CANETA NOVA E PENSAMENTOS SOLTOS

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Nê Sant’Anna

CANETA NOVA E PENSAMENTOS SOLTOS

Comprei uma caneta nova porque a tinta da outra acabou... Consumiu-se em rabiscos, tentando me livrar da dor!

HERANÇA (de um amigo poeta) Poemas saltam das gavetas (e o teu corpo inerte sobre a cama) Ouço a sirene e contemplo meu rosto no porta-retratos em formato de lamparina (e o teu corpo enrijecendo-se sobre a cama). Abaixo os olhos – de relance, e leio grafados em garranchos, flechas e rabiscos variados e duplicados títulos (e então vislumbro no teu corpo inerte sobre a cama o sutil esboço em tua boca roxa de um sorriso carregado de leve ironia).

2014 Rolou a bola. E agora? Começa outro show! Ano de Copa é assim: espetáculos, performances e malabarismos sem fim. (Exibidos em todas as mídias e “democraticamente” para todos os dogmas, gostos e afins...).

VOO Cansamos dos velhos problemas dos mesmos atores, das antigas artimanhas tão sem graça, tão previsíveis, tão das tripas humanas: fedidas, Freudianas e mesquinhas. Sai pra lá! Saímos da roda, mes amis, já enjoou. Cirandem e chafurdem sozinhos. Loucura só a nossa: criativa, livre e onírica. Somos pássaros que não aceitam gaiolas e traçam o próprio destino de voo.

NOTÍCIAS E eu? Que cantei pra lua contemplei estrelas e li todos os seus poemas? Finjo-me de séria e caminho sob o sol... por pura – e esquizofrênica – covardia!

TARIMBA Ando economizando emoções e saliva. Mesquinharia? Sobrevivência!

EQUILIBRISTA (do começo do século XXI) Ando cansado de procurar estrelas (que me indiquem caminhos) fórmulas e chuvas (que carreguem minha dor).

UM OVO Um ovo... Apesar da grafia é sempre uma incógnita. Entre outras hipóteses infinitas pode servir pra ser frito ir para o lixo ou virar pinto.

15 MINUTOS Não curto chiclete e aquele tipo de gente que não consegue ficar só (aquele tipo de gente que não se agrupa para tecer manhãs mas para reverberar pelas mídias, ruas e redes sociais e deixam o próprio umbigo esquecido mofar). LOUVOR (2) Eu sou de Deus Amém. E nada temerei porque Deus está comigo e os Seus anjos também.

Jesus está comigo Jesus é meu amigo e os meus pecados na cruz já foram perdoados; nada preciso temer porque Deus está comigo e o Espírito Santo também.

Deus está comigo e nada temerei porque por Sua Graça eu sempre viverei; e enquanto na terra estiver eu nada temerei porque Deus me ampara em todos os caminhos que eu já trilhei e trilharei.

Eu sou de Deus Amém e nada temerei. (Louvo e agradeço pela misericórdia de Deus que nas crises me ampara e sustenta meu viver).

MELANCOLIA Abri a porta e insanamente procurei a velha casa de frente a minha: ela não existe mais. Restou-me sua imagem congelada no álbum de retratos, prestando-se a cenário de fundo para a nossa vida, em dezenas de fotos.

Contemplo-a mais uma vez e fecho o álbum. Estaremos ali para sempre: a velha casa, os que já se foram e os que cresceram, e nós dois... tão jovens.

QUESTÃO DE ACENTUAÇÃO Tiraram o acento de para e ideia. Para quê? Para contribuir com minha confusão e nostalgia? Para indecisão! (Recorra, para entender ou não o último verso, à nova regra de acentuação).

DA BOCA DO LIXO Poeta maldito, da lata do lixo recolhe nosso excremento e os publica ao vento.

(Poeta mendigo, das nossas tripas extrai suas rimas e a podre emoção

converte-se em complacente canção; bendito poeta da boca do lixo).

FILOSOFIA À PORTA Tem gente? Do tipo boa praça gente como a gente gente indecisa gente sabida gente vivida gente sofrida gente feia gente mezzo mezzo gente bonita gente pacata gente atrevida gente inconsequente gente safa, inteligente mas de perto, e no aperto, toda gente é simplesmente...gente! (Pelo amor de Deus: tem gente?)

CONVERSA FRANCA O que se passa comigo não sei. Só sei o que sinto e sobre isso não minto.

Mas não sei de porquês e razões: sobre isso nem atino! (E talvez revolver tanta lama não me faça nem bem).

Desculpe, não saio pela tangente; entenda, da vida sou tão somente simples sobrevivente.

ÚNICA RESPOSTA Desculpe, meu querido mas, sequer um músculo moverei para lhe responder: roto centrado não fala de cerzido deslumbrado!

TENTATIVA DE DEFINIÇÃO Poesia não é papa fina, matéria do Olimpo: é coisa de todo dia.

METAFÍSICA A Morte a procura de bons papos com fina astúcia regados carregou João Ubaldo, Rubem Alves e Ariano Suassuna. (Será que até a Morte, de mediocridade e tédio, às vezes, se consuma?)

É! Há que se pensar na vida, no seguro e na morte em taxas de açúcar, colesterol e inflação na tonicidade dos músculos na escolha dos candidatos a eleição e num cardápio saudável à cada refeição.

Há que se manter controle de pressão

a memória em dia a libido em alta saúde financeira ereção e lubrificação.

DOGMAS Já fui Macrobiótica Esquerda festiva Humanista Pluralista Materialista histórica Possessiva Perfeccionista Racionalista Equilibrista E talvez, mais uma lista. Já fui... Hoje sou. (humanamente sou).

LOUVOR (3) Os anjos do Senhor cuidam de mim não deixando o frio ser maior que o cobertor.

Os anjos do Senhor cuidam de mim enlaçando-me e dissolvendo minhas crises de cansaço e temor.

Os anjos do Senhor cuidam de mim protegendo-me e acampando sem descanso, ao meu redor.

(Pois o Senhor com seus filhos está e de todo mal nos guardará. Amém.)

TAC TIC TIC TAC TIC TAC TAC TIC TAC TIC TAC TIC TIC TAC TIC TAC TAC TIC TIC TAC O tempo não dá trégua! TIC TAC TAC TIC TIC TAC Medida de toda régua!

INSANIDADES Gente certa constrói casa, metrô, edifício... Gente louca sonha com novos traços forjando outros tipos de espaço.

DONA INÁCIA Dona Inácia quando de tudo se enfadava às suas dores, sem pudores, recorria. E quando perguntavam onde é que lhe doía, simplesmente respondia: Dói-me aqui Dói-me ali Dói-me acolá!

Para que especificar, apontar, explicar, imaginar e até com as próprias dores se cansar? As dores, simplesmente, estavam lá, e: doía-lhe aqui doía-lhe ali doía-lhe acolá!

FACETAS Em espelhos me procuro. Será que algum deles, de verdade,me retrata?

REDES Rede nacional Redes de contato Redes de trabalho Redes sociais... Help! I need somebody help and estenda minha rede no quintal.

ROTAÇÃO É tudo pra ontem urgente, urgentíssimo valendo a data de entrega no carimbo da remessa. E a vida? A vida segue o sol e simplesmente...passa.

UMA ORQUÍDEA Minha orquídea não liga para o tempo. Dona de si,

floresce e descansa descansa e floresce no seu próprio tempo.

FINA TRAMA Nós manipulamos as agulhas com as quais o tempo borda e tece suas tramas e histórias.

DÍPTICO

NÃO SOU

SOU

Perfeita

Preguiçosa (às minhas custas)

Infalível

Passional

Imutável

Bipolar

Saudável

Biologicamente suscetível às variações meteorológicas

Politicamente Correta

Descrente de ideias irretocáveis e heróis iluminados

SOU G E N T E (osso e carne de pescoço: simples BICHO HUMANO)

AO MEU PAI (2/03/2008) Talvez um dia, sem lágrimas nos olhos, eu teça um poema para você que fale de alguma coisa que não seja o tempo, medida humana, que remete (sem exceção) à reflexão – sobre os dias que não mais serão e a saudade...

UM FLASH SOBRE O AMOR Amor é território sem lei sem ética, sem regras sem fronteiras, sem pudores. ... Amor sem paixão é morno não pulsátil não visceral não leva ao inferno e ao céu. (Em minutos, por qualquer gesto bobagem ou ciúme). Amor com paixão é tesão na pele, brigas madrugadas a dentro instinto animal de marcar território desejo de matar ou arrancar os olhos

de quem nunca – ao menos – se viu. ... Amor “adulto” é sem graça, lógico, racional sexo burocrático orgasmo sem gozo. Amor adolescente (ainda que em qualquer idade), é incerteza, frio na espinha gozo sem sexo, fogo ardente. É sentir os poros em brasa por um olhar, um gesto ou uma palavra. É querer morrer num instante e viver no seguinte, sem o menor pudor de brigar, de fazer bico, de fazer cócega, de ter ciúme, de ser meio bicho! (E até de ser invasivo). ... Amor não tem explicação lógica, senso crítico muito menos de ridículo. Mas, talvez, se não fosse assim temperado a gozo e dor não traria a sensação inebriante de plenitude e momentânea paz

que nada mais, no mundo, traz. ... (Poetas não decodificam o amor poetas apenas apontam, se é que apontam, nuances dessa magia de pura incerteza que grande parte dos amores permeia).

LIBERTINAGEM Dia de chuva garoa fina cheiro de lima criança brincando preguiça infinita gasolina vazando cidade, fumaça, fuligem ideias a toa leves vertigens casario Barroco uma antiga Fuga de Bach. Velha árvore colchão de molas soltas espelho quebrado. Qual o nexo? O mesmo da vida.

MINIMALISMO Poucas palavras Roucas... Palavras? Poucas.

MULHERES E FLORES 1-DAMA DA NOITE Dama da noite Perfume doce Sonhos singelos Esmalte escarlate. 2- MARIA SEM VERGONHA Maria sem vergonha vive de teimosa enfrentando a fila do bolsa família. 3- TULIPA Uma tulipa é impenetrável, guarda com elegância toda sua seiva amarga. 4- ROSA Rosas não são frágeis, brincam com espinhos, cores e nuances: são mutantes.

5- MARGARIDA Margarida, margarida Tão alegre, tão feliz, tão colorida. (Como deveria... ser a vida). 6- ORQUÍDEA Orquídeas não são belas, não são fáceis, mas nenhuma outra hipnotiza como elas.

UMA CORUJA Uma coruja que morava em minha antena foi meu bicho de estimação. Eu lhe sorria, ela sabia que eu existia: e isso nos bastava!

DIVAGANDO...

No fundo de mim, bem lá no fundo, sob uma grande e viscosa pedra, ainda mora... eu. ***

Não sinto falta da sua mão apenas uma discreta melancolia da minha própria projeção. (Fantasias, fantasias, infeliz ou felizmente me despi das alegorias). *** Quase me mato todos os dias buscando a sensação da adrenalina primeira que covardemente eu mesma enterrei... e agora, sem destino e prazer corro uma maratona sem linha de chegada com passos largos, pisadas fortes e... dementes. *** Ao(s) meu(s) filho(s) deixo como herança versos tortos traços toscos e a liberdade santa – e louca – soprada pelo vento na boca dos poetas e das crianças. ***

Dentro de mim mora um bicho, um bicho com o qual tenho que conviver um bicho que tenho que conhecer... ou ele me devorará! *** Quero gritar o cansaço do meu corpo e depois mergulhar num silêncio reconfortante. Não quero pensar ou fazer contas também não tenho condições de ser um pote de mel. Help! *** Oh, bucólica natureza! Barro, formiga, mosquito, sol, cansaço, vertigem. Gosto muito mais da fotografia!!! *** Luxo? Lixo? Matéria prima! Meu lixo? Ou reciclo ou... Por ele sou devorada! ***

Não junto sucata recolho histórias (da boca do tempo, contadas pelo vento). *** O que me aguarda na curva: uma flor, um grande amor, um predador? *** Por que nenhuma flor me satisfaz? Porque procuro a flor simbólica, a flor essência, que só existe num quadro de Van Gogh! *** Sou caos, Às vezes caos geométrico! *** Vendo o carro (porque preciso vender) mas guardo comigo todas as memórias gravadas em sua lataria cheia de histórias. *** Teço tramas pra relaxar. Não me importa a renda que vou formar.

Teço, teço, teço... só pra relaxar! *** Tiros podres não me abatem: fortalecem! *** Não quero arrumar casas nenhuma será como a minha que mora dentro de mim. Prefiro o carneiro da caixa, a la Exupéry. *** Nasci na época errada. Deveria ter sido índia (antes dos europeus) ou aparecer só lá pelo ano 3154. (Não dou conta mais da geração filhos/netos de Bob Dylan). *** Mais datas frustrantes pra eu colecionar! E quantas mais, meu calendário psíquico ainda terá de aguentar? Só pedi um pouquinho de paz, só isso,

porque de resto não espero nada mais. Já soltei os bichos, agora rabisco tentando me acalmar! *** Morou em mim por muito tempo um ser utópico e estúpido, estúpido, mas vivo. De vez em quando eu o procuro ou ele se manifesta e, então, eu o sufoco de novo. Desculpe amigo Belchior, mas aprendemos, a duras penas, que é preciso conservar a carne mesmo quando espancada todo dia, pra poder soltar o sangue em gotas de arte e poesia. (E assim, eu vou sobrevivendo quase sem nenhum arranhão). *** Corda bamba: vida em ritmo de samba! *** Todo dia: parto da vida, todo dia: grávida de poesia.

*** Não preciso cortar os pulsos eu sangro In Palavras! *** Saudade: ponto impenetrável na eternidade. *** Construo mundos... Depois derrubo tudo PLOF! *** Cores de Frida traços de Tarsila sapiência de Cora versos de Cecília acordes de Rita urgência de Cássia: inspiram meu canto. *** Sou mais sal e areia do que leite e mel. *** Como tudo que sofre metamorfose revoada de borboletas assusta e fascina!

*** Emolduro palavras liberto sentimentos. *** Poesia, Palavra Emoldurada: sensações eternizadas expostas na parede. *** Sinto frio sinto calor. Serão do meu corpo sutilezas para eu não ouvir minha dor? *** CHUVA! SOL! Quero um guarda-chuva E Um guarda-sol. *** Hoje sou índia, cabocla, caipira. Engulo os erres, sem vergonha alguma. Hoje sou índia, cabocla, caipira. Descanso na rede Sem culpa nenhuma.

*** Sonhos de consumo: silêncio, chuva, sopa e cama. *** Poemas não têm dono: são letras promíscuas bailando no vento. *** Não construo prédios: arquiteto versos. *** Por que o mundo não para? (já não bastam os martelos e as luzes me perseguindo?) Preciso do silêncio sem perguntas (e sem metas) Preciso ficar quieta (e não pensar) Preciso ficar só (e sem nenhum outro corpo a me perturbar) Por que temos de reivindicar o que deveria ser garantido a qualquer ser humano: o direito a três dias de solidão? (e não ser humano, não ser bicho, não ser nada...)

CIRCO Hoje tem que carregar o celular? Tem, sim senhor. Hoje tem e-mail para olhar? Tem, sim senhor. Hoje tem as velhas questões para enfrentar? Tem, tem, tem, sim senhor!

LÓGICA SIMPLES Hoje sou. Amanhã não sei.

TURBULÊNCIA Tenho que pesar palavras, destilar sorrisos e abastecer os potes de açúcar e café.

Sobra-me pouca energia e silêncio. Então, sem escolha, aspiro o tapete da sala impregnado da poeira de muitos passos e alguma poesia.

TENTATIVA Infantilmente não recarrego o celular. As palavras de todo dia cansaram. Os ruídos de alguns passos apavoram. Preciso de silêncio. Há tempos, forçadamente, desisti de fantasiar.

SE EU FOSSE... Se eu fosse um bichinho e pudesse me esconder eu tirava, eu tirava, esse redemoinho do fundo do meu ser.

Mas, tudo é pra já não dá pra esperar, eu estou cansada e não posso parar!

Se eu fosse um bichinho e pudesse me acalmar eu ficava, eu ficava, escondidinha bem perto do mar.

IDENTIFICAÇÃO Eu sou aquela mulher sozinha rodeada de muita gente. Aquela que paga as contas organiza armários engole o choro e sempre perdoa. Eu sou aquela que já quase não sente tampouco com nada se espanta e de afetos é meio descrente. Eu sou aquela ali, de olhos secos e mãos bem cuidadas discretamente trajada que a todos, educadamente, cumprimenta e sorri.
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