História da psicologia das diferenças individuais

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História da psicologia das diferenças individuais

José C. P. Neto

Como podemos definir psicometria? Pode-se dizer que a psicometria é o conjunto de técnicas que permite a quantificação dos fenômenos psicológicos.

Antes da Ciência Astrologia – relaciona os signos com traços do ser humano.

Cria categorias dentro das quais é possível situar os indivíduos e predizer comportamentos

Relações entre traços de personalidade mensurados por testes psicológicos e signos astrológicos RESUMO A astrologia encontra-se bastante difundida no conhecimento popular, especialmente no que diz respeito a características típicas dos signos. O presente estudo teve como objetivo analisar os resultados de um inventário de personalidade a fim de verificar se os signos diferiam nos traços psicológicos. Participaram 505 pessoas, de ambos os sexos (70,5% mulheres), entre 16 e 63 anos (M=25,64; DP=8,66), que responderam à Bateria Fatorial de Personalidade (BFP), um instrumento baseado no modelo dos Cinco Grandes Fatores. Os signos foram avaliados de acordo com os 12 signos solares propostos pela astrologia e as 13 constelações zodiacais observadas pela astronomia. Por meio de análises de correlação não foram encontrados os padrões esperados pela astrologia, isto é, as correlações entre os signos e as facetas de personalidade não corroboraram as propostas da astrologia. Uma análise mais detalhada das pontuações revelou a falta de evidências de validade para a atribuição de características psicológicas baseadas no signo solar. Palavras-chave: Traços de personalidade; Avaliação psicológica; Psicometria.

Relatos da China antiga (Dinastia Han 206 a.C. – 220 d.C.) prescrevem a utilização de testes padronizados em concursos públicos com a finalidade de selecionar candidatos baseado em mérito e não pela linhagem familiar. Utilização dos testes também era presente em contextos militares.

Pinturas – China antiga s/d

Relatos descrevem que as avaliações orais nas universidades pela Europa datam do século 13. Graças a popularização do papel avaliações por escrito começam a tornar-se popular na rota Oxbridge (Oxford e Cambridge) por volta de 1800.

Ascenção social e orientação vocacional compõe um cenário em que indivíduos não mais são avaliados por julgamento individual e sim pela imparcialidade autoritária dos números.

Sala de Aula – Bologna 1350 Oxford – s/d

Porém foi na Grécia Clássica que ocorre o inicio de uma série de reflexões sistemáticas sobre diferenças individuais. Teofrasto descreveu 30 “tipos morais” e Galeno e Hipócrates de Cós trabalham a doutrina clássica dos humores e temperamentos.

O Renascimento Juan Huarte de San Juan (teoria das faculdades ou habilidades) Classifica e sistematiza as diferenças individuais preocupando-se com os princípios básicos da doutrina científica.

Séculos XVIII e XIX Franz Joseph Gall – contestou os métodos introspectivos e descartou a teoria clássica das faculdades mentais. Desenvolveu a Craneometria ou Frenologia. É o primeiro a representar uma psicologia objetiva tentando, de fato, estudar como as pessoas são diferentes.

Inglaterra Herbert Spencer – defendia que o estudo da mente deveria consistir em observar como ela evolui, de uma massa indiferenciada até um organismo heterogêneo e integrado. Em seu livro Princípios da Psicologia integra o associacionismo inglês com a fisiologia sensório-motor e a teoria da evolução do naturalista Lamarck.

“A Origem das Espécies”, livro central da obra Darwiniana, evocava a premissa de que os seres humanos, colocados como parte evolucionária do sistema ao seu redor, estariam subjugados portanto, as leis da natureza. Sir Charles Darwin 1809-1882

Os crescentes conceitos de “personalidade” e “individualidade” começam a ganhar forma dentro desta premissa anterior e são fundamentais pra influenciar o pensamento científico materialista e positivista.

Influenciado pelo pensamento da época, o belga Adolphe Quetelet, começou a estudar a distribuição de atributos humanos na população geral. Encontrou que algumas das características humanas como o peso e a altura, respeitavam uma distribuição Gaussiana (Distribuição Normal). Graças a estas descobertas, desenvolveu o índice conhecido como IMC (Índice de Massa Corpórea).

Adolphe Quetelet 1796-1874

Fechner publica em 1860, “Elementos de Psicofísica”, seu trabalho mais proeminente. Acreditava que o físico e o psíquico não seriam realidades opostas, mas aspectos de uma mesma realidade essencial, ou seja, fenômenos mentais correspondem a fenômenos orgânicos (estímulos), algo denominado Paralelismo Psicofísico. Acreditava na relação entre os estímulos físicos (excitação) e a quantidade de intensidade na experiência psíquica (sensação).

Gustav Fechner 1801-1887

Tido como “pai” da teoria Funcionalista, Willian James defendia que os processos mentais deveriam ser explicados de uma maneira mais sistemática e acurada, em oposição à introspecção de Wundt. Ao invés de focar em elementos conscientes, os funcionalistas focavam no propósito da consciência e do comportamento. O Funcionalismo estaria preocupado em enfatizar as diferenças individuais, o que impactaria de forma significativa a construção de instrumentos avaliativos.

William James 1842-1910

Escolas Científicas Uma escola científica é composta por autores que compartilham ideias sobre determinada disciplina. Em relação a pesquisas sobre diferenças individuais podemos destacar três escolas científicas: a anglo-saxônica, a francesa e a soviética.

Escola Anglo-saxônica • Francis Galton – principal postulado teórico: se existe variações essenciais nas propriedades físicas, elas também devem existir nas psicológicas, e que há uma relação direta entre as diferenças individuais do funcionamento dos órgãos sensório-motores e as diferenças intelectuais.

Ele utilizou uma série de métodos estatísticos para coletar informações sobre diferenças individuais. Estudando a estatística de Quetelet se deparou com a distribuição normal das medidas físicas adotando a forma de sino. Galton conclui que o mesmo aconteceria com a capacidade mental.

Galton também: • Formulou as principais medidas de dispersão; • Inventou o percentil, os métodos de regressão e as tabelas de referências para interpretar os escores individuais; • Elaborou os primeiros cadernos para registro ponderado do desenvolvimento a partir do nascimento;

• Inventou diversos aparelhos de registro; • Desenvolveu o índice de correlação para descrever a força de relação entre as variáveis; • Inventou o retrato-robô e sugeriu o uso das digitais para identificação.

• James McKeen Cattell – trabalhou com Galton em Londres. Assim como Galton achava possível obter uma medida do funcionamento intelectual por meio de testes de discriminação sensorial e de tempo de reação. • Cattell tentou desenvolver uma descrição da natureza humana em relação ao seu alcance e à sua variabilidade, uma psicologia das capacidades humanas.

• Em resumo , a escola britânica pode ser caracterizada por um grande esforço de submeter o estudo das diferenças individuais à análise matemática e estatística. É as vezes denominada psicologia fatorial que tem como característica principal a utilização de procedimentos estatísticos para produzir teorias psicológicas.

• A vertente americana também está muito vinculada aos testes mentais e à utilização de métodos matemáticos. Após as duas grandes guerras há um desenvolvimento da tradição americana devido ao aumento nas comunicações entre os pesquisadores.

Existem três áreas básicas de desenvolvimento nos Estados Unidos: • a psicologia fatorial de Thurstone, Cattell e Guilford, • o movimento dos testes psicológicos • e a psicologia cognitiva diferencial.

• Louis Leon Thurstone – o paradigma teórico das diferenças individuais (O-ER, Organismo, Estímulo, Resposta). • Defendia ser possível dar atenção as propriedades psicológicas nãoobserváveis e conservar o status de ciência no sentido estrito. O estimulo passa a ser considerado uma circunstância ambiental, sendo que o indivíduo é o ponto de partida. • Robert Plotin retoma o O-E-R defendendo que a pessoa deve ser considerada um ser ativo.

• Raymond Bernard Cattell – Criou o 16-PF um teste que visa medir importantes variáveis da personalidade. Fundou a Institute for Personality and Ability Testing (IPAT). • Hans Jurgen Eysenck – desenvolveu a Teoria PEN (psicoticismo, extroversão, neuroticismo).

Escola Francesa • Alfred Binet – após estudar as tarefas simples de Galton e Cattel chegou a conclusão que testes que incluíam atividades mais complexas eram mais interessantes e guardavam maior semelhança com atividades mentais da vida. • Escala Métrica de Inteligência, trabalho de Binet com Simon, é resultado de uma teoria de inteligência.

• Segundo Binet a psicologia individual deveria focar no estudo dos processos superiores. Estar aberta a novas formas de trabalhos que simplificassem as tarefas do laboratório e aproximando-se da vida cotidiana.

As contribuições de Binet para psicologia das diferenças individuais seriam: • seu interesse pelo tema básico (diferenças individuais), • a ênfase no estudo das funções superiores • e sua insistência na necessidade de uma renovação metodológica.

• Binet morreu prematuramente e seu projeto não teve uma continuidade clara. • Henri Pieron, Édourd Claparède e Maurice Reuchlin são personalidades de destaque da escola francesa.

• Nos últimos anos os temas em destaque da escola francesa foram os estudos: • da diferenças interindividuais, • das mudanças na maturidade no ciclo vital • e a análise da inteligência com ênfase ao retardo mental.

Escola Soviética É também chamada de psicofisiologia das diferenças individuais. Ivan Petrovich Pavlov – clássica pesquisa sobre o processo digestivo na Torre do Silêncio.

Após Pavlov os estudos dos pesquisadores russos foram direcionados as propriedades da atividade nervosa e seus tipos. A conduta manifesta de pessoa seria a mistura de: tipo de sistema nervoso e experiências condicionantes.

Essa escola explora quatro propriedades básicas do sistema nervoso: 1. força, 2. mobilidade, 3. dinamismo 4. equilíbrio. Possui um caráter fisiológico ou biológico, mas com relevantes avanços psicométricos.

Testes Mentais O que seria um teste mental? Ele consiste de uma série de perguntas ou problemas que ajudam a avaliar algumas propriedades psicológicas.

Experimentos psicológicos Significa prova, ou seja, um experimento de laboratório que o pesquisador manipula variáveis em busca de informações relevantes sobre o tipo de ação que a pessoa executa ao responder.

Lewis Terman em sua dissertação para American Psychological Association rejeita as supostas diferenças entre os testes mentais e experimentos psicológicos. Para ele elas não passavam de preconceitos derivados dos acidentes históricos no uso dos testes por alguns profissionais.

• J. B. Carroll propõe dois períodos básicos no chamado movimento dos testes mentais: o período de desenvolvimento e o período moderno.

Período de desenvolvimento (1869 a 1935) Movimento apoiado em dois pilares: • a análise fatorial que visava identificar as dimensões da capacidade mental e • a teoria dos testes que objetivava avaliações confiáveis das capacidades mentais.

Período de desenvolvimento (1869 a 1935). Para Edwin Garrigues (Gary) Boring a década de 1880 é marcada pelo trabalho de Galton, a de 1890 pelo de J.M Cattell, a de 1900 pelo de Binet e na década de 1910 ocorre o auge do desenvolvimento dos testes de inteligência.

Período moderno (depois da década de 1930 ao dias atuais). Expansão da técnica de análise fatorial de Charles Spearman. O Educational Testing Service (ETS), fundado em 1947, se tornou um centro de referencia para pesquisa da teoria dos testes mentais.

• Duas linhas fundamentais da pesquisa analíticofatorial vem sendo desenvolvidas no período moderno: a melhoria da metodologia em si e a procura de novos fatores de capacidade e interpretações psicológicas mais precisas desses fatores.

A Revolução Cognitiva As Teorias Cognitivas tem como objetivo explorar o desempenho em tarefas intelectuais exigentes para descobrir em que se diferenciam as pessoas. Há um caráter complementar entre essa visão e a psicologia fatorial.

Genética da Conduta Até que ponto as diferenças de conduta podem ser atribuídas à herança e às condições socioambientais em que vivemos? Apesar das evidencias, sempre surge uma sensibilidade especial quando cientistas estudam as possíveis bases genéticas e ambientais das diferenças psicológicas.

Genética da Conduta Atualmente há uma quantidade significativa de estudos empíricos de diversos países sobre o tema. Há poucos que ainda duvidam que as diferenças de conduta não são influenciadas por ambos componentes.

Personalidades e diferenças individuais A perspectiva das diferenças individuais também vem pesquisando o tema personalidade. Há uma concentração de análises nos traços psicológicos, ou seja, nas propriedades da personalidade que podem ajudar a responder as diferenças de conduta.

Personalidades e diferenças individuais Os programas de pesquisa dirigidos aos traços ou características de personalidade não se restringem a criação de teorias e testes para medir traços. Muitos buscam outros métodos de trabalho.

Nos últimos 10 ou 15 anos a comunidade científica vem desenvolvendo um modelo sobre os traços de personalidade com grande consenso internacional. Esse modelo recebeu o nome de Big Five, ou “Modelo dos Cinco Grandes” e seus principais divulgadores têm sido Paul T. Costa e Robert McCrae.

Os cinco grandes fatores de personalidade
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