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STEVIE J. COLE
Disponibilização: Eva Tradução: Stef Revisão Inicial: Stef Revisão Final: Rafa Leitura Final: Miss Marple Formatação: Keira
Julho/2019
STEVIE J. COLE
Sessenta e quatro dias em cativeiro. Sessenta e quatro dias para se perder — ou se encontrar. Eu sou Ava Donovan. Fui sequestrada aos dezenove anos. Dizem que sou uma sobrevivente, mas a verdade é que eu só sobrevivi porque ele me salvou. Mesmo
quando
me
manteve
trancada
naquele
quarto, ele me salvou. Constantemente se perguntar quando e como você vai morrer, transforma você. Muda a sua mente. Mas o que você faz quando acontece algo ao seu coração? O que você faz quando o homem que mantém você em cativeiro parece ser tão quebrado quanto você, quando sua mera presença se torna um conforto que você almeja — quando você o ama, mesmo que não devesse? Você sorri e diz a si mesma que está tudo bem, porque o amor não tem moral. Sessenta e quatro dias em cativeiro me deram um amor que a maioria das pessoas nunca vai encontrar e minha liberdade levou tudo embora.
STEVIE J. COLE
Prólogo MAX Lila está chorando. Soluçando enquanto aquele homem amarra uma mordaça em sua boca. Eu vejo o material cortando nas bochechas pálidas da minha irmãzinha e não posso fazer nada. Minhas mãos estão amarradas e estou preso à cadeira da sala de jantar. Meu pai está apagado, preso por uma corda na cadeira na cabeceira da mesa. Mamãe está na cadeira ao lado dele, amarrada e amordaçada também. De alguma forma, esses quatro homens driblaram o sistema de segurança, entrando sem o menor barulho. Eu acordei com uma arma contra meu crânio e uma mão enluvada sobre a minha boca. “Acorde-o”, diz um dos homens. O cara número dois vai até meu pai, batendo forte no rosto dele. Meu pai se assusta, seus olhos se arregalam de medo. Seu olhar percorre a sala enquanto observa sua família capturada. Lágrimas brotam em seus olhos. Nunca vi meu pai chorar. Nunca. “Ah, olhe, Frank”, os caras dizem. “Ele vai chorar como uma menininha.” “Agora, em que situação desagradável nós caímos aqui, hein, Jacob?” O cara da frente, Frank, fala com o meu pai com ódio em sua voz. “Tenho certeza que você sabe por que estou aqui. Olho por olho e tudo mais.” Meu pai tenta falar mesmo com a mordaça, mas tudo o que sai é um ruído abafado. “Oh, não se preocupe, Jacob. Não vou machucar seus preciosos filhos. Você sabe que eu tenho um fraco por eles. Eu sou pai, afinal de contas.”
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Ele se vira para me encarar e sorri, as rugas profundas se sobressaindo em torno de seus olhos. Seus olhos dourados. “Desamarre o garoto” ele ordena a um de seus homens. Meu coração entra em frenesi enquanto vejo o homem careca e maciço aproximar-se de mim. “Não tente nenhuma merda engraçadinha, garoto”, diz ele, cuspindo no chão um pedaço de tabaco de mascar. O homem rapidamente desfaz a corda e me puxa pelos dois pulsos. Eu posso ser um adolescente de dezesseis anos bem formado, mas ainda pareço um maldito rato afogado ao lado desta fera cheia de esteroides. Eu não tenho qualquer chance. O cara me empurra pelas costas e eu tropeço, indo parar na frente de Frank Donovan. Seu sorriso se alarga, os dentes brancos brilhando sob as luzes fracas. Ele puxa uma arma do cós da calça jeans e coloca o cano contra a minha testa. O metal frio queima na minha pele e meus olhos se fecham de medo. A morte é algo que eu ainda tenho que pensar, mas de repente, a finalidade dela se tornou real demais. Eu posso ouvir os soluços abafados de minha mãe e irmã. Meu pai está grunhindo contra sua mordaça. “Agora, garoto. Eu não vou atirar em você se fizer o que eu digo.” Frank me entrega uma pistola. Eu pego na minha mão, o peso dela é maior do que deveria ser. “Você vai escolher um dos seus pais e vai matá-lo, porque eu não sujo as minhas mãos, entendeu?” Eu balanço minha cabeça com veemência de um lado para o outro. “Não. Por favor. Eu não posso. Não posso fazer...” “Se você não fizer isso, eu vou mandar o Ralph atirar nos dois. A escolha é sua. Você mata um ou, por seu ato de desafio, mato os dois.” Meu coração está na garganta, uma batida indistinguível da outra. E agora esta arma parece um peso de chumbo nas minhas palmas suadas. Meu olhar salta da minha mãe para o meu pai. Ela fecha os olhos e parte de mim pensa que está rezando, embora não sejamos religiosos. Meu pai me olha,
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tentando falar com os olhos. Eu fico meus olhos nos dele e ele concorda. “Escolha um, filho”, Frank sussurra no meu ouvido, sua respiração quente soprando no meu pescoço. Os gritos abafados de Lila são tão altos. Estou com medo que ela vá sufocar com aquela mordaça. “Por favor”, eu digo. “Tire a mordaça dela.” Frank ri e acena com a cabeça para um dos seus rapazes fazer isso. No segundo em que o material escapa do rosto dela, ela grita. “Por que você faria isso? Max. Não faça isso. Não faça isso!” Fechando meus olhos, eu inspiro fundo. “Faça isso, ou mato todos vocês.” Frank ri novamente. Minha irmã chora. “E você...”, eu abro meus olhos para vê-lo apontando para Lila, “... cale sua boca.” Ela não escuta e Ralph atravessa a sala, acertando-a com pistola. Sua cabeça rola para o lado. O sangue escorre de sua têmpora. “Ela está bem. Só vai aprender a ficar quieta”, diz Frank. “Agora, eu vou contar até dez para você escolher um.” Ele me pega pelos ombros, sua arma ainda pressionada contra a minha cabeça, e me empurra para o outro lado da sala de modo que eu fique em pé na frente dos dois. “Escolha.” Como você escolhe a vida de alguém? Estou tentado a virar essa arma e explodir meus malditos miolos. “Lembre-se, se você não fizer isso, todos vocês morrerão. Quatro mortes em vez de uma. Pense nas estatísticas.” Minha boca fica seca, a sala gira. Meu pai me olha com firmeza, seus olhos se arregalam em um apelo para que eu tire sua vida.
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“Um... dois... três...” Frank faz a contagem regressiva. Meros segundos para entender o que diabos está acontecendo. “Seis, sete…” Eu levanto a arma, vendo-a tremer em minhas mãos instáveis. “Rapaz, minha paciência é muito pequena. Oito, nove…” Eu engatilho a arma. Lágrimas escorrem dos meus olhos, o gosto salgado entrando pela minha garganta. “Eu sinto muito”, sussurro. “Eu te amo.” “Dez.” Pow! Eu tento fechar meus olhos, mas não posso. A cabeça dela bate atrás, depois para frente. Observo um pequeno buraco aparecer no meio da testa do meu pai, seguido por um fluxo constante de sangue que escorre pelo alto do seu nariz. Mamãe está se debatendo na cadeira ao lado dele, o rosto contorcido de angústia, respingos de sangue por toda sua camisola de cetim. Eu solto a arma. Faz barulho no chão e posso jurar que Frank está rindo. Caio de joelhos, soluçando. Acabei de tirar a vida do meu pai, o homem que significava mais para mim do que qualquer coisa. E eu o matei. Bam! Eu dou um pulo com o súbito tiroteio. Quando olho para cima, minha mãe está caída na cadeira, metade do rosto arrancado. “Seu filho de uma...” Há um golpe na minha cabeça, uma rachadura. Tudo roda e fica preto. E a partir desse momento, tudo na minha vida é preto...
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1 MAX Doze anos depois… Faz cinco meses desde que falei com Lila. Sinto-me muito mal por isso, mas eu tentei ao máximo ficar muito longe dessa merda. O crime é algo que corre pelo meu sangue. Nascido nisso. Criado nele. Estou entorpecido, e quando você fica entorpecido ao derramamento de sangue, para conseguir manter suas mãos limpas, você tem que se retirar completamente. Você não coloca um viciado em crack recuperado para morra bem ao lado de uma casa que vende crack — bem, você não coloca um criminoso reformado perto do crime. E minha irmã, Lila, bem, ela nunca saiu do crime. Ela é uma traficante — uma traficante bagunçada. E até três anos atrás, eu não era melhor. Eu era um ladrão. Roubei, lutei, atordoei e lidei com drogas também. Criação difícil você perguntaria? Sim e não. Minha criação foi de privilégio monetário, mas é aí que esse privilégio acabou. Nosso pai trabalhava para a máfia — e foi nela que fomos criados, de maneira alguma alguém pode sair normal disso. Você pode tentar, mas quando testemunha assassinatos ainda criança, é espancado por pessoas que deveriam cuidar de você ou mata sua própria família... bem, isso causa certo estrago em sua mente. Há uma escuridão que corre em minhas veias, a maioria das pessoas nunca entenderá, porque, honestamente, para entender alguém como eu, você tem que ter o mesmo demônio negro rastejando dentro do seu sangue também. Eu queria ser uma pessoa normal. Eu tentei. Inferno, eu até me matriculei em uma universidade na tentativa de fazer
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uma vida honesta. Embora, soubesse que o tipo de estilo de vida com o qual estou acostumado só poderia vir de atividades ilegais. Para todos os efeitos, no papel, sou normal. A coisa é um vírus do qual você nunca consegue se livrar. Sinto que estou falhando. Sinto nos meus ossos o desejo de me afundar de volta nesse pequeno mundo doente, cheio de ganância e pecado. O vento de inverno atravessa a passarela do prédio, fazendo meu rosto arder. A porta do apartamento 3C treme quando bato meu punho novamente. Tentei ligar para ela. Sem resposta. E se há uma coisa que um traficante de drogas geralmente faz, é atender ao seu telefone. Balanço minha cabeça em frustração. “Lila, é Max”, eu grito. “Abra esta porra de porta, já.” A porta do outro lado do corredor se abre e um homem se inclina, virando uma garrafa de gim enquanto olha para mim. Ele é magro pra caralho. Sua regata está manchada, seus jeans rasgados. Seu bíceps frágil está coberto por uma tatuagem do porquinho Gaguinho de Looney Tunes. “Ela não está em casa há alguns dias”, diz ele enquanto limpa a bebida de seus lábios rachados. Eu volto para a porta e estendo meus braços contra os batentes. Meu pulso está acelerado. Se algo aconteceu com ela, vou me culpar. Deveria ter cuidado dela. Deveria ter checado mais vezes. Porra! Dando um passo para trás, olho para a porta. Apenas ligue para a polícia... Mas racionalidade nunca foi meu forte. Meu ombro bate contra a porta. As dobradiças cedem e eu caio na única sala que existe. O apartamento está uma bagunça. Pratos de papel recobrem o balcão. Seringas estão espalhadas na mesa de centro, junto com latas de refrigerante diet amassadas. Deixo minha cabeça cair, raiva crescendo dentro do meu peito enquanto puxo o celular do meu bolso para chamar a polícia. Ela se foi.
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“Bem, Sr. Carter” diz o policial enquanto passa os polegares por uma pilha de papéis em sua mesa. “Como eu disse a você, nós a colocamos na lista de Pessoas Desaparecidas, mas...” Uma carranca aparece em seu rosto e ele puxa um pedaço de papel da pilha. Recostando-se em sua cadeira, ele o lê por alto, em seguida, limpa a garganta. “Lila Carter, você disse?” “Sim. É ela.” “Data de nascimento, 9 de agosto de 1988.” Concordo com a cabeça, observando enquanto ele fica de pé, puxando as calças por baixo da barriga de cerveja enquanto inspira fundo. “Você sabe que sua irmã era uma...” “Uma criminosa? Sim, sim, eu sei, mas isso tem...” “Sua última prisão foi por prostituição Tabernacle e por posse de substâncias ilegais.”
no
The
Meu pulso para antes de entrar em ação, forçando um fino brilho de suor em minha testa. Eu sabia com que ela lidava, mas prostituição... “Olha, Sr. Carter.” O policial caminha em torno de sua mesa e coloca sua mão rosada e gorducha no meu ombro. “Desculpe dizer, mas nós recebemos casos como esse todos os dias. Não quero soar sem coração, mas na maioria das vezes, estas pessoas sofreram uma overdose ou apenas fugiram para evitar outra prisão, então você entende por que o relatório dela está no fim de uma lista cheia de adolescentes e crianças?” O calor consome meu rosto e meus dedos se fecham em punhos apertados. “Ela é minha irmã”, eu digo com os dentes cerrados. “Eu entendo, mas o que preciso que você entenda é que temos que priorizar alguns casos e uma prostituta traficante de drogas não é uma prioridade.”
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Quero quebrar os dentes desse filho da puta. Minha pele pinica com adrenalina, minha respiração fica irregular. O oficial lentamente coloca a mão na arma pendurada em seu cinto como um aviso para mim, e por mais que eu queira socálo, sei que não posso. Dou um passo em sua direção, colocando meu dedo a centímetros de seu rosto gordo. “Uma vida fodida ainda é a porra de uma vida, seu ...” Eu paro antes de dizer algo que pode me colocar atrás das grades, e me viro para sair da sala, minha visão borrada com a raiva. Às vezes você percebe que as autoridades competentes não serão de nenhuma ajuda, que sua única chance de esperança é tomar as coisas em suas próprias mãos, e se eu for honesto, estou mais habilmente equipado para lidar com isso do que eles. A polícia está vinculada aos protocolos e procedimentos. Por outro lado, eu não estou. Eu mataria um filho da puta antes de tentar negociar.
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2 MAX Demorei uma semana para encontrar o filho da puta que viu Lila pela última vez. Uma semana — e só. E a maldita polícia não é capaz de descobrir isso. Prostitutas, elas prestam mais atenção do que você imagina. Elas precisam. Três das garotas com quem conversei descreveram o mesmo homem, disseram que ele sempre aparecia em um carro diferente, com exatamente duas semanas de intervalo. Ele usa uma garota duas vezes, depois ela desaparece. Uma delas disse que ele era seu cliente regular. Que ele vem procurando por ela há mais de um ano. Duzentos dólares — foi o suficiente para ela concordar em tramar contra ele. Esses homens tendem a confiar demais nessas mulheres. Se elas vão chupar seu pau por dinheiro, pode ter certeza que também vão te ferrar por isso. Trisha está sentada na beira da cama do motel fumando um cigarro. Ela continua mudando qual perna está cruzada sobre a outra e seu pé está pulando para cima e para baixo. Ela ansiosamente olha para mim, me encarando. “É melhor você não me matar.” “Não vou”, digo quando acendo um cigarro. Eu realmente parei de fumar alguns anos atrás, mas foda-se, alguma coisa vai acabar te matando. “O que Travis fez pra você?” Ela pergunta. Eu olho para ela. “Você não acha estranho que a maioria das mulheres com quem ele fode acabe desaparecendo?” “Quero dizer...” Ela encolhe os ombros e dá outra tragada. “Merdas acontecem. Você aprende a ignorar coisas neste mundo, ou então você enlouquece, sabe?” Ela ri. “E
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descobri que se você aprende como dar um boquete incrível, a maioria dos homens não vai te matar. É o meu mecanismo de defesa.” Ela coloca a ponta do cigarro no cinzeiro do motel assim que alguém bate na porta. Levanto-me e caminho até o banheiro, fechando a porta atrás de mim. Ouço a porta abrir e ela o cumprimenta. Raiva rapidamente toma conta do meu peito, a pressão quase insuportável. Depois de alguns minutos, a porta do banheiro se abre até a metade e Trisha se esgueira pela fenda. Seu rosto está quase branco, horror cintilando por trás de seus olhos. Aceno e passo por ela, puxando a arma antes de sair para o quarto. O homem está de costas para a porta, puxando o jeans do pé esquerdo. O clique da arma o faz congelar. “Vire-se, porra”, digo. Minha voz tremendo de raiva. “Não me mexa depois disso e não vou ter que explodir seu cérebro por toda a parede.” Puxando uma respiração profunda, ele levanta as mãos como se estivesse se rendendo enquanto gira lentamente ao redor. Meu pulso bate atrás dos meus olhos quando meu olhar pousa em seu rosto. Ele é jovem. Talvez vinte e cinco anos na melhor das hipóteses. Ele é musculoso como um linebacker; seu rosto é áspero e tem uma longa cicatriz na bochecha direita. “Você é o cafetão ou cliente?” “Não.” Minha mandíbula aperta. “Deixe-me fazer uma pergunta. Você gosta de viver? Você gosta de cada fôlego que inspira? Porque se você gostar disso, é melhor responder a cada pergunta que eu fizer, e quero dizer sem hesitação.” Acabo com a pequena distancia entre nós e pressiono a arma debaixo do queixo dele. “Hesite e esta bala passa pela parte de trás da porra da sua garganta.” Arqueando uma sobrancelha, eu inclino minha cabeça. “Entendeu? Eu não faço joguinhos de merda.” “Sim.”
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Essa é a coisa, no mundo do crime, existem apenas dois tipos de pessoas: aqueles que sabem sobreviver e aqueles que têm muito orgulho. Para sobreviver neste mundo, você tem que saber quando você está encurralado e deixar seu orgulho de lado. Esse filho da puta parece entender isso. Não há como lutar em uma situação como essa. “Essas mulheres que você contrata, o que você faz com elas?” Minhas mãos tremem, o cano da arma cavando mais fundo em sua pele. “Você as mata?” Eu pergunto. “Não. Não, não faço isso. Eu não as mato.” Levanto meu rosto mais perto dele, minhas narinas dilatadas. “Então”, meu dedo se contorce sobre a curva suave do gatilho, “... o que você faz com elas?” Ele engole e quando faz isso, a ponta da arma se move ligeiramente. Tentando controlar o desejo animalesco que tenho de agredi-lo e larga-lo em uma pilha de carne mutilada, olho em seus olhos. “Você está hesitando.” “Você não acreditaria em mim se eu lhe dissesse”, diz ele. “Experimente.” Eu uso a pistola para inclinar sua cabeça para trás. “Nós as vendemos.” Um calor lento invade minhas veias. “Escravas sexuais.” “Não.” Ele balança a cabeça. “Nós as treinamos para amar.” Ele ri. Não é uma risada condescendente, é uma quase louca. Como se ele realmente acreditasse no que está dizendo, como se sentisse o que está dizendo, é algo incrível. “Amor. Nós vendemos amor.” “Bem, seu pedaço de merda. Vou precisar que você me diga para quem você vendeu minha irmãzinha.”
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Ele tenta baixar o queixo no peito, mas eu o levanto de volta com a ponta da arma. “Conte. Para mim.” “Eu não saberia. Apenas as treino. Não faço transações.” “Então você me conta quem faz.” Eu rio e balanço a cabeça. “Na verdade... Trisha?” Eu mantenho o meu olhar treinado neste filho da puta. “Trisha!” Eu ouço a porta do banheiro abrir e ela fungando quando se aproxima de nós. Seus olhos vagam para ele por um breve momento. “Eu não vou ajudá-lo.” “Tudo o que quero que você faça”, eu a interrompo, “... é que pegue o dele telefone do bolso.” Ela faz o que pedi, entregando o aparelho para mim. Pego e coloco-o dentro do meu bolso. “Você pode sair agora, Trisha.” Sem uma palavra, ela sai do quarto do motel. Dou a ela uns bons três minutos para fugir, e olho para aquele pedaço de merda sem valor o tempo todo, imagino-o fodendo minha irmãzinha e depois vendendo-a para alguém fodido e doente como se ela fosse uma mercadoria. “Foda-se”, digo quando deixo meu dedo deslizar no gatilho, o silenciador emite apenas um pequeno pop. Ele cai para trás com um grunhido, seu corpo batendo no chão enquanto ele vira um amontoado sem vida. Deixo o motel, o telefone dele no meu bolso. Com perseverança, vou trabalhar neste pequeno círculo e vou encontrá-la.
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3 AVA Recolho o pedaço de grama da trança solta da minha boneca Cabbage Patch, mal ciente da sombra que cai sobre o gramado verde. Uma mão grande de repente cobre minha boca e meus olhos se arregalam. Sou arrastada de pé e na direção de um carro estacionado na entrada da garagem. Meu coração bate no meu peito, quero meu pai, então tento gritar, mas meu choro é abafado por seus dedos com cheiro de cigarro. “Não grite e eu não vou te machucar, Ava”, diz ele. Tudo o que posso ver é sua gravata — listras diagonais azuis e vermelhas. Chuto, arranho seus braços peludos. Os calcanhares dos meus Keds se arrastam pela calçada enquanto ele me leva em direção ao sedan branco. Ele vai me levar embora. Olho para minha boneca deitada na beira do quintal e continuo tentando lutar com ele, mas sou muito pequena. Bang. Algo morno respinga sobre a lateral do meu rosto e o aperto do homem diminui. Meus ouvidos estão zumbindo, meu coração acelerado. “Olhe para mim”, a voz do meu pai vem do meu lado esquerdo, e me viro para vê-lo correndo pela calçada na minha direção, sua arma ao seu lado. “Olhe para mim, meu coração. Apenas mantenha esses olhos em mim, ok?” Aceno enquanto limpo a umidade pegajosa da minha bochecha. Segundos depois, meu pai me tem em seus braços, me embalando como uma criança. Quando tento para colocar meu braço em volta do seu pescoço, vejo o sangue em minhas mãos. Quero virar meu rosto para o homem, mas papai balança a cabeça. “Não”, diz ele com tanta calma. “Olhe para mim.”
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Então eu faço isso. Olho para o meu pai, encarando a barba rala e grisalha, que recobre seu rosto. Observo o sangue pulsando em seu pescoço enquanto ele me leva pelo caminho de paralelepípedos até a porta da frente e direto para a nossa cozinha. A bancada de granito está fria sob as minhas pernas quando ele me senta. Olho para a minha blusa branca. Está salpicada de sangue. Papai abre as torneiras, xingando baixinho enquanto pega um pano de prato. “O que foi esse barulho?” Minha mãe vem correndo pelo corredor, uma toalha enrolada em torno de seu corpo, o cabelo ainda coberto de espuma. “Frank, o que o...” Suas palavras se perdem no momento em que seu olhar pousa em mim. Lágrimas surgem em seus olhos castanhos e ela cobre a boca em um suspiro. “Ela está bem. Apenas…” Ele solta um suspiro duro antes de limpar meu rosto com a toalha quente. “Apenas, limpe-a. Eu tenho que tirar aquele filho da puta da nossa propriedade.” “Ava?” Bronson acena com a mão na frente do meu rosto. “Você está aí? Jesus.” Ele ri e eu volto para o presente. “Sim, sim, eu só...” O manobrista abre a minha porta. Meus olhos são imediatamente atraídos para sua gravata listrada de vermelho e azul marinho. E agora eu sei porque minha mente me levou para lá. Aquela gravata. Mesma cor. O mesmo desenho da que o homem que tentou me sequestrar estava usando aquele dia. Engraçado como seu cérebro faz isso. Uma pessoa pode se tornar tão bem versada em esquecer as coisas, mas a mente — bem, só permite fingir que você esqueceu. Confie em mim. Eu sei. Já tive meu quinhão de coisas fodidas acontecendo comigo e eu tentei apagá-las da minha memória, mas tudo o que precisamos é um cheiro, um
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pequeno som, e aquela ocorrência é dragada de volta à superfície. E dormir — esse é o pior porque todos os meus demônios saem para brincar à noite. Se eu pudesse evitar o sono para sempre, faria isso. “Você tem certeza?” Bronson pergunta enquanto se dirige para o lado do motorista. “Sim, estava apenas pensando sobre algo.” Subo em sua caminhonete e o manobrista fecha a minha porta. “Sim, não brinca.” Sua porta bate fechada. “De qualquer forma, para a festa do WJ então?” “Parece bom para mim, querido.” Tiro meu celular da bolsa e rapidamente digito uma atualização no Facebook. Indo para WJ com Bronson Tatum! ;)