FISIOTERAPIA REDUZ DOR, AUMENTA FORÇA E MELHORA A QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTE COM POLIARTRALGIA PÓS INFECÇÃO POR VÍRUS CHIKUNGUNYA Abner Vinícius Rolim de Oliveira1; Suellen Alessandra Soares de Moraes2; Mylena Cristina Ever de Almeida3; Izabela Cristina Nogueira Mesquita4; Pamela Maria de Lima Tenório5 1
Graduando, Universidade Federal do Pará (UFPA); Doutorado em Neurociências e Biologia Celular, UFPA; 3 Graduando, UFPA; 4 Graduando, UFPA; 5 Graduando, UFPA
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Introdução: O vírus Chikungunya (CHIKV) é um arbovírus da família Togaviridae e do gênero Alphavirus que causa a febre de Chikungunya. O período de incubação no ser humano dura em média de 3 a 7 dias, e a viremia persiste por até dez dias após o surgimento dos sintomas. O CHIKV é conhecido desde 1952, onde foi isolado inicialmente na Tanzânia. Desde então, desencadeou surtos em vários países do mundo. Chegou às Américas em outubro de 2013, e no Brasil os primeiros casos de transmissão autóctone aconteceram no segundo semestre de 2014. A doença pode evoluir em três fases: aguda, subaguda e crônica. A primeira inicia-se após o período de incubação e dura até o décimo quarto dia, é caracterizada principalmente por febre de início súbito, geralmente acompanhada de dores nas costas, rash cutâneo, cefaleia e fadiga, além de intensa poliartralgia, que é a característica em mais de 90% dos pacientes infectados. Essa dor é normalmente poliarticular, acometendo grandes e pequenas articulações. Também tem sido observadas dor ligamentar e mialgia nessa fase. Alguns pacientes persistem com as dores articulares após a fase aguda, caracterizando a fase subaguda, onde a febre normalmente desaparece, mas há o agravamento da artralgia, com exacerbação da dor nas regiões previamente acometidas na primeira fase. O comprometimento articular costuma ser acompanhado por edema de intensidade variável. Quando a duração dos sintomas persiste além dos 3 meses atinge-se a fase crônica. O sintoma mais comum nesta fase é o acometimento articular persistente ou recidivante nas mesmas articulações atingidas durante a fase aguda, caracterizado pela dor com ou sem edema, limitação de movimento, deformidade e ausência de eritema. Também há relatos de dores nas regiões sacroilíaca, lombossacra, cervical, temporomandibular e esternoclavicular. Como o acometimento articular na Febre Chikungunya causa importante incapacidade física, esta impacta negativamente na qualidade de vida dos pacientes. A incapacidade laboral causada pela doença, em uma faixa etária economicamente ativa, amplia ainda mais a magnitude do problema para a população atingida(1). De modo semelhante aos comprometimentos funcionais da artralgia pós-infecção por CHIKV, a artralgia decorrente da artrite reumatoide também impacta drasticamente a qualidade de vida e, nessa patologia, a fisioterapia mostra-se fundamental, contribuindo com inúmeros recursos terapêuticos a fim de minimizar os efeitos da dor e da perda funcional. Considerando a relação do vírus com os acometimentos articulares, e a ampla abordagem e efetividade da fisioterapia em outros casos de artralgia, acredita-se que a fisioterapia tenha um efeito indispensável para a reabilitação da população infectada por CHIKV(2). Objetivos: Avaliar os efeitos de um programa de fisioterapia na qualidade de vida, aumento da força de preensão palmar e redução da dor em paciente com poliartralgia pós-infecção por vírus Chikungunya. Métodos: A avaliação foi composta por anamnese, onde foram colhidas informações Anais do VI Congresso de Educação em Saúde da Amazônia (COESA), Universidade Federal do Pará – 7 a 10 de novembro de 2017. ISSN 2359-084X.
básicas do paciente e dos locais de dor, enquanto a intensidade da mesma foi medida pela Escala Visual Analógica (EVA) e classificada como leve, moderada ou intensa. A força de preensão palmar foi avaliada por meio de um dinamômetro hidráulico de mão (Saehan Corp) e a qualidade de vida foi avaliada pelo questionário de qualidade de vida Medical Outcomes Study 36 – Item Short-Form Health Survey (SF-36). O SF-36 é um questionário multidimensional para avaliação da qualidade de vida pontuado de 0 a 100, no qual zero é o pior estado geral de saúde, e cem o melhor estado geral de saúde. O tratamento fisioterapêutico consistiu de 9 sessões, realizadas duas vezes na semana, com duração aproximada de uma hora cada. O protocolo foi composto por eletroterapia, terapia manual e cinesioterapia. Nas 3 primeiras sessões foram realizadas mobilizações de todas as articulações dos membros inferiores (MMII) e superiores (MMSS), assim como o uso de estimulação elétrica transcutânea (TENS) e Ultrassom terapêutico (US). Da 4ª até a 8ª manteve-se o protocolo anterior adicionando alongamentos ativos e a técnica de contrai-relaxa nas musculaturas de MMII e coluna vertebral; na 9ª sessão o paciente conseguiu fazer adicionalmente exercícios ativos. Após a realização das nove sessões foi conduzida a reavaliação. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Pará sob parecer nº 1,593,170. Resultados e Discussão: Paciente do sexo masculino, 42 anos de idade, desempregado, sem história prévia de dores articulares e com diagnóstico clínico de Febre Chikungunya. A infecção foi adquirida no mês de fevereiro de 2017, no município de Belém. Os locais de dor inicialmente eram coluna cervical e lombar, região anterior da caixa torácica (articulações esternocostais), joelhos, dedos, mãos, e articulação temporomandibular, sendo a intensidade classificada como moderada ou intensa. Após a intervenção o quadro álgico era mantido apenas em joelho, coluna cervical e lombar, de modo que a intensidade foi classificada como moderada ou intensa. A força de preensão palmar aumentou de 6,04 Kg para 24,64 Kg na mão direita e de 24,79 Kg para 29,63 Kg na mão esquerda. O resultado do SF-36 aumentou de 17,43 para 54,68. Os resultados do presente estudo mostram redução dos locais de dor do paciente pós intervenção, além de melhora da força muscular manual do mesmo, o que pode se traduzir na melhora de sua qualidade de vida segundo o SF-36. Javelle et al.(3), em estudo acerca dos acometimentos articulares pós-infecção por CHIKV na Ilha Reunion após a epidemia de 2005-2006, revisaram os arquivos médicos de 159 pacientes que desenvolveram Chikungunya, e encontraram que 94 desses (59%), que não tinham nenhum problema articular anterior à infecção pelo CHIKV desenvolveram alguma doença articular, como artrite reumatoide, espondiloartrite, e poliartrite indiferenciada. Em decorrência da relação do vírus com os acometimentos articulares, e da falta de estudos acerca do tratamento fisioterapêutico específico para artralgia pós-infecção por CHIKV, o tratamento da mesma deve ter como base o de outras doenças articulares, como a artrite reumatoide. Ribeiro et al(4) , utilizando recursos eletroterapêuticos como US, LASER, infravermelho e TENS, conseguiram reduzir a dor e melhorar a qualidade de vida de um paciente com acometimentos articulares pós infecção por CHIKV, o que corrobora com os resultados do presente estudo. Além de medidas eletroterapêuticas, alongamentos, mobilizações e exercícios também são recomendados para pacientes com artralgia a fim de melhorar a amplitude de movimento e a função física dos mesmos(5). Conclusão: Um plano de tratamento fisioterapêutico individualizado, baseado em recursos analgésicos e anti-inflamatórios, cinesioterapia e terapias manuais é efetivo para reduzir os locais de dor, melhorar a força de preensão palmar e melhorar a qualidade de vida em paciente com poliartralgia decorrente de infecção por CHIKV. Descritores: Chikungunya; Fisioterapia; Qualidade de vida. Anais do VI Congresso de Educação em Saúde da Amazônia (COESA), Universidade Federal do Pará – 7 a 10 de novembro de 2017. ISSN 2359-084X.
Referências: 1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção Básica Chikungunya: Manejo Clínico/ Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Secretaria de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde 2017 2. Miotto C, et al. Tratamento fisioterapêutico das artralgias. Rev. dor [online]. 2013, vol.14, n.3, pp.216-218. 3. Javelle E, Ribera A, Degasne I, Gaüzère B-A, Marimoutou C, Simon F. Specific Management of Post-Chikungunya Rheumatic Disorders: A Retrospective Study of 159 Cases in Reunion Island from 2006-2012. PLoS Negl Trop Dis. 2015; 9(3): e0003603. doi: 10.1371/journal.pntd.000360 4. Ribeiro AMBM, Pimentel CM, Guerra ACCG, Lima MRO. Physiotherapeutic approach on the late phase of chikungunya: a case report. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant. Recife. nov., 2016; (Supl. 1): S57-S62 5. Peter WF, Jansen MJ, Hurkmans EJ, Bloo H, Dekker J, Dilling RG, et al. Physiotherapy in hip and knee osteoarthritis: development of a practice guideline concerning initial assessment, treatment and evaluation. Acta Reum Port. 2011;36(3):268-281.
Anais do VI Congresso de Educação em Saúde da Amazônia (COESA), Universidade Federal do Pará – 7 a 10 de novembro de 2017. ISSN 2359-084X.