tecnofobia e tecnofilia - Antonio Renato e Laenne Jane

6 Pages • 2,471 Words • PDF • 248.2 KB
Uploaded at 2021-09-24 13:08

This document was submitted by our user and they confirm that they have the consent to share it. Assuming that you are writer or own the copyright of this document, report to us by using this DMCA report button.


Tecnofobia e Tecnofilia Antonio Renato Moura de Oliveira, Laenne jane de Lima Mendes Curso de Bacharelado em Sistemas de Informação – Instituto Federal do Ceará (IFCE) – Campus Crato Resumo. Existe um paradoxo em relação a tecnologia. Por um lado, a evolução tecnológica é vista como essencial para o progresso humano. Por outro, esta é a razão de todos os males que aflige a sociedade. Este artigo reflete sobre duas atitudes que aparecem com frequência quando se aborda a integração das novas tecnologias na sociedade, a tecnofobia e a tecnofilia, enfatizando suas causas e consequências na sociedade. Abstract. There is a paradox in relation to technology. On the one hand, technological evolution is seen as essential for human progress. On the other hand, this is the reason for all the ills that afflict society. This article reflects on two attitudes that frequently appear when one approaches the integration of the new technologies in the society, the technophobia and the technophilia, emphasizing its causes and consequences in the society.

1. Introdução Atualmente a sociedade cada vez mais depende da tecnologia para se desenvolver facilitando a vida das pessoas em seu cotidiano. O homem, desde sempre, busca maneiras de suprir demandas de sobrevivência e de facilitação da vida cotidiana inventando aparelhos e dispositivos que sirvam a estes intentos. Novas práticas surgiram, novos costumes e tendências, A sociedade passou a ser denominada pelas ferramentas, que utiliza para se modernizar e não pelos seus feitos. Estas conquistas trouxeram, a princípio, uma visão positiva advinda do domínio sobre a tecnologia e moldaram uma idealização do progresso. Porém, num determinado momento, o homem percebe a dicotomia inerente ao tecnológico. O avião, por exemplo, que proporciona ao homem viagens e o encurtamento das distâncias, também foi máquina de guerra. “Invariavelmente, toda realização tecnológica vai acompanhada de alguma valoração, positiva ou negativa” [CUPANI 2011]. Isso tornou o homem cauteloso em relação ao tecnológico. A tecnologia pode ser, então, compreendida como um mal a se evitar, pelos tecnófobos, que enxergam nos aparelhos tecnológicos a fonte de todos os problemas da sociedade, ou, em outra perspectiva, como instrumentos libertadores do homem, já que podem reduzir o trabalho, aumentando o bem-estar, sendo essa a visão dos tecnófílos. Pode-se usar o termo tecnofilia para quem aprecia em excesso, e o tecnofobia para quem aprecia de menos. A questão seria definir o que seria o excesso, e o que seria uma posição equilibrada. A pretensão desse artigo não é dar essas respostas, mas apenas discutir sobre os efeitos das novas tecnologias entre os tecnófobos e tecnófílos, suas causas e consequências na vida destes e da sociedade.

2. Material e Métodos A pesquisa a ser realizada neste trabalho pode ser classificada como bibliográfica descritiva, visto que se utiliza de materiais coletados em livros, artigos, dissertações e teses, pois assim, “Busca conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas do passado sobre determinado assunto, tema ou problema” [Cervo e Bervian 1983] Quanto a metodologia o trabalho em mãos faz a opção pelo método indutivo, que se utiliza de casos particulares para se chegar a uma observação generalizada sobre o tema. Além de utilizar observações indiretas, uma vez que o material a ser utilizado advém de trabalhos já realizados, fatos já trabalhados, por outros autores.

3. Tecnofobia A tecnofobia é definida pelo medo de tecnologias em geral que as pessoas têm. A tecnofobia não é um fenômeno recente. Ao longo do desenvolvimento das sociedades, toda tecnologia apresentou algum tipo de receio. A desconfiança em relação a uma nova tecnologia é normal. Somos programados para ter cuidado com o desconhecido. Mas com um tempo, nos acostumamos com a ideia, e passamos a desejar ter ou usar aquela tecnologia. Porém, em algumas pessoas, esse medo só se intensifica, levando ao que chamamos de tecnofobia. As causas podem envolver vários fatores, tais como: intelectuais, psicológicos, culturais, religiosos, entre outros. O pesquisador Calestous Juna, no seu livro Innovation and Its Enemies: Why People Resist New Technologies (Inovação e seus inimigos: por que as pessoas resistem às novas tecnologias), relata as principais razões para a resistência às inovações. Segundo Juna (2016), as pessoas não temem a inovação simplesmente porque a tecnologia é nova, mas porque a inovação frequentemente significa perder uma parte de suas identidades ou estilos de vida. Além do mais, a tecnologia está evoluindo tão rápido, que não dá tempo da sociedade se acostumar. As esperanças da humanidade como para satisfazer as necessidades de uma população crescente em um mundo em aquecimento estão ligados à introdução de inovações tecnológicas, mas o progresso pode ser dificultado por uma obstrução irracional de mudar. [JUNA 2016].

A primeira razão, segundo Juna (2016), é a resposta intuitiva à inovação. Os oponentes de uma nova tecnologia frequentemente fazem afirmações apelando para saúde, ciência, meio ambiente, psicologia e várias outras disciplinas em busca de suporte, sendo que nem sempre essas afirmações estão fundadas em fatos. “As pessoas reagem intuitivamente, e coletam as evidências que suportam o que eles estão fazendo” [JUNA 2016]. A energia elétrica, por exemplo, quando introduzido na sociedade, era vista como uma ameaça séria à vida. O uso intensivo do celular, por sua vez, podia causar câncer de cérebro. O café podia deixar estéril. Entre outras afirmações que, de acordo com o autor, estava sempre um medo intuitivo em vez de uma ideia racional. Outra razão, segundo Juna (2016), é a imposição a uma inovação, mesmo quando essa podia promover o seu interesse. Como exemplo, nos anos 90 ocorreram as negociações internacionais relacionadas às culturas agrícolas geneticamente modificadas. Os grupos a favor diziam que essa tecnologia poderia reduzir o uso de pesticidas, tendo

em conta que reduziria as pragas das colheitas, o que seria interessante também para os ambientalistas. Porém, mesmo sendo vantajoso, eles eram contra, porque poderia causar danos irreversíveis à natureza. Assim, segundo ele, “há momentos em que novas tecnologias que poderiam ser beneficiais à humanidade (...) acabam frequentemente sendo objeto de oposição pelos mesmos grupos que poderiam se beneficiar delas. ” [JUNA 2016]. Os interesses pessoais também fazem com que as pessoas temam as inovações. Na verdade, de acordo com Juna (2016), elas não temem a novas tecnologias, mas sim as perdas que estas trarão. A tecnologia necessariamente é produtora de trabalho e, portanto, uma ameaça constante à força de trabalho do homem. Na agricultura, por exemplo, houve medo das máquinas substituírem o trabalho humano. A concorrência entre as novas tecnologias e as antigas fazem muitas indústrias serem abaladas, e mesmo dizimadas. A exemplo, as indústrias de mídias físicas estão com grandes dificuldades com o avanço da mídia digital, como a da música, dos jogos ou mesmo dos livros digitais. Os desenvolvedores, por sua vez, não pensam no impacto que suas invenções têm na sociedade, eles estão mais preocupados com a funcionalidade dos produtos que criam. Alguns consumidores, segundo Veiga (1999), se adaptam rapidamente, mas uma parcela da população tem dificuldades, em níveis variados, para se adequar e conviver com uma inovação, podendo chegar até a evita-lo. A população idosa é a maioria, segundo ele, quando se fala de consumidores que evitam a tecnologia. Fronza (2017) afirma que os que não conhecem as novas tecnologias ou não conseguem lidar com elas acabam sentindo-se inferiores. Impossibilitados de usar as novas tecnologias, podem ficar à margem da sociedade por causa desse desconhecimento. Podemos citar ainda os medos dos docentes perante as tecnologias no meio educacional. Segundo Yuste (1999) os motivos são vários: medo de aborrecer os alunos, medo de perder o controle da sala, de que os alunos acabem de perder seus objetivos acadêmicos perante as tecnologias, uma vez que para estes, os aparatos tecnológicos se tornaram praticamente naturais. Há ainda o medo do fim da escola, visto que se trata do fim do modelo de ensino. A mídia como solução seria outro medo, pois os aparatos tecnológicos funcionam pedagogicamente por si mesmo, sem a necessidade de metodologia, o que torna a presença do professor cada vez menos necessária, entre outras coisas.

4. Tecnofilia A tecnofilia, segundo Postman (1994), não permite imaginar o que as novas tecnologias podem desfazer. “Leva o ser humano ao interesse e deslumbramento descomedido pelas tecnologias, à servidão, muitas vezes utópica, pelas máquinas, e à proximidade arrebatadora com o que é tecnológico, tornando-os consumidores indiscriminados” [POSTMAN 1994]. Os tecnófilos, de acordo com Demo (2009), são aqueles que organizam sua vida ao redor de novas tecnologias e acham que sem elas não é possível ter uma vida social de sucesso, e acreditam que os recursos da técnica e da tecnologia são os principais incitadores do avanço da Humanidade. Não podemos falar de tecnofilia sem antes falar do surgimento de novos produtos, cada vez mais potentes, eficientes e baratos faz crescer a massa de consumidores, cada vez mais individualista e acríticas em relação ao que aparece como novidade. Segundo Viana (2015), isso se trata de uma obsolência programada que espalha lixo pelo planeta,

pois demonstra o mau uso da tecnologia, submetida ao consumo e ao desperdício. Frei Betto (1997) afirma que estão sendo construídos super-homens e supermulheres equipados, mas, emocionalmente infantilizados. Não adianta ser superequipado e não conseguir se relacionar com as pessoas. Esses consumidores usam habitualmente computadores, telefones celulares, trocam e-mails, têm redes sociais, e ultimamente, são tecnodependentes, não conseguem viver longe de seus equipamentos, e seus sintomas mais comuns são, de acordo com Lorusso (2008), dificuldades de manter a atenção e concentração, perda de memória, impaciência, irritabilidade, dificuldade para relaxar e controlar o ritmo de suas atividades, dores de cabeça, complicações e distúrbios digestivos, dores nas costas e distúrbios do sono. Uma implicação direta é a vida sedentária que gera outros problemas, como a obesidade, problemas posturais, entre outros. A internet, tão importante atualmente, é uma das principais causas da tecnofilia. Com a popularização desta em meados da década de 90, novos comportamentos humanos surgem, como o chamado vício em internet. Um estudo feito pelo Unicef (2013), constatou que 70% dos adolescentes brasileiros tem acesso à internet, sendo que destes, 64% acessam todo dia. Constatou ainda nessa pesquisa que cerca de 90% dos entrevistados usam a internet para redes sociais. O uso excessivo de redes sociais pode gerar problemas sociais, psicológicos e físicos. De acordo com as autoras Fortim e Araújo (2013), uma experiência interativa pode satisfazer as necessidades pessoais dos usuários, e, portanto, tem um efeito viciante. Além disso, a solidão, a timidez e a ansiedade social podem levar ao desenvolvimento da dependência da internet. Entre os problemas, de acordo com as autoras, inclui um desejo irresistível de usar a rede, com incapacidade de controlar seu uso, irritação quando não conectados e euforia assim que conseguem acesso, obsessão pela vida virtual, não se importando pela vida presencial, como o sono, a alimentação, os relacionamentos offline, preferência pela vida virtual em detrimento da presencial, o que pode trazer muitas consequências negativas, tais como colocar em risco relacionamentos importantes (casamentos, relações entre pais e filhos, etc.), prejuízos escolares e do trabalho. Os jogos eletrônicos também têm seu papel na tecnofilia. Estes, apesar de ser uma das principais atividades de laser das crianças e adolescentes, importantes no desenvolvimento da agilidade no raciocínio e nos reflexos, auxiliando os jogadores a criar estratégia em tempo real, criar soluções para os problemas, entre outras coisas, muitas vezes desenvolve em seus usuários o vício pelos mesmos, por ser uma atividade prazerosa, fazendo com que os jogadores deixem de ter uma vida social ou escolar para se dedicar a seus jogos, o que pode ser prejudicial ao desenvolvimento desse jogador, além dos problemas citado anteriormente.

5. Considerações Finais A tecnologia trouxe uma série de praticidades na vida dos seres humanos, mas também danos que continuam a interferir o desenvolvimento humano. Ela é paradoxal. Aumenta a produção de bens alimentares, mas causa a destruição da natureza, permite produção em grande escala, mas causa desemprego, permite que o homem chegue mais rápido a qualquer lugar do mundo, mas causa a poluição. Não se pode aceitar tudo o que está posto pela tecnologia, tampouco instigar uma abominação excessiva. Não se pode frear a tecnologia, ela veio para ficar, e vai invadir ainda mais a vida das pessoas. Estas não

vivem sem a tecnologia, se tornaram dependentes. A tecnologia é útil, mas não pode ser prejudicial a ponto de escravizar o usuário. Os aparatos, máquinas ou instrumentos, produtos da atividade científica, não são maus nem bons, nem positivos nem negativos em si mesmos. Nem poderíamos tomar esse caráter irracional em tal análise porque estaríamos sendo animistas e inconsequentes, atribuindo a uma construção do próprio homem um comportamento que não lhe é pertinente. O que se pode e se deve analisar, no entanto, é o uso que se faz desses aparatos, máquinas e processos que, aí sim, pode resultar negativo ou positivo, bom ou mau para a vida humana [BAZZO 2014].

Diante da discussão das duas posições, tecnofilia e tecnofobia, defendemos uma posição de equilíbrio. Nem o otimismo e nem o pessimismo constituem uma resposta adequada, pois ambos reclamam sem conhecer mais sobre o assunto. O conhecimento tem então um papel fundamental na procura desse equilíbrio. Se um tecnófobo procurar entender os benefícios das tecnologias, por exemplo, terá mais facilidade para aceitá-la, deixando assim de enxergar ali uma ameaça ou afronta, tendo então mais disposição para aprender a usar a novidade.

Referências BAZZO, W. A. (2014) “Ciência, tecnologia e sociedade: e o contexto da educação tecnológica”. http://www.oei.es/historico/salactsi/bazzo03.htm. Fevereiro.

Betto, F. (1997). “Crise da Modernidade e Espiritualidade”. In.: Brasília Capital do Debate. Elimar Pinheiro do Nascimento (seleção de textos). Rio de Janeiro: Garamond/Codeplan. Cervo, Amado L. e Bervian, Pedro A. (1983) “Metodologia Científica: para uso dos estudantes universitários”. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil. Coelho, Gabriel Souza. (2016) “Tecnofobia Docente: Da Incidência à Excedência”. https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/168762. Fevereiro. Cupani, Alberto. (2011) “Filosofia da Tecnologia: Um convite”. Florianópolis: Editora da UfSC. Demo, P. (2009). “Tecnofilia & Tecnofobia”. B. Téc. Senac: a R. Educ. Prof., Rio de Janeiro. http://www.senac.br/BTS/351/artigo-01.pdf, Janeiro. Fortim, Ivelise e Araujo, Ceres Alves (2013). “Aspectos psicológicos do uso patológico de internet”. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415711X2013000200007. Fevereiro. Fronza, Katia Regina Koerich. (2017). “Nem Tecnofilia, Nem Tecnofobia: Existe um Ponto de Equilíbrio?”. http://www.rio2015.esocite.org/resources/anais/5/ 1442021567_ARQUIVO_KatiaFronzaNemtecnofilianemtecnofobia.pdf. Janeiro. Gazetadopovo. (2017) “Por que há resistência às inovações? Um pesquisador de Harvard tem a resposta”, http://www.gazetadopovo.com.br/economia/inteligenciaartificial/por-que-ha-resistencia-as-inovacoes-um-pesquisador-de-harvard-tem-aresposta-8acraszlkvzk93ogcxbtz0zdb, Fevereiro. Ienh. (2016) “Manual de normas de ABNT”, www.ienh.com.br, Setembro.

Juna, Calestous. (2016) “Innovation and Its Enemies: Why People Resist New Technologies” Oxford University Press, New York. Lorusso, Carla Bitencourt. (2008) “Incidência de Tecnodependência e Síndrome da Fadiga da Informação em Pesquisadores da Área de Tecnologia”. http://sistemas.lactec.org.br/mestrado/dissertacoes/arquivos/CarlaBittencourt.pdf. Fevereiro. Nedel. Luciana P. (2017) “Instructions for Authors of SBC Conferences Papers and Abstracts”, http://www.sbc.org.br/documentos-da-sbc/category/169-templates-paraartigos-e-capitulos-de-livros, Fevereiro. Postman, N. (1994). “Tecnopólio: a rendição da cultura à tecnologia” São Paulo: Nobel. Unicef. (2013) “O uso de internet por adolescentes”. https://www.unicef.org/brazil/pt/br_uso_internet_adolescentes.pdf. Fevereiro. Veiga Neto A R. (1999) “Atitudes de consumidores frente a novas tecnologias”. Dissertação de Mestrado, Campinas, Brasil, PUC-Campinas, http://www.veiga.net/tecnofobia. Fevereiro. Viana, Diego. (2015) “A tecnofobia e a civilização ecológica”. bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/pagina22/article/view/48304. Fevereiro.
tecnofobia e tecnofilia - Antonio Renato e Laenne Jane

Related documents

6 Pages • 2,471 Words • PDF • 248.2 KB

306 Pages • 117,660 Words • PDF • 1.4 MB

5 Pages • 1,168 Words • PDF • 2.8 MB

867 Pages • 110,321 Words • PDF • 1.5 MB

1,136 Pages • 239,113 Words • PDF • 2.5 MB

263 Pages • 100,355 Words • PDF • 1.3 MB

224 Pages • 70,111 Words • PDF • 3.1 MB

132 Pages • 44,807 Words • PDF • 2.9 MB

4 Pages • 919 Words • PDF • 221 KB

368 Pages • 148,518 Words • PDF • 11.7 MB