Quarto numero 15 - Xiluwa Costa

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Xiluwa da Costa

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares descritos, são produtos de imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Revisão: Victoria Gomes Todos os direitos reservados Proibido o armazenamento e/ou reprodução total ou parcial de qualquer parte dessa obra, através de quais quer meios_ tangível ou intangível_ sem o consentimento escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nr. 9.610./98 e punido pelo artigo 184 do código penal. Edição Digital

Sinopse O que você faria se o seu pior inimigo estivesse no quarto ao lado? Lembranças do passado perturbam os sonhos noturnos do Michael, que se encontra internado no hospital, sob os cuidados de uma enfermeira que muda a sua vida. Melita é uma enfermeira meiga, que mexe o coração ríspido e traído do Michael, por vezes fazendo-o esquecer que tem um e único objetivo no hospital... MATAR! Um homem imprevisível e sem limites para conseguir o que quer. Um homem que anseia por vingança

Agradecimentos

Aos meus queridos pais que me apoiam nesta jornada Aos leitores que tem acompanhado as minhas histórias

Capítulo 1

Michael

Abri os olhos e vi tudo turvo, mas consegue perceber que estava deitado numa cama do hospital. Com certeza fui internado. Meu corpo estava quieto, minha garganta estava seca, meu peito doía. Parecia um morto vivo. Não tinha noção do tempo e nem da hora, nem sabia o porquê de eu estar aqui. Passei a mão no meu peito e dei um suspiro, tentando atenuar a dor. Tenteio mexer a outra mão, sem sucesso. Olhei e vi que ela estava presa na cama e foi nesse instante que me recordei o motivo de estar aqui. Meu corpo aqueceu e comecei a ter um ataque de nervos, como se tudo estivesse acontecendo novamente, como se estivesse vivendo o mesmo episódio. Comecei a me mexer e duas enfermeiras entraram no quarto. Uma delas passou a mão na minha cabeça. — Senhor, está tudo bem! Suas palavras eram inúteis, apenas me deixavam mais agitado. Não estava tudo bem, não para mim. Peguei a mão da enfermeira fortemente. — Por que me ataram? — Calma, senhor! Senti o meu corpo adormecer. Fui perdendo forças e, sem dar por mim, estava dormindo novamente. ♠ Abri os olhos, vendo que estava no mesmo lugar de sempre. Orava dentro de mim que fosse um pesadelo, mesmo sabendo que

não era. Olhei para mim mesmo e vi que a minha roupa hospitalar estava com sangue. Levantei a camiseta, passei a mão no meu abdome e observei minhas suturas, que estavam protegidas por compressas. Agora entendi por que sentia tanta dor. Mais uma vez, a enfermeira entrou e ficou em um tempo me encarando. Esse olhar me deixou encabulado; não sei se porque o seu olhar era profundo ou porque ela era muito bonita. Os cabelos cacheados, lábios carnudos e cor de chocolate sem dúvida a faziam divina. Também vi nos seus olhos que ela tinha receio, mas mesmo assim não deixa de fazer o seu trabalho. — Boa tarde, sou a enfermeira Melita — disse, aproximandose. Olhei para ela de cima para baixo. — Consegue dizer o seu nome? Preciso dos seus dados para o cadastro. — Meu nome é Michael Smith, tenho trinta e quatro anos, sou lutador de kickboxing… — respondi. Ela acenou positivamente a cabeça e começou a escrever. — O médico virá mais tarde para lhe avaliar. Acenei em concordância. — O senhor foi esfaqueado e alvejado duas vezes. Esfaqueado no abdome, alvejado no peito e na perna. Chegou num estado gravíssimo. Escutei-a, mas isso não me preocupava; pouco me importava o que aconteceu comigo, tinha outros assuntos a esclarecer. — O senhor sabe por que está aqui? — perguntou, desconfiada. — Por que a pergunta? — O senhor ficou inconsciente há dois dias, tem delírios com frequência… — E daí? — Se soubermos o seu histórico, poderemos lhe avaliar melhor. — Você quer saber se sou louco, é isso? — Não afirmei isso. — Bem, creio que isso seja o trabalho do médico… O seu trabalho, pelo que eu saiba, é medir a pressão, servir minhas refeições e me dar banho. Certo?

Ela mostrou um sorriso irônico, achando-me um estúpido, e com razão, mas eu não liguei. Já sabia o porquê de estar nesse hospital e sabia o meu fim. A enfermeira terminou de preencher os meus dados. — Dentro de minutos serviremos o seu lanche.

Melita Saí do quarto número 15 com os nervos à flor da pele. Mas que paciente mal-educado! ”Seu trabalho é servir minhas refeições e me dar banho”, repeti para mim mesma. — Terei o prazer em lhe dar banho e puxar as suas bolas, seu idiota! — resmunguei irritada. — Puxar as bolas de quem, Melita? — perguntou a Susana, rindo. Éramos colegas. Revirei os olhos e coloquei a mão na cintura: — Aquele novo paciente, que você e a Maria me falaram que ele era lindo e tudo mais! — E não é lindo? — Só não me disseram que ele está amarrado e é um grosseirão! — Calma, ele não deve estar em si. Sabe que as pessoas reagem do seu jeito! Mas como ele se chama e qual é a profissão? Olhei para o protocolo e citei. Susana deu um sorriso de lado, achando interessante. Não entendia o motivo desse interesse por ele. Aceitava que ele era bonito, sim, mas o seu comportamento era insuportável; meu rosto não escondia. — Então, Melita, viu o paciente novo? — perguntou Maria, sorrindo. Encarei-a com cara de poucos amigos. — Ela diz que ele é um grosseirão — afirmou Susana, rindo. — Sério? Poxa, é uma pena… Ele é tão bonito. — Ah, ele não é assim tão lindo! — protestei e duas riram.

— Para a Melita implicar com ele, é porque é algo grave! Das enfermeiras, ela tem mais paciência. — Por falar em paciência, Melita, por tudo que é mais sagrado, passa pra ver a paciente da sala 5? — implorou Susana, e eu sabia por que ela fugia da paciente. Não a julgava, pois a paciente não era fácil de lidar. — Hoje você me paga o jantar — disse brincando. — Faço o que você quiser! Maria riu. — Ótima oportunidade para fazer qualquer tipo de chantagem! Eu mostrei um sorriso malandro e caminhei até o quarto número 5. Quando ia entrar na sala, vi dois colegas meus acompanhando dois homens gravemente feridos, na maca. Um, pelo traje, parecia policial e o outro um cidadão comum. Fiquei um tempo olhando, mas logo voltei minha atenção para a sala número 5 e entrei. — Bom dia, minha filha! — disse a Celeste, uma paciente idosa. Ela já estava no hospital há meses. — Bom dia, senhora Celeste. — Você está bonita! — Muito obrigada! — eu disse, passando os dedos no meu cabelo cacheado. — Como se sente? Está melhor? O médico falou que amanhã a senhora pode ter alta… — Não! Estou com dor na cabeça, no estômago, nos intestinos… — Ela parou e pensou uns segundos: — Doem os meus dentes e os dedos. Eu não posso ter alta! — Tudo bem, mais tarde o médico vem lhe avaliar… — Manda ele vir agora — resmungou. — Quem me garante que logo mais, quando ele passar aqui, eu já não estarei morta? Controlei-me ao máximo para não dar uma risada, mostrando apenas um sorriso. — Não se preocupe. Pelos exames, a senhora ainda vai viver mais mil anos… Medi pressão arterial dela, lhe dei o anestésico e troquei o soro.

♠ Nove horas da noite, estava com a Maria e Susana num pequeno bar da cidade. A Maria já tinha pedido uns tantos copos de cerveja. Das enfermeiras, ela era a mais divertida e espontânea. — Gente, não se encontra um homem bonito neste bar! — reclamou. Eu mostrei um sorriso, achando engraçado. — Quem está precisando de um homem é você, Melita! Está há muito tempo solteira… — E estou bem assim. Também, depois o último que tive, quero uma pausa! — afirmei seriamente. — Isso é passado amiga — disse a Maria. — Só não quero que se repita. Ano passado foi um ano horrível, minha mãe faleceu e minha irmã… Bem, minha irmã é uma drogada, vive nas ruas. E eu ainda me fiz o favor de ter um namorado que… Deixemos! Chega! As duas se entreolharam e mostraram um sorriso malandro. — O que foi? — Você nunca teve um fetiche com um paciente? — perguntou Susana. — Claro que não, é paciente… Alguém doente. As duas riram. — Não um paciente moribundo, sua retardada! — disse a Maria. — Um paciente como o Michael ou como o Ângelo. — Quem é Ângelo? — perguntei. — É um dos pacientes novos também. Foi internado no mesmo dia que o Michael! Você não sabe porque ele estava na outra secção do hospital — Maria explicou. — Esse também é bonito! — disse Susana. — E parece que vai ficar no hospital por um bom tempo até se recuperar. — Não me digam que esse Ângelo também tem os pulsos atados na cama? — perguntei. — Não! — respondeu a Susana revirando os olhos. Uma das coisas que me perguntava era o que o Michael teria passado para ter delírios tão fortes de noite que precisasse ser amarrado. Um dos médicos me afirmou que ele, ao chegar no

hospital, estava num estado agressivo e compulsivo. Já havia tentando sair da cama, mesmo sem ter condições de andar. Era um paciente teimoso e problemático.

Capítulo 2 Melita Entrei no quarto 15 e Susana veio logo a seguir. Ficamos um tempo o assistindo dormir. Eu estava com esfigmomanômetro na mão e com o kit para tirar sangue. — Olha que belezura! — disse a Susana, olhando-o. — Belezura e perigoso, né! — Que exagero! — Então por que está com um dos pulsos amarrados na cama? — perguntei. Susana revirou os olhos, enquanto eu colocava o material numa mesa e via o Michael dormindo. Ele respirava fundo e o seu corpo tremia; imaginei que mais uma vez ele estivesse tendo um pesadelo, então aproximei-me dele para o acordar. Peguei o seu ombro e, logo em seguida, senti o meu pulso preso na sua mão, dando-me um susto dos grandes. — Bom dia — disse, encarando-me seriamente, ainda pegando fortemente o meu pulso. — Bom dia! Pensei que estivesse dormindo — disse, assustada. Susana olhou para mim tão assustada que ele percebeu. Baixou o olhar e soltou a minha mão. — Peço perdão, não queria assustá-la. — Tudo bem — respondi, respirando fundo. Susana entregou-me o esfigmomanômetro para medir a pressão. — Vou medir a sua pressão, trocar o seu soro e terei que tirar o seu sangue para novos exames.

Ele acenou positivamente a cabeça. Tentei fazer o meu trabalho, mas não conseguia disfarçar o medo que tinha dele; estava escrito no meu rosto. — Peço desculpas pelo disse naquele dia. Eu sorri e acenei com cabeça, dando a entender que estava tudo bem, mas na realidade ele despertava uma adrenalina em mim. — Fique à vontade. A enfermeira Melita vai ser gentil quando for tirar o seu sangue — disse Susana, tentando quebrar o gelo e me pondo mais descontraída. Ele sorriu. — Eu sei. Tirei-lhe o sangue e ele olhou para o lado, direcionando sua cabeça para a porta. Nesse instante, Susana abriu a porta e parou por uns segundos. Passava uma maca sendo empurrada por colegas meus, onde tinha um paciente deitado. Um homem moreno, de barba longa. Michael mexeu o braço, fazendo-me perder a veia para tirar o sangue; agiu num impulso. — Não se mexa — mandei, mas ele parecia nem me escutar; seu olhar estava fixo no paciente que acabava de passar. Susana fechou a porta e ele se mexeu mais vez. — Fica quieto! — Ele está vivo! — comentou em choque. — Você o conhece? Ele desviou o olhar, tentando disfarçar a sua aflição. — Só o conheço de vista… — Vou ter que tirar o sangue no outro braço. Tente não se mexer, por favor. — Não me mexi, você é que é inexperiente! Respirei fundo para não perder a minha compostura e o meu profissionalismo. Levei em consideração o seu estado, que possivelmente poderia estar alterado devido ao trauma dos ferimentos que teve.

Michael

Não estava acreditando que aquele homem estava vivo. Como poderia estar? Eu o queria morto e agora tinha que terminar o que comecei. Se ele estava vivo, dentro de pouco tempo a polícia viria me algemar e do hospital eu iria para prisão. Ficar na prisão não era problema; o problema era aquele sujeito respirando o mesmo ar que eu. Senti o meu braço sendo perfurado mais uma vez, mas desta vez sem delicadeza. — Ai! — reclamei, olhando para a enfermeira. — Pronto, encontrei a veia — afirmou com um sorriso. — Cadê a enfermeira delicada? — perguntei com ironia. — Seja mais educado a próxima vez! Preferi não responder, para não ser grosseiro mais uma vez e também porque isso não era prioritário. Olhei para o meu pulso, observando a forma como foi preso. — Tenho mesmo de estar amarrado? — perguntei. — Claro que sim. Você não fica quieto e, nos dois dias que ficou inconsciente, tentou se machucar. Dei um suspiro. Estava frustrado, tinha de conseguir sair deste quarto e tinha que ser hoje. Logo depois, uma outra enfermeira entrou no quarto com uma pequena bacia de metálica e uma esponja; sabia que era a hora do banho. Confesso que, de tudo isso, essa era uma das coisas que mais me agradava. Era uma pena que ainda não tinha chegado o dia que seria a enfermeira Melita a me banhar. Confesso que desejava isso, pois sabia que ela não gostava de mim e seria um prazer vê-la a ter de cuidar de mim. Para minha infelicidade, ela foi embora e quem me deu banho de esponja foi outra enfermeira. ♠ Seis horas da tarde acabava de tomar o lanche e de trocar o soro, logo, eu não ia receber atenção das enfermeiras tão já. Tentei desamarrar o meu pulso com os dedos, mas sem sucesso. Perguntava-me como conseguiam prender tão bem que um homem enorme como eu não conseguia se soltar. Não era possível. Eu precisava saber onde aquele desgraçado se encontrava. Tentava me soltar, mas não conseguia, e não tinha nada por perto

que pudesse usar! Não tive outra saída a não ser usar os dentes como solução. Consegui! Saí da cama com dificuldade, pois meu corpo estava fraco e minhas pernas estavam bambas, mas nada me faria desistir. Fui andando com dificuldade até chegar à porta. Abri-a com cuidado, vendo se nenhuma enfermeira estava por perto e, para minha felicidade, o corredor estava vazio, sendo uma ótima oportunidade para sair. Não sabia por onde começar, estava tão atormentado em encontrar aquele sujeito que nem pensei como o faria. Saí do quarto, olhando para os lados, vendo se encontrava a sala onde os enfermeiros guardavam os documentos dos pacientes. A cada passo que dava, mais fraco e tonto eu ficava. Parecia que estava ficando tudo turvo. — Senhor, o que faz aqui fora? — perguntou uma enfermeira, que nem pude ver quem era, pois já estava caído no chão e sem ter a mínima noção das coisas. Tudo se apagou e as minhas forças sumiram.

Capítulo 3 Michael Deitado na cama, vi a enfermeira Melita entrar, segurando um pequeno balde metálico e uma esponja. Finalmente meu fetiche iria se concretizar, babava só de imaginar aquelas mãos em mim e no meu… — Bom dia, Melita! — disse com um sorriso malandro. — Bom dia, Michael. Está se sentido melhor? — Pousou o balde na mesa ao lado. — Ontem o senhor saiu do quarto, não devia ter feito isso! — Eu sei — respondi, pois não queria discutir. Estava mais empolgado em ela me dar banho, então não queria criar nenhum conflito para que não mudasse de ideia. Ela ficou de costas para mim, indo em direção à janela para fechar as cortinas. Enquanto isso, fiquei mirando-a, e não via hora de ela me dar o banho pelo qual tanto esperei. Ela se aproximou de mim, levantou a cama, pondo-me sentado, e tirou a minha bata com cuidado. — Está tudo bem? — perguntou, sorrindo. — Está tudo ótimo! Ela desviou o olhar e tirou minhas calças. Tentei me controlar para não ficar excitado, mas, poxa vida, ela era linda demais. Assim, começou, passando a esponja no meu abdômen e descendo-a cada mais. Eu respirava fundo, tentando me controlar, mas estava cada vez mais difícil. Sem demora, vi seu olhar constrangido e imaginei o

que fosse, mas eu também não tinha culpa se não conseguia esconder a minha atração por ela. Ela me encarou, mostrando um sorriso malandro, mas, ao mesmo, tempo tímido. — Você faz isso em mim! — Gemi, mordendo lábio. — Posso fazer muito mais! — Sorriu e começou a massagear o meu membro, com delicadeza, deixando-me perdido. — Oh, Melita… — Gemi o seu nome, enquanto ela me estimulava cada vez mais. — Senhor Michael — ela disse, mas estava tão perdido que nem prestei atenção, querendo apenas que me desse prazer. — Senhor Michael! Escutei mais uma vez e ignorei. — Senhor Michael! Desta vez, escutei o meu nome mais alto, despertando-me. Olhei em volta e dei de cara com a enfermeira Maria, ficando decepcionado ao ver que não passava de um sonho. Não estava acreditando! Não que ela não fosse bonita, mas esperava outra pessoa. Logo depois, vi dois policiais entrando e já sabia do que se tratava. — Senhor Michael Smith, o senhor está preso por tentativa de homicídio do policial Ângelo Vales. Não comentei nada, permaneci em silêncio. — Devido ao seu estado de saúde, depois que terminar o tratamento será levado a prisão, para julgamento — disse o policial, algemando minha mão na cama. Respirei fundo, pois os meus planos estavam indo por água abaixo. Mal consegui sair e agora fui algemado. Eles se retiraram e eu me mantive em silêncio; sabia que minha verdade não valia de nada, e também não me importava ir para prisão, estava preparado para isso. Notei que a Maria me encarava mais assustada que das outras vezes; já era um paciente que não passava uma boa impressão, e agora muito menos. — Fica tranquila, eu não mordo! — disse — Pois é, mas parece que faz algo bem pior, né? Por que saiu do quarto?

— Tanto faz! Me dê logo o almoço que estou morrendo de fome! — resmunguei. — Melita tem razão de implicar você! — murmurou baixinho, achando que eu não tinha ouvido. — A enfermeira Melita fala de mim, é? — perguntei com sorriso malandro. Ela nem respondeu, deixou o almoço e saiu. Agora, mais do que nunca, eu precisava sair daqui.

Melita Meio-dia, estava no quarto número 15, do paciente problemático. Como já conhecia seu comportamento, então sabia o que esperar. Estava com kit de primeiros socorros, para trocar o ferimento. Sempre que ia encontrar com o Michael, minha adrenalina ficava a mil, ainda mais porque ele tinha um olhar que me intimidava. — Tenho de limpar o seu ferimento — disse; minha voz saiu trêmula. — Esteja à vontade! — respondeu, encarando-me. Aproximei-me dele e levantei a calça na perna que foi baleada. Enquanto trocava a compressa, sentia seu olhar fixo em mim. Tentei ignorar, mas era difícil. Minhas mãos tremiam, por estar perto dele e por ele estar algemado. Estava ciente que estava lidando com um criminoso. Logo mais, caminhei até ele, aproximando-me do seu abdômen. Quis levantar a bata, mas fui pega de surpresa com sua mão no meu pulso. — Não é o que parece — afirmou, pegando minha mão com força. — Sei pensa que sou um assassino, mas… — Não importa o que penso, meu dever é com o meu trabalho, apenas —disse, fazendo força para ele soltar, e assim o fez.

— Percebo que você tem medo de mim… — Você me assusta, ainda mais quando me pega desprevenida! — rebati, levantando a sua bata e começando a trocar as compressas. Ele gemeu de dor; não me admirava que fizesse isso, a ferida ainda estava úmida e levaria tempo a se cicatrizar. — Devia agradecer por estar vivo, seus ferimentos foram muito graves. — Eu sei… Quando serei operado novamente? — Ainda não tem uma data marcada… Espero que, na próxima, consigam tirar a bala no peito — afirmei, surpreendendo a mim e a ele. Pela primeira vez, estávamos tendo um diálogo de gente adulta. Ele estava mais calmo e menos reclamão. Ficamos um tempo encarando-nos, sem dizer meia palavra. Admito que ele causava algo diferente em mim, um misto de atração e medo. Continuei tratando ferimento, fugindo do seu olhar.

Michael Essa enfermeira me deixava cada vez mais louco, minha atração por ela aumentava cada vez mais e de forma incontrolável. Suas mãos tão delicadas em mim deixavam-me com pensamentos pervertidos. Tão pervertidos que meu corpo começou a responder aos meus instintos. Ela desviou o olhar e se afastou, pondo-me sem jeito. Eu estava duro, minha calça estava igual a uma pirâmide egípcia. Ela quis se afastar de mim, mas peguei o seu braço e a puxei para mim. Num movimento rápido com a mesma mão, peguei sua cintura e tomei sua boca intensamente. Ela tentou resistir, mas persisti no beijo, mordendo o seu lábio inferior, fazendo com que ela gemesse e, assim, tendo um ponto de acesso para a minha língua tocar na sua. Ela parou de resistir e cedeu a esse beijo inesperado, pondo sua mão na minha nuca e pressionando-me contra ela. Estava bom assim, até ela me empurrar e me surpreender com o peso da sua mão no meu rosto. — Seu pervertido e idiota! — berrou furiosa.

— Melita, vai negar que gostou? — Esbocei um sorriso de lado. — Você me pegou desprevenida, não faça mais isso! Me respeita. — Aumentou o tom de voz furiosa. — Eu te respeito, mas te quero e sei que você me quer também. — Não me meto com criminosos. — Jogou isso na minha cara e se retirou, furiosa. Ela provavelmente não ia querer me ver tão cedo. Mordi o lábio, lembrando-me do sabor dos seus lábios. Fazia um bom tempo que não sentia uma boca tão delicada como a dela.

Melita Caminhava pelo corredor, com o coração aos pulos, não acreditando que ele havia me beijado e, ainda por cima, eu havia correspondido. Isso não devia ter acontecido, sempre fui muito profissional. Fiquei com raiva por ter feito isso. Que paciente mais inconveniente e atrevido! — Melita, está tudo bem? — perguntou a Susana. — Sim… Sim! Por quê? — Estava falando sozinha. Respirei fundo e cruzei os braços. — Você já fez o curativo do Michael? — Ai, nem me fale nesse idiota! — gritei. — Shiu, fala baixo! Quer que o hospital inteiro te ouça? Passei a minha mão no meu cabelo, a outra indo à minha boca carnuda, ainda sentindo o gosto do beijo dele. Susana me encarou desconfiada. — Ele é um pervertido! — afirmei constrangida. — O que aconteceu? Contei a ela. — Ele ficou excitado e te beijou? — questionou a Susana em choque.

Acenei positivamente a cabeça, a vergonha estampada no rosto. — E que tal o beijo? Ele beija bem? — Ela gemeu. — Lindo e beijoqueiro! — Para! Não foi divertido! — Sei… Ah, vá lá… Vai negar que ele é? — Ele é um criminoso, acabou de ser algemado! Tentou matar um policial… — Parei por uns segundos. — O Ângelo, paciente do quarto ao lado. — E mesmo assim não deixa de ser bonito! — disse Susana, rindo. Encarei-a, não acreditando que ela não deu crédito àquilo que disse. Como um homem podia ser tão bonito a ponto de as pessoas esquecerem que ele é um criminoso?

Capítulo 4 Michael Dois dias depois, a enfermeira Susana estava trocando meu curativo. Ela afirmou com um sorriso que estava me recuperando e, em poucas semanas, poderia fazer outra cirurgia para tirar a bala que ficou no peito. O normal seria estar feliz com notícia, mas, não, eu não podia me recuperar tão cedo a ponto de ter alta. Quando ela trocou a compressa no ferimento do abdômen, gemi de dor. A ferida era grande e ainda estava úmida. — Me desculpe, este lado ainda está muito sensível. Não vou mexer muito, para não correr o risco de infecionar… Acenei positivamente com a cabeça. — Tenho fome! — reclamei. — Calma, já traremos o seu almoço. Acenei positivamente com a cabeça. Não estava exatamente com fome, mas o almoço me seria conveniente. Não podia agir sozinho, precisava de ajuda, diretamente ou indiretamente, para que eu conseguisse sair. Por um instante, pensei na minha mãe, no quanto ela estaria triste por eu estar nesta situação, e provavelmente estaria me dando um sermão sobre o quanto a decepcionei. Sou filho único, meu pai era lutador de box e morreu

devido a tanta pancada que levou. Não era um pai exemplar, por várias vezes agrediu a minha mãe e a mim quando criança, mas uma das coisas que eu aprendi com ele foi: quando você faz algo, termine; caso contrário, nem pense no assunto.

Melita — Melita, minha boneca da vida! — disse a senhora Celeste com um sorriso. — Como se sente? — perguntei, esperando a mesma resposta de sempre. — Nada bem, me dói o corpo todo… Doem os olhos e os dedos! Não posso ter alta! — reclamou. — Bem, trouxe seu almoço. Vou medir sua pressão, trocar o soro e logo mais o médico vem lhe examinar… Espero que até esteja melhor! — Creio que não! Duvido! — resmungou. Mostrei um sorriso, enquanto pegava o seu pulso para medir a pressão. — Hoje está mais sorridente que nos outros dias… — Exaltou-se, mexendo os braços e aumentando o tom de voz. — Procure ficar quieta e não falar — pedi, com simpatia. Ela revirou os olhos e suspirou. Logo que terminei, voltou a falar, contando do seu falecido marido e de quanto os seus filhos haviam crescido. Fiquei escutando o que tinha a dizer; tinha paciência com ela, não só por ser idosa, mas também porque sabia que caso dela se tratava mais de um abandono do que doença. O seu marido havia falecido há pouco tempo e os seus filhos nunca vieram lhe visitar. Isso mexia com ela, a deixava triste, mesmo tentando disfarçar. Estava tão afetada psicologicamente que se sentia doente. — E você, minha filha, já tem namorado? — perguntou entusiasmada. — Não… — Por quê? Uma moça tão bonita!

— Não tenho tempo para essas coisas… — Ah, mas hoje você está mais alegre! Conheceu alguém? Fiquei em silêncio, pois me lembrei do Michael e do seu beijo. — Não, não conheci ninguém. Agi como se nada tivesse acontecido.

Michael Ao meio-dia, sou servido o almoço, como a Susana havia dito que aconteceria. Como tinha um dos pulsos algemados, ela me ajudou com bandeja e prato. O almoço era canja de frango. — Está bem? Sente-se confortável? — perguntou-me sorrindo. — Sim, obrigado. Ela sorriu e se retirou. O tempo era o meu inimigo, agia contra mim, pois, quanto mais eu melhorava, mais risco tinha de sair do hospital. Isso não podia acontecer, não antes de eu fazer uma pequena visita ao meu “amigo” do outro quarto. Peguei na colher e pus-me comer. Estava faminto e com pressa, as enfermeiras deste hospital eram atenciosas demais; sabia que, em pouco tempo, uma delas voltaria para saber se estou bem ou não. Às vezes me perguntava se elas eram mesmo atenciosas ou se também estavam de vigia, pois parecia que não tinha tempo para os meus planos. Terminei de comer, peguei na faca, mergulhei no resto de sopa e fiquei mirando-a por um tempo, vendo o quanto podia estar infestado de bactérias. Sem pensar mais, e num movimento rápido, levantei a bata e perfurei a minha ferida do abdômen com a faca. A ferida ainda estava úmida e com risco de infeção, e eu precisava ter certeza que ia infecionar e ter uma boa febre. Gemi de dor, pois doía para valer. O que não contava é que fosse sangrar bastante; tomei um susto, vendo que havia exagerado na perfuração. Não era para ter sido assim, não era para eu sangrar desse jeito, a ponto de começar a me sentir fraco. Não vi outra saída a não ser chamar a enfermeira. Em pouco tempo, ela veio e vi no seu rosto que tomou um susto. Logo em seguida, entrou outra enfermeira, a Melita; admito que a ver me deixou feliz. Eu gostava de vê-la e apreciá-la, ela era linda demais.

Capítulo 5 Melita Na manhã seguinte, estava de frente para Michael, olhando-o. Ele dormia e respirava fundo, sua cabeça mexendo de um lado para o outro. Seu rosto mostrava aflição; gemia baixinho, apesar do tormento que demonstrava. Ficava impressionada como ele tinha pesadelos com frequência, não estava nos seus sonhos, mas era óbvio. Perguntava-me qual seria o motivo de ele querer se machucar tanto. Aproximei-me dele e chamei-o. Ele abriu os olhos e me encarou. — Não esperava vê-la… — murmurou, ainda sonolento. — Como se sente? Ele não respondeu e desviou o olhar. — Por que você fez isso? — perguntei. — Isso o quê? — Abriu as suturas do ferimento! Você corre sérios riscos de infecção. — É mesmo? Ele não conseguiu esconder a satisfação em saber disso. Tentou disfarçar, mas estava óbvio que tinha mais interesse em estar doente do que em se recuperar. — Por que você fez isso? Ficamos o dia todo preocupados com você! — Sério? Ficou preocupada comigo? Revirei os olhos e cruzei os braços. Claro que fiquei preocupada, mas não ia admitir. Ele encarou-me com um sorriso

malandro. — Michael, seja lá o que você tenha feito… — Parei por uns segundos, pois ele encarou-me seriamente, com um olhar obscuro. Engoli em seco, mas continuei. — Cumprir a pena é a melhor forma, para ter a consciência limpa… — Do que você está falando? — Seu olhar mudou, ficando mais sério. — Você está preso! Provavelmente fez algo fora da lei e tem tido pesadelos. Deve ser algum trauma ou peso na consciência. Ele revirou os olhos, fazendo pouco caso, mas logo voltou a atenção para mim, encarando-me de cima a baixo. — O que foi? — perguntei. — Você está bonita… — Deu um sorriso de lado. — É solteira? — Não foge do assunto. — Apenas responde… — Seu jeito estava tranquilo e o seu olhar malandro continuava ali. — Por que a pergunta? — Porque estou prestes a te beijar de novo. Suspirei e quis afastar-me, mas ele segurou a minha mão. Tentei me soltar, sem sucesso. Ele era enorme e tinha muito mais força que eu. — Para com isso! — ordenei. Ele puxou-me para junto dele, enquanto a mão algemada segurava o meu pulso, impedindo-me de me afastar. Senti a outra sua mão no meu rosto, fazendo meu coração acelerar. — Se você não me soltar, vou gritar! — Se fosse para você gritar, já teria gritado. Tomou minha boca intensamente e com brutalidade, como se eu fosse totalmente sua. Tentei resistir, mas não consegui, seu beijo me domava. Com uma mão, peguei sua nuca; a outra amassava o seu braço, enquanto degustava do seu beijo. Num movimento, segurou a minha cintura e me colocou no seu colo, pondo seu tronco entre as minhas pernas. Ele gemeu de dor, certamente o machuquei quando me sentei no seu colo. — Para, isso não está certo! — disse, tentando afastá-lo, mas ele me pressionava contra si. Passou a mão na minha coxa e a

apertou. Meu corpo correspondia ao seu toque e espontaneamente comecei com movimentos de vai e vem, estimulando-o, sentindo o seu pênis duro por baixo da sua calça. Puxou o meu cabelo para trás e chupou o meu pescoço, fazendo-me gemer de prazer. Parecia que estávamos apenas nós dois aqui. — Tira a blusa… — mandou, ofegante. Foi nesse instante que voltei no meu juízo. Empurrei-o e saí de cima dele, não acreditando que por pouco seria possuída por esse homem.

Michael Estava prestes a domá-la quando ela saiu de cima de mim. Não estava acreditando que me deixou assim, duro e com as bolas doendo. Ela fez isso comigo, estávamos indo tão bem. — O que foi? — perguntei aborrecido. — Você vai ficar longe de mim! — mandou, arfando. — É, você já falou isso várias vezes! — disse, encarando-a. Ela estava frustrada, mas eu estava mais ainda. Sempre tive um fetiche por ela e não via a hora de isso acontecer. — Olha, por que você não facilita as coisas? Nós dois queremos… Ela revirou os olhos e caminhou em direção a porta. — Melita… Melita! — chamei-a, mas ela ignorou-me por completo. — Estúpida! — murmurei, irritado, mas mostrei um sorriso de lado, porque ao menos consegui algo. Passei a mão por trás das minhas costas e tirei o grampo que estava preso no cabelo dela. Era tudo que precisava para abrir as algemas. Ela seria o alvo perfeito para conseguir o que eu queria. Agora, eu tinha a liberdade para cumprir meus objetivos: encontrar o sujeito e domá-la sem ser interrompido. Inseri o grampo nas algemas, tentando me soltar antes que alguém entrasse novamente. Melita

Cheguei em casa com os nervos à flor da pele e com calcinha molhada. Tudo por causa daquele problemático, mas isso não voltaria acontecer. “Não pode voltar a acontecer”, disse para mim mesma inúmeras vezes. Abri as janelas da sala. Precisava de ar, parecia que estava abafado; sentia um calor no corpo. Apreciei o meu bairro modesto e humilde. Não morava num bairro carente, mas também não era dos melhores. Fiquei pensando na minha vida e como tudo correu nestes últimos meses. Eu havia prometido a mim mesma que seria diferente do ano passado, em tudo. Queria juntar mais dinheiro para me mudar para um lugar melhor, porque gastei quase tudo no tratamento da minha falecida mãe, sem contar que a minha irmã roubou o resto do dinheiro que havia guardado. Queria algo novo e melhor. Eu era jovem, tinha muita vida pela frente, então sabia que não para tarde para começar algo novo, se quisesse. Senti minhas pernas a serem acariciadas e ouvi o ronronar do meu filhote. Olhei para baixo, encarando o olhar exótico do meu bichinho. Levei o meu gato ao colo e sentei-me no sofá. A campainha tocou e achei estranho, pois não esperando ninguém e moro sozinha. Abri a porta e me surpreendi ao ver a minha irmã. — Posso entrar? — perguntou-me com os ombros encolhidos. Dei passagem para ela e fechei a porta. — O que você quer, Jessica? — Não posso ver minha adorada irmã? — perguntou com um sorriso. Continuei encarando-a com cara de poucos amigos. Minha irmã era drogada e andava nas ruas. Pelo menos até ano passado era assim, e, sempre que voltava, queria algo — fosse dinheiro ou passar a noite em minha casa para roubar algo meu de valor e sumir novamente. — Como você está? — perguntou-me. — Fala logo o que você quer… Eu tive um dia cheio e quero descansar! — Credo, Melita. Depois de tanto tempo sem nos vermos, você me recebe assim…

— Sim. Da última vez que nos vimos, você dormiu na minha casa e roubou o colar de ouro que a mãe havia me dado. — Sobre isso… — Ela pegou a bolsa e tirou o colar de dentro. — Toma. Peguei o colar e encarei-a. — Pensei que tivesse vendido! — Eu vendi, mas obtive de volta… Respirei fundo e olhei para ela de cima a baixo. Ao menos desta vez estava com melhor aparência que antes, mais bem vestida e sóbria. — Melita, sei que te fiz mal, roubei suas coisas, não te ajudei a cuidar da nossa mãe quando estava doente, mas… Eu estou melhor agora. — É mesmo? — Aproximei-me dela e arranquei-lhe a bolsa. — Me dá a bolsa, sua louca! — gritou, tentando pegá-la de volta, mas não deixei. Abri o zíper e virei para baixo, deixando cair as coisas de dentro. Tinham dois saquinhos de cocaína. — Vejo mesmo que mudou! O bom disso tudo é que provavelmente você não veio me roubar, já que ainda tem cocaína… — Pois não vim mesmo… Não desta vez! Eu consegui um emprego. — Mesmo? Que tipo de emprego? Deixe-me adivinhar… Traficante! — Não! Num bar… No Hermosa. Revirei os olhos e abanei a cabeça. Hermosa era um strip club, então já imaginava o que ela fazia. O que me deixava mais indignada era que Jessica sempre foi a mais inteligente, a que tinha as melhores notas, a que todos elogiavam e apostavam que teria um trabalho promissor. E ela poderia ter, se não tivesse se perdido tanto na adolescência. Era mais velha que eu, meu exemplo. Costumávamos ser tão unidas e eu tinha uma admiração enorme por ela, mas, depois dos dezoito anos, mudou por completo. — Só falta me dizer que você é uma stripper… — insinuei. — Claro… Porque você é perfeitinha, não é? Se formou, tem casa própria, ajudou a mamãe quando estava doente… A filha perfeita, sem defeitos! — Nunca disse isso!

— Mas age como se fosse! Minha irmã, desculpa se eu não fui o que todos esperavam. Encarei-a, vendo a tristeza nos seus olhos, mas não me deixei levar, pois já havia me decepcionado várias vezes. — Está mais do que claro que não sou bem-vinda… Sendo assim, vou embora. Se precisar de mim, sabe onde me encontrar. Afinal de contas, quer queira ou não, sou a sua única família que te resta — disse, encarando-me, tirando as palavras que eu tinha para lhe dizer. Pegou as coisas da bolsa e foi embora, e confesso que vêla ir partiu o meu coração, mas já estava cansada das suas falsas promessas, por isso, não a impedi.

Michael Meia-noite, hora perfeita para eu dar o fora deste quarto. Tentei, mais uma vez, abrir a algemas e não consegui. Estava ficando desesperado, essa era a única chance que eu tinha para sair. Fechei os olhos, pensando em desistir e tentar mais tarde, mas me veio a imagem de uma mulher loira. Lembrei-me do dia em que ganhei na luta de kickboxing, do quanto foi difícil, pois o lutador era um dos melhores boxistas que alguma vez já existiu, mas, acima de tudo, me lembrava porque consegui vencer. Consegui, porque olhei a loira grã-fina, que transmitia um olhar vencedor. Respirei fundo, abri os olhos e tentei mais uma vez. Consegui! Ainda estava fraco, mas não podia parar, não desta vez. Levantei-me e caminhei até a porta; espreitei à volta e estava desértico. Tinha apenas uma hora. Comecei a caminhar pelos corredores, estava melhor que antes. Vi a porta de um dos quartos se abrir e, antes que me vissem, entrei no quarto mais próximo, sem pensar nas consequências. Sorte a minha que a paciente estava adormecida. Era uma senhora idosa, que dormia profundamente. Fui até ao banheiro, pois pressenti que alguém ia entrar no quarto. Deixei a porta ligeiramente aberta e espreitei, vendo que era um faxineiro. — Droga — murmurei. Ele ia entrar no banheiro para tirar o lixo, então encostei-me na parede. Ele mal entrou e peguei-lhe por trás, pondo o meu braço a volta do seu pescoço e forçando para não se soltar. O homem tentou resistir, mas imobilizei a sua cabeça, fazendo-o perder as forças e desmaiar. — Desculpe, amigo, mas não teve outro jeito — disse, abaixando e começando a tirar a sua roupa. Precisava do seu uniforme, que acompanhava com o boné, para o meu disfarce. Vesti-me e levei a roupa tinha comigo. Encarei-lhe mais uma vez, olhando o estado em que o deixei. Deixando um homem apenas de sapato e cuecas, disse: — Perdão mais uma vez…

Ajeitei o uniforme, orando para que ninguém desconfiasse, pois era pequeno. A camisa me deixava com a barriga de fora e as calças me ficavam acima do tornozelo. O homem era pequeno, não devia ter mais que um metro e setenta. Saí do quarto e me aproximei do contentor, onde o faxineiro colocava o lixo, pondo-me a andar até chegar na sala onde guardavam os documentos. Caminhava ansioso e o mais rápido que podia. Quando estava quase chegando, uma das enfermeiras saiu do quarto. Foi quando eu vi o sujeito que procurava. Olhei para o número e continuei caminhando, indo em direção ao banheiro mais próximo. — Por favor… — disse a enfermeira. Parei, sentindo o meu coração acelerado. Estava de costas para ela, então baixei o boné, cobrindo mais o meu rosto, encolhi os ombros e direcionei a cabeça para o lado, dando-lhe a pouca visão lateral do meu rosto. — Peço que depois passe por este quarto, por favor. Acenei com a cabeça, atendendo ao seu pedido, e continuei andando no sentido oposto. — E olha… Parei novamente, começando a pensar no plano "B", caso o plano "A" desse errado. — Você deve ser novo aqui… Precisa pedir um novo uniforme, um que seja do seu tamanho — disse, rindo e caminhando na direção oposta da minha. Acenei a cabeça e continuei, dando poucos passos, apenas para dar tempo de ela se distanciar. Voltei com o contentor de lixo e fui até o quarto. Lá estava ele, dormindo. Fechei os pulsos, semicerrei os olhos e enchi o peito. Nunca pensei que pudesse odiar tanto alguém a ponto de querer matá-lo. Dei três passos e o sujeito acordou, encarando-me. Vi que queria dizer algo, mas não conseguia falar e muito menos se mexer, o que me favorecia. Parei por uns segundos, encarando-o, dandome conta que seria a primeira vez que bateria em alguém impossibilitado e fora de campo de combate, algo que um lutador nunca deve fazer. Seria pura covardia! Lembrei-me que tudo que aprendi com o meu treinador e dei um passo atrás, em dúvida se

procederia ou não. Recordei-me do meu pai: se começar, termine; caso contrário, nem pense no assunto. Quando ia aproximar-me, ele começou a gemer alto, tentando falar, ainda com dificuldade. Quis ir adiante, mas ouvi passos, então tive que sair do quarto. Peguei o carrinho de lixo e me afastei, mas, antes, deixei o objeto em algum canto. Voltei ao meu quarto e tratei de me trocar rápido, antes que alguém entrasse. Joguei o uniforme do faxineiro janela afora, coloquei novamente minha roupa e deitei-me, pondo e trancando as algemas no meu pulso. Não acreditava que, mais uma vez, eu havia falhado. Não era possível!

Capítulo 6 Melita Cheguei no vestuário e ouvi meus colegas comentando sobre o que ocorrera no dia anterior: um dos enfermeiros havia encontrado o faxineiro de cuecas quando ia ao quarto da paciente. — Gente, senti pena do homem, mas foi muito engraçado vêlo de cuecas! Ele estava tão envergonhado, coitado… — disse uma das minhas colegas. — Mas como isso foi acontecer? — Susana perguntou. — Não sei, ele diz que não se lembra de nada… — O que aconteceu? — perguntei, entrando no quarto. — Ela disse que encontrou o Domingos de cuecas no quarto de umas das pacientes… — explicou Maria, apontando o dedo para a colega. — Sério?! — Sim! — Susana confirmou. — E ele disse que não lembra como ocorreu, apenas que alguém o segurou por trás… — Coitado! Imagino a vergonha que passou… Mas ele está bem? — Sim, está. — Tem mais: lembra daquele paciente, o Ângelo? Disseram que ontem ele estava atormentado, parecia estar aflito… Mas ele não conseguia falar! — completou Maria. Tomei um susto ao escutar isso. — Você acha que tem alguma coisa a ver com fato de o faxineiro estar de cuecas? — Susana questionou. — Do Domingos, queres dizer! — eu disse. — Ah, tanto faz, ninguém liga! — ela resmungou, fazendo pouco caso.

— Possivelmente… Alguém está por de trás disso? — afirmei. — Como iremos saber, se tem semanas que as câmeras não funcionam? — Maria questionou. — Pois é… Queria saber o que ministro da saúde tanto faz, que tem séculos que já pedimos para inserir câmeras nos corredores, e nada! — Susana reclamou. Respirei fundo e terminei de me trocar. O hospital ficava num pequeno e humilde bairro, onde o governo não se preocupava muito em investir. Uma das coisas que faltava reparar eram câmeras, além de alguns equipamentos no hospital. — Melita… Como está o nosso amor platônico? — perguntou a Maria. — Que amor platônico? — perguntei, fazendo-me de desentendida. — Vocês se beijaram de novo? — Não, isso não volta acontecer, eu já disse! — Uhum —murmuraram a Susana e a Maria, entreolhandose e estendendo a palavra. — Eu vou trabalhar, que tenho o dia inteiro e hoje é o meu plantão! — falei, envergonhada. Falar sobre o Michael me deixava sem jeito.

Michael Deitado na cama, notei que a enfermeira estava com um ar preocupado enquanto me dava banho de esponja. Era impressionante como seu toque não era igual ao da Melita, pois, quando ela encostava em mim, meu corpo se arrepiava e meu pênis tomava vida. Encarei-a, esperando que me disse o que estava acontecendo, mas nada, apenas silêncio. Terminou meu banho e quase se esqueceu de trocar o medicamento. — Enfermeira… Ela parou e encarou-me, esperando. — Creio que esqueceu de trocar o soro e o analgésico! — Meu Deus, me desculpe! — disse, aproximando-se de mim e atendendo ao meu pedido.

— Tudo bem. — Ainda assim, eu via uma preocupação nos seus olhos e no seu jeito. — Aconteceu alguma coisa? — Michael, alguém chegou de entrar no seu quarto? Você notou algum movimento estranho? Neguei. — É que, ontem de madrugada, acredito que alguém tenha entrado no hospital e se passado por faxineiro! — explicou. — É mesmo!? — perguntei, fazendo-me de desentendido. — Sim! Eu e as outras enfermeiras estamos com medo, porque neste hospital as câmeras nem funcionam. — Ah, sério? — Fiquei satisfeito, mas logo tratei de fingir que isso me preocupava. Ela me encarou e fez um gesto no meu ombro. — Não se preocupe, não vai lhe acontecer nada! Vamos tomar mais cuidado. Acenei a cabeça, fazendo o possível para não mostrar minha satisfação. Ela pegou no meu braço e injetou-me o remédio. — É um calmante, você precisa repousar para se recuperar logo — explicou com um sorriso.

Melita Entrei no quarto número 20 e fiquei um tempo olhando para o Ângelo. Ele estava dormindo e tive a mesma impressão de quando via o Michael dormindo. Ele parecia aflito e respirava fundo. Não podia dizer se o estado dele era menos ou mais grave que o de Michael, pois ele também tinha sido alvejado no abdômen e tinha uma cicatriz no pescoço, mas com certeza era mais tranquilo para mim, já que, ao contrário do outro, ele não me dava trabalho. O estado de saúde dele contribuía para isso. Apesar de ter dificuldade em falar, estava em recuperação e, acima de tudo, colaborava para se recuperar. Aproximei-me com intenção de acordá-lo. — Mi… el — sussurrou com dificuldade. Aproximei-me mais ainda e pus a mão no seu pulso. Chameio, mas ele continuava adormecido.

— Mi… cha… el… — sussurrou mais uma vez e, dessa vez, tomei um susto. Michael! É verdade que ele falou com dificuldade e considerei a hipótese de ter ouvido mal. — Senhor Ângelo! — chamei-o. Michael, ele disse de novo. Dessa vez, estava certa de que tinha ouvido bem. Ângelo despertou assustado e encarou-me. O seu estado era penoso, pois ele estava imobilizado e desidratado, já que havia perdido muito sangue. Fiz o curativo, ouvindo os gemidos de dor num tom baixinho. Terminei e, quando ia afastar, ele pegou a minha mão de forma delicada. Encarou-me, tentando sorrir como forma de agradecimento. Acenei a cabeça e retirei-me do quarto. — Melita, você passa no quarto número 15 depois? — pediu uma das minhas colegas ao me ver caminhando em direção ao outro quarto. — Ai, agora não dá, tenho muitos outros pacientes para ver… Na verdade, tinha apenas mais um paciente; apenas não queria ir porque era o quarto do Michael. — Por favor, Melita! Eu preciso sair por uns minutos — pediu, quase me obrigando, pois me entregou o aparelho de medir a pressão e pôs-se andar. Olhei em volta, tentando encontrar um outro colega para fazer isso, mas estava apenas eu no corredor. Caminhei até o outro quarto, fiz o que tinha a fazer e preparei-me para ir ao quarto do paciente problemático. Respirei fundo e entrei no cômodo, com ar sério e agindo como se nada tivesse acontecido. — Bom dia — disse. — Bom dia, enfermeira Melita — respondeu-me com um ar calmo e sereno. — Sente-se melhor? Ele acenou a cabeça positivamente. Olhei ao lado e vi que ainda tinha o soro e anestésico em dia, então peguei no seu braço e injetei o antibiótico. Levantei a sua bata e vi que, no lugar onde tinha ferida, estava um pouco avermelhado, dando sinais de uma infecção. Passei a mão no seu rosto, verificando se tinha febre. Apesar de não parecer ser o caso, tirei o termômetro do bolso e voltei a alcançar seu braço. — O que foi?

— Vou medir a sua temperatura, fique quieto! — mandei, colocando o termômetro na sua axila. Seu olhar estava fixo em mim, credo! Como ele conseguia mexer comigo dessa forma? Tirei o termômetro e vi que a temperatura estava normal. — Está tudo bem? — perguntou, fazendo-me tomar um susto, deixando cair o termômetro no chão. Ele mostrou um sorriso malandro, achando engraçado. Devia se divertir em saber o que causa em mim. — Fico feliz em vê-la. Ignorei-o e coloquei o aparelho de medir a pressão no seu braço. Ele me encarou, enquanto esperava o sinal do aparelho. — Sua pressão está um pouco alterada, mas nada que seja grave, e sua pressão está normal. — Quis afastar-me, mas ele pegou a minha mão. — Não vai, fica aqui comigo — pediu. — Tenho mais que o que fazer do que ficar aqui! — Fiz força para me soltar, mas não consegui. Ele apertou mais o meu pulso e encarou-me. — Só quero te conhecer melhor… Poxa, Melita, você vai agir assim? — implorou. Vi a sinceridade nos seus olhos, apesar de algo obscuro estar neles. — Não vou te machucar, só quero conversar… Acenei a cabeça, aceitando seu apelo. — Sei o seu nome, sei que é enfermeira… — Encarou-me, esperando que eu continuasse a falar, mas permaneci em silêncio. — Você é casada? — Se eu fosse casada, estaria usando aliança. Ele mostrou um sorriso, achando graça na minha resposta. — Bem, eu moro com o meu gato, tenho uma irmã… — Parei e respirei fundo. — Minha mãe faleceu. É tudo que você precisa saber. — Sinto muito pela sua mãe. Fiquei em silêncio, mas mostrei um sorriso. — Agora… Esse gato, é um animal ou um homem? Esbocei um sorriso, achando engraçada a pergunta. — Animal, seu bobo…

— Acho bom, porque você é minha… Encarei-o, não acreditando que ele havia dito isso. Nunca me considerei de alguém. — Nunca serei sua! — Antes que pudesse me afastar, ele pegou o meu pulso novamente. — Fica aqui comigo… — Não posso. Fiz com que soltasse minha a mão e caminhei em direção à porta, mas parei ao ouvir um barulho vindo de trás de mim. Olhei e o vi saindo da cama, caminhando com dificuldade na minha direção. Assustada, aproximei-me dele e o segurei. Ficamos colados um no outro. — Você está louco? Podia ter se machucado! — Eu estou bem… — Meu Deus, custa ficar quieto? — berrei, furiosa. Ele me encarou com um sorriso malandro. — Você fica muito atraente quando está zangada — disse, e logo encostou-me na sua cama, impedindo a minha passagem. Olhei direito para ele e vi que não estava mais algemado. Fiquei tão preocupada com ele que nem me dei conta. — Mas como você… Ele continuou a me encarar com um sorriso travesso, deixando-me sem palavras. — Ontem à noite… Era você! Foi você que agrediu o Domingos! — Quem é Domingos? — Levantou uma sobrancelha. — O faxineiro! Você o agrediu! — Não o agredi, só o fiz dormir… — falou, num ar tranquilo. Meu corpo começou a tremer; a cada dia ele me mostrava que era alguém imprevisível. Antes que eu pudesse ter alguma reação, senti seus lábios nos meus. — Você é louco! — Afastei-o. — Sou sim, e acho que você sabe disso também! — Voltou a tomar minha boca, suas mãos presas na minha cintura. Não entendia como ele conseguia domar-me dessa forma. Virei o rosto, tentando fugir dos seus lábios, e ele distribuiu beijos molhados no meu pescoço, fazendo-me gemer. Estava sendo

prensada por ele, enquanto suas mãos enormes e atrevidas passeavam pelo meu corpo, que se perdia com o seu toque. Minhas palmas pousaram em volta da sua nuca e ele tomou minha boca novamente. Minha calça foi invadida pela sua mão e, sem mais demora, senti seus dedos entre as minhas pernas. — Você está tão molhada, Melita… — sussurrou no meu ouvido. — Me deixei ir… Eu quero ir… — disse, ofegante. — Seu corpo quer outra coisa. — Pressionou mais o meu corpo com o dele, fazendo-me sentir seu pênis, que aumentava o volume e endurecia cada vez mais. Ele estava pronto para mim e eu pronta para ele. Quando me dei conta, ele havia descido as minhas calças. Eu já estava totalmente entregue a esse homem, não tinha como voltar atrás; meu corpo não permitia. Michael encostou sua testa na minha. — Monta em mim, Melita Monta… — pediu, encarando-me com os seus olhos caramelo. Enterrei meus os dedos no seu cabelo loiro e tomei sua boca novamente, enquanto sentia a mão dele no meu traseiro. Num só movimento, o direcionei para a cama, fazendo-o se deitar. Fui ao seu colo, pondo as minhas pernas em volta do seu tronco. Ele tirou minha blusa e mergulhou o rosto no meu peito. — Não sabe o quanto esperei por este momento — disse, abocanhando os meus seios, sugando os meus mamilos. Ele tirou a bata e me encarou com aquele olhar malandro e obscuro. Aquele olhar, que eu temia e que, ao mesmo tempo, me deixava louca. Peguei o seu membro duro e coloquei-o dentro de mim, fazendo-o gemer e inclinar a cabeça para trás. — Que delícia! — sussurrou, as mãos presas no meu traseiro, acompanhando os meus movimentos de vai-e-vem. Fiz máximo para não gemer alto, mas era difícil me conter. Ele deu uma palmada no meu traseiro e puxou o tronco contra o dele, fazendo o meu peito se juntar seu, e começou acelerar os movimentos. — Ooh… Michael! — gemi o seu nome, enquanto ele me domava. Gemíamos um pelo outro, um misto de adrenalina e prazer que me fez gozar de imediato. Ficamos um tempo com as testas

encostadas uma na outra, arfando, como se nada mais existisse. Ele pegou o meu rosto e deu-me um beijo rápido, encarando-me com um sorriso malandro que me fez recordar da loucura que eu havia feito. Saí de cima de dele e comecei a me vestir.

Michael Havia muito tempo que não me sentia tão satisfeito como hoje. Finalmente, ela era minha. Sentir o seu corpo junto ao meu foi uma das melhores sensações, ao menos para mim, pois ela se afastou e estava aflita. Logo começou a vestir, enquanto eu já pensava no segundo round. Melita mal me encarava, agia como se estivesse arrependida. — Melita… — Cala a boca! — disse chorando. Confesso que a ver assim me abalou; pensei que ela tivesse gostado. — Eu te machuquei? — perguntei, mas ela me ignorou e continuou a se vestir. Ela abanou a cabeça, enquanto se aprontava. — Melita, por que está agindo assim? — O que você acha? Isto que aconteceu foi um erro, foi muito antiprofissional da minha parte. Você está doente, eu não devia ter… Isto não é certo! — Não fala assim, eu também quis… Ela abanou a cabeça, discordando. — Você quer conversar mais sobre isso? — perguntei, vendo que ela estava atordoada. — Eu quero distância de você. — O quê? — perguntei, furioso. Não estava acreditando que ela havia dito isso. — Isso mesmo que você ouviu!

Quis sair da cama, mas ela se afastou. — Fica quieto! Se ousar a se levantar, juro que eu grito! — disse furiosa, alterando o tom de voz. Eu parei e fiquei quieto, não porque ela ia gritar, mas porque vi que realmente ficou abalada e vêla assim acabou comigo. — Tudo bem. — E trate de se algemar novamente. — mandou, retirandose. Não sabia se ficava feliz pelo meu fetiche ter se realizado ou triste por ver sua reação. Perguntava-me o que eu fizera de errado para que ela agisse assim. Devo a ter a machucado; talvez ela tenha gostado. Dei um suspiro e encostei a cabeça para trás. Ouvi passos e tratei logo de trancar as algemas no meu pulso. Agora, tinha que pensar no meu outro objetivo: acabar com o sujeito. Mas também tinha que me entender com a Melita, tinha que acalmá-la, pois ela podia me denunciar, contar para alguém que eu consegui abrir essas algemas.

Melita Estava no armário feminino, preparando-me para sair, afinal, já tinha terminando o meu turno — eram dez horas da noite, hoje eu saía mais tarde. Ouvia as minhas colegas comentarem sobre suas vidas; Susana falava do homem com quem estava saindo, toda esperançosa que fossem namorar. — Eu não estou para namorar… Acabei de me divorciar! — disse Maria. Mostrei um sorriso, achando engraçado. — Agora que estou solteira, vou dar para todo mundo! — completou, rindo. — Dê para todos, menos para o meu e para o Michael, senão Melita te mata!

— Sim, é verdade! — Maria concordou, com um sorriso malicioso. — Parem, vocês duas! Não há nada entre mim e ele — disse. Elas riram. — Melita, vamos no bar mais tarde? — Gostaria, mas tenho um assunto para resolver… Elas se entreolharam, desconfiadas, mas não liguei. Peguei a minha mochila e fui embora. Elas eram minhas amigas, mas ainda não me sentia à vontade para falar sobre o que aconteceu; não porque não confiava nelas, mas porque ainda não acreditava que havia sido possuída por ele. Entrei no carro e voltei para casa. Dei de comer o gato e sentei-me no sofá. Michael… Ele não saía da minha mente e eu precisava falar com alguém. Peguei no colar que a minha mãe havia me dado e dei um beijo nele. Como eu sentia sua falta… Queria os seus conselhos. Respirei fundo e voltei a sair. Entrei no carro e fui para o lugar onde jamais pensei que iria. Chegando lá, fiquei um tempo olhando para a fachada; minhas mãos tremiam, pois estava ansiosa e não sabia por onde começar, mas estava decidida a ir até o fim. Saí do carro e entrei no bar, no Hermosa, que até não era nada mal. Não era luxuoso, mas era um bar limpo e com um bom ambiente. Sentei-me em uma das mesas e fiquei olhando para as strippers. — Olá, bonita! — disse uma moça de lingerie. Olhei para ela de cima a baixo e mostrei um sorriso, meio sem jeito, e acenei a cabeça, respondendo ao seu cumprimento. Ela se sentou ao meu lado, pegou a minha mão e disse: — Eu também saio com mulheres! — Não, não… Estou procurando uma pessoa — respondi, afastando a minha mão da dela. — Ah, está bem. Mas eu posso substitui-la… — Olha, você viu uma mulher negra, cabelos lisos, alta, magra e… De repente, entrou no palco uma mulher com as caraterísticas que eu havia dito. Era ela, a minha irmã. A moça olhou para mim sem entender. — Achou o que procurava? — perguntou.

— Sim! Ela saiu da minha mesa e foi ter com um cliente. Eu fiquei olhando-a dançar, via como se sentia bem fazendo isso. Tive que admitir que estava com melhor aparência que antes, como há muito que não tinha. Esperei por ela, precisávamos conversar. Num dos passos de dança, Jessica me viu e parou; ficamos um tempo nos encarando. Atrapalhada, parou de dançar e se afastou do pole, saindo do palco. Levantei-me, tentando ver para onde ia, mas ela sumiu, então voltei a sentar, esperando que viesse falar comigo. Respirei fundo, enquanto brincava com os dedos. — Você, aqui? Olhei-a, assustada e surpresa. Ela se aproximou de mim e se sentou, ficamos frente a frente. — Quem diria? Minha irmã perfeita neste lugar… — Eu não sou perfeita — rebati. Ela riu. — Eu me deitei com um paciente, no hospital… — Vocês fizeram sexo no hospital? Acenei positivamente com a cabeça, envergonhada. — Alguém viu? — Não, mas… — Então qual é o problema? — perguntou, fazendo pouco caso. — Vai contra os meus princípios. Fui antiprofissional, e ele é um criminoso! — E como ele é? — Ela estava curiosa demais. Revirei os olhos e sorri. Voltei a encará-la e Jessica olhou para mim, esperando pela resposta. — Loiro, alto, olhos caramelo. E quando ele sorri… — Parei por uns segundos. — Ele… — Poxa, você está mesmo apaixonada! Seus olhos estão brilhando. Desviei o olhar. — Isso não está certo! — afirmei. — E o que é certo? — Ela me encarou. Fiquei sem resposta, pensando no Michael, pensando no quanto eu havia gostado de ter sido possuída por ele. Meu corpo entrava em chamas só de pensar.

Capítulo 7 Michael — Mya… Mya, não me deixe! — sussurrei no ouvido da loira grã-fina. Segurei o seu rosto, acariciando sua pele branca que nem neve, e senti os seus lábios nos meus. Senti seu gosto, e ainda era o mesmo. Ela tocou o meu rosto e me encarou. — Tarde demais… Você me matou! — disse, encarando-me com os seus olhos azuis. Olhei direito para ela e vi o seu abdômen derramando sangue. Tomei um susto e me afastei, olhando para minha mão que segurava uma faca coberta de sangue. — Não… Não! — gritei desesperado, e ela caiu nos meus braços. — Michael… — Escutei alguém chamando-me, mas a minha atenção estava na Mya. Abri os olhos e estava deitado na cama, respirando fundo. — Michael, está tudo bem! Você está aqui! — disse Maria, pondo a mão no meu ombro. Eu respirava fundo e ainda agoniado; meu corpo tremia. — Michael… Encarei-a e senti um alívio por sair de um pesadelo, que parecia mais real do que sonho. Vi os olhos da Maria sobre mim; ela estava assustada. Levantou a minha bata e abanou negativamente a cabeça. — Michael… Teremos que te algemar nas duas mãos? — perguntou, preocupada. Olhei para mim mesmo e vi que a ferida no abdômen estava aberta, novamente. — Foi sem querer… — expliquei. — Eu sei. Terei que te dar um calmante e…

— Não! Não quero dormir! — implorei. — Tudo menos isso. Na verdade, fazia dois anos que não dormia direito, não só pelos pesadelos, mas por medo de serem reais. Não os suportava. — Não sei mais o que eu faço com você. Essa ferida vai infecionar se continuar se machucando dessa maneira… Já não posso mais aumentar a dosagem de antibióticos! Passei a mão na minha cabeça, ainda respirando fundo. Ela fez o curativo novamente, o que me fez gemer de dor. — Quem é Mya? — perguntou. — Por quê? — Você a chamou enquanto dormia. — Não interessa! — Sua esposa? Não respondi e desviei o olhar. Ela suspirou e abanou negativamente a cabeça. Neste instante, a porta abriu e vi uma mulher de cabelos ruivos, avermelhados, entrando. Olhei para o relógio e vi que horário de visita, e era a primeira vez que recebia uma depois de tanto tempo. — Posso entrar? — Se ver sangue e uma ferida aberta não te impressiona, pode sim! Já estou terminando o curativo. Ela entrou, mas virou o rosto. Não estava acreditando que essa mulher estava aqui; certamente veio para me atrapalhar ou levantar mais suspeitas. — Já terminei — declarou a enfermeira. A moça sorriu e se sentou na cadeira de acompanhante. — Você é parente? — perguntou Maria. — Sim, sou esposa dele. — Ela se aproximou de mim. — Como você está, meu amor? Maria me encarou surpresa, já que sempre referi a mim mesmo como solteiro, inclusive no meu cadastro do hospital. Ela sorriu e acenou a cabeça, indo embora em seguida, e vi me mais encrencado que estava antes. — Meu amor… — Carmélia, o que você quer? Não acredito que você veio aqui… Sério! — Tive que vir, a nossa casa foi assaltada ontem!

— Como assim? Eles roubaram alguma coisa? — Não, mas destruíram tudo da nossa casa! Respirei fundo e recostei a cabeça para trás. — Com certeza foram os capangas dele que fizeram isso. — Apertei os punhos. — Foi uma provocação daquele desgraçado — afirmei. — Não, Michael, foi um aviso! Eles disseram que você é o próximo. Ela quis pôr a mão em mim, mas me afastei. Olhou para minhas mãos e suspirou. — Não está usando aliança? — perguntou, irritada. — Não. — Encarei-a de cima a baixo. — Que peruca é essa? — Nota-se que não é meu cabelo? — Óbvio… Acha mesmo que as pessoas vão achar que você nasceu naturalmente com cabelo vermelho? — Nossa, Michael, gentileza não mata ninguém, sabia? — protestou contra meu comportamento. — Se não veio ajudar, não me atrapalha. — Você sabe que vou te ajudar, sempre! — Claro — disse com riso irônico. — Nosso casamento sempre foi uma troca de favores! Você precisa ir embora, tenho assuntos para resolver. Carmélia abanou negativamente a cabeça e cruzou os braços. — Por falar em favores… Trouxe um celular para você, imaginei que fosse precisar. — Ah, até que você serve para alguma coisa! — disse, rindo. — Sim… Qualquer coisa, você me liga! — Ela me entregou o aparelho. Deu-me um beijo na testa e estranhei essa atitude. Sorriu, achando engraçado a minha careta, e foi embora. Peguei no celular e o coloquei debaixo do travesseiro. Melita… Ela ia matar se soubesse que tinha esposa. Precisaria de conversar com ela e esclarecer essa situação.

Melita

Estava almoçando com a Maria e a Susana, e via no rosto da Maria que ela queria me contar algo, mas estava esperando os colegas saírem. Estava ansiosa para saber, então saí da mesa e fui para um canto da sala, esperando e encarando-a. Ela entendeu e foi ao meu encontro. — O que você tem para o me dizer? — O Michael é casado! — O quê? — Meu coração gelou. Ele havia me dito que era solteiro. Por essa eu não esperava. — A esposa veio lhe visitar hoje. Uma mulher de origem latina, deve ser do Chile. Ela é meio esquisita, mas sei lá… Achei que devia saber. — Não necessariamente. Ele é um paciente como outro qualquer… — disse, tentando disfarçar a minha agonia e o meu choque. Ele mentiu para mim e, o que mais irritava, era que eu havia cedido às suas seduções. Sentia-me uma idiota. — Melita, nós duas sabemos que não é verdade. — Claro que é… Nem sei por que você está me contando. O que eu tenho a ver com isso? — Amiga, eu ouvi vocês os dois na noite retrasada! — ela sussurrou. — Ia entrar no quarto, mas ouvi os seus gemidos e os dele. Sorte que o hospital tem paredes grossas e não se ouve do quarto ao lado, mas… Na próxima, sejam discretos, né! Engoli em seco ao escutar isso. Meu Deus! Havia me entregado a esse homem e nem tivera o cuidado de ser discreta. — Bem, eu… — Está tudo bem, Melita. Pode confiar em mim. Sou sua amiga, não vou contar para ninguém, só quero que tenha cuidado! Acenei a cabeça, mal conseguindo olhar para ela. — Se fosse a Susana, eu nem me preocupava, porque se apaixonava todos os dias por vários homens… — Ela riu. — Mas você… Parece estar apaixonada de verdade por ele. Fiquei em silêncio. Não adiantava eu tentar justificar ou explicar, ela estava certa: eu estava apaixonada, por um homem criminoso e casado. Ele era pior do que eu pensava, nunca imaginei que me envolveria com alguém assim. (…)

Caminhando pelo corredor, vi a minha colega e a chamei, sabendo que ela ia ao quarto número 15. — Susana… — Melita, vou no quarto do Michael… Olhei direito para ela e vi que segurava um balde de metálico, toalhas e uma esponja. — Deixa que eu cuido disso — disse. Susana olhou para mim, desconfiada e sorrindo. — Sei… Sorri de volta e recebi o material.

Michael Vi a Melita entrando no quarto com um balde metálico. Mostrei um sorriso malandro, pois, finalmente, ela ia me dar banho. Como esperei por esse dia! Contudo, vi que ela estava aborrecida. Esperava que me perguntasse algo sobre a visita que eu tive, mas talvez a Maria não tivesse lhe contado. — Melita… — Hora do banho… — disse, pondo o balde na mesa próxima de mim. Acenei positivamente com a cabeça. Ela se aproximou mais de mim e tirou a minha bata. Melita estava fria e serena, agia como se não tivesse acontecido nada. — Ainda está chateada por causa daquele dia? Ela não respondeu. Pegou na esponja e começou a passar no meu corpo e, nunca pensei que fosse dizer isso, mas não estava gostando dessa sensação. Melita me encarou e mostrou um sorriso; antes que eu pudesse reagir, senti a sua mão nas minhas bolas. — Ei, ei! Calma! — reclamei, tomando um susto.

Ela não apertou, mas segurou tão firme que me deu a impressão que ia arrancar-me as partes íntimas. — Soube que sua esposa veio lhe ver — disse com olhos cheios de fúria. — Melita, vamos conversar… — implorei. — Vamos! Ela estava mesmo furiosa. — De preferência, sem a sua mão no meu amigo aí embaixo. — Por que você me disse que era solteiro? — Pressionou a sua mão, causando-me uma ligeira dor. — Ai, caramba! Para! — mandei furioso. Ela folgou a sua mão, mas sem lagar. — Eu ia te contar. Ela continuou encarando-me e esperando uma explicação. — Não é bem assim. Ela não é minha mulher mesmo. — Não entendi! — Somos casados apenas no papel. Melita me encarou de cima a baixo e soltou-me, mas acho que ela não acreditou no que eu disse. — É assim… — Tanto faz! — interrompeu-me. Terminou de me dar o banho e eu permaneci calado. Preferi esperá-la terminar, não queria provocá-la e correr o risco de ela apertar a minhas bolas novamente, pois tinha certeza que, se isso acontecesse de novo, dessa vez iria me castrar. Fiquei olhando para ela e vi que estava aborrecida e magoada. Não sabia por que, mas me custava vê-la assim, não queria ter lhe machucado dessa forma. Logo que terminou, segurei sua mão e ela reagiu, pressionando a outra mão no curativo do peito onde fui alvejado. — Ai, para com isso! — pedi, gemendo de dor. — Então não encosta em mim — disse, tirando a mão do ferimento. — Me larga. — Não. Não até você me escutar. Pode me machucar de novo, fique à vontade! — afirmei. Ela iria me ouvir, não deixaria que se afastasse de mim assim, sem poder dar uma explicação. Ela me encarou, surpresa com a minha resposta. — Como disse, só é minha esposa no papel. Ela é estrangeira, nos casamos porque ela ia ser deportada! É uma

grande amiga minha, me ajudou, e eu só quis retribuir o favor. Mas nunca houve nada entre mim e ela. Melita desviou o olhar. Ouviu o que tinha a dizer, mas ainda assim não acreditou em mim. — Melita, você queria que eu fizesse o quê? “Oi, eu te quero… Aliás, sou casado!” — disse de forma irônica. Ela suspirou e abanou negativamente a cabeça, protestando. Tinha razão de estar furiosa comigo, mas não podia contar-lhe. — Se eu tivesse dito que sou casado, você não ia me querer! — Não ia mesmo! — Ela quis se afastar, mas continuei segurando sua mão. Não queria que ela fosse embora assim, magoada comigo. — Um casamento de fachada… Nada mais. — Bem, você conseguiu o que queria: ir cama comigo. Então não precisa se esforçar tentando me esclarecer alguma coisa, ou… — Não é isso! Ela começou a fazer força, tentando se soltar, mas a segurava firme. — Me solta, Michael! — Não sem nós nos entendermos… — Por que isso é tão importante? Me larga! — gritou. — Porque eu estou apaixonado por você! — falei, e eu mesmo fiquei em choque com isso. Não sabia exatamente o motivo de eu ter dito aquilo, mas, quando dei por mim, já estava me declarando para ela, no desespero de que saísse furiosa comigo e contasse para todos o que sabia de mim, estragando os meus planos. — O que você disse? — Você ouviu, não vou repetir! Além do mais, quando transamos, você saiu chorando que nem uma doida. Se arrependeu de ficar comigo? Ela desviou o olhar. — Não gostou? — insisti em saber. Ela respirou fundo, olhando para baixo. — É claro que gostei, e é por isso que fiquei chateada. Não com você, mas comigo mesma — sussurrou.

Fiquei mais aliviado quando ela falou isso. Acabaria comigo se ela dissesse que não gostou ou que a machuquei. Fiquei um tempo encarando-a. O seu jeito de falar, seus gestos, seus lábios carnudos, sua pele cor de chocolate… Não conseguia parar de olhála. Não podia negar que ela mexia comigo. Estava me deixando levar pela sua beleza e pelo seu jeito gentil, carinhoso de ser. Melita era como uma flor que eu queria tocar e sentir o cheiro. — O que foi? — perguntou, fazendo-me despertar. — Nada. — Soltei sua mão, dando a liberdade de ela ir embora. Vi que estava pensativa e queria me perguntar algo, mas, nesse instante, uma enfermeira entrou, dizendo que precisava da sua ajuda. As duas saíram apressadas do quarto. Sabia que eu tinha que agir o mais rápido possível, pois já estava me envolvendo demais com essa enfermeira e, a cada dia que passava, ela sabia mais sobre mim. Passado algum tempo, iria querer saber mais da minha vida pessoal, o que não seria bom para ela, e muito menos para mim. Eu sabia que ia magoá-la, cedo ou tarde, mas não havia outra saída, pois tinha que terminar o que começara, e não iria parar até conseguir. ♠ À uma hora da madrugada, abri as algemas, decidido em ir ao quarto número 20 de qualquer jeito. Levantei a minha bata e vi que o local da minha ferida estava com alteração de cor, mas pouco me importei. Tirei o soro e a medicação do meu pulso e saí da cama. Meu corpo estava fraco e quente, mas nada que me impedisse de andar; conseguia ficar em pé. Possivelmente o plano deu certo, estava com sinais de infeção. Poderia esperar, mas tinha que agir rápido, antes que os sinais e os sintomas se manifestassem cada vez mais e me impedissem de caminhar. Quando saí do quarto, estava tudo desértico, com pouca luz. Hoje seria o dia que acabaria com aquele sujeito e, depois, podiam fazer o que quisessem comigo, pouco me importava. Dei mais três

passos e entrei no quarto número 20. Observei-o dormir. Minha compaixão para com ele era nula; eu o queria morto. Aproximei-me mais ainda e, quando quis segurá-lo, ele abriu os olhos e bateu na ferida do meu abdômen. Foi um movimento tão rápido que não consegui me defender; sentime mais fraco e me apoiei na cama, dando-lhe a facilidade de segurar minha nuca. O golpe no meu abdômen tão foi forte que fiquei tonto. Pensei que ele estivesse fraco e dormindo; fui pego de surpresa. — Parece que você está pior que eu, desgraçado! Estou bem melhor do que pareço — disse Ângelo, segurando-me, uma mão na minha nuca, a outra pressionando ainda mais o meu abdômen. Tentei me defender, mas estava demasiado fraco e com dor. Comecei a perder os sentidos, sentindo o sangue escorrendo em mim. Ele pressionou tanto a minha ferida que aa suturas se abriram novamente. — Quem vai matar você, sou eu! — disse ele. Caí no chão. Coloquei a mão na ferida, tentando impedir o sangramento. Algum tempo depois, a enfermeira entrou no quarto e eu perdi a consciência. ♠ Abria e fechava os olhos, constantemente. Via tudo nublado e estava novamente deitado na cama. Não fazia ideia do que estava acontecendo, apenas ouvia a enfermeira comentando que o meu estado era grave, física e psicologicamente. Ouvia-as afirmando que o meu caso era mais de um tratamento com o psiquiatra do que na prisão, pois as minhas atitudes eram irracionais. “O que será que ele ia fazer no quarto número vinte?” “Não sei, mas está muito sinistro e assustador!” “Você acha que devemos transferir o paciente do quarto número vinte para outro lugar?” “Talvez, mas ele disse que este paciente apenas ia fazer-lhe uma visita e começou a passar mal” “Será? A ferida estava aberta” “Não sei de mais nada, é a segunda vez que este paciente sai da cama, sem condições! Nunca vi um paciente que não

colabora para ficar bem. Ou ele não quer ir para prisão.” “Se é isso, ele conseguiu, pois, neste estado, ele não vai ao lugar algum. Está ardendo em febre! Faz dois dias que está assim! A ferida infecionou!” Tentava falar, mas não conseguia, pois estava fraco para isso. Sentia meu corpo em chamas e não conseguia me mexer.

Capítulo 8 Melita Fazia dois dias que o Michael estava com febre alta e delírios. Olhava para ele dormindo e parecia que nem sequer estava neste mundo; algo lhe perturbava. Cheguei perto dele e passei pano frio no seu corpo para ver se febre baixava. Infelizmente, não conseguia baixar definitivamente. A ferida no abdômen fora tão mexida que causou uma grande infeção. Tinha medo que ele morresse. — Melita — chamou Maria, entrando no quarto. Encarei-a, esperando que dissesse o que tinha a dizer. — Amiga, faz horas que não sai deste quarto! Você tem outros pacientes por ver. — Eu sei — disse, limpando a lágrima no canto do olho. — Desculpa, eu perdi a hora… — Tudo bem, eu vi os outros que faltavam. — Ela se aproximou e pôs a mão no meu ombro. — Vai ficar tudo bem. Ele vai melhorar… — Espero que sim. Quais os pacientes que faltam? — Quartos número 5, 13 e 20! — O Ângelo — disse, pensativa. — Eu vou lá. — Melita, não se envolva nisso! — Quero saber o motivo do Michael ter ido lá! Saí do quarto e fechei a porta. Caminhei apressada e entrei no quarto, vendo-o deitado, encarando-me. Aproximei-me dele, medi-lhe a pressão e troquei o soro. — Bom… Dia… — disse ele, com a voz trêmula. Parecia ainda ter dificuldade em falar. — Bom dia, vejo que está falando melhor que antes! Ele acenou positivamente a cabeça e sorriu. — Senhor Ângelo, faz dois dias que o Michael veio aqui, lembra?

Ele confirmou a cabeça. — Ele é louco, Melita, um assassino! Você corre perigo ao lado dele! — Por que fala isso? — Você fala dele e os seus olhos brilham… Não dá para esconder… Desviei o olhar, meu coração ficou aos pulos. — Ele usa as pessoas, as manipula… Foi o que fez com a minha esposa! — Como assim? — Achei estranho que ele falasse sem nenhuma dificuldade, mas a curiosidade falou mais alto. — Ele fodeu a minha mulher, era amante dela. — Ângelo começou a chorar. — E agora ela está morta! Limpei a lágrima no canto do olho. Sentime enganada e usada por ele, sem contar que estava me apaixonando. Nesse instante, Maria entrou e deu um sinal, chamando-me. Fui até ela, pois já terminado o que tinha a fazer. — Viu só, seu amorzinho é um assassino! — disse Maria, sussurrando e fechando a porta. — Você estava… — Sim, eu estava escutando pela porta sim! Melita, você tem que esquecer isso, não se envolva mais! Acenei a cabeça, concordando com ela.

Michael Semanas se passaram e meu estado não parecia melhorar, pois a minha imunidade estava baixa e por vezes tinha febres. Era tanta medicação que me davam enjoos e mal-estar; alguns eram sedativos. Claro que me davam sedativos, queriam ter a garantia que eu não voltaria a sair dessa cama até eu me recuperar, mas isso não era problema, pois, desta vez, estava disposto a ficar quieto por um tempo. Tinha de me recuperar para acabar com aquele sujeito, que, pelo visto, estava bem melhor que eu. Eu era

um idiota, pois ainda tive compaixão para com ele, achando que estava moribundo. — Bom dia, Michael — disse a enfermeira a Maria, entrando no quarto com o material para refazer o curativo. — Bom dia — respondi com cara de poucos amigos, pois esperava outra pessoa. Nesses dias, a Melita não viera me ver, e tinha de admitir que sentia falta dela. Eu já me sentia melhor. A febre já tinha baixado um pouco. — Sente-se melhor? Você teve febres altíssimas! Olhei para o meu pulso, vendo as algemas. — Nem pense em sair! Em breve, será operado. Assim que estiver melhor… Finalmente! — Ela sorriu, encarando-me, desafiando-me com olhar, mostrando que sabia das minhas intenções. — Onde está enfermeira Melita? — Ela está ocupada. — Pode chamá-la? — Ela virá mais logo, para lhe ver. — É a terceira vez que você diz isso. Está mentindo! — Ela não quer te ver! — Maria se aproximou de mim. — Pare de fingir, nós já sabemos quem você é! — Está enganada! Chame a Melita, agora! — mandei. Ela riu e olhou para mim de cima a baixo. Tentou me tocar, mas segurei o seu o braço. — Você não vai encostar em mim! Fale para ela que eu estou a esperando… Diga para deixar o problemas pessoais de lado e vir fazer o seu trabalho! — Nossa, como você é… — Abusado? Sou mesmo! — afirmei. Sabia estava sendo infantil, mas eu precisava vê-la. Sentia a sua falta e não conseguia ficar longe dela. Sem dúvidas, Melita soube que fui ao quarto daquele sujeito e deve estar pensando um monte de coisas erradas ao meu respeito.

Melita — Meu filho, de jeito nenhum eu poderei ter alta! Doem-me os intestinos… — protestou a senhora idosa do quarto número 5. — Mas, senhora… Não apresenta nenhum sinal ou sintomas de algum problema! Faz três meses que a senhora está aqui… Fazemos assim, eu lhe dou alta e, qualquer coisa, a senhora volta — disse o médico. — Se eu sair deste hospital, vou morrer… Já estou moribunda! — insistiu. — Minha senhora, não convém a senhora ficar aqui… Isto é um hospital! — rebateu, segurando a mão dela. — Lembra que a senhora falou que mora perto da minha casa? Então, prometo que virei visitá-la pra ver se está tudo bem. A senhora o encarou com ar triste, seus olhos demonstravam solidão absoluta. — Promete? Ele acenou com a cabeça. Na verdade, eu tinha compaixão por ela. Sabia que se sentia abandonada, então queria ter atenção. Suas mãos tremiam e lágrimas saíram dos seus olhos. — Meus filhos só estão me esperando morrer para ter minha herança! Eu não sirvo mais para eles… — disse quase lacrimejando. — Isso não é verdade — afirmei, tentando acalmá-la. — Também existe um lar de idosos, onde… — Não! De jeito nenhum… — interrompeu a senhora, alterando o tom de voz. Vi que a sua teimosia iria persistir por um bom tempo. A porta se abriu e quando, olhei, vi a enfermeira Maria, com cara de poucos amigos. Fui até ela, enquanto o médico conversava com a paciente. Cheguei perto dela, que me puxou para o corredor. — Vai lá no quarto 15, não suporto mais o seu namoradinho! — sussurrou. — Ele não é meu namoradinho, e eu não vou! — Teimei, cruzando os braços. — Melita, ele está fazendo birra, não aceita que ninguém lhe toque. Você sabe como ele é! E aquela ferida está feia, se não

tratarmos, vai necrosar. Fiquei aflita ao escutar isso, Deus me livre que isso acontecesse com ele. Nossa, que raiva que eu tinha daquele problemático, pois ele não me deixava em paz, nem física, nem psicologicamente. — Vai lá… Não quero nem saber! Você cuida do problemático e eu da velha! Fui! — disse Maria, entrando no quarto. Respirei fundo e fui até o quarto 15. Só de abrir a porta e lhe ver, meu corpo ficou arrepiado. Ele podia ter todos os defeitos do mundo, mas me tirava o meu fôlego só com o seu olhar. Meu corpo quase implorava pelo seu toque. — Finalmente! — comemorou com um sorriso maroto. — Sente-se melhor? — perguntei, enquanto preparava o material para tratar a ferida. Ele acenou positivamente com a cabeça, comendo-me com o seu olhar obscuro. Aproximei-me dele e levantei a bata; realmente a ferida estava feia e eu não suportava vê-lo assim, mesmo sabendo o que ele fez. — Senti sua falta. — Bem, eu vou fazer o curativo. Você vai sentir dor, vou ter que limpar a ferida para não necrosar — afirmei, ignorando o que ele dissera e agindo como se fosse um paciente como outro qualquer. — Melita… — Diga, senhor. — Ah, sério? Você vai agir como se não tivéssemos nada um com outro? Não respondi e continuei preparando o material. Ele respirou fundo e voltou a me encarar. — Por tudo que é mais sagrado, Michael, para com isso! Para de se machucar dessa forma — pedi, olhando para o seu abdômen. Ele me encarou, parecendo ler os meus pensamentos. — O que você ouviu sobre mim? — Como assim? — Maria disse “a gente já sabe o que você é”.

— E não é para menos. Você foi para quarto do outro paciente… O que você ia fazer? Matá-lo? Ele desviou o olhar, respondendo-me o que eu tinha medo de ouvir. — Meu Deus! Ia mesmo matá-lo? Você um assassino, e me usou… — Não sou assassino, Melita. — Ele levantou o tom de voz, parou por uns segundos e abanou a cabeça. — E muito menos te usei. Eu realmente senti a sua falta. Comecei a fazer o curativo, e ele fazia o possível para não gritar de dor. Seus gemidos me deixavam aflita; não sei o que acontecia comigo que tudo dizia respeito a ele me preocupava. Parei por uns segundos para ele respirar, e para eu respirar também, pois estava sensível e me sentia mal. Não sei por que, pois isso nunca me aconteceu, nunca tive problema em ver uma ferida infeccionada. — O que ele disse? — Michael encarou-me. — Deixe-me adivinhar, ele disse que sou bandido, manipulador… — Você era amante da esposa dele. — Foi isso que ele disse? — perguntou-me, furioso. Não respondi e continuei a limpar a ferida; ele gemeu mais uma vez. — Ele matou minha mulher… Nunca fui amante de ninguém! — Quer saber? Eu não quero mais ouvir. Chega! — Não, você vai me ouvir! Não é justo que ouça apenas uma versão da história! — afirmou. Permaneci calada, talvez ele tivesse razão. — Mya… — Ele parou um tempo. — O nome dela era Mya. Ela já foi casada com ele antes, mas ele a agredia, fazia coisas horríveis com ela… Quando a conheci, ela já estava separada, mas ele não queria dar o divórcio. Nunca se conformou… —Afirma. — Ela está… — Morta. — Ele apertou os punhos, quase lacrimejando. — Na noite que eu ganhei o campeonato, eu a pedi em casamento e, quando íamos sair para comemorar, ele atirou nela… — Michael parou de falar e respirou fundo. Seus olhos brilhavam, podia sentir a sua dor. — Ela caiu e morreu nos meus braços! — Sinto muito, mas tem outras formas de… — Comecei a falar. Acreditei no que ele disse, pois me pareceu sincero. Ou talvez

tenha acreditado nele por estar apaixonada, não sei. — Ele nunca foi pego, pois é policial… Nunca consegui provar que foi ele quem a matou — interrompeu-me, tirando as palavras da minha boca. — Não sou o bandidinho ou o marginal que você pensa que eu sou! — Não falei… — Mas age como se eu fosse um. — Porque você se comporta como se fosse! — Desafiei-o e ele me encarou, mostrando o seu desagrado. — Eu quero justiça! — Você quer vingança! — Chame do que você quiser. Eu o quero morto! Suspirei e revirei os olhos, abanando negativamente a cabeça. — Ele vai me machucar de novo, agora tem mais motivos para isso. — Qual outro motivo, além de você ter tentado o matar antes? Ele ficou um tempo me encarando e esperei por uma resposta, mas ele desviou o olhar. — Agora cabe a você escolher em qual das versões quer acreditar. Na do bandido ou na do seu policial querido. — De onde você tirou essa ideia? — Certeza que você fica de conversinha com ele, senão, não estaria me evitando. — Impressão minha ou está com ciúmes? — perguntei, desconfiada. — Tanto faz! — resmungou de cara fechada. Eu ri baixinho e ele desviou o olhar, mostrando-se frustrado com a minha atitude. — Senti sua falta… Falta dos seus cuidados, do seu cheiro, da sua boca… — Para! — ordenei, e tratei logo de terminar o curativo. — Você vai ser minha de novo. — Isso não voltará a acontecer, pode ter certeza. — Afasteime antes que ele pudesse sequer pensar em me tocar. Peguei no material e pus-me a caminhar em direção porta.

— Veremos. Estou louco para sentir o seu sabor na minha boca e te chupar inteirinha… Delícia! Ignorei-o e fechei a porta, sentindo a minha calcinha molhada por causa das suas palavras e por causa daquele olhar que ele tinha. Aquele mal-estar voltou novamente, como se o meu estômago estivesse rejeitando algo. Deixei o material no chão e fui correndo para banheiro. Sentei-me no chão, me apoiei no vaso sanitário e comecei a vomitar.

Capítulo 9 Três dias depois

Melita Três dias depois — Finalmente você está saindo conosco, né, Melita! — disse Susana, satisfeita. — Preciso de novos ares. — Sei — respondeu, com um sorriso malandro. Olhei para o lado, observando o ambiente do bar. Dessa vez, estava à procura de uma face masculina interessante; quem sabe assim eu conseguia pensar menos o Michael. O bar era bem frequentado e tinha homens bonitos, mas ninguém era como ele. Olhei para a Maria e notei que o seu rosto mudou. — O que foi? — perguntei. — Nada! — disse, atrapalhada, mas seu olhar estava preso numa mulher, que estava perto da bancada. — Quem é ela? — É a esposa do Michael. Meu coração gelou e voltei a olhar para ela. — Ela está diferente. No hospital, tinha cabelo ruivo. Peruca, melhor dizendo. — Por que ela usaria uma peruca? — perguntou Susana. — Talvez queria fazer uma surpresa ao maridinho… — disse Maria, rindo. Eu me levantei e fui até lá. Susana e a Maria me chamaram, mas as ignorei. Estava decidida a falar com ela e o pior é que nem sabia por onde começar. A moça me encarou de cima a baixo. — Você é a esposa do Michael?

— Sou — respondeu, atrapalhada. — Quem é você? — Eu sou enfermeira e trabalho no hospital onde ele está internado. Ela pôs a mão na cintura. — E o que você quer? Eu ia falar, parei por alguns segundos para pensar no que dizer. Ela me encarou, desconfiada, e mostrou um sorriso. — Michael deve ter te falado que nosso casamento é de fachada, certo? — perguntou, desconfiada. — É, ele me disse isso… — Você deve ser mais que uma enfermeira para ele. Está estampado na sua cara. Eu respirei fundo. — Por que vocês se casaram? — Troca de favores. — Que favores? Ela mostrou um sorriso de lado. — Vou te dar um conselho: não confia nele, o Michael só pensa nele. É capaz de coisas que você nem imagina, não se engane com o seu rosto bonito… Fiquei sem palavras e a deixei ir embora. Respirei fundo e fui ao banheiro para lavar o rosto. Minha mente estava confusa e o meu coração mais ainda. Michael era imprevisível, mas algo me dizia que ele tinha um bom coração, mesmo não o conhecendo direito. Para dizer a verdade, até tinha medo de saber mais sobre ele, tinha medo do seu olhar obscuro, tinha medo de descobrir que estava apaixonada por psicomaníaco. Não queria me envolver, mas era tarde demais. Eu já estava envolvida, agora mais do que nunca. Michael estava há um mês e meio no hospital e, nesse pouco tempo, tudo aconteceu.

Michael

— Você está linda! — disse, olhando para minha grã-fina, minha Mya. Estava deitado na cama, enquanto a observava se maquiando. As janelas do quarto deixavam os raios solares iluminarem ainda mais a minha loira. Levantei-me da cama e fui ao seu encontro; ela, de imediato, me recebeu com um beijo. — Sinto sua falta. Ela me encarou com olhos tristes. Sua testa começou a sangrar, pondo-me desesperado. Segurei o seu rosto, implorando pelo seu bem-estar. Seu corpo se apoiava no meu, enquanto suas pernas perdiam forças. — Mya… Não me deixe. — Tarde demais — sussurrou. — Você me matou… — Não! — gritei, abrindo os olhos. Respirava fundo em desespero. Eu lembrava de tudo que havia perdido, todos os dias. A porta se abriu e vi Melita entrando. Ela ficou uns segundos encarando-me, como se já soubesse que eu acabara de ter um pesadelo. — Você, aqui… — disse. Ela mostrou um sorriso irônico. — Esperava outra pessoa? Ainda sou enfermeira deste hospital. — O quis dizer é que pensei que não viesse mais. — Para você fazer birra como uma criança? — reclamou. Eu ri, achando engraçado. — Sua cirurgia será amanhã, então você tem que ficar em jejum a partir das oito horas. — Como assim você me avisa isso de hoje para amanhã? — Você está melhor e não convém ficar muito tempo com a bala no peito. Também, o médico decidiu te operar antes… — Ela pausou por alguns segundos. — Antes que você faça outra loucura. Acenei positivamente, em choque. Não esperava que fosse acontecer tão cedo. Olhei para ela e vi os seus olhos brilhavam, seu rosto parecia estar preocupado. — Vai correr tudo bem — disse, segurando sua mão. — Espero que sim…

— É uma cirurgia de risco? — Sempre é… — Corro o risco de nunca mais te ver? Caso der errado… — Não pensa assim… — respondeu, triste. Quando ela pôs a mão no meu peito, segurei-a e tomei a sua boca carnuda. Como eu gostava de beijar aquela mulher. Dessa vez, ela não resistiu e cedeu. Suas mãos seguravam o meus braços enquanto arfávamos no beijo. Quando ela estava perto de mim, eu me sentia com vida, como se houve alguma esperança de ser feliz novamente. Não queria ter me apegado a ela, mas eu já estava. Queria-a só para mim; ela era minha. — Vem aqui! — Puxei-a para junto de mim, pondo-a no meu colo. — Não quero te machucar — disse. — Estou bem, você é tudo que preciso. Tomei sua boca novamente, com mais intensidade. O calor do seu corpo me atiçava e meu pênis duro latejava. Poxa vida, como eu a desejava, muito mais do que eu pensava.

Ângelo Eu estava em casa, meu lar, meu doce lar. Era tudo perfeito. Mya… Minha esposa foi tirada de mim, manipulada por alguém que se mostrou mais esperto do que eu, mas hoje… Hoje ela estava comigo, estávamos juntos, grudados um no outro. Abracei-a por trás e cheirei o seu cabelo. Seu cabelo loiro e sedoso. — Ângelo… — sussurrou o meu nome. Dei um beijo na sua nuca e puxei o seu cabelo para trás, fazendo-a gemer. Afastei a alça do seu vestido, dei um beijo no seu ombro e fiz um carinho no hematoma que ela tinha. — Mya… Minha Mya… Jamais te machucaria — afirmei. — Eu sei… — ela sussurrou e virou-se para mim, encarandome com os seus olhos azuis. Vi seu rosto deformado, coberto de

hematomas. Seu olho estava inchado e sua boca sangrava. — Mya… — Tarde demais… Despertei dando um grito. Olhei à minha volta e vi que estava no hospital. Queria que tudo voltasse no tempo. A porta se abriu e vi uma mulher de cabelo marrom-claro. Ela sorriu, encarando-me, e se aproximou de mim. Fiquei surpreso e superei, não esperava a sua visita. — Você veio? Clarice… — Claro que eu vim, Ângelo… — Pensei que você também fosse cegamente apaixonada pelo Michael, como a enfermeira Melita. — Eu não sou burra! Michael só ama a Mya. — Não fala da Mya! — mandei, furioso. Só eu podia falar dela, só eu! — Calma! — Trouxe o que pedi? Ela acenou a cabeça e entregou-me um papel. Ansioso, peguei-o e li seu conteúdo. Lá estava o número daquele imbecil; sabia que a esposa dele tinha lhe dado um celular. — Agradecido, Ca… — Clarice! Meu nome é Clarice. — Por que demorou tanto a dar um sinal? — Você falou comigo pelo telefone, isso não basta. Precisava ver pessoalmente com quem estava falando. — Prudente e esperta! — Ri. — Sempre! Nesse instante, a enfermeira Maria entrou no quarto. Ficou um tempo olhando para nós os dois, desconfiada. Clarice, de imediato, colocou os óculos escuros e se afastou de mim, passando por ela com o olhar baixo e ombro encolhido. Honestamente, ela era péssima em disfarce. Dobrei o papel e o escondi por debaixo do travesseiro.

Melita Não sabia o que estava fazendo, apenas me deixei ser domada por ele novamente e, dessa vez, sem culpa, porque me sentia sua. Tirei sua bata e ele puxou o meu cabelo, dando mordidas e chupando o meu pescoço. — Eu disse que isso não voltaria acontecer — reclamei, gemendo e com as mãos enterradas no seu cabelo. — Ah, não? — Ele passou a mão na minha coxa e a apertou forte, em seguida pôs a mão no bolso da minha calça. — Então o que isto está fazendo no seu bolso? — perguntou, mostrando o preservativo com um sorriso malandro, deixando-me encabulada. — Precaução. Ele riu e tomou minha boca novamente, deixando-me sem fôlego. — Se você me desalgemasse, seria bem melhor — disse. — Não! Você está bem assim… Além do mais, não tenho a chave — respondi, gemendo com as carícias em mim. Tirei a blusa e ele foi de boca no meu peito, lambendo e chupando, enquanto a sua mão apalpava o meu traseiro, que rebolava no seu pênis duro. Sua mão livre deslizou e invadiu a minha calça, até alcançar a entrada entre as minhas pernas, inserindo dois dedos. — Você está pronta para mim… — disse, ofegante. Voltei a tomar sua boca, ansiosa para tê-lo dentro de mim. — Tira a calça — mandou, enquanto abaixava a cama para posição horizontal. Assim o fiz. Saí cima dele e tirei as calças, enquanto ele me comia com o olhar e me oferecia um sorriso malandro. Voltei a sentar o seu colo e peguei no seu membro, massageando e querendo pressioná-lo na minha entrada, mas ele pegou minha mão. — Você lembra o que eu disse a última vez? Abanei a cabeça, negando. — Quero sentir o seu sabor, então… Vem aqui, quero o meu rosto bem no meio das suas pernas. Parei por uns segundos, com receio de magoá-lo.

— Vem logo! — mandou, encarando-me. — Estou ótimo e louco para te foder com a minha língua. Assim, fui ao encontro da sua boca, com cuidado para não o machucar, e me sentei no seu rosto. A sua mão apertou o meu traseiro, enquanto sentia sua língua brincando com a minha virilha e chupando-me de forma insaciável. — Ooohh, Michael! — gemi enquanto rebolava no seu rosto. Ele inseriu mais fundo a sua língua, fazendo-me gozar e engolindo cada gota minha. Desci até o nível do seu abdômen e ele gemeu de dor, algo que me faria parar, mas Michael segurou minha cintura com força.

— Nem pense em me deixar assim, Melita! — implorou. Pegou o preservativo, abriu-o com a boca e colocou-o no seu membro duro. Sentei-me no seu colo, sentindo o seu pênis entrando em mim e fazendo-me soltar um gemido. Comecei com os movimentos de vai e vem, fazendo-o gemer também. Era impressionante como ele me fazia esquecer de tudo, como se tivesse todo o controle sobre mim.

Capítulo 10 Melita Era de manhã e fazia dois dias que o Michael não acordava. Estava no seu quarto, assistindo-o dormir. A cirurgia foi complicada e durou longas horas; nunca temi tanto por um paciente antes. Aproximei-me dele e passei mão nos cabelos loiros, orando para que ele acordasse, que abrisse os olhos cor de caramelo. Ele tinha um olhar que intimidava, e que hoje estava ansiosa por ver. — Michael — chamei-o, segurando a sua mão, que logo recebeu um beijo meu. Falei seu nome na esperança de ter alguma reação dele, mas nem um mexer dos dedos aconteceu. Sentia saudades das suas reclamações e das suas loucuras; talvez tenha sido por isso que me apaixonei por ele, por ele ser problemático. Vi que a barba não estava feita, então peguei uma lâmina de barbear e pus-me a fazer. Vendo-o assim, quieto e impossibilitado, a única coisa que eu queria era cuidar dele. — Melita — chamou Susana, entrando no quarto. Encarei-a. — Você não está com fome? Fez plantão, horas extras… Já deve estar bilionária de tantas horas extras que fez! Revirei os olhos e continuei fazendo a barba do Michael. — Você tem que se cuidar também. — Eu estou bem, já estou terminando. — Olha, é lindo ver vocês dois juntinhos — disse ela, sorrindo. — Mas eu e Maria estamos preocupados com você. Nós já sabemos qual vai ser o fim disso. — Eu também sei — reclamei. — E, como falei antes, já estou terminando! De imediato, comecei a sentir um aperto no estômago, um mal-estar.

— Melita, está tudo bem? Saí correndo e fui ao banheiro. Mal cheguei no vaso sanitário, comecei a vomitar. Susana entrou logo a seguir e assustou-se, vendo-me nessa situação. — Amiga, é a terceira vez que você passa mal. — Eu sei… Devo ter comido algo que não me caiu bem — respondi, pegando o papel higiênico para limpar a boca. Puxei a sanita e fui até a pia, passando água da torneira no rosto. — Será? — perguntou, desconfiada. — Claro que sim — afirmei. — Assim, amiga, ninguém fala, mas o hospital inteiro está desconfiado do romance com o paciente bonitão. — Não tem nenhum romance! — Você pode estar… — Só foi uma vez sem preservativo! — Aumentei o tom de voz, aflita. — Mesmo assim… Eu saí do banheiro, frustrada. Na verdade, eu tinha medo de fazer o teste de gravidez, pois já suspeitava do resultado. Apenas queria adiar a minha realidade.

Michael Quarto número 20… Eu estava lá de novo, olhando para o homem que dormia profundamente, algo que eu não fazia há anos. Cerrei os punhos e caminhei até ele, fazendo-o despertar e quase morrer de susto. Antes que pudesse falar, apertei o seu pescoço, impedindo-o de qualquer ação. Ele já estava praticamente morto, eu só ia ajudá-lo a encontrar a luz. Ele tentou reagir, mas eu era muito

mais forte. Uma das suas mãos pegava a minha bata e implorava por perdão, mas nem por um segundo fui abalado pelos seus olhos aflitos. Estava me tornando um assassino. Peguei na faca e, com toda a minha força, fui contra ele. Uma facada não bastou, dei várias até ter certeza que ele estava morto, até meu rosto estar coberto do seu sangue. Parei tudo e respirei fundo, fechando os olhos e imaginando que tudo podia ter sido diferente. Quando abri os olhos, não pude acreditar no que via. Mya… Não podia ser ela. Ela estava ensanguentada e com o corpo destruído, peito tão aberto que conseguia ver o coração despedaçado. — Você me matou, Michael… — Não! Não! — gritei, aproximando-me dela e pegando os seus cabelos loiros da cor de girassol. — Culpa sua! — disse. — Não! — gritei, despertando aterrorizado e, nesse instante, percebendo que tinha o rosto coberto. Estava sendo sufocado. Tentei reagir, mas não consegui. Alguém estava me sufocando com o travesseiro, alguém estava tentando me matar. — Para, o que é isso! Apenas ouvi alguém a gritar e, de imediato, o travesseiro saiu de cima de mim. Respirei fundo, tentando me acalmar depois do susto. Olhei à minha volta e vi a enfermeira Maria e o Ângelo, um ao lado do outro. Ângelo estava com uma faca na mão, apontando-a para ela. — Quieta! Se se mexer, eu a mato! — ameaçou. Maria ficou em choque e com lágrimas nos olhos. — E você bandidinho dos infernos, se mexa que eu mato essa enfermeira! — mandou, encarando-me. Olhei para a Maria e seus olhos imploravam para que não reagisse. — Por favor, faça o que ele disser! — implorou. Não tive outra saída a não ser atender ao seu pedido e ficar quieto.

— Você vai me ajudar a sair deste quarto e não vai dizer meia palavra… Eu sou policial, encontro a sua moradia num piscar de olhos e você some! — disse Ângelo para Maria. — Vai ser como se nada tivesse acontecido. Ele se apoiou nela, com a faca direcionada para sua anca, e os dois saíram andando. Nunca me senti tão incapaz em toda minha vida como hoje. Descobri que não era apenas eu que queria o matar, mas também que corria o risco de ser morto. Era eu ou ele. Melhor assim, pois agora eu o mataria sem o menor peso na consciência.

Ângelo Eu e a enfermeira Maria caminhávamos lado a lado pelo corredor. Eu tinha a faca apontada na lateral do seu abdômen, mas, como andávamos abraçados, ninguém reparou. Passamos despercebidos por alguns enfermeiros e médicos; também, nesse horário todos estavam na correria, ninguém tinha tempo de reparar um no outro. Sentia o corpo da Maria tremendo, ela estava horrorizada. — Calma, não vou te machucar! Apenas colabore — mandei. Ela acenou positivamente a cabeça e continuamos andando, até que uma enfermeira parou e ficou um tempo nos encarando, estragando os meus planos. Pressionei mais a faca nela. — Disfarça, a sua cara não está colaborando. — Encarei-lhe seriamente. Ela respirou fundo e sorriu como se estivesse tudo bem. — Maria, você quer ajuda com o paciente? — perguntou a sua colega. — Uma palavra e eu te mato! — sussurrei no seu ouvido. — Não, não se preocupe! Já estamos chegando no quarto — respondeu ela à sua colega. — O paciente queria caminhar um pouco. A outra enfermeira sorriu e se afastou, andando na direção oposta da nossa.

— Boa menina! — disse-lhe. Entramos no quarto e ficamos um tempo nos encarando. Maria se derramou em lágrimas, seu corpo tremia mais do que nunca. Acariciei o seu rosto. — Shiuuu… Tranquila. Claro que eu não te faria mal nenhum, sou policial, faço justiça… Apenas tinha que ter certeza que você não daria com a língua nos dentes. Ela acenou positivamente com a cabeça, morrendo de medo de mim. — Apenas fique de bico fechado… Eu posso ter a ficha de todos. — Não falarei nada… Por favor, não me machuque — implorou. — Claro que não. — Mostrei um sorriso, tentando acalmá-la.

Melita Estava caminhando pelo corredor, ansiosa, pois uma das minhas colegas me disse que o Michael havia acordado. Queria muito vê-lo. Vejo a Maria caminhando na minha direção. Estava tão aflita que nem me viu e acabou por esbarrar comigo. — Maria, está tudo bem? — perguntei, segurando o seu braço. Ela me encarou, assustada. Seu corpo tremia e ela parecia estar em choque. — Maria! — chamei-a, o que logo a fez despertar, e ela começou a chorar. Fiz um carinho no seu ombro e esperei que se acalmasse. — O que aconteceu? — É melhor você não saber… Ninguém pode saber! — respondeu, chorando e soluçando. — Me fala, não guarde isso só com você! — Só vou te falar algo que eu jamais imaginei que iria dizer. — Ela respirou fundo, passando a mão nos seus cabelos encaracolados. Eu podia ver o quanto estava atordoada. — O quê? — insisti.

— Talvez o Michael não seja aquilo que ele demonstra ser… Talvez ele seja uma boa pessoa… — Ela ficou pensativa. —Você devia ver se ele está bem. — Não estou entendendo, Maria… — É só o que eu posso te dizer! — Maria distanciou-se antes que eu pudesse comentar algo. Chamei-a, mas ela ignorou e continuou a caminhar. Pensei no que ela disse, mas não entendia por que ela comentara isso, então fui até o quarto número 15. Entrei e vi o Michael deitado na cama, nervoso e com os punhos fechados. Ele estava tão tenso que conseguia ver a dilatação das veias nas suas mãos, sem contar que ele nem percebeu que eu estava no seu quarto. — Você acordou. Ele me encarou, surpreso. — Você está bem? — perguntou. Acenei positivamente com a cabeça, com um sorriso maroto. Aproximei-me dele e lhe dei um beijo na testa. Ele sorriu e passou a mão no meu cabelo. – A cirurgia correu bem, creio que mais uns dias você vai ter alta… Ele olhou para as algemas no seu pulso e, antes que pudesse comentar, falei: — Michael, eu sei o que estava pensando… — Você não faz ideia do que eu estou pensando! É advinha agora? — respondeu de forma ríspida. Ele me intimidou, deixando-me sem jeito e furiosa ao mesmo tempo. — Você está bem, pelo visto… Só isso que vim saber. — Afastei-me dele e caminhei em direção a porta. — Melita, espera… Desculpa — pediu, mas ignorei e continuei a caminhar. Estava cansada do seu jeito imprevisível de ser. Cheguei na porta e parei por uns segundos. Tudo começou a ficar turvo e meu corpo a perder as forças. — Melita, está tudo bem? Não consegui responder. Sentime fraca e caí no chão, perdendo a consciência.

Michael Vejo-a indo embora e sinto um vazio no meu peito. Não gostava quando ela interferia nos meus assuntos, pois era única que seria capaz de me convencer a tomar um rumo diferente. Não sabia como, mas eu estava me apegando a ela cada vez mais, já saía do meu controle. Isso me deixava assustado e confuso ao mesmo tempo. Não sabia lidar com os sentimentos que eu tinha por Melita. Ela caiu no chão e nunca tive tanto medo como hoje. — Melita! — gritei, desesperado. Vê-la assim me deixou agoniado. Tentei me desalgemar, pois consegui, mais uma vez, tirar o gancho do seu cabelo, mas estava tão atordoado que não conseguia abrir as algemas. Comecei a gritar, chamando as enfermeiras que nem um louco. Minha garota estava em apuros e eu aqui, sem conseguir ajudá-la. Logo em seguida, as enfermeiras entraram e a socorreram; umas delas foi buscar a maca e a outra tentava acordá-la. — O que ela tem? — perguntei aflito. Elas não me responderam. Colocaram-na na maca e a levaram, deixando-me sem resposta e desesperado.

Melita Acordei deitada na cama e vi a Maria entrando no quarto com uma bandeja na mão. Pelo que notei, dessa vez eu que era a paciente. — O que aconteceu? — Você desmaiou, né, mocinha! Como está? — Estou bem… — respondi, ainda confusa. A Maria me deu um copo de água e, em seguida, a vi preparando a agulha. Já sabia o que pretendia fazer.

— Estou bem, não precisa disso — disse, sentando-me. — Precisa sim, temos que te examinar e… — Estou grávida! — afirmei. Maria ficou em choque, encarando-me sem acreditar no que acabara de dizer. — Fiz o teste ontem. — Tem certeza? — Fiz quatro vezes o teste de gravidez. — Mesmo assim, vamos fazer um exame de sangue para ver se está tudo bem e para você ter uma gravidez tranquila… — Maria, nem sei se quero ter esse bebê. — O quê? — Assustou-se. — Isso mesmo que você ouviu. Eu não sei… — Você contou ao Michael, pelo menos? — Ele não precisa saber. Maria se aproximou de mim e pegou na minha mão. — Melita, isso é grave. É uma vida que está aí dentro! — Eu sei! — gritei, e lágrimas começaram a escorrer no meu rosto. — Mas… — Mas o quê? — Esse o filho é dele, daquele problemático! Já imaginou se puxa o genes do pai e é um louco que como ele? Eu, eu… — Melita, vai correr tudo bem. — Estou com medo. Só foi uma vez sem preservativo, uma única vez! Eu mal o conheço e nem sei se ele vai aceitar… Não sei qual vai ser reação dele. — Lágrimas continuavam a sair dos meus olhos. — Sinto muito, amiga… Mas já está feito. Suspirei e passei a mão na cabeça. — Escuta, seja lá o que você decidir, eu estarei do seu lado. Passei a mão no meu ventre. — E mesmo que o pai rejeite, você vai se virar muito bem sem ele. Você é uma guerreira! Acenei positivamente com cabeça. — Só acho que está saindo tudo ao contrário àquilo que eu sonhei. Está indo tudo do avesso! Sempre fui uma pessoa correta, digna, e olha só para mim: fui me envolver com um problemático,

criminoso e casado! Um homem que vai ser preso! E, agora, eu terei um veículo com ele para o resto da minha vida. — Limpei as lágrimas do meu rosto. — Não é justo! — Amiga, não se culpe tanto. Essas coisas acontecem. Respirei fundo e estendi o braço. — Tira logo esse sangue. Não queria falar mais sobre isso, não sabia o que pensar nem o que iria fazer. Ela sorriu e começou a preparar o material. ♠ Mais tarde, estava na sala de ecografia e a médica passeava com o aparelho no meu abdômen. — Olha, Melita, ele tão pequenino — disse. — Escuta o coração batendo. Eu olhei para ecografia e vi um pequeno ser indefeso dentro de mim. Olhei-o e já o imaginei com o rosto do Michael, o seu jeito de ser e o seu sorriso. Não sei por que, mas me veio uma alegria e comecei a sorrir. Descobri que já amava essa criança mesmo antes de a conhecer. Se eu estava feliz com gravidez? Claro que não, pois não estava nos meus planos, mas estava disposta a tê-lo. Olhei para a imagem na ecografia e o que eu mais queria era proteger esse pequeno ser… Meu filho ou filha.

Michael Não aguentava mais esperar sem saber da Melita, como ela estava e o que ela tinha. Meu corpo suava só de me lembrar dela deitada, inconsciente. Logo mais, a enfermeira Susana entrou no quarto.

— Como ela está? — Ela está bem — respondeu Susana, aproximando-se para trocar o soro. — O que ela tem? — Nada de mais. Ela está bem, é o que importa — disse. — Ela desmaiou! Alguma coisa ela tem. — Não sou eu que devo dizer… Cabe somente a ela. Fiquei frustrado com essa resposta. Ela não fazia ideia do pânico que eu tive quando vi a Melita desmaiada no chão. Nesse instante, Carmélia chegou; era minha visita. Confesso que desta vez fiquei feliz em vê-la, pois iria pedi-la um favor. — Boa tarde — disse, entrando no quarto. Susana cumprimentou-a e saiu, deixando-nos a sós. Ela se aproximou e passou a mão na minha cabeça, fazendo um carinho. — Trouxe o que eu pedi? Ela sorriu e mostrou o canivete. — Por que você precisa disso? — O desgraçado tentou me matar! Então, enquanto me recupero, preciso estar protegido. Ela acenou positivamente a cabeça, olhando-me desconfiada. — Conheci a sua namoradinha. — Não fala dela, e isso não te diz respeito — afirmei. — Nossa, calma! Não fica nervoso — disse, levantando as mãos. — Como ela mexe com você, né? Revirei os olhos e dei um suspiro. — E depois tudo isso? Vai fazer o que com ela? — O que quer dizer? — Ela está apaixonada por você! E nós sabemos que isso não vai acabar bem. — Deixa que isso eu mesmo resolvo. — Já pensou em desistir e começar algo novo? — E deixar aquele assassino livre? Não! Ele acabou com a minha vida! Eu o quero morto. Carmélia me deixou sozinho. Apertei os punhos, pois não via a hora de sair da cama e acabar com o sujeito. Pensei em Mya, nos seus cabelos lindos, loiros da cor do girassol, na sua boca vermelha e no

seu olhar selvagem. Ela me dava forças em tudo e eu a perdi, para sempre. Se já tinha pensando em desistir? Já pensei sim… Pensei quando conheci Melita, mas Mya aparecia nos meus sonhos, me fazia lembrar do que havia perdido. Fazia eu me lembrar do quanto era feliz ao lado dela, do quanto ela me amava e torcia pelo meu sucesso. Perdi tudo, de forma inesperada e sangrenta. Ela tinha tanto por viver, tínhamos feito tantos planos juntos. Se eu não matasse o Ângelo, a sua morte nunca seria vingada, seria uma morte sem importância… Seria como um outro dia qualquer.

Capítulo 11 Dois dias depois

Melita Eram oito horas da noite e eu terminava de ver os pacientes de cada quarto. Faltava o quarto número 15. Nesses dois dias, eu não havia o visto, preferi lhe evitar, pois não sabia o que dizer a ele. Estava pensando em como ia contar sobre a gravidez, pois já tinha decidido que ia seguir com ela. Cheguei na porta do quarto e respirei fundo, contei até dez e entrei, dando de cara com ele em pé e com o canivete na mão. Tratei logo de entrar e fechar a porta. — Melita… — disse, encarando-me surpreso. — Como você está? O que você tem? — Eu estou bem — respondi, olhando para o canivete. — O que você tem? — insistiu em saber. — Michael, por favor… — Aproximei-me dele e segurei sua mão. — Não vai adiante com isso! — Não posso, sabe que não posso! — Eu sei que você sofre com isso, mas existem outras maneiras de resolver… — Não tem outra maneira! — Ele quis ir adiante, mas eu o impedi, ficando na sua frente com a minhas mãos presas no seu peito. — Você mal consegue caminhar. Espera… Você não é um assassino, não merece a pena… — O que te dá a certeza que não sou um assassino? Nós mal nos conhecemos. Afastei-me dele e o encarei. — Eu tenho que acreditar que você não seja. — Não posso esperar, Melita… — Tem outra maneira de se conseguir justiça sem ser pelas próprias mãos. Espera…

— Esperar? — Se você esperar, irei te ajudar a pensar numa outra forma. Ele me encarou, pressionou as mãos e suspirou. Conseguia perceber o esforço que fazia para pensar de maneira diferente, mas não adiantava de nada. — Não posso! — Mas… —Ele matou a minha mulher, a mulher que eu amo! — gritou, olhando nos meus olhos, quebrando meu coração aos pedaços. — Matou a sangue-frio. Você não tem o direito de me pedir isso. Nada vai me impedir… — Eu estou implorando! — Por quê? — gritou. — Por que está me pedindo isso? Sabe o quanto isso é difícil para mim! — Porque eu estou grávida! Ele ficou em choque, encarando-me, sem saber o que dizer. — Não quero que meu filho tenha um pai assassino. Vamos encontrar outra forma de fazer justiça, mas não assim… — implorei, e duas lágrimas escorregaram do meu rosto. — Espera. Depois que essa criança nascer, prometo que irei te ajudar… — Você está esperando um filho meu? Acenei com a cabeça, confirmando. Ele abaixou a cabeça; estava confuso e em choque ao mesmo tempo, mas eu também conseguia sentir a raiva que tinha de mim por ter lhe pedido isso. Michael agia como se vingança fosse mais importante que tudo. — Eu espero. Encontrarei outra forma. — Promete? Ele acenou positivamente a cabeça, aéreo. Ainda estava se acostumando com a surpresa que acabara de ter. Quis tocá-lo, mas ele se afastou, então fiquei quieta, sem saber como agir. Nessa noite, descobri que não importava o que eu dissesse ou que acontecesse, Michael só pensava na sua vingança. Nada mais importava para ele. Aproveitei que ficou de costas para mim e o deixei sozinho, pensando como seria a minha vida daqui em diante, com ou sem ele, afinal de contas, Michael amava a falecida.

Michael Meia-noite Acordei ao lado da Melita. Nossos olhares se cruzam, como as correntes dos oceanos. Sentia-me no paraíso, no mundo dos céus. Lençóis e cortinas brancas, um quarto totalmente amplo e iluminado. Passei o dedo no seu lábio inferior e ela o mordeu de leve, pondo o meu corpo em chamas. Tomei sua boca intensamente, devorando-a com a minha língua faminta. Passei a mão no seu abdômen, sentindo o volume da sua barriga que carregava o meu filho. Voltei a encará-la e ela sorriu. Sua mão pegou a minha, conduzindo-a novamente ao lugar do seu ventre. Beijei sua testa e fechei os olhos, imaginando um lugar tranquilo, mas, quando os abri, tudo havia sumido. Mais um… Mais um pesadelo. De todos os pesadelos, esse foi o pior. Melita… Ela tinha simplesmente sumido, como o vento, como se nunca tivesse existido. Acordei assustado, como se fosse um homem sem futuro por esperar. Nesse instante, me dei conta do quanto fui egoísta com ela. Eu me dei conta que queria muito mais do que podia imaginar. Ela falou que esperava um filho meu e eu nem sequer disse nada a respeito, pois pensei apenas em me vingar, por medo. Medo que pudesse acontecer de novo. Sempre pensei no que tinha perdido, nunca cheguei a pensar no que eu poderia perder mais para frente, até agora. Prometi que esperaria, prometi isso a ela, mas aquele infeliz me odiava e era recíproco. Sabia do que ele era capaz de fazer só para ferir seu adversário. Senti o celular vibrando por debaixo do colchão e estranhei, pois sempre disse a Carmélia que seria eu a ligar para ela. Antes que enfermeira entrasse no quarto, peguei o celular escondido e vi a chamada de um número desconhecido. Atendi, curioso e desconfiado. — Acordou, infeliz? — perguntou. Pela voz, não podia ser outra pessoa, só podia ser o desgraçado que ansiava tanto destruir. — Você!

— Achou que mesmo que conseguiria me matar? — Como conseguiu o meu número? — Sou policial, tenho ficha de todos e sei muito bem os truques de um bandidinho… — Você deve se sentir muito bem depois de tudo. — Claro. Você vai preso, e imagina o que irei fazer com sua enfermeira, enquanto você morre na cadeia. — Riu sarcasticamente. — Você não vai encostar nela! Desliguei o celular, puto da vida como nunca estive antes. Meu corpo fervia por tamanha ousadia. Perguntava-me como ele conseguira o meu número. Não era possível… Não estava acreditando que estava falando com esse cretino no hospital. Em seguida, recebi uma mensagem. "Já sei onde ela mora, para lhe fazer uma visita" Eu sabia que isso iria se repetir. Sempre soube. Sabia que ele não viria até mim para me agredir, iria nos que mais amava. Sabia que esse era o meu ponto fraco. Melita seria a próxima. Ele seria capaz de matá-la só para me ferir. Isso foi suficiente para me fazer esquecer a promessa que eu havia feito a ela; não iria esperar nem um segundo mais para acabar com aquele sujeito. Não iria passar por isso de novo. Peguei no gancho e consegui me desalgemar e sair do quarto feito um louco. Fiquei tão irado que nem me lembrei de levar o canivete. Já estava bem melhor, daqui uns dias teria alta, mas, antes disso ia acabar com ele. Minha vida estava um inferno e danese mesmo, mas em Melita ele não iria tocar, muito menos machucar, não enquanto eu estivesse vivo. Não faria o mesmo que fez com a Mya. Saí andando pelo corredor, sorte a minha que estava praticamente vazio; tinha um faxineiro ali, mas nem me importei, pois estava obcecado em encontrar o infeliz. Entrei no quarto e o vi deitado, surpreso com a minha presença. Certamente não esperava a minha chegada tão rápida. Ele tentou apertar no botão para chamar a enfermeira, mas o alcancei antes que isso acontecesse e enfiei o murro no seu rosto. Ele tentava se defender, mas enfiei mais

outro, e outro. Tirei-o da cama à força e o joguei no chão, continuando a esmurrá-lo. — Meu Deus, o que é isso? — gritou a enfermeira, entrando no quarto. Eu a ignorei e continuei a esmurrá-lo. A enfermeira saiu do quarto, começando a pedir socorro, e foi quando me dei conta do que estava fazendo. Antes que alguém mais entrasse, saí de perto do Ângelo e pulei janela afora. Caí no chão, mas não foi grave, pois o quarto ficava no primeiro andar, e me pus a caminhar o mais depressa que podia. O hospital não tinha muitos seguranças, e havia inúmeras árvores aqui, então foi fácil de me esconder e, ao mesmo tempo, encontrar uma saída. Pelo caminho, vi que a saída principal tinha seguranças, então dei meia volta e tentei encontrar outra saída. Poucos passos à frente, deparei-me com a lavanderia do hospital. Entrei e peguei num dos uniformes de enfermeiros, além de um par de Crocs que encontrei no canto, e saí de lá, disfarçado e caminhando pelo jardim, discretamente. Aproximei-me do muro mais próximo e o pulei. Os muros do hospital não eram altos, dava para pulá-los sem muita dificuldade. E, por ser um lutador de kickboxing, além de jogador basquete por diversão, eu tinha força nos braços de sobra; muro alto nunca foi dificuldade para mim. Fugi, pois sabia que se continuasse esmurrando-o, alguém iria me impedir. Ele viveria e eu seria preso, estando impossibilitado de agir, e sabe-se lá o que ele faria com a Melita. Fugi como um criminoso… Talvez eu fosse isso.

Capítulo 12

Quatro meses depois

Melita Caminhava pelos corredores do hospital, fazendo questão de atender o maior número de pacientes possível, para ocupar o tempo. Não podia crer que nunca mais tivera notícias do Michael, ele simplesmente sumiu sem se despedir e dizer para onde ia. Descobri que eu não sabia nada dele, não sabia onde morava e nem quem era. Estava grávida de seis meses e minha barriga estava enorme, pegava no meu ventre; e eu imaginava o rosto do meu bebê. O hospital estava calmo, pois o Michael e o Ângelo já não estavam mais aqui para nos atormentar. — Bom dia! — disse, entrando no quarto número 5. — Minha filha, como você está linda grávida! — disse Celeste, que estava no hospital novamente, pois, meses depois de ter tido alta, se atirou no chão propositadamente e acabou por quebrar anca, tendo que fazer uma cirurgia. — Obrigada. — Sorri, passando a mão no meu ventre. — Quanto tempo? — Vinte e cinco semanas. Ela ficou pensativa. — Meses? Eu ri, achando engraçado. — Seis meses e uma semana. — Menino ou menina? — perguntou, curiosa e entusiasmada. — Menina. — Vai ser linda como você! Eu sorri, me aproximei dela e troquei a medicação. Senti um chute no meu ventre, causando-me uma pequena dor. Respirei fundo e me senti aliviada; ao menos ela estava viva. Minha médica havia me dito que a minha gravidez era de risco e que, a partir dos sete meses, teria que estar em repouso. Despedi-me dela e saí do quarto, a caminho do outro. — Melita! — chamou Maria. Encarei-a, sabendo do que se tratava.

— Já estou terminando. — Você está grávida, não pode se esforçar tanto. Sabe disso! — Eu sei, já estou terminando. Continuei caminhando até o outro quarto. ♠ Caminhava em direção à minha casa, devagar, pois a barriga pesava e eu não conseguia dirigir. Caminhar me fazia bem, gostava de sentir a brisa no rosto. Devia ter pegado um táxi, pois já era noite, mas tinha muita vontade de andar, e também o trajeto do hospital para casa era perto e seguro. Peguei no celular e vi uma mensagem da minha irmã, perguntando sobre mim. Quando ia responder, senti alguém a me espiar. Olhei para trás e vi um homem alto, de capuz e com rosto escondido, andando na minha direção. Assustada, comecei a apressar os passos o máximo que podia, apesar de a minha barriga não ajudar. Cheguei na porta de casa, aflita, e peguei a bolsa, procurando a chave. Nesse instante, senti meu braço sendo puxado. Gritei de susto, mas logo tinha uma mão enorme na minha boca. — Shiuu! Sou eu, Melita! — sussurrou Michael, tirando o capuz. Meu coração ficou aos pulos; respirava fundo, tentando me acalmar, pois sentia alívio e raiva ao mesmo tempo. Alívio por saber que ele estava vivo, raiva por ele ter sumido sem dizer meia palavra. Tirei a sua mão da minha boca e dei-lhe um tapa no rosto. — Foi merecido — disse, pondo a mão no lado onde bati. — Ainda bem que sabe! O que faz aqui? Como me achou? — Lágrimas saíram dos meus olhos. — Eu te segui. — Vai embora — mandei. — Não, nunca mais… Ele olhou para o meu rosto, sentindo a mágoa que eu tinha dele. Desviou o olhar, dando atenção à minha barriga; quis tocá-la, mas eu o empurrei. — Não encosta em mim! Você me abandonou, sumiu como o vento, e agora acha pode aparecer assim?

— Eu sei, mas não pude vir antes! Estou sendo procurado pela polícia, ainda não estava em condições de te encontrar. — Não quero saber… Se tivesse feito o que me prometeu, nada disso teria acontecido. — Eu estaria preso e não teria como te proteger daquele desgraçado! Ele… — Mentira! — gritei. — Você deu mais importância à sua vingança do que a mim, do que à sua filha! Nem ligou a mínima quando eu disse que estava grávida! Eu não conseguia parar de chorar. — Perdão. Eu fui horrível com você, sei disso. — Você me deixou noites em claro, sem saber se estava vivo ou morto! Se a minha filha ia ter um pai ou não… — Estou aqui agora. Vou cuidar de você e da nossa filha. — Minha filha. Ela é só minha! Não quero você nas nossas vidas. — Não fala assim — implorou, quase lacrimejando. Seus olhos cor de caramelo imploravam pelo meu perdão. — Melita, me perdoa! — Vai embora! Vai lá e cumpra a sua vingança, a sua obsessão em matar o homem que matou a sua mulher… A mulher que você ama, não é? Vai! — afirmei, deixando-o sozinho e entrando em casa. Deparei-me com a minha irmã na sala e chorei mais ainda. Ela se aproximou de mim e me abraçou, tentando me acalmar, mas foi em vão. — O que aconteceu? — Ele… Ele… — Shiuu, calma. Vai ficar tudo bem. — Ela me levou até o sofá e foi até a cozinha buscar água com açúcar, entregando a mim. Minhas mãos tremiam enquanto seguravam o copo. — Eu não queria vê-lo… — Eu sei. Jessica, quando soube que eu estava grávida, veio morar comigo, já que a minha gravidez era de risco; já tinha tido alerta de aborto duas vezes. — Você não pode ficar nervosa, faz mal para o bebê.

Acenei com a cabeça. — Ele está lá fora ainda? — Ela se levantou, foi até a porta e a abriu, mas não tinha ninguém ali. — Eu ia lhe dizer umas poucas e boas! Ele aparece só agora! — Não vamos falar mais dele. — Limpei as minhas lágrimas. — Tudo bem. Você tem razão. — Você não vai trabalhar? — perguntei, mais calma e querendo mudar de assunto. — Está me mandando embora? Eu ri, achando engraçado. — Claro que não! Mas sei que você trabalha de noite e não quero te empatar. Ela me encarou e sorriu, sentando-se ao meu lado. — Vou ficar aqui com você. Sempre cuidou da mãe e de mim, agora precisa ser cuidada também. Eu sorri, emocionada com as suas palavras. Encostei minha cabeça no ombro dela e ficamos as duas assistindo séries. O bom desta gravidez foi que uniu ainda mais nós duas. Voltamos a cuidar uma da outra como antes, como na infância.

Michael Estava num bar escondido do bairro, onde sabia que ninguém iria me procurar. Enchia a cara de vodka enquanto pensava na Melita, em como eu a deixei escapar. Como não vi que ela era o que mais me importava? Sentia a sua falta, queria-a de volta na minha vida, queria oferecer-lhe tudo que merecia, então estava disposto a entregar-me para polícia e deixar a vingança para trás. Ia cumprir a pena por tentativa de homicídio e começaria tudo de novo. O Ângelo podia continuar livre, desde que ficasse longe dela. — Mais uma! — disse ao barman, que me olhava em protesto, pois já tinha enchido a cara. Ele serviu mais uma e virei de uma vez a dose, deixando dinheiro suficiente e de sobra que pagava todas doses que havia tomado.

Saí bar, indo ao encontro do carro, e vi três homens me seguindo. Ignorei-os e continuei caminhando. Mudei de trajeto, entrando num beco sem saída, e, antes que me vissem, me escondi num dos cantos. Esperei uns segundos e os ouvi conversando. — Para onde ele foi? — Não sei… Vai você ver se ele está lá no fundo! — Por que eu? Vai você! — Porque sim! Porque eu é que mando! Ouvi passos aproximando-se e, antes que o homem pudesse me ver, peguei-por trás e avancei com o punho no seu rosto, até que ele perdesse a consciência. Logo em seguida, mais dois apareceram, tentando me agarrar, mas avancei num deles, indo contra murros e pés. Atou que um deles me apontou uma arma, deixando-me quieto. Depois, apenas senti uma batida na minha nuca e perdi a consciência.

Capítulo 13 Melita Estava em casa preparando o almoço. Minha irmã se ofereceu para fazer, mas não deixei; quanto mais ocupava a minha mente, melhor. A imagem do Michael estava na minha mente com frequência, como se fizesse parte de mim. Precisava me distrair. De uma certa forma fazia sentido, pois algo nele estava em mim, meu bebê. — Bom dia. — Jessica entrou na cozinha e se sentou à mesa. — Você está bem? Ela acenou positivamente a cabeça. Pus o prato de panqueca na mesa e logo me veio uma contração, provocando-me uma dor. Apoiei as mãos na mesa e gemi, tentando me acalmar. Jessica se levantou e me segurou, aflita. — Melita, você está sangrando! Olhei para minhas pernas e realmente estavam ligeiramente borradas de sangue. — É normal, às vezes há sangramento na gravidez… — Sim, mas vamos para o hospital né? Não vamos deixar nas mãos da sorte! Entramos no carro e fomos para o hospital onde eu trabalhava. Fui logo atendida pela médica que acompanhava o meu pré-natal e levada à sala de ecografia. — Está tudo bem com o bebê, mas agora você vai ter que ficar em repouso mesmo! Nada de esforço.

Compulsivamente, passei a mão no meu ventre. Fiquei com medo de perder o bebê, o instinto de mãe veio em mim. Quando fiz três meses, o meu colo uterino foi suturado para não abortar, mas ainda assim havia risco. Por um momento, desejei que o Michael estivesse aqui comigo, segurando a minha mão, dizendo-me que ia ficar tudo bem, mas também me lembrava que ele sumira e eu não podia passar por isso de novo. — Farei o que for preciso, não quero perder o meu bebê. É a melhor coisa que me aconteceu… — Fica tranquila, só tem de estar de repouso.

Michael Acordei com a luz focada no meu rosto. Olho ao redor e me vi numa sala escura, sentado numa cadeira e algemado. Não entendia o que estava fazendo aqui e nem como viera parar aqui. — Senhor Smith! — disse um homem, aproximando-se. Ele diminuiu a luz e, assim, consegui enxergar melhor o lugar. Tinham quatro homens na minha frente, três com bandagem no rosto, provavelmente devido aos murros que dei, e um íntegro, que com certeza era o chefe deles, pois não o tinha visto antes. — O que você quer? — perguntei. — Me chamo Jorge Torres, sou policial… — E daí? — Você é procurado pela polícia. Tentou matar o meu colega e deu uma boa surra nos meus companheiros aqui. — Riu. — Então por que não me entrega logo para a polícia? — Porque tenho uma proposta a te fazer. Eu o encarei, esperando que ele falasse logo. — Eu e você temos um inimigo em comum: Ângelo Vales. Unidos, podemos pô-lo na cadeia. — Sério? Logo agora que estava pensando em me entregar na polícia — disse, ironicamente. Ele deu uma gargalhada. — Ele matou a sua mulher, não foi?

Pressionei os maxilares, lembrando-me como a Mya caiu nos meus braços. — Você se vinga da morte da Mya e eu o ponho na cadeia. — O que foi que ele te fez? — perguntei, desconfiado. — Apenas quero justiça. — Não… Você não se daria a esse trabalho para me ajudar, sem mais nem menos. O que ele te fez? Várias vezes tentei provar que ele matou a Mya, mas sem sucesso. Nunca consegui provar que ele não passa de um assassino… Notei que havia uma proteção entre ele e os seus coleguinhas, inclusive de você. — Escuta… — Há dois anos, quando procurei a polícia, você foi um dos policiais que disse que o meu caso era perdido. — Parei por uns segundos e voltei a encará-lo. — E agora quer me ajudar? Quanta generosidade! — Aceita ou não? — Não aceito! Não vou me aliar a você sem saber exatamente o motivo, não vou servir de fantoche a ninguém. Pode me levar para cadeia, é para lá que eu ia mesmo. Ele suspirou e me encarou, seus olhos brilhavam. Pude ver um homem triste. — Ele estuprou minha filha e a matou. Aconteceu há quatros meses… Fiquei em silêncio, sem saber como agir. — Minha menina tinha apenas catorze anos… Ele faz as coisas tão perfeitamente que nem eu consigo provas para contra ele. Tinham algumas testemunhas, mas, quando foram chamadas para depor, sumiram! — Ele aproximou-se de mim. — Preciso da sua ajuda. — Por que eu? — Porque ele te odeia, está obcecado em te prender! Você vai ser o alvo. Tenho certeza que ele vai te machucar de novo, e tem a Melita… — Não ouse a falar dela! Deixe-a fora disso — disse, com os nervos à flor da pele. — Como se fosse possível. Você sabe que, cedo ou tarde, ele irá atrás dela.

— Ele não vai machucá-la, não vou deixar. — Então, se você quer mesmo que ela fique bem, se junte a mim e vamos acabar aquele infeliz! Acenei positivamente cabeça. Não queria sequer imaginar o que podia acontecer com a Melita e com a minha filha. — Vou exigir certas coisas — pontuei. Ele cruzou os braços e me encarou. — Primeiro, quero proteção para Melita. Segundo, você vai reduzir a minha pena… Como deve saber, já tentei matar aquele imbecil antes, não tenho a ficha limpa. — Se você me ajudar, dou um jeito de eliminar a sua pena. Você fica livre, foi tudo um acidente — afirmou. — Quero isso por escrito — exigi. — Combinado. Não se preocupe, você não será pego, eu darei um jeito de desviar a atenção da polícia, mas temos de agir rápido! Acenei positivamente a cabeça, aceitando a proposta. — Agora, tenho a minhas condições. Sigilo total; você vai andar com este gravador; quando eu te chamar, você vem de imediato, não quero saber se está com sua mulher, ou se está doente, ou raio que o parta. Entendidos? Caso contrário, a sua mulher e seu bebezinho irão te visitar na cadeia. — Acho justo. — Encarei-o. — Parceiros? — perguntou, estando a mão. Encarei-o de cima a baixo e levantei uma sobrancelha. Não sei por que me estendia a mão, vendo que eu estava algemado. — Desculpe — disse, rindo. — Vá se foder! Fui desalgemado e ele voltou a estender a mão, mas o analisei. Ele mudou a expressão, ficando impaciente, e eu apertei a sua mão. Logo depois, fui levado pelos seus homens, de olhos vendados, até ao carro. Depois de tantos quilômetros de distância, fui deixado no mesmo lugar onde estava na noite passada. ♠

Cheguei no meu esconderijo, que ficava distante de tudo e todos. A casa era pequena, feita de madeira, e ficava num haras distante da cidade. Fui ao quarto, troquei de roupa e tomei um banho, pensando em como eu conseguiria me aproximar da Melita. Tinha que haver um jeito de ela me perdoar. Poxa, eu sentia sua falta! Queria rever aquele rosto lindo, sua boca carnuda, sua voz e seus cuidados. Sei que ela cuidava de mim porque era o seu trabalho, mas eu sentia falta de tudo isso. Queria acompanhar a sua gravidez, o nascimento da minha filha. Terminei o banho e ouvi um barulho vindo da sala. Pus uma calça de moletom e peguei uma faca que estava na mesa do quarto. Abri a porta com cuidado e fui caminhando em direção a sala. — Michael! Tomei um susto, não por ter alguém ali, mas por saber quem era. Deparei-me com uma mulher alta, loira, de nariz empinado e cabelos loiros com madeixas brancas. Usava um batom vermelho berrante, não podia ser outra pessoa, era a minha mãe. Depois de anos sem lhe ver, ela surgira do nada. — Mãe, como soube que… — Faça-me o favor, filho. Te conheço muito melhor do que você imagina. Passei a mão na cabeça e suspirei. — O que você quer? — Vim te ver. — Veio me ver agora… Nossa, pensei que só iria me ver no cemitério! Afinal de contas, estava no hospital e nunca recebi uma visita sua. — Você sumiu, filho… — Porque você me excluiu. Deixou bem claro que não me queria mais quando me expulsou de casa. — Você escolheu ser um lutador como seu pai… Escolheu ser como ele! — Nunca! Você sabe que não sou como ele. Jamais encostaria a mão numa mulher. Não sou como ele! — Pressionei minhas mãos, jamais iria aceitar que dissesse que era igual ao meu pai. Ele batera na minha mãe e em mim várias vezes, descontava toda a raiva em mim e nela. Se perdesse uma luta, era o pior dia,

não só para ele, mas para nós também, pois descontava a sua ira na minha mãe e, quando a defendia, era eu quem apanhava. — Eu sei… Você não tem nada dele, filho! Eu sei, perdão. — Ela me encarou com um sorriso triste. Desviei o olhar. Eu e a minha mãe, tínhamos nos distanciado a partir do momento que eu escolhi ser um lutador de kickboxing. Isso fez com que ela tivesse ciúmes do meu pai e se sentisse traída, mas, na verdade, nunca foi isso. A única coisa que me unia ao meu pai era a luta no ringue; era única coisa que tínhamos em comum. Meu pai, depois de anos, se arrependeu e mudou, tentou se reconciliar com a minha mãe, mas já era tarde demais. Deprimiu-se e viveu nas ruas, bêbado, dia após dia. Aos dezoito anos, participei da minha primeira luta, e foi nesse momento que meu pai apareceu na minha vida. Quis se aproximar de mim, e eu recusei. Mas ele era tão persistente que, de uma certa forma, conseguiu se aproximar de mim, pois eu me sentia sozinho. Não tinha apoio da minha mãe, de ninguém, apenas de mim mesmo, e tinha que admitir que precisava de alguém que desse força moral, que chegasse para mim e dissesse: “Você consegue, vai em frente”. Meu pai disse tudo que eu precisava ouvir. Ele podia não ter sido um bom marido nem um bom pai quando mais novo, mas soube ser o pai que não me abandonou quando mais precisei. Poderia até dizer que fui a cura para sua depressão e ele foi a força para eu ganhar nas lutas; fomos suporte um do outro. Mas isso nunca fez com que esquecesse o que ele fizera com a minha mãe e, em nenhum momento, amei mais o meu pai do que a ela. Eu a amava mais que tudo, desejava um dia poder me aproximar dela. — Soube que está sendo procurado pela polícia. Olhei para ela, surpreso. —Tenho acompanhando toda a sua vida. Também, a polícia passou por lá em casa, queria saber se eu tinha notícias sobre você — explicou. — Vejo que sim! — Filho, até que ponto você chegou? Já não basta ter se tornado um lutador… — Ela revirou os olhos. — O que sou totalmente contra. Agora você é foragido! — Se você veio aqui para me dar sermão…

— Não! Eu vim porque eu precisava te ver e te ajudar. — Ela se aproximou de mim e segurou minha mão: — Você tem mãe, Michael! Posso ter cometido vários erros, sei que te abandonei em certos momentos, mas… Ninguém é perfeito. Encarei-a e pude observar que ela estava dando o seu melhor. — Mãe, você quer mesmo me ajudar? — Sim, por isso estou aqui. — Então eu preciso de você, preciso da sua ajuda.

Capítulo 14

Dois dias depois

Melita Estava sentada no sofá da sala, assistindo televisão, enquanto o dia não passava. Sentia-me entediada, pois não estava acostumada a ficar sem fazer nada. Minha irmã havia saído, deixando-me sozinha com meu gatinho. Tinha o pote de pipoca na mão e comia que nem uma leoa faminta; era a forma de aliviar o meu stress por estar tão quieta. Olhei para meu filhote e vi que ele me encarava com os seus olhos dourados; parecia estar protestando. — O que foi? Não posso comer? — resmunguei com a boca cheia de pipoca; falava com o meu gatinho como se fosse gente. Ele subiu no sofá e ficou ao meu lado; aproximava-se do meu ventre, analisando-o. — Novo membro da família. A campainha tocou e achei estranho, pois minha irmã tinha chave de casa. “Será que ela esqueceu?”, me perguntei, enquanto me levantava do sofá. Abri a porta e dei de cara com dois homens enormes e de terno preto. — Senhorita Melita? — Sou eu mesma. Quem são vocês? — questionei, estranhando, amedrontada. Quem poderiam ser esses dois marmanjos enormes? — A senhorita precisa vir conosco. — Não vou ao lugar algum. — Senhorita, não queremos machucá-la. Apenas colabore — disse um deles, segurando-me pelo braço e me puxando. Tentei fazer força, mas era inútil, e também não tinha condições de lutar com ninguém. O outro homem fechou a porta de casa e, em seguida, me pegou pelo outro braço. — Para onde me levam? — perguntei, assustada. — Quem são vocês? — Calma, não vai lhe acontecer nada. Eles me levaram até um carro Rand Rover preto, onde tinham mais dois homens na frente. Fiquei sentada no banco de trás, no meio dos dois que me tiraram de casa. Não sabia onde ia

nem quem eram eles. Peguei no pingente do colar que a minha mãe havia me dado, orando para que nada de mal me acontecesse. — Minha gravidez é de risco, não posso perder o meu bebê, tenho que fazer acompanhamento médico com frequência… — disse com lágrimas nos olhos. — Por favor, não me machuquem! Eles apenas se entreolharam e não comentaram nada. Olhava para os lados, vendo para onde me levavam, concluindo que era para o mais longe possível. Pensei em gritar, mas fiquei com medo que me machucassem, pois poderia prejudicar o meu bebê. Foram cerca de vinte minutos de aflição e com o coração na mão. Finalmente, me vi passando pelos portões enormes de um casarão. — Que lugar é este? —perguntei, enxugando as lágrimas. Ainda assim, não me responderam. Um deles abriu a porta para que eu saísse, o que fiz com receio e com medo. Isso só podia ser um pesadelo, eu devia estar sonhando. Fui levada até a porta do casarão e, de imediato, fui recebida por uma senhora. Pelo uniforme, era a empregada da casa. — Entre, por favor — disse, sorridente. Olhei para os seguranças e voltei a minha atenção para ela, que fez um sinal para eu entrar, como se fosse uma visita. Com as mãos no meu ventre, entrei com cautela. Meus passos eram pequenos, minha respiração era constante e profunda. Meu Deus, que medo! Olhei em volta e vi uma ótima casa; luxuosa, melhor dizendo, com mobílias modernas e compartimentos amplos. Fui acompanhada até a sala e a empregada faz sinal para que me sentasse. — Sente-se, por favor! — Sorriu. — Quer um cafezinho, ou um chazinho? Abanei negativamente a cabeça, olhando em volta. Nossa! A sala devia ser do tamanho do meu apartamento inteiro. Comecei a respirar fundo, tentando me acalmar. Senti chutes na minha barriga, minha bebê não parava quieta. Fiz um carinho no meu abdômen e comecei a cantar para ela, que logo se acalmou. Sempre que eu cantava, ela ficava mais tranquila. — Bom dia — disse uma senhora de cabelos loiros platinados. Ela era fina, elegante e com muita presença. Não precisou de palavras para eu saber que ela era a dona do casarão.

Eu me levantei, assustada e confusa, sem saber o que ela queria comigo, sem saber o que dizer. Ela me encarou de cima a baixo, como se estivesse admirando o meu ventre. — Você deve ser a Melita — disse com um sorriso, mas ainda séria. Ela não devia ser um tipo de mulher fácil de lidar. — Eu mesma — respondi, ainda com medo. — Parece assustada. Desculpa se os meus homens foram indelicados. — Quem é você? Por que eu estou aqui? — Eu sou Scarlett Smith, mãe do Michael. Respirei fundo; por essa eu não esperava. Nunca imaginei que fosse conhecer a mãe do Michael, mal sabia se estava viva ou não. Ele nunca me falou dela e ela nunca lhe visitou no hospital. — Eu vim convidá-la a morar comigo. Vejo que está grávida, e meu filho me falou que você mora sozinha. — Agora eu moro com a minha irmã e com o meu gatinho… — Sua irmã, que é drogada? — protestou. Nem me dei o trabalho de responder, cruzei os braços e a encarei com cara de poucos amigos. Era só o que me faltava, ela julgar a minha irmã. A mulher mostrou um sorriso sarcástico. — E mesmo assim, não acho seguro morar apenas com ela. Você precisa de cuidados e, como você mesma disse aos meus seguranças, sua gravidez é de risco. — Eu estou muito bem na minha casa. Agradeço o convite, mas não vou aceitar. — Eu preparei o quarto. A Cecilia, minha empregada vai lhe ajudar no que precisar. — Não vou ficar! — teimei. — Acho que você não tem escolha. — Não era um convite? Então, sou livre de dizer aceitar ou não. — Convite foi uma maneira educada de dizer, mas, na verdade você está sendo convocada. Revirei os olhos e ri ironicamente. Não estava acreditando que estava sendo obrigada a morar com ela. Ela viu o meu rosto e o meu desagrado, se aproximou de mim e pegou a minha mão.

— Estou atendendo ao pedido do meu filho, e fiquei muito feliz em saber que serei avó. De uma menina… — Seus olhos quase lacrimejavam. — Se você não ficar, meu filho jamais vai me perdoar… Não desta vez. — Seu filho sumiu e pouco se importou com esta criança. — Ele se importa. Se não importasse, você não estaria aqui! Fique… — Por que eu ficaria? — Você está grávida do meu filho, então somos uma família! Família deve ficar unida. Fiquei sem saber o que dizer. Ela soltou a minha mão e mostrou um sorriso. Ainda assim me sentia intimidada por ela. Entendi perfeitamente de onde o Michael puxou aquele olhar obscuro. Ela fez um gesto carinhoso no meu ombro. — Que bom que nos entendemos e você decidiu ficar! A Cecília vai acompanhá-la até o seu quarto. — Antes que eu pudesse comentar mais alguma coisa, ela simplesmente me deu costas e saiu andando. Lá veio a Cecília e mais um segurança na minha direção. Entendi perfeitamente que não iam me deixar de sair desta casa. Fui acompanhada por eles até o meu quarto; entrei no cômodo e olhei em volta, vendo a dimensão enorme que tinha. Estava bem arrumando e enfeitado, parecia que estavam me esperando. Não que o Michael tivesse uma má aparência, mas nunca pensei que viesse uma família milionária. Eu realmente não fazia ideia com havia me metendo. — As minhas roupas… — disse. — Compramos novas para você, estão no guarda-roupa. Roupas especialmente para mulheres na gestação — disse Cecília, sorrindo. — Caso queira algo novo ou outra roupa, a senhora Scarlett tem uma estilista pessoal e vendedora particular, poderá escolher o que quiser — completou, transbordando simpatia. — Não é só isso. Tenho que avisar a minha irmã, e tem meu gatinho! — disse, irritada. Nunca gostei que me obrigassem a algo, sempre fui dona de mim mesma. O segurança se retirou, deixandome sozinha com a Cecília.

— Fique tranquila, tudo que precisar, nós te daremos. Pode mandar mensagem para sua irmã, e ela pode vir lhe ver quando quiser. Seu gatinho pode vir morar aqui também! A senhora Scarlett foi bem clara e disse que a sua vontade era para ser feita. Estamos a sua mercê. — Menos a vontade de eu voltar para minha casa — reclamei. — É para o bem de todos. Ela saiu sorridente e fechou a porta. Que raiva que tinha dessa gente, que me tirou da minha própria casa e me forçou a ficar aqui. Peguei no celular e mandei mensagem para minha irmã, explicando a situação. Jessica não estava acreditando no que havia lhe contado. (…) Era fim da tarde e eu estava no quarto. Não tinha posto os pés fora do lugar; não me sentia à vontade para isso e a minha condição psíquica ainda não aceitava que eu iria ficar nesta casa. Eu mal conhecia esta gente e nem falava com o Michael, pois estava magoada e com raiva dele. Estava deitada na cama, acariciando a minha barriga. — Senhorita Melita — disse Cecília, entrando. — Sim. — Tem uma moça chamada Jessica aqui. Ela diz que é sua irmã. — Eu vou lá falar com ela — respondi, quase pulando da cama. Estava tão ansiosa para vê-la. — Não se incomode, eu a trago até aqui. A senhorita não pode fazer esforço. Espere, por favor! — pediu-me, praticamente suplicando. Acenei positivamente a cabeça, aceitando o seu pedido. Ela se retirou e não passaram cinco minutos até que a porta do quarto voltou a se abrir. Vi minha irmã entrando. Ela segurava uma mochila e, na outra mão, o meu gatinho. Sorri de tanta felicidade e estendi as minhas mãos na sua direção. Ela deixou o gatinho no chão e veio até mim, segurando minhas mãos.

— Que alívio saber que você está bem! — disse, emocionada. — E eu me sinto aliviada em te ver! O meu gatinho pulou na minha cama e se deitou ao meu lado. Jessica respirou fundo e olhou em volta do meu quarto. — Puxa, isto é que eu chamo de um quarto, hein… — Admirou. — Eu quero ir embora — resmunguei. — Melita, olha só para esta casa. Parece um castelo! — Ela me encarou, surpresa. — E, não só sua gravidez é de risco, como você quase abortou duas vezes… Talvez aqui você esteja mais segura, mais cômoda. Vai ter pessoas cuidando de você. — Eu sei me cuidar muito bem, não preciso de babás. — Precisa sim! Eu sou sua irmã, irei sempre te apoiar, mas você tem o Michael. — Ele me deixou, sumiu! — Se ele tivesse feito isso, você não estaria aqui. — Mesmo assim… Quem ele pensa que é para me tirar da minha própria casa? — Bem, ele é o pai da… — Nem pense em responder… — mandei, furiosa. Ela riu, achando engraçada a minha atitude. Encarei-a e o seu olhar dizia tudo. Ela olhava para mim e não via mais que uma barriguda reclamando da boa vida. — É como se eu estivesse morando com estranhos, Jessica! Michael nem está aqui. Onde ele está? — Lágrimas saíram dos meus olhos. Ela segurou a minha mão, tentando me acalmar. — Irmã, por que você em vez de apegar no que ele fez, você não tenta se interagir mais com os novos membros da família? Não acha mais fácil assim? Se ele fez isso, é porque vai voltar… Respirei fundo, pensando no que ela disse. — Você fica aqui comigo? — perguntei, na esperança de ouvir um sim. — Não, irmã… — Ela olhou em volta. — Isto é demais para mim. Além do mais, tenho meu trabalho, que com certeza a sua sogrinha não vai gostar de saber! — Ela sorriu.

— Pouco me importa. — Eu virei te visitar sempre que eu puder. — É que eu vi a sua mochila, então pensei que… — São as suas roupas, os seus medicamentos. — Ela pegou a mochila e a abriu. — Trouxe as suas pantufas favoritas! — Jessica balançou as pantufas de coelho na cor rosa. Eu me pus a rir, como não fazia há bastante tempo. — Trouxe as roupinhas de bebê que nós compramos outro dia, lembra? Peguei as meias de bebê, imaginando como seria a minha pequena quando ela nascesse. — Você vai ficar bem! Sempre fica — disse. Eu lhe abracei fortemente, pois sabia que ela não voltaria tão já e temia que retornasse ao vício novamente. Temia que se perdesse como antes. Ao menos, juntas, cuidávamos uma da outra. — E eu também irei ficar bem! Fica tranquila — afirmou, como se tivesse lido os meus pensamentos. — Promete que vai se cuidar? — Prometo! — Ela cruzou os dedos, sorrindo. — Outro dia eu volto. Quem sabe o meu cunhado já não estará por estas bandas? Eu sorri, revirei os olhos e abanei a cabeça. Michael era imprevisível, não sabia o que esperar dele. Sabia disso, sempre soube. Soube desde o dia que o conheci.

Capítulo 15 Melita Logo pela amanhã, estava em frente ao guarda-roupas procurando algo para vestir. Não sabia o que, pois me se sentia enorme. Minha barriga crescia cada vez mais e as roupas eram muito luxuosas para o meu gosto. Continuei procurando e peguei uma peça mais simples e confortável. Vesti uma calça cinza de moletom e uma blusa branca de manga curta. Saí do quarto e me pus a caminhar pelo local. Não dei muitas voltas, pois a casa era enorme e eu me cansava rápido, mas gostava de ver as obras de arte que havia nas paredes. Quadro e objetos de decoração lindos a ponto de chegar a hipnotizar alguém. Dei mais alguns passos e vi um quadro de um menino loiro, com olhos de caramelo, que não devia ter mais de cinco anos. — Esse é o Michael, quando tinha três anos. Olhei-a assustada, pois não a percebi chegando. Ela ainda me intimidava. — Suspeitei que fosse ele. — Desculpe, não queria assustá-la. — Deve ser de família. Seu filho, no hospital, me dava um susto todos os dias que eu me aproximava dele — disse, rindo. — Vou entender isso como um elogio. — Ela riu. Desviei o olhar e continuei olhando para o quadro. — Espero que entenda por que não pode ir embora — Ela se aproximou ainda mais de mim. — Seremos uma família e o meu filho vai voltar a ser feliz como era antes. — Pelo que eu entendi, o seu filho não estava muito disposto em ter uma família, pois ele tinha assuntos muito mais importantes a

tratar… Scarlett engoliu em seco e desviou o olhar. Senti que falei de algo que mexeu com ela. — Desde o dia que ele perdeu a sua noiva, ficou sem rumo. Ansioso por se vingar a qualquer custo, até de se casar ele foi capaz… — Como assim? — Você não conheceu a esposa falsa do meu filho? — Conheci… — Ele se casou com ela e, em troca, a garota passou a lhe fornecer tudo quanto é arma para usar no policial que matou a sua ex-noiva. Eu era contra esse envolvimento dele com a Mya, nunca gostei dela… Sempre tive o pressentimento que não acabaria bem — confessou. — Entendi… — Quando eu vi que ele estava obcecado demais nessa vingança, se metendo com pessoas fora da lei, me afastei dele… — Ela parou por uns segundos e respirou fundo. — Hoje, vejo que fiz mal, pois ele por pouco não foi morto. Eu não soube entender o que ele estava passando, mas agora vai ser diferente. — O que lhe dá tanta certeza? — Porque agora ele vai ter o meu apoio, não vou deixar que nada te aconteça. — Você não está me usando para se reconciliar com o seu filho, está? — perguntei, desconfiada, mas sem ser rude. — Não, mas porque há muito que não via o meu filho preocupando assim com alguém. — Ela me encarou. — Quando ele falou de você, seus olhos brilharam. Fazia tempo que eu não o via assim, emocionado! Michael sempre foi durão. — A senhora está falando isso para me convencer a ficar, mas, mais cedo ou mais tarde, eu irei embora. — Meu filho tinha razão, não vai ser fácil te convencer… — disse ela, retirando-se com um sorriso. Não liguei a mínima para o que ela disse, não era obrigada a ficar num lugar onde não desejava estar. Fui até cozinha e Cecília serviu o almoço. Logo depois, Scarlett se sentou à mesa ao meu

lado, sem dizer meia-palavra. Ela era uma mulher que falava apenas o necessário, não era alguém que gostava de conversar. A mesa era enorme e tinha muita comida, com diversidade de sabores. Estava faminta, então comi de tudo: pão com geleia, a variedade de frutas que havia; comia com gosto. Scarlett me encarava com o seu jeito todo elegante e fino, possivelmente protestando quanto à minha forma de comer, mas pouco me importava. ♠ Mais uma noite em claro e eu me perguntando onde estaria o meu ex-paciente problemático, Michael Smith. Nunca imaginei que um dia iria me apaixonar por um homem como ele. Alguém imprevisível e de quem nunca se sabe o que esperar. Deitada sobre os lençóis brancos, me lembrava da forma como ele me domou no quarto do hospital, de forma tão intensa. Foi tudo tão intenso e rápido. Quase no sétimo mês de gravidez, meu corpo estava em chamas devido às alterações dos hormônios, e havia mudado muito. Ia me lembrando do seu toque, enquanto passava a mão pelo meu peito, desejando que ele estivesse aqui comigo, possuindo-me como das outras vezes. Fui descendo a minha mão até a minha virilha, tocando-me, pensando nele. — Michael… — sussurrei de olhos fechados, invadindo-me com meus dedos. Como eu queria ele estivesse aqui… Com a mão, apertei o meu peito, soltando gemidos de prazer. Meu corpo suava e tremia, desejava e ansiava por ele, por aquele corpo enorme e definido. Aquelas mãos de veias marcadas e salientes. — Michael… Vem para mim! — Gemi mais uma vez, movimentando os meus dedos, estimulando-me mais e mais, gemendo o seu nome sem parar. Gritei o seu nome mais uma vez, enquanto o meu corpo tremia pelo orgasmo. Fiquei uns segundos respirando fundo, até que tirei os dedos de mim e, quando ia pô-los sobre o peito, senti o meu pulso preso. Abri os olhos, assustada, e era ele. O Michael, na minha frente! Ele deu um sorriso malandro e chupou os dedos que há

pouco estavam dentro de mim, lambuzando-se com gosto o meu fluído. Fiquei pasma, olhando para ele sem saber o que dizer. Parecia um sonho, não estava acreditando que estava na minha frente e que, ainda por cima, vira o meu show de orgasmo. — Você não tem ideia do quanto é excitante te ver assim, se tocando e gemendo o meu nome — disse, mordendo o lábio e me encarando com os seus olhos cor de caramelo. Fiquei um tempo encarando-o, sem jeito. — O que você faz aqui? Como você entrou? Eu nem te vi… — Eu já morei nesta casa. — Você não anda foragido? — Ando, vim disfarçadamente para ninguém desconfiar nem me ver. Eu precisava te ver. Puxei a mão que ele segurava, me apoiei na cama e me sentei. Mal conseguia olhá-lo, estava morrendo de vergonha. Ele ergueu o meu rosto, obrigando a encará-lo. — Estou completamente perdido por você. Está mais linda grávida. — Ele passou a mão na minha perna. — Como a polícia não te achou? — perguntei, cortando clima e tirando sua mão da minha perna. — Fiz um acordo. Vou os ajudar a encontrar o Ângelo… — Você não desiste de se vingar — resmunguei. — Não é o que você está pensando, me escuta. — É o que então? Já agora, não gostei de você ter me obrigado a ficar aqui! — Aqui estará mais protegida, e tem todo conforto que precisa. — Eu não preciso de proteção! — Você é minha mulher, é meu dever te proteger! — Ah, agora eu sou sua mulher. Pensei que fosse a falecida! — Ah, sério? você vai agir assim agora? Melita, eu fiz isso para te proteger e… — Proteger do quê? — Daquele desgraçado! Você não sabe do que ele é capaz. Ele pode te machucar só para me atingir. — Michael respirou fundo. — Assim como fez com a Mya. — Mya… Sempre ela.

— Ciúmes de defunto, sério? Não é mais sobre ela, é sobre você! Eu me importo com você, como não percebe isso? — Isso é o que você diz. Você me usou! — gritei, ainda furiosa. Ele respirou fundo e passou a mão na cabeça. — Sim, tem razão. Eu te usei, mas, no meio disso, me apaixonei por você. Qualquer homem se apaixonaria por você! — Ele parou por uns segundos. — Sempre te achei atraente, mas também queria matar aquele sujeito… Estava confuso. — Então você juntou o útil ao agradável. — O que você quer que te diga? Eu te amo? Amo sim! Descobri tarde, mas é verdade! — Aumentou o tom de voz. — Eu ia me entregar na polícia, mas um deles me procurou e me deu a oportunidade de… — Deu oportunidade de você se vingar à vontade? — Não! — disse, irritado, perdendo a paciência. — Oportunidade de fazer justiça e de ficar livre, para ficar com você e a nossa filha. Para sermos uma família. Parecia sincero no que dizia, mas ainda não confiava nele. Sempre me vinha o medo de um dia sumir sem dar a menor satisfação. Michael me olhou nos olhos e segurou o meu rosto, encostando sua testa na minha. — Senti sua falta… Não te procurei antes porque não pude. Estava fugindo da polícia e não estava totalmente recuperado da cirurgia. Não ia por você em risco! Fiquei em silêncio e desviei o olhar. Não queria me deixar ser convencida por ele. — Você não faz ideia do quanto senti a sua falta. Eu te amo. — Antes que eu pudesse reagir, ele tomou minha boca. Sentia a ansiedade que ele tinha para me ter de volta. Minhas mãos estavam enterradas no seu cabelo, enquanto arfávamos no beijo tão intenso. Era um misto de saudades e medo de não poder o beijar dessa forma novamente. Ele segurou o meu cabelo e beijou o meu pescoço; senti a sua outra mão passeando nas minhas pernas. Meu corpo desejava tê-lo, mas minha mente não permitiu. — Sai, Michael. — Empurrei-o. — Você acha pode sumir e voltar como se nada tivesse acontecido?

Nem o esperei responder e voltei a me deitar na cama, dando-lhe as costas. Não ia deixá-lo me dominar dessa forma; já estava magoada demais para ter outra decepção.

Michael Lá estava eu, tentando, mais uma vez, me aproximar dela. Melita estava impossível! Eu também sabia que não seria fácil, sabia que ela ia me repudiar, e com razão. Eu errei, não soube ser receptivo quando ela precisou de mim, mas estava aqui agora. Ela precisava entender que eu não ia mais abandoná-la, nunca mais. — Melita, eu nunca mais vou sair da vida. Eu e você; nós somos para sempre — disse. Ela me ignorou e continuou me dando as costas. Isso acabou comigo. Estava desolado, não por mim, mas por tê-la a feito sofrer, por ter sido egoísta quando tive toda a oportunidade de ser feliz ao seu lado. Mas eu reverteria isso, era uma questão de tempo até ela me aceitar de volta. Senti o meu celular vibrando e já sabia quem era. Sem dizer meia palavra, dei um beijo seu rosto e saí do quarto. ♠ Meia-noite e estou no local onde havia combinado de encontrar Jorge, um lugar desértico e com muitas árvores. Em quinze minutos, apareceu um carro preto de vidros fumados. Entrei no carro e me deparei com três policiais disfarçados. — Vamos, tome isto — disse o Jorge, entregando-me um gravador. Um dos policiais era uma mulher; ela se aproximou de mim e abriu minha camisa, colocando as escutas em mim. — Não deixe que ele perceba — instruiu. — Onde vamos? — Não, onde você vai — corrigiu Jorge. — O Ângelo agora está num bar, você vai até ele. — Isso é arriscado. Ele vai avisar aos colegas — afirmei.

— Não vai, pois ele vai estar sem rede. — Ele sorriu sarcasticamente. — Nós já resolvemos isso. Ninguém vai ter rede nesse bar, agora você tem que fazer com que ele fale. Encontre um jeito de ele confessar o que ele fez. — Farei o possível. — Faça o impossível. Pense na sua enfermeira — disse Jorge com um sorriso malandro. Eu o encarei seriamente. — Fala dela mais uma vez e eu acabo com você, desgraçado! — ameacei-o. Não gostei do seu tom e gostava menos que falassem da Melita, como se ela fosse um pedaço de carne ou algo do gênero. — Calma! Ninguém vai tocar nela — disse. Nem me dei ao trabalho de responder, já estava irritado o suficiente. Assim, fomos. Eles me levaram até uma rua que ficava a dois quarteirões do bar. Saí do carro e caminhei até o local, usava uma blusa de manga longa com capuz. Entrei no bar, olhando em volta para ver se encontrava o sujeito. Estava lotado. Fui recebendo as instruções através do Jorge para encontrá-lo. Caminhei e vi um homem de costas, usando uma jaqueta marrom. Só podia ser ele. Era capaz de reconhecer o Ângelo de olhos fechados, sem engano. Apressei os passos na sua direção, mas, de repente, começou uma briga entre dois caras e um deles sacou uma arma, disparando. As pessoas ficaram assustadas e começaram a se deslocar, fazendome o perder de vista. — Perdi-o! — falei no pequeno microfone que estava preso na minha jaqueta. — Ele saiu do local. Trate de sair você também! — disse. Saí do bar à sua procura, feito um louco. Ele não devia estar longe. — Michael, o que pensa que está fazendo? Volta para o carro agora! — mandou Jorge. — Ele não deve estar longe. — Fora do bar, eu não tenho nenhum controle. Volte para o carro agora mesmo! Tirei o microfone e o joguei fora. Estava disposto a encontrálo a qualquer custo. Vi-o de longe caminhando até o carro e corri

atrás dele. Agressivamente, segurei a sua jaqueta e o virei para mim, ficando cara a cara. A minha vontade de matá-lo era de um tamanho que ninguém poderia imaginar. — Você está vivo, pelo visto — disse o Ângelo. — Você vai pagar pelos crimes, seu infeliz! Ele esmurrou-me e eu o esmurrei de volta; minha força foi tanta que ele caiu no chão. Ângelo tentou segurar o celular, mas chutei na sua mão, fazendo com que o aparelho caísse distante dele. Antes de ele reagir, dei outro chute no seu abdômen. — Seu imbecil! — disse, gemendo de dor. — Vai confessar o você fez? Ele riu. — Ela era minha, quem a matou foi você, que a tirou de mim… — Confesse! — desafiei-o. Segurei-o pela jaqueta e o fiz ficar em pé, encarando-me. Sem esperar, ele tirou a arma do bolso e apontou para mim. Eu me afastei e ergui as mãos, dando um passo para trás. — Mãos na cabeça. Eu obedeci e o encarei. — Vai ser assim: eu vou te matar e dizer que foi legítima defesa — explicou, sorrindo. — E, depois, vou pedir uns cuidados especiais para sua enfermeira gostosa. Cerrei os punhos de raiva, quase esquecendo que tinha uma arma apontada para mim. — Já imaginou, sua neném me chamando de papai? — disse, rindo. Essa frase me deixou fora de controle. Eu ia enfrentá-lo sem pensar duas vezes. Dei um passo e, nesse instante, surgiu um carro e lhe atropelou. Ângelo foi arrastado para outro lado. — Entra na porcaria do carro! — gritou Jorge, abrindo a porta. Eu olhei para o Ângelo, caído no chão e inconsciente. — Entra logo! Obedeci; ele logo acelerou e demos o fora do bairro. Enquanto ele dirigia, pude ver a sua raiva transbordando. — Esse não era o combinado!

— Você não queria que ele confessasse? Como você pensou seria, uma conversa entre bons amigos? Ele bateu a mão no volante e acelerou mais ainda. — Já está mais do que claro que você quer o matar, mas não pode ser assim. Se fizer isso, ele sai como inocente e condecorado pela polícia! Temos de incriminá-lo. — Você acha que consegue fazer isso de forma limpa? Estamos lidando com um assassino e um estuprador de menores! Lugar dele é na cova. — Eu sei, mas isso não cabe a nós. — Você acabou de o atropelar — reclamei. — Sim, para afastá-lo de você, não para matá-lo! E, graças a você, vou ter que dar um sumiço no meu carro. Você é terrível, não fez o combinado, não me obedeceu… — Não sou seu animal de estimação para te obedecer. — Quer ir para cadeia? Não respondi e respirei fundo. — Então pense bem antes de fazer coisas da sua cabeça sem me consultar. Vou te dar mais chance, se você não fizer o combinado… — Já entendi. — Só mais uma chance. Eu ri ironicamente. — Você não vai me entregar na polícia, porque você quer tanto quanto eu pôr esse desgraçado na cadeia. E sabe muito bem o que aconteceu naquela noite em que ele me alvejou e me esfaqueou. Ele me encarou, irado. Nunca deve ter ouvido tanta verdade como hoje. — Agora você está sentindo o que eu senti nestes dois anos. Agora sabe como é, não é? Ele desviou o olhar e continuou dirigindo. — Agora sabe o quanto dói ver alguém que matou um ente querido seu, livre. Bem-vindo ao meu mundo, Jorge!

Ele respirou fundo e permaneceu em silêncio, ainda dirigindo. Mais à frente, estacionou num lugar e me encarou. — Sai do carro. Este lugar é seguro e você pode voltar para o seu esconderijo. Vou dar um jeito de sumir com esta carcaça.

Capítulo 16 Melita Acordei com o barulho do chuveiro ligado; só podia ser Michael tomando banho. Isso despertou minha curiosidade em querer vê-lo completamente nu. Já tinha lhe visto antes, mas agora era diferente, pois ele estava bem e saudável. Levantei-me e fui caminhando até o banheiro. Abri a porta e lá estava ele, no meio do chuveiro. Conseguia ver a sua estrutura física através do vidro, que estava ofuscado por conta do vapor da água. Fiquei um tempo mirando-o se banhar de costas para mim. Dei um suspiro, virando minha cabeça para o lado que dava no espelho, tendo a visão de mim mesma. Aproximei-me do espelho, vendo o meu rosto inchado e cabelo armado. De jeito nenhum o Michael iria me ver assim! Pus-me logo a lavar o rosto e escovar os dentes, antes que ele terminasse o banho. Droga, por que ele tinha que tomar banho no meu quarto? Terminei de escovar os dentes e logo arrumei o cabelo, melhor dizendo, apenas passei o creme de pentear, deixando os meus cachos mais definidos. — Acordou? — perguntou ele, saindo do chuveiro completamente nu. Eu olhei e fiquei hipnotizada com a sua estrutura física. Um homem alto, corpo totalmente definido, sem contar que o seu membro era… tentador. Respirei fundo e desviei o olhar. Ele me deu um sorriso pervertido. — Como você está? — Ele foi se aproximando de mim. — Você quer se vestir pelo menos? — Desviei o olhar — Não é nada que você não tenha visto. — Ele deu um beijo no meu rosto. — E sentido — sussurrou no meu ouvido, dando-me arrepios.

— Onde você estava? — perguntei, tentando estar séria e indiferente. — Resolvendo uns assuntos. Não pude esconder o meu desagrado, pois sabia que ele estava armando por aí e não gostava de saber que andava se pondo em risco. — Vai correr tudo bem — disseme. — Também, se acontecer alguma coisa comigo, você estará em boas mãos. — Estou preocupada com você! Não vai sumir de novo, vai? — Melita… — Vai? — perguntei seriamente. — Não, eu prometo. — Você não é muito bom em cumprir as suas promessas, Michael. — Encarei-o. — Melita, sei que eu falhei com você. — Ele segurou o meu rosto. — Sei que há certas coisas pelas quais jamais poderei te compensar. Como te acompanhar nas consultas pré-natal, segurar a sua mão na ecografia, nem sei se poderei ver a nossa filha a nascer… Eu sei disso! Me perdoa, mas sempre irei te proteger. Farei o necessário para vocês as duas estarem a salvo. Dou minha palavra, e minha vida se necessário. Fiquei um tempo encarando-o, sem saber o que dizer. — Não sei o que tenho que fazer para te convencer. — Passou a mão no meu rosto, seus olhos de caramelo suplicavam o meu perdão. — Eu… Tampei a sua boca com a ponta dos meus dedos. Não podia sequer pensar nele morto ou ferido. — Eu acredito em você. Não fala mais nada. Michael tomou minha boca intensamente, com uma mão enterrada nos meus cachos e outra na minha cintura. Puxou o meu corpo para junto dele e me conduziu até a parede, pressionando-me mais contra si. — Opa! — disse ele, afastando-se e sorrindo. Também sorri, pois sabia do que se tratava. — Ela me deu um chute! — disse, passando a mão na minha barriga. Mais uma vez, minha pequena se mexeu. — Ela é bem traquina!

— Teve a quem puxar! Deve ser genético! Ele me encarou, comendo-me com os olhos que me deixavam sem fôlego. — Eu te amo — afirmou. Mostrei-lhe um sorriso e encostei os meus lábios nos seus. — Onde nós estávamos? — sussurrou malandramente. Voltou a tomar minha boca e suas mãos baixaram o meu vestido longo, deixando-me apenas de calcinha. Desci a minha mão até a sua virilha, mas ele a segurou, deu um beijo e colocou-a no seu peito. — O que foi? — perguntei. — Eu não quero machucar a pequena — disse, beijando o meu pescoço. — Minha médica já liberou — implorei, ofegante. — Mesmo assim, sua gravidez é de risco. — Ele foi me beijando, indo de boca no meu peito, amassando com a mão e chupando os meus mamilos. Senti os seus dedos dentro de mim, provocando-me, enquanto gemia de prazer. Foi distribuindo beijos pelo meu corpo, descendo até a minha virilha. Num só movimento, ele pôs a minha perna apoiada no seu ombro e foi de boca, chupando meus lábios vaginais. Passou a língua no meu clitóris, com movimentos circulares, fazendo-me gemer de prazer. — Gostosa — sussurrou, enquanto a sua língua percorria no meu sexo. Eu gemia o seu nome desesperadamente, pedindo por mais e mais.

Michael Deixei Melita dormindo na cama, fiz um carinho no seu rosto e dei um beijo de leve na sua boca. Ele gemeu e sorriu, fazendo-me sentir grato e sortudo por tê-la ao meu lado. Não tinha muito tempo,

pois teria que sair da casa da minha mãe e voltar para o meu esconderijo; não podia prolongar a minha estadia, era arriscado demais. Saí da cama, vesti uma calça jeans preta e caminhei até a cozinha. Estava morto de fome. Enquanto caminhava, me dei conta que fazia anos que não punha os pés aqui; até me sentia um estranho. Percebi que Melita e a minha filha que está por nascer foram as principais razões de um dia eu conseguir me aproximar da minha mãe. Cheguei na cozinha e me deparei com ela, minha mãe. — Você aqui, ainda… — Estranhou. — Quer eu vá embora? — Claro que não. — Ela sorriu. — Só achei estranho. Por aquilo que sei de você, já teria ido embora. Permaneci em silêncio e sorri meio encabulado. — É bom te ver assim, melhor, mais feliz. — Ela terminou de preparar o lanche e pôs na mesa. — Pão integral com presunto e queijo minas. Seu lanche preferido. — Você, cozinhando? Isso é novidade! — respondi, sorrindo, pegando o lanche e comendo. Podia confessar que uma das coisas das quais sentia falta era da comida feita por ela; admitia que era uma ótima cozinheira. — Você sendo um papai também é novidade — resmungou. Ri. — Terei que ir… Cuida dela enquanto eu estiver fora. Prometo que é temporário, depois de tudo resolvido, nós vamos morar numa casa só nossa. Não te darei mais trabalho. Ela sorriu e abanou cabeça. Aproximou-se de mim e beijou o meu rosto. — Depois que tudo terminar, quero que vocês morem aqui definitivamente. — Mas… — Está casa é grande demais para uma pessoa só. Além do mais, eu viajo bastante. Fiquei surpreso com isso. — Pensei que tinha me deserdado, como me disse uma vez!. — Eu jamais faria isso, você é o meu único filho. Só falei isso porque você decidiu se casar com aquela bandida! — Encarou-me

furiosa. — Você não achou que eu ia deixar você dividir os nossos bens com aquela delinquente, achou? Fornecedora de armas! Sério? — Fica descansada, eu me casei com separação de bens. — Ótimo! Agora trate de se divorciar… não é? Aí sim, te darei todos os meus bens. — É claro que vou me divorciar. Encarei-a, vendo que continuava a mesma mãe possessiva e invasiva de sempre. Ela tinha razão por ficar chateada comigo, pois, àquela altura, estava tão obcecado em me vingar que me casei por troca de favores, pondo em risco todos os bens da família. Todo seu esforço teria sido em vão, mas ao menos não estava tão louco assim. Casei-me, sim, mas com separação de bens. Além do mais, a minha mãe fez me assinar um papel onde eu renunciaria à minha herança. — A morte da Mya virou sua cabeça por completo. — Você quer mesmo falar sobre isso? — protestei. Era impressionante como a minha mãe reclamava de tudo. — Nunca gostei dela. Era uma mulher casada… — Separada, e você sabia disso muito bem. — Nunca gostei dela mesmo assim! Primeiro, foi seu pai que te afastou de mim. Depois, foi a falecida. — Você nunca gostou de ninguém que se aproximasse de mim, sempre foi uma mãe muito ciumenta. Ela levantou a sobrancelha, fazendo pouco caso. — Nem sei como você se entende com a Melita — disse. — Bem, ela está carregando um filho seu, meu neto, e te faz feliz. É o suficiente para eu gostar dela — respondeu, sorrindo. — E ela te trouxe para casa. Ficamos um tempo na troca de olhares. Finalmente tínhamos concordado em alguma coisa. — Eu te amo, mãe. Nunca gostei mais do pai do que de você. Quero que saiba disso. Ela mostrou um sorriso gratificante que não via há anos, sentia que ela tinha um alívio. Minha mãe era muito ciumenta e, quando eu me aproximei do meu pai, seu ciúme ficou doentio. Chegou até a me expulsar de casa e não me dirigia mais a palavra

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Capítulo 17 Michael Estava no esconderijo, uma pequena casa antiga feita de madeira. Estava na sala, pensando no desgraçado; nesse momento, ele devia estar no hospital. Agradecia por Melita não estar trabalhando, pois, assim, ela estaria longe dele. Imaginava o tamanho da raiva que ele devia ter de mim, por ter escapado; não podia estar mais furioso. Peguei no celular e liguei para a minha esposa. — Carmélia. — Michael? — Preciso que venha se encontrar comigo hoje, daqui uma hora. Traga uma arma. — Combinado! Por que você precisa? — Estranhou. — Não é da sua conta. Ângelo, com certeza, tinha mais interesse em me matar do que em me pôr na cadeia, então tinha que me defender. Não só a mim, mas a minha família também. — Você vai matá-lo? — Apenas traga o que eu disse! Vou te passar o endereço. Não atrase. Passei-lhe o endereço e desliguei o celular. Claro que não dei o endereço do meu esconderijo, mas de um local que fosse fácil de ela me encontrar e que não tivesse muita conexão. Apesar de a minha rede ser pirata e estar constantemente a mudar de número e de celular, todo cuidado era pouco, pois já não se tratava de eu estar na cadeia ou não, se tratava de eu estar vivo ou morto.

♠ Vi Carmélia aproximando-se do local onde combinamos. Era um lugar desértico, no meio das árvores, onde só um louco como eu ficaria. Observei-a, parada e olhando em volta, e esperei mais um pouco para ter certeza que estava sozinha. Não confiava totalmente nela. Carmélia era como eu, alguém imprevisível. Ela tentou me ligar, mas sem sucesso, pois não tinha rede. Depois de uns minutos, me aproximei sem que ela me visse. Peguei-a por trás e fechei a sua boca, puxando-a para mim. Estávamos os dois encostados numa árvore. — Que susto, Michael! — bradou, furiosa, empurrando-me. — Trouxe o que eu pedi? — Como combinado. — Entregou-me a arma embrulhada num pano branco. Peguei e desembrulhei o pano, vendo o tipo de arma que era. — Essa é das boas — disse, sorrindo. — Obrigado. — O que você faz aqui no mato? Tem tudo quanto é bicho! — reclamou. — Como você acha que não me encontram? Ela me olhou de cima a baixo, vendo como eu me apresentava. Eu usava uma calça de moletom com uma camiseta preta — O que foi? — Fiquei feliz por ter me ligado. — Sabe por que te liguei. — Você podia me recompensar. — Ela mordeu o lábio. — Como? — Olhei para ela, sem entender o que queria. — Nós somos casados, Michael. Você podia me mostrar onde fica o seu esconderijo e… — Nosso casamento é uma farsa, sabe disso. — Porque você quer! — Ela segurou o meu rosto, atirando-se em mim, deixando os seus lábios próximos aos meus. — Você está lindo. Quero você. Quis se aproximar mais ainda, mas segurei as suas mãos e a afastei, sem ser grosseiro.

— Tenho uma mulher e ela está grávida. — A sua mulher sou eu! — Ela fez um sorriso malandro. Deu um passo para trás e tirou a sua blusa, deixando os seus peitos de fora. — O que está fazendo? — perguntei, encarando. — Há quanto tempo você não transa? — Ela mordeu o lábio. — Aquela enfermeira grávida nem deve te dar direito. Desviei o olhar, mas ela, não satisfeita, segurou o meu rosto, fazendo-me encará-la. — Eu sempre te quis, Michael. Sempre! — Segurou a minha mão e colocou no seu peito. Senti sua palma descendo até o meu abdômen, mas, antes que chegasse onde intencionava ir, a segurei. — Vamos parar por aqui. Chega. — Recuei. Peguei a sua blusa e a entreguei. — Vista-se, não se humilhe mais. Ela retraiu os ombros e segurou a blusa, encolhida e sem saber como me encarar. — Você não pode fazer isso comigo. Por todo este tempo, eu te esperei — disse, lacrimejando. — Ah, sério, Carmélia? Você é louca? — perguntei, encarando-a, chocado com o que ela falou. — Somos casados! — E eu disse que você podia se envolver com outros homens! Acha que eu falaria isso se te quisesse? E agora, vou querer o divórcio. Você pode ficar com a casa e eu darei um jeito de te ajudar, fica tranquila. — O quê? — perguntou, lacrimejando. — Eu sou grato ao que você fez, mas nunca disse que ia ficar com você. Sempre foi uma troca de favores, sempre soube disso, Sempre deixei claro! Ela confundiu completamente as coisas, nunca dei a entender que a queria e que o nosso trato fosse mais que assinatura de papéis. Ela saiu correndo, como um cachorro com a cauda entre as pernas. Não queria magoá-la, mas eu não ia trair a Melita. Eu a devia o meu respeito e também não tinha interesse em outras mulheres.

Carmélia Michael me feriu psicologicamente, acabando com a esperança que um dia podia conquistá-lo. No início, era só um trato, mas eu me apaixonei por ele. Em todos os momentos que estava abalado com a morte da falecida, era eu quem o acalmava, e agora ele me trata assim. Eu não ia deixar barato, ele ia pagar caro por isso. Voltei para casa de coração partido; ele ia mesmo pedir o divórcio, ia me deixar! Eu, que sempre o amei, mesmo sem ele perceber. Senti o celular tocando e atendi à chamada. — Então, pensou na minha proposta? — Sim, eu aceito. Vou te ajudar a matar o Michael, custe o que custar. Eu estava irada e magoada. Não podia aceitar que ele ia me deixar para ficar com aquela mulher. Devia ser eu! Eu devia estar no lugar dessa Melita dos infernos! Ainda me lembrava do dia em que o conheci. Michael usava uma calça jeans azul marinho, camisa branca e aquela barba… Aquela barba em que um dia eu desejei roçar, aqueles braços enormes e aquela boca! Desejei isso sempre e permaneci calada, na esperança que, depois que ele se vingasse, olharia para mim de outra forma, como sua mulher.

Melita Estava no jardim, em frente à piscina, que, pelo tamanho, parecia mais um lago. Usava um biquini branco com uma saída de praia verde. Eram seis horas da noite, mas estava muito quente. Estava morrendo de calor e a minha vontade era de mergulhar. Tirei a saída de praia e caminhei até a beira da piscina. — Cuidado para não se machucar! Virei assustada e encarei a Scarlett.

— Que susto! — Assustada fiquei eu em te ver assim! Devia estar em repouso. — Esta também é uma maneira de repousar — rebati, entrando na piscina pelas escadas. — Direi ao segurança para ficar atento. Não quero que nada aconteça com a pequena minha herdeira. — Retirou-se. Revirei os olhos e continuei na piscina, desfrutando do momento. A mãe do Michael me tratava como uma boneca de porcelana e eu já estava cansada disso. Deixei o meu corpo relaxar e flutuar sobre a água; estava com os braços abertos e olhos fechados. Queria me desligar do mundo e de todos. Estava tão tranquilo! Até que ficar em casa da mãe do Michael não era tão ruim assim. Abri os olhos e vi o Michael encarando-me como se estivesse vendo uma fada ou algo parecido. Ele usava uma calça jeans preta, rasgada, e uma camiseta vermelha. — Você é uma deusa, meu amor — disse. Deixei de flutuar e ajeitei o meu cabelo, meio sem jeito. Seu olhar me deixava sem saber como agir. — Está me deixando sem jeito. — Você é que me deixa assim! — Ele tirou a camiseta e deu um mergulho. Encarei-o, achando-o um louco por entrar de calças na piscina. Michael nadou por debaixo da água e emergiu na minha frente, ficando mais próximo de mim. Passei a mão no seu peito, vendo as cicatrizes que ele ainda tinha. Isso me deu uma agonia, pois a cicatriz do abdômen ficou bem marcada. Ele pegou a minha mão e deu um beijo. — Não se preocupe. Valeu a pena cada tiro que levei, pois, graças a isso, conheci uma mulher incrível — disse, queimando-me com os seus olhos.

Capítulo 18 Michael Despertei de mais um pesadelo. Fiquei um tempo arfando, meu peito doía de tanta agonia. Senti algo passando em meu ombro e segurei, assustado, mas logo me senti aliviado ao ver a Melita deitada ao meu lado. Ela me olhou, vendo o quanto eu estava aflito. Ficamos um tempo nos encarando, mas ela estava muito mais calma que eu. — Sou eu, Michael. Dei um beijo na sua mão, que fez um carinho no meu rosto. — Mais um pesadelo? — perguntou. — Com quem você sonhava? Não respondi. Não por não saber, mas porque eram inúmeras coisas que eu não sabia explicar. Por medo que ela pensasse baboseiras. — Sonhava com a Mya? Sua… — Minha mulher é você — afirmei. — O que você sonhava? — Ela… — Fiquei sem palavras. — Por quê? Por que você ainda é tão apegado a ela? — Porque ela me transformou numa pessoa que jamais pensei que um dia seria. Parece que ela clama por justiça… Tenho medo que algo que te aconteça, porque, se isso se repetir, não haverá remédio que me cure. Melita se aproximou de mim e deu um beijo no meu ombro. — Ficarei bem. — Você me fez perceber que tenho a chance de ser feliz… — Desviei o olhar e respirei fundo. — Fiquei internado porque eu estava obcecado em matá-lo, não pensava noutra coisa. Um dia antes de eu ter parado naquele hospital, nós tivemos uma luta

violenta. Ele me deu um tiro e me esfaqueou, mas não foi o suficiente para me derrubar, pois o meu desejo de matá-lo era tão grande que tive forças o suficiente para esfaqueá-lo no pescoço. — Parei por uns segundos e passei a mão na nuca. — Mas também estava tonto por conta dos ferimentos, e não consegui o atingir o suficiente para acabar com ele. Foi nesse instante que ele me deu outro tiro no peito, e eu apaguei. — E eu agradeço por você não ter conseguido matá-lo — disse, fazendo um carinho no meu rosto. — Talvez… — Você tentou várias vezes e não conseguiu. — Ela apoiou a sua cabeça no meu ombro. — Falhei, e agora temo que ele te machuque. — Você não o matou porque não é um assassino, Michael! Não é um criminoso. Você é um homem bom, como seria capaz de matá-lo? — Suas mãos guiaram o meu rosto ao seu encontro. Mostrei um sorriso e abanei cabeça, sem acreditar em como ela podia se manter tão calma diante de tanta barbaridade que eu fiz. — Você não nasceu para ser assassino. — Ela sorriu. — Nasceu para ficar do meu lado e ter uma família comigo. Seu lugar é aqui, comigo e com a nossa filha. Beijei intensamente a sua boca carnuda. Eu amava essa mulher mais do que tudo nesse mundo. Tudo nela era perfeito, seu sorriso, suas palavras; apreciava cada detalhe seu. Mya me lembrava do que perdi, mas Melita me fazia entender o que tinha por viver, me fazia valorizar que eu tinha. Ela foi melhor coisa que me aconteceu, era a minha vida.

Sete dias depois Estava no esconderijo. Fazia dias que eu não via a Melita e sentia sua falta; não conseguia ficar muito tempo longe dela, mas não podia arriscar sair, não agora que o infeliz já tinha saído do hospital e estava à minha procura mais do que nunca. Meu celular tocou e eu atendi. — Carmélia, já falei que quem te liga sou eu — disse, furioso. — Eu sei, mas estou aflita, Michael! Preciso de você. Chegaram uns homens em casa, tiraram tudo e me bateram. Não tenho ninguém, por favor, vem aqui… — disse, chorando e soluçando. Sabia que era arriscado, que não era conveniente sair, mas Carmélia estava em apuros. Apesar de tudo, eu tinha um carinho por ela, pois me ajudou em alguns momentos. Vesti uma camiseta e fui ao seu encontro, dirigindo o mais rápido possível. Cheguei na casa e bati na porta, pois havia perdido a chave. Insisto, mas ninguém abriu. Forcei a fechadura, sem sucesso. Impaciente, dei três passos para trás e chutei a porta, fazendo com que se abrisse. Fiquei um tempo olhando, vendo se aparecia alguém, mas nada. Entrei com receio e olhei em volta; realmente a casa estava uma bagunça, como se tivesse sofrido um assalto. — Carmélia! — gritei. Ouvi o seu choro e fui ao seu encontro. Entrei no quarto e a vi sentada no chão, com as mãos apoiadas na cama. Chorava e nem me encarava. Preocupado, aproximei-me dela. — O que houve? — perguntei. Ela me encarou com um sorriso e, nesse instante, a porta do quarto se fechou. Virei e vi Ângelo, apontando-me a arma. Levantei os braços e vi Carmélia afastando-se de mim, indo para o lado dele. — Como você é um idiota, Michael! Não aprende mesmo, né? — disse Ângelo. — Carmélia… Você me traiu! — Encarei-a. — Carmélia? Pensei que fosse Clarice — disse o Ângelo. — Na verdade, o meu nome é Carla — ela disse, rindo. Eu e o Ângelo nos encaramos, surpresos. — Ah, sério? — perguntei a ela.

— Você me rejeitou, sabe o quanto isso foi humilhante? Acha que ia deixar barato? Sou traficante de armas, Michael, que tipo de pessoa pensa que eu sou? — O problema é que ele não é bandido, então não sabe que pessoas como você não prestam — disse Ângelo. — E agora? — perguntei, encarando-o. — Agora você vem comigo, ou estouro seus miolos! Andei em sua direção com as mãos na nuca. Em situações normais, eu teria reagido, mas pensei na Melita e na minha filha. Nesse instante, descobri que tinha algo a perder, e muito. Aproximei-me dele, e Carmélia se afastou, ficando no outro canto do quarto. — Desculpa, Michael, mas, no fim das contas, tenho outro jeito de conseguir a nacionalidade — disse a Carmélia com ar vitorioso. Fui com o Ângelo, que tinha a arma apontada na minha cabeça, até a cozinha. — Carmélia, obrigado — disse Ângelo. — Obrigado não basta, quero ser recompensada — afirmou ela. — Claro que será — respondeu, desviando a arma e atirando bem no meio da testa de Carmélia. Ela caiu no chão, morta e de olhos abertos. Simplesmente assim, ela se foi. Carmélia morreu. Fiquei um tempo encarando-a, enquanto ele ria que nem demente. — Mulher burra! Ela achou mesmo que eu iria lhe ajudar. — Continuou rindo. Quis me mexer, mas ele logo apontou a arma na minha testa. — Nem pense em fugir. Saímos da casa e entramos no seu carro, que estava estacionado a poucos metros de distância. O bairro era tranquilo e morava pouca gente ali, então foi fácil sairmos sem chamar muita atenção. Pôs-me no volante, para que eu dirigisse, e ele estava ao meu lado, a arma apontada para minha cabeça. — Dirija, vamos! — instruiu. Fiz o que mandou. Ele ia me direcionando para onde ir e fui vendo que o caminho não era em direção à delegacia. — Para onde vamos?

— Para um lugar onde eu possa te matar e onde seu corpo possa ser devorado pelos abutres — afirmou. — No final, saio sempre ganhando. Sempre! Permaneci em silêncio e continuei dirigindo. — Depois de você morrer, cuidarei da sua mulher. Já que você ficou a minha, é mais que justo que eu fique com a sua. Ele começou a rir, divertindo-se com a minha aflição, mas foi nesse momento que eu acelerei e desviei o carro contra uma árvore. Podia morrer, desde que ele morresse também. Ninguém ia tocar na minha família, ninguém! Estávamos os dois no carro, tontos por causa do impacto. Ele tentou me agarrar, mas abri a porta do carro e me atirei ao chão, de tão tonto que estava. Fui rastejando, até que consegui me levantar, e comecei a andar, indo para o meio das árvores. — Michael! Seu desgraçado! — gritou Ângelo, começando a disparar a arma que nem um louco, mas consegui me desviar no meio das árvores e ficar cada vez mais distante dele. Ele também estava ferido, então não conseguia me alcançar. Fui correndo, ziguezagueando o quanto podia, até que houve um momento que deixei de ouvir os seus passos. Fiquei atrás de uma árvore e esperei que se aproximasse, mas nada. Não ouvi nada dele. Fiquei numa situação que não sabia se continuava, se esperava ou se procurava o infeliz. Já estava esperando por um bom tempo. Vendo que não se aproximava, decidi, então, procurá-lo e acabar com isso de uma vez por todas. Chamei-o, sem resposta. Chamei mais uma vez, e nada. Até que me aproximei do local onde estava o carro e não o encontrei lá. Onde será que tinha ido? Passei mão na cabeça, aflito.

Capítulo 19 Melita Fazia sete meses que sentia a minha bebê dentro de mim. Caminhava pelos corredores da casa, indo ao meu quarto buscar minha carteira, já que tinha uma consulta marcada. Às pressas, entrei no quarto e senti uma dor. Respirei fundo, talvez tenha andando rápido demais. Passei a mão na minha barriga e tentei me acalmar. Fechei a porta e caminhei até estar próxima à cama, onde estava minha carteira, e, nesse instante, alguém tampou minha boca. — Shiuu… Quieta! Respirei fundo, ficando imóvel e aflita. Olhei para o lado e vi Ângelo com a arma apontada para minha cabeça. — Surpresa! — disse, sorrindo. — Calma, não vou te machucar, se você colaborar. Acenei com a cabeça, aceitando. Ele tirou a mão da minha boca e encarou-me. Não consegui me conter e comecei a chorar. Ângelo sorriu e tocou na minha barriga. — Por favor, não machuque meu bebê — implorei. — Shiuu… Tranquila! — Senhorita Melita, posso entrar? Temos de ir à consulta — disse a Cecília, batendo na porta. — Silêncio. Venha, anda! — disse ele, tampando a minha boca e me levando ao banheiro do quarto. Empurrou-me, e tive que me segurar na pia para não cair. — Um palavra e enfio uma bala nessa barriga. Entendeu? Acenei com cabeça e ele fechou a porta. Apenas ouvi passos e o grito da Cecilia, e logo veio um barulho, como se um dos móveis

tivesse caído, mas percebi que não era um tiro. A porta abriu-se e lá estava ele novamente, encarando-me com os olhos mais maníacos que eu já tinha visto. — Esperando o quê? Anda logo! Eu me aproximei dele e logo fui puxada pelo braço para fora do banheiro. Tomei um susto quando vi a Cecilia no chão, inconsciente. Agradecia por Scarlett ter viajado por alguns dias, pois, se estivesse aqui, ela seria a próxima. — Pus a sua empregadinha para dormir! — Riu. — O que vai fazer comigo? — Nada, por enquanto. Você é apenas a isca para eu matar o Michael. — Não! — Vou ligar e você vai falar com ele chorando, como se fosse uma donzela que precisa ser resgatada pelo seu príncipe. Entendeu? — Não vou fazer isso! — Vai sim! — Apontou a arma para a minha barriga. — Ele ou o seu bebê? Escolhe. Fui levada à força, quase arrastada pela casa, até a cozinha. Ângelo me pôs sentada na cadeira e amarrou as minhas mãos com o pano de secar a louça, tão forte que gemi de dor; logo em seguida, amarrou a minha boca. Ouvi passos vindo, possivelmente era um dos seguranças chegando. Ele entrou na cozinha e me viu amarrada; abanei negativamente a cabeça, aflita e com medo. O homem olhou para lado e recebeu com tiro na testa; caiu no chão, seu corpo se derramando em sangue. Comecei a chorar arduamente; era o meu fim, a próxima seria eu ou o Michael. Ângelo me encarou, sorrindo, e caminhou em minha direção com a arma sobre a mesa, rastejando-a até o meu encontro. — Seria muito mais fácil se seu maridinho tivesse aceitado a morte daquela loira vadia — disse enquanto mexia no celular, discando. — Michael, estou com a sua mulher! Se não vier em cinco minutos, estouro os miolos dela. — ameaçou. Tirou o pano da minha boca e pôs o celular no meu rosto. — Fale, peça socorro. Ele

precisa ter certeza que você está comigo e que não estou brincando. — Melita! — disse Michael, do outro lado da linha. Eu estava de aflita e com medo. Minha garganta doía, não conseguia falar de tanta agonia. — Fale, sua imbecil! — Ele deu um tapa no meu rosto e gritei de dor. — Michael, sinto muito! Meu amor, eu sinto muito… — disse, chorando. — Melita, vai ficar tudo bem! Não vou deixar nada te aconteça, prometo — afirmou. — Melita? Ângelo tirou-me o telefone. — Entendeu? Chegue logo, antes que a festa comece. E, se chamar a polícia, já sabe! Qualquer desconfiança, qualquer sinal, eu atiro nela. Não me desafie. — Seu filho de uma égua, vou acabar com você! Ângelo riu e desligou o celular. Encarava-me com um olhar maligno e demente. Tranquilamente, passou a sua mão no meu rosto, causando-me repulsa, nojo do seu toque, que chegava a pôrme com náuseas. Vendo a minha aversão, tirou a mão de mim, apoiou-a na mesa e começou a mexer os dedos. Parecia estar impaciente. — Ele já deve estar chegando, é espeto. Sabia que eu iria ao seu ponto fraco — disse, sorrindo. Eu respirava fundo, tentando me acalmar. Ângelo olhou para o relógio. — Senhor Smith chegando em um, dois, três…

Michael Desliguei o celular com uma raiva que nunca tive antes. Pude ouvir o tapa que ele deu na Melita e seu grito, e tinha certeza que, por ter feito isso, ele já era um homem morto. Como ousou pôr a mão numa mulher, ainda mais sendo a minha?

No meio da estrada, vi uma moto aproximando-se e, sem pensar duas vezes, atirei no jovem, fazendo com caísse no chão. Ele estava equipado com capacete, não deve ter se machucado muito. Peguei sua moto e dirigi. — Está maluco, rapaz? Ouvi o homem xingando-me, mas nem liguei. Meu caso era urgente, um caso de vida ou morte. Dirigi mais rápido que pude, ultrapassando tudo quanto era carro, sem respeitar os sinais de trânsito. Sorte que não prejudiquei ninguém pelo caminho. Dirigia pensando nelas… Elas mereciam melhor! Melita estava em perigo pior minha causa, porque me apaixonei por ela e ela cedeu às minhas seduções. Um amor totalmente perigoso e traiçoeiro. Eu devia ter me contentando em apenas apreciar a sua beleza e deixála longe de mim. Acelerei mais ainda e, em pouco tempo, cheguei em casa. Quem olhasse para minha casa, ia achar que estava tudo bem e tranquilo. Perguntava-me como ele conseguira entrar no imóvel, em segurança. Ângelo era bom nisso. Cumprimentei um dos seguranças normalmente, tentando manter a calma como se estivesse tudo bem. Entrei em casa e fui caminhando, olhando para os lados. Aproximei-me da cozinha e vi sangue no chão. Quase morri quando vi, pensando que pudesse ser da Melita ou da minha mãe. Apressei os passos e logo entrei no cômodo, vendo Melita amarrada na cadeira. — Muito bem! — disse Ângelo, apontando a arma nas minhas costas. — Mãos no ar! Assim o fiz, olhando para a Melita, que morria de agonia e medo. — Melita, não chora… Vai ficar tudo bem — falei, vendo-a se derramar em lágrimas, não podendo me dizer uma palavra, pois o infeliz tampara a sua boca. — Olha que romântico — disse o Ângelo, rindo. — Faça o que quiser comigo, mas a deixe ir. Por favor! — implorei. Ele me colocou as algemas e me levou até a cadeira mais próxima. Fiquei sentado com as mãos presas, apoiadas nas minhas costas.

— Agora sim! Tudo está correndo como sempre devia ter sido — disse ele. Aproximou-se da Melita, levantou-a da cadeira e tirou a mordaça da sua boca, mas deixou as suas mãos amarradas. — Solte-a — disse. — Irei fazer isso, mas, antes, eu e ela vamos até quarto. — Ele sorriu e cheirou o cabelo dela. — Sempre tive fetiche em mulher grávida, nos últimos meses de gestação. — Você é maluco? — gritei, aflito, vendo Melita chorando e sem forças para mal ficar em pé. Ela gritava de dor, segurando a sua barriga. — Você tira a Mya de mim e acha que terá um final feliz para sempre? — Não a tirei de você, ela que te deixou. — Por sua causa! — Porque você a maltratava! — Ela era minha mulher, minha propriedade! Podia fazer com ela o que quisesse. — Ele respirou fundo e cheirou o cabelo da Melita, dando um beijo no seu rosto. — Assim como posso fazer o que quiser com ela também! — Por tudo que é mais sagrado, deixe-a ir! — Lágrimas saíram dos meus olhos. Melita estava em apuros e eu não podia a defender. Quis me mexer, mas ele apontou a arma para a barriga dela. — Se mexa mais uma vez e eu atiro! — Encarou-me. — Fique tranquilo, serei rápido. Ela gemeu mais uma vez, perdendo forças, e Ângelo a segurou fortemente, fazendo-a ficar em pé. Um homem louco e de tamanha crueldade… Eu não sabia com quem estava lidando até hoje; ele era muito pior do que pensava. Tentou arrastá-la para fora da cozinha, mas ela mal se aguentava e acabou por cair no chão. — Talvez eu a coma aqui mesmo, na sua frente — afirmou, impaciente. — Solte-a! — implorei. — Olha só, Michael. Mais uma vez, a pessoa que você ama vai morrer na sua frente e você não pode fazer nada!

— Não! Seu filho de uma égua! Solte-a! — gritei, desesperado. — Vai ser assim: eu vou comê-la e matá-la, e depois eu mato você! Fica como se tivesse suicidado, porque você é louco! — disse, abrindo o cinto da sua calça. — Matei a Mya com muito gosto. Enfiei a bala naquela vadia, e agora vou matar esta também. Que divertido! — Ângelo, não faça isso — implorei, vendo a minha mulher deitada no chão, desesperada, com as mãos amarradas. E eu, sem poder fazer nada. Ângelo ignorou, ficando de costas para mim, de joelhos de frente para ela. Melita gritava, tentava lutar contra ele. Eu tentava me soltar, mas sem saída; não tinha como quebrar as algemas. Respirei ao máximo, pois essa iria doer, mas estava disposto a tudo. Ele não ia tocá-la nem que fosse a última coisa que eu fizesse. Puxei o meu o braço esquerdo o máximo que consegui, usei toda a minha coragem, pensando nela. Usei toda a minha força e consegui soltar a minha mão esquerda da algema, sentindo dor como era a de quebrar seus ossos. Minha mão esquerda estava totalmente danificada, quebrada e sem função; um dos ossos do meu dedo estava à vista, mas, ao menos, soltou-me. Imediatamente, fui contra Ângelo. Ficamos os dois caídos no chão, trocando murros um com outro. Ele estava mais forte que eu, pois só conseguia usar a mão direita, visto que a outra estava totalmente quebrada. Ele segurava a minha mão danificada e a machucava mais ainda, e gemi de dor. Tentei me defender, mas Ângelo me deu um murro no rosto que me fez ficar tonto e vendo tudo turvo. Quis me esmurrar de novo, mas ouvi um tiro. Ele gritou e caiu sobre mim. Assustado, afastei seu corpo de mim e o vi sangrando. Confuso, passei a mão no meu rosto e, quando abri os olhos, vi Melita com a arma na mão. As mãos dela tremiam tanto que deixaram cair a arma no chão; apoiou-se próximo a uma cadeira. — Melita! — Aproximei-me dela e segurei seu rosto. Ela tomou um susto e se afastou. — Calma, sou eu! Sou eu… Ela estava em choque. Nunca havia pagado uma arma, muito menos atirado em alguém. Imaginava o que ela sentia. Com a mão

direita, desamarrei-a e ela abraçou-me, começando a chorar. Soluçava e tremia como nunca. Abracei-a, tentando acalmá-la. Ficamos um tempo assim. Ela pegou a minha mão machucada, com cuidado. — Olha a sua mão, temos que ir ao hospital… — disse, chorando. — Está tudo bem, eu vou ficar bem! — Ele matou o segurança… Ele… — Eu sei — disse, passando a mão no seu rosto. — Fica calma. — A Cecília está no quarto… Ela está desmaiada, coitada! — falou, soluçando. — Perdão, Melita. Você não merecia passar por isso. Perdão, meu amor! Ela acenou com a cabeça, mostrando um sorriso, encostando-a no meu peito. Conseguia sentir o seu coração batendo forte. Ela estava em choque, suas mãos ainda tremiam. Estávamos os dois de joelhos; segurei o seu rosto. — Vamos para sala, Melita. Não te vai fazer bem ficar aqui. — E agora? — Confia em mim — pedi, e ela acenou a cabeça. Peguei no celular e liguei para Jorge. — Eu peguei o infeliz. Apareça! — disse ao telefone, passando as coordenadas de tudo. Melita se levantou e ligou para a ambulância. Enquanto falava com o Jorge, vi o rosto dela mudando de expressão, ficando aflito novamente. — Michael! — gritou. Virei e vi o Ângelo aproximando-se, tentando nos agredir, mas, antes que isso pudesse acontecer, enfiei o peso dos meus punhos no seu rosto, fazendo-o cair o chão e perder consciência. O desgraçado ainda estava vivo para me atormentar. Avancei nele com toda raiva e, com a minha mão direita que estava funcionando perfeitamente, comecei a esmurrá-lo sem parar. Eu batia para matálo, estava consumido pela ira, por ele ter tentando estuprá-la. Ângelo já estava inconsciente, mas nem liguei; queria esmurrá-lo até a morte.

— Michael — chamou Melita, mas eu ignorei e continuei a agredi-lo. — Michael! — gritou. Eu a olhei, frustrado, e ela ficou um tempo me encarando. — Minhas águas arrebentaram! Parei de imediato e me aproximei dela. Ela gemeu e respirou fundo, com as mãos apoiadas no seu ventre. Minha filha estava nascendo, não podia acreditando. — Calma, a ambulância deve estar chegando. — Não dá tempo… — Tudo bem, vamos para o hospital. — Ainda é muito cedo para ela nascer, só tem sete meses e três semanas… — Calma! Melita começou a gemer de dor. Ajudei-a a ficar em pé e a caminhar até o carro. Esquecendo de tudo, dei apenas atenção a ela. Só queria que ficasse bem. Entramos no carro e pus-me a dirigir o mais rápido que podia. Ultrapassei tudo quanto era carro; queria chegar logo, não suportava vê-la assim. Próximo ao hospital, encontrei uma fila enorme, que me faria demorar séculos. — Michael… — Ela me encarou. — Se alguma coisa me acontecer, prometa que vai cuidar da nossa filha. — Para com isso! — Por favor. — Ela fechou os olhos, gemendo. — Se você tiver que escolher entre nós duas, escolha a ela. Não deixa a nossa menina, por favor… Ignorei-a, pois em hipótese alguma eu aceitaria perder nenhuma das duas. Continuei contando os segundos para a fila andar longo, ficando cada vez mais aflito — Caramba! — gritei, batendo no volante e buzinando que um louco. Ela respirava fundo e gemia de dor; eu não sabia o que fazer. Estava em apuros. Impaciente, encostei o carro, desliguei o motor, saí e levei a Melita ao colo. Minha mão estava danificada, mas consegui encaixá-la nos meus braços e caminhar até o hospital. Caminhava o mais depressa possível, desesperado e com medo de perder as duas.

Cheguei lá, aflito, com a minha mulher nos braços e quase perdendo a consciência. — Socorro, alguém me ajude! — gritei desesperado. A enfermeira Susana logo que nos viu e se aproximou com uma cadeira de rodas. Coloquei Melita na cadeira. — Meu Deus, Melita! — disse Susana. — Por favor, ajude minha mulher… — Fica tranquilo, vai ficar tudo bem — disse, levando-a. Quis ir junto, mas uma outra enfermeira me segurou. — Senhor, está machucado, precisa de cuidados! — Não, eu quero estar ao lado dela… — Em hipótese alguma, o senhor não está em condições — disse a enfermeira, empurrando-me para me sentar em outra cadeira de rodas. Eu e Melita, os dois fomos à sala cirúrgica. Minha filha ia nascer e eu tinha mão totalmente quebrada, sangrando. Minha mão estava um horror, mas isso não me preocupava. Queria saber delas.

Capítulo 20 Michael Deitado na cama, me encontrava em um quarto de hospital. Chamei por Melita, precisava vê-la. Nesse instante, a enfermeira Maria entrou, segurando a minha filha no colo. Aproximou-se de mim e me entregou o bebê. Era tão pequena, parecia uma boneca. Cabelos cacheados, a boca da sua mãe e tão frágil. Eu não conseguia segurá-la direito, meus braços tremiam. — A minha mulher? — Como assim? — perguntou Maria, sem entender. — Melita, onde ela está? Estava aflito e gostava do jeito que Maria me encarava. — Michael, não se lembra? Você a matou… Esqueceu? — disse ela, encarando-me com olhos de fúria. — Não! — gritei, segurando a minha filha, chorando. Chorava horrores, só podia ser um pesadelo… Só podia ser um pesadelo. Disse para mim mesmo: Michael, desperta. Acordei, aflito e arfando. Olhei em volta e me vi deitado na cama. Minha mão estava com curativos por compressas, devido à cirurgia. Acordei morrendo de dor, mas queria saber das minhas garotas. Saí da cama e me pus a caminhar. A enfermeira Maria entrou e sua presença me deixou em pânico. Era como se o sonho estivesse acontecendo e, dessa vez, seria real. Ela correu e se aproximou de mim.

— Você não pode se levantar e sair por aí andando! — disse, levando-me de volta para cama. — Meu Deus, será que é tão difícil você ficar quieto? — Minha mulher e minha filha… Onde elas estão? — A sua filha está no berçário. Nasceu pequena, mas ela é forte. Eu ia perguntar sobre a Melita, mas fiquei sem palavras, com medo de ouvir a resposta. Encarei-a, meu silêncio era o meu desespero. Não sei o que faria sem essa mulher. — Melita também está bem. Respirei fundo e a abracei fortemente, começando a chorar. Meu alívio era tão grande… Minha felicidade era enorme e não consegui conter minhas lágrimas. — Ei, calma, elas estão bem — disse Maria, correspondendo ao meu abraço. — Posso vê-las? Antes que ela respondesse, Jorge entrou no quarto. Ele me olhou, dando a entender que o assunto era urgente. Maria me ajudou a deitar na cama e saiu do quarto, deixando-nos a sós. — Achou? — perguntei. Ele acenou positivamente a cabeça. — O gravador estava no vaso da cozinha, como você disse. — Escutou o que tinha que escutar? — Sim, ele confessou que matou a Mya e que… — Ele ficou um tempo me olhando. Quando fui para casa ao encontro da Melita, liguei o gravador que estava preso no interior da minha camiseta. Mesmo se ele não confessasse que matou a Mya, se fizesse alguma coisa com Melita estaria gravado. Depois que ela disparou, enquanto ela ligava para ambulância, tratei de colocar o gravador num dos vasos, pois já tinha dado as coordenadas ao Jorge. Estava tudo gravado, inclusive o horror que Melita passou. — Sinto muito pelo que ele ia fazer com a Melita, pude ouvir os seus gritos. A imagem do Ângelo tentando estuprá-la me veio à mente novamente, causando-me repulsa e raiva ao mesmo tempo.

— Quero esse cara preso, ou juro que o mato! Sabe que estou tentando há bastante tempo. — Desta vez ele não escapa. — Jorge ficou um tempo pensando. — Na gravação, ouviu-se um disparo — disse, desconfiado. — A Melita atirou nele, tentando me defender. Foi legítima defesa. Ele acenou a cabeça positivamente. — Acha que algo pode acontecer com ela? — perguntei, preocupado. Era só que me faltava, Melita ser prejudicada por minha causa. Jamais iria me perdoar. — Não, mas terão de arrumar um bom advogado. Eu irei ajudá-los, tem a minha palavra. — Tratarei disso. — Não se preocupe, ele vai ser preso. Além do mais, ele matou mais alguém na sua casa. Temos testemunhas, provas o suficiente contra ele. — Matou a Carmélia. Carla. Nem sei se é esse o nome dela… — Está de parabéns. Pegamos o infeliz! Acenei positivamente com a cabeça. — Acha que ele vai confessar? Apenas a gravação basta? — Ele vai confessar — disse com seriedade. Pude notar um olhar maligno nele. — Vai sim. — Jorge pressionou os pulsos, mas tentou disfarçar, transparecendo ser alguém mais calmo. — Agora, posso ver a minha mulher e a minha filha? Estava ansioso para vê-las. Ele acenou cabeça, mas, ainda assim, conseguia ver o seu olhar triste. Sabia o que ele sentia, a perda. Não importa o que acontecesse com o culpado, o que você perdeu não tinha volta. Ele perdeu sua filha e eu perdi a Mya. Ângelo iria preso, poderia até morrer, mas nada as trairia de volta. Duas vidas se foram e não tinha volta. Essa era a verdade. Não existia punição que compensasse a perda de alguém. — A minha filha agora estará em paz — disse ele. — Espero que você também esteja. Ele encarou-me, pensativo.

— Também espero. A minha vida sempre foi eu e ela — afirmou, pressionando as mãos mais uma vez. — Cuida bem da sua filha, o mal sempre anda solto por aí. — Eu sei. Nesse instante, a enfermeira entrou com uma cadeira de rodas. Jorge retirou-se e ela me ajudou a sentar na cadeira. Levoume até o quarto onde estava Melita.

Melita Despertei assustada e respirando fundo. Queria saber da minha pequena, como ela estava, pois nasceu antes do tempo. Antes dos oito meses. — Calma, Melita! — disse Michael, segurando a minha mão. Olhei para ele, ficando mais calma em vê-lo na minha frente. — A nossa bebê? — Ela está bem. Vim ver como você está. — Vamos levar vocês até ao berçário para verem a sua menina. Ela é linda! — disse Maria, sorrindo. — Ela está bem? Tem algum problema? — perguntei com medo da resposta. Temia que o meu parto pré-maturo tivesse prejudicado a minha pequena. — Ela é perfeita! — respondeu Maria emocionada ♠ Eu e o Michael estávamos observando a nossa pequena na incubadora. Ele segurava a minha mão e dava um beijo na minha testa. Ela era linda, tão pequena, mas forte, lutava para viver. — Ela é um tesouro! — disse Michael. Eu chorava de emoção só de vê-la se mexer. — Ela tem os seus lábios… Cabelo volumoso! É uma guerreira, como você — concluiu. — E certamente tem o teu gênio, não para quieta. Olha só para ela! — Ri, olhando para pequena se mexendo. — Ela vai nos dar muito trabalho! — Continuei rindo.

— Nem sei do que está falando, eu sempre fui tranquilo. Ri mais ainda da sua ironia. — Já pensou no nome? — perguntou. — Lurdes. É o nome da minha mãe. — Emocionei-me ao dizer. Quis dar esse nome porque a minha mãe foi uma guerreira. Ela cuidou de duas filhas sozinha, já que meu pai simplesmente a abandonou, e nunca mais soube dele. Minha mãe, mesmo passando por dificuldades, fez de tudo para cuidar de mim e da minha irmã. Foi uma guerreira, então quero que a minha filha tenha um exemplo na vida dela. — Obrigado — disse ele, beijando a minha mão. — Pelo quê? — Encarei-o. — Por ter me dado o melhor presente, por ter aparecido na minha vida. — Ele pôs a mão no meu rosto. — Por ter cuidado de mim, por ter paciência comigo. Você não desistiu de mim, me deu seu amor mesmo no momento que eu não merecia. Me curou, fisicamente e psicologicamente, de corpo e alma. Eu te amo! — Você me deu uma filha linda e sua proteção. Obrigada, meu amor. Faria tudo de novo. Escorreu uma lágrima do seu rosto e ele me deu um beijo no rosto. Ficamos um tempo assim, grudados um no outro, olhando para a nossa pequena.

Capítulo 21

Ângelo Estava tudo correndo tudo do jeito tinha planeado, como que diabos vim parar na cadeia? Estava acostumado a colocar os outros aqui, nunca imaginei que estaria aqui. Numa sala cheirando a mofo e com um monte de gente patética. Prisioneiros, detestava essa gente. — Senhor Ângelo… Olha só, pessoal, o policial está aqui! — disse um dos presos, encarando-me, com aquela cara de acabado. — Qual é o seu crime? — perguntou outro homem. Sentia olhar daqueles miseráveis sobre mim; muitos deles, eu meti aqui. Aqui, onde estou agora. Prisão. Eles deviam se divertir ao me ver naquela situação. Não respondi e permaneci dentro da cela; estava esperando o dia do julgamento chegar. Tinha que arrumar um jeito que sair daqui. Quase morri de pancada nas mãos do Michael e fui alvejado por aquela enfermeira vadia. Jamais me conformaria com o Michael solto e feliz, ainda por cima brincando de casinha. Eu ia dar jeito de sair daqui e ele ia pagar um preço muito alto. — Senhor Ângelo — disse o policial, ainda estranhando, pois fomos colegas um dia. Nós nos conhecíamos há um bom tempo. — Senhor Mateus, velho amigo! — respondi. — Não somos amigos. O senhor agora é um prisioneiro — disse, ríspido. — Tem visita. Saí da cela e fui com ele. Pelo caminho, fui vendo que era diferente das outras vezes, mas conhecia o lugar, já estivera aqui antes. Na época, contudo, eu era o policial. Sabia que ia ser interrogado pelos meus colegas. Entrei e dei de cara com o Jorge, sentado numa mesa. Possivelmente, veio para tentar me convencer

do que os outros detetives vêm tentado há semanas: confessar. Confessar os meus crimes, algo que jamais faria. Iria lutar pela minha liberdade até o fim. Sentei-me na sua frente e sorri. — Você não desiste mesmo, né? — questionei. — Não. Eu sou persistente. — Onde está o meu advogado? Só falo na presença dele. — Olha à sua volta, está vendo algum advogado aqui? Está vendo alguma câmera, algum segurança ou testemunha? — disse Jorge, encarando-me. Olhei ao redor e realmente não havia nada que pudesse impedi-lo de me agredir. Conhecia a sala, era a que um dia eu mesmo usei para acertar as contas com um prisioneiro. Engoli em seco, mas não me deixei intimidar. Ele podia me matar se quisesse, nada faria com que eu confessasse. — Não vou confessar, sabe disso. — Eu acho que você vai sim — disse ele. — Por que eu faria isso? O que ganho com isso? — Você não ganha nada — disse, sereno. — Mas a sua mãe ganha. Ele me mostrou uma foto da minha mãe, no manicômio. Ela estava internada no hospital psiquiátrico, já era velhinha e mal se aguentava. — Você não ouse a machucar — disse, furioso. — Se você confessar, posso pensar no caso. — Você faria mal a uma idosa? Cara sem vergonha! — Eu farei mal a qualquer um se você não confessar os seus crimes! Do mesmo jeito que você estuprou e matou a minha filha. — Eu não sabia que era sua filha. Além do mais, ela era uma vadia. Nesse instante, recebi um murro na face, quase quebrando meu nariz. Passei os dedos no nariz, acentuando a dor, mas logo comecei a rir. — Jorge, você é um dos policiais mais honestos que já conheci! Preocupado sempre com a honra e tudo mais… — Eu era, antes da minha filha morrer. — Ele se aproximou de mim. — Você tirou a minha honra a partir do momento que tirou a

minha filha de mim. — Segurou o meu uniforme e me aproximou ainda mais dele. — Sabe-se lá o que pode acontecer com a sua mãe se você não confessar todos os seus crimes. Fiquei com os nervos à flor da pele e surpreso com a sua atitude. — Não sou o Michael, que vai atrás de você. Sou como você, Ângelo. Eu vou nos que você ama e mato todos eles! Deixo você na lama, como eu estou agora. Matar você seria um favor… Não lhe daria essa satisfação. — Me solta — ordenei. — Você vai agora chamar os seus ex-colegas e vai confessar cada crime seu. — Tentei me soltar, mas minhas mãos estavam algemadas e ele segurou mais forte ainda no meu uniforme. — Ou vou no hospital, mato a sua mãe, e pode ter certeza que você sempre terá um prisioneiro enfiando o pau no seu rabo! Fiquei encarando-o por um tempo, vendo o seu olhar mais negro que as trevas. — Eu sei…— Pude ver o quanto o Jorge sofria, pude ver um homem vingativo e com olhar maligno, um homem perverso e sem misericórdia. Foi como me olhar no espelho. Vi a mim mesmo. Não acreditei que seria capaz disso até agora. Ele era como eu. — Mexeu com o policial errado, meu colega. Eu jogo sujo igualzinho a você. Aprendi contigo, obrigado — disse Jorge, empurrando-me, fazendo com que eu voltasse a me sentar na cadeira. Ele se levantou e saiu. Trinquei os maxilares de raiva.

Jorge Ver o Ângelo assinando o termo de confissão foi a melhor satisfação que eu tive. Queria a certeza que ele ia passar o resto dos dias na cadeia. Tinha que ter certeza, por isso o ameacei. Perdi a minha filha… Já fui um homem honesto, até o dia em que a encontrei morta num canto da rua, com vestido rasgado e sangue entre as

pernas. Quando a vi assim, abracei-a tanto e, em seguida, peguei na arma e apontei para minha cabeça. Queria morrer ali, junto com ela. Tudo tinha acabado para mim, mas achei melhor viver e encontrar o assassino que fez isso. Nesse dia, perdi a minha honestidade, perdi o meu ser. Já não era mais o Jorge policial, era um pai procurando por justiça e que estava disposto a tudo. Quando a vi naquele estado, imaginei os horrores que ela havia passado, e me senti culpado. Talvez, se eu tivesse sido um pai mais aberto, ela não teria saído de casa sem me consultar. Protegi-a tanto que ela não soube se defender. Minha vida sempre havia sido eu e ela, pois a mãe dela simplesmente sumiu no mundo. Mais tarde, soube que fugiu com um homem bem mais novo e nem olhou para trás. Por isso que, quando soube que a esposa do Ângelo havia se separado dele e estava com Michael, acreditei nele. Achei que a história tivesse se repetido. Hoje a justiça foi feita. Esse infeliz ia mofar na cadeia e, se tentasse alguma coisa, já sabia para onde eu iria. Que minha filha esteja em paz.

Capítulo 22 Um ano depois

Michael Segurava a minha pequena colo, olhando para o seu sorriso gracioso e radiante. Ela estava cada dia mais linda e mais parecida com a mãe. Tinha olhos marrom-claros, quase iguais aos meus, e cabelos cacheados, os caracóis mais lindos que já vi. — Ela já dormiu? — perguntou Melita, entrando no quarto. — Não, e acho que não vai dormir tão já — respondi. Melita riu e aproximou de mim. Fez um carinho no cabelo da pequena, pondo-a mais alegre e animada. Estávamos fazendo tempo até ela dormir, pois íamos jantar em algum lugar. Minha mãe ficaria com a neném por algumas horas. — Não está na hora de vocês irem não? — perguntou a minha mãe, aproximando-se. — Me custa deixá-la aqui! — disse Melita, triste. — Fica tranquila, ela estará em boas mãos — disse a minha mãe, segurando a pequena no colo. Era linda a forma que ela segurava a minha filha. Os olhos da minha mãe brilhavam, ela se derretia toda.

Melita Jantávamos num lugar tranquilo, fino e elegante. Michael me comia com o seu olhar, enquanto tomava o seu vinho tinto. Eu usava um vestido longo rendado, na cor preta, estilo sereia. Adorava

salientar as minhas curvas, ainda mais quando era para estar linda para ele. — Você está linda! — Eu conheço esse olhar… Brevemente, serei a sobremesa. Ele riu. — Sobremesa mais deliciosa que já degustei. Eu passei o meu pé na sua perna, provocando-lhe. — Para! — mandou, sério. — Está arruinando o momento, era para ser uma noite romântica. — Você, romântico? Essa é uma novidade. — Riu. Ele revirou os olhos e se levantou, aproximando-se de mim e ficando de joelhos. Eu fiquei surpresa em vê-lo assim. Michael tirou uma pequena caixa do bolso do seu terno e me encarou. Parecia nervoso e suas mãos tremiam. — Melita, aceita se casar comigo? Eu e você, para sempre. Eu pus as mãos na boca, emocionada. Meu coração quase saía pela boca. — Melita? — Encarou-me. — As pessoas estão olhando e estou esperando uma resposta — sussurrou, preocupado. — Claro que aceito! — Estendi a mão e ele colocou o anel no meu dedo. Um anel de ouro branco e diamante. Ficamos em pé e dei-lhe um beijo. Eu amava esse homem de coração e alma; era sua e sempre fui. As pessoas à volta bateram palmas, pondo-me constrangida, enquanto Michael ria, achando engraçado. Não que o ele nunca tivesse mostrado o amor que sentia por mim, mas não imaginava que seria hoje que pediria a minha mão em casamento.

*****Casamento**** Melita Estava no quarto, em frente ao espelho. A mãe do Michael fez questão de contratar uma maquiadora para mim. Minha maquiagem era suave, destacando apenas os meus lábios, com um batom vermelho-cereja. Havia feito uma trança enorme no meu cabelo, com enfeites de rosas brancas. — Você está linda, irmã! — disse Jessica, entregando-me uma caixa com a coroa de noiva. A maquiadora pegou o adorno e o colocou em mim. Em seguida, coloquei o vestido. Ele era na cor branca, longo, com decote "V" e rendado. Estava nervosa e fazendo o possível para chorar, sempre fui emotiva. Queria tanto que a minha mãe estivesse aqui comigo. — Vamos que noivo está ansioso! — disse Scarlett, com um ar sereno. Eu e a minha irmã nos encaramos e rimos, achando graça na minha sogra. — Tem medo que eu deixe o seu filho no altar? — perguntei, rindo. — Estou aqui para garantir que isso não aconteça. — Ela sorriu. Fui acompanhada até o local onde seria o casamento, num salão de festas. Chegando lá, tinha um monte de gente esperando, mas eu só tinha olhos para uma pessoa, meu futuro esposo. Fui caminhando e me aproximando dele, meu coração batia forte, causando um arrepio em mim. Respirava fundo, tentando segurar a emoção para não acabar chorando de felicidade. Queria estar linda para ele.

Michael Estava ansioso para que a Melita entrasse logo. Susana e Maria entraram antes, pois elas eram as madrinhas. Jessica segurava a minha filha no colo e fiquei um tempo olhando para minha pequena, minha Lurdes. Sentime o homem mais sortudo do mundo, ia me casar com a mulher linda e que me deu uma filha incrível. Passado algum tempo, Melita entrou. Ela estava linda naquele vestido, que salientava as suas curvas. A noiva mais linda que eu já vi. Caminhava na minha direção e eu não via a hora de ela chegar, para mais tarde arrancar aquele vestido. Finalmente, chegou perto de mim e nos demos as mãos. O padre abençoou nós dois. Eu segurava a mão dela, para jamais soltá-la. Algo que começou num fetiche e, quando me dei por mim, já estava loucamente apaixonado por ela. ♠

Entrávamos no hotel, tinha Melita em meus braços. Estávamos os dois animados, pois já tínhamos tomado umas boas taças de champanhe. Ríamos de tudo, enquanto íamos até à cama. Coloquei-a no colchão e me deitei ao seu lado. — Enfim, casados! — afirmei. Ela se moveu e ficou em cima de mim, dando-me um beijo. Começou a abrir os botões da minha camisa, distribuindo dos beijos no meu pescoço. Num movimento, ela se sentou, pondo meu tronco no meio das suas pernas. Ficou um tempo me observando, passando a mão no meu peito, enquanto eu tinha as mãos presas no seu traseiro. — Te amo, vida — disse, pegando na minha mão que, por conta do machucado, teve um dos dedos amputado. Sabia que ela ainda se achava culpada por isso.

— Valeu a pena, meu amor. Cada cicatriz, cada tiro… Por você, tudo vale a pena. Puxei o seu rosto contra o meu e tomei sua boca intensamente, enquanto a outra minha mão abria o zíper do seu vestido, na troca de beijos e amassos. Ela saiu de cima de mim e ficou na minha frente. Abaixou o vestido, ficando apenas de lingerie branca. Passei mão no meu membro por cima da calça, deliciandome em vê-la assim, tão sensual. Ela tirou o sutiã, exibindo os seus peitos pontiagudos direcionados para mim. Ficou de joelhos e abriu o zíper da minha calça, tirou o meu membro para fora e começou a massageá-lo, fazendo movimentos para cima e para baixo, fazendome gemer de prazer.

Melita Dei um beijo na sua mão, aquela mão que me dava tanto prazer, mas que também foi sacrificada quando estava em apuros. Por causa disso, ele já não conseguiria ter o mesmo desempenho nas lutas. — Valeu a pena, meu amor. Cada cicatriz, cada tiro… Por você, tudo vale a pena — afirmou, queimando-me com os olhos caramelo que eu tanto adorava. Puxou-me contra ele, afogando-me no seu beijo intenso e caloroso. Suas mãos passeavam no meu corpo, amassando-me e me dando carinho, enquanto eu abria o zíper da calça, louca para sentir o seu membro dentro de mim. Fiquei de joelhos, tirei-o para fora e comecei a massagear. Ele estava pronto para mim! Ansiosa e louca de desejo, fui de boca, sentindo o seu gosto e chupando cada centímetro do seu volume. — Ah, que delícia! — gemeu o Michael, encarando-me, vendo a minha satisfação em fazê-lo. Ele enterrou as suas mãos no meu cabelo e acompanhou os movimentos. Gemia o meu nome, ofegante, e isso me deixava mais louca ainda. — Vem… Quero sentir o seu sabor! — mandou.

Encarei-o com um sorriso malandro e, sem hesitar, me aproximei e me sentei no seu rosto. Senti os seus lábios na minha virilha, sua língua me penetrando com movimentos circulares, fazendo-me gemer de prazer. Enterrei as minhas mãos no seu cabelo e comecei a rebolar no seu rosto. — Gostosa! — gemeu, com as mãos presas no meu traseiro. Deu uma palmada e gemi de prazer e dor. Ele segurava forte e acompanhava os meus movimentos, fazendo com que eu gritasse no orgasmo. Gritei de tanto prazer e o encarei, arfando e querendo mais. Michael passou a língua no lábio superior com um sorriso malandro. Rápido e ágil, ele me virou, pondo-me deitada e ficando por cima. Aproximou-se de mim, encostando a sua testa na minha. — Sou seu, vida — disse. Seu olhar me devorava, como um felino faminto. Num só movimento, penetrou-me intensamente, fazendo-me sentir cada pedaço do seu membro. Queria que isso durasse para sempre. — Ah, Michael… Por favor, não para! — implorei, cravando as minhas unhas nas suas costas. Ele acelerou os movimentos de vai e vem, enquanto eu gemia loucamente

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Epílogo Dois anos depois

Melita Enquanto eu e Michael comíamos o almoço, Lurdes corria pela cozinha, brincando com a Scarlett e a Jéssica. A minha filha acabava com as energias de todo mundo, nunca era sossegada. — Melita, vou orar para que o próximo bebê que você tiver tenha mais o seu jeito de ser! — Disse Scarlett, arfando e exausta. — Ela é o Michael na versão feminina! — reclamou Jessica, rindo. Eu e o Michael rimos em simultâneo. Lurdes corria de um lado para o outro, pondo a sua avó mais cansada. Achava bonita a atenção que a Scarlett dava à sua neta, era uma avó atenciosa. Quem olhasse para ela e visse o seu jeito sério e elegante, não acreditaria se fosse no que estava vendo agora. Senhora Scarlett Smith, correndo descalça atrás da sua neta. Não era de se admirar que Jessica fizesse isso, mas minha sogra era uma surpresa. — Há muito que eu não via a minha mãe assim! — disse Michel, olhando para elas se divertindo. — Quem diria? Lurdes traz alegria para qualquer pessoa. Michael ficou um tempo observando-as. Por um instante, pensei em tudo que havia planejado quando era mais nova. Meu sonho sempre foi me formar e ter uma família. Podia confessar que fora da forma que menos planejei ou um dia imaginei que seria,

mas, no final, foi tudo como sonhara. Era enfermeira, amava o meu marido e os meus filhos, minha família. “Deus escreve o certo, por linhas tortas”. Essa frase descrevia exatamente como a minha vida amorosa começara, mas eu faria tudo de novo, não mudaria nada e agradeceria sempre pela família linda que tinha.

Michael Era o dia do campeonato. Foram dois anos preparando-me arduamente. Por não ser o mesmo jovem de antes e ter um dedo amputado, tive que treinar em dobro. Toda vez que treinava, me lembrava das oportunidades que tive e que deixei escapar por estar apegado ao passado. Serviu de lição. Tudo que vivi e perdi serviu de lição para estar determinado nessa jornada, mas o que me dava forças para continuar eram as duas garotas da minha vida. Tudo era para elas, a medalha que tanto desejava era para elas, Melita e Lurdes. — Michael, chegou a hora! — disse William, meu treinador de sempre. Acenei a cabeça, fazendo o aquecimento. Usava uns shorts pretos, caneleiras e um par de luvas. Respirei fundo e o encarei. — Acaba com ele, Michael — disse William, sorrindo. Ele e os outros, meus torcedores, me acompanharam para o ringue. O lugar estava lotado; eu olhei em volta e vi Melita na plateia. Ela usava vestido justo, vermelho. Sabia que eu adorava vê-la naquela cor, fazia contraste com o seu tom pele. Ela me mandou um beijo e acenei a cabeça. Olhei para o meu adversário e ele ameaçou, dizendo palavrões, tentando me intimidar. Mal sabia que quanto maior o desafio, mais me agradava. Nunca gostei do caminho fácil; se gostasse, não escolheria esta profissão, estaria embaixo da bananeira curtindo os bens da minha família.

Mal tocou o sino e o meu adversário já partiu para cima de mim. Estávamos os dois na troca de murros e pontapés. Cada soco que eu dava, pensava nelas. Minha esposa e minha filha, a medalha era para elas. Não podia falhar, qualquer deslize e perderia tudo. O meu adversário era bom, tinha que aceitar, mas eu não iria perder. Dei mais dois murros, estava ganhando em pontos, e ele estava perdendo. Agora, qual seria o próximo passo? Eu iria ganhar, eu e Melita sairíamos para comemorar… Será que Ângelo fugira da cadeia e iria atirar nela? Ela cairia nos meus braços? Será que o episódio iria se repetir? Perguntava isso para mim mesmo e, nesse instante, recebi o peso do murro do meu adversário, caindo no chão, perdendo forças. Fui pego pelo pescoço e imobilizado. Não podia perder a minha mulher, estava no limite da minha sensatez. Não podia perder minha família. Se eu a perdesse, eu enlouquecia de vez. — Michael! — Ouvi Melita gritando o meu nome. — Não desiste, você consegue! Nunca desista! Olhei para ela e vi os seus olhos, que brilhavam mais que as luzes do ringue. Aqueles olhos vinham da mulher mais forte que já conheci, da mulher que me deu uma filha linda, da mulher que foi de capaz de atirar num homem para me defender. Era essa a mulher que não queria decepcionar. Consegui me livrar dos braços do meu adversário, dando um murro no seu nariz, e ele acabou me soltando. Fomos separados e postos em cantos opostos, fazendo um intervalo e preparando-nos para próxima rodada. Sentei-me no banquinho e cuspi sangue no chão, enquanto meu adversário estava sentado, recuperando-se. — Michael, o que aconteceu com você? Estava tudo correndo bem! — perguntou o meu treinador, dando-me uma garrafa de água. Peguei na garrafa e bebi. — Você tem bastante força nos braços, use isso como vantagem! Abanei a cabeça, coloquei o protetor bucal e fiquei em pé, pronto para a próxima rodada. Começamos de novo. Quando sino tocou, não vi o meu adversário, eu vi o Ângelo. Quem avançou dessa vez fui eu.

Ele tentava se defender dos meus murros e pontapés, mas cada soco era dez vezes mais forte que antes, pois eu via o Ângelo na minha frente, me lembrava do dia que Melita estava em apuros nas mãos dele, da minha filha no berçário lutando para viver por ter nascido antes do tempo. Meus murros foram tão fortes que nos interromperam antes do tempo; meu adversário já não tinha mais forças para lutar e bateu no meu braço, fazendo o sinal de desistência. Ouviu-se o gritar do público. Um homem levantou a minha mão, anunciando o vencedor, e, em seguida, colocou-me a faixa. Peguei na faixa e a direcionei para Melita, que pulava de alegria. Saí do ringue e ela veio até mim, abraçando-me. — Você conseguiu! — disse, dando um beijo. — Não, você conseguiu! — Peguei a faixa e a coloquei na sua cintura. — É sua, vida. Ela pulou no meu colo, enchendo-me de beijos. Não importava se ganhasse a luta ou não, eu tinha tudo que precisava. Uma esposa incrível e uma filha linda. (…) Estava no vestiário, trocando-me, tirando a roupa da luta enquanto Melita esperava no estacionamento. Meu adversário se aproximou de mim e estendeu a mão, que eu apertei de volta. Terminei de me trocar e parti, o mais rápido que pude. Não queria deixar a Melita esperando por muito tempo, sabe-se lá o que poderia acontecer. Cheguei no estacionamento e não a vi. Olhei em volta e nada dela. Meu coração começou a ficar aflito. — Melita! — gritei, mas não tive resposta. Comecei a procurá-la que nem um louco no meio dos carros. — Michael! Ouvi a sua voz e me virei, vendo-a caminhando na minha direção. Aproximei-me dela e a abracei. — Onde você estava? — perguntei, furioso. Ela me deu um susto dos grandes. — Calma, eu tinha ido ao banheiro! Estava apertada — disse tranquila, mas vendo a minha aflição.

Acenei a cabeça, meio pensativo e ainda preocupado. Ela pôs a mão no meu rosto. — Michael, está tudo bem! Eu não vou ao lugar nenhum… — Desculpa. Tive medo que tivesse te acontecido alguma coisa. — Eu e você vamos ficar juntos até estarmos velhinhos… Um ao lado do outro. Sorri e lhe dei um beijo, sentindo os seus lábios suaves junto aos meus. Minhas mãos desceram até o seu traseiro e a puxei contra mim. O que esta mulher causava em mim, nem eu mesmo sabia explicar. Ela afastou o seu rosto do meu e me encarou. — O que foi? — perguntei. Ela mostrou um sorriso, segurou minha mão e colocou no seu ventre. — Estou grávida de novo! Estava esperando o campeonato acabar para te contar. Emocionei-me, abracei-a e a levei no colo. Não podia ter melhor notícia do que essa. Ela me surpreendia a cada dia, sorte a minha de ter essa garota na minha vida. Como eu a amava demais! Amava-a tanto que não me imaginava sem ela. Tudo aconteceu no quarto número 15, o lugar que mudou o meu destino por completo. Melita não foi apenas uma enfermeira que cuidou de mim, foi a minha cura. Foi um anjo que veio para me salvar.

XLcosta_autora Xiluwa da Costa [email protected]

Obras da autora

Table of Contents Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 (Untitled) Capítulo 7 Capítulo 9 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Epílogo
Quarto numero 15 - Xiluwa Costa

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