Susan Mallery - Oferta Tentadora

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Oferta Tentadora (The Ultimate Millionaire)

S USAN M ALLERY

Todd Aston III era precedido por sua reputação. Ele usava o poder do mesmo modo que vestia ternos caros e de corte impecável. Marina Nelson havia prometido ajudar nos preparativos para o casamento entre sua irmã e o primo de Todd. De algum modo, entre as provas do vestido e a escolha do bolo, Marina descobriu que desejava Todd, e que ele também a queria! Sem forças para impedir o inevitável, quanto mais se apaixonava por Todd, mais percebia o desprezo dele por mulheres em busca de maridos ricos... mesmo que elas tivessem um dote milionário...

Digitalização: Simone R. Revisão: Bruna

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Rainhas do Romance 90

Susan Mallory

Querida leitora, Pobre Todd Aston III. Sua tia favorita ofereceu 1 milhão de dólares a cada neta se uma delas se casasse com ele. Isso que é humilhação! Todd não precisa de ajuda com as mulheres. Bem-sucedido, rico e bonito, já poderia ter arrumado mais de dez esposas se quisesse. No mundo dele as mulheres estão sempre focadas nos próprios interesses, que costumam ser o dinheiro de Todd. Resta apenas uma neta solteira, e se conseguir evitá-la, o problema está resolvido. Mas Marina Nelson concordou em organizar um casamento com ele. Nada como uma linda mulher em um vestido de noiva para chamar a atenção de um homem... Marina não está interessada em Todd. Ela concorda que a oferta da avó é uma piada e nunca se casaria por dinheiro. No entanto, quando começa a se apaixonar por ele — algo totalmente inesperado — o desastre está à espreita. Será que homem perseguido por interesseiras a vida toda acreditará que ela está nisso apenas por amor? Susan Mallery

Tradução Vera Vasconcellos HARLEQUIN 2014 PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM HARLEQUIN BOOKS S.A. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: THE ULTIMATE MILLIONAIRE Copyright © 2007 by Susan Macias Redmond Originalmente publicado em 2007 por Silhouette Desire Projeto gráfico de capa: Núcleo i designers associados Arte-final de capa: Isabelle Paiva Editoração eletrônica: EDITORIARTE Impressão: RR DONNELLEY www.rrdonnelley.com.br Distribuição para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: FC Comercial Distribuidora S.A. Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171,4° andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Contato: [email protected]

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CAPÍTULO 1



Faria isso se eu suplicasse?

Marina Nelson se esforçou para não sorrir diante da dramaticidade de Julie. Claro que concordaria em ajudar a irmã, mas não de imediato. Após 24 anos sendo a caçula da família, estava gostando da sensação de ter algum poder. — Sabe que estou ocupada — retrucou ela, arrastando as palavras. É início de trimestre e estou com meus horários de aula todos tomados. Julie suspirou. — E o seu trabalho é muito importante. Mas isso também é. Do contrário, não te pediria. Preciso muito que fique à frente dos preparativos, enquanto estou fora, nessa viagem de negócios. Temos gostos parecidos. Você é organizada, e pensei. — Julie colocou uma mecha de cabelo para trás da orelha. — Estou te pedindo muito? Estou. Sei que isso parece loucura. Sou eu quem vai se casar e não você. Mas essa viagem à China é o tipo de oportunidade que só surge uma vez na vida. Seis semanas trabalhando com Ryan, antes de nos adaptarmos ao casamento e aos parentes. Marina baixou o olhar ao abdome da irmã. Julie estava com quase três meses de gravidez e não havia nenhum sinal. Uma das vantagens de ser alta, pensou bemhumorada. Levava mais tempo para se perceber a barriga. — Posso imaginar como viajar à China seria bem mais divertido que os detalhes maçantes da escolha do cardápio e das flores — disse ela, ainda não se permitindo sorrir. — Sem mencionar se decidir por um vestido. E se detestar o que eu escolher? As duas tinham um manequim muito próximo para que o tamanho do vestido em si fosse um problema. Qualquer ajuste poderia ser feito pouco antes do casamento, quando Julie retornasse. — Não odiarei — prometeu Julie. — Juro. Vou adorar. Além disso, vai me enviar fotos, certo? Conversamos sobre isso. Você as enviará por e-mail e eu te responderei dando minha opinião. — Os olhos azuis da irmã se arregalaram. — Diga que sim, por favor. Marina deixou escapar um profundo suspiro. — Não. Não posso. Mas obrigada por pedir — respondeu, quase não conseguindo conter uma risada. O queixo de Julie quase caiu. Em seguida, ela esticou a mão para uma das almofadas pequenas e floridas sobre o sofá e a atirou em Marina. — Você é cruel! Como pôde me deixar nesta aflição? Eu estava praticamente suplicando. Finalmente, Marina soltou uma risada e segurou a almofada. — Não vi nenhum “praticamente”. Você suplicou. Choramingou. Devo dizer que me senti um pouco envergonhada por você. Julie suspirou. — Então, fará isso? 3

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— Claro que sim. Você é minha irmã. Dê-me a lista de afazeres e cuidarei de tudo. — Não tem ideia de como está me ajudando. Entre os preparativos do casamento, nossa viagem e as negociações da casa nova, minha vida se transformou em um pesadelo. Eles estavam morando no estúdio de Ryan, um apartamento confortável em um moderno condomínio em Los Angeles. A vista era soberba e dispunham de uma parafernália eletrônica, porém o lugar carecia de cores e alma, exceto por umas almofadas coloridas que Julie havia levado para lá. Em vez de tentar transformar o estúdio em um lar, a irmã e Ryan decidiram comprar outra casa que agradasse a ambos. Marina sabia que Willow, sua irmã do meio, iria supervisionar qualquer reforma necessária na nova casa, o que deixava os preparativos do casamento por sua conta. — Encaro esse projeto como uma prática — disse Marina com um sorriso. — Dessa forma, posso descobrir o que me agrada ou não, caso eu dê esse passo algum dia. — Ah, por favor. Você se casará — afirmou Julie confiante. — O homem certo está em algum lugar lá fora. Você o encontrará. Marina não estava empenhada na procura, mas seria bom se acontecesse, presumindo que fosse capaz de se apaixonar sem perder a própria alma no processo. — Até lá, me chame apenas de planejadora de casamentos — falou ela. — Agora, diga-me onde está sua lista. Julie enfiou a mão na bolsa e, em seguida, aprumou a coluna sem tirar nada de lá. — Há apenas mais uma coisa. — Que é...? Julie soltou a respiração em um profundo suspiro. — Está bem, esse também é o casamento de Ryan e ele teme que isso tudo fique muito feminino. Também quer opinar no que está acontecendo. Marina não entendeu. — Ótimo. Vocês dois podem discutir tudo que desejam e me passar por e-mail o que ficar decidido. Eu não me importo. — Humm, sim, bem, não é exatamente esse o plano. Ryan quer ter um representante dele junto a você para opinar em todas as decisões importantes. Na comida, no bolo, na orquestra, na decoração e nas flores. — Um representante? A mãe dele? Marina nunca vira a mulher. Sem dúvida, devia ser alguém adorável, mas outra opinião poderia atrasar muito o processo. Julie tentou sorrir, mas fracassou miseravelmente. — Na verdade, não. É o Todd. — Todd? Todd Aston III, aquele magnata idiota? — Marina não conseguia acreditar. — Qualquer pessoa, menos ele — resmungou. — Ele é primo de Ryan e os dois são tão próximos quanto irmãos. Você sabe disso. Todd é o padrinho do casamento e se ofereceu para ajudar. Está me odiando agora?

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— Não, mas deveria. — Marina suspirou. — Todd? Droga! Há quase seis meses, as três irmãs haviam sido apresentadas à avó materna que até então não conheciam. A avó Ruth ficara afastada da única filha, a mãe das meninas, desde que Naomi fugira de casa e se casara. Agora, Ruth estava de volta e queria reatar os laços com a filha e as netas. Além disso, ansiava por juntar sua própria família à do segundo marido que tivera. Em um determinado instante do jantar que Marina acreditava que ficaria para sempre na história da família, Ruth oferecera a cada uma das netas 1 milhão de dólares se alguma se dispusesse a se casar com Todd Aston III, seu sobrinho ou sobrinho-neto por afinidade. July se apaixonara por Ryan, e Willow encontrara Kane Dennison, portanto restara apenas ela como uma possível candidata a se casar com Todd. Isso que era má sorte! Por razões que Marina ainda tentava compreender, provavelmente por uma lesão cerebral momentânea, ela concordara em sair com o detestável Todd. Não que não se tratasse de um belo homem. Ao menos, fora o que lhe disseram. Na verdade, nunca vira o sobrinho-neto de Ruth. Ele também era rico e bem-sucedido por seus próprios esforços, em vez de se limitar a herdar a fortuna do papai e da mamãe. Ryan gostava dele e Marina achava o futuro cunhado um bom rapaz. Principalmente depois que ele revelara seu bom gosto ao se apaixonar por Julie. Mas e quanto a Todd? A ideia que aquele homem fazia de um relacionamento se limitava a encontrar a mesma mulher duas vezes por semana. Costumava se relacionar com modelos. Como poderia ter uma conversa séria com alguém que namorava mulheres que morriam de fome para ganhar a vida? Aquilo violava seu código de conduta feminino. Além disso, a princípio, Todd tentara destruir o relacionamento de Julie e Ryan. Marina achou tal atitude muito vil. — Não estou pedindo para ter um filho com ele — disse Julie. — Apenas trabalhar com ele nos preparativos do casamento. Além disso, não será tão ruim assim. Ele é homem, ficará entediado no primeiro encontro com o florista e desaparecerá. Só terá de lidar com ele uma ou duas vezes, no máximo. — Não quero lidar com ele nem uma vez — retrucou Marina desanimada. — Todd Ashton personifica tudo que não gosto em um homem — Era vazio emocionalmente! Pelo menos, era assim que ela pensava. O som de alguém limpando a garganta ecoou da porta. Quando Marina ergueu o olhar, se deparou com um homem deslumbrante recostado ao batente. Parecia mais divertido que aborrecido, mas, a julgar pelo ofego e o rosto rubro da irmã, Marina estava disposta a se aventurar em dizer que se tratava do infame Todd Aston. — Senhoritas — disse ele, cumprimentando-as com um gesto de cabeça. — Ryan me deixou entrar e disse que vocês estavam reunidas aqui. Vim para cumprir minha parte no acordo de ajudar a planejar o casamento. Também estou aceitando um prêmio por ajuda humanitária no final do mês. Talvez vocês duas estejam planejando escrever minha biografia para o evento. Certamente seria divertido. — Ah! — resmungou Julie. — Desculpe. Expressei-me de modo mais rude do que pretendia. Marina o estudou por alguns instantes. Aquele era o protótipo do homem alto, moreno e musculoso. Um rosto deslumbrante, com olhos expressivos e o tipo de boca 5

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que fazia uma mulher sonhar em ser violada. Tinha ombros largos, peito musculoso e usava uma calça jeans que realçava quadris retos e coxas deliciosas. Somando tudo, era um conjunto avassalador. Pena que a personalidade de Todd estivesse guardada dentro daquela embalagem. Todd lhe sorriu. — Você deve ser Marina. — Sim Prazer em conhecê-lo. — Prazer? — Ele ergueu uma das sobrancelhas. — Não foi isso que ouvi. Você decidiu que sou um chato. Ou seria um idiota? Marina mudou de posição no sofá, sentindo-se discretamente desconfortável. — Você costuma sair com modelos. A perfeição retocada que exibem nas capas de revistas faz as mulheres comuns se sentirem mal consigo mesmas. — E, por isso, as modelos não deveriam ter o direito de namorar? Lógica? Ele queria usar a lógica em uma discussão sobre a objetificação de jovens magérrimas na sociedade moderna? — Claro que elas deveriam ter o direito de namorar — retrucou ela em tom calmo. — Apenas não me interesso por alguém que se interessa por elas. — Certo — disse Todd, cruzando os braços sobre o peito. — Porque presume que, por essas mulheres serem belas, são burras. Consequentemente, eu gosto de mulheres burras. — Não disse isso, mas obrigada por esclarecer. Os lábios sensuais de Todd se retorceram como se tentassem não se curvar em um sorriso. — Não costumo namorar mulheres burras. — Isso é o que você deveria fazer. — Aceitarei seu conselho. — Se vocês terminaram... — Julie gesticulou para uma cadeira oposta ao sofá. — Muito bem, então. Acho que deveríamos começar a planejar tudo isso. O casamento. Todd cruzou a sala e se acomodou no assento oferecido. Em seguida, retirou um palmtop do bolso da camisa. — Estou pronto. Marina lhe dirigiu o olhar. — Vai mesmo participar? — Em todos os aspectos. Inclusive nas sementes orgânicas que serão atiradas no feliz casal quando estiverem de partida para a lua de mel. — Ele se inclinou para frente e baixou o tom de voz. — Não usamos arroz. As aves podem comê-lo, e isso lhes faz mal. Marina abriu a boca, mas tornou a fechá-la. — Acho que alguém tem passado muito tempo na internet. — Internet, revistas de noivas, o que for preciso. Quando se trata de planejar um casamento, sou o homem indicado. — Um ar desafiador fez os olhos escuros faiscarem — Estou aqui para o que der e vier. E você?

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Se aquele homem pensava que podia assustá-la, estava muito enganado. — Eu também. E, só para constar, sou a definição da obstinação. — Igualmente. Ah! Marina duvidava. Ele podia se considerar tudo aquilo, mas ela estava mais que disposta a superá-lo e vencer. Julie suspirou. — Pensei que talvez vocês dois não tivessem uma convivência calma, mas nunca imaginei que isso fosse se transformar em uma competição. Estamos falando de um casamento. Meu casamento com Ryan. Precisamos de ajuda, não de um show no estilo Las Vegas. Ostentação não é sinônimo de sucesso. Não sejam tão criativos. Vamos manter a discrição e a elegância, está bem? Marina percebeu o olhar de Todd se voltar para ela. Decidida, encarou-o, recusando-se a ser a primeira a pestanejar. — Alguma vez a decepcionei? — Não — disse Julie em tom de voz lento, como se não quisesse admitir aquilo. — Então, confie em mim. Julie entregou uma cópia da lista a cada um, Todd observou a dele e, em seguida, voltou a focar a atenção em Marina Nelson. Era loira como as outras irmãs, mas seu cabelo tinha um tom mais escuro, entre as nuanças mel e dourado. Marina era uns dois centímetros mais alta que Julie, mas tinha a mesma estrutura curvilínea. O parentesco entre as duas era evidente, e elas podiam até mesmo se passar por gêmeas. A principal diferença, além da tonalidade do cabelo, era a atitude “estou disposta a superá-lo, grandalhão” no semblante da irmã mais nova. Julie era muito mais cordata. Todd tinha uma regra no que se relacionava ao gênero feminino. Por que se esforçar? Havia milhares de mulheres atraentes ávidas por flertar com ele. Algumas pelo fato de ele ser um empresário bem sucedido, outras, por sua aparência. A maioria almejando a fortuna da família. O fato era que Todd raramente tinha de procurar companhia. Sua vida amorosa era uma série contínua de breves relacionamentos com o mínimo de comprometimento e esforço de sua parte. E isso lhe agradava. Marina seria tudo, menos fácil, e ele sequer estava tentando levá-la para a cama. No entanto, Ryan havia lhe pedido ajuda e ele teria de lidar com a verborrágica irmã Nelson pelo bem do primo. Estava até mesmo disposto a admitir, nem que apenas para si mesmo, que se sentia ansioso por competir com ela. Fazia muito tempo que uma mulher não permitia que impusesse sua vontade. Trabalhar com Marina faria bem ao seu caráter, mesmo que ele pretendesse vencer no final. — Basicamente temos os convites prontos e só — disse Julie, estudando a própria cópia da lista. — Vovó Ruth ofereceu sua casa para o casamento e eu e Ryan concordamos que aquele é um lugar maravilhoso. Mas há decisões a tomar. O casamento se dará no inverno. Podemos arriscar fazer a festa ao ar livre? Poderá estar fazendo 23 graus ou chovendo. — Ela mencionou algo sobre um salão de festas — disse Marina. — No terceiro andar. Quer que visitemos a casar para verificar? 7

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— Eu a conheço — declarou Todd, mantendo a atenção em Julie. — Abrigaria facilmente umas 300 a 400 pessoas. Um pouco menos, se quiserem um jantar com mesas postas. — Sim, queremos — falou Julie, fazendo uma anotação. — Mas a lista de convidados não é tão grande assim — interveio Marina, se referindo a Todd. — São mais ou menos 100 pessoas. — Ryan me disse que estava em torno de 200. Marina voltou a atenção à irmã. — Isso tudo? — A lista aumenta a cada dia. — Esse é um número muito grande de mesas. — Eu sei. Por isso, preciso que visite o salão de festas para se certificar de como ficaria. Ainda sobrará espaço para dança, com todas as mesas dispostas? Onde ficaria a orquestra? Estou preocupada. Uma festa ao ar livre seria ótimo, mas tenho dúvidas se podemos confiar no tempo, e não há necessidade de acrescentar mais esse estresse aos demais. — Decidiremos isso primeiro — disse Marina, fazendo uma anotação. Essa afetará todas as demais decisões. Qual é a próxima? — Flores. Lembranças, por favor, nada idiota. Comida. Diversão. Fotógrafo e o meu vestido. Oh, e você e Willow têm de escolher os vestidos das damas de honra. Ryan ficaria devendo muito a ele, pensou Todd, divertido. — Smokings — disse ele. Julie lhe dirigiu o olhar. — Ah, Deus! Tem razão. Os rapazes precisam de smokings. — Eu me incumbirei pessoalmente do vestido — disse Marina, sorrindo para Todd. — O vestido é algo exclusivamente feminino. — Pretende opinar nos smokings? — perguntou ele. — Claro. — Todd esperou até que Marina se desse conta do que ficara implícito e começasse a reclamar. — Espere um minuto! O vestido da noiva tem de ser algo especial. Ela só se casará uma vez. — Eu poderia dizer o mesmo de Ryan. Meu primo quer estar com uma boa aparência e você não confia em mim para tornar isso possível. Por que eu deveria confiar em você? — Claro que ele não tinha nenhum interesse no vestido da noiva, mas o que valia para um, valia para o outro. Julie gesticulou com a mão. — Não me importo com quem vai à loja de vestidos de noiva. Basta me arranjarem um vestido deslumbrante. Nada justo na cintura, claro. Isso mesmo, pensou Todd. Julie estava grávida. Sabia que o primo estava exultante com a paternidade. Embora ele nunca pretendesse se casar, agradava-lhe a ideia de ter filhos. A falta de uma esposa complicaria as coisas, mas não tornava aquilo impossível. — Não posso acreditar que quer dar palpite no vestido — resmungou Marina.

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Todd se inclinou na direção dela. — Pense em todas aquelas modelos que namorei. Não é possível que alguma parte do conhecimento de moda que elas possuíam não tenha passado por osmose para mim? — Vocês conversavam muito sobre moda? — Não conversávamos. Todd ouviu o ranger de dentes de Marina e quase soltou uma risada. — Willow trabalha naquele viveiro de plantas — disse Marina, ignorando-o. — Pedirei recomendações de floristas a ela. — Boa ideia — concordou Julie. — Conheço uma fotógrafa — disse Todd a Julie. Marina arregalou os olhos. — Ela tira foto das pessoas com ou sem roupas? — Ambos. Vai gostar de conhecer o trabalho dela. — Não estou interessada em nus artísticos — disse Julie. — Ela fotografa casamentos? — São seus favoritos. — Ótimo. Coloque-a na lista. Marina, nada muito artístico. Apenas fotos normais. — Entendi. Os três discutiram mais algumas questões e, em seguida, Julie se retirou para procurar as fotos dos vestidos que havia retirado das páginas de revistas especializadas. Todd voltou a atenção a Marina. — Acho que isso será divertido. — Ah, também acho. — Você não gosta muito de mim. — Não o conheço. — E não está interessada em conhecer. — Na verdade, ainda não decidi. Por mais incrível que possa parecer, você não tem ocupado meus pensamentos. Um ponto para ela, pensou Todd. — Não disse coisas agradáveis sobre mim mais cedo. Eu escutei. Marina inclinou a cabeça para o lado. — Você possui uma reputação da qual, particularmente, acho que tem orgulho. Mas as pessoas criam impressões baseadas nessa notoriedade. — Você me acha superficial. — Acho que nunca teve que se esforçar para nada, exceto em relação à sua empresa. — Ainda assim, você concordou em sair comigo. Um encontro. Você prometeu. Tia Ruth me contou.

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Marina espremeu o olhar. — Na ocasião, me pareceu uma boa ideia. Marina podia se sentir desconfortável com a ideia de sair com ele, mas Todd é quem tinha de conviver com a realidade de que a tia-avó oferecera 1 milhão de dólares a cada neta, caso uma delas concordasse em se casar com ele. Aquilo o fazia parecer um incompetente. Que diabos havia de tão errado com ele que uma mulher tinha de receber tanto dinheiro para concordar em ser sua esposa? Não que ele quisesse se casar, mas aquilo era o princípio da questão. Felizmente, Julie e Willow haviam saído de cena, o que deixava apenas Marina. Ele teria se recusado até mesmo a um único encontro com aquela mulher, mas tia Ruth se mostrara tão feliz com a ideia. Embora não admitisse isso para ninguém, Todd não resistia a fazer todas as vontades de sua tia. — É apenas um encontro — argumentou ele. — O que poderia acontecer de tão ruim? — Amargar três horas que parecerão uma vida inteira? Mas, enquanto Marina falava, havia um lampejo de humor em seus olhos. — O casamento — disse ele. — Teremos de comparecer, seremos os responsáveis pela festa, o que significa que não seria muito divertido para qualquer acompanhante que levássemos. Marina concordou com um gesto lento de cabeça. — Passaremos o tempo todo ocupados com os arranjos do evento, portanto teremos muito que conversar. E podemos beber muito champanhe. Um sorriso curvou os lábios de Marina. — É sempre uma boa ideia. Muito bem, Todd Aston III. Serei sua acompanhante no casamento da minha irmã.

CAPÍTULO 2

A mansão de três andares da tia Ruth, em Bel Air, tinha a mesma imponência agora, na segunda vez que Marina entrava com o carro pelo caminho de pedra circular que levava à casa. A construção era enorme e parecia deslocada. Afinal, estavam em Los Angeles, e não na Inglaterra do século XVIII. Mas os ricos viviam de maneira diferente, pensou Marina, enquanto saltava do seu velho carro importado. Viviam com empregados que moravam na casa. O único auxílio que Marina tinha no cuidado de sua casa era de um pacote de lenços umedecidos para limpeza de vidros. Arriscou um olhar às portas duplas que se abriam para a casa e decidiu esperar até que Todd aparecesse, antes de entrar. Muito bem, não deveria se sentir intimidada pela criada da avó, mas estava. E daí? Ela possuía outros atributos positivos nos quais podia se focar.

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Menos de um minuto depois, um luxuoso carro prata brilhante deslizou pelo caminho de pedra. O veículo era um modelo esportivo de dois lugares, o tipo cujo valor equivalia ao da dívida interna de um pequeno país de terceiro mundo. O homem que saltou do carro era igualmente impressionante. Alto, bem-vestido e sexy o suficiente para uma mulher inteligente fazer algumas escolhas tolas. Teria de tomar cuidado para não cair naquela categoria. Felizmente, Todd não era seu tipo. — Marina — disse ele, com um sorriso. — Pensei que a essa altura já teria examinado a casa e tomado sua decisão. — Somos uma equipe. E respeito isso. — Ou respeitaria até onde lhe conviesse. Os olhos de Marina vagaram pelo traje elegante de Todd. O terno era cinza-escuro, com motivos sutis na trama do tecido. A camisa azul-clara contrastava com a cor vinhoescuro da gravata. Embora os modelos mais informais agradassem mais a ela, tinha de admitir que aquele homem deixava evidente seu poder de uma maneira muito elegante nos trajes. Por outro lado, ela parecia uma colegial com orçamento limitado, embora o zíper do jeans skinny tivesse fechado sem dificuldades, o que tornava aquele um dia magnífico. Marina pegou a câmera digital e um pequeno notebook e o seguiu na direção da porta da frente. — Tenho mais ou menos uma hora — disse ela, consultando o relógio de pulso. — Depois, preciso voltar à UCLA para uma aula. — Que curso está fazendo? — Nenhum, sou intérprete. — Marina lhe relanceou o olhar. — Sou intérprete de linguagem gestual para alunos surdos. Minha área de domínio é química e física, na maior parte para cursos de especialização. Todd ergueu as sobrancelhas. — Impressionante. — Não é tão difícil para mim. Tive todas essas aulas, portanto entendo da matéria. Tenho três pós-graduações em ciências. Algum dia farei doutorado, mas ainda não estou preparada. Eu já dominava a linguagem gestual, portanto decidi trabalhar com isso por alguns anos. Os olhos escuros de Todd de arregalaram. — Três pós-graduações em ciências? Marina amava quando as pessoas a subestimavam. — Aham. Não é tão impressionante assim, já que entrei para a faculdade com 15 anos. — Oh, certo. É quase comum. Você é muito inteligente. Marina sorriu. — Mais que você, grandalhão. Todd soltou uma risada. — Eu me lembrarei disso — retrucou, batendo em seguida na porta. Quando a criada atendeu, ele a cumprimentou pelo nome. 11

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— Estamos aqui para ver o salão de festas, Katie — disse à mulher uniformizada. — E depois analisar o pátio dos fundos. A criada anuiu. — Sim, senhor. Sua avó me avisou que o senhor viria. Gostaria que os acompanhasse até o andar de cima? — Sei o caminho, obrigado. Marina sorriu para a outra mulher e seguiu Todd através do enorme saguão e pela ampla escada em curva. — Quantos empregados você tem? — perguntou ela, enquanto cruzavam o longo e acarpetado corredor, no segundo andar. Havia dúzias de pinturas nas paredes e peças do mobiliário igualmente suntuosas e antigas, se ela não estivesse enganada. — Cinco que dormem na casa e seis diaristas. — O quê? — perguntou Marina. Vira a casa de Todd apenas à distância e lhe parecera ainda maior que aquela, mais ainda assim. — O que eles fazem? Todd virou na direção dela, tocou-lhe a ponta do nariz com um dedo e sorriu. — Peguei você! Tenho apenas uma governanta que é responsável por contratar as pessoas para manter a casa limpa e cuidar dos jardins. Ela trabalha três dias por semana. Preferia não ter nenhum empregado lá, mas a casa é antiga, grande e não estou disposto a lidar com essas questões, portanto ela faz isso para mim. Muito bem, uma governanta era melhor que cinco empregados regulares. Os dois seguiram por outra escada que levava a um pavimento maior que o apartamento de Marina. Portas ornamentadas se abriam para um salão do tamanho de um campo de futebol. Marina caminhou até o centro e girou em um círculo lento. Havia espelhos com molduras douradas nas paredes e dúzias de lustres brilhantes pendendo do teto. O piso de tacos faiscava e refletia a luz do sol que incidia pelas janelas. — Estamos considerando mesas de dois ou três metros — disse Todd, retirando o palmtop do bolso e acionando alguns botões. — Podemos acomodar no máximo 30 mesas aqui e ainda restará lugar para a circulação das pessoas. Marina fez os cálculos. — Podemos colocar 28 mesas e ainda restar lugar para a banda e para a pista de dança? O olhar de Todd se fixou nela. — Orquestra, não banda. Julie mencionou elegância. Bandas não são elegantes. Talvez não, mas Marina nunca estivera em um casamento com orquestra. — Acha que a Filarmônica de Los Angeles está disponível? Todd sorriu. — Teria de verificar como está a agenda deles, mas estava pensando em algo menos ostensivo. Tenho um conjunto em mente que ouvi tocar em alguns salões de eventos. Salões de eventos? Então, enquanto o restante da América ia a shoppings, os über ricos frequentavam salões de eventos? — Que tipo de eventos?

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— Na maioria, festas para levantamento de fundos. Alguns casamentos. Verei onde eles estarão tocando nas próximas semanas e podemos ir assisti-los. São ótimos. Confie em mim. Confiar nele? Ainda não. Marina pousou o notebook e começou a tirar fotos do imenso espaço. — Gostei muito deste salão — disse ela, enquanto girava lentamente para cobrir todos os ângulos. — Vou enviar as fotos por e-mail para Julie tão logo terminem as aulas. — Há mais — disse Todd, guiando-a a uma série de portas francesas. Destrancou a primeira e a abriu, gesticulando em seguida para que ela liderasse o caminho. Marina penetrou em uma ampla varanda que dava vista para toda a propriedade. De tão extensa, era impossível avistar a linha das cercas que a delimitavam. Os gramados eram impressionantes. Marina podia ver o terraço, a piscina e os jardins mais além — Isto poderia nos proporcionar um espaço extra — disse Todd, quando se juntou a ela. — Um lugar para as pessoas desfrutarem de ar fresco. Poderíamos iluminar os jardins para incrementar a vista. — Gostei disso — concordou Marina, mais para si mesma que para ele. — Qualquer um pode se casar ao ar livre, mas isto é incrível. Uma oportunidade única. Marina girou na direção do salão de festas, onde podia imaginar as mesas, os convidados e as flores. Por falar em colecionar algumas lembranças. — Então você prefere o salão de festas? — perguntou ele. — Sim, mas a escolha é de Julie. Vamos descer e tirar algumas fotos do jardim para que ela e Ryan possam se decidir. Assim que soubermos o que resolveram, estaremos liberados para dar início aos preparativos. Os dois refizeram o caminho de volta ao andar térreo e entraram em um terraço bem cuidado. Parecia mais como os terraços dos hotéis cinco estrelas, pensou Marina enquanto tirava as fotos, sem saber como se sentia em relação ao fato de a avó morar ali. Algum reflexo daquela sensação devia ter se refletido em seu olhar, porque Todd perguntou: — Algum problema? Marina guardou a câmera digital e colocou o notebook debaixo do braço. — Fico pensando em como isto é estranho. Que a avó que eu nem conhecia esteja viva e morando a 25 quilômetros do lugar onde eu cresci. Que este seja o mundo de Ruth, quando posso me lembrar de ocasiões em que não tínhamos condições de comprar carne para o jantar. — Ela fez um movimento negativo com a cabeça. — Não estou me queixando. Minha mãe foi maravilhosa. Minhas irmãs e eu sempre tivemos tudo de que necessitávamos. O orçamento era apertado, mas era assim com a maioria de nossos vizinhos. Não tenho problemas com isso. Mas descobrir que há um prisma complemente diferente para ver a vida é estranho. — Os olhos de Marina se fixaram em Todd. — Não consigo me explicar e aposto que estou falando o que você não está interessado em escutar. — Claro que é diferente. Não sei se faz alguma diferença, mas Ruth lamenta todos os anos que esteve afastada de você e de sua família. O marido dela, meu tio, era um homem difícil. Não acreditava em perdão e Ruth não tinha coragem de se opor a ele.

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— Foi isso que ela disse. — E é verdade. Ótimo. Então, ao que parecia, ela vinha de uma longa linhagem de mulheres que se submetiam de coração e mente aos seus homens. Aquela era mais uma razão para nunca se envolver com ninguém. Todd a encarou. — Deveria tentar entender o que Ruth passou. Todd Aston III se mostrando sensível? — Agora estou duplamente perturbada. Pelo contraste entre o que eu estava acostumada e isto que estou vendo e também por sua percepção emocional. — Sou um homem muito misterioso. Aquilo a fez soltar uma risada. — Claro que é. Riqueza, poder e mistério. Deveria acrescentar isso em seus cartões de visita. Todd liderou o caminho pela lateral da casa, na direção dos carros dos dois. — Estou muito à frente de você. Tenho isso tatuado em minhas costas. Marina sorriu. — Pensei que você tivesse sido empalado de tão empinado que é — respondeu ela, sem conseguir se conter. — A medicina moderna talvez fosse capaz de consertar isso. Marina deixou escapar um suspiro. — Sabe a que estava me referindo. Pensei que você fosse diferente. — Desagradável? — Arrogante. — Posso ser, se isso a fizer feliz. — Não, obrigada. — Marina abriu o notebook. — Muito bem, pesquisa do salão do evento concluída. O que nos deixa com a comida, o bolo, as flores, o fotógrafo e todos os tipos de detalhes maçantes. — O vestido — lembrou Todd. — Teremos de procurar algo pronto para usar. Não há tempo para mandar fazer um vestido. Marina o encarou, surpresa com o fato de ele ter ciência daquilo. — Deixe-me adivinhar. Mais pesquisas em revistas especializadas em noivas? Embora não consiga imaginá-lo sentado com um latte e uma dessas revistas na mão. — Nesse momento, não seria indicado um latte. Café preto seria melhor para contrabalançar toda aquela frescura. Assim ficaria equilibrado. Até aquele momento, Marina não havia pensado em Todd como uma pessoa. A princípio, era apenas um nome. Em seguida, era o homem que tentara destruir a relação da irmã com Ryan. Depois, um estorvo que estaria em seu caminho nos preparativos do casamento. Mas agora. — Por que esconde quem realmente é atrás de sua reputação? — perguntou ela. — A questão da riqueza, das modelos. 14

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Todd destrancou o próprio carro. — Acho que namorei três modelos durante toda minha vida. Você precisa parar de insistir nesse ponto. — Tem razão. Farei isso. — Ótimo. — Todd sentou-se atrás do volante e sorriu. — Claro que duas delas nem ao menos falavam inglês. Não falavam, então como? Marina lhe voltou um olhar de reprovação. — Deve estar brincando. Não falavam inglês? Todd confirmou com um gesto de cabeça. — Eu estava apenas fazendo minha parte para estreitar as relações dos americanos com nossos vizinhos — retrucou com um sorriso angelical. — Conheço um excelente bufê. Vou contatá-lo e lhe passar os detalhes. E, com isso, ele se foi. Três dias depois, Todd se encontrava parado em frente ao escritório do bufê, observando Marina se aproximar. Ela usava uma calça jeans, uma camiseta da UCLA e o cabelo estava preso em um rabo de cavalo. Não parecia alguém que se vestira para impressionar. Havia também um ar de determinação naquela mulher que o fazia antecipar muitas fagulhas elétricas. Planejar um casamento podia não ser sua definição de divertimento, mas até então Marina havia sido uma agradável surpresa. Inteligente e sexy. Sentira-se ansioso em revê-la. Quando ela estacou diante dele, levou as mãos aos quadris e o encarou com olhar severo. — Eu pesquisei sobre você na internet — disse, sem rodeios. — As modelos em questão falavam um inglês perfeito, apesar do sotaque. — Sotaque? — perguntou ele, erguendo as sobrancelhas. — Estamos em um romance de Jane Austen? — O que você sabe sobre Jane Austen? — Todo o bom espécime masculino inútil, que namora apenas modelos, conhece tudo sobre romances com final feliz e Jane Austen. É uma necessidade. Não só assisti ao O diário de Bridget Jones duas vezes, como também os bônus especiais. Pode me perguntar qualquer coisa sobre o filme. Marina soltou uma risada. O som era leve, sensual e o fez desejar tocá-la. Toda. Um calor inesperado lhe percorreu o corpo, tomando-o de assalto pela intensidade. Imediatamente, Todd recuou, tanto física como mentalmente. Ele e Marina estavam em uma missão. Estava ali para proteger os interesses de Ryan, e não morrer de tédio durante o processo. Se debochar dos conceitos de Marina a seu respeito o ajudava a matar o tempo, então estava pronto para a tarefa. Mas de fato apreciar a companhia daquela mulher não era uma boa ideia. Envolver-se com a neta mais nova de sua tia por afinidade não seria uma decisão inteligente. — Este lugar foi altamente recomendado — disse ele enquanto se encaminhavam à porta da frente. — A comida é deliciosa e com mais opções do que carne bovina e frango. Se escolhermos este, poderemos personalizar o menu. No nosso caso, discutir as opções de pratos.

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— Acha que vamos discutir? — perguntou ela. — Estou contando com isso. — Sou uma pessoa muito cordata, mas tenho certeza de que você é difícil — retrucou ela, enquanto Todd mantinha a porta aberta. — Serei flexível quanto à comida, mas não quanto às sobremesas. — Sobremesas? Marina lhe dirigiu um sorriso. — Teremos sobremesas. Essa é uma das maiores sensações de um casamento. Ganhar sobremesa e bolo. Quantas vezes isso acontece na vida? — Longe de mim me interpor entre uma mulher e sua fixação por doces. — Bonito e inteligente — murmurou ela. — Que impressionante! — Eu sei. — Todd voltou a atenção à recepcionista, apresentando os dois. — Meu nome é Zoe — disse a mulher com um sorriso. — Estamos prontos para recebê-los, se fizerem o favor de me acompanhar. Os dois foram guiados até uma pequena área montada como uma sala de jantar. Uma mesa de seis lugares tinha duas cadeiras em uma das extremidades. Zoe os acomodou e, em seguida, gesticulou para o menu impresso em uma única folha ao lado dos pratos. — Vamos seguir uma ordem — disse ela. — Começar pelas sopas, seguidas pelas saladas e assim por diante. Por favor, escrevam as observações e as perguntas que, por ventura, queiram fazer. Zoe saiu e retornou quase imediatamente com três pequenas tigelas para cada um. — Bela apresentação — disse Marina enquanto retirava o raminho decorativo de uma das tigelas. — Por que eles têm de colocar alguma erva daninha de jardim sobre o prato? O que é isto? Como podemos saber onde isto esteve? — O desconhecido aumenta a emoção do momento. Os olhos azuis se fixaram nele, arregalados. — Está emocionado? Marina estava próxima o suficiente para que ele pudesse ver algumas das sardas claras sobre seu nariz e a insinuação de uma covinha na bochecha do rosto. Mais uma vez Todd foi invadido pelo desejo de tocá-la, contudo não o fez. — De uma forma que não posso definir em palavras. — Mentiroso — murmurou ela, antes de provar a primeira sopa. — Ervilha com mais alguma coisa. Nada mau. Todd também provou e fez um movimento negativo com a cabeça. — Não, obrigado. Os dois passaram à misteriosa sopa cremosa. Todd gostou da combinação de frango com vegetais, mas Marina achou muito saudável. — Trata-se de um casamento. Quer mesmo que as cinco porções de frutas e vegetais diárias estejam incluídas no primeiro prato? Todd remexeu a sopa com a colher. 16

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— Não estou vendo fruta nenhuma aqui. — Entendeu muito bem o que eu quis dizer. — Marina pousou a colher. — O que acha de sopa de tortilla? Ou quesadilla? Não lhe parece uma boa ideia? — Quer servir comida mexicana no casamento de sua irmã? Os ombros de Marina se curvaram. — Não, mas seria capaz de comê-la agora. Deveria ter me alimentado antes de vir para cá. Estou com muita fome. — Então, gosta de comer. Marina estreitou o olhar. — Sim. Algumas mulheres comem. Eu como. Pode ser chocante, mas é verdade. Também corro todos os dias, para poder comer sem culpas. Tem alguma objeção quanto a isso? — Correr com esse ressentimento deve ajudar um bocado em seu desempenho. O peso extra aumentaria a intensidade. Marina abriu a boca, mas tornou a fechá-la. — Quer dizer que sou um pouco suscetível em relação à comida? — Eu disse isso? — Está pensando que tive uma reação exagerada em relação ao fato de você namorar com modelos por achar que não me encaixo nesse padrão de beleza. — Você é quem está dizendo tudo isso. — Não me sinto intimidada. Quase nunca. Algumas vezes, talvez um pouco. Mas gostaria de deixar claro que este é meu jeans skinny. Consigo vesti-lo todas as semanas e fica muito bem em mim — Sim, concordo. — Todd havia admirado os quadris curvilíneos e as pernas longas enquanto ela caminhava em sua direção, no entanto, ficou tentado admirá-la um pouco mais, se aquilo a fizesse feliz. — Não preciso da aprovação de ninguém, exceto de mim mesma. — E por que precisaria? Marina sorriu. — Está dizendo isso só para me agradar. — Parece o mais seguro. Você parece enfezada. — Eu sei. Não consigo entender. Na verdade, sou uma pessoa extremamente calma. Não sei o que você tem que me faz agir de um modo completamente diferente. — É porque sou muito tranquilo e belo — disse ele, enquanto Zoe entrava com vários pratos de salada, juntamente com um cesto de pãezinhos. — Isso a incomoda. Marina esperou que estivessem a sós para responder. Quando Zoe recolheu as tigelas e se retirou, ela disse: — Não me sinto incomodada. Você tem um ego do tamanho da Antártida. Não é tão especial assim. — Claro que sou. Você me pesquisou. Quem foi o último homem sobre o qual pesquisou? 17

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— Os homens que eu conheço são totalmente normais. Não preciso pesquisar sobre eles. Você me confunde. — Então, minha tarefa está cumprida. Marina fez um gesto negativo com a cabeça. — Coma a sua salada. Todd engoliu uma garfada da primeira salada. Havia muitas alfaces de aparência estranha e lascas de coisas que ele não reconheceu. Saladas eram supervalorizadas, pensou, aborrecido. — Pense nos homens com quem costuma sair — disse ele, se divertindo com o fato de provocá-la. — Pobres e desalinhados estudantes universitários. Quando comparados a mim, não têm a menor chance. Marina lhe dirigiu um olhar furioso. — Oh, certo. Por que seria considerado interessante namorar algum futuro homem brilhante, capaz de mudar o curso da história? Todd pegou um pãozinho e se inclinou na direção dela. — Eles são nerds. Ainda não são interessantes e não são bons de cama. Admita. — Marina abriu a boca provavelmente para gritar com ele, mas Todd foi mais rápido e lhe enfiou o pãozinho entre os lábios. — Nada mau — disse, apontando para a segunda salada. — Gostei do queijo azul. O que você acha? Marina retirou o pãozinho da boca, fulminando-o com o olhar. — Acho que você é um idiota pomposo e egoísta. Todd experimentou a terceira salada e fez uma careta. — Então você gosta de mim. — Eu não. — Claro que gosta. Mas eu estava me referindo às saladas. O que acha? Marina apontou para a que ele provou por último. — Essa está boa. Todd negou com a cabeça. — Não é uma boa ideia. O molho levou muito alho. — Desde quando você entende alguma coisa de cozinha? — Não entendo. — O que ele podia fazer se Marina lhe dava uma oportunidade atrás de outra para provocá-la? Às vezes, um homem não podia resistir. — Mas entendo sobre casamentos. — Ele olhou ao redor e, em seguida, se inclinou na direção dela. — Beijos. Acontecem muitos beijos em casamentos. Não quer que os convidados fiquem com hálito de alho. A eletricidade gravitou na atmosfera entre eles. Todd pensou que talvez o nervosismo a fizesse mudar de assunto, mas os olhos azuis não desgrudaram dos dele. O humor leve se dissipou, substituído por uma tensão que rapidamente se transformou em desejo. Como seria beijá-la? Qual seria a sensação daqueles lábios contra os dele? Seriam macios? Ávidos? Sensuais? Seria Marina o tipo de mulher que tomava a dianteira ou 18

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gostava de ser conduzida? As possibilidades eram infinitas e, de repente, Todd teve vontade de explorar todas. — Acho que você está exagerando — disse ela. — Não acho que o alho seja um grande problema, mas, se é assim, poderíamos simplesmente mudar o molho da salada. — Só há uma maneira de descobrir — disse ele, inclinando-se ainda mais para perto e roçando os lábios aos dela. Todd se deparou com calor e desejo, os dois competindo por sua atenção. Marina não se moveu, mas a respiração acelerada era audível. Porém, antes que ele pudesse levar a situação a um outro estágio, Zoe retornou. — O que acharam. Oh, desculpem. Devo voltar mais tarde? Todd aprumou a postura. — Não. Sabemos o que queremos.

CAPÍTULO 3

Marina tinha a sensação de que havia sido atingida por um caminhão. Bem, isso não era verdade, pensou, enquanto pestanejava para que a sala entrasse em foco outra vez. Nada de ruim acontecera e ela não se encontrava esmagada. Mas estava sem fôlego e se sentindo bidimensional. Era atração o que sentia, e Marina se deparou com o calor, os formigamentos, o desejo de pular sobre Todd e forçá-lo a possuí-la. Tudo por causa de um inocente e leve roçar de lábios. O que aconteceria se ele a tivesse beijado da forma que pretendia? Aquela era uma pergunta perigosa, disse ela a si mesma. Todd não parecia nada do que imaginara. Era um homem divertido e charmoso. Muito charmoso. Tinha de lembrar que qualquer relação com uma mulher era apenas um jogo para ele. Que os sentimentos daquele homem eram tão profundos quanto um tabuleiro raso daqueles usados para fazer biscoitos. Ela poderia até se divertir com aquela atração superficial pelo prazer momentâneo, mas esquecer o resto. Todd não costumava ter relacionamentos sérios e ela não se permitia nada menos que isso. Embora, tecnicamente, ela também não costumasse ter relacionamentos. Era uma questão de medo. Não queria se perder de amores por um homem. Os dois experimentaram várias entradas, todas aprovadas, e as sobremesas, que estavam ótimas. — Vai comer essa toda? — perguntou Marina, olhando para o mouse de chocolate que ele mal provara. — Pode ficar à vontade para terminá-la. Ela enterrou a colher no delicioso creme areado e saboreou a sensação do chocolate se espalhar por sua língua. Ele a observou com expressão indecifrável.

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Marina preferia pensar que ele estava achando sua paixão por chocolate fascinante, mas sem dúvida Todd estava comparando seu apetite normal à anorexia de suas namoradas e a achando um tanto estranha. — Terminou? — perguntou ele, quando Marina devorou a última raspa do mouse do pote. Quando ela anuiu, os dois se encaminharam à recepção. Depois de receberem o orçamento e um panfleto de Zoe, prometeram entrar em contato dentro de algumas semanas e partiram. — O que achou? — perguntou Todd enquanto se encaminhavam aos seus respectivos carros. — Foi bom — disse ela. — Mas não encantador. Quero ficar encantada. Acho que a comida tem de ser espetacular, e não apenas boa. Todd correu o olhar pela lista de preços. — Considerando o orçamento, concordo. Então, ainda precisamos encontrar um bufê. Tem alguma sugestão? — Não costumo contratar bufês, mas posso perguntar por aí. — Farei o mesmo. Consultarei Ruth também. Ah, sim Sua avó. — Ela costuma frequentar o circuito de eventos beneficentes — disse Marina. — Ao menos, eu a ouvi mencionar isso. Portanto, deve ser uma ótima fonte de informações. — Um pensamento a fez franzir a testa. — Fico imaginando por que ela não nos ofereceu nenhuma sugestão. — Ela prometeu não se intrometer — informou Todd. — Não fique tão animada. Isso não durará muito tempo. Tia Ruth é intrometida por natureza — acrescentou com um tom de afeição na voz. — Então, você a perdoou por ter oferecido a mim e às minhas irmãs 1 milhão de dólares se uma de nós concordasse em se casar com você? Todd quase se encolheu. — Estou me esforçando para isso. — Por quê? Ele deu de ombros. — Ela sempre teve tempo para mim e para Ryan. Nossos pais viajavam por meses e nos deixavam sozinhos. Tia Ruth preenchia esse vácuo. Quando estávamos com ela, éramos como uma família. Marina não soube como responder àquela declaração. Por um lado, aquilo explicava a afeição de Todd pela tia. Por outro, estavam falando da mesma mulher que virara as costas para a filha e as netas. — Está pensando em sua mãe — disse ele, surpreendendo-a. — Sim. Mamãe tinha 17 anos quando se apaixonou por meu pai. Era muito jovem Posso entender que os pais não aprovassem sua escolha, mas há muitas opções entre concordarem com a filha e a expulsarem de casa para sempre. Por que não tentaram nenhuma delas? — Marina inspirou profundamente e deixou o ar escapar. — Você vai justificar, colocando a culpa no marido de Ruth, Fraser. Ouvi isso tudo antes. Ele era um homem difícil que governava a própria casa com punho de ferro e não dava a ninguém 20

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uma segunda chance. — Também era o único pai que a mãe de Marina conhecera. Seu pai biológico, o primeiro marido de Ruth, falecera antes que ela soubesse que estava grávida. — Minha mãe era a única filha de Ruth — prosseguiu. — Ela deveria ter se empenhado mais, se certificado de que a filha estava bem. Todd a surpreendeu talvez pela terceira vez em menos de duas horas, pousando uma das mãos em seu ombro e o apertando de leve. — Tem razão — disse em tom de voz suave. — Ela ficou ao lado do marido e não da filha. E, por isso, Ruth passou os 30 anos que se seguiram lamentado a própria decisão, mas muito temerosa em tomar qualquer atitude. Deve ter sido muito difícil viver assim. Para todas vocês. Ruth nunca recuperará o que perdeu e vocês também não. Marina pestanejou várias vezes. — Muito compassivo e compreensivo de sua parte. Todd franziu a testa. — Sou capaz de pensamentos racionais e emocionais. — Eu sei. Apenas achava que não se importava com nada. — Isso é lisonjeiro. Foi a vez de Marina tocá-lo. Ela lhe segurou a mão. — Desculpe. Não soube me expressar. Acho que é o reflexo de como você é apresentado pela imprensa local e do que as pessoas dizem a seu respeito. Talvez ele não fosse tão raso quanto um tabuleiro de fazer biscoitos, afinal. E sim um tacho bem fundo. A comparação trouxe um sorriso ao rosto de Marina, o que fez as linhas que vincavam a testa de Todd se aprofundarem. — Você está começando a me irritar — resmungou ele. — Pensei que havia dito que tinha um grande senso de humor. — E tenho. Mas não estou achando graça. Seja o que for que pense a meu respeito, está enganada. Marina estava começando a acreditar naquilo. Todd retirou o fiel palmtop do bolso e pressionou alguns botões. — Ainda precisamos de um bufê, um fotógrafo, um florista, um bolo, um vestido, alguns smokings. É uma longa lista. — Vamos conseguir. Enviarei as informações sobre este lugar para Julie por e-mail. Ao menos, já sabemos que o casamento e a recepção serão no salão de festas. É alguma coisa. — Que sorte a nossa! Marina se fixou naqueles olhos escuros e sorriu. — Obrigada por ser tão compreensivo sobre a questão com minha avó. Falar sobre o assunto me ajuda. — Está bem Eu lhe telefonarei para marcarmos nossa próxima degustação. E então ele a surpreendeu ao se inclinar e beijá-la. Porém, aquele beijo não tinha a intenção de testar o hálito de alho ou provar nada. Ao menos foi o que Marina pensou. Em vez disso, foi um contato rápido, quente e de dissolver os ossos. 21

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As mãos fortes pousaram em seus ombros, mantendo-a no lugar. Os lábios sensuais exigiram os dela com uma maestria que a deixou ansiando por mais. Marina se perdeu no prazer do toque, dos lábios e do desejo. Todd não era o que ela esperava. Aquilo não era o que ela esperava. E ela se descobriu correspondendo ao beijo de uma forma que também não esperava. Todd inclinou a cabeça para o lado e lhe traçou a extensão do lábio inferior com a língua. Ela entreabriu a boca para receber a invasão excitante e quente. Porém, logo Todd se afastou e aprumou a coluna. — Vejo-a em breve — disse ele. O quê? Ele estava partindo? Iria beijá-la e sair correndo? — Mas você... Por que você...? Todd sorriu. — Fomos interrompidos. Gosto de terminar tudo que começo.

Para: [email protected] De: [email protected] Não sei como lhe agradecer. Estou em profundo débito com você pelo trabalho todo que está tendo. Obrigada pela degustação do primeiro bufê e sinto muito que não tenha dado certo. Mas você tem razão. Eu e Ryan queremos servir uma comida fabulosa. Interessante a questão do alho e dos beijos no casamento. Não pensei que muito alho poderia criar problemas, mas em um casamento? Você está coberta de razão. Então, Todd demonstrou os perigos de beijar com hálito de alho? J Brincadeira! Sei que ele não faz seu tipo. Não é sério o suficiente e ainda lhe falta caráter. Mas não é tão terrível assim. Ao menos é bonito. Lembre-se disso quando ele começar a levá-la à loucura. Estamos nos divertindo muito. Mal posso esperar para tirar mais fotos e enviá-las a você por e-mail. É uma verdadeira deusa por estar fazendo isso! Envio-lhe meu amor e abraços, Julie. Marina abriu a caixa de papelão e estendeu a mão para pegar uma fita adesiva. Após selar o fundo da caixa, tornou a virá-la e olhou para as estantes de livros no corredor. — Julie precisa mesmo guardar tudo isso? — perguntou, embora soubesse a resposta. Willow esticou a cabeça para fora da porta do quarto, onde estava dobrando as roupas. — Claro. São livros. Ela os guardará para sempre. — Ryan sabe no que está se metendo? Sabe dessa mania dela de nunca se desfazer de nada? Willow sorriu. — Não exagere. Julie não é assim. E, sim, Ryan sabe no que está se metendo. 22

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— Bem, eu não tinha a menor ideia — resmungou Marina. — Depois de encaixotarmos tudo que está neste apartamento, você tiver feito a reforma da casa dos dois e eu, planejado todo o casamento, Julie ficará em débito conosco para sempre. Teremos de quebrar nossas pernas ou algo parecido e fazer os dois nos servir. — Ela estará presente durante toda nossa recuperação — afirmou Willow. Em seguida, esticou a mão esquerda, apontando. — Pode pegar aquilo para mim? Marina não girou para ver o objeto em questão. Em vez disso, fixou o olhar no anel no dedo da irmã. Ou, mais especificamente, no deslumbrante diamante que faiscava nele. — Você está noiva! — gritou Marina. — Estou muito feliz por você. Willow soltou uma risada. Em seguida, as duas estavam se abraçando e pulando juntas. — É tão lindo — elogiou Marina, segurando a mão da irmã e estudando a pedra estonteante em corte de almofada cercada por outras de lapidação baguete. — Quando isso aconteceu? Você não disse nada. Como não despejou tudo no instante em que me viu? — Foi difícil — admitiu Willow. — Mas eu queria que tivesse uma grande reação, e você teve. — Ela baixou o olhar ao anel. — Quanto à sua pergunta, aconteceu ontem à noite. Kane e eu já havíamos conversado sobre casamento antes, quando ele caiu em si e percebeu que me amava. Mas, desse momento em diante, não tocamos mais no assunto. Estava disposta a lhe dar um tempo para que se acostumasse com a ideia de estar em um relacionamento sério. As duas se encaminharam à sala de estar e se atiraram no sofá. Marina sorriu diante da expressão feliz da irmã. — Quem poderia imaginar que aquele tipo calado e fechado se revelaria um grande homem? — disse ela, extasiada com o fato de Kane ser o que Willow merecia. A irmã deixou escapar um suspiro. — Eu sei. É um milagre. Ele é incrível, Ontem estávamos jantando juntos. Era um ambiente romântico, havia música e, de repente, lá estava ele ajoelhado, segurando o anel, pedindo-me em casamento e dizendo que queria ficar ao meu lado para sempre. — Os olhos de Willow se encheram de lágrimas. — Nunca pensei que minha vida pudesse ser tão maravilhosa. Marina a abraçou outra vez. — Estou feliz por você. Mais que feliz. Extasiada. Entontecida. E outros adjetivos dos quais não me recordo agora. — Também estou muito feliz — retrucou Willow. Marina se recostou a uma das almofadas. — Minhas duas irmãs vão se casar. Eu serei a tia solteirona, a favorita das crianças, mas vocês, adultos, temerão que eu enlouqueça lentamente. Willow revirou os olhos. — Ora, por favor! Você é muito inteligente para isso. Mas eu lhe diria para tomar cuidado. O amor está no ar. Marina fez um movimento negativo com a cabeça. — Sou imune, o que está ótimo para mim. Não pretendo me casar tão cedo. — E quanto a se apaixonar? 23

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— Talvez no ano que vem Na verdade, Marina gostava da ideia de se apaixonar por um homem. Mas uma boa dose de medo acompanhava aquele sentimento. Entregar seu coração lhe parecia o mesmo que abrir mão de uma parte de sua própria personalidade. Primeiro fora Ruth, depois a mãe. Não queria ser como elas. — Então, temos outro casamento em vista — disse ela. — Já escolheram uma data? — Estamos pensando na primavera. Bem, depois do casamento de Julie, mas antes de o bebê nascer. — Posso ajudar nos preparativos. Em breve serei uma perita no assunto. — Eu adoraria — respondeu Willow. — Não saberia nem por onde começar. — Basta perguntar para mim. Ou para Todd. Ele é muito bom em planejar casamentos. Mas não lhe diga que falei isso. Willow girou no sofá de modo que as duas ficassem de frente uma para outra. — É mesmo? Ele não é um idiota? — Não — respondeu Marina, ainda surpresa com a novidade. — Na verdade, ele é um cara legal. Engraçado, charmoso, gosto dele. Não esperava que fosse assim. Pensei que se tratava de um presunçoso. Odiei a ideia de trabalhar com ele no casamento, mas, embora não concordemos em todos os aspectos, gosto de poder contar com a ajuda de Todd. É uma tarefa de grande responsabilidade e gosto de ter alguém com quem dividi-la. Além disso, ele é extremamente belo. Quando tenho um dia difícil, é bom poder torná-lo mais alegre com um colírio para os olhos como aquele. — Acho que ele não é o tipo do homem que gosta de ser chamado de colírio para os olhos. — Provavelmente não, mas não diremos isso a ele. Willow a estudou. — Então isso é uma boa notícia — respondeu. — Com o casamento de Julie e Ryan, Todd passará a ser da família. Seremos todos amigos? — Acho que sim. Debocharemos do tipo de mulher que agrada a ele, quando ele nos apresentar suas namoradas, mas será divertido. — Sem dúvida isso acontecerá — disse Willow. — Todd não é o tipo de homem que fica sozinho. Marina anuiu em concordância, mas se descobriu imaginando quais eram as outras mulheres na vida de Todd. Não tinha dúvidas de que ele estava saindo com alguém no momento. Quem seria ela? Alguma socialite ou herdeira? Uma executiva poderosa? Tinha certeza de que, não importava quem fosse, seu guarda-roupa deveria consistir de mais do que jeans e camisetas da UCLA. Não que ela, Marina, pretendesse impressioná-lo. Estavam trabalhando juntos no casamento. Nada mais. Exceto pelo fato de ele a ter beijado. Parecia não ser capaz de esquecer o calor, o desejo e a ânsia que quase a sufocaram. E isso tudo por causa de uma insinuação de beijo? O que sentiria se Todd tivesse lhe explorado a boca como pretendia?

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— Na verdade, ele será meu acompanhante no casamento — disse Marina. — Ambos prometemos à vovó Ruth que teríamos um encontro, e o casamento parece a forma mais fácil de cumprir com a nossa palavra. — Mais uma vez terei de encorajá-la a se casar com ele para que eu possa ter 1 milhão de dólares em minha poupança — disse Willow com um sorriso. — Kane tem dinheiro. — Sim, mas o dinheiro é dele. Seria divertido ter minha própria fortuna. Marina negou com a cabeça. — Sinto muito. Não tenho pretensões de me casar com Todd. Nem mesmo por 1 milhão de dólares. — E quanto a 5 milhões de dólares? Aposto que vovó Ruth concordaria de bom grado em injetar uma soma maior na aposta. — Não estou interessada. Willow deixou escapar um suspiro. — Pensei que seu amor fraterno fosse incondicional. Detesto pensar que esse seu sentimento tem limites. — A vida pode ser decepcionante. Willow relanceou outra vez o olhar ao próprio anel. — Mas há alguns raios de luz. Tenho Kane. — Sim, tem. Willow a encarou. — Você será a próxima. As coisas acontecem em trio. Primeiro Julie, depois eu, portanto é a sua vez. — Acho que as coisas não funcionam assim. Não que tivesse intenção de dizer “não” ao próprio “felizes para sempre”, mas as coisas não eram tão simples assim. Apaixonar-se por um homem significava confiar completamente nele. Embora pudesse imaginar tal possibilidade, isso também significava que precisava confiar em si mesma e, quanto a isso, não tinha tanta certeza.

CAPÍTULO 4

Marina se sentou na escada da frente de seu prédio, enquanto esperava por Todd. Quando o relógio de pulso marcou a hora exata que haviam marcado, o carro conversível prateado e lustroso surgiu na esquina e se aproximou para estacionar em frente ao prédio. Erguendo-se, ela suspirou.

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— Bonito carro — disse, quando ele saltou e caminhou na direção dela. — Muito bonito. Claro que ele também estava com ótima aparência. Aquele homem sabia como usar um terno. Mas Marina não estava disposta a revelar sua opinião. Todd lhe estendeu a chave. — Quer dirigir? Marina pestanejou várias vezes. — Como disse? — Dirigir. O Carro. É você a inteligente aqui. Não deve ser algo tão complexo assim. Eu a vi dirigir. Parece boa motorista. O olhar de Marina se alternou entre ele e o veículo lustroso. — Mas o carro é seu. Você é homem e homens não costumam ser altruístas quando se trata de seus carros. Certamente não com modelos caros como o seu. — É apenas um carro. Compro os modelos que me agradam, mas não são minha vida. — Ele sacudiu as chaves. — Agora, responda. Quer dirigir? Marina arrancou as chaves da mão dele, antes que Todd mudasse de ideia. — Claro que sim. No entanto, enquanto se encaminhava para o lado do motorista, relanceou o olhar a Todd. Claro, ele tinha dinheiro e, se algo acontecesse ao carro, poderia facilmente comprar outro, mas aquele não era o cerne da questão. O comportamento dele não era normal. Seria tão seguro de si mesmo, a ponto de deixá-la fazer isso sem titubear? Marina se sentou no banco de couro e observou o interior do veículo. Reconheceu os comandos básicos, aos quais estava acostumada, juntamente com a tela de um GPS, ar-condicionado de duas zonas e um sistema de som, que parecia complicado o suficiente para fazer parte de uma nave espacial. — Está um dia bonito hoje — disse ele. — Quer baixar a capota? — Oh, sim Marina observou os controles e encontrou aquele que movia a capota. Em seguida, colocou a chave na ignição e girou para observar o show. Aquilo era uma maravilha da engenharia alemã, pensou ela, enquanto a capota baixava automaticamente e a cobertura embutida deslizava sobre ela. Tudo sem que ela fizesse nada. Em seguida, Marina ajustou os retrovisores, ligou o motor e se preparou para ficar impressionada. — A que velocidade posso ir? — perguntou. — O quanto está disposta a pagar por uma multa? — Tem razão. Para onde, então? Todd retirou um pedaço de papel do bolso da camisa. — Hoje vamos cuidar das toalhas de mesa, louças e talheres, mesas e cadeiras, das lembranças do casamento e dos smokings. — Ele conferiu a hora no relógio de pulso. — Temos hora marcada na loja de decoração para mesas, portanto é para lá que vamos primeiro.

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Todd lhe deu o endereço e ela se juntou ao tráfego da rua. O carro respondia a todos os comandos, o motor roncava suave e Marina podia sentir a potência sempre que pressionava levemente o acelerador. O dia estava quente, o vento lhe açoitava o cabelo e o fazia revoar enquanto uma sensação de felicidade a invadia. — Poderia me acostumar com isto — disse ela quando parou em um semáforo. — Então, está se sentindo atraída pelo lado negro da vida? Marina sorriu. — Mais que atraída. — Era óbvio que um carro como aquele estava fora de seu orçamento, mas talvez um conversível usado não fosse tão impossível. E podia ser divertido também. Marina dirigiu até o local de aluguel de decoração para mesas de festa e resistiu ao desejo de dar mais uma volta no quarteirão, apenas pelo prazer de dirigir aquele carro. Em vez disso, estacionou e saltou do veículo. — Obrigada — agradeceu ela, entregando-lhe as chaves. — Foi ótimo. — Sempre que quiser, fique à vontade. — Como se estivesse falando sério. Ainda assim, estou impressionada pelo fato de ter me deixado dirigir seu carro. Você é muito seguro. — Sou o tipo de homem macho. Marina soltou uma risada. — Sem mencionar, modesto. É extremamente modesto. Os dois se encaminharam ao salão de exposições do estabelecimento. — Telefonei antes — disse Todd a ela. — Disseram que terão mesas já dispostas para nós. Assim, poderemos ter ideia de que cores combinam e o quanto queremos de formalidade e informalidade. Marina retirou a câmera da bolsa. — Estou preparada para tirar as fotos. Os dois entraram no salão de exposições e viram mais ou menos 12 mesas postas para jantar. Cada uma tinha uma composição de cores diferente, com as respectivas porcelanas e centro de mesa. Em seguida, se apresentaram à recepcionista que os convidou a caminhar pelo salão para avaliarem as que lhes agradavam. Marina se encaminhou imediatamente a uma mesa redonda com uma toalha em um tom claro de rosa e elegantes guardanapos amarelo-bebê. Os pratos eram creme com bordas prateadas. O centro de mesa era uma combinação de flores nas cores rosa e amarela que se derramavam ao redor. Até mesmo sentados os convidados seriam capazes de ver uns aos outros, e as cores eram acolhedoras e graciosas. — Gostei desta — disse ela, só então percebendo que falava consigo mesma. Todd se encontrava do outro lado do salão, parado diante de outra mesa, posta em tons escuros de vermelho e púrpura. Marina fez uma careta ao se aproximar. As peças de porcelana eram pretas e as flores pareciam algo tirado de um pesadelo, em vez de adequadas a um casamento. — É elegante — disse Todd, quando ela estacou ao lado dele.

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— É extremamente assustador. Acho que não teremos muitas crianças no casamento, mas e se acabarmos assustando as que comparecerem? Todd olhou por sobre o ombro para aquela que havia agradado a ele. — O que acha de não escolhermos mesas postas para o almoço da Páscoa? Julie disse “discreto e elegante”. Coelhinhos e ovos coloridos não se encaixam nessa categoria. Marina voltou o olhar à mesa que adorara. — Está bem. Pode ser um pouco pálida, mas esta é horrorosa. Não gosto deste centro de mesa alto. Não se pode ver a pessoa que está do seu lado oposto. — O que poderia ser uma vantagem, caso não goste dela. Marina sorriu. — Não podemos garantir que esse será o caso. Que tal aquela? — perguntou ela, apontando para uma mesa posta com uma toalha rosa escuro com motivos verdes. A porcelana creme formava um fundo neutro para os pratos de salada e sobremesa estampados. O centro de mesa era mais botânico que floral e baixo o suficiente para permitir a visão do lado oposto. Todd estudou a arrumação. — Não é espalhafatosa. Aquela está boa. O tom é um tanto feminino, mas o verde está bem. Gostei do centro de mesa. — É bem diferente — murmurou Marina, enquanto erguia a câmera e começava a tirar fotos. — Rosa e verde são cores bonitas, com os tons creme se misturando a elas. Marina também tirou fotos de outras mesas, mas se concentrou naquela sobre a qual os dois haviam concordado. Em seguida, se encaminharam à recepcionista na parte da frente do salão de exposições e pediram a lista de preços. Todd segurou a folha de papel de modo que os dois pudessem ver. O orçamento era discriminado pelo tipo de locação e o número de unidades necessárias. Quanto mais unidades alugadas, menor o custo por item. — Não conversamos sobre os copos — disse ela. — Sinceramente, acho que Ryan não se incomodará com isso. Se servirem para colocar vinho e champanhe, meu primo não se importará com o tipo. — Não vai discutir sobre o princípio geral da questão? — Gosto de variar para tornar as coisas mais interessantes. Os dois estavam parados muito próximos um do outro. O suficiente para que os braços roçassem Marina estava ciente do quanto Todd era mais alto que ela e como o calor daquele corpo musculoso a fazia se derreter por dentro. Não queria se sentir atraída por aquele homem, lembrou a si mesma. Fora aquele beijo idiota. Se aquilo não tivesse acontecido, nunca pensaria nele como algo mais que um amigo de Ryan, alguém com quem teria de aprender a lidar pelas próximas semanas. E ele não seria um homem. Marina forçou a mente a se focar no projeto presente. — Veja, eles podem recomendar uma floricultura — disse ela. — Isso é ótimo. Precisamos de mais recomendações. O aluguel das cadeiras não está ruim. Vamos precisar de coberturas para elas.

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Todd soltou um xingamento baixo. — Estão a 4 dólares cada. Com 200 cadeiras, são 800 dólares para atirar um pedaço de pano sobre uma cadeira. Não podem ficar descobertas? Marina lhe deu palmadas leves no braço. — Cobertas ficam com melhor aparência. — Ryan e eu estamos no ramo de negócios errado. Se eles alugarem essas capas duas vezes a cada final de semana, mesmo com o custo inicial da compra e a limpeza, ainda terão um lucro absurdo. — Então invista no comércio de casamentos. Todd olhou ao redor e fez um movimento negativo com a cabeça. — Muito emocional. Sou mais tecnológico. — Mas poderia expandir seus negócios. Diversificar. — Talvez. — Todd não parecia muito seguro. Marina ergueu o olhar para encará-lo. — Então, diga-me como começou. Acordou uma bela manhã e pensou: ora, vamos ser investidores? — Não exatamente. Ryan e eu tínhamos um amigo na faculdade que tinha ótimas ideias de sofwares, mas não possuía o capital para fabricá-los ou colocá-los no mercado. Então, decidimos financiá-lo. — E para isso utilizou o dinheiro de sua mesada da semana? Todd negou com um gesto de cabeça. — Dinheiro do fundo patrimonial. — Ah, claro — retrucou ela, com expressão de quem entendia completamente. — É dele que lanço mão quando estou precisando de dinheiro. É tão prático ter 1 ou 2 bilhões separados com os quais contar. — Você gosta de troçar de mim, certo? — É bem divertido. Todd dobrou a folha de papel com o orçamento e a entregou a ela. — A empresa prosperou. Quando nos formamos, Ryan e eu já tínhamos o nosso primeiro milhão. Impressionante, pensou ela, mas não daria voz ao elogio. — Nunca lhe ocorreu vender seu berço de ouro para financiar o negócio? Todd ignorou a pergunta. — Ambos devolvemos nossos fundos patrimoniais com juros e nunca mais tivemos de recorrer a esse dinheiro. Desde então, nossa empresa tem se mostrado lucrativa. Então, exceto pelo capital inicial, Todd fizera sua fortuna da maneira antiquada. Nunca poderia ter imaginado. — Jamais cometeram um erro?

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— Alguns. Felizmente não tiveram consequências devastadoras. Nem todas as novas empresas dão certo e todos os peritos do mundo podem cometer erros, mas temos bons instintos para os negócios. E dinheiro, pensou ela. — Não é de admirar que você seja um dos solteiros mais cobiçados do país. Como conseguiu resistir durante esse tempo todo sem se deixar capturar por alguma mulher determinada? Um sorriso curvou os lábios de Todd, mas o olhar permaneceu sério e distante. — Fui ferido o suficiente para não confiar em ninguém — Isso não é nada divertido — disse ela, imaginando se não teriam o mesmo problema por razões diferentes. — Como consegue se envolver se não confia em ninguém? — Não preciso me envolver para conseguir o que quero. O que fazia sentido, pensou ela, embora aquilo a entristecesse. — Isso deve torná-lo um solitário. — Não tem um homem em sua vida. É solitária? — Não. — Não exatamente. Às vezes, Marina desejava algo mais, contudo o preço que teria de pagar sempre a assustava. — Então não somos tão diferentes — disse Todd. — Exceto pelos milhões e o fato de que você namora modelos, somos praticamente gêmeos separados na maternidade. — Nunca vai esquecer o assunto das modelos, certo? — Hummm... não mesmo. A loja de smokings era bem iluminada e elegante. Não exatamente como aqueles estabelecimentos nos shoppings. Marina nunca se sentiu tão mal vestida, principalmente quando a vendedora, uma morena deslumbrante na casa dos 20 anos, saiu de trás do balcão com um traje que parecia ter o mesmo preço do aluguel do seu apartamento. — Posso ajudá-lo? — perguntou ela, com o olhar fixo em Todd. — Estamos procurando por smokings — disse ele. — Para um casamento. A mulher, Roxanne, segundo o crachá, suspirou. — O seu? — Não. Sou o padrinho. O noivo está no exterior. Tenho de escolher por ele. — Entendo. — Roxanne voltou os olhos verdes penetrantes para Marina. — E você é...? — A irmã da noiva. Tenho direito de opinar. — Ótimo. A atenção de Roxanne se focou outra vez em Todd. Marina tinha a impressão de que nunca mais a vendedora a desviaria dele. — Temos uma coleção extraordinária de smokings de estilistas famosos — disse Roxanne com voz baixa e sensual.

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— Estão disponíveis para aluguel ou compra. O noivo tem a mesma compleição que você? Todd baixou o olhar ao próprio corpo, depois a Marina. — Temos mais ou menos o mesmo manequim, não acha? Marina anuiu. — Sim. Queremos algo simples, porém elegante. Infelizmente ainda não decidimos pelas cores, portanto não poderemos fazer o pedido. O olhar de Roxanne não se desviava de Todd. — Tudo bem. Você pode experimentar o que quiser para ver o que lhe agrada e voltar depois. Marina tinha o palpite de que ele poderia visitar a loja todos os dias que Roxanne não se incomodaria. Os três se encaminharam às araras onde estavam pendurados os smokings. Roxanne analisou o corpo de Todd de uma forma que fez Marina sentir como se estivesse diante de algo bastante íntimo. Em seguida, a vendedora retirou vários exemplares das araras. — Há outras cores, claro — disse Roxanne. — Preto tradicional, várias tonalidades de cinza e alguns em outras cores, como azul-marinho. Todd fez uma careta. — Prefiro preto ou cinza. Estamos procurando por um smoking comum. Gravataborboleta e faixa para a cintura. — Gosto mais do colete — disse Marina. Todd apenas lhe dirigiu o olhar. — Colete? — Ele pareceu em dúvida. — Nunca uso o colete. — Com que frequência usa smokings? As faixas de cintura me lembram dos bailes dos tempos de colégio. O colete é mais elegante. Todd deu de ombros. — Está bem, mas então acho melhor uma gravata comum. Um colete com gravataborboleta me faz sentir um avô. Roxanne escorregou uma das mãos pelo braço de Todd. — Certamente não é um avô. Marina reprimiu o ruído debochado que lhe subiu à garganta. — Ao menos, experimente os dois — sugeriu ela. — Se detestar quando vir a combinação no seu corpo, então pode ir choramingar para Ryan. — Não costumo choramingar. — Ah, por favor. Já o ouvi fazer isso. Roxanne se interpôs entre os dois. — Deixe-me pegar um do seu tamanho — disse ela, retirando uma fita métrica do bolso do blazer de seu terninho de grife colado ao corpo. — Erga os braços nas laterais do corpo e relaxe.

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Marina se inclinou contra o balcão, enquanto Roxanne se deteve no trabalho demorado de tirar as medidas de Todd. A vendedora o tocava a cada oportunidade e usava um tom tão insinuante que até mesmo Todd começou a se sentir constrangido. — Muito bem — disse Roxanne quando, finalmente, deu por concluída a tarefa. — Vou levá-lo até o provador para que possa experimentá-los. Quando a vendedora se dirigiu aos fundos da loja para buscar os modelos, Marina sorriu. — Espero que ela seja discreta porque costumo me envergonhar com facilidade. Se os dois começarem a gemer, vou me retirar. Oh, dê-me as chaves do carro para que eu possa abandoná-lo. Todd lhe segurou o braço. — Não vai a lugar algum. Essa mulher é assustadora. Marina soltou uma risada. — Ah, por favor. O grande e arrojado milionário com medo da vendedora da loja de smokings? Pobre Todd! Os olhos escuros se estreitaram ao se fixarem nela. — Acha isto engraçado? — É meio engraçado mesmo. Seria diferente se ela estivesse em um relacionamento com Todd. Nesse caso, o comportamento de Roxanne seria desconcertante. Mas, como as coisas estavam, Marina podia se divertir muito à custa dele. Não podia negar que havia algo incômodo se agitando no fundo de seu íntimo, mas ela não se preocuparia com nenhum sentimento inconveniente que pudesse ter. Não se tratava de ciúmes. Não poderia ser. Aquele era Todd, alguém de quem não deveria gostar em hipótese alguma. Todd a puxou para que entrasse com ele na área do provador. — Quem está rindo agora? — perguntou, enquanto empurrava uma porta que dava para um amplo provador, no qual havia uma cadeira de madeira. — Sente-se. — Como disse? Não posso ficar sentada aqui, vendo-o trocar de roupa. — As bochechas do rosto de Marina pareciam pegar fogo só de pensar em tal possibilidade. Ela baixou o tom de voz: — Mal o conheço. — Estou de cueca — disse ele. — Qual é o problema? Finja que está na praia. Não vou ficar sozinho com aquela mulher. Todd estava falando sério. Marina não sabia se devia se sentir chocada ou soltar uma risada histérica. — Espera que eu o proteja? — Exatamente isso. Marina sentiu os lábios começarem a se curvar, mas conseguiu conter o sorriso. — Está bem. Se isso é importante para você. Vou me sentar aqui e o observar experimentar roupas. Mas tenho de lhe dizer que estou um pouco desapontada. Achei

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que era melhor com as mulheres. Outra esperança destruída. Mais decepções como essa e precisarei de terapia. Todd lhe lançou um olhar furioso. — Conheço o tipo daquela mulher. Ela não aceitará um “não” como resposta. — E o grande e arrojado milionário não quer ferir os sentimentos da moça — debochou Marina, usando um tom de voz de criança. Os olhos escuros se estreitaram, mas, antes que ele pudesse responder, Roxanne reapareceu com vários smokings. Porém, estacou quando se deparou com Marina na área do provador. — Está aqui para ajudá-lo? — perguntou, em um tom de voz que indicava que aquilo não seria possível. — Sem dúvida. — Todd se adiantou em responder. — Marina tem muito bom gosto. — Ele se sente inseguro sem minha opinião — acrescentou Marina com um sorriso. — Quase incapaz. O olhar de Todd parecia um bisturi cortando o rosto de Marina, o que a fez ter a impressão de que teria de pagar pelo que dissera mais tarde, no entanto, o que importava? Aquela era uma faceta de Todd que ela nunca poderia ter imaginado e pretendia se divertir ao máximo com tal descoberta. Não apenas por vê-lo como alguém com defeitos e fraquezas, pensou ela, enquanto Roxanne pendurava os smokings e saía decepcionada do provador, no entanto como alguém muito mais interessante do que imaginara a princípio. Só quando Todd retirou a gravata e começou a desabotoar a camisa foi que ela se deu conta de um pequeno detalhe que havia esquecido. O provador era enorme, mas, ainda assim, era pequeno considerando que os dois não se conheciam há muito tempo e que Todd estava a ponto de se despir diante dela. Embora ele tivesse dito para fingirem que estavam na praia e a cueca não fosse revelar mais que uma sunga, não se encontravam em uma praia e um homem deslumbrante estava se despindo diante dela. Para onde deveria olhar? Ou não olhar? Todd se livrou da camisa. O peito largo tinha a musculatura perfeita e bem definida. A camada rala de pelos que se estendiam na direção do cós da calça agradou a ela. Mas, quando ele esticou a mão para o fecho da calça, Marina descobriu que fixara o olhar no chão. — É melhor que Ryan se mostre agradecido por isto — resmungou Todd. — Descobrirei um modo de fazê-lo pagar — retrucou ela, percebendo que as meias eram escuras e pareciam nunca ter sido usadas. Seguiu-se o som do farfalhar de tecido e, em seguida, Todd vestiu a calça comprida do smoking. Estava segura, finalmente! Marina decidiu se distrair daquele processo, tornando-se útil. Depois de lhe entregar a camisa, retirou o casaco do smoking do cabide e estudou a trama do tecido, segurando a lapela entre os dedos. Roxanne surgiu na soleira da porta. — Colete ou faixa de cintura? — perguntou, segurando uma peça em cada mão. — Colete — respondeu Marina, retirando-o da mão da vendedora e o entregando a Todd. — Você disse que experimentaria. 33

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Todd resmungou e, em seguida, vestiu-o. Marina admirou como a peça enfatizava a largura dos ombros e os quadris estreitos daquele Apolo. Um leve formigamento ganhou vida em algum ponto atrás de seu umbigo. Ele pegou uma gravata da mão de Roxanne e a escorregou sob o colarinho. Após apertar o nó, vestiu o casaco. — Há um espelho de três faces ali fora — disse a vendedora. Todd a seguiu até uma área central do provador. Em seguida, pisou na plataforma em frente ao espelho e observou o próprio reflexo. — O que você acha? — perguntou. — Magnífico — ronronou Roxanne, posicionando-se atrás dele, alisando o tecido na altura dos ombros e puxando a bainha do casaco. Marina concordava plenamente, apesar de irritá-la o fato de a mulher fazer questão de tocar cada centímetro de Todd. Aquilo ali era uma loja de smokings, e não um zoológico interativo. Determinada a agir como uma mulher madura e deixar que Todd lidasse com a situação, resolveu ignorar a vendedora de mãos inquietas. — Gosto do colete — disse ela. Todd anuiu. — Eu também. Entendi o que estava querendo dizer. É menos tradicional que a faixa de cintura, no entanto parece mais elegante. Não podemos fazer nenhum pedido até que Ryan e Julie se decidam pelas cores, mas podemos lhes dar algumas ideias. — Temos um site na internet — disse Roxanne, inclinando-se na direção da orelha de Todd e pressionando os seios contra suas costas. — Vou escrever o número de referência da peça para que seu amigo possa saber a qual smoking você está se referindo. Se ele ficar com metade dessa aparência deslumbrante, será um casamento e tanto. Marina suprimiu um gemido, enquanto Todd se desviava de Roxanne. — Ótimo. Por que não vai providenciar essa informação agora? Relutante, a vendedora deu um passo atrás. Quando os dois ficaram a sós, ele girou na direção de Marina. — Você deveria me proteger. — É crescido o suficiente para proteger a si mesmo. — A ideia é sermos uma equipe. Eu teria me lançado em seu socorro. Marina não tinha ideia do que Todd esperava que ela fizesse. Teria desejado uma reação ciumenta de sua parte? Seria o ego que falava por ele? Será que Todd precisava que todas as mulheres do planeta ofegassem diante de sua presença para ter um sono tranquilo? Ou seria algo mais? Estaria ele, de fato, constrangido? Embora Marina quisesse pensar o melhor dele, a reputação que o precedia tornava a tarefa impossível. Todd devia estar brincando com ela. Muito bem. Também sabia jogar. Podia fazê-lo se arrepender de envolvê-la naquela situação. Marina se encaminhou até a margem da plataforma e lhe puxou o casaco do smoking até forçá-lo a descer. Em seguida, se ergueu nas pontas dos pés, envolveu o pescoço largo com um dos braços e pressionou os lábios aos dele. 34

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Estava determinada a fazer daquele beijo algo bem mais profundo que o breve contato que haviam compartilhado antes. Queria lhe dar uma lição. Portanto, manteve os lábios levemente entreabertos e pressionou o corpo ao dele. Após um breve segundo de perplexidade, Todd lhe envolveu o corpo com os dois braços e retribuiu o beijo. A princípio, roçou os lábios aos dela, mas logo se aproveitou do convite e lhe invadiu o interior da boca com a língua. Os movimentos de Todd refletiam os de um homem em uma missão. Tinha sabor de café e menta e... ele sabia como beijar. No instante em que a língua de Todd tocou a dela, a paixão explodiu. A sensação era tão intensa que Marina se preparou para sentir o abalo das estruturas da loja. Havia muito calor, desejo e prazer na forma com que ele lhe explorava a boca, provocando, recuando e retornando. O desejo a pegou desprevenida. Marina se via incapaz de pensar, portanto se limitou a reagir. Mudou a angulação da cabeça e retribuiu o beijo com igual intensidade. Quando sentiu as mãos longas escorregarem para cima e para baixo em suas costas, revidou, explorando os ombros largos e os braços fortes com toques ávidos. Aquele homem era todo musculatura e calor. A mão de Todd se enterrou no cabelo longo e loiro, puxando-o de leve para inclinar o rosto de Marina ainda mais para trás. Ela não ofereceu resistência e foi recompensada com uma trilha de beijos excitantes ao longo do pescoço. Os lábios macios e famintos a fizeram desejar gemer. Marina sentia a tensão sexual em todo o corpo, enquanto os seios se intumesciam em antecipação. Queria estar deitada de costas em qualquer superfície plana. Desejava-o entre suas pernas, possuindo-a com força e rapidez e que se danassem as consequências. O pensamento, que nunca antes lhe passara pela mente, deixou-a perplexa. Marina se afastou ao mesmo tempo em que ouvia o som de uma pessoa muito irritada limpando a garganta. Quando girou, se deparou com Roxanne à entrada do provador. — Vocês deveriam alugar um quarto de hotel — disse a vendedora, em um tom de voz frio. — É uma ideia interessante — retrucou Todd com voz arrastada. Roxanne virou de costas e se retirou. Marina permaneceu imóvel, sem saber o que pensar, quanto mais responder. Era uma paixão inesperada. E ela estava constrangida. Vários comentários boiaram na superfície do cérebro de Marina, mas todos lhe pareceram tolos. Mesmo que não fossem, não tinha certeza se seria capaz de falar. Sentia a garganta seca e constrita. Tinha um pressentimento nada agradável de que sua voz soaria ofegante. — Marina — começou ele. Mas ela ergueu uma das mãos para impedi-lo. Em seguida, engoliu em seco e se forçou a encará-lo. Um erro crucial, pensou, quando viu o desejo estampado na profundidade escura daqueles olhos. Desviou o olhar para a boca que há pouco explorara a dela, uma boca capaz de levar uma mulher à loucura sempre que a beijava. — Estava lhe dando uma lição — disse ela, com um leve tremor na voz. — Ao menos foi isso que pensei. — Você também não é como eu esperava. 35

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Seria aquilo bom ou ruim? — Você não faz meu tipo — continuou ela. — Quero planejar o casamento da minha irmã. Nada mais. O olhar de Marina voltou a encontrar o dele. Uma parte do desejo havia se dissipado, mas permanecera o suficiente para fazê-la ansiar em se atirar naqueles braços fortes outra vez. — Concordo — disse ele. Levou alguns instantes para Marina perceber que ele estava respondendo à sua declaração, e não aos seus pensamentos. — Então, vamos fingir que isto jamais aconteceu — retrucou ela. — Não aconteceu nada. — Alguma coisa aconteceu, mas podemos ignorá-la, se assim preferir. Aquilo era o mais próximo de uma boa resposta que ela iria receber, pensou Marina, antes de deixá-lo sozinho para que pudesse trocar de roupa outra vez e sair da loja. Ficou aguardando-o próxima ao carro. Não era o fato de ter gostado do beijo que a aborrecia, mas sim o desejo que sentira de se entregar a ele sem nem ao menos o conhecer. Sem sentimentos profundos envolvidos na questão. A intensidade do desejo que sentia por aquele homem a assustava. Todd era muito mais interessante do que jamais imaginara. Gostar dele era surpreendente. Desejá-lo, embora igualmente espantoso, era aceitável. Mas ter um relacionamento com ele? Nem em sonho! Haviam tornado aquela situação mais que perigosa, mortal! Marina não podia arriscar se apaixonar por aquele tipo de homem Caso contrário, estaria destruída. Vira isso acontecer antes. Sabia o quanto lhe custaria.

Para: [email protected] De: [email protected] O que quis dizer com beijou Todd? Não pode simplesmente escrever um e-mail informando: “oh, antes que me esqueça, beijei Todd hoje” e enviá-lo. Isso não se faz. Beijou-o? Na boca? Por quê? Isso não se parece nem um pouco com você. Não é por causa do milhão de dólares, certo? Por favor, diga que não. Isso também não teria nada a ver com você. Todd? Sério? Como foi? Espere. Não tenho certeza de que quero mesmo saber. Ele não faz seu tipo. Você sempre se atraiu por rapazes doces e nerds, que estão predestinados a salvar o mundo. Não um macho superalfa, com postura arrogante. Ele namora modelos, lembra-se disso? Você está bem? Mudando completamente de assunto, amamos a combinação dos tons sálvia/rosa para nossas cores. Trabalhe em cima delas, mas nada que fique excessivamente combinado, por favor. Para: [email protected] De: [email protected] 36

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Estou bem. Muito bem. O beijo apenas aconteceu. É uma longa história. Achei que ele estava jogando comigo e o beijei. Não significou nada. Não o teria sequer mencionado, mas pensei que talvez Todd contasse algo para Ryan e seu noivo contaria a você, que enlouqueceria porque eu não havia lhe contado primeiro. Foi só. Mas, agora que estou pensando sobre isso, acho que Todd não é do tipo de contar vantagem. Quanto ao beijo, foi apenas um beijo. Bom. Sei que ele não faz meu tipo. Não tem nada com que se preocupar. Fico feliz que tenha escolhido as cores. Isso ajudará no planejamento. Adorei a combinação rosa/verde, também. E prometo-lhe apenas combinações que sejam agradáveis. Procurarei nuanças e variações dessas tonalidades. Ficará deslumbrante. Para: [email protected] De: [email protected] OH, MEU DEUS! Já está sabendo que tipo de homem é Todd? O que mais sabe que não está me contando? O que mais está acontecendo aí? É melhor não se apaixonar por ele. Estou falando sério. Estou a centenas de milhas de distância e perderia tudo. Para: [email protected] De: [email protected] Estou gargalhando sem parar! Não exagere. Não estou me apaixonando por Todd de forma alguma. Não há com que se preocupar.

CAPÍTULO 5

Todd dirigiu devagar pelo tráfego ao redor da UCLA. Em seguida, parou próximo ao meio-fio. Varreu a multidão de estudantes com o olhar e avistou Marina falando com uma jovem. Falando não, corrigiu a si mesmo. Comunicando-se através de gestos. As duas se encontravam de frente uma para outra, com as mãos se movendo em um bailado gracioso que ele não conseguia decifrar. Marina anuiu e olhou por sobre o ombro. Quando o viu, acenou. Em seguida, apontou para o carro e gesticulou algo para a amiga. A jovem fez um gesto afirmativo de cabeça. As duas se abraçaram e Marina se encaminhou na direção do carro. 37

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Todd a observou se aproximar, trajada com uma calça jeans e uma camiseta de manga comprida. Tinha a mesma aparência dos estudantes ao redor. Ele deixou o olhar se deter no oscilar dos quadris e, em seguida, observou a forma como o longo cabelo dourado esvoaçava. Parecia tirada de um comercial de algum produto sexy. Comprava-se o produto desejado e de brinde vinha uma mulher como aquela. Marina abriu a porta do passageiro e se acomodou no assento. — Olá — disse ela. — Vai me deixar dirigir outra vez? — Não. Muito poder subirá à sua cabeça. — Típico — resmungou ela, enquanto ajustava o cinto de segurança. — Por que os homens insistem em sonegar poder às mulheres? Não dê muita responsabilidade às pobres fêmeas porque elas não têm competência para isso. — As mulheres controlam a maior parte da riqueza deste país. — O que me faz sorrir de satisfação sempre que ouço isso. Sei que não quer que eu dirija porque minha habilidade ameaça sua masculinidade. — Não por muito tempo. Estou fazendo terapia. Marina soltou uma risada que ele acompanhou. O último encontro que tiveram fora na loja de smokings, onde ela o havia beijado daquela maneira arrebatadora e o deixado desejando mais. Todd ainda não tinha decidido o que faria a respeito daquele desejo. Por ora, aproveitar a companhia de Marina era o suficiente. Quando voltou a se juntar ao tráfego, tentou se lembrar da última vez que desejara apenas estar na companhia de uma mulher. Conviver, conversar, provocar sem contar os minutos para levá-la para a cama. Não que não quisesse se deitar com Marina. Queria muito, mas também gostava dela. Quando fora a última vez que aquilo acontecera? Gostar. Quase havia se esquecido daquele sentimento. Não que confiasse nela. Não confiava em nenhuma mulher. Mas estivera ansioso em encontrá-la, desde que se despediram da última vez. — Por que se interessou pela linguagem gestual? — perguntou ele. Marina lhe relanceou o olhar. — Fico meio envergonhada em admitir que, a princípio, foi por causa do belo irmão surdo de uma amiga minha. Estava com mais ou menos 14 anos naquela época. Ele era mais velho, tristonho, no entanto eu sabia que, por dentro, era um rapaz fascinante que se apaixonaria perdidamente por mim se pudéssemos nos comunicar. Assisti a uma aula experimental de linguagem gestual e gostei muito, portanto decidi continuar. — E o que aconteceu com o rapaz? — Ele se revelou um idiota que, por acaso, também era surdo. Ainda assim, sou agradecida a ele por ter me colocado nesse caminho. Tornei-me uma intérprete diplomada. Foi um excelente trabalho de meio expediente que me ajudou a cursar a faculdade. Marina consultou o relógio de pulso. — Desculpe, mas terei de interromper nosso dia. — Sem problemas. 38

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— É uma aula importante e fico feliz que seja flexível. — Longe de mim me interpor no caminho da educação. — Falando como um verdadeiro membro da elite. Os dois estavam se dirigindo a outro serviço de bufê para experimentar a comida e mais tarde se encontrariam no apartamento de Todd para receber uma florista. — Agora que Ryan e Julie escolheram as cores, podemos tomar decisões importantes — disse ele. — Informei as cores à florista e ela trará os exemplos adequados. — Ótimo. Acho que o pacote verde e rosa nos deixa uma gama de possibilidades. As tonalidades masculinas podem ser em verde e as femininas, em rosa. — E todos ficarão satisfeitos. — Exatamente. — Marina exibiu um sorriso luminoso. Todd freou o carro por causa do semáforo vermelho e retribuiu o sorriso. Enquanto os dois se encaravam, disse: — O beijo daquele dia foi fenomenal. No mesmo instante os olhos azuis se arregalaram e as bochechas do rosto de Marina adotaram uma tonalidade rubra. Ela desviou o olhar e o fixou no para-brisa. — Sim. Bem, você disse que precisava de proteção. Todd imaginara o que ela havia achado daquele beijo. Será que fora igualmente erótico para Marina? Agora sabia que a resposta era “sim”. Também percebeu que ela parecia um pouco constrangida e imaginou por quê. — Não que eu pensasse que você de fato precisava ser protegido — disse ela, ainda incapaz de lhe sustentar o olhar. — Tenho certeza de que é capaz de lidar com mulheres daquele tipo mesmo dormindo. — Sou mais interessante quando acordado. — Todd transpôs o cruzamento. — Não estava esperando a paixão. Ele fez uma pausa, então continuou: — Só porque sou inteligente e lido com a ciência não significa que não sou como as outras pessoas. — Você não é como as outras pessoas, mas isso é bom. Não estou me queixando. Gosto do seu jeito. — Oh, Deus! Não que a sua opinião tenha importância. — Claro que não. Marina lhe relanceou o olhar. — Foi um beijo muito excitante. — Concordo. Acho que mais tarde posso precisar ser protegido outra vez. — Acho que não. Sabe se virar sozinho sem minha ajuda. — Algo muito frio de sua parte. — Terá de conviver com isso. Todd soltou uma risada abafada que a fez sorrir. Em seguida, Marina começou a lhe contar o que Julie falara sobre a decoração das mesas. Contudo, a maior parte da 39

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atenção de Todd estava em outro tópico mais interessante. Para ser mais exato, em levar Marina para a cama. Ele a desejava. Aquilo era inquestionável. Sabia que seriam ótimos juntos. Soubera disso naquele primeiro beijo de verdade, que refletira toda a química, compatibilidade e desejo entre os dois. Ele e Marina haviam tirado nota 10 em todos esses quesitos. Porém, dormir juntos não seria uma decisão exatamente inteligente. Em primeiro lugar porque teriam uma ligação para o resto da vida. Por causa do fato de sua tia por afinidade ser a avó de Marina e a irmã dela estar se casando com seu primo, um pertenceria ao mundo do outro. Fazer sexo apenas tornaria uma situação delicada ainda mais complicada. Em segundo lugar, Marina não era seu tipo usual de mulher. Ela não brincava quando o assunto era homens e Todd não levava as mulheres a sério. Era melhor não complicar as coisas. Mas aquele fora um beijo arrebatador. A lembrança dele o mantivera acordado pela maior parte das últimas noites, algo que nunca lhe havia acontecido. Marina baixou o olhar ao pequeno prato de massa que se encontrava diante dela. Embora lhe agradasse a apresentação engenhosa, estava começando a se sentir um pouco paranoica. — É impressão minha ou todos os pratos foram cobertos por algum tipo de molho branco? — Não é impressão sua — sussurrou Todd de volta. — O molho da salada, aquela sopa cremosa, o frango e os bolinhos de siri. — Agora a massa — murmurou ela. — Se escolhermos este bufê, teremos de escolher o branco como cor principal. Marina remexeu com o garfo o fettuccini elaborado com perfeição. Não podia reclamar da comida em si. O camarão estava tenro, os legumes, em cubos, crocantes. O molho era uma mistura decadente de creme de leite, queijo e qualquer que fossem as especiarias que levava, mas suave. — Podemos ir embora — disse Todd. — Detestou a comida? — perguntou ela. — Não. É boa. Apenas. — Elaborada em demasia? Todd anuiu. — Exatamente. Minutos depois, as sobremesas foram servidas. Marina conseguiu se controlar durante o tempo em que as garçonetes explicavam o que compunha cada prato, mas, quando as mulheres retornaram à cozinha, não conteve uma risada baixa. Todd ergueu as sobrancelhas. — Qual escolheremos? O petit gateau com creme de leite, as frutas vermelhas com creme de leite? O pudim de pão com creme de chocolate ou a seleção de sorbets com cobertura de creme de gengibre? Marina comeu uma garfada do pudim de pão. — Está delicioso — disse ela. —Realmente fabuloso. 40

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— Gostei da comida — concordou Todd, soando meio irresoluto. — Eu também. Mas acho que é pesada. Meu estômago já está empanzinado. Talvez o dono tenha sido uma vaca em uma vida passada e todos esses cremes com leite sejam uma forma de voltar às suas raízes. Todd a encarou. — Isso me parece esquisito, mesmo vindo de você. — Estou procurando uma explicação. Está bem, vou enviar um e-mail a Julie, dizendo que a comida é maravilhosa, mas o carro-chefe são molhos cremosos. Então, eles decidirão. — Podemos passar em um minimercado no caminho de volta? Estou ansiando por um refrigerante para expurgar todo esse sabor de creme da minha boca. — Concordo plenamente. Após a aula, Marina partiu de carro para a casa de Todd para a reunião com a florista. Embora, alguns meses atrás tivesse estado na entrada da casa, nunca vira a construção de perto até aquele dia. À medida que manobrava o carro pelos portões de ferro forjado, ergueu o olhar à mansão gigantesca de quatro andares. Havia dúzias de janelas e frontões. — E eu que pensei que a casa da vovó Ruth fosse imponente — resmungou ela. Os gramados eram meticulosamente cuidados e infindáveis. Quando Marina estacionou em frente à casa, trancou o carro que parecia um brinquedo largado por uma criança descuidada. Não era nenhuma novidade que os ricos fossem diferentes e que Todd fosse rico, mas, até aquele momento, nunca se dera conta da fortuna daquele homem Tinha uma desagradável impressão de que se tratava de um bilionário. Marina se encaminhou às portas duplas. Em seguida, estacou, baixando o olhar à própria calça jeans. Deveria ter se vestido melhor para aquela visita? Naquele instante, a porta da frente se abriu e Todd apareceu. — Já observou tudo? — perguntou ele. — Ainda não. Você concede tours em quartas-feiras alternadas? — Apenas para um grupo seleto. Entre. Ele havia trocado o terno por jeans e uma camisa de mangas compridas, que deveria fazê-la se sentir mais à vontade. Mas a aparência deslumbrante de Todd, todo músculos e sensualidade, não permitiram. Portanto, entre as nádegas perfeitas e a elegância da casa, Marina se viu incapaz de decidir para onde olhar. Ao adentrar em um saguão com piso de mármore, teve de resistir ao impulso de retirar os sapatos. O formato era oval e amplo, com um pequeno piano de cauda ao lado da escada. Certo. Porque todo o saguão que se prezava tinha de ter um espaço reservado ao piano de cauda. As peças de mobília eram impressionantes, provavelmente antiguidades. As pinturas pareciam originais e valiosas. Todd fechou a porta. — Em que está pensando? — Estou imaginando quantos quartos há nessa casa. — Mais de dez. 41

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— Muito bem. Ótimo. Então você aluga para famílias numerosas ou simplesmente convida pequenos países a se mudarem para cá? — Depende do meu fluxo de caixa mensal. Todd estava brincando, mas havia algo em sua expressão. Algo quase, prudente. — Estou tendo a reação errada? — perguntou Marina. — Deveria fingir que não estou impressionada e um pouco intimidada? — É apenas uma casa. Marina soltou uma risada. — É uma casa imensa e você vive aqui sozinho. Isso é um pouco estranho. — Cresci aqui. É enorme e a manutenção é cara, mas esta residência pertence à família há gerações e agora está sob minha responsabilidade. Marina olhou ao redor, observando o lustre enorme e as flores frescas. — É como um hotel de luxo. Mostre-me o robe atoalhado e o serviço de quarto e me mudarei para cá. — Não temos serviço de quarto. Marina suspirou. — Então, esqueça. Serviço de quarto é essencial para mim — Ela lhe dirigiu o olhar. — Como as outras mulheres costumam reagir? — Começam calculando a grande pensão que poderiam conseguir quando o casamento chegasse ao fim. — Ah! Nem todas as mulheres que namorou deviam estar interessadas apenas no dinheiro. Algumas devem ter gostado de verdade de você. Todd soltou uma risada baixa. — Decididamente você não faz bem ao meu ego. Muitas mulheres com quem namoro gostam de mim de verdade. O dinheiro é apenas um bônus. — Ele lhe envolveu os ombros com um braço e a guiou até a uma entrada em forma de arco. — Geralmente não lhes mostro a casa. — Eu também não o faria. Não até que a relação estivesse séria. Aquelas que estão interessadas em seu dinheiro não conseguiriam mais fingir e as que não estão quase morreriam de susto. — Você não está morrendo de susto. Os dois estavam próximos o suficiente para que Marina pudesse sentir o calor que emanava do corpo forte e que a fazia se lembrar da sensação que sentira quando estava envolta naqueles braços musculosos. Como ele a pressionara contra o corpo e correspondera ao seu beijo de uma forma que lhe fizera o corpo todo formigar. — Não estamos namorando — lembrou ela. No que lhe dizia respeito, nunca namorariam. Todd representava uma ameaça à sua paz de espírito. Jamais imaginara que existiria um homem que a assustasse, mas de várias formas que nunca lhe revelaria ele a aterrorizava. Se ao menos não a excitasse. Relutante, Marina se afastou para escapar do abraço.

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Os dois estacaram diante de uma imensa sala de estar. Havia dois módulos de estofados, alguns armários, mesas de canto e uma escrivaninha, mas nada que fizesse o cômodo parecer abarrotado. — Você tem um decorador. — Claro. Minha essência é definitivamente masculina. Se dependesse de mim, o mundo inteiro seria bege. Em algum lugar à distância, Marina ouviu o som de um carrilhão. — A campainha — disse ele. — Provavelmente, a florista. Sente-se. Vou recebê-la. Marina cruzou o aposento na direção de um dos módulos de estofados e se sentou. À sua direita ficava um belíssimo carro de bebidas feito em madeira entalhada. Em vez de bebidas alcoólicas, havia uma variedade de refrigerantes, juntamente com gelo, águas saborizadas e alguns petiscos. — Em algum lugar desta casa há uma criada ou uma cozinheira escondida — murmurou ela, enquanto colocava gelo em um copo e se servia de seu refrigerante favorito. Não havia a menor possibilidade de Todd ter providenciado aquilo tudo sozinho. Como seria crescer em um lugar como aquele? Marina não conseguia sequer imaginar. Embora a casa parecesse algo tirado de um filme, tinha a sensação de que talvez não tivesse sido muito aconchegante para uma criança. Todd era filho único. Aquele era o tipo de residência adequada para abrigar um bando de crianças. Teria se sentido solitário? Todd retornou com uma mulher franzina de idade indeterminada. Ele tinha os braços cheios de livros e álbuns. A mulher trazia duas cestas com dúzias de flores em cada. — Marina, esta é Beatrice. Beatrice, Marina é a irmã da noiva. — Que interessante vocês estarem planejando o casamento juntos — disse a florista com um sorriso. Em seguida, ela olhou ao redor, observando a mobília, e se dirigiu a Todd: — Talvez uma sala de jantar fosse mais apropriada. — Claro. Por aqui. — Posso lhe servir alguma bebida, antes? — perguntou Marina. Beatrice relanceou o olhar ao carrinho de bebidas. — Água, por favor, querida. Em garrafa, se tiver. Marina colocou gelo em um segundo copo, pegou uma garrafa de água e os seguiu. Enquanto deixavam a sala de estar em direção à de jantar, ela se preparou para se sentir impressionada e intimidada outra vez. O que foi bom porque a sala de jantar era igualmente imponente, com espaço para acomodar 30 pessoas, embora a mesa estivesse posta com 12 cadeiras. Ainda assim, pela forma como ela estava centralizada e o número de grossas pernas de madeira encostadas umas às outras, Marina poderia jurar que mais oito a dez pessoas se acomodariam facilmente àquela mesa. Duas cristaleiras ladeavam a janela de vitrais e um longo bufê se encontrava posicionado no centro de uma parede oposta. Quatro lustres pendiam do teto e havia também uma lareira.

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Todd pousou os livros sobre a mesa, enquanto Beatrice começou a dispor dúzias de flores. — Pelo que entendi, os noivos escolheram suas cores — disse ela, juntando um arranjo de flores. — Isso é sempre muito útil. Rosa e verde comporão um conjunto gracioso. Um desvio do comum. Por exemplo, aqui temos algumas tulipas salpicadas de rosa com gladíolos verdes. Nada tradicional, mas com bela aparência. Marina não era perita em plantas e flores, mas conhecia a aparência das tulipas e podia imaginar como ficariam os gladíolos. As pétalas verdes tinham uma tonalidade deslumbrante e a cor se encaixava com perfeição ao rosa escuro das tulipas. — São lindas — murmurou, olhando em seguida para Todd. — O que acha? — Ótimo. Marina sorriu. — Muito feminino? — Não entendo muito de flores, mas ficou bonito. Beatrice pegou um mostruário. — Aqui temos bromélias, gengibre e antúrios. Mais uma vez, nada tradicional, no entanto as cores são perfeitas e esses arranjos podem ficar muito charmosos nas mesas. Ela entregou a Marina um arranjo em forma de bola em uma tonalidade verdeamarelada. — Bolas feitas de crisântemos. Muito elegantes. Estes arranjos podem ficar pendurados na parte posterior dos espaldares das cadeiras. — Ela entregou um punhado de sementes verdes a Todd. Sementes verdes de hipérico. Uma tonalidade perfeita. Beatrice mostrou mais e mais flores até que Marina não aguentasse mais. Todd também se sentia bombardeado de informações. E, então, a florista abriu um dos álbuns para mostrar as fotos dos casamentos que já fizera. — Tenho fotos de vários casamentos. Vamos vê-las agora. — Conforme folheava, a mulher ia explicando as diferentes possibilidades de arranjos. — Você disse que haveria um cômodo separado para a cerimônia de casamento? — perguntou Beatrice. Marina anuiu. — Há uma sala perfeita, contígua ao salão de festas. Vamos arrumá-la com fileiras de assentos, portanto lá também serão necessários arranjos de flores. Beatrice começou a falar sobre as diversas possibilidades, mas, de repente, Marina se viu incapaz de escutar. Sentia-se quente, afogueada e ao mesmo tempo com calafrios. O estômago parecia revirar. Com cuidado, pousou as flores sobre a mesa. Nunca tivera nenhum tipo de alergia, mas tanto pólen devia ter lhe feito mal. Todd fixou o olhar nela. — Você está bem? O estômago de Marina deu outra cambalhota e ela teve a sensação de que iria vomitar. — Não muito — respondeu ela, interrompendo Beatrice no meio de uma explicação. — Há um toalete próximo? 44

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— Claro. — Todd pousou a braçada de flores que segurava. — Voltarei em um instante — disse à florista, antes de guiá-la para fora da sala. No fim de um elegante corredor, que ela não estava em condições de apreciar, havia um espaçoso toalete social. — É o meu estômago — disse ela. — Não sei o que há de errado. — Não se preocupe com isso. Eu me incumbo de Beatrice. Apesar da sensação de enjoo, Marina conseguiu conjurar um sorriso. — Acho que ninguém consegue se incumbir de Beatrice, mas vá em frente e tente. — Venha se juntar a nós quando estiver se sentindo melhor. — Claro. Provavelmente só levará um minuto — respondeu ela, fechando a porta do toalete. Dois segundos depois, se debruçou sobre o vaso. Marina não tinha ideia de quanto tempo havia se passado. Devolvera todo o conteúdo do estômago por duas vezes e tinha a péssima sensação de que não ainda não terminara. Sentia-se trêmula e fraca, quente e fria, e rezava para nunca mais se sentir tão mal assim. Sentou-se no chão de mármore, fechou os olhos e imaginou se teria forças para voltar dirigindo para casa. Tal tarefa lhe parecia impossível por várias e diferentes razões. Primeiro, duvidava que pudesse fazer o trajeto sem vomitar outra vez. Segundo, parecia não conseguir se concentrar em nada, além daquele maldito mal-estar. Ouviu uma batida à porta. — Marina? No mesmo instante ela reconheceu a voz de Todd. Por que aquilo tinha de acontecer justo ali, dentre todos os lugares? Com ele por perto? — Sim? — Como está o seu estômago? — Péssimo. Não consigo entender o que há de errado. — Eu posso. Intoxicação alimentar com todos aqueles molhos cremosos. Marina se lembrou do que haviam comido e soltou um gemido. — Você também? — Pode apostar. Já me livrei de Beatrice. Venha. Vou levá-la lá para cima, para um dos quartos de hóspedes. Os toaletes são mais confortáveis e você pode ficar deitada entre uma crise e outra. Marina hesitou por um instante e, em seguida, se ergueu, oscilante. Esticar-se em uma cama lhe parecia uma excelente ideia no momento. Abriu a porta do toalete e percebeu que Todd parecia tão abatido quanto ela. Estava pálido, levemente esverdeado e com olheiras acentuadas. — Não formamos um casal atraente? — murmurou ela, quando Todd lhe segurou a mão e a guiou pelo corredor. — Tiraremos uma foto. Temos de nos apressar. Não sei quanto tempo poderei aguentar. Apesar do mal-estar, Marina não conteve uma risada. — Sabe como fazer uma mulher se divertir.

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— Nem me diga. Ao menos é sexta-feira. Não tem aulas nos fins de semana, certo? — Não. — Ótimo. Pode ficar internada aqui por quanto tempo quiser. Há um telefone em seu quarto se precisar contatar alguém. Há robes no closet. Coloquei algumas camisetas minhas sobre a cama, para que possa dormir com algo mais confortável. Os dois alcançaram o segundo andar e ela relanceou o olhar a Todd. Ele havia pensado em tudo aquilo, mesmo passando tão mal quanto ela? Que homem maravilhoso! — Obrigada. Você vai muito além do que eu esperava. Todd levou a mão ao estômago. — Vamos passar algumas horas desagradáveis. Teremos de expurgar toda a comida ruim de nosso organismo. Marina não queria pensar sobre isso. — Deveríamos. Todd a interrompeu com um gesto negativo de cabeça. — Terceira porta à sua esquerda. As camisetas estão na cama. Tem água no criado-mudo — dizendo isso, ele girou na direção oposta, desaparecendo por uma porta ao fim do corredor. Marina o observou partir e, em seguida, sentiu outra onda de náusea. Também não tinha muito tempo. Correu para dentro do quarto de hóspedes e encontrou tudo que Todd descrevera. Havia duas camisetas limpas sobre a cama, três garrafas de água no criadomudo e um robe no closet. Porém, antes que ela pudesse se servir de qualquer um daqueles itens, correu na direção do toalete, imaginando se seria capaz de sobreviver àquele dia.

CAPÍTULO 6

Marina despertou por volta das 6h de sábado. Passara uma boa parte do tempo no toalete até a meia-noite. Depois disso, se enroscara na cama e caíra em um sono profundo. Após escovar os dentes com uma escova nova designada ao hóspede, no toalete, vestiu o robe atoalhado e se aventurou pela imensidão da casa à procura da cozinha. Passou pela sala de jantar, onde a mesa ainda estava lotada de flores, e entrou em uma cozinha que satisfaria o mais exigente dos chefs. E encontrou Todd lá. Ele estava trajado com uma calça de moletom, uma camiseta e não havia feito a barba. Marina sentiu um leve agitar no abdome, mas aquela sensação nada tinha a ver com a comida que ingerira no dia anterior e tudo a ver com o delicioso homem que se encontrava à sua frente. — Bom dia — disse ela, esforçando-se para agir com naturalidade, apesar do repentino revoar de borboletas em seu estômago. O que havia de errado com ela? Aquele 46

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era Todd. Um homem que ela quase desprezava. Exceto pelo fato de que não conseguia. De jeito algum. Ele estava passando tão mal quanto ela no dia anterior, mas, ainda assim, se preocupara em acomodá-la da melhor forma possível, antes de passar a noite visitando o próprio toalete. Todd ergueu o olhar e sorriu. — Olá. Como está se sentindo? — Melhor. Meu estômago está tão vazio que sou capaz de ouvir eco em suas paredes. E você? — Passei mal até 1h, depois apaguei. Tomarei uma decisão arbitrária e direi que o bufê dos cremes está fora de questão. Marina soltou uma risada. — Não me oporei a isso. Acho que nunca passei tão mal. Todd gesticulou com a cabeça na direção da chaleira sobre o fogão. — Mesmo correndo o risco de soar como um maricas, que tal chá com torradas? Acho que é só o que aguento comer esta manhã. — Parece uma ótima ideia. É melhor procurarmos nos hidratar. Todd sorriu. — Perdemos muito líquido. — Nem me diga. — Marina beliscou o tecido atoalhado. — Este robe é uma delícia. Sou a primeira mulher que fala inglês a vesti-lo? Todd se recostou à bancada e cruzou os braços sobre o peito. — Você prometeu esquecer o assunto das modelos. — Não me lembro de ter dito isso. — Deveria. — Os olhos escuros percorreram o corpo de Marina de cima a baixo. — São apenas companhia, e não namoradas. Não costumo trazer mulheres para cá, lembrase? — Mas o seu carro me parece um pouco pequeno para acrobacias sexuais. Todd ergueu uma das sobrancelhas. — É muito curiosa a respeito de minha vida pessoal. — Os homens adoram falar de si mesmos. — Geralmente vou para a casa da mulher com quem estou saindo. — Entendo. Isso lhe facilita escapar quando quiser e não ter de esfregar sua riqueza na cara de suas parceiras. — Exatamente. A chaleira começou a apitar. Ao mesmo tempo, o pão pulou para fora da torradeira. — E os pratos? Todd apontou para uma fileira de armários. Bastou dois passos para ela encontrar os pratos de sobremesa. Marina colocou a torrada em um deles e outras duas fatias na torradeira, enquanto ele entornava a água quente dentro do bule de chá. Olhando por sobre o ombro, ela avistou folhas de chá em uma pequena cesta. — Muito interessante — disse ela. — É seu? 47

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— Parece que sim. Enviei um e-mail à minha governanta ontem à noite perguntando se havia chá nesta casa. Ela respondeu que sim e me informou onde encontrar tudo que eu precisasse. Marina imaginou como seria ter tanta coisa a ponto de não saber o que e onde encontrar. Mundos diferentes, pensou ela. Completamente diferentes. Os dois se sentaram à mesa redonda próxima a uma ampla janela. Ela mordeu um pedaço da torrada e aceitou a xícara que Todd lhe ofereceu. — Esta casa é interessante — comentou Marina, após tomar um gole do líquido fumegante. — Um tanto intimidadora. — De fato, esta residência causa uma certa impressão. Marina fixou o olhar no rosto másculo, com a insinuação da barba cobrindo a mandíbula. — Como pode saber quando uma mulher está interessada em você? — perguntou ela. — Nada na sua vida é comum. Como pode ter certeza? — Não tenho. Até mesmo você concordou em sair comigo, depois que sua avó lhe ofereceu 1 milhão de dólares. Marina revirou os olhos. — Ah, por favor. Sabe que foi apenas uma brincadeira. Embora seja fascinante o fato de ela pensar que tinha de pagar para alguém se casar com você. O que ela sabe que eu desconheço? — Vou ignorar a pergunta — disse ele. Marina mordeu outro pedaço da torrada e mastigou devagar. Até o momento, seu estômago estava tranquilo, mas não queria abusar pelas próximas horas. — Deve ter tido certeza em algum momento — começou ela. — Deve haver mulheres nas quais confia. — Você não quer falar sobre isto. — Está perguntando ou afirmando? Todd a encarou. — Frequentei um internato de meninos durante o ensino médio. Ryan e eu. Meu primeiro namoro sério foi com uma menina que frequentava o internato de meninas vizinho ao nosso. Nós nos conhecemos em um baile e eu me apaixonei em questão de segundos. Ela era inteligente, engraçada e muito interessada em mim. Marina não duvidava disso nem por um minuto. Tinha a impressão de que ele fora o tipo de garoto pelo qual as meninas se derretiam. — A mãe dessa menina mal conseguia sustentá-las, trabalhando em um escritório em algum lugar. Jenny contou a ela sobre mim. Fomos o primeiro amante um do outro. — O rosto de Todd se contraiu. — A mãe dela procurou meus pais e disse que, se eles não lhe pagassem 150 mil dólares iria me processar por estupro. Jenny tinha apenas 16 anos, portanto havia chance de eu ser condenado. Marina sentiu uma nova onda de náusea, embora, dessa vez, nada tivesse a ver com a comida contaminada. — Não posso acreditar nisso. Que coisa horrível! Que idade tinha na época?

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— Dezesseis anos. Mas isso não importava. Meus pais pagaram e eu aprendi uma grande lição. Marina teve vontade de lhe dizer que aprendera a lição errada, que nem todas as pessoas eram assim, porém, para Todd, deveriam ser. — E o que Jenny disse? — perguntou ela. — Ficou aborrecida. Ou ao menos foi isso que disse. Uma semana depois, terminamos o namoro e a mãe dela lhe comprou um carro. Isso pareceu ajudar. — Todd soava enfadado e cínico, mas falar sobre o passado devia feri-lo. Aquele era o tipo de experiência que deixava cicatrizes. — Outra mulher que namorei me disse que estava grávida. Sempre fui cuidadoso, mas não tinha razão para pensar que ela estava mentindo. Fiz a coisa certa e a pedi em casamento. Ela sempre falava que queria um casamento grandioso, portanto sugeri que esperássemos até a criança nascer, para que não tivéssemos de fazer tudo às pressas. Ela ficou apavorada diante de tal proposta. Marina fechou os olhos e se recostou para trás na cadeira. — Deixe-me adivinhar. Ela não estava de fato grávida? — Não. Essa mulher tinha uma amiga grávida que fez o teste de gravidez de farmácia e foi esse que ela me mostrou. Ao que parece o plano era tentar engravidar de imediato e, se não conseguisse, fingir perder o bebê às portas do casamento. Ficaríamos tão devastados com a tragédia que acabaríamos nos casando assim mesmo. — Detesto o fato de haver pessoas assim no mundo — disse ela. — Sei que a riqueza atrapalha, mas deve ter tido boas experiências com mulheres. — Algumas. Poucas. Mas nunca tive certeza de fato. De uma forma ou de outra, estou sempre esperando que elas acabem confessando que estão comigo só pelo dinheiro. Marina se inclinou na direção dele. — Você é um homem extraordinário. É inteligente, engraçado e sua aparência não é nada má. Todd sorriu. — Espere um minuto. Preciso de um instante para digerir o elogio “a sua aparência não é nada má”. Marina soltou uma risada. — Sabe o que eu quis dizer. Nem sempre é por causa do dinheiro. Não é possível. Não há tantas pessoas ruins assim no mundo. — Antes de Ryan se apaixonar por sua irmã, estava namorando a mãe solteira de uma adorável garotinha. Ryan estava convencido de que havia encontrado a mulher perfeita. Ele adorava a menina, queria as duas em sua vida e propôs casamento a essa mulher. Um dia, Ryan ouviu uma conversa dela com uma amiga, na qual ela confessava o quanto detestara ter tido uma filha até descobrir que a maioria dos homens ricos e jovens se encantava com lindas menininhas. Disse também que planejava permanecer casada com Ryan por alguns anos, depois se divorciaria e viveria da pensão que ele daria à menina. Marina sentiu o coração se contrair de tristeza por Todd. — Então o que vai fazer? Nunca confiar? Nunca se envolver? Nunca se entregar? — Está dando certo até agora. 49

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— Mas isso é muito solitário. Não tem vontade de se apaixonar? — Não o suficiente para ser dominado. Posso ter mulheres quando as desejo. Se necessitar de outro ser vivo nesta casa, comprarei um cachorro. A tristeza quase a sufocou. Aparentemente, Todd tinha tudo, mas, na verdade, havia grandes vácuos em sua vida. Era o tipo de homem poderoso e dominador que vicejava nos negócios. Era também surpreendentemente terno e carinhoso. E jamais confiaria em uma mulher o suficiente para lhe entregar seu coração. — Em que está pensando? — Que estamos em sérios apuros. Você não pode confiar em ninguém e eu não posso confiar em mim mesma. — Não acredito — disse ele. — Você tem tudo sob controle. Não costuma namorar nerds que mudarão o mundo? — Na maioria das vezes. Eles são brilhantes, interessantes e... — Marina mordeu o lábio inferior. Deveriam estar falando dele, e não de si mesma. — E seguros? — perguntou ele, em um tom de voz mais baixo. — Talvez. Às vezes, sim. Eu apenas... — Marina tomou um gole do chá. — Minha mãe se apaixonou por meu pai no instante em que o viu. Tinha 17 anos e ainda hoje o adora. Meu pai não é uma má pessoa, mas não é o melhor dos maridos e pais. Ele costuma desaparecer. Simplesmente some durante meses. Nunca sabemos para onde vai ou quanto tempo ficará fora. Todas as vezes que ele parte, destrói um pedaço do coração da minha mãe. Mas ela é incapaz de lhe dizer para não voltar. Não se permite amar ninguém mais. Minha mãe vive uma vida pela metade, sendo verdadeiramente feliz apenas quando meu pai está com ela. — Você não é assim — afirmou Todd. — É uma mulher forte. — Não tem como saber isso e nem eu. Fico aterrorizada só de pensar que posso ser como ela. Que me apaixonarei por um homem, permitirei que ele me parta o coração e direi que está tudo bem. Apaixonar-me de verdade parece o mesmo que entregar o controle da minha vida ao homem amado. Isso não constará da minha lista de afazeres por um bom tempo. — Então, em vez de se arriscar, namora rapazes que não oferecem o risco de você se apaixonar. Marina ergueu o olhar para encará-lo. — Tem certeza de que quer continuar apontando meus defeitos? Porque acho que você se encontra em uma espécie de território perigoso. — Estou disposto a arriscar. E então, acertei? — Talvez. — Você é sempre o objeto de afeição, jamais correndo nenhum risco de se envolver emocionalmente. — Está me fazendo parecer fria, e não sou. Apenas não quero me apaixonar por ninguém até ter certeza de que não serei destruída. — Nunca poderá ter certeza. — Recuso-me a acreditar nisso — retrucou ela. — Um dia, eu me arriscarei. — Tem certeza?

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Marina queria acreditar que sim. Que algum homem mereceria seu voto de confiança. — É óbvio que nós dois precisamos de terapia — disse ela. — Talvez possamos conseguir um abatimento no preço se fizermos um pacote para dois. Todd soltou uma risada. O som provocou uma sensação agradável em seu íntimo. Em seguida, ela bocejou. — Desculpe — disse, cobrindo a boca com uma das mãos. — Não dormi muito bem a noite passada. — Eu também não. — Todd se ergueu. — Venha. Vamos para a cama. Marina o encarou. Milhares de pensamentos lhe cruzaram a mente. Cama? Com ele? Para fazer sexo? Queria se sentir chocada e insultada. Queria se levantar e esbofeteá-lo. Mas, à medida que as imagens dos dois juntos, nus, se tocando, lhe encheram a mente, Marina se descobriu tentada a dizer “sim”. Todd ergueu as duas mãos. — Desculpe. Foi uma escolha infeliz de palavras. Deixe-me refazer a frase. Vamos subir para que cada um possa dormir em sua cama. Assim está melhor. Marina anuiu, porque aquilo era o que ele esperava. Porém, por dentro, sentiu uma pontada aguda de desapontamento. O que havia de errado com ela? Todd esperou até que ela se levantasse. Em seguida, envolvendo-lhe a cintura com um braço, guiou-a para fora da cozinha. — Nós nos veremos mais tarde — disse ele em tom animado. — E descobriremos se voltaremos a comer alguma coisa em nossa vida. — Parece um bom plano. Quando chegaram ao topo da escada, cada um seguiu seu caminho. Mas enquanto fechava a porta do quarto de hóspedes, Marina não conseguiu evitar pensar no quanto desejava que ele estivesse se referindo a fazer sexo quando sugeriu que os dois fossem para a cama. Horas depois naquela mesma tarde, Marina saiu do boxe e esticou a mão para pegar uma toalha. Todd podia não convidar as mulheres com quem saía a frequentarem aquela casa, mas mantinha o quarto de hóspedes muito bem provisionado. Além da pasta e a escova de dentes que descobrira mais cedo, havia também xampu, condicionador, sabonete líquido e um sortimento de cremes. Após se besuntar com um hidratante de fragrância cítrica, Marina se vestiu, secou parcialmente o cabelo e se dirigiu ao andar térreo. Estava faminta, e chá e torradas não a saciariam Mas, antes, tinha de encontrar seu anfitrião e lhe agradecer por tudo. A cozinha estava vazia, bem como a sala de estar. Marina ouviu um leve som, como o de alguém digitando em um teclado, e se encaminhou naquela direção. Encontrou Todd em um escritório forrado com painéis de madeira, que parecia saído de um cenário de alguma obra-prima do teatro. Ele estava com trajes informais e com a mesma aparência deliciosa daquela manhã. No mesmo instante, Marina experimentou leves formigamentos por todo o corpo, além de uma onda de calor e várias outras respostas físicas indesejáveis. — Como está se sentindo? — perguntou Todd quando ela entrou no escritório. 51

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— Ótima. Dormi mais um pouco e agora estou faminta. — Eu também. Então, nós dois sobrevivemos à comida contaminada. — Parece que sim. Todd se ergueu e contornou a mesa. — Está bem para voltar para casa? Marina anuiu, embora o que quisesse fazer era se atirar naqueles braços e suplicar para que Todd fizesse sexo com ela. Era óbvio que ainda estava sofrendo os efeitos da comida estragada. — Algum encontro especial para esta noite? — perguntou ele. — Na verdade, não. Todd ergueu um pedaço de papel dobrado que se encontrava sobre a mesa e entregou a Marina. — Porque me lembro de ouvir você dizer que ama comida mexicana, e tem um lugar ótimo aqui perto que entrega em casa. Quer comer alguma coisa antes de ir? — Marina hesitou. A cabeça lhe dizia para sair dali enquanto se encontrava emocionalmente inteira. O restante do corpo, principalmente as sensíveis partes femininas, sugeria que ficasse ali para ver no que aquilo ia dar. — Poderíamos assistir a um filme — sugeriu ele. — Eu a deixarei até mesmo escolher. Marina sorriu. — Como posso resistir a um convite como esse? Quais são as chances de concordarmos sobre qualquer filme? — Deve haver ao menos um. Alguma comédia. — Mas inteligente, não idiota. — Tenho esse tipo. — Nunca pensei que fosse capaz de comer outra vez — admitiu Marina três horas depois, enquanto se encontrava estirada sobre o sofá na sala de TV. — Mas ainda não estou totalmente satisfeita. Todd se encontrava sentado com os pés calçados com meias sobre o otomano de camurça em frente ao sofá. O tecido que forrava a mobília e o carpete eram as únicas coisas macias naquele espaço de alta tecnologia. Havia um telão digno de uma sala de cinema, caixas de som suficientes para fazer levitar uma casa, vídeo players, gravadores e uma coleção de filmes que deu água na boca de Marina. Aquele era o paraíso da diversão. — Um taco, duas enchiladas, tortilla chips, molho e salada não foram suficientes para você? — perguntou ele, relanceando-lhe o olhar. Marina sorriu. — Parece que não. Estou meio que desejando uma sobremesa. — Então vamos ver o que tem na cozinha. Todd se levantou e se espreguiçou.

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Os dois estavam vestidos com trajes informais. Ela, com a roupa do dia anterior. Ele, com uma calça jeans e uma camiseta. Quando Todd ergueu os braços acima da cabeça, a bainha da camiseta subiu acima do cós da calça, expondo a uma faixa de pele e o umbigo. Aquilo não deveria ser em nada erótico. Os dois passaram a noite anterior vomitando e fazendo outras coisas desagradáveis a apenas alguns metros de distância um do outro. Ainda assim, enquanto o observava, sentiu mais que uma pontada de desejo em seu íntimo. — Você também comeu muito — disse ela, enquanto Todd liderava o caminho da sala de TV na direção da escada. — Mais que eu. — Sentindo necessidade de se defender por causa de seu apetite nada refinado? — Talvez. Eu estava com fome. — Não contarei a ninguém. Marina lhe deu uma cotovelada na lateral do corpo. — Não como direto das mãos ou coisa parecida. Todd a encarou com as sobrancelhas erguidas. — Você comeu taco. Claro que come direto das mãos. — Sabe muito bem o que eu quis dizer. Quando alcançaram o sopé da escada, Marina se esqueceu da direção da cozinha e se encaminhou à direita. Todd seguiu para a esquerda e os dois colidiram um com o outro. — Desculpe — disse Marina, dando um passo atrás. Todd a segurou pelos antebraços para equilibrá-la. — Você está bem? — Sim. É este meu péssimo senso de direção. Todd a olhou nos olhos, fazendo-a de repente se sentir vulnerável e extremamente viva. Desejava que ele movesse aquelas mãos e a tocasse em todos os lugares. Mesmo enquanto o cérebro berrava que aquilo era potencialmente perigoso, Marina deu um passo involuntário à frente. E percebeu o exato instante em que ele sentiu a mesma coisa. As belas feições másculas pareceram se contrair com a tensão, o corpo exibiu uma sutil rigidez e o desejo lhe escureceu ainda mais as íris. Todd deixou pender as mãos e deu um passo atrás. — Sobremesa — disse ele. — Estávamos indo em busca de alguma sobremesa para você. — Certo. Qualquer coisa, menos sorvete. Todd gemeu. — Ficou traumatizada para o resto da vida. — Acho que não. Superarei corajosamente meu medo de creme em tudo para me chafurdar em gotas de chocolate outra vez. Esse é o tipo de pessoa que sou.

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Todd liderou o caminho até a cozinha. Então nenhum dos dois estava disposto a ceder àquela atração. Sábio, pensou ela, mesmo enquanto amargava o desapontamento. Aquilo, porém, era algo complicado. Os dois eram praticamente parentes, e Todd não iria desparecer de sua vida depois do casamento. Não desejaria passar os próximos 50 anos sentada à mesma mesa que ele com uma única noite de paixão entre os dois. Por falar em constrangimento... Marina ignorou a forma como aquele homem se movia, enquanto abria o freezer e de lá retirava um sortimento de guloseimas. Havia fatias de bolo individuais, uma torta que precisava apenas ser descongelada e aquecida, além de brownies. Na despensa encontraram caixas de biscoitos com gotas de chocolate que serviriam em uma emergência. — O que prefere? — perguntou ele. — Brownies. Colocarei cobertura no meu. Vi uma embalagem na despensa. — Porque não há açúcar suficiente em um brownie comum? — Exatamente. — Mulheres — resmungou ele, enquanto retirava uma bandeja de brownies do freezer. Teremos de colocá-los no microondas para descongelá-los. — Sou perita nesse tipo de coisa. Quando ela esticou a mão, Todd lhe entregou a bandeja. Mas a cronologia não foi exata e a embalagem embrulhada em plástico escorregou pelos dedos de Marina, se espatifando ao chão. Os dois se abaixaram para pegar ao mesmo tempo e bateram as cabeças. Marina escorregou e caiu sentada. — Somos um perigo juntos — disse ela, ao mesmo tempo em que começava a rir. — Um completo desastre. Pensei que nos intoxicar com a comida tinha sido o pior, mas, ao que parece, estava enganada. Todd soltou uma risada, sentando-se ao lado dela no chão. — Você não é como as outras mulheres. — Posso tentar um charmoso sotaque europeu se assim desejar. Os olhos escuros se estreitaram. — Esqueça isso. — Nunca. Todd esticou a mão e lhe afastou uma mecha de cabelo para trás da orelha. — Nunca pensei que passar mal daquele jeito pudesse ser divertido, mas foi. Não precisa sair correndo para sua casa esta noite. Poderia ficar aqui. Marina entendeu a intenção com que ele fizera o convite. Podia permanecer no quarto de hóspedes. Era uma sugestão educada e bem-intencionada. — Um pernoite — provocou ela. Marina o encarou, esperando um sorriso, mas em vez disso reconheceu um fogo e um desejo nos olhos escuros que a fizeram enfraquecer. E, então, Todd piscou e as labaredas desapareceram.

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Todo o corpo de Marina despertou para a vida, o coração começou a acelerar e a garganta ressecou. — Todd? — Estou tentando ser sensato. Posso imaginar uma centena de razões para pensar que essa não é uma boa ideia. Marina comprimiu os lábios. — Uma centena. Uau! Posso pensar apenas em umas oito. — Posso estar exagerando. — Todd se ergueu e lhe estendeu a mão. — Venha. Vamos descongelar os brownies e nos perder em um mar de açúcar. — Parece um ótimo plano. Marina pousou a mão na dele e permitiu que Todd a erguesse. Quando estava de pé, descobriu que se encontravam muito próximos um do outro. Teria dado um passo atrás, mas ele não a soltou. Portanto, ela se deixou mergulhar nas chamas refletidas naqueles olhos escuros. O fogo a aquecia e excitava, fazendo-a oscilar na direção dele. — Droga! — resmungou Todd, antes de puxá-la ainda mais para perto.

CAPÍTULO 7

A boca de Todd era quente e macia, quando ele a beijou, Marina sentiu como se todo o seu corpo estivesse envolto em chamas. Os dedos dos pés se enroscaram, as coxas tremeram, o abdome enrijeceu e os seios intumesceram, ansiando por alguma atenção. Todd a puxou contra o corpo e ela permitiu porque ansiava por se moldar àqueles contornos rígidos. Marina lhe envolveu o pescoço com os braços pressionando-se ainda mais a ele, para garantir que se tocassem por inteiro. A boca era explorada com maestria por aquele homem, com beijos suaves, gentis, mas com paixão suficiente para deixá-la sem fôlego. Havia uma promessa naqueles beijos, a insinuação de que haveria muito mais em um futuro próximo. Como a expectativa era tão prazerosa quanto o momento presente, Marina se viu disposta a esperar. Enquanto Todd continuava a provocá-la, roçando os lábios aos dela, pressionandoos e recuando, sem aprofundar o beijo, ela deixava as mãos vagarem por músculos rígidos das costas e dos ombros largos. Em seguida, escorregou os dedos pelo cabelo espesso e cravou as unhas de leve na nuca de Todd. Um desejo imenso a varou, se acumulando em seu baixo-ventre e no centro de sua feminilidade, fazendo-a ansiar por ser possuída. 55

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Por fim, Todd inclinou a cabeça e lhe tocou os lábios com a ponta da língua. No mesmo instante, Marina os entreabriu para recebê-lo. Ao primeiro contato mais íntimo, um tremor lhe invadiu o corpo. A paixão cresceu até que ela sentisse a pele excessivamente sensível ao toque daquele homem. Marina se colou ao corpo forte, enquanto o beijo, agora profundo, lhe tocava a alma, e as mãos longas se moviam por suas costas. Quando Todd lhe apertou as nádegas, em um movimento instintivo ela arqueou os quadris contra a rigidez do desejo que também o dominava. Ofegando, Marina se imaginou sendo preenchida por aquela ereção por vezes infindáveis. Desejava aquilo com um desespero que a fez roçar os quadris contra os dele, como uma gata no cio. A sensação arrebatadora a tornava frenética. Estivera muito tranquila, sem namorar, sem se envolver, sem ter um homem em sua vida. Mas, de repente, se via faminta por contato, pela sensação de pele contra pele que a nudez proporcionaria. Porém, não com qualquer um, apenas Todd era capaz de lhe despertar tal desespero. Uma parte daquela ansiedade devia ter passado para ele. Ou talvez fosse o ritmo acelerado de sua respiração e a forma como fechou os lábios em torno da língua de Todd e a sugou. Qualquer que fosse o método de comunicação, ele pareceu entender a mensagem As mãos longas se moveram por seus quadris, escorregando por baixo da camiseta de manga comprida e viajando por seus contornos até alcançarem os seios firmes. Todd a acariciou com a maestria de um homem que amava as mulheres. Mesmo através do tecido do sutiã, ela sentiu o toque gentil, mas determinado dos dedos hábeis. Em seguida, ele espalmou as mãos nos dois montes macios, utilizando os polegares e os dedos indicadores para lhe estimular os mamilos. Labaredas envolveram o corpo de Marina, se concentrando entre as coxas e revolvendo tudo em seu íntimo. Ela se viu incapaz de pensar ou mesmo respirar. Tudo que conseguia fazer era permanecer parada onde estava, perdida no prazer que aquele toque suscitava. Seu único pensamento coerente era imaginar o quanto aquilo poderia ficar melhor e como seria se não estivesse usando sutiã. Todd se aproveitou de sua desatenção para trilhar um caminho de beijos molhados e quentes ao longo do pescoço delicado. Em seguida, mordeu-lhe de leve o lóbulo da orelha, beijou a área sensível logo abaixo e explorou toda aquela região com movimentos provocantes da língua. A combinação de sensações surtiu um efeito incrível. Marina sentiu a tensão que tomou conta de seu corpo em antecipação de um orgasmo que não tinha a menor possibilidade de acontecer. Não daquela forma. Sabia que fazia muito tempo, mas tinha orgulho próprio, certo? Não deveria ao menos deixar que Todd lhe retirasse a calça jeans, antes de se entregar ao êxtase? Porém, à medida que ele continuou a provocá-la e lhe estimular os mamilos, Marina se descobriu cada vez mais próxima do precipício de prazer que se agigantava no horizonte. Ao que parecia, Todd percebeu, porque se inclinou na direção de seu ouvido e murmurou: — Precisamos ir para a cama. Antes que Marina pudesse dizer qualquer coisa, ele lhe segurou a mão e a puxou para fora da cozinha e através de um corredor. Ela se apressava para acompanhá-lo, ansiosa por chegar ao andar superior, se despir e se perder no paraíso. 56

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Os dois alcançaram o topo da escada. — O sexo é melhor em lençóis de 500 fios? — perguntou ela. Todd estacou, soltou uma risada e a puxou para perto. — Claro — disse ele, antes de lhe retirar a camiseta pela cabeça e beijá-la. Marina se atirou de bom grado naqueles braços, correspondendo-lhe o beijo, desejando Todd como nunca desejara nenhum outro. Enquanto a língua experiente fazia maravilhas com a dela, Marina sentiu as mãos fortes rumarem para o fecho do sutiã. Segundos depois, a diminuta peça íntima escorregava por seus braços e caía sobre os degraus da escada. Todd interrompeu o beijo e inclinou a cabeça para fechar os lábios em torno de um dos mamilos rígidos. Uma corrente elétrica de alta voltagem disparou do ponto onde ele sugava para todas as terminações nervosas de Marina. A língua ousada lhe circundava os mamilos, fazendo-a oscilar de leve e pousar as mãos nos ombros largos para se equilibrar. Entre as coxas, ela sentia a umidade, o calor e a expectativa. Mais que isso, pensou Marina com a mente enevoada. Precisava de mais que isso. No entanto, por ora, seria o suficiente. Todd utilizou os dedos para imitar os movimentos da língua no outro mamilo e erguê-la a alturas cada vez maiores até fazê-la ter certeza de que não precisaria de quase nada para transpor a fronteira do êxtase. — Todd — sussurrou ela, ofegante, desejando experimentar aquele clímax ao mesmo tempo que queria se deter mais um pouco naquela sensação de iminência. — Não precisa dizer nada — sussurrou ele de volta, segurando-lhe a mão e a puxando pelo corredor até irromperem em um quarto do tamanho de um salão de conferências. Marina teve apenas uma leve impressão das cores quentes, da mobília escura e da cama enorme, confortável e convidativa. Ambos estavam descalços, portanto Todd não teve muito trabalho em despir os dois. Em um segundo Marina se encontrava nua da cintura para cima, no outro, a calça jeans e a calcinha formavam uma poça no chão. O jeans e a cueca de Todd tiveram o mesmo destino. E, então, ele a estava deitando de costas sobre o colchão e Marina se encontrava no círculo daqueles braços fortes. O contato da pele contra pele era delicioso. Quando ele a encarou, os olhos escuros faiscavam com a paixão. Marina lhe traçou o contorno dos lábios com os dedos e sorriu quando recebeu uma mordida de leve na ponta de um deles. — Eu a desejo — disse ele. — Você é extremamente sensual. — Também o acho um pouco interessante — retrucou ela. Os lábios de Todd se curvaram em um sorriso sexy. — Um pouco? Então tenho de me esforçar mais. — Sem dúvida. — Palavras corajosas para uma mulher à beira do clímax, pensou Marina, extasiada. — Não me importo de colocar a mão na massa de vez em quando. — Todd mudou de posição na cama, deitando-se ao lado dela, com a cabeça apoiada em uma das mãos. — Por onde devo começar? Por aqui? — A mão longa descansou sobre o abdome de Marina. Embora a sensação fosse agradável, não era exatamente aquilo que ela queria.

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— Hummm, não. — Aqui? — Ele escorregou os dedos do pulso ao cotovelo de Marina. Marina se remexeu na cama. — Não era o que tinha em mente. Todd abriu caminho entre as coxas macias com uma das mãos e lhe acariciou a região intumescida. — Que tal isto? — perguntou em um tom de voz baixo e rouco. Marina precisou lançar mão de todo seu autocontrole para manter os olhos abertos. Desejava desesperadamente mergulhar em um transe de prazer, se perder no próprio orgasmo, mas ainda não estava na hora. — Isso serve — ofegou enquanto ele a explorava em toda a extensão, descobrindo o centro de sua feminilidade e a estimulando com toques precisos e eróticos. A tensão que a dominava cresceu ainda mais. Os músculos enrijeceram. Marina apartou as pernas em um convite ostensivo e tão antigo quanto o tempo. — Ótimo. Que tal isto? Todd inclinou a cabeça para baixo e roçou a ponta da língua em um dos mamilos já intumescidos. Aquela era uma combinação perfeita. Excitante, mágica e mais que suficiente para fazê-la perder o controle. Marina se esforçou ao máximo para esperar ao menos mais três minutos antes de se entregar ao orgasmo, contudo, ele acelerou o ritmo com que lhe acariciava o ponto mais sensível da feminilidade, empregando a quantidade exata de pressão. Em seguida, fechou os lábios em torno do mamilo rígido e o sugou. A sensação foi inacreditável. Marina ergueu os joelhos e fincou os calcanhares na cama. Ainda não, disse a si mesma. Ainda não. Não. No entanto era tarde demais. Involuntariamente, mergulhou fundo no êxtase, submersa pelas ondas de prazer que a cobriam. Cada poro suspirava de alívio, enquanto ele continuava a tocá-la, intensificando-lhe cada vez mais o prazer até que os músculos de Marina cedessem à exaustão. Uma letargia prazerosa a envolveu. Tinha de se forçar a abrir os olhos e, quando o fez, encontrou Todd a observando. Ela esperava se deparar com o sorriso masculino de satisfação. Um mais que merecido, pela perícia que ele possuía e por tudo ter sido tão maravilhoso graças ao talento enervante daquele homem na cama. Mas, em vez disso, o olhar de Todd era sério, intenso e, além de não sorrir, ele se inclinou para beijá-la. Marina entreabriu os lábios para recebê-lo e sentiu a letargia se dissipar. À medida que a língua experiente provocava a dela, o desejo ressuscitou, deixando-a ávida por senti-lo a preenchendo. Todd estava excitado. Podia sentir a ereção pressionada contra a coxa. Escorregando a mão entre os corpos colados, ela o acariciou de leve. Mas, em vez de pegar um preservativo e penetrá-la, ele escorregou por seu corpo, beijando primeiro o pescoço delicado, o vão entre os seios e mais abaixo, no abdome, até se deter no topo da coxa direita. Em seguida, abriu caminho com os dedos pela feminilidade pulsante. Embora Marina apreciasse, o gesto não era necessário. 58

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— Eu já. — Eu sei. Eu estava envolvido no processo. Os lábios de Marina se curvaram em um sorriso como resposta. — Foi maravilhoso. — Fico feliz. Agora, vamos fazer à minha maneira. Um homem em uma missão, pensou ela, enquanto fechava as pálpebras lentamente. Longe dela dizer que aquelas carícias não eram bem-vindas. Sentia todo o corpo pulsar em antecipação àquele toque. A princípio, ela percebeu apenas uma lufada de ar. Em seguida, o toque quente da língua que começou a explorá-la com maestria. Marina gemeu quando ele lhe estimulou o ponto sensível. Um leve roçar e, em seguida, Todd se desviou, explorando-lhe toda extensão, se aproximando daquele ponto, sem tocá-lo. Era uma doce tortura. Algo inacreditável. Marina afastou as pernas ainda mais e encolheu os joelhos. Um calor abrasador a dominava à medida que ele a beijava, sugava e escorregava a língua sobre a pele em chamas sem incluir o ponto que mais clamava por toda aquela atenção. E, então, Todd repetiu o feito. Um breve contato e nada mais. Uma insinuação do que ela poderia estar sentindo para deixá-la em expectativa logo em seguida. Marina começou a se contorcer, cada vez mais próxima, embora soubesse que não conseguiria atingir o clímax se ele não se concentrasse naquele ponto. Até que finalmente. A língua quente atritou contra o coração de sua feminilidade, fazendo-a quase gritar de prazer e, em seguida, se preparar para senti-lo se afastar. Era uma mulher adulta e não iria choramingar. Porém, Todd não parou. Deteve-se naquele ponto, executando movimentos circulares com a língua, provocando, excitando e a arrastando cada vez mais de encontro ao vórtice de prazer que a aguardava a cada estímulo. E, então, o clímax aconteceu tão inevitável quanto o nascer do sol. Todd intensificou as carícias e ela estava perdida. Os espasmos começaram em seu ventre e se espalharam por todo o corpo. As coxas tremiam, as mãos não conseguiam se firmar em nada. Em seguida, Marina foi atirada em um orgasmo tão intenso que a fez pensar que nunca mais seria capaz de sentir algo parecido. Todd continuou a beijá-la, fazendo-a experimentar um clímax após o outro. Ela se entregou àquele homem, permitindo que ele a explorasse por inteiro, até que a tensão finalmente suavizou e a deixou imóvel. Sentando, ele a observou. Um rubor se espalhava por todo o peito de Marina, subindo em direção às bochechas do rosto. Ela se encontrava flácida, mas, a julgar pelo sorriso no rosto, extremamente satisfeita. O cabelo loiro dourado estava espalhado pelo travesseiro em uma desordem sexy. Quando Marina abriu os olhos, as pupilas se encontravam muito dilatadas, mal deixando espaço para o azul. — Uau! — disse ela, com a voz pastosa e rouca. — Não sei nem o que dizer. Todd fora elogiado antes. A maioria das mulheres fazia questão de se desmanchar em elogios, os quais às vezes ele imaginava se merecia receber ou se o que as estimulava era sua conta bancária. Mas Marina não era assim. Em algum momento durante o processo de planejar o casamento, os dois haviam se tornado amigos. Gostava dela. Achava-a engraçada, 59

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inteligente e sincera. Com que frequência poderia dizer o mesmo das mulheres que levava para a cama? E isso tornava aquela experiência diferente. Não conseguia se lembrar da última vez que fizera amor com uma amiga. A mão delicada lhe tocou o braço, puxando-o para perto. — Até agora isto foi um show unilateral. Diante daquelas palavras, Todd voltou a sentir a pressão da própria ereção. Abriu a gaveta do criado-mudo e retirou de lá um preservativo. Após colocá-lo, ajoelhou-se entre as coxas de Marina. Os dedos pequenos se fecharam em torno da potente ereção, guiando-o para dentro dela. Imediatamente Todd se perdeu na sensação apertada e quente que o envolvia, o sugava e permitia que ele a preenchesse. A fragrância de Marina o excitava. Podia ouvir a respiração acelerada contra seu peito e sentir as mãos macias lhe explorando as costas e as laterais do corpo. Pela primeira vez, não estava pensando em uma forma de escapar rapidamente quando aquilo acabasse. Podia apenas se entregar ao prazer da experiência e esquecer tudo mais. Dominado por um desejo quase sufocante, aumentou o ritmo das investidas, entregando-se à tensão crescente. Marina enroscou as pernas em torno da cintura reta, aumentando a pressão em torno de sua ereção, e ele se viu perdido. — Essa não é uma boa ideia — murmurou Marina, enquanto erguia a taça de vinho. — Vinte e quatro horas atrás, eu me encontrava enroscada no chão do banheiro, como um cachorro. Deveria dar um tempo para meu estômago se recuperar. — Já se recuperou — afirmou Todd confiante. — Além disso, foi você que cogitou colocar cobertura em seus brownies. Isto não é melhor? O “isto” em questão era uma garrafa de vinho. Passava da meia-noite. Ela e Todd haviam feito amor pela segunda vez e, em seguida, cochilaram, apenas para acordarem famintos. Ele colocara a calça jeans e lhe entregara uma camiseta para vestir. Em seguida, se encaminharam à cozinha, onde encontraram os brownies quase descongelados sobre a bancada. Marina inspirou o buquê do vinho e tomou um gole. Era suave e tinto, sem nenhuma acidez. — Nada mal. Deixe-me adivinhar. Você tem uma adega no porão. — Esta casa não tem porão, mas há uma adega climatizada sim. — Claro. — Marina pensou na única garrafa de chardonnay em seu refrigerador, para ocasiões especiais, claro. — E se eu quisesse uma garrafa de Dom Pérignon? Todd deu de ombros. — O que você acha? Que Todd não era o que ela esperava. Que era milhões de vezes melhor e que aquilo o tornava perigoso.

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Marina aceitou o brownie que ele lhe ofereceu e o seguiu até o sofá da sala de estar. Em algum momento, Todd devia ter ligado o aparelho de som, porque ela podia ouvir a música suave ao fundo. Os dois se sentaram de frente um para o outro, com a noite os envolvendo. Marina experimentou uma sensação de intimidade e conexão, o que não era nada inteligente. — Todd — começou ela, sem ter muita certeza do que iria dizer. — Eu sei. — Como é possível, se nem mesmo eu sei o que iria dizer? Todd pousou a taça de vinho e o brownie na mesa de centro e se inclinou para beijá-la. — Você ia dizer que esta é uma complicação que nenhum de nós necessita. Que temos um casamento a planejar e que estamos prestes a nos tornar parentes por afinidade. Que permanecermos amigos em vez de amantes é o mais sensato. — Está bem, provavelmente era isto que eu iria dizer — admitiu ela, se deixando perder na profundidade escura daqueles olhos. — Não que a noite de hoje não tenha sido maravilhosa. — Concordo. — E você não é nem um pouco adulador como pensei que fosse. As sobrancelhas de Todd se ergueram — Adulador? Marina sorriu. — Sabe o que eu quis dizer. — Você quis dizer que sou um homem experiente e charmoso. Um homem do mundo, não um desses rapazes nerds com quem costuma namorar. — Mais ou menos isso. E eu sou adoravelmente inteligente e sensata, com apenas uma pitada de insolência e um domínio fabuloso da língua inglesa, ao contrário daqueles varapaus que você costuma namorar. — Você é todas essas coisas — disse ele, beijando-a mais uma vez. Em seguida, envolveu-a nos braços e a deitou de costas sobre o sofá. Marina ergueu o olhar para encará-lo. — Havíamos concordado que não era uma boa ideia continuar com isto. — Colocaremos um ponto final nisto amanhã — retrucou Todd, enquanto lhe beijava toda a extensão da mandíbula. — Já é amanhã. — Não enquanto o sol não nascer. Isto significa que temos a noite toda. Marina lhe envolveu o pescoço com os braços e se entregou à sedução irresistível daquele homem. A noite toda lhe soava perfeita. — Eles estão discutindo sobre a cor das venezianas — disse Willow, enquanto arrancava uma pequena planta do solo e a colocava com todo o cuidado em um vaso de plástico. — Desculpe por não ter tocado no assunto das venezianas, mas detesto quando os dois começam a me mandar e-mails separadamente. — Marina se descobriu 61

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mesmerizada com os movimentos rápidos e hábeis dos dedos da irmã. Willow derramou o substrato, calcou-o, fez um buraco no meio, retirou uma planta esguia de uma bandeja e a acomodou em sua nova casa. — Estou pensando em púrpura — prosseguiu ela. — Para combinar com os elefantes. Marina piscou várias vezes. — Que elefantes? A irmã suspirou. — Sabia que não estava prestando atenção ao que eu dizia. O que está acontecendo? — Haverá elefantes? — Não. — Willow suspirou. — O que está acontecendo? Você não parece a mesma. Está se sentindo bem? Se ignorasse o leve dolorido e a musculatura tensa, estava se sentindo ótima. Ela e Todd haviam feito amor até de madrugada. Embora estivesse impressionada com a potência daquele homem em fazer sexo repetidas vezes na mesma noite, também estava satisfeita com o próprio desempenho. Poderia dizer que tivera mais orgasmos nas últimas 24 horas do que durante toda a sua vida sexual pregressa. — Estou bem — respondeu. — Apenas um pouco cansada. — Sei. — Willow não pareceu convencida. Caminhou até a porta dos fundos do viveiro de plantas e a fechou. Em seguida, levou as mãos aos quadris e encarou a irmã. — Comece pelo início e fale devagar. Não quero perder nada. — Não há nada a dizer. — O que era uma mentira deslavada. — Bem, não tanto assim. — Vou continuar parada aqui a encarando com olhar furioso até que me conte. Marina sorriu. — Não está com expressão furiosa. Apenas uma testa franzida e... — Marina! — Está bem, está bem. Eu estou bem. Tudo está bem. Apenas... — Marina sentiu os lábios se curvando em um sorriso de satisfação. — Na sexta-feira, Todd e eu fomos degustar a comida de um bufê. Quando, mais tarde, nos encontramos na casa dele para uma reunião com a florista, comecei a me sentir muito mal. Nós dois tivemos uma intoxicação alimentar. Acabei passando a noite lá, praticamente acorrentada ao toalete. — E essa é a causa desse sorriso estampado em seu rosto? — Não, mas Todd foi fenomenal. Ontem já estávamos nos sentindo melhor. Ele me convidou passar outra noite no quarto de hóspedes. Então, jantamos, assistimos a um filme e depois, bem. Os olhos de Willow se arregalaram. — Ah, meu Deus! Você fez sexo com Todd Aston III. Vou ganhar 1 milhão de dólares! Marina ergueu as duas mãos.

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— Em primeiro lugar, não vou me casar com ele, portanto pode abandonar seu sonho de ter 1 milhão de dólares. Se está com tanta vontade de ter seu próprio viveiro de plantas, peça dinheiro a Kane. Ele faria qualquer coisa por você. Willow fez um movimento negativo com a cabeça. — Não, obrigada. Vou levantar fundos sozinha. Se não está disposta a se casar para me ajudar, então terei de fazer um empréstimo ou algo parecido. O que, a propósito, não é o assunto em questão. Fez sexo com Todd? Marina sorriu. — Fiz. Foi maravilhoso. Ele não é nada do que imaginei. Gosto dele. Willow se aproximou e a abraçou. — Isso é ótimo. — Não é ótimo. É estranho, constrangedor e não vamos repetir isso nunca mais. Willow deu um passo atrás e a encarou. — Como disse? Você está radiante. Nunca a vi assim antes. Ninguém consegue fugir de sexo radiante. — Eu fugirei. Nós dois fugiremos. Conversamos sobre o assunto e decidimos que isso é o mais sensato a fazer. Ouça, já somos parentes por afinidade através da vovó Ruth. E esse laço se estreitará ainda mais com o casamento de Julie e Ryan. Todd está em nossas vidas para sempre. Um relacionamento com ele não daria em nada. Willow voltou a trabalhar com as plantas. — Por que não? Ambos são solteiros. É um excelente ponto de partida. — Não temos nada em comum. Pertencemos a mundos diferentes. Todd não confia em nenhuma mulher. E, depois de ouvir sua história, não posso culpá-lo. E eu também não sou tão resolvida nesse assunto. Tenho problemas. Willow pegou outra planta. — Você não é como a mamãe. Não vai perder o controle sobre sua vida por causa de um homem — Não sabe se isso é verdade. — Você também não. Sei que tem muito medo de tentar. Sempre escolhe os rapazes que a deixam segura. Homens que a adoram, mas que não poderiam nem em um milhão de anos tocar seu coração. Você nunca se permitiu correr o risco de se apaixonar, portanto não pode saber como seria. Nenhuma de nós está disposta a abrir mão de tudo por um homem. Então não o faça. Seja forte. Seja você mesma. Mas se arrisque. Aquele era um excelente conselho. Uma pessoa sensata poderia até considerar segui-lo. Mas, naquele caso, Marina se recusava a ser sensata. Havia muito a perder. — Mesmo que eu me permitisse me apaixonar por Todd — retrucou Marina. — Ele nunca me corresponderia, porque se recusa a se envolver nesse nível. — Sempre há uma primeira vez. — Não para Todd. — Está enganada — disse Willow. — Sempre há uma primeira vez para todo mundo. Veja o caso de Kane. Mas tem de estar disposta a tentar. Não pode encontrar a

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felicidade, a não ser que esteja disposta a arriscar se machucar. Uma vida vazia, onde há segurança, compensa jamais encontrar sua alma gêmea? Marina pensou sobre a mãe. Naomi amara apenas um homem e passara toda a sua vida com o coração destruído por causa dele. — Esse negócio de alma gêmea não passa de mitificação — murmurou ela. — Não. Não é — insistiu Willow. —Mas o amor exige fé. Se não tiver isso, nunca saberá. E se Todd for o homem certo? Está mesmo disposta a deixá-lo escapar? Pelo menos mamãe passa algum tempo de sua vida feliz. Quando está com papai, vê o mundo colorido. Se ela não tivesse esses momentos de felicidade, o restante não valeria a pena. Marina não estava convencida de que aqueles breves momentos valessem alguma coisa. Não quando a dor era tão forte e não havia como escapar. Vivera toda sua vida sem uma alma gêmea e passara muito bem. Seria muito mais fácil passar sem algo que nunca tivera do que se arriscar a ser destruída por um homem determinado a nunca entregar seu coração.

CAPÍTULO 8

Todd conferiu a hora no relógio de pulso. Havia chegado alguns minutos mais cedo para o encontro com Marina na loja de vestidos de noiva, mas não estava preocupado com o fato de ela o deixar esperando. Marina não fazia aquele tipo. Imaginara se seria constrangedor encontrá-la depois da longa noite que passaram juntos, mas, agora que estava ali, tudo que conseguia sentir era a expectativa de revê-la. O que não era nada bom, pensou, severo. Marina não era o tipo de mulher que encarava uma relação sem amarras e ele não estava disposto a nada além disso. Mesmo com ela. Portanto, esqueceria o que aconteceu e passaria a vê-la apenas como a irmã da noiva do seu primo. Uma parenta distante. Alguém de quem gostava, mas com quem não se importava. Em quem não tinha o menor interesse. Com quem não se envolveria. As boas intenções de Todd perduraram até Marina adentrar, apressada, a loja de vestidos de noivas, parecendo afobada e cinco vezes mais maravilhosa. — Eu sei, eu sei — disse ela assim que entrou, dirigindo-lhe um sorriso. — Estou um minuto atrasada. Como deve estar ressentido comigo por tratá-lo tão mal! Deve estar pensando que se bobear eu o farei segurar minha bolsa enquanto experimento roupas e o chamarei de “bem”. A risada de Todd fez eco com a dela e os olhares dos dois se encontraram. Por alguns segundos, o restante do mundo deixou de existir. Havia apenas aquele momento e a mulher à sua frente. O desejo o deixou excitado e a ânsia de tê-la em seus braços o fez dar um passo na direção de Marina. A parte sensata de seu cérebro fora voto vencido. A única coisa que fazia sentido era abraçá-la. 64

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Um dos dois se moveu primeiro. Todd não sabia dizer qual, mas aquilo não importava. Porém, antes que conseguisse puxá-la para perto, uma vendedora na casa dos 40 anos se aproximou e suspirou. — Que lindo! — disse ela. — Percebo rapidamente quando um casal está realmente apaixonado. Vocês dois iluminaram meu dia. Era como terem mergulhado de cabeça em uma piscina de gelo. Todd deu um passo atrás. Marina o imitou e os dois evitaram o olhar um do outro. Ótimo, pensou Todd, irritado. Agora o clima ficaria estranho entre eles. Nunca desejara aquilo. Fazer amor com Marina fora a maior diversão que tivera em muito tempo. Não apenas o sexo, embora houvesse sido extraordinário, mas o simples fato de desfrutar de sua companhia. Relaxar, se sentir à vontade. — Nós, ah... não vamos nos casar... — disse Marina, com um sorriso mais forçado que genuíno. — Sou Marina Nelson. Você falou com minha irmã, Julie. A noiva que neste momento está se escondendo na China e fazendo todo mundo executar o trabalho sujo para ela. — Ah, claro. — O olhar da mulher alternou entre os dois. — Desculpe-me o inconveniente. Sou Christie. Todd se apresentou e todos trocaram apertos de mão. — Tenho algumas ideais sobre o que agradará a sua irmã — disse Christie. — Ela foi bastante específica sobre tudo que não queria, o que facilitou minha tarefa. Pelo que entendi você experimentará os vestidos e passará as informações para ela, certo? Marina anuiu. — Isso mesmo. Geralmente não permitimos que as noivas tirem fotos até que tenham depositado uma parte do valor do vestido, mas Julie fez uma combinação especial com a dona da loja, portanto pode ficar à vontade. Tem uma câmera? Todd tocou o blazer do terno. — Bem aqui. — Ótimo. Muito bem, Marina. Vamos vesti-la como uma noiva. Pelo que fiquei sabendo, você e sua irmã têm o mesmo manequim, não é? As duas mulheres desapareceram pelo corredor. Todd encontrou uma cadeira confortável e uma mesa repleta de revistas esportivas e financeiras. Minutos depois, Christie apareceu e lhe perguntou se aceitava algo para beber. Todd aceitou o café oferecido e se dedicou à leitura. Porém, não conseguia se concentrar nos artigos. Lembrou-se da expressão brincalhona de Marina ao entrar na loja e experimentou a mesma sensação prazerosa que o invadira naquele momento. Que diabos havia de errado com ele?, refletiu. Gostar de Marina não constava de suas regras. Desejar mais era ainda pior. Conhecia os perigos inerentes àquela situação, a traição que se seguiria. Era sempre assim. Nenhuma mulher merecia confiança. Mas, pela primeira vez em anos, Todd se descobriu desejando quebrar aquelas regras. Ver se haveria uma possibilidade de Marina ser diferente, embora soubesse que aquilo era impossível. Marina prendeu o tecido extremamente macio do vestido de noiva entre os dedos. Com exceção do básico, como algodão e couro, não entendia nada sobre tecidos. Tinha certeza apenas de que, independentemente do tipo, iria querer aquele em sua vida para sempre! 65

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Christie surgiu no provador e sorriu. — Está linda. Marina sorriu. — Sei que diz isso para todas as noivas, mas, neste momento, não me importo. Sinto-me deslumbrante. Amo a sensação e o caimento deste vestido. Christie fechou os botões que as mãos de Marina não alcançavam e, em seguida, escancarou a porta do provador. — Venha ver como ficou. Marina chegara ali trajando jeans e camiseta, sentindo-se esfarrapada, apressada e constrangida em ter de encarar Todd outra vez. Mas, envolta na confecção ondulante do vestido, sentia-se bela e feminina como uma princesa. Até mesmo os sapatos de salto alto emprestados pela loja se ajustaram com perfeição. Postando-se diante do espelho de três faces, ela ofegou. O vestido era o protótipo da perfeição. O corpete justo sem alças colava-se ao seu corpo e lhe valorizava o colo. Na altura da cintura brotava uma cascata até o chão de camadas e camadas de tecido, cada uma com seu formato e drapeado como uma pétala de flor, incluindo a cauda que devia medir de 90 a 120 cm Havia uma tonalidade perolada no tecido que lhe fazia a pele brilhar. O modelo não esconderia a gravidez de Julie, mas era extremamente elegante e irresistível. — Uau! Marina ergueu o olhar para encontrar o de Todd no espelho. Ela sorriu e girou em um círculo lento. — Gostou? — perguntou. Não era possível adivinhar o que estava se passando pela cabeça daquele homem, mas Marina gostou da forma como ele teve de engolir em seco, antes de falar: — Incrível. Tanto a mulher quanto o vestido. Meu Deus!, Todd tinha sempre as palavras certas na ponta da língua, pensou ela, sentindo a própria reação ao elogio e à presença do homem que o fizera. — O modelo se adapta a muitos tipos de corpo, mas, se sua irmã tem a mesma estrutura corporal que a sua, então ficará perfeito. Ela precisa de um que esteja disponível, e é o caso deste modelo. Vamos lavá-lo e fazer as alterações pouco antes do casamento. Está conseguindo se mover com facilidade? Marina deu alguns passos e o vestido ondulou graciosamente. — É fabuloso! — Ótimo — disse Christie. — Agora, deixe-me aplicar a cauda e veremos se consegue dançar com facilidade. Dançar? Marina se dirigiu a Todd. — Sabe dançar? — Sou praticamente um profissional. — Mentiroso. — Experimente para ver. 66

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Christie desenrolou a cauda, ajustando botões e colchetes até que se formasse uma imponente cascata de tecido na parte posterior do vestido. E, então, Todd se aproximou e tomou-a nos braços. Marina disse a si mesma que nada daquilo importava porque não era real. Estava ajudando a irmã, era só. Ainda assim, enquanto fluíam ao som de uma música imaginária, ela sentiu algo revolver em seu íntimo. Algo perigoso, maravilhoso e um tanto assustador. Em seguida, cometeu o erro de erguer o olhar e encarar Todd, apenas para se descobrir desejando se perder naquelas profundezas escuras. Os dedos longos aumentaram a pressão com que seguravam os dela. Marina se aproximou um pouco mais. As camadas do lindo vestido a impediam de sentir o corpo musculoso contra o dela, o que era um tremendo obstáculo. — Encantador. — O comentário se originou de uma voz vagamente familiar. Marina ergueu o olhar para se deparar com a avó Ruth parada na entrada do saguão do provador. — Olá, meus queridos — cumprimentou a senhora idosa, enquanto se aproximava. — Eu sei, eu sei, não estou aqui para me intrometer, mas, quando Julie me enviou um e-mail informando que os dois iriam à loja de vestidos de noiva esta tarde, não pude resistir. Todd soltou Marina e caminhou na direção da tia. — Ruth — disse ele com evidente afeição, enquanto se inclinava para beijá-la no rosto. — Ver Marina experimentar o vestido de noiva não é se intrometer. — Tenho certeza de que Julie ficaria muito feliz em poder contar com mais uma opinião — afirmou Marina, abraçando e beijando a avó, enquanto se esforçava ao máximo para não se sentir culpada. Em seguida, deu um passo atrás e girou em um círculo lento. — O que acha? — Que você é muito linda, assim como o vestido. — Ruth sorriu para Todd. —Tirou fotos? — Ainda não. Estávamos vendo se Julie conseguirá dançar com facilidade nesse vestido. Era apenas a imaginação de Marina ou as sobrancelhas da avó se ergueram de leve? — Excelente ideia — disse Ruth. — Tenho certeza de que Julie apreciará a eficiência dos dois. Marina teve uma repentina sensação de que de alguma forma a avó adivinhara que ela e Todd dormiram juntos. Um calor intenso se espalhou por suas bochechas, enquanto tentava convencer a si mesma de que aquilo não era possível. Ninguém sabia. Bem, Willow e, talvez, Julie e Ryan, mas só. Marina posou enquanto Todd tirava várias fotos e, em seguida, escapou para a privacidade da cabine do provador. Vestiu um segundo traje, também sem alças, mas com corpete de renda e franzido na cintura. A saia composta de um tecido sedoso macio e estonteante, com apliques de bordados e rendas, caía em um sofisticado godê que findava em uma cauda. Ruth entrou na cabine. — Outra excelente opção. Julie terá dificuldades em escolher. Mas esse é um problema agradável de ter. Pronto, querida, deixe-me ajudar com os botões. — Obrigada. Há uma imensidão deles. 67

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Ruth se posicionou atrás dela e começou a abotoar o vestido. — Você e Todd pareciam um casal muito especial, dançando juntos. Embora sempre tenha esperado que uma de vocês se apaixonasse por ele, tenho de admitir que isso não passava de um sonho de uma velha. O pânico invadiu o íntimo de Marina. — Você não é velha — retrucou, em uma tentativa deprimente de desviar o assunto. — Obrigada, querida, mas essa não é a questão principal. Ofereci dinheiro a você e suas irmãs em uma tentativa de acirrar uma competição, mas agora vejo que precisava apenas deixar que a natureza seguisse seu curso. Marina abriu a boca e tornou a fechá-la. O cérebro congelou, deixando-a sem ideia do que dizer. — Não somos um casal — conseguiu responder por fim — Estou falando sério. Mal somos amigos. Eu diria, meio amigos. Conhecidos. Ainda nem tivemos nosso primeiro encontro. Não até o casamento. Ruth terminou de fechar os botões e a contornou para se posicionar diante dela. — Ao que parece, não será necessário um encontro. Você está muito linda. Marina resmungou algo ininteligível. Em seguida, saiu da cabine o mais rápido que os sapatos de salto lhe permitiram. Em vez de se posicionar diante do imenso espelho, ela correu para o lado de Todd e lhe segurou o braço. — Ela sabe. Minha avó, sua tia, sabe. Ela sabe que fizemos sexo e estou lhe dizendo neste instante que não posso suportar isto. Estou me sentindo totalmente humilhada e você também deve ficar. Todd não pareceu nem um pouco preocupado. — Ela não sabe. Não é possível. — Quer apostar? Ruth saiu da cabine e Marina se posicionou diante do espelho. Os três discutiram o vestido como adultos racionais, e ela se esforçou ao máximo para não corar. Conseguiu até mesmo sorrir, enquanto Todd tirava as fotos. — Enviarei isto a Julie — disse ele. — Ótimo. Acho que ela vai amá-los. A resposta pareceu normal, mas o que Marina estava pensando se assemelhava mais com me tire daqui. Era óbvio que Todd não acreditara nela, porque continuou a fazer piadas com tia Ruth, até que a mulher idosa dissesse: — Suponho que um casamento duplo esteja fora de questão. Todd dirigiu o olhar a Marina e voltou a fixá-lo na tia. — Está se referindo a Willow e Kane? — Não, querido. A você e Marina. É óbvio que há uma química entre vocês dois. Claro que um relacionamento necessita de mais que isso, no entanto a paixão é algo maravilhoso. Havia isso diariamente no meu casamento com seu tio. — Ruth soltou uma breve risada. — Bem, nem todos os dias, mas na maioria deles.

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Marina resistiu ao impulso de tapar os ouvidos com as mãos para não ouvir mais nada. Todd engoliu em seco e resmungou. — Aí está uma imagem que jamais conseguirei esquecer. Ruth suspirou. — Vocês, jovens! Sempre se negando a admitir a intimidade das gerações mais velhas. Deveria se sentir feliz em saber que eu tive um casamento maravilhoso durante todos aqueles anos. — Estou encantado — respondeu Todd. — Mas não são necessários detalhes. Ruth sorriu. — Está bem. Esperei muito tempo para que você encontrasse a mulher certa, e agora encontrou. Marina passou por ele e entrou na cabine. Todd a seguiu de imediato. — Eu lhe disse — começou ela, virando as costas para que Todd lhe desabotoasse o vestido. — Mas não. Você se negou a escutar. Deveria ser mais esperto. Minha avó sabe que fizemos sexo. Não percebe o quanto isso é humilhante? — Para mim é ainda pior. Você não conheceu meu tio, mas eu convivi com ele durante toda a minha vida. Agora estou imaginando os dois. Marina girou para encará-lo. — Não está levando isso a sério o suficiente. Ruth sabe. Está falando sobre casamento duplo. É capaz de contar para a minha mãe. Não quero conversar sobre minha vida sexual com mamãe. Todd lhe tocou o rosto. — Então não converse. Ouça, eu não escolhi contar para Ruth, mas ela adivinhou. E daí? Sabemos o que queremos e o que não queremos um do outro. Não é tão grave assim. Ao que parecia, não para ele, pensou Marina, amarga, imaginando a possibilidade de Todd ter razão e de sua reação estar sendo exagerada. Ruth entrou na cabine. — Tenho de ir, portanto se divirtam. Espero que tudo dê certo. Sinceramente. Não apenas para satisfazer minha vontade, mas porque todo aquele dinheiro fará uma grande diferença para sua família, Marina. A doce Willow poderá finalmente comprar seu viveiro de plantas. E então Ruth se retirou, mas Marina mal percebeu. Sua atenção estava focada no rosto de Todd. Na maneira como as belas feições se encontravam contraídas e o distanciamento que se refletia em seu olhar. — Vou deixá-la à vontade para que troque de roupa — disse ele, dando um passo atrás. Marina se viu sozinha na cabine do provador. Sozinha, com raiva e confusa. Por que Ruth tinha de mencionar o dinheiro daquela forma? Para uma mulher que parecia tão determinada a juntá-los, escolhera o caminho que os manteria separados. Se Todd tinha um trauma, era o fato de pensar que as mulheres só o desejavam por sua conta bancária.

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Marina teve vontade de bater o pé no chão de tanta frustração. Não estava nem um pouco interessada nos milhões ou bilhões ou na quantia que fosse. A aposta em se casar com ele havia sido uma brincadeira. Todd tinha de estar ciente disso. Mas por que estaria? A julgar pela experiência passada, ele sempre esperaria o pior, porque o pior sempre fora real. — Não importa — disse a si mesma, quando saiu da cabine. — Não temos um relacionamento de verdade. Somos apenas amigos. Amigos que dormiram juntos. Mas sexo não era amor e não havia a menor possibilidade de se apaixonar por Todd, portanto o que importava que ele pensasse o pior dela? Mas ainda assim, de alguma forma, importava, e quando Marina deixou a área do provador, alguns minutos mais tarde, sentia um aperto no peito e uma náusea incômoda.

Para: [email protected] De: [email protected] Quero deixar registrado que estou perplexa com o fato de você ter dormido com Todd Aston III e não ter me contado. Pior ainda, tive de ouvir isso de minha AVÓ! Você dormiu com Todd? Com TODD? Enquanto estou fora do país e estamos distantes por vários fusos horários que me impedirão de ouvir os detalhes? Sei que está contando tudo para Willow. Detesto ser deixada de fora. Com o tempo, eu a perdoarei, mas por ora nossos laços fraternos estão abalados. Para: [email protected] De: [email protected] Desde quando você se tornou essa rainha do drama? Os laços fraternos? Alguém está ficando muito entusiasmada com isso. Sinto muito que tenha sabido pela vovó Ruth. Eu ia lhe contar, mas não queria colocar esse tipo de informação em um e-mail. Claro que só eu é que me preocupo com esse tipo de coisa. Foi apenas uma vez, ou ao menos uma noite. Aconteceu por acaso. Explicarei os detalhes depois. São de fato engraçados. Mas a questão é que não somos um casal. Somos amigos que por acaso dormiram juntos e não temos planos de repetir o feito. Para: [email protected] De: [email protected] É mesmo? Isso é tudo que posso saber? Que patético. Quero os detalhes. E, para sua informação, as pessoas não dormem juntas por acaso. É uma decisão/ato consciente. Não pense que está me enganando, criança. Portanto, o que está acontecendo?

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Marina observou o e-mail, antes de responder. O que estava acontecendo entre ela e Todd?

Para: [email protected] De: [email protected] Somos apenas amigos. Juro. Gosto dele, o que pensei que nunca fosse acontecer, mas não haverá repeteco e, depois que planejarmos esse casamento, passaremos a nos ver apenas nos eventos familiares e em algumas épocas do ano. E só. Ele não é o homem certo. É apenas um homem. Um homem especial, admitiu para si mesma enquanto enviava o e-mail. Mas, ainda assim, apenas um homem. — Estou atrasada — gritou Belinda enquanto Todd entrava em seu estúdio fotográfico. — Sente-se e estarei com você em um instante. Após dirigir um sorriso à recepcionista, ele se encaminhou ao amplo espaço aberto, onde a fotógrafa fazia a maior parte de seu trabalho. Belinda, uma ruiva franzina que se vestia como uma cigana, estava parada diante de uma câmera focando um par de gêmeas graciosamente vestidas e sentadas sobre um fardo de feno. As meninas idênticas estavam com vestidos nas cores branco e rosa e os cabelos escuros haviam sido cuidadosamente cacheados. — Muito bem, encostem a cabeça uma na outra — disse Belinda com um sorriso. — Mas sem se chocarem Apenas encostem. As meninas obedeceram. — Agora pensem sobre a manhã de Natal. Como é acordar, sabendo que é cedo demais para descer. Lembrem-se como se sentem animadas. Há muitos presentes na árvore e em breve rasgarão as embalagens de papel brilhosas e verão o que ganharam É tão divertido, mas têm de esperar. Pensem nisso. As duas meninas sorriram, com os olhos brilhando, os rostos expressivos diante da expectativa. Belinda tirou várias fotos. — Ela é ótima. Todd girou e percebeu que Marina entrara no estúdio. O último encontro que tiveram acabara de maneira constrangedora, graças à tia Ruth. Ele esperou pelo desconforto ou pela vontade de estar em qualquer outro lugar menos ali. Em vez disso, a expectativa o dominou, fazendo-o desejar puxá-la para perto. — A melhor — concordou. — Como você está? — Bem. Com muitas aulas, mas está divertido. — Marina fixou o olhar nas gêmeas. — Lindas meninas. — Concordo. — É mesmo? Deseja ter filhos?

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— Claro. Muitos. Sempre quis ter meu próprio time de basquete. Marina fez uma careta. — Isso é muito. Mas três ou quatro seria um bom número. Como planeja ter esses filhos? Todd lhe relanceou o olhar. — Não tenho nenhuma objeção sobre ter uma família. Oponho-me apenas a ter uma esposa. — Então os adotará? Os olhos de Marina tinham a cor do céu. Uma tonalidade perfeita de azul. Gostava da forma como podia ler as emoções refletidas neles e como Marina não se deixava intimidar por ele. Quando aquilo tudo terminasse, talvez pudessem permanecer amigos... presumindo que fosse capaz de expurgar de seu organismo o desejo sufocante de fazer amor com ela outra vez. — A adoção é uma possibilidade — retrucou ele. — Mas gostaria de ter uns dois filhos biológicos para perpetuar o nome da minha família. — E herdar a herança — provocou ela. — Também. — Então, o que fará? Alugará um útero, por assim dizer? Todd deu de ombros. — Talvez. É uma opção. Os olhos de Marina se arregalaram e o queixo quase caiu ao chão. — Eu estava brincando. — Eu não. Tudo está à venda. — Sem querer ofendê-lo, isso é repugnante. — Por quê? Barrigas de aluguel não são incomuns. Teria apenas de ser cuidadoso. — Claro. O que eu estava pensando? — Marina cruzou os braços sobre o peito. — É uma escolha complicada. Afinal, a mãe biológica contribuiu com 50 por cento dos genes da criança. Além disso, estudos comprovam que a inteligência é herdada da mãe. — O que explica por que muitos homens que se importam mais com beleza do que cérebro acabam tendo filhos decepcionantes. A desaprovação emanava de Marina como uma névoa densa que o envolvia e tentava sufocá-lo, mas Todd permaneceu impassível. Tratava-se de sua vida e ele podia fazer dela o que bem quisesse. Se decidisse ter filhos sem uma esposa, a escolha era sua. — Está falando como alguém muito frio — disse ela. — Estou sendo prático. Marina inspirou profundamente e deixou o ar escapar. — Levando em conta seu passado, entendo que relute em confiar em qualquer uma, mas uma parte de mim tem certeza de que você pode ter tudo. Pode se apaixonar, casar e ter filhos da maneira tradicional. Sem necessidade de contratos. 72

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— É isso que você quer para si? —perguntou ele. — Claro. Há algo de maravilhoso em pertencer a uma família. — Não parece ter pressa em encontrar o homem certo. Marina anuiu. — Sei que tenho meus problemas, mas estou disposta a dar um voto de confiança. — Conversa fiada. — Conseguirei. Um dia. Conseguiria? Todd duvidava. Os dois podiam ser muito diferentes, mas sofriam da mesma fundamental falta de confiança no que se relacionava ao amor. Marina tinha medo de perder o controle de si mesma como a mãe fizera, e ele estava determinado a ser mais que uma conta bancária. — É preciso confiar — disse ela. — Um dia encontrarei alguém que faça o mergulho valer a pena, e então pularei de cabeça. Todd parecia cético. — Espero que ele esteja lá para segurá-la. A fotógrafa terminou a sessão de fotos com as crianças e se aproximou. Abraçou Todd e, em seguida, se apresentou a Marina. — Nunca fui contratada diretamente da China antes — disse a mulher mais velha com um sorriso genuíno. — Isso pode ser divertido. — Enviaremos um e-mail para Julie e Ryan com alguns exemplares, se não se importar — disse Todd. — Marina e eu escolheremos alguns. — Claro. Ótimo. Meus álbuns estão ali. Eu lhes mostrarei uma grande seleção, depois marcarei quais estão disponíveis para ser digitalizadas. Marina percebeu a camaradagem entre Belinda e Todd. — Como vocês se conheceram? — perguntou. Belinda soltou uma risada, enquanto ele gemia. Em seguida deu palmadas leves na bochecha do rosto de Todd. — Os pais de Todd me contrataram para fotografar seu aniversário de 16 anos. Foi algo muito formal e solene. — Extremamente humilhante — resmungou ele. Marina sorriu. — Esse retrato não estaria nesses álbuns, certo? Belinda negou com um gesto de cabeça. — Ele me mataria se eu fizesse isso, mas talvez possa procurar os negativos e lhe enviar uma cópia. Marina se inclinou na direção dele, pousando uma das mãos no ombro largo. — Adoraria. — Se lhe enviar essa foto, nunca a perdoarei — avisou Todd a Belinda. — Claro que enviarei.

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Os dois passaram a próxima meia hora analisando os álbuns de Belinda. As fotos eram incríveis. Românticas, sem ser piegas, claras, artísticas e, ainda assim, atemporais. — Ela capta as personalidades — disse Marina, apontando para a foto de um casamento. — Veja o sorriso da noiva. É possível perceber que ela está meio louca, mas se divertindo. — Sim, e o noivo está louco por ela. Observar as fotos dos casais felizes fez Marina se sentir um pouco vazia. Desejava o que aquelas pessoas tinham: amor e confiança. Alguém com quem pudesse contar, não importava em que circunstâncias. Mas aquele não era um dia para pensar em seus problemas. — Qualquer uma servirá — declarou por fim — Podemos dar o e-mail de Julie e Ryan para Belinda para que ela possa enviar o que desejar. Eles vão amar o trabalho dela. Os dois retornaram ao estúdio e passaram a informação para a fotógrafa. — Mas, antes de partirem, deixem-me tirar algumas fotos dos dois. Ter um exemplo familiar será de grande ajuda. Todd dirigiu o olhar a Marina, que deu de ombros. — Tenho alguns minutos sobrando — disse ela, sem entender muito bem o que Belinda queria. — Ótimo. Estou com o cenário pronto para meu próximo compromisso, portanto será rápido. A fotógrafa apontou para um pano de fundo composto de nuanças azuis e cinza. Havia muitas luzes ao redor e uma câmera em frente ao pano de fundo. — Posicionem-se no centro — orientou Belinda. — Próximos um do outro. Todd, envolva a cintura dela com os braços. Marina, coloque suas mãos sobre as dele. Ambos fizeram o que lhes foi solicitado. Marina se esforçava ao máximo para ignorar o calor que emanava daquele corpo musculoso e o modo como a proximidade de Todd lhe fazia as coxas tremerem. Quanto mais tempo ele a segurava, mas ansiava em tê-lo. — Sorrisos largos — disse Belinda. — Vamos, não me façam repetir o discurso da manhã de Natal pela segunda vez hoje. Está ficando cansativo. Pensem em alguma coisa sensacional. Como, por exemplo, a última vez em que fizeram sexo. Em um gesto involuntário, Marina ergueu o olhar para encará-lo e o encontrou olhando para ela. Um filme sobre tudo que compartilharam naquela noite passou em sua mente. O toque sensual, a risada sexy, o modo como Todd a fez reagir de uma maneira que ela jamais achara possível. — Perfeito — gritou a fotógrafa. — Continuem assim. Muito bem, agora pensem em algo engraçado, como Todd vestido com uma fantasia de galinha, com penas compridas no traseiro. Marina sentiu os lábios tremerem enquanto a imagem se formava em seu cérebro e soltou uma risada. — Deus! Obrigado — disse ele. — Você ficaria uma galinha sensacional. — Encontrei o sentido da minha vida. 74

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Marina ainda estava rindo, quando a fotógrafa disse que haviam terminado. — Enviarei as fotos para Julie e Ryan também — informou Belinda. — Estou reservando o dia; portanto, se puderem confirmar na próxima semana, seria perfeito. — Faremos isso — prometeu Todd. — Obrigada por tudo — disse Marina. — Você é incrível. — Essas são as palavras que anseio por escutar. Marina seguiu Todd para fora do estúdio. — Ainda está disposta a ir ao casamento, no sábado, certo? — perguntou ele, quando os dois estacaram ao lado do carro de Marina. — Está se referindo ao casamento no qual vamos entrar de penetras? Estou preparada. — Vamos lá para ouvir a orquestra. Não vamos entrar de penetras. Não vamos comer nada. Será divertido. — Nunca entrei de penetra em um casamento antes — disse ela. — O que o tornará especial. — Você vai gostar. Marina acenou um adeus e entrou no próprio carro. Ele fez o mesmo e partiu primeiro. Porém, antes de ligar o motor, ela pensou no que Todd havia dito sobre ter filhos sem uma esposa em sua vida. Embora admirasse o fato de ele desejar ter uma família, sentia-se ao mesmo tempo triste pelo modo como Todd estava limitando a própria felicidade ao se recusar a confiar em quem quer que fosse. Era irônico o fato de se encontrarem em lados opostos do mesmo problema. Todd confiava em si mesmo e em mais ninguém. Ela confiava em todo mundo, menos em si mesma. Os dois precisavam trabalhar a confiança, mas seriam capazes? E, se não fossem, algum dia encontrariam o que seus corações desejavam?

CAPÍTULO 9

No fim da tarde de sábado, Todd dirigiu através de Westwood, a caminho da UCLA. Marina lhe telefonara mais cedo, pedindo que ele a buscasse no campus, em vez de em seu apartamento, para o compromisso que tinham de ouvir a orquestra. Dera-lhe as coordenadas até uma das casas de fraternidade e, agora que ele achara a rua indicada, girou à direita e procurou pelo número. Avistou Marina antes de achar a casa. Ela estava parada no gramado, na companhia de um homem belo e alto, e os dois se comunicavam por gestos. Enquanto os observava, viu o homem puxar Marina para um abraço. Ela soltou uma risada e lhe beijou o rosto. Algo escuro e frio se agitou em seu íntimo. Ele estreitou o olhar enquanto Marina se comunicava utilizando a linguagem de sinais. Era óbvio que conhecia aquele homem muito bem. Mas que diabos estavam dizendo um ao outro? 75

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Os dois continuaram a gesticular rapidamente e, em seguida, Marina girou, avistouo e acenou. O rapaz olhou na direção de Todd, abraçou-a mais uma vez e se dirigiu de volta à casa. Enquanto Marina se aproximava do carro, Todd se viu dividido entre manter a fúria irracional ou admirar o modo como o vestido lhe acentuava as curvas. Ele a vira apenas em roupas informais, portanto as sandálias de salto alto, os brincos longos e o cabelo penteado para cima compunham uma grande mudança. — Estou pronta para minha noite de crime — disse ela, abrindo a porta do carro e se acomodando no banco do passageiro. — Pensei em trazer máscaras para que ninguém nos reconhecesse, mas depois temi que sobressaíssemos dentre os demais. Todd ignorou a brincadeira e fixou o olhar na casa grande. — Você namora rapazes das fraternidades? — Namoro? Ah, não. Aquele era David, um dos estudantes para os quais sou intérprete. Está no último ano, tem um encontro muito especial esta noite e, como o carro dele enguiçou dias atrás, estou lhe emprestando o meu. Normalmente não faço isso, mas, como ele está pensando em propor casamento à menina, pareceu-me uma boa causa. Todd voltou a atenção para ela e viu a combinação de humor e exasperação nos olhos azuis. — Estava apenas imaginando — disse ele na defensiva. — Rapazes de fraternidades têm péssima reputação. — Claro. Essa é a única razão para agir de modo primitivo comigo. — Primitivo? Não faz meu estilo. Nunca. Seria necessário ciúme, e o ciúme não existia sem um sentimento profundo. Embora gostasse de Marina, tudo que havia entre os dois era amizade. — Você é estranho — murmurou ela. — Já se deu conta disso? — Estranho, não. Charmoso, belo, sexy e misterioso. Marina lhe relanceou o olhar. — Vou lhe conceder um “complicado”. Nada além disso. — Apenas não quer admitir o quanto está atraída por mim. — Como se isso fosse verdade! Mas, enquanto respondia, o olhar de Marina se deteve naqueles lábios sensuais. Todd sentiu uma onda de calor e desejo que o fez mudar de posição no banco. Em seguida, manobrou o carro para fora da universidade e se juntou ao tráfego. — A recepção é em Beverly Hills — disse ele. — Entraremos com sorrisos educados, cumprimentaremos os noivos, escutaremos a música e partiremos. — Você é quem manda — retrucou ela. — Você é o criminoso profissional. Esta será minha primeira vez. — Vamos apenas ouvir música. Não há nada de ilegal nisso. — Criminosos sempre arranjam uma desculpa. Ryan tem conhecimento de suas ações ilegais? Vocês são sócios nos negócios e ele deveria proteger sua parte dos ativos. A próxima coisa que fará será furtar. Todd manteve a expressão deliberadamente austera. 76

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— Eu não furto. — Claro que não. É praticamente um santo. Se sua tia Ruth pudesse vê-lo agora. — Tia Ruth lhe telefonou? Marina lhe dirigiu o olhar. — Minha avó? Não. Ela disse que telefonaria? Então, Ruth telefonara só para ele. — Não. Não se preocupe com isso. — Não pode mencionar algo assim e depois se calar. O que aconteceu? — Ela me telefonou algumas vezes desde que apareceu na loja de vestidos de noiva. Deu algumas indiretas sobre nós levarmos as coisas a um outro nível. Marina fez uma careta. — Ela não estava se referindo a dormirmos juntos mais uma vez, suponho. — Não exatamente. — Embora a tia tivesse mencionado a questão da “paixão” várias vezes, levando a conversa para um rumo que Todd nunca mais queria tomar. — Acho que não vai gostar da notícia, mas ela também fofocou com Julie, que provavelmente contou a Ryan. Todd lhe relanceou o olhar. — Sua avó contou a Julie que fizemos sexo? — Oh, sim. Recebi alguns e-mails desaforados de minha irmã. Ela teme estar perdendo as novidades. E ele queria uma família. Para quê? — O que disse a ela? — perguntou Todd. — Que lhe daria todos os detalhes quando ela retornasse. — Marina lhe sorriu. — Somos muito íntimas. Todd tinha a impressão de que ela estava brincando. Ou talvez fosse muita ingenuidade de sua parte pensar assim. Mulheres costumavam conversar muito e ele não tinha a menor ideia do que diziam umas para as outras. E, como qualquer homem normal do planeta, não desejava saber. — Sinto muito que Ruth esteja sendo um problema — disse ele. — É capaz de ignorá-la ou quer que eu lhe diga alguma coisa? — Como não é para mim que ela está telefonando, ignorar é uma boa opção. Está tendo dificuldade em ignorá-la? — Não. — Ele amava Ruth, mas ela não tinha o direito de lhe dizer o que fazer. Sabia que a tia queria que ele se casasse e aquilo seria difícil de acontecer. — A questão do sexo talvez tenha sido um erro — disse Marina em tom de voz calmo. — É melhor nunca mais o repetirmos. Todd pensou no quanto eram bons juntos. O quanto gostara de dar prazer a ela, saboreá-la, tocá-la. Com que facilidade conversaram e riram. O quanto ainda a desejava. — Não poderia concordar mais — afirmou. O hotel parecia ter sido tirado de um filme, pensou ela enquanto cruzava, ao lado de Todd, os corredores amplos e decorados em direção ao salão de festas com vista para 77

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um jardim exclusivo. Os dois conseguiram se esgueirar para dentro da festa sem que ninguém lhes fizesse perguntas ou os acusassem de entrar sem convite, embora Marina se sentisse como se fossem dois impostores. — Relaxe — disse Todd enquanto lhe envolvia a cintura com um dos braços. — Deve haver no mínimo 300 pessoas aqui. Ninguém nos notará. — Está bem, mas nada de comer ou beber. Talvez não devêssemos nem mesmo nos sentar para não tomar o lugar de um convidado. Todd lhe sorriu. — Não costuma quebrar regras, certo? — Apenas sob circunstâncias muito específicas. Como, por exemplo, a proibição de levar mais que quatro peças de roupa para o provador de uma loja. Essa sou craque em quebrar. Os dois circularam pelo salão de festas, evitando as mesas mais cheias em uma das extremidades, e pararam próximos à pista de dança. Um garçom se aproximou e lhes ofereceu um tipo de canapé de massa folhada. Todd esticou a mão para pegar um, mas ela o impediu. — Não devemos comer — disse em tom de voz baixo e firme. Todd soltou uma risada abafada. — Você está tornando isto muito divertido. — Não estamos aqui para nos divertir. Isto é sério. Olhe, a orquestra está se preparando. Podemos ouvir a música e partir. — Covarde. — Vou ignorar isso. — Marina observou os músicos da pequena orquestra tomarem seus lugares. — Você estava certo. São poucos componentes. Então, o que acha? A varanda do salão de festas da vovó Ruth será suficiente? — Ou aquele espaço entre os pilares. O som se propagaria melhor vindo de lá. — Bem pensado. Queria que eles começassem logo. Um casal mais velho e muito bem vestido se aproximou dos dois. — Kitty e Jason Sampson — disse a mulher, estendendo a mão a Marina, que congelou. Haviam sido pegos! Mas Todd exibiu um sorriso tranquilo e respondeu: — Está tudo esplêndido. Impressionante. Que dia feliz! O semblante de Kitty se iluminou. — Não é mesmo? Estamos encantados. — Claro que estão — retrucou Todd. Jason se inclinou, deu um beijo no rosto de Marina e uma palmada leve no ombro de Todd. — Muito obrigado por comparecerem. Significa muito para nós. — Não perderíamos este casamento por nada. E, com isso, os Sampson partiram. Marina esperou que o casal estivesse longe do alcance da audição e cobriu o rosto com as mãos. 78

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— Vamos direto para o inferno. Posso ouvi-los gravando nossos nomes nas cadeiras que ocuparemos. — Temos cadeiras no inferno? Marina o encarou com olhar furioso. — Sabe muito bem o que eu quis dizer. — Não aconteceu nada de mais. Fomos educados e agradáveis. Daqui a cinco minutos Kitty e Jason não vão nem se lembrar de nós. Ora, vamos, pode aguentar um pouco mais. Olhe, a orquestra vai começar a tocar. — Talvez. Não é que eu queira me sentir culpada — começou ela. — Então não se sinta. Venha. Vamos nos esconder em um canto para ficar longe de confusão. Enquanto falava, Todd lhe segurou a mão e a puxou para a lateral do salão. Embora aquele toque fosse totalmente descuidado, o corpo de Marina respondeu como se ele lhe tivesse arrancado o vestido e a atirado sobre uma daquelas mesas. Era melhor imaginar uma cama... em total privacidade, porque sua reação era algo ultrajante. Marina se sentia derreter de dentro para fora. A necessidade de estar com ele quase a sufocou, o que era uma total insanidade. Haviam passado apenas uma noite juntos. Embora tivesse sido maravilhoso, não deveria ter produzido tal impacto nela. Ainda assim, Marina se descobriu desejando repetir a dose, mas não apenas no âmbito sexual. Queria desfrutar do prazer de estar envolta naqueles braços fortes, conversando e rindo. Observando-o sorrir, ouvindo a voz grave lhe descrever a perspectiva ímpar que Todd possuía em relação ao mundo. Queria mais. — Melhor assim? — perguntou ele, quando estacaram em um dos cantos do salão, próximos à orquestra, mas longe do fluxo dos convidados. — Estamos praticamente agindo como espiões, escondendo-nos atrás desta árvore plantada num vaso. Todd prendeu uma das folhas entre os dedos. — Sabe qual é esta? — Não tenho a menor ideia. Esta é a especialidade de Willow. Mas parece de verdade. — Marina se permitiu relaxar. — Sim, está muito melhor. Sou capaz de perceber meu sentimento de culpa se abrandando. — Excelente. Todd lhe sorriu. Marina creditou uma parte do tremor que a perpassou à proximidade entre os dois, mas sabia que não era só isso. Outra parte daquela reação se devia apenas a Todd. O que estava acontecendo de errado com ela? Antes que Marina pudesse chegar a qualquer conclusão, um garçom se aproximou com uma bandeja repleta de taças de champanhe. — Os noivos estão quase chegando. Isto é para o brinde. Marina se soltou de Todd e colocou as duas mãos para trás das costas. — Não podemos — sussurrou. Todd pegou duas taças e agradeceu ao garçom. Quando se encontraram sozinhos outra vez, ele lhe ofereceu uma delas. 79

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— Temos de aceitar — disse ele. — Recusar-se a fazer um brinde aos noivos seria cafona e rude. Marina mordeu o lábio inferior. — Este é um terreno muito escorregadio. Muito bem, podemos erguer as taças, mas não beber. Todd sorriu. — Certo, porque, depois que as pousarmos, alguém terá o prazer de tomar todo o conteúdo? Encare esse fato, criança. Está aqui só para conseguir uma taça de champanhe. Marina suspirou. — Talvez devêssemos descobrir qual é a sociedade beneficente preferida de Kitty e Jason e fazer uma doação. — Nunca perde o humor — disse Todd, envolvendo-lhe a cintura com um dos braços e a puxando para perto. — Gosto disso em você. O estremecimento de Marina se intensificou. Um homem que era provavelmente o padrinho se encaminhou ao microfone diante da orquestra. — Senhoras e senhores, por favor, juntem-se a mim para dar as boas-vindas ao Sr. e Sra. Alex Sampson. — Todos aplaudiram quando os noivos adentraram o salão. — Um brinde — prosseguiu o padrinho. — Para um casal que é a personificação do amor. Que cada dia seja melhor que o anterior. — O homem ergueu a taça e os convidados o imitaram. As feições de Marina se contraíram, antes de ela erguer a própria taça e tomar um gole do champanhe ilícito. Todd se inclinou para perto. — Dom Pérignon. — É mesmo? — Ela tomou outro gole. —É muito bom. E, sinceramente, se a família podia arcar com o custo de servir um champanhe daquela marca para uma multidão, então talvez dois drinques roubados não fizessem muita diferença. — Aceitarei o champanhe — murmurou Marina. — Mas não ficaremos para o jantar. — Claro que não. Apenas pelo tempo de uma dança. A orquestra começou a tocar. Os noivos se encaminharam para a pista e começaram a se mover juntos. Marina os ignorou e, em vez disso, focou a atenção na música suave. Aquilo era definitivamente mais elegante que um DJ, embora não enfadonho. — Boa escolha — disse ela. — Gostei da orquestra. Agora, vamos embora. — Não tão rápido assim. — Todd lhe retirou a taça de champanhe da mão e a pousou em uma pequena mesa próxima. Em seguida, guiou-a na direção da pista de dança. — O que é isto? — Marina tentou firmar os calcanhares no chão, mas o assoalho era de tábua corrida, o que tornava a tarefa impossível. — Não podemos dançar. 80

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— Por que não? Está todo mundo fazendo o mesmo. De fato, vários casais haviam se encaminhado ao centro do salão para se juntar aos noivos. Marina decidiu que uma dança não faria mal algum Não estavam comendo nada. Portanto, relaxou nos braços de Todd e descobriu que aquele homem possuía outro talento que ela jamais imaginara. Aquilo era ainda melhor que os rodopios que deram no saguão do provador da loja de noivas. — Você é bom nisto — disse ela, após Todd fazê-la girar sobre o próprio eixo e puxá-la para perto com extrema elegância. — Teve aulas? — Por anos a fio. Todd a puxou contra o corpo quando o tempo da música se tornou mais lento. Marina recostou a cabeça ao ombro largo. Uma das mãos fortes se encontrava pressionada contra sua lombar. Os dois estavam colados de uma forma sensual e excitante. — Partiremos depois desta música — disse ele, falando-lhe ao ouvido. — Está bem. — Quer comer alguma coisa? — Claro. — Podemos comprar e levar para casa? Marina ergueu a cabeça para encará-lo. A paixão deixara os olhos de Todd da cor da noite. Com um dos dedos, ele lhe traçou o contorno dos lábios. — Sei o que vai dizer — começou Todd em tom de voz suave. — Que concordamos em não fazer sexo outra vez. Que isso seria um erro por várias razões. Se for essa sua vontade, não lhe pedirei outra vez. Passei a semana toda repetindo para mim mesmo os motivos pelos quais devia esquecer isto, mas não consigo. Eu a desejo. Aquelas palavras seriam capazes de derrubar muralhas muito mais robustas que a dela. — Terá a mim em vez da comida para a viagem — sussurrou ela. — Vamos embora. Ambos optaram pela casa de Todd por ser mais perto. Os 17 minutos de viagem pareceram uma eternidade, talvez pelo fato de ele passar a maior parte do tempo mordendo de leve os dedos de uma das mãos de Marina. A combinação de dentes, língua e lábios era tão excitante que, por mais de uma vez, Marina se viu tentada a pedir que Todd estacionasse em algum lugar e fizesse sexo com ela dentro do carro. Deteve-se apenas por estarem à luz do dia, pelo fato de o exibicionismo não ser seu forte e uma noite na cadeia não estar em seus planos para aquele dia. Claro que Todd também não figurava em seus planos, mas ela procurava ser flexível quando lhe ofereciam uma excelente oportunidade. Quando chegaram à casa, saíram do carro e Todd abriu a porta da frente. Em seguida, puxou-a para dentro e bateu a porta, trancando-a e envolvendo Marina em seus braços. De muito bom grado, ela se colou ao corpo forte, antecipando o calor do beijo que iria acontecer.

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E Todd não a desapontou. A boca era firme, faminta e tinha o sabor do champanhe fino. Mesmo enquanto se tocavam, roçavam e faziam tudo que podiam para estar dentro um do outro, a língua experiente invadia a boca de Marina para dar prosseguimento a outro tipo de dança sensual. Todd a explorava, provocava, excitava. Ela o correspondeu com a mesma ânsia e, em seguida, fechou os lábios em torno da língua exigente para sugá-la de leve. Ele gemeu e Marina sentiu a ereção lhe pressionando o abdome. Estava pronta para recebêlo. Intumescida, úmida. Os seios, doloridos. O centro de sua feminilidade pulsava em antecipação pelo que estava por vir. Ele se afastou apenas alguns centímetros. — Cama — murmurou contra o pescoço macio. — Lá em cima. Vamos. As instruções seriam engraçadas se ela não estivesse tão excitada. Marina se forçou a escapar do contato erótico daqueles beijos e correr na direção da escada. Porém, antes de subir o primeiro degrau, chutou as sandálias para o lado. E Todd também se livrou dos sapatos. Quando se encontravam no meio do lance de degraus, pararam para se beijar outra vez. Enquanto lhe violava a alma, ele esticou a mão para o zíper do vestido de Marina e o abriu. Sem perder tempo, ela o livrou do blazer e começou a lhe afrouxar a gravata. Todd concluiu a tarefa puxando a camisa para fora da calça. Embora Marina não se considerasse agressiva na cama, tinha ciência de que também não era tímida. Dando um passo atrás, retirou o vestido, deixando-o cair em uma poça a seus pés. Por baixo, usava um conjunto de lingerie de renda cor de lavanda. O ar ficou preso na garganta de Todd. Sem perder mais um segundo, Marina esticou a mão para trás e desabotoou o sutiã, deixando-o seguir o mesmo trajeto do vestido, e girou para disparar pela escada. Ele demorou um segundo para segui-la, mas, quando o fez, alcançou-a rapidamente no patamar do segundo andar, esticou as mãos, segurou-a e a puxou para lhe impedir a progressão. Marina soltou uma risada e girou na direção dele. Todd se encontrava parado um degrau abaixo. As mãos hábeis se livraram da gravata e desabotoaram a camisa. Após atirar as duas peças ao chão, inclinou-se para a frente, fechou a boca sobre um dos mamilos de Marina e o sugou com maestria. Os movimentos do lábio, da língua e dos dentes a estimularam até que ela se visse incapaz de permanecer de pé. Marina teve de se amparar aos ombros largos, mas, ainda assim, as pernas não paravam de tremer. Os espasmos no baixo-ventre estavam aumentando de intensidade. Quando Todd dedicou o mesmo tratamento ao outro seio, ela se sentiu perdendo o equilíbrio. Ele também devia ter percebido, porque lhe envolveu a cintura com um dos braços e a inclinou para trás, deitando-a no topo da escada acarpetada. Marina acompanhou o movimento de bom grado, envolvendo o torso forte com os braços e se extasiando com o contato da pele quente. Todd ergueu a cabeça. — Conseguiremos chegar na cama — afirmou ele. — Sou a favor desse plano. Todd sorriu. — Mas antes. 82

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As mãos longas lhe desceram a calcinha e a retiraram com um único e preciso movimento. Em seguida, desceu o corpo dois degraus abaixo, forçando-a a afastar as pernas para beijá-la entre as coxas. A carícia íntima a fez perder o fôlego. Marina teve de se apoiar nos braços para evitar escorregar pela escada, e até mesmo isso não foi suficiente. Não quando já se encontrava trêmula de desejo. Todd era tão bom quanto ela se lembrava. Estava explorando-a com movimentos circulares, investidas da língua, empurrando-a na direção do ápice daquela montanha de prazer apenas para recuar e a fazer choramingar. Por várias vezes, ele repetiu aquela doce tortura, tocando-a com a língua e os lábios, estimulando-a cada vez mais e a deixando escalar, sem conseguir atingir o topo. Aquilo a fazia se contorcer, ofegar e quase gritar. Marina perdeu a noção do tempo e de tudo ao seu redor. Havia apenas aquele momento, aquele homem e as maravilhas que ele a fazia sentir. Os músculos internos de Marina se contraíam cada vez mais. Podia se sentir intumescida, cada vez mais perto. O orgasmo estava tentadoramente fora de alcance. Próximo, muito próximo, mas ainda inalcançável. E então Todd começou a lhe estimular o centro da feminilidade com movimentos eróticos da língua. Ao mesmo tempo, introduziu um e depois dois dedos dentro dela, penetrando-a fundo, acariciando-a por dentro também. Uma investida, duas, e Marina estava perdida. O clímax a atingiu com uma força inesperada, fazendo-a perder o controle e gritar. Os orgasmos se sucediam, estimulados pelos movimentos mágicos da língua, dos dedos e de todo o corpo de Todd. O prazer se apossou de Marina, marcando-a a ferro e fogo, antes de trazê-la lentamente de volta à realidade. Quando, por fim, ela emergiu das profundezas do êxtase, Todd se sentou ao lado dela, sorrindo. Marina também se sentou. — Vá em frente. Pode se vangloriar. Você mereceu. — Daqui a um segundo. Encontre-me na cama, está bem? — Ele se ergueu. — Para onde está indo? — É uma surpresa. Todd se precipitou escada abaixo. Ela o observou se afastar, ainda sentindo o corpo em chamas. Em seguida, percebeu que se encontrava nua, sentada na escada e não tinha a menor ideia se aquele era o dia da governanta ou não. E o pensamento a fez agir. Marina encontrou o caminho até o quarto amplo. Mal afastara as cobertas para o lado, quando ele entrou carregando duas taças de champanhe e uma garrafa de Dom Pérignon. Marina soltou uma risada. — De fato, você disse que sempre tinha uma garrafa deste champanhe à mão. — Sim, disse. Enquanto Todd abria a garrafa, ela subiu na cama. Após servir as duas taças e retirar o restante das roupas, ele se juntou a Marina. 83

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— Às surpresas inesperadas — disse Todd, tocando a taça à dela. — Você mais do que se encaixa nessa categoria. Marina abriu a boca e tornou a fechá-la. Não conseguia falar, se mover e mal respirava. Era como se ela tivesse congelado. E, então, soube por quê. Observando Todd, seu belo rosto agora familiar, ouvindo a voz sexy, sentada em sua cama, após ele a ter guiado por uma jornada erótica extasiante, de repente se deu conta do que estivera ignorando durante todo o tempo. Todd era perfeito. Bem, não exatamente perfeito. Ele tinha defeitos, mas possuía tudo que ela sempre desejara em um homem Todd valorizava a família, era carinhoso, afetuoso, inteligente, cortês, desafiador, determinado e não se mostrava nem um pouco intimidado por sua inteligência. Perfeito. E, em algum ponto ao longo do caminho, havia se apaixonado por ele.

CAPÍTULO 10

A incrível noite de amor conseguiu distrair Marina da inesperada descoberta. Na manhã seguinte, acordou cedo e alegou que tinha um encontro muito importante com Willow. Estava apavorada com a ideia de não conseguir agir normalmente na presença de Todd. Como poderia se o cérebro estava rodopiando como um peão com o impacto da conclusão a que chegara? Apaixonada por Todd? Como? Quando? Não deveria se apaixonar por ninguém, mas, se o inesperado resolvera lhe fazer uma visita, tinha de ser logo com um homem que nunca, em hipótese alguma, sob nenhuma circunstância, seria capaz de confiar em uma mulher? Marina fez o trajeto de volta para casa, onde tomou um banho e trocou de roupa. Como prometera, David devolvera seu carro durante a noite e deixara a chave em um vaso de plantas ao lado da porta da frente. Marina a recolheu enquanto deixava a casa e dirigiu até a loja de vestidos de noivas, onde ela e Willow escolheriam alguns vestidos para damas de honra do casamento e enviariam as fotos a Julie por e-mail. — Nada de modelos bregas — disse Willow, depois que Marina estacionou seu veículo esporte velho ao lado do carro da irmã e saltou do veículo. — Nada com muitos babados e nada que exija ser alta para parecer elegante. Não sei se percebeu, mas não sou alta. Marina fingiu surpresa. — Desde quando?

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— Muito engraçada. Sabe o que quis dizer. A maioria dos modelos fica fabulosa em mulheres altas como uma girafa, mas o resto de nós, mortais, acaba parecendo desalinhado. Não quero parecer deselegante na festa do casamento da minha irmã. Marina sorriu. — Nada de vestidos deselegantes, prometo. — É melhor cumprir a promessa. Não quero ser voto vencido pelas minhas duas irmãs altas. — A confiança é uma parte importante do nosso relacionamento. Willow estreitou o olhar. — Não confio em ninguém com pernas longas como as suas. — As duas entraram na loja. — Vi as fotos dos vestidos de noiva. Parecem maravilhosos. — Tenho certeza de que Christie nos mostrará o vestido que Julie escolheu. É um modelo sem alças, portanto estava pensando que poderíamos escolher algo assim também. Ou com alças finas. Nada longo. Willow revirou os olhos. — Graças a Deus! Tenho muitos vestidos longos de outros casamentos. E a noiva sempre diz: “Você pode cortar depois.” Certo. Porque há muitas ocasiões em que posso usar vestidos curtos verde-limão cheios de apliques. E, por falar em verde, sei que essa é uma das cores, mas pelo amor de Deus! Somos loiras. Vamos usar nuanças de rosa, certo? — Ah, sim. O verde me faz lembrar uma crise de intoxicação alimentar muito recente. Não usarei essa cor. — Entendo. É assim que deve ser — concordou Willow. — Solidariedade fraterna. Christie se aproximou das duas. — Bom dia, meninas. Você deve ser Willow. Sou Christie. As duas trocaram apertos de mão. — Prontas para experimentar os vestidos das damas de honra? — perguntou ela. — Estive me correspondendo por e-mail com Julie e ela tem algumas sugestões. Marina trocou um olhar com Willow e gemeu. — Boas ou ruins? — perguntou Willow com um fio de voz. Christie sorriu. — Boas. Acho que vão agradá-las. Ah, Willow, quer que eu pegue o vestido de Julie para que possa vê-lo? — Se não se importar, seria ótimo. — Será um prazer. — Christie se dirigiu a Marina. — Talvez possa vesti-lo para os ajustes iniciais, se tiver tempo esta manhã. — Estou disponível. — Ótimo. Agora, se quiserem me acompanhar, já separei os vestidos que agradaram Julie. As duas a seguiram até uma área onde vários exemplos de vestidos de damas de honra se encontravam pendurados. Dois estavam separados. Um era sem alças, acinturado e com saia de um rodado suave até a bainha reta. Havia uma sobreposição de 85

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um tecido diáfano, ondulado na barra. O segundo vestido era um estilo camisola com alças finas, com alguma renda no corpete e saia tulipa. Willow prendeu o tecido do segundo vestido entre os dedos e sorriu. — Acho que os dois estão ótimos. O que acha? Marina anuiu. — Nenhum dos dois é assustador, para crédito de Julie. — Ótimo. — Christie gesticulou na direção dos provadores ao fundo. — Há um de cada para vocês lá dentro. Por que não os experimentam? Voltarei em alguns minutos. — O que significa que Julie enviou um e-mail com nosso manequim — disse Willow, enquanto as duas se encaminhavam às suas respectivas cabines. — O nível de organização dela não a assusta? — Não muito. — Marina retirou a camiseta e desabotoou a calça jeans. Colocaram sapatos aqui para experimentarmos com os vestidos apenas para ver como ficam com os saltos altos. A porta da cabine de Marina se escancarou e Willow entrou, fechando-a em seguida. — Muito bem — disse sem rodeios. — O que há de errado? Marina a encarou com olhar surpreso. — Nada. Por quê? Estou bem. — Não está bem. Você parece. — A irmã franziu a testa. — Não sei. Não consigo encontrar a palavra certa, mas “bem” não se aplica ao seu caso. Está preocupada? Aconteceu alguma coisa ruim? Quer que Kane mate alguém? — Embora aprecie sua oferta, e tenho certeza de que ele também, estou bem. Sério. Willow cruzou os braços sobre o peito. — Não sairei daqui enquanto não confessar tudo. — Não há nada para. — Marina suspirou. — Estava tão determinada a agir naturalmente... — Não conseguiu atingir seu objetivo. — Willow comprimiu os lábios. — O que aconteceu? Tem algo a ver com Todd? Ele a magoou? — Não. Claro que não. Todd não fez nada de errado. É que... Willow se aproximou e lhe tocou o braço. — Não precisa falar se não quiser. Marina conseguiu conjurar um sorriso. — Ah, claro. Agora você diz isso. É que eu... nós... — Ela engoliu em seco. —Estou apaixonada por ele. Willow lhe sustentou o olhar. — E? — E nada. Não é suficiente? Estou apaixonada por Todd Aston III. Não é uma loucura? Willow sorriu e, em seguida, abraçou-a. 86

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— Não é nenhuma loucura. É ótimo. Está apaixonada. É solteira e ele também. Você é maravilhosa, e ele pode ser alguém que o resto da família consiga tolerar. Qual é o problema? Marina se sentou no banco dentro do provador e cobriu o rosto com as mãos. — Estou apavorada. E se eu for como a mamãe? Se perder o controle de mim mesma? E se eu permitir que ele me trate de maneira abjeta, fingindo ser o suficiente porque isso será melhor que viver sem ele? Willow se agachou ao lado dela. — E se você não for? — perguntou, envolvendo a cintura de Marina com um braço. — E se for forte, adulta e se permitir ser feliz? Embora apreciasse o apoio da irmã, “feliz” não parecia ser uma opção. — Ele tem problemas. Willow revirou os olhos. — Claro que tem. Todos os homens têm. — Ele é complicado. Não confia nas mulheres. Em nenhuma. Nunca. O típico homem rico que não dá nem um voto de confiança às mulheres. — Isso me parece simples — disse Willow. — Certo. Ele não confia. Tenho certeza de que outras mulheres o fizeram pensar assim Mas o que você fez para não merecer a confiança de Todd? Nada. Portanto, talvez demore um pouco e dê algum trabalho, mas você o convencerá. Marina desejava que fosse fácil assim, mas algo lhe dizia que Todd não seria convencido por falta de ação de sua parte. — Sempre foi tão otimista assim? — perguntou ela. — Acho que sim — respondeu Willow. — Sou a filha do meio. É minha função ver os dois lados das questões. Embora, neste caso, só esteja vendo o seu. Tenha um pouco de fé. Duvido que seus sentimentos não sejam correspondidos. Você é uma mulher extraordinária. Todd tem sorte de tê-la em sua vida. — Acho que o problema não sou eu. É ele, e não sei como resolver isto. — Não tem que resolver. Ele é que terá de resolver. Marina dirigiu o olhar à irmã. — Não sou como mamãe, sou? Capaz de me apaixonar por um homem que não consegue se comprometer? — Você não tem nada a ver com mamãe. Tem personalidade própria. Tenha um pouco de confiança em si mesma. Confiança parecia algo fácil de conseguir, mas Marina não tinha certeza de como colocá-la em prática. — Você está bem? — perguntou Willow. Marina anuiu. — Temos vestidos para experimentar. Minutos depois, as duas se encontraram no saguão do provador, diante do enorme espelho de três faces.

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— Este não me valoriza em nada — resmungou Willow enquanto puxava as alças finas do vestido. — A saia tulipa me faz parecer baixa. — Você é baixa — provocou Marina. — Mas esse vestido não é o adequado. Ambas ficamos melhores no modelo sem alças. Espero que Julie não se importe com a cintura tão marcada. Willow sorriu. — Quer dizer que ela ficará ressentida porque a barriga está crescendo? Hummm. Não pensei nisso. Mas tudo bem. Julie pode ficar ressentida por algum tempo. Ela será mãe. — Willow alisou a parte da frente do vestido. — Eu e Kane tentaremos ter filhos assim que nos casarmos. Estou muito animada. As primeiras semanas em que comecei a tomar a pílula foram como uma amostra grátis da gravidez. — Ficou inchada? — perguntou Marina com expressão compassiva. — Por isso não tomo pílula. Além disso, me sinto mal. — Eu, também. Mas os sintomas desagradáveis já passaram. E tem a parte boa, que é a questão dos preservativos. Marina a encarou. — Que questão dos preservativos? — Ora, dizem que não são cem por cento seguros. Se utilizados da maneira correta, em estudos controlados, têm 97 por cento de eficácia. Mas, na vida real, são bem menos eficazes. Willow continuou falando, Marina, porém, não estava mais escutando. Menos eficazes? Em diminuir a chance de gravidez? Todd e ela haviam usado apenas preservativos. Não estava utilizando nenhum método contraceptivo e ele também não havia perguntado. Não que tivesse outro método mais eficaz que Todd pudesse ter usado, mas ainda assim. Marina tocou o ventre e tentou relaxar. Então os preservativos não eram cem por cento seguros? Ela e Todd haviam feito amor apenas algumas vezes. Nada poderia ter acontecido. Ou poderia? Duas horas e meia mais tarde, Marina finalmente conseguiu se livrar da loja de noivas. Tivera de suportar os ajustes no vestido de noiva, o que Willow ficou para ver. Por fim, Marina saiu da loja apenas para se encaminhar a uma farmácia e comprar dois testes de gravidez de marcas diferentes. Tinha certeza de que não estava grávida, mas uma comprovação científica não faria mal algum. Agora que contara os dias no calendário, tinha de admitir que estava um pouco atrasada. Apenas uns dois dias, mas ainda assim. O aperto em seu peito se intensificou até quase a impedir de respirar. Grávida? Não era possível. Não que não quisesse ter filhos, mas não agora. Não daquela forma. Recordou todas as histórias terríveis que Todd lhe contara. Se estivesse grávida, ele a julgaria como as outras mulheres. Jamais confiaria nela. Assustada, trêmula e horrorizada com o possível resultado, Marina abriu as caixas dos testes. Quando havia passado o tempo necessário, baixou o olhar às duas tiras de plástico e gemeu. Uma mostrava o resultado positivo, a outra, negativo. 88

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— Hoje não é meu dia de sorte — disse ela, lutando contra as lágrimas de frustração. — Tenho de saber. Marina pegou a primeira caixa e discou para o número 0800 do serviço ao cliente. — Olá — começou, quando uma mulher atendeu. — Fiz um dos seus testes de gravidez minutos atrás, mas também fiz um de outra marca. O de vocês deu negativo e o outro positivo. Em qual deles devo acreditar? — Ah, não. — Disse a mulher do outro lado. — Isso não é bom. Está com quantos dias de atraso? — Poucos. — Muito bem. Você tem duas escolhas. Pode comprar mais testes e ver o resultado que dá ou pode esperar. Sei que é difícil, mas seria o meu conselho. Espere mais uma semana e refaça o teste. Sua outra opção é marcar uma consulta com seu médico. Marina agradeceu e desligou o telefone. Ter uma consulta com seu médico estava fora de questão. Ele era praticamente um amigo da família e a mãe trabalhava em seu consultório. A situação exigia mais privacidade. Poderia encontrar outro médico, mas, até que conseguisse marcar uma consulta, teria se passado uma semana de qualquer forma. Esperar e refazer os testes era a opção mais sensata. No entanto ser sensata não abrandava o nó no peito que quase a impedia de respirar. Grávida? Seria possível? Marina se viu dividida entre a euforia materna e o horror de saber o que Todd pensaria dela. Teria certeza de que ela lhe preparara uma armadilha. Necessitando falar com alguém, pegou o telefone e discou o número de Willow. O celular da irmã entrou direto em caixa postal, o que significava que ela devia estar com Kane, praticando para fabricarem os próprios bebês. Agitada e ainda precisando desabafar, Marina se encaminhou ao laptop e o ligou.

Para: [email protected] De: [email protected] Olá! Estamos no meio do dia aqui, portanto acho que já é meia-noite aí. O que é um problema sério, porque preciso muito falar com alguém. Não que isso seja possível, e não quero que me telefone. Cada minuto de ligação custa uma fortuna e eu estarei em sala de aula na maior parte do dia, amanhã. É que... Muito bem, não leia isto enquanto estiver tomando seu café da manhã. Estou atrasada. No sentido de atrasada. Portanto, comprei dois testes de gravidez de farmácia e os fiz. Um deu positivo o outro, negativo. A atendente de um dos laboratórios sugeriu que eu espere mais uma semana e refaça os testes, o que faz sentido. Mas esperar uma semana para saber? Como isso será possível? Quero ter filhos. Não me importaria se estivesse grávida, exceto por Todd. Ele não é o tipo do homem que confia nas pessoas e, embora não possa culpá-lo por isso, não consigo sequer imaginar o que ele diria se eu lhe contasse que estou

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grávida. Todd pensaria que estou tentando prendê-lo em uma armadilha, o que seria horrível. E pior, não pode contar nada disso a ninguém, mas principalmente o que vou dizer agora. Acho que estou apaixonada por ele. Marina parou de digitar e, em seguida, deixou escapar um suspiro.

Não. Não é verdade. Sei que estou apaixonada por ele. Já faz algum tempo. Talvez desde o início. Estou excitada e assustada. Quero dizer, e se eu for igual à mamãe? Mas e se eu não for? Se não conseguir ser forte? Existe uma boa possibilidade. Mas trata-se de Todd. Será que algum dia confiará em mim o suficiente para ter um relacionamento de verdade? Estará sequer interessado em ter um relacionamento de verdade? E, mesmo que ele estivesse, o fato de eu estar grávida arruinará tudo. Então, este é o dia que estou tendo. Responda-me quando puder. Sinto-me melhor agora que nós “conversamos”. Obrigada por me escutar. Marina não dormiu muito naquela noite, o que transformou a aula sobre aspectos físicos da química inorgânica em uma dificuldade. Ela se esforçou ao máximo para limpar a mente de tudo que estava acontecendo no momento em sua vida e prestar atenção na preleção. Parecia estar se saindo bem, porque Jason, um de seus estudantes surdos, franziu a testa apenas duas vezes. No final da aula, ela combinou de encontrar Jason no laboratório mais tarde, naquela mesma semana, e se encaminhou ao próprio carro. Enquanto abria caminho pela multidão de estudantes, a mente girava e disparava em diversas direções. E se estivesse grávida? Como contar a Todd? E se não estivesse? Ficaria decepcionada? Seus sentimentos se encontravam divididos. Amava Todd e seria emocionante ter um filho dele. Mas, com o passado a assombrá-lo, duvidava que pudessem superar a desconfiança que Todd tinha de todas as mulheres, inclusive dela. Portanto, a coisa mais sensata a fazer era esperar que não estivesse grávida. Exceto pelo fato de que não conseguia desejar aquilo. Dormir, pensou ela enquanto cruzava o estacionamento. Precisava dormir. Quando alcançou seu carro, um familiar conversível luxuoso se encontrava estacionado ao lado. O vidro da janela do motorista abaixou e um furioso Todd a encarou. — Entre — disse ele, sem rodeios. — Precisamos conversar.

CAPÍTULO 11 90

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Todd sabia! Marina podia ver aquilo refletido na frieza daqueles olhos escuros. Não estava surpresa. Não havia nenhuma possibilidade de Julie não ter contado para o noivo, e Ryan e Todd eram como irmãos. — Eu o seguirei até a sua casa — disse ela, sabendo que uma conversa com Todd naquele momento não acabaria bem. Seria melhor ter um meio de transporte para partir sem ter que esperar que ele a levasse a lugar algum. Todd abriu a boca, mas, antes que ele pudesse falar, Marina prosseguiu: — Eu o seguirei até lá. Deveria ao menos confiar em mim quanto a isso. — Por quê? — perguntou ele em tom de voz rude. Mas já estava fechando o vidro da janela e dirigiu alguns metros à frente, para que ela pudesse manobrar o carro. Vinte minutos depois, Marina entrava com o carro pelo caminho circular de pedra diante imensa casa que ela aprendera a gostar. Porém, enquanto saltava do carro, sentiu uma estranha combinação de apreensão e pânico. A julgar pelo que sabia sobre ele, Todd não iria lidar com aquilo muito bem. Os dois entraram na casa sem nada dizer. Marina concluiu que seria melhor ela começar a falar, mas não sabia como. Também não tinha exata noção do que Todd sabia, o que poderia ser um bom ponto de partida. Marina o seguiu até o escritório e pousou a bolsa em uma das cadeiras de couro no cômodo repleto de livros. — Ryan lhe contou sobre o conteúdo ou simplesmente lhe encaminhou meu email? — perguntou, lembrando-se de repente da confissão de amor contida no texto. Certamente Julie não dividiria aquilo com o noivo. — Ele me informou sobre os fatos. — Os olhos escuros se fixaram em seu ventre. — Que você acha que está grávida. Não era possível saber o que se passava na mente de Todd pelo tom de sua voz. Até então, a linguagem corporal dele parecia controlada o suficiente, portanto aquilo deveria fazê-la se sentir melhor. Mas não fazia. Havia uma frieza e uma amargura que pareciam sequestrar todo o calor da atmosfera. Apesar da temperatura agradável, Marina se descobriu tendo calafrios. — Não sei se estou — retrucou ela. — Ele lhe contou sobre os testes de gravidez? Todd se encaminhou para trás da mesa e girou para encará-la. — Deixe-me ser bem claro. Fui manipulado por mulheres mais experientes que você. Não vencerá este jogo. Marina sentiu como se tivesse sido esbofeteada. — Não estou jogando. Como poderia? Não sou desse tipo e você sabe disso. Você me conhece. — Conheço? Foi você que entrou nisto por 1 milhão de dólares. Marina o encarou. — Não seja ridículo. Isso é uma ideia maluca de Ruth. — Ela se ofereceu para retirar a oferta, mas você disse que não. Um calafrio percorreu a espinha de Marina. 91

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— Eu estava brincando. Foi apenas uma brincadeira. — Nada na expressão de Todd refletia crença no que ela dizia. As paredes pareciam se fechar em torno de Marina. — Isto é uma loucura — disse ela, dando um passo na direção dele. — Nós nos tornamos amigos. Rimos juntos, conversamos sobre nossas esperanças e sonhos. Não sou uma vagabunda manipuladora ávida por dinheiro. Droga! Eu não lhe preparei nenhuma armadilha. Você também quis fazer amor comigo. Foi um participante mais que disposto. Todd abriu uma das gavetas da mesa e de lá retirou um bloco de papel. — Se continuar alegando estar grávida, exigirei que isso seja confirmado por um exame realizado por um médico de minha escolha. Estarei presente no teste, bem como meu advogado. — Alegando estar grávida? — perguntou ela com voz baixa e trêmula. — Estou dizendo que não sei. O quanto posso ser mais honesta que isso? Todd ignorou isso também. — Se estiver grávida, quero um teste de DNA para confirmar a paternidade, após o nascimento. Se eu for o pai, entraremos em um acordo sobre o tipo de custódia. — Ele a olhou nos olhos. — Eu não esperaria vencer essa batalha se fosse você. Marina sentia como se tivesse sido trancada em um freezer. O frio quase a impedia de respirar. Fechando os olhos, ela se lembrou das palavras de Todd sobre desejar ter filhos, mas não uma esposa. Seria realmente aquele o plano dele? Tirar-lhe o bebê? — Isso não tem nada a ver comigo — disse ela. — Nada disso. Trata-se do seu passado. Está me fazendo pagar pelo que outras mulheres fizeram com você. — Minha tia não propôs retirar a aposta de 1 milhão de dólares? Marina sabia que não poderia vencer. Ele não permitiria. — Sim. — Você não pediu que ela a mantivesse? — Sim Não adiantaria explicar que tudo fora uma brincadeira. Que nunca imaginara gostar dele, o que diria se apaixonar. — Era como pedir a lua — disse ela, mesmo sabendo que estava gastando fôlego e energia. — Está certo, eu disse que queria, mas era como aceitar uma proposta de erguer o Titanic. Não iria acontecer. O dinheiro não é real. — Marina deu outro passo na direção dele, mas, com a mesa gigantesca entre os dois, foi um gesto inútil. — Eu queria proporcionar um casamento de sonhos para a minha irmã — prosseguiu ela. — Assim como você também queria dar isso a Ryan. Tivemos de trabalhar juntos. A princípio, não gostei muito de você, mas depois nos tornamos amigos. Isso é tudo, Todd. Não faça parecer tão medonho agora. — Dê-me uma razão pela qual eu devesse confiar em você. — Não se pode negociar confiança. Esse sentimento é conquistado com o tempo. Diga-me apenas uma coisa que eu tenha feito para trair sua confiança. — Posso citar um milhão delas. O fato de ter engravidado só confirma o que desejava o tempo todo. O horror a invadiu, inexorável.

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— Foi uma brincadeira — começou ela, para se calar em seguida. De que adiantaria argumentar? Marina pegou a bolsa e de lá retirou o celular. Em seguida, discou o número da avó. — Olá, é Marina — disse ela quando Ruth atendeu. — Preciso lhe dizer que não estou interessada naquele milhão de dólares. Aconteça o que acontecer, não quero esse dinheiro. A avó suspirou do outro lado do telefone. — Você jamais o quis, querida. Eu sabia disso. — Mas Todd não sabe. — Ah, sim. Ele pode ser cabeça-dura, mas um dia cairá em si. Marina observou a expressão austera e a aridez daqueles olhos negros. — Não estou tão certa disso. — Sei que ele parece um osso duro de roer, mas valerá a pena no final. Tenha um pouco de fé. — Tentarei. — Marina desligou o telefone. Fé. Existiria fé suficiente no mundo? — Isso não significa nada — disse ele. — Você sabe que pode conseguir muito mais dinheiro de mim. E, então, Marina entendeu. Não poderia vencer aquela batalha. Aquela era a questão. — Se não fosse a gravidez, seria qualquer outra coisa — disse ela, mais para si do que para Todd. — Você está determinado a jamais confiar em mim, e as pessoas sempre encontram o que estão procurando. Você procura o pior, e o encontrará. — Ela deixou escapar um profundo suspiro. — Um dia, vou me divertir com a ironia desta situação. Estive tão preocupada em ser igual à minha mãe. Tinha pavor de me perder em um homem. Não conseguia deixar de pensar no perigo de me apaixonar por alguém que não correspondesse a esse sentimento. No meu modo de ver, era eu que tinha um grande problema. — Marina enfiou o telefone celular no bolso da calça jeans e pegou a bolsa. — Mas não sou. Estava disposta a arriscar com você. Estava com medo e preocupada, mas ainda assim disposta a dar o próximo passo. Nunca parei para pensar que meus medos não têm a mínima importância. Porque você não está disposto. A expressão de Todd não se alterou. Ela não sabia por que estava se explicando. Talvez para encerrar aquilo de maneira adequada. — A única forma de convencê-lo de que não estou nisto por dinheiro é não estar grávida e nunca mais voltar a vê-lo. — disse ela. — Não posso fazer nada quanto a ter ou não um bebê, mas posso sair da sua vida. Se de fato eu estiver grávida, chegaremos a um acordo. Algo justo. Você não vai simplesmente tirar essa criança de mim. Se eu não estiver, então só teremos de nos encontrar no casamento e depois sair um da vida do outro. — Marina se encaminhou à porta do escritório e girou para encará-lo. — Sei que está com medo. Eu também estou. Mas, depois que me apaixonei por você, estou disposta a encarar meus medos. Talvez eu não seja a pessoa certa para você. Talvez não queira gostar de mim e até aí tudo bem. Mas, se nunca puder se afeiçoar a ninguém, então as vagabundas que povoam este mundo vencerão. Elas podem não ter conseguido

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você, mas certamente garantiram que ninguém consiga. Essa é uma forma de vida assustadora. Todd esperou até ouvir a porta da frente se fechar para sair do escritório. O vazio da casa pesava sobre ele, mas não era nada comparado à fúria que sentia pela traição de Marina. Se havia uma mulher na qual arriscaria confiar, teria sido ela. Contudo, Marina acabara se revelando como todas as outras. Grávida, pensou Todd, irritado. Muito bem. Se Marina queria jogar, seria um adversário à altura. Tiraria o bebê dela e começaria a família que sempre desejara. Ela seria compensada, mas nada além disso. Sabia que geneticamente Marina era uma boa candidata a mãe de um filho seu. Inteligente, saudável, determinada. Contrataria uma babá e seria pai. Aquele era um plano e Todd sempre se sentia melhor quando tinha um plano. Mas não no momento. Havia um buraco em seu peito que parecia abrigar uma fogueira. Tinha vontade de atirar alguma coisa pelos ares. Queria socar a parede. Queria que Marina não fosse como as outras. Queria confiar nela. O que não seria possível. Poderia ter lhe dado uma segunda chance se ela tivesse confessado e suplicado para que a entendesse. Se Marina não tivesse dito que o amava. Porque aquela fora sua maior traição. Usar o que ele mais queria para manipulá-lo. Isso ele nunca poderia perdoar. Marina sabia que provavelmente acabaria afogada nas próprias lágrimas. O pranto parecia inesgotável, inundando-lhe o rosto enquanto soluços lhe sacudiam o corpo. A dor era mais intensa que qualquer coisa que ela experimentara. Era como se lhe tivessem roubado o ar necessário à sua sobrevivência. Exceto pelo fato de que ela não havia morrido. Tudo que fazia era amargar a tristeza, chorar e rezar para se sentir melhor. Willow a abraçava e tentava tranquilizá-la com sons suaves. Não com palavras. Não havia palavras. — Como faço para deixar de amá-lo? — perguntou Marina, sentindo a garganta arranhar e o corpo doer. — Diga-me como. — Eu não sei — admitiu Willow com voz suave. — Mas encontraremos um modo. Quase uma semana depois, Todd entrou na floricultura para finalizar a encomenda dos arranjos de flores. Embora quisesse garantir um belo casamento para Ryan e Julie, a maior parte de sua atenção estava focada no fato de rever Marina. Esperara que ela lhe telefonasse, mas isso não acontecera. Então, o que aquilo significaria? Marina professara seu amor e, em seguida, desparecera. Se o amasse de verdade, não estaria tentando reconquistá-lo? Queria que ela estivesse fazendo exatamente aquilo, e o fato de Marina não ter tentado contatá-lo ao menos uma vez o deixava furioso. Como era ele o elo de contato com a florista, tivera de se forçar a ligar para Marina a fim de marcar o encontro. E o mais irritante era que havia ficado desapontado quando a ligação caíra na secretária eletrônica. Tomara a atitude certa deixando uma mensagem em vez de tentar telefonar mais tarde. Marina, porém, não lhe dera retorno e, agora, enquanto se encontrava ali, cercado por flores, descobriu-se ansioso em revê-la.

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Sabia que não deveria estar. Tinha plena ciência de que Marina não agira da maneira correta com ele, mas aquilo não conseguia impedir a expectativa que crescia em seu íntimo. Marina entrou na loja no horário marcado. Mesmo permanecendo onde estava e não dizendo uma só palavra, Todd sentiu o corpo reagir à medida que ela se aproximava. Marina estava linda, de um modo pálido e sombrio. Os dedos comichavam para se enterrar naquele cabelo longo e loiro. Ansiava por tocá-la por inteiro, escutar aquela voz doce, ouvir sua risada. Queria se inclinar para a frente e inspirar a fragrância daquele corpo de curvas perfeitas. Droga! O que havia de errado com ele? Não deveria ser tão ingênuo. Depois de tudo que ela fizera! Mas o que ela fizera? Pensara estar grávida? Como Marina dissera, ele fora um amante mais que disposto. Haviam usado proteção, no entanto nem sempre aquilo era o suficiente. Não teriam a mesma parcela de culpa pelo que acontecera? Acreditava de fato que Marina estava tentando prendê-lo em uma armadilha? — Tenho uma aula dentro de uma hora — disse ela. — Então por que não vai em frente e faz a escolha final das flores? — Marina lhe entregou alguns e-mails impressos. — Aí estão as ideias de Julie para os buquês. Tenho certeza de que Beatrice providenciará lindos arranjos. — Não ficará? — perguntou ele, sabendo que soava como um idiota. Por mais estranho que parecesse, havia contado em passar a tarde com Marina. — Não posso perder essa aula. Sei que o casamento é na semana que vem, mas todo o resto está providenciado. Julie e Ryan voltarão no próximo final de semana. — Marina olhou ao redor, como se para se certificar de que estavam sozinhos, e baixou o tom de voz: — Os resultados contraditórios estão resolvidos. Não estou grávida. — Refez os testes? — Não precisei. Não havia nenhum bebê. Nada na expressão de Marina refletia o que estava se passando em sua mente, mas ele se descobriu chocado pela tristeza que o invadiu. Tristeza? Por que deveria estar triste? Porque em seu íntimo desejara ter um filho com Marina? — Tenho certeza de que está aliviado — disse ela. — Também estou. Não que eu não adorasse ter um bebê. Mas não com você. As palavras cumpriram sua função como um dardo que atingisse a mosca. Traspassaram-lhe o peito, ferindo-o. — Sob tais circunstâncias — começou ele. Mas Marina fez um gesto negativo com a cabeça. — Aceito o fato de ter ficado aborrecido. Qualquer pessoa ficaria. Aceito até mesmo que você tenha problemas mal resolvidos, mas nada justifica o que me disse ou como me tratou. Ameaçou que iria me tirar a criança. Acusou-me de mentir deliberadamente por interesse financeiro. Fez julgamentos e tomou decisões, antes de saber de todos os fatos. Estava enganado sobre mim. Muito enganado. Nunca estive nisso por dinheiro. Marina aprumou os ombros. — O que mais me machuca é que acho que você sabia que estava errado. Que no fundo acreditava em mim, mas não conseguia admitir. Então, atacou. Isso é algo que não 95

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consigo perdoar. Acho que o ponto positivo é que eu também estava enganada a seu respeito. Enganei-me em pensar que você era especial. Em achar que era o tipo de homem pelo qual poderia me apaixonar. E, como fizera antes, Marina deu as costas e o deixou sozinho. Mas daquela vez era diferente. Agora, enquanto ela partia, Todd percebeu a enormidade do que acabara de perder. Que, a despeito da gravidez, de seu passado, dos temores de Marina e de tudo que acontecera entre os dois, havia se apaixonado por ela. Porém, percebera aquilo tarde demais. Como dissera uma vez a Marina, o que acontecera fora imperdoável.

CAPÍTULO 12

Terça-feira,

após o trabalho, Todd verificou sua correspondência. Havia um envelope grande e grosso sem endereço de remetente no topo da pilha. Quando o abriu descobriu várias fotografias que haviam sido tiradas no estúdio de Belinda. Amostras a serem enviadas a Julie e Ryan. Aparentemente, a fotógrafa decidira lhe enviar cópias também. Todd retirou as fotos do envelope e as estudou. Marina se encontrava envolta em seus braços, com a cabeça erguida para encará-lo. A intensidade daquele olhar o fez imaginar o que ela estaria pensando. Havia uma naturalidade na postura dos dois e uma conexão. A câmera capturara o que ele não se permitira enxergar antes: como ele e Marina pareciam pertencer um ao outro. Havia algo mais naquelas fotografias. Alguma coisa naqueles olhos azuis. Amor. Todd observou as seis fotos e as carregou para seu escritório, onde se sentou atrás da mesa. Após acender a luminária, dispôs as cópias sobre o tampo e deixou que as imagens falassem por si. Havia uma insinuação de riso em uma, desejo sexual em outra. Sorrisos que refletiam um segredo compartilhado. Uma pontada aguda de dor o atingiu como a descarga de um raio. Transpassandoo e abrindo uma ferida que começou a sangrar. Algo escuro e medonho lhe envolvia a alma e começava a lhe sugar a vida. Havia perdido Marina. Estivera tão certo de que nunca precisaria de ninguém que tomara a decisão de perdê-la antes mesmo de saber como era tê-la. Presumira que ela não teria importância, que não poderia ser especial. Atirara pela janela o amor que Marina lhe ofertara sem se dar conta de que aquilo poderia tê-lo mudado para sempre. Agora, sozinho, sentia o peso daquela perda. Ansiava por ouvir sua risada espontânea, ver o sorriso único que curvava aqueles lábios deliciosos, tocá-la, abraçá-la. Queria que Marina também precisasse dele. Não apenas na cama, mas em sua vida. Queria que ela sentisse sua falta. Que envelhecesse com ele. Que o amasse. 96

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Todd devolveu as fotos ao envelope. Marina deixara muito claro que relacionamento. Que não o amava mais.

não

estava

mais

interessada

naquele

Ele fechou os olhos por um instante e voltou a abri-los. Marina não era o tipo de mulher de entregar seu coração à toa. Seria possível que ela tivesse mudado seus sentimentos tão repentinamente, ou estaria blefando porque qualquer outra opção seria muito dolorida? Haveria ainda uma chance? Todd se ergueu e percebeu que não lhe importavam as chances, esperanças ou desejos. Sempre fora um homem que se fatigara para conseguir o que queria. Se estivera disposto a se esforçar tanto por algo tão insignificante quanto uma empresa, o que não faria para convencer a única mulher que havia amado a lhe dar uma chance? Marina estava fazendo café, quando ouviu a batida à porta da frente. No mesmo instante pensou ser Todd, de joelhos, suplicando para que ela lhe desse outra chance. A cena seria engraçada, se não lhe causasse tanta tristeza. Mesmo sabendo como Todd reagira mal àquela situação, ansiava desesperadamente por lhe dar outra chance. O que a tornava uma fraca. Mas aquilo não impediu que o coração de Marina flutuasse com a antecipação até que abrisse a porta. Embora a pessoa parada lá não fosse Todd, era quase igualmente agradável. — Julie! Você voltou! Marina esticou os braços na direção da irmã ao mesmo tempo em que Julie a puxava para perto. As duas se abraçaram, gritaram, dançaram na soleira da porta escancarada. Em seguida, Marina deu um passo atrás e estudou as mudanças operadas na irmã nas últimas seis semanas. — Quase não dá para perceber que está grávida — disse ela, fixando o olhar no abdome quase reto de Julie. — Mas parece tão feliz! E era verdade. A felicidade estampava um brilho radiante no rosto da irmã. — Estou feliz — confirmou Julie. Nós voltamos ontem à noite, e fiz questão de visitá-la logo pela manhã. Como você está? Marina liderou o caminho para dentro do apartamento. — Estou bem. Ótima. Julie não pareceu convencida. — Não pode estar bem. — Está bem. Que tal, estou me adaptando? Isso serve? — Talvez. — Julie lhe deu outro abraço. — Ficou triste por não estar grávida? — Sim e não. Fiquei animada com o pensamento de estar grávida. Aterrorizada, mas excitada. E então, quando Todd teve aquela reação, eu soube que ter um filho com ele seria um grande erro. Todd não está preparado para confiar em ninguém. Não posso me relacionar com um homem determinado a pensar o pior de mim. Certamente não posso ter um filho com ele. Portanto, não estar grávida é uma vantagem, certo? Marina se esforçava ao máximo para falar com tranquilidade, ser lógica, racional e sensata sobre toda aquela situação. Mas, na verdade, sentia o coração sangrar. Sentia a falta de Todd, do bebê, o que era uma insanidade, e não sabia quando voltaria a ser como era antes. 97

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— Ah, Marina — murmurou Julie. — Sinto muito mesmo. Sobre tudo o que aconteceu. Não deveria ter pedido que vocês planejassem o casamento juntos. Marina segurou a mão da irmã e a guiou até o sofá. Cada uma se acomodou em uma extremidade. — Você não tem culpa nenhuma — afirmou Marina com sinceridade. — Todd e eu fomos os únicos responsáveis pelo que aconteceu. Pensei que estava imune a homens como ele. Todd não faz meu tipo. — Ao que parece, faz — argumentou Julie. — Nem me diga. A questão é que sentimos atração um pelo outro, agimos com base nessa atração e eu estraguei tudo. Supervalorizei o que estava acontecendo. Tudo acabou mal, mas ao menos fiquei sabendo quem ele é. Não perderei meu tempo lamentando a perda de um homem que não pode ser o que preciso. — Então você o esqueceu? — perguntou Julie, soando incrédula. — Estou tentando. A boa notícia é que, se me apaixonei por ele, posso me apaixonar por outro. Levará apenas algum tempo. — Simples assim? — Acho que não será fácil. — Marina pensou em Todd, como ele a fazia rir, como tinham mais em comum do que ela jamais supusera. — Sinto saudades dele e sentirei por um longo tempo, mas vou superar isso e então seguirei em frente. Para fazer o quê? Conhecer outro homem? Não podia se imaginar gostando de outro como gostava de Todd. Pior, embora nunca fosse admitir isso para qualquer outro ser vivo, finalmente compreendia a mãe. Na verdade, ela, Marina, também se conformaria com uma pequena parte de Todd para não o perder por inteiro. Graças a Deus, ninguém estava lhe oferecendo tal opção. — E quanto ao casamento, o ensaio e o jantar após o ensaio? — perguntou Julie. — Será muito difícil para você? Prefere não comparecer? Marina negou com a cabeça. — É o seu casamento. Claro que estarei lá. Eu a amo e quero vê-la se casar com Ryan. Além disso, investi muito nesse evento. — Mas Todd... — Posso lidar com isso — prometeu Marina, esperando que fosse verdade. — Será apenas uma noite e um dia. Sou forte. Não se preocupe comigo. Concentre-se em si mesma e em seu dia perfeito. Você vai se casar com Ryan. Julie sorriu com tanto amor refletido no olhar que era capaz de iluminar toda a sala. — Eu sei. Não posso acreditar como tive sorte em encontrá-lo. Obrigada por tudo que fez por nós. Sou muito grata por ter tornado meu casamento perfeito. Marina teve de piscar várias vezes para dispersar as lágrimas. — Não se apresse em me agradecer. Ainda não viu nada. Disse que queria o tema floresta para a recepção, certo? Porque encontramos as mais graciosas girafas de pelúcia como lembranças do casamento, sem mencionar o CD de “sons da floresta” que tocará na recepção. — Você não fez isso? Você não o faria. — Terá de esperar para ver. 98

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O jantar após o ensaio estava marcado para quinta-feira, antes do casamento. Marina passou a maior parte da tarde com bobes no cabelo em uma inútil tentativa de tornar os fios menos lisos. Geralmente não se importava com seu penteado, mas naquele dia se sentia compelida a mudar. Provavelmente porque teria de passar horas na companhia de Todd e encontrava-se amarga o suficiente para querer parecer muito bem e fazê-lo se sentir mal. Aquele não era exatamente um momento em que poderia se orgulhar de si mesma. Também temia revê-lo. Na floricultura, fora capaz de tornar aquele encontro breve e manter o controle. Embora o ensaio do casamento não a preocupasse, o jantar era outra questão. Seria um evento familiar. Apenas Julie, Ryan, Willow, Kane, Todd, ela, a mãe, Ruth e os pais de Todd e Ryan. Aquilo significava uma mesa pequena e muita conversa. Todos perceberiam se ficasse muito calada ou se ela e Todd não se falassem. Poderia ser algo constrangedor e estranho. Além disso, sua mãe não sabia de nada sobre o relacionamento que tivera com Todd. A não ser que Ruth ou Julie a tivessem informado. Marina gemeu diante do pensamento. Em seguida, colocou o vestido e puxou o zíper nas costas. O tecido azul-marinho realçava a cor de seus olhos e o modelo justo a fazia se sentir especialmente magra. Havia concluído a maquiagem, então tudo que lhe restava era se dedicar ao cabelo. Marina retirou todos os bobes, inclinou o corpo para a frente e começou a pentear os fios com os dedos. Quando se encontravam soltos e, se a sorte ajudasse, com aparência sensual, esticou o braço para pegar o fixador e encontrou uma mão! Ela soltou um grito, aprumou o corpo e deu um salto para trás. Todd se encontrava parado próximo à cômoda, em seu quarto. Um quarto que se encontrava em estado de calamidade, com a cama desfeita e roupas espalhadas por todos os lugares. Mas, comparado à forma como seu coração disparava no peito, Marina não tinha certeza se aquilo tinha alguma importância. Teve apenas uma breve impressão da aparência deslumbrante daquele homem trajado com uma calça cáqui e uma camisa de seda, antes de se lembrar do próprio cabelo e levar a mão à cabeça. — O que está fazendo aqui? —perguntou ela. — Como entrou? Não podia ter batido antes? Ao menos estava vestida, mas Deus! — Bati várias vezes. Depois experimentei a maçaneta. Estava aberta. Você está bem? — Não. Não estava. Marina arriscou um olhar ao espelho e constatou que seu cabelo não estava tão desgrenhado assim, portanto deixou pender as mãos nas laterais do corpo. — Não deveria deixar sua porta destrancada. — Dirigiu até aqui para me dizer isso? Ótimo. Não deveria. Normalmente não deixo. Nem sei por que deixei hoje. Distração, pensou ela. Andava distraída com a possibilidade de vê-lo e, agora que Todd estava parado diante dela, sabia por quê. Ainda o amava. Apesar de tudo que ele lhe dissera, de tudo que acontecera e do fato de que não deveria ter sido tão ingênua, ela o amava. Até mesmo naquele segundo desejava se atirar naqueles braços fortes e ouvi-lo dizer que tudo daria certo entre os dois. Que o que acontecera antes não passara de um baita mal-entendido. 99

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Não que Todd fosse capaz de usar o termo “baita”. — O que o trouxe aqui? — perguntou. — Queria conversar com você — disse ele. — Temos de esclarecer algumas coisas. Certo. O jantar do ensaio. — Tudo bem para mim — retrucou Marina, esperando que fosse verdade. — Sim, será meio constrangedor com nossa família lá. Estive pensando sobre tudo e acho que deveríamos deixar isso para trás. Não tivemos um relacionamento longo. Ninguém sabe o que aconteceu. Bem, minhas irmãs e Ruth, mas elas não contarão nada. Planejamos o casamento juntos, nada mais. Os olhos escuros se fixaram no rosto de Marina. — Foi só isso que aconteceu? — É tudo que admitirei. — Vou propor um brinde esta noite. No jantar. Gostaria que o escutasse para me dizer se podemos melhorá-lo. Todd queria sua opinião? E, pior, era patética o suficiente para estar disposta a dála. — Está bem. Leia. Todd retirou um pedaço de papel do bolso da camisa e o desdobrou. — A bíblia nos ensina que o amor é bondoso. Os estudiosos alegam que o amor pode mudar o curso da história. Os cientistas afirmam que o amor é uma reação química. Os poetas sugerem que o amor é eterno. Mas, na verdade, o amor é muito mais que isso. Tem a ver com acreditar e arriscar. Com o compromisso de estar sempre presente quando uma pessoa precisar de você e acreditar que poderá contar com essa pessoa quando precisar. Amar é aguentar firme durante a jornada acidentada da vida. É ter fé em si mesmo e na pessoa a quem se ama. A Julie e Ryan. Eles são a definição perfeita do amor. As palavras de Todd a envolveram como um abraço. Marina tinha vontade de rir e chorar ao mesmo tempo, mas acima de tudo desejava se aproximar dele e lhe dizer que, não importava o que acontecesse, sempre o amaria. Que aquela também era sua definição de amor. Como ele poderia saber? Mas, em vez disso, Marina se limitou a dizer: — Está muito bom. Eles ficarão emocionados. Todd deu um passo na direção dela. — Estou sendo sincero. Durante muito tempo não soube o que dizer sobre o casamento de Julie e Ryan. Julgava Ryan um tolo por confiar nela. Por fim, sua irmã acabou me conquistando e fiquei feliz por ele. Mas não invejoso. Nunca desejei o que ele tinha, até agora. — Os lábios de Todd se curvaram em um sorriso cauteloso. — Não me refiro a Julie, mas ao fato de ele estar apaixonado. — É bom saber — conseguiu dizer Marina, embora sentisse um nó na garganta. O que ele estaria dizendo? Que gostava dela? Que queria gostar? Que ela era importante? — Conhece a história do meu passado — disse ele. — Sabe por que me retraio, por que nunca me envolvo emocionalmente. Sabe do que tenho medo. — Todd fez um

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gesto negativo com a cabeça. — Não consigo acreditar que acabei de confessar que tenho medo. Tampouco ela podia crer. — Eu sei por quê. — Quando você disse que estava grávida, pensei que era como as outras — prosseguiu ele, olhando-a nos olhos. — Fiquei furioso, embora mais comigo mesmo do que com você. Fiquei irritado comigo por desejar que você fosse diferente. Por querer acreditar que não havia me enganado. Disse muitas coisas que não deveria ter dito. Eu estava errado. Porque você não é como as outras. Os olhos de Marina se encheram de lágrimas, mas ela pestanejou várias vezes para dispersá-las. Todd deu mais um passo em direção a ela. — Quando me disse que não havia nenhum bebê, me senti devastado. Queria ter um filho com você. Eu a amo. Quero me casar com você e envelhecer ao seu lado. Quero morar com você naquela maldita casa que tenho e vê-la mudar tudo em meu mundo. Quero acreditar no eterno. Marina se encontrava à beira de uma explosão emocional, mal conseguindo acreditar que estava ouvindo Todd dizer aquelas palavras. E então ele a deixou perplexa ao se ajoelhar diante dela, segurar-lhe a mão e perguntar: — É capaz de me perdoar? De me dar outra chance? Está disposta a me dar esse voto de confiança e acreditar em mim? Quer se casar comigo? Marina não pretendia cair em prantos, mas foi exatamente o que fez. Também conseguiu dizer que sim com a cabeça, gesto que devia ter sido suficiente, porque, em seguida, Todd estava de pé, envolvendo-a nos braços. Ela se derreteu naquele abraço, sabendo que sempre se sentiria segura quando estivesse com ele. Todd a segurou com força contra o corpo. — Eu a amo — sussurrou ao ouvido de Marina. — Acho que a amei desde o primeiro instante em que a vi. Sentia-me seguro por sermos amigos, portanto baixei minha guarda. Um dia acordei e você fazia parte de mim. Desculpe-me pelo que eu disse e pela reação que tive. — Tudo bem. Eu entendo. — Marina ergueu o olhar e sorriu através de um véu de lágrimas. — Eu também o amo. Todd lhe limpou o rosto com os dedos. — Fico feliz que não tenha mudado de ideia. — Eu queria, mas não pude. Acho que sou mulher de um homem só. — Graças a Deus! Marina soltou uma risada e ele a acompanhou. Em seguida, beijou-a. No primeiro roçar de lábios, todo o mundo de Marina se encaixou no lugar. — Precisamos ir ao ensaio — disse ele, quando interrompeu o beijo para oxigenar os pulmões. — Mas antes. —Todd retirou uma pequena caixa de joias do bolso da frente do blazer. — Isto pertence à minha avó. Se não gostar, posso escolher outro.

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Quando ele abriu a caixa, Marina ofegou. Aninhado em uma base aveludada se encontrava um anel de diamante faiscante. Uma enorme pedra redonda rodeada de diamantes pequenos. A luz incidia nas facetas que a refletiam quase a cegando. — É lindo — sussurrou ela. — Mas é muito. — Grande? — Todd sorriu. — Nós, os Aston, não fazemos nada pela metade. Tem um total de 8 quilates. — Uau! — Excessivo? — Posso me adaptar. Todd escorregou o anel pelo dedo anular de Marina e o anel lhe serviu com perfeição. — Estava destinado a você — disse ele, pouco antes de beijá-la. — Eu a amo. — Eu também o amo. — Marina se entregou àquele abraço e, em seguida, inclinou o corpo para trás. — Isso significa que haverá um Todd Aston IV? — Provavelmente. — Posso viver com isso. — Ela baixou o olhar ao anel e o retirou do dedo. Todd anuiu. — Depois do casamento? — Se não se importar. Não quero desviar os holofotes de Julie e Ryan. — Por mim tudo bem. Temos nossa vida toda para celebrar. Todd pousou a caixa sobre a cômoda e Marina guardou o anel dentro dela. Em seguida, os dois saíram juntos. — Tenho algumas ideias específicas para o nosso casamento — disse ele, enquanto Marina pegava a bolsa. — Sobre a palheta de cores. A arrumação das mesas. Marina soltou uma risada. — Então acha que deveríamos planejá-lo juntos? — Fizemos um belo trabalho neste. Formamos um time campeão. — Sim, tem razão.

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