de mim. E quem sabe se será sábio ou tolo? Contudo, ele se assenhoreará de todo o meu trabalho em que trabalhei e em que me houve sabiamente debai­ xo do sol; também isso é vaidade.” O fazendeiro rico tinha ignorado estas palavras do antigo escritor de sabedoria, e ele era um tolo: um aphron, alguém que rejeita os preceitos de Deus como uma base para a vida. Esta história familiar ainda nos desafia a re-examinar os nossos valores. Um estudo recente de altos executivos de negócios mostrou que mais de 70 por cento deles, se pudessem voltar atrás e “fazer de novo”, abandonariam a “via expressa” em favor de passar mais tempo com suas famílias. Mas na vida ninguém tem a chance de “fazer de novo.” Cada um de nós toma decisões de valor que neces­ sariamente moldam a nossa vida. O que Jesus nos convida a lembrar é que estas decisões moldam a vida aqui — e na eternidade. Só o louco rejeita os preceitos de Deus e baseia a sua vida na busca de tesouros terrenos. “Tesouro nos céus que nunca acabe”(Lc 12.22-34). O tesouro do louco rico contrasta com o tesouro dos seguidores de Jesus. Um é na terra. O outro é no céu. Um pode acabar quando as despesas drenam o que economizamos. O outro continua crescen­ do quando lhe fazemos os nossos acréscimos. Um traz ansiedade, pois os sistemas de segurança são instalados contra ladrões, e contadores são contra­ tados para fazer um planejamento tributário, com o objetivo de se pagar menos impostos. O outro liberta da ansiedade, pois o próprio Deus garante a sua segurança. Um não pode ser levado conosco. O outro nunca pode ser deixado para trás, pois assim como nós, ele é eterno. Mas há um aspecto no qual os tesouros terrenos e celestiais são semelhantes. Se juntarmos tesou­ ros na terra, os nossos corações ficarão ligados ao terreno. Se juntarmos tesouros no céu, os nossos corações serão atraídos a Deus. Se o seu coração fosse uma bússola hoje, para que direção ele apontaria?

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“Estejam cingidos os vossos lombos” (Lc 12.35-48). Jesus continuou a explorar o impacto do tesouro no nosso modo de vida. Se estivermos entregues a ele, e tivermos psicologicamente abandonado os objetivos materiais, nós serviremos ativamente aos outros — e estaremos aguardando com expectativa a volta de Cristo. A volta de Cristo é um tema frequente em cada um dos quatro Evangelhos. Jesus não desapareceu; Ele se ausentou temporariamente. O crente sábio aguarda a sua volta, e vive de acordo com esta esperança. “Fogo na terra” (Lc 12.49-53). Jesus logo sofreria a morte (v. 50), e a sua ressurreição precipitaria uma crise pessoal para cada um que o tivesse ouvido. Cada um seria confrontado com a total necessida­ de de uma decisão sobre quem Jesus é — e esta decisão iria dividir famílias. Outra vez o contraste é desenhado entre os com­ promissos na terra e no céu. Não importa quão

DEVOCIONAL______ Cristianismo Radical

(Lc 12.22-34) Hoje estas duas palavras dificilmente parecem con­ fortáveis, esfregando-se uma contra a outra como fazem aqui. “Radical” diz respeito a algum estranho grupo de estudantes em um campus de faculdade. “Cristianismo” diz respeito a sinos de igreja, esta­ cionamentos lotados no domingo de manhã ou à noite, mulheres bem vestidas e homens respeitáveis sentados atentamente nos bancos. Para a maioria de nós, o cristianismo não é nada radical. O problema é que ele deve ser. E é isto que Jesus estava mostrando aqui. O, Ele não quis dizer que cada um de nós deveria vender tudo que tem e ir viver com uma mochila das costas ou em uma “comuna.” Ele quis dizer que os cristãos devem adotar uma perspectiva radical na vida — e viver por ela. Nesta passagem, Jesus identificou três aspectos do ponto de vista radical que deve moldar a nossa vida. Primeiro, não devemos viver ansiosamente. Jesus retratou os pagãos como estando “correndo atrás” das necessidades da vida, ofegando à beira da exaustão enquanto se exaurem tentando garantir alimento, roupas, e abrigo. Nós, por outro lado, temos um Pai Celestial, que conhece as nossas ne­ cessidades, e as suprirá. Isto não significa que deva­ mos parar de trabalhar. Mas significa que devemos parar de nos preocupar. Nós não concentramos as nossas energias em juntar bens. E, neste mundo, isto é radical.

doloroso isto possa ser, qualquer que seja o custo, a escolha mais sábia que alguém pode fazer é por Jesus. “Como não sabeis, então, discernir este tempo?” (Lc 12.54-59). Uma pessoa olha para o céu, e decide que é um bom momento para plantar, ou que é um bom momento para sair com o seu barco para pescar. Cada um dos ouvintes de Jesus podia re­ conhecer os sinais que mostravam a previsão do tempo na Galileia e na Judeia. Jesus chamou a multidão de “hipócritas”, sugerin­ do que aqueles que o ouviam não eram sinceros ao afirmarem não serem capazes de discernir os sinais que indicavam quem Jesus é. Eles sabiam. E agora, diante da janela da oportunidade dada por Deus, cada um deve tomar a decisão crítica e se decidir pelo “que é certo” — antes que seja tarde demais, e ele ou ela tenham que enfrentar a Deus, o Supremo Juiz (w. 58,59). Segundo, devemos viver uma vida de renúncia. A expressão, “Vende o que tens”, pode ser to­ mada literalmente, e alguns responderam desta forma às palavras de Jesus. E aqueles que não o fizeram literalmente ainda devem abandonar psicologicamente os seus bens. Nós não devemos nos importar com meras coisas. Elas não devem ficar no caminho da nossa prontidão em respon­ der a Deus ou aos outros. E isto é radical. Terceiro, devemos viver com compaixão. Não devemos apenas “vender o que temos”, mas tam­ bém “dar aos pobres.” Os bens não devem ser queimados, como se não tivessem nenhum valor. Eles devem ser usados para ministrar às pessoas. Em essência, devemos valorizar os outros, mais do que valorizamos as coisas. E isto é radical. Enquanto escrevo isto, o mais recente terremoto em São Francisco acabou de ocorrer. E em Los Angeles, um jovem de vinte anos que ganhou um carro esporte vermelho em um concurso de rádio disse à estação; “Vendam o carro, e distri­ buam o dinheiro entre as pessoas necessitadas de São Francisco.” Eu não sei se o jovem é cristão ou não. Mas a sua ação certamente foi radical. E isso resume lindamente o que Jesus diz a você e a mim. Não se torne ansioso a respeito das coisas nem passe a sua vida acumulando-as. Abandone os seus bens, quebrando qualquer domínio que eles tenham sobre a sua vida. E viva com uma preo­ cupação profunda pelos outros. Isto é radical.

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“Radical” e “cristianismo”. Estas duas coisas têm Quando alguém perguntou a respeito de alguns galileus que haviam sido mortos pelos soldados de tudo a ver. Pilatos no momento em que ofereciam sacrifícios a E devem andar juntas. Deus no templo, Jesus rejeitou a opinião comum. Ao dizer que eles não eram mais culpados do que Aplicação Pessoal Só um tolo não está disposto a viver uma vida cris­ todos os outros em Jerusalém, Jesus ensinou que todos eram dignos de morte! tã radical. É inútil nos compararmos com os outros e pensar: “Eu jamais farei coisas assim”. Todos pecaram. E Citação Importante “No ano de 1627, houve um maravilhoso derra­ a menos que nos arrependamos, todos nós pere­ mamento do Espírito em várias partes da Inglater­ ceremos. ra, como também na Escócia e no norte da Irlanda. Aqui, o termo “arrepender-se” é usado em seu sig­ Mas também foram derramadas sobre eles riquezas nificado mais básico de uma mudança de coração e honra, e seus corações começaram a se afastar de e de pensamento. A multidão que ouvia tinha que Deus e eles começaram a se apegar a este mundo mudar de opinião a respeito de Jesus, antes que fos­ atual. Tão logo a perseguição cessou, os cristãos que se tarde demais. um dia foram pobres e desprezados se tornaram in­ vestidos de influência, tranquilidade, e abundância. “Deixa-a este ano” (Lc 13.6-9). A parábola enfati­ As riquezas e a honra rapidamente produziram os za que o juízo havia se aproximado, e que sobrara efeitos habituais. Recebendo o mundo, eles rapida­ pouco tempo para arrependimento e mudança. Se mente amaram o mundo. Eles não ansiavam mais o arrependimento não viesse logo, o veredicto se­ pelo céu, e assim perderam toda a vida e o poder da ria, “Corta-a”. religião.” — Charles Wesley “E ensinava no sábado” (Lc 13.10-17). Embora to­ 16 DE AGOSTO LEITURA 228 dos fossem culpados e merecessem castigo, a cura que Cristo operou na mulher aleijada foi uma afir­ ASSUNTOS URGENTES mação da graça. Lucas 13— 14 A indignação do príncipe da sinagoga mostra o “Porfiai por entrar pela porta estreita, porque eu vos quanto a graça era pouco entendida. E como era pouco desejada. A mulher que experimentou a gra­ digo que muitos procurarão entrar e não poderão” ça louvou a Deus. Mas o presidente da sinagoga (Lc 13.24). censurou Jesus por ajudá-la! As escolhas que fazemos nos nossos dias afetam o Muitos rabis do século I defendiam que era válido desamarrar um animal do rebanho para permitir nosso amanhã — e a nossa vida na eternidade. que ele bebesse no sábado, embora a rígida seita dos essênios não permitisse que fosse dada qual­ Visão Geral Jesus advertiu: “Se vos não arrependerdes... pere­ quer ajuda mesmo a um animal ferido. A rejeição cereis” (13.1-5). Todos merecem castigo (w. 6-9), desdenhosa de Cristo em relação à acusação de mas Jesus mostrou que este é o dia da graça de Deus hipocrisia envergonhou os seus adversários. Mas (w. 10-17). Embora o Reino de Deus possa parecer agradou as multidões. insignificante (w. 18-21), é vital entrar nele agora Há um fato fascinante: não importa como o hi­ (w. 22-30). Tendo sua advertência rejeitada, Cristo pócrita se comporte e finja; as outras pessoas são capazes de enxergar a verdade a seu respeito. Ele chorou sobre Jerusalém (w. 31-35). No banquete de um fariseu Jesus curou (14.1-6), O mesmo é verdadeiro em relação a cada um de comentou sobre o comportamento dos convidados nós. e do anfitrião (w. 7-14), e falou do reino escatológico de Deus (w. 15-24). Posteriormente, Ele falou “A que é semelhante o Reino de Deus?” (Lc 13.18para as multidões acerca do custo do discipulado 21). Os detalhes das palavras de Jesus são irrele­ vantes em seu objetivo, que é simplesmente este: (w. 25-35). O reino de Jesus pareceu insignificante a muitos espectadores. Mas no final o reino de Cristo do­ Entendendo o Texto “Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores?” minará tudo. (Lc 13.1-5). Na época de Jesus havia uma crença comum de que aqueles que morriam na flor da ida­ “Porfiai” (Lc 13.22-30). Pelo fato do reino de Cristo de tinham sido culpados de algum grande pecado. ser a realidade definitiva, a entrada nele se torna um

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assunto urgente. A mera familiaridade com Jesus de nada servirá. E necessário conhecê-lo intimamente, e ser conhecido, por Ele, da mesma forma. Uma ceia ou um banquete é uma imagem profética comum associada com o estabelecimento do reino futuro e final de Deus. Este significado, claramente definido nos versículos 28-30, faz parte das histó­ rias do próximo capítulo, que estão relacionadas a banquetes. Eis porque o arrependimento e a fé em Jesus são assuntos tão urgentes: indivíduos que falharam em se converter a Ele serão excluídos do reino futuro, e estarão onde “haverá pranto e ranger de dentes”. “Sai e retira-te daqui” (Lc 13.31-35). A advertência hipócrita dos fariseus simbolizou a rejeição oficial de Jesus pelos líderes religiosos. Sem dúvida algu­ ma, se Herodes tivesse a intenção de prender Jesus, estes mesmos homens teriam feito tudo o que pu­ dessem para manter Jesus ali! Cristo, em vez de ficar com raiva, expressou angús­ tia e tristeza pela cidade que devia agora enfrentar a assolação e o juízo. A casa de Israel, tendo rejeitado a Jesus, se tornou uma concha vazia. Ela perma­ neceria uma mera concha até aquele dia futuro, quando o povo de Deus reconhecerá a Cristo, e será restaurado (w. 34-55; cf. Rm 11.25-32). “E lícito curar no sábado?” (Lc 14.1-6). Esta é a quarta referência à questão do sábado em Lucas, mostrando como era sério o conflito entre Jesus e a elite religiosa (6.1-5, 9-11; 13.10-17). Desta vez isto aconteceu durante uma refeição na casa de um dos “principais dos fariseus”. O termo grego é archonton, “governar”, e sugere que ele era membro do Sinédrio. Enquanto Cristo parecia trazer o problema à tona, Lucas observou que o homem hidrópico tinha se acomodado “diante dele”. E tudo o que Jesus fa­ zia estava sendo cuidadosamente observado. Além disso, ninguém demonstrou qualquer compaixão pelo homem doente, que era tratado simplesmente como um peão a ser usado contra o Senhor. Os rabis tinham estabelecido que uma pessoa cuja vida estivesse ameaçada poderia ser levada a um médico no sábado, mas alguém que estivesse so­ frendo de uma doença que não ameaçasse a vida deveria esperar até o dia seguinte para receber tra­ tamento. Jesus curou o homem assim mesmo e então, questionando do menor ao maior, mostrou a hipocrisia deles. Qualquer um deles tiraria um filho ou um boi de um poço no sábado, mesmo se sua vida não estivesse em perigo imediato. Como então eles poderiam se opor à cura de um homem no dia santo de Deus?

Deve ter sido frustrante ser um adversário de Jesus. Sempre que tentavam agir contra Ele, eles simples­ mente se prejudicavam! Enquanto vivermos no espírito de Jesus, mantendo a sua compaixão pelos outros, qualquer pessoa que nos criticar também exporá apenas a sua própria dureza de coração. “Não te assentes no primeiro lugar” (Lc 14.7-11). Ainda no banquete, Jesus fez críticas ao compor­ tamento dos convidados, que competiam entre si por lugares de honra, que eram os “primeiros assentos”. No século I, a disposição dos assentos em um banquete refletia a posição social dos con­ vidados. Quanto mais perto do anfitrião (quanto mais “elevado” o assento), maior era a honra dada ao convidado. A disputa por posição, Jesus observou, refletia a ati­ tude de coração dos convidados do fariseu. Como Cristo mostrou, também era tolice, uma vez que isto expunha uma pessoa ao perigo de constran­ gimento se ela fosse solicitada a mudar para um lugar inferior. Você e eu podemos tomar os lugares mais humildes aqui na terra. No momento certo, Deus nos dirá: “Mude-se para um lugar melhor”, ou, “Assenta-te mais para cima.” “Quando deres um jantar ou uma ceia” (Lc 14.1214). Jesus também tinha um conselho para o anfitrião. Não use seus jantares para vantagens sociais, ou para buscar qualquer compensação. Convide os desabrigados e famintos quando qui­ ser compartilhar uma refeição. Deixe que Deus lhe retribua. O conselho não deveria ter sido necessário. Pro­ vérbios 19.17, diz: “Ao Senhor empresta o que se compadece do pobre, e ele lhe pagará o seu benefício”. A vida social dos religiosos, que des­ prezavam os pobres e aqueles que ignoravam os pormenores da Lei, os am ha eretz, mostrava que eles usavam a religião, assim como os outros, para fins pessoais. Como é desafiador deixar que a Palavra de Deus verdadeiramente molde a nossa vida. As ações mais comuns exigem um exame minucioso. Tudo o que fazemos reflete os valores deste mundo — ou do próximo. “Se alguém vier a mim” (Lc 14.25-35). Posterior­ mente, estando na estrada com as mesmas multi­ dões que os fariseus e doutores da lei tendiam a desprezar, Jesus falou do discipulado. Uma das questões mais urgentes que devemos decidir é se seguiremos a Cristo totalmente.

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uma vez iniciado mantém o seu fervor, assim como o sal que, para ser útil, deve m anter o seu sabor (w. 34,35). Difícil? Certamente. Mas como somos sábios por assumirmos este comprometimento consciente e contínuo com Jesus Cristo!

O que está envolvido? Um comprometim ento com Jesus que o coloca até mesmo acima da família (w. 26,27). Um comprometim ento consciente, que olha adiante e calcula o custo, e determ ina levar o discipulado até o fim (w. 28-33). Um com prometim ento contínuo, que

DE VOCION A L______ As Ruas e Bairros

(Lc 14.15-24) No mundo antigo os banquetes eram aguardados ansiosamente. A vida era, no mínimo, difícil, e as refeições festivas eram momentos em que deveriam deixar as preocupações de lado, e desfrutar. Este é, provavelmente, o motivo pelo qual os pro­ fetas do Antigo Testamento de modo geral retra­ tavam o estabelecimento do reino final de Deus como uma grande ceia, transbordando de comida, vinho e exclamações de alegria. Aqui Jesus escolheu uma imagem familiar do Antigo Testamento, usan­ do-a em uma parábola que todo ouvinte entende­ ria, para se referir ao esperado reino escatológico (futuro, e final!) de Deus na terra. A parábola apresenta vários pontos que os seus ouvintes entenderiam, mas que poderia confundir um leitor moderno. Em primeiro lugar, a recusa dos convidados era indecorosa. Era uma honra ser convidado. E uma obrigação comparecer. Além disso, quem pensaria em deixar passar um “grande ceia”? Todos aqueles que ouvissem teriam entendi­ do que Jesus estava acusando os líderes religiosos de rejeitarem a Deus pelo fato de estarem absortos nos assuntos terrenos. Uma segunda impressão teria sido causada pela re­ ferência de Jesus às “ruas e bairros”. As cidades judaicas do século I eram divididas por algumas ruas largas (onde os fariseus gostavam de ir para se envaidecerem). Mas havia também vielas superlotadas, ligadas a caminhos sinuosos, e que voltavam a pequenos átrios que se abriam sobre as cabanas ocupadas pelos pobres. Na história de Jesus, o anfitrião enviou os seus servos a todos os lugares, até mesmo às casas obscuras dos “pobres, aleijados, mancos, e cegos”. E uma vez que a sala da ceia ainda não estava cheia, os servos foram enviados para além dos muros que mantinham os intrusos fora da cidade, por “cami­ nhos e atalhos”, com um convite obrigatório que moveria até os estranhos ao Deus de Israel a res­ ponderem. A parábola, especialmente moldada para os ou­ vintes de Jesus, também fala conosco. Ainda é in­ compreensível que muitos que ouvem o convite de Deus estejam demasiadamente envolvidos com os

assuntos desta vida para lhe darem a devida aten­ ção. E ainda é a glória do evangelho que a sua men­ sagem seja para todos, em todos os lugares. Aplicação Pessoal Como servos de Deus, devemos sondar as ruas e os bairros do nosso mundo em busca de convida­ dos para a ceia de Deus, que ocorrerá no fim dos tempos. Citação Importante “O Deus misericordioso, que criou todos os ho­ mens, e que não se aborreceu com nada do que fez, nem desejou a morte de um pecador, mas que este se convertesse e vivesse; tenha misericórdia de todos os que não te conhecem como estás revela­ do no Evangelho do teu amado Filho. Tire deles toda a ignorância, dureza de coração, e desprezo à tua Palavra; e assim traga-os para casa, Senhor bendito, para o seu aprisco, para que eles se tornem um só rebanho sob o comando de um só Pastor, Jesus Cristo nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o precioso Espírito Santo, um único Deus, em um mundo que jamais terá fim.” — Book of Common Prayer (“Livro da Oração Comum”) 17 DE AGOSTO LEITURA 229 A PREOCUPAÇÃO COM OS BANIDOS Lucas 15 “Chegavam-se a ele todos ospublicanos epecadorespara o ouvir. E osfariseus e os escribas murmuravam, dizen­ do: Este recebe pecadores e come com eles” (Lc 15.1,2). Não é necessário que sejamos como as pessoas com as quais nos associamos. Isto é bom, porque deve­ mos passar algum tempo com pessoas, se quiser­ mos poder dizer, “Eu me importo com você.” Visáo Geral A crítica a Jesus por associar-se com os banidos da sociedade judaica (15.1,2) foi respondida com três parábolas: a parábola da Ovelha Perdida (w. 3-7), da Dracma Perdida (w. 8-10), e do Filho Pródigo (w. 11-32).

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Entendendo o Texto “Publicanos epecadores” (Lc 15■1,2). Os publicanos (ou cobradores de impostos), que trabalhavam por comissão e eram conhecidos por cobrar mais do que era devido, eram automaticamente considera­ dos desonestos ou imorais pela sociedade judaica do século I. A palavra “pecadores” é colocada entre aspas em uma das versões da Bíblia para mostrar que a avaliação foi feita pelos fariseus, e não por Jesus ou Lucas. O fato é que todos nós somos “pecadores”. Mas aos olhos dos fariseus, o título pertencia exclusivamen­ te àqueles que eram menos rigorosos do que eles no que dizia respeito a guardar os rituais da lei. A própria ideia de dividir a mesa (comer) com estas pessoas deixavam os fariseus horrorizados, pois co­ mer com pecadores os contaminaria. Contudo, ao longo dos Evangelhos, os “pecadores” — incluindo os pecadores mais patentes como as prostitutas — são constantemente retratados como “aproximando-se” de Jesus! De algum modo eles se sentiam à vontade com o santo Filho de Deus. Como explicamos isso? Muito simples. Jesus cons­ tantemente mostrava que Ele se importava. Os banidos da sociedade se sentiam à vontade com Jesus, porque em vez de sentirem desagrado e con­ denação, eles sentiam amor. Os banidos da sociedade ainda precisam menos do nosso julgamento, e mais do nosso amor. Precisa­ mos nos lembrar que foram os banidos, e não os “respeitáveis” fariseus, que responderam positiva­ mente a Jesus, e aprender a expressar aquele amor não crítico, que atraiu os banidos da sociedade do século I a Jesus. “Os fariseus e os escribas murmuravam” (Lc 15.1,2). E impossível deixar estes dois versículos sugestivos para trás sem notar que qualquer pessoa que se sin­ ta à vontade com os banidos da sociedade, e pas­ sa tempo com eles, ouça murmurações de pessoas como os fariseus e escribas. Dois divergentes pontos de vista de pessoas e de santidade entram em conflito aqui. Para Jesus, a santidade era baseada em um relacionamento di­ nâmico e íntimo com Deus. Para os fariseus, a san­ tidade era baseada no que se deve e não se deve fazer. O tipo de santidade de Jesus era caloroso e atraente. O tipo de santidade dos fariseus era aus­ tero e crítico. Jesus, que era livre pela natureza da sua santidade, estendia a mão aos outros para com­ partilhar o amor de Deus. Os fariseus, presos pela natureza da sua santidade, se afastavam dos outros em desgosto, com medo de contaminação. Hoje se você e eu mantivermos um relacionamen­ to caloroso e íntimo com Deus, que é a fonte da

verdadeira santidade, nós também poderemos es­ tender a mão amavelmente aos banidos da nossa sociedade, e ser bem recebidos por eles. Mas se a nossa “santidade” for uma fachada, um fingimento que mantivermos seguindo desesperadamente uma regra de coisas que devem ou não ser feitas, nós também sentiremos medo e seremos repelidos pe­ los banidos da nossa sociedade. Que teste da qualidade do nosso relacionamento com Deus! Somos nós mais como Jesus nos nossos contatos com os banidos? Ou mais como os fari­ seus e escribas do século I? “Perdendo uma delas” (Lc 15.3-7). Cada uma das três parábolas narradas em Lucas 15 foi formula­ da com a finalidade de revelar a atitude de Deus em relação aos banidos da sociedade. Os fariseus murmuraram quando Jesus comeu com os publi­ canos e “pecadores”. Mas Deus se regozijou. Estes banidos da sociedade eram preciosos para Ele. E ainda o são. Cem ovelhas era um rebanho típico no século I. Jesus lembrou aos seus ouvintes que mesmo per­ dendo apenas uma delas, o pastor sai à sua procura. O “deserto” era um lugar relativamente seguro para deixar as 99, de forma que não se tratava de aban­ donar muitas ovelhas para sair em busca de uma. O impacto da história foi sentido quando Jesus narrou a alegria do pastor ao carregar a ovelha per­ dida de volta para casa. “Assim” há alegria no céu quando um pecador se arrepende! E importante notar que o propósito de Jesus ao associar-se tão livremente com pecadores era re­ dentor. Ele estava buscando as ovelhas perdidas de Deus. Não podemos defender a participação em pecados, junto com os pecadores, com base em Lucas 15.1,2! Mas nunca precisamos nos descul­ par por nos associarmos com os pecadores com a intenção redentora que moveu o nosso Senhor, mantendo, como Ele, a santificação. “Qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma...” (Lc 15.8-10). Tanto a parábola da ovelha perdida quanto a da dracma perdida foram tiradas da vida cotidiana judaica do século I. Todos estavam familiarizados com pastores. Todos senti­ ram o impacto da parábola das 10 dracmas profe­ rida por Cristo. Estas eram 10 moedas de dote, dadas à mulher por ocasião de seu casamento. Ela possivelmente as usava constantemente em sua touca. Dez drac­ mas eram um pequeno dote, mas era um símbolo muito importante para ela. Elas mostravam que ela tinha valor para o seu pai, que tinha se sacrificado para dá-las a ela. E que ela entrou no casamento

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como uma parceira, levando recursos próprios. Se algum dia ela se divorciasse, ou ficasse viúva, ao menos as 10 dracmas seriam dela, seriam um sím­ bolo de sua identidade como uma pessoa. As 10 dracmas, então, eram vitalmente importantes para ela, e a perda de uma tinha um significado muito maior do que o valor intrínseco que a moeda po­ deria sugerir. Novamente, Jesus enfatizou a intensidade com a qual a mulher procurou, e a sua alegria ao encon­ trar o objeto precioso — ela correu para contar aos seus amigos. Outra vez Jesus estava afirmando a importância dos banidos. De pouco valor intrínseco, a moeda era vitalmente importante para a mulher que a per­ deu. Do mesmo modo, embora os seres humanos possam desprezar o valor do banido, aos olhos de Deus todo indivíduo tem um infinito valor. Que lembrete para que nós olhemos os outros com os olhos de Deus, e não com os olhos da sociedade! A mãe que recebe pensão, o adolescente que aban­ donou os estudos, o condenado atrás das grades, os desempregados, os sem teto, o bêbado que dorme na rua — são moedas de Deus que estão perdidas. Eles têm valor para Ele. “Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lho” (Le 15-11-27)- O único rival possível para esta pará­ bola das “palavras mais conhecidas de Jesus” é a parábola do Bom Samaritano. A parábola do Fi­ lho Pródigo seria a primeira na lista da maioria das pessoas. Ela tem muito a dizer. Nela há o vívido retrato de um filho mais novo, que queria sair de casa para viver sozinho com a sua parte (um terço) da propriedade do pai. Ele partiu, fez escolhas erradas e imorais, e se achou abandonado e faminto. Ele percebeu o transtorno em que transformou a sua vida, e decidiu voltar para casa. Sabendo que não tinha o direito de espe­ rar ser tratado como um filho, ele tinha esperança de ser tratado como um dos servos contratados de seu pai. Nas histórias anteriores Jesus enfatizou a alegria que há no céu pelo retorno de um pecador. Nesta história somos convidados a compartilhar a alegria do filho pródigo, quando viu seu pai correr

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Que Filho Pródigo? (Lc 15.11-32) Todos nós conhecemos a parábola do Filho Pró­ digo. Sabemos o quanto o filho mais novo foi tolo. E nos emocionamos com o amor do pai que

para lhe dar as boas-vindas e cobri-lo com demons­ trações do seu amor. Assim somos recebidos quando, como o filho pródigo, nos damos conta da nossa situação e pedimos misericórdia a Deus. Somos tratados como filhos e cobertos de amor. A “melhor rou­ pa” não é boa demais para o perdido de Deus que foi achado. Também considere o pai. Ele deu ao seu filho mais novo liberdade, e os recursos para usar esta liber­ dade. O pai sabia que o seu filho desperdiçaria a sua herança, porém ele também sabia que somente pelo exercício livre da escolha, a decisão de voltar poderia ser tomada. E então o pai esperou. Podemos imaginá-lo, todos os dias olhando várias vezes para a estrada que o seu filho deveria percor­ rer para voltar. Podemos imaginar a sua ansiedade. E mesmo assim o pai esperou. O filho perdido ti­ nha que fazer a escolha. E então, um dia a escolha foi feita. Enquanto o rapaz ainda estava longe, o pai o viu, se encheu de compaixão, e “correndo, lançou-se-lhe ao pescoço, e o beijou”. O, amigo, você e eu nunca devemos ter medo de voltar para Deus, mesmo depois de termos come­ tido pecado mais terrível. Devemos fazer a escolha. Mas ao darmos o nosso primeiro e penitente passo de volta na direção de Deus, Ele corre em nossa direção, e podemos sentir o seu abraço de amor e perdão. “O filho mais velho se indignou” (Lc 15-28-32). E então voltamos nossa atenção para o filho mais ve­ lho, que se comportou como os fariseus que assisti­ ram e murmuraram furiosamente diante das boasvindas dadas aos pecadores. O que causou alegria no pai e no filho pródigo, fez com que o filho mais velho ficasse ressentido e furioso. Ele vivera com seu pai por muito tempo. Contudo, ele o compreendia pouco, ou compartilhava pouco da sua capacidade de amar. Talvez esta seja a primeira lição que você e eu pre­ cisamos tirar desta conhecida parábola de Jesus. Aqueles que vivem com Deus, e nEle, devem ado­ tar os seus valores, e ser movidos pelo seu amor — ou perder a alegria da salvação.

perdoa, que dá as boas-vindas ao seu filho perdi­ do que volta ao lar, mesmo depois de tudo que o rapaz tinha feito. Porém, o mais estranho é que, na verdade, era o filho mais velho que havia se desviado!

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Quando o filho mais novo partiu, ele recebeu o equivalente a um terço dos bens, pois no judaísmo o filho mais velho recebia uma porção dobrada. Enquanto o mais novo experimentava as delícias e a devastação do pecado, o filho mais velho permanecia em casa e trabalhava na terra com seu pai. A afirmação: “Tu sempre estás comigo” foi o maior presente que o pai poderia dar. Mas o filho mais velho ainda tinha mais. Enquanto ele reclamava: “Eis que te sirvo a tantos anos”, o pai corretamente observou: “Todas as minhas coisas são tuas”. O filho mais velho tinha desfrutado a comunhão com seu pai, e todo o trabalho que ele havia feito só tinha aumentado a sua própria herança. Entre­ tanto, quando o filho mais novo voltou, e o pai lhe deu as boas-vindas, o filho mais velho se tornou amargurado e indignado. A amargura, a indignação, e a falta de amor pelo seu irmão, mostram-nos que, na verdade, o filho mais velho, e não somente o mais novo, se desviou. Não porque as suas ações estivessem abertas à crítica, mas porque o seu coração estava muito fora de harmonia com o coração de seu pai. Ele nunca tinha se desvia­ do do caminho da moralidade. Mas ele nunca havia encontrado a estrada do amor que perdoa. Ele tinha trabalhado para o pai. Mas nunca havia valorizado seu irmão como o pai sempre o tinha valorizado. O irmão mais novo é um incentivo para os des­ crentes, e para os cristãos que estão profundamente cientes dos seus pecados. Mas o irmão mais velho é um desafio constante para você e para mim. Por mais arduamente que trabalhemos para o Senhor, conduzindo a nossa vida de uma forma moralmen­ te correta, a menos que tenhamos o mesmo senti­ mento de Deus em relação ao banido, verdadeira­ mente perdemos o nosso caminho! Aplicação Pessoal Deus não nos chama apenas para sermos bons, mas para sermos como Ele. Citação Im portante “O verdadeiro amor é a linguagem universal — entendida por todos. Você pode conquistar todas as coisas, e chegar a entregar o seu corpo para ser queimado; mas, se faltar o amor, tudo isso não terá nenhum proveito para você, nem para a causa de Cristo.” — Henry Drummond 18 D E AGOSTO LEITURA 230 RIQUEZA D O M UNDO Lucas 1 6— 17 *Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro ou se devotará

a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Lc 16.13, ARA). Mais uma vez Jesus escolheu o tema do dinheiro e a sua relação com o Reino de Deus, e mostrou a sua relação com a fé. Visão Geral Um mordomo “perspicaz”, porém desonesto, usou dinheiro para se preparar para o seu futuro (16.112). Foi dito aos fariseus escarnecedores, que ama­ vam o dinheiro, que eles deveriam se arrepender e viver a verdade que eles afirmavam honrar (w. 14-31). Jesus exortou os seus discípulos a se guar­ darem para não causarem algum pecado (17.1-4), e ensinou que o seu mandamento exigia obediência em vez de mais “fé” (w. 5-10). Aqueles que conhe­ ceram o toque de cura de Cristo deverão louvar a Deus (w. 11-19) e esperar pelo seu Reino (w. 2023), embora outros sejam fascinados pelos prazeres deste mundo (w. 24-37). Entendendo o Texto “E louvou aquele senhor o injusto mordomo” (Lc 16.1-13). Não suponha que Jesus sugeriu um tri­ buto à desonestidade. O louvor é focado em um único ponto. O mordomo injusto tinha percebido que o dinheiro deveria ser usado na preparação do seu futuro. Jesus aplicou a história a nós. Nós também deve­ mos considerar a riqueza do mundo como nada mais do que um instrumento para alcançarmos as verdadeiras riquezas no céu. “Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Lc 16.13). A. afirmação se concentra nas nossas escolhas. Uma pes­ soa que serve a outra, faz o que o seu mestre escolhe. Nesta vida, Deus e o dinheiro competem pela nos­ sa fidelidade. Se as nossas escolhas forem motivadas pelo desejo de termos dinheiro, nós não serviremos a Deus. Se servirmos a Deus, as nossas escolhas não serão motivadas pelo desejo de termos dinheiro. A desculpa que às vezes é oferecida: “Eu quero ga­ nhar dinheiro para poder servir a Deus”, é apenas uma desculpa cuja intenção é mascarar o fato de que o amor pelo dinheiro domina a nossa vida. Sim, uma pessoa rica pode amar a Deus. Mas se ela o amar, o modo como ela usará o dinheiro que possui revelará este amor. “Os fariseus... zombavam dele” (Lc 16.14-18). E melhor tomar estes versículos surpreendentes jun­ tamente com a história do homem rico e Lázaro, como uma resposta de Jesus aos fariseus. O que eles querem dizer?

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“Tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite” (Lc 16.31). Os escribas e os fariseus de modo geral exigiam que Jesus mostrasse um “sinal do céu” para provar que realmente era o Messias (11.16; cf. M t 12.39; 16.4; Mc 8.11). Por que Ele não fez isso? Parte da resposta reside na ênfase que a Escritura coloca na fé. Devemos crer e confiar em Deus e na sua Palavra a nós. Por conseguinte, parte da resposta reside na incredulidade. Qualquer que fosse o sinal que Jesus mostrasse não convenceria aqueles que estavam determinados a não crer. Mesmo quando Jesus ressuscitou dos mortos, os seus adversários se recusaram a crer. Se uma pessoa não quiser ouvir e responder à Palavra de Deus, “a Moisés e os profetas”, ela simplesmente “não acre­ ditará.” E bom que nos lembremos disto ao compartilhar­ mos o evangelho com os outros. A Palavra de Deus é viva e vital. Ela alcança os corações humanos, e aqueles que estão abertos para responder positiva­ mente a Deus. Aqueles que não creem não crerão, e não creriam mesmo se pudéssemos operar milagres diante deles nos nossos próprios dias. “Estou atormentado nesta chama” (Lc 16.19-31). Então devemos testemunhar sem hesitação, con­ Esta história contundente sublinha a falha dos fa­ fiantes de que onde a semente da Palavra achar ter­ riseus em crer verdadeiramente nas Escrituras nas ra fértil, uma nova vida germinará. quais eles se vangloriavam. Se eles tivessem crido, não teriam amado o dinheiro, mas os pobres. Eles “E impossível que não venham escândalos” (Lc 17.1não teriam construído um patrimônio pessoal, mas 10). Novamente, um dos ensinamentos frequentes antes teriam alimentado os famintos. Em vez disso, de Jesus é encontrado em um contexto diferente como o homem rico na história, os críticos de Je­ daquele em que ele aparece em outros Evangelhos. sus, amantes do dinheiro, “vestiam-se de púrpura e Aqui Cristo nos mostra como podemos ajudar, de linho finíssimo, e viviam todos os dias regalada uns aos outros, a aceitar e viver de acordo com os e esplendidamente” enquanto os mendigos ficavam valores que os fariseus haviam rejeitado. Devemos do lado de fora das portas. nos repreender uns aos outros quando um de nós Muitos acreditam que esta não é uma parábo­ pecar, mas também é preciso que sejamos rápidos la, mas identifica pessoas reais. Nas parábolas, as para perdoar quando o irmão ou a irmã se arre­ pessoas são identificadas como “servos”, ou como pender. um “semeador” ou “senhor” ou “convidado.” Em De que modo isto é relevante para o tema que es­ nenhuma parábola qualquer ator recebe um nome tamos analisando? Simplesmente pelo fato de que próprio, como Lázaro aqui. Contudo, a despeito cada um de nós deve aceitar a responsabilidade de de Lázaro e o homem rico serem indivíduos reais, cuidar da maneira como o outro anda com Deus. ou meramente representativos, a história contém O andar de outros pode ser marcado por tropeços; um dos mais claros retratos da experiência após a mas na comunidade da fé cada um deve encontrar morte, encontrados nas Escrituras. Há uma bênção o perdão e o apoio necessários para viver uma vida para os que pertencem a Deus, e tormento para piedosa. aqueles que recusam a sua graça. E entre estes dois Os apóstolos estavam certos por considerarem isto estados existe uma lacuna intransponível. como algo desafiador e difícil. Mas Jesus não nos As escolhas que fazemos durante esta vida definem deixa escolha. (Veja o DEVOCIONAL.) o nosso destino. Aqueles que desejam as coisas des­ te mundo podem desprezar as advertências feitas “Tem misericórdia de nós”(Lc 17.11-19). A cura dos por Jesus em relação à influência corruptora da leprosos é um caso de atitude. Dez foram curados riqueza. Mas muitos têm afastado o céu para lon­ de uma doença terrível que os isolava de todos os ge de si enquanto se apegam gananciosamente ao prazeres da vida neste mundo. Os leprosos eram ouro desprezível deste mundo. separados dos seus entes queridos. Eles eram se-

Jesus identificou os fariseus como amantes do di­ nheiro (w. 14,15). Eles eram homens abastados, e também piedosos. Cristo os acusou dizendo: “Vós sois os que vos justificais a vós mesmos dian­ te dos homens”, em vez de vos justificardes diante de Deus. Qualquer pessoa que se preocupe mais com que os outros pensam dela do que com o que Deus pensa, compartilha da sua condenação. Jesus afirmou a primazia da Escritura, e do seu reino. O reino, não o dinheiro, e não os louvores dos outros, ambos os quais os fariseus amavam, terá continui­ dade. A frase difícil, traduzida como “todo homem emprega força para entrar nele” pode ser entendida como “e homens entusiastas tomaram posse dele.” Diferentemente dos fariseus, havia muitos que não estavam dispostos a se satisfazer com o brilho su­ perficial e falso deste mundo de mau gosto. O motivo da inserção do versículo sobre o divórcio aqui é incerto (v. 18), embora ele possa sugerir que alguns dos fariseus escarnecedores tinham se divor­ ciado de suas esposas para se casarem com mulhe­ res mais jovens e mais atraentes.

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parados do trabalho. Eles eram separados das suas casas, e até mesmo da adoração a Deus. Mas 10 leprosos que rogaram a Jesus foram cura­ dos! E 9 deles estavam muitos ansiosos para voltar ao mundo do qual eles tinham sido afastados. Ape­ nas um, sim, um samaritano, depois de se mostrar ao sacerdote e de ser confirmado como limpo, vol­ tou para agradecer ao Senhor. Estamos incorrendo no perigo das armadilhas da­ quele amor pelo dinheiro que apanhou os fariseus. Estamos em perigo, depois de sermos curados espi­ ritualmente, de nos lançarmos de volta ao mundo, sem reconhecer a nossa dívida com Jesus, e sem colocar o louvor em primeiro lugar. Somente valorizando a Deus de forma suprema, acima de tudo e de todos, é que podemos estar pro­ tegidos do amor ao dinheiro, e à tranquilidade. “O reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17.20,21, ARA). Parece melhor tomar a referência de Jesus à forma invisível do seu reino como “entre” em vez de “dentro” dos fariseus que o questionavam. O reino já estava presente, na pessoa do Rei. Não es­ tava presente em pompa ou glória. Não estava pre­ sente em poder. Todos os símbolos da lei terrena foram descartados. E os fariseus, enganados pelos fantasmas que eles perseguiam, simplesmente não puderam reconhecer o reino quando ele chegou. Que lição para nós! O Reino de Deus também está entre nós. Cristo está aqui, oculto, mas presente em sua igreja e em seu povo. Cristo está aqui, nos

DEVOCIONAL______

Quando a Fé não Importa (Lc 17.1-10) Nós, cristãos, corretamente damos grande ênfase à fé. Portanto, é aproximar-se da heresia insistir que em algumas coisas a fé não importa. Nem um pou­ quinho. E isso que Jesus está dizendo aqui em Lucas 17. Jesus disse aos seus discípulos para protegerem uns aos outros. Quando um pecasse, outro deveria repreendê-lo. Então, se o discípulo pecador se arre­ pendesse, ele deveria ser perdoado (w. 1-4). Parece bastante simples, embora não gostemos de confrontação. Mas Jesus prosseguiu, tornando isto ainda mais difícil. Ele disse que se um irmão pecar contra você, ele deve ser perdoado. Mesmo se ele continuar a pecar contra você, várias e várias vezes! E isso mesmo. Mesmo se isso acontecer de novo, e de novo, todos os dias. Toda vez que o irmão disser: “Perdoe-me”, ele deve ser recebido de volta — embora na sexta ou sétima

necessitados e nos oprimidos. Cristo está aqui, nos sem esperança e nos fracos. Jamais sejamos engana­ dos, como foram os fariseus, pela riqueza terrena, pelas edificações, ou pela pompa. O Reino de Deus está entre nós, e pode ser visto à medida que Cristo expressa o seu amor através do ministério do seu povo a todas as pessoas. “Como aconteceu nos dias de Noé” (Lc 17.22-37). O reino de Cristo está entre nós — e está chegando. O que está oculto agora, será revelado. Mas quan­ do Cristo voltar, Ele achará o mundo como estava nos dias dos fariseus. Como foi nos dias de Noé. Como foi quando desceu fogo do céu sobre Sodoma. Como foi quando a cidade de São Francisco (EUA) tremeu. As pessoas estão tão envolvidas em comer e beber, em casar-se e dar-se em casamento — nos prazeres e nas buscas deste mundo — que elas não conseguem imaginar que um outro mundo surge no horizonte, pronto para se manifestar na nossa realidade e acabar com toda ilusão. Os fariseus, apesar da sua religião, não criam re­ almente, e assim passaram a usar o seu zelo reli­ gioso como uma capa para esconder o amor pelo dinheiro. Contudo, um dia, quando Jesus vier ou a morte nos alcançar, a riqueza finalmente será posta na verdadeira perspectiva. Ela pode ser usada pelo crente sábio para se preparar para uma eternidade melhor. E ela pode destruir o louco, que ignora a Palavra de Deus, e anseia pelo dinheiro. vez até mesmo o mais crédulo dentre nós descon­ fiaria que ele estivesse fingindo. Neste ponto os discípulos desanimados exclama­ ram: “Senhor, acrescenta-nos a fé.” Senhor, eles estão dizendo, se Tu esperas que vivamos desse modo, iremos precisar de uma quantidade muito maior de fé do que temos agora! Então Jesus usou outra ilustração. Ele falou de um escravo (servo) e um senhor. Um escravo seria elo­ giado por fazer a obrigação que o senhor lhe atri­ buiu? Dificilmente. Ele apenas estaria fazendo o que se espera de um escravo. Mas por que esta parábola? Simplesmente porque Jesus, o Senhor e Mestre dos discípulos, ordenou que eles deveriam confrontar, aceitar o “eu me ar­ rependo”, e perdoar. Obedecer uma ordem não é uma questão de fé. E uma questão de obediência. E assim temos que examinar a nossa própria vida cuidadosamente. Quantas vezes já deixamos de fa­ zer algo, desejando que tivéssemos mais fé para que

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pudéssemos fazer algo que sabíamos que Deus que­ ria que fizéssemos? Quantas vezes já pedimos mais fé em nossa inadequação? E quantas vezes o desejo por mais fé já encobriu o fato de que simplesmente não estávamos dispostos a obedecer?

as respostas às nossas orações são garantidas, não pelo fato de sermos persistentes, mas porque, dife­ rente do juiz, Deus se importa! Mesmo nas situações mais extremas, que nos leva a clamar a Deus dia e noite, podemos ter a certeza de justiça, embora ela possa demorar até que Jesus venha.

Aplicação Pessoal Não se engane. Boa parte da vida cristã não é uma questão de fé. É uma questão de obediência! Citação Importante “A realização da vontade divina é a única finalidade de estarmos no mundo.” — John Eudes 19 DE AGOSTO LEITURA 231 AS PARÁBOLAS E O POVO Lucas 18— 19 “Hoje, veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio bus­ car e salvar o que se havia perdido” (Lc 19.9,10). As vívidas descrições que Lucas faz do povo, e o fato dele contar outra vez dramaticamente as pará­ bolas de Jesus, deixam uma impressão duradoura.

“Não sou como os demais homens”(Lc 18.9-14). Esta história é dirigida a todos aqueles, em todos os lu­ gares, “que confiam em si mesmos, crendo que são justos, e desprezam os outros” (v. 9). O fariseu, que representava este grupo, pensava que as suas obras eram um ingresso para entrar no Reino de Deus. Em contraste, o publicano, que representava o “pe­ cador”, simplesmente clamou por misericórdia. A auto justificação ainda é uma fantasia. Aqueles que oram como o fariseu orou têm os seus olhos fi­ xos apenas em si mesmos e não em Deus. Somente nos colocando ao lado do desprezado publicano do século I, reconhecendo a nossa condição de peca­ dores, e confiando unicamente na misericórdia de Deus, podemos ser justificados diante de Deus. “Receber o Reino de Deus como uma criança” (Lc 18.15-17). O incidente é colocado propositada­ mente entre as histórias de dois adultos que pro­ curavam entrar no Reino de Deus — um pelas obras religiosas e o outro pelas boas ações. Aqui o aspecto significativo da condição de pequenino é a dependência. Nenhuma criança pequena espera conseguir comida ou abrigo através do seu próprio esforço. Assim como uma criança pequena depen­ de dos seus pais para tudo, também nós devemos depender de Deus para entrar no seu reino.

Visão Geral Jesus comparou um juiz indiferente com Deus (18.1-8), e um fariseu soberbo com um pecador penitente (w. 9-14). Ele recebeu as crianças (w. 15-17), mas desestimulou um rico que queria segui-lo (w. 18-30). Jesus predisse a sua morte (w. 31-34), e ilustrou o seu impacto restaurando a visão física e espiritual (v. 35— 19.10). A Pará­ bola das Dez Minas ensinou sobre a demora do seu reino terreno (w. 11-27), mas mesmo assim a multidão o saudou como o Messias quando Ele se “A s coisas que são impossíveis aos homens são possíveis aproximou de Jerusalém (w. 28-44). Ali, em vez a Deus” (Lc 18.18-30). O jovem príncipe rico re­ de proclamar um reino, Jesus purificou o templo presenta aqueles que confiam na moralidade e na (w. 45-48). decência para alcançar a vida eterna. No século I, pensava-se que os ricos, que tinham recursos para Entendendo o Texto serem benevolentes, agradavam mais a Deus por “Orar sempre e nunca desfalecer” (Lc 18.1-8). Há ajudarem os outros! momentos em que ficamos desanimados quanto Jesus disse ao jovem rico que abandonasse a sua à oração. Nós reivindicamos as promessas de Lu­ riqueza, e o seguisse. Este não é um mandamento cas 11; pedimos, buscamos, e batemos. Mas não universal. Ele foi dado a um indivíduo específico, temos resposta, e nenhuma porta parece se abrir para um propósito específico: ajudar o jovem a ver para nós. que ele confiava em sua riqueza em vez de confiar A história do juiz injusto nos incentiva a continuar em Deus. orando e a continuar esperando que Deus respon­ E isto que torna difícil um “rico entrar no Reino da. Lucas usou de um expediente literário comum: de Deus.” Uma pessoa que possua riquezas poderá o contraste. O juiz injusto simplesmente não se passar a depender mais destas, do que do Senhor. importava com a viúva, mas no fim cedeu porque Quando era um cristão novo convertido, temia os ela continuou a importuná-lo. A demora pode es­ bens. Queria um carro, mas me preocupava que se tar dentro da vontade e do propósito de Deus. Mas tivesse um, ele poderia se tomar importante demais

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para mim. Finalmente, com a idade de 23 anos, comprei um antigo Nash Rambler por 500 dólares, e gostei muito dele, mas aprendi com prazer que ele não significava absolutamente nada para mim! O Senhor raramente exige que nós “deixemos tudo o que temos” para segui-lo (v. 28). Mas cada um de nós faz bem em abandonar psicologicamente os bens que possuímos, para que possamos confiar em Deus e responder livremente à sua vontade. “Esta palavra lhes era encoberta” (Lc 18.31-34). Lu­ cas narrou várias declarações nas quais Jesus prefi­ gurou ou predisse especificamente a sua morte (cf. 5.35; 12.50; 13.32; 17.25). Ele também mencionou com frequência a falha dos discípulos em compreender o significado deste e de outros ensinamentos, assim como fizeram outros escritores do Evangelho. Aqui Lucas claramente afirmou que o próprio Deus retinha o entendimen­ to aguardando o momento certo. Que lembrete útil! Aqueles a quem ensinamos ou ministramos, incluindo os nossos próprios filhos, parecem indispostos a compreender e aplicar as verdades que sabemos ser vitais. Apesar de tudo o que dizemos, eles fazem escolhas insensatas ou tolas. Embora o motivo possa estar na sua própria teimosia, devemos nos lembrar de que pode não ter chegado o tempo de Deus para que eles entendam. Deus esconde o significado do que ensinamos até que seja o momento certo para revelá-lo. Devemos tratar os outros com bondade e paciên­ cia, como Jesus fez com os seus discípulos. Se eles parecerem lentos e relutantes, devemos considerar a possibilidade de que Deus tem as suas próprias razões por reter o entendimento por um tempo. “Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim” (Lc 18.35-43). Os discípulos não entenderam quando Jesus falou da sua morte. Contudo, os incidentes seguintes ilustram o seu significado. Jesus curou um homem fisicamente cego que clamava por mi­ sericórdia (w. 35-43), e então trouxe salvação para alguém que tinha sido espiritualmente cego (19.110). Através da sua morte, Jesus colocaria o alicerce para a derrota de toda força hostil à humanidade. A cura do mendigo ilustra a maneira pela qual os seres humanos tomam posse de tudo quanto Je­ sus oferece. Jesus lhe disse: “Vê; a tua fé te salvou” (18.42). Nós precisamos apenas ir a Jesus, confian­ tes de que Ele é capaz de salvar. Esta fé é o canal pelo qual flui a bondade de Deus. Observe, porém, que a fé é o início de uma nova vida, e não simplesmente o fim de uma vida velha. O homem cego recebeu a sua visão, o que colocou um fim aos seus dias de trevas. E ele “seguiu a Jesus,

louvando a Deus”. Esta é a natureza essencial da nova vida que a fé origina. E uma vida dedicada a seguir Jesus. E a louvar a Deus. “Era este um chefe dospublicanos e era rico”(Lc 19.110). Muitos cobradores de impostos na Judeia do século I eram simplesmente empregados. Mas os “chefes dos publicanos” eram grandes empreitei­ ros, que garantiam uma certa soma para Roma ou Herodes — e eram livres para extorquir o quan­ to pudessem, além disto. Assim Zaqueu teria sido considerado um pecador muito maior do que, por exemplo, Levi, que simplesmente ocupava o posto em uma recebedoria na estrada (5.27-30). Vários dos temas de Lucas estão unidos nesta histó­ ria. Jesus se aproximava de pecadores e se associava a pecadores. O seu contato é redentor, trazendo tanto a salvação como a transformação. O novo nascimento de Zaqueu é evidenciado pelo seu ar­ rependimento e pela sua mudança de atitude em relação à riqueza. Talvez a lição mais importante para você e para mim seja refletida no olhar espantado que deve ter coberto o rosto de Zaqueu, no momento em que Cristo olhou para cima, para a árvore em que ele havia subido, e disse: “Zaqueu, desce depressa”. O publicano de baixa estatura havia subido em uma árvore porque queria ver Jesus. Mas ele jamais ima­ ginou que Jesus iria querer vê-lo. Como precisamos tomar a iniciativa de buscar as pessoas que os outros possam desprezar! Jesus veio para “buscar e salvar o que se havia perdido.” Jesus agora está no céu. E Ele entregou a sua “caça ao tesouro” em nossas mãos! “A fim de tomar para si um reino e voltar depois" (Lc 19.11-27). Esta parábola está ligada à história de Zaqueu (v. 11). A salvação veio “hoje”, mas o juízo final seria postergado. A história possui um contexto histórico. Os futu­ ros príncipes locais da Palestina tinham que ir à Roma para serem designados pelo imperador (v. 12). Embora o princípio tenha sido entendido pe­ los ouvintes de Jesus, ele não deve ser aplicado à interpretação da parábola, que explica um ponto mais importante. Jesus voltará; e quando Ele vol­ tar, um dia de juízo ocorrerá. Os seus servos serão então avaliados com base na maneira como usaram os recursos que Ele proveu. E os seus inimigos serão destruídos. A história serviu como um claro aviso para os en­ tusiastas que haviam testemunhado suas curas e a transformação de Zaqueu. Eles não deveriam espe­ rar que Jesus estabelecesse um reino terreno naque­ le momento. O aviso foi ignorado, e antes que Je­

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sus alcançasse Jerusalém, as multidões se reuniram para aclamá-lo Messias e Rei (w. 28-38). E importante que não nos esqueçamos do seu avi­ so. Jesus voltará, e cada um de nós prestará contas. Se tivermos usado os nossos recursos — de tempo, talentos, e riquezas — para promover o Reino de Deus, receberemos um elogio do nosso Senhor, e um papel responsável para cumprirmos na eterni­ dade.

acabara de avisar que Ele ainda não tinha vindo como Rei: Ele tinha que voltar para o céu e ser confirmado neste papel pelo Pai (v. 12). Assim, na­ turalmente, as multidões gritavam ainda mais alto, “Bendito o Rei que vem!” As multidões estavam certas. Jesus é Rei. Mas Ele ainda não tinha vindo como Rei. Podemos ser zelosos e entusiastas. Mas a menos que ouçamos a Palavra de Deus de forma muito mais cuidadosa do que as multidões ouviram a Je­ “Bendito o Rei que vem” (Lc 19.28-38). Zelo sem sus, não estaremos, da mesma forma, cientes dos conhecimento. Não é incomum, mas é triste. Jesus propósitos atuais de Deus na nossa vida.

DE VOCIONAL______ Sonhos e Devastação

(Lc 19.28-48) Enquanto escrevo este texto, Jim Bakker está aguardando a sentença por fraude, por mentir ao público cristão a fim de enganá-los e roubar os seus recursos financeiros. Em sua defesa, Jim con­ tou ao júri sobre a sua visão — seu sonho de um parque de diversões para cristãos, em Heritage, Estados Unidos. A despeito daquilo que uma pes­ soa possa pensar sobre Jim Bakker, estou certo de que cada um de nós diria o mesmo. Ele teve um

sonho. E ele viu o seu sonho jazer, despedaçado, aos seus pés. As pessoas que receberam a Jesus de forma tão en­ tusiástica no Domingo de Ramos também tinham um sonho. Eles sonhavam com Israel restaurado à sua antiga glória sob o comando do Messias de Deus, o prometido Descendente de Davi. Seus clamores, enquanto Jesus andava lentamente sobre um jumentinho em direção a Jerusalém, revelaram o sonho que os dominava completamente: “Bendi­ to o Rei que vem em nome do Senhor!”

Herodes, o Grande, dedicou 40 anos e uma riqueza incalculável para embelezar o templo de Jerusalém. Este templo era uma das maravilhas do mundo antigo, e atraia milhares de visitantes gentios, bem como judeus para a Judeia. Contudo, a ira de Cristo pelo fato dos átrios do Templo terem se transformado em um “covil de salteadores” nos lem­ bra que o verdadeiro significado e a verdadeira importância de qualquer casa de adoração não estão em sua aparência, mas no que acontece ali.

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À medida que se aproximavam da cidade, a mul­ tidão que clamava eufórica deve ter imaginado os seus muros elevados e expandidos, certos de que ela estava destinada a se tornar o centro de um reino teocrático que substituiria Roma como o dominador do mundo. Mas quando Jesus viu a cidade, Ele chorou. O que Jesus viu não foram muros altos e novos, mas ruínas e construções despedaçadas. O que Jesus ouviu não foi a alegria de partidários mal orienta­ dos, fascinados pelos seus sonhos, mas o gemido e o choro das vítimas que iriam sofrer ali. E Jesus chorou. A próxima coisa que Lucas nos diz é que Jesus en­ trou na área do templo. Ali Ele encontrou aqueles que estavam vendendo; que haviam transformado a casa de Deus — uma casa de oração — em um covil de ladrões escondidos, ansiosos por enganar os peregrinos que iam a Jerusalém para adorar. O sonho não era nada. A realidade era tudo. Eu acredito que a sequência destes eventos sirva como uma parábola dos nossos tempos. Muitos cristãos têm sonhos. Muitos são excessivamente zelosos para construir impérios para a glória de Deus, edifícios que eles sonham em mostrar a Jesus orgulhosamente quando Ele vier, dizendo (humildemente, é claro): “Veja o que fizemos em teu nome!” Contudo, um a um, estes sonhos, como os muros da antiga Jerusalém, caem em ruínas. Nós temos zelo. Mas, os sonhos que nos dominam são dados por Deus, ou são como os clamores da multidão do Domingo de Ramos que insistia em receber a Jesus como Rei apesar do que Ele lhes havia dito? Eu desconfio que o que Jesus quer está revelado em sua primeira ação em Jerusalém. Ele purificou o templo. Ele expulsou os vendedores que tinham corrompido aquilo que tinha a finalidade de ser uma casa de oração, e mais uma vez colocou a adoração em primeiro lugar. Aplicação Pessoal E mais importante purificarmos o nosso templo, do que perseguirmos os nossos sonhos. Citação Importante “Parece muito espiritual dizer: ‘Deus me dirigiu’, mas eu sempre fico desconfiado de uma pessoa que sugere que ela tenha um canal pessoal com Deus. Quando nenhuma outra pessoa sente o que a pes­ soa sugere ser a vontade de Deus, então é melhor termos cuidado. Deus tem sido acusado de ser o culpado pela maioria das coisas estranhas, por pes­ soas que têm confundido o seu próprio orgulho com a vontade de Deus.” — Paul E. Little

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DE AGOSTO LEITURA 232 LIÇÕES DURADOURAS Lucas 20— 21

“Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, porque para ele vivem todos” (Lc 20.38). Os últimos dias de Jesus em Jerusalém ocasiona­ ram alguns dos seus ensinamentos mais importan­ tes, transmitindo lições duradouras. Visão Geral Jesus repreendeu os seus críticos (20.1-8), e con­ tou uma parábola que expôs os motivos deles (w. 9-19). Ele desviou as suas tentativas de apanhá-lo em armadilha, e os usou para ensinar sobre respon­ sabilidade (w. 20-26) e ressurreição (w. 27-40). Cristo silenciou os seus oponentes com um enigma que tinha uma resposta óbvia, mas que foi rejeita­ da (w. 41-44) e então os condenou abertamente (w. 45-47), louvando uma viúva, uma das pessoas oprimidas que eles exploravam (21.1-4). Um úl­ timo e extenso diálogo teve como ponto central a volta de Cristo (w. 5-38). Entendendo o Texto “Com que autoridadefazes essas coisas”(Lc 20.2). Os principais dos sacerdotes e os escribas eram mem­ bros do Sinédrio, a suprema autoridade religiosa e civil do judaísmo. Como eles devem ter sido frus­ trados por Jesus, que se desviou completamente deles para ensinar, e operou milagres que provaram que Ele havia sido ungido por Deus. A autoridade era extremamente importante na reli­ gião do século I. Como acontece hoje no judaísmo rabínico, as opiniões dos antigos rabis eram avida­ mente procuradas e citadas como autoridade para decisões contemporâneas. Mas “autoridade” na lin­ guagem do Novo Testamento é liberdade de ação. A pessoa investida com autoridade pode falar ou agir sem medo de ser frustrada por outra pessoa. Esta é a razão da ironia na pergunta de Jesus. Ele perguntou a esses líderes, que reivindicavam auto­ ridade, a opinião deles quanto a João Batista. E eles se recusaram a responder! Eles não tinham nenhu­ ma liberdade, e absolutamente nenhuma autori­ dade verdadeira! A sua liberdade de falar lhes foi tirada pelo medo do que Jesus poderia dizer como réplica, ou pelo modo como reagiria o povo que eles afirmavam liderar. Hoje você e eu temos liberdade em Cristo. Somos verdadeiramente livres para falar e agir de acordo com as nossas convicções. Nós somos livres, por­ que confiamos que Deus nos guarda daqueles que podem nos fazer algum mal. Reivindiquemos a au­

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toridade que os críticos de Jesus abandonaram, e falou o que está registrado no Exodo, e até mesmo estejamos sempre prontos para falar a verdade em uma coisa aparentemente menor como o tempo nome de Jesus. verbal é legítima e tem grande valor espiritual. Os mortos realmente vivem outra vez? Eles vivem “Não seja assim!” (Lc 20.9-19). Para todos os que agora! O Deus do Antigo Testamento é o Deus ouviram a Parábola dos Talentos, na qual o amado de Abraão, de Isaque e de Jacó, muito depois da filho do senhor da vinha foi morto, estava claro morte biológica de cada um deles. que se tratava de uma referência velada aos líderes Nesta questão da Escritura, acredito que seja mais religiosos e ao próprio Jesus. A primeira vista a re­ sábio confiar no pronunciamento de Jesus do que ação horrorizada das multidões parece expressar o nas teorias dos sábios dos nossos dias que se autodesejo de que o filho do senhor da vinha escapasse proclamam. Quando fazemos isto, nos regozija­ (v. 16). Mas um olhar mais atento ao que foi dito mos na confiança de que nós também viveremos exatamente antes e depois corrige esta impressão. para sempre com Abraão e nosso Deus. Jesus avisara que o pai furioso apareceria e des­ truiria estes lavradores maus, e que daria a vinha “Como é ele seu filho?” (Lc 20.41-44). O povo ju­ a outros. Foi isto que provocou a reação: “Não deu gostava muito de enigmas e jogos de palavras. seja assim!” Mas os líderes religiosos que haviam se colocado O mesmo acontece com cada um de nós. Ninguém contra Jesus, positivamente odiaram um enigma quer ser responsável por suas ações. A nossa filha de que Cristo lhes apresentou. Não porque não sa­ nove anos quer bagunçar o seu quarto — mas não biam a resposta. O enigma foi objetável porque quer ser forçada a limpá-lo. A adolescente grávida eles sabiam a resposta! queria experimentar coisas novas ou procurava po­ Posto de forma simples, a única maneira do Des­ pularidade — mas não quer o bebê. Uma das coi­ cendente de Davi ser o seu Senhor era o Messias sas mais importantes que podemos fazer pelos nos­ esperado ser, de algum modo, o próprio Deus. E sos filhos é nos certificarmos de que eles aprendam isto é algo que os líderes dos dias de Cristo não cedo que toda escolha tem as suas consequências. poderiam, nem queriam considerar. “Não seja assim!” é um apelo inútil. Ás vezes somos como eles quando buscamos a vontade de Deus. “Senhor”, dizemos, “mostra-me “Daí, pois, a César o que é de César” (Lc 20.25). Ao o que tu queres” — quando desde o início sabe­ longo dos últimos 2.000 anos, crentes e descrentes mos o que Deus quer, e esperamos desesperada­ têm se maravilhado diante da profunda simplicida­ mente que Ele mude de ideia. de das palavras de Jesus. Aprendamos, com os fariseus, a maneira como Nós vivemos no mundo, mas não pertencemos a jamais devemos direcionar o nosso próprio rela­ ele. César pode exigir de nós coisas terrenas, e deve­ cionamento com Deus. mos dá-las com satisfação. Mas nada do que César faça pode tocar aquilo que devemos a Deus: nosso “Estes receberão maior condenação” (Lc 20.45-47). amor, nossa adoração, e a nossa preocupação com Cada Evangelho registra algo da avaliação final aqueles pelos quais Jesus também morreu. que Cristo faz dos homens ultrarreligiosos que eram os seus críticos mais severos. Mateus 23 “Que os mortos hão de ressuscitar também o mostrou se concentra na hipocrisia deles. Lucas chamou Moisés” (Lc 20.27-40). Esta é uma passagem fasci­ a atenção para a afronta deles ao tomarem ares nante para qualquer pessoa que estiver incerta so­ religiosos enquanto secretamente “devoravam as bre a integridade e a total autoridade da Escritura. casas das viúvas” — uma expressão que significa Alguns estudiosos presumem que os livros atribu­ tirar vantagem financeira daqueles que são inca­ ídos a Moisés sejam uma ficção muito posterior. pazes de se defender. Eles dizem que o nome de um lendário herói ju­ O utra vez vemos o terrível poder corruptor do deu, Moisés, foi anexado nos anos de 600 a.C. para amor pela riqueza e uma preocupação com as dar credibilidade à invenção dos editores. Com te­ aparências. O juízo para estas pessoas é certo soura e cola muitos estudiosos modernos passam e severo. facilmente pelo Antigo Testamento, recortam o Pentateuco e os Profetas, e atribuem este versículo “Da sua pobreza, deu todo o sustento que tinha” a um suposto conjunto de autores, e aquele versí­ (Lc 21.1-4). Não se trata do quanto damos, mas culo a outro. da nossa disposição de entregar tudo. Sem dúvi­ Como é diferente a maneira como Jesus vê as Es­ da alguma, Lucas propositadamente colocou a crituras. De acordo com Cristo, foi Moisés quem mulher humilde e maltrapilha ao lado dos polí­

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Lucas 22— 23 ticos bem vestidos e que faziam pose, cujas pre­ que percebamos que os poderosos raramente es­ tensões Jesus acabara de expor. Lucas queria que tão nas posições mais elevadas da escala de valo­ víssemos os outros como Deus os vê. Ele quer res de Deus.

DEOVqueOCIONAL______ Fazer e o que não Fazer na Vida (Lc 21.5-36) Peça para um cristão fazer uma lista “do que os crentes devem e o que não devem fazer para viver” e você provavelmente não obterá os Dez Manda­ mentos. Na pequena igreja da qual me tornei membro depois de me converter, a nossa lista tinha coisas como “não fumar”, “não beber”, “não ir ao cine­ ma”, “ir à igreja à noite como também de manhã”, e algumas outras coisas semelhantes. A nossa lista do que se deve e do que não se deve fazer não nos impediu de amar ao Senhor e a outras pessoas. E não nos afastou da oração e da adoração mais sig­ nificativas que já experimentei. Na verdade, relem­ brando, tenho dúvidas quanto a se a lista causou qualquer grande impacto na minha vida — exceto me deixar um pouco incomodado quando algum amigo marinheiro acendia um cigarro no meu car­ ro “cristão”. Uma lista do que se deve e não se deve fazer, que re­ almente pode fazer diferença, é encontrada no rela­ to que Lucas faz do ensino de Jesus sobre o futuro. Entre os ensinamentos que se aplicam diretamente a nós estão:

* Não siga líderes falsos (v. 8). * Não fique assustado quando desastres naturais e de outros tipos ocorrerem (w. 9-11). * Não fique ansioso se for perseguido por causa do seu testemunho cristão (w. 12-16). E no lado positivo: * Preserve e mantenha uma posição firme quando outros se virarem contra você (w. 17-19). * Tenha coragem; a redenção completa será sua quando Jesus voltar (w. 25-28). * Vigie e ore, para que você possa viver uma vida que o Filho do Homem aprove (w. 34-36). Aplicação Pessoal As instruções de Deus sobre o que podemos fazer, e o que não podemos fazer, devem estar no topo de nossa lista.

21 DE AGOSTO LEITURA 233 AS HORAS FINAIS Liwas 22— 23 “Eles instavam com grandes gritos, pedindo que fosse crucificado. E os seus gritos e os dos principais dos sa­ cerdotes redobravam” (Lc 23.23). Cuidadosamente Lucas, como cada um dos evan­ gelistas, traçaram as horas finais de Jesus desde a traição até o sepultamento. Visão Geral Judas concordou em trair Jesus por dinheiro (22.16). Na Ultima Ceia Jesus falou de um Novo Testa­ mento no seu sangue (w. 7-23), falou novamente sobre a grandeza (w. 24-30), e predisse a negação de Pedro (w. 31-38). Os eventos agora mudaram rapidamente. Jesus orou (w. 39-46), foi preso (w. 47-53), negado por Pedro (w. 54-62), e zombado pelos guardas (w. 63-65). Ele foi levado diante de Pilatos e Herodes (v. 66— 23.16), e foi condenado (w. 17-25), crucificado (w. 26-43), e morto (w. 50-56). Entendendo o Texto “Porque temiam o povo” (Lc 22.1-6). Durante grandes festas religiosas Jerusalém se enchia de peregrinos. Agitados e inconstantes durante estes períodos, tanto o governo romano como os líderes judeus mantinham uma vigilância estrita, esperan­ do evitar uma perturbação espontânea da ordem pública. Lucas retratou os líderes religiosos, deses­ perados para se livrarem de Jesus, “procurando” ativamente alguma maneira de disporem dele. Quando Judas apareceu para barganhar por di­ nheiro, eles ficaram encantados: O que eles temiam fazer abertamente, agora fariam com satisfação, em segredo! Que teste simples isto sugere que apliquemos à nossa própria vida. Se tivermos medo ou vergonha de fazer algo abertamente — não o façamos de modo algum!

“Entrou, porém, Satanás em Judas, que tinha por so­ Citação Importante brenome Iscariotes, o qual era do número dos doze” “Tenha as tuas ferramentas preparadas; Deus acha­ (Lc 22.1-6). A expressão não sugere que Satanás rá trabalho para ti.” — Charles Kingsley entrou contra a vontade de Judas. Em vez disso,

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cebeu diversas vezes. Há uma hipótese que neces­ sariamente deve apoiar a proclamação de “discre­ pância”; esta hipótese é que qualquer ser humano falará sobre algo importante para ele uma vez, e apenas uma vez. Isto é algo absolutamente espan­ toso para mim. Portanto, não estou surpreso de que os discípulos, ainda não tendo ciência da morte iminente de Je­ sus, voltassem a discutir sobre quem seria o maior no reino de Cristo. E não estou surpreso de que Jesus mais uma vez tenha contrastado a “grande­ za” dos governantes seculares com aquele ato de servir que tom a um homem grande aos olhos do Senhor. Uma discrepância na Escritura? Não. Uma falha dos discípulos? Sim. E uma falha em nós se, como “Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue” (Lc os Doze, gastarmos as nossas energias na busca de 22.1-23)- O termo “testamento”, “concerto”, ou posições sociais — enquanto um mundo que está “aliança” é um dos mais significativos das Escritu­ morrendo clama por ajuda e esperança. ras. Nos dias do Antigo Testamento, um concerto era um acordo legal de compromisso, cuja natureza “Eu vos destino o Reino” (Lc 22.28-30). Lucas agora era determinada pelas partes envolvidas. Entre dois acrescenta algo não encontrado em Mateus. Na Ul­ negociantes, ele era um contrato. Entre nações, ele tima Ceia, Jesus acrescentou estas palavras, e a pro­ era um tratado. Entre um governante e o povo, messa de que um dia os 12 discípulos se sentariam era uma constituição. Mas entre Deus e os seres em tronos para julgar as 12 tribos de Israel. humanos, a força básica de “concerto” é um com­ A frente há abundância de “grandeza” para todos. promisso. O antigo concerto de Deus com Abraão Mas isto é para o fim dos tempos, e não para hoje. é marcado pela sua afirmação do que “Eu farei.” O Hoje há o serviço. E quanto maior for a nossa dis­ concerto temporário de Deus com Israel, estabe­ posição para servir, maior será o nosso futuro ga­ lecido através de Moisés, a Lei, especificou o que lardão. Deus faria se Israel obedecesse — ou desobede­ cesse. O “Novo Testamento” de que Jesus falou na “Basta” (Lc 22.35-38). Anteriormente, os Doze e Ultima Ceia, instituído na sua morte e selado pelo também 72 foram enviados para ministrar, e foram derramamento do seu próprio sangue, é o compro­ informados de que não deveriam levar dinheiro ou misso de Deus de perdoar os pecados daqueles que roupa adicional consigo. Jesus mencionou isto, e creem em seu Filho, e transformar o seu caráter, de lembrou aos seus discípulos que quando eles par­ tissem, não teriam falta de nada. dentro para fora (cf. Jr 31.31-34; Hb 10.16-18). Quando lemos os capítulos que traçam o último Ele então pareceu revisar as suas instruções. A dia de Jesus, precisamos lembrar que Cristo foi maioria toma esta reversão inesperada ou como para a cruz sabendo o que a sua morte significaria sarcasmo, ou como um modo de enfatizar a serie­ para você e para mim. Jesus sofreu voluntariamen­ dade da crise imediata. Certamente a sua ordem: te. E Ele mesmo é a nossa garantia; Ele mesmo é o “O que não tem espada... compre-a”, sugere perigo compromisso divino de nos perdoar, e de fazer de iminente. Mas quando os discípulos lhe mostra­ ram duas espadas, Ele disse: “Basta”. nós novas criaturas. Hoje, duas ainda bastam. Elas são o bastante para “Qual deles parecia ser o maior” (Lc 22.24-30). Al­ simbolizar os perigos deste mundo presente. Con­ guns, notando que o Evangelho de Mateus colocou tudo, elas não são suficientes para nos proteger des­ esta disputa em um tempo e lugar diferentes, pro­ tes perigos, não mais do que duas espadas nas mãos clamam “discrepância”, e assim tentam “provar” de discípulos destreinados poderiam proteger Jesus que a Bíblia não é absolutamente isenta de erros. da turba que se aproximava. E importante reconhecermos o perigo que existe Tais pessoas nunca tiveram filhos. Eu não sei quantas dezenas de vezes ouvi o mesmo neste mundo. Mas é de igual modo importante, argumento entre Sara e o nosso Mateus; ou quan­ quando nos sentirmos desamparados, perceber tas vezes Sara fez a mesma pergunta, esquecendo que não podemos confiar em meios terrenos para ou ignorando alegremente a resposta que ela re­ a nossa defesa.

sugere que a própria abertura que Judas concedeu ao mal deu a Satanás uma oportunidade de traba­ lhar através dele. Se você alguma vez já temeu o poder de Satanás, esta passagem em Lucas indica o quanto o príncipe do mal é falível. Satanás inspirou a traição de Jesus. Ele avidamente coreografou os passos de Cristo até a cruz. E desde o início Satanás ignorou o fato de que a cruz seria o instrumento da sua própria der­ rota! Satanás é poderoso, sim. Mas ele não é um deus. A sua luta contra Deus está destinada à total derrota, e Deus é capaz de, ao longo do caminho, trans­ formar os atos mais malignos em instrumentos do bem que deseja fazer.

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“E, tocando-lhe a orelha, o curou” (Lc 22.47-53). Quando a multidão chegou, um discípulo tentou usar uma das duas espadas. Ele manejou (precipi­ tadamente?) e foi bem sucedido ao cortar fora a orelha de um homem! Ao dizer: “Deixai-os; basta!” Jesus tocou o homem e restituiu a sua orelha. No início do ministério de Jesus Ele havia dito: “Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos mal­ dizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem” (Mt 5.44). Agora, prestes a ir para a cruz, Ele levou o amor um passo adiante. Mesmo quando os seus inimigos procurarem lhe destruir, não lhes faça mal.

precisamos quando falhamos. Devemos aprender duas coisas a partir da experiência de Pedro. Pri­ meiro, depois de errar, olhe rapidamente para o Se­ nhor. O amor que você vê em seus olhos também pode lhe mover a chorar amargamente. Mas nesse processo você será curado. E, em segundo lugar, olhe incessantemente para o Senhor. Se você nunca desviar o olhar, o amor que está nos olhos de Cristo lhe impedirá de pecar. “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino” (Lc 23.26-42). O ladrão na cruz é um cor­ relativo saudável ao tratamento superficial dispen­ sado a Jesus por Pilatos e Herodes. (Veja o DEVO­ CIONAL.) A princípio os dois ladrões zombavam de Jesus. Mas a tempo um deles pediu: “Lembra-te de mim.” Não há nenhuma garantia de que enfrentar a mor­ te fará uma pessoa considerar a eternidade. Havia dois ladrões, mas apenas um parou com a sua zom­ baria depois de algum tempo. Apenas um disse: “Lembra-te de mim.” Mesmo assim, este ladrão nos faz lembrar que enquanto durar a vida, jamais será tarde demais para rogar a Deus em nome de Jesus. E pelo fato da vida mais longa ser apenas um breve momento quando comparada com a eternidade, devemos invocar a Jesus enquanto pudermos. Afinal, Ele morreu para nos salvar. Como o relato da Crucificação nos lembra, esta questão envolve a morte de Jesus — e a nossa vida eterna.

"Virando-se o Senhor, olhou para Pedro ” (Lc 22.5462). Somente Lucas acrescentou este detalhe. Não foi o cantar do galo que fez Pedro perceber o que ti­ nha feito ao negar a Jesus. Foi o fato de que, quan­ do o galo cantou pela terceira vez, Pedro levantou os olhos e encontrou os olhos de Cristo. Pedro escreveu uma epístola que cita o Salmo 34.14: “Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos” (1 Pe 3.12). O significado é que Deus está cuidando dos seus, ansioso por lhes fazer o bem. Deus cuida de nós, como Cristo olhou para Pedro, com amor! A culpa que Pedro sentiu de repente não estava no olhar de Cristo, mas os olhos de Cristo refletiram o próprio olhar de Pedro. O pecado tem um impacto singular sobre nós. Ele faz com que desviemos o nosso olhar de Deus, ten­ “Envolveu-o num lençol" (Lc 23.50-56). Jesus mor­ tando esquecer que Ele sempre nos vê. Desse modo, reu. Ele foi sepultado. E ali estes capítulos são con­ o pecado nos afasta da única Pessoa de quem mais cluídos — mas a sua história não termina ali.

DEVOCIONAL ______ Esperando por um Milagre (Lc 22.66— 23.25) O julgamento de Jesus foi uma decepção para to­ dos. Pilatos continuava dizendo: “Não acho culpa alguma neste homem” (23.4). Os líderes judeus continuavam desesperadamente tentando achar al­ guma coisa que fizesse Pilatos ordenar a execução de Cristo (w. 2,5,10,14). A multidão cuidadosa­ mente recrutada ficou rouca, gritando, no momen­ to certo: “Crucifica-o!” E o pobre Herodes, que vinha desejando ver Jesus há muito tempo, estava aborrecido porque quando Jesus lhe foi trazido em cadeias, não operou sequer um milagre para o seu divertimento! Barrabás, um líder de insurreições, e assassino con­ denado, estava satisfeito. Ele foi solto em vez de Jesus e desapareceu, para nunca mais ser mencionado.

Mas tenho mais pena do pobre e superficial Herodes. Imagino que ele ficou de mau humor por horas. To­ dos aqueles meses esperando ver um milagre, e então — nada! Sobre o que Herodes falaria em seu próximo banquete? Como ele finalmente veria Jesus, e Ele não lhe faria nenhuma exibição? Na verdade, Herodes me lembra muitos cristãos. Uma pesquisa recente sugere que as pessoas procu­ ram igrejas como produtos de consumo. Elas veri­ ficam as suas atividades. Perguntam a respeito da pregação. Procuram saber quem vai à igreja. Ou­ vem criticamente o coral. Há atividades suficientes para as crianças? Para os adolescentes? Mesmo assim muitos comparecem no domingo e vão embora desapontados, porque por alguma razão Deus ou o pregador não teve um bom de­ sempenho naquele dia. Como Herodes, eles com-

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está sujeito ao sofrimento ou à dor, ou às limitações que restringem meros homens. Cristo entrou na glória da vida ressurrecta quando saiu triunfantemente do seu túmulo.

parecem para serem entretidos. Eles compareceram “esperando por um milagre”, e Deus não estava de­ sempenhando algo especial para eles naquele dia. Podemos ver claramente o que havia de errado com a atitude de Herodes. O Filho de Deus estava prestes a ir para a cruz, e a única preo­ cupação de Herodes era ser entretido! Mas será que podemos ver este defeito em nós mesmos? Já paramos para pensar que a função da igreja não é entreter? A igreja deve ser um lugar de reunião para uma comunidade de fé; um grupo de homens e m u­ lheres que adoram o Salvador crucificado, e que se entrega para ministrar a uma humanidade perdida e sofredora.

Visão Geral No primeiro dia da semana anjos disseram a mu­ lheres admiradas que Jesus havia ressuscitado (24.18). Pedro e João correram para ver o túmulo vazio (w. 9-12). Jesus revelou-se a dois discípulos que Ele encontrou na estrada para Emaús (w. 13-35). Ele encontrou todos os discípulos e “abriu-lhes o entendimento” para as Escrituras (w. 36-49) antes de ser recebido nos céus (w. 50-53).

Entendendo o Texto “No primeiro dia da semana” (Lc 24.1). Desde o Aplicação Pessoal Aquilo que você busca na igreja determina o que início da igreja, os cristãos têm feito cultos no pri­ meiro dia da semana, e não no sétimo. O sábado você recebe nela. comemorava a Criação e o descanso de Deus. O Citação Importante primeiro dia (domingo) celebra a ressurreição de “É difícil imaginar — Paulo tendo o dom de en­ Jesus, e a nossa vitória sobre o pecado. tretenimento. — Barnabé sendo um ministro de Todo domingo, ao adorar, devemos nos compro­ entretenimento em vez de ministro de encoraja­ meter a viver na novidade de vida que Jesus traz. mento. — Jesus vendendo ingressos para alimentar 5.000. — Pedro comercializando os seus seminá­ “E lembraram-se” (Lc 24.2-8). Somente quando as rios Apascenta as Minhas Ovelhas’. Com muita mulheres viram o anjo e foram lembradas por ele frequência, tentamos juntar ministério, música e que Jesus havia prometido ressuscitar, é que elas se diversão, e fazendo assim perdemos a integridade lembraram. e o verdadeiro significado da igreja. Ninguém pode Se elas tivessem se lembrado antes, teriam se sen­ dizer honestamente que foi chamado por Deus tido diferente durante as noites e dias em que o para entreter outras pessoas.” — Glenn W. HarrelI corpo de Jesus jazeu no sepulcro. Se elas tivessem í '.y . ....

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DE AGOSTO LEITURA 234 VIVO OUTRA VEZ Lucas 24

“Porventura, não convinha que o Cristo padecesse es­ sas coisas e entrasse na sua glória?” (Lc 24,26). Nós compartilhamos hoje a glória na qual o Cristo ressuscitado entrou. Contexto Ressurreição. Os Evangelhos relatam vários inciden­ tes onde Jesus trouxe os mortos de volta à vida. Isto não foi ressurreição, mas ressuscitação. Na ressuscitação a vida biológica é restaurada. Mas o indivíduo permanece mortal, e precisa passar outra vez pela morte biológica. Por outro lado, a ressurreição não é a restauração da vida biológica. E uma transformação do indi­ víduo; uma transmutação da mortalidade para a imortalidade. O ressurrecto não morre mais, mas vive para sempre com o Senhor. O ressurrecto não

Muitos acreditam que o túmulo do século I mostrado aqui é similar àquele no qual Jesus ficou. O trilho no qual uma grande pedra rolava (24.2); a porta baixa na qual Pedro se inclinou (v. 12); a pequena janela através da qual a luz da manhã caiu sobre os lenços vazios (v. 12); tudo se encaixa nos detalhes do relato do Evangelho. E o Jardim do Sepulcro fica perto de um monte que alguns identificam como o Calvário. Se este é ou não o túmulo verdadeiro não é importante. O importante é que Ele ressuscitou.

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se lembrado antes, teriam ido para o túmulo com esperança e expectativa. Quando um ente querido morre, aqueles que são deixados para trás sempre choram a perda. Mas se nos lembrarmos do túmulo vazio — o que isto promete a nós — chegaremos ao túmulo do nosso morto crente derramando lágrimas que brilham com a promessa de alegria. Jesus ressuscitou. E nós também ressuscitaremos. “E dessas coisas sois vós testemunhas” (Lc 24.36-49). Posteriormente, Jesus apareceu aos 11 discípulos. Vendo as suas mãos e os seus pés, ouvindo a sua voz familiar, toda dúvida foi dirimida, e os discípulos creram. Foi então, depois da fé ter chegado, que eles foram ca­ pazes de compreender as Escrituras. Os versículos que tinham sido familiares, de repente ficaram cheios de um significado que eles não haviam entendido antes.

DEVOCION AL______ Discípulos Abatidos

(Lc 24.13-35) Naquela manhã da Ressurreição, quando dois dos discípulos de Jesus andavam com dificuldade pela estrada empoeirada a caminho de Emaús, uma ci­ dade há cerca de onze quilômetros de Jerusalém, os seus rostos estavam abatidos. Chorosos e tris­ tes, eles sem dúvida alguma formaram uma terrível companhia naquela manhã de Páscoa. Contudo, quando Jesus se juntou a eles, disfarçado de um estranho, os dois discípulos revelaram que conheciam muitos fatos relacionados com a Res­ surreição! Eles até mesmo falaram ao amigo estra­ nho acerca do túmulo vazio. Sim, alguns do seu grupo tinham falado com an­ jos, que disseram que Jesus havia ressuscitado dos mortos. Sim, dois discípulos tinham ido até o túmulo, e o achado vazio. Mas eles não o tinham visto. Assim enquanto estes discípulos andavam pelo caminho, com os seus rostos tristes, seus corações ardendo, lamentando o triunfo que eles pensavam ser uma tragédia, Jesus percorreu as passagens do Antigo Testamento que previram a morte do Mes­ sias e predisseram a sua ressurreição. E mesmo en­ tão os dois discípulos não podiam se livrar da sua tristeza. Discípulos abatidos. Discípulos abatidos, andando pela estrada com Jesus ao seu lado.

E então Jesus disse uma coisa estranha. Os dis­ cípulos deveriam “ser testemunhas” de todas as coisas que a Escritura tinha predito que acontece­ riam. Eles deveriam confirmar a Palavra de Deus testificando da sua verdade! Em certo sentido, naturalmente, nada do que você ou eu podemos dizer pode confirmar ou de­ sacreditar a Palavra de Deus. A Palavra de Deus é a verdade, não importa o que os homens digam a respeito dela. Contudo, em outro sentido nós realmente damos testemunho da sua confiabili­ dade. Os 11 que Jesus escolheu iriam anunciar as pro­ fecias, e então iriam dizer: “Eu as vi cumpridas”. Mesmo hoje você e eu compartilhamos o evan­ gelho e dizemos: “Eu sei que é verdade. Eu vi as promessas de Deus cumpridas em minha própria vida. Eu experimentei o perdão de Deus, e vi Je­ sus Cristo me mudar”. Discípulos abatidos, chorando como se o seu Deus realmente estivesse morto, e não com eles, e triun­ fantemente vivo. Se você acha que isto é estranho, pense por um instante em sua própria vida. Você se esqueceu do que os dois discípulos na estrada para Emaús não sabiam? Você acha que há um estado de espírito abatido que surge em todos nós de vez em quando? Mas quando ele surgir, é hora de nos lembrarmos da lição da estrada para Emaús. Os nossos senti­ mentos não condizem com os fatos! Nós não es­ tamos mais sozinhos. Jesus vive, e o nosso Senhor ressurrecto caminha pela nossa estrada conosco. Quando colocamos a nossa atenção nEle, e perce­ bemos como Ele está perto, ao nosso lado, este es­ tado de espírito abatido é substituído pela alegria. Aplicação Pessoal A Ressurreição significa que o Cristo ressurrecto está com você e comigo hoje. Citação Importante “O Senhor que tocou a nossa vida tinha que mor­ rer para nos dar a sua vida divina. Mas a morte não conseguiu retê-lo, de modo que Ele ressuscitou ao terceiro dia. A minha alegria mais profunda está na Palavra viva de Deus, que nos garante a vitória de Jesus sobre a morte, pois eu sei que o Menino que nasceu em Belém tinha que sofrer antes que eu pudesse ser salvo. Eu não posso, portanto, ser

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suficientemente grato a Ele. Oro para que diaria­ mente possa conhecê-lo cada vez mais, para que não endureça o meu coração quando Ele falar co­ migo, que possa obedecê-lo, e que, acima de tudo, possa adorá-lo como meu Deus e Salvador. Se o amarmos acima de todas as outras coisas na vida, e de todas as pessoas que estão à nossa volta, Ele nos dará poder para dominarmos os nossos problemas,

superarmos os nossos medos e nos levantarmos acima de toda tentação e de todo pecado. E então receberemos um antegozo da vida eterna mesmo nesta vida mortal.” — Charles H. Malik O Plano de Leituras Selecionadas continua em CANTARES D E SALOMÃO

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JOÃO INTRODUÇÃO João é o quarto e último dos retratos de Jesus Cristo no Novo Testamento. A opinião da maioria é que ele foi escrito entre 70 e 100 d.C. por João, filho de Zebedeu, um dos doze discípulos de Jesus. Este é o mais teológico dos Evangelhos. Desenvolveu-se a partir da necessidade dos cristãos da segunda e terceira geração, para fornecer uma resposta provida de autoridade às perguntas sobre a natureza de Cristo, que então perturbavam a igreja. João disse sobre seu trabalho: “Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus” (Jo 20.31). Áo contrário dos outros Evangelhos, que seguem uma sequência cronológica, João relata incidentes dis­ tintos e ensinamentos que nos ajudam a compreender melhor a missão universal de Jesus. Boa parte do que João compartilha não é encontrado ou é apenas brevemente mencionado nos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Pela clara descrição que João fez de Jesus e seu ensinamento, realmente alcançamos uma apreciação muito mais profunda de Jesus e do que significa crer nEle. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Prólogo ...................................................................................................... II. Jesus, o Doador da V ida........................................................................ III. Jesus, Médico e Juiz .............................................................................. IV. Jesus, o Pão da V id a .............................................................................. V Jesus, a Água e Luz da Vida .................................................................. VI. Jesus, Pastor da H um anidade............................................................. VII. Jesus, Ressurreição e V ida.................................................................. VIII. Jesus, Rei Triunfante ......................................................................... IX..Jesus, Vida da Igreja.............................................................................. X..Jesus, Vida a partir da M orte................................................................

.............Jo 1.1-18 .... Jo 1.19— 4.42 ....Jo 4.43— 5.47 ......................Jo 6 ...............Jo 7— 8 .............Jo 9— 10 .......... Jo 11.1-54 Jo 11.55— 12.50 ...........Jo 13— 17 ...........Jo 18— 21

GUIA DE LEITURA (20 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 235 236 237 238 239 240 241 242 243

Capítulos 1.1-18 1.19— 2.25 3 4 5 6 7 8 9

Passagem, Essencial 1.1,2 1.43-51 3.3-10 4.43-54 5.31-47 6.39-59 7.25-43 8.31-47 9.13-25

Jo áo 244 245 246 247 248 249 250 251 252 253 254

10 11 12

13 14 15 16 17 18 19— 20 21

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10.22-29 11.17-44 12.12-24

13.31-35 14.1-6 15.9-17 16.1-15 17.20-23 18.28-40

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JOÁO 23 DE AGOSTO LEITURA 235

O MUNDO VIVO João 1.1-18

“Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigénito, anunciou sua vinda (w. 6-9), mas, quando Ele che­ que está no seio do Pai, este ofez conhecer” (Jo 1.18). gou, seu próprio povo o rejeitou (w. 10,11). Mas todos que o recebem tornam-se filhos de Deus (w. João introduziu o mistério final. Deus, de alguma 12-14). Ele é a fonte da graça, o Filho que, sendo maneira, havia assumido a natureza humana e se Deus, revela o Pai à humanidade (w. 15-18). tornado carne. Entendendo o Texto Contexto “No princípio era o Verbo” (Jo 1.1,2). Como os O Verbo (ou, a Palavra). Em ambos os Testamentos, primeiros versos de Gênesis, João 1.1-12 nos arre­ “verbo” ou “palavra” é um conceito fundamental e messa de volta às origens do tempo, ao mistério do complexo. O grego logos aparece mais de 300 vezes próprio Deus. no Novo Testamento, com uma variedade de sig­ Os cristãos afirmaram o ensinamento do Novo nificados. A identificação de Jesus como o “Verbo” Testamento de que o Deus único do Antigo Tes­ tem grande importância teológica. Como o Verbo, tamento existe em três Pessoas: Deus Pai, o Filho e Jesus é a expressão da pessoa e caráter de Deus no o Espírito Santo. João iniciou seu Evangelho com mundo: aquEle que revela o Pai. E como o Ver­ uma afirmação poderosa de que o Homem Jesus é bo, Jesus é também a presença poderosa e ativa de Deus Filho, o Verbo eterno por meio da qual Deus Deus no mundo: aquEle que tem a autoridade fi­ sempre se expressou. (Veja o DEVOCIONAL.) nal sobre todas as forças naturais e sobrenaturais, capaz, por infusões de graça, não apenas de dar “Nele, estava a vida” (Jo 1.3-5). No Evangelho de vida, mas também de transformar a natureza in­ João, “vida” às vezes indica a vitalidade biológica, terior dos seres humanos para prepará-los para a mas, com mais frequência, indica a vida espiritual. comunhão com Deus. João muitas vezes descreveu a vida de que falava Embora os teólogos tenham a tendência de ser elo­ como “eterna.” A vida disponível para nós em Cris­ quentes quanto às implicações filosóficas do logos, to tem uma qualidade e poder sobrenaturais, assim quando lemos o Evangelho de João percebemos a como extensão infinita. E esta vida eterna oferecida possibilidade de ter um significado mais simples e por Cristo que brilha em nosso mundo como uma mais direto em mente. Jesus, a Palavra de Deus, é luz radiante. Como um farol para um viajante per­ aquEle por meio do qual ouvimos a voz de Deus. dido, a luz que brilha em Jesus oferece esperança a Ele é aquEle no qual encontramos a Deus e pelo todos os homens. Não apenas a esperança da vida qual recebemos a Deus em nossas vidas. após a morte, mas a esperança de uma vida rica e significativa aqui e agora. Visáo Geral O “Verbo” — o Criador e fonte da nossa vida — “E as trevas não a compreenderam” (Jo 1.5). A in­ pré-existia com e como Deus (1.1-5). João Batista tenção específica do verbo grego katelaben foi mui-

João 1.1-18

to debatida. Trata-se simplesmente de dizer que os homens que estão nas trevas não perceberam a natureza da luz brilhante? Ou a palavra signifi­ ca “superar”, como em outras passagens de João? (6.17; 8.3,4; 12.35). João logo desenvolveria seu tema sobre um conflito básico entre o bem e o mal, as trevas e a luz. O mundo dos homens não apenas ignora o caráter da luz, mas é hostil a ela! Uma guerra invisível está em andamento no Plane­ ta Terra. Deus e Satanás estão em perpétuo conflito e, conscientemente ou não, todo ser humano toma partido. A luz derramada pela oferta de vida eterna do Filho torna as questões da guerra mais claras e desafia todos a tomarem partido. Quão bom é saber que, não importando quão hos­ tis os homens e as mulheres possam ser, eles nunca podem superar a luz de Cristo. “Um homem enviado de Deus” (Jo 1.6-9). Lucas contou a história de João Batista; João enfatizou sua missão. O fato de que era “enviado de Deus” estabelecia sua autoridade. Sua missão resumia-se na palavra “testemunho” (v. 8). Ao longo de todo este Evangelho, João juntaria indícios que estabele­ ciam Jesus como o Filho de Deus. João Batista foi a primeira testemunha, identificando Jesus para os homens e mulheres judeus do primeiro século. Hoje também Deus envia homens e mulheres para dar testemunho de seu Filho. Embora o próprio Jesus seja a luz, você e eu devemos dar testemunho dos benefícios de ir a Ele para ter a vida eterna. “O poder de seremfeitos filhos de Deus”(Jo 1.10-13). Estas palavras, como boa parte dos escritos de João, estão cheias de informação. O “mundo” no versí­ culo 10 é, primeiro, a própria terra como ambiente da vida e, segundo, uma ordem social pecaminosa que se recusou a reconhecer o Criador. Embora o próprio povo e nação de Jesus não o tenham rece­ bido, Ele continua a estender aos indivíduos a ofer­ ta divina da vida eterna. Aqueles que o recebem obtêm o direito de se tornarem filhos de Deus. Os versículos esclarecem duas questões. Primeiro,

DEV OCIONAL______ Não Há Amor Maior

(Jo 1.1,2) “Três deuses! Vocês têm três deuses!” Esta incompreensão da fé cristã é comum em círcu­ los muçulmanos e judaicos. No entanto, os cristãos afirmam: “Não. Nós temos um Deus, o Deus do Antigo Testamento, que o Novo Testamento revela existir em três Pessoas.”

nós, seres humanos, somos todos filhos de Deus? Embora todos os seres humanos sejam suas cria­ turas, e objetos do seu amor, João nos lembra que nem todos estão espiritualmente relacionados com Deus. Apenas o dom especial da vida eterna em Cristo muda a nossa natureza, de modo que nos tomamos tekna de Deus, seus “nascidos” que, pelo renascimento espiritual, compartilham a sua natu­ reza divina. Segundo, o que significa “crer”? João iniciou sua explicação igualando “crer” e “receber.” A nova vida em Cristo é oferecida como um presente. Assim como alguém que estende a mão e recebe um pre­ sente demonstra com sua aceitação que acredita na realidade do presente e na fidedignidade da pessoa que o oferece, ao recebermos Cristo como Salva­ dor, demonstramos a crença no dom e na fidedig­ nidade de Deus, o doador. Como isto é simples! Ouvimos a Boa-Nova do evangelho, nosso coração recebe a Cristo e, em uma grandiosa transação sobrenatural, somos per­ doados e inundados com uma nova vida. Tornamo-nos filhos de Deus, novamente nascidos por um ato do próprio Deus. “A graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1.15-17). A Lei de Moisés estabeleceu um padrão de justiça para a humanidade. Jesus revelou a pos­ tura graciosa de Deus para com toda a humanida­ de. Olhando para a Lei, vemos o que devíamos ser e sentimos vergonha. Olhando para Jesus, percebe­ mos que Deus nos ama apesar de nossos pecados e nos regozijamos. “O Deus unigénito” (Jo 1.18, ARA). A essência da Divindade é invisível porque os nossos olhos não conseguem detectá-la. Então, Deus assumiu uma forma que pudéssemos enxergar. “Unigénito” aqui tem o significado essencial de singular. Jesus é o Filho de Deus de uma maneira como nunca podemos ser, pois Ele preexistiu ao próprio tempo. Nós nos tornamos filhos de Deus. Jesus é e sempre foi o filho unigénito de Deus. Para muitos, é claro, isso não faz sentido. Contudo, como lemos nos primeiros versículos de João, vemos que isto é exatamente o que a Bíblia ensina. O Ver­ bo, que alguns versículos depois é identificado como o Filho encarnado, Jesus Cristo, estava presente no princípio. Ele estava com Deus e Ele era Deus. Foram feitas muitas tentativas de encontrar uma analogia que nos auxiliasse a compreender melhor

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o mistério da Trindade: a “Triplicidade na Unida­ de” do Deus único da Escritura. A Trindade con­ tinua a ser um mistério. Talvez, porém, a melhor sugestão tenha sido feita no século IV de nossa era por Agostinho. Ele argumentou que Deus devia ser uma Trindade, pois Deus é amor. Antes da Criação do mundo, Deus deve ter tido alguém para amar e alguém para comunicar o amor. Decorre, então, ensina Agostinho, que devem existir Três na uni­ dade de Deus: um Pai para amar, um Filho para ser o objeto deste amor e um Espírito Santo para comunicar e expressar o amor. Que pensamento! Antes de Deus criar, Deus era uma Pessoa que amava. Como Ele existe como uma Trindade, Deus sempre foi capaz de expressar este amor plenamente dentro do seu próprio ser. Todavia, o amor de Deus é tão grande que trans­ bordou de seu próprio eu. Em amor, Deus criou o mundo e o povoou com pessoas feitas à sua ima­ gem. Em amor, Deus deu às pessoas a liberdade de escolher. E, em amor, Deus sacrificou o Filho que amava para preservar todos os que creem das consequências desastrosas e eternas das escolhas que fazem. O Evangelho de João não é apenas o Evangelho da crença e da fé, como a maioria enfatiza. João é o Evangelho do amor inimaginável. Aplicação Pessoal Considerar quem Jesus é pode aprofundar o nosso amor por Ele. Citação Importante “Alexandre, César, Carlos Magno e eu fundamos impérios; mas em que fundamentamos a criação que veio de nosso pensamento? Na força. Jesus Cristo fundou um império baseado no amor e, neste momento, milhões de homens morreriam por Ele.” — Napoleão Bonaparte 24 DE AGOSTO LEITURA 236 O CORDEIRO DE DEUS João 1.19—2.25 “João testificou, dizendo: Eu vi o Espírito descer do céu como uma pomba e repousar sobre ele... eu vi e tenho testificado que este é o Filho de Deus” (Jo 1.32,34). A condição de discípulo nos chama a sempre ter­ mos consciência do poder de Deus e vivermos con­ fiantes de que estamos na sua presença. Visão Geral Joáo explicou sua missão (1.19-28) negando que fosse o Cristo e identificou Jesus como o Filho

de Deus (w. 29-34). Vários futuros discípulos, dentre eles André e Pedro, encontraram Jesus pela primeira vez (w. 35-42) e retornaram com Ele à Galileia (w. 43-51). Ali Jesus prefigurou seu ministério de transformação mudando água em vinho (2.1-11) e, mais tarde, seu ministério de purificação expulsando os cambistas do templo (w. 12-17). Naquela ocasião, Jesus falou da sua morte e ressurreição (w. 18-25). Entendendo o Texto “Quem és tu?” (Jo 1.19-28). Uma legação oficial questionou João Batista quanto a sua identidade. Quem ele afirmava ser? O Messias? Elias, que havia retornado dos mortos? (cf. Ml 4.5). O Profeta pre­ dito por Moisés? (cf. D t 18.18) João recusou cada um destes importantes títulos e falou de si simples­ mente como um “preparador de caminhos.” Sua missão era tornar mais fácil para as pessoas encon­ trar “Aquele que vem após mim”. E, João acrescen­ tou que ele mesmo não era “digno” de desatar as correias das sandálias dele. O mais importante aqui é que, naquela época, o servo de posição mais baixa na casa tinha a tarefa de curvar-se para desatar as correias das sandálias de um hóspede. João estava dizendo: “Sou um nin­ guém”. Contudo, mais tarde, o próprio Jesus disse que João era maior do que qualquer um dos poderosos profetas do Antigo Testamento! (Mt 11.11) João era um “ninguém” apenas em comparação com aquEIe que ele anunciava, pois este estava muito acima dele. Não consigo pensar em nada mais recompensador do que sermos “preparadores de caminhos” hoje. O “ninguém” que apresenta alguém a Jesus torna-se realmente importante. “Eu não o conhecia” (Jo 1.29-34). A confissão de João é uma das informações adicionais mais inte­ ressantes a respeito de Jesus que podemos encon­ trar na Bíblia. Perceba que João era primo de Jesus e, sem dúvida, o conhecia muito bem. Na verdade, os outros Evangelhos nos dizem que, quando Cris­ to veio a ser batizado, João não queria fazê-lo! A razão é simples. João conhecia Jesus como um judeu verdadeiramente justo e bom. João chamava as pessoas a se batizarem como sinal de arrepen­ dimento pelos pecados e como uma renovação do compromisso com Deus. João não achava certo Jesus “renovar o compromisso” já que Ele estivera comprometido o tempo todo! Mas por que então João não o conhecia? Provavelmente porque João, como todos nós, ti­ nha em sua mente uma imagem de como devia ser

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o Messias. E “um homem verdadeiramente bom” não representava uma característica importante na­ quela imagem. Temos esperança de que as pessoas ao nosso redor se surpreendam ao descobrirem que somos cristãos. Não, não porque tentamos esconder o fato ou dei­ xamos de falar de Jesus. Mas porque não nos ajus­ tamos à imagem retratada na TV e nos filmes, de pessoas de mente fechada, preconceituosas e insen­ síveis, que nunca se divertem e que odeiam ver os outros se divertirem. Que delícia quando alguém diz: “Ah, você é um cristão nascido de novo? Mas você é tão amistoso!” Ou: “Você é um ouvinte tão bom!” Ou: “Você é tão compreensivo!” Ou, o melhor de tudo: “Mas você realmente se importa!” “Eu vi e tenho testificado que este é o Filho de Deus”(Jo 1.34). João cumpriu sua missão em vida preparando as pessoas para conhecerem o Filho de Deus e depois identificando Jesus como o Filho de Deus. Isto também coloca em perspectiva o nosso ministé­ rio de preparação de caminhos. “Eu vi”, João disse. É de pouca ajuda para os outros envolvermo-nos em discussões sobre suas crenças ou sobre a interpreta­ ção de um determinado versículo da Bíblia. O que precisamos fazer é dar testemunho, como João fez, da nossa experiência com a verdade de Deus. Não quero dizer que não devamos compartilhar a Escritura. Quero dizer simplesmente que devemos compartilhar a Escritura por meio da nossa expe­ riência. Um bom amigo meu, o Dr. Paul Johnson, de Seattle, teve um câncer que, anos atrás, ameaçou sua vida. Quando estava recebendo a anestesia antes da cirurgia, Paul sentiu-se caindo, caindo, caindo. E, então, de repente, sentiu-se sendo apanhado e abraçado e percebeu que estava nos braços de Jesus. Paul conta a história hoje não como uma experiência mística, mas como uma ilustração da promessa da Escritura: “Não te deixarei nem te desampararei” (Js 1.5) e, espe­ cialmente, da expressão: “Por baixo de ti estejam os braços eternos” (D t 33.27). A fé de Paul em Jesus lhe trouxe paz e esperança no período mais sombrio da sua vida. Você e eu não precisamos argumentar sobre a Bíblia. Tudo o que precisamos fazer é compartilhá-la e dizer com João: “Eu vi e tenho testificado”. “Vinde e vede” (Jo 1.35-39). João podia dirigir, e di­ rigiu seus seguidores a Jesus. Mas, como hoje, cada pessoa deve descobrir por si mesma quem é Jesus. A curiosidade pode levar alguns a aproximar-se de Je­ sus; uma sensação de necessidade ou desespero pode

mover outros. Contudo, cada pessoa deve então vir e ver por se o cristianismo “funciona”. Cada pessoa deve ter o seu encontro pessoal com Jesus, ouvir os seus ensinamentos, observar as suas ações e respon­ der positivamente à sua voz. Uma das coisas mais importantes que podemos fa­ zer para ajudar alguém que pergunta é encorajálo a ler a Bíblia — especialmente um Evangelho como o de Lucas ou o de João. Podemos fazer isto com confiança. Como Cristo disse para a dupla que o questionou muito tempo atrás: “Vinde e vede!” “A primeira coisa que André fez" (Jo 1.40-42, N TLH ). Isto também segue um padrão básico. O evangelismo é a propagação, não apenas o compartilhamento das Boas-Novas. Muitas vezes, compartilhar a nossa salvação é uma das primeiras coisas que acontecem a nós como novos cristãos. Muitas vezes, a falta de res­ posta dos outros nos surpreende e magoa. Para muitos, uma primeira experiência negativa de­ tém de vez a atitude de testemunhar. Aqui, porém, há uma palavra especial que nos encorajará a continuar compartilhando as BoasNovas de Cristo. André falou de Cristo ao seu irmão, Pedro. E Pedro depois se tornou o prin­ cipal dos apóstolos, o discípulo franco, entusias­ mado e especialmente humano que Deus usou para pregar o primeiro sermão cristão aos judeus (At 2) e aos gentios (At 10— 11) e para escrever duas das epístolas do nosso Novo Testamento. Como isto é encorajador? Desta maneira: Você nunca sabe, ao com partilhar Cristo com al­ guém, quão im portante aquela pessoa pode vir a tornar-se! “Lançou todos fora do templo” (Jo 2.12-14). O fato de João não seguir a cronologia em seu rela­ to dos acontecimentos, torna difícil localizar este incidente. Os outros evangelistas relatam que um incidente similar ocorreu na última semana da vida de Cristo. João, porém, organizou os acontecimentos fora de sequência, para inculcar a sua importância nos leitores. E este acontecimento é verdadei­ ramente significativo. Cristo, que transformou água em vinho, também purificou o templo. Ele expulsou a corrupção e insistiu para que a adora­ ção a Deus fosse santa e pura. Ele também faz isto na nossa vida. Quando transforma, Ele limpa, até que, purificados, exi­ bamos uma santidade que é adequada aos que veneram e honram Deus.

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Talvez seja por isto que João também faça uma Não existe salvação barata. O preço da nossa re­ referência à cruz nesta passagem. O ministério novação foi a morte sacrifical do Filho singular e transformador e purificador de Cristo é custoso. único de Deus.

DE VOCIONAL______

Eu Vi Você! (Jo 1.43-51) Sempre gostei desta passagem, desde quando era um jovem seminarista trabalhando com crianças em ida­ de pré-escolar, e escrevi uma lição baseada nela. Ela ilustra como uma história simples pode comunicar os mais profundos conceitos teológicos. A lição que escrevi chamava-se: “Jesus sempre me vê”. É outra maneira de falar sobre a doutrina da onipresença, que afirma que Deus pode estar e está em toda parte ao mesmo tempo no universo cria­ do. Ele está sempre presente conosco. Ele nos vê o tempo todo. Embora Jesus não exercesse este atributo o tem­ po todo, muitas histórias mostram que Ele tinha ciência de acontecimentos que ocorriam fora do alcance da vista. Por exemplo, Jesus, na Galileia, soube que seu amigo Lázaro morrera em Betânia, na Judeia, perto de Jerusalém (Jo 11). Natanael, evidentemente, preciso na teologia, sabia que não havia como Jesus pudesse vê-lo sob aquela figueira antes da chegada de Filipe, e chegou à conclusão de que Jesus era o Messias, o Filho de Deus. E, natu­ ralmente, Natanael raciocinou corretamente. Nada disto, porém, tinha importância para as crianças para as quais escrevi. Para elas não tinha importância solucionar o mistério da pessoa teantrópica (Deus/Homem). Não tinha importância debater em que medida Jesus renunciou ao exer­ cício dos atributos da Divindade ao assumir a hu­ manidade. Mas tinha importância saber que “Jesus sempre me vê.” Tinha importância saber que, mes­ mo quando mamãe e papai não estavam por perto, Jesus estava olhando por eles. Tinha importância saber que, quer estivessem andando de carro, dor­ mindo no escuro ou brincando na rua, Jesus estava lá e podia ver. Que lição para nós hoje. Sim, a teologia é profun­ da. Mas o relacionamento com Deus é muito mais do que a mais profunda descrição da doutrina. E o nosso relacionamento com Deus pode ser expresso em palavras como simplesmente “Eu vi você”. E pode ser compreendido em termos reconfortantes, como: “Jesus sempre me vê”.

Citação Importante “Em todas as tuas ações, pense que Deus te vê; e, em todas as suas ações esforça-te para vê-lo; isto te fará temê-lo; isto te incitará a amá-lo. O temor a Deus é o princípio da sabedoria e do conheci­ mento, e o conhecimento de Deus é a perfeição do amor.” — Francis Quarles 25 DE AGOSTO LEITURA 237 DEUS AM OU DE TAL MANEIRA João 3 “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna ” (Jo 3.16). João resumiu a conversa de Jesus com Nicodemos no mais famoso versículo da Bíblia: “O resumo do evangelho”, João 3.16. Visão Geral Jesus explicou o que significa “nascer de novo” a um membro importante do Sinédrio (3.1-14). João resumiu o evangelho e definiu o papel críti­ co da fé (w. 15-21). Ele relatou o prazer de João Batista com a crescente popularidade de Jesus (w. 22-30), e comentou a primazia de Jesus Cristo (w. 31-36).

Entendendo o Texto “Havia entre osfariseus um homem chamado Nicode­ mos” (Jo 3-1). Nicodemos nos lembra que, embo­ ra os fariseus em geral estivessem alinhados contra Jesus, havia homens bons e devotos entre eles. Ao longo desta entrevista, Nicodemos permaneceu cor­ tês, apesar de evidentemente intrigado. Referências posteriores a Nicodemos sugerem que ele se tornou um dos seguidores de Jesus (7.45-52; 19.38-43). E um erro julgar os indivíduos apenas pela sua clas­ se social. No tempo de Jesus, a maioria das pessoas tinha respeito intenso pelos fariseus. Jesus mostrou que todos os da sua classe que se opunham a Ele eram hipócritas. Contudo, Nicodemos era honesto no seu desejo de agradar a Deus, assim como mui­ tos outros fariseus que depois se tornaram cristãos Aplicação Pessoal (cf. At 15.5; 23.6). Que a garantia de que Jesus está com você lhe Como João assinalou neste capítulo, a grande linha traga paz. divisória entre os seres humanos não é a raça nem

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a classe, mas se eles creem ou não em Jesus Cristo um incidente do Antigo Testamento. Uma vez, du­ (Jo 3.18). rante o Êxodo, os israelitas desobedeceram a Deus e foram punidos com uma infestação de serpentes “Este foi ter de noite com Jesus” (Jo 3.2). Não deve­ venenosas e de picada fatal. Moisés fez uma serpen­ mos dar muita importância a esta expressão, apesar te de bronze — um símbolo de seu julgamento — de alguns terem sugerido que Nicodemos foi ver e a elevou em um poste. Foi pedido às pessoas que Jesus furtivamente por medo de críticas. As visitas simplesmente olhassem para a serpente, e a vida sociais muitas vezes aconteciam à noite: a maioria lhes foi prometida. das pessoas na Judeia do século I trabalhava duran­ Logo, o próprio Cristo seria erguido em outro te as horas de luz do dia. poste, no Calvário. Sua morte simbolizaria o jul­ O importante é a confissão de Nicodemos: “Sa­ gamento que todos os seres humanos merecem. E, bemos que és mestre vindo de Deus”. Mesmo as desde então, seria pedido a todas as pessoas que poucas curas miraculosas que Jesus operou nos simplesmente olhassem para Jesus e recebessem primeiros estágios do seu ministério foram reco­ a nova vida. Como o autor do hino diz: “Jesus nhecidas pela classe dominante como uma auten­ pagou tudo, e tudo a Ele devo. O pecado dei­ ticação divina. xou uma mancha vermelha. Ele o tornou branco Os milagres de Jesus não produziram a fé em to­ como neve!” dos. Mais tarde, membros do conselho governante condenaram Jesus à morte, a despeito de ter fei­ “Quem crê nele não é condenado” (Jo 3.15-18). to muitos milagres! O que os milagres fizeram foi Aqui, o apóstolo João deixou de lado o relato e fez conseguir ouvintes para Jesus. Eles produziram um o seu comentário. “Deus amou o mundo de tal tipo de “fé prévia”: uma percepção de que aquEle maneira que deu o seu Filho unigénito, para que Homem devia ser ouvido. aquele que nele crê não pereça, mas tenha a Há um milagre que também nos conquista ouvin­ todo eterna.” tes hoje. É o milagre que Deus opera dentro de nós, vida sem dúvida, é o mais famoso versículo da Es­ fazendo de nós pessoas amorosas e interessadas que Este, refletem o interesse de Jesus pelos outros. Este mi­ critura. Ele vincula o que Deus fez ao que nós de­ fazer. Deus ofereceu a vida eterna em Jesus. lagre conquistará ouvintes para o evangelho. Mas vemos Nossa parte é crer. não se surpreenda se a mensagem de Jesus provocar Em João 1.12, o apóstolo definiu “crer” em termos oposição, além de fé. de “receber.” Em João 3.15 “crer” é definido em “Nascer da dgua e do Espírito” (Jo 3.5). O significa­ termos de “arrepender-se”. do desta expressão tem sido longamente debatido, Seguem-se outras imagens neste livro que foi cha­ com alguns insistindo em que “água” se refere à mado de “evangelho da Fé.” Arrepender-se e rece­ água batismal. Refere-se. Mas refere-se também ao ber são aspectos de uma fé verdadeira em Deus. batismo de João, no qual a água era um símbolo de A fé bíblica consiste em deixarmos a confiança em nós mesmos, nos afastarmos de nossos antigos arrependimento. Deus não salva ninguém contra a sua vontade. Em­ caminhos, e nos voltarmos para Deus, crendo em bora o novo nascimento seja uma obra de Deus Deus o suficiente para que abramos o coração ao dentro de nós, Deus não pega ninguém pelo pesco­ Dom que Ele quer nos dar. ço nem os segura enquanto o Espírito instila nova Se você se voltou para Deus e crê na sua promes­ vida! Ninguém consegue dar vida nova a si mesmo, sa de nova vida em Jesus, você tem a vida eterna, mas cada pessoa deve reconhecer os seus pecados, agora! como era simbolizado no batismo de João. Com uma mudança no coração e na mente, devemos “Quem não crêjá está condenado, porquanto não crê” (Jo 3.18). Não pense que Deus condena uma pes­ nos abrir para que Deus opere dentro de nós. E, então, nascemos novamente, da água e do Espí­ soa porque ela não crê. Não é o que João pretende rito. Reconhecemos nossos pecados e nos voltamos transmitir. João diz que uma pessoa “está condena­ para o Senhor. E Ele opera o seu milagre em nós. da” porque não crê. Imagine que você e um amigo estão em uma linha “Como Moisés levantou a serpente” (Jo 3.11-14). Je­ de trem e o trem está se aproximando. Você salta sus revelou a Nicodemos a fonte da sua autoridade fora e vive. Ele não se mexe e morre. Em um sen­ para prometer um novo nascimento: Ele descera do tido, ele foi morto porque não saiu da linha. Isto o céu e, portanto, Ele sabia. Para ajudar Nicodemos teria salvado. Mas, em outro sentido, ele foi morto a compreender o que havia dito, Jesus referiu-se a porque ficou na linha.

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Joáo não estava dizendo que Deus castiga as pes­ soas por não crerem. Ele diz que as pessoas que merecem a punição só podem evitá-la através da fé em Cristo. O pecado coloca as pessoas na linha por onde vem o julgamento de Deus. A fé em Jesus Cristo as tira desta linha e as coloca fora do cami­ nho da condenação. Se elas forem condenadas, não será por não crerem. Mas será porque não creram. Não deixe que as pessoas lhe confundam a respeito disto. Jesus não veio para condenar ninguém. Ele veio para que todos aqueles que creem sejam salvos.

homem pequeno é tentado a sentir orgulho por ser tão humilde. E o cristão que conhece o sucesso está realmente em perigo! João não estava preocupado com as multidões me­ nores que vinham ouvi-lo quando Jesus estava pre­ gando na mesma área. Sua grande alegria era que Jesus crescesse, e que ele diminuísse. A pessoa que está pronta a aceitar um papel, como o de João na vida, se sentirá como João, frequente­ mente “alegre” (v. 29).

“Todas as coisas entregou nas suas mãos” (Jo 3.3136). Novamente, o autor interrompeu o relato para comentar. Por que Jesus merece a prioridade que João Batista reconheceu? Que lista de razões ele deu! Jesus tem prioridade porque Ele está sobre todos (v. 31). Porque Ele vem do céu (v. 31). Porque Ele sabe pela experiência do que está falando (v. 32) — e todos os que aceitam as suas palavras descobrem pessoalmente quão ver­ dadeiro Ele é (v. 33). Jesus tem prioridade porque fala as palavras de Deus (v. 34). Porque Deus lhe dá um suprimento ilimitado do Espírito (v. 34). Porque o Pai o ama (v. 35) e colocou todas as coisas nas suas mãos (v. 36). Porque Ele é a fonte da vida eterna para todos os que creem (v. 36), o único “E necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo caminho para escapar da ira vindoura (v. 36). 3.22-30). Quão grande é a proteção de João contra Este Jesus, que é preeminente, deve ter prioridade a maior tentação do cristão: o orgulho. Mesmo o em nossa vida.

“Os homens amaram mais as trevas do que a luz” (Jo 3.19-21). Por que, quando as pessoas ouvem a Boa Nova do dom da vida eterna de Deus, muitas delas não creem? João disse que elas amam as trevas. Ir ao encontro de Jesus significa arrependimento: signi­ fica admitir que nossos feitos são maus e que preci­ samos nascer novamente. Algumas pessoas sentem repulsa pelo evangelho porque têm medo de que o mal que existe dentro delas seja exposto. Que tolice. E que trágico. Um dia, de qualquer maneira, os feitos de todos os homens serão expos­ tos. E aqueles que não encontraram o perdão em Jesus serão condenados.

DEVOCIONAL___ __ Necessário vos E Nascer de Novo

(Jo 3.3-10) Esta passagem é a origem do que hoje é uma das expressões evangélicas mais repetidas: “Nascido de Novo”. A maioria das pessoas não a compreende realmente, embora as pesquisas mostrem que uma grande porcentagem da população americana afir­ ma ter tido uma “experiência de novo nascimento”. Deparado com ela pela primeira vez, Nicodemos ficou totalmente confuso. Contudo, segundo Jesus, ele devia ter entendido (v. 10). Como “mestre de Israel” este membro do supremo conselho judaico devia ter compreendido o significado das profecias do Antigo Testamento a respeito do novo nascimento. Considere, por exemplo, Ezequiel 36.26,27. Ali, Deus disse: “E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei o coração de pedra da vossa carne e vos darei um coração de carne. E po­ rei dentro de vós o meu espírito e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis”.

Isso é o que significa “nascer de novo”. Significa experimentar um novo nascimento espiritual: co­ nhecer uma transformação interior do coração endurecido pelo pecado; um redirecionamento da vida para Deus. Portanto, quando Jesus diz: “Necessário vos é nas­ cer de novo”, Ele simplesmente quer dizer que, para entrar no seu reino, você e eu devemos dei­ xar que Deus entre em nossa vida, para ali operar como quiser. Quando o fizermos, teremos a vida eterna — agora — e, por meio do milagre do novo nascimento, a nossa vida na terra se tornará revi­ gorada e nova. Aplicação Pessoal Não aceite simplesmente a nova vida em Jesus. Viva-a! Citação Importante “Os eleitos são ‘todos aqueles que querem’; os não eleitos são ‘todos aqueles que não querem’.” — D. L. Moody

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DE AGOSTO LEITURA 238 A M ULHER N O POÇO /oáo 4

“Já não épelo que disseste que nós cremos, porque nós mesmos o temos ouvido e sabemos que este é verdadei­ ramente o Cristo, o Salvador do mundo” (Jo 4.42). O testemunho ajuda. Mas para “sabermos”, temos que ir a Jesus por nós mesmos. Visão Geral Jesus identificou-se para uma mulher samaritana (4.1-26). Ele expressou satisfação por fazer a vontade de Deus (w. 27-34) e falou da colheita que seus discípulos compartilhariam (w. 35-38). Muitos samaritanos vieram ouvi-lo (w. 39-42). De volta à Galileia, Jesus curou o filho de um nobre A mulher samaritana vinha ao poço, mas era ignorada (w. 43-54). pelas outras mulheres. A situação não era usual, pois os momentos em que retiravam água do poço da comuni­ Entendendo o Texto dade eram oportunidades de congraçamento social no “Deixou ã Judeia efoi outra vez para a Galileia” (Jo antigo Oriente. Provavelmente esta mulher, que tinha 4.1-3). Os outros evangelistas concentraram-se no uma vida sexual promíscua (4.16-18), fosse ignorada e ministério de Jesus na Galileia e não mencionaram socialmente excluída em seu próprio vilarejo. Jesus sabia um ministério inicial na Judeia. A popularidade quem e o que ela era, e mesmo assim dedicou tempo a inicial de Jesus deixou os fariseus agitados, levando conduzi-la à fé. Sejamos guiados, em nossos relaciona­ Jesus a retornar à Galileia. João não explicou por mentos, pelo exemplo do nosso precioso Senhor. que Jesus partiu. Enquanto frequentava a Universidade de Michi“Veio uma mulher de Samaria tirar água” (Jo 4.4-9). gan, trabalhei em um hospital psiquiátrico. Duran­ Os samaritanos eram descendentes de povos pagãos te aquele tempo, dei testemunho a outro atendenassentados pelos assírios cerca de 700 anos antes na te, que estava ali em um programa de mestrado. terra que fora parte do antigo Reino do Norte de Depois de partir para o seminário, escrevi-lhe uma Israel. Eles haviam adotado Jeová, que era conside­ carta na qual falei muito pessoalmente — e o insul­ rado o Deus daquela terra, mas conservavam mui­ tei ao ponto de nunca mais ter notícias dele. tas das suas práticas pagãs. A hostilidade centenária Contudo, outra pessoa a quem dei testemunho, um entre os dois povos, cuja religião os judeus viam paciente, respondeu positivamente à abordagem pessoal. Apesar de ter sido superintendente de uma como apóstata, ainda era intensa no século I. Isso explica, em parte, a surpresa da mulher por ter Escola Dominical em uma igreja conservadora, ele um rabino judeu lhe pedido água. A maioria dos compartilhou sua história de anos de alcoolismo e judeus religiosos a veria como impura e se sentiria infidelidade conjugal, e retornou ao Senhor. Tive contaminado por qualquer contato com ela. a alegria — contra a política do hospital — de en­ Precisámos surpreender as pessoas hoje com a nossa trar em contato com sua esposa e ajudar a família a disposição de nos aproximarmos dos “pecadores”. construir uma vida nova e diferente juntos. Neste contexto, Jesus nos ensina que Deus não Em um caso, a abordagem pessoal levou alguém a chama nenhuma pessoa de impura, e que o devoto bater a porta na minha cara; em outra, à reconstru­ não é contaminado por ministrar aos pecadores. ção de vidas partidas. Eis o que há de tão poderoso em sermos abertos “Vai, chama o teu marido e vem cá” (Jo 4.16). A ins­ e pessoais no nosso testemunho. A medida que trução era socialmente correta. Naquela cultura, ne­ construímos um relacionamento, tornamo-nos nhum rabino conversaria com uma mulher sem a rupturas pessoais das barreiras de superficialidade presença do marido. Mas Jesus tinha outro propósito que as pessoas erigem para se isolarem. Precisamos em mente. Ele queria ir além da mera conversa (w. de sabedoria do Senhor para saber como e quando 10-15) para tocar as suas emoções mais profundas e tentar a investida. E, às vezes, a abordagem pessoal levá-la a encarar a sua necessidade de redenção. será repelida. Contudo, precisamos ajudar as pes­

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soas a lidar com a questão básica da vida, da qual o O que Jesus disse mostra-nos como encontrar evangelho fala tão poderosamente. aquilo que a Constituição da nossa nação garante que podemos buscar: a felicidade. Jesus encontrava “O Pai procura a tais que assim o adorem” (Jo 4.19- a sua satisfação mais profunda em fazer a vontade 26). A mulher tentou mudar de assunto suscitando do Pai. uma distração teológica (v. 20). Esteja alerta, pois, E assim será conosco. quase todas as vezes que você tocar o coração de uma pessoa, ela tentará desviar o assunto para a teologia! “Estão brancas para a ceifa” (Jo 4.35-38). O campo Jesus não se deteve. Deixou a pergunta de lado e de Deus está perpetuamente maduro. Cada dia é insistiu na questão. Deus é Espírito e busca ado­ o “hoje” quando alguém acolhe o evangelho e en­ radores que venham a Ele em espírito e verdade contra a salvação. (v. 24). É melhor compreender estas palavras como Sua parte pode ser semear a semente. Ou encorajar uma promessa. Deus está procurando adoradores. o seu crescimento. Ou talvez fazer a ceifa de uma Tudo o que Ele pede é que voltemos nossos co­ colheita na qual outro trabalhou. Não importa. rações para Ele e que caminhemos para Ele sem Sempre que uma pessoa é colhida para o reino de Deus, todos se regozijam. fingimentos. A mulher no poço conhecia bem a verdade sobre si: ela era uma pecadora. Deus também sabia e ainda “Nós mesmos o temos ouvido” (Jo 4.39-42). Quando assim buscou-a como adoradora! Ela enfrentaria a estava na faculdade, vendi enciclopédias por algum tempo. Estava entusiasmado quando comecei e verdade sobre si e iria a Deus como era? Que maravilhosa promessa para compartilhar com vendi 11 nas minhas treze primeiras apresenta­ os outros. Deus está procurando você! Ele está bus­ ções. cando adoradores! Venha como estiver, não tentan­ Então, porém, comecei a pensar sobre o que estava do esconder suas falhas. Volte seu coração para o dizendo enquanto seguia o roteiro da apresentação. E percebei que boa parte do que eu estava dizen­ céu, onde Deus está à sua espera. do simplesmente não era verdade. Depois daquilo, “Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem ”(Jo apesar de continuar tentando por algum tempo, 4.25,26). Esta mulher, que afirmava não saber a di­ não consegui vender mais nada. ferença entre o monte Sião, onde os judeus adora­ Eis uma coisa que é tão empolgante no apresentar vam, e o monte Gerizim, onde o seu povo ia, sabia Jesus aos outros, como fez a mulher samaritana. de uma coisa: Deus prometera enviar um Salvador, Podemos compartilhar com entusiasmo, pois os benefícios prometidos por Deus estão assegurados. e Ele teria todas as respostas! E tudo que precisamos saber hoje. Não é a nossa Quem quer que venha ver por si mesmo será salvo. perspicácia teológica que nos salva. Não é o nosso domínio de textos obscuros do Antigo e do Novo “Um oficial do rei” (Jo 4.43-54). Os historiadores Testamento. É a simples fé de que Deus enviou um observam que Herodes tendia a recrutar gentios como funcionários reais e, portanto, sugerem que Salvador e que Ele tem as respostas. Você e eu queremos estudar e crescer na nossa fé. este homem era um deles. Se for assim, os três rela­ Mas tudo que precisamos saber quando começa­ tos encontrados em João 3 e 4 prefiguram a difusão mos cada dia é que Deus nos enviou nosso Salva­ do evangelho: para Nicodemos, um fariseu, judeu dor. E Ele tem as respostas de que precisamos para (At 2.4) — para a mulher no poço, uma samarita­ viver a nossa vida em Deus hoje. na (At 8) — e para o oficial do rei, um gentio, que representam o mundo inteiro (At 10— 11; 13ss). “Uma comida tenho para comer, que vós não conhe­ Se for assim, estas três pessoas representativas ilus­ ceis” (Jo 4.27-34). Quando os discípulos retorna­ tram o tema de João. Deus deu o seu Filho para ram, a mulher estava indo embora. Eles insistiram que o mundo inteiro pudesse conhecer a salvação. para que Jesus comesse algo. E não entenderam sua A expressão “Todo aquele que nele crê...” inclui to­ das as pessoas (Jo 3.16). resposta.

DE V OCIONAL______ O Dilema da Fé

(Jo 4.43-54) Ninguém jamais disse que ter fé era fácil. Certa­ mente, o apóstolo João não o disse. Na verdade, esta narrativa demonstra quão difícil ela é.

Basta olhar rapidam ente a história para ver, antes de mais nada, um pai apavorado apres­ sando-se para encontrar Jesus. Seu filho esta­ va à m orte, e o único que poderia salvá-lo era Jesus!

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Quando finalmente encontrou Jesus, Cristo não pareceu muito solidário. “Se não virdes sinais e mi­ lagres”, Ele disse: “não crereis”. A declaração não era uma admoestação. Jesus não questionou os mo­ tivos do pai apavorado. Na verdade, a declaração pretende estimular a fé! Pois quando o pai implo­ rou-lhe novamente que viesse, Jesus simplesmente disse: “Vai, o teu filho vive” (v. 50). Este é o dilema da fé. Deus, em resposta aos nossos apelos desesperados, fala-nos e diz: “Vai”. Em outras palavras, “Está fei­ to. Vá para casa e encontrará o doente curado.” E o que nos resta fazer? Se continuarmos a implorar que Jesus venha a nós, exibiremos uma incredulidade. Mas ir significa voltar para casa sem nenhuma prova de que a cura prome­ tida ocorreu! Que escolha aterradora. Continuamos a pedir depois de Jesus dizer “Vai”? Ou partimos, tremendo, acreditando apesar da falta de prova? O oficial do fez a escolha da fé. No caminho, men­ sageiros entusiasmados o encontraram. Seu filho estava se recuperando. A febre cedera — na hora exata em que Jesus lhe dissera “Vai”. A fé ainda é a mesma coisa. Vamos a Deus desespe­ rados por salvação. E tudo o que Ele diz é: “Vai”. O trabalho está feito, a cura realizada. E, apesar da falta de provas, se formos sábios voltamos, na fé, e vamos embora, como Jesus disse. Mais tarde, porém, descobrimos, para nossa ale­ gria, quão completamente Jesus operou o seu mi­ lagre interior.

sua Divindade (w. 16-18) e explicou seu relaciona­ mento com Deus Pai (w. 19-30). E Ele identificou cinco testemunhas que sustentavam sua afirmação (w. 31-47).

Entendendo o Texto “Queres ficar são?” (Jo 5.1-6). O tanque de Betesda era um ponto de encontro de enfermos, que es­ peravam beneficiar-se de suas águas curativas. João concentrou-se em um homem que estivera para­ lisado durante a maior parte da vida. Embora a história não seja simbólica, a situação e o diálogo entre Jesus e o homem estão cheios de implicações para nós. Considere a pergunta de Jesus: “Queres ficar são?” Podemos responder pelo homem: “Claro!” Mas pense a respeito. Durante cerca de trinta e oito anos, o paralítico vivera uma vida dependente. Vi­ vera mendigando, pois não podia trabalhar e ga­ nhar dinheiro. Se fosse curado, quem lhe daria ali­ mento? No judaísmo, era considerado um grande feito dar esmolas aos incapacitados. Mas não para os capazes, dos quais se esperava que trabalhassem! Ser curado podia muito bem significar que o ho­ mem teria de cuidar de si mesmo. Portanto, a per­ gunta era pertinente. E uma pergunta que temos de fazer a nós mesmos como cristãos. Queremos que Cristo cure as áreas de nossas vidas em que fomos prejudicados? Ou queremos continuar a sentir raiva e ressentimen­ to, ou amargura, mágoa e traição? Muitos cristãos agarram-se firmemente às coisas que os paralisam espiritualmente. Cristo pode curar-nos destas coi­ Aplicação Pessoal sas. Mas, se Ele o fizer, ficaremos sem desculpas Creia. E vá. para as escolhas que fizermos no futuro — e para Citação Importante as escolhas que fizemos no passado. Não seremos “E o coração que percebe Deus, não a razão. E isso mais capazes de nos iludir e lamentar: “Não tenho que é fé. Deus perceptível ao coração, não à razão.” culpa pela minha vida: a culpa é dos outros”. Portanto, a pergunta de Jesus ecoa no nosso hoje: — Blaise Pascal “Queres ficar são?” 27 DE AGOSTO LEITURA 239 “Não tenho homem algum que... me coloque no tan­ TESTEMUNHAS DE JESUS que” (Jo 1.7-9). O homem não respondeu a per­ João 5 gunta de Jesus. Em vez disso, ofereceu uma des­ “Eu tenho maior testemunho do que o deJoão, porque culpa. “Sou sozinho. Não tenho ninguém. Não há as obras que o Pai me deu para realizar, as mesmas ninguém aqui para me ajudar.” obras que eu faço testificam de mim, de que o Pai me Certamente podemos sentir pelo paralítico. Ao enviou” (Jo 5.36). longo das décadas, a família na qual nascera havia morrido. Os amigos o tinham abandonado. Se ele Os que rejeitam a Cristo o fazem apesar das provas, tivera mulher ou filhos, eles também haviam par­ não por causa delas. tido. E, de certa maneira, por ser paralítico, nunca poderia se aproximar muito de ninguém. A sua li­ Visão Geral mitação física também limitava a sua amizade. Jesus curou um paralítico no tanque de Betesda Contudo, embora o que o homem dissesse fosse (5.1-15). Jesus respondeu aos críticos afirmando verdade, isto também era uma desculpa. “Não te­

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nho homem algum que...” significa “Não posso ajudar a mim mesmo”. E também significa: “Deus tampouco está aqui para trabalhar por mim.” Jesus não deu atenção à desculpa. Ele disse ao ho­ mem: “Levanta-te... e anda”. Imediatamente a cura foi operada e ele se levantou e andou. E assim conosco hoje. Jesus não vem a nós com uma solidariedade piegas, que aceita todas as nos­ sas desculpas, nem geme dizendo “coitado...” em harmonia conosco. Ele vem a nós com uma men­ sagem de vida e vitalidade. Sua mensagem para nós é “Levanta-te... e anda!” Em Cristo, a cura é nossa. Em Cristo, realmente temos alguém. Não alguém para nos arrastar de um lado para o outro num tapete. Mas alguém que possa trazer vida aos nossos membros e que, portanto, ordene: “Levanta-te... e anda”. O homem obedeceu. E, ao obedecer, experimen­ tou a cura que o precioso e bendito Senhor tinha para ele. Quantos de nós fomos realmente curados por Jesus Cristo, mas, por não obedecermos a sua ordem: “Levanta-te... e anda”, nunca experimentamos a cura? A obra de Deus em nossa vida é realizada apenas por Deus e pela graça. Mas só é experimen­ tada quando obedecemos.

“E sábado, não te é lícito levar a cama” (Jo 5.1-14). No Evangelho de João, “os judeus” é o nome de João para os fariseus e os especialistas na lei escrita e oral de Israel, que foram os principais oponentes de Cristo. Embora o termo seja pejorativo, não é antissemita em nenhum sentido. Portanto, foram “líderes espirituais” que atacaram o paralítico curado por carregar sua cama no sába­ do. O ato não era uma violação do Antigo Testa­ mento em si, mas uma violação das regras rabínicas que guiavam a prática judaica no século I. O paralítico curado tinha uma resposta para seus críticos. “Aquele que me curou, ele próprio disse: Toma a tua cama e anda.” A estrutura eclesiástica não fizera nada para restaurar a saúde do paralítico. Ele obedeceria Aquele que o curara. Quando John Wesley começou a pregar uma men­ sagem evangélica na Inglaterra, a igreja estabelecida ficou escandalizada. Logo Wesley teve negado o aces­ so aos púlpitos das igrejas — e, portanto, começou a pregar ao ar livre. Durante 50 anos, Wesley percorreu as Ilhas Britânicas e centenas de milhares de pessoas vieram a conhecer o Salvador. Wesley, como o paralí­ tico, é um exemplo de pessoa que não se deteve pela oposição da estrutura eclesiástica. Ele também estava determinado a obedecer Àquele que o curara. E assim que todos nós devemos agir.

“Meu Pai trabalha até agora” (Jo 5■16,17). Quando os líderes judeus criticaram Cristo por curar no sá­ bado, Ele deu uma resposta fascinante. Deus não interrompe suas atividades no sábado! As leis naturais continuam a operar. Se uma pes­ soa se fere, a cura começa naquele momento. Ao curar o paralítico, Jesus estava agindo em com­ pleta harmonia com a maneira como Deus, seu Pai, opera! Quantas vezes a “religião” complica o simples e confunde os regulamentos humanos com as ope­ rações da graça de Deus. Confiemos em Jesus e respondamos espontaneamente às necessidades dos outros. Em quase todos os casos em que “re­ gras religiosas” seriam um obstáculo a tal resposta, elas são tão contrárias à piedade quanto as regras rabínicas do século I que dispunham sobre a obser­ vância do sábado. “Dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (Jo 5.18-30). A resposta de Jesus enfureceu “os judeus” (isto é, os líderes religio­ sos) . Eles entenderam que Ele afirmava igualdade com Deus. E foi o que Ele fez! Nas suas palavras seguintes, Jesus passou a definir sua relação com seu Pai! Ontem, duas testemunhas de Jeová apareceram na nossa porta com um panfleto da “Despertai.” Minha esposa gritou da sala: “Nós somos cristãos. Não queremos”. Um dos dois respondeu: “Nós somos cristãos tam­ bém. Acreditamos em Jesus Cristo como nosso Salvador”. Até ali tudo bem. Mas a próxima pergunta a ser respondia é: “Qual Jesus?” Há muitos “Jesus” em voga hoje. Há o “bom ho­ mem Jesus”, que foi incompreendido e morto e cujos ensinamentos ainda são maravilhosos. Há o “Jesus da libertação”, que chama os oprimidos a pegar em armas e matar seus opressores. Há o “Je­ sus rabino judeu”, que nunca pensou em si como Deus e mais tarde foi chamado por um título que Ele odiaria pelos seus seguidores — especialmente Paulo. Há o Jesus que é “um deus” de várias seitas, que é uma espécie de anjo superior ou ser huma­ no elevado a um plano espiritual superior. E há o Deus Jesus do Evangelho de João, que é igual a Deus em natureza, e que, desde o princípio, foi Deus e é Deus. Aqui, nestes versículos, nas próprias palavras de Cristo, como relatadas por João, está o Jesus da Escritura. Ele é: w. 17,18: igual a Deus Pai v. 18: o Filho, não idêntico ao Pai, mas um com Ele

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dos primeiros credos da igreja, o Credo de Niceia, expressa assim: Creio em... Um Senhor Jesus Cristo, filho uni­ génito de Deus, gerado do seu Pai antes de to­ dos os mundos, Deus de Deus, Luz da Luz, o próprio Deus de Deus, gerado, não criado, sen­ do de uma essência com o Pai, pelo qual todas as coisas foram feitas; que por nós, homens, e por nossa salvação desceu do céu e fez-se carne pelo Espírito Santo, nascendo da virgem Maria, e foi feito homem, e crucificado também por nós sob Pôncio Pilatos. Sofreu e foi sepultado e no terceiro dia ressuscitou segundo as Escritu­ ras, e subiu aos céus, e está assentado à direita do Pai; e Ele virá novamente com glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não Realmente faz diferença em qual Jesus acredita­ terá fim. mos. Quão maravilhoso é saber que o Jesus no Este é o Jesus da Bíblia. Este é o Jesus no qual cre­ qual acreditamos é o eterno Filho de Deus. Um mos!

v. 19: aquele que está em total harmonia com o Pai em todas as suas obras, e é submisso à sua vontade v. 20: amado pelo Pai, com pleno conhecimento dos seus planos e propósitos v. 21: dotado de poder pelo Pai e capaz de dar vida como o Pai fez e faz v. 22: investido de autoridade para julgar v. 23: igual em honra ao Pai v. 24: determinador do destino humano: o objeto de uma fé que transfere do domínio da morte para o da vida v. 25: capaz de ressuscitar os mortos v. 26: alguém que, como o Pai, não foi criado, e tem vida em si mesmo v. 27: Como Filho do homem, Deus encarnado

DEVOCIONAL_______ O Julgamento de Jesus

(Jo 5.31-47) Todo Natal a TV reprisa Miracle on 34th Street (“O Milagre da Rua 3 4 ”). Você conhece a história. Um homenzinho alegre vai trabalhar como Papai Noel em uma loja de departamentos e revela-se que ele é o verdadeiro Papai Noel. Percebido por gente má, ele é levado a julgamento, e o herói “prova” que é Papai Noel fazendo carteiros entregarem sacolas de cartas para “Papai Noel” no tribunal. Bonito. Só que o caso aqui está mais ligado a manobras judi­ ciais do que a sólidas evidências. De certa maneira, porém, a história é paralela à Escritura. Ali, surge um jovem que cura e opera milagres. Ele entra em conflito com líderes religio­ sos maus, é perseguido e afirma ser o “verdadeiro” Deus de Israel! Mas, desta vez, não há manobra judicial. Ele realmente tem testemunhas para sus­ tentar a sua afirmação! Na verdade, nesta passagem de João, Jesus apresentou cinco testemunhas da sua divindade! A primeira testemunha (v. 31) foi o próprio Jesus. Embora o autotestemunho não fosse válido nos tri­ bunais judaicos, o testemunho de Jesus valia, pois Ele sabia “de onde vinha e para onde ia” (8.14). A segunda testemunha (5.32-35) é João Batista. João ouvira a voz de Deus falar e, então, o espírito descer. E João contou aos seus discípulos que Jesus era o Filho de Deus (1.19-34). A terceira testemunha (5.36) foram os milagres operados por Jesus (cf. 10.25— 14.11). O Evan­ gelho de João relaciona sete, cada um deles mos-

trando o poder de Cristo em uma área diferente da vida (transformar a água em vinho, 2.1-11; curar o filho do oficial, 43-54; curar o paralítico, 5.1-15; alimentar a multidão, 6.1-14; andar sobre as águas, w. 16-21; curar o cego, 9.1-41; ressuscitar Lázaro, 11.1-44). Cada um era um sinal que demonstrava o poder de Jesus e a sua autoridade, e, juntos, eles autenticavam suas afirmações de divindade. A quarta testemunha (5.37,38) é o próprio Pai, falando por meio de Jesus e de seus milagres, mas sendo distinto das obras miraculosas de Jesus. A quinta testemunha (w. 39-41) é a Escritura, pois a Lei e os Profetas previram a vinda de Jesus e des­ crevem o seu ministério. Para aqueles que efetivamente ouviram Jesus falar, a quinta testemunha era a mais reveladora. Pois se os judeus ao menos acreditassem em Moisés, teriam reconhecido Jesus e acreditado nEle, assim como acontece conosco, hoje; acreditamos na Palavra de Deus, aceitamos o seu testemunho, e, por meio das Escrituras, chegamos a um conhecimento salvador de Jesus Cristo. Aplicação Pessoal Podemos confiar naquilo que a Palavra declara a respeito da própria Palavra. Citação Importante “Seria melhor não ter nenhuma opinião a respeito de Deus, do que ter uma que não seja digna dEle; pois a primeira é apenas incredulidade — enquan­ to a outra é desprezo.” — Plutarco

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28 DE AGOSTO LEITURA 240 O PÃO DA VIDA João 6

“O pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo” (Jo 6.33). A participação em Cristo como fonte e sustento da vida eterna é a nossa garantia do céu. Contexto Pão. O pão era o alimento básico na Palestina. Era tão básico na dieta que “pão”, na Escritura, é sinô­ nimo de “alimento”, aquilo que sustenta a vida fí­ sica. O pão da vida dos abastados era feito de trigo; o dos pobres era de cevada. Ricos e pobres, porém, viam o pão como o elemento básico da dieta diá­ ria. Era tarefa da mulher moer o grão diariamente, misturá-lo com água e azeite e cozer o suprimento diário de pão. O pão era cozido de várias maneiras: dentro de um forno parecido com uma colmeia, ou na forma de bolos planos em seus lados. Jesus não poderia ter encontrado uma maneira mais vigorosa de afirmar que Ele era a fonte e o sustento da vida espiritual, do que se comparando ao pão que sustentava a vida física de seus ouvintes.

resultados, acabamos dizendo: “Bem, acho que é impossível. Certamente é um trabalho muito gran­ de para a nossa pequena congregação!” João, porém, observa que Jesus “bem sabia o que havia de fazer” (6.6). Quando vemos uma necessidade, o que precisamos fazer não é um levantamento, mas, em oração, buscar a maneira como Jesus pretende que ela seja satisfeita.

“Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada” (Jo 6.7-15). André adotou uma abordagem diferen­ te. Fez o levantamento dos recursos disponíveis e os ofereceu a Jesus. Não havia muito. Com certeza não o suficiente para alimentar 10.000 pessoas! Ou, pelo menos, era o que parecia. O milagre da alimentação da multidão, com a sobra de 12 cestos cheios, lembra-nos de que Deus é capaz de multiplicar quaisquer recursos que possamos ter — contanto que o ofereçamos a Ele. Não é o que temos que conta, mas o que Deus pode e fará com o que temos!

Visão Geral Jesus alimentou uma multidão com alguns pães e peixes (6.1-15). Naquela noite, os Doze o viram andar sobre as águas (w. 16-24). Quando as mul­ tidões o viram exigiram um sinal (w. 25-31), mas foram exortados a alimentar-se dEle como o “Pão da Vida” (w. 32-59). Muitos dos que o seguiam o abandonaram neste ponto, mas os Doze perma­ “Um grande vento assoprava” (Jo 6.16-24). Brisas neceram convencidos de que Ele é “O Santo de noturnas ainda levantam fortes ondas ao anoitecer no Mar da Galileia entre Betsaida e Cafarnaum. Os Deus” (w. 60-71). discípulos, arremetendo contra o vento, avançavam devagar: três milhas e meia é apenas a metade do Entendendo o Texto “Onde compraremos pão, para estes comerem?" (Jo caminho (cf. Mc 6.47). 6.1-7). Os milagres de Jesus atraíram a Ele as mul­ Os discípulos viram uma forma andando sobre as tidões. João selecionou uma ocasião, perto de uma águas na direção deles, e, no princípio, ficaram as­ celebração da Páscoa, quando cerca de 10.000 vie­ sustados com o que pensaram ser um fantasma. Mas ram. (João mencionou 5.000 “homens”, mas Ma­ eles reconheceram a voz de Jesus e o receberam a teus nos diz que também havia um grande número bordo. O texto diz: “Logo o barco chegou à terra de mulheres e crianças, de modo que 10.000 é uma para onde iam” (cf. Jo 6.21). Este foi um “milagre particular”, testemunhado ape­ estimativa conservadora: M t 14.21.) Jesus chamou a atenção de Filipe para a multidão e nas pelos discípulos. Como tal, ajudou a construir perguntou como eles podiam ser alimentados. Fili­ sua crescente fé em Cristo, para que permanecessem pe fez um levantamento rápido e voltou com esta­ fiéis mais tarde, apesar de não entenderem tudo que tísticas: “Duzentos dinheiros de pão não lhes basta­ Ele dizia. Mas há um lembrete especial para nós na rão, para que cada um deles tome um pouco!” história. Como os discípulos, muitas vezes nos ve­ Filipe me lembra muita gente nos ministérios mos trabalhando arduamente sem avançar muito. modernos. Vamos fazer um levantamento. Vamos Contudo, Jesus está por perto, por mais fortes que colher dados. E, muitas vezes, quando chegam os sejam os ventos que nos açoitam. Precisamos reco-

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nhecê-lo, convidá-lo, e nos envolvermos com Ele. A razão para a identificação foi o fato de Jesus ter Podemos não alcançar a margem “imediatamente.” alimentado a multidão. Moisés forneceu maná a Is­ rael durante o período do Êxodo. Jesus alimentou as Mas encontraremos forças para resistir. multidões. Talvez Ele fosse outro Moisés! “Porque comestes do pão e vos saciastes” (Jo 6.25-29). Quando Jesus conclamou a multidão a simplesmente As multidões que Jesus alimentara ficaram surpre­ crer nEle, porém, eles exigiram um “sinal do céu”. Sus­ sas ao encontrá-lo em Cafarnaum. Haviam estado peito que isto era mais manipulação do que dúvida. à procura. Mas pela razão errada. Jesus saciara sua Moisés deu a Israel pão do céu — por 40 anos! Jesus fome física. Eles o buscavam por causa do que Ele forneceu uma refeição miraculosa suficiente para ali­ podia fazer para satisfazer necessidades materiais. mentá-los por uma tarde. Talvez, ao exigir um sinal, a Muita coisa no nosso relacionamento com Jesus nação inteira poderia “continuar a viver sem trabalhar” continua a ter raízes no materialismo. Confiamos por décadas! nEle com a esperança de que Ele nos mantenha sau­ Jesus, porém, veio para fornecer o “verdadeiro” pão. dáveis. Ou de que nos arranje um emprego. Alguns A palavra alethinos significa “genuíno” ou “original”. até oram ao Senhor pedindo os números da loteria! O pão material sustenta a vida física. Mas os seres Ou mandamos dinheiro para os evangélicos da mí­ humanos não são meramente animais. O verdadeiro dia que prometem que Deus nos recompensará cem pão deve sustentar a vida interior que contínua a exis­ vezes mais. Se R$10 vai lhe render R$1.000 por que tir quando a vida biológica termina. E Jesus é a única não mandar R$1.000 e conseguir R$100.000 — ou fonte desta vida. Nunca encontraremos satisfação se a nossa vida estiver pelo menos uma vida de férias gratuitas! Não estou dizendo que Deus não se importa com as centrada apenas no mundo material. Jesus é o verdadei­ nossas necessidades materiais. Deus se importa. E Ele ro pão porque Ele satisfaz aquele aspecto da natureza as satisfaz ao nos fornecer o nosso “pão de cada dia”. humana que transcende o material e é eterno. Jesus não O fato é que Deus se importa mais com as nossas ne­ é apenas “pão”. Ele é o “Pão da Vida”. Nossos verdadei­ cessidades espirituais: as necessidades verdadeiramen­ ros eus são alimentados e sustentados apenas por aque­ la fé nEle que se apropria do que Ele oferece. te vitais e importantes que todo ser humano tem. Enquanto buscarmos “usar” o relacionamento com Deus para conseguirmos bênçãos materiais, per­ “Muitos dos seus discípulos tomaram para trás e já não deremos as bênçãos espirituais que Ele fornece tão andavam com ele” (Jo 6.60-71). A palavra “discípulo” é usada de várias maneiras nos Evangelhos. Aqui, ela abundantemente. significa simplesmente “aquele que adere”; alguém que “A obra de Deus é esta” (Jo 6.28,29). O irmão gêmeo se ligou frouxamente a Jesus e que o seguia. do materialismo é visto aqui nestes versículos. E a Quando Jesus falou de si como o Pão do céu e falou tola suposição de que, seja o que for que Deus possa simbolicamente de comerem a sua carne e beberam o seu sangue, aquele “duro discurso” fez muitos “discípu­ exigir, nós podemos fazer. Jesus tinha a resposta definitiva. A verdadeira obra los” tornarem para trás. Eles não conseguiam entender de Deus é simplesmente crer naquele que Deus en­ que Jesus queria dizer aceitá-lo como uma pessoa aceita viou. Não podemos fazer, por nós mesmos, as obras uma refeição: confiando que é saudável e de valor, e co­ que Deus requer. A nossa única esperança é depen­ mendo-a para ser assimilada como parte de nosso ser. Os Doze, os seguidores mais próximos de Jesus, sem der do que Cristo fez. dúvida tampouco compreendiam. Mas, quando lhes “Nossos pais comeram o maná no deserto” (Jo 6.30- foi perguntando se também partiriam, Pedro respon­ 36). Anteriormente, João relatou que aqueles que deu: “Nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, Jesus alimentou começaram a considerar que Jesus o Filho de Deus”. era “o profeta que devia vir” (v. 14). A referência é a Não entendemos tudo. Mas “cremos e conhecemos a Deuteronômio 18, onde Moisés fala de um Profeta Ti”. como ele, que falaria as palavras de Deus a Israel e Isto é o cristianismo na sua essência. Crer e conhecer que não seria ouvido pelo povo judeu. a Jesus Cristo.

DE V OCIONAL______ Garantia: AVontade do Pai

que criam. O sermão oferece a garantia do próprio (Jo 6.39-59) Jesus de que temos a vida eterna, agora. O sermão sobre o Pão da Vida realmente confun- Conversei com pessoas que “têm esperança” de tediu os que tinham dúvidas. Mas confirmou a fé dos rem a vida eterna. Falei com pessoas que “confiam

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que terão” a vida eterna. E falei com pessoas que fi­ cam zangadas e insistem que é presunção afirmar ter a vida eterna agora. “Como você pode saber antes de morrer?”, perguntam alguns. Outros dizem: “O que faz você pensar que é tão melhor que eu?” O fato, porém, é que Jesus falou sobre a questão da garantia. Ele quer que saibamos, agora, que a vida eterna é nossa. Ponto final. Jesus disse: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (v, 37). No mesmo versículo Ele nos lembra que o poderoso convite de Deus nos levou, em primeiro lugar, a nos mover. Tendo res­ pondido a Deus, Ele nos manterá seguros, para sempre. Jesus prosseguiu e falou da vontade expressa de Deus. “A vontade do Pai, que me enviou, é esta: que nenhum de todos aqueles que me deu se per­ ca”, e Jesus prosseguiu: “mas que o ressuscite no último Dia. Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: que todo aquele que vê o Filho e crê nele tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último Dia” (w. 39,40). Um pouco depois, Jesus disse: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna” (v. 47). Ele não diz “terá.” Nem “pode ter.” Nem “talvez tenha.” Ele disse “tem.” E, finalmente: “Quem de mim se alimenta tam­ bém viverá por mim” (v. 57). Portanto, se você foi a Jesus e crê nEle, não seja um cristão duvidoso. Jesus diz que você tem a vida eterna. E você pode crer na sua Palavra. Aplicação Pessoal Garantia não é presunção; é promessa. Citação Importante “John Wesley, fundador do metodismo, recebeu este testemunho em um encontro na Aldersgate Street, Londres, enquanto ouvia alguém ler o Prefácio de Lutero à carta aos Romanos. “Uns quinze minutos antes das nove, enquanto estava descrevendo a mudança que Deus opera no cora­ ção, por meio da fé em Cristo, senti meu coração estranhamente aquecido. Senti que realmente cria em Cristo, e apenas em Cristo, para a salvação. E, uma garantia era dada a mim de que Ele tirara de mim os meus pecados, sim os meus, e me salvou da lei do pecado e da morte” (Diário de Wesley, 24 de maio de 1738). “Para alguns, esta confiança surge gradualmen­ te. Para outros, é uma descoberta repentina no momento de Fé. CADA UM DE NÓS PODE TER A CERTEZA DE NOSSA ACEITAÇÃO JU N TO A DEUS” — “Four Great Emphases of United Methodism.”

DE AGOSTO LEITURA 2 INCERTEZA João 7 “Havia grande murmuração entre a multidão a respeito dele. Diziam alguns: Ele é bom. E outros diziam: Não; antes, engana opovo”(Jo 7.12). Em meio à incerteza crescente, surge uma verdade bási­ ca. Todos nós devemos ouvir a Jesus e decidir. --Í-i--

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Visão Geral Jesus juntou-se anonimamente às multidões na Festa dos Tabernáculos, quando a especulação sobre Ele tor­ nava-se febril (7.1-13). Seu ensinamento público susci­ tava oposição (w. 14-24) e debates quanto à sua verda­ deira identidade (w. 25-44). Os governantes, porém, continuavam antagônicos e descrentes (w. 45-52). Entendendo o Texto “Não há ninguém que procure ser conhecido” (Jo 7.1-4). Estas palavras dos irmãos de Jesus estão cheias de sarcas­ mo. Elas imputam motivos desprezíveis a alguém que só queria fazer a vontade do Pai. E elas parecem lançar dúvidas também sobre os milagres de Cristo. Zombe­ teiros, os irmãos disseram que Jesus devia ir à Judeia e juntar-se às festividades, para que todos pudessem tes­ temunhar seus milagres em vez de simplesmente ouvir rumores sobre eles. A incredulidade tem o hábito de imputar os piores motívos aos melhores atos. As obras de compaixão de Cristo — suas curas e o dar de comer a uma multidão faminta— eram descartadas como atos de publicidade de um homem faminto por reconhecimento. Jesus en­ controu apenas ceticismo e sobrancelhas erguidas em sua própria família! Não se surpreenda se as coisas que você fez para servir ao Senhor forem também mal entendidas. E não deixe que os ataques velados daqueles que deviam apoiá-lo o detenham. Como Jesus, você e eu servimos ao Senhor e buscamos agradá-lo. Se o que fazemos é motivado por um desejo de servir ao Senhor, o que os outros pensam é irrelevante. Deus conhece os nossos corações.

“Nem mesmo seus irmãos criam nele” (Jo 7.5). Há uma nota de encorajamento aqui, no fato de que podemos corretamente acrescentar a expressão “na ocasião.” Mais tarde, os irmãos de Cristo realmente creram, e estavam com o pequeno grupo de crentes quando o Espírito desceu naquele primeiro dia de Pentecostes (At 1.14). Continue a servir ao Senhor. Com o tempo, mesmo os seus críticos entenderão. “Ainda não é chegado o meu tempo” (Jo 7.6-13). Os propósitos de Jesus não eram políticos, mas espiritu­ ais. As multidões já haviam tentado “arrebatá-lo, para o fazerem rei” (6.15). Havia a distinta possibilidade

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Descobrimos a verdade da Escritura não pelo intelecto, mas pela obediência. A abordagem da vida espiritual pelo homem sempre foi aprender para poder fazer. A fórmula divina é: “Faça para poder saber”.

de que, se Cristo fosse à festa publicamente, com nu­ merosos grupos de discípulos saudando-o ao longo do caminho, um populacho ansioso por livrar-se do jugo romano explodiria em uma rebelião espontânea. Este cenário não é mera especulação. A história do tempo revela que várias rebeliões e revoltas conduzi­ das por falsos messias já haviam acontecido! As figuras políticas modernas percebem que a maio­ ria dos seus adeptos quer na verdade usá-los em vez de segui-los. Daí as pesquisas. O candidato examina cuidadosamente a força dos sentimentos “pró-vida” e “pró-escolha” em seu distrito, ou vai à assembleia religiosa e anuncia seu apoio a um projeto de lei que garanta os direitos das escolas cristãs. Os apoiadores aplaudem. Votarão nele porque ele apoiará sua causa. Um político honesto apoia uma causa porque acredita que ela é certa. Os demais consultam cinicamente as pesquisas e se vendem por votos. Jesus não buscava seguidores assim. Jesus conduz e nos chama a segui-lo. Ele estabelece a agenda e sua recusa em comparecer publicamente na festa foi uma recusa em deixar-se usar para fins políticos.

“Como sabe este letras, não as tendo aprendido?”(Jo 7.1416). Este é um versículo que seria melhor não aplicar­ mos a nós mesmos! Naturalmente, no contexto, “os judeus” (por exemplo, a “oposição de Cristo”) estavam falando do sistema bem estabelecido pelo qual alguém conseguia o reconheci­ mento como rabino, ou mestre. Este sistema pedia que o aprendiz se ligasse a uma autoridade reconhecida na Lei judaica e estudasse com ela por anos. Cristo não ha­ via passado por este processo de aprendizado; contudo exibia um surpreendente domínio da Escritura. Jesus explicou que recebera seu ensinamento direta­ mente Daquele que o “enviou.” Era uma dupla afirma­ ção: ter sido “enviado” por Deus significava falar com sua autoridade. Ter sido ensinado por Ele significava que Jesus era um canal de revelação! Você e eu devemos decidir estudar o que foi revelado. Cristo tinha conhecimento e sabedoria “sem ter estuda­ do”; mas você e eu nunca aprenderemos, a menos que nos apliquemos ao estudo da Palavra de Deus.

“Tens demônio” (Jo 7.18-20). Boa parte do Evangelho escrito por João vale-se do pano de fundo encontrado nos outros três Evangelhos. Como último a escrever, parece provável que João não sentisse necessidade de reafirmar material de outros trabalhos, amplamente distribuídos. Vemos este uso do pano de fundo aqui. A acusação da multidão: “Tens demônio”, reflete a acusação feita contra Jesus pelos fariseus e governantes na tentativa de explicar seus inegáveis poderes espirituais (cf. M t 9.34; 12.24; Mc 3.22; Lc 11.15). Embora Jesus soubesse que a oposição estava determinada a matá-lo, rumores sobre isto haviam apenas começado a circular entre o povo (cf. Jo 7.25). Se as pessoas hoje ao menos parassem para pensar, per­ ceberiam que devem tomar alguma decisão sobre Je­ sus. No século I, seus milagres exigiam uma explicação. Hoje, 2000 anos de fé persistente, da parte de milhões de pessoas, em que Jesus é o Filho de Deus também exigem explicação. Como um carpinteiro obscuro, de um atrasado distrito de um império há muito reduzido a poeira pode con­ tinuar a afetar tantas vidas humanas? Este talvez seja o maior milagre de todos, e qualquer pessoa que pense deve ser impelida a procurar alguma explicação. “Fiz uma obra (ou, milagre)” (Jo 7.21-24). Jesus fizera mais de um milagre. Mas aquele que ficou “atravessado na garganta” da oposição envolvia a cura de paralíticos no sábado. João nos oferece outra linha de raciocínio bíblico que Cristo usou para mostrar a falácia do farisaísmo estrito. A observância do sábado estava enraizada no relato da Criação e, portanto, bem antes que a lei mosaica fosse dada. Contudo, os meninos eram circuncidados no oi­ tavo dia de vida, mesmo que este dia fosse um sábado! E, portanto, Jesus disse, se um rito que marca a purifi­ cação de uma pessoa é permitido em um membro do corpo no sábado, por que Jesus devia ser criticado ao curar um homem doente naquele dia? A declaração, “Não julgueis segundo a aparência”, é tanto uma rejeição do direito dos governantes de julgar Jesus, como uma expressão do desprezo por sua com­ preensão superficial da Palavra de Deus.

“Se alguém quiser fazer a vontade dele” (Jo 7.17). A palavra “quiser”, aqui, é forte. Ela representa uma de­ terminação estabelecida de fazer a vontade de Deus. Somente tal determinação conduzirá ao entendimen­ to espiritual e à fé estabelecida. Se algumas vezes você se perguntou por que tantas pessoas inteligentes podem saber tanto sobre a Bíblia e ainda assim não crer em Cristo nem nas Escrituras, “Os fariseus e os principais dos sacerdotes mandaram eis uma explicação: Descobrir que o ensinamento de servidores para o prenderem” (Jo 7.25-47). O ensina­ Jesus vem de Deus depende de nosso compromisso mento de Jesus causou o seu impacto. Embora mui­ tos continuassem em dúvida, “muitos da multidão de fazer a vontade de Deus.

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creram nele” (v. 31). Temendo que o movimento de Jesus ganhasse impulso, os membros do Sinédrio en­ viaram guardas do templo para prendê-lo Estes eram soldados judeus, não romanos: levitas, que eram trei­ nados para manter a ordem na área do tempo e pre­ servar sua pureza. Contudo, quando o destacamento enviado para prender Jesus ouviu o que Cristo disse, eles “voltaram... à presença dos principais sacerdotes e fariseus” sem Ele (v. 45, ARA). Foi preciso coragem para que estes soldados deso­ bedecessem ordens. Eles podem não ter tido certeza de quem era Jesus. Mas a sua postura, e a resposta furiosa dos fariseus, sugere um certo nível de fé. Precisamos honrar estes guardas do templo e to­ dos os militares como eles que, ao longo das eras, recusaram-se a obedecer ordens que violavam suas crenças e consciências. E precisamos nos modelar com base neles. A desobediência civil foi louvada na década de 1960, quando a questão eram os direitos civis. As mesmas pessoas que a louvavam então hoje condenam a desobediência civil de forças pró­ vida que fazem manifestações diante de clínicas de aborto e depois aceitam de bom grado as pe­ nalidades impostas pela lei. Os guardas do tem-

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Apanhe um Bloco Amarelo (Jo 7.25-43) Um das minhas ferramentas mais importantes é um bloco de papel amarelo, pautado, que uso para fazer listas de coisas que tenho de fazer cada dia. E o uso para tomar decisões difíceis — prós de um lado, contras do outro. Fazer listas em blo­ cos amarelos ajuda-me a analisar quase qualquer questão. Parece que as pessoas que ouviram Jesus falar na­ quela Festa dos Tabernáculos precisavam de um dos meus blocos amarelos. Ou talvez estivessem usando um, mentalmente, somando os prós, os contras, e as opções. Prós? Bem, Jesus estava lá, pregando, e as autori­ dades não tinham feito nada para detê-lo. Eles não matariam um profeta de verdade, matariam? (v. 25) Não se espera que o Cristo apareça de repen­ te, vindo do nada? (v. 27) E veja: Este Jesus é de Nazaré. Miqueias disse que Cristo devia nascer em Belém (v. 42). Opções? Que escolhas temos? Bem, Jesus podia estar possuído por um demônio (cf. 20). Ele po­ dia ser um charlatão, um enganador que merecia a morte (v. 25, cf. 12). Ele podia não passar de um

pio nos lembram que, seja qual for a questão, o crente é responsável por obedecer primeiramente a consciência e depois as autoridades legalmente constituídas. “Responderam-lhes, pois, os fariseus”(]o 7-47-52). O desprezo que os fariseus sentiam por todos, menos por si mesmos, revela-se claramente. Para os governantes, os guardas do templo, apesar de recrutados da tribo de Levi, não eram inteligentes o suficiente para ouvir Jesus e tomar uma deci­ são. O judeu médio era parte de uma multidão “que não sabe a lei”, e, portanto, segundo eles, “é maldita” (v. 49). E, quando Nicodemos fez uma frágil tentativa de levantar um ponto da lei em defesa de Jesus, os outros o silenciaram através da ridicularização. Observe bem estas características da oposição de Cristo. Elas ainda aparecem hoje naqueles que fal­ samente reivindicam autoridade espiritual. Quan­ do você percebe arrogância, desprezo pelo discer­ nimento espiritual dos outros, rejeição às pessoas comuns, e vê o uso da ridicularização para silenciar os outros, pode ter certeza de que tais líderes não representam Jesus Cristo.

bom Homem (cf. v. 12). Ele podia ser o profeta predito por Moisés (v. 40). Ele podia ser o Cristo (w. 31,41). E realmente foi assim, quando a maioria do povo da Judeia lutava com a incerteza naquela semana da Festa dos Tabernáculos e discutia interminavel­ mente prós e contras. Mas houve alguns que jogaram fora seus blocos amarelos. Estas pessoas ouviram Jesus e “creram nele”. Acho que este é o melhor caminho para a fé, para nós e para aqueles a quem testemunhamos. Dei­ xe de lado o bloco amarelo. Abandone as listas de prós, contras e opções. Em vez disso, simplesmente ouça Jesus. E deixe que o coração diga quem Ele é. Aplicação Pessoal Para se libertar da incerteza, sempre ouça a Palavra de Deus com o coração. Citação Importante “Em todas as minhas perplexidades e tribulações, a Bíblia nunca deixou de me oferecer luz e força.” — Robert E. Lee

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30 DE AGOSTO LEITURA 242 JESUS, O “EU SOU” João 8

“Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que, antes que Abraão existisse, eu sou” (Jo 8.58,59). Visão Geral Jesus perdoou uma mulher apanhada em adultério (8.1-11). As contínuas afirmações de Jesus a res­ peito de si foram rejeitadas pelos líderes (w. 1230), e Ele, por sua vez, rejeitou a afirmação de que descendiam de Abraão (w. 31-41). O ódio que eles tinham contra o Filho de Deus mostrou que eram membros da família de Satanás, não de Deus (w. 42-47). O irritado confronto chegou ao ápi­ ce quando Jesus afirmou ser o EU SOU ( Yabweb) do Antigo Testamento e seus oponentes tentaram apedrejá-lo por blasfêmia (w. 48,59). Entendendo o Texto “Uma mulher apanhada em adultério” (Jo 8.1-11). Um dos aspectos mais fascinantes de toda arma­ dilha preparada pelos oponentes de Jesus é que, a cada vez, eles se enredaram. E quase como em um desenho animado: Hortelino (ou Elmer Fudd) aponta a arma para Pernalonga, sem perceber que o cano da arma foi entortado e atira no próprio pé. Observe este incidente. Tenho certeza de que os mestres da Lei e os fariseus estavam certos de que tinham preparado a armadilha perfeita para Jesus quando lhe trouxeram uma mulher apanhada no próprio ato de adultério! Se Jesus dissesse: “Ape­ drejem-na!”, com certeza perderia popularidade. Se Ele dissesse: “Deixem que ela vá”, poderiam acusar Jesus de rejeitar a Lei de Moisés. Pense nisto por um minuto, porém. Em primeiro lugar, onde você iria para apanhar uma mulher co­ metendo adultério? Deve haver algum lugar aqui na nossa cidade, mas eu não sei onde fica. Como os líderes religiosos conheciam o endereço? E, então, quem era o homem? Por que deixaram que ele se fosse — e qual deles conseguiu que ele fosse voluntário? Quanto mais se pensa sobre a cena, mais ela suscita perguntas, não a respeito de Jesus, mas a respeito dos homens que capturaram a adúltera. E útil lembrar isto quando alguém ataca a nossa fé e estamos momentaneamente com a guarda baixa. Seja qual for a natureza do ataque, ele diz mais so­ bre os escribas e fariseus do que sobre Cristo.

mulher. Eles fugiram, não por vergonha nem por compaixão da mulher, mas porque não se atreviam a correr o risco da exposição. Seja ou não verdade, é perigoso condenar os outros. Ao fazê-lo, conde­ namos a nós mesmos, pois nenhum de nós é livre de pecado. O que é surpreendente neste relato, porém, são as palavras de Jesus. Como alguém sem pecado e que fora incumbido pelo Pai de julgar a humanidade (cf. 5.22), Jesus recusou-se a condenar a mulher, apesar da sua culpa real. A narrativa ecoa as palavras de João 3.17. Jesus veio “não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” E esta salvação envol­ ve mais do que perdão. Ela envolve uma mudança de vida: uma mudança refletida nas palavras de Cristo: “Vai-te e não peques mais”. Certa vez D. L. Moody encontrou um homem que cambaleou para fora de um bar, agarrou as lapelas do evangelizador e anunciou com prazer: “Você é o homem que me salvou!” Moody respondeu: “Ima­ gino que sim. Se Jesus o tivesse salvado, você não estaria aqui agora”. Quando Jesus nos salva, realmente deixamos nossa vida de pecado.

“Eu sou a luz do mundo” (Jo 8.12). João registra várias ocorrências da afirmação “Eu sou” feitas por Jesus. Esta é uma das mais significativas. Jesus dissera: “Eu sou o Pão da Vida” (Jo 6) e, assim, afirmou ser a fonte e o sustento da vida espiritual. Sua declaração: “Eu sou a luz do mundo”, é uma afirmação de que Ele é a luz genuína, pela qual se pode distinguir a verdade da falsidade. Luz e escuridão são imagens importantes no Evangelho de João e em suas epístolas. A luz re­ vela a realidade como Deus a conhece. A escuri­ dão é o mundo sombrio da ilusão, lançada pelas ideias humanas do que constitui a realidade: um mundo de engodo, engano e fantasia. Sem a relação com Jesus e a confiança nEle, ninguém tem a menor chance de conhecer a realidade.

“Então, lhe objetaram osfariseus” (Jo 8.13-30, ARA). O desafio era um ponto técnico da Lei do Antigo Testamento. Este exigia duas testemunhas para que um fato fosse estabelecido no tribunal (Dt 17.6). A ideia dos fariseus era de que eles não tinham de acreditar em nada do que Jesus dizia sobre si porque não havia ninguém que corroborasse suas afirmações. “Nem eu também te condeno” (Jo 8.7-11). Alguns Eles estavam errados! Ao lado e dentro de Jesus sugeriram que, quando Jesus escrevia no chão, Cristo estava o próprio Pai! Na condição do que estava registrando os pecados dos acusadores da fora enviado pelo Pai (enfatizada quatro vezes neste

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capítulo: Jo 8.16, 18,26,29), Jesus falava com a voz do Pai, e o Pai falava por meio dEle. Várias coisas decorrem desta verdade. Uma pessoa verdadeiramente em contato com Deus teria reco­ nhecido Jesus (v. 19). Não reconhecer Jesus pelo que Ele é significava que os líderes espirituais de Israel não conheciam o Deus que eles afirmavam representar e que eles certamente morreriam em pecado. Podemos entender por que os fariseus estavam tão perturbados. Ninguém gosta de ouvir que sua re­ ligião não tem sentido e que, a menos que se volte para Jesus, está condenado. Ninguém gosta de ou­ vir isto. Mas é verdade! E é uma abordagem válida do evangelismo, A Bíblia diz que muitos que ouvi­ ram estas afirmações abruptas de Jesus creram nEle enquanto Ele falava (v. 30).

ponder a Ele, agora como então. (Veja o DEVOCIONAL.)

“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8.31,32). Esta declaração não tem nada a ver com o seu uso na flâmula do New York Times. Jesus já dissera: “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente, sereis meus discípulos”. Só então Ele falou de conhecer a verdade e da verdade tornar os homens livres. Os ensinamentos de Jesus são “verdadeiros”. Isto é, são representações precisas da realidade. Só há uma maneira de “conhecer” a realidade, que é experi­ mentá-la. O que Jesus disse foi que, se colocarmos os seus ensinamentos em prática, experimentare­ mos a realidade moral e espiritual. E a experiência dessa realidade nos libertará. Nas palavras de um moderno comercial america­ “Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a no, “Experimente. Você vai gostar”. ninguém” (Jo 8.31-41). O conflito e a fúria tornaram-se ainda mais intensos quando os líderes reli­ “Quem te fazes tu ser?” (Jo 8.48-59). As palavras es­ giosos se defenderam. Como descendentes bioló­ tão carregadas de hostilidade e desprezo. Jesus estava gicos de Abraão, eles tinham o direito de estar na declarando ser maior do que Abrão, o pai da raça gloriosa presença do Deus que fizera uma aliança judia! Estava afirmando que podia dar vida eterna com Abraão. por meio de Abraão. A afirmação de Jesus, de que E verdade que o a aliança do Antigo Testamen­ Abraão “exultou por ver o meu dia” enfureceu ain­ to realmente dava certos privilégios maravilhosos da mais os líderes. Como podia Abraão, que viveu ao povo judeu. Mas nenhum indivíduo teve uma 2.000 anos antes, ter sabido alguma coisa sobre Jesus relação automática com Deus com base na ascen­ de Nazaré, um homem que ainda não tinha 50! dência biológica. Crescer em um lar cristão não O que se segue é uma das mais claras afirmações faz da pessoa um cristão, não mais do que crescer de divindade por parte de Jesus. ‘Antes que Abraão em uma cidade universitária torna uma pessoa existisse, eu sou!” inteligente. Tudo o que isto faz é oferecer uma Este “Eu sou” está enraizado na revelação do nome oportunidade. pessoal de Deus, Yahweh, no Êxodo. Foi o “Eu E o que Jesus estava dizendo àqueles líderes reli­ sou”, Yahweh, que enviou Moisés para libertar Is­ giosos. Descender de Abraão dava-lhes uma opor­ rael. E, aqui, Jesus afirmou que antes de Abraão tunidade especial de conhecer a Deus. Mas se nascer, Ele próprio era o “Eu sou” da história. eles realmente fossem como Abraão, teriam agido A afirmação foi compreendida, e os ouvintes pe­ como Abraão agiu e respondido a Deus em vez de garam em pedras para apedrejar Jesus, acusando-o maquinar para matar o Filho de Deus. de blasfemar. A mera oportunidade de conhecer a Deus não No final, o destino de todas as pessoas depende de tem mais valor para alguém hoje do que tinha como elas respondem à afirmação de Jesus, “Eu então. Devemos agarrar a oportunidade e res- sou.” Que bênção para nós é afirmar: “Ele é!”

DEVOCIONAL______

São todos Filhos de Deus? (Jo 8.31-47) Não conheço nenhuma questão que gere tanta con­ tradição entre os pregadores. Um ministro está num programa de rádio ou televisão e é acusado de crer que apenas os cristãos são filhos de Deus. Os outros ficam irritados só de pensar em um preconceito tão forte, e o pobre pregador titubeia e gagueja. Na cer-

ca de meia dúzia de vezes em que vi um confronto deste tipo, o pregador rapidamente recuou. Se ele realmente acreditava que os não cristãos não são fi­ lhos de Deus, ele não estava pronto para admitir a sua posição e suportar toda aquela ira. Honestamente, não compreendo por quê. E claro que os não cristãos não são filhos de Deus. De jeito nenhum!

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Isto não significa que nem todos os seres humanos têm valor para Deus. Cada um de nós é objeto do seu grande amor. Afinal, Cristo morreu por aque­ les que eram ativamente hostis a Ele por causa do pecado e da culpa. Mas nada disto significa que os não cristãos estejam na família de Deus. João 8 relata como Jesus insultou um grupo de fa­ riseus muito mais do que qualquer um foi insulta­ do em um programa de TV. Jesus não disse apenas que Deus não era Pai deles; Ele disse diretamente: “Vós sois do diabo” (Jo 8.44, ARA). E Jesus pro­ vou sua acusação mostrando que as mentiras e a raiva diante dele espelhavam as mentiras e a raiva de Satanás por Deus. Claro que eles eram filhos do diabo. Agiam justamente como ele! O que me incomoda na moderna discussão ecle­ siástica é que ela impede as pessoas de encararem a questão mais importante que cada um tem que enfrentar nesta vida. Pertencemos a Deus ou não? Somos membros da família de Deus ou não? Passa­ remos a eternidade com Deus ou não? Não espaço para “talvez” aqui. Não há espaço para simplesmente ser simpático e dizer algo que vai fazer as pessoas se sentirem bem. Estas questões exigem um sim ou um não inequívoco. Ou a pessoa é um mem­ bro da família de Deus por meio da fé em Jesus Cris­ to, Filho de Deus, ou está no campo do Diabo, junto com as pessoas que assassinaram nosso Senhor. Eu sei. Não é simpático dizer tais coisas. Não é polido. Não soa suficientemente bem, nem dá a ideia de que se tem uma mente aberta. As pessoas ficam zangadas quando nos ouvem dizer isto. Acho que muitos cristãos temem que “as pessoas vão se afastar” se dissermos a elas que não pensamos nelas como filhas de Deus também. Não é verdade, porém, sugerir que aqueles que não conhecem a Jesus podem ter um relacionamento com Deus. E não é amoroso deixar as pessoas pensarem que estão bem quando, na verdade, estão perdidas. Aplicação Pessoal Ninguém pode escolher entre a verdade e uma mentira, a menos que saiba o que é a verdade.

Visão Geral Jesus, “a luz do mundo”, deu visão a um homem cego de nascença (9.1-8). Vizinhos espantados (w. 9-12) levaram-no aos fariseus, que criticaram Jesus por curar no sábado (w. 13-23). O homem curado ridiculari­ zou a rejeição de/a Jesus pelos fariseus (w. 24-34) e adorou a Cristo como Senhor (w. 35-39). Os fariseus continuaram espiritualmente cegos (w. 40,41). Entendendo o Texto “Rabi, quem pecou... para que nascesse cego?” (Jo 9.1-4). A teologia popular do século I explicava todas as desgraças como consequência do pecado. Ver um homem nascido cego levou os discípulos a fazer uma curiosa pergunta teológica. Uma vez que o homem nascera cego, de quem era o pecado que causara sua cegueira? Será que, como argumenta­ vam alguns rabinos, ele de alguma maneira pecara no ventre? Ou fora um pecado de seus pais que causara sua condição? Esta estranha teologia ainda é popular. Quan­ do minha esposa perdeu uma filha no parto, sua cunhada observou: “Espero que eu não faça nada que leve Deus a me castigar assim!” Muitos ami­ gos cristãos, que procuram confortar uma pessoa que sofre, fazem uma observação semelhantemente impensada. Que falta de sensibilidade a dos discípulos, e a nos­ sa. O homem que nascera cego e a mãe desolada não são objetos de especulação teológica. Eles estão magoando seres humanos, não considerando os enigmas para os quais temos que oferecer alguma solução. Jesus rejeitou as duas alternativas. A provação do cego era uma oportunidade para Deus aliviar o so­ frimento. A causa não tinha importância. Ainda é este o caso hoje. A causa do sofrimento de uma pessoa não está em questão. A realidade do sofri­ mento, sim. Todo sofrimento ainda é uma opor­ tunidade para Deus — e para o povo de Deus — expressar compaixão.

“Eu sou a luz do mundo” (Jo 9-5). João registrou pela primeira vez esta afirmação em 8.12. O pre­ Citação Importante sente incidente, relatado novamente, sem con­ “Separada da pura verdade, a nossa vida afunda de­ sideração da cronologia, demonstra e ilustra o cadentemente em meio ao perfume de insinuações tema. e sugestões.” — Alfred North Whitehead Na qualidade de Filho de Deus, o Criador que no princípio chamou à existência a luz e a vida, Jesus 31 DE AGOSTO LEITURA 243 executou um ato criativo para dar visão ao homem. O DOM DA VISÃO O homem nascera cego. Este milagre não consistia João 9 na restauração de uma capacidade danificada, mas na criação de uma capacidade totalmente nova. “Uma coisa sei, e é que, havendo eu sido cego, agora Há uma analogia aqui com a iluminação espiritual. vejo!” (Jo 9.25) Os seres humanos nascem no pecado, sem a capa­

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cidade de ver o mundo espiritual nem de conhecer a realidade espiritual. Apenas por meio de um ato criativo de Deus em nossos corações é que pode­ mos receber a visão espiritual. O homem cego de nascença recebeu visão física e espiritual ao gradu­ almente crer em Jesus como Senhor.

“Foi, pois, e lavou-se, e voltou vendo” (Jo 9.6-12). Embora a restauração da visão física ou espiritual somente seja possível por um ato criativo de Deus, o receptor não é passivo. Assim, Jesus colocou lodo nos olhos do cego e disse-lhe que encontrasse o ca­ minho para o tanque de Siloé e se lavasse. Sem, pelo menos, uma fé hesitante ou um come­ ço de esperança, o cego teria removido com amar­ gura o lodo e ficado amuado diante daquilo que parecia ridículo. Este homem, porém, respondeu às palavras de Cristo e foi até o tanque, como lhe fora dito. Isto, e apenas isto, é a parte do homem no rece­ bimento da visão espiritual. Ouvimos Jesus falar e, por maior que seja a hesitação, respondemos. Damos aqueles primeiros passos vacilantes na fé e, ao respondermos, descobrimos de repente que podemos enxergar de verdade. Na verdade, este capítulo acompanha o desenvol­ vimento da fé do cego em Jesus, da primeira res­ posta à condição plena de discípulo. Percebemos as etapas na maneira como o homem fala e pensa em Jesus: Ele era “o homem chamado Jesus’' (v. 11), então, Ele “é Profeta” (v. 17), depois “de Deus” (v. 33), o “Filho do Homem” (um título messiânico) (v. 35, ARA), e, finalmente, “Senhor” (v. 38). Assim também cresce a nossa fé. No início, não en­ tendemos completamente quem é Jesus. Mas, à me­ dida que nossa visão espiritual se torna mais aguda, nós reconhecemos como Senhor e o adoramos. “Levaram, pois, aosfariseus o que dantes era cego” (Jo 9.13-17). Os vizinhos estupefatos levaram o ho­ mem, agora com visão, aos fariseus, com esperan­ ças de obter uma explicação. Estes homens eram considerados especialistas na religião. Talvez eles explicassem o que acontecera. Os fariseus lutaram para encaixar este milagre em sua teologia. Ele não se encaixava. Jesus operara o milagre no sábado e, no processo, fizera lodo (w. 6,14). Isto era “trabalho”, segundo os regulamentos rabínicos anteriores, o que era proibido no sábado. A teologia exigia que Jesus fosse classificado como “pecador”. A realidade, porém, exigia que reconhe­ cessem um milagre que exigia o exercício do poder criador de Deus. Há uma importante lição para nós aqui. A experi­ ência cristã nunca violará as Escrituras. Mas pode

ir contra nossa interpretação das Escrituras! Quan­ do uma pessoa exibe indícios de uma obra de Deus em sua vida, precisamos reexaminar nossa compre­ ensão da Palavra de Deus. João demonstrou que alguns dos fariseus consi­ deravam as obras de Jesus através dos méritos que pensavam que possuíam, sem tentarem explicá-las, já que estas não se encaixarem na teologia daque­ la época (v. 16). O cego, que viu mais claramente do que os líderes, teve a explicação mais simples. Jesus era evidentemente um Profeta, um daqueles homens que Deus chamou e investiu de poder e que falavam e agiam com a autoridade de Deus e, portanto, estavam acima da jurisdição dos líderes. E perigoso e tolo reivindicar o direito de julgar uma obra executada por Deus.

“Chamaram os pais do que agora via” (Jo 9.18-23). O partido de oposição (que João menciona como “os judeus”) recusou-se a crer que o homem nas­ cera cego até chamarem os pais dele. Eles insis­ tiram que o homem curado era seu filho, e que nascera cego; porém eles se recusaram a entrar na controvérsia a respeito de Jesus. Quão desesperadamente os fariseus tentaram evitar enfrentar a realidade deste milagre. Eles sa­ biam tão bem quanto o cego que a única explica­ ção válida era que Deus estava operando em Jesus, e por meio de Jesus. Porém se recusavam a admitir este fato evidente até para si mesmos. Mais tarde, Jesus acusou-os de cegos e observou que eles deviam permanecer cegos, já que insis­ tiam em dizer que viam. Não há ninguém tão cego quanto a pessoa que vê a verdade e depois fecha os olhos numa tentativa desesperada de evi­ tar admiti-la. “Se alguém confessasse ser ele o Cristo, fosse expulso da sinagoga” (Jo 9.20-23). Muitas vezes a condição de discípulo tem um custo altíssimo. No século I, “ser expulso da sinagoga” significava ser isolado da sociedade judaica. Os amigos não falavam com tal pessoa, ninguém comprava nem lhes vendia nada. Ela não podia participar da adoração e do ritual. Por implicação, ela estava isolada não apenas do povo da aliança, mas também da salvação. A mãe e o pai do cego não estavam dispostos a correr o risco de tal penalidade por afirmarem sua crença (implícita) em que Jesus era o Cristo. O próprio cego não hesitou tanto. Ele, audacio­ samente afirmou sua fé para os fariseus e até ridi­ cularizou as dúvidas deles. Impressionado com o milagre que ocorrera em sua vida, o dantes cego não se impressionava mais com meras autorida­ des humanas.

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Quanto maior a nossa concentração no que Deus que Ele havia curado. O homem sem dúvida reco­ está fazendo em nossas vidas, menos hesitantes se­ nheceu a voz de Jesus, apesar de não tê-lo visto an­ tes. Quando Jesus identificou-se como o “Filho do remos ao falar em favor dEle. Homem”, um título messiânico que muitas acredi­ “Nisto, pois, está a maravilha!” (Jo 9.26-34). O cego tavam que implicava divindade, o homem caiu de finalmente cansou-se da inquisição. Percebemos joelhos e o adorou. sarcasmo e desprezo nas palavras ditas por ele aos À medida que nossa fé cresce, nós, como o cego, líderes religiosos enquanto afirmava o óbvio. “Nós recebemos revelações cada vez mais plenas de Jesus sabemos que Deus não ouve a pecadores; mas, se e sua vontade. A visão espiritual torna-se mais agu­ alguém é temente a Deus e faz a sua vontade, a çada e reconhecemos Jesus como Senhor em todas esse ouve. Desde o princípio do mundo, nunca se as áreas de nossa vida. ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego de nascença. Se este não fosse de Deus, nada poderia “Também nós somos cegos?” (Jo 9-39-41). Alguns fa­ riseus que ouviram as observações de Jesus sobre fazer” (w. 31-33). Incapazes de refutar a lógica do cego, os oponentes a cegueira sentiram-se muito insultados. Jesus lhes de Jesus recorreram ao ataque pessoal. Quando al­ respondeu com honestidade, e de uma forma dire­ guém recorre a ataques pessoais contra você, você ta. A convicção que tinham de que podiam “ver” sabe que o tal está desesperado e não pode negar a espiritualmente impedia-os de confessar a cegueira verdade do que você está dizendo. e se tornarem candidatos à luz. Qualquer um que insista em dizer que “enxerga” espiritualmente, mas “Crês tu no Filho do Homem?” (Jo 9.35-39, ARA). se recusa a confessar que Jesus é o Senhor, é cego, Mais tarde, Jesus procurou e encontrou o homem culpado, e está perdido em seus pecados.

DEV OCIONAL______ Uma Coisa Sabemos

(Jo 9.13-25) Pessoas que são muito mais inteligentes do que nós zombam da fé em Jesus. Falam com grande supe­ rioridade de religiões comparadas, de evolução ou da última re-interpretação acadêmica da história bíblica. Alguns afirmam que Jesus nunca se viu como o Filho de Deus. Isto jamais foi ensinado à igreja pelos apóstolos. Em resumo, eles assumem o papel dos fariseus de João 9, como críticos de Jesus. Ali, os fariseus ten­ taram veementemente ignorar Jesus e desacreditar a história do cego. Mas, toda vez o homem respon­ dia com uma verdade tão evidente que a insensatez da posição dos fariseus foi exposta. “Nós sabemos que esse homem é pecador” (v. 24), anunciaram os fariseus. “Nós sabemos.” O cego simplesmente deu de ombros e recusou-se a participar deste tipo de discussão. “Uma coisa sei, e é que, havendo eu sido cego, agora vejo.” Os fariseus podiam dizer o que quisessem sobre Je­ sus. Mas tinham de enfrentar o fato de que Ele dera visão a um homem que havia nascido cego. Hoje também as pessoas podem julgar Jesus como quise­ rem. Mas, se forem honestas, terão de encarar o fato de que milhões dão testemunho da obra transforma­ dora de Jesus em suas vidas. John Newton, que foi um mercador de escravos, escravizado pessoalmente às práticas mais vis, experimentou uma transforma­ ção expressada no hino que ele mais tarde escreveu:

“Graça maravilhosa! Quão doce o som — Que salvou um miserável como eu! Eu me perdi, mas fui achado, Estava cego, mas agora vejo. Foi a graça que ensinou meu coração a temer, E a graça meus temores aliviou; Quão preciosa a graça, Quando primeiro cri.” Uma coisa nós sabemos. Fomos cegos. Agora en­ xergamos. Fomos escravos do pecado. Hoje ama­ mos e servimos a Jesus Cristo. Nenhum argumento que os fariseus ou os doutos deste mundo possam usar contra nossa fé pode fa­ zer frente à experiência que temos desta realidade. Aplicação Pessoal Nós não temos meramente esperança. Nós sabemos. Citação Importante “Nunca superei a maravilha disto.” — Gipsy Smith 1 DE SETEMBRO LEITURA 244 O BOM PASTOR João 10 “Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10.11).

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João 10

O verdadeiro líder espiritual ainda se importa Outros vieram pregando um furioso banho de san­ com as ovelhas, não com o que pode conseguir gue como retribuição contra os opressores de Isra­ com sua lã. el. Eram falsos pastores, subindo por outra parte. Os falsos messias da história conservaram essa ca­ Contexto racterística. Eles trariam o reino de paz de Deus Ovelhas e pastores. Estas imagens são das mais po­ por meios sangrentos e “libertariam” os oprimidos derosas no Antigo Testamento. O Salmo 23 de matando os opressores. Cuidado com tais pessoas. Davi escolhe a imagem calorosa e reconfortante Você não ouvirá a voz de Jesus nos seus estridentes do crente como uma ovelha sob o cuidado pessoal chamados à revolução. de Deus. Tendo “o Senhor” como o seu “Pastor”, o salmista está seguro. Ele está convencido de que “As ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz” (Jo “nada” lhe “faltará”, pois o próprio Deus está com 10.4). Este tema é frequentemente repetido por Je­ o cajado protetor e o conduz a pastagens verdes ao sus. O relacionamento de um pastor oriental com lado de águas tranquilas. suas ovelhas era pessoal. O pastor conhecia cada O pastor é também uma imagem comum nos li­ ovelha pelo nome, como um indivíduo. Ele con­ vros protéticos. Ali, ele representa os líderes espi­ duzia, não simplesmente arrebanhava as ovelhas. rituais: primeiro, descrevendo os líderes espirituais As ovelhas também reconheciam o seu protetor e gananciosos, que lucram explorando as ovelhas respondiam à sua voz. Sua audição era tão aguçada de Deus (cf. Jr 25; Ez 34) e, então, prometendo que se alguém tentasse imitar a voz dele, elas se o surgimento de um Descendente de Davi que irá assustavam. pastorear o rebanho de Deus em seu nome (Cf. Is H á outra implicação aqui também. A noite, ge­ 44.28; Ez 34.23,24). Essas imagens eram tão bem ralmente quatro ou cinco rebanhos de ovelhas conhecidas que é quase impossível explicar como eram reunidos em uma área ou curral protegido. judeus do século I puderam deixar de perceber as De manhã, quando um pastor chamava, suas implicações da afirmação de Jesus. Sua exigência ovelhas respondiam à sua voz e se separavam do de que lhes fosse dito “abertamente” se Jesus era rebanho! Era a resposta à voz do pastor que iden­ o Cristo recebeu uma resposta compreensível: “Já tificava suas ovelhas das centenas de outras, que vo-lo tenho dito, e não o credes”. poderiam parecer iguais a elas para o observador Hoje, como então, o relacionamento com Deus descuidado. não é uma questão de ouvir a verdade, mas de crer Hoje também aqueles que ouvem o evangelho e nela. reconhecem nele a voz de Deus chamando-os res­ pondem. E a nossa resposta a Jesus que nos identi­ Visão Geral fica como suas ovelhas. Jesus afirmou que era o Verdadeiro Pastor do re­ banho de Deus (10.1-6). Como “a porta das ove­ “Eu sou a porta das ovelhas” (Jo 10.7-10). Esta é ou­ lhas”, Jesus traz vida abundante às suas ovelhas (w. tras das grandes afirmações “Eu sou” de Jesus no 7-10). Como “Bom Pastor”, Ele “dá a sua vida pe­ Evangelho de João. Seu significado deve ter sido las ovelhas” (w. 11-13), e é reconhecido por elas familiar para os primeiros ouvintes de Jesus, que (w. 14-21). Mais tarde, Jesus disse a seus inimi­ entendiam o pastoreio. gos claramente que Ele era o Cristo, e um com o A noite, as ovelhas eram mantidas em um “apris­ Pai (w. 22-30). Quando eles se preparavam para co”: um cercado de pedras, espinheiros ou, às vezes, apedrejá-lo, Jesus desafiou-os a negar seus milagres uma caverna. Este curral tinha apenas uma abertu­ (w. 31-42). ra e, à noite, o pastor dormia nele. Nenhum animal selvagem ou ladrão podia chegar às ovelhas porque Entendendo o Texto o próprio pastor ficava na porta. “Aquele... que entra pela porta é o pastor das ovelhas” Como a porta, Jesus apresentava-se como o único (Jo 10.1-6). O contraste aqui não é entre Jesus e os meio de ingresso no seu rebanho e, ao mesmo tem­ líderes religiosos, mas entre Jesus e os falsos messias. po, a via pela qual o rebanho passaria para encon­ Cristo veio a Israel pela porta identificada pelos pro­ trar pastagem. Não é de admirar que Jesus dissesse: fetas do Antigo Testamento. “O Espírito do Senhor “Eu vim para que tenham vida e a tenham com Jeová está sobre mim, porque o Senhor me ungiu abundância” (v. 10) para pregar boas-novas aos mansos; enviou-me a res­ taurar os contritos de coração, a proclamar liberdade “Eu sou o Bom Pastor” (Jo 10.1-16). O “bom pas­ aos cativos e a abertura de prisão aos presos; a apre­ tor” é uma designação singular, pois enfatiza que a goar o ano aceitável do Senhor” (Is 61.1-2). disposição do pastor de morrer pelas suas ovelhas.

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Um “mercenário” — e aqui Jesus se refere aos líde­ res religiosos de Israel — cuida das ovelhas apenas enquanto é lucrativo ou seguro. O bom pastor, que valoriza cada uma das suas ovelhas, dará a vida por elas. Na verdade, é nisto, no dar a vida, que a bon­ dade do pastor é estabelecida. Parece tolo pensar em um homem disposto a mor­ rer por meros animais, por maior que seja sua afei­ ção por eles. Há uma distância muito maior entre Deus e seres humanos do que entre seres humanos e ovelhas! A maravilhosa bondade de Deus é ple­ namente demonstrada nesta maravilha: Jesus nos amou o suficiente para dar sua vida por nós. Se alguma vez você se sentir como uma ovelha per­ dida, só e amedrontado em um mundo sóbrio e hostil, lembre-se do Bom Pastor. Você pode saber que Ele o ama porque Ele deu sua vida por você. Aquele que o amou tanto nunca irá abandoná-lo. Em Jesus você nunca, nunca está só.

“Elas ouvirão a minha voz” (Jo 10.15,16). Os ju­ deus tinham apenas desprezo pelos gentios pagãos, embora alguns os buscassem ativamente convertêlos. Mas o pensamento de que qualquer gentio podia ter acesso a Deus sem primeiro tornar-se um membro adotivo do povo da aliança era estra­ nho ao judaísmo. Jesus, porém, deixou claro que a grande linha divisória entre os de Deus e todos os outros não era a condição de judeu, mas a res­ posta à sua voz. Hoje, nenhuma das diferenças que existem entre as comunidades cristãs tem qualquer importância real. Todos os que respondem à voz de Jesus têm uma fé verdadeira nEle, são membros do “rebanho” de Cristo. Que nos importemos menos com as diferenças que nos separam dos outros cristãos e mais com a Pes­ soa que nos une como o povo de Deus.

Segundo, Jesus tomou sua vida novamente! Ele se submeteu à morte e ergueu-se dela vitorioso, triun­ fantemente vivo! Sua ressurreição prova sua autorida­ de sobre todos — e nos assegura que a voz que ouvi­ mos nos chamar é verdadeiramente a voz de Deus. Nunca peça desculpas por crer em Jesus, como se ouvir a sua voz fosse algo irracional. A pessoa que não crê na verdade que resplandece na realidade da ressurreição de Cristo tem o raciocínio defeituoso.

“Se tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente” (Jo 10.2330). Jesus tinha dito a todos. Embora os questionadores não tivessem acreditado, Ele disse novamente — e lembrou-lhes que a sua incredulidade estava en­ raizada no fato de que “Não sois minhas ovelhas”. Mais uma vez, vemos traçada a grande linha divi­ sória. Para aqueles que respondem a Jesus e creem nEle, Jesus diz: “Dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das mi­ nhas mãos” (v. 28). No grande empreendimento da salvação, Jesus e o Pai são um, e têm a mesma identidade, como Deus. A clareza dessa afirmação é inquestionável. Os ju­ deus a entenderam como uma afirmação: “Te fazes Deus a ti mesmo” (v. 33) e estavam prontos para apedrejar Jesus por blasfêmia.

“Dou a minha vidapara tornar a tomá-la”(Jo 10.1721). Há duas coisas aqui que fazem os crestes vi­ brar. Primeiro, Jesus deu sua vida voluntariamente. Não havia nenhuma maneira pela qual o Sinédrio ou os romanos pudessem tirar sua vida. Sua morte foi uma oferta voluntária. E foi “pelas ovelhas”, em nosso benefício.

“Sois deuses” (Jo 10.33-42). Jesus não negou a acu­ sação que lhe fizeram de nenhuma maneira. Ele afirmou inequivocamente ser o Filho de Deus e, como prova, apontou os milagres que operara. Je­ sus também se referiu a uma passagem do Antigo Testamento que aplicava a palavra “deuses” a meros mortais ou a anjos (cf. SI 82.6). Se a recepção das palavras de Deus pelos seres humanos os elevava a uma condição exaltada, os milagres de Cristo cer­ tamente provavam que Ele tinha justificativa para afirmar que era o “Filho de Deus”. O argumento baseado nos milagres foi inútil, como Jesus sabia que seria. Não se trata de uma questão de provas. Trata-se de ouvir a voz de Jesus quando Ele nos fala. Embora os líderes religiosos fechassem os ouvidos, muitos outros que ouviram Jesus falar reconheceram o que ouviram, e “muitos ali creram nele”.

(Jo 10.22-29) Lembro-me de quando meu filho mais velho tinha cerca de quatro anos. Costumávamos brincar de cabo de guerra: ele contra meu polegar. Não surpreendente­ mente, por mais que ele fizesse força e puxasse, por mais que puxasse e ofegasse, meu polegar sempre vencia.

Aos quatro anos, Paul (hoje com trinta e poucos anos), não conseguia entender que meu polegar, de três polegadas, estivesse ligado a um homem pesando 104 quilos. Por mais que tentasse, seu corpo de 18 quilos nunca conseguia vencer. As competições de que me lembro eram tão desi­ guais quanto as mencionadas por Jesus em João 10.

DEV OCIONAL______ Cabo de Guerra com Deus

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“Dou-lhes a vida eterna”, disse Ele dos que creem nEle. “E ninguém as arrebatará das minhas mãos. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las das mãos de meu Pai. Eu e o Pai somos um.” Contudo, os cristãos, seguros na palma da mão de Deus, muitas vezes brincam de “ser arrebatados”. Descobrem que estão presos a um pecado de 18 quilos e ficam aterrorizados com a ideia de que este irá arrebatá-los das mãos de Deus e que eles perderão a vida eterna. Ou então percebem uma dúvida de 18 quilos rondando suas mentes e ficam com medo de que ela os arrebatará da salvação. Outros se preocupam com a sua vontade de 18 quilos, apreensivos por esta poder sair de controle e arrebatá-los das mãos de Deus. Bem, Jesus tem uma boa notícia: “Meu Pai... é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las das mãos de meu Pai”. Jesus deu-nos vida eterna. E Deus Pai nos conserva na palma de sua mão que tem todo o poder. Aplicação Pessoal Deus quer que edifiquemos sobre o alicerce da nossa salvação, não que nos agarremos desespera­ damente com medo de cair. Citação Importante “Qualquer que seja o problema que vocês tiverem, de mente, corpo ou propriedade, quer vindo de dentro, quer de fora, do acaso ou da intenção, de amigos ou inimigos — seja qual for o problema, embora vocês estejam sós, oh, filhos do Pai celes­ tial, não temam!” — J. H. Newman 2 DE SETEMBRO LEITURA 245 O PODER SOBRE A M ORTE João 11

“Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim nunca morrerá. Crês tu isso?” (Jo 11.25) A morte não tem qualquer direito sobre aqueles que creem em Jesus. Visão Geral Jesus retardou a resposta ao apelo de Maria por seu irmão moribundo (11.1-6) até que Lázaro morres­ se (w. 7-16). Quando Jesus chegou a Betânia, Ele se denominou “a ressurreição e a vida” (w. 17-37) e ressuscitou Lázaro dos mortos (w. 38-44). Esse ato confirmou a fé, mas também endureceu a opo­ sição. Os líderes determinaram que Jesus devia ser

morto (w. 45-53). Jesus se retirou, mas tanto as multidões como os líderes esperavam que Ele rea­ parecesse em Jerusalém (w. 54-57). Entendendo o Texto “Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas” (Jo 11.1-3). Jesus tinha um relacionamento longo e próximo com Maria, Marta e seu irmão Lázaro. Os versículos 1 e 2 desse capítulo não são prova, como alguns sugerem, de que a história foi inserida posteriormente na narrativa do Evangelho. Esses versículos foram escritos por João para nos lembrar de quão próximo Jesus era da pequena família de Betânia. E para nos ajudar a perceber que, quan­ do Maria recorreu a Jesus, ela o fez com absoluta confiança de que Jesus responderia imediatamente. Afinal, Lázaro era “aquele que tu amas”, um amigo próximo e precioso. Os versículos 1 e 2 desse capítulo também são dirigidos a nós, para aqueles momentos em que oramos por alguma necessidade desesperada e im­ portante. Uma mãe ou pai cujo filho sofra de uma doença fatal. O desemprego que de repente nos ameaça com a perda de nosso lar. Em tais ocasiões, lembramo-nos do amor de Jesus e dirigimos ao céu orações desesperadas e confiantes. Certamente o Senhor nos aliviará. Como poderia ser diferente a sua vontade amorosa? Mas se o ente querido morre, o divórcio se torna definitivo, o lar se perde — somos dilacerados pela dúvida. Por que Deus não respondeu? Não temos fé suficiente? Ou Ele talvez não nos ame tanto quanto pensávamos que amava? Quando João começou a história de Lázaro, ele queria que soubéssemos quão profundamente Jesus amava Lázaro e suas irmãs. Jesus retardou a resposta ao pedido de Maria, e Lázaro morreu. Mas neste caso — como no nosso — Jesus tinha um propósito que ninguém conseguia entender até Lázaro ser ressuscitado. Não permita que o fato de Deus não lhe ter dado o que você pediu estremeça a sua confiança no poder da oração ou no amor de Deus. Ele tem algo me­ lhor em mente para você.

“Lázaro está morto, e folgo, por amor de vós, de que eu lá não estivesse” (Jo 11.7-15). Os discípulos compreenderam mal a razão de Jesus para não ir imediatamente a Betânia. Achavam que Ele não estava disposto a voltar à Judeia, onde Ele quase fora apedrejado por causa de seus ensinamentos (cf. 10.31). Apenas Jesus sabia o que pretendia fa­ zer — e que a demora que levou à morte de Lázaro e causou tanto sofrimento a Maria e a Marta tinha um propósito benéfico.

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Tenhamos cuidado para não tentar adivinhar o que Deus quer. Não temos como examinar seus moti­ vos nem como prever suas ações. O que podemos ter certeza é de que em tudo Deus está trabalhando para o bem daqueles que o amam (Rm 8.28). “Lázaro, o nosso amigo, dorme”(Jo 11.11). Apalavra traduzida como “dormir” aqui, koimao, é encon­ trada 18 vezes no Novo Testamento, todas, exceto três, referindo-se à morte biológica. Essa perspec­ tiva da morte não sugere que os mortos estejam inconscientes. Sugere, porém, um despertar. Lázaro, adormecido, logo ouviria a voz de Jesus, e sua personalidade essencial seria reunida ao seu corpo revitalizado. A morte para ele foi apenas um breve cochilo do qual Jesus o acordou. Para nós, a morte pode ser um sono maior para o corpo. Mas, no fim da história, nós também ouviremos o chamado de Jesus. Nossos corpos se erguerão do pó e serão transformados e, unidos com as nossas formas ressuscitadas, permaneceremos despertos e vivos para sempre. “Vamos nós também, para morrermos com ele” (Jo 11.16). As palavras pessimistas de Tomé indicam quão intensa a oposição a Jesus se tornara e quão leal era o pequeno grupo de verdadeiros discípulos. Achando que retornar à Judeia custaria a vida a Je­ sus, os discípulos estavam preparados para ir com Ele, mesmo que isso provavelmente também lhes custasse a vida. Poucos discípulos são efetivamente chamados à morte por Cristo e pelo evangelho. Mas todos nós devemos estar dispostos a isso.

Os judeus enterravam o cadáver no dia da morte, en­ volvendo o corpo em faixas de pano ou em um lençol. Contudo, voltavam ao túmulo para assegurar-se de que a pessoa estava realmente morta, não em coma. Quando Jesus chegou, Lázaro estava no túmulo há quatro dias (v. 17). Quando Lázaro respondeu ao chamado de Jesus e saiu do túmulo, não havia sombra de dúvida de que Cristo trouxera um morto de volta à vida.

Jesus se importava profundamente com seus ami­ gos, e seu sofrimento “moveu-se muito em espírito e perturbou-se”. Embora Jesus soubesse o que esta­ va prestes a fazer, a visão do sofrimento dos amigos o fez chorar. E que conforto para nós é saber, quan­ do sofremos, que Deus não está sentado, indiferen­ te, no trono do céu, nos impelindo para lá e para cá de acordo com um plano grande e complexo. Ele está profundamente preocupado conosco. Ele chora conosco em nossa dor. Quando Deus permi­ te que soframos, sabemos que Ele pretende que a “Se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido” experiência seja para o nosso bem. (Jo 11.17-27). As palavras expressam fé e talvez re­ provação. Jesus devia estar lá por seu amigo Lázaro. “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11.25-44). Esta Mas Ele não estava. E Lázaro morreu. grande afirmação, “Eu sou”, foi demonstrada na Se olharmos para o nosso passado, poderemos iden­ ressurreição de Lázaro. Jesus fez a vida existir. Ele tificar ocasiões em que Deus poderia ter intervindo venceu a própria morte. E é a própria glória de por nós, mas não o fez. Ele podia ter mudado as Deus dar aos seres humanos a vida eterna como coisas. Contudo, por alguma razão que não conse­ um dom gratuito em Jesus, e por meio de Jesus. guimos entender, Ele não o fez. Em tais ocasiões é Minha esposa observou ontem à noite que a maio­ provável que também misturemos uma medida de ria dos seus alunos de inglês no colégio parece clas­ fé com uma de reprovação. sificar a religião como “superstição”. Para adoles­ Lembremos o resto da história. E deixemos que a fé centes modernos na Flórida, pelo menos, a crença em Deus parece estar no mesmo nível que a crença cresça e a reprovação desapareça. em Papai Noel e o medo de gatos pretos. “Jesus chorou” (Jo 11.35). Este é o versículo mais Tal confusão não existiu naquele dia em Betânia, breve da Bíblia. E também um dos mais significati­ quando Jesus afirmou ser a ressurreição e a vida e o vos. Juntamente com os versículos 33 e 38, ele nos provou ressuscitando Lázaro dos mortos. assegura que Jesus não esperou insensivelmente, com a intenção de “usar” a morte de Lázaro em “Muitos... creram nele. Mas alguns deles foram ter vantagem própria. com osfariseus” (Jo 11.45-53). O ministério de Je­

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sus alcançou seu ápice neste milagre. Tudo o que Ele fizera tinha a intenção de forçar uma escolha entre a crença e a descrença. Cada afirmação “Eu sou” coloca a questão em foco, mais claramente. Sua afirmação de que era a ressurreição e a vida, de­ monstrada no milagre do retorno de Lázaro à vida, tornou impossível evitar uma decisão. João deixou claro que alguns judeus de Jerusalém, que tinham ido confortar Maria e Marta, viram o milagre e se convenceram. Outros foram relatar os milagres às autoridades, que convocaram uma reunião do Si­ nédrio para determinar o plano de ação. Ninguém sugeriu que Jesus fosse reconhecido como o Cristo e adorado. Todos admitiram que Ele operava milagres, mas se recusaram a dar o passo lógico da fé.

DEVOCIONAL ______ No Último Dia

(Jo 11.17-44) As palavras que Marta deixou escapar colocam-na em uma categoria compartilhada por muitos cris­ tãos modernos. Jesus havia acabado de dizer: “Teu irmão há de res­ suscitar” (v. 23). E Marta disse: “Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último Dia” (v. 24). Jesus, porém, continua a sondagem. “Eu sou a ressur­ reição e a vida”, disse Ele. “Crês tu isto?” (w. 25,26). Você quase consegue ver Marta assentir, confusa. “Sim, Senhor”, ela disse, “creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus”. Foi depois disso que Jesus foi até o túmulo em que Lázaro fora sepultado quatro dias antes e ressusci­ tou o morto. E é apenas nesse acontecimento que conseguimos compreender as implicações do diá­ logo de Jesus com Marta. Veja: Marta acreditava. Ela estava convencida de que Jesus era o Filho de Deus. Ela estava conven­ cida de que Ele podia ressuscitar seu irmão — na ressurreição do último dia. Marta, porém, nunca parou para pensar que Jesus também podia ressus­ citar seu irmão naquele momentol Como Marta, muitos cristãos modernos têm uma fé profunda e fiel em Jesus. Eles têm certeza de que Ele conquistou a vida eterna para eles e creem em uma ressurreição da qual compartilharão. Mas, como Marta, muitos cristãos modernos limitam o poder de Jesus ao futuro. Elas deixam de perceber que Jesus traz vida aos mortos agora. Ele pode tomar as nossas esperanças mortas e fazêlas reviver. Ele pode tomar os nossos relacionamen­ tos dormentes e revitalizá-los. Ele pode transfor­ mar o espiritualmente indiferente, redirecionar a vida do pecador e trazer uma vibrante novidade a todas as áreas mortas de nossa vida.

O fascinante é que o Sinédrio argumentou que a atitude mais “responsável” era matar Jesus antes que todos o reconhecessem como o Messias, e ocorresse uma sublevação generalizada. Esses líde­ res “espirituais” pareciam temer a força das armas romanas mais do que os poderes sobrenaturais demonstrados por Jesus. “Desde aquele dia, pois, consultavam-se para o matarem.” O materialista sempre fará essa escolha. Seja o que for que o materialista testemunhe, nunca lhe ocorrerá que o mundo espiritual é mais signifi­ cativo que o físico, ou que Cristo é o Senhor de tudo e de todos. Sejam quais forem as provas, o materialista tentará livrar-se de Cristo em vez de adorá-lo. Marta demonstrou que tinha um pensamento li­ mitado a respeito de Jesus ao esperar que Ele agisse apenas no futuro. Ao ressuscitar Lázaro, Jesus de­ monstrou que Ele está pronto, disposto e é capaz de agir agora. Aplicação Pessoal Nunca limite Jesus. Espere que Ele aja, hoje! Citação Importante “Os passos da fé pousam no vazio aparente, e en­ contram uma rocha sólida.” — John Greenleaf W hittier 3 DE SETEMBRO LEITURA 246 A CRISE João 12 “E, ainda que [Jesus] tivessefeito tantos sinais diante deles, não criam nele” (Jo 12.37). As pessoas podem hesitar por algum tempo. Mas chega um momento em que uma decisão definitiva deve ser tomada. Visão Geral Jesus foi ungido por Maria, irmã de Lázaro (12.111). No caminho para Jerusalém, Ele foi aclamado rei (w. 12-19). Profundamente incomodado, Jesus previu a sua morte (w. 20-28). Ele foi reconforta­ do por Deus (w. 29-30) e falou do que a sua morte realizaria (w. 31-36). João comentou a cegueira dos líderes (w. 37-43) e relatou o chamado final de Cristo à fé (w. 44-50). Entendendo o Texto “Encheu-se a casa do cheiro do unguento ”(Jo 12.1 -3).

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O perfume que Maria usou para ungir Jesus valia cerca de 300 denários, o equivalente a um ano de salário. O perfume era importado para a Palestina e, por causa do seu valor, muitas vezes era compra­ do como investimento. O nardo que Maria verteu sobre os pés de Jesus podia muito bem representar as economias de sua vida. Pelo que sabemos de Maria — sua avidez por aprender aos pés de Jesus e a fé genuína que de­ monstrou quando Lázaro morreu — parece pro­ vável que ela antecipava a futura morte de Cristo. No mínimo, ela percebeu a pressão crescente sob a qual Ele estava vivendo e procurou demonstrar sua devoção. Seu ato amoroso encheu a casa do cheiro do unguento. Sempre há algo de belo e perfumado naquilo que fazemos por amor. Nenhum ato realizado por mero senso de dever, ou por obrigação, pode encher o ar com esse tipo de fragrância.

“Porque os pobres, sempre os tendes convosco” (Jo 12.4-11). A preocupação insincera de Judas com os pobres valeu-lhe uma resposta muito mal en­ tendida de Jesus. João nos diz que Judas tinha uma razão egoísta para reprovar Maria. Ele estava incomodado porque queria dinheiro nos cofres de Cristo — para que ele pudesse roubar um pouco! Os outros Evangelhos relatam que a observação de Judas levou também outros discípulos a criticar. O que, porém, Jesus tinha em mente quando disse: “Os pobres sempre os tende convosco”? Simples­ mente que qualquer pessoa verdadeiramente inte­ ressada nos pobres não precisa se preocupar. Sem­ pre haverá oportunidades de ajudar os pobres. Hoje, o momento de deitar perfume nos pés de Jesus passou há muito tempo. Mas os pobres ainda estão conosco. E nós temos uma oportunidade de ajudá-los, em nome de Jesus.

No torvelinho de entusiasmo que varreu Jerusalém à medida que a semana da Páscoa se aproximava, estava bem claro que todos deviam tomar alguma decisão quanto a quem era Jesus. Um dos engodos favoritos de Satanás é fazer as pes­ soas adiarem essa decisão. Satanás se delicia quando os dias e as noites ficam repletos de atividades co­ muns que entorpecem a alma em relação às ques­ tões espirituais. Por outro lado, tempos marcados por tribulações ou sofrimento são especialmente tensos para Satanás, e são oportunidades para que os cristãos enfatizem as palavras de Cristo.

“Bendito o Rei de Israel” (Jo 12.12-19). A ressurrei­ ção de Lázaro parece ter convencido a multidão de que Jesus era verdadeiramente o Messias, o Gover­ nante prometido pelos profetas. Eles o saudaram com gritos, aclamando-o Rei de Israel. Até mesmo a expressão “Hosana” sugere esse pensamento, pois significa “Salva, pedimos!” Embora a entrada triunfal realmente cumprisse a profecia, também demonstrava que mesmo os muitos que “criam” em Jesus Cristo aceitavam-no nos seus próprios termos, não nos dEle. Eles acre­ ditavam no que queriam acreditar sobre Ele — que Ele os libertaria de Roma e estabeleceria o Reino de Deus na terra. Não é incomum que as pessoas hoje esperem que Je­ sus atue da maneira como elas esperam ou querem que Ele atue. Não é incomum, mas ainda é um erro.

“Senhor, queríamos ver a Jesus” (Jo 12.20-26). Os “gregos” que queriam ver Jesus podiam ser gentios que estavam presentes para observar a espetacular festa judaica da Páscoa ou talvez judeus de língua grega. De qualquer maneira, eles tinham a sua pró­ pria pauta quando procuraram Jesus. Curiosidade. Cristo pareceu ignorar a solicitação quando lhe foi transmitida. Em vez disso, Ele falou de sua “Muitos dos judeus, por causa dele [de Lázaro], iam futura morte. Jesus tinha uma pauta estabelecida e criam em Jesus” (Jo 12.9-11). A ressurreição de pelo Pai e nada o desviaria do cumprimento da Lázaro convenceu muitos que anteriormente ha­ vontade do Pai. viam hesitado. Se “os judeus” a que João se refere aqui são os mesmos a que ele se referiu antes, até “Agora, é o juízo deste mundo” (Jo 12.28-33). Os mesmo membros do partido de oposição estavam Evangelhos falam de uma voz, literal, vinda do se convertendo. céu, em três momentos do ministério de Jesus. No Esses versículos nos apresentam as nítidas divisões seu batismo (o princípio), na sua transfiguração (o que se desenvolviam na sociedade judaica. Alguns ponto médio) e agora, antes de sua crucificação (o “iam e criam em Jesus”. As multidões de Jerusalém, fim). Aqui ela marca o tempo de decisão. Ao dizer: convencidas pelo último milagre de que Jesus de­ “Agora, é o juízo deste mundo”, Jesus queria di­ via ser o Messias, quiseram torná-lo rei. Os líderes zer que sua morte, a autorrevelação final de Deus religiosos estavam decididos a livrar-se de Jesus. E estaria completa. Dali por diante, crença e incre­ Cristo impeliu os indivíduos hesitantes a “saírem dulidade marcariam uma fronteira que dividiria a de cima do muro”, a não apenas ouvirem, mas humanidade em dois grupos, distintos em termos também a guardarem as suas palavras. de natureza e destino.

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“Ainda que tivessefeito tantos sinais diante deles, não criam nele” (Jo 12.37-50). A crise final chegara e, ainda assim, a maioria hesitava em relação a um pleno compromisso de fé. Jesus fez uma última declaração surpreendente a respeito de si. Ao citar Isaías 6, João diz que Ele afirmou implicitamente que Isaías “viu a sua glória e falou dEle” (Jo 12.41). Ao voltarmos àquele capítulo, percebemos que a pessoa que Isaías descreve é o próprio Yahewh, as­ sentado em um trono celestial (Is 6.1) e aclamado por anjos que constantemente clamam: “Santo,

DEVOCIONAL

Quem Está na Primeira? (Jo 12.12-24) É atribuída a Abbott e Costello a rotina cômica do beisebol: “Quem está na primeira?” (Qual está na segunda base, Onde joga na terceira e, acho, Por Que está entre a segunda e a terceira.) Se me con­ fundo com os jogadores e suas posições, bem, este relato de João mostra que uma confusão parecida existia na Jerusalém do século I quando Jesus se aproxima da cidade pela última vez. João nos diz que Ele foi recebido pela aclamação de multidões, que o saudavam como “o Rei de Israel”. A ressurreição de Lázaro convencera as multidões: Jesus devia ser o tão esperado Messias, afinal. E, en­ tão, eles gritavam louvores e clamavam: “Hosana”, que significa “Salva, pedimos!” Finalmente, pensa­ vam que Jesus iria se ocupar com a verdadeira tare­ fa que esperavam do Messias: expulsar os romanos e tornar Israel uma potência mundial. Um pouco depois, alguns gregos abordaram um dos discípulos de Jesus e expressaram polidamente seu interesse em vê-lo. Então, Filipe e André trans­ mitiram a mensagem. “Alguns gregos simpáticos querem vê-lo, Senhor.” Talvez pensassem que seria boa política Jesus estabelecer relações com estran­ geiros. Talvez Filipe ou André servisse em um pos­ to diplomático em uma cidade importante, como Corinto ou Filipos! Posso entender as multidões, os gregos e os discí­ pulos. Todos tinham pautas que eram importantes para si. E cada um tinha um grande papel para Je­ sus nos seus planos! Só havia um problema. Ninguém havia parado para fazer a pergunta crucial: “Quem está na primeira?” Jesus esclareceu a confusão, porém, assim como esclarece as nossas. Após falar de sua morte, Jesus disse: “Se alguém me serve, siga-me; e, onde eu es­ tiver, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, meu Pai o honrará” (v. 26). Veja que o erro cometido pelas multidões que o aclamavam,

Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (v. 3). O próprio Deus veio à terra e manifestou seu poder em sinais miraculosos. Contudo, os homens esta­ vam mais impressionados com o poder insignifi­ cante de outros homens do que com a glória do seu Deus (Jo 12.42,43). Quando compreendermos a glória do nosso Deus, deixaremos de nos impressionar com os homens. Então, reconheceremos e obedeceremos ao Senhor Jesus Cristo.

os gregos e mesmo os discípulos — o erro ainda cometido por nós e que causa tanta confusão — é que todos esqueceram quem está na primeira. A resposta direta e simples de Deus é: Jesus está na primeira. Nós não conduzimos e depois esperamos que Jesus nos acompanhe. Deixamos que Jesus vá primeiro e nós o seguimos. Se você e eu mantivermos essa ordem em mente, ela esclarecerá a maioria de nossas confusões sobre a vida. Raramente ficaremos deprimidos ou angus­ tiados imaginando por que Deus não faz as coisas do nosso jeito. Não esperaremos que Ele o faça. E raramente nos perguntaremos por que Deus não abençoou nossos planos, quando tivemos todo o trabalho de fazê-los e de pedir a sua bênção. Como servos de Jesus, buscaremos a sua vontade em pri­ meiro lugar — e, então, teremos feito o melhor para segui-lo de perto até onde Ele nos conduzir. Portanto, aproveite a rotina de Abbott e Costello quando ouvi-la. Mas não se deixe confundir quan­ to a quem está na primeira base na vida cristã, e quem segue depois. Aplicação Pessoal Não tente usar Jesus. Siga-o. Citação Importante “Idealmente, quando cristãos se encontram, como cristãos, para se aconselharem juntos, seu propósi­ to não é — ou não deveria ser — descobrir o que está na mente da maioria, mas o que está na mente do Espírito Santo — algo que pode ser totalmente diferente.” — Margaret Thatcher 4 DE SETEMBRO LEITURA 247 UM NOVO MANDAMENTO João 13 “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós

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uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que Você e eu podemos nos curvar para servir os ou­ sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” tros. Nem mesmo o mais humilde dos papéis pode nos diminuir. (Jo 13.34,35). O amor não é uma. opção. E um mandamento e a “Nunca me lavarás os pés” (Jo 13.6-11). Pedro fi­ cou chocado com a impropriedade daquele gesto. marca da nova comunidade de Cristo. Aquele que ele chamava Senhor, servindo-o! Não era certo. Pedro devia servir a Jesus, não o contrá­ Visão Geral Jesus partilhou uma refeição final com seus discí­ rio. pulos, na qual Ele lavou os pés deles (13.1-11). Ele João destacou que Pedro não compreendeu o sim­ exigiu que seus discípulos seguissem seu exemplo bolismo do ato nem o seu poder como exemplo de serviço humilde (w. 12-17). Jesus predisse a sua da condição de servo. Jesus tinha que “lavar” seus traição, e Judas partiu (w. 18-30). Cristo deu o seu seguidores, não apenas para torná-los socialmente “novo mandamento” de amor mútuo (w. 31-35) e aceitáveis, mas para torná-los aceitáveis para o Rei­ no de Deus. predisse a traição de Pedro (w. 36-38). Muitos sugeriram que, aqui, a “lavagem” (v. 10) representa a eliminação total do pecado em uma Entendendo o Texto “Como havia amado os seus que estavam no mun­ pessoa quando ela deposita sua fé em Jesus como do, amou-os até ao fim ” (Jo 13.1). Este capítulo Salvador. A lavagem dos pés representa a purifica­ começa com o tratamento das horas finais de ção dos pecados que cometemos como crentes — Cristo antes da crucificação. Em um sentido, era pecados análogos à poeira que uma pessoa limpa a jornada que Jesus agora fazia até a cruz que adquiriria ao caminhar em uma empoeirada rua da revelava a plena extensão do seu amor. Mas é Judeia a caminho de casa. provável que João tenha em mente aqui o que Fomos lavados pela fé em Jesus. Mas temos contí­ Jesus fez e disse na Ultima Ceia. O ato de lavar nua necessidade de nos lavarmos dos pecados que os pés, relatado nesse capítulo, o ensinamento ainda cometemos. de Cristo sobre o dom do Espírito Santo (Jo 14; 16), sua revelação do relacionamento com Ele “Vós deveis também lavar os pés uns aos outros” (Jo sendo como a de uma videira com os seus ramos 13.12-17). Lucas 22.24 nos diz que, enquanto os (Jo 15), e a sua oração pela nossa santificação discípulos entravam na sala em que ocorreria a Ul­ (Jo 17), todos revelam singularmente a extensão tima Ceia, eles discutiam quem seria o maior no do amor de Cristo na grande salvação que a sua Reino do céu. Esse pano de fundo encontrado em Lucas nos aju­ morte conquistou para nós. da a perceber a importância da pergunta de Jesus: “Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas suas “Entendeis o que vos tenho feito?” Se Jesus, seu Se­ mãos todas as coisas...” (Jo 13.2-5). João acrescentou nhor e Mestre, podia curvar-se para servir, os discíque Jesus sabia “que havia saído de Deus, e que ia para Deus”. E, então, João deixa implícita uma palavra estranha: “então...” Por que “então...”? Porque apenas uma pessoa verdadeiramente segura de sua identidade pode se dar ao luxo de assumir o papel de um servo. Jesus sabia quem era. Ele era o Filho de Deus e não podia ser diminuído ao humilhar-se e servir seus discípulos. Isso é verdade para nós hoje. No mundo, as pessoas lutam para conquistar todas as vantagens sociais e parecer grandes. Inseguras e conscientes de sua vul­ nerabilidade, elas se apoiam no orgulho da realiza­ Esta bacia do século I tem, em seu centro, um apoio ele­ ção. Muitos cristãos são assim — competem com vado para os pés. O hóspede descansava o pé no apoio os outros a fim de parecerem importantes. Mas o enquanto um escravo vertia água sobre ele para lavar o pó cristão que percebe a importância da sua condição da viagem. A tarefa era atribuída ao servo de nível mais de filho, e de ser amado profundamente por Deus, baixo. Foi um espantoso exemplo de humildade Jesus, não terá qualquer resquício da insegurança que sendo o Senhor e Mestre, curvar-se para lavar os pés dos discípulos. gera a competição.

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pulos não deviam competir por grandeza, mas, an­ tes, concentrar-se em servir. “Eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também”. Em algumas tradições cristãs, o lava-pés literal é praticado. Mas a preocupação de Cristo não é com o ato, mas com a postura que ele demonstra. A hu­ mildade e o servir são elementos necessários à con­ dição de discípulo cristão. Se somos seguidores de Jesus, certamente devemos seguir o seu exemplo. “Jesus... turbou-se em espírito” (Jo 13.18-30). Seria errado supor que Jesus não amava Judas. O salmo que Jesus citou (v. 18) era um salmo de Davi que lamentava a deserção de um amigo. Um lamento similar é encontrado em Salmos 55.12-14, que capta a dor da traição de um amigo:

Foi quando Judas assumiu esse compromisso ir­ revogável que Satanás “entrou nele”. Ao decidir abandonar Cristo, Judas escancarara a porta de sua personalidade para o controle de uma força espiri­ tual maligna. Ninguém que assuma um compromisso irrevogá­ vel contra Cristo encontra liberdade. A pessoa sim­ plesmente trocou a submissão ao bem pela submis­ são ao mal. A submissão a Deus pela submissão a Satanás. E a vida eterna pela condenação eterna.

“E era já noite" (Jo 13.30). E possível que quan­ do Judas abriu a porta e saiu, João tenha tido um vislumbre de Jerusalém nas sombras profundas do súbito anoitecer da Palestina. Tudo o que sabemos é que a escuridão envolve tudo neste momento — e que um tom grave e sombrio colore os acon­ Pois não era um inimigo que me afrontava; tecimentos subsequentes, que conduzem inexora­ então, eu o teria suportado; nem era o que me velmente à cruz. O manto da noite agora cobre aborrecia que se engrandecia contra mim, por­ Jerusalém e só se dissipará no dia da ressurreição. que dele me teria escondido, mas eras tu, ho­ mem meu igual, meu guia e meu íntimo amigo. “Por ti darei a minha vida” (Jo 13.36-38). Pedro Praticávamos juntos suavemente, e íamos com a deve ter sido um conforto para Jesus. Judas conspi­ multidão à Casa de Deus. rou para traí-lo. Mas o fiel Pedro, sempre entusias­ mado e disposto, estava verdadeiramente compro­ Se você foi abandonado por um amigo ou traído metido com o seu Senhor. Embora Jesus soubesse por alguém que amava, não duvide, nem sequer que antes que se passassem muitas horas Pedro o por um momento, que Jesus compreende. negaria, o amor de Pedro, ainda assim, deve ter sido um conforto. “Após o bocado, entrou nele Satanás” (Jo 13.27). E extremamente desagradável percebermos que as A expressão não significa que Satanás assumiu o pessoas que amamos muitas vezes são tão fracas controle de Judas contra sua vontade. Justamen­ quanto o bem-intencionado Pedro. As pessoas que te o contrário! Quando Jesus ofereceu a Judas um nos amam não querem nos magoar, assim como pedaço de pão com carne do prato principal, Judas não queremos magoá-las. Mas nós, seres humanos, soube sem dúvida que Cristo sabia que ele preten­ somos extremamente fracos. dia traí-lo. Os outros discípulos não compreende­ Suspeito que seja isto que devemos aprender com ram, mas Judas, sim. a traição de Pedro: Todos nós somos fracos. E os Era o momento crucial. Ninguém sabia, a não ser motivos, apesar de importantes, não são a garan­ Jesus. Naquele momento, Judas podia ter mudado tia de que não cairemos. Como é bom saber que de ideia. Em vez disso, pegou o pedaço de pão que Jesus compreende a nossa fraqueza, e nos aceita da Cristo lhe estendeu, anunciando, na verdade, a sua maneira como somos. Quão necessário é que com­ intenção de completar a barganha com os sacerdo­ preendamos a fraqueza uns dos outros e estejamos tes judeus. prontos para perdoar.

DEVOCIONAL______ O que Há de novo, então?

(Jo 13.31-35) Este é o problema com o “novo mandamento” de Jesus. Amor? O que há de novo nissol Os outros evangelistas nos informam que Jesus identificou o amor como o maior dos mandamentos do Antigo Testamento: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração”, Ele disse, “e amarás o teu próxi-

mo como a ti mesmo” (Mt 19.19; 22.37-39; Mc 12.30-33; Lc 10.27). Seja o que for que possamos dizer sobre o amor, não podemos dizer que ele seja “novo”. O amor por Deus e pelos outros está pre­ sente em toda a revelação do Antigo Testamento! A resposta se encontra na palavra grega usada aqui, kainen. Ela não sugere “recente” ou sequer “dife­ rente”. O que ela sugere é que há algo de fresco e

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novo no amor que Jesus ordena. E, examinado o texto com atenção, podemos perceber o que é! Primeiro, o frescor encontra-se nas novas relações que Jesus cria (Jo 13.34). O Antigo Testamento disse: “Amarás o teu próximo” (Lv 19.18). Jesus estava prestes a estabelecer uma nova comunidade, na qual os crentes seriam irmãos e irmãs — família, não meramente próximos. O amor assume um sig­ nificado fresco e novo na intimidade que é possível para os membros da família de Deus. Segundo, o frescor se encontra no novo padrão que Jesus aplica. O Antigo Testamento dizia: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Jesus dizia que amassem “como eu vos amei a vós” (Jo 13.34). As­ sim como o amor de Jesus era autossacrificial e co­ locava o nosso benefício à frente de seu bem-estar, temos agora a oportunidade de expressar e receber amor verdadeiramente altruísta. O versículo seguinte acrescenta mais uma dimen­ são ao amor que Jesus ordenava. Há um impac­ to fresco e novo, no mundo, que é realizado pelo amor de Jesus: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. A prova mais convincente da realidade de Jesus Cristo que podemos apresentar é o nosso amor uns pelos outros. Quando os cristãos se amam mutua­ mente como Jesus nos ama, todos sabem que nós o seguimos e que Ele vive.

pessoal: Consolador. Quais são os ministérios do Espírito Santo em nossos dias? (1) Ele é a fonte da força espiritual dos crentes (Jo 14.16,17; 16.5-15; At 1.8). (2) Ele nos une a Cristo e aos outros, fa­ zendo de nós uma igreja e uma família de Deus (1 Co 12.13). (3) Ele nos capacita a conhecer a vonta­ de de Deus e controlar nossa natureza pecaminosa (Rm 8.5-11). (4) Ele transforma nosso caráter e nos torna mais semelhantes a Cristo (G1 5.22,23; 2 Co 3.18). (5) Ele nos equipa para o ministério, distribuindo dons espirituais que nos capacitam a contribuir para a salvação e o desenvolvimento dos outros (1 Co 12-14; Rm 12). Em um sentido muito real, a vitalidade da nossa vida cristã depende do Espírito Santo, cujos minis­ térios Cristo apresenta neste e nos próximos capí­ tulos do Evangelho de João. Visão Geral Jesus encorajou seus discípulos a crer (14.1-4), cha­ mando a si mesmo de “o caminho, e a verdade, e a vida” (w. 5-7). Jesus havia revelado plenamente Deus Pai em sua própria pessoa (w. 8-11). Ele ca­ pacitaria os crentes (v. 12) e responderia às orações (w. 13,14). Ele também daria o Espírito Santo (w. 15-20) e aqueles que o obedecerem por amor ex­ perimentarão a presença de Deus (w. 21-24). O Espírito, que viria depois que Jesus partisse, traria paz aos crentes (w. 25-31).

Aplicação Pessoal O amor não é a “nova sugestão” de Jesus. É o seu Entendendo o Texto “novo mandamento”. “Não se turbe o vosso coração” (Jo 14.1). Os discí­ pulos parecem ter tido razão para se turbarem! Os líderes em Jerusalém estavam tramando a morte de Citação Importante “As pessoas não vão para onde está a ação; elas vão Jesus (10.31; 11.45-53). O próprio Jesus predisse que morreria (12.23-28). Jesus tinha acabado de para onde está o amor.” — Jess Moody dizer que um deles o trairia (13.31) e que Pedro 5 DE SETEMBRO LEITURA 248o negaria (v. 38). Sem dúvida, foi um grupo per­ • CORAÇÕES PERTURBADOS turbado de discípulos que se juntou em volta de Cristo. João 14 Mas Jesus tinha uma solução para eles — e para “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede nós. “Credes em Deus, crede também em mim” também em m im ”(Jo 14.1). (14.1). Por mais difíceis que possam ser as circunstâncias As palavragjie conforto e encorajamento de João que nos ameaçam, devemos confiar em Deus, sa­ continuam a aliviar nossos corações perturbados. bendo que Jesus tem o poder de acalmar o nosso coração perturbado e de nos trazer paz. Visão Geral ) O Espírito Santo. Éstes capítulos, que contêm o di­ “Na casa de meu Pai há muitas moradas”(Jo 14.2,3). álogo de'Jesus-'na Ultima Ceia, estão repletos de A imagem está em nítido contraste com as “muitas ensinos sobre o ministério do Espírito Santo. Os mansões” dos tradutores de algumas versões da Bí­ cristãos entendem o Espírito Santo não como uma blia, que imaginaram mansões senhoriais no topo influência ou força, mas como uma Pessoa, unida de colinas, onde proprietários de terras aristocrá­ a Deus Pai e ao Filho no Deus Ünico da Escritu­ ticos viviam em esplêndido isolamento. Nas casas ra. Aqui, em João 14, o Espírito recebe um nome orientais, pelo contrário, havia muitos quartos,

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quase sempre construídos em torno de um pátio central. Ali, a família inteira — composta pelo pai, pela mãe, por todos os filhos e suas esposas e filhos — vivia junta. Essa é uma imagem da experiência que nos es­ pera quando Jesus retornar. Nenhum isolamento esplêndido, mas o calor da comunhão íntima, da reunião como família para o compartilhamento de alegrias sem fim. Sejam quais forem os problemas que nos perturbam hoje, Paulo diz: “... não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8.18). Esta é uma defesa do coração aflito. Podemos olhar adiante, perceber o que se encontra além da nos­ sa experiência neste mundo e encontrar confor­ to. Contudo, ao prosseguir, Ele mostrou aos seus discípulos outras fontes de conforto para o crente: conforto aqui e agora. “Senhor, nós não sabemos para onde vais e como po­ demos saber o caminho?” (Jo 14.5-7). Tomé é o dis­ cípulo que todos reconhecemos: o pessimista. Ele via o lado escuro de todas as coisas e não deixava de apontá-lo! Contudo, antes de criticarmos Tomé, precisamos lembrar que mesmo quando tinha a certeza de que Jesus e todos os seus discípulos mor­ reriam se voltassem à Judeia para ajudar Lázaro, ele disse aos outros: “Vamos nós também, para mor­ rermos com ele” (11.16). Um bom amigo meu, o pastor de uma igreja que frequentei por muitos anos, é muito parecido com Tomé. Podemos sempre esperar que ele veja e sinta, profundamente, o lado sombrio das coisas. Con­ tudo, é um dos poucos homens que conheço que, apesar das suspeitas de desgraça, está sempre pron­ to a “ir também” em qualquer direção que Deus o conduzir. Como eu admiro o pessimista que enxerga perigo em toda parte, mas que, acompanha Cristo leal­ mente em qualquer direção que Ele vá. Se fizeram pouco de você por ser considerado pessimista — e o pessimista muitas vezes é criticado em nossas igrejas — conforte-se. Tom a um pessimista que continuou a ser totalmente leal, oferece um exem­ plo que você pode sisguirr Ver dificuldades não é a medida de um homem. Ser obediente, apesar delas, é.

gunta de Filipe levou Jesus a expandir esse pensa­ mento: “Quem me vê a mim vê o Pai” (v. 9). Jesus expressa tão perfeitamente a pessoa de Deus que conhecer Jesus é o mesmo que conhecer o Pai. O indivíduo que se pergunta como Deus é “real­ mente” precisa apenas olhar para Jesus Cristo para descobrir. “A s fard maiores do que estas” (Jo 14.12). Este é ou­ tro daqueles versículos enigmáticos da Escritura. Como um mero ser humano, ainda que creia em Jesus, pode fazer coisas “maiores” do que as que Jesus fez na terra? Alguns dizem que Pedro, pregando apenas um sermão (At 2), conseguiu mais convertidos do que Jesus em todos os seus anos de ministério! Penso, porém, que não é bem assim, e que há algo mais significativo envolvido. As obras de Jesus aqui na terra foram feitas segun­ do a vontade do Pai e no poder do Espírito Santo. Elas eram especiais — mas não surpreendentes. Afinal, Jesus é Deus Filho e, como Deus, não ape­ nas conhece, mas está em completa harmonia com a vontade do Pai e sempre receptivo à condução do Espírito. Você e eu, por outro lado, somos meras criaturas e, para completar, somos criaturas peca­ minosas. E muito mais surpreendente e maravilho­ so quando agimos em completa harmonia com a vontade do Pai e somos receptivos à condução do Espírito e ao seu poder. As nossas “obras maiores” são maiores por trazerem em si um grande prodígio — a percepção impressionante de que Deus pode usar criaturas fracas e pecaminosas como nós para realizar os seus propósitos em nosso mundo.

“Tudo o que pedirdes em meu nome” (Jo 14.13,14). O poder do cristão de fazer “coisas maiores” está claramente enraizado na oração. Não somos capa­ zes de executá-las: é Cristo em nós que “fará” tudo o que pedirmos. Observe, porém, que o pedido deve ser feito “em meu nome”. Significa mais do que juntar “em nome de Jesus” ao fim de toda petição. No pensa­ mento hebraico, o “nome” expressa o caráter essen­ cial da coisa ou pessoa nomeada. Orar “em nome de Jesus” é fazer pedidos que estejam na mais plena harmonia com o caráter de Cristo e seus propósi­ tos. Quando oramos dessa maneira, podemos ter “Senhor, mostra-nos o Pai” (Jo 14.8-11). As obser­ certeza de que nossas orações serão respondidas e vações de Tomé e Filipe parecem ser interrupções, que o poder de Deus fluirá. que fazem Jesus desviar-se da linha principal de seu ensinamento. Contudo, a resposta de Jesus a “Ele vos dará outro Consolador, para que jique con­ cada discípulo acrescenta importantes verdades. Je­ vosco para sempre” (Jo 14.16). Jesus logo deixaria sus disse a Tomé que se ele percebesse plenamente seus discípulos. Contudo, Ele não os deixaria so­ quem era Jesus, também veria o Pai (v. 7). A per­ zinhos.

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ainda mais o amor. Falta de amor, porém, levará à desobediência e a uma sensação de irrealidade na nossa fé. Se Jesus parece irreal para você, examine primeiro o seu amor, e depois a sua obediência.

A palavra traduzida como “Consolador”, parakletos, significa “uma pessoa que é chamada para auxi­ liar outra”. A palavra traduzida como “outro”, allos, significa “outro do mesmo tipo”, para distinguir de outro de um tipo diferente. Jesus partiria, mas Deus Pai enviaria o Espírito Santo — que, como o Filho, é Deus — para estar presente a fim de nos auxiliar e confortar. O Consolador está conosco agora e para sempre.

“[Ele] vos ensinará todas as coisas” (Jo 14.26). O Espírito Santo nos lembra do que aprendemos. A pessoa que não fez nenhum esforço para estudar e entender o que Jesus disse não terá do que se lem­ “Eu o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14.21-24). brar! Esses versículos contêm um dos mais significati­ vos ensinamentos para a vida cristã. Como expe­ “A minha paz vos dou”(Jo 14.27). Na melhor das hi­ rimentamos a presença de Cristo? Ninguém pode póteses, o mundo conhece uma paz desconfortável, vê-lo, mas, no entanto, em certo sentido místico, pois a paz do mundo depende de circunstâncias. os crentes ao longo dos tempos conheceram a sua Um terremoto, uma guerra, a perda do emprego, presença real. uma doença — essas são apenas algumas das coisas O princípio que Jesus estabeleceu foi: Ame e que destroem a paz do mundo. obedeça. E o vínculo entre os dois é que o amor Em contraste, a paz de Cristo independe das cir­ estimula a obediência. Na verdade, os dois es­ cunstâncias. Ela está enraizada no conhecimento tão ligados em uma espiral infinita. A medida de que Deus é nosso Pai, Cristo é nosso Salvador e que o amor nos move a obedecer, a obediência o céu, o nosso lar. Nada que aconteça neste mundo nos leva para mais perto de Jesus, o que estimula pode afetar essas realidades.

DEVOCIONAL______ Não Erre o Caminho

(Jo 14.1-6) Quando meu pai envelheceu, sua visão começou a traí-lo. Não que ele não conseguisse enxergar. Ele simplesmente não enxerga tão bem — ou não rea­ gia tão bem ao que via. Nunca esquecerei a reação de meus dois filhos, Paul e Tim, depois de um passeio meio turbulento com meu pai no norte de Wisconsin. Ele dirigiu a sua caminhonete equipada para acampamentos por uma estrada de terra, com três galhos pendurados nas laterais do veículo (arrancados das árvores pelas quais passamos!), enquanto meus dois garotos ado­ lescentes se agarravam onde podiam. “Eu não vou mais passear com o vovô”, ambos anunciaram. Dava para entender. Sempre que eu ia a Detroit, dava um jeito de dirigir no çâminho para casa quando meu pai ia me buscar. É realmente perigo­ so quando as pessoas não conseguem enxergar. Também é espiritualmente perigoso quando as pessoas supõem que há muitos cammhós que le­ vam a Deus, e partem cegamente por um deles, confiantes de que, no final, este o levará até Ele. Jesus deixou claro que há um só caminho que leva a Deus, e que Ele é o caminho. Suas palavras, “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim”, enunciam a afirmação mais exclusiva do cristianis-

mo. Outras religiões oferecem caminhos a seguir. Outras apresentam discernimento moral. Outras sugerem uma vida após a morte. Mas apenas na pessoa de Jesus Cristo alguém pode encontrar o ca­ minho para Deus, a verdade sobre o universo e a vida eterna. Apenas por meio de Jesus alguém pode chegar a Deus. Meus garotos estavam certos por não quererem sair de carro com o meu pai. E nós estamos certos por não confiarmos a nossa vida a ninguém, a não ser a Jesus. Todos os outros erraram o caminho. Aplicação Pessoal O caminho para Deus está realmente sinalizado por placas de “Mão Única”. Citação Importante Você, meu filho, Mostrou-me Deus. Seu beijo em meu rosto Fez-me sentir o toque delicado Daquele que nos conduz. A lembrança de seu sorriso, quando jovem, Revela a sua face, Enquanto os anos de maturidade se passam rapi­ damente. E, partindo antes, Você deixou as portas do céu entreabertas

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Para que eu pudesse vislumbrar, Aproximando-se ao longe, As glórias de sua graça. Segure minha mão, filho, Guie-me ao longo do caminho, Para que, ao caminhar, Não tropece, Não vagueie, Nem deixe de mostrar o caminho Que nos leva para casa. — Grace Coolidge

meio dEle, os crentes possam produzir o fruto da verdadeira bondade (cf. G1 5.22,23). Apenas por meio do relacionamento com Jesus Cristo, a “videira verdadeira”, é que as qualidades morais que Deus busca nos seres humanos podem ser produzidas. O relacionamento pessoal com Je­ sus é a essência do cristianismo.

“[Ele] tira... [Ele] limpa”(Jo 15.2), O agricultor que poda a sua vinha trabalha com extremo cuidado. Aqui não há nenhuma ameaça ao se retratar a Deus 6 D E SETEMBRO LEITURA 249 como o agricultor que poda as suas videiras. Não TRÊS RELACIONAMENTOS há nenhum aviso de “produza, ou então”. Em vez João 15 disso, somos assegurados de que Deus, o agricultor, que cuida ativamente da sua vinha, está totalmente “Estai em mim, e eu, em vós; como a vara de si mesma comprometido em fazer-nos frutificar ao máximo. não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim O trabalho de poda de Deus nos beneficia; ele não também vós, se não estiverdes em mirri’ (Jo 15.4). nos ameaça.

O cristianismo não é apenas uma religião de cren­ “Estai em mim” (Jo 15,4-9), Algumas versões da ças; é uma religião de relacionamentos. Bíblia usam outro verbo, mas ambos transmitem a mesma ideia: viver em íntima união com Jesus. Visão Geral A própria analogia nos diz por quê. Um ramo tira As pessoas que pertencem a Jesus são ramos. Ele é sua seiva da videira à qual está unido. Da mesma a Videira (15.1-4). Quando permanecemos no seu maneira, nós tiramos de Jesus a vitalidade espiritu­ amor, produzimos frutos (w. 5-10). As pessoas que al que nos capacita a produzir frutos. Assim, Jesus pertencem a Jesus devem amar-se mutuamente (w. diz claramente: “Sem mim nada podeis fazer”. 11-13), e servir a Jesus como amigos, mais do que A vida cristã é uma vida sobrenatural, que flui como servos (w. 14-17). Elas devem esperar pela de Jesus para nós. Ela só pode ser experimentada perseguição em um mundo hostil (w. 18-25), mas quando vivemos em íntima comunhão com o nos­ continuar a testemunhar a seu respeito (w. 26,27). so Senhor. Entendendo o Texto “Eu sou a videira verdadeira” (Jo 15-1). A videira é uma ilustração do povo de Deus utilizada com frequência no Antigo Testamento. Salmos 80.8 (ARA) fala de Israel como “uma videira trazida do Egito”. O uso mais claro da imagem é encontrado em Isaías 5. Ali, o profeta diz:

“Se guardardes os meus mandamentos” (Jo 15.10). Jesus também deixou claro como podemos “per­ manecer” nEle. Jesus se manteve junto ao Pai sendo sensível à Sua vontade: obedecendo-o. Da mesma maneira, mantemo^nosiunto a Jesus, sendo sensí­ veis à sua vontade: obedecendo ao nosso Senhor. (Veja o DEVOCIONAL.) Jesus nunca nos abandona. Qualquer falha em ter­ O meu amado tem um a vinha em um outeiro mos de permanecer nEle será uma escolha nossa. fértil. E a cercou, e a limpou das pedras, e a plantou de excelentes vides; e edificou no “Será lançado fora” (Jo 15.6). A lenha da videira é meio dela um a torre e também construiu nela fibrosa e torcida. Não pode ser cortada como ma­ um lagar. deira. Não pode ser usada em mobília e utensílios. Só tem valor quando vive na videira, produzindo E ele explica: frutos. Portanto, a imagem oferecida por Jesus, dos ramos lançados fora e queimados, pretende ... a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de enfatizar a inutilidade de um ramo que não está Israel, e os homens de Judá são a planta das frutificando. suas delícias. (Is 5.1,2,7) Observe que Jesus não disse que o crente é lançado fora e queimado. Ele disse que o crente que não Israel, porém, não produziu o fruto de justiça e ju­ produz fruto é como um ramo descartado. Você e ízo que Deus procurava. E, portanto, Cristo veio eu fomos escolhidos por Deus e chamados a um re­ como a “videira verdadeira”, para que nEle e por lacionamento com Cristo, para que possamos pro­

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encorajam a nossa confiança no Senhor e a nossa resposta positiva a Ele. Você e eu não podemos ser os únicos responsáveis pela maneira como os outros membros da igreja de Cristo se comportam. Mas podemos ser responsá­ veis pelo nosso relacionamento com nossos com­ “Para que... a vossa alegria seja completa” (Jo 15-7- panheiros cristãos. Podemos estabelecer o tom do 11). Deus é glorificado pelos frutos do cristão. amor ativo que Cristo ordena e, assim, ajudar os Mas, como em todas as coisas, aquilo que glorifica outros a se aproximarem de nosso Senhor. a Deus beneficia o discípulo. Observe os benefícios que você e eu experimentamos quando permane­ “O mundo vos aborrece” (Jo 15-18-27). Este é o ter­ cemos em Jesus. Produzimos “muitos frutos” e, ceiro relacionamento explorado em João 15. Temos assim, descobrimos uma sensação de satisfação por um relacionamento com “o mundo”. cumprirmos o nosso dever (v. 5). Ganhamos for­ Nos escritos de João, o “mundo” é, com muita ça na oração, pedindo “tudo” o que quisermos (v. frequência, aquele complexo de valores, posturas 7). Demonstramos a nossa condição de discípulos e comportamentos que moldam a pecaminosa so­ mostrando a realidade de nossa ligação com Jesus ciedade humana. Em sua primeira epístola, João (v. 8). Permanecemos no amor de Jesus por meio escreveu que o amor ao Pai e o amor ao mundo de uma percepção de sua proximidade (v. 10). E estão em conflito. Não podemos amar os caminhos experimentamos uma alegria que vibra dentro de de Deus e os caminhos do homem pecaminoso (1 nós a despeito das circunstâncias difíceis (v. 11). Jo 2.15-17). Sim, Deus nos chama a permanecer no seu Filho. Como o mundo é hostil a Deus, podemos esperar Mas esse chamado é uma expressão do seu grande experimentar perseguição nele. Um mundo sem amor, do seu desejo de que possamos conhecer a nenhuma compreensão de Deus (Jo 15.21) odiou Jesus porque sua vida e caráter o censuravam. plenitude e a alegria. Não havia nenhuma causa real para a antipatia por “Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos Jesus, pois Cristo veio para purificar a humanidade amei” (Jo 15.12-17). O segundo grande relacio­ do pecado. Contudo, no processo, sua própria pre­ namento para o qual João chama nossa atenção é sença expõe o pecado. Os que não estão dispostos aquele que mantemos entre nós. Somos chamados a reconhecer os seus pecados e confiar em Cristo a permanecer em Cristo e a viver uns com os outros para a purificação, tornam-se hostis. Ficam zanga­ dos por serem expostos como pecadores. em amor. Por que a ênfase na comunidade? Porque a manei­ H á tempos em que os cristãos que vivem vidas ra como nos relacionamos uns com os outros tem verdadeiramente boas e amorosas são odiados um impacto tremendo na maneira como nos re­ exatamente por este motivo. Sua própria bondade lacionamos com Jesus. Se o nosso relacionamento expõe a maldade dos que estão em volta e cria com outros cristãos for marcado p o / rivalidaaès, hostilidade. suspeitas e egoísmo, será difícil manter um rela­ Mas não pare de fazer o bem e de ser bom. O Es­ cionamento íntimo e receptivo com lo Senhor. Por pírito Santo está testemunhando por meio de nós outro lado, a experiência de pertencei como tam­ — e nosso chamado é mostrar e contar aos outros bém a confiança e a atenção na comunidade cristã, sobre Jesus.

duzir o fruto da verdadeira bondade e demonstrar o caráter de Deus em nosso mundo. Se deixarmos de permanecer em Jesus, a punição será uma vida vazia e inútil — e não o abandono por parte do Senhor.

DEVOCIONAL______ O Amigo Jesus

(Jo 15.9-17) Não o percebi em nenhum livro de teologia. Mas a palavra “amigo” é uma das mais significativas na Escritura para nos ajudar a entender a vida cristã. A importância é vista na analogia de Cristo. Um senhor ou patrão tem o direito de dar ordens aos servos ou escravos. Não cabe a eles questionar ou mesmo saber a razão por que o patrão lhes dá uma ordem. Os escravos têm apenas a responsabilidade

de obedecer — e eles devem obedecer, ou então... Embora Jesus seja o Senhor, e, portanto, tenha o direito de dar ordens que devem ser cumpridas, Ele escolheu chamar seus seguidores de amigos. Isso significa primeiro que Ele partilha seus propósitos e motivos conosco ao nos contar a sua vontade. Isso significa, em segundo lugar, que temos uma es­ colha que os escravos não têm. Um amigo pode ser receptivo a um.amigo por afeição. Mas um amigo não tem que obedecer!

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A nossa Sarah está tendo aulas de piano. É seu primeiro ano, e muitas vezes ouvimos: “Eu detesto piano!” Carrancuda e infeliz, ela pratica, mas só porque lhe dizemos que tem de praticar. Meus dois sobrinhos, Stephen e David, são excelentes violinistas. E eles adoram praticar! Mesmo suas férias de verão são dedicadas a tocar em alguma orquestra ou a uma sucessão de acampamentos musicais. Que diferença entre ter de praticar e querer praticar. É justamente essa diferença que Jesus sugeriu — e que é a chave para uma vida cristã bem-sucedida. Deus não quer que os cristãos se mostrem amuados e infelizes quando se trata de obedecer a Jesus, apenas porque te­ nham que obedecer. Deus quer que os cristãos sejam amigos de Jesus: que respondam com entusiasmo à sua vontade e mandamentos por quererem agradá-lo. Mostramos que somos amigos de Jesus quando fa­ zemos o que Ele ordena. Pois Deus nunca nos obri­ gará. Em vez disso, Jesus nos convida a responder a Ele por amor. Aplicação Pessoal Ame a Deus e faça para Ele o seu melhor. Amar a Deus e agradá-lo se tornará o seu maior desejo! Citação Im portante “Não é uma questão de quanto sabemos, de quão inteligentes, ou mesmo de quão bons somos; tudo depende do amor do coração. As ações externas são os resultados do amor, do fruto que ele gera; mas a fonte, a raiz, está no fundo do coração.” — François Fénelon 7 D E SETEMBRO LEITURA 250 A OBRA DO ESPÍRITO João 16 “Vos convém que eu vá, porque, se eu não for, o Con­ solador não virá a vós; mas, se eu for, enviar-vo-lo-ei” (Jo 16.7). O Espírito Santo está vivo e presente em cada cren­ te hoje! Visão Geral Jesus advertiu sobre a hostilidade do mundo (16.1-4), mas prometeu enviar o Espírito Santo para condenar o mundo (w. 5-11). O Espírito Santo também guiará os crentes em toda a verda­ de (w. 12-16). Jesus prometeu que pouco depois de sua partida (morte), os discípulos o veriam novamente (na ressurreição) e conheceriam a alegria (w. 17-24). Deus ama e ouve as orações daqueles que creem em Jesus (w. 25-28). A fé,

ainda que imperfeita, é um caminho para a paz (w. 29-33). Entendendo o Texto “Quando chegar aquela hora, vos lembreis de que já vo-lo tinha dito” (Jo 16.1-4). A razão para Jesus preveni-los? “Para que não vos escandalizeis” (v. 1). Todos nós temos um poderoso desejo de sermos aceitos pelos outros. Às vezes, o desejo estimula um comportamento relativamente inofensivo: as crian­ ças querem vestir o mesmo que as outras crianças vestem e ter o mesmo tipo de caderno. E os ho­ mens de negócios vestem-se como clones. Contudo, a necessidade de ajustar-se pode ser pe­ rigosa. Um adolescente bebe um drinque, ou ex­ perimenta uma droga porque a gangue o estimula. Uma adolescente abandona seus valores em busca de popularidade. Um adulto viola a sua integridade em troca da aprovação de um chefe ou dos colegas de trabalho. Nossa necessidade de aceitação é forte — e custosa. Se você ou eu alguma vez supusermos que nossa fé é compatível com a aceitação do mundo, corre­ remos um perigo real de nos desencaminharmos. Jesus quer que saibamos antecipadamente que, quando a sociedade convidar: “Gostaria de andar no meu caminho?” ela não estará nos convidando a caminhar na direção dEle! O mundo carece de um conceito preciso de Deus e de devoção (v. 3). Jesus disse que o mundo era hostil e efetivamente o “odiava” (15.18). Para evi­ tarmos o perigo de sermos desencaminhados pelo mundo, temos de nos comprometer firmemente com o Senhor. “Vos convém que eu vá”(Jo 16.7). Podemos compre­ ender por que os discípulos estavam cheios de dor diante do pensamento de perder Jesus. Por que Ele “partiria” e os abandonaria? Cristo procurou ajudar Seus amigos a entender que a aparente deserção era para o bem deles. Hoje entendemos: Cristo partiu, mas enviou o Espírito Santo, que é uma presença viva em cada crente. Enquanto Jesus esteve aqui na terra, Ele só podia estar na presença de alguns dos seus, sim, de alguns de cada vez. Contudo, observe a sensibilidade de Cristo e a dor equivocada dos discípulos. Jesus sabia e se preocu­ pava com os sentimentos dos 11, ainda que estes se baseassem parcialmente em uma compreensão errônea da situação. As vezes, você e eu nos sentimos abandonados e sozinhos também. Perguntamo-nos por que Deus parece tão distante e por que nossas orações não são ouvidas. Jesus se importa com os nossos sen­

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timentos de solidão — embora tais situações tam­ bém sejam para o nosso bem. Quão próximos podemos nos sentir de Jesus quan­ do vêm as provações. Ele está perto e Ele se im­ porta. Ele está trabalhando, até mesmo em nossas tragédias, para nos trazer o bem. “Se eu for, enviar-vo-lo-ei” (Jo 16.8-11). Jesus avisa­ ra sobre um conflito essencial entre Ele e o mundo. Ele prosseguiu e explorou o ministério do Espírito Santo no mundo. A palavra “convencer” é elencho, um termo ju­ rídico que significa pronunciar um veredicto de culpado, definindo assim a justiça, e fixando a responsabilidade. Embora o Espírito condene o mundo, Ele o faz trabalhando por meio de nós. Somos os canais pelos quais o veredicto de culpa é anunciado. Antes, Jesus havia prevenido que o mundo é hostil a Cristo e aos crentes. Ele disse aos discípulos que esperassem animosidade e que não se “desviassem” quando o mundo exigisse conformidade aos seus valores e padrões. Agora Jesus nos diz que o Espíri­ to Santo condenará o mundo através de nós. Não é suficiente cuidarmos dos nossos negócios em silêncio. Devemos adotar uma posição; e, ao nos posicionarmos, abrimos o espaço necessário para que o Espírito de Deus fale ao mundo.

“Ele vos guiará em toda a verdade”(Jo 16.12,13). O Espírito tem um ministério para os crentes, assim como para o mundo. O Espírito Santo nos ajuda a entender e aplicar a verdade de Deus às nossas vidas à medida que crescemos nEle. A aplicação primordial desse ensinamento é aos 11 discípulos, que depois chegaram a um novo e mais profundo entendimento do que Jesus disse e fez. Esse entendimento mais profundo se reflete nas epístolas e outros escritos do Novo Testamen­ to. Mesmo assim, podemos perceber algo similar acontecendo em nós. Como cristãos novos conver­ tidos, lutamos para entender o que parece obscuro e enigmático. Então, à medida que crescemos em nossa experiência cristã, o que estava oculto tornase claro. Quando estivermos ansiosos por conhecer Jesus e agradá-lo, o Espírito Santo certamente nos guiará cada vez para mais perto do Senhor. (Veja o DEVOCIONAL.)

“Agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará” (Jo 16.17-22). Je­ sus provavelmente estava falando da sua ressurrei­ ção e do conhecimentp-repermno e jubiloso de que Ele estava vivo e qu^enxugaria as lágrimas dos seus discípulos. Contudo, novamente há uma aplicação para você e para mim. A vida na terra não é fácil; de muitas maneiras, «^te é um tempo de dor. Mas “Do pecado, e da justiça, e do juízo” (Jo 16.8-11). nós também aguardamos ansiosamente o retorno de Como devemos entender esses três ministérios do Jesus Cristo. Quando Ele vier, nosso coração se ale­ Espírito Santo para o mundo? Quanto ao pecado: grará e a nossa alegria, ninguém no-la tirará (v. 24). a essência do pecado é a descrença (v. 9). A nossa firme confiança em Jesus se coloca em contraste “Pedi e recebereis, para que a vossa alegria se cumpra” com a rejeição do mundo em relação a Ele, e con­ (Jo 16.23-28). No texto em inglês, o verbo “pedir” firma a culpa em que todos se enquadram. Quando é usado nessa passagem com dois significados dife­ à justiça: o padrão final de justiça é o próprio Deus, rentes. O primeiro, no versículo 23, significa “per­ que foi expresso em Jesus, cujas afirmações foram guntar”. Os discípulos decidiram que não havia confirmadas pelo seu retorno para a destra do Pai necessidade de continuar questionando a Cristo. (v. 10). Embora os homens não mais vejam Jesus, Eles achavam que tinham entendido. Mais tarde, seu caráter é demonstrado na vida semelhante à de tudo o que ele ensinara se tornaria mais claro. Cristo, que é vivida por cada crente. Expressamos O segundo significado é “pedir”. Sabendo que Je­ continuamente a distância que existe entre os pe­ sus vive e que somos dEle, podemos ir a Deus livre­ cadores e o Senhor. mente para fazer os nossos pedidos. Quanto ao julgamento: a cruz e a ressurreição — As pessoas têm um dito: “Não interessa quanto cujas realidades são vistas nos crentes que vivem você sabe, mas quem você conhece”. Isso signi­ a sua vida no poder da ressurreição de Jesus (Rm fica que se você quiser conseguir uma entrevista 8.11) — provam inequivocamente que Satanás é para um emprego, certamente será uma ajuda ter um inimigo derrotado. Assim, o sistema mundial alguém em uma posição elevada na empresa que que o maligno domina é um engodo vazio. lhe dê uma carta de recomendação! Se a posição da Não há nada que você e eu possamos fazer para pessoa for elevada o suficiente — o próprio chefe, condenar o mundo em que vivemos. São as nossas talvez — , então o endosso certamente significará vidas, cheias do poder do Espírito e expressando que o emprego é seu. a graça do céu, que corajosamente proclamam o Algumas pessoas dizem que “pedir em nome de juízo do nosso Deus. Jesus” é como pedir que Jesus endosse a nossa so­

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licitação. Não é. Pedir em nome de Jesus significa que nos identificamos com os valores e objetivos de Cristo, de modo que aquilo que pedimos reflete a sua vontade. Não precisamos do seu endosso! “Não estou dizendo que pedirei ao Pai por vós”, Ele dis­ se. “Não, o próprio Pai vos ama” (cf. w. 26,27). Que coisa maravilhosa! Não precisamos de um in­ termediário em nosso relacionamento com Deus, porque o próprio Deus nos ama. Assim podemos ver o que há de errado na ideia de algumas tradições cristãs de que devemos pedir a santos mortos que intercedam. Deus ama tan­ to Maria, prossegue o argumento, que certamente honraria o seu pedido. Assim, eles pensam: “Então vamos pedir a Maria — ou a São Francisco”... ou a quem quer que seja — “que interceda por nós”. Mas a maravilha das maravilhas é que não temos a necessidade de procurar um intermediário! Deus

DEVEleOCIONAL______ vos Guiará em toda a Verdade

(Jo 16.1-15) De todos os ministérios do Espírito Santo, este pode ser o menos compreendido. Percebemos a incompreensão na queixa de que os cristãos estão divididos quanto à doutrina. Alguns batizam por imersão, e alguns dizem que espar­ gir água é suficiente. Alguns argumentam a favor da predestinação, outros a favor do livre-arbítrio. Alguns dizem que os cristãos deviam falar em línguas hoje; outros discordam. Existem batistas, metodistas, pentecostais e inúmeras outras deno­ minações cristãs. O problema é a nossa visão da “verdade”. Para muitas pessoas, “verdade” é “doutrina”. São cren­ ças ou ideias a respeito de Deus. Para essas pessoas, as diferenças na crença cristã são profundamente perturbadoras. Contudo, biblicamente, a “verdade” não se encon­ tra em uma harmonia de ideias, mas na harmonia da experiência com a realidade. Em hebraico e em grego, as palavras que traduzimos como “verdadei­ ro” significam “em completa harmonia com a rea­ lidade”. Algo é verdadeiro porque penetra o nevo­ eiro da opinião humana e revela a realidade como somente Deus a conhece. A missão do Espírito Santo é nos guiar em “toda a verdade”. Sua missão é nos ajudar a experimentar a realidade: conhecer a Jesus como Ele é, viver uma vida segundo a verdadeira santidade, e construir relações enraizadas no verdadeiro amor. A Bíblia nunca garante que os cristãos concordarão em todas as crenças ou doutrinas. Mas a Bíblia pro-

nos ama tanto que está ansioso por honrar o nosso pedido. Pedir a um santo que interceda por você é questionar a realidade do amor de Deus — e a garantia desse amor, que foi dada por Jesus. “Para que em mim tenhais paz” (Jo 16.29-33). A instrução de Jesus satisfez a curiosidade dos seus discípulos. E eles acharam que tinham entendido. Não tinham — e dentro de algumas horas eles se dispersariam e deixariam Jesus à sua própria sorte. Porém até mesmo a fé imperfeita que tinham foi suficiente para conquistarem a paz. Ao olharem para trás, os discípulos perceberiam que não havia nenhuma segurança, nenhuma base para a confiança em si mesmos. Mas, em Cristo, e somente nEle, encontrariam a paz. Como a ressur­ reição demonstra, Jesus é vitorioso sobre o mundo. NEle e na sua vitória é que temos paz.

mete que você e eu viveremos como companheiros de nosso Senhor, e que o Deus Espírito Santo to­ mará a nossa mão e nos conduzirá, passo a passo. Conheceremos a verdade de Deus, e a nossa experi­ ência com essa verdade nos libertará (Jo 8.32). Aplicação Pessoal O Espírito não supervisiona disputas. Ele dirige a nossa experiência. Citação Importante “Descobri que fazer a vontade de Deus não me dei­ xa tempo para disputas quanto aos seus planos.” — George MacDonald 8 DE SETEMBRO LEITURA 251 A ORAÇÃO FINAL DE JESUS João 17 “Não rogopelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17-9). Nossas orações revelam nossas prioridades. Na ora­ ção final de Jesus, Ele mostrou que a sua preocu­ pação alcança todos os crentes — do presente e do futuro. Definição dos Termos-Chave Glória. As palavras “glória” e “glorificar” ocorrem repetidamente em João 17. No mundo secular do século I, glória era o mesmo que ter “uma opinião elevada a respeito dos outros”. A glória de uma pessoa, portanto, baseava-se na avaliação de suas

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ações ou realizações por parte dos outros. Na Escri­ tura, porém, a “glória” não está ligada à revelação da majestade de Deus. As qualidades de Deus são gloriosas em si e por si. Jesus glorificou a Deus Pai simplesmente fazendo a vontade de Deus Pai, e re­ velando como o Pai é. Como, então, glorificamos a Deus? De duas ma­ neiras. Primeiro reconhecendo suas obras e lou­ vando-o pelas qualidades que seus atos revelam. E, segundo, “dando frutos” (15.8). O pensamento surpreendente aqui é que, como você e eu vivemos em íntima comunhão com o Senhor, Ele atua em nós e por meio de nós, revelando-se, assim, aos ou­ tros. Como Jesus, podemos glorificar a Deus sendo canais através dos quais o Senhor revela a sua beleza à humanidade. Visão Geral Jesus pediu a Deus que o glorificasse, agora que sua missão de glorificar o Pai estava completa (17.1-5). Cristo pediu ao Pai que preservasse seus 11 discí­ pulos (w. 6-12). Ele então orou por todos os fu­ turos crentes (w. 13-26), para que pudéssemos ser um no Pai e no Filho (w. 13-23), ver a glória de Jesus (v. 24) e amá-lo completamente (w. 25,26). Entendendo o Texto “Glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti” (Jo 17.1). A oração registrada em João 17 foi chamada “Oração do Sumo Sacerdote” de Cristo. E a oração de alguém prestes a oferecerse como sacrifício pela humanidade, e está repleta de expressões de amor. Essa oração também está cheia de expressões do propósito de Cristo ao per­ mitir o Calvário. Esse versículo afirma o primeiro e, talvez, mais im­ portante propósito. Jesus se submeteu à cruz para glorificar o Pai, e para que o Pai pudesse glorifi­ cá-lo. Tendo em vista o significado de “glorificar” no Novo Testamento (veja a DEFINIÇÃO DOS TERMOS-CHAVE), o que Jesus tinha em mente era toda a sequência de acontecimentos que esta­ vam prestes a ocorrer. Estes acontecimentos — a captura, o julgamento, o caminho para a cruz, a morte de Cristo, o sepultamento e a ressurreição — abrangem a revelação final do amor inimaginá­ vel de Deus pela humanidade. Nisto, na revelação final do amor, graça e poder de Deus, essas qualida­ des de nosso Deus são plenamente demonstradas. Nessa revelação final do Pai e do Filho, cada um glorifica o outro, pois Pai e Filho uniram-se no pla­ no para salvar a humanidade. Hoje, qualquer um que deseje conhecer a Deus só precisa olhar para o Calvário. Ali, na cruz, o amor, a graça e a glória de Deus brilham para sempre.

“E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por úni­ co Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem envias­ te” (Jo 17.2,3). Merrill Tenney sugere que “a vida é o envolvimento ativo no ambiente; a morte é a cessação do envolvimento com o ambiente”. Uma minhoca tem uma vida terrestre, no sentido de que o seu ambiente é a terra em que ela vive. Ela não tem capacidade de interagir com um ambiente de água ou ar. Similarmente, os seres humanos têm vida biológi­ ca, que os capacita a interagir com a biosfera: o domínio da vida na terra. Mas os seres humanos não têm nenhuma capacidade inata de interagir com o domínio do espiritual e eterno, a menos que tenham vindo a conhecer^JDeus por meio de Jesus Cristo, recebendo, assim, a vidàxeterna de Deus. Que discernimento da natureza da nossa “vida eter­ na”. Ela não é simplesmente infihita. Ela consiste na capacidade de estarmos agora envolvidos com Deus: de falarmos com Ele, de sermos guiados por Ele, de recebermos força do Espírito Santo. Vive­ mos com nossos pés no chão. Mas nosso ambiente nativo é a eternidade, e nosso principal relaciona­ mento é com Deus. “Tu mos deste, e guardaram a tua palavra” (Jo 17.68). A oração de Jesus agora se concentra nos 11 discípulos que haviam sido seus companheiros ao longo dos seus anos de ministério. Que bela ima­ gem João desenhou. Os 11 eram a dádiva de Deus a Jesus. E eles demonstraram o fato obedecendo à palavra de Jesus. Alguns veriam aqui uma interação entre predesti­ nação e responsabilidade humana. Deus dá indi­ víduos a Jesus. Eles revelam sua eleição pela obe­ diência. Mas é melhor não se deixar atrair a esse debate. Os 11 eram dádivas de Deus a Cristo. O que precisamos perguntar é: Quem fez deles dádi­ vas valiosas e belas? A resposta a essa pergunta se encontra no texto. Para ser uma bela dádiva, uma pessoa (1) obedece às palavras de Jesus (v. 6), pois aceita essas palavras como sendo palavras de Deus (v. 8), e (2) sabe com certeza que Jesus veio de Deus Pai (v. 8). Jesus merece a mais bela dádiva que podemos lhe dar. Nós mesmos podemos ser a mais bela das dádivas se confiarmos em Jesus completamente e obedecermos as suas palavras. “Guarda em teu nome aqueles que me deste” (Jo 17.9-12). A palavra grega tereo, quando aplicada a pessoas, tem o significado geral de “preservar”. Jesus estava prestes a partir, e seus discípulos apa­ rentemente estariam sós em um mundo hostil. Podemos estar sozinhos. Mas não estamos despro-

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regidos! Deus Pai comprometeu o seu nome (que significa “tudo que Ele é” e enfatiza a sua onipotên­ cia) para preservá-los do mal. Não é uma garantia de proteção contra o sofri­ mento físico. O próprio Jesus sofreu e morreu. Não, a proteção de Deus é muito mais significa­ tiva. O que Deus está comprometido em fazer é preservar a relação de unidade que existe entre o crente e Jesus (v. 11). Nada na terra pode nos afastar de nosso Senhor. Estamos seguros, pois Deus comprometeu tudo o que Ele é para nos proteger e preservar o nosso relacionamento com Cristo. “Nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição” (Jo 17.12). Há uma pequena diferença na palavra que Jesus usou ao falar de “guardar” os Doze. Pela oração de Jesus, Deus comprometeu-se a preservar (;tereo) os 11. Quando na terra, Jesus os defendeu (phylasso) de ataques externos. A defesa operou à medida que 11 discípulos den­ tre os Doze gradualmente encontraram o caminho para a fé plena em Jesus — e enquanto Judas toma­ va o seu caminho de rejeição e traição. Embora a nuance de diferença nas palavras gregas seja ligeira, há uma vasta diferença entre a proteção de Cristo aos discípulos contra ataques externos enquanto eles se decidiam a seu respeito e a pre­ servação por Deus dos 11 que haviam alcançado a certeza da sua fé (cf. 7,8). Não permita que a perda de Judas o amedronte. Ninguém que tenha uma fé firmada em Jesus corre o perigo de perder a vida eterna. “Não são do mundo, como eu do mundo não sou” (Jo 17.16). Ser “do” mundo é ter as raízes no comple­ xo de motivos e paixões que regem a pecaminosa sociedade humana. Por causa da união com Cris­ to, as raízes dos cristãos estão no céu. Vivemos no mundo, mas nossos motivos e nossa perspectiva da vida são moldados pelo nosso relacionamento com Deus.

DEVOCIONAL______ Ser um

(Jo 17.20-23) Outro dia aprendi uma palavra nova jogando Bal­ derdash. A palavra era “Martext”. Ela descreve um pregador cuja expressão é pobre e cujos processos de pensamento são confusos. Quando você pensa sobre isso, é fácil perceber de onde veio a palavra. Um pregador assim arruinaria (mar, em inglês) qualquer texto (text) que usasse para pregar!

E útil ser claro quanto à natureza de uma pessoa “do mundo”. A condição de ser “do mundo” não é uma questão de “faça” e “não faça”, mas de posturas e perspectivas. Se as nossas prioridades e os nossos valores são como os dos não cristãos em nossa so­ ciedade, então somos “do mundo”. “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). Ser santificado é ser colocado à parte, ou consagrado. Não é suficiente “apenas crer”. Deus chama todos os que creem à dedicação com­ pleta a Ele e aos seus caminhos. Como um crente torna-se santificado? Pela obra da Palavra de Deus em sua vida. A Escritura não é apenas uma formulação de padrões pelos quais devemos viver, E um agente poderoso e ativo que Deus usa para nos chamar para mais perto de si e guiar nossos passos. Não espere que a sua vida mude se a sua Bíblia fica empoeirando na prateleira. “Por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em mim” (Jo 17.20-26). Esta é a terceira seção da ora­ ção de Jesus, uma seção cujo foco somos nós; sim, você e eu. O que Jesus mais quer de você e de mim? Quer que sejamos um com Ele (w. 20-23, veja o DEVOCIONAL). Quer que estejamos com Ele e vejamos sua glória (v. 24), e quer que estejamos não apenas cheios de amor, mas do próprio Cristo (w. 25,26). Qual é o significado de Jesus ter pedido essas coisas para nós? Significa simplesmente que temos aquilo pelo que Ele rogou! E impossível imaginar que Deus Pai se recusasse a responder às orações de Cristo. Portanto, temos certeza de que essa oração foi, está sendo e será respondida. Você e eu somos um com Jesus e vemos a sua glória. E Cristo está presente co­ nosco hoje, para encher a nossa vida não apenas de amor, mas de uma percepção da sua presença. Portanto, reivindique as promessas que a oração de Cristo garante. E usufrua a bênção de ser um cristão.

Suspeito que João 17.22 tem sido mais arruina­ do por pregadores que qualquer outro texto na Bíblia. Ele registra a oração de Jesus para que to­ dos os crentes “sejam um, como nós somos um”. M uitos pregadores consideram esse texto como um chamado à unidade cristã. Não tenho estatís­ ticas que revelem quantas vezes o texto foi usado por denominações que se encontraram diante da consideração de sua fusão, mas tenho certeza de

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que ele serviu como texto de prova em 99,9% das vezes. O único problema é que Jesus não estava pre­ gando que os cristãos fossem um entre si. Ele não estava pedindo unidade de organização nem de experiência no Corpo de Cristo. O que Jesus pediu é que todos os crentes sejam um com Ele! Descobrimos isso na própria passagem. O rela­ cionamento de Jesus com o Pai é o modelo da unidade pela qual Cristo orou. Jesus está no Pai e o Pai nEle (v. 21). Eles estão juntos: pela natureza compartilhada, pelo amor mútuo, pela unidade de propósito, por uma vontade única e harmo­ niosa. Jesus viveu sua vida na terra em união com Deus Pai, e suas ações aqui revelaram Deus a to­ dos nós. E agora, maravilha das maravilhas, Jesus pediu que pudéssemos ter o tipo de relação com Ele que Ele tem com o Pai! Jesus pediu que pudés­ semos estar unidos com Ele: que recebêssemos uma nova natureza, como a dEle, uma capacida­ de de amar que reflita a sua, um lugar no plano e no propósito de Deus, e o conhecimento da vontade de Deus. Equipados com esses dons, estando nEle da mes­ ma maneira como Ele está no Pai, você e eu, como Jesus, podemos mostrar a glória de Deus ao mundo. Podemos ser canais pelos quais Deus se revela aos outros homens. O que é maravilhoso é que essa oração foi res­ pondida. Somos um com Jesus; a nossa vida está entrelaçada à dEle. O desejo de Cristo por nós, agora que somos um, é que sejamos “perfeitos em unidade”, não na teoria, mas na prática; e que, por meio de nós, “o mundo conheça” que Jesus é o Filho do Pai.

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DE SETEMBRO LEITURA 2 PRISÃO E JULGAMENTO João 18

“[Pilatos] voltou até os judeus e disse-lhes: Não acho nele crime algum” (Jo 18.38). Saber o que é certo e fazer o que é certo muitas vezes são coisas diferentes. Visão Geral Jesus foi traído por Judas e preso (18.1-11). Foi le­ vado a Anás e depois a Caifás (w. 12-14). Enquan­ to lá fora Pedro negava Jesus (18.15-18,25-27), Cristo era interrogado pelo sumo sacerdote (w. 19-24). De manhã cedo, Jesus foi levado a Pilatos, o governador romano, para um interrogatório pre­ liminar (w. 28-40).

Entendendo o Texto “Simão Pedro, que tinha espada, desemhainhou-a e feriu o servo do sumo sacerdote” (Jo 18.1-11). João nos oferece mais detalhes da tentativa de Pedro de defender Jesus. Sem levar em conta a desvantagem, Pedro feriu “o” servo do sumo sa­ cerdote. O artigo definido, aqui, sugere que esse servo era um funcionário importante, talvez até mesmo encarregado da multidão que saiu para prender Jesus. O ato de Pedro e a censura implícita de Jesus, que logo curou o ferimento que Pedro causara, lem­ bram-nos de um princípio sugerido várias vezes nessa passagem. A lealdade pode ser digna de elo­ gio, mas as batalhas de Deus não podem ser venci­ das com armas humanas! O exemplo definitivo, naturalmente, é a própria morte de Jesus na cruz. O mundo tenta conquistar com espadas e lanças, com bombas e metralhado­ Aplicação Pessoal Ser um com Cristo significa que você e eu podemos ras. Cristo conquista com uma cruz. A vitória não se encontra na superioridade, mas no sacrifício. viver a nossa vida na terra em união com Deus. Conquistar não é matar, mas vivificar. Cometeremos um erro terrível se tentarmos utilizar Citação Importante “Cristo é meu modelo, minha mobília e perfei­ as armas do mundo em nossas batalhas espirituais. ção, adornando e embelezando a minha fé como a cor, a luz clara ou a brancura ornamentam e “A Anãs, por ser sogro de Caifás” (Jo 18.12-14). Os embelezam uma parede. Não podemos conceber dois homens mencionados aqui eram respeitados espiritualmente que Cristo esteja ligado e unido a líderes da religião judaica e os principais árbitros nós de modo tão íntimo como a cor ou a brancura da lei judaica. Eles possuíam poder político. Nova­ estão à parede. Porém Cristo diz que junto a mim, mente vemos o contraste. e unido a mim, e permanecendo em mim, vive, Dois homens no ápice do poder terreno olharam em mim, esta vida que agora vivo; sim, o próprio com desprezo um Jesus atado e aparentemente Cristo é esta vida que agora vivo. Por isso Cristo e indefeso. Contudo, Jesus era o Vitorioso. No fim, dos dois que julgaram Jesus não o condenaram, eu, neste particular, somos um.” — M artinho Lutero mas a si mesmos.

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“Disse ele: Não sou” (Jo 18.15-18). Pedro ilustra o perigo de nos valermos da força. Pedro foi corajoso ao tomar a espada e atacar a multidão que se apro­ ximou de Jesus. Mas, ao fazê-lo, comprometeu-se com a guerra com o mundo no próprio terreno do mundo. Mais tarde, quando foi ameaçado, Pedro percebeu a sua vulnerabilidade e, com medo, ne­ gou o seu Senhor. Paulo diz que “as armas da nossa milícia não são carnais” (2 Co 10.4). Se pretendermos batalhar contra o povo do mundo, que o façamos no nosso terreno, não no deles.

guerra espiritual deva ser combatida em campos de batalha terrenos. Mas as vitórias espirituais nunca são vencidas usando-se as armas destrutivas da hu­ manidade. Havia outra batalha ocorrendo na sala de julga­ mento de Pilatos: uma guerra entre Pilatos e sua consciência. Pilatos astutamente percebeu que os líderes judeus sentiam ciúme da influência religiosa de Cristo e queriam usá-lo para livrar-se de alguém que viam como rival. Pilatos também sabia que Je­ sus não cometera nenhuma infração capital. Ao mesmo tempo, Pilatos queria evitar problemas durante a época sempre volátil da festa. E pesquisas mostram que o próprio Pilatos estava politicamen­ te vulnerável na época. Então, Pilatos também enfrentou uma batalha, uma batalha entre sua consciência e seus instintos políticos. Não surpreendentemente, seus instintos políticos venceram. Acostumado com maneiras mundanas de pensar, ele tomou uma decisão mun­ dana — e condenou Jesus à morte. O homem espiritual ignora considerações políticas para seguir sua consciência, já que essa consciência é informada pela Palavra de Deus. Não tomemos o caminho de Pilatos nem deixemos que interesses mundanos ditem nossas decisões. A fraqueza moral não vence batalhas espirituais.

“Falei abertamente ao mundo” (Jo 18.19-24). O sumo sacerdote e o Sinédrio já haviam determina­ do que Jesus devia morrer. Mas não tinham acu­ sações que resistissem ao exame de um tribunal romano. O interrogatório do sumo sacerdote tinha como intenção descobrir alguma acusação que pu­ desse ser feita contra Jesus. Cristo não se deu ao trabalho de responder. Ele ha­ via falado abertamente, pregando publicamente no Templo e na sinagoga. Tudo o que Ele representava era bem conhecido; muitas testemunhas poderiam ser encontradas para contar ao tribunal o que Ele dissera. A abertura e a completa honestidade são as defesas espirituais mais poderosas que possuímos. Se for­ mos abertos e honestos, quaisquer acusações que “Queéa verdade?”(Jo 18.38). Não temos nenhuma façam contra nós serão falsas. maneira de saber qual foi o tom da voz de Pilatos ao dizer essas palavras. Ele estava zombando? Ou “Levaram Jesus... para a audiência” (Jo 18.28-40). talvez falasse com anseio, com desespero? João nos oferece o relato mais completo do julga­ Sabemos que a verdade é descoberta apenas pelos mento de Jesus perante Pilatos. que abandonam as bússolas morais mundanas e Novamente, observe que Jesus recusou-se a lançar mapeiam um percurso pela Palavra de Deus. Ape­ mão de quaisquer recursos espirituais. Cristo ad­ nas os que estão dispostos a fazer a vontade de Deus mitiu sua condição de rei, mas afirmou; “O meu podem sabê-lo, e apenas os que fazem a vontade de Reino não é deste mundo; se o meu Reino fosse Deus descobrirão a verdade. deste mundo, lutariam os meus servos” (v. 36). O Novamente, o campo de batalha espiritual é de­ verdadeiro conflito não era entre Jesus e os judeus finido. Estabeleçamos nosso trajeto na vida pela que o acusavam, mas entre as forças de Deus e as bússola da Palavra de Deus e ignoremos o conselho forças do Maligno. A impressão comum é que a e a “sabedoria” de meros homens.

DEV OCIONAL______ “Liberte Barrabás!” (Jo 18.28-40)

A palavra que João usou para descrever Barrabás foi lestes. Não significa ladrão, mas fora da lei: um revoltoso. No nosso tempo, talvez classificássemos Barrabás como um “combatente da liberdade”. Era uma daquelas pessoas que se irritava pelo domí­ nio romano, encontrava um patrocinador ou dois e, com companheiros recém-armados, procurava causar tantos problemas quando pudesse.

Seria uma vergonha se algum observador inocente fosse morto. Mas a causa era justa. O que são algu­ mas vidas em comparação com o avanço da causa? Portanto, Pilatos cometeu um grave erro de cálculo ao pedir à multidão que escolhesse entre Jesus, o que operava milagres e curas, e Barrabás, o terro­ rista. A multidão gritou por Barrabás e, sem dúvi­ da, as câmaras de TV e os repórteres o rodearam e Barrabás foi convidado a falar nas Nações Unidas, segurando firmemente suas espadas e punhais.

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Use este mapa para localizar os acontecimentos do último dia de Jesus, relacionados abaixo. 1. Última Ceia com os discípulos (Jo 13— 16) 2. Jesus é preso no Getsêmani (Jo 18.1-11) 3. Audiência e pré-julgamento feito por Anás (Jo 18.19-24) 4. Interrogatório de Caifás (Mt 26.57,68) 5. Julgamento oficial do Sinédrio (Mt 27.1,2) 6. Interrogatório de Pilatos (Jo 18.28-40)

7. Jesus é enviado a Herodes, governante da Galileia (Lc 23.6-12) 8. Jesus é reconduzido a Pilatos para a sentença Qo 19.1-16) 9. Jesus é levado para o monte da execução e crucificado (Jo 19.17-37) 10. Jesus é sepultado no túmulo novo de José (Jo 19.38-42)

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O que surpreende é o número de movimentos do Terceiro M undo que se passam por cristãos — e são elogiados por religiosos. Você já percebeu que, quando os cristãos clamam contra a injus­ tiça, muitos deles gritam mais pela libertação de Barrabás do que pela de Jesus? Eles clamam pela espada e pela lança, pelo armamento dos oprimi­ dos, e não pela armadura espiritual de Jesus. As verdadeiras vitórias nunca são obtidas por Barrabás, que mutila e mata. As verdadeiras vitórias, do espírito sobre a carne, do amor so­ bre o ódio, da fé paciente e da bondade sobre a brutalidade e o maligno, são vencidas da mesma forma que Jesus venceu Satanás. Como devemos vencer? Tomando a nossa cruz; dando testemu­ nho; e até morrendo, se preciso for. E pela res­ surreição.

Entendendo o Texto “Se fez Filho de Deus” (Jo 19.1-16). Os judeus consi­ deraram a afirmação de Jesus, de que era o Filho de Deus, como uma blasfêmia; alguns reagiram com fé, e outros com fúria. Pilatos reagiu com medo. Já im­ pressionado com Jesus, que lhe dissera que era gover­ nante de um reino que “não é deste mundo”, Pilatos tentou desesperadamente evitar tomar uma decisão pessoal. Há, porém, decisões que não podemos evitar. E esta é uma. Cada indivíduo deve escolher entre crer ou não crer na clara afirmação da Bíblia de que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Pilatos tentou libertar Jesus sem tomar essa decisão. Mas os líderes judeus ameaçaram acusá-lo de apoiar um rival de César (v. 12) e Pilatos entregou Jesus para ser crucificado. Foi a escolha errada. Talvez pudéssemos nos solida­ rizar com o vacilante Pilatos, mas a ressurreição de Aplicação Pessoal Jesus mostra exatamente como Pilatos estava errado. Quando a fé adota as armas da incredulidade, o A ressurreição prova que Jesus é o Filho de Deus e, maligno já venceu. sob pressão, Pilatos escolheu não crer. Lembremonos da ressurreição e façamos nossas escolhas a favor, Citaçáo Im portante não contra Jesus Cristo. “De que vale para um homem conseguir a vitó­ ria de sua causa e silenciar o seu adversário se, ao “Não temos rei, senão o César” (Jo 19-15). Essas pala­ mesmo tempo, ele perder aquela estrutura espi­ vras dos principais sacerdotes revelam sua completa ritual sensível e humilde em que o Senhor se de­ hipocrisia. Os judeus supostamente não tinham ne­ leita, e à qual é feita a promessa da sua presença!” nhum rei além de Deus, que governava do céu por — John Newton meio da sua Lei. Em seu frenesi por Jesus morto, os líderes do povo judeu repudiaram o próprio Deus! 10 DE SETEMBRO LEITURA 253 Para vivermos como povo de Deus, há certos princí­ RESSUSCITADO pios quanto aos quais não devemos fazer concessões. João 19— 20 Um dos mais importantes é o de que a nossa fideli­ dade a Deus vem em primeiro lugar. “Vai para meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. Maria “Isto aconteceu para que a Escritura pudesse se cum­ Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira o prir”(Jo 19.17-24). O relato da crucificação e ressur­ Senhor e que ele lhe dissera isso” (Jo 20.17,18). reição feito por João tem como intenção demonstrar que Jesus verdadeiramente é o Filho de Deus. Como Porque Jesus vive, Deus é nosso Pai e nosso Deus. a história da divisão das vestes de Cristo no Calvário se encaixa nesse tema? Visão Geral João relata o acontecimento e mostra que, mil anos Pilatos permitiu que Jesus fosse crucificado antes, Davi previra esse acontecimento (SI 22.18). (19.1-16). Por volta do meio-dia, Jesus foi pre­ Mesmo os “detalhes menores” da crucificação de gado a uma cruz (w. 17-21). Seus carrascos tira­ Jesus foram cuidadosamente supervisionados por ram a sorte para ficar com suas vestes (w. 22-24) Deus e eram elementos de um plano minuciosa­ e Jesus confiou sua mãe aos cuidados de João (w. mente orquestrado. 25-27). A morte de Jesus (w. 28-30) foi confir­ O observador informal poderia pensar que a mor­ mada pelos soldados (w. 31-37), e então o seu te na cruz, tão terrível e tão injusta, provou que corpo foi colocado em um sepulcro (w. 38-42). Jesus não era o Filho de Deus. Como podia Deus Mas, na manhã de domingo, os seguidores de permitir que seu Filho sofresse uma morte assim Jesus descobriram que o sepulcro estava aberto tão terrível? Então João liga vários “detalhes meno­ — e vazio (20.1-9). Jesus, estando vivo, falou res” da cena à profecia do Antigo Testamento, pata com Maria Madalena (w. 10-18) e apareceu aos mostrar que Deus não apenas sabia, mas descreveu discípulos (w. 19-31). de antemão o que aconteceria no Calvário (cf. tam-

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Uma coisa é pegar carona quando uma pessoa ou movimento está no auge da popularidade. O utra coisa inteiramente diferente é sair em pú­ blico para apoiar um líder que foi rejeitado e jaz morto. O teste da nossa fé é a fidelidade a Jesus quando as coisas vão mal, não quando tudo vai bem.

bém Jo 19.36 com SI 34.20, e Jo 19.37 com Zc 12.10). A profecia cumprida prova a tese de João. Jesus é verdadeiramente o Filho de Deus. A prova oferecida por João de que a morte de Cristo estava de acordo com a intenção fixa de Deus suscita a pergunta: “Por quê?” Quão maravilhosa é a respos­ ta. Por meio da morte, Jesus é capaz de nos oferecer perdão e purificação. Ele sofreu de bom grado, sa­ bendo que seu sofrimento era por você e por mim.

“Viu no chão os lençóis ”(Jo 20.1-9). A primeira reação à descoberta de que o sepulcro de Jesus estava vazio foi de pânico. Alguém devia ter roubado o corpo! João, o “outro discípulo”, viu os panos em que Je­ sus fora envolvido sobre uma laje de pedra e supôs que o corpo de Jesus ainda estava lá. Pedro inclinou-se, entrou e descobriu que os lençóis de linho que envolviam o corpo de Cristo estavam vazios! Não havia nenhum corpo dentro! João entrou e viu os lençóis e o lenço que tinha estado sobre a cabeça de Jesus. A prova era indiscu­ tível. Os dois não entenderam, mas sabiam. Jesus ressuscitara dos mortos. Não existe nenhum acontecimento na história an­ tiga que tenha sido mais documentado do que a morte e ressurreição de Jesus. A prova é indiscutí­ vel. As pessoas não têm de entender. Mas qualquer exame cuidadoso do testemunho obriga à crença de que Jesus realmente ressuscitou. “Vi o Senhor!” (Jo 20.10-18, ARA). Há uma dife­ rença entre um indício circunstancial e o testemu­ nho ocular. O primeiro pode levar a um veredicto. O outro o confirma. Como Maria, os cristãos hoje creem na ressurrei­ ção não apenas com base no testemunho oferecido na Escritura, mas com base na experiência pessoal. Sabemos que Jesus vive porque Ele entrou em nos­ sos corações e experimentamos a sua presença. Não é suficiente concordar intelectualmente que Cristo ressuscitou. Precisamos abrir o coração para Jesus e experimentar a sua presença pela fé.

“Eis aí tua mãe” (Jo 19.25-27). Todos os comentaris­ tas concordam que o discípulo mencionado aqui é o próprio João. Sua proximidade com Jesus fez dele o escolhido por Cristo para cuidar de sua mãe, Maria. Alguns cristãos que leem essa passagem enfatizam quão preciosa Maria era para Jesus. Ela era, com certeza, muito amada. Mas isso serve apenas para enfatizar o profundo amor de João por Jesus, e de Jesus por João. Cristo sentiu-se confortado por sa­ ber que seu amigo cuidaria de sua amada mãe. Quanto mais próximos estamos do Senhor, mais provável é que Ele confie coisas e pessoas preciosas “De maneira nenhuma o crerei” (Jo 20.24-29). Que aos nossos cuidados. Amemos profundamente ao bênção é Tomé para os cristãos em toda parte. Ele nosso Senhor Jesus Cristo, para que possamos ter o nos lembra que o cético não é rejeitado por Deus, privilégio de servi-lo como João serviu. que dúvidas e incertezas não nos fazem perder o no Reino de Deus. Ele nos lembra também “Quase cem libras de um composto de mirra e aloés” lugar que Jesus vem de bom grado a nós, para mostrar as (Jo 19.38-42). As especiarias tinham de ser impor­ tadas e eram extremamente caras. A contribuição mãos e o seu lado, para que possamos crer. de 100 libras de especiarias era extravagante, indi­ Se você tem dúvidas — mesmo profundas como as de Tomé — compartilhe-as. Jesus virá até você cando a riqueza e o amor do doador. João nos conta que o doador era Nicodemos — e, quando você o reconhecer, se inclinará como um importante líder religioso que, anos antes, viera Tomé e exclamará: “Senhor meu, e Deus meu!” ter com Jesus à noite. Por fim, Nicodemos estava pronto a declarar sua fidelidade a Jesus, apesar de “Estes, porém, foram escritos para que creiais” (Jo 20.30,31). João não tentou oferecer um relato com­ Jesus estar morto.

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pleto da vida de Cristo. Teria sido impossível. O que Como você e eu cremos, o propósito do Evange­ João fez foi selecionar cuidadosamente material que lho de João foi cumprido em nós. Temos agora revelasse Jesus como o Filho de Deus e, portanto, “vida em seu nome”. estimulasse a fé nEle.

DEV“A Ressurreição”/Jonathan OCIONAL______ Brooks (Jo 20)

Seus amigos se foram e o deixaram morto No leito subterrâneo de José. Embalsamado em mirra e perfumado com aloés, e envolto em mortalha branca como a neve. Então homens astutos vieram e selaram seu túmulo, para que ladrões não levassem embora sua forma sem vida, e reclamassem para Ele uma fama sem merecimento. “Não há por que”, os soldados disseram, “colocar sentinelas para os mortos” Por isso eles se enrolaram nos mantos E então caíram pelo chão E dormiram como mortos a noite toda Sob o pálido luar e o orvalho gelado. O sopro de um alento repentino Agitou o ar passivo da morte. Ele acordou e ergueu-se no leito; Lembrou-se como fora crucificado; Tocou com os dedos a cabeça E de leve o lado recém-curado. E com um suspiro profundo, triunfante, calmamente pôs de lado as roupas de morte — dobrou o fragrante lençol branco, a toalha, as faixas de linho, O lenço, todos com mãos cuidadosas — E deixou arrumado o quarto emprestado. Seus passos eram com o raiar do dia; Tão levemente pela guarda passou, Nenhuma alma do sono despertada, Nenhuma gota de orvalho derramada. O Calvário agora era adorável; Os lírios que nele floresciam trocavam a veste pálida de lua pelas roupas da manhã. “Por que buscais o vivente entre os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou”, o anjo disse. Os primeiros ventos tomaram as palavras

E as levaram aos pássaros cantores, Aos brotos das árvores, a tudo que respira o alento vivo da primavera. Aplicação Pessoal Alegre-se! Jesus ressuscitou dos mortos. Citação Importante “Cristo ressuscitou!” “Ele ressuscitou realmente!” — Saudação tradicional da Páscoa da Igreja Or­ todoxa Russa 11 DE SETEMBRO LEITURA 254 ALIMENTE MEUS CORDEIROS João 21 “Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Se­ nhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as mi­ nhas ovelhas” (Jo 21.16). Aqueles que amam a Jesus ainda são responsáveis por cuidar de suas ovelhas. Visão Geral Os discípulos foram pescar e Jesus juntou-se a eles na margem (21.1-4). Quando eles reconheceram Jesus, Pedro pulou do barco e, na sua ansiedade, nadou para ir ter com Ele (w. 5-14). Jesus recomissionou Pedro, questionando o seu amor o mesmo número de vezes que Pedro antes o negara (w. 15-17). Jesus previu como Pedro morreria (w. 18,19), mas não respondeu perguntas sobre João (w. 20-23). João encerra com uma afirmação de que seu testemunho sobre Jesus é verdadeiro (w. 24,25). Entendendo o Texto “Vou pescar” (Jo 21.1-3). Nos tempos do Novo Tes­ tamento, pescar não era uma atividade recreativa. Era trabalho. Era a profissão seguida por vários dos discípulos antes que Jesus os chamasse. Portanto, há uma questão sobre a decisão de pescar, to­ mada por Pedro. Ela foi planejada ou era apenas a ativi­ dade de um dia? Ou ele pretendia retomar à profissão? Na verdade, desde a ressurreição Jesus aparecera apenas duas vezes para os discípulos (cf. v. 14). Os discípulos obviamente estavam em dúvida quanto ao futuro. Deviam apenas esperar o retorno glorioso de Jesus? Se fosse assim, eles tinham de fazer alguma coisa para comer, não tinham?

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O fato é que Jesus tinha planos muito específicos para os 11 discípulos. Eles nunca mais retornariam à sua vida comum. O mesmo acontece conosco. Quando encontramos Jesus, nossas vidas mudam — para sempre. Não, não quero dizer que devamos deixar nossos empregos e abraçar o evangelismo profissional. Quero dizer sim­ plesmente que o nosso relacionamento com Jesus se toma o mais importante da vida. Continuaremos a trabalhar, mas trabalhar não será mais “comum”. Tra­ balharemos com o melhor de nossa capacidade por­ que teremos consciência de que o trabalho honesto honra o Senhor. Continuaremos a ter os mesmos rela­ cionamentos que antes. Mas estes também terão mu­ dado. Estaremos muito mais sensíveis, seremos mais interessados e amorosos. Vamos passar a nos importar com pessoas que podem não ter sido importantes para nós como pessoas. Não culpo Pedro por voltar a pescar. Ele ainda não tinha certeza do que devia fazer. Quão maravilhoso é termos a certeza de que devemos servir a Jesus e aos outros em tudo. E nossas vidas nunca serão “comuns” outra vez. “Lançai a rede à direita do barco e achareis” (Jo 21.314). Qual a importância da pesca maravilhosa? João disse que a rede estava tão cheia que não conseguiam içá-la e, depois, relatou que encontraram 153 “peixes grandes”. Suspeito que isso serviu como um sinal de conforto e também como uma promessa. Foi um conforto, porque Jesus não demonstrou ira por seus discípulos terem retornado ao antigo ofício. Os discípulos podem ter se sentido estranhos a respei­ to, mas a grande pesca deixou-os à vontade. Primariamente, porém, penso que a rede cheia de pei­ xes foi uma promessa. Foi a maneira de Jesus dizer: “Não se preocupem. Posso e continuarei a satisfazer todas as necessidades materiais”. Os discípulos logo sairiam para a mais insegura das vidas: seriam evan­ gelistas viajantes, dependentes dos outros para obter alimento e abrigo. Apesar de terem praticado seu ofício a noite inteira, aqueles habilidosos pescadores não haviam pescado nada. Mas uma única palavra de Jesus encheu suas redes. Não podemos depender de nossas habilidades ou ca­ pacidades para ter nossas necessidades satisfeitas. Mas certamente podemos depender de Jesus! “Cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes” (Jo 21.11). Por que incluir o número específico? Por que não apenas dizer: “havia um grande número de pei­ xes”? Imagino que é porque nós, seres humanos, so­ mos muitos orientados para números. Sei que eu sou. Para começar, tenha uma filha defi­ ciente mental, Joy, que vive em um internato de assis­

tência especial no Arizona. As despesas com Joy ficam entre 17 e 18 mil dólares por ano — e boa parte disso não é dedutível no imposto de renda. Tenho outra responsabilidade que exige 10 mil dólares por ano, de modo que, com essas duas, mais os impostos, preciso ganhar cerca de 40 mil dólares por ano antes de ter um único centavo para dedicar às despesas normais de minha família. Joy agora tem 28 anos, e durante todos esses anos Deus forneceu tudo de que precisei para cuidar dela e do restante da família. Nunca houve nada no ban­ co, e muitas vezes houve pilhas de contas esperando pagamento. Mas sempre, bem a tempo, as redes se en­ cheram. E, quando contava, como pessoas orientadas para os números tendem a fazer, sempre encontrei os 153 peixes de que precisávamos e mais. “Amas-me?” (Jo 21.15-23). João nos conta que Jesus perguntou a Pedro três vezes: “Amas-me?” Embora o texto grego apresente um uso fascinante de diferentes palavras para “amor” e “saber” (Veja o DEVOCIONAL), o propósito geral do questionamento era a cura e a restauração. Pedro havia negado Jesus três vezes. As lágrimas de angústia que ele derramou depois de ter negado o seu Senhor mostraram quão grande era sua dor. Embora Pedro ficasse magoado por Cristo fazer-lhe a mesma pergunta três vezes, a tripla afirmação foi importante para Pedro. Como sabemos que a tripla afirmação foi, antes, para Pedro, e não para Jesus? Porque, após a primeira expressão do amor de Pedro, Jesus lhe deu uma incumbência: “Apascenta as minhas ovelhas”. Cristo aceita o nosso amor de imediato e, graciosa­ mente, permite que o sirvamos. Ele nos pede para reafirmar nosso amor, a fim de que possamos nos examinar e tenhamos certeza de que o nosso amor por Ele é real. Quando você e eu percebemos que realmente ama­ mos Deus, somos motivados e libertados para servi-lo livres de dúvidas. “Amas-me mais do que estes?” (Jo 21.15). Há três pos­ síveis referências na palavra “estes”. Jesus podia querer dizer: Você me ama mais do que estes homens me amam? Ele podia querer dizer: Você me ama mais do que ama estes homens? Ou Ele podia querer dÍ2er: você me ama mais do que essas coisas — seus barcos, redes e vida dura de um pescador. Não sabemos realmente a que Ele se referia. Na verdade, não precisamos saber. Tudo que realmente precisamos saber é que amamos a Jesus tanto quanto podemos, sem nos compararmos com os outros. Que o amamos mais do que o mais querido dos compa­ nheiros humanos. E que o amamos mais do que a ocupação que tanto apreciamos.

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João 21

Amamos a Jesus “mais do que estes”? Sim. Jesus signifi­ ca mais para nós do que qualquer outra coisa na vida. “Significando com que morte havia ele de glorificar a Deus” (Jo 21.19). Pedro foi incumbido e depois chamado: “Segue-me”. Pedro o seguiu. Ele o seguiu pelo resto de sua vida, assumindo a liderança no evangelismo inicial da igre­ ja, e uma tradição confiável nos diz que ele ministrou para a crescente comunidade cristã na própria Roma. Ali, também segundo a tradição, Pedro seguiu a Cristo até a morte, sim, a crucificação. Mas, como último pedido, Pedro implorou para ser crucificado de cabeça para baixo, sentindo-se indigno de morrer da mesma maneira que o seu Senhor. Esta é a mor­ te a que Jesus se refere: mãos velhas esticadas para receber pregos como os que perfuraram as mãos de Cristo. Uma morte triunfante. Pedro certa vez negou Jesus com os seus lábios. Mas, desde então, todas as suas ações afirmaram a auten­ ticidade de sua confiança no Salvador. Na vida e na morte, a fidelidade de Pedro glorificou a Deus.

Uma das coisas mais tolas que um cristão pode fazer é perguntar: “E ele?” E uma atitude tola porque Cristo, e não você ou eu — ou mesmo Pedro — é o Senhor. Devemos acolher no coração a resposta de Jesus a Pedro: “Que te importa a ti? Segue-me tu”. Nossa responsabilidade é manter nossos olhos fixos em Jesus e segui-lo de perto. E desafio suficiente. Não nos cabe questionar como Deus conduz outro discí­ pulo de nosso Senhor.

“Jesus, porém, não lhe disse que não morreria”(Jo 21.2225). João sobreviveu a todos os outros discípulos, em muitos casos por mais de trinta anos! Era um homem bem idoso quando escreveu esse Evangelho: alguns acham que tinha 90 anos. Durante as décadas que haviam se passado após a ressurreição de Jesus, João viu a igreja crescer explo­ sivamente. Quando ele escreveu, cristãos de segunda ou mesmo de terceira geração eram comuns. E, por­ tanto, João escreveu o Evangelho que leva seu nome como última testemunha viva dos acontecimentos que ele vira, ouvira e nos quais desempenhara um “Senhor, e deste que será?” (Jo 21.20-25). Pedro papel vital. amava e reverenciava Jesus. Mas Pedro, ainda as­ “Este é o discípulo que testifica dessas coisas e as escreveu; sim, podia dizer tolices. e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro” (v. 24).

DEV OCIONAL______ Tu Sabes que te Amo

(Jo 21.15-19) Jesus perguntou a Pedro três vezes: “Amas-me?” Nas primeiras duas vezes que Jesus fez a pergunta, João registra a palavra grega agapao. Para capturar as suas implicações, algumas versões traduzem: “Tu verdadeiramente me amas?” Essa palavra grega é usada no Novo Testamento para falar do grande amor de Deus por nós em Cristo. E a palavra, por exemplo, em João 3.16 e 13.34,35. “Verdadeira­ mente me amas”. Esta é, provavelmente, uma boa tradução para a nossa língua. Cada vez Pedro respondeu: “Sim, Senhor; tu sabes que te amo [phileo\ ”. Na terceira vez, Jesus também usou a palavra grega phileo, geralmente entendida como ênfase de amizade, afeição ou gosto. Alguns estudiosos do grego acreditam que as duas são intercambiáveis aqui; outros têm certeza de que a resposta de Pedro mostra sua hesitação em respon­ der a Jesus no nível mais profundo que a pergunta sugere. Contudo, o mais interessante talvez seja a mudança nas palavras que Pedro usou ao dizer “Senhor; tu sabes que te amo”. Nas primeiras duas vezes, Pe­ dro usou oida, uma palavra que indica aceitação

intelectual de um fato. Na terceira vez, Pedro usou a palavra mais vigorosa, ginasko, que indica conhe­ cimento obtido pela experiência. Você e eu podemos amar e amaremos Jesus de mui­ tas maneiras, em muitos níveis diferentes. Mas o amor que conta e que nos torna aptos para apas­ centar as ovelhas de Cristo é um amor que se prova por experiência. Diga a Jesus que o ama. Mas também mostre a Ele que você o ama em tudo o que faz. Aplicação Pessoal Expresse o seu amor com ações, e a realidade dele nunca será mal entendida. Citação Importante “Oh, Deus, que as palavras da minha boca ofere­ çam esperança e confiança e deem garantia renova­ da. Mas apenas quando a minha vida refletir a sua Palavra.” — Jack L. Moore

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em ATOS

ATOS INTRODUÇÃO O livro de Atos é o relato feito por Lucas do início e do crescimento explosivo do cristianismo. O seu tema principal é o Espírito Santo, cuja vinda, depois que Cristo retornou ao céu, deu início à igreja como o corpo vivo de Cristo. O livro de Atos se concentra no ministério de dois homens. O apóstolo Pedro domina os 12 primeiros capítulos, quando a igreja é firmemente estabelecida na Palestina e dá as boas-vindas aos primeiros gentios convertidos. O apóstolo Paulo é retratado nos demais capítulos, dando início a uma campa­ nha missionária dinâmica que em algumas décadas alcançou todas as partes do Império Romano, e se estendeu além dele. O livro de Atos nos fascina em nossos dias, com suas vívidas imagens da vida do século I, com o seu claro retrato do início da pregação do evangelho, e com o testemunho que dá do Espírito Santo para o mundo. Um estudo desse livro nos recorda que o Espírito é, ainda hoje, a fonte do poder espiritual para a igreja de Cristo. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Preparação ......................................................................................................................................................At 1 II. Poder ..............................................................................................................................................................At 2 III. Missão aos Judeus............................................................................................................................. At 3— 12 IV. Missão aos Gentios .........................................................................................................................At 13— 20 V..A Prisão de Paulo ............................................................................................................................. At 21— 28 GUIA DE LEITURA (18 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia e o Devocional em cada capí­ tulo deste Comentário. Leitura 255 256 257 258 259 260 261 262 263 264 265 266

Capítulos 1 2 3— 4 5 6— 7 8 9 10— 11 12 13— 14 15 16

Passagem Essencial 1.1-8 2.22-47 4.23-37 5.1-11 6.1-7 8.26-40 9.1-19 11.1-18 12.1-19 14.8-29 15.36-41 16.1-10

Comentário Devocional da Bíblia

267 268 269 270 271 272

17— 18 19— 20 21— 22 23— 24 25— 26 27— 28

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18.18-28 20.13-37 21.1-36 24.1-27 25.23— 26.32 27

ATOS 12 DE SETEMBRO LEITURA 255

PREPARAÇÃO Atos 1

“Mas recebereis a virtude do Espirito Santo, que há “Esperassem a promessa do Pai” (At 1.4,5). Antes de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em disso, Pedro e vários dos discípulos tinham voltado Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos à Galileia, e retornado à pesca (cf. Jo 21.1-3). Eles confins da terra” (At 1.8). não sabiam o que fazer, e apenas ficar esperando não era fácil para esses homens ativos e inquietos. Um sentimento de missão pode encher qualquer A espera é difícil para todos nós. Algumas vezes, ela vida cristã de propósito. magoa, e nós sabemos que não poderemos conti­ nuar esperando mais nem um momento. Algumas Visão Geral vezes, é a incerteza. Sabemos que nos sentiríamos Lucas deu continuidade à história de Jesus iniciada melhor fazendo alguma coisa — qualquer coisa — no seu Evangelho (1.1,2). Cristo disse suas últimas ainda que algo errado. Qualquer coisa seria melhor palavras aos discípulos, e subiu ao céu (w. 3-11). do que esperar. Os discípulos, enquanto esperavam em Jerusalém, E então as palavras de Jesus vêm a nós como vie­ como Cristo lhes tinha instruído, escolheram Ma- ram aos discípulos. “Espere.” “Espere a promessa tias para substituir Judas, como testemunha da res­ do Pai.” surreição do Senhor (w. 12-26). Sei que essas instruções são singulares. Foram os discípulos que receberam a instrução de esperar Entendendo o Texto pela vinda do Espírito, no Pentecostes. Apesar dis­ “Tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar” so, Jesus com frequência tem a mesma instrução (At 1.1). Tanto o Evangelho de Lucas quanto o livro para nós. Espere. Espere Deus agir. Espere que de Atos são dirigidos aTeófilo. Em Lucas 1.3, ele é tra­ Deus cumpra a sua promessa e lhe faça o bem. tado como “excelentíssimo”, um título que sugere que Não imagino quantas tragédias pessoais poderiam Teófilo tivesse um cargo importante ou alta posição so­ ter sido evitadas se os crentes apenas tivessem espe­ cial. Alguns pensam que Teófilo, cujo nome quer dizer rado, e ouvido Deus dizendo: “Espere”. Sei, no en­ “Amigo de Deus”, financiou a investigação de Lucas. tanto, que até que possamos sentir o seu “Agora!”, a De qualquer forma, Teófilo estava ansioso por co­ melhor coisa que podemos fazer é esperar. nhecer tudo a respeito de Jesus. E Lucas deixou claro que, para compreender Jesus, a história deve “Restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?” (At 1.6ter continuidade, além da ressurreição de Cristo e 8). Até então, os discípulos continuavam sendo do seu retomo. O Evangelho de Lucas nos con­ “crentes do Antigo Testamento”. Eles conheciam as tou somente o que Jesus “começou, não só a fazer, promessas feitas pelos profetas. Estavam convenci­ mas a ensinar”. O livro de Atos nos conta o que dos de que Jesus, que tinha provado ser o Messias, Jesus continuou a fazer e ensinar, por intermédio faria de Israel uma nação outra vez, e, na verdade, da igreja, o seu corpo vivo aqui na terra. (Veja o o poder dominante do mundo. A sua única per­ DEVOCIONAL.) gunta foi: “Quando?” E assim, eles perguntaram,

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com uma ordem de palavras que, no texto origi­ nal, reflete a ênfase no tempo, “Restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?” Jesus certamente náo cen­ surou seus seguidores por crerem que as promessas do Antigo Testamento seriam cumpridas de forma literal. Ele não disse: “Oh, não interpretem isso li­ teralmente. Eu não disse que o meu Reino não é deste mundo?” O fato é que o Reino de Deus tem muito mais facetas do que a maioria das pessoas conhece, e um reino terreno futuro é uma, mas apenas uma delas. O que Jesus realmente disse foi: “Não vos perten­ ce saber os tempos ou as estações”. Creia que isso acontecerá. Mas não tente descobrir “quando”. Este é um bom princípio para seguirmos no nosso relacionamento com o Senhor. Creia nas suas pro­ messas. Mesmo quando você for instruído a espe­ rar, confie que as boas dádivas que Deus distribui serão suas. Mas deixe o “quando” integralmente a critério de Deus. “Mas recebereis a virtude... e ser-me-eis testemunhas” (At 1.8). Náo é errado examinar as Escrituras em um esforço para compreender a natureza irresistí­ vel do grande plano de Deus para a humanidade. E elogiável. Mas, ao mesmo tempo, com frequência é irrele­ vante. O que é relevante é conhecer o propósito de Deus para você e para mim. Esse é o significado do que Jesus disse aos discípu­ los. Eles o questionaram a respeito do seu Reino. E Ele lhes contou o seu papel específico no que iria acontecer a seguir. Não sei quando Jesus retornará. Espero que seja durante o meu tempo de vida — mas os crentes, ao longo dos séculos, também esperaram a mesma coisa. Em um sentido muito real, quando Cristo deve retornar é algo que não me diz respeito! O que preciso saber é o que ,o Senhor deseja que eu faça com a minha vida. Preciso saber como tomar deci­ sões que afetam o próximo mês, e o próximo ano. Preciso saber o que Ele quer que eu faça hoje. Era o que os discípulos necessitavam, e receberam. Espere alguns dias. O Espírito virá. Você receberá poder. E então será minha testemu­ nha — para o vizinho, e para todo o mundo! “Esse Jesus... há de vir” (At 1.9-11). Não precisamos saber quando Jesus retornará. Precisamos saber vi­ ver com a convicção de que Ele retornará. O fato de que Jesus voltará significa que a vida aqui é duplamente temporária. Ela é temporária porque a morte espreita a todos nós, depois de nossos pou­

cos e curtos anos. E é temporária no sentido de que, permanecendo nós ou não na terra, o modo de vida representado na sociedade do homem está destinado a desaparecer. Quando Jesus retornar, a injustiça, o egoísmo, toda obra obscura e injusta, tudo isso será eliminado, e a bondade verdadeira virá à terra. O conhecimento assegurado de que Jesus retornará nos dá a coragem de lutar contra os males atuais. Apesar de contratempos e derrotas, em Jesus a nos­ sa vitória já está ganha. “Todos estesperseveravam unanimemente em oração e súplicas” (At 1.12-14). Esse versículo assinala a pri­ meira ocorrência, no livro de Atos, de uma palavra grega muito especial: homothymadon. Na verdade, 11 das 12 ocorrências dessa palavra se encontram no livro de Atos; a outra se encontra em Romanos 15.6 . O que significa homothymadon? E uma palavra que retrata a igreja reunida — orando, adorando, tomando decisões — em um espírito de unidade e harmonia. Na verdade, harmonia talvez seja a melhor descrição. E como um grande conjunto de orquestra, com cada instrumento conservando a sua individualidade, mas sob a batuta de um gran­ de maestro, eles se misturam, para produzir uma sinfonia. É isso que a igreja deve ser. Não flautas produzi­ das em massa, cada uma delas com cinco orifícios feitos em plástico preto, mas uma congregação de instrumentos distintos e feitos à mão. Todos dife­ rentes, mas sob a mão orientadora de Deus, unidos para tocar a obra-prima que Deus compôs. “Mostra qual destes dois tens escolhido” (At 1.15-26). Dois dos homens que tinham seguido a Jesus desde o início, e ainda não tinham sido contados com os Doze, foram recomendados, pelo pequeno grupo de crentes, para assumir o lugar de Judas. Depois da oração, foram lançadas sortes sobre os dois, e Matias foi escolhido. Esse é o último incidente registrado, no Novo Tes­ tamento, de crentes que procuram conhecer a von­ tade de Deus “por acaso”, e é significativo que isso aconteça pouco antes da vinda do Espírito Santo. A partir de então, o Espírito guiaria o seu povo internamente, e sinais externos já não mais seriam. necessários. Contudo, observe que havia dois homens bons, cada um deles com as qualificações necessárias para a liderança, e somente um deles foi escolhido. Quase sempre há mais homens e mulheres com po­ tencial de liderança na igreja do que o necessário. E o que dizer do homem que não foi escolhido:

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Barsabás, o Justo? Ele foi deixado de lado, para mo­ far em alguma prateleira? De modo nenhum. Matias foi escolhido para se fazer “conosco teste­ munha da sua ressurreição” (v. 22). A implicação, naturalmente, é de uma testemunha oficial, repre­ sentando a igreja como um todo. Mas o que é instigante para mim é que Justo, embora não “oficial”, era, apesar disso, uma testemunha. E ele, como Matias, pôde dar, e sem dúvida deu, testemunho de seu Senhor. Algumas vezes, fico intrigado pelo clamor de al­ guns por serem líderes “oficiais”. Fazer parte de um conselho ou comitê, ou ser consagrado, não

DEVOCION AL______ Continuando a Realizar Obras

(At 1.1-8) Há uma batida à porta, e a criança, que foi dei­ xada sozinha por algumas horas, cuidadosamente instruída pela mamãe e pelo papai, conserva a por­ ta fechada. Outra batida. Finalmente, um pouco desesperada, a criança grita: “Vá embora. Não há ninguém em casa”. Às vezes penso que nós, cristãos, nos sentimos como aquela criança. Nós nos sentimos completamente sozinhos. Quan­ do vêm bater à nossa porta, nós nos escondemos, esperando que nos deixem em paz. Se Jesus estives­ se aqui, Ele teria sido capaz de responder. Assim, cientes da nossa fraqueza, finalmente clamamos: “Vá embora, não há ninguém em casa!” E é por isso que precisamos ler o livro de Atos com mais frequência. Para nos lembrar de que há al­ guém em casa! Que tudo o que Jesus fez, enquan­ to estava aqui na terra, foi apenas o início do seu ministério. Hoje, Jesus ainda está ativamente em ação, no seu Corpo aqui na terra, e por intermédio dele. A Igreja. Você e eu. Quando Jesus deixou seus discípulos pela última vez, contou-lhes o segredo. Dentro de alguns dias, disse Ele, sereis batizados com o Espírito Santo. Sei que existe muita discussão sobre o significado des­ se batismo. Mas certamente, todos concordariam com 1 Coríntios 12.13. Esse versículo diz que to­ dos nós, cristãos, “fomos batizados em um Espíri­ to, formando um corpo”. E esse corpo é o Corpo de Cristo. Deus, o Espírito Santo, está tão conectado a Jesus que, embora Ele esteja no céu, nós somos o seu corpo vivo, um corpo de carne e sangue, presente aqui na terra. E no seu corpo Jesus também está presente! Assim, da próxima vez que o mundo bater à sua porta, e você se sentir ansioso e inseguro, não grite

acrescenta nada ao nosso direito de servir a Jesus, ou de testemunhar o seu amor e a sua graça. Se você é uma dessas pessoas que se magoa porque não obteve alguma posição “oficial” na igreja, por que não adotar Justo como seu exemplo? O ho­ mem que não foi escolhido para fazer parte dos Doze, mas que tinha tanta liberdade para dar testemunho da ressurreição de Cristo quanto eles — porque, como eles, estivera com Jesus desde o início. s* Pense nisto. Estar com Jesus não é uma honra mui­ to maior do que ser escolhido para um cargo na sua igreja? “Vá embora. Não há ninguém aqui”. Alguém está aqui. Jesus Cristo está presente em você! E na sua respos­ ta amorosa e afetuosa às pessoas que batem à sua porta, Jesus continua a sua obra amorosa e reden­ tora no nosso mundo. Aplicação Pessoal Confie, e deixe Jesus agir por seu intermédio. Citação Importante “Tente grandes coisas PARA Deus, e espere gran­ des coisas DE Deus.” — William Carey 13 DE SETEMBRO LEITURA 256 PODER Atos 2 “E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2.4). O dom mais importante do Espírito não são as lín­ guas, mas a capacitação. Visão Geral O Espírito, repentina e visivelmente, veio aos cren­ tes reunidos no Pentecostes (2.1-4). Eles começa­ ram a falar em línguas reconhecidas pelos visitantes da grande festa (w. 5-13). Pedro pregou o primeiro sermão evangelístico da história à multidão que se congregava ali (w. 14-39). Quase três mil pessoas creram (w. 40,41), e começaram a se reunir em suas casas (w. 42-47). Entendendo o Texto “O dia de Pentecostes” (At 2.1). O Pentecostes era uma grande festa religiosa realizada 50 dias depois da Páscoa. No dia de Pentecostes, os judeus cele­

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bravam a bondade de Deus, oferecendo as primí­ cias da colheita ao Senhor. No século I, também se considerava que era o aniversário da entrega da Lei a Israel por Moisés. Cada associação é importante — Cristo tinha mor­ rido pelos pecadores: nesse dia de Pentecostes, os primeiros resultados daquela colheita de almas fo­ ram vistos, quando o Espírito uniu os crentes para formar a Igreja viva. Esse dia também deu início a uma nova era. A Lei tinha vindo por intermédio de Moisés, mas a graça e a verdade, por Jesus Cristo (Jo 1.17). O Pentecostes assinalou o início da era da graça, em que você e eu vivemos.

nhecimento dos eventos relacionados com a cruci­ ficação de Cristo. O que foi o milagre de línguas? Nessa passagem, pelo menos, fica claro que deve ter sido uma de duas coisas. O milagre ocorreu no cenáculo, quan­ do os crentes foram capacitados a falar em uma lín­ gua estrangeira que jamais tinham aprendido. Ou foi na audição, quando os membros da multidão ouviram, cada um, o que os crentes disseram, em suas línguas pátrias. Quaisquer que tenham sido os detalhes do milagre, uma coisa ficou clara. O primeiro uso das línguas foi o dom gracioso do Deus que deseja que os ho­ mens compreendam quem é Jesus, e o que Ele fez “Um som, como de um vento veemente e impetuoso” por nós. (At 2.24). Embora alguns cristãos tenham a ten­ dência de se concentrar em apenas um, houve, na “Isto é o que foi dito pelo profeta Joel” (At 2.14-21). verdade, quatro sinais visíveis dessa obra singular Uma característica importante da profecia bíblica do Espírito Santo, que deu início à Era da Igreja. é a distorção temporal. Com isso, simplesmente (1) Houve o som de um vento impetuoso, um fu­ quero dizer que o tempo, a sequência e todas as racão do céu. (2) Houve a aparição de línguas de outras coisas que usamos para organizar a infor­ fogo. (3) Houve a separação do fogo em chamas mação não estão presentes na mensagem profética. individuais, que vieram a pousar sobre cada um Eventos que são separados por centenas ou milha­ dos crentes reunidos. (4) Houve uma explosão de res de anos na história podem estar conectados em sons, quando todos do grupo de crentes falaram uma única profecia, e separados somente por uma em línguas que lhes eram estranhas. vírgula. Esse foi um evento singular: em nenhuma outra Desta maneira, quando Pedro citou Joel, ele espe­ passagem do Novo Testamento se encontra uma rava que seus ouvintes compreendessem. Joel dis­ correspondência exata. Com muita frequência, no se que Deus derramaria o seu Espírito sobre toda livro de Atos, Lucas fala do Espírito enchendo os a carne (w. 17,18). Foi o que Ele fez. Joel disse crentes e capacitando-os para o ministério. que Deus mostraria sinais no céu, pouco antes da Seria errado que nós, dogmaticamente, insistísse­ vinda do Dia do Juízo (w. 18-20). Assim, o derra­ mos que o “dom de línguas” não é para hoje. Mas mamento do Espírito de Deus é uma advertência seria igualmente errado destacar este, entre os de que o juízo certamente virá (mas não uma in­ quatro sinais do Pentecostes, e insistir que só ele dicação de quando o juízo virá!). Joel prosseguiu: ainda é o sinal da presença do Espírito em meio “todo aquele que invocar o nome do Senhor será ao povo de Deus. A emocionante realidade é o salvo”. Agora, então, depois do derramamento do fato de que Deus, o Espírito Santo, ainda pousa Espírito, e antes do dia do juízo, é o momento de sobre “todos” que pertencem a Jesus Cristo, e que invocar o seu nome. Ele é a fonte do poder sobrenatural em nossas vi­ A mesma coisa é válida hoje. O sol ainda para no das hoje. céu, para nós, como parou para Josué há muito tempo. Deus está prolongando o dia da oportuni­ “Todos os temos ouvido em nossas próprias línguas” dade, para que todos possam ser salvos. (At 2.5-13). No século I, os judeus estavam dis­ persos por todas as nações do mundo oriental e “Varões israelitas, escutai estas palavras” (At 2.22ocidental. Muitos desses judeus falavam apenas a 39). Conheço muitos cristãos que se sentem des­ língua da sua terra natal, e nem mesmo conheciam confortáveis por testemunhar a outros. Com fre­ o aramaico, falado em Jerusalém, ou o hebraico do quência, eles simplesmente não sabem o que dizer. Antigo Testamento. Ou como explicar o evangelho. Mas os judeus da diáspora (dispersos) eram fiéis à O sermão de Pedro — o primeiro sermão cristão Lei de Deus e ao Templo. A cada ano, muitos vi­ que já foi pregado — é uma boa explicação dos nham como peregrinos, para celebrar uma ou mais elementos básicos do evangelho. O melhor que po­ das festas religiosas anuais. Sem dúvida, muitos demos fazer é memorizar estes pontos e recorrer que estavam presentes naquele dia de Pentecostes a eles quando nos for pedido que partilhemos o estiveram ali para a Páscoa também, e tinham co­ evangelho com outras pessoas.

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1. Jesus foi crucificado e ressuscitou dos mortos 2.23,24 2. A morte de Jesus foi predita e explicada na Bíblia 2.25-35 3. Ele é Senhor e Cristo 2.36 4. Arrependa-se e 2.38a 5. Os seus pecados lhe serão perdoados 2.38b,39 e Deus lhe dará o seu Espírito Santo O evangelismo eficaz não é nada mais nem menos do que dizer quem é Jesus e o que Ele fez, e convi­ dar outras pessoas a aceitar o perdão. “De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra” (At 2.41). Aqui, o batismo é o batismo nas águas — na tradição estabelecida por João Batista, mas ligeiramente reorientada por Jesus. João pregava o batismo como um símbolo de arrependimento: um sinal de que a pessoa con­ fessava os seus pecados e estava se afastando deles. Jesus foi batizado, mediante a objeção de João, que só o consentiu por ser uma parte do plano de Deus Pai. Jesus não tinha pecados a confessar, mas era adequado que Ele se identificasse publicamente com João e sua mensagem. O batismo a que Pedro convidava servia às duas fun­ ções. Era uma confissão de erros passados. Porém,

DEVOCIONAL______

Perdido ou Amado? (At 2.22-47) “Oh, eu escapei da igreja durante o último hino. Vim só para a pregação.” Muitos cristãos sentem algo parecido. Eles desejam comparecer à igreja no domingo. Afinal, é a coisa certa a fazer. Mas dese­ jam permanecer anônimos. Suspeito que isso seja parte da atração de algumas das “super igrejas” de nossos dias. Elas são gran­ des o suficiente para que as pessoas se percam nela. Você pode ir à igreja. Mas você não precisa conhe­ cer ninguém. Pessoalmente, sou fascinado pelo padrão que vejo aqui, em Atos 2. Grande? Você pode acreditar que sim. Quase três mil pessoas se converteram depois do primeiro sermão de Pedro. Esse é um ótimo começo para o que você chamaria de uma grande igreja! Mas perdido na multidão? Nunca! Porque essa grande primeira igreja de Jerusalém imediata­ mente dividiu esses convertidos em pequenos

Os primeiros cristãos se reuniam em casas onde compar­ tilhavam refeições e “perseveravam na doutrina dos após­ tolos, e na comunhão, e no partir do páo, e nas orações” (v. 42). As reuniões em casas conservavam os grupos pe­ quenos e íntimos, encorajando a profunda preocupação mútua que caracterizava a Igreja Primitiva. mais do que isso, era uma afirmação pública de fé: um passo que, para sempre, identificava a pessoa ba­ tizada como alguém que se identificava com Jesus Cristo. Depois desse primeiro sermão, quase três mil pessoas se converteram a Jesus, e publicamente se identificaram como seguidores do Senhor, seguindo o seu exemplo do batismo nas águas. grupos, colocou-os para se reunirem em casas e, antes que alguém se apercebesse, cada uma des­ sas pessoas descobriu que era amada — e amava as outras. Lucas descreveu o resultado. Eles vivenciavam a unidade na comunhão nas casas (v. 42). Expres­ savam o seu amor uns pelos outros da mais prática maneira (v. 44). Reuniam-se em grupos maiores para adorar com entusiasmo (v. 46). Eles ficaram tão amigos que passavam muito tempo com as famílias dos outros (v. 46). Sentiam-se tão felizes que o louvor continuava se derramando de suas vi­ das (v. 47). E, sim, todos ficavam favoravelmente impressionados — e mais pessoas continuavam se convertendo a cada dia. Naturalmente, nós somos abençoados nos nossos dias. Não temos que nos congregar em casas. Sim­ plesmente abrimos uma igreja em alguma esquina, colocamos nela algumas centenas (ou milhares) de pessoas uma ou duas vezes por semana, e continu­ amos com nossas vidas cotidianas. Não é como o

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judaísmo do século I. Aqui, você pode se perder na multidão — mesmo em uma pequena multidão. Mas se você é uma dessas pessoas que já estiveram perdidas em uma grande igreja, também perdeu um ingrediente vital do verdadeiro cristianismo. Você perdeu o amor — o ser amado, e o amar, de maneiras íntimas e verdadeiramente cristãs.

Visão Geral Pedro curou um coxo em nome de Jesus (3.1-10), e convocou a multidão que se reunia para que se arrependesse e cresse em Jesus (w. 11-26). Pedro e João foram presos (4.1-4). Pedro corajosamen­ te confrontou os homens que tinham condenado Jesus, e deu ao Cristo ressuscitado o crédito pela cura milagrosa (w. 5-12). Os dois discípulos foram Aplicação Pessoal ameaçados, espancados e libertados: eles não deve­ Vá a uma igreja grande se quiser. Mas, por favor, riam falar outra vez em nome de Jesus (w. 13-22). não se perca. A igreja se uniu a Pedro e a João em oração (w. 23-31) e todos foram cheios do Espírito Santo. O Citação Importante resultado foi uma ousadia no testemunho e uma “Uma coisa sobre a igreja do Novo Testamento: maravilhosa unidade (w. 32-37). Existe um clima de relacionamentos afetuosos. Uma sensação de calor e cuidado permeia o con­ Entendendo o Texto junto, e o carinho pelos indivíduos aparece repeti­ “O que tenho, isso te dou” (At 3.1-7). A nossa so­ damente. As pessoas sabem como amar e ser ama­ ciedade tem a filosofia de “colocar dinheiro nisso”. das, umas pelas outras.” — Norm Wakefield Para o Congresso e muitos cristãos, colocar dinhei­ ro parece ser a primeira e a última abordagem à 14 DE SETEMBRO LEITURA 257 solução de problemas sociais e/ou espirituais. Nós EM NOM E DE JESUS colocamos dinheiro e, sentindo que cumprimos o Atos 3— 4 nosso dever, nos apressamos para cuidar dos nossos assuntos. “Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso te Pedro e João tinham uma vantagem peculiar. Eles dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te não tinham dinheiro para colocar! Em vez disso, e anda” (At 3.6). eles davam o que tinham. Nesse caso, o que eles tinham era o poder de curar em nome de Jesus. Nós podemos ter a máxima confiança, hoje, no po­ Talvez você ou eu não tenhamos o poder de curar. der do nome de Jesus. Mas precisamos seguir o exemplo dos dois apósto­ los, e dar o que tivermos. Talvez um ouvido para Contexto ouvir. Talvez uma mão para ajudar. Certamente, Nome. Na nossa sociedade, um nome é um rótulo amor e interesse. Essas coisas, oferecidas em nome que identifica uma pessoa. Na cultura dos hebreus, de Jesus, têm mais poder para estimular e animar o nome indicava muito mais. O nome expressava os outros do que todo o dinheiro do mundo. a essência do ser da pessoa. Assim, pregar ou curar no nome de Jesus era liberar o poder de Jesus na­ “A ndando, e saltando, e louvando a Deus” (At 3-8quela situação. Esse conceito de “nome” está por 10). Quando a pregação de Wesley começou a agi­ trás da mágica praticada no mundo antigo. As pes­ tar a Inglaterra, as instituições religiosas se pertur­ soas pronunciavam nomes, esperando que o poder baram. Essas pessoas tinham muito “entusiasmo”. daquele ser fosse ativado. E o “entusiasmo” parecia inadequado para os cléri­ Que diferença no uso do nome de Jesus, por Pedro gos moderados da época. Mas como pareceu apro­ e pela igreja. Como Deus, Jesus estava realmente priado para o coxo, ao perceber que estava curado, presente em poder quando Pedro curou o coxo, as­ andar e saltar e louvar a Deus! E como é apropriado sim como Jesus está presente, em poder, com o seu que nós, que sentimos o toque da cura de Cristo, povo hoje em dia. Não foi uma mágica que curou nos entusiasmemos a respeito do nosso Senhor. o coxo. Foi o poder de Deus, e o uso que Pedro fez do nome de Jesus foi uma expressão de fé de que “A fé no seu nome... e a fé que é por ele” (At 3.11o poder essencial de Cristo satisfaria a necessidade 26). O segundo sermão de Pedro, embora menos do coxo. polido que o primeiro (At 2), enfatizou os mesmos Hoje também oramos, falamos e vivemos com total temas. Jesus é o Cristo. Ele morreu como as Escri­ confiança de que aquEle em cujo nome confiamos, turas predisseram, e ressuscitou. Converta-se a Ele Jesus, está presente também conosco. O poder de em busca do perdão. Jesus ainda flui, e nós vencemos cada desafio no Aproximadamente a cada geração alguém apare­ seu nome. ce e afirma que, nesses novos dias, precisamos de

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uma nova maneira de expressar a mensagem cristã. Normalmente, essa “nova” maneira tira a ênfase de Jesus, questiona a sua divindade, duvida da sua morte e ressurreição, e ignora a necessidade do per­ dão dos pecados. Não existe uma “nova” maneira de expressar o evangelho, pois o evangelho de Jesus continua sen­ do a mesma Boa-Nova que era quando foi pregado pela primeira vez por Pedro, e quando milhares de judeus de Jerusalém creram. Se você deseja ser uma testemunha eficaz, não se preocupe em encontrar uma nova maneira de co­ municar. Simplesmente conte a antiga história de Jesus e do seu amor. “O nome de Jesus” (At 3.11-26). Um aspecto sin­ gular desse sermão é o uso que Pedro faz de uma variedade de nomes para Jesus. Jesus é o Servo de Deus (w. 13,26, ARA) o Santo e Justo (v. 14), o Príncipe da vida (v. 15), o Cristo (Messias) (v. 18) e o Profeta predito por Moisés (v. 22). Cada um desses nomes revela mais sobre o caráter essencial de Jesus, e cada um deles mostra a har­ monia da nova revelação de Jesus com o Antigo Testamento. Deus cumpriu suas antigas promessas, e demonstrou isso ressuscitando Jesus. Pedro reforçou essas declarações insistindo que seus ouvintes “se arrependessem”. O significado básico de arrepender-se é “modificar seu coração e mente”. O sermão de Pedro pretendia revelar a verdadeira natureza de Jesus, de modo que os seus ouvintes, que tinham hesitado em aceitar as declarações de Cristo, enquanto Ele vivia entre eles, modificariam seu modo de pensar a respeito de Jesus. Quem quer que pense em Jesus como menos do que Deus e Salvador da humanidade deve modifi­ car o seu modo de pensar a respeito de Jesus, para que possa ser salvo. “Com que poder ou em nome de quem fizestes isto?” (At 4.1 -7). Eu me surpreendo constantemente com a irritação daqueles que veem Deus realizar algu­ ma grande obra por intermédio de outras pesso­ as — e então instituem um tribunal eclesiástico, para decidir se essas pessoas poderiam ou não ter realizado essa obra. Mas isso ainda acontece com frequência. O Sinédrio foi arrogante ao prender Pedro e João. Oh, era a sua responsabilidade oficial supervisionar as questões religiosas dos judeus. Mas quando per­ guntaram: “Com que poder ou em nome de quem fizestes isto?”, essa pergunta foi tola. Somente Deus tinha o poder de curar um coxo de nascença. Eles sabiam muito bem que o milagre era de Deus — e que os apóstolos tinham curado em nome de Jesus.

Lembro-me de que, nos primeiros dias do minis­ tério de Billy Graham, a nossa pequena congre­ gação no Brooklyn, em Nova York, decidiu não apoiar a sua campanha no Madison Square Garden — porque ele tinha “um liberal” no comitê de patrocínio, e o tal estava na plataforma com ele. Como fomos arrogantes. Deus estava usan­ do Billy, e muitos estavam se convertendo. Mas o pequeno tribunal da nossa igreja decidiu que ele não estava colocando os pingos nos “i”s teológi­ cos, nem cortando os “t”s doutrinários corretos. E não brincamos. Não devemos negar o que vemos Deus realizan­ do, por intermédio de outros cristãos, apenas por­ que eles pingam os seus “i”s e cortam seus “t”s de maneira diferente da nossa. E muito mais apro­ priado que nos unamos àqueles que vivenciam a sua graça, e são encontrados andando, e saltando, e louvando a Deus. “A quele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou dos mortos” (At 4.8-12). Pedro não se conteve ao falar ao Sinédrio. Eles tinham arquite­ tado o assassinato de Jesus. E Deus, ao ressuscitar Jesus dos mortos, deixou claro que aquEle a quem haviam rejeitado era a pedra de esquina do plano de salvação de Deus! Ríspido e destemido, Pedro anunciou: “Debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (v. 12). Quanta graça de Deus! Os mesmos homens que mataram o Salvador agora ouviam uma apresen­ tação clara e simples do evangelho. Eles tiveram uma nova chance para arrepender-se e crer. Precisamos ter a graça de Deus quando lidarmos com os outros. Por mais áspera ou energicamente que os outros rejeitem a Jesus, devemos lhes dar uma nova chance. “Não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido” (At 4.13-22). Pedro e João eram conside­ rados “homens sem letras e indoutos” pela elite religiosa (v. 13). Suponho que muitas pessoas, no nosso mundo, se encaixariam muito bem nessa categoria. Mas Pedro e João, ainda que fossem pessoas co­ muns, tiveram um relacionamento pessoal com Jesus que lhes deu poder espiritual para realizar um milagre que nenhum dos membros da elite poderia repetir! Não se preocupe por ser comum. Se você também tiver “estado com Jesus” (v. 13), o seu relaciona­ mento com Ele colocará você muito acima das pessoas comuns. Confiante do seu relacionamento com o Senhor, você também, como Pedro e João,

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obedecerá a Deus, e não a meros homens, e falar Jesus. Nós devemos ser controlados pelo Espírito ousadamente sobre o que você viu e ouviu. (pois é isso que significa “estar cheio” com o Espíri­ to); precisamos ter os canais completamente cheios “Todos foram cheios do Espírito” (At 4.31-37). Atos do seu poder dinâmico. 4 sugere dois resultados de estar cheio do Espírito. Mas como um povo cheio do Espírito demonstra Eles “anunciavam com ousadia a palavra de Deus”. essa presença? Nem sempre por meio de milagres E “era um o coraçáo e a alma da multidão”. espetaculares. Mas certamente pela ousadia em O Espírito Santo é o nosso elo vivo com Jesus e transmitir as Boas-Novas de Jesus, e por uma uni­ o Pai. E por intermédio dEle que flui o poder de dade afetuosa no Corpo de Cristo.

DEVOCIONAL______ O Poder da Oração

(At 4.23-37) Uma coisa é que lhe digam o que você tem que fazer; outra é que lhe mostrem o que fàzer; e, outra, é expe­ rimentar fazer. Lembro-me de ter lido sobre como dirigir. Então, cuidadosamente, observei meu pai dirigir. E então, meu pai me deixou experimentar — em um velho Ford 1920, que ele tinha comprado em algum lugar. A primeira vez que tentei dirigir, fiz uma curva muito depressa, subi na guia e invadi o jardim de uma vizi­ nha. Acabei aninhado em alguns arbustos, a poucos centímetros da parede da casa, com meu pai agarrado ao assento, ao meu lado. Eu tinha lido sobre isso. Tinha visto meu pai fazer isso. Mas, de alguma maneira, foi diferente quando eu ten­ tei. E suspeito que se não estivesse observando papai com todo cuidado por algum tempo, provavelmente eu teria invadido a casa da vizinha, e não apenas o seu jardim. E por isso que me sinto tão atraído por essa descri­ ção da Igreja Primitiva em oração. Esses cristãos en­ frentavam uma crise. Eles estavam com problemas, e precisavam de ajuda. Atos 4.23-37 não se limita a nos dizer que eles oraram, mas nos mostra como oraram. Observando-os cuidadosamente, você e eu podemos aprender como devemos orar quando também en­ frentarmos uma crise pessoal, ou corporativa. Na versão NVI em inglês há 141 palavras nessa ora­ ção. E 104 delas são em louvor à soberania de Deus. Eles repetem a sua grandeza como Criador do céu e da terra; releem a declaração das Escrituras do seu poder; recordam como o seu poder soberano se expressou, convertendo a conspiração contra Jesus a favor dos seus próprios propósitos. Somente então, depois de afirmar a soberania de Deus, eles fazem seu pedido. E esse pedido é específico e objetivo. Pense nisso por um momento. De 141 palavras, 104 são em louvor a quem Deus é. Isso significa que cinco sétimos, ou 70% da oração, não se referiam às suas necessidades. Só se referiam a Deus. Em recordação e em louvor, esses cristãos não somente honraram o

Senhor, mas também fortaleceram a sua fé nEle. Em resposta a essa oração, Deus derramou o seu Espírito, e deu à igreja de Jerusalém coragem e amor. Que exemplo para nós. E que desafio. Eu me apro­ ximo de Deus apressadamente, em um automóvel modelo T invadindo o jardim de alguém, tão deses­ perado para fazer o meu pedido que não tenho tempo de me lembrar de quem é Deus? Ou eu venho, como a Igreja Primitiva, afirmando a minha fé e confiança naquEle que é soberano sobre todos? E então, faço o meu pedido, certo de que, por Deus ser Deus, Ele pode me atender, e o fará. Aplicação Pessoal Para que a sua oração tenha poder, louve. Citação Importante “Devemos orar com os nossos olhos fixos em Deus, e não nas dificuldades.” — Oswald Chambers 15 DE SETEMBRO LEITURA 258 RESPEITO REVERENTE Atos 5 “E houve um grande temor em toda a igreja e em todos os que ouviram estas coisas” (At 5-11). “Temer a Deus” é outra maneira de dizer que leva­ mos Deus a sério! Visão Geral Um marido e uma esposa conspiraram para enganar a igreja — e foram mortos por Deus (5.1-11). Uma erupção de milagres polarizou a opinião pública (w. 12-16) e levou os saduceus a prenderem os apósto­ los (w. 17,18). Soltos da prisão por um anjo (w. 19,20), eles pregaram no Templo (w. 21-25). Presos e julgados por desacato à corte, os apóstolos foram açoitados, advertidos e libertados (w. 26-40). Mas “não cessavam de ensinar” sobre Jesus (w. 41,42). Entendendo o Texto “Levando uma parte, a depositou aos pés dos apósto­ los” (At 5.1-11). Pedro foi surrado pelos críticos por

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causa da história de Ananias e Safira. Eles disseram que ele foi completamente brutal e cruel, e causou a morte de Ananias e depois de Safira. Ora, ele nem mesmo lhes deu uma chance de se arrependerem. Naturalmente, os críticos não entenderam. Pedro não teve nada a ver com a morte desse casal. Ele não agiu como juiz. Ele não julgou. Ele simplesmente acusou os dois que tinham conspirado para mentir para a igreja, sem perceber que, na verdade, estavam mentindo para Deus. Deus julgou. Ananias e Safira caíram mortos. E o texto diz que houve um grande temor em toda a igreja e em todos os que ouviram essas coisas. Aqui, como em muitas passagens das Escrituras, o temor a Deus não é terror, mas um respeito reveren­ te. A igreja levava ainda mais a sério o fato de que Deus estava vivo, ativo e presente com eles! Viver com Deus — e ser honesto com Ele — passou a ter uma prioridade que não estava presente anterior­ mente. Não sei quanto a você, mas não ouso julgar Deus por condenar Ananias e Safira à morte biológica. Se você ou eu fôssemos debater a “moralidade” do ato de Deus, deixaríamos de compreender o seu obje­ tivo. A Igreja Primitiva compreendeu. E também o povo que vivia em Jerusalém. Deus está vivo. Deus está ativo. E é melhor que nós o levemos a sério, se quisermos viver vidas felizes, saudáveis — e longas!

pelo juízo de Ananias e Safira, foi engrandecida por uma onda de milagres realizados por intermédio dos apóstolos. Grandes multidões de pessoas do interior trouxeram seus enfermos a Jerusalém para serem curados — e foram. Observe o impacto desses óbvios atos de Deus nas pessoas que observavam. (1) Os crentes continua­ ram a se reunir no “alpendre de Salomão” (um longo pórtico ao longo do pátio externo do Templo). O exercício do poder de Deus uniu a igreja como um povo alegre, que orava e testemunhava. (2) Literal­ mente, “ninguém” é hoi laipoi, “os outros”. Aqui, identifica os descrentes que não ousavam “ajuntarse com eles”. Quando Deus age, algumas pessoas acham isso muito desconfortável, e recuam. (3) “O povo” respondia, e tinha “grande estima” pelos cris­ tãos (v. 13). Grande parte do “povo” que permane­ ceu aberto aos apóstolos e à sua mensagem subse­ quentemente creu no Senhor, e o número de cristãos “crescia cada vez mais”. De certa forma, há apenas dois grupos de pessoas no mundo: as que têm a vida eterna e as que não têm. Mas esse segundo grupo pode ser dividido en­ tre aqueles que são abertos e receptivos, e os que são fechados e antagônicos. Embora desejemos dar tes­ temunho a todos, devemos dar atenção especial às pessoas que estão desejosas de ouvir.

“Os da seita dos saduceus encheram-se de inveja” (At 5-17-20). Essa facção do judaísmo do século I con­ trolava os principais dos sacerdotes. Os seus mem­ bros eram ricos e aristocráticos, e tinham obtido grandes lucros em virtude de uma íntima associação com Herodes e os romanos. A popularidade dos apóstolos e os milagres que eles realizavam eram vistos como uma ameaça pelos principais dos sacer­ dotes, que também eram membros do Sinédrio, que tinha, recentemente, arquitetado a morte de Jesus. Não é de surpreender que agissem contra os apósto­ los, e os prendessem. Às vezes me surpreendo pela hostilidade que é de­ monstrada contra o cristianismo em programas de televisão ou de rádio, especialmente quando se en­ trevista algum cristão. Nas últimas semanas, ouvi o cristianismo ser criticado pelo apresentador de um programa popular de rádio, por um autor de livros muito vendidos sobre como ter uma vida de sucesso, por um “cientista” e por um defensor do aborto. A princípio, supus que eles simplesmente não compre­ endiam o evangelho e a mensagem cristã. Mas, pen­ sando melhor, concluí que muitos deles, na verdade, compreendem — e não gostam, nem um pouco! Afinal, se adotassem uma visão bíblica sobre como “Ninguém ousava ajuntar-se com eles” (At 5-12-16). disciplinar os filhos, ter uma vida de sucesso, consi­ A percepção da presença ativa de Deus, produzida derar a Criação e o direito de um feto à vida, o que

“Aos pés dos apóstolos” (At 5.2). Há muita coisa a explorar nessa história de Ananias e Safira. (Veja o DEVOCIONAL.) Mas vamos considerar apenas mais um pensamento, agora. Lucas tinha acabado de dizer o quanto os membros da Igreja Primitiva eram generosos, e como alguns chegaram a vender casas e outras propriedades para alimentar os neces­ sitados. Lucas destacou Barnabé como um exemplo de doação generosa (4.32-37). Bem, Ananias e Safira queriam ser considerados como exemplos também. Eles queriam que as pes­ soas apontassem para eles, como Lucas apontou para Barnabé, e dissessem palavras inflamadas sobre como eram cristãos bons e generosos. Mas Ananias e Safira não se sentiram confortáveis ao doar tudo, de modo que conservaram parte do di­ nheiro, e entregaram o resto visando receber louvor dos homens que esperavam comprar. A conspiração nos lembra o quanto a motivação é importante. Se nós doarmos, que seja porque nos preocupamos com as pessoas necessitadas, e não com o dinheiro ou os elogios que a filantropia tão frequentemente compra.

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eles promovem teria que ser abandonado. Como os saduceus do século I, alguns eruditos modernos pre­ feririam morrer a admitir, até para si mesmos, que podem estar errados. E o mais triste é que morrerão.

podemos fazer o que é certo, ser culpados perante a lei, e inocentes diante de Deus. Martin Luther King Jr., quaisquer que fossem seus erros, estava disposto a assumir uma posição contra o mal do preconceito racial e da opressão. Ele lutou contra leis racistas e foi preso. Muitos que optaram por assumir uma posição contra o mal do aborto, no processo, infringem a lei dos homens. Mas acho que a maioria deles também é inocente diante de Deus. Infringir as leis da nossa nação jamais é uma coisa insignificante. Mas há ocasiões, quando, como os apóstolos, “mais importa obedecer a Deus do que aos homens”. Dessa maneira, nós realmente mostramos um respeito reverente por Deus.

“Ide... dizei ao povo todas as palavras desta vida” (At 5-19-2S). Que maravilhosa maneira de expressar isso. Pedro e os outros náo foram milagrosamente libertados da prisáo, para debater publicamente a doutrina. Eles foram enviados pelo anjo de Deus, para contar ao povo sobre “esta vida”. E isso que é o evangelho de Jesus. Não é um chamado para se unir à igreja. Nem uma exortação para adotar as nossas distinções doutrinárias. Ê um convite para re­ ceber de Jesus uma nova vida, e para viver plenamente "Se este conselho ou esta obra é de homens... se desfará” (At 5.33-42). O rabino (ou doutor da lei) Gamaliel, essa nova vida. Devemos conservar esse foco quando partilharmos a o Velho, que Lucas mencionou aqui, é venerado no judaísmo como um dos mais sábios e mais santos de mensagem do evangelho com os outros. seus anciãos. Nesse caso, o carisma pessoal de Ga­ “E, trazendo-os, os apresentaram a/) conselho (ou “Si­ maliel e o respeito que ele tinha conquistado na sua nédrio”) ” (At 5.27-32). O relato de Atos 4, sobre a época evitaram que o Sinédrio tentasse eliminar os como tinham feito com Jesus. primeira aparição de Pedro e João diante da suprema apóstolos, O princípio que Gamaliel declarou mostra outra ma­ corte dos judeus, observa que a corte os julgou “ho­ neira expressamos reverência por Deus, e a con­ mens sem letras e indoutos” (v. 13). No judaísmo do vicçãocomo de que Ele age ativamente no nosso mundo. O século I, um homem comum, chamado diante do tri­ conselho Gamaliel: Deixem a história julgar. Não bunal por violar alguma lei religiosa, seria advertido, assumam de muita coisa em suas próprias mãos, porque e o crime seria cuidadosamente explicado. Um rabino náo são capazes de perceber o que Deus pode estar fa­ ou estudioso da Bíblia teria sido punido, pois a corte zendo. iria supor que ele tinha mais conhecimento do que A história julgou. O movimento cristão não somente um homem comum. Se houvesse uma recorrência, o prosperou nas primeiras décadas do século I, como homem comum, tendo sido advertido, poderia, en­ amadureceu, tornando-se uma fé que tem sustenta­ tão, ser punido. milhões de pessoas ao longo de aproximadamente Os apóstolos tinham sido advertidos, a não falar em do dois mil anos. nome de Jesus. Eles tinham continuado a pregar. Não Hoje, podemos precisar demonstrar uma reverência houve necessidade de uma investigação. Tudo o que o similar por Deus ao lidar com os outros. Os pais, com sumo sacerdote precisava dizer era, “Não vos admoes­ muita frequência, certificam-se de que sabem exata­ tamos nós expressamente?”. mente o que é melhor para seus filhos já adultos. Mas Os apóstolos náo se equivocaram. “Mais importa chega uma época em que temos que nos afastar, e di­ obedecer a Deus do que aos homens.” zer, como Gamaliel: “Se este conselho ou esta obra é Quanto à acusação de que os apóstolos estavam deter­ de homens, se desfará”. Se nós confiarmos em Deus minados a “lançar sobre” eles “o sangue desse homem”, e realmente o reverenciarmos, na ocasião correta per­ eles eram culpados. Como respondeu Pedro, “ao qual mitiremos que os nossos filhos, amadurecidos, sejam vós matastes, suspendendo-o no madeiro” (v. 30). responsáveis perante Ele, e não apenas perante cada E importante que nos lembremos de que, às vezes, um de nós.

DEVOCION AL______ Á sua Disposição

(At 5.1-11) Alguns argumentaram que a Igreja Primitiva praticava uma forma de “comunismo cristão”. Afinal, Atos 4.34,35 diz que “não havia, pois, entre eles necessitado algum”, porque “todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as,

traziam o preço do que fora vendido” e “repartiase a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha”. Quem tiver esse pensamento deverá continuar len­ do o texto. E necessário fazer uma correção imediata nesse pensamento, por causa da história de Ananias e Safira.

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Esse casal conspirou, e combinou que deveria vender suas propriedades, guardando uma parte do dinheiro, mas fingiu dar tudo, colocando o dinheiro aos pés dos apóstolos, como os outros cristãos tinham feito. A morte deles aconteceu imediatamente, não porque tivessem guardado o dinheiro, mas porque o seu ato foi uma mentira: um engano para manipular a comu­ nidade cristã e encobrir os seus verdadeiros motivos. O mais fascinante é o fato de que, se tivessem guarda­ do todo o dinheiro, e o tivessem investido em alguma atividade comercial e tivessem se transformado nos Donald Trumps da sua época, provavelmente teriam vivido “felizes para sempre”! Como disse Pedro, a pro­ priedade não era deles, em primeiro lugar? O dinhei­ ro não estava à sua disposição? (v. 4) Agora, antes que você fique com a impressão errada, este não é um devocional sobre o modo de vida ame­ ricano, ou uma exortação para “investir em riquezas”. Ê simplesmente uma observação de que aquilo que você ou eu remos é nosso. O que nós possuímos, possuímos. Quando temos dinheiro, ele está à nossa disposição. Os capítulos 4 e 5 de Atos não suscitam a questão do comunismo cristão, de maneira alguma. Mas esses capítulos suscitam uma pergunta. A pergunta é: nós estamos ou não à disposição de Deus? Talvez você e eu não venhamos a sofrer o destino de Ananias e Safira. Talvez não caiamos mortos se lidar­ mos com a igreja de uma maneira enganosa. Mas não podemos enganar a Deus. E, um dia, cada um de nós será julgado. Aplicação Pessoal O nosso dinheiro nos pertence. Mas nós pertence­ mos a Deus. Citação Importante “A genialidade da espiritualidade cristã consiste em integrar o espírito de possuir com o espírito de desprendimento. O espírito de desprendimento implica que todas as coisas boas e deliciosas deste mundo jamais têm a permissão para nos possuir, deter, ou algemar. O desprendimento implica que somos sempre livres, que o nosso próprio ser está liberto da tirania que as posses poderiam facilmen­ te exercer sobre nós.” — John Powell 16 DE SETEMBRO LEITURA 259 O PRIMEIRO MÁRTIR Atos 6—7 “E apedrejaram, a Estêvão, que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito. E, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes im­ putes este pecado” (At 7.59,60).

O bom às vezes morre cedo. Mas nunca desper­ cebido. Visão Geral O conflito na comunidade foi resolvido com a indica­ ção de sete diáconos (6.1-7). Um deles, Estêvão, falava com tanta autoridade que outros judeus de fala grega tentaram livrar-se dele (w. 8-15). Em sua defesa, Es­ têvão recapitulou a história de Israel (7.1-34) para de­ monstrar a histórica rejeição de Israel de Moisés e sua Lei (w. 35-43) e sua distorção da adoração no Tem­ plo (w. 44-50). Estêvão expôs que naquele mesmo espírito de rebelião, essa corte traiu e condenou Jesus, o Messias de Deus (w. 50.56). A corte tornou-se uma multidão e apedrejaram Estêvão (w. 57,59). Entendendo o Texto “Houve uma murmuração dos gregos contra os he­ breus” (At 6.1). Ê muito provável que os judeus gregos fossem judeus que tinham vindo de terras estrangeiras para a Judeia, mas só falassem grego. Documentos que refletem o primeiro século mos­ tram que esses judeus, convertidos ou de nasci­ mento, eram vistos como inferiores pelos nativos da Terra Santa. Tudo indica que o preconceito sobreviveu à con­ versão. A disputa sobre a negligência em relação às viúvas judias gregas pode refletir bem uma divisão mais nítida na igreja de Jerusalém. Muitas pessoas tentam manter grupos afastando aqueles que são diferentes, sem procurar incluí-los. Sociólogos cristãos observaram que igrejas locais que apelam a uma camada específica da sociedade tendem a crescer mais rápido. As pessoas se sentem confortáveis com quem se parece com elas. Assim, poucas congregações nos Estados Unidos apresen­ tam extremos de riqueza e pobreza, de níveis edu­ cacionais altos e baixos ou de mistura de raças. Talvez isso seja bom do ponto de vista sociológico. Mas não é bom do ponto de vista espiritual. Deus sacrificou seu próprio Filho para formar uma igreja que é um corpo, unido em Jesus Cristo. Quando diferenças de qualquer tipo nos isolam uns dos ou­ tros, distorcemos essa verdade e violamos um dos maiores propósitos de Deus na Encarnação. Atos 6 nos mostra que a igreja de Jerusalém enfren­ tou, e superou, a ameaça gerada pelo preconceito e pelas diferenças. Precisamos enfrentar e superar essas ameaças também. “E os doze, convocando a multidão dos discípulos” (At 6.2). Que interessante. A “equipe pastoral” não assumiu a responsabilidade de distribuir a comida. Em vez disso, os apóstolos deixaram a própria con­ gregação resolver o problema!

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Observe estes princípios. Você pode usá-los na igreja — e em casa! Primeiro, não houve tentati­ va de culpar. Precisamos encontrar soluções, não erros! Segundo, os líderes sugeriram uma forma de a congregação resolver o problema. Mais uma vez, os líderes não assumiram a responsabilidade. A solução poderia ser encontrada pelas pessoas envolvidas. Terceiro, os líderes concederam plena autoridade à congregação. As pessoas envolvidas, que conheciam melhor a situação, tiveram liberda­ de para corrigir qualquer injustiça. Cada passo aqui é importante. Na igreja, na família e na sociedade como um todo, temos a tendência a ser paternalistas. Líderes indicados ou eleitos as­ sumem mais e mais responsabilidades, e concedem cada vez menos autoridade àqueles que são afeta­ dos pelos problemas sociais ou pessoais. Atos 6 nos mostra um caminho melhor. Esse caminho pode não servir para a sociedade. Mas serve para a igreja Não há serviço que seja degradante para um cris­ cristã e para a família onde Cristo habita. tão. E não há ministério que devamos desempe­ nhar com nossa própria força. “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões”(At 6.37). Você percebeu que essa passagem que algumas “E Estêvão, cheio de fé e poder” (At 6.8-15). O mo­ igrejas utilizam para comprovar o papel dos diáco­ torista da igreja fazendo grandes sinais e pregando nos não menciona a palavra “diácono”? Por quê? com poder? Pode acreditar. Porque o título diácono (gr. diakonos) não aparece Mais uma vez, que falsa distinção fazemos ao clas­ no texto grego. Então por que em algumas versões sificar alguns ministérios como “mais importantes” aparece “diácono” nesses versículos? Porque o ver­ que outros. Tanto o zelador que limpa a igreja bo diakoneo, “atender” ou “servir”, e um vocábulo quanto o pregador que fala à congregação são ser­ semelhante, diakonia, “distribuição”, estão no tex­ vos de Deus. Ambos precisam ser homens bons, to grego. cheios do Espírito de Deus. O que isso significa? Simplesmente que o minis­ Não fique surpreso se um dia o zelador se tornar o tério do “diácono” veio a existir muito antes de o pregador. Sirva a Deus bem nas coisas pequenas. ofício ser inventado. E isso é importante. Você e Lembre-se, Ele promove aqueles que já fazem parte eu não temos que receber um ofício para servir aos do grupo. outros. Não temos que obter um título para mi­ nistrar. Além disso, aos olhos de Deus, a função é “Alguns que eram da sinagoga chamada dos Libertos” sem dúvida mais importante que o ofício. Então (At 6.8-13). E muito provável que essa sinagoga não vamos nos preocupar em ter cargos na igreja. fosse composta por judeus como Estêvão que só Vamos apenas nos preocupar em servir aos outros falavam o grego. Uma razão para sua hospitalidade por causa de Jesus. pode muito bem ter sido o sentimento geral de que os judeus helenistas (gregos) não eram judeus tão “Cheios do Espírito Santo e de sabedoria” (At 6.3). “bons” como os nativos. Esses judeus gregos teriam Você precisa do Espírito Santo para ser motorista um forte motivo para refutar Estêvão, e assim de­ a serviço da igreja? Claro que sim. Qualquer ativi­ monstrar ortodoxia. dade, por mais simples que seja, deve ser desempe­ Quando não conseguiram vencer Estêvão com ar­ nhado no poder do Espírito caso se proponha a ser gumentos, arranjaram falsas testemunhas para acu­ um meio pelo qual Deus vai abençoar sua igreja. sá-lo de “proferir palavras blasfemas contra Moisés Um dos ministérios mais significativos que já tive e contra Deus”. Ou seja, eles disseram que Estêvão foi quando eu era um jovem cristão, na Marinha, havia rejeitado a Lei mosaica, e que demonstrava servindo como zelador voluntário em nossa pe­ desprezo pelo Templo onde Deus era adorado. A quena igreja Batista. Que momentos alegres eram defesa de Estêvão (At 7) ajusta-se a refutar essas aquelas manhãs de sábado, cantando enquanto eu duas acusações. empurrava minha vassoura e arrumava as cadeiras Mentir a respeito de alguém para defender a “orto­ no porão da igreja. doxia” é o último recurso de pessoas desesperadas. E

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de uma nova revelação que aquela própria Lei predissera.

cristãos fazem isso hoje. Um autor cristão de um best seller recente causou indignação por acusar crentes conhecidos com todo tipo de heresias, e “provar” as acusações com citações fora de contexto. Lembre-se apenas de que quando você enfrentar situações como essa ou for tentado a defender a fé desse jeito, em Atos 6 Deus está do lado da víti­ ma. Esse tipo de atitude coloca a pessoa bem ao lado dos membros da sinagoga dos Libertos que foram culpados da morte de Estêvão.

“O Deus da glória apareceu a Abraão, nosso p ai” (At 7.1-34). Era costume na Judeia incluir uma reca­ pitulação da obra de Deus na história em qual­ quer declaração de fé. Estêvão seguiu esse padrão aqui. Ao enfrentarmos qualquer provação moderna, é importante ter nossa fé firmada em uma com­ preensão da obra redentora de Deus na histó­ ria. Permanecemos em uma tradição milenar de homens e mulheres de Deus, que viram o agir de Deus e sabem que Ele é totalmente digno de confiança.

“Que casa me edijicareis, diz o Senhor[...]?” (At 7.44-50). O desrespeito pelo Templo de Jerusa­ lém era visto pelo Sinédrio como um desrespeiro ao próprio Deus. Estêvão mostrou que Deus, que enche os céus e a terra, não pode ser totalmente identificado com qualquer construção humana. Seus acusadores eram os culpados de distorcer a verdade de Deus. "Homens de dura cerviz” (At 7.51-58). Com to­ tal ousadia, Estêvão deixou bem claro seu argu­ mento. Seus acusadores estavam de acordo com aqueles israelitas que persistiam em resistir a Deus, não com aqueles que o representavam. Quando Estêvão teve a audácia de dizer que via Jesus, à direita de Deus, a corte tornou-se uma multidão e o apedrejou. Não entenda a ousadia de Estêvão como um erro. O texto nos lembra de que Estêvão esta­ va “cheio do Espírito Santo” enquanto falava (v. 55). O martírio de Estêvão foi nada mais que um erro inevitável tanto quanto a crucificação de Jesus. Cada um foi um elemento do plano de Deus para o seu povo. Também é um erro para nós dizer sobre nossa própria vida: “Não deu certo, então não deve ser a vontade de Deus”. Não podemos julgar a vontade de Deus dessa maneira, pois Ele tem o hábito de tornar “maus” resultados em bens inesperados.

“A este Moisés, ao qual haviam negado” (At 7-3543). Essa rememoração da história apresentada por Estêvão é mais que uma afirmação de sua fé. E uma confrontação corajosa e ousada de seus acusadores. A história que mostrava que Deus havia agido em favor do seu povo mostrava que o povo de Deus re­ jeitou Moisés e foi tão desobediente à Lei mosaica que por fim foram levados ao exílio! Agora Isra­ el havia agravado o pecado rejeitando o “profeta como eu [Moisés]” a quem Deus enviara! Assim Estêvão mostrou que os homens que o acusaram de desrespeito à Lei de Moisés eram os verdadeiros culpados, pois rejeitaram a fonte

“O Filho do Homem, que está em pé” (At 7.5460). Estêvão viu Jesus “em pé” à direita de Deus. Por que em pé? Talvez porque nas cortes judaicas a pessoa que dava testemunho ficava em pé dian­ te do tribunal. Como Estêvão ficou em pé diante do Sinédrio testificando de Jesus, Cristo ficou em pé diante de Deus, falando por Estêvão. M omentos depois, Estêvão, que morreu com uma oração por seus assassinos nos lábios, estava na presença do Senhor. Pouco importa o que os homens dizem ou fazem em relação a nós. O que importa é o que Cristo diz a nosso respeito diante do trono do Pai.

“Como o rosto de um anjo” (At 6.15). Não enten­ da isso como se o rosto de Estêvão brilhasse. Na época, dizer que o rosto de alguém se parecia com o de um anjo era um elogio a pessoas muito de­ votas. Estêvão, tranquilo e sereno, refletia uma calma que só poderia ser atribuída à presença do Espírito e à sua própria consciência de que era inocente.

DEVOCIONAL______

Como Lidar com Problemas (At 6.1-7) Eles podiam ter dado conta disso de outra for­ ma. Quero dizer, quando pessoas discutem, você deve ser firme. Você lhes diz: “Ouçam. Eu estou

no controle aqui. Se vocês têm uma queixa, apresentem-na por escrito. Vou resolver assim que for possível”. E então você joga a queixa no lixo e prossegue em seus negócios.

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Suponho que este seja um modo de lidar com pes­ soas que apontam problemas. Ou ignorá-los. Ou perder seus arquivos. Ou fazer promessas que você não espera cumprir. Ou multiplicar formulários, até ser trabalhoso demais preenchê-los. A igreja de Jerusalém, contudo, tinha uma aborda­ gem um pouco diferente. Quando cristãos judeus gregos reclamaram que suas viúvas não estavam recebendo uma divisão justa quando a comida era distribuída, a igreja os escutou. Então os apósto­ los reuniram a igreja toda, sugeriram que esco­ lhessem sete homens reconhecidamente “cheios do Espírito Santo e de sabedoria”, e deixou os sete resolverem o problema. E interessante que cada um dos sete que a igreja escolheu tinha um nome grego. O que isso significa? Simples: que a igreja, em vez de rotulá-los como “causadores de proble­ mas”, deu às pessoas que experimentaram uma injustiça o poder de corrigi-la. No processo, os cristãos hebreus se tornaram vul­ neráveis. Eles renderam seus direitos àqueles que haviam se sentido, e foram, vítimas de sua injustiça. Como a igreja de Jerusalém lidava com pessoas que apontavam problemas? Ela não as eliminava. A igreja lidava com elas dando-lhes a autoridade de que precisavam para resolver o problema do qual se queixavam. Esse tipo radical de solução pode funcionar no cristianismo de hoje? Sim, se tivermos três pontos em mente. (1) Não encare pessoas com proble­ mas como sendo o próprio problema. Leve a sério suas preocupações. (2) Não fique na defensiva, ou tentando fixar a culpa nos erros do passado. A questão não é o passado. E o problema. E (3) não seja paternalista. Não pense que os “líderes” são os únicos que podem resolver problemas. Escolha companheiros sábios, cheios do Espírito, que co­ nheçam o problema em primeira mão, e dê-lhes a autoridade necessária para resolvê-lo. O Espírito Santo de fato habita na igreja. De­ monstramos confiança em Deus quando chama­ mos as pessoas envolvidas em problemas para aju­ darem a solucioná-los. Aplicação Pessoal Quanto mais firme as pessoas seguram as rédeas do poder espiritual, menos confiança demons­ tram em Deus. Citação Importante “A fim de obter e manter o poder o homem deve amá-lo. Assim, o esforço para consegui-lo pro­ vavelmente não está associado à bondade, mas a atitudes opostas, como orgulho, astúcia e cruelda­ de.” — Leo Tolstoy

S"X.

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DE SETEMBRO LEITURA 26 ALÉM DA JUDEIA Atos 8

“Fez-se, naquele dia, uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos foram dis­ persos pelas terras da Judeia e da Samaria, exceto os apóstolos” (At 8.1). A igreja que prospera em meio à perseguição des­ morona quando em comodidade. Visão Geral A perseguição intensa dispersou os judeus pela Judeia e por Samaria (8.1-3). Os samaritanos (w. 4-7) e um mágico chamado Simão (w. 9-13) foram convertidos pela pregação de Filipe. Os apóstolos vieram de Jerusalém para investigar, e transmitiram o Espírito Santo de uma maneira que estabeleceu a sua autoridade e a unidade da igreja (w. 14-17). Simão foi repreendido por tentar comprar poder espiritual (w. 18-25). Um anjo instruiu Filipe a deixar o maravilhoso ambiente do avivamento para conduzir um indivíduo a Cristo (w. 26-40). Entendendo o Texto “E fez-se, naquele dia, uma grande perseguição” (At 8.1,2). Os apóstolos tinham sido informados de que o propósito de Deus era semear o evangelho, em primeiro lugar, em Jerusalém, depois “em toda a Judeia e Samaria” e, por fim, “até aos confins da terra” (1.8). No entanto, durante muito tempo, a igreja foi um fenômeno de Jerusalém. Os milhares de convertidos vinham daquela cidade — e ali per­ maneciam. Por que deixar uma comunidade afetu­ osa de crentes, que possui líderes tão notáveis? Todos nós temos a tendência de nos “acomodar” aqui na terra. Ainda que pareça estranho, as bên­ çãos de Deus podem drenar a nossa vitalidade es­ piritual. Foi necessário que houvesse uma grande perseguição para dispersar os crentes de Jerusa­ lém — e a mensagem do evangelho — por toda a Judeia e Samaria. Não devemos nos “acomodar” confortavelmente neste mundo. Deus tem um tra­ balho a ser realizado por cada um de nós. “Saulo assolava a igreja”(At 8.3). Saulo é mais conhe­ cido como Paulo, o apóstolo. Mas essa história virá depois. Agora Saulo, com autoridade do Sinédrio, fanaticamente continuava tentando eliminar o mo­ vimento cristão. Depois da sua conversão, Paulo teve um papel fundamental no grande plano de Deus para evangelizar o mundo. Mas, mesmo agora, antes da sua conversão, Paulo teve um papel essencial

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Santo e da vinda deste nas experiências registra­ das no livro de Atos. Procure motivos incomuns para atos incomuns de Deus.

no mesmo plano! Foi a ativa perseguição de Pau­ lo que dispersou os crentes — espalhando, as­ sim, o evangelho. Deus é grandioso o suficiente para que até mes­ mo os seus mais ativos inimigos efetivamente promovam a sua causa. “Descendo Filipe à cidade de Samaria, lhes pre­ gava a Cristo” (At 8.4-7). Filipe era um dos sete “diáconos” escolhidos para distribuir alimento aos necessitados (6.1-7). Aqui, nós o vemos pre­ gando e realizando milagres em Samaria. Outro “entregador de alimentos” tinha sido promovido no exército de Deus! O que é realmente importante, no entanto, é o fato de Filipe ter pregado em Samaria. A religião samaritana era uma forma pervertida de judaís­ mo, e os samaritanos eram vistos com hostilida­ de e desprezo pelos judeus. Filipe, no entanto, os considerava seres humanos, pelos quais Cristo tinha morrido, e lhes pregou Cristo. A maneira como classificamos as pessoas determina, em grande parte, a maneira como nos relacionamos com elas. Nós, cristãos, não devemos classificar as outras pessoas por grupos raciais ou socioeconômicos, nem mesmo por categorias como viciado em drogas, homossexual ou condenado. Devemos considerar os outros crentes como irmãos e irmãs no Senhor. E devemos considerar cada não cristão como um candidato à salvação — como uma pessoa a quem Deus ama, e por quem Cristo morreu. “[Pedro e João] lhes impuseram as mãos, e recebe­ ram o Espírito Santo” (At 8.14-17). De vez em quando, precisamos ser lembrados de que o livro de Atos é um livro de história, e não de doutrina. Algumas das coisas que são registradas aqui não são normativas. Isto é, não há padrões para que todos os cristãos sigam, em todos os lugares. Este é um desses incidentes. Deus não entregou o Espírito Santo aos samaritanos, até que dois após­ tolos desceram de Jerusalém. Então, o Espírito foi dado quando — e somente quando — João e Pe­ dro impuseram as mãos sobre os novos crentes. Recordando a antiga hostilidade e rivalidade re­ ligiosa entre os judeus e os samaritanos, pode­ mos ver por que isso era necessário. A Igreja de Cristo é uma só, e o ministério dos apóstolos foi fundamental para os seus ensinamentos e a sua unidade. Somente um sinal tão óbvio de unida­ de e autoridade pôde impedir que os samaritanos desenvolvessem uma igreja separada nas primeiras e críticas décadas do cristianismo, como tinham desenvolvido uma forma separada do judaísmo. Assim, não edifique a sua doutrina do Espírito

“Simão... lhes ofereceu dinheiro” (At 8.9-13,1825). Simão era uma dessas pessoas que ganha­ vam a vida promovendo os seus supostos poderes sobrenaturais. Como os mágicos de palco mo­ dernos, Simão conhecia alguns bons truques, e tinha enganado “desde o mais pequeno até ao maior”, levando-os a honrá-lo pela “Grande Vir­ tude”. E Simão se converteu. Mas levou algumas de suas antigas atitudes à sua nova vida. A repreensão de Pedro é áspera e objetiva. Ela também é dirigida a você e a mim. Como Simão, nós levamos muitas de nossas antigas atitudes e antigos valores conosco, quando nos tornamos cristãos. E nós temos que nos livrar deles, pois eles não têm lugar naqueles que pertencem a Jesus. “E eis que um homem etíope, eunuco... regressava” (At 8.26-35). Normalmente, “eunuco” indica um homem que foi castrado. Era muito comum, em tempos antigos, que os governantes castras­ sem rapazes e os treinassem para tarefas adminis­ trativas. A teoria era que, sem terem uma família com que se preocupar, eles seriam mais fiéis ao governante ao qual servissem. Na época, o termo “eunuco” era usado em algu­ mas sociedades como um título para determina­ dos oficiais, fossem eles castrados ou não. Assim, não podemos ter a certeza de que esse importante oficial etíope fosse um eunuco no sentido literal do termo. E tentador pensar que fosse, simples­ mente porque a Lei do Antigo Testamento proi­ bia que essas pessoas participassem da adoração no Templo. Como deve ter sido emocionante, para o etíope, quando Filipe o ensinou a perceber que, em Cristo, Deus receberia até mesmo a ele. Todos são bem vindos em Cristo. Quaisquer que sejam os antecedentes da pessoa, o que quer que ela tenha feito, ou não, há lugar para ela. As Boas-Novas para todos os desprezados e parias são: pode entrar! “Como poderei... se alguém me não ensinar?” (At 8.31-40). Muitas pessoas não compreendem ver­ dadeiramente o que leem. Isso é frustrante para aqueles dentre nós cujo ministério é o de escre­ ver. Mas é emocionante para todos os demais. Eu me comunico pelo computador. Mas você tem a oportunidade de explicar aos amigos, ou a vizinhos, ou a pessoas que você encontra, face a face, a maravilhosa mensagem que levou à feliz conversão do eunuco etíope.

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Fiquei sabendo (pelos editores) que os autores são (ou eram, antes que aparecessem os evangelizado­ res da televisão) os “astros” do cristianismo. Tendo recebido pouca bajulação, não estou convencido disso. Mas estou convencido de que o ministério

mais eficiente e mais emocionante que há é a sim­ ples explicação, face a face, do evangelho a alguém que deseja compreender o que leu ou ouviu. Por que não pedir a Deus que o envie, hoje, a alguém como o eunuco etíope?

Vai para a Banda do Sul (At 8.26-40) Eu aprendi, com os anos, que Deus tem o costume de nos pedir que mudemos de lugar repentinamen­ te. Na noite em que me formei no seminário, tive o privilégio de falar para os “futuros pastores”. Três dias depois, eu estava em um avião, para uma en­ trevista para um cargo como editor em uma editora cristã. Alguns anos mais tarde, falei em uma igreja que procurava um pastor. Eu estava esperando um cha­ mado. Duas semanas mais tarde, tornei-me um professor assistente na W heaton College Graduate School. Finalmente, consegui concluir o meu doutora­ do, e esperava ter uma carreira permanente como professor. Alguns meses depois, eu me mudei para Phoenix, sem emprego, para iniciar um ministério de escrita. Parecia que todas as vezes que eu definia o meu rumo na vida Deus interrompia e dizia: “Siga ou­ tro caminho”. Certamente, foi isso o que aconteceu com Filipe. Mas a mudança de direção de Filipe foi ainda mais assombrosa. Ele estava bem no meio de um grande reavivamento: centenas de pessoas estavam sendo salvas. E Deus lhe disse: “Vai para a banda do Sul — ao caminho... deserto”. O quê? Deixe a cidade, e a congregação do Templo, onde as conversões aconteciam às dúzias. Ir para onde? Para o deserto! Filipe foi esperto e não fez perguntas. Ele seguiu pelo caminho, e ali encontrou um oficial etíope a quem conduziu a Cristo. Sem dúvida, esse oficial, então, levou o evangelho à sua distante terra natal. Suponho que o departamento de contabilidade do governo argumentaria que ir para o sul não seria rentável. Quero dizer, fique onde você puder lucrar o máximo com o seu dinheiro. Não dedi­ que para uma única pessoa todo o tempo que po­ deria ser usado para alcançar centenas. Mas é bom lembrar que Deus não é um contador do gover­ no. Para Ele, o indivíduo ainda é tão importante quanto a multidão. Assim, da próxima vez que' Deus disser: “Vai para a banda do Sul”, não hesite. Pode não fazer muito sentido para você. Mas tudo o que Deus nos diz faz muito sentido para Ele.

Aplicação Pessoal Seja sensível à mudança de direção de Deus.

DEVOCIONAL______

Citação Importante (Oração matinal): “Bom dia, Deus, eu te amo! Quais são os teus planos para hoje? Quero partici­ par deles.” — Norman Grubb 18 DE SETEMBRO LEITURA 261 A CONVERSÃO DE PAULO Atos 9 “Este épara mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Is­ rael” (At 9.15). A salvação, em primeiro lugar; depois, o serviço. Visão Geral Paulo saiu para extirpar o cristianismo em Damasco (9.1,2), mas, no caminho, foi convertido (w. 3-19). A sua ousada pregação de Cristo suscitou uma hos­ tilidade mortal em Damasco (w. 20-25). De volta a Jerusalém, seus destemidos testemunhos o colo­ caram em risco, e Saulo foi enviado para casa, em Tarso (w. 26-31). Enquanto isso, Pedro, em Jope, ressuscitou uma viúva muito querida (w. 32-43). Entendendo o Texto “Respirando ainda ameaças e mortes” (At 9-1,2). O Sinédrio tinha o direito de disciplinar qualquer ju­ deu que vivesse no império. Cartas daquele conse­ lho deram a Saulo autoridade legal para prender judeus cristãos em Damasco. Mas por que Paulo se opunha tão categoricamente aos cristãos? Sem dúvida, ele considerava a fé em Jesus como uma corrupção e perversão das Escri­ turas, e muito possivelmente se considerava um sucessor digno de heróis antigos como Moisés ou Fineias, que mataram israelitas imorais em BaalPeor (Nm 25.1-15). Não há dúvida de que os ju­ deus fanáticos do século I consideravam o ódio aos ímpios como um sinal de justiça. A certeza absoluta de Saulo nos serve de alerta con­ tra um perigo comum. Sempre é possível aplicar erroneamente as Escrituras. A Palavra é confiável, mas nós, seres humanos, temos a tendência de

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justificar os nossos atos através de algum texto da Bíblia. E o versículo ou princípio ao qual nos refe­ rirmos pode não se aplicar à nossa situação! Deus nos deu o seu Espírito Santo para orientar a nos­ sa aplicação das Escrituras. Devemos permanecer sensíveis à sua orientação, ou nos arriscar a tomar, entusiasmados, a direção errada, como Saulo real­ mente fez! “Ouviu uma voz que lhe dizia” (At 9.3-9). Esse é o primeiro de três relatos da conversão de Saulo que são encontrados no livro de Atos (cf. At 22; 26). Por que três narrativas? Em parte, porque as duas posteriores são relatos sobre como Paulo contava a história da sua conversão, quando se dirigia a di­ ferentes audiências. Mas principalmente porque a conversão de Saulo foi o acontecimento mais im­ portante da sua vida. Você e eu dificilmente teremos histórias de con­ versão equiparáveis à de Saulo, em termos de dra­ ma. Mas as nossas histórias se equiparam à dele, em termos de importância! O acontecimento mais importante na vida de qualquer ser humano é vir a conhecer a Jesus Cristo como seu Salvador pessoal. (Veja o DEVOCIONAL.) “De muitos ouvi acerca deste homem” (At 9.10-19). Pouco sabemos sobre Ananias de Damasco. O que sabemos, é admirável. Ele era um “discípulo” (ter­ mo que, no livro de Atos, é sempre usado com o sentido de “cristão”). Ananias respondeu imediata­ mente às instruções de Deus e foi procurar Saulo, apesar da reputação deste. E aceitou Saulo como “irmão Saulo”. Algumas vezes, apesar do chamado de Cristo para que sejamos testemunhas, nós hesitamos em nos aproximar de pessoas “acerca das quais ouvimos”. Com frequência, os relatos não são verdadeiros. E muito frequente que, quando eu venho a co­ nhecer pessoas sobre as quais os outros criticam ou espalham fofocas, descubro que os relatos são totalmente errados. Mas, às vezes, os relatos que ouvimos são verdadeiros, como no caso de Saulo. Mesmo assim, há um fator desconhecido. Deus pode ter trabalhado em suas vidas, como trabalhou na de Saulo. Jamais devemos permitir que aquilo que as pessoas dizem sobre outra pessoa nos impeça de alcançá-la com as Boas-Novas de Deus. “Levantando-se, foi batizado” (A t9.18). Mesmo an­ tes de comer — e ele tinha jejuado nos três dias em que esteve cego — Paulo foi batizado. O ato foi uma confissão pública da sua fé em Jesus, e da sua solidariedade com os cristãos de Damasco.

Muitos cristãos parecem tentar manter a sua le­ aldade a Cristo em segredo no local de trabalho. Não que os crentes devam carregar grandes Bí­ blias, distribuir folhetos e “alugar” os colegas para um sermão de três minutos todos os dias. Mas em cada relacionamento há ocasiões em que é natu­ ral e necessário afirmar nosso relacionamento com Jesus. Um cristão realmente deve trabalhar como um crente secreto. De modo consciente, ele deve preferir não falar muitas vezes da sua fé. Precisamos deixar que Paulo seja nosso exemplo. Um dos seus primeiros atos como crente foi identificar-se publicamente com Cristo e com outros cristãos. Se desejarmos servir a Deus e a outras pes­ soas com eficácia, precisaremos ser publicamente identificados com Jesus. “E logo... pregava” (At 9.20-25). Paulo tinha sido um perseguidor comprometido e fanático da igre­ ja. As mesmas qualidades dinâmicas agora eram dedicadas à promoção da fé que, antes, ele tentara destruir. O texto diz que Saulo “se esforçava muito mais”. A medida que pregava Jesus como o Filho de Deus e o Messias prometido do Antigo Testa­ mento, ele crescia no seu entendimento das Escri­ turas e na sua capacidade de transmiti-las. Aqui há um importante princípio. Ninguém pode esperar até ter “forças” para começar a testemunhar ou pregar. Nós crescemos agindo, e não esperando. Se você deseja desenvolver alguma área da sua vida cristã — seja na oração, no estudo da Bíblia, no tes­ temunho, no ensino, seja no que for — comece. “Todos o temiam”(At9.26,27). Barnabé, sem dúvida, é um dos personagens mais atraentes das Escrituras. Em Atos 4, nós o vimos sensível aos necessitados e disposto a vender suas propriedades para atender às necessidades dos outros. Aqui, em Atos 9, nós o ve­ mos sensível à solidão de Saulo, e disposto a arriscarse a trair as autoridades, ao contatá-lo. Alguns cristãos se preocupam com os outros. E alguns cristãos se importam com os outros. Os membros do primeiro grupo têm sinceras emoções de preocupação ou piedade. Os que pertencem ao segundo grupo estão dispostos a fazer alguma coisa para atender às necessidades dos outros. Barnabé pertencia a esse segundo grupo. A qual grupo você e eu pertencemos? Ao dos que se preocupam, ou ao dos que se importam? “Eles procuravam matá-lo” (At 9.28-31). Esta é a segunda vez, em alguns versículos, que as pessoas com quem Saulo debatia sobre Jesus estavam dis­ postas a matá-lo (cf. w. 23-25). De alguma ma­ neira, tenho a impressão de que o jovem e ardente

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fariseu, tão ansioso em atacar o erro na igreja, não tinha mudado tanto assim! Posso estar errado, mas suspeito que Saulo não estava nem um pouco pre­ ocupado em ser diplomático na sua abordagem à evangelização. “Atacar!” era o lema de Paulo. E o zelo santo tomava esse ataque ainda mais entusi­ ástico. Observe que os irmãos “o acompanharam” até Cesareia e o enviaram a Tarso. A essa altura, o irmão Saulo estava apenas provocando problemas para a igreja; não estava ganhando convertidos! Depois da partida de Saulo, “a igreja... tinha paz” e “se multi­ plicava” (v. 31). Muito mais adiante, Saulo, já Paulo e um vetera­ no de décadas de ministério, escreveu: “Ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofre­ dor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimen­ to para conhecerem a verdade” (2 Tm 2.24,25).

DEVOCIONAL_______ A Marca de Saulo (At 9.1-19) Cada cristão verdadeiro deve trazer as marcas de Saulo. Não quero dizer que você ou eu tenhamos que ter uma experiência excepcional de conversão. Ou que tenhamos que datar o momento em que viemos a conhecer a Cristo. Quero dizer que há algumas coi­ sas, no relato da conversão de Saulo, que realmente são normativas para os cristãos, embora a história se encontre no Livro de Atos. Você conhece a história. Saulo ficou assombrado pelo resplendor de luz e pela voz do céu, que ele reconheceu como sendo um sinal de revelação di­ vina. Mas ele ficou ainda mais atônito ao ouvir a voz dizendo: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues”. Com essas palavras, tudo em que Saulo tinha acre­ ditado com uma convicção tão ardente, tudo aqui­ lo a que tinha dedicado a sua vida e existência, foi provado como completamente falso. A maior parte das pessoas vaga pela vida, com pou­ cas convicções religiosas fortes. A conversão pare­ ce ser algo bem vindo ou delicioso. Alguns, como Saulo, vivenciam a conversão como um redirecionamento completo de crença e vida. Mas existem certas coisas que são comuns à con­ versão de todos os cristãos. Para cada um de nós, tornar-se cristão significa: (1) reconhecer o erro das crenças antigas, e abandoná-las, (2) rever nossa opinião sobre Deus, para reconhecê-lo como Sal­ vador e Senhor, (3) perceber, gradualmente, que a

Esse tipo de sabedoria vem, à maioria de nós, tar­ de na vida.

“Havia em Jope uma discípula chamada Tabita” (At 9-32-43). A história de Dorcas é fascinante, por dois motivos. O primeiro é que esse é o úni­ co caso em que alguém que poderia operar um milagre fói chamado depois que a pessoa havia morrido (w. 37,38). Até Jesus era chamado en­ quanto as pessoas à morte ainda estavam vivas. Aparentemente, os cristãos de Jope tinham uma fé tão firme que esperavam que Deus ressuscitasse Dorcas dos mortos. O segundo, observe a razão do desejo da igreja para a ressurreição de Dorcas. Ela “estava cheia de boas obras e esmolas que fazia” (v. 36). Esse talvez seja o motivo mais importante. Devemos nos compro­ meter em ser o tipo de pessoa cuja perda será pro­ fundamente sentida, porque nós também “estamos cheios de boas obras”.

vida deve adotar uma nova direção, com prioridade para o serviço. Em Saulo, essas mudanças foram instantâneas e dramáticas. Em outros, as mudanças podem acon­ tecer de modo mais gradual e, decerto, menos dra­ maticamente. Mas a conversão cristã deve apresen­ tar essas marcas. Muitos supõem que “creem” em Deus ou em Jesus. Mas se não houver essas marcas indeléveis de conversão, essa “crença” é superficial, e não a verdadeira fé cristã. Aplicação Pessoal Como a sua vida mostra as marcas de Saulo? Citação Importante “A marca de um santo não é a perfeição, mas a con­ sagração. Um santo não é um homem sem falhas, mas um homem que se entregou, sem reservas, a Deus.” — Brooke Foss Westcott 19 DE SETEMBRO LEITURA 262 DERRUBARA BARREIRA Atos 10— 11

“Vós bem sabeis que não é lícito a um varão judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que a nenhum homem chame comum ou imundo” (At 10.28). As barreiras sociais para a comunhão entre os cris­ tãos devem ser derrubadas.

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Visáo Geral Um anjo disse a um devoto centuriáo romano que mandasse chamar Pedro (10.1-8). Deus prepa­ rou Pedro com uma visáo incomum (w. 9-23), e prontamente ele viajou para a casa de Cornélio (w. 24-29). Depois que Pedro revelou a promessa de perdão de Deus (w. 30-45), o Espírito veio sobre os gentios, e eles falaram em línguas (w. 46-48). De volta a Jerusalém, Pedro relatou o que Deus tinha feito, e a igreja percebeu que Cristo é para os gentios, assim como para os judeus (11.1-18). Quando uma forte igreja gentia se desenvolveu em Antioquia (w. 19-24), Barnabé procurou Saulo, em Tarso, para dividir a liderança (w. 25-30). Entendendo o Texto “Piedoso... com toda a sua casa” (At 10.1-8). Corné­ lio é também descrito como “temente a Deus”. No século I, essa era uma expressão para aqueles que ad­ miravam a religião de Israel e adoravam o Deus de Israel, mas não tinham se convertido ao judaísmo. Não podemos ter certeza de que “temente a Deus” seja usado com esse sentido aqui. Mas certamente Cornélio adorava a Deus, tanto quanto era capaz de fazê-lo, mostrando a sua devoção em orações regulares, e doando generosamente àqueles em necessidade. O selo de aprovação de Deus é con­ ferido nas palavras do anjo: as orações e os atos de Cornélio tinham “subido para memória diante de Deus” (v. 4). Podemos ter certeza de que Deus se revelará, e ao caminho da salvação, a qualquer pessoa como Cor­ nélio, que procure honestamente conhecer e servir ao Senhor. “Manda chamar a Simão, que tem por sobrenome Pedro” (At 10.5). Se Paulo era o “apóstolo dos gen­ tios”, por que Pedro foi escolhido para abrir a porta da conversão dos gentios? Em parte, para mostrar que a igreja é uma só: não poderia haver um cismo entre uma igreja “de gentios” e uma “de judeus”. O principal apóstolo judeu foi escolhido para pregar a primeira mensagem de evangelho aos gentios. Provavelmente, existe outra razão. Os judeus do sé­ culo I desprezavam os gentios e cuidadosamente se separavam deles. Apenas o fato de entrar em uma casa gentia tornava a pessoa ritualmente impura, e fazer uma refeição com um gentio era algo im­ pensável. Somente o testemunho de um líder da posição de Paulo poderia ser aceito pelos crentes judeus. As barreiras entre os judeus e os gentios eram grandes demais. Todavia, em pouco tempo, com o ministério de Pe­ dro na casa de Cornélio, essas barreiras começaram a ser derrubadas.

“Não faças tu comum ao que Deus purificou” (At 10.9-23). Pedro não poderia ser chamado de um judeu “rígido”. Nós nos lembramos bem de como ele e os outros discípulos foram criticados pelos fariseus, e não podemos supor que ele fosse um legalista rígido (cf. M t 12.1,2). Mas, como todos os judeus, Pedro tinha profun­ damente enraizado em sua consciência o chama­ do de Israel como o povo de Deus. Ele tinha um firme compromisso com os símbolos básicos da consagração do seu povo a Deus. Por isso, a instrução “Mata e come” foi tão trau­ mática para ele. Pedro percebeu que a voz da vi­ são vinha do céu, e assim, era de Deus. Mas a voz lhe ordenava que comesse animais que a lei de Moisés identificava como “imundos”, violando, assim, o princípio da separação. A mensagem de Deus a Pedro foi clara. Pedro não devia chamar de “im undo” o que Deus tinha purificado. Deus, que estabeleceu as leis alimen­ tares de Israel, tinha o direito de modificá-las, ou modificar qualquer outro elemento da fé antiga! Pedro devia modificar a sua perspectiva para per­ manecer de acordo com Deus. Às vezes, nós nos encontramos em uma situação similar. Encontramos alguém com convicções di­ ferentes das nossas, e nos sentimos terrivelmente desconfortáveis. Mas descobrimos que essa pes­ soa é um cristão comprometido! Alguma coisa, na nossa perspectiva, deve mudar, pois o nosso conceito de separação entrou em conflito com o ensinamento das Escrituras de que todos os cren­ tes são irmãos e irmãs. Se Deus diz que são limpos em Cristo, como podemos nos separar deles? Pedro estava prestes a aprender uma lição que cada um de nós deve aprender. Podemos conser­ var as nossas convicções sobre o que é certo e o que é errado fazer. Mas não podemos permitir que nossas convicções se tornem uma barreira à comunhão com irmãos e irmãs crentes, que são diferentes de nós. (Veja o DEVOCIONAL.) “Deus mostrou-me que a nenhum homem chame co­ mum ou imundo” (At 10.23-29). Pedro reconheceu abertamente a correção divina. Alguns dias antes, ele jamais teria entrado na casa de Cornélio. Mas a visão lhe tinha mostrado que “limpo” e “imun­ do” eram termos que não deviam ser aplicados às pessoas. Você e eu podemos ter convicções sobre quais atos são certos ou errados. Mas jamais podemos permi­ tir que as nossas convicções cheguem a moldar nos­ sas atitudes com relação a companheiros cristãos. Outro dia, deixei cair uma lata de refrigerante diet. Quando ela caiu, abriu-se um pequeno orifício na

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sua lateral, e ela girou pelo chão, com o líquido jor­ rando do orifício e sujando toda a cozinha. Encon­ trei gotas nos armários, nas cadeiras, na geladeira, nas paredes — até na sala de jantar. Minha esposa me disse uma única palavra: Limpe. Às vezes, as convicções são como aquele refrige­ rante — elas jorram e sujam todos à nossa volta, convencendo-nos de que os outros são imundos. E nós, impulsivamente, agarramos nossos panos, com a intenção de limpá-los! As convicções, como o refrigerante, devem ser con­ servadas na lata, quando não estiverem em uso. Elas são nossas, e devemos viver de acordo com elas. Mas não podemos permitir que elas jorrem e maculem a nossa atitude com relação a outros cristãos, que podem ter convicções diferentes.

“Dizendo Pedro ainda estaspalavras” (At 10.39-48). O uso da palavra grega rhemata, em lugar da fami­ liar logos, sugere que essa era a palavra específica a respeito do perdão dos pecados em nome de Jesus ao qual esses gentios responderam. Podemos crer em muitas coisas “a respeito” de Deus e, ainda assim, não receber a salvação. Nós a recebemos quando confiamos na promessa de per­ dão de Deus, por intermédio de Jesus Cristo. "Osfiéis que eram da circuncisão... maravilharam-se” (At 10.44 — 11.18). Pedro tinha sido acompanha­ do por seis cristãos judeus. Posteriormente, o tes­ temunho que eles deram, de que o Espírito Santo realmente tinha sido dado aos gentios, foi crucial para convencer a igreja de Jerusalém de que Cristo se estende a todos. Novamente, vemos circunstâncias especiais para um evento incomum. Os gentios deram evidência da pre­ sença do Espírito, falando em línguas. Posteriormen­ te, Pedro relacionou isso com a experiência do Pente­ costes. Como os gentios tinham recebido o mesmo dom que foi dado aos crentes judeus, obviamente eles foram aceitos por Deus. Assim, “quem era, então, eu, para que pudesse resistif a Deus?” (11.17). Quando houve a necessidade de convencer uma igreja judaica cética de que Deus pretendia receber os convertidos gentios, foi dado um sinal especial. Nós não precisamos ser convencidos — ou não de-

veríamos precisar. Nós sabemos, pelas Escrituras, que todos os que professam a Cristo como Salva­ dor, quaisquer que sejam seus antecedentes, per­ tencem a Ele. Conosco.

“Grande número creu e se converteu ao Senhor” (At 11.19-24). Uma coisa era aceitar os convertidos gentios em uma igreja predominantemente judia, mas agora, em Antioquia, uma grande cidade do império, foi estabelecida uma igreja predominan­ temente gentia! Barnabé foi enviado de Jerusalém para descobrir o que estava acontecendo. Ele era uma escolha exce­ lente, pois era “homem de bem e cheio do Espírito Santo e de fé”. Ele pode ter sido um dos poucos líderes cristãos judeus sensíveis o suficiente para perceber o que Deus pretendia, e capaz de resistir à tentação de impor um modo de vida judeu a esses convertidos gentios. O que Barnabé fez é, novamente, um modelo a ser seguido por nós. Ele simplesmente “exortou a to­ dos a que, com firmeza de coração, permanecessem no Senhor” (v. 23). Deus não precisa, nem deseja, cristãos homogêne­ os, todos seguindo o modelo fornecido por você e por mim. Ele deseja cristãos que sejam fiéis a Ele, com todo o seu coração. Se ajudarmos os outros a serem fiéis a Ele, eles rejeitarão o pecado. E res­ ponderão a Deus, que é mais capaz do que nós de moldar as suas convicções e o seu modo de vida. “Os discípulos determinaram mandar... socorro” (At 11.25-30). Quando veio uma grave fome que fora predita, a Judeia foi particularmente atingida. A igreja gentia de Antioquia, agora liderada por Saulo, além de Barnabé e seus próprios anciãos, enviou ajuda. Novamente vemos um princípio em ação. Quan­ do as barreiras são derrubadas, e os irmãos e irmãs cristãos são liberados para descobrir a sua própria maneira de expressar o seu compromisso com o Se­ nhor, também fluem amor e cuidados. Como uma expressão desse amor, a igreja gentílica de Antioquia enviou a sua doação aos seus irmãos judeus, por intermédio de Barnabé e Saulo. Ame os outros e dê-lhes liberdade em Cristo. Esse tipo de amor certamente será retribuído.

DE V OCIONAL______ Barreiras Derrubadas (At 11.1-18) Há trinta anos, eu teria me irritado, erguido mi­ nhas defesas, e imaginado se ele era convertido. Mas há trinta anos eu ergui todos os tipos de bar-

reiras para me proteger, para não ter que considerar que pessoas cujas convicções e crenças diferissem das minhas pudessem ser cristãs. A minha lista de convicções incluía coisas como não fumar, não beber, nem ir ao cinema. E a minha

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lista de crenças essenciais excluía muitos protestan­ tes também. Não pude evitar um sorriso sobre isso no último fim de semana, quando estava do lado de fora do salão de festas com Bob Dyksra. A música estava alta, e ele bebia o seu refrigerante, e gritava um pouco, para ser ouvido. Nós estávamos de volta a Michigan, para o casamento de uma sobrinha de minha esposa, e Bob, um primo, tinha vindo de Indianápolis. Tínhamos nos hospedado na sua casa em um fim de semana, alguns anos antes, e descobrimos que ele era um membro ativo em uma grande igreja, do grupo que eu costumava rejeitar, muito envolvido em um pequeno grupo de estudo da Bíblia. Entre as suas reivindicações de fama mais incomuns, Bob é uma das poucas pessoas, se não a única, que leu todos os artigos das 720 páginas da minha obra Expository Dictionary ofBible Words. No último fim de semana, no entanto, Bob esta­ va me contando sobre uma família que conheceu no aeroporto de Orlando. O pai tinha 64 anos, e empurrava um filho de 42 anos, em uma cadeira de rodas. O filho tinha sido acometido por uma doença que não lhe dava nenhum controle sobre todo o seu corpo, mas deixava a sua mente alerta e intacta. A mãe e o pai cuidaram dele durante anos, mas, com as suas vidas chegando ao fim, eles sabiam que tinham que encontrar algum lu­ gar onde o seu filho seria cuidado. Eles estavam indo a Indianápolis, onde a igreja de Bob finan­ ciava instalações para pessoas com esse tipo de problema. Bob olhou para o seu relógio quando me contava a história. Eram quase 10 horas da noite, e ele e sua esposa tinham que ir embora de Grand Rapids e voltar para casa. Parece que ele tinha dito à mãe e ao pai do rapaz que, sempre que fossem a Indianápolis para visitar o filho, poderiam se hos­ pedar na casa deles. Assim, ele tinha que retornar naquela noite, buscá-los no aeroporto na manhã seguinte e levá-los para ver o filho. Bob tomou mais um gole de seu refrigerante, sor­ riu e partiu para a longa viagem de volta a sua casa. E eu me senti como a igreja de Jerusalém deve ter se sentido, quando louvou ao Senhor por­ que “até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida”. Este velho protestante-bebedor-derefrigerante-diet está muito satisfeito, porque as barreiras estão sendo derrubadas, e porque posso me sentir confortável chamando de “irmão” a al­ guém que, apesar de nossas diferenças, ama a Je­ sus, ora regularmente e doa os seus recursos com generosidade àqueles que estão necessitados. E posso amá-lo no Senhor.

Aplicação Pessoal Conserve as suas convicções. Mas não permita que elas o afastem dos outros. Citação Importante “Julgar outra pessoa é usurpar, sem qualquer senso de vergonha, uma prerrogativa de Deus; e conde­ nar é arruinar a própria alma.” — João Clímaco 20 DE SETEMBRO LEITURA 263 DEUS INTERVÉM Atos 12

“Agora, sei, verdadeiramente, que o Senhor enviou o seu anjo e me livrou da mão de Herodes” (At 12.11). Deus está envolvido com o seu povo em todas as partes. Visão Geral O apóstolo Tiago foi executado por Herodes Agripa (12.1,2) e Pedro foi aprisionado, e ficou à espera do julgamento (w. 3-5). Um anjo libertou Pedro (w. 6-11), que foi recebido por cristãos assombrados, que mal conseguiam crer que suas orações tinham sido atendidas (w. 12-19). Deus matou Herodes (w. 20-23) e a igreja da Judeia continuou a crescer (v. 24). Agora, Lucas retornou para junto de Paulo, a fim de iniciar a história da sua missão aos gentios (v. 25). Entendendo o Texto “O rei Herodes... matou à espada Tiago, irmão de João” (At 12.1,2). O rei aqui citado é Herodes Agripa I, o neto de Herodes, o Grande. Agripa se empenhou ativamente para obter a lealdade de seus súditos judeus, e chegou a resistir ao plano louco do imperador Calígula de colocar uma estátua idólatra de si mesmo no Templo de Jerusalém. A Mishná, que inclui textos rabínicos desse período, fala favoravelmente de Agripa, e relata um incidente no qual o povo gritou com entusiasmo: “És nosso irmão!” Quando Herodes percebeu que a perseguição de cristãos aumentaria a sua popularidade, executou Tiago, o irmão de João, e prendeu Pedro. Agripa pretendia julgar e executar Pedro logo depois da Páscoa, quando esse ato teria o máximo impacto sobre as grandes multidões de peregrinos judeus reunidos para as festividades. O caráter dos atos de Herodes Agripa nos lembra como é fácil cair na armadilha de usar os outros para nossos próprios fins. Herodes cometeu o erro de todos os que fazem isso. Ele deixou de conside­ rar a possibilidade de que Deus pudesse intervir.

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Uma das melhores maneiras de conservar essa alegria é manter um registro de orações. Tudo o que é necessário é um simples caderno. Você es­ creve em uma página aquilo por que você ora, e na página seguinte, deixa espaço para registrar as respostas de Deus. À medida que cresce a lista de orações atendidas, leia-a. Você sentirá a mesma alegria e entusiasmo que encheu o grupo reunido na casa de Maria na­ quela noite para orar, com tanto sucesso, pela liber­ tação de Pedro. Pedro foi preso e vigiado pelo dobro de soldados da guarda normal, e mantido acorrentado em uma cela da prisão. Atos 12.3-11 conta a história da sua libertação milagrosa. A intervenção divina nos lembra de que Deus continuava trabalhando ativamente na igreja judaica original, embora o restante do livro de Atos enfatize a expansão missionária.

“O que seriafeito de Pedro” (At 12.18,19). Até mes­ mo Herodes deveria ter sido mais esperto do que alguns críticos modernos que, ansiosos para livrar as Escrituras do sobrenatural, sugerem que algum cris­ tão drogou os guardas e subornou o carcereiro para permitir a saída de Pedro. Nos tempos romanos, um carcereiro que deixasse um prisioneiro escapar estaria sujeito à punição que o prisioneiro devesse ter sofrido. Assim, Herodes não fez nada incomum quando mandou executar os guardas (v. 19). O que é surpreendente é a pergunta que todos fize­ ram: “O que seria feito de Pedro?” Acorrentado a seus guardas, trancado em uma cela, guardada por outros guardas, dentro de uma prisão fechada por uma porta de ferro, tudo isso teria deixado claro que Pedro não tinha simplesmente apanhado suas correntes e se es­ condido em algum armário. A inevitável conclusão era de que algo sobrenatural tinha acontecido. Deus tinha intervindo, ou Pedro não teria saído. Aparentemente, Herodes nem tinha considerado a opção sobrenatural. Ele era tão materialista quan­ to as pessoas modernas, que podem olhar um pôr do sol, ou examinar algo de natureza complexa, e dizer: “A evolução não é maravilhosa?” Ainda hoje, em todas as partes, podemos ver evidências da in­ tervenção de Deus. Mas somente os olhos da fé parecem capazes de enxergá-las.

“Agora, sei, verdadeiramente, que o Senhor... me li­ vrou” (At 12.11). Pedro jamais duvidou que o Se­ nhor pudesse resgatá-lo. Mas havia a dúvida de que o Senhor realmente o resgatasse. Afinal, Tiago, o irmão de João, também era um apóstolo, e tinha sido executado por Herodes Agripa. Você e eu vivemos com uma tensão semelhante, entre a fé e a incerteza. Sabemos que o Senhor pode nos libertar de qualquer perigo que enfrentemos. Mas jamais saberemos, “sem dúvida”, se o Senhor nos libertará. E importante que nos lembremos de que Deus amava Tiago tanto como Pedro. Ambos eram im­ portantes para Ele. No entanto, um morreu, e o outro foi milagrosamente solto da prisão. Quer você e eu tenhamos o papel de Tiago nesta vida, quer o de Pedro, devemos ter a confiança de que somos amados por Deus e somos importantes para Ele. Hoje Tiago e Pedro estão em casa com o Senhor, desfrutando da sua presença. E isso o que importa, e não a curta ou longa duração da “E, comido de bichos, expirou” (At 12.21-24). Tanto vida na terra. Lucas quanto Josefo, o historiador judeu do século I, registram a morte de Herodes em 44 d.C., pouco “Batendo Pedro à porta do pátio” (At 12.12-19). A tempo depois da libertação de Pedro. Josefo nos história é encantadora. Podemos vê-lo, agora, ba­ conta que Agripa morreu “exausto depois de cinco tendo à porta. Rode, aturdida e “cheia de alegria”, dias inteiros de dor no abdômen”. Lucas, o médi­ correndo à porta, e voltando para dentro da casa, co, descreve sintomas que sugerem uma infecção tão feliz que não soube o que fazer. E as pessoas de parasitas intestinais. Esses parasitas podem che­ dentro da casa, orando fervorosamente por Pedro, gar a ter quase 40 centímetros de comprimento, e sem saber que Deus já tinha atendido suas orações. quando agrupados, podem obstruir os intestinos. (Veja o DEVOCIONAL.) A pessoa infestada sente dor intensa, e normalmen­ A oração atendida tem a tendência de entusiasmar te vomita os parasitas antes de morrer. qualquer cristão. Nós oramos sentindo a terrível pres­ Curiosamente, tanto Lucas quanto Josefo atri­ são da nossa necessidade, e quando vem a resposta, e a buem a morte de Agripa à impiedade do rei, e a pressão é aliviada, ficamos alegres e animados. consideram como um juízo de Deus. Deus tinha

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Embora Lucas fale um pouco sobre os eventos da pátria judaica, o seu vívido retrato da libertação de Pedro e da morte de Agripa nos recorda uma ver­ dade vital. Podemos não estar cientes do que está acontecendo na Judeia. Mas Deus está ali, ativo, e ainda intervindo em favor dos seus. Que consolo isso é para nós quando nossos fi­ lhos crescem e vão embora. Nós não estamos ali para vigiá-los. Mas Deus está. Ele está cuidando dos seus ativamente, com todo afeto, em todos os lugares. Podemos confiar os nossos filhos aos seus cuidados.

intervindo para remover um governante que pro­ vara ser um perseguidor do seu povo e um perigo à sua igreja. Depois da morte de Herodes, “a palavra de Deus crescia e se multiplicava” (v. 24). “Voltaram de Jerusalém” (At 12.25). Lucas agora deixou o cenário da Judeia e o seu relato sobre o ministério de Pedro para se concentrar em Paulo. O versículo 25 é uma declaração de transição que efetivamente transfere a nossa atenção à missão vindoura, para o mundo todo.

DEVOCIONAL_______

Acredite ou não (At 12.1-19) Deus deve ter um grande senso de humor. Não podemos ler o relato sobre a libertação de Pedro da prisão e o entusiasmo na casa de Maria, em Jerusalém, sem ver como foi engraçado. Ali estava Pedro, batendo à porta, enquanto, den­ tro da casa, havia um grupo de cristãos deprimi­ dos que orava desesperadamente pela segurança dele. E quando a menina entra na sala, gritando ter ouvido a voz de Pedro do lado de fora, nin­ guém acredita nela. “Estás fora de si”, dizem. Pe­ dro estava na prisão, prestes a ser executado. Se a menina realmente tivesse ouvido a sua voz, seria “o seu anjo [fantasma]”. Se você já pensou que obter uma resposta à ora­ ção depende de crer, firmemente, que uma respos­ ta virá, bem, essa história pode despertar algumas dúvidas. A igreja congregada certamente esperava que Deus salvasse Pedro. Mas crer? Ora, eles nem creram e a oração já havia sido atendida! Suspeito que Deus estava rindo com a cena, com prazer. Você quase pode ouvi-lo gritar: “Surpresa!” E quando os cristãos reunidos perceberam que Pe­ dro realmente estava livre, e saltaram de alegria, o Senhor deve ter rido alto e feliz. Oh, sim. Deus pode atender às orações, mesmo quando a nossa fé é fraca e as dúvidas são for­ tes. Assim, quando você orar, não se preocupe se não tiver uma total certeza sobre o que Deus irá fazer. Apenas lembre-se das pessoas de Atos 12, que disseram a uma menina “Estás fora de ti”, quando ela contou que Pedro estava à porta. Apenas ore. E espere ser surpreendido.

Citação Importante “Jamais orei fervorosamente por alguma coisa, mas ela sempre acontecia, mais cedo ou mais tarde, e com frequência da maneira que eu menos imagina­ va. Mas acontecia.” — Adoniram Judson 21 DE SETEMBRO LEITURA 264 COMEÇA A MISSÁO Atos 13— 14

“Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, epondo sobre eles as mãos, os despediram” (At 13.2,3). Deus ainda tem uma visão global da qual Ele dese­ ja que compartilhemos.

Contexto Estratégia missionária. Paulo é reconhecido por desenvolver a estratégia missionária da igreja. Ele foi às cidades que eram centros de comunicações, transportes e comerciais. Ele ia, em primeiro lugar, à sinagoga judaica, onde alcançava não somente 0 seu próprio povo, mas também os gentios que eram atraídos à fé e moralidade dos judeus. A equipe missionária de Paulo instruía os pri­ meiros convertidos de maneira tão abrangente quanto o tempo permitia, e seguia para a cidade seguinte. As congregações que eles estabeleceram serviram como núcleo para a evangelização das regiões vizinhas, além de sua própria cidade (cf. 1 Ts 1.4-8). Mais adiante, Paulo poderia retornar e dar novas instruções, para confirmar a escolha de anciãos da igreja local. Paulo também enviou cartas e re­ presentantes, como Timóteo e Tito, para respon­ der a perguntas e ajudar a congregação a lidar Aplicação Pessoal com quaisquer problemas que surgissem. As respostas à oração dependem do nosso grande A estratégia itinerante de Paulo colocava gran­ Deus, e não de uma fé gigantesca. de responsabilidade sobre cada igreja local pela

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sua própria vida. E mostrava a total confiança do apóstolo na capacidade do Espírito Santo de guiar e sustentar o povo de Deus. As missões modernas têm muito a aprender com o primeiro grande missionário do cristianismo, o apóstolo Paulo. Visão Geral Barnabé e Paulo foram incumbidos de pregar o evangelho (13.1-3). A sua primeira parada foi em Chipre (w. 4-12). Em Antioquía da Pisídia, o su­ cesso em alcançar os gentios criou inveja e oposição por parte dos judeus (w. 13-52). O conflito conti­ nuou quando eles ministraram em Icônio (14.1-7), Listra e Derbe (w. 8-20), antes de se dirigirem a Antioquia e voltarem para casa (w. 21-28). Entendendo o Texto “Apartai-me” (At 13.1-3). Muitos se perguntam como alguém pode saber se é “chamado” para o ministério. Encontramos algumas indicações aqui. Em primeiro lugar, Paulo e Barnabé já estavam profundamente envolvidos no ministério quando foram separados por Deus. Seria tolice pensar que a ida ao seminário pudesse transformar em um mi­ nistro uma pessoa que não demonstra inclinação para servir e testemunhar antes de seu treinamen­ to. Em segundo lugar, o “chamado” não foi feito somente a Saulo e a Barnabé; ele foi sentido por todos os líderes da igreja de Antioquia. A congre­ gação de que uma pessoa faz parte deve ser capaz de confirmar o chamado dessa pessoa. Caso você se pergunte se Deus o está chamando para um ministério de período integral, a experiên­ cia de Paulo e Barnabé é sugestiva. Se você é ativo no ministério, e confirmado pela sua igreja, o seu senso de chamada pode ser confirmado.

“O procônsul... chamando a si Barnabé e Saulo” (At 13.4-12). O convite para pregar diante de Sérgio Paulo era oficial, motivado pela responsabilidade do procônsul de governar Chipre e a sua população mesclada de gentios e judeus. Rumores da prega­ ção dos apóstolos, e muito provavelmente acusa­ ções contra eles, logo lhe chamaram a atenção. O procônsul, “varão prudente”, investigaria com cui­ dado antes de adotar qualquer medida. A hostilidade de Barjesus, cujo nome alternativo, Elimas, significa “feiticeiro” ou “mágico”, levou a um confronto. O resultado assombrou Sérgio Pau­ lo e conduziu à sua conversão. A oposição ao evangelho com frequência tem um resultado inesperado. Deus costuma usá-la para abrir portas de oportunidade. Portanto, não se per­ mita perturbar demais pela oposição, e esteja alerta

para a maneira como Deus pretende usá-la para seus próprios objetivos.

“Saulo, que também se chama Paulo” (At 13.9). A mudança de nome aqui é significativa. Saulo era o nome do apóstolo em hebraico. Paulo é um nome grego, e o nome adotado pelo apóstolo quando mi­ nistrava no mundo gentio. A mudança de nomes nos alerta para o fato de que, a partir de agora, o ministério de Paulo se destinará principalmente à população não judaica do Império Romano. Mais adiante, Paulo escreveu, em uma de suas epís­ tolas: “Fiz-me como judeu para os judeus, para ga­ nhar os judeus” e “Para os que estão sem lei, como se estivera sem lei” (1 Co 9.20,21). Paulo não fazia concessões, mas procurava maneiras para identificar-se com aqueles que desejava alcançar. Quando entrei na marinha, descobri que, no iní­ cio, os outros marinheiros me evitavam. Finalmen­ te, descobri que eles pensavam que eu era esnobe, porque usava palavras complicadas. Eu nunca ti­ nha percebido isso: fui criado em um lar onde era normal falar como eu falava. Para me adequar e ter alguma possibilidade de alcançar meus colegas da marinha, tive que aprender a falar como eles (mas sem os palavrões). Posteriormente, trabalhei em um hospital do gover­ no, e conduzi um estudo noturno da Bíblia. Todas as noites, eu pensava no que tinha a dizer, e como torná-lo o mais simples possível. Descobri que foi muito proveitoso. Muitos me disseram: “Se algum dia você pastorear uma igreja, me avise. Você é o primeiro pregador que consegui entender”. Mesmo pequenas coisas nas Escrituras, como aqui, a mudança de um nome, são significativas para nós. Se você deseja alcançar as pessoas, procure pontos de similaridade e tente ser como elas. Jamais enfa­ tize as diferenças entre você e as pessoas às quais espera influenciar. “Entrando na sinagoga, num dia de sábado, assentaram-se” (At 13.13-15). O costume de Paulo de ir, em primeiro lugar, à sinagoga, estava enraizado em convicções, assim como em estratégia. Era uma boa estratégia, porque os visitantes judeus costumavam ser convidados a falar quando compareciam aos cultos na sinagoga. Mas o costume de Paulo tam­ bém expressava um profundo amor pelo seu povo. Embora a sua vida tivesse sido ameaçada diversas vezes por seus correligionários, Paulo afirmava que o poder de salvação do evangelho é “primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1.16). Todos nós, cristãos, devemos reconhecer a gran­ de dívida que temos com o povo escolhido de Deus. Podemos começar a pagar essa dívida so­

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mente como Paulo fez, quando levou o evange­ Esta é a primeira indicação do grande desafio que enfrentaria o início do cristianismo — e os cris­ lho à sinagoga. tãos modernos. Qual é a relação entre o Antigo “Varões israelitas e os que temeis a Deus, ouvi” (At Testamento e o Novo, entre a Lei e a graça? A Lei 13.16-43). Agora Lucas inclui um resumo do tipo de Moisés é obrigatória ao crente em Cristo? Ou de sermão que Paulo pregava nas sinagogas. Ele co­ a “nova” fé é o abandono radical do judaísmo, que meçava, como era costume, com uma revisão da Paulo parecia sugerir? história dos hebreus. E culminava com Davi, de A pergunta é importante para você e para mim, cujos descendentes viria o Messias. Paulo, então, porque precisamos viver em íntimo relacionamen­ passava a mostrar que Jesus tinha cumprido essas to com o Senhor. A menos que tenhamos claras as promessas. A ressurreição de Cristo não somente distinções entre a era da Lei e a da graça, essa é, se encaixa nas Escrituras, como as Escrituras que realmente, uma difícil tarefa (veja as epístolas aos Ele cumpre mostram que Ele é o Santo, o Filho Romanos e aos Gálatas). de Deus. Por meio dEle, Deus oferece a todos o “Dividiu-se a multidão da cidade” (At 14.1-6). perdão dos pecados. Como os outros sermões registrados no livro de Atos, Não espere que todos estejam abertos ao evange­ este se concentra diretamente na pessoa de Jesus Cris­ lho. O livro de Atos nos lembra que a mensagem de Cristo divide as pessoas, assim como une os to e na oferta de Cristo do perdão dos pecados. Seja o que for que você ou eu possamos fazer para nos crentes. Se você for eficaz ao transmitir o evange­ identificarmos com os outros, não devemos modificar lho, pode esperar oposição, assim como reações a mensagem do evangelho. Somente essa mensagem entusiásticas. pode trazer salvação e vida nova para todos. “Fizeram-se os deuses semelhantes aos homens e des­ “Encheram-se de inveja” (At 13.44-52). A mensa­ ceram até nós" (At 14.8-20). Não se surpreenda gem de uma salvação oferecida voluntariamente quando alguns que aclamam você em um mo­ a todos se espalhou rápido, e no sábado seguinte mento estiverem prontos a apedrejá-lo no mo­ “ajuntou-se quase toda a cidade” para ouvir os dois mento seguinte. O povo de Listra estava pronto a adorar Paulo e Barnabé como deuses. Entretanto, missionários. A “inveja” dos judeus não se devia simplesmente à uma vez que eles deixaram de corresponder às ex­ quantidade. Era uma inveja pela sua fé. A mensa­ pectativas, a multidão foi facilmente persuadida a gem de salvação de Paulo, na verdade, tinha deixa­ apedrejar Paulo. do de lado a Lei, e significava que um gentio podia A popularidade é oscilante, um tecido diáfano relacionar-se com o Deus de Israel sem se aproxi­ que desaponta a todos que a possuem. mar dEle por meio do judaísmo. Paulo disse, rispidamente, à população judaica, agora “Reuniram a igreja, relataram quão grandes coisas hostil: “Eis que nos voltamos para os gentios”. Muitas Deus fizera por eles” (At 14.21-28). Alguns contam pessoas em Antioquia se converteram antes que a per­ o que Deus fez por eles para glorificar a si mes­ mos. Outros, para glorificar a Deus. seguição oficial expulsasse dali os missionários.

DEV OCIONAL______

Verdade ou Fantasia? (At 14.8-29) Cem anos antes da visita de Paulo e Barnabé a Listra, Ovídio narrou uma antiga lenda, nativa àquela área. Zeus e Hermes, certa vez, andavam por aquela região montanhosa, disfarçados de mor­ tais. Embora pedissem em mil casas, ninguém os recebia. Finalmente, um pobre casal ofereceu-lhes alojamento em sua cabana de palha. Como recom­ pensa, a cabana foi transformada em um templo de mármore e ouro, e o casal foi transformado em árvores eternas, à sua porta. E os mil lares não hos­ pitaleiros foram destruídos.

E provável que essa lenda estimulasse o grande entusiasmo em Listra, quando Barnabé e Paulo ali curaram um aleijado. Os deuses Zeus e Hermes tinham retornado! O povo entusiasmado se deter­ minou a honrá-los. Quando a multidão descobriu que Paulo e Barnabé eram mensageiros do único Deus verdadeiro, e não os seus próprios deuses, ficou hostil e foi facilmente levada a apedrejar Paulo. Eles tinham se alegrado tanto com a ficção que se ressentiram por ouvir a verdade. O que é ainda mais fascinante é o fato de que ar­ queólogos tenham desenterrado, perto de Listra,

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inscrições que datam do século III d.C., que mos­ tram que Zeus e Hermes ainda eram adorados ali. O apelo da ficção é forte. De vez em quando, falo com alguma pessoa que tem suas próprias ideias sobre como é Deus. “Deus não é assim!”, dirá essa pessoa, se o assunto for a punição do pecado, ou a morte de Cristo pelos pe­ cadores. Essas pessoas são, até certo ponto, como os homens e as mulheres de Listra. Elas têm suas próprias ideias a respeito de Deus. E não querem que você as modifique, obrigado. Para essas pesso­ as, não faz diferença se o que você lhes diz é verda­ de. Pois o apelo da ficção é forte. Aplicação Pessoal A verdade é uma boa nova, quer as pessoas a acei­ tem, quer não. Citação Importante “Com Deus, uma coisa jamais é boa demais para ser verdade; ela é tão boa que não parece ser verda­ de.” — Oswald Chambers 22 DE SETEMBRO LEITURA 265 O CONCÍLIO DE JERUSALÉM Atos 15

deus, para ter a salvação oferecida pelo Deus de Israel? O Antigo Testamento com frequência predizia que os gentios seriam salvos. Mas a maioria dessas refe­ rências conectava a sua salvação ao ressurgimento de Israel, sob o Messias. Mas agora os gentios vi­ nham direto a Deus, independentemente da fé e dos costumes judeus! Era isso que muitos judeus crentes não compreendiam — nem apreciavam! E assim, alguns judeus começaram a viajar e a ensinar que, para ser realmente salva, a pessoa precisava se converter ao judaísmo, como também a Cristo. Hoje, chamamos isso de etnocentrismo: a ideia de que os costumes e as práticas de alguém são os corretos, e os alheios são errados. E isso surge nas missões, assim como em Antioquia, há tanto tempo. Muitos cultos, na África ou na Ásia, foram marcados para as 11 horas da manhã, apesar dos costumes locais, só porque a igreja da terra natal do missionário se reúne nesse horário. E muitos hinos foram levados do ocidente para o oriente, apesar do fato de que as tradições musicais orientais são completamente diferentes das nossas. Você e eu também precisamos evitar o etnocen­ trismo. Não devemos supor que as pessoas que são diferentes de nós estejam erradas ou sejam inferio­ res. A fé em Cristo e o amor por Jesus podem ser expressos de várias maneiras, além da nossa.

“Resolveu-se que Paulo, Barnabé e alguns dentre eles subissem a Jerusalém aos apóstolos e aos anciãos sobre aquela questão” (At 15.2). “Subissem a Jerusalém aos apóstolos e aos anciãos” (At 15.2-5). A tentativa de impor o judaísmo desafiava As diferenças precisam ser enfrentadas e solucio­ a validade da conversão dos gentios, e questionava nadas. a natureza do próprio evangelho. As Boas-Novas dizem que Deus perdoa os pecados de qualquer Visão Geral pessoa que crê em Jesus ou não? Uma disputa sobre doutrina, se os crentes gentios Dizer “Você pode ser salvo, se crer E se for circun­ deviam adotar o judaísmo (15.1), trouxe repre­ cidado E se obedecer à lei de Moisés” não é o evan­ sentantes da igreja de Antioquia a Jerusalém (w. gelho que Pedro pregou a Cornélio, ou o evangelho 2-5). Um concílio de líderes determinou que a lei que Paulo pregava em suas viagens. do Antigo Testamento não era obrigatória aos cris­ Precisamos ser igualmente claros, hoje em dia, di­ tãos gentios (w. 6-19), mas pediu-lhes que fossem zendo que a salvação se dá por meio da nossa fé sensíveis às convicções dos judeus (w. 20,21). A em Jesus Cristo, sem nenhum “E” acrescentado. delegação de Antioquia retornou com uma carta Como diz um antigo hino: “Jesus pagou tudo”. A de isenção dos apóstolos (w. 22-35). Mas uma dis­ nova vida de amor e obediência que adotamos de­ puta pessoal entre Paulo e Barnabé não pôde ser pois da salvação é uma consequência, e não uma solucionada, e eles se separaram (w. 36-41). condição para a salvação. Como é libertador perceber que a nossa salvação está Entendendo o Texto no que Jesus fez, e não no que nós precisamos fazer. “Se vos não circuncidardes... não podeis salvar-vos” Como a Igreja Primitiva, precisamos nos guardar (At 15-1). Os primeiros cristãos judeus viviam contra qualquer ensinamento que procure roubar a como judeus, observando a Lei do Antigo Tes­ proeminência de Cristo, ou que procure roubar da tamento. A medida que igrejas gentias eram es­ fé a sua posição central na experiência cristã. tabelecidas fora da Judeia, surgiu uma questão crucial. Esses gentios tinham que abandonar a “Deus.... lhes deu testemunho” (At 15.6-11). Não sua própria cultura e adotar os costumes dos ju­ era fácil para os judeus cristãos devotos, dedicados

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a seus costumes tradicionais, e ainda adorando no Templo, encarar essa questão. Mas Pedro tinha um argumento convincente. Deus mostrou que aceita­ va os gentios, assim como os judeus, quando puri­ ficou a casa de Cornélio pela fé e lhes deu o Espí­ rito Santo. Assim, Deus “não fez diferença alguma entre eles e nós”. Ficou claro que todos são salvos “pela graça do Senhor Jesus Cristo”. Observar a lei dos judeus não era a questão. Hoje também devemos concentrar o foco na graça. A salvação se dá pela graça, por intermédio da fé, sem nenhuma outra condição. E errado insistir que os outros obedeçam a padrões puramente culturais para serem recebidos à comunhão total. A questão não é tão abstrata como pode parecer. Alguns de nós resistimos à comunhão com pessoas que levantam as mãos quando oram, ao passo que outras não se relacionam com aquelas cuja adora­ ção é litúrgica. Como essas coisas são irrelevantes! Devemos afirmar a liberdade de cada um de ser di­ ferente, sem nenhuma crítica, sabendo que o Deus que nos aceitou em Cristo também aceita a nossa adoração como um ato de amor.

“Com isto concordam as palavras dos profetas” (At 15-12-19). Paulo e Barnabé acompanharam Pedro na argumentação, com base na experiência evan­ gelista, de que Deus aceitava os gentios “como eles são”, sem exigir que eles adotassem o judaísmo (v. 12). Tiago, o irmão de Jesus, muito respeitado por sua religiosidade, mostrou que o que Pedro e Paulo diziam estava de acordo com as Escrituras do An­ tigo Testamento. Afinal, Amós (9.12) faiou de “to­ das as nações que são chamadas pelo meu nome”. Estava claro que se esperava que os gentios, como gentios, fossem os portadores do precioso nome de Deus na era messiânica, que agora havia se iniciado na pessoa de Jesus Cristo. A evidência da experiência cristã é importante. Mas devemos sempre verificar que a nossa experi­ ência esteja em harmonia com a Palavra de Deus. Quando a experiência é confirmada pelas Escri­ turas, podemos agir com confiança, como agiu a igreja de Jerusalém. A decisão do concílio foi de que os gentios não estão sujeitos à Lei que Deus dera a Israel, nem deviam viver como judeus, para serem aceitáveis a Deus.

sido muito discutidas. Por que essas três? E qual é a sua importância? Se “prostituição” é interpretada como uma referência aos casamentos entre pessoas cuja união é proibida no Antigo Testamento, pare­ ce que o Concílio de Jerusalém pediu que os con­ vertidos gentios fossem sensíveis às convicções de seus irmãos judeus. Nós certamente precisamos ser sensíveis às outras pessoas hoje em dia. Posteriormente, Paulo escre­ veria aos romanos e aos coríntios, e os encorajaria a não usar mal a sua liberdade, mas a evitar ofender desnecessariamente àqueles cujas convicções pu­ dessem diferir das suas. Como dizia a carta que o concílio enviou a Antioquia e outras igrejas: “Destas coisas fareis bem se vos guardardes” (v. 29).

“Pareceu bem... eleger... Judas, chamado Barsabás, e Silas” (At 15-22-29). Era costumeiro, no judaísmo, enviar dois filósofos com algum comunicado ofi­ cial do Sinédrio a comunidades judaicas no exte­ rior. A Igreja Primitiva adotou esse sábio costume, e enviou dois profetas juntamente com a carta que explicava a decisão do concílio. A carta trouxe alívio. Os dois mensageiros, que “exortaram e confirmaram os irmãos com muitas palavras”, transmitiram amor. O toque pessoal é vital no nosso relacionamento com outras pessoas.

“Pareceu bem ao Espírito Santo” (At 15.28). O con­ cílio de Jerusalém demonstra a segurança de ter a mente do Espírito. Como podiam estar tão seguros disso? Em primeiro lugar, eles tinham congregado os líde­ res, sendo cuidadosos para comunicar o processo a “toda a igreja” (w. 4,22). Diferentes pontos de vista foram abertamente expressados (v. 5). Eles tiveram uma “grande contenda” (v. 7). E tentaram discer­ nir a vontade de Deus, reconhecendo o que Deus lhes tinha ensinado por meio da sua obra passada entre eles (w. 8,12). Eles compararam isso com as Escrituras (v. 15). E chegaram a um consenso, expresso por Tiago (v. 19). A chegada a um consenso, depois de passar por esse processo cuidadoso, foi o selo de aprova­ ção do Espírito. As igrejas fariam bem em adotar a mesma aborda­ gem para solução de problemas. O nosso objetivo é o mesmo do primeiro concílio da igreja: não tomar “[Devemos] escrever-lhes que se abstenham” (At a melhor decisão que pudermos, mas discernir qual 15.20,21). As três questões levantadas aqui têm é a vontade de Deus.

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DEV OCIONAL________

Diferenças que Dividem (At 15.36-41) Não sei se você já percebeu isso. Nós parecemos ser capazes de lidar com as diferenças de doutri­ nas. São os conflitos pessoais que realmente nos dividem. Quando eu era adolescente, visitamos um dos ami­ gos do meu pai, um senhor aposentado que tinha um chalé perto de um lago. No caminho de vol­ ta para casa, meu pai observou que, quando seu amigo era criança, tinha ido a um jantar da igreja e pedido uma fatia de um bolo que tinha visto an­ tes, na cozinha. A senhora no balcão disse que o bolo havia acabado. Mas, alguns minutos depois, ele a viu, sentada na cozinha, comendo uma fatia daquele mesmo bolo. O amigo de meu pai jamais voltou à igreja! Não foi a doutrina que o repeliu. Foi a mentira de uma mulher sobre uma fatia de bolo. A Igreja Primitiva foi capaz de resolver os conflitos de doutrina entre os cristãos hebreus que julgavam que os crentes gentios deveriam ser circuncidados, e aqueles que julgavam que eles não deveriam ser circuncidados. Mas quando Barnabé quis levar João Marcos, seu sobrinho, consigo em outra via­ gem missionária, oh, não. Paulo não aceitou isso. Marcos os tinha abandonado na primeira viagem missionária (13.13), e Paulo não tinha simpatia por desertores. Lucas disse que “tal contenda houve entre eles, que se apartaram um do outro” (15.39). Barnabé levou Marcos e seguiu em uma direção. Paulo levou Silas e seguiu em uma direção diferente. Eles conseguiram lidar com as diferenças de dou­ trina. Um conflito pessoal? Não. Se não posso ter a. minha fatia de bolo, eu desisto, e vou para casa. Ê isso. Na verdade, existe uma maneira de lidar com con­ flitos pessoais. Jesus falou de nos lembrarmos de que nós, seres humanos, somos todos como ove­ lhas, com a tendência de nos desgarrarmos. Temos que ser trazidos de volta para casa com afeto e com alegria (Mt 18). O próprio Paulo, um dia, escreve­ ria: “Nada façais pot contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros” (Fp 2.3,4). As diferenças pessoais não têm que dividir os cris­ tãos. Mas a separação entre Paulo e Barnabé nos lembra do quanto todos nós somos vulneráveis. As disputas certamente dividem. A menos que seja­ mos sensíveis, e também humildes.

Aplicação Pessoal É sempre mais importante ser afetuoso do que es­ tar certo. Citaçáo Importante “Eu costumava pensar que os dons de Deus esta­ vam em prateleiras, um em cima do outro, e que quanto mais crescêssemos no caráter cristão, mais facilmente poderíamos alcançá-los. Agora, sei que os dons de Deus estão em prateleiras, um em baixo do outro. Não é uma questão de crescer, mas de nos curvarmos, para conseguirmos os seus melho­ res dons.” — F. B. Meyer 23 DE SETEMBRO LEITURA 266 PARA A EUROPA Atos 16

“E Paulo teve, de noite, uma visão em que se apresen­ tava um varão da Macedônia e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos!” (At 16.9). O curso da história, em muitas regiões, foi alterado pela chegada do evangelho de Jesus Cristo. Contexto Missão na Europa. A segunda viagem missionária de Paulo entrou na Europa e muitas cidades prin­ cipais do Império Romano. Muitas das suas cartas do Novo Testamento foram, mais tarde, destinadas às igrejas europeias de Tessalônica, Roma, Corin­ to e Filipos. A fundação que Paulo lançou levou à posterior cristianização do império, e moldou a história do ocidente. Visão Geral Timóteo (16.1-5) e Lucas (v. 11) se uniram à equi­ pe missionária de Paulo, e embarcaram para a Eu­ ropa (w. 6-12). A primeira conversão por intermé­ dio da pregação de Paulo na Europa foi a de uma mulher chamada Lídia (w. 13-15). Mais tarde, ele foi aprisionado, espancado e lançado na prisão (w. 16-24). Isso levou à salvação do carcereiro filipense antes que Paulo fosse libertado e deixasse a região (w. 25-40). Entendendo o Texto “Timóteo... filho de uma judia que era crente” (At 16.1-5). Os poucos detalhes que são aqui fornecidos nos dizem muito sobre o jovem Timóteo e sua cida­ de. A comunidade judaica deve ter sido pequena e fraca ali, pois a mãe de Timóteo teve permissão de se casar com um gentio. A sua fraqueza — ou frouxi­

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dão — é ainda enfatizada pelo fato de que Timóteo não tinha sido circuncidado. Qualquer filho de mãe judia era considerado judeu, e uma comunidade ju­ daica forte deveria ter insistido na sua circuncisão. Esses poucos detalhes ressaltam o que Paulo disse a Timóteo em uma carta posterior: Timóteo aprendeu as Escrituras, ensinado por sua avó e por sua mãe, “desde a meninice” (2 Tm 1.5; 3.15). E realmente difícil para aqueles que têm que criar filhos em um lar onde somente um dos cônjuges é crente. Mas Ti­ móteo nos serve como um sinal de esperança. Ape­ sar das dificuldades, a fé sincera de sua mãe crente foi transmitida de modo eficaz ao seu filho. Temos que trabalhar “desde a meninice” de nossos filhos para transmitir a nossa fé a eles. Mas Deus pode e irá trabalhar nos filhos de lares divididos.

“Paulo... circuncidou [Timóteo], por causa dosjudeus que estavam naqueles lugares” (At 16.3). A decisão de Paulo de circuncidar Timóteo não foi, como pensaram alguns, uma concessão das suas convic­ ções. Os crentes judeus do século I não abandona­ ram sua herança quando se tornaram cristãos, mas a conservaram. Como Timóteo era conhecido na região como sendo judeu, era apropriado que ele expressasse a sua fé em Cristo por meio da sua qua­ lidade de judeu. Paulo não se importou com isso. A contenda de Paulo era com aqueles que tentavam identificar o seu modo de vida como “o” modo cristão, e impô-lo aos outros. Hoje os judeus messiânicos, ou “completos”, com frequência formam igrejas/sinagogas, e adoram a

Jesus nas formas tradicionais do judaísmo. Não é a forma que importa, mas a fé.

“O Espírito Santo... o Espírito de Jesus... o Senhor” (At 16.6-10). Se você já foi desafiado a provar que a Igreja Primitiva realmente acreditava que Jesus é Deus, aqui está uma boa passagem à qual recorrer. Lucas não estava ensinando doutrinas. Mas Lucas usou esses nomes, no mesmo parágrafo, de manei­ ra natural e inconsciente, e assim expressou a fé da Igreja Primitiva na trindade. “Saímos fora das portas, para a beira do rio” (At 16.11-15). Eram necessários dez homens judeus adultos para uma minyam, o quorum necessário para estabelecer uma sinagoga. Em cidades onde não houvesse dez homens judeus, a adoração dos judeus tinha lugar a céu aberto, com frequência junto à margem de um rio. Quando Paulo encon­ trou o “lugar para oração” judaico local, alcançou a primeira pessoa convertida da Europa: uma mu­ lher chamada Lídia. Com esse início, o Senhor desenvolveu uma das igrejas mais fortes da Europa, muito amada pelo apóstolo. “Estes homens... são servos do Deus Altíssimo” (At 16.17,18). O persistente clamor da escrava possuí­ da pelo demônio desviava a atenção da mensagem dos apóstolos para si mesma. Finalmente, Paulo, em nome de Jesus Cristo, ordenou que o demônio a deixasse.

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A situação me lembra da celebridade momentânea que a igreja às vezes cria no caso de assassinos e ar­ tistas de cinema. Depois de uma repentina conver­ são, o indivíduo famoso aparece na televisão, em um domingo, para dar um testemunho que atrai mais atenção a si mesmo do que a Jesus. E muitas vezes a “fé” do convertido se dissipa tão logo ces­ sam as suas aparições na TV. A credibilidade de uma testemunha é tão impor­ tante quando se fala da parte de Jesus quanto quan­ do se fala em um tribunal de justiça. Devemos dar aos novos convertidos tempo para amadurecer, an­ tes de levá-los adiante, a despeito de quão famosos possam ser.

“Esses homens, sendo judeus” (At 16.19-21). Quando Paulo expulsou um demônio de uma escrava que tinha ganhado dinheiro para seus donos, com seu espírito de adivinhação, os donos ficaram furiosos. O seu ataque subsequente a Paulo reflete um antissemitismo que já estava profundamente enraizado na sociedade do século I. Essa acusação foi suficiente para provocar um tumulto, e disso os dois missioná­ rios foram acusados! Acrescente a acusação de que estavam pregando uma religião ilegal para que “nós, romanos” praticássemos, e sentimos o forte antago­ nismo racial a que os donos da escrava consciente­ mente apelaram para se vingar de Paulo. Hoje, um tipo similar de hostilidade contra os cris­ tãos é encontrado nas notícias, e nos retratos de crentes e pastores apresentados nos meios de co­ municação. Aqueles que falam de convicção cris­ tã costumam ser rotulados pejorativamente como “fundamentalistas”, em um esforço para que suas opiniões sejam rejeitadas antes mesmo que sejam ouvidas. É errado perseguir alguém por causa do preconceito em vez dos fatos.

Paulo e Silas foram aprisionados, somente para serem libertados de suas correntes por um terre­ moto. O carcereiro devia estar familiarizado com a mensagem de Paulo, provavelmente pelo clamor persistente da escrava, antes que o seu demônio fosse expulso. Mas agora, o seu terror ao ver as por­ tas da prisão abertas, e o fato de ter escapado do suicídio por pouco, criavam uma disposição para a salvação. Devemos reconhecer os terremotos que Deus traz à nossa vida como seus dons graciosos, que têm a função de direcionar os nossos pensamen­ tos a Ele.

“Tu e ã tua casa” (At 16.31). Nos tempos do Novo Testamento, a “casa” de uma pessoa abrangia mais do que a sua esposa e os seus filhos. Escravos, clien­ tes e amigos íntimos, todos faziam parte da “casa”. Precisamos compreender a promessa de salvação de Paulo, “tu e a tua casa”, não como uma promessa de que os filhos algum dia serão salvos, mas como a certeza de que eles, como nós, podem encontrar a salvação, por meio da fé no Senhor.

“Venham eks mesmos e tirem-nos para fora” (At 16.35-40). Os cidadãos romanos estavam sob a proteção do império, para onde quer que viajas­ sem. Mesmo em uma colônia semi-independente, como Filipos, nenhum cidadão romano podia ser tratado de forma ilegal, como Paulo e Barnabé fo­ ram tratados. Paulo era sempre rápido para afirmar os seus direi­ tos, e não apenas por razões pessoais. Esses direitos de cidadania eram garantias de que ele não poderia ser impedido de pregar simplesmente porque al­ guns não gostassem do que estava dizendo. Nós, cristãos, precisamos afirmar nossos direitos, pela mesma razão. Ao exigir nossos direitos, man­ “Senhores, que é necessário que eu faça para me sal­ temos a liberdade de todos de compartilhar o evan­ var?” (At 16.23-34). Depois de serem espancados, gelho de Jesus, sem medo.

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Confiando no Espírito (At 16.1-10) Quando Hudson Taylor, o grande pioneiro missio­ nário e fundador da missão no interior da China, veio ao Canadá para um roteiro de palestras, a pri­ meira pessoa que o hospedou estava emocionada. Finalmente ele iria conhecer um verdadeiro gigante da fé! E também estava curioso. Como esse crente liderado pelo Espírito iria planejar o seu itinerário? Na tarde seguinte, ele ficou chocado, quando Taylor pediu os horários de trens e simplesmente se sentou

na cozinha para planejar seu cronograma. Onde es­ tavam a oração e o jejum que o anfitrião esperava? Hudson ficou surpreso. Deus já tinha providenciado as ferrovias do Canadá e os horários dos trens. O que mais havia para pedir? A abordagem de Paulo a suas missões era similar. Ele tinha uma estratégia que usava para escolher as cidades-chave, e para ministrar quando chegasse a es­ sas cidades. Como Hudson Taylor, Paulo realizava o ministério de uma maneira prática. Mas a vida desses dois homens me mostram que eles também permane-

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dam sensíveis à liderança do Espírito, prontos a mu­ dar de planos ou de direção, segundo o chamado do Espírito, e confiavam plenamente no Espírito. Não precisamos ser místicos para confiar no Espírito Santo. Nós podemos confiar nEle usando o que Deus nos forneceu — desde horários de trens até a nossa capacidade de planejar e desenvolver estratégias. Mas confiar no Espírito também significa permanecer to­ talmente aberto a Deus, pronto a mudar qualquer plano quando Ele disser “Não” ou “Vá em frente”. Aplicação Pessoal Coração e mente devem cooperar à medida que con­ fiamos na liderança do Espírito. Citação Importante “Quando confiamos na organização, conseguimos os benefícios que a organização pode oferecer. Quando confiamos na educação, conseguimos os benefícios que a educação pode oferecer. Quando confiamos na eloquência, conseguimos os benefícios que a eloquên­ cia pode oferecer. Mas quando confiamos no Espírito Santo, conseguimos os benefícios que Deus pode ofe­ recer.” — A. C. Dixon 24 DE SETEMBRO LEITURA 267 O DEUS DESCONHECIDO Atos 17—18

“Achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós hon­ rais não o conhecendo é o que eu vos anuncio” (At 17.23). Nós devemos ser muito prudentes quando come­ çamos a proclamar um Deus que é desconhecido. Visão Geral Paulo teve que sair de Tessalônica por causa da hos­ tilidade dos judeus (17.1-9), mas achou os judeus de Bereia mais dispostos a ouvir (w. 10-15). Paulo pregou aos filósofos em Atenas (w. 16-34) antes de seguir para Corinto (18.1-5), onde acusações feitas pelos judeus foram rejeitadas pelo procônsul roma­ no (w. 6-17). Paulo viajou com amigos, passando por Êfeso no caminho de volta a Antioquia (w. 18-23). Em Efeso, esses amigos, Priscila e Aquila, explicaram o evangelho a um vigoroso pregador chamado Apoio, que só tinha ouvido falar da pre­ gação de João Batista.

próprio povo. Embora somente poucos aceitassem, eles mereciam a oportunidade de ouvi-lo antes. Não devemos avaliar o direito de uma pessoa ou de um grupo de ouvir o evangelho pelas suas reações. Ainda que a reação seja tão hostil quanto a reação dos judeus aos missionários em Tessalônica, todos têm o direito de ouvir.

“Estes [os de Bereia]foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica” (At 17.10-12). A “nobreza” dos judeus de Bereia era demonstrada não pela sua disposição em ouvir Paulo, mas pelo cuidadoso exa­ me que faziam diariamente das Escrituras para se certificar de que aquilo que ele dizia era verdade. Pode ser difícil compreender, mas o “nobre” cristão hoje ouve ceticamente aos pregadores. O ministro que insiste: “Confie em mim”, seja de cima do púl­ pito, seja das ondas radiofônicas, não parece perce­ ber que a Palavra de Deus, e não o seu ensinamento, é a nossa autoridade suprema. Portanto, seja nobre. Ouça, mas depois estude a Bíblia, para se certificar de que o que você ouve do púlpito é verdade. “[Paulo] disputava... todos os dias, na praça, com os que se apresentavam” (At 17.16-21). Paulo foi for­ çado a deixar a Bereia quando uma delegação de judeus de Tessalônica veio para criar problemas. Como os outros membros da sua equipe ainda ti­ nham a oportunidade de ministrar, Paulo foi para Atenas sozinho, para ali esperar por eles. A idolatria que Paulo viu em Atenas o aborreceu muito. Além de ministrar na sinagoga aos sábados, ele deu início a um ministério nas ruas, falando diariamente com quem quer que o ouvisse. Aprendi sobre reuniões de rua quando era um jo­ vem cristão em Nova York. Um homem estava em pé em uma escadinha, pregando no Rockefeller Center, em frente à Catedral de Saint Patrick. Ha­ via cerca de cem pessoas ao redor, ouvindo. Parei por alguns instantes, e então o homem, rouco de tanto gritar, convidou alguém que quisesse dar um testemunho a subir na sua escadinha. Certamente eu não tinha planejado isso, mas de repente me en­ contrei em pé, ali, em meu uniforme da marinha, pregando. O ministério de rua não é popular, nem fácil. Mas, posteriormente, descobri que um dos diáconos da minha igreja tinha se convertido em uma reunião de rua. Paulo nos mostrou, em Atenas, que não é errado adotar métodos não ortodoxos para alcançar pesso­ as que, de outra maneira, não ouviriam.

Entendendo o Texto “Uma grande multidão de gregos religiosos e não poucas mulheres distintas” (At 17.1-9). Paulo conti­ “Esse, pois, que vós honrais não o conhecendo é o nuou a pregar o evangelho, primeiramente ao seu que eu vos anuncio” (At 17.18-32). O sermão de

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Paulo no Areópago é um clássico exemplo do que hoje em dia é chamado de “contextualização”. Ele não começou com citações das Escri­ turas dos judeus, nem uma revisão da história dos hebreus. Em vez disso, Paulo recorreu a po­ etas gregos e pagãos para estabelecer um ponto de contato, e então prosseguiu, proclamando a verdade de Deus. Paulo não usou autores pagãos como autoridades, e o uso que ele fez não sugere que o que eles diziam fosse necessariamente a verdade. Mas as suas citações definiram o am­ biente para os seus ensinamentos. Essa mensagem confrontou diretamente a perspec­ tiva dos seus ouvintes. Deus é o Criador do mundo e de tudo o que há nele. Deus é o Criador de todos os homens, e todos devem responder a Ele. E igno­ rância pensar no Ser divino em termos de ídolos de ouro, prata ou pedra. Um dia de juízo se aproxima, e a prova é que Deus ressuscitou Jesus dos mortos. Uma coisa é encontrar um ponto de contato, para que possamos contar-lhes sobre um Deus ao qual não conhecem. Outra coisa, completamente dife­ rente, é abandonar a verdade bíblica, para que o que dizemos possa ser mais “aceitável” a eles.

“Como ouviram falar da. ressurreição dos mortos, uns escarneciam” (At 17.32-34). Se Paulo tivesse falado apenas sobre a imortalidade, sobre a alma, muitos mais poderiam ter ouvido. Essa crença tinha raízes profundas na filosofia grega. Mas Paulo falou da ressurreição, uma pedra fundamental da fé cristã e uma revelação bíblica. Lucas nos diz que, quando Paulo estava transmi­ tindo esse ensinamento, alguns zombaram — mas outros desejaram ouvir Paulo falar novamente so­ bre o tema. E nossa tarefa, como foi a de Paulo, apresentar a verdade de Deus sem nos desculpar àqueles que não o conhecem. Hoje em dia, alguns também irão ridicularizar e lhe darão as costas. Mas alguns continuarão voltando, e alguns deles crerão. “Certo judeu por nome Aquila” (At 18.1-3). Esse homem e sua esposa, Priscila, exemplificam a mobilidade das pessoas, no Império Romano do século I. O casal tinha sido expulso de Roma, e se estabeleceu em Corinto (v. 1); depois foram para Efeso (v. 19), e posteriormente são encontrados de novo em Roma (Rm 16.3). Eles fabricavam tendas, por profissão, e eram bem-sucedidos, pois a sua casa era grande o suficiente para que grupos da igreja se encontrassem ali. Essa liberdade de viajar foi essencial para a disseminação do evange­ lho no século I, e os primeiros cristãos se aprovei­ taram plenamente disso.

Hoje, devemos aproveitar todas as oportunidades que a sociedade nos der para transmitir o evange­ lho nos lugares onde Deus é desconhecido.

“Priscila e Aquila” (At 18.18). A primeira vez em que Lucas mencionou esse casal, Aquila foi citado em primeiro lugar. Isso é apropriado. No mundo do século I, os homens eram os líderes da casa. Mas todas as outras menções a esse casal nas Escrituras colocam Priscila em primeiro lugar. Ao que tudo indica, ela causava a impressão mais forte, e pos­ sivelmente liderasse as atividades ministeriais do casal. E provável que o relacionamento de Paulo com mulheres como Lídia, de Filipos, as “mulheres dis­ tintas” de Tessalônica, Dâmaris de Atenas e Prisci­ la de Corinto tivesse ajudado a moldar a visão do apóstolo sobre as mulheres e o seu lugar no minis­ tério, muito mais liberal do que normalmente lhes é reconhecido. “Sendo Gálio procônsul da Acaia” (At 18.7-17). A resposta dos gentios coríntios ao evangelho no­ vamente despertou a hostilidade dos judeus des­ crentes. Nessa ocasião, Gálio, famoso na história secular, era procônsul. Gálio era irmão de Sêneca, o filósofo e político, e era um homem influente por seus próprios méritos. Quando os judeus tentaram levar Paulo à corte, com a acusação de ensinar uma religião ilícita, Gálio rejeitou o caso. Ele estava disposto a ouvir casos civis e criminais, mas não disputas religiosas. Essa decisão, por um procônsul famoso e muito respeitado, estabeleceu um precedente, e por mais de uma década o cristianismo teve a proteção de

Atos 17.18-33: Enquanto estava em Atenas, Paulo falou aos filósofos no Areópago, aqui mostrado. A sua men­ sagem sobre a natureza de Deus e a ressurreição parecia tolice para a maioria deles. Mas alguns creram, incluin­ do um homem chamado Dionísio, que era membro do “Conselho de Ares”, o governo local.

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uma fé lícita. Durante esse período, Paulo pregou Mais uma vez, um ataque dos inimigos de Paulo livremente nas províncias, sem medo de entrar em era desviado por Deus, e até mesmo usado para tornar a comunidade cristã mais segura. conflito com a lei romana.

DE V OCIONAL_______ Fale — sabiamente

(At 18.18-28) Sempre me encolho um pouco quando ouço as pessoas falando sobre “lutar” pela fé. Tenho essa imagem do sujeito de rosto amargu­ rado que, na saída da igreja, diz ao pregador (em voz alta) como o seu sermão distorceu o texto da manhã. Ou o jovem que visitou a nossa congrega­ ção em uma manhã de domingo, e ostentosamente saiu quando Ruth Flood, que tinha sido uma pro­ fessora de oratória em diversos cursos cristãos, fez a leitura das Escrituras no púlpito. Ele nos deu a entender que éramos ignorantes do fato de que as mulheres não devem subir naquela plataforma. Ele estava lutando pela verdadeira fé. Na verdade, há ocasiões em que qualquer um de nós precisa ser informado ou corrigido. Mas a ma­ neira como uma pessoa tenta esclarecer a ignorân­ cia de outra faz uma grande diferença. Existe uma maneira correta, e uma maneira errada, de fazer isso. Priscila e Áquila nos mostram a maneira correta. Um vigoroso pregador, chamado Apoio, veio à ci­ dade, ensinando sobre a vinda iminente do Mes­ sias. Ele conhecia as Escrituras, porém jamais tinha ouvido falar de Jesus. Tudo o que ele sabia era que João Batista havia aparecido na terra natal, e dissera que o Prometido iria chegar. Isso era suficiente para Apoio, e ele continuava pregando as Boas-Novas, como as conhecia. Teria sido fácil para Priscila e Áquila levantar-se naquela reunião e atualizar Apoio. Ou corrigi-lo quando estivessem se cumprimentando, na saí­ da. Em vez disso, o casal o convidou para jantar, quando o cumprimentaram pelas suas palavras, e “lhe declararam mais pontualmente o caminho de Deus”. Que modelo para seguirmos. Certamente, deseja­ mos esclarecer mal entendidos, e esclarecer as pes­ soas que adoram um Deus ao qual não conhecem de verdade. Mas devemos fazer isso de maneira sá­ bia. Não em público, quando alguém poderá ficar constrangido. Mas no calor da nossa casa, ou na privacidade de uma conversa amigável. Na verdade, suspeito que Apoio fosse um homem muito grande e sincero demais para ter ficado in­ diferente, ainda que Priscila e Áquila tivessem sido muito insolentes como alguns de nós, cristãos, so­ mos. Assim, talvez Lucas nos conte a história mais

como um lembrete do que outra coisa. A melhor maneira de apresentar um Deus desconhecido não é “lutar”, de maneira alguma, mas, em um espírito caloroso e amoroso, compartilhar o nosso conheci­ mento das grandes e maravilhosas Boas-Novas de Deus. Aplicação Pessoal A sensibilidade aos sentimentos das outras pessoas abre os ouvidos delas. Citação Importante Para mim, o mais importante foi não a verdade que você ensinou, Tão clara para você, tão obscura para mim, Mas a percepção dEle que você me trouxe! E a partir dos seus olhos Ele acena para mim, e do seu coração o seu amor se derrama, A tal ponto que deixo de ver você, e vejo somente o Cristo, em seu lugar. — Autor desconhecido 25 DE SETEMBRO LEITURA 268 ENCOM ENDADOS A DEUS Atos 19—20

Agora, pois, irmãos, encomendo-vos a Deus e à pa­ lavra da sua graça; a ele, que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados” (At 20.32). Dizer adeus se torna mais fácil quando sabemos que Deus estará com nossos entes queridos. Contexto Éfeso. A cidade de Efeso tinha sido um grande centro comercial, além do centro asiático do culto religioso a Ártemis (Diana). Ao longo dos séculos, as áreas arborizadas foram desmatadas, e o porto de Efeso gradualmente se encheu de sedimentos. Na época de Paulo, a economia de Éfeso dependia muito do templo de Ártemis, que era considerado uma das maravilhas do mundo antigo. O ministé­ rio de Paulo foi tão eficaz que os comerciantes que dependiam da venda de medalhas religiosas viram seu negócio desmoronar dramaticamente. O resul­ tado foi uma intensa hostilidade contra Paulo e sua mensagem.

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Visão Geral Em Efeso, Paulo falou sobre Cristo aos discípulos de João Batista (19.1-7). O seu ministério de dois anos foi apoiado por milagres (w. 8-16), e rendeu tantos convertidos (w. 17-22) que ameaçou o comércio que estava sediado no templo, dos artesãos de prata efésios que se revoltaram (w. 23-41). Paulo revisitou as suas igrejas na Macedônia (20.1-6). Em Trôade, Eutico morreu, e foi ressuscitado (w. 7-11). Paulo parou perto de Efeso, e se despediu, pela última vez, dos anciãos daquela igreja (w. 12-38). Entendendo o Texto “O batismo deJoão ” (At 19.1-7). Décadas depois da morte de Jesus, havia judeus no Império Romano que sabiam de João Batista e aceitavam a sua men­ sagem, mas não tinham ouvido falar de Jesus. Não havia meios de comunicação em massa: a informa­ ção era transmitida oralmente. Os 12 judeus que Paulo encontrou quando chegou a Efeso tinham sido batizados por João anos antes, provavelmente em uma peregrinação a uma das grandes festas reli­ giosas em Jerusalém. O seu comprometimento era real, no entanto, e quando ouviram falar de Jesus, creram no evangelho. Esse é o terceiro caso “incomum” no livro de Atos de recebimento do Espírito Santo. Aqui, como em Samaria, aconteceu pela imposição de mãos. E aqui, como na casa de Cornélio, a vinda do Espíri­ to foi marcada pelo falar em línguas. Por que aqui? Talvez pela mesma razão por que o ministério de Paulo em Efeso foi marcado por inúmeros milagres “incomuns”. Efeso era um centro de atividade so­ brenatural maligna. Deus, por intermédio de Pau­ lo, demonstraria a verdadeira sobrenaturalidade. De vez em quando, o incomum marca a nossa ex­ periência cristã. Mas não devemos esperar sinais sobrenaturais todos os dias. Se eles acontecessem todos os dias, não seriam incomuns. E logo estarí­ amos vivendo pela visão, e não pela fé.

nos mostrará alguma maneira para compartilhar­ mos a nossa fé.

“Deus, pelas mãos de Paulo, fazia maravilhas extra­ ordinárias” (At 19-11-20). A prática de magia era comum no século I, em especial no centro de cul­ tos de Efeso. O objetivo da magia era manipular supostos poderes sobrenaturais para proteger o indivíduo, ou obter alguma vantagem sobre outra pessoa. E significativo que os milagres “extraordi­ nários” de Paulo fossem realizados ali, e não, diga­ mos, em Atenas. Deus com frequência decide satisfazer os seres hu­ manos onde eles se encontram. Na intelectual Ate­ nas, Paulo fez uma defesa filosófica da fé. Em Efeso, onde reinavam a prática de magia e a superstição, fo­ ram realizados milagres. Em qualquer terreno onde Satanás decida guerrear, a sua derrota é certa.

“Sete filhos de Ceva, judeu, principal dos sacerdotes” (At 19.13-16). Na prática da magia antiga, conhe­ cer “nomes” era crucial, pois quem conhecesse o nome de um ser sobrenatural era considerado ca­ paz de ter acesso ao seu poder. Por esse motivo, os mágicos judeus eram tidos em alta consideração. Dizia-se que os sacerdotes ju­ deus, em especial, conheciam o nome secreto do mais poderoso Deus de todos. Essa reputação deri­ vava, em parte, da reverência dos judeus pelo nome pessoal de Deus, Jeová, que jamais era pronuncia­ do em voz alta por um judeu religioso. Ao que parece, a família de Ceva, um sacerdote judeu, vivia confortavelmente em Efeso graças à prática de magia. Quando Paulo apareceu, e co­ meçou a expulsar demônios e a curar no nome de Jesus, a família decidiu acompanhar o “nome” mais poderoso. Não funcionou. Proferir o nome de Jesus não é chave para o poder sobrenatural. A chave está em ter um relacionamento pessoal com Jesus e estar disponível a Ele. Não somos nós que usamos o pre­ “Na escola de um certo Tirano”(At 19-8-10). Muitos cioso nome de Jesus. Ele nos usa, para realizar os comentaristas acreditam que Tirano alugava a sua seus propósitos. sala de conferências para professores itinerantes, para palestras públicas. As palestras e discussões di­ “Feita a conta do seupreço” (At 19.17-22). Em Efeso, árias de Paulo alcançavam “todos os que habitavam o impacto do movimento de Jesus foi demonstrado na Ásia, tanto judeus como gregos” (v. 10). pela queima de livros sobre magia, que valiam o equi­ Paulo sempre encontrava uma maneira de alcançar valente a 50 mil dias de trabalho! Como você sabe o povo. Nós também podemos. Recém-converti- se uma conversão é verdadeira? Uma boa maneira é do, comecei um estudo bíblico, à hora do almoço, verificar o balanço final. As pessoas que limpam suas na minha base da Marinha. Dois funcionários civis vidas do que é mau, ainda que isso lhes custe dinhei­ participavam, mas nenhum dos meus colegas da ro, provavelmente têm uma fé que é real. Marinha. Assim, comecei a afixar um “versículo do dia” no quadro de avisos, ao lado da cafeteira do “Cumpridas estas coisas, Paulo propôs, em espírito, ir a escritório. Se olharmos à nossa volta, Deus sempre Jerusalém” (At 19.21,22). A maior paixão de Paulo

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era pregar o evangelho onde jamais tivesse sido ou­ vido. Com evidência de que uma forte igreja agora estava estabelecida em Efeso, Paulo estava pronto a seguir adiante. A maioria de nós tem a tendência de acomodar-se com o sucesso e desfrutar dele. Paulo estava sempre procurando novos desafios. Conheço alguns cristãos mais velhos que com­ partilham da visão de Paulo. A “aposentadoria”, para eles, significou mais tempo para o ministério. Um carpinteiro aposentado faz viagens regulares a campos missionários para ajudar com constru­ ções. Uma avó tem mais tempo para passar com os deficientes mentais aos quais ela serve. A melhor maneira de conservar-se jovem é manter-se ativo, servindo a Deus e aos outros.

“O próprio templo da grande deusa Diana seja es­ timado em nada” (At 19.23-34). A “grande deusa Diana” merecia ser desacreditada. Essa não era a Diana da mitologia grega, mas uma deusa da Terra, uma “mãe terra” de múltiplos seios. Suas qualida­ des morais e espirituais se refletiam na prática da magia, que prosperava em Efeso. Então, como agora, a prática de magia era um de­ sesperado esforço para controlar as forças sobrena­ turais. Vivemos em um mundo sobre o qual temos pouco controle, e estamos sujeitos a forças aparen­ temente impessoais. A atual fascinação pelo satanismo na nossa cultura nos lembra de que, quando o materialismo deixa de nos satisfazer, e existe um vácuo religioso, as pessoas logo se tornam presas do maligno. Em Efeso, a vinda do evangelho reverteu essa si­ tuação a tal ponto que não apenas havia livros so­ bre magia sendo queimados, mas existia uma séria ameaça à adoração no templo de Àrtemis. O evangelho, e somente o evangelho, pode desa­ creditar o mal e reverter as tendências vistas atual­ mente na nossa sociedade.

Os cristãos têm uma mensagem positiva a trans­ mitir. Mas ela somente será transmitida se todos os cristãos se envolverem. Uma pesquisa com dois mil membros da Igreja Unida de Cristo, de mais de 200 congregações nos EUA, revelou que os membros de uma igreja de 1,6 milhões de membros se sentem extremamente desconfortáveis quando têm que falar sobre a sua fé. Outras grandes igrejas, preocupadas com uma queda na quantidade de seus membros desde os anos 1960, agora tentam enfatizar a evangelização. E fácil acusar as igrejas liberais por não terem uma fé digna de ser comentada. Mas isso seria não compreender o principal. Todo cristão, e existem muitos em cada tradição cristã, deve tes­ temunhar. Talvez fosse útil se todos percebêssemos, como parece que os cristãos efésios perceberam, que tes­ temunhar é simplesmente uma apresentação po­ sitiva de Jesus, e não um ataque a outras crenças. Quando as pessoas se voltam para Cristo, não so­ mente a magia, mas os templos modernos de reli­ giões falsas são automaticamente desacreditados.

“Nem são sacrílegos nem blasfemam da vossa deusa” (At 19.35-41). Um escrivão da cidade silenciou os agitadores e os mandou para casa. A sua revisão da situação foi fascinante, pois forneceu uma noção da evangelização eficaz. Os cristãos não falavam contra Àrtemis, mas a favor de Jesus.

“Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e alargou a prática até à meia-noite” (At 20.7-11 )■ Não é a ressurreição de Eutico que me fascina nesse parágrafo. E Paulo, primeiramente falando até meia-noite, e depois fazendo uma pausa, e prosseguindo até a alvorada. Lembro-me de quando estava namorando, nos meus tempos de Marinha, em Nova York. Eu saía com a minha namorada, depois ficávamos no car­ ro diante da casa dela, e conversávamos durante horas. Finalmente, ela entrava, e eu voltava para a minha base, algumas vezes quase adormecendo no caminho. Por que continuar falando, até estar prestes a adormecer? Amor. De alguma maneira, você não consegue se separar, ainda que seja por pouco tempo. Penso que era isso o que estava acontecendo aqui. Paulo estava deixando pessoas às quais ele amava. Sim, ele tinha algumas coisas que desejava dizer. Mas o que o motivava a falar até o amanhecer, e o que mantinha as pessoas ali, para ouvi-lo, era o amor.

(At 20.13-37) A cena é tocante. Quando Paulo se despediu dos anciãos de Efeso, sabia que eles jamais vol­ tariam a se encontrar nesta vida. Lucas, que ob­ servava, disse: “Levantou-se um grande pranto

entre todos e, lançando-se ao pescoço de Paulo, o beijavam” (v. 37). Foi uma despedida triste, mas carinhosa. De alguma maneira, em apenas dois curtos anos, uma ligação indestrutível ti­ nha sido formada entre Paulo e esses conver­ tidos.

DEV OCIONAL_______ Despedidas Carinhosas

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Talvez pareça estranho para nós, porque vivemos em uma sociedade extremamente impessoal. Poucos de nós, ao nos despedirmos de amigos que fizemos durante uma estada de dois anos em algum lugar, teríamos nos deparado com tanta emoção. Mas, se examinarmos com cuidado as observações de despedida de Paulo, poderemos ver o que tornava essas pessoas tão ligadas a ele. E aprendemos como nos conectar aos outros. Como? Paulo deixava que as pessoas soubessem como ele vivia (v. 18). Na nossa sociedade, temos a tendência de manter as pessoas afastadas. Paulo abriu sua vida, e convidou as pessoas para verem e conhecerem o Paulo verdadeiro. Assim, ele disse “Sabeis” diversas vezes quando reviu seu modo de vida em Éfeso. Estar disposto a estar aberto é a chave para construir a intimidade. Paulo servia ao Senhor com humildade (v. 19). O que dava a Paulo tal integridade era o fato de que ele m antinha um relacionamento íntimo com o Senhor. Um caminhar íntimo com Deus dá a nossas vidas uma autenticidade que possibilita que os outros confiem em nós. Paulo não hesitava em ser útil (vv. 20,21). Isso significava falar sobre Jesus, além de dar outros tipos de ajuda. Se você e eu realmente nos pre­ ocuparmos com outras pessoas, iremos oferecer qualquer ajuda que pudermos, com um espírito de amor. E seremos amados em retribuição. Paulo era um exemplo de valores cristãos (w. 33-35). Paulo decidiu ganhar o seu sustento em vez de ser sustentado pelas doações daqueles aos quais ensinava. Embora Paulo tivesse direito a tal sustento, ele decidiu viver como um exemplo de valores cristãos em ação. Essas qualidades combinadas criavam um elo de profundo amor e afeto entre Paulo e os efésios. E essas mesmas qualidades podem criar laços de afeição entre nós e os outros hoje em dia. Não devemos reclamar sobre a dificuldade de fazer amigos na nossa sociedade impessoal. De­ vemos convidar os outros à nossa vida, servir ao Senhor com humildade, jamais hesitar em ser úteis, e viver os nossos valores cristãos.

26 DE SETEMBRO LEITURA 269 ... A CAM INHO DE JERUSALÉM Atos 21— 22 “Eles, pelo Espírito, diziam a Paulo que não subisse a Jerusalém. E, havendo passado ali aqueles dias, saí­ mos e seguimos nosso caminho” (At 21.4,5). As vezes, temos que escolher um caminho que sa­ bemos que nos reserva perigos. Visão Geral Paulo partiu para Jerusalém, apesar das advertências (21.1-16). Ele foi recebido por cristãos de Jerusa­ lém (w. 17-20), mas lhe pediram que mostrasse a sua dedicação pessoal à Lei do Antigo Testamento, pagando as despesas de homens que cumpriam um voto nazireu (w. 21-26). Paulo foi acusado por ju­ deus da Ásia, e quase foi morto no tumulto (w. 2732). Salvo pelo exército romano (w. 33-40), Paulo contou à multidão sobre a sua conversão (22.1-20). Quando Paulo mencionou a sua comissão de ir até os gentios, eles clamaram pedindo a sua morte (w. 21-24). Paulo, então, afirmou seus direitos como um cidadão romano (w. 25-30).

Aplicação Pessoal Seja um amigo cristão, e você fará amigos.

Entendendo o Texto “Diziam a Paulo que não subisse a Jerusalém” (At 21.16). Lucas parecia traçar um paralelo entre a determi­ nação de Jesus de aceitar a cruz, e o comprometimen­ to de Paulo em enfrentar o perigo em Jerusalém. Jesus sabia o que o esperava. Paulo também soube, pelo Espírito, o que o esperava. Como Cristo, Paulo se re­ cusou a ter medo, mas se dispôs a cumprir a vontade de Deus, qualquer que fosse o custo. Alguns argumentaram que Paulo foi voluntaria­ mente desobediente ao ir a Jerusalém. Afinal, não foi “pelo Espírito” que os discípulos, perto de Tiro, insistiram que Paulo não prosseguisse? Parece me­ lhor interpretar a expressão “pelo Espírito” como se referindo à maneira como esses crentes souberam que Paulo estaria em perigo. A sua conclusão, “en­ tão não continue”, era deles mesmos. Devemos nos lembrar de que o perigo, sozinho, não é razão suficiente para retroceder. Devemos também nos lembrar de que cada um de nós é responsável por determinar a vontade especial de Deus para si mesmo. Os outros podem nos aconse­ lhar. Mas nós devemos responder ao Espírito San­ to, que fala dentro de nós.

Citação Importante “Você pode fazer mais amigos em dois meses, inte­ ressando-se pelas outras pessoas, do que poderia fa­ zer em dois anos tentando fazer com que as outras pessoas se interessem por você.” — Dale Carnegie

“Isto diz o Espírito Santo” (At 21.7-16). É apenas natural que, depois de ouvir essa mensagem, os amigos cristãos de Paulo lhe rogassem “que não su­ bisse a Jerusalém”. Esse era o erro em sua resposta! Era somente “natural”.

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Esse foi um daqueles momentos em que a men­ sagem não pretendia mudar a ideia de Paulo, mas provocar um apoio intensificado de oração por ele. Novamente, aqui temos um paralelo com os últimos dias de Cristo. Quando Jesus falou da sua morte iminente, os seus discípulos responderam, rapidamente: “De modo nenhum” (cf. M t 16.22). Quando os outros tomam uma decisão difícil, não devemos dificultá-la para eles, insistindo que to­ mem um caminho mais fácil. Devemos dar-lhes nosso apoio, prometer nossas orações e dizer, como os cristãos de Cesareia finalmente disseram: “Façase a vontade do Senhor!”

O nosso governo, como o da Roma antiga, certa­ mente tem defeitos. Mas a lei deve ter preferência à regra da multidão, que decerto a substituiria. Po­ demos ser particularmente gratos àqueles que assu­ mem a responsabilidade de manter a lei e a ordem hoje em dia.

“Ouvi agora a minha defesa” (At 22.1-20). A multidão estava tão confusa quanto os romanos quanto ao motivo por que Paulo estava sendo atacado. Ninguém tinha parado para se informar dos fatos. A “defesa” de Paulo, feita em aramaico, a língua cotidiana dos judeus, foi biográfica. Paulo estabeleceu a sua identidade com os seus ouvintes, por terem o mesmo compromisso com o Deus de Israel, e então falou da sua conversão. No judaísmo, a ortopraxia (comportamento orto­ doxo; observância da lei ritual) era, pelo menos, tão importante quanto a ortodoxia (a crença or­ todoxa). Também a literatura religiosa dos judeus do século I é abundante com histórias de visões, de modo que o relato de Paulo deve ter captado o interesse dos seus ouvintes. Como tinham dito os anfitriões de Paulo, havia “milhares de judeus” que acreditaram em Jesus, “e todos são zelosos da lei” (21.20). Naquela sociedade, a menção a Jesus não era suficiente para colocar a multidão contra Paulo. Paulo era um mestre em identificar-se com aque­ les aos quais ele ministrava. Ele usou esse dom para compartilhar Cristo por todo o mundo. De­ vemos ser sensíveis às crenças e aos preconceitos dos outros. Eles podem se sentir ofendidos pelo evangelho. Mas que não seja porque nós somos ofensivos.

“Milhares de judeus há que creem, e todos são zelosos da lei” (At21.17-28). Não se esperava que os judeus cristãos abandonassem o judaísmo, tanto quanto não se esperava que os cristãos gentios abandonas­ sem sua cultura e sua herança. Mas a missão de Paulo aos gentios tinha estimulado boatos de que ele era contra o judaísmo. Para tranquilizar a co­ munidade cristã dos judeus, Paulo pagou as despe­ sas de quatro pessoas que estavam cumprindo um voto nazireu. Isso era considerado uma “boa obra” no judaísmo, e mostraria que Paulo não era contra o judaísmo. Alguns condenaram Paulo pelo seu ato, afirmando que ele tinha feito concessões às suas convicções. Dificilmente. Em vez disso, o ato mostra que Paulo era muito mais sensível ao significado da liberdade do que os seus críticos! Assim como os gentios eram livres para adorar a Deus, independentemente dos rituais judeus, também os cristãos judeus eram li­ vres para adorar, dentro da sua herança. Você e eu provavelmente seremos criticados pelos outros se conservarmos uma visão de liberdade de fato cristã. E assim mesmo. Assim como Paulo estava disposto “Hei de enviar-te aos gentios de longe” (At 22.21a sofrer em Jerusalém, sob a orientação do Espí­ 23). As vezes, a própria verdade é ofensiva às pes­ rito, estava disposto a ser criticado. Também nós soas. Devemos tentar evitar as verdades ofensivas? devemos estar. Quando Paulo falou da sua comissão para ir aos gentios, novamente a multidão pediu a sua morte. “Tomando logo consigo soldados e centuriões, correu A noção de que Deus aceitava os gentios da mesma para eles” (At21.27-36). Alguns judeus da Ásia, em maneira como aceitava os judeus era totalmente re­ visita a Jerusalém, reconheceram Paulo, e supuse­ pugnante a esse povo que, durante séculos, tinha se ram que ele tinha trazido um gentio a uma área julgado como o povo escolhido de Deus. proibida do Templo. O seu clamor deu início a um E necessário ter uma verdadeira sabedoria para sa­ tumulto e um ataque sobre um inocente Paulo. ber como partilhar a verdade de Deus com os ou­ Alguns podem, hoje em dia, chamar o Império Ro­ tros. A resposta à defesa de Paulo em Jerusalém nos mano de tirania. De muitas maneiras, realmente lembra de que, por mais prudentes que possamos era. Mas quando o capitão do exército romano em ser, a verdade às vezes será rejeitada — e nós sere­ Jerusalém ouviu o tumulto, imediatamente correu mos rejeitados com ela. para a multidão e resgatou Paulo. Eventos poste­ riores mostraram que ele pensava que Paulo era “Eu sou-o [romano] de nascimento” (At 22.22um notável revolucionário. Ainda assim, o capitão 30). Quando os romanos não foram capazes de romano devia impor a lei. explicar o motivo do tum ulto, o capitão ordenou

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que Paulo fosse examinado sob tortura. Isso en­ volvia ser espancado com um açoite, um chicote de couro guarnecido com peças pontiagudas de metal ou osso. Era ilegal submeter um cidadão romano a esse tipo de tortura. Quando Paulo reivindicou a cidadania, o capitão romano cor­ reu para soltá-lo. Uma reivindicação verbal de cidadania era tudo o que era necessário no século I; a punição para a mentira sobre a cidadania era a morte. Paulo não hesitou em reivindicar seus direitos le­ gais quando viajava pelas terras do império. Nós podemos nos orgulhar também da nossa cidadania,

DEV OCIONAL_______ A Vontade Especial de Deus (At 21.1-36) O meu velho professor de educação cristã, no Se­ minário em Dallas, nos contou sobre uma mulher que, quando ele era um aluno do seminário, trans­ mitiu uma informação empolgante. Deus tinha dito a ela que o Sr. Howard Hendricks iria se casar com a filha dela! Essa empolgante revelação era transmitida com regularidade, até que Howie finalmente disse: “Va­ mos esperar, até que Deus me diga isso”. Deus jamais lhe disse, e posteriormente Howie ca­ sou-se com Jean, que há muitos anos é a sua amada esposa. A história exemplifica a confusão que existe sobre conhecer a vontade especial de Deus. Como “von­ tade especial”, quero dizer a vontade dEle para cada um de nós, como indivíduos, e não a sua vontade geral para todos os crentes, conforme revelado nas Escrituras. A orientação referente a quem devemos desposar, qual profissão seguir, quando ou como prosseguir, são exemplos dessa orientação “espe­ cial” que queremos de Deus, mas que não podere­ mos conseguir lendo apenas um versículo ou uma breve passagem bíblica. Diversas coisas em Atos 21 nos ajudam a pensar mais claramente sobre a vontade especial de Deus para nós. E a primeira delas é o fato de que a von­ tade de Deus para o indivíduo deve ser identificada pelo próprio indivíduo, não por outras pessoas. Isso foi verdade para Howie Hendricks. Aquela mãe não tinha nenhum direito de dizer a ele que era a vontade de Deus que se casasse com filha dela. Isso foi verdade para o apóstolo Paulo. Os crentes de Tiro (w. 1-6) e de Cesareia (w. 8-12) não ti­ nham nenhum direito de dizer a Paulo que era a vontade de Deus que ele não subisse a Jerusalém. E isso é verdade para você e para mim.

e devemos afirmar ativamente os nossos direitos, sob a lei, de praticar a nossa fé. Hoje, esses direitos estão, na verdade, sendo desa­ fiados em muitas frentes. A Sociedade Legal Ame­ ricana começou a realizar seminários sobre como processar igrejas e organizações religiosas. Logo virá o dia quando muitos desafios legais aos nossos direitos constitucionais serão feitos, e todos nós te­ remos que tomar uma posição. Paulo tinha seguido a liderança de Deus e tinha vindo a Jerusalém. Ele fora atacado. Mas Deus agiu para proteger o seu servo. Deus nos protegerá, se seguirmos hoje a sua liderança.

Um segundo princípio útil é o de que a vontade de Deus não pode ser determinada pelo que parece pru­ dente ou conveniente. Quando a filha de EUa come­ çou a visitação no centro de Chicago, sua mãe subur­ bana ficou aterrorizada. Ela estava disposta a ver a sua filha ir à África como missionária. Mas a Chicago? Era perigoso demais! Contudo, durante os seus meses em Chicago, Deus não somente conservou a sua filha a salvo, como lhe deu um ministério eficaz. Finalmente, nem mesmo um “resultado desastro­ so” é uma indicação segura de que algo não seja a vontade de Deus. Nós não podemos adivinhar, nem os outros. Paulo quase foi morto e foi preso em Jerusalém. Mas Deus converteu esse desastre em beneficio de Paulo e seu próprio. Depois de algum tempo, o apóstolo foi trazido a Roma, e ali recebeu membros da “casa de César” (Fp 4.22). Nós, cristãos, cremos em um Deus que é soberano, e em um Espírito Santo que habita em nós e nos guia pela vida. Parte da nossa responsabilidade é ser sensível ao Espírito, e procurar a sua liderança. Viver uma vida cristã responsável significa, em parte, acei­ tar a responsabilidade pelas nossas próprias escolhas, e fazer a vontade de Deus quando a entendermos. Aplicação Pessoal Ouça os conselhos das outras pessoas. Mas seja li­ derado por Deus. Citação Importante “O método mais seguro de chegar a um conheci­ mento dos propósitos eternos de Deus para nós deve ser encontrado no uso correto do momento atual. A vontade de Deus não vem até nós na ínte­ gra, mas em fragmentos, e geralmente em pequenos fragmentos. A nossa tarefa é juntar os fragmentos, e vivê-los como uma vocação ordenada.” — F. B. Meyer

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27 DE SETEMBRO LEITURA 270 PAULO EM JULGAMENTO Atos 23—24

“Cinco dias depois, o sumo sacerdote, Ananias, des­ ceu... compareceram perante o governador contra Paulo” (At 24.1). A melhor defesa é a simples verdade. Visão Geral A declaração de Paulo ao Sinédrio dividiu os seus membros (23.1-11). Os principais dos sacerdotes, então, aderiram a uma conspiração para assassinar Paulo (w. 12-15). O sobrinho de Paulo advertiu o capitão romano (w. 16-25), que enviou Paulo, sob forte segurança, para o governador romano em Cesareia (w. 26-35). No julgamento diante de Félix, Paulo disse a simples verdade (24.1-21). Félix, esperando receber um suborno, adiou a sua decisão por dois anos inteiros (w. 22-27). Entendendo o Texto “O sumo sacerdote, Ananias” (At 23-1-5). A ordem de Ananias para que ferissem Paulo pintava o seu caráter. Esse Ananias foi sumo sacerdote, de 48 a 59 d.C., e é mencionado em textos do século I. Josefo diz que ele roubou dízimos dados a sacerdotes comuns e subornou romanos e judeus. Ele é ridi­ cularizado no Talmude, e era odiado tanto por sua brutalidade quanto pela ganância. Foi morto por judeus na revolta de 66 d.C. Paulo não reconheceu Ananias como sumo sacerdote, porque a reunião foi convocada pelo capitão romano, que teria se assentado presidindo entre o Sinédrio, de um lado, e Paulo, do outro. A indignação de Paulo à ordem de que o ferissem era justificada (v. 3). Mas ele se desculpou, porque o cargo de sumo sacerdote exi­ gia respeito ainda que o homem que ocupasse esse cargo não o exigisse. No mundo secular e na igreja é correto demons­ trar respeito pelos cargos. Mas é ainda melhor certificar-se de que os cargos seculares e espirituais sejam ocupados por aqueles que têm caráter moral e integridade.

“No tocante ã esperança e ressurreição dos mortos sou julgado” (At 23.6-11). Os fariseus criam na ressur­ reição dos mortos e em anjos, ao passo que os saduceus não. Paulo se identificou com o primeiro grupo, e afirmou que a verdadeira questão da corte era a crença na ressurreição. Paulo foi criticado por sua declaração, que alguns interpretam como nada além de um truque, usado para ocultar a questão do seu comprometimento cristão. Mas a ressurreição é

a questão. Foi pela sua ressurreição dos mortos, es­ creveu Paulo na sua carta aos Romanos, que Jesus foi “declarado Filho de Deus em poder” (Rm 1.4). O tumulto que irrompeu “havendo dito isto” (At 23.7) evitou que Paulo desenvolvesse esse tema. Mas Paulo estava, claramente, lançando a fundação para outra apresentação das declarações de Cristo, encontrando um denominador comum com um grande segmento de seus ouvintes. A acusação de que Paulo usou um truque barato nos lembra do perigo de julgar os motivos dos ou­ tros. Os cristãos devem concordar com a avaliação de Deus de que alguns atos são pecaminosos. Mas não devemos julgar os motivos ou as convicções pessoais dos outros.

“Havendo grande dissensão” (At 23.10,11). A cren­ ça apaixonada é uma coisa; fazer violência a outras pessoas é outra. Paulo pode não ter ficado surpreso com a reação no Sinédrio, mas é evidente que ficou em perigo por ela. A tranquilização e a promessa de Deus eram especialmente bem-vindas nesse mo­ mento. Talvez Deus não fale conosco hoje como falou com Paulo, mas o Senhor fala conosco por meio das suas palavras ao grande apóstolo. As pa­ lavras “Tem ânimo” são para nós, em nossos mo­ mentos de agitação ou perigo. Esse é o sentido da promessa do Senhor. Assim como Deus tinha um propósito a ser cumprido por Paulo, também tem um propósito para que você e eu cumpramos. “Estesforam ter com osprincipais dos sacerdotes e an­ ciãos” (At 23.12-22). Os “principais dos sacerdotes e anciãos” eram membros do grupo dos saduceus. Eram também membros do Sinédrio, a suprema corte do judaísmo, responsável pela administração da Lei de Deus. Tudo o que podemos dizer sobre a disposição deles em aderir a uma conspiração para assassinar Paulo é que se tratava de uma revelação chocante do caráter deles. Mas não se importe com a hipocrisia deles. Precisa­ mos vigiar a nós mesmos! Você e eu precisamos ser vigilantes, e não professar valores cristãos e então agir de uma maneira que os negue. “Conjuramo-nos, sob pena de maldição, a nada provar­ mos” (At 23.14). Não suponha que os conspiradores passaram fome quando não mataram Paulo. As regras rabínicas permitiam que qualquer voto fosse quebra­ do, se incitado por outros, se envolvesse exagero, se feito por engano, ou se fosse impossível de cumprir. Em outras palavras, o juramento de não comer até depois de matar Paulo não queria dizer nada! Não é de admirar que Jesus, certa vez, insistisse com seus seguidores: “Seja, porém, o vosso falar:

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Sim, sim; não, não”. Se não formos pessoas de inte­ seus anos na Palestina viram inúmeras revoltas, e gridade, fazer um juramento não quer dizer nada. Félix usava, cada vez mais, métodos brutais para suprimi-las. Falar do governo de Félix como “um “Escreveu uma carta que continha isto ” (At 23.23- período de paz” e elogiar o governador por fazer 35). Quando a notícia da conspiração chegou até louváveis serviços era mais do que ridículo. o capitão romano, ele tomou medidas para enviar Como é estranho que aqueles que desejam set adu­ Paulo com forte escolta ao governador romano, em lados percam a perspectiva da realidade. Quanto Cesareia. O original deixa claro que Lucas não ti­ maior a mentira, mais bem-vinda parece. Não é nha a carta específica, mas que a carta do capitão de admirar que as Escrituras nos avisem: “Não se era similar ao resumo que Lucas inclui. achem melhores do que realmente são. Pelo con­ trário, pensem com humildade a respeito de vocês “Por tua prudência, sefazem a este povo muitos e lou­ mesmos” (Rm 12.3, NTLH). váveis serviços”(At 24.1-9). Era típico abrir um caso na corte com observações de adulação dirigidas ao “Paulo... respondeu” (At 24.10-21). A resposta de juiz. Mas as palavras dirigidas ao governador Félix Paulo foi bastante diferente da acusação. Ele não pelo orador contratado pelos principais dos sacer­ usou a adulação (v. 10). Ele se identificou como dotes, para fazer acusações contra Paulo, são tanto cristão (w. 14-16). E afirmou simplesmente os fa­ tos que refutavam as acusações. Ele somente tinha flagrantemente falsas quanto hipócritas. Félix nascera escravo, mas posteriormente tinha chegado a Jerusalém há doze dias: como poderia sido libertado pela mão do imperador Cláudio. O ser líder de qualquer revolta? (v. 11) Quando foi historiador romano Tácito chamou Félix de “um levado, estava sozinho: como poderia “alvoroçar” mestre de crueldade e luxúria, que exercia os po­ -sem falar com uma multidão? (w. 12,18). Quanto deres de um rei com o espírito de um escravo”. Os ao motivo por que estava em Jerusalém, ele veio

Cesareia Marítima (“junto ao mar”) era tão bem projetada por engenheiros que a própria ação do oceano conser­ vava o porto limpo de sedimentos como bancos de areia, e de descolamentos de areia. A bela cidade, decorada por Herodes, o Grande, com muitos edifícios públicos, era o maior porto marítimo da Palestina, e o centro adminis­ trativo romano. Paulo foi mantido ali, em prisão domiciliar, durante dois anos, antes de ser enviado a Roma para o julgamento (At 24—25).

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nar, nem mesmo para conservar Paulo preso. Pau­ lo foi absolvido? Não. O governador decidiu que seria conveniente usar de um atraso judiciário com a esperança de que os sentimentos ficassem menos intensos e de que Paulo pudesse suborná-lo para obter a sua libertação (v. 26). Estar correto não é garantia de absolvição nem de justiça. Toda a garantia que você e eu temos é que Deus está no pleno comando de nossas situações, e que Ele deseja o nosso bem.

para adorar e trazer ofertas de outros cristãos ao povo cristão de Jerusalém (w. 17,18). Se Paulo fos­ se culpado de alguma outra acusação, onde esta­ riam os seus acusadores? (v. 12) Essa última pergunta era significativa, pois a lei ro­ mana penalizava acusadores que cometessem destítutio, abandonando acusações feitas contra outra pessoa. Se não aparecessem acusadores, o signifi­ cado legal era o de retirada das acusações. Ficou claro, então, que não havia base legal para conde-

DEVOCIONAL_______ Ter Voz (At 24.1-27) Por um lado, Atos 24 parece ser uma derrota, ou pelo menos um revés para Paulo. Ele fez uma defe­ sa convincente perante o governador romano, Félix, e mostrou como era fraco o caso dos principais dos sacerdotes contra ele. Mas Félix se recusou a decidir o caso. Paulo foi posto em prisão domici­ liar, e assim foi mantido durante dois anos! Algum tempo depois, Félix e sua terceira esposa, Drusila, uma judia que abandonou seu marido Azizo para casar-se com Félix, ouviram Paulo discursar sobre “a justiça, e a temperança, e o Juízo vindouro” (v. 25). Félix se amedrontou e mandou Paulo embora. Somente a sua esperança de que Paulo lhe ofere­ cesse um suborno levava Félix a falar com Paulo de tempos em tempos. Isso parecia fracasso. Mas, na verdade, era sucesso! Pois Paulo, e o evangelho, tinham um público. É realmente o que nós, cristãos, queremos. Um pú­ blico. Não devemos esperar ser populares, ou que a maioria das pessoas tenha uma conversão instan­ tânea. Mas, pelo menos, devemos ter uma chance de ser ouvidos. É por isso que é significativo que poderosos sindica­ tos dos meios de comunicação, a American Federation of TV and Radio Artists (AFTRA — Federação Americana de Artistas de Rádio e TV) e o Screen Actors Guild (SAG — Sindicato dos Atores) dese­ jam censurar uma nova publicação chamada TV, destinada a registrar informações sobre as redes de televisão, os astros e o conteúdo dos programas. Os valores refletidos em T V são aqueles abraçados por Paulo, quando ele confrontou Félix e Drusila com o ensinamento bíblico “da justiça, e da temperança, e do Juízo vindouro”. Embora AFTRA e SAG sejam inflexíveis contra a censura na indústria do cinema e da TV, o ator John Randolph, que apresentou uma resolução na convenção nacional da AFTRA, con­ denando a revista TV, disse: “Eu quero que isso pare antes mesmo que comece”.

Aplicação Pessoal Não se sinta desencorajado se poucos responderem positivamente ao seu testemunho. Ter voz já é um grande sucesso! Citação Importante “O que o mundo espera dos cristãos é que os cris­ tãos falem alto, sim, alto e claro... de tal maneira que nem uma dúvida, nem a menor dúvida, surja no coração do homem mais simples.” — Albert Camus 28 DE SETEMBRO LEITURA 271 NOVAMENTE JULGADO Atos 25— 2 6 “Dele, porém, não tenho coisa alguma certa que es­ creva ao meu senhor e, por isso, perante vós o trouxe, principalmente perante ti, ó rei Agripa” (At 25-26). E imprudente julgar qualquer situação somente pelas aparências. Visão Geral Os principais dos sacerdotes pressionavam o novo governador romano para que os deixassem julgar Paulo, que então exercia o seu direito de exigir julga­ mento em Roma (25.1-13). Festo pediu conselho ao rei Agripa (w. 14-21). Agripa pediu para ouvir Pau­ lo (v. 22) e foi convidado para a mais famosa apre­ sentação do evangelho por Paulo (w. 23— 26.32). Entendendo o Texto “Festo... subiu dali a três dias de Cesareia a Jerusalém” (At25.1-7). Festo, que começou seu governo em 60 d.C., era um administrador justo, muito diferente dos governadores da Judeia, anteriores e posteriores a ele. Ao chegar à Judeia, subiu imediatamente a Jerusalém, para se encontrar com os líderes judeus. Essa era uma cortesia incomum, pois ele poderia tê-los chamado para que fossem à Cesareia.

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Os principais dos sacerdotes supuseram que esse era o momento ideal para pressionar pela retoma­ da do caso de Paulo, antes que o novo adminis­ trador compreendesse a situação. Lucas nos diz que o seu pedido, para que Paulo fosse trazido a Jerusalém, como um “favor” a eles, era parte de outra trama para fazer uma emboscada e matar Paulo (v. 3). Não há como dizer que Festo sus­ peitasse da insistência deles. De qualquer forma, Deus controlou a situação, e o novo governador romano decidiu ouvir o caso em Cesareia, quando retornasse. O antigo ditado “O homem propõe, mas Deus dis­ põe” ainda é verdadeiro.

“Apelo para César” (At 25-8-12). Quando Festo perguntou a Paulo se ele iria voluntariamente a Je­ rusalém, o apóstolo apelou a César. No século I, o direito de tal apelaçáo era limitado a casos extraor­ dinários, onde se pudesse impor a pena de morte, ou alguma punição violenta. A apelação solucionava um grande problema para Paulo e para Festo. O perigo para Paulo era que Festo, ainda não familiarizado com a cultura e as crenças dos judeus, pudesse tomar uma decisão im­ prudente. O problema para Festo era como ter um bom início no seu relacionamento com os judeus, e ainda tratar Paulo com justiça. Uma pessoa justa normalmente pode encontrar uma maneira de fazer o que é certo — ou, pelo menos, de evitar fazer o que é errado. “Agripa e Berenice” (At 25.13-21). Agripa era bis­ neto de Herodes, o Grande. Ele governava parte do antigo território familiar no norte da Judeia. Posteriormente, ele tentou, sem sucesso, impedir que os judeus da sua região se rebelassem contra Roma. A sua lealdade era apreciada, e ele recebeu grande parte das antigas terras da família para go­ vernar. Embora Berenice fosse sua irmã, também era co­ nhecida como sua amante. Ela se casou duas ve­ zes, e se tornou amante do general romano e mais tarde imperador Tito, mas passava a maior parte do seu tempo na corte de seu irmão. Quando Agripa fez uma visita de cortesia ao novo governador da Judeia, Festo pediu o seu conselho. Festo tinha sido incapaz de compreender a disputa entre Paulo e os principais dos sacerdotes. O que Festo poderia mencionar, como acusações contra Paulo, quando o enviasse a Roma para ali ser jul­ gado? Era uma posição invejável para Paulo — ou para qualquer cristão. Se formos aprisionados, que seja pela nossa fé, e não porque infringimos alguma lei.

“Bem quisera eu ouvir também esse homem” (At 25.22). Agripa estava completamente familiariza­ do com a fé dos judeus e, de acordo com Paulo, era conhecido por crer nos profetas (26.27). O seu interesse em ouvir Paulo pode ter sido motivado simplesmente por curiosidade. Mas a construção grega, “Bem quisera eu ouvir também esse ho­ mem”, sugere um interesse mais pessoal. Devemos ficar felizes, qualquer que seja o motivo que as pessoas têm para desejar ouvir o evangelho. “Permite-se-te que te defendas” (At 26.1-23). Esse é o terceiro relato, no livro de Atos, da conversão de Paulo. Dessa vez, Paulo enfatizou as suas raízes do judaísmo farisaico, a sua perseguição aos cristãos, e a sua descoberta, depois da sua visão na estrada para Damasco, de que a ressurreição de Jesus estava em plena harmonia com Moisés e os profetas. Não é tanto uma defesa, mas um apelo evangeli­ zador poderoso e direto a um governante que es­ tava intimamente familiarizado com o judaísmo e o Antigo Testamento. Mais uma vez, Paulo tinha demonstrado a sua maestria em levar a sua apresen­ tação do evangelho à pessoa que ele mais desejava que o ouvisse. “Estás louco, Paulo!” (At 26.24). Festo, completa­ mente ignorante do assunto, interrompeu as pala­ vras de Paulo sobre a ressurreição. Para os romanos, cujo ponto de vista estava limitado a este mundo, falar de mortos retornando à vida era algo realmen­ te louco. Muitos modernos compartilham da visão de Festo. A vida se limita aos nossos curtos dias nesta terra. Nós vivemos, nós morremos, e a morte é o fim. Um dia, o próprio universo irá piscar, quando o ca­ lor for tirado das últimas estrelas cintilantes, e uma escuridão interminável cairá. Falar de ressurreição, falar da vida após a morte, pode ser consolador. Mas é loucura. Talvez. Mas os Festos deste mundo precisam res­ ponder a uma pergunta. Se a crença na ressurreição é loucura, o que eles têm a perder, confiando em Cristo? Se a crença na ressurreição não é loucura, o que eles têm a ganhar? “Por pouco me queres persuadir a que me faça cristão” (At 26.28-32). A mensagem de Paulo tinha sido dirigida a Agripa. Agora, Paulo de­ safiava diretamente o rei. Uma vez que Agripa acreditava nos profetas, devia saber que o que Paulo disse era verdade. Agripa se equivocou. A sua resposta, “Por pou­ co me queres persuadir a que me faça cristão”, não era um sim nem um não. Na gíria moder­ na, Agripa “disfarçou”.

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Como é trágico quando algum de nós não está disposto a olhar além das aparências. Como é trágico quando o medo do que os outros pos­ sam pensar parece ser mais im portante para nós do que a verdade que somos convidados a aceitar.

Acho que posso compreender a situação de Agri­ pa. Aqui estava ele, no lugar exato no momento certo. Festo tinha acabado de chamar Paulo de louco. Se Agripa dissesse que acreditava no que Paulo proclamava, o governador romano não o julgaria louco também?

DEV OCIONAL_______ Bem-Vindo a Oz (At 25.24— 26.32) Quem consegue esquecer o Mágico de Oz, aquele mascate desajeitado que, escondido atrás de sua cor­ tina, manipulava uma imagem assombrosa que am­ plificava a sua voz e soltava uma fumaça assustadora naqueles que pediam uma audiência. Ele era uma fraude. Mas, pelo menos, era uma fraude adorável. Lembro-me do Mágico de Oz quando leio a descri­ ção feita por Lucas da pompa em que Festo, Agri­ pa, Berenice e seus “varões principais” entraram no tribunal. Quase podemos ouvir as trombetas soan­ do, e ver cada um deles na sua elegância. Aqui vêm eles, orgulhosos, ricos, poderosos. Assumindo suas elevadas posições, desprezando os simples mortais abaixo. E então entra Paulo. Um homem pequeno, subme­ tido ao peso das correntes, arrastando-se pela sala; ele para por um momento, e quando a investigação é formalmente entregue a Agripa, por Festo, Paulo inicia a sua defesa. O que é fascinante é perceber que o homem acor­ rentado — e não os ouvintes trajados com elegân­ cia — tem o verdadeiro poder. As suas palavras sobre um Cristo sofredor, sobre uma ressurreição dos mortos, isso é realidade. As espadas e lanças dos guardas, as armas usadas pelos oficiais ao lado do governador e do rei, são tão transitórias quanto as asas de uma borboleta. Precisamos nos lembrar de Oz. E nos lembrar de Paulo diante de Festo e Agripa. Assim como o Mágico de Oz era uma fraude, também o são os poderes deste mundo. Olhe atrás da cortina, veja a realidade, e eles desaparecem na insignificância. Olhe mais atentamente, e perceberá que o homem acorrentado estava livre. E aqueles que proclama­ vam a sua liberdade pela sua pompa estavam pre­ sos. Eternamente.

teja depois desta parede, quando a porta da igreja está fechada. Porém os olhos do cristão enxergam a Eternidade de uma forma profunda.” — John Vianney 29 DE SETEMBRO LEITURA 272 A CAM INHO DE ROMA Atos 2 7 —28 “Logo que chegamos a Roma ...a Paulo se lhe permi­ tiu morar por sua conta, com o soldado que o guarda­ va” (At 28.16). Até mesmo um prisioneiro que conhece a Deus pode influenciar outras pessoas. Visão Geral Paulo acompanhou um grupo de prisioneiros que seria transportado, sob escolta, a Roma (27.1-8). Ele advertiu, inutilmente, contra a navegação por Creta (w. 9-12), e sua embarcação foi atingida por uma forte tempestade (w. 13-25). Embora o navio afundasse, todos os que estavam a bordo sobrevive­ ram (w. 26-44). O principal oficial de Malta, onde passaram o inverno, foi curado por intermédio do ministério de Paulo (28.1-10). Chegando a Roma, Paulo teve permissão de viver em uma casa alugada (w. 11-16), e de pregar Cristo à comunidade ju­ daica e seus visitantes (w. 17-31).

Contexto Além do livro de Atos. O livro de Atos termina com Paulo em Roma, à espera de julgamento. Enquan­ to esteve aii, Paulo escreveu diversas das cartas encontradas no Novo Testamento, incluindo Colossenses, Filipenses, Efésios, Filemom e a primeira carta a Timóteo. Estudiosos acreditam que Paulo foi libertado depois do seu julgamento, e passou muitos anos como missionário, provavelmente na Aplicação Pessoal Espanha. Mas o clima político estava mudando. Não tema o Mágico de Oz, qualquer que seja o Nero, cujos primeiros anos foram marcados por disfarce que ele usar. um governo excelente, aos poucos se tornou cada vez mais instável. Quando Roma foi destruída por Citaçáo Importante um grande incêndio, Nero culpou os cristãos, para “Os olhos do mundo não veem nada depois desta desviar as críticas de si mesmo. A medida que a vida, assim como os meus não veem nada que es- hostilidade oficial crescia, Paulo foi preso nova-

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um mundo de densas trevas. Quanto mais escura a sociedade, mais forte deve brilhar essa luz. E mais aqueles que recuam de volta à escuridão irão odiar e se ressentir dessa luz. Entendendo o Texto “Embarcando nós em um navio” (At 27-1-9)- Esta é uma das quatro seções “nós” do livro de Atos. Muitos estudiosos acreditam que Lucas estava com Paulo, e descreveu os eventos dessas seções com conhecimento de testemunha ocular. Aqueles que estudaram o relato que Lucas faz da viagem, o con­ sideram um retrato totalmente preciso dos navios, portos e das rotas de comércio do século I. Ainda mais importante, do ponto de vista de Pau­ lo, o uso de “nós” indica, aqui, que Paulo não esta­ va sozinho. Amigos o acompanharam na viagem a Roma. Em qualquer ocasião em que nos deparar­ mos com um futuro incerto, ter amigos conosco Os navios de carga do século I transportavam grãos do para nos apoiar é vitalmente importante. Há pesso­ oriente para Roma. Alguns eram grandes o suficiente as que você conhece que gostariam que você fosse para levar também várias centenas de passageiros. No um Lucas para eles? entanto, os passageiros dormiam no convés, e eram res­ ponsáveis por sua própria alimentação durante a jornada. “Paulo os admoestava” (At 27-9-14). Paulo ainda Milhares de turistas frequentavam esses navios, embora não tivera tempo para estabelecer aquele “poder as viagens pelo Mediterrâneo fossem perigosas. pessoal” necessário para influenciar a centurião que os vigiava e o capitão do navio. Agora ele conquis­ mente, e enfrentou novo julgamento. Durante taria o seu respeito repentino. Os dois ignoraram a sua segunda prisão, ele escreveu a sua segunda seus conselhos, e partiram para o mar. Antes que carta a Timóteo. Como sugere a carta, Paulo não se afastassem da ilha, foram atingidos por um “pé sobreviveu ao seu segundo julgamento, mas foi de vento”. executado em Roma. Talvez, como prisioneiro, Paulo não tivesse o direi­ Um dos objetivos de Lucas, ao escrever o livro de to de falar. Mas ele expressou as suas convicções. Atos, foi demonstrar, por meio da sua história do A sua confiança, além do fato de que o seu conse­ ministério de Paulo, que a fé cristã não representa­ lho logo provou ser correto, estabeleceu um poder va ameaça ao império. Paulo tinha amigos entre os pessoal que ele pôde usar, posteriormente, para in­ Asiarcas (principais da Ásia) em Efeso. Quando foi fluenciar o centurião e salvar vidas. interrogado por Félix, ele foi absolvido de qualquer Não hesite em falar a favor daquilo que for corre­ atividade criminal. O rei Agripa, amigo íntimo do to. Em última análise, a sua influência depende de imperador Cláudio, concordou que Paulo nada ti­ você, e não da sua posição. nha feito para merecer prisão ou julgamento. Sem­ pre que os fatos foram examinados por um admi­ “Deus, de quem eu sou e a quem sirvo” (At 27-15nistrador romano imparcial, Paulo e os cristãos que 25). Paulo falou com confiança, pela segurança ele representava foram absolvidos. enraizada no seu relacionamento com Deus. Se Embora a evidência apresentada por Lucas fosse confiarmos em Deus e estivermos comprometidos convincente, não era suficiente. A hostilidade ao com Ele, também poderemos falar com confiança cristianismo não estava enraizada em um conhe­ e ser ouvidos! cimento dos fatos da nossa fé, mas nos preconcei­ tos e na baixeza moral de seus inimigos. Apesar do “Se estes não ficarem no navio, não podereis salvarfato de que alguns, hoje, que afirmam ser cristãos, vos” (At 27.27-44). As pessoas em pânico são quase deram à fé um nome mau, ainda é verdade que incontroláveis. Mas nessa ocasião, o poder pessoal qualquer hostilidade à nossa fé não está enraizada e a influência de Paulo eram tão grandes que ele no que Cristo ensinou ou naquilo em que os cris­ pôde fazer com que os soldados soltassem o batel, tãos acreditam. Ela está enraizada no fato de que o que parecia a sua melhor oportunidade de escapar. cristianismo funciona como uma luz que brilha em E, além disso, ele pôde acalmar o terror dos mari­

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nheiros e passageiros o suficiente para que eles se alimentassem. A confiança de Paulo no compromisso de Deus de salvar o navio e a tripulação foi transmitida pela sua voz e pelo seu comportamento. Se tivermos essa confiança baseada em Deus, seremos capazes de in­ fluenciar os outros, de igual modo, para o seu pró­ prio bem. “Mudando de parecer, diziam que era um deus” (At 28.1-10). As pessoas têm a tendência de ti­ rar conclusões precipitadas e extremas. Vendo Paulo mordido por uma serpente venenosa, o povo de Malta supôs que ele era um assassino. Quando ele não morreu, supuseram que era um deus. Paulo não era nenhum a das duas coisas. Era apenas um ser humano comprometido com o Senhor. Você e eu também podemos nos sentir confortá­ veis sendo “apenas seres humanos”. Deus pode e realmente toma pessoas comuns, e por intermédio delas realiza coisas extraordinárias. “Com o soldado que o guardava” (At 28.11-16). Pouco depois disso, Paulo mencionou crentes na própria casa de César, na Epístola aos Filipenses. É possível que esses crentes fossem soldados da guarda pretoriana, o regimento designado ao im­ perador. E, muito provavelmente, os soldados des­ tacados para vigiar Paulo na sua casa! Como Paulo devia esperar a troca da guarda, que viesse outro soldado para o qual falar sobre Jesus Cristo.

DEVOCIONAL______ Poder Pessoal (At 27)

A minha esposa tem o seu poder pessoal na sua sala de aula. Ela não tem problemas em manter a ordem entre seus alunos do último ano. Ela nem mesmo levanta a voz. Mas quando a usa, a sua voz tranquila e “poderosa” cria um silêncio de morte. Não estou planejando vender um seminário psi­ cológico garantido para dar àqueles que pagarem alguma soma astronômica uma vantagem na ne­ gociação. Nem uma subida rápida na escada cor­ porativa. Estou simplesmente observando uma realidade que pelo menos um crítico do livro de Atos ignorou. O crítico, um estudioso chamado Haenchen, des­ prezou a noção de que uma pessoa que era um prisioneiro, sendo transportado a Roma sob vigi-

“Declarava com bom testemunho... e procurava persuadi-los” (At 28.17-29). Como sempre, Paulo mostrava especial preocupação por seus irmãos, os judeus. Um intenso esforço para evangelizar a comunidade local dos judeus viu alguns responde­ rem à mensagem do evangelho, mas a maioria o rejeitava. Há limites para o que chamo de “poder pessoal”. Os que têm poder pessoal podem influenciar os outros até certo ponto. Mas quando falamos so­ bre Jesus, existe um ponto no qual a outra pessoa irá se comprometer com Cristo, ou rejeitá-lo. Te­ mos que respeitar o direito dos outros de tomar essa decisão. Devemos falar com confiança. Mas não devemos manipular os outros a uma decisão que não estão preparados para tomar. “Paulo ficou dois anos inteiros na sua própria habi­ tação que alugara” (At 28.30,31). A vida e o mi­ nistério de Paulo se dividem em períodos de um ou dois anos, raramente mais longos. E provável que ele tenha ficado em Corinto mais do que dois anos. Mas ele passou dois anos em Efeso, dois em Cesareia, e agora dois anos em Roma. Todos esses deslocamentos incomodavam Paulo? Ele percebeu algo que é verdade para cada um de nós. Somos soldados, Deus é nosso comandante. Nós jamais sabemos, quando armamos nossa ten­ da, quanto tempo permaneceremos ali. Devemos ser bons soldados, prontos para nos deslocar ou permanecer, conforme a ordem de Deus. E sem­ pre prontos a falar pelo nosso Senhor.

lância, pudesse ter recebido favores especiais ou ser ouvido com respeito por seus captores. Os detalhes que Lucas fornece da viagem são indubitavelmente precisos. Mas a ideia de que Paulo desempenhasse o papel descrito é, para Haenchen, inacreditável. Penso que esse estudioso, com base no seu raciocí­ nio, também argumentaria que Lech Walesa deve ser um personagem de ficção. Afinal, que metalúr­ gico de um estaleiro polonês poderia formar um sindicato, ser considerado ilegal, e então silencia­ do durante anos, e interpretar um papel crucial na queda do governo comunista da Polônia? O que Haenchen não conseguiu perceber é que o poder pessoal de um ser humano não está relacio­ nado com a sua posição social. As pessoas de posi­ ção podem ser completamente ineficazes. E outras, sem nenhuma posição, podem mudar o curso da história.

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Atos 27—28

Paulo tinha uma vantagem — a confiança e a cer­ teza que vêm com um relacionamento pessoal com Jesus Cristo. Paulo conhecia Jesus e vivia em ínti­ mo relacionamento com o Senhor. Quando Paulo falava, esse poder pessoal, enraizado no seu relacio­ namento com Deus, brilhava. Outros percebiam o seu poder pessoal. E respondiam a ele. O que me entusiasma é que a fonte de poder pes­ soal de Paulo está disponível a cada cristão. Se co­ nhecermos Jesus, e vivermos em íntima comunhão com Ele, também teremos essa tranquila segurança que se traduz em poder pessoal.

Aplicação Pessoal

Viva em íntima comunhão com Jesus, e, quando você falar, todos o ouvirão.

Citação Importante

“Se você for um cristão nas pequenas coisas, não será um pequeno cristão.” — Walter B. Knight

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em ISAÍAS

ROMANOS INTRODUÇÃO

Esta catta foi escrita pelo apóstolo Paulo para a igreja de Roma, por volta de 57 d.C. O tema da carta é a justiça. Apesar do pecado do homem, Paulo mostrou que Deus declara que aqueles que creem em Jesus são inocentes e estão justificados para Ele. Mais ainda, por meio do Espírito Santo que Cristo dá, Deus opera dentro dos crentes para que vivam, de fato, vidas justas, individualmente e como uma comunidade redimida. Romanos talvez seja o mais poderoso documento cristão já escrito. Personalidades ilustres como Lutero e Wesley atribuem sua conversão a esse livro. Qualquer cristão pode aprofundar sua apreciação de tudo o que Deus nos deu em Cristo estudando cuidadosamente Romanos. È todo cristão pode descobrir aqui a fonte daquele poder espiritual de que o homem precisa para viver uma vida que glorifique o Salvador.

ESBOÇO DO CONTEÚDO

I. Introdução........................................................................................................................................... Rm 1.1-17 II. Justiça: A Grande Necessidade do H om em ........................................................................Rm 1.18— 3.20 III. A Justiça como Dom de Deus..............................................................................................Rm 3.21— 5-21 IV. A Vida Justa H oje.............................................................................................................................. Rm 6— 8 V..A Justiça na História.........................................................................................................................Rm 9— 11 VI. A Justiça na Com unidade...........................................................................................................Rm 12— 16

GUIA DE LEITURA (14 Dias)

Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia e o Devocional em cada capí­ tulo deste Comentário. Leitura 273 274 275 276 277 278 279 280 281 282 283 284 285 286

Capítulos 1 2— 3 4 5 6 7 8 9— 10 11 12 13 14 15 16

Passagem Essencial 1.18-32 2.25— 3.20 4.18-25 5.1-11 6.1-14 7.14-25 8.26-39 10.1-15 11.25-36 12.9-16 13 14.1-4 15.1-6 16.25-27

ROMANOS 30 D E SETEMBRO LEITURA 273

O PODER DE DEUS Romanos 1

“Não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o apenas pela sua posição no contexto doméstico, poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, mas pela posição de seu proprietário. Paulo tinha primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1.16). orgulho de servir a Jesus porque não se poderia conceber mestre maior. O poder de Deus se manifesta naqueles que creem, Apenas pense em quem Jesus é. Ele é o cumprimen­ e na necessidade do poder de Deus naqueles que to dos sonhos dos profetas, o tema da revelação do não creem. Antigo Testamento (v. 2). Na sua humanidade Ele é realeza, um descendente de Davi (v. 3). Ao mes­ Visão Geral mo tempo, Ele é o Filho de Deus (v. 4) e assim foi Paulo saudou seus irmãos romanos (1.1-7) e com­ declarado pela sua ressurreição (v. 4). Ele é a fonte partilhou sua ânsia por vê-los (w. 8-13). Compar­ sempre viva de graça, o Senhor que chamou Paulo tilhou também sua percepção da obrigação de levar para ser um apóstolo (v. 5). Em resumo, Jesus Cris­ a todos um evangelho que revelasse a justiça de to é o foco do plano eterno, o coração e centro da Deus ao trazer a salvação (w. 14-17). Paulo então vida do crente. começou sua exposição: toda a humanidade é má e Compare com alguns mestres que os homens es­ está sob a ira de Deus (w. 15-32). colhem servir. Alguns são escravos da bebida ou das drogas. Alguns são escravos de sua paixão pelo Entendendo o Texto poder político. Alguns são escravos de uma paixão “Separado para o evangelho de Deus” (Rm 1.1,2.) pela riqueza. Alguns são escravos do sexo. Alguns Paulo primeiro se identificou como “servo” de Je­ se vendem por popularidade. Como Paulo assinala sus Cristo. A palavra grega é doulos e significa es­ mais tarde, cada um de nós é escravo do que esco­ cravo. Paulo também se identificou como apóstolo, lhe servir na vida. um papel que o colocava no topo da hierarquia da Quão sábio, então, é escolhermos ser escravos de Igreja Primitiva. Mas, no pensamento de Paulo, ser Jesus Cristo, a mais elevada posição que podemos um escravo de Jesus era uma honra muito maior do aspirar. Quão tolo é servir um mestre menor. que o alto posto que ele ocupava. Que antídoto para qualquer ciúme que possa sur­ “A todos os... amados de Deus, chamados santos” (Rm gir entre nós hoje. Que importa se eu ou outra pes­ 1.7). Paulo sabia que nós, crentes, temos outras soa tiver um posto eclesiástico ou secular elevado? identidades além sermos escravos de Jesus Cristo. A maior honra que você ou eu podemos ter é a de Ele mencionou duas aqui. Somos amados de Deus sermos escravos ou servos de Jesus Cristo, e servi-lo e somos seus santos. com todo o nosso coração. A palavra “santos” (hagiois) significa “santificados”. O significado central de “santo” é “separado ou co­ “Acerca de seu Filho” (Rm 1.3-5). No mundo anti­ locado à parte para Deus”. No Novo Testamento, go, a posição de um escravo não era determinada “santos” com frequência tem o significado comum

Romanos 1

de “cristãos” ou “crentes”. Mas sua significação está longe de ser comum. Deus separou você e eu como suas posses preciosas. Ele nos escolheu e nos mar­ cou como seus. Se compreendermos quáo precio­ sos somos para o Senhor e o quanto somos amados, a “graça e a paz” que Paulo desejou aos romanos certamente serão nossas. “Dou graças ao meu Deus... acerca de vós todos” (Rm 1.8-10). Uma das mais importantes características das epístolas de Paulo é sua frequente afirmação de que orava “incessantemente” pelos outros. Quando Paulo escreveu essa carta, nunca tinha ido a Roma. Ele conhecia vários indivíduos que faziam parte da igreja romana (cf. Rm 16). Da maioria, porém, só ouvira falar. Contudo, Paulo estava entusiasmado com eles e importava-se o suficiente para “inces­ santemente” fazer menção deles. Confesso que uma de minhas necessidades é um maior envolvimento na oração pelas outras pesso­ as. Oro pelas pessoas quando penso nelas. Mas não penso nelas com uma frequência suficiente. Paulo pensava nos outros em termos mundiais. Precisa­ mos manter essa visão mundial também. “Para que juntamente convosco eu seja consolado pela fé mútua” (Rm 1.11-13). A postura humilde de Paulo é um modelo para o ministério moderno. Muitas vezes, a pessoa que é chamada e treinada para o “serviço cristão de período integral” sai pen­ sando que vai oferecer muitas coisas às pessoas — e estas as receberão passivamente. Afinal, o profissio­ nal tem o conhecimento e o treinamento em tais habilidades espirituais, como oratória e aconselha­ mento. Ou, pelo menos, é o que supomos. O problema com essa visão é que o Espírito Santo de Deus reside em todo crente. Cada um de nós tem algum dom espiritual que nos capacita a co­ laborar com os outros. O ministério é um empre­ endimento recíproco, não profissional. Ninguém é simplesmente um “doador”. Cada um de nós dá aos outros e recebe dos outros. Apenas o mi­ nistro em tempo integral que tenha essa postura para com o ministério construirá uma igreja ou missão forte. Veja com que sensibilidade Paulo se dirigiu aos romanos. Ele ansiava por estar com eles “para vos comunicar algum dom espiritual, a fim dè qúe se­ jais confortados”. Queria usar seus dons espiritu­ ais para ajudá-los. Esperava receber além de dar. Buscava uma relação recíproca que capacitasse cada um a ser encorajado pela fé do outro. Como precisamos dessa perspectiva em nosso mi­ nistério junto aos outros. E na igreja cravejada de estrelas de Cristo.

“Sou devedor”(Rm 1.14,15). Uma vez fui desafiado a dizer por que partilhava o evangelho com alguns amigos náo cristãos. “Por que você tenta nos impor a sua fé?”, foi a pergunta, um tanto hostil. Respondi com outra pergunta: “Se você estivesse na estrada em uma noite de tempestade, e descobrisse que a ponte sobre um desfiladeiro profundo fora carregada pela água, você tentaria sinalizar com um farolete para prevenir os outros, ou não?” Paulo tinha um profundo senso de dever advindo de sua consciência de que judeus e gregos, separa­ dos de Jesus Cristo, se precipitariam para o desas­ tre eterno. O cristão não tenta “impor sua fé” aos outros. O cristão previne os outros de que a ponte foi carregada em um esforço sincero de salvá-los do desastre. “E o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16). Ouvi referências ao evange­ lho como a “dinamite” de Deus. Mas a analogia realmente não funciona nem reflete o conceito desse texto. Uma analogia melhor é com um ele­ trodoméstico com um fio. Empurre o seu aspi­ rador com tanta força quanto quiser; se ele não estiver ligado, não vai recolher sujeira. Ou bata ovos na batedeira; se ela não estiver ligada, nada de merengue. Da mesma maneira, trabalhe tanto quanto puder para ser salvo. Mas se você não esti­ ver ligado à fonte do poder salvador de Deus, não conseguirá nada. O evangelho nos liga à única fonte de poder sal­ vador. Se você e eu estivermos ligados em Jesus, o poder de Deus certamente nos salvará. “Do céu se manifesta a ira de Deus” (Rm 1.18). No mundo antigo, a conhecida expressão “a ira de Deus” indicava a resposta indignada à impiedade ou transgressão humana. Em outras passagens do Novo Testamento, a ira de Deus é sua reposta justa e necessária aos pecadores, expressada na condena­ ção dos seus atos. Aqui, a ênfase está na corrupção moral da sociedade como a operação de um julga­ mento divino do pecado no presente. Basta olhar os filmes e jornais de hoje para perceber o que Paulo queria dizer. Em nossa região, o pro­ prietário de um pequeno restaurante foi espancado e morto por um vizinho que roubou comida con­ gelada. Alguns dias antes, o proprietário dera ao assassino comida pata seu bebê faminto. Em St. Petersburg, um juiz federal foi preso por uso de dro­ gas e por cometer atos sexuais com adolescentes. Todo dia parece trazer pelo menos uma história de abuso sexual ou físico de crianças. E todos os dias a televisão e o cinema anunciam outro programa que glorifica o sexo ilícito e a violência.

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Romanos 1

na sociedade. E ninguém entende o que está acon­ tecendo nem por quê. O que está acontecendo é justamente o que Pau­ lo descreveu. Uma sociedade que deu as costas a Deus está presenciando “a ira de Deus” sendo manifesta “sobre toda impiedade e injustiça dos homens”. “O que de Deus se pode conhecer neles se manifesta” (Rm 1.18-20). A ideia de Paulo é que o universo é como uma estação de rádio, de onde a criação envia a sua mensagem a respeito de Deus. E mais: Deus criou cada ser humano com um receptor embutido! Nós, seres humanos, ouvimos a men­ sagem. Apenas “suprimindo a verdade” — abai­ xando o volume do nosso rádio embutido até que a mensagem seja apenas um murmúrio — é que o homem pode evitar a óbvia verdade de que Deus existe e que Ele é maior do que as coisas que fez. O testemunho da verdade de Deus foi dado a cada ser humano que já nasceu. A única explica­ ção para que o homem não se volte para Deus é o pecado. (Veja o DEVOCIONAL.)

Martinho Lutero e John Wesley, duas personalidades ilustres da história da igreja, vieram a Cristo por causa de Romanos 1.17. Por meio desse versículo, cada um percebeu que a justiça de Deus é obtida pela fé, e não pelo esforço ou mérito humano. Por meio da influência desses dois homens de Deus, milhões de pessoas busca­ ram a justiça de Deus, e a alcançaram “pela fé, do início ao fim”.

Sem nenhuma âncora de compromisso com Deus e suas leis, a sociedade torna-se cada vez mais cor­ rupta. O “direito” da mídia de corromper e exibir corrupção conduz inexoravelmente a mais rupturas

DEVOCIONAL ___ Dando as Mãos

(Rm 1.18-32) Devo admitir que segunda-feira à noite eu sorri en­ quanto olhava meu filho mais novo vindo pela cal­ çada em direção ao restaurante “de Capio”. Estava de mãos dadas com Liz, uma professora do terceiro ano que ele conheceu no grupo de jovens da igreja. Tim não é tão jovem. A ocasião foi o seu aniversá-

“Deus os entregou... à imundícia” (Rm 1.18-32). Os comentaristas debatem se Paulo estava nos oferecendo um perfil histórico ou psicológico de nossa raça. Contudo, o padrão é claro. Aqueles que abandonam a Deus se voltam para falsos ob­ jetos de adoração, e a sua sociedade se torna mais e mais moralmente corrupta. Com o passar do tempo, pode-se fazer uma importante constata­ ção: “... Os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas pra­ ticam), não somente as fazem, mas também con­ sentem aos que as fazem” (v. 32). E significativo que Paulo dedique à homossexu­ alidade dois dos oito versículos que descrevem a corrupção moral. A presente tendência de nossa sociedade para validar o comportamento ho­ mossexual como um “estilo de vida alternativo” aceitável enquadra a nossa nação, claramente, em Romanos 1.32.

rio de 27 anos. Era bom olhar para ele, bonito, mas muito envergonhado, andando de mãos dadas com uma jovem atraente e muito simpática. Na verdade, dar as mãos é uma bela imagem da resposta que Deus quer quando se revela a nós. Quando temos um vislumbre de Deus, devemos nos sentir atraídos por Ele e nos aproximarmos. Nas palavras de Paulo, devemos nos ver auto­

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Romanos 2— 3

maticamente glorificando-o como Deus e sendo gratos. Romanos 1, porém, descreve uma reaçáo total­ mente diferente. Em vez de buscar a mão de Deus, como Tim fez com Liz, a humanidade reagiu como se Deus fosse um ferro quente. Ao esbarrar em Deus, o homem natural salta de lado! Novamente, nas palavras de Paulo, eles suprimiram a verdade. E, em vez de se voltarem para Deus, eles viraram as costas, de modo que “em seus discursos se desvane­ ceram, e o seu coração insensato se obscureceu” (v. 21). O que se seguiu à rejeição a Deus foi a idola­ tria, a imoralidade e injustiça de todo tipo. Por que Paulo iniciou sua exploração da justiça com essa descrição de nossa raça? Por uma razão muito simples, mas importante. Ele não quer que ninguém pense que o homem carece de justiça por­ que Deus nos deixa de lado ou mesmo por causa dos maus feitos dos homens. A humanidade carece de justiça porque todos os homens são pecadores por natureza. E a prova é que, quando Deus se re­ velou ao homem, este afastou sua mão. Tim e Liz procuram as mãos um do outro, natu­ ralmente. Eles sentem uma afinidade, uma afeição calorosa. A rejeição, pelo homem, de um Deus amoroso e justo é prova irrefutável de que os seres humanos estão perdidos e em pecado. Se sentissem alguma afinidade com Deus, responderiam a Ele calorosamente. Apenas o poder de Deus fluindo pelo evangelho pode mudar o coração do homem e nos capacitar a responder ao grande amor de Deus.

Aplicação Pessoal

Estenda a mão do seu coração a Deus hoje.

Citação Importante

“Por natureza, eu era cego para conhecê-lo, muito orgulhoso para confiar nEle, muito obstinado para servi-lo, e tinha a mente muito pequena para amálo.” — John Newton

V

1 DE OUTUBRO LEITURA 274 NÃO HÁ UM JUSTO, NEM UM SEQUER Romanos 2— 3

“Nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3.20).

Contexto

Lei. “Lei” é um dos conceitos mais complexos na Escritura. ATorá hebraica pode referir-se ao Pentateuco, ao Antigo Testamento inteiro, aos Dez Man­

damentos, a todo o corpo das exigências de Deus a Israel e ao modo de vida adotado pela comuni­ dade da aliança. O grego nomos, usado aqui por Paulo, tem esses significados e mais. Portanto, ao abordarmos cada seção de Romanos, é importante perguntar o que Paulo quis dizer ao falar em “lei”. Em Romanos 2 e 3 o significado básico de “lei” são “as exigências reveladas de Deus para um viver justo”. Posteriormente em Romanos o significado de “lei” mudará de modo sutil e com frequência. Aqui, porém, precisamos manter em mente apenas o aspecto dos “padrões revelados” na lei moral de Deus.

Visão Geral

Apenas Deus é competente para julgar (2.1-4), e Ele julga judeus e gentios com base na verdade (w. 5-11). Os gentios pecam contra sua consciência (w. 12-16). Os judeus vangloriavam-se de possuir a Lei de Deus (w. 17-20), mas a lei não tem ne­ nhum valor para aqueles que a violam (w. 21-29). Aqueles a quem as palavras de Deus foram confia­ das devem responder com fé (3.1-8). Contudo, a Escritura mostra que nenhum ser humano é justo (w. 9-18). Portanto, a intenção da lei é tornar o homem consciente do pecado, não ser um instru­ mento de salvação (w. 19,20). Por meio da fé no sangue de Cristo, recebemos uma justiça separada da lei (w. 21-26). Judeus e gentios são salvos pela fé (w. 27-31).

Entendendo o Texto

“Te condenas a ti mesmo” (Rm 2.1-3). Uma das coisas mais difíceis que temos de aprender é que, quando apontamos o dedo para os outros, aponta­ mos quatro para nós mesmos! E o que Paulo diz aqui. Olhamos para as ações de outra pessoa e dizemos: “Está errado”. E, tão o logo o fazemos, admitimos que existem padrões morais. Afinal, usamos algum padrão para determinar que a pessoa está “errada”! Portanto, qualquer um que julgue os outros, e todos nós o fazemos, diz, na verdade: “E correto julgar. Padrões existem”. Naturalmente, assim que o julgamento é introdu­ zido, nossas ações tornam-se sujeitas ao exame. E, quando Deus mede as nossas ações, Ele usa um padrão mais exigente do que qualquer outro que pudéssemos usar: a verdade. Você pode constatar isso conversando com algum amigo que queira defender, como muitos fazem hoje, que a moralidade é pessoal e relativa. Tais pessoas dizem: “O que faço pode estar errado para você, mas está certo para mim”. Bem, então, se al­ guma vez você ouvir um relativista moral condenar alguma ação, diga: “Peguei você! Você acabou de se

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Romanos 2— 3

condenar”. E então explique. Ao admitir que exis­ mais baixos dos padrões humanos, todos peca­ tem padrões morais, essa pessoa se tornou sujeita ram! A consciência de toda pessoa a acusa de cair náo apenas uma, mas muitas vezes. Se fôssemos ao julgamento. Por parte de Deus. completamente honestos conosco e avaliássemos “A benignidade de Deus te leva ao arrependimento” nossas ações pela verdade, cada um de nós confes­ (Rm 2.4,5). A próxima pergunta que as pessoas saria: “Eu pequei”. provavelmente farão é: Se Deus julga o pecado, por que não faz algo a respeito das pessoas ímpias? “Teglorias em Deus”(Rm 2.17-29). Paulo sabia que A resposta de Paulo a isso é impressionante. qualquer leitor judeu de sua epístola argumenta­ Deus está retardando o Dia do Juízo para dar às ria que uma distinção devia ser feita entre judeus e pessoas chance de se arrependerem. O fato de gentios. O que Paulo disse sobre as pessoas serem Deus não castigar as pessoas quando elas pecam pecadoras podia ajustar-se aos romanos, gregos, não é prova de seu desinteresse. E prova de sua citas e aos cidadãos dos velhos EUA. Mas não se bondade e amor. ajusta ao povo escolhido! Quão alegres você e eu podemos ser por Jesus es­ Então, Paulo examinou a base dessa afirmação con­ perar por nós. O Dia do Juízo virá. Oremos para vencida. Sim, Israel conheceu a vontade de Deus que, antes que chegue, muitos pecadores respon­ e até mesmo aprovou-a. Mas a questão é: o judeu dam à bondade de Deus e venham também a co­ cumpriu a vontade de Deus? nhecer o Senhor. A circuncisão, o sinal da condição de membro do povo da aliança de Deus, não ajuda uma pessoa “Perseverança em fazer bem” (Rm 2.6-11). Paulo que viola a Lei. E a incircuncisão não atrapalha a não está sugerindo que fazer o bem levará alguém pessoa que a guarda. Deus se preocupa é com o para o céu. Ele está deixando claro que conhecer coração e com o relacionamento pessoal de uma o bem não é suficiente. Deus julga o que fazemos, pessoa não com a Lei, mas com Ele. (Veja o DEVOCIONAL.) sem mostrar favoritismo por judeus ou gentios. O filósofo Platão supôs que, se uma pessoa conhe­ cesse o bem, ela teria certeza do que fazer. Não “A fidelidade de Deus” (Rm 3.1-8). Deus escolheu leva muito tempo demonstrar quão tola é essa Israel que, geração após geração, mostrou-se infiel. ideia. Tente durante três dias fazer apenas o que Deus falhou? Não. Deus manteve sua promessa e você sabe que é bom e correto. E veja quanto tem­ todos os que creram experimentaram sua bênção. po leva para surgir a distância entre saber e fazer. Não pense que se alguém deixa de responder ao E um desafio divertido a ser feito a uma pessoa evangelho, Deus fracassou. Deus mantém fielmen­ que afirma não precisar de salvação. Depois de te a sua promessa, e acolhe todos os que vêm a Ele alguns dias tentando fazer apenas o que os ju ­ por intermédio de seu amado Filho, Jesus Cristo. izes julgam ser correto e bom, sugira que leia Romanos 2.7,8. “Que se conclui?” (Rm 3-9-18). Paulo mostrou, por argumentação, que ninguém é justo e que todos “Para si mesmos são lei” (Rm 2.12-16). Há pessoas pecaram. Agora ele o prova citando a Escritura. que se atrevem a dizer: “Deus não é justo. Existem Como D. L. Moody disse, devemos estar prontos a pessoas no mundo todo que sequer sabem quais dizer: “Deus disse. Eu creio. Está resolvido”. Quan­ são os seus padrões”. do Deus fala, não há mais nada a dizer. A resposta de Paulo é que Deus, para ser justo, faz concessões. Aqueles que não conhecem os padrões “Pela lei vèht—o conhecimento do pecado” (Rm de Deus “para si mesmos são lei”. Toda sociedade 3.19,20). Algumas pessoas pensam na Lei como e todo indivíduo têm padrões. Eles podem não uma escada que devemos subir para nos aproxi­ ser os padrões de Deus. Mas são padrões — e en­ marmos de Deus. Não é. A Lei é um espelho no quadram-se nas mesmas categorias que os padrões qual devemos nos olhar para que possamos nos ver expressados na Lei de Moisés. Há padrões sexuais. e perceber o quanto precisamos que Deus se apro­ Há padrões que governam como os outros devem xime de nós em Jesus. ser tratados. Há padrões sobre trabalho e paga­ mento. E assim por diante. “A o qual Deus propôs para propiciação” (Rm 3.21Portanto, apenas para ser justo, Deus está dis­ 26). Neste ponto, a tradução do termo grego hiposto a julgar os homens pelos seus próprios pa­ laserion não significa expiação, mas um “sacrifício drões em vez dos dEle! É justo. Mas as pessoas de propiciação”. O sacrifício de Jesus satisfez as ainda assim não tem chance. Mesmo usando os exigências justas do nosso Deus santo. Jesus não

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Romanos 4

morreu apenas para cobrir os nossos pecados, mas para pagar por eles. Naquele grande ato que satisfez de uma vez por todas as reivindicações de justiça, o próprio Deus mostrou ser justo. Ele não se limitou a “fazer vista grossa” ao pecado. Ele impôs a penalidade que o pecado exige. Mas Ele a impôs ao seu próprio Filho em vez de impô-la a você e a mim. Por fim, Deus é apresentado como justo ao perdoar os pecados daqueles que viveram no passado — e ao perdoar os nossos pecados. Mesmos aqueles que cometeremos no futuro. Quão grande é Deus. E quão além da nossa imagi­ nação o seu amor.

DEVOCIONAL______ Cristãos pela Metade (Rm 2.25—3.20)

Nas primeiras colônias americanas fundadas por grupos religiosos, o voto muitas vezes era reser­ vado aos crentes. Mas, à medida que novas ge­ rações chegavam, muitas vezes os netos não se convertiam. Como encontrar uma maneira de dar a possibilidade de voto a essas pessoas — e ainda assim manter a riqueza e o poder na mão das famílias estabelecidas? A reposta foi a “aliança pela metade”. Deus — propôs um teólogo — estava comprometido a sal­ var os filhos dos crentes algum dia. Portanto, eles já estavam a “meio caminho” da igreja. Então, se os pais eram cristãos que tinham um bom com­ portamento, os seus filhos podiam votar, mesmo que não cressem em Jesus. Ás pessoas parecem estar à procura de uma religião pela metade. Os judeus do tempo de Paulo pos­ suíam a Lei e a circuncisão. Eles eram o povo da aliança de Deus. Sua nação escolhida. Isso não era suficiente? Nessa passagem, Paulo diçse que não. Não apenas não é bom o suficiente; riáp significa nada (2.25-29). Os judeus tinham a vantagem da circuncisão e de conhecerem as palavras de Deus. Mas isso não os salvou. As pessoas hoje também procuram uma espécie de cristianismo pela metade. Meus pais eram bons cristãos. Isso não conta? Pertenço à igreja, à “ver­ dadeira igreja”, desde criança. Isso não conta? En­ trego o dízimo. Que tal contar isso também? Bem, ter pais cristãos e estar na igreja toda a vida certamente são vantagens. Mas não nos leva se­ quer a meio caminho da salvação. Paulo nos diz por quê. Judeus e gentios, igual­ mente, estão todos nas garras do pecado (3.9). Como a Escritura diz: “Não há um justo, nem um

“Anulamos, pois, a lei?” (Rm 3.27-31). Quão maravilhoso é esse princípio de fé. Ele exclui a vanglória, pois somos salvos por Deus, não por algo que façamos. Ele abre a porta da salvação aos gentios, assim como aos judeus, pois qualquer ser humano que ouve pode crer. E coloca a Lei no seu lugar legítimo, não como um meio de salvação, mas como uma revelação dos padrões justos de Deus. Nós acreditamos na Lei e na justiça. Mas não cre­ mos que manter a Lei de Deus possa nos salvar ou nos tornar interiormente justos. Para isso, recor­ remos a Cristo, e apenas a Ele.

sequer” (v. 10). A única coisa que conta, a única coisa que pode nos salvar é romper o domínio do pecado. E nem mãe, pai, herança racial nem a fi­ liação a uma igreja podem fazer isso. Quão felizes podemos ser pelo fato de Jesus Cristo nos levar completamente a Deus, não apenas até a metade do caminho. Pela morte e ressurreição de Jesus, e por meio da fé nEle, tornamo-nos re­ almente cristãos. Cristãos inteiros, durante toda a nossa cami­ nhada. Andando no único caminho.

Aplicação Pessoal

Não conte com mais nada e com mais ninguém além de Jesus Cristo para salvá-lo.

Citação Importante

“O evangelho é Boas-Novas. Mas Jesus nunca dis­ se que eram novas fáceis. De acordo com a verda­ de central da cruz, a morte acontece antes da vida, e o arrependimento antes da recompensa. Antes que o seu precioso evangelho possa ser as BoasNovas da redenção, ele deve ser as ‘más novas’ da condenação do pecado.” — Charles Colson ..J fT i...

2

DE OUTUBRO LEITURA 2

A FÉ DE ABRAÁO Romanos 4

“Ora, não só por causa dele está escrito que lhe fosse tomado em conta, mas também por nós, a quem será tomado em conta, os que cremos naquele que dos mor­ tos ressuscitou a Jesus, nosso Senhor” (Rm 4.23,24). Desde o início, a justiça foi um dom, recebido por meio da fé.

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Romanos 4

Visão Geral

Abraão serve como um caso verídico para provar a tese de Paulo de que a justiça é um dom recebido pela fé (4.1-3). Nem obras (w. 4-8) nem a circun­ cisão (w. 9-12) nem a Lei (w. 13-15) têm qualquer relação com o perdão dos pecados (w. 16,17). A justiça é creditada a todos aqueles que têm uma fé como a de Abraão no Deus que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos (w. 18-25).

Entendendo o Texto

“Que diremos, pois, ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne?” (Rm 4.1-3)- Paulo se voltou para a vida de um grande homem, Abraão, e propôs que ele fosse usado como uma comprovação. Como o povo judeu reconhecia Abraão como o antepassa­ do (fonte) de sua raça, no pensamento hebreu ele estabeleceria o padrão para a relação de seus des­ cendentes com Deus. Abraão foi um homem admirável. Ele arriscou tudo pela obediência a Deus. Mas o texto bíblico também relata os seus pecados. Portanto, o Antigo Testamen­ to diz que Deus lhe “imputou” a fé como “justiça”. Se Abraão teve que receber uma justiça que não pos­ suía, e se a sua fé lhe foi imputada como justiça, en­ tão, desde o início, a chave para a salvação é a fé — e nada mais. Em seu ensinamento sobre a salvação, o Antigo e o Novo Testamento são um. Você e eu, que podemos depender unicamente de Jesus Cristo para a salvação, somos um com a linha ininterrupta de santos que se iniciou até mesmo antes da cruz. Somos membros da maior ordem da história: a ordem dos que tiveram um vislumbre da bondade de Deus e que creem que Ele é completa­ mente digno da nossa confiança. “Justificado”(Rm 4.2). Na missão “Lighthouse Mission”, em Manhattan, os homens que frequenta­ vam os cultos na década de 1950 eram treinados todas as noites em versículos bíblicos e em uma definição específica de “justificado”. Justificado, ensinavam-nos a repetir, significa “como se nunca houvesse pecado diante de Deus”. Na verdade, o verbo grego, dikaioo, significa ser ab­ solvido ou declarado justo. Não é “como se nunca houvesse pecado”. Não é “como se eu tivesse vivido uma vida perfeita como a de Jesus”! Certa vez, quando meus óculos de sol, normal­ mente verdes, desapareceram, usei um cujas lentes tinham uma coloração rosa. E tudo o que eu via através deles era rosa também. A justificação é um pouco assim. Deus vê a você e a mim através de óculos coloridos por Cristo. Quando Deus olha a pessoa que crê em seu Filho, vê o próprio Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Nunca hesite em ir livremente a Deus, seja qual for a sua necessidade. Quando você se aproxima, Deus o vê como vê o seu Filho amado. “Imputado como justiça” (Rm 4.3). Este é outro de vários termos teológicos centrais nesse capítulo. A palavra grega é logizomai. Palavra comum nos tem­ pos do Novo Testamento, ela significava “fazer um lançamento em um livro contábil”. O Expository Dictionary ofBible Words diz: “Como pecadores, você e eu não temos nenhuma justiça que seja aceitável a Deus. Mas Deus nos deu a sua Palavra de promessa. Quando respondemos a Ele com fé, Ele faz um lançamento no seu livro contá­ bil diante do nosso nome, dizendo: ‘Esta pessoa é justa aos meus olhos!’ A nossa fé nos foi imputada como justiça”. Alguns podem se queixar, alegando que esse conceito de salvação é muito rude. Porém, se a mesma pessoa fosse ao banco e descobrisse que alguém depositara em sua conta um presente de 10 milhões de dólares, não acharia isso “rude”. E mais provável que gritasse de alegria, como faze­ mos por saber que, em Cristo, Deus nos imputou algo que é muito mais precioso do que toda a ri­ queza terrena! “[Deus] justifica o ímpio” (Rm 4.4-8). H á muita coisa comprimida nesses poucos versículos. A mais importante, porém, talvez seja uma visão singular de Deus. Lembro-me de um jovem que foi meu aluno quan­ do dei aulas em Wheaton. Ele era sempre amistoso e agradável. Mais tarde, ele deu aulas noturnas no Moody Bible Institute — e seus alunos ficaram muito perturbados. Quando ensinava, ele era rude, sempre os rebaixando e ridicularizando qualquer ideia que não se ajustasse às suas visões. Que re­ velação de caráter. Você poderá dizer muitas coisas sobre as pessoas ao ver como tratam aqueles que são subordinados a elas. Que revelação do caráter de Deus é o seu ensina­ mento da justificação pela fé. Nós, seres humanos, não apenas somos subordinados, mas nos rebela­ mos ativamente contra Ele. Contudo, a resposta de Deus é oferecer um dom sem par: justificar os ímpios e imputar justiça aos pecadores. Como somos abençoados por ter e conhecer esse Deus maravilhoso! “Vem, pois, esta bem-aventurança sobre a circuncisão somente?” (Rm 4.9-13). Os judeus afirmavam que Abraão era o pai de sua raça. Abraão recebera as promessas da aliança, que, transmitidas de geração a geração, garantiram a Israel o seu lugar como

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povo escolhido de Deus. Pareceria, então, que Jesus e a justificação eram dos judeus, por direito. Assim, como Paulo poderia defender o seu trabalho mis­ sionário entre os gentios? Na circuncisão do Antigo Testamento, a remoção da pele que recobre a ponta do pênis foi introdu­ zida como sinal da aliança de Deus com Abraão (Gn 17). Mas, Paulo disse, isso foi depois de Deus anunciar que Abraão havia sido justificado pela fé (15.6). Decorria disso, então, que a justificação pela fé não dependia do fato de uma pessoa ter de antemão uma relação de aliança com Deus. Por­ tanto, a justificação pela fé está disponível a todos! Deus não estabelece nenhuma pré-condição para a salvação. Não temos de nos purificar antes. Não te­ mos de nos tornar membros de nenhuma igreja ou grupo específico. Não temos de mendigar ou mes­ mo orar. Tudo que precisamos fazer é o que Abraão fez: crer na promessa de Deus. A bem-aventurança do perdão dos pecados é nossa, e a justiça nos é imputada. “Onde não há lei também não há transgressão” (Rm 4.13-15). Temos um novo cachorrinho, uma schnauzer miniatura chamada Mitzi. Como a maioria dos filhotes, quando Mitzi era jovem, ocorriam “acidentes” e só depois ela ia para o lugar onde de­ via se aliviar. Assim que cresceu o suficiente, co­ meçamos a treiná-la. Deixamos claro que fazer as necessidades dentro de casa era errado. Esta manhã, ela entrou em um quarto e deixou um montinho (seco, ainda bem) no chão. Tão logo a vi sair do quarto, as orelhas dela se empinaram e ela começou a se esquivar — a própria imagem da cul­ pa. Nós já a ensinamos a fazer as suas necessidades fora de casa. Alguns tabefes com o jornal que eu ti­ nha na mão foram aceitos como um justo castigo.

DEVOCIONAL______ A Fé de Abraão

(Rm 4.18-25) Certa vez li uma história de ficção científica em que a tripulação de uma nave espacial de repente se via atrás de paredes de metal sem janelas nem portas. O alimento era regularmente introduzido e parecia deslizar através das paredes. Dias e semanas se passaram, e a tripulação não conseguia encontrar nenhuma saída. De repente, um membro da tripulação riu e expli­ cou. O cativeiro devia ser um teste elaborado por uma civilização alienígena. As paredes, que pare­ ciam tão reais ao tato e à vista, não estavam ali. Elas eram ilusões. Se ao menos a tripulação acreditasse

É mais ou menos o que Paulo está dizendo aqui sobre a lei. Não conte com a lei para salvá-lo. A lei introduz a transgressão. Mitzi estava fazendo suas necessidades dentro de casa com a consciência completamente limpa — antes de ser ensinada a não fazê-lo. Agora que o “não” foi introduzido, ela, às vezes, ainda faz suas necessidades dentro de casa. Só que agora ela é culpada de transgredir uma regra e sabe disso! A lei não mudou muito seu compor­ tamento. Mas com certeza fez com que percebesse seus erros. Não podemos ver a lei como uma maneira de sal­ vação. A lei simplesmente destaca como pecados coisas que fazemos por natureza — e nos faz sentir culpados ao percebermos que, mesmo conhecendo a lei, ainda erramos. “Para que seja segundo a graça, a jim de que a pro­ messa seja firme” (Rm 4.16-18). Por que Deus não deixou que, pelo menos, tentássemos ganhar a sal­ vação? Por que não, digamos, deixar que fizéssemos 25% e deixar que Ele completasse os 75%? Ou, se fosse muito, que fizéssemos 20%? Ou 15%? Paulo tinha uma resposta importante. Porque se alguma coisa dependesse de você ou de mim, não poderia haver garantia. Mesmo os descendentes isra­ elitas de Abraão, que começaram emjvantagem por­ que receberam a lei de Moisés, não teriam nenhuma garantia de salvação. A questão ficaria sempre em dúvida — pelo menos do ponto de vista humano. Do ponto de vista de Deus, naturalmente, todos pecamos e ficamos aquém. Ninguém pode oferecer sequer 1% da bondade absoluta que a santidade de Deus exige. Mas isso é irrelevante para o argumen­ to de Paulo aqui. A salvação baseia-se apenas na promessa de graça de Deus. Como tudo depende de Deus, nossa salvação está garantida. — realmente acreditasse — que as paredes eram irreais, eles poderiam sair da jaula. A situação de Abraão foi parecida. Ele tinha cem anos. Sua mulher, Sara, tinha noventa. Sua menstru­ ação cessara fazia muito tempo. Pelo senso humano, existia uma barreira impenetrável entre Abraão e o cumprimento da promessa maravilhosa de Deus, de que Sara em breve teria um filho. Abraão examinou esses fatos médicos. Ele compreendeu plenamente os fatos porque estava “certíssimo de que o que Ele tinha prometido também era poderoso para o fazer”. E foi esse tipo de fé que via Deus como a realidade final, que moveu Abraão a confiar na promessa de Deus apesar de sua patente impossibilidade.

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Para você e para mim, a fé não é realmente crença con­ tra todas as provas. Temos prova de que a Escritura é digna de confiança. Temos o testemunho de um nú­ mero incontável de pessoas que se tornaram cristãs e nos falam de transformação e da paz interior que ex­ perimentaram. Temos prova da vida após a morte na ressurreição de Jesus. Mas a natureza básica da fé exige o mesmo. Ouvimos a palavra de promessa de Deus. E estamos certíssimos de que Ele tem poder para fazer por nós tudo o que Ele diz que deseja fazer. Como Abraão, ao nos comprometermos com o Senhor somos justifi­ cados, e essa é uma dádiva do nosso Deus amoroso.

Entendendo o Texto

“Paz com Deus” (Rm 5.1,2). O primeiro benefí­ cio do novo relacionamento do crente com Deus, mencionado por Paulo, é a “paz”. Enquanto eu escrevia isto, o Muro de Berlim, que separava Alemanha Oriental e Alemanha Oci­ dental, começou a ruir. Centenas de milhares de alemães cruzaram aquela fronteira antes intranspo­ nível para visitar, no Ocidente, parentes que não viam há quase trinta anos. Mesmo quando o muro começou a ruir, não havia nenhuma garantia de paz. Nenhuma garantia de que algum diâ a har­ monia completa entre os profundamente divididos leste e oeste seria restaurada. Aplicação Pessoal “Fé” é nos comprometermos completamente com Paulo exclamou que temos “paz com Deus”. Não Deus. apenas o muro criado pelo pecado ruiu, como ago­ ra entramos livremente em território dantes proibi­ Citação Importante do, sabendo que um relacionamento permanente e “Diga-me o seu nome”, desafiei a Cristo. harmonioso entre nós e o Senhor foi estabelecido. “Você foi um profeta, o Santo Supremo? Paulo disse que “temos entrada” (v. 2). Estamos Teve a verdadeira carne e sangue? agora seguramente dentro do círculo da graça de Você é aquEle que chamamos de Deus? Deus (v. 2). As duas Alemanhas estão desconfor­ Ou só uma esperança, um suspiro, táveis e em dúvida quanto ao futuro; nós estamos Uma coisa compactada do sonho do homem?” cheios de alegria, pois nosso futuro é certo. “Eu me declararei”, disse Cristo, “Quando você confessar o seu nome e posição”. Termos fáceis. Pensei e pensei, Mas, ainda assim, a soma de mim era zero. “Um pecador morrendo, eu.” E Ele logo me disse o seu nome: “Salvação”. — Anna Bunston de Bary

“Nos gloriamos na esperança” (Rm 5-2). Não deixe a palavra “esperança” confundi-lo. Na nossa língua, “esperança” é uma palavra que sugere incerteza. “Tenho esperança de poder ir com você” significa que eu gostaria de ir, mas não sei se poderei. “Espe­ rança” para nós é um tipo de “talvez”. Mas não é assim no Novo Testamento. Na verda­ de, é justamente o contrário! A esperança (elpis) é a 3 D E OUTUBRO LEITURA 276 expectativa firme e confiante de que obteremos um A VIDA EM CRISTO bem futuro. Esperança é termos a certeza de que o Romanos 5 que Deus prometeu será nosso, mesmo que hoje apenas o vislumbremos à distância. “Porque, se, pela ofensa de um só, a morte reinou por Que bênção para termos em mente à medida que esse, muito mais os que recebem a abundância da gra­ lemos o Novo Testamento. Por causa de Jesus, te­ ça e do dom da justiça reinarão em vida por um só, mos a esperança verdadeira. Assim sabemos que Jesus Cristo" (Rm 5.17). temos uma participação na glória de Deus. A vida ou a morte não estão no final de dois cami­ “Também nos gloriamos nas tribulações” (Rm 5.3nhos. Elas são dois caminhos. 5). “Esperança”, aqui, é uma palavra a respeito de amanhãs. Muitas vezes, “tribulação” parece ser a Visão Geral palavra para o nosso hoje. Mas Paulo disse que, por Justificados pela fé, temos paz e alegria (5.1-5). causa de nossa paz com Deus por meio de Jesus, Tudo isso devemos a Cristo, que morreu por nós, nós até mesmo nos “gloriamos nas tribulações”. pecadores (w. 6-8), e que vive para manter a nossa A perspectiva fornece a razão. Uma jovem que ex­ nova harmonia com Deus (w. 9-11). Assim como perimenta as dores do parto ainda assim se alegra o pecado de um homem, Adão, condenou a nossa — porque sabe que seu sofrimento dará à luz uma ttça. •! mo««, V2.A4V o Aom ie um Homem, preciosa nova vida. Ela olha adiante, e a promessa Jesus Cristo, transborda para trazer vida a todos os que o futuro guarda dá significado à dor presente. que creem (w. 15-19). Em Cristo, a graça reina e a E exatamente assim com os cristãos. Sabendo que vida eterna é nossa (w. 20,21). temos paz com Deus, temos certeza de que nosso

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presente está cheio de promessas. Experimentamos alegria nas tribulações porque sabemos que, mes­ mo a partir da dor, Deus nos trará algo bom. Paulo até mesmo nos diz que as nossas tribulações nos trarão um bem! Nossa dor produzirá perseve­ rança e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Por meio da esperança, aquele olhar de expectativa que fixamos no futuro, encontraremos o verdadeiro significado da vida. Isso não significa que teremos uma vida sombria aqui em troca de um futuro alegre. Oh, não. Sig­ nifica que teremos alegria agora e depois. Apren­ der a ter esperança nos salvará de tentar ancorar nossas almas na base escorregadia das riquezas ou da fama deste mundo. Quando colocamos nossa esperança em Deus, seu Espírito inunda nossos corações com uma percepção do seu amor. E isto, a experiência presente do amor de Deus, nos dá alegria no presente. “Cristo... morreu... pelos ímpios” (Rm 5.6-8). A percepção inequívoca do amor de Deus que inun­ da os nossos corações em meio ao sofrimento é algo muito pessoal e subjetivo. Sabemos que so­ mos amados. Podemos contar aos outros. Mas como eles podem saber que o amor de Deus é real? Paulo respondeu que há provas objetivas e subjeti­ vas do amor de Deus. A cruz de Cristo se levanta na história, lançando a sua sombra sobre todos os séculos, uma prova vívida e inequívoca de que Deus realmente nos ama! Embora uma pessoa incomum possa dar sua vida para salvar um homem verdadei­ ramente bom, Jesus Cristo deu sua vida para nos salvar, apesar do fato de sermos pecadores. Pode haver ocasiões em que você e eu não conse­ guimos sentir o amor de Deus. Mas não precisa existir uma ocasião em que duvidamos dele. Preci­ samos apenas olhar para o Calvário e lembrar por que Jesus morreu.

“Agora alcançamos a reconciliação” (Rm 5-9-11). Esta é outra daquelas importantes palavras “teoló­ gicas” da Bíblia. Como no caso da maioria de tais termos, seu significado é, na verdade, bem simples. E algo como um homem que desperta, descobre que seu relógio parou e liga o rádio para saber as horas. Quando ouve, ele acerta o relógio pelo ho­ rário do rádio. O que elejjz foi “reconciliar” seu relógio com o rádio. Por meio da morte de Jesus, Deus “reajustou” o nosso relógio interior. Nossos corações agora ba­ tem em uníssono com o dEle, nossos valores cor­ respondem aos dEle. Somos “salvos pela sua vida”, pois o Cristo ressuscitado vive dentro de nós, para nos capacitar a viver efetivamente em harmonia com Deus! Por meio de Jesus somos salvos da ira que transborda hoje como consequência de nossos atos pecaminosos. Por meio de Jesus temos essa ale­ gria inexprimível. Você teve a confiança de que Jesus, por sua morte, o salvaria das consequências eternas de seus pecados. Você teve a confiança de que Ele o salvará, no pre­ sente, por sua vida? Confie nEle, valha-se da força que Ele fornece, e você será capaz de viver uma vida verdadeiramente em harmonia com Deus. “Os que recebem... [o] dom da justiça reinarão em vida por um só, Jesus Cristo” (Rm 5.12-20). A pas­ sagem inteira contrasta Adão e Jesus, pois ambos definiram o futuro de todos os viventes da era a que deram início. Adão iniciou a era do pecado e todos os que descenderam dele viram-se presos em um pântano de pecado e morte. Jesus Cristo iniciou a era da graça, e todos os que têm um relacionamen­ to com Ele estão libertos do pecado, para serem justos e viverem uma vida justa. Considere algumas das diferenças destacadas neste capítulo, mostradas na seguinte tabela. E rejubilese. Você foi adotado pela família do amado Filho de Deus.

ADÃO/CRISTO em Romanos 5.11-21 12

Adão Introduziu o pecado, a morte

16 19 16 17 19

Os homens são condenados, e se tomam pecadores Julgamento como consequência Todos sujeitos à morte Desobediente

V.

Cristo Introduziu a graça, a justiça, e a vida Os homens recebem a justiça, e a vida, e são justificados A graça reina como consequência Muitos são levados à vida eterna Obediente

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v. 15 17 17 16 21 21 19 19

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“Porque até à lei estava o pecado no mundo” (Rm 5-13). Quando um amigo meu ultrapassou um si­ nal de parar, ganhou uma multa. Mais tarde, ele foi ao tribunal e argumentou que o sinal de parar fora colocado no dia anterior, e era difícil de enxergar. Era um argumento interessante. A comissão de trânsito havia determinado que aquele cruzamento em particular era perigoso e devia haver um sinal ali. Meu amigo náo discutiu isso. Ele até admitiu que ultrapassara o sinal. Ele argumentou apenas que não era culpado porque o sinal era novo e es­ tava obscurecido. A ideia de Paulo é algo assim. O pecado esteve no mundo desde Adão. E, por causa do pecado, os seres humanos vêm morrendo desde Adão, já que uma consequência necessária do pecado é a morte. Mas as pessoas não eram culpadas de pecado antes que houvesse uma lei dizendo “Isto é errado”. Para

alguém ser culpado de transgredir a lei, a lei deve existir e ser conhecida. O argumento era importante para alcançar os ju­ deus, que davam muita importância à posse da Lei de Moisés. Na essência, Paulo dissera que os judeus estavam em pior situação que os gentios. Gentios e judeus haviam sofrido a morte espiritual como consequência do pecado. Mas os judeus, que tinham a Lei e a haviam violado, eram também culpados! Graças a Deus, nem a morte nem a culpa são problemas para os cristãos. Jesus dá a vida eterna a todos os que creem nEle. Por meio de Cristo, somos todos elevados da morte para a vida, li­ bertados do poder presente do pecado e perdoa­ dos por todas as violações que cometemos. Que grande diferença Jesus Cristo faz para aqueles que o conhecem.

DE V OCIONAL______ Em todos os Lugares para onde Você Olhar

Citação Importante

(Rm 5.1-11) Há uma antiga charada que diz: Em que direção olhou o urso polar quando virou a cabeça para a di­ reita? Para a esquerda? E quando olhou para a fren­ te? A resposta em cada caso era sul. Ele estava no Pólo Norte. O mesmo acontece no caso de um termo que en­ contramos em Romanos 5.1-11. O que um cristão vê quando olha para trás? E se olhar para a frente? E se olhar à sua volta? Reconciliação! Olhando para trás, percebemos que a morte de Je­ sus mudou nossa condição e nosso coração. Fomos reconciliados com Deus, e Ele nos transformou de inimigos em amigos (v. 10). Olhando adiante, ve­ mos um futuro sem fim no qual Cristo está ao nosso lado e por fim nos colocamos ao seu lado por toda a eternidade (v. 9). Olhando à nossa volta, desco­ brimos que experimentamos alegria ao servirmos a Jesus. Temos também uma experiência de reconci­ liação agora. A própria palavra “salvo” é assim. Olhe para trás: você foi salvo. Olhe à sua volta: você está sendo sal­ vo. Agora mesmo, Jesus está trabalhando em seu in­ terior para lhe dar o poder de viver uma vida santa. Nosso passado, nosso presente e nosso futuro são todos transformados por causa dEle. Qualquer que seja a direção em que olhemos, tudo é brilhante, e novo, e completamente diferente por causa de Jesus Cristo, o Filho de Deus.

“Se tivessem que passar um mês se alimentando das promessas preciosas de Deus, vocês não anda­ riam por aí com a cabeça baixa como juncos, queixando-se de como são pobres, mas levantariam a cabeça com confiança e proclamariam as riquezas da sua graça porque não teriam como não fazê-lo.” — D. L. Moody

4 DE OUTUBRO LEITURA 277 LIBERTADOS DO PECADO Romanos 6

“Considerai-vos como mortos para opecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências” (Rm 6.11,12).

Contexto

Pecado. Romanos 6-8 explora o impacto do evan­ gelho no indivíduo. Paulo retratou esse impacto no que diz respeito a três questões vitais, perguntando: E o pecado? E a Lei? E a nossa mortalidade? Nesse capítulo, Paulo anunciou a liberdade do crente frente ao pecado por meio da união com Jesus. Para entender o ensinamento de Paulo, pre­ cisamos perceber que a Bíblia faz uma distinção entre pecado e pecados. Por um lado, o pecado é um estado ou condição. É a corrupção da natureza humana, a deformação da vontade, das emoções e Aplicação Pessoal entendimento humanos. Por outro lado, os peca­ Deixe que Jesus mude a sua perspectiva sobre todas dos são atos específicos que intencionalmente ou as coisas que fazem parte da vida. não ficam aquém da perfeição de Deus por causa

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de nossa rebelião, nossos desejos maus ou nosso fracasso em entender o que é correto e bom. A boa notícia que Paulo anunciou neste capítulo é que, por meio da união com Jesus temos dentro de nós a fonte da perfeição! Não somos mais limitados às escolhas, desejos ou entendimento de uma natu­ reza corrupta! Em Cristo, podemos, por fim, ser realmente bons e fazer o bem. Paulo não ensinou que a antiga natureza corrupta que se expressava em atos de pecado desapareceu. Em absoluto. O pecado ainda está conosco. Mas Jesus também está. E como Jesus está conosco não desejamos mais cometer pecados. Visão Geral A salvação pela graça por meio da fé não é uma licença para pecar (6.1,2). Pela nossa união com Cristo morremos para o pecado e ressuscitamos para uma nova vida (v. 3-10). Não devemos permi­ tir que o pecado reine em nossa vida (w. 11-14); mas, pelo contrário, devemos nos oferecer a Deus como seus servos, para vivermos uma vida santa e justa (w. 15-23).

Entendendo o Texto

“Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante?” (Rm 6.1). A pergunta era sarcás­ tica. Náo era a dúvida honesta de uma pessoa que se pergunta por que, se uma pessoa sabe que vai para o céu, ela desejaria viver uma vida boa? Aquela pessoa, com discernimento significativo da nature­ za humana, pergunta: “Se não temo a condenação, o que me impediria de errar?” O questionador do versículo 1 disse: “Se Deus re­ cebe tanta glória por perdoar livremente os peca­ dores, então talvez seja melhor continuar pecando, para que Deus possa ter ainda mais glória!” A res­ posta de Paulo foi um chocado me genito, uma ex­ pressão que poderíamos traduzir como “Deus me livre!”, “Impensável!”, “Nunca!” Choque é uma resposta adequada. Deus não tem nenhuma afinidade com o pecado. Ele perdoa os pecadores. Mas, com o perdão, Ele pede a cada crente que viva uma vida santa e justa. A prova de­ finitiva da graça de Deus não é vista no perdão do pecado. Ela é demonstrada na transformação mo­ ral do pecador. Os cristãos são chamados de “troféus da graça”. Deus nos conquistou em Cristo. Lá em cima, na sua estante figurada, nós lhe trazemos glória. Mas um troféu manchado e fosco náo traz muita glória ao seu possuidor. Para refletir verdadeiramente a glória da graça de Deus, precisamos viver uma vida polida e pura.

“[Nós”] fomos batizados em Jesus Cristo” (Rm 6.24). Aqui, Paulo não estava pensando no batismo nas águas. Em vez disso, estava usando a palavra baptizo como uma metáfora: fomos imersos em Jesus. Ao contrário de um pedaço de pano imerso em tintura para que possa adquirir a sua cor, nós, pela fé, mergulhamos em Jesus e nos tornamos tão completamente unidos a Ele que a morte que Ele morreu passou a ser a nossa morte, e a vida ressurreta que Ele possui agora é a nossa vida também. Talvez a analogia moderna mais próxima seja en­ contrada nos estados americanos onde existe a “propriedade comunitária”. Digamos que uma jo­ vem pobre se case com um multimilionário. No momento do casamento, a lei considera pertencen­ te a ela a metade de tudo o que o noivo possui. É como se, legalmente, ela tivesse sido uma parti­ cipante quando ele ganhou seus milhões. E agora que eles foram unidos peio casamento, ela pode dispor de seus vastos recursos. Isso é o que Paulo disse sobre você e Jesus. Quando você creu em Jesus, uniu-se a Ele. Ê como se, teolo­ gicamente, você estivesse na cruz com Ele. Quando Jesus morreu, você morreu. E quando Jesus ressus­ citou dos mortos, você também ressuscitou! Ago­ ra que você se uniu pela fé a Jesus pode dispor de seus vastos recursos espirituais. E o resultado? “Nós também podemos viver uma nova vida.” Na próxima vez que você for tentado a pecar, imagine-se imerso em Jesus. Use livremente o seu po­ der de ressurreição. Escolha aquela nova vida que é sua! “Para que o corpo do pecado seja desfeito” (Rm 6.6). Imersos em Jesus, o nosso antigo eu foi crucificado com Ele. Essa é a base da nossa liberdade final da presença do pecado, na nossa ressurreição. Mas, até então, o pecado está presente demais conosco. Sen­ timos a sua atração; nós a percebemos nos pensa­ mentos que perseguem a nossa mente. Mas, graças a Deus, o pecado, apesar de presente, é “desfeito”. Por fim, podemos ignorar a atração que o pecado procura exercer sobre nós. (Veja o DEVOCIONAL.) Como disse Martinho Lutero: “Não podemos impedir os pássaros de voarem em tomo da nossa cabeça. Mas não precisamos deixar que construam um ninho em nosso cabelo!” “Apresentai-vos a Deus” (Rm 6.11-14). A libertação do pecado tem uma etiqueta de preço. Na etiqueta está escrito: “Apresentai-vos a Deus”. Desde o início, os indivíduos supuseram que “li­ berdade” significa uma pessoa ser capaz de fazer o que quiser, quando quiser, sem prestar contas a

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nada ou a ninguém, A ideia não tem absolutamen­ te nenhuma correspondência com a realidade. O fato é que nós, seres humanos, somos criaturas e, como criaturas, sempre servimos a algum senhor, O senhor pode ser o pecado, expressando-se como uma paixão por riqueza ou poder, ou como uma simples paixão egoísta pelos nossos próprios inte­ resses. Ou esse Senhor pode ser Deus. Mas é im­ possível vivermos sem um senhor. Posso pensar em muitas razões por que Deus é um mestre melhor do que o pecado. Mas uma delas é certamente o que Paulo mencionou no versículo 23. “O salário do pecado é a morte”. Pessoalmente, preferiria muito mais oferecer os membros do meu corpo a Deus como “instrumen­ tos de justiça”. “Libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça” (Rm 6.18). De certa maneira, a vida cristã é uma vida de extrema simplicidade. Pergunte-se, em to­ das as ocasiões, qual é a coisa justa a fazer. As pessoas às vezes tentam complicar isso e argu­ mentam que muitas vezes não sabem qual é a coisa

DEVOCIONAL______ Apenas não Salte

(Rm 6.1-14) Donald Grey Barnhouse dizia sobre essa passa­ gem: “Quando o antigo capitão gritar, apenas não salte!” O Dr. Barnhouse era mestre em encontrar ilustra­ ções que tornassem simples e claros os conceitos mais complexos. Certamente precisamos desse dom para nos ajudar com Romanos 6. Que his­ tória é essa de “o corpo do pecado” ser “desfei­ to”? E de “a morte não mais ter domínio” sobre nós? Como explicamos a expressão: “consideraivos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus”? Barnhouse dizia que somos como a tripulação de um navio em alto mar. Recebemos ordens de nos­ so capitão, que é o corpo do pecado. Mas, então, um dia, enquanto ainda estamos no mar, o capi­ tão é substituído e a sua autoridade passa para um novo capitão; Deus. Portanto, o corpo do pecado é desfeito, torna-se sem poder, sem nenhum direi­ to de domínio sobre nós. Deus é o único a quem temos que obedecer. O problema é que o antigo capitão ainda está a bordo e, embora não tenha nenhuma autoridade, continua a gritar, tentando dar ordens. Como es­ tamos muito familiarizados com a sua voz, muitas vezes nos vemos pulando para obedecer a ele. O

justa a fazer. Pode ser. Mas quase sempre sabemos quando algo é a coisa errada a fazer! Tudo se resume a isto: Não faça o que você saiba ou suspeita que é errado. Você pode não ter certeza de que certo curso de ação é o melhor. Mas certamen­ te reconhecerá ações que sejam erradas. “Que fruto tínheis, então, das coisas de que agora vos envergonhais?” (Rm 6.19-23). Esta é uma questão justa. O que uma pessoa consegue a partir do pe­ cado? Um entusiasmo momentâneo? Um instante de satisfação? Um senso de poder? Isso é o que o pecado oferece na melhor das hipóteses — e, com o pecado, vêm um sentimento de culpa e uma profunda insatisfação. Quando você acrescenta a perdição eterna à lista, o pecado parece não com­ pensar, de modo algum. A justiça é algo que vale a pena, pois o seu paga­ mento é a santificação. Isso não é muito valorizado pelo mundo, mas pode trazer paz interior, liberta­ ção do pecado, alegria, uma sensação de estar sen­ do correto com Deus e consigo mesmo, e a vida eterna.

que temos de fazer, Barnhouse diz, é “considerar­ mo-nos mortos” para as ordens do antigo capitão e não saltarmos para obedecer às suas ordens. Sempre gostei da ilustração. Não é maravilhoso que não tenhamos de saltar quando um pensamen­ to pecaminoso tentar nos impelir ao pecado? Que divertido é poder dizer ao pecado que ele mesmo salte! Aplicação Pessoal Resista ao Diabo. E torça o seu nariz para o pe­ cado. Citação Im portante “Somos muito cristãos para realmente gostarmos de pecar, e muito afeiçoados a pecar para realmen­ te gostarmos do cristianismo. A maioria de nós sabe perfeitamente bem o que deve fazer; o nosso problema é que não o queremos fazer.” — Peter Marshall 5 D E OUTUBRO LEITURA 278 LIVRES DA LEI Romanos 7 “Quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, que são pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte” (Rm 7.5).

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Romanos 7

Contexto

Mais sobre a Lei. Romanos 7 explora o impacto do evangelho sobre o indivíduo no seu relacionamen­ to com a “Lei de Deus”. Essa é uma das passagens mais difíceis da Bíblia, mas contém uma verdade empolgante! Para compreendê-la, precisamos ob­ servar que Paulo usa a palavra “lei” com mais de um significado aqui. Vimos anteriormente que a “Lei de Deus” é a re­ velação dos padrões moralmente justos, feita por Deus. Aqui, porém, “lei” não designa apenas esses padrões, mas também o impacto desses padrões so­ bre a natureza humana. Paulo está interessado não apenas em leis, mas na resposta que os mandamen­ tos de Deus estimulam dentro de nós. Há também outro uso de “lei” nesse capítulo. Quando Paulo fala de uma “lei em funcionamen­ to” dentro de si, como no versículo 21, ou da “lei do meu entendimento” e da “lei do pecado que está nos meus membros” (v. 23), ele se refere não a padrão, mas a “princípio fundamental”. A “lei da gravidade” é uma formulação de um princípio fundamental de nossa experiência: as coisas caem na direção da terra. A “lei do pecado que está nos meus membros” também é uma formulação de um princípio fundamental da experiência humana: pe­ camos, mesmo quando não queremos. Em sua conversa sobre estas “leis”, Paulo está fa­ zendo formulações sobre como a natureza humana atua e não atua. O que Paulo diz é que a Lei de Deus e a natureza humana não são compatíveis, não mais do que um carro projetado para funcio­ nar com gasolina é compatível com diesel. A Lei de Deus pode ser um ótimo combustível para má­ quinas a diesel. Mas a natureza humana funciona com gasolina. E isso leva à questão que Paulo explora em Roma­ nos 7. Qual é a relação do evangelho com uma Lei divinamente dada que, por “melhor” e “mais corre­ ta” que possa ser, nunca conseguiu produzir justiça em um único coração humano?

Visão Geral

Os cristãos estão livres da obrigação de guardar a Lei (7.1 -3). E é assim que devemos estar para viver­ mos uma vida santa (w. 4-6). Tentar relacionar-se com Deus por meio de sua Lei torna a vida cristã uma luta constante e sem vitórias (w. 7-20). Mas Deus, em Cristo, nos resgata de nossa incapacidade congênita (w. 21-25).

Entendendo o Texto

“A lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que vive” (Rm 7.1-4). Um antigo hino evangélico diz:

Livres da lei, oh, feliz condição. Jesus morreu e há remissão. Apega-te à cruz, teu fardo cairá. Cristo redimiu-nos de uma vez por todas. O leitor judeu de Romanos, porém, com certeza fará objeção à primeira linha. Como um ser huma­ no pode estar “livre da lei”? O argumento de Paulo baseava-se no fato da união com Cristo, que ele introduziu em Romanos 6. Em um casamento, marido e esposa estão unidos como um e, como um, estão sujeitos à “lei do casamen­ to”. Mas se um cônjuge morre, o outro está livre da lei do casamento. Não tem mais a obrigação de ser fiel ao cônjuge falecido. Fazendo uma analogia, cada cristão estava unido a Jesus e, enquanto o cristão e Jesus Cristo vivessem, cada um tinha a sua responsabilidade para com a Lei de Deus. Mas Jesus Cristo morreu no Calvário e nós “morremos” com Ele! Assim como uma pes­ soa morta está liberada da obrigação de guardar a Lei de Moisés, nós também estamos! Além disso, quando Cristo ressuscitou, tornamo-nos obrigados a Ele, e não à Lei. Jesus é o “outro” a quem agora pertencemos. Paulo nunca sugeriu que nós, cristãos, não devamos viver uma vida disciplinada e justa. Ele, porém, nos lembra de que respondemos não a um código es­ crito, mas a uma Pessoa. Nossa nova e empolgante obrigação é responder a Jesus, não a uma lista de coisas a fazer e não fazer, por mais adequada que essa lista possa ser. “A s paixões dos pecados, que são pela lei” (Rm 7-5). Esta é uma chave para a exploração que Paulo faz da Lei e do crente, e explica por que o Novo Testa­ mento ensina que o cristão deve se libertar da Lei. A Lei suscita as paixões pecaminosas do homem e produz frutos para a morte. A ideia não é tão estranha assim. Pense na mãe que fez bolinhos de chocolate para uma reunião com suas amigas. Ela diz aos filhos: “Não toquem nos bolinhos. São para o meu grupo de amigas e fiz apenas o suficiente”. Ora, qualquer criança normal vai querer, natural­ mente, um bolinho de chocolate. Só o cheiro já é suficiente para despertar o desejo. Mas quando a mãe diz “Não toquem”, o aroma se torna quase irresistível. A lei da mãe aumentou ainda mais a paixão das crianças por esses bolinhos. A Lei, Paulo diz, é assim. De alguma maneira, ela estimula a natureza pecaminosa do homem. E todos nós sabemos disso. E por isso que o ditado “Tudo o que é proibido é melhor” persiste em nos­ sa cultura. Todos percebemos que, de certa manei­

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ra, o ditado é verdadeiro. Você não pode motivar as pessoas a fazer o que é certo e bom dizendo: “Você deveria fazer”, ou “Você tem que fazer”. “Estamos livres da lei... para que sirvamos em novida­ de de espírito” (Rm 7-6). Ao dizer que “morremos” para a Lei que antes nos obrigava, Paulo estava di­ zendo, em primeiro lugar, que estamos legalmente livres de obrigação para com a Lei e que a Lei agora é irrelevante para a nossa vida no Espírito. Meus filhos têm sofrido ao longo dos anos por eu usar seus feitos em minhas ilustrações. Imagino que todos os filhos de pregadores têm o mesmo problema. Mas, de qualquer maneira, lá vou eu outra vez. Meu filho mais jovem está se encontrando com uma jovem adorável chamada Liz. Notei que nin­ guém lhe diz: “Você tem de ligar para a Liz hoje à noite” ou “Você tem de sair com a Liz pelo menos três vezes por semana”. De alguma maneira, seu relacionamento não é uma questáo de “dever” ou “ter de”! O que acontece é que Tim quer telefonar para Liz e sair com ela. Seu amor crescente torna as regras para tais hábitos totalmente irrelevantes no seu relacionamento. Isso é o que Paulo quer que percebamos no nos­ so relacionamento com Deus. “Dever” ou “ter de” não é relevante! Nós amamos a Jesus. E o amor por Deus nos impelirá a fazer de bom grado o que nenhuma regra conseguiria nos impor. “Fruto para Deus... fruto para a morte” (Rm 7-4-6). De certa maneira, este parágrafo é sobre horticul­ tura. Ele descreve dois sistemas de produzir frutos. E diz que você não pode misturar os sistemas. Um sistema vale-se dos pronunciamentos da Lei. Mas tais pronunciamentos estimulam a natureza pecaminosa do homem e o fruto produzido é pe­ cado “para a morte”. O outro se vale do relaciona­ mento, com o Espírito de Jesus assumindo o lugar da Lei. O Espírito estimula a vida ressurrecta que recebemos de Jesus e produz fruto “para Deus”. Esse fruto é revelado em atos justos e no caráter devoto (G1 5.22,23). O triste é que muitos cristãos tentam fertilizar sua vida espiritual com uma aplicação liberal da Lei. E depois não conseguem entender por que sua vida cristã parece um fardo e o fracasso é companhia constante. O que você e eu precisamos fazer é concentrar a atenção de nosso coração no Senhor e ouvir o que a Escritura nos diz como um con­ vite amoroso para andarmos com Ele. Quando o fizermos, nossa vida cristã parecerá empolgante e o sucesso caminhará ao nosso lado.

Os marinheiros do século I se valiam de pesadas âncoras de pedra, como esta, para segurar as suas embarcações. Essas âncoras eram eficazes... exceto quando o fundo das águas era liso, e eles não conseguiam obter um ponto onde elas se prendessem. Isso foi o que Paulo disse sobre a Lei de Deus em Romanos 7. A Lei em si é santa, justa e boa (v. 12). Mas a natureza humana é tão endurecida e lisa que a âncora não tem onde se prender. A falha não está na Lei de Deus, mas em nós!

“Eu não conheci o pecado senão pela lei” (Rm 7-713). Paulo falou sobre o princípio e o conceito. Agora fala da experiência. Como o crente experi­ menta a Lei de Deus? Primeiro, a Lei nos tom a conscientes do pecado. Ela coloca um rótulo brilhante e destacado em coisas que estão erradas. O rótulo não é como a caveira e os ossos cruzados nas garrafas de remédio para que não os usemos. E mais como os dois furos na pele que nos informam que a cobra que acabou de nos picar é venenosa. Se você for repentinamente atacado por uma co­ bra, a maneira mais rápida de dizer se é venenosa ou não é examinar a mordida cuidadosamente. Se houver uma fileira de pequenas marcas, você está seguro. Mas se houver a marca de duas presas, o veneno já foi introduzido no seu sistema. E o que a Lei de Deus fez para Paulo. Ao rotular atos como pecaminosos, ela fez o apóstolo perceber que a morte já fora introduzida no seu sistema. A Lei pode ser boa. Mas ela desfere um golpe fatal em nossa suposição de que estamos vivos e bem! Não se surpreenda se a Lei o tratar dessa mesma maneira. E o que se espera. Se você e eu pudésse­ mos fazê-lo sozinhos não precisaríamos de tais lem­ bretes. Ao nos dar testemunho da morte, a Lei de Deus nos pega pelos ombros com firmeza, faz com que nos voltemos, e aponta para Jesus. Ele é a fonte da vida, para nós e para o mundo.

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Romanos

DEVOCIONAL________ Deus não exige que sejamos perfeitos quando ten­ Uma a mais (Rm 7.14-25)

Outro dia, assistindo à televisão, vi uma entrevista com uma mulher que tem múltiplas personalida­ des. Uma personalidade é calorosa e afetuosa, ou­ tra é infantil e petulante, uma terceira é zangada e promíscua. Essas personalidades se desenvolveram cedo em sua vida e, como em todos os casos assim, permaneceram sem consciência umas das outras, apesar de cada uma controlar as ações da mulher em diferentes momentos. De certa maneira, Paulo sugeriu que ele também era uma vítima de múltiplas personalidades. Mas estava bem consciente delas! Um “eu” era a sua “na­ tureza pecaminosa”. Não havia nada de bom nesse “eu”. Ele não apenas continuava a fazer o mal, mas atrapalhava o bem que Paulo queria e tentava fazer (w. 19,20). Depois havia outro “eu”, um “ser interior” (v. 22) que queria apaixonadamente fazer o bem. Esse “eu” alegrava-se na Lei de Deus e respondia a ela. O que perturbava Paulo era o fato de que, toda vez que o “ser interior” atuava, a “natureza pecaminosa” se interpunha para corromper e impedir o bem. E como se uma pessoa com esclerose múltipla quisesse escrever uma carta. Na sua mente, ela vê cada palavra com nitidez. Mas, quando escreve, a paralisia nas mãos forma letras quase ilegíveis, trêmulas e distorcidas. Exatamente dessa ma­ neira, Paulo bradava com frustração; ele, como crente, queria apenas fazer o bem. Mas algo den­ tro dele continuava a tentar deter os seus melho­ res esforços. O princípio do pecado e da morte era como outra personalidade dentro dele, em guerra com a personalidade que queria, honesta­ mente, servir a Deus. Todos nós temos uma personalidade a mais. Toda­ via, temos uma maravilhosa fonte de conforto. As palavras que formamos enquanto procuramos fazer de nossa vida uma carta de amor a Deus podem ser trêmulas, mas Deus vê e acolhe o nosso amor. Ele sabe que não é o “eu” do homem interior que torna imperfeitas as nossas ofertas, mas o “eu” da natu­ reza pecaminosa. Assim como um pai acolhe com deleite as primeiras tentativas de uma criança que tenta escrever seu nome, assim Deus acolhe todas as nossas tentativas de agradá-lo. Um dia, essa personalidade a mais desaparecerá. Apenas o “eu” que se alegra em Deus e em sua Lei sobreviverá na nossa ressurreição. Como Paulo disse, “Graças a Deus”, pois Jesus nos “livrará do corpo desta morte” (w. 24,25). Mas, até lá, graças a Deus por outro dom maravilhoso.

tamos agradá-lo. Ele só pede que o amemos — e que tentemos.

Aplicação Pessoal

Não deixe que os fracassos façam esmorecer o seu amor por Deus ou sua ânsia de agradá-lo.

Citação Importante

“Deus usa o fracasso, a doença, o colapso, o peca­ do, a tragédia pessoal e a dor para levar o seu povo a uma condição de utilidade. A menos que o servo de Deus aprenda a depender inteiramente de Deus e a renunciar à autodependência de qualquer tipo, ele permanecerá forte demais para ser de muita va­ lia.” — Robert C. Girard

6 DE OUTUBRO LEITURA 279 LIBERTADOS DA MORTALIDADE Romanos 8 “Se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo também vivificará o vosso corpo mortal, pelo seu Espírito que em vós habita” (Rm 8.11).

Contexto

Corpo mortal. A exposição de Paulo do impacto do evangelho sobre os indivíduos examina três ques­ tões essenciais: o pecado, a Lei e a mortalidade (a “carne”). A união com Cristo na sua morte nos li­ berta do domínio da nossa natureza pecaminosa, de modo que possamos nos oferecer a Deus como “servos da justiça” (6.18). A união com Cristo em sua morte também nos liberta legalmente da obri­ gação para com a Lei de Deus. Isso é importante, já que a Lei estimula a nossa natureza pecaminosa e corrompe até mesmo o bem que procuramos fa­ zer. Devemos responder positivamente a Jesus por amor, não por obrigação (Rm 7). Agora Paulo explora o problema da nossa morta­ lidade. Os seres humanos são apenas carne, sarx. Como termo teológico, sarx significa tudo que é fraco e corrupto na natureza humana. Na verda­ de, Paulo pergunta como um mero mortal, cujo ser essencial é maculado pela corrupção, pode vi­ ver uma vida devota? Sua resposta jubilosa salta das páginas em Romanos 8. Deus nos deu o seu Espírito Santo! Se respondermos ao Espírito que habita dentro de nós em vez de respondermos à sarx, as exigências justas daquela Lei que não con­ seguíamos guardar serão “cumpridas em nós!” O Espírito de Deus nos dá vida, mesmo em nosso

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Romanos 8

presente estado mortal, de modo que podemos viver vidas justas e santas! Então, Paulo prossegue. Estamos atados à nossa mortalidade agora. Mas, na ressurreição, seremos completamente libertados, juntamente com toda a criação! E, até então, podemos ter uma certeza: nada e ninguém poderá nos separar do amor de Cristo.

ta a falar do que fazemos e dizemos “por fora”. Ela pede que mudemos por “dentro” também. Alguém cuja voz é doce e paciente, mas que, entretanto, ao mesmo tempo, grita por dentro, não “cumpriu” plenamente a justiça que Deus exige. A própria Lei não pode nos tornar bons. Mas Deus pode! A morte de Cristo e o dom do Espírito de Deus destinam-se a nos mudar por dentro e por fora.

Visáo Geral O princípio dinâmico da nova vida em Cristo sobrepuja o princípio do pecado inerente, capaci­ tando-nos a viver de maneira justa (8.1-4). Se nós, como filhos de Deus, escolhermos viver em harmo­ nia com o Espírito, não com a carne, o poder de ressurreição do Espírito nos dará vida, mesmo em nosso presente estado mortal (w. 5-17). No futuro, nossos corpos, com toda a criação, serão transfor­ mados (w. 18-25). Até então, vivemos no amor do Espírito, que intercede por nós (w. 26,27), do Pai que nos sustenta (w. 28-33) e de Cristo, que nos guarda (w. 34-39).

“Não andamos segundo a carne, mas segundo o Es­ pírito” (Rm 5-9a). Muitas ilustrações foram ofe­ recidas para esclarecer o que Paulo está dizendo aqui. Alguns falam de um cabo de guerra entre o Espírito e a carne. Qualquer lado que você es­ colher vencerá. Alguns sugerem uma gangorra. A natureza pecaminosa em uma ponta, o Espírito Santo na outra. E você faz o equilíbrio mudar. Essas e outras ilustrações têm uma ideia em co­ mum. LIá uma competição entre Deus e a nature­ za mortal e pecaminosa. O Espírito nos impele a ir em uma direção, enquanto a carne nos empurra para outra. E cada um de nós pode escolher. Po­ demos escolher seguir a direção do Espírito, nos esforçar na direção que nos for indicada pelo Es­ pírito, e acrescentar o nosso peso no lado dEle na gangorra. Ou podemos escolher o caminho da carne. Quão grande é a graça de Deus. Mesmo agora, Ele não diz “você deve”. Isso seria Lei. Em vez disto Ele nos lembra que, por causa de Cristo, e através do poder que o Espírito oferece: “Você pode!”

Entendendo o Texto “Para que a justiça da lei se cumprisse em nós” (Rm 8.1-4). Muitos cristãos se sentem condenados ao fracasso. Eles tentam. Mas, de alguma maneira, continuam a fracassar. A vida de muitos cristãos é como o deus da mitologia grega que foi condenado a rolar uma pedra gigantesca montanha acima — apenas para vê-la rolar para o vale quando chegava ao topo. Que condenação seria esta! Sempre tentar. E sempre falhar. Mas a mensagem de Paulo era: “Nenhuma condenação!” Jesus não morreu para que ficássemos frustrados e sem esperança. Deus introduziu um novo princípio vital em nossas per­ sonalidades, que nos liberta da escravidão do “pe­ cado que habita em mim”, que Paulo reconheceu com tanta agonia em Romanos 7. Em Jesus, somos libertados para viver uma vida justa. Ê o que há de tão especial em Romanos 8. Dános esperança. E nos diz como nos valermos dos recursos espirituais de Deus para experimentarmos o sucesso espiritual, não o fracasso. “Para que a justiça da lei se cumprisse em nós” (Rm 8.4). A franzina senhora Quaker foi cumprimen­ tada por uma jovem, impressionada com seu au­ tocontrole quando provocada. Fosse o que fosse, a senhorinha parecia manter-se doce e paciente. Ela recebeu o cumprimento, assentiu e disse: “Mas você deve saber que estou gritando por dentro”. Quando Paulo disse que a justiça da Lei é “cumpri­ da” no crente, estava fazendo uma afirmação mara­ vilhosa. Corretamente entendida, a Lei não se limi­

“A quele que dos mortos ressuscitou a Cristo tam­ bém vivificará o vosso corpo mortal” (Rm 8.9b-ll). “Você pode!” é uma das afirmações mais difíceis de acreditar para os cristãos. Estamos tão acostu­ mados com o fracasso que, no fundo, muitos en­ tre nós estão convencidos: “Bem, eu não posso!” Quando essa convicção o sobrepujar, lembre-se da natureza do poder de Deus. O poder de Deus, exercido pelo Espírito Santo, levantou Jesus dos mortos. O mesmo poder, exercido pelo Espírito Santo, é plenamente capaz de tirar a sua morta­ lidade e fazê-lo viver! E esse mesmo versículo diz que o seu Espírito “vive em vós”. E claro que “eu não posso”. Mas como o Espírito de Deus vive em todo crente verdadeiro (v. 9b), você pode! Abordar qualquer desafio espiritual com a con­ fiança de que “eu posso” não é presunção; é fé. Fé que o Espírito de Deus que vive em você lhe dará o poder de que você necessita, apesar de sua mor­ talidade, para ter sucesso em vez de fracassar. Na verdade, é assim que você e eu acrescentamos nosso peso àquele cabo de guerra interior, ou su­ bimos na gangorra no lado do Espírito. Dizemos

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“eu posso” confiantes de que o Espírito atuará em vados, a própria criação será plenamente redimida. nós e por meio de nós. Até lá, mortalidade significa sofrimento. Para nós E então agimos! e para a natureza. Sabemos que nossos sofrimen­ tos são insignificantes quando comparados com a “Recebestes o espírito de adoção de filhos” (Rm 8.12- glória que nos espera. Mas, até lá, podemos apenas 17). Pauío concluiu com um parágrafo que enfatiza olhar para a frente, confiantes e ansiosos, esperan­ consequências, obrigações e recursos. A consequ­ do que Jesus retorne. ência de uma escolha de responder ao impulso da natureza pecaminosa é viver no domínio da morte e “Todas as coisas contribuem juntamente para o bem da derrota (v. 13). Nossa obrigação e nossos recursos daqueles que amam a Deus”(Rm 8.28). 0 versículo estão enraizados no relacionamento com Deus. não diz que tudo o que acontece a nós é bom. Há Quando uma pessoa era adotada sob a lei romana, dor demais no mundo para que isso seja verdade. todas as obrigações anteriores eram rompidas e ela se O que Paulo diz é que Deus está trabalhando em tornava responsável apenas para com o novo pai. Ela todas as coisas. Ele redime até mesmo o nosso so­ devia ao pai adotivo obediência completa e tudo o frimento, usando-o para nos fazer bem. que ela possuía ficava sob o controle do pai adotivo. Mas, como filha, ela era herdeira do novo pai. E sob “Os predestinou para serem conformes à imagem de a lei romana considerava-se que um herdeiro possuía seu Filho” (Rm 8.29). Os cristãos debatem sobre a herança antes da morte do pai. Em outras palavras, a predestinação. Deus simplesmente sabe de an­ todos os recursos do pai estavam, por meio do pai, temão o que os indivíduos vão fazer? O u Deus disponíveis ao filho. faz os indivíduos agirem como agem? Somo sal­ Quando recebemos o “espírito de adoção de filhos”, vos por causa da nossa fé ou cremos porque so­ a autoridade da antiga natureza sobre nós foi com­ mos escolhidos? pletamente rompida. Tornamo-nos obrigados para Essa passagem não solucionará questões como com ninguém, a não ser Deus, nosso novo Pai. E, essas. Por quê? Porque ela diz que aqueles que como seus herdeiros agora, todos os recursos do pró­ creem estão predestinados para “serem confor­ prio Deus estão disponíveis para você e para mim. mes à imagem de seu Filho”. Deus determinou Não é de admirar que Paulo gritasse: “Agora, ne­ que os crentes serão como Jesus. nhuma condenação há” (v. 1). Como Cristo mor­ A grande contribuição desse versículo é a reu por nós, como o Pai nos adotou, como o Es­ perspectiva que oferece sobre o ensino de que pírito nos é dado, não há mais nenhuma dúvida; Deus trabalha em todas as coisas, “para o bem podemos viver uma vida cristã vitoriosa! daqueles que o amam”. Ele nos conta qual é o E tudo que precisamos fazer é crer. E, agindo com “bem” que foi mencionado por Deus: a seme­ fé, devemos prosseguir e agir. lhança com Jesus. Que pensam ento maravilhoso. E que destino “A ardente expectação da criatura espera” (Rm 8.18- empolgante. Deus quer que sejamos como Je­ 25). Ainda trabalhando com o tema da mortalidade, sus. E Ele está com prom etido em nos transfor­ Paulo observou que a criação inteira foi afetada pelo mar para que sejamos conforme a imagem de pecado do homem e está sujeita à corrupção. Um Cristo. Até mesmo o sofrim ento, se me ajudar dia, quando nossa redenção estiver completa, e nos­ a entender como é a semelhança com Cristo, sos corpos, como nossos espíritos, tiverem sido reno- será um a bênção do Senhor.

DEVOCIONAL______ Até lá

(Rm 8.26-39) Esperar é muito difícil. Lembro-me, quando crian­ ça, de estar sentado na varanda, esperando. Está­ vamos nos preparando para ir ao Cedar Lake, e eu mal conseguia suportar o pensamento de que ainda faltavam três dias inteiros para a viagem. E não ha­ via nada que eu pudesse fazer para o tempo passar mais rápido. Esperar por Jesus é especialmente difícil ao perce­ bermos a vulnerabilidade e a mortalidade. Pode-

mos até sentir que não há nada que possamos fazer até lá. Quando nos sentimos dessa maneira é útil lembrar que, até lá, Deus está ativo por nós! O Deus Espírito Santo, sensível à nossa mortalida­ de, “ajuda as nossas fraquezas”. O Espírito interce­ de por nós e conosco (w. 26,27). Deus Pai, que nos adotou, nesse ato se comprome­ teu totalmente conosco. Deus está a nosso favor: Ele nos dá todas as coisas agora, e nos dará a glória que nos foi assegurada por sua escolha e chamado iniciais (w. 28-33).

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vontade de Deus, de modo que seu propósito para Israel não foi alcançado! E essa ampla questão, não a questão da predestinação individual que Paulo considerou em Romanos 9— 11. Ele argumentou que a rejeição judaica a Jesus não frustrara Deus. Em vez disso, a rejeição ajustava-se a padrões en­ contrados no Antigo Testamento e revelavam um propósito mais complexo do que os crentes muitas vezes supõem. E importante lembrar, quando lemos esses capítu­ los, que a questão não é de predestinação individu­ al para a salvação. Qualquer um tentado a ler essa questão no texto pode descobrir certo conforto na observação de Paulo de que “nem todos [os israeli­ tas] obedeceram ao evangelho”! A liberdade abso­ luta de Deus para atuar não limita a liberdade do homem para aceitar ou rejeitar as Boas-Novas de Aplicação Pessoal Jesus. Nossa liberdade para escolher não limita, de Até lá, sirva àquEle que o ama. maneira nenhuma, a soberania de Deus, pois Deus decidiu livremente estender o convite do evange­ Citação Importante lho a todos — a permitir que cada um responda “A força para a nossa conquista e a nossa vitória é como quiser. tirada continuamente de Cristo. A Bíblia não ensi­ na que o pecado esteja completamente erradicado Visão Geral dos cristãos nesta vida, mas ensina que o pecado Deus falhara porque suas promessas a Israel não não reinará mais sobre nós. A força e o poder do produziu fé em Cristo? (9.16) Não, pois a história pecado foram quebrados. O cristão agora tem re­ sacra mostra que apenas alguns na linhagem fa­ cursos disponíveis para viver acima e além deste miliar haviam sido escolhidos (w. 7-13), embora mundo. A Bíblia ensina que todo o que nasce de todos estejam dentro da estrutura do propósito de Deus não pratica o pecado. E como a garotinha Deus (w. 14-23). Quanto aos gentios, Deus sem­ que disse que, quando o Diabo veio bater à porta pre pretendera mostrar-lhes graça como aos judeus com uma tentação, ela simplesmente pediu para (w. 24-29). Israel compreendeu erroneamente a justiça de Deus (w. 30— 10.4) que é conquistada Jesus atender.” — Billy Graham pela fé e não pela Lei (w. 5-13). O fracasso de Isra­ 7 DE OUTUBRO LEITURA 280 el por não crer não é um fracasso de Deus, mas de DEUS FALTOU? Israel (w. 14-21). Romanos 9— 10 Entendendo o Texto “Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem “Tenho grande tristeza e continua dor no meu cora­ todos os que são de Israel são israelitas" (Rm 9.6). ção” (Rm 9.1-5). Paulo, apesar da visão de alguns, certamente não era antissemita. Ele se identificou Contexto vigorosamente com sua raça e tinha profundo amor Soberania de Deus. Duas coisas estão envolvidas pelo seu povo judeu. Paulo tinha plena consciência nesse conceito. Sua liberdade de agir e o cumpri­ de que Deus derramara muitas bênçãos sobre Israel mento de seus propósitos. A liberdade de agir signi­ e que estas eram prova do amor comprometido de fica que Deus é capaz de fazer como quer, sem que Deus (w. 4,5). suas escolhas sejam limitadas de nenhuma maneira Embora o “antissemitismo cristão” tenha surgido pelas ações de outros seres ou pelas circunstâncias. com frequência na história, e se manifeste hoje em Nada pode frustrar a vontade de Deus. alguns países, colocar os termos “cristão” e “an­ O cumprimento dos propósitos de Deus significa tissemitismo” juntos é uma contradição absoluta! que aquilo que Deus decreta, acontecerá. Nova­ Como uma pessoa que ama a Deus seria capaz de mente, nenhuma ação ou ser e nenhuma circuns­ não amar o povo que é amado pelo Senhor? tância podem frustrar a vontade de Deus. O problema é que a rejeição a Jesus pelo povo judeu “Não que a palavra de Deus haja faltado” (Rm 9.6). parece fazer o impensável e efetivamente frustrar a Esse versículo é a chave para solucionar o argumen­

Deus como Filho, que morreu por nós, está orando por nós e nos amando. Percebemos esse amor, sejam quais forem as nossas dificuldades. Em todas as coi­ sas nós sabemos, como Paulo, que “nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra cria­ tura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!” (w. 38,39). Portanto, se esperar parece difícil e um pouco frus­ trante porque parece que não há nada que você possa fazer, lembre-se. Até lá, Deus está ativo por você. Até lá, o Espírito intercede, o Pai provê e o Filho o protege. E, até lá, você pode viver a sua vida aqui na terra para Deus.

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to de Romanos 9— 11 • Também é uma chave para a nossa paz de espírito. Muitas vezes oramos e testemunhamos para pes­ soas que simplesmente parecem não entender, ou que se recusam a responder. Isso pode fazer com que nos sintamos um fracasso. O que fizemos de errado? Por que elas não ouvem? Paulo nos lembra que a Palavra de Deus não falha. Nunca. Isaías 55.11 diz: “Assim será a palavra que sair da minha boca; ela não voltará para mim va­ zia; antes, fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a enviei”. Mesmo se uma pessoa se recusa voluntariosamente a responder, a falta não está na Palavra, mas nela. Portanto, compartilhe Cristo com uma percepção de confiança. A Palavra de Deus tem e terá sucesso. “Em Isaque será chamada a tua descendência!” (Rm 9.6-13). Um dos vários erros básicos cometidos pe­ los judeus do século I foi supor que a descendência física de Abraão garantia o favor de Deus a uma pessoa. Como a história mostra que isso era um erro? Ela registra o fato de que Isaque herdou as promessas da aliança, ao passo que Israel não. Am­ bos eram descendentes físicos de Abraão. Se alguém quisesse argumentar que Ismael tinha uma escrava como mãe, Paulo apontava Jacó e Esaú. Eles tinham a mesma mãe e o mesmo pai. Mas apenas Jacó herdou a promessa. A descen­ dência física não é garantia de favor divino, por­ tanto, o fracasso dos judeus do século I em crer em Jesus não indicava que a Palavra de Deus hou­ vesse falhado. Um de meus professores na Universidade de Michigan era um cristão que tinha um filho ateu. Ele sempre lembrava o filho de que isso não tinha im­ portância. Deus, meu professor pensava, é obriga­ do a salvar os filhos dos crentes, de modo que seu filho acreditaria em Cristo um dia, não importava o que acontecesse. Não obstante, ele estava errado. Deus não tem obrigação para com todos os des­ cendentes físicos de Abraão e Isaque, e nenhum filho de crente tem a salvação garantida hoje. O fato, porém, não deve nos desencorajar. Deve nos encorajar — a orar por nossos filhos, a partilhar com eles, a ensiná-los e amá-los enquanto estão em casa conosco. Por meio de nosso amor, o amor de Deus pode ser sentido, e assim se tornar real para as pessoas. “A mei Jacó e aborreci Esaú” (Rm 9.6-13). Não en­ tenda mal a ideia de Paulo. Ele usou a linguagem da herança para inculcar sua lição de que Jacó foi escolhido para herdar a promessa da aliança, e que qualquer direito de Esaú foi decisivamente rejei­

tado. Aqui, “amar” e “aborrecer” (ou “odiar”) são termos jurídicos, não expressões de emoção. Por que Paulo enfatizou a escolha de Jacó por Deus an­ tes mesmo que os gêmeos nascessem? Para mostrar aos que se valiam das obras que eles não tinham nenhuma base para argumentar: “Bem, Esaú foi rejeitado porque desprezou o direito de primogenitura”. A escolha de Deus foi anunciada antes que qualquer um dos filhos fizesse alguma coisa, boa ou má. Não devemos ampliar esse princípio, como se Paulo estivesse ensinando a predestinação dos in­ divíduos para a salvação. Não era sobre isso que ele estava escrevendo. Ele estava simplesmente argumentando que Deus não estava obrigado de nenhuma maneira quando escolheu Jacó para her­ dar a Aliança. A palavra de Deus, de salvação em Cristo, não fracassou simplesmente porque o Israel do século I rejeitou Jesus. Deus não era obrigado a salvar Israel, assim como não era obrigado a trazer Ismael e Esaú para a linhagem da aliança. Quão grande a necessidade que temos de lembrar a liberdade de Deus. Ele não tem de agir como es­ peramos ou mesmo como queremos que aja. Deus é Deus, e nós somos criaturas. A maravilha é que Deus escolheu livremente nos oferecer a salvação em Cristo. Quando escolhemos Jesus, Deus nos acolhe em sua família. Então, seja o que for que Deus decida fazer, será para o nosso bem. “Não tem o oleiro poder sobre o barro?” (Rm 9.1423). A imagem de Deus como oleiro, moldando o barro humano, parece rude para alguns. Contudo, não devemos tentar suavizá-la. O fato é que nem mesmo o Faraó, que foi elevado e “endurecido” para mostrar a glória de Deus, foi maltratado. Paulo conhecia o Antigo Testamento, e a passagem de Êxodo deixa claro que o próprio Faraó endureceu o coração, além de ter sido en­ durecido por Deus. Êxodo também deixa claro como o Faraó foi endurecido: Deus não o forçou a resistir contra a sua vontade, mas simplesmente revelou mais e mais do seu poder divino. O mesmo calor que derrete a cera endurece o barro. A mesma revelação que cria amor por Deus no coração do crente, intensifica a resistência da pessoa que esco­ lhe não crer. Mas não era isso que Paulo tinha em mente. Seu argumento era que até mesmo aqueles que rejeitam a graça de Deus acabam glorificando a Deus. Um dos propósitos de Deus ao criar o universo como ele é foi demonstrar sua ira contra o pecado, assim como outro é expressar seu amor pelos pecadores. O fracasso de Israel em voltar-se para Jesus não foi um fracasso da parte de Deus. Os propósitos

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de Deus serão realizados naqueles que rejeitam a Jesus como Senhor, assim como naqueles que o aceitam. Graças a Deus, você e eu mostraremos a riqueza da sua graça em vez da majestade da sua ira.

Ao fazer essa declaração, Paulo resumiu tudo o que ensinara em Romanos 1— 8. Só há duas ma­ neiras de buscar um relacionamento com Deus: o caminho do homem ou o caminho de Deus. No caminho do homem, supõe-se que Deus se satis­ faça com uma justiça meramente humana. Porém aqueles que andam no caminho de Deus abando­ nam a autossuficiência e confiam nas promessas que Ele fez. Hoje, essas duas escolhas ainda se colocam à nos­ sa frente. Devemos confiar em nós mesmos, ou confiar em Deus. E somente a confiança em Deus pode salvar.

“Chamarei meu povo ao que não era meu povo” (Rm 9.24-30). A resposta dos gentios a Jesus surpreen­ deu a Deus? Não. O Antigo Testamento deixa claro que Deus sempre pretendeu que a salvação fosse dada aos gentios. E que sempre um remanescente de israelitas — alguns, e não todos — mantivesse a sua confiança em Deus. Novamente, os propósi­ tos de Deus não fracassaram. A história da salvação está em curso. O que está acontecendo agora é o “Por toda a terra saiu a voz deles” (Rm 10.16-21). que Deus sempre pretendeu. E possível que Israel não tivesse ouvido as BoasNovas da graça de Deus? Claro que ouviram, Paulo “A justiça que é pela fé ” (Rm 9.30— 10.4). Como disse. explicamos o fracasso de Israel em responder a Je­ Podemos dizer o mesmo hoje. E possível que al­ sus? Os judeus consideram o Antigo Testamento guém não tenha ouvido a voz de Deus? Não, todos como um livro de regras e esperavam ganhar mé­ ouviram. Toda a terra ouviu Deus falar na criação, rito junto a Deus por tentarem guardar a sua Lei. ou no evangelho (cf. SI 19; Rm 1.18-20). O fracas­ Eles estavam tão ocupados tentando estabelecer a so de qualquer homem ou grupo em responder a sua própria justiça que deixaram passar desperce­ Deus não é culpa do Senhor. O fracasso é o resulta­ bida a mensagem da Escritura, de que Deus dá ao do da desobediência obstinada do homem quando homem uma justiça baseada na fé. a voz de Deus é ouvida.

DEVOCIONAL______ De dentro para fora

Rm 10.1-15 “Henry! Henry Aldrich!” Quando eu era criança, esse chamado introduzia um dos meus programas de rádio favoritos. E a voz trêmula de Henry sempre respondia: “Já vou, mãe!” Henry não era o maior dos filhos. Mas podia-se ter certeza de que ele respondia quando a mãe cha­ mava. Enquanto o apóstolo Paulo conduzia sua explicação do fracasso de Israel em dar ouvidos ao evangelho, ele deixou algo perfeitamente claro. Precisamos de uma justiça que Deus está ansioso por dar. Deve­ mos reivindicá-la pela fé. E a fé é uma resposta “de dentro para fora” à promessa de Deus. Qual é a parte de dentro? “Se... em teu coração, creres que Deus o ressuscitou [Jesus] dos mortos”. E a parte de fora? “Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus” (v. 9). Por que a parte interior e a parte exterior são enfati­ zadas aqui? Quando peço a Sarah, que tem 9 anos, que faça alguma coisa, espero que ela ao menos me indique que me ouviu. Admito que às vezes fico irritado quando Sarah, concentrada na brincadeira

ou em algum programa de televisão, sequer olha em minha direção quando falo com ela. De certa maneira, quando falamos com uma pessoa, espe­ ramos não apenas que ela ouça as nossas palavras, mas que indique que as ouviu. O mesmo acontece com a Palavra de Deus para nós. Sim, Deus conhece os nossos corações e sabe quando cremos em nossos corações. Contudo, a Palavra de Deus é dinâmica e, em certo sentido, exigente. Se ouvirmos verdadeiramente, iremos, e devemos, responder. Portanto, Paulo disse que a salvação é dada aos que creem em seus corações e confessam com a boca. A Palavra encontrou um lar em nossos corações e é reconhecida em nossa vida. E difícil imaginar aquele velho programa de rá­ dio, aberto pela mãe gritando “Henry! Henry Aldrich!”, sem ouvir Henry responder. E quase igualmente difícil imaginar que um ser humano ouça e creia na voz de Deus em seu coração e não dê provas de que a ouviu em sua vida. Como diz o velho refrão: “Quem é salvo e tem certeza diga Amém’ / Quem é salvo e tem certeza diga Amém’ / Quem é salvo e tem certeza sua vida é uma bele­ za / Quem é salvo e tem certeza diga Amém”’.

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Aplicação Pessoal beleza e complexidade do plano de Deus, tudo o Deus conhece o seu coração. Deixe o mundo ouvir que podemos fazer é louvá-lo (w. 33-36). o seu “Amém”. Entendendo o Texto Citação Importante “Ficou um resto, segundo a eleição da graça” (Rm “Aquele que crê em seu coração não se envergonha­ 11.1-6). Este primeiro parágrafo nos lembra que rá de confessar com a boca.” — M atthew Henry nunca estamos sozinhos em nosso compromisso com Cristo. Às vezes parece que é assim. Muitas 8 DE OUTUBRO LEITURA 281 vezes um adolescente reclama que é o único que . . ISRAEL SERÁ SALVO mantém convicções morais. E frequente que um Romanos 11 adulto sinta-se igualmente solitário ao tentar fazer o que acredita ser certo. Nessas horas Deus quer “E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: que saibamos que há um remanescente. Sempre. De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacá as im­ A graça que nos deu uma visão de Jesus e nos ar­ piedades. E este será o meu concerto com eles, quando rebatou do mundo foi derramada sobre outros eu tirar os seus pecados” (Rm 11.26,27). milhares. O fato de que é a graça nos tranquiliza. Se a sal­ Deus não quebra nenhuma de suas promessas. vação dependesse do esforço humano, poderíamos muito bem estar sós. Mas a salvação é uma expres­ Contexto são da graça divina, e a graça transborda em Deus. Remanescente. O conceito de um “remanescente” é Certamente sua graça transbordou e foi derramada constantemente enfatizado pelos profetas do An­ sobre outros com a bondade que experimentamos tigo Testamento. A palavra significa “sobreviven­ em Cristo. tes”. O termo usado para designar os israelitas que sobreviveram aos vários julgamentos devastadores “Deus lhes deu espírito de profundo sono” (Rm 11.7que Deus trouxe ao seu povo do Antigo Testamen­ 10). Essa passagem ensina que Deus impediu a to quando este pecou. Õs 6.000 que se recusaram maioria de Israel de responder positivamente ao a adorar Baal no tempo de Elias foram um rema­ evangelho? Não. Paulo disse que a séria busca de nescente espiritual, cuja fé sobreviveu às tentativas Israel pela justiça das obras causou a surdez e a ce­ de Acabe e Jezabel de impor a Israel a adoração de gueira espirituais que Deus “deu” como consequ­ Baal. Os que foram levados para o cativeiro na Ba­ ência. bilônia, depois da queda de Judá e da destruição de Ontem à noite entrei no quarto de Sarah e, lutan­ Jerusalém, foram um remanescente físico. Destes, do para ser ouvido, pedi que ela abaixasse o volume Deus escolheu um remanescente espiritual para re­ da música que estava ouvindo. Ela estava ouvindo tornar e reconstruir a pátria judaica, cerca de 70 seu grupo musical favorito — no volume máximo. anos depois. Disse-lhe que abaixasse o volume porque, se não o Paulo argumentou que os judeus que se tornaram fizesse, com certeza perderia a audição. Resmun­ cristãos eram o remanescente. Como sempre, Deus gando, descontente, ela abaixou o volume. preserva alguns do seu povo, embora a maioria se Acontece o mesmo com eclipses do sol. As pessoas afaste. são prevenidas de que não devem olhar diretamente Tomando o argumento de Romanos 9 e 10, Paulo para o sol. Elas, porém, olham e perdem a visão. então mostrou que a palavra de Deus não falhou. A Música alta demais entorpece a audição; luz solar Palavra vital, viva, do evangelho foi ouvida e aceita muito brilhante escurece a visão. E buscar hones­ por aqueles em Israel que, como os remanescentes tamente a justiça que vem das obras, na Palavra de ao longo de toda a história sagrada, expressam a Deus, cria um espírito de profundo sono, de modo graça incomparável de Deus. que o homem não consegue enxergar nem ouvir o evangelho. Visão Geral Alguns israelitas estão dentre os escolhidos pela “Pela sua queda, veio a salvação aos gentios, para os graça (11.1-6), embora não todos (w. 7-10). A incitar à emulação” (Rm 11.11-16). A queda de queda de Israel permitiu aos gentios serem en­ Israel é temporária. Por um tempo Israel foi dei­ xertados como ramos na raiz judaica (w. 11-24). xado de lado, e a salvação dos gentios tornou-se Contudo, a queda de Israel é temporária. Um dia central para a atividade de Deus no mundo. Mas, todo o Israel será salvo e todas as antigas promessas Paulo disse, isso é apenas por um tempo. Um dia, de Deus serão cumpridas (w. 25-32). Em vista da Israel voltará a estar em evidência, como mortos

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trazidos à vida. E essa restauração trará riqueza ao mundo. Alguns cristãos, reconhecendo os judeus como o povo escolhido, insistem em que os Estados Unidos apoie o presente estado judaico, estejam as ações desse Estado certas ou erradas. Precisa­ mos fazer uma distinção entre o povo de Deus e o moderno Estado de Israel. A restauração que Paulo previu em Romanos 11 virá. Mas ainda não chegou. “Não te ensoberbeças, mas teme” (Rm 11.20). A soberba sempre é inimiga da graça. A pessoa ar­ rogante supõe que tem certa virtude ou qualidade em si que conquista a aprovação de Deus. O fato é que não há nada em nenhum homem ou mu­ lher que mereça elogio. Somos todos pecadores. Ficamos tão aquém que tudo que podemos fazer de modo correto é cair humildemente de joelhos. Se perceber a menor sugestão de soberba em sua postura, tema. Você está se precipitando para lon­ ge de Deus.

Os fazendeiros nos tempos bíblicos enxertavam ramos de oliveiras cultivadas em troncos silvestres, para aprimorar a qualidade dos frutos. Paulo retratou Deus enxertando ramos gentios selvagens nas raízes cultivadas de Israel — um ato de maravilhosa graça. A imagem também é um lembrete. Os ramos naturais perderam o seu lugar por­ “Enxertados na sua própria oliveira!” (Rm 11.24). que não entenderam a graça. Não nos atrevamos a perder Paulo queria que percebêssemos a grande dívida de vista o fato de que a salvação é uma dádiva de Deus, que temos para com Israel. As raízes da nossa fé uma demonstração de pura graça (w. 17-24). estão enterradas profundamente na história do povo judeu e sua peregrinação com Deus. As raí­ el... “até que a plenitude dos gentios haja entrado” zes e o tronco do cristianismo são judeus: somos (v. 25) ramos enxertados em uma árvore viva e poderosa Por que isso é importante para nós? Em um sen­ da qual Deus tem cuidado por milhares de anos. tido, não é. Vivemos no hoje, não no amanhã. Um dia, o povo judeu, cortado agora por causa O plano futuro de Deus para Israel é menos da descrença (v. 23), será enxertado em sua ár­ importante para nós do que a sua vontade para vore outra vez. E todo verdadeiro cristão gritará o nosso presente. Contudo, há um sentido em de alegria. que as declarações de Paulo sobre Israel são ver­ dadeiramente importantes para nós hoje. Essa “Os dons e a vocação de Deus são sem arrependimen­ importância é resumida na declaração de Paulo: to”(Rm 11.25-32). Paulo olhou para o passado na “Os dons e a vocação de Deus são sem arrepen­ história e reviu em sua mente as muitas promessas dimento”. que Deus fez a Abraão e aos patriarcas. Ele ouviu E im portante para nós que Deus seja um a Pes­ as vozes retumbantes dos profetas, gritando de soa de palavra. Se Ele revogasse suas promessas modo estridente contra o pecado e, no entanto, a Israel ou se as promessas fossem enganosas e contemplando calorosa e amorosamente um fu­ não dissessem o que significavam, poderíamos turo repleto de bênçãos para Israel. duvidar das promessas que Deus fez a você e Não havia nenhuma dúvida na mente de Paulo a mim. Graças a Deus não é o caso. Deus é quanto ao futuro. Aquelas promessas serão man­ uma Pessoa que cumpre plenam ente a sua pa­ tidas. Não como a experiência “espiritual” da igre­ lavra. Ele não m uda de ideia. Ele não revoga ja, mas como o plano de Deus para o futuro do as suas promessas. Ele não tenta nos enganar Planeta Terra. com palavras que deixam de dizer o que Ele “Todo o Israel será salvo.” pretende. “De Sião virá o Libertador.” Podemos contar com Deus. Podemos confiar em “Os dons e a vocação de Deus são sem arrependi­ suas promessas. Sua palavra a nós é irrevogável. Ele mento.” Haverá um futuro para Israel, como Isra- nunca voltará atrás em sua palavra.

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DEV OCIONAL_________ Citação Importante Doxologia (Rm 11.25-36) “Doxologia” é um termo composto: doxa, glória, e logos, palavra. Juntas, essas palavras significam “palavras de glorificação”, uma expressão de lou­ vor que glorifica a Deus. A doxologia que concluiu a revisão que Paulo fez do relacionamento de Israel com Deus e com o evangelho expressava louvor pela complexidade e beleza do plano de Deus. Era como se Pau­ lo tivesse recolhido um diamante lapidado por um mestre e visse luzes brilhantes refletidas por muitas facetas, e, de repente, seu coração trans­ bordasse de louvor pela sabedoria tão variada e profunda, pelo vasto conhecimento da intrinca­ da matriz do plano de Deus. Os teólogos discutem sobre Israel. Há um futuro para Israel como Israel? O u Israel se integra à Igreja que herdou as antigas promessas dos pro­ fetas? Pessoalmente, penso que a Igreja e Israel são facetas separadas de um único, belo e com­ plexo plano divino. Penso que é exatamente o que Paulo ensinou em Romanos 11.25-32, com seu lembrete de que “todo o Israel será salvo” e de que “os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento”. Talvez os versículos 35 e 36 tenham uma apli­ cação ainda mais direta para você e para mim. Da minha perspectiva só posso enxergar uma pequena faceta do que Deus está fazendo no mundo. Vejo o meu círculo de irmãos e irmãs. Conheço as orações que Ele responde para nós, os pequenos milagres diários que Ele opera. Mas, muitas vezes, esqueço-me de que há literalmente milhões de pessoas neste mundo que experimen­ tam Deus como eu experimento, que o veem em ação, e que se regozijam em sua bondade. Se você ou eu pudéssemos viajar no espaço, ve­ ríamos um globo habitado agora por mais de 6 bilhões de seres humanos! E, se tivéssemos uma visão espiritual e cada obra operada por Deus emitisse um clarão instantâneo, este globo estaria acesso com bilhões de pontos de luz brilhantes! Talvez então captássemos um vislumbre das qua­ lidades de Deus que Paulo louva aqui. E dirí­ amos com ele, maravilhados: “O profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciên­ cia de Deus!” E, em amor renovado, clamaría­ mos: “Glória, pois, a ele eternamente. Amém!”

“Mesmo que falemos muito, não seremos capazes de dizer tudo o que poderia ser dito. A soma de nossas palavras é: ‘Ele é o tudo’.” — Ben Sira 9 DE OUTUBRO LEITURA 282 A VIDA EM COM UNIDADE Romanos 12 “Assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma operação, assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros” (Rm 12.4,5). O amor une os membros do corpo único de Cristo; tanto a Ele, como mutuamente. Contexto Uma comunidade justa. Romanos 12 abre a quin­ ta principal seção da exploração do tema da justi­ ça por Paulo. Romanos 1— 3 mostrou que Deus credita justiça aos pecadores que creem em Jesus Cristo. Romanos 6— 8 mostrou que a união com Cristo liberta os crentes da Lei e, no Espírito San­ to, fornece o poder necessário para nos capacitar a viver de modo justo agora. Romanos 9— 11 mos­ trou que a queda temporária de Israel ocorreu pelo fato de a nação não ter buscado a justiça em Deus, e que o próprio Deus foi justo em seu relaciona­ mento com Israel. Agora, em Romanos 12— 15, Paulo está prestes a descrever o estilo de vida justo da nova comunidade cristã. Essa descrição é especialmente importante para uma igreja constituída de judeus e gregos, de culturas di­ ferentes, com tradições diversas. Como os dois gru­ pos podiam evitar o conflito e formar, juntos, uma comunidade justa e moral, que mostrasse a justiça de Deus no mundo sombrio do homem? A pergun­ ta é tão vital hoje quanto no século I. Jesus ordenou aos discípulos que se amassem e disse: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13.35). O mundo saberá que somos de Cristo, e que Cristo é real, por meio da comunhão que pode ser vista em nossas igrejas mo­ dernas, de acordo com Romanos 12— 15.

Visão Geral O novo motivo do cristão para viver uma vida justa é a adoração, não a Lei (12.1,2). Por natureza, a co­ Aplicação Pessoal munidade do Novo Testamento é um organismo, Considere a complexa bondade de Deus. E ofere­ o Corpo de Cristo (w. 3-8), chamada a viver unida em amor (w. 9-21). ça-lhe o seu louvor.

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mentos, os motivos, o ponto de vista que avalia es­ colhas. Tratando o assunto de uma forma simples, precisamos enxergar tudo do mesmo ponto de vista de Deus. Que pista para um estudo bíblico significativo. Não lemos a Escritura simplesmente para aprender a doutrina e saber em que acreditamos. Lemos para compreender como Deus pensa e como se sente a respeito das questões que enfrentamos na vida diá­ ria. Como Deus vê minhas responsabilidades como empregado? Como Deus quer que eu responda a essa pessoa que parece não gostar de mim? Como Deus quer que eu lide com a ferida de minha re­ cente rejeição. Se você for à Palavra de Deus com perguntas como essas, Ele lhe dará a sua resposta. E você experi­ mentará aquela renovação transformadora do en­ “O vosso culto racional” (Rm 12.1). Os adoradores tendimento. da época do Antigo Testamento levavam animais ao Templo para serem mortos e oferecidos no al­ “Para que experimenteis qual seja a boa, agradável tar. Paulo inverteu essa ilustração. Cada um deve e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2). Se você e trazer a si mesmo ao altar. Mas não é necessário eu não aprendermos a encarar a vida do ponto de morrer por Deus: o que Ele deseja é que vivamos vista de Deus, nunca conheceremos a sua vonta­ para Ele! de. E nunca faremos a grande descoberta de que Esta é uma das coisas maravilhosas na adoração. a vontade de Deus é a melhor — “boa, agradável Adoramos a Deus quando vamos à igreja, quando e perfeita”. oramos, quando levantamos a nossa voz em louvor. Então vá à Escritura com suas perguntas e incertezas. Mas também adoramos a Deus todos os dias quan­ Peça a Deus que fale. E então faça o que Ele lhe diz. do fazemos algo que o agrada. A mão no braço de Tente. Você vai gostar. um irmão que sofre pode ser um tipo de adoração. Nosso esforço de fazer o nosso trabalho honesta­ “Nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo ” mente e bem pode ser adoração. Parar para ouvir (Rm 12.3-5). Qual é a base para a comunhão em um adolescente desorientado, apesar de estarmos nossas igrejas? E a doutrina comum? Uma prefe­ cansados, pode ser adoração. Tudo que fazemos, rência comum por nossas tradições ou maneiras de quando é feito com um desejo de agtadar ao nosso adoração específicas? E a convicção de que a nossa Senhor, é adoração. denominação específica reflete melhor os princí­ Quão gracioso é Deus, em vista de sua misericórdia pios do Novo Testamento, ou que ela seja “a” igreja para conosco, por oferecer-nos tantas oportunida­ que se origina dos apóstolos? Segundo Paulo, não. des de adorá-lo! A base para a comunhão é o simples fato de que nós, cristãos, estamos unidos com os outros em um “Transformai-vos pela renovação do vosso entendi­ organismo vivo: o Corpo de Jesus Cristo. Como mento” (Rm 12.2). Tenho certeza de que foram estamos unidos a Ele, estamos necessariamente feitas centenas de sermões sobre as palavras gregas unidos a cada um dos outros. E, portanto, Paulo desse versículo. Cada um diz aos ouvintes que a diz: “Individualmente somos membros uns dos ideia por trás de ser “conformado” é a de ser espre­ outros”. mido em um molde. E cada um diz aos ouvintes Oh, não é errado que alguns prefiram a igreja epis­ que a ideia por trás de “transformado” é a de me­ copal ao entusiasmo carismático. E não é errado tamorfose — a transição que converte uma lagarta que alguns acreditem na graça irresistível, enquan­ rastejante em uma borboleta, bela e alada. Que ob­ to outros enfatizam o livre-arbítrio. Mas seria er­ jetivo para o crente: tornar-se belo e novo. rado, para você e para mim, olharmos para outro Paulo também nos diz como: pela “renovação do crente em Jesus e o desprezarmos por ter diferenças vosso entendimento”. “Mente”, aqui, é nous, não irrelevantes em relação a nós. O u evitarmos alguém tanto o órgão do intelecto, mas o órgão da per­ porque a nossa pele é mais clara e a do outro é mais cepção. O que deve ser transformado é a maneira escura, ou porque a nossa casa seja uma choupana como olhamos para a vida: os valores, os pensa­ e a do outro seja uma mansão.

Entendendo o Texto “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus” (Rm 12.1). A Lei exigia. A graça nos convida a con­ siderar o amor de Deus e a responder a Ele. Por implicação, Romanos 12.1,2 expõe um prin­ cípio que substitui a Lei na vida do cristão. Não nos voltamos para a Lei e respondemos porque de­ vemos. Olhamos para tudo o que Deus fez ao nos mostrar compaixão e respondemos a Ele livremen­ te, por causa do nosso amor agradecido. Se algum dia você achar difícil fazer aquilo que sabe ser certo, não diga: “Eu deveria fazer isso ou aquilo”. Ou, “Não deveria ajudar”. Em vez disso, pense na compaixão que Deus tem para com você, e no grande amor de Cristo. Em vista da compai­ xão de Deus, você desejará fazer o correto.

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Cristo é o grande nivelador, não por rebaixar al­ Se você amar e servir os outros, começará a expe­ guns, mas por elevar todos. Portanto, acolhemos rimentar a unidade do Corpo de Cristo. (Veja o com alegria qualquer um que confesse a Jesus Cris­ DEVOCIONAL.) to, afirmando com Paulo que “individualmente “Minha é a vingança... diz o Senhor” (Rm 12.17somos membros uns dos outros”. 20). Minha esposa, Sue, foi abandonada pelo pri­ “Tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é meiro marido quando estava grávida de três meses dada” (Rm 12.6-8). Unidade não significa igualda­ de Sarah, e tentando cuidar de Matthew, de dois de. A igreja, de certas maneiras, é como um cozido. anos e meio. Não havia nenhuma razão aparente Minha mãe costumava fazer um cozido de atum para o abandono: ele simplesmente partiu. delicioso, usando sopa de cogumelos, ervilhas fres­ Ao longo dos anos, o lembrete desta passagem, cas, atum e vários outros ingredientes. Juntos eles “Não vos vingueis”, foi um desafio constante para produziam um sabor delicioso: cada ingrediente Sue. Seu ex-marido quis manter contato com os filhos. Depois que nos conhecemos e nos casamos, parecia revelar o melhor dos outros. Este é o verdadeiro segredo do Corpo de Cristo, a cerca de três anos após o divórcio de Sue, seu exIgreja. Deus “mistura” pessoas que são diferentes, marido nos visitou na Flórida e ficou em nossa cada uma com um dom diferente, para que cada casa. Que desafio para ela viver uma vida que é exatamente “o contrário”, agindo como o Senhor ingrediente possa revelar o melhor nos outros. Somente quando vivemos juntos em amor, servin­ Jesus ensinou: “Se o teu inimigo tiver fome, dádo-nos mutuamente com os dons espirituais que lhe de comer”. De todas as maneiras, Sue tentou Deus nos deu, é que podemos, como indivíduos, demonstrar gentileza e bondade ao homem que es­ traçalhara seu mundo e lhe deixara o fardo de criar ser tudo aquilo que devemos ser em Cristo. os seus filhinhos, sozinha. “A mai-vos cordialmente uns aos outros com amor fra­ Mas que emocionante foi ver o cumprimento da ternal” (Rm 12.9-16). Há três temas que sempre Palavra de Deus. Pois Paulo disse: “Não te deixes são encontrados juntos em passagens do Novo Tes­ vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (v. tamento. O Corpo de Cristo, os dons espirituais 21). Ele não queria dizer que nossa boa vontade vencerá o mal nos outros. O que ele queria dizer e o amor. Há razões importantes por que esses três temas são é que, fazendo o bem, podemos vencer o mal em inseparáveis. O nosso relacionamento com outros nós! cristãos é definido pela participação conjunta em As coisas feias que poderíamos ter justificado para um único Corpo. O nosso serviço aos outros cristãos uma pessoa que foi tratada tão mal — raiva, ódio, é definido com o uso de nossos dons e capacidades hostilidade, vingança — foram superadas em para servi-los. Nossa postura para com outros cris­ Sue e sua vida, que em vez disso, expressou um tãos deve ser de amor ativo e de cuidado. Unidade, amor, um perdão e gentileza que só podiam vir serviço e amor nunca estão separados na Escritura. de Deus. Sem unidade, não pode haver qualquer experiência Não tenho ideia do que a obediência de Sue a esse de amor. Sem amor, não pode haver qualquer expe­ princípio causou ao seu ex-marido. Mas sei o que fez por ela. E sei que o Senhor foi glorificado. riência de unidade. Cada um depende do outro.

DEVOCIONAL______ Amor Feijão com Arroz

(Rm 12.9-16) O amor, Paulo disse, deve ser sincero (v. 9). Mas “amor” é um termo muito amorfo em nossa so­ ciedade. Ora, as pessoas muitas vezes o usam para acobertar os motivos ou ações mais baixas. Como a pessoa que usa a expressão “eu te amo” para ma­ nipular o outro e conseguir uma mera satisfação sexual. No Novo Testamento, porém, “amor” não é um termo indistinto ou escorregadio. O amor é prá­ tico, direto, comum. É o feijão com arroz da vida cristã.

O que é amor feijão com arroz? O prato que de­ vemos servir diariamente e que deve nos sustentar na comunidade cristã? Eis a lista de verificação que Paulo oferece em Romanos 12. Use-a não para me­ dir como os outros se saem, mas para ver como você está se saindo como discípulo de Cristo: * Demonstro um verdadeiro interesse pelos ou­ tros. * Honro os outros e anseio mais pelo seu progresso do que pelo meu. * Partilho com os outros quando eles têm necessi­ dade.

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* Acolho os outros em minha casa e em minha vida. * Alegro-me com aqueles que se alegram. * Choro com aqueles que choram. * Vivo em harmonia com os outros. * Relaciono-me de igual para igual com aqueles que estão “abaixo” de mim socialmente ou de outras maneiras. Há outras passagens que continuam a definir o amor, como 1 Coríntios 13. Mas essa passagem nos oferece o feijão com arroz do amor cristão. Se você ama outros cristãos ativamente desta forma, está fazendo a sua parte para trazer vitalidade e vida ao Corpo de Cristo na terra. Aplicação Pessoal O mais importante que você pode fazer pelos ou­ tros é amá-los. Citação Importante “H á duas maneiras pelas quais podemos nos unir — pelo congelamento ou pelo derretimento. O que os cristãos mais necessitam é unir-se em amor fraternal.” — D. L. Moody 10 DE OUTUBRO LEITURA 283 REVESTIDO DO SENHOR JESUS Romanos 13

democrático ou tirânico, capitalista ou comunista. A ideia de Paulo era a de que Deus estabeleceu o princípio do governo humano e, portanto, as for­ mas existentes de governo derivam de sua autori­ dade dEle. Ao honrarmos o nosso governo, seja ele bom, seja ruim, honramos a Deus. “Porque ela é ministro de Deus para teu bem" (Rm 13.3,4). Por que Deus ordenou o governo humano? Porque o governo restringe o pecado e serve como “vingador para castigar o que faz o mal”. A vida é mais segura para os indivíduos sob um governo, ainda que mau, do que sem nenhum governo. Isso não significa que todos os governos possam se considerar, de modo consciente, como agentes de Deus. Nem todos. Simplesmente, para sobreviver, qualquer governo deve proporcionar aos seus cida­ dãos certa medida de tranquilidade. Os cidadãos devem poder trabalhar, produzir o alimento e os bens que o governo pode taxar. Leis que protejam a vida e a propriedade devem ser decretadas. E do interesse do próprio governo cuidar para que os cidadãos sejam prósperos e se multipliquem, pois um corpo forte de cidadãos garante a sobrevivência do estado. Quão sábio é Deus. Ao criar o governo humano, imperfeito como podem ser os governos, Deus or­ denou um sistema que só pode sobreviver servindo o gracioso propósito de Deus de fazer o bem.

“Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não tenhais cui­ “Pela consciência" (Rm 13.5-7). Nós, cristãos, esco­ dado da carne em suas concupiscências" (Rm 13.14). lhemos livremente manter as leis de nosso país, pa­ gar os impostos devidos ao governo e demonstrar O cristão vive como Jesus viveu, em submissão e respeito pelos líderes e instituições de nossa nação. amor por escolha própria. Não somos motivados por medo de punição ao fazê-lo. Em vez disso, trata-se de uma questão de Visão Geral consciência para nós. Fazemos essas coisas porque Os cristãos devem submeter-se às autoridades go­ é certo fazê-las. Ao apoiarmos o nosso governo, vernantes (13.1-7). Devemos sempre expressar apoiamos algo que Deus instituiu para o bem de amor (w. 8-10) e santidade (w. 11-14). todos, mesmo quando desobedecemos a leis injus­ tas. (Veja o DEVOCIONAL.) Entendendo o Texto “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores" “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor (Rm 13.1). Para alguns, “submissão” evoca a ima­ com que vos ameis uns aos outros" (Rm 13.8). O gem de alguém sendo arrastado em correntes e for­ cristão é obrigado a apoiar o seu governo. E temos çado a trabalhar como escravo em uma mina escu­ uma obrigação adicional. Devemos amar os nossos ra embaixo da terra. Não para o cristão. Para nós, semelhantes — quer sejam cristãos, quer não. “submissão” é uma escolha que fazemos livremente Ao explicar isso, Paulo disse algo que deve abrir e de bom grado. Vivemos como bons cidadãos da os olhos daqueles que veem como sua obrigação nossa nação porque somos cidadãos do Reino de fundamental manter a Lei de Deus. A Lei, disse Jesus, e o representamos aqui na terra. Paulo, sempre foi uma questão de amor! Os man­ damentos que definem a maneira como devemos “Não há autoridade que não venha de Deus" (Rm nos tratar mutuamente delineiam a maneira como 13.1,2). Isso não significa que Deus dê o selo de o verdadeiro amor encontra expressão nos relacio­ aprovação a todo governo, seja ele justo ou injusto, namentos pessoais. Se você ama realmente alguém,

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não vai cobiçar suas posses. Se você ama, não vai cometer adultério, nem assassinar ou roubar. En­ tão, na verdade, “o cumprimento da lei é o amor”. Concentre-se em amar, e você não precisará ficar consultando a Lei constantemente. O verdadeiro amor o impelirá a fazer, de modo espontâneo, o que Lei exige. “O cumprimento da lei é o amor” (Rm 13-10). Não cometamos o erro que a “ética situacional” come­ te. Essa abordagem da ética sugere que uma pessoa deve computar as consequências dos seus atos e então fazer a “coisa mais amorosa”. Isto é, aquilo que ela crê que será o melhor para a outra pessoa. Em essência, essa abordagem da escolha moral diz: “Amor em vez da Lei”. Mas a Escritura diz que “o cumprimento da lei é o amor”, e isso é algo bem diferente. A Bíblia ensina que os mandamentos de Deus são amorosos. As­ sim, o gesto mais amoroso a fazer é sempre agir em harmonia com a vontade revelada de Deus. A lei é algo como o sistema de aterrissagem de aviões comerciais e militares. A medida que um avião se aproxima da pista, um sinal repetitivo diz ao piloto que ele está no curso. Se ele sai do curso para qualquer lado, a altura e a frequência do sinal mudam, avisando-o para que faça uma correção antes que seja tarde demais. E assim que a Lei ser­ ve o cristão. A lei nunca produz uma ação corre­ ta: o amor o faz. Mas quando agimos com amor, precisamos olhar com frequência para aquilo que a Lei diz. Se os nossos atos não cumprem a Lei, sabemos que estamos fora do curso e precisamos de correção. Existe algo chamado “amor tolo” — realmente se importar e querer ajudar, mas fazer algo que pre­ judica em vez de curar. O que precisamos é de “amor inteligente”. Realmente se importar e querer ajudar, e ser guiado pela Escritura para ações que sejam corretas e boas.

11, “O tempo presente é da maior importância”. Sim, esperamos ansiosamente a iminente vinda de Jesus. Mas, até lá, estamos em uma missão para nosso Senhor. Essa missão exige que “vistamo-nos das armas da luz” e vivamos vidas decentes e santas, aqui e agora. Que imagem é essa das “armas da luz”. E como se Paulo imaginasse a aproximação de um exército ao nascer do sol, e a escuridão começando a diminuir. Ali, no penhasco diante de nós, o sol toca as arma­ duras dos soldados e elas brilham com mil pontos de luz. È como o cristão deve se mostrar a todos neste mundo. Somos a vanguarda da iminente invasão de Deus em um mundo tenebroso, repleto de pecados cometidos pelos homens. Devemos ter vidas tão santas que a beleza de Deus brilhe nas trevas. Por meio do seu completo compromisso com a visão moral de Deus para o homem, você pode vestir-se das armas da luz de Deus e usá-las com orgulho.

“Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo”(Rm 13.14). O u­ tro dia vimos a refilmagem de Ivanhoé. Foi incomum. Geralmente não nos deitamos tarde porque Sue e eu acordamos às 5 horas. Ela para dar aulas; eu para trabalhar no meu computador. Mas foi um bom filme e muito bem feito. Em uma sequência, um bobo da corte de um no­ bre saxão entra no castelo onde o nobre é mantido prisioneiro. O bobo usava o manto marrom de um frade. Dentro do castelo, ele o trocou com o no­ bre que servia. Quando o “frade” partiu, ele era, na verdade, o nobre disfarçado. Ninguém notou a diferença. E o que Paulo estava nos contando aqui ao dizer: “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo”. Devemos nos revestir do Senhor Jesus, e manter esse reves­ timento em nós mesmos, aonde quer que formos. Devemos nos parecer com Ele. Agir como Ele. Na verdade, devemos ser Jesus para os outros. Que desafio. Usar Jesus tão bem que ninguém note “Rejeitemos, pois, as obras das trevas” (Rm 13.11- a diferença. Estar nEle. E deixar que Ele esteja ple­ 13). Para nós, como J. B. Philips traduz o versículo namente em nós.

DEVOCIONAL______ A Desobediência Civil (Rm 13) Como podemos obedecer ao mandamento de Deus de nos submetermos ao governo humano se um governo nos pede que violemos uma lei divi­ na? Isso aconteceu mais de uma vez. Aconteceu até mesmo no início da Era da Igreja. Lembra-se de como o Sinédrio ordenou a Pedro e João que não

pregasse Jesus? Eles desobedeceram dizendo: “Jul­ gai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus”. No caso de conflito direto, o cristão, naturalmente, deve obedecer a Deus. Mas ainda podemos nos submeter aos poderes do governo mesmo quando desobedecemos! Veja: Há duas maneiras pelas quais uma pessoa pode respei­

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tar a lei e a ordem. Uma maneira é obedecer à lei. A outra é aceitar a punição que a lei exige. Cada curso de ação respeita a lei. Aqueles que, na década de 1960, escolheram a de­ sobediência civil para protestar contra a discrimi­ nação contra os negros, muitas vezes foram presos. Ir em silêncio para a cadeira, como Martin Luther King Jr fez, respeitou o princípio da lei, mesmo quando as leis foram violadas. Mas houve aqueles que, no final da década, fugiram para o Canadá para escapar ao alistamento. Protestavam contra o que consideravam uma guerra injusta. Mas, em vez de respeitar a lei e a ordem aceitando a punição, sua fuga foi uma recusa de submissão à lei do ho­ mem e de Deus. Em nossos dias há outras questões que podem muito bem exigir que cristãos conscientes violem as leis de nossa terra. Mas qualquer um que o faça também deve submeter-se de boa vontade a qual­ quer punição que a lei decrete. Se o fizerem, hon­ rarão sua causa e mostrarão o respeito cristão pelo governo ordenado por Deus.

minadas “pecado” como inadequadas para aqueles que honram a Jesus Cristo. A congregação a que me juntei como um cristão novo convertido em 1956 tinha convicções contra fumar, ingerir bebi­ das alcoólicas, ir ao cinema, dançar e outras coisas de que eu provavelmente não tinha conhecimento. Como todos na congregação compartilhavam essas convicções, nenhum conflito surgia. Mas as pessoas na congregação romana do século I tinham conflitos a respeito de convicções. Alguns achavam que não convinha que os crentes comes­ sem carnêWUguns achavam que o domingo devia ser guardado como um dia especial, assim como os judeus guardavam o sábado. E outros simplesmen­ te não concordavam. Logo, a harmonia e a unidade da igreja estavam ameaçadas, já que os crentes julgavam, criticavam e olhavam uns para os outros com desprezo. Se você já se perguntou como lidar com essas di­ ferenças que colocam barreiras entre os cristãos, Romanos 14 será um capítulo especialmente em­ polgante para você.

Aplicação Pessoal Só poderemos obedecer a Deus violando a lei se estivermos dispostos a aceitar a punição que a lei decreta.

Visão Geral Acolha calorosamente os outros sem julgar as suas convicções (14.1-8), afirmando assim a soberania de Cristo em cada vida (w. 9-12). Contudo, seja sensível às convicções dos outros (w. 13-18) e faça Citação Importante o que promove a paz e o crescimento (w. 19-21). “Um cristão é o senhor mais livre de todos, e não A pessoa deve manter as convicções pessoais para está sujeito a ninguém; um cristão é o servo de to­ si, como uma questão entre o indivíduo e o seu dos que é o maior cumpridor dos seus deveres, e Senhor (w. 22,23). que está sujeito a todos.” — Martinho Lutero Entendendo o Texto 11 DE OUTUBRO LEITURA 284 “Quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o” (Rm A CONDIÇÁO DE SENHOR 14.1). Neste capítulo Paulo fala dos “fortes” e dos DE CRISTO “fracos”. O que ele queria dizer com esses termos? Romanos 14 Simplificando, os fortes são aqueles que têm uma perspectiva cristã madura daquilo que Paulo cha­ “Foi para isto que morreu Cristo e tornou a viver; mou de “dúvidas”. Os fracos são aqueles que ainda para ser Senhor tanto dos mortos como dos vivos” não têm uma compreensão madura ou precisa de (Rm 14.9). tais questões. O mais notável é que Paulo não se alinhou com os Devemos manter nossas convicções entre nós e o fortes e contra os fracos, ou com os fracos contra os Senhor. fortes! Em vez disso, ele modelou exatamente o que pediu em Romanos 14: aceitação. Sem olhar com Contexto desprezo para ninguém e sem criticar, ele mostra Convicções. Algumas coisas são claramente rotula­ que cada crente é um membro valorizado do Cor­ das como “pecado” na Escritura. Nós, cristãos, con­ po local de Cristo. Cada um é bem-vindo. Cada cordamos com Deus, e não apenas renunciamos a um é amado. Cada um tem o seu lugar no grupo. essas coisas, mas também buscamos expurgá-las do Que fato importante e maravilhoso para o conhe­ nosso meio (cf. 1 Co 5). cimento de todo crente. Aonde quer que você ou Contudo, há uma série de práticas que não carre­ eu possamos estar na jornada da fé, somos um com gam esse rótulo bíblico. E, em várias ocasiões, vários aqueles que estão à frente e com aqueles que estão grupos de cristãos consideraram práticas não deno­ atrás de nós. Na comunhão com Jesus, somos um.

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“Dúvidas” (Rm 14.1). Uma “questão duvidosa” é qualquer prática que Deus não tenha rotulado como “pecado”, e que alguns crentes julguem acei­ tável, mas outros julguem errada. Podemos usar um princípio bíblico como base para julgar que uma prática específica não seja adequada para cris­ tãos. Mas, a menos que Deus tenha claramente de­ clarado que uma prática é pecado, a no§ga opinião será “duvidosa”. A palavra “dúvida” nos lembra que devemos per­ manecer humildes. Podemos estar certos em nossas opiniões sobre questões duvidosas. Mas também podemos estar errados. Então, embora sigamos a nossa consciência e façamos o que cremos ser cor­ reto, também liberamos os outros para chegarem às suas próprias conclusões. Você e eu certamen­ te devemos fazer aquilo que cremos que será mais agradável ao Senhor. Mas, em questões que geram “dúvidas”, não temos direito nenhum de impor nossas crenças aos outros.

Quando você estiver “inteiramente seguro em seu próprio ânimo”, faça o que acredita ser correto sem medo do que os outros possam pensar.

“Para ser Senhor tanto dos mortos como dos vivos” (Rm 14.9-12). O que significa a soberania do se­ nhor em questões duvidosas? Primeiro, que você e eu temos, para com Jesus, a responsabilidade de fa­ zer apenas o que honestamente acreditamos ser do agrado do Senhor. E, segundo, que nossos irmãos e irmãs cristãos não são responsáveis para conosco! Se Jesus é o Senhor, então julgar é trabalho dEle. E estou livre para sempre do fardo de determinar o que é certo e o que é errado para os outros. Como é boa a sensação dessa liberdade. Não tenho de condenar os outros. Não tenho de tentar argu­ mentar para convencê-los do meu ponto de vista. Tudo o que tenho a fazer é amar os outros, aceitálos e compartilhar a alegria da nossa fé comum em Jesus Cristo. E um fardo terrível para uma igreja, um pastor “Um crê que pode comer de tudo” (Rm 14.2,3). Você ou para você e eu desempenhar o papel de Deus. pode facilmente preparar a sua lista de “questões Como é libertador deixar que Jesus seja o Senhor e duvidosas”. Veja como. Primeiro, comece com os concentrar toda a nossa atenção em servi-lo. dois casos citados por Paulo: comer carne versus ve­ getarianismo, e observância estrita versus observân­ “Seja o vossopropósito não pôr tropeço ou escândalo ao cia negligente dos “dias santos”. Acrescente à sua irmão” (Rm 14.13-21). Você já notou como algu­ lista tudo que você achar que pode ser analisado mas pessoas ostentam a sua liberdade? Elas fazem questão de agir de maneira que choca ou mesmo deste modo. Depois, observe como disputas sobre tais questões ofende os outros, apenas para mostrar que podem. afetam os relacionamentos. Algumas pessoas come­ Paulo estava acostumado à reação exagerada dos çam a julgar as outras. São críticas e condenatórias. novos cristãos que ele criara ao longo das décadas. Outras ridicularizam. Tratam com desprezo pesso­ Então ele se guardou contra as reações exageradas. as cujas convicções são diferentes. Agora acrescente Somos livres para viver segundo as nossas convic­ à sua lista quaisquer questões que pareçam ter tais ções. Mas não somos livres para usar as nossas con­ vicções a fim de espancar um irmão até a morte! efeitos em cristãos que você conhece. Quando sua lista estiver completa, pregue-a em Esta é uma preocupação preponderante sentida algum lugar. E lembre-se. Estas são coisas em que por todo crente maduro. Devemos realmente nos você não deve prestar atenção ao construir suas importar com os outros e o seu bem-estar. Uma amizades cristãs. Deus aceitou aqueles que diver­ vez que ostentar a minha liberdade pode incitar gem de nós em todas as questões do tipo. Como alguém a julgar, ou encorajar um crente novo con­ Deus os acolheu, nós certamente devemos acolhê- vertido a agir contra a sua consciência, devo exercer los também. (Veja o DEVOCIONAL.) a minha liberdade com moderação. Às vezes esse princípio é aplicado erroneamente, e “Cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio deixamos que gente com o mínimo de maturida­ ânimo” (Rm 14.5-8). Se você examinar a lista de de em questões duvidosas imponha as suas visões convicções que acabou de fazer, sem dúvida terá à igreja inteira. Não é o que Paulo pediu. Paulo uma opinião a respeito da maioria dos itens des­ estava falando de relacionamentos, não de regras critos ali. Como você pode saber qual posição deve eclesiásticas. Ele estava dizendo a você e a mim adotar em cada questão, não publicamente, mas que, quando suspeitamos que algo que somos livres para si? para fazer pode prejudicar um irmão ou irmã me­ Você deve estudar cada questão para convencer-se nos maduro, então, por Cristo, devemos escolher de que: (1) Pode ou não pode fazer isso “para o Se­ livremente não fazê-lo. nhor”, (2) Pode ou não pode fazê-lo agradecendo Quão jubilosa é essa liberdade! E a liberdade que ao Senhor. realmente queremos. Não uma liberdade de fazer o

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que gostamos ou o que sabemos ser legítimo para nós. Mas uma liberdade de fazer o que é amoroso. Fazer o que expresse o calor, o assombro e a alegria de colocar o bem-estar dos outros antes dos meus “direitos”. “A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus” (Rm 14.22,23, ARA). A melhor maneira de lidar com “questões duvidosas” é simplesmente não conversar sobre elas. Discutir e argumentar, tentar convencer os outros de que estamos corretos não faz nada para promover a harmonia no Corpo de Cristo. E não faz nada para desenvolver um irmão ou irmã na sua fé.

DEVOCIONAL______ Há uma Acolhida aqui

(Rm 14.1-4) Paulo entrou imediatamente no âmago da questão: “Quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas”. E realmente isso. Não se trata de quem está errado ou de quem está certo. Apenas aceitação. A palavra grega traduzida como “receber”, proslambano, é um dos termos relacionais mais po­ derosos no Novo Testamento. Significa acolher ativamente. E um sorriso alegre, braços estendi­ dos para um abraço, a mão no braço trazendo o recém-chegado para um círculo de amigos próxi­ mos e amorosos. Os psicólogos nos dizem como a aceitação é im­ portante. Se uma criança deixa de sentir aceitação dos pais, é provável que cresça cheia de dúvidas e com uma sensação de falta de valor. Se um adulto deixar de sentir aceitação dos outros, será sempre inseguro, temeroso, isolado e solitário. Paulo nos lembra que a igreja de Jesus Cristo é a família de Deus. Aqui, todo filho de Deus deve ex­ perimentar a acolhida e então sentir o grande valor que Deus dá a ele. A igreja de Jesus é o lar: é onde podemos relaxar e ser nós mesmos, sabendo que aqui é o nosso lugar. E aqui nós somos amados. A aceitação é um dos presentes mais importantes que você pode dar a outra pessoa. E um dos mais valiosos que receberá. Não admira que Paulo tenha começado a discussão das questões duvidosas com a ordem: “Recebei-o”. Contudo, podemos divergir dos outros em ques­ tões que a Bíblia não classifica como "pecado” e, por mais apaixonadamente que sustentemos nos­ sas convicções, nosso irmão ou irmã em Cristo foi aceito por Deus. E nós devemos acolhê-lo também.

Tudo o que essas discussões têm probabilidade de fazer é criar dúvidas e incertezas. É por isso que Paulo nos lembra que “tudo o que não é de fé é pecado”. Seja o que for que façamos, devemos fazer na convicção de que estamos agra­ dando a Jesus Cristo. Portanto, convença-se em sua mente antes de agir. Quando estiver convencido, sinta-se livre para fa­ zer o que acredita ser agradável ao Senhor. Mas, ao mesmo tempo, seja sensível às convicções dos outros e a como suas ações os afetam. Valorize o bem-estar do seu irmão mais do que os seus di­ reitos. E nunca, nunca torne convicções pessoais tema de debate. Aplicação Pessoal Dê o presente que não custa nada, mas que signi­ fica tudo. Citação Importante “No domingo eles vêm da cidade e ficam no vão da porta para escapar do frio. Não sentimos frio entre irmãos e irmãs. Ah, se houvesse menos fogo na lareira e houvesse mais fogo no coração!” — Henry David Thoreau 12 DE OUTUBRO LEITURA 285 UM CORAÇÃO E UMA BOCA Romanos 15 “O Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, para que concordes, a uma boca, glori­ fiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 15.5,6). “Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vi­ vam em união!” (SI 133.1). Entendendo o Texto Cristo modelou uma postura que leva à unidade e glorifica a Deus (15.1-6). A aceitação a Cristo esta­ belece o padrão para os relacionamentos mútuos de todos os crentes, e abre a porta para a alegria e a paz (w. 7-13). Quanto a Paulo, ele encontrava satisfa­ ção servindo a Deus (w. 14-22) e tinha esperança de em breve visitar Roma (w. 23-29). Ele exortou os romanos a orar com e por ele (w. 30-33). “Devemos suportar... e não agradar a nós mesmos” (Rm 15.1-7). Esses versículos colocam-se ao lado do capítulo 14. Paulo havia mostrado que, em

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“questões duvidosas”, cada cristão deve aceitar a responsabilidade por suas próprias convicções e dar aos outros a mesma liberdade de serem respon­ sáveis para com Cristo como Senhor. As questões que não são claramente definidas como pecado, nas Escrituras, causam dúvidas; mas não devem se tomar motivos de debates. Agora Paulo nos lembra da postura que devemos ter para que a unidade do Corpo de Cristo seja preservada. Nunca é suficiente apenas deixar os outros em paz. “Faça o que achar melhor”, podemos dizer. Mas o que podemos querer dizer é: “Não me aborreça. Realmente não me importa o que você faça”. Não é isso que significa deixar que Cristo seja o Senhor na vida de outro crente. Paulo nos diz para “suportar” as “fraquezas dos fracos”. Por amor a Je­ sus, e aos nossos irmãos crentes, “cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edifica­ ção”. Vivemos para servir, assim como Jesus viveu e morreu para nos servir.

“Recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus” (Rm 15.7). Eis aquela palavra outra vez: “aceitar”. Em Romanos 14 vimos o que significa receber: “abrir nossos braços e corações uns aos outros”. Significa valorizar o indivíduo a ponto de ele expe­ rimentar calor humano e o senso de fazer parte. Aqui, Paulo nos mostra o padrão pelo qual a acei­ tação deve ser medida. Devemos receber as outras pessoas como Cristo nos recebeu. Jesus abriu o seu coração para nós porque éramos pessoas bonitas? Porque tínhamos muito a ofere­ cer ao grupo? Porque éramos ricos e bem vestidos? Não, Jesus abriu seu coração e nos recebeu quan­ do ainda éramos pecadores, hostis para com Deus, vestidos com os trapos imundos de nossas preten­ sões de justiça, sem qualquer valor no céu. Jesus nos aceitou e recebeu livremente, sem nenhuma condição prévia e apesar das nossas falhas. Eis como você e eu devemos nos relacionar com os outros: Como Jesus se relacionou conosco. E assim como o amor redentor de Jesus começou a transformar a nossa vida na comunhão de uma congregação que ama e aceita, os pecadores e os fracos também serão transformados. “Jesus Cristo foi ministro da circuncisão, por causa da verdade de Deus” (Rm 15.8-12). Qual foi a verdade que Jesus ministrou tão bem? Que Deus ama os judeus e os gentios. Que Ele foi fiel para manter as suas promessas de aliança com Israel e, ao mesmo tempo, abriu a porta da salvação para o restante da humanidade.

O resultado do ministério de Jesus? Ele recebe e traz o louvor de toda a humanidade a Deus. Não menos que cinco palavras gregas diferentes desig­ nando louvor são usadas em três breves citações do Antigo Testamento, lembrando-nos quão significa­ tivo é o louvor à vista de Deus. Ela nos lembra mais uma coisa. Os outros podem não apreciar o que você faz por eles. Isso é realmen­ te bom! O objetivo do ministério cristão não é ser louvado. E colher o louvor dos outros e direcionálo a Deus. Se os outros nos elogiarem, estaremos interceptando aquilo que realmente pertence ao nosso Senhor.

“0 Deus de esperança" (Rm 15.13). Esta é a segunda de duas descrições muito especiais de Deus neste capítulo. O versículo 5 retrata Deus como o “Deus que concede”. (Veja o DEVOCIONAL.) O versí­ culo 13 retrata-o como “o Deus de esperança”. “Esperança” é uma palavra singular na Escritura, que indica “expectativa confiante”. A pessoa que tem esperança sente uma segurança completa quanto ao futuro. E o transbordamento da espe­ rança que temos quando confiamos em Deus nos enche de gozo e paz. Portanto, doe-se para servir. E deixe que Deus o encha com aquela esperança que transborda em gozo e paz. “Podendo admoestar-vos uns aos outros” (Rm 15.1420). Não há nada que atrapalhe tanto o crescimen­ to espiritual como o paternalismo. Essa é a ideia de que o “paizão” sempre tem que estar por perto, ou você, coitado, cometerá algum erro terrível ou fará algo muito estúpido. O paternalismo é uma tentação terrível para qual­ quer pessoa no ministério. Se o grande pastor não estiver presente, aquele pequeno grupo de estudos bíblicos provavelmente se perderá em alguma falsa doutrina. Se o grande pregador não pregar, nada de valor acontecerá no culto. Se o grande reverendo não aconselhar, como aquelas pessoas terrivelmen­ te confusas encontrarão a saída para o seu dilema? Bem, o grande apóstolo Paulo não compartilhava essa postura! Ele dissera antes, de modo bem claro, que os crentes estão unidos a Jesus e recebem o Es­ pírito Santo (Rm 6— 8). Ele disse que todo crente tem um dom que o equipa para o ministério (Rm 12). Ele mostra que o crescimento pode acontecer quando os crentes aceitam uns aos outros caloro­ samente, servem uns aos outros e deixam Cristo exercer sua soberania em cada vida (Rm 14— 15). Então Paulo esquivou-se, não apenas do paternalis­ mo, mas até mesmo da sugestão de paternalismo! Paulo queria visitar Roma para desfrutar, para “go­

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zar um pouco da vossa companhia” (v. 24). Ele não era impelido a visitar Roma por causa do temor neurótico de que a igreja ali fosse naufragar sem ele. Na verdade, Paulo estava “certo” de que os membros da igreja em Roma “podiam admoestarse uns aos outros”. Os romanos tinham a Palavra, o Espírito Santo e uns aos outros. Paulo levaria uma bênçáo. Em última análise, qualquer igreja cresce por causa do seu relacionamento com Deus, não com os servos de Deus. Quão desesperadamente pastores e crentes preci­ sam ouvir essa palavra de Paulo. Os pastores pre­ cisam se livrar de posturas e açóes paternalistas, e nutrir o ministério dos leigos. Os crentes precisam parar de confundir servo de Deus com Deus, e confiar mais no Senhor do que no líder. “Uma coleta para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém” (Rm 15.26-28). A Judeia era muito dependente da renda do Templo e dos peregrinos que iam visitá-lo. Com o tempo, à medida que a pequena comunidade cristã tornou-se mais e mais

DEVOCIONAL_____ _ Doar até se Sentir Ferido (Rm 15.1-6)

Às vezes ouço um apresentador em um programa de uma rádio local, e a sua premissa principal é que as pessoas devem viver uma vida mais egoís­ ta. “Você é importante”, ele diz aos que telefonam. “Pense em si para variar. Coloque as suas neces­ sidades em primeiro lugar porque, se não o fizer, ninguém o fará.” Esta é uma filosofia popular, e tenho certeza de que há pessoas que precisam ouvi-la. Pessoas que se consideram sem valor e, portanto, vivem como um capacho, maltratadas por pequenos tiranos, que podem ser o pai, a mãe, ou até mesmo os próprios filhos. Mas, para cristãos maduros, confiantes no valor que têm em Cristo, a mensagem de “vamos viver vidas egoístas” é totalmente errada. Paulo chegou até mesmo a dizer: “Cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação”. Para o apresentador do programa, o conselho de Paulo é pura tolice. Até mesmo muitos cristãos acham um pouco difícil de engolir. Podemos mui­ to bem pensar: “Por que sempre sou eu que devo renunciar ao que quero a favor de alguma outra pessoa?” Muitas vezes pensamos: “Estou cansado de me doar aos outros quando eles sequer apreciam o que faço por eles”.

isolada do resto do judaísmo, os cristãos passaram a sofrer mais durante épocas de depressão ou fome. Um dos ministérios de Paulo era o alívio da fome: levantar fundos de crentes em todo o mundo gen­ tio para trazer auxílio aos crentes pobres em Jeru­ salém. Para Paulo, que desenvolveu uma teologia da doa­ ção em 2 Coríntios 8— 9, satisfazer as necessidades materiais dos crentes judeus de que se originara a igreja era uma obrigação e uma alegria. As neces­ sidades espirituais e materiais não eram separadas como às vezes fazemos. Qualquer necessidade co­ nhecida de um crente era uma oportunidade para servir. Como é maravilhoso quando conseguimos en­ xergar o cumprimento da obrigação de ajudar aos outros com alegria como uma prioridade. Paulo es­ tava ansioso para ir à Espanha a fim de abrir aque­ la terra para o evangelho. Mas não viu nenhum conflito entre deixar de lado a missão por algum tempo, a fim de levantar fundos e alimentos para os necessitados. Se alguma vez você se sentiu desta maneira, que se doou até se sentir ferido, lembre-se desta expressão de Romanos 15.5: “Deus... vos conceda”. Aquilo a que renunciamos ao seguir o exemplo de altruísmo de Cristo não é nada em comparação com o que Deus nos dá em troca. Ele nos dá paci­ ência. Encorajamento. E um “espírito de unidade entre vós”. Quando nos doamos aos outros, Deus nos dá todo o privilégio de glorificá-lo juntos com “um coração e uma boca”. Portanto, da próxima vez que se sentir maltrata­ do ou os sacrifícios que você faz pelos outros não forem reconhecidos, lembre-se... Deus sabe. E Ele lhe concede, como compensação, dádivas muito mais preciosas do que qualquer coisa a que você renunciou por amor a Ele.

Aplicação Pessoal

Já seria um privilégio seguir o exemplo de Jesus, mesmo que não houvesse recompensas.

Citação Importante

“A minha mente se viu diante da escolha entre o meu prazer e o de Deus; e, como a minha mente viu a gri­ tante desigualdade entre os dois, mesmo na questão mais simples, convinha escolher o que parecia mais agradável a Deus.” — Anthony Mary Claret

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13 DE OUTUBRO LEITURA 286 IRMÃS E IRMÃOS Romanos 16

Posso entender por que algumas mulheres cristãs estão ansiosas para que Febe receba maior reconhe­ cimento. O ministério de mulheres não teve uma acolhida entusiástica na igreja. Mas é provável que “Recomendo-vos, pois, Febe, nossa irmã, a qual serve a mais elevada honra que podemos prestar a Febe ou a qualquer outro crente é observar, como faz na igreja que está em Cencreia” (Rm 16.1). Paulo, que “ela tem ajudado muita gente e a mim Listas de nomes significam pouco para nós. Mas também” (NTLH). cada nome representa uma pessoa que é importan­ Afinal, é disso que trata a nossa fé. Não do cargo te para Deus. que podemos ocupar. Mas da ajuda que podemos dar uns aos outros enquanto procuramos seguir a Visáo Geral Jesus Cristo juntos. Paulo encerrou com saudações pessoais a amigos próximos em Roma (16.1-16), com uma exortação “Priscila e a Aquila, meus cooperadores em Cristo (w. 17-20) e com saudações de outros que traba­ Jesus” (Rm 16.3,4). Isto deve ao menos fazer he­ lhavam com ele (w. 21-23). E coroou tudo com sitar por um momento aqueles que pensam em louvor a Deus (w. 24-27). Paulo como um chauvinista machista. As duas primeiras pessoas que Paulo mencionou nesta se­ Entendendo o Texto ção de saudação de Romanos 16 são mulheres. E “Saudai” (Rm 16.3-16). A propensão da Bíblia a Priscila foi mencionada antes mesmo do marido, incluir longas listas de nomes às vezes desagrada Aquila. alguns leitores. Mas sempre há razões para que es­ Tanto Priscila quanto Áquila são reconhecidos sas informações sejam registradas. No Antigo Tes­ como “cooperadores” de Paulo, assim como Febe tamento, a maioria da listas de nomes é genealógi­ foi reconhecida como uma diaconiza na igreja. ca: elas demonstram a fidelidade de Deus ao povo Enquanto o ministério de ajuda e socorro de Febe de Israel, com o qual Ele manteve uma relação de parece ter sido focado na igreja local que estava em aliança ao longo de muitos — e às vezes tempestu­ sua casa, a palavra sunergos, que significa “cooperaosos — séculos. Essas listas de nomes estabelecem dor”, sugere que esse casal compartilhava a mesma não apenas a identidade do povo de Deus, mas a chamada de Paulo, para servir como evangelistas sua fidelidade. missionários. Aqui, em Romanos 16, há uma lista de nomes Realmente há um lugar para as mulheres. Em casa que tem outro propósito. Ela demonstra algo da e fora de casa. Em igrejas locais e nas missões. rede de relacionamentos calorosos e afetuosos que mantinha unida a Igreja Primitiva. Paulo não era “Os quais se distinguiram entre os apóstolos” (Rm apenas um teólogo, mas um amigo. Ele não apenas 16.7). A palavra “apóstolo” é usada em um senti­ contava convertidos, ele se importava com as pes­ do restritivo quando aplicada aos Doze e a Paulo. soas como indivíduos. Esses homens foram os líderes divinamente nome­ Portanto, não devemos nos desencorajar com a lis­ ados da igreja e falavam com autoridade singular. ta de nomes aqui. Permitamos que ela nos lembre Contudo, muitos outros ganharam o título de que, aos olhos de Jesus e na igreja de Jesus, cada “apóstolo”, entre eles Andrônico e Júnia. Afinal, pessoa é importante o suficiente para ser conhecida a palavra “apóstolo” significa literalmente alguém por seu nome. que é enviado em uma missão. A palavra de Paulo sobre esses parentes que eram “Recomendo-vos, pois, Febe, nossa irmã, a qual serve “notáveis dentre os apóstolos” lembra-nos que os na igreja que está em Cencreia” (Rm 16.1). A ma­ primeiros cristãos sentiam o chamado missionário neira como os tradutores lidaram com esse versí­ de partilhar sua fé com outros no mundo roma­ culo deixa as “feministas cristãs” furiosas. A palavra no. Jamais pense que Paulo e seu pequeno grupo “servo(a)” em grego é diakonos. Alguns comenta­ de missionários foram responsáveis pela expansão ristas observaram que o uso dessa forma, em vez de explosiva do evangelho no século I. Eles não o fize­ diakoneo ou diakonia, sugere algo mais que serviço ram sozinhos! Tampouco hoje a tarefa de difundir ocasional. E provável que Febe ocupasse a posição o evangelho pode ser levada a cabo por alguns mis­ de liderança de um diácono em sua congregação, sionários em “tempo integral”. apesar de ser impossível dizer o que essa posição Tenhamos a certeza de que estamos “entre os após­ envolvia na época em que a Epístola aos Romanos tolos”. Vamos ao menos tentar elevar o nosso nível foi escrita. de cooperação na obra de Deus.

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“Amplíato... Urbano... Estáquis” (Rm 16.8,9). Como era a igreja de Roma? Uma sugestão vem dos nomes que Paulo mencionou em Romanos 16. Esses nomes, por exemplo, juntamente com mui­ tos dos outros, eram mais comuns entre escravos e homens e mulheres libertos na sociedade romana. Fica bem claro que a igreja em Roma não era um fenômeno da alta sociedade. Os cristãos ali eram, na sua maioria, pessoas comuns e, provavelmente, originários das camadas mais baixas da sociedade romana. Observe como Paulo falou dos crentes romanos de “classe baixa”. Amplíato era seu “amado no Se­ nhor”. Urbano era seu “cooperador em Cristo”. Estáquis era seu “amado”. Podemos sentir o transbordamento de amor enquanto Paulo escreve, en­ volvendo cada pessoa com afeição. Classe não é um problema na igreja de Cristo. Certamente não tinha importância para Paulo. Ele amava esses homens e mulheres como eram, e porque eles eram profundamente amados por Jesus Cristo. Nisto também sigamos o exemplo de Paulo. Amemos as pessoas pelo que elas são, e não pelas suas posições. E deixemos que elas saibam disto.

tros, haverá unidade na Igreja de Cristo. Aquele vínculo que o próprio Paulo demonstrava com aqueles que então estavam em Roma, e que ele viera a conhecer e amar, nos mantém juntos, em íntima comunhão. Mas se a devoção esmorecer e a igreja se tornar um local de encontro impessoal de estranhos, tome cuidado. Então, a porta estará escancarada para aqueles “que promovem dissensões”. Sua fala e lisonjas fáceis destinam-se a enganar. Eles querem construir seu próprio reinozinho, com seu punha­ do de seguidores. Eles não estão servindo a Jesus, mas ao seu próprio orgulho ou à sua necessidade de adulação. Paulo tinha uma receita simples para lidar com tais pessoas. Metade dela está no versículo 17: “Des­ viai-vos deles”. A outra metade está implícita na epístola como um todo e nos 16 primeiros versí­ culos desse capítulo: “Aproxime-se de seus irmãos e irmãs no Senhor. Se vier a conhecer bem a família eclesiástica local e amá-la profundamente, então nenhum estranho de fala insinuante será capaz de estremecer a unidade que Cristo dá”.

“Erasto, procurador da cidade” (Rm 16.23). Uma vez trabalhei para uma organização cristã cujas igrejas, certo ano, apresentaram “histórias de sucesso” cristãs. Um a um, os ricos e respeitados de nossa comunidade marcharam até o púlpito da igreja e contaram como a fé em Cristo contribuíra para a sua ascensão. Como eu queria que tivéssemos en­ contrado algum fracassado, pobre e sem educação, que pudesse nos contar como a fé em Jesus o sus­ tentara em sua queda rumo à ruína. E claro que isso não aconteceu. Ficamos muito entusiasmados com o astro de cinema convertido, com o criminoso regenerado, com a Miss Mundo. Aparentemente, os tradutores da Nova Versão In­ ternacional compartilham essas falhas, pois Erasto, o oikonomos, pode muito bem ter sido um funcio­ nário de finanças no governo coríntio, mas não há como dizer, hoje, quão elevada era a posição que detinha. Ele era realmente o “diretor de obras pú­ blicas”? Bem, talvez. Mas não é provável. De qualquer maneira, isso não tem importância, tem? Como Tiago sabiamente diz: “Glorie-se o ir­ mão abatido na sua exaltação [em Cristoj, e o rico, em seu abatimento [como mero pecador salvo pela graça]” (Tg 1.9,10). O que realmente conta a respeito de Erasto não é a sua posição na hierarquia coríntia. Tudo o que “Noteis os que promovem dissensões” (Rm 16.17-19). realmente conta é que ele era de Jesus. Se formos verdadeiramente devotados uns aos ou­ E você também é.

“Pérside, a qual muito trabalhou no Senhor” (Rm 16.12). Duas gerações depois, Clemente de Roma relataria regulamentos que restringiriam seriamente o papel das mulheres na liderança eclesiástica. Suas palavras, em 1 Clemente 20.7, são às vezes citadas para sustentar as restrições modernas à participa­ ção feminina na liderança de nossas igrejas locais. Seja qual for a autoridade que desejemos atribuir a Clemente, deve ser significativo que, em sua lista, o apóstolo Paulo tenha creditado a quatro mulhe­ res um trabalho significativo em suas congregações (Maria, Trifena, Trifosa e Pérside). Na verdade, pelo menos nessa lista, ele faz essa referência especial a quatro mulheres — mas a nenhum homem. Ao fazer essa observação, não estou montando uma campanha a favor da ordenação de mulheres ou afirmando a superioridade feminina na liderança eclesiástica local. Estou simplesmente apontando o que o texto diz. E sugerindo que talvez — apenas talvez — Clemente de Roma reagiu exageradamente à liberdade que as mulheres cristãs da primeira geração encontraram, por meio do evangelho, para usar seus dons na igreja de Cristo. Talvez — e apenas talvez — alguns homens tam­ bém reajam exageradamente hoje.

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DEV OCIONAL_________ Eu Adoro um Mistério

(Rm 16.25-27)

Era um dos meus programas de rádio favoritos. Posso ouvir o anunciante agora, a voz trêmula de entusiasmo fingido: “E agora”, ele começava, em tom abafado, “eu” (pausa), “adoro” (um pouco mais alto), “UM MISTÉRIO!” Eu corria para a nossa pequena sala, me deitava de bruços diante do rádio, concentrado e pronto para ouvir o novo e fascinante capítulo da aventura. Paulo também amava um mistério. Não, não a aventura imaginária dos meus dias de rádio. O mistério bíblico de Jesus Cristo. Na Escritura, “mistério” é um termo técnico teológico. Ele identifica alguma faceta anterior­ mente oculta ou apenas sugerida do plano eter­ no de Deus, a qual apenas foi revelada há pouco tempo. Cristo, Paulo percebeu maravilhado, é o maior de todos os mistérios de Deus. Como pode Deus perdoar os pecados de santos do passado? Como pode Deus, não simplesmente declarar os seres humanos justos, mas torná-los realmente justos? Como pode Deus, comprometido como estava com os judeus, abrir seus braços também para os gentios? Como puderam os judeus e os gentios encontrar pontos em comum, tornando possível que a raça voltasse a ser uma? Como pode o amor de Deus por toda a raça humana ser demonstrado de forma tão impressionante a ponto de fazer pecadores empedernidos para­

rem, reconsiderarem e se ajoelharem humilhados diante de Deus? Essas e todas as perguntas não respondidas da his­ tória são, para Paulo, respondidas em Jesus Cristo. Ele é o mistério que esteve oculto por longas eras no passado. Ele é aquEle vislumbrado em escritos pro­ féticos. É aquEle que veio e que hoje está comple­ tamente revelado para que todas as nações possam crer nEle e obedecer-lhe. É aquEle que finalmente nos capacitou a perceber não apenas o amor, mas também a sabedoria de Deus. Ele é aquEle por meio do qual Deus recebe a glória, para todo o sempre. Os cristãos podem divergir honestamente sobre muitas questões doutrinárias. Podem ter contro­ vérsias quanto a várias práticas. Mas em uma coisa todos concordamos. Todos amamos aquEle cuja vinda explicou o mistério do plano de Deus, e re­ velou de uma vez por todas a plena medida de seu misterioso e maravilhoso amor. Aplicação Pessoal Para ver claramente, olhe para todas as coisas atra­ vés de Jesus Cristo. Citação Importante “Deus na cruz! Essa é toda a minha teologia.” — Jean LaCordaire O Plano de Leituras Selecionadas continua em 1 SAMUEL

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1 CORÍNTIOS INTRODUÇÃO Paulo escreveu esta epístola aos cristãos da rica cidade portuária de Corinto em 55 d.C., cerca de quatro anos depois de ter fundado a igreja dali. Depois que Paulo partiu, surgiram alguns problemas na igre­ ja, e os coríntios pediram aconselhamento. Portanto, 1 Coríntios é uma carta prática, para solucionar problemas. Nela Paulo explica como os cristãos devem lidar com muitas questões, entre elas divisões, imoralidade e disputas doutrinárias. Esta carta de Paulo nos proporciona discernimentos fascinantes das dificuldades enfrentadas pelas con­ gregações do século I ao tentarem viver a sua vida em Cristo. A Primeira Epístola aos Coríntios contínua a ser uma das cartas mais valiosas do Novo Testamento. Os princípios que Paulo desenvolveu aqui servem como guia confiável para a solução de problemas interpessoais na igreja de hoje. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Introdução .........................................................................................................................................1 Co 1.1 -9 II. Divisões na Igreja..................................................................................................................1 Co 1.10— 4.21 III. Disciplina dos Im orais...................................................................................................................1 Co 5— 6 IV. Divórcio e Casamento ..........................................................................................................................1 Co 7 V..Disputas Doutrinárias ............................................................................................................1 Co 8.1— 11.1 VI. Conduzindo a Adoração...........................................................................................................1 Co 11.2-34 VII. Definindo Espiritualidade...................................................................................................... 1 Co 12— 14 VIII. Entendendo a Ressurreição ............................................................................................................1 Co 15 IX..Conclusão ................................................................................. ...........................................................1 Co 16 GUIA DE LEITURA (9 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia e o Devocional em cada capí­ tulo deste Comentário. Leitura 287 288 289 290 291 292 293 294 295

Capítulos 1 2—4 5— 6 7 8— 10 11 12— 13 14 15— 16

Passagem Esset 1.4-17 4 6.12-20 7.25-40 8.1-13 11.23-32 13 14.26-40 15.42-57

1 CORÍNTIOS 14 DE OUTUBRO LEITURA 287

A IGREJA DIVIDIDA 1 Coríntios 1

“Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Se­ nhorJesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa e que não haja entre vós dissensões; antes, sejais uni­ dos, em um mesmo sentido e em um mesmo parecer” (1 Co 1.10).

condição de povo de Deus hoje, devemos viver vi­ das santas, não vidas comuns. É por isso que é tão importante para os crentes solucionar os tipos de problemas que surgiram na igreja coríntia. E ape­ nas vivendo uma vida santa, adequada para aqueles que são santificados em Jesus, que glorificaremos a A dissensão nega a verdade de que a Igreja de Cris­ Deus ou experimentaremos sua graça e paz. to é uma. “Em tudo fostes enriquecidos” (1 Co 1.4-9). A igre­ Visão Geral ja coríntia tinha problemas. Mas tinha recursos Paulo expressou agradecimentos aos amigos co­ inigualáveis também. As vezes você e eu nos con­ ríntios (1.1-9), mas preveniu-os contra divisões na centramos tanto nos nossos problemas que nos es­ igreja (w. 10-17), que refletem, antes, a insensatez quecemos das reservas espirituais de que Deus nos humana e não a sabedoria da cruz (w. 18-31). proveu. De que recursos Paulo nos lembra? Temos a graça Entendendo o Texto de Deus para nos enriquecer, pois ela foi derrama­ "Santificados em Cristo Jesus, chamados santos” (1 Co da sobre nós quando respondemos à mensagem 1.1-3). Paulo queria o melhor para seus leitores: sobre Jesus (w. 4,5). Temos dons espirituais para “Graça e paz, da parte de Deus [a vós] ” (v. 3). Mas nos capacitar a crescer e a servir (v. 7). Temos o ele lembrou os coríntios e a nós que para experi­ compromisso de Cristo para nos encorajar, pois sa­ mentar o melhor de Deus, devemos nos tornar o bemos que Ele nos manterá fortes e seguros até que que somos. Ele retome (v. 8). Temos a fidelidade de Deus para E o que somos? Somos pessoas “santificadas em nos assegurar de que nenhum desses recursos será Cristo Jesus”. A palavra santificado significa “sepa­ tirado de nós (v. 9). rado para Deus”. Nos tempos do Antigo Testamen­ E muito fácil para nós nos concentrarmos em to, pessoas, lugares e coisas santificadas nunca eram nossos problemas e nos sentirmos esmagados. O usados para fins profanos ou comuns. Só podiam que Deus quer que façamos é que nos concentre­ ser usados a serviço de Deus. A mesa do santuário mos em seus recursos e vençamos! (Veja o DEdedicada a Deus tinha pães. Mas nem mesmo os VOCIONAL.) sacerdotes de Israel podiam colocar uma refeição naquela mesa, puxar as cadeiras e comer nela. “Sejais unidos” (1 Co 1.10-12). Esse apelo fervoro­ Paulo disse aos coríntios: “Todos os que em todo so por harmonia exterior combina-se com o versí­ lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cris­ culo 10, um apelo pela unidade interior de “men­ to” são “santificados em Cristo Jesus”. Jesus nos te e pensamento”. As dissensões (ou “divisões”) separou para setmos de Deus e apenas dEle. Na de que Paulo falou são schismata, rachaduras que

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surgiram nas paredes da igreja e ameaçavam fa­ zer o edifício ruir. Paulo não estava pedindo aos coríntios que cobrissem as rachaduras fingindo concordar. Ele estava pedindo a todos em Corinto que considerassem cuidadosamente as questões, para que houvesse uma unidade verdadeira, não falsa, no corpo local. Encobrir as diferenças nunca as soluciona. As coi­ sas só melhoraram quando enfrentamos juntos os problemas comuns, determinados a encontrar uma base para a unidade. Isso é verdade na igreja. É ver­ dade na família. É verdade em todos os aspectos da vida.

“Contendas entres vós” (1 Co 1.11,12). Algumas pessoas ficam perturbadas com o fato de o cristia­ nismo ter muitas denominações diferentes. “Ve­ jam!”, eles gritam, apontando para esses versículos em 1 Coríntios. “É errado os crentes dizerem ‘Sou presbiteriano’ ou ‘Sou batista’. Deve haver apenas uma grande igreja cristã, sem nenhuma divisão”. Aqui, porém, Paulo estava lidando com contendas. Ele estava lidando com facções que não apenas competiam, mas eram ativa e mutuamente hostis. Os crentes que constituíam o “partido de Paulo” e aqueles que estavam no “partido de Apoio” bri­ gavam e discutiam sobre quem era o melhor, mais correto e mais cristão. Todas as comunidades cristãs das cidades do século I dividiam-se e reuniam-se em várias casas-igreja. Paulo deixa subentendido que uma dessas congre­ gações se reunia na casa da “família de Cloe” (v. 11). Não acho que ele teria algum problema para identificar os cristãos modernos como os irmãos “da Igreja Batista da Quinta Avenida com a Princi­ pal”, ou da “Igreja Presbiteriana da Little Road”. Portanto, não devemos dar muita importância a tais distinções. Lembremo-nos de que, a despeito da denominação, seja Batista, Presbiteriana ou ou­ tra, a Igreja de Cristo é uma única igreja. Mas se os batistas e presbiterianos começarem a brigar para ver qual grupo está certo ou quem são os melhores cristãos, então precisaremos nos preocupar.

com Paulo, Pedro ou Apoio levou-os ao debate. O Senhor Jesus Cristo é Um, e porque Ele é a cabeça de todo crente, a Igreja é uma. Meu amigo Bob Girard declarou isso da melhor maneira quando se mudou para Verde Valley, no Arizona, e preencheu o cartão de visitante de uma nova igreja no primeiro domingo. Onde o cartão perguntava se ele gostaria de se tornar membro da igreja, Bob escreveu: “Já sou membro do Corpo de Cristo. Então, naturalmente, quero envolver-me de qualquer maneira que puder com meus irmãos e irmãs aqui”. Se nutrirmos essa postura, a Igreja de Jesus, que é uma, será uma aqui na terra.

“Sabedoria de palavras” (1 Co 1.17-24). A palavra “sabedoria” é uma das mais significativas da Escri­ tura. Em ambos os Testamentos ela envolve a apli­ cação de conhecimento para guiar a vida diária. Os “sábios” devem ter a verdade e ser capazes de aplicá-la. A mera sabedoria humana desaba nesses dois pon­ tos. Embora todas tenham elementos de verdade, as culturas e sociedades humanas estão cheias de mentiras e meias-verdades. E a sabedoria humana é incapaz de separar verdade de ficção ou de apli­ car corretamente a verdade, mesmo quando ela é discernida. Paulo ofereceu uma prova. Quando a mensagem da cruz é proclamada, como aquele que se autoproclama “sábio” responde? Aqueles que tinham raízes na cultura judaica insistiam em milagres como pro­ va. Os que tinham raízes na cultura grega insistiam que a mensagem deveria ser “intelectualmente res­ peitável”. Será que nenhum desses percebeu que a pregação da cruz é “poder de Deus e sabedoria de Deus” (v. 24)? Por que essa crítica à sabedoria aqui? Porque aque­ les que contendiam a respeito de qual grupo de cristãos estava mais próximo de Deus estavam se valendo de mera sabedoria humana. Eles ordena­ vam seus argumentos, perdendo totalmente de vis­ ta o fato central de que no cristianismo tudo deve estar relacionado a Cristo. Não se surpreenda se não cristãos rirem da nossa fé. Cari Sagan ridiculariza publicamente a Criação. Ted Turner zombou da cruz em um discurso para execu­ tivos da mídia. Mas não tem importância. “Não tor­ nou Deus louca a sabedoria deste mundo” (v. 20)? Não tem importância. Simplesmente não continue a adotar uma abordagem mundana para resolver problemas na Igreja de Cristo!

“Está Cristo dividido?” (1 Co 1.13-16). A base da unidade cristã é Jesus, que morreu por todos os que creem. Nossa união é com Jesus, e Ele é a fonte de nossa identidade. Uma das amigas de infância de minha esposa, uma cristã católica devota, diz enfaticamente que ela é cristã e católica, mas que é católica em primeiro lugar. Aprecio sua lealdade para com sua igreja, assim como a sua sincera dedicação ao Senhor. Mas essa abordagem da fé se parece muito como “Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para as abordagens entre os coríntios, cuja lealdade para confundir as sábias” (1 Co 1.26-31). A intelligentsia

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(classe dos intelectuais), os ricos e os politicamen­ te poderosos são os que sacodem e movem a so­ ciedade humana. Eles são as pessoas que contam; são as pessoas com as quais você precisa conversar se quiser que alguma coisa seja feita. Mas Paulo enfatizou que a sua inteligência, riqueza e poder eram absolutamente inúteis quando se tratava de alcançar a salvação. Para trazer a salvação ao mundo, o Filho de Deus tornou-se um Homem pobre, um carpin­ teiro. Viveu em um canto atrasado do mundo, morreu a morte de um criminoso e, mesmo após sua ressurreição, não houve “muitos... sábios... nem muitos... poderosos, nem muitos... nobres”

que responderam às Boas-Novas do evangelho. Decorre que nós, cristãos, não temos nada do que nos gabar, exceto de Jesus. O próprio Jesus é a nossa justiça, a nossa santidade e a nossa re­ denção. Que censura aos que discutiam por meros líderes humanos. Eles não apenas argumentavam como homens do mundo; eles se afastavam de Jesus. Jesus é o centro unificador da nossa fé cristã. A medida que contemplamos a grandeza de Jesus, somos tão humilhados que a vanglória que de­ monstramos por algo supostamente superior em nosso pequeno grupo se mostra como de fato é: uma grande tolice.

DEV OCIONAL______ Sai, Mancha Maldita

temos os problemas honestamente, com completa confiança de que, juntos, podemos solucioná-los Shakespeare retrata Lady Macbeth, conspirado­ na sua força. ra no assassinato de seu rei, vezes e vezes lavando compulsivamente as mãos. Ela sente que uma gota Aplicação Pessoal do sangue do rei caiu em sua mão, manchando-a, e Olhar primeiro para Jesus coloca os nossos proble­ sua atenção se fixa nisso. mas sob a perspectiva correta. Muitas vezes reagimos um pouco como Lady Ma­ cbeth quando descobrimos problemas na igreja Citação Importante ou em casa. Concentramo-nos de modo quase “Ela é chamada de comunidade dos santos porque compulsivo no problema, falando constantemente eles têm comunhão em coisas santas; sim, naquEle sobre ele, reprisando cada detalhe repetidas vezes. por quem são santificados, isto é, no Pai e no Fi­ Como a estimada dama, sentimos uma profunda lho, que os santifica com tudo o que Ele mesmo frustração, e, quanto mais falamos, mais sério o lhes deu. Portanto, todas as coisas servem para o problema parece ser. aprimoramento e o fortalecimento do próximo, e Não estou sugerindo que você ou deu devamos evi­ para o louvor e a glória de Deus Pai.” — Menno tar enfrentar os problemas. Não. Devemos examinar Simmons honestamente as coisas que precisam ser corrigidas em nossa vida pessoal, em nossa família e em nos­ 15 DE OUTUBRO LEITURA 288 sa igreja. Mas devemos examiná-las positivamente. SERVOS DE JESUS Devemos examiná-las com confiança, com a plena 1 Coríntios 2— 4 certeza de que podemos solucioná-las com sucesso. Na sua Epístola aos Coríntios, Paulo expressou “Pois quem é Paulo e quem é Apoio, senão ministros confiança antes mesmo de mencionar o primeiro pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a problema. Os coríntios haviam sido enriquecidos cada um?” (1 Co 3.5) com a graça de Deus (w. 4-6). Haviam sido capaci­ tados com todos os dons espirituais (v. 7). Haviam “Apenas servos”. E bom que nossos líderes se lem­ sido fortalecidos na comunhão com Jesus Cristo brem. E os seguidores também. (w. 8,9). Por causa desses recursos incomparáveis, Paulo tinha certeza de que os coríntios podiam en­ Visão Geral frentar e vencer seus muitos problemas. Em Corinto, Paulo dependia do Espírito de Deus Pense a respeito. Apenas depois que os coríntios (2.1-5), que torna clara para os crentes a sabedo­ foram lembrados de seus recursos em Cristo (w. ria da mensagem de Deus (w. 6-16). As divisões 4-9) é que Paulo continuou a discutir o problema mostravam que os coríntios ainda eram crianças (w. 10-17). espirituais (3.1-4): os maduros perceberiam que os Que padrão para seguirmos. Contemos com o nos­ líderes eram meros servos de Deus e da igreja (w. so patrimônio espiritual em Cristo. Então, enfren- 5-17). “Gloriar-se nos homens” é uma tolice mun­

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dana (w. 18-23). Portanto, honre todos os servos dizendo aqui. A Escritura fala uma língua que é de Deus — inclusive Paulo! — e responda à instru­ estranha para a humanidade. Apenas uma pessoa ção (w. 14-21). que tenha o Espírito, o tradutor de Deus, consegue entender o que está realmente sendo dito. Entendendo o Texto Ao ler as Escrituras, assegure-se de pedir ao Espíri­ “Eu estive convosco em fraqueza, e em temor” (1 Co to de Deus que “junte” ou “combine” o significado 2.1-5)- Meu filho Tim fez o seu primeiro “devo- delas para a sua vida. cional” certa noite. Ele não gosta de falar, e estava um pouco nervoso. Suponho que a maioria de nós “O que é espiritual discerne bem tudo” (1 Co sinta “fraqueza e temor” quando surgem oportuni­ 2.15,16). A palavra para “discerne” é anakrino. Ela dades de ministrar. Mas você percebeu que isso nos é usada 10 vezes em 1 Coríntios e significa exami­ coloca ao lado do apóstolo Paulo? O mais impor­ nar, escrutar, investigar. A Escritura nos oferece um tante, é claro, é lembrar que o impacto que causa­ padrão objetivo pelo qual avaliar “todas as coisas”. mos não se baseia em nossa apresentação brilhante Mais ainda, o Espírito Santo confirma e nos comu­ ou persuasiva, mas no poder do Espírito. nica a própria “mente de Cristo”. Podemos ter os temores de Paulo. Mas também Não cometa o erro de pensar que Paulo, aqui, es­ podemos ter o Espírito que fez com que o seu mi­ tava preocupado com sistemas doutrinários ou es­ nistério fosse tão eficaz. peculação teológica. Este versículo não garante que as pessoas espirituais irão colocar os pingos nos “is” “A sabedoria de Deus, oculta em mistério" (1 Co 2.6- teológica e doutrinariamente da mesma maneira. 10). A sabedoria “deste mundo” vale-se do intelec­ O que Paulo queria dizer é que, ao viver a sua vida, to humano para juntar os dados colhidos. O termo tudo de que você precisa é a Escritura e o Espírito “príncipes” foi usado por Paulo para referir-se a Santo para fazer escolhas sábias e devotas. No Espí­ líderes religiosos e seculares, dos quais nenhum en­ rito, você tem acesso à própria “mente de Cristo” e tendia o que estava fazendo quando crucificaram a pode conhecer a vontade de Deus! Jesus. Os sentidos humanos (o olho e o ouvido do Não oscile de um lado para o outro a cada brisa versículo 9) e o intelecto (o “coração” do versículo de conselho bem-intencionado. Ouça. Mas peça 9) simplesmente não conseguem entender o que que o Espírito lhe mostre o que o Senhor quer Deus está fazendo no mundo. que você faça. Paulo ofereceu prova. Se os seres humanos tivessem a menor noção do que Deus pretendia, nunca te­ “Meninos em Cristo” (1 Co 3.1-9). Mesmo uma riam crucificado Jesus. criança sabe como são os bebês, que é o sentido Portanto, não se sinta esmagado pelos eloquentes aqui. São aquelas criaturinhas que choram e gri­ ou intelectuais deste mundo. E não deixe que eles tam, que mexem os braços e as pernas sem ir para o façam sentir-se impotente. Você conhece a “sabe­ lugar nenhum, e que sujam fraldas. Não, não é di­ doria oculta” de Deus. fícil reconhecermos um bebê quando vemos — ou ouvimos — um. “Comparando as coisas espirituais com as espirituais” Espiritualmente, é a mesma coisa. Há um sinal (1 Co 2.13,14). Os tradutores têm lutado com o infalível de infância espiritual: o mundanismo. significado da palavra grega synkrinontes, traduzida Pensar e comportar-se exatamente como as pessoas como “comparar” na versão ARC. E melhor consi­ do mundo que carecem do Espírito (v. 3). Aqui, a derá-la como “juntar” ou “combinar”. O Espírito adulação aos líderes e a “inveja, contendas e disSanto, que inspirou as palavras da Escritura, vive sensões” que havia entre eles são característicos da em nós e nos capacita a aceitar e aplicar a verdade maneira como os “carnais” pensam e agem. espiritual. Ele “junta” ou “combina” as palavras e o Quão insensato é exaltar aqueles que são “apenas seu significado de maneiras que simplesmente não servos”, quando Deus é a fonte de todo crescimen­ são entendidas por aqueles que não têm o Espírito. to espiritual, não importando quem ministre (v. 6). Pois eles não “compreendem as coisas do Espírito E depois brigar sobre quem é o melhor líder. de Deus, porque lhes parecem loucura’’ (v. 14). Cuidado com os meninos espirituais. Quando eles Lembro-me de ter ido, uma vez, a uma reunião da chutam e gritam, muitas vezes machucam quem assembleia geral das Nações Unidas, em Nova York. chega muito perto. E alguns bebês espirituais nun­ Cada assento tinha fones de ouvido com vários ca­ ca crescem. nais. O orador podia usar a sua própria língua, e se eu selecionasse o canal de língua inglesa podia “A obra de cada um se manifestará” (1 Co 3.10ouvir uma tradução simultânea. E o que Paulo está 15). Os verdadeiros servos de Deus não são mo­

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tivados por adulação ou por um grande número de seguidores. Eles querem honestamente edifi­ car a Igreja de Cristo. E eles constroem sobre o único e verdadeiro alicerce, Jesus Cristo. Eles mantêm o foco de seus seguidores em Jesus, não em si mesmos ou no número de adeptos no rádio ou na televisão. Paulo sabia que um dia suas realizações seriam avaliadas apenas com base nisso. Ele estava traba­ lhando para promover Jesus ou para promover a si mesmo? Quando o Dia do Juízo vier, a “obra de cada um se manifestará” (v. 13). Sabendo disso, de que nos importa a maneira como as pessoas avaliam o nosso serviço a Jesus Cristo? De que nos importa até mesmo o “suces­ so” ou o louvor dos outros? O único verdadeiro sucesso está em servir bem a Jesus e ao seu povo. A única recompensa que buscamos é aquela que será dada por Cristo, quando o nosso serviço para Ele for julgado no último dia (v. 13).

“Vós... sois o templo de Deus” (1 Co 3.16,17). Os coríntios pensavam nos líderes como as únicas pes­ soas realmente importantes na igreja e discutiam, talvez com um pouco mais de entusiasmo, a respei­ to de quem era o melhor líder. Era tolice porque, como Paulo dissera, os líderes são apenas servos de Cristo. Deus é a fonte de todo crescimento e realização espiritual, seja qual for o líder por meio do qual Ele decida trabalhar. Por­ tanto, concentre-se em Deus, não em seu líder. Há outra razão por que os coríntios eram tolos. Paulo disse: “Vós... sois o templo de Deus e... o Es­ pírito de Deus habita em vós” (v. 16). Quem é real­ mente importante? O templo de Deus? Ou o servo que limpa, lustra e trabalha para embelezá-lo? Da próxima vez que você se sentir tentado a glo­ rificar algum líder humano, imagine-o com um pedaço de pano e um polidor nas mãos. E ima­ gine-se como um belo painel de ouro que o líder foi incumbido de lustrar. Honre-o pela obra. Mas lembre-se de que o trabalho do líder é revelar a be­ leza que há em você, para a glória de Deus. “Ninguém se glorie nos homens” (1 Co 3.18-23). De que mais poderemos nos vangloriar se não puder­ mos mais dizer aos outros como o nosso pregador é interessante? Ou como o coral da nossa igreja canta bem. Como o edifício foi projetado esteticamente. Como a atmosfera é cheia de devoção quando o ór­ gão começa a tocar. Como o nosso grupo de jovens é ativo. Como o serviço do departamento feminino é dedicado. Paulo tinha uma sugestão. Lembre-se de que “todas as coisas são suas” em Jesus Cristo. Como você é

dEle e como Ele é seu, a glória deste mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro — tudo está ao seu alcance. Se quiser gloriar-se, glorie-se em Jesus. Glorie-se em seu pastor; alguém pode ir ouvi-lo e ficar impressionado. Glorie-se do edifício da sua igreja; alguém pode ir visitá-la e cumprimentá-lo. Mas se você se gloriar em Jesus, alguém pode per­ ceber que precisa ser salvo.

“Nem eu tampouco a mim mesmo me julgo” (1 Co 4.1-5). Paulo realmente não se incomodava por ser julgado pelos coríntios. A imagem é de uma audi­ ência preliminar, realizada antes que o caso fosse para o tribunal. O que os seres humanos dizem é irrelevante. Deus era o único dos motivos e do mi­ nistério de Paulo. Para esclarecer a sua ideia, Paulo disse que não jul­ gava nem a si mesmo. Ele não se torturava pelos seus motivos, nem perscrutava todos os recessos es­ curos de sua mente para descobrir se o seu serviço era totalmente puro. Paulo não era competente sequer para julgar seus próprios motivos. Como podia criticar os outros? Paulo havia extraído duas conclusões a respeito do fato de que Jesus um dia julgará seus servos. Cada uma promove nossa saúde mental e espiritual. Não julgamos os outros e, assim, somos libertados de um espírito crítico. Não nos julgamos e, portan­ to, estamos livres da tortura constante da dúvida quanto a nós mesmos. Aceite as conclusões de Paulo e livre-se desses pe­ sos. Eles só o abatem. Depois, continue a servir a Jesus e aos outros com entusiasmo e alegria. “Que tens tu que não tenhas recebido?” (1 Co 4.6,7). Você não ama a arrogância do “homem que se fez por si mesmo”? “Fiz tudo sozinho”, ele diz. “Tra­ balhei em três empregos durante dois anos. Então, vi uma oportunidade, assumi o risco e agora sou multimilionário.” Naturalmente, Deus lhe deu a saúde de que preci­ sava para trabalhar em três empregos. E uma men­ te perspicaz, capaz de perceber a oportunidade. E Deus o fez nascer em um país onde uma pessoa pode assumir riscos e ter sucesso. Mas, exceto pelo fato de que toda capacidade que o “homem que se fez por si mesmo” usou era um dom de Deus, ele fez “tudo sozinho”. Paulo não estava tentando roubar o crédito dos que usam as capacidades que lhes foram dadas por Deus. Ele estava lembrando os cristãos arrogantes de que é Deus que “te faz sobressair” (ARA). Tudo o que temos recebemos como um dom das mãos de Deus. Nesse caso, “por que te glorias como se não o houveras recebido?”

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O orgulho é uma das posturas menos espirituais de muitos, como um pobre tolo, miserável, fraco e de­ todas. Ele revela um fracasso total em dar o crédito sonrado. Parece que Paulo não conseguiu inculcar a Deus como a fonte de todas as realizações. a sua ideia. Mas poderia ter conseguido. Até mesmo os coríntios não espirituais tinham que “Já estais ricos!”(1 Co 4.8-21). A contenda por causa perceber que, no serviço a Cristo, Paulo se elevava de líderes em Corinto era uma expressão de orgulho. acima de todos eles. Eles até deviam a sua fé ao As partes realmente não se importavam se Apoio, ou apóstolo, que “os gerou” pelo “evangelho”. Na con­ Cefas, ou Paulo, eram líderes superiores. Eles que­ dição de pai, no século I, ele tinha o direito de esta­ riam sentir-se superiores, de modo que afirmavam belecer padrões para o modo de vida de seus filhos. seguir o pregador mais polido e poderoso! Paulo exortou seus filhos espirituais a abandonar o Paulo contrastou seu modo de vida com o deles orgulho, sair de sua infância espiritual e a ser seus nos versículos 8-13. Os cristãos coríntios (aos seus “imitadores” (v. 16). próprios olhos) eram ricos, satisfeitos consigo mes­ Todos nós imitamos os outros. Sejamos sábios ao mos, sábios, fortes, honrados. Paulo era visto, por escolher os nossos exemplos.

DEUma VOCIONAL______ Espingarda de Ar Comprimido

para o Natal? (1 Co 4) Eu queria muito uma arma de ar comprimido. Eu tinha só seis ou sete anos. Quando o vovô Zeluff sorriu e me mostrou o pacote em forma de arma embaixo da árvore de Natal, fiquei tão entusiasma­ do que mal podia esperar. Todos pareciam sorrir para mim à medida que os presentes eram passados, um por um, até que res­ tasse apenas o presente em forma de arma. Então ele chegou às minhas mãos! Eu rasguei o papel — e quase irrompi em lágrimas. Era uma espingarda de ar comprimido. Um brinquedo para bebês. Ela não atirava chumbinho. Atirava uma rolha, a uma dis­ tância de meio metro a, no máximo, um metro. Balbuciei um “obrigado” para o vovô Zeluff e sai. E entáo chorei. Suponho que muitos cristãos olharam embaixo da árvore de Natal, e viram um pacote com a forma de Cristo. Abriram com entusiasmo, mas, de al­ guma maneira, o poder que esperavam encontrar não estava lá. Na vida deles, Jesus pareceu tão eficaz quanto a minha espingarda, capaz de lançar apenas uma rolha a uma distância tão pequena. Por quê? Por que a nossa fé falha e se torna uma experiência como a da espingarda? Em 1 Coríntios 4, Paulo ofereceu algumas razões. Primeiro, nós nos desviamos (w. 1-7). Ou criticamos, ou nos valemos de nós mesmos e dos nossos líderes, esquecendo-nos de que a fonte de todo sucesso e o foco da nossa fé é Deus. Tente valer-se de meros homens carnais por algum tempo — de qualquer mero homem carnal — e a força originada de sua fé não será maior do que a daquela espingarda de brinquedo. Segundo, sentimo-nos confortáveis (w. 8-17). Su­ pomos que o cristianismo é uma questão de assen-

tos confortáveis, de vestir-se bem aos domingos e conservar o respeito dos de fora. Esquecemos que os apóstolos, que demonstraram poder espiritual dinâmico, viam o cristianismo como uma vocação para o serviço altruísta. Paulo sofreu para servir aos outros. Concentre-se no conforto em detrimento do serviço, e você terá a energia de brinquedo de uma religião de brinquedo. Finalmente, ficamos arrogantes. Conhecemos as palavras certas e tratamos o cristianismo como se fosse apenas uma questão de palavras em vez de uma questão de viver como cidadãos de um reino celestial. Quando a fé é uma questão de conversa em vez de uma caminhada diária com Jesus, a ener­ gia simplesmente não está presente. Chorei quando ganhei a minha espingarda naque­ le Natal. Que decepção. Porém mais terrível ainda é tornar-se um cristão que espera experimentar o poder de Deus, mas se acomoda a uma religião de brinquedo. Você não precisa disso. Mantenha o foco em Jesus. Concentre-se no servi­ ço. E caminhe diariamente com o Senhor. Aplicação Pessoal Descubra por si mesmo que o Reino de Deus é uma questão de poder. Citação Importante “Pouco antes do Natal, John Sung [mais tarde o grande evangelista da China] acompanhou alguns colegas estudantes em uma campanha evangelística especial na Primeira Igreja Batista. Ele esperava ouvir o Dr. Haldeman, um pregador eloquente e culto, mas, em vez de Haldeman, quem falou foi uma menina de 15 anos! Ela falou com simplicida­ de, mas com poder. O coração orgulhoso e cético

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dentro da igreja (6.1-8), como convém aos santos (w. 9-11). Ã imoralidade sexual é impensável por causa da união do crente com Cristo (w. 12-20).

do cientista e doutor foi profundamente tocado. Ele decidiu descobrir por si mesmo o segredo de tal poder espiritual. Começou a ler biografias cris­ tãs ‘p ara investigar o segredo do ministério eficaz de grandes cristãos do passado’, e ‘logo descobriu que em cada caso era o poder do Espírito Santo que fazia a diferença’. Recusando oportunidades de ensinar ciência na América e na China, ele decidiu dedicar a sua vida à pregação do evangelho.” — John T. Seamands 16 DE OUTUBRO LEITURA 289 A DISCIPLINA DA IGREJA 1 Coríntios 5—6

“Porque que tenho eu em julgar também os que estão defora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão defora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo” (1 Co 5.12-13). É responsabilidade dos crentes manter a igreja mo­ ralmente pura. Contexto Disciplina da igreja. A Igreja de Cristo representa-o na terra. Portanto, é vital que a igreja seja pura, santa e capaz de se purificar. O capítulo 5 de 1 Co­ ríntios deixa claro que a imoralidade persistente re­ quer a disciplina da congregação local e que se um crente não responde à disciplina deve ser excluído da comunhão. E importante observar alguns fatos sobre a disci­ plina. Primeiro, ela NÃO se aplica em casos de di­ vergência doutrinária. NÃO se aplica em casos de divergências de convicção. NÃO se aplica em casos de opinião divergente quanto a motivos. A disci­ plina da igreja só é exercida nos casos em que um crente, aberta e persistentemente, se envolve em práticas que a Escritura identifica como pecado. Em tais casos, a igreja não está exatamente julgan­ do, mas concordando com o veredicto de Deus de que certa conduta é pecaminosa. Ã disciplina da igreja não deve ser vingativa nem uma tentativa de castigar a pessoa que errou. Deve ser uma tentativa amorosa de restaurar um irmão que pecou, cancelando, na terra, a interrupção que o pecado causa em nossa comunhão com Deus. E uma resposta obediente ao Senhor, que nos chama a manter uma reputação inocente enquanto o re­ presentamos.

Entendendo o Texto “Dentre vós [seja] tirado quem cometeu tal ação” (1 Co 5-1-3). Quem é responsável pela disciplina da igreja? Você é. Eu sou. A ordem de Paulo está no plural, indicando que os membros de uma congre­ gação são responsáveis pela pureza do corpo local. Entende-se geralmente que Mateus 18.15-17 ofe­ rece um padrão que podemos seguir. Primeiro, dirija-se ao irmão sozinho. Se ele se arrepender (parar de cometer o erro), esqueça o caso. Se não, traga outra pessoa e confronte-o novamente. Se ele se arrepender, esqueça. Se não, traga o líder da igre­ ja. Se ele não der ouvidos, informe a igreja como um todo e “tirai, pois, dentre vós a esse iníquo” (v. 13). Não é um processo fácil de seguir; muitos cristãos prefeririam simplesmente olhar para o outro lado. Isso aconteceu em Corinto. E acontece nas igrejas modernas também. Contudo, por meio de Paulo, o Senhor nos diz que, embora machuque, a disci­ plina da igreja deve ser aplicada.

“Seja entregue a Satanás” (1 Co 5.4,5). Muito tem­ po atrás, Deus disse à serpente que abrigara Sata­ nás: “Pó comerás todos os dias da tua vida” (Gn 3.14). Alguns comentaristas observaram que, em­ bora Satanás busque avidamente a vida do crente, tudo o que ele consegue é o pó do nosso corpo. Nossa alma — nosso ser essencial — está a salvo com Deus (1 Co 5.5). Muitos veem um reflexo desse pensamento aqui. Expulsa da igreja, tendo a proteção das orações dos crentes retirada, a pessoa sob disciplina é en­ tregue a Satanás, “para destruição da carne” [sarx — aqui, o corpo, a carne, não a “natureza pecami­ nosa”] (v. 5). O crente em pecado está fora da comunhão, sim. Mas não de Cristo! Pó ainda é tudo o que o Diabo consegue. Seu “espírito” é “salvo no Dia do Senhor Jesus”. “Um pouco de fermento faz levedar toda a massa” (1 Co 5.6-8). Como o fermento, a maldade e a ini­ quidade podem facilmente se infiltrar e corromper a vida espiritual de uma congregação local. A dis­ ciplina da igreja não é uma opção. E uma neces­ sidade.

Visão Geral Paulo pediu a expulsão de um irmão imoral (5.1- “Isso não quer dizer absolutamente com os devassos 8), mas não o isolamento de não cristãos imorais deste mundo” (1 Co 5.9-13). Os cristãos não são (w. 9-13). Os casos legais deviam ser solucionados estraga-prazeres, andando por aí com um olhar

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reprovador e apontando os pecados dos outros. Os cristãos vão a festas, encontram outras pesso­ as com um sorriso alegre, e estão sempre prontos para ajudar. De certa maneira, muitos cristãos têm a ideia de que, a menos que pulem em cima dos não cristãos e condenem seus pecados, estão sugerindo aprova­ ção. Não. Todos os que passam a nos conhecer logo tomam conhecimento daquilo que não fazemos e não faríamos. Mas não julgamos os não cristãos. Deixamos que o Espírito Santo os convença. O que fazemos é nos associar a gente iníqua quando podemos fazê-lo com a consciência tranquila, para mostrar-lhes, com nossa vida santa e feliz, que há uma boa alternativa para eles. Precisamos ser o tipo de pessoas que os não salvos possam considerar como uma alternativa; não das quais fujam com irritação.

“Não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for... ” (1 Co 5.9-13). “Não” é uma palavra bem for­ te. Mas foi a palavra que Paulo usou. Não tente tornar o mundo santo criticando os descrentes. O mundo está simplesmente sendo ele mesmo. Preo­ cupe-se em manter a igreja santa disciplinando os seus companheiros crentes. A igreja também preci­ sa ser ela mesma! “Ir ajuízo perante os iníquos, e nãoperante os santos?” (1 Co 6.1-6). Paulo não estava pedindo aos cristãos que aceitassem o papel de vítima. Nos tempos do Novo Testamento, as comunidades étnicas tinham uma medida significativa de autogoverno, que in­ cluía o direito de solucionar demandas aplicando a sua lei nacional mesmo quando não estavam viven­ do em sua pátria. Portanto, Paulo sugeriu aqui que os cristãos, que são cidadãos do Reino celestial de Cristo, devem solucionar as suas demandas legais entre si, aplicando as leis do Reino celestial de Cris­ to em vez de se valerem dos tribunais terrenos. A vergonha era que as pessoas em Corinto não pensavam em indicar um quadro de companheiros crentes para solucionar demandas, ou não estavam dispostas a fazê-lo. Assisto a um programa de televisão quando pos­ so. Chama-se O Tribunal do Povo, é exibido nos

Estados Unidos às 10 horas da manhã, mais ou menos quando termino a metade do que tenho que escrever em um dia. O programa termina com uma frase que nós cristãos deveríamos modificar. O apresentador diz: “Portanto, se você tem uma demanda que não consegue resolver, não tome a lei em suas mãos. Leve-a ao tribunal”. Porém Paulo disse: “Leve-a à igreja”.

“Vós mesmos fazeis a injustiça e fazeis o dano e isso aos irmãos” (1 Co 6.7-11). O utro dia recebi uma carta do Peacemakers International, um ministé­ rio cristão que busca ajudar cristãos a solucionar demandas de maneira bíblica. Ela exortava os que a recebiam a envolver-se em uma demanda entre um conhecido cristão e um crente que trabalhou para ele por algum tempo e que finalmente fora parar no tribunal. Não se trata de um daqueles “casos triviais” que Paulo mencionou no versículo 2. Há acusações sérias envolvidas. O problema é que a “vítima” está disposta a levar o caso para um quadro de advogados cristãos para ser soluciona­ da fora do tribunal. Mas a outra pessoa não — e usou o versículo 7 para condenar o irmão que ins­ taurou a ação! E se a vítima estivesse disposta a usar um processo bíblico e o perpetrador não? O Peacemakers diz: “Considera-o como um gentio e publicano” (Mt 18.17). E não há nenhuma injunção na Escritura que proíba alguém de levar um malfeitor gentio e publicano ao tribunal! “Os injustos não hão de herdar o Reino de Deus ” (1 Co 6.9-11). Uma paráfrase adequada é: “Os maus vão para o inferno”. E Paulo prosseguiu com uma lista de comportamentos que exigem tal punição: adultério, homossexualidade, conduta criminosa, alcoolismo. Não pense, porém, que mesmo tais atos excluam a possibilidade de graça. Paulo disse: “Tais fostes alguns de vós” (v. 11, ARA). Fostes. O que um cristão se tor­ na depois de ser lavado, santificado e justificado no nome de Jesus é um ex-adúltero, um ex-homossexuai, um ex-criminoso, um ex-alcoólatra. Não deixe que al­ guém que pratica tais pecados o engane dizendo que agora é um cidadão do Reino de Deus.

DEV OCIONAL______ Sexo e Sanduíches (1 Co 6.12-20)

evangelista para estudantes universitários. Por que tanta confusão sobre sexo? Se uma pessoa está com Ele era jovem. Bonito. E ele desafiou vigorosa­ fome, come um sanduíche de presunto, não é? Se mente Billy Graham em uma sessão de perguntas sente o impulso, por que não fazer sexo e satisfazer e respostas depois de uma palestra televisada do essa fome?

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A pergunta, embora eu tenha visto esse programa há uns quinze anos, reflete a gritante mudança de nossa sociedade rumo a padrões sexuais pagãos. Também reflete a postura de alguns cristãos em Corinto, que Paulo citou ao retornar à questão da imoralidade nesses versículos. “Todas as coisas me são lícitas”, disse o próprio Paulo a respeito de es­ colhas alimentares (v. 12; cf. Rm 14.14). E “Deus aniquilará” este corpo pecaminoso e o substituirá na ressurreição (1 Co 6.13). Por que se importar tanto com o que uma pessoa faz com este corpo tão sem importância? A tríplice resposta de Paulo respondeu à pergunta sobre sexo e sanduíches tão bem quanto respondeu à questão dos coríntios. A postura descuidada dos pagãos para com o sexo deixa de perceber que o corpo é importante. O corpo é para o Senhor como uma ferramenta pela qual Ele realiza atos justos (v. 13; cf. Rm 6.16-18). O corpo é importante o sufi­ ciente, a ponto de Deus ter decidido ressuscitá-lo (1 Co 6.13,14). O corpo, mesmo agora, está ligado a Jesus Cristo por meio da nossa união espiritual com Ele. Será que alguém poderia levar Cristo para visitar uma prostituta? (w. 15,17) No paganismo, o sexo é realmente trivial. A postura descuidada, as aventuras adolescentes, e até mesmo a paixão ardente constantemente exibida no cinema e na televisão, sugerem que sexo e sanduíches estão no mesmo nível. Apenas o cristianismo afirma que a vida aqui na terra tem mais importância e que o nos­ so corpo foi criado para propósitos mais elevados. Nosso corpo é templo do Espírito de Deus. Nosso corpo é instrumento para o seu uso. Nosso corpo — tudo o que somos e temos — foi comprado por um preço. Nós, cristãos, estamos determinados a usar nosso corpo apenas para glorificar ao Senhor nosso Deus.

O casamento deve ser uma alegria — e um com­ promisso para a vida inteira. Contexto Confusão em Corinto. Paulo não explicitou o con­ texto quando discutiu os problemas em Corinto. Não precisa. Ele e os coríntios conheciam bem a si­ tuação. Nós, porém, temos que recriar a situação a partir de pistas encontradas no conselho de Paulo. A maioria dos estudiosos traça este retrato. Corin­ to era proverbial pela licenciosidade sexual. Pau­ lo ensinava uma moralidade estrita, mas, depois que ele partiu, a igreja ficou confusa sobre como aplicar seus ensinamentos. Alguns optaram pelo sexo celibatário, supondo que o sexo, mesmo no casamento, era pecaminoso. Alguns acreditavam que deviam divorciar-se de seus cônjuges não con­ vertidos. Outros, que tinham sido abandonados por cônjuges pagãos, imaginavam se estavam, de alguma maneira, sendo culpados de violar o man­ damento de Cristo e se ainda estavam obrigados por uma relação agora vazia. Nesse breve capítulo, Paulo esclareceu todas essas questões vitais e res­ pondeu a perguntas que muitos fazem hoje. Visão Geral Maridos e esposas devem satisfazer as necessida­ des sexuais um do outro (7.1-7). Os solteiros que possuem necessidades irresistíveis devem se casar (w. 8,9). Os cristãos não devem buscar o divórcio, mesmo de cônjuges descrentes (w. 10-14). Mas, se um deles partir, o cônjuge crente não está obrigado (w. 15,16). Paulo aconselhou que fosse mantida a situação do momento da conversão (w. 17-24). Ele aconselhou o celibato, mas não impôs nenhu­ ma restrição à virgem ou à viúva que quisesse se casar (w. 25-40).

Aplicação Pessoal O sexo não é trivial porque você e o seu corpo são Entendendo o Texto “Bom seria que o homem não tocasse em mulher” (1 especiais para o Senhor. Co 7.1-7). Paulo com frequência começava citando o que as pessoas em Corinto vinham dizendo. Foi Citação Importante “O sexo tornou-se um dos temas mais discutidos o que ele fez aqui. E Paulo concordava com a cita­ dos tempos modernos. Os vitorianos fingiam que ção, na medida em que ela expressava a sua opinião ele não existia; os modernos fingem que nada mais pessoal. Ele não concordava que ela expressasse seu ensinamento oficial (cf. v. 7). existe.” — Fulton J. Sheen Precisamos ser tão cuidadosos quanto Paulo ao fa­ zer essa distinção. Uma coisa é dizer a alguém: “Eis 17 DE OUTUBRO LEITURA 290 o que penso ser melhor”. Outra coisa totalmente A MORALIDADE diferente é dizer: “Eis o que todos os cristãos de­ N O CASAMENTO vem pensar, sentir ou fazer”. 1 Coríntios 7 Não devemos impor nossas preferências pessoais “Mas por causa da prostituição, cada um tenha a sua aos outros. E não devemos deixar que os outros própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio ma­ nos enganem fazendo-nos acreditar que suas prefe­ rido” (1 Co 7.2). rências são obrigatórias para nós.

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“O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher, ao marido” (1 Co 7-2-5). A Bíblia identifica três funções do sexo no casa­ mento. O sexo é o meio de procriação, e o selo da intimidade conjugal (Gn 2). E o sexo cumpre uma necessidade humana legítima. Não gostar de sexo não é “espiritual”. Ter casamen­ tos celibatários não é “espiritual”. Espiritual é per­ ceber que, como marido, você não apenas tem o privilégio de amar sua esposa, mas também de ser a dádiva de Deus para satisfazer além das outras, suas necessidades sexuais. Espiritual é perceber que, como esposa, você tem o privilégio de amar seu marido, mas também o privilégio de ser a dá­ diva de Deus para satisfazer, além das outras, suas necessidades sexuais. Se você quer um casamento espiritualmente ínti­ mo, a entrega do seu corpo com alegria e amor ao seu cônjuge é algo importante.

“O marido descrente é santificado pela mulher” (1 Co 7-12-15). A pergunta que os coríntios certa­ mente fariam em seguida seria: “E aqueles den­ tre nós que se casaram com não cristãos? Como podemos ter uma relação ‘espiritual’ com alguém que não crê?” A resposta de Paulo foi surpreendente. Quando apenas um dos cônjuges é crente, a família é “san­ tificada” para Deus em virtude de sua relação com a pessoa crente. Isso não é uma garantia de que o cônjuge ou os filhos serão convertidos. E uma garantia de que o poder de Deus flui do crente, mais do que o poder de Satanás flui do não crente. O cristão irradia Cristo e todos no seu círculo de influência são afetados pelo magnetismo divino. Em vez de romper contato pelo divórcio, o cristão ou a cristã que já tem um cônjuge não salvo, mas que está disposto(a) a permanecer casado(a), deve aprofundar a relação, e não rompê-la. Deixe que Cristo toque o seu cônjuge e seus fi­ “E melhor casar do que abrasar-se” (1 Co 7-6-9). lhos por seu intermédio. Paulo não era um adepto do grupo “antissexo” de Corinto. Embora houvesse de bom grado escolhi­ “Se o descrente se apartar, aparte-se”(1 Co 7.15,16). do a vida celibatária, ele percebia que “cada um Às vezes, uma pessoa não tem como evitar o di­ tem dc Deus o seu próprio dom”. vórcio. Ainda somos obrigados a manter uma re­ Hoje, reconhecemos que os hormônios desempe­ lação que o nosso cônjuge abandonou? A resposta nham um papel central no impulso sexual de ho­ reconfortante de Paulo foi: “Neste caso o irmão, mens e mulheres. Alguns, nos termos de Paulo, “se ou irmã, não está sujeito à servidão” (v. 15). abrasam”. E alguns não. Não cometa o erro de ver Acabo de contribuir para um livro da InterVaruma condição como melhor ou mais espiritual do sity Press que apresenta quatro visões sobre o di­ que a outra. Paulo não via. A estrutura de nossos vórcio. Em muitas igrejas pode não haver outra corpos, inclusive o calor que nossos hormônios questão discutida de modo mais caloroso. Cer­ geram, é parte da dádiva que recebemos de Deus. tamente não há questão que cause mais dor e Portanto, não despreze aqueles cuja natureza física angústia a alguém afetado pessoalmente. Pareceé diferente da sua. me que aqui Paulo se posiciona de acordo com a E tampouco os inveje. graça. Quando um casamento simplesmente não pode ser mantido e a relação de fato acabou, não “Digo eu, não o Senhor” (1 Co 7.10,11). Paulo falou é preciso insistir. O crente está “desobrigado” em muito diretamente quando deixou de falar sobre tais circunstâncias. Ele não está casado de fato e, conselhos pessoais e passou para as ordens de Cris­ portanto, está livre. to. Aqueles que pensavam no sexo como sujo e er­ Em debates desse tipo, em que existem fortes rado e que estavam se divorciando de seus cônjuges argumentos a favor de várias interpretações do por razões “espirituais” tinham de parar! texto bíbhco, geralmente é melhor ficar no lado Logo depois de afirmar que uma esposa “não deve”, da graça. E onde Deus geralmente está. Paulo acrescentou uma condição: “mas se fizer”. Por quê? Muito provavelmente porque alguém em “Cada um fique na vocação em que foi chamado” Corinto, em sua ansiedade por fazer o que achava (1 Co 7.17-24). Paulo resumiu seu ensinamento que Deus queria, já conseguira o divórcio! Paulo com um princípio geral que é aplicável a mui­ então lhes disse para permanecerem solteiros ou tas situações diferentes. Deus o chamou para ser unirem-se novamente a seus cônjuges, e viverem uma pessoa casada? Então permaneça casado. como marido e mulher. Era um escravo? Então não sinta que tem que ser Há razões válidas para o divórcio e a separação (cf. livre, embora possa aproveitar a oportunidade de M t 19.9). Mas não há razões frívolas para o divór­ ganhar a liberdade se ela surgir. cio. O objetivo de Deus é um casamento real, que Nesse princípio há um conceito subjacente ex­ dure uma vida inteira. tremamente empolgante. Deus pode nos usar

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onde quer que estejamos e quem quer que seja­ mos! Você não tem que ser livre para ser espiri­ tualmente significativo. Não tem que ser casado. Nem celibatário. O mais provável é que Deus possa usá-lo e use-o exatamente na condição em que você está. Portanto, não caia naquela horrível armadilha do “se ao menos”. Se ao menos eu fosse um universi­ tário, pensamos, Deus poderia me usar. Se ao me­ nos eu tivesse um milhão de dólares. Se ao menos eu tivesse ido para o seminário. Se ao menos eu não tivesse uma esposa e onze filhos. O Diabo adora nos fazer brincar de “se ao me­ nos”. Isso mantém nossos olhos na fantasia e fora da realidade. Se abrirmos os olhos para o que está

DEVOCIONAL______ Devoção Exclusiva (1 Co 7.25-40)

“June! Você pode vir até aqui hoje à noite? Conhe­ cemos um moço muito simpático!” Já percebeu a atividade casamenteira que acontece em uma igre­ ja? Ou como pressionamos as pessoas a se casarem? Uma pessoa solteira começa a frequentar a igreja e um mês depois todo o mundo está ocupado ten­ tando arranjar um encontro com esta ou aquela pessoa. O mesmo acontece com viúvos e viúvas. “Gostaria de passar em casa hoje? Conhecemos uma mulher simpática da sua idade!” Bem, não é justo. Especialmente para aqueles com uma vocação que Paulo valoriza muito: o celibato. Podemos tornar tudo muito difícil para homens e mulheres que, por suas próprias razões, escolhem não se casar. Em vez de respeitar sua escolha, su­ pomos que deve haver algo errado com eles — e montamos campanhas para corrigir! Paulo deixou claro que virgens e viúvas são livres para se casar se quiserem. Mas ele queria que dés­ semos aos irmãos e irmãs a liberdade de não se ca­ sarem se não quiserem — e de não serem importu­ nados por causa de sua escolha. Considerar as razões de Paulo pode nos ajudar a nos conter. Ele disse (e toda pessoa casada sabe que é verdade) que aqueles que se casarem “terão tri­ bulações na carne” (v. 28). Os casados se tornam responsáveis por cônjuge e filhos e, assim, têm um motivo poderoso para se tornarem absorvidos pelas coisas do mundo (v. 31). Afinal, temos de fornecer uma casa onde viver. E com os custos de uma edu­ cação universitária hoje, precisamos trabalhar mais e economizar muito mais do que antes! Ora, é correta a preocupação de “agradar” o côn­ juge. Mas as responsabilidades que vêm com o

à nossa volta, podemos ser usados por Deus onde estivermos. "Isto, porém, vos digo, irmãos: que o tempo se abrevia” (1 Co 7.25-35). Paulo aplicou a casados e soltei­ ros o princípio de permanecer “no estado em que foi chamado”. Mas também expressou uma ideia importante. É muito fácil prender-se à preocupa­ ção com o bem-estar de um cônjuge. E tão fácil que podemos ficar “obcecados” pelas coisas deste mundo em nossa tentativa de conseguir uma vida melhor para ele ou ela. Devemos amar nosso cônjuge. Mas nós, cristãos, acima de tudo, devemos colocar Deus em primeiro lugar — juntos.

casamento significam que teremos menos tempo, menos dinheiro e menos energia para agradar a Deus. E o chamado da devoção exclusiva é algo que certamente agrada a Deus. Portanto, da próxima vez que uma pessoa solteira tornar-se membro da sua congregação, acolha-a com alegria. E abstenha-se de ser casamenteiro. Vo­ cês podem ter uma daquelas pessoas especiais que decidiram seguir o conselho de Paulo e viver uma vida de devoção exclusiva ao Senhor.

Aplicação Pessoal

Acolha e honre os solteiros na família da sua igreja.

Citação Importante

“Isto é autorrenúncia — destrancar as correntes desta vida terrena que passa e nos libertarmos dos negócios dos homens e, assim, tornarmo-nos mais aptos a entrar naquele caminho que leva a Deus, e libertar o nosso espírito para conquistar e usar as coisas que são mais preciosas do que ouro ou pedras preciosas.” — Basílio Magno

18 DE OUTUBRO LEITURA 291 DEUS E OS ÍDOLOS 1 Coríntios 8— 10

“Mas vede que essa liberdade não seja de alguma ma­ neira escândalo para osfracos” (1 Co 8.9) Uma pessoa pode estar certa quanto à doutrina e, no entanto, muito, muito errada.

Contexto

Coisas sacrificadas aos ídolos. Esses capítulos consi­ deram duas questões separadas, mas relacionadas.

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1 Coríntios 8— 10

Em Corinto, a maior parte da carne fresca era com­ prada nos mercados dos templos, que vendiam car­ caças de animais oferecidos à divindade que hon­ ravam. Alguns cristãos de Corinto argumentavam que comprar carne em tal mercado era participação na idolatria. Outros achavam tola essa visão. Afi­ nal, os deuses representados pelos ídolos não eram reais. Paulo afirmou o direito dos coríntios de co­ mer tal carne, mas exortou os que se sentiam livres para fazê-lo que considerassem renunciar ao “direi­ to” em qualquer situação em que a consciência de um irmão mais fraco pudesse ser prejudicada. A outra questão envolvia a participação em ban­ quetes, os quais, no mundo romano, geralmente eram dedicados a algum deus ou deusa. Aqui, Pau­ lo preveniu contra a participação, baseado na ideia de que, embora os ídolos não fossem reais, forças demoníacas reais, além de imoralidade, eram asso­ ciadas a tais festividades. Uma nota final lida com um convite para uma refeição normal na casa de um amigo pagão. Paulo sugeriu que o convidado comesse a carne sem se preocupar, mas que se o an­ fitrião fizesse questão de dizer que ela fora ofertada a alguma divindade pagã, que não o fizesse. Visão Gerai Comer carne comprada no mercado de um templo não é errado, mas prejudicar um irmão mais fraco é (8.1-13). Os coríntios deviam seguir o exemplo de Paulo, pois ele renunciara a muitos “direitos” apostólicos para melhor servir os outros (9.1-27). A idolatria e a imoralidade associada deviam ser evitadas (10.1-13), portanto era errado participar de banquetes promovidos em honra de uma di­ vindade pagã (w. 14-22). Mas um cristão podia comer carne na casa de um amigo não convertido, exceto se o amigo dissesse especificamente que a carne fora dedicada a um deus pagão (w. 23-33).

Entendendo o Texto

“A sua consciência, sendo fraca, fica contaminada” (1 Co 8.4-12). É bom estar certo. É provável que as pessoas de Corinto que zombavam dos ídolos pagãos e se mantinham firmemente apegadas ao único Deus verdadeiro tiveram um sentimento de satisfação consigo mesmas quando Paulo confir­ mou a sua visão (w. 4-6). Elas podiam sentar-se para comer carne todas as noites que quisessem e com a consciência limpa. Esse sentimento, porém, pode não ter durado mui­ to. Paulo os lembrou, e a nós, de que há algo mais importante do que estar certo, isto é, importar-se com o bem-estar espiritual dos outros. Paulo não pediu às pessoas que estavam certas que renunciassem aos seus discernimentos doutriná­

rios. Sequer pediu que renunciassem a um pedaço de carne de vez em quando. Ele só pediu que se importassem com os outros o bastante para que se preocupassem com o bem-estar desses outros mais do que com estar certo ou com exercer direitos pes­ soais. Comer carne na reunião social da igreja não apri­ mora nem prejudica a espiritualidade. A carne não tem nada a ver com isso. Mas o pecado tem muito a ver com a espiritualidade. E é pecaminoso ferir conscientemente a consciência de um irmão no Se­ nhor que seja mais fraco. Portanto, alegre-se por ter um entendimento ma­ duro de questões teológicas. Mas orgulhe-se de sua renúncia madura a direitos pessoais por amor a um irmão cristão menos maduro. “Não sou eu apóstolo?” (1 Co 9.1-27). Paulo apre­ sentou-se com alguém que renunciara a muitos di­ reitos pessoais para o benefício dos outros. Isso não era jactância. Era compartilhamento. Como tal, era uma revelação poderosa dos motivos que não apenas impeliam Paulo, mas que também podem nos dar forças para procurarmos servir ao Senhor. Observe primeiro os direitos a que Paulo renun­ ciou — e então os seus motivos. Ele renunciou ao direito de casar-se e de viajar com uma “esposa crente” (v. 5). Renunciou ao direito de ser sustenta­ do financeiramente por aqueles a quem ministrava (w. 6-12). E renunciou ao direito de viver como lhe aprazia para satisfazer as expectativas daqueles a quem ministrava (w. 19-23). Por quê? Paulo queria fazer da pregação do evange­ lho um dom, não uma mercadoria (v. 18). Ele que­ ria se identificar com os outros para não ofender pessoalmente alguém que precisasse ouvir o evan­ gelho (w. 22,23). Ele valorizava tanto as recom­ pensas que Cristo dará no futuro que meros prazeres terrenos tinham pouco atrativo (w. 24-27). Se você e eu nos sentirmos igualmente ansiosos por servir a Deus, se nos sentirmos igualmente sensí­ veis aos outros e centrados na eternidade, nossos “direitos” também parecerão sem importância para nós. “Essas coisas foram-nos feitas em figura” (1 Co 10.111). Paulo voltou novamente à questão da idola­ tria. Dessa vez ele expressa uma ideia importante. A Bíblia não é simplesmente um livro de doutrina. E também um livro de experiência humana. As experiências registradas na Escritura destinam-se a servir de exemplo para nós. Aqui, o argumento de Paulo, a partir da experiên­ cia, era o de que, embora a comunidade do Antigo Testamento, como a do Novo Testamento, tives-

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Os banquetes do século I, como o retratado acima, eram comumente dedicados a um deus ou deusa pagã e esperava-se que todos oferecessem uma libação como parte das festividades. Paulo exortou os cristãos a não comparecerem a tais festas. Forças demoníacas estão por trás do paganismo. Aqueles que têm parte com Cristo não podem participar da adoração aos demônios (w. 14-27).

se uma participação em Cristo (w. 1-6), isso não era suficiente. Alguns se voltaram para a idolatria e para a imoralidade a esta associada — e foram destruídos (w. 7-9). Alguns se queixaram de sua sorte — e também foram destruídos (v. 10). Essas experiências devem servir como advertências àqueles coríntios que se sentem tão seguros de sua precisão doutrinária. “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia!” Estarmos “certos” não é uma garantia de que não pecaremos! “Fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis” (1 Co 10.13). Estar certo não é uma garantia contra o pecado. Mas Deus nos faz uma promessa. Seremos capazes de superar com sucesso todas as tentações — se sairmos delas pelo cami­ nho de Deus. Não pense que o caminho de Deus é difícil de encontrar. Paulo o resumiu no versículo seguinte quando disse: “Fugi da idolatria”. A palavra “fugir” ocorre várias vezes nos escritos de Paulo. A palavra grega, pheugo, é encontrada aqui, em 6.18, 1 Timóteo 6.11 e em 2 Timóteo 2.22. Ele nos diz não apenas para fugir da idolatria, mas da fornicação, do amor pelo dinheiro e das lascí-

vias juvenis. Podemos ter que nos manter firmes, e resistir ao Diabo (Tg 4.7); mas quando se trata de tentação, a “rota de fuga” resume-se a isso mesmo: Fuja! “Comei de tudo quanto se vende no açougue, sem per­ guntar nada, por causa da consciência” (1 Co 10.2333). Não é necessário fazer alarde sobre a sua fé. Ao almoçar com colegas de trabalho, não é sequer necessário inclinar a cabeça e unir as mãos em evi­ dente oração. Você pode dizer “Obrigado” a Deus ao levar à boca a primeira colher de sopa. Isso era, essencialmente, o que Paulo estava dizen­ do aos coríntios aqui. Você não precisa fazer um espetáculo em torno do seu cristianismo. Vá jantar, e se o anfitrião não disser que a carne foi oferecida a um ídolo, aproveite! Porém, há outro lado nessa questão. Às vezes, os não cristãos têm as suas próprias ideias sobre aquilo que um crente deve ou não deve fazer. Portanto, o anfitrião pode se sentir desconfortável oferecendo a um crente um prato feito com carne oferecida a ídolos. Nesse caso, Paulo disse, não coma por causa da consciência dele! E, se os seus colegas lhe pedi­ rem que “dê graças” antes da refeição, faça-o. No­ vamente, pela consciência deles, não pela sua.

DEV OCIONAL___________________________ Quando a Doutrina Divide (1 Co 8.1-13)

contaminada!” O outro dizia: “Para mim parece tudo bem. Humm. E está gostosa também!” À primeira vista, parece uma briga por causa da Na verdade, trata-se de uma batalha doutrinária, carne assada. Um grupo dizia: “Não comam! Está travada na cozinha. As pessoas que gritavam “con-

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taminada” estavam dizendo que qualquer animal oferecido a uma divindade pagã carrega a mancha da idolatria. As que diziam “Está gostosa, mas pre­ firo com menos recheio” estavam dizendo que as divindades pagãs não são reais! Portanto, qualquer coisa que fosse oferecida a um ídolo não podia ser contaminada pelo ato! O que me fascina aqui é que Paulo nos mostrou uma abordagem fascinante para a solução de nos­ sas disputas doutrinárias. Ele náo disse: “Bem, este grupo está certo”. Em vez disso, ele disse: “O saber ensoberbece, mas o amor edifica. Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito, não apren­ deu ainda como convém saber. Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido por ele” (w. 1-3, ARA). O que ele estava dizendo afinal? Simplesmente que aqueles argumentos quanto a “quem está cer­ to” não ajudam a resolver pequenas disputas dou­ trinárias! A afirmação de conhecimento superior só leva ao orgulho. E aquele orgulho era infunda­ do. Seja o que for que conheçamos, conhecemos imperfeitamente. Portanto, aquelas contendas quanto a quem está certo em relação à doutrina só podem nos isolar uns dos outros. Em vista das nossas limitações humanas, não podemos sequer ter a certeza de que o vencedor da discussão esteja mais do que meio certo! O que Paulo sugeriu é que abordemos as disputas doutrinárias com base no amor em vez de no co­ nhecimento. O amor não incha, não ensoberbece as pessoas; ele as edifica. E o amor abre o nosso coraçõe para o ministério do Espírito de Deus, que então é capaz de instruir as partes no debate (implícito no v. 3, “é conhecido de Deus”). E enquanto esperamos para aprender? Então, cada grupo precisa ser sensível às convicções e à consciência do outro. Podemos exercer a nossa li­ berdade e viver de acordo com as nossas crenças pessoais. Mas também precisamos ter cuidado, porém, para que a nossa “liberdade não seja de alguma maneira escândalo para os fracos” (v. 9). E errado discutir sobre doutrina? Não. Só será er­ rado se o diálogo se tornar uma disputa, e a dispu­ ta se tornar uma divisão. Precisamos nos esforçar para compreender a verdade de Deus, e fixá-la em nossa mente e coração. Mas precisamos fazer isso juntos, para que possamos aprender uns com os outros. E precisamos fazê-lo em um espírito de amor, para que todos possam crescer espiritual­ mente através da experiência.

Citaçào Im portante “Não aprouve a Deus salvar a~seu povo pela dialé­ tica.” — Ambrósio de Milão 19 DE OUTUBRO LEITURA 292 AS MULHERES E A ADORAÇÃO 1 Coríntios 11 “No Senhor, todavia, nem a mulher é independente do homem, nem o homem, independente da mulher” (1 Co 11.11, ARA). A adoração ainda é muito significativa para ser conduzida de uma maneira indigna. Contexto As mulheres e os costumes sociais. Uma das passagens bíblicas mais difíceis de interpretar — e uma das mais fáceis de distorcer — é 1 Coríntios 11. Isso se deve em parte a uma tradição de interpretação que compreende erroneamente vários termos cen­ trais, mas, na maioria das vezes, à nossa ignorância a respeito de certos costumes sociais do século I e seus significados. Contudo, quando lemos com atenção, fica claro que Paulo precaveu-se cuidado­ samente contra uma interpretação errônea de seu ensinamento. Ele não queria que usássemos essa passagem de forma errada para justificar a subor­ dinação das mulheres aos homens na igreja. Ele não queria que pensássemos que as mulheres são, de alguma maneira, menos importantes ou menos capazes de contribuir para o ministério mútuo na comunidade de fé local. As mulheres “oram e pro­ fetizam” na Corinto do século I, e Paulo afirma claramente o seu direito de fazê-lo (11.5,10). E nós devemos fazer o mesmo. Visão Geral Homens e mulheres devem preservar distinções culturais entre os sexos quando participam da ado­ ração (11.2-16). As refeições da irmandade devem exemplificar e não negar a unidade cristã (w. 1722) e deve ser mantida uma distinção entre tais re­ feições e a Ceia do Senhor (w. 23-34).

Entendendo o Texto “O varão [é] a cabeça da mulher” (1 Co 11.3). A maioria dos comentaristas modernos concorda que Paulo não estava estabelecendo uma hierarquia aqui. Em vez disso, estava afirmando que existe uma distinção entre homens e mulheres, homens e Cristo, Cristo e Deus. A distinção é provada pela Aplicação Pessoal condição de cabeça de um em relação ao outro. Apegue-se às suas doutrinas, mas apegue-se ainda “Cabeça” não no sentido de “chefe”, mas no senti­ mais aos seus irmãos e irmãs em Cristo. do bíblico e do século I de “fonte”. Sim, mulheres

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e homens são diferentes. Gênesis 2 retrata Adão como a fonte de Eva, assim como Cristo como Criador é a fonte da humanidade e Deus como Pai é a fonte do Filho. Observe, porém, que a mulher não é inferior ao homem nas suas diferenças mais do que Cristo é inferior a Deus! A diferença, e mesmo a condição de cabeça, não é base para discriminação contra um dos sexos. “Toda mulher que ora ou profetiza” (1 Co 11.4-10). Paulo supôs que as mulheres, como os homens, po­ diam orar e profetizar nas reuniões da igreja local. Isso não era um problema para Paulo. O problema era que em Corinto as mulheres faziam isso com a “cabeça descoberta”. A palavra grega pode sugerir uma cobertura para a cabeça. Mas muitos creem que indica cabelo solto ou não trançado. Exatamente por que isso era um problema no século I é algo que ninguém consegue imaginar. A arte do século I que mostra homens e mulheres não oferece nenhuma pista. De igual modo, as literaturas pagãs e cristãs silenciam. Mas claramente algo a respeito da cobertura da cabe­ ça ou do estilo de cabelo era significativo naque­ la cultura. Para preservar a reputação da igreja, as mulheres cristãs não deviam adotar estilos que a cultura definisse como adequados para homens. Não se distraía com o que não sabemos. O que sabemos é que as mulheres oravam e profetizavam com os homens nas reuniões da igreja. E que Paulo não proibiu ou mesmo criticou essa prática. “Deve ter sobre a cabeça sinal de poderio [ou “autori­ dade”] ” (1 Co 11.10-16). Por favor, observe. Paulo não disse “sinal de submissão”. Ele disse “sinal de autoridade”. Alguns, movidos por um pensamento errôneo e uma dose de chauvinismo, acrescentaram palavras que não estão no texto grego. Eles dizem que a questão do cabelo é um “sinal da autorida­ de [do homem] sobre a sua cabeça”. Na verdade, é exatamente o contrário. Tanto quanto podemos reconstruir a situação, al­ gumas das mulheres cristãs em Corinto ficaram tão entusiasmadas com a liberdade que tinham em Cristo para participar da adoração que exageraram. Se elas podiam falar, como os homens sempre ti­ nham sido capazes de fazer, então elas agora eram como homens! E elas iam parecer homens e agir como eles! A reação de Paulo foi de horror. Aquelas mulheres não percebiam que Deus criou a raça como macho e fêmea? Que Ele fez uma distinção que devia ser preservada? Mais ainda, elas não percebiam que agora, em Cristo, as mulheres têm a própria auto­

rização de Deus para participar como mulheres na vida da igreja? Ao rejeitarem a cobertura de cabeça, as mulheres de Corinto estavam negando a própria verdade que as entusiasmara em primeiro lugar! Ao tentarem ter a aparência de homens e agir como eles, elas obscu­ reciam o fato de que agora tinham autoridade para participar da adoração como mulheres! Que verdade maravilhosa isso nos faz lembrar? Em Cristo, nenhum de nós tem de negar quem é. Em Cristo, todas as pessoas são importantes! Cada um de nós tem uma grande importância; cada um de nós tem um dom e a autoridade de usá-lo e, por­ tanto, contribuir para os outros no Corpo de Cris­ to. Exatamente como somos. “No Senhor, todavia, nem a mulher é independente do homem, nem o homem, independente da mulher” (1 Co 11.11-16, ARA). Paulo acrescentou isso, para assegurar que suas palavras não fossem distor­ cidas. Sim, homens e mulheres são diferentes. Sim, o homem (Adão) foi a fonte da mulher (Eva). E verdade até que Eva foi criada para satisfazer uma necessidade de Adão, e não o contrário (v. 9). Mas alguns extraíram disso a noção de que as mulheres são criaturas subordinadas. Para garantir que ninguém distorcesse assim o seu significado, Paulo acrescentou essa seção sobre a interdependência. A própria vida nos diz que ho­ mens e mulheres são necessários para a continua­ ção da raça. Portanto, o fato de Eva ter sido extra­ ída de Adão não implica que as mulheres, como mulheres, sejam subordinadas. Implica que elas são necessárias! Que contrapeso para o ensinamento de alguns de que as mulheres não têm qualquer ministério significativo a desempenhar na igreja. Homens e mulheres podem ser diferentes. Mas, no que diz respeito a orar e profetizar, o ministério de ambos os sexos não é opcional. E exigido. “Quando vos ajuntais num lugar, não épara comer a Ceia do Senhor” (1 Co 11.17-22). Os clubes sociais eram populares no século I. Esses clubes promo­ viam jantares regulares, geralmente na casa de um patrocinador. Neles, distinções sociais claras eram mantidas. O anfitrião ou anfitriã não apenas colo­ cava os membros de classe alta acima dos de classe baixa, mas também os de classe elevada recebiam vinhos e alimento melhor e às vezes em quantidade duas ou três vezes maiores que as dos outros! Tudo indica que os coríntios importaram o jantar desses clubes para a igreja e lhe deram o nome de “Ceia do Senhor”. E os anfitriões e anfitriãs de Co­ rinto seguiam a prática normal, alimentando mais

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os membros de classe superior, e dando apenas mi­ galhas aos pobres! Havia dois grandes pecados envolvidos. Um era negar a unidade do Corpo de Cristo ao fazer tais distinções (v. 22). Que oportunidade teria sido tal refeição para afirmar a verdade de que todos são iguais em Jesus Cristo (cf. G1 3.26-29). O outro pecado era perder completamente de vista a importância da Ceia do Senhor. (Veja o DEVOCIONAL.) O que visava ser um dos atos mais sole­ nes de adoração tornou-se uma festa rude. E Paulo não gostou dessa situação. Você e eu também precisamos abordar a adoração com respeito e grande cuidado. O Deus que vie-

DEVOCIONAL______ Em Memória (1 Co 11.23-32)

O culto de Santa Ceia é uma expressão única da nossa fé. E a palavra “memória” é a chave para en­ tender a sua importância. A palavra paralela no Antigo Testamento é zikkaron, geralmente traduzida como “memorial”. A páscoa era uma festa memorial. A coluna de pedras que marcava a passagem de Israel pelo rio Jordão também era um memorial. Como os outros, estes memoriais eram um testemunho do passado — e um chamado a cada crente para participar dessa herança. Enquanto os israelitas comiam a ceia da Páscoa, cada família revivia a experiência de seus ancestrais. Quando um israelita passava pela pilha de pedras à margem do Jordão e tocava a sua su­ perfície áspera, o seu pensamento fazia uma viagem no tempo, e ele se sentia como se tivesse estado lá quando Deus dividira as águas. A Santa Ceia também é um memorial. Ela é me­ mória. Não de um acontecimento coberto pela poeira dos séculos, mas de um acontecimento que é sempre fresco e novo. Não de uma experiência testemunhada por homens e mulheres mortos há muito tempo, mas de uma experiência que com­ partilhamos hoje quando retornamos aos pés da cruz por meio dos elementos que representam o corpo e o sangue de Jesus. No culto de Santa Ceia postamo-nos lá novamente quando, unidos com Cristo pela fé, compartilha­ mos a sua morte e a sua ressurreição. “Fazei isto em memória” é um convite a experimentar o mo­ mento impressionante em que nossa salvação foi conquistada. “Fazei isto em memória” é um convite para experi­ mentarmos o sagrado e — pelo fato de estarmos na própria presença de Deus — para oferecer-lhe os

mos honrar é digno do melhor de nós. Qualquer coisa que seja menos do que isso é inaceitável para Ele. E deve ser para nós. “Por causa disso, há entre vós muitos fracos e doentes” (1 Co 11.27-32). A adoração em Corinto tornarase tão vulgar que Deus interveio com julgamento. Não deixemos que isso nos aconteça. O que Paulo pediu foi o autoexame. Devemos examinar o nosso coração quando vamos a Deus, renunciando a qualquer mal que encontremos, e deixando que o nosso culto de adoração eleve o nosso coração a Ele.

nossos agradecimentos, a nossa adoração e o nosso louvor.

Aplicação Pessoal

Participe da Santa Ceia “em memória” de Jesus e de seu amor sacrificial.

Citação Importante

“O efeito de nossa participação na Santa Ceia, no corpo e no sangue de Cristo, é que somos transfor­ mados naquilo que consumimos. E também que aquEle no qual morremos e no qual ressuscitamos dos mortos vive e é manifesto em cada movimento de nosso corpo e de nosso espírito.” — Papa Leão I

20 DE OUTUBRO LEITURA 293 A VERDADEIRA ESPIRITUALIDADE 1 Coríntios 12— 13

“O amor épaciente, é benigno... tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Co 13.4, 7, ARA). O amor é o verdadeiro teste da espiritualidade.

Contexto

Línguas em Corinto. Na cultura pagã do século I, as expressões em êxtase e os transes estavam asso­ ciados à religião há muito tempo. Oráculos, como o famoso oráculo de Delfos, exibiam jovens que respiravam vapores e cujos murmúrios eram então interpretados pelos sacerdotes. A epilepsia, que provocava ataques em suas vítimas, era chamada de “doença divina”, e nessas ocasiões pensava-se que um deus lutava pelo controle do indivíduo. Não surpreende que o dom espiritual das línguas, falando neste caso por meio de uma linguagem

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desconhecida e espiritual, era muito valorizado pelos crentes salvos do paganismo. Em Corinto as línguas eram vistas como o verdadeiro teste da espiritualidade de alguém, e os que tinham o dom eram considerados especiais. Portanto, em 1 Coríntios 12— 14, Paulo tratou dessa questão. Ele nunca negou que as línguas fos­ sem um dom espiritual válido. Na verdade, Pau­ lo afirmou possuir o dom (14.18). Em vez disso, Paulo afirmou que todos os dons do Espírito Santo são vitais para o Corpo de Cristo, elevou o amor à condição de teste da verdadeira espiritualidade e, então, passou a corrigir abusos do dom de línguas pelos coríntios.

da vida que o Senhor Deus concede por intermédio de Jesus Cristo e ser salvo. Mas, para crescer espi­ ritualmente, você deve entregar a sua vida a Jesus. Afirmar que “Jesus é o Senhor” envolve mais do que pronunciar palavras. Envolve comprometer-se inteiramente com Ele.

“Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo ” (1 Co 12.4-6). O que é importante para a verdadei­ ra espiritualidade não é possuir um dom espiritual específico. E possuir o Espírito! Paulo fez uma afirmação vital aqui. O Espírito de Deus opera de maneiras diferentes por meio de di­ ferentes pessoas. Em vez de exaltar certos dons, de­ vemos exaltar o Deus que se expressa de diferentes Visáo Geral maneiras por meio de todos os seus dons. Os dons do Espírito Santo capacitam cada crente a Uma coisa é certa. Não é “espiritual” concentrar-se ministrar aos outros (12.1-11). Assim como as partes nos dons. Devemos nos concentrar naquEle que do corpo humano diferem, o mesmo acontece com os os dá! membros do Corpo de Cristo, que somos nós (w. 1231). Contudo, a expressão mais verdadeira da obra do “A manifestação do Espírito é dada a cada um para o Espírito em nossa vida é o amor (13.1-13). que for útil” (1 Co 12.7). Você tem um dom espi­ ritual. Assim como todo cristão. E os dons foram Entendendo o Texto dados pelo Espírito Santo para um fim específico: “Acerca dos dons espirituais” (1 Co 12.1). O texto “Para o que for útil”. grego diz simplesmente: “Acerca do espiritual”. Os Isso nos diz três coisas. (1) Você e eu precisamos tradutores introduziram “dons” porque Paulo pas­ usar quaisquer dons que possamos ter para con­ sou a falar deles no versículo 4. Mas é melhor en­ tribuir para o bem-estar dos outros. (2) Você e eu tender o tema de Paulo como a questão mais ampla precisamos estar intimamente envolvidos com os da espiritualidade. Como sei quando estou viven­ outros para podermos ministrar a eles e ser bene­ do próximo do Senhor? O que torna uma pessoa ficiados pelo seu ministério. (3) Qualquer dom es­ realmente espiritual? E o fato de que ela ora mui­ piritual que eu possa ter, ele não foi dado para me to? Ou o seu domínio da Escritura ou energia ao destacar, mas para fortalecer os outros! pregar? Quem devem ser os líderes espirituais em Estou escrevendo perto do Natal, e as casas ao nossa congregação? Como podemos reconhecê-los? longo de nossa rua estão decoradas. Como pare­ Eu mesmo posso viver uma vida verdadeiramente cem brilhantes e belas. Os dons espirituais não são espiritual? Se posso, como? como uma fileira de luzes de Natal, algo para de­ Todas essas perguntas e outras como elas são res­ corar ou embelezar. Os dons espirituais são muito pondidas por Paulo em 1 Coríntios 12— 14. Se mais como uma enxada, algo que serve como uma você tem fome de verdadeira espiritualidade, essa ferramenta, para ser usado ao trabalharmos em passagem alimentará sua alma. uma horta. Não devemos comparar os dons espirituais, como “Jesus é o Senhor” (1 Co 12.2,3). Aparentemente, se eles tivessem sido dados para nos embelezar. De­ alguns em Corinto confundiam a manifestação vemos exercitá-los ao trabalharmos no campo de extática com a revelação divina. Assim, quando al­ Cristo. guém que falava em línguas negava a Jesus, alguns crentes começavam a ter sérias dúvidas. Paulo disse ‘E dada... pelo Espírito" (1 Co 12.8-11). Alguns que não há nenhuma dúvida. Somente aqueles que desses dons do Espírito são visíveis e espetacula­ declaram que Jesus Cristo é o Senhor é que podem res — “poderes miraculosos”, “cura”, até mesmo estar falando pelo Espírito Santo. “línguas”. Outros parecem quase banais. Quem se As línguas faladas por qualquer um que tente negar entusiasma quando alguém oferece uma “palavra a Jesus como Senhor vêm de outra fonte. de sabedoria” ou exerce “fé” excepcional? A verdadeira espiritualidade é impossível para qual­ Um dom dado pelo Espírito Santo é miraculoso na quer um que não esteja disposto a ir além de sua sua operação, pois a obra executada é uma obra que experiência de salvação. Você pode receber o dom só pode ser feita por Deus. Se o seu dom parece co-

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1 Coríntios 12— 13

mum, não se incomode. E não inveje aqueles cujos dons do Espírito de Deus são mais visivelmente expressos. A contribuição que você dá para o bem dos outros é tão obra de Deus e tão completamen­ te miraculosa quanto a contribuição de qualquer outra pessoa. “O corpo é um e tem muitos membros, e todos os mem­ bros, sendo muitos, são um só corpo” (1 Co 12.12-31). A poderosa analogia de Paulo foi vívida e clara. A igreja, o Corpo de Cristo, é como um corpo huma­ no. Cada parte é diferente, no entanto, cada parte é necessária para criar um todo harmônico. Paulo até mesmo prosseguiu e disse que “os membros do corpo que parecem ser os mais fracos são necessá­ rios” (v. 22). Seja você quem for, e seja qual for o seu dom espiri­ tual, você é “necessário” para os outros na sua igreja e à igreja. Portanto, seja um participante ativo na sua congregação local. Afinal, seu braço esquerdo náo teria muita utilida­ de se você estivesse em Toledo e ele em Detroit. A única maneira por que você pode funcionar como uma parte do Corpo de Cristo é viver em uma rela­ ção próxima com os outros membros desse Corpo. Estando próximo dos outros, você pode ser o braço esquerdo deles. E eles podem ser seus olhos, ouvidos e pés! “Procurai com zelo os melhores dons” (1 Co 12.31). Esse versículo foi incompreendido por muitos, que tardaram para implorar a Deus um dos dons espiri­ tuais mais espetaculares. Mas Paulo havia acabado de argumentar, em todo o capítulo 12 de 1 Corín­ tios, que todos os dons espirituais “são grandes”, pois cada um deles é uma expressão do poder divino do Espírito Santo e cada um é necessário no Corpo. Parece melhor considerar esse versículo como uma introdução a um tema desenvolvido no capítulo 12 e interrompido pelo capítulo 13. Paulo diria à congregação de Corinto que, “se quisesse enfatizar quaisquer dons, que enfatizasse os que envolvem fala inteligível” (cf. 14.1-7). Mas você, como indivíduo, deve desejar “os melho­ res dons”? Sim, se nossas motivações e entendimento estiverem em harmonia com o Senhor. Sim, se você quiser apaixonadamente um dom espiritual maior

DEVOCION AL______ Sem Amor

Na parte de trás do palco do teatro de Corinto havia muitos vasos de bronze. Os vasos ocos foram o primeiro “sistema de som” usado para amplificar as vozes dos ato­ res! O “metal que soa” (na versão ARC) de Paulo (13.1) é literalmente o “bronze que soa” (na versão NTLH) — um dos vasos amplificadores ocos do teatro do século I! E que imagem! Uma pessoa pode servir como um canal para o Espírito. Mas, sem amor, a pessoa é um vazio es­ piritual, um homem oco. Não confunda os dons de uma pessoa com a sua espiritualidade. O texto em 1 Coríntios 13 ensina que a pessoa verdadeiramente espiritual está cheia de amor.

para servir melhor os outros. Não, se você quiser apaixonadamente um dom espiritual para poder pa­ recer “especial” ou “espiritual”. “O amor é” (1 Co 13.4-13, ARA). Finalmente che­ gamos à descrição de Paulo das marcas da verda­ deira espiritualidade. E fazemos a impressionante descoberta de que a espiritualidade não tem nada a ver com os nossos dons. Ela não tem nada a ver com instrução. Não tem nada a ver com habilidades de oratória. A pessoa verdadeiramente espiritual é aquela cuja postura e ações expressam amor. Valeria a pena colocar os versículos 4-7 no espelho do banheiro, acima da pia da cozinha e ao lado da cama. E valeria a pena memorizá-los. Eles nos lem­ bram o que devemos valorizar nos outros. E o que os outros valorizarão mais em nós. E, acima de tudo, o que Deus valoriza em nós.

Isso acontece com a maioria de nós de vez em quando. Alguns cristãos vivem a vida inteira sen­ Uma das experiências mais frustrantes que um tindo esse vazio esmagador. E perguntam a si mes­ cristão pode ter é servir com fidelidade e sentir-se mos por quê. totalmente vazio por dentro. Paulo tem uma resposta, em uma pequena expres­

(1 Co 13)

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1 Coríntios 14

são encontrada no versículo 3. Uma pessoa pode servir sem egoísmo, mas se “não tiver amor”, Paulo, “nada será”. O texto não diz que uma pessoa que serve, mas que “não tenha amor”, seja ineficaz. Não. Ela pode ter dons espetaculares e construir uma igreja gigan­ tesca onde milhares sejam salvos. Na analogia de Paulo, se eu distribuir “todos os meus bens entre os pobres”, os pobres certamente se beneficiarão. O que Paulo disse foi que, embora os outros possam se beneficiar do serviço feito sem amor, seja o que for que eu fizer, “nada disso me aproveitará”. Se você for um daqueles muitos cristãos que tra­ balham servindo, mas ainda assim sentem-se va­ zios, esse lembrete pode ser para você. Se você ou eu servirmos para conquistar reconhecimento ou porque tememos não ser aceitos se não o fizermos, ou mesmo porque sentimos que é o nosso dever, nosso serviço ajudará os outros, mas não a nós. Lu­ taremos com a insatisfação e a solidão. Ainda nos sentiremos vazios e insatisfeitos. Mas se servimos os outros por amor — ah, então, ficamos verdadeiramente satisfeitos! Conseguimos satisfação. Conseguimos alegria. Conseguimos re­ compensas futuras. E conseguimos a serenidade in­ terior que vem de saber que agradamos ao Senhor.

Aplicação Pessoal

exercício. Por outro lado, entendo que Paulo não deu nenhum apoio aos que sustentavam que esse dom era “o” teste para determinar o recebimento do Espírito Santo. Na verdade, o argumento de Paulo girava em torno da inteligibilidade. Tudo o que acontece quando cristãos se reúnem como Igreja de Cristo deve servir para a edificação dos crentes. Falar em línguas não oferece essa contri­ buição, a menos que aquele que falar (ou algum outro cristão) interprete o que diz. Mas talvez a maior contribuição para solucionar a controvérsia tenha sido feita antes, em 1 Coríntios 8. Ali, Paulo ensinou que as disputas doutrinárias não precisam dividir os cristãos se ambos os lados considerarem a possibilidade de que podem não ter todas as respostas. Cada lado deve expressar cons­ tantemente o seu amor por aqueles dos quais di­ verge, buscando fortalecê-los em vez de rebaixá-los (8.1-4, veja o DEVOCIONAL).

Visão Geral

A fala inteligível deve ter prioridade nas reuniões da igreja (14.1-19), onde as “línguas” têm valor limitado (w. 20-25). A participação durante os cultos deve ser ordeira (w. 26-40) .

Entendendo o Texto

“Principalmente o [dom] de profetizar” (1 Co 14.1Se você carece de amor, peça a Jesus que ame os 5). A natureza exata do dom da profecia, como outros através de você. exercido na igreja do século I, é muito debatida. Alguns consideram que 13.8 (na versão ARA), Citação Importante “profecias... desaparecerão” significa que, depois de “Diga-me o que você sabe sobre os sofrimentos completados os escritos do Novo Testamento, re­ dos outros homens, e eu lhe direi o quanto você os velações especiais dadas por meio de membros das ama.” — Helmut Thielicke congregações locais não seriam mais necessárias, e que, sendo assim, o “dom da profecia” original foi 21 DE OUTUBRO LEITURA 294 transformado em um dom de pregar a Palavra. AS PRIORIDADES DA IGREJA Outros sustentam que é o dom da revelação. Não 1 Coríntios 14 que a profecia substitua a Palavra de Deus, mas que, de certa maneira, ela suplementa a Escritura ao mes­ “Eu quero... muito mais que profetizeis, porque o que mo tempo em que se mantém subordinada a ela. profetiza é maior do que o que fala línguas estranhas, A visão de Paulo foi clara. “Profecia” é uma ins­ a não ser que também interprete, para que a igreja trução emitida em linguagem clara e comum, para receba edificação” (1 Co 14.5,6). que todos possam entender, e que fortaleça os cren­ tes. A despeito do que a profecia seja, em detalhes, Reunimo-nos para adorar e para fortalecer uns aos ela fazia para a igreja a mesma coisa que uma mãe outros. faz ao falar sobre Deus à criança enquanto a colo­ ca na cama. Ela fazia para a igreja a mesma coisa Contexto que uma família faz ao ler um livro devocional e Mais sobre línguas. O moderno exercício do dom falar sobre o seu significado. Ela fazia para a igreja de “falar em línguas” tornou-se uma questão divi­ a mesma coisa que um professor da Escola Domi­ sora em muitas igrejas. Um estudo cuidadoso de nical faz ao explicar como uma passagem da Bíblia 1 Coríntios 14 deve corrigir excessos de ambos os se aplica à nossa vida diária. lados da questão. Por um lado, a validade do dom Você pode não pensar em si mesmo como um pro­ de línguas não foi desafiada por Paulo, nem o seu feta. Mas pode ter um ministério de profeta — e

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1 Coríntios 14

recompensa — ao partilhar sua fé com sua família tamento. Por quê? Porque: (1) Não parece ajustare amigos. se ao contexto do argumento de Paulo. (2) Não parece refletir a postura para com as mulheres que “Falar... palavras na minha própria inteligência” (1 Paulo demonstra em outras passagens, como em Co 14.6-19). O que fazemos nas reuniões de cris­ Romanos 16. (3) Parece contradizer diretamente tãos é ministrar uns aos outros. Precisamos dessa o que Paulo dissera em 11.5,13 a respeito do di­ perspectiva não apenas para colocar o dom das lín­ reito das mulheres de “profetizar e orar” em reu­ guas na perspectiva adequada, mas para tudo que niões da congregação. fazemos em nossos cultos. Na oração, no louvor, Alguns argumentaram, e com poderosos funda­ no ensinamento e ao compartilhar, Deus pode usar mentos, que esses versículos não foram escritos e usa o que dizemos para edificar a sua igreja. por Paulo, mas incorporados de uma “glosa” — anotações feitas por alguém em um dos primeiros “A s línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para manuscritos. Pode ser a solução, já que certamen­ os infiéis” (1 Co 14.20-25). Aqui, como em outras te a Escritura não contradiz a Escritura, e antes passagens, um “sinal” é uma marca visível da pre­ Paulo argumentou de forma enérgica a favor do sença ou atividade de Deus. Ao dizer que as línguas direito das mulheres de participar ativamente das não são um sinal para os fiéis, Paulo sublinhou uma reuniões da igreja. ideia anterior. Não devemos ver este ou aquele dom Alguns sugeriram outra possibilidade. Talvez os espiritual como medida de espiritualidade. que perturbavam as reuniões da igreja em Co­ As línguas podem ter servido, na cultura do século rinto fossem mulheres, cuja ênfase obcecada nas I, como um sinal para os infiéis, ou descrentes, que línguas levaria a alaridos e a proferirem as línguas associavam tal fenômeno a uma obra de Deus (veja em voz alta demais. Nesse caso, Paulo não se con­ 1 Co 12— 13). Mas, mesmo então, a fala inteligível tradiz. O texto em 1 Coríntios 11 ensinaria que tem prioridade na igreja. Como Paulo observou, as mulheres podem participar com os homens, se um descrente visitar uma reunião da igreja e enquanto 1 Coríntios 14 corrigiria o abuso nessa encontrar todos falando em línguas, ele dirá: “Es­ participação. tais loucos” (14.23). Mas um descrente que vem e Não penso que alguém realmente conheça a res­ compreende o que está sendo dito será convencido posta. Mas sabemos, com certeza, que, quando o em relação ao pecado, e convertido (w. 24,25). texto diz que “é indecente que as mulheres falem As línguas são um dom espiritual válido. Mas os na igreja”, não está dizendo “calem a boca” às mu­ coríntios não deveriam valorizar esse dom como o lheres que têm um testemunho a compartilhar, mais precioso de todos. uma oração a oferecer ou uma verdade a relatar. As mulheres também têm dons espirituais. E uma “A s mulheres estejam caladas”(1 Co 14.34-36). Essa igreja precisa do exercício desses dons para ser é uma das passagens mais debatidas do Novo Tes- saudável e completa.

DEVOCIONAL______ Vamos Entrar

(1 Co 14.26-40) Batemos. A porta se abre e somos recebidos por um escravo sorridente. Um dos irmãos. Isso é “ir à igreja” no século I e sabemos que, com o passar do tempo, tornou-se bem diferente. Dentro, sentamo-nos no aposento maior, com mais 15 ou 20 outros irmãos. A reunião começa com canto e todos parecem querer começar a can­ tar um hino. O canto é interrompido de vez em quando por uma ou outra pessoa que fala — con­ tribuindo com “um salmo, uma doutrina (ensino), uma revelação, uma expressão em línguas, ou uma interpretação”. Não conseguimos distinguir quem é o pastor. Ninguém se coloca à frente e fala por 30 a 40 minutos. Em vez disso, quase todos falam; al-

guns dizem só uma ou duas palavras, outros mais. Há oração também. E embora não consigamos en­ tender o grego que falam, percebemos seu fervor e sinceridade. Essa é a imagem que Paulo nos dá de uma reunião da igreja em 1 Coríntios 14. Uma imagem que se ajusta perfeitamente a outras referências do Novo Testamento a reuniões cristãs, encontradas em Colossenses 3.15,16 e Hebreus 10.24,25. O que mais nos impressiona é a informalidade e o fato de que todos participam. As pessoas parecem levar a sério o ensinamento de que todos têm um dom espiritual! Portanto, todos têm a oportunidade de compartilhar. De alguma maneira, nos quase 2.000 anos que se passaram desde que Paulo escreveu essas palavras,

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1 Coríntios 15— 16

as reuniões da igreja mudaram. Agora são mais for­ mais. Geralmente apenas uma pessoa, um profis­ sional, seleciona os hinos, ora e fala. Os demais se sentam lá, bem vestidos, adorando. Até aprenden­ do. Mas não usando o nosso dom e não recebendo as ministrações dos outros. Não acho que algum de nós imagine seriamen­ te que podemos retornar à igreja do século I, ou mesmo que devamos. Mas, em algum lugar da sua experiência cristã e da minha, temos que arranjar espaço para o mesmo tipo de encontro silencioso de crentes que se conhecem, se amam e ministram uns aos outros. Talvez isso esteja acontecendo na sua aula da Es­ cola Dominical. Talvez em uma reunião de oração. Talvez mesmo sozinhos em nossa sala, estudando a Bíblia. Mas precisa estar acontecendo em algum lugar. Você tem um dom espiritual. Outros preci­ sam de seu ministério junto a eles. E você precisa dos deles.

mortos foram trazidos de volta à vida no Antigo e no Novo Testamento não são ressurreições. Foram simplesmente restituições à vida terrena, e as pes­ soas assim restituídas estavam destinadas a morrer novamente. Por outro lado, a ressurreição envolve uma trans­ formação do corpo do crente, uma infusão de imortalidade que torna o crente livre para sempre dos poderes do pecado e da morte. E essa transfor­ mação que nos espera no retorno de Jesus, com que Paulo lida em 1 Coríntios 15.

Aplicação Pessoal

Entendendo o Texto

Visão Geral

A ressurreição de Jesus é um acontecimento histó­ rico inteiramente atestado (15.1-11), essencial para a fé cristã (w. 12-34). E a ressurreição corporal nos aguarda na vitória final de Deus sobre a morte! (w. 35-58) Paulo encerrou com uma exortação a contribuir (16.1-4), com observações pessoais (w. 5-18) e saudações (w. 19-24).

Mesmo quando você não estiver na igreja, continu­ “O evangelho quejá vos tenho anunciado, o qual tam­ ará a fazer parte da igreja. bém recebestes” (1 Co 15.1-11). As antigas religiões misteriosas tinham histórias de deuses que haviam Citação Importante morrido e voltavam à vida. Esses deuses represen­ “O que importa na igreja não é a religião em si, tavam as estações do ano; o estado de morte era o mas a presença de Cristo, e que as pessoas ali reu­ inverno, seguido pela revitalização da vida vegetal nidas se tornem cada vez mais semelhantes a Ele.” na primavera, nos ciclos incessantes e repetitivos — Dietrich Bonhoeffer da natureza. Mas tal folclore não oferecia nenhuma esperança ao indivíduo, que, uma vez caído, era 22 DE OUTUBRO LEITURA 295 plantado na terra para nunca mais se levantar. E então Deus irrompeu na história na pessoa de A RESSURREIÇÃO ADIANTE Jesus Cristo. Não é mito que Jesus morreu por nos­ 1 Coríntios 15— 16 sos pecados, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro “Assim também a ressurreição dos mortos. Semeia-se dia, como previsto nas Escrituras. Não é mito que o corpo em corrupção, ressuscitará em incorrupção. o Jesus ressuscitado, que apareceu a muitas teste­ Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória. Se­ munhas, não morre mais. E isso, Paulo disse, “é meia-se em fraqueza, ressuscitará com vigor. Semeia- da mais alta importância” (v. 3, NTLH). O ciclo se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual. Se há incessante e sem esperança representado pelas an­ corpo animal, há também corpo espiritual” (1 Co tigas religiões da natureza e dos mistérios foi inter­ 15.42-44). rompido por um acontecimento real, histórico: um acontecimento que demonstra o poder do verda­ A vida para o cristão nunca termina. Há vida nova deiro Deus — e oferece esperança à humanidade. e eterna à frente. A ressurreição literal, corpórea de Jesus, é central para a fé cristã. Ela teve lugar na história — no Contexto espaço e tempo reais. E como Jesus ressuscitou Ressurreição. Várias passagens do Antigo Testamen­ dos mortos dessa maneira, nós também ressusci­ to sugerem que Deus ressuscitará os seus santos (cf. taremos! Jó 14.14; SI 17.15; 73.23-26; Is 25.8; Dn 12.2). Contudo, a doutrina assume forma clara e definida “Se... Cristo não ressuscitou”(1 Co 15-12-19). A noapenas no Novo Testamento, quando a ressurreição ção de que a alma subsiste após a morte era comum de Jesus serve como o grande exemplo da história, no pensamento grego. Mas a ideia de uma ressur­ e 1 Coríntios 15 oferece o ensinamento completo. reição corpórea não. Então, alguns em Corinto E importante perceber que os incidentes em que espiritualizaram a ressurreição, como alguns fazem

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1 Coríntios 15— 16

ainda hoje. Foi a “presença espiritual” de Jesus que os discípulos perceberam após a crucificação. E foi a consciência de que aquilo que Jesus representava nunca morreria que transformou os discípulos em audazes missionários de uma fé nova e positiva. Para Paulo, o raciocínio equivocado era uma gran­ de bobagem. “Se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (v. 14). “Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados” (v. 17). O que Deus fez por nós em Jesus foi real. Cristo tornou-se um ser humano real, viveu uma vida humana real, morreu uma morte humana real. Ele ressuscitou dos mortos em um corpo trans­ formado e agora vive uma vida eterna. Porque o Jesus histórico experimentou uma morte e uma ressurreição históricas, e apenas por causa disso a nossa salvação está absolutamente garantida. “Todos serão vivificados em Cristo” (1 Co 15-2029). Gosto de ficção científica. A imaginação que cria novos mundos e seres estranhos me delicia. Mas quando leio sempre tenho consciência da di­ ferença entre ficção científica e verdade. Uma só existe no domínio da mente. A outra existe no domínio do espaço e do tempo. Uma é fantasia, a outra é histórica, sólida, real. O verdadeiro cristianismo está firmemente enrai­ zado na história. Pode-se tocar. Jesus disse a Tomé: “Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; chega a tua mão e põe-na no meu lado” (Jo 20.27). Isso nos lembra a todos de que aquilo em que acredi­ tamos é histórico, sólido, real. Se o passado que a Escritura descreve é real, o fu­ turo também é! Podemos aguardar ansiosamente o florescimento da nova era que Cristo introdu­ ziu por meio da sua ressurreição. Podemos saber que está chegando o dia em que será nossa vez de ressuscitar. Ressuscitar e compartilhar do reinado final de Deus sobre todos.

valorizar o que se encontra adiante mais do que a presente dor ou prazer. Por essa razão o apóstolo Paulo se dispôs a arriscar a própria vida a favor do evangelho: “Estamos nós também a toda hora em perigo”. O que Paulo disse faz sentido. A nossa vida deve ser compatível com as nossas crenças. O que é dife­ rente na sua vida, em comparação com a vida dos outros, por saber que a ressurreição se encontra adiante? “Semeia-se o corpo em corrupção, ressuscitará em incorrupção” (1 Co 15.35-49). Não podemos saber como serão nossos corpos na ressurreição. O pró­ prio Paulo só podia traçar analogias. Nosso presente corpo é como uma semente. Quando colocada no solo, uma semente se transforma e tornase uma planta viva. A ressurreição é algo assim. Adão e Cristo oferecem outra analogia. O corpo que herdamos de Adão é carne e sangue, impelido pelo seu caráter material (“terreno”). O corpo que receberemos por meio de nosso relacionamento com Jesus Cristo é espiritual e, como o dEle, será impelido pelo seu caráter espiritual. As analogias são insuficientes. De uma coisa sa­ bemos, porém. Nós, que morremos em fraqueza, ressuscitaremos com vigor, em poder, para sermos para sempre como nosso Senhor. (Veja o DEVOCIONAL.)

“O vosso trabalho não é vão no Senhor” (1 Co 15-50-58). O autor do livro de Eclesiastes reca­ pitulou uma vida ocupada e bem-sucedida, e de­ clarou que não tinha significado. Tudo que con­ seguira não significava nada, queixou-se ele, pois morreria. E o que construíra ficaria para outro (Ec 2.17-23). Paulo, porém, bradou em triunfo. O que conse­ guimos em Jesus nunca é em vão. A morte não é o fim! A morte é um inimigo derrotado, a ser tragado na vitória quando Deus nos revestir da “Se batizam... pelos mortos” (1 Co 15-29-34). Essa imortalidade. Tudo que realizarmos pelo Senhor é a única referência à prática do batismo pelos refletirá a sua glória por toda a eternidade. mortos na Escritura. Tudo indica que alguns em Corinto se batizavam pelos entes queridos, su­ “Ora, quanto à coleta”(1 Co 16.1-4). Após o “pico” pondo que esse rito, que simbolizava a partici­ teológico do capítulo 15, Paulo nos faz descer à pação na morte e ressurreição de Jesus, pudesse, terra para falar de dinheiro. Certo? de alguma maneira, assegurar a ressurreição des­ Não. Há uma ponte lógica aqui. Como a ressur­ tes também. Paulo não citou a prática porque a reição está adiante e o que fazemos na terra não é aprovava. Ele a citou apenas para mostrar que é em vão, o dinheiro tem significação celestial. Nós incompatível negar a ressurreição e então ser bati­ o usamos agora, tendo a eternidade em vista. zado pelos mortos na esperança de conseguir para Paulo sugeriu que contribuíssemos de forma sistemá­ estes a ressurreição. tica, semanalmente, “conforme” nosso rendimento. Paulo acreditava totalmente na ressurreição, e a (Ele tinha mais a dizer sobre isso em 2 Coríntios.) sua vida o demonstrava. E importante conhecer e Tenha a ressurreição em mente quando reconside­

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1 Coríntios 15— 16

ele conhecia e por quem se interessava — pessoas com as quais queria que os coríntios se importas­ sem também. O “amor” não pode ser um conceito abstrato para nós cristãos. E um conceito relacionado a pessoas, e só se torna real quando passamos tempo com as outras pessoas.

rar a sua doação. O que você gastar se foi. O que você der será seu para sempre. “Todos os vossos atos sejam feitos com amor” (1 Co 16.5-24, ARA). A conclusão da carta é repleta de amor. Aqui, como no final da carta aos Romanos, Paulo menciona pessoa por pessoa — gente que

DEVOCION AL______ Semeia-se em Corrupção (1 Co 15.42-57)

Papai não queria visitar o médico com minha irmã e comigo. Todos sabíamos qual seria o veredicto. Câncer. Mais tarde, Eunice e eu contamos ao papai o que o médico dissera sobre o seu caso. O câncer estava espalhado por todo o corpo. Era só uma questão de meses. Mudei-me para a o meu lar de infância para cui­ dar dele nas últimas semanas. No início, ele ficava sentado na sala comigo e conversa ou assistia à te­ levisão. Como um lutador, papai superou muitos adversários físicos durante os seus 86 anos. Ago­ ra se sentia frustrado. Era algo que não conseguia combater. Logo ficou sem a capacidade de se sentar e passou a ficar na cama. A medida que a dor piorava, eu lhe dava doses regulares de morfina. Eu o ouvia percor­ rer a sua vida em meio ao seu delírio. E via o seu corpo se contorcer e encolher. Quando os homens da funerária levaram seu cor­ po, ele não parecia mais do que uma criancinha, deitado de lado, com o corpo curvado. Não era o pai que eu conhecera na minha infância, tão grande e tão forte. Não era o meu companheiro de pescaria de anos atrás. Não podia ser. No en­ tanto, era. Como Paulo diz, o corpo é semeado

em corrupção. Semeado em desonra. Semeado em fraqueza. Mas a mensagem gloriosa do evangelho é que o corpo enrugado que retorna à terra não é como o corpo que ressuscitará! Verei meu pai novamen­ te. Partilharei com ele a ressurreição vindoura. E quando o fizer, o corpo em que ele habitará será incorruptível, glorioso, sem nenhuma marca da fraqueza do homem, mas apenas a marca do poder de Deus. Essa é a visão que tenho de meu pai hoje. Não a es­ trutura murcha que jazia morta na cama no meu lar de infância. Mas a forma vibrante do homem que co­ nheci, vitalizado pelo poder transformador de Deus.

Aplicação Pessoal

Graças a Deus que nos dá essa vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.

Citação Importante

“Reunindo todas as evidências, não é demais dizer que não há nenhum outro fato histórico mais bem sustentado ou sustentado por evidências mais va­ riadas do que a ressurreição de Cristo.” — B. F. Westcott O Plano de Leituras Selecionadas continua em 2 CORÍNTIOS

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2 CORÍNTIOS INTRODUÇÃO A segunda carta de Paulo aos Coríntios foi escrita pouco tempo depois da primeira. Embora algumas de suas instruções fossem seguidas, muitos, em Corinto, ainda parecem rejeitar a autoridade do apóstolo. Essa carta, a mais aberta e reveladora das cartas de Paulo, é uma “apologia”: uma defesa ao seu apostolado e uma revelação convincente dos seus motivos no ministério. Entre os pontos principais estão a explicação apresentada por Paulo do ministério na Nova Aliança, a sua expressão de confiança no poder transformador de Deus, o seu ensinamento sobre a caridade e o esclare­ cimento da autoridade apostólica. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. Itens Pessoais........................................................................................................................................2 Co 1— 2 II. O Ministério da Nova Aliança.....................................................................................................2 Co 3— 13 A. Princípios.............................................................................................................................................2 Co 3— 5 B. Prática.................................................................................................................................................. 2 Co 6— 7 C. Caridade..............................................................................................................................................2 Co 8— 9 D. Autoridade.....................................................................................................................................2 Co 10— 13 GUIA DE LEITURA (7 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia e o Devocional em cada capí­ tulo deste Comentário. Leitura

Capítulos

Passagem Essencial

296 297 298 299 300 301 302

1.1— 2.4 2.5— 3.18 4— 5 6— 7 8— 9 10— 11 12— 13

2.1-4 3.12-18 5.15-21 6.14— 7.1 9.6-14 11.16-32 12.1-10

2 CORÍNTIOS 23 DE OUTUBRO LEITURA 296

DEUS E A CONSOLAÇÃO 2 Coríntios 1.1—2.4

“Deus... que nos consola em toda a nossa tribulação, tor, seja pai/mãe — e sirva a Ele. Como mostra o para que também possamos consolar os que estiverem restante dessa carta, continue amando. Continue em alguma tribulação, com a consolação com que nós compartilhando. mesmos somos consolados de Deus” (2 Co 1.3,4). “O Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação” Somente os que sofrem sabem o que significa ser (2 Co 1.3-5). Deus não somente é a fonte da au­ toridade dos seus servos; Ele também é a fonte da consolado por Deus. nossa consolação. Paulo estava certo de que Deus compreende. Ele Visão Geral Paulo louvou o seu Deus de Consolação (1.1-7) sofre conosco, pois, como membros do Corpo de e contou uma experiência pessoal (w. 8-11). Ele Cristo, nós sentimos a abundância do seu sofri­ explicou o problema com a sua visita, que tinha mento. sido mal interpretada (1.12— 2.2) e o motivo da Não há problema em chorar quando a dor é gran­ de. Mas jamais se imagine sozinho. O Deus de mi­ sua rude carta anterior (w. 3,4). sericórdia e consolação está bem ali, com você, e se você quiser, conseguirá sentir o seu braço amoroso Entendendo o Texto “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus” ao redor de seus ombros. (2 Co 1.1). Essa saudação pouco usual reflete o ce­ nário dessa carta. O ministério de Paulo fora desa­ “Se somos atribulados, é para vossa consolação e fiado, e o apóstolo tinha sido rejeitado por muitos salvação” (2 Co 1.3-6). Este é um dos princípios dos cristãos de Corinto. Isso deve ter magoado mais poderosos de ministério que encontramos em Paulo. Mas não o abalou. A sua missão de apósto­ toda a Bíblia. Paulo explicou no versículo 4: Deus lo não vinha dos coríntios, mas de Deus. Não era “nos consola em toda a nossa tribulação, para que o que eles queriam, mas o que Deus queria, que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós importava. Conheci muitas pessoas que foram rejeitadas. Ouvi mesmos somos consolados de Deus”. pastores chorando por serem considerados — e O que Paulo queria dizer é que as pessoas podem tratados — como nada além de um empregado se identificar com aqueles que compartilham da da igreja, e não como um ministro chamado por mesma dor. Você perdeu um bebê? Então aqueles Deus. Ouvi mães e pais de filhos rebeldes chorarem que perderam um filho irão compreender. Você co­ nheceu a angústia de um divórcio? Então aqueles também. Paulo teria entendido. E a sua resposta à reação dos cujos casamentos desmoronaram sabem que você coríntios serve de guia, para todos nós, em situ­ irá compreendê-los! ações similares. Lembre-se, em primeiro lugar, de Por que isso é tão importante? Porque a primeira rea­ quem indicou você para a sua função — seja pas­ ção a qualquer palavra de consolação provavelmente

2 Coríntios 1.1— 2.4

será: “Mas você náo entende o que está acontecendo comigo”. Fale com essas pessoas sobre a consolação de Deus, e tudo o que você disser parecerá vazio e tolo. Mas ouça a sua dor, compartilhe o suficiente para que eles saibam que você realmente compre­ ende, e então transmita a consolação que Deus lhe deu. Isso o sofredor consegue ouvir. Se você já se angustiou com a dor da sua vida, e clamou: “Por quê?”, aqui está uma possível resposta. A dor o capacitou a ajudar outros que sofrem agora, como você já sofreu. Sem sentir a dor deles, não há nada que você possa dizer que seja ouvido. E somente porque já sofreu que você pode ajudar na cura de outros.

Paulo era um apóstolo. Mas também era um ser hu­ mano. Como ele sofreu, conheceu a consolação de Deus como uma realidade na sua vida. Nessa carta, Paulo iria transmitir tudo isso, e expor a sua huma­ nidade. Mas, no processo, revelaria algo mais. Deus tinha estado e estava em ação na sua vida. Se quisermos tocar o coração dos outros, devemos seguir o caminho que o apóstolo seguiu. “Com simplicidade e sinceridade de Deus” (2 Co 1.1214). Hoje, chamamos isso de transparência e hones­ tidade. Ou dizemos, isto ou aquilo é “verdadeiro”. Paulo usou palavras teológicas, em vez de psicológi­ cas e éticas. Mas o significado essencial é o mesmo. Aqueles entre nós que são santos e sinceros vivem sem máscaras. Eles nos deixam conhecê-los, e a seus corações. Eles não são perfeitos, mas estão crescen­ do. Nós os compreendemos quando compreende­ mos o que eles ensinam. Em um mundo em que homens e mulheres usam máscaras, a pessoa que usa seu rosto verdadeiro com frequência é mal interpretada. Imagina-se que o ros­ to que essa pessoa apresenta também seja uma más­ cara. Mas continue vivendo essa vida de santidade e sinceridade. Com o tempo, todos saberão quem você é. E por seu intermédio, virão a conhecer a Deus.

“Como sois participantes das aflições, assim o sereis também da consolação” (2 Co 1.7). Nós, pais, temos essa terrível fraqueza. Não queremos que os nossos filhos passem por todas as dificuldades que passa­ mos. Acho que não me esforçaria para ganhar na lo­ teria e ter mais conforto. Mas às vezes penso no que isso poderia significar para os meus filhos. E tolice, eu sei. Deus, como não tem esse tipo de fra­ queza, sabe o que Paulo também compreendeu. So­ mente passando pelas dolorosas experiências, como o próprio Paulo, os coríntios se tornariam fortes na sua fé e no seu comprometimento com Deus. Nós, pais, precisamos desesperadamente compreen­ der esse princípio. A mãe e o pai “superprotetores”, “Para vos poupar, não tenho até agora ido a Corinto” que tentam isolar seus filhos dos problemas da vida, (2 Co 1.15—2.4). Paulo tinha ouvido que alguns estão lhes fazendo um terrível mal. coríntios zombaram da ideia de que ele os amava. E ressaltaram o fato de que, em vez de vir pessoalmen­ “A té da vida desesperamos”(2 Co 1.8-11). Paulo tinha te, Paulo lhes tinha escrito uma epístola ríspida e a mais incomum das qualidades: coragem moral. (para eles) insensível. “Santo e sincero? Paulo? Ah!” O que eu quero dizer é o seguinte. A maioria de A santidade e a sinceridade indicam que alguém é nós, se a nossa autoridade fosse desafiada, se levan­ uma pessoa de palavra. Paulo pretendia cumprir a taria para enfrentar o desafio. Nós nos prepararía­ sua promessa de visitar Corinto outra vez. Assim, mos para a guerra, reuniríamos toda a nossa força e explicou por que não pudera fazer isso — e por que marcharíamos para enfrentar os rebeldes no campo não quisera fazê-lo! Em vez de magoar seus amados de batalha. coríntios, ele lhes escreveu, para que eles pudessem Mas não Paulo. Ele, na verdade, se humilhava para ter a oportunidade de corrigir o que havia de errado enfrentar o desafio! Ele deixava de lado suas armas, e na sua comunhão! Não é incomum que uma pessoa expunha as suas fraquezas! “santa e sincera” seja mal interpretada. As pessoas Um apóstolo deve se sentir no fim de suas for­ têm a tendência de imputar motivos vergonhosos ças, incapaz de resistir mais um dia? (v. 8) Um às melhores intenções. E também têm a tendência apóstolo deve sentir desespero? (v. 8) O vale de de criticar atos que não compreendem. Quando isso depressão não é algo pelo que somente os pa­ acontecer com você, é melhor seguir o exemplo de gãos passam, enquanto os crentes dançam de Paulo. Continue afirmando o seu amor. Explique alegria em montanhas ensolaradas? Alguns po­ os motivos e sentimentos que estão por trás do que dem pensar assim. Mas Paulo não. E Paulo sabia você fez. Não se ofenda. E não desista. algo mais também. Somente quando servirmos Acima de tudo, não deixe de levar essa vida santa e ministrarmos a partir da nossa fraqueza, em e sincera. transparente honestidade, conseguiremos que Você e eu não podemos evitar o que os outros d*outros se comprometam com Jesus Cristo e con­ zem sobre nós. Mas podemos nos certificar de que fiem em nós. o que eles dizem não é verdade.

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2 Coríntios 2.5—3.18

DEVOCIONAL______ Preocupando-se o Suficiente

24 DE OUTUBRO LEITURA 297

(2 Co 2.1-4)

Há algum tempo, David Augsburger escreveu um livro excelente, intitulado Importe-se o Bastante para Confrontar. Nesse livro, ele mostra que, se realmente nos importamos com os outros, estaremos dispostos a confrontá-los quando seus atos o exigirem. Paulo, que se importava o suficiente para confron­ tar os coríntios na sua primeira carta, nos mostra, aqui, como confrontar. Em primeiro lugar, ele confrontou para evitar um sofrimento maior que iria distorcer o seu relacio­ namento (v. 1). Confrontar é uma maneira de con­ servar os relacionamentos fortes e calorosos, pois as coisas que não são mencionadas podem trazer tristezas. Em segundo lugar, o seu objetivo não era magoar, mas curar (v. 2). O confronto funciona somente quando a sua motivação é ajudar a outra pessoa. Não pense que você pode confrontar com ira ou antagonismo. A sua hostilidade se sobressairá mais do que qualquer das suas palavras. Em terceiro lugar, ele esperou uma resposta posi­ tiva. E preciso uma grande dose de confiança por parte dos outros, para que possamos confrontar. A confiança de Paulo tinha sólidas raízes na sua fé em Deus. Ele sabia que Deus estava em ação na vida de seus irmãos e irmãs. Deus usaria as suas palavras duras para ajudá-los e para curar. Finalmente, Paulo sofreu com os coríntios quando os confrontou. Ele escreveu: “em muita tribulação e angústia do coração, vos escrevi, com muitas lágrimas” (v. 4). O confronto deve se originar do amor e deve ser uma expressão de amor. Você pre­ cisa sofrer com a pessoa a quem confronta. A sua dor provará o seu amor, e fará com que a outra pessoa responda. Você se preocupa o suficiente para confrontar os outros, quando eles agem mal? Se a resposta for afirmativa, esteja certo de que o seu confronto seja marcado por um desejo de aprofundar o relaciona­ mento, pelo amor, por expectativas positivas — e por dor e sofrimento pessoal.

TRANSFORMAÇÃO 2 Coríntios 2.5—3.18

“Mas todos nós, com cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Co 3.18). Não é o que somos, mas aquilo que nos tornamos, que comunica a verdade de Cristo.

Visão Geral

Paulo insistia na restauração do pecador penitente (2.5-11). Ele falou dos seus motivos (w. 12-17), e explicou as implicações do ministério da Nova Aliança do Espírito (3.1-18).

Entendendo o Texto

“Confirmeis para com ele o vosso amor” (2 Co 2.511). Em 1 Coríntios 5, Paulo exigiu que um irmão que vivesse em imoralidade declarada fosse expulso. Uma maioria (2 Co 2.6) fez o que Paulo ordenou, e o irmão se arrependeu e rompeu o relacionamento ilícito. Embora os coríntios pudessem não saber como lidar com o arrependimento, suponho que muitos pensa­ vam que o pecador merecia ser punido, de qualquer maneira. Parece fácil demais deixar impunes as pes­ soas que agiram mal, só porque elas dizem: “Sinto muito”, e prometem não fazer isso novamente. Isso vai contra o nosso sentido humano de justiça. Uma pessoa que age errado deve pagar por seus atos. Mas o propósito da disciplina cristã não é punir! E restaurar. Nós não devemos fazer a pessoa sofrer pe­ los seus pecados. Cristo já sofreu por eles. O que de­ vemos fazer é trazer um pecador de volta à retidão e à comunhão com o Senhor. O arrependimento — o afastar-se do pecado e o retorno a Deus — é tudo. Como nós precisamos nos lembrar disso com nossas famílias, com nossos cônjuges, com nossos filhos! Nós punimos para restaurar, e não para que a pessoa pague. Posteriormente, como disse Paulo, “deveis, antes, perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não Aplicação Pessoal seja, de modo algum, devorado de demasiada tris­ Confrontar é um daqueles dons que só colocamos teza” (v. 7). em prática se nos importarmos o suficiente. O amor sem disciplina encoraja uma vida autoindulgente. Mas a disciplina sem amor encoraja a amargura e a rebelião. Citação Importante “Quanto mais amigo você for, mais francamente poderá falar; mas enquanto você conhecer alguém “Não ignoramos os seus ardis” (2 Co 2.11). Satanás é apenas de modo superficial, seja prudente ao repre­ astucioso demais para nos incitar à violência aber­ ender.” — Joseph Xavier ta contra os outros. Nós perceberíamos o quanto

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isso é errado, e recuaríamos de nossos sentimentos hostis e irados. Assim, Satanás nos encoraja a fazer coisas destrutivas pelas quais possamos nos sentir santos. Era isso que estava acontecendo em Corinto. O pecador penitente era deixado em uma situação pendente, mesmo depois de ter renunciado ao seu pecado, e a maioria dos coríntios se sentia justa porque a justiça estava sendo feita! Cuidado ao se sentir justo. “Bem, eles merecem” é verdade. Mas não é uma atitude cristã. Todos nós “merecemos”. Mas o que Deus derramou sobre nós, tão rica e abundantemente, foi o perdão, e não a punição. O perdão é um dom que tem o poder de transfor­ mar. Não é de admirar que Satanás planeje e lute para nos convencer de que, em vez de perdoar, nós devemos punir.

Na era antiga, “ministério” envolvia o ensino dos mandamentos e um estilo de vida que Deus orde­ nou aos judeus. Na era atual, “ministério” envolve transmitir as Boas-Novas de Jesus e abrir o coração para a obra transformadora do Espírito Santo. Paulo nos diz que existe um sinal inequívoco do ministério da Nova Aliança. As pessoas são trans­ formadas, de modo que aquilo que foi escrito em pedras agora está escrito no coração. O mundo conhece a justiça, não porque está registrada em tábuas de pedra, mas porque está gravada no co­ ração de homens e mulheres cristãos, e é vista em suas vidas.

“Capazes de ser ministros dum Novo Testamento” (2 Co 3-4-6). Que ideia para o comitê de avaliação da igreja. Da próxima vez que você distribuir um questionário, não peça às pessoas que respondam quão bem alguém prega, ou com que frequência “O bom cheiro de Cristo” (2 Co 2.12-16). A mensa­ ele prega. Simplesmente pergunte se ele ajudou os gem do evangelho estimula as reações conflitantes. membros da sua igreja a serem como Jesus Cristo. Alguém que ouve reage como uma criança que sen­ te o cheiro dos biscoitos de chocolate de sua mãe “Tendo, pois, tal esperança, usamos de muita ousadia” sendo assados, outros que ouvem reagem com nari­ (2 Co 3.12-18). Q ministério da Nova Aliança exi­ zes franzidos e expressões de desgosto, como se um ge transparência e honestidade. Exige que tiremos gambá tivesse acabado de passar. nossas máscaras, e sejamos nós mesmos com os As reações das pessoas ao evangelho não nos dizem outros. Exige que deixemos que os outros saibam nada a respeito de Jesus. As suas reações nos dizem como nós somos. Toda a verdade. tudo sobre elas mesmas. “Nós não somos, como muitos, falsificadores da pala­ vra de Deus” (2 Co 2.17). A reação do ouvinte ao evangelho revela o seu caráter. O motivo do prega­ dor revela o seu caráter. No século I, os evangelistas itinerantes podiam atrair multidões e ter uma vida confortável com as ofertas que recebiam. Se você der uma oferta, e posteriormente descobrir que o ministério era conduzido por um mascate que somente estava interessado no seu próprio lu­ cro, você ainda ganha, pois será recompensado no céu pelos seus serviços. A Palavra de Deus é pode­ rosa, mesmo quando pregada com motivos distor­ cidos. O mascate, que é pago em dinheiro por seus serviços, é o verdadeiro perdedor. “Escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo" (2 Co 3-1-3). Com esse capítulo, Paulo co­ meçava a sua explicação do ministério da Nova Aliança. A “Nova Aliança” é aquela maneira especial como Deus se relaciona com os seres humanos, agora que Jesus morreu e ressuscitou. O “Antigo Concerto” se refere à Lei mosaica, que definia a maneira como Deus se relacionava com os seres humanos, desde os tempos de Moisés até a vinda de Cristo.

O rosto de Moisés brilhava, repleto de glória, depois de cada encontro que ele tinha com Deus. Mas essa glória desaparecia depois de algum tempo, e o véu que Moisés usava tinha a função de encobrir esse fato. Paulo usou esse episódio do Antigo Testamento para comparar o Antigo Concerto com o Novo. A glória do Antigo, que se tornava visível quando Moisés estava na presença de Deus, desaparecia quando Moisés deixava a sua presença. A glória do Novo brilha cada vez mais, pois o Espírito de Deus veio a nós, para jamais nos deixar, e Ele está nos transformando de dentro para fora (w. 7-18).

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2 Corfntios 2.5— 3.18

Essa é a mensagem dessa importante passagem. Não é uma mensagem com que muitos se sintam confortáveis. Mas é uma mensagem que Paulo de­ sejava desesperadamente que compreendêssemos. Para nos ajudar, ele recordou Moisés e o incidente do véu (v. 13). Sempre que Moisés se encontrava com Deus, seu rosto brilhava com um esplendor glorioso. Mas esse brilho, com o tempo, desapa­ recia. Uma vez que Moisés desejava que o povo de Israel visse somente o esplendor, ele começou a co­ locar um véu para esconder o seu rosto. Talvez as pessoas supusessem que o seu rosto ainda brilhava com glória. Conosco, disse Paulo, é exatamente o oposto. Nós não somos como Moisés. Somos ou­ sados. Nós encontramos as outras pessoas com a “cara descoberta” (v. 18). A razão é uma diferença básica no nosso relacio­ namento com Deus. Nós não vamos encontrá-lo. Ele já está em nosso coração! O seu Espírito Santo está presente conosco, e no processo de nos trans­ formar “de glória em glória, na mesma imagem [de Jesus] ”, A glória vista no rosto de Moisés foi decrescendo por causa da deterioração. A glória que resplandece

em nosso rosto é amplificada por uma transforma­ ção cada vez maior! Assim, tiramos os véus de nosso rosto, convencidos de que, quando os outros pude­ rem ver a obra que Deus está realizando em nossas vidas, serão convencidos de que Jesus é real. Eu sei. Isso vai contra tudo o que a maioria de nós já aprendeu. Afinal, as pessoas dizem que temos que tentar apresentar nossa melhor cara como “tes­ temunho” de Jesus. Mas as pessoas estão erradas. Se fingirmos, se ten­ tarmos agir de maneira santa, tudo o que os outros verão será a nossa dissimulação. Mas se formos ver­ dadeiros com os outros — se não ocultarmos nos­ sos medos, nossas dúvidas, nossas fraquezas, nossas lutas — saberão que somos verdadeiros. E como o Espírito Santo está em nossa vida, eles sentirão a realidade de Jesus enquanto a nossa transformação contínua a acontecer. Sejamos ousados. Devemos crer nas Boas-Novas da Nova Aliança. Confie que o Espírito Santo realizará a sua obra de transformação na sua vida. E seja honesto com os outros, de modo que eles possam ver que Cristo está realmente em você. (Veja o DEVOCIONAL.)

(2 Co 3.12-18) Dwight me agarrou assim que saímos da igreja. “Larry, quero falar com você”, disse ele. E durante 10 minutos ele repetiu o sermão que eu tinha aca­ bado de pregar. Mais tarde, meu amigo Norm riu. “Ele não queria falar com você”, disse Norm. “Ele queria falar a você.” Eu sorri. Se Norm soubesse... Dezoito meses antes, um casal da nossa igreja apa­ nhou Dwight na rua. Ele tinha acabado de sair de uma instituição mental local, mas ainda era incapaz de pronunciar uma frase. Eles o levaram à sua casa, onde ele passava a maior parte do tempo encolhido em um armário escuro. Eles o levavam à igreja, mas Dwight costumava se levantar no meio do culto e correr para o pátio. Depois, eles começaram a trazer Dwight consigo à minha casa, todas as quartas-feiras à noite. Nós jogávamos basquete, comíamos cachorro-quente, e conversávamos sobre o progresso de Dwight e como o casal podia ajudá-lo. Com o tempo, descobrimos a história de Dwight. Ele tinha sido um jovem e bem-sucedido homem de negócios, com esposa e dois filhos, uma bela casa, dois carros, um barco. Mas ficou obcecado por sexo ilícito. Pouco a pouco, o seu mundo se despedaçou. Ele perdeu seu emprego, seu lar, sua família, seus carros e seu barco. Finalmente, perdeu

até a capacidade de conversar usando frases. Ele es­ tava no fundo do poço quando o casal de nossa igreja o encontrou e o levou para a sua casa. Na manhã em que Norm fez essa piada, pensei em todos os meses, desde que Dwight tinha vindo para junto de nós. A medida que ele sentia o amor de seus novos amigos, aos poucos foi se acalmando. Tendo participado conosco da igreja, ele tinha en­ contrado o Salvador. E então, não de repente, mas certamente, ele tinha começado a experimentar a cura. Naquela mesma semana, Dwight havia co­ meçado a trabalhar outra vez — ele tinha aberto um negócio de corte de grama. E naquela manhã ele fora capaz de me contar, com grandes detalhes, exatamente do que tratava o meu sermão, e o que significou para ele. Quando olhei para Dwight naquela manhã, tive a assombrosa percepção de que a Pessoa que eu via era Jesus. Era Jesus, olhando através do rosto des­ coberto de Dwight, revelado claramente por meio da transformação que o seu Espírito Santo realizara na vida de Dwight. A cada domingo que eu vinha à nossa peque­ na igreja e olhava ao redor, via Jesus em todas as partes. Pois cada um de nós, como Dwight, tinha partilhado a sua vida com os outros. Éramos um povo imperfeito. As verrugas e cicatrizes de nossa humanidade eram muito visíveis. Mas também es-

DEVOCIONAL______ “Norm, Conheça Jesus”

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2 Coríntios 4— 5

távamos crescendo e mudando. Na crescente glória “Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro” (2 da transformação que ocorria, nós reconhecemos e Co 4.7-15). Paulo não estava criticando o corpo conhecemos o nosso Senhor. mortal. Ele simplesmente estava contrastando o caráter fraco e comum do mensageiro com o po­ Aplicação Pessoal der assombroso da mensagem. Paulo se encontra­ Deixe que a glória de Deus seja vista em você. va sob pressão, confuso, perseguido, nocauteado. Tudo na sua experiência o lembrava de que o po­ Citação Importante der dinâmico que tinha marcado o seu ministério “O cristão é uma pessoa que facilita, aos outros, a não se originava dele. Ele atribuiu a Jesus, que oportunidade de crer em Deus.” salva todos os que creem nEle, o crédito, o fato de — Robert M. McCheyne que, apesar das suas fraquezas, ele não tinha sido esmagado, nem tinha se afogado em desespero, 25 D E O UTUBRO LEITURA 298 nem tinha sido abandonado ou destruído. RECONCILIAÇÃO Não permita que um sentimento de fraqueza pes­ 2 Coríntios 4—5 soal o impeça de servir a Deus. O fato de que você e eu somos fracos é o pano de fundo contra o qual “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o se revela o incomparável poder de Deus. mundo, não lhes imputando os seus pecados” (2 Co 5.19). “Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem” (2 Co 4.16-18). Esse versículo é Os pecados contados atrasam o crescimento dos a chave para compreender o ministério da Nova outros. Aliança. Nós não confiamos na evidência dos nos­ sos sentidos. Em vez disso, confiamos na realida­ Visão Geral de do que nos foi revelado por Deus. Paulo pregou a Nova Aliança com honestidade Paulo disse: “Por isso, não desfalecemos” (v. 16). (4.1-6), dente das suas fraquezas de mortal (w. Pode haver contratempo após contratempo. As 7-15), mas confiando no invisível (w. 16-18). O pessoas às quais servimos — nossos filhos, nossos céu é assegurado (5.1-10), assim como o amor de amigos — podem cair repetidas vezes. Mas per­ Deus que opera transformação no crente (w. 11- manecemos confiantes de que o Espírito de Deus 15), garantindo o sucesso do ministério de recon­ transforma aqueles que conhecem a Jesus e irá ciliação da Nova Aliança (w. 16-21). operar na vida daqueles aos quais servimos. Paulo disse que há apenas uma coisa certa a res­ Entendendo o Texto peito de coisas que podemos ver, tocar e sentir. “Rejeitamos as coisas que, por vergonha, se ocultam” Elas são temporárias: elas podem, e irão mudar (2 Co 4.1-6). Paulo não usou truques para apre­ (v. 18). E existe uma coisa certa a respeito do sentar o evangelho. Ele “manifestou a verdade” mundo invisível. Deus não muda! O que Ele disse (v. 2). Alguns irão crer, outros irão rejeitar. Pau­ é fixo, por toda a eternidade. lo confiava no resultado do seu ministério para Como é melhor, então, confiar no que não pode­ Cristo. mos ver, em vez de confiar no que podemos ver. Donald Barnhouse escreveu um livro intitulado Não se preocupe com contratempos desencorajaThe Invisible War [A Guerra Invisível], Nesse li­ dores. Não se preocupe com desapontamentos. vro, ele retratou exércitos espirituais do bem e do Eles podem, e irão mudar. Simplesmente confie mal, guerreando no campo de batalha da história. em Deus, que não pode mudar. E que não irá Essa batalha ainda é realizada hoje, com Satanás mudar. lutando para cegar os olhos dos homens para o evangelho, enquanto Deus clama, pela proclama­ “Se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se des­ ção de Jesus: “Haja luz”. fizer” (2 Co 5.1). Sabemos muito bem que uma Como é tolo que confiemos no nosso talento para dessas coisas que mudam é o nosso corpo. Nós fazer a diferença na guerra invisível. Mas Deus, na envelhecemos. Ficamos enrugados. A nossa visão verdade, nos confiou a mais maravilhosa de todas diminui, nossos passos ficam mais curtos, nossas as armas, a simples mensagem de Jesus e seu amor. costas se curvam. Um dia, o corpo, a nossa “casa Podemos sempre confiar na pura história. Como terrestre”, se desfará. escreveu Paulo aos romanos, o evangelho é “o po­ O visível é temporário, mutável. Como é maravi­ der de Deus para salvação de todo aquele que crê” lhoso ser capaz de olhar além de nossas estruturas (Rm 1.16). decadentes, e saber que “temos de Deus um edi­

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fício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (v. 1). Alguns zombam dos cristãos por esperarem con­ fiantemente a vida após a morte. Como é ridículo, em vez disso, colocar toda a esperança em um cor­ po terreno que cada ano que passa fica mais próxi­ mo da sepultura. “Revestidos da nossa habitação, que é do céu' (2 Co 5-4-9). Os cristãos debatem fervorosamente o que Paulo quis dizer aqui. Estaria ele falando sobre o corpo ressurrecto? Ou, como o texto parece suge­ rir, estaria ensinando que um corpo intermediário é usado por aqueles que morrem, até que venha o tempo da ressurreição? Não se sabe ao certo. Mas podemos ter a certeza de que, depois da morte, “o mortal” será “absorvido pela vida”. Como podemos ter certeza? O Espírito Santo é uma espécie de pagamento antecipado, um sinal que Deus concedeu, a sua garantia do que ainda está por vir. O Espírito é invisível, mas real. A sua presença possibilita que digamos “estamos sempre de bom ânimo”, e que “sabemos” (v. 6).

Sim, é agradável ser capaz de informar que 39 pes­ soas se uniram à igreja, que as doações aumenta­ ram 18%, que sete jovens partiram para ajudar a construir um edifício na América do Sul, e se ale­ grar com os cumprimentos dos outros pastores, na reunião anual do ministério. Mas Paulo não se orgulhava das estatísticas (da “aparência”). O que importava para Paulo era o que havia no coração. Por mais desencorajadoras que possam ser as coisas, se Cristo estiver no cora­ ção, os crentes serão levados a amar para crescer. E o crescimento transformará os homens e mulheres hesitantes e sem espiritualidade de hoje nos santos de amanhã. “O amor de Cristo nos constrange” (2 Co 5.14). Uma das piores coisas que fazem os pastores e os pais de­ sesperados é procurar motivadores de crescimento espiritual inadequados. Alguns dizem “Você deve”, e tentam forçar o crescimento. Alguns dizem “Você deveria”, esperando que a culpa motive o relutante. Alguns dizem “Você pode”, e tentam criar a dispo­ sição para tentar. Paulo disse: “Jesus ama você”. E contou com o despertamento de uma resposta de amor por Jesus que levasse os outros a desejarem crescer e mudar. Continue dizendo aos outros: “Jesus ama você, e eu também o amo”. O amor é a realidade invisível que motiva o crescimento espiritual e a mudança.

“Na aparência e não no coração” (2 Co 5-11-14). Alguém que não fosse Paulo poderia ter se sentido desencorajado com a falta de resposta e de espi­ ritualidade demonstrada pelos coríntios. Muitos pastores se desesperaram com pessoas como eles. E muitos pais sentiram tristeza e remorso por um filho rebelde. Mas Paulo não depositava a sua “Ele morreu por todos” (2 Co 5.15). Como Paulo confiança no que é visível (4.18). Ele não era um podia ter tal confiança nos coríntios, cuja falta de daqueles que consideravam as estatísticas como o espiritualidade ele admitiu na sua primeira carta? resultado do ministério. (1 Co 3.1) Apesar da evidência de todos os proble­ mas na igreja? Paulo nos diz que Cristo morreu, não somente para perdoar nossos pecados, mas para nos trans­ formar. Ele morreu, “para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”. E impensável que o grande propósito de Deus no sacrifício do seu Filho fra­ casse. E impensável que a cruz não tenha nenhum impacto nos que creem. O nosso progresso pode ser lento. Mas Deus está comprometido em trazer todos os que creem ao lu­ gar onde alegremente viverão por Ele! O “tribunal” (bema) em Corinto era uma grande plata­ forma onde se faziam proclamações oficiais, e onde eram proclamadas honrarias especiais concedidas a cidadãos. O ensino de Paulo de que “todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo” (v. 10) não é uma ameaça ou sugestão de punição. E uma promessa que implica re­ compensa!

“A ninguém conhecemos segundo a carne” (2 Co 5.16,17). Paulo desenvolveu a ideia do versículo 15. Considerados de um ponto de vista terreno — por aquilo que podemos ver e observar — alguns poderiam erguer suas mãos e se render aos corín­ tios. Algumas vezes, nós também nos sentimos des­ ta maneira, sobre os nossos colegas cristãos. Mas Paulo disse que essa não é a maneira de con­

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siderar as pessoas. Ora, se nós considerássemos Cristo desse ponto de vista, mesmo Ele pareceria um fracasso: um pregador de amor, que despertou tanto ódio, que foi injustamente assassinado por seus inimigos. Mas se considerarmos Jesus do ponto de vista de Deus, nós veremos, na cruz, o triunfo, e não a der-

DEVOCIONAL______ Reconciliados

(2 Co 5.15-21) Mamãe e papai se entreolharam, em desespero. Não importava o que eles faziam, Jimmy não pare­ cia reagir. Tentavam desenvolver responsabilidade com tarefas regulares, e Jimmy “se esquecia”. Insis­ tiam que ele arrumasse seu quarto antes de brincar, e de uma maneira ou de outra ele se esgueirava da casa, antes que pudessem perguntar se ele tinha terminado. É não foi apenas uma vez. Nem duas. Dezenas de vezes. A frustração de mamãe e papai parece a de muitos que acabam esperando, depois de algum tempo, que seus filhos — ou suas car­ gas — se comportem mal. Dispostos a desistir, a sua atitude fala, alto e claro, que eles não esperam, realmente, que seus filhos mudem. E isso tom a a mudança ainda mais difícil. Paulo, por outro lado, irradiava confiança nos co­ ríntios. Embora eles desafiassem a sua autoridade. Embora eles tivessem fracassado várias vezes. Como podemos ter essa confiança nos outros e transmitir também essa confiança? Paulo entendia a natureza da reconciliação. Esse termo bíblico significa, basicamente, “colocar em harmonia”. Paulo estava certo de que Deus, que, em Cristo, reconciliou o mundo consigo mesmo, irá operar na vida do crente, até que ele esteja em­ piricamente reconciliado, e viva aquela vida de jus­ tiça que revela o nosso harmonioso relacionamento com o Senhor. Paulo entendia de reconciliação. “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados” (v. 19). Paulo en­ tendia, e ele modelou o seu ministério em Deus. Como Deus, Paulo não imputava os pecados dos coríntios contra eles. Ele nem mesmo contava seus pecados! Em vez disso, Paulo transmitia total con­ fiança. O propósito pelo qual Cristo morreu será cumprido, e a vida dos crentes será colocada em harmonia com a justiça de Deus. Com essa certeza, você e eu também somos liber­ tados. Nós somos libertados a não contar os peca­ dos daqueles que sáo jovens na nossa família ou na nossa fé. Somos libertados para não imputar seus

rota de Deus. E se considerarmos nossos colegas crentes do ponto de vista de Deus, nós veremos Cristo no coração. E sabemos, a despeito do que quer que um crente possa ser agora, que ele é uma das novas criações de Deus, e um dia se tomará um exemplo vivo do triunfo da graça salvadora de Deus.

erros contra eles. E somos libertados para transmi­ tir a confiança de que, ainda que eles tropecem, se levantarão outra vez. Aplicação Pessoal Espere que Deus opere nos outros, e eles crerão que Ele pode fazê-lo. Citação Importante “E dever dos cristãos crer nos outros, até que eles aprendam a crer em si mesmos.” — Gilbert R. Martin 26 DE OUTUBRO LEITURA 299 INTERESSE N O M INISTÉRIO 2 Coríntios 6 —7 “O coríntios, a nossa boca está aberta para vós, o nosso coração está dilatado... em recompensa disso (falo como a filhos), dilatai-vos também vás” (2 Co 6.11,13). Para servir de modo eficaz, devemos servir com amor. Visão Geral Paulo expressou seu amor pelos coríntios, enfren­ tando dificuldades (6.1-10), com abertura pessoal (w. 11-13), confrontando-os (v. 14— 7.1), expres­ sando confiança (w. 2-4), alegria (w. 5-7), repre­ ensão (w. 8-12) e alegria pela afeição de Tito por eles (w. 13-16). Entendendo o Texto “Eis aqui agora o tempo aceitável” (2 Co 6.1,2). Muitos pensam que esses versículos pertencem ao final do capítulo 5. Mas eles também se encaixam aqui. Paulo estava prestes a expressar os seus senti­ mentos pelos membros da igreja em Corinto. Esses sentimentos eram intensos, porque ele estava to­ mado por um sentimento de urgência. Paulo estava convicto: “eis aqui agora o dia da salvação”. Levado por essa convicção e pelo amor pelos ou­ tros, Paulo deu tudo de si para ganhá-los para

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Cristo e conduzi-los a uma experiência total de salvação. Um sentimento de urgência e o amor são vitais se desejamos causar um impacto, por Cristo, em todos à nossa volta. Devemos estar convictos de que “eis aqui” é vital para eles. E devemos nos interessar. “Como ministros de Deus, tornando-nos recomendá­ veis em tudo” (2 Co 6.3-10). O amor verdadeiro é custoso. E Paulo tinha se dedicado sem reter nada. Alguns podem pensar que as dificuldades físicas que Paulo relacionou — espancamentos, aprisiona­ mentos, noites sem dormir, fome — são as maiores evidências do seu amor (w. 3-5). Mas todos nós sabemos que é muito mais difícil mostrar sempre “pureza, ciência, longanimidade, benignidade” aos nossos entes amados do que sofrer dificuldades por eles. Você ou eu podemos dedicar nossa vida por um ente amado. Mas nós nos vemos repreenden­ do-os com irritação, sendo críticos ou proferindo alguma palavra incisiva que jamais pensaríamos dizer a um estranho. Devemos nos lembrar, como Paulo, de que somos “ministros de Deus”. Como ministros de Deus, foi-nos designada a tarefa de mostrar o seu amor aos outros. Nós podemos jamais ter que mostrar esse amor enfrentando o tipo de dificuldades que Paulo enfrentou. Mas diariamente temos a oportu­ nidade de mostrar amor por meio da nossa pureza, paciência, longanimidade e benignidade. “A nossa boca está aberta para vós” (2 Co 6.11-13). Quando li 2 Coríntios pela primeira vez, sendo um cristão novo convertido, fiquei constrangido por Paulo. Ele parecia tão... bem... emocional. Eu pre­ feria o argumento racional de Romanos ou Gálatas, ou as imagens visionárias de Efésios. Somente mais tarde percebi que, enquanto Romanos e Gálatas representam a cabeça, ou o conteúdo intelectual do evangelho, 2 Coríntios representa o coração, ou o impulso emocional do ministério. Na verdade, o coração é, pelo menos, tão impor­ tante quanto a cabeça. E nesse livro Paulo “dila­ tou” o seu coração para que o víssemos. As suas emoções jorram abertamente, tocando a todos nós, quase contra a nossa vontade. Os seus sentimentos são tão fortes que recuamos, como fiz certa vez, ou respondemos a esse sincero calor. Por que Paulo se abriu tão livremente com os corín­ tios, mesmo sabendo que muitos já o criticavam? Paulo percebeu que os seres humanos são inteiros. As pessoas não são computadores que fornecem in­ formações programadas, mas seres sensíveis cujos sentimentos têm um papel essencial em toda esco­ lha significativa.

As emoções têm um papel muito importante em cada vida. Se verdadeiramente desejamos influen­ ciar os outros, devemos amá-los, e expressar o nos­ so amor. “Não vos prendais a um jugo desigual com os injiéis” (2 Co 6.14-18). Paulo não falava aqui de relacio­ namentos casuais (cf. 1 Co 5.9-11). Não somos convidados ou encorajados a cortar todo o contato com os não cristãos. A imagem de “jugo desigual” traz uma analogia de uma lei do Antigo Testamento, que proibia que os israelitas prendessem animais de diferentes tipos ao mesmo arado. Dois bois podem arar um campo juntos. Ou dois jumentos. Mas não um boi e um jumento. Assim, o que Paulo proíbe é a parceria em um empreendimento cooperativo. Não inicie uma parceria de negócios com um não cristão, esperan­ do que vocês vão se empenhar juntos. Não se case com um descrente esperando andar pela vida em harmonia, combinando passo a passo. Não há garantia de que um crente fiel será um par­ ceiro de negócios perfeito ou um cônjuge perfeito. Mas vocês terão Cristo em comum, e Deus habi­ tará em vocês e andará entre vocês (v. 16, “Neles habitarei e entre eles andarei”). Um comprome­ timento comum com Jesus é a base sobre a qual podemos construir relacionamentos harmoniosos em nossos relacionamentos pessoais importantes. (Veja o DEVOCIONAL.) “Estais em nossos corações para juntamente morrer e viver” (2 Co 7.2-7). As pessoas com as quais nos preocupamos profundamente podem ter uma in­ fluência poderosa sobre nós. O relacionamento de Paulo com os coríntios tinha sido pedregoso: eles lhe tinham causado muitas horas de angústia e pre­ ocupações. Mas ao mesmo tempo que o amor nos torna vulneráveis ao sofrimento, ele abre nossa vida para alegrias inesperadas. E isso que estimula o apóstolo. Apesar dos proble­ mas que haviam marcado o relacionamento, Paulo tinha muito orgulho dos coríntios, e o conheci­ mento da sua afeição por ele estimulava grande alegria. O cuidado e o interesse podem nos tornar vulnerá­ veis. Mas também expandem nossa vida e nos dão alegrias profundas e permanentes. Não se conte­ nha, por temer a dor. Prossiga, para aprofundar o seu relacionamento com outros cristãos, à espera da alegria. “Fostes contristados para o arrependimento” (2 Co 7-8,9). Estudiosos acreditam que a carta aqui mencionada não é 1 Coríntios, mas outra epístola,

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perdida. Paulo deve ter se expressado muito rispi­ damente: tão rispidamente que se arrependeu de censurar seus amados amigos. Mas a carta teve o resultado desejado, e os coríntios reagiram. A rispidez e a repreensão são um elemento impor­ tante do amor. Um conhecido nosso criou um fi­ lho sem jamais repreendê-lo. E, o que é ainda pior, sempre que o filho estava com problemas, a mãe o protegia de consequências prejudiciais. Hoje, o filho está casado, tem três filhos, está sempre às voltas com problemas com drogas e álcool, perdeu permanentemente sua carteira de habilitação e só conserva o emprego porque trabalha na fábrica do seu pai. O amor inapropriado, indisposto a repre­ ender, contribuiu para essa situação. Se você realmente ama outra pessoa, irá repreendêla sempre que vir algo errado. “Quanto cuidado não produziu isso mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados!” (2 Co 7.1113). A tristeza do mundo é uma tristeza do tipo “sinto muito ter sido flagrado”. O indivíduo sente por si mesmo e pelas consequências que agora tem que enfrentar. A tristeza segundo Deus é a tristeza pelo ato original, e o arrependimento — um com­ promisso de afastar-se do mal.

DEVOCIONAL______ Ser Pai

(2 Co 6.14— 7.1) A maioria das promessas de Deus é declarada sim­ plesmente pela fé. Aqui está uma promessa, no entanto, que é contingente. “Não toqueis coisa imunda”, diz o Antigo Testamento (Is 52.11) e “Eu serei para vós Pai” (2 Co 6.18). A princípio, parece uma promessa estranha. Afinal, Deus é nosso Pai pela fé em Cristo. Mas Ele pode ser um Pai para nós somente se vivermos vidas san­ tas. O filho mais velho da minha esposa, Matthew, mora em Michigan com o pai. Durante cinco anos, ele morou conosco, e durante esse período, eu pude ser um pai para ele. Eu o castigava, levava-o em pescarias, colocava-o na cama na hora certa e fazia todas as outras coisas relacionadas à paternidade. Mas quando ele foi para Michigan, não pude mais ser um pai para ele. A distância entre nós é grande demais. E isso que Paulo nos diz aqui. Deus, que é um Pai para nós, quer ser um Pai para nós. Mas é nossa responsabilidade certificar que não exista distância entre nós. Normalmente, quando você e eu lemos o aviso de Paulo em 6.14-16, sobre estar preso a jugos com in-

Precisamos ter cuidado quando alguém diz, entre lágrimas: “Sinto muito”. Se ele está chorando por­ que sente por si mesmo, não espere uma mudança. Se está chorando porque sente tristeza pelo que fez, então existe esperança. “[Eu] me gloriei de vós para com ele” (2 Co 7-1316). Outro dia, Tim trouxe sua nova namorada, Liz, para conhecer a Sue e a mim. Ele tinha dito a ela: “Não se preocupe. Eles não vão criticar você”. Teria sido difícil criticar essa jovem, mesmo que quiséssemos. E naturalmente, não o fizemos. Mais tarde, Tim nos disse que Liz estava preocupada, e se sentiu muito aliviada depois. Tim não estava preo­ cupado. Ele sabia que nós a receberíamos bem. Foi tão agradável ouvir que Tim se sentira con­ fiante em nos apresentar à sua nova namorada. E exatamente isso que Paulo estava dizendo aos coríntios. “Tito gostou realmente de vocês. Eu lhe disse que ele gostaria, e ele gostou”. Os outros se sentem bem quando podemos dizer-lhes, ho­ nestamente: “Eu me alegro de poder ter completa confiança em você”. Juntamente com repreensões infrequentes, o ver­ dadeiro amor oferece frequente certeza e louvor.

fiéis, pensamos nos desastres que podem acontecer se desobedecermos. Pensamos no sócio em quem não podemos confiar; no cônjuge cujos valores e compromissos são muito diferentes dos nossos. Mas Paulo quer que consideremos, antes de tudo, o impacto de nos prendermos a jugos desiguais no nosso caminhar com Deus. Você percebe que nós, cristãos, devemos estar to­ talmente consagrados ao Senhor, e essa separação deve ser tão nítida quanto a linha divisória entre a luz e as trevas, entre Cristo e Satanás, e entre o templo de Deus e um santuário onde se adoram ídolos. Em resumo, devemos “nos purificar de toda imundícia da carne e do espírito”. Por quê? Porque a contaminação do pecado nos separa de Deus. Ele é nosso Pai mesmo então, mas quando nos isolamos dEle por más escolhas, Ele não pode ser um Pai para nós da mesma maneira íntima que seria se estivéssemos em íntimo relacio­ namento com Ele. Que alegria é ter Deus sendo um Pai para nós. Andar de mãos dadas com Ele. Ser castigado, sim. Mas então, ser tomado nos seus braços e ser conso­ lado também. Não é de admirar que Paulo insista para que nos purifiquemos de tudo o que contami­

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na, por respeito a Deus. Não há experiência maior, porque esses 20 dólares eram, quase sempre, tudo aqui na terra, do que a de andar com o Senhor e ter o que tínhamos para comprar comida na última Deus como um Pai para nós. semana do mês! E espero ter aprendido, então, que contribuir é uma alegria de que ninguém deveria Aplicação pessoal ser privado. Cada passo que nos afasta do pecado é um passo “Não digo isso como quem manda” (2 Co 8.6-9). que nos aproxima do nosso Pai celestial. Paulo levantou o assunto da doação porque tinha Citação Im portante enviado Tito a Corinto, e uma de suas tarefas era “Meu Senhor e meu Deus, tira de mim tudo o que receber os fundos que tinham sido ali arrecadados me separa de ti! Meu Senhor e meu Deus, dá-me para os necessitados. Mas Paulo conservou um tudo o que me traga para mais perto de ti! Meu equilíbrio delicado ao lidar com o assunto, e foi Senhor e meu Deus, proteja-me de mim mesmo, muito cuidadoso para não “ordenar” a doação. e permita que eu possa pertencer inteiramente a O Antigo Testamento ordenava a doação. A lei exi­ ti!” — Nicholas de Flue gia que uma décima parte do produto da terra fosse entregue para sustento dos levitas e dos sacerdotes, 27 DE OUTUBRO LEITURA 300 que conduziam a comunidade na adoração. Uma - A ENTREGA DA NOVA ALIANÇA décima parte adicional era arrecadada a cada três 2 Coríntios 8— 9 anos, e colocada em armazéns locais, para distri­ buição aos pobres e necessitados. Posteriormente “Cada um contribua segundo propôs no seu coração, na história de Israel, quantias adicionais eram co­ não com tristeza ou por necessidade; porque Deus letadas como impostos por reis judeus, e depois ama ao que dá com alegria” (2 Co 9.7). por imperadores gentios que dominaram a Síria e Palestina. Cada uma dessas contribuições era obri­ Deus quer, em primeiro lugar, o ofertante; e, de­ gatória: era preciso pagar. pois, a oferta. Agora, Paulo introduzia outro princípio. Ninguém é obrigado a doar. E nenhuma porcentagem fixa da Visão Geral renda era definida como a quantia “certa”! Além Paulo lembrou os coríntios da generosidade dos ma- disso, embora uma parte das doações se destinasse cedônios (8.1-7) e insistiu que eles contribuíssem ao sustento de missionários (cf. Fp 4.14-19), mui­ (w. 8-13). Dar é repartir (w. 14,15): uma prova de tas arrecadações mencionadas no Novo Testamento amor (w. 16-24) e um serviço aos santos (9.1-5). tinham a natureza de socorro em desastres, e eram Deus dará aos que dão (w. 6-11), pois dar estimula enviadas a santos em partes do mundo atingidas o louvor e as graças ao Senhor (w. 12-15). pela seca ou devastadas pela guerra. Não se ordenava a ninguém que doasse para sa­ Entendendo o Texto tisfazer essas necessidades. Mas, como Paulo nos “Houve abundância do seu gozo, e como a sua pro­ lembra, contribuir é (1) uma graça que deve ser de­ funda pobreza superabundou em riquezas da sua ge­ senvolvida (2 Co 8.7), (2) uma evidência de amor nerosidade” (2 Co 8.1-5). Os pobres ainda têm a sincero (v. 9) e (3) uma resposta apropriada a Jesus, tendência de ser mais generosos do que os ricos. que “sendo rico, por amor de vós se fez pobre, para Talvez seja porque os necessitados podem se iden­ que, pela sua pobreza, enriquecêsseis” (v. 9). tificar melhor com os outros em necessidade. Ou talvez seja porque aqueles que têm pouco aprende­ “Se há prontidão de vontade, será aceita” (2 Co 8.10ram a confiar tanto no Senhor que não têm medo 12). E fácil sonhar acordado com o quanto seriamos de doar. generosos se subitamente herdássemos milhões de Quando eu estava no seminário, meu tio Al nos dólares. Mas dar é “segundo o que qualquer tem e mandava 20 dólares por mês. Eu ficava muito pre­ não segundo o que não tem”. ocupado, porque sabia dos problemas financeiros Deus não está interessado na quantia, mas na nossa que meu tio enfrentava. Cheguei (de modo tolo e prontidão. Dez dólares de uma viúva pobre podem muito descortês) a escrever e lhe disse que, se isso significar mais do que dez mil dólares de um ho­ era um peso para eles, nós nos arranjaríamos de mem rico — e esses dez dólares podem causar um outra maneira. Eles ficaram magoados, mas como impacto espiritual maior em outras pessoas. os macedônios, na época de Paulo, eles nos pedi­ ram “com muitos rogos, a graça de participarem da “Para igualdade” (2 Co 8.13-15). A doação que ve­ assistência aos santos” (v. 4, ARA). Fiquei aliviado, mos no Novo Testamento consiste em repartir, e

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náo dar. Na verdade, a palavra “repatir” (joinonia) é mais usada por Paulo nesses capítulos do que a palavra “dar” (doron). O que Paulo nos retrata é o corpo vivo de Cris­ to, estendido sobre toda a terra. O dinheiro, nessa analogia, é o sustento transportado pelo sangue. Ele precisa alcançar todas as células, para que cada uma delas possa executar a sua função. Paulo não queria uma parte do corpo inchada e gorda, enquanto outra estivesse faminta e desam­ parada. Mas a parte do corpo que tem, reparte com a que não tem, ciente de que algum dias essas po­ sições podem se inverter. Se esse repartir acontecer, todo o Corpo de Cristo na terra será forte, capaz de realizar a vontade de Deus para a humanidade. Nós, modernos, temos a tendência de deixar de ver a visão global de Paulo. Nós contribuímos para colocar almofadas nos nossos próprios bancos de igreja, ou para ampliar os edifícios da nossa igre­ ja. Essa doação pode ser válida. Mas não é aquele repartir que Paulo ou o Novo Testamento têm em mente em 2 Coríntios 8— 9, e passagens similares. “Zelamos o que é honesto, não só diante do Senhor, mas também diante dos homens” (2 Co 8.16-24). Que princípio para que os ministérios modernos dos meios de comunicação tenham em mente. E também a igreja local.

DEVOCIONAL______ Dar com Alegria (2 Co 9.6-14) Enfatize os benefícios! De acordo com os meus amigos que trabalham com marketing, essa é a chave para uma boa propaganda. Certificar-se de que as pessoas vejam os benefícios que resultarão se comprarem o seu produto. Imagino que isso seja difícil para uma agência que tenta vender cigarros. E para um pregador que ten­ ta vender a ideia de “dar”! Paulo, no entanto, era um hábil vendedor. Ele se limitou estritamente à verdade. Ele não forçou. No entanto, deixou cla­ ro que dar com alegria traz tremendos benefícios espirituais. Ninguém é obrigado a ofertar. Na verdade, Paulo não queria ninguém que doasse com relutância. Uma pessoa que sente que tem que doar, ou que doa contrariada, não devia depositar sequer uma única moeda na salva de coleta. Deus não precisa do dinheiro. E esse tipo de oferta não trará ao ofertante nenhuma bênção! Mas se desejarmos doar — ah, então colheremos tremendas bênçãos. Assim, Paulo lembrou os coríntios, e a nós, das

Todos nós somos vulneráveis ao dinheiro: se não ao dinheiro propriamente dito, ao poder que o dinheiro representa. Esse é um motivo por que cada ministério cristão deve ser protegido, esta­ belecendo controle financeiro, e uma política de total abertura no que diz respeito aos seus livros contábeis. Não se sinta insultado se alguém pedir para verifi­ car a sua receita e os seus gastos. Agradeça a ele. Ele está lhe prestando o serviço de tornar-se responsá­ vel perante os homens e também perante Deus. “Esteja pronta como bênção” (2 Co 9.1-5). Sei que algumas pessoas pensam que os orçamentos da igreja são, na melhor das hipóteses, pouco espiritu­ ais, e um impulso de prometer é quase uma malda­ de. Isso pode ser verdade, se forem manipulativos. Qualquer abordagem para arrecadar dinheiro para obras cristãs é errada se produzir culpa ou coagir. Mas Paulo nos lembra que não é errado que a doa­ ção seja organizada e sistemática. Se você prometer, e separar uma determinada quantia todas as sema­ nas, é mais provável que você possa dar o que pre­ tendia do que se esperar até o último momento, e descobrir que não tem o dinheiro todo. A falta de planejamento e organização pode trans­ formar o que pretendia ser espontâneo e alegre em uma doação com murmurações.

bênçãos que fazem da doação cristã essa alegria. Em primeiro lugar, doar o beneficia material e espi­ ritualmente. Perceba que é impossível que doemos mais do que Deus (w. 6-11). Deus pode derramar tanta graça em nossas vidas, que “em tudo enrique­ cendo” nós demos “para toda a beneficência”. Essa náo é uma promessa do tipo “dê 10 dólares e Deus lhe dará 100”. E um simples lembrete de que Deus é a fonte de pão, assim como da alegria inte­ rior que sentimos em Cristo. Nós damos somente dinheiro. Deus satisfaz as nossas necessidades ma­ teriais e nos dá também riquezas espirituais. Em segundo lugar, doar nos permite abençoar os outros. Aquilo que você dá supre “as necessidades dos santos”. E, além disso, a nossa doação aprofun­ da o relacionamento dos outros com o Senhor. A medida que eles percebem que Deus nos motivou a dar, “glorificam a Deus pela submissão que con­ fessamos quanto ao evangelho de Cristo”. Em terceiro lugar, doar estimula os outros a orar por nós. Quando os outros nos identificam como os meios que Deus usou para satisfazer as suas ne­ cessidades, reagem com gratidão e reconhecimen­

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to. E cada um de nós precisa de todas as orações que pudermos conseguir! Deus não se importa, na verdade, com o nosso di­ nheiro. Afinal, os seus recursos são infinitos. Mas Ele se importa com os benefícios espirituais que a generosidade traz a quem contribui e a quem rece­ be essa graça incomum. Aplicação Pessoal Dê com alegria, pois você será abençoado. Citação Im portante “O Novo Testamento não nos ensina simplesmente a dar nossas posses simplesmente por dá-las ou para parecermos virtuosos. Nem nos encoraja a adotar um ‘modo de vida simples’ porque a simplicidade tenha algum mérito em si. Na verdade, todos esses mandamentos são colocados no contexto de glo­ rificar a Deus e fazer a obra do seu Reino avançar, e de acumular tesouros no céu e aumentar a nossa recompensa celestial.” — Wayne Gruden 28 D E OUTUBRO LEITURA 301 O APOSTOLADO DE PAULO 2 Coríntios 10— 11 “Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor. Porque não é aprovado quem a si mesmo se louva, mas, sim, aquele a quem o Senhor louva” (2 Co 10.17,18). As diferenças entre os verdadeiros e falsos servos de Deus são surpreendentes. Visão Geral Paulo continuou explicando o seu ministério do Novo Concerto, falando de seus recursos (10.1—6), seu caráter essencial (w. 7-18), suas falsificações (11.1—15) e seus custos (w. 16-33). Entendendo o Texto “Quando presente entre vós, sou humilde” (2 Co 10.1). Estas palavras refletem acusações feitas con­ tra Paulo pelos coríntios que davam de ombros e tentavam rejeitar o apóstolo como um homem in­ significante. Certamente, eles tinham suas razões. Paulo não era um grande orador (cf. 1 Co 2.4). Ele não era uma personalidade dominante: “Humilde” se encaixa muito melhor do que “ousado”. Se nós pudermos crer em descrições antigas, Paulo era inexpressivo fisicamente. O relato mais antigo que temos des­ creve Paulo como um homem pequeno e mirrado, com um grande nariz adunco, com sobrancelhas que se encontravam no centro da sua testa. So­

mente seus olhos brilhantes refletiam a força da sua personalidade. E muito fácil, para nós, rejeitar os outros com base na aparência. Ou ficar excessivamente impressio­ nados. Os quatro últimos capítulos de 1 Coríntios servem como um importante corretivo, com Paulo nos ajudando a entender melhor as qualidades ne­ cessárias para o poder espiritual. Julgar pelas aparências não é correto nem seguro! “Não militamos segundo a carne” (2 Co 10.2-6). Paulo tinha sido rejeitado como sendo irrelevan­ te espiritualmente. Mas não o era. Os cristãos não “andam segundo a carne”, e existe uma grande di­ ferença entre o poder espiritual e o terreno. Paulo não confiava nas armas do mundo, mas em armas “poderosas em Deus, para destruição das for­ talezas”. Aqui, a imagem é de uma antiga cidade for­ tificada, preparada para resistir a um conquistador, se refugiando por trás de muros fortes. Paulo sabia que aqueles que resistiam à sua autoridade, resistiam também a Cristo, que o indicou como apóstolo. Paulo tinha absoluta confiança de que o “poder” de Deus iria “destruir” os argumentos daqueles que re­ sistiam à sua autoridade, pois o único objetivo de Deus era trazer todos os pensamentos dos coríntios à harmonia com a vontade de Cristo. Três coisas se encontram na raiz do poder espiritu­ al. Ser chamado por Cristo. Ter confiança no poder espiritual, e não no poder terreno. Desejar somente trazer os outros à obediência a Jesus. Muitos tentam apoiar os ministérios em um ban­ quinho de duas pernas, e não de três, e por isso, caem. Alguns são chamados e têm confiança, mas desejam ter poder pessoal acima dos outros. Alguns são chamados e procuram trazer os outros à obedi­ ência a Jesus, mas confiam nos estilos terrenos de “liderança”. Mas o ministério efetivo deve se apoiar sobre as três pernas, para ter poder espiritual. “Quando for cumprida a vossa obediência” (2 Co 10.6). Paulo estava certo de que o poder de Deus operaria nos coríntios, para mudar os corações e as mentes da maioria e restabelecer a sua obediência. Então, quem continuasse a resistir, seria castigado. Devemos estar entre os primeiros a responder, quando formos chamados a nos voltar mais a Cris­ to. E perigoso estar entre os últimos. “Para edificação e não para vossa destruição” (2 Co 10.7-11). Paulo usou esta mesma frase em 13.10, para descrever a sua autoridade. Esta é uma diferença crucial entre a autoridade espiritual e a mundana. A autoridade espiritual edifica os outros. A autoridade mundana edifica

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líderes. Observe um desfile na Rússia, e você verá gigantescas imagens de Marx e Lênin, com o atual Presidente. Em uma terra supostamente dedicada à igualdade, os retratos agitados testemunham o fato de que, neste mundo, os líderes exaltam a si mes­ mos, e não aos outros. Os cristãos se tornam tão acostumados à liderança mundana, que, a menos que os líderes cristãos se comportem da mesma maneira, nós supomos que são fracos. Nós queremos “líderes fortes”. Líderes que o mundo irá considerar “grandes” porque eles exaltam a si mesmos. Nós nos sentimos bem em sermos seguidores de um “Grande Homem” reco­ nhecido. Mas Paulo, e os crentes amadurecidos de hoje, sa­ bia que a autoridade espiritual é dada aos líderes para edificar os outros. O teste dos líderes espiri­ tuais não é o quanto eles parecem “graves e fortes” ao mundo, mas se eles são eficazes ao ajudar os outros a seguir a Jesus mais de perto. Não seja enganado pela fascinação que o mundo tem pelos “grandes homens”. Em vez disso, prefi­ ra o homem “tímido” que vê a autoridade como o privilégio de edificar os outros. “Esses que... se comparam consigo mesmos estão sem entendimento” (2 Co 10.12-18). Paulo estava re­ tratando o encontro anual denominacional. Um pastor em Chattanooga está em cinco estações de rádio. Seu amigo, em Nashville, está em seis estações. Um candidato para a “igreja de cresci­ mento mais rápido” teve um aumento de 89% no número de membros. Outro candidato declara ter 89,5%. Há um debate acalorado no que diz respeito aos batizados. Sete igrejas batizaram 38 pessoas desde o último encontro anual. Mas três delas contaram pessoas que já haviam sido batiza­ das em outras igrejas, e alguns dos irmãos pensam que isso não deva ser computado. Paulo olhava este tipo de coisa e simplesmente dizia, “Estão sem entendimento”. Os números importam. Mas comparar números — e nos com­ parar a nós mesmos — não é sábio. Paulo não disse exatamente o motivo, mas eu suspeito que existam várias razões. Isso nos deixa indevidamente orgulhosos. E nos enche de satis­ fação própria. E desvia o nosso foco, de Cristo para nós mesmos. E desvia o nosso foco, do povo a quem os líderes são chamados a servir, para os próprios líderes. Faz com que olhemos para os ou­ tros, procurando aprovação, e não para Jesus. Paulo evitou todas estas ciladas, e simplesmente disse que desejava alcançar tantos quantos pudesse com o evangelho de Cristo. E que a sua esperança era de que a fé dos coríntios continuasse a crescer.

Eu suspeito que, se toda a nossa motivação con­ sistir em transmitir Cristo e ver os cristãos cresce­ rem, os números cuidarão de si mesmos. E o nos­ so elogio virá do Senhor e não de nós mesmos. “Simplicidade que há em Cristo” (2 Co 11.1-6). A grande frustração de Paulo era ver os coríntios exibindo devoção a líderes humanos — e até mes­ mo a ele! — e não a Cristo. Como é frustrante quando aparecem os “super apóstolos” modernos e nossos amigos parecem mais comprometidos com eles do que com Jesus. “De graça vos anunciei o evangelho de Deus” (2 Co 11.7-12). Recentemente, nós vimos uma emisso­ ra de TV “expondo” um evangelista em St. Petersburg. Eles o censuraram pelas coisas usuais — ênfase no dinheiro, modo de vida luxuoso, uma casa suntuosa. Nós estamos tão acostumados com estas coisas que é quase assombroso perceber que Paulo estava sendo criticado em Corinto por não aceitar dinheiro! Existe uma coisa com que qualquer pessoa no mi­ nistério pode contar. O que quer que você faça, sempre haverá alguém para criticá-lo. Paulo não era um destes tipos insensíveis, que não se importam com as críticas. Isso magoou Paulo. Assim como magoa a maioria de nós. Quando fa­ zemos alguma coisa por amor aos outros, ter este ato distorcido e usado contra nós é verdadeira­ mente doloroso. Neste caso, Paulo reagiu com veemência. Ele ex­ plicou por que agia desta maneira, expressou o amor que motivava os seus atos, e disse que “con­ tinuaria a fazer aquilo que vinha fazendo”. Exis­ tem momentos em que pode ser melhor sofrer em silêncio. Mas há momentos em que precisamos confrontar as críticas, e esclarecer os nossos mo­ tivos. “O próprio Satanás se transfigura em anjo de luz” (2 Co 11.13-15). Não espere que a fraude espiri­ tual ou o pseudoapóstolo pareça ímpio. Na ver­ dade, estas pessoas “se transfiguram em ministros da justiça”. O que Paulo queria dizer era que nós devemos ser rigorosos ao testar aqueles que se anunciam como um grande presente do céu à igreja! Se nós nos mantivermos no contexto destes dois capítu­ los, veremos que há diversos testes que poderemos aplicar. Os nossos líderes estão interessados em nos edificar — ou em edificar a si mesmos? Eles confiam em práticas de liderança terrenas, ou no arsenal espiritual de Paulo? Eles são ansiosos por riqueza pessoal, ou são indiferentes a ela?

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Não nos deixemos enganar pelas máscaras ou pelas palavras piedosas que as pessoas usam. Não é neces­ sário muita sabedoria para distinguir aqueles que de­ sejam nos explorar daqueles que desejam servir.

Se nós passarmos a outros trechos sobre falsos mestres, encontraremos mais testes específicos. O seu ensinamento é fiel à Palavra? E eles vivem de acordo com o que ensinam?

DEVOCIONAL______ Contrate este Homem!

(2 Co 11.16-32) O anúncio dizia, “Currículos preparados profissio­ nalmente”. E dizia o quanto é importante causar uma boa primeira impressão. E como o serviço de currículo profissional enfatizaria os pontos positi­ vos, e adequaria a apresentação ã função específica que você estivesse procurando. O que aconteceria, se o apóstolo Paulo entrasse, hesitante, nesta em­ presa, e timidamente entregasse a lista, escrita à mão, de realizações que são encontradas em 2 Co­ ríntios 11.16-33? Bem, vamos ouvir a pessoa que escreve currículos. Judeu? Isso é um ponto contra você, Paulo, se você re­ almente deseja trabalhar em uma sociedade gentílica. Ummm. Vamos ver. Esteve na prisão. Açoitado. Espancado cinco vezes pelos judeus, e três vezes com varas, pelos gentios. Apedrejado por uma multidão. Parece, Paulo, que você tem dificuldades em se relacionar com as pessoas. E isso aqui. Muitas vezes em perigo. Por salteado­ res? No mar? Na cidade? No campo? Eu acho que você não tem muito juízo, não é mesmo? Sempre se envolvendo nestas situações difíceis. Trabalhou duro, ficou sem dormir. Muitas vezes ficou sem comer? Eu receio que a sua única experi­ ência seja no mercado de trabalho de faixa salarial baixa, de gente sem especialização. Você não pode esperar conseguir uma posição importante, se esta é a sua única experiência. Esta menção a pressão’ e ‘fraqueza’ não deve ser feita. Ela faz você parecer emocionalmente instá­ vel, você entende. Oh! Não. Fugiu da prisão em Damasco? Paulo, não há nada que possamos fazer por você. O seu currículo revela uma quantidade excessiva de fraquezas para que você possa prosperar em al­ guma coisa. Oh? O trabalho que você procura exige fraquezas? Mas qual pode ser este trabalho? Oh, o ministério. Entendo. O que você conseguir realizar será clara­ mente pelo poder de Cristo, e não pelo seu? E você não confia, realmente, nas suas próprias qualidades ou talentos? Deixe-me dar um telefonema. ‘Deus, eu tenho um... O que? Oh, está bem’. “Paulo. Você está contratado”.

Aplicação Pessoal Deus ainda procura pessoas fracas nas quais possa mostrar a sua força. Você quer este trabalho? Citação Im portante “Quando Deus tirou Israel do Egito, Ele não en­ viou um exército. Nós teríamos enviado um exér­ cito ou um orador. Mas Deus enviou um homem que tinha estado no deserto durante 40 anos, e se considerava incapacitado para falar. E esta a fra­ queza que Deus quer! Nada é pequeno, quando Deus o maneja.” — D. L. Moody 29 D E OUTUBRO LEITURA 302 CRISTO EM NÓS 2 Coríntios 12— 13 “O qual não é fraco para convosco; antes, époderoso entre vós. Porque, ainda que tenha sido crucificado por fraqueza, vive, contudo, pelo poder de Deus. Por­ que nós também somosfracos nele, mas viveremos com ele pelo poder de Deus em vós” (2 Co 13.3,4). Cristo em nós permanece a fonte da nossa força. Visão Geral A enfermidade crônica de Paulo revelou o poder de Cristo em ação, através da fraqueza (12.1-10). A “defesa” de Paulo tinha sido motivada por um desejo de ajudar os coríntios para que entendessem e se arrependessem (w. 11-21). Cristo certamen­ te irá disciplinar aqueles que não examinarem a si mesmos (13.1-10). Paulo encerrou abruptamente, com saudações muito breves (w. 11-14). Entendendo o Texto “Visões e revelações” (2 Co 12.1-6). Qualquer pes­ soa, que não fosse Paulo, rapidamente teria trans­ mitido relatos da assombrosa visão do paraíso à qual ele faz referência aqui. Paulo, no entanto, preferiu enfatizar as suas fraquezas. Por quê? Em parte, talvez porque a revelação que Paulo mencio­ nou possa ter sido pessoal: um encorajamento de Deus, fortalecendo Paulo para as dificuldades que estavam à sua frente. Mas Paulo tinha outra razão. Ele sabia que a fé de ninguém pode se basear em experiências de segun­ da mão. A conversão e o crescimento dos coríntios

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deveria ser uma resposta à Palavra que Paulo tinha sido chamado para ensinar, e não ao relato de Pau­ lo de uma experiência sobrenatural pessoal. Paulo queria que os coríntios baseassem a sua fé no que ele dizia (os seus ensinamentos da verdade) e fazia (os seus exemplos da verdade). Desta maneira a fé dos coríntios seria enraizada na experiência de Deus, e não na de Paulo. Você e eu podemos dar testemunho do que Deus está fazendo em nossas vidas, e assim abençoar ou­ tros. Mas ninguém pode ter a nossa experiência “de segunda mão”. Na melhor das hipóteses, estes testemunhos encorajam os outros a se manifestar, em resposta pessoal à Palavra de Deus, e senti-lo por si mesmos. “Foi-me dado um espinho na carne” (2 Co 12,7-10). Estudiosos ainda debatem a natureza do “espinho na carne” de Paulo. Menciona-se muito uma doen­ ça desfiguradora dos olhos, que trazia dificuldades para Paulo ler e escrever (cf. G1 6.11). Tudo o que realmente sabemos é que isso o perturbava enor­ memente, Tão profundamente, que ele orou, inu­ tilmente, pela sua remoção, e que finalmente veio a considerar o seu “espinho” como uma fraqueza pela qual o poder de Cristo poderia ser exibido mais claramente. (Veja o DEVOCIONAL.) A lição que Paulo aprendeu pode encorajar a todos nós. Esta sensação de fraqueza que sentimos não precisa nos impedir de servir com confiança. Na verdade, é uma fonte de confiança. Quanto mais claramente eu perceber que o poder de Deus se ex­ pressa melhor nos seres humanos fracos, mais liber­ dade eu terei de servir. E mais Cristo irá me usar. “De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fra­ quezas” (2 Co 12.9). Em um importante livro so­ bre o ministério (When the Vision Fias Vanished) [Depois que a visão desapareceu], Bob Girard revê a fraqueza que Paulo mencionou em 2 Coríntios 11— 12. Ele observa que Paulo admite: ele não era um orador habilidoso (11.6) ele era considerado um líder "fraco” (11.21) ele esteve na prisão (11.23) ele sofria com conflitos internos (11.28,29) as suas orações não foram atendidas (12.8,9) ele foi insultado (12.10) ele esteve angustiado (12.10) ele sofreu perseguição (12.10) ele temeu desapontamentos (12.20) ele temeu a rejeição (12.20) ele teve medo de enfrentar situações difíceis ( 12.20 ) ele temeu a humilhação pública (12.21) ele teve medo de ter um colapso e chorar publica­ mente (12.21)

ele teve medo de que as pessoas não ouvissem, mas continuassem sendo rebeldes (12.21) Todas estas coisas que podem nos levar a rotular Paulo como um “fracasso”, na verdade foram con­ vertidas por Deus em pontos fortes. Paulo enfren­ tou suas fraquezas, e as aceitou, e com completa confiança de que Deus agiria através de um ho­ mem fraco — e, portanto, humilde — se dispôs a servir com todas as suas forças. Quando nós catalogamos os sucessos de Paulo, as igrejas que ele fundou, as cartas que escreveu, o es­ clarecimento que ele trouxe à natureza da fé cristã, nós bem podemos nos assombrar. Tudo isso, fei­ to por um homem reconhecidamente fraco? Sim. Porque, na sua fraqueza, este homem se entregou completamente a Jesus, de modo que o poder de Cristo pudesse estar nele. Que perspectiva emocionante, para você e para mim! Não devemos esconder nossas fraquezas, nem negá-las. Devemos aprender a usá-las, a voltar nossos corações a Cristo, para que possamos co­ nhecer o seu poder. “Os sinais do... apostolado”(2 Co 12.11-18). Os coríntíos não desejavam interpretar a fraqueza como um sinal de apostolado. Nem mesmo o fato de que Paulo não exigia dinheiro! Assim, Paulo os lem­ brou de que Deus “com toda a persistência” (ARA) realizou milagres entre eles, enquanto estava ali. Paulo agora se tornou um pouco sarcástico. Que homem astuto! Ele os levou a segui-lo, por não exi­ gir dinheiro! E a única explicação que ele tinha era o amor! Como é estranho que alguns cristãos sejam total­ mente leais àqueles que os exploram por dinheiro. Muitos ministros já disseram, sinceramente, “Os membros da minha igreja querem que eu dirija uma Mercedes. Eles esperam que eu tenha uma casa que custe meio milhão de dólares”. E muitas congregações desprezaram aqueles que as serviam, por amor. As coisas que você e eu vemos, como sinais do apostolado, são frequentemente a medida, não do homem que avaliamos, mas da nossa própria ma­ turidade espiritual e discernimento. “Tudo isso... para vossa edificação” (2 Co 12.19-21). Quando eu li 2 Coríntios pela primeira vez, fiquei constrangido por Paulo. Eu entendi mal o que ele estava fazendo, falando tão abertamente. Somente mais tarde eu entendi como um estudo cuidadoso de 2 Coríntios não somente é um curso de lideran­ ça cristã, como também um manual de orientação para as congregações. Se os coríntios somente en­

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tendessem as implicações do que Paulo falava neste livro profundamente pessoal, a sua visão do minis­ tério seria transformada. Então eles responderiam, não ao “super apóstolo” explorador, mas ao “fraco” Paulo. E seguir a ele, e não a outros líderes que causavam divisões, traria ao fim “pendências, invejas, iras, porfias, detrações, mexericos, orgulhos, tumultos” que caracterizavam a igreja. Você aprendeu as lições que Paulo tão ansiosamen­ te procurava ensinar? A sua igreja entendeu? Olhe à sua volta. A existência, em qualquer igreja, destes sinais de Corinto, sugere que os líderes e o povo deixaram de compreender o que Paulo quis dizer. “O qual não é fraco para convosco” (2 Co 13.1-10). Paulo agora advertia os coríntios. Se eles não rea­ gissem, ele usaria a autoridade que lhe tinha sido dada por Deus, para castigá-los. A questão da autoridade perturbou a igreja em to­ dos os séculos. Com muita frequência, autoridade significou poder, e o poder, a capacidade de punir. Assim, alguns líderes assumiam um tipo de auto­ ridade mundana, e governavam o povo de Deus. Paulo rejeitava a autoridade mundana, em todas as suas formas. Ele advertiu os coríntios do perigo de resistir à autoridade que ele tinha recebido de Cristo. O que é esta autoridade que Paulo tinha, e como ele a exercia? Paulo disse, simplesmente, “O qual [Cristo] não é fraco para convosco; antes, é pode­ roso entre vós” (v. 3). A autoridade de Paulo vi­ nha de Cristo, e se baseava inteiramente na obra de Cristo entre o seu povo. Ele, Paulo, não tinha

DEVOCIONAL______ Presentes Inesperados

(2 Co 12.1-10) “Por que isso aconteceu comigo?” Ela era uma jovem mulher, com dois filhos. Instrutora de aeróbica, e professora. Ela tinha machucado as cos­ tas, e foi-lhe dito que uma cirurgia solucionaria o problema. Mas alguma coisa deu muito errado. Alguns nervos foram cortados, e de repente ela se viu capaz de caminhar somente com a ajuda de um andador e, o que era ainda mais terrível, sem con­ trole da micção ou da evacuação. Alguns cristãos dão respostas peculiares à pergunta “Por quê?” “Você não tem fé suficiente”, dirão al­ guns. E provavelmente acrescentarão, “Cobre as pro­ messas de Deus, e agora mesmo Ele irá curar você”. Outros dirão, “Você pecou ao consultar o médico. Você deveria ter confiado somente em Deus”.

que fazer nada para disciplinar os coríntios. Jesus, vivendo na sua igreja, “é poderoso entre vós”. Quando Suzie começou a viver com um homem casado, nós, presbíteros, fomos visitá-la. Nós a encorajamos a ver que o que ela estava fazendo era pecado, e a acabar com este relacionamento. Quando ela se recusou a fazer isso, nós seguimos o padrão bíblico de punição, proposto por Paulo em 1 Coríntios. Mas nós também repreendemos Suzie. Deus não permite que os seus destruam as suas vi­ das praticando habitualmente o pecado. Exercendo a nossa autoridade, nós a advertimos com firmeza. O que nós, presbíteros, iríamos fazer? Colocá-la na cadeia? Multá-la? Incendiar a sua casa? E claro que não. Nós não tínhamos poder terreno. Mas nós sabíamos que Cristo vive e é poderoso na sua igre­ ja. A nossa advertência simplesmente queria dizer que, a menos que ela se arrependesse e se voltasse ao Senhor, o próprio Cristo iria agir. E Ele agiu. A verdadeira liderança espiritual confia em Deus para obter resultados espirituais. E confia que Ele irá exercer autoridade sobre a igreja que é o corpo de Cristo. “Sede perfeitos” (2 Co 13.11-14). Não é suficiente ser uma “igreja normal”. Não é suficiente esperar pacientemente que Cristo retorne. Deus nos cha­ ma, a todos, para que procuremos a perfeição, para que trabalhemos com o objetivo de cumprir o propósito de Cristo em nossa vida individual e corporativa. Para isso, nós também devemos ouvir o apelo de Paulo aos coríntios, ter um único pensa­ mento, e viver, uns com os outros, em paz. Eu suponho que Paulo ofereceu a resposta mais es­ tranha de todas. Ela está no verso 7. “O seu machucado nas costas e a operação foram presentes de Deus”. E isso o que aparece, se você examinar este ver­ so em grego. Ele diz, Edothe moi skolops te sarki. “FOI-ME DADO um espinho na carne”. E estas palavras “foi-me dado” são usadas para indicar benevolências especiais feitas pelo Senhor a seus san­ tos (cf. Cl 3.21; Ef 3.8; 1 Tm 4.14). Deus deu a Paulo uma terrível fraqueza, uma en­ fermidade crônica, e embora Paulo orasse desespe­ radamente, pedindo alívio, Deus fez com que Pau­ lo vivesse com isso pelo resto da sua vida. Como um presente. Você e eu não fazemos nenhum favor aos outros, quando lhes dizemos que Deus garante a saúde e a

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riqueza de seus filhos nesta vida. Isso simplesmente não é verdade. Nós não lhes fazemos nenhum favor quando lhes dizemos que basta que tenham fé sufi­ ciente e serão curados. Isso também não é verdade. Paulo orou com total confiança, e descobriu que a resposta era “não”. Ele aprendeu, com o tempo, que a fraqueza que o devastava era, na verdade, um presente de Deus. Um presente que lhe permitia sentir a graça, a pre­ sença e o poder de Deus, de maneira que ele jamais teria sentido, não fosse por isso. Talvez seja isso o que precisamos dizer aos outros, ou lembrar a nós mesmos, quando as tragédias e os desastres sobrevierem. Deus dá presentes estranhos aos seus. Mas são presentes. Quando procurarmos a sua força, iremos descobrir uma profundidade no nosso relacionamento com o Senhor que, de ou­

tra forma, jamais teríamos conhecido. E uma força que faz da fraqueza um triunfo e uma alegria. Aplicação Pessoal Os melhores presentes de Deus muitas vezes che­ gam embrulhados com tragédias e sofrimentos. Citação Importante “Eu não acredito que o mero sofrimento ensine algo. Se o sofrimento, sozinho, ensinasse, todo o mundo seria sábio. Ao sofrimento deve-se acres­ centar lamentação, compreensão, paciência, amor, abertura e a disposição de continuar vulnerável.” — Anne Morrow Lindbergh

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em JOSUÉ

GÁLATAS INTRODUÇÃO A carta de Paulo foi dirigida às igrejas na província romana da Galácia, fundadas durante a sua primeira viagem missionária. Essas igrejas logo foram visitadas por homens de Jerusalém que negaram a autoridade apostólica de Paulo. Os “judaizantes” insistiam que para ser salvo um cristão devia sujeitar-se à lei judaica e adotar um estilo de vida judeu. A graça, eles declaravam, levava a uma vida licenciosa. Nesta pequena carta Paulo respondeu a cada acusação sucessivamente, provando que os crentes são salvos e capacitados a viver vidas santas pela fé, e não pela lei. Essa epístola continua a trazer alegria aos cristãos que experimentam o relacionamento libertador com o Espírito Santo que Paulo explicou aqui. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. O Apostolado de Paulo .........................................................................................................................G1 1— 2 II. Salvação e F é ..........................................................................................................................................G1 3— 4 III. A Piedade e o Espírito ....................................................................................................................... G1 5— 6 GUIA DE LEITURA (3 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia e o Devocional em cada capí­ tulo deste Comentário. Leitura

Capítulos

Passagem Central

303

1— 2

2 .11-21

GÁLATAS 30 DE OUTUBRO LEITURA 303

O EVANGELHO DE PAULO Gdlatas 1— 2

“O evangelho que por mim foi anunciado não é se­ gundo os homens, porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo” (Gl 1.11,12).

bre a epístola aos Gálatas: “Estou casado com ela”. Desde então, milhões de pessoas têm encontrado neste livro alegria, liberdade e a oportunidade de viver uma vida cristã vitoriosa.

Deus confirma o evangelho, não a igreja ou qual­ Visáo Geral quer grupo de homens. Paulo saudou os gálatas (1.1-5) e imediatamente lançou a defesa do seu evangelho (w. 6-10). Ele de­ Contexto clarou que recebeu este evangelho diretamente de Judaizantes. Os primeiros cristãos eram judeus que Deus (1.11-23), e que seu chamado foi confirmado reconheceram a Cristo como Salvador. Estes cris­ pelos apóstolos originais (2.1-10), e defendeu o seu tãos judeus continuaram a expressar a sua fé dentro evangelho contra as tendências judaizantes, repre­ do judaísmo, sendo, todos eles “zelosos da lei” (At endendo o próprio Pedro (w. 11-21). 21.20). Mas quando a igreja se expandiu além da Judeia e da Galileia, e os gentios foram salvos, as Entendendo o Texto tensões se desenvolveram. Cristãos judeus e gentios “Não da parte dos homens, nem por homem algum” possuíam heranças culturais imensamente diferen­ (Gl 1.1,2). A natureza polêmica da carta de Paulo tes. E muitos judeus compreensivelmente sentiram surge desde a sua primeira linha. Paulo não veio que tendo em vista que Deus ordenara a Lei de representando os homens, nem dependia de qual­ Moisés, eles deveriam continuar a expressar a sua quer comissão humana em prol da sua autoridade. fé dentro das tradições do judaísmo. Alguns foram Paulo era um apóstolo — um emissário real — que além, e defenderam que os gentios também deviam falava com autoridade pela pessoa que o enviou, demonstrar a sua fé adotando maneiras judaicas. Jesus Cristo. Para serem salvos, deviam guardar as leis dadas a Paulo não estava agindo como uma pessoa inde­ Israel, serem circuncidados e, em essência, se tor­ pendente aqui. Ele não era como uma daquelas narem judeus. pessoas que não conseguia se relacionar bem com Quando Paulo ouviu que os homens que se diziam líderes denominacionais e então deu inicio ao seu mensageiros dos apóstolos em Jerusalém estavam próprio movimento dissidente. Paulo estava de­ ensinando legalismo às igrejas gálatas, ficou enfu­ clarando os fatos. A sua conversão se devia a um recido. Ele imediatamente escreveu esta poderosa, confronto direto com o Cristo ressurreto, e a sua embora breve, carta circular. comissão para ir aos gentios também procedeu de Os gálatas desempenharam um papel central na re­ Jesus (cf. At 9). Paulo está em harmonia com os cuperação da doutrina da salvação unicamente pela apóstolos de Jerusalém, mas de forma alguma de­ fé da Reforma Protestante. Martinho Lutero joco­ pendia deles ou da igreja de Jerusalém em relação samente a chamou de sua esposa, pois ele disse so­ à sua autoridade.

Gálatas 1—2

M uitos jovens se enfadam da sujeição a líderes que, em sua opinião, os retêm, e que carecem de visão; em alguns casos, eles simplesmente não gostam desses líderes. Não sejamos rápidos demais para tomar a solução independente, ou para adotar a nossa própria posição — a menos que tenhamos um chamado tão claro e tão certo quanto teve o apóstolo Paulo! N a maioria dos casos é muito melhor aceitar certas coisas como uma disciplina de Deus, e ser paciente até que Ele abra as portas.

Mas não foi barata de modo algum. Jesus pagou um preço altíssimo para que pudéssemos entrar no céu gratuitamente. “O recebi... pela revelação de Jesus Cristo” (Gl 1.1123). Os judaizantes afirmavam representar os após­ tolos originais de Cristo. Paulo respondeu de duas maneiras. O próprio Jesus revelou o evangelho a Paulo, de forma que ele não dependia dos doze, nem a sua autoridade vinha deles (w. 11-17). En­ tão, quando visitou Jerusalém depois de ter solucio­ nado as implicações do evangelho através de anos de oração e estudo, os apóstolos não acrescentaram nada à sua mensagem, mas em vez disso louvaram a Deus pela sua conversão (w. 18-24). Não tenha a impressão de que Paulo era um ho­ mem solitário. O livro de Atos nos mostra que mesmo durante estes primeiros estágios de sua vida cristã ele estava envolvido ativamente na pregação do evangelho e na comunhão com irmãos e irmãs cristãos (9.19-31). Não podemos obter autoridade espiritual dos outros. Isso vem como um dom de Deus. Mas realmente precisamos ter comunhão com os outros crentes se quisermos amadurecer espiritualmente.

“O qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau” (Gl 1.3-5). Paulo afirmara o seu próprio chamado direto para ser um apóstolo. Agora ele afirmava a graça. Jesus se deu a si mesmo não só para que fôssemos perdoados, mas para que fôssemos livres do presente século mau. O poder que nos livrará do pecado, e nos capacitará a viver vidas justas, é encontrado em Jesus. Não, por dedução, na lei! A salvação é recebida como um dom da graça, e traz a paz. Qualquer “evangelho” que falhe em con­ fiar no sacrifício de Cristo por nossos pecados, que falhe em nos livrar do mal que há dentro de nós e ao nosso redor, e que falhe em estar fundamentado na graça, priorizando então o esforço próprio, não “E lhes expus o evangelho que prego entre os gentios” é o evangelho de Jesus. (Gl 2.1-7). Paulo continuou com a história do seu relacionamento com os apóstolos. Ele explicou “Outro evangelho” (Gl 1.6-10). Em grego allos sig­ aos apóstolos o evangelho que pregava, e fez isso nifica outro do mesmo tipo. Heteros significa outro exatamente porque “falsos irmãos”, como aqueles de um tipo diferente. O evangelho que estes ju- que perturbaram os crentes gálatas, “se tinham en­ daizantes tinham apresentado aos gálatas era um tremetido e secretamente entraram” a fim de “nos evangelho heteros: um evangelho essencialmente porem em servidão” (da lei). Os apóstolos não só diferente do evangelho de Deus. Paulo disse que não acrescentaram nada à mensagem de Paulo, mas este evangelho: “Não é outro”. também reconheceram o seu chamado para minis­ Por quê? Porque o evangelho é “Boa-Nova”. Qual­ trar aos gentios. Eles nem mesmo pediram que quer mensagem que nos diga “se esforce mais”, Tito, um cristão grego que acompanhava Paulo, mesmo se recebemos um livro de regras, não é fosse circuncidado! absolutamente uma boa- nova. Não importa o O que Paulo queria demonstrar era que os judai­ quanto você e eu possamos tentar, jamais seremos zantes, que reivindicavam representar a igreja de bons o bastante para escaparmos das cadeias do Jerusalém, não tinham, na verdade, a aprovação “presente século mau”. Somente a graça de Deus, dos apóstolos originais. E Paulo — embora não entrando na história, na pessoa de Jesus Cristo, e dependesse disso — tinha! fazendo por nós o que jamais poderíamos fazer Você já notou que é geralmente o crente menos sozinhos, é verdadeiramente o evangelho, “Boas- maduro ou menos instruído que está mais ansio­ Novas”. so por estabelecer regras e impô-las aos outros? Foi isso que aconteceu no século I. Os apóstolos, “Persuado eu agora a homens ou a Deus?” (Gl 1.10). que verdadeiramente compreendiam o evangelho, Um dos argumentos que os judaizantes tinham afirmaram a liberdade dos gentios em relação à lei contra Paulo é que ele enfatizava a salvação apenas judaica. Foram outros, ainda inconscientes das pela graça para torná-la fácil, e assim “persuadir” implicações do evangelho, que tentaram tolher a ou ganhar a aprovação dos homens. A salvação so­ liberdade dos gentios com leis e costumes judaicos. mente pela fé ainda parece ser, para alguns, uma Tenha cuidado quando crentes novos convertidos filosofia religiosa “fácil” ou “barata”. lhe disserem como você deveria ou deve viver a sua

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G álatas 3 — 4

vida cristã, especialmente quando afirmarem que a Não devemos nos sentir desestimulados quando autoridade das suas leis é alguém que você respeita. outros cristãos tiverem uma ênfase diferente da Não aceite a palavra deles por isso. Vá à fonte. nossa, ou procederem de uma tradição diferente. Devemos reconhecer a graça que lhes é concedi­ “Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as da, e com satisfação lhes estender as “destras em colunas... deram-nos as destras, em comunhão comi­ comunhão”. go e com Barnabé” (Gl 2.8-10). Você se lembra do incidente relatado em Marcos 9.38-41? Os discí­ “Já estou crucificado com Cristo” (Gl 2.20). A nossa pulos de Jesus, que eram agora apóstolos, viram esperança como cristãos é a nossa união com Jesus alguém expulsando demônios em nome de Jesus, Cristo. Compartilhamos da sua morte, e assim os la­ e objetaram: “Nós lho proibimos, porque não nos ços do pecado estão quebrados. Compartilhamos da sua ressurreição, e assim recebemos poder para uma segue”. Que diferença agora! Paulo e Barnabé relatam o seu nova vida. E Cristo vivendo em mim, e não qualquer ministério entre os gentios, e agora os apóstolos re­ tentativa minha de guardar uma lei dada aos homens conheceram que “a graça... se me havia dado”. Eles de uma raça diferente em uma época diferente, que até concordavam que Paulo deveria se concentrar é o segredo da vida e da vitalidade espiritual. Jesus, e no ministério aos gentios, enquanto Pedro, que não a lei, deve fazer com que o coração continue pul­ também viajou nessa ocasião, se concentrava no sando, sim, pois este é o único centro da nossa vida, a ministério aos judeus. chave do nosso relacionamento pessoal com Deus.

DEVOCIONAL______ Colocando de Lado a Graça de Deus

(Gl 2.11-21) Para Paulo, este foi um argumento decisivo. Ele fora acusado de pregar um evangelho distorcido: um evangelho não sancionado por Jerusalém. Então falou de um tempo quando o próprio Pedro agiu como hipócrita. Quando Pedro estava sozinho com os crentes gentios em Antioquia, ele se sentou com eles e comeu comida gentia. Mas quando al­ guns cristãos judeus chegaram de Jerusalém, Pedro sentiu-se temeroso quanto ao que eles poderiam pensar, e não quis mais comer com os gentios. Paulo viu isso não meramente como hipocrisia, mas também como uma atitude de colocar de lado a graça de Deus, em favor de uma lei que jamais ti­ nha produzido justiça e que nunca poderia produ­ zi-la. Assim Paulo confrontou a Pedro abertamen­ te. Ele argumentou que o princípio de justificação pela fé tinha anulado a observância da lei. Pedro, ao realizar os desejos dos judaizantes, “reconstruiu” um caminho que o evangelho já havia destruído. O que é importante para nós aqui não é a con­ frontação. Poderíamos nos admirar de Paulo por fazer frente a Pedro, e de Pedro por ter se curvado à verdade que Paulo declarou. Mas o que apren­ demos é que podemos, pelas nossas ações, “pôr de lado a graça de Deus”. Podemos agir de maneira a obscurecer, ou mesmo negar, a graça. Uma das maneiras mais enganosas de negar a graça é confrontar os não-cristãos com os seus pecados. “Você não sabe que é errado?” perguntamos. Ou sugerimos: “O que você está fazendo é prejudicial bem como pecado”. O nosso motivo pode ser bom.

Podemos esperar que a exposição do pecado leve ao convencimento em relação à transgressão, e deste ao arrependimento e à salvação. Mas atraindo a atenção desaprovadora para o pecado de outro, desviamos a atenção da pessoa de Jesus e da graça de Deus. A nossa mensagem não é somente que todos os homens são pecadores. Bem no fundo os outros conhecem os seus defeitos. A nossa mensagem principal é que Deus ama os pecadores. Devemos mostrar o amor de Deus, ou certamente iremos obscurecer a mensagem da sua graça. Aplicação Pessoal Deixe o amor de Deus brilhar através de tudo o que você fizer e disser. Citação Importante “Os homens podem não ler o evangelho em pele de foca, ou no idioma marroquino, ou em capas de pano; mas não podem se livrar do evangelho em couro de sapatos.” — Donald Grey Barnhouse 31 DE OUTUBRO LEITURA 304 FÉ E LEI Gálatas 3— 4 “A lei é contra as promessas de Deus? De nenhuma sorte; porque, se dada fosse uma lei que pudesse vivi­ ficar, a justiça, na verdade, teria sido pela lei. Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos cren­ tes” (Gl 3.21,22).

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Gálatas 3—4

A fé e a lei vivem em extremidades opostas da ci­ cia à lei. Deus opera entre nós hoje por meio da fé, e não do legalismo. dade. O que Paulo estava realmente fazendo era expressar choque e espanto. No entanto, por toda a história Visáo Geral A própria experiência dos gálatas (3.1-5) e o exem­ da igreja sempre houve aqueles que tentaram re­ plo de Abraão demonstram que a salvação é pela formular o cristianismo em uma religião de obras fé e não pela lei (w. 6-14). A lei nunca revogou a e de lei, em vez de fé e graça. Não fique surpreso promessa como a chave para o tratamento de Deus quando você se deparar com isso hoje. Mas não se em relação ao homem (w. 15-25), e em Cristo os deixe enganar, não importa quão piedosos os seus crentes se tornam filhos de Deus (v. 26— 4.7). O proponentes possam parecer. retorno desconcertante dos gálatas à “religião” (w. 8-20) foi a desistência da liberdade, e a volta à es­ Crendo, ou observando? cravidão espiritual (w. 21-31). 0 Evangelho Legalismo Entendendo o Texto Fé (Abraão) Lei (Maldição) “O insensatos gálatas!” (GL 3.1-5). A palavra que 3.10-14 3.6-9 Paulo usou aqui não significa mentalmente defi­ cientes. Significa inaptos! Essas pessoas tinham in­ Fé (Aliança) Lei (Transgressão) teligência normal e de grande evidência, mas por 3.15-18 3.19-22 alguma razão inexplicável, não conseguiam juntar Fé (Filiação) Lei (Escravidão) dois e dois! 3.23-29 4.1-7 Não pense que a Bíblia é tão “difícil de entender” quanto alguns afirmam. A Bíblia não é um proble­ ma enigmático que as pessoas têm que lutar para Paulo comparou o seu evangelho da graça, através resolver. Ela é uma revelação clara e evidente da da fé, com a exigência dos judaizantes para um vontade, dos propósitos e dos dons de Deus. So­ retorno à lei. Em um argumento cuidadosamente mente se falharmos em nos dedicar ao estudo, e a analisado, ele mostrou por que o evangelho e a lei pensar sobre o que lemos, é que nos acharemos na mosaica são opostos entre si, e por que os gálatas deveriam optar pelo evangelho, que apresenta uma posição daqueles “insensatos gálatas”. salvação que é recebida de forma gratuita, e experi­ “Perante os olhos” (Gl 3.1-5). Paulo citou três fatos mentada exclusivamente por meio da fé. que deveriam ter feito com que os gálatas percebes­ sem o evangelho falso dos judaizantes. Primeiro, “Eo caso de Abraão”(Gl 3.6-9). Desde o início Deus Cristo foi claramente “representado como crucifi­ se relacionou com o homem pela fé. Abraão, o pai cado”. Paulo retirou da pregação do evangelho as e protótipo da raça escolhida, foi justificado pela coisas que não eram essenciais, e se concentrou em fé. Aqueles que descendessem de Abraão deveriam Jesus. A falha dos judaizantes em dar a Cristo o ter, com Deus, um relacionamento baseado na fé. mesmo lugar em seu sistema, deveria ter alertado Paulo citou referências do Antigo Testamento à salvação dos gentios (v. 8) para mostrar que Deus os gálatas imediatamente. Esse ainda é o teste de qualquer doutrina. Que lu­ sempre teve a intenção de introduzir os gentios na gar tem o Cristo crucificado? Se não há nenhum descendência de Abraão. Visto que os gentios não papel central para o Salvador na cruz, então a dou­ podem voltar e nascer de novo como judeus, isso só poderia ser feito por meio de uma fé como a do trina é falsa. Segundo, a própria experiência dos gálatas deveria próprio Abraão. tê-los alertado. Eles receberam o Espírito quando Deus fez de Israel o seu povo escolhido. Mas mes­ creram — não por guardarem a lei. Por que, uma mo quando escolheu Abraão, Ele estava pensando vez que a experiência inicial deles com Deus foi em você e em mim! fundamentada na fé, como esperariam que Ele mudasse agora? Políticos em busca da reeleição “Maldito todo aquele que não permanecer em todas costumavam argumentar contra “fazer grandes as coisas” (Gl 3-10-14). A fé é inclusiva, e inclui a mudanças”. Paulo também. Se a fé lhe fez chegar todos, com Abraão, em um relacionamento com até aqui, porque deixá-la e tentar um caminho di­ Deus. Porém a lei é exclusiva. Ela exclui a todos! ferente agora? Pegue um balão, assopre-o até encher, e use uma Terceiro, a obra de Deus entre os galileus naquele caneta com ponta de feltro para escrever nele os momento foi em resposta à fé, e não à sua obediên­ 633 preceitos da lei do Antigo Testamento iden­

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Gálatas 3— 4

tificados pelos rabinos. Então pegue um alfinete, e espete em apenas um desses preceitos. Você não rompeu apenas um mandamento, você rompeu tudo! Este é o ponto de Deuteronômio 27.26, que Paulo citou aqui. Guarde a lei, e sim, você será abençoado. Mas viole um único mandamento, sim, apenas um, e você estará sob a maldição da lei! Se você se voltar para o legalismo, terá que aceitar a obrigação imposta pela lei, e que consis­ te em guardá-la perfeitamente. O tempo todo. Com que alegria devemos viver pelo fato de Cristo ter “nos resgatado da maldição da lei”! Je­ sus pagou o preço que nos liberta da penalidade vinculada à violação da lei. E Ele também nos li­ bertou do legalismo, que continua a amaldiçoar a humanidade com a sua exigência de perfeição. “A lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois” (Gl 3.15-19). A promessa de Deus a Abraão foi feita séculos antes de Moisés dar a lei a Israel. Essa promessa foi confirmada através de uma aliança: é um instrumento de compromisso le­ gal. O estabelecimento da lei não invalidou a aliança, nem anulou a promessa. Supor que a lei substituiu a fé como o modo de Deus se relacionar com os seus é supor que Deus não cumpre a sua Palavra! A lei, que lança um ho­ lofote sobre os nossos pecados, nos faz perceber o quanto precisamos desesperadamente da salvação que Deus torna disponível por meio da fé.

A lei foi exatamente como um paidagogos para Israel antes da vinda de Jesus. Os judeus estavam “encerrados” pela lei, não como prisioneiros, mas para que ficassem longe de encrencas! Embora a lei tenha sido incapaz de impedir Israel de pe­ car, ela manteve o povo unido e preservou a sua identidade até que Jesus, a semente de Abraão, através de quem as promessas a toda a hum ani­ dade seriam mantidas, chegasse. O que Paulo quis dizer foi que, agora, que Jesus tinha vindo, não precisamos mais ser encerrados! Podemos ser libertos! Pois, trazidos para um rela­ cionamento íntimo com Deus através de Cristo, pode-se confiar, neste instante, que viveremos uma vida verdadeiramente piedosa! Um dos motivos por que nós, cristãos, às vezes sentimos a necessidade de ter leis restritivas é que reconhecemos e tememos o nosso potencial para o pecado. Mas Deus quer que você e eu reconhe­ çamos o potencial que agora temos em Cristo para viver uma vida dinâmica e piedosa! Quando reconstruímos a jaula da lei, não prendemos a nossa velha natureza. Prendemos o nosso novo “eu” que Deus quer que nos tornemos.

“A té que Cristo seja formado em vós” (Gl 4.8-20). Os índios americanos costumavam enrolar as crianças pequenas em panos bem apertados, e prendê-las com correias em uma tábua de trans­ porte. Mas quando elas cresciam, eram soltas! Somente a soltura dos laços envolventes do le­ galismo pode permitir o nosso crescimento — e “Mas Deus é um ” (Gl 3-20,21). Há uma linda que Cristo cresça em nós. verdade aqui. Moisés serviu como um mediador ao dar a lei, pois ficou entre Deus e a hum ani­ “Porque estes são os dois concertos” (Gl 4.24,25). A dade, representando a ambos. Mas isso não foi analogia estendida de Paulo prossegue, contrastan­ bom o suficiente para Deus. Assim, em Cristo, o do o caminho de Cristo com uma religião de obras próprio Deus se tornou o Mediador. Através de e lei. As correspondências aqui são as seguintes: Jesus tratamos diretamente com Deus, e somos recebidos em sua presença. Agar, a serva Sara, a livre Ismael, um nascimen­ Isaque, um nascimen­ 'Já não estamos debaixo de aio” (Gl 3.23-25). to natural to sobrenatural Algumas traduções da Bíblia obscurecem uma A antiga aliança imagem poderosa no século I. A lei, disse Paulo, A nova aliança era um paidagogos. O paidagogos era um escravo A Jerusalém terrena A Jerusalém celestial empregado por gregos ricos como alguém que “cuidava de crianças” — eles supervisionavam as Judaísmo Cristianismo crianças. Embora uma criança pudesse ser her­ deira do patrimônio da família, enquanto fosse O ponto da analogia permanece o mesmo. Cris­ demasiadamente jovem ela tinha que obedecer to nos traz liberdade. E é a liberdade que devemos às ordens daquele que cuidava dela. reivindicar.

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Gálatas 5— 6

DEV OCIONAL_________

Filhos de Deus (G13.26— 4.7) As culturas judaica, grega e romana, todas mar­ cavam um momento específico quando um filho passava a participar totalmente da responsabilidade adulta. Os judeus estabeleceram o momento ao se atingir a idade de 12 anos, os gregos a de 18 e os romanos permitiam que o pai definisse o momento para isso. Mesmo em Roma, porém, a cerimônia formal na qual o filho se tornava um adulto, era marcada por uma festa familiar sagrada, chamada Liberalia. O pai presenteava seu filho e reconhecia o herdeiro com a toga virilis, e o filho orgulhoso ti­ rava a roupa que o havia identificado como uma mera criança. A cerimônia era comovente: o pai orgulhosamente abraçando seu filho, e o menino tanto triunfante como um pouco assustado com as suas novas responsabilidades. Uma criança menor de idade, aos olhos da lei, não era diferente de um escravo. Ela não toma­ va nenhuma decisão significativa. Ela não tinha liberdade. Mas com a aceitação formal como um adulto, tudo isso mudava. Agora ela era responsá­ vel. Agora era livre. Para Paulo, a salvação é a Liberalia de Deus. Ela é uma festa alegre de liberdade. E o momento quando Deus põe os seus braços ao nosso redor, reconhecendo-nos como seus filhos e herdeiros. E, no lugar da lei, Deus envolve os nossos ombros com a capa do seu Espírito Santo, a toga virilis a qual usamos constantemente como um símbolo não só da nossa liberdade, mas da nossa fideli­ dade para com o nosso Pai celestial. Não mais limitados pela lei a uma existência semelhante à servidão, somos introduzidos em uma liberdade que exige que assumamos a responsabilidade pe­ las nossas escolhas. Uma liberdade que significa que como um membro adulto da família de Deus aquilo que escolhermos fazer trará honra ao nome da família. Não tenha medo da liberdade. Alegre-se nela! E use-a para honrar a Deus.

DE NOVEMBRO LEITURA 30 LIBERDADE CRISTÁ Gálatas 5— 6 “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão ” (Gl 5-1). O cristão é libertado da Lei a fim de se tornar justo através de Cristo. í.

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Visão Geral A Lei e a graça são princípios conflitantes (5.1-12). Os cristãos são libertados da Lei a fim de viverem uma vida de amor, guiada pelo Espírito transformador do Senhor (w. 13-25). Devemos estar comprometidos a fazer o bem (6.1-10), como novas criaturas de Deus (w. 11-18).

Entendendo o Texto “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos li­ bertou” (Gl 5-1)■ Os judaizantes argumentaram que ao rejeitar a Lei mosaica, Paulo rejeitou a justiça. E isto não poderia ser de Deus! Rejeitar a Lei devia levar à libertinagem: o homem livre de sua limitação não teria motivo para não pecar! Os capítulos 5 e 6 de Gálatas apresentam a respos­ ta de Paulo. Há duas maneiras de lidar com a fera que há no homem. A abordagem da Lei era enjaular a fera, embora ela tentasse se libertar avidamente. A abordagem da graça consiste em transformar a fera! Só é seguro remover as barras se a natureza do homem puder ser transformada. Isto, Paulo nos diz, foi exatamente o que Deus fez! Através de Cristo, Deus nos deu uma nova natu­ reza que pode ser controlada pelo Espírito Santo. Quando nos entregamos ao Espírito, vivemos vidas justas e experimentamos uma transformação gra­ dual. A liberdade cristã não é licença para vivermos segundo a nossa natureza pecadora. A liberdade cristã é sair para além das barras, para viver uma vida de amor no poder do Espírito Santo. Portan­ to, a liberdade da Lei mosaica não implica em se afastar da justiça. A graça de Deus fez o que a Lei nunca foi capaz de fazer. Ele nos transformou inte­ Aplicação Pessoal Não tenha medo da liberdade. Use-a para servir a riormente; e ao nos tornar justos, Ele nos capacitou a viver uma vida boa e santa. Deus. Não tenha medo da liberdade. Confie em Jesus, res­ ponda positivamente ao Espírito Santo, e use a sua Citação Importante “H á duas liberdades — a falsa, pela qual um ho­ liberdade para viver uma vida de amor. mem é livre para fazer o que bem quiser; e a verda­ deira, pela qual um homem é livre para fazer o que “Cristo de nada vos aproveitará” (Gl 5-2-6). Aqui Paulo estava olhando para a vida cristã, e não para deve fazer”. — Charles Kingsley

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Gálatas 5— 6

a salvaçáo. Se qualquer cristão se voltar para o legalismo, representado aqui pela circuncisão, e lutar para viver uma vida direita por esforço próprio, a sua união com Jesus “de nada lhe aproveitará”. Pau­ lo deixou a sua posição muito clara ao continuar. Os gálatas que decidiram seguir os judaizantes e foram circuncidados se separaram de Cristo. Eles caíram “da graça”. O que estes versículos assustadores significam? É como se um homem decidisse empurrar um corta­ dor de grama elétrico para frente e para trás sobre o seu quintal sem ao menos ligá-lo. Ele trabalharia com muito maior dificuldade do que se o motor es­ tivesse ligado, e não conseguiria fazer absolutamente nada! Paulo estava dizendo que quando confiamos no esforço próprio, guiados pela Lei, para vivermos a vida cristã, Cristo, embora presente dentro de nós, está “desligado”. Nós trabalhamos muito. E não conseguimos fazer absolutamente nada! Não caia da graça. Entre nela! Confie completa­ mente em Jesus, porque a única coisa que real­ mente tem valor é “a fé que atua pelo amor” (v. 6, ARA).

ra. Nós não olhamos mais para a Lei, e lutamos. Olhamos para o Espírito Santo, confiamos nEle, e fazemos o que é certo.

“Os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus” (Gl 5.19-21). Paulo citou atividades que ca­ racterizavam a natureza pecadora do homem. Se parafrasearmos, poderemos dizer que aqueles que forem marcados por elas estarão “na estrada para o inferno”. Há uma advertência sugerida aos cristãos aqui. Em Colossenses 1.13 Paulo diz que os crentes foram resgatados do reino de Satanás, e transportados para o Reino do Filho do seu amor. Nós crentes já herdamos o reino. Vivemos e respiramos o seu ar ricamente perfumado, e no nosso espírito andamos com os anjos enquanto falamos com Deus. Mas jamais presuma que os crentes que escolhem satis­ fazer os desejos da sua natureza pecadora possuirão esta herança agora! Nós realmente podemos escolher entre viver pela natureza pecadora ou pelo Espírito. Mas não po­ demos escolher as consequências. Elas são fixas. E a causa da escolha errada é uma vida presente sufo­ “Sede... servos uns dos outros, pelo amor” (Gl 5.12- cada por misérias insignificantes. 15). Nós cristãos somos verdadeiramente livres. Li­ vres de saciarmos a natureza pecadora. Livres para “O fruto do Espírito” (Gl 5.22-24). Nós também servirmos uns aos outros pelo amor. Cada escolha não podemos escolher as consequências que se se­ tem consequências, naturalmente. Mas isto não guem à nossa decisão de servir uns aos outros pelo disfarça o fato espantoso de que Deus agora se vol­ amor. Deus já as escolheu. E se fizermos esta esco­ ta e diz, “Você escolhe”. lha, e vivermos no poder do Espírito? Então Deus Talvez antes, você e eu tivéssemos desculpas. Nós nos enche até transbordar de “amor, alegria, paz, culpávamos os nossos pais, a nossa pobreza, a nossa longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, má sorte, ou as nossas tentações pelos nossos fra­ mansidão e domínio próprio” (ARA). cassos. Porém, quando Cristo nos libertou, todas Você já notou que ao longo da margem de um rio a estas coisas se tornaram irrelevantes. Esqueça a sua vegetação é sempre abundante e exuberante? E isto autoimagem pobre. Esqueça as suas fraquezas. To­ que a Bíblia diz sobre nós. Quando o Espírito San­ das estas coisas estão no passado. Em Cristo você e to flui livremente em nossas vidas, um caráter rico eu podemos escolher viver uma vida de amor! e belo cresce. Nós somos cheios de amor, de ale­ gria, de paz. Em todos os nossos relacionamentos “A ndai em Espírito e não cumprireis a concupiscência exibimos esta paciência, benignidade, bondade, fé, da carne” (Gl 5.16-18). O motivo de sermos ver­ mansidão e domínio próprio que nos identificam dadeiramente livres não é o fato do nosso passado como pertencentes a Deus. ter sido mudado, ou o fato dos nossos sentimentos Não há maneira — não importando o quanto areatuais terem mudado. Ainda podemos nos sentir mos e desterremos, ou cultivemos e capinemos o inadequados, inseguros, hesitantes, e com medo. nosso caráter — de produzirmos esta colheita so­ Nós somos livres porque Deus nos deu o seu Espí­ zinhos. Ela é produzida apenas pelo Espírito San­ rito Santo. O Espírito de Deus em nosso interior to de Deus, e apenas naqueles que vivem por Ele. nos capacita. (Veja o DEVOCIONAL.) Liberdade não significa uma vida sem conflitos, significa a possibilidade de viver sem experimen­ “Contra essas coisas não há lei” (Gl 5.23). Os judai­ tar derrotas! As nossas fraquezas não precisam nos zantes insistiam que o homem precisa da Lei a fim arrastar para baixo, o nosso passado não mais nos de afirmar a justiça. Paulo deu várias respostas. (1) incapacita. O Espírito Santo está ao nosso lado na A Lei e a graça são princípios opostos: você deve guerra contra os desejos da nossa natureza pecado­ escolher um ou outro. (2) A Lei pode ser resumida

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lhoso que com a ajuda do Espírito Santo nós agora sejamos capazes não só de enfrentar a vida com su­ cesso, mas ainda de ajudar a outros para os quais a carga seja pesada demais.

no chamado a amar o próximo: Cristo nos libertou para servirmos uns aos outros pelo amor, de forma que a Lei não é mais necessária. (3) A Lei não pode nos livrar da servidão à nossa natureza pecadora. Porém o Espírito pode; e então, se formos guiados por Ele, a Lei será irrelevante. Agora Paulo chega ao ponto final desejado. As leis são aprovadas contra os atos pecaminosos. Ninguém iria pensar em aprovar uma lei contra o amor, a alegria, a paz, a longanimidade, a benig­ nidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão ou o domínio próprio. Segue-se então que a Lei é irrele­ vante para os cristãos que vivem pelo Espírito. Que necessidade há da Lei em um coração onde o amor, a benignidade, e a bondade reinam? Entregue-se a Jesus, ame ativamente os outros, e confie no Espírito, que é capaz de se expressar por seu intermédio. Faça isso, e você não precisará se preocupar com a Lei.

“Tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7-9). Outra vez Paulo expressa uma verda­ de básica. Nós podemos escolher agora o nosso modo de vida. Mas Deus escolheu as consequ­ ências. Sigamos o caminho que leva a uma vida abundante!

“Vós, que sois espirituais, encaminhai o tal” (Gl 6.15). Que alegria perceber que não se espera que an­ demos sozinhos neste arriscado mundo de liberda­ de. Deus nos deu irmãos e irmãs para andarem no Espírito conosco — para nos restaurarem quando cairmos, para nos sustentarem quando o fardo se tomar pesado demais. Há uma bonita ação recíproca entre os versículos 2 e 5 no grego. A carga que ajudamos os outros a suportar é um bare, uma carga pesada. A carga que devemos carregar sozinhos é um phortion, a carga normal para a qual fomos criados. Como é maravi-

DEVOCIONAL______ Andando no Espírito

(Gl 5.12-26) E uma perspectiva fascinante! Ser livre para servir uns aos outros pelo amor. Ser livre da exigência esmagadora da nossa natureza pecadora. Ser livre para experimentar o amor, a alegria, a paz, a longa­ nimidade — todas as coisas que Paulo disse que o Espírito Santo produz no crente. Oh, mas como muitos cristãos se sentem decepcio­ nados ao terem uma visão do que podem ser - e tremem ao perceber que, no que lhes diz respeito, não o são. Como é decepcionante querer o tipo de vida que Paulo descreveu aqui, e falhar em encon­ trá-lo, e jamais perceber o motivo. Eu desconfio que para muitos de nós o motivo é dado na pequena frase do versículo 25: “Andemos também no Espírito”. Se você estivesse no exército, poderia ouvir um sargento gritando isto para você: “Mantenha o passo, recruta! Mexa-se!”

“Com que grandes letras” (Gl 6.11-18). Nos tem­ pos do Novo Testamento as cartas eram tipica­ mente ditadas a escreventes, que escreviam as palavras. O autor poderia escrever de próprio punho algumas palavras no final, como Paulo fez aqui. Alguns veem na expressão “grandes letras” a sugestão de um problema nos olhos que Paulo teria mencionado em 2 Coríntios 12. Outros con­ sideram a expressão como uma ênfase: vejam, eu estou sublinhando isto! O que Paulo sublinhou? A sua rejeição decisiva da abordagem legalista à vida cristã representada pe­ los judaizántes, e o seu próprio foco imutável em Cristo e em sua cruz. Aqueles que queriam que os gálatas cortassem os seus corpos como um sinal de submissão à Lei deveriam ir além, e se castrar! Impor a Lei sobre o evangelho cristão da graça torná-lo-ia impotente e desprovido de poder. O que conta é que somos novas criaturas em Cristo. E por causa desse novo nascimento, somos livres! Algumas pessoas interpretam uma vida legalista como uma vida de tribulação; e uma vida cheia do Espírito como uma vida de descanso. Eles esperam que o Espírito Santo os dirija. E, com muita frequ­ ência, se eles não sentirem o Espírito se movendo, simplesmente se sentam. Paulo disse, “Andemos também no Espírito”. Não se sente. Não espere que o Espírito lhe dê um tapinha no ombro e aponte. Mexa-se! Paulo disse a mesma coisa de outras maneiras. De­ vemos “usar” a nossa liberdade para servir uns aos outros (v. 13). Assim, temos a ordem de marchar, da parte do Espírito. Nós não precisamos esperar por mais instruções. Precisamos apenas sair e co­ meçar a servir! A única coisa que tem valor, disse Paulo anteriormente, é “a fé que atua pelo amor” (v. 6, ARA). Novamente vemos a mesma ênfase. A fé deve ope­ rar. A fé é ativa. Ela se move! A fé não fica sentada

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esperando. Deus tem uma obra para nós fazermos, e se realmente confiarmos em Deus para operar em nós, naturalmente nos levantaremos e seremos bem sucedidos! Parece muito simples. No entanto, muitos de nós perdemos isso de vista. Você crê que o Es­ pírito de Deus vive em você? Você crê que Ele é capaz de operar através de você? Então mostre a sua fé se movendo para servir os outros por amor, e ao servir você experimentará o poder do Espírito. Ao servir, você terá o seu próprio cará­ ter transformado.

Aplicação Pessoal O Espírito de Deus está em ação no mundo hoje. Continue andando com Ele. Citação Importante “Toda vez que dizemos, ‘Eu creio no Espírito San­ to’, queremos dizer que cremos que há um Deus vivo capaz e disposto a entrar na personalidade hu­ mana e mudá-la”. — J. B. Phillips

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em JUDAS

EFÉSIOS INTRODUÇÃO A carta de Paulo aos Efésios foi escrita durante a sua prisão em Roma, que durou dois anos, por volta de 61 d.C. Ela compartilha a visão de Paulo de uma comunidade cristã unida por amor e um propósito comum sob a direção de Cristo. Cada crente, ligado a Jesus pela fé, está ligado a todo crente como células em um organismo vivo. Vivendo juntos em amor, todo o corpo e os seus membros individuais crescem até a maturidade espiritual. Esta é uma das cartas mais teológicas e mais práticas de Paulo. Ela exalta a Jesus como o Cabeça da igreja viva, e exorta cada um de nós a “viver uma vida de amor” em todos os nossos relacionamentos pessoais. Efésios também inclui várias oraçóes comoventes, e passagens que muitos veem como elementos da litur­ gia da igreja primitiva. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. A Igreja Viva de D eus............................................................................ II. A Igreja Como Corpo e Família.......................................................... III. A Vida Cristã de Amor........................................................................

...........Ef 1— 2 ..E f 3.1—4.16 Ef 4.17— 6.24

GUIA DE LEITURA (5 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 306 307 308 309 310

Capítulos 1 2 3-4 5 6

Passagem Essencial 1.3-14 2.11-22 3.14-21 5.22-33 6.1-9

EFÉSIOS 2 DE NOVEMBRO LEITURA 306

A VERDADEIRA IGREJA Efésios 1

“[Cristo], em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (E fl. 13). A igreja de Cristo consiste de pessoas, e não de edi­ fícios. Contexto Efeso. Quando Paulo escreveu esta carta, o porto da cidade velha de Efeso estava quase que totalmente cheio de lama, e o que era conhecido como o “lugar de desembarque” da Àsia, motivo de seu orgulho, estava, na verdade, vazio. No entanto, Efeso tinha uma reivindicação de fama. Era o local do magní­ fico templo de Artemis (Diana), cujo tamanho era

quatro vezes maior que o Partenon de Atenas, e detinha a veneração de “toda a Ásia e o mundo” (At 19.27). Turistas e adoradores afluíam a Efeso para visitar o esplêndido santuário, que também servia como um banco no qual cidades e reis depositavam fundos — e dos quais sacavam empréstimos. Donos de hospedarias, de restaurantes, e comer­ ciantes, dependiam do comércio gerado pelo tu­ rismo que fazia da religião pagã um sucesso econô­ mico em Efeso. Assim, para os crentes que viviam nesta cidade fundamentada na religião institucional, Paulo es­ creveu uma carta transmitindo uma visão imensa­ mente diferente. A igreja de Cristo é um corpo, e não um edifício. Ela é formada por seres huma­ nos que vivem e respiram, e não de mármore. E a

O TEMPLO DE ÁRTEMIS (DIANA)

Efésios 1

cuidadosamente especificando os seus materiais e definindo exatamente como eles seriam formados para glorificá-lo. Lembre-se sempre, você e eu fomos escolhidos por Deus para mostrar a sua graça e sabedoria. Deve­ mos dedicar gradualmente a nossa vida para exibir a beleza da santidade.

sua vitalidade é vista não no dinheiro com que ela contribui para a economia de uma cidade, mas no amor e pureza que brilham através da vida dos seus membros. Ao lermos Efésios também somos chamados a cap­ tarmos a visão que Paulo tinha da igreja de Cristo. Ao lado desta visão, até mesmo as nossas maiores catedrais somem, e são reduzidas à insignificância, quando percebemos que o edifício que emociona o nosso Deus é a reconstrução da nossa vida para que levemos em nós a imagem do seu Filho. Visáo Geral Paulo saudou os santos (1.1,2) e então reviu o pa­ pel do Pai (w. 3-6), do Filho (w. 7-13a), e do Es­ pírito Santo (w. 13b, 14) na salvação. Paulo louvou a Deus (w. 15,16), orou pelos efésios (w. 17-19), e exaltou a Jesus, o Cabeça da sua igreja (w. 20-23). Entendendo o Texto “Aos santos que estão em Efeso” (Ef 1.1,2). A palavra “santos” significa “santificados” ou “separados”. No Antigo Testamento, o Templo de Jerusalém e todos os utensílios usados no serviço a Deus eram sagra­ dos, separados para o Senhor. Paulo habitualmente saudava os crentes como santos. Aqui há um signi­ ficado ainda maior, pois Paulo estava prestes a mos­ trar a grande verdade de que, hoje, nós mesmos somos tanto o templo quanto os utensílios. Deus não procura a beleza nos edifícios da igreja. Ele procura a beleza nos membros da igreja. “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor” (Ef 1.3-6). Os efésios relembraram a história e falaram de um meteorito que caiu dos céus, e que foi esculpido na forma da imagem do ídolo que ficava em seu tem­ plo. Paulo olhou para trás, além da história, para as próprias origens do universo. Ali ele viu Deus, o Pai, o Arquiteto da nossa salvação, criando planos para a igreja viva! Como qualquer arquiteto faria, o Pai especificou quais materiais seriam empregados na sua constru­ ção: Ele “nos elegeu antes da fundação do mundo”. Deus também especificou como os materiais seriam empregados: Ele nos escolheu para que “fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele”, para sermos seus “filhos por adoção”. A beleza a ser mostrada nas nossas vidas, trabalhadas e polidas, refletirá por toda a eternidade “para louvor e glória da sua gra­ ça”. (Veja o DEVOCIONAL.) As pessoas se maravilhavam com o grande templo que embelezava Efeso: em seu desenho, em seus pilares de mármore, em suas colunas gravadas em estilo dórico. Paulo quer que nos maravilhemos com a igreja que o próprio Deus Pai projetou,

“Em quem temos a redenção pelo seu sangue” (Ef 1.7-13a). Se Deus, o Pai, foi o Arquiteto da nossa salvação, Cristo foi o Construtor. Ele foi aquEle que entrou na história como um bebê, cresceu na empoeirada Palestina, ensinou em meio a multi­ dões ruidosas, e sangrou na cruz do Calvário. Neste grande ato você e eu temos a “a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça”. Com esta tremenda obra completada, Cristo tem hoje o direito de parar e olhar para o edifício que Ele erigiu. Tem o direito de esperar que sejamos para “louvor da sua glória”. Somos certamente um edifício caro, e Jesus tem o direito de esperar que sejamos belos. “Tendo nele também crido, fostes selados com o Espí­ rito Santo da promessa” (E f 1.13b, 14). O Espírito Santo mudou-se para o edifício que o Pai planejou e que o Filho construiu. Nos dias do Novo Testamento um “selo” era fre­ quentemente colocado sobre mercadorias para se­ rem embarcadas, ou sobre um produto acabado, como uma marca de propriedade. Aquilo que ti­ nha o selo estava protegido, e seu futuro, garan­ tido. O proprietário tomaria posse total no seu próprio tempo. Você e eu, a igreja viva de Cristo, temos no Espírito Santo a marca de propriedade divina. O Espírito é a garantia segura do nosso futuro em Deus. E o Espírito em nós nos capacita a viver, hoje, para “louvor da sua glória”. “O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef 1.15-19a). Paulo louvou a Deus pelos efésios, pedras vivas na igreja edificada por Deus, e ofereceu uma oração muito especial. Uma maneira de edificar a nossa própria vida de oração, e dirigir as nossas intercessões pelos outros, é moldar as nossas orações naquelas que encontra­ mos nas Escrituras. Aqui vemos uma oração que Paulo ofereceu com a intenção de fortalecer a igreja de Cristo. O que Paulo pediu? Que pudéssemos conhecer melhor a Deus (v. 17). Que pudéssemos olhar além das aparências, para ver a igreja como Deus vê — um povo transformado para mostrar a sua glória, indescritivelmente precioso para Ele

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Efésios 2

(v. 18). Que pudéssemos sentir e experimentar a operação da “sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos” (v. 19a). Eu suponho que seja certo orar pela adição de uma nova classe à Escola Dominical. Ou pela campanha para le­ vantar fundos para continuar com os programas de rádio. Mas se quisermos que a nossa igreja seja ver­ dadeiramente a igreja, as coisas pelas quais Paulo orou aqui são imensamente mais importantes.

corpo vistos aqui na terra, podemos ficar de­ sanimados. Nós somos fracos. Somos indis­ ciplinados. Temos os olhos espirituais deses­ peradamente estrábicos, e os nossos ouvidos espirituais, surdos. Mas a igreja não deve ser medida pelos seus membros. Devemos medi-la pela Cabeça. Devemos ver Cristo exaltado acima de todo “principado, e poder, e potestade, e dom ínio”. Devemos reconhecê-lo como a nossa Cabeça “A cima de todo principado e poder" (Ef 1.19b- viva, responder à sua direção. E, em seu nome, 23). Se medirmos a igreja pelos membros do vencer.

DEVOCIONAL_______

Predestinação e Louvor (Ef 1.3-14) Temas gêmeos, que contam a história da edificação do templo vivo de Deus, a igreja, são repetidos três vezes nestes 12 versículos. O primeiro destes temas é a predestinação: a ideia de que Deus destinou com antecedência aqueles que iriam servir como pedras vivas em seu templo glorioso. Paulo disse que o Pai “nos elegeu nele an­ tes da fundação do mundo” (v. 4). Que “em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos” (w. 4,5, ARA). E que “nele [Cristo] também fo­ mos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coi­ sas, segundo o conselho da sua vontade” (v. 11). Alguns se ofendem com esta ênfase, e alguns a te­ mem. Mas se olharmos para ela dentro da estrutura da imagem retórica de Paulo, na qual ele retratou a Deus, o grande Arquiteto, planejando a construção da igreja e especificando os materiais, não há nada de sinistro aqui. E não há nada que contradiga a mais ampla aplicação do evangelho. Como um pregador observou de forma sucinta, “Aquele que aceitar, é um eleito’; Aquele que não aceitar, não é um eleito’”. O que geralmente está perdido no debate sobre a predestinação é o outro tema que está reafirmado três vezes aqui. Deus, o Pai, planejou a nossa ado­ ção como filhos “para louvor e glória da sua graça” (v. 6). Ele nos atraiu a Cristo “a fim de sermos para louvor da sua glória” (v. 12, ARA). E o seu Espírito nos marca como a própria possessão de Deus -— “para louvor da sua glória” (v. 14). Você e eu não podemos resolver o grande debate sobre a predestinação. Nós provavelmente nem de­ veríamos tentar fazer isso. Mas como pedras vivas em um edifício no qual Deus pretende refletir a sua beleza, podemos fazer tudo o que for possível para vivermos “para louvor da sua glória”.

Estou satisfeito em deixar que Deus resolva o para­ doxo da predestinação e do livre-arbítrio. A única coisa em que estou interessado é: Deus está satis­ feito comigo? Aplicação Pessoal Glorificar a Deus é algo que vence, em qualquer tempo, o debate da predestinação! Citação Importante “A igreja de Cristo não é uma instituição; é uma nova vida com Cristo e em Cristo, guiada pelo Es­ pírito Santo.” — Sergius Bulgakov 3 DE NOVEMBRO LEITURA 307 FEITURA DE DEUS Efésios 2

“Eramos por natureza filhos da ira, como os outros também. Mas Deus, que é riquíssimo em misericór­ dia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificoujun­ tamente com Cristo” (Ef2.3-5). Considerando com o que Deus teve que trabalhar, Ele fez um trabalho impressionante! Visão Geral Deus escolheu seres humanos pecadores e espiri­ tualmente mortos como materiais para a sua igreja (2.1-3). Ele nos deu a vida e nos chamou para as boas obras, para que a sua graça pudesse ser mos­ trada (w. 4-10). Unidos agora, judeus e gentios formam um único edifício com Cristo, a Pedra da Esquina (w. 11-22). Entendendo o Texto “Estando vós mortos em ofensas epecados” (Ef2.1-3). O termo “morto” é um dos conceitos bíblicos mais

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Efésios 2

espantosos e complexos. Nós entendemos a morte biológica, e até certo ponto a perdição espiritual está exemplificada nela. Assim como o corpo mor­ to não pode sentir ou responder ao mundo mate­ rial, também o espírito perdido não pode sentir ou responder a Deus. Mas a morte espiritual vai além disso, implicando a corrupção. Assim como o corpo físico se deteriora, também o espiritualmente morto se torna infesta­ do de todo tipo de corrupção. Os espiritualmente mortos andaram “segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar [Satanás]. A carne apodrecida dos espiritualmente mortos sofre e geme sob o domínio das “inclinações da... carne” (v. 3, ARA), cujos desejos e pensamentos os perdidos seguem cegamente. O retrato vívido mostrado por Paulo é horrível, e poderia nos fazer recuar. Mas ele queria que nós entendêssemos que esta é a matéria-prima da qual Deus constrói a sua igreja! Esta massa de corrupção é a que Deus pretende usar para mostrar a sua gló­ ria e a beleza da sua santidade. Não é agradável. Mas é importante que sejamos to­ talmente honestos com nós mesmos e com Deus. Paulo fez esta descrição, e disse: “Este era você”. Ele prosseguiu, “Todos nós também vivemos entre eles outrora, andávamos nos desejos da nossa carne, fa­ zendo a vontade da carne e dos pensamentos”. Graças a Deus isso é o que nós éramos, e não o que somos! E graças a Deus que Ele, assim mesmo, achou conveniente fazer com que você e eu perten­ cêssemos a Ele. Certa vez trabalhei com um homem, não cristão, que tinha escolhido se casar com uma mulher que havia sido uma prostituta. Eu me lembro de um dos meus colegas me dizendo, “Ela faria qualquer coisa por ele. Ele sempre a trata como uma dama”. Que motivação para fazer qualquer coisa por Jesus!

“Pelo seu muito amor com que nos amou”(Ef2.4-7). A antiga música acertadamente diz, “Eu não sou o que quero ser, eu não sou o que serei, mas dou graças a Deus por não ser quem eu fui”. Paulo nos lembra do que éramos. Agora ele nos diz o que so­ mos, e o que seremos. Nós somos pessoas que receberam o dom da vida. Ele “nos vivificou juntamente com Cristo”. A men­ sagem do evangelho nos trouxe de volta à vida, nos ressuscitou, e ainda nos fez sentar com Ele nas re­ giões celestiais! Esta última imagem é uma imagem de poder. Deus, sentado no trono do céu, é Sobera­ no sobre todas as coisas. Em Cristo não só estamos vivos, mas somos vencedores. Nunca se esqueça de quem você foi. Mas nunca imagine que você ainda é o mesmo velho homem

ou mulher. Vício, depressão, depravação, desespe­ ro, baixa autoestima, inconstância, falta de domí­ nio próprio — seja o que for que perturbava você, é uma expressão da vida velha que tinha estabelecido um domínio sobre a sua personalidade. Agora você foi ressuscitado com Cristo para uma vida nova e vital capaz de romper com qualquer servidão. Não olhe para trás. Olhe para frente, e perceba que Deus destinou você para mostrar “as abundantes riquezas da sua graça”.

“Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus” (Ef2.8,9). Muitos debatem se o dom de Deus aqui é a fé, a salvação, ou a graça. Em certo sentido, isto não faz diferença al­ guma. Paulo simplesmente quer que entendamos que a nossa vida em Cristo é um milagre. Nós não a ganhamos; Deus a deu. Ontem à noite a televisão mostrou uma repor­ tagem sobre o “título de propriedade com suor”, uma nova abordagem para a compra da casa pró­ pria. Pessoas que não têm dinheiro para dar de en­ trada em uma casa nova, podem contribuir com mão de obra, enquanto o banco ou o governo financia o material. A mão de obra que empenha­ rão para construir as suas próprias casas é o seu “título de propriedade com suor”. Bem, os versículos 8 e 9 afirmam que você e eu não possuímos um “título de propriedade com suor” na nossa salvação. Nós não tínhamos o di­ nheiro para dar de entrada. E não havia absoluta­ mente nada que pudéssemos fazer para contribuir para o trabalho. Deus fez tudo, para que por toda a eternidade você e eu sejamos como troféus da sua graça, salvos sem qualquer mérito da nossa parte. “Somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras” (Ef 2.10). As boas obras não podem contribuir para a nossa salvação. Mas as boas obras são um resultado da salvação. Recebemos a vida para glorificarmos a Deus. E uma maneira de glorificarmos a Deus é praticando boas obras. O que são “boas obras”? A palavra grega aqui é agathois, que significa “útil, proveitoso”. Deus nos sal­ vou e nos colocou em um caminho cheio de opor­ tunidades para sermos úteis aos outros, e profícuos para realizar os seus propósitos. Outra vez sentimos o contraste entre o que éramos, e o que somos. Corrompidos pelo pecado, não po­ díamos fazer nada por Deus, por nós mesmos, ou pelos outros. Vivificados por Deus em Cristo, so­ mos diferentes. E fazemos a diferença!

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Nunca se menospreze. Deus preparou obras úteis a igreja é uma, e que de dois grupos hostis Deus para você fazer. formou “um novo homem” que foi chamado para viver em paz. “Em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe” (Ef Como precisamos aprender esta lição hoje! O que 2.11-13). Paulo dirigiu estas observações aos gen­ quer que possa existir em qualquer sociedade que tios, que estavam isolados das promessas e das alian­ cria barreiras, e gera hostilidade, é irrelevante agora. ças dadas a Israel. Cristo, porém, mudou a situação As raças são irrelevantes agora. Cada um se aproxi­ deles como também a eles! Em Cristo, Deus traz os ma de Deus pela fé em Cristo, e, a partir dos dois, crentes para si mesmo, e uns para os outros. Deus está em ação formando o seu “novo homem”. A imagem de um templo vivo nos ajuda aqui. Um Pense em um grupo que tenha herdado uma tradi­ edifício é uma construção que se faz juntando di­ ção de hostilidade, e o Cristo do evangelho excla­ ferentes tipos de materiais. O alicerce de concreto ma: “Paz”. Cristo aproximou você de Deus através é colocado, uma estrutura de madeira é montada, da fé, e ao aproximar você de Deus Ele aproximou folhas de compensado e placas de gesso são acres­ uns aos outros. centadas. A igreja de Deus também é uma cons­ Percebamos o que Deus está fazendo em sua igreja. trução, e isto também exige que diferentes tipos de E façamos a paz. materiais sejam juntados. O que Deus fez em Cristo foi atrair todos os cren­ “No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para tes a si mesmo, e assim nos atrair também para um templo santo no Senhor” (Ef 2.19-23). O que quer relacionamento íntimo uns com os outros. Se você que possa nos dividir, Cristo nos une. Quaisquer ou eu nos isolarmos de qualquer um dos outros ma­ que sejam os medos ou as desconfianças que gerem teriais de construção de Deus, algum aspecto bonito hostilidade, Cristo traz a paz. E devemos permitir do seu templo vivo poderá ficar prejudicado. que Ele faça isso. Pois o “templo santo no Senhor” que Jesus está edificando hoje só surge quando o “Desfez a inimizade”(Ef2.14-18). Nos dias do Novo seu povo está “bem ajustado”. Testamento a lei do Antigo Testamento era uma Não permita que algum partidário lhe divida. Não “barreira” entre os gentios e os judeus. E esta bar­ deixe que um pregador estridente de divergências reira criou uma hostilidade: o anti-semitismo gerava doutrinárias lhe isole de irmãos e irmãs cuja fé é frequentes tumultos nas cidades antigas, e os judeus uma com a sua, só porque as crenças deles são dife­ antigos olhavam com desprezo os vizinhos gentios. rentes das suas. E não deixe que a raça, ou a idade, Então Jesus morreu, e tornou a lei irrelevante. ou a posição social, ou a educação, ou a riqueza ou Judeus e gentios igualmente se aproximaram de a pobreza, lhe dividam. Tente alcançar os outros, e Deus pela fé, e pela fé cada um tinha acesso dire­ de mãos dadas sejam edificados “para morada de to a Deus, o Pai. De repente, tornou-se claro que Deus no Espírito”.

DEV OCIONAL______ Éramos, Somos, e Seremos

(Ef 2.11-22) O cristianismo é uma fé de contrastes. Frequen­ temente o contraste que enfatizamos se encontra entre o passado e o futuro. Nós éramos pecadores perdidos. Mas seremos ressuscitados conforme a própria imagem de Cristo. O “éramos” e o “seremos” do cristianismo são em­ polgantes. Mas Efésios 2 nos lembra que também deveria haver um contraste agora, entre o que “éra­ mos” e o que “somos”. Ser um discípulo de Jesus é fazer uma diferença dramática no nosso presente. O que “somos” é ressaltar tão claramente quanto possível o que “seremos” contra o que “éramos”! Aqui em Efésios o contraste de “éramos” e “somos” é visto em nossos relacionamentos. Os seres hu­ manos estão, por natureza, separados de Cristo e,

como estrangeiros e forasteiros, estão isolados do seu povo. Na verdade, os seres humanos pecadores acham todo tipo de razão para se separarem dos outros. Nós nos desviamos dos outros por causa de raça, de aparência, de vestuário, de costumes, de riqueza, de idioma. E menosprezamos os outros, presumindo que somos melhores do que eles. Esta é uma dimensão “éramos” de seres humanos sepa­ rados de Jesus Cristo. Quão diferentes aqueles que conhecem a Jesus de­ vem ser! A cruz nos reconciliou com Deus, e nos aproximou dEle. E, em Cristo, Deus nos aproxi­ mou de toda a humanidade, e especialmente da­ queles da família da fé. Agora nós “somos” um com todos os crentes. Um no Espírito. E pela graça de Deus, um em amor, um em cuidado, um ao hon­ rarmos e respeitarmos uns aos outros. Nós “esta­

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mos” sendo “juntamente... edificados para morada de Deus no Espírito”. Quando você e eu ignoramos estas coisas que divi­ dem meros seres humanos (somado ao fato de Je­ sus alcançar os outros que são diferentes de nós), o contraste do que nós “somos” com o que “éramos” dará um vivo testemunho do nosso relacionamento com Jesus Cristo. Aplicação Pessoal O verdadeiro amor por aqueles que sáo diferentes é uma evidência da obra de Deus no nosso interior. Citação Importante “E eles saberão que somos cristãos pelo nosso amor; é isto mesmo, pelo nosso amor. Sim, eles saberão que somos cristãos pelo nosso amor”. — Peter Scholtes 4 DE NOVEMBRO LEITURA 308 TORNANDO-SE MADURO Efésios 3— 4

“Para edificação do corpo de Cristo, até que todos che­ guemos à unidade dafé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à.medida da estatura completa de Cristo” (Ef4.12,13).

de Deus. Se não ficarmos alertas, podemos cair na mesma armadilha, e ofender outros que inespe­ radamente recebem a graça de Deus. Lembremos que o evangelho é o grande equalizador de Deus. A Escritura indica que todos são pecadores, de forma que qualquer um pode ser levantado pela graça.

“A multiforme sabedoria de Deus seja conhecida” (Ef 3.10-13). A palavra “multiforme” poderia ser traduzida como “multifacetada”. O plano de Deus parece muito direto quando lemos o Antigo Testamento. Ele escolheu um povo, lhes prome­ teu a redenção, um Rei Salvador, e um triunfo definitivo. E a história se moveu na direção deste cumprimento. Então, de repente, o Filho de Deus apareceu como o Rei prometido, foi rejeitado pelo seu povo, crucificado, e ressuscitou, e percebemos que desde o princípio Deus tinha planos muito maiores para a humanidade do que foi previa­ mente revelado. Não ponha Deus em uma caixa, ou tente espremêlo em categorias limitantes. Os planos e propósitos de Deus são multifacetados, e cada faceta reflete a sua sabedoria e amor complexos. Quanto mais vislumbramos esta complexidade, mas deveríamos ser movidos para a adoração e para o louvor.

“Me ponho de joelhos perante o Pai... do qual toda a O amor é essencial para o ministério mútuo, e o família... toma o nome” (Ef3.l4). Paulo imediata­ ministério mútuo é essencial para o crescimento mente nos dá um exemplo da sabedoria complexa espiritual. de Deus. A igreja é o corpo de Cristo: cada crente está unido a Ele como Cabeça, e assim uns com Visão Geral os outros. Mas, Paulo disse que a igreja também é A unidade de judeus e gentios em um só corpo é uma família. Tomamos este nome, família, do fato uma revelação inesperada (3.1-13). No entanto, de que também temos parentesco com Deus, o Pai. agora, como uma família unificada pelo amor, os E, se somos filhos do mesmo Pai, devemos, em vir­ servos de Cristo experimentam, em si mesmos, o tude do nosso relacionamento com Ele, ser irmãos seu poder em ação (w. 14-21). Devemos manter e irmãs — uma família. esta unidade e amadurecer em Cristo (4.1-16), Como é complexa a sabedoria que Deus mostra na como novos homens e mulheres que vivem juntos igreja. Nenhuma imagem única é capaz de expres­ em amor e santidade (w. 17-32). sar o que temos em Cristo, ou quem nós somos. (Veja o DEVOCIONAL.) Entendendo o Texto “Me foi este mistério manifestado pela revelação ” (Ef “Muito mais abundantemente além daquilo que pe­ 3.1-9). Um “mistério” na Escritura é uma faceta dimos ou pensamos” (Ef3.20,21). Esta bênção pode do plano de Deus previamente desconhecida, mas muito bem ter sido extraída da liturgia da igreja agora revelada. O Antigo Testamento deixou cla­ primitiva. Se não, ela logo deve ter se tornado parte ro, desde o início do povo judeu, que Deus pre­ da afirmação da igreja cristã do grande poder de tendia abençoar os gentios (Gn 12.1-3). O aspec­ Cristo. to inesperado do plano de Deus era que judeus e Estes versículos certamente nos desafiam hoje. gentios fossem unidos na igreja de Cristo, com Sente-se, e descreva a maior obra que você pode cada um sendo recebido igualmente com base na imaginar que Deus poderia fazer em sua vida ou fé (Ef 3.6). na vida de um ente querido. Então peça a Ele, com Esta característica do evangelho antagonizou mui­ total confiança, para fazê-la. Você pode ter total tos judeus, que pensavam ser os únicos escolhidos confiança, porque o nosso Deus é “é poderoso para

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fazer tudo muito mais abundantemente além da­ trou a nossa mortalidade: a corrupção da nossa natureza original, e a inutilidade do esforço pró­ quilo que pedimos ou pensamos”. prio. Lembrou-nos que Deus “nos ressuscitou juntamente com ele [Cristo], e nos fez assentar “Há um só corpo e um só Espírito’’ (Ef4.1-6). Tudo nos lugares celestiais”. o que Paulo escreveu em sua carta foi baseado na Esta imagem é captada aqui em Efésios 4. O “ve­ convicção de que o corpo de Cristo é um. “Um lho homem” é a pessoa que éramos quando es­ só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus távamos dominados pelas “concupiscências do e Pai de todos” (w. 5,6). As nossas vidas tam­ engano”. O “novo homem” é a impressionante bém devem expressar esta convicção. E a maneira capacidade que Deus nos deu de amar os outros, como a expressamos é afirmando o nosso amor de amar a Deus, e de dispor o nosso coração para por outros crentes - mesmo por aqueles dos quais servir. O “velho homem” é egoísta e egocêntrico. somos diferentes. O “novo homem” é generoso e “segundo Deus, é Paulo nos lembra, “Andeis... com toda a humil­ criado verdadeira justiça e santidade”. dade e mansidão”. Os cristãos têm diferenças, e Muitas emilustrações diferentes foram usadas para diferem em assuntos importantes. Se nos concen­ capturar a implicação de despojar-se de um “ve­ trarmos nas nossas diferenças, convencidos como lho homem” e revestir-se um “novo homem”. somos de que estamos certos e os outros estão Alguns dizem que é como de uma gangorra: quando errados, nos tornaremos orgulhosos e críticos. um lado está em cima, o outro deve estar em bai­ Somente um espírito humilde nos libertará para xo. Alguns dizem que é como um caminho que amarmos sem sentir a necessidade de debater as bifurca em direções opostas, e cada pessoa decide nossas diferenças. Somente um espírito humilde que direção irá tomar. Há relatos sobre um índio manterá o elo da paz. que dizia existir dois cavalos dentro dele, um preto Não seja soberbo. Não importa o quanto você e um branco, competindo um com o outro. Qual possa estar doutrinariamente correto; se a sua ati­ deles venceu? Aquele que ele decidiu montar. tude negar a unidade do corpo de Cristo, você O próprio Paulo usou uma analogia. O velho e o estará errado. novo são como capas que uma pessoa usa. Você tira uma, e veste a outra. Esta analogia tem uma “Levou cativo o cativeiro”(Ef4.7-16). Estaé a ima­ força surpreendente. Os adolescentes sempre ado­ gem do retorno de um general conquistador, que taram estilos de se vestir como símbolos da ma­ liberalmente distribui o despojo que ele tomou de neira pela qual eles veem a si mesmos. Pesquisas um exército derrotado. mostraram que estes símbolos têm grande poder Cristo, triunfante, coloca indivíduos capacitados na formação do comportamento adolescente. em sua igreja, não apenas para fazerem a obra do Mude o corte de cabelo, e as roupas que não com­ ministério, mas para “o aperfeiçoamento dos san­ binam, e você estará mudando o modo como uma tos, para a obra do ministério” (v. 12). menina adolescente verá a si mesma, e, portanto, Aqui está outra expressão da complexa sabedoria o modo como ela se comportará. de Deus expressa em seu plano, que é a igreja de Isto é o que Paulo está dizendo aqui. Não veja Cristo. O crescimento para a maturidade não de­ mais a si mesmo da velha maneira. Dispa-se do pende do ministério dos líderes, mas do minis­ velho homem, e o pendure como uma peça de tério dos membros da igreja, a quem os líderes roupa que não serve mais. Vista-se do homem devem preparar! Aqui também vemos um eco da novo, olhe para si mesmo no espelho de Deus, oração de Paulo em 3.14-19. (Veja o DEVOCIO- e quando você vir a si mesmo claramente, saia e NAL.) O crescimento para a maturidade ocorre se comporte como a pessoa que você realmente à medida que o corpo, como um todo, “segundo é agora. a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor”. “Sede... benignos, misericordiosos” (Ef 4.25-32). A vitalidade espiritual da sua congregação de­ Para que não haja engano, Paulo segurou um es­ pende dela se tornar uma comunidade de santos, pelho para nós olharmos. Aqui, ele disse, está o amorosa e disposta a servir. novo homem. Ele não mente. Ele se ira de vez em quando, mas não o bastante para perder o “Vos despojeis do velho homem... vos revistais do controle e pecar. Outrora um ladrão, ele é agora novo homem” (Ef 4.17-24). Em Efésios 2, Paulo um esforçado trabalhador em uma linha de mon­ nos levou a olhar para a matéria prima da qual tagem. Outrora de linguagem torpe, ele agora se Deus construiu a igreja de Cristo. Ele nos mos­ concentra em dizer coisas amáveis e positivas que

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Efésios 5

Olhe de perto para este espelho. A pessoa que você vê — o indivíduo honesto, decente, amável, e que perdoa — é você! Este é quem você é em Cristo! Portanto, revista-se deste novo homem. E leve-o consigo onde quer que você vá.

edificam os outros. Em vez de amargura e ódio, o novo homem é marcado por benignidade e mise­ ricórdia. Em vez de brigar, o novo homem perdoa aos outros, assim como Cristo o perdoou — livre­ mente, generosamente.

DEVOCIONAL______ Conhecendo o Amor de Cristo

(Ef 3.14-21) Recentemente eu me dei conta de quão pouco as pessoas realmente conhecem o amor. Não, não o amor como algo que eles dão. O amor como algo que eles recebem. Muitos de nós nunca fomos re­ almente amados: amados por nós mesmos, amados incondicionalmente, completamente. Eu pensei nisso mais uma vez quando reli esta ora­ ção de Paulo pelos efésios, e senti o seu desejo since­ ro de que o povo de Deus seja “arraigado e fundado em amor”. O “amor” de que Paulo falou aqui não é o amor de Deus, ou o amor por Deus. O seu tema foi o amor da família — amor uns pelos outros em Cristo. E é vital que entendamos por que Paulo orou tão fervorosamente para que os membros da família de Deus fundamentem e estabeleçam o seu relacionamento uns com os outros em amor. Paulo disse que assim arraigados, temos, juntos, poder “com todos os santos” para compreender e conhecer o amor de Cristo (w. 18,19). Assim o amor da família é uma chave para o crescimento espiritual — “para que sejais cheios de toda a ple­ nitude de Deus”. Qual é a razão disso? Em parte pelo menos por­ que “amor” é um termo abstrato e confuso. Com muita frequência “amor” é um termo egoísta: “Eu te amo” não significa nada mais do que eu quero usar você para atender algumas das minhas pró­ prias necessidades físicas e psicológicas. Como isto é diferente do amor de Cristo! O amor de Cristo é totalmente altruísta: O seu “Eu te amo” significa que Ele está disposto a dar a si mesmo para atender as nossas necessidades mais urgentes. Como podemos compreender ou entender tal amor? Deus, em sua sabedoria, reuniu o povo de Cristo e fez dele uma família. No contexto da fa­ mília, uma família que ama e trata com carinho, que nutre e sustenta, que cuida e compartilha. De­ vemos compreender, por experiência, a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade do amor de Cristo. O primeiro grande chamado para qualquer con­ gregação não é construir um edifício maior, le­ vantar mais dinheiro para missões, ou até mesmo evangelizar a sua vizinhança. O primeiro grande

chamado para qualquer congregação é ser uma fa­ mília. Nutrida pelo calor do amor de Cristo, como é expresso através de irmãos e irmãs que cuidam uns dos outros, o povo de Deus é “cheio de toda a plenitude de Deus”. E Cristo, enchendo a nossa vida, alcançará, através de nós, não só a nossa vizi­ nhança, mas o mundo todo. Aplicação Pessoal A marca de uma igreja verdadeiramente espiritual ainda é: “Veja como eles se amam”. Citação Importante Cristo não tem nenhum outro corpo agora, na ter­ ra, além do teu; as tuas mãos são as únicas com as quais Ele pode fazer a sua obra; os teus pés são os únicos com os quais Ele pode percorrer o mundo; os teus olhos são os únicos através dos quais a com­ paixão de Cristo pode brilhar em um mundo per­ turbado. Cristo não tem nenhum corpo na terra além do teu. — Teresa de Ávila 5 DE NOVEMBRO LEITURA 309 IMITADORES DE DEUS Efésios 5

“Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo vos amou e se entregou a si mesmo por nós" (Ef5.1,2). Visão Geral Os cristãos devem seguir o exemplo de Deus e vi­ ver vidas amáveis (5.1) santas (w. 2-14), e sensí­ veis ao Espírito (w. 15-18) e uns aos outros (w. 19,20). Uma vida cristã deve ser especialmente demonstrada pela submissão mútua no lar cristão (w. 21-33). Entendendo o Texto “Sede, pois, imitadores de Deus” (Ef 5.1). O Novo Testamento frequentemente incentiva os cristãos a seguirem o exemplo dado por outros crentes. Aqui,

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somos exortados a seguir o exemplo dado pelo pró­ prio Deus. Isto seria impossível se não fosse por uma única coisa. Nós somos os seus “filhos ama­ dos”. Como filhos de Deus, temos uma nova heredita­ riedade. A sua própria vida está plantada dentro de nós. Devido a esta nova vida, agora é possível realmente imitar a Deus. O verbo é mais bem traduzido como “tornar-se” do que como “ser”. Isto nos lembra que o poten­ cial que há em nós tem que se tornar real. Você e eu temos que decidir se nos tornaremos aquilo que podemos ser em Cristo, ou se voltaremos a viver uma vida meramente humana. Deus nos deu tudo o que precisamos para nos tomarmos como Ele. A escolha é nossa.

“Andai como filhos da luz” (Ef 5.8-14). Luz e trevas são símbolos que João usou mais frequentemente do que Paulo. Mas Paulo teve um motivo especial para usá-los aqui. Eu me lembro de ter ido pescar, certa vez, no Lago Saguaro, perto de Phoenix, Arizona. Meus filhos e eu chegamos ao lago quando ainda estava escuro. Nós passeamos de barco pela margem conhecida — e de repente eu estava completamente perdido. Formas estranhas que pareciam ser ilhas desconhe­ cidas surgiram no escuro. O que elas poderiam ser? Onde eu estava? Então, quando o sol despontou acima dos penhas­ cos, ao leste, eu percebi o que tinha acontecido. No escuro eu havia errado e passado do ponto, virando em um braço do lago, diferente do que eu preten­ dia. Com o brilho crescente eu soube onde estava, e para onde deveria ir. E isto que Paulo está nos dizendo aqui. Na escu­ ridão é muito fácil se perder. Vagaremos para os lugares das trevas, e perderemos todo o senso da realidade, e nem saberemos o que fazer. Mas se es­ colhermos aquela vida de amor e santidade que nos mantém na luz de Deus, manifestaremos as “obras infrutuosas das trevas”. Nós as conheceremos pelo que elas são, e também aprovaremos “o que é agra­ dável ao Senhor”. Ande na luz. O lugar onde você está, e o lugar para onde você quiser ir, estarão claros.

“Andai em amor” (Ef 5.2). Paulo prosseguiu de­ finindo a decisão que temos de tomar. Podemos escolher viver uma vida de amor, e nos darmos aos outros como um sacrifício a Deus, ou vivermos uma vida egoísta. E realmente uma questão simples. Eu desejo ar­ dentemente perguntar, “O que posso fazer pelos outros?” ou almejo perguntar, “O que os outros podem fazer por mim?” Eu serei alguém que quer dar? Ou alguém que quer receber? A verdade maravilhosa é que ao dar recebemos o mais maravilhoso de todos os dons: o privilégio de ser como Deus, e dar o devido louvor ao seu pre­ “As obras infrutuosas das trevas” (Ef 5-11). Alguns cioso nome. tomam esta exortação como significando que os devem correr por aí ativamente apontan­ “Nem ainda se nomeiem” (Ef5.3-7). Deus é caracte­ cristãos do os pecados outros. De modo algum. Paulo rizado pela santidade, bem como pelo amor. E pelo explicou o que dos ele quis dizendo que nós cris­ fato de representarmos a Deus que não deve ser tãos somos agora “luz nodizer, mundo”. feita sequer menção de imoralidade sexual, cobiça, O que a luz faz ao ser levada para um lugar escuro? obscenidade — qualquer tipo de impureza — em Por que ela expõe o que está lá? Na luz, você pode nossa vida. ver a verdadeira forma das coisas que, sem luz, são Alguns podem rir do cristão como um hipócrita. sombras distorcidas. Nós não somos. Sexo dentro do casamento é rico, E assim que nós, cristãos, expomos as obras das belo, excitante, e livre. As piadas de pouco valor e trevas. Nós, expressões vivas do amor e da san­ as insinuações dissimuladas que o mundo conside­ tidade de Deus, entramos na sala e de repente a ra como muito espertas, não são nem um pouco verdadeira natureza da imoralidade, impureza, inteligentes. Elas refletem um ponto de vista de­ cobiça, obscenidade, e todos os outros pecados, é formado da vida e da bondade, e estão sob o juízo exposta. As pessoas não podem fingir que o “mau” e a ira de Deus. é “bom” quando a verdadeira bondade estiver pre­ No entanto, não fique com a impressão de que os sente na sala. cristãos andam por aí com uma expressão ranzinza Viva como um filho da luz, e deixe que a beleza da no rosto, lançando olhares furiosos aos pecadores sua vida exponha tudo o que é feio neste mundo. que passam. Foi por isso que Paulo mencionou o amor em primeiro lugar (v. 1). Se você viver uma “Enchei-vos do Espírito” (Ef 5.17,18). As pessoas vida de amor, você pode ser santo sem ser hipó­ do mundo tentam fugir da monotonia da sua crita. Se a sua santidade não for embelezada pelo existência diária buscando um enlevo alcoólico. amor, ela distorcerá a imagem de Deus. Paulo disse, encontre esta fuga através do Espíri-

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to. Deixe que Ele lhe levante. Permita que Ele tor­ família. Em uma classe da Escola Dominical. Em ne a vida viçosa e nova. Você não terá nem mesmo um círculo de oração das irmãs. Em um estudo bí­ blico. Talvez em sua própria casa. A igreja ainda é a uma. ressaca! igreja. Mesmo! E na igreja, Deus tem uma família “Falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos para você. espirituais” (Ef 5.19,20). Esta é apenas uma de al­ gumas passagens no Novo Testamento que retrata “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus” (Ef os cristãos se congregando como igreja. Em todas 5.21). De alguma forma os tradutores da Bíblia de­ as passagens, a Escritura sugere proximidade e cidiram que o versículo 21 não deveria ser ligado calor, uma rica participação mútua em uma vida ao versículo 22. Eles estão cuidadosamente separa­ comum. dos na maioria das versões! Imagine-se no cenário que Paulo conhecia muito Não conseguimos imaginar o motivo. “Sujeitaibem. A família se reuniu. Irmãos e irmãs, felizes vos” (hypotasso) significa simplesmente subordipor verem um ao outro, se reúnem na sala. Logo nar-se àqueles considerados dignos de respeito. Se um começa um hino. Então, outro contribui com tomássemos seriamente versículos como Romanos um cântico. O coração de todos está elevado, e 12.10 (“preferindo-vos em honra uns aos outros”) e Filipenses 2.3 (“por humildade, cada um conside­ logo a sala estará repleta de orações espontâneas. Nós não temos muitas descrições reais de tais reu­ re os outros superiores a si mesmo”), todos nós nos niões no Novo Testamento. Mas examinando so­ sujeitaríamos rapidamente - não só a líderes, mas mente este livro sabemos que as reuniões deviam também a outros irmãos e irmãs. Não só esposas ser exatamente assim. Devemos estar “arraigados e aos maridos, mas maridos a esposas. fundados em amor” (3.17). Devemos crescer e nos Na verdade, é somente no contexto de um corpo edificar mutuamente “segundo ajusta operação de no qual a submissão mútua é praticada por todos cada parte... para sua edificação em amor” (4.16). que podemos realmente entender o que Paulo disse De que outra forma isto poderia acontecer se nós sobre maridos e esposas no restante deste capítulo. não nos aproximássemos, compartilhando como Mas esqueça isso. E suficiente aqui notar que em uma família, amando e louvando juntos. Cristo a submissão não é uma admissão de inferio­ Não pense que estas descrições da igreja de Cris­ ridade. Ê simplesmente uma afirmação de que os to são ideais, mesmo nos nossos dias ao sentarmos outros são valiosos e importantes o bastante para passivamente no banco da igreja no domingo. Em serem ouvidos, amados, e para terem suas necessi­ algum lugar na sua igreja há irmãos e irmãs que se dades atendidas. Conforme a maneira peculiar de reúnem, ou que estão dispostos a se reunir, como Deus, é a submissão que nos torna grandes.

DEV OCION A L______ Cabeça da Mulher

(Ef 5.22-33) Paulo disse isto de forma bastante clara. A esposa dá o exemplo de submissão. O marido dá o exem­ plo de amor. Cada um facilita ao outro a tomada de iniciativa em sua própria contribuição singular para o lar cristão. Eu não sei se fico com raiva pela maneira que al­ guns cristãos distorcem esta passagem, ou se choro. Já fiz as duas coisas às vezes. Com raiva, quando um marido usa mal esta passagem como um cajado na tentativa de dominar a sua esposa. Chorando, quando uma esposa desistia de suas esperanças e talentos e até da sua identidade, em um esforço de ser obediente ao que ela pensava que a Escritura ensinava. Expressando de forma muito simples, Paulo disse a nós maridos que nós somos as cabeças das nossas esposas “como também Cristo é a cabeça da igre-

ja” (v. 23). Paulo prosseguiu para mostrar que para Cristo isto significava que Ele “amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar” (w. 25,26). A liderança para Cristo não significava do­ minação. Significava renúncia. Liderança não sig­ nificava “Eu sou o chefe”, dignificava, “Como eu posso suprir as suas necessidades?” Este deve ser o significado para um marido que quer ser a cabeça do seu lar, semelhante a Cristo. E colocar as necessidades da sua esposa antes das suas próprias necessidades. Significa fazer tudo o que estiver ao seu alcance para ajudá-la a atingir todo o seu potencial como pessoa e como cristã. Significa amar, com renúncia, como Cristo amou. Assim, não pregue sermões exigindo que as mu­ lheres se “sujeitem”. Em vez disso, pregue sermões convocando os homens cristãos a amar como Cris­ to amou. Se um marido der este tipo de amor, a submissão será alegre e espontânea.

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monia com o que Deus diz ser certo, somos verda­ Aplicação Pessoal Ser o cabeça do lar significa aceitar a responsabili­ deiramente abençoados. dade de assumir a liderança em amor. “E vós, pais, nãoprovoqueis a ira a vossosfilhos”(Ef6.4). Uma versão em inglês traz a seguinte tradução: “Não Citação Importante “A coisa mais importante que um pai pode fazer controle seus filhos excessivamente”. O pensamento é expresso em diversos sinônimos esclarecedores: abor­ por seus filhos é amar a mãe deles.” recer, provocar, irritar, enervar. Assim como os filhos — Theodore M. Hesburgh se sujeitam aos pais pela obediência, também os pais 6 DE NOVEMBRO LEITURAdevem 310 se sujeitar aos filhos sendo sensíveis, ouvindo o ponto de vista deles, sendo justos. . ' .. A ARMADURA DE DEUS O mais importante a ser lembrado em qualquer Efésios 6 relacionamento é que a pessoa que detém maior "Fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. poder social — aqui, pai e mãe — tem a maior Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que responsabilidade de usar este poder amavelmente — possais estarfirmes contra as astutas ciladas do diabo” e sabiamente. (Ef 6.10,11). “Vós, servos, obedecei a vosso senhor” (Ef 6.5-8). No Use todos os recursos que Deus lhe concedeu para império romano os escravos eram propriedades, e — não tinham o direito de dirigirem as suas próprias combater na guerra espiritual. vidas. Quando o evangelho se espalhou, muitos escravos se tornaram cristãos. Várias das epístolas Visão Geral Paulo examina as responsabilidades mútuas dos fi­ dão instruções aos escravos, aconselhando, em cada a submissão aos seus senhores. lhos e dos pais (6.1-4), dos escravos e dos senhores caso, foi além das outras passagens aqui, pois ele (w. 5-9). Paulo reviu o ensino desta carta, retratan­ Paulo enfatiza atitude interior pela qual o serviço dos do os recursos que Deus concedeu como a arma­ escravos uma deve ser recompensado. Para os escravos a dura de um soldado (w. 10-20), e encerrou com “submissão” não deveria consistir de uma obediên­ breves saudações (w. 21-24). cia rancorosa, mas de um compromisso sincero em fazer a vontade do seu senhor. Entendendo o Texto suponho que as palavras de Paulo seriam di­ “Honra a teu pai e a tua mãe” (Ef 6.1-3). Paulo de­ Hoje rigidas a relacionamentos empregado/empregador. senvolveu o pensamento de submissão mútua apre­ Certamente seria o mesmo. Devemos sentado em 5.21, e aplicou-o aos relacionamentos fazer sempre oo conselho nosso trabalho “na de marido e mulher nos versículos 22 e 23. A sub­ sinceridade do [nosso] coração”.honestamente, Podemos não ter missão de um filho é expressa pela obediência aos os olhos de um supervisor sobre nós. Mas os olhos seus pais. de Deus estão. Em última análise, a recompensa Poderíamos colocar uma vírgula na frase, “que é o por um dia de trabalho honesto não deve se achar primeiro mandamento com promessa”. Psicologi­ no nosso contra-cheque, mas na aprovação de camente este é o primeiro mandamento que uma Deus: “Bem está, servo bom e fiel”. pessoa experimenta: Nós aprendemos a obedecer aos nossos pais muito antes de aprendermos a res­ “Vós, senhores, fazei o mesmo para com eles” (Ef6.9). peito de roubo, assassinato, ou adultério. Se apren­ Outra vez a “submissão” é recíproca para os cris­ dermos a obedecer aos nossos pais quando eles tãos. O empregado se sujeita, prestando um dia de tentarem nos educar no Senhor, então o resto será trabalho honesto. O empregado se sujeita tratando muito mais fácil. Se formos rebeldes, todos os ou­ os empregados de forma justa, com uma preocupa­ tros mandamentos serão mais difíceis, assim como ção honesta pelo bem-estar deles. será mais difícil sujeitarmo-nos a Deus. A submissão recíproca é um dos princípios mais Não é de se admirar que este mandamento tenha importantes da vida cristã. Em todos os nossos uma promessa atrelada a si. A criança que aprende relacionamentos, sejam pessoais ou profissionais, a responder à direção paterna irá evitar os compor­ você e eu devemos considerar o bem-estar dos ou­ tamentos destrutivos e prejudiciais que tendem a tros, e agir de acordo com este princípio. encurtar a vida. A expressão, “Para que te vá bem”, nos traz mais “Para que possais estar firmes contra as astutas cila­ um lembrete. Deus nos dá os seus mandamentos das do diabo ” (Ef 6.10,11). Efésios é um livro sobre para o nosso benefício. Quando vivemos em har­ a igreja. Nele Paulo apresentou a igreja de Cristo

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como um corpo, uma família, e um templo san­ to. Cada uma destas imagens convoca os cristãos a viverem juntos em amor e unidade. Ê este tema dominante do livro que nos ajuda a entender a natureza das ciladas do diabo, e a armadura que Deus nos concedeu para usarmos ao resistirmos a elas. Simplesmente, as ciladas do Diabo em Efésios são as suas estratégias para perturbar a unidade da igreja. E a armadura de Deus é o recurso dEle para manter a unidade. Viver juntos em amor como a igreja viva de Jesus Cristo não é opcional. E essencial!

“Tendo cingidos os vossos lombos com a verdade” (Ef 6.14). Paulo tinha escrito, “Falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros” (4.25). A franqueza e a honestida­ de criarão definitivamente um clima de confiança e unidade. Tentativas de esconder os nossos motivos ou de enganar os outros, criarão um clima de mal­ entendidos, tornando a unidade impossível. Aquela “mentira branda” que parece tão inocente é um dos mensageiros do Diabo destinado a pertur­ bar a comunhão na igreja de Cristo. “A couraça da justiça” (Ef 6.14). Paulo tinha escri­ to, “Mas a prostituição e toda impureza ou avareza nem ainda se nomeiem entre vós, como convém a santos” (5.3). A santidade e a pureza pessoal são essenciais para a unidade, e para incorporar a santi­ dade na igreja de Cristo. “E calçados os pés na preparação do evangelho da paz” (Ef6.15). Paulo havia frequentemente enfa­ tizado o fato de que o evangelho traz a paz, não só reconciliando-nos com Deus, mas também uns com os outros (cf. 2.11-22). Em Efésios, “paz” é a qualidade da aceitação total que man­ tém o elo de unidade criado pelo Espírito, per­ mitindo que a igreja se mova diante da ordem de marchar que recebemos de Cristo, o nosso Co­ mandante. Sem a paz, a obra de Cristo na terra se torna deficiente. “Tomando sobretudo o escudo da fé” (Ef6.16). Paulo nos mostrou um Deus que é “poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera” (3.20). Se mantivermos os nossos olhos neste Deus, todos os dardos inflamados de dúvida lançados por Satanás serão eliminados.

O legionário romano fortemente armado está vestido com toda a sua armadura, equipado para a batalha. Paulo resumiu o seu ensino em Efésios ligando temas principais a partes diferentes do equipamento de um soldado de infantaria.

“Tomai também o capacete da salvação” (Ef6.17). Paulo descreveu quem nós éramos em Efésios 2. Ali também afirmou quem nós somos: pessoas que estão vivas em Cristo e que são a feitura de Deus. Juntos, nós cristãos precisamos manter esta identidade principal em nossos pensamen­ tos. Não devemos ver os outros na igreja à luz do que eles foram, ou mesmo o que eles são agora. Devemos vê-los em todo o seu potencial, no que nós estamos nos tornando juntos. Se esta per­ cepção dos nossos irmãos cristãos moldar a nossa atitude em relação a eles, uma das ciladas mais eficazes de Satanás — fazer com que sejamos crí­ ticos, hostis, ou rejeitadores — certamente será derrotada.

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“A espada do Espírito, que é a Palavra de Deus” (Ef 6.17). Esta é a única peça da armadura que Paulo explicou. Por quê? Porque os temas representados por outras partes do equipamento do soldado fo­ ram explorados em Efésios, mas Paulo não tinha anteriormente tocado na Palavra de Deus. As outras partes da armadura sáo para a nossa defe­ sa contra as ciladas perturbadoras do diabo. A Pa­ lavra de Deus nos capacita a tomarmos a ofensiva. À medida que ensinarmos e vivermos a Palavra de

DE V OCIONAL______

A Imitação do Local de Trabalho (Ef 6.1-9) O chamado desafiador de Paulo, “Sede, pois, imi­ tadores de Deus” (Ef 5.1), há muito tempo tem capturado a imaginação dos cristãos. Desde a obra, The Imitation of Christ, de Thomas à Kempis, até In His Steps, de Sheldon, os crentes têm tentado imaginar como seria imitar realmente a Deus na vida cotidiana. O que muitos perdem é que em Efésios Paulo con­ tinuou a descrever a vida de imitação como uma vida de submissão mútua em todos os relaciona­ mentos. Os maridos amam as suas mulheres e co­ locam as necessidades delas em primeiro lugar, e as mulheres com satisfação respondem aos maridos. Os filhos obedecem a seus pais, e os pais são sensí­ veis aos sentimentos e necessidades dos seus filhos. Os escravos servem aos seus senhores com sinceri­ dade, e os senhores consideram as necessidades dos seus escravos. Talvez isto seja um pouco prosaico, mas o fato é que a imitação de Cristo talvez seja mais claramen­ te vista onde um empregado chega no horário, tra­ balha muito durante o dia, e faz o melhor que pode para contribuir para a lucratividade do negócio do seu chefe, e onde um empregador paga um salá­ rio justo, faz questão de que os seus empregados tenham assistência médica, certifica-se de que as condições de trabalho são seguras, e está satisfei­ to com um lucro razoável, embora pudesse ganhar mais tirando vantagem dos seus empregados.

Deus, Satanás será crescentemente revelado como um inimigo derrotado.

“Orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito” (Ef 6.18-20). Deus nos concedeu os recursos de que precisamos para lutarmos as nossas batalhas espirituais. Mas não podemos usá-los sem oração. Pois estes são recursos espirituais, e deve­ mos confiar em Deus quando usá-los.

Mas então outra vez, talvez as expressões ro­ tineiras e comuns da fé cristã sejam as mais importantes. Afinal, devemos imitar a Deus, e Deus em Cristo entrou no mundo como um ser humano. Ele viveu com pessoas comuns, desempenhou um trabalho comum, e somente durante os últimos dez por cento da sua vida de 30 ou 33 anos na terra Ele ensinou ou operou milagres. Você e eu talvez não possamos imitar a Cristo nos últimos e espetaculares 10 por cento de sua vida na terra. Mas com certeza podemos imitá-lo nos 90 por cento que Ele viveu como um homem comum. E, nas coisas comuns da nossa vida — em casa, no trabalho — podemos demonstrar, na nossa sujeição aos outros, alguma coisa da glória oculta do nosso Deus. Aplicação Pessoal Imite a Deus amanhã. Desempenhe um dia de tra­ balho honesto! Citação Importante “Ele se tornou o que somos, para que pudésemos nos tornar como Ele é.” — Atanásio de Alexandria

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em FILEMOM

FILIPENSES INTRODUÇÃO Esta carta calorosa e alegre foi escrita quando Paulo estava aprisionado em Roma, aproximadamente em 61 d.C. Apesar destas circunstâncias, a palavra-chave na epístola aos Filipenses é “alegria” ou “regozijo”, que aparece 14 vezes. Embora a carta seja pessoal, e não um tratado teológico, como a carta aos Romanos ou aos Gálatas, ela contém uma das mais poderosas confirmações das Escrituras a respeito da encarnação e Exaltação de Cristo (2.1 -11). A carta aos Filipenses é também uma bonita expressão dos valores e motivos do próprio Paulo, e consequentemente, um exemplo para os cristãos de todas as eras. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Introdução................................................................................................ II. Aprisionamento de Paulo..................................................................... III. Imitando a Humildade de Cristo...................................................... IV. Notícias de Epafrodito......................................................................... V..Advertências........................................................................................... VI. Exortações Pessoais ............................................................................. VII. Agradecimentos e Despedida ..........................................................

...Fp 1.1-11 .. Fp 1.12-30 ...Fp 2.1-18 ..Fp 2.19-30 Ep 3.1—4.1 ......Fp 4.2-9 ,. Fp 4.10-23

GUIA DE LEITURA (4 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 311 312 313 314

Capítulos 1 2 3 4

Passagem Essencial 1.12-19 2.6-11 3.4-11 4.6

FILIPENSES 7 DE NOVEMBRO LEITURA 311

PAULO APRISIONADO Filipenses 1

“As coisas que me aconteceram contribuíram para que o seu aprisionamento tinha sido uma coisa boa maior proveito do evangelho” (Fp 1.12). (w. 12-26) e os exortou a resistir, juntos (w. 2730). Em Cristo, até mesmo as más notícias podem ser boas notícias, disfarçadas. Entendendo o Texto “Fazendo, sempre com alegria, oração” (Fp 1.4). Contexto Orar pelos outros não é um dever. E uma alegria: A igreja em Filipos. Paulo fundou a igreja na cidade uma oportunidade especial de afagar as pessoas que de Filipos, colônia romana, aproximadamente em amamos, e de estar próximos delas. 50 d.C., cerca de 10 anos antes que esta carta fosse Esta nova abordagem à intercessão marca as pala­ escrita. Ele visitou a cidade novamente em 55 d.C., e vras iniciais da carta de Paulo aos Filipenses. Ne­ esteve em contato com os crentes por meio de cartas nhuma necessidade especial ou desesperada levou e cooperadores, como Timóteo. Aparentemente, os Paulo a orar. Em vez disto, Paulo tinha cultivado filipenses ficaram muito preocupados quando sou­ o costume, sempre que pensava em seus queridos beram que Paulo tinha sido enviado a Roma, depois amigos de Filipos, de expressar os alegres sentimen­ de ser aprisionado em Jerusalém (At 21-28). Eles tos que a recordação lhe trazia, orando por eles. enviaram uma doação de dinheiro com Epafrodito, Que maneira simples, e ainda assim, significativa, para ajudar Paulo com suas despesas. Este mensa­ de enriquecermos nossas vidas de oração. Nós po­ geiro ficou extremamente doente, mas se recuperou, demos cultivar o costume, sempre que pensarmos e Paulo enviou esta carta aos Filipenses por seu in­ nos outros, de agradecer e orar por eles, “com ale­ termédio, depois da sua recuperação. Paulo abordou gria”. muitos temas diferentes na epístola aos Filipenses, desde o seu próprio aprisionamento a uma dispu­ “Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiço­ ta entre duas mulheres que lideravam a igreja de lá. ará” (Fp 1.3-6). Na primeira semana na faculdade Apesar das suas próprias circunstâncias de incerteza em Ohio, fui acometido de apendicite, e subme­ e das indicações de problemas na congregação dos tido a uma cirurgia de emergência. Minha mãe e filipenses, a carta de Paulo vibra com uma alegria, meu pai vieram me ver, e mamãe me trouxe uma que existe, independentemente das circunstâncias. Bíblia. Tentando fazer uma brincadeira, eu peguei Na carta aos Filipenses, nós descobrimos as fontes a Bíblia e disse: “Eu não estou tão doente assim!” de alegria disponíveis aos cristãos que andam por Ás vezes, até mesmo nós, cristãos, pensamos na caminhos escuros, com o Senhor. oração ou em outros exercícios religiosos como o último recurso. Nós oramos quando estamos de­ Visão Geral sesperados, ou quando tememos pelos outros. Mas Paulo agradeceu a Deus e orou pelos seus compa­ Paulo orava com alegria, e com suprema confian­ nheiros no evangelho (1.1-11). Ele lhes assegurou ça. Não havia um perigo iminente à igreja de Fili-

FiLipenses 1

pos. Estes crentes tinham cooperado com Paulo, na disseminação do evangelho, desde o início. E Paulo tinha total confiança de que a obra que Deus começara nas suas vidas seria aperfeiçoada, “até ao Dia de Jesus Cristo”. Nós podemos ter esta mesma confiança, quando orarmos, uns pelos outros. Deus não abandona a nenhum dos seus. As nossas orações não são um úl­ timo esforço para impedir que eles escorreguem pela beirada de algum precipício espiritual. Nós oramos por outros cristãos com alegria, e com total confian­ ça de que Deus está operando nas suas vidas. Por que, então, nós oramos? Nós oramos como uma expressão de amor. E nós oramos porque cremos que Deus, de alguma maneira misteriosa, usa as nossas orações para enriquecer aquela boa obra que Ele está comprometido em fazer na vida dos seus filhos. “E peço isto” (Fp 1.9-11). Em Romanos 8.26, Pau­ lo observa que nós não sabemos, realmente, o que devemos pedir, pelos outros. Mas as suas orações pelos crentes, como registradas aqui, em Efésios 3 e em Colossenses 1, podem nos orientar. Estas orações merecem ser memorizadas. Então, quando nós pen­ sarmos em um amigo, poderemos desejar “que a vossa caridade aumente mais e mais em ciência e em todo o conhecimento. Para que aproveis as coisas excelentes, para que sejais sinceros e sem escândalo algum até ao Dia de Cristo, cheios de frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus”. “A s coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho" (Fp 1.12-18). Os filipenses fi­ caram profundamente preocupados com a prisão de Paulo. Em primeiro lugar, se Paulo fosse condenado, o movimento cristão poderia ser ameaçado. O gover­ no romano tinha declarado lícitas algumas religiões, dando às pessoas o direito legal de praticá-las. Ou­ tras religiões não eram consideradas lícitas. Como o movimento cristão tinha emergido do judaísmo, e o judaísmo era uma religião legal, o início do cristianis­ mo estava protegido. Se Paulo fosse condenado por algum crime religioso, o movimento que ele represen­ tava poderia ser oficialmente proibido. Mesmo que isto não acontecesse, o grande apóstolo e evangelista pareceria estar inativo. Ele já tinha estado preso durante dois anos, em Cesareia. Agora, estava em prisão domiciliar, em Roma. O que aconteceria ao evangelho sem Paulo? Eu li, no jornal de hoje, um relato sobre o explosivo crescimento do cristianismo evangélico na Guatema­ la. Esta terra, rasgada pelo derramamento de sangue, com sua economia destruída e seu povo privado de tudo, agora tem aproximadamente uma terça parte de seus habitantes como cristãos evangélicos, e este

número cresce aproximadamente 10 por cento ao ano! Nós devemos sofrer por aqueles que vivenciam os terrores da pobreza e da luta civil. Mas nós tam­ bém precisamos perceber que Deus está usando o seu sofrimento na terra para abrir seus corações para o evangelho. E muito frequente que nós sejamos abalados pelas circunstâncias que são comprovadamente terríveis, mas na providência de Deus, “contribuíram para maior proveito do evangelho”. A lição que Paulo es­ tava tentando ensinar aos filipenses é que Deus toma aparentes tragédias e as converte em triunfos. (Veja o DEVOCIONAL.) “Porquepara mim o viver é Cristo, e o morrer éganho” (Fp 1.21). Paulo declarou a única atitude que nos pos­ sibilita descobrir o bem no mal, que, de outra manei­ ra, poderia prejudicar nossas vidas. Se examinarmos as circunstâncias meramente a partir de um ponto de vista humano, e pensarmos, antes de tudo, no nosso próprio conforto ou na nossa situação nesta vida, nós poderemos ter boas razões para nos desesperar. Mas Paulo não examinava a sua vida desta maneira. Ele se preocupava apenas em servir a Jesus e glorificar a Ele. Se esta for a nossa motivação principal, as nossas cir­ cunstâncias aqui serão relativamente sem importân­ cia. Nós podemos viver por Jesus em uma cabana ou em um palácio. Nós podemos repartir nossos centa­ vos ou nossos milhões. Nós podemos agradecer por nossos trapos ou por nossas riquezas. Agradar a Jesus deve ser o seu único desejo, e você deve declarar independência de todas as circunstân­ cias que podem arruinar a vida de outras pessoas que continuam lutando sem Ele. “Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo”(Fp 1.27-30). Este parágrafo resu­ me o tema de Paulo em uma exortação simples. Não importa o que aconteça. Quer você prospere, quer vá à falência. Quer você se torne popular ou um objeto de ridículo. A despeito do que aconteça, viva como um cristão que é merecedor do grande presente que Deus nos deu no evangelho. O que torna a vida cristã “digna”? Manter a unidade. Combater pelo evangelho. Permanecer confiante, e não temeroso. A exortação é importante para nós, como foi para os filipenses do século I. Nesta vida nós também pode­ mos receber um presente incomum. O presente, “em relação a Cristo, não somente crer nEle, como tam­ bém padecer por Ele”. Usando quaisquer circunstâncias que Ele nos en­ viar como oportunidades para servi-lo, poderemos fazer do nosso sofrimento, não apenas um presente de Deus, mas um presente para Ele.

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DEVOCIONAL_________ Evidência Circunstancial mento pode ser o prenúncio da alegria. (Fp 1.12-19) Nos nossos tribunais de justiça, a melhor evidên­ cia é a direta: existem testemunhas de um even­ to que podem dizer quem fez o que, e quando. A segunda melhor é a evidência circunstancial: fatos e informações que, quando interpretados, tornam prováveis quem, o que e quando. O problema com a evidência circunstancial está sempre naquela pe­ quena frase, “quando interpretados”. Por exemplo, considere uma jovem mulher, bo­ nita, vibrante, atlética. Ela sofre um acidente que a deixa permanentemente paralisada, do pescoço para baixo. “Terrível”, dizemos. E estamos certos. “A sua vida está destruída”, pensamos. E estamos errados! Devido a este acidente, Joni Eareckson Tada se tornou uma grande dádiva para a igre­ ja, e descobriu uma vida nova e realizada para si mesma. É exatamente isto o que Paulo estava tentando ensinar aos filipenses, quando escreveu, “Quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconte­ ceram contribuíram para maior proveito do evan­ gelho” (v. 12). As circunstâncias são enganadoras. Sim, Paulo, o principal evangelista e fundador de igrejas, estivera inativo. Sim, ele passara dois anos preso em Cesareia, e agora estava em prisão domi­ ciliar em Roma. Parecia um terrível obstáculo para a igreja, e um terrível desperdício dos poucos anos que ainda restavam a Paulo. Mas era somente o que parecia, e não o que era. Olhe, disse Paulo, todos na guarda do palácio, sa­ bem que estou aqui por causa de Jesus. E muitos dos irmãos “ousam falar a palavra [de Deus] mais confiadamente”. E como um time de futebol cujo zagueiro está fora do jogo; os demais se esforçam ainda mais! Mesmo aqueles que tinham ressentimentos contra Paulo, pregavam mais vigorosamente, e, embora seus motivos fossem questionáveis, Cristo estava sendo pregado! Assim, Paulo não interpretou o seu aprisio­ namento como uma tragédia, de maneira nenhuma. Ele olhou além das circunstâncias, e as interpretou com uma clara compreensão do objetivo de Deus de divulgar o evangelho. Quanto ao próprio Paulo, bem, por meio das orações dos filipenses, ele certa­ mente seria libertado. Devemos aprender a interpretar a evidência cir­ cunstancial, como Paulo, levando em consideração o fato de que Deus opera todas as coisas para o bem daqueles que o amam. O que parece uma tragédia pode conduzir a um dos maiores triunfos espiri­ tuais da história. O que parece uma derrota pode ser convertido em uma vitória. O que parece sofri­

Aplicação Pessoal Enfrente o pior, e espere o melhor.

Citação Importante “O sofrimento, embora seja uma carga, é uma car­ ga útil, como as talas usadas nos tratamentos orto­ pédicos.” — Soren Kierkegaard 8 DE NOVEMBRO LEITURA 312 A HUM ILDADE ENCARNADA Filipenses 2

“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo” (Fp 2.5-7). O caminho para ser exaltado ainda é ser humilde. Visão Geral Uma humilde preocupação com os outros (2.1-4) imita a humildade exibida por Cristo (w. 5-11), que conduz a vidas irrepreensíveis e puras (w. 1218). Paulo elogiou dois homens que estava prestes a enviar a Filipos (2.19-30). Entendendo o Texto “Se há algum conforto” (Fp 2.1). A língua grega tem diversas palavras e construções diferentes para a nossa tradução “se”. O “se” em Filipenses 2.1 pres­ supõe que a condição já foi cumprida, e significa “uma vez que”. Assim, o que Paulo estava dizendo é, uma vez que vocês estão unidos com Cristo, e uma vez que encontram conforto no seu amor, e uma vez que compartilham do Espírito de Deus. Como Paulo compreendia bem a Deus! Paulo es­ tava prestes a pedir que seus amigos, em Filipos, se comprometessem com um modo de vida mais hu­ milde e afetuoso. No mundo, as pessoas que ten­ tarem influenciar os outros poderão dizer, “Se você fizer isto, então eu farei alguma coisa por você”. Mas não Deus, e não Paulo! Em vez disto, Paulo lembrou seus leitores de como Deus tinha derra­ mado a sua graça sobre eles, e então disse, “Uma vez que vocês foram tão abençoados, deem o passo da obediência”. Não há indicação de ameaça no nosso relaciona­ mento com Deus. Não há indicação de suborno. Deus não removerá as nossas bênçãos, e não há necessidade de acrescentar nada a elas! Paulo sim­ plesmente nos lembra do que Deus já fez por nós,

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ciente agir de maneira altruísta. Nós devemos estar livres do “egoísmo e da arrogância”. Isto seria uma tarefa impossível, se não fosse por uma realidade maravilhosa. Deus já agiu para tornar pos­ sível tudo o que Ele nos pede! Não é de admirar que Paulo comece dizendo, “se há algum conforto em Cristo... se alguma comunhão no Espírito”. Cristo e o seu Espírito vivem em nós, e com a sua presença, “Que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor”(Fp 2.2- nós podemos desenvolver “o mesmo sentimento que 4). Dois temas encontrados nas cartas do Novo houve também em Cristo Jesus”. Testamento estão entrelaçados aqui. Um deles é a unidade: aquela vida em comum, compartilhada “Pelo que também Deus o exaltou soberanamente”(Fp por aqueles que compõem a igreja de Cristo, e que 2.9-11). A nossa fé cristã está cheia de paradoxos. alcançam a espiritualidade somente quando a liga­ Este é o mais poderoso. Como Cristo se humilhou, ção entre os membros é íntima e calorosa. O outro Deus o exaltou. O caminho para o alto é, na reali­ tema é a humildade: esta atitude básica, com rela­ dade, para baixo. A chave para a liderança é servir. ção a nós mesmos e aos outros, que é necessária, Os maiores, entre nós, são os servos de todos. Este é um paradoxo, mas também é uma realidade. para que exista a unidade. De vez em quando, eu vejo nas bancas, uma revista Nós, que escolhemos a humildade agora, seremos que apresenta um novo teste: “Até que ponto você exaltados, e estaremos acima dos orgulhosos. Nós, compreende seu cônjuge?” “Que tipo de amante que nos entregamos aos outros, vamos lucrar. Nós, você é?” “Examine suas qualidades de pai!” Bem, que perdermos a nossa vida a encontraremos me­ o apóstolo Paulo propôs aqui um simples teste, lhorada e verdadeira. sobre uma pergunta ainda mais importante. “Que Não há outra maneira de ser bem sucedido na vida nota você dá ao seu relacionamento com outros cristã, que não seja andar pelo caminho que Jesus andou. cristãos?” Parte do teste avalia a comunidade da qual você faz parte. “Vocês sentem o mesmo, têm o mesmo “Um nome que é sobre todo o nome” (Fp 2.9-11). amor, o mesmo ânimo, sentem uma mesma coisa”? O nome “Senhor” tem uma grande importância (v. 2). Parte do teste avalia as suas atitudes pessoais. nos dois Testamentos. No Antigo Testamento, é o “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas nome pessoal de Deus, Yahweh, e significa “Aquele por humildade; cada um considere os outros supe­ que está sempre presente”. Com este nome, Israel riores a si mesmo... Não atente cada um para o que deveria se lembrar de Deus, e senti-lo como a reali­ é propriamente seu, mas cada qual também para o dade em cada aspecto da vida. No Novo Testamento, “Senhor” é o nome de hon­ que é dos outros” (w. 3,4). Se a igreja à qual você pertence fracassar na pri­ ra. Ele captura o espírito do nome do Antigo Testa­ meira parte do teste, não se sinta desencorajado. Se mento, e o enche de novo significado, por meio do você for aprovado na segunda parte, Deus poderá sofrimento e da exaltação de Jesus. O Deus, sempre usar você para modificar a sua igreja! presente, veio ao mundo em um corpo humano, e o Homem-Deus, Jesus, ressuscitou, triunfante. Um “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que dia, toda a humanidade irá adorar a Jesus como Se­ houve também em Cristo Jesus” (Fp 2.5). Cristo é nhor — o Deus pessoal e eterno da história e das o nosso Salvador, e mais. H á muitas palavras que Escrituras. podemos acrescentar, depois deste “e mais”. Ele Aqui há uma observação de finalidade. “Para que... é o nosso Salvador, e mais nosso Senhor. Ele é se dobre todo joelho” não é uma promessa do evan­ o nosso Salvador, e mais nosso Sumo sacerdote. gelho. E uma declaração ríspida de que aqueles que Mas aqui, como em Efésios 5.1 e outras passa­ não estão dispostos, agora, a reconhecer Jesus, se­ gens, Paulo nos lembra de que Jesus é o nosso rão forçados a fazer isto, no fim da história. Que Salvador, e mais nosso exemplo. Nós devemos ser alegria podemos ter, ao reconhecê-lo agora, livre­ como Jesus, não na maneira como agimos, mas mente e com alegria. em nossos mais íntimos valores e atitudes com Não devemos fazer do nosso reconhecimento de relação à vida. Cristo como Senhor uma declaração insincera, en­ E é por isto que Paulo enfatizou a humildade. Não tretanto. Em vista de quem Jesus é, e do que Ele so­ é suficiente parecer interessado nos outros. Nós freu por nós, devemos nos comprometer a prestardevemos estar interessados nos outros. Não é sufi­ lhe total obediência, agora e para sempre.

e nos pede que, por gratidão, respondamos apro­ priadamente a Deus. Da próxima vez que você enfrentar uma escolha difícil, lembre-se de tudo o que Deus já lhe deu, livremente. Como expressão de agradecimento, escolha, com a mesma liberdade, fazer o que irá agradar a Ele.

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“Operai a vossa salvação” (Fp 2.12-18). Como dis­ se o velho pregador, “Oh, a salvação está nele. Ela apenas ainda não começou a agir!” Mas agirá. Pois Deus está agindo nos seus, e pela sua graça nós exibiremos o caráter irrepreensível e a pureza dos filhos de Deus. “Que sinceramente cuide do vosso estado” (Fp 2.1924). Paulo elogiou Timóteo pela mesma qualida­ de que vinha exortando: uma humildade que nos faz colocar os outros em primeiro lugar. Como é importante que as igrejas tenham líderes que de­ monstrem as atitudes que exortam.

DEV OCIONAL______ Aniquilar-se a si Mesmo

(Fp 2.6-11) A declaração de Paulo, neste hino a Cristo como Deus encarnado, é considerada uma das primeiras confissões de fé da igreja, usada na adoração do século I. Certamente, é uma das mais profundas declarações da divindade plena de Jesus. Ela retrata Cristo como “realmente Deus”, mas aniquilando-se a si mesmo, para assumir a natureza humana e so­ frer uma morte vergonhosa. E afirma não somente a ressurreição de Jesus Cristo, mas a sua exaltação suprema, acima de todos. Mas Paulo aplicou este, que é o mais profundo dos mistérios da nossa fé, de uma maneira muito sim­ ples e prática! Nós devemos considerar a atitude de humildade que Jesus exibiu, e adotá-la nos nossos relacionamentos com os outros. Não é de admirar, com estas mensagens, que o cristianismo tenha sido acusado de ser a religião de fracos. Ted Turner, por exemplo, descreveu publi­ camente os cristãos como pessoas que não conse­ guem ser bem sucedidas neste mundo, e por isto se voltam para o próximo. Os cristãos são fracos, to­ los, escrupulosos demais ou covardes demais, para conseguir algo neste mundo. O estereótipo já existe há algum tempo, e a acusa­ ção não é nada nova. Os arrogantes deste mundo, compreensivelmente, desprezam as pessoas que falam mais sobre amor do que sobre sucesso, e que parecem valorizar mais a humildade do que as manchetes dos jornais. O que o mundo não compreende é que os cristãos escolhem a humildade, não pela sua fraqueza, mas pela sua força. Nós escolhemos a humildade, por­ que a nossa visão de Jesus lida com um golpe mor­ tal desferido ao orgulho de todos os homens. Qual­ quer base que possamos ter para crer que somos melhores do que os outros — inteligência, aparên­ cia, riqueza, educação, criação — tudo isto se torna

“Recebei-o, pois, no Senhor, com todo o gozo” (Fp 2.25-30). Alguns consideram que Paulo se esfor­ çou para elogiar Epafrodito e explicar a sua pe­ rigosa enfermidade. Estas pessoas sugerem que alguns indivíduos, da igreja de Epafrodito, criti­ caram este mensageiro. Paulo rebateu as críticas, lembrando duas vezes os filipenses que Epafrodi­ to, “pela obra de Cristo, chegou até bem próximo da morte”. O papel de “crítico dos irmãos” é um papel que nós devemos evitar, custe o que custar. Ele expres­ sa o oposto exato da atitude de humildade que é apropriada, a você e a mim. completamente insignificante quando vemos Jesus, disposto a abandonar a sua justa reivindicação de plena igualdade com Deus, não somente para se tornar um ser humano, mas até mesmo para mor­ rer em uma cruz. Vendo Jesus, nós percebemos que todas as reivindi­ cações que podemos fazer de superioridade devem também estar pregadas à sua cruz. Nós devemos desistir delas; matá-las, de uma vez por todas. Pois somente quando o nosso orgulho estiver morto, co­ meçaremos a nos preocupar com os outros, como Cristo se preocupou conosco. E para o verdadeiro cristão, como para Cristo, os interesses dos outros são mais importantes do que os seus. Aplicação Pessoal Nós subimos para a glória usando uma escada ro­ lante que vai para baixo. Citação Importante “A humildade é a veste da Divindade. O Verbo en­ carnado se revestiu dela, e por meio dela conviveu conosco, em um corpo como o nosso, cobrindo o brilho da sua grandeza e da sua glória com esta hu­ mildade, para que a criatura não se deteriorasse por vê-lo. A criatura não poderia ter olhado para Ele, se Ele não tivesse assumido uma parte dela, e, assim, convivido com ela. Portanto, cada homem que se cobrir com vestes de humildade estará vestido do próprio Cristo.” — Isaak da Síria ,. .

9 DE NOVEMBRO LEITURA 313 CO N H ECERA CRISTO Filipenses 3

“Tenho também por perda todas as coisas, pela exce­ lência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor” (Fp 3.8).

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Filipenses 3

O poder para viver — assim como a salvação — só prosseguir na vida cristã, ou experimentar a alegria. (Veja o DEVOCIONAL.) é encontrado em Cristo. Visão Geral Paulo tinha abandonado a confiança nas suas pró­ prias obras (3.1-6) para confiar completamente em Cristo (w. 7,8) e para sua capacitação espiritual (w. 10,11). Todos os crentes amadurecidos segui­ rão o exemplo de Paulo e procurarão este objetivo (w. 12-17), esperando ansiosamente o retorno de Cristo e a nossa transformação (w. 18-21). Entendendo o Texto “Resta, irmãos meus, que vos regozijeis no Senhor” (Fp 3.1)■ Este não é o último pensamento que Pau­ lo pretendia transmitir, mas é, na verdade, o supre­ mo pensamento. Paulo já tinha observado muitas fontes de alegria na vida cristã. Nós encontramos alegria na comu­ nhão com outras pessoas às quais amamos (1.4). Nós encontramos alegria ao transmitir o evangelho (v. 18). Nós encontramos alegria na nossa unida­ de com outros crentes (2.2). Mas a alegria final e suprema, que Paulo expressou em Filipenses 3, é encontrada no próprio Cristo. É esta alegria, que está disponível para você e para mim, sempre, que Paulo explorou neste capítulo muito pessoal da epístola aos Filipenses.

“Não confiamos na carne” (Fp 3.2-4). Paulo co­ meçou advertindo contra os judaizantes. Estes homens, de origem judaica e tendência farisaica visitaram todas as igrejas fundadas por Paulo, e tentaram convencer os crentes de que eles deviam se tomar judeus, para poderem ser cristãos. Eles deviam aceitar a circuncisão, e guardar as muitas regras do Antigo Testamento, conforme interpre­ tadas pela tradição. Inflamadamente, Paulo chamou estes homens de “maus obreiros”. Ao concentrar a atenção dos cren­ tes nas obras, eles desviavam a atenção de Cristo. Esta é a primeira pista para encontrar a suprema fonte de alegria para o cristão. Não confie no que você já fez, está fazendo ou fará. Confie apenas no que Cristo fez. Watchman Lee, o grande evangelista chinês, que es­ creveu sobre a vida espiritual, disse, muito apropria­ damente: “O cristianismo é um negócio estranho. Se tentamos fazer alguma coisa, não conseguimos nada; se procuramos obter alguma coisa, perdemos tudo. Porque o cristianismo não começa com um grande FAÇA, mas com um grande FEITO”. Somente se continuarmos a confiar em Cristo e no que Ele fez, somente abandonando toda a con­ fiança em nossas próprias obras, é que poderemos

“De alguma maneira... chegar à ressurreição dos mortos” (Fp 3.10,11). O versículol 1 confundiu al­ guns comentaristas, que supõem que Paulo estava falando sobre a futura ressurreição do seu próprio corpo. Mas o versículo 10 deixa claro que Paulo es­ tava falando de conhecer a Cristo agora, e de sentir agora o poder da sua ressurreição. Paulo disse algo similar em Romanos 8.11: “E, se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo também vivificará o vosso corpo mortal, pelo seu Espírito que em vós habita”. Desta ma­ neira, a epístola aos romanos identifica a fonte do poder para a vida cristã. Filipenses 3.10,11 agora prossegue, nos dizendo como utilizar esta fonte de poder. A explicação de Paulo? Tornar-se “como Cristo na sua morte” (NTLH). A receita está explicada nos versos acima. Nós abandonamos qualquer confiança que tínhamos na carne. Nós confessamos o nosso estado sem vida, e a total impossibilidade de qualquer realização espiritual. Assim como o corpo morto de Cristo foi sepultado, também nós sepultamos o lixo que antes considerávamos a nossa justiça. Então, ao lado do sepulcro de nós mesmos, nós ouvimos o convite de Cristo, para compartilhar dos seus sofrimentos e sentir o poder da sua res­ surreição. “Prossigo para alcançar aquilo” (Fp 3.12-14). Não acredite que a vida cristã seja passiva. Podemos dei­ xar de tentar. Mas não deixamos de prosseguir. Isto pode parecer um paradoxo, mas não é uma contradição. O que nós deixamos para trás é o es­ forço próprio, e a noção de que qualquer coisa que possamos fazer sozinhos pode ser agradável ou útil ao Senhor. O que nós temos diante de nós é o fato de que, aqui na terra, nós somos os pés e as mãos de Cristo. Nós somos o seu corpo, a presença que Ele ainda mantém no mundo dos homens. Para isto “fui... preso por Cristo Jesus”. E isto que você e eu mais valorizamos, no nosso caminho rumo ao céu. Não é que nós expressemos Cristo perfeitamente aos outros. Mas, à medida que confiarmos plena­ mente que Ele operará por nosso intermédio, e à medida que nos comprometermos em fazer a von­ tade de Deus, sentiremos um pouco do poder e da alegria da ressurreição, hoje. “A nossa cidade está nos céus” (Fp 3.17-20a). Um ci­ dadão deve lealdade às leis e aos governantes da sua nação. Paulo encerra esta seção da sua epístola aos

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Filipenses 3

Filipenses convidando-nos a lembrar do que signi­ fica estar unido a Jesus na sua morte e ressurreição. Nós não devemos lealdade ao nosso modo de vida anterior. Aqueles que tentam ser bons e assim me­ recer a benevolência de Deus são inimigos da cruz, que se levanta nítida e nua, como um símbolo da total iniquidade do homem. Nós, que ouvimos a mensagem da cruz, devemos continuar ouvindo-a em cada um dos nossos dias. Esta mensagem nos diz que Deus já fez aquilo que o homem jamais poderia fazer. E Deus continuará a fazê-lo, em você e em mim. “Também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20b,21). Anteriormente, Paulo es­ creveu: “Não que já a tenha alcançado ou que seja perfeito” (v. 12). Aqueles que esperam que

DEVOCIONAL_______ Um Voto que não Era de Confiança

(Fp 3.4-11) Ela era uma senhora, bem vestida, claramente de classe alta. Ela tinha parado para assistir, quando eu estava em um palanque do lado de fora da Cate­ dral de St. Patrick, em Nova York, para apresentar a minha “palavra de testemunho”. Talvez fosse a novidade de ver um dos marinheiros do Tio Sam, de uniforme, pregando na rua. Talvez fosse apenas curiosidade. Depois que desci do palanque, conversei com ela. Ela pensava que Jesus era adequado para algumas pessoas. Certamente, os vadios da periferia precisam de alguma coisa. Mas ela não era apenas religiosa, era realmente uma boa pessoa. Ela jamais tinha feito nada mesquinho, e embora outras pessoas pudessem precisar de Jesus, ela certamente não precisava. Frequentemente, as pessoas mais difíceis de alcan­ çar com o evangelho são aquelas que realmente têm tentado viver uma vida boa, e aparentemente foram bem sucedidas! Paulo era uma destas pessoas, e as suas credenciais eram muito superiores a qualquer credencial que você ou eu possamos examinar. Ou até mesmo aquela senhora que eu encontrei, tão rapidamente, na rua, há mais de 35 anos. Mas Paulo fez alguma coisa com as suas creden­ ciais, que você e eu precisamos fazer com as nossas. Nós temos que reconhecê-las não como vantagens, mas como desvantagens. Se nós, por um momen­ to, confiarmos nelas, ou pensarmos que elas nos recomendam a Deus, elas substituirão a nossa con­ fiança em Cristo, e assim nos enfraquecerão espi­ ritualmente. Pode parecer estranho, mas aqueles que sáo verda­ deiramente ímpios têm uma grande vantagem sobre

a vida espiritual seja de transformação repentina, ou de perfeição instantânea, certamente ficarão desapontados. Deus ainda tem apenas os nossos corpos mortais com que trabalhar, e com muita frequência lhe falta até mesmo a nossa coopera­ ção! Mas, apesar da nossa imperfeição, o poder de Deus flui em nós, e por nós. Na nossa fraqueza, nós conhecemos um pouco do seu poder forta­ lecedor. Não é de admirar que nós esperemos ansiosamente que Jesus retorne. Então, aquilo que nós vivenciamos agora, de maneira imperfeita, será plenamente nosso. Quando Jesus retornar, “transformará o nos­ so corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso” (v. 21). Então, por fim, nós percebere­ mos plenamente “a excelência do conhecimento de Cristo Jesus”, nosso Senhor (v. 8). os bons, quando se tornam cristãos. John Newton, por exemplo, tinha uma grande vantagem, sobre você e sobre mim. Ele foi para o mar quando ain­ da era jovem, e rapidamente se tornou um homem infame, bêbado, blasfemo e violento —e um merca­ dor de escravos. Posteriormente, quando Newton se converteu, ele jamais se esqueceu do poço escuro de onde tinha sido resgatado, nem da consciência que tinha da sua própria natureza corrupta. Assim, não se console através da “boa” vida que você pode ter tido antes da sua conversão. Nem mesmo através dos seus esforços honestos para agir bem, desde então. Como o apóstolo Paulo, consi­ dere que estas vantagens são desvantagens. Deixe que o seu coração se encha da “excelência do co­ nhecimento de Cristo Jesus”. Vista-se com a justiça que vem dEle pela fé, e confie que o seu poder de ressurreição irá se expressar por seu intermédio, e por intermédio da sua vida. Aplicação Pessoal A vida cristã é a vida da ressurreição. Mas antes de poder ressuscitar, você precisa morrer para o seu ego. Citação Importante “Esta vida com Cristo consiste, simplesmente, em entregar a ‘lojinha da vida’, tão assombrosamente complicada, a outra pessoa. Cristo se torna o dono, o gerente, o supervisor; dEle é a responsabilidade, a manutenção. O nosso papel é ser um funcionário fiel, e administrar a graça de Deus. Você deve con­ fiar a Ele a gerência, e obedecer às suas ordens; tirar das prateleiras tudo o que for desagradável, e acres­ centar tudo o que Ele ordenar. Mas Ele também é o seu irmão mais velho e o seu amor tira toda a

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Filipenses 4

preocupação, a agitação e a tensão. E um dia, se você tiver sido fiel em alguns poucos aspectos, Ele lhe dará uma loja celestial, na cidade do Rei!” — Charles H. Robinson 10 DE NOVEMBRO LEITURA 314 CONTENTE COM CRISTO Filipenses 4

“Já aprendi a contentar-me com o que tenho” (Fp 411). Quando você tem tudo, mais, na verdade, significa menos. Visão Geral Paulo exortou seus amigos (4.1-9), colocou a ofer­ ta que tinham enviado a ele em uma perspectiva singular (w. 10-20) e acrescentou suas saudações finais (w. 21-23). Entendendo o Texto “Portanto... estai assim firmes no Senhor” (Fp 4.1). Muitos relacionam esta exortação com o ensina­ mento do capítulo 3. A razão está na palavra “por­ tanto”. Como observou um velho pregador, “Sem­ pre que encontrar um ‘portanto’, você precisa olhar para trás para ver porque esta palavra está ali”. Por que este “portanto” está aqui? Paulo tinha aca­ bado de explicar a inutilidade de relacionar-se com Deus por meio de obras, e lembrou aos filipenses do poder da ressurreição, disponível àqueles que confiam completamente em Cristo, e que “pros­ seguem para conquistar aquilo” que Deus designa para os seus. Em vista do caráter sobrenatural da vida cristã, os crentes devem “permanecer firmes no Senhor”, e resistir a cada esforço de desviar o foco da sua fé do próprio Jesus. O versículocontém outra das catorze ocorrências de “alegria” ou “gozo” encontradas na epístola aos filipenses. Aqui, Paulo chamou os filipenses de “minha alegria e coroa”. Nisto, ele repete um tema encontrado em 3 João 4: “Não tenho maior gozo do que este: o de ouvir que os meus filhos andam na verdade”. Quando você e eu permanecemos firmes no Se­ nhor, damos alegria aos nossos líderes. E, o mais importante, nós damos alegria ao próprio Deus, pois cumprimos os seus propósitos para nós.

“Rogo a Evódia e rogo a Síntique” (Fp 4.2,3). Pau­ lo conhecia a dor causada pelos mal entendidos e pela discórdia aguda. A sua própria teimosia tinha causado um rompimento com seu querido amigo, Barnabé (At 15.36-41). Paulo não condenou estas

mulheres que, por alguma razão, se encontravam em conflito. Em vez disto, ele implorou, “ajudes estas mulheres”. Aqui, há uma lição vital. Em Filipenses 2, Paulo descreveu a atitude de humildade, que é a úni­ ca coisa capaz de unir os crentes (2.1-4). Paulo poderia ter acusado diretamente cada uma destas mulheres por ter abandonado esta atitude, e ter exigido diretamente que elas se acertassem com Deus e então se acertassem entre si. Mas Paulo não fez isto. Pelo contrário, ele foi sensível, carinhoso e — por favor, preste atenção, respeitoso! Ele implorou, e não ordenou. Ele pe­ diu que outras pessoas em Filipos ajudassem, não exigissem nem castigassem. E ele mostrou respei­ to por estas duas mulheres, elogiando-as, porque “trabalharam comigo” pelo evangelho. Cuidado­ samente, ele as incluiu com os “outros cooperadores”. Nós cometemos um grande erro se, tentando curar, condenarmos, ou tentando ajudar, menos­ prezarmos. Menospreze uma pessoa à qual você espera ajudar a reagir positivamente, e é quase certo que você a endurecerá na sua posição. Mas apele com respeito, como Paulo fez, à melhor qualidade que os outros exibirem, e você os liber­ tará para que tomem as decisões corretas. Na realidade, ter fé que o povo de Deus fará a coisa certa é ter fé em Deus. Como disse Paulo: “Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (v. 13).

“Regozijai-vos, sempre, no Senhor” (Fp 4.4). E sig­ nificativo que Paulo introduza outra expressão de alegria, pouco depois de mencionar o conflito en­ tre duas boas mulheres de Filipos. Charles L. Allen nos conta sobre o gerente que pegou uma caneta e colocou um ponto negro no centro de uma grande folha de papelão branco. “O seu problema é”, disse o gerente aos seus fun­ cionários, “que no momento em que aparece um ponto negro vocês fixam a sua atenção nele, e dei­ xam de ver todo o espaço em branco”. Nós, cris­ tãos, também somos assim. Quando aparece um ponto negro, ou uma dúzia de pontos negros, nós gastamos toda a nossa energia pensando neles, e não no vasto espaço em branco que representa tudo o que temos em Cristo. Paulo não iria permitir que o conflito entre Evó­ dia e Síntique desviasse os seus olhos de Cristo! E assim, ele nos diz, quando o ponto negro aparecer nas nossas vidas, como certamente aparecerão, “regozijai-vos, sempre, no Senhor; outra vez digo: regozijai-vos”.

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Filipenses 4

“Não estejais inquietos por coisa alguma” (Fp 4.6,7). Os psicólogos definiram a ansiedade como um sentimento de apreensão, assinalado por uma ameaça a alguma coisa que considera­ mos essencial. Alguns, no entanto, são ansiosos de modo crônico: temerosos e nervosos, mesmo quando não há uma ameaça aparente. Qualquer que seja a origem dos sentimentos de ansieda­ de, eles não são divertidos. Eu suspeito que a verdadeira causa da ansiedade seja uma sensação de impotência. Nós nos sen­ timos ameaçados, mas não sabemos o que fazer a respeito da ameaça. Paulo nos lembra de que não podemos apenas fazer algo — nós pode­ mos fazer o que há de mais eficaz! Nós podemos colocar o problema diretamente nas mãos da única pessoa do universo que pode lidar com qualquer ameaça. Assim, Paulo disse: “as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças”. A ação de graças é im portante. É a nossa afirmação de fé de que Deus certamente irá lidar com a situação que nós lhe entregamos. “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento” (Fp 4.7). Por que a paz de Deus “excede todo o entendimento”? Simplesmente porque, à pri­ meira vista, as nossas circunstâncias não terão mudado. Algo que nós estimamos ainda será ameaçado. Nós ainda estaremos sem trabalho. O u o nosso filho ainda será intimidado no ôni­ bus da escola. Ou o nosso cônjuge ainda enfren­ tará uma batalha contra o câncer. Nós podería­ mos explicar aos outros a paz que sentiríamos, se pudéssemos anunciar, “Eu consegui um novo emprego!” O u se o garoto que intimidasse fosse expulso do ônibus, ou se o médico anunciasse que o câncer foi curado. O que há de especial sobre a paz que Deus dá, e o que jamais conseguiremos explicar àqueles que nunca tiveram esta experiência, é o fato de que nós sentimos a paz mesmo antes que a situação mude. O Espírito de Deus nos acalma, e sussurra em nossos corações, “Está tudo bem agora. Deus proverá”. “Nisso pensai” (Fp 4.8,9). A palavra traduzida como “pensai”, (logizesthai) significa “concen­ trar a mente continuam ente”. Mas há mais coisas implicadas. Nós devemos considerar ex­ pressar estas qualidades na nossa vida, de modo que, enquanto permanecermos nelas, elas, por sua vez, permanecerão em nós. A lista de Paulo inclui:

* tudo o que é verdadeiro — significando a verdade em pensamento, além de cada aspecto da vida. * tudo o que é honesto — significando aquilo que conquista respeito; o honesto, honrável, digno. * tudo o que é justo — significando aquilo que cumpre a nossa obrigação para com Deus e para com os outros seres humanos. * tudo o que é puro — significando aquilo que nos capacita para a comunhão e para o serviço a Deus; isto inclui mais do que a libertação dos pecados ligados ao nosso corpo. * tudo o que é amável — significando aquilo que é atraente e agradável. * tudo o que é de boa fama — significando aqui­ lo que é gentil e possivelmente irá conquistar o outros. Estas eram consideradas qualidades excelentes e louváveis na cultura grega, e também entre os cris­ tãos. O cristão não deve ser o homem “estranho” na sociedade, mas o homem ideal. (Veja o DEVOCIONAL.)

“Já aprendi a contentar-me” (Fp 4.10-20). Paulo ti­ nha recebido uma doação em dinheiro dos filipen­ ses, que ele apreciou. Isto revelava o seu contínuo amor por ele, e isto era importante para Paulo. E como uma expressão do amor a Deus, as ofertas são um “cheiro de suavidade e sacrifício agradável e aprazível”. Paulo também expressou a sua própria perspectiva sobre o dinheiro. Durante os seus 25 anos de ministério, Paulo tinha conhecido ocasiões em que o dinheiro era abundante, e ocasiões em que ele esteve “abatido”. E Paulo tinha aprendido que nenhuma das duas condições fazia alguma di­ ferença real: Paulo tinha sido instruído “tanto a ter fartura como a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer necessidade” e a contentar-se com o que lhe acontecesse. A sua independência das circunstâncias nascera da convicção de que o seu Deus satisfaz todas as nossas necessidades “segundo as suas riquezas... em glória, por Cristo Jesus” (v. 19), e da convicção de que “posso todas as coisas naquEle que me fortale­ ce” (v. 13). Este é um dos maiores dons que possuímos através do nosso relacionamento com Jesus. Nós temos um Deus cujos recursos intermináveis serão usados para satisfazer as nossas necessidades. E um Deus que nos dará forças para enfrentar cada desafio. Se nos lembrarmos constantemente de quem é o nosso Deus, também aprenderemos o segredo de estar contentes, quaisquer que sejam as nossas cir­ cunstâncias.

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Filipenses 4

DEV OCION AL_________ Ouça, Veja, Faça que ensinamos, em qualquer ambiente, precisamos

(Fp 4.6) A minha esposa é uma daquelas mulheres que são boas cozinheiras por natureza. Eu digo, por natu­ reza, mas eu realmente não sei se é um dom, ou o resultado da prática. Por outro lado, tenho mui­ ta dificuldade tentando cozinhar, principalmente porque não tenho a paciência para seguir as instru­ ções de uma receita. Eu olho a lista de ingredientes, misturo tudo, e de alguma maneira não percebo que a manteiga não deveria ter sido derretida antes da mistura. Ou, se eu estiver fazendo o molho, eu tomo a farinha e o leite que misturei com tanto cuidado e coloco no caldo de uma só vez, criando alguns daqueles maravilhosos caroços que o molho da minha mãe — ou o da Sue — jamais tem. Algumas vezes nós, cristãos, cometemos um enga­ no similar com a Bíblia. Nós a lemos e pegamos todos os ingredientes corretos. Mas então, nós não percebemos de que maneira eles devem ser mistu­ rados, e que, às vezes, o que nós conseguimos é um desastre, em vez de uma deliciosa sobremesa. Filipenses 4 é assim. Paulo nos dá os ingredientes para uma vida cristã vital e cheia de alegria. Ele escreve sobre levar nossas ansiedades a Deus (w. 6,7). Ele nos lembra das qualidades que devemos alimentar (w. 8,9). E ele também nos fala do con­ tentamento que vem quando confiamos em Deus e não no nosso saldo bancário (w. 10-20). E ali, bem no meio, ele nos diz como estes ingredientes devem ser misturados! Paulo disse: “O que também aprendestes, e rece­ bestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei” (v. 9)E perigoso excluir qualquer destes passos. Se você é um pai, ou um professor, ou um pregador, não é suficiente falar a verdade. Para traduzir o que é ou­ vido, algumas pessoas precisam ver isto posto em prática por outras pessoas. Assim, aqueles de nós

abrir nossas vidas aos outros, para que possam ver como as verdades que transmitimos encontram expressão viva em nossos pensamentos, atitudes e atos. Os pregadores não se limitam a proclamar a verdade e esperam que aqueles que os ouvem saiam e a pratiquem. A receita de Deus pede um passo intermediário que é vital. Se você e eu somos aprendizes, aqui há um lembre­ te também para nós. Nós não podemos simples­ mente “aprender e receber e ouvir” a verdade dos nossos professores, ou apenas vê-la nas vidas dos outros. Nós temos que ir e pessoalmente “fazê-las”. A verdade que nós não praticamos é tão útil quanto um pneu sem ar. Nós não iremos muito longe com nenhuma destas duas coisas! Assim, devemos nos lembrar, enquanto tentamos misturar os ingredientes que Deus nos dá para uma vida verdadeiramente cristã, que temos que seguir a sua receita cuidadosamente. Nós temos que ou­ vir, ver, e então fazer. Então, e somente então, sentiremos aquilo que Paulo conhecia tão bem: a alegria de saber que “o Deus da paz” está conosco. Aplicação Pessoal Você não pode fazer aquilo que não conhece, ou que não sabe fazer. Mas você jamais poderá conhe­ cer, de verdade, aquilo que você não fizer. Citação Importante “Existe uma única regra de ouro para o discerni­ mento espiritual, que é a obediência. Nós aprende­ mos mais com cinco minutos de obediência do que com dez anos de estudo.” — Oswald Chambers

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em SALMOS 85— 150

COLOSSENSES INTRODUÇÃO

A epístola aos Colossenses é uma das quatro cartas que Paulo escreveu na prisão, em Roma, aproximada­ mente em 61 d.C. Esta carta tem um foco nítido: Paulo escreveu para combater uma heresia em particu­ lar, que parecia mesclar superstição oculta com “filosofias e vãs sutilezas” (2.8). O resultado da heresia era roubar de Cristo o seu papel essencial na fé cristã. Para combater isto, Paulo oferece uma das mais claras e poderosas declarações contidas nas Escrituras, sobre quem é Jesus e o que Ele fez. Paulo prossegue, descrevendo o modo de vida que é apropriado para aqueles que conhecem o Jesus verda­ deiro, e nos mostra que a espiritualidade verdadeira está em viver uma vida devota neste mundo atual.

ESBOÇO DO CONTEÚDO

I. Orações pelos Colossenses...................................................................... II. A Proeminência de Cristo.................................................................... III. Exposição dos Erros.............................................................................. IV. A Vida de Santidade............................................................................ V..Palavras Finais e Saudações...................................................................

....Cl 1.1-14 ..Cl 1.15-29 .............Cl 2 Cl 3.1— 4.1 ....Cl 4.2-18

GUIA DE LEITURA (3 Dias)

Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 315 316 317

Capítulos 1 2 3-4

Passagem Essencial 1.15-28 2.16-23 3.16,17

COLOSSENSES 11 DE NOVEMBRO LEITURA 315

CRISTO SUPREMO Colossenses 1

“Ele... é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência” (Cl 1.18).

Sem Cristo, o cristianismo não é nada.

Contexto

A heresia dos colossenses. Algumas características da

heresia que estava corrompendo a igreja de Colos­ so foram deduzidas da carta de Paulo, e parecem ser condizentes com um movimento que poste­ riormente ficou conhecido como gnosticismo. Os gnósticos tinham um dualismo rígido: toda a ma­ téria é má. Assim, Deus, que é bom, jamais poderia se tornado um homem. Isto desafiava diretamente a doutrina cristã da Encarnação, e relegava Jesus Cristo a um papel inferior na história da salvação. Para substituir a fé como uma forma de salvação, os gnósticos ofereciam um conhecimento ocul­ to (gnosis). Para substituir uma vida santa neste mundo, os gnósticos poderiam tentar subjugar o seu corpo carnal pelo ascetismo, ou poderiam viver vidas libertinas, argumentando que o corpo “mau” estava simplesmente seguindo a sua natureza, ao passo que o “eu” interior continuava inalterado. Embora o movimento gnóstico tenha se dissolvido há muito tempo, a carta aos colossenses continua sendo um livro vital para os cristãos que desejam permitir que Cristo reine supremo, e conhecer a verdadeira espiritualidade.

Entendendo o Texto

“Aos santos e irmãos fiéis em Cristo” (Cl 1.1-3). A saudação de Paulo mostra a sua mansidão e genti­ leza características. Ele não os atacou, embora mui­ tos tivessem, aparentemente, sido sugados a um grupo herege que não vivia uma vida santa nem era fiel à doutrina de Cristo. Paulo se convenceu de que a verdade que ele apresentasse iria corrigir os seus mal entendidos e iria resgatá-los. A disputa doutrinária pode se tornar tão cáustica que as pessoas que caíram no erro são afastadas da verdade por aqueles que conhecem a verdade. Se você conhece outras pessoas que estão, atualmente, presas em mal-entendidos ou interpretações equi­ vocadas, não as ataque. Confie que elas reagirão à verdade quando esta for apresentada de modo claro e gentil. “Orando sempre por vós” (C l 1.3-8). Paulo conti­ nuou a sua abordagem afetuosa, dizendo como ele agradecia a Deus todas as vezes que orava por eles. Ore por um “oponente” e agradeça a Deus por ele, e isto mudará a sua atitude — para melhor! “O evangelho... está em todo o mundo; e já vai fru ­ tificando” (Cl 1.6). Este é um gentil lembrete. O

evangelho que os colossenses ouviram, original­ mente, era aquele que estava sendo pregado tão eficazmente por todo o mundo. Os gnósticos eram como aquela mãe que viu seu filho marchando Visão Geral com a banda da escola, e disse: “Veja, todos eles Paulo relatou duas orações que ofereceu pelos co­ estão com o passo errado, exceto o meu Bernie!” lossenses (1.3-14) e imediatamente fez uma pro­ Quando todos os outros parecerem estar com o funda declaração da supremacia de Cristo (w. 15- passo errado, é o momento de re-examinar a sua 23), e da sua presença viva no crente (w. 24-29). posição!

Colossenses 1

“Não cessamos de orar por vós e de pedir” (Cl 1.911). Esta oração pelos colossenses é uma das mais

importantes no Novo Testamento, pois retrata o processo do crescimento espiritual. Simplesmente, a oração descreve um ciclo de crescimento, em es­ piral, rumo à maturidade. Se você deseja crescer espiritualmente, permita que esta oração de Paulo seja o seu guia constante. Você começa com o “conhecimento da sua vontade [de Deus]” (v. 9a). Este é o tipo de informação a respeito de si mesmo, e da sua vontade, que Deus revelou nas Escrituras. Mas você adquire este co­ nhecimento em “toda a sabedoria e inteligência espiritual” (v. 9b). Tanto a “sabedoria espiritual” como o “discernimento” descrevem implicações vi­ síveis: como reagir em cada situação da vida, apli­ cando o conhecimento que temos de Deus. Então você reage de acordo com a Palavra de Deus, “para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo” (v. 10a). E, no processo de cumprir a vontade conhecida de Deus, você “frutifica em toda boa obra” (v. 10b) e também cresce no conhecimento dEle (v. 10b). No decorrer deste processo, você é “corroborado em toda fortaleza” pelo próprio Deus, e assim com­ partilha de tudo o que você herdou, por meio do seu relacionamento com Jesus. O que é emocionante, para mim, é que isto define claramente a nossa participação na vida espiritual, e a participação de Deus. Você e eu devemos (1) procurar conhecer a vontade revelada de Deus, e (2) procurar aplicá-la na vida diária. Quando faze­ mos isto, Deus, de maneira sobrenatural, (1) nos fortalece com o seu poder, (2) produz frutos em nós, e por nosso intermédio, (3) se torna ainda mais real para nós. Não há grande mistério em viver a vida cristã. E não há dificuldades intransponíveis. Nós simples­ mente precisamos estudar e aplicar a Palavra de Deus, da melhor maneira que pudermos - e con­ fiar que Ele fará o resto! “A imagem do Deus invisível” (C l 1.15-19). Basica­ mente, a idolatria consiste em colocar algo inferior a Deus, no lugar dEle. Os gnósticos faziam isto, honrando níveis de anjos, gradualmente menos materiais e mais espirituais, que se colocavam entre o universo e Deus. E co­ locavam Jesus abaixo destes anjos, muito distante de Deus! Uma das revistas que eu aprecio muito é a Catholic Digest. E uma revista confortante e frequentemen­ te enriquecedora. Mas, de vez em quando, eu me incomodo com referências a Maria, que fazem dela o foco das orações e da fé de um cristão.

“Peça a Maria, e ela conseguirá que o seu Filho faça isto para você”, é um tema muito frequente. E isto chega ao ponto de que se atribui a Maria o papel de Cristo, e o respeito que foi, apropria­ damente, conquistado pela jovem garota judia, há tanto tempo, também é transformado em idolatria. Paulo não quer que nós coloquemos nada e nin­ guém no lugar de Cristo. Ele é supremo. Ele é tudo. Em Cristo, o invisível é revelado. Cristo tem o direito de “primogênito” de herdar todas as coi­ sas. A sua reivindicação é duplamente estabelecida pois “nEle foram criadas todas as coisas”. Coisas visíveis e invisíveis — incluindo os níveis de anjos que os gnósticos honravam supersticiosamente (v. 16b) — foram criadas por Cristo. E o Jesus ressuscitado, como Cabeça do seu corpo, a igreja, deve ser supremo em nossas vidas. Deus, em toda a sua plenitude, tudo o que Ele é, existe e encontra a sua expressão em Jesus Cristo (v. 20). E Jesus, o Deus exaltado, que derramou seu sangue e morreu por nós, que agora nos representa dian­ te do trono da graça. Somos tolos, quando aquEle que é o próprio Deus está do nosso lado, e coloca­ mos qualquer outro, ou qualquer outra coisa, no lugar que, de direito, é de Jesus. “Reconciliasse consigo mesmo todas as coisas” (Cl 1.20). Os gnósticos propunham uma grande dis­

tância entre o céu e a terra. Paulo rejeitava esta no­ ção. Cristo prova que Deus pode agir, e realmente age, no universo material. Ao se tornar homem e morrer, Cristo reconciliou a humanidade. Ele é a ponte, não somente sobre as águas turbulentas, mas entre o céu e a terra.

“Estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras más” (Cl 1.21). Os gnósticos tinham a noção

peculiar de que a mente, como a parte não material do homem, poderia estar em sintonia com Deus, não importando o que o corpo, o elemento mate­ rial, e consequentemente “mau”, pudesse fazer. Esta noção ainda não morreu. As pessoas ainda vão à igreja e supõem que podem ter bons pensamen­ tos aos domingos, e viver como o Diabo durante a semana. As pesquisas demonstram que muitos homens que espancam suas esposas passam um do­ mingo piedoso na igreja, ou até mesmo cooperam no culto! Para estar realmente em sintonia com Deus, tudo o que precisamos fazer é estar em harmonia com Ele. Uma “fé” que não é expressa em uma vida de­ vota não é, em última análise, uma “fé”, e a mente desta pessoa continua hostil ao Deus revelado em Jesus.

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Colossenses 2

vir”. Como Jesus está no seu corpo, agora, na terra, você e eu, como parte deste corpo, temos esperan­ ças para o futuro. Não é apenas a esperança pela glória da ressurreição, mas a esperança por coisas gloriosas agora! A presença viva de Cristo em nós, de Deus ainda presente no mundo do aqui e agora, abre o nosso futuro para possibilidades gloriosas. Nós ainda não somos tudo o que podemos ser. Mas como Cristo está em nós, estamos nos tornando tudo o que podemos ser. “Cristo em vós, esperança da glória” (Cl 1.24-29). J. A medida que prosseguirmos no pleno comprome­ B. Phillips assim traduz esta frase, “Cristo em vós, timento com Cristo, nós nos tornaremos “perfeitos a esperança de todas as coisas gloriosas que há por [ou maduros] em Cristo”.

“Se não vos moverdes da esperança do evangelho" (Cl 1.21-23). O aviso é destinado à igreja de Colosso, e não aos indivíduos. A igreja jamais deve trocar a esperança contida no evangelho pela falsa espe­ rança oferecida por meras filosofias humanas. E, novamente, Jesus Cristo, como o Deus encarnado, é o foco da nossa esperança! Porque Ele morreu por nós, nós comparecemos diante de Deus santos, sem manchas, e livres de acusações.

DEVOCIONAL______ Cristo em Vós (Cl 1.15-28)

Os franceses têm uma expressão, Le Bon Dieu. Isto significa “o bom Deus”, e é usada quase com carinhoso desprezo. Esta expressão sugere a figura de um avô já senil, acenando vagamente, mas de maneira carinhosa quando visitado rapidamente por um de seus muitos descendentes. Le Bon Dieu pode não ficar feliz com tudo o que outras pessoas fazem, mas mesmo que perceba, ele é meigo de­ mais para fazer algo a respeito. Uma pessoa pode se sentir confortável com Le Bon Dieu — e ignorá-lo, sem nenhum perigo. Que imagem diferente do Deus invisível, daquela retratada em Cristo! Aqui, em Colosso, nós vemos um Deus dominante, Mestre da Criação, que co­ rajosamente entrou no universo físico. Ele assumiu um corpo para lidar com aqueles pecados que pare­ cem triviais para aqueles que adoram Le Bon Dieu. Ele suportou a cruz com ardente dedicação. Ele triunfou em uma ressurreição que o exaltou aci­ ma das potestades. Olhando para Cristo, nós não vemos o Le Bon Dieu que está morto, mas o Todopoderoso Governante do céu e da terra. Para os padrões do Le Bon Dieu, o Cristo verda­ deiro é uma figura inquietante. Para o cristão, en­ tretanto, Cristo proeminente, Cristo encarnado, é reconhecido com uma explosão de esperança e entusiasmo. Pois Paulo nos diz que este Cristo, que trouxe Deus à terra, está “em vós”! A encarnação significou que Deus expressou o seu poder supremo neste mundo de espaço e tempo na pessoa de Jesus. “Cristo em vós” significa que Deus ainda expressa o seu poder supremo neste mundo — por nosso intermédio! Como este Cristo está em nós, realmente temos esperanças por coisas gloriosas mais adiante. Nós vamos triunfar hoje, e amanhã acompanharemos Cristo em glória!

Aplicação Pessoal

Não desista. O Cristo que está em você não pode falhar.

Citação Importante

“Jesus não está para nós como o Natal está para o mundo, que hoje está aqui, e amanhã não mais.” — Rick Mylander

12 DE NOVEMBRO LEITURA 316 VIDA EM CRISTO Colossenses 2

“Como, pois, recebestes o Senhor Jesus Cristo, assim também andai nele, arraigados e edificados nele e confirmados na fé, assim como fostes ensinados, cres­ cendo em ação de graças” (Cl 2.6,7). Compreendendo a vida em Cristo, não seremos enganados por nenhum substituto da verdadeira espiritualidade.

Yisão Geral

E essencial conhecer a Cristo (2.1-5) e viver nEle (w. 6,7). O cristianismo oferece união com Cristo, e isto traz a vida (w. 8-13), e liberta do peso da Lei (w. 14,15). A submissão disciplinada a rituais e regras pode fazer com que a pessoa pareça piedosa, mas não é o caminho para a realidade espiritual (w. 16-23).

Entendendo o Texto

“Por quantos não viram o meu rosto em carne” (Cl 2.1). O espírito de oração está presente em todas as cartas de Paulo. Mas talvez nós sintamos o seu comprometimento com a oração mais claramente aqui. Paulo orava não apenas pelas igrejas que ele fundara, mas por grupos de cristãos que “não viram o meu rosto em carne”.

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Colossenses 2

Na verdade, este hábito é fácil de desenvolvermos! Todas as noites, no noticiário, nós ouvimos falar de pessoas em situações trágicas. Como seria fácil voltar-se para Deus e pedir que Ele as abençoasse ou consolasse. Nós lemos revistas cristãs e ouvimos rádios cristãs. Nós estamos frequentemente ouvindo sobre crentes que enfrentam grandes dificuldades. Como seria simples sustentá-los e pedir que Deus esteja com eles, com poder. Nós falamos com um amigo por telefone, ou conversamos enquanto to­ mamos um refrigerante. Como seria fácil orar ra­ pidamente por aquela pessoa, quando desligamos o telefone, ou nos despedimos depois do refrigerante. Paulo cultivava o hábito de orar pelos outros quan­ do tinha notícias deles. Uma semana de esforço sério para cultivar este hábito, com certeza pode transformar nossas vidas de oração! “Os seus corações sejam consolados, e estejam uni­ dos em caridade” (Cl 2.2). Se você quer conhecer

melhor a Cristo, conheça melhor a seus irmãos e irmãs. Paulo disse isto antes (cf. Ef 3.15-18). Se quiser­ mos ter um completo entendimento de Cristo, nós precisamos aprofundar nossos relacionamentos com os outros. Talvez uma razão esteja sugerida na frase, os “cora­ ções sejam consolados”. Quando nos aproximamos dos outros, nós sentimos Deus trabalhando em suas vidas, e nos tornamos cada vez mais confiantes de que Ele pode operar em nós. A fé cresce mais forte quando nós vemos a realidade de Jesus, por meio do seu impacto naqueles a quem amamos. A coisa mais importante que você pode fazer para encorajar outro crente pode ser compartilhar o que Cristo está fazendo na sua própria vida. “Todos os tesouros da sabedoria e dã ciência” (Cl 2.35). Os indivíduos que promoviam a heresia que

corrompia a igreja de Colosso declaravam ter aces­ so a uma sabedoria “oculta” ou especial, por uma série de anjos que supostamente existiam em dife­ rentes graus, entre Cristo e Deus. Paulo disse que todos os tesouros da sabedoria e da ciência estão “escondidos” em Cristo. Aqui, “escondidos” não significa ocultos, mas ar­ mazenados. Deus tem um armazém cheio de ri­ quezas — e Ele nos deu a chave! Cristo. Nele, nós temos acesso a tudo o que Deus tem e é. Muitos cristãos são sinceramente famintos de expe­ riências espirituais mais profundas. Alguns são tão famintos que seguirão qualquer caminho aparente­ mente piedoso que outros sugiram. “Tudo o que você precisa fazer é orar uma hora dia­ riamente — preferivelmente às 4 horas da manhã,

para mostrar a Deus que você é verdadeiramente sério”. “Técnicas de meditação farão toda a diferença”. “Jejue, até que Deus lhe encha com o Espírito!” “Siga esta lista de faça e não faça, e compareça à igreja três vezes por semana”. Paulo descartaria estas práticas como receitas pron­ tas. Precisamos saber que Deus armazenou em Cristo todas as coisas de que nós poderíamos preci­ sar. Nós encontraremos a realização espiritual nEle, e somente nEle. “A ndai nele” (C l2.6-10). Dizer que Cristo é o ar­ mazém em que todos os tesouros de sabedoria e ci­ ência de Deus estão guardados, parece correto. Mas também parece místico e obscuro. Como podemos obter estas riquezas? Se Cristo é a chave, como a usamos para abrir a porta? Paulo nos diz. “Como, pois, recebestes o Senhor Jesus Cristo”, diz ele, “assim também andai nEle”. Como nós recebemos Cristo? Pela fé. Nós repou­ samos todo o peso da nossa esperança no que Cris­ to fez por nós, e confiamos nEle completamente. Esta, Paulo nos diz, é a maneira como liberamos os tesouros da vida cristã. Viva em Cristo assim como você o recebeu. Repouse todo o peso das suas es­ peranças naquilo que Cristo fará em você, e confie completamente nEle. Nós não podemos confiar em orações pela manhã, nem em técnicas de meditação, nem em jejum, nem em seguir listas de FAÇA ou NÃO FÁÇA. Nós não podemos confiar em nada do que fizer­ mos. Nós devemos repousar todo o nosso peso em Cristo, e confiar nEle para fazer que nós vivamos nossas vidas nEle. Viva cada dia por Jesus, e, como você vive em Je­ sus, a sua sabedoria e o seu poder se expressarão por seu intermédio. “Filosofias e vãs sutilezas” (Cl 2.8). A abordagem de Paulo à espiritualidade é enganosamente sim­ ples. Em contraste, a abordagem rigorosa dos gnósticos parecia, ao mesmo tempo, “religiosa” e razoável para os indivíduos colossenses. Mas era vazia e enganosa, por três razões. Ela dependia da “tradição humana”, nas várias filosofias pagãs que havia naqueles dias. Ela dependia dos “princípios básicos” do mundo. A palavra grega pode significar “os ABCs”, e consequentemente uma compreensão elementar, e não avançada, do universo. Mas pode significar “poder elementar” e referir-se a forças de­ moníacas. No entanto, de modo mais decisivo, ela não depende de Cristo. Qualquer sistema que prometa progresso espiri­ tual, que substitua a dependência completa em

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Colossenses 2

Cristo, por qualquer outra coisa, é “filosofia e vã cuncisão da [nossa] carne” fomos vivificados em Cristo. sutileza”. E assim que o poder de Cristo pode fluir por nosso “Nele habita corporalmente toda a plenitude da di­ intermédio. Nós estamos vivificados nEle agora. vindade” (Cl 2.9-12). A coisa mais segura que você Nós estamos unidos a Ele. Não é de admirar que ou eu podemos fazer é começar a viver vidas de­ possamos confiar completamente nEle. Nós somos votas, e confiar completamente que Cristo tornará os canais pelos quais a vida de Cristo, que vibra e jorra, está agora pronta para fluir. isto possível. Por que isto é tão seguro? Porque tudo o que Cris­ to é flui para nós quando vivemos por Ele e para “Havendo riscado a cédula” (Cl 2.14,15). A palavra Ele. Esta é a consequência da declaração de Paulo, traduzida como “célula” era usada, nos tempos an­ “estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo prin­ tigos, a respeito de uma acusação feita contra um prisioneiro. Paulo, que aqui se referia claramente à cipado e potestade”. A vida cristã não é como a bomba que ficava nos Lei mosaica e às suas regras, considerava a “célula” fundos do chalé do meu tio, em Cedar Lake. Eu como uma lista de acusações devastadora, assinada tinha que descer até o lago, pegar uma lata de água, e apresentada em tribunal, provando que somos aquecer a bomba e então levantar e baixar a mani­ culpados. Mas em Cristo todos os nossos pecados vela incessantemente, até que fluísse um filete de foram perdoados, e a “célula” que nos condenava água. A vida cristã é mais como um bombeiro que foi cancelada. conecta a sua mangueira ao hidrante, e a aciona, e Novamente, a Lei, por si só, é santa, justa e boa. luta para segurá-la, quando a água jorra vigorosa­ Mas, em termos de seu impacto sobre uma huma­ nidade pecaminosa, a Lei era “contra nós” e “nos mente! Você e eu estamos conectados com Jesus, que é, era contrária”. Qualquer exigência de que “faça­ Ele mesmo, um reservatório de inesgotável poder. mos” é um instrumento de condenação. E por isto Simplesmente, abra-se a Deus, com total confiança que a nossa vida em Cristo não é avaliada pela Lei em Jesus, e o seu poder irá jorrar, em você, e por ou por exigências. seu intermédio. Compreendendo isto, cada convite e cada exorta­ ção do Novo Testamento à obediência e à santida­ “No qual também estais circuncidados” (C l 2.11- de, são transformados. Os mandamentos do Novo 13). A circuncisão promovida pelos que cor­ Testamento não são leis, exigindo que “façamos”. rompiam a fé em Colosso, consistia em cortar São promessas, explicando o que Cristo nos fará, fisicamente a pele que cobria a extremidade do quando reagirmos com fé. pênis. Era um símbolo, no Antigo Testamento, do relacionamento de concerto com Deus. Paulo “Despojando os principados e potestades” (C l 2.15). lembrou seus leitores de que, no Novo Testamen­ A cruz nos libertou da Lei. E marcou o triunfo de to, o símbolo do relacionamento de concerto com Cristo acima das forças espirituais hostis. Como Deus é a circuncisão espiritual. Não o homem, um general conquistador, que expõe seus inimigos mas Deus corta e descarta, não uma mera borda derrotados diante de todos, Cristo fez um espetá­ de pele, mas a própria natureza corpórea e peca­ culo público de cada inimigo. Que possível razão você e eu deveríamos ter para dora do homem! Como isto seria feito? Por meio da nossa união não confiar em Cristo, o Vitorioso? Nós vivemos com Cristo na sua morte e ressurreição! Nós, a nossa vida cristã não por esforço próprio, mas que estávamos mortos em pecados e na “incir- pela fé nEle.

DEV OCIONAL______ Encontre a Realidade

(Cl 2.16-23) Como encontramos a realidade em nossas vidas espirituais? As pessoas de Colosso tinham respos­ tas que ainda são atraentes àqueles que veem a ne­ cessidade de uma autodisciplina rígida e rigorosa. Siga as leis alimentares (v. 16). Guarde os dias san­ tos (v. 16). Submeta-se a vários rituais e regras (v.

17). Concentre-se em experiências místicas (v. 18). Viva uma vida ascética de auto negação (w. 21-23). Obedeça às regras que se destinam a fazer de você uma pessoa disciplinada. Nós quase podemos ver Paulo agitando a sua ca­ beça, quando concluía a sua lista. Estas coisas não são o caminho para a realidade espiritual. São des­ vios da realidade em nossas vidas espirituais. Uma

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Colossenses 3— 4

vida assinalada pela rigorosa autodisciplina pode ter “alguma aparência de sabedoria”, disse Paulo. Mas a “falsa humildade” e a “disciplina do corpo” não têm nenhum valor para restringir “a satisfação da carne”. Paulo estava dizendo que as regras que avaliam a espiritualidade pela aparência externa parecem ser santas, mas tendem a fazer com que uma pessoa despreze as outras, interiormente! E os pecados in­ teriores são uma “satisfação da carne”, tanto quan­ to a gula ou a promiscuidade sexual. Paulo quer que nós vivenciemos a realidade espiri­ tual. Ele não queria que nós apenas parecêssemos santos, mas que fôssemos santos. E nós descobri­ mos o segredo de ser santos somente em Cristo, e não tentando seguir estas listas de “FAÇA” e “NÃO FAÇA”. Na verdade, Cristo é a realidade. Nós vivenciamos a realidade somente quando nós o sentimos. Assim, devemos apoiar cada esperança nEle, e confiar que Ele irá viver a sua vida em nós, à medida que nós damos passos diários de obediência à sua Palavra.

que a realidade espiritual é encontrada ou exibida seguindo regras religiosas ou a “disciplina da car­ ne”. Agora, ele mostrava que a realidade espiritual é vivenciada e expressa na rejeição do mal e em ter caráter transformado. Nós reconhecemos Cristo na vida do cristão, pelo amor e pela submissão mútua, expressos em cada relacionamento. Quão emocionante é a epístola aos colossenses! E que maravilhosa certeza ela proporciona! Cristo é supremo. Nós estamos em Cristo. E Cristo agora vive a sua santa e dinâmica vida por nosso inter­ médio.

Visão Geral

Cristo faz de nós pessoas novas, que rejeitam o mal (3.1-11), vivem vidas santas e amorosas (w. 12-17) e expressam a sua fé em relacionamentos, e não obedecendo a regras (v. 18— 4.1). Paulo concluiu com diversas instruções (w. 2-6) e extensas sauda­ ções (w. 7-18).

Entendendo o Texto

“Se já ressuscitastes com Cristo” (Cl 3-1-4). É fácil nos sentirmos desanimados. Quando isto acon­ Não confie no esforço próprio. Deixe que Cristo tecer, Paulo tem uma sugestão. Olhe para cima. trabalhe em sua vida. Olhe para cima, e veja Cristo, assentado à direita de Deus. E então perceba que você também está Citação Importante ali, pois a sua “vida está escondida com Cristo em “Se você tiver Cristo em grande consideração, Ele Deus”. terá você em grande consideração; mas se você fizer Em Tarpon Springs, uma pequena cidade a apro­ pouco de Cristo, Ele fará pouco de você.” ximadamente 16 quilômetros onde nós vivemos, — R. A. Torrey uma das principais ocupações é o mergulho para coletar esponjas. O profissional coloca um capace­ 13 DE NOVEMBRO LEITURAte,317 mergulha na água, e enquanto recolhe as espon­ _ _ . CRISTO NA VIDA jas, respira por meio de condutos de ar, alimenta­ Colossenses 3— 4 dos por bombas, em um barco, acima dele. Sem esta conexão com uma fonte de vida acima dele, o “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e ama­ mergulhador seria incapaz de sobreviver. dos, de entranhas de misericórdia, de benignidade, Paulo está nos dizendo que nós também vivemos humildade, mansidão, longanimidade” (C l3.12). esta vida em um ambiente perigoso e mortal. Mas nós também estamos conectados com uma fonte E fácil reconhecer Cristo na vida de outra pessoa — de vida acima de nós. Sempre que nos sentirmos e ainda mais fácil reconhecê-lo na nossa. desanimados ou desencorajados, ou em perigo, nós devemos fixar nossas mentes, não no que está Contexto à nossa volta, mas naquilo que nos sustenta. A Revisão e prévia. Paulo começou a sua carta, con­ mesma força vital de Jesus flui em nós e por nosso firmando a superioridade de Cristo. A seguir, ele intermédio. Como estamos conectados a Ele, não nos mostrou que a nossa união com Ele é a chave somente iremos sobreviver, nós iremos triunfar. para uma experiência cristã vital. Como nós esta­ mos “em Cristo”, o seu poder pode fluir por nosso “Fazei,pois, morrera vossa natureza terrena”(Cl 3-5intermédio. Nós somos salvos pela fé em Cristo, e 11), ARA. O maior inimigo do cristão não está no devemos viver pela fé nEle. Exclusivamente. exterior, mas no interior. E a “natureza terrena” que Agora, Paulo prosseguia, descrevendo Cristo na luta para se expressar em nossas atitudes e atos. Nós vida do cristão. Como nós reconhecemos a sua pre­ precisamos estar alerta, reconhecer esta natureza sença? Anteriormente, Paulo rejeitou a noção de pelo que ela é, e lidar imediatamente com a sua

Aplicação Pessoal

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Colossenses 3— 4

aparição. Como você pode reconhecer a natureza terrena? E esta natureza que se infiltra sempre que você pressente que está sentindo ira ou maldade, sempre que os seus pensamentos vagam pelo que é impuro, ou a sua imaginação se concentra no que você faria se tivesse um milhão de dólares. E o mo­ mento para lidar com isto é exatamente quando os primeiros pensamentos e sentimentos passam pela nossa consciência. Como? Paulo disse: “Mortificai” (ou “Fazei mor­ rer” v. 5, ARA) e explicou com a imagem de “nos despirmos” do velho homem e “nos vestirmos” com o novo. A minha esposa gosta de experimentar roupas. Ela se orgulha, como professora, de parecer profissio­ nal, e é muito preocupada com a maneira como se veste. E é muito crítica com o que veste. O que parece bom na loja pode não estar bem pendurado, ou ter um corte justo demais, para ficar bem no seu corpo. Esta é a imagem do que Paulo está nos dizendo, aqui, na epístola aos colossenses. Dê uma boa olhada no espelho, e quando você sentir ira ou impureza ou maus desejos em você, decisivamen­ te, rejeite-os. Estas coisas simplesmente não ficam bem em um cristão! Deus tem um conjunto de roupas de muito melhor aparência para nós, um conjunto que nos serve e nos lisonjeia. E também que o honra. “Como eleitos de Deus, santos e amados” (Cl 3.1214). Como Cristo se expressa na vida do cren­

te? Em primeiro lugar, Ele nos veste com o seu próprio caráter, enchendo-nos de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, e longanimi­ dade. Ele nos dá graça para perdoar, como fomos perdoados, e nos enche de amor. E nos chama para viver o seu caráter em nossos relacionamen­ tos com os outros. Esta é a verdadeira espiritualidade. Isto não é en­ contrado nas regras que seguimos, nem em rigo­ rosa autodisciplina, mas sim em expressões simples e puras de compaixão e amor pelos outros. (Veja o DEVOCIONAL.) “E a p a z de Deus... domine” (C l 3.15,16). No An­ tigo Testamento, paz é shalom, que traduz uma sensação de bem-estar, de harmonia, interior e exterior. Quando Cristo nos drenar do nosso egoísmo e da nossa competitividade, e nos der o seu profundo amor pelos outros, a paz dominará nossos corações e nossas congregações. E seremos capazes de, “em toda a sabedoria, ensinar e ad­

moestar uns aos outros” e adoraremos juntos com alegria. A verdadeira espiritualidade é Cristo vivendo a sua vida por intermédio do crente e de uma comuni­ dade cristã unida. “Quanto fizerdes” (C l 3.17). Os falsos mestres de Colossos tinham impressionado a todos com seu rigor e com as muitas regras que propunham para o progresso espiritual. Paulo deixou tudo isto de lado, e substituiu cada “faça” e “não faça” por uma instrução. “Quanto fizerdes... fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai”. Esta é, na verdade, a única regra exigida daque­ les que se vestem do novo homem, e em quem Cristo está sendo formado. “Senhor, posso fazer isto no Teu nome, alegrando-me e agradecendo a Deus pela oportunidade?” Se você se despir do velho homem, e a resposta a esta pergunta for “Sim”, as regras são irrelevantes. “Vós, mulheres, estai sujeitas” (C l 3 .1 8 — 4.1). Se os cristãos não precisam de regras, por que Paulo passou, imediatamente, a instruir esposas e ma­ ridos, filhos e pais, escravos e senhores? Nós vemos um padrão similar no Antigo Testa­ mento. Em Êxodo 20, Deus deu a Israel os Dez Mandamentos, expressos como princípios: Não faça isto, nem aquilo, nem aquela outra coisa. A seguir, nos capítulos 21—23, são discutidos alguns casos específicos. Esta “jurisprudência” exemplifica como os princípios gerais devem ser aplicados. De igual maneira, Paulo agora exemplificava como as qualidades que ele tinha descrito, e o princípio geral de agir em nome de Cristo, serão expressos nos relacionamentos pessoais mais ín­ timos do mundo do século I. A escolha que Paulo faz dos exemplos nos esclarece um ponto notável. Aqueles que verdadeiramente saberão se Cristo está em nossas vidas são aqueles que nos conhecem melhor — nossas famílias, e as pessoas com que trabalhamos todos os dias. Uma espiritualidade que não encontra expressão nestes relacionamentos é verdadeiramente vazia. “Orando... para que o manifeste, como me convém falar” (C l 4.2-6). Expressar Cristo em nossas vidas

é vital para um testemunho eficaz. Mas não é sufi­ ciente. O evangelho é uma mensagem transmitida em palavras e autenticada pela vida. Tanto a pala­ vra como a vida devem ser transmitidas.

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Colossenses 3— 4

DEVOCIONAL__________ As Roupas novas do Imperador quando Jesus expressa a si mesmo, por nosso inter­ (Cl 3.6-17)

Você conhece a história. O alfaiate falante conven­ ceu o imperador de que estava preparando uma roupa magnífica, tão especial que somente um homem honesto conseguiria vê-la. O imperador não podia vê-la, mas ficou envergonhado de dizer isto. Os seus cortesãos não conseguiam vê-la, mas, como não ousavam parecer desonestos, elogiavam cada característica dela. E assim, quando chegou a ocasião especial para a qual a roupa estava sendo feita, o imperador orgulhosamente marchou pela avenida — em suas roupas de baixo. Somente o riso de uma criança, a única pessoa verdadeiramen­ te honesta, expôs a fraude que todos conheciam. A epístola aos colossenses tem algo parecido com esta história. Paulo tinha examinado honestamente a religião “superior” da falsa humildade, do ritual, e da rigorosa autodisciplina, promovida por algu­ mas pessoas em Colossos, e a denunciou. Pessoas que lutam para vestir esta roupa descobrem, como o imperador, que não vestiram nada! Tudo o que fizeram não tem nenhum valor espiritual. Mas Paulo continuou descrevendo a roupa ade­ quada para um imperador — roupa que você e eu devemos usar. Não é revestir-nos de ações de apa­ rência piedosa. Ê vestir o novo homem que temos em Cristo, e refletir a sua imagem. As nossas rou­ pas novas não são vistas nas regras que mantemos, mas no amor que expressamos. As características da realidade na vida cristã são uma calorosa compai­ xão, uma bondade compreensiva, uma humildade abnegada, uma bondade e paciência, que transbor­ dam em nossa vida quando amamos, adoramos, e respondemos positivamente a Jesus. A marca da realidade na vida cristã é a semelhança a Cristo,

médio, em cada relacionamento. Não se preocupe em parecer piedoso, nem mesmo em se sentir piedoso. Isto é tão inútil quanto a rou­ pa invisível do imperador. Ame a Jesus, deixe que o seu amor encha a sua vida, e “faça o que fizer”, faça-o de modo agradecido, em nome de Jesus. Então, você perceberá que está vestido com uma compaixão e uma bondade adequadas para um fi­ lho do Rei dos reis.

Aplicação Pessoal

Deixe que o próprio Cristo se mostre ao mundo por intermédio da sua vida.

Citação Importante

“A pessoa que tem a abundância da vida que Cris­ to veio nos trazer, pode esbanjar virtude porque seus recursos são abundantes. Esta pessoa pode cuidar sem reservas das pessoas próximas a ela, e por toda a terra, pessoas de seu próprio credo, cor e nacionalidade, e aqueles de outras crenças, raças e nações, porque os seus recursos estão li­ gados aos reservatórios ilimitados dos cuidados de Deus”. “Esta pessoa pode se permitir ser desprezada, evi­ tada, ferida, porque tem perdão suficiente em seu coração para qualquer crise que venha ao seu ca­ minho. Esta pessoa pode esbanjar amor pelos que não merecem e não respondem, porque sabe que sempre haverá mais amor na fonte de onde ela tem recebido o amor.” — Harold E. Kohn

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em ÊXODO

1 TESSALONICENSES INTRODUÇÃO A jovem igreja de Tessalônica sofreu perseguição imediata, e Paulo foi expulso da cidade (At 17.1 -9) • Esta carta, escrita em aproximadamente 50 d.C., tinha a intenção de encorajar e instruir crentes que haviam se convertido há pouquíssimo tempo. Esta, e uma segunda carta, retomam temas encontrados em todas as cartas de Paulo, como a inspiração das Escrituras, a divindade de Cristo, a salvação baseada na morte de Jesus, a pureza pessoal, o amor, e enfatiza especialmente os ensinamentos sobre a segunda vinda de Jesus. Paulo sentiu claramente que era importante fundamentar os novos convertidos em doutrinas cristãs básicas.

ESBOÇO DO CONTEÚDO

.....1 Ts 1 1 Ts 2— 3 1 Ts 4— 5

I. Introdução................................................................................................ II. A Descrição de um Relacionamento.................................................. III. Exortação e Conclusão........................................................................

GUIA DE LEITURA (2 Dias)

Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 318 319

Capítulos 1-3 4-5

Passagem Essencial 2.1-12 5.1-11

1 TESSALONICENSES 14 DE NOVEMBRO LEITURA 3 18

UM MINISTÉRIO EFICAZ 1 Tessalonícenses 1— 3

“Fomos brandos entre vós, como a ama que cria seus filhos. Assim nós, sendo-vos tão afeiçoados, de boa vontade quiséramos comunicar-vos, não somente o evangelho de Deus, mas ainda a nossa própria alma; porquanto nos éreis muito queridos” (1 Ts 2.7,8).

A maneira como nós nos relacionamos com os ou­ tros autentica a mensagem de amor do evangelho.

Visão Geral

Paulo louvou a Deus pela perseverança dos tessalonicenses (1.1-3) e pelas evidências da sua verda­ deira conversão (w. 4-10). Ele os lembrou de seu ministério pessoal entre eles (2.1,2) e os encorajou no seu sofrimento (w. 13-16). Ele falou do amor que o levou a enviar Timóteo para visitá-los (w. 17— 3.7) e da sua própria alegria com o bom relato deste (w. 8-13).

Entendendo o Texto

“Obra da vossa fé ” (1 Ts 1.1-3). Os tessalonícenses eram notáveis, como uma igreja verdadeiramente comprometida. Não somente recebiam o evange­ lho — eles agiam de acordo com ele! O que é tão surpreendente é que Atos 17 parece sugerir que a equipe missionária de Paulo esteve nesta cidade de 200 mil pessoas apenas algumas semanas, ou no máximo alguns meses, antes que as revoltas os forçassem a fugir para Bereia. Ain­ da assim, deixaram atrás de si um núcleo de uma igreja forte e vital, que permaneceu fiel, apesar da perseguição. Que desafio para nós, que podemos conhecer o evangelho há muito mais tempo, mas exibimos muito menos evidências do seu alcance em nossas vidas.

Qual era o segredo dos tessalonícenses? Eles ti­ nham fé que produzia obras, caridade que produ­ zia trabalho, e esperança que inspirava paciência (v. 3). Ninguém que se apodera verdadeiramente da mensagem de fé, amor e esperança do evangelho pode permanecer a mesma pessoa. “Recebestes a palavra” (1 Ts 1.4-6). O s versos 4-10 descrevem uma resposta total à mensagem do evan­ gelho: uma resposta que os pregadores de todos os lugares desejam ver em suas congregações e nós an­ siamos por ver nas pessoas que amamos. O primeiro elemento nesta resposta é, “Recebes­ tes a palavra”. O povo de Deus em Tessalônica não hesitou, nem se reprimiu, nem criticou. Eles fica­ ram entusiasmados quando ouviram a Palavra de Deus. Há alguns anos, Joe Bayly escreveu um livro clás­ sico, intitulado The Gospel Blimp (O Dirigível do evangelho), onde falava de alguns cristãos entusi­ ásticos, que decidiram bombardear a sua cidade com panfletos, e imaginaram que um dirigível seria ótimo. Eles podiam flutuar sobre os quintais e jogar panfletos sobre todas as pessoas! E difícil imaginar que as pessoas realmente “dessem as boas vindas” a bombas do evangelho que caíssem nos seus quintais. Certamente, Paulo tinha uma ma­ neira melhor. Ele transmitia o evangelho pessoal­ mente, “em muita certeza” e confiava no poder do Espírito Santo, e não no Dirigível do evangelho. E Paulo “vivia entre” as pessoas às quais tentava alcançar, de modo que elas o conheciam e o seu modo de vida. Se você e eu quisermos que os outros recebam o evangelho, a abordagem de Paulo é essencial.

1 Tessalonicenses 1— 3

“Por vós soou a palavra do Senhor” (1 Ts 1.7-9a). O velho ditado ainda é verdadeiro. Os pastores não têm ovelhas. Os rebanhos têm. Isto certamente era verdade em Tessalônica. Paulo foi forçado a deixar a cidade depois que os oponen­ tes judeus incitaram revoltas. Mas a igreja conti­ nuou crescendo, espiritualmente e numericamen­ te. Há pouco tempo, estava falando com um amigo chinês, que acabava de voltar da China continen­ tal, e que me contava da renovação que acontecia ali. Nos anos 1970, quando a religião era proibida, a igreja foi forçada a ser clandestina, e os líderes eram reprimidos ou presos. Mas agora, apenas 15 anos depois, os cultos de Natal ficam abarrotados, quando milhões professam abertamente a sua fé em Cristo, e muitos milhões mais participam de um dinâmico movimento da igreja em casas. Os pastores foram removidos pelo estado. Mas isto não importou. E o rebanho que tem ovelhas, e não os pastores, e as filas de cristãos chineses continu­ am a aumentar. Onde quer que os cristãos estejam dispostos a se tornar imitadores do Senhor, a servir de exemplo para os outros, e a apregoar a Palavra, o evangelho continuará a prosperar. “Dos ídolos vos convertestes a Deus” (1 Ts 1.9b, 10). A sequência aqui não pode ser revertida. Alguns ten­ tam modificar uma pessoa, antes da conversão, ou sem ela. Alguns dizem, “eu gostaria de ir à igreja, mas eu tenho este hábito. Assim que eu perder este hábito, então...” O que está errado é o fato de que não nos conver­ temos dos ídolos a Deus. Nós nos convertemos a Deus dos ídolos. Nós temos que nos converter a Deus antes, porque somente o poder de Deus po­ derá nos capacitar a romper as correntes que nos prendem. Assim, não pense, “Tão logo eu endireitar a minha vida, irei a Deus”. Venha para Deus, e deixe que Ele endireite a sua vida para você. “Como bem sabeis, [nós] nunca” (1 Ts 2.1-6). Paulo tinha duas dádivas para oferecer aos tessalonicenses. Estas são as mesmas dádivas que você e eu temos a oferecer aos outros. O evangelho e nós mesmos. As duas dádivas podem ser mal interpretadas, e fre­ quentemente o serão. Mas você e eu, sendo pesso­ as, somos os mais vulneráveis à crítica. Que grande maneira de atacar o evangelho. Ignore a sua mensa­ gem de amor de Deus, e sugira que o mensageiro é avarento, ou enganador, ou está tentando enganar as pessoas. Realmente fere o evangelho, quando algo como isto prova ser verdade, como em vários casos de famosos evangelistas da televisão.

Mas pense que grande oportunidade você e eu temos de adornar o evangelho, sendo honestos e amorosos! Paulo disse: “Como bem sabeis, nun­ ca usamos de palavras lisonjeiras, nem houve um pretexto de avareza”. As palavras realmente signi­ ficativas aqui são “bem sabeis”. Paulo desenvolveu um relacionamento suficientemente íntimo com os tessalonicenses, no breve período em que os conhe­ ceu, e estava certo de que eles conheciam os seus motivos e o seu ser interior. Vivendo abertamente e honestamente com os ou­ tros, nós protegemos, não apenas a nossa própria reputação, mas a integridade do evangelho. “Como a ama que cria seus filhos” (1 Ts 2.7-9). Quando Paulo tentou descrever o relacionamento que desenvolvia com os outros, quando transmi­ tia o evangelho, somente imagens familiares servi­ riam. Pareceria engraçado a estranhos, ouvir Paulo, des­ crito em documentos antigos como um homem pequeno e encarquilhado, com um grande nariz, falar de si mesmo como “a ama que cria os seus filhos [bebês]”. Mas não pareceria engraçado para os tessalonicenses, pois eles teriam sentido exata­ mente esta qualidade de amor terno e protetor que fluía do grande apóstolo. O amor não é uma questão da nossa aparência, ou de quanto dinheiro ou educação temos. O amor é simplesmente a abundância de uma profunda pre­ ocupação com o bem estar dos outros. Se você tiver este amor, nada mais importa. Se não tiver, nada mais tem importância. “Nós vos exortávamos e consolávamos, a cada um de vós, como o pai a seus filhos” (1 Ts 2.10-12). Paulo continuou a usar a sua comparação com a família. Novamente, não há outra comparação que tradu­ za o tipo de relacionamento que é adequado ao evangelho. (Veja o DEVOCIONAL.) Desta vez, as palavras-chave são “cada um de vós”. Os meus filhos, Paul e Tim, tiveram os mesmos pais, cresceram na mesma casa, e frequentaram as mesmas escolas —mas são muito diferentes, um do outro. Cada um deles precisou ser tratado como um indivíduo. E isto o que é tão impressionante a respeito do lembrete de Paulo, o fato de que, como um pai com filhos adolescentes, ele lidou com “cada um” dos tessalonicenses como um indi­ víduo. Aqueles que precisavam de encorajamento, ele encorajava. Àqueles que precisavam de conso­ lo, ele consolava. Àqueles que precisavam de in­ sistência — o que nós poderíamos chamar de um bom impulso — Paulo insistia. O seu objetivo era o mesmo, em cada caso: ajudá-los a se “conduzir

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1 Tessalonicenses 1—3

dignamente para com Deus”. Mas a maneira como ele trabalhava com os outros, rumo a este objetivo, levava em consideração as diferenças individuais. Se nós desejarmos ser ministros eficazes a outras pessoas — até mesmo membros de nossas próprias famílias, nós devemos conhecê-las como indivídu­ os, e lidar com cada uma, de acordo com suas ca­ racterísticas e necessidades. Amar não significa apenas permitir que os outros nos conheçam, e aos nossos motivos. Significa co­ nhecer os outros, individualmente, e bem. 54 palavra de Deus, a qual também opera em vós” (1 Ts 2.13-16). Frank era um jovem convertido na nossa congregação no Brooklyn. O alegre e robusto jovem de 20 anos pagou um preço alto pela sua fé. Sua mãe e seu pai, católicos tradicionais nos seus 50 anos, viram a sua conversão como uma apos­ tasia. Eles tentaram suborná-lo com um conjunto de bateria que ele desejava há muito tempo. Final­ mente, eles o expulsaram de sua casa. Frank sofreu imensamente, mas conservou a fé no que ele julga­ va que era o correto. E todos nós, jovens da nossa igreja, sofremos por ele. Paulo conhecia a ambivalência que é a consequ­ ência quando alguém se torna um crente e como resultado sofre perseguição. Mas Paulo lembrou, a si mesmo e aos tessalonicenses, de que “haveis sido

DEVOCIONAL______ Lar, Doce Lar (1 Ts 2.1-12)

Eu suponho que tive muitas razões para tomar o ônibus da faculdade para casa, durante tantos fins de semana. Eu trazia sacos de roupa suja, como muitos colegas da faculdade. Mas a ver­ dadeira razão era que não havia nada como o lar. Nada era tão aconchegante como a mamãe assando pão na pequena cozinha, ou o papai len­ do na varanda. Nada parecia tão “correto” como ver papai lavar a louça enquanto mamãe secava, ou me esparramar em uma poltrona enquanto mamãe lia em voz alta histórias e artigos do Saturday Evening Post. A m inha casa era afetuosa, confortável, um lugar onde eu era bem vindo e amado, mesmo sendo um aluno de faculdade, e morando sozinho. O lar tem um ambiente todo próprio. Paulo entendia isto tão bem como qualquer ou­ tra pessoa. Ele sabia que o lar é o único ambien­ te realmente eficaz para a evangelização e para o crescimento espiritual. Assim, Paulo não somen­ te trouxe aos outros o evangelho em palavras,

feitos imitadores das igrejas de Deus que, na Judeia estão”. Existe uma longa tradição de sofrimento relacionado com o comprometimento cristão. As coisas não melhoram automaticamente. Elas po­ dem piorar! Quando aqueles aos quais amamos sofrem pela sua fé, nós podemos sofrer com eles. Mas devemos nos lembrar de que o sofrimento não é uma novidade. O que é novidade é o fato de que a Palavra de Deus opera em nós. E com isto, podemos nos alegrar. “A nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória” (1 Ts 2.17—3.13). Quando os mesmos elementos que compõem este universo se dissolverem em calor fervente, somente os seres humanos permanecerão. Paulo tinha escolhido amar as pessoas, e não as coi­ sas. Quando Cristo retornar, a esperança, a alegria e a coroa de glória de Paulo estarão presentes com ele, preservadas para toda a eternidade. Paulo foi forçado a deixar estas pessoas muito pre­ ciosas, quando começaram as revoltas em Tessalônica. Não é de admirar que enviasse Timóteo para visitá-los, tão logo pôde (3.1-5), e se enchesse de alegria quando Timóteo trouxe um bom relato (w. 6-13). Devemos fazer dos outros o foco do nosso interes­ se, e a referência dos nossos valores, de modo que se tornem nossa alegria. como criou um senso de família, pela maneira como amava cada membro da igreja tessalonicense. O que as pessoas precisam hoje em dia, talvez ainda mais do que em outras épocas, é este clima de calor, intimidade e carinho que é característico de um lar amoroso. A igreja que propicia este ambiente certa­ mente crescerá. E os seus membros amadurecerão.

Aplicação Pessoal

Construa a sua igreja como os pássaros constroem os seus ninhos — um pequeno galho de amor por vez.

Citação Importante

NÓS EXISTIMOS PARA FORNECER AM OR E CARINHO UNS AOS OUTROS... compartilhando as necessidades, cargas e alegrias, uns dos outros servindo às pessoas, de um modo sacrifical, aprendendo a amar e a ser amados, Deus, na sua graça, nos deu, uns aos outros. Uma parte integral da nossa vida, como seu corpo, con­

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1 Tessalonicenses 4— 5

siste em cuidarmos e apoiarmos, uns aos outros. no seu retorno iminente (w. 13— 5.3). Até então, — da Mission Statement [Declaração da Missão], nós devemos viver vidas expectantes, controladas, Crossroads Community Church. encorajando uns aos outros (w. 4-11). Paulo con­ clui com várias instruções específicas (w. 12-28).

15 DE NOVEMBRO LEITURA 3 1 9 0 SENHOR VIRÁ

1 Tessalonicenses 4 — 5

Entendendo o Texto

“D e que maneira convém andar e agradar a Deus” (1 Ts 4.1). O verbo traduzido aqui como “agra­

“O mesmo Senhor descerá do céu com alarido... e os dar” tinha um sentido amplo na era do Novo que morreram em Cristo ressuscitarão prim eiro” (1 Is Testamento. Ele se referia a uma ação que não 4.16). somente conquistava aprovação, mas que consti­

tuía serviço ativo e verdadeiro. Nós somos servos A vinda de Cristo é, ao mesmo tempo, um consolo de Deus, além de seus filhos. Nós devemos dedi­ e um desafio. car nossas vidas ao seu serviço. Paulo disse que os tessalonicenses sabiam como Contexto viver para agradar/servir a Deus. Apesar disto, Escatologia nas cartas aos tessalonicenses. Fica claro, ele continuou lembrando-os. Se nós não formos a partir da leitura destas cartas, que, durante as constantemente lembrados do que sabemos, curtas semanas ou meses em que Paulo esteve com estaremos muito inclinados a esquecer. Assim, os tessalonicenses, ele lhes forneceu uma imagem deixe que as palavras de exortação de Paulo nos bastante detalhada do fim dos tempos. Estas car­ lembrem também das pessoas que fomos chama­ tas falam do retorno de Cristo pelos seus santos, dos a ser, e do serviço que fomos chamados a da aparição do Anticristo, do juízo final, e outros realizar. aspectos do fim dos tempos. Mas a sequência exa­ ta dos eventos, e a maneira como os elementos da “Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” imagem escatológica se encaixam, é um assunto de (1 Ts 4.3-8). Paulo recomendou especificamente evitar a imoralidade sexual. Mas a preocupação debate por parte de cristãos fervorosos. Talvez o que é mais importante recordar, quando maior de Paulo era pelo controle de toda “pai­ lemos estas cartas, é que, assim como a “primei­ xão de concupiscência”. Paulo usou esta expres­ ra vinda” de Cristo compreendeu um período de são, não somente referindo-se ao apetite sexual, mais de 30 anos, também a sua “segunda vinda” mas também ao desejo dominador, de qralquer compreende um período de alguns anos. Grande tipo. Uma paixão pelo poder, uma paixão por parte da confusão sobre o fim dos tempos resulta dinheiro, uma paixão por comida, uma paixão da suposição de que a “Segunda Vinda” seja um por aprovação e popularidade, pode ter um im­ evento único, e não uma série de eventos que aba­ pacto tão destrutivo sobre a santidade quanto a larão o mundo, e que ocorrem durante um período paixão sexual. de alguns anos. Nós não devemos ser dominados por nossos de­ Isto não necessariamente é útil para determinar sejos, mas devemos permitir que Deus nos do­ como os eventos mencionados nas cartas aos tes­ mine. Nós devemos conservar rédea curta con­ salonicenses se relacionam, entre si, ou com outras trolando quaisquer desejos cujo controle possa passagens do Antigo e do Novo Testamento. Ainda nos impedir de servir a Deus e aos outros. assim, nós podemos aceitar que eles descrevem al­ gum aspecto da história futura. “Vós mesmos estais instruídos por Deus que vos O que parecia mais importante para Paulo não era ameis uns aos outros” (1 Ts 4.9,10). Uma das mais fornecer um cronograma, mas um desafio. Paulo poderosas motivações para o serviço que agrada convoca os tessalonicenses e a nós, também, para a Deus é o amor cristão. Observe que este amor é que vejamos o que Deus tenciona fazer, e então recíproco: os cristãos se amam “uns aos outros”. apliquemos esta visão do futuro para nos guiar nas Há algo de mortal em um amor sacrifical não escolhas e ajustar as atitudes atuais. E na aplicação correspondido. A filha que desiste do casamen­ da profecia que precisamos nos concentrar, quando to para cuidar de sua mãe inválida pode fazer lemos estas cartas com devoção. isto por amor. Mas se a mãe permanecer crítica, amarga e exigente, até mesmo o amor mais puro Visão Geral provavelmente irá se magoar. O marido que con­ Agradar a Deus exige santidade (4.1-9) e amor fra­ tinua amando sua esposa infiel pode ser admi­ ternal (w. 10-12). A vontade de Cristo será exaltada rável. Mas com o tempo, esta casa certamente

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se despedaçará, por causa do egoísmo da esposa. Qualquer amor que é constantemente rejeitado deve, em última análise, fraquejar. Esta é uma das razões por que Deus criou a sua igreja para ser uma família. Deus nos deu irmãos e irmãs em Cristo, para que possamos receber, além de dar, amor. Na reciprocidade possível no corpo de Cristo, a nossa capacidade de amar pode crescer, e nós podemos encontrar os recursos de que preci­ samos para nos capacitar a amar outras pessoas que não amam em retribuição. Se você estiver em uma situação em que o seu amor encontra somente amargura ou rejeição, procure amigos cristãos que irão apoiar e amar você. Até mesmo na melhor das situações, nós precisamos de um relacionamento íntimo com outros crentes, onde possamos dar e receber amor. Se você está procurando uma igreja, não procure, em primeiro lugar, programas e atividades. Procu­ re ver se as pessoas da igreja verdadeiramente se amam, umas às outras. Paulo tinha um ponto de vista diferente sobre a ambição. Basicamente, ele disse que devemos tor­ nar a nossa ambição tão comum quanto possível. Viver quietos. Tratar dos nossos próprios negócios. Trabalhar com nossas próprias mãos. Ser bons ci­ dadãos, mas comuns. Eu até que gosto da ênfase de Paulo. Pessoas co­ muns, que vivem vidas corretas, honestas, traba­ lhadoras e comuns, têm o hábito de conquistar o respeito de quem as conhece. Para o povo de Deus, conquistar respeito é um objetivo muito mais ele­ vado do que chegar ao topo! “Acerca dos que já dormem” (1 Ts 4.13-18). Uma das mais poderosas declarações escatológicas de Paulo surgiu de uma preocupação muito prática. Alguns dos cristãos de Tessalônica tinham morrido. Os amigos e a família ficaram terrivelmente pertur­ bados. Estes mortos perderiam o retorno de Jesus? Com palavras convincentes, Paulo tranquilizou os parentes e amigos preocupados. Quando Jesus vier, os crentes que “dormem” serão ressuscitados dos mortos, e então, juntamente com os santos ainda viventes, todos os cristãos serão arrebatados nas nuvens, para encontrar a Jesus, e estar com Ele para sempre. Paulo, então, aplicou de maneira simples esta visão dramática: “Consolai-vos uns aos outros com estas palavras”. Quando um ente querido morre, pode­ mos olhar à frente, vislumbrar a aparição triunfal de Jesus, e nos alegrar.

“A cerca dos tempos e das estações” (1 Ts 5-1-3). A igreja primitiva esperava que Jesus retornasse a qualquer momento. Eles não sabiam quando. Eles apenas sabiam que, em um momento em que o mundo não o esperasse, Jesus apareceria, para rea­ lizar o juízo final. Paulo estava falando sobre a doutrina da “iminên­ cia”. Tudo o que isto quer dizer é que Jesus pode retornar a qualquer momento. Não há condições a satisfazer que o impeçam de retornar hoje, à noite, ou amanhã. Nós sabemos que o cometa de Halley não irá retornar até o final do século XXL Mas os cristãos, durante os séculos, estiveram cientes de que Jesus poderia retornar a qualquer momento. Não seria ótimo se Jesus viesse no dia 16 de novem­ bro? Ou até mesmo hoje? (Veja o DEVOCIONAL.) “Que os tenhais em grande estima” (1 Ts 5-12,13).

Eu sofro de uma terrível doença. Os cochilos do culto dos domingos. Isto acontece desde os meus dias no seminário, quando eu trabalhava das 11 horas da noite às 7 da manhã, sete noites por semana, e tinha uma car­ ga horária semestral de 19 horas de aulas. Todos os dias, na capela, eu encontrava um lugar ao lado da parede, apoiava nela minha cabeça, e dormia. Agora, mesmo quando prego, é difícil me manter acordado durante o culto. E quando outros pregam — bem, é quase impossível. Até que nós viemos à nossa igreja atual, e à excelente pregação do nos­ so pastor, Richard Schmidt, um irmão caloroso e agradável. Repentinamente, percebi que o cotovelo da minha esposa não queimava as minhas costelas já há vários meses, e que eu permanecia acordado em muitos domingos! Eu telefonei para o Richard, e lhe disse o quanto eu apreciava os seus sermões. Valia a pena ficar acordado para ouvi-los. Ele riu, e disse: “obrigado”. E acrescentou que es­ perava que os outros pregadores aposentados da congregação tivessem a mesma atitude. Parecia que eles persistentemente lhe dificultavam a vida. Se Deus usou o seu ministro para falar com você, para abençoar você, para encorajar ou fortalecer você, por que não telefonar para ele? Estas pessoas precisam de algo mais que o nosso respeito. Elas precisam do nosso incentivo. “Não extingais o Espírito” (1 Ts 5.19). Versões mais antigas dizem, “Não apague o Espírito”. Este sig­ nificado não é nada misterioso. Algum jovem já se aproximou de você, cheio de entusiasmo com uma ideia ou projeto? E você observou o seu rosto des­ moronar quando você disse “não”? Bem, o Espírito Santo é entusiasmadamente comprometido com ideias e projetos com os

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quais você possa servir a Deus e vivenciar gran­ des bênçãos. E todas as vezes que você diz “não” à sua sugestão, é como jogar um balde de água fria.

DEVOCIONAL______ Filhos da Luz (1 Ts 5-1-11)

Eu me lembro muito bem, de brincar no porão, quando minha mãe lavava roupas. Eu tinha 4 ou 5 anos, de modo que faz mais de 50 anos que eu me vestia de Pecos Pete, e descia os degraus, para resgatar minha mãe de ladrões. Isto era fingimento. Mas eu também me lembro, muito bem, de minha mãe me dizendo que esperava que Jesus retornasse enquanto ela estava viva. Isto não era fingimento. Isto era muito real para a minha mãe. Ela estava errada. Ela morreu em um acidente de automóvel, nos anos 1960. Mas a percepção de que o retorno de Cristo era iminente foi um alicerce na vida de minha mãe. O que mamãe me dizia, quando eu era criança, ainda é muito real para mim. Minha esposa e eu frequentemente falamos sobre isto, e esperamos que Jesus retorne antes que qualquer um de nós se una a Ele, pela morte. Nós não sabemos quando Ele irá retornar. Os “tempos e as estações” são um mistério. Mas a realidade do retorno de Cristo pa­ rece imponente em nossos pensamentos. Paulo retratou aqueles que vivem com esta percep­ ção como “filhos da luz e filhos do dia”. Nós não estamos no escuro quanto ao futuro — ou quanto a como viver nossas vidas, aqui e agora.

O Espírito não vai nos forçar a seguir as suas su­ gestões. Nós podemos extinguir o seu ministério conosco, com um simples não. Mas, quando o fi­ zermos, nossa perda será grande. Jesus está vindo! E assim, nós exercemos autocontro­ le, e conservamos nossos valores em harmonia com os dEle. Jesus está vindo! E assim nós colocamos a fé e o amor como um guarda em nossos corações. Jesus está vindo! E assim, nossa perspectiva é moldada pela esperança da sua aparição, não para nos julgar, mas para nos libertar da ira prestes a cair sobre o nosso mundo perdido. Jesus está vindo! E assim, nós enco­ rajamos, uns aos outros, e nos edificar, valorizando mais as pessoas do que as coisas. Como Deus faz. Minha mãe não estava errada em esperar Jesus. Nós também não estamos errados. E enquanto a sua vinda for real para nós, as nossas escolhas, e as nossas vidas, certamente serão transformadas.

Aplicação Pessoal

Busque a Jesus, e isto iluminará o horizonte da sua vida.

Citação Importante

“Eu me senti trabalhando três vezes mais, desde que compreendi que o meu Senhor está vindo ou­ tra vez.” — D. L. Moody

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em FILIPENSES

2 TESSALONICENSES INTRODUÇÃO

A segunda carta de Paulo aTessalônica foi enviada alguns meses após a primeira. Algumas pessoas supuse­ ram que a segunda vinda de Jesus estava tão próxima, que podiam deixar de trabalhar. Paulo corrigiu esta interpretação equivocada, e enfatizou a importância de usar o tempo atual com prudência e sabedoria.

ESBOÇO DO CONTEÚDO

I. A Justiça de Deus........................................................................................................................................2 Ts 1 II. O Homem do Pecado...............................................................................................................................2 Ts 2 III. O Mandamento para Trabalhar............................................................................................................ 2 Ts 3

GUIA DE LEITURA (2 Dias)

Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 320 321

Capítulos 1 2— 3

Passagem Essencial

1.5-10

3.6-15

2 TESSALONICENSES 16 DE NOVEMBRO LEITURA 320

DEUS É JUSTO 2 Tessalonicenses 1

“Se, de fato, é justo diante de Deus que dê em paga dado apenas para dizer, “Estou pensando em você, tribulação aos que vos atribulam, e a vós, que sois como vai você?” Nós o vemos quando uma amiga atribulados, descanso conosco” (2 Ts 1.6,7). diz à mãe nervosa de crianças em idade pré-escolar,

“Deixe-me ficar com seus filhos hoje, você precisa Um Deus insípido é uma ficção que apela para o descansar”. Nós o vemos quando a neve é limpa da culpado, e não para aqueles que se santificam. calçada de uma pessoa de idade; nós o vemos no tempo que passamos com um deficiente físico. Nós Visão Geral o vemos no ouvir, no estender de uma mão, em um Paulo louvou a perseverança (1.1-4) e prometeu abraço consolador, em uma oração sincera. que aqueles que perseguem os crentes serão puni­ Enquanto a fé está oculta na vida comum, é através dos, quando Jesus retornar (w. 5-10). Paulo orou das coisas comuns da vida que o amor é mais cla­ para que, até então, os tessalonicenses vivessem ramente revelado. para glorificar a Deus (w. 11, 12).

Entendendo o Texto

“A vossa fé cresce muitíssimo” (2 Ts 1.3). “Fé” parece ser uma coisa muito difícil de avaliar, em circuns­ tâncias normais. Ela permanece praticamente invi­ sível — “interior”. Mesmo quando os outros estão vivendo pela fé, o que dizem e fazem pode parecer bastante comum para nós. Somente se pudéssemos olhar no seu interior, veríamos o que lhes custa conservar uma vida comum. Não se sinta desencorajado se os outros não perce­ berem o quanto da sua vida é vivida pela fé. Deus sabe, e irá recompensar você.

“O vosso mútuo amor... vai aumentando” (2 Ts 1.3, ARA). Diferentemente da fé, o amor é visível na

mais comum das situações. Quando Paulo disse, “o vosso mútuo amor de uns para com os outros vai aumentando”, ele estava se referindo a alguma coisa que pode ser vista e avaliada. Nós vemos o amor no sorriso de boas vindas, quando os amigos se encontram. Nós o vemos no telefonema que é

“Paciência e fé... em todas as vossas perseguições e aflições que suportais” (2 Ts 1.4). A fé, invisível na

vida comum, é claramente revelada nas persegui­ ções e nas aflições. A família cristã, no interior da Colômbia, que se recusa a plantar o que o cartel irá converter em drogas — e sofre não somente perdas econômicas, mas também ameaças de morte por parte dos senhores das drogas, exibe fé. O pastor protestante na Romênia, que desafiou uma ordem de manter silêncio, e estimulou a revolta que der­ rubou o regime comunista, em dezembro de 1989, exibiu fé. O cristão, na instituição mental na Rús­ sia, que se recusa a deixar de dar testemunho, ou os pais que veem perdida a esperança de curso su­ perior para seus filhos porque perseveram no seu comprometimento com Cristo, exibem fé. Quando vêm as aflições, e os cristãos continuam comprometidos com Cristo, então o invisível se torna visível, e o mundo vê que a fé cristã é real. Quando chegar a sua vez, por meio de tragédia pessoal ou do desastre nacional, persevere, e erga a bandeira da sua fé.

2 Tessalonicenses 1

“Prova clara do justo juízo de Deus” (2 Ts 1.5). Deus declarou que todos os que creem em Jesus são jus­ tos, aos seus olhos. Ele nos declarou cidadãos do seu reino, irmãos e irmãs do seu Filho. Quando nós perseveramos na nossa fé, apesar das persegui­ ções, nós justificamos a declaração de inocência de Deus. Nós mostramos que conhecer a Cristo real­ mente faz a diferença; que Deus realmente fez de nós “novas criaturas” (2 Co 5.17). O nosso sofrimento por causa do seu reino é evi­ dência, não para Deus, mas para o mundo. E ao longo da história da igreja, a disposição dos crentes de sofrer e até mesmo ter mortes dolorosas por cau­ sa de Jesus levou muitos a crerem nEle. Já foi dito, e frequentemente provado, “O sangue dos mártires é a semente da igreja”. “Se, de fato, éjusto diante de Deus que dê em paga tri­ bulação aos que vos atribulam” (2 Ts 1.6,7). A justiça

de Deus é exibida de duas maneiras. Uma delas é na sua contabilidade dos livros morais, “retribuin­ do” aos que praticam iniquidades. Isto, diz Paulo, acontecerá quando Jesus retornar. A outra maneira é na sua contabilidade dos livros morais, assumindo Ele mesmo a punição devida aos que praticam ini­ quidades. Isto já aconteceu, e a disposição de Deus em sofrer por nós foi exibida no Calvário. Se o indivíduo está no grupo a quem o pagamento é devido, ou no grupo pelo qual o pagamento já foi feito, isto não está nas mãos de Deus. Isto depende do indivíduo. Em Cristo, Deus foi mais do que justo com os ím­ pios. Agora, cabe a cada homem ou mulher esco­ lher aproveitar a “injusta” provisão de salvação de Deus, ou exigir o tratamento justo — e ser conde­ nado. (Veja o DEVOCIONAL.)

vinda de Cristo, Paulo não disse que Jesus irá re­ tornar para punir. Em vez disto, Jesus irá retornar “para ser glorificado nos seus santos”. Uma característica peculiar dos diamantes é o fato de que, quando brutos, parecem pedras nor­ mais. Uma pessoa pode pegá-las, olhar para elas, e deixá-las de lado, como algo sem valor. Mas quando cortada por um joalheiro hábil, é revela­ da uma pedra brilhante. Quando vista contra a luz, ela revela o esplendor de cada faceta. O mundo atribui muito pouco valor aos cris­ tãos. Para os outros, nós parecemos comuns e sem valor. Na verdade, quanto mais comprome­ tidos com Cristo, menos parecemos nos encaixar no esquema do mundo, e menos valor parece­ mos ter para as pessoas do mundo. Mas quando Jesus retornar, Ele nos erguerá contra a sua luz, e repentinamente as facetas que as aflições e as perseguições entalharam irão brilhar com luz cintilante. E por isto que Jesus irá retornar: para nos erguer e “ser glorificado nos seus santos”. E para “se fazer admirável, naquele Dia, em todos os que creem”.

“Rogamos sempre p or vós” (2 Ts 1.11,12). Esta é outra daquelas orações de Paulo, que nos ensina como orar pelos outros. Esta oração se concentra na persistência. Os cristãos frequentemente têm boas intenções. Nós somos movidos por um desejo de ajudar, de agir, de realizar alguma coisa especial por Jesus ou pelo seu povo. Mas este desejo com frequência de­ saparece com igual rapidez, e as nossas boas inten­ ções são esquecidas. Paulo pediu, e nós podemos orar, para que Deus possa cumprir “todo desejo da sua bondade e a obra da fé com poder”. Pense nisto. Se as boas intenções de cada cristão “Ser glorificado nos seus santos” (2 Ts 1.10). Embo­ fossem traduzidas em ações, como Deus seria glo­ ra a punição do pecado esteja associada à segunda rificado em nossa vida!

DEVOCIONAL______ Deus (Não) é Agradável (2Ts 1.5-10)

Você não vai encontrar isto na Bíblia. Eu não co­ nheço um único texto que diga, “Deus é agradá­ vel”. Particularmente quando definimos “agradá­ vel” em termos de seus sinônimos — simpático, favorável, amável. Deus é gracioso, isto é verdade. E misericordioso. Mas agradável? Nunca. Algumas pessoas, entretanto, gostam de pensar em Deus como agradável. Agradável demais, para se zangar ou se aborrecer com as pessoas. Agradável demais para punir o pecado. Talvez o “Deus do

Antigo Testamento” fosse rude. Mas, dizem eles, o “Deus do Novo Testamento” é amoroso. E o que eles querem dizer, quando dizem “amoroso”, é “agradável”. Ele é doce, e inofensivo, não há por que temê-lo. 2 Tessalonicenses 1.5-10 deve ser um choque para os proponentes da teologia de que “Deus é agradá­ vel”. Como pode ser, Jesus vir “como labareda de fogo com os anjos do seu poder” para “tomar vin­ gança dos que não conhecem a Deus”? Que é isto, de “padecer eterna perdição ante a face do Senhor”? Ora, isto não parece nem um pouco agradável!

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2 Tessalonicenses 2—3

Não é agradável. Mas é justo, e é certo. E, acima de tudo, vai acontecer. Deus, o amoroso, também é Deus, o Juiz. Deus, o terno, é Deus, o rude. Deus, o misericordioso, é Deus, o severo. E quando Jesus vier, aqueles que aceitaram o evangelho e aqueles que não o aceitaram exibirão estes aspectos deses­ perados do caráter do nosso Deus. Então, nós clamaremos, que Deus é gracioso. E ou­ tros confessarão que Deus é justo. Mas ninguém dirá que “Deus é agradável”. Aplicação Pessoal Mantenha o seu respeito por Deus: não caia na armadilha de rejeitá-lo, considerando-o inofensivo ou “agradável”.

Cristo, a rebelião final esmagada por Deus, a res­ tauração de Israel e a paz universal, o juízo final, e o estabelecimento de um novo céu e uma nova terra como a residência dos salvos. Como observamos anteriormente, estes eventos se encaixam em um período de tempo, e não em um ponto no tempo. Um número de anos, e não simplesmente um dia de 24 horas, é o significa­ do, quando se usa, “o Dia do Senhor”. E qualquer passagem do Antigo ou do Novo Testamento que mencione o Dia do Senhor provavelmente dirá res­ peito a qualquer destes aspectos daquele período. Nós devemos, então, interpretar as referências de Paulo ao “homem do pecado” como um marcador que indica que o Dia do Senhor chegou, em um contexto completo. Algumas pessoas, em Tessalônica, interpretaram as perseguições que vivenciavam como evidência de que o Dia do Senhor tinha chegado. Paulo disse simplesmente: “Olhem à sua volta. Vocês vêm milagres falsos? Vocês estão vendo o homem do pecado no comando? Este não é o Dia do Senhor”. Muitos cristãos, ao longo dos séculos, sofreram perseguição ainda mais aguda do que a sofrida pelos tessalonicenses, e se perguntaram se o que eles vivenciaram poderia ser um sinal do fim. O ensinamento de Paulo nos lembra de que, neste mundo, podemos esperar sofrimento. Mas, como, em Cristo, nós fixamos nossos olhos em um futuro além deste mundo, até mesmo no sofrimento nós temos esperança.

Citação Importante “A exigência de que Deus deve perdoar um homem pecador embora o tal continue como ele é, está ba­ seada em uma confusão entre tolerar e perdoar. Tolerar um mal é simplesmente ignorá-lo, tratá-lo como se fosse algo bom. Mas o perdão precisa ser aceito, além de oferecido, para ser completo: e o homem que não admite a própria culpa não aceita o perdão”. “Mais cedo ou mais tarde, a resposta para todos aqueles que objetam à doutrina: ‘O que você está pedindo que Deus faça?’ Apagar seus pecados pas­ sados e, custe o que custar, dar-lhes um recomeço, suavizando qualquer dificuldade, e oferecendo toda a ajuda milagrosa? Mas Ele fez isto, no Calvário. Perdoá-los? Mas eles não querem ser perdoados! Abandoná-los? Ai de nós, eu receio que é isto o que Visão Geral O Dia do Senhor será marcado pela aparição de Ele faz!” — C. S. Lewis um “filho do pecado” e de milagres falsos (2.1-12). 17 DE NOVEMBRO LEITURA 321 Até então, os crentes devem se dedicar “a toda boa obra” (w. 13-17), certos de serem protegidos do O DIA DO SENHOR 2 Tessalonicenses 2— 3 maligno (3.1-5). A igreja deve disciplinar aqueles que não quiserem trabalhar (w. 8-18). “Não será assim sem que antes venha a apostasia e se manifeste o homem do pecado” (2 Ts 2.3). Entendendo o Texto “Pela nossa reunião com Ele" (2 Ts 2.1). Não há Apegar-se aos ensinamentos cristãos envolve lem­ nada como a perseguição (1.4) para fazer com que brar-se do que está à frente. as pessoas fiquem ansiosas pelo retorno de Jesus. E não há nada como a prosperidade momentânea Contexto para drenar a nossa sensação de urgência. Então, O dia do Senhor. Esta expressão, que foi extraída quando vêm os problemas — um emprego perdi­ do Antigo Testamento, tem grande significado te­ do, uma doença séria, um acidente que leva um ser ológico. No seu sentido mais amplo, ela identifica amado — nós nos lembramos, outra vez, de quão qualquer período de tempo no qual Deus ativa­ vulneráveis somos. mente, mais do que providencialmente, intervém, Em um de seus salmos, Davi orou que Deus o aju­ dasse a “conhecer o seu fim” e a sentir “quanto sou para moldar o curso da história. Muito frequentemente nas passagens proféticas, no frágil”. A oração não é mórbida. Ela reflete uma entanto, ela é usada a respeito do fim dos tempos, necessidade vital que cada um de nós tem de man­ aquele período final associado com o retorno de ter a vida na terra em perspectiva. Quando você

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e eu fizermos isto, esperaremos ansiosamente o muitos sugerem que o poder do Espírito é exercido retorno de Jesus, qualquer que seja a condição da por intermédio da sua igreja. Se isto for verdade, nossa saúde, ou da nossa conta bancária. então você e eu precisamos nos envolver em ques­ tões sociais que afetam a nossa fé. Nós precisamos “E se manifeste o homem do pecado” (2 Ts 2.1-4). A tomar uma posição, amorosa e graciosamente, mas referência aqui é claramente a uma pessoa normal­ firme, e permitir que o Espírito Santo exerça a sua mente mencionada como o Anticristo. Ele é apre­ influência repressora por nós. sentado em Daniel 9.25-27, e a sua introdução de uma abominável imagem no Templo de Jerusalém “Segundo a eficácia de Satanás” (2 Ts 2.8-12). O fim tem um papel fundamental no ensinamento profé­ dos tempos será marcado pela repentina aparição tico de Jesus (cf. M t 24; Mc 13). Ele aparece nova­ do sobrenatural no campo da natureza. Os mila­ mente em Apocalipse 13, e é comentado aqui por gres serão realizados. Mas, desta vez, pelo Anticris­ Paulo, e mencionado por João, em 1 João 2.18. to, pelo poder fornecido por Satanás. E estranho. Aqui, Paulo retoma a ênfase vista em Daniel e nas As pessoas que zombam do sobrenatural quando palavras de Cristo: o Anticristo arrogantemente “se nós, cristãos, falamos sobre isto, ficarão arrebata­ opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus das pelos milagres falsos realizados pelo Anticristo. ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, Paulo disse que Deus lhes enviará “a operação do no templo de Deus, querendo parecer Deus”. erro, para que creiam a mentira”. Mas, observe. O Fiquei fascinado por notar, em recentes debates erro é enviado somente àqueles que previamente sobre a Evolução e o Criacionismo, como alguns “não receberam o amor da verdade para se salva­ cientistas se opõem e se exaltam em relação a tudo rem”. que é chamado Deus — empurrando-o ao campo A nossa única proteção contra Satanás é encontra­ do que é “meramente religioso”, e, consequente­ da em Cristo. A nossa proteção está garantida nEle. mente, irrelevante. E estas pessoas se colocam no O Senhor Jesus irá derrubar o Anticristo e Satanás lugar de Deus, anunciando suas próprias respostas também “pelo esplendor da sua vinda”. ao mistério das origens e suas próprias predições sobre o futuro do universo. O que é mais fascinan­ “Em santificação do Espírito e fé da verdade” (2 Ts te, é claro, é a sua insistência de que somente eles 2.13-17). As vítimas voluntárias da campanha do têm o direito de fazer tais pronunciamentos “cien­ Anticristo se recusaram a crer na verdade. E o que tíficos” e que o ponto de vista dos criacionistas ja­ dizer de nós, que cremos? mais deve ser permitido. O espírito arrogante do Paulo diz que nós somos amados pelo Senhor. Nós Anticristo está profundamente enraizado na huma­ somos escolhidos por Ele. Nós sentimos a salvação, nidade, ainda que o indivíduo chamado Anticristo pela obra santificadora do Espírito. Nós recebe­ ainda não tenha aparecido. mos esperança e encorajamento de Deus, e um dia E bom que nos lembremos de que o Anticristo e compartilharemos da glória de Cristo. Nós, cris­ todos os que agem como ele agirá, estão fadados à tãos, somos a nova humanidade: a nova criação da destruição. No final, Deus será vitorioso. humanidade de Deus. Você e eu, como a nova criação de Deus, devemos “Já o mistério da injustiça opera” (2 Ts 2.5-7). Quan­ demonstrar a nossa natureza a todos, de uma ma­ do coisas terríveis acontecem para o povo de Deus, é neira muito simples. Nós devemos nos entregar a importante lembrar-se de uma coisa - quando acon­ “toda boa palavra e obra”. tece a perseguição; quando os tribunais decidem que Este é, sem dúvida, o verdadeiro milagre que Deus não é permitido que um grupo de cristãos se reúnam realiza todos os dias. Ele resgata homens e mulheres em uma sala de aula, depois do horário das aulas, do domínio de Satanás (seres humanos que vive­ para o estudo da Bíblia, mas que é permitida a reu­ ram de maneira egoísta, levados por paixões pesso­ nião de uma organização de gays e lésbicas; quando ais), e por Cristo, os torna realmente bons. Ele nos uma grande rede de televisão determina que é contra transforma, até que sejamos movidos a fazer o bem a sua política exibir qualquer programa enraizado em toda obra, e em toda palavra. Nenhum milagre em valores cristãos; quando nós vemos o “espírito que Satanás possa capacitar alguém a realizar pode do homem do pecado” em ação — nós podemos se equiparar ao milagre que está acontecendo, em nos sentir consolados. Paulo sabia que mesmo então você e em mim. haveria alguém que resistiria à plena expressão deste espírito na sociedade (v. 7). “A fé não é de todos” (2 Ts 3.1-5). E importante Quase todos os comentaristas concordam que o orar, enquanto esperamos que Jesus retorne, e poder de restrição é exercido pelo Espírito Santo. E que venha o fim, para que sejamos livres de “ho­

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2 Tessalonicenses 2—3

simples. Continue amando a Deus. Continue perseverando por causa de Cristo. E continue vivendo o tipo de vida correta que suas cartas exortam.

mens dissolutos e maus”. Deus irá nos proteger de Satanás. Mas nós poderemos sofrer persegui­ ção daqueles que estão no seu campo de batalha. Quando isto acontecer, Paulo tem uma solução

DEVOCIONAL______ Pegue este Trabalho

(2 Ts 3.6-15) A canção “country” deve ter refletido a frustração que muitos sentiam em seus empregos. “Pegue este traba­ lho e lance-o de lado”, ecoava a voz rouca, das rádios por toda a terra. “Eu não trabalho mais aqui”. Muitos, em Tessalônica, se sentiam desta maneira. Jesus, voltando? Legal! “Eu me demito”. Eles deixaram de trabalhar. E, uma vez que tinham que comer, simplesmente viviam às custas de ou­ tros cristãos. E passavam o tempo mexericando. Paulo teve uma resposta simples. Eles não querem trabalhar? Então, não devem comer. Cada pessoa deve ganhar o seu próprio pão. Aconselhe cada ocioso com amor, como um irmão. Mas não o ali­ mente. Eu pretendia, quando comecei este devocional, es­ crever sobre a santidade e a natureza realizadora do trabalho. Mas eu penso que Paulo quer dizer outra coisa importante, aqui. O que? Se nós deixarmos de praticar o verdadeiro amor nós iremos magoar, e não ajudar, àqueles que amamos. Os verdadeiros réus em Tessalônica podem não ter sido as pessoas que deixaram de trabalhar, mas as pessoas que as alimentavam! Se ninguém alimen­ tasse os preguiçosos famintos, eu suspeito que eles teriam retomado ao trabalho mais rapidamente! A mesma coisa acontece em muitas áreas de nossa vida. Nós nos queixamos sobre o que os nossos fi-

lhos comem. Mas então, nós lhes fazemos um san­ duíche de queijo, em vez de dizer, “Coma o assado que eu vou servir à noite, ou fique com fome”. Em vez de estabelecer uma política, nada de televi­ são até que as tarefas da escola tenham sido feitas, nós deixamos nosso filho assistir “meu programa favorito” antes — e depois nos aborrecemos, na manhã seguinte, quando, de alguma maneira, as tarefas foram esquecidas. As instruções de Paulo para a igreja em Tessalôni­ ca nos lembram. Se alguém da família tem maus hábitos, simplesmente não contribua com estes hábitos. A menos que você ou eu assumamos uma postura que force os outros a sofrer as consequên­ cias de suas más escolhas, eles continuarão fazendo estas escolhas. E, pelo menos em parte, será nossa própria culpa. Aplicação Pessoal Não alimente os maus hábitos dos outros, contri­ buindo com eles. Citação Importante “Se eu apenas vivesse mais próximo a Deus, eu po­ deria ser muito mais útil.” — George Hodges

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em HABACUQUE

1 TIMÓTEO INTRODUÇÃO As duas cartas pessoais de Paulo a Timóteo e uma carta a Tito são chamadas de “Epístolas Pastorais”. Cada uma delas dá conselho a cooperadores mais jovens de Paulo que serviam como seus representantes, visitando e dando instruções às igrejas em várias cidades do Império Romano. A primeira carta a Timóteo foi escrita em algum momento entre a soltura de Paulo da prisão por volta de 62 d.C. e sua execução durante o governo de Nero em 68 d.C. A carta advertia contra os falsos mestres, mostrava quais eram os requisitos necessários para os líderes de igrejas locais, e lidava com diversas outras questões práticas relacionadas a uma vida congregacional saudável e vital. Este livro é especialmente útil para aqueles que ocupam qualquer posição de liderança. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. A Tarefa de Timóteo................................................................................ II. Guiando a Igreja.................................................................................... III. Estímulo Pessoal................................................................................... IV. Relacionamentos na Igreja..................................................................

......1 Tm 1 1 Tm 2— 3 ......1 Tm 4 1 Tm 5— 6

GUIA DE LEITURA (4 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 322 323 324 325

Capítulos 1 2-3 4-5 6

Passagem Essencial 1.12-16 3.1-7 5.3-16 6.6-11

1 TIMÓTEO 18 DE NOVEMBRO LEITURA 322

VERDADE TRANSFORMADORA 1 Timóteo 1

“Esta é uma palavra fiel e digna de toda aceitação: A vida destas igrejas primitivas era enriquecida por que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar ospecado­ muitos mestres e pregadores itinerantes, que viaja­ vam de cidade em cidade visitando as igrejas que se res, dos quais eu sou o principal” (1 Tm 1.15). reuniam nas casas. O mestre itinerante ficava por A verdade de Deus transforma. algum tempo com uma família cristã, comparti­ lhava o seu ensino especial, e então seguia adian­ Contexto te — ajudado ao longo do seu percurso através de Ministério itinerante no primeiro século. E comum ofertas em dinheiro ou alimentos. Mas um pro­ falar de Timóteo e Tito como “pastores” de igrejas blema com os itinerantes era que eles podiam e se locais. Na verdade nem Timóteo nem Tito foram faziam passar por cristãos. Alguns, particularmente estabelecidos na função pastoral. Cada um destes aqueles com formação judaica, que argumentavam cooperadores mais jovens de Paulo servia como um que a lei do Antigo Testamento era obrigatória aos solucionador de impasses, enviados por Paulo para cristãos, tiveram êxito em subverter a fé das jovens corrigir abusos ou dar instruções adicionais às con­ congregações. gregações que o apóstolo havia fundado. Timóteo Os apóstolos seguiam o padrão itinerante, embora e Tito trabalhavam mais como os “pastores regio­ eles e seus representantes fossem vistos corretamen­ nais” modernos ou “superintendentes distritais” do te como tendo uma autoridade divina especial. Ti­ móteo e Tito eram dois desses “sub-apóstolos”, por que como pastores de igrejas locais. E difícil enxergarmos com perfeição o papel do quem Paulo enviou mensagens especiais às igrejas líder cristão itinerante da Era Apostólica. As Car­ que ele fundou. Paulo também os enviou para tas de Policarpo, datando de 115 d.C., mostram corrigir erros doutrinários apresentados por falsos que mudanças significativas na estrutura da igreja mestres, e para chamar os crentes de volta a um já haviam ocorrido nesta época. Muitas e muitas dedicado estilo de vida cristão. mudanças ocorreram desde então. No entanto, a Ao lermos as Epístolas Pastorais, então, somos lem­ estrutura básica da vida e do ministério da igreja brados das necessidades de todas as igrejas cristãs, do século I é relativamente clara. não só da situação em uma única igreja pastorada Os cristãos se reuniam em casas, em pequenos gru­ por Timóteo, ou por Tito. O que lemos aqui se pos, podendo ter se reunido em raras oportunida­ aplica à igreja de Jesus Cristo em todas as partes, des. Presbíteros locais guiavam a igreja na comuni­ em todas as épocas. Assim isto se aplica, não só aos dade mais ampla, e os termos “presbítero” e “bispo” líderes, mas também a você e a mim, e às congrega­ eram usados intercambiavelmente para identificá- ções das quais fazemos parte. los. As igrejas também desenvolveram o cargo de “diácono”. A função dos diáconos parece ter sido Visáo Geral centralizada na caridade e nas tarefas administrati­ Paulo preveniu Timóteo (1.1,2) contra os falsos vas necessárias em qualquer grupo organizado. mestres (w. 3-7) que entendiam erradamente a

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natureza da lei (w. 8-11). O evangelho enfatiza a doutrina produz um estilo de vida característico - e graça transformadora (w. 12-17) e requer compro­ que ensinar a falsa doutrina não o faz! misso (w. 18-20). O produto do ensino da sã doutrina é “a carida­ de (ou amor’) de um coração puro, e de uma boa Entendendo o Texto consciência, e de uma fé não fingida” (v. 5). Esta “Timóteo, meu verdadeiro filho nafé”(l Tm 1.1,2). convicção era o fundamento do ministério de Pau­ A palavra traduzida como “verdadeiro” aqui signi­ lo. Ensinar a verdade transformará os seres huma­ fica “genuíno”. Ela era usada nas cartas do século I nos. A verdade de Deus tem o poder de estimular a para indicar afeição e apreço. fé, limpar a consciência, e purificar o coração. Uma Timóteo era o filho mais novo de uma mãe judia pessoa tocada pela verdade se tornará um indiví­ e um pai grego, a quem Paulo conheceu na sua duo amoroso e cuidadoso. segunda viagem missionária (At 16.1-3). Paulo Nós não devemos lutar pela verdade de Deus. De­ convidou Timóteo a se juntar à sua equipe mis­ vemos abrir os nossos corações para a verdade, e sionária, e em poucos anos Timóteo foi designado deixar que ela nos transforme. em confiança como um emissário que Paulo podia enviar para visitar as igrejas em seu lugar. Paulo dis­ “A lei não é feita para os justos” (1 Tm 1.8-10a). A se referindo-se ao fiel Timóteo em Filipenses 2.20: abordagem alegórica dos mestres que Timóteo ti­ “Porque a ninguém tenho de igual sentimento, que nha a missão de calar enfatizava a lei, e não a fé (cf. sinceramente cuide do vosso estado”. v. 4). Paulo não era contrário à lei. Mas ele insistiu Esta carta foi escrita a Timóteo para dar-lhe instru­ que a lei recebesse apenas o seu lugar legítimo. ções e incentivo especiais enquanto ele estava em A lei é algo como as barras de ferro que formam a uma missão designada por Paulo, em Efeso. jaula de um tigre. As barras estão lá para manter o tigre do lado de dentro. Assim Paulo disse: “a lei é “Fábulas e genealogias intermináveis” (1 Tm 1.3-7). feita para os injustos e obstinados, para os ímpios Esta frase, com a observação de que muitos em e pecadores”, e prossegue listando os seus crimes Efeso estavam se entregando a “vãs contendas”, terríveis. Você precisa de uma jaula para pessoas as­ sugere que alguns na igreja ali tinham começado sim. A jaula está lá para proteger os outros do dano a seguir os mestres judeus que usavam um método que o tigre solto provocaria. alegórico de interpretar o Antigo Testamento. Mas e se o tigre fosse transformado em um cãozi­ Não era incomum, no final do judaísmo e no iní­ nho de estimação? Você não precisa de uma jaula cio do cristianismo, procurar significados “espiri­ para um cachorrinho amistoso. Um cachorrinho tuais” que se presumiam estar ocultos nas palavras amistoso late e abana a sua cauda em sinal de boase narrativas literais da Escritura. O grande filósofo vindas, e pula para lamber o seu rosto. Ninguém judeu, Filo, e o teólogo cristão do século II, Orí- coloca um cãozinho atrás de barras de ferro, por­ genes, são exemplos desta tendência. Mas o grande que o cãozinho não lhes fará mal. problema com abordagens especulativas à Escritura Este era o ponto principal de Paulo. Os não-crisé que não há nenhuma verificação da interpretação tãos precisam da lei: ela oferece alguma restrição de uma pessoa — e que estas abordagens falham contra o comportamento nocivo. Mas por que os em promover a fé. cristãos precisariam da lei? Cristo tornou os cris­ O significado dos acontecimentos da Escritura, a tãos bons: o nosso tigre foi domesticado! O que se partir dos ensinos dos profetas e apóstolos, é en­ faz com um cristão é jogar a jaula fora, e deixar que contrado na clara intenção das palavras da Bíblia, ele ou ela lhe ame! e não em algum significado escondido descoberto Pode parecer religioso, santo, e devoto falar em fa­ por intérpretes supostamente talentosos. Aqueles vor da lei. Mas a lei, que diz, “Não farás”, é irrele­ que ignoram o significado claro da Palavra de Deus vante para os cristãos, que “não farão” de qualquer mostram que eles não estão “entendendo nem o forma! que dizem nem o que afirmam”. “O evangelho da glória do Deus bem-aventurado” (1 “O fim do mandamento é a caridade (ou ‘a mor’) ” Tm 1.10b, 11). Como o evangelho de Deus é glo­ (1 Tm 1.5). Nas Epístolas Pastorais Paulo enfati­ rioso! Ele nos deu uma verdade que transforma a zou a importância de ensinar “a sã doutrina” (cf. v. própria natureza humana. 10) como também silenciar aqueles que ensinavam “falsas doutrinas”. O seu argumento não era ape­ “Conservando a f é e a boa consciência” (1 Tm 1.18nas de que a sã doutrina era verdadeira, e que a 20). Paulo havia discutido, e ilustrado (Veja o falsa doutrina não era. Ele bservou que ensinar a sã DEVOCIONAL.) o poder revolucionário do

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simples, devemos conservar a sã doutrina — e dei­ xar que ela nos conserve. Ser doutrinariamente correto não tem valor para nós ou para os outros, a menos que também pos­ samos ser doutrinariamente corrigidos: a vida que vivemos precisa ser tão pura quanto a verdade que abraçamos.

evangelho. Agora ele exortou Timóteo, e a nós, a “combater o bom combate” pela verdade transfor­ madora de Deus. Duas coisas são necessárias se quisermos servir a Deus de forma eficaz. Devemos “conservar a fé”, a sã doutrina que Paulo afirmou. E devemos conser­ var uma “boa consciência”. Explicando de forma

DEVOCIONAL______ Fui... e Sou

(1 Tm 1.12-16) Eu adoro aquelas propagandas de produtos dietéti­ cos na televisão e nos jornais que mostram fotos do “antes” e “depois”. Alguns são obviamente encena­ dos. A pessoa “antes” mais gorda faz uma postura desleixada e estufa a barriga. A pessoa “depois”, mais magra e mais expressiva, mostra o seu perfil, com o seu peito estufado e a sua barriga encolhida. Em outras propagandas de produtos dietéticos a jovem apresentada (é quase sempre uma mulher muito jovem e muito atraente), parece nunca ter tido um “antes”. E como a nossa amiga de 49 quilos, Carol, que está sempre resmungando que está com 1 quilo acima do peso, e afirmando sem qualquer constrangimento que 2 quilos em sua pe­ quena estrutura é tão ruim quanto os 30 extras em meu corpo de um metro e oitenta e cinco centíme­ tros de altura. O evangelho também faz afirmações “antes” e “de­ pois”. E aqui Paulo apresenta a si mesmo como um exemplo. Antes ele foi um “blasfemo, e persegui­ dor, e opressor”. Depois, tendo conhecido a Cristo e experimentado a abundância da sua graça, Paulo se tornou um homem diferente. E isto que é incomparável sobre a verdade do evan­ gelho. Não é apenas uma coleção de fatos verda­ deiros, ou uma compilação de dados doutrinários. A verdade do evangelho é vital, transformadora e dinâmica. E a Palavra de Deus viva e ativa que, quando bem recebida nos nossos corações, opera uma alquimia interior. A violência é transmutada em compaixão. A blas­ fêmia é transformada em louvor. A perseguição é trocada pelo amor fraternal. Paulo disse: “Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal”. Você e eu podemos não ser capazes de posar com Paulo para a foto do “antes”. Mas tenhamos a cer­ teza de estar bem ali com ele para o “depois”.

Citação Importante “Aquele que dá uma boa admoestação e um mau exemplo constrói com uma mão e derruba com a outra.” — Francis Bacon 19 DE NOVEMBRO LEITURA 323 A CASA DE DEUS 1 Timóteo 2— 3 “Escrevo-te estas coisas... para que saibas como con­ vém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo” (1 Tm 3.14,15). A comunidade cristã bem como o cristão individu­ al representa Jesus para o mundo. Visão Geral Os cristãos devem orar pelos governantes e pela paz (2.1-8). As mulheres devem se adornar com boas obras (w. 9,10), mas não devem exercer autoridade na igreja (w. 11-15). Os bispos e diáconos devem ter uma reputação exemplar (3.1-13). Todos de­ vem agir com sabedoria na igreja de Jesus Cristo (w. 14-16). Entendendo o Texto “Deprecações, orações, intercessões e ações de graças” (1 Tm 2.1-4). Paulo não queria que cometêssemos um erro, então ele reuniu sinônimos. Nós cristãos temos uma participação vital no que acontece na nossa sociedade, e podemos influenciar os gover­ nantes através da oração.

“Vida quieta” (1 Tm 2.1-4). Oramos pela paz, para que os outros possam encontrar a paz em Cristo. Esta é a razão pela qual Paulo propõe que se ofere­ çam orações pelos governantes seculares. Alguém disse: “Não há nenhum ateu nas trincheiras”. A ideia é a de que o perigo intenso força as pessoas a buscarem a ajuda de Deus. Isto pode ser verdade, mas “conversões no leito de morte” são conhecidas pela sua brevidade. Quando o perigo acaba, com Aplicação Pessoal muita frequência Deus é esquecido. O que você era não é tão importante para Deus ou O evangelismo mais eficiente é apoiado pela evi­ para os outros, como o que você é. dência de “vidas quietas” vividas “em toda a pie­

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dade e honestidade”. A ajuda mais poderosa ao evangelho não é o temor repentino criado pelo pe­ rigo, mas uma fome crescente pela paz e bondade observadas na vida de cristãos comuns. “Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem” (1 Tm 2.3,4). Este é um versículo im­ portante se você tem orado por entes queridos não-salvos, e fica desanimado pela falta de resposta deles. Sabemos pelas Escrituras que nem todos se­ rão salvos. Mas também sabemos que Deus quer — que Ele deseja — que todos venham a conhecer a Cristo. Isto significa que quando você ora pela salvação de qualquer pessoa, você pode ter uma grande confiança. Aquilo pelo que você está oran­ do está definitivamente em harmonia com a von­ tade de Deus. E diferente de alguém orar para obter sucesso ao roubar um banco, ou até mesmo para ganhar na Loteria. Você sabe que roubar um banco é contra a vontade de Deus, e você não tem base para supor que o Senhor queira deixar cair em seu colo vá­ rias centenas de milhares de dólares por ano. Mas quando se trata de orar pela salvação de um ente querido, você está em terreno sólido! Isto é algo que Deus também quer. “Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens” (1 Tm 2.5-7). Um mediador, um mesites em grego, é uma pessoa que se interpõe entre duas pessoas, para fazer ou restaurar a paz e a amizade. Paulo nos lembra de que somente Jesus Cristo tem a possibilidade de cumprir este papel. Uma boa imagem de um mediador é encontrada na grande ponte que liga o estado de Michigan. Um lado está ancorado na Península Inferior, e o outro está ancorado na Superior. Podemos cruzar de um lado para o outro somente porque o interva­ lo entre eles foi assim ligado por uma ponte. Jesus, sendo totalmente Deus, tem um ponto de apoio no céu, e sendo verdadeiramente homem, tem um ponto de apoio na humanidade. Ele é a única Pessoa capaz de fazer a ponte entre nós e Deus: o único Salvador capaz de nos levar de um lado para o outro. “Como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus” (1 Tm 2.9,10). Já conheci algumas mulheres que têm tomado esta passagem como uma condenação a alguns adereços, e têm lutado para terem um a aparência tão severa e simples quanto possível. Em minha opinião, isto náo foi o que Paulo quis dizer. O que ele quis dizer é que as mulheres cristãs não devem confiar em um artifício que só seja capaz de adornar o ex­

terior — e que quando usado com exagero se mostra superficial. O que torna uma mulher realmente bonita é o amor e a bondade que brilham em seu interior, e que são revelados nas boas ações e não em colares de pérolas. As mulheres devem ter a liberdade de ser atraentes. Mas elas devem passar mais tempo embelezando a pessoa interior do que enfeitando o exterior. “A mulher [não] ensine, nem use de autoridade sobre o marido” (1 Tm 2.11-14). Esta é uma das passa­ gens mais controversas do Novo Testamento, prin­ cipalmente porque não temos plena certeza do que ela quer dizer exatamente — mas a citamos assim mesmo para “manter as mulheres em seu lugar”. Certamente há um lugar para as mulheres no minis­ tério ativo da igreja. Paulo falou aprobatoriamente das mulheres orando e profetizando na igreja (1 Co 11.5). Ele louvou a mãe e a avó que instruíram Ti­ móteo (2 Tm 1.5; 3.15). Ele também esboçou res­ ponsabilidades de ensino específicas para mulheres mais velhas em sua Carta aTito (2.3,4). O que parece estar envolvido aqui é o “ensino ofi­ cial” — isto é, uma declaração oficial dos líderes da igreja a respeito da verdade cristã ou do estilo de vida cristão. Em algumas tradições isto é entendido com o sig­ nificado de que as mulheres, bem-vindas em deter­ minadas funções, não devem servir como “presbí­ teros” ou membros da “diretoria” responsável pela supervisão espiritual da igreja. Eu sei que esse entendimento aborrece alguns. Mas talvez não devesse. Afinal, a maioria dos homens também é excluída deste papel específico de lide­ rança da igreja! E servir como presbítero é apenas uma dentre as muitas, sim, muitas oportunidades para ministrar dentro e além das paredes da igreja local. Talvez cada um de nós deva se concentrar nas coi­ sas que pode fazer, e fazê-las para a glória de Deus, em vez de se ressentir por ser excluído das coisas que não pode fazer. O ressentimento apenas apro­ funda a nossa mágoa, enquanto que servir os ou­ tros de qualquer forma pode nos trazer alegria — e glorificar o nosso Senhor. “Toda a sujeição” (1 Tm 2.11). Vine sugere que “a inj unção não é dirigida a uma desistência da men­ te e da consciência, ou do abandono do dever do juízo privado; a frase com toda a sujeição’ é uma advertência contra a usurpação de autoridade” {Di­ cionário Vine, CPAD). Aqueles que distorcem versículos como 11 e 12 para sugerir que as mulheres sejam inferiores, ou

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para exigir subserviência, violam o espírito da Pa­ (cf. At 20.17) deixa claro que na época o título sig­ lavra de Deus, e também fazem uma violência à nificava algo diferente daquilo que significa nas de­ interpretação sadia. nominações contemporâneas. O nosso melhor entendimento é que os bispos/ “Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos”(l Tm 2.15). presbíteros eram responsáveis pela supervisão espi­ Este versículo enigmático tem gerado muitas in­ ritual das igrejas locais, ou talvez de diversas igrejas terpretações. Alguns acham que “dar à luz filhos” que se reuniam em casas. A missão deles era ensinar refere-se ao nascimento de Jesus. Alguns ligam o tanto a sã doutrina como o estilo de vida santo, versículo a Gênesis 3.15, e a promessa de uma Se­ e preparar os crentes para a participação ativa no mente que esmagará Satanás e trará salvação para a ministério. Aquele que “deseja” ser um bispo, cer­ humanidade. Outros veem o versículo como uma tamente “excelente obra deseja”. continuação da discussão de Paulo sobre o papel Mas a liderança da igreja é uma responsabilidade das mulheres. As mulheres acharão saúde física e pesada, e não um ofício honorário para ser citado realização espiritual aceitando o papel de mãe, vis­ no curriculum vitae de alguém. Os líderes cristãos to pela sociedade como próprio para as mulheres. se sacrificam para servir. Aqui, “salvar-se” não é o livramento teológico da alma, mas a libertação muito prática da mulher de “Da mesma sorte os diáconos” (1 Tm 3.8-16). Em­ uma necessidade que ela sente de negar o seu sexo bora o papel específico dos diáconos do século I em busca de um papel mais “significativo” na vida também seja um mistério, fica claro a partir des­ ou na igreja. tes versículos que qualquer pessoa que represente Você e eu não temos necessidade de negar o nosso oficialmente uma congregação cristã local deve ter sexo, a nossa raça, a nossa herança, ou as marcas uma vida exemplar. características, para sermos significativos como Como é fascinante que, embora Paulo não tenha cristãos. Podemos encontrar a realização ao ser­ definido os deveres de qualquer líder da igreja, ele virmos a Cristo na posição que ocupamos, e como foi mais do que cuidadoso em descrever o caráter somos. deles! Podemos chamar os nossos líderes por qual­ quer nome que desejarmos, e atribuir-lhes qual­ “Se alguém deseja o episcopado” (1 Tm 3.1-7). A tra­ quer dever. Estas coisas sempre mudaram de época dução tradicional de episcopos é “bispo”. A palavra para época, e de sociedade para sociedade. O que parece ser usada intercambiavelmente com presbu- nunca pode mudar é o elevado padrão do caráter e teros, “presbítero” (cf. T t 1.6,7). O fato de que ha­ da conduta cristã requeridos daqueles que guiam o via vários bispos/presbíteros nas igrejas do século I povo de Deus. (Veja o DEVOCIONAL.)

DEV OCIONAL______

O Amor é Cego (1 Tm 3.1-7) Quando a minha esposa estava orando a Deus, pe­ dindo um marido que educasse seus dois filhos préescolares, ela fez uma lista de qualidades, e mostrou a um amigo conselheiro. Ele ficou chocado. “Deve haver uma ou duas pessoas assim”, ele lhe disse, “mas as chances de você encontrar um é quase zero! Abaixe as suas expectativas”. Hoje, quando conta a história, Sue diz que o con­ selheiro estava errado. E eu digo (muito honesta­ mente) que o amor é cego! Deus tem a sua própria lista desafiadora de qualifi­ cações para os líderes da igreja. E nós cristãos deve­ mos olhar de perto os candidatos para a liderança espiritual, e escolhermos os nossos líderes com os nossos olhos bem abertos! Aqui estão 15 qualidades ou características na lista de Deus para bispos/presbíteros — aqueles líderes

da igreja local que são encarregados da supervisão espiritual de uma congregação local. Consulte-os com cuidado, e verifique os candidatos cuidado­ samente quando chegar o momento de escolher os líderes da sua igreja. 1. “Irrepreensível”. Se alguém fizesse acusação con­ tra essa pessoa, todos ririam do tal! 2. “Marido de uma mulher”. Não “casado apenas uma vez”, mas totalmente fiel. 3. “Vigilante”. Este indivíduo lúcido não toma de­ cisões precipitadas. 4. “Sóbrio”. Cuidado com a pessoa que se deixa levar por ideias radicais! 5. “Honesto”. Você pode contar com um homem que se comporta de maneira ordenada e honrosa. 6. “Hospitaleiro”. Uma pessoa que ama os estra­ nhos e sempre recebe bem os amigos demonstra uma fé que enfatiza o amor!

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7. “Apto para ensinar”. O bom líder pode não ser o mais “falador”. Ele é aquele que mostra o enten­ dimento mais profundo da Escritura e a sua apli­ cação na vida. 8. “Não dado ao vinho”. Cuidado com a pessoa que se embriaga e que é desordeira, descrita por esta frase. 9. “Não espancador”. A pessoa competitiva, sem­ pre decidida a ganhar, não é conveniente para a liderança da igreja. 10. “Moderado”. Junte estas qualidades e você terá um vislumbre da qualidade que a palavra grega estava querendo transmitir: misericordioso, bondoso, paciente, atencioso, amável. Em outras palavras, aqui não se trata do treinador de futebol determinado a ganhar a qualquer custo! 11. “Não contencioso”. Aqui está outra pessoa que deve ser evitada: o indivíduo contencioso que está sempre pronto a brigar, ou a causar dissensões. 12. “Não avarento”. O amor às possessões em últi­ ma análise destrói o amor pelas pessoas. E o amor deve ser a prioridade do líder cristão. 13. “Que governe bem a sua própria casa”. A nossa capacidade de influenciar os outros para sempre é visto primeiro na família. Se ela não é vista ali, ela não aparecerá na igreja. 14. “Não neófito”. Você só pode dizer o tipo de fruto que uma planta produz depois dele ter ama­ durecido. 15. “Que tenha bom testemunho dos que estão de fora”. Os não-cristãos são rápidos em reconhecer impostores! A lista é longa. E pode ser difícil achar pessoas que se encaixem. Mas a qualificação de liderança mais impor­ tante que um cristão pode ter é um caráter piedoso.

Visão Geral Paulo novamente advertiu Timóteo contra os falsos mestres (4. 1-8), e o exortou a ministrar com confiança (w. 9-16). Ele declarou princípios gerais para se relacionar com os outros (5.1,2), e deu conselhos específicos a respeito das viúvas (w. 3-16), presbíteros (w. 17-20), e outros assuntos (w. 21-25). Entendendo o Texto “Doutrinas de demônios” (1 Tm 4.1-5). Paulo des­ creveu uma das maneiras de ataque mais persisten­ tes de Satanás contra os cristãos. Ele ilustrou duas formas — uma apelação ao asceticismo que rejeita o casamento, ou que proíbe comer “determinados alimentos”. Sustentando tais regulamentos está a noção de que a vida cristã é promovida por alguma disciplina legalista. Na verdade, a vida cristã deve ser vivida como uma expressão do relacionamento pessoal com Jesus: um relacionamento que se baseia na fé, e é expresso por uma resposta de fé às disposições e ao mover do seu precioso Espírito. Qualquer coisa menos que isto é uma doutrina de demônios.

“Exercita-te a ti mesmo” (1 Tm 4.6-8). A rejeição das exigências inspiradas pelos demônios, que exi­ gem uma rígida autodisciplina, não significa que o cristão deva viver uma vida indisciplinada. Paulo fez uma analogia esportiva: as pessoas se exercitam para se desenvolver fisicamente. Os cristãos devem se “exercitar” para se desenvolver espiritualmente. Qual é a diferença entre esta e as falsificações do diabo? Nós nos “exercitamos” sendo piedosos. Um levantador de peso desenvolve a sua habilidade de levantar pesos levantando-os. Um cristão desen­ Aplicação Pessoal volve a sua habilidade em viver uma vida piedosa Não anseie a liderança. Anseie ser o tipo de pessoa fazendo escolhas piedosas. O que você come, ou o que os líderes devem ser. fato de você se abster ou não do casamento, não têm nada a ver com a piedade, e assim a disciplina Citação Importante nestas áreas é irrelevante para o crescimento espiri­ “O homem mais adequado para uma posição eleva­ tual. Se você quer crescer espiritualmente, concen­ da não é o homem que a exige”. tre-se nos atos que mostram o seu amor por Deus — Moses Ibn Ezra e pelos outros. 20 DE NOVEMBRO LEITURA 324 “Principalmente dos fiéis” (1 Tm 4.9,10). Jesus ofe­ VIVER JUNTOS receu a si mesmo como Salvador a todos os ho­ 1 Timóteo 4—5 mens. Mas, na verdade, Ele salva somente aqueles que respondem à sua oferta e creem. “Conjuro-te, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, Outra vez somos lembrados da liberdade que te­ e dos anjos eleitos, que, sem prevenção, guardes estas mos em compartilhar a salvação com os outros. coisas, nada fazendo por parcialidade” (1 Tm 5.21). Cristo realmente morreu por todos. Nem sequer uma pessoa foi excluída por Deus. O único que Aquilo que fazemos para Deus é o que fazemos aos pode manter uma pessoa fora do céu — é a própria outros. pessoa!

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“A tua mocidade” (1 Tm 4.11-14). No mundo anti­ go, a idade era respeitada e equiparada à sabedoria. O indivíduo mais velho era considerado como ten­ do ganhado conhecimento inspirado com o passar dos anos. Portanto, às vezes era difícil para Timó­ teo, que não tinha rugas e cabelos brancos associa­ dos à autoridade, impor-se. Toda sociedade tem as suas particularidades. Na nossa cultura, a pessoa alta tende a chegar mais ra­ pidamente na frente do que a pessoa baixa. A pessoa com aquele pedaço de papel mágico, o “diploma”, ganha a promoção, enquanto aquele estudante que acabou de terminar o ensino médio, e que pode ser mais qualificado, é deixado de lado. E é quase certo que a mulher que desempenhe um trabalho de elevada responsabilidade ganhe menos do que um homem que ocupe a mesma posição. O que Paulo estava dizendo era: não deixe que as expectativas da sociedade restrinjam o seu estilo como cristão. Mostre-se confiante, aja com con­ fiança, seja confiante! A importância espiritual não depende da altura, da educação, ou do sexo de uma pessoa. Se você quer ser usado por Deus, seja “o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, na caridade, no es­ pírito, na fé, na pureza”. Qualquer pessoa que for um exemplo assim será poderosamente usada pelo Senhor. “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina” (1 Tm 4.15,16). Outra vez vemos temas gêmeos que Pau­ lo ligou nas Epístolas Pastorais (cf. 1 Tm 1.5; 2 Tm 1.13; 3.10; T t 2) como em suas outras cartas (cf. Fp 4.9). A doutrina deve encontrar expressão na vida, e a vida deve ser conformada à doutrina. A fé e a vida cristã são entrelaçadas de tal forma que nenhuma delas pode resistir sozinha. Mas o que Paulo quis dizer quando disse a Timó­ teo que se ele “perseverasse” na doutrina e na vida cristã “salvaria” tanto a si mesmo quanto aos que o ouviam? E muito provável que Paulo estivesse pensando na salvação no “tempo presente”. Nós fomos salvos da culpa do pecado quando cremos, e seremos salvos da própria presença do pecado quando Jesus voltar. E, até lá, estamos sendo salvos do poder do pecado sobre a nossa vida. Se você quer se libertar do poder do pecado — e influenciar a salvação dos outros — persevere na vida e na doutrina cristã. “Pais... irmãos... mães... irmãs” (1 Tm 5.1,2). Aqui, como em 1 Tessalonicenses 2, Paulo recorreu à imagem da família para descrever os relacionamen­ tos na igreja. Mas aqui há uma ênfase especial: Pau­ lo estava dizendo a Timóteo, um líder mais jovem,

como se relacionar com aqueles por quem ele era responsável. Antes, Paulo disse a Timóteo para “exortar e ensi­ nar” as verdades que ele havia acabado de descre­ ver em linhas gerais. Aqui ele nos ajuda a ver que, no contexto cristão, “exortar” não é o “exigir” do mundo secular. A autoridade por trás da exortação vem de Deus. O líder cristão não busca um relacio­ namento “acima” dos outros — mas um relaciona­ mento de intimidade entre eles. Com que clareza isto está presente nas diretrizes de Paulo! O líder trata os homens mais velhos com o res­ peito que é devido aos seus próprios pais, e as mulheres mais velhas com o respeito que é devido às suas mães. Os homens mais jovens são tratados como irmãos, e as mulheres mais jovens como irmãs. Respeito e afei­ ção moldam a atitude do líder cristão em relação aos outros, e não há sinal de domínio sobre eles. Sejamos líderes ou não, você e eu precisamos nutrir estes mesmos relacionamentos com outros crentes. O respeito e a afeição criam o contexto no qual podemos impactar beneficamente a vida uns dos outros. ‘A s viúvas que verdadeiramente são viúvas” (1 Tm 5.3-16). Enquanto a igreja primitiva demonstrou uma preocupação constante pelos membros caren­ tes (cf. também At 6.1-6), ela também demonstrou um grande respeito por eles. As viúvas cristãs não apenas recebiam pensão. Elas eram organizadas para o ministério! A “caridade” pode ser muito humilhante. Porém, a despeito de qualquer outra coisa que possa ter feito, a igreja primitiva não tinha a intenção de humilhar ninguém. Pelo contrário, esperava-se que todos participassem, por serem capazes de enrique­ cer a vida do corpo de Cristo. (Veja o DEVOCIONAL.) “Não ligarás a boca ao boi que ckbulha” (1 Tm 5.1720). Paulo advertiu contra tirar vantagem dos lí­ deres de duas maneiras distintas. Primeiro, aqueles que dedicam tempo integral ao ministério mere­ cem ser sustentados financeiramente — e não de má vontade. E segundo, os boatos e acusações in­ consistentes contra os líderes devem ser ignorados. Os líderes são particularmente vulneráveis a boatos e a falsas acusações. O que Paulo escreve em seguida, “Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos”, tem uma refe­ rência dupla. A um líder que pecar não se deve per­ mitir que se esconda por trás do seu cargo. E uma pessoa que lance uma acusação falsa também deve ser repreendida publicamente. A pureza da igreja só pode ser mantida através desta clareza absoluta.

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“Os pecados de alguns homens são manifestos” (1 Tm 5.22-25). E um grande erro estabelecer rapida­ mente um novo convertido, ou um recém chegado à congregação local, como um líder. Paulo deixou a razão muito clara. Os pecados de algumas pessoas são óbvios, mas os pecados de outros “manifestamse depois”. Nós não reconhecemos os seus defei­ tos até que convivamos com as pessoas por algum tempo. Da mesma maneira, as boas ações de alguns são óbvias — mas muitas qualidades impressionantes de outros só são reconhecidas depois de conhecêlos por muito tempo.

DEVAposentar-se OCIONAL______ — ou Inspirar-se?

(I Tm 5.3-16) E fascinante ler entre as linhas das instruções de Paulo a Timóteo, o que ele diz a respeito das vi­ úvas. Várias coisas são óbvias. A igreja primitiva se preocupava com as suas viúvas e, se não hou­ vesse família para ajudá-las, a igreja providencia­ va que elas tivessem comida e moradia. Também fica claro que as viúvas eram membros estimados da congregação. A atividade delas não era apenas dobrar os boletins do culto aos domingos, ou en­ cher os cálices da Santa Ceia. Elas eram mantidas ocupadas e ativas e, de acordo com a carta a Tito, estavam envolvidas no treinamento ensinando “as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, a serem modera­ das, castas, boas donas de casa, sujeitas ao esposo, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfema­ da” (Tt 2.4,5). Lendo entre as linhas, sentimos que as viúvas do século I, recomendadas por Paulo, tinham alcan­ çado um terceiro estágio em sua experiência cris­ tã, e tinham feito uma escolha preciosa. 0 primeiro estágio era o de novo convertido e aluno da fé. O segundo estágio, representado em 1 Tm 5.9,10, era o da maturidade pessoal: a viúva recomendada “que tenha sido mulher de um só marido, tendo testemunho de boas obras, se criou os filhos, se exercitou hospitalidade, se lavou os pés dos santos, se socorreu os aflitos, se praticou toda boa obra”. E, agora que a sua família havia ido embora, e as suas responsabilidades pessoais haviam sido cumpridas, ela tinha alcançado o terceiro estágio. Ela estava pronta para se tornar uma serva e instrutora da próxima geração de cris­ tãos adultos. Do seu rico tesouro de experiência pessoal com Cristo, ela agora compartilhava com outros.

O princípio de Paulo pode ser aplicado em qualquer relacionamento onde algum tipo de compromisso esteja envolvido. Por exemplo, não faça sociedade com alguém que você não conheça muito bem. E, não tenha pressa de se casar. Os defeitos daquele rapaz que parece tão bom, ou daquela jovem que parece tão boa ago­ ra, podem se manifestar muito tempo depois, ou seja, só serão percebidos daqui a muito tempo. E dando um tempo, você pode descobrir que aquela pessoa agradável, mas não espetacular, tem exatamente as qualidades que você quer em um cônjuge.

Paulo sugeriu que esta não era a sua única esco­ lha. Algumas viúvas “vivem para o prazer”. Estas mulheres pensavam, como muitas pensam hoje, que já tinham feito a sua parte. Elas ensinaram na Escola Dominical, dirigiram círculos de oração, e serviram nos comitês. Agora elas decidem começar a procurar o número um — a buscar o prazer pes­ soal. Elas já ganharam um descanso — e tomarão posse dele. Como uma igreja, falhamos hoje em usar o imenso recurso de sabedoria e maturidade que existe nos irmãos e irmãs cristãos que já se aposentaram. Ten­ demos a colocá-los em uma classe de pessoas idosas, a enviá-los em passeios de ônibus, e nos certificar de que eles tenham um dia de atividade juntos uma vez por semana ou algo assim. E então raramente percebemos que eles são cristãos do terceiro estágio — cristãos que possuem dons vitais que precisam ser compartilhados com outros crentes. Mas também há muitos aposentados que conside­ ram os 60 ou os 70 anos de idade como um tempo para descansar, ou viajar, ou simplesmente relaxar após anos carregando boa parte da carga. Eu des­ confio que somente quando mostrarmos que va­ lorizamos os cristãos aposentados, é que estes irão perceber que os seus últimos anos podem ser os mais espiritualmente significativos de todos. Aplicação Pessoal Aposente-se — porém inspire outros a viver uma vida mais comprometida. Citação Im portante “Que coisas grandes alguns homens fizeram nos últimos anos de suas vidas. Michelangelo pintou o teto da Capela Sistina, deitado de costas sobre um andaime quando tinha quase 90 anos; aos 79 anos, Paderewski tocava piano soberbamente; aos

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88, John Wesley pregava todos os dias; Tennyson, os nossos relacionamentos com os outros serão sa­ quando tinha 88, escreveu ‘Crossing the Bar’. tisfatórios. E nós glorificaremos a Deus neles. Booth Tarkington escreveu dezesseis romances depois dos 60, alguns deles quando estava quase “Cuidando que a piedade seja causa de ganho ” (1 Tm totalmente cego.” — Walter B. Knight 6.3-5). Um dos atributos dos falsos mestres, men­ cionado em quase todas as passagens do Novo e do 21 D E NOVEMBRO LEITURA 325 Antigo Testamento que falam sobre o assunto, é o O CONTENTAM ENTO amor ao dinheiro. Eles vestem às pressas a capa da religião, não porque amam a Deus, mas porque a 1 Timóteo 6 veem como uma maneira de ganhar dinheiro. “Mas é grande ganho a piedade com contenta­ Paulo observou outros atributos: eles inventam mento. Porque nada trouxemos para este mundo doutrinas diferentes e falsas para se separarem dos e manifesto é que nada podemos levar dele” (1 Tm outros (v. 3). Eles têm um interesse doentio na controvérsia — incentivando a desconfiança ou o 6.6,7). antagonismo aos outros (v. 4). E aqueles que se­ É bom ter dinheiro, contanto que o dinheiro guem as suas doutrinas são caracterizados pela in­ não tenha você. veja e pela malícia, e não pelo amor cristão (v. 5). Precisamos ficar alertas a tais sinais quando no­ Visão Geral vos mestres populares aparecerem. Mas mais do Até mesmo a servidão oferece oportunidades que isso, precisamos ficar alertas ao surgimento para ministrar (6.1,2). O amor ao dinheiro é ca­ de um interesse doentio pelo dinheiro em nossos racterístico dos falsos mestres (w. 3-5) e é uma próprios corações. A piedade frequentemente nos armadilha que os crentes são sábios em evitar custa oportunidades de acumular riquezas terre­ (w. 6-10). As pessoas piedosas buscam a justi­ nas, e raramente nos recompensa com dividendos ça (w. 11-16), e veem a sua riqueza como uma materiais. Mas ela, com certeza, vale a pena no oportunidade para fazer o bem (w. 17-21). final! Entendendo o Texto “Eles, que participam do benefício” (1 Tm 6.1,2). O Novo Testamento tem uma perspectiva úni­ ca sobre os relacionamentos. Não há qualquer vergonha em ser um escravo, porque a servidão oferece à pessoa uma oportunidade de beneficiar os outros. O pensamento é refletido em outras passagens. Qualquer que seja o papel que Deus nos dê na vida, este oferece alguma oportunida­ de para fazermos o bem aos outros. O marido que ama a sua esposa demonstra, pe­ las necessidades dela, a mesma preocupação que Cristo demonstrou pela igreja. Desse modo, a “liderança” é transformada — através do exem­ plo de Jesus — de um domínio pelo poder, em um compromisso com o serviço. Da mesma ma­ neira, a posição da esposa “em sujeição” não é humilhante, mas um modo pelo qual ela toma a iniciativa de servir ao seu marido. Você e eu precisamos adotar esta perspectiva bí­ blica em tudo o que fazemos. Você é um empre­ gado? Então trabalhe com empenho para ajudar o seu empregador a lucrar. Você é um emprega­ dor? Então certifique-se de pagar aos seus traba­ lhadores um salário justo, e de ter uma preocu­ pação real pelo bem-estar de cada um. Quando virmos cada relacionamento como uma oportunidade para ministrar dada por Deus, todos

“Piedade com contentamento” (1 Tm 6.6-8). Quan­ do Jesus ensinou os seus discípulos a orar, “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”, Ele não usou a palavra errada. Às vezes eu sei que me sentiria mais à vontade se tivesse os meus “pães para os próximos 10 anos” guardados em aplicações fi­ nanceiras, como, por exemplo, em algum fundo do mercado financeiro. Mas se os tivesse, eu não teria a mesma motivação para confiar que Deus supriria a renda necessária de amanhã, ou desta semana, ou deste mês. O que Deus quer que eu cultive é uma atitude de contentamento com o que eu tenho agora. Tendo “sustento e com que nos cobrirmos”, Paulo disse: “estejamos com isso contentes”. Deus provê os gê­ neros de primeira necessidade — e eu não preciso dos gêneros de luxo. Como eu sei? Ora, quando eu morrer, nada mate­ rial que eu tiver ganhado será levado comigo. Mas o “eu” essencial — tudo o que eu sou como indi­ víduo, tudo o que me tornei ou que me tornarei, será transportado para a eternidade. Em última análise, nada mais conta. Portanto, se você não for rico, considere isso uma bênção. A oportunidade de aprofundar a sua fé em Deus, quando você confia nEle em relação ao pão de cada dia, é uma grande bênção. Pois a pessoa mais piedosa que você está se tornando

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entrará na presença de Deus, enquanto todas as posses materiais serão deixadas para trás. “Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males” (1 Tm 6.9,10). Uma citação errada co­ mum deste versículo diz: “O dinheiro é a raiz de todos os males”. Este é um duplo mal-entendido. O dinheiro não é mal em si mesmo, e ter dinheiro não faz de você automaticamente uma má pessoa. E, nem todo mal acha as suas raízes no dinheiro. Muitas coisas boas são feitas através do dinheiro que é dado pelos cristãos, e usado para ajudar os outros. A advertência de Paulo é contra o amor ao di­ nheiro, pois esta paixão por riqueza pode motivar uma pessoa a todo e qualquer tipo de más ações. O amor ao dinheiro pode levar uma pessoa a mentir, a defraudar, a trair os amigos, a roubar, a trapacear, a caluniar, e a matar. Uma pessoa cujo objetivo é enriquecer certamente será traída por esta paixão. Se as riquezas vierem, não há problema em dar boas-vindas a elas. Mas é uma “tentação e um laço” desejá-las. (Veja o DEVOCIONAL.) “Foge destas coisas” (1 Tm 6.11). A vida cristã não é uma vida de negativas. Sempre que há um “não faça”, encontramos uma sugestão, um “faça”. O mesmo acontece com o desejo pelo dinheiro. Paulo disse: “foge destas coisas”. E então ele listou valores que devem tomar o lugar do dinheiro. O que devemos amar e buscar se não amarmos e não buscarmos o dinheiro? Ora, justiça, piedade, fé, ca­ ridade, paciência, e mansidão. Assim, quando se trata de tomar decisões, nós te­ mos diretrizes muito claras. Que escolha se harmo­ niza com a justiça? Qual me ajudará a crescer em piedade? Qual me ajudará a desenvolver e expressar a fé, o amor, a paciência e a mansidão? Tente usar estas diretrizes quando você tiver que tomar decisões significativas em sua vida. Você achará o verdadeiro contentamento. E você se pou­ pará de muitos sofrimentos!

DEVOCIONAL______ Ávido por Dinheiro (1 Tm 6.6-11) “Eu quero me formar na faculdade em um curso que me prepare para ganhar muito dinheiro”. “Eu quero me casar com um milionário”. “Eu preciso desta transferência se quiser progredir na empresa”. Suponho que cada uma destas afirmações ex­ presse um ponto de vista muito comum. Cada

“Diante de Deus” (1 Tm 6.13-16). Às vezes pode­ mos nos enganar a respeito dos motivos das nossas ações. Mas jamais podemos enganar a Deus. E, bem lá no fundo, você e eu geralmente sabemos quando o que estamos fazendo está fora da vontade de Deus. Paulo usou palavras poderosas para nos lembrar de que vivemos “diante de Deus” quando exortou a Timóteo, e também a nós: “Toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado”. As pessoas comuns “tomam posse da” vida terre­ na, e compreensivelmente buscam os objetivos terrenos. Não podemos criticar os não cristãos por serem motivados pelo dinheiro e pelo po­ der ou segurança que acreditam que o dinhei­ ro trará. Mas você e eu fomos chamados para a vida eterna! Fomos chamados para viver aqui na terra em constante consciência de que o nosso destino é a eternidade. Sabemos que a vida aqui brilha apenas por um breve instante, e então, quando entrarmos na presença de Deus, ela bri­ lhará intensamente para todo o sempre. Você e eu, então, nunca devemos ser enganados, nem assumir como nossos os objetivos vazios do povo do mundo. Assim, vivamos “diante de Deus”, não só cons­ cientes de que Ele nos vê, mas vendo a Ele. Se Deus estiver diante de nós, a visão da sua glória nos livrará dos desejos inferiores. “Aos ricos deste mundo ” (1 Tm 6.17-21). Anterior­ mente Paulo nos pediu que víssemos a escravi­ dão como uma oportunidade única de servir aos outros. Mas outra vez, a atitude é importante. Os ricos não devem confiar em suas riquezas, nem guar­ dá-las com ciúme. Em vez disso, os ricos devem depositar “a sua confiança em Deus”, e “enrique­ cer em boas obras”. Um rico generoso é uma joia brilhante na coroa de Deus. E, ao ser generoso, o rico achará um significado na vida que de outra forma ele jamais conheceria (v. 19). uma, porém, também expressa algo mais. Elas deixam claro que a cobiça por dinheiro é um valor que determ ina as decisões daquele que fala. Paulo tinha muito sentimento de compaixão por estas pessoas, porque as tais tinham falta de algo vital na fé cristã, e tomaram um curso que pro­ vavelmente levaria a “se traspassarem a si mesmos com muitas dores”.

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Por quê? Bem, por uma única coisa. Nós cristãos fomos colocados neste mundo para servirmos aos outros e para glorificarmos a Deus. Olhar para a fa­ culdade como um ingresso para conseguir um em­ prego que pague muito bem, significa que a pessoa não está olhando para o trabalho de sua vida com uma perspectiva cristã. Muitos homens de negó­ cios (com mais de 40 anos, que vivem correndo) olham para trás, e percebem que em sua busca por dinheiro sacrificaram as suas famílias, a sua saúde, e os seus próprios ideais mais elevados. A dor que eles sentem quando é tarde demais não pode ser amenizada por um salário de seis dígitos, mesmo que além deste ainda tenham os seus bônus. A jovem que quer se casar com um milionário por interesse está sendo totalmente irrealista a respei­ to do casamento. As qualidades que tornam um casamento feliz, bem sucedido e duradouro não podem ser medidas pela conta bancária de nin­ guém. Se mulheres assim têm a infelicidade de achar seus milionários, elas com muita frequência pagam um preço muito alto em solidão, falta de amor, e infelicidade. A pessoa que considera uma transferência apenas em termos de benefício financeiro também está ig­ norando valores mais importantes. Sua família está bem acomodada na comunidade atual, tem um círculo de bons amigos cristãos, e uma significativa vida na igreja? Como o cônjuge e os filhos serão afetados por uma mudança somente por causa da carreira? Além disso, mudanças motivadas por um desejo de dinheiro têm se mostrado desastrosas, e

gerado muitas aflições para a pessoa e/ou sua fa­ mília. O que Paulo está nos dizendo não é que devemos ignorar os aspectos econômicos das nossas decisões. Ele está nos advertindo de que se descobrirmos que a ânsia de ganharmos dinheiro está expulsando a consideração que devemos aos outros, e os valo­ res mais importantes, estamos em um sério perigo pessoal e espiritual. Podemos ter a certeza de uma coisa. Este desejo por dinheiro não foi nos dado por Deus. Aplicação Pessoal Coloque o “dinheiro” por último na sua lista de motivos para tomar qualquer decisão significativa em sua vida. Citação Importante “De todas as tentações, nenhuma tem atingido tanto toda a obra de Deus quanto o engano das riquezas, das quais eu vi mil provas melancólicas durante os meus cinquenta anos de ministério. Como as riquezas são realmente enganosas! Apenas algumas — talvez sessenta, talvez nem a metade disso — das pessoas ricas que conheci durante os meus cinquenta anos de ministério, até onde posso julgar, eram pessoas tão santas, sendo ricas, quanto teriam sido se fossem pobres.” — Charles Wesley

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em 2 TIMÓTEO

2 TIMÓTEO INTRODUÇÃO Esta carta de Paulo foi escrita durante sua segunda prisão em Roma, por volta de 67 ou 68 d.C. Paulo estava totalmente ciente de que em breve seria executado, e nela ele incentivou Timóteo, que daria con­ tinuidade ao seu trabalho, como também advertiu contra a crescente corrupção do verdadeiro ensino cristão. A carta pulsa com evidências da grande fé triunfante do apóstolo, e sua confiança no Senhor a quem ele logo iria se juntar. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. Palavras Incentivadoras............................................................................................................2 Tm 1.1— 2.11 II. Um Fundamento Sólido............................................................................................................2 Tm 2.12-26 III. Os Últimos D ias....................................................................................................................................2 Tm 3 IV. Desafio e Testemunho............................................................................................................................ 2 Tm 4 GUIA DE LEITURA (2 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 326 327

Capítulos 1— 2 3— 4

Passagem Essencial 2.20-26 4.10-17

2 TIMÓTEO 22 D E NOVEMBRO LEITURA 326

FORTE NA GRAÇA 2 Timóteo 1— 2

“Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em ilustram a fidelidade a um Senhor fiel (w. 8- 13). Cristo Jesus” (2 Tm 2.1). O ministério exige que a pessoa maneje correta­ mente a Palavra de Deus (w. 14-19) e que siga a Paulo demonstrou um forte compromisso que es­ justiça (w. 20-26). perava que Timóteo imitasse. E nós também deve­ mos imitá-lo. Entendendo o Texto “A Timóteo, meu amado filho” (2 Tm 1.1,2). O fato Contexto de Paulo ter chamado Timóteo de seu amado filho Contexto. A maioria acredita que Paulo ganhou a é significante. Paulo queria exortar este cooperador liberdade da prisão mencionada no fim de Atos por mais jovem a enfrentar e suportar grandes dificul­ volta de 62 d.C. Ele continuou a ministrar, talvez dades — algo que nós quase nunca queremos para na Espanha, mas foi preso outra vez algum tempo os nossos filhos. No entanto, Paulo sabia das re­ depois. Uma forte tradição indica que Paulo foi compensas do sofrimento por causa de Cristo. Ele executado em Roma durante o reinado de Nero, queria o melhor para Timóteo — e ele sabia que o por volta de 68 d.C. caminho para a glória é frequentemente marcado A convicção de Paulo de que “o tempo da minha por dificuldades e sofrimentos. partida está próximo” (4.6) sugere que esta carta Precisamos nos lembrar disso ao lidar com os nos­ foi escrita durante esta última prisão. Se assim foi, sos próprios entes queridos. Não lhes fazemos favor o que temos aqui são as últimas palavras de Paulo: algum tornando suave o seu caminho, pois assim uma bênção e uma exortação no “leito de morte” eles passarão a confiar em nós em vez de confiar dirigidas a Timóteo, mas igualmente aplicável a em Deus. você e a mim. Toda a sabedoria e experiência da longa vida de Paulo com o seu Senhor são compar­ “A fé não fingida que em ti há” (2 Tm 1.3-7). Aqui tilhadas aqui para o nosso proveito e estímulo. Por­ Paulo continuou o equilíbrio delicado entre o que tanto, coloquemos os conselhos de Paulo em nos­ os outros podem fazer por nós, e o que devemos sos corações, e vivamos de acordo com eles, para fazer por nós mesmos. A centelha da fé de um pai que quando o nosso tempo de partir se aproximar, ou mãe pode dar início à nossa própria fé. Mas nós nós também estejamos satisfeitos por termos “com­ devemos despertá-la (v. 6). batido o bom combate” (v. 7). “Participa das aflições do evangelho” (2 Tm 1.8-11). Visão Geral Fico espantado com aquilo pelo que as pessoas Paulo expressou confiança em Timóteo (1.1-7). estão dispostas a sofrer. Alguns estão dispostos a Ele exortou Timóteo a ser fiel ao evangelho (w. sofrer para alcançar o topo de uma montanha. Al­ 8-18) e a transmiti-lo com exatidão (2.1,2). Sol­ guns estão dispostos a sofrer para terminar uma dado (w. 3,4), atleta (v. 5), e lavrador (w. 6,7) competição de “homem de ferro” que exige que

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eles nadem 8 quilômetros, pedalem mais de 160 quilômetros, e então corram uma maratona intei­ ra. Outros sacrificam o lar e a família para ganhar mais dinheiro em um emprego que os coloca cons­ tantemente na estrada. Paulo pede que soframos por algo mais precioso. O evangelho é a expressão extraordinária da graça de Deus, revelada no aparecimento de Cristo, que anuncia a vitória de Deus sobre a morte e convida todo homem a ir até Ele em busca da “vida e da incorrupção”. Isto é algo pelo que vale a pena so­ frer. Não se admira que Paulo tenha dito “não me envergonho” de testificar sobre o nosso Senhor! “Eu sei em quem tenho crido” (2 Tm 1.12). Paulo não disse: “Eu sei no que tenho crido”. Ele disse: “Eu sei em quem”. A nossa fé tem conteúdo, e de­ vemos crer nesse conteúdo. Mas o fundamento da fé é um relacionamento pessoal com Deus através de Jesus Cristo. Quando podemos dizer, com Paulo: “Eu o conhe­ ço”, temos a mesma confiança completa que ele expressou: Eu “estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito [a minha própria pessoa!] até àquele Dia”. “O modelo das sãs palavras” (2 Tm 1.13,14). “Sãs” aqui é hygiainonton, “saudáveis”. O ensino que Paulo transmitiu tinha uma vitalidade inigualável: é capaz de produzir uma saúde espiritual que proje­ ta a fé e o amor “que há em Cristo Jesus”. Há dois testes da sã doutrina. Um é a sua correspon­ dência com o ensino dos apóstolos registrado nas Escrituras. O outro é o seu poder para produzir fé e amor naqueles que a possuem. Podemos defender as doutrinas ortodoxas sem sermos pessoas amorosas. Mas se não formos amorosos, estará claro que estas doutrinas não terão domínio sobre nós. “Os que estão na Asia todos se apartaram de mim” (2 Tm 1.15-18). “Ásia” aqui significa a província romana, que atualmente faz parte da Turquia. Efeso, onde Paulo passou cerca de três anos, era a sua principal cidade. Quão trágico era agora o fato de que “todos” ali se afastaram de Paulo, muito embo­ ra talvez possamos entender o motivo. Nero concentrou nos cristãos a hostilidade que o povo em geral dedicava aos judeus. A prisão tanto de Pedro como de Paulo, e a execução deles em 68 d.C., sugere que havia se tornado perigoso estar associado ao pensamento oficial destes líderes cris­ tãos. Talvez, então, o medo tenha motivado muitos a abandonarem Paulo. Mas o medo não deteve um homem que Paulo ha­ via conhecido em Efeso: Onesíforo. Em vez de se

distanciar de Paulo, Onesíforo foi para Roma e o procurou até encontrá-lo. Ele deve ter perguntado por Paulo a dezenas de oficiais de menor patente — e deve ter ficado firmemente ligado a Paulo na mente destes homens. Paulo pode ter se conside­ rado feliz por ter tido pelo menos um amigo leal e fiel! Tal lealdade poderia nos colocar em perigo neste mundo. Mas Paulo tinha a certeza de que One­ síforo “naquele Dia”, acharia “misericórdia diante do Senhor!” “Confia-o a homens fiéis” (2 Tm 2.1,2). O versículo 2 está inscrito no selo do seminário que frequentei. A verdade é passada adiante de geração em gera­ ção por aqueles que são capacitados por Deus para instruir a outros no significado do que está agora registrado na Escritura. Contudo, cada um de nós é um transmissor, não só da verdade, mas da vida. Assim como Loide e Eunice a avó e a mãe de Timóteo compartilharam a centelha da sua fé com ele, cada um de nós tam­ bém deve transmitir a realidade da nossa fé àqueles que estiverem mais próximos de nós. “Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado” (2 Tm 2.3,4). Paulo agora nos dá três imagens do mi­ nistério cristão. Este ministério a respeito do qual ele escreveu não é apenas para o obreiro cristão de tempo integral. Essas imagens servem para os mi­ nistérios de cada um de nós — para a família, para os amigos, para os vizinhos. A primeira imagem é militar, e enfatiza o compro­ misso disciplinado. Nós tentamos agradar ao nosso oficial e comandante. Coisas como uma vida fácil, e distrações dos nossos objetivos, devem ser rejeita­ das. Devemos apanhar as nossas mochilas, e mar­ char pela vida como homens e mulheres que estão em uma missão. “Se alguém também milita” (2 Tm 2.5). Na natação, o percurso é cuidadosamente traçado. Saia da sua raia e você será desclassificado. A imagem de um atleta competindo dentro de re­ gras é outra figura de dedicação total. O soldado que deseja agradar o seu comandante não se en­ volve em assuntos civis (v. 4), e o atleta que quer vencer não vagueia saindo da sua pista. “O lavrador que trabalha” (2 Tm 2.6,7). A última imagem acrescenta uma nova dimensão às analo­ gias de Paulo. O “lavrador que trabalha” deve ser paciente e esperar para desfrutar do fruto do seu trabalho. Ele merece uma parte da colheita. Mas a colheita não está disponível quando ele ara a terra.

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2 Timóteo 1—2 corações, e saber quem pertence a Ele, aqueles que realmente pertencem a Ele “se apartarão da iniqui­ dade” (v. 19).

A colheita não está lá quando ele planta a semente, ou arranca o mato, ou mesmo quando ele espan­ ta os pássaros da sua plantação, cujos grãos estão amadurecendo. Como o soldado e o atleta, nós nos disciplinamos para servir. E como o lavrador que trabalha, nós nos disciplinamos para esperar pacientemente até que a colheita da justiça que plantamos esteja madura. Nós esperamos confiantemente, porque sabemos que Deus é fiel. Ele nos dará uma porção maior da colheita do que os nossos trabalhos merecem. “Lembra-te de que Jesus Cristo” (2 Tm 2.8-13). Lem­ brar de Jesus é o que nos sustém enquanto o ser­ vimos, esperando ansiosamente por recompensas que raramente são concedidas aqui e agora. A “palavra fiel” que Paulo compartilha conosco foi provavelmente tirada da liturgia da igreja primiti­ va. É um hino ou confissão que incentiva o fiel a olhar para frente, e a se encorajar com o pensa­ mento da fidelidade de Cristo. A fé, até mesmo do crente verdadeiro, pode diminuir. Mas mesmo “se formos infiéis, ele permanece fiel”. É esta confiança absoluta no compromisso de Jesus conosco que nos dá forças para viver e morrer com Ele, e suportar o que vier. “Que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.1419). O contexto nos ajuda a entender a intenção de Paulo. A Escritura não é algo a ser debatido. Ela deve ser aplicada em nossas vidas para que a nossa fé em Deus seja aprofundada, e para gerar justiça. Este é o “firme fundamento” de Deus, que nenhu­ ma distorção que façam da sua Palavra pode abalar. Embora somente o Senhor possa olhar dentro dos

DEVOCIONAL______ Propósitos Nobres

(2 Tm 2.20-26) O achado arqueológico mais comum em terras bíbli­ cas são pedaços de cerâmica quebrada. Quando Paulo falou dos muitos “vasos” encontrados em cada casa, ele se referiu aos potes, às vasilhas e pratos de cerâmica e madeira, bem como aos de metal que guarneciam as casas do século I. Mas a sua referência a uma “grande casa” e a ouro e prata deixou claro que ele tinha em mente a casa de uma pessoa realmente muito rica. Naturalmente, mesmo os ricos usavam os vasos mais comuns de barro para coisas comuns (“para desonra”). Mas, assim como hoje usamos a melhor louça e a prataria para receber os convidados, o dono da casa reservou os seus melhores vasos para usar quando uma oportunidade de uso “para hon­ ra” se apresentasse.

“Com os que, com um coração puro, invocam o Se­ nhor” (2 Tm 2.22). Os seres humanos sempre foram vulneráveis à influência dos outros. E por isso que Paulo nos exorta a seguir “a justiça, a fé, o amor e a paz” com os que compartilham o nosso compromisso com Cristo. Nós expressamos uma grande preocupação com a influência que o grupo de colegas de nossos ado­ lescentes exerce sobre eles. Mas o que precisamos perceber é que o plano de Deus é usar o grupo de colegas de cada pessoa de um modo positivo! E por isso que temos uma necessidade tão profunda da comunhão cristã. O incentivo dos outros é vi­ tal para a nossa própria busca da justiça. “Instruindo com mansidão” (2 Tm 2.23-26). O u­ tros podem “resistir” a nós. Mas ao ministrarmos aos outros devemos sempre nos lembrar de que estamos do lado deles! Não estamos tentando ga­ nhar uma discussão, mas ganhar uma pessoa que desesperadamente precisa “tornar a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo”. O argumento inflamado é a pior maneira de re­ alizar esta tarefa, e assim Paulo disse que o servo de Deus “não deve contender”, mas “ser manso para com todos” e “instruir com mansidão”. Nós confiamos no amor, e no Espírito de Deus que está operando através de nós na vida de outros. Se esta for a nossa perspectiva, estaremos livres do terrível desejo de competir, e de “ganhar” dis­ cussões ao custo de perder a alma de outros. O que Paulo quis dizer é que na igreja de Jesus todos vasos são úteis. Mas alguns, talvez por não terem se dedicado a seguir à justiça (v. 22), ou por não terem se purificado de uma atitude hostil (w. 24,25), são adequados somente para as tarefas mais comuns. O empolgante é que Paulo sugeriu que cada um de nós pode se tom ar um vaso apropriado para Deus usar nos propósitos mais nobres. Se quisermos ser “idôneos para uso do Senhor e preparados para toda boa obra”, você e eu pre­ cisamos nos purificar e nos comprometer com a santidade. Aplicação Pessoal Para que sejamos usados, devemos estar em condi­ ções de ser usados.

913 «►

2 Timóteo 3— 4 Citação Im portante “Eis, Senhor, um vaso vazio que precisa ser cheio. Meu Senhor, encha-o. Eu sou fraco na fé; fortale­ ça-me. Eu sou frio no amor; me aqueça e me tor­ ne fervoroso, para que o meu amor possa chegar até o meu próximo. Não possuo uma fé forte e firme; às vezes eu duvido e sou incapaz de confiar totalmente em Ti. O Senhor, ajuda-me. Em Ti eu tenho selado o tesouro de tudo o que tenho. Portanto, permanecerei contigo, de quem posso receber, mas a quem provavelmente nada darei.” — M artinho Lutero 23 DE NOVEMBRO LEITURA 327 O BOM COMBATE 2 Timóteo 3— 4 “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé ” (2 Tm 4.7). Como é bom olhar para trás, no final da vida, e ficar satisfeito com a maneira como se viveu.

Deus fez para transformar você —e o que Ele pro­ meteu fazer por você no futuro. Aqui está a lista: 1. Egoístas — “amantes de si mesmos”. 2. Avarentos — amantes de dinheiro. 3. Presunçosos. 4. Soberbos — desdenhosos dos outros. 5. Blasfemos — caluniadores dos outros. 6. Desobedientes a pais e mães. 7. Ingratos. 8. Profanos — sem relacionamento com Deus e vivendo uma vida puramente secular. 9. Sem afeto natural — nem mesmo pela família. 10. Irreconciliáveis — resistindo à reconciliação com os outros. 11. Caluniadores — que tendem a acusar falsa­ mente os outros. 12. Incontinentes — vivendo no domínio das pai­ xões físicas. 13. Cruéis — ferozes e violentos. 14. Sem amor para com os bons. 15. Traidores — sem lealdade. 16. Obstinados. 17. Orgulhosos. 18. Mais amigos dos deleites do que amigos de Deus — colocando a si mesmos no lugar de Deus como o centro de suas afeições.

Visão Geral Paulo advertiu quanto à crescente impiedade (3.19) e à perseguição que aguarda aqueles que vivem vidas piedosas (w. 10-13). Timóteo deveria confiar nas Escrituras (w. 14-17) e cumprir o seu chamado (4.1-5). Paulo tinha vivido esta vida e estava pron­ “A todos será manifesto o seu desvario” (2 Tm 3.6-9). to para a sua recompensa (w. 6-8). Paulo concluiu E fácil parecer religioso. Mas quando as pessoas nos com observações pessoais (w. 9-22). conhecem, elas rapidamente percebem se a nossa fé é de fachada ou verdadeira. Entendendo o Texto Pense como é difícil para um indivíduo presunço­ “Tendo aparência de piedade, mas negando a eficá­ so, ingrato, sem afeto natural, traidor, e egoísta, cia dela” (2 Tm 3.1-5). A frase “nos últimos dias” disfarçar estes traços por muito tempo. E pense não precisa, mas pode, se concentrar nos anos que em quanto tempo é necessário para que as pessoas antecedem a volta de Cristo. Aqui parece melhor fiquem sabendo se somos pessoas sensíveis, gratas, ver as observações de Paulo como dirigidas à nossa amorosas, dignas de confiança, e interessadas. So­ própria era, que agora já se estendeu por mais de mente aqueles que são completamente tolos po­ 1.900 anos. dem ser enganados por muito tempo. Os nossos tempos são perigosos tendo em vista a Aqui há um pensamento confortador para nós. distorção da verdadeira religião por parte daqueles Quando experimentamos a transformação que que praticam uma forma exterior de religião, mas Deus realiza em nosso interior, o nosso caráter se que negam o seu poder. Qual é o poder da pieda­ torna cada vez mais claro para aqueles que nos co­ de que eles negam? Ora, é o poder de remover do nhecem. A nossa maneira de ser traz glória a Deus, caráter de pessoas pecadoras os pecados que Paulo e demonstra o poder do evangelho. relaciona aqui! O poder da verdadeira religião é visto na transfor­ “Todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus mação do caráter daqueles que verdadeiramente padecerão perseguições” (2 Tm 3.10-17). Talvez seja creem. estranho, mas o mundo não está realmente ansioso por acolher pessoas piedosas. Nós o tornamos des­ “Destes afasta-te”(2 Tm 3.1-5). Paulo relacionou 18 confortável demais para os outros. características que identificam indivíduos como es­ Um jovem amigo cristão, convencido de que, tranhos à verdadeira religião. Olhe para a lista, não como cristão, deveria trabalhar com muita dedi­ para ver como os outros agem, mas para ver o que cação em seu emprego, foi perseguido sem piedade

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2 Timóteo 3— 4

pelos seus colegas de trabalho, que insistiam que ele relaxasse como eles faziam. O seu compromisso em fazer valer o seu pagamento cumprindo as suas obrigações diárias com honestidade, revelava a pre­ guiça e a indiferença dos colegas! Uma vez que “os homens maus e enganadores” vão “de mal a pior”, o crente, cuja vida expõe o caráter deles, se torna cada vez menos popular. Então o que devemos fazer? Exatamente o que Paulo disse a Timóteo: “Permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado”.

“Sabendo de quem os tens aprendido” (2 Tm 3.13). Podemos retratar a igreja como uma longa fila de homens e mulheres de mãos dadas, alcançando desde os dias dos apóstolos até o nosso próprio tempo. Este “de mãos dadas” é importante. Eu tenho frequentemente pedido aos membros de grupos cristãos que pensem em uma pessoa que in­ fluenciou as suas vidas de maneira forte e positiva. Então descrevo aspectos opostos dos relacionamentos. O relacionamento que você teve com a pessoa que lhe influenciou foi mais próximo, ou distante? Foi mais caloroso, ou frio? A comunicação era de mão única, ou de mão dupla? Você sentia que a pessoa conhecia você, ou não? Você a conhecia, ou não? Invariavelmente mais de 90 por cento do grupo diz que tiveram um relacionamento caloroso e próximo com as pessoas influentes, no qual cada um falava e ouvia, e no qual ocorria um compartilhamento su­ ficiente para que os dois parecessem conhecer um ao outro. Não é de admirar que Paulo tenha dito: “Sabendo de quem os tens aprendido”. Não se surpreenda com a perseguição dos estra­ nhos. Apenas concentre-se em construir com os outros o tipo de relacionamento íntimo através do qual a fé é compartilhada mais efetivamente. “Toda Escritura divinamente inspirada” (2 Tm 3.16,17). Eu sou um daqueles tipos antiquados que está convencido de que a Bíblia é a Palavra ins­ pirada de Deus: exata, digna de confiança, confiá­ vel em todos os senridos. Talvez você também seja assim. Mas Paulo apresentou o seu tema afirmando a inspiração da Escritura, desde o início. O que ele quis dizer é que a Escritura é proveitosa! Quanto mais firmemente você e eu cremos que a Bíblia é a Palavra de Deus, mais fielmente devemos aplicá-la, relacionar os seus ensinos com as nossas vidas, ouvir as suas repreensões, dar ouvidos à sua correção, e assim deixar que ela nos instrua perfei­ tamente “para toda boa obra”.

meus amigos mais chegados, que tem pastoreado uma igreja por mais de 25 anos, está sentindo a frustração a que Paulo fez alusão. De alguma ma­ neira a sua liderança agora parece não ser bem-vin­ da. Não é que o povo tenha “desviado os ouvidos da verdade”. E apenas que, de alguma forma, ele parece muito menos eficiente que antes. A obra do ministério, seja ela tratada como uma profissão, ou como uma expressão da fé de cada crente, é tanto recompensadora como desestimuladora. Quando o desestímulo chega, é muito fácil perder o ânimo — e falhar em ser sóbrio. Como nós respondemos? Nós fazemos a obra para a qual Deus nos chamou. Para Timóteo, isto era pregar a Palavra, a tempo e fora de tempo, corrigin­ do, repreendendo e incentivando — e tudo com grande paciência e cuidado. Para nós, o ministério é exatamente o mesmo. Nós temos a mesma Pala­ vra para compartilhar, a mesma preocupação que qualquer pastor tem para com os outros. Não é necessário que todos respondam favoravelmen­ te a nós quando os servirmos por amor a Jesus. E ne­ cessário apenas que “cumpras o teu ministério”.

“A todos os que amarem a sua vinda” (2 Tm 4.6-8). Paulo havia experimentado muitos momentos de desestímulo, e abundante perseguição. Mas ele re­ cordou a sua vida com um sentimento de satisfa­ ção. Através de tudo isso, Paulo continuou servin­ do. Ele combateu o bom combate. Correu a boa corrida. Guardou a fé. E agora aguardava ansiosa­ mente pelo seu galardão. Paulo queria que você e eu soubéssemos que Deus tem o mesmo galardão para nós. Não temos sido colocados de lado por nenhuma recompensa que este mundo possa nos oferecer, ou por quaisquer ameaças que os homens do mundo possam fazer. Temos vivido a nossa vida aqui cientes de que esta terra é temporária, e que todos os seus prazeres são passageiros. Nós não temos ansiado pelas coisas da terra, mas pela volta de Jesus. E este desejo ardente nos tem mantido, como manteve a Paulo, fielmen­ te compromissados com o ministério que Deus nos tem dado, qualquer que seja ele. Não fique desanimado, não importa qual seja o desestímulo corÍP que você possa se deparar. Mes­ mo agora as bandas estão se reunindo no céu, e o desfile está sendo formado. Logo você tomará o seu lugar na limusine aberta, que lidera o desfile pelas ruas do céu até a tribuna de honra onde os galar­ dões serão entregues. E então você saberá, como Paulo, que tudo valeu a pena.

“Sê sóbrio em tudo” (2 Tm 4.1 -5). Não é fácil ser re­ “O Senhor assistiu-me e fortaleceu-me” (2 Tm 4.9jeitado e ignorado. Nesse exato momento um dos 18). Nós realmente precisamos do apoio e do in­

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2 Timóteo 3—4

centivo de outros. Mas às vezes nós simplesmente não os recebemos. Q uando outros falham conosco, nos é dada uma grande oportunidade para experimentar-

DE V OCIONAL______ Desde a Infância

(2 Tm 4.10-17) A nossa aceitação da Escritura, e nossa alimenta­ ção dela, geralmente ocorrem no contexto de al­ gum relacionamento próximo e íntimo. Este foi definitivamente o caso com Timóteo, que veio a conhecer e amar a Palavra de Deus na sua juven­ tude. Não temos nenhuma indicação de como exa­ tamente Loide e Eunice formaram a fé do jovem Timóteo. Mas temos uma lista de regras seguida por Susannah Wesley, mãe de 19 filhos, incluindo o escritor de hinos, Charles Wesley, e o fundador do Metodismo, John Wesley. Aqui estão os seus “regulamentos”: (1) A covardia e o medo de castigo frequentemente levam os filhos a mentir. Para evitar isso, foi feita uma lei que consiste em que, se aquele que for acusado de uma falha, da qual for culpado, confessar francamen­ te e prometer se corrigir, não deve apanhar. (2) Nenhuma ação pecadora, como mentir, furtar, brincar na igreja, ou no Dia do Senhor, desobede­ cer, discutir, etc., jamais deve passar impune. (3) Nunca se deve repreender ou bater em uma criança duas vezes pela mesma falta; e se ela se cor­ rigir, jamais se deve voltar a discutir o assunto. (4) Todo... ato de obediência deve sempre ser elo­ giado, e recompensado, de acordo com os méritos da causa.

mos a fidelidade do nosso Deus. Ele ficará ao nosso lado. Ele nos fortalecerá. E Ele nos livra­ rá “de toda má obra e guardar-me-á para o seu Reino celestial”.

(5) Se alguma criança efetuou um ato de obedi­ ência, ou se fez algo com a intenção de agradar, embora a execução não tenha sido boa, a inten­ ção deve ser gentilmente aceita; e a criança deve ser instruída com doçura sobre como agir melhor no futuro. (6) A propriedade deve ser inviolavelmente preser­ vada, e a ninguém deve ser permitido invadir a pro­ priedade de outro por menor que seja o motivo. (7) As promessas devem ser rigorosamente obser­ vadas; se um presente for concedido, o doador perde o direito a ele; o presente não pode ser res­ tituído, mas deixado à disposição daquele a quem foi dado. Aplicação Pessoal A melhor maneira de ensinar a Palavra de Deus aos nossos filhos é vivê-la — e certificar-se de que ela seja vivida. Citação Importante “A religião de um filho depende do que a sua mãe e o seu pai são, e não do que eles dizem.” — Henri Frederic Amiel

916

O Plano de Leituras Selecionadas continua em ECLESLASTES

TITO INTRODUÇÃO Esta breve carta a um dos jovens cooperadores de Paulo foi provavelmente escrita pouco depois de sua soltura da prisão em Roma, em 62 ou 63 d.C. Ela tinha o objetivo de guiar Tito em sua missão de corrigir as falhas nas igrejas de Creta. A carta é prática, e enfatiza a ligação essencial entre a doutrina e a pureza moral. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. A Missão de T ito............................................................................................................................................ T t l II. A Doutrina Cristã.........................................................................................................................................T t 2 III. Fazer o que E Bom..................................................................................................................................... Tt 3 GUIA DE LEITURA (1 Dia) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário.

Leitura 328

Capítulos 1— 3

Passagem Essencial 2

TITO 24 DE NOVEMBRO LEITURA 328

NEGÓCIO INCOMPLETO Tito 1—3

“Te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem Entendendo o Texto as coisas que ainda restam e, de cidade em cidade, “A pregação que mefoi confiada” (Tt 1.1-3). As ob­ estabelecesses presbíteros” (Tt 1.5). servações introdutórias de Paulo são excepcional­ mente longas, podendo ser equiparadas somente à A carta a Tito resume as coisas que nós também sua carta aos Romanos, que foi muito mais longa. devemos ensinar — e que precisamos aprender. Paulo sublinhou o seu elevado chamado, possivel­ mente como um lembrete e como um incentivo a Biografia: Tito Tito. Deus havia confiado ao apóstolo uma mis­ Pouco se sabe a respeito de Tito. Ele é menciona­ são. Ele deveria levar ao povo de Deus a verdade do em Gálatas 2.1-3 como um companheiro de vivificante que leva à piedade. O compromisso de Paulo. Pouco antes de escrever 2 Coríntios, Pau­ Deus em dar a vida eterna foi cumprido em Cris­ lo enviou Tito em uma missão para aquela igreja, to, e Paulo tinha sido comissionado a proclamáa qual foi muito bem sucedida (2 Co 2.12,13; lo. 7.6-13). Quando Paulo escreveu esta carta, Tito Tito, filho de Paulo segundo a “fé comum”, esta­ estava trabalhando em Creta para “fortalecer” as va em uma missão difícil. Ele pode muito bem ter igrejas desorganizadas e um tanto corrompidas precisado do lembrete. Não importa quão difícil dali. Uma última menção a Tito é encontrada seja a nossa tarefa, quando servimos a Deus e a seus em 2 Timóteo 4.10, que o mostra em uma outra eleitos nos ocupamos do mais elevado de todos os missão enquanto Paulo enfrentava a execução chamados. em Roma. Comentadores concordam que as poucas refe­ “De cidade em cidade, estabelecesses presbíteros" (Tt rências a Tito que existem o descrevem como 1.5-9). Uma das tarefas de Tito era fortalecer a um jovem líder cristão eficaz, habilidoso, contu­ organização das igrejas de Creta. Isto foi feito por do sensível, que foi bem sucedido em lidar com meio do estabelecimento de equipes de liderança uma variedade de problemas delicados na igreja em cada congregação. primitiva. A palavra “estabelecer” ou “ordenar” não nos ajuda em nada a entender como os líderes eram escolhi­ Visão Geral dos na igreja apostólica. Certamente Tito supervi­ Paulo saudou a Tito (1.1-4) e o relembrou de sionava o processo, e estabelecia as diretrizes que sua missão em Creta (w. 5-16). O ensino a Tito deveriam ser seguidas. Como em sua primeira Car­ consistiu em concentrar-se em um estilo de vida ta a Tito, Paulo enfatizou o caráter ao especificar as apropriado à sã doutrina (2.1-15). Tendo em vis­ qualificações de um líder. ta a bondade de Cristo (3.1-7), os crentes devem Podemos usar diversos meios para selecionar os se dedicar em fazer o bem (w. 8-11). Paulo con­ nossos líderes espirituais. Mas não podemos igno­ cluiu com observações pessoais (w. 12-15). rar a ênfase do Novo Testamento sobre o caráter.

Ti to 1—3

“Repreende-os severamente” (Tt 1.10-14). Há muito tempo, eu aprendi que ao ensinar na Escola Domi­ nical ou ministrar em um Ensino Bíblico, é melhor simplesmente ignorar algumas coisas tolas que as pessoas dizem. Se você disser, “Você está errado”, e fizer do erro um grande problema, o que geral­ mente acontece é que as pessoas se lembram do erro em vez da correção! E depois de alguns ser­ mões embaraçosos sobre os seus erros, as pessoas da classe provavelmente não se arriscarão a falar e errar novamente. Nesses casos é melhor encontrar algum ponto pequeno com que concordar — e en­ tão prosseguir declarando a verdade, corrigindo o erro de um modo simples e positivo. Mas Paulo não sugere a minha abordagem a Tito. Por quê? Eu desconfio que seja porque as pessoas com quem Tito lidava eram como Joe, um Ph.D. que tive em uma das minhas classes da Escola Do­ minical. Joe não dizia coisas bobas. Ele dizia coisas erradas. E o fazia de propósito, e só para gerar con­ fusão. Era isto que estava acontecendo em Creta. As pessoas estavam ensinando o erro de propósi­ to, e neste processo “transtornavam casas inteiras”. Neste caso, Paulo disse: não seja tão manso. Con­ fronte estas pessoas abertamente, e repreenda-as publicamente. Os cretenses, como alguns cristãos modernos, sim­ plesmente não estavam levando a fé a sério, mas es­ tavam brincando. Talvez esta seja outra razão para a longa saudação de Paulo. Precisamos nos lembrar de que as palavras do vocabulário da nossa fé são as palavras de Deus, e as questões que elas tratam são assuntos de vida e morte.

se regozijam com o sucesso dos outros, os impuros sentem inveja. A pureza do seu coração moldará a maneira como você olha para todas as coisas. Um coração purifi­ cado por Deus protege de muitas mágoas e danos.

“Todas as coisas sãopuraspara ospuros”(Tt 1.15,16). Paulo sem dúvida alguma estava pensando nos le­ galistas judeus que desempenhavam um papel des­ truidor nas congregações de Creta (cf. v. 10). O legalismo localizava a “pureza” em coisas como a comida que se ingeria. O cristianismo localiza a pureza no coração. Não é o que comemos, mas o que pensamos, sentimos e fazemos que nos identi­ fica como puros. O contrário também é verdadeiro. Se uma pessoa é corrupta por dentro, qualquer regra que ela obser­ var também será corrupta, contaminada pela asso­ ciação com ela (v. 15). Embora esta seja a interpretação da passagem, há uma aplicação interessante. O puro de coração tende a ver as coisas sob uma luz pura. Os puros veem os outros como pessoas que Deus ama — os impuros os veem como objetos sexuais. Os puros atribuem a melhor das intenções aos outros, e as­ sim raramente são feridos pelas observações que os impuros veem como desprezos e ataques. Os puros

“Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor” (Tt 3.4-7, ARA). Estes versículos são uma das expressões mais belas e claras do evangelho, encontradas nas Escrituras. Salvação: não por causa de quem nós éramos, mas por causa de quem Deus é. Não para nos manter como somos, mas para nos transformar, para nos tornar novas criaturas.

“Fala o que convém à sã doutrina” (Tt 2.1-15). Aqui, como nas cartas a Timóteo, a “sã” doutrina é a doutrina “saudável”. A verdade de Deus tem uma vitalidade, que não só é saudável em si mesma, mas que gera saúde e bem-estar no crente. De certo modo, a verdade cristã é um novo remé­ dio milagroso. Mantida no laboratório, ou na dis­ sertação do teólogo, a verdade pode ser fascinante e digna de estudo. Mas o valor real da verdade se mostra quando é dada a seres humanos em aflição, e lhes faz bem. Quando Paulo diz, “Fala o que convém à sã dou­ trina”, ele coloca a ênfase na aplicação da verdade à vida. Ele não disse, “Fala a sã doutrina”, como se a verdade só devesse ser examinada em uma sala de aula. Ele disse: “Fala o que convém à sã doutrina’ (itálico acrescentado pelo autor). A doutrina cristã deve enfatizar o estilo de vida saudável que é gera­ do nos crentes pela Palavra de Deus, que dá saúde. (Veja o DEVOCIONAL.) “Também nós éramos” (Tt 3.1-3). A imagem “antes e depois” é tão aplicável à fé cristã quanto a clíni­ cas de emagrecimento. Na verdade, a abordagem é muito mais confiável na fé do que em anúncios de produtos “diet”. Cristo torna a vida diferente. E nos torna diferentes também.

“Procurem aplicar-se às boas obras” (Tt 3.8). Sarah e sua amiga Vanessa eram fãs de um grupo musical que pode m uito bem ter sido esquecido no momento da publicação deste livro. O ntem à tarde Vanessa trouxe para casa uma fita de vídeo deles — de forma que m inha esposa e eu nos retiramos para o meu escritório, fechando a porta contra os gritos extasiados da menina, que conseguiram transpor dois conjuntos de portas fechadas. Presumo que seja bonito. Te­ nho certeza de que é típico. Afinal, as meninas agem como meninas.

919

Tito 1—3

Todos nós percebemos que é apropriado para as pessoas agirem de acordo com o caráter. E isto que Paulo quis dizer aqui. Nós cristãos experimenta­ mos a bondade e o amor de Deus. Ele nos salvou, e com a salvação derramou sobre nós o Espírito de renascimento e renovação. Somos novas pessoas agora, e assim é apropriado que ajamos de acordo com o caráter. E importante que nós, cristãos, seja­ mos o que somos. E agir “de acordo com o caráter” para um cristão é “procurar aplicar-se às boas obras”. Devemos fazêlo com todo entusiasmo e energia demonstrados por Sarah e Vanessa. Se o fizermos, as reverberações das nossas boas obras penetrarão as portas fecha-

DE V OCIONAL______

O Ensino é... (Tt 2) Se você já pensou no “ensino” e no “aprendiza­ do” como coisas que acontecem em uma sala de aula, onde fileiras de alunos se sentam para ouvir enquanto um professor lhes dá informações im­ portantes, Tito 2 apresenta algumas surpresas. Em primeiro lugar, “ensino” aqui não consiste de infor­ mações. O ensino está relacionado à vida. Não foi a “sã doutrina”, mas “o que convém à sã doutrina” que Paulo rogou que Tito ensinasse (v. 1). Ele não insistiu que Tito se certificasse de que cada crente desse evidências da Trindade. Mas ele insistiu que os crentes aprendessem a ser reverentes, calmos, puros, corretos, e piedosos. Em segundo lugar, o ensino não é uma coisa do tipo sala de aula! Aquele que ensina em Tito 2 está tão envolvido com a vida daqueles que aprendem que é capaz de se “dar por exemplo de boas obras” (V' 7)' Finalmente, o “ensino” cristão é um conceito am­ plo cuja atividade nenhuma palavra pode descrever. Este capítulo “fala” (w. 1-4,7,9,10,12,15), “ensina” (v. 4), “exorta” (w. 6,15), “dá por exemplo” (v. 7) e “repreende” (v. 15). Se incluíssemos todas as ideias

das de muitos corações, e abrirão estas portas para Jesus.

“Os nossos aprendam também a aplicar-se às boas obras” (Tt 3.12-15)- Talvez isto resuma a mensagem que Paulo queria que Tito e os cre­ tenses ouvissem. Ser bom e fazer o bem não são coisas opcionais para os cristãos. São uma “obrigação”. Da mesma forma que os pássaros precisam voar, e os peixes nadar para viverem em harm onia com a sua natureza, também os cristãos devem se aplicar a fazer o bem para vi­ verem em harm onia com a nova natureza que Deus lhes deu.

transmitidas pelas palavras gregas, ensinar seria: falar, comunicar, afirmar, encorajar, avisar, exortar, fornecer um padrão ou exemplo a seguir, instruir, guiar, corrigir, esclarecer, expor, destacar, conven­ cer, e reprovar ou condenar quando necessário — e tudo para ajudar as outras pessoas a viverem uma vida que convenha à verdade em que cremos, e ao relacionamento que temos com Jesus Cristo. Aplicação Pessoal O verdadeiro ensino ocorre mais fora do prédio da igreja do que dentro dele — e você e eu somos os professores! Citação Importante “Estou convencido de que se de repente eu pedisse a qualquer um de vocês que se lembrasse de cinco sermões que já ouviu, seria difícil obter uma respos­ ta. Mas se eu pedisse que você me dissesse o nome de cinco pessoas através de quem Deus estendeu a sua mão sobre a sua vida, você não hesitaria nem por um momento.” — Halford E. Luccock

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em COLOSSENSES

FILEMOM INTRODUÇÃO Esta breve e intensa carta pessoal foi escrita a Filemom, um rico dono de escravos cristão, no Vale do Lico, na Ásia Menor. Nela, Paulo rogou a Filemom que recebesse amavelmente de volta Onésimo, um escravo fugitivo que tinha se convertido durante o ministério de Paulo. A carta é um exemplo dramático de como, em Cristo, o evangelho une pessoas de todas as classes sociais. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Ação de Graças e Oração....................................................................... II. Apelação em Favor de Onésimo......................................................... III. Saudações, Bênção...............................................................................

....Fm 1-7 ..Fm 8-22 Fm 23-25

GUIA DE LEITURA (1 Dia) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 329

Capítulos 1

Passagem Essencial w. 8-21

FILEMOM 25 DE NOVEMBRO LEITURA 329

CARO IRMÁO ESCRAVO Filemom

“Não já como servo; antes, mais do que servo, como homem rico poderia servir compartilhando genero­ irmão amado" (Fm 16). samente as suas riquezas; um homem pobre poderia servir usando os seus dons para contribuir com o Os corações devem mudar, antes que as institui­ corpo de crentes. O que contava realmente não era ções tentem fazê-lo. a posição que a pessoa ocupava na sociedade, mas como ela servia a Deus e aos outros nesse papel. Contexto Escravidão. Uma alta porcentagem dos habitantes Visão Geral do Império Romano consistia de escravos. Escra­ Paulo saudou e expressou gratidão a Filemom (w. vos eram vistos como propriedade, e tinham pou­ 1-7), e rogou que ele recebesse de volta o seu escravo cos direitos pessoais no mundo romano. Várias fugitivo, Onésimo, amavelmente, como um irmão das epístolas do Novo Testamento incentivam os (w. 8-22). Ele concluiu com saudações (v. 23-25). escravos cristãos a servirem os seus senhores com sinceridade, como se servissem a Cristo (Ef 6.5-9; Entendendo o Texto Cl 3.22-25; 1 Pe 2.13-21). Estas mesmas cartas “Prisioneiro de Jesus Cristo” (Fm 1.1). Muitos acre­ exortam os seus senhores a tratarem bem os seus ditam que Paulo escreveu esta carta enquanto es­ escravos. tava na prisão em Roma, por volta de 60-61 d.C. No Império Romano do século I houve um movi­ Se foi assim, a carta é uma ilustração de algo que mento que viu muitos senhores libertarem os seus Paulo escreveu ao mesmo tempo para a igreja em escravos. Outros escravos compraram a sua própria Filipos; “As coisas que me aconteceram contribuí­ liberdade com renda ganha nas horas vagas. E im­ ram para maior proveito do evangelho” (Fp 1.12). pressionante que a comunidade cristã não tenha Mesmo na prisão Paulo encontrou oportunidades se envolvido nesta questão social, muito embora a de compartilhar a Cristo — e alcançou pelo menos escravidão pareça violar o ponto de vista bíblico uma pessoa, Onésimo, que do contrário jamais te­ do valor de toda pessoa. Paulo instruiu os escravos ria conhecido. cristãos a não se perturbarem com a sua condição, Nós precisamos ter uma perspectiva similar nos mas aceitarem a liberdade se surgisse a oportunida­ nossos maus momentos, bem como nos bons. de (1 Co 7.21-23). Deus permanece no controle mesmo quando so­ A razão fundamental parece ser que a igreja primiti­ fremos contrariedades. Na verdade, as nossas con­ va enfatizava a oportunidade para servir aos outros trariedades podem ser mais importantes do que os acima de qualquer papel social que um indivíduo nossos sucessos à medida que cumprimos o plano pudesse ter. O serviço, e não a posição social, rece­ de Deus para a nossa vida! bia a prioridade. Um escravo poderia servir em meio à sua condição de escravo; um dono de escravos “A igreja que está em tua casa” (Fm 1.2). A “casa” era poderia ministrar cuidando dos seus escravos; um de Filemom, e o fato de que ela era grande o bas-

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tante para que ele abrigasse uma igreja, bem como o fato de que ele possuía escravos, sugerem que ele era relativamente rico. Como isto é fascinante. Um judeu, um fariseu zeloso, escreveu uma calorosa carta pessoal a um rico gentio asiático, rogando que ele recebesse de volta um escravo fugitivo como um irmão! Nenhu­ ma diferença social maior pode ser imaginada do que entre estes três grupos no século I. No entanto, estas pessoas tinham se tornado uma em um com­ promisso comum com Jesus, e na comunhão com a sua igreja. Como é bom se tomar cego para as distinções so­ ciais, e enxergar claramente a ligação que nos torna um com aqueles que conhecem e amam o nosso Senhor.

"Por ti, ó irmão, o coração dos santos foi reanimado” (Fm 1.4-7). Podemos considerar Filemom como um genuíno cristão. As vezes as pessoas gostam de convidar para a sua casa um evangelista ou mis­ sionário em viagem — mas não fazem nada por pessoas comuns. Esta não é a impressão que rece­ bemos de Filemom. De acordo com Paulo, ele era um homem marcado pelo amor, que expressava amor recebendo e reanimando “o coração” de to­ dos os santos. Mesmo assim, Paulo orou para que Filemom tives­ se o “conhecimento de todo o bem” que nele havia. Paulo estava a ponto de estender a capacidade que Filemom tinha para amar, pedindo que ele recebes­ se de volta o seu escravo fugitivo. A qualidade do nosso amor e entendimento será manifestada quando nós também formos desafia­ dos a amar alguém que poderíamos ter motivos para desprezar! É andar a milha extra que mostra a grande profundidade do amor cristão — e que revela um entendimento maduro do que é bom. “Peço-te, antes, por caridade (ou ‘amor’) ” (Fm 1.8). A influência, e não o poder, é o segredo da lideran­ ça cristã. Qual é a diferença? O poder coage os ou­ tros, forçando-os a fazer o que desejamos, queiram eles fazer ou não. A influência respeita os direitos de escolha dos outros, e deixa claro que eles têm a liberdade de decidir sozinhos. Paulo apresenta diversos argumentos fortes, que deixam muito claro o que ele pensava que Filemom deveria fazer. Ele exerceu um tipo de pressão que apenas um amigo íntimo, cujo amor é bem conhe­ cido, se sentiria à vontade para exercer. Na verdade, Paulo estava confiante de que Filemom responde­ ria como um cristão. Como é maravilhoso quando podemos ter a confiança de que os nossos amados farão o que é certo!

“O qual, noutro tempo, te foi inútil, mas, agora, a ti e a mim, muito útil” (Fm 1.11). Há, nesta frase, um jogo de palavras no grego, pois o nome Onésimo significa “útil”. Como um escravo fugitivo, Onésimo “roubou” do seu senhor — muito em­ bora não tenha levado nada além de si mesmo. No século I um escravo comum custava cerca de 500 denários, o equivalente ao pagamento de 500 dias de um trabalhador comum. Escravos com habilidades especiais poderiam custar centenas de vezes mais. Ao fugir, Onésimo não só foi “inútil”, mas privou o seu senhor do seu capital legítimo. E compreensível, então, porque escravos fugiti­ vos não eram muito populares no Império Ro­ mano. Quando apanhados, eles eram frequen­ temente colocados em trabalhos forçados em minas, ou em outras situações onde morriam rapidamente. Paulo assegurou a Filemom que Onésimo seria agora um patrimônio para ele. Fazendo isto ele implicitamente pediu que Filemom não castigasse severamente o fugitivo. “Mais do que servo, como irmão amado” (Fm 1.16). Paulo não pediu que Filemom libertasse o escravo Onésimo. Na verdade, ele declarou que o escravo antes inútil agora seria um bem. O que ele pediu foi que Filemom, agora, considerasse e tratasse Onésimo como um “irmão amado”. Por fim esta transformação de perspectiva cortou pela raiz a instituição da própria escravidão. A escravidão só pode ser mantida quando algumas pessoas são vistas como propriedades e não como seres humanos. O evangelho cristão não só ele­ vou as classes reprimidas reconhecendo os seus direitos humanos, mas também levou os banidos a serem reconhecidos como irmãos e irmãs que devem ser amados. “Eu opagarei” (Fm 1.17-21). Paulo aqui usou a lin­ guagem dos negócios. A sua “nota pessoal” cons­ titui um reconhecimento de dívida. Se Filemom tinha perdido dinheiro por causa de Onésimo, Paulo estava disposto a pagar pessoalmente se as­ sim Filemom exigisse. Martinho Lutero viu isto como um retrato daquilo que Cristo fez por nós. Lutero escreveu: “Aqui ve­ mos como Paulo se coloca como a garantia em fa­ vor de Onésimo, e como, com todos os seus meios, pleiteia a sua causa com o seu senhor, colocando-se assim como se ele fosse Onésimo, e ele mesmo ti­ vesse feito algum mal a Filemom. Paulo agiu, em relação a Filemom, da mesma forma que Cristo age a nosso favor na presença de Deus Pai. Todos nós somos o seu Onésimo, a meu ver”.

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DEVOCIONAL______ O Olho daquele que Vê

(Fm 8-21) Nós temos um novo jogo. Você manda que algu­ mas pessoas olhem para os mesmos desenhos es­ tranhos, cujos traços foram feitos com borrão de tinta, pedindo que elas escrevam as suas interpre­ tações, e então você tenta adivinhar quem escreveu qual interpretação. Todos sabem que as interpretações desses borrões de tinta dependem mais do que a pessoa pensa do que daquilo que ela vê. A pessoa mediana poderia ver uma borboleta — e uma pessoa perturbada um gigante com os braços estendidos, prestes a agarrála e esmagá-la. O que a pessoa vê diz mais sobre ela do que sobre o borrão. A Carta a Filemom nos lembra que a maneira como vemos os outros também está relacionada “ao olho daquele que vê”. Paulo pediu que Filemom deixas­ se de ver Onésimo como um “escravo fugitivo”, e passasse a vê-lo como um “irmão amado”. O evangelho faz o mesmo pedido a cada um de nós. Devemos deixar de ver os outros como “aquela loira burra”, ou “aquele assistente deslei­ xado”, ou “aquela pessoa atraente”, ou “aquela

pessoa VIP”, e começar a vê-los de maneira to­ talmente diferente. Devemos ver os não-cristãos como indivíduos de valor infinito, por quem Cristo morreu. E devemos ver os cristãos, como “irmãos amados”, e amá-los como membros da nossa família. Talvez esta seja a grande contribuição da carta de Paulo a Filemom aos crentes modernos. Ela nos pergunta incisivamente: “O que está nos seus olhos quando você olha para os outros?” Aplicação Pessoal Enxergue os outros da mesma maneira como Deus os enxerga, e você será capaz de amá-los. Citação Importante “O homem só se torna alguém santo, o nosso próximo, se percebermos que ele é uma proprie­ dade de Deus, e que Jesus Cristo morreu por ele.” — H elm ut Thielecke

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em OSEIAS

HEBREUS INTRODUÇÃO O autor desta carta singular do Novo Testamento não é identificado. Acredita-se que ele tenha escrito a judeus cristãos poucos antes que o Templo de Jerusalém fosse destruído, em 70 d.C. A carta aos Hebreus compara cuidadosamente as crenças do Antigo e do Novo Testamento. Ela mostra como o cristianismo cresceu a partir do judaísmo, e o cumpriu, relacionando Jesus a instituições essenciais do Antigo Testa­ mento. Em cada ponto, demonstra-se que Jesus é superior: Ele traz uma revelação melhor, serve como um melhor sumo sacerdote, institui um concerto melhor, e oferece um sacrifício melhor do que o antigo sistema podia proporcionar. A carta aos Hebreus nos ajuda a compreender as bases da fé do Antigo Testamento, mas, o que é mais importante, ela nos ajuda a apreciar a obra de Jesus Cristo. As suas advertências encorajam o pleno com­ prometimento com Ele, e a imagem vívida de Jesus como o nosso sumo sacerdote que está sempre vivo, que compreende as nossas fraquezas, e nos encoraja a ir ousadamente ao trono de Deus, em busca de graça, para nos ajudar em nossos momentos de necessidade. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Introdução................................................................................................. II. Uma Natureza Superior......................................................................... III. Uma Revelação Superior...................................................................... IV. Um Sacerdócio Superior...................................................................... V..Um Concerto Superior........................................................................... VI. Um Sacrifício Superior......................................................................... VII. Resposta a Jesus.................................................................................... VIII. Conclusão...........................................................................................

.............Hb 1.1-4 .... Hb 1.5— 2.18 ....H b 3.1— 4.13 .. Hb 4.14— 7.28 .............Hb 8— 9 ................. Hb 10 Hb 11.1— 13.19 ......Hb 13.20-25

GUIA DE LEITURA (10 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” na sua Bíblia, e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura Capítulos Passagem Essencial 330 1 1.1-4 2 2.14-18 331 332 3.1— 4.13 4.1-13 4.14— 6.20 6.13-20 333 334 7-8 8.7-13 9.23-28 335 9 336 10 10.19-39 11 337 11.1-7 338 12 12.5-11 339 13 13.17

HEBREUS 26 DE NOVEMBRO LEITURA 330

CRISTO, O FILHO Hebreus 1

“O qual [o Filho], sendo o resplendor da sua glória, e que era tão importante para os crentes judeus — a a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas revelação da vontade de Deus por meio de Moisés, as coisaspela palavra do seu poder” (Hb 1.3). o sacerdócio, o concerto, os sacrifícios, a adoração no Templo, — eram apenas sombras que revela­ A fé cristã se baseia na convicção de que Jesus Cris­ vam vagamente o Filho. O Filho de Deus, e não as to é Deus, o Filho. sombras, representa a realidade espiritual. Assim, os judeus que se voltam a Jesus não abandonam a Contexto sua herança: eles descobrem a realidade para a qual A Carta aos Hebreus. Como as outras cartas que esta herança apontava o tempo todo! encontraram um lugar no nosso Novo Testamen­ A carta aos Hebreus permanece como um rico veio to, a carta aos Hebreus circulou entre congregações de verdade a ser explorado pelos cristãos moder­ da igreja primitiva, e rapidamente foi reconhecida nos. Embora a igreja moderna não seja ameaçada como autêntica. Tanto o nome — “aos hebreus” pelos judaizantes, nós precisamos sentir a harmo­ — quanto o conteúdo desta carta levaram muitos nia essencial entre os Testamentos. E precisamos a supor que os leitores visados eram cristãos judeus, examinar cuidadosamente a pessoa de Jesus e o seu cujo comprometimento com Cristo esmorecia à impacto sobre as nossas vidas. Para estes dois pro­ medida que eles se lembravam das riquezas da sua pósitos — compreender melhor a Jesus, e senti-lo herança. Como eles puderam abandonar uma fé e mais plenamente — a carta aos Hebreus continua um modo de vida, dos quais várias gerações de seus como um recurso espiritual incomparável. antepassados tinham estado firmemente convenci­ das de que lhes tinham sido revelados por Deus? Visão Geral Recentemente, acadêmicos modernos questiona­ A fonte da nova revelação é o próprio Filho de ram a crença de que a carta aos Hebreus original­ Deus (1.1-3), que demonstrou ser superior aos mente se destinava a cristãos judeus. No século anjos que, no pensamento de Israel, mediaram a I, muitos “judaizantes” ativos procuravam atrair revelação do Antigo Testamento (w. 4-14). crentes gentios ao judaísmo, sobrepondo a sua Lei e suas práticas religiosas ao cristianismo. Alguns Entendendo o Texto acreditam que a carta aos Hebreus se destina aos “Havendo Deus, antigamente, falado... aos pais” (Hb gentios, para combater os judeus que corrompiam 1.1). A fé do Antigo Testamento é uma religião re­ a fé cristã primitiva. velada. Moisés não a inventou. Os sacerdotes da Qualquer que seja a teoria correta, o autor desta época de Josias não re-escreveram — como sugeri­ epístola mostrou a seus leitores que a fé em Cristo ram alguns acadêmicos modernos céticos — a his­ não é o abandono das esperanças dos judeus. O tória dos judeus, inventando os documentos que cristianismo é o cumprimento de tudo o que a fé e atribuímos a Moisés. Não, Deus falou — e o que a vida do Antigo Testamento prometeram. Tudo o Ele disse foi registrado, com exatidão, pelos profe-

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tas de cem diferentes épocas e lugares. Além disto, o que Deus disse está registrado fielmente nos li­ vros do Antigo Testamento. Isto, é claro, foi o que fez com que alguns cristãos primitivos hesitassem. Se Deus ordenou a fé de Israel, como Ele poderia contrariar ou abandonar esta Palavra? Como Ele poderia rejeitar o seu povo escolhido, a favor dos gentios? À medida que lermos a carta aos Hebreus, perce­ beremos que a mensagem do Antigo Testamento a Israel jamais foi abolida ou abandonada, mas cum­ prida. Mas, antes, o autor da carta aos Hebreus es­ clarece um ponto vital. Nós podemos confiar no Antigo Testamento, pois Deus falou aos homens pelos profetas de antigamente. Mas nós podemos confiar ainda mais no Novo Testamento, pois o agente desta revelação não foi um mero homem! O agente da revelação do Novo Testamento foi Deus Filho! Deus não falou meramente a nós por meio de homens, Ele se tomou um homem, e como ho­ mem, falou a nós diretamente. Que pensamento assombroso. Deus preencheu o imenso vazio entre Ele mesmo e a humanidade, quando se tornou um ser humano. Somente des­ ta maneira Ele pôde, com clareza e inconfundível autoridade, comunicar as Boas-Novas a nós. Deve­ mos abordar as Escrituras, e especialmente o Novo Testamento, com grande reverência e respeiro. Nós não estamos apenas lendo palavras. Nós estamos ouvindo a voz de Deus, e ouvindo as palavras de Jesus Cristo.

aquEle que sustenta tudo, unido com Deus no seu ser essencial, sendo também o esplendor da própria glória de Deus, este indivíduo poderá reivindicar o nome “cristão”.

“Mais excelente do que os anjos” (Hb 1.4). O autor da epístola aos Hebreus usou a palavra traduzida como “excelente”, ou “superior”, 13 vezes. Somen­ te a primeira epístola aos Coríntios, em nosso idio­ ma, a traz mais do que uma vez; ela ocorre 3 vezes no texto Sagrado! Em Hebreus 1.4, a ênfase está no fato da superio­ ridade pessoal de Jesus sobre os anjos. Com frequ­ ência, no entanto, a ênfase está na superioridade que Jesus traz a você e a mim. Por causa de quem é Jesus, e do que Ele fez, você e eu temos uma espe­ rança melhor (7.19), um concerto melhor (v. 22; 8.6), possessões melhores (10.34), um país melhor (11.16) e uma ressurreição melhor (v. 35). Jesus sempre foi superior aos anjos, pois o seu “nome” (identidade) como Filho de Deus é melhor do que o de qualquer ser humano. Como, então, é Jesus superior aos anjos? A resposta mais provável parece ser que Jesus se tornou superior aos anjos como um Mediador da revelação. Hebreus 2.2 sugere que os anjos media­ ram a transmissão da Palavra de Deus a Moisés e aos profetas. Jesus, ao cumprir a sua missão como Porta-voz de Deus, se tornou superior aos anjos neste aspecto do ministério. Os anjos são, atualmente, superiores aos seres hu­ manos. Mas Jesus, na sua natureza e na sua missão, “Pelo Pilho” (Hb 1.1-3). O cristianismo, como diz é muito superior a eles. Nós não precisamos temer o ditado, é Cristo. E o ditado está correto. Tudo demônios, nem reverenciar anjos. Jesus está acima depende de Jesus, e de quem é Jesus. de tudo. E isto é o que o autor da epístola aos Hebreus nos diz, clara e inequivocamente. Jesus, o Filho, é o “Herdeiro de tudo”. Jesus, o Filho, é o Criador do universo. Jesus, o Filho, é a expressão visível (o resplendor) da glória de Deus. Jesus, o Filho, é a expressa imagem de Deus. Jesus, o Filho, sustenta o universo, e apenas a sua palavra o capacita a exis­ tir. Jesus, o Filho, tendo lidado de maneira decisiva com o problema do pecado, assentou-se à direita de Deus, o lugar de poder e autoridade. Ontem, depois do nosso culto de doutrina, nosso pastor mencionou a sua frustração, quando dois mórmons tentaram aderir à igreja. Ele tinha ten­ tado ser gentil, falando com eles em particular. Ele No Novo Testamento, as moedas eram gravadas em um ouviu os seus protestos de que “eram cristãos, tam­ cunho que deixava uma impressão exata do original. A bém”. Ele concordou que havia algumas crenças palavra para esta impressão de uma estampa era chaque nós tínhamos em comum. Mas também ha­ rakter, a palavra traduzida como "expressa imagem” em via uma diferença crucial: Quem é Jesus? Somente Hebreus 1.3. Jesus é idêntico a Deus. O seu próprio ser quando o indivíduo confessa alegremente que Jesus — a sua essência, seu hypostaseos, é uma expressa imagem é o Filho de Deus, o Herdeiro, o Criador de tudo, da essência do Deus das Escrituras!

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“Tu és meu Filho” (FIb 1.5-13). Examinando o An­ tigo Testamento para provar o que queria dizer, o autor da epístola aos Hebreus mostrou que o Filho é superior aos anjos no seu relacionamento com Deus Pai (v. 5), na sua reivindicação de adoração (w. 6,7), na sua autoridade (w. 8,9), na sua eter­ nidade (w. 10-12), e no seu futuro (v. 13). Jesus é superior a tudo e a todos!

DEV OCIONAL______ O Filho de Deus

(Hb 1.1-4) As vezes, é difícil saber o que pensar a respeito de Jesus. Somente Ele foi um verdadeiro ser huma­ no, e, ao mesmo tempo, verdadeiramente Deus. Âs vezes, nós somos consolados quando nos con­ centramos na humanidade de Jesus. Nós sabemos que Ele nos entende, e que é compreensivo em relação à nossa fraqueza. Nós nos lembramos do seu misericordioso envolvimento na vida de tan­ tas pessoas, e nos sentimos próximos a Ele. Por outro lado, é difícil sentir-se próximo e con­ fortável com o Deus que criou o universo e cujo poder elementar o sustenta, ainda hoje. Que har­ monia nós podemos ter, seres finitos e de vida curta, com aquEle cuja existência se estende, ininterrupta, desde a eternidade e por toda a eter­ nidade? Talvez a melhor resposta para nós seja pensar “Je­ sus” quando precisamos sentir o caráter amoro­ so de Deus, e pensar “Deus” quando precisamos confiar na capacidade de Jesus de satisfazer todas as nossas necessidades.

“Enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação” (Hb 1.14). Este versículoindica que os crentes podem ser guardados por anjos. Nós podemos ser impotentes, por nós mesmos. Mas Deus colocou o seu Espírito em nós, e os seus anjos estão ao nosso redor, nos guardando.

Jesus nos compreende completamente, e às nossas necessidades. Visão Geral Nós precisamos dar ouvidos à mensagem de Jesus (2.1-4). Ela revela o destino que Deus nos dá, por intermédio dEle (w. 5-13), que se responsabilizou pela humanidade, para romper o poder escravizante da morte e de Satanás sobre a nossa raça (w. 14-18).

Entendendo o Texto “Convém-nos atentar, com mais diligência" (Hb 2.1). A advertência encontrada nos versos 1 e 5 parece se encaixar melhor no capítulo 1. O próprio Fi­ lho de Deus transmitiu a mensagem de salvação, tornando-a ainda mais convincente do que a reve­ lação anterior. A imagem de “desviar-se” é significativa. Ela retra­ ta um antigo veleiro, ancorado próximo à costa. Quando os marinheiros dormem, o vento fica mais forte e a âncora começa a se arrastar lentamente contra o fundo arenoso. Quando os marinheiros acordam, percebem que o veleiro foi perigosamen­ te lançado no mar alto. Você e eu provavelmente não iremos levantar a ân­ Aplicação Pessoal cora da nossa fé e abandonar o abrigo que Jesus Para aprofundar a sua fé, medite sobre quem Jesus é. nos proporciona. Mas, se não dermos constante atenção à palavra de Cristo, poderemos nos afastar, Citação Importante inconscientemente, do nosso ancoradouro. “Algo como um fogo, e como o brilho das estrelas, emanava dos seus olhos; e a majestade da Divinda­ “Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma de era exibida no seu rosto.” — Jerônimo tão grande salvação?" (Hb 2.2-4). Esta é a primei­ ra das muitas advertências encontradas na epístola 27 DE NOVEMBRO LEITURA 331 aos Hebreus. Estas advertências são destinadas aos UM HOM EM COM O NÓS crentes, e de modo geral lidam com a nossa ex­ Hebreus 2 periência da salvação superior proporcionada em Cristo. ‘E, visto como osfilhos participam da carne e do san­ Aqui, o tema é Jesus como a Palavra Viva. Os ad­ gue, também ele participou das mesmas coisas, para vertidos ouviram o evangelho. Eles são convidados que, pela morte, aniquilasse o que tinha o império a se apegar ao que ouviram, pois se não o fizerem, da morte... e livrasse todos os que, com. medo da mor­ irão se afastar dos ancoradouros da vida e deixa­ te, estavam por toda a vida sujeitos à servidão” (Hb rão de vivenciar os benefícios da grande salvação 2.14,15). de Deus.

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Que bênção a Palavra de Deus é para nós. É uma mensagem garantida, confirmada por testemunhas que ouviram Jesus ensinar, e viram seus milagres, confirmada também pela obra constante do Espírito Santo em nossas vidas. Mas é tão fácil nos afastar­ mos. O que nós precisamos fazer é dar às Escrituras nossa constante atenção — e nos certificar de que obedecemos à Palavra de Deus, colocando-a em prática.

“Que é o homem, para que dele te lembres?” (Hb 2.6,7). Como explicamos a maravilha da manifesta­ ção de Deus na carne? O autor citou o Salmo 8, que apresenta o fato assombroso de que Deus se importa com os seres humanos. Deus escolheu não nos igno­ rar, mas concentrou a sua atenção em nós, para que pudesse nos exaltar. Ele “o fez [ao homem] um pouco menor do que os anjos”. Mas o que nós éramos não é o que nós sere­ mos! Nós estamos destinados à glória e à honra e ao domínio, ao lado de Deus.

frer como os seres humanos sofrem, Jesus eviden­ ciou tudo o que significa ser humano. Como o autor acrescentou, no versículo 18, “Porque, naquilo que Ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados”. Na sua encarnação, Jesus vivenciou a humanidade de uma maneira que jamais seria possível para o Fi­ lho pré-existente. O seu sofrimento como homem foi necessário para a sua completa identificação co­ nosco. Isto significa duas coisas. Significa que Jesus com­ preende, a você e a mim, no nosso sofrimento e na nossa dor. E significa que Deus nos ama mais do que nós imaginamos, pois a exposição que Cristo fez de si mesmo à vulnerabilidade da humanidade foi mais custosa do que jamais poderemos saber.

“Anunciarei o teu nome a meus irmãos” (Hb 2.12). Mark é um missionário junto às pessoas de rua no centro da cidade. Ele trabalha com os viciados, os cafetões, as prostitutas, os alcoólatras, os sem teto, que habitam a noite. Ele vive nas ruas com os mem­ bros da sua congregação, porque ele está convencido de que somente vivendo a vida que eles vivem ele conquistará a credibilidade necessária para alcançálos para Jesus. Hudson Taylor, como Mark, adotou este princípio de identificação. Quando Taylor foi ministro na China, ele deixou de usar suas vestes ocidentais, adotou as chinesas, e deixou crescer o cabelo para fazer uma trança. Para alcançar os chine­ ses, ele adotou os hábitos chineses. Isto foi o que Jesus fez por nós. Ele veio, tornouse um de nós, e nos chamou de “meus irmãos”. Ao identificar-se conosco plenamente, Ele possibilitou que nós depositássemos nossa confiança nEle. Se você quiser alcançar os outros, não considere o quanto você é diferente deles. Em vez disto, conside­ re todas as maneiras em que você é um, com eles. Quanto mais intimamente você puder se identificar com os outros, mais claramente eles verão o Senhor Jesus na sua vida.

“Vemos... Jesus” (Hb 2.8,9). A noção de que a huma­ nidade foi coroada com glória e honra parece ridí­ cula, para alguns. Veja a confusão em que estamos — e foi assim, ao longo de toda a história registrada. Como a condição humana fala de glória, ou de so­ berania? Deus “sujeitou todas as coisas debaixo dos pés [do homem]”. E quanto à doença? E quanto ao sofri­ mento? E quanto às guerras, e ao crime, e ao dirigir alcoolizados, e aos maus tratos às crianças? A epístola aos Hebreus responde, “agora, ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas [ao homem]”. Mas o que nós realmente vemos é Deus, encarnando-se em Jesus, sofrendo a morte por nós, e “coroado de glória e de honra”. Na ressurreição e exaltação de Jesus, você e eu ve­ mos o nosso próprio destino. O Jesus glorificado é a prova positiva de que a glória espera por você e por mim. Enquanto um mundo cético olha para a destruição que o homem fez da nossa terra, os crentes confian­ “O que tinha o império da morte” (Hb 2.14). As Es­ tes olham para o triunfo de Jesus, e encontram paz. crituras falam de dois domínios: o domínio das tre­ vas e o da luz; um domínio da morte e um domínio “Consagrasse, pelas aflições” (Hb 2.10). Novamente, da vida. Enquanto Deus é a autoridade suprema no temos uma aparente contradição. Como poderia universo material e espiritual, Satanás é o governante Deus, que por definição é perfeito, ter sido “consa­ atual das trevas. Onde Satanás reina, a morte, como grado” pelas aflições? insensibilidade espiritual, egoísmo e culpa, detém o A ideia da perfeição é expressa pela palavra grega, poder. Os seres humanos que vivem sob o domínio teleios. Esta raiz é usada nove vezes pelo autor da de Satanás são cativos de suas próprias naturezas pe­ epístola aos Hebreus, e significa “completo, madu­ cadoras — e do temor da morte. E o terror do des­ ro, com todo potencial realizado”. O sofrimento não conhecido, e o temor da extinção ou do juízo final, acrescentou nada ao caráter ou à natureza de Jesus. que conserva a humanidade escravizada. Mas o capacitou para a sua obra de salvação. Ao so­ O autor não explica esta comparação. Mas nós po­

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demos compreendê-la. Nós sabemos como o temor petrifica e inibe. Como o pequeno animal, mantido imobilizado pelo olhar da cobra, o terror da morte impede que os homens busquem a Deus. Nenhum homem que tenha ciência de ter cometido um cri­ me irá procurar o xerife. Nenhuma pessoa que teme a punição pelo pecado sairá para procurar Deus, o Juiz, e arriscar-se à morte que sabe merecer.

DE V OCIONAL______ Misericordioso e Fiel

(Hb 2.14-18) Ninguém gosta muito de “ter que”. Na sua casa, “Você tem que estudar música agora” encontra quase tantos protestos quanto “Você tem que ir dormir agora”. Na verdade, eu mesmo não gosto muito de “ter que”. Frequentemente, me flagro dizendo, ou pen­ sando, “Eu tenho que realizar o trabalho de hoje”, quando preferiria ir pescar, ou simplesmente sair e jogar um pouco de ténis. Mas “ter que” tem priori­ dade. Se nós desejarmos alcançar os objetivos mais importantes, temos que ter disciplina. Ê isto o que Hebreus 2.14-18 nos conta, sobre Je­ sus. Os seus objetivos eram tão importantes que Ele fez tudo o que tinha que fazer, para alcançá-los. E o que Jesus teve que fazer, realmente foi doloroso. Em primeiro lugar, Ele tinha que se tornar um ser humano, e sofrer a pressão de todas as tentações que perturbam a humanidade, se quisesse ser um Sumo Sacerdote misericordioso. Filo, o filósofo ju­ deu do século I, afirmou que o sumo sacerdote não devia mostrar os seus sentimentos, mas “conservar os seus sentimentos de piedade sob controle”. Mas Jesus suportou a condição humana para que pu­ desse exibir a profundidade da compaixão de Deus por nós. Se nós quisermos ter certeza de que Deus nos ama, nós teremos que ver um Salvador que es­ tava disposto a sofrer. Por Jesus ter feito o que tinha que fazer, você e eu sabemos que o nosso Sumo Sacerdote é misericordioso. Mas Jesus também teve que suportar o sofrimento supremo da cruz, para “expiar os pecados do povo”. A palavra grega aqui, hilastekesthai, significa fazer uma propiciação — satisfazer, e assim desviar, a ira de Deus. Ele foi fiel nesta obrigação que Ele, como Sumo Sacerdote, tinha com Deus. Se Jesus dese­ java cumprir o propósito para o qual foi enviado, Ele tinha que oferecer a sua própria vida. E, fiel no seu comprometimento à vontade de Deus, Ele fez exatamente isto. Para Jesus, o objetivo de satisfazer a justiça de Deus e exibir misericórdia à humanidade era tão impor­ tante que “ter que” se converteu em “querer”. Ele

Que Boas-Novas, então, é o evangelho! O evan­ gelho anuncia a derrota de Satanás, e um perdão disponível a todos. Como Jesus viveu e morreu como homem, e assim derrotou Satanás, não mais tememos a morte. A paralisia causada pelo temor cessou, e nós corremos, exultantes, para a presença de Deus, ansiosos por viver o resto da nossa vida na sua presença. escolheu, voluntariamente, sofrer por nós. E nós podemos aprender com o sofrimento voluntário de Jesus. Façamos o objetivo de realizar a vontade de Deus tão central em nossas vidas, de modo que, quando “tivermos que” sofrer para obedecer, nós desejaremos reagir, não importando o custo. Aplicação Pessoal Quando você realmente “quiser” agradar a Deus, as coisas que você “terá que” fazer se tornarão uma alegria. Citação Importante “Eu serei cristão. Como uma linha vermelha que percorre a minha vida, que o concerto me obrigue a estar nos caminhos de Jesus e de acordo com a sua vontade. Eu serei cristão. Com meu corpo, minha mente, e meu espírito, centrados em Cristo, para que eu possa descobrir a sua vontade; para que eu possa andar pelos seus caminhos; para que eu possa con­ quistar meus colegas; e para que, ‘em todas as coi­ sas, Ele possa ter a proeminência’. Eu serei cristão. Com minha voz de paixão, em uma época que se tornou fria e cínica, por causa da fé vacilante e de obras acanhadas; com minha respos­ ta ao chamado macedônio, de continentes espiritu­ ais não conquistados e não explorados. Eu serei cristão. No meu coração, no meu lar, no meu grupo, na minha nação — agora, para ajudar a salvar a América, para que a América possa servir ao mundo. Eu serei cristão. Através de todas as linhas de cor e classe, em todos os relacionamentos humanos, independentemente de circunstâncias temporais, apesar de ameaças, e sem pensar em recompensas. Eu serei cristão. Para que o cristianismo possa se tornar tão militante quanto o fascismo; tão terrível contra o mal quanto o ódio que Deus tem do peca­ do; tão terno com os fracos quanto o seu amor pe­ las criancinhas; tão poderoso quanto a oração dos justos, e tão sacrifical quanto a Cruz no Calvário. Eu serei cristão... e que Deus me ajude.” — Daniel A. Poling

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Hebreus 3.1— 4.13

28 DE NOVEMBRO LEITURA 332 MAIOR D O QUE MOISÉS Hebreus 3.1 — 4.13

“[Jesus] é tido por digno de tanto maior glória do que Moisés, quanto maior honra do que a casa tem aquele que a edificou” (Hb 3.3). Dar ouvidos à Palavra de Jesus é a nossa chave para o repouso. Visão Geral Jesus é superior a Moisés, o legislador (3.1-6). A geração que Moisés liderou havia deixado de obe­ decer à voz de Deus e, como resultado, não pôde entrar no repouso de Deus (w. 7-19). A promessa de entrar no repouso de Deus ainda permanece, como no tempo de Moisés, Josué e Davi (4.1-8). Nós entraremos neste repouso por meio de uma fé expressa na obediência à Palavra viva e ativa de Deus (w. 9-13). Entendendo o Texto “Como também ofoi Moisés em toda a sua casa” (Hb 3.1-6). Os anjos podem ser superiores aos homens. Porém, um ser humano dominou a história de Is­ rael. Este homem, Moisés, foi o porta-voz de Deus, e, embora seu irmão Arão servisse como sumo sa­ cerdote, foi ele quem, em oração, representou fiel­ mente o povo junto a Deus. Para o judeu piedoso, até mesmo os anjos dificilmente pareceriam supe­ riores a Moisés, o legislador. E assim o autor da epístola aos Hebreus enfren­ tou este desafio. O “apóstolo e Sumo Sacerdote” da nossa fé, cujo papel corresponde ao de Moisés, é Jesus Cristo. E Ele é maior do que Moisés. Jesus é o Construtor da casa de Deus, da qual Moisés faz parte. Moisés foi fiel como servo, mas Cristo é fiel como Filho. A consequência é que a revelação que Jesus trouxe é superior àquela que foi trazida por Moisés! Quando o autor escreveu: “considerai a Jesus”, ele estava conclamando o leitor a comparar Cristo com Moisés, não para menosprezar Moisés, mas para ver o quanto Jesus é maior do que ele, que é o maior dos homens. Para nós, “considerai” tem outra implicação. Se Moisés foi tido em tão elevada consideração, a ponto de os israelitas comuns se­ rem tão zelosos para guardar os seus mandamentos, quanto mais dedicados devem ser os cristãos para cumprir tudo o que Jesus ordena?

A ideia central é que, quando a Palavra de Deus foi transmitida por Moisés à geração do Êxodo, o que eles ouviram foi a própria voz de Deus, falando com eles, no seu tempo. Esta geração endureceu seu coração para a Palavra de Deus. Eles não confiaram em Deus e recusaramse a obedecê-lo. Como resultado, a geração que Moisés tirou do Egito peregrinou durante décadas no deserto, sem jamais conseguir entrar na Terra Prometida. A descrença e a desobediência têm consequências trágicas. Sempre que nós ouvirmos a voz de Deus, é essencial que confiemos nEle e obedeçamos.

“Durante o tempo que se chama Hoje”(Hb 3.12-15). O que é “Hoje”? E agora, este momento, e cada momento do nosso futuro, enquanto você e eu vi­ vermos sobre esta terra. A maravilhosa mensagem de Hebreus 3 e 4 é que Deus ainda tem uma voz hoje! Ele está sempre aqui, sempre falando conosco, sempre nos convi­ dando a responder à sua orientação. Um dos propósitos mais importantes da igreja é pro­ porcionar uma comunhão em que nós incentivemos uns aos outros a responder à voz de Deus, quando Ele fala. Enquanto você viver, será “hoje” para você. Em cada um dos seus “hojes”, você precisa ouvir a voz de Deus, de orientação, direção ou comando. A participação ativa em uma igreja local e a construção de relacionamentos com outras pessoas que amam ao Senhor podem ajudar a manter-lhe sensível à sua voz e pronto a responder positivamente.

“Por causa da sua incredulidade” (Hb 3.16-19). Ou­ tra palavra essencial nesses capítulos é “repouso”. O “repouso” específico que se tem em mente nesta passagem muda com o desenrolar do argumento. No início, há o repouso para os israelitas peregri­ nos reservado em Canaã (v. 19). Posteriormente, há a vitória total sobre os inimigos em Canaã (4.8). Mas estes são apenas exemplos para nos ajudar a perceber como é o repouso prometido para os crentes de hoje. Qualquer pessoa que tenha ouvido e respondido à mensagem de Jesus está convidada a experimentar um repouso de total paz interior. Somente uma coisa nos impede: a mesma que con­ denou a geração do Êxodo a anos de peregrinação sem realização. E isso é o fracasso em confiar em Deus completamente; um fracasso exibido em nos­ sa recusa em responder à sua voz. Você pode ser salvo e infeliz. Você pode ser um cristão e ansioso. Você pode ser convertido, e to­ “Se ouvirdes hoje a sua voz” (Hb 3.7-11). Esta cita­ talmente sem realização. E certamente você o será, ção de Salmos 95.7-11 define o tema desta segunda se endurecer o seu coração e deixar de responder passagem de “advertência” na epístola aos Hebreus. quando ouvir a voz de Deus em seu “hoje”.

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“Deixada a promessa de entrar no seu repouso” (Hb 4.1,2). Que tremenda mensagem de esperança. Talvez você tenha sido um cristão desobediente. Talvez você possa relembrar anos desperdiçados e oportunidades perdidas. Talvez você sofra com relacionamentos tão enredados e distorcidos, que estão além da cura. Mas, seja o que for que tenha acontecido com você ontem, está “deixada a pro­ messa de entrar no seu repouso”. Você ainda tem Hoje. E Deus diz: “Hoje, se você ouvir a sua voz”. Deus não diz: “Ontem, se você a tivesse ouvido”. Cada “hoje” nos dá um novo começo, uma nova oportunidade. Se você ouvir a sua voz hoje e responder com fé e obediência, ainda pode experimentar o seu repouso! Você ain­ da pode conhecer a paz e um amanhã cheio de alegria. “Embora as suas obras estivessem acabadas desde a fundação do mundo” (Hb 4.3,4). Os rabinos judeus observaram que, no relato da criação, do Gênesis, a descrição de cada dia de criação é concluída com: “e foi a tarde e a manhã”. Mas não se encontra uma frase de encerramento desse tipo na descrição do sétimo dia. Os rabinos sabiamente concluíram que o sétimo dia não teve fim: Deus é ativo, mas está em repouso. Qual é o significado deste comentário? Simples­ mente que, nos seis dias da criação, Deus colocou em movimento um universo cujos séculos Ele já tinha determinado. Deus repousou no sétimo dia porque não há contingência que Ele não tenha pla­ nejado. Não há um problema sequer para o qual Ele já não tenha encontrado a solução. Não há necessidade cuja satisfação Ele já não tenha pro­ videnciado. Você já percebeu que o que nos esgota é a tensão do trabalho, e não o trabalho em si? E a incerteza, as dúvidas, os obstáculos inesperados, a ciência de que, não importa o quanto nós tentemos, muitas coisas estão além do nosso controle. O sábado nos lembra de que esta tensão não existe para Deus. Ele é ativo, operando em nós e em nosso mundo, mas, em seu trabalho, Ele está em repouso, sustentado por paz e certeza perfeitas.

DEVOCIONAL______ A Palavra de Deus (Hb 4.1-13)

Você já percebeu que, quando lê a Bíblia, tende a imaginar um tom de voz? Ao ler algumas passa­ gens, como o Salmo 23, nós imaginamos um tom caloroso e amoroso. Ao ler outras passagens, quase

Que Deus nós temos! E que convite, para que nós entremos em “seu repouso”! “Resta ainda um repouso para o povo de Deus” (Hb 4.5-11). O autor mencionou Josué e Davi para mostrar que a antiga promessa de Deus de “repou­ so” não foi totalmente cumprida quando Israel, por fim, tomou posse da Terra Prometida. A en­ trada em Canaã, a vitória sobre os cananeus, e até mesmo as campanhas bem-sucedidas de Davi para expandir o reino de Israel foram meras metáforas — símbolos de uma realidade muito mais signifi­ cativa do que estes eventos históricos essenciais. O fato de que cada um desses períodos da história sagrada seja identificado como um “Hoje” também serve para nos lembrar de que “Hoje” é aqui e agora, para você e para mim. Quando nós ouvirmos a voz de Deus, podemos responder, e, ao responder, encontrar o repouso de sábado de que o próprio Deus desfruta! Mas por que o autor nos diz: “Procuremos, pois, entrar naquele repouso”? O que é este repouso, e como nós o experimentamos? E o próprio repouso de Deus. E o domínio em que o futuro está assegurado, pois cada contingência foi planejada. Nós entramos neste repouso, responden­ do à voz de Deus com fé e obediência. AquEle que conhece o futuro pode e nos guiará em segurança pelo nosso “hoje”. A voz daquele que solucionou todos os problemas nos conduzirá às suas soluções. A voz daquele que conhece cada necessidade nos guiará ao lugar onde as nossas necessidades serão satisfeitas. A nossa luta não tem como principal finalidade encontrar o nosso caminho para o ama­ nhã, mas submeter-nos à sua vontade, para que Ele possa nos guiar para onde devemos ir. O resultado da submissão total a Deus e da obe­ diência à sua Palavra é o repouso. Repentinamen­ te, e inexplicavelmente, nós nos encontramos em paz. Os perigos são abundantes. Decisões difíceis devem ser tomadas. As circunstâncias continuam além do nosso controle. Mas, submetendo-nos a Jesus, repousamos das nossas próprias obras para confiar completamente nEle. E assim encontramos o repouso de sábado, que nos é prometido pelo nosso Deus. ouvimos desaprovação ou ira. Na verdade, o tom de voz que imaginamos é mais útil, ou prejudicial, quando se trata de realmente compreender a Pala­ vra de Deus. Veja, por exemplo, os versículos que concluem esta fascinante passagem sobre o repouso de Deus. Eu

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suspeito de que muitos indivíduos tendam a ouvir um tom áspero e ameaçador quando leem que a Palavra de Deus é mais penetrante do que qualquer espada, que ela é apta para discernir os pensamen­ tos e intenções do coração, e que “não há criatura alguma encoberta diante dele”. Mas, se você imaginar um tom ameaçador quando ler, perderá a mensagem completamente! Você percebe, o autor nos estava dizendo que Deus tem um presente maravilhoso para nós — um re­ pouso interior e uma paz que você e eu experimen­ tamos ao respondermos à sua voz, quando Ele fala conosco no nosso “hoje”. Isso parece maravilhoso. Até que perguntemos: Onde nós devemos ouvir essa voz? Como nós a reconheceremos? Deus fala comigo pessoalmente, e não com todos? A resposta simples está na Bíblia. Este livro, que é rico em verdades reveladas para toda a humanida­ de, é também a Palavra viva e ativa de Deus para o crente. Como isso é possível? Muito simplesmente, a Palavra de Deus, embora escrita por homens, é um canal sobrenatural pelo qual Ele fala pessoal­ mente com o indivíduo. A Palavra de Deus é um bisturi tão penetrante, que é capaz de dissecar cirurgicamente o nosso ser mais interior. A Palavra viva e ativa de Deus avalia até mesmo os nossos pensamentos e atitudes. Nada está oculto de Deus, e, pela Palavra que Ele nos deu, Ele penetra em nossas consciências para falar com cada um de nós como um indivíduo. A voz de Deus é ouvida na Palavra de Deus. E a Palavra que é a sua voz ecoa em sermões e em aulas e em conversas cristãs. Quando formos sensíveis a Deus e procurarmos a sua orientação, nós ouvire­ mos a sua voz, falando diretamente aos nossos co­ rações. Quando respondermos à voz que ouvirmos, encontraremos a promessa cumprida em nossos corações. Hoje, experimentamos o seu repouso e encontramos paz interior.

Aplicação Pessoal

Hoje, se você ouvir a sua voz, não endureça o seu coração, perdendo a paz prometida.

Citação Importante

cernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados” (Hb 5-1). Tendo Jesus como nosso Sumo Sacerdote, nós po­ demos nos aproximar do trono de Deus com con­ fiança.

Visão Geral

Ter Jesus como Sumo Sacerdote garante que se­ remos bem-vindos à preciosa presença de Deus e aceitos por Ele (4.14-16), pois Jesus, a quem Deus nomeou para nos representar (5.1-6), é também a fonte da nossa salvação (w. 7-10). Para alcançar a maturidade, nós precisamos edificar sobre esta fun­ dação (w. 11.6-3), a qual não pode ser lançada ou­ tra vez (w. 4-6). Enraizados na fé, nós produzire­ mos o fruto que acompanha a salvação (w. 7-12), repousando nas promessas irrevogáveis que Deus nos fez, em Cristo Jesus (w. 13-20).

Entendendo o Texto

“Como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb 4.14-16). “Mas você não compreende”, pro­ vavelmente sejam as palavras mais comuns que um pastor ou conselheiro cristão ouve. Cada um de nós tem a tendência para pensar que os nossos pro­ blemas, as nossas tentações, são únicos. Pois não são. Cada ser humano é tentado nas mesmas coisas — nos relacionamentos com os outros, na vulne­ rabilidade à dor, nas pressões além do seu controle etc. E verdade que nem todos conhecem a dor da rejeição causada por um cônjuge determinado a divorciar-se. Mas até mesmo a nossa filha de nove anos conhece a dor da rejeição causada por uma boa amiga, que, por causa de um mal entendido, pega a sua metade do “colar de melhor amiga”, co­ bre seus ouvidos com as mãos e diz: “Nunca mais vou falar com você”. Isso é o que o autor nos diz a respeito de Jesus. Em sua humanidade, Cristo experimentou todos os ti­ pos de tentação — até mesmo a vulnerabilidade da humanidade. Ele sentiu a dor da rejeição, a aflição da fome, a hostilidade das multidões, o medo da sua morte vindoura. E, como Ele conhece exata­ mente o quanto é doloroso ser um humano, Ele é capaz de “compadecer-se das nossas fraquezas”. Pense nisto, na próxima vez que você estiver so­ frendo. Pense em Jesus, o Homem; lembre-se de quão completamente Ele entende. Então, sem he­ sitar, venha confiantemente ao trono onde Deus distribui a graça e receba a misericórdia e a ajuda que Ele está tão desejoso de derramar sobre você.

“Começar de novo, pacientemente e com alegria e esperança, é a marca do cristão. Uma das definições úteis de cristianismo é a seguinte: a vida cristã é uma série de recomeços.” — John B. Coburn 29 DE NOVEMBRO LEITURA 333 O NOSSO SUMO SACERDOTE Hebreus 4.14— 6.20 “Porque todo sumo sacerdote, tomado dentre os ho­ “Todo sumo sacerdote” (Hb 5.1-10). O autor con­ mens, é constituído a favor dos homens nas coisas con­ tinuou a desenvolver o tema da humanidade de

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Jesus, para mostrar como ela se relaciona com o seu sacerdócio. Nenhum anjo poderia servir como sumo sacer­ dote, pois nenhum anjo poderia compreender as nossas fraquezas e “compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados” (v. 2). E preciso um ser hu­ mano, conhecedor das fraquezas humanas, para ser sensível às necessidades humanas e, dessa maneira, representar-nos diante de Deus. Que maravilha é isto. Jesus veio para conhecer a angústia da vulnerabilidade. Jesus, aproximando-se da cruz, “ofereceu dons e sacrifícios pelos pecados”. Um dos autores dos Evangelhos nos diz que a sua agonia foi táo grande, que Ele suou gotas de san­ gue. Oh! Sim. Jesus nos compreende, muito mais do que nós compreendemos as nossas próprias fra­ quezas. Ele resistiu a todas as tentações, experimen­ tando assim plenamente as fraquezas do homem. A ideia aqui é importante. Suponha que dois ami­ gos iniciem uma dieta. No primeiro dia, eles sen­ tem fome, e um deles diz: “Eu preciso comer um doce!” E come. O outro diz: “Eu também preciso comer um doce, mas não vou comer!”. Em vez dis­ so, ele persevera, fiel à dieta, durante seis semanas. Qual deles, você acha, realmente compreende a fome e o anseio por comida? Aquele que cedeu à sua fome no primeiro dia, ou aquele que conviveu com ela durante seis semanas? E isso o que o texto diz sobre Jesus. Ele entende as nossas fraquezas porque jamais cedeu a elas! Jesus viveu, dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano, com todas as nossas vulnerabilidades, e jamais, nem uma única vez, cedeu a elas. E, nesse processo, Ele se fez perfeito como nosso Salvador. Não que houvesse qualquer mudança em sua natureza essencial como Deus. Ele se fez perfeito no sentido de estar plenamente equipado, sofrendo para nos compreender, pois, pelo sofri­ mento, Ele aprendeu o que significa ser humano. Porque o nosso Sumo Sacerdote se tornou homem e viveu como homem entre nós, Ele é capaz de “compadecer-se ternamente” dos que são ignoran­ tes e tão inclinados a desviar-se. Jesus entende as nossas fraquezas. Ele não condena. Ele salva. E Ele se preocupa. "Em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir” (Hb 5.11-14). O autor parecia mais do que um pouco desconcertado porque os seus leitores ainda não tinham percebido que maravilhoso Sumo Sacerdote nós temos em Jesus, e não tinham amadurecido. Ele expressou o seu aborre­ cimento. Mas também nos transmitiu a chave para a maturidade. Nós nos tornamos maduros, usando

constantemente a verdade que Deus revelou para distinguir o bem do mal. Não confunda possuir informação com ser madu­ ro. A capacidade de citar longas passagens das Es­ crituras ou de discutir teologia não significa nada. O que leva um crente à maturidade é o esforço consciente para distinguir entre o bem e o mal, com base em critérios estabelecidos pela Palavra de Deus. A diferença entre “leite” e “alimento” não é uma diferença entre um conhecimento superficial e um conhecimento abrangente da doutrina cris­ tã. Não é uma diferença entre um pouco de co­ nhecimento e muito conhecimento. A diferença é encontrada na maneira como nós processamos as Escrituras. Para aqueles que ouvem, mas não apli­ cam as Escrituras, as verdades que eles conhecem são leite. Mas, para aqueles que ouvem e aplicam a Palavra de Deus, as mesmas verdades tornam-se alimento sólido e nutritivo. “Prossigamos até a perfeição" (Hb 6.1-6). E impor­ tante observar que esta famosa passagem de adver­ tência, na epístola aos Hebreus, preocupa-se com a maturidade, e não com a salvação. Alguns ficaram profundamente preocupados com a possibilidade de que pudessem “recair”, afastando-se da salvação, incapazes de “ser renovados para o arrependimen­ to”. No entanto, como toda a seção de 5.11— 6.12 lida com a maturidade, é melhor não pressupor que o autor tenha passado, no meio do pensamento, para um assunto diferente. O que diz a passagem? Em primeiro lugar, que a fundação sobre a qual nós edificamos as nossas vidas já foi lançada, em Cristo. Quando nós con­ fiamos nEle, nosso grande Sumo Sacerdote, já esta­ mos sobre a fundação. Agora, precisamos construir sobre ela, e não lançá-la outra vez. A imagem que eu contínuo vendo é a de uma pes­ soa aterrorizada, estirada sobre uma sólida funda­ ção de cimento, lançada sobre rocha sólida. Esta pessoa está cavando com as suas unhas e agarrando-se a sua vida, aterrorizada com a possibilidade de cair da fundação. O problema é que, uma vez que ela está ali, agarrando-se, o restante da casa não pode ser edificado! A madeira para a estrutura e as treliças para o telhado estão ali, no chão, mas nada pode ser feito, enquanto o homem estiver ali, agarrando-se à fundação como se a sua vida depen­ desse disso. O nosso relacionamento com Deus, por intermé­ dio de Jesus, não é assim! Em Cristo, Deus lançou uma fundação sobre a qual nós estamos seguros. Em vez de devotar toda a nossa energia, agarrandonos, devemos dedicar a nossa energia, edificando

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a fluência do poder da ressurreição? Vocês querem crucificar Jesus outra vez, e, por um novo sacrifício, ser trazidos de volta ao arrependimento? Impossí­ vel! Que desgraça, esta sugestão de que a obra de Jesus por vocês não foi suficiente.” “De novo crucificam o Filho de Deus”(Hb 6.4-6). As Graças a Deus, a obra de Jesus, como nosso Sumo questões de morte, fé e ressurreição, rodas foram Sacerdote, foi suficiente. E nós estamos a salvo e solucionadas com a morte de Cristo. O problema seguros nEle. com as pessoas em pânico, a quem o autor se diri­ gia aqui, era que elas não tinham percebido o que “Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores” significava a incerteza sobre o seu relacionamento (Hb 6.7-12). O autor passou das imagens da cons­ com Deus. Assim, o autor, com mais do que uma trução para a da agricultura. Deus quer que nós indicação de sarcasmo, fez uma pergunta hipotéti­ produzamos uma colheita útil. E, devido ao nos­ ca. Nós podemos ver isto claramente nesta paráfra­ so relacionamento com Jesus, nós o faremos! Boas coisas realmente acompanham a salvação: coisas se desses versículos críticos: “O que vocês querem fazer? Considerar o seu fra­ como trabalho e amor, demonstrados a Deus, e casso como um afastamento de Deus, de modo que ajuda oferecida ao seu povo. o acesso está perdido? Como, então, vocês pode­ Estas são as coisas em que devemos nos concentrar. riam ser restaurados — vocês, que foram esclareci­ Nós não devemos ficar ansiosos quanto à nossa dos, que provaram o dom celestial, que se fizeram salvação. Podemos colocar toda a nossa energia a participantes do Espírito Santo, e que conheceram serviço de Deus e dos outros.

sobre a fundação que Deus lançou. Depois que percebermos o quanto estamos seguros, podemos andar com muita alegria e prosseguir rumo à ma­ turidade.

DEVOCIONAL______ Deus não Mente (Hb 6.13-20)

Eu gosto deste ditado familiar. Já o vi em adesivos de pára-choques. “Deus disse. Eu acredito. E isto encerra a questão.” Naturalmente, para algumas pessoas, isto não defi­ ne a questão. Este foi o problema com algumas das pessoas a quem a carta aos Hebreus foi destinada. E assim o autor inventou o seu próprio adesivo de pára-choque. Deus prometeu. Deus jurou que manteria a sua promessa. E isto define a questão, isto é certo. Não é que Deus, que não mente, tenha prometi­ do nos abençoar. Deus selou a sua promessa com um juramento, cumprido no sangue do seu único Filho. Para começar, Deus não mentiria. Mas Ele nunca, jamais, consideraria violar um juramento que tivesse feito a um custo tão inimaginável. Por que Deus se esforçou dessa maneira para confir­ mar a sua promessa? Porque Ele sabia como nós somos vulneráveis ao temor e à dúvida. Ele sabia o quanto a nossa fé pode ficar fraca, às vezes. E assim, não porque Ele precisasse fazer isto, mas como uma âncora para a esperança que temos em Cristo, Deus prometeu, e Ele fez o seu juramento para nos tranquilizar. Que Deus gracioso nós temos! E como não temos razões para duvidar dEle! O que Deus nos prome­ teu em Cristo é nosso. Em Jesus, nós temos uma “âncora da alma segura e firme”.

Aplicação Pessoal

Não confie em sua capacidade de continuar cren­ do. Confie na capacidade que Deus tem de manter as suas promessas.

Citação Importante

“A fé é uma confiança viva e corajosa na graça de Deus. E tão certa e segura, que um homem poderia depositar nela a sua vida mil vezes.” — Martinho Lutero

30 DE NOVEMBRO LEITURA 334 UM CONCERTO M ELHOR Hebreus 7— 8

“Mas agora alcançou ele ministério tanto mais exce­ lente, quanto é mediador de um melhor concerto, que está confirmado em melhores promessas” (Hb 8.6). Por causa de Jesus, Deus não se lembra mais dos nossos pecados.

Visão Geral

Cristo não é um sacerdote levita; o seu sacer­ dócio é de uma ordem completamente diferente (7.1-11). Assim, cada elemento do sistema mo­ saico é também substituído: a sua Lei ineficaz (w. 12-19), o seu sacerdócio mortal (w. 21-28), os seus dons e sacrifícios inadequados (8.1-6). Cristo instituiu o prometido Novo Concerto,

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que traz o perdão e a renovação a todos os que feita para adequar-se ao tamanho e ao motor do creem (w. 7-13). modelo de carro que você dirige. Se você mudar o tamanho da transmissão, está claro que você terá Entendendo o Texto que mudar de veículo, se desejar que ela sirva. “Este Melquisedeque... era rei de Sdlém e sacerdote A epístola aos Hebreus nos diz que Deus forneceu do Deus Altíssimo” (Hb 7.1). Hebreus 6.20 diz que um veículo completamente novo, em que nós, que Jesus é um Sumo Sacerdote “segundo a ordem de cremos em Cristo, viajamos agora com Ele. O mo­ Melquisedeque”. O seu sacerdócio origina-se de delo antigo, o da Lei do Antigo Testamento, está Melquisedeque, e não de Arão. obsoleto. Com a mudança no sacerdócio, todo o Mesmo antes de explicar as implicações, o autor resto mudou. esforçou-se para mostrar que o sacerdócio de Me­ Isto deve ser verdade também em nossas vidas. lquisedeque é maior do que o de Arão. Esse ho­ Quando Jesus entra nelas, tudo muda — e deve mem, que aparece rapidamente no relato da vida de mudar. Nós não podemos continuar da maneira Abraão, no Antigo Testamento (Gn 14.18-21), era como estávamos. A “vida incorruptível” de Jesus um rei (Hb 7.2). Uma vez que nenhuma menção é nossa. Devemos aprender a fazer com que tudo ao seu nascimento ou à sua morte é feita no An­ se harmonize com Jesus, que entrou em nossa vida tigo Testamento, ele aparece nas Escrituras como para nos tornar santos, sim, novas criaturas. “sacerdote para sempre” (v. 3). Visto que Abraão, o ancestral de Arão, pagou dízimos a Melquisedeque, “A lei nenhuma coisa aperfeiçoou” (Hb 7.18,19). A a implicação é que Arão, na pessoa de seu antepas­ perda da Lei não era um desastre, pois ela era “fraca sado, reconheceu a sua superioridade (w. 4-10). e inútil”. Aqui, novamente, o autor incluiu todo o Ainda hoje, o nome familiar de uma pessoa tem sistema, com o seu código de conduta, o seu sacer­ importância. Este é um dos motivos por que uma dócio, os seus sacrifícios e a sua adoração. O siste­ empresa japonesa comprou recentemente a parti­ ma do Antigo Testamento não conseguiu tornar os cipação majoritária em uma empresa Rockefeller. homens melhores, nem trazê-los mais próximos a Com isso, eles compraram o direito de usar o nome Deus. “Rockefeller” em sua publicidade! Isto é algo que devemos recordar. Regras e regula­ A linhagem familiar — o nome da pessoa de quem mentos não são úteis, se nós quisermos nos apro­ se origina a identidade de alguém — era particu­ ximar de Deus. O que importa é a obra que Jesus larmente importante no judaísmo. E assim o autor fez por nós na cruz. E a obra que Cristo ainda está esforçou-se para mostrar que o sacerdócio de Jesus realizando como Sumo Sacerdote, dispensando não é arônico, mas a sua origem vem de um nome tanto misericórdia como graça, para nos ajudar em mais antigo e honrável. nossas horas de necessidade (4.16). Para nós, o nome de quem se origina a nossa identi­ dade é Jesus Cristo. Nós exaltamos este nome sem­ “Jesus vive sempre” (Hb 7.20-25). A citação de Sal­ pre que nos identificamos como cristãos. Pelo fato mos 110.4 esclarece um ponto vital. Deus nos deu de o nome de Cristo ser tão honorável, é vital que um Sacerdote que pode nos garantir a salvação, tudo o que nós façamos coopere para que ele brilhe pois Ele fez um juramento: “Tu és sacerdote eter­ ainda mais. E que nada que nós façamos venha a namente”. manchar sequer uma letra desse precioso nome. Somente em alguém que vive eternamente esta promessa poderia ser realizada. E somente Deus Mudando-se o sacerdócio, necessariamente se fa z Filho, Jesus, que vive sempre, poderia ter um sacer­ também mudança da lei” (Hb 7.11-17). O argu­ dócio permanente. mento pode parecer obscuro para nós, mas era O que o sacerdócio permanente significa para nós? muito claro para o leitor judeu do século I. A Lei Outro dia, eu li sobre uma disputa legal em an­ dada por Moisés era um sistema cuidadosamente damento para invalidar um testamento. Há uma planejado que governava todo o relacionamento boa chance de que os planos que o morto tinha do crente com Deus e com os outros. O sacerdó­ para distribuir as suas propriedades não sejam exe­ cio era uma parte integrante desse sistema: ele foi cutados. A ressurreição de Jesus para a função de projetado para o sistema, e o sistema foi projetado Sumo Sacerdote nos diz que Deus garante o cum­ para ele. Se o sacerdócio mudasse, então todas as primento dos propósitos que Ele tinha em mente demais coisas, no sistema do Antigo Testamento, na morte de Cristo. Jesus morreu para fazer nossas seriam afetadas. as riquezas do céu. E Ele ressuscitou dos mortos Compare com o motor do seu carro. Se a transmis­ para supervisionar pessoalmente a distribuição des­ são tem um tamanho determinado, é porque foi sas riquezas!

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Não é de admirar que o autor dissesse que “Ele pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus”. A sua presença viva as­ segura que tudo o de que nós precisamos para garantir a nossa salvação será proporcionado por Ele. E observe estas palavras: “salvar perfeitamente”. Nós não somos simplesmente salvos por Jesus da punição pelos nossos pecados. Somos salvos do controle insidioso do pecado sobre nossos pen-

sarnentos e atos, todos os dias. Jesus é a fonte do nosso perdão, e a fonte da nossa transformação também. “Issofez Ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo” (Hb 7.26-28). Com a mudança no sacerdócio, todos os elementos do sistema do Antigo Testamento foram substituídos. Os sacrifícios inadequados do antigo sistema foram substituídos pelo sacrifício que Jesus fez de si mesmo, pelos nossos pecados.

DEVOCIONAL______ Novo! (Hb 8.7-13)

A revista Advertising Age ressaltou, há muito tempo, que as duas coisas mais atraentes que um vendedor pode dizer sobre o seu produto são: “Novo!” e “Grátis!”. Mas este nem sempre é o caso. Eu tenho uma van de seis anos de uso, que já rodou aproximada­ mente 110 mil quilômetros. Não quero uma van nova. Pretendo ficar com esta até que ela tenha rodado pelo menos 480 mil quilômetros. Por que comprar algo novo, se o que você tem funciona perfeitamente bem? E é exatamente isso o que o autor estava dizendo em Hebreus 8. O sistema antigo da Lei não fun­ cionava (w. 7,9,13). O concerto feito por Moisés, aqui chamado Antigo Concerto, “se tornou velho, e estava perto de acabar”. O que torna superior o Novo Concerto que Deus fez conosco em Cristo? Duas coisas. Ele fornece o perdão completo e total de todas as nossas iniquidades (v. 12). Como Cristo pagou pelos nossos pe­ cados, Deus não está mais obrigado a “lembrar-se” dos nossos pecados — no sentido de puni-los. E o Novo Concerto opera com uma finalidade bem definida: colocar “as minhas leis no seu en­ tendimento...” e “em seu coração as escreverei”. O Antigo Concerto gravou em tábuas de pedra os padrões a cuja satisfação os seres humanos pro­ varam ser incapazes. O Novo Concerto grava o desejo de agradar a Deus em nosso ser mais inte­ rior e nos leva a fazer as mesmas coisas que a Lei exigia, mas não conseguia produzir. Quando a questão é a fé, “Novo!” é realmente uma palavra que “vende”. Aqueles que já tentaram tudo e não conseguiram rornar-se o tipo de pessoa que eles, e Deus, querem que sejam, podem voltar-se para Jesus e encontrar-se perdoados e renovados. E, caso você não tenha percebido, a outra palavra de venda também se aplica aqui. A salvação que nos é oferecida em Cristo não nos custa nada.

Hebreus 8.1-6 nos lembra de que tudo, no sistema do Antigo Testamento, tinha um significado, mas este era principalmente simbólico. Os dons e as ofertas feitas pelos sacerdotes do Antigo Testamento eram exemplos vívidos do que Jesus faria no santuário celestial, de que o Tabernáculo e o Templo terrenos eram meros “exempla­ res e sombras”. Cristo é a realidade, e a sua obra conquis­ tou para nós uma salvação completa.

Aplicação Pessoal

A melhor publicidade para o cristianismo é o cris­ tão, que possui uma vida nova e aperfeiçoada.

Citaçáo Importante

“Nós devemos ser cristãos com letras garrafais, para que não seja necessário que os outros convi­ vam por muito tempo conosco, nem nos exami­ nem através de binóculos, para detectar o nosso verdadeiro discipulado. A mensagem da nossa vida deve assemelhar-se aos grandes anúncios que podem ser lidos na rua por todos os que passam.” — F. B. Meyer

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1 D E DEZEM BRO LEITURA 335 O SANGUE DE CRISTO Hebreus 9 “Quanto mais o sangue de Cristo, que, pelo Espíri­ to eterno, se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará a vossa consciência das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?” (Hb 9.14)

momento, Ele está dedicando atenção total e ime­ diata à sua necessidade. Hebreus 4.16 nos assegura de que podemos comparecer diante do trono da graça com confiança — mesmo se precisarmos de misericórdia, porque nos desviamos e pecamos! E certamente podemos ir à presença de Deus para encontrar a graça que nos ajude e nos fortaleça, quando sentirmos algum tipo de pressão ou tiver­ mos qualquer necessidade. Que privilégio, correr sem hesitar à presença de Deus com certeza absoluta de que Ele nos rece­ berá!

Yisáo Geral O foco da adoração do Antigo Testamento era o sacrifício de sangue, oferecido no Dia da Expiação (9.1-7), embora este sacrifício repetitivo fosse inca­ paz de purificar os adoradores (w. 8-10). O sangue “Por seu próprio sangue” (Hb 9.11,12). Por toda a de Cristo, no entanto, nos purifica e nos traz o per­ Escritura, o sangue tem uma importância singular. dão (w. 11-22). O seu sacrifício único nos traz a O sangue foi derramado para fornecer as peles de salvação completa (w. 23-28). animais que cobriram a nudez de Adão e Eva, para os sacrifícios mencionados no livro de Gênesis, Entendendo o Texto e para os sacrifícios ordenados na Lei do Antigo “Um santuário terrestre” (Hb 9.1-6). Anteriormen­ Testamento. O sangue era tão significativo, que o te, o autor observou que o Tabernáculo terrestre povo de Deus estava proibido de comê-lo ou bebêera “exemplar e sombra” das realidades celestiais lo, pois Levítico 17.11 dizia: “Porque a alma da (8.5). Aqui, ele sugeriu que tudo era projetado com um único foco. O Tabernáculo era um ambiente em que os sacerdotes podiam desempenhar os seus ministérios. O que há de mais importante na vida é o nosso relacionamento com Deus. Estabelecer e manter o relacionamento com Deus deve ser também o foco dos nossos esforços. “No segundo [tabernáculo], só o sumo sacerdote [en­ trava], uma vez no ano” (Hb 9.7-10). O Taberná­ culo e o Templo eram destinados a retratar uma aproximação a Deus em etapas. Um israelita podia entrar no átrio exterior, trazendo uma oferta para que o sacerdote sacrificasse. Um sacerdote comum podia entrar no primeiro tabernáculo da estrutu­ ra, no interior do átrio. Mas somente o sumo sa­ cerdote, e apenas uma vez por ano, podia entrar no santuário interior da casa de adoração, onde se considerava estar a presença de Deus. Esta entrada por etapas traduzia uma mensagem importante. Embora Israel fosse o povo escolhido de Deus, os israelitas ainda não estavam purifica­ dos do pecado. Eles não tinham acesso direto e pes­ soal a Deus. Nem mesmo o sumo sacerdote podia entrar no santuário interior sem sangue sacrifical, o que proporcionava uma purificação temporária e simbólica para ele, assim como para o povo. Como é diferente para você e para mim. Por inter­ médio de Cristo, nosso Sumo Sacerdote, nós temos acesso direto a Deus — a qualquer momento! A qualquer momento em sua vida, você pode voltar seu coração para o Senhor, e saberá que, naquele

A epístola aos Hebreus nos lembra de que a Lei do Anti­ go Testamento tinha uma importante exigência: “Todas as coisas se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão” (w. 16-22). Aqui, um sa­ cerdote do Antigo Testamento esparge o sangue de um animal sacrifical sobre as pontas e a base do altar.

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carne está no sangue, pelo que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará expiação pela alma”. O sangue não representa apenas a vida, mas a vida derramada em sacrifício. Ainda mais significativo é o fato de que o sangue do Antigo Testamento prefigurava o sacrifício supre­ mo que viria. O sangue que permitia que o israelita se aproximasse de Deus era uma metáfora vívida do sangue que, um dia, seria derramado no Calvário; uma imagem da promessa da redenção total que viria. Sangue. Vida derramada em sacrifício. Esta é a fonte e a promessa da redenção eterna ob­ tida para nós por Jesus Cristo. “O sangue de Cristo... purificará a vossa consciência das obras mortas” (Hb 9.14). Todos nós, se exa­ minarmos o nosso passado, podemos facilmente identificar incidentes por que nos sentimos culpa­ dos e envergonhados. Estes incidentes alojam-se na consciência humana. Alojados ali, têm um terrível impacto sobre o nosso presente. Eles nos lembram dos nossos fracassos, impedindo-nos, dessa ma­ neira, de tentar outra vez. Criam uma sensação de terror e temor de Deus, pois sentimos que Ele nos punirá. Na melhor hipótese, levam a frenéticos es­ forços próprios para fazer algum tipo de compen­ sação pelo nosso passado, procurando agir melhor no futuro — esforços que apenas conseguem nos afastar cada vez mais do Deus que insiste que aban­ donemos os esforços próprios em favor da fé.

DEVOCIONAL______ Uma Vez, por Todos (Hb 9.23-28)

“De volta à máquina, querido.” A voz da enfermei­ ra era animada. Mas, embora fosse apenas a má­ quina que o mantinha vivo, ele temia entrar nova­ mente na sala branca e com odor de antisséptico. A máquina para diálise renal que o mantinha vivo também o lembrava da sua doença fatal. Ele não era livre, antes estava condenado a retornar sempre à máquina que purificava o seu sangue. Longe dela, a sua doença rapidamente assumia o controle imglacável do seu corpo e sugava toda a sua energia. E isso o que Hebreus 9 diz a respeito do sistema do Antigo Testamento (w. 6-9). O fato de que os sacrifícios expiatórios tinham que ser constante­ mente repetidos significava que os pacientes não ficavam curados! O pecado conservava o controle sobre eles, e eles somente se mantinham em comu­ nhão com Deus por meio de repetidas aplicações de sangue sacrifical.

Mas o autor da epístola aos Hebreus nos diz que o sangue de Cristo purifica a consciência. Toda culpa, toda vergonha, todas as cicatrizes causa­ das pelos nossos pecados são lavadas pelo perdão que jorrou com o sangue que foi derramado do nosso Senhor. Por causa do sangue de Cristo, nós ouvimos a mensagem: “serei misericordioso para com as suas iniquidades e de seus pecados e de suas prevaricações não me lembrarei mais” ( 8 . 12). Quando nós reivindicamos o perdão pela fé, a nos­ sa consciência é purificada e limpa. E, com uma consciência purificada, somos, por fim, capazes de “servir ao Deus vivo”. Talvez você tenha visto um brinquedo motorizado de criança, com seu volante fixo, girando em círculos. Ele não consegue romper este percurso circular. A sua direção é fixa. Assim éramos nós, antes de Jesus nos purificar. O pecado e a culpa tinham fixado o padrão das nossas vidas. Então, veio o perdão e preencheu o sulco que a culpa tinha provocado em nossas personalidades. Com essa purificação, também vem a capacitação. Nossas vidas mudam de direção. Nós começamos a seguir em direção à justiça e, à medida que pro­ gredimos, sentimos liberdade e alegria. Não viva sob o controle de culpas passadas. Aceite a Palavra de Deus de que o sangue de Cristo limpou o seu passado e deixe que o Espírito Santo torne isso real para você. Libertado do seu passado, você pode olhar à frente com alegria, confiante de que Deus o capacitará a servi-lo bem. O autor da epístola aos Hebreus proclamou a novi­ dade. Cristo, “na consumação dos séculos, uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado”. Em Cris­ to, e pelo seu único sacrifício, nós estamos curados. Estamos perdoados, purificados. Possuidores de uma vida nova e interminável, estamos equipados para amar e servir ao nosso Deus. Os repetidos sacrifícios do sistema do Antigo Tes­ tamento lembravam os adoradores de sua condição continuamente desesperadora. O sacrifício único de Cristo nos lembra da sua vitória completa. Não se permita ser arrastado de volta para o pecado pelo peso do seu passado. Por causa de Jesus, o passado não tem mais controle sobre você! Considere: O sangue de Cristo purificou você de todo o pecado! Com um único sacrifício, Jesus curou você e assegurou a vitória! Nós somos os co­ xos chamados para saltar e dançar. Somos os cegos chamados para ver. Somos os surdos que agora ou­ vimos. Pelo sacrifício de Jesus, que foi feito uma

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vez por todas, somos perdoados, curados e chama­ mente à nossa esperança em Cristo (w. 19-25), re­ dos para enfrentar a vida, alegrando-nos na certeza sistir ao pecado deliberado (w. 26-31), e perseverar de que a vitória de que precisamos já foi obtida! em fazer o bem até que Jesus venha (w. 32-39). Aplicação Pessoal Entendendo o Texto Deixe que o sacrifício de Cristo o liberte para viver Aperfeiçoar os que se chegam” (Hb 10.1-7). Uma pergunta crítica para qualquer religião não é o com confiança e alegria. que ela pede que você faça, mas o que ela faz com você. Citação Im portante “Certo domingo, aconteceu que o apóstolo João Até mesmo a fé do Antigo Testamento, com to­ não pôde estar na igreja com seus amigos, pois, dos os sacrifícios que exigia, só abrangia os pecados como Elias, como Jesus, ele tinha sido levado por dos adoradores. Os repetidos sacrifícios do Anti­ homens armados e estava na prisão. Mas Deus o go Testamento não podiam aperfeiçoar ninguém. consolou com uma visão: ele viu a comunhão cristã Esta era a única falha, porém devastadora, daquele naquela manhã, não como os homens a veem, mas sistema. E Cristo veio para cumprir a vontade de como é vista no céu. O seu espírito ascendeu; ele Deus e oferecer-se como o único sacrifício capaz de viu o trono da Glória e os quatro querubins cheios trazer o verdadeiro aperfeiçoamento. de olhos, ao redor e por dentro, que não dormiam, Ontem, meu filho mais jovem observou que o pro­ clamando: Santo, Santo, Santo. E viu o sacrifício, fessor da escola dominical da sua classe tem a noção o Cordeiro de Deus: um Cordeiro como havendo de que, se uma pessoa é um verdadeiro cristão, ela sido morto; um Cordeiro, o único digno de abrir deixará de pecar e nunca mais deslizará. Para ele, para a humanidade as abençoadas promessas de qualquer desvio do ideal é uma evidência de que Deus. Ele viu o Cordeiro, e então viu os anjos. Eu a pessoa jamais foi salva. Isso é uma simplificação olhei, disse ele, e ouvi a voz de muitos anjos ao exagerada. Qualquer coisa viva e em crescimento redor do trono, e era o número deles milhões de necessita de tempo para amadurecer. Os imaturos milhões e milhares de milhares, os quais com gran­ espiritualmente, como os imaturos fisicamente, de voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, têm a tendência para fazer coisas que um adulto de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, maduro jamais faria. E até mesmo os amadurecidos e honra, e glória, e ações de graças. Esta é a Santa às vezes fazem escolhas que não são apenas impru­ Ceia cristã. Certamente, quando nos reunimos ali, dentes, mas erradas. aqueles que estão conosco são mais do que os que Ainda assim, Cristo veio para fazer uma diferença estão do lado oposto. Pois todo o céu estará conos­ específica dentro de cada adorador. O seu sacrifício co, quando elevarmos os nossos corações ao Senhor foi um sacrifício aperfeiçoador, pois Ele veio para e louvarmos o Amor eterno, o Deus Único em três nos aperfeiçoar, para nos tornar adequados, tanto Pessoas, a saber, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, a interiormente quanto exteriormente, para que pos­ quem se imputa, como é muito justo, toda a glória samos adorar o Deus santo. e majestade, domínio e poder, agora e para todo o Não há nada que possamos fazer para retribuir a Deus sempre.” — Austin Farrer pelo presente que Ele nos deu: o seu Filho. Mas o mínimo que podemos fazer é abrir os nossos corações 2 D E DEZEM BRO LEITURA 336 para o seu Espírito e viver esta vida modificada, que é UM SACRIFÍCIO PERFEITO apropriada aos adoradores de Jesus Cristo. Hebreus 10 “Temos sido santificados pela oblação... de Jesus Cris­ “Este, havendo oferecido um único sacrifício pelos pe­ to, feita uma vez” (Hb 10.8-10). A santidade é um cados, está assentado para sempre à destra de Deus” conceito, de certa forma, assustador, até que nos (Hb 10.12). lembremos de que “santo” tem o significado bási­ co de ser consagrado a Deus, e de que a santidade A obra de Cristo está concluída no céu. Mas ela tem dois aspectos básicos. O aspecto cerimonial, continua em você e em mim. tão importante na adoração do Antigo Testamen­ to, agora já foi descartado por ser irrelevante. O Visão Geral que sobrou foi o aspecto pessoal da santidade: uma Os sacrifícios repetidos do Antigo Testamento não qualidade moral dinâmica de bondade ativa que podiam aperfeiçoar os adoradores (10.1-7), mas caracteriza o próprio Deus. nós somos santificados pelo sacrifício concluído de O que o autor da epístola aos Hebreus nos diz é Jesus (w. 8-18). Nós devemos nos agarrar firme­ que Deus, em Cristo, agiu para nos consagrar ou

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separar como seus. Mas, se nós quisermos ser de Deus, também devemos ser santos. E assim Ele infundiu algo de si mesmo dentro de nós. Jesus morreu para que nós pudéssemos ser como Deus, ativamente bons. Não passivamente bons, no sentido de apenas evi­ tar o mal, mas ativamente bons, no sentido de ex­ pressar, neste mundo, a compaixão e o amor que foram característicos de Jesus em sua encarnação. O mais importante que você ou eu podemos fazer na vida, reconhecendo que somos santos, é ser santos.

gação, contrato, acordo, convênio, pacto, tratado ou juramento. Use qualquer uma dessas palavras, ou qualquer outra, para convencer-se de que você verdadeiramente foi perdoado, e que Deus não mais se lembra dos seus pecados ou atos ilícitos. Convença-se de que o seu passado não mais está entre você e Deus. Depois que estiver convencido, você poderá deixar de preocupar-se com o seu passado e dedicará o seu futuro a servir a Deus como a pessoa santa que você é.

“Está assentado para sempre à destra de Deus“ (Hb 10.11-14). O sacerdote do Antigo Testamento sempre ficava em pé quando servia. O fato de que Jesus tenha se assentado, depois de ter se oferecido como sacrifício, indica que a sua obra estava feita. Não havia mais sacrifícios a oferecer. Jesus “aperfei­ çoou para sempre os que são santificados”. Por intermédio da morte de Cristo, você e eu fo­ mos aperfeiçoados. E estamos sendo santificados. Nós estamos no meio do processo de nos tornar­ mos o que somos. Esta é uma verdade emocionante. Você pode pegar um fruto de carvalho, segurá-lo em sua mão e saber com certeza que, se for plantado, crescerá um gran­ de carvalho. Este fruto não se tornará uma cana, nem uma espiga de milho, nem um gerânio. Ele se tornará um carvalho, pois, embora pareça muito diferente de uma árvore madura, é um carvalho e, com o tempo, se tornará um. Você e eu podemos parecer muito diferentes de Je­ sus. Mas Deus colocou a mesma natureza de Cristo em nós. Somos cristãos agora, e, com o passar do tempo, seremos cristãos. Somos santos agora, e, com o passar do tempo, seremos santos. Algumas pessoas obesas colocam seus retratos pre­ sos à porta da geladeira para se lembrar da sua apa­ rência. Normalmente, isso faz com que se sintam mal e não as ajuda em nada. Como é melhor o mé­ todo de Deus! Ele coloca em seu coração o retrato que tem do “você” ideal e lhe diz para agir como a pessoa que você é. Quando agimos em harmonia com a visão do nosso ser ideal, você e eu nos tor­ namos este ser. Nunca se permita sentir-se desencorajado por cau­ sa da lentidão do seu crescimento espiritual. Deus vê você perfeito diante da sua presença, com um caráter como o do seu próprio Filho. E isso o que você é, e quem você certamente se tomará. Não é de admirar que a passagem diga que os “que Ele aperfeiçoou para sempre” agora “são santificados”.

“Fiel é o que prometeu” (Hb 10.19-23). Quando eu era adolescente, arava a terra com um arado peque­ no puxado por uma parelha de cavalos. No início, fazia sulcos irregulares e tortuosos, enquanto luta­ va para manter firme o arado. Entáo meu pai me mostrou que, para fazer um sulco reto, eu tinha que deixar de olhar o chão à minha frente, fixar os meus olhos em marcos à minha frente, e mantê-los alinhados, enquanto me movia pelo campo. Nós temos marcos que nos guiam enquanto nos apro­ ximamos de Deus. Vemos Jesus, nosso sacrifício purificador. E vemos Jesus, nosso Sumo Sacerdote, diante do trono de Deus. Quando nós nos apegarmos, de forma inabalável, à esperança que isso nos proporciona, teremos “ou­ sadia para entrar no santuário” a qualquer momen­ to. “Para nos estimularmos [ao amor] e às boas obras” (Hb 10.24,25). O americano clássico é John Wayne como Rooster Cogburn, cavalgando sozinho ao encontro dos seus adversários com armas brilhan­ tes. O individualista rude nos atrai e serve como um ideal cultural. Pode ser americano, mas não é cristão. Nós não al­ cançamos a santidade sozinhos, correndo em rude desafio ao encontro dos nossos inimigos-, o pecado, Satanás e a tentação. Alcançamos a santidade quan­ do compartilhamos nossas vidas com os outros, da­ mos e recebemos encorajamento, estimulando uns aos outros ao amor e às boas obras. Não tente fazer isso sozinho. Deus nos deu a igreja de Cristo como apoio e ajuda. E Ele pretende que continuemos nos congregando com outros durante toda a nossa vida.

“Porque, se pecarmos voluntariamente” (Hb 10.2631). Este trecho da terceira advertência encontrada na epístola aos Hebreus (w. 19-39) está baseado na apresentação que o autor faz de Jesus como o sacri­ fício perfeito. E uma advertência dirigida àqueles “Este é o concerto” (Hb 10.15,16). Use qualquer que consideravam um retorno ao judaísmo. Sob o palavra que desejar. Use penhor, promessa, obri­ antigo sistema, sacrifícios individuais podiam ser

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feitos por pecados involuntários, mas o único sa­ crifício para pecados deliberados era o oferecido no Dia da Expiação pelo sumo sacerdote. Porém, o autor mostrou que até mesmo estes sacrifícios eram ineficazes, ao passo que o sacrifício único ofe­ recido por Jesus, o seu próprio sangue, aperfeiçoou os seus adoradores, e por isso jamais precisará ser repetido. Se aqueles que rejeitavam a Lei de Moisés eram apedrejados, perguntou o autor, o que você pensa

DEVOCIONAL______ Como Vivem as Pessoas Santas? (Hb 10.19-39)

Esta palavra, “santo”, continua aparecendo na epís­ tola aos Hebreus. Cristo nos purificou do pecado e nos fez santos. O seu sacrifício nos aperfeiçoou para sempre e nos santificou (v. 14). Isto é maravi­ lhoso. Mas não nos ajuda, a menos que possamos visualizar como vivem as pessoas santas. Aqui está uma lista de características das pessoas santas, extraídas dos versículos 19-39. * Pessoas santas aproximam-se de Deus com total certeza de fé (v. 19). * Pessoas santas apegam-se firmemente à esperança que os cristãos professam (v. 23). * Pessoas santas estimulam umas às outras ao amor e às boas obras (v. 24). * Pessoas santas congregam-se regularmente para admoestar umas às outras na fé (v. 25). * Pessoas santas não pecam voluntariamente (v. 26). * Pessoas santas estão dispostas a sofrer insultos e perseguições quando lhes são infligidos (v. 33). * Pessoas santas apoiam as que são maltratadas (v. 33). * Pessoas santas permitem a espoliação de seus bens sem rejeitar a sua confiança (w. 34,35). * Pessoas santas simplesmente tentam fazer a von­ tade de Deus, considerando que esta é a coisa mais importante nesta vida (v. 36). * Pessoas santas esperam que Jesus venha em um poucochinho de tempo, e estão satisfeitas em es­ perar as recompensas até que isso aconteça (w. 36-39). Isso não parece tão difícil, parece? Não para os pu­ rificados pelo sangue de Jesus Cristo.

Aplicação Pessoal

Comece a ser santo, porque você é santo.

que merece uma pessoa que trata o sangue do Filho de Deus com desprezo? (v. 29) Aqui há um pensamento para nós. Sempre que nos sentirmos inseguros ou inclinados a duvidar da nossa capacidade de viver uma vida santa, de­ vemos nos lembrar de que Cristo morreu para tornar isso possível. Certamente Ele não derra­ mou o seu sangue em vão. Certamente você e eu encontraremos a força necessária para viver como Deus deseja.

Citação Importante

“A santidade prática é a única santidade que tem algum valor neste mundo, e o único tipo de san­ tidade que o Espírito Santo de Deus endossará.” — Oswals Chambers

3 DE DEZEMBRO LEITURA 337 OS TRIUNFOS DA FÉ Hebreus 11

“E todos estes, tendo tido testemunho pela fé ” (Hb 11.39). A fé é mais claramente expressa na maneira como as pessoas vivem do que no que elas afirmam crer.

Visão Geral

A natureza e a importância da fé são reveladas (11.1-3) e exemplificadas nesta lista de honra de santos do Antigo Testamento (w. 4-40).

Entendendo o Texto

“A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam” (Hb 11.1-3). Para a nossa sociedade, a “fé” parece não ter substância: ela apega-se persistentemente a noções que não podem ser provadas, e por isso são frágeis e irreais. Nas Escrituras, acontece o oposto. A fé é a es­ perança confiante de que aquilo que não podemos ver é mais sólido e real do que o universo material. A raiz desse tipo de fé é a nossa convicção de que “os mundos, pela palavra de Deus, foram criados”. Deus tem precedência sobre as coisas que nós po­ demos provar, tocar, ver e sentir. Deus é mais real do que essas coisas, porque Ele é a fonte da exis­ tência delas. Os antigos crentes, e os crentes de hoje, são elogia­ dos por essa fé. Quando você e eu percebermos que Deus é a realidade suprema, e agirmos de acordo com essa convicção, teremos uma fé que fará dife­ rença em nossa vida e nos possibilitará triunfar.

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Qualquer coisa inferior à convicção traduzida em Mas não desanime. Como demonstra cada herói nessa “galeria da fama”, a sua fé fará a diferença na ação não alcança a fé bíblica. maneira como você viverá a sua vida. E nas bênçãos “Pela fé, Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que que você receberá. Caim”(Hb 11.4). Gênesis 4 indica que tanto Caim quanto Abel sabiam que Deus exigia sacrifício ani­ “Pelafé, Abraão... obedeceu, indo para um lugar”(Hb mal. Por que outro motivo Ele falaria com Caim, 11.8-10). Algumas pessoas acham quase impossível depois de rejeitar o seu sacrifício de frutas e legu­ correr riscos. “Eu gostaria de tentar”, pensam elas, mes, dizendo que, se ele “bem fizesse”, ainda pode­ “mas e se eu falhar?” Abraão nos lembra de que a fé ria ser aceito? À diferença entre os dois está no fato nos liberta para nos aventurarmos confiantemente de que Abel obedeceu à palavra de Deus. Somente no desconhecido. Abel fez o que o Senhor exigia. Temeroso demais para orar em voz alta? Inseguro Esta é a primeira evidência de uma fé verdadeira. demais para expressar a sua opinião? Gostaria de Nós obedecemos à Palavra de Deus e decidimos um novo trabalho, mas teme deixar o antigo? Quer fazer as coisas que agradam a Ele. testemunhar, mas teme a reação dos outros? A fé E surpreendente que o ato de fé de Abel tenha levado nos liberta para sair quando, como Abraão, não sa­ diretamente à sua morte. A inveja irada do seu irmão bemos para onde vamos. foi estimulada pela obediência de Abel. Mas é ainda Como a fé ajuda? Ela nos lembra de que Deus, que mais surpreendente quando a epístola aos Hebreus nos guia e orienta, também anda conosco. Não nos diz que, pela fé, Abel “ainda fala”. Abel está mor­ precisamos temer riscos quando a fé nos diz que o to, no que diz respeito a este mundo; seu corpo é Senhor está do nosso lado. pó. Caim também está morto há muito tempo. Mas Abel, declarado justo por Deus com base em sua fé, “Desejam uma [pátria] melhor”(Hb 11.13-16). Exis­ “ainda fala”. A fé de Abel lhe trouxe o presente que a te um tipo de descontentamento celestial. Os santos fé trará a você e a mim: a vida eterna. do Antigo Testamento que pertencem a essa galeria honra sentiam isto. Eles não se sentiam em casa “Pela fé, Enoquefoi trasladado para não ver a morte” de neste mundo. De alguma maneira, faltava algo. (Elb 11.5,6). Abel exibiu a fé que salva; e Enoque, Arqueólogos demonstraram que Abraão viveu em uma fé que aproxima o crente do Senhor. Ur durante um período vital e próspero. Ur ofere­ O Antigo Testamento nos diz pouco sobre Enoque, cia luxo e riqueza, e Abraão possuía as duas coisas. exceto que ele “andou com Deus” e que, depois de Mas ele não estava satisfeito, e assim partiu em algum tempo, “não se viu mais, porquanto Deus para busca de alguma coisa melhor. Esta é uma evidên­ si o tomou” (Gn 5.24). Como o autor sabe tanto a cia de uma fé crescente: nós ficamos insatisfeitos respeito de Enoque, com base em uma referência tão com as coisas deste mundo. Podemos ser gratos curta? Simplesmente devido ao fato de que Enoque por todas as boas coisas que Deus nos deu. Mas a agradou a Deus, e “sem fé é impossível agradar-lhe”. fé nos dá a consciência de que nada do que temos Ninguém consegue aproximar-se de Deus sem fé. E é suficiente para satisfazer as nossas necessidades preciso ter fé para crer que Deus existe, quando Ele mais profundas. não pode ser visto. E é preciso ter ainda mais fé para O texto diz que essas pessoas “morreram na fé”. crer que Ele recompensa aqueles que o buscam, quan­ Elas jamais encontraram a perfeição ou a realização do as recompensas tão frequentemente se atrasam. que buscavam. Você e eu tampouco encontrare­ Qualquer pessoa que ande com Deus terá a sua fé mos, porque fomos criados para o céu, e não para testada. Quando você e eu acionamos um inter­ a terra. Nós também podemos passar nossas vidas ruptor, a luz acende-se. Quando você gira a tornei­ “desejando uma pátria melhor”. Mas, por meio da ra, sai água. Pressione o botão “liga”, e a tela da sua fé, passaremos a eternidade desfrutando dela! TV enche-se de imagens cintilantes. A recompensa de nossos atos é imediata, e invariável. Mas, mui­ “Pela fé, ofereceu Abraão... quando foi provado” tas vezes, você e eu oramos, e parèce que não vem (Hb 11.17-19). Há um momento em nossas vidas nenhuma resposta. Nós clamamos a Deus, mas quando Deus nos prova. E o teste será como o de os nossos problemas persistem. Não é necessária Abraão, quando Deus exigiu que ele sacrificasse o muita fé para esperar que uma luz se acenda, pois seu filho Isaque. isso realmente acontece. Muito mais fé é necessária Este é o teste da sujeição total. E o teste que exige para andar com Deus. Porque a sua fé de que Ele que desistamos do desejo do nosso coração, porque recompensa aqueles que o buscam será severamen­ Deus nos pede isso. Somente uma fé singular nos te testada, muitas vezes. capacitará a fazê-lo e a renunciar a tudo.

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O que é esta fé singular? O texto do Antigo Testa­ mento nos diz que, quando Abraão subiu ao monte Moriá para oferecer Isaque, ele mandou que seus ser­ vos esperassem, dizendo: “eu e o moço tornaremos”. A epístola aos Hebreus explica. A Abraão tinham sido prometidos descendentes através de Isaque. Ele estava tão completamente convencido de que Deus cumpri­ ria a sua promessa, que acreditava que Ele ressuscitaria Isaque dos mortos, se isso fosse necessário. Deus nos prometeu o melhor de si. Ele nos asse­ gurou de que todas as coisas contribuiriam para o bem daqueles que o amassem. Nós somos capazes de renunciar a tudo quando temos a fé para crer que, se Deus o pedir, renunciar ao desejo dos nos­ sos corações é, ao mesmo tempo, correto e bom. Como Abraão deve ter vivido de uma maneira pró­ xima a Deus, para confiar nEle dessa maneira! Deve­ mos também estar próximos ao Senhor, para que nós também possamos ter uma fé que renuncia a tudo. “Pela fé, Moisés” (Hb 11.24-28). A vida de Moisés também exibe fé. Sendo “filho da filha de Faraó”, Moisés pertencia à linha de sucessão ao trono do Egito, ou, pelo menos, teria uma posição elevada naquela terra próspera. Nenhum prazer lhe teria sido negado. Mas Moisés rejeitou o “gozo do peca­ do” e preferiu identificar-se com o povo de Deus,

DEVOCIONAL______ Zona de Terremoto (Hb 11.1-7)

Um colunista desportivo, noticiando de São Fran­ cisco sobre uma partida de futebol futura, entre a equipe 49 e outra equipe, escreveu sobre o silêncio. A cidade, normalmente explodindo de turistas, es­ tava praticamente deserta. O terremoto de outubro de 1989 afastou os visitantes. O que é surpreendente é o fato de que aparente­ mente não tinha abalado muitos dos habitantes. Por toda a Califórnia, milhões de pessoas continu­ am a viver junto a falhas geológicas, sem sequer um pensamento de mudar-se para evitar os tremores destruidores que devem saber que virão. Foi isso o que fez de Noé uma pessoa tão incomum e um justo merecedor do elogio de Deus. Noé nunca tinha visto chuva, pois, em seu tempo, nascentes regavam a terra (Gn 2.6). Mas, quando Deus anunciou que um grande dilúvio destruiria a vida sobre a terra, ele construiu a arca em que a sua família e a vida animal foram preservadas. A galeria de honra de Hebreus 11 nos ajudou a definir a fé. A fé considera Deus mais real do que o universo material que Ele criou (w. 1-3). A fé sal-

embora eles fossem, naquela ocasião, uma raça de escravos. Devemos nos identificar também com o povo de Deus, não importando o quanto possa ser popular ridicularizar os “nascidos de novo”. A vergonha por causa de Cristo ainda tem maior valor do que to­ dos os tesouros deste mundo. “Pela fé, Raabe, a meretriz” (Hb 11.31). A fé não exclui ninguém, mas desenha um grande círculo que abrange a todos. Qualquer que seja o nosso passado, a fé abre as portas para o relacionamento com Deus e uma vida nova e justa. “Provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito” (Hb 11.32-40). A fé não garante a ninguém uma vida livre de tensões ou sofrimento. Ao longo dos milênios, muitos sofreram, e até mesmo morreram, pela sua fé. E a fé conquistou para cada um deles o louvor de Deus. A fé conquista ainda mais para você e para mim. Os santos do Antigo Testamento olhavam para o futuro, esperando uma salvação que não conseguiam com­ preender. Nós olhamos para trás, para uma salvação assegurada pelo Senhor Jesus Cristo no Calvário. E, por meio do Espírito de Deus, temos um relacio­ namento com o Senhor que pode ser mais real para nós do que para os santos do Antigo Testamento.

va, pois Abel “ainda fala”, embora seu corpo esteja morto há muito tempo (v. 4). A fé nos capacita a andar com Deus, mesmo quando as recompensas visíveis por buscá-lo demoram (w. 5,6). Mas agora o autor compara a sabedoria da fé com a tolice da incredulidade. Noé levou muito a sério o aviso de Deus sobre um perigo completamente desconhecido. Em “san­ to temor”, ele agiu, influenciado pelo aviso. Ele jamais tinha vivenciado enchentes nem chuvas. Porém, acreditou em Deus quando Ele o avisou. A sua reação “condenou o mundo”, porque a sua fé revelou a total incredulidade daqueles aos quais continuamente avisava, enquanto ele e sua família trabalhavam na construção da arca (cf. 1 Pe 3.20). Que assombroso retrato da atualidade. Os Evange­ lhos clamam as Boas-Novas de que em Cristo nós podemos ser salvos do juízo futuro. Os que têm fé respondem com “santo temor” e correm para Cris­ to em busca de refúgio. Mas os incrédulos zom­ bam e continuam a ignorar os avisos do desastre iminente. O fato de que tantos decidam permanecer nas áreas de terremoto na Califórnia nos lembra do quanto o

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“Olhando para Jesus, autor e consumador da fé ” (Hb 12.2,3). Jesus é o “pioneiro” (o autor) da nossa fé porque Ele seguiu o caminho da fé até o seu fi­ nal. Ele confiou ao longo de todo o caminho até a morte, e então saiu do sepulcro para abrir caminho para a glória. Jesus é também o consumador da fé. NEle, nós vemos a natureza suprema da fé perfeitamente ex­ pressada. A fé perfeita é a completa confiança em Deus, por mais terrível que seja a assolação da mor­ Aplicação Pessoal O amanhã é real. Considere-o, à medida que você te e da destruição à nossa volta. Não é de admirar que o autor escreva: “olhando viver hoje. para Jesus”. Quando sentimos medo, ver Jesus nos encoraja a permanecer confiando. Quando estiver­ Citação Im portante “Todos nós devemos nos preocupar com o futuro, mos cansados, ver Jesus nos dará forças para pros­ porque teremos que passar nele o resto de nossa seguir. Quando tivermos vontade de voltar para atrás, o foco em Jesus nos assegurará de que a glória existência.” — Charles F. Kettering à frente vale a dor atual. 4 DE DEZEM BRO LEITURA 338 “Combatendo contra o pecado” (Hb 12.4). Um dos DISCIPLINA DIVINA grandes santos da história, João Crisóstomo, cujo Hebreus 12 exílio em 403 d.C. foi provocado pelo fato de ter “Na verdade, toda correção, ao presente, não parece denunciado poderosos clérigos por suas pretensões ser de gozo, senão de tristeza, mas, depois, produz e falta de caridade, escreveu, a partir do exílio: um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela” “Existe uma única coisa a temer, Olímpia, uma (Hb 12.11). única tentação, que é o pecado”. Jesus, como autor e consumador da fé, nos lembra Para nos beneficiarmos da correção, nós devemos de que será melhor se escolhermos o sofrimento do que se escolhermos o pecado. Cristo resistiu à es­ ser suscetíveis a ela. colha do pecado “até o sangue”. E improvável que Visão Geral nós tenhamos de fazer uma escolha tão amarga. O exemplo de Jesus nos estimula a lutar contra o Assim, não sintamos pena de nós mesmos, quan­ pecado (12.1-4). Nós devemos considerar as difi­ do vier o sofrimento. Devemos nos alegrar porque, culdades como a disciplina de Deus sobre filhos qualquer que seja o nosso sofrimento, nós não es­ amados (w. 5-11) e fortalecer a nossa determina­ colhemos, e não escolheremos, o pecado para evitar ção de viver vidas santas (w. 12-17). Pois Ele não esse sofrimento. nos falou a partir de uma terra distante, mas por meio de um Cristo próximo (w. 18-24), cujo reino A correção de Deus (Hb 12.7). À medida que passa­ vam as primeiras décadas da era da igreja, os cristãos não deve ser desprezado (w. 25-29). encontravam-se sob pressão cada vez maior. Havia frequente hostilidade por parte de seus vizinhos. Entendendo o Texto “Uma grande nuvem de testemunhas”(Hb 12.1-3). Al­ Em alguns lugares, a perseguição não era oficial. guns consideram esta expressão como uma referência Em outros, era oficial, movida pelas autoridades a santos e anjos que nos observam, como a multidão romanas. Assim a epístola aos Hebreus, que parece que, em um grande estádio, aplaude aqueles que estão ter sido escrita no final dos anos 60, fala, como no campo. Outros a consideram como se referindo outras epístolas posteriores do Novo Testamento, a nós e nos veem observando os santos de gerações sobre sofrimento e dor. passadas, tomando coragem por meio do seu teste­ Aqui o autor nos pede que consideremos as difi­ culdades e o sofrimento como correção. Deus não munho consistente da fidelidade de Deus. Qualquer que seja a interpretação, ela nos motiva a abandonou os seguidores de Cristo. Ele simples­ deixar “todo embaraço e o pecado que tão de perto mente os está tratando como qualquer pai sábio nos rodeia”. trata seus filhos amados. Que grande responsabilidade é saber que o que fa­ Pode parecer estranho, mas essa perspectiva torna zemos provoca um impacto sobre o comprometi­ muito mais fácil qualquer dificuldade que enfren­ temos. Não mais temos que nos encolher, pensan­ mento de outras pessoas com Jesus Cristo.

futuro é irreal para muitos seres humanos. Muitos de nós vivemos como se hoje fosse tudo, e o ama­ nhã fosse irreal. Mas as Escrituras nos dizem que ali, logo além do horizonte do amanhã, nos espera um juízo de força destruidora. Não é prudente vi­ ver em uma falha geológica, em uma área de terre­ moto. Mas é completamente tolo permanecer fora de Cristo, exposto ao juízo que certamente virá.

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do o que foi que fizemos para que Deus deva nos punir. Em vez disso, devemos buscar a Deus em nossa dor, convencidos de que até mesmo o nosso sofrimento é uma expressão do seu amor. Se você sabe que Deus ama você, você consegue suportar quase tudo. E se você duvidar de que Deus permite que os seus amados sofram, lembre-se de Jesus. O autor e consumador da nossa fé sofreu a angústia suprema, embora Ele seja o Filho amado de Deus. “[Deus nos corrige] para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade” (Hb 12.7-13). Duas coisas nos tranquilizam quando Deus nos corrige. Nós nos lembramos de que Jesus sofreu antes. E nós nos lembramos de que Deus explicou graciosa­ mente o seu motivo para a correção. Uma coisa que nos incomoda é não saber “por quê”. Nós perdemos nosso emprego e, em meio ao nosso temor sobre o futuro, clamamos: “Por quê?”. Perde­ mos um ente querido e agonizamos; “Por que ele, e não eu?”. Sofremos com alguma doença prolongada e, ainda que tentemos, não conseguimos encontrar nada de “bom” nisso. Começamos a duvidar de Romanos 8.28 e mais uma vez perguntamos: “Por quê?”. Deus não nos fornece as razões para dificuldades específicas. Mas Ele explica cuidadosamente o que está fazendo. Ele está nos tratando como qualquer bom pai trata seus próprios filhos. Está nos cor­ rigindo “para nosso proveito, para sermos partici­ pantes da sua santidade”. Não espere um benefício econômico resultante da perda de um emprego, nem um benefício emocio­ nal resultante da perda de um ente querido, nem um benefício em termos de saúde, resultante de uma enfermidade grave. Mas espere, sim, um bene­ fício espiritual resultante de qualquer dificuldade. Se você e eu nos sujeitarmos a Deus (v. 9), Ele ope­ rará em nossas vidas, e, por meio do sofrimento, cresceremos em santidade. E mais do que isso, nós colheremos um rico “fruto pacífico de justiça” do treinamento que a dificuldade pretende propiciar.

Se o sofrimento nos fortalecerá ou nos enfraque­ cerá, dependerá da nossa reação a ele. Se o consi­ derarmos apenas como um mal e nos tornarmos amargos, a correção que Deus pretendia como um presente de amor se tornará um peso e um espinho. Pessoas que pensam assim privam-se da graça de Deus. Não, não a graça expressa ao trazer a di­ ficuldade específica, mas a graça que caracteriza todo o nosso relacionamento com Deus, e a graça que está disponível para nos fortalecer em nos­ sas dificuldades. Um foco na graça de Deus nos conduzirá a experimentar a sua graça em nossa situação, e isso nos libertará da amargura, e nós cresceremos. “Não chegastes ao monte palpável” (Hb 12.18-24). Quando o povo de Israel congregou-se no monte Sinai, para receber a Lei, houve relâmpagos e tro­ vões ameaçadores. O povo recuou com temor, e so­ mente Moisés aproximou-se do Senhor. Era difícil perceber a graça de Deus ali. Mas nós, cristãos, não vamos ao Sinai, mas a Siáo. Ali encontramos o próprio Jesus e milhares de an­ jos cantando de alegria. Vamos até Deus por in­ termédio de Jesus e sentimos uma intimidade com que apenas se podia sonhar nos tempos do Antigo Testamento. Devemos ser cuidadosos para não recusar o Deus que conhecemos tão bem, quando Ele falar. Se aqueles que não o conheceram tão bem sofreram por ignorar a sua Palavra, quanto mais perderemos nós, que o conhecemos tão intimamente?

“Um Reino que não pode ser abalado” (Hb 12.2528). Deus abala a terra. A imagem nos lembra de como é frágil e instável o universo material. Dentre tudo o que existe, somente os seres humanos con­ tinuarão a existir, além do tempo e pela eternidade. Todo o resto desaparecerá. Como Deus é bom, então, por permitir que nós soframos neste mundo, uma vez que os benefícios da santidade e da justiça a serem desenvolvidos pela “Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de correção divina persistirão muito além do tempo! Deus” (Hb 12.14-17). A mesma dificuldade que Deus é bom. E, quando Ele nos corrige, também é tenciona abençoar pode nos arruinar. para o nosso bem.

DEVOCIONAL______ Maus Tratos a Crianças! (Hb 12.5-11)

“Obrigue-me a fazer isso”, disse ele à sua mãe, “e eu vou ligar para a polícia e denunciar maus tratos”. As crianças aprendem muito rapidamente. Eu A mãe ficou calma. “Vá em frente. Eu posso passar suspeito de que foi por isso que uma mãe que co­ alguns dias na prisão. Mas eles vão colocar você em nhecemos foi ameaçada por seu filho de 11 anos. um lar adotivo. Nada de vídeo-game. Nada de TV

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a cores em seu quarto. Nada de aparelho de som. Nada de fitas ou CDs. Você nem terá um quarto só para você”. O menino pensou por um momento e disse: “Certo, mamãe”. As coisas não eram assim quando eu era menino. Eu suspeito de que algumas das coisas que me aconteceram teriam incitado gritos de preocupação hoje. Como na ocasião em que papai me levou à garagem e me açoitou com um cinto de couro. Ou quando fugi, outra vez, e meu desgostoso pai tirou a coleira do pescoço do meu cachorro Esdras e co­ locou no meu! “Eu posso confiar mais em Esdras do que em você”, ele me disse e foi embora. Naquela manhã quente de verão, eu fiquei fora de casa, totalmente arrasado, até que papai voltou da sua ronda de carteiro e me soltou. Mas, nem mesmo na­ quela ocasião, teria gritado: “maus tratos à criança”. Mesmo então, estava completamente ciente de que papai me amava, e de que o que ele fazia não era tanto uma expressão da sua ira, mas da sua preocupação. Papai me castigava, não para o seu prazer, mas para o meu benefício. E, de alguma maneira, eu sabia disto. Como é maravilhoso para você e para mim, quan­ do vem a tragédia, conseguir, em nossa infelicida­ de, olhar para o alto e saber que somos amados. Como é maravilhoso, quando não pudermos com­ preender “por quê”, saber que não somos vítimas de maus tratos à criança, mas pessoas que estão recebendo o maior amor. As crianças que hoje gritam: “maus tratos à criança”, quando seus pais amorosos as castigam, rejeitam um dos maiores presentes de amor de mamãe e papai. Elas certamente serão mais pobres por causa disso. E os cristãos de hoje que proferem esse mesmo grito, quando lhes veem os problemas, esquecem-se das profundezas do amor de Deus e perdem um dos maiores presentes da vida: a certeza de que Ele está conosco sempre. E de que Ele se preocupa.

Exortações para uma vida honrada originam-se na­ turalmente da doutrina mais exaltada.

Visão Geral

O autor conclui com exortações (13.1-19), com uma das mais vigorosas doxologias das Escrituras (w. 20,21) e com saudações pessoais (w. 22-25).

Entendendo o Texto

“Permaneça [o amor]fraternal” (Hb 13-1). Pratica­ mente cada epístola do Novo Testamento contém uma exortação ao amor. Isso é apropriado, pois, na noire anterior à sua crucificação, Jesus enfati­ zou o seu “novo mandamento” (Jo 13.33,34). Os seguidores de Cristo devem amar uns aos outros como Jesus os amou. Este versículo, no entanto, tem uma ênfase distin­ ta. “Permaneça o amor”, no sentido de “continuar amando”. Esta ênfase é importante. A medida que nós conhecemos melhor os outros, mais das suas falhas provavelmente serão exibidas. Quantas jo­ vens voltaram para casa entusiasmadas por terem conhecido “o” homem, porém ficaram desencan­ tadas umas poucas semanas ou meses mais tarde. Nós, cristãos, no entanto, não temos a liberdade do desencanto. Tampouco da desconexão. Alguém nascido de meus pais é meu irmão ou minha irmã, não por minha escolha, mas em virtude da pater­ nidade em comum. Nós podemos escolher nossos companheiros, mas não escolhemos irmãos ou irmãs. E, de alguma maneira, apesar de tudo, em muitas famílias, os irmãos aprendem não apenas a conviver uns com os outros, mas a amar-se mutu­ amente. É assim na família de Deus. Nós somos família, não por nossa escolha, mas pela escolha de Deus. Temos o mesmo Pai, e assim todos fazemos parte uns dos outros. Ponto final. Nós podemos ficar de­ sencantados, mas não excluir nem rejeitar alguém Aplicação Pessoal a quem Deus aceitou. Que a correção que Deus proporciona aos crentes sir­ E assim Hebreus 13.1 nos apresenta um desafio va de modelo para a criação de nossos filhos e filhas. peculiar: “Permaneça” o amor. Como é bom saber que, se continuarmos aman­ Citação Importante do, o amor encontrará um caminho. Por meio do “Os problemas frequentemente são os instrumen­ amor, nós seremos uma bênção e encontraremos tos pelos quais Deus nos modela para coisas me­ bênçãos. lhores.” — Henry Ward Beecher “Não vos esqueçais da hospitalidade” (Hb 13.2,3). 5 DE DEZEMBRO LEITURA 339 A hospitalidade era uma das virtudes mais impor­ tantes da antiguidade. Não havia hotéis ou pou­ VIDAS HONRADAS Hebreus 13 sadas no campo no século I. Cansadas e famintas, frequentemente apareciam pessoas, na cidade ou “Confiamos que temos boa consciência, como aque­ à porta de alguém, esperando conseguir um lugar les que em tudo querem portar-se honestamente” (Hb onde se alojar. Há aspectos distintos no relacionamento do cris­ 13.18).

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tão com outras pessoas. Nós devemos continuar amando nossos irmãos cristãos. E devemos ser hospitaleiros com os estranhos. Independente­ mente do fato de as pessoas que encontramos pertencerem ou não à família de Deus, devemos demonstrar interesse e amor por elas. O autor vai ainda mais longe. O crente deve “lembrar-se dos presos”. Uma pessoa que está na prisão não é livre para vir à sua igreja. Essa pessoa não é livre para bater à sua porta. Você deve tomar a iniciativa e procurá-la na prisão. E, além disso, é incômodo tomar essa iniciativa. Quando alguém vem à sua casa, você está em seu próprio território. Está relativamente seguro. Quando você vai a um lugar que não frequenta normalmente, sente-se incerto e inseguro. Ali, você não consegue isolar-se do sofrimento dos outros. E desagradável, para dizer o mínimo. Mas, se nos lembrarmos de tudo o que a epístola aos Hebreus nos diz sobre o que Deus realizou por nós em Cristo, nós compreenderemos por que precisamos nos relacionar com os irmãos, estranhos e prisioneiros. O dom da redenção de Cristo é um presente de amor oferecido a cada ser humano. O sangue de Cristo foi derramado pelo estranho e pelo marginalizado, além do ir­ mão. Nós precisamos ir aonde Cristo iria, se Ele estivesse fisicamente aqui. “Sejam vossos costumes sem avareza” (Hb 13.4-6). Falar é fácil. Porém, como encontramos satisfação, quando tudo em nossa sociedade nos chama, insis­ tindo que devemos desejar mais? A resposta é: lembre-se de que em Deus você já possui tudo. O mercado de ações pode cair, e você perderá tudo. Ladrões podem entrar, e seus bens desaparecerão. A economia pode despencar, e a taxa de juros subir. Neste mundo, simplesmente não há segurança na riqueza, nem nas coisas que o dinheiro pode com­ prar. Mas quando Deus está com você, e quando você tem a sua promessa — “Não te deixarei” — , desfruta de suprema segurança. Deus, o Criador do céu e da terra, o dono do gado que está sobre milhares e milhares de colinas, é o seu ajudador. Não há nada que ameace o homem ou a mulher que anda de mãos dadas com o Senhor. “Lembrai-vos dos vossos pastores” (Hb 13.7). Que fascinante maneira de explicar isso! O autor não disse: “Lembrai-vos do que vossos líderes ensina­ ram”. Ele não disse: “Lembrai-vos do que vossos

líderes vos ordenaram”, apesar de que eles “vos fa­ laram a palavra de Deus”. O que o autor disse foi: “a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver”. Nós devemos nos lembrar deles, pois o seu exem­ plo nos ensina algo que as suas palavras não con­ seguem nos ensinar. Quando considerarmos a fé deles, aprenderemos a viver pela fé. “Que o coração se fortifique com graça” (Hb 13.914). Os alimentos cerimoniais, nos altares do An­ tigo Testamento, simbolizavam a graça de Deus, a qual nos sustenta. Você e eu, no entanto, não pre­ cisamos de símbolos. Nós temos o próprio Cristo, que sofreu para nos tornar santos. Sair “fora do arraial” indica romper com a fé do Antigo Testamento e com o seu ritual. Não há nada para nós ali, pois, com o seu simbolismo cumprido em Cristo, agora são como cascas vazias. E assim o autor disse: “Saiamos, pois, a Ele”. Se você quer que o seu coração seja fortalecido pela graça, siga esta recomendação. Vá diretamente a Ele. “Sacrifício de louvor” (Hb 13.15). Não devemos ir ao Senhor de mãos vazias. E não devemos correr à sua presença, gritando nossas necessidades e exi­ gindo atenção, sem prestar atenção primeiramente a Ele. O que nós levamos hoje a Cristo como nosso sacri­ fício é louvor. E Ele merece ser louvado. Talvez isso não seja surpreendente, mas até mesmo nisso descobrimos que Deus pensa em nós, quan­ do Ele nos pede que o consideremos. Quando nós concentramos a nossa atenção no Senhor, e o lou­ vamos pelos seus grandes atributos, oramos com uma confiança muito maior. Repetir constante­ mente os seus louvores fortalece a nossa fé, e a fé é essencial para que as orações sejam atendidas. “Confiamos que temos boa consciência, como aque­ les que em tudo querem portar-se honestamente” (Hb 13.18). Se isso for verdade a nosso respeito, e refletir o desejo dos nossos corações, nós faremos mais do que louvar a Deus. A nossa vida lhe trará louvores. “O Deus de paz” (Hb 13.20,21). Estes versículos contêm uma das mais belas bênçãos, tanto do An­ tigo como do Novo Testamento. E algo que deve ser memorizado: uma passagem que pode trazer confiança, além de foco, à nossa vida.

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DEV OCION A L_________ros leitores devem ter compreendido é esta incum­ Permita-se Conduzir (Hb 13.17)

Ela está quase escondida, guardada com outras exor­ tações que o autor da epístola aos Hebreus correu para acrescentar, quando concluía a epístola. Muitos, que a percebem, a interpretam erroneamente, como se o autor estivesse encorajando uma hierarquia de líderes, que tinham o direito de exigir obediência. Eu não acredito que os primeiros leitores tiveram esta impressão, por vários motivos. No texto em grego, a expressão é peithesthe tois hegoumenois hyman kain hypeikete. A palavra gregapeithesthe quer dizer “deixem-se persuadir, ou convencer”. Uma boa paráfrase em português seria: “Abram seus co­ rações à persuasão dos seus líderes”. A palavra traduzida como “guias” (ARA) é usada aqui a respeito de governantes e príncipes, mas ori­ ginalmente significava “liderar ou guiar”. A ideia parece ser de que os líderes espirituais devem ser aqueles que percorreram o caminho da fé (veja v. 7) e, dessa maneira, podem servir como guias para os outros. A palavra hypeikete é traduzida pela expressão em português “sujeitai-vos a eles”. Originalmente, no grego clássico, era usada para descrever substâncias macias e moldáveis. A ideia não é “ceder”, mas “es­ tar disposto a render-se”. Em resumo, a instrução concentra-se na atitude que você e eu devemos manter quando percorre­ mos o caminho de Jesus, liderados por outros que já foram mais longe do que nós. O que os primei­

bência: “Em seu relacionamento com aqueles que são seus líderes e guias rumo à santidade, certifi­ quem-se de manter uma disposição para render-se e permaneçam abertos à sua persuasão”. É uma exortação apropriada, aqui, na conclusão da epístola aos Hebreus. Em Jesus, nós temos uma revelação superior, um Sumo Sacerdote superior, um concerto melhor e uma fé melhor. E somos chamados por Deus para experimentar, pela fé, cada bênção propiciada pelo Filho de Deus. Como é importante, quando percorremos o caminho de Jesus com os outros, escolher como líderes os que já foram antes de nós, e permitir que eles nos li­ derem!

Aplicação Pessoal

Embora responsável pelas suas próprias escolhas na vida, permaneça aberto e permita-se conduzir por homens e mulheres devotos.

Citação Importante

“A pergunta: ‘Quem deve ser o chefe?’ é como perguntar: ‘Quem deve ser o tenor no quarteto?’. Obviamente, o homem que tem voz de tenor.” — Henry Ford

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em JÓ

TIAGO INTRODUÇÃO

Esta carta foi escrita por Tiago, o irmão de Jesus, que era um líder da igreja de Jerusalém (c£ At 15.13-29; G1 2.12). Ela pode datar do fim dos anos 40 d.C., pouco depois que a perseguição dispersou os membros do novo movimento (Tg 1.1; cf. At 8.1-3). Caso isto seja verdade, Tiago deve ter sido a primeira das cartas do Novo Testamento. O foco de Tiago estava na maneira como a fé deve ser expressa na vida do crente. Ele concentrou-se em questões como enfrentar juízos, lidar com a tentação, mostrar favoritismo, controlar a língua, paciência e oração. O livro continua a servir como um lembrete de que a nossa fé também é um modo de vida, e como um guia para colocá-la em prática. I. Prática da F é.......... II. Princípios da Fé.... III. Problemas da Fé.. IV. Perspectivas da Fé

ESBOÇO DO CONTEÚDO ....................................................................................Tg 1.1—2.13 ........................................................................................Tg 2.14-26 ....................................................................................................... Tg 3—4

.............................................................................................................. Tg 5

GUIA DE LEITURA (4 Dias)

Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” em sua Bíblia e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 340 341 342 343

Capítulos 1 2 3 4— 5

Passagem Essencial 1.13-18 2.14-26 3.1-6 4.1-10

TIAGO 6

D E DEZEM BRO LEITURA 340

ENFRENTANDO TENTAÇÕES Tiago 1

“Bem-aventurado o varão que sofre a tentação; porque, do apedrejamento de Estêvão (At 7), quando uma quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o severa perseguição na Judeia forçou os cristãos a Senhor tem prometido aos que o amam”(Tg 1.12). deixar Jerusalém (8.1-3). A compreensão deste ambiente histórico nos ajuda Provas e tentações são convites de Deus para su­ a ver por que a carta de Tiago é uma das menos teo­ peração. lógicas do Novo Testamento. Os primeiros cristãos judeus sabiam quem era Jesus! Eles o tinham ou­ Biografia: Tiago, o irmão de Jesus vido, quando ensinava nos átrios do Templo. Co­ Os Evangelhos nos dizem que, a princípio, os ir­ nheciam Lázaro, a quem Ele pessoalmente ressus­ mãos de Jesus eram céticos (cf. Jo 7.5). Depois citou dos mortos. Podiam até mesmo ter visitado o da ressurreição, Tiago, um dos irmãos, tornou-se sepulcro vazio, e muito provavelmente conheciam um líder importante na igreja de Jerusalém (cf. uma das 500 testemunhas que viram Cristo depois At 15.13-29; 21.17-25; G1 2.12). A história da da sua ressurreição (1 Co 15.6). igreja o chama “Tiago, o Justo”, e também lhe dá Estes membros dispersos da igreja de Jerusalém não a alcunha “Joelhos de camelo”, porque a pele de precisavam que lhes ensinassem quem é Jesus: eles seus joelhos teria ficado calejada por passar muito conheciam o Messias prometido, o Filho de Deus! tempo em oração. De acordo com Josefo, Tiago foi E assim Tiago corretamente supôs que seus leitores martirizado em 62 d.C. criam em Cristo, e passou imediatamente para o seu propósito ao escrever. Em um estilo rude, mas Visão Geral convincente, Tiago falou sobre o modo de vida Deus propicia a sabedoria de que precisamos para apropriado para aqueles que conhecem a Jesus. E enfrentar as tentações (1.1-8) e a perspectiva a res­ sobre o exclusivo entendimento que a fé traz sobre peito da pobreza (w. 9-11). Ele não nos tenta a as questões que são enfrentadas por todos os seres fazer o mal; dá-nos somente boas dádivas (w. 12- humanos, em todos os lugares. 18). A palavra de Deus pode nos guardar da ira e A medida que lemos este pequeno livro, nós po­ da imundícia moral (w. 19-22), mas somente se a demos ouvir Tiago — e, por meio dele, o Espírito praticarmos (w. 23-25). A pessoa verdadeiramen­ Santo — falando conosco. Pois o estilo de vida da te religiosa preocupa-se com aqueles que estão em fé é basicamente o mesmo, para você e para mim, aflição (w. 26,27). que era para aqueles que foram os primeiros a crer em Cristo, há aproximadamente dois mil anos. Entendendo o Texto ‘A s doze tribos que andam dispersas” (Tg 1.1). A “Meus irmãos, tende grande gozo” (Tg 1.2-4). A úl­ saudação nos ajuda a compreender o ambiente his­ tima coisa que fazemos normalmente, quando vêm tórico. Tiago escreveu quando a igreja era jovem, as tentações, é alegrar-nos. A palavra grega aqui, composta de crentes judeus. Ele escreveu depois peirasmos, sugere uma situação difícil, uma pressão

Tiago 1

dolorosa. Nós podemos compreender por que os cristãos de Jerusalém, forçados a deixar seus lares e fugir para terras estrangeiras, enfrentariam “várias tentações”. Mas “ter grande gozo”? Tiago explicou. Deus faz uso de tentações para de­ senvolver o nosso caráter. O processo pode ser do­ loroso, mas o resultado, a maturidade, vale a pena! Esta é uma das coisas peculiares sobre a fé. Ela mol­ da a nossa perspectiva. Permite-nos considerar até mesmo experiências dolorosas sob uma nova luz. E, quando nós considerarmos as tentações a partir da perspectiva da fé cristã, e virmos o resultado que Deus pretende produzir em nós, realmente sere­ mos capazes de nos alegrarmos. “Peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto'’ (Tg 1.5-8). Nas Escrituras, “sa­ bedoria” é invariavelmente a capacidade de aplicar conhecimento em uma situação da vida real, fazen­ do, dessa maneira, escolhas devotas e corretas. O problema é que alguns de nós não sabem realmente qual é a coisa certa e sábia a fazer. Esta pode ter sido a queixa dos primeiros cristãos, que ficavam frustrados diante dessas “várias tentações”. O conselho de Tiago foi: “Peça a Deus”. Afinal, Deus sabe o que é melhor para fazermos. E, disse Tiago, diferentemente de alguns seres humanos, Deus dá generosamente a todos sem o lançar em rosto. A nossa filha, Sarah, compreenderia o quan­ to isso é importante. Ontem, ela veio ao escritório e pediu ajuda com um exercício de inglês da quarta série. Eu olhei para o exercício e, em. vez de lhe dar as respostas, lhe fiz perguntas que a ajudassem a encontrá-las sozinha. Logo ela ficou irritada e nervosa. Tenho certeza de que ela ficou bastante aborrecida com um pai que não era nada generoso em suas respostas e parecia criticá-la. Não há necessidade de preocupar-se com esse tipo de reação quando nós pedimos orientação a Deus. Ele a dá a todos nós generosamente. E sem nos cri­ ticar. Mas há uma condição. Nós devemos “ter fé, não duvidando”. Tiago, continuando a desenhar a sua imagem do “homem inconstante”, nos ajuda a compreender exatamente o que ele queria dizer. Se pedirmos sabedoria a Deus, nós devemos estar preparados para agir de acordo com o que Ele nos mostra. Não podemos ir até Ele e dizer: “Talvez eu queira fazer da sua maneira, e talvez não”. Deve­ mos ir com fé e pedir sem nenhuma hesitação ou reserva mental. Se você e eu estivermos dispostos a fazer a vontade de Deus, Ele nos mostrará o que fazer. Mas nós podemos esperar orientação somente quando esti­ vermos prontos para responder.

“Glorie-se... na sua exaltação” (Tg 1.9-11). A fé cris­ tã também traz perspectivas quanto às iniquidades da vida. Neste mundo, existem grandes abismos entre os ricos e os pobres. E as pessoas avaliam a si mesmas e às outras pelo critério da riqueza. Tia­ go sugeriu uma maneira de equilibrar as coisas. O homem pobre pode consolar-se em sua exaltação em Cristo. E o rico, “em seu abatimento”. A ideia parece ser de que as tentações atuais servem para lembrar o rico do quanto a vida é transitória, e, dessa maneira, protegê-lo do orgulho e da autocon­ fiança que isolam tantas pessoas ricas da realidade e de Deus. “Sendo tentado” (Tg 1.13). A palavra usada para “tentação” também é peirasmos, a mesma que en­ contramos no versículo 2. O seu uso nas Escrituras é moldado por um conceito do Antigo Testamen­ to, expresso na palavra hebraica nasah. A pressão exercida sobre um indivíduo traz uma reação, pela qual o caráter ou o comprometimento do crente é demonstrado. As tentações têm a intenção de reve­ lar a qualidade da fé de uma pessoa, e não fazê-la cair. Isso é algo de que precisamos recordar sempre. As nossas tentações não são más. Elas são oportuni­ dades para exibir a beleza de Jesus e a realidade da nossa fé. (Veja o DEVOCIONAL.) “Recebei com mansidão a palavra” (Tg 1.19-21). Quando surgirem as tentações, nós podemos nos render à nossa necessidade interior de reagir de ma­ neira pecaminosa. Ou podemos nos render à orien­ tação da Palavra de Deus. Tiago nos promete que, quando nós “recebermos com mansidão a palavra”, esta palavra nos “salvará” — de nós mesmos! “Se alguém é ouvinte da palavra e não cumpridor” (Tg 1.22-25). Havia outra dessas histórias no jor­ nal, no mês passado. Uma mulher idosa, sozinha, vivendo na miséria, morreu de fome. E, no seu quarto, a polícia encontrou centenas de milhares de dólares enfiados em fronhas. Que imagem do cristão, que tem nas Escrituras todos os recursos necessários para a prosperidade espiritual! Mas esses recursos não nos farão ne­ nhum bem, se apenas “ouvirmos” as palavras das Escrituras. Para que eles tenham algum valor, nós devemos “atentar bem para a lei perfeita da liberdade e nisso perseverar, não sendo ouvinte esquecido, mas faze­ dor da obra”. As Escrituras nos abençoam. Mas somente se as pusermos em prática!

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Tiago 2

“Religião pura e imaculada para com Deus, o Pai”(Tg 1.26,27). Três das cinco ocorrências da palavra grega traduzida como “religião” ou “religioso” são encon­ tradas aqui, nestes versículos. Esta palavra retrata al­ guém que realiza os atos externos da religião: que faz o que se espera que faça uma pessoa religiosa. Por um lado, Tiago disse que a religião de uma pessoa que age de maneira religiosa, mas não

DEV OCIONAL______ Tentações Bem-Vindas (Tg 1.13-18)

Eu me lembro da primeira visita a um salão de es­ pelhos em um parque de diversões. Foi em Coney Island, em Nova York. Ali, espelho após espelho refletia uma imagem distorcida, minha e da minha namorada. Em um espelho, nós parecíamos baixos e atarracados; em outro, éramos magros acima da cintura e gordos abaixo dela. E, embora eu até gos­ tasse do espelho que me fazia parecer magro, não lamentei deixar o salão. Algumas vezes, os cristãos têm uma visão distorcida das tentações. Situações em que nos sentimos ten­ tados são consideradas como desajeitadas e perigo­ sas, ou como selvagens e atraentes. Algumas vezes, uma situação como esta até parece uma armadilha montada por Deus para nos fazer cair. Porém, Ele jamais age assim. Tiago quer que saiamos da nossa casa de espelhos e vejamos as tentações como elas são. Por si mesmas, as situações em que nos encontramos não são más, nem perigosas, nem atraentes, nem armadilhas. O que transforma uma situação em uma tentação vem de dentro de nós: somos tentados pelos nossos pensamentos e reações, nossos sentimentos e dese­ jos. Embora a situação em que nos encontramos possa ter a permissão de Deus, a tentação que sen­ timos não vem dEle. Tiago nos lembra de algo completamente impor­ tante. Deus dá somente “boas dádivas” e “dons perfeitos”. Ele não pode ser tentado pelo mal, e não tenta a ninguém. Isso quer dizer que a situação em que sentimos tentação é, em si mesma, boa, ainda que o mal em nós deseje distorcê-la, para que pen­ semos que ela é algo mau. Quando diz: “toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto”, Tiago nos convida a modificarmos radicalmente a nossa perspectiva e a considerarmos a situação que antes víamos como algo mau agora como algo maravi­ lhoso ê bom. Mas, como é possível? Novamente, Tiago explicou. Deus, que nos dá boas dádivas, “nos gerou pela pa­ lavra da verdade”. Há algo além de “concupiscência”

controla a sua língua, é vã. Por outro lado, ele disse que a verdadeira religião não é avaliada pelo comparecimento à igreja nem pela devoção aos rituais, mas por atos de compaixão com a intenção de ajudar os que estão em aflição. A verdadeira religião, que expressa externamente uma fé interior honesta, serve às pessoas em ne­ cessidade.

em nossos corações! Existe uma vida nova e maravi­ lhosa, a vida de Deus, que flui através de nós agora. E a mesma situação que, como uma tentação, propicia uma oportunidade para que nossas concupiscências nos façam cair, nos proporciona uma oportunidade para que a nova vida de Deus nos capacite a ficar em pé! Nós não temos que ceder aos maus impulsos que nos atraem e desejam nos arrastar para o pecado. A nova criação de Deus nos liberta para produzir a beleza e o bem. Nesse sentido maravilhoso, cada situação e cada tentação são dádivas boas e perfeitas do nosso Deus amoroso.

Aplicação Pessoal

Transforme as suas tentações em triunfos, decidin­ do fazer o bem.

Citação Importante

“Por que a tentação vem, senão para que o homem se depare com ela E a domine e faça com que ela se humilhe debaixo de seus pés, E assim seja erguido em triunfo?” — Robert Browning

7 DE DEZEMBRO LEITURA 341 A EXIBIÇÃO DA FÉ Tiago 2

“Assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tg2.26). A fé bíblica é viva e ativa.

Visão Geral

O favoritismo não combina com o amor ao próxi­ mo (2.1-13). Por causa da sua própria natureza, a fé deve expressar-se em obras: uma fé sem obras é morta e inútil (w. 14-26).

Entendendo o Texto

“Não tenhais... em acepção de pessoas” (Tg 2.1). O texto original é: “Deixem de fazer acepção de pes­

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Tiago 2

soas!”. Tiago estava lidando com um problema que já existia na comunhão dos crentes. E fascinante que Tiago falasse do “nosso Senhor Je­ sus Cristo, Senhor da glória”. “Glória”, nos tempos bíblicos, indicava o “peso” ou a “importância” de uma pessoa. Em comparação com a impressionan­ te glória de Jesus, quaisquer diferenças na impor­ tância que a sociedade atribua a algum ser humano acima de outros são realmente insignificantes. Dar importância a pessoas por causa da sua riqueza ou posição social, em vez de amar a todos os indivídu­ os igualmente, não está em harmonia com a natu­ reza da nossa fé. Nós temos que ser tão cuidadosos para não mos­ trar favoritismo hoje como no século I. Pecamos, se escolhermos o “bem-sucedido” para o trabalho na igreja sem considerar as qualidades espirituais. Pecamos, se ignorarmos o homem pobre que vem à nossa igreja e adularmos os bem-sucedidos. A igre­ ja de Cristo é uma família de irmãos. Nós devemos viver juntos como uma família, livres da discrimi­ nação e do orgulho pela posição que corrompe a sociedade. “Com anel de ouro no dedo, com vestes preciosas” (Tg 2.2-4). A roupa faz o homem, diz o ditado. É ver­ dade que as roupas simbolizam o status social em praticamente todas as sociedades. Mas símbolos de status não devem determinar a maneira como você ou eu avaliamos os outros. E o que tanto preocupava Tiago. A comunidade cristã considerava as pessoas que se vestiam com vestes preciosas mais importantes do que as pobres. Ao fazer essa distinção, eles tornavam-se “juizes de maus pensamentos”. Como nós devemos avaliar os outros? Em primeiro lugar, como pessoas pelas quais Cristo morreu, e, por isso, pessoas importantes. Não se deve deixar ninguém de lado, nem pedir-lhe: “assenta-te abai­ xo do meu estrado”. Mas outros cristãos são também membros vitais do corpo de Cristo, pois cada pessoa recebe dons do Espírito de Deus para ministrar aos outros. O pobre pode não ser útil para o orçamento da nossa igreja, mas aquele que é menos capaz financeira­ mente contribui igualmente, e às vezes mais, para a nossa vitalidade espiritual. “Escolheu Deus aos pobres... para serem ricos na fé ” (Tg 2.5). Nós já vimos isso repetido ao longo da história da igreja. O pobre, sem nenhuma esperan­ ça, exceto em Deus, parece muito mais rico na fé do que o rico. Você não precisa ser pobre para amar a Deus e esperar fervorosamente que Jesus retorne. Mas há momentos em que isso é útil.

Há outro pensamento importante aqui. Deus “es­ colheu” os pobres. Ele procurou os mais necessi­ tados da família humana e sobre eles derramou a sua graça. O que falta agora aos pobres será mais do que compensado quando herdarmos o reino de Deus. “Não vos oprimem os ricos?” (Tg 2.6,7). Nos tempos bíblicos, uma das razões principais da condição desesperadora dos pobres era a exploração pelos ricos. Os que tinham poder social podiam facilmente se aproveitar dos desamparados, e o faziam. Como é errado que a igreja se posicione contra os desamparados, demonstrando algum favoritismo pelos ricos. O que o povo de Deus deve fazer é lembrar aos ricos da sua obrigação para com os po­ bres, e não ficar do lado deles. “Se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado” (Tg 2.8,9). A Lei que os cristãos judeus veneravam ordenava com razão: “Amarás o teu próximo”. Em nenhuma passagem, “próximo” é definido como seus amigos, ou como os ricos entre vocês. Os pró­ ximos são simplesmente pessoas: qualquer pessoa com que você possa ter contato. Mostrar favoritis­ mo infringia a Lei antiga, pois redefinia o conceito de “próximo” e excluía os pobres. Na verdade, a Lei do Antigo Testamento era cui­ dadosamente contrária a mostrar parcialidade aos ricos ou aos pobres. Tiago não mencionou pre­ conceito contra os ricos, simplesmente porque as pessoas para as quais ele escrevia jamais fariam dis­ criminação contra eles! Os pecados que nós não cometemos não precisam de correção. São os pecados que nós cometemos que representam o problema. “Tornou-se culpado de todos” (Tg 2.10,11). Eu sus­ peito de que mostrar favoritismo pelos ricos, em nossas igrejas, pareça um pecado “pequeno”. Afi­ nal, isso não está na mesma categoria que o adulté­ rio, ou o roubo, ou o homicídio. Mas essa não era a opinião de Tiago. Para ele, peca­ do é pecado. Infringir a Lei é infringir a Lei. Imagine uma mulher que fez um bolo especial para um grupo de amigas e avisou à família: “Não me­ xam”. Você imagina que, se ela voltasse para casa e visse que um pedaço minúsculo foi tirado do bolo, não ficaria aborrecida? Claro que ficaria! O bolo não mais estaria inteiro. Nós temos a tendência de dividir a Lei em peque­ nos pedaços e rotular um pedaço como “adultério”, e outro como “roubo”, e outro como “favoritismo”. Inclinamo-nos a ver o “favoritismo” como um pe­ daço muito menor do que muitos dos outros. Mas

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Tiago 2

Tiago, como a mulher que fez o bolo da festa, via a Lei como um todo. Quando apenas um pequeno pedaço foi tirado, o bolo da festa ficou arruinado. E quando um único mandamento de Deus foi vio­ lado, a Lei foi infringida. Jamais se console, dizendo: “Bem, eu cometi so­ mente alguns pecadinhos”. Qualquer pecado in­ fringe a Lei e nos condena como transgressores. Como é importante, então, que procuremos ser santos em tudo o que fazemos! “Julgados pela lei da liberdade” (Tg 2.12,13). A “lei da liberdade” é a lei cristã do amor, a qual resume em um único princípio os argum entos por trás das regras e regulam entos do Antigo Concerto. Esta lei nos dá liberdade, porque nos ajuda a nos concentrar no verdadeiro sig­ nificado de tudo o que fazemos. Nós não so­ mos limitados por regras, mas libertados para viver vidas dinâmicas de amor. Como é sério, então, que os prim eiros cristãos já estivessem violando essa lei e m ostrando favoritismo aos ricos. Em lugar de exibir a misericórdia que receberam, quando Cristo os recebeu como eram, eles retiveram a misericórdia que deve­ ria ter sido dirigida aos pobres para bajular os ricos! O juízo dos cristãos aqui, como em qualquer ou­ tra passagem, não traz ameaça de inferno. Mas a ameaça é real. No dia em que você e eu estivermos diante de Cristo para receber nossas recompensas, se tivermos deixado de exibir misericórdia, o regis­ tro será considerado apagado, e não teremos nada a mostrar pelos nossos anos aqui na terra.

DEVOCIONAL______ Aquele Tipo de Fé (Tg 2.14-26)

Lutero considerava a epístola de Tiago como uma “epístola sem valor”, e se aborrecia com o que entendia a partir do ensino dessa epístola sobre as obras e a justiça. No entanto, na reali­ dade, este segmento crítico da epístola de Tiago não ensina que a justiça seja alcançada por meio das obras, mas faz uma pergunta vitalmente im­ portante. E essa pergunta é: Que tipo de fé você tem? Abraão tinha uma fé muito real. Nós sabemos que as Escrituras afirmam: “E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça” (v. 23). Em um sentido desse termo legal (“justifi­ cado”), Abraão foi justificado naquele momento, declarado inocente aos olhos de Deus.

“Os demônios o creem e estremecem” (Tg 2.14-19). To­ dos nós sabemos que existem vários tipos de fé. Um tipo de fé diz: “Eu creio”, e quer dizer: “Eu suponho que seja verdade”. Outro tipo de fé diz: “Eu creio”, e quer dizer: “Eu me comprometo, de coração e alma, com Deus”. Os demônios creem de acordo com o primeiro sentido. Os cristãos creem de acordo com o segundo. E fácil que as pessoas fiquem confusas sobre qual é a fé que se menciona, quando alguém diz: “Eu creio”. O que Tiago disse é que há uma maneira de descobrir a diferença. A fé que diz: “Eu suponho” não tem poder transformador. Esse tipo de fé não produz obras. A fé que diz: “Eu me comprometo, de coração e alma” é a fé que transforma. Esse tipo de fé sempre produz boas obras na vida do homem ou da mulher que crê. Que tipo de fé você e eu temos em Cristo? Um exame em nossas vidas deveria nos dizer. “O homem éjustificadopelas obras e não somentepelafé” (Tg2.20-26). A palavra “justificado” é um termo legal que pode significar “declarado inocente, ou provado inocente”. Nós somos justificados pela fé, pois, com base em nossa fé, Deus nos declara inocentes. Mas também somos justificados pelas obras, pois é com base em nossas obras que a nossa inocência é provada. A prova do pudim, diz o velho ditado, é quando é comido. A prova da justificação está nas boas obras que uma fé verdadeira em Jesus Cristo produz em nossas vidas. E por isso Tiago concluiu: “A fé sem obras é mor­ ta”. Se a sua fé em Cristo não fez diferença em seu modo de vida, então você tem uma fé morta, e não viva, em nosso Senhor. Mas Abraão não foi provado justo até que posterior­ mente obedeceu à ordem de Deus e foi ao monte Moriá, pronto e disposto a sacrificar o seu filho ama­ do, Isaque. Com esse ato, ele foi justificado em ou­ tro sentido legal e vital: a sua inocência foi exibida! O que Tiago nos diz é que o tipo de fé que nos torna justos diante de Deus também nos tornará justos perante os homens. Uma fé verdadeira em Deus nos transformará por dentro, e a nova pessoa em quem nos tornamos agirá de acordo com um relacionamento com Deus. Como Raabe mostrou que tinha uma fé verdadeira e salvadora em Deus, escondendo os espiões que tinham entrado em Jericó. Como você mostrou que tem uma fé verdadeira e salvadora em Deus, por muitas das escolhas que fez desde que se tomou cristão.

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Tiago 3

Que alegria é saber que a nossa fé é verdadeira! Que Por meio do evangelho, Deus está apresentando a alegria é ter uma fé que funciona! sua nova coleção à humanidade. E as pessoas não sabem expressar a sua opinião sobre um cristianis­ mo que está no cabide. Aplicação Pessoal Considere algumas das maneiras pelas quais a sua Cada crente deve exibir a fé em sua vida cotidiana, e aqueles que ensinam têm maior responsabilidade. fé se expressou em suas obras.

Citação Importante

“Todos tropeçamos em muitas coisas”(Tg3.2). Tiago, possivelmente a pessoa mais respeitada na igreja de Jerusalém, incluía-se entre os que tropeçam. A par­ tir das Escrituras e da literatura cristã dos primeiros tempos, nós sabemos que “tropeçar” indica come­ ter algum pecado. Como sabemos, com base nas histórias de santos como o rei Davi, e com base em escândalos de tele-evangelistas modernos, os cren­ 8 DE DEZEMBRO LEITURA 342 tes, tanto grandiosos como comuns, continuam DOMAR A LÍNGUA vulneráveis ao pecado. Um dos grandes erros que você e eu podemos cometer é supor que a nossa fé Tiago 3 seja tão forte, que já não somos mais vulneráveis à “Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão éper­ tentação. Nós precisamos permanecer humildes e feito e poderoso para também refrear todo o corpo” confiar completamente no Senhor. E quando pen­ samos que estamos em pé que corremos o maior (Tg 3-2). risco de cair. Aquilo que nós dizemos sobre os outros diz mais a nosso respeito do que a respeito deles. “O tal varão éperfeito” (Tg3.2). A palavra “perfei­ to” é novamente usada com o sentido de maturi­ Visão Geral dade, e não de falta de pecado. Para Tiago, uma Até mesmo os mestres devem controlar suas lín­ característica da maturidade era a sabedoria de do­ guas (3.1,2), que devem ser domadas e refreadas minar a nossa tendência de manter nossas bocas (w. 3-12). A verdadeira sabedoria não é ambiciosa, ativas, quando seria melhor mantê-las fechadas! A pessoa que consegue controlar a sua língua segue mas pura e pacífica (w. 13-18). o caminho para a maturidade cristã. (Veja o DEVOCIONAL.) Entendendo o Texto “Receberemos mais duro juízo” (Tg 3.1). Tiago não estava emocionado e feliz com o fato de tantos cristãos se apresentarem como autoridades na fé. E certo que alguns que ambicionam o título de “mes­ tre” são espiritualmente imaturos e não percebem que um professor, um mestre, carrega uma pesada responsabilidade. Como ensinar é uma responsa­ bilidade tão pesada, os mestres serão julgados com “mais duro juízo”, isto é, suas vidas sofrerão escru­ tínio mais atento e detalhado. Observe que é a vida do mestre que sofre escrutínio mais atento. Por quê? Porque o cristianismo não é apenas um conjunto de crenças, mas uma verdade que transforma a vida. Uma pessoa que transmite a mensagem cristã precisa exemplificar o que ensina. Sob vários aspectos, o cristianismo é como um des­ file de moda. Uma nova coleção de roupas é apre­ Tiago 3.3-6 diz que, assim como o freio na boca de um sentada, e o estilista traz um desfile de modelos cavalo é usado para guiá-lo, também a nossa língua tem que vestem essa nova coleção para que clientes em uma poderosa influência sobre nós — e sobre os outros! potencial a vejam. Afinal, você não pode realmente Nós, cristãos, devemos ser especialmente cuidadosos no saber a aparência das roupas, se elas estiverem ape­ que falarmos, porque as palavras podem ter um grande nas penduradas nos cabides. impacto, tanto para o bem quanto para o mal. “Você pode dizer que é cristão, mas isso não faz de você um cristão. O verdadeiro cristão dará evidên­ cias da fé por meio de uma vida transformada. O tipo de fé que levará você ao céu é o tipo de fé que produzirá a santidade em sua vida, aqui e agora.” — Charles H. Robinson

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Tiago 3

“A língua também é um fogo” (Tg 3.6). Tiago falou sobre a língua anteriormente. Em 1.19, ele escre­ veu: “Todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar”. E, no versículo 26, ele escreveu: “Se alguém entre vós cuida ser reli­ gioso e não refreia a sua língua, antes, engana o seu coração, a religião desse é vã”. Falar sem refletir sobre o que dizemos não é apenas tolice, mas é pre­ judicial, a nós mesmos e aos outros. Como eu frequentemente digo a Sarah, sem conse­ guir impressioná-la: “Deus nos deu dois ouvidos e apenas uma boca. Assim, nós devemos ouvir pelo menos o dobro do que falamos”. “Não convém que isto sefaça assim”(Tg3.7-12). Tia­ go não abordou a teologia da maneira como Paulo a abordava em suas cartas. Mas os comentários dele refletem um profundo entendimento, tanto da teo­ logia quanto de nosso dilema pessoal. Tiago estava bastante ciente de que os cristãos têm corações divididos. Nós queremos agradar a Deus, mas sempre há um prazer distorcido no pecado que se agita dentro de nós. A natureza dividida de nos­ sos corações é exibida mais claramente no que dize­ mos, expressando num momento um pensamento devoto e, no momento seguinte, um sentimento pecaminoso. Você e eu jamais conseguiremos o controle total sobre nossas línguas (v. 8). Mas devemos nos lem­ brar de que a nova vida que Deus nos deu é uma nascente pura, da qual fluem águas revigorantes. Devemos nos comprometer em revigorar os outros com tudo o que dissermos e nos abster de proferir pensamentos mesquinhos e odiosos. “Quem dentre vós é sábio e inteligente?” (Tg 3.13). A palavra traduzida como “sábio”, sophos, era o ter­ mo judaico para um professor ou um rabino. Tiago retomou o tema do versículo 1 e o reforçou. Uma pessoa que é qualificada para ser um professor deve “mostrar [isso], pelo seu bom trato”. Há algum tempo, Robert Ingersol viajou pelo nos­ so país, fazendo palestras que ridicularizavam o

DEVAOCIONAL______ Hora de Estalar os Chicotes (Tg 3.1-6)

Ele entra confiantemente na jaula. Leões e tigres nervosos, empoleirados sobre banquinhos, o obser­ vam com olhos velados, urrando de vez em quan­ do, ou tentando atingi-lo com suas patas. Então, quando o domador parece prestes a perder o con­ trole, ele estala o seu chicote e as feras se aquie-

cristianismo. Quando ele estava em um trem, um cristão bem-intencionado falou com ele, certo de que, se ele apenas compreendesse o evangelho, se converteria. Ingersol interrompeu a explicação he­ sitante do cristão e perguntou: “E isso o que você quer dizer?” E continuou explicando o caminho da salvação com perfeita clareza. O grande incrédulo teve a habilidade de explicar crenças cristãs. Não devemos ficar impressionados com a habilida­ de de falar que outra pessoa possa ter. Deus só se impressiona com a maneira como vivemos aquilo em que cremos e o que ensinamos. “A sabedoria que vem do alto” (Tg3.14-18). Muitos cristãos parecem alegrar-se com uma defesa belige­ rante da verdade. Quanto mais zelo irado e egoís­ ta, melhor. Talvez seja por isso que tantos apelos por contribuições retratem quem as envia como a única barreira existente contra a corrupção da fé por parte de outros cristãos, que são considerados inimigos de Cristo, conscientes ou involuntários. E bom receber cartas com pedidos como estes. Se­ quer tenho que orar para saber se devo contribuir ou não. Eu simplesmente jogo as cartas no cesto de lixo. “Essa ‘sabedoria’”, diz Tiago, “não vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica”. “A sabedoria que vem do alto” (Tg 3.17-19). Os co­ mentários de Tiago sobre a sabedoria tencionam promover o autoexame. Eu posso usar os princípios para avaliar os pedidos de contribuição, mas o uso realmente importante desses princípios é ajudar-me a avaliar a minha própria atitude em situações va­ riadas. Se sentir “inveja e espírito faccioso” em meu coração, não estarei espiritualmente em condições de tomar uma decisão sábia ou devota. E definiti­ vamente não terei condições de ensinar os outros. Mas, se o meu entendimento e a minha aplicação das Escrituras me conduzirem a um entendimento da verdade que me torne uma pessoa “pura, depois, pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia”, então talvez Deus tencione usar-me para ensinai'.

tam, ou executam seus truques sob o seu comando. Uma das coisas mais importantes que precisamos aprender como cristãos é reconhecer situações em que você e eu devemos estalar o chicote e manter nossas línguas ferozes e indomadas sob controle. Aqui estão algumas dessas situações típicas. Um de seus amigos aparece e diz, sem fôlego: “Você soube da Sally Price? Eu fiquei sabendo que ela...”.

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Tiago 4— 5

Você abre a sua boca, prestes a dizer o que você ouviu — e é hora de estalar o chicote! Uma fofoca é definitivamente inaceitável. Um amigo vem e lhe pede um conselho. Você ten­ ta ajudá-lo a pensar no assunto e lhe dá algumas perspectivas bíblicas. Você não tem certeza de que ele fará o que você julga sábio e está prestes a lhe dizer que ele precisa decidir — e percebe que é o momento de estalar o chicote. Você sabe que ele precisa ser responsável pelas suas próprias decisões, e que você precisa dar-lhe espaço para tomá-las. O seu marido colocou os pratos no lugar errado do armário novamente! Você sabe que ele está ten­ tando ajudar, mas esta é a enésima vez que faz er­ rado. Você sente que está ficando irritada e abre a sua boca — quando você percebe, é o momento de estalar o chicote. Homens! Você sorri, feliz por ter um marido que está disposto pelo menos a ten­ tar, e lembra-se de que os homens são constitucio­ nalmente incapazes de perceber qual é o lugar dos pratos. Todos são tão entusiastas; você também fica. Você está prestes a comprometer-se e acompanhar o gru­ po, quando para e percebe que é o momento de estalar o chicote. E melhor não tomar nenhuma decisão até ter tempo de pensar sobre isso! Estas são apenas algumas das situações em que esta língua selvagem e indomada provavelmente nos arrastará antes mesmo que tenhamos tempo para pensar! Aprender a reconhecer estas situações e domar a sua língua é vital para o seu crescimento rumo à maturidade cristã.

a confiança (w. 13-17) diante da injustiça (5.1-6) são adequadas para os crentes, como o são a paci­ ência (w. 7-11) e a pura honestidade (v. 12). Até que Jesus venha, nós temos a oração (w. 13-18), e temos uns aos outros (w. 19,20).

Entendendo o Texto “Donde vêm as guerras e pelejas entre vós?” (Tg 4.14). É fácil culpar as circunstâncias e outras pessoas pelos conflitos. As vezes, outros devem ser culpa­ dos, na verdade: algumas pessoas são simplesmente hostis, procurando sempre uma oportunidade de fazer mal aos outros ou de combatê-los. Mas o pri­ meiro lugar a procurar, quando nós sentimos hosti­ lidades, é dentro de nós mesmos. O que Tiago quer dizer é que nós nos tornamos hostis e contendemos com os outros quando eles parecem ameaçar algo que queremos. É mais provável que você dispute com um rival por aquela promoção que deseja do que com qualquer outro colaborador. A inveja de outras pessoas distorcerá a maneira como você age em relação a elas e a maneira como você interpreta os seus atos. Não há muito que você ou eu possamos fazer, se a outra pessoa estiver determinada a ser hostil. Mas há muito que nós podemos fazer quando encon­ tramos a razão para a disputa dentro de nós mes­ mos. Em primeiro lugar, nós podemos examinar nossas motivações para ver se estão em harmonia com a santidade. Em segundo lugar, podemos de­ terminar-nos a não usar meios pecaminosos para alcançar qualquer objetivo, ainda que seja bom. Em terceiro lugar, podemos orar pelas pessoas com Aplicação Pessoal quem nós temos problemas, pedindo que Deus as Aprenda a importância de permanecer calado ajude e nos ajude a preocupar-nos com elas. quando mais desejar falar. Finalmente, podemos comprometer-nos com o Se­ nhor, pedindo-lhe que não nos dê o que nós quere­ Citação Importante mos, mas aquilo de que precisamos. “O melhor momento para você refrear a sua língua é o momento em que você sente que precisa dizer “A amizade do mundo é inimizade contra Deus”(Tg algo ou vai explodir.” — Josh Billings 4.4). Aqui, como nos textos de João, o “mundo” (.kosmos) é a cultura humana pecaminosa, com 9 DE DEZEMBRO LEITURA 343 sua complexa rede de motivações, desejos e per­ PERSPECTIVAS DE FÉ cepções que se concentram, de modo egoísta, na Tiago 4— 5 vida no universo atual. Tiago diz que não pode­ mos desenvolver uma afinidade com a perspectiva “Sede, pois, irmãos, pacientes até a vinda do Senhor” do mundo sobre a vida e esperar continuar a ter amizade com Deus, cuja perspectiva é completa­ (Tg5.7). mente diferente. A paciência e a oração sáo recursos que tornam su­ A advertência reflete algo que Tiago acabava de portáveis os sofrimentos atuais. dizer sobre a oração. Com frequência, as nossas orações não são atendidas “porque pedis mal, para Visão Geral o gastardes em vossos deleites” (v. 3). Não é que Motivos e atitudes afetam a oração (4.1-6). A hu­ Deus não nos permita diversão ou relaxamento. mildade (w. 7-10), a imparcialidade (w. 11,12) e Porém, uma atitude egocêntrica, em que o desejo

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de satisfação pessoal deixa o interesse por Deus e pelos outros de lado, não estimulará orações que Deus esteja disposto a atender. Este mundo não é uma loja de brinquedos, e Deus não é um pai indulgente que nos compra tudo o que queremos. Especialmente quando os brinque­ dos que as pessoas mundanas desejam são odiosos a Deus! “Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humil­ des”(Tg4.5,6). A “inveja” é um sentimento amargo incitado pelo fato de que outra pessoa possui algo que nós queremos, seja riqueza, popularidade ou sucesso. Tiago nos adverte de que “o Espírito que em vós habita tem ciúmes”. Todos aqueles desejos que se agitam em nós e provocam “guerras e pele­ jas” estão enraizados na própria natureza humana decaída. Não se surpreenda, se você se vir orienta­ do para o mundo, que é o inimigo de Deus! Mas o versículo 4 enfatiza a palavra “quiser”. O de­ sejo em si mesmo não é pecado. O pecado é uma escolha motivada pelo desejo. Como é maravilhoso saber que Deus nos “dá maior graça”, capacitandonos dessa maneira a dominar as nossas tendências naturais. E como é importante que nos humilhe­ mos diante dEle e peçamos esta graça.

“O vosso ouro e a vossaprata se enferrujaram”(Tg 5.16). Esta veemente condenação dos ricos que explo­ ram os pobres parece quase em lugar inadequado. Mas aqueles que confiam nas riquezas e menospre­ zam os direitos dos outros para acumulá-las são a antítese das pessoas humildes que Deus deseja que os crentes se tornem. Estes homens ricos personi­ ficam o sistema do mundo, que Tiago afirma ser hostil a Deus. Eles valorizam as coisas materiais, que não têm valor duradouro. E desdenham dos seres humanos, que Deus afirma que têm valor supremo. A sua vida na terra, que é uma vida de “delícias e deleites”, serve apenas para prepará-los para o “dia de matança” (o juízo divino). Não inveje os ricos e famosos. Eles sofrem muito mais do que eu e você!

“Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra” (Tg 5.7). A humildade não paga dividendos ime­ diatos. Tiago era realista a esse respeito. Nós tam­ bém devemos ser realistas. Se você deseja prospe­ rar neste mundo, talvez a abordagem de “guerras e pelejas” funcione melhor. Mas os cristãos são como lavradores. Nós planta­ mos nesta vida e esperamos colher na próxima. E, como os lavradores, a única coisa que podemos fazer, até a colheita, é esperar. Confiantemente, “Tu, porém, quem és, que julgas a outrem?” (Tg com paciência. 4.11,12). Tiago nos convidou a viver uma vida humilde. Agora ele prossegue, exemplificando isso. “J á a vinda do Senhor está próxima” (Tg 5.8-11). Uma pessoa que é rápida para julgar os atos dos Para nos ajudar a desenvolver paciência, Tiago outros não é humilde. Ele, ou ela, subiu com di­ disse duas coisas. Em primeiro lugar, “já a vinda ficuldade à cadeira do Juiz, agarrou o seu martelo do Senhor está próxima”. A espera não será tão e empurrou o Juiz para o lado. Existe um único longa como pode parecer às vezes. E, em segundo Legislador e Juiz. Lembre-se disso, quando você se lugar, procure, nas Escrituras, exemplos daqueles sentir tentado a julgar os outros. Você e eu não es­ que suportaram o sofrimento pacientemente e, tamos no tribunal. Estamos diante do tribunal, ao no final, foram mais do que recompensados por lado da mesma pessoa cujo caso queremos decidir Deus. Você e eu também seremos ricamente re­ e arrogantemente julgar! compensados. “E um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece” (Tg 4.13-17). Uma velha professora sempre concluía as suas cartas aos ex-alunos com “d.v.”. Finalmente, um deles lhe perguntou o que queriam dizer essas letras. A resposta foi: “dio volente” — se Deus quiser. E isso o que Tiago dizia aqui. Certifique-se de acrescentar “d. v.” a cada plano que você fizer, a cada intenção que você expressar. A arrogância olha à frente e pressupõe que o futuro é seguro, que o ne­ gócio prosperará, que o corpo continuará saudável, que os entes queridos sempre estarão ali. A pessoa humilde vive consciente da fragilidade humana, e “d.v.” é o pós-escrito prudentemente acrescentado a cada plano.

“Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele” (Tg 5.13-18). O Antigo Testamento nos fala de um rei de Judá que ficou doente e morreu, em parte porque confiava “apenas” nos médicos. Alguns entendem que a palavra que é traduzida como “azeite” aqui indica que Tiago recomendava o uso medicinal de azeite de oliva no tratamen­ to dos doentes. Mas ele esperava que os cristãos confiassem em Deus para a cura e antecipassem confiantemente que a oração seria atendida. Parte desse processo de cura é a confissão dos pecados: a perda da comunhão com Deus nos destrói pouco a pouco e nos toma mais vulneráveis às doenças. Par­ te do processo de cura é a oração feita pelos obrei­ ros da igreja. Ao combinar o tratamento médico e

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o espiritual, nós expressamos aquela confiança em ros, quando confrontado. E aquele que confronta Deus que está em harmonia com a humildade. também precisa ser humilde, para que uma ati­ tude de orgulho não afaste seu irmão ainda mais “Fizer converter do erro do seu caminho um pe­ do Senhor. cador” (Tg 5-19,20). Tiago encerrou com este Que maravilhosos recursos Deus nos deu, a uns e exemplo final de humildade. Aquele que tem pe­ a outros, enquanto esperamos juntos a vinda do cados precisa ser humilde para confessar seus er- nosso Senhor.

DEVOCIONAL______ O Bom e Velho “Como Fazer Isto” Americano?

(Tg 4.1-10) Depois de anos de ministério em igrejas e semi­ nários, eu observei uma coisa peculiar. A pri­ meira pergunta que nós, americanos, fazemos é: “Como?”. Não importa se estou ensinando sobre educação cristã ou liderança na igreja, sempre que introduzo um conceito, alguém pergunta: “Mas como podemos fazer isso?”. Não perguntam: “Isso é certo?”, nem: “Isso é bíblico?”, mas: “Como po­ demos fazer ISSO?”. Pode ser que esta seja uma característica humana, e náo apenas americana. Eu suspeito de que Tiago também estivesse ciente das perguntas “como?” do seu público. Certamente poucas passagens das Es­ crituras têm tantos verbos ativos juntos em poucos versículos, como 7-10, a seção “como” que coroa os comentários de Tiago sobre conflito, orações não atendidas e a necessidade de graça para superar a nossa tendência natural à inveja. Os dois primeiros verbos sugerem princípios gerais. Nós devemos sujeitar-nos a Deus. E devemos resis­ tir ao Diabo. A maneira COM O nós fazemos isso é explicada pelos outros verbos, nesses versículos. (1) Nós “nos chegamos” a Deus. Conscientemente, fixe os seus pensamentos no Senhor e aproxime-se dEle em oração. Tiago nos promete que, quando fizermos isto, Deus se curvará para nos ouvir. Este sempre é o primeiro passo na submissão. (2) Nós “limpamos as mãos” e “purificamos o co­ ração”. Ao nos aproximarmos de Deus como peca­ dores, confessamos os nossos pecados. E, embora tenhamos sido “inconstantes” (cf. 1.8), assumimos o compromisso de obedecer, independentemente do que Deus nos peça para fazer. (3) Nós convertemos o nosso “riso em pranto”. Re­ jeitamos o sistema do mundo com os seus falsos

valores. Percebemos que, para a maioria das coisas de que o mundo se ri, na verdade, o pranto é mais adequado, e a maioria das coisas em que o mun­ do encontra alegria, na verdade, lança um manto de tristeza e melancolia sobre o universo de Deus. Converter o nosso riso em pranto é substituir a perspectiva que o homem perdido tem da vida pela perspectiva de Deus e avaliar todas as coisas segun­ do os seus padrões. (4) “E Ele vos exaltará”. Quando nós nos humilha­ mos dessa maneira diante de Deus, sentimos que as suas mãos amorosas nos agarram e nos exaltam. Quando nos humilhamos diante de Deus, não é apenas a nossa maneira de ver a vida que é modi­ ficada. Nós mesmos somos transformados! Somos exaltados à novidade da vida. Aplicação Pessoal Ajoelhe-se para estar ao lado de Deus. Citação Importante “Um homem manso não é um rato humano com uma percepção da sua própria inferioridade. Em vez disso, ele pode ser, na sua vida mortal, tão corajoso como um leão e tão forte como Sansão. Porém, ele não se engana mais a seu próprio respeito. Ele aceitou a avaliação que Deus fez da sua vida. Sabe que é tão fraco e impotente como Deus declarou que ele é, mas paradoxalmente sabe, ao mesmo tempo, que, aos olhos de Deus, é mais importante do que os anjos. Em si mes­ mo, nada; em Deus, tudo. Este é o seu lema.” — A. W. Tozer

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em MATEUS

1 PEDRO INTRODUÇÃO A primeira epístola de Pedro foi escrita pelo apóstolo Pedro, quando ele estava em Roma, no início dos anos 60 d.C., endereçada aos cristãos do norte da Ásia Menor. E uma epístola pastoral, escrita para incen­ tivar os cristãos, que já eram perseguidos, a viver vidas devotas, caracterizadas pela submissão e pelas boas obras. Na primeira epístola de Pedro, Jesus é proeminente como nosso exemplo de sofrimento inocente e como aquEle cuja ressurreição e volta para a glória confirmam a nossa própria esperança. Esta carta vigorosa continua a inspirar os crentes que sofrem perseguições por causa da nossa fé comum. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. A Dádiva da Salvação.............................................................................. II. O Chamado à Submissão..................................................................... III. Soberania e Sofrimento ..................................................................... IV. A Perspectiva da Glória........................................................................

.. 1 Pe 1.1— 2.10 1 Pe 2.11— 3.12 .. 1 Pe 3.13— 4.6 .. 1 Pe 4.7— 5.14

GUIA DE LEITURA (3 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” em sua Bíblia e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 344 345 346

Capítulos 1 2— 3 4— 5

Passagem Essencial 1.17-25 3.8-18 4.12-19

1 PEDRO 10 D E DEZEM BRO LEITURA 344

SALVOS PARA A SANTIDADE 1 Pedro 1

“Como é santo aquele que vos chamou, sede vós tam­ bém santos em toda a vossa maneira de viver, por­ quanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1 Pe 1.15,16). Afinal, é de se esperar que os filhos sejam parecidos com os pais. Biografia: Pedro Pedro foi o líder reconhecido dos 12 discípulos durante a vida de Jesus na terra. Ele continuou de­ sempenhando esse papel nos primeiros dias da igre­ ja. Nós temos mais informações sobre o ministério de Paulo, que foi posterior (a obra missionária de Paulo está registrada por Lucas no livro de Atos, e Paulo contribuiu com 13 cartas para o nosso Novo Testamento). Mas Pedro continuou a ser uma for­ ça motriz no movimento cristão. A tradição antiga nos diz que Marcos era o “intérprete de Pedro”, e duas das cartas circulares de orientação de Pedro são encontradas no Novo Testamento. Uma firme tradição relata que tanto Pedro como Paulo morre­ ram em Roma, no fim dos anos 60 d.C., vítimas de uma explosão de perseguição. Visão Geral Depois de uma breve saudação (1.1,2), Pedro lou­ vou a Deus pela salvação daqueles que agora so­ friam perseguição (w. 3-12). Ele os incentivou a recordar o preço da redenção e a viver vidas santas (w. 13-25). Entendendo o Texto "Eleitos segundo a presciência de Deus Pai” (1 Pe 1.1,2). Sem dúvida, os primeiros cristãos do Im­

pério Romano vieram das classes inferiores e mais pobres. Eles eram vulneráveis à perseguição. Na verdade, depois de 50 anos da escrita desta carta, Plínio, um governador romano de Bitínia e Ponto, executaria sumariamente os crentes simplesmente por admitirem que eram cristãos! Como é vital, então, esta saudação, que lembrava aos cristãos da Ásia Menor que eles eram os “eleitos de Deus”. Faz pouca diferença a maneira como as pessoas em nossa sociedade consideram os cristãos. O que im­ porta é o fato de que nós temos importância e valor aos olhos de Deus. Lembre-se de que o Pai o escolheu, o Espírito o separou, e o Filho o purificou com o seu próprio sangue. Esses lembretes do amor de Deus podem consolar e sustentar quando nos sobrevier algum sofrimento. “Pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1 Pe 1.3,4). No século I, muitos cidadãos de classes inferiores juntavam-se em pequenas associações ou clubes, que tinham, em geral, de 50 a 200 mem­ bros. Os clubes propiciavam uma oportunidade para participar de atividades sociais e para obter reconhecimento por ter uma atividade. Talvez o mais importante, as mensalidades dos clubes eram usadas para cobrir as despesas de funerais dos membros que morressem. Assim, a participação em uma hataeria do século I oferecia benefícios aos seus membros nesta vida. Como é diferente a igreja, a ekklesià. Em sua gran­ de misericórdia, Deus instilou vida e esperança nos crentes, prometendo-nos vida após a morte pela ressurreição de Jesus! O clube pagáo acumulava ri­ quezas, para que houvesse fundos disponíveis para

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sepultar os seus membros. Deus acumula um te­ souro eterno que nós herdamos além da morte e do qual desfrutamos para todo o sempre. Quando o sofrimento nos vier, como certamente virá, que alegria é olhar à frente! Para nós, a morte não é o fim, mas um novo começo. “Guardados na virtude de Deus, para a salvação já prestes para se revelar" (1 Pe 1.5). Você percebeu a dupla segurança que Deus proveu para assegurar o nosso futuro? Ele guarda os tesouros acumulados para nós, preservando-os no céu. E Ele nos guarda, preservando-nos aqui na terra. A fé em Cristo é a garantia de que Deus nos conservará como seus até que Cristo retorne, para nos tomar para si. “Que estejais por um pouco contristados com várias tentações” (1 Pe 1.6-9). Pedro era particularmente sensível ao sofrimento que os cristãos, em muitas partes do império, já começavam a vivenciar. Nesta curta carta, pascho, a palavra grega básica para sofri­ mento, é usada 12 vezes. E vários outros sinônimos em grego também são encontrados. Pedro sofria com os sofredores. Mas ele também tinha palavras de encorajamento para eles — palavras que nos en­ corajam também. Em primeiro lugar, o nosso sofrimento na terra é “por um pouco”. Até mesmo anos, que nos pare­ cem tão demorados, são menos do que um instan­ te, quando comparados à eternidade. Em segundo lugar, as tentações têm grande im­ portância para provar a fé genuína. Quando Plínio questionava os cristãos, ele libertava qualquer pes­ soa que negasse a fé, queimando incenso a estátuas de deuses pagãos. A “fé” de alguns provou ser irreal sob pressão muito menor. Mas a fé de muitos mi­ lhões provou ser real, apesar de intensos sofrimen­ tos, e isso leva a Deus “louvor, e honra, e glória”. Em terceiro lugar, as tentações nos fornecem uma oportunidade singular de experimentar a nossa própria salvação. Quando assumirmos nossa posi­ ção ao lado de Jesus, nós nos encontramos cheios de “gozo inefável e glorioso”, apesar do sofrimento e da dor. Essa alegria, uma dádiva do Espírito San­ to, é evidência de que estamos “alcançando o fim da [nossa] fé, a salvação da alma”. Aqueles que sofrem por causa de Jesus e que per­ manecem fiéis a Ele encontram uma certeza inte­ rior de que Deus é real e de que estão salvos! “Os sofrimentos que a Cristo haviam de vir e a gló­ ria que se lhes havia de seguir” (1 Pe 1.10-12). Nós, cristãos, cremos que a glória segue ao sofrimento e origina-se dele. Na era do Antigo Testamento, os profetas previam tanto os sofrimentos quanto a

glória do Messias prometido de Deus. Mas o “tem­ po e a ocasião” envolvidos continuavam sendo um mistério. A morte e a ressurreição de Jesus solucionaram esse mistério de uma vez por todas. Hoje, nós sabemos que Cristo veio para sofrer por nós, retornou ao céu, e que Ele retomará outra vez em glória. O “tempo” é: sofrimento agora, glória depois. Isso também é verdade para você e para mim. O so­ frimento antecede a glória. Assim, se o sofrimento vier, você e eu podemos olhar além dele e alegrarnos pelo que sabemos que virá. A vinda de Cristo esclareceu a “ocasião”. Devemos esperar sofrimento enquanto vivemos nossas vidas na terra. E devemos esperar glória quando Jesus retornar. Há muita coisa na profecia do Antigo Testamento que permanece um mistério. Porém, a conexão en­ tre sofrimento e glória, com o “tempo e a ocasião”, nos é revelada em Cristo. Como agora nós enten­ demos essas coisas, não podemos ser destruídos pelo sofrimento, como se algo estranho estivesse acontecendo conosco. Em vez disso, olhamos além do nosso sofrimento e nos consolamos com a glória de que participaremos quando Jesus voltar. “Cingindo os lombos do vosso entendimento” (1 Pe 1.13-16). Conhecendo o padrão de sofrimento se­ guido por glória, você e eu nos preparamos para vi­ ver vidas devotas. Pedro nos diz que devemos estar prontos, ter autocontrole, ser filhos obedientes, ser “santos em toda a [nossa] maneira de viver”. E ele nos diz uma nova coisa vital: “Esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo”. Com muita frequência, nós “esperamos” alguma graça próxima, até mesmo imediata. “Senhor, eu gostaria deste emprego.” “Senhor, cura a minha en­ fermidade.” “Senhor, se tu ao menos nos deixasse comprar esta casa...” “Pai, eu sei que este casamen­ to é exatamente o que preciso para ser feliz.” Nós podemos verdadeiramente conseguir o que pedi­ mos e esperamos nesta vida. Mas qualquer pers­ pectiva terrena pode desapontar, e cada possessão terrena pode ser arrancada de nós. Somente quan­ do concentramos a nossa esperança “inteiramente” na graça de que participaremos quando Jesus vier, é que seremos imunes às perdas da vida. “A ndai em temor, durante o tempo da vossa peregrina­ ção” (1 Pe 1.17). Quando você e eu levamos Deus a sério, percebemos como a nossa vida na terra é fugaz. Nós desfrutamos as boas dádivas de Deus. Sentimos a dor das nossas perdas e dos nossos re­ veses. Mas, de alguma maneira, estamos sempre

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cienres de que somos estrangeiros aqui. Não per­ tencemos a este lugar. E queremos ir para casa. Este pode ser um dos pontos mais importantes do sofrimento. Se a vida na terra fosse uma ale­ gria constante, por que concentraríamos a nossa esperança inteiramente na graça de que partici­ paremos no retorno de Jesus? Se a vida na terra não tivesse dificuldades, como continuaríamos sensíveis à necessidade que temos de Deus? Se a vida na terra não tivesse tentações nem persegui-

DEVOCIONAL______ Nascer de Novo

(1 Pe 1.17-25) Jesus foi quem disse isto primeiro: “Necessário vos é nascer de novo” (Jo 3.7). Mas Pedro pode nos dar a melhor explicação, encontrada nas Escrituras, do impacto de nascer de novo. Em uma passagem cur­ ta e vigorosa, ele falou sobre o custo da nossa nova vida, da sua natureza e da diferença que ela faz. O custo é “o precioso sangue de Cristo”, o preço pago para que possamos ter uma nova vida. Por na­ tureza, a nossa nova vida é imperecível. E a diferença que isso faz é tão grande quanto a diferença entre a noite e o dia. J. B. Phillips nos ajuda a compreender a natureza da nossa nova vida em sua paráfrase de 1 Pedro 1.23: “Deus nos deu a sua própria herança indestrutível”. A nossa nova vida é a própria vida de Deus, fundida permanentemente à nossa personalidade humana. Toda carne é como a erva, perecível. A nova vida que recebemos de Deus é permanente, uma fonte inesgotável de existência e vitalidade espiritual. Você e eu não podemos ter a vida de Deus em nós e permanecer inalterados. Pedro falou da diferença como sendo purificadora. Na obediência à verdade (uma expressão que simplesmente significa respon­ der com fé à mensagem de Deus), nós nos “purifi­ camos”. Os motivos e desejos antigos e egoístas que antes nos governavam não mais são nossos senhores e foram substituídos por aquela qualidade que revela, com maior clareza, o coração do próprio Deus: amor. Agora, nascidos de novo, com “o amor fraternal, não fingido” (ARA), nós prosseguimos, “amando ardente­ mente uns aos outros, com um coração puro”. Você já se perguntou se realmente nasceu de novo? Se você tiver a herança de Deus, começará a ser como o nosso Pai Celestial. E a característica da nos­ sa semelhança com Ele é a nossa crescente capacida­ de de amar.

ções, como seríamos forçados a escolher entre o comprometimento com Cristo e o conforto ou a tranquilidade? Como disse Pedro, o sofrimento tem a sua impor­ tância. Ele revela a autenticidade da nossa fé, e as­ sim é um louvor ao Senhor. E a nossa experiência de alegria inexplicável em nosso sofrimento nos tranquiliza. Nós alcançamos algo muito importan­ te: “O fim da [nossa] fé [alcança], a salvação da alma” (v. 9). Citação Importante “Por meio dos irmãos e irmãs, Cristo fez do amor a escada que possibilita que todos os cristãos subam ao céu. Portanto, agarrem-se a ela com toda since­ ridade, deem uns aos outros provas práticas desse amor, e, com o seu progresso, subam juntos.” — Fulgêncio de Ruspe 11 DE DEZEMBRO LEITURA 345 DEUS VIVE 1 Pedro 2— 3 “Tendo o vosso viver honesto entre os gentios, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de mal­ feitores, glorifiquem a Deus no Dia da visitação” (1 Pe 2.12). Cristo é o nosso modelo, que sofreu por fazer o bem. Visão Geral Pedro encorajou o crescimento (2.1-3) em vista do chamado dos crentes como os escolhidos de Deus e o povo santo dEle (w. 4-10). Os crentes devem viver vidas corretas (w. 11,12) e sujeitarse às autoridades civis (w. 13-17) e aos senhores (w. 18,19), mesmo quando isso envolver sofrer como Cristo sofreu (w. 20-25). A submissão é apropriada no lar (3.1-7) e na igreja (vv. 8,9). Se o indivíduo sofrer por fazer o bem, deve lembrar-se do sofrim ento de Cris­ to (vv. 10-18), o qual levou à nossa salvação (vv. 19-22).

Entendendo o Texto “Desejai afetuosamente... o leite racional” (1 Pe 2.1-3). No capítulo 1, Pedro nos lembrou de que nascemos de novo e recebemos a herança de Deus. Este primeiro sabor da graça deve nos Aplicação Pessoal inspirar a crescer! A nossa experiência religiosa Aqueles que o conhecem enxergam a semelhança não termina quando somos salvos. Ela inicia-se familiar que você tem com Deus? assim.

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É simplesmente apropriado, então, que sirvamos como sacerdotes e “anunciemos as virtudes” daque­ le que nos chamou das trevas para a luz.

“Reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa” (1 Pe 2.4-8). Os valores de Deus e os dos homens pecadores estão em constan­ te conflito. Os autores pagãos dos primeiros séculos da nossa era, quando mencionam Cristo, zombam dEle e dos seus seguidores. Os pagãos modernos têm uma atitude similar, embora o nome de Jesus seja, pelo menos, familiar. Mas, para aqueles dentre nós que creem, o nome de Jesus é precioso. Estas reações opostas a Jesus têm implicações no que Pedro diria a respeito da submissão e do sofri­ mento. O pagão, que desobedece à mensagem de Jesus, jamais sentirá a sabedoria da submissão ou o valor do sofrimento. Somente a nossa fé em Jesus, com a completa aceitação dos valores declarados por Deus, nos capacita a escolher o caminho que o próprio Jesus percorreu. “A geração eleita, o sacerdócio real” (1 Pe 2.9,10). É simplesmente correto que nós decidamos viver de acordo com os valores de Deus, pois Ele nos escolheu. No Antigo Testamento, os sacerdotes oficiavam em sacrifícios e lideravam a adoração a Deus. Na cultura romana do século I, os sacerdotes pagãos também lideravam os adoradores na oferta de sacrifícios e louvores aos deuses. Em ambos os contextos, servir como sacerdote era considerado uma grande honra. Assim, a imagem de um sacer­ dócio real cristão era clara e poderosa. Nós, que, por causa do pecado, nem mesmo éramos um povo de Deus, fomos chamados das trevas e recebemos a posição mais elevada!

Nos tempos antigos, a pedra de esquina era a âncora do alicerce de um edifício. Os textos de Salmos 118.22 e Isaías 28.16, que se referem a pedras de esquina, foram interpretados, por rabinos de Israel, como tendo impli­ cações messiânicas e são aplicados a Jesus nos Evangelhos (Mt 21.42; Mc 12.10; Lc 20.17), por Paulo (Rm 9.33; Ef 2.20) e por Pedro. Jesus Cristo é o alicerce da nossa fé, como também da igreja; nEle, os crentes são pedras vivas (1 Pe 2.4-7).

“Que vos abstenhais das concupiscências carnais” (l Pe 2.11). Pedro dedicou o resto deste capítulo e o início do próximo para explicar como você e eu “anunciamos as virtudes” de Deus. Basicamente, nós as anunciamos mais pela maneira como vive­ mos do que pelo que dizemos. A primeira declaração de virtude que Pedro men­ cionou foi; “abster-se das concupiscências carnais”. Uma tradução melhor sugere que o cristão deve romper claramente com os “impulsos naturais” que o dominaram no passado. O adjetivo sarkikon, encontrado nesta expressão grega, sugere que os impulsos que Pedro rinha em mente não são im­ pulsos para o pecado declarado, mas a inclinação natural de cada pessoa para preservar o seu bem es­ tar material e a sua individualidade. Pedro advertiu que esta preocupação com as coisas deste mundo “combatem contra a alma”. Quanto mais nós nos preocuparmos com o universo material, menos nos preocuparemos com o espiritual. As coisas desta vida devem ter pouco valor para o cristão, cujas esperanças estão fixas no retorno de Cristo. “Tendo o vosso viver honesto entre os gentios” (1 Pe 2.12). A liberdade da preocupação com estas coisas que preocupam os pagãos, de modo bastante natu­ ral, não significa o isolamento do mundo. Significa a liberdade para viver vidas corretas, aqui e agora. Nós podemos entender o motivo. Se você estiver basicamente preocupado em conseguir a sua co­ missão em uma venda, não considerará se vai tratar o seu consumidor bem ou não. Mas, se você estiver livre de “concupiscências”, tomará suas decisões so­ mente com base no que é justo e certo. Libertados pela nossa preocupação de agradar so­ mente a Deus, nós seremos capazes de viver uma vida tão correta, que até mesmo aqueles que nos difamam serão forçados a reconhecer a obra de Deus em nossa vida e, dessa maneira, glorificar a Ele quando Jesus retornar. “Todo homem tem seu preço.” Pedro disse que a integridade não tem pre­ ço, e os cristãos devem possuí-la. “Sujeitai-vos, pois, a toda ordenação humana por amor do Senhor” (1 Pe 2.13-17). Os primeiros cris­ tãos às vezes eram criticados como desajustados que odiavam a sociedade, porque não participavam, em eventos sociais, da adoração que honrava o impe­ rador ou divindades estatais. Mas até mesmo au­ tores pagãos que mencionam os primeiros cristãos confessam que eles não eram agitadores nem revo­

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lucionários políticos. Na verdade, as primeiras des­ crições dos cristãos feitas por autoridades romanas relatam uma investigação que descobriu que, nas reuniões cristãs, eles faziam juramentos de viver vi­ das corretas, de orar pelo imperador e de obedecer às autoridades. Uma vida de submissão às autoridades não evitará que você seja difamado como transgressor. Mas o uso da sua liberdade para viver como servo de Deus na sociedade humana conquistará para Ele um lou­ vor eterno. “Não somente ao bom e humano” (1 Pe 2,18-21). E fácil submeter-se a uma nação cujas leis são ba­ sicamente justas e cujos governantes são homens honestos. A submissão torna-se difícil, no entanto, quando você é tratado de modo injusto. Mas os cristãos são chamados a submeter-se mes­ mo quando tratados de modo injusto. Esta é uma daquelas áreas de conflito direto: a nossa “tendên­ cia natural” é gritar contra a submissão. Pedro permaneceu inflexível. O crente deve sub­ meter-se e, “por causa da consciência para com Deus, sofrer agravos, padecendo injustamente". Jesus percorreu o caminho da submissão, e nós de­ vemos seguir os seus passos. Ser um cristão é mais desafiador do que pode pare­ cer. Nós descartamos os valores da nossa sociedade para adotar valores que conflitam com aquelas coi­ sas que são mais naturais para nós. “[Ele] entregava-se àquele que julga justamente” (1 Pe 2.22-25). O tratamento injusto é mais frustran­ te quando não podemos fazer nada quanto a ele. Se nós o levarmos ao tribunal — até mesmo ao “Tribunal do Povo” na TV — , podemos não ven­ cer, mas pelo menos teremos feito alguma coisa. Teremos tentado revidar o ataque. Mas Pedro pediu submissão mesmo quando somos tratados de maneira injusta. O servo que tem um senhor cruel não deve fugir, nem desferir um golpe contra o queixo dele, mas simplesmente suportar e continuar fazendo o que é bom e certo. E bonito dizer que isso “é agradável a Deus” (v. 20), mas isso não alivia a frustração do nosso desamparo. Porém, há uma coisa que nós podemos fazer. E Pe­ dro nos diz o que é. Podemos fazer o que Jesus fez quando sofreu injustamente. Ele não retaliou nem devolveu insultos contra os que o insultavam. O que Ele fez foi “entregar-se àquele que julga jus­ tamente”. Que alívio isso traz! Simplesmente entregarmo-nos a Deus, lembrarmo-nos de que Ele julga justa­ mente, deixando o nosso caso em suas mãos. Je­ sus foi sábio ao fazer isso? Sim, pois, por meio do

sofrimento inocente do Salvador, Deus realizou a nossa salvação. O sofrimento de Jesus não foi sem significado; ele foi permitido para que, por meio dele, pudéssemos ser beneficiados. Se nós apenas nos entregarmos nas mãos de Deus, poderemos ter a certeza de que não apenas a justiça será feita por nós, mas também de que o nosso sofrimento servi­ rá à causa da graça. “O homem encoberto no coração, no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto” (1 Pe 3.1-6). O princípio da submissão, como uma disposição para reagir aos outros, aplica-se ao casamento, assim como à vida social e pública. O chamado de Deus para que as esposas se submetam não é depreciati­ vo. Ele tinha feito o mesmo chamado a todos os crentes, e tinha demonstrado que a submissão foi o caminho escolhido por Jesus. O que Pedro pediu, e que o homem sábio apreciará, é a bela atitude de uma mulher disposta a agir de modo responsivo para com o seu esposo. A aparência exterior desa­ parece. A beleza interior aumenta com os anos. “Para que não sejam impedidas as vossas orações” (l Pe 3.7). Um homem cuja esposa seja responsiva é enormemente abençoado, e respeitável! Q fato de não sermos atenciosos e de não tratarmos a nossa esposa com respeito, como uma parceira, bloqueia as respostas de Deus às nossas orações. “[A água] como uma verdadeira figura, agora vos sal­ va, batismo” (1 Pe 3.19-22). Estes versículos têm levado os cristãos a um profundo estudo, como qualquer outro versículo do Novo Testamento. Mas tudo o que Pedro estava fazendo era traçar uma analogia entre a experiência de Noé, no gran­ de Dilúvio (Gn 6— 8), e a experiência do cristão. Naqueles dias, as enchentes do juízo purificaram o antigo mundo do pecado e depositaram Noé e a sua família em uma terra nova. Isso é como o batismo, pelo qual o cristão é unido a Jesus (cf. 1 Co 12.13). No juízo que Deus sofreu por nós, na cruz, tudo o que estava corrompido em nós foi pu­ rificado. E na ressurreição de Jesus, fomos levados com Ele para um novo mundo. No mundo antigo, Pedro disse, nós vivíamos a nossa vida terrena “se­ gundo as concupiscências dos homens” (1 Pe 4.2). Agora, realizado o juízo de Cristo, nossa arca de segurança, devemos viver o resto das nossas vidas na terra segundo a vontade de Deus. Que imagem interessante da experiência cristã! De­ pois da nossa conversão, nós olhamos à nossa volta e percebemos que, embora o mundo permaneça o mesmo, estamos renovados! E somos chamados para viver em novidade de vida!

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DEV OCIONAL_________ Quando Coisas Más Acontecem a Pessoas Boas (1 Pe 3.8-18) O livro muito conhecido que possui este título pode ser resumido em poucas palavras. Não culpe a Deus. Ele também se aborrece com isso! Pedro tinha uma resposta muito mais satisfatória para nós. Ele nos lembra de que os olhos de Deus estão sobre os justos, de modo que, no curso nor­ mal das ocupações, coisas boas realmente aconte­ cem a pessoas boas (w. 8-13). Mas há casos pouco usuais em que você faz o bem e sofre por isso (v. 14). O que é surpreendente é a declaração de Pedro de que, se isso acontecer com você, você é “bemaventurado”. Antes que Pedro explicasse, ele nos disse como re­ agir se algo ruim acontecer conosco, se estivermos fazendo o bem (w. 14b-17). Pedro disse: (1) não se aterrorize nem se assuste; (2) lembre-se de que Jesus é Senhor e assim, soberano sobre todas as circunstâncias; (3) esteja preparado para explicar a sua perspectiva positiva àqueles que ficam choca­ dos porque você não desmoronou; (4) conserve a consciência limpa; e (5) lembre-se de que, se Deus escolheu deixar você sofrer, é muito melhor sofrer por algo que não fez do que sofrer por ter cometido algum pecado! E bom saber como reagir quando algo mau acon­ tece conosco. Mas isso não explica por que coisas más acontecem. Assim Pedro nos deu uma res­ posta; uma razão por que, se isso acontecer com você, “você é bem aventurado”. Ele nos lembra de que Jesus sofreu inocentemente também. Os homens maus, que mereciam punição, causaram injustamente a morte de Cristo, e Ele sofreu no lugar deles. Certamente esta é a maior injustiça, o exemplo mais claro de coisas más acontecendo a uma pessoa boa, que a história já conheceu. E, no entanto, tudo isso aconteceu de acordo com a vontade de Deus. E, por intermédio da injustiça do sofrimento de Cristo, o nosso Senhor nos levou a Deus (v. 18). O nosso Deus, que é assombrosamente maravilho­ so e gracioso, converteu a injustiça em um meio de graça e de bênção para toda a humanidade. Esta é a Palavra de Deus, para você e para mim, quando nós sofremos injustamente. O Senhor não nos esqueceu nem nos abandonou. Quando coisas más acontecem a pessoas boas de Deus, nós po­ demos ter a certeza de que Ele está pessoalmente envolvido. E podemos ter a certeza de que, mesmo do mal, Deus trará algum bem muito real.

Aplicação Pessoal Lembre-se: coisas más acontecem a pessoas boas para que, por intermédio do sofrimento, possa vir a bênção. Citação Importante “Oh Deus, dai-nos paciência quando o ímpio nos ferir. Oh, como ficamos impacientes e irados quando nos julgamos injustamente caluniados, in­ sultados e feridos! Cristo sofre golpes no seu rosto, o inocente no lugar do culpado; no entanto, não podemos suportar uma palavra áspera por amor a Ele. Oh, Senhor, dai-nos virtude e paciência, poder e força, para que possamos aceitar toda adversidade com boa vontade, e com um pensamento gentil, superá-la. E se a necessidade e a tua honra exigirem que falemos, conceda que possamos fazer isto com mansidão e paciência, para que a verdade e a tua glória possam ser defendidas, e a nossa paciência e constância percebidas.” — Miles Coverdale 12 DE DEZEMBRO LEITURA 346 A VIDA DE ACORDO COM A VONTADE DE DEUS 1 Pedro 4—5 “Amados, não estranheis a ardente prova que vem so­ bre vós, para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes partici­ pantes das aflições de Cristo” (1 Pe 4.12,13). Existe significado no sofrimento do cristão. Visão Geral Vivam pela vontade de Deus (4.1-6). Amem e sir­ vam uns aos outros (w. 7-11), e encontrem alegria no sofrimento como um cristão (w. 12-19). Os presbíteros devem apascentar o rebanho de Deus (5.1-4). Todos devem ser humildes e controlados (w. 5-9), esperando confiantemente em Deus (w. 10-14). Entendendo o Texto “A cham estranho não correrdes com eles no mesmo desenfreamento de dissolução" (1 Pe 4.1-6). “Mas o que vocês fazem para se divertir?”, é algo que nós, cristãos, ouvimos com muita frequência. Na esco­ la, os adolescentes ridicularizam os jovens cristãos por não se envolverem com bebidas e sexo antes do casamento. Os colegas de trabalho não conseguem entender por que não paramos no bar depois do trabalho, para nos embebedarmos na sexta-feira

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à noite. Os fabricantes gritam: “censura!”, quan­ do os cristãos se unem e se comprometem a não comprar produtos anunciados em programas de televisão que exploram o sexo e a violência. O u­ tro dia, eu ouvi no rádio um anúncio sobre uma novela diurna de televisão que prometia apresentar “todo o pecado e nenhuma culpa” que os ouvintes desejassem! E tantos não-cristáos podem perguntar, com muita sinceridade: “O que vocês fazem para se divertir?”. Eles acham estranho que nós não nos afundemos com eles no mesmo desenfreamento de dissolução. E, como advertiu Pedro, eles fazem mais do que isso. Eles “blasfemam de vós”. Quando isso acontecer, lembre-se de que o mundo continua o mesmo. Mas você é diferente. Adote a atitude de Cristo e decida desistir do pecado, não importando o custo dessa decisão. “Os quais hão de dar conta” (1 Pe 4.5,6). Pedro des­ creveu Cristo pregando, por intermédio do Espíri­ to, aos “espíritos em prisão” que “em outro tempo foram rebeldes”, nos dias de Noé (3.19,20). O li­ vro de Gênesis nos diz que Noé levou 120 anos para construir a arca. Durante todo esse tempo, os curiosos ajuntavam-se, e Cristo, falando por inter­ médio de Noé, pregava a eles. No entanto, eles não prestavam atenção, e, quando veio o grande Dilú­ vio, somente Noé e sua família entraram na arca e foram levados à segurança. Hoje, o evangelho é pregado “também aos [espiri­ tualmente] mortos”. O fato de que deixem de ou­ vir e responder demonstra que Deus está certo em julgá-los e condená-los. O coração que está aberto a Deus responderá ao evangelho. Õ fato de alguém não confiar em Deus é evidência de um coração endurecido e do juízo divino que virá. “Sobretudo, tende ardente caridade uns para com os outros" (1 Pe 4.7-10). Quanto mais hostil o mundo é conosco, maior a nossa necessidade de apoio e incentivo. O antagonismo dos estranhos tem o re­ sultado de aproximar-nos cada vez mais de outras pessoas que pensam e sentem como nós. Pedro retratou a comunidade cristã como uma comunhão íntima, calorosa e solidária, onde podemos encontrar encorajamento e forças para prosseguir com a vida no mundo hostil. Embora possamos não apreciar a importância da comu­ nhão cristã até que venha a perseguição ou o so­ frimento, o apoio dos outros crentes é importante em todas as ocasiões. Nós precisamos do amor uns dos outros para nos assegurar da nossa im­ portância e do perdão de Deus. Precisamos dos

dons uns dos outros para nos ajudar a crescer. E precisamos exercer os nossos dons no ministério aos outros. Se você estiver sentindo falta da comunhão com outros cristãos, então lhe falta algo essencial para o seu crescimento e bem-estar. “A dministre segundo o poder que Deus dá” (1 Pe 4.11). Não é fácil viver esta vida segundo a “von­ tade de Deus” (v. 2). Quando a mãe de Pete ligou para Marti e pediu que ela viesse vê-la, Marti he­ sitou. No estudo bíblico, naquela semana, a mãe de Pete tinha demorado para sair e falado com ela, expressando a dor causada pelo seu marido, que disse que queria continuar casado, mas insistia em ter também uma amante. A conversa tinha ajuda­ do. Mas agora a mãe de Pete estava novamente se sentindo desesperada, e queria que Marti viesse vê-la para conversar e orar com ela. Marti desligou o telefone. Ela queria ajudar, mas também tinha medo de ir. Ela sempre tinha sido assim; sinceramente desejosa de ajudar, mas teme­ rosa de tomar qualquer iniciativa, como na época em que ela ensinava no estudo bíblico para mu­ lheres. Depois, pediram que ela ensinasse outra vez, e outra vez. Mas ela nunca fez isso. Ela queria fazê-lo, mas a ideia de assumir responsabilidades a tomava ansiosa e preocupada. Nós podemos nos sentir temerosos quando sur­ girem oportunidades para o ministério. Mas não podemos fazer a escolha de Marti e recuar. Temos que “administrar segundo o poder que Deus dá”. Este versículo não é apenas um desafio, mas tam­ bém uma promessa. Quando você e eu saímos para ministrar, Deus nos fornece a força de que necessitamos. Não espere a força enquanto você estiver parado aí, lutando para decidir. Decida-se a fazer a vonta­ de de Deus e espere que a força lhe seja fornecida quando você precisar dela. 7'Não] como tendo domínio sobre a herança de Deus” (1 Pe 5-1-4). Os líderes são servos, não senhores. Este tema do Novo Testamento é rea­ firmado aqui com uma palavra sobre os motivos dos líderes. Eles devem desejar servir; na realida­ de, devem estar desejosos, e até mesmo “de ânimo pronto”. As pessoas têm diferentes motivos para desejar ser líderes. Mas um desejo apaixonado de servir aos outros é uma qualificação básica para a liderança cristã. “Humilhai-vos” (1 Pe 5.5,6). Aqui, como anterior­ mente em sua carta, a submissão é considerada uma virtude. Mas jamais confunda a submissão

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nem a humildade com fraqueza. Somente os que ocupar, e podemos prosseguir com os negócios da são verdadeiramente fortes podem controlar o seu vida segundo a vontade de Deus. desejo natural de dominar, em lugar de submeterse; de parecer poderoso, e não dócil. “Depois de haverdes padecido um pouco” (1 Pe 5.10,11). Não é difícil sentirmo-nos ansiosos “Lançando sobre Ele toda a vossa ansiedade” (1 Pe quando estamos sofrendo. Entregar tudo a Deus, 5-7). Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento então, parece realmente difícil. Mas Pedro promete têm muito a dizer a respeito da ansiedade. Mas este que isso ajudará. O sofrimento dura somente um curto versículo resume tudo isso de maneira eficaz. pouco. Deus restaurará você e o fortalecerá. E, no Permita que Deus se preocupe com você, porque, seu tempo, o chamará ao céu, para compartilhar da afinal, Ele realmente se preocupa com você. sua eterna glória. Qualquer que seja a dor de hoje, Se você e eu sabemos que Deus está cuidando de nós temos a promessa da força e a possibilidade da nós, não resta nada com que tenhamos de nos pre- glória, para sempre.

DEV OCIONAL_______ Nós Compartilhamos (1 Pe 4.12-19) Você se lembra da história da galinha vermelha? Ela queria fazer pão, mas nenhum dos animais da granja desejou ajudá-la. Então, ela fez o pão so­ zinha. E claro, depois de pronto o pão, todos se reuniram, desejando um pedaço. Mas a galinha vermelha comeu todo o pão sozinha. Esta história infantil é um comentário sobre a natureza humana, e não animal. Nós não somos entusiásticos com o trabalho. Mas certamente queremos colher os be­ nefícios dele! De certa forma, isso é verdade a respeito dos cris­ tãos. Nós nos inclinamos a olhar à frente, para o céu, e planejar desfrutar a eternidade ali. Mas não ficamos muito entusiasmados com a possibilidade de algum sofrimento aqui. Porém, Pedro nos lem­ bra de que o sofrimento e a glória estão insepara­ velmente unidos. Foi a dedicação total de Jesus a fazer a vontade de Deus Pai, embora isso o levasse ao Calvário, que o levou de volta à glória. A Res­ surreição tornou-se possível por causa da Cruz. Assim, Pedro nos diz que não nos surpreendamos, se também sofremos coisas dolorosas. O sofrimento não é estranho; é natural para a pessoa que partici­ pa do sofrimento de Cristo. O comprometimento de Jesus em fazer a vontade de Deus o colocou em conflito com este mundo. Se nós compartilharmos

desse comprometimento, entraremos em conflito com o mundo e também sofreremos. Você e eu não devemos nos esforçar para encon­ trar o sofrimento. Nós simplesmente devemos nos comprometer completamente com Deus e conti­ nuar a fazer o bem. Então, se o sofrimento vier, realmente poderemos louvar a Deus! Sofrer como cristãos, e por Cristo, significará a glória para nós quando a sua glória for plenamente revelada. Aplicação Pessoal Trazer em si o nome de Cristo pode querer dizer carregar a sua cruz. Citação Importante “A pior parte do martírio não é o último momen­ to agonizante; é a constância diária e cansativa. Os homens que seriam capazes de suportar uma tortura de uma hora afundariam sob o cansaço e o incômodo de irritações pequenas e prolongadas. Há muitos cristãos afligidos e desolados quanto às melhores esperanças da vida. Aquele que, em uma situação como esta, diz tranquilamente: ‘Pai, não se faça a minha vontade, mas a tua, é realmente um mártir.” — F. W. Robertson

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em 2 PEDRO

2 PEDRO INTRODUÇÃO A primeira epístola de Pedro lidou com a perseguição por parte dos estranhos. Esta segunda carta trata dos perigos internos da própria igreja, por parte de falsos mestres e daqueles que não levavam as Escrituras a sério. A grande importância da segunda epístola de Pedro está no convite do apóstolo para que resistamos aos falsos ensinamentos, crescendo em santidade, enquanto esperamos pelo retorno prometido de Jesus Cristo. ESBOÇO D O CONTEÚDO I. As Qualidades de um Cristão...................................................................................................................2 Pe 1 II. Os Falsos M estres..................................................................................................................................... 2 Pe 2 III. O Retorno de C risto...............................................................................................................................2 Pe 3 GUIA D E LEITURA (3 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” em sua Bíblia e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 347 348 349

Capítulos 1 2 3

Passagem Essencial 1.12-21 2.1-3,17-22 3.10-18

2 PEDRO 13 D E DEZEM BRO LEITURA 347

AS QUALIDADES CRISTÃS 2 Pedro 1

“Porque, se em vós houver e aumentarem estas coisas, “Graça e paz vos sejam multiplicadas" (2 Pe 1.2). não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento Quando Pedro expressou este desejo, ele especifi­ de nosso Senhor Jesus Cristo” (2 Pe 1.8). cou a fonte: graça e paz vêm “pelo conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor”. Ele não se re­ É mais importante viver a fé do que defendê-la. feria ao conhecimento que podemos ter “a respeito de” Deus. A palavra grega indica “pleno conheci­ Visão Geral mento”: um conhecimento pessoal e experimental Deus dá graça e paz por intermédio de Cristo de Deus. Estar próximo ao Senhor nos traz, a cada (1.1,2). O seu dom da natureza divina (w. 3,4) nos um de nós, graça e paz. possibilita crescer — coisa que devemos fazer (w. 5-11). Nós permanecemos confiantes por causa do “Tudo o que diz respeito à vida e piedade” (2 Pe testemunho ocular dos apóstolos (w. 12-18) e da 1.3,4). Por meio da fé na promessa do evangelho, Palavra profética de Deus (w. 19-21). Deus implanta a própria natureza divina em nós, e nós experimentamos uma avalanche de poder espi­ Entendendo o Texto ritual. Conhecendo a Cristo, temos tudo o de que “Pela justiça do nosso Deus” (2 Pe 1.1). Normal­ necessitamos para “escapar da corrupção, que, pela mente nós pensamos que somos salvos pela graça concupiscência, há no mundo”. de Deus. Pedro, como Paulo em Romanos 1, nos Podemos citar uma das coisas que um cristão não convida a pensarmos na salvação à luz da justiça é: alguém desprovido de poder. Mas nós podemos de Deus. não perceber a natureza do poder de Deus, ou o Salvar-nos era a coisa certa para Deus fazer, não motivo por que ele nos é dado. Não recebemos po­ porque Ele tivesse alguma obrigação para conosco, der para sermos bem-sucedidos nos negócios, nem mas porque Ele seria fiel consigo mesmo ao expres­ para nos tornarmos populares. Recebemos poder sar o seu amor por meio da salvação. Porém, Deus para viver vidas devotas. tinha que nos salvar da maneira correta. Não po­ Se você e eu nos concentrarmos em viver vidas de­ deria haver redenção barata, pelo que Deus pagou votas, descobriremos que temos poder abundante. o preço para nos libertar e nos dar uma nova vida. Nós podemos agradecer pelo fato de que Deus é “Pondo nisto mesmo toda a diligência" (2 Pe 1.5-9). justo, como também pelo fato de que Ele é gracioso Deus proporciona o poder que nos capacita a viver para operar a salvação, do que agora desfrutamos. uma vida cristã vitoriosa. Mas você e eu devemos Isso é algo de que devemos recordar. Há ocasiões fazer todo o esforço. em que nós queremos fazer a coisa certa, mas po­ Nós temos uma bicicleta ergométrica em nossa demos fugir de pagar o preço. A lembrança do que sala. Não é para mim, que gosto apenas de exer­ Deus fez por nós pode nos libertar para agirmos cícios competitivos, como tênis ou basquete. Ela com justiça com relação a outras pessoas. pertence a Sue. E aquela bicicleta realmente ajuda.

2 Pedro 1

Ajuda-a a ganhar resistência e modelar o corpo. Mas não lhe fará nenhum bem, a menos que ela faça o seu esforço diário. O nosso relacionamento com Deus é algo parecido com isso. Os recursos de que necessitamos estão sempre ali para nós. Mas, para aproveitar o que Deus nos proporcionou, você e eu temos que fazer o esforço. “Acrescentai à vossa fé ” (2 Pe 1.5-8). A palavra tra­ duzida como “acrescentar” significa tomar abun­ dantes providências. Fazer todo esforço para viver uma vida cristá significa que nós começamos com a fé, mas não paramos por aí. Continuamos e nos concentramos em desenvolver as seguintes virtudes cristãs: Bondade (AEC). A palavra grega é arete, que não é uma das palavras mais familiares, traduzida como “bem”. Arete normalmente é traduzida como ex­ celência, em referência ao pleno desenvolvimento do nosso potencial de realizações em uma deter­ minada esfera de ações. Nós somos chamados para ser excelentes como cristãos, e não viver vidas “co­ muns”. Ciência. O conhecimento que nós acrescentamos à fé é um conhecimento da vontade de Deus. O “conhecimento superior” alegado pelos falsos mes­ tres, que Pedro estava prestes a comentar, era vazio e sem significado. O que importa é compreender o que Deus quer de nós e fazer isso. Temperança. Nas Escrituras, esta virtude é exageradamente contrastada com cobiçar, render-se às pai­ xões sexuais. O cristão, que compreende a vontade de Deus, deve disciplinar-se para fazer isso. Paciência. As palavras das Escrituras sugerem uma visão distinta do tempo. O cristão adota uma vi­ são de longo alcance e percebe que Deus não tra­ balha de acordo com o tempo humano. Por mais desencorajadoras que sejam as circunstâncias, ele consegue persistir e realizar fielmente a vontade do Senhor. Piedade. No grego, esta palavra sugere uma consci­ ência constante de Deus e um comprometimento em fazer coisas que são apropriadas a alguém de­ votado a Ele. Amor fraternal e caridade. As duas palavras indi­ cam afeição e autossacrifício. Nós aprendemos a nos preocupar com os outros e o seu bem-estar. E

DEV OCIONAL______ Certifique-se

estamos dispostos a ajudá-los, mesmo com custos pessoais. Essas qualidades, se “aumentadas”, nos impedirão de sermos “ociosos e estéreis”. “Pois aquele em quem não há estas coisas” (2 Pe 1.9). A minha filha, Joy, que agora tem 28 anos, sofreu danos cerebrais no nascimento. Ela cresceu e tornou-se uma garota alta e atraente, fisicamente. Mas, mentalmente, ela jamais passou do nível da primeira ou da segunda série. Ela terá que receber cuidados por toda a vida, em uma comunidade como aquela onde vive agora, no Arizona. Alguns cristãos são como Joy. Eles permanecem “ociosos e estéreis”. A separação de placenta que deixou minha filha sem oxigênio, já próximo do momento do nascimento, e a prejudicou de manei­ ra irreparável foi uma tragédia que somente a eter­ nidade poderá desfazer. Mas é uma tragédia muito maior quando os cristãos, que têm o potencial para se tornarem amadurecidos, continuam na infância espiritual. Você e eu não precisamos permanecer na infância espiritual. Tudo o que precisamos fazer é, “com dili­ gência cada vez maior” (ARA), viver uma vida cristã de qualidade, sim, aquela que Pedro descreveu. “Procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição’ (2 Pe 1.10,11). O imperador Trajano ins­ truiu o governador Plínio a dar aos cristãos uma oportunidade para o arrependimento. Se negassem a Cristo e queimassem incenso às estátuas dos anti­ gos deuses romanos, eles seriam libertados. Nos primeiros séculos do cristianismo, alguns re­ almente se associavam com a nova fé somente du­ rante algum tempo, e então se desviavam. Outros negavam a fé, quando submetidos à perseguição. Apenas a associação com cristãos, e até mesmo o fato de dizer-se cristão, não garantia que alguém fosse um escolhido. Embora todo o conceito da eleição permaneça como um mistério, existe uma maneira como você e eu podemos nos certificar de fazermos parte do povo escolhido de Deus. E “fazer” o que Pedro des­ creveu. A medida que nós crescermos na graça e em efetividade como cristãos, “jamais tropeçaremos”, e nos “será amplamente concedida a entrada no Rei­ no eterno” de Jesus.

à âncora? E a outra ponta está presa à sua em(2 Pe 1.12-21) barcação? Antes de lançar a âncora, é melhor que você O primeiro capítulo de 2 Pedro é semelhante a isso. se certifique de duas coisas. A corda está presa Os seus onze primeiros versículos nos encorajam a

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2 Pedro 2

nos certificarmos de que nossas próprias vidas es­ tejam fortemente entrelaçadas com a fé cristã. E então os versículos 12 a 21 nos lembram do quanto a fé propriamente dita é confiável. O próprio Pedro não tinha nenhuma dúvida. Ele passou anos com Jesus. Foi uma das testemunhas oculares da “sua majestade” quando ela foi exibida no monte da Transfiguração (w. 16-18). E, ainda mais, as palavras dos antigos profetas de Israel estão em harmonia com a visão de Jesus glorificado (v. 19). Juntos — as palavras antigas, entregues pelo próprio Deus, e o evento da Transfiguração — são provas irrefutáveis de que um novo dia nascerá. Je­ sus retornará por nós, e todas as nossas esperanças e sonhos certamente se concretizarão.

A falsa doutrina produz um estilo de vida perver­ tido.

Contexto Falsos mestres. As últimas epístolas do Novo Testa­ mento, que são 2 Pedro, 2 Timóteo e Judas, todas descrevem os falsos mestres e advertem contra eles. Nas primeiras décadas, a igreja foi ameaçada por judaizantes, que tentaram trazer os cristãos sob o jugo da Lei mosaica. Mas, em meados dos anos 60, surgiu um tipo diferente de falso mestre. Estes ho­ mens tratavam a fé como uma “filosofia”. No sécu­ lo I, muitas filosofias competiam por popularida­ de. Cada uma delas tinha suas próprias doutrinas, e cada uma enfatizava um estilo de vida de acordo com os seus preceitos básicos. Aplicação Pessoal Professores de rua procuravam atrair adeptos, Há mais razões para duvidar que amanheça o dia de proferindo palestras sobre como viver a vida, re­ solver problemas pessoais e encontrar sentido na amanhã do que para questionar a volta de Jesus. vida. Com base em descrições de 2 Pedro e Judas, Citação Importante particularmente, parece que os falsos mestres que Povo: Cordeiro de Deus, santo Senhor Deus, ameaçavam a igreja internamente eram o equiva­ ouve a nossa oração; tem piedade de lente cultural desses filósofos itinerantes. Mas eles nós. distorciam a doutrina cristã e ensinavam um modo Líder: Do pecado de não crer em ti, de vida antagônico à santidade. De todos os pecados da carne e do Pode ser que algumas das descrições grosseiras de espírito, práticas cristãs encontradas em autores romanos do De todo falso moralismo, século II reflitam o comportamento real de alguns De toda indiferença e embriaguez, que falsamente se diziam cristãos e seguiam falsos De toda indiferença aos teus mestres como os que Pedro descreveu aqui! sofrimentos e à tua morte. Os falsos mestres continuam sendo uma ameaça Povo: Defende-nos, querido Senhor Deus. para a igreja cristã. E 2 Pedro 2 continua sendo Não há nada em nós, exceto pobreza. uma fonte de percepção do ensinamento deles, do Pelo teu sangue, pela tua morte, e pelo seu caráter e do seu apelo enganoso. teu sofrimento, dá-nos um coração caloroso e completamente submisso. Visão Geral Líder: O Emanuel, Salvador do mundo, Os falsos mestres que exploram os crentes (2.1-3) Povo: Dá-te a conhecer a nós! enfrentarão um juízo garantido (w. 4-10). Eles Líder: Pela tua santa encarnação e teu santo são caracterizados pela arrogância (w. 11,12) e nascimento, imoralidade (w. 13-17), e por ensinamentos que Povo: Faz com que amemos a nossa apelam aos desejos pecaminosos do ser humano humanidade! (w. 18-22). Líder: Pela tua pobreza e servidão, Povo: Ensina-nos a ser humildes neste mundo! Entendendo o Texto Líder: Pelo teu correto entendimento das “Entre vós haverá também falsos doutores” (2 Pe 2.1). Escrituras, Não está escrito: “poderá haver”, mas: “haverá”. Povo: Firma a Palavra da verdade em nós. Nós podemos ter certeza disso hoje, como também — Nickolaus von Zinzendorf aconteceu nos tempos de Pedro. Em meio ao gran­ de sistema do que é chamado cristandade, há seitas 14 DE DEZEMBRO LEITURA 348 e igrejas cujas doutrinas são anticristãs. Alguns in­ OS FALSOS PROFESSORES divíduos que sobem aos púlpitos das igrejas histo­ 2 Pedro 2 ricamente cristãs também são falsos mestres. Pedro disse que eles introduzem “heresias de perdição”, o “E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será que queria dizer que eles levavam os seus adeptos blasfemado o caminho da verdade” (2 Pe 2.2). à destruição.

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Este primeiro versículo nos apresenta um teste doutrinário simples. O falso mestre leva os segui­ dores à destruição porque nega “o Senhor que os resgatou”. As heresias mais antigas redefiniam Je­ sus. Em alguns sistemas, Ele era um anjo inferior. Em outros, era um homem exaltado à Divindade em seu batismo, ou em sua ressurreição. Em alguns sistemas, Jesus somente parecia ser humano, mas, na verdade, era uma “projeção” espiritual. Porém, as Escrituras apresentam claramente Jesus Cristo como o Deus Filho, o Senhor soberano do uni­ verso, vindo em carne, nascido como ser humano, para que, pela união de Deus e do homem, Ele pu­ desse comprar a nossa redenção. Muitas heresias modernas ainda tropeçam em Je­ sus. Quem quer que negue a plena divindade e a humanidade real de Jesus Cristo é um falso mestre. E o que ele ensina é heresia de perdição. “E muitos seguirão as suas dissoluções”(2 Pe2.2). Esta é a segunda característica básica dos falsos mestres e dos falsos ensinos. Eles produzem “dissoluções”. Há um ditado familiar que diz que se pode identi­ ficar a árvore pelo seu fruto. Você pode discernir os falsos ensinos da doutrina legítima também pelos seus frutos. (Veja o DEVOCIONAL.) “E, por avareza, farão de vós negócio!” (2 Pe 2.3). A terceira característica dos falsos mestres é a avareza. Em sua primeira carta, Pedro tinha descrito os lí­ deres devotos: eles são pastores que apascentam o rebanho de Deus, não por torpe ganância, mas de ânimo pronto (1 Pe 5.1-4). Diferentemente, os fal­ sos mestres servem por dinheiro, e são motivados por ele. Nós não devemos nos precipitar e conside­ rar alguém como um “falso mestre” com base em sua renda financeira. A questão aqui é a motivação e a exploração. O falso mestre é ambicioso e ava­ rento. Um falso mestre explora, mente e desvia o dinheiro doado ao ministério para seu uso pessoal. Embora a ambição e a avareza de alguns líderes cristãos muito conhecidos seja regularmente expos­ ta pelos meios de comunicação, nós podemos dar graças a Deus pelos muitos milhares que servem hoje, apesar dos salários baixos e benefícios insufi­ cientes, por puro amor a Deus e ao seu povo. “Se Deus não perdoou” (2 Pe 2.4-10). Pedro exa­ minou a história sagrada e encontrou exemplos que confirmavam o que ele queria dizer. Os falsos mestres certamente se infiltrarão para corromper a igreja. Mas Deus sabe como salvar os piedosos e “reservar os injustos para o Dia de Juízo”. Pedro escolheu cuidadosamente os seus exemplos. A presença de falsos mestres na igreja é algo muito

sério. Mas não é desastroso! Assim, não precisamos entrar em pânico. Deus protegerá os justos. E Ele punirá os falsos mestres. As instruções de Paulo nos orientam quanto à melhor maneira de proteger a nós mesmos e aos outros dos falsos mestres. Nós devemos nos con­ centrar em pregar e viver com justiça, como fize­ ram Noé e Ló. O comprometimento em viver uma vida santa, até mesmo quando outros vivem “vidas dissolutas” ao nosso redor, nos protegerá e evitará que nos desviemos. “A nimais irracionais”(2 Pe2.11,12). Ambos os Tes­ tamentos usam a metáfora de “animais irracionais” para descrever os incrédulos que são ativamente hostis a Deus. Eles abandonaram completamente a busca espiritual e escolheram viver como animais, pois, para eles, somente existe este mundo. Nós, seres humanos, podemos escolher viver como animais. Podemos procurar satisfazer cada anseio sem julgar se nossos desejos ou ações são moral­ mente corretos. Mas aqueles que escolhem viver como meros animais determinam, por essa escolha, o seu destino. Eles condenam-se a perecer. “Deleitando-se em seus enganos” (2 Pe 2.13-16). Pedro prosseguiu, descrevendo a vida que alguns seres humanos escolhem viver, semelhante à dos animais. Os instintos dos homens refletem a cor­ rupção da nossa natureza pelo pecado, e assim não são uma orientação confiável para a vida devota. Os instintos corruptos exigem prazeres que esti­ mulam e enfraquecem, como as drogas modernas e o álcool (v. 13). Os instintos corruptos conduzem ao adultério (v. 14) e são expressos em avareza que engoda os outros (v. 14). A referência de Pedro a Balaão é sarcástica. Este profeta, movido pela pai­ xão pelo dinheiro, agiu por instinto, quando um simples animal, seu jumento, foi mais inteligente! Não dê ouvidos aos colegas que lhe dizem que, uma vez que certos desejos são “naturais”, eles não devem ser completamente errados. O que a maio­ ria dos homens faz por instinto é errado. Como cristãos, nós somos chamados a julgar nossos ins­ tintos e escolher o que é certo. “Prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção” (2 Pe 2.17-19). A maior escravidão que podemos ter é a escravidão às nossas paixões. “Eu não consigo evitar!” tem sido o clamor dos indivíduos viciados em drogas, bebida e deprava­ ções sexuais ao longo dos séculos. O caminho mais seguro para a desgraça é fazer apenas o que você quer, quando tiver vontade de fazê-lo. Logo você perceberá que já não mais faz o que quer, mas não

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consegue evitar. A escravidão à sua própria depra­ natureza não convertida faz com que ele retorne vação é a escravidão mais terrível que existe. aos seus antigos costumes. Teria sido melhor que essa pessoa jamais tivesse sido exposta à santidade. “Melhor lhes fora” (2 Pe 2.20-22). Os dois provér­ Quando ela voltar as costas para Deus, a sua con­ bios citados no versículo 22 explicam o comentário denação será ainda maior do que antes. de Pedro. Cada um deles descreve um animal que Não se pode ser um cristão “parcial” ou um “crente se comporta de acordo com a sua própria natureza. social”. Em última análise, você deverá escolher ir até Assim também o indivíduo que é introduzido na o fim, em pleno comprometimento com Jesus. Ou comunidade cristã e professa sem experimentar a os seus instintos naturais vencerão, e você se afastará regeneração. Ele vê na santidade do povo de Deus completamente da fé. Se você está na condição “par­ o que significa escapar à corrupção que há no mun­ cial”, vá até o fim rapidamente. E melhor jamais ter do, por causa dos desejos e da cobiça. Mas a sua conhecido o caminho do que conhecê-lo e recuar.

DEV OCIONAL______ O Cam inho para a Cruz

(2 Pe 2.1-3,17-22) Um dos primeiros observadores romanos do cris­ tianismo, Galeno (nascido aproximadamente em 130 d.C.), não via utilidade na doutrina cristã. Em um de seus tratados médicos, ele dedicou algum tempo para discutir e rejeitar o tratamento que Moisés dá à criação. Mas Galeno ficou impressio­ nado com o fato de que os cristãos, “com disciplina e temperança em questões de alimentação e bebi­ da, e em sua fervorosa busca de justiça, alcança­ ram uma posição em nada inferior à de filósofos genuínos”. Esta pode ter sido a característica mais impressio­ nante dos primeiros cristãos para os pagãos daquele tempo. Certamente, o pagão instruído ficou des­ concertado com a ênfase cristã na fé. A doutrina cristã da criação, e especialmente a da ressurreição, parecia uma completa bobagem para aqueles que tinham sido criados com a ideia de que a matéria era eterna e de que Deus estava sujeito à lei natural, e não acima dela. E os pagãos ressentiam-se inten­ samente pela recusa cristã em participar da ado­ ração religiosa pública. Essa exclusividade parecia equivalente ao ódio pela própria humanidade, pois se acreditava que a prosperidade do Estado depen­ dia da expressão de uma devoção aos deuses. Mas então havia aquela vida virtuosa. Como po­ diam essas pessoas comuns, e em sua maioria sem instrução, alcançar a disciplina e a virtude que se julgava ao alcance apenas dos filósofos que dedi­ cavam a vida inteira ao estudo e ao controle de si mesmos? Os falsos ensinos não têm o poder de ajudar os seus adeptos a alcançar a santidade. Na verdade, uma das características dos falsos ensinamentos é o fato de que eles atraem a natureza inferior dos homens. Eles prometem liberdade em vez de exigir autocontrole. Oferecem prazeres em lugar de exigir

comprometimento. E muitos cristãos fiéis, devido à falta de ênfase na santidade, foram desviados por mestres cuja ênfase era completa e tragicamente falsa. Assim, cuidado!, se um mestre lhe prometer “liberdade” e disser que você poderá fazer tudo o que quiser. E cuidado!, se um mestre prometer riquezas e tranquilidade. Jesus jamais levou seus seguidores à Disneylândia. O caminho de Jesus percorre sinuoso os montes, e ali, à frente, conse­ guimos ver o Calvário. Aplicação Pessoal Cristo nos traz tanto o consolo como a cruz. Citação Im portante “Deus Todo-poderoso, cujo Filho amado não subiu diretamente de volta para o seu gozo, mas, antes, sofreu, e não entrou na glória antes que fosse cru­ cificado. Misericordiosamente, concede que nós, seguindo no caminho da cruz, não encontremos outro caminho, exceto o da vida e da paz, por meio do mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor” — The Book o f Common Prayer [Livro de Oração Comum] 15 DE DEZEM BRO LEITURA 349 O DIA DO SENHOR 2 Pedro 3 “Os céuspassarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há se queimarão” (2 Pe 3.10). Procure alegrias genuínas e prazeres duradouros. Contexto O fim da história. Ambos os Testamentos falam de um juízo final, quando este céu e esta terra serão destruídos. Isaías disse que este universo atual desa­ parecerá como fumaça, e a terra envelhecerá como

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uma veste (51.6). Paulo retratou Cristo retornando “como labareda de fogo” (2 Ts 1.7). E Pedro, neste capítulo, faz uma descrição vigorosa do universo sendo reduzido aos átomos que o constituem. O retrato bíblico de um universo com um começo distinto e um fim distinto era completamente es­ tranho no século I. Os filósofos acreditavam que a matéria era eterna, moldada por um deus artesáo que também estava sujeito à lei natural. Um Deus que pudesse criar o universo a partir do nada e dis­ solvê-lo conforme a sua vontade era algo além da sua compreensão. O mundo existia, sempre tinha existido, e sempre existiria. Porém, para os seres humanos, depois de mortos, era o fim. O espírito da nossa época não é muito diferente. Os cientistas falam do início do nosso universo, mas negam a existência de um Criador. Tenra-se explicar tudo o que existe a partir do conceito de evolução. E, a despeito daquilo que o futuro possa nos trazer, esse grupo defende que nenhum Deus invadirá o proces­ so ordenado dos tempos para dar um fim à matéria e ressuscitar os mortos e julgá-los. Os intelectuais do século I zombavam em nome da filosofia. Dois mil anos depois, nossos intelectuais zombam em nome da ciência. Porém, estão todos errados, pois Deus existe, e o universo material não é eterno, mas está destinado à destruição. Em breve. Essa é a mensagem de 2 Pedro 3. Esta: o tipo de vida que devem viver os crentes, que sabem que eles, como todos os outros seres humanos, conti­ nuarão a existir muito tempo depois que o nosso mundo chegar ao fim. Visão Geral Creia nos profetas e nos apóstolos (3.1,2), apesar dos indivíduos que zombam e ridicularizam a Se­ gunda Vinda (w. 3,4) e deliberadamente ignoram os juízos divinos passados (w. 5-7). O tempo de Deus é diferente do nosso (w. 8,9), mas o mundo atual certamente será destruído (w. 10-13). Assim, sejamos tementes e obedientes ao Senhor e cresça­ mos na graça (w. 14-18). Entendendo o Texto “A nimo sincero” (2 Pe 3.1,2). As duas epístolas de Pedro têm por objetivo estimular o leitor a uma “disposição pura” — um “entendimento não con­ taminado” da fé e da vida. Isso é particularmente importante, porque os falsos mestres atacam a fé a partir de dentro, e os que zombam e escarnecem, a partir de fora. Ambos, se suas doutrinas forem seguidas, conduzem à imo­ ralidade e à vida indisciplinada. Os falsos mestres apelam a desejos pecaminosos e justificam a permíssividade como liberdade. Os escarnecedores,

removendo a ameaça do juízo, removem aquele temor de Deus que promove a santidade. Existe, na realidade, um único antídoto que pode nos proteger do erro, dentro e fora da fé. Esse antí­ doto são as palavras proferidas no passado por pro­ fetas e por Cristo, e fielmente relatadas pelos seus apóstolos. A confiança total na Palavra de Deus e uma íntima familiaridade com ela podem nos pro­ teger contra qualquer tipo de erro. “Virão escarnecedores” (2 Pe 3.3). Existe um para­ lelo fascinante entre os escarnecedores e os falsos mestres. Ambos seguem “suas próprias concupiscências”. Ambos resistem à verdade, não tanto por convicção intelectual, mas para proteger-se contra a condenação do pecado. Um dos meus livros fala sobre o Criacionismo. It CouLdnt Just Happen (Word, Inc.) explora falácias na noção popular da evolução e explica algumas das formas como as descobertas científicas apon­ tam para a criação do universo e da vida animal e humana. Quando minha esposa se ofereceu para doar uma cópia à biblioteca do colégio onde ela le­ ciona, essa cópia foi recusada. O Criacionismo não é “científico” e pode confundir os alunos. No en­ tanto, a mesma biblioteca contém livros que ridicu­ larizam o Criacionismo, romances que descrevem vividamente o sexo ilícito, e livros que apresentam o aborto e a homossexualidade sob uma luz positi­ va. Como é interessante que reclamações sobre tais livros suscitem imediatos protestos de: “Censura!”. Mas rejeitar um livro que apoia uma posição bíbli­ ca — um livro que, por sinal, conquistou o Gold Medallion dos autores cristãos como o melhor li­ vro para jovens de 1988 — está certo, porque este livro seria “confuso” e “não-científico”. Os escarnecedores continuarão a zombar. Porém, a razão fundamental não é a respeitabilidade das nossas crenças, mas uma inclinação contra uma fé que pede que os homens levem Deus a sério e re­ freiem os desejos pecaminosos. “Todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação” (2 Pe 3.4). Na ciência, este conceito é chamado “uniformitarianismo”. Ele pressupõe que tudo o que existe na atualidade pode ser explica­ do por processos em andamento. Com o tempo, a forma dos continentes, a altura das montanhas, as profundezas do mar podem ser explicadas pela erosão, pelos vulcões, pelos terremotos etc. Basicamente, essa perspectiva afirma que Deus não somente não existe necessariamente agora (embora Ele possa ter dado início ao processo), como tam­ bém sugere que Ele não está envolvido: até mesmo Ele é limitado pela lei natural.

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retorno de Jesus e o seu cumprimento. Em primei­ ro lugar, Deus não considera o tempo da mesma maneira que nós. Aquilo que podemos mencionar casualmente como “alguns dias”, Ele pode conside­ rar, também casualmente, como “alguns milhares de anos”. Assim, não podemos impor a Deus a nos­ sa percepção de tempo. Em segundo lugar, Deus tem uma boa razão para aquilo que consideramos uma demora. Cristo ain­ da não retornou porque o Senhor não quer que “alguns se percam”. Enquanto Deus estiver ausen­ te, a porta da salvação permanecerá aberta. Porém, quando Jesus vier, essa porta será fechada. E então será tarde demais.

Nós, cristãos, acreditamos que Jesus invadirá a ter­ ra e, em seu retorno, despedaçará a cultura humana pecaminosa e abalará o universo material. Como é ridículo!, diz o escarnecedor. Ora, desde o início, nada mudou. Quando você pensa nesse argumento, é ele que pa­ rece cada vez mais ridículo. Nada mudou? Como? Quem está aqui “desde o início” para comprovar isso? Nada mudou? Ora, os cientistas seculares afir­ mam que a terra mudou radicalmente. Na melhor das hipóteses, nós podemos apenas dizer que pou­ co mudou durante o tempo em que vivemos, ou que pouco mudou desde que a história começou a ser registrada. Nós vivemos por táo pouco tempo, e a história é conhecida há tão poucos anos, que é uma tolice completa argumentar que Jesus não virá porque “nada mudou”. Mudará. Porque Jesus Cristo VOLTARÁ.

“Eles voluntariamente ignoram isto” (2 Pe 3.5-7). Uma mudança radical que ocorreu durante a re­ sidência da humanidade sobre a terra está descrita em Gênesis 6— 8. Deus trouxe um grande dilúvio sobre a terra como um juízo pelo pecado e destruiu a civilização humana. O registro bíblico do Dilúvio, do Gênesis, é apoia­ do por tradições narradas por vários povos por todo o mundo. E esse Dilúvio demonstra a capa­ cidade de Deus de intervir no mundo atual, e o seu comprometimento em fazer isso. O homem moderno duvida da historicidade do Dilúvio, mas o crente não duvida. E, no registro do ato histórico de juízo de Deus, nós encontramos provas de que Ele é o Juiz da humanidade, e de que Ele julgará outra vez. “Não querendo que alguns se percam” (2 Pe 3.8,9). Pedro nos ofereceu duas visões esclarecedoras do extenso intervalo de tempo entre a promessa do

DEV OCIONAL_______ Tudo Desapareceu

(2 Pe 3.10-18) Alguém disse que existe uma única diferença real entre um homem e um menino. Os brinquedos do homem são mais caros. Provavelmente existe mais verdade nesse ditado do que gostaríamos de admitir. E realmente as­ sombrosa a quantidade de tempo e dinheiro que as pessoas gastam em roupas novas, carros espor­ tivos, televisores com telas maiores, barcos mais velozes. Especialmente considerando que, em

“Igualmente as outras Escrituras” (2 Pe 3.16-18). A referência de Pedro às cartas de Paulo, equiparando-as às “outras Escrituras”, dá evidência de há quanto tempo os textos que agora compõem a nos­ sa Bíblia foram reconhecidos como Escrituras pela igreja primitiva. De vez em quando, eu vejo um anúncio que me convida a encomendar o resto da Bíblia — Evan­ gelhos perdidos, ou cartas perdidas, ou apocalip­ ses recentemente recuperados. Na verdade, todos esses textos são conhecidos há muitos anos. São escritos primitivos, cristãos ou heréticos, cuja circulação era como a dos livros da livraria cris­ tã moderna. Alguns eram propagandas de seitas. Alguns eram escritos devocionais que pretendiam fortalecer o crente. Mas nenhum deles jamais foi considerado como parte das Escrituras — como os livros do nosso Novo Testamento rapidamente o foram. Não é de admirar que Pedro nos incentive a relem­ brar as palavras dos profetas e apóstolos, e a ignorar os falsos mestres e os escarnecedores. Quando nós conservarmos nossos corações fixos na Palavra ins­ pirada de Deus, cresceremos em graça e estaremos prontos, quando Jesus vier. uma manhã, quando acordarmos, veremos que tudo o que tínhamos terá desaparecido. E isso o que Pedro quer dizer aqui. Ele não se preocupava realmente em fornecer indicações sobre como o mundo acabará. Ele apenas queria que soubéssemos que, quando “os céus [passarem] com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se [desfizerem]”, essas coisas materiais que tanto amamos terão desaparecido. Naturalmente, uma vez que compreendamos isso, Pedro deseja que ajamos da maneira apro-

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priada. “Que pessoas vos convém ser?”, pergunta Pedro. E ele responde: “Convém-vos ser em san­ to trato e piedade”, enquanto aguardamos “no­ vos céus e nova terra, em que habita a justiça”. Por que agarrar-se às suas coisas, quando ama­ nhã de manhã elas terão desaparecido? E tudo o que lhe sobrará será você mesmo. Por que não investir esse tempo, esse entusiasmo, para edifi­ car o novo você? Uma vida santa e piedosa, caracterizada pela gra­ ça e pelo conhecimento de Jesus, garantirá re­ compensas eternas. Como é melhor um foco que sustenta a nossa vida do que brinquedos que, muito em breve, desaparecerão!

Aplicação Pessoal Quando o tempo não existir mais, você ainda existirá. Citação Importante Uma vez que eu estou me dirigindo àquela santa sala, Onde, com o teu coro de santos eternamente Serei feito tua música, quando chegar Afino o instrumento aqui, à porta E penso aqui, à frente, o que devo fazer então. — John Donne

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em EZEQUIEL

1 JOÃO INTRODUÇÃO A Primeira Epístola de João foi escrita pelo apóstolo João, provavelmente por volta de 85-90 d.C. Ele também escreveu duas outras cartas breves, o Evangelho de João e o livro de Apocalipse. Esta carta foi escrita para reafirmar as verdades cristãs centrais que estavam então sendo negadas pelos falsos mestres. Usando as imagens familiares de luz, justiça e amor, João mostrou que Jesus é o Filho de Deus, que Ele veio em carne, e que podemos ser salvos somente por intermédio dEle. João também insistiu no fato de que os cristãos pecam e que devem confessar os seus pecados. Purificados, os crentes devem viver como Cristo viveu, sendo obedientes a Deus e mostrando amor a todos, especialmente aos da comunidade da fé. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Prólogo .................................................................................................................................................1 Jo 1.1-4 II. Deus é Luz ................................................................................................................................1 Jo 1.5— 2.27 III. Deus é Justiça..........................................................................................................................1 Jo 2.28— 4.6 IV. Deus é Amor ...........................................................................................................................1 Jo 4.7— 5.12 V Epílogo ........................................................................................................................................... 1 Jo 5.13-21 GUIA DE LEITURA (3 Dias) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” em sua Bíblia e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário.

Leitura 350 351 352

Capítulos 1.1— 2.2 2.3— 3.24 4— 5

Passagem Essencial 1.5-10 3.4-10 5.11-15

1 JOÃO 16 DE DEZEMBRO LEITURA 350

VIVENDO NA LUZ 1 João 1.1— 2.2

“Se andarmos na luz, como ele na luz está, temos co­ a nova fé se encaixasse nas ideias contemporâneas munhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, sobre religião. Porém, como João mostrou, a crença seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1.7). cristã é radical e exige uma completa mudança de ideia sobre religião, sobre a condição de uma pes­ Deus nos purifica para que possamos viver uma soa como pecadora, sobre salvação, sobre piedade e vida cristã. sobre a pessoa de Jesus Cristo. Contexto Religião tradicional. No século I, as religiões eram geralmente avaliadas pela sua antiguidade. Presumia-se que uma fé antiga era verdadeira. Aqueles das classes superiores pensavam que havia um úni­ co grande Deus. Eles criam que este grande Deus, juntamente com deuses menores, era adorado por povos diferentes sob nomes diferentes e por rituais diferentes. Desde que as práticas de adoração de uma nação ou povo tivessem raízes que pudessem ser remontadas até às suas origens, na antiguidade, esta religião era considerada verdadeira. Em uma sociedade assim, não era anormal que alguns vissem Jesus como um grande homem sá­ bio, um adorador do grande Deus. Mas, aos olhos deles, Ele não poderia ser o próprio Deus, pois nenhuma religião introduzida no mundo cem anos antes teria a possibilidade de ser verdadeira. Ela não passava no teste de antiguidade. A alma de Jesus poderia, em sua morte, atingir a posição de uma divindade menor, mas Ele não poderia ser Deus, como os cristãos ortodoxos afirmavam. Essa questão, com outras, foi tratada por João nesta breve, mas poderosa, carta às igrejas da Ásia Me­ nor, onde ele viveu as últimas décadas da sua longa vida. Quando o movimento cristão se espalhou pelo mundo romano, falsos mestres corromperam a doutrina cristã em um esforço de fazer com que

Visão Geral João baseou o seu ensino no conhecimento pessoal de Jesus e na contínua comunhão com Deus (1.14). Aquele que afirma não ter pecado está em trevas (w. 5-8). A confissão dos pecados traz o perdão e a purificação por meio de Cristo, o nosso sacrifício expiatório (1.9— 2.2). Entendendo o Texto “O que era desde o princípio” (1 Jo 1.1). O Evan­ gelho de João começa com: “No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. O mesmo pensamento é expresso aqui. Crer em Jesus não é adorar um recém-chegado ao cenário da religião. Jesus existia desde o princípio, pois Ele é Deus: a fonte da vida terrena e da vida eterna.

“Vimos com os nossos olhos” (1 Jo 1.1-3). João enfa­ tizou o seu papel como uma testemunha ocular da Encarnação. Deus não é alguém afastado, distante, desconhecido. Na pessoa de Jesus, João tinha visto a Deus com os seus próprios olhos, tocado nEle com as suas próprias mãos, andado ao lado dEle pelos caminhos pedregosos da Palestina. Quando os falsos mestres apresentaram argumentos filosó­ ficos para provar que Deus não poderia tornar-se homem, e que nenhum ser humano poderia com­

1 Joáo 1.1—2.2

partilhar essência com o grande Deus, João teve uma resposta simples. “Eu não estou falando sobre argumentos. Eu estava lá. Eu estou falando do que vi e ouvi.” Você e eu precisamos ter esse mesmo tipo de con­ fiança. Não que vejamos ou toquemos em Jesus como fez João, em carne. Mas hoje você e eu pode­ mos também experimentá-lo. Podemos conhecer a paz que Ele traz quando somos tomados pela ansie­ dade. Podemos sentir a sua direção. Podemos sentir a convicção e conhecer a alegria que apenas o Espí­ rito Santo traz. Quando conhecemos a Jesus nesse sentido profundo e pessoal — quando temos uma experiência com Cristo — , nós CONHECEM OS. Por mais lógicos e sólidos que os argumentos dos escarnecedores possam parecer, eles não possuem nenhuma força motriz, uma vez que conhecemos, por experiência pessoal, que Jesus é Deus.

“Para que também, tenhais comunhão conosco” (1 Jo 1.3,4). A palavra traduzida como comunhão aparece mais de 60 vezes no Novo Testamento. O conceito da raiz consiste em compartilhar algo em comum. Outras versões têm traduzido a raiz como comunhão, participação, associação, e comparti­ lhar uma vida em comum. Dois pensamentos são importantes aqui. Primeiro, a “comunhão conosco” precede a “comunhão com o Pai”, nestes versículos. Talvez Joáo estivesse dizen­ do que nós podemos ter as melhores experiências com Deus na comunidade da fé e por meio dela, mais do que sozinhos. Se você quer experimentar Deus em ação em sua vida, torne-se parte de uma igreja em que Ele esteja operando atualmente. Mas João estava dizendo mais. Ele estava dizendo que, para ter a mesma certeza que o dominava, uma pessoa devia ter uma experiência com Jesus por si mesma. Saber a respeito de Deus não é sufi­ ciente. Saber que Deus existe não é suficiente. Você precisa entregar-se a Jesus, e, na ligação de fé com Cristo, a vida em comum que você compartilhará com Ele, terá uma experiência com Ele por si mes­ mo. E então você também saberá. Que coisa maravilhosa é poder dizer aos escarne­ cedores, ou àqueles que duvidam ou hesitam: Eu posso lhe dizer o que tenho visto e ouvido; posso lhe dizer das minhas experiências. Mas, por que não experimentar a Jesus por você mesmo? Por que não tocar, e ver, e ouvir a verdade, enquanto Ele opera em sua vida hoje? “Se andarmos na luz” (1 Jo 1.5-7). João frequente­ mente contrastou a luz e as trevas em seus escritos. Às vezes, a ênfase é moral: as trevas representam a corrupção moral, e a luz, a santidade. Aqui, porém,

luz e trevas são reflexos da realidade. Aqueles que andam em trevas não podem compreender o ver­ dadeiro estado das coisas. Aqueles que andam na luz veem e podem lidar com a realidade. João estava dizendo algo que os conselheiros mo­ dernos passaram a perceber que é básico para todos os relacionamentos humanos. A menos que você esteja disposto a ser honesto consigo mesmo e com os outros, não existe base para um relacionamen­ to pessoal íntimo. Você não poderá dizer que tem comunhão com Deus, se não é honesto com Ele e consigo mesmo; e também não poderá dizer que tem comunhão com os outros. Talvez você pense que tem coisas em comum tanto com Deus como com os seus irmãos e amigos. Você pode presumir que o seu relacionamento seja íntimo e próximo. Mas, se não estiver em contato com a realidade, estará enganando a si mesmo. Deus pode lidar com qualquer coisa em nosso re­ lacionamento com Ele, exceto o engano. Ele pode lidar até mesmo com os pecados! João disse que, se andarmos na luz — se formos honestos conosco e com Deus sobre os nossos pecados — , o sangue de Cristo continuará a nos purificar de todos os pecados. Não tente fingir em relação a Deus, ou em relação a si mesmo. Quando você fizer algo errado, encare os fatos. Admita-os e deixe que Deus lhe perdoe e lhe purifique. (Veja o DEVOCIONAL.)

“Se confessarmos os nossos pecados" (1 Jo 1.9). A pa­ lavra “confessar” é homologeo. Significa fazer meiavolta a respeito de um ato pecaminoso: reconhecê-lo como pecado, e reconhecê-lo como um pecado con­ tra Deus. Quando reconhecemos os nossos pecados pelo que eles são, Deus pode agir em nós. Ele não só nos perdoa, mas continua nos purificando de toda a iniquidade. Agostinho escreveu: “Aquele que con­ fessa e condena os seus pecados já está agindo de acordo com Deus. Deus condena os seus pecados; se você também os condenar, estará ligado a Deus”. “Para que não pequeis” (1 Jo 2.1,2). Muitas pessoas não entendem como Deus trata dos seus assuntos. Dizendo-nos de antemão que, se confessarmos os nossos pecados, seremos perdoados? (1.9). Nem mesmo mencionando castigo, penitência, remorso ou reparação? Apenas confessar e ser perdoado? Se é tão fácil, por que então não sair e pecar como bem quiser? Tudo o que você tem a fazer é apre­ sentar-se diante de Deus e dizer: “Eu pequei”, e ir para casa impune! Eu posso entender o motivo de você estar confuso com isso. Em essência, João estava dizendo: Eu que­ ro que você saiba que Jesus satisfez completamente a

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ira de Deus contra os pecadores, e que Ele está lá no céu agora, empenhando o seu próprio sangue a seu favor, sempre que você é acusado de qualquer peca­ do. Jesus está dizendo: “Eu paguei por ele [ou ela], Pai”. E Ele realmente pagou; logo, você está livre. Mas João entende. “Estas coisas vos escrevo”, diz ele, “para que não pequeis”. O que impede os cris-

DEVOCIONAL______ “Eu Não, Senhor”

(1 Jo 1.5-10) Um dos personagens que aparece regularmente nos desenhos da Family Circus é “Eu não”. Ele é uma fi­ gura espectral, e toda vez que a mãe pergunta quem quebrou o abajur, ou quem comeu os biscoitos, as crianças rapidamente culpam “Eu não”. Ele era uma figura familiar mesmo no século I. João o retratou nestes versículos da sua primeira carta. “Alguém aqui peca?”, ele pergunta. E todos respondem: “Eu não”. Para Joáo, isso é sério, e não é engraçado de for­ ma alguma. “Se dissermos que náo temos pecado”, João escreve, “enganamos a nós mesmos, e não há verdade em nós” (v. 8). Saímos da luz e perdemos aquele contato íntimo com Deus que mantemos apenas por sermos honestos com nós mesmos e com Ele. E ainda há mais. Se nos recusarmos a re­ conhecer os nossos pecados, eles ficarão inconfessos. Perderemos a experiência do fluxo de perdão que aprofunda o nosso amor pelo Senhor. E nos excluímos da obra de purificação do Espírito Santo de Deus: uma obra que só pode ocorrer naqueles que são honestos consigo mesmos e com Deus. Portanto, da próxima vez que você ficar com raiva e brigar com uma pessoa amada, não finja que isso é uma “indignação justa”. Da próxima vez que fraudar o seu imposto de ren­ da, não pense: “Todos estão fazendo isso”, usandoo como desculpa. Da próxima vez que seu cônjuge disser que precisa conversar, não vire as suas costas em amargura ou indiferença. E nunca, nunca afirme — nem mesmo em seus sonhos — que não tem pecado. Tome o seu lugar com o restante da humanidade: fracos, vulneráveis, irritantes e, às vezes, fracassados, mas andando honestamente com Deus e com os outros, e tor­ nando-nos, pela graça de Deus, melhores do que fomos e do que somos.

tãos de pecar não é o medo do castigo; é o amor por Jesus. Quanto mais percebemos a profundi­ dade do nosso pecado e o quanto temos sido per­ doados, mais amor sentimos pelo Senhor. O amor que nos garante o perdão desperta o nosso amor, e escolhemos livremente não pecar por amor àquEle que nos ama. Citação Importante Pode haver virtude no homem Que sempre tem a certeza de estar certo, Que nunca ouve o plano de outra pessoa E não busca mais luz. Mas eu aprecio mais o homem que canta Uma canção um pouco diferente; Que diz, quando faz alguma tolice: “Desculpe; eu estava errado”. E difícil para qualquer um dizer Que o fracasso é devido a si mesmo; Que perdeu a luta ou o caminho Porque as suas luzes ficaram fracas. E preciso que um homem à parte lance de si A vaidade, que é forte, Confessando: “Foi minha culpa, eu sei. “Desculpe; eu estava errado”. E assim, eu imagino que aqueles que usam Esta frase honesta e valorosa Odeiam muito os seus erros para se perderem por causa deles Nos muitos dias futuros. Eles se manterão no caminho e pelejarão a peleja, Porque não desejam Ter que dizer, quando não estáo certos: “Desculpe; eu estava errado.” — Herald ofLight 17 DE DEZEMBRO LEITURA 351 OS TESTES DE FÉ 1 João 2.3 — 3.24

“Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de lín­ gua, mas por obra e em verdade. E nisto conhecemos que somos da verdade e diante dele asseguraremos nos­ so coração” (1 Jo 3-18,19). Amor e obediência são provas interiores e exterio­ res de um relacionamento pessoal com Deus.

Aplicação Pessoal Visão Geral Se você engana a si mesmo, certamente está em Joáo identificou três testes de conhecimento de trevas. Deus (2.3-11) e expressou confiança em seus lei­

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tores (w. 12-14). Ele nos exorta a não amarmos o mundo (w. 15-17), e advertiu contra os anticristos (w. 18-27). Devemos viver como filhos de Deus (v. 28— 3.3), fazendo o que é certo (w. 4-10) e amando uns aos outros (w. 11-15), assim como Deus nos tem amado em Cristo (w. 16-20), as­ segurando-nos pela nossa maneira de viver, e pelo Espírito, que vivemos nEle (w. 21-24). Entendendo o Texto “E nisto sabemos que o conhecemos” (1 Jo 2.3-11). De alguma forma, a mulher jovem no Canadá conseguiu o número do meu telefone em Phoenix. Ela passou a me ligar, ocasionalmente várias vezes por dia. Estava ansiosa e com medo. Não sabia se era cristã, embora cresse em Jesus. Quando seus te­ mores voltavam a transbordar, ela discava o meu número. Ela era um caso extremo, mas muitos cristãos têm momentos de incerteza. Como podemos saber que chegamos a conhecer a Deus? João apresentou três testes. Primeiro, nós obedecemos aos seus manda­ mentos (v. 5). Uma pessoa usando o uniforme do exército americano obedece às ordens de oficiais que estão acima dela. Isto faz parte de ser um sol­ dado. Obedecer a Jesus faz parte de ser cristão, e mostra que reconhecemos a sua autoridade. Segundo, “andamos como Jesus andou” (v. 6). Se pertencemos a Jesus, nos tornamos cada vez mais como Ele. Portanto, quando reagimos aos outros e às situações da vida como Jesus fez quando esteve aqui na terra, mostramos que pertencemos a Ele. Terceiro, amamos os nossos irmãos (v. 9). Você não pode odiar outros e pertencer a Jesus, porque Cristo ama a todos. As pessoas podem dizer que pertencem a Cristo e ser odiosas e odiar. Porém, as suas ações negam as suas palavras. Portanto, examine a si mesmo. Você acha que guarda os mandamentos de Jesus? Tenta agir como acredita que Ele agiria? Ama os seus irmãos em Cristo e gosta de estar com eles? Então relaxe! Você o conhece. E outros também sabem que você o conhece!

“Escrevo-vos” (1 Jo 2.12-14). A carta de João não tinha a intenção de condenar, ou de criar ansieda­ de. Ela tinha a intenção de incentivar. Foi escrita para aqueles que João sabia que eram crentes verda­ deiros, que mostravam as marcas de Jesus em suas vidas. Como é bom quando os outros nos avisam que confiam em nós! Pode significar muito para a sua família e seus ami­ gos se você lhes fizer o mesmo tipo de elogio.

e percepções que juntos são expressos na cultura dos seres humanos pecadores. João revelou a na­ tureza desse sistema, dizendo que as raízes de toda sociedade humana estão profundamente arraigadas nos desejos egoístas do homem pecador, na ten­ dência do homem para desejar gananciosamente as coisas materiais que ele vê, e na atração do ho­ mem pela autoimportância ostentadora. Cada uma dessas coisas é antagonista a Deus, e uma cultura que compõe a sociedade a partir desses valores é corrupta. Nós temos que abandonar os valores da sociedade humana e adotar os valores de Deus, o Pai. A cul­ tura do homem não é nossa, e não devemos nos conformar a ela.

“Muitos se têm feito anticristos” (1 Jo 2.18-25). João cria que, no futuro, um indivíduo específico, o Anticristo, apareceria. Ele também cria que falsos cristãos que, mesmo então, estavam procurando desviar os crentes eram anticristos: inimigos de Je­ sus e do Pai. A partir desta passagem, aprendemos duas coisas sobre os anticristos. Aprendemos que, certa vez, eles já foram membros da igreja, mas que “saíram de nós”. Eles estabeleceram os seus próprios mo­ vimentos de dissidência. E sabemos que eles se revelaram, negando que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. João disse diretamente que ninguém que nega o Filho como Deus tem qualquer conheci­ mento do Pai. Nem todos aqueles que se dizem cristãos realmente o são. Com o passar do tempo, porém, essas pesso­ as revelam-se, causando divisões na igreja e negan­ do a divindade de Jesus. “A sua unção vos ensina todas as coisas” (1 Jo 2.2427). O que nos protege dos falsos mestres? Obje­ tivamente, nos certificamos de que “o que desde o princípio” ouvimos “permanece” em nós. A doutri­ na da igreja primitiva e dos apóstolos está preserva­ da na Palavra inspirada de Deus; nós a estudamos e dependemos dela. Mas também há uma preciosa fonte de segurança. Esta fonte é o Espírito Santo: a “unção que vós recebestes dele... vos ensina todas as coisas”. A voz interior do Espírito e a Palavra objetiva tes­ temunham juntas a favor da verdade. Nós não pre­ cisamos de nenhuma autoridade humana para nos dizer o que é verdadeiro e o que é falso. Se ouvir­ mos a Palavra e o Espírito, saberemos.

“E é isso o que somos!” (1 Jo 2.28 — 3.10). A nos­ “Não ameis o mundo” (1 Jo 2.15-17). Neste famoso sa cadela Mitzi tem a ideia fixa de que ela é um parágrafo, “o mundo” é o sistema total de valores membro da família, e que tem que ter o seu lugar à

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mesa de jantar. Se não tomarmos cuidado, ela pula em uma cadeira, repousa o seu queixo sobre um jogo americano de mesa, e espera pela oportuni­ dade de abocanhar algo para comer. Temos muito trabalho para convencê-la de que ela é uma cadela, e que os cães não comem comida de gente à mesa do jantar. João também quer que desenvolvamos uma ideia fixa. Ele quer que entendamos que, mesmo agora, nós SOMOS filhos de Deus. Em última análise, não podemos dizer o que isso significa, além do fato de que, quando Jesus vier, nós seremos como Ele. Porém, saber que somos filhos de Deus e que seremos como Jesus causa um tremendo impacto. Mitzi está errada quando acha que é uma pessoa e tenta agir como uma. Mas estamos certos, se pen­ samos que somos filhos de Deus. Se estivermos to­ talmente convencidos de que pertencemos a Deus, João diz que começaremos a agir como Deus aqui e agora. Se você já se perguntou como deveria agir em uma situação específica, apenas se lembre de que você é um filho de Deus, e aja como você acredita que um filho de Deus deve agir.

“Não vos maravilheis se o mundo vos aborrece” (1 Jo 3.11-15)- Nos séculos I e II da nossa era, o mundo odiava os cristãos. Os cristãos recusavam-se a tomar parte na vida pública porque sacrifícios oferecidos a deuses e deusas eram um elemento tradicional nas reuniões políticas e sociais. Os cristãos eram condenados como ateus e inimigos da humanida­ de, pois, para os pagãos, aqueles que não assumiam as suas responsabilidades cívicas pareciam atacar a ordem social.

DEVOCIONAL______ Em Direção à Luz

( lj o 3.4-10) Eu me lembro de que, quando era pequeno, tive que fazer uma experiência, cultivando um feijão na escola. Suponho que a educação não progrediu muito, porque agora, 50 anos depois, o nosso filho de 9 anos também cultivou um feijão. Mas o que é interessante é que, ao brotar, a planta sempre cres­ ce em direção ao sol. De alguma forma, a vida do feijão é atraída para a luz. Você pode virar a planta para o outro lado, ou até mesmo deitá-la de lado. O que quer que faça, o broto se voltará para o sol. É isso o que João estava dizendo sobre nós quan­ do escreveu: “Qualquer que permanece nele não peca” (v. 6). A versão NVT da Bíblia capta o tempo essencial do verbo. Não é que os crentes nunca pe-

Por outro lado, os cristãos eram bons cidadãos: honestos, morais, responsáveis, mas mesmo assim odiados. Por isso, essas palavras de João eram im­ portantes. O ódio vem do pecado; e, se os cristãos eram odiados e mortos, a perseguição revelou o pecado que contaminava a sociedade. Mas a con­ trapartida também deve ser verdadeira. Se o ódio é a marca do mal, o amor é o sinal indelével do bem e da piedade. Alguns, mesmo na América, são odiados porque a sua posição remove a capa que esconde a imo­ ralidade básica de coisas em nossa sociedade, tais como o aborto, a exploração do sexo e a corrupção da mídia. Eles sentem a hostilidade de que João falou. Mas todos nós devemos mostrar o amor, a inequívoca evidência de que Deus tocou e entrou em nossos corações.

“Se o nosso coração nos não condena” (1 Jo 3.21-24). Bem lá no fundo, você e eu sabemos o que é cer­ to. E sabemos quando erramos. Podemos tentar escondê-lo, mas, ainda que tentemos enganar a nós mesmos, ali permanece uma certeza irritante de que erramos. Que motivo poderoso para escolher o que é cer­ to e bom! Quando a nossa consciência está limpa, quando sabemos que fizemos o nosso melhor, João diz que nós “temos confiança para com Deus”. Te­ mos confiança para orar e confiança para reivin­ dicar a resposta para as nossas orações, e o mais importante de tudo é termos a confiança de que Cristo vive em nós. Somente Jesus, habitando em nosso interior, pode nos motivar a escolher alegremente o que é certo e bom. quem. E que os crentes não “permanecerão pecan­ do”. João disse que o motivo é que a semente de Deus — o princípio da vida divina — foi plantada em nossas personalidades. A vida de Deus dentro de nós cresce em direção à piedade. A sua vida ca­ minha na direção da pureza. E, se a vida de Deus realmente está em nós, haverá uma clara inclinação em direção ao que é certo, longe do pecado. Qualquer pessoa pode pecar às vezes, e com toda probabilidade isso acontecerá. Mas você ainda pode dizer em que DIREÇÁO uma pessoa está crescendo. E todos os outros também podem! Aplicação Pessoal A direção da sua vida é mais importante do que a posição em que você está agora.

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Citação Importante “Deus glorioso, dá-me graça para endireitar a mi­ nha vida, podendo entender o meu fim sem relutar com a morte, pois, para aqueles que morrem em ti, Senhor amado, ela é a porta da vida abundante. “E dá-me, Senhor amado, uma mente humilde, modesta, tranquila, pacífica, paciente, caridosa, bondosa, gentil e piedosa, em todas as minhas ações, em todas as minhas palavras e em todos os meus pensamentos, para que eu possa provar mais do teu Espírito, que é Santo e Bendito. “Dá-me, Senhor amado, uma fé completa, uma es­ perança firme e uma caridade fervorosa, um amor por ti incomparavelmente maior do que amor por mim mesmo. “E dá-me, Senhor amado, o teu amor e o teu favor, os quais o meu amor por ti, qualquer que seja o seu tamanho, não poderia merecer, se não fosse por tua grande bondade. “Por estas coisas, Senhor amado, eu oro; e dá-me a tua graça, para que eu possa persistir nelas.” — Thomas More 18 DE DEZEMBRO LEITURA 352 O GRANDE AM OR DE DEUS 1 João 4—5

portar. Todos esses mestres viajantes eram treina­ dos em retórica, e eram habilidosos comerciantes ambulantes. Assim, João advertiu os ingênuos e incautos. Não se deixem seduzir por mestres de “fala mansa”. O teste crítico naquela época, como agora, é: este professor apresenta Jesus Cristo como Deus em carne? Qualquer que apresentar Jesus como pos­ suindo menos que a completa divindade expressa o “espírito do anticristo”, e não o Espírito de Deus. “Maior é o que estã em vós do que o que está no mun­ do” (1 Jo 4.4-6). De vez em quando, eu me deparo com alguém que está ansioso com relação a uma possível possessão demoníaca. Este versículo pode ser uma grande consolação. O espírito que anima o anticristo, o próprio Satanás, opera livremente nes­ te mundo. Mas o cristão não faz parte deste mun­ do! Temos dentro de nós Um que é muito maior do que Satanás: o Espírito Santo de Deus. Deixe que o Espírito encha a sua vida, e você não estará em perigo de sofrer algum tipo de possessão demoníaca. Satanás pode manipular as circunstân­ cias ao seu redor, mas ele não poderá tocar o seu coração ou o seu espírito, se o Espírito de Deus viver dentro de você.

“Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em ha­ “Aquele que conhece a Deus ouve-nos” (1 Jo 4.4-6). ver Deus enviado o seu Filho unigénito ao mundo, Não assuma uma posição defensiva, se os outros para vivermos por meio dele” (1 Jo 4.9, ARA). pensarem que a sua fé em Cristo é tola ou estra­ nha. Nós, cristãos, falamos no idioma da nossa Devemos descansar na segurança do grande amor terra, mas o que dizemos não pode ser “ouvido” de Deus. por aqueles que não conhecem a Deus. O ponto de vista do mundo sempre foi cego para o Deus Visão Geral da Escritura. Falsos profetas negam que Jesus Cristo é Deus e Em vez de ser defensivo, continue a amar e a fazer homem (4.1-6). O amor é a marca exterior do nas­ o bem. Todos os dias, Deus chama mais homens cimento espiritual (w. 7-21). O crente ama e obe­ e mulheres do mundo para si. Alguns com quem dece a Deus, vencendo o mundo (5-1-5). A pessoa você falar começarão, de repente, a ouvir, e você que confia em Jesus tem a vida de Deus dentro de saberá que Deus está operando na vida dessas pes­ si (w. 6-12). Deus quer que saibamos que temos a soas. vida eterna, que oremos por aqueles que pecam (w. 16,17), e que abandonemos o pecado (w. 18-21). “Aquele que não ama não conhece a Deus” (1 Jo 4.7-12). Os não-cristãos frequentemente pedem Entendendo o Texto aos crentes que “provem” que Deus é real. “Você “Provai se os espíritos são de Deus” (1 Jo 4.1-3). No não consegue vê-lo, ou tocá-lo”, eles podem dizer. século I, mestres itinerantes viajavam pelo mundo “Como você pode saber que Deus existe?” romano. O texto de 2 Pedro 2 nos diz que mui­ Por um lado, você e eu podemos argumentar a tos falsos mestres estavam entre eles; homens que partir da história. Jesus viveu. Ele morreu. E a sua viam o ensino da nova religião como um modo de ressurreição é o acontecimento mais atestado do ganhar dinheiro. Isso enquadrava-se em um pa­ mundo antigo! Esses acontecimentos demonstram drão que já estava bem estabelecido, pois aqueles a existência de Deus e o seu amor ativo. que ensinavam filosofia e outras religiões também Mas há uma maneira ainda melhor de responder. viajavam, reuniam pequenos grupos de seguidores Deus revelou-se no amor que Jesus mostrou ao en­ e cobravam tanto quanto o mercado pudesse su­ tregar-se a si mesmo por nós. E Ele cria um tipo de

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amor de Jesus no coração daqueles que o conhecem. Outros podem saber que Deus é real ao verem o tipo de amor de Jesus expresso pelos cristãos. As vezes, é possível argumentar com outras pessoas sobre a fé e trazê-las para a comunhão com a igreja. Mas geralmente é mais fácil amá-las, e isso fará com que passem a depositar a sua confiança em Jesus.

“Deus está nele e ele em Deus” (1 Jo 4.13-16). O tema da “certeza” é forte nestes dois últimos capí­ tulos de 1 João. Conheço pessoas que realmente ficam com raiva se um cristão sugere que “sabe” que vai para o céu. Para alguns, isso é presunção. Para outros, é um insulto — um sinal de que o crente se acha melhor do que os demais. Mas João deixa claro que Deus quer que nós saibamos com certeza que somos salvos, e que Ele vive em nós, como vivemos nEle. Não é presunção entender e amar a Deus por meio da sua Palavra, ou confiar no amor que Ele tem por nós. Presunção seria NAO confiar nas promessas de Deus. “O perfeito amor lança fora o medo ” (1 Jo 4.17,18, ARA). Eu desconfio de que a maioria das pessoas sente uma pontada de ansiedade, e olha rapida­ mente para o velocímetro do seu carro, se vê uma viatura da polícia enquanto está na estrada. Nós consideramos a polícia como protetora do bem pú­ blico. Mas a maioria de nós fica um pouco nervosa perto de um policial. O mesmo acontece com a maioria das pessoas com relação a Deus. A ideia de que Deus está bem ali, no carro de trás, observando, faz uma pessoa sen­ tir-se um pouco nervosa. João, no entanto, disse que não precisamos ter medo ou sentir ansiedade em nosso relacionamen­ to com Deus. Não mais que se o policial que reco­ nhecemos no carro de trás fosse o nosso pai. Então, nós só acenaríamos para ele e sorriríamos. Não ha­ veria medo, porque a sua presença perto de nós não ofereceria nenhuma ameaça de punição. O amor faz exatamente isso em nosso relaciona­ mento com o Senhor. Por um lado, nós sabemos que Ele nos ama. Portanto, Ele não fará nada para nos prejudicar. Por outro lado, quando o obedece­ mos com amor, não sobra espaço para o medo. O pavor de alguém e o amor por essa mesma pessoa não podem existir ao mesmo tempo. O verdadeiro amor lança fora o medo. Portanto, não tenha medo de Deus. Lembre-se de que Ele ama você, e ame-o como retribuição.

ama primeiro. E o seu amor faz toda a diferença. E como se nós fôssemos um graveto molhado. Não temos nenhuma faísca de amor por Deus em nós; de nenhuma maneira podemos acender uma chama. Mas o amor de Deus nos envolve. Ele nos aquece e nos seca, e finalmente acende o fogo do amor em nossos corações. Em nosso relacionamen­ to com Deus, o amor lança fora o medo. Em nosso relacionamento com os outros, o amor cria um cui­ dado verdadeiro. O que João estava dizendo aqui é muito importan­ te. Se o amor de Deus não tem aquecido, secado e acendido o nosso próprio amor pelos outros, então ainda não aprendemos a amar a Deus. O mesmo amor que aquece o coração de Deus aquece os nos­ sos irmãos e irmãs.

“Os seus mandamentos não são pesados” (1 Jo 5.1 5). Outra vez, João insistiu no fato de que Deus estimula o amor em nosso coração; um amor que se expressa tanto a Deus como aos outros. Não po­ demos ser quentes com Deus e frios com os nossos irmãos ao mesmo tempo. Há uma outra coisa animadora sobre o amor por Deus. Ele torna a obediência fácil. “Eu quero” é sempre mais fácil do que “eu tenho que”. Se sentir­ mos que somos forçados contra a nossa vontade a fazer certas coisas que Deus exige, estas coisas serão pesadas para nós. Mas, se ansiosamente quisermos fazer estas mesmas coisas, elas nos parecerão ser um prazer. Você pode facilmente verificar o estado do seu amor pelo Senhor, usando este princípio. Se você acha que quer fazer coisas que sabe que agradam a Ele, pode ter certeza de que o seu amor por Deus está vivo e bem.

“Três são os que testificam” (1 Jo 5.6-9). O signifi­ cado de “água e sangue” aqui é muito debatido. Talvez a melhor maneira de entendê-los seja iden­ tificar a “água” como o batismo de Cristo, que introduziu o seu ministério público aqui na terra, e o “sangue” como a sua morte, que o encerrou. Tudo o que Jesus disse e fez em público, bem como a sua morte, testifica da sua natureza como o Filho de Deus. As histórias da vida e da morte de Jesus, confirmadas em nós hoje pelo Espírito Santo, prosseguem identificando o Senhor Jesus como o Filho de Deus e nosso Salvador. Qualquer pessoa que rejeita o registro da vida e da morte de Jesus por nós como um registro que foi inspirado pelo Espírito, e que é autenticado pelo Espírito hoje, faz de Deus um mentiroso (v. 10). “Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4.19-21). No relacio­ Com que clareza esta passagem atrai a questão namento de Deus conosco, Ele é o iniciador. Ele para toda a humanidade! O u cremos naquilo

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que a Palavra de Deus diz a respeito de Jesus, ou “Há pecado que náo é para morte” (1 Jo 5-16-20). chamamos a Deus de mentiroso. Não há meio O termo “morte” aqui se refere à morte biológica, e não à espiritual. Vemos um paralelo em 1 Coríntermo. tios 5, onde Paulo exigiu que um irmão que vivia “Deus nos deu a vida eterna” (1 Jo 5-10,11). em pecado aberto e persistente fosse expulso da Mais uma vez, temos palavras de certeza e ga­ igreja, e que também fosse entregue a Satanás para rantia. Se você crê nas palavras que Deus falou que a natureza pecadora pudesse ser destruída, e o a respeito de Jesus, já recebeu a vida eterna. seu espírito fosse “salvo no Dia do Senhor”. Esta vida é sua agora. “Aquele que tem o Filho O que coloca uma pessoa fora do alcance da oração e a expõe ao juízo nesta vida é a continuação persis­ tem a vida”. Desde que você creia, desfrute! Tenha a certeza da tente e determinada em algum pecado que ela está sua aceitação por Deus e alegre-se no amor que cometendo conscientemente. Ele tem por você. Este amor é muito mais maravi­ Mas Deus quer que percebamos que até mesmo os lhoso do que todas as riquezas do mundo. crentes verdadeiros podem pecar, e por essa razão devem ser objetos das nossas orações. E Ele quer “Se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade” que sejamos encorajados quando caímos. A vida de (1 Jo 5.14). Não é que tenhamos que adivinhar a Deus em nós nos levará de volta à santidade, e as­ vontade de Deus. Isso é uma promessa! Se viver­ sim nós “não continuaremos no pecado”. mos perto do Senhor, Ele guiará as nossas orações, Não trate o pecado de forma branda. Mas não fi­ para que o que pedirmos seja o que Ele deseja que que absolutamente transtornado se você fracassar. tenhamos. Agarre-se à força de Deus e levante-se novamente.

DEVOCIONAL______

A Certeza Bendita ( lj o 5.11-15) Há pouquíssimas coisas neste mundo das quais po­ demos ter certeza. Becky Schmidt, nossa amiga e esposa do nosso pas­ tor, foi ao médico para um checkup de rotina, e des­ cobriu que tinha câncer. Ela está respondendo bem ao tratamento. Mas, de repente, o mundo inteiro de Richard e seus três filhos foi abalado. KarI Klammer deixou o norte para assumir um emprego aqui na Flórida. A família vendeu a sua casa, carregou os seus pertences em um caminhão de mudanças da U-Haul, e rumou para o sul. Um dia depois de ter chegado aqui, a empresa em que ele trabalharia declarou falência e encerrou as suas atividades. Sábado passado, à noite, uma jovem aluna da nossa escola local estava a caminho do seu trabalho. Um outro carro ultrapassou o sinal vermelho, bateu em seu veículo e a matou. Certeza — essa certeza confiante sobre nós mes­ mos e o nosso futuro — é algo que o nosso mundo simplesmente não oferece.

No entanto, nesse exato momento, você e eu pode­ mos estar absolutamente certos de que, se cremos em Jesus, temos a vida eterna. Podemos estar com­ pletamente confiantes de que Deus ouve as nossas orações, e de que, quando pedimos segundo a sua vontade, a resposta é garantida. As circunstâncias da nossa vida na terra permane­ cerão sempre incertas. A única coisa de que pode­ mos ter certeza é da realidade e da maravilha do nosso relacionamento com Deus. Aplicação Pessoal Reivindique as bênçãos da certeza, que são a sua herança por meio da fé em Jesus Cristo. Citação Importante “Ter certeza da nossa salvação não é uma valen­ tia arrogante. E fé. E devoção. Não é presunção. E promessa de Deus.” — Agostinho

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em 2 e3JOÃO

2 E 3 JOÁO INTRODUÇÃO O apóstolo João escreveu estas duas cartas breves. A primeira é endereçada a uma mulher cristã desconhe­ cida e à sua família; a segunda, a um líder cristão e amigo de João chamado Gaio. Essas cartas calorosas e pessoais enfatizam temas encontrados em 1 João: a doutrina da divindade de Cristo e o chamado para amar e fazer boas obras. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Saudação .................................................................................................................................................. 2 Jo 1-3 II. Advertência..........................................................................................................................................2 Jo 4-11 III. Conclusão ........................................................................................................................................2 Jo 12,13 IV. Saudação................................................................................................................................................3 Jo 1-4 V..Estímulo .................................................................................................................................................3 Jo 5-8 VI. Advertência ........................................................................................................................................3 Jo 9,10 VII. Recomendação .............................................................................................................................. 3 Jo 11,12 VIII. Conclusão .................................................................................................................................... 3 Jo 13-15 GUIA DE LEITURA (1 Dia) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” em sua Bíblia e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 353

Capítulos 2 e 3 João

Passagem Essencial 3 João 3-19

2 E 3 JOÃO 19 DE DEZEMBRO LEITURA 353

ANDANDO EM AMOR 2 e 3 João

“E o amor é este: que andemos segundo os seus man­ tinuar ministrando (w. 5-8), para advertir contra damentos. Este mandamento, como ouvistes desde o Diótrefes (w. 9,10), e para recomendar Demétrio princípio, é que andeis nesse amor” (2 Jo 6, ARA). (w. 11-14). Nunca haverá lembretes demais para que amemos Entendendo o Texto e guardemos os mandamentos de Jesus. “O ancião à senhora eleita” (2 Jo 1). A referência de João a si mesmo como “ancião” pode ter sido Contexto devida à sua própria idade, mas é mais provável que Os últimos anos de João. João sobreviveu aos outros se deva à sua posição na igreja. Ele era alguém cuja discípulos de Jesus. Se ele realmente viveu até qua­ maturidade e sabedoria o tinham tornado digno de se 100 anos, como a maioria acredita, então viveu confiança. cerca de três décadas mais que Pedro e Paulo! No primeiro século, o nome “eleita” era usado da Durante essas décadas, a hostilidade aos cristãos maneira como usamos “cristãos nascidos de novo” desenvolveu-se cada vez mais. Havia tanto a perse­ — para identificar indivíduos como crentes que guição oficial quanto muitas expressões não violen­ têm um relacionamento pessoal com Jesus Cristo. tas de discriminação. Além disso, os falsos mestres O termo não deve ser entendido como sugerindo que Pedro, Judas e Paulo haviam predito realmente predestinação. Ele afirma que nós, que escolhemos surgiram e corromperam a fé de muitos. crer em Cristo, fomos escolhidos por Deus. O que então parecia mais importante para João Nós o queremos como o nosso Deus, mas Ele nos transmitir quando ele se aproximava do fim da sua quis primeiro como seus filhos. vida? Essas duas cartas breves nos ajudam a en­ tender, pois elas abordam temas com que estamos “Andam na verdade” (2 Jo 4). Aqui, como em 1 familiarizados desde a primeira epístola de João. João, o termo “verdade” está ligado à realidade. Ele enfatizou a plena divindade de Jesus e o amor Uma pessoa que anda “na verdade” vive em har­ como a marca de uma comunidade obediente. monia com as realidades espiritual e moral, pois Como essas duas colunas gêmeas de fé são impor­ nós as conhecemos por meio de Cristo. Você e eu tantes hoje! Nós adoramos a Jesus, o Filho de Deus, andamos “na verdade”, se a nossa vida estiver mar­ e amamos uns aos outros como irmãos e irmãs na cada pela santidade e pelo amor. família de Deus. “O amor é este: que andemos segundo os seus man­ Visão Geral damentos” (2 Jo 5,6, ARA). João enfatizou uma João saudou a “senhora eleita” (2 Jo 1-3), estimulou realidade específica que todos os cristãos devem o amor contínuo (w. 4-6) e advertiu contra aqueles experimentar. Nós mostramos a nossa obediência que negavam a divindade de Cristo (w. 7-13). Ele a Jesus e a nossa harmonia com Ele, amando os escreveu a Gaio (3 Jo 1-4) para incentivá-lo a con­ irmãos e irmãs crentes. Eu acredito que João pode

2 e 3 João

ter pensado que as pessoas a quem ele ministrava possivelmente tinham se cansado da sua mensa­ gem. Ele disse que o mandamento não era novo, e que a senhora eleita e sua família já o tinham recebido desde o princípio. Mas João não estava se desculpando. Ele está simplesmente dizendo: o amor é tão importante, que nós devemos ser lem­ brados sobre ele o tempo todo. João era como o antigo pregador que explicou a sua filosofia ministerial. “Primeiro, eu digo ao povo o que vou lhes dizer. Então, eu lhes digo. E então, eu lhes digo o que lhes disse.” E assim que preci­ samos ser, ao lembrarmos uns aos outros de que devemos continuar nos amando mutuamente por amor a Jesus.

em nossas carreiras, resolvendo mal-entendidos em nossos relacionamentos, todas as coisas importan­ tes — retrocedem em termos de importância na opinião do último apóstolo. O que o emocionava agora? Ele escreveu: “Não tenho maior gozo do que este: o de ouvir que os meus filhos andam na verdade” (v. 4). Precisamos desenvolver a mesma atitude quando se trata dos nossos filhos. Fico feliz pela mãe ou pai que contam, com um grande e óbvio orgulho, sobre o grande emprego que Joey conseguiu, ou pela casa com piscina que o marido de Suzi com­ prou em Houston por 40 mil dólares a menos do que gastaria para construí-la. Contudo, precisamos nos lembrar de que a única coisa verdadeiramente importante na vida é que os nossos filhos andem na “Jesus Cristo veio em carne” (2 Jo 7-11)- Há mui­ verdade, e andem com Deus. tas doutrinas que são importantes para os cristãos. Porém, nenhuma é tão central quanto esta. Jesus “Portanto, aos tais devemos receber” (3 Jo 5-8). Estes Cristo, o Filho de Deus, existia com Deus e como poucos versículos refletem o ministério itinerante Deus desde o princípio. E Deus, o Filho, nasceu de muitos que viajavam de cidade em cidade, hosem nossa raça, viveu aqui na terra como um ho­ pedando-se com um grupo cristão e depois com mem verdadeiro, e, depois de morrer por nós, res­ outro, para compartilhar um ensino especial ou suscitou dos mortos. Foi Deus, o Filho, em forma dom espiritual, no século I. de homem, quem morreu por nós na cruz: o Deus Em 2 Timóteo e em 2 Pedro, vimos quantos dos que veio em carne para nos remir. mestres itinerantes eram falsos: eles eram insince­ As pessoas podem ser cristãs e ter dúvidas sobre a ros; procuravam ganhar seguidores, visando apenas inspiração verbal plena nos cultos. Elas podem ser obter dinheiro deles. Aqui, vemos o outro lado. cristãs e estar absolutamente enganadas em termos Vemos centenas de crentes que pegaram a estra­ de escatologia. Mas aquele que nega que Jesus Cris­ da “por causa do Nome”, e que “não” receberam to é Deus, e que Ele veio em carne, não pode ser “ajuda” de nenhuma fonte. Esses homens aban­ um cristão em qualquer sentido bíblico. donaram qualquer ambição pessoal para viajar e Não devemos excluir da fé esta ou aquela pessoa instruir os cristãos por todo o império, geralmente por ela ser diferente de nós em alguns pontos dou­ não recebendo nada além de comida e hospedagem trinários. Porém, não devemos ter nada a ver com daqueles a quem ministravam. qualquer que se intitular “cristão”, mas negar a ple­ Hoje, ainda temos pessoas assim: missionários, pre­ na divindade de Jesus Cristo (v. 11). gadores, professores de escola, assistentes sociais, que, por causa de Jesus, abandonam a perspectiva “Testificaram da tua verdade” (3 Jo 1-4). João, ago­ de carreiras lucrativas para trabalhar em uma área ra com mais de 90 anos, havia desenvolvido uma em que podem servir aos outros e compartilhar clara opinião a respeito do que é verdadeiramente melhor a Cristo. Tais pessoas deveriam ser hon­ importante na vida. As coisas em que a maioria de radas pelos seus irmãos cristãos e incentivadas de nós concentra a atenção — lutando para progredir maneira prática.

DEVOCIONAL______ Epitáfios (3 Jo 9-13) Você já leu um daqueles bem-humorados livros de epitáfios? Como aquele na Inglaterra, que diz tudo: Mary Picket, Jaz silenciosa e em profundo sono.

Os ouvidos de seu marido Finalmente têm paz. Ou aquele do nosso próprio velho Oeste, que sim­ plesmente diz: Flicker foi mais rápido.

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2 e 3 João

Na verdade, o tema dos epitáfios bem-humorados é que a maioria diz algo sobre o caráter da pessoa que eles desejam lembrar. Algo que se destaca; algo de que as pessoas se lem­ bram. Em certo sentido, João sugeriu um tema para os epitáfios de dois dos principais indivíduos na co­ munidade cristã da Ásia, no século I. Um, Diótrefes, destacava-se por amar o primeiro lugar. Ele es­ palhava boatos, tentando fazer os outros parecerem pequenos, para que ele parecesse maior, quando comparados. E ele tentou dominar o seu pequeno grupo, cortando qualquer contato que eles pode­ riam ter com os outros. Alguém poderia ter escrito algo assim em sua lápide: Diótrefes, que abatia os outros. As coisas estão bem melhores, Agora que ele não está por perto.

epitáfio muito diferente teria marcado a sua me­ mória. Você poderia colocar a sua habilidade à prova, criando um epitáfio para Demétrio. Mas é mais importante criar um epitáfio para você mesmo. Só que por meio do modo como você vive, e não com palavras. Aplicação Pessoal Como você quer que os outros se lembrem de você? Citação Importante No coração, uma Lídia; na língua, uma Ana; No zelo, uma Rute; no casamento, uma Susana; Prudentemente simples, providencialmente cuida­ dosa; Para o mundo, uma Marta, e para o céu, uma Ma­ ria. — Epitáfio de Dame Dorthy Selby

Por outro lado, temos Demétrio, de quem todos “falavam bem”, aparentemente devido ao fato de ele dedicar-se a fazer o bem. Eu acredito que um

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em NAUM

JUDAS INTRODUÇÃO Acredita-se que Judas tenha sido irmão de Tiago e meio-irmão de Jesus. A sua pequena carta é uma ad­ vertência urgente contra aqueles que já estavam introduzindo a falsa doutrina nas igrejas. Deus castigará aqueles que se desviarem de Cristo e da piedade, mas preservará os que permanecerem em seu amor. ESBOÇO DO CONTEÚDO I. Saudação................................................................................................. II. O Fim dos Falsos Mestres .................................................................. III. Estímulo e Doxologia........................................................................

....Jd 1-4 ..Jd 5-16 Jd 17-25

GUIA DE LEITURA (1 Dia) Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” em sua Bíblia e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 354

Capítulos 1

Passagem Essencial w. 17-25

JUDAS 20 DE DEZEMBRO LEITURA 354

FALSOS MESTRES Judas

“Homens ímpios, que convertem em dissolução a gra­ les, alguma hostilidade. Eles não estavam nem um ça de Deus e negam a Deus, único dominador e Se­ pouco felizes com a notoriedade que Jesus havia nhor nosso, Jesus Cristo ” (Jd 4). alcançado, após ter começado o seu ministério de pregação e cura na Galileia. Sem dúvida alguma, Permaneça firme em Jesus, bem como no temor e como os irmãos em todos os lugares, eles pensa­ na obediência a Ele, e Deus certamente permane­ vam consigo mesmos: “O que há de tão especial cerá firme em sua vida. NELE?”. No entanto, depois da ressurreição de Jesus, en­ Biografia: Judas contramos os seus irmãos, juntamente com Maria A identificação que Judas faz de si mesmo como e os discípulos, orando no cenáculo (At 1.14). O irmão de Tiago e uma tradição muito antiga leva­ Menino nascido da mãe deles, o Irmão mais ve­ ram à sua provável identificação como um meio- lho que ralhava com eles e cuidava deles enquanto irmão do próprio Jesus (cf. M t 13.55; Mc 6.3). A cresciam, era finalmente conhecido por eles como humildade de Tiago ao apresentar-se apenas como o Filho de Deus. um servo de Jesus pode refletir a sua antiga atitude Uma coisa é conhecer Jesus na carne. Hoje, a cons­ de rejeição em relação ao seu meio-irmão como o ciência de milhões de pessoas que comemoram o Messias (cf. Jo 7.5; At 1.14). Embora a carta não Natal, com relação a quem Jesus realmente é, não seja datada, se o autor é Judas, o irmão de Jesus, a é maior do que a que os seus irmãos tinham. Mas, sua data provavelmente esteja entre 60 e 80 d.C., quando uma pessoa passa a conhecê-lo como o Fi­ uma vez que ela reflete uma preocupação com os lho de Deus e Salvador, ela, como Judas, acha nEle falsos mestres — uma característica das últimas misericórdia, paz e graça em abundância. cartas de Paulo e Pedro, como também de João. “Batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” Visão Geral (Jd3). Algumas coisas na vida são relativas. Eu pre­ Judas escreveu para advertir contra os falsos mes­ firo o verde, outra pessoa prefere o azul. Eu gosto tres na igreja (w. 1-4), os quais certamente serão de pipoca, outra pessoa gosta de batata frita. Com julgados por Deus (w. 5-16). Mas os crentes que as preferências, nenhuma diferença é realmente permanecerem em Jesus e na piedade (w. 17-23) importante. serão preservados por Deus, que merece o nosso Com a verdade, é diferente. Ela é absoluta, no sen­ louvor (w. 24,25). tido de que permanece imutável e certa, a despeito das preferências humanas. E assim Judas nos lem­ Entendendo o Texto bra de que, quando alguém diz: “Eu prefiro pen­ “A misericórdia, a paz e o amor vos sejam multiplica­ sar em Jesus apenas como um homem bom”, nós dos” (Jd 1,2). Referências nos Evangelhos a meio- podemos responder: “Tudo bem. Mas eu prefiro irmãos de Jesus sugerem que existia, da parte de­ pensar nEle como Deus”.

Judas

Discutir sobre a verdade não significa ser hostil, ou esbravejar com aqueles que não creem. Mas signi­ fica certificar-se de que as pessoas percebam que a verdade não é uma questão de preferência. Alguém pode muito bem dizer: “Eu prefiro pensar em Jesus apenas como um homem bom”. Porém, quando alguém disser isso, esta é a nossa oportunidade para responder: “Eu lamento muito por isso. Veja bem, a Bíblia diz que Jesus é Deus, o Filho, e todo o seu futuro depende de você aceitar ou não a verdade dessa afirmação”. “Porque se introduziram alguns” (Jd 4). Ontem, a nossa filha Sarah chegou da Escola Dominical, usando um grande medalhão de papel em torno do seu pescoço que dizia em letras de cinco centíme­ tros de altura: “Eu estou perdoada”. Os falsos mestres não usam medalhões em torno do pescoço, anunciando: “Eu sou um falso mes­ tre”. Muito pelo contrário, eles se introduzem secretamente. Fingem ser crentes, e somente de­ pois de serem aceitos é que eles começam a passar clandestinamente as suas heresias para dentro da congregação. Judas, como fizeram Pedro e Paulo, nos lembra de que, por mais que os falsos mestres tentem, eles não conseguirão esconder duas marcas de identifi­ cação. Eles negam a Jesus Cristo, fazendo-o menos que Deus, e transformam a graça que nos liberta do poder do pecado em uma licença para pecar. O Natal é a nossa grande reafirmação de que Jesus Cristo é Deus, e que Ele veio em carne. Fazendo com que relembremos o grande dom de Deus, o Natal nos lembra, uma vez mais, de que devemos nos dedicar a viver uma vida santa e piedosa. “Quero lembrar-vos” (Jd 5-7). Judas apontou três grupos cuja experiência nos lembra de que Deus pune o pecado. Os três grupos estão ligados pri­ meiramente pelo fato de cada um deles ter se re­ belado contra Deus, e, em segundo lugar, pelo fato de cada um, quando se rebelou, ter se voltado para a imoralidade. O que Judas quer dizer está claro. Deus certamen­ te castigará os falsos mestres que compartilham da corrupção espiritual e moral mostrada pela geração do Exodo, pelos anjos caídos e pelas comunidades homossexuais de Sodoma e Gomorra. Nós também não devemos hesitar em afirmar essa verdade. O pecado merece a justa punição, e a pu­ nição certamente será imposta.

imaginação do homem. “Estes... adormecidos” agem como “animais irracionais”, pois ignoram as verdades espirituais e imaginam um mundo em que eles podem dar total vazão às suas paixões mais torpes. Essa é uma extrema arrogância, e Judas fez alusão a uma história que era popular em seus dias, na qual o arcanjo Miguel é descrito lutando com Sa­ tanás pelo corpo de Moisés depois de sua morte. Ele parecia dizer que o maior dos anjos hesita em repreender um ser de alta posição! Como é arro­ gante o mero homem falar das realidades espiri­ tuais que estão muito além de sua capacidade de compreensão. Cuidado com aqueles que zombam das coisas es­ pirituais. O que eles dizem não nos diz nada sobre Deus ou sobre os anjos. Mas isso certamente nos diz muito sobre eles! "Ai deles!”(Jd 11-13). Judas reúne emocionalmente imagens que caracterizam o falso mestre. A ma­ neira de Caim é atacar violentamente aqueles que fazem o bem. O erro de Balaão é trocar serviços espirituais pela riqueza terrena. E a destruição de Corá é direta, uma intervenção divina para punir aqueles que se rebelam contra o bendito Senhor. A próxima série de imagens é poderosa e poética. Duas delas retratam um fenômeno que promete muito, mas que não produz nada além de danos. Ser um pastor é prometer cuidar das ovelhas, mas esses pastores cuidam de si mesmos! Uma nuvem negra promete chuva, mas esses falsos mestres tra­ zem apenas ventos estridentes e nenhuma água. Que contraste com aqueles milhares e milhares de pastores fiéis que dão em vez de receber e que enri­ quecem as nossas vidas. “Enoque, o sétimo depois de Adão” (Jd 14-20). Aqui Judas tomou uma citação de um livro religioso do século II d.C. chamado “O Livro de Enoque”. A citação de Judas não significava que ele via esse livro como Escritura, mas indica que ele acredi­ tava que o sentimento expresso era verdadeiro. O Senhor está vindo, e com milhares de milhares de santos anjos (cf. 2 Ts 1.5-10). Quando Ele voltar, julgará. E então os falsos mestres receberão o casti­ go que merecem. Até então, devemos esperar encontrar zombadores na igreja, os quais tentarão nos dividir (w. 17-19). Sendo assim, sejamos duplamente cuidadosos para não cairmos em suas garras.

“Estes... adormecidos” (Jd 8-10). O problema com “Mas vós, amados” (Jd 20,21). Os anjos cantaram os falsos ensinos religiosos é que eles abandonam a naquele primeiro Natal: “Paz na terra, boa vontade realidade revelada na Escritura e a substituem pela para com os homens” (Lc 2.14).

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Judas

das nos lembra de que devemos “ser piedosos” com aqueles que duvidam. Mostre que você se impor­ ta, tente incentivar e ajudar, nunca condene. Com amor e compaixão, você pode tomar o duvidoso pela mão e conduzi-lo a Cristo.

Os chamados estridentes dos escarnecedores não têm qualquer atração para nós que conhecemos a Jesus como o Filho enviado de Deus e como o Sal­ vador ressuscitado. Experimentamos a paz quando nos concentramos em edificar a nós mesmos sobre a nossa “santíssima fé”, em oração e conservandonos no amor enquanto esperamos Jesus voltar. Se você e eu nos concentrarmos nessas coisas, expe­ rimentaremos uma paz que certamente ninguém poderá conhecer fora de Cristo. “Apiedai-vos de alguns que estão duvidosos” (Jd 22). Não classifique aqueles que duvidam como sendo falsos mestres. Há uma grande diferença entre a incerteza honesta e a incredulidade arrogante. Ju-

DEVOCIONAL______ Nascido como um Rei (Jd 17-25)

Há uma estranha correlação entre a época do Natal e a carta de Judas. O Natal nos traz imagens vívi­ das do Menino Jesus, deitado em uma manjedoura como uma Criança indefesa, observado por Maria e José, cercado por animais que encontramos em uma fazenda. As advertências poderosas de Judas contra os falsos mestres também contêm imagens vívidas: imagens que nos fazem sentir a nossa pró­ pria vulnerabilidade. Mas Judas terminou a sua carta com uma homena­ gem de louvor àquEle que ele finalmente reconhe­ ceu como Deus, nosso Salvador, resplandecente em “glória e majestade, domínio e poder”. Jesus nasceu como um Menino indefeso, mas Ele nasceu como um Rei, sim, como o Rei que agora governa sobre todas as coisas. Pelo fato de Jesus ser quem Ele é — “antes de todos os séculos, agora e para todo o sempre” — , é que,

“Misericórdia com temor” (Jd 23). O amor pe­ los perdidos deve ser sempre temperado com um ódio pelo pecado. Judas nos adverte contra identificarmo-nos tão de perto com um pecador, a ponto de nos sentirmos atraídos pelo seu peca­ do. O temor que devemos sentir ao procurarmos alcançar os outros e conduzi-los a Cristo não é um temor deles, mas a consciência da nossa própria vulnerabilidade. apesar das nossas fraquezas, temos total confiança de que, a despeito de quaisquer divisões que pos­ sam ocorrer na igreja, permaneceremos a salvo e se­ guros. Estamos seguros, não por causa da força da fé nEle, mas por causa da força daquEle em quem cremos. Como Judas diz, Ele “é poderoso para vos guardar de tropeçar e apresentar-vos irrepreensí­ veis, com alegria, perante a sua glória”.

Aplicação Pessoal

Confie em Jesus, e não na fé que você tem em Je­ sus.

Citação Importante

“Convença-te, alma tímida, de que Ele te amou demais para parar de te amar.” — François de la Mothe Pennelon O Plano de Leituras Selecionadas continua em MARCOS

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APOCALIPSE INTRODUÇÃO

O livro do Apocalipse relata uma visão que teve o apóstolo João, quando estava exilado na ilha de Patmos, em meados dos anos 90 d.C. Naquela época, a igreja enfrentava perseguições, e o livro pretendia encora­ jar os crentes que sofriam pela sua fé. Vários esquemas para a interpretação do livro do Apocalipse foram desenvolvidos. Ele foi tratado como profecia pura, mas também como um livro cujos símbolos lidam basicamente com a situação da época em que o próprio João viveu. Em qualquer esquema interpretativo, no entanto, fica claro que João nos apresenta uma visão exaltada de Jesus e imagens inconfundíveis dos juízos divinos a serem executados sobre a humanidade rebelde. Mesmo quando o simbolismo é de compreensão mais difícil, nós vemos, com clareza esmagadora, um Deus que está no controle soberano da história e do seu universo. E nós te­ mos certeza de que esse Deus lidará com o mal, e um dia governará um novo mundo, limpo e purificado, habitado pelos seus santos.

ESBOÇO DO CONTEÚDO

I. O Jesus Glorificado.................................................................................. II. Cartas às Sete Igrejas............................................................................... III. Visões do Livro Aberto......................................................................... IV Visões do Retorno de Cristo................................................................ V. Visões da Nova Terra...............................................................................

......................Ap 1 .............. Ap 2— 3 ... Ap 4.1— 19.10 Ap 19.11— 20.15 ......... Ap 21— 22

GUIA DE LEITURA (11 Dias)

Se você tiver pressa, pode ler somente a “passagem essencial” em sua Bíblia e o Devocional em cada ca­ pítulo deste Comentário. Leitura 355 356 357 358 359 360 361 362 363 364 365

Capítulos 1 2— 3 4— 5 6— 7 8— 9 10— 11 12— 14 15— 17 18— 19 20 21— 22

Passagem Essencial 1.9-18 2.1-7 5.6-14 7.9-17 9.12-21 11.15-19 14.6-20 17 18.1-13 20.7-15 21.22— 22.5

APOCALIPSE 21 DE DEZEMBRO LEITURA 355 O Q U E V IV E Apocalipse 1

“[Eu sou] o que vive; fu i morto, mas eis aqui estou Visão Geral vivo para todo o sempre” (Ap 1.18). João recebeu uma profecia que lhe foi dada por re­

velação direta (1.1 -3), e que ele enviou a sete igrejas Para compreender verdadeiramente o Natal, nós na Ásia (w. 4-6a), e atribuiu a Cristo, como Deus precisamos ver Jesus em toda a sua glória. (w. 6b-8). Ele descreveu o ambiente e a sua assom­ brosa visão do Cristo ressuscitado (w. 9-20).

Contexto

Apocalipse. O livro do Apocalipse é uma declaração

assombrosa e vigorosa da soberania de Deus sobre todas as coisas. Com a visão de João, nós somos levados ao céu, para observar, deste ponto de vista, Deus derramando juízos destruidores sobre uma terra rebelde. Muitos comentaristas consideram o livro como uma profecia preditiva, retratando eventos que terão lugar no fim da história. Outros conside­ ram o livro como uma declaração metafórica do controle de Deus sobre tudo, ao passo que ou­ tros, ainda, veem nele alusões veladas à época do próprio João, com a intenção de encorajar, com representações simbólicas da guerra espiritual de Deus, os crentes perseguidos. Embora seja impor­ tante ser fiel a um esquema quando se deseja in­ terpretar um livro, isso passa a ser menos impor­ tante em uma abordagem devocional de um livro como o Apocalipse. Os crentes de cada corrente de interpretação concordam que o Apocalipse é uma declaração imponente da soberania de Deus, da primazia de Jesus e do juízo assegurado que Deus trará sobre todo o mal, incluindo o malig­ no, o próprio Satanás. Nós podemos aproveitar imensamente esta época do ano para meditar so­ bre a glória de Deus, revelada em Jesus, e o triun­ fo supremo de Deus, que o nascimento de Cristo como um Menino anuncia.

Entendendo o Texto

“Revelação de Jesus Cristo” (Ap 1.1-3). Este livro é, ao mesmo tempo, uma revelação a respeito de Jesus e da parte de Jesus. João ficou assombrado quando viu o Cristo glorificado, ainda, e, no entanto, não mais, o Mestre que ele tanto tinha amado durante os anos dEle na terra. E bom que nós também nos lembremos. O Jesus de Belém brilha ainda mais do que a galáxia mais brilhante. O Menino na man­ jedoura criou e sustenta o mundo que Ele criou. Nós, que honramos Jesus em sua humildade como homem, também devemos nos apegar à convicção de que agora Ele está exaltado em glória, governan­ do sobre todos. O linguajar de João também sugere que o que ele descreveria é uma visão de Jesus: uma revelação di­ reta do Senhor ressuscitado a toda a humanidade. Por essa razão, uma bênção especial está associada às “palavras desta profecia”, a qual é concedida a todos os que levam a sério as verdades e as imagens transmitidas. Que livro emocionante, então, é este, para que o leiamos, especialmente nesta época do ano, quan­ do olhamos para o passado, para o nascimento de Cristo, e olhamos à frente, para um novo ano! “A s sete igrejas que estão na Asia” (Ap 1.4). Nas Es­ crituras, sete é um número de grande significado

Apocalipse 1

simbólico, traduzindo a ideia de perfeição ou tér­ mino. Assim, muitos interpretam as igrejas para as quais João escreveu como um símbolo da igreja universal, assim como os “sete espíritos” são símbo­ los do Espírito Santo. Joio claramente agrupou as pessoas da Divindade, mostrando que cada uma delas está plenamente envolvida no que ele transmitiria. E que todos os cristãos, a igreja universal, devem prestar muita atenção.

fé, mas da própria história. A criação deve a sua existência a Ele, e quando, por fim, não mais exis­ tir o tempo, Cristo será aquEle que trará todas as coisas ao seu fim. Ê mais fácil para nós pensar em um Bebê numa manjedoura do que naquEle que derrama a vasti­ dão do universo à nossa volta. Mas Jesus é verda­ deiramente o Alfa e o Omega, o princípio e o fim, a origem e a conclusão da própria existência. As sete cidades às quais João escreveu (Ap 1.11;

“A quele que nos ama, e em seu sangue nos lavou dos cf. 2— 3) são consideradas, algumas vezes, como nossos pecados" (Ap 1.5-8). O livro do Apocalipse é representações de diferentes períodos na história

rico no linguajar da adoração e do louvor. Talvez estas frases exaltadas fossem parte do linguajar de adoração da igreja, na época em que João escre­ via. Certamente agora cias merecem fazer parte das nossas orações e ser gravadas em nossas mentes. Jesus, em seu amor e sacrifício, realmente “nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai”. Assim, va­ mos nos dedicar a servir.

da igreja. O que está claro é que elas realmente representam a igreja universal. As mensagens que João tinha para elas são também para nós, e nos mostram como permanecer fiéis até que o glorioso Senhor de Apocalipse 1 retorne triunfante.

“Por causa da palavra de Deus e pelo testemunho de Je­ sus Cristo" (Ap 1.9-11). A tradição da igreja primitiva

sugere que João esteve exilado em Patmos, já próxi­ mo ao final do reinado do imperador Domiciano meira letra do alfabeto grego, e Omega, a última. (81-96 d.C.). A igreja enfrentava perseguição oficial Cristo é o princípio e o fim, não somente da nossa por se recusar a adorar o imperador como Deus. “Eu sou o Alfa e o Ômega" (Ap 1.8). Alfa é a pri­

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Apocalipse 1

Náo é de admirar que João se identificasse como um companheiro “na aflição, e no Reino, e na pa­ ciência de Jesus Cristo”. E importante que nos lembremos de que essas três coisas estão frequentemente juntas na experiência cristã. Nós somos cidadãos do Reino de Deus. Mas aqui, na terra, frequentemente sofremos, e deve­ mos nos comprometer a suportar, até que Cristo retorne, e o seu governo seja estabelecido sobre todos. Durante épocas de sofrimento, é particu­ larmente importante que nós vejamos o Jesus que João viu em sua visão e descreveu neste vigoroso livro do Novo Testamento. Porque o Jesus do livro do Apocalipse é Deus, exaltado em poder, prestes a triunfar sobre todos os adversários. Embora sofra­ mos agora, quando o seu Reino vier, governaremos com Ele. Sustentados por essa esperança, suporta­ mos e resistimos pacientemente.

Nós amamos Jesus e nos sentimos próximos a Ele. E isso é o certo. Mas jamais devemos nos tornar ca­ suais em nossos pensamentos a respeito dEle. Pois o Senhor a quem amamos é realmente Senhor, e se quiséssemos vislumbrá-lo em sua glória fundamen­ tal, certamente também cairíamos assombrados a seus pés.

“E eu, quando o vi, caí a seus pés como morto” (Ap 1.12-18). A princípio, João somente ouviu uma voz. Quando se virou para olhar, ele viu uma figura cuja aparição radiante literalmente o assombrou. A descrição que ele fez está cheia de simbolismos do Antigo Testamento. (Veja o DEVOCIONAL.) Mas o que é significativo é o impacto causado so­ bre ele. João era aquele discípulo a quem Jesus amava. Ele descansou sua cabeça sobre o ombro de Jesus, na Ultima Ceia. Provavelmente foi o mais próximo de Jesus, em termos pessoais. E, ao longo das últimas décadas da sua vida, pregou e escreveu sobre o amor por Jesus e o amor por irmãos e irmãs em Cristo. Mas João, embora tão íntimo de Jesus enquanto o nosso Senhor esteve na terra, e tão próximo dEle em seu coração, por mais de 50 anos depois da ressurreição, ficou profundamente abalado quando viu Jesus em seu esplendor.

“A s sete estrelas são os anjos das sete igrejas” (Ap 1.20). Alguns dos símbolos do livro do Apoca­ lipse são explicados no próprio texto, como aqui. Outros se originam claramente do Antigo Testa­ mento, e assim podem ser explicados por meio de referências a Escrituras anteriores. Mas alguns dos símbolos mais poderosos não podem ser fa­ cilmente explicados. Em muitos casos, é melhor nem tentar explicá-los. Conectar desastres que o livro do Apocalipse descreve a holocaustos atô­ micos ou guerra biológica é simplesmente espe­ culativo demais para ser de alguma ajuda. O que nós precisamos procurar não é algum significado moderno para as imagens do livro do Apocalip­ se, mas o significado da própria passagem: o am­ plo impacto da passagem sobre a nossa visão de Deus, do juízo e do futuro da terra. Os detalhes permanecem abertos para debate, mas o impacto de muitas passagens é inequivocamente claro.

“Escreve” (Ap 1.19). Este versículo é considerado por muitos como a chave para a interpretação do livro do Apocalipse. “As coisas que tens vis­ to” corresponde ao capítulo 1, “as que são”, aos capítulos 2 a 3, e “as que depois destas hão de acontecer”, ao restante do livro. Se adotarmos esta abordagem, o livro do Apocalipse torna-se profecia preditiva, e lida com o que acontecerá na terra quando a história se dirigir para o fim pretendido por Deus.

DEVOCIONAL______ A Imagem Perfeita (Ap 1.9-18)

O famoso artista alemão Albrecht Dürer fez em madeira uma gravura de Jesus como o que João retrata aqui. Apesar de todo o talento do artista, a imagem parece desajeitada e rígida. De alguma maneira, nem um pouco da reverência que João sentiu foi transmitida à figura esculpida, com raios que representam o brilho à volta da sua cabeça e uma espada literal que sai da sua boca. Esta é uma das vantagens do simbolismo verbal sobre a arte representativa. De alguma maneira, as imagens que resultam das palavras podem expressar, com vigor assombroso, as ideias mais abstratas.

É o que encontramos aqui, em Apocalipse 1. A gló­ ria completa de Jesus assombrou João, e ele lutou para encontrar palavras para expressar o que viu e sentiu. A veste era uma peça de roupa comum, e embora o cinto fosse de ouro, não era incomum por si só. O que assombrou João foi Jesus. E tudo o que ele podia fazer para nos descrever o Jesus glori­ ficado era recorrer ao simbolismo do Antigo Testa­ mento. Embora em forma humana, os seus cabelos eram “brancos como lã branca, como a neve”. A imagem traz à mente a visão que Daniel teve do Ancião de dias (Dn 7.9; 10.5), prestes a exercer ju­ ízo. Os seus olhos “como tochas de fogo” (cf. Dn 10.6) indicam a fúria do juízo que Ele distribui.

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Apocalipse 2—3

Pés de bronze, o metal aquecido até brilhar, tam­ bém representam juízo. A imagem do Antigo Tes­ tamento é a de pisar sobre os inimigos, e o bronze é o metal de que foi construído o altar do holocaus­ to. Ali os pecados eram purificados pelo sacrifício de um substituto. Agora, Jesus julgará os próprios pecadores. A voz é esmagadora, o som de um impetuoso Niágara, e “a aguda espada de dois fios” que saía da sua boa indica tanto a guerra que Ele travará contra os pecadores quanto os meios para o seu triunfo. Aquela simples palavra pronunciada, pela qual Cristo inicialmente trouxe todas as coisas à existência, não será dirigida contra a criação, reduzindo-a a pó. A figura de Dürer permanece como uma curiosi­ dade. Ela quase gera risos. Porém, o mesmo não acontece com a visão de Jesus que João teve, nem com as palavras que ele usou para descrever o nosso Senhor. Essas palavras nos lembram de que aquEle que esteve em um berço, e que foi sus­ penso em uma cruz, preencherá todo o universo quando vier outra vez. E Ele esmagará o maligno debaixo de seus pés.

Aplicação Pessoal

abrangia eram muito reais na época em que João escreveu. Contudo, vários comentaristas, ao longo dos séculos, acreditaram que essas igrejas também representam as igrejas de todos os lugares e de todas as épocas. E útil olhar para cada igreja, ver como as suas características encaixam-se em nossa própria experiência, e aplicar as palavras de elogios e correções que João transmitiu. Todas as cartas seguem um padrão. Jesus identifica-se, avalia a condição da igreja e oferece elogios e críticas. Com a crítica, vem a correção, e então uma promessa final. Nas palavras que Jesus dirige a essas sete igrejas do século I, podemos ainda ouvi-lo falando com você e comigo.

Visão Geral

João registrou curtas mensagens para as sete igrejas da Ásia: Éfeso (2.1-7), Esmirna (w. 8-11), Pérgamo (w. 12-17), Tiatira (w. 18-29), Sardes (3.1-6), Filadélfia (w. 7-13) e Laodiceia (w. 14-22).

Entendendo o Texto

“A igreja que está em Efeso” (Ap 2.1 -7). (Veja o DE-

VOCIONAL.)

Olhe para o presépio de Natal, mas também enxer­ “A igreja que está em Esmirna” (Ap 2.8-11). Es­ gue além dele. mirna era uma bela cidade, com cerca de 200 mil habitantes, quando João escreveu. Era também o Citação Importante centro da adoração ao imperador, o que era mais “Confiar em Jesus e pensar nEle é uma maneira um símbolo de fidelidade política do que devoção melhor de enfrentar e vencer o pecado do que religiosa. Ainda assim, os cristãos recusavam-se a qualquer austeridade física ou censura espiritual realizar o ato, afirmando que somente Cristo devia própria. E olhando para Ele que somos transfor­ ser honrado como Deus. Isso gerou preconceito mados.” — Harriet Beecher Stowe e perseguição, e custou a muitos não apenas suas possessões, mas também lhes trouxe aprisionamen­ 22 DE DEZEMBRO LEITURA 3 5 6 to e morte. AS SETE IGREJAS Contudo, a perseguição somente fortalecia a de­ Apocalipse 2 — 3 terminação desses cristãos. E de Jesus eles ouviam — e nós ouvimos — palavras de encorajamento. “Isto diz aquele que tem na sua destra as sete es­ Nós podemos perder riquezas, mas somos ricos em trelas, que anda no meio dos sete castiçais de ouro” Cristo. Nós podemos sofrer a morte, mas recebere­ (Ap2.1). mos uma coroa de vida eterna. Também hoje Jesus anda em nossas igrejas.

Contexto

As sete igrejas. Diz a tradição que João foi para

Efeso cerca de 40 anos antes que o livro do Apo­ calipse fosse escrito. Ele manteve contato íntimo com comunidades crentes nas sete maiores cida­ des da região, às quais agora transmitia a mensa­ gem de Cristo. As sete igrejas eram congregações históricas e sim­ bólicas. Sem dúvida, as questões que cada carta

“A igreja que está em Pérgamo” (Ap 2.12-17). Pérgamo era a capital da província da Ásia romana. Era famosa pela sua riqueza, mas também por santuá­ rios a deuses de cura, e muitos faziam peregrina­ ções à cidade. Este ativo centro de paganismo po­ deria ser apropriadamente chamado de uma cidade onde Satanás residia! Embora apegados a Cristo, os crentes de Pérgamo eram afetados por aquilo que estava ao seu redor. A referência à doutrina de Balaão sugere a frouxidão dos padrões morais na igreja. Embora pouco se sai-

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Apocalipse 2—3

ba sobre os “nicolaítas”, o significado das palavras “tens também” sugere que a igreja permitiu que falsos mestres estabelecessem alguma autoridade em seu meio. Nós também vivemos em uma sociedade onde os padrões morais não são rígidos. E fácil para nós, bombardeados como somos pelas atitudes do mundo, relaxar também os nossos padrões. Cris­ to advertiu enfaticamente Pérgamo, como a nós, contra esse procedimento. Mas nós também rece­ bemos uma promessa. Se recusarmos as guloseimas do mundo, Cristo nos dará a comer “o maná es­ condido”. Teremos uma dieta de bondade que sus­ tentará a vida para sempre, ao passo que a moral “sem valor nutritivo” deste mundo destrói.

rizonte”, os quais ficavam a aproximadamente onze quilômetros da cidade. Sardes, que tinha reputação de vitalidade, estava tão morta espiritualmente quanto a necrópole (“ci­ dade dos mortos”) próxima. A ortodoxia jamais é uma substituta para a vida e a vitalidade espiritual. E a mera ortodoxia, como esta igreja, recebe e ouve a Palavra de Deus, mas não a obedece. Que desafio para nós hoje! Não é suficiente ser correto em termos de doutrina. Devemos estar es­ piritualmente de pé. Não é suficiente conhecer a Palavra. Devemos obedecer a ela. A justiça não é uma mortalha, mas roupas de trabalho. Se você e eu nos encontrarmos em uma igreja mor­ ta, devemos nos lembrar de que até em Sardes ha­ via santos vestidos de branco, o símbolo, náo ape­ “A igreja que está em Tiatíra” (Ap 2.18-29). Esta ci­ nas da pureza, mas da vitória. Quanto mais morta dade era um centro comercial, quando João escre­ for a fé daqueles que estão ao nosso redor, mais viva veu. A descrição que Cristo faz de si mesmo, com e ativa deve ser a nossa fé. olhos “como chama de fogo” e pés “semelhantes ao latão reluzente”, cria um cenário de aura para esta “A igreja que está em Filadélfia” (Ap 3.7-13). Esta carta. Embora a igreja fosse ativa e fiel em muitos cidade de “amor fraternal” ficava em uma estrada aspectos, ela tinha aceitado a liderança de uma mu­ principal, como também era uma imponente forta­ lher caracterizada como “Jezabel”. A primeira Jeza- leza. Mas o distrito em que Filadélfia se situava era bel introduziu a idolatria e uma grave imoralidade propenso a terremotos. Tremores devastadores ti­ no antigo Israel; assim, devemos supor que o nome nham deixado as pessoas temerosas, de modo que, mencionado indique que a mulher de Tiatira tinha ao menor tremor, multidões saíam correndo de trás das muralhas da cidade. feito a mesma coisa. Assim, a organização que era conhecida como A fraqueza da terra que estava por baixo da cidade “igreja” estava dividida em segmentos: alguns eram refletia-se na fraqueza da igreja. Porém, Cristo lhes fiéis, mas outros eram corruptos. transmitiu palavras de encorajamento, e náo de cen­ O apóstata e o genuíno ainda existem na cristan­ sura. “Eu sei... que tendo pouca força, guardaste a mi­ dade. A existência continuada do apóstata reflete a nha palavra e não negaste o meu nome”, disse Ele. graça de Deus: Ele lhe deu “tempo para que se ar­ Jesus jamais despreza as nossas fraquezas. Ele com­ rependesse da sua prostituição”. Mas o dia da graça preende bem demais as nossas vulnerabilidades. está chegando ao fim. Deus certamente trará juízo Assim, náo se afaste do Senhor, quando você se sobre Jezabel e seus seguidores. sentir oprimido e envergonhado. Jesus lhe compre­ O espírito de Jezabel ainda espreita as igrejas e se ende e lhe elogia pelo que você fez, em lugar de lhe acomoda onde encontra espaço. Não espere limpar repreender pelo que você foi incapaz de realizar. a cristandade, nem mesmo a sua denominação, da Cristo faz ainda mais pelos fracos. A carta a Filadél­ influência dela. O que Jesus diz àqueles que não fia diz que Ele tem a chave. Ele abre portas, e nin­ aceitam os ensinamentos dela é: “o que tendes, guém pode fechá-las. Cristo vai conosco e adiante retende-o até que eu venha”. de nós. Ele abre portas e as conserva abertas. Até Nós, que nos apegamos a Cristo e ao autêntico mesmo os que são mais hostis às declarações de evangelho, devemos nos concentrar nas boas obras, Cristo, com o passar do tempo, serão forçados a no amor, na fé, no serviço e na perseverança (v. 19). reconhecer que Ele nos amou. E a cada dia nós en­ Ao fazermos a vontade de Deus, encontraremos a contraremos a força de que precisamos na certeza autoridade espiritual de que precisamos para ven­ do seu contínuo amor. cer (w. 26-29). “A igreja que está em Laodiceia ” (Ap 3.14-22). La“A igreja que está em Sardes” (Ap 3.1-6). Sardes odiceia era uma cidade rica. O distrito à sua volta era uma cidade próspera e estratégica, conhecida também produzia uma lá negra famosa. Além dis­ pelo seu sucesso em defender-se dos invasores. Ela so, cidade era um centro de produção e distribui­ também era conhecida pelos montes que serviam ção do “Pó da Frigia”, um famoso remédio para a como sepulcros, como “milhares de colinas no ho­ cura de doenças dos olhos.

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Apocalipse 4— 5

A igreja de Laodiceia aparentemente participava da prosperidade. Satisfeitos consigo mesmos e confortáveis, os cristãos adaptavam-se ao resto da população, e eram apenas mais um dos muitos grupos privados que caracterizavam a vida social do século I. A igreja de Cristo pode prosperar em meio à per­ seguição e sobreviver triunfante a todos os tipos de sofrimento. Mas a prosperidade material e a acei-

DEV OCIONAL______ O Primeiro Amor (Ap 2.1-7)

Na atualidade, vários quadrinhos cômicos dos jor­ nais que eu leio pela manhã estão relacionados ao divórcio. Não sei como isso acontece, mas parece que, sempre que um quadrinho lança um tema em particular, todos os outros rapidamente o acompa­ nham. De qualquer forma, Sally Forth e Gasoline Alley estão explorando a dolorosa perda do primeiro amor. Não que tragam quaisquer respostas, mas os temas dolorosos têm o seu humor, e os cartunistas trabalham arduamente para encontrá-lo. Na verdade, embora os cartunistas não tenham res­ postas para nós, a carta de Cristo aos efésios nos traz uma grande resposta. Ela pode ser aplicada ao relacionamento com nossos cônjuges, e ao relacio­ namento com Deus! E pode ser uma surpresa. Efeso era o local do grande templo a Ártemis, co­ nhecido em toda a Asia. Foi a esta congregação que Paulo escreveu uma carta, explorando o tema da natureza espiritual da igreja como o corpo de Cristo. Agora, aproximadamente 40 anos depois do ministério de Paulo, a igreja era elogiada pelo trabalho árduo, pela perseverança e pelo seu com­ prometimento com a santidade. Apesar da oposi­ ção, essa congregação não se cansava de expressar uma fé firme em Jesus como o Cristo de Deus (w. 1-3). Porém, a igreja tinha um defeito de que muitos de nós somos culpados. Nós continuamos servin­ do, mas, de alguma maneira, na luta, perdemos o amor inflamado por Jesus que nos motivou no início. Ê bom ser fiel, mas a fidelidade não subs­ titui a paixão. O que podemos fazer quando perdemos o nosso primeiro amor? O texto diz que devemos nos arre­ pender e reavê-lo. E aqui está a instrução surpreen­ dente: “Pratica as primeiras obras” (v. 5). Hoje, nós temos a noção de que os sentimentos e os atos não estão tão firmemente conectados como, na realidade, são. Você está “deixando de apaixo-

tabilidade social sempre ameaçaram a vitalidade da igreja. Quando os cristãos deixam de defender algo, eles acabam sem defender nada. A igreja indi­ ferente é a igreja que mais merece piedade. A palavra de Cristo à igreja indiferente, e ao cristão indiferente, é uma palavra de censura. Ele fica à porta e bate, e nos pede que troquemos a comu­ nhão com o mundo por um andar mais íntimo e desafiador com Ele. nar-se” pela sua esposa? Não tente mudar seus sentimentos. Em vez disso, comece a “praticar as primeiras obras”, ou a fazer o que você fazia antes. Traga-lhe flores. Telefone para ela, apenas para di­ zer: “Alô” e ouvir a sua voz. Diga-lhe o quanto você a ama. Escreva-lhe pequenos poemas ou recados. A maravilha é que, quando você fizer essas coisas que expressam amor, a emoção do amor retorna­ rá. O mesmo acontece em nosso relacionamento com Deus. Você é fiel, mas, de alguma maneira, não realizado como cristão? Então, olhe para trás e lembre-se de algumas das coisas que fazia quando era um crente novo convertido, somente porque você queria, e não porque eram obrigações religio­ sas. Faça-as outra vez, e observe os sentimentos que fluirão.

Aplicação Pessoal

O amor que é demonstrado permanece vivo e vital.

Citação Importante

“Deus é a verdade. Ser verdadeiro, odiar toda forma de falsidade, viver uma vida corajosa, fiel, verdadei­ ra — isso é amar a Deus.” — F. W. Robertson

23 DE DEZEMBRO LEITURA 3 5 7 LOUVOR N O CÉU Apocalipse 4 — 5

“Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o po ­ der, e riquezas, e sabedoria, eforça, e honra, e glória, e açóes de graças” (Ap 5.12).

Todos no céu louvam a Jesus. Louve-o aqui na terra!

Contexto

Os judeus escandalizaram-se com o fato de Jesus identificar-se como igual a Deus (cf. Jo 8.48-58). O pagão sofisticado do século I acreditava em um “Deus grandioso”, com muitas divindades subordi­ nadas. Jesus possivelmente receberia o status de um herói ou uma divindade subordinada. Mas para o

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Apocalipse 4— 5

pagão era chocante que os cristãos declarassem que esse galileu crucificado fosse, na verdade, o Deus grandioso, que tinha vindo em carne. Nesse cenário de hostilidade e rancor, a visão de João da cena que agora tem lugar no céu é par­ ticularmente poderosa. Ele teve uma visão do grande Deus Todo-poderoso, identificado como o Criador. E então, no mesmo trono do Deus Supremo, João viu Jesus! E os habitantes do céu prostravam-se e adoravam a Ele, concedendo-lhe a mesma honra e o mesmo louvor oferecidos ao próprio Deus. Seja o que for que o livro do Apocalipse possa nos ensinar durante estas festas de Natal, isso começa com a exaltação de Jesus. O Menino de Belém, apesar dos escárnios dos céticos, é o Deus eterno vindo em carne. Todo o céu congrega-se hoje, ado­ rando-o. E, quando a história chegar ao final, e a visão que João teve do futuro se cumprir, o univer­ so também honrará a Jesus Cristo como Senhor.

Visão Geral

João foi arrebatado ao céu e viu Deus em seu trono, rodeado e louvado por animais (4.1-11). Houve um chamado por alguém que fosse digno de abrir o livro selado (5.1-4). Jesus então foi apresentado como o Cordeiro que tinha sido morto (w. 5,6), no mesmo trono de Deus e recebendo adoração como Deus (w. 7-14).

Entendendo o Texto

“Mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer” (Ap 4.1). Alguns interpretam o livro do

Apocalipse como uma declaração simbólica da so­ berania de Deus. Outros o interpretam como apo­ calíptico, significando que é uma descrição vigoro­ sa, mas simbólica, das impressões do autor sobre os eventos que acontecerão no fim dos tempos. O anjo que chamou João ao céu parecia identificar o resto deste livro como uma profecia. A partir deste versículo, João assistirá a história futura desenrolar-se, não do ponto de vista dos homens na terra, mas do ponto de vista de um ob­ servador no céu. Que privilégio! E que lembrete para nós! Você e eu somos limitados por olhos físicos, que veem so­ mente o que acontece no universo material. A visão de João nos lembra de que, ao nosso redor, Deus e os seus anjos estão ativos, combatendo os exérci­ tos de Satanás em uma guerra invisível. Você e eu fazemos parte dessa luta. Embora não consigamos entender como a nossa participação pode contri­ buir para a batalha final, nós somos informados, por intermédio de João, de que Deus certamente triunfará no final.

“Um trono no céu” (Ap 4.2-9). A visão do trono, da Pessoa assentada nele e dos animais que constante­ mente clamam: “Santo, Santo, Santo” relembra a visão de Deus que foi concedida a Isaías (Is 6) e a Ezequiel (Ez 1; 10). Esta identificação do Deus que João adorava com o Deus do Antigo Testamento é vitalmente impor­ tante. Uma das primeiras críticas ao cristianismo é que, embora a igreja afirmasse ser um desenvolvi­ mento do judaísmo, e um cumprimento dele, os cristãos se afastavam da adoração ao Deus do An­ tigo Testamento para adorar um simples homem. Porém, a visão que João teve de Deus no céu é in­ confundivelmente a do mesmo Deus que se reve­ lou em visões semelhantes a Isaías e a Ezequiel! Aqui, no último livro do Novo Testamento, nós te­ mos a certeza final de que o Deus que conhecemos em Jesus é aquele Deus que se revelou na história sagrada. A nossa fé é segura, está enraizada em uma revelação que abrange os milênios, um cumpri­ mento das promessas feitas a Abraão há mais de quatro mil anos. “Vinte e quatro anciãos” (Ap 4.4). Aqueles que es­ tudam o livro do Apocalipse procuram significados em cada detalhe. Dessa forma, os rostos dos “ani­ mais”, que conhecemos a partir de Ezequiel como uma ordem especial de anjos, chamados querubins, são tomados para retratar o mais elevado represen­ tante de cada ordem de animal que possui sangue quente na criação: o leão, representando os preda­ dores; o bezerro, os animais domesticados; a águia, as aves do céu; e, acima de todos, o homem. Qual poderia ser o significado dos vinte e quatro anciãos? Muitos interpretam que esses anciãos re­ presentam as doze tribos de Israel e os doze após­ tolos introduzidos por Cristo. Portanto, os anciãos, como a visão do próprio Deus, conectam o Antigo Testamento ao Novo, reafirmando a unidade do plano de Deus e a gloriosa verdade de que os santos de cada era são salvos pela fé, recebendo a salvação que foi conquistada por Jesus Cristo para todos. “Digno és, Senhor” (Ap 4.9-11). A figura no tro­ no, o Senhor, recebe louvor perpétuo dos animais e dos anciãos. Os habitantes do universo material, assim como do espiritual, unem-se para louvar o seu nome. Este primeiro canto de louvor concentra-se na importância de Deus como Criador. Ele criou “to­ das as coisas”. Novamente nós vemos uma aguda separação da cultura do século I, onde Deus era considerado um artesão que moldou a matéria pre­ existente em sua forma atual. O Deus da Bíblia, no entanto, criou todas as coisas. Todas as coisas

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Apocalipse 4— 5

materiais e todas as coisas espirituais devem a sua existência a Ele. Nós também devemos a nossa existência a Ele. Como a nossa própria existência é uma dádiva de Deus, como é adequado que nos unamos à multidão celestial e ofereçamos a Ele nosso louvor perpétuo: Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder, porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas. “Um livro escrito por dentro” (Ap 5.1-5). Um livro se­ lado, que estava na mão de Deus, atraiu a atenção de João, e ele ouviu um anjo que chamava alguém “digno de abrir o livro e de desatar os seus selos”. Em­ bora a natureza do livro fosse então um mistério para João, ele foi dominado por uma sensação de urgência. Quando não se encontrou ninguém “no céu, nem na terra, nem debaixo da terra” digno de abrir os selos, João sentiu-se arrasado e chorou incontrolavelmente. Mais adiante, nós descobrimos o significado do livro. E o livro do fim da história, e contém to­ dos os juízos que Deus deverá derramar sobre a terra para satisfazer a justiça e para trazer a justiça eterna. Agora, podemos compreender a explosão emocional de João. Ele chorou por todos os que passam por injustiças agora. Chorou por todos os que suportam sofrimento e dor. Chorou por todos os que estão angustiados por causa do pecado que corrompe e distorce todas as sociedades humanas, esmagando as esperanças e o espírito do indivíduo. João chorou, e as suas lágrimas expressaram todos os nossos anseios por um mundo purificado do pe­ cado: um mundo renovado para sempre.

DEVOCIONAL______ Louvor ao Senhor

(Ap 5.6-14) No ano 406 d.C., um rapaz inglês de 16 anos, cha­ mado Patrick, foi capturado por piratas irlandeses e vendido como escravo na Irlanda. Posteriormente, ele escapou, foi treinado para o sacerdócio, e re­ tornou à Irlanda como missionário, onde desem­ penhou um papel de grande importância na con­ versão dos irlandeses ao cristianismo. Esta oração, desenvolvida a partir da versão original de Patrick, nos ajuda a perceber o que pode significar, também para nós, estar sempre ciente de Jesus, triunfante com o Pai no trono dos céus. Eu trago sobre mim hoje, O poder de Deus de sustentar e guiar,

Nós podemos investigar o céu e a terra, podemos investigar o passado e o tempo que há de vir, e não poderemos encontrar ninguém digno de trazer a história ao fim pretendido por Deus. Ninguém, exceto Um. O Jesus da história, que nasceu como uma Criança, nasceu para morrer, mas nasceu para ser ressuscitado e para retornar. “E olhei, e eis que estava... um Cordeiro” (Ap 5.514). O assombroso aspecto da descrição de João é encontrado nestas palavras: “estava no meio do tro­ no”. João tinha visto Deus assentado no trono do céu, e de repente, ali, no trono, ao lado de Deus, estava Jesus. Ele tomou o livro, e, quando o tomou, os animais e os anciãos prostraram-se e o adoraram. Poderia haver afirmação mais clara de que Jesus e Deus Pai são um único Deus? Pessoas distintas, sim. Mas Um em essência, e ambos igualmente merecedores da nossa adoração e do nosso lou­ vor. E de repente o céu se enche de louvores. Louvores ao Cordeiro. Louvores por aquEle que nasceu para morrer, para comprar, com o seu próprio sangue, “homens de toda tribo, e língua, e povo, e nação”. Você. E eu. Homens e mulheres para Deus, para serem reis e sacerdotes, para servirem ao nosso Deus e reinar em Jesus Cristo, por todo o sempre. Amém! Não é de admirar que acompanhemos essa ocasião maravilhosa com as multidões dos céus e que can­ temos em voz alta. Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças! Os seus olhos que vigiam, o seu poder de perma­ necer, Os seus ouvidos para ouvir as minhas necessidades, A sabedoria do meu Deus para ensinar, A sua mão para guiar, o seu escudo para proteger; A palavra de Deus para me dar voz, O seu exército celestial para ser minha guarda. Cristo esteja comigo, Cristo dentro de mim, Cristo atrás de mim, Cristo diante de mim, Cristo ao meu lado, Cristo para me conquistar, Cristo para me consolar e me restaurar, Cristo por baixo de mim, Cristo acima de mim, Cristo tranquilo, Cristo em perigo, Cristo nos lábios de um amigo ou de um estran­ geiro.

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Apocalipse 6—7

Eu trago sobre mim o nome, O forte nome da Trindade; Pela invocação dele, O Três em Um, o Um em Três, Por quem toda a natureza foi criada; Pai eterno, Espírito, Palavra, Louvor ao Senhor da minha Salvação, Salvação que é de Cristo, o Senhor.

Aplicação Pessoal

Leve o Cristo entronizado com você e dentro de você.

Citação Importante

“Aquele que náo tem o Natal no seu coração jamais o encontrará debaixo de uma árvore.” — Roy L. Smith

24 DE DEZEMBRO LEITURA 358 LAVADOS N O SANGUE Apocalipse 6■ —7

“Por isso estão diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu templo; e aquele que está assenta­ do sobre o trono os cobrirá com a sua sombra. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma alguma cairá sobre eles” (Ap 7.15,16). Além do juízo, há bênçãos para os que são de Deus.

Contexto

Linguajar apocalíptico. Nestes capítulos e em capí­ tulos futuros, nós encontraremos um linguajar que pode nos desconcertar. Veja, por exemplo, Apoca­ lipse 6.12-14. Aqui, João fala do sol que se torna negro como um saco de cilício. Ele menciona uma lua vermelha como sangue, estrelas do céu que caem sobre a terra. Ele vê o próprio céu retirar-se “como um livro que se enrola”. Montes e ilhas são “removidos do seu lugar”. Muitos, ao ler essas descrições, lutaram para com­ preendê-las em termos modernos. O céu escuro e a lua vermelha podem ser explicados por grandes nuvens de pó enchendo a atmosfera. Talvez isso possa sugerir guerras atômicas, com nuvens tipo cogumelo arremessando toneladas de pó à atmos­ fera. Essas estrelas que caem serão meteoritos? Ou serão raios laser, disparados de satélites? O que exa­ tamente João vê? A dificuldade com estas visões está em uma simples característica de linguagem. As palavras disponíveis limitam-se a conceitos que existiam na época do autor. Se você vivesse nos Estados Unidos há ape­ nas trinta mil anos, e repentinamente tivesse uma

visáo de aviões gigantes, pousando e decolando do lugar onde está o Aeroporto O ’Hare de Chicago, e visse autopistas com automóveis em alta velocida­ de, como você começaria a descrever o que tinha visto? Você náo conheceria palavras para descrever aviões, automóveis, aeroportos ou autopistas. To­ das estas coisas seriam táo estranhas, que você não teria como falar sobre elas — exceto, talvez, falan­ do de gigantescos pássaros brilhantes que rugem, de carros sem cavalos que se precipitam, um em direçáo ao outro, com assombrosa velocidade. E, mesmo assim, os seus ouvintes não conseguiriam compreender o que realmente você tinha visto. O mesmo ocorre com grande parte do linguajar do livro do Apocalipse. Joáo viu alguma coisa. Ele usou as palavras disponíveis em sua cultura para descrever o que tinha visto. Mas estas palavras são inadequadas. Se ele tivesse visto uma explosão atô­ mica, não saberia o que era, e muito menos teria sido capaz de contar aos outros sobre isso. Talvez tudo o que ele pudesse dizer seria: “o céu retirou-se como um livro que se enrola”. Dadas então as limitações da linguagem, não de­ vemos esperar explicar todas as cenas descritas no livro do Apocalipse. Mas, mesmo quando náo con­ seguimos compreender “como” nem “por que”, o que está acontecendo ainda é relativamente claro. A assombrosa e terrível natureza dos eventos que estamos prestes a testemunhar é inconfundível. E, quando eles acontecerem, diremos: “E claro! Eu vejo agora que era disso que João estava falando!”. E, se conhecermos a Jesus, nós sobreviveremos ao golpe terrível e final do juízo.

Visão Geral

O Cordeiro começa a abrir os selos, e juízos ter­ ríveis são derramados sobre a terra (6.1-8). Os santos mortos clamam, pedindo que Cristo julgue (w. 9-11), enquanto mais devastação se derrama sobre a população aterrorizada da terra (w. 12-17). E feita uma repentina pausa no juízo, quando 144 mil testemunhas judias são assinaladas (7.1-8). No céu, os exércitos de salvos e anjos louvam a Deus, que lida misericordiosamente com aqueles que so­ freram pelo seu nome (w. 9-17).

Entendendo o Texto

“Havendo o Cordeiro aberto um dos selos" (Ap 6.18). Os quatro primeiros selos que são abertos pelo Cordeiro libertam na terra aqueles que são conhe­ cidos como os “quatro cavaleiros do apocalipse”. Estes quatro cavaleiros são a conquista (v. 2), a guerra (w. 3,4), a fome (w. 5,6) — representada pelo preço inflacionado dos gráos e cereais — e a peste que traz a morte (w. 7,8). Nenhum destes

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Apocalipse 6— 7

castigos é desconhecido de qualquer geração. O que torna tão terríveis os juízos dos selos é o fato de que eles são derramados sobre o mundo inteiro, matando uma quarta parte da população da terra. Antes, as guerras, a fome e as pragas sempre tiveram âmbito local. Foi terrível, na Europa, durante a era a Peste Negra. Foi terrível, na Polônia, quando os tanques invadiram a nação, e a SS nazista prendeu e matou a elite daquela terra, além da população de judeus. Mas o que João retrata aqui é um terror por todo o mundo. Antes, sempre havia algum lugar para onde fugir, algum lugar a salvo. Mas quando começarem os ju­ ízos finais de Deus, toda esperança será destruída. Ê difícil, congregados na igreja, à luz de velas, para uma celebração do nascimento de Jesus, imaginar o futuro que João retrata. Congregados para celebrar, nós nos sentimos a salvo, seguros. E estamos! Pois, no Menino de Belém, Deus propiciou um esconderijo. Encontramos a nossa paz em Cristo. Mas um destino terrível aguarda o mundo que não o conhece. “A s almas dos que foram mortos” (Ap 6.9-11). Nes­ te mundo, nós estamos sujeitos à perseguição. Ao longo dos séculos, muitos crentes deram a sua vida pela causa de Cristo. Cada indicação é de que, à medida que a história se aproxima do seu fim, e os juízos de Deus são derramados sobre uma terra aterrorizada, a perseguição intensa será retomada. Agora, João vê as almas de muitos que foram mor­ tos “por amor da palavra de Deus”, e os ouve cla­ mando por vingança. Estes santos mortos são ins­ truídos a esperar, pois outros se somariam a eles. Porém, fica totalmente claro que Deus não reterá o juízo por muito tempo. Quando ouvimos os clamores das vítimas, deve­ mos nos lembrar de que é correto que Deus, que é “verdadeiro e santo”, julgue os habitantes da terra e vingue os seus que foram mortos. A oferta de salva­ ção foi estendida a todos durante muitos milhares de anos. Em cada Natal, apesar dos brilhos e do co­ mércio, o mundo é lembrado de que Deus veio em carne para trazer a salvação. Aqueles que rejeitam a dádiva de Deus, que continuam voluntariamente a pecar, e que perseguem o povo de Deus, merecem ser julgados por Deus, e eles o serão. O dia do nascimento de Cristo é uma promessa e uma ameaça. Àqueles que creem, o nascimento promete salvação. Aos que não desejam crer, é um lembrete terrível de que Deus pode agir e agirá em nosso mundo de espaço e tempo. Mas quando Ele retomar, será para julgar.

cará claro para todos que “é vindo o grande Dia da sua ira [de Deus]”. Aqueles que se recusaram a levar Deus a sério, e zombaram da promessa de salvação, agora têm certeza de que Ele existe, e de que o terrível dia do seu juízo é chegado. O que nos surpreende é a sua reação. Não há indi­ cação de arrependimento. Tudo o que os homens parecem capazes de fazer é tentar inutilmente se esconder. Se nós não respondermos à graça, certamente não responderemos à punição. Se o amor de Deus não nos levou a Ele, a sua ira certamente não o fará. “Retendo os quatro ventos da terra” (Ap 7-1-8). Há um intervalo inesperado, como o olho do terrível furacão do juízo. A pausa acontece para que Deus possa colocar um selo protetor sobre 144 mil indi­ víduos, doze mil de cada uma das doze tribos de Israel. Muitos veem nessa lista das tribos de Israel um re­ encontro das correntes que se separam em Jesus. No século I, a fé de alguns judeus seguiu para a direita. Eles aceitaram Jesus como o Messias e Sal­ vador predito no Antigo Testamento e tornaram-se os primeiros membros da igreja cristã. A fé de ou­ tros seguiu para a esquerda, afastando-se do nosso Senhor e apegando-se às antigas tradições, como se Ele jamais tivesse vindo. Mas Paulo, em Romanos 11, olha à frente, para um dia em que as correntes se reencontrarão e todo o Israel reconhecerá Cristo como o Messias por quem o povo judeu continua a esperar. Como diz o profeta Zacarias: “Olharão... a quem traspassaram; e o prantearão como quem pranteia por um unigénito; e chorarão amarga­ mente por Ele, como se chora amargamente pelo primogênito” (Zc 12.10). Se esta passagem estiver relacionada com a restauração de Israel, ela descreve 144 mil missionários recente­ mente convertidos que, em meio à terrível Tribulação que assinala o fim da história, alegremente dão teste­ munhos daquEle que é o Messias, Salvador e Juiz. “D e todas as nações, e tribos, e povos, e línguas” (Ap 7.9-17). Agora, o olhar de João é atraído de novo

para o céu, e ele vê o incontável grupo dos que foram salvos. Vindos de todos os povos e tribos, vestidos com as vestes brancas da salvação, eles unem-se, oferecendo louvor e glória a Deus. Deste versículo, alguns extraíram a noção de que, antes que Cristo possa retornar, todos os povos devem ouvir o evangelho. De que outra maneira, perguntam eles, podem ser de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas? “Caísobre nós e escondei-nos” (Ap 6.12-17). Quan­ Uma resposta melhor exibe ainda mais plena­ do a onda seguinte de juízos vier sobre a terra, fi­ mente o amor e a graça de Deus. Incontáveis

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Apocalipse 6—7

milhões de bebês, alguns não nascidos, outros mal iniciando a infância, morreram, desde o início dos tempos. Todos eles, que morreram antes de ter idade suficiente para dar qualquer resposta a Deus, se unirão a nós diante do trono de Deus. Nenhum a tribo, nenhum a nação, ne­ nhum povo da história, deixará de ter represen­ tante. A salvação de Deus já foi derramada para

abranger a todos. Cristo pode vir a qualquer momento. Cada condição prévia já terá sido cumprida. Como é bom saber, quando celebramos o signifi­ cado do nascimento de Cristo, que a abundância do amor de Deus está à nossa volta! Como é bom saber que nos é assegurado um lugar em meio à multidão que o louvará naquele dia!

(Ap 7.9-17) Os anjos e os anciãos prostram-se e adoram a Deus. A alegria que eles sentem é compartilhada e expres­ sada por toda a multidão do céu.

do trono de Deus e conhecerá a alegria dos redi­ midos. Nunca mais sentirá fome. Nunca mais terá sede. Nunca mais derramará uma lágrima. Pois então o Cordeiro, no centro do trono de Deus, será o seu Pastor e a sua alegria.

DEVOCIONAL______ Você Estava Lá?

Amém! Louvor, e glória, e sabedoria, e ações de graças, e honra, e poder, e força ao nosso Deus, para todo o sempre. Amém!

Aplicação Pessoal

O Cristo do Natal, o Cristo do Calvário e o Cristo da Glória são um só. E Ele é seu.

As palavras de louvor ecoam por todo o universo invisível, quando todos se unem neste coro. Mas então tem início um novo cântico. Os anjos ficam em silêncio. Eles podem proferir as palavras, mas jamais as cantam. Eles podem observar, mas jamais participam deste coro. Porque este é o cân­ tico da salvação. Para participar dele, é necessário ser humano. Ê necessário ter conhecido a angústia do pecado, o doloroso controle do mal. Para entoar este cântico, é preciso saber o que significa ter sido contaminado, e depois purificado; ter caído às pro­ fundezas, e depois ter sido exaltado. O cântico da salvação encontrado nos versículos 15-17 é apenas para aqueles que “lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro” (v. 14). E assim há outro cântico que precisamos entoar na época de Natal. Não “Joy to the World” [Alegria para o Mundo], nem “O Little Town of Bethlehem” [Ô Pequena Cidade de Belém], mas “Você Estava Lá Quando Crucificaram o Meu Senhor?” Você estava lá? Não como observador, mas como participante. Não como alguém que zomba, mas como alguém que estava tão perfeitamente unido ao nosso Se­ nhor pela fé, que a sua morte foi também a sua, o seu sangue foi o pagamento pelos pecados que você praticou, o seu sofrimento o seu passaporte para a alegria eterna? Se você esteve ali, no Calvário, pode ter certeza. Um dia, você estará com as vestes brancas diante

Citação Importante

Louvado seja Deus pelo Natal. Louvado seja pela Encarnação pelo Verbo que se fez carne. Eu não cantarei sobre pastores que apascentam rebanhos em noites geladas nem sobre coros de anjos. Eu não cantarei sobre a manjedoura em Belém ou sobre o mugido da vaca, os magos que seguiram a estrela distante com ouro e incenso e mirra. Esta noite, eu cantarei louvores ao Pai que ficou no limiar da porta do céu e disse adeus ao seu Filho quando Ele caminhou entre as estrelas para Belém e Jerusalém. E cantarei louvores ao Filho eterno e infinito, que se tomou o mais excelente Bebê, que um dia seria executado pelos meus crimes. Louvado seja Ele nos céus Louvado seja Ele na estrebaria.

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Louvado seja Eíe em meu coração. — Joseph continha o louvor, as graças, as alegrias dos que são Bayly de Jesus torna-se um instrumento de juízo que agi­ ta a própria terra. 25 DE DEZEMBRO LEITURA 359 Como é possível? Talvez porque o juízo de Deus TOQUE DAS TROMBETAS seja a vingança dos seus santos. As suas punições Apocalipse 8— 9 são distribuídas àqueles que perseguiram e assassi­ naram os homens e mulheres devotos. Mas parece “A i! Ai! A i dos que habitam sobre a terra, por causa haver algo a mais do que isto. Os louvores daqueles das outras vozes das trombetas dos três anjos que hão que vieram a conhecer o Cordeiro expressam uma de ainda tocar!” (Ap 8.13). santidade a que todos os homens são chamados, mas que muitos recusam. Na mesma comparação A certeza do juízo convence do pleno significado entre o justo e o ímpio, o adorador e o rebelde, o do Natal. destino dos perdidos é selado. Por que nem todos veem o verdadeiro significado Visão Geral do Natal? Por que nem todos olham além dos pre­ A abertura do sétimo selo revela sete trombetas, sentes embrulhados, das mesas fartas e dos cânticos representando juízos ainda mais severos que sáo festivos? Por que nem todos veem a Cristo, que liberados sobre a terra (8.1— 9.19). Mas nem mes­ nasceu para morrer, um Menino destinado a mor­ mo esses golpes esmagadores conseguem trazer os rer por todos nós? sobreviventes da humanidade ao arrependimento Por que nem todos os seres humanos percebem (w. 20,21). que, se não receberem o Menino Jesus agora, certa­ mente receberão o juízo da sua mão poderosa?

Entendendo o Texto

“E, havendo aberto o sétimo selo” (Ap 8.1,2). A mi­ nha esposa tem um conjunto de vasilhas. Cada uma delas, um pouco menor que a outra, cabe de modo impecável dentro da sua companheira maior. Os juízos do livro do Apocalipse são parecidos com isso. O sétimo selo é aberto, revelando sete trom­ betas. Quando a sétima trombeta finalmente soar, olhos vigilantes descobrirão dentro dela sete taças cheias da ira de Deus. Quando nós lemos o livro do Apocalipse, parece que os juízos jamais cessam, mas prosseguem como uma série incessante de eventos terríveis. Quando examinamos cada um dos capítulos, pa­ rece que dificilmente sáo adequados como leitura de Natal. Onde está o Menino de Belém nessas terríveis descrições de montes em chamas, de um abismo em fumaça e de demoníacos tormentos à humanidade? Mas Ele está aqui. Ele está aqui, pois, na descrição dos juízos que as­ sinalam o angustiado fim da história, nós perce­ bemos a razão da Encarnação. Jesus nasceu, viveu, morreu e ressuscitou para que você e eu pudésse­ mos escapar aos juízos aqui descritos. Ele nasceu para que todos os que creem pudessem passar das trevas para a luz, da morte para a vida, da angústia para a alegria. “Com as orações de todos os santos” (Ap 8.3-5). Esta é uma imagem assombrosa. Repentinamente, o in­ censário que contém as orações dos santos é remo­ vido de um altar de ouro, e nele é colocado fogo do altar, e ele é lançado sobre a terra. Aquilo que

“Saraiva e fogo misturado com sangue” (Ap 8.6-12).

As limitações da linguagem impossibilitam que nós saibamos exatamente o que João está descrevendo. As imagens do monte em fogo e da estrela ardente arremessando-se sobre a terra são suficientemente aterrorizantes. O escurecimento de corpos celes­ tiais familiares é ainda pior. O que quer que sejam, na realidade, estas imagens usadas por João, o seu efeito é suficientemente claro. Uma terça parte da vegetação da terra, dos seus mares e das suas águas será destruída, e milhões morrerão. Que contraste este, com casas com luzes acesas, com árvores com luzes brilhantes, colocadas proe­ minentes diante das janelas das salas de estar! Que lembrete de que a escolha que Deus nos apresenta é uma escolha entre a alegria eterna e a perdição eterna! “A chave do poço do abismo” (Ap 8.13 —9.12). Os juízos anteriores poderiam ser classificados como catástrofes naturais. Apesar do seu impacto sobre a terra, materiais do universo físico foram usados para realizá-los. Agora, no entanto, exércitos de seres espirituais hostis são liberados. Demônios sob a forma de algo parecido com gafanhotos atormentam os habitan­ tes restantes da terra. Ainda hoje, há aqueles que decidem adorar Satanás, esperando alguma proteção ou lucro. Como essas pessoas agora são consideradas tolas! Satanás e seus exércitos sempre detestaram a humanidade. Tendo a oportunidade, os demônios libertados causam

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tanta agonia, que os homens desejam a morte. E a morte lhes é negada. Hoje, há uma escolha que todos os homens podem fazer. E, em cada Natal, todas as pessoas, em todos os lugares, são lembradas de um Menino que se tornou Homem, e que espera recebê-las de volta no céu. “E o número dos exércitos dos cavaleiros era de duzen­ tos milhões” (Ap 9-12-21). Outro exército sobrena­

tural é liberado contra a humanidade. E este exérci­ to mata. Agora, não há ceticismo. Todos sabem que o sobrenatural é real. Hoje, muitos zombam do sobrenatural, ou o ig­ noram, e creem, com os antigos, que o universo

DEVOCIONAL______ “Dê-me Amor” (Ap 9.12-21)

De vez em quando, Sarah sobe no colo de sua mãe e diz: “Dê-me amor”. Elas se abraçam e dão tapinhas uma na outra; cochicham e sorriem, e sentem-se particularmente íntimas e próximas. Mãe e filha. O Natal é uma época semelhante para nós. “Dême amor”, é a maneira de Jesus. Nós nos reunimos à sua volta ansiosos por abraçar e ser abraçados; an­ siosos por lembrar do seu amor, e também ansiosos por declarar o nosso. Há algo no amor que nos atrai. E há algo na puni­ ção que nos repele. Nós vemos isso também em nossos lares. Mesmo quando a punição é merecida, e Sarah sabe disso, o seu lábio inferior projeta-se para fora com tristeza. Ela olha acusadoramente com olhos zangados e, às vezes, grita seus sentimentos de que é tudo injusto. Este é um contraste que precisamos ver nesta época de Natal, quando lemos acerca dos terríveis juízos sobre uma raça humana pecadora, e nos sentimos chocados com aquilo que o livro do Apocalipse re­ lata: que eles “não se arrependeram”. Eles não mu­ daram de ideia, nem os seus costumes. E por isso que o Natal é uma expressão apropriada da nossa fé. E Deus quem nos lembra de que ouviu o nosso pedido: “dê-me amor”. E Ele deu amor, no Menino Cristo, cujo nascimento celebramos. Enquanto o mundo tiver Natal, Deus estenderá a sua mão para nos dar amor, e a porta da salvação estará completamente aberta. Oh! Vamos falar aos outros desse amor antes que venha o juízo, e os cora­ ções endurecidos congelem em uma rebelião que os deixará afastados do amor por toda a eternidade.

material é tudo o que existe. Muitos exigem provas, caso contrário não crerão. Mas, se tivessem a prova, creriam? Os versículos 20 e 21 nos contam. Apesar da natureza evidente do juízo, o restante da hu­ manidade não deixou de adorar “os demônios e os ídolos de ouro... E não se arrependeram dos seus homicídios, nem das suas feitiçarias, nem da sua prostituição, nem das suas ladroíces”. Não é de uma prova que a humanidade pre­ cisa. A humanidade precisa dar ouvidos à Palavra de Deus e perm itir que Ele promova uma transfor­ mação dentro de seus corações.

Citação Importante

“O dono da hospedaria que deu a Maria e José uma estalagem na véspera de Natal deveria ser um exemplo para os cristãos no feriado em que eles celebram o nascimento do Messias. Isso porque este dono de hospedaria do Oriente Médio teve a simples consideração de pensar além do ‘não’, que facilmente poderia ter sido toda a sua conver­ sa com os visitantes estrangeiros que vieram à sua porta. Em contraste, muitos cristãos que honram o menino que nasceu naquela noite dizem cons­ tantemente ‘não’ a estrangeiros durante a mesma época do ano em que deveriam estar abrindo as suas portas aos solitários, esquecidos e alienados.” — James Greig

26 DE DEZEMBRO LEITURA 3 60 SEM MAIS DEMORA Apocalipse 10— 11

“M as nos dias da voz do sétimo anjo, quando tocar a sua trombeta, se cumprirá o segredo de Deus, como anunciou aos profetas, seus servos” (Ap 10.7).

O ano-novo que se aproxima rapidamente pode trazer os acontecimentos descritos no restante do livro do Apocalipse!

Contexto

Interpretação. A partir deste ponto, a interpretação

do livro do Apocalipse torna-se ainda mais difícil, e aqui os comentaristas estão mais claramente di­ vididos. A mais antiga escola de interpretação, comum nos dois primeiros séculos, considerava o livro do Apocalipse como profecia preditiva, uma descrição Aplicação Pessoal Compartilhe o amor de Deus com outras pessoas literal, ainda que frequentemente obscura, do que acontecerá no futuro. No século III, os cristãos neste Natal.

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Apocalipse 10— 11

começaram a enfatizar significados supostamente alegóricos. Muito mais tarde, outros cristãos come­ çaram a tratar o livro como uma revisão da história da igreja. Por exemplo, dependendo da interpre­ tação do comentarista, eles identificavam “os ani­ mais” do livro com o Papa e os bispos, ou com os líderes da Reforma Protestante. Uma interpretação moderna mais sofisticada su­ gere que cada seção do livro do Apocalipse é um tratamento simbólico da história, com cada seg­ mento examinando a obra de Deus ao longo dos séculos a partir de uma perspectiva ligeiramente diferente. E assim, qualquer leitor do livro do Apocalipse tem algumas escolhas a fazer. O livro é profecia preditiva? Alegoria? Ou tratamento simbólico das ques­ tões da época de João, da história da igreja, ou do fim da história? O uso de muitos termos encontra­ dos na profecia do Antigo Testamento quer dizer que o livro do Apocalipse deve estar em harmonia com as visões veterotestamentárias do fim da histó­ ria que retratam Israel? Ou o uso de elementos do Antigo Testamento significa que a profecia veterotestamentária também deve ser tratada simbolica­ mente, e não literalmente? Há um futuro para Is­ rael como povo escolhido de Deus? Ou Israel, que ainda existe como um povo, não tem tal futuro, e as antigas promessas feitas aos judeus são, na verda­ de, promessas espirituais cumpridas na igreja? Mesmo quando se lê o livro do Apocalipse devocionalmente, e particularmente os capítulos 10 a 14, deve-se adotar algum esquema para a leitura. Embora reconhecendo que existem dificuldades para qualquer escola de interpretação, eu creio que, para sermos mais coerentes com a natureza das Escrituras e a personalidade de Deus, devemos considerar o livro do Apocalipse como uma nar­ rativa da história futura, com suas imagens enrai­ zadas na profecia do Antigo Testamento, e que as suas constantes referências a Israel evidenciam que Deus pretende cumprir as promessas dos profetas ao seu antigo povo. Mesmo com esse esquema, grande parte do livro continua sendo um mistério. Mas grande parte também fica muito mais clara, e aplicável à nossa vida.

Visão Geral

João é informado de que o fim predito para a his­ tória agora se desenrolará (10.1-7). Ele recebe um livro para comer e a ordem de profetizar (w. 8-11). Dois terríveis profetas testemunham contra a hu­ manidade durante um período predito em Daniel (11.1-6). Eles sáo mortos, mas ressuscitam e são levados ao céu (w. 7-14). Ali todos se alegram, pois Deus começou a reinar (w. 15-19).

Entendendo o Texto

“Sela o que os sete trovõesfalaram”(Ap 10.1-4). Nem no poderoso simbolismo do livro do Apocalipse, João é capaz de registrar tudo o que ele viu nes­ ta visão. Pode ser que os sete trovões sejam ainda outra série de juízos. Ou talvez não. De qualquer forma, é bom que nos lembremos de que é a graça de Deus que conserva muitos aspectos do futuro escondidos de nós. Pense como seria terrível, se você ou eu conhecês­ semos, com anos de antecedência, as tragédias que iríamos enfrentar. Então as alegrias atuais seriam sempre obscurecidas pelo nosso conhecimento pré­ vio das trevas à frente. Ou suponhamos que nós soubéssemos antecipadamente que grande prospe­ ridade e sucesso estão garantidos. Onde estaria a luta? Onde estaria a satisfação, quando cada esfor­ ço recebesse a sua recompensa? Deus nos deixa na incerteza para nos proteger da tristeza prematura, para nos surpreender com a ale­ gria, e, acima de tudo, para que cada dia nós pos­ samos sentir a necessidade que temos de caminhar com a nossa mão na dEle. “Não haveria mais demora” (Ap 10.5-7). Uma das mais vigorosas razões para interpretar o livro do Apocalipse como profecia preditiva é encontrada neste versículo. João nos diz que “se cumprirá o segredo de Deus, como anunciou aos profetas, seus servos”. O que João vê agora é o que os profetas do Antigo Testamento previram. Nas Escrituras, um “segredo”, ou mistério, é um elemento que todo o tempo fez parte do plano eterno de Deus, mas que foi revelado à humani­ dade apenas recentemente. A própria igreja é um mistério: ninguém que vivesse antes de Cristo imaginaria que Deus pretendesse unir judeus e gentios em um corpo pela fé no Filho de Deus crucificado. Talvez nós possamos pensar em um “mistério” como Deus alegremente gritando: “Surpresa!”, enquanto revela outro aspecto assombroso do seu plano completo para a criação. O juízo também virá como uma surpresa, embora sejam abundantes os avisos sombrios nas Escritu­ ras. Elementos do que João nos diz agora sáo no­ vos, embora se encaixem em um esquema do Anti­ go Testamento. Mesmo agora, a certeza da punição pelo pecado e de um fim para o mal ecoa por toda a Palavra de Deus. Não devemos jamais ficar tão perdidos, tentando interpretar os detalhes do livro do Apocalipse, a ponto de deixar de ver a esmagadora impressão que ele pretende causar. O juízo aproxima-se. A con­ denação está à espera. Um dia, em breve, todos os

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terrores preditos pelos profetas de todos os tempos sões de Daniel prediziam ou, pelo menos, previam se realizarão aqui na terra. Como é importante que os últimos anos da história do mundo e a carreira do Anticristo. estejamos prontos e não sejamos surpreendidos! Mas aqui é revelado um pouco de mistério, e duas “Toma-o e come-o”(Ap 10.9-11). Aqui há uma ana­ figuras inesperadas aparecem. São duas testemu­ logia óbvia com Ezequiel, que também foi instruí­ nhas que recebem poderes sobrenaturais reminisdo a tomar um livro e comê-lo e a falar ao povo de centes de Moisés e Elias. E interessante que a tra­ Israel (Ez 3). Embora aquele livro também tivesse dição judaica predissesse um retorno de Moisés e gosto de mel, ele lançou o profeta em um ministé­ Elias na época do fim. rio de condenação, falando contra o Israel rebelde No entanto, talvez o aspecto mais significativo da até depois da destruição de Jerusalém, e somente visão das duas testemunhas para nós seja um lem­ então passando a ser uma mensagem de esperança. brete. Até mesmo na época mais desesperadora, o O livro do Apocalipse segue um padrão semelhan­ povo de Deus deve adotar uma posição contra o te. Em primeiro lugar, João descreve terríveis ju­ pecado. E se essa posição provocar hostilidade, que ízos que se abaterão sobre a terra (11— 18). Mas assim seja. ele conclui com o triunfo de Deus e a acolhida aos santos em um céu e uma terra novos e purificados. “A besta que sobe do abismo” (Ap 11.7-14). João De certa maneira, até mesmo o evangelho é, ao vê as duas testemunhas mortas por um indivíduo mesmo tempo, doce e amargo. Quando nós o co­ comumente identificado como o Anticristo. Mas memos, recebendo Cristo em nossos corações, nos depois de três dias e meio, seus corpos, que não fo­ alegramos com seu sabor doce. Mas então, repen­ ram sepultados, retornam à vida e são visivelmente tinamente, percebemos que a promessa de salva­ arrebatados ao céu, para consternação de seus ini­ ção sugere que todos os homens estão perdidos. migos. Enfrentamos essa amarga verdade e percebemos Uma expressão aqui diz que as pessoas de ‘vários que, como Ezequiel e João, devemos testemunhar povos, e tribos, e línguas, e nações” verão os cor­ a muitos que podem não ouvir; e, quando se recu­ pos mortos das duas testemunhas. E provável que esta expressão seja simbólica, significando pou­ sarem a ouvir, se condenarão ao juízo. co além de “toda a humanidade”. Ainda assim, “Mas deixa o átrio que estáfora do templo ”(Ap 11.1- é fascinante especular. A nossa geração é a única 6). O foco da visão agora passa a ser Jerusalém. A na história em que os eventos de qualquer parte cidade está sob o controle dos gentios, e números do mundo podem ser testemunhados em todos encontrados nas predições de Daniel a respeito os lugares enquanto acontecem. Câmeras de TV do fim da história tornam o elo entre a profecia conectadas a satélites transmitem simultaneamen­ do Antigo Testamento e o livro do Apocalipse te imagens para o mundo todo. Como seria fácil inequivocamente claro. Não há dúvida de que os hoje que as pessoas de todas as nações vissem os comentaristas judeus, como também os primeiros eventos dramáticos que João retrata. Ou que os comentaristas cristãos, compreenderam que as vi- vejam amanhã!

DEVOCIONAL______ Reinaste

trombeta, e os juízos continuam sendo arremessa­ dos contra uma terra impenitente, o coro do céu Uma mulher deu início à grande tradição. Foi a clama: primeira vez que ela ouviu o Messias, de Handel. Aconteceu quando a grande obra chegou ao seu Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor clímax triunfante, e o coro cantou: “E Ele reinará e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre. por todo o sempre!”. Vitória, a rainha da Inglater­ ra, profundamente comovida, levantou-se em hon­ Quando o coro proclama essa alegria, Cristo ainda ra ao seu grande Rei, Jesus, governante de todo o não está em uma terra subjugada. O mal ainda não universo. foi eliminado. O Anticristo continua a exaltar-se, E, desde então, quando o “Coro de Aleluia” é in­ e Satanás luta poderosamente. A humanidade cos­ terpretado, o público levanta-se em respeito reve­ pe a sua hostilidade contra Deus e exibe este ódio, rente. matando os servos dEle. Mas, no céu, os hinos de Aqui, em Apocalipse 11, nós vemos a origem des­ louvor ficam cada vez mais altos. Todo o céu sabe sa grande obra de música. Quando soa a sétima que “tomaste o teu grande poder e reinaste”.

(Ap 11.15-19)

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Apocalipse 12— 14

Nós vivemos em uma época em que muitas vezes parece que Deus deixou de lado o exercício de­ clarado do seu poder impressionante. Muitos en­ tendem que agora Ele trabalha por intermédio da providência, de modo tão sutil, que os perdidos se riem com a noção da soberania divina, e isso faz com que todas as coisas pareçam acaso ou casua­ lidade. Um dia, Deus demonstrará abertamente o seu impressionante poder, e então o seu governo será inconfundível. E esse dia chegará em breve. Até então, nós devemos nos lembrar de que, quan­ do as coisas parecem mais sombrias sobre a terra, os cânticos do céu são mais triunfantes. Você e eu, limitados aos nossos olhos físicos, podemos não ver o que é tio claro no céu. Mas ainda podemos nos levantar e clamar junto com os anjos: Deus reina!

detalhes, ao texto sobre o Anticristo nas profecias de Daniel. A “besta que subiu da terra” é normal­ mente chamada “falso profeta”. Juntos, o Diabo, o Anticristo e o falso profeta compõem uma trindade profana, um reflexo distorcido do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Eles alcançam grande poder na terra e conquistam a lealdade do que ainda resta da humanidade. Parecem triunfar sobre os santos de Deus. Mas o triunfo é apenas aparente. Depois que um último aviso é transmitido a toda a terra, um novo e mais intenso nível de juízo tem início.

Visão Geral

Os sinais nos céus enfatizam os eventos: a hostili­ dade de Satanás contra o povo escolhido de Deus (12.1-3), o Salvador nascendo de Israel (w. 4,5), e um ataque a Israel inspirado por Satanás, durante o período de Tribulação (w. 6-9). Agora a influência Aplicação Pessoal de Satanás limita-se à terra (12.10-17), onde ele dá Demonstre reverência pelo nome de Deus, con­ poder ao Anticristo (13.1-10) e ao falso profeta (w. fiando em sua soberania. 11-18) para incitar a humanidade contra Deus. As 144 mil testemunhas de Apocalipse 7 permanecem Citação Importante fiéis (14.1-8), enquanto os anjos ajudam a advertir “Irmãos, sejam grandes crentes. Uma fé pequena a humanidade (w. 6-13), e o próprio céu parti­ levará as suas almas ao céu, mas uma grande fé tra­ cipa da destruição da humanidade pecadora (w. 14-20). rá o céu às suas almas.” — Charles Spurgeon

27 DE DEZEMBRO LEITURA 361

Entendendo o Texto

AS BESTAS

“Um filho, um varão que há de reger todas as nações com vara de ferro” (Ap 12.1-5). O linguajar do texto

Apocalipse 12— 14 “E adoraram o dragão que deu h besta o seu poder; e adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela?" (Ap 13.4)

Os seres humanos são muitas vezes enganados por aqueles que aparentam ser poderosos.

Contexto

Símbolos em Apocalipse 12 — 14. Nós somos na­ turalmente curiosos quanto a quem é representa­ do pelas figuras que causam uma forte impressão nestes vigorosos capítulos do livro do Apocalipse. Uma figura, a do dragão, é interpretada no texto. O grande dragão vermelho é o próprio Satanás, “que engana todo o mundo”. Embora a mulher do capítulo 12 tenha recebido várias interpretações, como sendo a humanidade, a igreja, Maria, é melhor interpretá-la como repre­ sentando Israel. Este é o povo do qual veio Cristo, o povo cuja trágica jornada pelos últimos dois mil anos indica a continuada hostilidade de Satanás. Nas Escrituras, o “mar” geralmente é um símbo­ lo da humanidade. A “besta que subiu do mar” é o Anticristo, que está claramente relacionado, em

é messiânico (cf. SI 2; Is 9.6,7). A mulher é Israel, do qual nasceu o Cristo. E o dragão é Satanás. Como é fascinante ver Satanás encolhido, pronto para atacar o Menino quando Ele, em fraqueza, en­ tra neste mundo. E que lembrete! Satanás não con­ seguiu ser um obstáculo para Deus quando Jesus andou por aqui como homem. Apesar dos poderes consideráveis de Satanás, como são inúteis todos os seus esforços! Ele não conseguiu derrotar um Jesus enfraquecido. Ele é impotente contra o Cordeiro que esteve morto, mas que agora vive, que é pode­ roso, e que se assenta no trono do próprio Deus! Não se preocupe com Satanás. Pois, apesar de toda a sua pose, ele é um inimigo derrotado. Um dia, a humanidade perdida pode ser arrebatada pela sua demonstração de poder. Porém, você e eu sabemos que há mais poder na demonstração de fraqueza que Jesus faz na cruz do que em todos os exércitos que Satanás será capaz de incitar contra Deus. “Onde já tinha lugar preparado por Deus” (Ap 12.6).

Alguns conectaram isto ao aviso de Jesus em Ma­ teus 24.20,21 e concluíram que, durante a Tribula­ ção, Deus protegerá os judeus restantes no monte Seir. Um grupo chegou ao ponto de armazenar

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Apocalipse 12— 14

Novos Testamentos impressos em hebraico nas ca­ vernas de Seir. Talvez eles tenham sido precisos demais em seus preparativos. Mas não foram longe demais em sua fé. Um dia, em breve, tudo o que João descreve acontecerá. A história culminará em juízos terrí­ veis. E nós seremos prudentes, se nos prepararmos também para esse dia. “Tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo” (Ap 12.7-12). A única coisa que os generais adver­ sários temem é que o inimigo possa conhecer os seus planos e descubram alguma maneira de detêlos. Como é fascinante que, na profecia, Deus não apenas nos diga o que está por vir, mas também torne a mesma informação disponível a Satanás! Como é significativo também! Satanás pode saber o que está por vir, mas não há nada que ele possa fazer para modificar o resultado da sua rebelião! Os seus esforços frenéticos, a sua imensa hostilidade contra os que são de Deus, expressam frustração em lugar de confiança. Ele sabe que o seu tempo é curto. E sabemos que Satanás foi, e será, derrotado pelo sangue do Cordeiro. “Perseguiu a mulher que dera à luz o varão” (Ap 12.13-17). Realmente deve haver um lugar para Israel em nosso entendimento da profecia. Deus escolheu o povo judeu e o amou constantemente, desde os dias de Abraão até o nascimento de Cris­ to. Paulo nos assegura de que Deus não rejeitou esse povo, que conheceu de antemão, mas que chegará um dia quando “todo o Israel será salvo” (Rm 11.26). O povo de Deus ainda é precioso para Ele. Quando, no final da história, o foco retornar a Is­ rael, e as visões do profeta se tornarem realidade, o ódio de Satanás por Deus arderá contra o povo que Ele tanto ama. A despeito do que quer que isso possa nos dizer, uma coisa é clara: Satanás odeia o que Deus ama. Aqueles que antagonizam os judeus certamente es­ tão do lado errado. “E adoraram o dragão que deu à besta o seu poder” (Ap 13.1-10). Observe o número de vezes que a palavra “poder” é mencionada ou sugerida nestes versículos. Ela aparece nos versículos 2, 4 e 7. Não é estranho que “o poder de fazer guerra” seja tão atraente à humanidade? Nós seguimos quem quer que tenha poder e que prometa tornar-nos poderosos. Não é de admirar que os ditadores da história fossem capazes de conquistar a lealdade de seu povo com tanta facilidade. O “poder de fazer

guerra” nos atrai, e nós queremos estar do lado vencedor. Mas observe o que Deus tem a dizer aos seus san­ tos. Quando o Anticristo obtém uma vitória de­ pois da outra, os crentes são instruídos de que isso requer “paciência”. Alguns de nós seremos levados em cativeiro. Alguns serão mortos à espada. E, para todos os que estiverem à nossa volta, nós parece­ remos os mais fracos entre todos. No entanto, os fracos vencem. E os poderosos da terra perdem. Que possamos aprender a ver a vitória implícita na fraqueza e a derrota inerente ao poder de fazer guerra, e viver de modo apropriado. “Engana os que habitam na. terra” (Ap 13.11-18). Eu não posso evitar divertir-me com aqueles que levam Uri Geller a sério. Dobrar pregos com o po­ der da mente? Claro! E como o casal “cristão” que maravilhou congregações com as mensagens com detalhes da vida das pessoas que o “Espírito” lhes deu — até que alguém gravou as mensagens de rádio transmitidas ao orador pela sua esposa, por meio de um “aparelho auditivo”. Se nós somos tão crédulos com trapaceiros, pen­ se em como as pessoas são facilmente enganadas quando poderes verdadeiramente sobrenaturais são exercidos abertamente. A imagem do futuro fornecida aqui contém um lembrete vital. Não importa o que alguém afirme ser capaz de fazer, não abandone a Palavra de Deus. Não importa quais sanções econômicas existam, impedindo aos crentes oportunidades de trabalho, ou até mesmo a compra de alimentos, não abando­ ne a Palavra de Deus. Fixe a sua confiança em Cris­ to e em sua Palavra escrita, e não se deixe enganar. “Seguem o Cordeiro para onde quer que vai” (Ap 14.1-5). Nós encontramos os 144 mil em Apoca­ lipse 7. Ali, eles foram identificados como judeus, assinalados e enviados por Deus para dar testemu­ nho dEle durante os terríveis períodos associados ao fim da história. Aqui, nós os vemos redimidos diante do trono de Deus e louvando-o com um cântico que é exclusivamente seu. E aqui ouvimos o elogio de Deus. “Seguem o Cordeiro para onde quer que vai.” Você e eu não estamos incluídos nos 144 mil. Po­ rém, podemos estar entre os de todas as gerações, sobre os quais pode ser dito: “seguem o Cordeiro para onde quer que vai”. “Tinha o evangelho eterno, para o proclamar” (Ap 14.6-13). Durante a era cristã, transmitir o evan­ gelho foi responsabilidade dos seres humanos. Mas agora, com a humanidade enganada por Satanás,

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Apocalipse 15— 17

Deus demonstra a sua graça de uma maneira sin­ gular. Anjos poderosos convocam a humanidade para adorar a Deus e deixam completamente clara a natureza do juízo iminente. Esta ultima expressão de graça é rejeitada, e os san­ tos são encorajados a ter paciência. “Bem-aventu­ rados os mortos que, desde agora, morrem no Se-

DEV OCIONAL______ O Hino de Batalha (Ap 14.6-20)

A nossa Guerra Civil americana foi, sem dúvida, a mais sanguinária daquela época. Cerca de seiscen­ tos mil homens pereceram, dos quais trezentos mil por doenças e contatos associados ao seu serviço militar. A medida que o custo terrível em vidas humanas se tornava cada vez mais claro, a imagem de Apo­ calipse 14 capturava a imaginação de Julia Ward Howe. Como um lavrador fazendo uma colheita, reunindo grandes braçadas de uvas, e pisando nelas até obter sucos vermelho-sangue. Como a terrível visão de João, em que o sangue jorra do lagar da ira de Deus, inundando as ravinas ao redor da Cidade Santa e espalhando-se por 290 quilômetros! E assim nasceu o grande “Hino de Batalha da Re­ pública”. Deus, disse Howe, está “pisando no lagar onde as uvas da ira estão armazenadas. Ele liberou o brilho fatal da sua espada, rápida e terrível”. De alguma maneira, naquela luta terrível e custosa, Julia Ward Howe percebeu o triunfo da verdade de Deus. E ela estava certa. Décadas antes, quando a Cons­ tituição estava sendo preparada, os fundadores da nação esquivaram-se da questão da escravidão. O Sul estava muito preso a essa instituição, e todas as colônias precisavam unir-se para declarar a in­ dependência. E assim, esse mal foi ignorado. Ele infestou o corpo político de modo cada vez mais profundo, ano após ano, até que finalmente não pôde mais ser ignorado. Nessa ocasião, ele já estava tão aprofundado, que somente poderia ser extirpa­ do com o derramamento de sangue. As uvas da ira foram pisadas, e seiscentos mil jovens morreram. Cada mal é como a escravidão. Se não for tratado, ele infesta a alma. Cristo purifica aqueles que se voltam para Ele. Mas aqueles que não o fizerem deverão ser pisados, enquanto a verdade de Deus continua avançando.

nhor”, diz uma voz dos céus. “Para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os sigam.” Não importa o quão difícil a vida aqui possa ser, ou quão pouco recompensador possa parecer per­ manecer fiel ao Senhor, lembre-se: Nós tivemos a promessa do descanso; e nossas obras não serão es­ quecidas, mas nos acompanharão à glória.

Citação Importante

Ele tocou a trombeta que jamais dará o toque de retirada. Ele investiga os corações dos homens diante do seu trono de julgamento. Oh! Seja rápida, minh’alma, em responder a Ele! Alegrem-se, meus pés! O nosso Deus está avançando. Na beleza dos lírios Cristo nasceu, do outro lado do mar, Com a glória em seu seio que transfigura a você e a mim. Como Ele morreu para tornar os homens santos, vivamos para tornar os homens livres, Enquanto Deus continua avançando. Glória, glória, aleluia! Glória, glória, aleluia! Glória, glória, aleluia! A sua verdade está avançando. — Julia Ward Howe

28 DE DEZEMBRO LEITURA 362 IRA DERRAMADA Apocalipse 15— 17

“E um dos quatro animais deu aos sete anjos sete sal­ vas de ouro, cheias da ira de Deus, que vive para todo o sempre” (Ap 15.7).

Deus é justo nos seus juízos, por mais terríveis que eles possam parecer a você e a mim.

Contexto

Mistério, Babilônia. Depois de descrever novos juí­

zos que são derramados sobre a terra, João introduz algo chamado Mistério, Babilônia. Em forma sim­ bólica, é uma mulher, embriagada do sangue dos santos, a qual é eliminada pelo Anticristo. A identificação do Anticristo está novamente no lin­ guajar encontrado nos últimos capítulos de Daniel. Aplicação Pessoal A visão do juízo nos ensina como é grave a natureza Esse linguajar sugere a liderança de um consórcio de poderes políticos. Frequentemente, considera-se transcendental dos nossos pecados.

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Apocalipse 15— 17

que a mulher representa uma única religião, falsa e universal, que caracteriza a adoração à besta e a perseguição daqueles que creem em Deus. A ima­ gem dessa mulher, cavalgando uma besta (17.3), sugere que a religião é um instrumento usado pelo Anticristo em sua ascensão ao poder, mas descarta­ do, uma vez obtido esse poder (veja v. 17). Certamente, há algo de especulação nisso. Ao mes­ mo tempo, nesse contexto, são fornecidas explica­ ções que deixam clara uma coisa: a besta do livro do Apocalipse é o perverso governante e inimigo de Israel que Daniel descreve nos capítulos 11 e 12. E os eventos aqui se encaixam tão bem naquela profecia, que devemos supor que Daniel e João têm a mesma visão das coisas futuras.

Visáo Geral

João vê sete anjos que recebem taças cheias da ira de Deus (15.1-8). Agora, elas são derramadas so­ bre a terra, mas a única resposta da humanidade é amaldiçoar a Deus (16.1-21). Ele também teste­ munha a destruição de uma mulher que, em geral, é interpretada como representando a falsa religião (17.1-6), a qual é eliminada pelo Anticristo, que exige a lealdade total de todos (w. 7-18).

Entendendo o Texto

"As sete últimas pragas, porque nelas é consumada a ira de Deus” (Ap 15-1). Os juízos descritos em Apo­

calipse 15 e 16 são os últimos da série de punições que deverão ser vivenciados pela população impe­ nitente da terra. Estes juízos são verdadeiramente terríveis. Mas nós devemos nos lembrar de que, aconteça o que acontecer à terra, para os crentes ou os incrédulos, será apenas um prelúdio para a eter­ nidade. Alguns se consolam com a noção de que o inferno não teria utilidade para um Deus amoroso. Os horrores que agora terão lugar sobre a terra são evidência de que Deus lidará mais duramente com o pecado aqui e no futuro. “Os que saíram vitoriosos da besta, e da sua imagem” (Ap 15-2-4). Que estranha descrição: “Os que saí­

ram vitoriosos”. Vitoriosos? Mesmo que o contexto deixe claro que aqueles tão louvados morreram na perversa perseguição da besta aos crentes? No entanto, eles são vitoriosos. A sua vitória con­ siste em resistir a toda a pressão para acompanhar as forças do mal. O fato de que eles sofreram é irrelevante. O fato de que foram mortos não tem importância. O que importa é que permaneceram fiéis a Deus e, nisso, triunfaram. Que princípio para recordar, quando iniciamos um novo ano! Não importa o que podemos perder na terra, ou quão fracos possamos parecer. Ao fazer o

que é certo, e permanecendo fiéis a Deus, apesar dos custos, nós triunfamos. “Vinda do templo” (Ap 15-6-—16.1). Os sete anjos que João vê agora recebem sete taças cheias das es­ córias da ira de Deus. Quando o conteúdo dessas taças for derramado sobre a terra, a fase temporal do juízo de Deus estará concluída. Mas observe que esses anjos saem do Templo. Na religião de Israel, o Templo era o lugar para onde vinha o povo de Deus, para encontrar-se com Ele. Ali, eles adoravam a Deus. Traziam os seus sa­ crifícios e as suas ofertas e entoavam os seus louvo­ res, nos degraus do Templo. Ali, oculta atrás da cortina que abrigava o Santo dos Santos do Templo, permanecia a presença de Deus. A parede e as cortinas que o protegiam dos olhares profanos também protegiam os adoradores. A san­ tidade essencial de Deus, a glória resplandecente da sua justiça, era impressionante demais para que qualquer homem a visse e continuasse vivo. Mas agora nós vemos sete anjos que estiveram den­ tro do Templo e que estão ardendo com fumaça e glória. Eles saem para aceitar as taças que trazem os juízos de Deus a uma conclusão ardente. Quando nos aproximarmos de Deus, confiantes de sermos bem recebidos, devemos nos lembrar de que o seu Templo é um local de adoração, mas também um lugar santo. Nós devemos aproximarnos dEle em santidade e pureza, pois o nosso Deus é um fogo consumidor (Hb 12.29). “E os homens blasfemaram de Deus por causa da pra­ ga da saraiva” (Ap 16.2-21). Este capítulo resume

a série de juízos que são derramados das taças dou­ radas dos anjos sobre a terra. Ele também torna a enfatizar um tema que já vimos antes. Depois da primeira série de juízos, João diz que os homens tentavam esconder-se de Deus (6.15-17). Depois da série seguinte, ele relata que a humani­ dade “não se arrependeu” da sua idolatria ou imo­ ralidade (9.20,21). Agora, depois desta série, João diz: “e os homens blasfemaram de Deus por causa da praga da saraiva, porque a sua praga era mui grande”. Estas reações devem ser comparadas com a acolhi­ da entusiasta que recebeu o Anticristo, quando exi­ biu poderes sobrenaturais. A diferença básica está no fato de que os juízos de Deus revelam o seu po­ der, assim como o pecado do homem. Os prodígios realizados pelo Anticristo revelam os seus poderes, mas apelam para a natureza pecadora do homem. Eu estive interessado em uma nova escola de evangelismo que argumenta que os “sinais e prodígios” são, e sempre foram, uma chave para conquistar as

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Apocalipse 18— 19

pessoas para Jesus. Tenho algumas dúvidas. Uma pessoa que não responde positivamente ao que a Palavra de Deus diz a respeito de Jesus não será motivada por sinais e prodígios. A questáo está no coração do homem, e em nenhum outro lugar. “A grande prostituta’ (Ap 17.1-6). Ao longo das Es­ crituras, a falsa religião é identificada com adulté­ rio e prostituição. Isto, em parte, se deve ao fato de que as religiões pagãs que encontramos no Antigo Testamento eram crenças na natureza, das quais as orgias sexuais, que pretendiam estimular os deuses da natureza a enviar chuva, eram elementos essen­ ciais. No entanto, o que é ainda mais importante, no Antigo Testamento, a idolatria é associada à imoralidade, porque a adoração a falsos deuses é uma infração ao relacionamento de concerto com o Senhor. Existe um único Deus. Abandoná-lo em favor de outro relacionamento espiritual não é nada menos do que adultério em uma escala cósmica.

DEVOCIONAL______

Assim, os intérpretes do livro do Apocalipse con­ cordam que, neste capítulo, Mistério, Babilônia, a grande prostituta, a mulher embriagada com o sangue dos santos de Deus, é a falsa religião. E, além disso, é a falsa religião desenvolvida à enésima potência: a religião por si mesma, a religião que odeia ao Deus verdadeiro, a religião que persegue a fé ativamente. Os reformadores adoravam identificar a roupa púr­ pura e escarlate da mulher com as vestes adotadas na Igreja Católica e deliciavam-se com o fato de que Roma é uma cidade situada sobre sete colinas. Com a corrupção que teve o catolicismo dos sécu­ los XVI e XVII, essa identificação é improvável. O que é certo, no entanto, é que a “religião” frequen­ temente é o inimigo de Deus e do seu povo. As seitas de hoje e a possível religião futura retratada aqui não são amigas do verdadeiro cristianismo, que pede que simplesmente amemos a Jesus e uns aos outros, e que sejamos zelosos em fazer o bem.

Assentada sobre a Besta (Ap 17)

Aplicação Pessoal A oração e o testemunho vencem o mundo. Seja o que for que pudermos extrair do capítulo 17 Citação Importante do livro do Apocalipse, parece bastante claro que é perigoso para a religião “pegar uma carona” com a política. Está claro que a comparação é obscura. Ainda as­ sim, se interpretarmos a mulher de roupa escarlate como sendo a religião, a besta que ela cavalga (v. 7) encaixa-se à descrição do Anticristo feita por Da­ niel e no livro do Apocalipse. E um casamento muito natural. A religião, ansiosa por conquistar adeptos, une-se ao poder político atual. Mas a religião, que planejava usar a aliança para alcançar seus objetivos, repentinamente des­ cobre que é ela que está sendo usada! E, quando não houver mais utilidade para a religião, ela será deixada de lado. Eu não desejo identificar o cristianismo america­ no com a Babilônia Misteriosa, nem a besta com qualquer partido político. Mas vale observar que nenhum casamento entre a fé e a política é se­ guro. E, o que é ainda pior, um casamento entre um cristianismo autêntico, comprometido com a guerra espiritual, e qualquer partido político, comprometido em conservar o poder político, é desastroso para a fé. As armas da nossa guerra, escreveu Paulo certa vez, não são carnais, mas es­ pirituais. Por que, então, nós abandonaríamos a fonte do nosso poder para cavalgar a besta?

“A política é a arte do possível, não a arte do ideal.” — Russell Kirk

29 DE DEZEMBRO LEITURA 363 A QUEDA DA BABILÔNIA Apocalipse 18— 19

“A i! A i daquela grande Babilônia, aquela forte cida­ de! Pois numa hora veio o seu ju ízo ” (Ap 18.10)

Quando Cristo intervier, tudo o que o mundo considera importante não será nada e não signi­ ficará nada.

Contexto

Babilônia. A Babilônia tem significado histórico e

simbólico ao longo das Escrituras. Babel foi o lugar onde os homens se uniram pela primeira vez para edificar uma cidade e uma torre; eles tinham um de­ sejo declarado; “E façamo-nos um nome” (Gn 11.15). Posteriormente, a Babilônia de Nabucodonosor serviu como símbolo de poder e riqueza supremos no mundo, e como conquistador temporário do povo de Deus. Os profetas repreenderam o seu orgulho e arrogância, um orgulho enraizado em sucesso mili­ tar e nas riquezas. Pouco surpreende que aqui, no li­ vro do Apocalipse, o nome “a grande Babilônia” seja dado à própria civilização humana. A humanidade

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Apocalipse 18— 19

une-se, náo para servir a Deus e ao próximo, mas para lucrar e desfrutar de luxos que frequentemente são extraídos dos pobres e oprimidos. No retrato do livro do Apocalipse da queda da Grande Babilônia, no fim da história, nós lemos a avaliação que Deus faz da própria sociedade mun­ dana. Lemos o seu desprezo pela ambição que nos motiva, pela avareza que nos faz desejar apaixona­ damente coisas supérfluas em lugar da justiça, e por todo o nosso desejo de poder. Enquanto lemos sobre a Grande Babilônia e ob­ servamos a sua queda, nos lembramos do veredicto expresso na primeira epístola de João:

o seu povo valoriza tanto as possessões materiais, que voluntariamente comete crimes contra os seus companheiros. Uma das maiores descobertas da minha vida veio quando eu percebi, depois de comprar meu pri­ meiro carro, que não me importava realmente se o possuía ou náo. Desde então, tenho vivido sozinho em um quarto de solteiro, sendo o proprietário de uma casa grande, bonita e confortável. E aprendi que não existe uma diferença real entre ter e não ter. Desfrute das coisas que Deus lhe dá. Mas, em seu coração, entregue-as tão perfeitamente a Deus que, se Ele as tomar, você não sofrerá nem um momen­ Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. to de tristeza. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a “Chorarão... eprantearão” (Ap 18.9-17). Em 1929, concupiscência da carne, a concupiscência dos quando houve a queda da bolsa, muitos morado­ olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do res de Nova Iorque abriram suas janelas e saltaram. mundo. E o mundo passa, e a sua concupis­ Eles compreenderiam completamente a tristeza ex­ cência; mas aquele que faz a vontade de Deus pressa em Apocalipse 18, pois também clamaram: “Todas as coisas gostosas e excelentes se foram de permanece para sempre. (1 Jo 2.15-17). ti, e não mais as acharás”. Visão Geral Por terem confundido a sombra com realidade, Um anjo anuncia o fim da civilização humana, a a cena transitória com estabilidade, e o temporal “Grande Babilônia” (18.1-20). O juízo é executa­ com o eterno, foram incapazes de suportar a sen­ do (w. 21-24), trazendo aleluias celestiais (19.1- sação de perda. 10). Por fim, os céus abrem-se, e Cristo é revelado Como é terrível ser um cidadão da Babilônia! como o líder dos exércitos do céu, como Rei dos Como é melhor fixar os nossos olhos e as nossas reis e Senhor dos senhores (w. 11-16). Os exérci­ esperanças no céu! tos da terra reúnem-se para uma última resistência desesperada, somente para serem esmagados pelo “Todos os que negociam no mar” (Ap 18.17-20). próprio Cristo (w. 17-21). Novamente, o mar representa a humanidade. Os que ganham o seu sustento no mar são aqueles cuja Entendendo o Texto compreensão do significado da vida está associa­ “M orada de demônios” (Ap 18.1-3). Babilônia é da aos valores materiais da sociedade. Quando a um lugar onde os demônios se sentem confor­ civilização, com a sua riqueza e o seu esplendor, táveis, porque os valores expressos na socieda­ desmoronar, no final da história, esses homens de que a Babilônia representa estão em conflito chorarão. Mas os santos, apóstolos e profetas de com os valores do nosso Deus. Nós devemos ser Deus se alegrarão. cuidadosos, para que, valorizando as coisas erra­ Talvez nós devamos alegrar-nos mesmo agora, das, não nos encontremos à vontade com o mal. quando experimentamos contratempos. Perder o (Veja o DEVOCIONAL.) que não podemos conservar, para que os nossos desejos possam fixar-se outra vez no que não pode­ “Sai dela, povo meu” (Ap 18.4-8). O poder e as mos perder, é realmente um grande lucro. coisas supérfluas de que gostam os homens e as mulheres deste mundo são suficientemente reais. “Luz de candeia não mais luzirã em ti” (Ap 18.21Porém, são devastadores para a vida espiritual. O 24). O mundo criado pela humanidade perdida maior perigo, quando se tem muitas possessões, é o está condenado à destruição interminável. Nos fato de que, com o tempo, elas começam a possuir tempos bíblicos, sempre havia uma candeia arden­ você. Deus nos deu todas as coisas para desfrutar do à noite nos lares. Até mesmo os pobres deixa­ delas ricamente. Mas nada deve tornar-se mais vam uma candeia acesa. A “luz não mais luzindo” importante para nós do que Deus. E nada deve simboliza um lar vazio e abandonado. tornar-se mais importante do que um irmão em E assim acontece com a Babilônia. Quando, com necessidade. A Babilônia está condenada porque grande violência, Deus derrubá-la, essa cidade dos

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Apocalipse 20

perdidos jamais será reconstruída outra vez. Lem­ bre-se disso, enquanto você assiste a sequência in­ terminável de comerciais que tentam convencê-lo de que precisa possuir cada vez mais coisas. A luz da Babilônia logo se apagará, para jamais brilhar outra vez. Os encantos que desviaram todos os ho­ mens se desmoronarão e se converterão em pó. E aqueles que tiverem resistido à atração da Babilônia conhecerão uma alegria eterna.

banqueteavam-se, dançavam e cantavam, compar­ tilhando da alegria do novo casal. Assim, o banquete das bodas marcava alegremen­ te a inauguração daquilo que duraria pelo resto da vida: uma vida em que duas pessoas, que tinham estado separadas, agora passariam a ser uma. Assim deve ser conosco. A história trágica da ter­ ra está terminada. A Babilônia está em ruínas. E, por fim, o Esposo e a esposa assentam-se juntos no banquete nupcial. Por toda a eternidade, a vida “A leluia!” (Ap 19.1-10). A cena novamente é será nova. E, finalmente, eles serão um. transferida para o céu. Ali, a queda da Babilônia é motivo de alegria. Deus reina agora. E todos “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Ap 19.11-21). os santos celebrarão no banquete das bodas do Cristo, agora e por fim, lidera exércitos de anjos que Cordeiro. extinguem a última resistência da humanidade ao Aqui, o simbolismo também é poderoso. No An­ seu governo. Satanás está preso. A besta e o falso pro­ tigo Testamento, Deus é retratado como o Esposo feta são sumariamente condenados ao lago de fogo. de Israel. No Novo Testamento, Cristo é o Espo­ E quanto aos demais, “os demais foram mortos com so, e a igreja é a sua esposa escolhida. Nos tempos a espada que saía da boca do que estava assentado bíblicos, a união dos noivos propiciava uma cele­ sobre o cavalo, e todas as aves se fartaram das suas bração que durava uma semana. Amigos e vizinhos carnes”.

DEV OCIONAL______ Oh! Babilônia! (Ap 18.1-13)

Babilônia. A cidade dos homens. João escreve: “[Ela] se tornou morada de demô­ nios”. Se você se perguntar por quê, e desejar um gadrão com o qual comparar a Babilônia, escolha o Éden. No Éden, o homem vivia em harmonia com a natureza. Havia um relacionamento íntimo entre Adão e Eva, e entre o primeiro casal e Deus. A cena é pastoril; a impressão dominante é de harmonia e alegrias simples. Na quietude do Éden, há tem­ po para contemplar, tempo para descobrir, tempo para crescer e amadurecer. Em contraste, o clamor de construção ecoa por toda a Babilônia. A cidade é ruidosa pela sua atividade. Multidões agitadas correm de um lado para outro, ansiosas por sucesso, zelosas por obter algum luxo novo. O governo gentil de Deus é substituído por um governo autoritário que conserva o seu poder, servindo às paixões dos seus cidadãos e esmagando descuidadamente aqueles que se opõem. As lojas, cheias de bens desnecessários, estimulam os cida­ dãos a maiores esforços para ganhar mais. Em todos os lugares da Babilônia, há luxúria sem satisfação, realização sem alegria, sucesso sem contentamento. Na louca correria da Babilônia, a humanidade é aprisionada na busca do que não significa nada. Nas luzes da cidade, os olhos da humanidade ficam cegos para as verdadeiras questões da vida, como uma ma­ riposa é atraída para a chama que lhe tira a vida.

A Babilônia é uma armadilha planejada por Satanás, povoada pelos tolos, cheia dos detestáveis, rica em riqueza material, mas completamente empobrecida da moeda do céu. A Babilônia é uma morada de de­ mônios, uma armadilha para a humanidade. No ano que vem, guarde os seus motivos e vigie os seus desejos. A Babilônia está aqui, ao nosso redor. Não permita que ela seduza você.

Aplicação Pessoal

Aprenda a discernir aquilo que é demoníaco, mas que, para os outros, parece dar significado à vida.

Citação Importante

“O capítulo final da história humana é uma de­ cisão exclusiva de Deus. Neste exato momento, Ele está em todas as partes, ativo, concedendo a sua graça ou infligindo o juízo. Nunca, em toda a história, os homens falaram tanto sobre o fim dos tempos; no entanto, jamais estiveram tão envoltos pela ignorância da iminência do dia em que Deus trará a condenação.” — Cari F. H. Henry

30 DE DEZEMBRO LEITURA 364 O LAGO DE FOGO Apocalipse 20

“E a morte e o inferno foram lançados no lago defogo. Esta é a segunda morte” (Ap 20.14). O céu e o inferno são as realidades supremas.

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Apocalipse 20

Contexto

O reinado de mil anos. Esta é a única menção, na Bíblia, a um período de mil anos, durante o qual Cristo governa em nossa terra. Mas muitos dos temas vistos neste capítulo desconcertante são de­ senvolvidos de maneira bastante abrangente no Antigo Testamento, como também nos próprios ensinamentos escatológicos de Cristo. Um cenário que pode não ser correto, mas que é fascinante, ex­ plica o capítulo desta maneira: Depois que os exércitos da terra forem esmagados, no retorno de Cristo, a população sobrevivente vi­ vência o juízo descrito em Mateus 24. Muitos que entram no reino que Cristo governará são indiví­ duos não convertidos. Os cristãos, membros do corpo de Cristo, já se reuniram com Ele nos ares, como descreve 1 Tessalonicenses 4. Os mártires que vivenciam a “primeira ressurreição” são santos do Antigo Testamento ou crentes do período de Tribulação, como indica Daniel 12.4. Eles reinam com Cristo na terra por mil anos, cumprindo as predições dos profetas de uma era de paz sob o go­ verno do Messias. Apesar do ambiente ideal estabelecido por Cris­ to no Milênio, quando Satanás for libertado, no final da era, ele encontrará seguidores dispostos entre os descendentes dos sobreviventes, ansiosos por se rebelarem contra o Senhor. Esta rebelião final é rapidamente dominada, Satanás é enviado para o lago de fogo, e, neste ponto, o próprio uni­ verso dissolve-se, como descrito por Isaías e em 2 Pedro 3. Agora, tem lugar o Juízo Final. Os mortos com­ parecem diante de Deus, e todos os que não estão inscritos no livro da vida, isto é, que não deposi­ taram a sua confiança em Deus durante as eras da história, são enviados para o lago de fogo. Uma coisa me fascina, com relação a esta interpre­ tação de Apocalipse 20 e de muitas passagens do Antigo e do Novo Testamento que se integram a ela. Quando Deus advertiu Adão, no jardim do Éden, para que ele não desobedecesse, Ele disse: “no dia em que dela comeres, certamente morre­ rás” (Gn 2.17). Quando Adão pecou, a morte o atingiu: primeiramente, uma morte espiritual, e a partir dela, uma deterioração biológica. Náo im­ porta o que o homem conquiste no universo físico, a humanidade continua espiritualmente morta, com o trágico e incessante controle do pecado. Uma maneira de considerar a história sagrada é vêla como uma demonstração desse fato e da com­ pleta necessidade de salvação. Os seres humanos podem atribuir, e realmente atribuem, a culpa pelo crime e pela corrupção ao ambiente, à hereditarie­ dade, à influência de Satanás e a uma quantidade

de outros fatores, além do controle individual. Mas permanece o fato de que, por causa do pecado e da morte espiritual, essa dor e o mal ainda nos es­ preitam. Deus, em primeiro lugar, deu ao homem total li­ berdade, e o mundo tornou-se tão mal, que a raça teve que ser destruída no Dilúvio de Gênesis (Gn 6— 8). Então, Deus instituiu o governo humano, tornando o homem responsável pela correção do mal (9.6). E surgiram impérios antigos, e o orgulho e a ambição de seus governantes expressou-se em terríveis guerras e torturas. Então, Deus escolheu uma única família, a raça judaica, e fez o concerto de ser o seu Deus. Embora Ele lhes tivesse dado uma lei, que lhes mostrava como amá-lo e como amar ao próximo, Israel rebelou-se repetidas vezes, afastando-se para a idolatria. Então, Deus enviou um Salvador e proclamou um evangelho de perdão e transformação para todos. E o mundo ignorou o convite, preferindo buscar a satisfação de desejos pecaminosos. Assim, por fim, Cristo institui um reino onde a justiça é imposta: uma era dourada de paz e abundância, depois de removida a influência de Satanás. Mas, mesmo assim, quando Satanás for libertado, a humanidade alegremente se livrará da obrigação da bondade para rebelat-se novamente contra Deus. Nisto, toda a infâmia do pecado é, final e plenamente, revelada. E o homem, separa­ do da graça redentora de Deus, é realmente um pecador. Nessa demonstração histórica da característica pe­ caminosa da humanidade, vê-se a necessidade de um lago de fogo. Cada ser humano é importante demais para simplesmente perecer, como se jamais tivesse existido. E, porque o pecado é pecado, e os homens não redimidos estão verdadeiramente mortos, eles devem estar isolados para sempre da condição santa da eternidade.

Visão Geral

Concluída a última batalha, Satanás é acorrentado (20.1-3), e os mártires são ressuscitados dos mor­ tos para reinar com Deus (w. 4-7). Depois de mil anos, Satanás é libertado e novamente engana as nações, mas então é atirado no lago de fogo (w. 8-10). Então, este universo é dissolvido, e todos os mortos são julgados. Os que não constam do livro da vida são atirados no lago de fogo (w. 11-15).

Entendendo o Texto

“Eleprendeu o dragão”(Ap 20.1-3). “Não sei por que eu fiz isso”, dizem alguns cristãos. “Eu imagino que o Diabo me obrigou a fazê-lo”. Na melhor das hi­ póteses, esta é uma péssima desculpa. O Diabo pode nos tentar e nos incentivar a pecar, mas não pode nos

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“obrigar” a fazer nada. Ora, nem mesmo Deus quer nos “obrigar” a fazer alguma coisa. Ele simplesmente nos dá a liberdade de escolher. Seria bom se Satanás estivesse preso hoje. Eu imagino que boa parte da cor­ rupção que vemos em nossa sociedade desapareceria. Mas, mesmo se ele estivesse preso, você e eu continua­ ríamos responsáveis pela escolha entre o bem e o mal, entre a vontade de Deus e a nossa.

ser dogmático, tenho a impressão de que os planos de Deus são muito mais complexos e multifacetados do que até mesmo o mais criativo de nós pode imaginar. Ora, até mesmo os bons cozinheiros que conheci não ficaram satisfeitos em servir carne com batatas em todas as refeições. Eu suspeito de que o futuro que Deus colocará diante de nós será uma festa que excederá o ambiente mais generoso já concebido para uma corte real ou para um cruzeiro “E viveram e reinaram com Cristo durante m il anos” de luxo. (Ap 20.4). Os membros deste grupo são cuidado­ samente identificados. O fato de que não tinham “E o diabo... foi lançado no lago de fogo e enxofre” (Ap adorado a besta nem recebido a sua marca indica 20.7-10). Jesus nos diz que o lago de fogo estava que devem ter vivido e morrido durante os terrí­ “preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25.41). veis últimos anos, quando o Anticristo dominou. O inferno não foi formado tendo a humanidade Ainda assim, aqui há uma lição vital para nós. A em mente. O céu, sim. participação no mal pode parecer a escolha fácil, Esta é uma verdade importante à qual devemos nos ou até mesmo a escolha necessária, às vezes. Mui­ apegar. Deus fez todo o possível para conservar os tos empregados ficam quietos, apesar de cientes de seres humanos fora deste lago de fogo eterno. A ilegalidades nas práticas da sua empresa. Muitos experiência no Calvário foi um destino mais ter­ engenheiros ficam quietos, apesar de ter dúvidas rível para Ele do que o lago de fogo pode ser para quanto à segurança dos produtos que seu empre­ qualquer homem. No Calvário, aquEle que não gador fabrica. Muitas empresas de contabilidade conhecera pecado se fez pecado por nós, e o peso já tiveram ciência de práticas questionáveis enco­ esmagador do mal de toda a história marcou o san­ bertas por relatórios anuais criativos, e, quando se to Filho de Deus. refugiam por trás de “padrões contábeis aceitáveis”, A razão para alguns serem lançados no lago de fogo perpetuam fraude, em vez de perder uma conta. é que não corresponderam ao amor do Deus que Os mártires do livro do Apocalipse nos lembram se revela a todos os homens por meio da Palavra de que pode ser custoso assumir uma posição pelo universal da criação, bem como por meio da sua que é certo, mas que, no final, são grandes as re­ encarnação. (Veja o DEVOCIONAL.) compensas da justiça. “O livro da vida” (Ap 20.11-15). Este livro está ‘A primeira ressurreição” (Ap 20.5,6). Alguns obje­ presente tanto no Antigo Testamento como aqui. taram veementemente à noção de que pode haver Esta é a imagem de um livro em que é mantido um mais de uma ressurreição dos crentes mortos. Um registro daqueles que conhecem e amam a Deus. arrebatamento dos cristãos? Uma ressurreição es­ Malaquias 3.16 o chama “memorial” que foi “escri­ pecial para os mártires da tribulação? E outra para to diante dEle, para os que temem ao Senhor e para os santos do Antigo Testamento? Que confusão! os que se lembram do seu nome”. Aqui, é o livro da “Ora”, dizem, “Deus não faria algo ASSIM!” vida. E que nome apropriado! Talvez não. Mas eu sempre me sinto fascinado pe­ Ter o nome escrito ali é a diferença entre a vida las pessoas que estão completamente certas a res­ eterna e a perdição eterna; sim, entre a vida eterna peito do que Deus faria e não faria, ou poderia e no céu e a existência interminável no lago de fogo. não poderia fazer. Deve ser maravilhoso ter uma Como é bom saber que, quando cremos em Jesus compreensão tão segura das intenções de Deus. Cristo como o nosso Senhor e Salvador, os nossos Pessoalmente, embora eu não esteja preparado para nomes são registrados ali.

DEVOCIONAL______ O Lago de Fogo

(Ap 20.7-15) Há muitas imagens de punição eterna nas Escri­ turas. Porém, a que aparece com mais frequência é a de um vasto, sombrio e fumegante lago de en­ xofre, cujos vapores erguem-se tristemente rumo a

um céu de chumbo. O próprio Jesus usou um lin­ guajar como este. Ele falou de um lugar “exterior”. Um lugar de “trevas onde haverá pranto e ranger de dentes” (Mt 25.30). Um momento depois, Ele o chamou de “fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (v. 41). O surpreendente é que, em

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Apocalipse 21— 22

seu ensinamento, Jesus falou muito mais do fogo do inferno do que do céu! Você e eu sequer podemos começar a compreender o que é o lago de fogo, nem compreender plena­ mente a necessidade da sua existência eterna. Não há palavras que suavizem a impressão dada nas Es­ crituras, não há argumentos que tornem este des­ tino terrível palatável. Tudo o que podemos fazer é confessar que as Escrituras ensinam que o lago de fogo fumega ali, no final da história; e confessar que Deus é amor, e que, pelo sacrifício eterno do amor, Ele ofereceu a cada ser humano um caminho de fuga.

Que lembrete para nós! Se é necessário que Deus substitua um bilhão de galáxias, remova incontá­ veis milhões de anos-luz da terra, e tudo por causa dos pecados humanos, que terrível deve ser o pe­ cado! E com que rapidez devemos nos afastar da tentação! “A Nova Jerusalém” (Ap 21.2-4). O significado real de Jerusalém na história é que é o único lugar na terra que Deus escolheu para estar presente com os homens. A história da consagração do Templo re­ lata que a glória de Deus o encheu. Ele instalou-se ali para estar acessível a todos que o adoravam em Israel. Dessa maneira, a Jerusalém terrena serve de metáfora para a cidade celestial, destinada a ser a Aplicação Pessoal Que as imagens das Escrituras sobre o lago de fogo capital do novo céu e da nova terra. aprofundem a sua percepção sobre o que significa Deus estava presente na Jerusalém terrena, mas iso­ lado do seu povo pelas cortinas e paredes do Templo. ser salvo. A Nova Jerusalém é um céu, porque ali não haverá mais separação entre Deus e os homens. Ele estará Citação Importante “Eu não posso pregar sobre o inferno, a menos que conosco e “limpará de [nossos] olhos toda lágrima”. o faça com lágrimas.” — D. L. Moody “A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida” (Ap 21.6-8). Isaías usou esta

31 DE DEZEMBRO LEITURA 365

mesma comparação, clamando:

“EIS QUE VENHO CED O ” Apocalipse 21— 22

“O Espírito e a esposa dizem: Vem! E quem ouve diga: Vem! E quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida” (Ap 22.17).

A mensagem final que Deus tem para nós é um convite para irmos para o céu.

O vós todos os que tendes sede, vinde às águas, e vós que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem pre­ ço, vinho e leite (Is 55.1).

Da mesma maneira, Deus diz aqui: “de graça lhe darei da fonte de água da vida”. Deus cria um novo céu e uma nova terra onde ha­ O céu é nosso, sem nenhum custo para nós. Mas o bitará com os homens (21.1-5), de onde estarão inferno é ganho através dos atos de incredulidade e excluídos os ímpios (w. 6-8). Uma Jerusalém ce­ infâmia que os homens realizam. lestial servirá de capital da terra recriada (w. 9-21), e o próprio Deus estará ali (w. 22-27). Não haverá “E tinha a glória de Deus” (Ap 21.9-21). A Nova mais maldição nem noite, mas todos serviremos a Jerusalém é o que é mais cuidadosamente descrito Deus e veremos o seu rosto (22.1-6). A visão ter­ nestes capítulos. Possivelmente porque a cidade é a mina com uma advertência (w. 7-11), um convite residência de Deus, que é o foco da eternidade. aberto (w. 12-17) e a certeza de que Jesus virá em Alguns escarnecedores quiseram divertir-se muito com a Cidade Santa. Embora seja um quadrado de breve (w. 18-21). mais de 2.200 quilômetros de lado, alguém calcu­ lou que dificilmente caberia ali uma fração das pes­ Entendendo o Texto “Um novo céu e uma nova terra” (Ap 21.1). Tan­ soas que devem ter vivido desde os dias distantes de to Isaías quando Pedro descrevem vividamente a Adão até os nossos. dissolução do universo material. Em 2 Pedro 3.10, “O céu não é suficientemente grande!”, anunciou. está dito: “Os céus passarão com grande estrondo, E os jornais realmente pegaram as suas palavras e e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as as publicaram como o título de uma história sobre obras que nela há se queimarão”. Não há lugar na as suas descobertas! eternidade para um universo que foi corrompido Naturalmente, até mesmo uma leitura descuida­ da e desatenta do texto de Apocalipse 21 revela pelo pecado.

Visão Geral

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Apocalipse 21—22

que a cidade está em uma terra restaurada, no centro de um universo restaurado, e que a cidade NÃO é o “céu”. Mas ninguém incomodou-se em verificar o texto da Bíblia. Nem o escarnecedor com a régua de cálculo. E, certamente, nem os editores dos jornais que imprimiram as suas des­ cobertas. Como é triste quando as pessoas apegam-se a al­ gum detalhe do texto e o distorcem, e anunciam, uma vez mais, que a credibilidade da Bíblia não foi provada. Como é triste quando, ao lermos a res­ peito de uma eternidade que todos nós deveremos enfrentar, percebemos que é ignorada a promessa: “de graça lhe darei da fonte da água da vida”. Esta é a história real em Apocalipse 21. Não os de­ talhes de como pode ser a vida quando o tempo chegar ao fim, mas o convite para fazer de Deus o nosso Deus; a promessa de Deus na qual Ele disse: “Eu serei seu Deus” (v. 7). “O seu templo é o Senhor, Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro” (Ap 21.22-27)- No livro dos Salmos, há

uma sequência de poemas conhecidos como “cân­ ticos de ascensão” (SI 120— 134). Estes cânticos eram entoados por peregrinos quando se aproxi­ mavam de Jerusalém para adorar, ou, como acre­ ditam alguns comentaristas, por levitas quando se posicionavam em um dos 15 degraus que, diz a tradição, conduziam ao Templo, a partir do átrio. Eram cânticos de alegria, cânticos de louvor, cân­ ticos que expressavam a sensação de grande privi­ légio dos adoradores, quando eles se aproximavam da residência de Deus na terra. Pense no que significa, para o céu, não ter templo. E pense nos cânticos de alegria que nós cantaremos. Pois quando, na eternidade, entrarmos na Nova Je­ rusalém, não estaremos entrando em um edifício que representa a presença de Deus, mas indo ao próprio Deus. E todo o nosso ser transbordará de louvores e deleite. “Nunca mais haverá maldição” (Ap 22.1-5). Isto, com a presença pessoal de Deus, é o que há de mais maravilhoso sobre o céu. Nunca mais haverá maldição. Por fim, nós nos sentiremos livres. O po-

DEVOCIONAL______ O Céu (Ap 21.22—22.5)

Donald Grey Barnhouse costumava especular, em sua classe de estudos bíblicos em Nova York, às segundas-feiras à noite: Como é o céu? Ele não sa­ bia, é claro. Mas ele tinha certeza de que Deus tem prodígios indescritíveis em mente.

tencial que Deus semeou em solo humano, quando criou a humanidade à sua própria imagem, será, por fim, libertado do câncer que nos devora agora. “Ainda não é manifesto o que havemos de ser”, diz João, “mas sabemos que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é o veremos” (1 Jo 3.2). Nós o serviremos, diz o texto. Veremos o seu rosto. E reinaremos para todo o sempre. Não podemos imaginar tudo o que significa servir a Deus e reinar. (Veja o DEVOCIONAL.) Mas, se você quiser sonhar, sonhe com a libertação da maldição do pecado; sonhe tornar-se a pessoa que Deus sempre desejou que você fosse. E sonhe ver Deus face a face. “Próximo está o tempo ” (Ap 22.10-17). Pode parecer estranho ler: “Quem é injusto faça injustiça ainda”, e: “quem é justo faça justiça ainda”. Pelo menos, parece estranho até que sintamos a urgência do contexto. Jesus clamou: “Eis que presto venho” (v. 7), e imediatamente clamará a mesma coisa outra vez (v. 12). Quando Jesus vier, o nosso destino estará fixado. Hoje, ainda há tempo para aquele que age mal arrepender-se. Quando Ele retornar, a porta para a oportunidade se fechará. Ele vem cedo. Todo homem precisa ouvir este cla­ mor de advertência e responder, enquanto o Espí­ rito e a noiva ainda dizem: “Vem!”. “A mém! Ora, vem, Senhor Jesus!” (Ap 22.18-21).

Quanto mais conhecemos da vida na terra, mais atraente é o céu. O jovem sonha com o ano que vem, com o casa­ mento, com promoções no emprego. A pessoa de meia idade sonha com a aposentadoria. E os idosos sonham com os anos anteriores. Como é triste, se todos os nossos sonhos forem sobre a vida nesta ter­ ra, de dias e noites fugazes e de alegrias passageiras. O cristão que examinou a terra e viu que ela é um vazio tem um sonho diferente. Nós olhamos para cima e, em nosso devaneio, imaginamos um to­ que alto de trombeta. E, com os santos de todos os tempos e lugares, clamamos: “Amém! Ora, vem, Senhor Jesus!”. “Eu espero que um dia Deus me diga: ‘Donald, vá criar um mundo e povoe esse mundo, e o governe para mim’”, dizia Barnhouse. De alguma manei­ ra, ele sentia que o universo inteiramente recriado, com suas miríades de galáxias e estrelas incontáveis, deveria estar repleto de seres que amavam e ado­ ravam a Deus e encontravam grande alegria nEle.

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Para Barnhouse, esta terra e a nossa raça eram ape­ nas uma semente. E, quando esta semente brotasse, e a história tivesse seguido o seu curso, uma hu­ manidade redimida seria o instrumento pelo qual Deus espalharia o conhecimento de si mesmo por uma multidão infindável de mundos possíveis. Talvez. Sem dúvida, os propósitos de Deus têm um escopo que excede a nossa imaginação mais exal­ tada. Mas estes capítulos finais do livro do Apocalipse deixam uma glória excessivamente clara. Quando este mundo terminar, nós conheceremos a Deus. Andaremos sob a sua luz, libertados para sempre da maldição do pecado. Liberados para servi-lo, para ver o seu rosto e para amá-lo da maneira como de­ vemos amá-lo. E, para nós, é suficiente. Pois a verdadeira definição de “céu” é: “O céu é onde Deus está”. E é onde nós estaremos.

Não é de admirar que João, que viu tudo, clame: “Amém! Ora, vem, Senhor Jesus!”.

Aplicação Pessoal

A maior bênção que o ano-novo poderia trazer é o retorno de Cristo.

Citação Importante

“Ele não nos dará todas as coisas, quando estiver­ mos com Ele? Como será a nossa vida e a nossa na­ tureza, quando as suas promessas para nós tiverem sido cumpridas! Como será o espírito do homem, quando colocado acima de toda maldade, que do­ mina e subjuga; quando, terminada a batalha, esti­ ver completamente em paz!” — Agostinho

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O Plano de Leituras Selecionadas continua em 1 JOÃO

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Comentário Devocional da Bíblia - Lawrence O

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