O racionalismo cartesiano

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2ª Fase - O racionalismo cartesiano

Investigando caminhos

 

 

No século XVII, a Revolução Científica tinha alcançado seu auge: já havia a consciência de que algo, por estar escrito na Bíblia, não constituía um conhecimento do tipo científico. Ou seja, já se separava conhecimento e fé. Os trabalhos de pensadores como Giordano Bruno, Nicolau Copérnico, e Galileu Galilei haviam conseguido romper muito o domínio do discurso religioso sobre a ciência. Não que se pudesse falar livremente, discordando de tudo o que a Igreja afirmava, mas os cientistas podiam propor suas teorias com base em algum tipo de experimentação sem serem condenados por causa disso. Ou seja, nessa época os cientistas tinham liberdade com relação ao método que adotavam para a realização dos seus trabalhos (podiam fazer experimentação em laboratório), mas não tinham grande liberdade para anunciar as conclusões destes trabalhos (basta pensarmos que Bruno foi morto pelo tribunal da inquisição e que Galileu teve que voltar atrás em algumas opiniões para evitar o mesmo destino). Como consequência, os filósofos e cientistas da época acabavam tendo que deixar subentendidas as conclusões das suas teorias. Ou seja, não podendo dizer tudo o que queriam, simplesmente davam a entender alguns aspectos centrais do seu pensamento. Não pretendiam simplesmente dizer aquilo que a censura da igreja lhes permitia, para não repetirem a visão religiosa do mundo. Mas, se todas as suas opiniões fossem explicitadas, certamente teriam problemas com a Igreja. Para resolver isso, eles deixavam mensagens ocultas nos textos que publicavam. Seria algo do tipo: ‘ao bom entendedor, meia palavra basta’. Expunham o problema sobre o qual estavam tratando de tal maneira que, para o leitor que também conhecesse ciência, seria óbvio aquilo que queriam falar, mas sem que isso pudesse gerar algum tipo de crítica pela Igreja. Com isso, a palavra método se torna muito importante para o trabalho do cientista, pois é por ele que as conclusões são afirmadas. Ou seja, é de acordo com o método escolhido que os resultados se determinam. Ele é uma espécie de caminho segundo o qual, uma vez escolhido, os resultados são obtidos de maneira necessária. Uma boa apresentação do método já contém em si mesma os resultados. Assim, as disputas entre os cientistas deixam de ser disputas acerca de conclusões (já que não podiam explicitar tudo o que queriam dizer), para ser uma disputa acerca do meio correto para representar aquilo que seu pensamento compreendia. Nesse sentido, cabe lembrar que havia muitos debates sobre a forma correta de fundar o conhecimento científico. Ou seja, além de ludibriar a perseguição da Igreja, o cientista deveria provar frente aos outros cientistas a validade das suas ideias. Por um lado, havia pensadores que achavam que a ciência deveria começar com os dados do mundo real, de modo que a observação daria conta de construir o conhecimento. Para esse pensamento, os órgãos dos sentidos (visão, olfato, audição, etc.) seriam as ferramentas de que o ser humano dispõe para conhecer o mundo (empirismo). Os principais defensores dessas ideias foram Francis Bacon, Thomas Hobbes e John Locke.

  Para os empiristas, o conhecimento depende unicamente das informações que os sentidos nos trazem. Contrariamente, outros pensadores pensavam que não dá para conhecer o mundo só com base nas sensações, deixando a razão em segundo plano. Para eles, o conhecimento começa pela inteligência e só depois se volta às coisas do mundo (racionalismo). O principal argumento desses pensadores era a certeza do conhecimento matemático: a matemática é inteiramente construída na inteligência e só depois é aplicada às coisas do mundo. Esse é, para os racionalistas, o procedimento correto, o método pelo qual o conhecimento se constrói acima de qualquer dúvida.

A matemática é o modelo de conhecimento para os racionalistas.

 

Um exemplo da concepção de ciência dos racionalistas seria o caso da química. O químico sabe que os sais de sódio e cálcio são ambos de cor branca. Assim, ao coletar a amostra de minério branco, para ele é clara a ideia de que ainda não ‘conhece’ o material que tem em mãos. Ou seja, justamente por ter um conhecimento, o químico sabe que aquilo que observa nesse material (a cor branca) ainda não lhe dá nenhuma certeza sobre sua constituição química. Essa é a ideia dos racionalistas: nada pode ser conhecido diretamente pela observação, mas a observação depende do conhecimento para atingir alguma certeza sobre aquilo do qual trata. Assim, os racionalistas acusam os empiristas de serem ingênuos, pois acreditam que as propriedades das substâncias do mundo podem ser diretamente conhecidas por meio da observação.

  Para os racionalistas, o pensamento é a única forma de diferirmos substâncias diferentes que têm a mesma aparência. Essa distinção feita pelos racionalistas é muito importante. Pensemos na utilidade que a química tem para a medicina. Um medicamento deve ter a substância certa na medida certa. Se o cientista não for capaz de distinguir substâncias diferentes (achando que todo sal branco corresponde à mesma substância), ele estará dando ao médico o material errado para o tratamento das doenças. Imaginemos o tratamento da azia estomacal por meio do bicarbonato de cálcio (sal branco e alcalino), se por acaso o médico se enganasse e desse ao paciente hipoclorito de sódio (sal branco e ácido). O paciente sofreria dores ainda maiores, pois aumentaria sua acidez estomacal, embora tivesse tomado o medicamente prescrito pelo médico. O principal pensador racionalista do século XVII foi René Descartes. Para defender sua ideia racionalista sobre a ciência de

modo a tanto objetar às ideias empiristas, como de não se indispor com a Igreja, Descartes desenvolve uma forma genial de apresentar seu pensamento: Descartes compara Deus à noção matemática de infinito, tornando Deus o fundamento do conhecimento científico.

Capa da primeira edição da obra Meditações Metafísicas de Descartes (1641) (fonte: http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u43.jhtm). Como ele faz isso? Bem, vejamos as ideias que ele expõe em duas obras: O Discurso do Método e as Meditações Metafísicas. Nelas, Descartes começa criticando aquilo que justamente é a ideia principal dos pensadores empiristas, ou seja, a experiência como o princípio do conhecimento: ““assim, por que os nossos sentidos nos enganam, quis supor que não havia coisa alguma que fosse tal como eles nos levam a imaginar” (DESCARTE, René. Discurso do Método. São Paulo Martins Fontes, 1996, p. 37). Ou seja, Descartes não fala de uma dúvida comum, com a qual podemos conviver, mas do abandono de todo o conhecimento adquirido através da observação. Ou seja, adota um ceticismo radical. Não há como construir o conhecimento sem ter eliminado absolutamente a dúvida. Mas poderíamos argumentar que isso seria válido para algo que em algum momento tenhamos visto de longe e que depois, nos aproximando, tenhamos visto que não era bem como parecia. Descartes continua: e como afirmar que as coisas que vejo tratam de fato de conhecimento? Mesmo aquilo que me parece mais certo (algo que vejo de perto) ainda assim não é confiável: posso estar sonhando, quando afirmo que conheço algo que na verdade sequer existe. A dúvida de Descartes continua: sequer as certezas mais simples podem ser aceitas, como no caso de quem afirma que conhece as formas geométricas ou as cores. Essa pessoa poderia afirmar que não depende de estar enxergando um quadrado ou a cor azul para saber que isso existe, ou seja, que é um conhecimento verdadeiro. Descartes objeta que essas ideias bem poderiam ter sido postas na mente da pessoa por uma espécie de “gênio maligno” ou um “deus enganador”, que tivesse o poder de fazer as pessoas acreditarem, e mesmo de pensarem, em coisas que de fato não existem. Essa pessoa estaria fantasiando e não poderia dizer que tem verdadeiramente um conhecimento.

Para Descartes, o começo do conhecimento pressupõe um distanciamento do mundo real, necessário ao indivíduo constituir por si próprio as condições de certeza do conhecimento. Mas então esta pessoa não teria conhecimento algum? Não, objeta Descartes, uma coisa jamais pode ser posta em dúvida: “eu penso, logo existo”. Mesmo quando a pessoa constata que não conhece nada do mundo, ela não pode afirmar que ela própria não existe. A pessoa que diz ‘eu não conheço nada’ ainda assim está afirmando a sua própria existência (ou, contrariamente, cometeria uma contradição ao afirmar ‘eu não existo’). O Eu é o que há de mais certo no conhecimento humano, é a partir do Eu que todo o conhecimento deve se fundar. A pergunta então seria: mas de que adianta conhecer só o Eu? Pois, se a pessoa deve duvidar de todas as outras coisas, de nada serve para ela simplesmente ter certeza da sua própria existência. Descartes então mostra a importância do Eu: o Eu é quem opera o pensamento, cada vez que afirmo um conhecimento, eu estou afirmando ‘Eu conheço’. Mesmo que não se possa afirmar nada certo sobre a realidade externa, o conhecimento que o Eu formula a partir de si próprio, sem depender de mais nada, será sempre verdadeiro. Pensemos no caso da matemática: para se conhecer matemática não se depende de mais nada. Mesmo que duvide da existência do resto do mundo (como afirmou Descartes), se pode só a partir do Eu ter certeza de que ‘5 + 3 = 8’. Não preciso ter cinco objetos reais dum lado, mais três objetos reais de outro para confirmar essa verdade matemática, o pensamento dá conta disso por si próprio. Por conseguinte, quem conhece matemática sabe que a ideia dos números é uma espécie de progressão ao infinito. Ou seja, sabe que pode contar infinitamente a partir dos números, que eles nunca terão fim, mas que nem por isso eles são números menos verdadeiros. A pessoa pode usar os números pequenos em suas contas, tendo certeza dos resultados que obtém, bem como pode usar esses números pequenos para obter números sempre maiores, os quais serão tão confiáveis quanto os outros. Ou seja, o Eu que conhece matemática sabe que o infinito, ainda que jamais possa ser atingido, não desqualifica a sua capacidade de conhecer: pode pensar um número gigantesco e ainda assim realizar contas com ele tendo a certeza de que o resultado será verdadeiro. Logo, ao pensar o infinito, o Eu tem a certeza de estar nele contido, ou seja, todos os seus pensamentos estão relacionados aos momentos (finitos) que compõem o infinito. Esses momentos são os números que o Eu pensa e que sempre estão contidos no infinito. Assim, o infinito é a garantia de que o pensamento do Eu compreende a verdade. Descartes então compara o infinito com Deus, afirmando que o pensamento do Eu tem condições de por si próprio conhecer a verdade.

(Fonte: http://magopatologico.wordpress.com/2009/01/20/deus-existe-silogismo-matematico-filosofico/). Ao comparar a noção matemática de infinito com Deus, Descartes inverte a compreensão cristã medieval sobre a ordem do

universo. O infinito deixa de ser o que é anterior e mais certo, pois passa a ser encarado como aquilo que depende do pensamento, ou seja, o que só pode ser pensado a partir do homem. Nesse sentido, o finito precede o infinito.

As consequências religiosas e políticas da razão matemática cartesiana. Mas o que isso tudo significa? Vejamos: o Eu não depende de nada mais para ter certeza das operações matemáticas que realiza, desde que essas operações sempre digam respeito a quantias finitas e determinadas. Sempre que faz uma conta com um número definido, pode ter certeza do resultado que afirma. Além disso, por si próprio o Eu pode pensar o infinito: para qualquer número que pense, sempre poderá pensar um número maior. Isso significa que tudo aquilo que a inteligência compreende a partir de si própria (como no caso da matemática), constitui um conhecimento verdadeiro. Igualmente, afirma que esse ‘ir além’ da inteligência (como no caso de pensar o infinito), sempre irá conferir a sua capacidade de conhecer: não importa qual objeto do mundo a inteligência tome, ela tem o poder de conhecê-lo.

Dessa forma, Descartes refutou o argumento dos filósofos e cientistas empiristas, que afirmavam que o conhecimento começa pela observação do mundo. Contrariamente, a matemática mostra que o conhecimento tem como caminho seguro a inteligência. Somente seguindo a própria inteligência, o Eu superou a dúvida que o conhecimento trazido pela observação não foi capaz de resolver.

Para Descartes, a matemática torna nossos raciocínios seguros porque seus resultados não dependem do conteúdo sobre o qual tratam.

Ainda, Descartes consegue afirmar suas ideias sem se indispor com a Igreja. Imaginemos as consequências da sua afirmação de que o Eu é suficientemente capaz para conhecer o mundo, sem depender de nada mais senão da sua própria inteligência (por afirmar algo semelhante, Galileu quase foi morto pelo tribunal da Inquisição). Mas Descartes afirma isso através da comparação de Deus com o infinito, ou seja, põe em Deus a garantia das operações finitas feitas pelo Eu. Essas ideias bem poderiam ter sido expostas sem usar a ideia do infinito: ninguém pensa no infinito ao realizar uma operação matemática, e ainda assim tem certeza do resultado que obtém. Mas, pela figura do infinito, Descartes, ainda assim, está afirmando ser Deus que permite ao homem conhecer o mundo. Por usar esta forma de exposição das suas ideias, Descartes não tem nenhum problema com a censura da Igreja.

A matemática do mundo conforme a filosofia cartesiana. Mas uma pergunta ainda assim permanece: como exatamente a matemática dá conta de justificar o conhecimento que as pessoas têm do mundo? Ora, Descartes justamente desenvolve uma maneira de representar as coisas da realidade, mostrando que elas podem ser totalmente compreendidas através da matemática: as coordenadas cartesianas. Elas são um gráfico construído por meio de dois eixos (X e Y), muito importante para a geometria, em que valores são associados em acordo à proporção que devem seguir, de modo que o aumento de um valor signifique o aumento do outro valor. Imaginemos o caso de um construtor que sabe que, a cada dois metros de parede, deve inverter uma pedra do alicerce, aumentando a sustentação da base da construção. Se ele não fizer de forma correta esta ‘proporção’, todo o prédio acabará caindo. As coordenadas cartesianas vão justamente representar a relação entre a metragem da parede e a quantidade de pedras necessárias. Para tanto, representarão a metragem da parede no eixo vertical (Y) e a quantidade de pedras no eixo horizontal (X). Um aspecto interessante a observar é que, nas coordenadas cartesianas, o ponto zero (onde X e Y se encontram) não representa valor algum, mas é a partir dele que os valores progridem. O ponto zero é a referência para as grandezas serem representadas e é a partir dele que elas mantêm a sua devida relação. Ou seja, no ponto zero vemos a representação do Eu no plano gráfico que corresponde à matematização das coisas do mundo através do pensamento.

Pelas coordenadas cartesianas podemos ver como uma determinada proporção entre valores progride, ou seja, como esses valores se mantêm proporcionais à medida que as grandezas aumentam.

A importância do método para o sujeito moderno – uma aposta na razão.

 

   

 

Ensino Médio - 2ª Fase - TEMA: O RACIONALISMO CARTESIANO

Giordano Bruno(1548-1600) nasceu em uma província de Nápoles, Nola. Como São Tomás de Aquino, ingressou cedo na ordem religiosa dominicana. Era filho de João Bruno, um militar italiano e Flaulissa Savolino. Com um caráter contestador, leva uma vida nômade, suscitando opiniões contrárias e perseguições à sua pessoa. Bruno tinha uma visão panteísta do mundo, dizia que tudo está em tudo. Foi um humanista, corrente filosófica do renascimento cujo principal representante é Erasmo. Bruno era defensor do infinito cósmico e de uma nova visão do homem. A filosofia do seu tempo estava baseada nos clássicos antigos, principalmente Aristóteles e Bruno teorizou contrariamente à eles. Não era um cientista, e não valorizava a matemática, desenvolveu sua filosofia baseado nas suas intuições e vivências fora do comum. É certo que teve sólida formação clássica, e conhecia as novas idéias do renascimento, mas teve também um caráter místico, sendo considerado por muitos um místico. Bruno era um visionário, falava de suas visões religiosas. Perambulou pela Itália, até Genebra, onde se inscreve numa faculdade. Muda-se e vira professor, ensinando aquele que criticou: Aristóteles. Vai para a Inglaterra, onde freqüenta o meio intelectual ligado à corte da rainha Elisabeth. É obrigado a fugir porque, entre outras coisas atacou a física peripatética. Continua sua vida errante. Na sua cosmologia, constante em suas obra elabora a teoria de que o universo é infinito, povoado por milhares de sistemas solares, e com outros planetas contendo vida inteligente. Pois o universo inteiro está vivo, existe uma vida que anima tudo o que existe, como por exemplo os astros, os minerais. Foi influenciado por Nicolau da Cusa, Copérnico e Giovanni Della Porta. Mas é original. E foi além da teoria universal de Copérnico, pois aceitou o infinito. Afirma que tudo que existe na Terra forma um sistema. Bruno é animista. O animismo fala que uma só alma é o princípio da vida. Todos os seres tem uma finalidade. Todas as coisas são animadas no universo. Para Bruno, Deus é a força criadora perfeita que forma o mundo e é imanente à ele. Nesse ponto é contrário a Nicolau da Cusa. Mas, como esse, é monista. Para ele Deus é a mônada das mônadas. A teoria das mônadas foi retomada mais tarde por Leibniz. Os erros de teorização provém do fato de sermos espíritos limitados no universo ilimitado. Bruno aceita os poderes humanos extraordinários. Ridicularizou os milagres de Cristo e outras dogmas católicos, como a aceitação da virgindade de Maria. Suas obras principais são: Da causa, do princípio e do Uno e Do universo finito (1585). http://www.consciencia.org/bruno.shtml

 

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Nicolau Copérnico (Nikolas Kopperlingk) nasceu em Thorn, na Polônia, em 19 de fevereiro de 1473. Era filho de um próspero comerciante também chamado Nicolau e de Bárbara, irmã do cônego e depois bispo polonês Lucas Wacsenrode. [...] Em 1530, já se dedicando inteiramente a Astronomia, termina sua grande obra, De revolutionibus orbium coelestium (Sobre as revoluções das esferas celestes), onde afirma que a Terra gira em torno de seu próprio eixo uma vez por dia e viaja ao redor do Sol uma vez por ano. Nascia assim o sistema heliocêntrico, uma idéia fantástica para a época. No tempo de Copérnico, papas, imperadores e o povo em geral tinham como certo que a Terra estava absolutamente parada no centro do Universo, e ao nosso redor desfilavam todos os corpos celestes. Também não eram poucos os que acreditavam que a Terra era chata. E desafiar tais crenças poderia ser considerado heresia. De revolutionibus orbium coelestium foi publicada somente 30 anos após ser escrita, no ano da morte do próprio Copérnico, que nunca tomou conhecimento da grande controvérsia que havia ajudado a criar. Conta a história que ele faleceu uma hora depois de por as mãos no primeiro exemplar de seu livro, em 24 de maio de 1543. O sistema de Copérnico, embora revolucionário para a época, também sofria sérias imperfeições. Uma delas era supor as órbitas dos planetas rigorosamente circulares. Sem dúvida, seu grande mérito foi a defesa e desenvolvimento do heliocêntrismo durante boa parte da vida. Entre os ferozes opositores estavam tanto os doutores da Igreja Católica quanto ardorosos reformadores protestantes, como Lutero e Calvino.[...] Pelos dogmas religiosos da época, se Deus havia criado a Terra e o Homem para povoá-la, sendo a criatura imagem do Criador, seríamos portanto superior as demais criaturas. O Universo existia apenas para que o contemplássemos. O Filho de Deus estava no centro do cosmos, no centro de todas as coisas. NA VERDADE NOSSO PLANETA SE MOVE em torno de uma estrela anã que está na periferia da galáxia – uma entre bilhões de outras ilhas de estrelas do cosmos. A Terra surgiu há 4,6 bilhões de anos e nossa espécie começou a evoluir há menos de 2 milhões de anos, tendo sido sendo precedida de muitas outras. A grande sabedoria está em conceber nosso íntimo parentesco com todos os outros seres deste mundo e na humildade de aceitar que Universo vai continuar depois de nós. A obra de Copérnico foi o alicerce no qual se apoiaram outros grandes pensadores da humanidade, como Galileu, Kepler, Newton e mais recentemente Albert Einstein. COSTA, José Roberto V. Nicolau Copérnico. Retirado do site: http://www.zenite.nu/ .

 

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Galileu nasceu em 15 de fevereiro do ano de 1564 na cidade de Pisa, Itália, no mesmo século em que morreu o monge polonês Copérnico (1473-1543) e nasceu o excêntrico dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601) e o alemão Johannes Kepler (15711628), que por ter arquitetado as três leis mais importantes do movimento planetário ficou conhecido como o “legislador dos céus”. Porém, diferentemente destes, que sempre mantiveram fortes laços com a mística da Idade Média, Galileu ousou romper com a filosofia do grego Aristóteles (384-322 a.C), tão em voga entre os intelectuais da Europa de 400 anos atrás, quando a maioria das pessoas trabalhava na agricultura ou eram artesãos, e pouquíssimas crianças iam à escola. [...] NAQUELA MESMA ÉPOCA, uma aula de geometria na universidade fez com que seu interesse migrasse para a Física. Galileu abandona a universidade em 1585 sem se tornar médico e começa a estudar matemática. De suas meditações sobre lâmpadas suspensas e oscilantes surgiram as leis do pêndulo – e destas, mais tarde, a invenção do relógio de pêndulo, pelo holandês Christiaan Huygens (1629-1695).Ocupando a cátedra de matemática no “Studio de Pádua”, Galileu realizou várias experiências sobre o problema de queda dos corpos. Para demonstrar que Aristóteles estava errado quando afirmou que “a velocidade de um corpo em queda é razão direta de seu peso”, realizou experiências com bolas de ferro rolando sobre um plano inclinado. Galileu aperfeiçoou a luneta, inventada pelo holandês Hans Lippershey (1570-1619) e em 1610 observou montanhas e crateras na Lua, manchas no Sol e quatro satélites em volta de Júpiter. Suas descobertas tiraram a importância do Homem como centro do Universo, maculando a perfeição dos céus. Ao criticar abertamente a física aristotélica e o sistema geocêntrico de Ptolomeu (127-145 d.C.), o sábio italiano acabou recebendo sua primeira advertência formal da Inquisição, que condenava as teorias sobre o movimento da Terra e proibia o ensino do sistema heliocêntrico de Copérnico. Quando em 1632 Galileu publicou seu polêmico “Diálogo sobre os dois maiores sistemas do mundo”, logo recebeu uma ordem para se apresentar em Roma. COSTA, José Roberto V. Galileu. Retirado do site: http://www.zenite.nu/

 

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Galileu, culpado de heresia por defender a ideia de que o Sol gira em torno da Terra, aos 69 anos de idade, para evitar a condenação à morte, foi obrigado a ajoelhar-se perante o Tribunal da Santa Inquisição e a proferir a seguinte abjuração: "Eu, Galileu Galilei, filho do falecido Vincenzio Galilei de Florença, com a idade de setenta anos, sendo trazido pessoalmente a julgamento, e ajoelhado diante de vós, Eminentíssimos a Reverendíssimos Lordes Cardeais, Inquisidores Gerais da Comunidade Crista Universal contra a depravação herética, tendo diante de meus olhos o Sagrado Evangelho que toco com as minhas próprias mãos, juro que sempre acreditei, e, com a ajuda de Deus, acreditarei no futuro, em todo artigo que a Santa Igreja Católica Apostólica Romana mantém, ensina e prega. Mas por ter sido ordenado, por este Conselho, a, abandonar completamente a falsa opinião que mantém que o Sol é o centro e imóvel, e proibido de manter, defender ou ensinar a referida falsa doutrina de qualquer maneira (...) Estou desejoso de remover das mentes das nossas Eminências, e de todo Cristão Católico, essa veemente suspeita acertadamente mantida a meu respeito, portanto, com sinceridade de coração e fé genuína, eu abjuro, maldigo e detesto os referidos erros e heresias, e, de modo geral, todos os outros erros e seitas contrários à referida Santa Igreja.” Fonte: http://blogdasabedoria.blogspot.com/2005/06/o-julgamento-de-galileu.html

 

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Francis Bacon- (1561-1626) nasceu no dia 22 de janeiro na York House, Londres, na casa de seu pai, Nicholas Bacon. Nicholas ocupou um cargo de importância no reinado de Elizabeth I. Bacon também participou ativamente da política. A mãe de Bacon foi Anne Cooke, também fazia parte da elite inglesa. Era uma mulher com cultura, que deu base cultural e teológica, para Bacon, estimulando nele o zelo, a dedicação e a severidade. Na Inglaterra havia acontecido a implantação do anglicanismo, religião oficial imposta por Henrique VIII. Essa reforma religiosa acarretou transformações políticas e sociais e assim surgiu uma pequena nobreza, a qual Bacon estava ligado. A Inglaterra estava próspera naqueles dias, pois tinham uma poderosa marinha militar e mercante que derrotara os espanhóis. Os piratas ingleses, apoiados pela rainha, saqueavam e navegavam pelo globo. Os Estados Unidos eram da Inglaterra.[...] É no Novo Órganon que Bacon dá vida à lógica. Para se estabelecer o progresso das ciências primeiro temos de destruir os ídolos. Um ídolo é um retrato considerado como se fosse uma realidade, um pensamento confundido com a coisa. Uma deturpação, um erro, que está arraigado na mente e nas atitudes humanas. Bacon nomeia quatro ídolos: primeiro os ídolos da tribo, são normais em toda a humanidade. O homem, sendo o padrão das coisas, faz com que todas as percepções dos sentidos e da mente sejam tomadas como verdade, sendo que pertencem apenas ao homem, e não ao universo. Bacon compara a mente aos espelhos côncavos e convexos que desfiguram a realidade. São muitos os ídolos da mente, que simplificam o mundo e causam superstições. A percepção do homem está moldada para reduzir o complexo ao simples, realçando o que lhe é favorável. É a inércia do espírito, e estaria presente na astronomia, na cabala e na astronomia. Segundo Bacon, pensamentos retratam o homem mais que o objeto. Deve-se ter muitos cuidados ao lidar com esses ídolos, pondo sob suspeita suas convicções[...]Bacon influenciou muitos filósofos com Hobbes e Locke, também ingleses. Chamado de arauto da ciência, primeiro dos modernos e último dos antigos, Bacon captou a transformação que a mente humana passava na sua época, e que evoluiu ainda mais depois. Propõe o domínio da natureza em favor do homem e assim vem acontecendo cada vez mais, a ponto de chegarmos à uma degradação ambiental alarmante. O homem, para Bacon, só deve prestar contas ao Estado e à Deus. Se deus existe na natureza e dominamos ela, quem parará o homem? É o começo de um processo que tirou o mágico da mente humana em favor da razão e da transformação da matéria e culminou no capitalismo industrial.  Texto retirado do site: http://www.consciencia.org/bacon.shtml

 

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Filósofo e cientista político inglês, Thomas Hobbes nasceu em Westport, hoje parte de Malmesbury (Cidade a alguns km a nordeste de Bristol e cerca de 140 km a oeste de Londres), no Wiltshire (Condado), em 5 de abril de 1588, e veio a falecer em 4 de dezembro de 1679. Filho de outro Thomas Hobbes, sua infância foi marcada pelo medo da invasão da Inglaterra pelos espanhois, ao tempo da rainha Elizabete I (1558-1603). [...] Thomas Hobbes é outro filósofo cuja vida está vinculada à monarquia inglesa; não menos que a Bacon, a política e as intrigas da Corte afetaram sua existência e, sem dúvida, também seu pensamento filosófico. [...] Decidiu-se então pela vida intelectual. O principal fruto dos estudos clássicos a que agora se dedica foi a tradução da obra de Tucididas, - historiador grego analista político e moral da guerra do Peloponeso. A escolha desse autor e a publicação de sua tradução em 1629 provavelmente deveu- se a preocupações de Hobbes com a agitação política na Inglaterra e representaria um alerta seu contra a democracia que teria enfraquecido a antiga Atenas. [...]Em 1637 Hobbes retornou à Inglaterra que se achava às vésperas da guerra civil. Decidiu publicar primeiro o trabalho que pensava publicar por último, o De Cive. Este circulou em cópia manuscrita em 1640 com o título "Elementos da Lei Natural e Política", parte I sobre o homem e parte II sobre a cidadania. Continham sua doutrina (vide abaixo) que depois seria publicada impressa em De Cive e "O Leviatã". O manuscrito irritou os monarquistas porque falava em um contrato social e os parlamentaristas porque pregava o absolutismo[...]. Hobbes é empirista e racionalista; põe em prática o empirismo nas suas observações e conclusões sobre a natureza humana, mas faz uma análise das palavras e do raciocínio que é dedutiva, racionalista, principalmente em ciência política. Contestando Descartes, pergunta: de onde viria o conhecimento da proposição "eu penso"? Como não podemos conceber qualquer ato sem seu sujeito, assim também não podemos conceber o pensamento sem uma coisa que pense... Donde se segue "que uma coisa que pensa é alguma coisa de corporal" Descartes respondeu-lhe que existem "atos que chamamos corporais, como a grandeza, a figura, o movimento"; esses atos "residem" em corpos. Porém, diz Descartes, há outros atos que chamamos intelectuais como o "querer, imaginar, etc... esses atos "residem" em uma coisa que pensa, tenha ou não esta coisa o nome de espírito, pouco importa, "conquanto não a confundamos com a substância corporal, uma vez que os atos intelectuais não têm qualquer afinidade com os atos corporais". Em suma, o pensamento difere totalmente da extensão" Conatus. Na sua concepção de natureza humana é básico o conceito de conatus, a força genética do comportamento. É um impulso original ou "começo interno" do movimento animal para se aproximar do que lhe causa satisfação ou para fugir do que lhe desagrada. Esse conatus impulsiona o homem a vencer sempre. A vida começa com o conatus positivo, o desejo. Em termos de vida social, ultrapassar o outro é fonte primordial de satisfação, por isso estar continuamente ultrapassado é miséria enquanto ultrapassar continuamente quem está adiante é felicidade. É da sua natureza o egoísmo, constituído por "um perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder que só termina com a morte". Cobra, Rubem Queiroz. Vida, época, filosofia e obras de Thomas Hobbes. http://www.cobra.pages.nom.br/fmp-hobbes.html

 

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John Locke está entre os filósofos empiristas, assim chamados devido a abrirem espaço para a ciência junto à filosofia, valorizando a experiência como fonte de conhecimento. John Locke destaca-se pela sua teoria das idéias e pelo seu postulado da legitimidade da propriedade inserido na sua teoria social e política. Para ele, o direito de propriedade é a base da liberdade humana "porque todo homem tem uma propriedade que é sua própria pessoa". O governo existe para proteger esse direito. Locke estava interessado nos tópicos tradicionais da filosofia: o Eu, o Mundo, Deus e as bases do conhecimento. É contemporâneo de Thomas Hobbes, mas, ao contrário deste, é liberal e tem convicções parlamentaristas. Foi enorme a influência da obra de Locke. Suas teses estão na base das democracias liberais. No século XVIII, os iluministas franceses foram buscar em suas obras as principais idéias responsáveis pela Revolução Francesa. Montesquieu (1689-1775) inspirou-se em Locke para formular a teoria da separação dos três poderes. A mesma influencia encontra-se nos pensadores americanos que colaboraram para a declaração da independência americana em 1776.[...] Por ocasião de seu regresso Locke contava cinqüenta e sete anos. Com problemas de saúde motivados pela poluição atmosférica de Londres, deixava a cidade tantas vezes quanto possível em visita a amigos no interior, hospedando-se finalmente na mansão de Oates, uma pequena propriedade rural pertencente Sir Francis e Lady Masham. Sua hospedeira era uma mulher que ele tinha conhecido por muitos anos, por ser filha do já mencionado Ralph Cudworth, o professor platonista de Cambridge que Locke admirava pelo tipo de teologia liberal; uma crescente afinidade intelectual com a família levou-o a aceitar a oferta de moradia. Em casa de Lady Masham. Sua saúde melhorou e de lá continuou sua influência política como líder intelectual dos parlamentaristas Whigs. A maior tarefa deste último período de sua vida, no entanto, seria a publicação de seus trabalhos, os quais eram o produto de longos anos de gestação. Encontrou logo que retornou, editor para seus dois grandes trabalhos, o famoso "Ensaio Sobre o Entendimento Humano", e o igualmente importante Two Treatises of Government ("Dois Tratados Sobre o Governo Civil"). Publicou este último anonimamente, porém tão determinado a ocultar sua autoria dessa obra que destruiu todas as cartas e manuscritos a ela referentes. Em março de 1690 apareceu o longamente esperado Essay concerning Human Understanding ("Ensaio sobre o Entendimento Humano"), sobre o qual havia trabalhado intermitentemente desde 1671. O livro alcançou sucesso imediato e provocou uma volumosa literatura de ataque e resposta. De uma parte os jovens queriam introduzi-lo na universidade. Uma versão simplificada do Ensaio foi publicada como introdução para estudantes universitários, e de outro as elites se reuniram para descobrir um meio de suprimi-lo. Novas edições revistas surgiram em 1694, 1695, e 1700. As últimas edições contêm muitas modificações devidas à correspondência do autor com William Molyneux, do Trinity College, de Dublin, um devotado discípulo, com o qual Locke tinha uma calorosa amizade. Cobra, Rubem Queiroz. Jonh Locke:Vida, época, filosofia e obras de John Locke.  Tirado do site http://www.cobra.pages.nom.br/fmp-locke.html

 

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É interessante notar que a ciência que hoje conhecemos como química era inteiramente proibida pela Igreja durante a Idade Média. Ou seja, foi uma área de conhecimento praticamente inexistente até o século XIV, a não ser pelos esforços de alguns poucos indivíduos hoje chamados de alquimistas (que eram perseguidos pela Inquisição, muitos deles tendo sido condenados à morte ou sofrido torturas). A ideia dos religiosos para justificar por que essa ciência deveria ser proibida era a seguinte: pensemos que Deus criou o mundo e nele pôs o homem como a mais elevada das criaturas, pois é um ser inteligente; ora, Deus é bom, logo, não teria criado o homem com nenhuma ‘privação’. Ou seja, Deus não criou o homem de tal modo que lhe faltasse algum tipo de capacidade necessária para que ele realizasse sua natureza. Pois, se Deus ‘privasse’ o homem de alguma capacidade que lhe fosse necessária, como afirmar que ele é bom? Assim, o homem tem a inteligência e os órgãos dos sentidos como os instrumentos pelos quais será capaz de conhecer o mundo. Por conseguinte, qualquer outra forma de conhecimento que se propõe a mostrar as propriedades ocultas das substâncias (como no caso da química) estaria querendo mostrar ao homem aquilo que Deus não previu no seu plano para o mundo. Pois, contrariamente, Deus teria posto no corpo do homem a capacidade de ver essas propriedades. Logo, esse conhecimento só poderia ser mau e aqueles que o estudam deveriam ser condenados por heresia. Por argumentos como esse, o estudo da química demorou muito a se desenvolver (só no século XVII, com Boyle e Scheele).

 

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O ceticismo é a doutrina filosófica que afirma que não se pode obter nenhuma certeza a respeito da verdade, ou seja, que o homem não tem a capacidade de conhecer verdadeiramente as coisas. O que implica uma condição intelectual de dúvida permanente e na admissão da incapacidade de compreensão de fenômenos metafísicos, religiosos ou mesmo da realidade. Para o cético, o conhecimento consiste somente numa aproximação, uma semelhança que o pensamento pode ter com a realidade, mas nunca uma certeza última sobre a natureza dos objetos do mundo. A própria palavra “ceticismo” deriva do verbo grego sképtomai, que significa "olhar à distância" ou "examinar". Ainda, para o cético, não há como sequer falar de coisas as quais não temos experiências reais, ou seja, aquilo que não conhecemos por meio dos sentidos. Motivo pelo qual todo o pensamento religioso, para o cético, constitui uma fantasia do espírito humano, uma invenção das pessoas para negar os limites da realidade na qual vivem. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ceticismo

 

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Até hoje há muita disputa sobre o conceito matemático e filosófico de infinito. Na antiguidade grega, se tentava pensar o infinito como algo que vem antes do finito, ou seja, como aquilo que justamente é condição de o finito existir. Ou seja, se o finito está dentro do infinito, não há como pensar o finito sem primeiramente admitir ô infinito. Essa noção de infinito dos antigos é o que hoje os filósofos chamam de ‘infinito lógico’: como não sabiam do que estavam falando (já que ninguém consegue pensar o infinito), para falar do infinito os gregos simplesmente faziam a negação lógica do finito (punham um não na frente). Contrariamente, a partir de Descartes, os modernos falam primeiro do finito para depois admitirem o infinito. Parece mais sensato, pois o sujeito pode pensar qualquer número, por mais gigante que seja, e sempre haverá um número maior. Mas é importante observar que o infinito do qual falam os modernos é o chamado ‘infinito em processo’: ele não é um número (pois então seria finito, determinado), mas o constante processo de avançarmos mais e mais sem nunca chegar a um ‘último número’.

 

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Uma maneira interessante de compreender a diferença do pensamento dos gregos antigos e dos modernos sobre o infinito é usando o chamado “paradoxo de Aquiles e a tartaruga” (criado por Zenão, filósofo grego). Essa história conta que o herói Aquiles teria sido desafiado para uma corrida contra uma tartaruga. Irônico, Aquiles deixa a tartaruga largar primeiro, de modo que tomasse vantagem. Mas, ao calcular quantos passos teria que dar até alcançar a tartaruga, Aquiles viu que seria mais fácil pensar este número se dividisse o percurso ao meio. Contudo, divide esta metade novamente em duas, de novo e assim sucessivamente. Aquiles então se surpreende, pois vê que pode infinitamente dividir ao meio o espaço que o separa da tartaruga. Desolado, o herói desiste da corrida e admite que perdeu para seu lento adversário: o espaço que o separa da tartaruga é o infinito. Essa conclusão, veja-se, Aquiles tem pelo fato de pensar como os antigos: ele não parte do finito para pensar o infinito. Contrariamente, ele primeiro pensa no infinito para depois pretender preenchê-lo com infinitas partes, o que é um absurdo. Por isso achou que jamais alcançaria a tartaruga. Mas os modernos, a partir de Descartes, pensam primeiro na quantia finita: um passo, depois outro, até que o número chegue à quantia de passos necessária para que se alcance a tartaruga. Nesse sentido, podemos pensar que somente na modernidade a corrida contra a tartaruga foi vencida pelo homem.
O racionalismo cartesiano

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