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SUMÁRIO Capa Sumário Folha de Rosto Folha de Créditos Um bilhete de Bella: CAPÍTULO UM CAPÍTULO DOIS CAPÍTULO TRÊS CAPÍTULO QUATRO CAPÍTULO CINCO CAPÍTULO SEIS CAPÍTULO SETE CAPÍTULO OITO CAPÍTULO NOVE CAPÍTULO DEZ CAPÍTULO ONZE CAPÍTULO DOZE CAPÍTULO TREZE CAPÍTULO CATORZE CAPÍTULO QUINZE CAPÍTULO DEZESSEIS CAPÍTULO DEZESSETE CAPÍTULO DEZOITO CAPÍTULO DEZENOVE CAPÍTULO VINTE CAPÍTULO VINTE E UM CAPÍTULO VINTE E DOIS CAPÍTULO VINTE E TRÊS CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO CAPÍTULO VINTE E SEIS CAPÍTULO VINTE E SETE CAPÍTULO VINTE E OITO CAPÍTULO VINTE E NOVE CAPÍTULO TRINTA CAPÍTULO TRINTA E UM EPÍLOGO
Tradução Ana Paula Doherty
Publicado sob acordo com o autor, c/o BAROR INTERNATIONAL, INC., Armonk, New York, USA Copyright © 2012 Bella Andre Copyright © 2014 Editora Novo Conceito Todos os direitos reservados, incluindo o direito de reprodução total ou parcial. Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Versão digital — 2014 Produção editorial: Equipe Novo Conceito Este livro segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Andre, Bella Perto de você / Bella Andre ; tradução Ana Paula Doherty. -- Ribeirão Preto, SP : Novo Conceito Editora, 2014. Título original: Come a little bit closer. ISBN XXX-XX-XXXX-XXX-X 1. Ficção norte-americana I. Título. 13-13960 | CDD-813 Índice para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura norte-americana 813
Rua Dr. Hugo Fortes, 1885 – Parque Industrial Lagoinha 14095-260 – Ribeirão Preto – SP www.grupoeditorialnovoconceito.com.br
Um bilhete de Bella: Desde o início da série Os Sullivans, tenho esperado a oportunidade de escrever sobre Smith Sullivan. Como astro de cinema ele é extraordinário, mas também é um filho e um irmão incrivelmente carinhoso. Quando ele aparecia em cada livro e logo roubava a cena, eu pensava no que iria acontecer com Smith quando enfim se apaixonasse. E como seria possível ter um relacionamento “normal” com alguém que tem câmeras e jornalistas seguindo cada um de seus passos? Eu amei demais cada minuto que passei com Smith e Valentina enquanto escrevia Perto de Você. Um homem forte como Smith precisa de uma mulher tão forte quanto; portanto, mal posso esperar para que você leia a história de amor deles — supersensual e tocante. Também gostaria de aproveitar este momento para agradecê-lo, mais uma vez, por ler os meus livros! Impossível descrever o quanto significa para mim saber que você se apaixonou pelos meus Sullivans tanto quanto eu, e que tem ajudado a divulgá-los à sua família e a seus amigos. Seus emails, tuítes e postagens no Facebook e no Goodreads tornam ainda melhores os meus dias ocupados com mais um trabalho: o próximo livro sobre os Sullivans. Mal posso esperar para ouvir os comentários depois que você terminar o livro sobre Smith. Especialmente a cena em que ele... Bem, é melhor deixar você mesmo descobrir, não é? Boa leitura! Bella Andre
CAPÍTULO UM Smith Sullivan adorava suas fãs. Elas o apoiaram desde o início da carreira e ajudaram seus filmes a faturar perto de dois bilhões de dólares mundo afora. Sem elas, ele não estaria em São Francisco hoje, prestes a começar a rodar o filme mais importante de sua carreira. Assim, mesmo tendo muitas coisas importantes a fazer antes de começar a filmar de novo, Smith caminhou em direção a um grupo de belas mulheres reunidas do lado de fora das barreiras que sua equipe colocara ao redor da Union Square, onde filmariam hoje. Algumas dessas mulheres trouxeram seus filhos pequenos, mas a maioria estava sozinha e, sem dúvida, disponível. Ao se aproximar, ele disse “bom dia” com um sorriso que manteve no rosto mesmo quando a multidão chegou mais perto. Um sorriso e duas palavrinhas bastaram para uma mulher esticar o braço e apertar a mão de Smith. Pressionou um pedacinho de papel com o nome e o número do telefone na palma da mão dele; ela usava uma camiseta justa com decote em V e um short curto, apesar da névoa fria que pairava sobre a praça. — Estou tão empolgada com seu novo filme, Smith — ela ronronou. Passou a mão pelo braço dele, como se já tivessem se encontrado antes e se conhecessem bem a ponto de ele querer que ela o tocasse. — Obrigado... — Ele esperou que ela dissesse seu nome, já que nunca a tinha visto antes dessa manhã. — Brittany. Ele sorriu para ela. — Espero que você o assista, Brittany. — Ah, mal posso esperar — ela respondeu, com voz rouca. — E quero que saiba que estou livre enquanto você estiver filmando, se quiser conversar sobre esse assunto ou — ela passou a língua sobre os lábios — para fazer qualquer coisa que quiser enquanto estiver em São Francisco. Aproveitando a brecha, uma a uma, as mulheres o cumprimentaram e deram seus números de telefone enquanto diziam que ele era o ator preferido delas e que já tinham visto todos os seus filmes. A mesma cena já tinha se passado centenas de vezes nos últimos quinze anos, e a verdade é que, se ainda tivesse vinte, Smith ficaria mais do que satisfeito em escolher uma daquelas beldades e levá-la para casa para passar uma noite, uma semana, ou até mais, se a mulher fosse legal. Com trinta e seis, porém, estava muito longe daqueles seus primeiros anos loucos... e ele estava cansado de acordar ao lado de mulheres nuas cujos nomes ele não lembrava, que nunca o fizeram rir, cujas famílias ele nunca conheceu. Que contraste com alguns de seus irmãos, que há pouco tempo encontraram o amor, se casaram e tiveram filhos. Toda semana ele atualizava a tela de proteção de seu celular com uma nova foto de sua pequena sobrinha, Emma. Logo, logo sua irmã Sophie teria seus gêmeos e ele mal podia esperar para colocar uma foto dos três bebês Sullivans no celular.
Ainda assim, mesmo depois de testemunhar o quanto a força do amor verdadeiro pode ser poderosa, e quantas coisas maravilhosas podem nascer desse amor, era difícil interromper o ciclo. Sem essas mulheres estranhas em sua cama, ele estava sozinho. Sozinho em mais um hotel. Sozinho em outra cidade. Sozinho em outro país. Longe da família e dos amigos. Cercado por pessoas que queriam alguma coisa dele ou o tratavam como um deus, não como um homem normal. Sim, ele poderia escolher uma daquelas mulheres, mas sabia o que elas queriam: sair com Smith Sullivan. Com o passar dos anos, ele começou a se questionar se algum dia encontraria uma mulher para quem ele não significasse apenas algumas horas picantes entre os lençóis, mas que também o quisesse não só por sua fama. Ainda assim, Smith Sullivan era homem. Um homem muito sensual que adorava as mulheres de todas as formas e tamanhos. Isso queria dizer que, mesmo sabendo que algumas noites de sexo selvagem não acrescentariam nada em longo prazo, Smith nunca seria imune a lindas mulheres. Mais especificamente a uma mulher que o atraía em particular, pensou enquanto Valentina Landon passava com um casaco de lã comprido e grosso para se proteger da friagem da manhã, as sobrancelhas levantadas ao observar as moças que se espremiam e davam risadinhas em volta dele. — Valentina — ele chamou, com a intenção de fazê-la parar de caminhar. Ela se virou para olhar sem o menor sinal de flerte, diferente de todas aquelas mulheres com as quais Smith falava. — Sim? — Você e Tatiana têm tudo de que precisam nesta manhã? — Está tudo na mais perfeita ordem, obrigada — ela respondeu, com voz ríspida. — Você precisa que façamos alguma coisa antes de começar a filmagem em... — Ela olhou para o relógio delicado em seu pulso. — Uma hora? — Só me avise se você ou Tatiana tiverem algum problema, ou se precisarem de mim para qualquer coisa. Ela concordou com a cabeça, a linda boca relaxando de leve enquanto disse: — Obrigada. Avisaremos. Por falta de sorte, nesse exato momento o olhar dela recaiu sobre o monte de números de telefone colocados na mão dele, e ela semicerrou os olhos, enojada. Ainda assim, mesmo quando se retirou com os lábios pressionados em sinal evidente de desaprovação, ela era linda. Smith voltou-se para as fãs e, mais uma vez, agradeceu-lhes o apoio antes de seguir em direção ao trailer que também servia como seu escritório durante as filmagens. Jogando fora os números de telefone sem pensar duas vezes, pegou o roteiro e o laptop e saiu de novo. Ele estava se sentando no trailer de maquiagem quando seu celular tocou, alertando sobre um problema de iluminação que precisava ser resolvido antes que a filmagem começasse.
Era só o início do que seria um dia incrivelmente atribulado, em um set que, nessa ocasião, seria todo dele. Enquanto cuidava do primeiro problema, que, sem dúvida, seria um dos muitos do dia, Smith pensou que não gostaria de trocar sua carreira por nada. Nem pela beleza do vinhedo de seu irmão Marcus em Napa Valley, nem pela adrenalina das vitórias do World Series de Ryan, que jogava pelo Hawks, nem pela velocidade dos carros de corrida de Zach. Smith mal podia esperar para começar a filmar Gravity. A jovem no meio da calçada era maravilhosa, e, apesar disso, o modo como andava, se vestia, usava o cabelo com mechas cor-de-rosa, a maquiagem borrada com arte e os círculos escuros ao redor dos olhos logo a denunciavam como alguém na faixa dos vinte anos, assoberbada e sozinha na cidade grande pela primeira vez. Com os olhos bem abertos, ela sorveu São Francisco; os edifícios, o trânsito, as pessoas apressadas ao seu redor, a névoa que vinha da baía. Por um momento, sua boca quase se curvou em um sorriso, mas a pontada de algo muito semelhante ao medo impediu que o sorriso saísse de seus lábios carnudos. Um cachorro perdido pisou sobre suas botas vermelhas de plástico barato, e a nostalgia no rosto da garota ao agachar para alcançar o animal sarnento era quase triste. Em vez de vir na direção de sua mão aberta, o cãozinho imundo virou-se e correu na direção oposta o mais rápido que pôde. Os grandes olhos verdes de repente foram tomados pelo brilho sutil das lágrimas, suprimidas tão rápido quanto surgiram. Era impossível não desejar que a garota encontrasse a felicidade, o amor e tudo mais que viera buscar em São Francisco. Um pouco mais para baixo na rua, um executivo vestido com um terno escuro feito sob medida e muito, muito caro conversava ao telefone e caminhava apressado, mais rápido do que qualquer um na calçada. A conversa lhe tomava toda a atenção, já que, com voz firme, dava instruções, uma após a outra. Tudo nele emanava poder... e o quanto seu coração era impenetrável. A raiva atravessou o semblante do homem um segundo antes de ele esbravejar no telefone. Como sua atenção estava toda voltada à conversa, ele não notou ninguém na rua perto dele. Não houve nem mesmo uma pequena pausa em suas passadas quando ele chutou a garota, que continuava de cócoras, fitando o cachorro que não ousara confiar nela. Os sapatos italianos de mil dólares golpearam com toda a força a barriga dela, e foi só quando ela gritou de dor que o homem enfim parou de xingar ao telefone, baixou os olhos para a calçada e percebeu sua presença. Era a cena perfeita do fundo do poço ao qual a garota chegara. No entanto, naquele momento em que deveria abaixar a cabeça, seu medo e sua tristeza recuaram. Dessa vez era ela quem estava zangada, e, apesar de o homem tê-la chutado forte o bastante a ponto de lhe arrancar o ar dos pulmões, a garota era jovem e ágil o suficiente para se levantar e ficar em pé na frente do rosto dele em menos de trinta segundos. E daí que ela era muito menor do que ele? E daí que as roupas dele valiam mais do que ela tinha conseguido guardar durante todo o ano trabalhando em jornada dupla na sorveteria de sua
cidade natal? Para ela não importava nem que as pessoas tivessem parado na calçada para assistir a cena. — Você acha que é a única pessoa na face da Terra? — ela gritou para ele. — Falando nesse seu telefone, ignorando todo mundo, chutando qualquer um que passe pelo seu caminho? Antes que ele pudesse responder, ela chegou mais perto e lhe deu um empurrão no peito. — Eu também existo! — Os lábios dela começaram a tremer, mas, de alguma forma, ela conseguiu se controlar ao esbravejar de novo. — Eu também existo! Durante toda a encenação, o homem a encarava, o telefone ainda no ouvido, os olhos escuros absolutamente indecifráveis. Sem dúvida ele estava surpreso com o que acontecera. Não só por ter tropeçado nela, mas pela maneira como se levantara para gritar com ele. Contudo, havia mais do que surpresa nos olhos dele. Havia uma percepção que não tinha nada a ver com a raiva... e tudo a ver com a incrível beleza dela, evidenciada ainda mais pelo rubor em seu rosto e pelo fogo em seus olhos. Tudo o que os rodeava desaparecia conforme ela buscava algum tipo de reação no rosto do executivo, porém ele era indecifrável — e, com um gemido de desgosto, ela saiu de perto dele e começou a caminhar, descendo pela calçada. Antes que pudesse se perder no meio da multidão, todavia, uma grande e forte mão envolveu seu braço e a impediu de fugir. Ela chacoalhou o braço, tentando se desvencilhar dele. — Tire a mão... — Desculpe. A voz dele ressoava um autêntico arrependimento — mais profundo, mais verdadeiro do que qualquer pessoa que trabalhasse com ele pudesse pensar que ele fosse capaz de sentir. Talvez até ele mesmo. A bravata foi o que mantivera a compostura dela até ali. E, naquele momento, quando um homem que nunca pedira desculpas por nada na vida o fez, a garota perdeu a força na qual estava se segurando pela ponta dos dedos. A primeira lágrima mal tinha começado a cair quando ela por fim se desvencilhou dele e começou a correr por entre a multidão, querendo fugir do homem cuja desculpa a tocara mais do que gostaria. A voz profunda do homem chamava pela garota com mechas cor-de-rosa no cabelo enquanto abria caminho pela multidão, mas ela era pequena e rápida e sumiu dele no cruzamento lotado da Union Square. À medida que o restante do mundo corria de um lado para o outro e a maioria das pessoas falava ou enviava mensagens pelo telefone, com a atenção em qualquer outra coisa que não nas pessoas em volta, o homem permaneceu imóvel por completo. E absolutamente sozinho.
Valentina Landon segurou a respiração até ouvir o “Corta!”. Momentos depois, aplausos e gritos de comemoração surgiram da equipe, que estivera enfeitiçada pela cena. De alguma forma ela conseguiu que suas mãos se mexessem, se juntassem em algo parecido com um aplauso, porém estava muito tocada pelo que tinha visto para tentar esconder as emoções. Era a primeira cena do primeiro dia de filmagem de Gravity, mas a história havia mexido com ela e lhe revirado o estômago. A coisa tinha chegado a tal ponto que ela ficava quase se remoendo enquanto esperava para descobrir o que aconteceria depois. Smith Sullivan não só escrevera o roteiro, como também dirigia, produzia e estrelava o filme. Tatiana Landon, a irmã mais nova de Valentina, era uma atriz talentosíssima, com dez anos de experiência. Já fora contratada para dezenas de episódios na TV, filmara alguns pilotos de sitcom ao longo dos anos e há pouco tempo teve papéis coadjuvantes importantes em dois filmes. Mas Gravity era seu primeiro papel principal em uma grande produção cinematográfica. Valentina sempre sentiu muito orgulho da irmã, e o que acabaram de testemunhar sobre Tatiana tinha sido tão bom que Valentina ainda estava com dificuldade para recuperar o fôlego. E ela sabia por quê. Smith Sullivan trouxe à tona até a última gota de magia que a irmã possuía. Então, Tatiana caminhou de volta pela calçada em direção a Smith. Valentina conseguia compreender a irmã como um livro aberto, e, mesmo que estivesse sorrindo para os aplausos do restante do elenco e da equipe, estava claro que a pessoa de quem esperava o veredito final era Smith. Assim como o personagem que estava interpretando, por um momento foi difícil ler a expressão no rosto dele até que esticou os braços para colocar as mãos nos ombros de Tatiana e dizer em alto e bom som, para todos ouvirem: — Você. É. Perfeita. — Seu sorriso era aberto ao tascar um beijo na testa dela. Tatiana piscou para Smith, prazer e orgulho se misturando às estrelas nos olhos da irmã um momento antes de dar o próprio sorriso ofuscante. No lapso de um terrível batimento cardíaco, Valentina perdeu o chão enquanto observava a interação entre sua irmã e o astro de cinema, e cada um de seus medos pelo bem-estar da irmã foi colocado em primeiro plano. Ela não conseguia esquecer a maneira como ele flertara e jogara charme para as fãs que o esperavam do lado de fora do set só para poderem dar uma olhadinha nele, o típico clichê de um astro de cinema. As mulheres se jogavam em cima dele, e Valentina não tinha dúvidas de que ele adorara cada segundo daquela atenção, isso sem falar nos números de telefone em sua mão. Valentina não tinha o menor problema em imaginar o quanto as mulheres estariam explodindo de curiosidade para saber qual delas seria escolhida para aquecer a cama dele esta noite. Não seria a irmã dela nem matando! Quando Smith voltou para ver a gravação, Valentina não pensou, não parou para analisar se estava agindo com bom senso quando se enfiou no meio da equipe para chegar até ele.
— Precisamos conversar. Em particular. Agora. Ela manteve o tom de voz baixo e constante, embora soubesse que todos deviam estar cochichando sobre a audácia dela assim que eles saíram do set, tentando adivinhar qual seria o assunto tão importante que ela teria para tratar com o grande Smith Sullivan. Valentina caminhou em direção ao trailer de Smith, que fora colocado em Union Square para o primeiro dia de filmagem, e, apesar de não ter esperado a resposta dele, podia sentir sua presença marcante atrás dela, a cada passo do caminho.
CAPÍTULO DOIS Gravity era a história que Smith esperara toda a sua carreira para contar. Não era um blockbuster de arrasar, com um orçamento enorme. Nem era um filme de época, com figurino e sotaques pesquisados à exaustão. Em vez disso, era uma história pura e honesta sobre amor e família, e sobre o que de fato importa. E ele estava arriscando toda a sua reputação em uma história aparentemente simples. Se havia algum momento para ter foco, para concentração total e absoluta, era agora e durante as próximas oito semanas de filmagem. Ele não poderia se dar ao luxo de deixar qualquer coisa — ou qualquer pessoa — desviá-lo de realizar o melhor filme que já tivera nas mãos. No entanto, ao seguir Valentina até seu trailer — sua cintura, seus quadris e suas lindas pernas dentro da saia-lápis —, ele já sabia que se ater ao foco não seria uma coisa fácil. Valentina Landon o atraíra desde o início, com sua feição exótica que ela disfarçava com um estilo reservado de mulher de negócios. Ele não pôde deixar de notar o leve tom sedutor na voz dela, ou o fato de seu perfume ser de uma sensualidade pura e marcante. Se ela achava que estava enganando alguém com seus terninhos, os cabelos macios e dourados presos em um rabo de cavalo e os óculos de armação grossa que colocava toda vez que analisava os contratos, estava muito enganada. Será que ela não sabia que todos aqueles elementos conservadores, calculados com cautela, faziam um cara como ele querer descobrir até onde chegavam as paixões dela? Ainda mais quando ela tinha a nítida intenção de escondê-las. Não que Valentina, algum dia, o tivesse deixado chegar perto o bastante a ponto de descobrir a resposta para aquela pergunta. Durante os ensaios, ela estava sempre com a irmã ou saindo da sala no exato momento em que ele entrava. Smith ficara impressionado com a astúcia profissional dela durante as últimas semanas com relação à carreira de Tatiana, e também com a maneira como cuidava da irmã no nível pessoal. Valentina não pegava no pé, mas, ao mesmo tempo, estava por perto toda vez que Tatiana precisava dela. Como o segundo mais velho de oito, Smith sabia como era difícil cuidar dos irmãos e irmãs e, ao mesmo tempo, deixá-los colocar as asas de fora e viver a própria vida sem sua interferência constante. A família era tudo para ele, mas havia também o anseio por sua independência e seu trabalho. Era um jogo de equilíbrio constante, do qual Smith não abriria mão nem por toda a paz, tranquilidade e tempo livre do mundo. Desde o início de sua carreira, depois da faculdade, ele começou a fazer todo tipo de coisa que aparecia, e progrediu a partir daí. Ele sabia que as pessoas achavam que tinha recebido sua carreira de mão beijada, que sua aparência pavimentara a estrada com tijolos de ouro e estrelas de Hollywood. Na verdade, a beleza tornou tão difícil ser levado a sério que, depois dos primeiros dois anos de testes incontáveis, quase aceitou um dos muitos comerciais de cueca que lhe ofereceram. Até que, por fim, um ator mais velho lhe deu a chance de provar que não era só mais um rostinho bonito.
Smith agarrou aquela oportunidade com unhas e dentes, e, quando o filme se tornou um sucesso de bilheteria, outras portas enfim começaram a se abrir. Essa foi uma das razões por ele ter se interessado tanto em ter Tatiana Landon no elenco. Sim, a irmã mais nova de Valentina era linda. Sem dúvida seria uma estrela, de um jeito ou de outro. Quando ela atuava, Smith reconhecia e admirava muitas das suas qualidades. Determinação. Concentração. E alegria. Enquanto Valentina abria a porta do trailer sem o esperar convidá-la para entrar, ele pensou que havia mesmo muita coisa a admirar nas mulheres da família Landon. Em especial a irmã mais velha, que ele não conseguira tirar da cabeça desde que a conhecera naquela primeira reunião do elenco, dois meses antes. E que determinação e concentração. Era evidente que Valentina tinha ensinado tudo o que sabia à irmã. Quando Valentina estava com Tatiana, quando riam juntas do jeito que as irmãs fazem quando são muito próximas, a alegria dela ressoava forte e com clareza. Smith acabara de subir os degraus e entrar, fechando a porta atrás de si, quando Valentina virouse para encará-lo. — Minha irmã não será um de seus brinquedinhos. Pego de surpresa por um minuto, Smith simplesmente repetiu: — Brinquedinhos? Valentina não tinha a beleza óbvia e mais convencional de sua irmã mais nova, mas, para Smith, isso tornava o rosto dela ainda mais fascinante. Com Valentina, um homem precisaria olhar sob a superfície, e, assim que o fizesse, seria muito bem recompensado pelos contornos de suas maçãs do rosto, pelos cílios naturais incrivelmente longos, pelos olhos puxadinhos nos cantos e pelos lábios carnudos com o formato da flecha de cupido que exalava sexo e paixão, não importava o quanto estivessem cerrados. De fato, do jeito exato como estavam cerrados agora. — Tatiana e eu estamos neste negócio há dez anos — ela disse, com voz gélida. — Sei bem como este mundo funciona, Sr. Sullivan. Ele tinha que interrompê-la, se não por outra coisa, porque odiava a maneira como ela usou o “Sr.” para tentar manter distância entre eles. Ninguém o tratava por Sr. Sullivan nesse set. Ele também não permitiria que ela o fizesse, sejam lá quais fossem as razões para querer manter distância. — Pode me chamar de Smith. Os lábios dela se apertaram ainda mais, os olhos pegando fogo de novo, mesmo quando assentiu e disse com voz suave — Smith. Seus dedos longos e magros se contorciam nos punhos fechados ao olhar de volta para ele. — Você é mais velho. Você é bem-sucedido. Você é muito boni... Ela parou um pouco antes de completar a palavra, e ele não conseguiu deixar de sorrir com o
canto da boca. E de dizer: — Obrigado, Valentina. Fico feliz em saber que você pensa assim. Os olhos dela se arregalaram diante da maneira como ele pronunciara seu nome, mais do que apenas um desejo. Qualquer mulher que buscasse sua atenção teria notado que ela conseguira isso semanas antes. Mais uma vez, Valentina não estava querendo chamar a atenção dele — de fato, estava meio que fugindo disso. Valentina era o oposto de todas as mulheres que ele conhecia em Hollywood. Em vez de tentar chamar a atenção para si mesma, esforçava-se para mantê-lo a distância. Smith já havia se transformado em tantos personagens diferentes durante a carreira que sabia que tudo o que precisava era fazer algumas pequenas mudanças no cabelo, nas roupas, na maquiagem e na maneira como ela colocava o corpo enquanto ficava na frente dele para mudar a mensagem de “caia fora” para “chegue mais perto”. Valentina era uma mulher extremamente inteligente. Apesar disso, Smith achava que ela não percebia o quanto ele era levado por seus mistérios, o quanto queria descobrir quem era ela de verdade. E por que ela queria tanto desviar a atenção dos homens, em particular a dele. Ela também não se dava conta do quanto era bom conseguir encontrar uma mulher que não estivesse pronta para se atirar aos pés de Smith Sullivan. Ainda mais quando ele começara a se preocupar que não haveria uma mulher no mundo capaz de enxergar além de sua fama e de todo o brilho que vinha junto com isso. Agora, enquanto a observava tentar conter a raiva, ocorreu-lhe que ela poderia ter sido uma grande atriz. A emoção fervia sob a superfície de seus olhos; a boca, a pele, tudo coberto por uma calma exterior capaz de enganar até mesmo o observador mais cuidadoso. Um dom de família, mesmo que Valentina o tivesse aprimorado para usar na vida real, ao passo que a irmã o usava em frente às câmeras. Uma irmã tão fechada, a outra tão despachada. Smith não pôde deixar de se perguntar: será que Valentina tinha sacrificado sua sinceridade para que a irmã pudesse ter tal liberdade? Ela apontou para a pilha de números de telefone amontoada sobre a mesa dele, o lábio superior curvado de leve. — Você tem muitas mulheres aos seus pés. Mais do que suficiente para qualquer homem ter a vida inteira. Se ele não estivesse com tanta pressa naquela manhã, teria jogado os números fora em vez de apenas colocá-los em cima da mesa. Com qualquer outra pessoa, ele teria explicado a situação; com Valentina, achou que não tinha de se defender, porque não fizera nada de errado. — Estava falando sério quando pedi que falasse comigo se tivesse algum problema — ele disse, com a voz inalterada. — Fico feliz que tenha se sentido à vontade o bastante para me chamar de canto esta manhã, mas sinto muito por ainda não conseguir entender o que a está incomodando. — Vou lhe dizer com precisão o que está me incomodando: você e eu sabemos a força que você
tem. Nós dois também sabemos que minha irmã é perfeita para este filme. Ele concordou. — Você acabou de me ouvir dizer isso a Tatiana. — E foi a glória para ela. — Em vez de parecer feliz com isso, um raio de preocupação atravessou o rosto de Valentina. — Você é um modelo para Tatiana. Ela nunca se envolveu tanto em uma produção. Tudo o que quer é fazer o melhor para você, e sei que ela dará mil por cento para conseguir exatamente isso. — O olhar dela foi direto, sem piscar, quando disse: — Em troca, quero que você me dê sua palavra de que não irá ultrapassar o limite profissional com ela. Que droga. Ele não tinha contratado Tatiana para estrelar seu filme com planos nefastos de sedução! Ele a contratara por ser uma excelente atriz, que iria ficar cada vez melhor. Se não fosse pelas duas acusações sem sentido em menos de dois minutos, ele teria se dado o trabalho de dar uma resposta mais atenciosa a Valentina. Mas, naquela situação, ela estava questionando a honra dele a partir do momento em que conhecera a irmã dela. Talvez de forma velada, mas a questão esteve lá o tempo todo. A honra era tudo para ele, e agora Smith sentia-se como uma onça cutucada com vara curta, saindo da toca ameaçadora e rosnando. E foi por isso que lhe deu uma resposta sabendo que iria mais agravar do que amenizar a situação. — Sua irmã já assinou o contrato. Em vez de recuar daquilo que muitas pessoas tomariam como um aviso, Valentina chegou mais perto dele, tão perto que Smith conseguiu sentir o cheiro de lavanda de seu xampu. — Andei me informando sobre você antes de assinarmos o contrato para este filme. Todo mundo me disse que você era diferente. — Os olhos dela recaíram de novo nos números de telefone sobre a escrivaninha, e então de volta a Smith. — Mas você é igual a todo mundo, não é? — As labaredas nos olhos dela alcançaram um novo patamar quando continuou: — Não estou nem aí para o que ela assinou. Se fizer qualquer coisinha que magoe minha irmã, se ousar brincar com os sentimentos ou com o corpo dela, eu... — Que droga, Valentina — ele respondeu, alto o bastante a ponto de interrompê-la. — Não vou seduzir sua irmã! — E precisou se esforçar para baixar o tom de voz. — Tatiana é jovem e linda, e eu vou trabalhar feito louco para garantir que ela ganhe um Oscar pelo papel no meu filme. Só que eu não a quero para mim. Ainda assim, mesmo Smith tendo reafirmado suas intenções com relação à irmã, não havia como evitar que as palavras silenciosas Eu quero você não ficassem pairando no ar entre eles. Ele tinha certeza de que isso fez com que ela desse um passo para trás quando declarou: — Eu vi a maneira como você a pegou e a beijou depois da cena. Eu vi a maneira como ela olhou para você, como se você tivesse a chave de todos os segredos do universo. Por ter duas irmãs e uma mãe a quem amava, ele percebeu o quanto tinha lidado mal com essa situação. Em vez de ficar na defensiva e jogar o contrato assinado na cara dela, como faria um
péssimo grande astro de cinema que teria o mundo a seus pés num simples estalar de dedos, Smith deveria ter feito o que fosse possível para garantir que Tatiana estava em boas mãos. — Sua irmã fez um trabalho tão fantástico na primeira cena que eu me animei e quis que soubesse o quanto estou feliz por trabalhar com ela. Mas, com toda sinceridade, não acho que ela tenha encarado meu entusiasmo do jeito que você está pensando. Ele podia ver que Valentina ainda estava abalada, mas ela respirou fundo e, por fim, recuou o necessário para comentar: — Espero mesmo que não. Smith achava que os olhos dela fossem de um verde um pouco mais escuro que os da irmã, mas agora conseguia ver que tinham uma linda cor castanho-dourado, verde-claro na parte de dentro, marrom mais escuro do lado de fora. Smith nunca se interessou muito pela perfeição, menos ainda depois de tantos anos em Hollywood, onde as pessoas contratavam médicos para dissecá-las e depois juntar suas partes até ficarem parecidas com as bonecas com as quais suas irmãs brincavam quando eram pequenas. Então, chegou perto o suficiente para ver as leves manchas escuras na pele delicada embaixo dos olhos dela. — Deve ser muito cansativo ser o cão de guarda de sua irmã o tempo todo. — Não sou o cão de guarda dela. Sou a irmã dela, e a amo. Eu... — Valentina respirou fundo, deixando a exaustão aparecer por um momento. — Preciso garantir que ela esteja em segurança. Sempre. — Sua irmã tem sorte em ter você para protegê-la, Valentina. Mas quem protege você? Mais uma vez os olhos dela encontraram os dele, arregalados de surpresa... e um desejo que ela não conseguia mais esconder quando seus olhos castanho-dourados dilataram até o verde perto da pupila empurrar todo o marrom para o contorno. Minha nossa! Como quis beijar aqueles lindos lábios quando ela levantou o queixo e seus olhos brilharam para ele mais uma vez. — Não preciso de ninguém para me proteger. Valentina saiu do trailer sem olhar para trás. — Val, você está aí! Valentina podia ver que Tatiana ainda estava eufórica tanto pelo excelente desempenho quanto pelo elogio de Smith, e também que estava claramente preocupada porque sua irmã-agente tinha arrastado o produtor executivo e o diretor-astro do novo filme para o trailer depois de terem feito a primeira cena. — Você estava fabulosa! — Valentina comentou, colocando os braços ao redor da irmã mais nova. Valentina era esguia; Tatiana, curvilínea. Ela era alta; a irmã, baixa. Ela nunca fora a beldade
que Tatiana fora, mas Valentina nunca quis isso. Não, porque sabia quanta responsabilidade vinha junto com tanta beleza; e quanta pressão existia sob o brilho dos holofotes. — Precisa de alguma coisa antes dos close-ups? — Não, estou ótima. — Tatiana respondeu antes de acrescentar: — Está tudo bem? — Claro. — Valentina sorriu. — Melhor impossível. E estava, pelo menos no que dizia respeito aos planos de Smith com relação à irmãzinha dela. A última coisa que queria para a irmã era que ela tivesse um relacionamento em Hollywood. Até ali, por milagre, não houve problema com nenhum dos homens com quem Tatiana trabalhara, mas Smith era pelo menos mil vezes mais carismático do que qualquer outro dos colegas de cena da irmã. Mesmo assim, apesar de todo o charme, beleza e poder de Smith, Valentina acreditou quando ele lhe disse que não seduziria sua irmã. Claro que ele era um excelente ator, mas cada um dos instintos dela dizia que Smith não estava representando quando lhe disse aquilo. Infelizmente aqueles mesmos instintos também lhe revelaram outras coisas. Como o simples fato de ficar em pé no mesmo ambiente que ele já fazia o coração dela saltar no peito, como se fosse uma adolescente apaixonada. E como o som do nome dela nos lábios dele — todo mundo a chamava de Val; por que ele tinha de ser a única pessoa no mundo a sempre chamá-la de Valentina? — a fazia desejar que Smith o sussurrasse na curva de seu pescoço, um pouquinho antes de lhe beijar a pele sensível. Valentina não estava zangada com ele por isso. Como poderia? No entanto, estava brava consigo mesma por ser tão mais fraca do que imaginava. Ao chegar mais perto dele no trailer e cometer o erro de olhar dentro de seus olhos, fora tomada por um turbilhão de desejo tão forte que a fez perder o fôlego. Smith Sullivan era lindo na tela, e era ainda mais arrebatador ao vivo. Ela poderia estar com os olhos tampados que saberia que ele estava na sala, tal a força de sua presença. Havia uma sensualidade inata em cada olhar, em cada movimento. Smith não tentava atrair as pessoas; ele atraía. Tudo, do formato masculino de seu maxilar à maneira como os tendões de seu pescoço se moviam quando ele virava a cabeça, fazia com que fosse, sem o menor esforço, um escândalo de homem. Ao mesmo tempo, ela não era tola a ponto de considerá-lo apenas um rosto bonito que teve sorte. Sem dúvida, ele era um ator nato. Apesar disso, durante os ensaios ela vira como ele se esforçava, o tempo todo, para interpretar bem cada nuance da cena. Aliviada pela resposta de que tudo estava bem, como estava claro, Tatiana enroscou um braço no de Valentina enquanto caminhavam de volta para o set. Smith já estava lá, discutindo algum assunto com o diretor de fotografia. — Você sabia que, antes de começarmos a gravar hoje de manhã, ele me disse mais uma vez o quanto estava feliz por trabalhar comigo? — Tatiana perguntou. — E que se houvesse qualquer coisa com a qual eu não ficasse à vontade para eu procurá-lo na mesma hora.
— Isso é muito bom. — E muito mais amável do que qualquer outro ator ou diretor com quem a irmã já tinha trabalhado até agora. Ao longo dos anos, Valentina perguntara à irmã, em mais de uma ocasião, por que ela queria ser atriz. Cada vez as razões dadas por Tatiana — adorava entreter e fazer as pessoas esquecerem a própria vida durante alguns momentos — faziam sentido intelectual, mas, ainda assim, Valentina não conseguia entender por que alguém escolheria viver a vida sob um microscópio. É que, quando Tatiana fosse uma grande estrela, como Smith, era isso que a vida dela se tornaria: cada passo seria dado sob as luzes dos holofotes, capturado por milhares de câmeras e contado em detalhes nos jornais, revistas e blogs. Pensar em viver uma vida desse jeito já fazia Valentina se arrepiar de horror. Tatiana deu um suspiro beirando a idolatria. — Ele é incrível, não é? Ainda não consigo acreditar que estou trabalhando com ele. Valentina tentou entender se havia mais do que admiração profissional na colocação de sua irmã. Por que, com toda a sinceridade, como poderia não haver? Smith era lindo, talentoso, gentil... Ela se conteve ao chegar ao gentil. Uma coisa era reconhecer a beleza dele e seu talento para atuar. Outra coisa bem diferente era começar a fantasiar sobre a pessoa fantástica que ele era sem conhecê-lo bem. Por sorte, a irmã não tinha tempo para esperar a resposta com relação a quanto Smith era maravilhoso ou não, pois foi chamada a voltar para a frente das câmeras. Nas horas seguintes, Valentina observou Tatiana realizar seu trabalho, com uma profunda sensação de orgulho. Valentina não só nunca deixara nenhum ator machucar a irmã no lado emocional como também fazia questão de que nunca a tratassem como uma linda cabeça de vento. Isso era boa parte do motivo de escolherem seus papéis com tanto cuidado, em vez de sempre aceitarem as melhores ofertas financeiras. Percepção, Valentina sabia, era tudo em Hollywood. E ninguém jamais teria a chance de sussurrar que as mulheres Landon eram fáceis ou idiotas. Pelo menos não nesta geração, ela pensou quando o celular vibrou em seu bolso e desceu os olhos pela tela para ver que a mãe estava ligando. Perguntou-se quando Ava Landon pediria para visitar o set. Ou, sendo mais específica, para conhecer Smith Sullivan. Valentina respirou fundo e empurrou o celular de volta ao bolso de sua jaqueta bem talhada. Sua mãe não era má pessoa; apenas tinha um fraco por homens lindos e famosos que ganhavam a vida em frente às câmeras. Valentina, assim como a mãe, adorava sorvete de chocolate, o pôr do sol na praia e cantores dos anos 1950... mas se recusava de modo absoluto a deixar que a genética a pusesse no mesmo caminho com relação aos homens. Um dia, quando a carreira de Tatiana estivesse um pouco mais no piloto automático, os planos
de Valentina eram encontrar um bom homem e apaixonar-se. Ele seria bonito, inteligente, bemhumorado e teria mãos fortes. E não teria absolutamente nada a ver com o ramo de entretenimento. Pipoca em um sábado à noite seria o mais próximo dos filmes que o futuro marido dela um dia chegaria.
CAPÍTULO TRÊS Uma semana depois, Valentina parou no degrau da frente da casa de Smith e respirou fundo, sentindo o ar com cheiro de flores. Lindos e nem sempre fáceis de brotar, os lírios se espalhavam por toda a frente da garagem larga. As flores eram um toque inesperadamente suave para um homem tão másculo. Ela passara os últimos dez anos frequentando reuniões parecidas com essa — os astros em geral gostavam de exibir suas casas. Assim, não havia razão para se sentir tão deslocada. Além disso, sua irmã chegaria logo, então Valentina não estaria sozinha por muito tempo com o parceiro de cena de Tatiana. Durante os últimos dias de filmagem, ela resolveu que a melhor maneira de pensar em Smith era como o coadjuvante de Tatiana. Isso o despersonificava, tornava-o quase um adereço. Só Deus sabe o que aconteceria se esquecesse de si mesma e se deixasse pensar nele com um homem, como se pegara fazendo algumas vezes nos últimos dias. Se tivesse se lembrado disso dois dias atrás, quando filmara a cena na qual ele estava malhando sem camiseta, teria feito questão de ficar longe do set. Ela ficou de queixo caído ao ver os ombros musculosos e bronzeados, os bíceps, tríceps e abdominais bem-definidos. Ai, ai, como foi difícil virar as costas para toda aquela beleza máscula incrível. Tão difícil que, na verdade, não conseguiu. Infelizmente, tinha quase certeza de que Smith a vira babando por ele, a julgar pela expressão em seu olhar quando se afastou dos pesos e foi até os monitores para assistir à gravação. Agarrando a bolsa de couro com força, Valentina por fim tocou a campainha. Ficou surpresa quando uma bela mulher com um sorriso radiante abriu a porta. — Oi, entre. Sou Nicole. Você deve ser a Valentina. Smith disse que você chegaria a qualquer momento. — Valentina apertou a mão da moça sem pensar enquanto ela continuava a falar. — Os rapazes estão na cozinha preparando uma rodada de margaritas para comemorarmos. Valentina ficou confusa por alguns segundos até perceber que Nicole era, na verdade, Nick, a popstar cujas canções não paravam de tocar no rádio. Por que Nick estava aqui? Quem eram os rapazes? E o que estavam comemorando? Será que Smith tinha confundido os planos e ela acabara de entrar, por acaso, em algum tipo de orgia de celebridades, prestes a começar? No entanto, ao seguir Nick — ou Nicole, como ela se apresentara — do saguão até a cozinha, com certeza a outra mulher não lhe pareceu estar vestida para uma orgia. Não com aquele jeans skinny e um suéter na altura dos quadris. Smith ergueu os olhos de trás do liquidificador com um sorriso que fez o coração de Valentina
bater ainda mais rápido. — Valentina — ele chamou, degustando o nome dela só um pouco mais do que ela gostaria para ficar à vontade. — Chegou na hora certa. Posso ver que já conheceu Nicole. Este é meu irmão Marcus. Se não tivesse olhos só para Smith, teria notado o homem atrás dele. Marcus também era bem agradável, mas um pouquinho mais velho do que Smith. Enquanto Nicole se enfiava embaixo do braço de Marcus, inclinando-se em sua direção, ele acariciava o rosto dela com os nós dos dedos, como se a mulher nunca pudesse deixar de agradá-lo. O peito de Valentina apertou-se com algo que se recusava a admitir ser desejo. Ela tentava não ficar encarando, no entanto era difícil desviar os olhos de uma afeição tão pura e profunda. — Muito prazer em conhecê-lo — ela disse, sentindo-se um pouco estranha e deslocada nessa pequena reunião de família, usando o tailleur com o qual passara o dia todo no set, enquanto todos os outros vestiam roupas mais informais, como jeans e suéter. Smith arrancara os sapatos, e ela ficou incomodada ao perceber que achava até os pés dele atraentes. Quando ele levantou o braço para segurar a tampa do liquidificador no lugar e ligá-lo, a sensualidade pura dos músculos e tendões se mexendo de leve nos braços dele a deixou enfeitiçada por alguns minutos. Deveria ser necessário mais do que alguns centímetros de pele dos braços dele para fazer o coração dela disparar e o frio na barriga aparecer. Na verdade, era ridículo que os braços de um homem pudessem ser sexies daquele jeito. E Valentina estava se sentindo ainda mais ridícula fazendo-se de boba, como se tivesse sido criada em uma casa bizarra e puritana, onde nunca tivesse visto os braços nus de um homem antes. O sorriso de Marcus foi caloroso ao dizer: — Prazer em conhecê-la, Valentina. Sabendo que as bochechas ainda estavam ruborizadas, ficou feliz pela distração de Smith entregando as margaritas. Ela não planejara beber nada esta noite, não se quisesse manter a mente clara ao máximo, mas também não queria ser a única estraga-prazeres de seja lá o que eles estivessem comemorando. Smith permaneceu ao lado dela enquanto mudava o foco de volta para seu irmão e Nicole. — Gostaria de fazer um brinde ao noivado. Não poderia estar mais feliz por vocês. Os olhos de Valentina se arregalaram ao perceber em que tipo de situação tinha entrado. Não em uma orgia, mas em uma comemoração familiar. Não era à toa que havia um amor tão visível entre Marcus e Nicole, e que ambos estavam resplandecendo de felicidade. — Obrigada. — Nicole comentou, com um sorriso lindo. — Afinal de contas, Smith, foi você quem ofereceu um lugar para que eu e Marcus passássemos nossa primeira noite juntos. Mesmo... — ela continuou a falar com um olhar brincalhão para o noivo — que seu irmão não tenha feito nada além de me dar alguns beijinhos pequenininhos, por mais que eu insistisse. Valentina sentiu os olhos se abrirem ainda mais, mesmo que tentasse se controlar. Nicole tinha
implorado a Marcus para fazer algo mais do que beijá-la na primeira noite deles juntos? E ele resistira? — Mesmo? — Smith falou, reforçando a palavra com pura curiosidade enquanto se inclinava para a frente, tentando convencer Nicole a soltar mais podres sobre o irmão. — Conte mais. Antes que ela começasse, porém, Marcus lhe cobriu os lábios. Quando enfim se separaram, ele murmurou: — Que bom que sei como mantê-la em silêncio. Ele com certeza sabia, Valentina pensou, pois o beijo de Marcus sem dúvida fez Nicole perder o fio da meada do que estava pensando. As faíscas entre eles quase podiam queimá-la, do outro lado da mesa de apoio da cozinha. Para ela, era evidente o quanto estavam apaixonados. Valentina desejou que eles tivessem consciência do quanto eram sortudos por terem encontrado um ao outro. — Parabéns! — ela cumprimentou. — Estou feliz por vocês dois. Os olhos de Nicole estavam um pouco brilhantes no momento em que os quatro ergueram as taças e brindaram juntos. Valentina ficou impressionada com o quanto estar ali com eles naquele momento parecia ser a coisa certa. E o quanto aquilo era natural, considerando que duas das pessoas na sala eram celebridades bona fide. Na verdade, tão natural que, ao tomarem um gole e a mão de Nicole brilhar com joias coloridas, Valentina não resistiu a fazer um comentário: — Seu anel é lindo! Nicole quase saltou até o outro lado da mesa da cozinha para exibir o anel de noivado. Não era um solitário de diamante comum, mas um maravilhoso chuveiro de pedras multicoloridas sobre uma exclusiva armação de ouro martelado. Enquanto admirava o anel, Valentina pensou que os homens da família Sullivan não faziam as coisas pela metade. De repente, pegou-se imaginando como seria pertencer a um deles. E saber que um Sullivan lindo e forte sempre estaria por perto para apoiá-la. Foi muito mais difícil do que deveria tirar esses questionamentos bobos da cabeça quando ela e Nicole por fim se juntaram aos dois irmãos. Com certeza, pensou ao alcançar o próprio copo de novo, só mais dois golinhos não a fariam perder a cabeça. No entanto, ao perceber que os olhos escuros de Smith estavam sobre ela enquanto dava um gole na bebida, de repente soube que, se havia alguma coisa que a faria perder a cabeça, não seria a bebida. Seria ele. Estava prestes a apoiar o copo e pedir licença da comemoração familiar inesperada, para preservar-se, quando Nicole perguntou:
— Está gostando de São Francisco? Era uma pergunta absolutamente fácil, que deveria ser simples de responder. Acontece que, com Smith a poucos metros de distância e seus olhos focados nela enquanto esperava por uma resposta, tornou-se quase impossível. Valentina podia sentir seu batimento cardíaco palpitando nos pontos de pulsação, na parte interior dos pulsos e do lado do pescoço, e sabia que sua pele começara a ruborizar com o calor que sempre sentia quando Smith estava por perto. Ela não queria despertar a atenção dele, dissera a si mesma que não a queria direcionada para si, mas, depois da conversa que tiveram no trailer na semana anterior e da maneira como, mais de uma vez, o pegara olhando para ela no set, com seu olhar escuro e cheio de desejo, ela não podia mais negar. E também não podia negar que ele parecia estar tentando enxergar por trás de suas roupas conservadoras e do cabelo puxado para trás, que queria olhá-la mais a fundo do que ela gostaria. — Eu adoro São Francisco. Apesar de estar bem mais quente do que eu esperava. — O sol acabara de se pôr, mas ela, de repente, sentiu-se tão quente na cozinha de Smith que precisou desabotoar o blazer do tailleur e tirá-lo dos ombros. — Você e sua irmã devem ter trazido o sol com vocês, pois no mês passado estávamos todos usando roupas de ski para atravessar a névoa grossa e buscar a correspondência. — Nicole comentou, com uma risada que lhe iluminou o rosto já de uma beleza estonteante. Não era à toa que o irmão de Smith estava apaixonado. Nicole não só era bonita como também era, de modo evidente, uma pessoa muito agradável. — Eu sou todo a favor da névoa — Marcus falou, enquanto dava um beijo no rosto da noiva. — Em especial se isso significar que cabe a mim mantê-la aquecida. Valentina não sabia muito sobre o ramo da música, mas achou que o nível de estrelato de Nicole não seria muito diferente do de um astro de cinema. E, ainda assim, ela conseguira encontrar o amor de um homem que, sem dúvida, a queria apenas pelo que era. Por que, Valentina se perguntou, sua mãe não tivera essa sorte com nenhum dos atores que havia namorado? Se apenas um deles tivesse tido um coração de ouro, tudo teria sido diferente. Melhor. Infelizmente o único ouro que existiu fora o das alianças das mãos bobas dos namorados, quando achavam que a mãe dela não estava olhando. Valentina aprendera alguns movimentos muito simples, porém eficazes, quando tinha uns vinte anos. No mínimo tinha aprendido a cuidar de si mesma e da irmã. — Que partes da cidade você já teve oportunidade de conhecer até agora? — Marcus perguntou. Valentina deixou os pensamentos de lado, sorriu e respondeu: — Apenas o melhor set do mundo. — Smith conhece esta cidade bem melhor do que qualquer um de nós — Marcus disse a ela. — Seria um ótimo guia turístico. — Conte para mim, Valentina — Smith falou com tanta delicadeza que ela quase se perguntou se
os três tinham escrito o roteiro antes de ela chegar. — Qual é o ponto turístico de São Francisco que mais gostaria de ver? Durante os últimos minutos, Valentina percebera que o problema em ver Smith tão relaxado, tão à vontade com a família dele, era quase se esquecer de que precisava manter a guarda quando ele estivesse por perto. Sentia-se com ele como se sentia com a própria irmã. Foi ótimo ter trancado o coração para atores, muito tempo atrás. Tendo prisões de segurança máxima na cabeça, a resposta veio em uma palavra só: — Alcatraz. Em vez de entender a óbvia mensagem na resposta dela e recuar, os olhos de Smith sorriram. Nem Nicole nem Marcus fizeram um bom trabalho ao tentar esconder o próprio riso por trás de uns engasgões. Ao final, nem mesmo Valentina conseguiu segurar a própria risada. E foi nesse exato momento que percebeu que precisava ir embora na mesma hora: estava ficando à vontade demais com Smith e sua família, sentindo-se muito íntima, acolhida e muito bem com eles. — Muito obrigada por me incluir em sua comemoração — ela agradeceu Marcus e Nicole com um sorriso caloroso —, mas preciso ir. Direi a Tatiana que remarcaremos nossa reunião, Smith. Porém, antes que pudesse colocar a bolsa de volta no ombro, Marcus estava dizendo: — Na verdade só demos uma passadinha por alguns minutos para contar as boas-novas para o Smith. Minha mãe está nos esperando para jantar. Quando Valentina percebeu, estava apertando as mãos do casal feliz, os dois dando um abraço de boa-noite em Smith, e ela estava sozinha no meio da cozinha enquanto ele os acompanhava. O som da porta da frente se fechando fez o coração dela disparar dentro do peito outra vez. Não havia razão para entrar em pânico só porque estavam sozinhos. E, se era evidente o fato de Smith ser tão próximo da família e estar tão feliz por seu irmão ter servido para comovê-la um pouquinho, ela daria conta daquele sentimento. Ou não?
CAPÍTULO QUATRO Após aquele primeiro dia no set, quando Valentina arrastou Smith até o escritório dele e o advertiu para não brincar com sua irmã, ela se forçou a ficar longe dele, e era absolutamente educada quando se encontravam em grupos para discutir algum assunto relacionado ao roteiro, ao figurino ou à agenda de Tatiana. Até mesmo quando assistia à filmagem, permanecia completamente focada na irmã. Perfeito demais. No entanto, se o plano era tentar desaparecer da frente dele, não fora muito bem-sucedida. Não importava quantas vezes ele se lembrasse de não ter tempo para pensar em nada além de seu filme, Smith não conseguia tirar Valentina da cabeça de jeito nenhum. Não era só por causa de suas pernas incríveis e de sua beleza exótica. Em Hollywood um corpo fantástico e um rosto lindo eram essenciais. Mas, depois de vê-la com Nicole e o seu prazer genuíno ao ver o maravilhoso anel de noivado e sua promessa de felizes-para-sempre, ele se lembrou do quanto a família significava para ela. No set, e com ele, ela era toda profissional, mas bastava a irmã precisar de algum apoio emocional para ela deixar de ser uma executiva para se transformar de novo em irmã. Uma irmã capaz de um amor tão profundo, impossível de se controlar. — Meu irmão é um cara feliz de verdade — Smith comentou ao voltar para a cozinha e encontrá-la com a taça na mão, olhando através da janela para as luzes da cidade. — Os dois são — ela disse enquanto trazia o belo olhar de volta para ele. — É lindo de se ver. — Eu não tinha muita certeza sobre eles no início — ele admitiu, reconhecendo que não tinha estimulado os primeiros dias de relacionamento do irmão. — Mas, de alguma forma eles conseguiram administrar a diferença de idade e as exigências da carreira de cada um. — Marcus também trabalha no ramo de entretenimento? — Não. Nada a ver com isso. Ele é dono da Vinícola Sullivan. — Uau, uma pena não saber que ele estava por trás de alguns dos meus cabernets favoritos. Gostaria de agradecê-lo por todas as horas de prazer que me proporcionou. Ela estava visivelmente surpresa pela profissão de Marcus, e, mais uma vez, Smith adorou que não soubesse quase nada da vida dele, quando qualquer fã poderia ter recitado os nomes e as carreiras de seus irmãos de memória. Smith também adorou a maneira como ela falou de prazer, ainda que tivesse dado o crédito a seu irmão por isso. — Agora entendi o que quis dizer com as exigências de carreira dos dois — ela comentou. — Eles vivem de fato em mundos diferentes, não é? Smith encheu as taças de novo e as carregou de volta para a sala. — Imagino que seja um malabarismo coordenar os tours dela com as temporadas atarefadas na vinícola, mas é óbvio que se amam o bastante para fazer tudo funcionar.
Ao colocar os drinques sobre a mesa de centro da sala, Smith pôde ver a surpresa dela ao encontrar um quebra-cabeça montado pela metade. — Eu adoro quebra-cabeças! Tatiana e eu costumávamos montá-los juntas o tempo todo antes de virarmos mulheres ocupadas. De imediato, ela se sentou no sofá de chamois, pegou uma peça do quebra-cabeça e encaixou-a no lugar. Smith colocou-se ao lado dela e arrastou uma peça no canto de uma das orelhas do cachorro enquanto ela encaixava outra peça no lugar do nariz. Ficou feliz ao vê-la se esquecer de manter a maldita distância que julgava tão necessária. A companhia agradável foi exatamente o motivo de Smith tê-la trazido até a mesa de centro, onde o quebra-cabeça de três cachorros brincalhões estava montado pela metade; e era mais um motivo para amar tanto Summer, a futura enteada de seu irmão Gabe. A menina de 8 anos tirara a foto dos três cachorros sentados um em cima do outro com as orelhas abanando ao vento, e a transformara em um quebra-cabeça para ele. As irmãs gêmeas dele também eram fantásticas quando tinham 8 anos. Bem, elas foram fantásticas em todas as idades, e mesmo que, às vezes, parecesse que sua irmã Lori — também conhecida como “Mazinha”, em contraposição à “Boazinha” Sophie — estava ficando mais difícil com os passar dos anos, ele não as trocaria por nada no mundo. — Que foto legal, não é? Ele adorava o som da risada de Valentina. — A melhor. Onde a encontrou? — Dois desses cachorros são do meu irmão Zach e da noiva, Heather. O grandão — ele disse, apontando para o Dogue Alemão — e o pequenininho — ele encaixou uma peça do ombro do Yorkie no lugar — se apaixonaram primeiro. Zach e Heather não ficaram muito atrás. — E o filhote de poodle? — O poodle é da minha futura sobrinha. Summer tem 8 anos e foi brilhante ao manipular sua mãe solteira e meu irmão Gabe. Eles vão se casar na noite de Ano-Novo em Lake Tahoe. Foi lá que eles se apaixonaram ano passado. — Ah! — Valentina comentou, com um pequeno suspiro. — Isso é lindo. — Os olhos e os lábios se suavizaram quando ela estava prestes a transbordar de emoção. Um pouco antes Smith tinha acendido o fogo, e, agora que se sentavam juntos montando o quebra-cabeça em frente à lareira, ele se deu conta de que essa era a primeira vez que tinha uma experiência tão aconchegante, tão agradável, com uma mulher. Que droga. Pensando bem, na verdade essa era a segunda vez que ele tentava montá-lo. Da última vez ficou inacabado, pois a mulher que tinha cometido o erro de trazer para casa achou que seria sexy espalhar tudo pelo chão para que ele transasse com ela em cima da mesa de centro. Pouco depois, quando a mulher foi ao banheiro arrumar o cabelo e a roupa antes que a mandasse para casa, Smith recolheu as peças. Transar com mulheres conquistadas em eventos de Hollywood era uma coisa que os astros de cinema faziam. Montar um quebra-cabeça em frente à lareira era uma coisa que um casal fazia.
— Sua família parece incrível — Valentina comentou, as palavras tingidas de melancolia enquanto pegava outra peça do quebra-cabeça e a encaixava no lugar certo. — Seus pais devem ter tido um casamento perfeito, já que todo mundo se saiu tão bem na vida. — Eles pareciam ter um casamento muito feliz, mas, quando ouço minha mãe contar algumas histórias sobre meu pai, posso dizer que ele teve seus problemas. — Smith recuou um pouco diante da fisgada no peito que sentia toda vez que falava de Jack Sullivan. Não sentia falta dele todo dia, mas, quando sentia, a sensação de perda era poderosíssima. — Ele morreu quando eu tinha 13 anos. Os olhos dela se arregalaram diante da informação, confirmando ainda mais que ela não passara nem um momento sequer da vida lendo sobre ele nas revistas ou fazendo pesquisas na internet. — Me desculpe — ela lamentou. — Eu não sabia. Smith estava surpreso por quanto aquilo significava, a possibilidade de construir um relacionamento com alguém em que os dois pudessem começar do mesmo lugar, em que ambos pudessem revelar e descobrir as histórias de cada um ao mesmo tempo em que escreviam juntos a própria história. — Meu pai — falou tão baixinho que Smith precisou se concentrar nos lábios dela para ouvir as palavras, enquanto Valentina fechava os olhos e respirava fundo — também morreu. Foi puro instinto colocar a mão sobre a dela, que estava em cima das peças do quebra-cabeça. — Quantos anos você tinha? A respiração falhou quando ela respondeu: — Vinte e dois. Sei que já deveria ter passado, mas... Segurar as mãos dela não era o bastante. Ele precisava envolvê-la em seus braços. Para ele não foi surpresa nenhuma quando seus membros enxutos e alongados se encaixaram com perfeição nos dele. — Eu pensava a mesma coisa, que um dia eu acordaria e teria superado tudo. Que seria capaz de pensar nele sem sentir dor. — Pegou uma das mãos dela de volta e a colocou sobre o coração dele, como se quisesse amenizar a dor. — Até agora não consegui. Quando, por instinto, colocou a mão sobre a dele para tentar confortá-lo, o peito de Smith se apertou diante da sensação maravilhosa que era tê-la tocando-o com uma doçura tão natural. — Tenho muita saudade do meu pai — ela admitiu. — Tudo mudou depois que ele morreu. — Sei exatamente o que quer dizer. — E ele sabia mesmo, pois, embora sua mãe tivesse assumido a responsabilidade de criar oito filhos sozinha, e ainda que seus irmãos e irmãs tenham se juntado para tomar conta uns dos outros, ainda assim doía muito ter perdido o pai. Muito mesmo. — Naquele primeiro ano, todos nós, os nove — os nove que o pai tinha deixado para trás —, tentamos muito ser normais. Mas como faríamos isso se nada mais era normal? — Normal — Valentina repetiu a palavra com uma voz profunda. — Eu teria feito qualquer coisa por uma vida normal, ainda mais pela Tatiana.
— Como sua irmã e sua mãe lidaram com a perda do seu pai? — Tatiana é muito forte — ela respondeu. — Bem parecida com a personagem dela no seu filme. Ela aparenta ser frágil e delicada, mas, na verdade, é mais forte do que a maioria de nós. Impressionado com o insight relacionado ao personagem que ele escrevera, ele contou: — Minha irmã Sophie é uma bibliotecária amável, de fala mansa. — Ele balançou a cabeça ao pensar quantas vezes as pessoas subestimaram a sua irmã quietinha, em particular o homem que se tornara o marido dela há pouco tempo. Jake deveria saber que ele jamais teria uma chance. — Ela também tem uma força interior que qualquer guerreiro invejaria. Pensei muito nela quando estava escrevendo o personagem de Tatiana. Na época, ajudou muito que Soph estivesse grávida, assim eu podia enxergá-la no papel se fosse necessário. Valentina relaxara muito enquanto ele falava da irmã. Ele deixou a mão dela onde estava, sobre a dele, embora soubesse que não seria justo tirar vantagem daquela vulnerabilidade momentânea. — Você tem outros irmãos além de Tatiana? — Não. — Ela fez uma pausa antes de continuar. — Sempre fomos só eu e ela. Sem dúvida havia algo mais por trás daquela afirmação. Tanta coisa mais que ele prosseguiu: — E sua mãe? Como ela lidou com a perda de seu pai? Valentina deu um salto para trás, como se ele a tivesse queimado. Piscou os olhos para ele, na outra ponta do sofá, parecendo ter emergido de modo abrupto de um sonho. Um sonho que a surpreendera na mesma proporção que a assustara. A um passo de tocá-la de novo, Smith percebeu que aquilo era tudo o que não deveria ter dito. A não ser que quisesse que ela fugisse. Porém, só porque reconhecia isso não queria dizer que fosse fácil voltar sua atenção para o quebra-cabeça e pegar uma das peças. Toda a sua vida adulta, era só ver algo que quisesse para consegui-lo. Em muitos casos, Smith ganhava as coisas muito antes de precisar pedi-las. Mas não tinha dúvidas de que Valentina era diferente de tudo o que ele sempre quis: se quisesse que ela confiasse nele, teria de conquistar sua confiança a cada momento, a cada verdade, a cada sorriso. — Todo mundo sempre comentou sobre o quanto minha mãe lidou bem com a perda de meu pai — ele disse, devagar. — E ela fez isso. De verdade. — Smith arrastou outra peça para o lugar, sem de fato enxergar a imagem diante dele. — Só que ela nunca se permitiu amar ninguém de novo. Até onde eu sei, em todos esses anos ela nunca mais teve outro homem. Valentina pegou o drinque e engoliu tudo em um gole só, o que fez Smith erguer as sobrancelhas, surpreso. — Que engraçado — ela continuou. — Minha mãe é o extremo oposto. Ela dormiu com todos os homens, todos os atores, que simplesmente a olharam ou lhe disseram que era bonita. — Agora as palavras dela foram duras, com uma dor que não se importava em esconder. — Sabe a parte mais engraçada de tudo isso? — Ela olhou direto para ele ao dizer. — Acho que ela nunca amou nenhum deles.
Ao ver a dor nos olhos lindos e claros dela, nada poderia impedi-lo de tentar tocá-la de novo. Nada exceto a campainha da porta da frente, que, dessa vez, fez Valentina pular do sofá. O rosto dela ruborizou de culpa enquanto olhava de Smith para o copo vazio de margarita. — Me desculpe. Não deveria ter lhe contado essas coisas. Ainda mais sobre minha mãe. Por favor, não diga nada a Tatiana sobre... Ele se aproveitou da última chance da noite que teria para deslizar as mãos sobre as dela. — Prometi a você que não magoaria sua irmã; e também não vou magoar você. Ela o encarou, as pupilas de novo dilatadas de forma que seus olhos, por um momento, ficaram verdes por inteiro, e Smith não teve certeza se ela tinha acreditado nele. Talvez Valentina estivesse certa em não acreditar, pois, embora agora ele conhecesse um pouco das razões pelas quais ela tinha receio de confiar em um homem com a profissão dele, ainda era fácil imaginar levá-la para a cama, tirar-lhe a roupa, peça por peça, enroscar os cabelos dela nas pontas dos dedos e levar o resto da noite para explorá-la. Para conhecer suas curvas e seus declives, para poder tocá-la e degustá-la até saber com exatidão o que a faria implorar por mais. Implorar por ele. A campainha soou de novo, e Smith precisou se esforçar para se afastar e deixar que a irmã dela entrasse. No entanto, durante o resto da noite, enquanto os três trabalhavam juntos na agenda de promoção e nas solicitações de entrevistas, com Valentina sentada o mais longe possível dele, sem que a irmã tivesse a menor desconfiança, Smith não conseguia se desvencilhar do desejo que sentia por ela... ou da lembrança do quanto tinha sido bom tê-la nos braços em frente à lareira, seu coração disparado enquanto as mãos deles se entrelaçavam.
CAPÍTULO CINCO Com o telefone na orelha enquanto ligava para o agente de sua irmã, Valentina olhava através da pequena janela de seu trailer no set de Gravity. Ela esperara que o inverno fosse frio, mas do jeito que o calor do sol estava tomando conta da neblina da manhã, pareceu-lhe que, lá fora, seria outro dia perfeito. Ela foi tomada pela vontade de esquecer o trabalho durante algumas horas, pegar o caiaque e cair na água, ou subir as montanhas a pé para curtir a vista da cidade maravilhosa onde estavam trabalhando. Nos últimos anos, Tatiana tinha trabalhado como atriz em lindas cidades ao redor do mundo, mas Valentina nunca considerara se mudar para qualquer uma delas. Até agora. Era óbvio que o fato de a casa que estavam alugando por temporada em Noe Valley ser uma gracinha ajudava muito. Não importava o quanto saía cedo para chegar ao set, ou o quanto chegava tarde quando voltava, havia sempre alguém andando com o cachorro ou de bicicleta. Para uma cidade grande, São Francisco conseguia ser a combinação perfeita de uma metrópole com uma cidadezinha. George Kauffman atendeu o telefone. — Val, que bom ter notícias suas. Conte-me todas as novidades, em especial as do extraordinário Smith Sullivan. Se ele estiver tão lindo quanto da última vez que o vi, não sei como alguém consegue fazer alguma coisa no set. Valentina gostava muito do agente de Tatiana. Embora fosse bastante astuto quando necessário, e um mestre da negociação, não se sentia obrigado a fazer o papel de agente o tempo todo. Mais de uma vez os dois ficaram um pouquinho “tontos” comemorando os sucessos de Tatiana. O fato de ser gay também ajudava, se não por outra coisa, pelo simples fato de Valentina saber que nunca precisaria se preocupar se a irmã estaria segura com ele. Era, em grande parte, uma das razões pelas quais ela mesma baixara a guarda com ele muitos anos antes. Muito diferente, ela pensou, retorcendo os lábios, da maneira como ela sempre sentia necessidade de adicionar novas camadas de tijolos à sua muralha de defesa quando Smith estava por perto. Valentina era tão sensual quanto as outras mulheres, e com certeza gostava de sexo quando encontrava o tempo e o homem certo, contudo nunca trouxera sua sensualidade para o local de trabalho. Jamais. No entanto, parecia que, toda vez que ela e Smith estavam no mesmo ambiente, não importava o quanto tentasse focar no trabalho, ela não conseguia evitar a consciência cada vez mais latente que tomava conta de uma célula por vez, desde seu coração batendo rápido demais até as pontas de seus dedos dos pés que se encolhiam nos sapatos cada vez que ele dizia seu nome. — A filmagem está indo bem demais — ela lhe contou. — E tem sido um sonho para Tatiana trabalhar com Smith. George fez um som de aprovação do outro lado da linha. — Claro que ele é. Aquele homem é um sonho e ponto final. Você sabe — George acrescentou com uma voz pensativa — que ele não seria má opção.
— Para quê? — Para quebrar o seu terrível feitiço de secura. O telefone quase caiu da mão dela. — Você é maluco. Ela respondeu muito rápido, de um jeito muito forçado. Justo ela, que estava sempre reclamando e tudo mais. Dava para ver o sorriso de George do outro lado da linha quando ele comentou: — Ele sempre teve bom gosto para mulheres. Uma pena para mim — ele, continuou com um resmungo barulhento com relação à orientação sexual de Smith —, mas bom pra você. E, até onde consigo me lembrar da nossa reunião de elenco, ele não tirava os olhos de você. — Não seja ridículo — ela retrucou, com a voz mais baixa que conseguiu, como se estivesse brincando com algo que nunca, jamais aconteceria nem em um milhão de anos. — Bem — George disse, depois de uma pausa longa demais para o gosto de Valentina. — Acho que tanto eu quanto você sabemos que, se o maravilhoso, talentoso e podre de rico Smith Sullivan for esperto o suficiente para enfiar as mãos embaixo de sua saia, você não terá como resistir. Ela odiava reconhecer que seu amigo e colega de trabalho estava certo, a ponto de agarrar uma pilha de bilhetes sob a mesa e tentar colocar um fim a toda essa loucura falando com o tom mais sério e profissional possível: — Se já acabou de especular se Smith Sullivan quer ou não enfiar as mãos ou qualquer outra parte do corpo embaixo da minha saia ou se eu tenho superpoderes fortes o bastante para resistir a ele, talvez agora possamos discutir os detalhes da última proposta que Tatiana recebeu para fazer um comercial. Um gemido vindo da porta do escritório fez com que ela, enfim, tirasse os olhos dos papéis de trabalho, para olhar diretamente dentro dos olhos fascinados de Smith. Ah, meu Deus. Ah, não. Será que ele ouviu o que ela acabara de dizer? Sobre a saia, as mãos dele e... Sim, ela percebeu com um peso no coração que descia até o fundo de seu estômago. Claro que ele ouvira cada palavra. Caso contrário, por que estaria tão fascinado... e quem sabe até encantado? — George, ligo para você daqui a pouco. — Aahh, você parece tensa. E um pouquinho sem fôlego. Um astro de cinema deve ter entrado na sala. — Era evidente que George estava animado com toda a situação. — Por que não deixa seu telefone no viva-voz para que eu possa ouvir a voz dele, caso ele diga umas coisinhas picantes que nós dois estamos esperando ele dizer?
Ela desligou na cara do agente de Tatiana e ficou em pé, para que ela e Smith ficassem no mesmo nível. Bem, o máximo de igualdade possível, dados os quase quinze centímetros a mais de altura, mesmo Valentina estando de salto alto. — Não precisava ter desligado tão rápido por minha causa — ele balbuciou, em uma voz que não tentava ser sensual. Era e pronto. — Sei o quanto você é ocupado — Valentina respondeu. E era verdade. Como astro, diretor, produtor e roteirista de Gravity, ela não sabia muito bem como ele conseguia administrar apenas algumas horas de sono por noite desde que a gravação começara. E, mesmo assim, ele não parecia nem um pouco cansado. Ao contrário, parecia ainda mais atraente do que costumava ser. Sem dúvida, a presunção lhe caía bem. Afinal, ela sabia muito bem o quanto Smith deveria estar convencido depois do que a tinha ouvido dizer a George. No entanto, pior ainda do que o rubor mortífero que ainda não lhe desaparecera das bochechas foi ter de entrelaçar as mãos com firmeza à sua frente enquanto perguntava: — Como posso lhe ajudar? Ou apertava com tanta força a ponto de deixar marcas na palma das mãos ou se deixava levar pela vontade de tocá-lo, e descobrir se a sombra escura no queixo dele seria tão deliciosamente sexy na ponta dos dedos dela quanto parecia. Ele saiu da porta e entrou no trailer, que de repente pareceu pequeno com os dois lá dentro. Uma visão surgiu de repente: Smith empurrando-a contra a mesa e abrindo-lhe as pernas antes de levantar a saia e... — ... pediu seu número para que pudesse agradecê-la em pessoa. A voz dele por fim penetrou-lhe o sonho acordado que parecia real, e ela se pegou piscando. Quando foi que ele chegou mais perto? O coração dela disparou diante da proximidade dos dois, e, ao respirar fundo para tentar colocar algum oxigênio dentro dos pulmões, inalou, em vez disso, o cheiro dele: puro, limpo e tão másculo que o batimento cardíaco subiu tanto que Valentina chegou a pensar que, se olhasse, Smith conseguiria enxergar sua pulsação sob a pele. E isso, ela percebeu de repente, ao notar a direção do olhar dele sobre o ponto de pulsação ao lado do pescoço dela, era bem o que ele estava fazendo. Era como se a névoa do lado de fora tivesse entrado no trailer e envolvido o cérebro dela. Não conseguia se lembrar do que estavam falando e mal tinha ouvido o que ele dissera. No entanto, ainda tinha bom senso suficiente para perceber que, se não dissesse algo logo, não haveria muito mais espaço para a conversa. Não com aquele cheiro e aquela aparência tão maravilhosa! — Alguém estava pedindo o meu número? — ela perguntou, com a voz mais ríspida que conseguiu, diante das circunstâncias. Ela fora amaldiçoada, embora algumas mulheres pudessem se sentir abençoadas, com uma voz que fazia os homens pensarem em sexo, mesmo que sua aparência exterior conservadora quase nunca
sugerisse isso. Foram anos de prática para domar aquela rouquidão, mais ou menos da mesma forma como atores britânicos apagam seus sotaques para fazerem papéis de americanos. Mas, quando estava nervosa, ou ansiosa, a rouquidão voltava rastejando. — Nicole ligou. Ela e Marcus acabaram de receber o arranjo de tulipas lilás que você mandou lhes entregar na vinícola como presente de noivado. Ela gostaria de agradecê-la diretamente, em vez de fazê-lo por mim. Posso dar seu número a ela? — Claro que pode. Não conseguia decifrar a expressão dele enquanto continuava a olhá-la. — Amor eterno. — Os olhos dele escureceram com o calor que tanto fazia parte dele, e ela ficou surpresa que o trailer não tenha pegado fogo. — É o significado daquela flor. Valentina tentou ignorar o batimento acelerado de seu coração. — Pareceu apropriado para eles. — E é mesmo. — Smith recostou um ombro na parede e cruzou os pés, como se tivesse todo o tempo do mundo para bater papo com Valentina. — Fiquei surpreso por ouvir que você enviou um presente de noivado a eles. — Sempre acreditei que o amor verdadeiro, sem amarras, deveria ser celebrado. De onde tinha vindo aquilo? Ela não precisava conversar sobre amor com Smith Sullivan. Ainda mais quando algo dizia a ela que, se lhe desse a menor demonstração de quem era, aquele homem encontraria uma forma de tirar vantagem disso. — Concordo com você — ele falou —, em particular se considerarmos a quantidade de amarras que as pessoas tentam atar nesse ramo de negócio. Essa é uma das razões pelas quais eu quis fazer este filme, mesmo sabendo que as pessoas irão tentar considerá-lo uma simples história de amor. Valentina ficou surpresa pela maneira como os dois concordavam com relação àquele ponto. Surpresa e, tinha de confessar, assustada diante da perspectiva de concordarem sobre tantas outras coisas se tivessem a oportunidade. Ainda assim, pensou, como se estivesse observando a si mesma a distância, parecia que, uma vez que tinha começado a falar tudo o que pensava sobre o que amor deveria ou não deveria ser, ela não conseguia encontrar uma maneira de parar de colocar tudo para fora. — Sempre me perguntei por que o amor sempre tem de ser tão cheio de conflito e disputa. Por que o amor não pode ser simples? Por que não pode ser tão puro quanto duas pessoas que percebem que não podem viver tão bem, ou tão felizes, longe uma da outra? Os olhos de Smith ficavam mais intensos a cada palavra que ela dizia. Quando Valentina enfim conseguiu fechar a boca, ele comentou: — Passei meses me debatendo com o roteiro para Gravity antes de conseguir encontrar o âmago daquilo que você acabou de dizer de forma tão eloquente. Que o amor não precisa ser difícil. E a paixão pode existir sem o contraste de uma briga. Eu o vejo em cada um dos meus irmãos que encontrou o amor, a maneira como segurança e desejo podem ser um só.
As palavras dele foram tão amorosas e suaves que ela sentiu como se estivesse se enroscando naqueles braços fortes, embora estivessem a alguns metros de distância. — Marcus e Nicole são parte da razão de eu ter que fazer este filme. Como você disse, o amor sem amarras deveria ser celebrado. — Quando os lábios dele se curvaram para cima, o lindo sorriso funcionou quase como gravidade, puxando-a na direção dele. — Nicole me ligou para fazer questão de contar o quanto ela e Marcus gostaram de você, caso eu tivesse sido burro o bastante para não perceber isso. — O sorriso dele tornou-se despudoradamente sensual. — Eu garanti a ela que, de todos os meus defeitos, a burrice não era um deles. Aceite sair comigo, Valentina. O pânico tomou conta dela de imediato, com as principais cenas de qualquer “relacionamento” que um dia viriam a ter passando tão claro quanto as cenas ainda não editadas que ela vira de manhã. Caso se deixasse ser fisgada para um encontro e depois para a cama dele (quem poderia um dia sair com Smith sem lhe implorar para fazer amor?), ela não tinha dúvida de que, apesar de odiar tudo sobre os holofotes e a mídia e a fama que faziam parte da vida dele, ficaria enlouquecida de paixão... alguns momentos antes de seguir adiante para o próximo filme, para o próximo set, para a próxima mulher que se apresentasse como um desafio. Por tudo isso, Valentina fez questão de que sua resposta fosse tão direta quanto a pergunta dele: — Não. Qualquer outro homem teria tomado a recusa dela pelo que era: uma resposta negativa que ela não tinha a intenção de mudar. Jamais. É óbvio, porém, que Smith não era igual a qualquer outro homem que ela conhecera antes. Assim, em vez lhe dar um olhar magoado e sair do trailer com o rabo entre as pernas, ele chegou mais perto, pressionando-a contra a janela. — Desde o momento em que nos conhecemos houve algo entre nós. Ela não seria tola em discutir com ele. Não com um comentário indo quase ao ponto... tão estúpido quanto reagir àquelas fagulhas e deixar que se tornassem chamas que lhe queimariam o coração até virar cinza. — Você é um homem muito atraente — ela admitiu —, mas, já que outras dez milhões de mulheres também se sentem atraídas por você, não vejo por que fazer disso uma grande coisa. — Só dez milhões? — ele a provocou. Valentina ficou numa dúvida atroz entre rir e lhe dar um tapa na cara para lhe tirar a arrogância. Também não queria a terceira opção, e a mais óbvia de todas, jogar-se aos pés dele como qualquer outra mulher no mundo estaria fazendo neste exato momento. Por que ele não podia só ficar bravo, como qualquer cara normal quando suas atenções são recusadas? Tudo o que a provocação dele fazia era instigá-la a provocá-lo de volta. — Tudo bem, talvez mais do que cem milhões. Mas, no final, o resultado é o mesmo. — Ela fez uma pausa para ter certeza de que Smith a entendera bem dessa vez. — Continuo sem interesse em sair com você.
— Por que não? — Eu não saio com atores. Ele assentiu como se aquela fosse uma decisão sábia. — Eu também não. Valentina disfarçou muito mal o quanto ficou surpresa com a resposta dele. Mais em estado de choque, na verdade, dado tudo o que era publicado com frequência sobre ele nas revistas de entretenimento. E, de novo, será que ela não estava naquele ramo de negócios há tempo suficiente para saber que a maioria do que era jogado ao público pela mídia de entretenimento era um monte de porcaria? — Que tal isso? — ele disse, com uma voz que soava mais racional do que ela gostaria. — Quando estiver com você, serei um diretor. Ou um produtor. Ou mesmo um simples roteirista, se isso lhe deixar feliz. Ela não deveria ter rido da lista de cargos, mas como não rir? E era verdade: Smith Sullivan era muito mais do que um ator. Mesmo assim, isso não mudava nada. — Deixe-me esclarecer meu posicionamento — ela copiou com perfeição o tom de voz racional dele. — Eu não saio com ninguém desse ramo de negócio. Pronto. Isso deve colocar um fim em tudo. Como ele poderia argumentar com relação a isso? Todavia, como ele não pareceu nem um pouquinho intimidado, o estômago dela revirou. Valentina disse a si mesma que não era por sua necessidade, ou desejo, ou pelas faíscas que não paravam de surgir e crescer entre eles. — Eu também sou irmão. — Ele chegou mais perto. — E filho. — Ele chegou ainda mais perto, tanto que ela quase conseguia sentir a respiração dele sobre seu rosto virado para cima. — Amigo. — Ela estava encantada com a cor dos olhos dele, agora tão escuros que o azul era quase negro. — E espero um dia ser pai também. Valentina não conseguia evitar a respiração ofegante saindo de seus pulmões quando ele a atingiu bem no alvo, no seu ponto mais fraco. Ela teria conseguido se defender contra o cara arrogante, sexy ou confiante. Mas como conseguiria se proteger de um cara de família? — Por que eu? — Ela não estava buscando elogios; estava confusa de verdade. — Você poderia ter qualquer mulher do set. Qualquer mulher da rua. Qualquer mulher de qualquer lugar. — Você é inteligente. Linda. Excelente no seu trabalho. Dedicada à sua irmã. Tem uma queda para montar quebra-cabeças e eu gosto de você, Valentina. — E ele parou antes de acrescentar: — Eu a desejo. Muito, muito mesmo. A honestidade dele a derrotou. Assim como saber que pelo menos uma dúzia de atores que havia dito coisas parecidas à mãe dela durante os anos que seguiram à morte de seu pai. Mas, todas as
vezes que sua mãe se entregara, o que lhe restara além de um coração partido e uma alma fragilizada? Valentina disse a si mesma que estava sendo tão honesta quanto ele ao declarar: — Você não vai ficar comigo. Ela sabia que, se fosse tão burra para sair com Smith, que se fosse ainda mais idiota e se deixasse apaixonar por ele, estaria apenas se preparando para uma destruição emocional completa e absoluta. Por exemplo: Smith e Tatiana filmariam uma cena de amor juntos em algumas semanas. Já seria muito difícil ver a irmã ficar nua diante das câmeras dessa maneira. E, se durante a filmagem, Valentina fosse tola o bastante para deixar Smith entrar em sua cama e em seu coração, não conseguia nem imaginar o quanto seria difícil — impossível — sentar-se quietinha ao fundo e ver Smith beijar, tocar e acariciar outra mulher. Mais ainda quando ela ainda não fora capaz de esquecer como se sentira nos braços dele durante aqueles poucos minutos quando conversavam sobre suas famílias em frente à lareira. Sentiu um arrepio ao dar um passo para trás, afastando-se da janela e de Smith. Acreditando haver distância suficiente entre eles para que a cabeça pudesse pensar com clareza, ela falou: — Vamos trabalhar juntos nos próximos meses. Não quero tornar as coisas difíceis para ninguém no set, muito menos para minha irmã, se ela achar que existe algum problema entre mim e você. Não podemos ser apenas amigos? No fim, conseguiu sentir a frustração dele reverberar pelo trailer, e o que parecia é que não havia mais o homem todo controlado que ele costumava ser. Ah, por que será que aquela breve perda de controle o deixava ainda mais atraente? E por que será que ela queria ver aquilo de novo, só que da próxima vez estariam conversando menos... e se beijando mais? — Claro que seremos amigos — Smith respondeu, com uma voz suave que a acariciou tanto quanto qualquer toque da mão dele o faria. — Já somos amigos. O prazer diante daquela constatação alastrou-se rápido e morno pelas veias dela. Assim como, infelizmente, a decepção imediata por Smith ter desistido com tanta facilidade. Claro que era isso o que Valentina queria. No entanto, era evidente que uma parte dela esperava mais. Tanto o prazer quanto a frustração tiveram vida curta quando Smith a fez prisioneira de seu olhar escuro. — Só porque somos amigos não significa que eu tenha parado de desejar você também. Pior ainda, pensou, enquanto ele fazia uma saída digna de um Oscar, isso não fazia com que ela parasse de querê-lo. Ao afundar-se na cadeira do escritório, Valentina percebeu, tarde demais, o tamanho de seu erro. Deveria ter agarrado a sedução, o desejo, com as duas mãos.
A sedução serviria apenas ao corpo. O desejo serviria para duas pessoas se satisfazerem na cama. Seria bem fácil para ela ter encarado uma noite de diversão. Mas a amizade envolvia o coração. Ao enterrar o rosto nas mãos, tudo o que conseguia pensar era: Por que não fui esperta e simplesmente aceitei dormir com ele?
CAPÍTULO SEIS À medida que o ritmo de filmagem aumentava, as horas no set ficavam cada vez mais longas para todos. Não havia cenas de ação para serem coreografadas ou memorizadas. Não havia efeitos digitais a serem colocados. Não havia horas de maquiagem nem de figurinos. Mas havia emoção. Tanto sentimento de Smith e Tatiana ao interpretar o papel de dois personagens que encontraram o amor e o perderam, e depois aprenderam a amar de novo, que só vê-los interpretar seus papéis na última semana deixava Valentina exaurida e sem forças ao final de cada dia. Como, ela se perguntava pela centésima vez, eles faziam aquilo? Parte dela invejava a liberdade de gritar e rir, chorar e amar, tudo ao longo de um dia de trabalho. Depois de um dia duro no set, Tatiana sempre deixava de lado as emoções pungentes minutos depois de o diretor dizer “Corta”, como se a jornada dela tivesse sido algo parecido com uma sessão de terapia. Nas últimas semanas, Valentina estivera cada vez mais concentrada em seu projeto secreto, numa tentativa de lidar com as emoções borbulhando dentro de si. Tatiana era a única pessoa que sabia que Valentina estava trabalhando em um roteiro sobre uma escritora que um dia acordou e se viu vivendo a história que estava escrevendo... inclusive se apaixonando pelo herói ficcional que criara. Há meses Tatiana estava tentando convencê-la a mandar o roteiro para alguns de seus contatos. Porém, embora Valentina soubesse que esse era o próximo passo lógico na carreira de alguém em Hollywood que adorava as histórias mas não os holofotes, também sabia que seu roteiro ainda não estava pronto. Por incrível que pareça, foi depois de passar pelo roteiro de Smith, indo e voltando com Tatiana pelo menos uma dúzia de vezes, que Valentina enfim percebeu onde estavam as falhas no próprio trabalho. E sabia que as mudanças que estava fazendo eram boas. Muito boas mesmo. Ela tivera a sorte de aprender com Smith o que era necessário para fazer um filme que fosse sensível e impactante de verdade. Enquanto observava Smith interpretar o papel de executivo absolutamente poderoso, mas perturbado e culpado, o coração dela se apertava no peito. Quando o filme fosse lançado nos cinemas, o público veria cada uma das emoções nos olhos, na expressão da boca e nas linhas da testa dele. E saberia, sem dúvida nenhuma, que a garota na rua que ele derrubara e passara por cima o assombraria cada vez mais a cada dia que passasse. Ele voltou à esquina da Union Square várias vezes, para procurá-la e esperá-la. Mais de uma ocasião, enquanto estava em pé no meio da multidão apressada, surgia uma ligação no seu celular: um irmão, uma irmã, a mãe. No entanto, ele nunca atendeu àquelas ligações. Da mesma forma que aquela jovem nunca mais voltara ali. Com o passar dos meses, os ombros do homem continuaram largos; seu rosto, lindo; a
empresa, mais rentável do que nunca. Mas ele se sentia mais sozinho a cada dia, com encontros de uma noite só, e festas muito loucas com conhecidos e colegas que não significavam nada. Nas horas que sobravam entre as mulheres insignificantes e o trabalho, que parecia significar tão pouco quanto as mulheres, ele se afundava cada vez mais, correndo às cinco da manhã e nadando à meia-noite. Ainda assim, não conseguia esquecer os olhos daquela garota. Ou o que ela gritara para ele antes de fugir. Até que, enfim, encontrou-a trabalhando em um café. Primeiro viu as mechas cor-de-rosa no cabelo dela, mais escuras do que estiveram meses antes, e então o rosto ainda mais lindo do que ele conseguia se lembrar. Um mosaico de emoções percorreu o rosto do executivo. Alívio. Esperança. Junto com um desejo sem fim. Ela estava atendendo um cliente, e, de modo diferente do dia em que trombara com ela na rua, quando estivera tão pálida, agora a pele dela cintilava e o cabelo brilhava. Por um momento, os lábios do executivo começaram a formar um sorriso. O primeiro sorriso de verdade que ele dava há muito, muito tempo. E foi então que a garota se mexeu, afastando-se da caixa registradora... e ele viu a barriga dela. A enorme barriga de grávida. Agora quem estava pálido era ele, já que toda a cor desparecera de sua pele bronzeada. Precisou agarrar as costas de uma cadeira para manter o equilíbrio, e mais de um cliente olhou-o com preocupação enquanto se mantinha petrificado no meio do café. Ele levou apenas um instante para calcular que ela já devia estar grávida quando ele a derrubara... e o pé dele aterrissou bem em cima da barriga dela. A bile subiu-lhe pela garganta ao pensar no que poderia ter causado a ela naquele dia, à vida que ela carregava. Colocou as mãos no peito e fechou os olhos por um segundo. Ela poderia ter perdido o bebê por sua causa. Havia tantas coisas que ele tinha de compensar a tantas pessoas. Mas, por ora, ela era seu foco. Ele a compensaria pelo que fizera. Ele protegeria a ela e ao bebê. E garantiria que ela nunca se machucaria de novo. Estava indo em direção à garota quando ela riu de alguma coisa que um colega de trabalho dissera. Mais uma vez ele foi atingido com toda a força, dessa vez um pouco mais alto do que no seu estômago.
Bem direto no coração. Nesse momento os olhos dela encontraram os dele, e, ao fixarem o olhar, o brilho da pele dela empalideceu. Ao se afastar dele, esqueceu-se da xícara que segurava, deixando o papelão escapar das mãos enquanto o leite fervendo caía no chão, molhando os sapatos e a calça dela. Foi como se a quentura do líquido derramado a trouxesse de volta à vida. Com um sorriso rápido que não chegou nem perto dos olhos, ela amenizou a preocupação dos colegas de trabalho que estavam olhando para ter certeza de que ela não se queimara, e pegou um esfregão que estava por perto para limpar a bagunça. O executivo caminhou na direção dela e parou em silêncio atrás do balcão, olhando enquanto ela terminava de varrer tudo devagar, e depois, guardou os utensílios de limpeza. As mãos dela estavam firmes ao serem lavadas na pia. Por fim, ela se virou para ele, com o queixo para cima, os lindos olhos dissimulados. — Em que posso ajudá-lo, senhor? Durante meses ele pensara nela como alguém frágil. Agora, percebia o quanto ela era forte, em parte pelo desenho dos lábios enquanto esperava uma resposta dela, em parte pelo quanto estava linda carregando uma criança dentro de si. Ele ajudaria ambos. Seja lá em que fosse. — Gostaria de conversar com você. Os lábios dela se apertaram, aquele ar de fúria do qual ele lembrava tão bem voltando para seus olhos ao responder: — A moagem especial deste mês vem da Jamaica, se quiser experimentar. Ele concordou. — Tudo bem. — Mesmo quando o alívio começou a lhe soltar os ombros, ele continuou. — Vou esperar aqui até sua próxima pausa. Os movimentos dela nos trinta minutos seguintes mal escondiam sua irritação. Ela respirou fundo ao desamarrar o avental. O top comprido balançava sobre a barriga, fazendo-a parecer ainda mais jovem. Ela sabia que o homem estava esperando por ela, mas não tinha a menor intenção de falar com ele. Embora uma parte dela estivesse curiosa sobre o que ele queria falar. Em especial porque agora parecia ainda mais bonito do que naquele dia fatídico, quando a derrubara na calçada e, literalmente, pisara nela. Ela não devia nada a ele. Virou-se e desapareceu para dentro da apertada área dos fundos, onde ficavam os armários dos funcionários. A última coisa que esperava era que o homem entrasse pela porta alguns minutos depois. Esforçando-se para ignorar como seu coração estava batendo, ela informou:
— Apenas funcionários são permitidos aqui atrás. — Tenho certeza de que Joe ficaria feliz em abrir uma exceção para mim. — Diante do olhar confuso dela, ele explicou: — Minha empresa financiou a expansão do estabelecimento. — Tudo bem — ela concordou, imitando o tom de voz anterior, quando ele comprara o café que não queria. Sem querer se estender muito, foi direto ao ponto: — O que você quer? Em vez de lhe dar uma resposta direta, ele baixou o olhar até a barriga dela. Ela mal resistiu à vontade de tentar se cobrir com ambas as mãos. — Você está grávida. Ela fungou. — É óbvio. Seu tremor veio e foi embora tão rápido que ela quase pensou ter imaginado isso. — Você... — Ela ficou surpresa ao vê-lo titubear, mesmo que por um segundo. — Está tudo bem com o bebê? — Sim, o bebê está ótimo. — Onde você mora? O olhar que lhe lançou demonstrava com clareza que a garota achava que ele era louco. — Você nem sabe meu nome. Acha mesmo que vou lhe dizer onde moro? — Jo. — Os olhos dela se arregalaram antes que ele pudesse lembrar-lhe. — Seu crachá estava no seu avental. — E então prosseguiu: — Meu nome é Graham. Ela baixou os olhos e checou o relógio barato em seu pulso. — Meu intervalo está quase no fim, e, já que o bebê está sentado em cima da minha bexiga, tenho cerca de trinta segundos para ir ao banheiro antes de ser requisitada atrás da caixa registradora de novo. Se ela esperava que ele se incomodasse com a conversa relacionada às funções corporais — ou enfim entendesse a situação e fosse embora —, ficou decepcionada. Mas ela ainda precisava fazer xixi, então caminhou até o banheiro. Depois de fazer o que tinha de ser feito e lavar as mãos, olhou-se no espelho, dizendo a si mesma o que precisava dizer àquele homem. A Graham. Respirou fundo para se fortalecer, em seguida entrou na salinha dos fundos, onde sabia que ele ainda estaria lhe esperando. O homem era muito grande para aquela área pequena. E belo demais para a paz de espírito dela. — Estou bem. — Ela afastou as mãos do corpo, para que ele pudesse vê-la bem com sua enorme barriga de grávida. — Aquele dia na rua, o que aconteceu... foi um acidente. — Um acidente que a enfurecera a ponto de gritar com um estranho. — Eu não deveria ter descontado em você. — Ele a observava em silêncio. — Agora, se já terminamos de reformular tudo o que
aconteceu, preciso voltar ao trabalho. Quando ela tentou passar por ele, o homem disse: — Tenho um apartamento de dois quartos que não tenho tido sorte para alugar. Fica em um bairro bom, e uma das mulheres no prédio tem uma creche no térreo. Fosse lá o que fosse, não era aquilo que ela esperava ouvir dele. — Já tenho um apartamento. — Em um bairro horrível onde ela, sinceramente, não gostava da ideia de ter um recém-nascido. — Por favor, Jo, deixe-me fazer isso por você. Ele dissera “por favor”, embora Jo tivesse notado a dureza nas palavras, que lhe diziam que o homem não aceitaria um não como resposta. Mas ela também era durona. — Obrigada pela oferta, mas você terá que arranjar outro inquilino. Saiu e voltou ao trabalho, sabendo que a vitória dela fora apenas temporária... pois as chances de um homem tão determinado quanto Graham aceitar um não eram quase nulas. Quando as câmeras pararam de rodar, Valentina percebeu que seu rosto estava molhado. O que estava vendo não era real, mas, ainda que estivesse cercada de luzes e câmeras, era quase impossível se lembrar disso. Discretamente, abaixou a cabeça e usou as pontas de dois dedos para limpar as lágrimas enquanto se lembrava de não se sentir tola por ter se envolvido na emoção da cena. Afinal, ninguém estava prestando atenção a ela, e estavam filmando uma história linda de verdade. No entanto, ao levantar a cabeça, viu que estava errada. Smith estava prestando atenção a ela... e nos olhos dele havia algo tão doce que ela quase não conseguiu controlar a reação de seu corpo e não fez nada exceto desviar seu olhar do dele. Já fazia mais de uma semana que ele a procurara no escritório e a ouvira falar coisas vergonhosas a George, no telefone, sobre suas mãos embaixo da saia dela. Nos primeiros dias após a conversa deles, Valentina ficou tensa, tentando prever qual seria o próximo passo de Smith. Contudo, conforme os dias passavam, ela tinha cada vez mais certeza de que, apesar do que dissera sobre não desistir, no final ele resolvera aceitar a recusa dela. Estava feliz com isso. Pelo menos tentava ficar feliz com isso, pelo simples fato de que deveria estar feliz pela atenção dele ter vindo e ido embora com tanta rapidez. Isso queria dizer que ela poderia relaxar e manter o foco no lugar certo — em sua irmã — em vez de em um homem que era sedutor demais, fascinante demais para o seu gosto. Uma hora mais tarde, depois de ter certeza de que a irmã tinha tudo o que precisava para uma sessão de fotos de moda da Elle para a manhã seguinte, Valentina bocejou por trás da mão e voltou ao escritório no set para buscar seu laptop. Tatiana não seria a única a estar na praia ao amanhecer para a sessão de fotos. Por sorte, ninguém tiraria fotos de Valentina e, assim, ela poderia ficar mais
algumas horas no computador esta noite, em casa, sem ninguém lhe perturbar por causa dos círculos escuros ao redor dos olhos quando acordasse. Ela abriu a porta do trailer-escritório e o cheiro suave e fresco atingiu-a de cara. Um lírio fora colocado sobre o laptop. As pequenas flores que subiam pelo caule eram tão lindas que sua respiração ficou presa na garganta. Não havia nenhum bilhete... mas aquilo não a impediu de entender que não fora esquecida de todo, pois tinha certeza de que a flor viera diretamente do canteiro do jardim da frente da casa de Smith. A julgar pelas pontas tortas e pelo jeito como alguns dos brotos no final foram amassados de leve por mãos grandes, ele mesmo a colhera. Jo, a heroína de Gravity, sonhava ter uma floricultura, e havia linguajar sobre flores suficiente no filme de Smith para Valentina saber o que aquela flor em particular significava. Doçura. Ela não se deu o trabalho de tentar se convencer de que Smith lhe dera qualquer flor que aparecera. Não, ela já passara tempo demais mentindo para si mesma nas últimas semanas, e no momento estava muito cansada para fazê-lo de novo. Smith, ela admitia com uma certeza que lhe causava um frágil calor dentro do peito, sabia com exatidão o que estava fazendo. Ele poderia ter lhe enviado qualquer mensagem com aquela linguagem, poderia ter lhe dado uma rosa amarela, em sinal de amizade, ou uma rosa cor-de-rosa, em sinal de desejo. Talvez até mesmo não-me-toques de pétalas vermelhas, para dizer que ele também estava perdendo a paciência. Em vez disso, deu-lhe uma flor que simbolizava algo diferente, esperanças e sonhos que ela jamais pensou que pudessem se tornar realidade. Sem dúvida, no longo prazo seria mais seguro, melhor, colocar a flor no lixo e deixar que os funcionários da limpeza da noite a levassem. Com cuidado, Valentina ergueu a flor e inalou-a profundamente. Ninguém jamais lhe dera uma flor antes. E para ela não era possível abrir mão de algo tão belo.
CAPÍTULO SETE No dia seguinte, depois de Tatiana finalizar a sessão de fotos, Valentina pegou um voo para Los Angeles e foi a uma reunião com George e a empresa japonesa de perfumes, para fechar os detalhes finais da viagem da irmã para a Ásia. George tinha a clara intenção de incitá-la a falar de Smith, mas, ao perceber que ela estava muito cansada para morder a isca, deixou para lá e, em vez disso, manteve-se focado no trabalho. Quatro horas voaram, e, quando ela se levantou para juntar os papéis e voltar para o aeroporto, George colocou o braço ao redor dela enquanto caminhavam até a limusine. — As notícias do set têm sido fantásticas. — Tatiana está brilhante no filme, George. Sem dúvida será a grande virada da carreira dela. — Ela sorriu. — Prepare-se para começar a trabalhar mais ainda. — Parece que você já está trabalhando demais. — É só porque não dormi muito a noite passada — ela retrucou. Ele ergueu as sobrancelhas. — Tem alguma coisa que queira me contar sobre um certo astro de cinema pra lá de sexy... e a minha gerente de negócios favorita? — Nada mesmo! — Valentina respondeu, meio alterada. — Você é uma péssima mentirosa, sabe, Val? — Tenho sido muito cuidadosa para não encorajá-lo, mas ele... Ela cerrou os lábios ao perceber, tarde demais, que acabara de confirmar as suspeitas de George. — Se quiser minha opinião, acho que com certeza deveria encorajá-lo. Sei que eu o faria. Ela estava com medo de abrir a boca de novo: quem sabe o que ela admitiria desta vez? — Você fez um excelente trabalho criando a Tatiana — ele disse, com delicadeza. — Tão bom que ela é uma estrela de cinema admiravelmente gentil e centrada. — George era uma das poucas pessoas que conheciam a situação familiar delas. — Mas agora está na hora de também dedicar um tempo a si mesma. Não podia admitir o quanto as palavras dele a fizeram se sentir deslocada. Não era um sacrifício administrar os negócios profissionais da irmã, nem um pouco. Além disso, nos últimos tempos, seu cérebro iniciara um estranho padrão de preencher alguns vazios que tinha com Smith. A risada, os olhos negros que sempre pareciam encontrá-la no meio da multidão, o jeito amigável que ele tinha com todos no set, do operador de câmera ao pessoal da limpeza. — Para falar a verdade — Valentina disse devagar —, eu tenho dedicado tempo a mim mesma. — Ela respirou fundo antes de dizer: — Estou escrevendo um roteiro. E... — Ah, isso era muito mais
difícil do que imaginara. Achava que não tinha medo de rejeição, mas talvez tivesse. Só um pouquinho. — E? — Era capaz de sentir a animação na voz de George, que ele mal conseguia esconder. Ela sorriu para o amigo. — Gostaria que você o lesse. Ele aplaudiu como uma criança feliz. — Até que enfim! Ela levantou uma sobrancelha — Como assim até que enfim? — Tatiana me fez jurar que manteria segredo, e ela vai me matar se você deixar escapar que sabe que ela me contou. — O amigo fez um olhar de cachorro perdido. — Por favor, não lhe diga que eu estraguei tudo. Mesmo porque ela só me contou porque ama você. Disse que está muito bom. — Ele não perdeu tempo para perguntar: — Tem o roteiro aí com você? Valentina percebeu que, assim que desse seu roteiro a George, a bola estaria no jogo, quer ela estivesse pronta ou não. Esforçando-se para lembrar a si mesma que só tinha contado a ele sobre o roteiro porque achava que por fim estava pronto, ela respondeu: — Eu mando por e-mail assim que chegar em casa. — Ela trancou a mala de couro com um clique, deu um beijo no rosto de George antes de escorregar para dentro do banco de trás da limusine para o aeroporto. — E obrigada por ser sempre um amigo tão legal. Por sorte, Valentina estava muito cansada durante o voo de volta para São Francisco a ponto de se preocupar tanto com os sentimentos conflitantes com relação a Smith e com relação a mostrar seu roteiro para o mundo. Seus olhos e seu cérebro estavam embaçados quando enfim chegou em casa, tirou as roupas e obrigou-se a enviar o roteiro para George antes de cair na cama. Na manhã seguinte, dormiu até o último segundo possível e sentia-se muito melhor quando entrou no set. Seu estômago rugiu, e ela sabia que ficaria bem chata sem sua dose diária de açúcar matinal, mas, ao perder metade do dia viajando, ela precisava dar andamento aos itens com alta prioridade antes de ir ao serviço de copa pegar algo para comer. Cada vez mais, trinta minutos se transformavam em três horas de e-mails, telefonemas, e acabou perdendo o café da manhã. Com o negócio da empresa japonesa de perfumes no estágio crucial de finalização do planejamento, tinha a impressão de que seria uma daquelas longas manhãs. Valentina estava tão focada em sua lista mental de coisas para fazer que já estava sentada atrás de seu computador quando reparou no prato e na xícara sobre sua mesa. Seu estômago roncou em resposta imediata ao pão fofinho com canela, pingando açúcar, servido no prato verde feito à mão. Dizendo a si mesma que não era possível existir alguém com força de vontade para resistir a um café da manhã de presente, ainda mais tão bem-apresentado, ela tirou um pedaço e passou pela boca.
Os olhos dela se fecharam quando o sucesso em forma de açúcar, temperado com canela, lhe tocou a língua e um gemido de prazer escapou por entre os lábios. Era imoral. Cheio de calorias inúteis. E era tudo de que ela precisava. Não sabia como, até agora, não percebera o aroma do café recém-moído, mas, quando alcançou a caneca, o líquido ainda estava morno, e ela o bebeu cheia de vontade. Admirou a beleza duradora do lírio, colocado em um vaso de vidro que encontrara na cozinha na noite anterior. Estava colocando a caneca sobre a mesa quando enfim viu o bilhete: Valentina, A cor do prato e da caneca me fez lembrar o verde de seus olhos castanhos-acobreados. Senti falta deles — e de você — ontem no set. Aproveite seu café da manhã! Smith Valentina olhou para o bilhete por um longo tempo antes de dobrá-lo direitinho e enfiá-lo na bolsa. Então, comeu até o ultimo pedaço do pãozinho de canela, com um prazer maior do que se permitia sentir há muito tempo. Quando Valentina decidiu saiu do escritório para agradecer Smith tanto pela flor quanto pelo café da manhã, ficou frustrada — e mais do que um pouco aliviada — ao lembrar que ele tinha uma reunião externa com investidores. Ele não precisava compartilhar esse nível de detalhes nem com ela nem com Tatiana, mas sem dúvida acreditava que uma equipe informada trabalhava melhor do que uma que não sabia de nada. Isso era outro motivo que o diferenciava dos outros. — Querida! Valentina se virou, surpresa, ao ver sua bela mãe caminhando em sua direção com os braços abertos. Mesmo sendo uns quinze centímetros mais alta do que Ava Landon e não sendo criança há muito tempo, ao se enroscar naqueles braços familiares e no perfume caro que pairava no ar, de repente sentiu-se duas décadas mais nova. — Estou tão feliz por ter conseguido vir hoje. Você sabe que eu adoro estar em um set. Ela amava a mãe o suficiente para esquecer, por alguns minutos, de ficar reticente quanto às razões de Ava para aquela visita inesperada a São Francisco. — Você está ótima, mamãe. Ava Landon resplandeceu do jeito que sempre fazia quando recebia elogios, antes de olhar para a filha. — Você perdeu peso. Sabe que fica muito melhor quando está mais cheinha. Valentina conteve um suspiro. — Acho que Tatiana tem uma folguinha antes de precisarem dela no set de novo. Vou levá-la até
o trailer dela. No entanto, a mãe estava olhando por cima de seu ombro. — Estou aqui, baby! Um homem bonito, que não poderia ser muito mais velho do que Valentina, caminhava na direção delas. A mãe inclinou-se um pouco mais perto e comentou: — Ele não é a coisa mais linda? Estou tão apaixonada por ele. Tentando não piscar ao uso demasiado livre que sua mãe fazia da palavra “apaixonada”, e feliz pela questão ser apenas retórica, Valentina cumprimentou o rapaz com um aperto de mão enquanto a mãe fazia as devidas apresentações. — David, esta é minha filha mais velha, Val. Valentina notou o leve brilho de surpresa nos olhos dele ao ver o quanto ela era diferente da mãe e da irmã. — Val, David é o ator mais talentoso do mundo! Valentina apertou os lábios quando o receio do qual ela se esquecera por alguns momentos pegou-a com um solavanco. Será que a mãe se lembrava do quanto esteve “profundamente apaixonada” pela última dúzia de atores como David? E como era possível ser tão fácil para a mãe se entregar a alguém... ou, no mínimo, se deixar levar a acreditar que o desespero, a dolorosa busca por algo real e duradouro, era amor? — Isso é fantástico — Valentina comentou, dando um sorriso para David. Ela ficaria arrasada quando ele partisse o coração de sua mãe, assim como cada um dos lindos atores sempre fizera; no entanto aprendera muito cedo que era inútil tentar proteger a mãe dos homens com quem ela escolhia sair. Pelo menos David não parecia ser o tipo que tentaria lhe agarrar o traseiro quando a mãe virasse as costas. Valentina tentou agradecer pelas pequenas graças. Agora que tinham aparecido do nada, além de todas as coisas que precisava fazer hoje, Valentina lamentava por ter de garantir que os planos mirabolantes da mãe para a carreira de ator de David não incomodariam ninguém no set. Graças a Deus Smith estava fora naquela tarde. Que desastre seria se... — Boa tarde, Valentina. Ela teria amaldiçoado sua péssima sorte, se não fosse pela maneira como a voz baixa e carinhosa de Smith sempre a afetava. Em menos de um segundo, a expectativa — e um fluxo de desejo que surgiu, apesar de saber que ela nunca poderia reagir a isso — acabou com todo o receio dela. — Smith. — Ela gostava tanto de sentir o nome dele em seus lábios. — Gostaria de lhe apresentar minha mãe. Ele sorriu e deu um beijo na mão da mãe dela. A mulher quase gritou de alegria quando o astro
fez um elogio: — Tem duas filhas admiráveis, Sra. Landon. — Pode me chamar de Ava — a mãe disse, com uma voz resfolegante que sempre usava com homens atraentes. Na verdade, com todos os homens. — Sua mãe também não se saiu tão mal, Sr. Sullivan. Valentina contraiu os músculos quando ele disse “Smith, por favor”, mas, diante do olhar cheio de ansiedade da mãe, continuou: — E este é David. — Ela sabia que a história nunca teria fim se não dissesse. — Ele é ator. A expressão de Smith continuou tão amigável quanto estivera desde o momento em que os encontrou. — Prazer em conhecê-lo. — Ele cumprimentou o outro homem com um aperto de mão. — Sou um grande fã seu — David comentou e, verdade seja dita, soava verdadeiro, em vez de dizer aquilo só para bajular o grande astro de cinema que poderia lhe arrumar um trabalho por causa das conexões familiares. — Obrigado — Smith falou com gratidão genuína, focando mais uma vez em Valentina. — Espero que não se importe em me dar uma carona se estiver indo dar um oi para a Tatiana. Ele dissera aquilo como se alguém pudesse recusar sua companhia, e a mãe dela, é óbvio, colocou a mão sobre o braço dele, as unhas de esmalte rosa, de formato e manicure perfeitos, contrastando de um jeito todo feminino com a pele bronzeada de Smith. — Isso seria adorável, Smith. É tão bom poder conhecer os colegas de trabalho da minha filha. Conte-me mais sobre você. Enquanto a mãe o afastava dali, Valentina sentiu-se tanto aterrorizada quanto agradecida ao saber que ele estaria por perto para ajudá-la a lidar com a única pessoa que sempre a colocava em apuros, não importava o quanto tentasse ficar longe dos problemas. — Sinto muito por aquilo — Valentina desculpou-se com Smith depois que Ava Landon e seu namorado foram embora. — Minha mãe não tem a intenção de magoar ninguém. É só que, quando está com um de seus homens, às vezes se esquece de pensar como outras pessoas podem se sentir. É como se, por um tempo, eles sejam tudo o que ela consegue enxergar. Ele ouviu o “às vezes”, “não tem a intenção de” e o “por um tempo” e sabia que todas aquelas palavras eram apenas Valentina sendo bondosa. A mãe dela era uma mulher agradável e com certeza amava as filhas. No entanto, ele podia perceber que ela as magoava também. Em especial Valentina. A vontade de confortá-la o fez esticar a mão, lhe acariciar o rosto, depois descer os dedos até embaixo do queixo e levantar o rosto dela para encará-lo. A pele dela era macia. Macia demais. Mais uma vez, Smith ficou surpreso pelo quanto a desejava. Ele nunca deixara que uma mulher desviasse sua atenção do trabalho, e nunca teve problemas
em manter uma mulher dentro dos limites que estabelecia. Ainda mais agora, que estava no comando do próprio filme; era muito importante e não podia se dar o luxo de perder o foco por causa de uma mulher. Mesmo assim, apesar de todos os lembretes lógicos ecoando em sua cabeça — Está muito ocupado para isso. Para ela. Para qualquer outra coisa que não seja fazer este filme —, não precisou mais do que um olhar, um sorriso, e agora a maciez da pele dela na ponta de seus dedos, para que a desejasse. — Ela ama você. E você a ama. Qualquer um pode ver isso, mesmo que o relacionamento de vocês não seja perfeito. — Ele continuou a roçar a ponta do dedão pela pele macia do maxilar dela, e seus lábios se entreabriram de surpresa diante das palavras dele. — Estava certa quando disse que o amor não precisa ser um campo de guerra. Quando se encontra a pessoa certa, já vi o amor ser fácil. Doce. E perfeito. Ele nunca quis tanto beijar alguém como queria beijá-la naquele exato momento. Um beijo ardente era tudo o que precisaria para que ela se esquecesse da visita da mãe, e ele quase podia usar aquilo como desculpa para si mesmo. Contudo, nunca a tinha visto tão vulnerável antes, como se a armadura que ela tentasse colocar, com cuidado, toda manhã antes de ir para o set tivesse sido rasgada como um só assalto, pela visita inesperada da mãe. Seria a coisa mais fácil do mundo tirar vantagem da vulnerabilidade dela. Fácil... e errado. Por sorte, agora Smith conhecia Valentina bem o suficiente para saber que, da mesma forma que um beijo poderia tê-la ajudado a se esquecer dos sentimentos conturbados com relação ao relacionamento com a mãe, também poderia dificultar a volta ao trabalho. — Tem alguns minutos para conversar sobre um pedido que acabou de chegar para uma sessão de fotos comigo e Tatiana? Ela olhou para Smith, confusa por alguns segundos e, lógico, surpresa pela mudança brusca dele. Então, quando a olhou pela segunda vez, Valentina já era a mesma mulher de negócios fria e calma de sempre, para quem ele olhara na primeira reunião, meses atrás, e de quem não conseguia esquecer. — Claro. Quais são os detalhes? Ele estava tão determinado a fazer com que ela desviasse os pensamentos da mãe que, tarde demais, Smith percebeu que não escolhera o melhor assunto para conversar com ela. Talvez a reação dela pudesse, na verdade, acabar lhe revelando mais sobre seus verdadeiros sentimentos do que queria admitir. — Gostariam que nós dois fôssemos os personagens, vestindo as roupas, maquiagem, até mesmo os acessórios do filme. — Parece legal — Valentina comentou, sem dúvida perguntando-se por que ele sentiu necessidade de discutir aquele assunto com ela naquele exato momento. — Deram outros detalhes? Ele tentou manter a voz tranquila quando explicou:
— O editor de fotografia quer dar um enfoque forte nos personagens como um casal. Smith teve certeza de ter visto Valentina cambalear antes de dizer: — Que tipo de enfoque forte? — Querem mostrar a intimidade da conexão do casal. Ela parou no meio do terreno, a protetora feroz, o rosto ruborizado ao informar: — Não gosto da ideia de Tatiana ser vestida e fotografada como algum tipo de noiva sexy. Ele queria alisar as marcas de expressão nos cantos dos lábios dela. Não com a ponta dos dedos, mas com a própria boca. Com um beijo que não só pudesse curar, mas também aguçar o desejo. Logo, logo, que droga. Precisava que acontecesse logo antes que perdesse a cabeça por causa de seu desejo por ela. — Nem eu — ele disse de modo gentil antes de esclarecer. — Pela conversa que tive com o editor de fotografia, acredito que o objetivo deles seja enfatizar os elementos românticos... não os sexuais. Vemos muito sexo todo dia nas revistas e na TV. Mas o romance chama a atenção. Ele observou o movimento do pescoço longo e macio, enquanto ela engolia. — Romance. — A palavra escorregou dos lábios dela com descrença e desejo. — Isso parece... As palavras fugiram agora assim como os passos falharam um pouco antes, não por ela estar preocupada com a irmã sendo fotografada com pouca roupa, mas, ele esperava, porque não gostava da imagem da irmã sendo romântica com ele. E só haveria uma razão para isso incomodá-la: se ela o quisesse para si mesma. Por fim, as palavras saíram. — Vocês dois juntos vão ficar lindos na revista. Infelizmente, ao mesmo tempo em que estava feliz ao ver que ela não era tão imune a ele quanto tentava fingir ser, também não gostava de magoá-la de nenhuma forma. — Valentina, se tiver qualquer tipo de ressalva sobre isso, precisa me avisar. Mas ela já tinha guardado a mulher emotiva e estava de volta ao modo mulher de negócios. — Acho que a sessão de fotos parece fantástica. As pessoas verão as fotos e correrão para o cinema querendo ver vocês dois juntos na tela. E não se decepcionarão. — Virou-se para voltar ao trailer, então parou e encarou-o de novo. — Obrigada por ter sido tão amável com minha mãe e o namorado dela. A frustração o devorou por dentro ao vê-la voltar ao escritório, subir os degraus e fechar a porta atrás de si. Já fazia muito, muito tempo desde que Smith não conseguia ter o que queria, no momento exato em que queria. Não só por ser um astro de cinema. Não só porque tinha dinheiro para comprar tudo o que quisesse. Mas pelo homem que sempre fora.
Smith sabia focar, canalizar cada milímetro de energia para o trabalho. Pela primeira vez na vida, ainda que o timing não pudesse ser pior, estava considerando mudar o foco para uma mulher. Que diabos, a quem ele queria enganar? Era puro desejo que o estava levando àquela situação, não uma decisão lógica. A verdade era que ele desejava tanto Valentina que o desejo e a necessidade estavam destruindo-o por dentro. E era um desejo que só piorava com a certeza de que poderia tê-la possuído, poderia tê-la despido com toda a facilidade e a colocado no pequeno sofá de couro sob a janela de escritório dela, por prazer. Um dia o lindo corpo de Valentina teria sido o bastante para ele. Quando era mais novo, teria acreditado que a maneira mais fácil de lidar com esse desejo seria usar seu charme e sua beleza para persuadi-la a ter um caso ardente, porém muito casual. No entanto, algo lhe dizia que revelar aquela camada sensual não chegaria nem perto de ser suficiente. Não só porque alimentaria a necessidade de conhecer mais sobre ela, mas também porque sabia que, se arriscasse a tocar-lhe apenas o corpo, ela nunca mais lhe daria o coração. Que diabos estava acontecendo com ele? Passou uma das mãos pelo cabelo e tirou o celular do bolso com a outra. Apertou o botão de ligação rápida no número do topo da lista. Só ouvir a voz da mãe já fez seu sorriso voltar. — Oi, mãe. — Smith, querido, como vai? — O filme está indo bem. — Fico feliz em saber. — Ela parou por um momento, e ele sabia que sua mãe não tinha sido enganada pela resposta dele com relação ao filme, não a ele. — E o restante, como vai? Até onde conseguia lembrar, Mary Sullivan sempre tivera um radar apurado quando qualquer coisa estava incomodando um deles. Ela nunca metia o nariz onde não era chamada, nunca provocava, mas estava sempre lá quando eles estavam prontos para pedir ajuda e conselho. Smith sabia que tinha ligado para ela porque já tinha passado da hora de admitir que sabia exatamente o que estava acontecendo com ele. — Tem uma mulher. — Eu ouvi dizer — a mãe lhe disse, suavemente. — Marcus e Nicole disseram que Valentina é muito bonita. E muito amável, também. Smith imediatamente se lembrou das lágrimas no rosto de Valentina durante a filmagem do dia anterior. Ela ficara tão tocada pela história de amor que ele escrevera que a doçura de sua reação o fisgara, bem no meio do peito. E foi por isso que lhe dera a flor e o pãozinho de canela — porque os dois eram doces, e ambos o faziam se lembrar dela. — Ela é um doce — ele confirmou para a mãe. — E linda, inteligente, forte. — Ele soltou um suspiro profundo. — E não aceita sair comigo. Meu Deus, era como se tivesse 15 anos de novo e estivesse na cozinha comendo biscoitos de chocolate e abrindo o coração para a mãe. Smith amava os irmãos e irmãs, mas apenas com a mãe
tinha admitido o quanto ser tão famoso, algumas vezes, era difícil, em especial quando chegava ao ponto de não poder ir aonde queria, de se sentir preso sob uma lupa. Levara anos para aprender a lidar com aquilo, para encontrar uma maneira de garantir que viveria sua vida de acordo com seus termos, ao mesmo tempo em que administrava as demandas dos fãs e da mídia. Assim como hoje, quando ele precisava de alguém para conversar sobre as coisas, Mary Sullivan fora a única pessoa para quem pensara em ligar. — Ela lhe falou por quê? — Ela não confia em atores. E eu não a culpo. Existe muita sujeira na minha profissão — Smith teve de admitir. — Já estão trabalhando juntos em seu filme há tempo suficiente para ela saber que você não é um deles — a mãe lhe disse, com assertividade perfeita. — Mas às vezes é mais difícil admitir para nós mesmos que queremos o amor em nossa vida do que continuar vivendo sem ele. Smith de repente percebeu o quanto a situação entre Valentina e ele era parecida com a de Jo e Graham no filme. Em Gravity, tanto o herói quanto a heroína estavam convencidos de um jeito obstinado de que o amor era a parte difícil, quando a verdade era que o amor deveria ser a parte mais fácil de tudo. Ele escrevera o maldito filme, e mesmo assim precisou que sua mãe lhe mostrasse o óbvio: se ele não era capaz de lutar contra a força da gravidade — e da atração que o deixava flutuando —, então estava na hora de lutar por ela. — Já lhe disse o quanto é esperta? — ele perguntou à mãe. — Você também é — ela respondeu, e era capaz de ouvir o sorriso na voz dela. — É um dos homens mais inteligentes que conheço. Esperto para reconhecer uma coisa boa quando a vê e fazer o que for necessário para garantir que não a deixará escapar. — Ela estava mais séria do que ele jamais a ouvira antes quando continuou: — Se por acaso ela for a escolhida, independentemente de qualquer coisa, lembre pelo que você está lutando, mesmo que às vezes se sinta sozinho na luta. Por sete décadas a mãe ganhara sabedoria, duas das quais ela compartilhou com um marido a quem amara com todo o seu coração, quatro delas como a base sólida da vida de seus oito filhos. Com Mary, Smith aprendeu tudo o que de fato importava, e, ainda mais depois de ver Valentina e Tatiana com a mãe delas, ele nunca, nem por um segundo, deixaria de dar valor a Mary Sullivan. — Sabe o quanto eu te amo, não sabe, mãe? — Ah, sei, querido — ela respondeu, com uma voz meio embargada. — Eu sei. Mas é sempre bom ouvir de novo.
CAPÍTULO OITO Valentina acordou com a mesma sensação pesada no estômago com a qual tinha ido para a cama. Ela ficara tão transtornada com a ideia de Smith e sua irmã posando para fotos “românticas” em uma revista — mesmo que estivessem ambos caracterizados, com roupas dos personagens e tudo mais —, que saíra sem se lembrar de agradecê-lo pela flor e pelo café da manhã. Além de tudo, ainda havia sua minicrise antiprofissional por causa da visita da mãe. Deixou a cabeça cair entre as mãos enquanto se sentava na beirada da cama. Conseguira deixar esses sentimentos de lado por tanto tempo. Por que estava tendo tamanha dificuldade em fazê-lo agora? Por que tinha aquela péssima sensação de que a resposta para sua pergunta tinha o nome de Smith escrito em todo lugar? Pior ainda: por que estava começando a sentir que ele poderia também ser a cura para seus sentimentos confusos e conflituosos? Com precisão mecânica, ela tomou uma ducha, escovou os dentes, secou o cabelo, se maquiou e vestiu um de seus terninhos. Não importava o que acontecesse hoje, ela seria profissional. E manteria seus sentimentos fora do set, longe de Smith Sullivan. Já no set, seguiu em direção ao escritório para deixar a bolsa e planejava voltar em seguida para enfim dizer um “obrigada” educado a Smith pela flor e pelo café da manhã, quando encontrou algo sobre sua mesa. Talvez devesse estar preparada. Afinal, era a terceira manhã seguida que Smith colocava algo especial sobre sua mesa, para que encontrasse assim que chegasse. Mas como poderia estar preparada para aquilo? Com as mãos tremendo, acomodou a bolsa de couro e pegou o porta-retratos de madeira. A foto em preto e branco não era grande, mas era linda. Ela e Tatiana estavam rindo juntas no set: uma das mãos dela estava nos ombros da irmã, e Tatiana tinha uma das mãos na cintura de Valentina. Elas sempre foram tão autênticas com a afeição entre elas, se enroscavam embaixo das cobertas para assistir a filmes, e dar gargalhadas, e confortarem uma à outra desde que a irmã era bebê. Valentina nunca pensara duas vezes sobre o quanto era natural tocar, abraçar, rir com Tatiana. A proximidade delas não era algo a que desse tanta importância, mas vê-la capturada com tanta beleza na foto a fez percebê-la de novo, pelo que era de verdade. Mais uma vez, Smith fez com que ela visse o presente primeiro, depois o bilhete. Continuou segurando o porta-retratos ao pegar a folha de papel com a mão livre. Valentina, Esta foi uma das fotos em movimento que Larry tirou do elenco e da equipe. Você e Tatiana
estão tão soltas. Doces. Perfeitas. Ver o quanto você está feliz nesta foto me faz sorrir. Smith Assim como fizera na manhã anterior, quando ele lhe oferecera o café da manhã, ela releu o bilhete muitas vezes até as palavras ficarem tatuadas em sua memória. Não era à toa que ele fora capaz de escrever um roteiro tão lindo, já que conseguia capturar tanta coisa com tão poucas palavras. Palavras certeiras. Tão corretas que todas as coisas em que ele dissera acreditar sobre o que amor poderiam estar contidas naquela foto. Nem ela nem a irmã estavam fingindo, e nenhuma delas tinha medo de o amor se perder. O amor entre elas era, e pronto. E a consciência profunda e intrínseca de que nada, nada mesmo jamais poderia separá-las o tornava ainda mais valioso. Alguns minutos depois, não foi a foto que ela levantou para pressionar contra os lábios enquanto dava um suspiro entrecortado e tentava desanuviar o olhar. Não sabia como era possível, mas o bilhete curto e encantador cheirava como ele: fresco e sexy. Ela sabia como atores poderosos costumavam se comportar. Já tinha visto muitos deles darem pulseiras de brilhantes e viagens caras à sua mãe — até mesmo um carro. Uma ligação para um assistente e cada um daqueles presentes era despachado, para felicidade da mãe. No entanto, a flor, o café da manhã e agora a foto em preto e branco que ela guardaria para sempre significavam muito mais do que joias ofuscantes ou qualquer outro brinquedo caro. Smith estava tentando equilibrar uma dúzia de responsabilidades nesse filme, entre interpretar, produzir e dirigir. Ela o ouvira conversar com mais de um membro de sua família ao telefone durante as rápidas pausas, em particular com sua irmã Sophie, grávida, com quem falava todo dia para saber se estava tudo bem. Ainda assim, de alguma forma, no meio de mais pressão do que qualquer pessoa seria capaz de aguentar, ele também estava fazendo isso por ela. Valentina trabalhava até tarde e acordava mais cedo do que a maioria da equipe, mas o horário dele a fazia chegar perto da fronteira da preguiça. Não tinha tempo a perder com ela. Afinal, era isso o que aquilo seria, não é? Um desperdício. Sim, se ela se rendesse aos galanteios dele, era provável que acabassem fazendo sexo ardente. Todo o corpo dela se arrepiava ao pensar em como seria fazer sexo ardente com Smith. Mas, mesmo tentando se convencer a deixar de lado a fantasia de uma noite com ele, uma voz em sua cabeça a forçava a ouvir, sussurrando o quanto Smith não seria apenas sexy... mas também carinhoso. Doce. E perfeito. Valentina bateu à porta do trailer de Smith, apesar de ela já estar aberta. Ela valorizava a própria privacidade o suficiente para também dar valor à privacidade dos outros Mais ainda à de um
homem que quase não a tinha. — Entre. Com a voz naturalmente sensual e profunda de Smith lhe subindo pela espinha, o primeiro pensamento dela foi o mesmo de sempre que o via. Maravilhoso. Logo seguido por sexy. Depois, desejo. Mas logo atrás delas vinha outra: cansado. Nas últimas semanas a energia de Smith não tinha esmorecido, nem desaparecido, e ela não o ouviu reclamar uma só vez. Mas, pela primeira vez, ele parecia exausto. O instinto protetor dela veio à tona. — Está tudo bem? Ele se levantou da cadeira para servir uma xícara de café a ela. — Muito melhor agora que você está aqui. Meu Deus, era tão difícil brigar contra os sentimentos que tinha por ele. Gostava dele. Desejava-o também, com um desespero que a consumia, devagar e sempre, a cada segundo que ele estava por perto. E quando ele não estava também. — Sei o quanto é ocupado — Valentina começou, mas estava cansada de ficar se esquivando quando estava ao lado dele. Ela sempre se orgulhara de ser uma pessoa objetiva. Direta. E agradecida quando alguém era gentil. Era isso o que ensinara a Tatiana. E, sabia, era o que a mãe tinha lhe ensinado. Dessa vez, em vez de se afastar, Valentina chegou mais perto dele. — Eu me esqueci de agradecer ontem pela flor. O café da manhã. E, em especial, pela foto. Não precisava ter se incomodado. — Ela sorriu para ele ao dizer. — Mas não posso negar que fico feliz por tê-lo feito. Quando o sorriso dele refletiu de volta, tirou-lhe um pouco da exaustão antes estampada nas feições perfeitas. — O prazer foi meu, Valentina. Ele lhe ofereceu a bebida, e as pontas dos dedos roçaram quando ela pegou a caneca da mão dele. No entanto, não era café o que ela queria; a palavra prazer ia de um lado para o outro dentro da cabeça e do corpo dela, como uma bola de fliperama. — Como você consegue? — ela lhe perguntou, sem conseguir parar. — Como consegue manter
todas as bolas no ar, se dedicar tanto e ainda assim ter o controle de tudo? — Ter o controle de tudo? — Ele soltou uma risada meio amarga. — Meu Deus, Valentina, será que não consegue ver que isso está me matando? — Dirigir, produzir e interpretar, tudo ao mesmo tempo, é uma tarefa dura — ela concordou. Os olhos deles escureceram quando disse: — Dou conta de tudo isso. Valentina conseguia sentir a areia movediça engolindo-a, cada vez mais fundo, a cada palavra jogada entre eles, a cada momento que passava com Smith no escritório dele. Aquela areia movediça tinha de ser o motivo de ela não conseguir ir embora. O motivo de ela nem mesmo levar em consideração sair dali. Sentiu os lábios secos, secos demais, e precisou molhá-los antes de perguntar. — Então, o que está matando você? Um gemido baixo saiu dos lábios dele no momento em que seu olhar recaiu sobre a boca de Valentina por um segundo, e então voltou para os olhos dela. — Não fazer isto. Os lábios de Smith estavam sobre os dela antes que seu coração pudesse bater de novo e, mesmo tendo vindo agradecer a gentileza do presente — não para beijá-lo —, de alguma forma estava nos braços dele e estavam se beijando como se ele tivesse ido para a guerra e tivesse enfim voltado para casa. Ninguém jamais a beijara daquele jeito. Com tanto carinho. Com tanto querer. E com uma paixão tão doce, tão perfeita. Todas as coisas que ouvira sobre a terra girar muito rápido, o sangue correr nas veias e as pernas ficarem dormentes... tudo isso estava acontecendo. O beijo ficou cada vez mais ardente, mais profundo, cada vez mais intenso a cada segundo que seus lábios e suas línguas se chocavam. Nunca. Ela jamais sentira um desejo tão intenso vindo de um homem... ou dela mesma. Ainda assim, conforme os lábios deles os levavam para um território cada vez mais perigoso, Valentina sabia que aquilo era apenas mais uma peça do quebra-cabeça que estavam construindo juntos. Nesse beijo, junto com o desejo e a paixão, estavam todas as outras coisas que os conectavam: família, alegria e uma compatibilidade que ela não se lembrava de jamais ter tido com alguém além de sua irmã. Pela primeira vez na vida, Valentina entregou-se por completo a um homem. Não porque o beijo de Smith exigia isso dela, mas porque ela não queria sentir mais nada além daquilo. Tudo. Tudo o que ela sonhara por tanto tempo. Tudo o que desejou nas horas secretas da noite, quando deixava de lado suas defesas.
A boca de Smith movia-se sobre a dela, as mãos dele encaixando os quadris e puxando-a com mais força antes de fazer um caminho lento pelas costas até os ombros, depois em seus cabelos. Valentina por fim deixou-se abraçar pela liberdade de sentir, de desejar e ser desejada, e, acima de tudo, de fingir por alguns minutos que aquele beijo não teria consequências. Smith pensara tantas vezes em beijar Valentina, tinha chegado perto dos lábios dela em tantas ocasiões, que já sabia como seria o gosto dela. Doce como uma colher de açúcar, com uma leve pitada de tempero exótico. Como connoisseur de mulheres, ele era bom. Bom o bastante para, quando os lábios deles enfim se encontraram e a língua dele roçou a dela com um gemido profundo de prazer, perceber o quanto chegara perto de adivinhar. Mas não perto o suficiente, pois Valentina tinha um sabor melhor do que qualquer um dos doces mais doces e suculentos que ele já experimentara na vida. Muito melhor, ele pensou ao encaixar a mão em sua nuca para puxá-la para mais perto, para roçar os lábios nos dela vez após outra. Ele adorou cada um dos pequenos suspiros e gemidos que ela soltou quando ele, com a ponta da língua, lhe tocou os cantos sensíveis da boca, e então a parte de baixo dos lábios, mais carnuda, com a ponta dos dentes. Até onde conseguia se lembrar, ele sempre esteve no controle. Com as mulheres. E com os personagens. Até mesmo com a imprensa e com os fãs, depois que se adaptara às demandas da fama. No entanto, no turbilhão do beijo com Valentina, a paixão, o desejo, a maneira como tudo girou no momento em que seus lábios tocaram os dela e suas mãos encontraram as curvas de seu corpo, tão mais macias do que ele imaginara; bem, nesse momento ele não estava mais no controle, nem mesmo por um segundo. Foi necessário apenas um beijo para confirmar não só o quanto a paixão dele estava contida, mas também que nenhum dos dois tinha a menor chance de evitar a força da atração, ainda que ele fosse o único a aceitar aquela verdade. Quando no fim se separaram para puxar o oxigênio necessário aos pulmões, Smith aproveitou para apreciar os poucos segundos preciosos que ainda lhe restavam com Valentina em seus braços, os olhos dela encobertos por um prazer incomensurável. Smith não achava que sempre compreendia as mulheres, mas também não era tão desinformado quanto outros caras. Valentina queria aquele beijo... tanto quanto não queria. E ele não deixaria que ela se arrependesse. E também não poderia deixá-la pensar muito sobre aquilo. Ela colocou as mãos no peito dele, quase como se estivesse tentando se aprumar enquanto seus olhos, aos poucos, se desanuviavam. Então eles se encobriram outra vez, dessa vez alarmados. Ela empurrou o peito dele e disse: — Smith, eu não... — quando ele a interrompeu com delicadeza. — Tenho outra coisa para você.
Esforçou-se para soltá-la, ainda que o homem das cavernas dentro dele dissesse que precisava terminar de possuir aquela mulher antes que ela fugisse. Durante os últimos vinte anos, fora fácil colocar o amor e o relacionamento em segundo plano. Até mesmo seu relacionamento mais duradouro e mais sério nunca fora com alguém por quem sacrificaria qualquer coisa, não fora nada parecido com o que seus pais, irmãos ou irmãs tiveram nos relacionamentos deles. Smith conhecia química. Afinal, fazia parte do trabalho dele criá-la com cada um de seus coadjuvantes. Ainda assim, mesmo para seus padrões, a química entre ele e Valentina era extraordinária. E, quer ela estivesse pronta para aceitar ou não a verdade, era inevitável. Ele nunca quis interpretar um papel com ela, e nunca o fizera até agora, o que significava dizer que não poderia forçar um sorriso fácil que ajudaria quando disse: — Eu ia lhe dar isso amanhã de manhã, mas agora parece ser uma hora melhor. Smith conseguia ver os motores do cérebro dela funcionando, questionando por que ele deixara de lado aquele beijo... e, como era provável, por que não estava querendo outro. Ou por que não estava levando as coisas para outro nível. — Não posso aceitar mais nenhum presente seu — ela disse, com a voz sensual que em geral tentava esconder, agora com força total depois do beijo deles. Ele não conseguia parar de pensar, ainda que isso tornasse seu desejo insaciado por Valentina ainda mais doloroso, em como ela seria quando gozasse nos braços dele, seus cabelos perfeitos e presos bagunçados pelas mãos dele e espalhados pelo travesseiro. Todo o sangue que ainda não tinha descido tomou aquela direção, Smith imaginando o calor da pele, a rouquidão sexy da voz dela enquanto Valentina deitava-se saciada e doce embaixo dele nos poucos momentos que ele daria a ela para se recuperar antes de possuí-la de novo. Ele pegou um envelope branco da mesa. — Deixe-me lhe dar mais um, Valentina. Ela respirou fundo, como se ele tivesse acabado de lhe pedir outro beijo em vez de lhe pedir para abrir o envelope e ver o que tinha dentro. E talvez tenha sido por isso que ela, enfim, pegou o envelope dele, pois era dos males o menor: o presente ou os lábios de Smith de volta sobre os dela. Abriu o envelope e tirou dois ingressos de dentro. Primeiro viu a surpresa, e, em seguida, o prazer que ela não conseguia esconder. — Alcatraz? Quando liguei me disseram que todos os tours já estavam esgotados para os próximos dois meses. — Ela baixou os olhos mais uma vez e leu o texto impresso: — Esses ingressos são para amanhã à noite. — Eu não vou a Alcatraz desde o passeio da quarta série da escola. Ela apertou os ingressos com mais força. Mais uma vez, Smith podia ver o cérebro dela trabalhando. Para cima e para baixo; para a frente e para trás. Por fim, ela falou:
— A quarta série foi há muito tempo. — Com certeza. Minha lembrança de lá está bem confusa. Smith não queria forçá-la a levá-lo com ela, mas também tinha certeza de que não a decepcionaria quando as boas maneiras a obrigassem a fazer exatamente isso. Com a graça e a pose que ela emanava em todo lugar, da sala de reuniões ao set, Valentina enfim perguntou: — Você gostaria de ver outra vez? — Claro que sim. Ele pensou tê-la visto dar um pequeno suspiro de resignação antes de continuar: — Ok, então. Por que não vem comigo? Desta vez Smith não precisou forçar um sorriso. — Adoraria. — Preciso voltar para meu escritório. No entanto, em vez de ir em direção à porta, ela disse: — Sobre esse beijo. — Foi um ótimo beijo, não foi? Ela enrubesceu, mas não tentou negar que ele estivesse falando a verdade. — Foi — ela respondeu, com aquela voz supersensual que o deixava a ponto de agarrá-la de novo. — Foi um ótimo beijo. Mas... — Quero beijar você de novo, também, Valentina. Ela fez um som de frustração e até mesmo isso fez o corpo dele reagir. — É irrelevante se eu ou você gostamos desse beijo. Não posso beijá-lo de novo. — Antes que ele pudesse fazer outra coisa além de levantar as sobrancelhas diante da colocação enfática que, ambos sabiam, não serviria para apagar o fogo entre eles, ela continuou: — E você sabe por quê. Já conversamos sobre isso. — Sim, já conversamos — ele concordou —, mas por que não me diz mais uma vez por que não aceitar sair comigo? — Você é um ator. Smith já tinha experiência em contar histórias há bastante tempo para saber uma ou duas coisas sobre dar tempo ao tempo. Mais cedo o momento fora o certo para dar o beijo que os dois queriam e, em seguida, no vácuo daquele fogo, para fazer o convite a Alcatraz. Imaginou que tivesse só mais um pouquinho de espaço sobrando. — Depois desse beijo, acho que terá que concordar que mereço outro motivo, um motivo que não me compare com um bando de merdas egoístas.
— Você é um dos maiores astros do mundo, e as pessoas morrem para saber o que podem sobre você, inclusive com quem você sai. — Ela balançou a cabeça. — Não consigo imaginar nada pior do que estar sob a luz dos holofotes. E, se saísse com você, seria bem lá que isso terminaria. De todos os problemas que Smith tivera para encontrar a mulher certa nesses últimos anos, esse não era um deles. As mulheres no mundo dele sempre amavam os holofotes, tanto que ele se perguntava se jamais encontraria alguma que o quisesse por qualquer outro motivo. No entanto, ele não duvidou, nem por um momento, que Valentina estivesse falando a verdade. Ainda mais quando dissera “Não consigo imaginar nada pior do que estar sob a luz dos holofotes” com tanta veemência. — Veja bem — ela disse, com um tom mais tranquilo —, temos de trabalhar juntos nas próximas semanas. Se vamos ver Alcatraz juntos amanhã, não acho que seja uma boa ideia ter a falsa impressão de que isto — ela gesticulou de um para o outro — acontecerá de novo. Aos 36 anos, Smith tinha fama, fizera fortuna, viajara, festejara e se dedicara ao trabalho por duas décadas. Agora, estava pronto para o próximo passo: estar com uma mulher que não apenas desejasse, mas com quem pudesse compartilhar sua vida, seus sonhos. Uma mulher com quem pudesse envelhecer junto. Também estava pronto para os filhos brincando na praia, jogando bola no parque, para se divertirem com os primos nas festas de família. Assim, mesmo ouvindo os motivos de Valentina em alto e bom som, e mesmo não podendo negar que a vida dele era repleta de holofotes, Smith recusou-se a desistir. Não quando algo lhe dizia que ela devia ser a mulher de sua vida... e que se não lutasse até o inferno por ela, nunca se perdoaria por ter sido tão tolo. — Que tal isso? Eu não a beijarei de novo até que você me peça. Ela mal hesitou antes de responder: — Eu não vou lhe pedir para me beijar. — Vai sim — ele respondeu, baixinho. Ela piscou para ele. Uma, duas, três vezes antes de dizer: — Ainda não consigo entender por que está se esforçando tanto se já lhe dei todas as razões do mundo para desistir de mim. Ele não a beijaria até que ela pedisse, mas não dissera nada com relação a estabelecer limites para tocá-la. Chegou mais perto, perto o bastante para alcançar a ponta do rabo de cavalo dela e passar os dedos pelo cabelo longo e macio. — Peça-me para beijá-la de novo e eu lhe relembrarei um dos motivos. O olhar dela lhe dizia Boa tentativa, mas ela respondeu: — Você já deve ter dado muitos beijos ardentes em outras mulheres. — Não tanto quanto esse. Nem perto disso. — Ele fez uma pausa longa o suficiente para deixar os dedos escorregarem do cabelo dela até a pele exposta acima do peito da jaqueta de lã bem
cortada. Valentina ficou arrepiada diante daquele toque tão suave. — Nem você.
CAPÍTULO NOVE Valentina nunca fora tão agradecida pela agenda ocupadíssima de Smith ou pela popularidade de sua irmã. Isso significou serem interrompidos no escritório dele antes que um beijo pudesse se transformar em outros, e ela poder voltar direto para seu escritório e mergulhar no trabalho... com Smith rondando seu pensamento uma hora sim outra não, em vez de a cada segundo. Mesmo quando o beijo deles mergulhou em águas muito profundas e perigosas, ela podia sentir a paciência dele, e o quanto conseguia se manter controlado. Com um arrepio inebriante de ansiedade que sabia que não deveria sentir, Valentina não podia mais negar a certeza absoluta de que a paciência de Smith logo acabaria. E a dela também. Mesmo tentando manter distância, só conseguiu chegar cada vez mais perto. A cada palavra que Smith pronunciava, ela sentia suas defesas desmoronarem um pouquinho mais. Caso tivesse escolhido aquele momento final para tocá-la antes de baterem à porta do escritório, ela teria ido até ele, com ele, sem protestar, sem dar a mínima para todos os motivos que a mantinham longe dele. No momento em que Valentina tentava completar a tarefa impossível de tirar o foco do beijo de Smith e voltar a seus e-mails, Tatiana enfiou a cabeça pela porta. — Tem um minuto? Valentina se levantou e saiu de trás do computador. — Sempre. — Ela colocou os braços ao redor da irmã e lhe deu um abraço de “oi”. — E aí? A irmã lhe lançou um olhar aguçado. — Na verdade vim dar uma olhada em você. — Em mim? — Está tudo bem? Dezenas de respostas vieram à ponta da língua de Valentina: Smith me beijou. Ou eu o beijei. Com toda a sinceridade, não sei o que aconteceu. Só sei que foi bom. Tão bom que não consigo reencontrar meu eixo. No entanto, mesmo querendo muito contar à sua melhor amiga do mundo sobre tantos pensamentos e sentimentos conturbados, ela não ousou. Não com Tatiana trabalhando tão perto de Smith. O trabalho dela como protagonista de um filme importante já era difícil o bastante. A última coisa de que precisava era se preocupar se a irmã estava se dando bem ou não com seu parceiro de cena, o astro todo-poderoso. — George me perguntou a mesma coisa — Valentina respondeu com um sorriso. — Acho que estou ficando velha para dormir apenas algumas horas.
Tatiana revirou os olhos. — Você não está velha, só trabalha demais. E, como isso é quase tudo culpa minha, vou nos presentear com um dia no spa no próximo sábado. Valentina quase gemeu em voz alta ao pensar em receber uma massagem e, depois, mergulhar em uma banheira. — Você sabe que eu adoro trabalhar. Mas, com certeza, não vou dizer não a um dia no spa com minha pessoa favorita no mundo. — Nesse exato momento chegou uma mensagem de George no celular. — Seu agente esquentadinho acabou de me perguntar quando você estará disponível para conversar sobre um comercial no Japão em uma conference call. — Tudo bem se for amanhã? Na verdade eu iria para casa daqui a pouco para repassar minhas falas. — Ok. Direi isso a ele — Valentina concordou; e então: — Quer que passe suas falas com você? A irmã sacudiu a cabeça. — Não. Quer dizer, sei todas de trás para a frente. Esse não é o verdadeiro problema. Ela sempre sabia, Valentina pensou. Desde quando era pequena, a irmã nunca errara as falas. Sempre deixara isso para os adultos menos preparados. — Acho que só estou um pouco nervosa com relação a filmar a cena de amanhã. Quer dizer, sei fingir estar apaixonada, ou assustada, ou feliz... mas nunca estive em um trabalho de parto antes. — Graças a Deus! — Valentina brincou, alegre, quando a irmã sorriu. — Não precisa pensar muito nisso. — Sei que não deveria — Tatiana concordou —, mas quero dedicar a cena a todas as mães que já passaram por tanta dor pelos seus filhos. — Com hesitação evidente, ela contou: — Conversei com a mamãe sobre isso. Valentina sentiu uma dor aguda no meio do peito ao se forçar dizer: — Que esperteza de sua parte. O que ela disse? — Ela foi bastante prestativa. Valentina soltou um sarcástico “É mesmo?”. — Ela me contou tudo sobre o trabalho de parto com cada uma de nós, que doeu tanto que o papai se recusou a soltar a mão dela por um segundo que fosse. Dezoito horas — Tatiana disse, com delicadeza. — Foi o tempo pelo qual ele segurou a mão dela. Até que pudesse enfim nos pegar no colo. Valentina soltou um suspiro entrecortado ao alcançar os dedos da irmã e apertá-los bem forte. — Às vezes tenho muita saudade dele. — Eu também — Tatiana falou. A mãe delas também devia sentir saudade, mesmo não estando
ali. Ela é quem devia sentir mais saudades do que todo mundo. Tatiana estava se levantando para sair quando bateu o olho na foto em preto e branco. — Adorei! Quando você ganhou? — Hoje de manhã. Smith encontrou-a entre as fotos que o Larry tirou no set e me deu. Os olhos da irmã reluziram para ela. — Muito legal da parte dele. Valentina assentiu e disse, cuidadosamente: — Ele com certeza está elevando o padrão de seu próximo parceiro de trabalho. Tatiana fixou seu olhar na foto alguns segundos antes de colocá-la de volta. — Estava pensando em pedir pizza e cobri-la com sorvete para me ajudar a entrar no clima de desejo de grávida. Gostaria de se juntar a mim? — Está brincando. — O trabalho poderia esperar. Uma noite com a irmã seria preciosa. Agarrou a bolsa e o celular, mas deixou o laptop sobre a mesa de propósito, pelo menos uma vez na vida. — Pizza e sorvete me parecem quase tão bons quanto um dia no spa. Na verdade, se combinarmos os dois com Uma Linda Mulher, talvez nem precisemos de um spa para recuperar o ânimo. Enquanto caminhavam em direção ao estacionamento, a irmã perguntou: — O que acontece quando uma prostituta e um milionário se apaixonam que é tão absurdamente perfeito? Valentina deu de ombros. — Quem sabe? — Afinal, a última coisa que ela sabia era algo sobre amor, ficcional ou não. — Algumas coisas são apenas perfeitas — ela retrucou enquanto se pegou pensando outra vez em Smith. — Mesmo quando não fazem o menor sentido. E algumas outras coisas, como o relacionamento dela com a mãe, nunca seriam perfeitas, por mais que se quisesse. No dia seguinte, sentindo-se muito mais relaxada depois de uma noite se empanturrando de porcarias enquanto recitavam todas as falas de Uma Linda Mulher uma para a outra, Valentina sentou-se com o restante do elenco para observar Smith e Tatiana com as cabeças abaixadas sobre o roteiro, discutindo as nuances da cena pela última vez antes de começarem a gravar. Até agora, a maior parte do filme tinha sido feita em sequência. Não era sempre assim, mas Valentina gostava quando o arco da história fazia sentido. Que droga, ela gostava quando as coisas faziam sentido e pronto. No dia anterior haviam filmado algumas cenas de montagem do personagem de Smith, Graham, aos poucos cortejando Jo, a personagem de Tatiana.
Primeiro ele lhe presenteou com botinhas de bebê, macias e cor-de-rosa, que ela não fora capaz de recusar. — Não pedi para saber o sexo; pode ser um menino. — Os olhos de Graham se enevoaram. — É uma menina. — E então ele se fora, deixando Jo com um franzido na testa, as botinhas ainda na mão. Da próxima vez que foi até o café, estava carregando uma pequena bolsa prateada com mais coisas cor-de-rosa dentro. Só que dessa vez ele não ficou para vê-la tirar todas as roupinhas de bebê, lindos vestidinhos que todo mundo elogiou. Ela saiu correndo do café e alcançou-o a meio caminho da calçada. Primeiro veio o agradecimento, depois a reprimenda para que parasse de lhe trazer presentes a cada segundo. Mas tudo o que ele respondeu era que ela precisava tomar mais cuidado ao correr no meio de uma calçada lotada na condição em que se encontrava. Jo encontrou o carrinho de bebê novinho em folha e a cadeirinha para recém-nascido dentro do apartamento, na tarde seguinte, quando trabalhara no turno da manhã. Passou as mãos sobre tudo com admiração, mesmo tendo decidido que Graham já tinha ido longe demais. Não só pelo fato de serem presentes muito caros, e porque ela levaria a vida toda para pagar de volta, ou porque estava tocada, ainda que a contragosto, diante do fato de ele, é óbvio, ter feito uma pesquisa sobre os acessórios mais seguros para bebê, mas também porque ele não só descobrira onde ela morava como conseguira um jeito de colocar o carrinho de bebê lá dentro sem lhe pedir permissão. Era fácil fazer uma pesquisa sobre Graham na internet e descobrir onde ele trabalhava. Ou, melhor, o nome do edifício do qual era proprietário no distrito financeiro. Jo sabia que parecia muitíssimo fora de contexto com sua barriga enorme e suas roupas de gestante coloridas, seu cabelo com mechas cor-de-rosa, naquela rua turbulenta, cheia de pessoas tensas, com seus ternos escuros, todas apressadas enquanto falavam em seus fones de ouvido. Cinco meses antes, teria ficado incomodada pela maneira como as pessoas paravam e olhavam para ela, perguntando-se o que estaria fazendo tão longe de seu ambiente; mas, com todo o seu foco em falar com o executivo, ou, como acabara de descobrir, com o bilionário, o que estava pensando, ela não estava nem aí. O vidro na frente do prédio estava tão limpo e tão claro que ela imaginou as pessoas batendo o nariz nele todo dia. Empurrando a porta pesada, precisou parar para absorver o teto alto, o chão de granito polido, a reverência quase silenciosa ao dinheiro que o prédio, e cada um dos ocupantes que podia ver na entrada imensa, lhe prestava. Irritada consigo mesma por estar impressionada, ela caminhou pisando duro até a recepção. — Preciso ver Graham. Ainda bem que o homem nem piscou o olho. Nem com relação à idade, nem pelas roupas, nem por sua barriga. — Nome, por favor. — Jo. Eu não tenho hora marcada. — Ela ergueu o queixo.— Mas ele vai me ver. O guarda estudou-a por um bom tempo e ela o encarou de volta, tão tranquila quanto pôde.
Por fim, ele pegou o telefone. — Angie, tenho aqui a Jo para ver o Sr. Hughes. — Seja lá o que foi que a recepcionista disse, fez como que um brilho de surpresa atravessasse o rosto do homem. Ele desligou o telefone e levantou-se. — Eu mesmo a acompanharei, Jo. Ela se esforçou para manter a calma enquanto eles subiam de elevador cada vez mais alto. E, quando ele disse “Parabéns”, foi ela quem ergueu a cabeça em surpresa dessa vez. Automaticamente, ela colocou as mãos na barriga. Estava tão brava com Graham por causa do carrinho de bebê e por ter entrado em seu apartamento que começou a passar mal. Quer dizer, não era bem passar mal, porém as pinçadas que sentia nas costas com certeza tinham piorado. Essa era outra razão para fazê-lo se afastar. Ela não queria que nada desviasse sua atenção do bebê. E Graham era, sem dúvida, uma distração. — Obrigada — ela agradeceu, e então era hora de sair do elevador e pisar no carpete mais macio e mais limpo que já vira na vida. Até mesmo em um showroom não teria parecido tão novo. Tomada pela necessidade irreprimível de arrancar os sapatos e enfiar os dedos nas fibras macias, ficou chocada ao ver os sapatos pretos brilhantes se colocarem bem em frente às suas cansadas sapatilhas prateadas. — Jo. Cada vez que ele dizia o nome dela, Jo sentia um arrepio pelo corpo. Hoje, mentira para si mesma dizendo que a raiva é que lhe causara o tremor. Ela não deu a mínima para quem a ouviu dizer: — Eu lhe pedi para parar de me dar coisas. Ela esperava que ele fosse puxá-la até seu escritório, fechar a porta e ter certeza de que o que fosse dito entre eles seria em particular. Ele não se moveu nem um milímetro. — Você precisa delas. Ela queria gritar com ele. No entanto, pegou-se baixando a voz para sussurrar: — Você invadiu meu apartamento. — O carrinho e o assento teriam sido roubados se eu os tivesse deixado do lado de fora. E eu não queria que você os empurrasse do trabalho até em casa. O fato de ele estar certo com relação a essas coisas não serviu para minimizar a raiva dela. — Veja bem — ela começou, com a voz mais paciente que conseguia administrar. — Sei que ainda se sente mal...
Uma dor lancinante na altura da cintura transformou as palavras em um grito. Pela primeira vez, desde aquele primeiro dia na calçada da Union Square, eles se tocaram, a mão dela voando até o braço dele para se proteger daquela dor brutal. Os olhos de Jo estavam fechados com muita força para que ela visse o pânico tomar conta do rosto de Graham. — Diga a Ellis para tirar o carro em um minuto — ele ordenou a uma de suas assistentes, sem tirar os olhos de Jo. Para a outra, ele disse: — Ligue para o California Pacific Medical Center e diga para terem a sala de parto pronta para nós em quinze minutos. Quando a dor enfim passou, Jo percebeu que a mão dele estava na parte de trás de suas costas enquanto seguiam até o elevador. — O que você está fazendo? — Levando você para ter sua filha. Ela abriu a boca para argumentar, para dizer que podia se cuidar sozinha, quando outra pontada de dor a atingiu, dessa vez ainda pior. A voz de Graham era baixa, tranquilizadora e bastante gentil. — Respire, Jo. Inspire, devagar. Ela conseguiu inspirar, mesmo sentindo que seu corpo pequeno ia rachar ao meio. — Bom, agora expire, devagar, assim. Ela fazia conforme ele lhe instruía, e ele elogiava de novo. — Está indo muito bem. Quando o elevador abriu no térreo, Jo, na verdade, estava feliz por ter os braços fortes dele em volta dela. — Só mais um pouco para poder se deitar no banco de trás do carro. Os olhos dela se arregalaram, alarmados diante da ideia de ir a algum lugar com ele, mas ela ainda estava fraca pela última contração e tinha a sensação de que a próxima seria pior. Ele colocou a mão dela entre as dele enquanto a ajudava com gentileza a acomodar-se na limusine e mal piscou enquanto ela passava por outra onda de dor, apertando-lhe a mão com tanta força que fez os dedos dele estalarem. Os murmúrios encorajadores de Graham ajudaram até que ela se jogou contra o couro macio, quase inconsciente, e perguntou: — Como sabe tão bem o que dizer? Os lábios fortes e marcados dele tremeram quando respondeu: — Minha irmã. Do mesmo jeito que o sofrimento veio, desapareceu.
Ela queria fazer mais perguntas, e, antes que pudesse empurrar as palavras para fora dos lábios, um novo choque de dor a atingiu. Enquanto os lamentos dela reverberaram pelas paredes da limusine, Graham puxou-a mais para perto e segurou-a com força, como se pudesse absorver a dor para si mesmo. O suor empapava as roupas dela, e ele deu uma ordem ainda mais dura ao motorista: — Mais rápido. Temos de chegar logo ao hospital. — Sim, senhor. Quando enfim chegaram ao prédio de tijolinhos, ele a tirou do banco de trás como se Jo não pesasse nada e abriu com cuidado as portas da frente do hospital. Não parou na recepção; apenas caminhou com ela até a sala que pedira com insistência que estivesse pronta. Duas enfermeiras e um obstetra entraram no centro cirúrgico e começaram a auferir a pressão sanguínea e outros sinais vitais, enquanto o médico perguntava a Jo, com uma voz muito calma e suave, se poderia examiná-la para ver com quanto tempo ela estava. O tempo todo, Graham segurou a mão de Jo. E se recusou a soltá-la. Enquanto filmavam a cena do hospital várias outras vezes, de ângulos diferentes, tudo o que Valentina conseguia fazer era olhar para as mãos de Smith e Tatiana entrelaçadas. No entanto, eram as mãos do pai e da mãe que ela estava vendo, ambos jovens e tão cheios de esperança para o futuro com a família que tinham construído juntos. Ficou com um nó na garganta quando Tatiana e Smith por fim deixaram seus personagens muitas horas depois e as luzes diminuíram. A irmã dela chacoalhou as pernas e riu ao soltar a tensão, enquanto Smith logo saiu do set e foi em direção ao camarim. Um tempo depois, Valentina enfim se levantou da cadeira e respirou fundo, também tentando aliviar a tensão do próprio corpo. Ao abrir os olhos de novo, Smith estava em pé na frente dela, já com suas roupas casuais. — Pronta para irmos à fortaleza?
CAPÍTULO DEZ Smith parecia animado como se não tivesse dado tudo de si para as câmeras durante as últimas oito horas, ao passo que Valentina sentia-se como um fio de macarrão desmilinguido só pela experiência indireta de assistir a toda aquela emoção. Durante a filmagem, ela se esquecera por completo de Alcatraz, mas, como um raio, o nervosismo — e o receio de ficar sozinha com Smith durante tantas horas — voltou. — Preciso dar um alô para Tatiana primeiro. No entanto, quando se virou para procurar a irmã, ela estava rindo com um dos membros da equipe de efeitos especiais, Jayden. Sem dúvida estava bem e já sabia que Valentina e Smith iriam a Alcatraz. Como Tatiana iria a Los Angeles para um evento mais tarde naquela noite, Valentina deulhe apenas um beijo no rosto e disse que a veria de manhã, depois que voltasse do aeroporto. Isso queria dizer que não havia nenhum outro motivo para deixar de partir. — Precisa de alguma coisa do escritório? — Só da minha jaqueta. — Ela vestira uma calça comprida e um suéter hoje, sabendo que eles ficariam num barco e numa ilha no meio da baía à noite. Caminharam em silêncio para buscar o casaco dela, e, por sorte, todo mundo estava tão acostumado a ver os dois juntos por um motivo ou outro que ninguém achou estranho que estivessem indo na direção do carro de Smith. Ele não colocou a mão nas costas dela enquanto caminhavam, não ficou muito perto, e ela ficou agradecida pela discrição. Afinal, aquilo não era um encontro. Smith só estava agindo, por algumas horas, como um guia turístico amigável em sua cidade natal, São Francisco. O fato de ele ser um grande astro do cinema e poder contratar uma equipe completa para mostrar a cidade a ela era irrelevante. Valentina podia imaginar o quanto os operadores de turismo ficavam felizes ao serem contatados por Smith Sullivan. É provável que mal pudessem esperar para lhe dar os ingressos. Foi só quando se acomodou no banco do passageiro do Jaguar dele que Valentina percebeu que nunca estiveram juntos em um lugar tão pequeno. O ronco do motor fez o coração dela disparar. Ou talvez tenha sido a maneira como ele se virou e deu um sorrisinho sexy um pouco antes de sair do estacionamento e entrar nas ruas de São Francisco. A cada quilômetro percorrido, a memória do beijo que tinham compartilhado parecia cada vez maior, até chegar ao ponto de os lábios dela começarem a formigar, como se tivesse passado um minuto, em vez de um dia inteiro, desde que ele pressionara seus lábios sobre os dela. — Valentina. — Seu nome nos lábios dele fazia o calor lhe percorrer o corpo, enquanto ela virava o olhar aos poucos em sua direção. — Olhe só aquela lua! Esteve olhando de jeito tão fixo para suas mãos cerradas que ficou surpresa ao olhar pela janela e encontrar uma lua cheia sobre a água, a baía azul se transformando em um roxo profundo.
— É linda! Tão linda que, de repente, não fazia qualquer sentido estar nervosa. Nunca se perdoaria caso não se permitisse absorver a maravilha dessa experiência só porque estava preocupada com o que Smith Sullivan queria dela. Ele prometera que só a beijaria quando ela pedisse, não foi? E ela não pediria, o que queria dizer que poderiam ser apenas amigos. Pelo menos esperava isso quando se virou de volta para ele e disse: — Você foi ótimo hoje. Ele manteve os olhos na estrada e sorriu ao elogio dela. — Obrigado, foi bom. E, claro, sua irmã torna tudo mais fácil. — Deveria tê-la visto quando tinha 10 anos. Ela fez um comercial com um bando de profissionais e, ao final, todo mundo sabia que ela foi a razão de terem se saído tão bem. Smith entrou em um estacionamento cercado, ao lado da água, e o vento soprou tão forte que fez Valentina colocar o casaco quando saiu do carro. — Deixe-me ajudá-la — ele disse, enquanto escorregava o casaco sobre os ombros dela. Uma sensação de calor percorreu-a, não só por causa da lã. Ele não tinha se aproveitado da situação, não tocara em nada além do casaco, mas, mesmo de onde estava, atrás dela, o calor emanava. Valentina se perguntou o que aconteceria caso se deixasse apoiar no calor e na força dele só por alguns momentos. Foi mais difícil tirar essa pergunta da cabeça do que deveria ser. Agradecida pela lufada de vento gelado que soprou — na esperança de que pudesse carregar seus desejos proibidos também —, ela enfiou as mãos nos bolsos para pegar as luvas, porém eles estavam vazios. Smith terminou de colocar sua jaqueta e Valentina tilintava de frio. Com o cenho franzido, ele perguntou: — Está com frio? — Só as minhas mãos. Esqueci as luvas. Ele enroscou os dedos nos dela. — Isso ajuda? Ela sabia que deveria tirar as mãos dali. Mas, ah, ele era tão quente. E as mãos dela sempre ficavam tão frias. Valentina baixou os olhos para as mãos entrelaçadas, mas, ao levantar o olhar, o “sim” que ela estava prestes a dizer se perdeu no desejo dos olhos dele. O mesmo desejo que ela sabia que demonstrava. Tudo o que ela conseguiu fazer foi concordar com a cabeça. O coração dela parou de bater por um momento quando Smith baixou o olhar para os lábios
dela. A lembrança da suave pressão dos lábios dele sobre os seus a fez querer tanto que, naquele momento, não conseguia se importar que ele estivesse prestes a quebrar sua promessa a ela. No entanto, em vez de beijá-la, Smith só ergueu as mãos dela até os lábios. Não lhe beijou as mãos; apenas segurou-as contra os lábios por um longo momento antes de dizer: — Por que não vamos ver a lua do barco? Valentina olhou confusa para o iate. — Achei que precisássemos pegar uma balsa para chegar a Alcatraz. — Em geral sim — ele concordou —, mas abriram uma exceção para você. — Para mim, não — Valentina retrucou, balançando a cabeça. — Para você. — De repente, ela voltou-se para ele com o cenho franzido. — Não faremos parte do grupo de turistas normais, não é? O vento soprou uma mecha do cabelo dela na boca e ele se esticou para afastá-lo, demorando-se um pouco com seus dedos no rosto de Valentina. — Não, não faremos. O capitão do barco da noite saiu no convés para cumprimentá-los, e, quando apresentou Billy a Valentina, Smith não pode deixar de notar a aprovação nos olhos do outro homem. Ele ajudou Valentina a subir a bordo, e, apesar de seus olhos se arregalarem ao ver o interior luxuoso, ela não fez muito alarde. Talvez porque não desse a mínima para o dinheiro ou as posses dele. De qualquer forma, ela e Tatiana já haviam comparecido a eventos de Hollywood em barcos maiores do que aquele. Mais uma vez, ele surpreendeu-se pela agradável sensação de não ter que explicar sua vida a ela. Era por isso que tantas pessoas no ramo do entretenimento acabavam juntas. Ninguém poderia entender, de fato, como era aquela vida a não ser que a tivesse vivido. Sim, ela dissera que não gostava de viver sob os holofotes, mas o fato de ter ajudado Tatiana a conviver com eles durante tantos anos queria dizer que Valentina também era a favor de evitá-los. Ela sabia exatamente onde procurá-los, como despistá-los e, quando não havia outra opção, como se entregar com elegância a eles durante uma ou duas horas. — O que posso lhe oferecer para beber? — Ele apontou para o bar com o estoque completo de bebidas. — Água com gás seria ótimo, obrigada. Ele serviu dois copos e juntou-se a ela, que estava em pé na grade, olhando para a água escura. Nesse momento, Billy deu início à viagem e o movimento brusco os sacudiu, fazendo-a cair no peito de Smith. Tão logo conseguiu segurá-la, ele se surpreendeu ao perceber, mais uma vez, como ela era macia e curvilínea. — Mais firme agora? Por um longo momento, ela não respondeu. Por fim, assentiu:
— Acho que sim. — Está quentinha? — Agora sim. Smith queria enfiar a cabeça nos cabelos dela e inalar seu cheiro, queria baixar a boca até a doce curva de seu pescoço, queria degustar o sabor daquela pele macia. Em vez disso, obrigou-se a lembrar que uma mão nas costas e a outra segurando as mãos dela para aquecê-las teria de ser o suficiente por ora. Até que ela pedisse mais. Em silêncio, ele a segurou enquanto o barco acelerava pela baía em direção à prisão infame. Um guarda do Parque Nacional encontrava-se no píer da ilha quando eles atracaram. —Bem-vindos a Alcatraz. O homem de cabelos grisalhos, que se apresentou como Sam Maines, tinha uma voz profunda e autoritária que acrescentava uma gravidade ainda maior à histórica prisão de segurança máxima. Ele parecia tão à vontade entre as rochas quanto os carcereiros de meio século atrás deveriam se sentir. Ao ajudar Valentina a desembarcar do iate, Smith fez uma anotação mental para pegar as informações de contato de Sam para a próxima vez que precisasse de um homem forte, firme e grisalho em um filme. Sem mencionar o fato de os olhos do homem terem brilhado ao ver quem Smith era. Naquela noite, ele pensou quando o vento soprou e Valentina instintivamente inclinou-se para mais perto dele para se aquecer, estava ficando cada vez melhor. Ele adorou o fato de ela não ter feito o menor esforço para tirar a mão da dele enquanto seguiam o guia passando pelo Clube dos Oficiais em direção à entrada sul. — Alcatraz era fria — Sam relatou. — Cruel. Implacável. E era também a casa das famílias dos guardas que a mantinham em funcionamento. Smith sempre se interessara por histórias, em especial uma tão cheia de nuances como essa. Mas nessa noite estava muito mais interessado na maneira como Valentina absorvia as histórias que Sam lhes contava sobre como Al Capone fez várias tentativas de subornar o diretor da prisão a lhe dar os mesmos privilégios que tivera em outras prisões... e que lhes foram negados em Alcatraz. Smith não sabia se Valentina percebia, mas cada vez que ouvia algo muito interessante ela apertava a mão dele. Depois de cerca de trinta minutos, Sam os levou até o prédio das celas. Quando chegaram ao bloco principal, conhecido como Broadway, os três ficaram parados, em silêncio, ao olhar para as barras hostis, para as celas de cimento. — Vou deixá-los sozinhos por alguns minutos, para explorarem o lugar. Assim que ficaram sozinhos e caminharam juntos até o meio das celas, Valentina disse: — Consegue ouvi-los?
Sim, Smith podia ouvir os mesmos ecos no silêncio que ela, sem dúvida, ouvia. — É como se os homens tivessem estado aqui ontem e não cinquenta anos atrás. Valentina leu a placa na parede onde pararam. — Três homens planejaram a fuga aqui. Ela soltou a mão dele e entrou na cela, para olhar melhor o buraco feito no cimento. — Imagine, eles passaram meses descascando o cimento. Todo mundo dizia que era impossível. — Smith estava atrás dela quando ela se virou para lhe perguntar: — Você acha que eles conseguiram? — Aquela água é bem gelada. O que acha que aconteceu? — Tenho certeza de que eles deveriam estar presos e que os crimes que cometeram foram errados, mas não consigo deixar de torcer para que tenham saído vivos da água. — Ela deu um sorrisinho torto. — E que tenham aproveitado e compensado os anos que lhes roubaram. Smith sabia que a maioria das pessoas ficaria surpresa ao descobrir que Valentina era romântica. Ele já sabia disso desde o começo. Naquele primeiro dia, quando ele e Tatiana acabaram de filmar e abandonaram os personagens de imediato, os olhos de Valentina continuaram suaves e encobertos de emoção bastante tempo depois de as câmeras terem parado de rodar. Sem avisar, as portas da cela se fecharam atrás deles. Valentina, por instinto, pulou nos braços dele e deixou escapar uma risada de surpresa — e meio assustada. — Sabia que Sam faria isso? — Não. — Mas acabara de decidir que daria a maior gorjeta da vida de Sam por esse plano brilhante. Smith baixou os olhos para Valentina. — A coisa muda de figura quando se fecham as portas, não é? Os olhos dela estavam brilhantes, e tão lindos, quando olhou de volta para ele. — Sim. — Ela respirou. — Muda bem. Ele nunca quebraria a promessa que fez a ela, nem em um milhão de anos, mas isso não queria dizer que conseguiria evitar abaixar o rosto até o dela. A maçã do rosto dela era tão macia. Smith mal escondeu um gemido quando ela ergueu os braços para enroscá-los em volta de seu pescoço. — Quanto tempo você acha que ele nos manterá trancados aqui? O sussurro dela em seu ouvido o fez ficar duro como jamais ficara na vida. Ele escorregou as mãos devagar pelas costas dela até chegarem na curva dos quadris. — Não tanto quanto eu queria — ele respondeu, com pura honestidade. Valentina jogou o peso do corpo contra o dele, para poder olhá-lo nos olhos, e Smith prendeu a respiração ao perceber o desejo evidente no rosto dela. Deus, como queria beijá-la! Ela era como fogo nos braços dele, esquentando a cela com a pressão das curvas contra seu corpo. Os lábios de Valentina se entreabriram, e ele tinha certeza de
que ela estava prestes a lhe pedir um segundo beijo quando o som pesado de passadas quebrou o silêncio inebriante. Antes que Valentina pudesse sair de seus braços, Smith abaixou os lábios o máximo que pôde até os dela, sem tocá-los, e sussurrou: — Nem perto do suficiente.
CAPÍTULO ONZE Um pouco mais tarde, quando saíram sob a luz da lua cheia, Valentina segurou o fôlego enquanto absorvia a cena incrivelmente romântica e inesperada. A água batia nas rochas um pouco abaixo da mesa posta para dois, com quatro aquecedores portáveis circundando a toalha branca. Um vaso no centro da mesa tinha uma única rosa cor-de-rosa. O significado da flor que Smith escolhera era claro e evidente no momento em que ele lhe estendeu a mão: paixão e desejo. — Está com fome? Valentina assentiu, sabendo que havia luz do luar mais do que suficiente para, se olhasse mais perto, ele visse que estava faminta por mais do que comida. Ele segurou a cadeira e, quando se sentou do lado oposto, a mesa tão pequena a ponto de tocarem os joelhos fez Valentina sorrir por cima do nervosismo que a atração fizera aflorar. Smith serviu uma taça de cabernet da vinícola de Marcus e entregou a ela. Ergueu as tampas dos pratos, e o estômago dela rugiu de prazer diante da lagosta e do caranguejo colocados à sua frente. Não fazia ideia de como ele tinha conseguido que entregassem aquela comida deliciosa na ilha. O guia turístico os deixara sozinhos outra vez, e, até onde podia ver, não havia nem chef nem garçom por perto. — Concordo com seu estômago — ele brincou, e pegou o garfo. Valentina deu a primeira mordida e deixou escapar um gemidinho de prazer. — Que delícia! Não reparou que Smith parara na metade do caminho de sua primeira mordida, os olhos escuros, famintos, enquanto a observava. No entanto, não pôde deixar de notar o quanto a voz dele ficara rouca de repente quando ele comentou: — Fico feliz que tenha gostado. Quando foi a última vez que comeram uma boa refeição de verdade? Ela não conseguia se lembrar, com todas as longas horas de trabalho desde que a filmagem começara. Ela deu outra mordida e seus olhos se fecharam. — Tinha me esquecido do quanto gosto de uma boa comida. — Tentou diminuir a voracidade que aumentava nas veias quando voltou o foco para Smith. — Isto é fantástico! Seu barco. Seu tour particular. O jantar. — Ela tocou a mão dele sem pensar. — Obrigada! Ele enroscou os dedos nos dela. — Fico feliz por ter me convidado a vir com você.
Valentina não conseguia tirar o sorriso do rosto, não quando ele tinha se dado todo esse trabalho por ela, e até aqui tinha sido uma noite maravilhosa. — Bom — ela brincou —, dava para perceber o quanto você queria ver Alcatraz de novo. Tem alguma ideia das histórias que lhe vêm à cabeça? — Talvez. E você? Ela ficou tão surpresa com a pergunta dele que respondeu: — Não consigo parar de pensar nas mulheres da ilha. — Faz sentido que as únicas mulheres da ilha fossem casadas. Valentina concordou. — Faz, mas quem disse que elas eram felizes no casamento? — Diante da sobrancelha arqueada dele, ela explicou: — E se uma delas estivesse apaixonada... mas não pelo próprio marido? Os olhos dele reluziram. — Você está dizendo... se uma delas se apaixonasse por um dos prisioneiros? — Sim — ela respondeu quando a animação com a nova ideia se aprofundou ainda mais. — E se ele também se apaixonasse por ela, mesmo sabendo que jamais haveria uma maneira de ficarem juntos? Por um longo momento, Smith não disse nada e Valentina desejou que não tivesse dito uma só palavra. — Adoro a ideia, Valentina. — O dedão dele roçou a pele sensível da palma da mão dela ao dizer: — Tatiana me contou sobre o roteiro que você está escrevendo. — Vou matá-la! — Uma coisa era contar a George, a quem conheciam desde sempre. Outra era dar com a língua nos dentes sobre o projeto secreto dela para um homem a quem estava tentando manter apenas como conhecido. Mesmo que estivesse se aproximando a cada dia mais dele. — Sabe como são as irmãs mais novas — ele concordou, apesar de ser nítido adorar que Tatiana lhe contasse os segredos de Valentina. — Eu gostaria de vê-lo. — Meu roteiro? — Sim. Tatiana me falou sobre ele, e eu tenho o pressentimento de que vou gostar. Muito. Ela balançou a cabeça, puxando a mão da dele. — Não. — Você adora dizer não para mim, não é? — ele brincou, mas havia um tom de frustração sob a brincadeira. — Acha que estou fazendo um bom trabalho com Gravity? — Claro que está! Você nos coloca mais na linha do que qualquer outro dos filmes em que Tatiana já trabalhou. — Então por que não me deixa ver seu roteiro?
— Porque não quero que pense que é por causa disso que estou aqui com você esta noite. A mão livre de Smith estava quente quando acariciou o rosto dela. — Eu nunca pensaria isso, Valentina. Nunca. Meu Deus, era tão tentador chegar mais perto dele. Não. Ela. Não. Pediria. Que. A. Beijasse. De. Novo. Tentando mudar o foco para outra coisa que não fossem os lábios absurdamente sedutores dele, e do quanto os queria pressionando os dela, Valentina perguntou: — O que mais minha querida irmãzinha lhe contou? — Tem certeza de que quer saber? O coração dela acelerou. Mesmo nos momentos de maior fraqueza, Valentina não contara à irmã seus sentimentos por Smith, sobre como ele a virava do avesso. — Sempre tão preocupada — ele murmurou. — Sabe muito bem o quanto Tatiana a ama para nunca magoá-la, de jeito nenhum. Claro que Valentina sabia disso. Mas ela já fora magoada antes pela família, por uma mãe carinhosa que desaparecera após a morte do pai, quando as filhas mais precisavam dela, e então reaparecera como uma mulher 100% diferente. — Além disso, não é culpa de Tatiana que tenha espalhado a novidade. Eu a estava colocando contra a parede para que me contasse qualquer coisa sobre você. — O que mais ela contou? — Que você foi uma adolescente fanática pelo Bon Jovi. Valentina teve de rir de si mesma. — As músicas dele são de fato muito inteligentes e poéticas, se as ouvir com atenção. — Concordo — Smith falou, com um sorriso. — Pode ter certeza de que vou contar a Jon sobre a linda fã que ele tem. — Você o conhece? — ela perguntou, antes de começar a murmurar: — Claro que o conhece. Só para você saber, talvez eu precise sufocar minha irmã com um travesseiro amanhã à noite. Lamento que tenha de encontrar uma nova parceira neste estágio da filmagem. Smith é quem estava rindo agora, e então a expressão dele transformou-se em outra mais séria. — Ela também me contou que você abandonou a faculdade para administrar a carreira dela. Valentina não podia suportar que Smith pensasse que ela vivera uma vida de sacrifício nos últimos dez anos. — Eu adorei cada minuto.
— Sei que adorou. É isso que faz de vocês um time tão incrível. Vocês duas amam o que fazem, Tatiana em frente às câmeras e você atrás do laptop. Ela pegou o garfo, determinada a apreciar o restante daquela refeição incrível. — Agora que já sabe coisas vergonhosas sobre mim, é a sua vez de dividir os podres. — Ela apontou o garfo para ele. — E não minta dizendo coisas que eu poderia descobrir em uma entrevista. Ele lhe lançou um olhar cheio de pura inocência. — Eu faria — ele retrucou ao pegar o próprio garfo —, se houvesse algo vergonhoso para dividir. — Quer dizer que você é perfeito, hein? Smith levantou a sobrancelha como se estivesse magoado. — Você não acha que sou? Ela não conseguiu segurar a gargalhada. — Não. — Valentina balançou a cabeça ao dar uma mordida nas batatas fatiadas, então engoliuas com um gole do cabernet suave. — Com certeza, não acho. Como ele não riu, ela pensou tê-lo ofendido de verdade. Então, percebeu que Smith não ficara bravo. Na verdade, ele parecia até ter gostado. — Você nunca me vê como um astro do cinema, não é? Ela podia sentir o quanto a pergunta era séria. E o quanto a resposta dela significava para ele. Talvez um dia, uma semana antes, pudesse ter resolvido tudo com uma resposta para tranquilizá-lo. Mas agora ela o respeitava e gostava demais dele para fazer isso. — Você me surpreendeu da primeira vez que nos encontramos. — Ela rodou o pé da taça de vinho na mão e tentou encontrar as palavras certas para explicar. — Já conheci muitos atores ao longo dos anos, entre aqueles com quem minha irmã trabalhou... e os outros que minha mãe namorou. — Ela afastou o pensamento doloroso que a mãe sempre lhe trazia para manter o foco no homem sentado à sua frente. — Achei que soubesse de modo exato o que esperar de você. Afinal, você é mais famoso, mais bem-sucedido do que qualquer um deles. Valentina balançou a cabeça, lembrando-se de quando se viram pela primeira vez, ela sentada no escritório de produção dele, em São Francisco, aquele primeiro dia. Só olhar para ele já fez todo o corpo dela esquentar, ainda mais quando ele a encarou com seus olhos escuros e ela sentiu a atração crepitante entre eles, mesmo com George e Tatiana na sala. — Seu telefone tocou e você abriu um sorriso largo antes de pedir licença para atendê-lo quando viu quem estava ligando. Eu queria pensar que você era uma daquelas pessoas que se acham tão importantes a ponto de poder atender o telefone no meio de uma reunião. — Ela levantou os olhos e encontrou o olhar carinhoso dele. — Mas você estava falando com uma de suas irmãs, perguntando como ela estava se sentindo, se o médico já tinha lhe dito mais coisas sobre o tamanho dos bebês.
E Valentina começou a se apaixonar por ele naquele exato momento. Ainda assim, precisava fazer a última tentativa para se salvar, não precisava? Por sorte, ela sabia muito bem como fazer aquilo: como uma lembrança direcionada sobre o que ele fazia para viver. — Você tem razão quando diz que eu não o vejo como um astro do cinema desde o dia em que nos conhecemos, mas isto — ela apontou para a mesa, o iate atracado no píer — não é o tipo de mágica que um homem comum pode fazer. Obrigada pela noite de conto de fadas — ela agradeceu com delicadeza. — Nunca esquecerei. — Nem eu — ele continuou, e, quando os olhos caíram sobre os lábios dela por um segundo, imaginou que ele fosse esquecer a promessa de não beijá-la. Mas, em vez disso, ele sugeriu: — Que tal uma sobremesa? O cérebro desesperado dela transformou a palavra sobremesa em beijo e ela concordou com entusiasmo. — Sim, por favor. Smith pegou uma caixa cor-de-rosa no chão e as mãos de Valentina tremeram, não de nervosismo, mas com um desejo quase incontrolável, ao alcançar a tampa da caixa e revelar a sobremesa. O desejo misturou-se à alegria quando ela olhou para os dois enormes cupcakes no prato. Um deles tinha uma cobertura com a foto de Smith atrás das grades da prisão, agarrando-as com uma expressão fofa e suplicante. O outro tinha uma versão de desenho animado de Valentina feita de chantilly, segurando a chave da cela com um dedo, um brilho travesso nos olhos. Valentina não pediu um beijo, e não poderia desperdiçar nem mais um segundo com palavras quando levantou os braços, escorregou a mão até a nuca dele e o beijou.
CAPÍTULO DOZE O beijo de Valentina fez Smith se esquecer de se movimentar devagar. Ele não conseguia pensar em nada além de querer mais aqueles lábios contra os seus, e de ter a chance de descobrir o doce segredo das curvas dela, sempre tão bem escondidas sob seus terninhos bem cortados. Saber que Sam e Billy estavam esperando por eles foi o motivo que o fez não jogar o casaco sobre as pedras e fazer amor com ela bem ali, naquela hora. — Quero você na minha cama — ele disse. — Esta noite. — Também quero — Valentina confessou, e Smith sabia que todo o bem que já fizera na vida tinha sido recompensado. Tomando as mãos dela com firmeza, arrancou-a da mesa para poderem pegar o barco e voltarem para casa o mais rápido possível, mas ela o puxou de volta. — Espere. — Ela pegou a caixa com os cupcakes. — Você me prometeu uma sobremesa. A sensualidade nos olhos dela ao dizer sobremesa o fez sentir-se um canalha ambicioso, beijando-lhe os lábios mais uma vez enquanto o ar gelado açoitava a baía e soprava sobre eles. Smith sentiu o arrepio dela nos braços dele e obrigou-se a se afastar. O guia os aguardava quando atravessaram as rochas e o píer de cimento. — Obrigada pelo tour maravilhoso, Sr. Maines — Valentina agradeceu, o sorriso largo e autêntico. — Nunca esquecerei minha visita a Alcatraz. — O prazer foi meu. — Era evidente que Sam estava absolutamente encantado, seu rosto avermelhado não só pelo vento, mas também pelo prazer de ser elogiado por uma linda mulher. Eles apertaram as mãos e em seguida Smith ajudou Valentina a subir de volta no iate. Agora, em vez de levá-la para o deque, acompanhou-a para dentro da sala aquecida. O barco tinha uma suíte de casal, e, nossa, era uma tentação levá-la para lá. Se ele mesmo estivesse pilotando o barco esta noite, teria ancorado na água escura e feito isso mesmo. Embora Billy fosse discretíssimo, Smith não queria outro homem no raio de um quilômetro de Valentina quando enfim fizessem amor. Queria possuí-la de forma total e completa, queria ter certeza de que era o único homem que poderia ouvir os doces sons que ela fazia quando beijasse cada milímetro da pele, de cima a baixo, frente e costas, e então começasse tudo de novo com os lindos lábios dela. Eles se acomodaram no sofá de couro macio quando o motor pegou e o barco deu início à travessia de volta. Sabendo que estaria perdido se começasse a beijá-la de novo, Smith obrigou-se a ter paciência: apenas puxou Valentina para seus braços e a segurou. Ela não facilitou as coisas para ele ao se enroscar mais perto, a respiração quente no pescoço dele, os lábios macios passeando com suavidade sobre sua pele. Com a ponta dos dedos, Smith lhe acariciou o rosto, o pescoço e a parte de dentro da abertura da camisa, para poder lhe tocar o colo. Contra sua pele, pôde sentir o espasmo de prazer diante de seu toque.
Desde a primeira vez que se beijaram Smith percebeu como Valentina reagia, mas pegou-se de novo surpreso pela maneira como ela respondia ao seu toque, como se fosse o primeiro homem a passar a mão sobre aquela pele maravilhosa. Só de lhe tocar o ombro Smith já teve uma ereção, e lembrou-se de que Billy estava a apenas alguns metros de distância, na parte de cima, no leme. Smith forçou-se a afastar os dedos da pele de Valentina e, em vez disso, a pegar nas mãos dela. Porém, se achou que isso fosse abrandar o fogo que lhe queimava por dentro, estava muitíssimo enganado. Segurar a mão dela, virando a palma para cima para passar o dedão sobre a pele, era a preliminar mais sensual que já tivera na vida. Valentina ergueu os olhos para encontrar os dele, e o desejo escancarado que viu no rosto dela quase acabou com suas boas intenções de esperar até chegar em casa. Não podia confiar em si mesmo para beijá-la, mas passou o outro dedo sobre a parte de baixo dos lábios dela. Os olhos de Valentina se fecharam em um gemido de prazer, parecido com o jeito que fizera ao apreciar o jantar que ele trouxera, só que dessa vez ela não estava tentando mantê-lo a distância. Não, desta vez ela era uma mulher com a sensualidade à flor da pele. E, quando colocou a ponta da língua para fora para lamber a ponta do dedo dele, foi Smith quem gemeu e puxou-a ainda para mais perto, até que estivesse sentada no colo dele. Embaixo do cobertor que jogara sobre os dois, ele escorregou a mão até os quadris dela e, do jeito exato que imaginara, Valentina se encaixou com perfeição na palma das mãos dele. Ele adorava ter uma das mãos dela enroscada na sua e a outra espalhada pelo peito, sobre o coração que batia cada vez mais forte e mais rápido por ela. — Vamos ancorar daqui a pouco — ele falou, tentando lembrar a si mesmo que conseguiria aguentar. Nunca quis que uma viagem de barco terminasse tão rápido. Era como se estivesse segurando o fôlego, esperando pelo momento de se aproximar do cais. — Que bom — ela concordou, com a voz tão ofegante quanto. — Até lá talvez seja melhor conversarmos. Ele concordou com a cabeça. — Conversar é bom. Mas a mente dele não tinha nada exceto Valentina. — Fale sobre o restante da sua família — ela sugeriu. — Sei de Marcus e Nicole. E você me contou um pouquinho sobre Sophie e a gravidez dela. Mas ainda não sei muita coisa sobre os outros. Por alguns segundos, os nomes e os rostos dos irmãos se misturaram em sua cabeça. Por fim, ele tirou um nome do nada. — Chase — Smith obrigou-se a se concentrar. — Ele é fotógrafo. Casado com Chloe. Eles têm um bebê, Emma. Ele sabia que as palavras estavam saindo em staccato, que não estava colocando muitas cores
em sua descrição, mas, que droga, era o máximo que conseguia fazer para não jogar Valentina no sofá e lhe rasgar as roupas. — Qual é a idade do bebê? — Três meses. Os olhos de Valentina se iluminaram e suavizaram ao mesmo tempo. — Ela deve ser linda. Deus, se já não tivesse se apaixonado por ela, naquele exato momento ele teria descoberto a beleza da sua alma apenas pela maneira como reagira à ideia de um bebê de três meses. — É mesmo. Não cansamos de ficar babando em cima dela. Os olhos de Valentina foram até os lábios dele, depois voltaram até os olhos, e Smith podia quase sentir o gosto daqueles lábios antes de ela continuar, rápida: — Fale dos outros. Ela estava certa: precisavam continuar conversando, para evitar se agarrarem de novo. Dessa vez, se começassem, nenhum dos dois seria capaz de parar. — Sophie é bibliotecária e teve um valor inestimável não só neste filme, mas também me ajudando a pesquisar meus papéis nos últimos dez anos. — Tenho certeza de que ela deve adorar ajudar — Valentina murmurou. — O negócio de Zach são os carros. Ele acabou de ficar noivo de Heather. Ela é treinadora de cachorros. — Os cachorros do quebra-cabeça, certo? Smith concordou. — E o poodle da Summer. Meu irmão Gabe vai virar padrasto assim que se casar com Megan, na noite de Ano-Novo. Gabe é bombeiro. — Acho muito legal que você e seus irmãos façam coisas tão diferentes — ela comentou, e então continuou: — Já bati papo com Vicki algumas vezes, quando ela veio deixar uma escultura. Ela é noiva de seu irmão jogador de beisebol, não é? — Ryan e Vicki são o mais novo casal da família. — Ele esticou a mão para colocar uma mecha de cabelo dela para trás, pelo simples fato de não resistir a tocá-la. — Exceto você, alguém mais está livre? Livre? Ele estava muito longe de estar livre, e só agora percebia que deixou de ser livre no primeiro dia em que a viu, que falou com Valentina, que sentiu o gosto de seus lábios e segurou-a em seus braços. — Só a Lori. Ela é a gêmea de Sophie. Uma excelente coreógrafa. Nós a chamamos de “Mazinha”, o contrário de “Boazinha” que é a Sophie.
Valentina deu um sorrisinho. — Mazinha, hein? E o que ela acha disso? Ele sorriu de volta. — Ela adora criar problema e faz questão de confirmar isso todos os dias. — De todos os seus irmãos, acho que é ela quem eu invejo mais. Valentina baixou os olhos para o lugar onde sua mão ainda se espalhava no peito dele antes de erguê-los de volta até os olhos de Smith. — Ser “da pá virada”, saber que tudo bem deixar passar, parece tão maravilhoso. Ah, que inferno. Smith sabia que havia paixão borbulhando sob a superfície fria e controlada de Valentina, mas ouvi-la dizer em voz alta o colocou no limite do autocontrole. O leve solavanco do iate quando o motor foi desligado o fez parar a um milímetro dos lábios dela. — Tenho que ajudar Billy a ancorar — ele falou com a voz rouca de desejo que estava tentando libertar só um pouco mais tarde, porém Smith mal conseguia tirar os braços de Valentina para fazer o que tinha de fazer. Os olhos dela estavam repletos de sensualidade quando disse: — Vou ajudar também. Só me diga o que precisa que eu faça. O corpo dele reagiu de imediato à ideia de Valentina deixá-lo no controle, e não conseguiu resistir a baixar os lábios até os dela para um beijo rápido e brusco antes de chegarem ao cais. — Nunca vi você receber ordem de ninguém. Ela mordiscou o lábio inferior dele antes de sussurrar: — Porque ninguém nunca teve coragem de me dar ordens antes. O corpo dele reagiu ao desafio mais que tentador quando ela passou cambaleando por ele e subiu no deque. Trabalhando rápido e com eficiência — ou tão eficiente quanto Smith podia, já que olhar Valentina fazer um nó de marinheiro perfeito fez os dedos dele escorregarem nas cordas mais de uma vez —, os três ancoraram o barco e o amarraram com segurança no cais. E, então, enfim, disseram boa-noite a Billy e voltaram ao carro de Smith. Ele estava saindo a toda a velocidade do estacionamento quando Valentina falou: — Acho que precisamos estabelecer algumas regras básicas antes de chegarmos à sua casa. As palavras dela ainda tinham aquele tom de sensualidade, presente desde que o beijara mais cedo, mas ele podia sentir que ela estava muito séria. Smith nunca gostou de ser restringido por regras. Sabia quando deveria respeitá-las, se as queria ou não... e também sabia quando era absolutamente imperativo que as quebrasse.
Contudo, ainda que estivesse mais do que desesperado para ir para a cama com ela, parou o carro em uma rua escura e desligou o motor. — Tudo o que eu quero é lhe dar prazer, Valentina. Mais prazer do que você já imaginou na vida. — No entanto, aquilo não foi suficiente. Ele sabia que tinha de lhe oferecer mais do que apenas prazer. — Eu lhe prometo que esta noite não farei nada, nada em absoluto, que você não queira. Ela piscou, o olhar cheio de uma mistura de desejo e preocupação pungente que causavam pontadas fortes no coração dele. E, no momento em que Valentina prosseguiu, a resposta macia tocou-lhe ainda mais o coração: — Sei que não fará. — Seja lá o que for que aconteça quando chegarmos à minha casa — ele fez uma pausa, reconhecendo que não podia deixar que nenhum dos dois se enganasse com o que estava prestes a acontecer — e à minha cama, não quero que nenhum de nós se arrependa esta noite. Ou de nenhuma das noites que vierem depois desta. A pausa dela foi maior desta vez antes de dizer: — Não me arrependerei. — Ela colocou a mão sobre a dele. — Quero esta noite tanto quanto você. — Fez uma nova pausa antes de acrescentar: — Mas apenas esta noite. Valentina roçou o dedo na palma da mão dele do mesmo jeito que ele fizera com ela no barco, como se o toque suave da pele dela pudesse, de alguma forma, amenizar o fato de que acabara de demonstrar com clareza perfeita que tinha a intenção de passar apenas uma noite com ele. Smith ergueu a mão dela até seus lábios, sabendo que aquilo era o máximo que conseguiria chegar perto de beijá-la outra vez até estarem atrás das portas da casa dele — a não ser que quisessem ser presos por comportamento imoral no carro. Por mais que Valentina tivesse certeza de que não passariam de uma noite, Smith tinha ainda mais certeza de que essa situação acabaria virando uma longa jornada. Assim como a de seus irmãos e seus parceiros; assim como sua mãe e seu pai.
CAPÍTULO TREZE Assim que estacionaram na garagem, Smith saltou do carro, escancarou a porta de Valentina e tomou-a nos braços. — Não se esqueça dos cupcakes. — Àquela altura, o cérebro dele mal recebia sangue suficiente, e ele achou que, de fato, ela ainda queria comer a sobremesa, até que ela sussurrou: — Assim que os vi, pensei em nós dois nus comendo-os na cama. Nossa, Smith pensou, ao parar para que ela pudesse se abaixar e pegar a caixa de cupcakes, ele estava tão perto de perder o controle, apesar de os dois ainda estarem vestidos e o quarto estar a uns bons metros de distância. No entanto, por mais que a quisesse em sua cama, nua embaixo dele enquanto fazia amor com ela do jeito que estivera sonhando por tanto tempo, não conseguia mais manter os lábios afastados dos dela. Não agora, quando enfim a tinha em seus braços, e olhava para ele com tanto tesão naqueles olhos lindos, um viço de expectativa sensual lhe ruborizando as maçãs do rosto e pintando de rosa-escuro seus lábios pálidos. Parado com Valentina nos braços no meio da sala de estar, Smith abaixou os lábios até os dela em um beijo tão suave e tão meigo que era mais um suspiro do que um encontro de lábios. Mais para baixo, suas entranhas se reviraram quando desfrutou o tempero exótico dela com um movimento longo e vagaroso da língua sobre seus lábios carnudos. O suave gemido de prazer ao toque sensual dele o fez abraçá-la ainda mais forte e apertar ainda mais os lábios contra os dela. Quando as línguas se encontraram e se tocaram, foi a vez de o gemido dele ressoar pela sala. Até que enfim podia beijá-la, abraçá-la. E, ao passar a mão sobre o maxilar dele enquanto abria ainda mais a boca para beijá-lo de volta com desejo escancarado, ela ficou ainda mais sexy, muito mais doce do que ele sonhara. Vez após outra, ele saboreava cada milímetro dos lábios dela, os cantinhos sensíveis, as curvas e os contornos do arco do cupido na parte de cima da boca, então voltou mais uma vez para mordiscar a volúpia do lábio inferior antes de curar a dor passando a língua. Com a respiração ofegante, Valentina sussurrou o nome dele. — Smith. Estou ficando zonza. — Que bom — ele afirmou, antes de beijá-la de novo. Não tinha chegado nem perto de se dar por satisfeito com os lábios dela quando afastou-a um pouco para dizer: — Pois é assim mesmo que você tem me deixado desde o primeiro momento em que a vi. Enquanto as palavras dele ressoavam contra os lábios dela, Valentina continuava a lambê-lo, deixando-o cada vez mais louco para possuí-la; dessa vez, quando se beijaram, a suavidade cedeu por completo seu lugar à luxúria, à necessidade de transformar o desejo em posse. — Por favor — ela implorou, ofegando, quando ele a soltou por um minuto, tentando recuperar o fôlego.
— Diga — Smith exigiu dela enquanto lhe roubava outro beijo. — Do que você precisa, Valentina? — De mais. A confissão dela quase o fez perder o controle, com nada além dos beijos para levá-lo às alturas. Mesmo assim, a expectativa, a dança sensual que beirava o absurdo na qual sugavam prazer um do outro com simples beijos, com carícias suaves, era boa demais para que abrissem mão daquele momento. — Claro — ele concordou enquanto baixava os lábios até ela de novo, e se refestelava na verdadeira doçura da resposta dela. — Eu poderia beijar você para sempre. Ao se beijarem, os olhos castanhos-acobreados dela se dilataram até o verde tomar conta por inteiro, deixando o marrom nas beiradas. — Em todo lugar. As palavras pronunciadas pelos lábios dela continham tanto desejo, tanta paixão, que o que havia sobrado do fluxo de sangue no cérebro dele se transformara em uma grande onda em direção à ereção latejante por trás do zíper do jeans. — Preciso que você me beije em todo lugar. Premiando-a no mesmo instante com beijos pelo rosto e, depois, nos lóbulos da orelha, mordendo a pele sensível entre os dentes enquanto ela tremia de prazer, Smith ficou ainda mais fascinado pelo quanto ela disfarçava bem sua sensualidade no dia a dia. Ainda mais quando esta era tão profunda, quando a reação dela a cada beijo, a cada toque, acabava com ele, e o deixava ainda mais desesperado, querendo-a cada vez mais. Quase a ponto de possuí-la no tapete da sala de estar, Smith obrigou-se, em vez disso, a escalar os degraus até o quarto. Valentina se agarrou nele com um braço em volta do pescoço, o outro segurando a caixa de sobremesa pendurada na ponta dos dedos. Toda vez que imaginara fazer amor com ela, tivera uma visão de Valentina perdendo o controle. No entanto, quando enfim ficou parado ao pé da cama com a única mulher que desejou mais do que qualquer outra em seus braços, Smith conseguiu compreender que a situação era o contrário: com apenas alguns beijos, Valentina assumira o controle completo de seu corpo e de seu desejo. Ainda assim, ao baixar os lábios até os dela para outro beijo carinhoso, ela tremeu nos braços dele, e Smith adorou perceber que talvez, quem sabe, ele não fosse o único a estar perdendo toda a aparência de controle. Ele colocou-a na cama e, quando a caixa de sobremesa por fim escapou-lhe da mão, caindo sobre os lençóis, enroscou os dedos nos dela. Olharam-se, encarando-se por alguns minutos, e ele jurou ter ouvido o coração dela batendo e, o dele, batendo ainda mais rápido. Disparado. Perigoso. E tão perfeito.
Por fim, inclinou-se, colocando o peso sobre ela, e a manteve imóvel sob ele enquanto buscava seus lábios, vez após outra, o sabor dela mais viciante a cada beijo. Tão generosa com os beijos quanto era com tudo mais que fazia na vida, Valentina se entregou toda ao pressionar-se mais para perto dele, enroscando as pernas cobertas de jeans em volta dos quadris de Smith, trazendo-o mais para perto. Mais sexy. Mais carinhosa. Mais, ele pensou, enquanto se deliciava com os lábios dela, ou com as curvas sensuais se mexendo com elegância debaixo dele. — Muita roupa — murmurou no pescoço dela enquanto os dedos encontravam a barra do suéter, a barriga dela quente e sensível mesmo embaixo da camisa de algodão que ainda separava os dedos dele de sua pele nua. Ao mesmo tempo em que ele a tocava, Valentina passava os dedos por baixo da camisa dele, sobre os músculos de seu abdômen, que se arrepiou diante do toque dela. — Sim — ela concordou com uma mordiscada no lóbulo da orelha dele. — Muita roupa. Smith tomou os lábios dela de novo, as línguas se enroscando até ele precisar se afastar por um milésimo de segundo para lhe arrancar o suéter e a camisa. Os seios dela subiam e desciam a cada respiração, e, quando Smith olhou para ela de novo, achou que o sutiã preto básico lhe caía melhor do que em qualquer supermodelo. — Nossa — ele disse, ao estender o braço para passar um dedo sobre um lado de um seio, e depois o outro —, até que enfim você está aqui comigo. Mais uma vez ela tremeu sob o toque suave dele, e Smith gostou tanto de vê-la perder o controle que, mesmo morrendo de vontade de saboreá-la de novo, controlou-se por tempo suficiente para, mais uma vez, roçar as pontas dos dedos sobre a pele incrivelmente macia dos seios dela. Quase a ponto de lhe rasgar as roupas e possuí-la sem nenhum tipo de finesse ou do carinho que em geral dedicava a suas amantes, Smith tentou colocar algum bom senso de volta em sua cabeça. Talvez, ele pensou, com um pouco mais do que desespero, colocá-la por cima fosse impedi-los de ir muito rápido da primeira vez. Logo depois, puxou-a sobre si, e Valentina teve de colocar as mãos sobre os ombros dele para se equilibrar. O cabelo dela cobriu-lhes como uma cortina de seda cor de mel, os lindos seios quase escapando do sutiã. Ah, sim, ele pensou, aquela era a posição perfeita para se deitar e curtir de verdade, para levar um tempo saboreando a beleza de Valentina. Mas, quando Valentina sorriu para ele e o movimento sensual de seus lábios fez a respiração parar na garganta e seu corpo inteiro esquentar pelo menos uns dez graus, Smith percebera seu erro. Precisaria estar trancado em uma cela, jogar a chave fora e ter as grades reforçadas com aço antes que pudesse conseguir, de fato, ir devagar com ela. Com o torso nu dela nas mãos, como
poderia evitar acariciá-la, tocá-la, colocar sua ereção entre as coxas dela, ainda cobertas pelo jeans, enquanto se jogava por cima dele? No entanto, a questão de ir devagar só tomou a devida proporção quando Valentina tirou as mãos do peito dele e alcançou atrás das costas para desabotoar e jogar o sutiã de lado. Ela era maravilhosa. Smith nunca vira seios tão lindos na vida, o tamanho exato para encaixar nas mãos dele, e tão sensíveis que, ao tocar as pontas duras, os mamilos entumeceram, atraindo a boca de Smith direto para eles. — Ai, meu Deus — ela arfou quando ele passou a língua ao redor da ponta de um seio antes de brincar de leve com a pele úmida —, isso é tão gostoso. — Quando ele foi para o outro peito dela e fez tudo de novo, ela gemeu: — Muito, muito gostoso. — Faz ideia de quanto tempo esperei para saboreá-la desse jeito? Valentina não fez nada exceto balançar a cabeça, mas ele não esperava que fosse responder, não com os lábios, a língua e os dentes dele provocando-a a ponto de a cabeça começar a girar por causa do seu sabor exótico. — Você tem um gosto tão bom, Valentina. Bom demais! Cada palavra que ele dizia era mais crua e cheia de desejo do que a anterior, e vinte anos de experiência sexual, de outras mulheres, deixaram de existir por completo. A maciez da pele de Valentina nas pontas dos dedos dele, o sabor da língua dela na dele, era tudo o que restava. — Todo mundo acha que eu ando obcecado pelo filme, mas só consigo pensar em você. — Smith pressionou a cabeça na curva do pescoço dela e respirou fundo. — No cheiro da sua pele. — Passou as mãos pelos cabelos dela. — Na sensação dos seus cabelos entre meus dedos. — Roçou os quadris nos dela. — E nos sons que você fará quando gozar. — Ah, sim. — Valentina entrelaçou as mãos no cabelo dele e puxou-o de volta para seus seios. — Me faça gozar. Smith sabia que tinha se sentido atraído por essa mulher por alguma razão. Tão boa na cama quanto era na sala de reuniões, ela o encantara. Hipnotizara. Smith precisou contar com cada gota de controle que possuía para evitar que as mãos tremessem quando desabotoou o jeans e puxou o zíper da calça que ela usava. Mesmo assim, ainda tremia com um desejo que não teria a menor condição de ser contido quando ela ergueu os quadris para que ele puxasse a calça para baixo, tirasse a lingerie, primeiro escorregando pelos quadris, depois pelas coxas macias. Depois de arrancar os sapatos, ela usou os pés descalços para empurrar o jeans e a calcinha até o final, e Smith puxou-a de volta para seu colo, as pernas dela montadas sobre as dele de novo. — Acho — disse a ela enquanto passava as mãos pelas costas nuas, pela carne macia dos quadris, ao mesmo tempo em que se refestelava na visão mais linda que jamais tivera o prazer de ver — que nunca fui tão feliz na minha vida.
Ele adorava a maneira como ela se mexia embaixo das mãos dele, com um ronronar leve; adorava o fato de não ser nem um pouco reservada com relação à nudez; adorava que, uma vez que tomara a decisão de estar com ele esta noite, se entregara toda àquele ato de amor. E adorou ainda mais quando ela disse: — Você também me faz feliz. — E então colocou as mãos em cada um dos lados do rosto dele, inclinando-se para beijá-lo daquele jeito tão doce e sedutor que só ela tinha. Logo a doçura se transformou em paixão ao se moverem juntos na cama, seus corpos famintos emaranhando ainda mais os lençóis quando ele deitou o corpo dela de costas nos travesseiros e apoiou-se sobre as mãos por cima dela, para poder olhá-la outra vez. A pele dela tinha um tom dourado, só com um leve toque rosado por trás. Os seios dela eram fartos, o tamanho perfeito não só para as mãos dele, mas também para o feitio esguio dela, e seus quadris, meio arredondados. — Eu — ele mal conseguia falar, mal conseguia pensar. — Preciso de um minuto. — Tentou respirar fundo; quase não conseguiu, com o pouco de oxigênio que lhe restava: — Você é tão linda. Não precisava fazer seu cérebro trabalhar para cobrir de beijos molhados a boca, o queixo, a curva do pescoço, os ombros, a suave dobra dos seios e mais para baixo, onde a pele dela ficava ainda mais sensível. Ele fez as mãos acompanharem o ritmo de sua boca, evitou que elas se aventurassem muito longe para baixo, rápido demais. Cada novo lugar que descobria no corpo dela, queria tocar, saborear, inalar, tudo de uma vez só. A barriga de Valentina era chapada, mas ao mesmo tempo, macia, e os músculos sob a pele ondulavam a cada toque dos lábios dele. Intoxicado por ela, o desejo envolveu-o de tal forma que Smith não pensou em diminuir o ritmo agora que começava a descer pelo corpo dela. Smith inalava o cheiro dela enquanto, aos poucos, lhe cobria o sexo, sentindo-o quente e molhado na palma da mão. Ele já conhecia o sabor de seus lábios, seus seios, a pele firme de sua barriga. Mas precisava descobrir mais. Com um som de desejo profundo e desesperado, ele cobriu-lhe o sexo com a boca, deslizando a língua devagar uma, duas, três vezes. Sentiu as mãos dela pelo seu cabelo, puxando-lhe a boca ainda mais para baixo, mais forte, enquanto arqueava-se para receber a língua dele ainda mais fundo dentro de si. E, quando os músculos interiores o agarraram, e os gritos de êxtase começaram a reverberar pelas paredes do quarto, o prazer de Smith por ter a boca no sexo dela e as mãos sob seus quadris macios fez com que fosse quase impossível se segurar. Depois do orgasmo, Smith não foi capaz de tirar a boca do lugar, de afastar a língua daquela pele macia e escorregadia. Durante muitos minutos, quando Valentina ficou largada e ofegante sobre os lençóis da cama dele, e enquanto Smith beijava, lambia e mordiscava de leve a parte interior das coxas dela, depois seus quadris e de volta ao umbigo, ele chegou à conclusão de que nunca se cansaria dela. De algum modo, teria de descobrir como transformar essa única noite que ela havia lhe
concedido em muitas, muitas outras. Mas, por ora, mal podia pensar em outra coisa além do desejo de possuí-la. E de continuar fazendo-a ser dele, de todas as maneiras...
CAPÍTULO CATORZE Valentina baixou os olhos e encontrou Smith vidrado nela, os olhos mais escuros do que o normal e tão intensos que seu coração parou de bater por um segundo dentro do peito. Podia ver o desejo no rosto dele, sabia que o desejo dela se igualava ao dele. No entanto, atrás do desejo havia algo que lhe cortava o coração, uma vontade profunda, um desejo contra o qual ela lutara tanto e durante tanto tempo. Um desejo que ia muito além de fazer amor. Tinha a ver com noites frias, enrolados juntos embaixo de um cobertor no sofá. Com lágrimas secadas por alguém a quem pudesse confiar seus segredos mais profundos e sombrios. Com tardes em cadeiras de balanço de mãos dadas enquanto os netos brincavam a seus pés. A ternura tomou conta dela tão de repente quanto o prazer, e Valentina puxou-o de volta em cima dela para lhe dar um beijo ainda mais doce do que qualquer outro que tinha dado antes. Tão doce quanto a nova onda de prazer que emergiu enquanto as mãos dele exploravam sua pele nua, curva por curva, a língua dele brincando com a dela. Ela podia sentir seu gosto nele e arrepiou-se diante da lembrança poderosa de Smith entre suas pernas, lambendo-a como se fosse o doce mais gostoso que já tinham lhe oferecido. Valentina não estava surpresa por querê-lo, não quando Smith era tão desejável e sexy. Contudo, estava surpresa pelo quanto esse querer era profundo, e pelo fato de já desejá-lo ainda mais, mesmo antes de tê-lo possuído por inteiro. Muito mais. E foi por isso que, apesar de mal ter saído de seu primeiro orgasmo, quando ele escorregou uma das mãos sobre seus seios, e então no V entre suas pernas, foi a coisa mais natural do mundo abrir as pernas e erguer-se para receber as estocadas profundas e fantásticas dos dedos dele. — Valentina. — Ele lhe lambeu o pescoço antes de chupar a pele entre os dentes e lábios. — Você está tão molhada. Tão molhada, e quente, para mim. A cada movimento, a palma da mão subindo e descendo sobre a pele sensível dela, Smith a levava cada vez mais às alturas. Tão nas alturas que ela, de fato, pegou-se tentando se segurar até tudo desmoronar ao seu redor. Como seria possível voar tão alto sem ter a certeza de que voltaria inteira à Terra? — Smith. Ele não sabia o que estava tentando lhe dizer; não sabia se estava implorando por mais ou suplicando para que tivesse piedade dela. Seus olhos se entreabriram, e ela sabia que o que viu no olhar dele — a luxúria, a emoção, o desespero — ele também podia ver nos olhos dela. — Estou aqui — Smith respondeu quando a sentiu tensa, acariciando-a com seu toque, ainda que isso a levasse às alturas rumo a um território desconhecido. — Goze para mim, Valentina. Me deixe
ter você inteirinha de novo. Ah, como ela queria ser toda dele, nem que fosse só por essa noite perfeita. Tão rápido quanto, as defesas dela se desmantelaram sob o toque dele, os lábios sobre os seus, a língua escorregadia dele na dela. Enquanto as ondas de prazer a inundaram, Valentina ficou surpresa ao não sentir nem vazio nem a menor vergonha pela maneira como se esfregava nele, um ser puramente sexual como ela nunca fora antes. Assim como no primeiro orgasmo dela, Smith levou-a até o final e além do delicioso pico do clímax. Segura e ao mesmo tempo intoxicada, foi envolvida pelo calor enquanto ele lhe cobria de beijos nos seios, nas costelas, na barriga, e passando pelo sexo dela para dar beijos suaves na parte interna de cada perna. Ao mesmo tempo em que os lábios dele passeavam ao acaso sobre ela, suas mãos grandes acariciavam os músculos, os braços, as costas e então ambas as pernas, deixando-a relaxada ao máximo. Tinha sido divertido, sexy, excitante ficar nua embaixo dele, em cima dele, enquanto Smith ainda estava vestido. Mas um desejo crescente de tê-lo por inteiro, também, deixou-a impaciente, e logo Valentina começou a lhe arrancar a camisa sem nem ligar para os botões pulando ou para o barulho da manga rasgando. Ela adorava o jeito como as mãos deles ficavam juntas enquanto ele a ajudava a desabotoar e descer o zíper de seu jeans, as dele, grandes e bronzeadas; as dela, esguias e pálidas. Era como ela sempre se sentira quando estava perto dele: mais feminina, mais sensual do que jamais se permitira ser com qualquer outra pessoa. Não que ela tenha se permitido ser aquele tipo de mulher com ele, nem mesmo esta noite. Smith só fazia aflorar aquela sensualidade nela, desde o primeiro momento em que se viram. Valentina não era promíscua, mas também não fora uma freira nos últimos dez anos. Ainda assim, com Smith sentia-se como se estivesse fazendo amor pela primeira vez. Eles eram mais do que um homem e uma mulher que não resistiam à tentação de estar juntos... eram como um milagre. Ou, no mínimo, ela pensou quando ele jogou a camisa no chão, chutou o jeans e pegou uma camisinha na gaveta do criado-mudo, ele era um milagre. Porque ela nunca tinha visto um homem tão lindo em toda a sua vida. Ela sabia que o rosto dele chegava perto da perfeição, mas os ombros largos, os músculos esguios que saltavam nos braços e na barriga, as coxas e os quadris firmes, tudo envolto por aquela pele bronzeada... — Agora sou eu que preciso de um momento para apreciar você — ela lhe disse quando Smith subiu em cima dela. Erguendo uma mão que tremia tanto com desejo quanto com animação, Valentina passou de leve a ponta de um dos dedos sobre a linha profunda no meio do abdômen dele. Erguendo o rosto para beijar-lhe a pele, com lábios e língua, passou de novo a língua em cada milímetro de perfeição que acabara de tocar. Os músculos dele mexeram e saltaram sob a mão e os lábios quando ela sussurrou:
— Acho que vou precisar de dois minutos. — Leve o tempo que precisar. A voz dele estava rouca de desejo, e ela adorava saber que fazia aquilo com ele. Seu corpo nunca seria páreo para o dele — o de ninguém seria —, mas sempre poderia desafiá-lo: paixão por paixão, desejo por desejo, beijo por beijo. Mas a necessidade de tê-lo tornou-se ainda mais profunda, tão profunda que as mãos dela tremeram ao passar pelo torso dele até não querer mais perder tempo e ter de puxar o elástico da cueca boxer para se posicionar sobre a ereção dele. Um minuto depois Smith já estava com a camisinha e de volta em cima dela, Valentina com as mãos uma de cada lado da cabeça. Ele não se mexeu, não se enfiou dentro dela, nem sequer beijou-a de novo. Em vez disso, só fixou seus olhos nos dela, como se houvesse uma resposta que pudesse encontrar se procurasse direito e tivesse paciência para tirá-la de lá. — Valentina. A maneira como murmurou o nome dela, com tanto desejo, a fez apertar seus dedos nos dele com mais força, e levantar a cabeça para que os lábios pudessem se encontrar em um beijo bruto em sua beleza, ambos mordendo, chupando, tirando um do outro aquilo de que precisavam e retribuindo na mesma medida. Ela não conseguia superar o espanto por enfim sentir o calor da pele dele, os pelos escuros do peito, os músculos se mexendo contra seu corpo, e por saber que todas aquelas fantasias secretas que tivera sobre ele desde o dia em que se conheceram estavam por fim se tornando realidade. Ah, e nunca tinha se sentido tão viva como quando se abriu e Smith enfim a penetrou. Seus músculos internos se esticando com aquele membro duro e grosso tornaram o prazer tão intenso que ela fechou os olhos, e seus quadris se levantaram sem querer para recebê-lo ainda mais fundo, os tornozelos enroscados atrás dos quadris dele, trazendo-o para ainda mais perto. Conectados por inteiro, Valentina praticamente conseguia sentir o coração dele batendo dentro dela quando Smith pronunciou seu nome de novo, e isso quase foi suficiente para ela gozar. Mas, antes que pudesse fazer o menor som para dizer o quanto estava perto do limite, os lábios dele cobriram os dela em um beijo tão doce e tão suave que a paixão que aumentava sem parar a fez enroscar as pernas ainda com mais força ao redor dos quadris dele. E, minutos depois, quando ele soltou seus lábios dos de Valentina, tudo dentro dela se recusava a deixá-lo ir. Foram semanas escondendo nas sombras seus sentimentos por Smith. Era um segredo que tentava esconder de todos, mais ainda de si mesma. Esta noite, os segredos guardados com todo o cuidado não tinham sido páreo para o desejo. Valentina enfiou as mãos nos cabelos dele, puxando os lábios de volta para os seus. Ela não estava se entregando por uma noite apenas, estava exigindo que ele tirasse tudo dela. Nunca fora assim para ela. Ela nunca fora tão voraz, tão insaciável.
Em sincronia perfeita, os dois se moviam juntos, os quadris dela colidindo com os dele, o corpo dela implorando por cada estocada dura e profunda. O que era um doce pecado tornou-se obsceno quando ambos enlouqueceram nos braços um do outro. Valentina não conseguia se lembrar de se sentir tão bem, tão lânguida, tão satisfeita, ainda que o peso de Smith a estivesse pressionando sobre o colchão e os lençóis emaranhados estivessem presos sob sua panturrilha. — Fizemos uma bagunça nos seus lençóis — ela murmurou no pescoço dele, lambendo o suor salgado bem atrás da orelha. — Agora está tudo enroscado. — Que bom! Não pôde deixar de notar a satisfação profunda na voz de Smith, nem o fato de que bastou a vibração do peito dele penetrar no seu para que seu corpo saciado voltasse à vida embaixo dele. Sabendo que estaria segura enquanto a noite ainda os envolvesse, e querendo tirar o máximo de proveito de cada uma daquelas horas roubadas, Valentina declarou: — Agora estou pronta para a sobremesa. Smith levantou a cabeça e sorriu para ela. — Eu achei que isso fosse a sobremesa. Ela pressionou os lábios nos dele e adorou se perder naquele beijo. — Não, isso foi só para garantir que teríamos apetite para o cupcake. Ela adorava o som da gargalhada dele e adorava ainda mais saber que o agradava, pois, minha nossa, como ele a agradara! Vez após outra, a cada toque, a cada beijo, a cada carícia de seu corpo no dela, dentro dela. — Os cupcakes estão aqui — ela lembrou enquanto Smith caminhava lindo e nu pelo quarto até a cômoda. Ele abriu uma gaveta e puxou alguma coisa de dentro. Satisfeito minutos atrás, o coração de Valentina agora estava batendo forte e acelerado ao imaginar o que Smith planejara para ela. Em especial quando ordenou: — Feche os olhos. — Por quê? Ele sorriu. — Confie em mim, você vai gostar. O uso fácil das palavras Confie em mim a fez sentar-se na cama, com um nó no estômago. Era tão mais fácil entregar o corpo do que confiar em um homem. Mas, ao olhar dentro dos olhos de Smith e ver a maneira carinhosa como a observava, Valentina ficou surpresa — chocada, na verdade — ao perceber que confiava nele de verdade. Pelo menos por essa noite, quando tinha absoluta certeza de que não haveria nada nem ninguém entre eles.
Com uma longa expiração, ela fechou os olhos, e, um momento depois, sentiu algo macio lhe envolver os olhos. Antes que pudesse perguntar por que estava lhe cobrindo os olhos, Valentina sentiu o cheiro de açúcar e chocolate. — Dê uma mordida. Ela mordeu o bolinho colocado suavemente contra seus lábios, e cada uma de suas papilas gustativas ganhou vida. — Mmmm. — Começou a lamber a cobertura que sentia no canto de seu lábio superior, mas a língua de Smith chegou lá primeiro. — Delicioso. Ele colocou o bolinho de volta nos lábios dela e ela deu outra mordida. Nenhuma sobremesa nunca teve um gosto tão bom antes, e Valentina estava mais do que pronta para sentir a boca de Smith sobre a dela mais uma vez, quando ele a surpreendeu com a sensação de algo gelado na ponta de um seio e, pouco depois, no outro. — Você sabia que o cupcake tinha recheio? Ela estava tão perdida na expectativa intoxicante do que ele estava prestes a fazer que mal conseguia falar. — Não consigo dizer qual é o sabor. Será que pode me ajudar? — Smith, por favor. Ele a trouxera de volta ao estágio de imploração, mas ela não se importava, não quando sentiu a respiração morna dele sobre sua pele e, então, a língua se movendo sobre ela enquanto lambia com voracidade seus mamilos bastante sensíveis. Ela apertou seus ombros sem ver quando ele passou a lamber o outro seio do mesmo jeito depravado e perfeitamente sedutor e sem-vergonha. Só quando conseguiu lamber até a última gota foi que Smith trouxe de volta a boca junto à dela e beijou-a. Quando ela estava sem fôlego nenhum, ele quis saber: — Diga-me, Valentina. Qual era o sabor? Amor. Ele tinha gosto de amor. A palavra proibida de quatro letras surgiu em sua cabeça sem pensar, não uma, mas duas vezes, fazendo-a ficar tensa nos braços dele. Percebendo sua angústia de imediato, Smith tirou a gravata que usara como venda improvisada dos olhos e passou as mãos devagar pelos braços dela. — Prometi que esta noite não faria nada que não quisesse — ele disse, com uma voz tranquilizadora. — Foi a venda? Claro que não. Ela gostara muito daquela parte. Esticou os braços e os enroscou em volta do pescoço dele. — Você não fez nada errado.
E, de fato, ele não tinha feito. Era Valentina que teria de se esforçar feito louca para se proteger na manhã seguinte. E foi por isso que ficou feliz pelo pequeno incidente. Foi perfeito para lembrá-la de que, mesmo que lhe entregasse o corpo, ela precisava guardar seu coração. Tentando recuperar o tom de brincadeira de antes, ela continuou: — Mas agora estou me sentindo bem grudenta. Os olhos escuros dele se fixaram nos dela por um longo momento, até que as preces dela para que Smith desconsiderasse seu comportamento foram atendidas. Smith pegou-a no colo e carregou-a até o banheiro. Ao ligar a água, as mãos dele tateavam a pele dela, a boca brincando na curva onde o pescoço se encontra com o ombro. Valentina arqueou-se para dentro dele, e mal havia trinta centímetros de água no fundo da banheira quando Smith falou: — Preciso de você de novo, Valentina. — Sim — ela concordou enquanto escorregava com ele para dentro da água rasa. — De novo. De algum modo Smith achou uma camisinha e colocou-a a tempo de ela se encaixar em cima dele no momento certo. Ela achou que a segunda vez seria maravilhosa, mas nem de perto tão especial quanto a primeira. Contudo, quando ele a puxou antes de penetrá-la de novo, tão fundo e tão rápido a ponto de ter que se agarrar mais forte nele, e quando gritou de prazer com as mordidinhas suaves dos dentes dele e dos chupões carinhosos em seus seios, junto com a firmeza das mãos que seguravam seus quadris, Valentina sabia que o jeito como faziam amor nunca seria comum, nem simples. Nem mesmo se passassem décadas nos braços um do outro, em vez de apenas uma noite. Mais tarde, quando estavam banhados e secos de novo, e ela se sentia mais exausta do que nunca, Smith a carregou com toda a gentileza de volta até os lençóis emaranhados da cama, acomodou-a e puxou-a para perto dele. Ela nunca dormira bem dividindo a cama com alguém, nem mesmo com a irmã, quando Tatiana tinha pesadelos na infância e subia na cama dela. E a decisão de Valentina de passar a noite com Smith não incluía dormir com ele assim. Apenas sexo. No entanto, com os braços fortes e quentes de Smith ao seu redor, e uma das mãos enroscada na dela, ambas descansando sobre seu coração, Valentina não teve forças para lutar contra a profundeza do sono, nem contra a ternura de ficar com Smith desse jeito.
CAPÍTULO QUINZE Na manhã seguinte, mais sonolenta do que acordada, Valentina enrolou-se no corpo morno ao seu lado e suspirou com prazer. Foi só quando sentiu uma mão lhe acariciando o cabelo e os beijos suaves sobre as pálpebras que enfim acordou. Ai, meu Deus, pensou, enquanto tentava evitar que de repente seu corpo ficasse tenso perto de Smith, o que ela fizera? Não, não se esquecera de que tinha dormido com ele. Tomara aquela decisão com a cabeça no lugar e nunca se arrependeria das horas mais gostosas e sensuais de sua vida. No entanto, à medida que a luz da manhã atravessava as janelas do quarto no segundo andar, ela se arrependeu por ter quebrado uma regra importante: ter passado a noite com ele. Ela era uma mulher de carne e osso, cheia de hormônios e desejos. Uma noite ardente de sexo, tudo bem. Maravilhoso, mesmo se isso significasse poder parar de gastar todo seu tempo e energia imaginando como seria fazer amor com Smith e voltar ao foco de sua vida real. Mas acordar na cama dele, tomar café da manhã, compartilhar a parte do dia dela quando estava mais vulnerável... isso com certeza não era bom. De algum modo, precisava descobrir como sair da cama e da casa dele sem fazer uma tempestade em copo d´água sobre a noite que passaram juntos. Porém, quando ele beijou suas sobrancelhas suavemente, depois cada maçã do rosto, a ponta do nariz e então o queixo, a última coisa que ela queria era sair da cama dele. O desejo cresceu de novo, rápido e quente, e ela quis tanto enroscar as mãos pelos cabelos macios dele e levar os lábios dele até um dos lugares que precisavam muito. Quantas regras ela já quebrara por esse homem, tantas outras que sabia não ter forças o bastante para evitar quebrar quando, em vez de se afastar dele, começou a se enfiar cada vez mais fundo em seus braços, a perna se mexendo para escorregar pela perna dele enquanto se arqueava ao toque de Smith, implorando em silêncio por mais. Até que o barulho desagradável de um celular arrancou-a daquela nuvem sensual. Os olhos dela se abriram rápido, e as mãos se espalharam pelo peito dele. — Seu celular... pode continuar tocando. No entanto, Valentina era muito condicionada pela agenda da irmã para perder o controle de um item importante do calendário, por mais que estivesse envolvida pela bruma de sensualidade. Ficou em choque ao perceber que estivera quase a ponto de esquecer. Claro, fazer amor com Smith prejudicava seu cérebro de forma seríssima. — Você e Tatiana têm uma entrevista por telefone com a Entertainment esta manhã. As palavras de Valentina mal tinham saído da boca quando o celular dela começou a vibrar com o alarme indicando que a irmã estava ligando. Tatiana passara a noite em um evento para atrizes
novatas em Los Angeles, então ela não só iria ignorar o fato de que Smith passara a noite na cama com Valentina como não poderia adivinhar de jeito nenhum que ele estava com ela nesse exato momento. Mesmo assim, fazia sentido tentar falar com Valentina para ver se ela poderia contatar Smith, pois ele com certeza não tinha aparecido para a entrevista. Smith podia até ser capaz de ignorar seu celular, mas ela, não. Ainda mais quando a irmã estava ligando. Ela saiu de baixo dele e tentou não se intimidar pela nudez enquanto se apressava para pegar a bolsa, do outro lado do quarto. — Oi, T. Por favor — Valentina rezou em silêncio —, não me faça perguntas para as quais terei de mentir. Ela se enfiou debaixo das cobertas com o telefone no ouvido, enquanto Smith a observava com olhos ainda cheios de desejo. — Estou com Beth, da Entertainment, na espera — a irmã lhe informou. — Ela fica me perguntando quando Smith vai ligar. Na noite passada ele lhe disse alguma coisa sobre cancelar, quando estavam em Alcatraz? — Não, ele não me disse nada sobre não conseguir fazer a entrevista. Talvez só esteja um pouco atrasado. Tenho certeza de que ele nunca a colocaria em uma situação embaraçosa com uma jornalista furiosa. Mas, em vez de se inclinar para pegar o telefone dele, Smith passou o braço ao redor da cintura dela e a arrastou para mais perto de seu corpo nu, nu por inteiro e cheio de tesão, surpreendendo-a mais ainda com um leve beijo na boca. Uma meia arfada, um meio gemido escaparam dos lábios dela, e a irmã perguntou: — Val? Está tudo bem? — Vou ver se consigo entrar em contato com ele — Valentina prometeu à irmã antes de, pela primeira vez na vida, desligar o telefone na cara dela. Feliz pela onda de frustração logo substituída pelo desejo, ela estava prestes a se deitar em cima de Smith quando ele enfim pegou o telefone do lado da mesa de cabeceira e começou a digitar. — Beth, me desculpe por ligar tão tarde. No entanto, em vez de deixar Valentina sair para que pudesse focar na entrevista, puxou-a ainda mais para perto, os braços segurando-a com firmeza ao redor da cintura, uma das pernas pesadas sobre as duas pernas dela. — Como vai seu filho? Ainda arrancando a grama do campo de futebol? Perto o suficiente para ouvir as respostas esfuziantes da mulher, Valentina tentou não fazer nenhum som. Deus me livre se a jornalista ou a irmã dela pudessem notar que Smith estava na cama com uma mulher. Com ela. Sem dúvida ele não a ajudara ficar em silêncio, passando a mão devagar sobre as costelas,
depois na cintura e então na curva de seus quadris. Ela tremia pelo esforço de evitar expressar em voz alta o prazer pelo toque dele, em especial depois de uma noite em que se entregara de corpo e alma. Quando não teve outra opção senão se entregar. Valentina pensou que aquilo seria só por uma noite muito especial, quando todas as regras — e as preocupações — fossem deixadas de lado. Mas, dessa vez, a ternura do toque dele não foi suficiente para combater a lembrança brutal de quem ele era. Smith Sullivan, um astro do cinema. Como se permitira esquecer? A essa altura, não adiantava nada questionar os “comos” e os “porquês”. A questão era que ela esquecera. E, mais importante ainda, ela não podia nunca, jamais esquecer outra vez. Pelo menos no set ela sempre o via como produtor, diretor, protagonista; enquanto com a família dele, em Alcatraz, no barco — e sem dúvida quando estava na cama —, Smith era apenas um homem maravilhoso. Isso sem falar que era o homem mais sensual e irritantemente persistente que ela já conhecera. É óbvio que, apesar de todos os avisos e lembretes rígidos que acabara de dar a si mesma, durante os longos minutos que pareceram horas enquanto ele conversou com a irmã dela e a jornalista, o corpo de Valentina continuou a subir muitos graus de temperatura. Smith não chegou perto de lhe tocar os seios, ou entre as pernas, mas isso era quase pior do que fazê-lo, pois todo lugar onde ele não tocou latejava, pulsava de desejo, e ela torcia para que a entrevista terminasse. No entanto, no fundo do coração, ela sabia que não queria que a entrevista terminasse nunca. Não se isso significasse que por fim teria de se afastar dos braços de Smith. Depois de uma longa espera, quando poderia ter jurado que ele passara a mão sobre cada milímetro de sua pele, exceto os lugares que ansiavam de modo desesperado pelo seu toque, Smith enfim desligou o telefone e se concentrou nela. — Desculpe. E então — ele disse, enquanto fazia uma trilha de arrepios tocando com as pontas dos dedos na parte de dentro dos braços de Valentina. — Onde estávamos? Ela respirou fundo, trêmula. — Eu estava de saída. A maioria dos homens ficaria mais do que feliz por deixar a parceira de uma noite ir embora. Que droga, qualquer outro homem no planeta teria lhe dito para não deixar a porta bater com muita força quando saísse... e qualquer outra mulher no planeta estaria implorando para Smith deixá-la ficar. Quando lhe ocorreu que talvez fosse esse o porquê de eles sempre se darem tão bem — porque nenhum dos dois se comportava como deveria —, ela lutou para afastar esse pensamento. A mão dele não parava sobre a pele dela. A mesma onda de calor esquentava a cada movimento
que fazia sobre as curvas dela enquanto dizia “Não quero que vá embora” em uma voz rouca que lhe percorria a espinha e a pele de cima a baixo. — Você sabe o que combinamos na noite passada — ela o lembrou. — Sei o que combinamos — Smith concordou —, mas aquilo foi antes. Aquela única palavra — antes — e todas as lembranças do depois, que incluíam os lábios, as mãos e o corpo dele sobre o dela, a forçaram a reconhecer sua ingenuidade em silêncio. Será que pensou que poderia tirar o que queria dele em apenas uma noite, para se satisfazer, matar a vontade e extirpar o desejo de seu organismo? Será que não sabia, todo o tempo, que os beijos dele, as mãos esquentando sua pele, o corpo perfeito e rijo sobre o dela, seriam como uma armadilha? Uma armadilha da qual ela nunca, jamais desejaria escapar? Não podia negar que em algum momento entre trabalharem juntos no set e um jantar à luz do luar sobre as rochas de Alcatraz tinham se tornado amigos. E, ah, ser a amante de Smith era mesmo uma coisa maravilhosa. No entanto, oferecer-lhe o corpo, o riso e a companhia era uma coisa. Entregar-lhe o coração era outra coisa bem diferente. Não importava o quanto gostava de estar com ele, independentemente do quanto tinha sido maravilhoso até ali, no final do dia ele ainda tinha a profissão na qual para sempre não significava nada. A mãe de Valentina quis acreditar naquele para sempre tantas vezes. E querer acreditar no conto de fadas nunca fora o suficiente para torná-lo verdadeiro. Pior ainda, a coisa toda terminaria gravada em vídeo, por fotógrafos e operadores de câmera que trabalhavam para um público que nunca se cansava da vida particular de seus astros. — A noite passada foi fantástica. — Não havia sentido algum em fingir que não tinha sido. — Mas isso não muda quem você é. Ou quem eu sou. — Quando a lógica clara como cristal não o convenceu a levantar as pernas de onde ainda a segurava na cama ao lado dele, a frustração por sentir que queria muito ficar com ele a fez continuar: — Você deveria ter me deixado ir embora durante sua entrevista. Não foi justo me fazer ficar aqui. Smith a colocou deitada com as mãos sobre a cabeça tão rápido que o ar mal saiu dos pulmões. — Justo? Você acha que o que está acontecendo aqui é justo? — Os olhos dele ficaram quase negros pouco antes de os lábios tomarem os dela em um beijo violento, sem qualquer sombra de gentileza. — Acha que é justo que eu esteja me apaixonando por uma mulher que não quer nada comigo só por causa da minha profissão? Dessa vez Smith lhe mordiscou o lábio inferior antes de retomar os lábios em um beijo que a fez reagir àquela mistura de dor e prazer. E, enquanto a mão livre dele se encaixava no seio dela, ainda que algo no fundo da mente lhe dissesse que deveria ter medo de um homem que acabara de perder o controle e agora estava descontando a frustração nela, arqueou-se. Como, algum dia, poderia ter medo dele? Desde o início Smith fora tão gentil, tão carinhoso
com ela. Ele a tinha segurado nos braços quando lhe contara sobre o pai; tratara a irmã como a joia preciosa que ela realmente era. E Valentina também sabia que o que haviam compartilhado na noite anterior não podia ser visto apenas como sexo... porque tinham feito amor, desde o primeiro beijo até a última arfada de prazer. As línguas deles agora se enroscavam enquanto a mão de Smith deslizava para baixo, sobre a barriga, depois um pouco mais abaixo, antes de ele afastar os lábios dos dela, os olhos queimando de paixão, frustração e desejo incomensurável enquanto a encarava. — É justo que eu não consiga parar de pensar em você nem por um segundo quando estou trabalhando no maior filme da minha vida e não deveria estar pensando em mais nada? Se ele não estivesse segurando as mãos dela sobre a cabeça com tanta força, ela teria lhe tocado o rosto para confortá-lo. Em vez disso, tudo o que conseguiu fazer foi chacoalhar a cabeça. — Não. — Valentina engoliu em seco ao ver o sentimento profundo no rosto tão lindo dele, e ao sentir as fortes emoções lhe penetrando as entranhas. — Não é justo. Ela não podia tornar as coisas justas para ele, não poderia lhe dar fosse o que fosse que ele parecia querer, não poderia lhe prometer um futuro no qual não faria diferença quem ele era ou o quanto sua vida e sua carreira eram complicadas. Tudo o que ela podia fazer era entregar-se, dar-lhe prazer, mais uma vez. Smith era muito maior e muito mais forte do que ela, mas a paixão — e a dor de saber o quanto o magoara esta manhã por querer ir embora assim que acordara — lhe deu forças para virar-se, deitando-o de costas enquanto montava sobre ele. Os pulsos ainda estavam nas mãos dele, mas agora as palmas se espalhavam sobre o peito, bem onde o coração de Smith batia acelerado. Com as coxas abertas sobre ele, Valentina encontrou seu membro duro e começou a se mexer sem que ele a penetrasse, cavalgando para cima e para baixo, vez após outra, até ambos ficarem ofegantes. O tempo todo ele segurou as mãos dela sobre o coração enquanto a barriga dela endurecia e ela subia e descia cada vez mais forte sobre ele. Com a outra mão, ele agarrou-lhe os quadris com força, para ajudá-la a chegar ao ápice do prazer que ela não percebera já ter alcançado. Gritou o nome dele quando o orgasmo tomou conta dela, da cabeça aos pés, o corpo rijo de Smith sob o dela enquanto se deixava levar pela onda de satisfação. Só quando enfim voltou à Terra percebeu que Smith tinha lhes trocado de posição de novo, e ela estava, mais uma vez, deitada de costas na cama. O corpo ainda vibrava com a incrível força do seu gozo inesperado quando ela o sentiu se mover de leve para o lado, ouviu o barulho de uma gaveta e de algo sendo rasgado. Todo o corpo dela se enrijeceu e então se abriu para ele outra vez, na expectativa de ainda mais prazer intenso e intoxicante. Smith estava a um segundo de penetrar Valentina com força quando a sanidade o nocauteou. O que acabara de fazer? E que porcaria estava prestes a fazer com ela? — Valentina, me perdoe. — Perdoar você? — As palavras eram suaves e soaram tão sensuais saindo dos lábios inchados
pelos beijos violentos dele. — O que foi que você fez? Será que ela de fato não notara que ele quase a atacara minutos atrás quando a frustração — e uma sensação de abandono que ele não fazia ideia de como lidar — tinham enfim destruído o que havia de melhor nele? Ele ergueu um dos punhos dela e passou os olhos pelas marcas vermelhas. Smith não sabia se merecia uma chance de consertar as coisas, mas não podia deixar de tentar. — Machuquei você — ele disse um pouco antes de se inclinar para pressionar os lábios na pele sensível do lado de dentro do punho dela. — Nunca tive a intenção de machucar você. A última coisa que ele esperava era que ela soltasse a mão e a colocasse no rosto dele. — Não — ela falou, baixinho —, você não me machucou. Sou eu quem está machucando você. Sinto muito. — Valentina ergueu a boca até a dele e deu um beijo no outro lado antes de colocar as duas mãos no seu rosto. — Foi por isso que tentei ir embora esta manhã, pois não quero que nenhum de nós se machuque. Mas — ela admitiu antes que os lábios dela encontrassem os dele em um beijo que roubou mais um pedaço do coração dele. — Eu não queria ir. — Passou a língua sobre os lábios dele. — Continuo não querendo. — Ela se afastou o suficiente para olhar para ele. — Por favor, Smith, me beije. Valentina nunca tivera a chance de lhe pedir um beijo em Alcatraz. Em vez disso, ela apenas o tomara, e Smith adorou que tivesse feito aquilo. Mas agora, quando por fim pedira um beijo a ele, Smith torceu para que aquela fosse a maneira de ela dizer que ele não a havia machucado... e que não ficaria magoada pelo que fizera com ela naquela manhã. Desejando-a mais do que ele jamais imaginou ser possível desejar outra pessoa na vida, encaixou o rosto dela entre as mãos e transformou o beijo suave em um profundo e perigoso entrelaçar de lábios, línguas e dentes pelo qual os dois ansiavam. Ainda assim, mesmo naquele turbilhão profundo, havia uma doçura, uma luz cintilante brilhando sobre eles. — Vem, me coma — ela implorou ao se abrir para ele, enroscar os braços e as pernas ao seu redor. — Por favor, Smith — ela sussurrou com um gemido baixinho enquanto ele abaixava a boca até o sulco do pescoço para lhe degustar a pele, para tentar convencer a si mesmo de que ela era de verdade, que ainda poderia desejá-la depois de quase ter passado do limite. — Faça amor comigo mais uma vez. Meu Deus, ele pensou ao beijá-la de novo, ele nunca se cansaria dos lábios dela. Mesmo quando por fim a penetrou e os quadris dela se encaixaram nos dele para recebê-lo ainda mais fundo, mesmo quando perdeu a noção de tudo, exceto de como ela era macia, quente e perfeita sob ele, em volta dele, os lábios de Smith nunca deixaram os de Valentina. Sexo sempre lhe trouxera prazer, mas fazer amor com Valentina ia tão além do prazer que, ao vêla implorando, entre beijos, para que ele metesse com mais força e mais fundo, até as palavras se misturarem em um longo gemido conjunto, ele mal conseguia controlar o próprio desejo. Não apenas por mais prazer do ele jamais imaginara ser possível, mas pela chance de seduzir
mais do que o corpo dela. E também conquistar seu coração. Depois de tudo, eles se deitaram juntos, testa com testa, nariz com nariz, boca com boca. Smith queria ficar com ela assim para sempre, queria fazer qualquer coisa para evitar que ela fosse embora, mas era tão mais pesado que não queria esmagá-la. Saindo um pouco para o lado, mas mantendo-a ainda agarrada nele, Smith passou uma das mãos sobre o cabelo úmido dela. Infelizmente, logo depois ela já estava dizendo: — Prometi a Tatiana que passaríamos o dia juntas. Não temos nos visto muito fora do set. Ela dera a explicação como se tentando tranquilizá-lo, e Smith ficou feliz por saber que, apesar de ter deixado bem claro que não queria sair com ele, era óbvio que ela se importava com seus sentimentos. — Na verdade — ela continuou —, eu preciso mesmo voltar para casa antes que ela chegue do aeroporto. Se soubesse que eu não passei a noite em casa, iria querer saber por quê. Um bloco de cimento pesado caiu sobre o peito dele. — Não vai contar a ela sobre nós? Valentina se desenroscou dos braços dele e sentou-se de lado na cama, usando os lençóis amassados para cobrir a linda pele nua. — Não — concordou, baixinho. — Não vou. — Ela lambeu os lábios. — Não me arrependo do que aconteceu na noite passada. E hoje de manhã. — Os olhos cor de mel dela encontraram os dele, tão firmes e tão lindos que o nó no peito apertou ainda mais. — Mas imaginei que, de todas as pessoas do mundo, você saberia como isso iria funcionar. Ele se esforçou para manter a expressão indiferente. — Então me diga, Valentina, como é que ficamos? Frustrada, ela se sentou mais reta na cama, as pernas cruzadas fazendo os lençóis deslizarem para revelar um pedaço atraente da coxa e dos quadris. — Você partirá para sua próxima conquista. Tudo está fadado a voltar ao normal. — Sua voz aumentava a cada frase, até estar quase gritando com ele. — Agora que transamos, eu já era para você. Ele deixou-a deslizar para fora da cama, fechar a porta do banheiro e trancá-lo do lado de fora por alguns minutos. Agora que a possuíra, pensou enquanto vestia a calça jeans, as coisas estavam só começando. Smith estava na cozinha servindo duas xícaras de café quando, dez minutos depois, Valentina saiu toda vestida, o cabelo ainda molhado em volta dos ombros, sapatos calçados e a bolsa na mão. — Fique para comer um bolinho de canela, Valentina. Ela olhou com surpresa para o prato no meio da mesa do café da manhã ao lado da janela. Seu
estômago rugiu enquanto ela perguntava: — Por que está tornando as coisas tão mais difíceis do que têm de ser? — Não precisa ser difícil. Era isso que queria mostrar a ela. Que sabia que ela acreditava, no fundo do coração, que o amor não tinha de ser difícil. Ele pensou, mais uma vez, no que a mãe havia dito ao telefone: “Às vezes é mais difícil admitir para nós mesmos que queremos o amor do que continuar vivendo sem ele. Não desista dela.” Com aquela sábia mensagem ecoando em sua cabeça, Smith tirou a bolsa das mãos fechadas de Valentina e colocou-a de lado, então puxou uma cadeira para ela. Por um momento, pareceu que ela ia rebelar-se até que, com um suspiro súbito, sentou-se. — Você de fato não joga limpo, não é? — Ela pegou um pedaço do bolinho de canela e enfiou-o na boca com um ruído guloso de prazer. — Esses são de verdade dos melhores que já comi. Escorrendo açúcar, do jeito que eu gosto. Smith não pôde deixar de sorrir enquanto tirava um pedaço para si. Nem pôde deixar de se inclinar para lamber o açúcar brilhando no canto dos lábios dela. — Eu também adoro. Ela abriu os olhos e olhou-o com raiva. — Smith. Ele sorriu de volta para ela. — Valentina. Ela tentou esconder o sorrisinho afastando-se e deixando o cabelo cair sobre o rosto. Mas ele viu. Quando ela terminou o café da manhã, lavou o prato na pia e estava se virando para dizer que ele sabia que teria de ser uma despedida muito civilizada, Smith tomou-a nos braços. — Obrigado por me deixar amá-la a noite passada. Um momento depois, ele tomou-lhe os lábios, devorando os pedacinhos de açúcar e tempero que ainda restaram sobre a boca já doce. Quando enfim obrigou-se a se afastar, os olhos grandes dela já tinham se anuviado com desejo outra vez e sua pele enrubescera de calor. Mesmo assim, Smith podia ver o quanto estava lutando contra o que estava sentindo. Ele não tinha mais 21 anos, e a vida não girava em torno de sexo, não importava o quanto fosse bom. O que significava dizer que entendia por que o sexo com Valentina fora tão espetacular. Ela não fora uma conquista; também não fora porque ela era um mistério que ele queria muito decifrar. Não, era porque ela significava muito para ele; em um nível muito mais profundo do que qualquer outra mulher jamais o fizera. Ele queria descobrir se ela era a mulher de sua vida.
Nesta manhã ele teve absoluta certeza de que encontrara a resposta. — Não podemos fazer isso de novo, Smith. As coisas poderiam se complicar muito rápido. Mesmo agora, se Tatiana descobrisse onde eu estive a noite passada... — ... ela ficaria muito feliz por você. E por mim. Valentina ergueu o queixo. — Sim, ela ficaria feliz se nós estivéssemos felizes. Até chegar o dia em que ela precisaria tomar partido. Ela gosta de você, Smith, de um jeito que a magoaria de verdade deixar de ser sua amiga só porque somos irmãs e sempre colocamos uma a outra em primeiro lugar. Sei que não quero fazer isso com ela e sei que você também não quer. — Se eu não fosse um ator, se não estivéssemos trabalhando juntos, você iria querer passar mais do que uma noite comigo? Ele podia ver o quanto ela ficara surpresa com a pergunta, o suficiente para admitir: — Sim. Mesmo assim, um momento mais tarde, Valentina se desvencilhou dos braços dele, pegou a bolsa e o casaco e seguiu em direção à porta, acrescentando: — Mas, já que nunca tive a chance de brincar de faz de conta, não faz diferença se eu gostaria que fosse diferente, faz? Pelo restante do dia, Smith não conseguia tirar a expressão dela da cabeça. Ela parecia determinada, forte e linda como sempre fora, mas por dentro não conseguia disfarçar a mulher que queria mais do que nunca acreditar — e saber por experiência própria — que o conto de fadas era real. Smith mal podia esperar para provar a ela que era tudo verdade, e que o “felizes para sempre” poderia ser ainda mais doce do que qualquer versão espalhafatosa de Hollywood.
CAPÍTULO DEZESSEIS Valentina mal chegou em casa, tirou a roupa da noite anterior, vestiu um legging e um suéter quando ouviu a porta da frente se abrir. Reconhecendo sem dúvida não ser a atriz da família, ainda que não houvesse nenhum motivo para a irmã imaginar algo além de um passeio amigável a Alcatraz entre ela e Smith, Valentina ainda se pegou colocando um sorriso fingido no rosto quando Tatiana enfiou a cabeça pela porta. — Me desculpe, Val, meu voo atrasou. Liguei para o spa e avisei que nos atrasaríamos um pouco. O sorriso de Valentina se alargou ainda mais. — Ótimo, mal posso esperar! Enquanto a irmã entrou no quarto para deixar a maleta de viagem, Valentina sentiu como se tivesse um aviso de néon ao redor do pescoço piscando MENTIROSA. Embora não tivesse mentido descaradamente para a irmã, era impossível não sentir que a omissão era tão ruim quanto a mentira. Momentos depois, quando estavam a caminho do spa no Mini Cooper fofo de Tatiana, Valentina perguntou: — Como foi o evento em L.A.? — Bom. — A irmã sorriu. — Sinceramente, eu não fazia ideia do quanto trabalhar com Smith mudaria as coisas. Todo mundo ficou me dizendo o quanto foi importante Smith ter me escolhido para Gravity. Sabe como é, ele escreveu, está produzindo e dirigindo o filme. Ninguém viu o filme ainda, e já ficam falando sobre o Oscar. — Mas é mesmo uma grande coisa — Valentina concordou. — E, já que ele me falou muitas vezes o quanto tem gostado de trabalhar com você, acho que está feliz de verdade com a escolha que fez. Tatiana sorriu. — O problema é que, considerando o jeito óbvio como todo mundo o idolatra, embora eu saiba, por mim, o quanto é fácil trabalhar com ele, quase comecei a ficar nervosa. Mas deve ter sido porque todo mundo ficou dizendo que... Tatiana olhou de relance para Valentina antes de fechar os lábios de repente. Valentina esforçou-se para manter a voz suave e tranquila quando indagou: — O que mais andam dizendo? — Coisas ridículas. — Tatiana revirou os olhos. — Você sabe como Hollywood é com relação aos atores irem para cama uns com os outros. Mas jurei a todo mundo que ele e eu somos apenas amigos. Valentina cerrou os punhos sobre o colo e continuou:
— Sinto muito por você ter que lidar com isso, T., ainda mais quando está trabalhando tantas horas por dia na filmagem. — Sabíamos desde o início que as fofocas de romance entre os atores faziam parte do pacote — a irmã disse em voz baixa. — Eu posso lidar com isso porque sei a verdade. O problema é que, se Smith está saindo com alguém, eu odiaria que ela pensasse que ele não está sendo fiel. Valentina desejou que falassem sobre outra coisa. Qualquer coisa. Mas podia perceber que sua irmã estava esperando que fizesse algum comentário. Ela queria tanto contar seu segredo a Tatiana. Mas o que diria? Dormi com Smith a noite passada. E hoje de manhã, quando comecei a entrar em pânico e tentar fugir, ele quase me atacou para me manter na cama... e eu adorei. Não, ela não poderia dizer isso. Não poderia contar nada sobre Smith a Tatiana. Seria um risco muito alto para todas as partes envolvidas. E, na realidade, o que havia para ser dito? Havia sido apenas uma noite perfeita, linda e pecaminosa, não é mesmo? E ela nunca, jamais deixaria aquilo acontecer de novo. Por fim, Valentina comentou: — Acho que qualquer mulher que resolva sair com um ator como Smith tem de tomar a decisão de confiar nele, não importando o que aconteça; caso contrário, acabaria maluca. Isso se a mídia não lhe deixasse louca antes. — Ei — a irmã disse de repente. — Quase esqueci. Como foi Alcatraz? — Fantástico! — Valentina respondeu com uma voz animada demais. E, então, antes que a irmã pudesse fazer outra pergunta sobre a companhia da noite, começou a contar a história sobre Alcatraz que ouvira do guia, Sam. — Tatiana, muito obrigada por nos convidar! Valentina estava assinando o nome no livro de registro do spa quando se virou e viu Vicki Bennett, que fornecera as esculturas para o filme e era noiva de um dos irmãos de Smith, entrar com duas irmãs muito parecidas, a não ser pelo fato de uma delas estar bem grávida. As gêmeas também se pareciam muito com... — Oi, sou Lori Sullivan. — A mão de Valentina foi tomada pela gêmea que não estava grávida, que se movia com elegância e, sem dúvida, era a bailarina da família. — Esta é minha irmã, Sophie. Valentina esforçou-se para controlar o pânico. Já era ruim o bastante esconder o que acontecera na noite passada da própria irmã. Agora, as duas irmãs de Smith estavam no spa, junto com Vicki, a futura cunhada. — Muito prazer em conhecê-las, e em vê-la de novo, Vicki. — Elas não tinham passado muito tempo juntas além dos momentos em que Valentina admirava as esculturas maravilhosas no dia que foram apresentadas. Há apenas 24 horas, Valentina teria adorado a oportunidade de conhecer mais a família de
Smith. Infelizmente, agora ficaria preocupada o tempo todo em dizer algo errado e, sem querer, deixar escapar que ela e Smith tinham se aproximado mais do que poderiam imaginar. — Vamos lá — Lori disse. — Primeiro vamos ficar de molho nos banhos minerais. Soph, será que você pode só colocar os pés, para não cozinhar os bebês? Sophie revirou os olhos na direção de Valentina. — Ela é um amor, não acha? Valentina sorriu, percebendo com clareza o quanto as duas irmãs eram próximas. Não era à toa que Smith amava tanto a família. Sem dúvida tinham suas arestas e desavenças, mas ao redor de tudo isso havia um amor evidente. Depois de colocarem os maiôs, estavam se acomodando na água morna quando uma das esteticistas levou Tatiana para uma limpeza de pele, deixando Valentina sozinha com o time Sullivan. Tudo parecia muito bem, mas ela não conseguia manter os nervos sob controle total. Era óbvio que elas não tinham motivo para lhe perguntar sobre Smith; era impossível suspeitarem que tivesse acabado de sair da cama dele apenas algumas horas antes. Pensar no que ele tinha feito com ela na cama — e no que ela fizera com ele — a fez sentir-se mais quente do que a própria água. Valentina estava feliz por ter pedido a Smith que lhe contasse sobre os irmãos e irmãs na noite anterior, porque agora poderia comentar: — Seu irmão disse que você é uma coreógrafa e bailarina fantástica, Lori. Adoraria conhecer seu trabalho. Para Sophie, ela disse: — Ele também me contou que não teria conseguido fazer metade da pesquisa sobre os personagens nos filmes sem a sua ajuda. Gostaria de conhecer a biblioteca local, mas nos últimos tempos o trabalho tem sido insano. Não há nada melhor do que passar horas e horas com os livros. — Eu acabei de entrar de licença-maternidade para tentar deixar algumas coisas prontas antes de dar à luz — Sophie respondeu com uma voz suave, ambas as mãos descansando sobre a barriga —, mas adoraria dar uma passada lá um dia, só para passear, se tiver como tirar uma folga do trabalho. Valentina de repente se pegou imaginando como conseguiria manter distância de Smith quando a família dele a envolvia com tanta facilidade. Ela de fato gostaria de ver Lori dançar e de passar uma tarde com Sophie e os livros dela. — Está gostando de trabalhar no filme de Smith? — Vicki perguntou. Valentina tentou analisar se havia algo mais por trás da pergunta da outra mulher, ou se era provável que ela tivesse notado qualquer faísca entre ela e Smith durante o tempo em que ficara no set, quando fora entregar as esculturas. No entanto, pelo que podia ver do rosto da outra mulher, Valentina sabia que estava ficando paranoica. Não era o seu melhor lado, com certeza.
— Tatiana e eu estamos adorando. Todos têm trabalhado muito, mas conseguem ser tranquilos ao mesmo tempo. Esse não foi o caso de muitos dos filmes nos quais ela trabalhou nos últimos anos. — Smith é maravilhoso — Lori elogiou, como se aquilo explicasse tudo. O que de fato explicava tudo, Valentina pensou, com um pequeno suspiro de resignação. Smith era tão aberto a conversas, tão amigável, e, ao mesmo tempo, tinha tanto controle sobre todas as partes do quebra-cabeça que acabava inspirando a lealdade nas pessoas mesmo sem querer. Isso sem falar que ele conseguia criar vínculos. — Eu e ele somos os únicos solteiros que sobraram — Lori contou a ela. — Todo o restante da família — ela meneou a cabeça na direção de Vicki e Sophie — está tão feliz que chega a dar nojo. — Ei, ei —Sophie provocou a irmã —, será que estamos vendo seu lado de solteirona amarga? Lori jogou água na irmã antes de dizer a Valentina: — Faz ideia do que é estar cercada por casais o tempo todo? Ainda mais quando eu me sinto cantando aquela música da Taylor Swift sem parar, sabe aquela sobre nunca, jamais voltar com o cara que estava namorando? — Ela suspirou. — E então acabar voltando, mesmo assim. Sophie franziu o cenho. — Espere aí. Achei que vocês... Lori interrompeu a irmã, perguntando a Valentina: — E você? Existe alguém especial na sua vida, por quem esteja se apaixonando louca e profundamente até o ponto de não poder viver sem ele, como quase todo Sullivan no planeta tem feito? Valentina sentiu como se tudo tivesse congelado, com o fluxo da água da fonte na parede diminuindo até poder ver cada gota caindo, uma após a outra, dentro da piscina. Minta. Ela precisava achar uma maneira de contar uma mentira convincente, que droga. No entanto, o que saiu foi: — Bem, tem um cara que está interessado, mas, como já sei que não vai dar certo, estou tentando não dar muita esperança. Ela só percebeu o que dissera depois que as palavras ecoaram de volta em seus ouvidos alguns minutos mais tarde. Graças a Deus Tatiana ganhara uma limpeza de pele, senão estaria bombardeando a irmã com vinte perguntas. Tipo quem era o cara... e por que Valentina não tinha falado sobre ninguém nas últimas semanas que estiveram em São Francisco. Isso sem falar que a definição de “tentando não dar esperanças” com certeza precisava ser mais bem trabalhada depois da noite, e da manhã, anterior que passara fazendo amor com Smith sem parar. — Ahhh. — Lori disse, ao se inclinar para a frente na água, os olhos brilhando de curiosidade. — O cara é bonitinho? Valentina não pôde evitar ficar vermelha, nem dizer a palavra “sim”, embora “bonitinho” fosse
um termo erradíssimo para descrever os olhos escuros e a beleza máscula e esculpida de Smith. Ele era mais uma beleza devastadora. — Mas... — Valentina prosseguiu. — ... você com certeza está dormindo com ele, certo? — Lori terminou a frase para ela. Os olhos de Valentina se arregalaram diante da questão objetiva de Lori, e Sophie chutou água na irmã. — Você não precisa responder — Sophie falou para Valentina. — Não precisa mesmo — Lori concordou, sorrindo para ela, enquanto tirava a água do rosto e o cabelo molhado da testa. — Porque dá para ver na sua cara que o sexo com o cara para quem você não quer dar esperanças é fantástico. Sophie estava a ponto de ensopar Lori de novo quando a gêmea ergueu a mão, numa rendição de mentirinha. — Ok, eu paro. Prometo. Mas a promessa veio tarde demais, pois uma séria batalha de água estava prestes a começar, com Vicki e Sophie pulando em cima de Lori até que Valentina teve que se juntar a ela para manter a batalha equilibrada. Depois da limpeza de pele, Tatiana encontrou-as todas ensopadas e rindo juntas como velhas amigas; então, bastou escorregar para dentro da água com elas e se juntar à diversão sem perder nenhum minuto.
CAPÍTULO DEZESSETE Na segunda-feira à tarde Smith encontrou Valentina no estacionamento do set quando ela estava prestes a entrar no carro. — Fico feliz por tê-la alcançado. Ele deslizou para dentro do banco de passageiro do Lexus antes que ela pudesse protestar. — Tatiana me disse que você estava indo para a Union Square. Você bem que podia me ajudar a escolher os presentes para a festa de Natal desta semana, se tiver um tempinho livre. Meu Deus, como ela era linda, ele pensou quando Valentina se virou para encará-lo, a expressão muito desconfiada pela desculpa que ele acabara de lhe dar. A manhã de sábado, quando estivera na cama dele, não fora há muito tempo, e Smith não conseguiu evitar tocá-la, mesmo que fosse apenas passando as mãos na ponta do rabo de cavalo. — Fico feliz em ajudá-lo a escolher os presentes para todo mundo — ela confirmou, com a voz longe de soar satisfeita —, mas você e eu já sabemos que isso aqui — ela apontou de um para outro — não é uma boa ideia. O único sinal de que ficar perto dele a afetava era o tom um pouco arfante da voz, que, na maioria das vezes, era mais controlada. Ela estava certa. Os dois juntos não era uma boa ideia. Era uma excelente ideia. Quando ele deslizou a mão do cabelo até os braços dela, passando pelo couro macio da jaqueta até chegar às mãos, Smith podia senti-la tremendo. Enroscou seus dedos nos dedos dela. — Senti sua falta nas duas últimas noites. Muita falta. Ele odiara dormir cada noite sem ela, assim como odiara não poder segurar a mão dela no set, como agora. A família Sullivan era só carinhos, e Smith não estava acostumado a esconder os próprios sentimentos, em particular quando eram tão fortes. Valentina suspirou fundo, mas, por sorte, parecia que o desejo era mais forte do que a vontade de resistir a ele. Assim, em vez de enxotá-lo para fora, ela só desvencilhou as mãos das dele, virou a chave na ignição e deu a partida no carro. Smith acomodou-se no banco de couro, as pernas longas esticadas à sua frente, curtindo estar com Valentina. O perfume dela, a maneira como a pulsação disparava em seu pescoço, o fogo que lhe saltava à pele mesmo querendo afastá-lo, e a Smith também... não havia nada nela que não o atraísse. Um pouco depois, eles olhos dela bem abertos ao circundavam a praça, agora filme ali, algumas semanas patinação.
saíam do estacionamento e entravam no coração da Union Square. Os olhar para as luzinhas de Natal nas árvores e para os prédios que tão diferentes do que estavam quando filmaram a cena de abertura do antes. No centro da praça, patinadores se amontoavam no rinque de
— É como um paraíso de inverno! Valentina contemplava um casal patinando, girando nos braços um do outro com tanto desejo que ele não teria conseguido resistir à vontade de agarrá-la e beijar aqueles lábios lindos se não fosse por um grupo de adolescentes que o viram e correram até ele. — Ah, meu Deus! É o Smith Sullivan! Os gritinhos chamaram a atenção de outras pessoas, que sacaram os telefones para tirar fotos e enviar mensagens de texto aos amigos. Ele não ficou surpreso quando Valentina saiu do campo de visão da câmera, mas, quando ele pegou uma caneta para começar a dar autógrafos, ficou grato por ela ter se oferecido para tirar fotos dos fãs, para que todos pudessem aparecer juntos. Ela já passara por isso mais do que uma vez com a irmã, é claro, e de novo Smith ficou feliz ao saber que o mundo dele não era tão estranho assim a ela. Por que não conseguia enxergar que, se alguém poderia aguentar as mazelas de namorar um astro de cinema, seria ela? Na opinião dele, esse seria um teste perfeito do quanto se sairiam bem caso esse não fosse apenas um passeio para fazer compras, e ela tivesse concordado em ser namorada dele. Dez minutos depois, quando o último grupo pareceu, enfim, estar satisfeito, Smith perguntou: — Já esteve na Gump’s? — O que é um “gump”? — Ela lhe lançou um olhar tão bonitinho que Smith não resistiu e lhe acariciou o rosto, que enrubesceu com o ar gelado e, Smith esperava, por estar com ele. — É por ali — ele afirmou com um sorrisinho que ela, por sorte, não conseguiu deixar de retornar. — Vamos ver se conseguimos sair daqui antes de o próximo grupo cair do céu. — Deveria ter repensado meus planos de vir ao centro da cidade com você — Valentina comentou, quase se desculpando, como se, de alguma forma, fosse culpa dela a fama de Smith estar atrapalhando sua ida às compras. — Apesar de — ela disse, retorcendo os lábios com ironia — eu não ter certeza de que exista algum lugar tão remoto a ponto de você não ser reconhecido. — As grandes cidades tendem a concentrar os fãs mais entusiastas. Meses atrás estive em uma cidadezinha no Kansas e ninguém nem olhou para mim. Ela fez um som de descrença. — Você é muito carinhoso com suas fãs. Espero que Tatiana consiga lidar com os dela tão bem quanto você. Ele sabia o que Valentina estava fazendo: conversando com ele sobre a fama, como se, ao reforçá-la, pudesse ajudá-la a se lembrar de manter distância dele. Um artista de rua estava equilibrando seis bastões em pé em um skate, e enquanto todos os olhares estavam sobre ele em vez de neles, Smith falou em voz baixa: — Pequenas doses. Isso é tudo o que a fama deve ser. No restante do tempo, quando não estou no set ou quando estou em casa, sou igual a todo mundo. — Está enganado — ela comentou, com uma voz tão baixa quanto, que só ele podia ouvir
enquanto o encarava, os olhos castanhos-acobreados tão cheios de desejo quanto de dor. — Você nunca poderia ser igual a todo mundo. Quando pensou ter ouvido alguém na calçada dizer seu nome, ele puxou Valentina com rapidez para dentro da loja. A gerente do andar que os cumprimentou era uma velha amiga do ensino médio, e um dos motivos pelos quais Smith adorava vir ao Gump’s era porque Judy e o restante de sua equipe faziam de tudo para tornar a compra uma experiência agradável. Ele adorou observar Valentina virar o pescoço para espiar as esculturas de vidro e as bonecas de porcelana, as cadeiras ornamentadas que dividiam o espaço com tigelas de cachorro feitas à mão e enfeites de Natal baratos. — Deve haver uma história muito boa sobre esta loja. — Dinheiro da era do ouro — ele explicou. — Os irmãos Gump tiveram sorte nos rios e resolveram transformar os lucros nisto aqui. — Nada disso deveria combinar, mas, de alguma forma, combina. Existe alguma coisa que não tenham nesta loja? — Vamos dar uma olhada. Começaram pelo andar de baixo e foram subindo. Valentina tinha um talento inato para encontrar o presente perfeito para cada um dos membros do elenco e da equipe. Smith sempre se orgulhara de conhecer as pessoas com quem trabalhava em cada filme, não importava o quanto fossem transitórios. Valentina, no entanto, conhecia os membros da equipe ainda melhor do que ele. Ela falava de finais, agia como se estivesse preparada para cada novo recomeço, completar o ciclo mais cedo ou mais tarde, mas agora Smith acabara de ver até onde ela fora capaz de chegar para evitar que aquilo acontecesse. Os pacotes embrulhados para presente atrás do balcão já formavam uma pilha quando por fim chegaram ao andar pelo qual ele tanto esperara. A música no quinto andar era mais tranquila, as vitrines, ainda mais elegantes, as cores, mais sutis para exaltar as caras lingeries à mostra. O rubor de Valentina disse tudo, mesmo antes do comentário: — Não consigo pensar em ninguém que precise de alguma coisa desta seção. Smith deixou os olhos passarem por suas maçãs do rosto avermelhadas, os lábios cheios, as pupilas bem brilhantes. — Eu consigo. Ele chegou perto o bastante para passar a ponta dos dedos sobre a mão dela, com o mais suave dos toques. — Da próxima vez que eu lhe vir de seda e renda, Valentina, quero saber que sou o único homem que um dia a arrancou de você. Ao mero toque dos dedos e das palavras sexy de Smith, uma vontade puramente sensual tomou conta de Valentina.
O prazer da noite de sexta-feira e da manhã de sábado ainda estavam frescos na pele dela, arrepios ardentes que a faziam se lembrar do quanto fora lindo cada momento que passara nos braços de Smith. Ela tinha certeza de que ele conseguia ver tudo em seu rosto, o rubor da pele, a maneira como tremia com paixão toda vez que Smith estava por perto. Nenhum homem jamais a fizera se sentir tão feminina antes, tão ciente de suas curvas, de sua maciez, de seu calor. Contudo, não era apenas o desejo que lhe enfraquecia os joelhos. Seria mais fácil se fosse, pois assim ela poderia considerar aquilo nada além de uma atração física que qualquer um que tivesse sangue correndo nas veias sentiria por Smith Sullivan. Não. Era a doce promessa nos olhos dele, a maneira como sempre a tocava com tanto carinho e a emoção em seu rosto toda vez que a olhava, que faziam seu coração bater tão descompassado e as palavras sumirem. Valentina não gostava de pensar em si mesma como alguém covarde, mesmo que seu coração estivesse batendo mais rápido do que nunca e que mal pudesse controlar a vontade de dar meia-volta e descer cinco lances de escadas. Aquela, ela jurou a si mesma, seria a única razão para deixar que Smith fizesse tudo à maneira dele naquela seção de lingerie da loja de departamentos mais esquisita e maravilhosa em que já estivera na vida. Não pela ideia secreta de que, de todas as mulheres do mundo que ele poderia ter — as supermodelos, as estrelas de cinema lindas de morrer —, ele de fato escolhera a ela. Verdade seja dita, a boa vontade em ficar ao seu lado enquanto Smith parecia pegar todos os sutiãs e calcinhas do quinto andar, cada peça mais sofisticada do que a outra, e todas do tamanho dela, talvez tivesse alguma coisa a ver com a fraqueza dela por lingerie. Uma fraqueza que só era páreo para sua necessidade de uma dose de açúcar logo de manhã... e para sua fraqueza crescente e quase desesperada pelo homem ao seu lado. Por sorte, em vez de lhe dizer mais coisas sensuais, o que poderia tê-la feito perder o autocontrole e arrastá-lo para dentro do provador, Smith encheu-a de perguntas: — Você tinha cachorro quando era criança? — Não, mas nosso gato era tão grande quanto um cachorro, e duas vezes mais assustador para quem chegasse na porta da frente. — Qual a sua matéria favorita na escola? — Física. — Adoro como você sempre me surpreende — ele disse com um sorrisinho. — Diga-me por que Física, e não Inglês, História ou Matemática. Ela deu de ombros, sentindo-se um pouco tola. — Nada com relação a trajetórias e aceleração fazia sentido até que, um dia, de repente, fez. Acho que me senti invencível depois de ser a primeira da classe, como se não houvesse nada que não pudesse descobrir se me dedicasse bastante e não desistisse nunca. Querendo muito saber mais sobre ele, Valentina aproveitou a oportunidade para perguntar:
— E você? — Eu gostava de qualquer coisa que me deixasse ficar em frente à classe e me fazer de bobo. Atuar. Dançar. Improvisar. Clube de canto. O restante do tempo eu estava no campo de futebol ou tentando fazer um home run, ou dar uma enterrada na cesta de basquete. Mas, se soubesse que uma garota como você estava no laboratório, a Física com certeza teria ido para o topo da minha lista. Estavam no meio da loja, onde qualquer pessoa poderia vê-los ou tirar uma foto, mas, apesar de toda a preocupação de Valentina no que tangia a Smith, e apesar de tudo o que aprendera na aula de Física, ela não conseguia achar uma forma de impedir a lei da gravidade. Ah, como ela queria sentir as mãos dele em sua cintura, seus lábios nos dela, e estava se inclinando mais para perto para fazer exatamente isso quando o celular dele tocou de repente — a única campainha com som desagradável que dizia a ambos que havia uma emergência no set. Com um palavrão, Smith afastou-se dela e atendeu o telefone. Ao desligar, um minuto depois, pela parte da conversa dele, ela chegou à conclusão de que o equipamento de iluminação que estava lhes dando problema desde o primeiro dia tinha esquentado demais e, com ele, levado metade da eletricidade do set. — Levo você de volta — Valentina se ofereceu de imediato. — Quero que termine de fazer suas compras — ele respondeu. — Pegarei um táxi. — Smith não levantou a mão para tocá-la, mas teria sido bem mais fácil se tivesse, em vez de falar naquela voz baixa que a arrepiava de cima a baixo. — Gostei muito de passar a tarde com você, Valentina. Tanto que isso me fará sentir sua falta ainda mais esta noite. — Não sinta minha falta, Smith. Por favor, não — ela lhe implorou, parte por odiar magoá-lo, mas parte também pelo desejo dele de estar com ela só servir para tornar ainda mais difícil ignorar seu próprio desejo. — Ficaria mais feliz sabendo que estarei esperando você vir atrás de mim? Esperando? Por ela? Ah, meu Deus, ela não sabia como reagir àquilo, em especial quando ele disse: — Devo avisá-la de que não sou muito bom em esperar. Em especial quando cada voz dentro da minha cabeça está me dizendo para tomar posse do que já é meu. Antes que ela pudesse responder, Smith já tinha ido embora, com uma saída tão bem marcada que fez seu coração sentir-se pendurado por um fio. Um fio muito, muito fino. A cabeça dela girava, e era tentador voltar e mergulhar no trabalho ou em um banho quente. No entanto, já que essa era a única chance que teria de fazer o restante das compras de Natal, obrigou-se a examinar com atenção o restante das maravilhas nos outros andares da Gump’s. Valentina estava prestes a pagar pelos presentes quando viu a embalagem ao lado da caixa registradora: um quebra-cabeça de Alcatraz.
Ela ainda não comprara o presente para dar a Smith na festa de Natal do elenco e da equipe. O quebra-cabeça não poderia ser mais perfeito. E, ao pedir para a mulher atrás do balcão o favor de embrulhá-lo também, perguntou-se de repente: será que a lei da gravidade teria algo a ver com para sempre assim como tinha a ver com a primeira onda de paixão por alguém? Ao chegar em casa um pouco mais tarde e desembrulhar os presentes que comprara, ficou surpresa de novo... dessa vez pelas camadas e camadas de lingerie de seda e renda embrulhadas com capricho em papel de seda que Smith, de alguma forma, fizera os funcionários da Gump’s colocar dentro das sacolas de compras dela. Valentina poderia ter se escondido de Smith com toda a facilidade no dia seguinte. Poderia ter ficado com Tatiana, que estava filmando as cenas que alternavam bebês trigêmeos recém-nascidos trazidos para o filme. Poderia ter se enfiado nos e-mails, poderia até mesmo ter levado seu computador para casa a fim de trabalhar em paz no espaço alugado. Mas ela não era covarde, que droga... e não podia deixar Smith colocar a vida dele em compasso de espera enquanto a esperava aparecer. Ela o encontrou na sala de projeção, sentado no escuro. Estava tão atento à tela que nem teve certeza se Smith notara sua entrada na sala, até que ele lhe estendeu a mão e ela pegou sem pensar. Em silêncio, assistiram à cena do primeiro dia de filmagem. Ela estava chocada ao pensar que ela e Smith até ali eram estranhos, pelo menos até quando ela o arrastara para o escritório pedindolhe que se afastasse da irmã dela. Ela se pegou imaginando como poderia ter existido um tempo em que não o conhecia. Ele se tornara tão importante, tão vital, em cada um de seus dias... e em uma noite tão perfeita que ela nunca, jamais se esqueceria. No entanto, as perguntas cessaram quando Valentina se perdeu de novo na cena do filme, esquecendo-se de tudo exceto o drama passando em frente a seus olhos. Quando a cena terminou e a tela ficou negra, ela teve de dizer a ele: — Está melhor do que eu me lembrava. Vocês dois ficam perfeitos juntos. — Nossos personagens ficam perfeitos juntos. Mas eles não são reais — ele lembrou a ela enquanto a puxava para mais perto na cadeira com rodinhas dentro do quarto mal-iluminado. — Você. Eu. Nós somos reais, Valentina. Quanto tempo mais vai me fazer esperar por você? Mal fazia três dias desde que eles tinham feito amor. Mesmo assim, Valentina entendia com precisão por que Smith se sentia tão frustrado com aquelas 72 horas. Cada milímetro da pele dela ansiava pelo toque dele. Quando acordou do sonho no qual estava segura e protegida nos braços dele, seu coração partiu quando procurou e percebeu que Smith não estava lá. — Foi por isso que vim encontrar você — ela disse, odiando a voz trêmula e arfante. Estava cada vez mais difícil fazerem o cérebro e os lábios não obedecerem ao desejo e à paixão que se formava como uma tempestade iminente ao redor deles.
— A lingerie é linda. Não poderia negar ou mentir a você dizendo que vou devolvê-la à loja. — Ela podia sentir a pele ficar cada vez mais vermelha, a cada palavra. — Mas o fato de não poder resistir a usar as coisas lindas que você me comprou não muda nada. Por um momento, Smith pareceu ter problemas para respirar. A tempestade se aproximava cada vez mais quando ele enfim suspirou: — Está usando agora? Ah, Deus, por que lhe contara aquilo? Estava tentando afastá-lo, não atraí-lo. Ou não?
CAPÍTULO DEZOITO Não conseguiam tirar os olhos um do outro. O elo, a atração entre eles, já era muito forte. E mais forte do que as boas intenções dos dois: a dela, de manter distância; a dele, de continuar tendo paciência. Ao final, Smith não sabia quem tomou a iniciativa, se fora ele quem enroscara as mãos em volta da cintura dela para puxá-la, ou se fora ela quem enfiou os dedos nos cabelos dele. Mas não fazia diferença quem deu o primeiro passo. Tudo o que importava era que Valentina estava nos braços dele de novo. Os lábios dela eram macios e adocicados, de alguma bala que chupara naquela manhã, o gosto ainda mais sedutor do que conseguia se lembrar. Desejava-a demais para ter pensamentos refinados, mas, graças a Deus, quando a puxou para cima do colo, Valentina já estava montando em cima dele, a saia cada vez mais para cima nas coxas maravilhosas. Ainda assim, conseguiria manter-se sob controle se não tivesse sentido, então meneando a cabeça para trás e olhado, a borda rendada de uma liga. O palavrão foi baixo, quase sofrido, quando ele, com a ponta dos dedos, seguiu o caminho da renda sobre a coxa dela. A pele estava tão macia, tão quente, e ela soltava gemidinhos de prazer por ter as mãos dele sobre seu corpo de novo. Com um puxão rápido, o restante da paciência desapareceu, e Smith enrolou a saia em volta da cintura dela, encaixando os quadris em suas mãos. Que droga, ela não só estava usando a lingerie que ele lhe comprara como vestia a meia-fina e a calcinha mais transparente e sexy que tinha lhe dado. Podia sentir o quanto ela estava molhada e pronta para ele quando gemeu baixinho e começou a cavalgar em cima de sua mão. — Quero ver mais. — Mordiscou a parte de baixo do pescoço dela enquanto lhe implorava para tirá-lo daquele sofrimento. — Por favor, Valentina, eu preciso ver mais. Ela o encarou com aqueles olhos grandes e maravilhosos. — Isto é loucura — murmurou. — Loucura absoluta — ela repetiu —, mas não tem jeito, não consigo parar de desejar você. Com dedos trêmulos, conforme começou a desabotoar a blusa, Smith não só se refestelou com a revelação, milímetro por milímetro, de sua pele clara como se deleitou por Valentina ter admitido o quanto o desejava, apesar de todas as razões para não fazê-lo. Sabia o quanto ela era cuidadosa com relação a atores, aos holofotes da fama, e, mesmo assim, lá estava ela, mais uma vez. De alguma forma, precisava fazê-la perceber que não podia viver sem ele, e que ficar juntos valeria a pena, apesar de todas as irritações e dos contratempos que viessem com a vida dele. Smith queria tanto sentir seu gosto, ouvir gemidos enquanto passava por aquele primeiro pico de prazer em seus braços, mas, de alguma maneira, conseguiu se controlar até que a blusa dela estivesse aberta na altura da cintura.
— Valentina. Com uma das mãos deslizando para dentro do calor escorregadio entre as coxas dela, Smith ergueu a outra mão para encobrir seus seios, tão maravilhosamente dispostos em um sutiã que mal cobria os mamilos. Ele se inclinou à frente para abocanhar um dos bicos deliciosos, apalpando um seio enquanto a língua escorregava por baixo da renda para lamber a carne, cheia de tesão. Em vez de saciá-lo, porém, o gosto dela o deixou ainda mais faminto e desesperado a ponto de não conseguir deixar a mão parada. Smith não conseguia fazer os dedos pararem de explorar aquele tesão, deslizando cada vez mais forte e rápido para dentro dela. E rápido assim, com os dedos dele dentro dela, a boca sobre ela, Valentina gozou, os braços enroscados com força ao redor dos seus ombros, o pescoço e as costas para trás, arqueando os seios para dentro dos lábios dele, os quadris subindo e descendo sobre Smith. Smith queria degustá-la, demorar horas lhe dando prazer, vez após outra apreciar cada milímetro da beleza e da doçura dela. Mas os três dias — e noites — que teve de esperar para possuí-la de novo foram longos demais, e, como lhe dissera na loja no dia anterior, ele não tinha muita prática em esperar. Mantendo a cabeça para cima apenas o suficiente para pegar uma camisinha do bolso de trás que estava torcendo para usar logo, ele desceu o zíper da calça e colocou-a; os lábios de Valentina encontraram os dele quando Smith colocou as mãos de volta na cintura dela e posicionou-a sobre o colo. Menos que um segundo depois, ela se encaixava para recebê-lo dentro de si. As bocas colidiram com tanta violência quanto o restante de seus corpos, o vaivém do corpo dele contra e dentro dela, refletindo o modo como as línguas se enroscavam, deslizando juntas. Então, quando ela assumiu o controle do ritmo deles, as mãos agarrando-lhe os ombros com força, as coxas fortes e rijas a cavalgar para cima e para baixo, vez após outra, Smith soltou-lhe a cintura e colocou as mãos sobre os seios, a renda longe de ser tão macia quanto a pele dela. Com um grunhido, arrancou o tecido para que, em vez dele, sua boca e suas mãos pudessem encobri-la. No momento exato em que sua língua, seus dentes, encontraram os mamilos, ela arqueou para trás e para baixo, levando-o tão fundo que, mesmo se começasse a gozar de novo em seus braços, ele chegou ao prazer junto com ela e se perdeu por completo ali. Ao caminhar de volta para buscar suas coisas no escritório, as pernas de Valentina tremiam. Ainda tremiam ao entrar no carro e ir para casa. Uma coisa era dizer que não queria ficar com Smith. Outra bem diferente era dizer e, então, na mesma hora, derreter-se nos braços dele e implorar pelos seus beijos. E outra coisa, mais diferente ainda, era entregar-se a ele como nunca se entregara a outro homem antes. Claro, o set estava praticamente vazio quando fora procurar por ele na sala de projeção, mas ela nem pensou em trancar a porta. Qualquer pessoa poderia tê-los surpreendido e vê-la montada em
cima de Smith na cadeira, com a saia levantada até a cintura, a blusa desabotoada e aberta para que nada pudesse ficar no caminho dos lábios, das mãos ou de seu... Ah — pensou, ao estacionar o carro na garagem da casa alugada e apoiar a cabeça no volante do carro —, o que estou fazendo? A noite de sexta-feira e, depois, a manhã do sábado eram para ter sido um presente único em sua vida. Mesmo hoje, antes de procurá-lo, ela justificara a si mesma que seria a última vez. Todos esses anos em que achou que os atores não eram confiáveis. E, agora, era ela quem dizia uma coisa e fazia outra. Os dias se passaram em um misto de reuniões e cenas importantes sendo filmadas, do trabalho com Tatiana em suas linhas de produtos... e do sexo secreto, frenético e impossível de ser saciado com Smith. De alguma forma, fazer amor com Smith tornara-se algo inevitável e mais do que necessário, parte de cada dia. Toda vez que o via, Valentina ficava cada vez mais tentada a ir contra aquilo em que acreditava, que sabia ser verdade sobre os homens daquele ramo de negócio. Pela primeira vez, questionou se a razão não era o fato de as mulheres como sua mãe não serem fracas demais, mas sim o de ser impossível resistir ao poder de atração desses homens. Cada vez que as mãos, os lábios de Smith a tocavam, todas as razões muito bem refletidas, cada uma de suas ponderações cautelosas, cada último voto e cada promessa feita a si mesma, desapareciam como se nunca tivessem existido. Quando Tatiana pediu a Valentina uma opinião sobre o figurino de algumas cenas que filmaria mais tarde com o bebê, não deveria ter se surpreendido ao encontrar Smith lá também. No entanto, quando Tatiana e Kayla, a diretora de figurino, precisaram de 15 minutos para verificar a peça de tecido no depósito de Kayla, Valentina se surpreendeu ao ver o quanto foi natural para Smith não apenas trancar a porta antes de puxá-la para seus braços, mas também por enroscar as pernas e os braços em volta dele, seus lábios nos dele enquanto Smith os conduzia a outro orgasmo maravilhoso. No dia seguinte, Valentina chegou mais cedo para recompensar o trabalho que fora displicente demais para terminar após uma “rapidinha” com Smith; pensou que fosse a única pessoa no set, mas encontrou-o na cozinha, fazendo café. Quando se deu conta, a porta estava trancada de novo, as cortinas abaixadas, e eles faziam amor recostados na bancada, as mãos dela abertas sobre a fórmica, empurrando os quadris contra o dele, para enfiá-lo mais fundo, enquanto Smith lhe dava tudo, absolutamente tudo que ela desejava, por mais que não conseguisse evitar. Poderia ter dito não, mas conhecer o toque e os beijos de Smith a transformara em uma escrava obediente, desejando-o toda vez que estava por perto. Não conversaram em nenhuma das vezes, nem antes nem depois. Talvez porque ele soubesse que ela não estava disposta a ouvir o que ele tinha a dizer... e ela tivesse medo do que ele pudesse lhe falar. Contudo, Valentina sabia que não poderiam continuar assim por muito mais tempo, usando apenas a linguagem de seus corpos. Logo, logo, o que estava acontecendo entre eles teria que ser discutido.
E terminado. A sexta-feira amanheceu escura e nublada, um reflexo perfeito da maneira como ela estava por dentro, depois de uma longa noite dizendo a si mesma para colocar um fim naquela loucura. Não podia mais continuar com os altos daqueles momentos roubados nos braços de Smith e, em seguida, com os baixos de vê-lo no set uma hora mais tarde e ter de agir como se fossem estranhos. Sim, sabia que ele não queria que as coisas fossem assim, que teria contado à equipe e ao elenco, com o maior prazer, sobre o início do relacionamento deles; no entanto, também sabia que qualquer sofrimento que estivesse passando agora seria muito menor do que a dor que sentiria no futuro se fosse tola o bastante para considerar-se a namorada dele, em vez de o caso do seu último filme. Valentina tinha visto muitas mulheres, além da própria mãe, comerem o pão que o diabo amassou durante os últimos dez anos, e sempre jurara nunca se colocar naquela situação. E que Deus a livrasse de alguém com uma câmera os pegar juntos. Não conseguia imaginar se vendo na capa de uma revista. Dessa forma, ao ir em direção ao set com os presentes para a festa de Natal, ela lembrou a si mesma, com firmeza: não importava o que acontecesse, nunca mais faria amor com Smith. Smith era conhecido em Hollywood por trabalhar duro, manter o foco e sempre dar o melhor de si. No entanto, nunca tinha trabalhado tanto como agora, e nunca soubera que tinha tanto para dar. Era fácil deixar que todos pensassem que era por estar apostando todas as fichas no sucesso de Gravity. Só ele sabia a verdade. Dez minutos nos braços de Valentina lhe davam combustível para dez horas, e, quando enfim voltava a si, sentia tanto a falta dela — e a desejava tanto de novo — que não fazia sentido tentar relaxar ou descansar. Em vez disso, trabalhava durante todas aquelas horas de frustração e desejo, apenas dormindo quando não conseguia por um tempo extinguir do organismo o cheiro, a sensação dela em seus lábios e em suas mãos. Quando Valentina chegou, a maioria do elenco e da equipe já estava na sala decorada com ornamentos de Natal no grande depósito que haviam alugado em São Francisco para filmar as cenas internas, bebendo e comendo. Mesmo estando no meio de uma discussão acalorada com dois operadores de câmera sobre a perspectiva dos Outlaws de São Francisco para outro Super Bowl naquele ano, Smith sentiu a presença dela na sala lotada. Pedindo licença, caminhou pela sala em direção a ela: — Estou feliz por estar aqui. A pele linda de Valentina já estava enrubescendo quando Tatiana chegou a seu lado, passando a mão em volta de sua cintura. — Fiquei preocupada, achando que teria de sequestrar seu computador para conseguir lhe tirar do escritório para a festa. Você tem trabalhado tanto nos últimos tempos... Vou começar a imaginar que foi conquistada secretamente por um ator. Smith podia adivinhar com certeza como Valentina estava processando o comentário inocente da irmã, porque ficou muito vermelha antes de tentar rir e comentar:
— Imagine tentar esconder um segredo como esse de você. De propósito, não olhou na direção de Smith ao fazer o comentário. Ele nunca fora o segredo de ninguém antes. As mulheres sempre tiveram orgulho de possuí-lo praticamente desde que se conhecia por gente. Ele não gostava de ser o segredo de Valentina; de fato, desgostava com tanta veemência que, se não fosse cuidadoso, perderia por completo o controle da pouca paciência que ainda lhe restava. Os momentos de satisfação foram poucos na semana anterior, mas ele estava se esforçando ao máximo para continuar acreditando que estavam chegando a algum lugar... e que logo chegaria o dia em que Valentina não seria capaz de negar a ligação entre eles. Assim, em vez de puxá-la para si e beijá-la como louco na frente de toda a equipe, esforçou-se para se virar e se afastar para brincar de Papai Noel. Deixou que o riso, a alegria, a felicidade das pessoas ao redor o preenchessem pelas horas seguintes. Era uma das melhores partes de trabalhar em um filme, a maneira como um grupo de estranhos se unia e virava uma família ao longo de semanas e meses. Quando chamaram os táxis para levar os colegas para casa, as pessoas estavam meio bêbadas. Sem dúvida todos começariam a trabalhar mais tarde no dia seguinte. Mesmo enquanto ria com o elenco e elogiava a equipe pelo belo trabalho que estavam fazendo, ele queria Valentina com tanta voracidade que até ele mesmo se surpreendeu. Nenhuma mulher jamais fizera aquilo: deixá-lo enlouquecido, parti-lo ao meio e testar sua paciência até o limite. As pessoas ao redor estavam todas dançando quando Valentina veio na direção dele com uma caixa embrulhada nas mãos. — Tenho um presente para você. Ainda que tudo que quisesse fosse ela, Smith obrigou-se a aceitar o presente. Presentes nunca o deixaram irritado antes, mas ele gostou do barulho desagradável do papel sendo despedaçado em suas mãos. Ao ver o quebra-cabeça, pensou, ou melhor, teve certeza do que ela estava tentando lhe dizer. Tudo mudara para eles em Alcatraz. — Adorei o presente, Valentina. Uma frase. Tudo o que ele precisava era mudar a frase. Eu te amo. Smith não ficou surpreso quando ela deixou que as pessoas dançando a puxassem, engolindo-a, fazendo-a desaparecer antes que ele pudesse dizer qualquer coisa. Mas sabia, sem sombra de dúvida, que ela tinha ouvido o que ele não disse, e que não esperaria muito mais para murmurar aquelas três pequenas palavras contra os lábios de Valentina.
CAPÍTULO DEZENOVE — Valentina! Ela acabara de se sentar no set para esperar a filmagem começar quando Lori, a irmã de Smith, chamou-a pelo nome e veio se sentar ao seu lado. — Bom ver você de novo — Valentina disse, com sinceridade. Tinha passado um dia tão bom com a irmã de Smith uma semana antes. — Também estou feliz — Lori respondeu, os olhos zombeteiros brilhando. — Estou morrendo de curiosidade para saber as novidades sobre o cara a quem não queria dar esperanças com quem está transando. Ele continua se esforçando para ganhar seu coração? Ou já desistiu? Antes que Valentina pudesse responder — ou cobrir a boca de Lori —, Smith estava, parado na frente delas, parecendo ter ouvido cada palavra que a irmã dissera. — Ei, Mazinha, fico feliz por ter dado uma passada por aqui — ele disse, enquanto dava um abraço em Lori. Mas manteve os olhos escuros em Valentina o tempo todo, recusando-se a deixá-la afastar o olhar. — Eu também — Lori concordou, sorrindo de alegria para o irmão que era evidente adorar. Valentina quase ficou cega diante da beleza compartilhada pelos dois irmãos. Se não fosse pela ternura nos olhos e pelos sorrisos que se espalhavam com naturalidade nos lábios, os Sullivans poderiam ser um clã ameaçador, com certeza. Tatiana chegou para dizer oi a Lori, e o foco de Smith recaiu ainda mais sobre Valentina. Ela tentou lhe dar um olhar que dizia Explicarei o que Lori acabou de dizer, ok? Só não faça ou diga qualquer coisa de que se arrependerá mais tarde. Por favor, podemos deixar isso para quando estivermos sozinhos? No entanto, ela conseguia ver a frustração nos olhos de Smith, a mesma tristeza que havia na primeira noite deles juntos, quando a prendera na cama pela manhã e se recusou a deixá-la partir, o mesmo esgotamento da paciência que sentira na festa de Natal quando lhe dera o quebra-cabeça de Alcatraz. Meu Deus, só a lembrança daquele ato de amor que compartilharam já deixava suas entranhas retorcendo de calor. Poderia jurar cem vezes que não estava fugindo para que ele a perseguisse, mas o corpo dela toda vez refutava aquela mentira. — Valentina. — A voz baixa dele lhe arranhou os nervos à flor da pele. — Aqueles arquivos que pedi estão no meu escritório. — Ótimo — ela conseguiu dizer com uma voz que esperava ter soado tranquila. — Vou pegá-los para você... — Agora.
Não havia arquivo nenhum. E mesmo se houvesse ela com certeza poderia ter esperado para pegá-los até ele e Tatiana terminarem de gravar a próxima cena. Mas algo lhe dizia que ou seguia Smith até o escritório, ou arriscaria que, mais tarde, ele fizesse algo que deixaria todos nos set de orelha em pé e queixo caído. Dava para ver que ele não estava a fim de esperar muito pela decisão dela, então disse às irmãs que voltariam logo e seguiram para o escritório de Smith. Podia sentir os olhos dele sobre ela, a leve cadência dos quadris mais evidentes sob o calor daquele olhar, cada parte sensível de seu corpo já reagindo a ele sem nem mesmo ser tocada. Ela mal pisara no escritório quando ouviu a porta ser fechada, e trancada, atrás deles. — Smith. — Ela se virou devagar para encará-lo. — Lori nunca teria dito aquilo se soubesse que você era o cara com quem... Ele esperou, uma sobrancelha erguida... e o estômago dela revirou ao admitir que, não importava o que dissesse, só iria magoá-lo ainda mais. Não poderia dizer que estavam apenas dormindo juntos, pois não podia negar que aquilo que compartilharam fora muito mais do que isso. Embora estivesse tentando ao máximo se convencer do contrário. — Não sei qual o nome disso que estamos fazendo — ela continuou, baixinho. — Na verdade, tentei encontrá-lo hoje de manhã no seu escritório para que pudéssemos conversar. — Deus, ela odiava admitir, mas ele precisava saber. — Não sei como lidar com a velocidade com que as coisas estão acontecendo entre nós. Mesmo que todo dia eu diga a mim mesma que é a última vez, as coisas ficam cada vez... — Tire a roupa. A palavra piores, ou era melhores, foi interrompida na ponta da língua pela ordem brusca dele. Dia após dia ela o vira dominando o elenco e a equipe do set. Não importava o quanto fosse afável, Smith sempre tinha total controle sobre tudo o que estava à sua volta. Com ela, no entanto, ele sempre fora gentil. Até mesmo naquela manhã na cama, quando tinha sido cuidadoso o bastante para não penetrá-la com muita força nem muito fundo. Até agora. — Tire a roupa. Valentina sabia que deveria estar irritada com ele por lhe dar aquela ordem. Sem falar na frustração por Smith sempre encontrar formas de evitar que tomasse as providências para terminar o caso entre os dois. Ela deveria estar sentindo qualquer outra coisa, exceto acolhimento e liberdade — e avidez, com desespero — apenas pelo tom de posse na voz dele. E pelo fato de ele ter certeza de que ela não só obedeceria a seu comando sensual, mas também adoraria cada segundo. De fato, ele tinha tanta certeza que não a esperou começar a tirar a roupa antes de começar a despir-se. Infelizmente Smith estava certo sobre ela, porque o desejo inevitável crescia mais e mais
ao observá-lo abaixar os ombros para tirar a jaqueta e, em seguida, desabotoar a camisa, um botão de cada vez. Ela mal podia engolir quando Smith alcançou o cinto, mas, de alguma forma, conseguiu dizer, com um lamento na voz: — Logo vão estar procurando você no set. — Então vamos ter que fazer isso rapidinho, não é? Os sapatos e as meias dele desapareceram em um minuto, depois a calça, até estar vestindo apenas a cueca boxer, que não ajudava em nada a esconder sua ereção. — Nossas irmãs vão se perguntar por que nossas roupas estão amassadas — ele sussurrou, ao ir em direção a ela. Smith tinha razão. Se não iria ter forças para sair do escritório dele, precisava tirar o terninho, e depressa. Com o desejo mantendo as rédeas tão curtas a ponto de nem mesmo cavalos selvagens serem capazes de arrancá-la dali, Valentina tocou na jaqueta com os dedos trêmulos. Mas Smith já estava bem perto, escorregando os dedos em seus cabelos e beijando-a. As mãos saíram da jaqueta para os ombros largos dele. No momento exato em que deveria estar dizendo não e afastando-o, tudo o que conseguia fazer era dizer sim, vez após outra, em sua cabeça, enquanto o puxava para mais perto. E então as mãos de Smith lhe arrancaram a jaqueta e começaram a desabotoar a blusa e abrir o zíper da saia com a mesma destreza e eficiência com que tirara a própria roupa. Quando parou na frente dele sem nada além dos sapatos de saltos e outro conjunto de lingerie que ele havia lhe dado, a respiração de Smith saiu do peito em um golpe quente. — Gostaria de poder passar as próximas dez horas apreciando você — ele sussurrou ao colocar os lábios e os dentes sobre o tendão entre o pescoço e o ombro. — Mas, já que só temos dez minutos... Antes que pudesse se dar conta da intenção dele, Smith colocou-a sobre a mesa do escritório em um piscar de olhos, e os quadris dela fizeram com que uma pilha de papéis e um grampeador se espalhassem pelo chão. — Nunca desejei alguém tanto quanto lhe desejo. Está me fazendo passar dos limites, quebrar as próprias regras para ter você. Preciso de você, Valentina, com tanto desespero que isso está acabando comigo. Quando estava assim, com Smith lhe acariciando a pele e queimando-a com seu calor, quando tudo o que sentia era o quanto ele a desejava, Valentina não conseguia esconder nada dele. Além disso, estava tão perturbada quanto ele, pois o que a levava a ficar com Smith sempre e sempre era mais do que sexo. Era a vontade de estar perto. De ser acolhida. De ter intimidade.
De ser desejada. Eram todas as coisas que seus pais compartilharam, e que destruíram sua mãe depois da morte do pai. Assim como era impossível se afastar do desejo dele, também não havia como negar o próprio desejo. — Também preciso de você. Diante daquela admissão, Smith retomou-lhe os lábios com um grunhido de possessão enquanto entrava no meio das pernas dela. Afastou-se um pouco para lhe pedir que levantasse os quadris e depois tirou a calcinha. Um segundo depois, a cueca desapareceu, e ele pegou uma camisinha para colocar sobre o membro grosso. A última coisa que deveriam estar fazendo era sexo em cima da mesa do escritório de Smith enquanto a irmã dele, e a dela, e toda a equipe esperavam por ele para filmar uma cena importante. Mas, ao pegar seus tornozelos e fechar suas pernas em volta dos quadris, ao enroscar os braços em volta do pescoço dele e segurar com força, ao entrar nela com um grunhido desesperado, não havia nada no mundo que Valentina quisesse, ou desejasse, mais. Eles podiam até ter apenas dez minutos, mas que fração de hora gloriosa fora aquela quando Smith a possuíra, corpo e alma, os quadris dele mexendo em sincronia com os dela, os lábios chupando, mordiscando a parte de cima dos seios. Não importa quantas vezes fizessem amor, ela nunca se cansaria da quentura de Smith, de sua paixão, da maneira como abraçava por inteiro não só a vida, mas a ela também — as bordas mais ásperas, as curvas macias e tudo no meio —, levando-a ao céu com outro pico de prazer, antes de, segundos depois, acompanhá-la com mais uma estocada forte que fez a mesa escorregar sobre o chão com um rangido alto. Valentina tentava recuperar o fôlego enquanto se perguntava como tudo tinha acontecido tão rápido desde a pergunta inocente de sua irmã — desde Smith levando-a a seu covil, a ser absoluta e maravilhosamente devorada no escritório dele —, quando ele pressionou-lhe outro beijo nos lábios e se afastou para vestir a roupa. Como, Valentina se perguntou, incapaz de fazer outra coisa exceto admirar aquele rosto e aquele corpo lindo com um desejo inevitável, ele conseguia fazer amor cheio de paixão com ela e segundos depois retornar para o personagem? Essa era uma das razões para ela nunca querer namorar um ator. Não conseguia suportar a ideia de ser apenas outra cena que estivesse interpretando o melhor que pudesse. Quando olhou dentro dos olhos dela, Valentina percebeu com uma clareza surpreendente que, apesar de estar usando as roupas do personagem de novo, Smith não estava fingindo. Em vez do bilionário do filme a encarando, em vez do astro do cinema Smith Sullivan, ou até mesmo do irmão de Lori, o homem que estava na sua frente era cem por cento seu amante. Só dela. Dar-se conta de que como ele se entregara deixou-a abalada, mesmo quando ele disse:
— Já que tenho certeza de que minha irmã não desistirá até se dar por satisfeita, pode dizer que o cara está fazendo de tudo para ganhar seu coração. Com mais um beijo possessivo, ele a deixou seminua na beirada de sua mesa toda torta, ainda tremendo não só com luxúria, mas também com um doce sentimento que não conseguia mais ignorar, por mais que tentasse. Ao final, o que mais a surpreendera — muito mais do que o sexo ardente e alucinante que fizeram — era que dera a Smith todos os motivos para desistir dela. Contudo, não desistiu. O coração de Valentina ainda estava disparado, as pernas ainda tremendo ao colocar as roupas de volta e fazer o que fosse necessário para consertar a maquiagem. Sem uma escova e um secador à mão, o cabelo dela não chegava nem perto de estar arrumado como antes, querendo dizer que, ao voltar para o set no momento em que a filmagem estava para começar, poderia jurar que Lori olharia para ela com uma expressão inquisidora no rosto. Valentina esforçou-se para focar cada gota de sua concentração na cena que começava a discorrer em frente dela. Por sorte, não demorou muito para estar envolvida por completo na história. Jo estava sentada amamentando a bebezinha, Lea, em um luxuoso berçário. As paredes eram de um amarelo luminoso, os quadros nas paredes eram suaves, sem exageros. Há seis meses ela teria ficado furiosa com aquele homem por ter assumido o controle de sua vida dessa forma, mas o orgulho, como logo aprendera, tinha pouco espaço na vida de uma mãe. Graham deu a ela e a Lea um presente que ela nunca teria condições de lhes oferecer por conta própria, como era provável. Ele as tirara de um apartamento caindo aos pedaços, em uma área ruim da cidade, e as colocara em um lindo apartamento em frente a um parque onde crianças felizes brincavam todas as manhãs e todas as tardes. Se Jo tivesse de trabalhar o resto da vida para pagá-lo de volta, faria. Com toda a boa vontade. E sem ressentimentos. Bem, ela pensou ao ouvir a campainha tocar e ajeitar a blusa, sem ressentimentos demais pela forma como Graham parecia sempre estar lá para ela, antecipando suas necessidades até mesmo antes dela própria. Toda noite ele trazia o jantar mais delicioso e nutritivo que qualquer mãe de primeira viagem poderia comer, e ela estava cansada demais (e agradecida demais por não precisar usar a pouca energia que lhe sobrava) para abrir mão dele ou daquela comida maravilhosa. Também era educada o bastante para não dispensá-lo depois de ter sido tão gentil e dedicar tanto tempo da sua agenda lotada a ela e ao bebê. E, na verdade, não era o apartamento ou a comida que a faziam se sentir mal. Não. Era algo mais traiçoeiro, muito mais perigoso em potencial, que a fazia se deitar na cama à noite virando de um lado para o outro, tentando dormir um pouquinho quando a filha enfim pegava no sono. Teria sido mais fácil, e muito mais seguro, odiá-lo. Até mesmo ter medo dele. Porém tudo mudara com o nascimento da filha. E ela não podia mais negar que, durante o estranho meio-
tempo em que tentara afastá-lo de sua vida, quando ele passou a ir ao café todos os dias, até as refeições juntos toda noite no apartamento dele, os dois tinham se tornado amigos. E Jo nunca se esqueceria das horas em que dera à luz Lea. Ele permanecera ao lado dela a cada segundo, não soltara sua mão, e fora puro instinto ter lhe dado o recém-nascido para segurar. A ternura de Graham era tão evidente. Tão doce. Tão pura. E tudo que acreditara ser verdadeiro sobre ele, tudo que tentara dizer a si mesma que era real, se mostrara o contrário, chegando ao ponto de Jo não ter certeza de mais nada. Nada, exceto o quanto se sentia segura com ele, e que ele era a única pessoa no mundo a quem confiaria a vida de sua filha. Durante as últimas semanas, Jo nem se dera o trabalho de negar que aguardava as visitas dele, em especial porque Graham não bisbilhotava o passado dela, nem ela o dele. Tudo continuaria bem — a comida, a amizade, a adoração que ele tinha pelo bebê —, se não fosse por um problema. Um problema ainda mais assustador do que se tornarem amigos de verdade. Jo sentia-se atraída por ele. Mais, a cada dia que passava. E ela não era jovem demais ou cega demais para não ver que ele também se sentia atraído por ela. Nenhum dos dois era o tipo do outro. No entanto, não importava que ela tivesse uma preferência infeliz pelos roqueiros, ou que ela fosse o oposto extremo das louras amazonas que já vira em sua companhia — quando não resistiu e foi até o computador descobrir coisas sobre ele. Abriu a porta da frente, e o rosto de Graham se iluminou ao ver que o bebê estava acordado. Não era só ele que estava feliz; Lea esticou os bracinhos para ele com um gorgulho de alegria. Mas ele nunca pegaria o bebê sem a permissão de Jo, e, depois de ter colocado a comida sobre a bancada no meio da cozinha, uma sensação agridoce tomou conta dela quando deixou todos felizes ao colocar seu pacotinho macio nos braços dele. O coração de Jo amolecia cada vez mais à medida que ouvia os barulhinhos bobos que o homem poderoso de terno caro fazia para o bebê enquanto ela colocava a comida sobre a pequena mesa de jantar. Quando abriu uma garrafa de cerveja para ele e serviu-se de um copo de leite, Lea já tinha caído no sono nos braços de Graham. Jo esticou os braços para pegar o bebê, mas Graham disse: — Coma enquanto ainda está quente. Eu a coloco na cama. Ela sabia que deveria colocar barreiras mais definidas entre ele e a filha, contudo não tinha como justificá-las, já que era óbvia a adoração que tinha pela menina. Jo nunca tivera um homem como aquele em sua vida, alguém que a amasse de forma incondicional. E não podia privar Lea daquilo. Durante o jantar, perguntou-lhe sobre seu dia, e ele a fez rir com as histórias das pessoas do escritório, os investidores com quem lidava. Ele perguntou sobre o dia dela, e Jo lhe contou que tinha ido ao parque para Lea se sentar e ir de um lado para o outro na areia, e observar as crianças maiores, com seus olhinhos cheios de curiosidade. Ele fez perguntas sobre as aulas de
horticultura que ela estava fazendo on-line, e, mesmo conseguindo que ela se abrisse mais com ele, pelo que parecia um acordo tácito, nenhum dos dois jamais falava sobre família, mães, pais, irmãos ou irmãs. Ao final do jantar, os olhos de Jo estavam quase fechando; mesmo insistindo em ajudar Graham a limpar a mesa, quando ele lhe deu a Enciclopédia das Flores, ela adorou mergulhar de volta no sofá para devorar as fotos e as descrições das flores, e sonhar com a floricultura que um dia abriria. Até que, enfim, a exaustão tomou conta dela. O amor estava escancarado no rosto de Graham quando olhou para Jo, que pegara no sono no sofá, as pernas enfiadas embaixo do corpo pequeno e curvilíneo, o lindo rosto repousando sobre as mãos. Quando o bebê começou a chorar, ele logo foi até a geladeira, tirou uma mamadeira com leite materno e colocou água para esquentar no fogão antes de seguir em direção ao quarto, em direção à garotinha por quem ele era louco. Fazendo “shhh” sobre a pele macia do bebê e acariciando o chumaço de cabelo escuro que combinava lindamente com o da mãe, exceto pelas mechas cor-de-rosa, Graham foi com ela até a cozinha no momento em que a temperatura da mamadeira chegava ao ponto certo. Enquanto sugava a mamadeira com toda a vontade, a garotinha o encarava com grandes olhos azuis. Ele disse a Lea o que tinha medo de dizer à mãe dela. — Eu amo você. — A mãozinha do bebê se ergueu e agarrou-se em um dos dedos dele, fazendo-o aconchegá-la ainda mais perto e sussurrando: — Nunca deixarei que ninguém a machuque. Nunca. Quando o bebê terminou de mamar, ele embalou-a de um jeito carinhoso nos braços, e a canção de ninar que cantou com doçura a fez pegar no sono de novo. Jo tinha acordado quando Graham trouxera a filha de volta para a sala de estar, mas fora tão bom, ao menos uma vez, ficar naquele estado de dormência tranquilo e quieto enquanto ele alimentava Lea. Ela ficou observando os dois por debaixo dos cílios, e, mesmo sabendo o quanto ele amava sua garotinha, ouvir as palavras de amor carinhosas saírem dos lábios dele, depois a canção de ninar, fora um choque. Mais chocante ainda era o quanto ela mesma queria ouvir aquelas palavras. No fundo do coração, sabia que se apaixonara por ele muito antes de odiá-lo. Esta noite, ao vê-lo entregar o coração para a única pessoa que significava tudo para ela, Jo não só se sentira apaixonada demais como também percebera que nunca tivera a menor chance de proteger seu coração contra ele. Pela primeira vez, em vez de tentar esconder seus sentimentos de novo, ela resolveu que já passara da hora de agir. Graham a ajudara de muitas maneiras especiais com a gravidez e o bebê. Agora ela faria o que fosse necessário para ajudá-lo. Ela tinha cicatrizes suficientes para reconhecer o quanto as de Graham eram profundas. Não só nunca se esquecera da expressão dele ao falar da irmã daquela vez como descobrira sobre sua perda dolorosa quando buscara o nome dele na internet.
A irmã morrera havia dois anos. As histórias que lera na internet diziam ter sido uma morte acidental, mas existia mais do que um sofrimento constante nos olhos de Graham. Jo sentou-se e, aos poucos, foi chegando mais perto dele. Ele fez um movimento para lhe passar o bebê adormecido, mas ela balançou a cabeça e o tranquilizou, colocando a mão sobre a dele. Os olhos dele se escureceram quando ela chegou mais perto, e mais perto ainda, até os lábios dela estarem a apenas um suspiro dos dele. A noite silenciosa os embalou, protegendo as três almas, quando os lábios de Jo por fim tocaram os de Graham em um beijo suave que era uma declaração de amor tanto quanto quaisquer palavras.
CAPÍTULO VINTE Valentina sempre levava alguns minutos para voltar ao mundo real depois que uma cena chegava ao fim, mas, à medida que as emoções se aprofundavam a cada cena que Smith e Tatiana gravavam, voltar à tona se tornava cada vez mais difícil, ainda mais agora, que tinha enviado seu roteiro a George e não tinha outro lugar onde desaguar suas emoções. Nos últimos dias, não conseguia tirar da cabeça a história de amor proibida sobre a qual ela e Smith tinham conversado em Alcatraz e sabia que, logo, logo, colocaria as palavras no papel. Por sorte, não era a única que precisava respirar fundo e livrar-se do mundo da ficção, pois a irmã tagarela de Smith parecia tão encantada quanto ela com o que se desenrolou no set. — Ah, meu Deus! — Lori exclamou. — Acho que meu coração acabou de se quebrar em milhões de pedacinhos e grudar de volta ao mesmo tempo. — Tem sido assim desde o primeiro dia de filmagem — Valentina lhe contou. Lori virou-se para ela. — Tatiana está preparada para ser uma grande estrela? Porque, depois disso, ela será. — Espero que sim. Tudo que quero é que ela seja feliz. Lori assentiu. — Sinto a mesma coisa com relação a Smith. Muitas coisas às quais os homens comuns não dão valor, como comprar uma xícara de café ou ter um primeiro encontro, são bem difíceis para Smith fazer sem as pessoas enlouquecerem quando percebem quem ele é. Mas nunca o vi reclamando de nada, ainda que lhe dê nos nervos de vez em quando. Todo mundo acha que ser um astro é puro glamour, mas essa é só uma pequena parte. Às vezes, quando olho para a vida de Smith, tudo o que vejo são muitas horas de trabalho, trabalho duríssimo e uma perda de privacidade horrível. Valentina concordava com tudo. Alguns atores estavam naquela vida por causa da fama. Outros continuavam a dar o melhor de si, apesar dos pesares. Smith com certeza pertencia ao último grupo, já que nunca o vira fazer qualquer coisa que lhe garantisse o nome na mídia. E, nas últimas semanas que passaram juntos, Valentina sabia que a irmã dele estava certa — Smith estava fazendo um excelente trabalho ao lidar com uma situação quase sempre impossível. A culpa lhe queimou por dentro diante da maneira como a irmã colocou o ato de ser uma pessoa normal uma coisa ainda mais difícil para ele. Ele quis levá-la para sair; ela lhe disse não na mesma hora, sem lhe dar a menor chance. Ele quis que ela passasse mais de uma noite com ele depois de Alcatraz; ela teve muito medo de que sua irmã, e depois todo mundo no set, descobrisse. Ele tentou demonstrar de várias maneiras diferentes que se importava com ela; ela tentou fingir várias vezes que não estava nem aí, quando a verdade era que se importava cada vez mais, a cada segundo. Claro, tinha seus motivos, e sabia que, até certo ponto, ele os compreendia, mas isso não tornava a situação mais justa para nenhum dos dois. Lori manteve o olhar em Valentina, a expressão dela atipicamente séria.
— Smith tem sido o melhor irmão mais velho do mundo, e ama loucamente a mim, a meus irmãos e à minha mãe. — Os olhos dela se suavizaram. — Ele não sabe amar de outro jeito. Nenhum Sullivan sabe. Lori não estava acusando-a de nada, mas Valentina de repente quis pedir perdão, quis dizer à irmã de Smith que não teve a intenção de brincar com o coração dele, que faria tudo o que fosse possível para mantê-lo como amigo, apesar da atração e do desejo desesperado que ardia entre eles, feito um incêndio incontrolável. E, antes que pudesse colocar tudo isso para fora, os braços de Lori a circundaram em um abraço carinhoso. Ela sorriu, o brilho zombeteiro de volta aos lindos olhos negros enquanto se despedia: — Fiquei tão feliz por tê-la visto hoje de novo, Val. Agora é minha vez de perturbar meu big brother. Valentina encontrou o olhar de Smith enquanto Lori se retirava, e o lampejo de calor e emoção que a percorreu lhe dizia que, não importava o quanto tentasse se enfiar no trabalho pelo restante da tarde, seria impossível se esquecer do que acontecera no escritório dele naquela manhã. Ou do quanto gostaria de lhe dar tudo o que ele merecia por direito. Isso significaria mudar quem ambos eram... e ela já sabia que nenhum dos dois queria fazer isso com o outro. Lori e Smith iam em direção ao escritório dele quando ela o agarrou pelo braço, abriu um sorriso largo e perguntou: — Você é o cara misterioso do qual Valentina não consegue se livrar, não é? Reconhecendo que Lori estava explodindo de felicidade por descobrir que ele era o “não namorado” de Valentina, Smith resmungou: — Acabou de ganhar o dia, não é, Mazinha? — Está brincando? Acabei de ganhar o ano! — ela lhe provocou antes de continuar: — Valentina é linda, mas nada a ver com o seu tipo de mulher. Lori estava certa. Ele em geral preferia mulheres que se pareciam mais com a irmã mais nova de Valentina. Pequenas e frágeis, não altas e fortes. — Não há nada de estereotipado em Valentina — ele retrucou a Lori, cansado e frustrado pela situação. — Nunca conheci ninguém como ela antes. Ao entrarem no escritório dele, Lori de imediato notou a bagunça sobre a mesa e no chão, onde os papéis e o grampeador caíram naquela manhã, além do fato de que a mesa agora se encontrava em um ângulo estranho da sala. Não dava para ser mais explícito o que ele e Valentina tinham aprontado. — A primeira mulher de quem realmente gosta e a melhor coisa que consegue fazer é arrastá-la até aqui para dar uma rapidinha em cima da mesa? — Lori balançou a cabeça em desgosto. — Não é à toa que ela ainda está em cima do muro. Que droga, Smith odiava ter de concordar com a análise irritante da irmã. Conquistar Valentina estava se provando ser uma tarefa difícil, muito difícil. Pelo menos fora do
quarto. Mantê-la nua e arfando com ele até conseguir convencê-la de que tinham mais do que um caso enquanto filmava era muito mais tentador do que deveria ser em termos racionais. Mas, já que sexo não era o problema, é óbvio que mais sexo não adiantaria nada. Sabia que Valentina confiava nele com relação à irmã; mesmo assim, as questões mais importantes continuavam lá: não apenas como fazê-la confiar-lhe o coração, mas também como fazêla acreditar que, juntos, achariam uma maneira de passar por cima da fama. — Eu gosto da Val — Lori afirmou. — Muito. Tanto que, com sinceridade, não me importaria de tê-la nos eventos familiares nos próximos quarenta ou cinquenta anos. —A irmã encarou-o com um olhar afiado. — Sério, é por isso que espero de você um plano melhor do que esse. — Ela apontou para a mesa de novo, balançando a cabeça mais uma vez, frustrada. Smith tirou a gravata que seu personagem Graham sempre usava e olhou com cara feia para o espelho. Odiava que houvesse tanta sabedoria nas palavras ditas por Lori, forçando-o a manter as mãos longe de Valentina até convencê-la a namorá-lo de verdade, às claras, em vez de ficarem se escondendo pelo set em um caso de amor clandestino. Ao jogar o paletó do casaco de seu personagem sobre a cadeira do escritório, porém, Smith se recusava com veemência a abrir mão daqueles momentos preciosos quando Valentina baixava a guarda, abrindo-se e se conectando a ele. Como havia dito a ela naquela tarde, ele não desistiria de encontrar o caminho secreto que levava ao coração dela. Lori chegou mais perto e colocou os braços em volta da cintura dele. — Acredite em mim — ela disse, com um suspiro de compaixão. — Se alguém sabe como está se sentindo, sou eu. O amor é uma merda, não é? — Não — ele respondeu à irmã, a quem desejava nada além do melhor na vida. — O amor é a parte boa. De algum modo, Smith teria de descobrir um jeito de lidar com o restante. Já estava escuro e caía uma tempestade na cidade quando Smith saiu de sua última reunião. A bateria do celular tinha acabado duas horas antes, e, apesar de imaginar que haveria dezenas de recados e e-mails à sua espera, ele não foi para o escritório nem para casa. Em vez disso, dirigiu dezenas de quarteirões até a casa alugada que Tatiana e Valentina estavam dividindo. Durante toda a tarde, a conversa que tivera com Lori ficara martelando em sua cabeça. Ela tinha razão quanto a ele estar jogando errado com Valentina. Conforme os dias viravam semanas, cada vez ele ficava mais frustrado. Idiota. Era isso que Smith era por não admitir que ela seria mais forte do que quaisquer de suas tentativas de impressioná-la. Afinal de contas, a força dela era uma das coisas pelas quais ele se apaixonara, desde o dia em que o colocara na parede com o aviso de que era melhor tratar Tatiana direito, ou o caldo ia entornar.
Seus encontros sexuais eram de uma satisfação enorme em termos físicos, mas não o estavam levando nem perto de despir as outras camadas de Valentina. Não quando o que ele queria para ambos era muito mais profundo do que desejo. Claro, muitas mulheres teriam caído aos pés dele. Mas ele queria ela. E ela valia a pena, por mais dura que fosse a luta para tê-la. Ao tocar a campainha, a chuva forte lhe chamuscava os sapatos e as roupas. Não conseguiu evitar a onda de decepção quando Tatiana abriu a porta, em vez da irmã mais velha. — Ótimo, recebeu meu recado. — Tatiana disse com um sorriso largo, enquanto dava um passo para o lado e o deixava entrar. — Tenho certeza de que Valentina está prestes a enrolar o roteiro e começar a batê-lo na minha cabeça. Olhando atrás de Tatiana, ele percebeu o rápido brilho de prazer, e desejo, nos olhos de Valentina ao vê-lo em sua casa antes de mascará-lo logo com um educado “olá”. — Posso lhe oferecer alguma bebida? — Valentina perguntou. — Água está bom. Quando passou por ele para ir até a cozinha, Smith precisou de cada milímetro de autocontrole para não puxá-la para si e inalar o cheiro dela. Ela tinha o mesmo cheiro de quando transaram na mesa do escritório: xampu de lavanda, sexo e seu perfume intoxicante, que sempre o deixava enlouquecido. Ele não fora até ali para tomar um drinque amigável com duas colegas de trabalho ou para fazer progressos no filme com a irmã dela, mas Valentina cortou com rapidez qualquer avanço que ele tivesse feito. — Obrigada por vir trabalhar com Tatiana esta noite. Sei o quanto ela está agradecida por isso. Ainda mais — Valentina disse, em uma voz baixa que só ele conseguia ouvir — quando vão filmar uma cena tão difícil amanhã. Que droga, não podia acreditar que esquecera o que estava por vir amanhã. A cena de sexo entre Graham e Jo. Mais do que nunca, ele precisava garantir que Valentina entenderia que ele e Tatiana seriam apenas atores amanhã, quando teriam as mãos e os lábios um no outro em frente às câmeras. — Valentina... Ela empurrou uma garrafa de água da geladeira para cima dele e o interrompeu: — Eu vou deitar cedo. Antes que pudesse fugir dele mais uma vez, ele bloqueou a visão da irmã com o corpo e tomou a mão de Valentina na sua. Surpresa, ela segurou uma arfada um pouco antes de lhe escapar dos lábios, os olhos arregalados e repletos da paixão que nunca conseguia esconder quando olhava para ele. Smith passou o dedão na parte de dentro do punho dela e sentiu sua respiração soltando aos poucos. — Na verdade — ele disse alto o bastante para que Tatiana também ouvisse —, Nicole e Marcus estão fazendo uma parada na minha casa em vez de ir embora no meio da tempestade; será
que teria algum problema eu passar a noite aqui, para dar um pouco de privacidade aos pombinhos? O brilho de fogo nos olhos de Valentina por tê-la colocado em uma armadilha com tanta facilidade o fez sorrir, mesmo quando Tatiana disse: — Você é sempre bem-vindo aqui, não é, Val? A resposta dela saiu entre os dentes ao mesmo tempo em que tirava a mão das mãos dele. — Bons sonhos, Valentina. Valentina estava quase a ponto de cometer uma grosseria e trancar a porta do quarto. Mas ela se recusava a dar a Smith a satisfação de ouvi-la fazer uma tentativa frustrava de mantê-lo fora de sua cama. Que triste seria precisar de um cadeado para manter as pernas fechadas quando ele estivesse por perto. Se ousasse procurá-la esta noite, descobriria que ela era forte o suficiente para dispensá-lo, para lhe dizer apenas que não era apropriado continuarem o caso secreto tendo a irmã dela no corredor ao lado. Valentina resolveu combater a friagem da chuva que caía lá fora com um banho de banheira. Ah, é claro que sentiria a maior satisfação em saber que Smith teria de ouvir a água escorrendo e saber que estava nua e molhada — só com o patinho de borracha como companhia — enquanto suava a camisa com os mecanismos finais da cena de amanhã com a irmã dela. Sentiu um nó na barriga ao pensar sobre o que amanhã traria. Não apenas mais os beijos suaves com os quais Jo e Graham terminaram a cena hoje, não apenas os olhares de adoração que tinham de trocar enquanto estavam caracterizados como personagens para a sessão de fotos no início da semana, mas... Não. Não ficaria paranoica com isso. Sempre soube que chegaria o dia em que Smith e Tatiana filmariam uma cena de amor bem íntima e sexy, e esse era um dos motivos pelos quais não deixara Smith se aproximar demais; assim, o que acontecesse durante a filmagem não acabaria por destruí-la. Valentina colocou a ponta dos dedos dentro da água para sentir a temperatura, prendendo a respiração ao perceber que a tinha deixado muito quente. Abriu a torneira fria por alguns segundos, mas, ao testar a água de novo, estava gelada. Ela murmurou um palavrão, a palavra ríspida ecoando pelo ambiente azulejado enquanto puxava a tampa para deixar um pouco de água escoar e tentar fazer certo outra vez. Ao observar a água girar e escoar pelo ralo, de repente viu a si mesma dentro dela, sugada pela inevitável força da gravidade cada vez mais para o fundo, cada vez mais rápido, cada vez mais para baixo. Não importava o quanto tentasse lutar contra a atração que sentia por Smith ou o quanto se afastasse da ponta do penhasco, ela nunca conseguiria fazer nada a não ser cair nos braços bem abertos dele. E se não lutasse contra isso?, pegou-se imaginando de repente.
E se deixasse a paixão por ele ser tão natural quanto a gravidade? E se permitisse que Smith a amasse da forma que sempre, em segredo, sonhara ser amada? Será que havia uma chance de passarem por cima dos potenciais problemas e obstáculos inerentes à carreira dele e do medo dela de ser pega pelos flashes e câmeras? Ajoelhada ao lado da banheira, com as perguntas rodando em círculos em sua cabeça, Valentina olhou de modo perdido para a água. Só se levantou para terminar de se aprontar e ir para a cama quando as últimas gotas sugadas pelo ralo fizeram barulho. Ao deslizar nua para dentro dos lençóis, com o barulhinho reconfortante de Smith e Tatiana conversando na sala servindo como uma canção de ninar e a levando em direção ao sono profundo, ela sonhou não com corações partidos e desilusões, mas com braços fortes e quentes que a seguraram até que a fúria da tempestade lá fora passasse. Depois de Smith dizer boa-noite a Tatiana, os segundos que esperou até ouvi-la fechar a porta do quarto pareceram horas. Por fim, atravessou o corredor em direção ao quarto de Valentina, abrindo e fechando a porta em silêncio. No escuro, mal podia ver o perfil enrolado de Valentina embaixo das cobertas. Seu coração parou de bater por um segundo ao vê-la dormir. Estava tão linda, tão tranquila, com uma respiração profunda e cadenciada. O cabelo longo estava espalhado sobre o travesseiro e havia um sorrisinho em seu rosto; ele esperou que estivesse sonhando com as lembranças dos dois. Smith se enfiou atrás dela, seu cheiro doce e intoxicante. Não queria acordá-la, pois sabia o quanto ambos precisavam daquele descanso, mas tinha de abraçá-la. — Você veio. A voz de Valentina estava sonolenta, e tão sedutora que ateou fogo a cada célula do corpo dele que ainda não estava em chamas. Agradecendo a Deus pelo fato de ela não estar zangada por ter se enfiado sorrateiramente em sua cama, não conseguiu deixar de passar a mão, gentil e devagar, pelas curvas suaves do corpo dela. Smith estava desesperado por ela, mas já era tão importante dormir em sua companhia que até ficaria contente em não fazer amor se isso significasse ficar agarrado a Valentina. Smith sempre achou que tinha as mulheres sob controle, que elas eram um desejo que poderia realizar quando bem quisesse, que nenhuma mulher jamais lhe causaria dor. Valentina tinha lhe mostrado que estava enganado. Muito enganado. Foi por isso que teve certeza de que estava apaixonado por ela. E por amor, como já vira primeiro com seus pais, depois com os irmãos e seus entes queridos, valia a pena todo o desejo, toda a dor, valia a pena absolutamente tudo. Ele lhe deu um beijo no ombro, depois na pele sensível da curva do pescoço. Ela se arrepiou, então se virou para colocar os braços ao redor dele de forma que os seios ficaram pressionados contra o peito e as pernas escorregavam em cima dele. Sussurrou seu nome, mas Smith sabia que ela estava mais dormindo do que acordada.
— Shh — ele murmurou contra os lábios dela antes de lhe dar um beijo carinhoso e senti-la voltando a pegar no sono bem rápido. — Estou aqui com você. Para sempre, se ela o aceitasse.
CAPÍTULO VINTE E UM A tempestade se fora no meio da noite, deixando para trás um céu azul e brilhante e São Francisco com um ar limpo e fresco, enquanto Valentina seguia a caminho de seu escritório no set. Tirou o laptop da bolsa e colocou-o sobre a mesa, a pele ainda formigando da transa lenta e carinhosa com Smith naquela manhã. Ele não a acordara quando viera à sua cama no escuro, apenas a envolvera nos braços e a abraçara. Ela não conseguia se lembrar de ter dormido tão pesado ou tão bem. Tampouco conseguia se lembrar de ter acordado com tanto desejo, tanto tesão, tão pronta para ser tocada, beijada, acariciada, amada por um homem. A primeira noite que passaram juntos, e todas as “rapidinhas” que vieram depois, estavam relacionadas à tentação, à descoberta, ao prazer inevitável. No entanto, hoje pela manhã o desejo de um pelo outro fora uma necessidade que nenhum dos dois poderia, ou iria, negar. Mesmo agora, lembrando-se do ocorrido, fazer amor esta madrugada parecia mais um sonho do que uma realidade em carne e osso. Em absoluto silêncio e mal se mexendo, tinham gozado juntos com naturalidade e perfeição. O corpo de Smith se encaixava no seu como se tivesse sido feito para ela, e ela para ele. Colocou a mão sobre o vão do pescoço onde ele lhe dera um beijo após o outro enquanto se arqueava para dentro dele, e sentiu o coração batendo no mesmo ritmo de quando estivera sob seus lábios. Um ritmo não acelerado, mas com um calor lânguido que aumentava a cada descida vagarosa de seu corpo dentro dela. Não conseguia se lembrar de nenhuma outra manhã em que ele não estivera com ela, mal conseguia imaginar um tempo em que Smith não lhe pertencesse. Os primeiros raios de sol atravessavam a escuridão enquanto Valentina se entregava a ele. Os lábios dele cobriam os dela com sons de prazer, a língua se enroscava na dela, levando-a ainda mais às alturas antes de Smith se entregar também. Tudo o que queria era ficar com ele daquele jeito para sempre, esquecer que o restante do mundo existia do lado de fora daquele paraíso particular. No entanto, não se esquecera de que Smith tinha que dar um telefonema logo cedo. Sabia, também, que ela precisava estar no set para dar apoio a Tatiana naquele que, com certeza, seria um dia difícil. É bem provável que fosse o dia mais difícil de toda a filmagem. Além disso, se Tatiana visse Smith saindo de seu quarto, a fofoca já estaria oficialmente no ar... e Valentina teria muitas explicações a dar à única pessoa a quem jurou nunca manter segredos. Quando Smith chegara à casa delas na noite anterior, Valentina tinha certeza de que estava atrás de uma discussão, mas, na manhã seguinte, ele não pediu para que explicasse nenhum de seus pensamentos incessantes e conflituosos. Em vez disso, falou: — Hoje, quando Tatiana e eu estivermos filmando... Ela pressionou a boca em cima dos lábios dele para impedi-lo de dizer mais alguma coisa.
Filmar cenas de sexo fazia parte do trabalho dele. E, já que não fora capaz de manter as defesas em alerta contra ele nas últimas semanas, então teria de se virar para lidar com aquilo, não teria? Quando enfim se afastou daqueles lábios com gosto de pecado, Smith apenas abriu aquele sorriso de tirar o fôlego: — Você me faz muito, muito feliz, Valentina. Beijou-a outra vez e desapareceu no minuto seguinte, de volta para o quarto de hóspedes que não usara, para tomar uma chuveirada rápida, e logo depois saiu pela porta da frente. Valentina percebeu que estivera sonhando acordada com o computador ainda nas mãos por Deus sabe quanto tempo, e deu uma bronca mental em si mesma antes de seguir pelo estacionamento com passos firmes até o trailer de sua irmã. Tatiana abriu a porta vestindo um robe de seda azul. A respiração de Valentina parou. A irmã nunca estivera tão linda ou mais pura e inocente, ao mesmo tempo em que a sensualidade fora enfatizada pela maquiagem profissional, pelos cabelos e pela roupa, — Está linda, T. A irmã mordiscou o lábio. — Vai dar tudo certo na filmagem de hoje, não vai? Ah, meu Deus, o que mais poderia fazer exceto colocar os braços ao redor de Tatiana, sorrir como se aquilo não fosse grande coisa e dizer: — Claro que vai. Vocês são dois profissionais fazendo um trabalho. Sabe que todo mundo diz que filmar uma cena de sexo é a mesma coisa que filmar uma cena de luta? Um braço aqui, uma perna ali. — Você estará lá o tempo todo, não é? O set era o último lugar do mundo onde Valentina queria estar hoje. Pensar nos lábios, nas mãos de Smith sobre a irmã dela já fazia seu estômago querer colocar para fora tudo o que não havia comido. Era um cenário fechado, e apenas os membros essenciais da equipe e do elenco estariam lá. — É lógico que sim — ela prometeu. — E não vou arredar o pé até você ter terminado. No entanto, quando percebeu que a irmã ainda não estava à vontade, continuou: — Tenho certeza de que será bem como Smith disse: é provável que se sintam como se estivessem jogando Twister juntos. — Valentina fez uma piada. — Mal sabe ele o quanto nós, Landons, somos cruéis em nossas partidas de Twister. Quando Tatiana riu, pegou o roteiro e sentou-se com ele nas mãos por alguns minutos, Valentina soltou um suspiro de alívio. Agora, tudo o que precisava era acreditar no próprio comentário sobre o Twister. Valentina tentou fingir que esse dia não chegaria, e ignorá-lo não adiantou nada. Quando Tatiana resolveu querer ser atriz, Valentina fez a irmã concordar com uma regra difícil e rápida: não importava o quanto um estúdio ou um produtor pagasse, ela nunca filmaria cenas de sexo
sendo menor de idade. Se por lei não podia beber, não tiraria a roupa na frente de um grupo de estranhos nem ficaria rolando em uma tela gigantesca para milhões de espectadores babões. Valentina não achava, nem mesmo queria, que a irmã fosse uma menininha para sempre. Ao contrário, admirava a jovem encantadora que ela se tornara, apesar das pressões de Hollywood para transformá-la em uma cópia exata de outras atrizes por aí. O único problema com o fato de Tatiana já poder pedir um copo de vinho em restaurantes era que as cenas de sexo agora não estavam mais fora da lista. Valentina também reconhecia que ninguém acharia que uma cena de sexo no filme de Smith seria desnecessária. Ao contrário, era uma parte crucial da trama e do desenvolvimento dos personagens de Jo e Graham, na medida em que passaram de amigos a amantes. Mesmo assim, não sabia como agiria ao vê-lo fazer amor com sua irmã. Pior ainda, considerando que aquele seria um dos momentos mais aterrorizantes da carreira da irmã até agora, como Valentina poderia se perdoar por dar mais valor aos seus sentimentos do que aos de Tatiana? Quando o assistente de produção veio chamar Tatiana, por sorte ela parecia tão relaxada como se fosse filmar um comercial de pasta de dentes. Já Valentina deveria parecer prestes a fazer um tratamento de canal, e sem anestesia. Smith ainda se lembrava da primeira cena de sexo que filmara. Ele fora escalado para ser filho revoltado que seduziu a esposa do pai por vingança. A atriz era dez anos mais velha, e ele ficou nervoso, ainda que desesperado para não demonstrar. Felizmente, sua parceira era tão gentil quanto linda, sem mencionar que era muito bem casada. Ela tornou a experiência tão fácil para ele que, ao longo dos anos, Smith também se esforçara ao máximo para fazer a mesma coisa com suas parceiras coadjuvantes. Nem todas queriam manter as coisas apenas no nível profissional, e ele nunca fizera uma reclamação nos projetos nos quais ir da cama da ficção para a cama de verdade era o progresso natural das coisas. Mas Tatiana era diferente. Apesar da atração intensa na tela que os dois criaram para seus papéis, na vida real ele nunca poderia se imaginar fazendo amor com ela. Não havia a menor chance de que qualquer coisa que fizessem hoje em frente às câmeras pudesse um dia acontecer de verdade. Era tudo fantasia, nada além de faz de conta. Do ponto de vista de um roteirista e diretor, a cena de sexo fazia parte da história que estava sendo contada, só isso. Ainda assim, compreendia o quanto era difícil para os atores de ambos os sexos se abrir de um jeito fisicamente tão íntimo em frente a dezenas de pessoas da equipe e de câmeras que pegavam até mesmo os menores movimentos. Ao longo das últimas semanas, ele fez questão de analisar a cena sob todos os ângulos. Criou uma lista com a sequência de cenas, até agora a mais técnica de todas. Sabia com precisão como a cena deveria ser, que a profunda conexão sensual não levaria à conclusão final entre Jo e Graham. De fato, era um novo começo para os dois personagens, tendo em vista que percebiam o quanto precisavam um do outro para desfrutarem uma vida plena.
A verdade era que ele não vinha transformando aquela cena em um exercício técnico apenas para o bem de Tatiana. Fizera-o também em benefício próprio. As cenas de sexo nunca foram um problema para ele antes. Até agora, quando enfim descobrira a verdadeira força de fazer amor de verdade na vida real. Ao tocar Valentina, ao beijar a pele nua na curva de seu ombro, ao deslizar para dentro dela e sentir a arfada de prazer na profundeza de sua alma, o sexo tornou-se algo muito maior, muito mais importante do que apenas prazer e orgasmos. Ele levantou os olhos das anotações que fizera nas margens do roteiro no momento em que Tatiana entrou no set, com Valentina no seu encalço, logo atrás. Era difícil manter o foco em sua parceira de cena quando cada um de seus sentidos vinha à tona perto da mulher que passara a ter tanta importância para ele. Mas, se havia uma hora em que precisava estar em total sintonia com a irmã Landon mais nova, era agora. — Pronta para o nosso jogo de Twister? Ele ficou feliz quando Tatiana sorriu. — Pode apostar. Vamos fazer esse negócio. Tatiana se dirigiu até a marcação do set, e Smith sentiu Valentina lhe tocar o braço. — Sei que não pode pegar leve com ela hoje — ela falou — e que precisa filmar a cena do jeito exato como a escreveu, mas... — Vou tentar fazer com que seja o menos doloroso possível — ele prometeu, em voz baixa. — Para todo mundo. No entanto, Valentina não estava olhando para ele. Em vez disso, fitava as costas da irmã, com um olhar tão triste que fez Smith querer abraçá-la, segurá-la nos braços e jurar que nada do que acontecesse hoje no set teria a ver com o que ambos estavam construindo juntos. Smith estava a ponto de fazê-lo, de mandar para o inferno os protestos e as regras dela com relação a manter o caso em segredo, quando os olhos de Valentina por fim encontraram os dele. — Confio em você com ela. — Ela balançou a cabeça, como se tentando se convencer daquilo que estava dizendo. — Confio de verdade. Levando em consideração que a irmã era tudo para ela, confiar que hoje ele não magoaria Tatiana significava muito para ele. Mas não tão importante quanto teria sido saber, com certeza, que Valentina confiava que ele não a magoaria. Valentina apertou tanto as mãos que a pele das palmas foi cortada pelas unhas assim que Smith e Tatiana tomaram seus lugares no set. Mas não sentia a dor física, não quando mal conseguia respirar pelo aperto que sentia no peito.
Smith disse algo que fez sua irmã rir e, então, de repente, as câmeras começaram a rodar, e Tatiana estava nos braços dele, os lábios dele encobrindo os dela. No momento em que os lábios apaixonados se tocaram pela primeira vez, a bile subiu pela garganta de Tatiana e ela precisou cobrir a boca com as duas mãos para evitar vomitar na frente de todo mundo. Vez após outra, o beijo era capturado em ângulos diferentes, mesmo assim não ficava mais fácil assistir, não machucava menos ver a irmã agir como se estivesse derretendo nos braços do amante de Valentina na vida real. Não importava quantas vezes Valentina lembrava a si mesma que aquilo não era real, que estavam apenas representando, que seus salários exigiam aquilo, o beijo parecia nunca terminar. No entanto, aquele beijo interminável era melhor, muito melhor do que quando a cena começou a avançar... e as roupas começaram a cair quando os personagens de Smith e Tatiana caminharam juntos até a cama. Se não fosse pela promessa que fizera a irmã de não arredar o pé, Valentina teria corrido para o mais longe possível. Mas não podia. Tinha de ficar bem onde estava, sentada na primeira fila vendo uma cena de sedução de filme muito longe de parecer faz de conta. Ela se esqueceu de respirar quando Smith, caracterizado como Graham, colocou Tatiana, interpretando Jo, com delicadeza sobre a cama. Despiu-a do robe com as mãos grandes e olhou-a com reverência, como se estivesse vendo algo belo pela primeira vez na vida. Sentindo-se como se tivesse milhares de facas sendo enfiadas em cada milímetro da pele, Valentina mal podia acreditar que não estivesse espalhando sangue pelo set. A cena parecia continuar para sempre, com a irmã arqueando-se diante do toque dele, dos lábios de Smith passando pela pele dela e as mãos seguindo por onde os beijos passaram. Pontos negros começaram a dançar na frente dos olhos de Valentina quando Smith de repente tirou a cabeça de cima da barriga da irmã dizendo “Corta”. Era a ducha de água fria exata de que ela precisava, a pausa suficiente para impedi-la de escorregar pela cadeira e cair no chão. Um minuto depois, os atores estavam fora da cama, assistindo ao playback a poucos metros de onde Valentina estava sentada. Mesmo sem edição ou efeitos, era uma das cenas de amor mais lindamente filmadas que já vira. Seu coração estava quase se partindo ao meio ao perceber que Smith era tão bom na cama com a irmã quanto era com ela, quando enfim começou a prestar atenção à conversa das duas pessoas mais importantes em sua vida. — Preciso me lembra de manter os olhos abertos nessa parte, não preciso? — Tatiana perguntou. — Ou vai parecer que estou detestando, em vez de estar adorando. Smith concordou com a cabeça. — Nossas mãos estão estranhas aqui. E se, em vez disso, tentarmos assim? — Smith colocou as mãos dela nos ombros dele, então escorregou os braços até a cintura de Tatiana. A respiração de Valentina estava se normalizando quando a irmã disse: — E minhas pernas? Acho que elas estão caídas aqui embaixo.
O diretor de fotografia deu uma sugestão de qual seria o melhor ângulo para filmar as extremidades de baixo, e Valentina teve um momento de lucidez. Ela estava assistindo à coreografia de dois corpos em tempo real, em um filme. Já vira milhares de vezes ao longo dos anos, sabia que criar um bloqueio era importante até mesmo para as cenas não sexuais, mas nunca teve uma opinião a respeito. Porque antes não era pessoal. Porque, antes, nunca quis ter um dos atores para si.
CAPÍTULO VINTE E DOIS Infelizmente, aqueles poucos momentos de lucidez não se estenderam até o final do longo dia assistindo a Smith e Tatiana rolando na cama. Hora após hora Valentina tentou evitar os pensamentos pérfidos, cada um deles mais convincente à medida que sussurravam que tudo o que Smith sentia por ela, quando estava sob ele na cama, agora também estaria sentindo por sua irmã. E como poderia não considerar o fato de ele ser um ator? Um dos melhores que já vira. Smith poderia convencer qualquer mulher sobre a Terra de que sentia algo por ela. Nem mesmo precisaria tentar, com metade da população se jogando a seus pés e implorando que não fosse embora enquanto gritariam o quanto o amavam. Mesmo quando jurara que não estava representando com ela, que nunca o fizera, bem, como seria possível acreditar nisso? Só uma tola confiaria em um ator de primeira categoria. Uma tola que estivesse desesperada para ser querida. Para ser desejada. E, acima de tudo, para ser amada. Quando, enfim, o dia de filmagem terminou, cada músculo do corpo de Valentina doía. Não seria capaz de dar um sorriso falso, não seria capaz de levantar-se da cadeira sem tropeçar, não quando suas pernas estavam dormentes, sem vida. Tão dormentes e sem vida como seu coração. A partir do que parecia ser uma longa distância, através de lentes escurecidas pelo ciúme e pela repulsa, viu Smith fazer a irmã gargalhar e os dois se abraçarem antes de colocarem as roupas sobre os ombros. Ao vê-los brincando um com o outro, caiu a ficha do quanto eram perfeitos juntos, o casal mais lindo do mundo, dois atores que se completavam na tela e fora dela. Smith não olhara para ela uma só vez durante a filmagem, e tinha ficado feliz por isso. Tentar se conectar com ela enquanto seduzia a irmã na sua frente teria sido a gota d´água. Tinha sido mais fácil, melhor, ser esquecida. Pelo menos foi isso o que ela dissera a si mesma vez após outra, na proporção em que a dor de cada beijo, cada carícia, lhe enfiava outra faca tão a fundo que ela nem era mais capaz de sangrar. Por fim, Smith virou-se, e, ao olhar para ela, sua expressão mudou rápido e ficou carregada. Tudo o que podia fazer era fixar seu olhar enquanto ele vinha na direção dela, firme em cada passo. Valentina não fazia ideia do que dizer, não quando cada instinto lhe dizia para machucá-lo da mesma forma que fizera com ela hoje, repetidas vezes. Pior ainda, ela não era forte o suficiente para esconder o que sentia e tinha medo de ser ouvida pela equipe. Se Smith tentasse falar com ela ali, se tentasse tocá-la, ela explodiria.
Mesmo sabendo da dor que lhe causaria no futuro, da maneira como as pessoas falariam como ela fora tola em acreditar que Smith Sullivan pudesse querer dela mais do que algumas roladas na cama, seria impossível evitar que as emoções borbulhassem dentro de si. Durante todo esse tempo, pensou que, se conseguisse evitar que Smith chegasse perto demais, se protegeria da dor inevitável de perdê-lo mais tarde. Mas cada segundo em que o assistiu representar a cena de sexo com sua irmã deixava cada vez mais claro que ela não só não se protegera de nada no final, como não tinha ideia do que fazer para abrir mão dele. Porque Smith já tinha atravessado muito além de todas as barreiras que ela tentara erguer. Quanto mais perto ele chegava, mais forte o sangue pulsava em seus ouvidos. Era isso, o fim de um começo que nunca deveria ter acontecido. E, com sinceridade, era melhor, não era? Ele ia tão além de seus padrões de conquista que não tinha nem graça, mas como poderia aguentar uma vida inteira de cenas desse tipo, nas quais ele estaria beijando e acariciando lindas mulheres no set? O gelo se sobrepôs às chamas que a queimavam de dentro para fora quando se preparou para cortar qualquer vínculo emocional com o único homem que conseguiu ultrapassar as muralhas ao redor de seu coração. — Tio Smith! — Summer, sua futura sobrinha de 8 anos, correu para o meio das pernas dele. — Queria vir antes, mas disseram que eu não podia porque você estava filmando coisas impróprias. Ninguém quer me contar o que você estava fazendo. Mas você vai me contar, não é? O ar que não percebera estar segurando explodiu dos pulmões de Valentina, deixando-a tão tonta que precisou colocar as duas mãos nos braços da cadeira. — Val? — A irmã apareceu de repente na frente dela, com um copo de água gelada. — Você não parece muito bem. Valentina bebeu do copo de plástico como se tivesse passado uma semana no deserto. — Parece que precisa se deitar. — Com um braço forte em volta da cintura da irmã, Tatiana levantou-a da cadeira e as duas foram em direção ao trailer, enquanto o sol se punha. Quando Tatiana a acomodou no sofá de couro com um cobertor em cima dela, foi a primeira vez que Valentina se lembrava de ter a irmã cuidando dela em vez de o contrário. Claro, já ficara gripada ou resfriada algumas vezes no decorrer dos anos, mas mesmo nessas ocasiões fez questão de não ser um peso quando a irmã tinha que focar em seja lá qual fosse o trabalho que estava fazendo. Tatiana sentou-se ao lado dela, os lindos olhos cheios de preocupação. — Não tem dormido muito bem, não é? Ah, meu Deus, como poderia admitir que enfim tivera uma ótima noite de sono, mas só porque Smith estava com ela? No entanto, já estava mentindo para a irmã com suas omissões, então, em vez de mentir ainda mais, ela só balançou a cabeça. — A noite passada foi boa, mas nas últimas semanas não dormi bem.
Como ela quisera ficar nos braços dele naquela manhã! Mais do que jamais quisera outra coisa antes. Sabendo que estava sucumbindo em um dia em que deveria estar cento e dez por cento disponível para a irmã, Valentina, de algum modo, focou o suficiente no bem-estar de Tatiana para perguntar: — Como está se sentindo? Sei que hoje foi difícil para você. — Estou bem — a irmã respondeu com uma voz suave, contendo algo que fez os sentidos de Valentina voltarem à vida, saindo de onde tinham sido vencidos pela submissão ao ciúme puro e desenfreado. — Você é quem está me preocupando, Val. Valentina tentou sorrir, tentou levantar uma das mãos para varrer as preocupações da irmã. Mas os lábios recusaram-se a curvar para a direção certa. E, ao levantar a mão, viu dúzias de pequenos cortes em formato de meia-lua, de tanto apertar a mão com força durante o dia inteiro. Tatiana pegou a mão dela e arfou. — Ah, Val, eu estava tão absorvida em mim mesma hoje que nem passou pela minha cabeça o que assistir às minhas cenas poderia lhe causar. — A irmã ergueu os olhos profundamente preocupados enquanto enroscava as mãos nas de Valentina. — Smith é fantástico, mas é como um irmão para mim. Tudo o que você viu entre nós hoje foi representação e nada mais do que isso, juro. Valentina sentiu a boca se abrir, em seguida se fechar com palavras que ela não sabia como expressar. Tudo o que conseguiu fazer foi sacudir a cabeça e tentar negar os sentimentos que ficavam mais profundos a cada segundo que passava com Smith. — Não posso... — ela tentou novamente. — Ele não devia... Mas quando Tatiana lhe apertou as mãos e sorriu com tanto carinho, Valentina sabia que não fazia sentido tentar. Muito menos quando a irmã disse baixinho: — Sei o que sente por ele. Quando os olhos de Valentina se arregalaram de surpresa, Tatiana continuou: — Você não me disse, mas sou sua irmã e a conheço melhor do que qualquer um. Nunca olhou para um homem do jeito que olha para ele. Mesmo sabendo o quanto seria inútil sua reação automática, as semanas que passara mentindo para si mesma a levaram a falar: — Todo mundo olha para ele desse jeito. — Não. Todo mundo olha para ele com estrelas nos olhos. Todos o desejam pela fantasia, pelo astro, por tudo, exceto pelo homem que é de verdade. E você nunca viu nada nele além do homem, Val. Ah, Deus, era verdade. E pior do que ter de encarar a verdade era o fato de não ter conseguido esconder da irmã nem mesmo o menor dos seus sentimentos. Quem mais teria reparado? Sendo mais objetiva, quem será que não tinha visto?
De repente, todas as desculpas desapareceram. Tudo o que lhe sobrara era admitir: — Eu tentei. Ainda estou tentando. — Mas, Val — a irmã retrucou, com uma voz exasperada —, será que não vê que ele a olha do mesmo jeito? Metade do tempo em que devíamos estar trabalhando para montar uma cena, se você estiver na sala ele fica sonhando acordado com você. — Não seja louca. Este filme é tudo para ele. — Significa muito para ele — concordou a irmã —, mas não chega nem perto de ser tudo. Uma das lágrimas que Valentina estivera tentando segurar o dia todo por fim escorreu pela face, e, ao limpá-la, ela desabafou: — Todos esses anos eu a aconselhei a não se apaixonar por um de seus parceiros de filme, e fui eu quem acabou fazendo isso. Desculpe perder o controle desse jeito. Tatiana emitiu um som, parte frustração, parte decisão. — Não tenho mais 10 anos. Você sempre me apoiou, mas será que não vê que também quero lhe apoiar? Pela segunda vez no dia, Valentina estava chocada com a troca de papéis. Todos esses anos que passara cuidando da irmã, será que alguma vez deixara Tatiana cuidar dela? De repente, viu-se no trailer de Smith no primeiro dia no set. “Sua irmã tem sorte em ter você para protegê-la. Mas quem protege você?” Dissera a si mesma que tinha aceitado o fato de a irmã ter crescido, de ter idade suficiente para beber, de poder filmar uma cena de sexo. Será que queria mesmo tratar Tatiana como adulta? Será que já tinha pensado que poderia afligir a irmã com os próprios medos, com a própria dor? Se não, por que tinha tanto medo de deixar Tatiana ser a outra metade do time de apoio? Reconhecendo que tinha muito chão a percorrer, Valentina admitiu, relutante: — Não sei o que estou fazendo. Deveria ficar longe dele, mas não consigo. O semblante de Tatiana ficou ainda mais preocupado. — Por que precisa ficar longe dele? Chegava a doer de tão óbvio. Valentina não acreditava que teria de dizer as palavras em voz alta. — Ele é um dos maiores astros de cinema do mundo. Eu sou eu. Um relacionamento entre nós não iria a lugar nenhum. — Está de brincadeira? Vocês são lindos juntos. O pânico tomou conta dela. — Você já nos viu? — Ninguém mais viu — a irmã logo lhe garantiu —, só que já passei mais tempo com vocês
dois do que qualquer um. Ele está sempre lhe tocando quando acha que não estou olhando. — Os olhos de Tatiana se iluminaram com malícia. — E teve aquela vez quando entrei e estavam se beijando. O rubor queimou as bochechas de Tatiana. — Quando? Tatiana sorriu. — Aquela noite que estavam na sala de projeção, percebi que tinha esquecido meu roteiro com as anotações. A porta estava aberta, então entrei sem bater. — Ela se abanou. — Tudo o que posso dizer é... uau. Fiquei muito impressionada! Com os dois. — Tatiana inclinou-se mais para perto e baixou a voz enquanto sorria. — Na cadeira, hein? Tentando freneticamente se livrar da imensa onda de vergonha que se apossava dela ao pensar na irmãzinha testemunhando-a perder o controle nos braços de Smith, Valentina perguntou: — Por que não disse nada? A mágoa passou num flash pelos olhos de Tatiana. — Pude ver que estava se sentindo meio estranha com relação a isso, então estava esperando me contar. — Sinto muito por não ter lhe contado — Valentina desculpou-se. Por que não conversara com a irmã? Ainda mais já que estivera tão atormentada pelas emoções e sentimentos que não compreendia. Ela tentara dizer a si mesma que era porque não queria sabotar o sucesso do filme colocando a irmã no meio do que estava acontecendo entre ela e o seu parceiro. No entanto, embora houvesse um pouco de verdade naquela preocupação, a maior verdade era que não queria aceitar que a irmãzinha crescera, e a tratara como uma criança em vez de como a mulher incrível que era. Tentando explicar, Valentina disse: — Juro que achei que não houvesse nada para contar, que assim que passasse a fase da conquista ele perderia o interesse. Valentina ainda esperava por isso e estava mais do que confusa por ainda não ter acontecido. — É claro que ele não perdeu o interesse, Val. E não vai. Como poderia? — Tatiana olhou para Valentina com todo o amor que tinham uma pela outra. — Você é maravilhosa. Linda. Inteligente. Divertida. E a melhor irmã do mundo. Tenho certeza de que ele vê tudo isso. Ele vê você por inteiro. Valentina não tinha como compensar as semanas em que escondera os sentimentos da irmã, mas poderia mudar as coisas compartilhando-os a partir de agora. Respirou fundo e com tremor, e tentou colocar em palavras as emoções que lhe corroíam por dentro nas últimas semanas. Aquela já se tornara uma noite de revelações, e ela admitiu mais uma coisa: — O problema é que, às vezes, não me sinto eu mesma quando estou perto dele. E isso me assusta. Muito.
Em especial quando perdia o controle a partir de um simples olhar, do roçar da ponta dos dedos sobre a pele, dos lábios dele tomando posse dos dela. — Não entendo — Tatiana respondeu, e Valentina não ficou surpresa ao ouvir aquilo. A irmã mais nova quase nunca tinha medo. E, se tinha, não deixava que ele se pusesse em seu caminho. — Quem você pensa que é? Valentina abriu a boca para responder, começando com “Sou...”, mas não saiu nada. Estava feliz com a carreira, gostaria de fazer uma faculdade de administração, gerenciasse ou não os negócios da irmã, e curtiu bastante trabalhar nos filmes dela nos últimos dois anos. No entanto, “Quem você pensa que é?” estava menos relacionado ao que queria fazer em âmbito profissional, e mais a que tipo de vida desejava como mulher. Durante muitos anos ela negara tanto a mulher emotiva quanto a sensual que havia dentro de si. Claro que fizera sexo até certo ponto bom com homens muitíssimo atraentes, e de forma alguma tinha obstruído suas emoções por completo, mas, ao mesmo tempo, mantinha tudo muito privado caso a irmã precisasse dela por qualquer motivo. Valentina estivera tão envolvida com Tatiana, por inteiro e por tanto tempo, e estivera tão convencida de que precisava evitar a dor pela qual a mãe tinha passado com todos os seus namorados, que, em algum momento, perdera a noção de quem ela era de verdade. Contudo, apesar de todas as coisas que guardara por tanto tempo, sua irmã fora perspicaz o bastante para não perder nenhum instante de seus pensamentos. — Eu te amo demais, Val, para não querer que o seu conto de fadas se torne realidade. — Tatiana sorriu, o sorriso lindo que iluminava as telas pelo mundo todo. — E se você der a Smith a chance de amá-la do jeito que merece ser amada? Não acha que existe a possibilidade de ele querer encarar o desafio? E não acha que você também esteja a fim de encarar os desafios que possam aparecer? Amor? Meu Deus. Ai, meu Deus. Mesmo que tivesse aceitado a atração pulsante e inevitável entre ela e Smith, Valentina fora cautelosa para não se deixar sonhar com nada além de prazer. Não importava o quanto ele era doce, sincero, gentil e carinhoso toda vez que a beijava. As palavras sussurradas escaparam antes que pudesse engoli-las de volta: — Mas e se e ele não quiser? E se eu não estiver a fim? Podia sentir os olhos azuis de Tatiana em cima dela, preocupados e repletos de amor, quando disse: — Conhece o Jayden? Valentina tentou não demonstrar o quanto estava surpresa pela abrupta mudança de rumo da
conversa. — Claro. Ele é muito legal. Um rubor apareceu no rosto da irmã. — Também acho. Na verdade, estou esperando que ele me convide para sair já faz algumas semanas. A primeira coisa que veio à mente de Valentina foi o quanto Jayden era perfeito para sua irmã. Ele era quieto e sério, bonitinho, jovem e carinhoso. Não gostava dos holofotes da fama, mas, por trabalhar nos sets, teria alguma ideia sobre como lidar com a vida de Tatiana, pois convivia com estrelas de cinema o tempo todo. Como não notara o florescer do romance entre a irmã e o técnico? No set? Ali estava ela dizendo que faria qualquer coisa para ser uma boa irmã, e tinha deixado passar até mesmo aquilo. — O problema é que — Tatiana continuou — acho que ele nunca vai me chamar para sair. Agora foi a vez de Valentina perguntar: — Por que não? O olhar da irmã foi tão direto que Valentina precisou se afundar ainda mais nas almofadas do sofá. — Porque ele acha que eu sou uma grande estrela de cinema e ele é apenas ele. — Ela usou os dedos para colocar aspas nas palavras. Olhando para a situação do ponto da vista da irmã, Valentina pôde ver o quanto era frustrante ser colocada em um pedestal. E não era bem isso o que ela fizera com Smith, apesar de todas as vezes que lhe provara que era humano como o restante deles? Estivera tão ocupada tentando se proteger de um futuro que não conseguia definir ou ver com clareza que usara a fama dele como a desculpa perfeita para manter a distância. Sem dúvida, sua capacidade de “pisar na bola” estava em alta. Ainda mais desde que os flashes de sua irmã nos braços de Smith não paravam de lhe vir à cabeça, destruindo-a, apesar de tudo o que tinham acabado de dizer uma à outra. Dessa vez foi ela quem apertou as mãos da irmã e perguntou: — Aonde vai com o Jayden quando ele disser sim? — Vou levá-lo a um restaurante, com uma mesa bem romântica para dois. — A irmã lambeu os lábios. — E depois vou seduzi-lo. Se Valentina ainda estava tentando se convencer de que Tatiana era apenas uma garotinha, soube naquele momento que era hora de desistir. A irmã era uma mulher, com necessidades femininas. E com coração de mulher, que queria amor, e era esperta o suficiente para saber como alcançá-lo e agarrá-lo quando estava por perto. Valentina colocou os braços ao redor de Tatiana.
— Amo você, T. — Também amo você — Tatiana respondeu e, quando a batida na porta soou um segundo depois, acrescentou: — O bastante para lhe dizer que acho que deveria dar uma chance a Smith. Desta vez uma chance de verdade, para que possa lhe mostrar com precisão do que ele é feito. E para você mostrar a ele também do que você é feita. Tatiana não esperou a resposta de Valentina antes de sair do sofá e abrir a porta para Smith. — Ela está aqui dentro — Tatiana informou, e então, com uma voz mais baixa, que Valentina não podia ouvir, ameaçou Smith antes de deixá-los a sós: — Se você a machucar, eu te mato.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS Valentina estava de pé no meio do trailer quando Smith entrou. Meu Deus, mesmo olhando para ela agora, longe das luzes, das câmeras e da equipe, não conseguia tirar da cabeça a expressão de seu rosto ao terminarem de filmar. Smith sabia o quanto sua linha era tênue no que tangia a Valentina, e, assim que começaram a filmar a cena de sexo, controlou-se com nervos de aço para não olhar para ela, mantendo o foco em Tatiana. No entanto, fora impossível deixar Valentina de lado, pois, pela primeira vez na vida, sentiuse dividido durante o trabalho. Tudo o que seria necessário era olhar dentro daqueles olhos inconsoláveis, e teria tomado a decisão de última hora de não apenas cortar a cena que precisava tanto estar no filme, mas também de cancelar toda a filmagem do dia. Se não fosse pelo elenco, equipe, estúdios e investidores que estavam contando com ele para fazer tudo direito, teria saído do set, tomado Valentina pelas mãos e sumido com ela para algum lugar onde Hollywood e o faz de conta não existissem. Depois de Tatiana e ele por fim terminarem de filmar o que fora a cena mais difícil de sua carreira, e de ter se permitido olhar para Valentina de novo, Smith estava longe de estar preparado para o quanto ela estava pálida, para o quanto seus olhos estavam horrorizados, ou para a máscara de traição e tristeza que tinha no rosto. Será que tinha feito a escolha errada? E será que tinha acabado de perder a única coisa com que de fato se importava na vida? Sem avisar, seu irmão Gabe e Summer foram vê-lo no set, e, mesmo ele sendo louco de morrer pela criança, cada segundo longe de Valentina fora excruciante. Ele precisava ir até ela tentar corrigir as coisas. Por sorte, o irmão notou que havia algo errado e, com a promessa de trazer Summer de volta ao set depois, Gabe distraiu-a com uma mesa de doces para a equipe. Depois que foram embora, Smith saiu correndo para encontrar Valentina. Ninguém ousou entrar em seu caminho, e, se tivessem tentado, ele os teria deixado em pedacinhos. Agora que enfim estava com ela, não pensou; mal conseguia ligar dois pensamentos quando a tinha por perto. Apenas puxou-a para seus braços e torceu para que ela não quisesse se afastar. — Sinto muito. Não queria que ficasse magoada hoje. Não quero machucar você. Nunca mais vou magoá-la de novo, prometo. A cada frase, Smith lhe passava as mãos nas costas, as mãos dela presas contra o peito dele. Ela podia sentir o quanto o coração dele estava batendo forte e rápido. — Doeu de verdade — ela disse baixinho no pescoço dele, e aquela frase curta pareceu chegar até o fundo e lhe rasgar o coração. — Mas — o fôlego que tomou fez o peito dele estremecer — não foi você que me magoou. Fiz isso a mim mesma. Smith se afastou para ver dentro dos olhos dela. Não compreendia tudo o que ela dizia, mas precisava entender.
— Eu fracassei de tal maneira que mal posso acreditar. Preparei Tatiana para hoje, mas... — Que droga, ele deveria ter se esforçado para conversar com Valentina sobre hoje, mas teve medo. Medo de que só conversar sobre o assunto já a fizesse fugir. — Durante toda a minha carreira, nunca tive problema em filmar cenas de sexo. Mas, hoje, isso me matou. Por favor, me diga que não é muito tarde para lhe dizer que me mata tocar alguém que não seja você. — Faz parte do seu trabalho, Smith, e não quero destruí-lo aos poucos por estar preocupado com o que eu possa pensar ou sentir com relação a interpretar certos papéis. Será que ela não via? Ele esteve tão preocupado com a importância dos investidores e do estúdio e com a própria reputação que não se deu conta do que era importante de fato até já ser tarde demais. Ela. — Não achei que hoje pudesse ser tão difícil. Não depois de todas as vezes que fingi fazer amor com atrizes casadas, com mulheres de quem não gosto, com completas estranhas, até mesmo com amigas. — Ele tirou as mãos dos ombros dela e se afastou com repulsa de si próprio. — Estar com sua irmã na tela hoje foi a coisa mais difícil que já fiz até hoje. Era capaz de ver nos olhos de Valentina a mesma desolação que sentia nas profundezas da própria alma. Smith não a traíra, mas nada mais parecia estar no lugar. Tudo o que queria lhe dar, do fundo do coração, era uma história de amor simples e pura, sem conflitos ou complicações. Hoje, porém, tinha lhe dado o oposto. Ainda assim, mesmo não sendo justo lhe pedir mais nada, Smith ainda queria tanto dela. Muito mais do que jamais quisera de qualquer outra mulher. — Não vou mentir para você — ela disse, baixinho. — Hoje foi ruim. Muito, muito ruim. Quando ele piscou ao pensar na parte que lhe cabia por causar tanta dor a ela, Valentina esticou a mão para tocá-lo. Smith baixou os olhos até os dedos elegantes dela sobre os músculos de seu antebraço, então se pegou segurando a respiração enquanto ela os deslizava até chegar às mãos dele. Os dedos dela se enroscaram com os dele, e Smith teve de levantar a mão até a boca para beijála, quer ela quisesse ou não. — Não sabia que era capaz de sentir tanto ciúme — Valentina admitiu, retorcendo os lábios num formato triste que ninguém jamais consideraria um sorriso. — Sei que não há nada entre vocês dois. Sei que nunca haverá, que são como irmão e irmã, mas... — Ela deu uma arfada trêmula que foi como um soco no peito dele. — Foi muito difícil me lembrar de tudo isso quando estavam... — Ela chacoalhou a cabeça. — Não, não quero reviver tudo, não com aquela trilha sonora maluca de hoje ainda tocando em minha cabeça. — Chegou mais perto dele, perto o bastante para que Smith pudesse sentir todo o calor do corpo dela junto ao seu. — Quero que me ajude a compor uma nova trilha, Smith. Tudo o que ele queria era beijá-la, amá-la, mas não só por aqueles motivos. — Nunca quis tanto uma mulher como quero você, mas quero que nossa transa seja mais do que uma maneira de fazê-la esquecer o que aconteceu hoje. Preciso que sejamos mais do que isso,
Valentina. Smith viu o efeito que suas palavras provocaram no rosto dela. Não iria mais esconder nada. Não podia. Não quando chegou muito perto de perdê-la hoje. — O que... Quando ela parou, Smith achou tão absurdamente difícil deixar que uma das mulheres mais extraordinárias que já conheceu tropeçasse na própria pergunta, mas, por mais que quisesse obrigá-la a amá-lo da mesma maneira que ele sabia amá-la, forçou-se a esperar. Por fim, Valentina perguntou: — O que você quer? Do que você precisa? — De você. Foi simples assim. Ele sempre suspeitara que seria assim. Desde o momento em que a conheceu, fora atraído para ela. Fazer amor com ela fora como pegar aquele brilho inicial e aumentá-lo até que estivesse todo consumido por ela. Não só pelo corpo, não só pela paixão desenfreada, mas por tudo o que ela era por dentro e por fora. — Também quero você. As palavras dela saíram tão baixinho que ele mal as teria ouvido se não estivesse esperando por elas com cada fibra de sua alma. Apesar de todo o sofrimento que a filmagem de hoje causara, talvez ela tivesse sido o ponto de virada exato de que ambos precisavam. Smith passou a ponta do dedão na parte de baixo de seus lábios carnudos e ela estremeceu ao toque, a mulher forte que sempre tremia de forma tão linda nos braços dele. — Você já me tem, Valentina. Sabe disso. Então, me diga — ele parou para recuperar o autocontrole e não sucumbir à vontade quase dominadora de possuí-la antes que ela tivesse a chance de se entregar —, o que mais você quer? — Quero... Ela parou de novo, mas, desta vez, ao olhar nos olhos dele, Smith pôde ver toda a força, nítida e presente, naquele rosto lindo. E a determinação que tanto fazia parte dela. — Quero tentar. Não dei uma chance a você, a nós. Quer dizer, sei que aproveitei a oportunidade de dormir com você — ela continuou, com um rubor quente que o fez querer puxá-la para o chão e possuí-la ali mesmo —, mas nunca me permiti pensar que fosse possível qualquer outra coisa. — Ela parecia arrependida demais quando declarou: — Tenho sido injusta com você. E acho que — continuou devagar — comigo mesma também. Ainda mantinha os olhos fixos nos dele, e aquilo o deixava louco tanto quanto o lapso momentâneo de ternura que acabara de ter. Ah, sim, todos os contornos e formas, as arestas ásperas e as curvas arredondadas, o calor e o frio, cada célula que fazia parte de Valentina Landon o deixava maluco.
— Gostaria de sair comigo? Um encontro? A alegria na pergunta era tão evidente e doce que Smith não pôde fazer outra coisa a não ser apreciar e sorrir para ela. — Não há nada que eu queira mais. No entanto, em vez de sorrir de volta, ela perguntou, com uma voz sedutora que fez todo o fluxo de sangue dele correr para o sul. — Nada? — Bem, agora que tocou neste assunto — ele disse enquanto ela acabava com a distância entre ambos, pressionando-se sobre o peito dele —, pode ser que haja uma ou duas coisinhas. Os lábios dela se levantaram até os dele, e, mesmo tentando deixá-la guiar aquela dança sensual, perdeu-se na necessidade que tinha dela. Não havia ninguém exceto Valentina, e, seja lá o que tenha sobrado dos mais de vinte anos de mulheres, foi por completo apagado de seu consciente à medida que a língua dela deslizou sobre os lábios dele, imitando a maneira como a tocara alguns minutos antes. Smith chupou a língua dela para que se enroscasse na dele enquanto as mãos dela lhe puxavam a camisa. Os botões voaram quando Valentina puxou o tecido e o tirou de cima dos ombros dele, jogandoo no chão. Smith adorava que ninguém que conhecesse Valentina, nem mesmo os amigos mais íntimos dela, fosse capaz de reconhecê-la naquele momento. Ela era guiada por tanta paixão que ele ficava embasbacado toda vez que ficavam juntos. E toda aquela paixão pertencia a ele. — Deveria ter sido eu hoje. — Ela seguia as próprias palavras dando beijinhos no sulco abaixo do pomo de Adão. — Amo tanto minha irmã, e o que estavam fazendo hoje nem era de verdade, mesmo assim eu quis jogá-la para fora da cama e me colocar no lugar dela, embaixo de você. Todos os lugares em que os lábios da irmã estiveram durante a filmagem Valentina cobria agora com os próprios lábios, beijando-lhe os ombros, depois a clavícula. Ela fazia barulhinhos de prazer ao retomá-lo para si, e cada um deles reverberava pelo corpo de Smith, do peito à virilha. Se ele tivesse de ficar de pé, precisaria de alguma coisa em que se segurar. Graças a Deus que os quadris dela estavam bem ali, surpreendendo-o, de novo, por serem tão cheios e arredondados embaixo da palma da mão dele. Para ele, Valentina era uma fonte de surpresa e prazer contínuo, desde sua paixão e sua ternura inesperada até a incrível inteligência e o amor sem fronteiras pela irmã. A vida com ela nunca seria maçante. Ela nunca lhe diria o que queria ouvir, nunca passaria um segundo lhe massageando o ego por ser um superastro milionário. Sentia-se muito desconfortável com a maneira como tantas pessoas lhe “puxavam o saco”, mas Valentina nunca fizera e nunca faria isso. E ela o agradaria a todo instante, quer estivesse roubando peças do quebra-cabeça ou roubando o coração dele cada vez que a olhasse, beijasse, tocasse, amasse. Quando percebeu, Valentina o estava empurrando para cima do sofá. A satisfação iluminou os
olhos dela ao olhar para Smith, espalhado sobre os assentos de couro, nu da cintura para cima, as pernas abertas no lugar de onde ela tinha saído, de forma que o desejo latejante dele por ela estava evidente na calça de terno do figurino que ele ainda vestia. Em um segundo ela estava se afastando para trancar a porta do trailer, no outro estava puxando o elástico que prendia o rabo de cavalo elegante enquanto vinha de volta na direção dele. Logo depois, tirou a jaqueta preta bem cortada, seguida de perto por uma combinação de seda. Vê-la com os seios aparecendo na renda transparente fez a visão dele se turvar um pouco, e, assim que desanuviou, Valentina estava de pé na frente dele, de lingerie e salto alto — outro dos conjuntos que comprara para ela. Um palavrão rude lhe escapou dos lábios diante da visão mais linda que já tivera o prazer de testemunhar na vida. Os lábios dela se curvaram para cima ao ouvir o linguajar grosseiro. — Como sabia que era exatamente isso que eu esperava que dissesse quando me visse usando outro dos seus presentes? — Você é o presente — Smith disse a Valentina, tão sincero que mal conseguia expressar as palavras. Por um momento, ela pareceu se desequilibrar sobre os saltos pela emoção contida na voz dele. Logo depois, começou a ir na direção dele, e, como em câmera lenta, ajoelhou-se entre suas pernas. Ela não procurou o fecho do cinto, apenas pressionou a boca sobre a dele em um beijo suave que lhe tirou o fôlego, e saber o que estava por vir quase o fez perder o controle. Ele nunca sobreviveria àquilo. Teriam de encontrar outra pessoa para tomar o lugar dele no filme, pois esta noite morreria de prazer. E não trocaria isso por nada. — Sei que haverá outras atrizes que terá de beijar — ela comentou, ao tirar os lábios dos dele e pressionar as mãos abertas sobre os músculos do peito —, mas a única mulher em quem eu quero que pense sou eu. — As unhas dela lhe arranharam de leve o peito, mais perto do abdômen, que se contorceu sob o toque enquanto ela o marcava como sendo seu. — Você é a única mulher em quem eu penso — Smith jurou. Desde o primeiro momento em que a tocara, Valentina era tudo o que ele queria, tudo o que desejava, sua obsessão. Não podia negar a verdade, não via o menor sentido em desperdiçar qualquer energia quando havia tantos lugares melhores nos quais colocá-la. Não quando conquistar o coração de Valentina era a única coisa que importava. Em vez de dar qualquer indicação de que o ouvira, ela abaixou a cabeça e lhe lambeu o peito. As pontas do cabelo macio dela tocavam a pele dele, provocando-o de forma quase tão insuportável quanto a língua e os dentes em sua pele sensível. Não conseguiu evitar um gemido de prazer quase misturado à frustração. Smith era maior, mais forte. Poderia tê-la deitado de costas e penetrado em segundos. Seria tão
bom, mais que bom. Mas ele a magoara tanto hoje que, para retomar o poder, ela precisaria liderar a transa do começo ao fim. E, que droga, já que não podia dar a ela o presente de não filmar a cena de sexo, pelo menos faria questão de que teria isso. Ainda assim, não conseguia evitar enroscar as mãos no cabelo sedoso dela, enquanto Valentina percorria sua pele com lábios, língua e dentes. Será que ela fazia ideia do quanto estava sexy ajoelhada entre as pernas dele, de sutiã, fio dental e salto alto, tão sensual na escuridão particular deles quanto era conservadora na frente de todos à luz do dia? Por fim, ela tirou a cabeça da barriga dele e lambeu os lábios. — Isso é muito melhor — ela murmurou, mais para si mesma do que para ele, enquanto era hábil em desamarrar e lhe tirar os sapatos, junto com as meias. Ele teria sorrido para o comentário carinhoso, se naquele momento ela não tivesse alcançado o fecho do cinto. Smith segurou o fôlego quando as pontas dos dedos dela brincaram sobre sua barriga enquanto abria com delicadeza o cinto de couro. Parecia não fazer diferença quantas vezes se possuíssem, toda vez era um novo começo, uma viagem ao descobrimento que o deixava maluco. Valentina manteve o olhar enquanto puxava o zíper para baixo devagar. Smith tinha certeza de que se esquecera de respirar quando olhou de volta dentro daqueles olhos castanho-acobreados, mais verdes do que castanhos, uma cor que sabia que sempre associaria à paixão. Em seguida, ela estava puxando a calça e ele, por instinto, ergueu os quadris para que Valentina pudesse tirá-la. A cueca saiu junto com a calça, até que ele estava sentado em frente a ela, nu e com o pau tão duro quanto jamais esteve na vida. Um prazer profundo iluminou os olhos de Valentina, a boca com uma curva sensual ao ver a carne dura surgir e pulsar em um pedido silencioso por atenção. — Meu — ela disse em voz baixa, perto o bastante para que ele pudesse sentir o fluxo morno de ar sobre sua pele enquanto falava. Outro gemido baixinho escapou do peito dele enquanto Valentina lambia os próprios lábios de novo e, então — ah — ela se inclinou e colocou a língua sobre ele, lambendo um caminho devastador sobre seu membro duro. Os dedos de Smith se enroscaram ainda mais nos cabelos dela, e, de modo inconsciente, ele empurrou-a mais para baixo, para engoli-lo mais fundo. Pensou ter ouvido o som doce da risada dela, mas então ela se abriu ainda mais, engolindo-o, e ele perdeu a noção de tudo, exceto do prazer quente que Valentina estava lhe dando. — Valentina. O nome dela era uma prece. Um pedido. Uma invocação. E uma promessa de que ele lhe daria tanto quanto ela, tão sem egoísmo quanto estava lhe dando agora. Daqui a pouco. Se fosse um homem melhor, mais forte, Smith mais de uma vez a teria feito parar para ter certeza de que estava satisfeita, antes de pensar em si mesmo. No entanto, a forma como Valentina o degustava tão abertamente, o fato de não estar escondendo nada dele ao sussurrar seu prazer diante da falta de controle dele, o deixou sem ação. Durante toda a vida Smith precisara ter controle. Pela família, pela mãe, pelos irmãos, nos sets e
com a mídia. Mas, com ela, ele podia deixar tudo de lado. E apenas ser. Em um grunhido de prazer que reverberou pelo trailer, entregou-se todo à boca de Valentina, às mãos, aos gemidinhos vorazes que ela fazia enquanto usava as mãos e a boca para levá-lo ao orgasmo e além. Ao sentar-se sobre os saltos, lambendo os lábios como uma gata satisfeita, Smith não conseguia fazer outra coisa exceto olhá-la. O cabelo ainda estava embaraçado das mãos dele, o batom se fora há muito tempo, a pele meio molhada, o rosto enrubescido. As palavras Eu amo você estavam na ponta da língua, e, por mais que estivesse nas alturas depois do que ela acabara de fazer, sabia que era melhor não dizer isso ainda. Quando enfim lhe dissesse como se sentia, faria questão de que ela não achasse que seus sentimentos tinham sido tomados pelo calor que geravam entre os lençóis. Ou no sofá, melhor dizendo. Mesmo não podendo dizer a ela esta noite, poderia lhe mostrar. E, sabendo que Valentina tinha medo de ouvir o que estava lhe dizendo com seus lábios, suas mãos e seu corpo, Smith a faria ouvir. Da mesma forma que ela acabara de fazer.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO Valentina nunca fizera algo tão louco, tão selvagem ou tão maravilhoso na vida. Ainda podia sentir o turbilhão de felicidade correndo nas veias, pela maneira como Smith perdera o controle sob as mãos e os lábios dela. Fora perfeito. E tão gostoso. Gostoso demais. — Sua vez agora. — Smith pontuou as palavras enroscando as mãos grandes em volta da cintura dela, puxando-a sobre o sofá. Antes que percebesse o que estava acontecendo, Smith trocou as posições e agora era ele quem estava ajoelhando entre as pernas dela. Sentindo-se subitamente vulnerável, ela sabia que tinha de fazer uma piada ou dizer algo sexy. Em vez disso, tudo o que escapou foi: — Mas acabei de ter minha vez. Os olhos dele, já bem escuros, chegaram ainda mais perto de ficar negros no momento em que colocou as mãos uma em cada lado do rosto dela e beijou-a. A língua escorregava e deslizava contra a dela em um ritmo bastante sensual, parecido com o que tinham acabado de fazer quando ela estivera de joelhos. — Neste caso — ele continuou com uma voz rouca que reverberou de cima a baixo pelas costas dela — é a minha vez, certo? Engolir em seco foi tudo o que ela conseguiu fazer. E talvez balançar um pouquinho a cabeça para que pudesse ver o quanto achara boa a ideia que ele teve. Smith, porém, não fez nada além de olhá-la de modo fixo, o olhar profundo percorrendo, faminto e possessivamente, cada milímetro da pele exposta através da lingerie ousada que lhe comprara. Ele era tão alto que, mesmo de joelhos, ao ficar de pé, Valentina precisou levantar os olhos para olhar para Smith. Mesmo depois do orgasmo, o membro dele mal tinha esmorecido e agora, ao usar as pernas para puxá-lo tão perto a ponto de a seda macia do sutiã lhe esfregar o peito nu, a ereção pressionava contra ela, bem onde o queria mais, em desespero. — Smith, não consigo esperar. Não esta noite. Quero você. Preciso de você. Agora. Mais uma vez, ela admitira às claras o quanto o queria. O quanto precisava dele. Seus olhos negros se iluminaram com tanto prazer e desejo que Valentina perdeu o fôlego quando os lábios dele ruíram sobre os dela. E então suas mãos se encaixaram nos quadris dela, e se moveram de modo que ficasse deitada embaixo dele, no sofá da irmã, ainda usando uma calcinha fio dental, sutiã e saltos altos. Quando os lábios de Smith encontraram seu pescoço e ela arqueou-se à mordida de seu dente sobre a pele sensível abaixo da orelha, quando ele deslizou os dedos para afastar a seda protetora e
então entrou dentro dela em uma estocada firme e sua arfada de prazer juntou-se ao gemido desesperado dele, quando as unhas se enfiaram em seus ombros e os tornozelos se fecharam com força atrás das costas dele enquanto ela lhe suplicava por mais —, Valentina percebeu que a base de todos os seus medos estava se desintegrando. Quando se amavam daquela maneira, sem barreiras e menos controle ainda, ele não era mais um astro de cinema, não fazia parte do famoso Smith Sullivan sobre quem milhões de mulheres fantasiavam. Era só um homem por quem ela não conseguia deixar de se apaixonar cada vez mais, a cada sorriso, a cada abraço, a cada beijo. E cada um dos olhares profundos e vorazes, cada carícia da mão sobre a pele, era repleto de algo que ela tivera medo de se permitir reconhecer. — Valentina. Ela abriu os olhos e viu Smith a encarando, seu lindo rosto tomado de prazer e desejo e algo que ela tentou fingir que não estava lá. Amor. E foi com essa palavra ressoando na cabeça e as mãos de Smith escorregando para segurar as dela, uma de cada lado da cabeça, que os primeiros tremores de orgasmo lhe percorreram. — Você é minha — ele afirmou, e ela era. Toda dele. Pelo tempo que Smith quisesse, ela seria dele, pois aquele homem se tornara mais — muito mais — para Valentina do que jamais imaginou. E então não houve mais pensamentos, nem medos, nem palavras. Apenas o prazer potente e delicioso de ter Smith lhe segurando, apertado, metendo fundo. Quando o clímax chegou com força suficiente para tomar o controle completo, ela se entregou, enfim confiando a Smith não apenas seu corpo, mas também, pela primeira vez, uma parte de seu coração. Meia hora depois, já vestidos e com o estômago roncando, Smith olhou para ela sem acreditar nos próprios olhos. — Isto é aonde vai me levar para o nosso primeiro encontro oficial? As crianças corriam para dentro e para fora do prédio sujo, seguidas pelos pais, atrapalhados demais para notar a presença de um astro no meio deles. Valentina ruborizou. — Tatiana e eu meio que temos essa queda por minigolfe. Começou quando éramos crianças, e nunca paramos. Além do mais, ninguém parece dar a mínima para quem ela é quando estamos aqui, daí achei... Ela não teve a chance de terminar sua explicação esquisita, pois o sorriso de Smith ia de orelha a orelha.
— E estava certíssima. Logo estava puxando-a para dentro, tão animado quanto crianças de 8 anos de idade fanáticas por Slushies e palitos de açúcar. O estômago de Valentina rugiu com o cheiro de cachorro-quente e batata frita, e ela ficou mais do que agradecida quando Smith pediu a refeição rápida para ambos. Junk food era bem o que o médico recomendara após o longo dia de trabalho que ambos tiveram. O rapaz do caixa estava indo bem até que por fim percebeu quem estava parado na frente dele. — Cara, você é Smith Sullivan. — Prazer em conhecê-lo, Mark — Smith falou, fazendo questão de olhar no crachá o nome do rapaz na camisa azul chamativa. — Meus amigos vão enlouquecer quando souberem que esteve aqui! O melhor filme que vimos no ano passado foi Forces of Destruction. Mark estava pegando o celular quando Smith pediu: — Posso lhe pedir um favor especial? O rapaz balançou a cabeça. — Claro, qualquer coisa, cara. Smith baixou a voz e agiu como se Valentina não pudesse ouvi-lo falando: — Estou num primeiro encontro muito importante e tenho medo de estragar tudo com ela. Gostaria de manter as coisas discretas esta noite, para conseguir causar uma boa impressão. Os olhos do rapaz ficaram enormes ao enfim perceber que Valentina estava ao lado de Smith no balcão. Depois de alguns segundos, nos quais ele a analisou como se fosse um inseto sob um microscópio, o rapaz inclinou-se na direção de Smith e disse, com um cochicho em voz alta: — Cara, ela é gostosa. Com o mesmo tom de voz, Smith concordou: — Eu sei. Muito gostosa. — Agora, já amigos, ele prosseguiu: — Então, está combinado? — Com certeza — o rapaz afirmou. — Sem problemas. — Obrigado. E se quiser vir ao set algum dia, por que não me dá seu número e eu ligo para combinarmos? — É sério? — O rapaz rabiscou o número em um guardanapo, então disse: — Vou garantir que ninguém lhe incomode esta noite. Depois de pegarem a comida e se sentarem, por mais que Valentina estivesse com fome, sabia que não seria capaz de comer nada. Ainda não. — Não há nada que possa fazer para estragar nossa noite. Smith também não tocou na comida. — Tem certeza?
O olhar dele de repente a fez lembrar de como olhou para ela quando estavam fazendo amor, como se não pudesse imaginar viver sem ela. Talvez, antes desta noite, tivesse mentido para ele, teria lhe dito que estava bem. Mas, depois do que haviam compartilhado, depois do quanto se sentia próxima a ele, precisava lhe dizer a verdade. — Não, não tenho certeza absoluta, mas... — Ela fez uma pausa e olhou dentro dos olhos dele. — Quero ter. Quero muito ter certeza. Sabia que não era o que ele queria, que não chegava nem perto. Não era o suficiente para ela também. No entanto, Smith pegou a mostarda e o ketchup e fez duas linhas retas amarelas e vermelhas ao lado do cachorro-quente, do jeito exato de que ela gostava nas raras ocasiões que os serviços de lanchonete trouxeram cachorro-quente ao set. Ao tomar o sanduíche da mão dele, ela se pôs a pensar como era possível ele ter a chance de prestar atenção à maneira como ela gosta de comer cachorro-quente. Para começar, será que aquilo era uma extensão de prestar atenção nela? A gravidade, acabara de perceber, não se importava se um dos dois era um astro de cinema feito para estar em frente aos holofotes, enquanto o outro só sabia se sentir confortável sob as sombras. Smith pegou uma das batatas fritas dela e enfiou na boca. — Então, o que vamos apostar? Ela ergueu uma sobrancelha. — Quer transformar um jogo amigável de minigolfe em uma aposta? — Sou homem. É isso o que fazemos — ele falou, os olhos escuros cintilando com más intenções. Valentina revirou os olhos. — Pelo menos reconhece o quanto está sendo ridículo sendo tão competitivo com um jogo. — Quer que eu acredite que você e Tatiana não são nem um pouco competitivas uma com a outra? Ou que nunca tentou burlar o buraco do moinho de vento pelo menos uma vez antes de a bola dela entrar? Ela riu diante da pergunta cheia de pegadinhas. — Bem, talvez tenha havido aquela única vez quando ela escorregou “por acidente” na bola em frente da minha tacada, que com certeza seria a jogada da vitória. Smith balançou a cabeça. — Irmãs mais novas são um pé no saco, não são? Tenho certeza de que você descontou tudo. Ela fez o olhar mais inocente de todos, antes de confessar: — Quem diria que passar vaselina em uma bola de golfe torna quase impossível fazê-la seguir em linha reta? — Agora que sei o quanto vencer é importante para você — ele disse, ainda rindo —, talvez
precise fazer uma vistoria corporal completa para procurar potes de vaselina escondidos antes de começarmos a jogar. Mais uma vez, Valentina espantou-se por perceber que, não importava onde estivessem — no set, em uma sala de reuniões, na sala da casa dele montando um quebra-cabeça ou sentados no meio de uma praça de jogos e golfe que não era nem reformada nem limpa desde o início dos anos 1970 —, ela o queria. E gostava muito, muito dele. — Se eu ganhar — Smith falou, com uma voz baixa que lhe causou arrepios na pele já muito sensível —, terá de segurar minha mão pelo restante da noite. O conselho que Tatiana lhe dera mais cedo veio com tudo à mente de Valentina: E se der a Smith a chance de amá-la do jeito que merece ser amada? Não acha que existe a possibilidade de ele querer encarar o desafio? E não acha que você também esteja a fim de encarar os desafios que possam aparecer? Assim, apesar de a mão de Valentina estar começando a tremer sobre o colo, embaixo da mesa de fórmica grudenta, obrigou-se a tirá-la de lá. Com o coração batendo tanto a ponto de não ficar surpresa se o visse explodir por entre as costelas e a pele, esticou o braço sobre a mesa e alcançou a mão dele. Valentina pensou ter ouvido a respiração de Smith voltar conforme ela escorregava a palma da mão sobre a dele bem devagar, antes de entrelaçarem os dedos. O calor do seu toque derreteu o gelo na mesma hora, tentando lhe bloquear o coração outra vez. — Não precisa ganhar uma aposta para ter isso. Depois do jogo de golfe terminar em um empate perfeito e Valentina e Smith entrarem de mãos dadas na casa alugada, encontraram Tatiana deitada no sofá lendo um livro. Ela sorriu para eles por sobre a capa. — Marcus e Nicole vão passar a noite na sua casa de novo, Smith? Ele sorriu de volta para ela. — Não. Valentina nunca trouxera um homem para passar a noite antes. Dissera a si mesma que o motivo era porque não queria deixar a irmã desconfortável. Mas a verdade era que nunca quis se entregar o bastante a um homem a ponto de terem a intimidade de acordar juntos. Agora, pela primeira vez, queria dar isso a Smith. — Não se importa se meu namorado passar a noite aqui, certo, T.? Ao ouvir a palavra namorado, Tatiana deu um sorriso largo e respondeu: — Não, só preciso ter certeza de que tenho meus fones de ouvido à mão.
Sorrindo à resposta brincalhona da irmã, Valentina estava colocando o telefone para carregar quando percebeu que tinha uma mensagem de George, que deveria ter estado lá a tarde toda. Ainda que não quisesse outra coisa além de se enfiar na cama com Smith, não podia ignorar a década de ética de trabalho que a fez se conectar com a caixa de mensagens e ouvir o que ele tinha a dizer. Ao desligar o telefone, suas mãos tremiam. Ela olhou para as duas pessoas mais importantes de sua vida e ficou feliz por estarem lá para ouvir a novidade. — George disse que há uma guerra de ofertas pelo meu roteiro — ela se perguntou como podia soar tão calma quando suas entranhas se contorciam. — Uma grande guerra. E disse que acha que vou ficar muito feliz com o estúdio que está ganhando. — Ah, meu Deus! — Tatiana saltou do sofá e a abraçou. Smith colocou a mão no queixo dela, inclinou seu rosto para cima e disse: — Parabéns, Valentina. — Então beijou-a antes de sorrir ainda mais e brincar. — Se eu tivesse tido a chance de ver o seu roteiro... Ela gargalhava enquanto dançava pela sala com a irmã, puxando-o para junto delas, formando um trio feliz e animado. — Prometo que será o primeiro a ver o próximo. Tatiana encontrou uma garrafa de champanhe e, depois de terem brindado e tomado uma taça, escovar os dentes com Smith ao lado dela na pia, tirar a roupa um do outro e então se enfiarem juntos por entre os lençóis foi a coisa mais gostosa e mais natural do mundo. Valentina não tinha dúvidas de que a irmã precisaria de fones de ouvido em outras noites, mas, esta noite, Smith só a aconchegou em seus braços e a abraçou com força. E ela o abraçou de volta.
CAPÍTULO VINTE E CINCO Na manhã seguinte, quando Smith e Valentina chegaram à cozinha para o café da manhã, Tatiana já estava de pé tomando uma xícara de café, um pote de cereal pela metade na mesa em frente a ela. Sorriu para os dois quando Smith disse “Bom dia”, mas, quando Valentina esticou o braço até o armário para pegar duas canecas, Tatiana balbuciou para ele: “Precisamos conversar.” — Ei, Val — ela falou —, você se lembra dos brincos que lhe emprestei na semana passada? Aqueles com os rubis? Procurei em todo lugar e não consigo encontrá-los. Se importa de dar uma olhada no seu quarto e ver se estão lá? Assim que Valentina saiu da cozinha, Tatiana enfiou a mão embaixo da mesa e colocou uma página impressa da internet nas mãos de Smith. — Olhe isso aqui. A página mostrava uma das fotos “românticas” dele e de Tatiana, montada, ainda caracterizados como Graham e Jo, tiradas na semana anterior para promover o filme. E, depois, uma foto meio tremida de Smith e Valentina de mãos dadas na noite passada na galeria de jogos. A manchete entre as fotos gritava: Smith Sullivan dá prazer à maravilhosa coadjuvante enquanto tem um caso de amor secreto com a irmã mais velha! Veja os detalhes sobre o tórrido triângulo amoroso! As mãos de Smith amassavam o papel enquanto Tatiana dizia: — Não quero que Valentina veja isso. Ela vai surtar! — Ambos sabiam o quanto aquilo era pouco para descrever como ela se sentiria. — Mas, se já está nessa revista, isso significa que todo programa de entretenimento e todo blog estará sujeito a embarcar nessa história até o final da tarde. Não faço ideia de como evitar que ela veja isso. Vinte e quatro horas depois, pensou Smith. Será que pedira demais? Sim, desde a noite passada parecia que tinham percorrido uma longa jornada, desde que ele e Tatiana terminaram de filmar a cena de sexo. Mas será que fora o suficiente para Valentina confiar que poderiam passar por cima desse tipo de bobagem, ainda mais com o eco dela lhe dizendo “Não consigo imaginar nada pior do que estar sob os holofotes” soando em seus ouvidos? Ou será que essa manchete, junto com a foto dos dois de mãos dadas em público pela primeira vez, apenas confirmaria cada um dos medos dela com relação a quanto seria difícil sua vida com ele? — Sei o quanto Val gosta de você — Tatiana declarou, ao colocar a mão no braço dele com a intenção de tranquilizá-lo. — Quer dizer, ela odeia coisas desse tipo, mas vocês são tão lindos juntos. Valentina estava entrando de volta na cozinha com os brincos na mão quando olhou de um para o outro e franziu o cenho: — Desculpe, pensei que tivesse devolvido... Tem alguma coisa errada?
Não fazia sentido fingir que nada acontecera, ou tentar encobrir a verdade por muito mais tempo. Smith entregou o papel a ela. — Isto. Ele entrelaçou a mão na mão de Valentina enquanto ela lia o artigo, do começo ao fim, até a parte em que “fontes confidenciais” disseram que ele não só não conseguia tirar a mãos de Tatiana como estava se divertindo em dobro com a irmã mais velha, que cuidava da carreira da atriz. A voz de Tatiana tremeu ao falar: — Sei que não temos como controlar esse tipo de coisa, mas não é justo você se magoar, Val, não quando você não se comprometeu com essa vida da maneira como nós fizemos. Justo. Smith sabia que não havia muito coisa justa em Hollywood, ou no mundo ao seu redor. — Mas — Tatiana continuou —, assim que todos se derem conta de que vocês estão mesmo juntos e de que Smith e eu estamos apenas trabalhando no filme, tenho certeza de que isso irá acabar e tudo ficará bem. Talvez Tatiana estivesse certa, Smith ponderou, mas, mesmo que estivesse, isso significaria que os holofotes se virariam todos para Valentina. Valentina ainda não dissera uma palavra, e aquilo o preocupava mais do que tudo. Se aquela fosse apenas uma foto dele e de Tatiana, ainda que não tivesse ficado toda contente com a história falsa, ele achava que ela estaria tentando confortar a irmã como em geral fazia. Smith passara tanto tempo tentando se convencer de que tinha o controle dessa vida louca vida circense que, mesmo sentindo tudo desmoronar ao seu redor, disse a Valentina: — Inventamos histórias para contar ao mundo em filmes, programas de TV, peças de teatro e livros. Essas pessoas estão fazendo a mesma coisa. A grande diferença, claro, eram os personagens nos filmes, que eram fictícios, ao passo que os fotógrafos e blogs estavam brincando com a vida real. A vida dele e de Tatiana, até agora, fora uma caçada ilegal. Agora, a de Valentina também. Por causa dele. Ela sabia que, assim que concordasse em ficar com ele, em algum momento a imprensa iria querer saber mais sobre ela. Mas não imaginou que seria tão cedo. Ou que chegasse a esse ponto tão baixo. Por fim, Valentina falou, a voz rouca com a fúria mal contida, presa na garganta de todos eles. — Eu sabia que seria difícil. Sabia que isso aconteceria, mesmo parecendo que tudo começara tão bem e que as coisas esta manhã foram tão fáceis e tão perfeitas, nós três juntos, tomando café da manhã. Deveria ter pensado melhor; eu sabia que eu não queria... Ela parou de maneira abrupta no meio da frase, e tanto Smith quanto Tatiana seguraram o fôlego quando Valentina abaixou os papéis. Quando enfim olhou para ele, Smith ficou chocado pela maneira como o verde e o castanho dos seus olhos davam uma expressão apaziguadora ao rosto bastante
pálido. Em seguida, ela levantou as mãos para tocá-lo, as mãos ainda mais frias do que estiveram na noite em que subiram a bordo do iate dele rumo a Alcatraz. O coração de Smith parou de bater no peito ao esperá-la dizer que, para ela, estava tudo acabado. Que não conseguiria passar por aquilo. Que estava tudo terminado. Valentina respirou fundo uma vez. E de novo. Por fim, disse: — Fui sincera quando disse que tentaria. Não gostaria que isso acontecesse de novo, mas uma coisa é dizer que quero tentar. Outra é saber que continuarei tentando quando tudo não for um mar de rosas. A sensação de alívio o engolfou, e Smith, no mesmo instante, puxou-a nos braços, abraçando-a com tanta força que só percebeu mais tarde que poderia ter lhe quebrado as costelas. As palavras dela significaram ainda mais com Tatiana ali como testemunha. Valentina, enfim, não estava mais tentando escondê-los. Seria possível, Smith se perguntou, que a história falsa pudesse ter se transformado em uma bênção, em vez de ter sido uma maldição? Smith logo descobriu que nunca estivera tão errado sobre qualquer coisa na vida. Os paparazzi esperando pelos três na calçada do lado de fora da casa de Valentina e Tatiana eram tudo exceto uma bênção. Já atrasados em direção ao set e tendo ignorado as cinco últimas mensagens de texto enviadas pelo seu diretor-assistente, quando os flashes explodiram em frente a seus rostos, à medida que os paparazzi tiravam fotos dos três que valeriam muito dinheiro, meia dúzia de imagens surgiram à frente de Smith. Valentina com fogo nos olhos ao encará-lo de uma maneira como poucas pessoas já tinham feito na vida, ao avisá-lo para ficar longe de sua irmã. A doce alegria e a nostalgia no rosto dela ao cumprimentar Marcus e Nicole pelo noivado. Tê-la nos braços em frente à lareira enquanto conversavam sobre suas famílias, e da dor de perder um dos pais. O calor incrível do primeiro beijo deles no escritório, e então de novo em Alcatraz, nas rochas, sob a luz do luar. As lágrimas dela escorrendo ao assistir a outra cena tocante do filme. E, então, o modo como ela o encarou cheia de coragem e lhe disse que queria tentar, que estava a fim de ver se poderiam fazer as coisas funcionarem, apesar da carreira dele e da aversão a um dia ter de estar sob os holofotes, junto com ele. Smith tinha quinze anos de experiência para lidar com calma nesse tipo de situação. Uma semana antes, gabara-se dizendo que poderia dar uma aula sobre isso para os novos atores. Que inferno, apenas alguns minutos antes ele dissera a Valentina que deveriam encarar aquilo como algo parecido com o tipo de faz de conta que criavam nos filmes e nas histórias.
No entanto, ao tentar proteger Valentina dos paparazzi, ao pedir várias vezes para pararem e eles não o fazerem, e ao ouvir um fotógrafo dizer ao outro: “Isso é que viver um sonho: comer duas irmãs gostosas ao mesmo tempo”, tudo em que conseguia pensar era “Agora ela vai me deixar; agora ela vai me deixar”, até que as palavras em sua cabeça se transformaram em algo que fazia lembrar o formato de um punho fechado. Primeiro, o punho de Smith caiu pesado sobre a câmera, para depois bater ainda mais forte no maxilar do homem que a segurava.
CAPÍTULO VINTE E SEIS Ah, meu Deus, Valentina pensou, ao sentar-se no banco do passageiro do carro de Smith com Tatiana no banco de trás, Não quero esta vida. Nunca quis esta vida. Smith deu a partida no carro e saiu voando rua abaixo, longe dos paparazzi que ainda tiravam fotos. Valentina sentiu a mente pesada, mas, ao mesmo tempo, vazia. Não sabia o que pensar, não sabia como lidar com o estranho sentimento de satisfação vendo-o defender a ela e à irmã, combinado ao medo de ele se machucar na briga. Isso sem falar nas consequências da completa perda de controle dele, que com certeza viriam depois. No banco de trás, Tatiana ligara imediatamente para a assessoria de imprensa do filme, para que pudessem dar início ao controle de danos. Mas Valentina não conseguia nem começar a se concentrar no que sua irmã estava dizendo. Não conseguia tirar os olhos de Smith, de como suas juntas das mãos estavam raladas e ensanguentadas onde tocaram a ponta de câmera, e, depois, os ossos do maxilar do outro homem. Seu maxilar estava travado com força, e ela podia sentir a fúria, a frustração emanando dele. — Você está bem? A voz dela soou estranha a seus ouvidos. Tão estranha que, como Smith não respondeu, imaginou que talvez não tivesse dito as palavras em voz alta. Tentou de novo. — Sua mão. Está sangrando. Você está bem? Dessa vez, apesar de ter certeza de que falara em voz alta, ele continuou sem responder. — Smith? No farol vermelho, ele pisou fundo no breque e, ao virar-se para ela, o que viu nos olhos dele fez sua respiração parar na garganta. — Você está certa — ele falou, a voz mais profunda do que o normal. E tão cheia de dor. Seja lá sobre o que ela tivesse razão, não queria que ele dissesse. Só queria que tudo... — Não sou bom o bastante para você. Minha vida não é boa para você. Ah, meu Deus. Valentina já achava que as coisas estavam ruins, mas isso — isso — era mil vezes pior. Desde o início, Smith tivera certeza: certeza de que a queria; certeza de que ela o queria. E tivera absoluta certeza de que poderiam encontrar uma maneira de fazer as coisas darem certo quando todos os sinais apontavam para a direção oposta. Ficou tão chocada e tão ferida pela declaração dele que se petrificou, apenas com a mão da irmã no ombro, aquecendo uma pequena parte dela.
Como gostaria de lhe dizer que estava errado, e que conseguiria administrar esse tipo de vida. Mas como poderia, se estava presa em algo parecido com uma rede de impossibilidades? Uma rede feita da crença de que ela não era, de fato, capaz de lidar com a fama, juntamente com os fios emaranhados da fome voraz da mídia e dos paparazzi, que sempre teriam a intenção de acender a luz em cima de seja lá quem fosse que Smith escolhesse. Se não podia dizer, se não podia colocar as palavras para fora e fazer tudo ficar melhor, então o que seria? Será que ele iria dizer que tinham terminado? Só de pensar nisso, seu estômago revirou, o peito apertou e lhe faltou o ar. O que sentiu depois de ver a história horrível sobre os três, ou mesmo quando os paparazzi tiravam fotos dela, não era nada comparado a perder Smith de verdade. Smith parou no estacionamento exclusivo para o elenco e a equipe, e Tatiana apertou o ombro dela uma vez, dizendo, antes de sair do carro: — Aviso o pessoal que vocês dois chegarão logo. Valentina olhou para a mão de Smith de novo, viu o sangue seco e desejou saber o que dizer. O que fazer. Antes, sempre soubera, sempre tivera certeza sobre o que procurar e o que evitar. Até agora. Até Smith entrar em sua vida e tudo em que ela acreditava, tudo sobre o que tinha certeza, virar do avesso, até que a única coisa que sabia era o quanto o queria, o quanto gostava de estar com ele, o quanto precisava dele. Mesmo não tendo ideia do que dizer, do que fazer ou do que sentir, ela sabia de uma coisa: não poderiam sair do carro daquele jeito. Não podiam passar o dia no set com “Você está certa. Não sou bom para você” martelando no ouvindo dos dois sem parar. Quando enfim estava prestes a dar uma resposta, viu os flashes vindo da calçada além do set. Claro que os paparazzi viriam. Ela estava chocada demais por tudo o que já acontecera esta manhã para pensar à frente. Smith os viu na mesma hora e alcançou a maçaneta da porta para sair do carro e fugir das câmeras quando Valentina colocou a mão sobre o braço dele. — Smith. A voz dela prendeu-se ao nome dele, transformando uma sílaba em duas. Ao virar-se para encará-la, a expressão dele estava tão apavorada quanto a dela deveria estar, ela tinha de dizer alguma coisa. Qualquer coisa. Nem que fosse só para ele saber que ainda não estava pronta para desistir, e que ainda queria ver se conseguiriam encontrar uma maneira de fazer o felizes para sempre dar certo. Abriu a boca para tentar encontrar as palavras, mas o medo prendeu-as na garganta. A débil esperança que iluminara os olhos dele por um momento se fora. Ao final, foi Smith quem falou:
— Precisamos ficar longe das câmeras. Reconhecendo que Smith estava certo, ela acompanhou-o, em silêncio, do carro até o set, agora reforçado com segurança extra. Qualquer coisa que pudesse ter dito fora engolida pela preocupação do elenco e da equipe, que haviam se tornado uma família para os dois. Ninguém comentou sobre Smith e Valentina estarem juntos, apenas sobre a indignidade dos paparazzi de se meterem em seus negócios particulares. Negócios que, pelo custo enorme de gravar um filme fora do estúdio, tinha de seguir em frente, como sempre. Seis terríveis horas depois, durante as quais cada um se esforçou ao máximo para fazer seu trabalho, e fazer bem, apesar de tudo o que acontecera naquela manhã, Valentina observou o operador de câmera e a designer de iluminação, casados, se beijarem durante as cenas. O peito dela se apertou ao ver a afeição despreocupada deles. Como seria poder beijar Smith sem se preocupar com o que as pessoas diriam? Porém, quando as câmeras voltaram a filmar, Valentina sabia que aquele não era o problema verdadeiro. Afinal, ela nunca se importou com o que pensavam dela. Tinha sido covarde ao não confiar que o relacionamento deles fosse adiante, ainda mais depois do filme, quando cada um seguiria com os próprios projetos. Tentara apoiar a covardia dizendo a si mesma que as coisas com Smith tinham surgido do nada e que tudo acontecera rápido demais, que não tinha entrado neste projeto procurando um homem por quem se apaixonar... — Corta! Quando Valentina olhou surpresa para Smith, e percebeu que estava segurando o telefone no ouvido, congelou de novo, pensando que a ligação tivesse a ver com as consequências daquela manhã. No entanto, aquilo não explicaria o inesperado fluxo de alegria que tomou conta do rosto ele. E então viu o nome nos lábios dele — Sophie — e soube. A irmã dele estava tendo os gêmeos. Ela saíra da cadeira e estava em pé quando Smith caminhou na direção dela. — Sei que não sou da família — ela disse —, mas... — Venha ficar feliz comigo, Valentina. Ah, Deus, sim, por favor. Queria tanto compartilhar a alegria dele. Smith disse a todos para tirarem o restante do dia de folga, e então os dois apostaram uma corrida até o carro. As câmeras começar a pipocar outra vez assim que apareceram, e, apesar das entranhas de Valentina se contorcerem mais uma vez, e de poder ver um músculo saltando no maxilar de Smith, ela fez o melhor que pôde para ignorar os paparazzi. Ela adorava bebês: o cheiro, a inocência, a pele macia. Até mesmo a maneira como franziam o rostinho quando estavam furiosos com o mundo por deixá-los com fome, ou molhados ou com sono. Ainda se lembrava do dia em que Tatiana nascera, o amor instantâneo que sentira pela irmãzinha
bebê. A mãe deixou-a segurar a recém-nascida minutos depois do parto e, quando a irmã a olhara com aqueles lindos olhos azuis, Valentina mergulhara de cabeça naquele amor tão forte que a guiara pela vida toda. — Minha mãe disse que ela teve contrações quase toda a manhã e que estão próximas o bastante para podermos ir até lá. Deus, ela pensou conforme o desespero lhe percorria, amava o som da voz dele. Seria tão difícil não ouvi-la todos os dias, em especial a maneira como sussurrava seu nome no ouvido com tanta paixão antes de gozar dentro dela. Agora precisava manter tudo sob controle. Pelo menos até Sophie dar à luz os bebês. — Mary disse como Sophie estava passando? — Valentina não tinha como não se preocupar que a mais doce e gentil dos Sullivans estivesse lidando com algo mais difícil do que pudesse aguentar. Ainda mais quando sabia que Smith e Sophie tinham uma proximidade especial. — Será que está sentindo muita dor? — Sophie é muito mais forte do que parece — ele afirmou, mas Valentina podia ver o quanto estava preocupado com a irmã mais nova. — Apesar de toda a falação, Lori é a fracota. Sophie consegue se segurar. Podia sentir a tensão na voz dele, tensão que tinha a ver em parte com a preocupação com o bem-estar da irmã. Eles estiveram tão próximos naquela manhã... e agora? Valentina respirou tão fundo que chegou a tremer, e Smith virou o olhar intenso para ela por um momento. Doía tanto pensar no que acontecera a eles na noite passada e nesta tarde. De algum modo ela conseguiu pensar com clareza e lhe perguntou: — Conte-me sobre Sophie e o marido. Como eles se conheceram? Smith fez uma longa pausa antes de responder. — Jake é um amigo da família. Desde quando consigo me lembrar, sempre esteve em casa. Sophie se apaixonou por ele quando ainda era uma garotinha. Quando ele disse “apaixonou”, por um momento Valentina achou que fosse se quebrar em pedacinhos. Em particular quando ele disse: — Eles são tão diferentes, Valentina. Parecia até que diferentes demais. — E o sorriso dele desapareceu. — Ela é bibliotecária. Ele é dono de pubs. Ela é quieta, tranquila. Ele é barulhento, tem um passado turbulento e é coberto de tatuagens. A garganta de Valentina estava tão apertada que mal conseguia colocar as palavras para fora. — Mas fizeram dar certo. Smith parou o carro no estacionamento do hospital e voltou o olhar para ela.
— Ele a ama tanto quanto ela o ama. Então, é lógico, fizeram dar certo. Entrar na sala de espera foi como entrar em uma reunião da família Sullivan. Todos os irmãos e a irmã de Smith estavam lá, prontos e animados para conhecer os bebês, talvez ainda esta noite. A única coisa que talvez pudesse ofuscar a felicidade deles era a preocupação estampada em seus rostos. Todos estavam preocupados com ele, pois Smith nunca chegara nem perto de dar um soco em um fotógrafo antes. Marcus e Nicole o cumprimentaram primeiro com abraços. Smith não teve muita certeza sobre os dois enquanto casal quando os viu juntos pela primeira vez. Na verdade, avisara o irmão para tomar cuidado e não se aproximar demais de uma popstar, pois achava que o seu estilo de vida não combinava com o irmão mais tranquilo e sério de todos. Mas estava errado. Eles eram perfeitos juntos. Assim como Sophie e Jake, apesar de todas as suas reservas quando ficou sabendo que Jake engravidara Sophie. Smith sabia que ele e Valentina também eram perfeitos juntos. Até que seu mundo reluzente desmoronara sobre eles e destruíra a ligação nova e frágil em pedacinhos. Quando Nicole foi abraçar Valentina, Marcus deu um olhar para Smith que era fácil de ler. O que está se passando com você? Smith balançou a cabeça. Não queria falar sobre aquilo agora, não queria deixar toda a porcaria que vinha junto com sua fama ofuscar um dos maiores e mais importantes momentos da família. Sabia que seus irmãos, com a maior boa vontade, teriam ido atrás dos paparazzi e lhes dado um chute no traseiro para protegê-lo, que odiavam não poder proteger e defender um dos seus. Também sabia, porém, que continuariam a respeitar os desejos dele para que não se envolvessem ou não se metessem em problemas em seu nome. Foi ele quem escolheu aquela carreira, não os irmãos. Que droga, era a exata razão pela qual precisava deixar Valentina ir embora. Estava tentando, com todas as forças, fazer o que era certo para ela, mesmo que nada parecesse tão errado. A noiva de Ryan, Vicki, e a irmã dele, Lori, cumprimentaram Valentina como se ela fosse uma velha amiga, e ele adorou que a fizessem rir, em especial depois da maneira como a voz dela tinha tremido no carro naquela manhã, ao dizer seu nome. Então, outra mulher em trabalho de parto passou por eles em uma cadeira de rodas, gemendo de dor enquanto segurava a barriga, e, de repente, tudo em que Smith conseguia pensar era Sophie. Ele tentava ser um homem honesto, com os outros e consigo mesmo, mas até aquele momento não quis refletir muito sobre a realidade, e os riscos, de Sophie dar à luz gêmeos. Mesmo com Sophie insistindo com ele centenas de vezes, quando falava com ela pelo menos duas vezes por dia, que era a gestante mais saudável do planeta, pegou-se envolto em preocupações que não podia mais controlar. Que inferno, como não pôde perceber Jake se aproximando da irmã? Talvez na época pudesse ter evitado que tudo isso tivesse acontecendo e agora Sophie não estaria no hospital, onde qualquer coisa poderia...
— Smith. Ele não percebera Valentina parada em frente a ele, e ficou surpreso ao ouvi-la dizer: —Acho que é o momento perfeito para usar seu famoso charme de astro de cinema e convencer a enfermeira a deixá-lo dar uma olhada em Sophie, para ver com os próprios olhos que tudo dará certo. A tranquilidade dela dissipou a nuvem que lhe encobria a mente como a luz de um farol. Essa era outra razão por eles serem uma combinação perfeita: quando começava a sair dos trilhos, o que era uma coisa muito fácil de acontecer em seu ramo profissional, ele podia contar com Valentina para trazê-lo com amor, mas firmeza, de volta ao eixo. Já a vira fazer essa mesma coisa várias vezes com a irmã durante as filmagens, tão sintonizada com Tatiana a ponto de sempre estar por perto sempre que a irmã mais precisava. Como poderia abrir mão dela? Mesmo sendo a coisa certa a fazer por ela? Mesmo que tivesse uma vida melhor sem ele? O flash de uma câmera atravessou a porta de vidro da sala de espera. Menos de um segundo depois, Valentina estava dizendo, com uma voz coberta de raiva: — Vocês todos precisam ficar aqui pela Sophie. Vou dar um jeito nisso. — Isso não é legal. Valentina caminhou direto até os homens e mulheres com as câmeras. Sem dúvida tinham recebido a informação de para onde ela e Smith se dirigiam quando saíram do set. Ou talvez, pensou, tivessem chegado ali primeiro, mas estavam esperando a oportunidade perfeita para tirar fotos da família inteira quando enfim aparecesse na área mais pública do hospital. Os “como” não faziam a mínima diferença, não quando a única coisa que importava é que fossem embora. — Sei que ele é um astro, que a foto dele vende jornais e anúncios, mas será que podem lhe dar pelo menos isso? Apenas algumas horas para ficar sozinho com a família? As câmeras continuaram a clicar enquanto ela falava, e Valentina sabia que estava sentindo a mesmíssima sensação que Smith sentira aquela manhã nas escadas da casa dela. Que faria qualquer coisa que precisasse para fazê-los irem embora. — Por favor. Mais cedo, quando Smith precisou, ela não pôde encontrar as palavras, não tinha certeza de que queria sacrificar a própria privacidade, ou fazer parte do circo que a vida dele provavelmente sempre seria. Agora, mesmo sendo pouco, e tarde demais, nada podia impedi-la de dizer: — Digam-me o que querem para deixarem a família Sullivan em paz hoje. Digam-me e eu farei todo o possível para garantir que terão isso. Ela mal teve tempo de respirar de novo antes de a primeira perguntar surgir: — É verdade que Smith estava saindo em segredo com você e sua irmã? — Não.
— Então, com quem ele está? — Comigo. Só comigo. — Há quanto tempo está com Smith? — Quatro semanas. — Estavam saindo em segredo? — Sim. — A sua irmã sabia? — Não. — Ele ama você? Valentina balançou a cabeça, sabendo que logo as lágrimas começariam a escorrer. — Não sei. — Está apaixonada por ele? As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto, uma após a outra. — Sim, eu o amo. E, com isso, soube que havia lhes dado com precisão o que queriam. Uma foto perfeita da profundeza infinita de seu amor por Smith, e do medo e da incerteza que o acompanhavam lado a lado. — Agora, por favor, saiam. Por incrível que pareça, eles saíram, mas Valentina permaneceu onde estava para ter certeza de que não mudariam de ideia no último minuto. Quando enfim se virou, deu de cara com um peito firme. — Smith? — Não mereço você. Ele pegou o rosto dela entre as mãos e a encarou, os olhos queimando com um calor escuro e intenso, e Valentina percebeu que ele devia ter visto e ouvido tudo. — Sei que merece mais do que isso — Smith confessou. — Merece mais do que ser enfiada dentro dessa vida louca, mas sou um filho da mãe muito egoísta para abrir mão de você. Os lábios dele encobriam os dela, apertando-os em um beijo sem fronteiras. Assim como cada um dos beijos anteriores, ela também não podia esconder nada dele. — Eu amo você, Valentina. Amo que esteja aqui com minha família. E mal posso esperar para lembrá-la do quanto ficou chocada no dia em que eu lhe disse que a amava também. Quando estivermos na sala de espera de um hospital, cercados de luzes fluorescentes e cadeiras baratas de plástico azul.
— Smith Sullivan? — uma enfermeira de meia-idade chamou. — Vou levá-lo para ver sua irmã agora. Ele lhe deu mais um beijo de tirar o fôlego e então seguiu em direção à ala da maternidade para ter certeza de que sua irmã estava bem. As portas vaivém mal tinham se fechado atrás de Smith e da enfermeira quando Lori se colocou ao lado de Valentina. — Eu sabia. Valentina ainda estava tão chocada, tão estupefata pelo que Smith lhe dissera não apenas uma, mas três vezes, e pelo que ela dissera aos fotógrafos — “Sim, eu o amo” — que, pelo amor de Deus, não foi capaz de fazer seus lábios emitirem uma resposta à irmã dele. Os irmãos de Smith e suas parceiras não chegavam nem perto de ser intrometidos, mas ela podia dizer que todos estavam prestando muita atenção à maneira como as coisas se desenrolariam a partir dali. A contar pela energia e pelo entusiasmo de Lori, era óbvio que estava feliz, pois passou o braço em volta de Valentina e disse: — Em todo lugar que esteja esperando por algo importante, se houver uma máquina de café, preciso comprar uma xícara. Tipo uma superstição, eu acho. Quer um? Um minuto depois, Valentina estava segurando um copo de café com um gosto horroroso. Olhando para a mistura aguada, então de volta para Lori, ela agradeceu: — Obrigada. A irmã de Smith sorriu para ela. Por mais lindo que ele fosse, cada membro da família tinha um tom diferente daquela beleza. A beleza de Lori, no entanto, era tão impressionante à primeira vista que Valentina se lembrou de repente de sua mãe e irmã e se perguntou se a beleza seria um problema na vida de Lori. De repente se dando conta do quanto Lori parecia cansada e que ainda estava usando meias, uma saia brilhante e sapatos de dança, Valentina perguntou: — Você se importa se nos sentarmos por alguns minutos? Quando Lori, agradecida, afundou-se em uma das cadeiras, Valentina pensou ter visto mais do que cansaço naquele rosto lindo. Também havia tristeza, vindo à tona na direção de Valentina, quando Lori, por um momento, deixou cair a máscara da insolência. Por mais que ainda estivesse se recuperando da declaração de Smith poucos minutos atrás, Valentina percebeu-se querendo ajudar Lori. — Está tudo bem? Os olhos de Lori se arregalaram de surpresa e, por um momento, pareceu que o rosto dela iria enrugar. Em seguida começou a balançar a cabeça e dizer: — Estou só pensando em Sophie. Sabe, aquela coisa toda de conexão dos gêmeos, e a dor dela ser a minha dor, e tudo mais.
Mas, antes que pudesse dizer a Lori que ficaria feliz em ouvir, em qualquer lugar, a qualquer hora, se tivesse algo sobre o que gostaria de conversar, Lori deu um gole no café e fez uma careta. — Meu Deus, acho que essa deve ser a pior máquina de café que já vi na vida! Um minuto depois, voltou a atenção para Valentina. — Smith é o mais determinado de todos nós — Lori disse a ela, e Valentina sabia o quanto aquela declaração era extraordinária, considerando o quanto cada um dos Sullivans era bemsucedido. — Eu achava que ele estava esperando alcançar um certo nível da carreira antes de dar a mesma prioridade à sua vida pessoal. Mas agora sei que não era isso. Lori sorriu com uma afeição tão sincera que Valentina sentiu o nó no peito começar a desaparecer. — Ele só estava esperando a mulher certa. — Lori apertou a mão de Valentina. — Estou muito feliz que tenha encontrado você. Smith encontrou Sophie e Jake esperando uma contração quando entrou no quarto vestindo o avental que a enfermeira lhe dera. Seu coração parou por um momento ao ver a irmã elegante e de fala mansa rangendo os dentes e gemendo baixo e demoradamente à medida que a dor a atingia. O marido dela lhe segurava uma das mãos, a outra tirando o cabelo úmido da testa enquanto sussurrava palavras de encorajamento no ouvido dela. A mãe colocou o braço em volta dele e disse, em voz baixa: — O anestesista acabou de sair. A dor logo deve diminuir. Smith mal podia engolir, com um nó na garganta. Não aguentava ver a irmãzinha com dor, ainda que dar à luz fosse considerada a coisa mais natural do mundo. Sim, ele e Tatiana tinham representado aquilo na tela, mas fingir estar em trabalho de parto era muito, muito diferente de passar por aquilo de verdade. Por fim, quando a contração passou, Sophie levantou os olhos encobertos de dor e deu um sorrisinho para ele. — Smith. Você está aqui. Ele na mesma hora tomou a cadeira vazia que estava do outro lado dela, deu-lhe um beijo no rosto e segurou-lhe a mão. — Claro que estou aqui, querida. Sete meses antes, os quatro — Sophie, Jake, sua mãe e Smith — estavam juntos em outro quarto de hospital. Ele viera da Austrália não apenas para ter certeza de que a irmã sairia ilesa de sua cirurgia de emergência, mas também para lhe dizer o que pensava sobre o homem a quem chamava de amigo. O homem que Smith acreditava ter traído a todos eles ao seduzir sua irmã. Por sorte, não levou muito tempo para aceitar o amor entre Sophie e Jake, e para compreender por quanto tempo já existia. É óbvio que a mãe dele sempre soube de tudo, mas, de novo, quando foi que ela tinha deixado passar qualquer coisa que se referia a qualquer um deles? Claro, Mary Sullivan
fora a primeira a quem Smith confessara seus sentimentos, pois sabia que ela o compreenderia e apoiaria, não importando quem ele amasse, ou o quanto fosse difícil convencer aquela mulher preciosa a amá-lo também. “Sim, eu o amo” — Valentina dissera. E nunca foram ditas palavras mais doces ou que tenham tocado tão fundo seu coração. Mesmo que a primeira vez que a tenha ouvido dizer aquelas palavras tenha sido para um bando de paparazzi, em vez de direto para ele, nunca queria que ela se arrependesse de tê-las dito. — Como vai a Valentina? — Sophie lhe perguntou, como se pudesse ler seus pensamentos. Sorriu antes que ele pudesse responder e continuou: — Você sabe que a Lori me contaria sobre vocês dois. — Fantástica — Smith respondeu para a irmã, enquanto se lembrava da maneira como Valentina enfrentara os paparazzi e sacrificara a si mesma sob os holofotes, por ele e pela família dele, sem medo, sem hesitação. — Ela é absolutamente fantástica. — Ah, Smith, fico tão... As palavras dela foram interrompidas por outra contração. A mão dela apertou a dele tão forte que ouviu as juntas estalarem diante da força daqueles dedos pequenos e fortes enroscados nos seus, muito maiores. Cada gota que sobrara da concentração de Jake estava na esposa, em amainar a dor dela, ainda que fosse claro para Smith que ele mal conseguia se controlar. Se Smith ainda tinha reservas com relação ao amor de seu amigo pela sua irmã, todas se dissiparam ao testemunhar a total devoção de Jake a Sophie. Quando a contração por fim passou, e a mão se soltara um pouquinho, ela deu aos dois um sorriso desanimado. — Acho que essa foi um pouquinho melhor. — Você está se saindo muito bem, querida — Smith lhe disse, a voz embargada de emoção. — Estou orgulhoso de você. Ela sorriu para ele, um sorriso puro, tão cheio de amor, e, naquele momento, era de novo a garotinha quieta a quem sempre dera cuidados especiais, garantindo que sua irmã e seus irmãos mais agitados não passassem com as ferraduras por cima dela. Assim como acabara de dizer a Valentina, Sophie era muito mais forte do que as pessoas acreditavam. Forte o suficiente para aguentar a dor de outra contração, que a atingiu como um caminhão. Smith virou-se para encontrar os olhos da mãe, e, mesmo sabendo que ela não gostava de ver a filha com dor mais do que nenhum deles, ficou claro de onde vinha a força de Sophie. Mary Sullivan parecia delicada, e era tão linda agora como fora em seus dias de modelo, mas a força de todos eles viera dela. Olhando de volta para a irmã, Smith viu que a cabeça de Sophie estava enfiada no vão do ombro de Jake enquanto se esforçava para tomar fôlego entre as contrações. Smith sempre estaria perto
dela. Mas agora enfim percebera que ela não precisava mais dele para protegê-la do mundo. Ela tinha Jake. E Smith tinha certeza absoluta de que o marido nunca os decepcionaria. Em particular a mulher que significava absolutamente tudo para ele. Com outro beijo na testa, Smith disse: — Eu amo você, Soph. E mal posso esperar para conhecer seus bebês. Em silêncio, passou o bastão da confiança e da fé para Jake, que o aceitou com um movimento da cabeça. Smith desenroscou os dedos dos dedos de Sophie e deixou a irmã com as duas pessoas a quem confiaria a própria vida dela. Sophie encontrara o amor eterno que sempre estivera procurando. E ele também.
CAPÍTULO VINTE E SETE Valentina estava sentada com Lori na sala de espera quando Smith apareceu, vindo do quarto de Sophie. Ambas ficaram em pé na mesma hora, e Lori perguntou: — Como ela está? Smith sorriu. — Ela está ótima. Melhor do que ótima. As contrações estão bem fortes — informou, enquanto mexia a mão, tentando colocar os ossos de volta na posição correta —, mas acho que agora não vai demorar muito. Na sala de espera, a esposa de Chase, Chloe, segurava a filhinha, nascida há pouco tempo: — Deus, juro que consigo sentir a dor dela. A pequena Emma escolheu aquele momento para levantar as mãos e agarrar o rabo de cavalo de Heather com uma risadinha feliz. Todos riram com o bebê, que olhou para sua grande família com alegria. A noiva de Zach pegou o bebê quando Emma deu os bracinhos para ela, e junto com Heather e Zach beijou as bochechas macias, fazendo-a rir ainda mais alto enquanto puxava o rabo de cavalo de Heather com toda a força. Apesar de Smith ser absolutamente louco pela pequena sobrinha, não conseguia tirar os olhos de Valentina. Cada momento que passara com Sophie e Jake ele estivera pensando nela. Agora, mesmo com toda a família ao redor deles, era como se os dois fossem as únicas pessoas na sala. Pela primeira vez na vida dele, estava tão possuído pelo amor que não era possível fazer nenhuma parte de seu corpo funcionar, quanto mais seu coração, que só batia por ela. — Sente-se melhor agora? — Sim — Smith respondeu, tanto por saber que Sophie estava em boas mãos quanto por ter a doce, maravilhosa certeza de que Valentina o amava. A conversa corria ao redor deles, mas Smith estava feliz apenas por ter Valentina em seus braços. Ela estava tranquila e calorosa ao lado dele. Pouco tempo depois, a mãe dele atravessou as portas vaivém com o maior sorriso que já vira em seu rosto. — Nasceram! — Os olhos dela marejados de lágrimas de felicidade. — Ah, eles são tão lindos! Sophie e Jake mal podem esperar para que conheçam a menininha e o menininho deles. Mary Sullivan era uma das mulheres mais equilibradas do planeta. Tinha de ser, para conseguir cuidar de oito crianças travessas; no entanto, pela primeira vez na vida, quase pareceu incapaz de se recompor. Marcus e Lori estavam mais próximos e a abraçaram, cada um de um lado, enquanto ela contava:
— Eles vão batizar a filha de Jackie, em homenagem ao Jack. Smith sentiu os próprios olhos umedecerem pelo tributo a seu pai, e ficou feliz quando Valentina chegou ainda mais perto dele. Esse momento estaria longe de ser tão bom, ou longe de ser completo, se ela não estivesse lá para compartilhá-lo com ele. — E chamaram o filho de... — Mary olhou para Smith e sorriu através das lágrimas de felicidade. — Deram o seu nome a ele, Smith. Nunca pensara no quanto algo como aquilo significaria para ele, mas agora sabia. Significava muito. — Ah, Smith! — Valentina disse, ao encará-lo com olhos tão carinhosos e apaixonados que lhe tiraram o fôlego tanto quanto ouvir que a irmã dera o nome dele ao filho. — Isso é lindo! Agora, a mãe deles não era a única a chorar. Quando a obstetra Marnie, que também tinha feito o parto de Emma, a filha de Chase e Chloe, no início do ano, apareceu, aceitou com elegância os agradecimentos por outro parto bem-sucedido. — Sophie e Jake fizeram todo o trabalho, mas eu estaria mentindo se dissesse que recusaria uma garrafa de champanhe — ela disse, com uma piscadela em direção a Marcus. Quando todos riram, ela continuou: — Eles já tomaram banho e estão prontos para conhecer as tias e os tios agora, mas dois ou três de cada vez são mais do que um caos suficiente para nossa equipe de enfermaria lá atrás. Marcus, o Sullivan mais velho, afastou-se dos irmãos em silêncio antes de se virar para Smith e dizer: — Vá conhecer o Smith Junior e a Jackie. Mas, lembre-se, o restante de nós está esperando. Smith puxou Valentina pelas portas vaivém antes que ela pudesse protestar que não era da família. E, claro, também estava apostando que ela tinha uma queda evidente por bebês. Havia aventais e gel desinfetante esperando por ambos do lado de fora do quarto de Sophie, e Smith deu um beijo na nuca de Valentina quando ela automaticamente virou-se para que amarrasse os fitilhos de algodão na parte de trás. Ele adorou os arrepiozinhos que lhe percorreram quando ela se inclinou nos braços dele por um momento. No entanto, nenhum dos dois conseguia esperar nem mais um minuto para conhecer os dois novos membros da família; assim, se separaram um pouco e entraram no quarto. Um som baixinho de deslumbramento escapou dos lábios de Valentina ao olhar pela primeira vez para os recém-nascidos. Não deveria ser tão fácil diferenciar a menininha do menininho, mas sem dúvida havia algo másculo em Smith e uma feminilidade bem suave em Jackie. Os braços de Smith já estavam esticados ao caminhar pelo quarto e chegar ao lado da irmã. Ela não hesitou em colocar o filho nos braços dele. — Ele é lindo, Sophie. Valentina ainda estava em pé na porta quando Jake perguntou: — Gostaria de segurar a Jackie, Valentina?
Ela ficou emocionadíssima com a oferta. — Adoraria — Valentina respondeu baixinho, antes de enfim dizer: — Parabéns, eles são lindos demais. Estou muito feliz por vocês. Smith mal podia tirar os olhos do novo sobrinho, mas, quando Jake deu Jackie a Valentina, ficou mais do que feliz por não ter perdido o momento em que ela sorriu para o bebê. Ela parecia tão sincera e tão feliz quanto quando estava em seus braços. Um minuto depois, ela levantou os olhos, e seu olhar se conectou ao dele. Dessa vez foi Smith quem teve arrepios lhe percorrendo. Algumas pessoas diriam que, como um astro de cinema, ele já tinha tudo. Mas não tinha. Não até Valentina chegar. E agora queria tudo. Não apenas o amor de Valentina, não apenas a promessa de têla para sempre em seus braços e ao seu lado, mas uma família, bebês, risos e lágrimas. Queria dividir cada momento precioso com ela, cada um que fosse de fato importante. Nenhum dos dois percebeu o olhar que Sophie e Jake deram um ao outro ou o prazer no rosto de Sophie ao perceber que estava testemunhando seu irmão mais velho por fim entregar o coração por completo. Valentina logo retornou a atenção ao pacotinho macio em seus braços, e Smith fez o mesmo, ambos murmurando o quanto os bebês eram lindos, maravilhosos e fortes. A obstetra bateu à porta e coçou a cabeça com um sorriso. — Só para avisá-los de que seus outros irmãos e sua irmã estão a ponto de fazerem um motim lá fora se não conseguirem passar um tempinho cara a cara com os pequenos. Smith, relutante, devolveu o menininho para a irmã. — Você foi fantástica, Soph. Qualquer coisa que precisar. — Olhou para Jake também. — Quero que me liguem. Dia ou noite. Valentina, claro, também tinha dificuldade para abrir mão do lindo pacotinho em seus braços, mas logo deu o bebê de volta ao pai e abraçou Jake e Sophie. — Tchau, lindinha. Os olhos de Valentina ainda tinham toda aquela ternura quando Smith colocou o braço ao redor dela e saíram do quarto para avisar aos outros irmãos de que Sophie, Jake, Smith e Jackie estavam prontos para receber mais visitas. Lori foi em seguida, junto com Marcus e Nicole, e, por mais que Smith adorasse ficar com a família, também sabia que havia outras coisas das quais precisava mais naquele momento. E puxou Valentina em direção à saída. Quinze minutos depois, Smith puxou Valentina para fora do carro e, mais rápido do que um batimento cardíaco, os lábios dele encobriram os dela; então ela estava em seus braços, e ele fechou a porta do carro com um chute e carregou-a para dentro de casa, como fizera na primeira noite juntos depois de Alcatraz.
Seu beijo era repleto de paixão, mas também de algo tão carinhoso e sincero que fez Valentina se derreter em seus braços quando os enroscou em volta do pescoço dele e o beijou com a mesma paixão. Todas as vezes que estivera com Smith ela o desejara, mas jamais como naquele momento. Vontade. Necessidade. Desejo. Nenhuma daquelas palavras, nenhuma daquelas emoções seria grande o suficiente para conter tudo o que sentia por Smith. Pela família dele. Pela maneira como eles a incluíram em um dos momentos mais especiais da vida deles. E, acima de tudo, pela chance de segurar um milagre nos braços. Smith deitou-a sobre a cama, sem nunca deixar de beijá-la, nem mesmo por um segundo, enquanto suas mãos encontravam o zíper da saia e puxavam primeiro os dentes de metal, depois o tecido dos quadris dela. Com apenas a calcinha e as meias-finas que ele lhe comprara cobrindo a parte de baixo do corpo, Valentina enroscou as pernas em volta da cintura dele e puxou-o com mais força. Momentos depois, Smith desabotoou blusa dela e abriu o tecido sedoso. Em seguida, foi o fecho da frente do sutiã, até que a pele sensível estava nas mãos dele e ela arqueou-se para dentro do toque morno das mãos e das pontas dos dedos dele com uma arfada de prazer. Minuto a minuto a pele esquentava mais, os ossos pareciam derreter a cada beijo, a cada carícia, a cada golpe dos quadris ainda vestidos. Porém, em vez de o beijo se tornar cada vez mais fora de controle, os lábios de Smith se acalmaram sobre os dela. Surpreendentemente, o toque leve dos lábios dele sobre os dela apenas intensificou a emoção, a necessidade, a paixão; quando ele enfim levantou a cabeça para olhá-la, Valentina não tinha a menor chance de esconder nada dele, mesmo que quisesse. — Os bebês, Smith. — Sentia os lábios inchados e quentes dos beijos dele e respirou fundo de extremo prazer. — Eles não eram a coisa mais linda que você já viu? — Eram lindos — ele concordou, com uma voz baixa que ecoou sobre a pele dela, trazendo arrepios a cada milímetro de seu corpo. Levou uma das mãos até o rosto dela e passou o dedo sobre o lábio inferior, carnudo, que tremeu àquele toque. — E você também é linda. Segurar os bebês nos braços apagara por completo a manhã horrível com os fotógrafos e as brigas das quais ela tivera certeza de que ela e Smith nunca se recuperariam. E, por incrível que pareça, eles se recuperaram. Mais tarde, conseguiriam resolver todo o resto. Agora celebrariam a nova vida e o amor um pelo outro. Dessa vez foi Valentina quem pressionou os lábios sobre a pele dele, primeiro sobre os pelos curtos e escuros que cobriam a parte de baixo do maxilar, depois sobre o batimento forte e constante de seu coração do lado do pescoço. Ela nunca se permitiu confiar em um homem antes, e Smith era o último na Terra com quem deveria estar buscando essa certeza. Mas, como poderia pensar em buscar em outro lugar quando ele era tudo o que conseguia ver?
Estava tão feliz por ele que parecia até que fora sua irmã que dera à luz, mesmo que só tivesse se encontrado com Sophie algumas vezes. Agora, mesmo com o corpo quase nu de Valentina enroscado no dele, quente e pronto para qualquer coisa que quisesse, Smith não fez nenhum movimento para tirar a roupa. Ficou apenas olhando para ela. Tudo o que ela podia ouvir era o som de seu coração, e o do dele, batendo ao mesmo tempo. E tudo o que sabia era que estava profunda, verdadeira e loucamente apaixonada por ele. Não por ser um dos homens mais belos que já conhecera. Não por ser rico e famoso. Nem mesmo pela maneira como se sentia quando ele a beijava, a tocava, a fazia gritar seu nome de prazer. Mas pela maneira como amava a família, a mãe, a irmã, e agora os bebês, com cada pedaço de seu coração. Calor e desejo ardente sempre os atraíram, mesmo quando estava desesperada tentando ficar longe dele. Há tanto tempo que queria lhe dizer, mas naquele momento tudo o que conseguia fazer era sussurrar o nome dele. — Smith. — Também amo você. Compartilharam um beijo cheio de alegria e paixão, felicidade e desejo; tudo o que ela sonhara, porém nunca acreditara de verdade que pudesse ter um dia. Sonhos, realidade, paixão, afeição, tudo junto em uma combinação perfeita, conforme começou a tirar a camisa, depois a calça e a cueca dele. Tiraram logo o restante das roupas até ficarem nus e estarem buscando um ao outro assim que Smith colocou o preservativo. Juntos, mergulharam um no outro, com força e carinho, com loucura e constância, quando Smith a penetrou com uma única estocada maravilhosa. Valentina precisava que fosse mais fundo, e arqueou-se dentro dele, a cabeça caindo para trás contra os travesseiros enquanto ele corria as mãos pelas costas dela para encaixar os quadris e puxá-los mais forte contra ele. Tudo o que ela oferecia ele aceitava; tudo o que ela buscava ele dava, até que, por fim, nenhum dos dois conseguiu se segurar. No exato momento em que Valentina começou a chegar ao clímax, Smith tomou-lhe os lábios em um beijo tão amoroso, tão doce e tão cheio de amor que as lágrimas que nunca se permitiu derramar escorreram pelo rosto, uma após a outra, cada vez mais rápido, à medida que os tremores do orgasmo tomavam conta dos dois. As lágrimas ainda caíam quando Smith começou a lhe beijar de modo suave as pálpebras, o rosto, o queixo, todos os lugares marcados pela umidade. Quando as ondas de prazer enfim se acalmaram, Valentina sabia que nunca estivera tão saciada, tão bem amada em toda a sua vida, ou tão chocada pelo que se passara com ela nos braços de Smith. Uma parte dela sentia-se renascida, como se tivesse sido batizada por suas lágrimas. Aquelas mesmas lágrimas, porém, foram as últimas defesas contra a dor que ela se recusava a reconhecer. Nem mesmo a própria irmã já a vira chorar. Só Smith.
Por fim, depois de beijar cada último vestígio das lágrimas dela, ele ergueu a cabeça para olhála. Não disse nada, mas não precisava, pois podia ler tudo nos olhos dele: o amor, junto com o desejo latente renovado pelos beijos suaves que ele nunca parara de lhe dar. — Eu amo você — Valentina disse, a primeira vez que dissera as palavras diretamente a ele. A alegria espalhou-se pelo rosto de Smith, e, ao dizer as palavras entre os beijos dele, uma vez atrás da outra, Valentina percebeu que, por mais que fosse maravilhoso ouvir Smith dizer “Eu amo você”, não era apenas um milhão de vezes melhor dizer a ele; era também muito fácil. Muito bom. E, ah, tão perfeito. Ao sussurrar sobre os lábios dele as três palavrinhas que tivera medo até mesmo de sentir, ele as sussurrou de volta antes de aconchegá-la nos braços, a cabeça dela sobre seu peito, as pernas ainda enroladas nas dele. Tudo o que queria era fechar os olhos e descansar um pouquinho, sabendo que Smith estava lá com ela, abraçando-a a noite toda. Ela não sabia quantas horas tinham se passado desde que saíram de repente do set e, durante o tempo que Sophie levara para ter os bebês, Valentina não se importara com as responsabilidades que estava ignorando. No entanto, agora que apenas o próprio prazer estava em jogo, será que não tinha de voltar ao mundo real? Não importava se isso era a última coisa que queria, pois tudo o que parecia importar era Smith e a felicidade que sentia a cada momento que passava com ele. Como se pudesse ler sua mente, Smith puxou-a para mais perto e disse: — O mundo continuará girando sem nós durante um tempo. A última coisa que Valentina sentiu foi a pressão dos lábios de Smith em sua testa, quando enfim deixou-se encostar por inteira nele, derrubando a última defesa de seu coração ao ouvi-lo sussurrar “Amo tanto você” mais uma vez antes que o sono tomasse conta dela.
CAPÍTULO VINTE E OITO Valentina acordou com o fantástico cheiro de pizza de pepperoni, e o estômago roncando. Ao tirar o cabelo do rosto e se encostar nos travesseiros, notou que o céu lá fora já estava escuro. As luzes do quarto estavam acesas, mas fracas o bastante para que precisasse fazer uma varredura no quarto à procura de Smith. De onde estava, na sala, ele estava de olho nela e, é óbvio, tinha acabado de colocar a comida sobre a mesa de centro. Já trabalhava com ele havia tempo suficiente para reconhecer quando estava no modo diretor, quase como se estivesse enquadrando a cena com ela sobre a cama, com a intenção de sacar uma câmera para filmar. Valentina começou a sair de debaixo dos lençóis para ir até ele, mas o nome dela nos lábios de Smith a manteve presa onde estava. Uma corrente de calor se espalhou pela pele dela devagar, depois um pouco mais rápido, ao vê-lo absorvê-la do outro lado do quarto, até que foi ela a dizer o nome dele em uma voz meio rouca de sono e pela maneira como pronunciara o nome dele um pouco mais cedo. — Amo ver você na minha cama. — E eu amo estar na sua cama. Minutos depois, ele estava em pé em frente dela, puxando-a até que ficasse de joelhos, as cobertas deslizando por completo sobre o corpo nu enquanto enroscava os braços em volta do pescoço dele para lhe beijar com uma paixão que parecia nunca arrefecer; ao contrário, ficava cada vez mais quente, maior e mais profunda a cada beijo. Em seus pensamentos, Valentina notara o quanto era fácil, e o quanto fora fácil, se permitir ser naturalmente sensual com Smith. Durante tanto tempo se esforçara para suprimir esse seu lado, garantindo que nenhum homem “tirasse vantagem” de sua necessidade de ser tocada, beijada, abraçada. Mas, com Smith, sempre se sentira segura, apesar da voracidade perigosa que costumava ver nos olhos dele quando olhava para ela. Será que era por sentir aquela mesma voracidade que o perigo parecia não apenas aceitável, ou era, de fato, um bônus bastante gostoso? Ele pegou a camisa que usara na noite anterior. Valentina enfiou os braços nas mangas compridas, mas não a abotoou, só enrolou as mangas e enroscou o tecido em volta de si ao sentaremse juntos no sofá. Smith não pegou a comida, nem ela. Em vez disso, tomou-lhe as mãos quando ela tentou tocá-lo. — Está com fome? — ele perguntou, a voz profunda, tranquilizadora e provocante ao mesmo tempo. Ela respondeu balançando a cabeça, mas sabia que não conseguiria comer nada até que conversassem. Até mesmo os maiores astros do planeta precisavam comer e dormir, assim como todo mundo. Mas, no que se referia àqueles que esses astros amavam, e ao potencial estrago que a fama poderia causar aos seus relacionamentos, “normal” não era a palavra mais adequada. Ainda assim, Smith a fizera querer acreditar. Não apenas no amor, Valentina já sabia que aquilo
era real, sabia que o que sentia por ele nunca poderia ser apenas o resultado de proximidade e do sexo maravilhoso, e que o amor deles poderia aguentar não só as pressões da vida, mas também da fama dele. Por muito tempo ela pensara que ser forte significava não se deixar ser vulnerável. Será que todo esse tempo entendera errado? Em vez de ser uma fraqueza, será que arriscar tudo por amor era, na verdade, a coisa mais forte e corajosa que poderia fazer na vida? Ela olhou para as mãos entrelaçadas, e sabia que Smith já tinha tanto mais do que ela jamais pensara em lhe dar. Agora, enfim, ela queria lhe oferecer ainda mais. Olhou dentro dos olhos escuros dele, tão lindos e tão cheios de amor. Por ela. — Não quero mais ser um mistério. Não com você. Ele não soltou sua mão da dela. Em vez disso, passou a ponta dos dedos sobre as palmas, causando-lhe, ao mesmo tempo, uma sensação de aconchego e arrepios. — Estou aqui, Valentina. Agora e sempre. — Continuou a passar os dedos sobre a pele dela vagarosa, confiante e ininterruptamente. — Tudo o que precisa fazer é me deixar entrar. Ele fazia tudo parecer tão simples. E então, de repente, ela se deu conta de que tudo era simples de verdade. — Minha mãe era diferente quando meu pai era vivo. — Ao começar a falar, Smith puxou-a mais para perto, as pernas dela sobre as dele, e ela podia sentir o coração dele batendo onde estava segurando as mãos dela sobre o peito. — Ela sempre foi linda, mas também era carinhosa. Foi só quando meu pai morreu que me dei conta do quanto daquele carinho vinha através dele. — Valentina forçou-se a continuar pensando naqueles momentos iniciais após a morte do pai. — E, depois que ele nos deixou, foi como se ela tivesse se despedaçado, um pouco de cada vez, até que ela também nos abandonou. — Você perdeu ambos. As palavras gentis de Smith a surpreenderam, e, um momento depois, ressoaram enquanto ela dizia: — Ela ainda estava lá, só que... — resfolegou. — O primeiro ator que ela namorou era apenas alguns anos mais velho do que eu. Aquilo já era estranho o suficiente, mas, então, um dia, quando ela estava demorando muito para se arrumar, ele... Ela parou e estremeceu quando Smith olhou com uma expressão de raiva. — O que ele fez? Quem é ele? Valentina balançou a cabeça. — Nada. E ninguém. Ele falava demais, dava indiretas. Mas acho que, se eu estivesse a fim... — O nojo tomou conta dela agora por inteiro e com tanta rapidez quanto naquelas vezes em que os namorados atores jovens demais da mãe tinham dado em cima dela.
— Contou à sua mãe o que ele disse? O que tentou tirar de você? — Não — ela respondeu, baixinho —, não consegui imaginar como ou o quê teria dito. E não queria que ela se sentisse mal, não quando estava fazendo o máximo que podia para lidar com a própria dor. Era mais fácil... — Ela fez uma pausa, odiando ter de usar aquela palavra, não esconderia mais a verdade de Smith, nem mesmo por orgulho. — Era mais fácil apenas me afastar. E focar minhas preocupações em Tatiana, focar em todos aqueles homens estranhos que minha mãe namorava, entrando e saindo de casa. Minha irmã já era tão linda naquela época, e tão inocente, que foi um alívio deixar a escola e os dormitórios para me mudar de volta com elas e assumir a administração das questões profissionais de Tatiana, para que pudesse levá-la a todos os testes e todos os trabalhos. — Ela tranquilizou Smith. — Ninguém nunca tentou nada com Tatiana. Com sinceridade, acredito que a única razão para terem dado em cima de mim foi por eu ser da idade deles. — Você sabe que essa não foi a única razão, Valentina. Você já me disse antes que eu poderia ter qualquer mulher no mundo. — Ele olhou-a nos com tanta intensidade que não conseguiu afastar o olhar. — Eu quero você. Valentina não teve como segurar as palavras. — Quero você também. Só gostaria que... De novo, ela sabia que seria mais fácil não contar nada disso a Smith, porém a experiência dolorosa com a mãe a ensinara que o mais fácil não era sempre o melhor. Tudo o que tentar evitar a dor no curto prazo fazia era piorar as coisas mais tarde, e tornar as coisas quase impossíveis de serem resolvidas. Porém, enquanto a mãe batera asas da vida dela e da irmã, Smith estava ali, segurando-lhe a mão, permitindo que Valentina colocasse tudo para fora. — Nunca lhe pediria para mudar o que faz ou quem você é — ela lhe disse. — Amo você demais para pensar em impedi-lo de compartilhar com o mundo todos os seus dons incríveis. Mas já estive em sets o suficiente nos últimos dez anos. E já vi o que acontece, o quanto parece inevitável quando homens e mulheres que professaram o amor por outras pessoas terminam se apaixonando por seus parceiros de cena, como os casamentos acontecem rápido demais e, depois, terminam mais rápido ainda assim que as pessoas seguem adiante com outros projetos do outro lado do mundo. — Está certa, meu trabalho é importante para mim — ele concordou. — E você também é. Tão importante que não quero mais tomar grandes decisões de carreira e de vida sozinho. A partir de agora, quero tomá-las com você. Ainda que as palavras dele estivessem cheia de carinho, tomando conta dela dos pés à cabeça, Valentina precisou lhe dizer: — Mas me assusta saber que nos conhecemos em um set. E que tudo aconteceu tão rápido. É muito difícil manter o relacionamento normal. Não sei quantos relacionamentos em Hollywood deram certo de verdade, exceto o de Paul Newman e Joanne Woodward. Não que não acreditasse que ele não a quisesse. Não podia mais negar o desejo dele por ela, ou
o dela por ele. Não, ela só estava tentando garantir que ambos entrassem nesse relacionamento com os olhos bem abertos. — Os primeiros anos depois de meu filme de estreia foram muitos difíceis para eu me adaptar — Smith contou a ela. — Muito difíceis. Eu adorava interpretar, e sabia que, se fosse muito bom nisso, poderia ficar famoso, mas não fazia ideia de como seria de fato perder minha privacidade. Ter a imprensa ligando para minha família e meus amigos para fazer perguntas sobre mim. Não vou mentir e dizer que não haverá mais obstáculos, que não haverá milhares de outros jornalistas e fotógrafos tentando ganhar dinheiro metendo o nariz em nosso relacionamento. — A determinação fazia par com o amor no rosto de Smith, a voz tão firme quanto a dela estava trêmula. — Esperei a vida inteira por alguém como você, por uma mulher com quem eu quisesse ficar para sempre, e me recuso a abrir mão. Tive medo de você nunca aparecer, de que nunca existisse uma mulher que não me quisesse pelo que sou, pelo que tenho, por quem conheço. Até você chegar. Ele puxou as mãos dela até os lábios e beijou-as com gentileza antes de continuar: — Diga-me o que o amor significa para você, Valentina. Ela não precisou nem pensar: — Você. Os lábios dele, imediatamente gentis e firmes, tenros e apaixonados, encontraram os dela. Se alguém lhe perguntasse, antes de Smith, se esses contrastes eram capazes de coexistir, saberia a resposta, tendo absoluta certeza de que quando se permitisse amar tudo faria sentido... e que teria o controle de seu coração, da primeira à ultima batida. Mas, a cada momento que passavam juntos, Smith confrontava as expectativas dela, e ultrapassava o que ela acreditava ser o limite de seu coração. — Sei que podemos nos amar o bastante para fazermos nosso relacionamento valer muito mais do que qualquer outra coisa — Smith disse. — Claro, Hollywood é uma loucura, e, apesar de hoje eu ter quebrado a regra número um socando a cara de um fotógrafo — ele comentou, com um meio sorriso um pouco desanimado —, estou convencido de que, daqui em diante, poderemos superar as dificuldades. Smith ajoelhou-se na frente dela. — Quero você ao meu lado não apenas nos eventos do “tapete vermelho”, mas nas noites em que estivermos ambos exaustos de um longo dia de trabalho no set e cairmos na cama, cansados demais para fazer qualquer coisa além de darmos as mãos e pegarmos no sono. Quero limpar com beijos o açúcar dos seus lábios enquanto você come pão doce no café da manhã. E quero você lá, para arrastá-la para dentro do chuveiro comigo e compensar não ter tido energia para fazer amor com você na noite anterior. Nada do que Smith dizia era ostensivo. Não havia grandes diamantes cegando-a, nem promessas caras, nem paisagens estonteantes e de tirar o fôlego. Ele não era parecido com nenhum outro homem que conhecera, e com certeza não se encaixava no molde de um astro de cinema, era lindo não apenas por fora, mas também por dentro. Ele nunca magoaria a ela ou à sua família, assim como nunca
magoaria a própria família. Semanas atrás ela lhe perguntara por que o amor não podia ser tão puro quanto duas pessoas que se davam conta de que, sozinhas, não podiam viver tão bem ou ser tão felizes quanto juntas. Agora ela sabia que podia ser. Após, enfim, encontrar a própria voz, Valentina pegou o rosto dele entre as mãos e lhe disse: — Você pode ter tudo, Smith. Tudo isso. E também quero você lá, para perturbar o novo namorado de Tatiana comigo. Quero você sentado lendo o jornal comigo em uma manhã de domingo. Quero me sentar com você debaixo de um cobertor no sofá em frente à lareira e montar um quebracabeça de cada cachorro e gato que chegar à família. Ao tomá-la nos braços e carregá-la até a cama, a comida ainda esquecida, satisfizeram a fome mais importante de todas. A fome de amor.
CAPÍTULO VINTE E NOVE Três semanas depois... Valentina saiu de seu escritório no set de Gravity pela última vez e demorou alguns minutos absorvendo a atividade e os prédios que tinham se transformado em algo mais parecido com um lar do que com um set temporário. Na manhã seguinte todas as luzes, paredes e mobília seriam removidas, deixando o espaço vazio para o próximo ocupante. Tudo mudaria mais uma vez para o elenco e a equipe que trabalhara no filme. Alguns, como Smith, seguiriam com a pós-produção. Outros tirariam as tão merecidas férias. A maioria dos atores voltaria a Hollywood para fazer testes para seu próximo papel, ou para tomar seus lugares no próximo set. Tatiana acabara de assinar um contrato para ser a estrela de um grande filme histórico em Boston, mas, pela primeira vez em uma década, Valentina não iria com ela. O peito dela doía ao pensar em não ver a irmã todo dia, ainda que soubesse que era a coisa certa a fazer para ambas. Ela precisava dar asas à irmã. E, Valentina pensou ao ver Smith caminhando em direção a ela, sorrindo aquele sorriso avassalador e sexy do qual ela nunca se cansava, enfim admitira que também precisava dar espaço a si mesma para deixar suas próprias asas se abrirem. Só que não esperava ver a mãe resplandecente de felicidade ao lado de Smith, um momento depois. Nem esperava que o namorado da mãe, Dave, ainda continuasse com ela. Não quando ele já tinha ultrapassado algumas semanas do prazo de validade dos namorados atores da mãe. — Ah, querida, não foi muita gentileza de Smith nos convidar para o último dia de filmagem? E fora mesmo. Tão gentil que Valentina na mesma hora se sentiu envergonhada por não ter pensado nisso. Smith deslizou os dedos entre os dedos dela e puxou-a para lhe dar um beijo que durou muito mais do que as regras prévias de Manifestação Pública de Atenção de Valentina ditavam, mas que, de qualquer forma, fora irresistível, ainda que qualquer um em volta deles pudesse tirar uma foto e mandá-la para um tabloide. A estranha verdade era, porém, que uma parte dela estava feliz por terem superado a difícil experiência com os paparazzi e com a imprensa logo de cara, quando o relacionamento ainda estava começando. Apesar de não ter sido divertido ver os tabloides publicarem fotos dela e de Smith, ou a maneira como tentaram, mas não conseguiram, fazer Smith parecer um cara ruim, ela sobrevivera a tudo. E saber que poderia sobreviver a tudo de novo a fez obrigada e determinada a não se preocupar se um de seus beijos acabaria na mídia. Sabia que a pele estava ruborizada, não de vergonha, mas de prazer, quando ele enfim separou seus lábios dos dela. — Posso oferecer alguma coisa às duas? Ele fizera a pergunta a ela e à mãe, mas sabia, pela maneira como lhe apertou a mão, que só fazia questão de saber se ela ficaria bem sozinha com a mãe. Quando as duas confirmaram que
ficariam bem, ele ergueu a mão até os lábios, para mais um beijo, antes de carregar Dave com ele. Valentina e a mãe observaram os dois homens saírem, até virarem uma esquina e não poderem mais ser vistos. — Minhas amigas não param de falar que uma das minhas filhas fisgou um astro do cinema — Ava Landon comentou, com um suspiro feliz. — Ainda não consigo acreditar que você está namorando Smith Sullivan. Em condições normais, Valentina teria tentado não se sentir ofendida pela descrença da mãe. Teria dito a si mesma que era melhor deixar passar, mas sabia por que Smith chamara a mãe ao set hoje. Não era só para que Ava pudesse vibrar com Tatiana no último dia de filmagem, mas porque a família era tudo para ele. E ele a amava tanto que queria que a família dela fosse completa de novo. — Por quê? — a voz de Valentina estava tranquila, mas a pergunta fora firme. E tomada pela mágoa que não conseguia mais esconder. — Por que não consegue acreditar? A mãe piscou para ela com aqueles grandes olhos azuis que cativaram jovens atores por toda Hollywood na década passada, e o marido duas décadas antes disso. — Não porque você não seja linda, Val. — A mãe colocou a mão sobre o braço dela. — Seus traços sempre foram bem mais exóticos do que os meus ou de sua irmã. Não estou surpresa que ele não consiga tirar os olhos de você. É que sei o quanto você detestava atores, e o fato de eu sempre namorá-los. — Você sabia disso? — Você tem um rosto bem expressivo, querida — a mãe respondeu. — Não entendo. — Se havia algo a ser dito, precisava ser dito agora. Afinal, houve um tempo em que ela e a mãe foram muito próximas. Não apenas mãe e filha, mas amigas. — Depois que o papai morreu, por que... — ela afastou a imagem do pai para conseguir fazer a pergunta. — Por que, depois dele, sempre namorou atores? — Nunca poderia colocar alguém no lugar de seu pai, e nunca tentei. — A voz da mãe estava cheia da tristeza que a própria Valentina sentia toda vez que falava sobre ele. — Logo percebi que a melhor coisa de namorar atores é que, mesmo que não achem que sou jovem, linda e desejável, eles sabem fingir. Bem o bastante para que eu acredite neles durante um tempo. Dessa vez foi Valentina quem tocou a mãe. — Não precisa que ninguém finja que é linda, mamãe. Você é. Os olhos da mãe brilharam com as lágrimas. — Sei que não lhe falei muitas vezes, mas tenho tanto orgulho de você, querida. Valentina sabia que a coisa mais fácil a fazer seria tomar o elogio da mãe e espalhá-lo sobre os anos de mágoa, mas, apesar de Smith tê-la ensinado o quanto o amor pode ser fácil, ela também aprendera o quanto de trabalho é necessário, às vezes, para conquistá-lo.
Smith não desistira dela. Ele não subestimara sua força, suas convicções... ou o amor que tinha para dar. Talvez, Valentina pegou-se pensando, tivesse chegado a hora de parar de desistir da mãe. O que significava pararem de dançar uma em volta da outra, pararem de conversar sem dizer nada. — Éramos tão próximas. Antes de o papai morrer. Ela começara o relacionamento com Smith com um por quê, quando precisou entender as razões dele para ir atrás dela. Agora, tentaria recuperar o relacionamento com a mãe com outro por quê. E, depois de todos esses anos, Valentina não aguentava mais não saber. — Por que você também nos deixou? — Ela sentiu uma lágrima escorrer pelo rosto e limpou-a com as costas da mão. — Nós precisávamos de você. — Outra lágrima rolou, rápido demais para que ela a pegasse antes de explodir sobre o cimento. — Eu precisava de você. Os braços magros da mãe se mostraram surpreendentemente fortes ao serem jogados de súbito sobre ela. — Ah, querida, sinto muito. No entanto, em vez de perder o controle, pela primeira vez a mãe fora forte, outra troca de papéis pela qual Valentina não esperava. — Você e sua irmã sempre foram tão ligadas. Eu adorava que formassem uma unidade tão forte, amava saber que você sempre estaria lá para cuidar dela se algo acontecesse a mim ou a seu pai. Então, quando ele morreu tão de repente ... — Ava Landon balançou a cabeça. — Sinceramente, não me lembro muito bem daqueles primeiros meses. Mas, quando enfim voltei ao mundo, vocês estavam mais unidas do que nunca. Do mesmo jeito que são agora. Tão próximas que, às vezes, parecia que não precisavam de mim. Apenas uma da outra. — A mãe limpou as lágrimas desta vez. — Você me perdoa? Valentina nunca pensara em como a ligação com a irmã pudesse ter afetado a mãe. — Claro que sim. Dessa vez, foi ela quem abraçou a mãe, o cheiro familiar do perfume e a maciez dela tão reconfortantes para Valentina quanto foram na época em que ela ainda era uma garotinha. Elas tinham muita coisa a recuperar, muito mais do que seria possível cobrir nos próximos cinco minutos antes de a filmagem do dia começar. Mas Valentina tinha uma última pergunta antes de irem em direção ao set. — As coisas entre você e Dave estão sérias? A mãe respondeu à pergunta dela com outra pergunta. — Tudo bem se estiverem? Sei o quanto seu pai significava para você, o quanto ainda significa. Valentina, por instinto, colocou a mão sobre o coração. Parou para pensar, e para sentir, antes de dizer: — Tudo bem. Sorrindo, com os braços ainda envolvendo uma à outra, caminharam pelo terreno e entraram no
set. Quando Smith olhou para ela, pôde ver não apenas o amor dela nos olhos dele, mas também a alegria pelo óbvio caminho que ela e a mãe tinham percorrido para se reconciliar. E então as luzes diminuíram, e Smith e Tatiana tomaram seus lugares no set, na cama, um ao lado do outro, quando as câmeras começaram a rodar. A mãe de Valentina apertou-lhe a mão e ela beijoulhe o rosto em um beijo improvisado, antes de voltar a atenção para a cena que começava a se desenrolar na frente de todos. Jo e Graham fizeram amor muitas e muitas vezes nas últimas semanas. E ambos se apaixonaram loucamente um pelo outro desde aquele encontrão na rua até as noites compartilhadas cuidando do bebê. Mas, apesar daqueles fatos, Jo sabia que, na verdade, não haviam compartilhado amor. Desde a primeira vez em que se chocara contra ele, Graham fora cheio de objetividade, determinação, intensidade. No entanto, depois de terem feito amor aquela primeira vez, e depois de ela tê-lo visto dar amor sem medidas ou limites à sua filha, acreditara que ninguém pudesse se manter em intensidade eterna sem, um dia, perder o fôlego. Quando o observava dormir, em vez de as linhas de expressão em seu lindo rosto se suavizarem, mantinham aquelas arestas angustiantes que lhe cortavam cada dia mais o coração. Quando será, ela pensou ao esticar as mãos para tirar uma mecha de cabelo que caíra sobre a testa, que ele permitirá que todos os demônios que o guiam se afastem? Graham murmurou o nome dela e puxou-a mais para perto. Ela adorava o toque de seus braços fortes ao redor dela, adorava deitar-se junto com ele desse jeito quando mal estavam acordados. Seguras. Ele lhe dissera que sempre manteria a ela e à filha em segurança. Foi por isso que, por fim, naqueles frágeis momentos entre a noite e o dia, acreditando nele como nunca se deixara acreditar em mais ninguém, Jo começou a falar. — Nunca conheci meu pai. Apenas os homens que entravam e saíam da casa da minha mãe. Pela maneira como os músculos dele se enrijeceram de leve contra ela, Jo sabia que ele acabara de acordar por completo. Talvez ela devesse ter medo. Talvez esse fosse o risco que não deveria correr — confiar uma história a ele que só ela sabia, que poderia morrer com ela e só com ela. No entanto, em algum ponto ao longo da jornada, Jo percebera que conseguiria viver com aquele risco. Mas não poderia viver sem amor. — Alguns homens eram legais; outros, assustadores. Alguns queriam coisas de mim que eu não queria dar. — A mão dele apertou-se sobre o peito dela e ela tentou acalmá-lo dizendo: — Eu era pequena. E rápida. E sabia me esconder quando era preciso. Também sabia que tinha de fugir antes de ser encontrada. O nome dela estava nos lábios de Graham. Ela sabia que seria tão fácil se aconchegar nele, deixar que a beijasse até que aquelas lembranças horríveis desaparecessem. E Jo o faria. Mas ainda não.
Não até que tivesse se revelado por inteiro a ele. Total e completamente. E não até que arriscasse tudo por ele, para que pudesse fazer o mesmo por ela. — O nome dele era Bryan. Pensava já ter visto de tudo, achava que seria esperta na hora de escolher um namorado, um homem a quem por fim pudesse entregar minha virgindade. Ele tinha um bom emprego na área da informática, não era esquisito nem assustador. Era legal. Não me tratava como se eu fosse idiota, ou vagabunda, por causa de onde eu vim. — Ela respirou, lembrando-se do quanto tinha sido ingênua. — Não fiquei grávida de propósito. Não sei o que aconteceu. Talvez a camisinha tenha estourado. Mas, quando fui contar a ele, sabia que não poderia fazê-lo. Não porque não quisesse prendê-lo e obrigá-lo a ficar comigo. — Ela engoliu em seco. — Eu não contei a ele porque não queria me prender. Jo não percebeu que estava chorando até sentir o gosto das lágrimas no rosto, nem percebera que Graham a tinha virado de frente para ele, para que pudesse beijar suas lágrimas, uma a uma. — Tinha de ter mais alguma coisa. Sabia que tinha mais. Àquela altura, a luz do sol entrara o suficiente no quarto para que, ao levantar os olhos, Graham pudesse ver tudo o que Jo sentia por ele. E ela queria assim. — Eu amo você. E não estou dizendo isso para forçá-lo a ficar comigo nem um minuto a mais do que queira. Agora era ele quem tirava uma mecha de cabelo da testa dela, dizendo: — Case-se comigo. Ela engoliu um soluço, sabendo que a única razão que a mantinha mais ou menos firme era o fato de ele a estar segurando. Não havia nada no mundo que quisesse mais do que pertencer a esse homem. Nada, exceto que ele lhe confiasse sua dor, para que pudesse ajudá-lo da mesma forma que ele a ajudara milhares de vezes. — Sim. — Teve de dizer primeiro, pois ela não aguentaria fazê-lo adivinhar se queria compartilhar o destino dele. Não havia nada que ela quisesse mais. O beijo que compartilharam depois que ela aceitara a proposta fora doce e seria fácil de se transformar em algo ainda mais doce; mas ela não tinha tido medo de vir a São Francisco com quinhentos dólares no bolso e um bebê crescendo no ventre... e não teria medo agora. — Não quero seu dinheiro. — Eu sei. — E ele de fato sabia, sabia que poderia perder cada um de seus bilhões de dólares que ela continuaria a seu lado, sem nem mesmo piscar os olhos. — Não quero nem mesmo que seja menos dominador ou mandão — ela continuou, com um sorrisinho que fez os lábios dele se curvarem para cima também, ao olhar para ela. — Tudo o que eu sempre quis foi uma família. — Eu quero ser o pai de Lea. Por lei, oficialmente.
Ela ergueu os braços e tocou-lhe o rosto — a luz do sol começando a cair sobre eles como se fosse um holofote —, sabendo que ele a entendera com perfeição, mas que tentara se desviar da questão de propósito. — Nós duas somos suas. Sempre. Quero que seja meu marido e o pai de Lea. — Ele estava chegando mais perto para beijá-la de novo quando ela disse: — Mas também queremos uma avó. Um avô. Queremos tios. E tias. Ele parou em cima dela, os olhos encobertos, mas ela era jovem e forte. E não tinha nem um pouco de medo de uma briga com um homem poderoso prostrado em cima dela. — Era responsabilidade minha proteger minha irmã. — Cada palavra da confissão emocionada que o esperara ter segurança para fazer a ela era sofrida. E repleta de uma dor insuportável. — Leonora era o bebê da família. Costumava me dizer que eu era o herói dela, e eu achava que estava certa, que eu era invencível, que não havia nada que pudesse me tocar. Ou a ela. — Ele olhava diretamente para Jo, mas ela sabia que não era ela que Graham via. — Eu estava transando com uma mulher cujo nome eu nem consigo me lembrar quando recebi uma ligação. Eu não compreendi até o dia seguinte, não sabia que a encontraram com algum inútil, ambos com overdose. O coração dele ainda estava batendo. Mas o dela... Dessa vez era ela quem estava enxugando as lágrimas dele, colocando os braços ao seu redor, tranquilizando-o com palavras que significavam tudo e nada ao mesmo tempo. Jo ficou surpresa quando a mão dele foi até sua barriga. — Ela estava grávida. Eu era o único da família a quem ela contara. Eu disse a ela que achava uma boa ideia que não se casassem; disse que tomaria conta dela. Li todos os livros sobre gravidez, sobre ser um pai ou mãe sem companheiro. Prometi que estaria lá quando ela fosse contar ao restante da família. Pensei que ela soubesse que nós a amávamos, e que não precisava manter a gravidez em segredo. Achei que ainda fosse o herói dela, aquele com quem ela poderia contar para tudo. Dessa vez, quando seus olhos encontraram os de Jo, viu a mulher que amava com tudo o que tinha, com cada pedaço de seu coração. — Ela nunca me disse nada sobre as drogas. E eu nunca notei. Porque não queria notar. Não queria ver. Mas deveria ter visto. Jo não iria fingir que não sabia da história — pelo menos até a parte em que a irmã estivera grávida — ou que não tinha lido sobre o assunto na internet assim que se dera conta de quem ele era. Durante todo esse tempo, porém, achou que o sofrimento era o que o endurecia. Por fim, percebeu que não era apenas o sofrimento que o dilacerava a cada hora do dia. Era culpa. Culpa por si mesmo. — Não foi culpa sua.
A cabeça dele recostou-se sobre o peito dela, e Jo segurou-o com tanta firmeza quanto ele a segurava alguns minutos antes. — Deveria ter estar lá com ela. Devera tê-la protegido. — Não — ela refutou. — Você deveria tê-la amado. E amou. Amou. Ela o embalou como embalava, dia e noite, sua garotinha, o bebê cujo nome ele lhe pedira para dar ao bebê, em homenagem à irmã que amava tanto.
CAPÍTULO TRINTA Em um silêncio quase perfeito, toda a equipe assistira à filmagem da última cena. Smith, no papel de Graham, apresentou Tatiana, no papel de Jo, à família da qual tinha fugido dois anos antes. Todos do elenco e da equipe precisaram recorrer aos lencinhos de papel, em especial quando a matriarca da família Graham, toda cheia de pompa e formalidade, colocara Lea no colo, beijara o cabelinho macio da criança, e então dissera baixinho a Jo, que ainda tinha mechas cor-de-rosa no cabelo: “Obrigada por unir minha família de novo, e por se juntar a ela.” Mesmo horas depois, na casa alugada, fora apenas o medo de estragar o rímel colocado à perfeição que evitou que Valentina se debulhasse em lágrimas com o final do filme. Por sorte, essa tarde ela não precisara dizer adeus aos amigos que fizera no set. A festa de encerramento, à noite, lhes daria todo o tempo para se abraçarem, rirem, lembrarem e beberem juntos um pouco além do que deveriam. Nas duas últimas semanas, Valentina começara a se acostumar a ser o centro das atenções, ao menos um pouquinho. Acostumara-se a ficar de mãos dadas com Smith em público, absolutamente amara passar a festa de Ação de Graças na casa da mãe com Tatiana e o restante da família, e já tinha até aceitado ser normal que as histórias e as fotos dos dois, tiradas por estranhos em São Francisco, acabassem em blogs ou nos jornais. Mas essa noite era diferente. O grupo Maverick, uma empresa multinacional composta por um grupo de bilionários poderosos com “toque de Midas” quando o assunto era negócios, era o principal investidor do filme de Smith. Eram eles que estavam oferecendo a festa de Gravity essa noite. A maioria das mulheres, Valentina tinha certeza, ficaria encantada em usar um deslumbrante vestido de alta-costura feito por um top-designer e de colocar os pés em saltos que custavam mais do que a média mensal dos aluguéis na maior parte do mundo. No entanto, Valentina nunca foi esse tipo de mulher. Mesmo quando garotinha, sempre fora um pouco mais séria, muito mais fácil de se animar com um livro do que com um popstar. Por sorte, Tatiana a conhecia até pelo avesso. A irmã mudara os planos das últimas duas horas e fez parecer que apenas estavam se divertindo num dia de arrumação total. Em vez de irem a um salão badalado para fazerem escova, manicure e maquiagem, Tatiana sugerira que uma arrumasse a outra. Sem dúvida a irmã não precisava da ajuda de Valentina. Tatiana se tornara tão profissional depois de tudo o que aprendera nos últimos anos que, se um dia resolvesse desistir de atuar, não teria problemas em lançar sua linha de produtos para cabelo, unhas e maquiagem. Valentina tentava não ver o pânico nos próprios olhos ao se olhar no espelho. Tatiana tinha um secador em uma mão, a outra alisando o cabelo de Valentina. — Aqui está — a irmã disse quando enfim desligou o secador. — Perfeito. — Ela não deu muito tempo para Valentina se avaliar antes de puxá-la para fora da cadeira e lhe entregar um vestido deslumbrante.
— Hora do toque final. — Tatiana sorriu ao olhar para o vestido que Valentina ainda não tinha pegado das mãos dela. — Smith tem extremo bom gosto. Mal posso esperar para vê-lo em você. A enorme caixa fora mais um presente sobre a mesa do escritório esta semana. Ela adorava o fato de ele nunca parar de surpreendê-la, e sabia que nunca pararia. Tatiana estava certa sobre o bom gosto dele. O tecido amarelo macio era elegante, ao mesmo tempo em que delineava todas as curvas dela, e o corpete brilhava apenas o suficiente para tornar o vestido especial. De fato, seria perfeito se não fosse pela longa fenda ao lado da perna. Ela respirou fundo e com firmeza quando a irmã enfiou o vestido em suas mãos. Dizendo a si mesma para deixar de ser uma bebezinha, Valentina logo desabotoou a camisa de Smith que estava usando enquanto Tatiana lhe arrumava o cabelo e fazia a maquiagem, e entrou no vestido, passando os braços pelas alças. Depois de Tatiana fechá-lo, Valentina enfiou os pés dentro de fantásticos sapatos de salto alto. Fechou os olhos por um momento antes de virar o rosto para a irmã. Os olhos de Tatiana estavam arregalados. — Val. — Os lábios se curvaram em um imenso sorriso. — Você está maravilhosa! — A irmã pegou-a pela mão e levou-a até o espelho de corpo inteiro. — Veja. Valentina olhou para o seu reflexo, surpresa. Esperava ver uma estranha. Mas, apesar de nunca ter se arrumado desse jeito, a mulher olhando de volta para ela era a mesma que via todas as manhãs e todas as noites no espelho do banheiro quando escovava os dentes com Smith ao seu lado. Verdade seja dita, seu cabelo nunca estivera tão brilhante ou tão bem arrumado, e seus olhos nunca pareceram tão esfumados e misteriosos, nem seus lábios, tão carnudos e vermelhos. Houve uma batida na porta, seguida pela voz profunda de Smith perguntando se podia entrar. Tatiana pediu a ele que entrasse, o que foi bom, pois a garganta de Valentina estava seca demais. Ela permaneceu parada enquanto ele entrava no quarto. — Valentina. Tatiana saiu de mansinho, sem que percebessem, quando Smith parou no meio do quarto e encarou Valentina. — Meu Deus, você está linda. Nunca vou me acostumar com isso. Apesar das próprias preocupações com relação a como a noite se desenrolaria, ela não podia duvidar, nem por um segundo, daquilo que ele dissera. Até mesmo o melhor ator do mundo não poderia ter soado tão convincente se não acreditasse em cada palavra. — Obrigada. — Ela tentou sorrir, mas os lábios tiveram dificuldade para mover os cantos para cima. Essa não era nem de longe sua primeira festa em Hollywood. Já estivera em dezenas delas com a irmã no decorrer dos anos. A diferença era que sempre estivera nos bastidores, apenas um dos membros da equipe de suporte para sua irmã linda e fascinante. Ninguém nunca prestara atenção a
ela. Ela sempre fora tão invisível quanto as esculturas de gelo derretendo no meio do buffet vegetariano. Essa noite ela não seria invisível. E não só pelo vestido, pelos sapatos, pelo cabelo e pela maquiagem. Estaria com Smith. De braços dados com ele. Sujeita à dissecação tanto quanto os atores e atrizes que, por opção, se comprometeram com uma carreira sob os holofotes. Sim, já tinham aparecido em muitos tabloides, blogs e revistas, mas esse evento estava em um nível bem diferente. Antes de conhecê-lo, tinha absoluta certeza de que esse tipo de vida era maluca, e que qualquer mulher que, por opção, entrasse em um relacionamento com um homem como Smith seria tola. Agora Valentina tinha cem por cento de certeza de que valia a pena ser louca e tola por ele, que valia a pena até mesmo o terror que tomava conta dela. Mesmo assim, seu coração acelerou e as palmas das mãos umedeceram só de pensar em todos aqueles... Ela foi arrancada de seus pensamentos frenéticos pelo som da porta sendo trancada atrás de Smith. Quando o cérebro voltou a funcionar, com metade da velocidade que deveria, Smith estava vindo em sua direção e tomando-lhe as mãos. Ergueu-as até os lábios, pressionou um beijo na ponta de cada um dos dedos e com toda a gentileza virou-a de frente para a parede, levantando-lhe as mãos para que pudesse colocar as palmas abertas sobre o gesso fresco pintado. Ela ficou parada ali, virando o rosto para olhá-lo sobre o ombro. — Smith, o que você está... A pergunta escapou com uma arfada quando ele encontrou com facilidade a longa fenda do lado direito do vestido, que ia do tornozelo até metade da coxa. Fora a parte do vestido que a tinha feito parar para pensar, mais do que uma pontada sexy em um vestido que, de outra forma, seria perfeitamente elegante. Ela adorava como se sentia sexy toda vez que ele a beijava, a tocava, sussurrava o quanto era gostoso estar nos braços dele, curtia o quanto era natural para ela se entregar toda vez que faziam amor. Mas uma coisa era soltar seu eu sensual na privacidade no quarto dele; outra bem diferente era deixar que o resto do mundo visse. Mas agora, quando os dedos dele percorriam um caminho devastador por sua pele sensível, Valentina agradecia em silêncio a fenda do vestido. Ele não se apressou, acariciando de leve a pele da coxa, primeiro do lado de fora, depois seguindo para a parte de dentro. Desde o primeiro toque dos lábios dele na ponta de seus dedos, o tesão tinha aumentado. E, ao deslizar a mão sobre a renda fina da calcinha fio dental e cobrir a pele sensível entre suas pernas, ela não conseguia pensar, ou se preocupar, nem mesmo se lembrar de como aqueles pensamentos tinham surgido, para começar. Tudo o que conseguia fazer era arquear os quadris para dentro dele, em um pedido silencioso por mais. O nome dela fora um sussurro quente contra seu pescoço quando ele atendeu-lhe o pedido deslizando os dedos pela beirada da seda, e enfiando-os dentro dela. A língua dele tracejava a curva do pescoço dela enquanto Valentina subia e descia sobre os dedos, a pressão deliciosa — e tão
inesperada — levando-a com rapidez ao orgasmo. Ainda encostada na parede com as mãos abertas, o pescoço arqueou-se para trás, dentro dos lábios dele, enquanto fogos de artifício coloridos iam explodindo dentro dela. — Linda. — Os dentes de Smith encontraram o lóbulo de uma orelha quando ela gozou com ele pressionando-a com força por trás, a mão mexendo em um ritmo perfeito entre as coxas dela, fazendo o gozo continuar ainda mais. — Linda demais. Quando se lembrou de respirar de novo, a respiração saiu em arfadas rápidas e ofegantes. Tudo dentro dela estava rodando, girando, vibrando. As mãos grandes de Smith foram suaves quando ele virou-a para encará-lo. Ela lambeu no lugar no lábio onde estivera mordendo quando ele lhe fizera ir às alturas, e seus olhos estavam famintos ao olhar para os lábios dele. — Você estava preocupada — ele disse em resposta à pergunta que ela não fora capaz de fazer. Levantou a mão para esfregar a ponta do dedão sobre a parte de baixo do lábio dela. — Resolvi que, cada vez que vir você pensando demais nas coisas, ou se começar a entrar em pânico com o circo de Hollywood, é isso o que vou fazer. — Os olhos dele escureceram ainda mais, cheios de intenção sensual. — Não me importarei com o lugar ou com o que deveríamos estar fazendo. Você vem primeiro, Valentina. Sempre. Ela acreditava nele, sabia que nunca diria nada que não fosse mesmo verdadeiro. Mas também sabia que levaria um longo tempo até descobrir uma forma de não entrar em pânico por estar sob os holofotes de Hollywood ao lado dele. Se é que algum dia conseguiria. Em vez do pânico que em geral acompanhava aquele pensamento, um arrepio de doce expectativa surgiu diante da promessa incrivelmente sexy de Smith sobre como ele a ajudaria a lidar com a pressão. Mas foi só quando pressionou um beijo suave em sua boca e começou a se afastar que Valentina percebeu que a única coisa com a qual ele estava preocupado era ela, e não em também satisfazer o próprio prazer. Graças a Deus o cérebro dela já voltara a funcionar bem o bastante para que lhe tomasse as mãos e perguntasse: — E se eu ainda continuar me preocupando? — Quando a dúvida voltou ao lindo rosto de Smith, Valentina logo colocou a mão dele sobre seus quadris e aproximou a boca a um fôlego de distância e sussurrou: — O que mais fará para eu parar de me preocupar? Sentiu o sorriso da resposta dele antes de dizer: — Isto. — E tomou-lhe os lábios em um beijo possessivo. Com destreza, baixou o zíper da parte de trás do vestido e ajudou-a a sair de dentro dela, antes de colocá-lo com cuidado sobre as costas de uma cadeira macia no quarto dela. Permaneceu em pé, segurando a seda amarela em suas mãos, o olhar repleto de admiração ao tomar-lhe o corpo nu, agora envolto em apenas uma calcinha fio dental, meias-finas com acabamento de renda até a altura das coxas e saltos altos. Em seguida, estava enroscando as mãos nos cabelos dela e baixando os lábios para devorar os
dela em um beijo bem apaixonado. Cobriu-lhe o rosto, o pescoço e os ombros com beijinhos antes de enfim degustar o bico de um seio, depois do outro, com a língua. Ela adorou o toque áspero do paletó dele contra seus seios nus ao lhe puxar sobre ela, usando as panturrilhas para fazê-lo chegar mais perto enquanto ele lhe tirava a calcinha. E desta vez era ela quem o beijava com a paixão que fazia crescer cada vez mais dentro dela a cada vez que faziam amor. Se tivessem mais do que alguns minutos roubados, ficariam se beijando por horas, até ambos estarem total e completamente desesperados por mais. Muito relutante, Smith tirou os lábios dos dela e as mãos de sua pele para desfazer o nó da gravata e abrir os botões de sua camisa. Valentina sabia que era melhor não ajudá-lo; ela o desejava tanto que corria o perigo de rasgar sua camisa, então fechou os punhos sobre a colcha macia para evitar estragar as roupas de festa dele. Por sorte, Smith conseguiu se despir rápido o suficiente a ponto de parecer que mal tinha se afastado do meio das pernas dela para chutar a calça e estar de volta, uma camisinha já lhe cobrindo o pau grosso e duro. Um segundo depois, as mãos dele se enroscavam de novo nos cabelos perfeitamente arrumados de Valentina, os lábios lhe tirando a maquiagem bem-feita, enquanto ele a penetrava com um gemido de prazer. A pele dela deslizava contra a dele ao se moverem juntos, Smith indo cada vez mais fundo à medida que Valentina se abria toda para ele. Ao meter dentro dela, vez após outra, e conforme seu prazer aumentava cada vez mais, cada vez mais agudo, ela esqueceu tudo sobre Hollywood, sobre os bilionários, os operadores de câmeras e as fofocas. Sentiu o corpo enrijecendo junto ao dele quando Smith afastou a cabeça dos lábios dela e olhoua nos olhos. — Eu amo você. A promessa simples foi tudo de que Valentina precisou para chegar às alturas, e Smith estava lá junto com ela, não apenas para resgatá-la quando voltasse à Terra, mas também para lhe mostrar o quanto era fantástico se jogar, sabendo que seus braços fortes e quentes estariam ao redor dela a cada segundo. Minutos depois, quando ambos tentavam retomar o fôlego e Valentina passava a mão pelo cabelo molhado de leve onde ele colocara a cabeça entre seus seios, ela sentiu-se exaurida de nervosismo, de um jeito maravilhoso. Smith pressionou um beijo rápido nos lábios dela antes de puxá-la para fora da cama, arrancando-lhe as meias-finas e os saltos, e arrastando-a para dentro do banheiro, para a chuveirada mais rápida do mundo. Segurou o cabelo dela para cima, longe do jato de água, enquanto ela ensaboava os dois, o corpo dele reagindo mais uma vez, como se não tivesse acabado de possuí-la. Ainda que pudesse perceber que ele ficaria muito feliz em fazer aquilo, Valentina desligou o chuveiro e pegou uma toalha, entregando a ele antes de pegar uma para si mesma. Smith nunca usara a fama como desculpa para se esconder, e ela não o faria esconder-se por ela. — Vamos lá, seu molengão! — ela o provocou ao derrubar a toalha de propósito no chão
azulejado e sair do banheiro para colocar o vestido de volta. — Aposto corrida com você até a limusine. Ela tinha quase alcançado o vestido quando os braços fortes dele a envolveram. — Eu amo você. A respiração dele sussurrou contra o pescoço dela quando, mais uma vez, Smith dissera as três palavras que nunca cansavam de encantá-la. Não por não acreditar que fosse possível um astro de cinema amá-la, mas porque não achava possível que o amor a tivesse encontrado. Ela virou-se nos braços dele, a imagem da nudez esquecida quando colocou o rosto dele entre as mãos. — Também amo você. Alguns minutos depois, ele fechou o zíper nas costas do vestido dela e ela ajeitou a gravataborboleta no smoking dele. O cabelo dela era uma causa perdida, e Valentina teve de se contentar com uma camada rápida de rímel e uma pincelada de batom, mas, quando ela e Smith enfim desceram para se encontrar com a irmã dela, que estivera esperando com paciência pelos dois na sala de estar, os olhos de Tatiana se arregalaram ao olhar para eles. — Você estava maravilhosa antes, Val, mas agora está simplesmente perfeita. Tatiana sorriu para Smith, de amiga para amigo, depois de longas semanas trabalhando juntos. — Bom trabalho, Sr. Sullivan. Ele sorriu de volta para ela, e, quando os três foram em direção à limusine do lado de fora e Valentina deslizou entre os dois astros de cinema que eram tudo para ela, em vez de estar aterrorizada pela noite que estariam prestes a ter, sentia-se feliz. Contente. E amada por inteiro, de um jeito absoluto.
CAPÍTULO TRINTA E UM Noite de Ano-Novo Casamento de Gabe e Megan A neve caía do lado de fora das janelas que iam do teto até o chão no enorme prédio com estrutura de madeira. Lá fora, os pinheiros estavam cobertos de flocos macios e gelados, enquanto o chão da floresta parecia um tapete branco felpudo, transformando Lake Tahoe em um paraíso de inverno. Gabe Sullivan e Megan Harris se apaixonaram em Lake Tahoe no inverno anterior, com a ajuda da filha de Megan, Summer, que tinha um talento especial para casamenteira. Hoje, o calor do amor circundava Gabe, Megan e Summer quando duzentos familiares e amigos se reuniam para celebrar o casamento deles. Smith segurava com força a mão de Valentina enquanto assistia a outro de seus irmãos dizer “Aceito” para o amor de sua vida. Quando Gabe colocou a aliança no dedo de Megan, Summer em pé ao lado deles com um sorriso enorme no rosto, Smith brincou com o anel de ouro branco na mão esquerda de Valentina. O presente de Natal para ela esse ano fora o mais fácil do mundo a ser escolhido. Mesmo assim, o coração dele se acelerou feito louco quando ela abriu a imensa caixa, e depois todas as outras cada vez menores dentro dela. Até que, por fim, tudo o que sobrara fora um estojinho de veludo. Ela o encarou por um bom tempo, tanto que seus batimentos cardíacos passaram de acelerados para quase palpitantes. Ele sabia o quanto estava pedindo dela, que ser sua esposa nunca seria fácil, pelo simples fato de que o seu ganha-pão fazia o mundo inteiro pensar que ele lhe pertencia. — Sou seu — ele disse com a voz embargada de emoção. — Seja minha, Valentina. Então, ela sorriu para ele, a alegria e o amor no seu lindo rosto já lhe dizendo tudo o que precisava saber, até mesmo antes de ela dizer: — Sempre fui sua. Ele fez amor com ela sob as luzes brilhantes da árvore de Natal, e estavam deitados nus nos braços um do outro quando Valentina colocou seu presente em cima da barriga dele. Sentindo-se uma criança de novo, ele balançou o pacote, e a risada dela diante da travessura dele envolveu-o como um cobertor. Por fim, ele rasgou o papel de embrulho e viu que ela tinha lhe dado um álbum de fotos do set de Gravity. Dentro dele havia dezenas de fotos em branco e preto, e coloridas também, de Smith, do elenco e da equipe com quem ele passara as melhores sete semanas de sua vida. Rindo, trabalhando, comendo, brincando, estava tudo ali. Inclusive uma foto final, da qual se lembraria para sempre. Valentina tinha os braços em volta do pescoço dele, e os braços dele estavam em volta da cintura dela. Os dois não estavam se beijando, nem mesmo sorrindo. Estavam só se abraçando. Não havia legenda para essa foto, e não era necessário. Não quando qualquer um poderia ver quanto aquele homem e aquela mulher eram unidos... tão unidos que nada poderia separá-los.
Colocando o álbum de lado, com cuidado, ergueu-a sobre ele de novo e fez amor com ela mais uma vez. Eles se juntaram ao restante dos irmãos na casa da mãe de Smith naquele dia mais tarde, para abrir os presentes, e as margaritas começaram a voar de novo, já que desta vez estavam comemorando o seu noivado. O Natal com a família dele sempre fora especial e cheio de amor. Com Valentina ao seu lado, o amor era ainda mais profundo, como nunca imaginara. Agora, na noite de Ano-Novo em Lake Tahoe, todos estavam de pé para aplaudir a noiva e o noivo compartilharem um beijo, e depois com Summer, um beijinho em cada bochecha da garotinha, seguido por um dela em cada um dos dois. Summer pulou nos braços de Gabe e ele a segurou com força enquanto os três começaram a caminhar de volta pelo corredor, de mãos dadas. Os olhos de Valentina estavam suaves e inebriados de amor ao encarar Smith, as curvas dela quentes e sensuais enquanto ele a tinha nos braços. — Que casamento lindo! Ela tinha a mão livre sobre o coração, e ele a cobriu com a dele ao inclinar-se para beijá-la. Os dois já haviam discutido o fato de a cerimônia deles ser íntima mas, depois de ver a reação dela ao casamento do irmão, Smith precisou questionar: — Quer um casamento como esse? Podemos fazer, Valentina, se é isso que você quer. Não seria fácil fazer um evento grande, dado seu nível de celebridade, mas ele era capaz de mover montanhas por Valentina. Ela sorriu para ele. — Tudo o que eu quero é você. Se estivessem em outro lugar, Smith talvez tivesse se esforçado para se controlar. Mas essas pessoas eram amigas. Família. E não precisava se controlar na frente delas. Não quando sabiam que Valentina era dona não só de seu coração, mas também de sua alma. Os lábios dele contra os dela eram tão quentes e suaves como os olhos dela estiveram antes e, em silêncio, fez a ela cada um dos votos que Megan acabara de fazer a Megan, sabendo, o tempo todo, que Valentina também os fazia a ele. — Eu amo você. Eles sussurraram as palavras em voz alta um para o outro, e Smith sabia que não fazia diferença se tivessem um casamento grande ou se fossem apenas os dois em frente a um sacerdote. Toda vez que riam juntos, toda vez que se beijavam, cada momento que passavam com as respectivas famílias, eles se enveredavam cada vez mais no coração um do outro. De mãos dadas, caminharam até a grande área da recepção. As crianças, inclusive Summer, imploraram aos pais que as deixassem brincar lá fora, na neve, antes que o almoço fosse servido, e o som dos barulhos e dos gritinhos aquecia ainda mais o lugar já aconchegante. Smith apresentara Valentina aos primos Rafe, Adam e Dylan, que tinham vindo de Seattle. A
irmã deles, Mia, estava flertando com um dos colegas bombeiros de Gabe. Infelizmente, o Sullivan mais velho de Seattle, Ian, que viria da Inglaterra, teve o voo cancelado e só chegaria à noite. Smith fisgou uma bandeja de champanhe de uma garçonete bem jovem que ficou bastante ruborizada diante do muito obrigado dele, e em seguida distribuiu os copos para fazer um brinde à noiva e ao noivo. — Ao amor — Smith disse, sorrindo para a maneira como seus primos solteiros mal podiam evitar revirar os olhos. — E ao que parece ser uma tremenda guerra de bolas de neve lá fora — Rafe acrescentou. Smith não ficou de todo surpreso ao ver Summer levar a melhor sobre os meninos mais velhos. Afinal, passara algumas horas na tarde anterior ensinando a ela tudo o que sabia sobre guerras de bolas de neve. Valentina apertou-lhe a mão ao direcionar o olhar dele para a pista de dança. — Olhe só que amor! Emma, a filha de Chase e Chloe, engatinhara pelo chão vazio da pista de dança, e um garoto que parecia ter acabado de aprender a andar fora até lá fazer carinho no cabelo dela. Os dois bebês sentaram-se um na frente do outro e começaram a ter uma conversa em gugu e dadá que fez todos sorrirem. Até que o garoto de repente alcançou uma mãozinha gorducha e deu um puxão em Emma. Os olhos de Emma se arregalaram por um momento antes de ela cair aos poucos de costas. Emma começou a espernear e a chorar no momento exato em que Chase a tomou nos braços. — Coitadinha — Valentina murmurou. — Ela estava se divertindo com a paquera. Agora, toda vez que o vir, ficará com medo de que faça de novo. — E você? — ele perguntou baixinho. —Está preocupada com alguma coisa? Smith podia sentir a pulsação de Valentina se acelerar na ponta de seu dedão, onde lhe acariciava a pele sensível. Ela mordeu o lábio, e ele a observou canalizar a atriz interior ao dizer: — Um pouquinho. — Com licença, amigos. Os primos lhe lançaram um olhar que dizia saber exatamente o que ele estava prestes a fazer com sua linda noiva, e ele tinha certeza de que também estavam mais do que com um pouco de ciúmes. Alguns deles trouxeram as namoradas, mas dava para ver que as mulheres não eram especiais para eles. O amor fazia toda a diferença... e valia muito mais do que dinheiro, ou sucesso, ou a fama jamais valeriam. Mas ele não iria desperdiçar saliva explicando aquilo aos primos. Não quando seria tão mais divertido deixá-los sofrer para descobrirem por si mesmos. Por sorte, depois de todo o sexo clandestino que ele e Valentina fizeram no set, ele se acostumara a descobrir lugares perfeitos para seus encontros. Sem falar no fato de saber o quanto
ela, em segredo, adorava aquele pequeno desafio da descoberta, de não poder quase fazer barulho para que ninguém os ouvisse, e em especial por saber o que acabaram de fazer quando todo mundo apenas continuava com o seu dia a dia. Claro que nunca deixaria que ninguém os encontrasse, nunca permitiria que outro homem ou mulher colocasse os olhos sobre o corpo nu de Valentina, mas isso não queria dizer que não continuaria a satisfazer as fantasias secretas dela. Já tinham ido juntos a vários eventos da indústria durante o mês anterior, e a cada um, o nervosismo de Valentina se apresentava com menos força. Ainda que Smith gostasse de pensar que a confiança dela se devia, em grande parte, à sua brilhante técnica de distração de fazer amor com ela um pouco antes de se vestirem — e em geral depois, também —, sabia que a verdade vinha da força interior dela, e da vontade de fazer o que fosse preciso para que o relacionamento deles desse certo. A lavanderia cheirava a sabão e ainda estava quente das secadoras, que estiveram funcionando há pouco tempo. Melhor ainda, tinha chave e era longe o bastante do salão principal para que os sons de prazer de Valentina fossem ouvidos apenas por ele. Ao gozarem juntos nos braços um do outro, com as roupas caindo, as mãos e as bocas vagando por onde quer que a pele nua fosse revelada, quando a paixão de Smith por Valentina o levou a milhares de quilômetros de distância do astro de cinema perfeito, ou de qualquer coisa parecida com controle, ele sabia que ela estava bem ali com ele. E que sempre estaria.
EPÍLOGO Lori Sullivan observava a pista de dança se encher com seus irmãos e primos. Até mesmo Sophie e Jake dançavam juntos com seus pequenos gêmeos embrulhados em cobertores rosa e azul no meio deles. Lori estivera tão ocupada nos últimos tempos que não os via muito, e sabia que deveria estar na pista de dança com eles. Mas, pela primeira vez na vida, não estava com vontade de dançar. Não ficou nem um pouco surpresa quando a mãe chegou ao seu lado, um minuto depois, e passou a mão em volta de sua cintura para que observassem os dançarinos juntas. O sexto sentido de Mary Sullivan detectava quando seus filhos não estavam felizes, e quando estavam sofrendo. O amor incondicional da mãe, saber que Mary estava lá por seus filhos, e só para eles, sempre fora algo com que Lori contara. Ao virar-se para olhar o rosto deslumbrante da mãe, que já estampara muitas e muitas capas de revista antes se aposentar da profissão de modelo, Lori foi pega pela sensação de que as coisas estavam mudando. Não só porque cada um de seus irmãos encontrara o amor, mas porque até mesmo a mãe, de repente, parecia diferente. Quase brilhante. Será que havia um homem na vida de sua mãe? Lori descartou a pergunta boba. Com certeza não havia. Nunca houve, não em todos os anos desde que o pai falecera. Se Lori não estivesse se sentindo tão deslocada, nunca teria tido um pensamento tão maluco. Nesse exato momento, Smith e Valentina surgiram de uma porta dos fundos que Lori não havia notado, ambos avermelhados e rindo, as mãos entrelaçadas enquanto Smith a puxava para um longo beijo. — Eles não são lindos juntos? A mãe deu um pequeno suspiro de felicidade. — Ah, sim. Lindos demais. Todos estavam muito felizes com as notícias de que não só Smith e Valentina estavam noivos, mas que estariam trabalhando juntos para produzir um filme em São Francisco no ano seguinte, baseado em Alcatraz. — Ainda não está com vontade de dançar? — a mãe perguntou-lhe baixinho. — Não, ainda não. — Mary provavelmente podia perceber as manchas escuras sob os olhos dela, mesmo quando se esforçara para escondê-las com maquiagem. — Quando você era pequena — Mary contava, enquanto esfregava os dedos em círculos pequenos e tranquilizadores nas costas de Lori —, falava o tempo todo. Falava tanto que outras mães me davam aquele olhar simpático toda vez que saíamos. — Mary sorriu e inclinou-se mais perto,
perto o bastante para que a testa das duas se tocasse por um momento. — Mas eu adorava, adorava que quisesse compartilhar tudo comigo. Lori podia sentir as lágrimas caindo, sabia que podia contar qualquer coisa à mãe, qualquer coisa mesmo, e Mary não a julgaria. No entanto, não podia. Ainda não. Não se ainda houvesse uma chance de... — Eu amo você, mamãe. — Eu também amo você, querida. Quando Lori se deu conta, nas suas mãos havia de um bebê doce e macio. Ela olhou para o rostinho de Jackie, então dentro dos olhos da irmã. — Eles querem que a tia favorita venha dançar com eles — Sophie declarou, como se seus bebês pudessem dizer ou até mesmo pensar em algo parecido com isso naquele estágio da vida. Mas sabia que a irmã a amava demais para deixá-la ficar de fora. Quando Lori e a mãe foram levadas até a pista de dança, cada uma com um bebê nos braços enquanto se balançavam de acordo com a música que a banda estava tocando, os irmãos dançando perto para fazer cócegas em um pezinho ou agarrar uma mãozinha, Lori fingiu que, na verdade, tudo também daria certo em sua vida amorosa.