Irmãos McGregor 3 - Josephine lys - Sussure meu nome ao vento

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Este não seria possível sem vocês.

Agradecimentos

A meu marido e a minha filha por seu amor incondicional e seu apoio. A Lorraine Cocó por sua generosidade, sua paciência, seu amparo nos momentos de dúvida, seus sábios conselhos e sua amizade, que valorizo como um tesouro precioso. A Nune, por outra capa maravilhosa.

CAPÍTULO I CAPÍTULO II CAPÍTULO III CAPÍTULO IV CAPÍTULO V CAPÍTULO VI CAPÍTULO VII CAPÍTULO VIII CAPÍTULO IX CAPÍTULO X CAPÍTULO XI CAPÍTULO XII CAPÍTULO XIII CAPÍTULO XIV CAPÍTULO XV CAPÍTULO XVI CAPÍTULO XVII CAPÍTULO XVIII CAPÍTULO XIX CAPÍTULO XX CAPÍTULO XXI CAPÍTULO XXII EPíLOGO

CAPÍTULO I Escócia 1180

Nerys MacLeod olhou para o marido e chefe do clã, Thane MacLeod. Sabia por experiência própria que quando ele ficava em silêncio por tanto tempo, com seu olhar perdido, sua respiração cada vez mais difícil e seus lábios apertados, era que algo o preocupava tanto quanto o enfurecia. E nesse momento não podia negar que Thane parecia prestes a explodir. Tentou esperar pacientemente que ele lhe dissesse o que estava acontecendo, mas naquele momento, a espera a estava matando e não estava exatamente em seu melhor dia. — Thane, querido, você pode me dizer o que está acontecendo? Está me assustando. Nerys sabia que com essas palavras tiraria o marido da letargia que o consumia. Ela sabia que, por nada no mundo, ele a deixaria alterada, então, embora não estivesse orgulhosa de suas palavras, uma ajudinha não faria mal. E a verdade é que a espera já estava começando a afetá-la. Thane olhou para a esposa. Era tão bonita quanto na época em que a conheceu e se casou com ela, dezoito anos atrás. Seus cabelos loiros até a cintura, como ouro cintilante, presos atrás das costas, o faziam querer enredar

os dedos neles e acariciar sua suavidade, como quando faziam amor e seu calor os envolvia. Seus expressivos olhos azuis olhavam para ele interrogativamente e com preocupação. Por nada no mundo queria que ficasse chateada. Depois que a filha Isobel nasceu, pensaram que não podiam mais ter filhos depois de vários abortos que a levaram a perder toda a esperança. No entanto, ela estava agora com cinco meses de gravidez. Haviam ultrapassado a temida barreira dos primeiros meses, quando as gestações anteriores haviam terminado abruptamente. No entanto, o medo de que essa nova vida fosse perdida os tornou muito cautelosos e temerosos. Thane não pôde deixar de se sentir feliz com a possibilidade de ter outro filho, e se fosse um menino, não poderia esconder que isso o deixaria imensamente feliz, mas o que o fez querer que a gravidez fosse a termo com maior intensidade foi a felicidade de Nerys, a quem ele amava mais do que sua própria vida. Temia pela saúde de sua esposa e aquela notícia, aquele pergaminho com o selo do rei William, certamente a deixaria nervosa, como havia acontecido com ele. — Não é nada Nerys, só fiquei surpreso com a mensagem do rei William. Nerys não seria enganada. Conhecia muito bem o marido para saber que essa fúria que controlava com a mão de ferro não era pouca. Então ela caminhou até Thane, até que estivesse ao seu lado, e tocou sua bochecha

suavemente. Seu marido, e chefe do clã MacLeod, olhou para ela com um sorriso meio triste. — Eu não posso te enganar, certo? Nerys sorriu amplamente ao ver como aquele guerreiro, forte e maravilhoso,

tentava

protegê-la,

buscando

em

vão

esconder

suas

preocupações. — Não – respondeu Nerys com uma voz suave e quase sussurrada. Ela se aproximou dos lábios do marido e deu-lhe um beijo suave e tentador, que Thane não deixou sem resposta. Colocou a esposa nas pernas, sentada no colo, passou os braços em volta dela e a beijou completamente, como desejava, pois o toque suave de seus lábios alimentava e causava sua fome, como sempre fazia quando sua esposa o tocava. Com um leve gemido, Nerys interrompeu o beijo quando estava ficando excessivamente íntimo. — E agora você vai me dizer de uma vez o que está acontecendo? Eu sei que está furioso e que isso é algo que me preocupa profundamente. Posso ver nos seus olhos – disse Nerys, as pontas dos dedos tocando a testa de Thane. Ele franziu o cenho devido à tensão de seus músculos que o tomou desde o exato momento em que a mensagem de William voltou a ser o centro de seus pensamentos. — Sim, mas você deve me prometer que não ficará aborrecida e que não se preocupará. Não suportaria que nada lhe acontecesse. Prometa.

A força que ele imprimiu em suas últimas palavras fez o coração de Nerys bater mais rápido. O calor que inundou seu peito pela preocupação e intensidade dos sentimentos de Thane, apenas comparáveis aos dela, a fez estremecer. Embora tivessem passado quase duas décadas juntos, Thane ainda a amava como no primeiro dia. — Não posso prometer isso, meu amor, mas farei o meu melhor. Agora me diga o que o bendito pergaminho diz antes de destruí-lo com a força da sua mão – disse Nerys, erguendo uma sobrancelha. Thane olhou para a mão em que ainda tinha a mensagem. Quase não havia nenhuma parte intacta. Era uma massa enrugada e rasgada em certas partes. — Não importa, posso fazer um resumo e, acredite, será o melhor. Parece que o rei deu para criar laços entre os clãs. Depois do que aconteceu nos últimos meses com a violência no roubo de gado, e com a morte de membros envolvidos, ele teme que, embora tudo tenha sido resolvido e a paz pareça ter retornado aos clãs, certos ódios alimentados durante esse período não se extinguam e voltem a ocorrer revoltas e descontentamentos. Então, pensou que a melhor maneira de estabelecer uma paz duradoura é criar alianças entre os diferentes clãs, ainda mais depois que a união entre os McAlisters e os McGregors deram certo. O ódio amargo que esses dois clãs haviam enfrentado por mais de um

século era conhecido por todos. O rei, cansado dos contínuos ataques, decretara o casamento do chefe do clã McAlister com uma das filhas do clã McGregor e agora parecia que os dois clãs, fruto dessa união, haviam resolvido muitas de suas disputas. Apenas um mês mais tarde o irmão de McAlister e outra das irmãs McGregor se casaram. — O que isso tem a ver conosco? Este clã não tem problemas com assaltos nem atacou qualquer pessoa. Estamos muito ao norte. — Nós dois sabemos disso, e o rei também, mas ele desenvolveu um gosto pelas uniões de clãs. Nerys de repente entendeu a que ele estava se referindo. — Isobel? – perguntou com um nó no peito. Sua linda filha tinha dezessete anos e tinha idade para se casar. Thane olhou para sua esposa antes de responder, e Nerys viu a resposta no olhar de seu marido. — Sim, embora não seja um decreto real, não é uma ordem para se casar com alguém determinado, mas um convite educado para Isobel passar algumas semanas no território do clã MacLaren. O chefe deste clã, Grant MacLaren, será o anfitrião de vários membros de outros clãs por alguns dias, a fim de que certas mulheres encontrem pretendentes e pensem na viabilidade de estabelecer laços de casamento entre eles. Uma delas é Isobel. Nerys sabia que esse dia chegaria, mas o medo a tomou. Queria o

melhor para sua filha. Ela era uma mulher com uma personalidade alegre e um coração terno. Prometeu que Isobel não seria forçada a se casar contra sua vontade, e por tudo o mais sagrado, não quebraria essa promessa. Sabia como era ser forçada a se casar com alguém que não conhecia e contra seus desejos. E embora tenha sido a melhor coisa que já lhe aconteceu, sabia que essas uniões normalmente levavam a uma vida cheia de amargura e arrependimento. — Você sabe que não vou deixar ninguém forçar Isobel a fazer algo que ela não queira – disse Nerys com um tom frio. Thane sorriu. Lá estava sua esposa rebelde. Ele ainda se lembrava de quando a conheceu. Ficou sem palavras quando a viu aparecer na sala daquela mesma casa. Tão bonita, tão desafiadora. Com o queixo erguido, o olhar forte e confiante e uma força interior que faria tremer até o homem mais musculoso. — Eu sei, e também não permitiria, mas não podemos deixar de aceitar este convite. É como se fosse uma ordem real. Nós a deixaremos ir, e se ela não encontrar alguém que goste, nada e ninguém a forçará a aceita um pretendente por um possível vínculo. Voltará para casa. E conhecendo sua filha, isso certamente será o que vai acontecer. Nerys pela primeira vez se permitiu um pequeno sorriso. Isobel era muito exigente consigo mesma, mas também com os demais, e jurara mais de

uma vez que nunca se casaria com um desses ignorantes cabeças duras que abundavam entre os Highlanders. Nerys sabia que isso não era certo, mas na idade de Isobel havia pouco podia fazer até que ela tivesse suas próprias experiências. Thane ficou sério de novo. Nerys olhou para ele de perto antes de perguntar. — Tem mais, não é? Thane assentiu antes de responder. Seus cabelos castanhos avermelhados na altura dos ombros se moviam no momento de seu gesto. — Alguém mais é mencionado no pergaminho. Diz sutilmente que, após um período de luto mais do que adequado, sua sobrinha também deve comparecer a essa reunião. Ela é um membro importante da nossa família e também uma McEwen de nascimento e que seria interessante uma possível futura união para ela também. — Já não sofreu o suficiente? Por que não a deixam em paz? – Nerys perguntou com raiva, cerrando os punhos ao ver como a vida às vezes era injusta. — Como você acha que ela vai reagir? – Thane perguntou, olhando para sua esposa, que parecia muito chateada. Ele não gostava nada disso. — Ela vai a todos os lugares com Isobel e também vai a essa reunião, mesmo sabendo o que isso significa. Ninguém poderia detê-la. Ela a ama e a

protege como se fosse sua irmã mais velha. Mas tenha certeza de que não aceitará de bom grado. Nerys pensou em sua sobrinha. Fazia quatro anos desde que chegara lá, com um sopro de vida entre os lábios. Não queria pensar em tudo o que passara porque o desejo de matar seu irmão pelo que havia feito retornou com força. Edine teve uma verdadeira provação. A princípio, temiam por sua vida, mas a força interior da jovem era titânica. Viu-a se levantar aos poucos e se tornar a mulher extraordinária que era agora. Sua amizade, paciência, empatia e amor incondicional por Isobel, como se fosse sua própria irmã, sempre a comoveram. Ninguém melhor para acompanhar a filha, porque, embora Edine fosse apenas cinco anos mais velha que sua filha, sua experiência de vida a havia marcado e a feito amadurecer demais para a pouca idade. — Ela vai com Isobel de qualquer maneira. Você não pode fazer uma viagem tão longa em seu estado – disse Thane. — Eu sei, mas não gostaria de estar em seu lugar e ter que dizer que, desta vez, não será apenas a companheira de Isobel, mas também será uma possível candidata a se casar. — Eu? – Thane disse, erguendo uma sobrancelha, surpreso – Francamente, esperava que você contasse a ela. Sinceramente, acredito que aceitará melhor as notícias se ouvir dos seus lábios. Nerys sorriu aquele sorriso triunfante que ele tanto gostava quanto

odiava, porque isso significava que lhe daria o golpe de misericórdia e o venceria a discussão. — Está brincando comigo, porque nós dois sabemos que as notícias dessa importância devem ser relatadas pelo chefe do clã e, a propósito, pelo cunhado da minha sobrinha. Não esqueça que ela era casada com seu irmão Brian. Uma aura de tristeza cruzou o olhar de Thane. Nerys sabia que, apesar de três anos depois de sua morte, seu marido continuou a lamentar a perda de seu irmão, como no primeiro dia. Brian fora um homem excepcional. Ela o amava como um irmão, e um homem assim, educado, sábio e generoso, não merecia aquela longa doença nem seu fim. Ele se casara com Edine já muito doente. Quando Edine chegou lá, Brian não conseguia sair da cama havia meses, com seus livros como sua única companhia. Ele ficou fascinado e cativado por sua sobrinha e, embora não pudesse ser um marido em todos os sentidos da palavra, ao saber de sua história e situação, pediu que ela se casasse com ele. Queria dar a ela a proteção de seu sobrenome, para que sua família nunca ousasse reivindicá-la. Tinha certeza de que isso deu a Brian um motivo para viver um pouco mais e uma vitória após a sua morte. — Então nem pensar em você dizer, não é? – Thane perguntou em dúvida. — Se não fosse pelo fato de você ser o guerreiro mais temível que eu

já conheci, acharia que tem medo dela. Thane endureceu o olhar como se essas palavras tivessem sido o pior dos insultos. — Como você pode insinuar algo assim? Só tento cuidar de seus ternos sentimentos e é sempre melhor receber uma notícia desagradável de alguém mais próximo e você é sua tia. Que tenho medo dela? Mas que...! Eu nem vou dizer em voz alta o que estou pensando. Acho que você não está em seu juízo, mulher, para dizer algo assim. Nerys olhava para ele o tempo todo e Thane sentiu o peso daquele olhar curioso e intuitivo, conhecendo seu interior mais do que ele. — Maldição! Está bem, não quero contar a ela, mas não porque tenho medo, é só que sua sobrinha tem um gênio de mil demônios quando fica com raiva. Todas as McEwen são armas de guerra. Outro dia, Lane fez um comentário de mau gosto e o rapaz ainda não se recuperou do susto. Sua sobrinha o encurralou e, sem levantar a voz, disse algo que o fez sair como uma alma que o diabo carrega. Acho que o pobre coitado ainda está correndo. Estou pensando seriamente em pedir a Edine para participar do treinamento dos mais jovens, para ensiná-los táticas de intimidação. Nerys deu uma risadinha. — Que tal irmos juntos? – Nerys disse, ainda com um sorriso no rosto.

Thane sabia que essa era a melhor oferta que iria receber. — Está bem, querida. Assim seja. Você sabe? Está preocupada com nossa filha e Edine, e só sinto pena de possíveis pretendentes. Juntas, serão como uma praga. Nerys riu novamente quando ouviu as palavras do marido. Agora sentia que estava mais relaxada e que, de alguma forma, o peso que se instalara em seu peito desde que Thane havia lhe dado a notícia havia desaparecido. Sabia que o marido era um exagerado, mas havia uma certa verdade em suas palavras. Isobel e Edine, cada uma de uma maneira diferente, eram duas mulheres fortes e era melhor para os futuros pretendentes escolherem bem suas palavras e ações, se não terminariam mal. Isso definitivamente a deixou mais calma. Sem dúvida, seriam algumas semanas interessantes e sentia muito não estar com a filha durante esse período, mas também, por que não dizer, lamentava de não ser testemunha da tenacidade e da força dos MacLeods.

CAPÍTULO II

Edine levantou a vista ao ouvir os passos apressados. Não precisava olhar para saber de quem eram. Um sorriso se formou em seus lábios antes de que aparecesse. — Bom Dia. Você estava planejando cavalgar hoje sem mim? – Isobel perguntou com uma cara fingida de raiva. Edine a conhecia bem o suficiente para saber que a expressão era pura fachada. O brilho travesso em seus olhos e o leve sorriso que tentava esconder indicavam isso. — Bem! – Ela exclamou com uma expressão séria. – Sinceramente, pensei que hoje teria sucesso. Sempre que vamos juntas, você me atrasa e, nesta manhã, queria deixar o vento para trás. Sua prima começou a rir e Edine riu com ela. Deixar o vento para trás, isso era uma piada entre elas. Há quatro anos, quando chegou lá, Isobel tinha treze anos e a primeira vez que montaram juntas, quando viu o quão boa amazona era sua prima Edine e quão rápida era capaz de cavalgar, ela disse com uma expressão assustada de que era capaz de deixar o vento para trás. Edine achou muita graça e, desde então, quando sentia vontade de voar nas costas de Travieso, lembrava-se das

palavras de Isobel. — Mas não se preocupe, eu seguirei o seu rastro e comerei o pó que você levantar – disse Isobel com uma careta. Edine riu de novo. Naquele momento, Radge, o travesso cavalo celta, deu-lhe um leve empurrão com o focinho no ombro. Sabia que estavam falando sobre ele e queria que lhe dessem atenção. — O que foi, lindo? Vamos voar um pouco hoje e fazer com que Isobel e Manchas só vejam seu traseiro? – Edine perguntou, acariciando suavemente Radge, que estava constantemente procurando o toque da sua mão. — Ahhh! Também não vamos exagerar. Manchas não é tão lenta e estou me tornando uma grande amazona. — E modesta também – disse Edine com uma piscadela. — Você é terrível – disse Isobel, mostrando a língua. Edine riu com vontade antes de falar. — Muito madura. — Eu sou assim. Um exemplo de virtudes, cada qual mais nobre. E Edine teve que admitir que sua prima estava chegando perto dessa definição. Ela a amava como uma irmã, como aquela que teve, e que perdeu por inveja e ciúme. Isobel fora para ela o que Lesi nunca fora. Lembrar-se

dela era mergulhar a adaga que estava presa no peito por anos e um pouco mais, já que a traição de sua irmã era quase tão dolorosa quanto a de seu pai e seu clã. Iain entrou nos estábulos, tirando-a de seus pensamentos. — Oi Iain, esses pequenos deram muito trabalho? – Edine perguntou, apontando para Radge e Manchas. — Bom Dia. – Isobel cumprimentou com sua alegria habitual. Iain estava encarregado de cuidar dos cavalos e estábulos. Um homem já envelhecido, mas com uma vitalidade invejável. A cicatriz que saia do lábio superior até a bochecha e os dois dedos que faltavam na mão esquerda falavam do seu passado como guerreiro. — Desculpe interrompê-las – respondeu com um sorriso. – Não tenho queixas dos meus hóspedes. Edine sorriu enquanto dava mais atenção a Travieso, acariciando-o. — Eu vim avisar que querem vê-las no salão o mais rápido possível. — Meu pai? Não fiz nada que me lembre, desta vez – disse Isobel, tentando se lembrar. — O seu pai com certeza, embora quando me pediram para chamálas, sua mãe também estava presente. — Então é sério – disse Isobel, fazendo um esforço real para lembrar de algo que poderia ter feiito. Uma ideia iluminou seu rosto. – Espere!

Talvez não tenha sido eu, talvez seja por sua causa – disse, olhando com uma expressão travessa para a prima. Edine só pôde sorrir de novo. — Boa defesa, mas fraca, muito fraca. Você sabe que se eu fizesse algo, nunca me pegariam. Por outro lado, você ainda é jovem, inexperiente, descuidada... — Tudo bem, entendi. Fui eu, definitivamente. Mas gostaria de saber pelo menos o que fiz, mais do que tudo, para preparar algum tipo de argumento. Edine passou um dos braços no da prima. — Não se preocupe. Eu ajudarei. — Voce faria isso por mim? – Isobel perguntou com uma sobrancelha levantada e um tom de voz relutante. — Na verdade não. Mas a intenção é o que conta. Isobel riu com vontade quando viu o rosto de sua prima. Ela sabia que a ajudaria no que quer que fosse. Desde que chegou ali, sempre esteve ao lado dela, mesmo quando Edine estava fraca o suficiente para não sair da cama. *** Thane MacLeod olhou para as duas mulheres na frente dele. Tão diferente e ao mesmo tempo tão iguais.

Isobel tinha o cabelo longo e liso da mãe. Uma longa juba loira que alcançava seus quadris. Seus olhos azuis e o olhar limpo e cristalino a faziam parecer uma flor delicada. Sua altura um pouco abaixo da média e seu corpo esbelto criaram uma imagem fria e angelical. Nada estava mais longe da realidade. Edine, no entanto, tinha cabelos cor de fogo, ruivos e ondulados até a cintura. Seus olhos verdes, com manchas castanhas, eram grandes e expressivos e seu olhar era desafiador e inteligente. Alta e esbelta, mas com curvas, possuía um gênio vivo e uma personalidade de mil demônios, que aprendera a controlar com mão de ferro, o que lhe dava uma aparência calma e um caráter afável. Mas Thane sabia que por dentro havia uma guerreira que poderia sacudir a terra em que pisava quando a tiravam do sério. — Pai, por que você pediu para nos chamar? Thane estava tentando encontrar as palavras certas para iniciar uma conversa que sabia com certeza que não seria fácil e que causaria tempestades. — Seria bom saber antes do final do dia. Thane olhou para Edine com o rosto de poucos amigos. O sorriso que curvou os lábios de sua cunhada quando disse essas palavras subtraiu qualquer tom cortante ou cínico com o qual poderiam ter sido interpretadas. — Isso não ajuda – disse Thane, erguendo uma sobrancelha.

Edine piscou para ele, o que fez Thane sorrir também, a contragosto, assim como Nerys, que olhou para a sobrinha com carinho. — Mas como você está impaciente em saber, eu lhe direi que mandei chamá-las para falar com vocês sobre uma mensagem que recebi do rei William. Edine ficou tensa ao ouvir essas palavras da boca de Thane. Ela olhou para a tia rapidamente e a preocupação e nervosismo em seus olhos diziam o resto. O que quer que Thane lhes dissesse, não era uma coisa boa. Isobel olhou para ela com uma certa travessura nos olhos, deixando-a saber que havia escapado do sermão. No entanto, quando viu o rosto sério de Edine, começou a suspeitar que talvez o que o pai ia dizer fosse pior do que a repreensão que esperava. — Você verá que a melhor coisa é que eu diga sem delongas. Vocês foram convidadas a passar algumas semanas no Castelo Laird MacLaren. O rei quer que a união entre clãs seja promovida através do casamento entre seus membros. — Pai, o que você quer dizer? – Isobel perguntou como se não entendesse aonde Thane MacLeod queria chegar. — O que seu pai quer dizer é que somos convidadas a esse castelo como moeda de troca. O rei teme que a inimizade entre os clãs e as guerras entre seus membros retornem. Isso perturba a paz e pode causar deslealdades

ou revoltas, e ele acha que o caminho para evitá-la é promovendo a união entre os clãs. Ou seja, você vai ser candidata a um dos chefes, ou filho do chefe, dos diferentes clãs que participem dessa reunião. Não é verdade? Thane apertou os lábios com o resumo que Edine havia feito, assentindo. Sua cunhada era muito esperta. — Pai! – Isobel exclamou antes de olhar para a mãe com o cenho franzido e expressão surpresa. Nerys aproximou-se da filha com um passo apressado e pegou as mãos dela. — Você não precisa fazer nada que não queira. Ninguém a obrigará a casar com nenhum desses homens. É um convite, não uma ordem real. — E que diferença isso faz? – Edine perguntou com o rosto de poucos amigos. – Uma sugestão, um convite bem-intencionado, é o mesmo que uma ordem e um empurrão em direção ao altar, sacrificando quem quer que seja pelo bem que o rei ou seus conselheiros considerem necessário. Quem se importa com os sentimentos e a vida dos envolvidos? Aparentemente ninguém. — Edine, por favor – disse Nerys, olhando-a com um apelo nos olhos. – O que eu disse é totalmente sério. Ninguém vai forçar vocês a se casarem contra a sua vontade. Thane e Nerys souberam o momento exato em que as palavras de

Nerys chegaram aos ouvidos de Edine. Seus olhos ficaram gelados e as hordas do inferno podiam ser vistas em seu olhar. — Nos casar? – Edine perguntou em um tom calmo e penetrante de voz. Nerys sabia que era impossível, caso contrário juraria que o marido se encolheu ao ouvir a pergunta. Ela decidiu se encarregar do assunto. Não queria que o sangue corresse naquele dia. — Thane, me dê o pergaminho, por favor – Nerys pediu ao marido. Quando ele estendeu, Nerys foi até Edine e entregou a ela. — Acho melhor você ler – disse ela, olhando para a sobrinha com todo o amor que tinha. Sabia que tinha que ser muito difícil para ela. Depois de tudo o que havia passado, de seu casamento com Brian, para que, sob a segurança de seu sobrenome e como viúva, não tivesse que se curvar à vontade dos outros, agora, com a chegada desse pergaminho, essa segurança desapareceu, com uma tacada. Nerys sabia que Edine não queria se casar novamente. Na verdade, tiveram que convencê-la pela primeira vez, e somente quando Brian, com sua infinita vontade e paciência, a fez mudar de idéia. Nerys não conseguia ler nada na expressão de sua sobrinha enquanto lia as linhas naquela pele de animal enrugada e praticamente destruída, que tinha se reduzido o pergaminho de seu esposo. Mas quando Edine ergueu a

vista e olhou para todos, Nerys não estava preparada para o sorriso que ela exibia. Tinha que conhecê-la bem para saber que aquele sorriso escondia muitas coisas e seu olhar, que expressava uma mente incansável com uma infinidade de variáveis, a fez sentir pela primeira vez que tudo ia ficar bem e que não tinha nada a temer. — Se o rei William foi tão atencioso em nos convidar, certamente não podemos decepcioná-lo. Ela terá suas duas candidatas à união de clãs no território MacLaren e mostraremos nossas excelentes maneiras MacLeod. Que Deus os ajude. Thane queria pedir pela alma dos membros daquela reunião e também a dele. Enviava sua filha e cunhada para garantir uma paz que o rei queria a todo custo, e o que William não sabia é que talvez, com aquelas linhas rubricadas com o selo real, ele tivesse acendido a chama de uma guerra sangrenta.

CAPÍTULO III

Logan ouviu a risada de sua irmã Aili, e isso o tirou de seus próprios pensamentos, concentrando-se novamente na conversa. Olhou atentamente para aqueles que se sentaram ao seu lado na mesa. O jantar terminou há muito tempo e todos os convidados se retiraram pouco a pouco até restar apenas seis deles. Suas irmãs, Meg e Aili, junto com seus maridos, Evan e Andrew McAlister, e o primo deste último, Calum McAlister, que naquele momento se levantava para se despedir até o dia seguinte. — Espero vê-lo novamente em breve – disse Calum a Logan, batendo levemente em seu ombro quando passou por ele. — Você pode ter certeza disso – disse Evan, chefe do clã McAlister, parecendo hostil. – Desde que somos uma família, não nos livramos dele. Sinto falta daqueles dias em que os McAlisters e os McGregors não podiam nem se ver. O cenho franzido da esposa Meg e da cunhada Aili fez todo mundo rir. Calum riu também antes de se afastar. — Eu sei que, no fundo, você gosta de mim, McAlister – disse Logan, olhando para o marido de sua irmã mais nova, que se engasgou com o vinho

deixado no copo e que estava forte. Apenas alguns meses atrás, essa cena seria impossível. Seriam considerados loucos ao simples pensamento de uma reunião, pois esses dois clãs, os McAlisters e os McGregors, se odiavam até a morte há séculos. Até o rei William, cansado de suas brigas, decretar o casamento do chefe do clã McAlister com uma das filhas do chefe do clã McGregor. No final, sua irmã mais nova, Meg, se casou com o mais velho dos irmãos McAlister. O que ninguém havia previsto era que apenas alguns meses depois o irmão mais novo de Evan se casasse secretamente com outra irmã McGregor, Aili. E agora, algumas semanas após esse fato, Logan estava na companhia de suas duas irmãs com seus respectivos maridos, em território McAlister. Sua relação com eles era boa, mesmo que ainda estivessem se conhecendo. — Você tem certeza de que tem que ir amanhã? – Meg perguntou, olhando para ele com aqueles adoráveis, enormes olhos cor de âmbar que pareciam iluminar a sala. Ela estava grávida de seu primeiro filho e sua condição estava causando estragos em suas emoções. A menor, a rebelde, a independente, a lutadora era uma de suas duas fraquezas. Ele praticamente não a via chorar desde que era criança, mas ultimamente parecia estar à beira disso com frequência, o que estava deixando Evan louco porque, apesar de ser um McAlister, a amava loucamente. Logan não precisava ver como ele a olhava

para saber que este homem estava totalmente apaixonado por sua irmã, assim como o outro irmão McAlister por Aili. Sua irmã Aili era sua melhor amiga e confidente. Tinham apenas dois anos de diferença e, quando sua mãe morreu, uniram forças por Meg, por seu pai e pelo clã. Ele e Aili eram muito parecidos fisicamente. Cabelos escuros e olhos azuis, que contrastava com Meg, que tinha cabelos castanhos e olhos castanhos claros, que às vezes pareciam dourados. — Claro – disse Logan, rindo quando Meg fez seu lábio inferior tremer um pouco como quando ela era pequena e queria algo. – Se dependesse de mim, ficaria mais alguns dias – continuou Logan, sorrindo ao ouvir os irmãos McAlister rosnarem com essa afirmação. – Mas não é uma viagem de lazer. O rei William quer que eu esteja presente na reunião que ocorrerá nas terras dos MacLaren. — Que tipo de reunião? – Andrew perguntou com uma sobrancelha erguida. Logan não pôde deixar de olhar com alguma admiração para o McAlister mais novo. Andrew, com seu sorriso atemporal e respostas um tanto irônicas, era muito perspicaz. Logan não queria dizer nada, porque sabia o interrogatório ao qual suas irmãs o submeteriam, mas o fato de que descobririam mais cedo ou mais tarde era inevitável, e era melhor que soubessem por ele.

— Parece que o rei William ficou satisfeito com o bom resultado de sua união e decidiu que, se funcionou duas vezes, por que não pôde funcionar mais algumas? — O rei William apenas decretou a união de Evan, o que isso tem a ver com a nossa? – Aili perguntou erguendo uma sobrancelha. — Porque se não fosse por sua ordem, vocês não teriam se encontrado e não haveria um casamento, certo? O rei deduziu que o seu também é graças à ordem dele e, portanto, considera como sucesso pessoal – disse Evan, olhando diretamente nos olhos de Logan. — Exatamente – respondeu Logan, não querendo ir mais longe. — A respeito...? – Meg perguntou com interesse. Logan respirou fundo antes de soltar as notícias. — William quer reunir chefes ou filhos de chefes de vários clãs com filhas ou parentes diretas de outros para promover casamentos e, assim, forjar alianças e eliminar possíveis inimizades que existam. Dois pares de olhos focaram nele, surpresos e preocupados, e outros dois com alegria. — O rei está preocupado que o encontro sob o mesmo teto de alguns desses clãs esteja causando tensão, especialmente porque um deles está sob suspeita de que possa ter ajudado McNall. Clave McNall, chefe desse clã por métodos duvidosos, conspirara

meses atrás, contratando mercenários para roubar o gado de vários clãs e para o assassinato de alguns

membros, fazendo com que os clãs vizinhos

parecessem culpados por essas ações, se confrontando e gerando uma onda de instabilidade, disputas e lutas que poderiam ter levado muitas dessas famílias à guerra se não tivessem sido descoberto. Logan odiava aquele homem com toda sua alma, não apenas por esse fato, mas principalmente por ter tentado estuprar sua irmã Aili, ameaçando-a de atacar todos os seus entes queridos até quase quebrá-la. — Ele me pediu para ir e ajudar MacLaren a manter a paz em suas terras enquanto durar esse encontro. — Então você não está indo como um pretendente possível, está? – Meg perguntou, olhando para ele novamente com preocupação. Logan olhou para sua irmã Meg sentindo que Aili também não tirava os olhos dele. — A princípio, não – disse Logan, sem que nada pudesse ser lido em sua expressão. Logan era um grande guerreiro, mas também um excelente diplomata. Ninguém podia vislumbrar qualquer emoção em seu rosto quando se concentrava nisso. Era excelente em esconder qualquer tipo de reação ou sentimento, exceto para uma pessoa presente, que ficava olhando para ele,

avaliando se o que havia dito era verdadeiro ou falso. Sua irmã Aili olhou para baixo, mas sabia que ela o questionaria mais tarde. — E eu pensei que íamos nos divertir por um bom tempo – disse Evan, olhando para seu irmão Andrew, que sorriu e olhou para Logan. – De qualquer forma, alguns dias ou semanas lá, sob o mesmo teto que muitos casais possíveis podem fazer você também se animar, certo, Logan? Logan sorriu fracamente antes de responder. — Há apostas que, quando são perdidas, deixam você só com o que veste, sem que possa se recuperar. O amor não é para mim. Aili olhou para o irmão. Entendia o significado dessas palavras. Ele apostou tudo pelo amor de uma mulher. Seu coração e até sua alma. E tinha perdido da pior maneira. Edine McEwen tirou tudo dele de um dia para o outro. Ela o deixou por meio de algumas linhas, escritas depois que ela e Logan ficaram noivos em segredo, já que os dois clãs não eram exatamente aliados. Em umas poucas linhas, deixou Logan para fazer o que era melhor para seu clã, e isso foi partir de seu lar para se casar com outro, um homem dos clãs do norte, sem dar nenhum nome ou dizer para onde iria. Quando Logan voltou da corte, em uma das primeiras vezes que o rei o solicitou por vários meses,

descobriu que Edine havia desaparecido, deixando a

mensagem como a única resposta para suas perguntas. Logan quase surtou. Procurou respostas e as que encontrou, depois de conversar com a irmã de

Edine, o fizeram voltar para casa com o coração em pedaços. Aili nunca tinha visto Logan do jeito que o viu naquele dia. A determinação de ferro que o caracterizava, sua temperança, sua integridade, tudo isso cambaleou por um instante e o Logan que ela conhecia quase desapareceu, mesmo que tentasse esconder isso de todos e até de si mesmo. A profunda dor e a ferida que o abandono produziu em seu irmão ainda não haviam se curado e, francamente, Aili duvidava que um dia fosse. Desde então, seu irmão nunca mais foi o mesmo. Eram pequenas diferenças, mas podia vê-las em seu sorriso, que não se estendia aos olhos como no passado, antes de Edine partir, ou em sua maneira de expressar o que sentia ou o que o preocupava. Agora era como um muro de pedra quase impossível de atravessar e Aili praticamente teve que espancá-lo para que Logan lhe contasse algo. — E era assim que nós pensávamos, e olha onde estamos – disse Andrew, ganhando uma gargalhada de Evan e olhares sombrios de ambas as esposas. Logan sorriu levemente, mas Aili sabia que a experiência dele era muito diferente. Evan e Andrew não haviam perdido abruptamente o amor de suas vidas, nem foram enganados e traídos. — Você voltará depois de concluir sua tarefa lá? – Meg perguntou com uma voz doce demais para a pequena rebelde da família.

Logan viu uma certa vulnerabilidade e preocupação no olhar de sua irmã. — Claro, querida – respondeu com uma piscadela. O alívio que viu nos olhos de Meg o enterneceu, como sempre faziam aqueles expressivos olhos grandes que transbordavam o coração e a alma de sua irmãzinha. — Que tortura – ouviu Evan dizer baixinho. Andrew riu quando Meg deu um tapinha na perna do marido e chefe do clã McAlister, antes de se levantar. Logan comprovou que para sua irmã, o fato de se levantar já era um esforço. Com seu estado avançado e após um longo dia, o cansaço fazia com que a sua energia diminuísse drasticamente. — Estou indo para a cama – disse Meg com olhos levemente sonolentos. – Você me prometeu que viria, então esperarei por você em algumas semanas – Meg continuou dando um beijo na bochecha e um abraço de urso em Logan, que foi retribuido com todo o seu amor. Evan apertou o braço de Logan enquanto olhava sua esposa, que tinha uma sobrancelha erguida e batia o pé no chão com impaciência. — Se não tiver escolha... – Evan exclamou com arrependimento exagerado. Meg olhou para ele, arregalando os olhos ainda mais. — Evan McAlister, como você ousa dizer isso ao meu irmão...?

Meg não conseguiu terminar a frase porque os lábios de Evan a pararam. Foi apenas um toque, mas o suficiente para Megan suspirar quando o beijo terminou. — Adoro quando você fica mandona – Evan disse no ouvido da esposa enquanto olhava para Logan. — Teremos o maior prazer que você volte quando quiser. Essa também é a sua casa – disse o cunhado e chefe do clã McAlister com um sorriso. Logan não esperava, mas viu a sinceridade nas palavras e nos olhos de Evan e sorriu por sua vez. — Você tem certeza do que disse McAlister? Porque eu posso ser muito pesado quando... Evan revirou os olhos quando pegou sua esposa e saíram da sala sem esperar para ouvir o que seu cunhado ia dizer. Andrew e Logan se entreolharam e ambos riram alto. — É fácil provocá-lo – disse Andrew, apertando o braço do cunhado também. Logan havia dito que preferia se despedir naquela noite, pois queria sair ao amanhecer. — Esperamos vê-lo em breve e boa sorte na reunião – continuou Andrew antes de olhar para a esposa com uma promessa nos olhos. Um que

apenas os dois entenderam. — Eu vou esperar por você lá em cima. Aili sorriu para o marido. Era incapaz de descrever tudo o que sentia por ele. Estava totalmente apaixonada e a coisa mais especial e maravilhosa de todas era que ele também estava apaixonado por ela. Agora sabia disso. Andrew havia mostrado a ela com suas palavras, com ações, com a boca, as mãos e todo o corpo. Sentia isso em cada centímetro de sua pele e o fato de que se conhecessem tão bem em apenas algumas semanas apenas deixava evidente esse amor que Aili reconhecia era precioso e difícil de encontrar. Silenciosamente agradeceu a Andrew pelo fato de ter entendido que queria se despedir de Logan sozinha e falar um pouco mais com ele. Seu irmão a observou antes de se sentar novamente e Aili sorriu enquanto ocupava um lugar em frente a ele. — Pode falar – disse Logan com um meio sorriso. Ele a conhecia muito bem. — Você não contou tudo, não é? – Aili perguntou, examinando os olhos de seu irmão, o que em nenhum momento evitou seu olhar. — Eu vejo a dor em seus olhos, Logan, não minta para mim. Você pode enganar todo mundo, mas não eu. Diga-me, por favor – continuou Aili, sua voz tingida de preocupação. Logan pegou a mão de sua irmã.

— Não há quem engane você, hein, pequenina? Aili sorriu. — Megan é a pequenina – sua irmã respondeu, fazendo uma careta. — Eu sou o mais velho, então você também é pequena – Logan piscou para ela. E uma pessoa muito inteligente que me conhece muito bem – continuou, olhando-a com orgulho. Aili soltou o ar que estava segurando. — O que está acontecendo, Logan? O que é? Eu só vejo esse olhar quando é algo relacionado à Edine. As últimas palavras foram ditas mais lentamente e com um tom de voz mais baixo. — Bom Deus, Logan! É sobre Edine? – Perguntou quando viu a pequena mudança na expressão de seu irmão. Para os outros, teria passado despercebido, mas não para Aili. – Você sabe alguma coisa sobre ela? – perguntou impaciente. — Eu sempre soube dela, Aili. A voz de Logan endureceu enquanto falava essas poucas palavras. — Mas... você a viu? Ou já teve contato com ela? Logan balançou a cabeça antes de responder. — Não, mas eu sei onde está há muito tempo. Sei que se casou com o

irmão do chefe do clã MacLeod e que ficou viúva depois de alguns meses. Aili olhou nos olhos dele, perguntando sem palavras. — E se você sabe há muito tempo, o que está incomodando agora? Logan olhou para ela antes de responder. — A reunião que vou é na terra dos MacLaren. — Sim? – Aili perguntou quando viu que seu irmão estava fazendo silêncio por muito tempo depois daquelas poucas palavras. — Eu sei quem comparecerá, o rei me disse para controlar os convidados e evitar a tensão entre os clãs rivais, e a filha do chefe do clã MacLeod está entre eles. Aili estava começando a tomar consciência do que seu irmão estava dizendo. — E você acha que Edine irá com ela? – perguntou, em parte temendo a resposta de Logan. — Na verdade, eu sei que sim. Seu nome como possível candidata também está incluído. Como viúva e cunhada do chefe do clã MacLeod e filha do chefe do clã McEwen, ela é perfeita para os planos do rei. — Bom Deus, Logan! – Aili disse, apertando a mão do irmão com mais força.

Logan esboçou um sorriso. — Eu não contei nada pois sabia exatamente qual seria sua reação e você não precisa se preocupar. Edine saiu da minha vida há anos. Aili fez um gesto com o rosto e com os olhos que fez Logan rir mesmo sem querer. — Não ligo para o que você me diz. Sei que é o homem mais forte que já conheci, mas não significa que isso não o afete ou o prejudique. Você é humano, Logan, e ela era o amor da sua vida – disse Aili preocupada. O olhar de Logan esfriou até congelar a sala. — As pessoas amadurecem e mudam a perspectiva das coisas. Edine foi a primeira mulher por quem me apaixonei, mas além disso não significa mais nada para mim. Se alguma vez abriguei sentimentos por ela, estão mortos e enterrados. Aili cerrou os dentes em um esforço para silenciar as palavras que estavam queimando em sua boca para sair. Edine foi a primeira e única mulher pela qual seu irmão se apaixonou e, embora Logan quisesse fazê-la acreditar no contrário, ela sabia que tinha sido o amor de sua vida e que parte desse amor ainda estava dentro de seu coração, se contorcendo como um punhal que o faria sangrar novamente assim que a visse. Disso ela tinha certeza. A desvantagem é que também conhecia a firmeza e a determinação de

seu irmão, e se ele havia banido Edine de sua vida, não havia como voltar atrás. Logan poderia ser muito duro com aqueles que o desapontavam, nem que um desses fosse a única mulher que o deixou de joelhos por amor. — Tudo bem – disse Aili enquanto olhava nos olhos azuis escuros de seu irmão. Eram muito parecidos aos seus, mas ao mesmo tempo muito diferentes. Os de Aili eram grandes e doces, enquanto em Logan eram mais irregulares e seu olhar tinha um brilho perigoso e enigmático que enfeitiçava, irremediavelmente atraindo a pessoa em sua direção. – Prometa-me que você será cuidadoso. Logan olhou-a com uma sobrancelha erguida e um rosto interrogativo. — Do que eu deveria me proteger? Aili retribuiu com um gesto que indicava que ele sabia exatamente a que ela estava se referindo, mas desde que Logan parecia determinado a ignorar, falou francamente. — Vai a uma reunião em que homens e mulheres de diferentes clãs devem comparecer para criar elos entre eles através do casamento e me diz que Edine estará lá, e acima de tudo como candidata. Isso significa que você não apenas terá que voltar a ver a mulher que amou ,e que partiu seu coração, e não me diga que não Logan – disse Aili quando viu que seu irmão iria

responder – mas você também vai ter que ver como ela flerta ou se interessa por alguns dos homens que estarão lá, ou pior, como um desses homens irá atrás dela, e quer que eu acredite que isso não o afetará. Desculpe, mas sempre achei que respeitasse minha inteligência. Era difícil ver Aili com raiva de algo, mas agora ela estava muito perto disso. Logan sorriu abertamente. — Respeito muito a inteligência de minhas duas irmãs. Nunca cairia no erro de não fazer isso. Não apenas a respeito, mas também a admiro. Nesse sentido, espero que você também respeite a minha. Você sabe que eu vou ficar bem. Aili sabia que seu irmão era muito inteligente, isso era óbvio, mas inteligência e amor raramente são bons companheiros de viagem. — Tudo bem – disse Aili enquanto tentava sorrir. — Nunca vi um sorriso mais falso, e isso porque está se esforçando ao máximo – disse Logan com um brilho malicioso nos olhos. Aili riu abertamente. — Assim é melhor – continuou Logan, ainda olhando para a expressão preocupada de sua irmã. – Prometo que você não precisa se preocupar com nada, está bem?

Aili assentiu mais convencida, enquanto Logan ocultava uma parte importante da informação. Esta reunião não era apenas uma missão encomendada pelo rei para ele. William também sugeriu que, enquanto ajudava a manter a paz naquela reunião, deveria considerar seriamente se casar de uma vez por todas. Logan abraçou sua irmã e beijou sua bochecha para se despedir. Era melhor que a conversa parasse por aí, porque não queria que Aili descobrisse o que havia escondido dela a noite toda, porque, por mais que soubesse que Edine estava fora de sua vida para sempre, uma parte dele ainda a amava e a odiava em partes iguais.

CAPÍTULO IV

Edine se aqueceu ao entrar no castelo do clã MacLaren. Era quase uma fortaleza. Muros altos e uma muralha que parecia desafiar diretamente os elementos. Se aquele lugar era sinônimo de seu povo, eram fortes, seguros e fechados. A chuva que os acompanhou nos últimos dias de viagem havia afetado seus ossos como pequenas facas que faziam seu corpo inteiro gemer silenciosamente. Ela espirrou várias vezes e, apesar de não querer pensar nisso, por conta da situação inoportuna, tinha certeza de que estava resfriada. Edine voltou os olhos para sua prima Isobel, que por sua vez estava olhando atentamente para tudo ao seu redor, como se sua curiosidade nunca pudesse ser atenuada. Sabia que também não estava de bom humor. Sua cara de óbvio desconforto não deixava espaço para dúvidas. Uma mulher baixa e de aparência agradável as acompanhou até uma grande sala de estar. Edine achou que essa seria a principal ao ver uma tapeçaria sobre uma lareira com o brasão e o emblema dos MacLaren. A sala era de grandes proporções e de formato quadrado, embora um pouco mais alongada nas extremidades. Os três homens do clã MacLeod que

as acompanharam entraram atrás delas, deixando os cavalos em segurança no estábulo do clã MacLaren. O homem mais alto, corpulento e mais confiável de seu cunhado Thane, posicionou-se à direita quando um homem entrou na sala e caminhou em direção a eles. As cores indicavam que pertencia ao clã MacLaren e o broche em seu ombro, preso em seu feileadh mor com o escudo do clã, significava que era o chefe e o anfitrião do clã naquela reunião. Edine olhou para ele com mais interesse. Era um homem jovem e imponente. Alto, de ombros largos, musculoso e com um olhar penetrante. Seus traços eram viris e atraentes. Com cabelos cor de mel e olhos cinzaazulados. Quando sorriu, Edine teve que admitir que o chefe do clã MacLaren seria um dos homens mais desejados pelas candidatas em potencial. Ela olhou para a prima e teve que reprimir um sorriso. — Feche sua boca – ela sussurrou para que ninguém mais as ouvisse. Isobel estava olhando para o homem, e Edine teve que dar um cutucão nela com o cotovelo para fazê-la reagir. Grant MacLaren parou de repente quando viu as duas mulheres esperando por ele. Nos dias anteriores, vários dos convidados esperados tinham chegado. Algumas das damas que já estavam dentro daquelas paredes eram realmente atraentes e bonitas, mas o golpe no peito quando viu aquela jovem com olhos grandes e cabelos dourados como o sol o deixou momentaneamente sem idéia do que fazer. Não estava acostumado com a

reação de seu corpo, na verdade nunca tinha passado por isso, e sem dúvida culpou a noite ruim que tinha passado. O cansaço dos dias anteriores e a responsabilidade daquela reunião imposta em seu território e em sua casa estavam cobrando seu preço. Grant se aproximou das duas mulheres, agora também prestando atenção na outra dama. Era extremamente bonita. Mais terrena que o anjo que tinha ao lado e com um olhar que poderia congelar os infernos ou alimentar as chamas do mesmo. Algo sobre sua postura e seus olhos o convenceram disso. — Bem-vindas. Sou Grant MacLaren, chefe do clã MacLaren e anfitrião nesta reunião. Edine sorriu enquanto tomava a palavra. — Sou Edine MacLeod, cunhada do chefe do clã MacLeod. E ela é minha prima Isobel, filha do Laird MacLeod. E Thorne MacLeod, o homem de confiança do nosso Laird – continuou Edine, apontando para o homem à sua direita. Grant olhou para o guerreiro MacLeod que Edine havia indicado. Aquele homem era como uma torre alta. As cicatrizes que sulcavam os braços e o lado direito do rosto o faziam parecer feroz e não insignificante em uma luta. O leve sorriso nos lábios de Thorne MacLeod quando Edine falou, e o brilho de orgulho que cruzou seus olhos, o tom da dama, confiante e

direto, reafirmou suas suspeitas. Edine MacLeod era de pegar em armas. Grant fez um pequeno aceno de cabeça que o guerreiro respondeu. Os outros dois homens atrás das damas permaneceram em silêncio, mesmo depois que Edine chamou seus nomes. — Agradecemos desde já a sua hospitalidade – continuou Edine sinceramente. Grant sorriu com essas palavras. — Eu só espero que vocês aproveitem o tempo que passem nessas terras. Se precisarem de alguma coisa, estou à sua disposição. – Grant olhou para as duas. Um bufo nada feminino veio dos lábios de Isobel, fazendo Grant erguer uma sobrancelha. — Levando-se em conta o objetivo desta reunião, apenas um homem poderia fazer esse comentário. Não estou aqui por vontade própria, então não acho que vou aproveitar meu tempo, muito menos na companhia de caipiras ignorantes... — Isobel! – Edine exclamou em um tom de voz que evidenciava sua contrariedade pela falta de delicadeza e boas maneiras de sua prima. Ela sabia que Isobel, apesar de sua personalidade forte, não era assim. Era jovem e intensa em todos os aspectos, mas sempre demonstrara maneiras requintadas. Sim, ela expressava sua opinião sem pensar. Edine gostava dessa

característica dela e todos haviam promovido sua liberdade por expressar o que sentia a todo momento, mas isso era algo que ela não esperava. Era verdade que durante os dias que passaram na viagem, ela a viu se retrair e se perder em pensamentos, algo que não era normal em Isobel. Edine atribuiu isso ao fato de estar se conscientizando do que aquela viagem representava, assimilando esse fato. Mas nunca teria esperado essa explosão. Assim que saíssem e as duas estivessem sozinhas, falaria com ela. Foi desproporcional e suas palavras foram acompanhadas por um sentimento afilado, próximo à raiva ou ao ódio. Ambos os sentimentos não eram comuns em sua prima. — Peço desculpas, Laird MacLaren. Eu fui rude. Não tenho desculpa – disse Isobel rapidamente, e, apesar de parecer completamente arrependida por suas palavras, seus olhos diziam algo totalmente diferente. Grant levou alguns segundos para responder. Isobel engoliu em seco pela maneira intensa como o chefe do clã MacLaren a estava olhando. Durante todos os dias de sua viagem, ela pensara no significado daquela reunião e em quão pouco sua própria felicidade valia nas mãos dos outros. Pela primeira vez em sua vida, ficou cara a cara com a realidade, e sabia que, tanto quanto seus pais ou seu próprio clã a haviam protegido, dando-lhe as asas que a poucas eram permitidas, um simples pergaminho poderia fazer com que sua vontade, seus desejos e sua própria necessidade fossem

reduzidos a cinzas. Isso a levou à beira do precipício. Um sentimento de raiva tomou conta dela devido à injustiça e desamparo que essa situação criou para ela. E assim que viu esse homem, seu anfitrião, todo aquele ressentimento tinha saído de sua boca. Sentia muito, ele não era o culpado, mas também estava lá como parte da engrenagem dessa grande falácia. O que mais doeu foi o olhar de Edine, como se estivesse desapontada, e ela entendia. Também estava consigo mesma. Deixou-se levar, sem medir as palavras ou suas consequências. Nesse sentido, admirava sua prima, sempre o fez. Edine havia sofrido mais do que podia suportar, o suficiente para mais do que uma vida, e lá estava ela, ao seu lado, com um sorriso e segurando seus sentimentos com uma mão de ferro. Deveria aprender com ela. Grant olhou para a jovem que a princípio pensou que era um anjo. Aparentemente era, mas foi só abrir a boca e por ela saiu toda a ira do inferno. Caipiras ignorantes, essas palavras ainda doíam, embora no fundo o fizeram se segurar para que um sorriso genuíno não dominasse sua boca. Essa mulher tinha coragem e ideias muito claras, embora Grant sentisse seu orgulho ferido por elas. — Não se preocupe. Conheço o impulso da juventude excessiva e, com uma educação requintada como parece ser a sua, todos os acompanhantes possíveis lhe parecerão abaixo de seu status. Por isso, apelo a

toda sua paciência e consideração por todos nós, cairpiras ignorantes, e que desculpe nossa pouca inteligência e sabedoria. Eu de minha parte, farei todo o possível para que não sofra muito com a minha ignorância. Agora Anne as escoltará ao seu quarto. Também pensamos na acomodação de seus homens. E novamente, espero que sua estadia seja o mais suportável possível. Senhoras, se me derem licença... – Disse Grant, balançando a cabeça em respeito e saindo da sala, deixando Isobel com os punhos cerrados dos dois lados. Ela merecia cada palavra dita, mas o que não esperava era como doía recebê-las. *** Edine falou com os homens do clã que as acompanhavam. Ficariam até o dia seguinte, quando todos, exceto um, partiriam, ficando para acompanhá-las nos dias em que permaneceriam lá. Depois de Edine se despedir, seguiram Anne até o quarto designado. A mulher falava com alegria e vitalidade, dizendo que o jantar estaria pronto em algumas horas e que a grande maioria dos convidados já estava lá. Depois de subirem uma escada e caminharem por um corredor com várias janelas que davam para o exterior, chegaram ao quarto. Era um aposento simples, mas tinha tudo o que era necessário: duas camas, uma mesa e duas cadeiras. Seus baús já estavam arrumados, ao pé das duas camas. Isobel nem

notou quando foram trazidos para cá. Devia ter sido enquanto estavam conversando com Grant MacLaren. Lembrar do homem fez seu estômago apertar. Quando a porta do quarto se fechou, deixando as duas sozinhas, Isobel olhou para a prima, que também estava olhando para ela. Pensou que veria a raiva nos olhos dela, mas o que seu olhar mostrava era uma preocupação genuína. — O que aconteceu? Edine observou como Isobel a olhava com uma expressão arrependida. Um pequeno suspiro saiu dos lábios de sua prima antes de falar. — O que eu disse... sei que foi imperdoável. Não sei o que aconteceu comigo. A última coisa que quero é desapontá-la – disse Isobel, e Edine podia ouvir a dor permeando cada uma dessas palavras. Edine diminuiu o espaço entre elas e abraçou a prima. — Eu sei que isso é difícil. Você não esperava ter que fazer algo assim, mas prometo que tudo ficará bem. Não deixarei nada nem ninguém forçar você ao que não queira. É apenas uma reunião, não tem obrigação de assinar um contrato de casamento. E embora o que tenha feito seja realmente imperdoável, isso estabelecerá as bases para que todos pensem que sua aparência angelical é apenas a fachada que esconde uma verdadeira pirralha. Isobel se separou de sua prima, olhando com uma carranca e com a

raiva dançando nos olhos. — Eu não sou uma pirralha e você sabe disso – disse Isobel com um beicinho antes de pensar dois segundos, suspirando e falando novamente desta vez com algum arrependimento. – Bem, talvez um pouco sim. O tom de resignação implícito em suas últimas palavras apertou o coração de Edine, que a olhou com carinho. — Você pode ter uma ou duas falhas – respondeu Edine, gesticulando com dois dedos, indicando que, se existissem, eram muito pequenas – mas não é de forma alguma uma pirralha. — Laird MacLaren não merecia o que eu disse – disse Isobel, com a voz mostrando arrependimento sincero. Edine olhou para ela com um brilho estranho nos olhos. — A verdade é que não. Ele é muito bonito, não é? – A ruiva perguntou diante do rosto chocado de Isobel. — A verdade é que eu não notei. E, nesse caso, não sei o que é relevante nisso – exclamou, tentando, sem sucesso, parecer indiferente. Edine deu uma risadinha. — Você está falando comigo, não com uma estranha. Seu queixo caiu quando o viu entrar. Se eu não tivesse lhe cutucado secretamente, ainda estávamos lá, babando sobre aquele Highlander ignorante e caipira que, aliás, parecia ser uma iguaria requintada. Embora pela resposta que ele lhe deu,

acho que você encontrou com a exceção da regra, não acha? – Edine perguntou divertida. Ela sabia que a prima havia percebido que suas idéias não eram inteiramente corretas. Grant MacLaren acabou por não ser o caipira ignorante que ela pensava que a maioria dos presentes seria. Isabel parou nas palavras babar e iguaria requintada. Ela se sentiu corar até os cílios. — Edine! – exclamou baixinho, como se houvesse alguém que pudesse ouvir. — O quê? – Edine respondeu, ainda mais baixo e com uma expressão divertida no rosto, o que fez Isobel morder o lábio para não rir. Isobel balançou a cabeça em derrota. Edine era assim e ela a amava mais por isso. Divertida, clara, franca e direta. Sempre natural em todos os aspectos da vida, mesmo os íntimos. Sua prima sempre respondia a todas as suas perguntas com sinceridade e uma franqueza que agradecia na alma. Edine se sentiu um pouco culpada quando viu as bochechas rosadas de Isobel, mas tinha que comprovar se o que havia visto naquela sala quando a moça viu Grant MacLaren era realmente verdade ou não. E a reação de Isobel tirou todas as dúvidas. — Tudo bem, não vou dizer mais nada – disse Edine, ficando séria antes de continuar. – Entendo que o que aconteceu no salão... que você não é

assim. Não estou decepcionada, mas não esperava por isso. Deveria ter visto que isso aconteceria, porque sei como você se sente. Eu já vivi isso antes, e agora estou aqui novamente sentindo que outras pessoas podem decidir sobre minha vida, meu futuro e minha felicidade sem ter voz ou voto. E sabe de uma coisa? Estou muito zangada, furiosa, de verdade, mas aprendi da maneira mais difícil que esse sentimento só faz nublar a mente. Você deve escolher as guerras que deve combater, e essa não foi a correta, Isobel. — Eu sei – respondeu com tristeza. Edine sorriu novamente antes de piscar para ela. — Você é muito mais esperta. Não deixe suas emoções obscurecerem seu bom senso. Seus pais e eu estamos muito orgulhosos de você, sua pequena bruxa – disse Edine, piscando e tirando o peso do assunto enquanto ria ao ver prima avançando contra ela e fazê-la pagar por chamá-la de bruxa. Sim, as cócegas seriam uma punição justa.

CAPÍTULO V

Logan apertou o antebraço de Grant MacLaren em saudação quando entrou no aposento. O salão principal era magnífico. Várias mesas de madeira de tamanho grande foram colocadas ao longo dele. A decoração indicava a proximidade da hora do jantar. — Já achava que você não viria – disse Grant, olhando para o amigo. Os dois se conheceram na corte, muito jovens, nervosos e ansiosos. Tornaram-se amigos em pouco tempo. Ambos tinham força de vontade e Grant, apesar de sua desconfiança inicial, havia conciliado seu positivismo e nobreza, com a lógica, temperança e cinismo de Logan. A inteligência de ambos tinha sido outro ponto em comum. Ambos eram cultos, espirituosos e perspicazes, e, embora Logan certamente tenha ido um passo além em discernimento e estratégia, nada desmerecia um frente ao outro. A vida os levou por caminhos diferentes. Enquanto Logan continuava a visitar a corte com certa regularidade, levado pelo respeito e confiança que o rei depositava nele, Grant teve que assumir o clã quando seu pai morreu apenas um ano depois que os dois se conheceram.

— Não havia como escapar – disse Logan com uma expressão de resignação que Grant conhecia muito bem. — Olhe isto por esse lado: estou pior que você. Sou o anfitrião desta reunião que nem sei como nomear. Como ocorreu a William algo assim? E como diabos você não disse a ele que não fazia sentido? – Grant perguntou com uma sobrancelha erguida. Logan sorriu com a pergunta de Grant. — Você diz isso como se eu tivesse alguma influência nas decisões do rei. E não é assim. Ele já tem seus conselheiros e sua mão direita para essa tarefa. Ele me pediu para ajudá-lo e observar possíveis rixas ainda vigentes. Grant olhou mais atentamente para Logan. — Você falou a ele, não foi? Que essa reunião não fazia sentido. O Logan que eu conheço não teria ficado quieto. Logan o olhou. Grant sempre foi muito bom em analisar pessoas. — E o que ele te respondeu? – Grant perguntou, assumindo que a resposta de Logan fosse positiva. Logan negou com a cabeça, embora soubesse que Grant não desistiria. — Vamos, solte logo – continuou, dando-lhe um empurrãozinho no ombro. Logan olhou novamente antes de falar. Sabia o que aconteceria e que

Grant iria se divertir às suas custas, mas maldição, que diferença isso faria! Isso era algo que nunca se importou quando se tratava de seus amigos ou familiares. — Que já que eu estaria aqui, também poderia encontrar uma esposa. A risada de Grant fez Logan rir também. — Aproveite o meu infortúnio. Não se reprima – disse Logan com um sorriso enquanto Grant continuava rindo dele. — Lembre-se de que estou na mesma situação – disse Grant quando finalmente conseguiu parar de rir e falar normalmente. — E isso não é poético e maravilhoso? – Logan perguntou, sua expressão séria novamente, observando como alguns dos convidados de MacLaren começavam a se espalhar pela sala. Grant riu mais alto. — Ria, mas não é engraçado – disse Logan com um sorriso. Grant tentou ficar sério, mas sem muito sucesso. Sentira falta de Logan. Ele era sem dúvida o melhor dos homens e o guerreiro mais perigoso que já conhecera. Ainda se lembrava de quando o conheceu. — MacLaren, não é? Grant olhou para o homem que o olhava como se ele tivesse o poder de ver o quão nervoso estava.

William o chamou para a corte, e seu pai não teve escolha a não ser concordar. Gordon MacLaren não era um homem simples, e menos ainda um homem pacífico, que gostasse de receber ordens e menos ainda quando elas diziam respeito ao seu filho. Desde que chegou lá, viu os olhos dos outros quando souberam que seu sobrenome era MacLaren. Então se preparou para ter que ouvir um pouco mais de afronta. — É um problema? – perguntou em um tom de voz duro e intransigente. Grant estava preparado para muitas coisas, mas não para o sorrisinho daquele estranho. — Não, se não é um problema para você eu ser um McGregor – ele respondeu sem vacilar, imperturbável e com um olhar que refletia o caráter, a personalidade e o poder que emanavam daquele homem. Grant sorriu de volta ao aceitar o braço daquele guerreiro McGregor como um cumprimento. — Novo na corte? – Logan perguntou, parado ao lado de MacLaren e olhando para a sala do castelo cheia de membros de diferentes clãs e dignitários de outros países que tinham uma audiência com o rei naquele dia. Grant assentiu. — Logan McGregor. E também é a minha primeira visita à corte –

disse ele, continuando diante do silêncio de Grant. – Não sei você, mas, apesar do pouco tempo em que estou aqui, já estou cansado de tanto juiz e carrasco. Um amigo não seria nada mal. Grant olhou para o perfil do homem. Era mais alto que ele por alguns centímetros e devia ter mais ou menos sua idade, no entanto, sua boa aparência e sua segurança o faziam parecer alguns anos mais velho. — Acho difícil fazer amigos e, é claro, a postura em relação a mim desde a minha chegada não foi nada amigável. Não se ofenda, mas eu não te conheço – disse Grant curto e grosso. Grant era geralmente extrovertido e muito mais amigável, mas depois de ser recebido na corte e ter tido que ouvir palavras como o filho do louco, o demente ou o bastardo idiota, sem poder fazer nada, sua quota de boas maneiras e boa vontade eram nulas. Desejou poder enfrentar qualquer um deles, mas sabia que não deveria. Na corte, sem a aprovação do rei e com um punhado de testemunhas, todas relacionadas aos criminosos e não a ele, isso seria sinônimo de suicídio para seu clã. — Se você se põe na defensiva com tão pouco, não me surpreende que não tenha amigos. Mas veja bem, tenho um problema e é que não desisto facilmente, apesar desse seu paradoxo, sou o guerreiro que tem mais tempo. Não sei por que, mas gosto de você. Então, se precisar de alguém para proteger suas costas, não serei dos que fogem.

E com um olhar que poderia congelar o inferno, Logan olhou para ele antes de ir embora. Naquele momento, sabia que esse homem era, além de um adivinho, um adversário perigoso. Não demorou muito para que essa ajuda fosse necessária. — Está me escutando? Não se ofenda, mas você não está com uma boa cara. Logan olhou para o amigo, que parecia estar prestando atenção nele novamente. — Esta reunião está em caos, e organizá-la está me dando dor de cabeça. Mas, exceto por isso, estou bem. Talvez possamos testar sua habilidade com a espada por um tempo amanhã. Bater em você pode me fazer muito bem. Grant sabia que parecia exausto. Havia muitos convidados e muitas coisas que podiam dar errado, como as possíveis brigas ainda evidentes entre os vários clãs que estavam presentes. Essas coisas não desaparecem da noite para o dia porque esse era o desejo real. — Continue sonhando, Grant. Você nunca me derrotou, mas se quiser que eu o deixe vencer para fazê-lo se sentir melhor, vou pensar nisso. – Logan fez um gesto como se estivesse pensando por dois segundos antes de continuar. – A resposta é não, meu amigo, você não tem sorte. Terá que suar e depois voltar para engolir o pó que levanta quando cai no chão.

Grant rosnou baixinho e Logan riu alto. — Eu tinha esquecido o quão arrogante você é. E sim eu venci você. Logan olhou para ele novamente levantando uma sobrancelha. —Estava bêbado. — Não me lembro disso – disse Grant com um grande sorriso. Logan também sorriu antes de perguntar tópicos mais sérios. — Houve algum problema ou viu algo estranho? Grant se moveu e Logan o seguiu até o outro extremo da sala. Não havia saídas e ninguém poderia ouvi-los sem que eles vissem antes. — A verdade é que não há com que se preocupar. Eu tive que separar vários McDonalls de alguns Campbells, mas o chefe do clã, Alec Campbell, resolveu o problema antes que seus homens fizessem qualquer coisa pela qual pudessem ser responsabilizados posteriormente, e os McDonalls... Bem, você sabe, Ian não é daqueles que dão o braço para torcer. Ambos os clãs terão que ser vigiados. Também Colmyn e Daroch. Há algo que eu não gosto no chefe desse clã. Logan assentiu, mentalmente anotando tudo o que Grant estava dizendo. Sabia que MaClaren tinha um bom olfato para detectar mentiras e comportamentos falsos. — E finalmente, esta manhã, uma menininha que parecia um anjo chamou-nos de caipiras ignorantes e, auggghhh! Isso machucou meu orgulho.

Logan, que ouvira atentamente as possíveis ameaças que poderiam surgir naqueles dias, não esperava que Grant terminasse assim, o que fez ele se virar e olhar para o amigo. — Caipiras ignorantes? Bem, a jovem não é sutil. E isso de anjo, parece que causou uma impressão em você, então estou ansioso para conhecer esse modelo de virtudes. — Eu não recomendo. Entre a língua afiada e a personalidade que a prima deve ter, elas poderão cortar suas bolas. — Há duas? – Logan ficou curioso. — Sim, aquela que parecia um anjo com lindos olhos azuis e uma cabeleira admirável e a prima, um pouco mais velha que ela. Aquela dama tinha uma beleza mais terrena e um gênio vivo. Não falou muito, apenas se apresentou, além de apresentar sua prima e os guerreiros que as acompanharam. E não foram suas palavras, mas como ela as disse. Essa mulher, apesar de sua temperança, deve ser uma guerreira. Seus olhos pareciam te perfurar. Isobel e Edine MacLeod. Esses são os nomes delas. Logan sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Sabia que foram convidadas, sabia que estaria lá e que teria que vê-la. Sabia tudo isso e pensou que estaria pronto, mas talvez tivesse se superestimado, porque o gosto amargo em seus lábios lhe dizia que talvez, apenas talvez, sua irmã estivesse certa e o tempo, afinal, não tivesse feito bem o seu trabalho.

CAPÍTULO VI

Edine trocou de roupas para o jantar. Tirou o vestido de lã mais grosso e escuro e vestiu um mais leve, verde, com uma fenda na saia que revelava um tecido verde em tom mais claro. Sua prima Isobel escolheu um azul celeste que acentuava seus lindos olhos da mesma cor e que caíam acariciando as pequenas curvas de seu corpo. Edine penteou os cabelos soltos que caíam por suas costas, ondulados. Um espirro, seguido por vários outros, a fez parar. Isobel olhou para ela com uma careta. — Está bem? Não é a primeira vez que espirra e seus olhos estão um pouco brilhantes. Edine amaldiçoou interiormente. Sabia que tinha se resfriado quando, dois dias atrás, haviam cavalgado na chuva. Deu a capa mais grossa para Isobel quando a dela rapidamente encharcou e a deixou tremendo. Edine tirou a sua e deu para a prima até chegarem a um abrigo, onde ficaram o tempo suficiente para que a chuva diminuísse, para que continuassem seu caminho antes do anoitecer. — Estou bem – respondeu Edine, tentando deixar sua voz clara. Fazia um tempo que havia começado a incomodá-la.

—Tem certeza? Porque não parece. Você pode estar com febre. Edine sorriu para ela. — Não se preocupe. Estou bem e não tenho febre. É só um pequeno resfriado. Quando dormir esta noite, amanhã estarei perfeitamente. Isobel olhou-a atentamente, como se quisesse ter certeza de que o que Edine estava dizendo era verdade. Depois de um tempo, pareceu se convencer e manter a calma, pois desviou o olhar para terminar de se vestir. — Nós nem temos um dia aqui e já estou ansiosa para voltar – disse Isobel, sua voz monstrando sua raiva. — Onde está a aventureira que queria sair das terras de seu clã e ver outras coisas? – Edine perguntou, ajudando Isobel com os cabelos. — Eu queria ver outras terras, não sair de um clã para entrar em outro e não para o que viemos fazer aqui – disse teimosamente. Edine parou de escovar os cabelos por um momento para virá-la pelos ombros e olhá-la. — Você deve tirar proveito do que tem em mãos. Isto é o que tem. Não gosta que estejamos aqui, tudo bem, eu aceito, nem eu, mas olho mais a frente. Essas terras são totalmente diferentes das do nosso clã. Você nunca saiu de lá. E as terras do norte não são as mesmas que estas. Teremos tempo para sair a cavalo e vê-las. Também terá a oportunidade de conhecer outras pessoas e outros clãs e até pode fazer amigas. Pode aprender muito hoje

nesses dias, então pegue todo esse mau humor e toda essa teimosia e jogue-os para longe. Aproveite para enriquecer sua mente, não para envenená-la. E agora deixe-me ver aquele sorriso lindo... A careta forçada e deformada de Isobel fez Edine rir. — Se você sorrir assim no jantar, não se preocupe com alguém tentando se aproximar de você. Vai assustá-lo imediatamente. Está me assustando. Isobel sorriu naturalmente agora. — Assim que eu gosto. Muito melhor. Alguns minutos depois, Edine e Isobel deixaram o quarto com muita fome e pouco desejo de companhia. O salão principal estava cheio de convidados. As cores de muitos clãs eram visíveis. Algumas Edine nem reconhecia. Ela avançou com Isobel e Thorne. O guerreiro esperou por elas ao pé da escada até aparecerem. Seu rosto sério e tenso mostrou que não estava divertido por estar lá também. Algumas pessoas já estavam sentadas às mesas, enquanto outras ainda conversavam entre si, em pequenos grupos, enquanto esperavam a comida começar a chegar à sala. Edine viu o anfitrião em um canto do aposento. Um calafrio percorreu sua espinha quando seus olhos caíram sobre a figura do homem que o acompanhava e com quem ele estava conversando amigavelmente. Aquela silhueta... De onde estava não podia ver o rosto dele,

não da posição em que estava, então se viu com a boca seca, mãos suadas e frias tentando vislumbrar apenas uma pequena porção da pele daquele estranho para poder negar aquilo que seu corpo reconheceu, apesar da distância e do tempo. As vozes pareciam se afastar e o ar ficou muito denso em seus pulmões. O fato de que ela estava tendo problemas para respirar e que seu coração havia começado uma corrida perigosa no peito não a fez parar com o apelo interno de que aquele homem, cujo rosto não podia ver, não fosse, e ao mesmo tempo fosse ele. Sentiu-se tremer e tentou controlar um corpo que a desobedecia, com vontade própria, com uma ânsia, um ódio e um desejo que ela acreditava mais do que enterrados. — Está bem? – Edine ouviu o eco daquelas palavras em seus ouvidos e isso a fez reagir. Olhou primeiro para a expressão preocupada da prima, depois para a expressão alerta de Thorne. — O quê? – Ela conseguiu apenas perguntar enquanto engolia em seco a ausência de saliva que a fez cerrar os dentes em um esforço titânico para se acalmar. Isobel olhou atentamente para ela antes de falar. — Nós não deveríamos ter descido. É evidente que não está bem. Você deveria estar descansando. Thorne franziu a testa. Ele conhecia Edine há quatro anos e nunca a viu reclamar. Era a mulher mais forte que já conhecera. E, embora às vezes

parecesse um chute nas bolas, sempre se orgulhara de que ela fosse uma MacLeod. Seu pulso não tremia quando falava e dizia as coisas claramente e sempre fazia isso com uma elegância que ele admirava profundamente. Edine usos esses segundos extras para reagir. Estava ficando fora de controle e não podia permitir. Fechou os punhos e começou a recuperar a serenidade e a frieza que a acompanhavam desde que toda a sua vida foi destruída e ela decidiu seguir em frente. Simplesmente fora a surpresa, nada mais. — Estou ótima. É só um pouco de dor de cabeça, mas sei que assim que comer algo, me sentirei muito melhor. Edine disse com tanta convicção que viu as perguntas e dúvidas morrerem nos lábios de Isobel e em Thorne, embora este último continuasse a olhá-la com alguma suspeita. — Boa noite. A voz de Grant MacLaren ecoou nos ouvidos de Isobel. Edine não os viu chegar, concentrada em convencer sua prima e Thorne de que ela estava bem. Edine respirou fundo e, com uma resolução que não sentia, olhou nos olhos do outro homem. Não hesitou, não piscou e nem tremeu. Simplesmente encarou Logan McGregor depois que pensou que nunca mais o veria e engoliu a intensidade do seu olhar como se ele estivesse sedento dela,

devolvendo o olhar iguamente, como se uma luta de titãs estivesse ocorrendo naquela sala, alheia a tudo e a todos. — Boa noite – respondeu Isobel, dando à última palavra uma entonação de aborrecimento. Grant sorriu abertamente. Parecia que aquela pequena bruxa não mudou muito sua atitude. — Como o objetivo dessas semanas é conhecer pessoas, eu gostaria de apresentá-las a alguém. Senhora e senhorita MacLeod, este é Logan McGregor, um bom amigo e irmão. — Nós já nos conhecemos – disse Edine, mantendo o olhar de Logan. Grant olhou com alguma surpresa para o amigo, que não tirava os olhos de Edine. — Eu não sabia – disse Grant com curiosidade, observando Logan. Tinha um sorriso que ele chamaria de perigoso, em seu rosto. — A senhorita McEwen, senhora MacLeod agora, e eu nos conhecemos anos atrás, em uma festa de casamento. Nossos clãs tem uma fronteira territorial, embora nem sempre tenham sido bem recebidos. Eu não sabia se ela se lembraria de mim – disse Logan, como se o assunto não importasse. As palavras arderam em Edine como sal derramado em uma ferida aberta. Dois poderiam jogar, ela pensou antes de falar.

— Uma vaga memória. Sabia que o conhecia, mas não sabia exatamente de onde. Perdoe-me. Costumo esquecer detalhes e sou muito ruim em lembrar rostos. Logan teve que usar todo seu autocontrole para evitar amaldiçoar naquele momento preciso. Quando a viu, ali na sala, como uma visão do passado, sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. E um sentimento que acreditava estar extinto doeu em seu peito, cutucando e despertando um gigante que dormia há muito tempo. Estava ainda mais bonita do que ele se lembrava, com aquele ar elegante e aquele olhar desafiador que o dominou na primeira vez que a viu. — Eu... me desculpe. Logan olhou para a jovem que acabara de cair em seus braços. Ela tinha enormes olhos verdes, lindos, que pareciam acariciar sua alma. — Você costuma cair nos braços de estranhos toda vez que você dança? – Ele perguntou erguendo uma sobrancelha. A jovem parecia sair de seu constrangimento, levantando-se como se tivesse sido beliscada no traseiro. Seu olhar, antes doce e envergonhado, agora era intenso e desafiador. Logan olhou para o próprio peito porque, apesar da ausência de sangue, ele juraria que aquela dama o havia perfurado com aquele olhar

ardente. — E você geralmente é tão arrogante e rude com todo mundo que pede desculpas? – Edine perguntou sem fôlego devido ao ritmo frenético da dança. Seu primo Harold a girou muito rapidamente antes de soltá-la. Edine pensou que cairia irremediavelmente no chão quando pousou no colo do homem. As palavras que nunca tinham faltado ficaram presas na garganta por causa do seu embaraço, dada a situação e porque acabou nos braços do homem de quem não conseguia tirar os olhos desde a chegada ao casamento de Liz. Alto, moreno e de olhos azuis como o mar em um dia tempestuoso, ele tinha o olhar mais intenso que já vira. Era um homem que não apenas olhava ao redor com desinteresse, mas sim um que observava tudo com atenção e concentração, como naquele momento, capaz de memorizar todas as linhas, curvas e movimentos de seu entorno. O riso natural, espontâneo e cínico que surgiu nele fez sua raiva desaparecer, e a forma com que a olhou, entre admiração e curiosidade, produziu uma sensação estranha no estômago. — Espero que me perdoe. Eu não disse isso com más intenções. Sou Logan McGregor – disse o homem que a fazia sentir como se o ar naquela sala estivesse começando a escassear. — Eu aceito suas desculpas – disse Edine, olhando em seus olhos.

Ela podia estar confusa com o que seu corpo estava experimentando, mas foi ensinada a sempre olhar nos olhos, nunca se esquivar, e sempre enfrentar seus medos. Logan assentiu em sinal de agradecimento, embora o sorriso que se espalhava por seus lábios deixasse Edine certa de que não era a última vez que o veria. — Acho que seu parceiro de dança está um pouco indisposto – disse Logan com uma risada suave apontando para o outro lado da sala. Edine olhou naquela direção e viu seu primo Harold no chão, mais bêbado que um barril. — Acho que sim – Edine riu, e o som de sua risada deixou Logan tenso pela forma com que aquele mero som o afetava. Edine viu sua irmã e sua amiga Helen chamando com sinais do lado do salão. Ela olhou para trás e percebeu que Logan também havia notado. — Eu tenho que ir – disse Edine, com a intenção de se afastar. – Meu nome é Edine McEwen – disse um segundo antes de virar. Edine... Logan falou esse nome para si mesmo com um desejo estranho. Pensou que poderia dizer que era uma lembrança vaga, como se o que tivessem prometido em segredo, como se o fato de terem se entregado um ao outro não tivesse acontecido.

Claro, isso já não significava mais nada, mas não a deixaria brincar ele. Não era mais o rapaz que confiara nela, acreditara nela e que tinha jurado amá-la a vida inteira. Se ela queria brincar, maldição, ele ia fazer que nunca o esquecesse.

CAPÍTULO VII

Edine ficou com o jantar entalado na garganta. Quem pensou em sentá-la ao lado de Logan McGregor deveria ser torturado lentamente, porque aquele jantar se tornava eterno, e sua prima também não parecia muito bem ao lado de Grant MacLaren. O anfitrião as convidou para sua mesa naquela noite e elas não puderam recusar. Edine, pela primeira vez em sua vida, pensou em simular um desmaio. Outra questão que a fez querer bater em uma parede foi a disposição dos assentos. Thorne sentou-se ao lado de Isobel e Logan, deixando Edine entre McGregor e Lachan Daroch. O último tinha algo que a perturbou, e não ajudou muito que ele rosnasse as respostas em vez de proferir uma sílaba coerente. No entanto, se o olhasse atentamente, podia ver em seus olhos um olhar afiado e inteligente, mais do que queria deixar aparecer, e o fato de querer esconder era algo que estimulava sua curiosidade. O jantar foi abundante e delicioso. Várias carnes, peixes e vegetais adornavam as mesas, sem que os convidados fossem indiferentes ao seu

aroma e sabor. Para a mortificação de Edine, seu estômago fez um barulho horrível e suas bochechas traiçoeiras se tingiram de vermelho. A verdade era que ela mal conseguiu comer durante o dia devido a uma dor de garganta, e essa noite, apesar disso, seu estômago exigia a comida que lhe foi negada por muitas horas. Lachan Daroch, que até aquele momento havia aberto a boca apenas para dizer agg e umm, escolheu aquele momento agradável para pronunciar suas primeiras palavras, e sua voz forte e rouca foi ouvida acima do murmúrio geral. — Tem fome, hein? Essas entranhas não mentem, umm... Edine queria morrer naquele momento, porque enforcar o guerreiro com suas próprias mãos poderia ser descrito como inapropriado. — Parece que sim – respondeu Edine com um projeto de sorriso que falhou completamente por causa do rubor nas bochechas, que já estava se espalhando pelo pescoço. Se ela pudesse fuminá-lo, esse homem já teria expirado há muito tempo. E sem remorso. Não queria olhar para o outro lado. Ela não podia ver o rosto de Logan naquele exato momento. Agora não, e a pequena risada que ouviu vindo dele não ajudava em nada. Edine teve que se controlar contando até

dez. — Você quer que eu lhe sirva uma coxa de frango? Edine sabia que querer que Logan a ignorasse no jantar era pedir demais, então, quando ouviu a pergunta dele e o tom que usou, isso a fez querer enfiar a cabeça de McGregor no traseiro da galinha. Era costume os homens colocarem comida nos pratos para as mulheres, mas ela não queria que nenhum deles lhe trouxesse nada. Tinha duas mãos para pegar. — Não, obrigada. Você é muito gentil, mas não é necessário. Os olhos de Logan, focados nela, brilhavam com ar de travessura. — Com base no som que já ouvi antes, acho que necessário não é a palavra. Prefiro dizer que é de vital importância que você coma. Não queremos que a galinha esfrie enquanto decide e a pobre terminar no prato de outra pessoa. Edine olhou Logan nos olhos. Ele estava se divertindo às suas custas e estava gostando demais, o estúpido. Ela podia fazer isso também, então, com esforço, sorriu antes de responder, como se Logan fosse sua pessoa favorita nesta sala. — Acho que devemos deixar o pobre frango em paz. E se você vai ficar tão feliz em me trazer um pouco de comida, não vou arruinar sua

emoção. Pode me passar alguns vegetais, por favor? Logan, apesar do que sentiu quando a viu, não esquecendo sua traição e conhecendo em primeira mão a inconstância daquela mulher, surpreendeuse ao gostar daquela troca de palavras e da expressão de Edine. Com bochechas rosadas, cabelos longos e ondulados que caíam como uma capa sobre suas costas, da cor do fogo e aqueles olhos verdes emoldurados pelos cílios mais longos que ele já tinha visto, Logan achava que ela ainda era a mulher mais bonita que ele já tinha visto em toda a sua vida. E aquele olhar, forte, direto e cheio de nuances, fixo nele, naquele exato momento, desafiando-o sem mais delongas, o fez admitir, contra sua vontade, que essa mulher continuava a ser a única. — Um pouco mais que só isso. Em poucos segundos o frango se tornará uma vaga lembrança e você ficará sem jantar. Lamentaria muito se ficasse doente de fome. Edine não podia acreditar que Logan tinha dito tudo isso em apenas duas frases. Matá-lo lentamente era pouco. Talvez torturá-lo antes fosse apropriado. Ela deu seu melhor sorriso, enquanto xingava por dentro toda a sua família. — É muita gentileza da sua parte. Vou ter isso em mente – disse Edine enquanto pegava uma coxa de frango que estava a sua frente e a

colocava no prato sem muita cerimônia. — Que gênio, mulher! Aggg – disse Lachan Daroch, cuspindo um pedaço de algum tipo de massa vermelha e macia pelos vãos da dentição incompleta. Uma imagem desnecessária que acabou por tirar a pouca fome que tinha a essa altura do jantar. Quando olhou novamente para o prato, depois de revirar o estômago com a raiva de Daroch, viu uma montanha de legumes ao lado da coxa. Este frango estava se afogando entre os pedaços de vegetais e, se não estivesse mais morto, sem dúvida estaria em asfixia angustiante. O fato de este animal lhe dar mais pena do que qualquer convidado à mesa deixou claro o estado que os dois elementos que estavam sentados do seu lado estavam provocando. Tentou comer alguns feijões e cenouras para finalmente chegar à carne, mas essa era uma missão impossível. — Está tudo ao seu gosto? – Logan perguntou, erguendo uma sobrancelha. Ele viu a expressão de Edine. Sabia que ela estava morrendo de vontade de jogar a montanha de comida sobre a sua cabeça. Sua expressão, quando ela virou o rosto e viu o prato, não tinha preço. Os olhos dela se

arregalaram e, por um segundo, Logan pensou que sua boca rosada soltaria maldições não femininas, mas não o fez. Ele a viu praticamente morder a língua para segurar. Sua curiosidade e surpresa aumentaram quando Edine, zangada e chocada, esboçou um sorriso neutro e caloroso, mudando em um segundo, com um autocontrole e domínio que Logan desconhecia nela. Então também se conscientizou de que Edine havia mudado naqueles anos. Quando pensou que não iria mais responder à sua pergunta, as palavras dela o alcançaram em uma voz baixa, mas clara. — Sim... se isso fosse um inferno – respondeu Edine em um sussurro. Logan riu alto, espontâneo e sem filtro. Edine o fitou com um movimento rápido e instintivo dos olhos. O som de sua risada... Foi o primeiro momento da noite em que a dor apareceu e era real. Meu Deus, como ela sentia falta daquele som que sempre a fazia se sentir especial e aquecia o peito tantas vezes que não podia ser quantificado. Ela engoliu em seco e disse a si mesma que podia lidar com isso, que poderia trabalhar com essa dor e bani-la permanentemente. Quatro anos se passaram desde que ele fora seu mundo inteiro e, naquele tempo, ela mudou, amadureceu e entendeu muitas coisas que a princípio não sabia e que a fizeram querer se abandonar nos braços de uma morte que a cercou por

muitos dias. E lá estava, quatro anos depois. Parecia que séculos haviam se passado, e ainda assim uma única risada, sua risada, rastejou dentro dela, entre as cicatrizes retorcidas e rijas que protegiam seu coração machucado, fazendo-o bater por alguns momentos, afundando em agonia porque, maldição, ela o havia banido para longe para poder respirar, poder se mover novamente, poder viver sem o fato de que começar um novo dia doía demais. Logan olhou para Edine, que agora parecia absorta em mover a comida de um lado para outro. Esquecera que ela o fazia rir, não de maneira supérflua ou estudada, mas espontânea e calorosa. Naquele momento, teria dado um braço para saber por que, depois de tudo o que compartilharam, depois das promessas que haviam feito, ela se fora. Viu o rosto de Edine se contrair de dor, como se algo a tivesse machucado. Foi apenas um segundo, mas o gesto não passou despercebido a Logan. Sabia que deveria odiá-la, mas agora nem sequer abrigava essa sensação. O ódio havia sido o ponto principal de seus sentimentos no primeiro ano após seu abandono. Depois, a certeza de que isso tinha que ser um erro, um mal-entendido. Então, o vazio e o gosto amargo de todos os sentimentos que ele acreditava serem verdadeiros e que eram realmente tão falsos quanto sua aparência, seus beijos, carícias e palavras. E, finalmente, indiferença, ou assim ele acreditava.

Desde o momento em que a viu, ele queria irritá-la, mortificá-la, desmascará-la e ver em seu rosto a expressão de dor que, por um segundo, tomou conta de suas feições à mesa, sentada ao seu lado. E, no entanto, quando isso aconteceu, para sua surpresa, ele não gostou, não provou esse triunfo. Nada estava mais longe da realidade. E, ao contrário, ficou surpreso ao apreciar sua verborragia, com aquela troca de palavras, com sua inteligência, seu controle, seu caráter e seu senso de humor que, sem querer, o fizeram realmente rir. Logan teve que segurar um novo sorriso quando viu Edine soltar a coxa da galinha e estremecer quando a voz de Lachan soou alta perto de sua orelha. Ficou claro que ela não havia percebido sua proximidade. Edine olhou para Daroch com uma careta. — Você não é muito simpática, hum? Bem, eu só queria te perguntar sobre o seu cavalo. É uma amostra única. Gosto muitíssimo. Edine continuou olhando para ele, embora tentasse suavizar sua expressão. — E como você sabe qual é o meu cavalo? – Ela perguntou um pouco desconfiada. Lachan riu alto, fazendo com que alguns de seus alimentos fossem jogados da boca. Edine teve que se mover rapidamente para contornar um pedaço de carne que foi direto para o rosto dela. Esse jantar estava ficando

muito perigoso. Quem disse que ficaria entediada? O que teria dado por aquele momento preciso. — Não seja tão desconfiada. Eu o notei nos estábulos, quando deixei o meu. Perguntei ao encarregado dos estábulos. Ele me falou o seu nome. Não sabia que iria me sentar ao seu lado hoje à noite. Uma coincidência afortunada, ummm? — Eu não descreveria assim – disse Edine, encarando-o. Lachan achou que essa mulher era muito mais interessante do que ele pensava. Ela era muito bonita, disso não havia dúvida, mas gostava muito mais desse caráter combativo. Deus, seria muito gratificante domesticar ela e seu cavalo. Sob seu controle, tiraria essa vontade de olha-lo de frente. Poderia ensinar a ela quem realmente era o chefe, ensinar uma lição que ela nunca esqueceria. — Chame como quiser, mas eu queria saber se o dono desse cavalo estaria disposto a vendê-lo para mim. Eu o quero. Edine pensou que nunca havia conhecido alguém que gostasse menos dela em tão curto espaço de tempo. Este homem era perigoso. Viu isso no brilho dos olhos quando olhou para ela, como se estivesse esperando o momento para poder puni-la pela impertinência de ter ousado responder. Edine conhecia isso bem. O pai dela era igual. — O dono desse cavalo sou eu e não está à venda – respondeu ela,

voltando à comida e tentando resolver aquela conversa que não queria continuar mantendo. Quanto menos contato tivesse com ele, melhor. — Uma mulher que possui um cavalo. Não diga bobagens... humm – disse Lachan entre dentes, como se o que Edine disse tivesse sido uma ofensa pessoal. Edine tentou não chegar a isso, mas Lachan Daroch não deixara escolha. Ela se virou devagar e olhou o homem diretamente nos olhos, sem rodeios, e deixou sua personalidade tomar as rédeas. — Não sei com que tipo de mulher está acostumado a lidar, mas acredite que elas têm todo o meu respeito e ofereço minhas condolências por uma tarefa tão árdua. Quanto a dizer besteira, não estou acostumada a fazê-lo porque tenho algo chamado inteligência que me ajuda a evitar. Acredite, você deveria tentar algum dia. E a respeito de possuir esse cavalo, a resposta ainda é sim, porque no seu clã não sei como são as coisas, mas no meu, de Thane MacLeod, uma mulher é dona do cavalo, e o meu não está à venda agora ou nunca. Edine sentiu a mão de Logan roçar a sua embaixo da mesa. Não tinha percebido que tinha cerrado o punho, tornando os nós dos dedos praticamente esbranquiçados até Logan acariciá-los. Algo dentro dela acordou e saiu da névoa na qual as palavras de Daroch a jogaram. Ela ainda estava olhando para ele, percebendo que Lachan estava

fazendo um exercício real de contenção, para não dizer algo que poderia terminar em uma guerra entre os dois clãs. Ele sabia que ela não era uma mulher qualquer, era a cunhada de Thane MacLeod, um dos clãs mais fortes das Highlands. Quando o rosto de Daroch assumiu uma tonalidade escarlate, Edine começou a se perguntar se seria possível que a cabeça do homem estourasse em mil pedaços. O tremor que acompanhou seu olhar assassino fixo nela não dizia nada de bom. Edine estava pensando em como explicar ao cunhado que ela os levara à guerra no primeiro dia de sua estada lá quando viu o olhar de Daroch cravar-se por sobre o seu ombro e suavizar como se por magia. Observou Lachan se segurar e se concentrar novamente em seu prato enquanto sussurrava baixinho. — Isso veremos. Edine voltou sua atenção para sua própria comida, embora tivesse acabado de perder o apetite.

Só de vê-la a deixava enjoada. A dor de

garganta ainda estava lá, latente e irritante. A dor de cabeça atingindo níveis mais altos e alguns pequenos calafrios percorreram seu corpo como formigas que atravessavam sua pele ao acaso. Decididamente, seria melhor ter descansado. A mão de Logan, que momentos antes havia roçado a dela, se foi, e a razão pela qual percebeu a falta era que a sua ausência doía demais. Sabia

que ouvira sua conversa com Lachan, e sabia disso pelo toque em sua pele, em sua mão. Logan sempre o fazia inconscientemente quando queria tranquilizá-la ou confortá-la. Era o jeito dele de dizer que estava com ela. E esse pequeno gesto, depois de tanto tempo, depois de tantos ferimentos, quase a quebrou em mil pedaços. Porque sabia que ele tinha motivos para odiá-la, para que esse gesto nunca voltasse a existir entre eles e, no entanto, aconteceu. Por quê? Não queria sentir, não queria voltar, porque ela também tinha motivos para odiá-lo, e ainda assim... Olhou para Logan, precisava saber o motivo dessa pequena demonstração de compaixão e Edine conteve uma pequena exclamação. Os olhos de Logan estavam cheios de fúria, mal controlados. Aquele olhar seria capaz de congelar o inferno. Havia uma promessa nele e era uma daquelas que terminavam com sangue nas mãos. Edine soube o momento exato em que Logan percebeu que ela o estava observando porque aquele olhar, aquela sentença desapareceu e fez seus olhos parecerem muito mais tolerantes, calorosos e distantes. Logan olhou para Daroch no momento em que ouviu Edine colocá-lo em seu lugar e antecipou a reação daquele tolo. Ao inferno, se ele deixaria Daroch olhar para Edine dessa maneira, com aquela ameaça implícita em seus olhos. Tocar a mão era instintivo e, quando o fez, não a retirou, porque Edine, a pessoa que lançou Lachan Daroch à beira de um ataque de raiva, era a Edine que ele conhecia, a pessoa que sustentava o olhar, não importa o que

acontecesse, aquela que mexia e gritava quando algo era injusto, aquela que não era intimidada ou subjugada. Logan enviou a mensagem certa quando Daroch encontrou seu olhar por cima do ombro de Edine e entendeu que Logan não permitiria tais comportamentos. Não com Edine ou com ninguém. Era o que dizia a si mesmo quando, de madrugada, ainda pensava no motivo de ter acariciado sua maldita mão.

CAPÍTULO VIII

Isobel sentiu o olhar de Grant MacLaren cravado em suas costas. Quando se virou para descobrir o que o homem queria, seu sorriso divertido a irritou mais do que qualquer coisa que ele fizera naquela noite, e isso que o jantar estava sendo interminável, frustrante e chato. — Estou preocupado com você – disse Grant, olhando para Isobel, que por sua vez arregalou os olhos, como se essas poucas palavras a tivessem surpreendido. — Desculpe? Posso saber o porquê? – Isobel perguntou, tentando descobrir que bobagem o chefe do clã MacLaren inventaria agora. Grant aproximou a cabeça um pouco mais dela e a olhou, esperando que ela fizesse o mesmo, como se o que ele tivesse a dizer fosse algo delicado, secreto, que precisasse de certa discrição. Quando Isobel relutantemente o fez, diminuindo o espaço entre os dois, até que suas cabeças estivessem a poucos centímetros de distância, o cheiro de couro, chuva e algo mais que ela não conseguiu identificar a atraíram para aquele homem como se ele fosse um perfume inebriante que poderia obscurecer sua mente. — Estou preocupado que possa ter danos permanentes no pescoço.

Fazer com que se incline durante todo o jantar em uma postura tão pouco natural para que possa ouvir as conversas de outras pessoas pode ser desastroso para sua saúde – disse Grant com um sorriso, olhando nos olhos daquela linda mulher cujos enormes lagos azuis se tornaram mais escuros, mais intensos, ecoando suas palavras. Isobel não podia acreditar que esse idiota fosse tão desrespeitoso. Quem achava que era para chamar a atenção para o seu comportamento? E o que importava para ele que ela quisesse saber o que sua prima estava conversando com McGregor? Edine podia disfarçar melhor do que ninguém, mas ela a conhecia bem e vira sua reação quando viu aquele homem, Logan McGregor. E embora tivesse se recuperado com uma velocidade vertiginosa, a única realidade era que nunca tinha visto Edine reagir assim. Aquele homem perturbou a prima e, ainda que só olhando ninguém pudesse falar, Isobel sabia que havia uma história entre os dois. Eles disseram que se conheciam, mas algo lhe dizia que não era só isso. E assim, vendo que McGregor estava sentado ao lado de Edine, estava metade do jantar tentando ouvir, acima de Thorne e seus olhares também reprovadores, a conversa entre eles. Não teve sucesso, mas ninguém mandou Grant se meter nisso. Ele não entendia seus motivos, e nem tinha que se meter nisso. Tentou se parecer com Edine e respirou fundo antes de falar, porque naquele momento, se algo saísse de seus lábios, aquilo de caipira ignorante

seria pouco. Sentiu a ira em suas veias e não podia armar uma cena. Maldito Grant e malditos olhos cinzentos que desviavam sua atenção do que era realmente importante. Além de tudo esse homem a insultou ao insinuar que ela queria ouvir as conversas de outras pessoas. Que era verdade, de fato. Mas que não tinha que citar, nunca. Era simples assim, e ele havia violado essa regra e, assim, liberado sua besta interior. Ainda que agora, depois de várias respirações, aquele olhar intenso e aquele cheiro de chuva e terra, o animal tenha sido transformado em apenas um filhote. Droga, nada a impediria de dizer umas quatro coisas para este homem, não importa o quão atraente ele fosse e o quão trapaceiro se achasse. — MacLaren, eu cuidaria mais para não me machucar em uma guerra que não pode vencer do que de prestar atenção no que eu faço – disse Isobel, olhando nos olhos dele, com toda a fúria contida e todo o orgulho em suas pupilas. Grant engoliu em seco. Não podia acreditar, mas aquela menininha o derrubara com apenas algumas palavras. O que começou como uma piada, uma maneira de colocá-la em seu lugar depois de como o tratara naquela manhã, havia se tornado um grande desafio, porque naquele exato momento, quando o olhava com o que parecia ser a força total dos elementos, ele estava paralisado, hipnotizado por aqueles olhos que transbordavam sua força, sua determinação, e, maldição, queria tudo isso com uma intensidade que o

deixou com as mãos tremendo. — Uma guerra contra você, Isobel? – Grant perguntou em voz baixa, profunda, com desafio em todas as sílabas. Grant não pôde deixar de admirar a mulher que nem sequer piscou com as palavras dele, cujo o tom tinha sido tudo menos amigável. — É uma ameaça? Porque isso seria um erro grave da sua parte – continuou Grant, olhando-a enquanto exalava de cada poro de sua pele a autoridade e a força de um chefe de clã. Isso teria sido o suficiente para fazer qualquer mulher chorar e impedir qualquer homem que até sugerisse uma leve ameaça a ele, mas Grant não contava com um fator imprevisível, uma mulher que poderia ser imprudente, porque as palavras que saíram da sua boca, a mesma que o estava deixando louco, o desarmaram novamente. — Bem, se você acha que é um erro, vai se surpreender, Grant. Porque não é uma ameaça, é uma promessa, e eu nunca quebro minhas promessas – disse Isobel, sorrindo como se ela fosse uma gata lambendo leite em uma tigela. Maldita pirralha! Exclamou Grant para si mesmo. — E eu nunca perco uma guerra. Espero que esteja disposta a sofrer as consequências quando for derrotada – disse Grant com um olhar intenso e desafiador.

Os olhos de Isobel se arregalaram um pouco, mas ela se recuperou rapidamente. — Vai cair de joelhos, Grant MacLaren – disse Isobel em um grunhido. E então Grant riu alto, colocou a mão na barriga e continuou rindo por um longo tempo, tanto que Isobel pensou que o homem tinha enlouquecido. *** Edine e Isobel finalmente se retiraram para o quarto. As duas estavam pensando no jantar desastroso. Ambas tinham um semblante sério e suas mentes fervilhavam com intensas variáveis. Edine foi a primeira a reagir quando, depois de se despir e ficar de camisola, se enfiaram embaixo das mantas. — Vai me dizer o que é que você tem, não vai? – Edine perguntou, olhando para a prima enquanto colocava as cobertas debaixo dos braços. Isobel olhou para ela sem saber do que estava falando. — O que você quer dizer? – perguntou com uma careta. Edine respirou fundo antes de se sentar na cama de lado para poder ver Isobel mais confortavelmente. — Você está sempre conversando e, normalmente, depois do jantar, não para de me contar suas impressões sobre os convidados que conheceu, a comida e até o clima. Mas desde que saímos da sala, se perdeu em seus

pensamentos, retraída e com uma cara muito séria. Então me chame de louca, mas pensei que talvez essa mudança fosse porque algo a perturbou hoje à noite e que poderia ter a ver com Grant MacLaren. Ao dizer esse nome e Isobel pulou na cama que fez Edine estreitar os olhos. — Bem, parece que não estou enganada – disse com um sorriso. Isobel olhou para ela, e o que exalava seus olhos era tudo menos compaixão. Embora houvesse algum arrependimento. — Eu declarei guerra a esse... esse... — Caipira ignorante? – Edine perguntou ironicamente. Isobel deu uma bufada pouco feminina. — Isso foi nesta manhã, quando nem o conhecia ainda. Agora, esses termos são brincadeiras de criança em comparação com o que o chamaria. Edine pareceu se divertir ao ver como a prima falava de MacLaren, como se soubesse algo que Isobel ainda não tivesse percebido. — E o que MacLaren disse a você para declarar essa guerra e colocála em tal estado? Isobel olhou para ela. — De que estado você está falando? Edine teve que morder o lábio para não rir. — Status alterado? – Edine perguntou ironicamente.

— Oh, por favor, não estou alterada! – Isobel disse com uma voz estridente, passando a mão pelo cabelo de tal forma que aquelas madeixas bonitas e lisas de sua prima assumissem a forma de um ninho de pássaro. — Entendo, de qualquer forma, adoraria saber o que ele disse para você. Edine viu que sua prima relutava em lhe contar, no entanto, com Isobel, só contava até cinco e... Um, dois, três, quatro... — Está bem, com esse olhar de “eu sei tudo e você não pode esconder nada de mim”, é impossível, então vou te dizer. Esse... esse homem claramente me disse que eu estava me intrometendo nas conversas de outras pessoas. É isso. Aí está. Edine ficou um pouco atordoada. — E isso foi tudo? Bem... sim, é ruim. Eu nunca ouvi falar de um crime tão hediondo. Isobel olhou para ela enquanto Edine sorria. — Não foi o que ele disse, mas como disse e veio me enfrentar. Ele tem uma implicância comigo e é isso. Edine riu mais alto. — Eu não acho que é exatamente uma implicância que ele tem, mas bem, vamos deixar essa parte por enquanto. O que mais te falou? Isobel fechou a boca e olhou para a frente.

— Anda, vamos, eu posso imaginar o que você disse a ele, mas não o que ele respondeu – disse Edine, encarando-a. — Então você poderá rir de novo? — Prometo que não vou rir – respondeu Edine, duramente recuperando a seriedade em seu rosto. – E também, em que conversa você queria se meter? Edine observou Isobel corar até as sobrancelhas e aí entendeu. — Por que você quis ouvir o que eu estava falando, Isobel? A garota olhou para ela novamente e desta vez o que viu em seu olhar foi uma mistura de mágoa e curiosidade. — Vai me dizer primeiro quem é Logan McGregor e por que a presença dele mexeu com você dessa maneira? E não me diga que isso não aconteceu porque você é muito boa em esconder seus sentimentos e suas reações, mas esquece que eu te conheço e, por alguns segundos, pude ver sua expressão quando o olhou e acredite em mim, nunca tinha visto em seu rosto as emoções que vi quando o viu. Então, por favor, seja honesta. Eu não sou mais uma menina e amo você, e me preocupo e... Você sempre pega as preocupações de todos ao seu redor e as coloca em seus ombros, e nos ajuda, nos escuta e nos conforta, mas sem nunca se permitir fazer o mesmo. Eu a respeito, prima, mas às vezes você precisa confiar em alguém e me dói que não seja eu.

Edine engoliu em seco antes de responder. Ela havia esquecido por um momento que Isobel era uma mulher, e não mais aquela menina de treze anos que a olhava com os olhos arregalados quando estava doente naquela cama e pensava que não iria viver mais um dia e que lhe dera a mão. Ela a segurou por longas horas e contou histórias que a fizeram sentir paz dentro da névoa e do delírio que a febre havia tecido por muitos dias. — Isobel... não... acho que não posso falar sobre isso agora. Não posso – disse Edine, com a voz embargada. Isobel levantou-se rapidamente e sentou-se na beira da cama de sua prima. Segurou a mão de Edine na sua, exatamente como havia feito naquele tempo, e a olhou, a preocupação transbordando daqueles grandes olhos azuis cobaltos. — Só posso lhe dizer que o conheço, que houve um tempo em que ele significou tudo para mim e que agora me odeia, e isso me machuca, mesmo que eu o entenda de alguma maneira, porque tem motivos para se sentir assim, ainda que não sejam corretas. Esta noite o teria matado, mas ao mesmo tempo me lembrei de como era estar ao seu lado, como era sentir seu olhar na minha pele, ouvi-lo rir de algo que eu disse... e isso me deixou com um nó na garganta. Estava preparada para o ódio dele, mas não para isso, nem para a consideração dele, nem para que ainda se importasse um pouco comigo.

Edine viu os olhos de Isobel brilhando e molhados antes de se lançar em um grande abraço. Quando se retirou, um sorriso estava desenhado em seus lábios, embora a preocupação ainda fosse vista no fundo de seus olhos. — Vai me contar o resto quando sentir que pode fazê-lo? – Isobel perguntou, pegando a mão dela novamente. — Não consigo pensar em ninguém melhor para isso – respondeu Edine com surpresa quando percebeu que, depois de contar a sua prima trechos de seu passado, se sentiu um pouco mais leve. — Obrigada – disse Isobel com um grande sorriso antes de tentar se levantar. Mas ela não podia, porque a mão que consolava a de Edine, aquela mão foi pega pela prima, fazendo-a sentar novamente. — Você não vai fugir tão facilmente, então agora me diga o que ele falou. Isobel respirou fundo, resignada. — Ele me disse que nunca perdeu uma guerra e que tinha que estar disposta a sofrer as consequências. — E o que você disse a ele? Isobel sorriu abertamente e o brilho em seus olhos, de respeito próprio e orgulho dos MacLeod, a tornou perigosa. — Eu disse que ele cairia de joelhos.

O riso de Edine ecoou no amanhecer sobre as pedras desgastadas daquele castelo.

CAPÍTULO IX

Logan pretendia falar com Alec. O chefe do clã Campbell acabou sendo uma surpresa. Ele o encontrara apenas uma vez antes de suas irmãs se casarem com os irmãos McAlister. Alec era um amigo íntimo de Evan, chefe daquele clã e marido de sua irmã mais nova. Como resultado desse casamento, Logan visitava o clã de seu cunhado com mais frequência, pôde encontrá-lo e conhecê-lo melhor, já que frequentava as reuniões dos McAlister. A princípio, sua seriedade, sua parcimônia em palavras e sua natureza suspeita o fizeram desconfiar de sua transparência; no entanto, depois de tentar mais, percebeu que sua seriedade era resultado de uma maturidade precoce, a escassez de palavras apenas prudência e desconfiar era uma característica de sua natureza forjada por causas externas. A história dele não lhe era familiar, mas sentia que não tinha sido fácil. Antes de chegar ao final da sala, onde Alec estava, não pôde deixar de olhar para o outro lado, onde havia várias damas reunidas. Alguns dias se passaram desde o jantar desconcertante em que ele se sentou ao lado de Edine. Naqueles dias, nem ela nem a prima apareciam na sala de estar, nem tinham ido a nenhuma das refeições. Logan descobriu que o motivo de sua

ausência parecia ser uma pequena indisposição da parte de Edine. Perguntou a Grant, que estava preocupado com a saúde de sua hóspede e, pelo que parecia, era apenas um leve resfriado. Elas nem sequer pediram a presença da curandeira do clã em seu quarto. Logan achou que Grant estava pensativo sobre essa ausência e, francamente, não sabia o que pensar. Ele nunca considerou que Edine quisesse evitar confrontos, mas estivera errado sobre ela antes e fora gravemente queimado. Logan sabia que essa reunião não duraria muito. Talvez algumas semanas. Não era em vão, alguns dos convidados eram chefes de seus clãs e assuntos exigiam sua presença em suas casas. Então, fugir por alguns dias de socializar com o resto poderia ser uma boa razão para a indisposição espontânea de Edine. Outra possibilidade seria evitar alguém em particular, como Daroch ou talvez ele próprio, embora isso o decepcionasse. Sempre pensou que era uma mulher que não se escondia de nada ou de ninguém. O fato de Edine estar realmente doente era a opção que ele menos considerava, até que a viu. Ela estava sentada ao lado de Helen Cameron, uma dama com lindos olhos cor de mel e cabelos negros, que com seu olhar alegre e animado e a língua cortante havia atraído o interesse de mais de um dos Highlanders presentes. Por sua animada conversa, parecia que se dera bem com Isobel MacLeod.

No entanto, não tinha sido Helen Cameron quem diminuiu o ritmo de Logan, nem mudou a expressão em seu rosto para uma mais séria. Foi a presença de Edine que o fez parar praticamente de repente. Ela sempre foi cheia de vitalidade, uma força que era evidente em cada um de seus gestos e, no momento exato, essa vitalidade parecia adormecida. Seu rosto estava muito pálido, suas bochechas não tinham o rubor habitual, e o que mais chamou sua atenção foram os pequenos sulcos escuros sob seus olhos, como se não pudesse dormir e sua exaustão fosse extrema. Inconscientemente, cerrou os dentes e amaldiçoou entre eles. Continuou andando, mas em vez de se aproximar de Alec, como pretendia originalmente, ele interceptou Grant, que naquele momento entrou na sala com McDonall. Este não podia fingir, e o fato de que a presença de Alec Campbell o irritava demais era mais do que evidente em seu olhar e em seus gestos. A inimizade entre os dois clãs era mais do que conhecida, e isso se traduziu na retirada de McDonall quando viu Alec perto deles, e deixou Grant engasgado, que só passou quando Logan chegou ao seu lado. — É incrível, esse homem é um maldito teimoso – disse Grant, olhando para a porta da frente pela qual o chefe do clã McDonall havia desaparecido. — Precisamos que a curandeira do clã venha ver Edine MacLeod – disse Logan, deixando o comentário de Grant suspenso no ar sem resposta.

Grant fechou a boca antes de continuar a falar e olhou para Logan com uma sobrancelha erguida. —Vai me contar ou eu tenho que arrancar a socos? Pensei em fazer um treino conjunto hoje. Logan sorriu antes de olhar para Grant. — Não há nada a dizer, mas acho que seria bom se nenhum dos seus convidados morresse sob o seu teto. Eu a vi um momento atrás e seu rosto mostra que ainda está doente. Imagino que não será nada importante, mas acho que alguém que tenha mais noção do que nós sobre o que possa estar acontecendo deve vê-la. Grant olhou para Logan. — E agora você insulta minha inteligência. Bem, isso é mais sério do que eu pensava. O fato de você conhecê-la e não ter dito nada já me fez pensar, mas sua expressão no jantar na outra noite e a que você carrega agora quando me diz que ela está doente são muito esclarecedoras. Logan estava perdendo a paciência, o que diziam ser uma das suas maiores virtudes. — Vou te esclarecer as idéias com uma espada, pois você não para de dizer bobagens. E o que é isso de um treinamento? Grant riu antes de responder. — Houve vários confrontos esta manhã entre membros de vários clãs.

Logan assentiu. Ele tinha visto um quando voltou cedo de um mergulho no lago. — Daroch não está exatamente fazendo amigos – apontou Logan, tendo visto o chefe do clã discutir com o filho do chefe do clã McBain. — É uma jóia, Lachan Daroch. E McDonall não está muito atrás. Falando nisso, Campbell faz o que pode com ele, embora eu o acompanhe nos sentimentos. Lidar com McDonall exige paciência e surdez profunda, porque juro que esse homem é capaz de insultar alguém apenas dizendo bom dia. Logan riu com relutância. Era verdade que esse homem havia levado toda a sua diplomacia ao limite mais de uma vez. — E esta manhã parece que McBain acidentalmente tropeçou em Daroch e ele pulou como se tivesse cuspido na cara dele. Então pensei que talvez um treinamento conjunto seja o melhor. Acho que a inatividade e o fato de estarem todos juntos sob o mesmo teto os deixaram nervosos. O treinamento, além de desafogar um pouco desse mal humor reprimido um pouco fora, pode ser bom. Melhor que lutem entre si em um local controlado e resolvam seus assuntos com espadas do que ter algum infortúnio nas terras MacLaren entre dois clãs visitantes. Já é o suficiente que tenhamos que fazer isso aqui. Deus, eles estão tirando anos de mim. Logan olhou para ele com diversão, enquanto Grant passava a mão no

rosto como um sinal de exaustão. — Eu nunca reparei como você é chorão – disse ele, pensativo, enquanto MacLaren o olhava, praguejando para si mesmo em silêncio. — A curandeira, você pode chamar? – Logan perguntou novamente. Ele não gostava da palidez de Edine ou daqueles sulcos escuros sob seus olhos. Não seria bom se alguém ficasse gravemente doente. — Vou chamar Elisa, mas essa conversa não acabou. — Eu não sei por que somos amigos. Você é pior do que uma espinha na bunda Grant MacLaren – murmurou Logan entre dentes. — Eu também aprecio você, amigo – Logan ouviu Grant quando saia. *** Elisa MacLaren terminou de olhar o braço de Erwin, um menino de dez anos que era a dor de cabeça de sua mãe, Nes e do resto do clã. Não tinha um dia em que Erwin não fizesse suas próprias travessuras, e naquele dia ele teve que subir no telhado da pequena cabana que dividia com seus pais e seus dois irmãos pequenos, e apenas pelo fato de parecer uma boa idéia fazê-lo. A realidade era que não era uma idéia tão boa quando escorregou de lá de cima, aterrissando em seu braço. Se tivesse caido de cabeça, o resultado teria sido muito pior. — Eu não sei o que vou fazer com isso. Eu juro, Elisa, que essa criança só me incomoda – Nes exclamou com raiva e evidente frustração.

Elisa olhou para ela e viu as feições cansadas em seu rosto e o brilho de lágrimas que anunciavam a liberação do medo que havia passado. Elisa se aproximou dela, que não fez nada além de andar de um lado para o outro entre as quatro paredes de sua casa pequena, simples e aconchegante. Pegou o braço dela para que a olhasse. — Ele é apenas um menino e faz travessuras da idade dele. Todos nós já fizemos isso. Nes olhou para ela como se quisesse acreditar em suas palavras por um segundo, quando fechou os olhos e cerrou os dentes antes de falar. — Na semana passada, ele quase matou o pobre Cameron quando jogou uma pedra do topo da torre do castelo. Não era uma pedra normal, Elisa, era um pedaço de pedra que, se tivesse atingido Cameron, teríamos que enterrá-lo em pedaços. E a explicação que ele deu foi que queria saber com que rapidez a pedra atingiria o chão. Cameron ainda está se recuperando do susto. A pedra passou a um pé dele. Elisa sorriu para si mesma. Era verdade que o que Erwin havia feito não estava certo, mas ela começou a pensar que, por trás de tudo o que o moço fazia, não havia maldade ou travessuras da idade, mas um interesse em obter respostas. Uma mente inquieta. E ela gostava disso. — O importante é que ele está bem e só tem um pouco de dor no braço, nem sequer o quebrou. Eu virei vê-lo amanhã, e por favor, acalme-se

um pouco. Você verá como tudo é resolvido à medida que amadurece. — Se eu chegar a ver isso, Elisa. Nesse ritmo, um dia ele me matará de susto. Elisa riu mais abertamente. — Tenho que deixar você agora. Meu primo estava me procurando há pouco tempo. Tenho que ver uma das damas convidadas do clã. A careta que Nes fez antes de falar foi suficiente para saber que o que ela ia dizer seria um pouco delicado. — A verdade é que todos estão um pouco atordoados com os convidados. As pessoas não estão muito felizes. Alguns desses convidados não são muito cordiais. Hoje à tarde vou ao castelo ajudar. Faltam mãos para as refeições e a manutenção de todos os quartos, mas não tenho vontade de ir. Você sabe que não é por causa do trabalho, não me importo em ajudar com o que for preciso. Faria qualquer coisa pelo clã e por Grant, mas não gosto da maneira como nenhuma dessas mulheres nos olha. Elisa sabia que muitos dos membros do clã não gostavam de ter tantos estranhos

nas terras MacLaren, mas ela não sabia que o

descontentamento chegou a tal extremo. — Grant agradece a todos pelo esforço. No fundo, é uma honra que tenham escolhido nosso clã para esta reunião. E não se preocupe com essas olhadas. Você é uma MacLaren e uma mulher maravilhosa. Deixe-os pensar

o que quiserem. Dentro de alguns dias irão embora. Elisa sabia que era melhor manter os homens do clã calmos, e o que tinha dito a Nes era a verdade. Alguns guerreiros e as pessoas que estavam ajudando no desempenho das funções mais básicas de atendimento aos convidados não se queixavam abertamente, mas era mais do que evidente que não estavam felizes em sediar a reunião. Grant já tinha preocupações suficientes para também lidar com as tensões que essas visitas causavam dentro de seu próprio clã. Juntou suas ervas e as colocou na bolsa que costumava carregar quando fazia suas curas e saiu com um passo apressado. O braço de Erwin levou mais tempo do que ela esperava e os últimos metros da entrada do castelo tiveram que ser feitos correndo. Ela era rápida, distraída e não o viu. Correndo, cuidando para que nada caisse da bolsa, colidiu com alguma coisa, derrubando-o no chão. Quando conseguiu recuperar o equilíbrio que quase perdera com o golpe, descobriu que era um homem que a olhava com o rosto de poucos amigos e que se encontrava com a bunda na lama. As cores do feileadh mor do estrangeiro, azul, verde, vermelho e amarelo, a fizeram focar o olhar nas pernas fortes e musculosas que podiam ser vistas sob as roupas, que com a queda haviam subido acima dos joelhos. Elisa sentiu o rubor nas bochechas antes que uma palavra saísse de seus

lábios. Seus olhos seguiram o caminho de um peito forte e um rosto muito masculino e atraente. O cinza esverdeado dos olhos que o estranho fixou nela a fez estremecer por dentro. Cabelos enrolados nas pontas onduladas e cor de terra molhada em um dia chuvoso completavam a fisionomia de um dos homens mais atraentes que já tinha visto. — Des... desculpe – disse Elisa, oferecendo a mão para ajudar o homem a se levantar. O estranho olhou para ela e por alguns segundos jurou que tinha visto um sorriso naqueles lábios que agora capturavam toda a atenção de Elisa. Assim que percebeu que estava olhando fixamente para eles, voltou sua atenção para a própria mão estendida em direção àquele homem que parecia achar graça em suas ações. Sabia que ele não precisava de ajuda. Era só olhar para ele. Era um jovem, embora mais velho que seu primo Grant, e seu corpo era todo de fibra e músculo, sem um pingo de gordura. No entanto, o fato de ela tê-lo derrubado na pressa de chegar ao castelo logo a fez agir dessa maneira. O estranho aceitou a mão e Elisa prendeu a respiração. A mão dura e de dedos longos ao redor da dela fez seu estômago contrair. Não sabia o que estava acontecendo com ela, mas tinha certeza de que essas reações eram desproporcionais. Elisa olhou o homem nos olhos e a intensidade que viu neles,

deixando de lado qualquer sinal da diversão que vira antes, a fez engolir em seco. Ela se sentiu nua em um instante e, apesar da modéstia que devia ter sentido, tudo em que conseguia pensar era em como seria ter o corpo daquele homem nu em cima do seu. Retirando a mão em um gesto apressado, sentiu as bochechas queimarem. Nunca tinha tido esses pensamentos antes, não com essa clareza e intensidade. O fato de tê-los naquele exato momento e diante daquele homem de quem nada sabia, pressionou por dentro com uma pitada de pânico que ameaçava se tornar uma crise de grandes proporções. Ela nunca havia experimentado essa sensação antes e o calor que sentia em seu corpo parecia controlar sua capacidade de falar coerentemente. — É assim que recebem todos os convidados do clã MacLaren? – O estranho perguntou depois de que Elisa parecia ver alguma decepção em seus olhos quando ela retirou a mão. — Somente em casos especiais. São as boas vindas de honra – Elisa retrucou. O riso sonoro e viril do homem a fez querer fazê-lo rir de novo. — Então não estou reclamando. Afinal, sou uma pessoa privilegiada. Meu nome é Duncan McPherson – ele disse, olhando-a como se tentasse descobrir algo, o que deixou Elisa nervosa.

— Elisa MacLaren – respondeu por sua vez. –Me desculpe, eu derrubei você na minha pressa de entrar. Estão me esperando e eu já estou atrasada. Estava distraída e nem vi. Espero não ter lhe causado nenhum dano. O homem balançou a cabeça e o sorriso que deu fez Elisa reprimir um gemido. Mas o que diabos estava acontecendo com ela? — O orgulho um pouco machucado, mas nada mais. Meus homens vão rir por vários dias depois de verem como eu fiquei coberto de lama. Nenhum deles consegue me derrubar na luta e uma dama fez isso sem querer. Mas não estou reclamando. Foi um prazer inesperado – disse Duncan antes de se afastar para que Elisa pudesse continuar seu caminho. – Você disse que a estavam esperando, então não vou mais segurá-la, mesmo que seja difícil vêla partir. Duncan, chefe do clã McPherson, teve que recorrer a toda a sua disciplina para deixá-la passar. Teve que adiar sua chegada em alguns dias devido a um problema no extremo norte das terras do clã. Uma pequena parte do gado havia desaparecido. Sua primeira reação ao receber a missiva real foi que isso era uma piada, mas o rei William não era muito conhecido por seu senso de humor; por isso, apesar de não ser o momento certo, ele deixou Henderson no comando e partiu para terras dos MacLaren. Ele não conhecia o chefe do clã pessoalmente, mas pelo que ouvira era um homem honrado e inteligente, com uma reputação digna de consideração. O que não esperava

quando chegou lá, depois de vários dias de viagem, com a chuva lambendo o rosto durante muito tempo, foi se ver no meio da lama pelo empurrão de uma dama que, mais do que lhe dar um esbarrão, o atropelou. Sua primeira reação foi amaldiçoar e torcer o pescoço de quem se atreveu a derrubá-lo, mas quando olhou para cima e viu aquela jovem mulher com cabelos castanhos compridos e ondulados e aqueles olhos castanhos com cílios longos e grossos, primeiro se sentiu atordoado e depois paralisado por seu olhar, que se desculpava profusamente, e aquelas sardas espalhadas sobre um nariz pequeno e arrebitado,

que o fizeram querer estender a mão e tocá-las.

Quando a viu oferecer a mão para ajudá-lo, não pôde deixar de rir. Não tinha machucado o suficiente o orgulho do guerreiro, jogando-o ao chão, mas também tinha que insultá-lo, sugerindo que ele precisava de sua ajuda para se levantar. Ele tinha vinte e nove anos, maldição, não era um velho no leito de morte, e, no entanto, estava tentado a pegar aquela mão e puxá-la para baixo, sobre seu corpo e sentir como estava vivo. Elisa... esse era o nome dela e provou na boca sem realmente pronunciar. Parecia jovem demais, mas seu olhar direto e seguro falava com ele de uma maturidade evidente. De repente, estar lá não parecia uma piada de mau gosto e uma perda de tempo. Um olhar e sardas foram os culpados.

CAPÍTULO X

Edine percebeu que Isobel estava franzindo a testa para ela com alguma preocupação e exibiu seu melhor sorriso. Não queria que ela ficasse vigiando como nos últimos dois dias, quando a garganta inflamada, a cabeça e a febre teimosa a prenderam à cama. Tentou levantar no dia seguinte ao jantar, mas mal conseguia se sentar. Isobel queria falar com Grant MacLaren e chamar a curandeira do clã se fosse necessário, dada a sua preocupação, mas Edine pediu que ela não o fizesse. Assim, fingiu estar melhor do que realmente estava e prometeu manter o repouso que sua prima exigia. Dois dias se passaram e ela estava se sentindo melhor, embora ainda estivesse com febre e se sentisse exausta. Escondeu os dois sintomas de Isobel e a arrastou quase para fora do quarto para ficar com o resto dos convidados. Edine não queria que a atenção se concentrasse nela porque estava doente. Como estivera confinada a uma cama prestes a morrer e sofrendo uma recuperação que parecia eterna, não suportava ficar doente, muito menos fazer um mundo disso. Então mentiu para Isobel dizendo que estava muito melhor e foram para a sala com outras damas convidadas. A prima, apesar de desconfiar no começo, parou de prestar tanta atenção a ela e iniciou uma conversa com Helen Cameron. A vivaz Helen e sua língua

cortante fazia um bom par com a autoconfiança e a veia travessa de Isobel, e Edine se surpreendeu em mais de uma ocasião rindo, apesar do desconforto geral, com os comentários de ambas que pareciam ter se tornado amigas no pouco tempo em que estavam sentadas juntas. Os olhares de vários Highlanders em relação às duas jovens não haviam passado despercebidos e, assim como Isobel estava totalmente focada na conversa, alheia a esse fato, o olhar de Helen era muitas vezes desviado, e ela tinha certeza de que inconscientemente , na direção do chefe do clã Campbell. No momento em que estava na sala, Alec Campbell também lançou olhares nessa direção. No entanto, ao contrário do que deveria ter sido um olhar ansioso, o que os olhos de Campbell exalavam quando olhou para Helen eram nojo e clara rejeição. Edine estava curiosa para saber de onde vinha essa reação. Talvez fosse o calor na sala ou os calafrios que ela sentia internamente, mas seu estômago se rebelou e sabia que tinha que ir para o quarto se não quisesse se fazer de tola na frente de todos que estavam lá. Sabia que ia vomitar tudo o que tinha consumido. Não estava com fome e a pouca comida que havia conseguido engolir nos dias anteriores havia sido escassa, então, naquela manhã, para que Isobel não se preocupasse e pensasse que estava quase recuperada, havia comido mais do que deveria. Agora seu corpo a estava culpando. Levantou-se devagar e desculpou-se, dizendo com o

olhar para a prima que estava tudo bem, ao ver a intenção de segui-la. — Eu já volto. Só vou para o quarto por um momento. Esqueci de pegar um agasalho, caso fizesse frio. Isobel olhou para ela com desconfiança, interrompendo a conversa com Helen. — Tem certeza? – Sua prima perguntou. Edine olhou para Isobel e Helen, que também estava observando-a agora. — Certeza absoluta. Não quero interromper suas críticas, mas, se possível, tentem deixar alguém ileso. As duas riram negando com a cabeça como se isso fosse uma missão impossível. Edine se virou com esforço. Gastou parte de sua energia fingindo que estava tudo bem. Saiu lentamente da sala, seus passos elegantes e firmes, até chegar ao corredor para depois acelerar o ritmo o máximo que pôde para chegar ao seu quarto a tempo de jogar fora o café da manhã. *** — Vejo que McDonall não está facilitando as coisas para você? – Logan disse enquanto se aproximava de onde Alec estava. — O que você notou? – Ele perguntou, pegando o antebraço de Logan e dando um tapa em suas costas em saudação. –Fico feliz em te ver.

Logan assentiu. O sentimento era mútuo. — McDonall está acabando com a paciência de mais de um por esses dias. Alec fez uma careta por suas palavras. — Eu sei como se sentem – ele assobiou. Logan olhou através da sala. Edine ainda estava sentada ali, ao lado de Helen Cameron e sua prima. Sua palidez se acentuou e Logan amaldiçoou interiormente o atraso da curandeira. Grant havia lhe dito que já tinha a chamado. Relutantemente, se concentrou novamente em sua conversa com Campbell. — Não o vi da última vez que estive com McAlister. Ele me disse algo sobre um compromisso que você deseja evitar e que seu tio quer incentivar de qualquer forma. Alec olhou para ele seriamente e franziu o cenho. — Eu pensei que diplomacia era sua área. É incrível como resumiu toda a situação. E não posso acreditar que Evan te disse, vou matá-lo quando vê-lo. Evan era cunhado de Logan e chefe do clã McAlister e, portanto, um dos melhores amigos de Alec. Alec olhou para Logan avaliando-o melhor. — Maldito bastardo. Evan não contou a você, contou?

Logan riu. — Não, foi o pai da jovem em questão. Ele parece estar tendo dificuldade em aceitar o fato de que seu tio assumiu poderes em seu nome, aos quais não tinha direito. Que pena, teria sido divertido ver você chutar a bunda do seu melhor amigo por isso. Alec riu alto por isso. — Ele também é seu cunhado. — Por essa mesma razão – disse Logan com um sorriso que afirmava claramente que ele valorizava e apreciava aquele Highlander. Alec estava prestes a perguntar a Logan sobre sua irmã Megan quando este se desculpou abruptamente e saiu da sala. *** Logan a viu se levantar e sair da sala sentindo que havia algo errado, e antes de perdê-la de vista, a seguiu. Ele disse a si mesmo que era apenas curiosidade, que não se importava e que não era da sua conta a saúde de Edine MacLeod, mas um desejo irracional e sem sentido o levou a voltar atrás e ter certeza de que ela estava bem. Quando ela entrou no corredor, ele não a viu e isso o fez acelerar. Maldião, não havia como ela ter desaparecido. Ele continuou em frente, e antes de alcançar as escadas que levavam ao andar superior, viu uma porta entreaberta ao fundo. Aquela porta se abria para um pequeno pátio que abrigava alguns suprimentos do castelo e se

conectava a uma sala onde eram armazenados tecidos e lã. Ao se aproximar, o barulho que ouviu lá dentro, um gemido baixo e profundo o assustou. Abriu mais a porta e encontrou Edine inclinada sobre si mesma com a cabeça em um balde perto do canto. Logan não pensou nisso. Um cavaleiro lhe daria a privacidade de que precisava, mas estava preocupado com a estabilidade e a saúde de Edine, de modo que sua parte que nunca fora racional com ela assumiu o controle. Chegou perto o suficiente para enrolar os cabelos em volta dela em uma mão e segurá-la pela cintura e ampará-la contra seu corpo com a outra, para que Edine pudesse se apoiar nele. Ele a sentiu tensa e o empurrou para longe até que percebeu que não a deixaria e a tensão desapareceu repentinamente, sem dúvida causada por esforço e fadiga. Edine sentiu sua presença tarde demais. Sabia que não chegaria ao quarto desde que saíra do salão, e seu estômago a ameaçava seriamente a caminho das escadas. Então, quando viu a porta aberta, o pequeno pátio e o balde, não hesitou. O ar frio a aliviou o suficiente para afastar a tontura que a acompanhava desde que se levantara. Depois que esvaziou o estômago, os espasmos continuaram, forçando-a a descansar uma mão contra a parede, com medo de cair de joelhos no chão quando as pernas trêmulas perdessem a batalha contra sua vontade. E foi nesse momento que ela sentiu. Percebeu que seus cabelos

foram afastados do rosto e que um braço forte a segurava firme contra o corpo do último homem que queria que a visse naquele estado. O pânico de sentir o homem contra ela durou apenas dois segundos, tempo suficiente para entender que aquela mão, a que ela estava tocando naquele momento tentando soltar, o braço que a segurava com firmeza e o corpo que estava grudado nela e que a cercava como se quisesse protegê-la, eram de Logan McGregor. Parou de lutar. Estava cansada demais e seu corpo exausto demais para recusar a ajuda dele. Por um momento, fechou os olhos e se inclinou contra Logan. Para sua segurança, sua força, sua veia protetora que ela sempre amou. Ficaram assim pelo que pareceu uma eternidade para Edine, e quando os espasmos lhe deram uma trégua, ele a ajudou a se endireitar e depois olhou para ela com uma expressão que parecia indiferente e até fria. Edine queria se livrar da proximidade de Logan. Tentou com o pouco de força que lhe restava, descansando uma mão contra o peito e exercendo pressão suficiente para que McGregor soubesse que ela queria que a libertasse. Mas ele não a soltou. Em vez disso, Logan correu uma extremidade de seu feileadh mor na testa cheia de suor, tentando confortá-la, causando um gemido que morreu em sua garganta antes de sair. Se forçou a fazê-lo. Ela não esperava sentir a ternura de Logan novamente, aquela faceta que McGregor lutava para esconder do resto do mundo e que ele mostrara quando eram tudo um para o

outro. Logan sempre parecia tão controlado, tão racional, tão caloroso, até frio, que quando a tratava com extrema delicadeza, quando deixava sua doçura e aquela sensação de proteção que nascia naturalmente em seu interior aparente, revivia suas memórias e isso doía com a mesma intensidade com que ansiava. Edine olhou para baixo porque a situação não poderia ser mais humilhante, especialmente quando Logan colocou a mão em seu rosto e a forçou a olhar para ele. — Quieta. Vou te levar para o quarto. Eu já chamei a curandeira do clã. Ela é prima de Grant e será discreta, mas maldita seja, Edine, por que não disse que estava se sentindo tão mal? – Perguntou claramente zangado. Edine concentrou toda sua força em olhar para ele. Apenas por alguns segundos ela pensou que lia uma preocupação sincera neles, mas sabia que tinha imaginado quando a frieza retornou aos seus olhos enquanto o encarava. — Eu não estou morrendo. Não tenha muitas esperanças – disse Edine, olhando-o com uma expressão irritada. Logan sorriu com relutância. — E não ria, isso já é bastante humilhante – continuou Edine antes de se agarrar a Logan. E por favor, não se mexa tanto, ou vomitarei novamente e farei isso em você.

Logan a abraçou, apesar dos protestos de Edine. — Essa não é uma ideia que me deixa animado, então tente se controlar. Logan tentou movê-la o mínimo possível. Estava preocupado com sua extrema palidez e os pequenos tremores que sentia percorrendo seu corpo. Edine apoiou a cabeça no peito de McGregor, debaixo do queixo, e Logan lembrou como era tê-la em seus braços. — Eu acho que você pode me soltar. Posso andar. Estou melhor agora – disse Edine, começando a se preocupar quando Logan nem sequer respondeu suas palavras. Logan, me solte, isso é embaraçoso e impróprio se alguém nos vir – continuou em um tom de voz mais firme. Nada. Logan se fazia de surdo e Edine sabia que tinha que fazer algo se quisesse chamar a atenção dele. Ela sabia que era muito infantil, mas deliberadamente tentou beliscar a pele do braço de Logan. Os músculos bem definidos em seus braços impediram isso. Isso a tirou do sério, então ela testou na clavícula, perto do pescoço. — Oh maldita! O que está fazendo? – Logan perguntou, parando quando terminou de subir as escadas e antes de seguir pelo corredor que levava aos quartos. Isso foi um beliscão? Sério, Edine? – Ele perguntou divertido. — Você não estava me ouvindo e eu vi isso como apropriado.

Coloque-me no chão, eu posso andar. Não sou uma inválida. Logan olhou para ela erguendo uma sobrancelha. — Você não podia nem se levantar um momento atrás. Está doente e tem um pouco de febre e a aparência mais pálida que eu já vi. E acredite, já vi cadáveres com uma cara melhor do que a sua neste momento. — Ah! Deus, isso foi cruel até para você. Logan voltou a andar com ela nos braços. — Anos de prática. Qual é o seu quarto? — Aquele no fim do corredor. Edine parou de tentar fazer Logan recuperar o juízo. No final das contas, ele a levaria até lá. Quando se aproximaram, a porta estava aberta. Logan a colocou no chão antes de entrar. Grant e Elisa, que estavam lá dentro esperando encontrar Edine, olharam para eles. MacLaren fez isso com um ponto de interrogação no rosto que era bastante evidente para Logan. O tenso silêncio foi quebrado quando Elisa se aproximou de Edine e a ajudou a se deitar. — Acho que vamos esperar lá fora, Elisa. A prima assentiu antes de voltar para Edine. — Logan? – Grant chamou quando viu seu amigo encarar Edine sem dar sinais de que sairia com ele. Viu o olhar de Edine em Logan antes de

desviá-los para Elisa, e não havia nada que o convencesse do contrário. Havia algo entre eles. Olhou de volta para McGregor, que apertou a mandíbula antes de tirar os olhos da mulher e sair do quarto.

CAPÍTULO XI

Elisa lhes disse uma hora depois que deixara Edine descansando. Que lhe dera um chá de ervas para acalmar o estômago e que o resto não era sério. Apenas um resfriado devido à sua viagem embaixo de chuva. Contou-lhes o que Edine havia dito. Que fez a etapa final de sua jornada até lá com as roupas molhadas e sem uma capa adequada, já que dera a Isobel a dela para que ficasse bem protegida. Logan amaldiçoou silenciosamente por tanta negligência com sua própria saúde. Elisa também lhes informou que Edine quase não tinha febre, mas que precisava de mais descanso. Saiu da cama muito cedo e isso atrapalhou sua rápida recuperação. Acabou prometendo que viria vê-la mais tarde. A curandeira guardou para si o fato de que aquela mulher a surpreendeu agradavelmente. Mesmo tendo falado brevemente com ela, foi o suficiente para vislumbrar parte da personalidade de Edine MacLeod, uma mulher forte e extremamente gentil. Quando ela saiu, prometendo voltar naquela mesma noite, Grant virou-se para Logan, que parecia estar controlando seu mau humor. — Eu não vou pedir para me contar qualquer coisa, porque ficou mais

do que claro que, o que aconteceu com Edine MacLeod é importante e afeta você, mas não minta para mim e diga que não há nada entre vocês. Em todos esses anos você sempre foi letal, amigo. Racional, frio, disciplinado e um verdadeiro bastardo dominando seus sentimentos, existem até aqueles que pensam que você não os tem. Não eu... é claro – disse Grant quando viu o cenho franzido de Logan – e ainda assim – MacLaren continuou encarando o amigo – eu nunca o vi nem sequer piscar, mesmo que algo estivesse matando você por dentro. E, para minha total surpresa, em dois dias vi como tudo aquilo estava indo para o inferno. E sabe de uma coisa? Em todas essas situações, você estava com ela ou era relacionado a ela. Logan se apoiou na borda da mesa que ficava perto da janela. Estavam em um dos aposentos no térreo que Grant usava para documentos e manutenção de contas. Era normal ter uma pessoa treinada para esse trabalho, mas no caso de Grant, ele fazia isso sozinho. — Não é algo que eu queira falar, Grant. Isso aconteceu há muito tempo. MacLaren, que estava com os braços cruzados sobre o peito, desfez a pose para tocar a ponte do nariz com dois dedos antes de falar. — Talvez o problema seja esse. Que você não fala sobre isso e, em vez disso, amaldiçoa e comete deslizes. Logan olhou para Grant, que por sua vez estava esperando uma

explicação dele. Uma que nunca tinha dado antes. Sim, talvez desde que viu Edine estivesse mais distraído, mas nunca ao ponto de cometer deslizes, e menos ainda quando parte de sua missão era ajudar Grant e garantir que essa reunião fosse realizada com segurança. — Estávamos secretamente comprometidos quando tive que ir a corte. Quando voltei, descobri que, na minha ausência, havia concordado em se casar com outra pessoa. Apenas me deixou algumas frases dizendo que era o melhor para o seu clã. Nem um adeus, nem uma explicação. Parece que tínhamos opiniões diferentes sobre o quão forte era a nossa promessa e o que significávamos um para o outro. Grant ficou sem palavras naquele instante. Ele nunca tinha visto Logan com aquela expressão de dor nos olhos e aquele tom áspero de voz. — Mas isso já ficou para trás. Tenha certeza de que não cometo deslizes. Você sabe disso – disse Logan, encerrando a explicação, deixando Grant saber que não iria mais abrir a caixa de Pandora. MacLaren notou a expressão de seu amigo. Não tinha tanta certeza de que teriam deixado essa história no passado, nem Logan, nem Edine MacLeod. Não depois dos olhares que ambos trocaram. Havia fúria, preocupação, raiva, desejo... Tudo isso não podia ser descrito como nada. — Sinto muito. Se houver algo que eu possa fazer, basta dizer. Enquanto isso – continuou Grant, mudando de assunto – acho que o

treinamento de que falei seria bom. Lutar sempre foi uma boa maneira de resolver problemas, e assim poderei bater em McDonall, esse homem é pior do que uma dor de dente. Logan sorriu antes de assentir e seguir Grant para fora. Talvez o que precisasse fosse exatamente isso. *** Quase todos os guerreiros, um total de dez, incluindo Grant e Logan, estavam mais do que ansiosos em participar desse treinamento. Logan temia que a idéia de Grant, que a princípio lhe parecia uma maneira de aliviar as tensões entre os vários clãs com segurança, acabasse se tornando um banho de sangue, especialmente quando McDonall tentou arrancar a cabeça de Campbell com sua espada. Movimento agressivo, inesperado e desproporcional, que Alec conseguiu evitar ao bloquear o ataque com sua espada e contra-atacar o suficiente para dividir a sobrancelha de McDonall, que, com um grunhido do inferno, voltou ao ataque. No final da tarde, McDonall tinha, além da sobrancelha machucada, dois dedos inchados e um nariz sangrando. O nariz e os dedos foram um presente de Grant que, em seu confronto com ele, deixou claro que não permitiria mais transgressões em suas terras. Campbell acabou com vários cortes menores e um olho roxo. Daroch, que teve a sorte de treinar espadas com Logan, acabou com um lado machucado e um lábio rachado e

McPherson, que havia chegado na mesma manhã e a quem Logan estava contente de ver novamente, terminou com um bom corte no braço quando tentou mediar entre McDonall e Campbell sobre uma jogada suja do primeiro. Esse foi o gatilho que fez Grant desafiar McDonall e acabar com ele, deixando-o se arrastando. Depois de terminar, embora fosse verdade que as desconfianças e os confrontos continuaram os mesmos, o desejo de lutar diminuiu e o trabalho para Elisa aumentou. Logan fez uma longa caminhada e deu um mergulho nas águas geladas do rio que atravessava as terras MacLaren e ficava mais longe do que o lago que tinha usado desde que estava lá. Precisava limpar e esfriar partes do corpo que estavam mais do que ativas desde que viu Edine no primeiro dia. Sua anatomia parecia inconsciente de tudo o que havia acontecido entre eles e continuava a reagir ao seu olhar, seu corpo e seus olhos e aquele lindo cabelo vermelho que iluminava como fogo. Fazia muito tempo desde que ele tocou sua pele, beijou e adorou a cada centímetro de seu corpo e, no entanto, em sua memória, parecia ontem que ele saboreava o doce aroma floral de seu pescoço e o doce sabor de seus lábios. Apenas um momento atrás, quando havia esquecido tudo, enterrandose em sua carne, amando-a com todo o seu ser e dando a ela cada gota de sua alma.

Tinham tanta certeza de seu amor e promessas que se entregaram um ao outro, faltando apenas proclamar publicamente o compromisso. Ambos sabiam que a união não seria fácil. Os clãs não eram aliados, mas também não eram inimigos ferozes. Tinham interesses e lealdades diferentes por outros clãs. Foi isso que os separou e criou uma certa inimizade, mas Logan contava convencer o pai de Edine, além do apoio do próprio pai. E assim teria sido se não tivesse que ir à corte e, ao voltar, se ver de mãos vazias. Que idiota tinha sido! Logan tentou afastar essas memórias. Eram vívidas e não serviam de nada. Apenas para alimentar um sentimento que era tudo menos verdadeiro. A fúria obscureceu sua capacidade de permanecer impassível, seu poder de observação, sua temperança e sua frieza. Qualidades necessárias para ser capaz de agir corretamente, tanto na vida cotidiana quanto em cada uma das missões que o rei lhe confiou recentemente. Ele viu o castelo ao longe e, mais relaxado, observou a pouca luz que escapava no horizonte e marcava a hora do jantar. Quando entrou, foi ver Grant e perguntou se Elisa havia visitado Edine novamente para descobrir como ela estava. Sentiu que poderia estrangulá-la quando Grant lhe disse que Elisa a vira muito melhor e que aconselhou que ficasse na cama até o dia seguinte, algo que Edine não faria, de acordo com suas próprias palavras, pois disse que havia negligenciado seu dever como acompanhante de Isobel.

— Como se a menina fosse tímida ou precisasse de ajuda para se defender –disse Grant irritado, referindo-se a Isobel. A careta de Logan quando falou dela não passou despercebida. Não tinha dito nada ao amigo, mas sabia que a prima de Edine não era indiferente a ele e que parte da raiva de Grant era porque ele gostava demais da jovem MacLeod. — Você está preocupado em não cair de joelhos diante dela. Sou seu amigo e confio na sua palavra, mas não apostaria contra ela nisso – disse Logan, referindo-se à frase que Isobel falou a Grant quando discutiram e que MacLaren lhe contou mais tarde, achando graça pela ousadia da jovem. Grant mudou de cor quando, com essas palavras, Logan insinuou que, no final, seu amigo seria vítima de um sentimento diferente daquele que expressava tão profusamente sobre Isobel. Um que o faria engatinhar para conseguir seu afeto. — Está claro que o banho que você tomou não lhe fez bem. Afetou sua inteligência e fez de você um idiota. O sorriso e o olhar de Logan, aquele que dizia "Eu sei algo que você não sabe e também posso ver como isso vai acabar", e que Grant o vira usar muitas vezes para duvidar de sua confiabilidade e sucesso, o fez engolir saliva. — Pare de besteira, Logan. Você não sabe nada.

— Se você diz... – McGregor respondeu ao sair do quarto com a idéia de garantir que uma certa dama não saísse da cama até Elisa dar permissão. — Não é engraçado, Logan. Retire. Vamos, Logan... você sabe que não está certo. Logan? Grant amaldiçoou quando Logan desapareceu sem responder e com um sorriso ainda mais amplo nos lábios.

*** Edine não esperava resistência tão cedo. Ela tinha acabado de sair do quarto quando sua prima caminhou pelo corredor em sua direção. — O que está fazendo acordada e fora da cama? Você não ouviu o que Elisa disse? Deve descansar até amanhã. Edine a ouviu pacientemente enquanto Isobel franzia a testa e movia as mãos ao ritmo de seu discurso. — Estou bem. Eu juro – respondeu Edine com um sorriso. Isobel estremeceu de frustração. — Não tem graça. Você pode piorar de novo e depois? — Bem, você poderia usar seu vestido verde no meu funeral – disse Edine, sabendo que tinha estrapolado quando a prima pôs a mão no peito e os lábios formaram um “ó” perfeito. — Esta bem, me desculpe, mas não estou tão ruim assim. Não tenho

febre, não sinto náuseas. Não estou tonta e, por Deus, se passar mais tempo naquela cama, vou enlouquecer. E além disso, você está sozinha. Isobel gemeu antes de falar. Ela estava muito engraçada com um rosto de profunda indignação. Suas bochechas estavam tão ruborizadas que pareciam mais vermelhas que os cabelos de Edine. — Não se atreva a me usar como desculpa. E se ficar entediada, aguente. E eu não estou sozinha. Este castelo está cheio de pessoas. Alguns indesejáveis, mas cheio, e Helen Cameron está sendo muito atenciosa e gentil. Ela me apresentou às mulheres que eu precisava conhecer e há algumas que parecem adoráveis. — Adoráveis são os gatinhos, Isobel. Edine viu o rosto surpreso de sua prima. — Você está fazendo de propósito, certo? Porque essa conversa não tem pé nem cabeça. E não tente me provocar. Edine já estava vendo que podia convencer sua prima quando viu Logan se aproximando, e sua expressão era qualquer coisa, menos gentil. — Que diabos! O que está fazendo fora da cama? Logan estava olhando para ela com fúria reprimida e Edine cerrou os dentes para não soltar o que lhe veio à mente em primeiro lugar, e que tinha a ver com enviá-lo para um lugar que uma mulher nunca deveria nomear. — Ei, não fale assim com minha prima – disse Isobel se virando,

encarando Logan que evidentemente não estava feliz com a atitude de Edine. Logan a ignorou sem querer. Ele e Edine viam apenas um ao outro, deixando todo o resto de lado. — Estou muito melhor, o suficiente para descer para jantar. Além disso, esse assunto não é da sua conta, Logan. Isobel virou-se para a prima erguendo uma sobrancelha. — Ei, Edine, McGregor ajudou você antes, quando estava tonta, e ele só se importa com o seu bem-estar, certo? – A última perguntou, olhando novamente para Logan. Ainda estavam ignorando Isobel, que bufou de maneira nada feminina diante de tal afronta, quando Logan respondeu a Edine sem sequer olhar para ela. — Pode não ser da minha conta, mas não vou permitir que você prejudique sua saúde novamente. Não seria bom para esta reunião se Grant tivesse que explicar por que ficou gravemente doente sob a responsabilidade dele. Então vai para a cama agora ou eu carrego você. A decisão é sua. Isobel franziu o cenho para Logan novamente antes de falar. Esta foi a última gota. — Ei, não fale com minha prima assim, ou é surdo? – exclamou mais alto. Edine olhou para Logan perdendo a paciência antes de responder.

— Ameaças não funcionam comigo, nem mesmo ameaças que alegam ser “para meu próprio bem”. Então pare de ser um bruto teimoso e me deixe passar. Isobel estava prestes a arrancar os cabelos quando se voltou para a prima com suas últimas palavras. — Vamos ver Edine, ele é um bruto e um... um homem teimoso, mas está certo. Você deve ir para a cama. E pare de me ignorar, estou aqui! – Isobel exclamou, claramente zangada e com um grito alto o suficiente para ser ouvido na Inglaterra. Os dois olharam para ela de uma só vez e depois se olharam novamente, desafiando um ao outro para ver quem vencia. Isobel estava mordendo a língua para não explodir novamente quando soube que, dessa maneira, não conseguiria nada com Edine. Só havia uma maneira. Por que isso não lhe ocorreu antes? — Faça isso por mim, por favor – pediu Isobel, olhando-a com preocupação e os lábios tremendo. Quando viu uma pequena hesitação em seu olhar, sabia que tinha conseguido. Os lábios e o olhar de tristeza nunca falharam. — Está bem. Eu farei isso por você – disse Edine a Isobel enquanto olhava para Logan, antes de se virar e voltar para o quarto. Isobel seguiu, não sem antes olhar para McGregor. O que viu em seu olhar apenas um instante

antes de assumir a frieza de um bloco de gelo a deixou sem palavras. Sob toda essa fúria, havia uma preocupação agonizante. Logan ainda tinha sentimentos por Edine.

CAPÍTULO XII

Se Edine achou que depois disso tudo ficaria mais fácil, estava totalmente enganada, especialmente quando no dia seguinte, quando desceu com Isobel, viu uma nova convidada. Ela não a via há quatro anos, quatro anos em que tivera tempo de pensar no motivo de sua traição, por que seu próprio sangue a odiava a tal ponto que partiu sua vida em dois. Sua irmã Lesi McEwen conversava familiarmente com Esther Davidson. Estava claro que se conheciam antes, e isso apenas aumentava sua agonia. Esther Davidson era uma mulher muito bonita e quase todos os Highlanders reunidos ali haviam demonstrado algum tipo de interesse. No entanto, Edine desconfiava dela. Viu-a lançar comentários ocasionais e ofensivos a outros convidados mais tímidos ou menos graciosos, e isso lhe provocara antipatia. Se tinha algo que Edine não suportava, eram as pessoas que pensavam que poderiam prejudicar os outros pelo simples prazer de poder fazê-lo, aqueles que se sentiam superiores e queriam demonstrá-lo subjugando e destruindo os outros. A injustiça estava trazendo à tona o pior de Edine e Esther Davidson tinha o mérito por ela explodir. Isso, juntamente com o constante interesse de Esther por Logan, a fez querer estrangular a dama em questão. Embora isso a tivesse vencido, disse a si mesma

interiormente. O que não superou foi ver Lesi depois de tudo o que havia acontecido. Sua expressão teve que mudar porque Isobel a pegou pelo braço, parando-a de repente. — Talvez não tenha sido uma boa ideia você descer, ficou branca de

novo. Está tonta? Vou procurar Elisa? – Sua prima disse com uma cara preocupada. Edine olhou para ela com calma e sorriu levemente. — Não é o que você pensa. Acabei de ver uma nova convidada e é

Lesi. Isobel estava olhando para ela como se não entendesse nada. — Lesi? Que Lesi? –Então os olhos de sua prima se arregalaram. –

Sua irmã Lesi? Aquela que você não me contou exatamente o que fez com você, mas que te traiu da pior maneira e que odiamos? A que eu vou estrangular assim que eu colocar minhas mãos nela? Aquela Lesi? Edine não pôde deixar de sorrir novamente quando Isobel fez seu discurso fervoroso. — Essa mesma, mas você terá que entrar na fila. Eu a estrangulo

primeiro. Além disso, está conversando com Esther Davidson. Acho que se conhecem. Isobel deu uma bufada pouco feminina.

— Não é de admirar, os vermes se reconhecem.

Edine fez uma careta e Isobel riu. — Está bem, agora vamos encontrá-las. Em algum momento, isso

deve ser feito e não adiaremos. O que eu quero é que você dê o seu melhor sorriso e seja gentil. Isobel balançou a cabeça antes de falar. — Você ainda está com febre se acha que sou capaz de fazer isso.

Isobel olhou para ela erguendo as sobrancelhas quando Edine a encarou repreendendo essa atitude. — O quê? As duas juntas são piores que as sete pragas do Egito. –

Isobel soube que tinha que se explicar quando viu a expressão de Edine. – O padre Ezekiel é muito rigoroso com relação ao conhecimento das escrituras sagradas. — Eu vou lhe dizer de forma diferente. Se você for lá e ela sentir seu

desconforto, Esther gostará e minha irmã saberá que ainda tem poder sobre mim para me machucar, então, se eu posso, você pode. Isobel olhou para ela com admiração e relutância, reconheceu que tinha que fazer isso. Negar à prima o que pediu não beneficiaria Edine e seria egoísta. — Sabe que eu te amo muito, certo? Tenho orgulho de você ser minha

irmã mais velha, porque essa bruxa a perdeu e agora eu a tenho. Então farei o

que me pedir, não posso recusar. Se necessário, morderei minha língua e darei meu melhor sorriso. Edine olhou para ela com todo o amor que lhe dedicava. Pensava e sentia o mesmo, que Isobel era sua irmã, aquela irmã que ela pensou que já tinha, mas que acabou sendo uma mentira. Edine e Isobel foram em direção à entrada. Antes de chegar, a voz da irmã, quase inaudível em um sussurro de surpresa, estrangulada e quase irreconhecível, fez as duas olharem em sua direção. — Edine? – Lesi chamou, surpresa e chocada ao vê-la lá. — Vocês se conhecem? – Esther também perguntou surpresa.

Edine se aproximou com Isobel ao seu lado e, quando chegou ao lado da irmã, inclinou a cabeça em cumprimento. Sentiu Lesi tensa quando estava a poucos metros, como se o simples fato de ela estar perto a enojasse. Sim, era possível que sentisse isso por ela, porque seu ódio ficou evidente no pergaminho que lhe enviou mais de três anos atrás. Não bastou traí-la, mas depois teve que lhe contar a magnitude de sua traição e o quanto havia gostado, como se sua vingança não estivesse completa até que soubesse e estivesse ciente de seu sucesso. E assim foi. Edine nunca conhecera como sua irmã realmente era, e tudo o que havia feito para prejudicá-la se não fosse por essas linhas escritas. — Faz muito tempo, Lesi – disse Edine friamente.

Aquela frieza, essa falta de reação a magoavam, apesar de tudo o que havia acontecido, porque uma pequena parte dela queria reconhecer na mulher a sua frente a irmã, a jovem que crescera com ela e a quem amava e protegia... Lesi era dois anos mais nova que ela e, embora a diferença fosse pequena, Edine sempre a defendia do mau humor de seu pai, de sua violência e da indiferença de sua mãe. Sempre tentou protegê-la de tudo aquilo, que doía, e muito e que sempre dissimulava por Lesi. No entanto, não poderia perdoá-la. Tentou, mas depois do que fez, depois de quase causar sua morte e do que era mais precioso para ela, depois de fazer Logan desaparecer de sua vida, colocando-a à mercê da fúria e violência de seu pai, do exílio, da dor. Não, não consegui esquecer. Ela matou muitas coisas na vida de Edine. Entre elas, o amor por sua família e por sua irmã. — Somos irmãs – disse Edine, olhando para Esther.

Viu a confusão dela enquanto olhava para Lesi e ela alternadamente, como se ainda não acreditasse. Sabia que as diferenças entre as duas eram grandes. Não se pareciam em nada. Edine era ruiva, de olhos verdes, alta e esbelta. Lesi tinha cabelos castanhos claros e seus olhos eram castanhos. Era muito mais baixa que Edine e com mais curvas. — Eu não sabia que você viria – disse Lesi, que até agora parecia

incapaz de articular uma palavra, desconfiada da reação de Edine ao vê-la.

Viu o medo nos olhos dela enquanto a olhava, como se estivesse esperando a explosão de sua irmã, condenando-a por tudo o que tinha feito. — Nem eu que você fora convidade – respondeu Edine.

E então Isobel não conseguiu segurar a língua. — Às vezes, viver na ignorância é uma bênção.

O rosto de Lesi e Esther era todo um poema. Edine olhou para Isobel e, quando viu a repreensão em seus olhos, rapidamente esboçou o sorriso mais forçado que já havia sido visto. Edine a olhou fixamente, dizendo um "realmente?" com a expressão de seu rosto antes de continuar com a pequena farsa. — Lesi, este é nossa prima Isobel, filha de nossa tia Nerys.

Isobel levantou uma sobrancelha para Edine quando ouviu sua introdução dizendo claramente "Você está falando sério também?" — Prazer em conhecê-la – disse Lesi, ao que Isobel respondeu com

um aceno de cabeça e o rosnado de um cão raivoso com rouquidão. Nem morta diria à mulher que também estava feliz em conhecê-la, Isobel disse a si mesma, sem nunca parar de sorrir. Estava fazendo um grande esforço. Edine não poderia exigir mais nada dela, poderia? Era o suficiente que não tivesse arrancado a cabeça daquela sanguessuga da Lesi McEwen. Edine viu o olhar especulativo de Esther avaliar e tirar a conclusão correta de que não havia um bom relacionamento entre as irmãs. O silêncio

ficou tenso até que pareceu quebrar e ficar desconfortável. — Vejo você mais tarde, sem dúvida. Isobel e eu vamos dar um

passeio. Se nos derem licença – disse Edine, despedindo-se delas e caminhando com Isobel em direção à porta principal do castelo. — Vamos dar um passeio? Eu pensei que nós nos sentaríamos por um

tempo. Você ainda não está bem. Edine acelerou o passo. — Confie em mim, estou bem e preciso sair, preciso sentir o ar fresco.

Não consigo respirar aqui. — Está bem, está bem, vamos lá fora – disse Isobel rapidamente

quando viu o rosto da prima– mas espere um minuto. Vou pegar algo para nos agasalhar. Faz um pouco de frio. — Vou esperar por você nos estábulos – respondeu Edine, não

querendo ficar lá por mais um momento. – Não vejo Radge há dois dias. Isobel olhou para ela vendo alguma preocupação nos olhos de Edine. — Radge está bem. Você sabe que Thorne não deixaria nada

acontecer com ele. Thorne, um dos homens de confiança de seu cunhado Thane, havia ficado com elas, e embora respeitasse a privacidade das jovens para que pudessem se integrar bem entre todos os presentes à reunião, ele estava sempre atento. Se não estava no mesmo aposento, estava rondando, até Edine

falar com ele. Não havia perigo e o fato de estar tão perto enviava a mensagem de que não confiavam em Grant MacLaren para proteger seus convidados. — Na verdade, eu não confio. Não o conheço – dissera Thorne a

Edine, sem admitir nenhuma resposta. — Thorne, nós não queremos começar uma guerra, mas sim, sair

ilesas desses dias e ir para casa, então, por favor, prometo não ir a lugar nenhum sem contar a você, e você promete se afastar um pouco para que possamos respirar, tudo bem? Thorne assentiu porque sabia que Edine não lhe ofereceria nada melhor, e essa mulher era boa de brigas; então, mesmo estando perto, quando não deixassem o castelo, ajudaria os homens da cidade na reconstrução de algumas casas que haviam sido sofrido danos pelas chuvas das semanas anteriores. Ele se ofereceu quando viu a devastação de tempestades recentes em uma de suas caminhadas e, embora relutantes, os homens aceitaram sua ajuda quando viram dois pares de braços fortes. Era mais do que evidente que o povo do clã MacLaren, apesar de sua disposição, não estava feliz por ter todos aqueles estranhos lá. Nem todos eram iguais, mas alguns dos Highlanders, mesmo as mulheres, não haviam tratado as do clã MacLaren adequadamente. Grant havia deixado claro que não permitiria nenhuma transgressão, desrespeito ao seu povo, ao seu clã, mas havia maneiras veladas

de quebrar a boa educação sem ser ofensivo e alguns daqueles que estavam lá eram verdadeiros artistas nisto. Edine parou de pensar em Thorne e no que Isobel havia lhe dito assim que entrou no estábulo depois de atravessar o pátio. O dia estava nublado e algumas nuvens presságiavam chuva, no entanto a atmosfera não era tão fria quanto ela imaginara, e a sensação de ar puro após dois dias de confinamento invadiu seus sentidos com uma necessidade avassaladora. Olhou para o fundo onde Radge estava. Ele parecia um pouco nervoso. Quando esteve perto o suficiente, ele se moveu rapidamente, inclinando o pescoço e buscando o contato da mão. — Olá coração como vai? Nervoso, hein? Não se preocupe, amanhã

você e eu daremos um passeio. Radge parecia entender Edine, que, ao dizer as últimas palavras, recebeu em troca um carinhoso esfregar de focinho. — Eu também te amo, grandão. — Ele é um cavalo bonito.

Edine se virou rapidamente quando a voz suave e juvenil ecoou atrás dela. Ela pensou que estava sozinha, mas quando se virou, um par de olhos enormes a encarou timidamente. — Sim, é, mas eu não sou objetiva. Não posso, ele ganhou meu

coração.

O dono desses olhos, um garoto que não chegaria aos dez anos de idade, deu um sorriso de verdade. — Não é de admirar, senhora. É um dos cavalos mais bonitos que eu

já vi. Radge relinchou. — Radge agradeceu.

O rapazinho riu alto. — Mas não nos apresentaram. Quem eu tenho a honra de conhecer? –

Edine perguntou. O rapaz corou de repente, mostrando sua timidez. Edine decidiu se apresentar primeiro para fazer o menino se sentir menos constrangido. — Edine MacLeod – continuou, esperando que o menino se atrevesse

a dizer seu nome. As bochechas do menino coraram ainda mais, enquanto seus pés pareciam incapazes de permanecer imóveis. — Ed Daroch

Edine sorriu. — Prazer, Ed Daroch. Acho que você gosta de cavalos por causa do

que acabou de me dizer e por saber muito sobre eles – continuou Edine. — Não, senhora. Não sei muito, mas gosto deles e sou eu quem cuida

de limpá-los e ficar de olho neles. Laird Daroch me trouxe para isso.

Edine pensou no chefe do clã Daroch. Ela não gostou daquele homem. Sua fúria incontrolável e desrespeito eram suas qualidades mais notáveis, pelo menos as que conseguira observar desde sua chegada. — Bem, Ed, isso é um trabalho de responsabilidade. É claro que

confiam muito em você. Edine observou o garoto ficar vermelho de novo e seu peito inchou de orgulho pelas palavras que ouvira. — Quantos anos você tem? – Ela perguntou, convencida de que ele

era muito jovem. — Sete, senhora.

Lá estava, ela estava certa, mas para seus sete anos o menino era muito esperto e doce. — Você vai dar uma olhada em Radge para mim quando eu não puder

ficar com ele? — Claro, senhora. Será uma honra. — Muito obrigado, Ed. Isso é muito gentil da sua parte.

O garoto assentiu antes de se virar e sair com pressa. Edine não pôde deixar de sorrir. Ela gostou muito de Ed. Quando se virou para sair, outro cavalo bateu levemente no ombro dela com a mandíbula. Edine se virou e um sorriso triste veio aos seus lábios.

— Olá, seu patife – disse ela enquanto tocava suas orelhas e o

acariciava lentamente. – Pensei que não se lembraria de mim, faz muito tempo – continuou Edine, olhando-o nos olhos. O pelo preto com uma mancha branca o tornava inconfundível. – Eu senti sua falta. — Ele também. Sempre teve uma quedinha por você.

Edine pulou quando a voz de Logan ecoou alto atrás dela.

CAPÍTULO XIII

Deveriam parar de fazer isso com se não quisessem que morresse de susto. O olhar de Logan se fixou nela com tanta intensidade que a fez se sentir vulnerável, algo que apenas ele provocava e que fazia com que suas bochechas ficassem ruborizadas de uma forma pouco discreta. — Deveria estar descansando. Não deve se exceder – Logan continuou com a testa franzida. Edine olhou para Patife, que ainda exigia sua atenção. — Estou bem, garanto. E tinha que sair daquela casa. Estava ficando louca – Edine engoliu em seco antes de dizer as seguintes palavras. – Não pude agradecer o que fez por mim. Então obrigado. Logan esboçou um sorriso, que desta vez chegou a seus olhos. — Foi difícil de dizer, não foi? – disse, mais afirmando que perguntando. Edine olhou para ele e sorriu também. — Você não sabe o quanto. Doeu. A gargalhada de Logan ressoou em seus ouvidos. Aquele som... Ficou

olhando fixamente antes de tentar engolir o nó que se formou em sua garganta. Aquela cena era tão parecida com as que compartilhavam há muito tempo que, por um momento, pensou que, tudo o que aconteceu entre eles, havia sido um pesadelo. Edine tossiu um pouco antes de quebrar o silêncio constrangedor que se instalara entre os dois após o riso. Logan ainda a estava encarando com aquela intensidade tão característica dele, como se estivesse tentando lê-la. E era tão condenadamente bom fazendo isso que poucos resistiriam a ele antes que soltar a língua sem nem mesmo entender como isso havia acontecido. — Elisa está me contando que ontem teve muito trabalho com o treinamento que fizeram. Parece que, em vez de diminuir as tensões, levou-os a limites suspeitos. – Edine disse mudando de assunto. Queria falar sobre qualquer coisa, mas que não tivesse nada a ver com ela. Precisava tirar o interesse de sua pessoa. Logan relaxou, apoiando-se em uma das vigas de madeira que sustentavam a estrutura do estábulo. Seus olhos brilharam com diversão. Sabia que não o havia enganado, mas Logan assentiu e deu-lhe alguns momentos de trégua. — Sim, alguns saíram bastante feridos. Tenho que admitir que, em certo sentido, foi satisfatório. Edine sorriu com provocação.

— Imagino que essa gratificação se traduza em certos danos pessoais a certos Highlanders, cujas personalidades não parecem ser muito apreciadas por aqui. Logan sempre gostara da perspicácia e a inteligência de Edine. O fato de parecer conhecê-lo melhor do que ninguém era algo que ainda o surpreendia. — Digamos que McDonall e Daroch foram os mais atingidos. Daroch esteve mais quieto esta manhã do que o habitual, fato que deixou a todos agradecidos. — Então não disse: ehhh, ummmm? – Edine perguntou tentando imitar o rosto zangado de Daroch. Logan voltou a rir com vontade, e Edine se surpreendeu unindo-se a ele. Quando os dois se calaram novamente, Edine ficou mais perturbada do que quando começaram a conversar. A presença de Logan conseguia enfraquecer suas defesas como nada mais fazia. — Ontem à noite vi Lesi chegar. Não sabia que estava vindo – Logan soltou de repente, querendo claramente observar sua reação. Não diria a Edine que ele sabia antecipadamente quem seriam todos os participantes, embora a essas alturas duvidasse que Lesi viria. —Falou com ela? – Edine perguntou tentando parecer o mais calma

possível. Tinha sido uma pergunta estúpida, mas não pôde deixar de fazer. O que Lesi secretamente acreditava sentir por Logan tinha sido uma das razões que a levaram a traí-la. Os olhos de Logan adquiriram uma dureza que minutos antes não tinham. — Não, você sabe que ela nunca foi uma das minhas pessoas favoritas. Sabia que vinha? – ele perguntou, por sua vez, examinando suas feições como se quisesse determinar algo com base em sua resposta. Edine respirou fundo antes de falar. O tema Lesi era algo que não queria tocar com Logan. — Não. Há muito tempo que não sabia nada dela. Edine se esqueceu de dizer quanto tempo. Exatamente três anos e sete meses. E maldita seja, por ela, podia ter se poupado a última comunicação, aquelas palavras escritas que lhe causaram tanta dor. Seu pai sempre fora um homem violento e egoísta, mas ele queria que suas duas filhas aprendessem a ler e escrever. Algo inédito na época, quando poucos sabiam sobre os dois. Muito menos uma mulher. Mas seu pai sempre tinha sido um calculista nato e essa era uma arma que queria usar em seu benefício, por meio de suas filhas. Foi isso que Lesi usou para convencer Logan de que o suposto pergaminho que havia escrito era realmente o de Edine. Ela e Lesi tinham praticamente a mesma letra. Foram educadas nesse

sentido pelo mesmo padre. — Pensei que estavam unidas. De fato, confiou a ela coisas importantes, não é verdade? Logan olhou para Edine e a viu pálida. Não tinha planejado abordar esse assunto, especialmente naquele momento, mas era um momento tão bom quanto qualquer outro, e ali estavam sozinhos. Disse a si mesmo, repetidamente, que não havia mais motivo para querer uma explicação dela. Que o que havia sido uma necessidade um dia, agora era simples curiosidade, uma maneira de acabar com tudo de uma vez e enterrá-lo finalmente, inteiramente. — Logan... não acho que falar sobre isso nos ajude. – Edine disse em um tom de voz que implorava para parecer calmo e distante. Logan franziu a sobrancelha e uma faísca de ironia passou por seu olhar como a chama antes de se tornar uma fogueira. — Fale por você, eu gostaria de esclarecer isto, já que no passado saiu correndo antes de poder me dar alguma explicação. Edine sentiu seu estômago contrair. Uma coisa era que o tempo tivesse curado as feridas, que já não doesse tanto, e outra que tivesse que reabri-las na frente dele, para mergulhar dentro delas. — Não tive escolha – Edine disse olhando-o fixamente, tentando que entre essas palavras, em seus olhos, visse a veracidade delas.

Logan endureceu o olhar, que adquiriu a frieza do gelo. — Vamos, Edine... você pode fazer melhor. Tinha esperado algum tipo de explicação rebuscada e absurda que te absolvesse ou que fosse sincera pelo menos uma vez e me dissesse que fez o que quis sem se importar com o que deixara para trás. Que você não teve escolha? Vamos, Edine. Há sempre uma escolha – Logan disse soltando as últimas palavras com a força de um martelo. — É absurdo. Não vai acreditar em nada do que eu disser – Edine respondeu com a intenção de sair. Logan se moveu mais rápido e colocando-se na frente dela impediulhe de passar. — Tente – exclamou com um lampejo de raiva nos olhos. Edine olhou para ele, desesperada para fugir dali. — Para que, Logan? Isso mudaria alguma coisa? O fato de você me odiar talvez? Um sorriso perigoso apareceu nos lábios de Logan quando seu olhar duro e inexorável permaneceu fixo nela. — O ódio é uma emoção muito forte para sentir contra você. Tem que amar muito para poder odiar. Eu só quero uma explicação. Eu não gosto que insultem minha inteligência. Edine tentou esconder a dor que as palavras de Logan lhe causaram.

“Tem que amar para poder odiar". Talvez quem tivesse sido enganada todos esses anos fosse ela e toda a dor e sofrimento foram em vão. Engoliu o nó na garganta e a fissura que começava no seu peito e terminava no estômago. — Acho que é melhor deixar as coisas em paz. É o passado, e nada do que dissermos agora pode nos fazer sentir melhor – Edine respondeu com toda a raiva que crescia dentro dela. — O passado? Fazer você se sentir melhor? Não tente, nem finja estar ofendida. Você se entregou a mim. Ou não se lembra disso, Edine? Fez promessas que quebrou quando estive fora. Você disse antes que eu te odeio. Acredita mesmo nisso? Me conhece tão pouco? –

Logan disse com

uma expressão cínica e calculista. Suas palavras eram afiadas como a lâmina de punhal e Edine estava sendo rasgada por dentro. – Talvez até te agradeça por ter ido embora, mas naquele momento você me humilhou, brincou com as promessas ditas, não apenas com as palavras, mas também as seladas com seu corpo. Edine engoliu em seco. Em todos esses anos, aprendeu que a melhor forma de defesa era o ataque e, naquele momento, se Logan continuasse assim, desmoronaria, então, com a pouca força que restava, atacou. — E você acha que eu me importo? Hein, Logan! – exclamou levantando a voz – Antes sim. Quatro anos atrás, eu teria dado a minha vida para que me seguisse, para que percebesse que eu nunca teria deixado você

por vontade própria. Eu teria morrido por você, Logan. E talvez você não me odeie, mas eu odiei, e com todo o meu coração, porque eu te amava, mais do que qualquer coisa neste mundo. Mas nada resta daquela mulher, nem as ruínas do meu amor, nem as do meu ódio, porque toda a minha força estava concentrada em uma única coisa. Em sobreviver. E sabe de uma coisa? Eu fiz isso por aqueles que me amavam de verdade. Você quer uma explicação? Imagine, invente, porque eu não vou lhe dar mais nada – terminou com toda a raiva que tinha dentro de si depois de escutar suas palavras. Edine viu a sombra da dúvida cruzar os olhos de Logan e se amaldiçoou por falar demais. Não queria estar lá, não podia. Tentou passar, mas Logan novamente bloqueou seu caminho e quando viu o que seus olhos destilavam, era tarde demais. Ela não teve tempo de reagir antes que ele a segurasse pelos braços e a prendesse contra a viga de madeira, colando seu corpo ao dele, se apoderando de sua boca com força. Edine esperou um beijo áspero e violento, impulsionado pela raiva que ela tinha visto nos olhos de Logan, mas quando os lábios dele tocaram os dela, apesar de sua firmeza e domínio, ele foi terno, quase dolorosamente paciente. Ela o sentiu deliciar-se com cada centímetro deles, lenta, inexoravelmente, como se sua vida estivesse nela e ao mesmo tempo tão controlada, tão medida, que Edine achou que era alguma forma de punição,

de vingança para deixá-la louca de desejo. Com um gemido involuntário, um gemido doloroso, Edine pediu mais, e Logan entregou sem medida. Deslizou entre seus lábios e saqueou o interior da sua boca com vontade, sentindo as mãos de Edine agarrarem-se aos seus braços, enquanto ele acariciava uma das bochechas dela, pedindo que ela juntasse às línguas em uma dança tão antiga quanto a própria vida. Logan a segurou firmemente contra seu corpo, colando cada centímetro dele na única mulher que era capaz de fazê-lo perder o controle com apenas um olhar. Deus tivesse piedade dele, porque se Edine estivesse ciente do poder que exercia sobre ele, estaria perdido. Quando a pegou pelos braços e a beijou, não foi o desejo e a emoção que o empurraram, mas a raiva fria que tomou conta de seu interior quando a ouviu dizer que ela o amara mais do que ninguém e que morreria por ele. Quando disse que não o havia deixado por vontade própria, algo nublou sua razão. Como se atrevia a dizer aquilo depois de tudo o que tinha acontecido? E, no entanto, um único toque daqueles lábios encurralou toda aquela fúria e o substituiu pelo desejo visceral e primitivo de fazê-la sua. Ele a queria em seus braços, a queria em sua cama e a queria em sua vida e, maldição, não iria analisar naquele exato momento aquele pensamento, aquela fraqueza, quando seu membro, duro como uma rocha, queria assumir o controle de a situação e enviar toda a racionalidade para o

inferno. Portanto, não houve pensamento racional enquanto saboreava os lábios carnudos e excitantes de Edine, ou quando ouviu o gemido vindo dela e deixou sua boca se deleitar com a curva do seu pescoço a pele macia e rosada de seu ombro. Nem quando abaixou o tecido de seu vestido, possuído por uma necessidade incapaz de saciar, e com um grunhido quase animalesco, que irrompeu de seus lábios, pegou o mamilo recém-descoberto e exposto diante dele e sugou, chupou e lambeu até que o sentiu duro dentro de sua boca. E sua resposta imediata, sincera e entregue o excitou ainda mais, assim como os pequenos gemidos que saíram da garganta de Edine e o forçaram a segurá-la com mais firmeza quando se deixou cair sobre ele, como se não restassem forças, sabendo que estava tão perdido no desejo quanto ele. Esse fato penetrou em seus pensamentos e o trouxe de volta à realidade, ao lugar onde estavam, e isso o fez recuperar o controle o suficiente para cobrir a pele de Edine novamente, mas sem que fosse suficiente para se obrigar a afastar suas mãos dela. Estava além das suas forças e não podia negar, então descansou a testa na dela, tentando recuperar algum controle. A respiração deles era irregular e ofegante e duraram apenas alguns segundos antes que o gosto de Edine, que ainda podia saborear em sua própria boca, o reivindicasse novamente. Então o Logan, relutantemente, deixou a bochecha da Edine, aquela que estava roçando com o polegar, e o toque da sua pele

macia como veludo e enrolou os dedos no seu cabelo. Exerceu a pressão suficiente para inclinar sua cabeça o necessário e devorou sua boca, unindo suas línguas em um beijo duro e abertamente carnal que nada tinha a ver com o delicado toque do início. Ele sentiu os dedos de Edine em seu rosto, em seu pescoço, emaranhados em seus cabelos e um pensamento passou por ele, tão sério quanto era inédito, porque ele percebeu que apenas com esse com essa entrega, Edine já o tinha. Era dela. — Edine! Você está ai? A voz de Isobel ressoou entre aquelas quatro paredes e foi o que fez Edine recuperar o bom senso. Ela se entregou a Logan e aquele beijo com uma paixão que acreditava estar mais do que extinta, mas que consumiu cada centímetro de seu corpo assim que ele a tocou. E aqueles gemidos saíram de sua própria garganta! Ela não sabia como seria capaz de perdoar a si mesma, como seria capaz de fingir que tudo entre eles estava morto há muito tempo. Edine sabia por que Logan a beijara e seu triunfo fora completo. Amaldiçoando-se mentalmente por isso, afastou-se dele, que não tentou detê-la, e sem olhar para ele, afastou-se e foi encontrar sua prima que continuava chamando-a da entrada. Logan amaldiçoou entre dentes quando a viu partir. Ele não conseguiu detê-la e o fato de ela nem sequer olhar para ele o fez rosnar como um animal

ferido. Bateu na viga com o punho e os nós dos dedos foram danificados, deixando a pele lacerada coberta de sangue. A dor mal era suficiente. O que diabos ele estava fazendo? Disse a si mesmo mil vezes que não sentia mais nada por Edine, havia garantido a sua irmã Aili e para Grant apenas alguns dias antes e, no entanto, agora estava começando a pensar na maior mentira que havia contado a si mesmo. Estava tremendo e o acúmulo de emoções que ele segurou com mão de ferro durante todos esses anos foi revelado diante dele com total clareza. Dor, raiva, ira, mas também amor e saudade, do tipo que gruda no seu peito, ficam embaixo da sua pele e corrói o seu interior até você parar de respirar, porque apenas o fato de perecer, pode fazê-lo parar de correr por suas veias. Essa era Edine para ele. Algo selvagem, algo terno, algo tremendamente sensual, algo essencial que ele não podia negar, por mais que quisesse. Poderia odiá-la, poderia evitá-la e até tirá-la de sua vida e construir outra, mas a única verdade é que sempre faria parte dele. Entender era como sentir um soco no estômago. Aceitar e seguir em frente seria mais difícil, mas não havia outra opção. Ele tinha uma vida e queria vivê-la o mais plenamente possível e isso não incluía Edine.

CAPÍTULO XIV

Alguns dias depois, Edine quase começou uma guerra. Tudo fora sem intenção, mas as injustiças, assim como os abusos e os maus-tratos, tiraram dela seu lado mais irracional e selvagem. Estava com Isobel e foram aos estábulos ver Radge e Manchas. Edine estava confinada há muito tempo entre aquelas paredes, e depois do ocorrido a última vez que esteve a sós com Logan, só queria se afastar do castelo, dos que viviam ali naquele momento, dos problemas e, sobretudo de seus próprios pensamentos. Ela estava evitando Logan e não tinha orgulho disso. Pela primeira vez em sua vida, fugia e se sentia um covarde, mas precisava se afastar dele, precisava colocar distância e naquele castelo isso era praticamente impossível. Ela o via durante o dia e assombrava seus sonhos à noite. Além disso, os cavalos estavam nervosos com o pouco exercício que haviam feito desde que chegaram, e essa era a desculpa perfeita para não sentir que estavam realmente fugindo de novo. Então despistaram Thorne e saíram com a ideia de não ir muito longe. Uma coisa era ser rebelde e outra estúpida. Se fossem sozinhas, não podiam se afastar. Não conheciam aquelas terras ou o que podiam encontrar nelas. Quando deixaram o castelo para trás e começaram a se afastar das

casas espalhadas ao redor, Edine puxou as rédeas, forçando Radge a parar. Um gemido abafado por um trovão saiu de seus lábios quando testemunhou a cena se desenrolando a poucos metros delas. A mesma que a fez cerrar os dentes, pular de Radge para o chão sem pensar e seguir em direção a Lachan Daroch. O Laird Daroch estava batendo em Ed enquanto gritava com ele. O menino se encolheu tremendo enquanto aquele bastardo continuava batendo nele com a palma da mão aberta, fazendo Ed tropeçar e gemer de dor. Aquele homem tinha mais do que o dobro do tamanho do menino e tinha uma força enorme. Edine ouviu Isobel chamá-la, mas não parou. Estava cega pela raiva que a consumia, pelo que aquele homem estava fazendo com o menino. Chegou até onde estavam correndo e pegou o menino afastando-o de Daroch e o colocou as suas costas. O último tapa dele atingiu Edine no ombro quando Lachan não teve tempo de reagir e parar. Edine não se deu conta da proximidade de duas mulheres do clã, que vendo aquela cena, correram para o castelo. —Que diabos você pensa que está fazendo? Isso não é da sua maldita conta – Daroch exclamou dando um passo à frente, diminuindo a distância com Edine, que sentia seu ombro esquerdo queimar com o golpe recebido. Edine nem pensou nisso. Não pensou no tamanho de Daroch, ou que

era chefe de um clã, ou que ele era muito mais alto que ela e infinitamente mais forte. Nada disso passou por sua cabeça. Sentia tanta fúria que deu um passo à frente e encurtou a também distância com Daroch. Tinha vontade de arrancar os olhos daquele bastardo. — Não vai voltar a bater na criança, e até que ouça essa promessa de seus lábios, nada do que diga ou faça vai fazer que me afaste de seu caminho. Você me entendeu claramente? —Quem diabos você pensa que é, vadia? – Daroch cuspiu, o rosto contorcido de fúria. Edine sorriu enquanto olhava para o Highlander. — A vadia que não vai deixar você maltratar uma criança, maldito – resmungou. Um gesto de incredulidade surgiu no rosto de Daroch, cuja paciência estava chegando ao limite. Edine percebeu isso quando ouviu sua prima chamá-la novamente. Desta vez, ela ouviu a ansiedade na voz de Isobel. Lamentava que sua prima tivesse que testemunhar esse confronto e uma parte dela temia por Ed e Isobel. Sabia que não podia confiar que Daroch se comportasse como um homem de honra. — Volte para o castelo, Isobel – ordenou a sua prima sem olhar para ela. Não queria deixar de ter contato visual com Lachan porque temia que qualquer descuido levasse Ed de novo para as suas garras.

— Afaste-se ou eu a afastarei – Daroch concluiu, cujas intenções eram claras. Edine sabia que aquele homem não atenderia à razão e, embora tivesse dito a Isobel que voltasse ao castelo, ainda a via perto, incapaz de deixá-la sozinha. Se não pensasse em algo, aquilo ficaria muito feio e sinceramente, sem que ninguém soubesse onde estavam e o que estava acontecendo, não acreditava que fossem em sua ajuda. — Eu tenho uma proposta para fazer – Edine disse de repente, quando uma ideia maluca passou por sua cabeça, rezando que a ideia fosse tentadora o suficiente para que o Laird Daroch desse sua palavra para não maltratar o menino. — Não sei o que está tentando fazer, mas não me interessa, portanto se afaste. Edine deu um passo para trás, ainda protegendo Ed seu corpo, que sentia tremer atrás dela, quando Daroch se ergueu quase em cima dela. Edine olhou para cima para poder olhá-lo nos olhos. Não surpreendentemente, Daroch era mais de uma cabeça mais alto. — Pensei que você estava interessado em Radge, meu cavalo – disse sem hesitar. Daroch franziu a testa. Edine pôde ver que suas palavras penetraram na fúria do homem.

— Sei que é um homem de palavra – continuou Edine. Ela odiava ter que mentir daquela maneira, mas esperava que isso acalmasse Daroch, porque, caso contrário, ele não a ouviria. Um homem que batia assim numa criança era um covarde. Sua palavra não valia nada —, então lhe ofereço a chance de ficar com Radge. Vamos fazer uma corrida. Seu cavalo contra o meu. Aqui e agora. Se eu ganhar me dá sua palavra de que não voltará a tocar o menino. Se você ganhar fica com Radge. O que me diz? Edine podia ver no semblante de Daroch sua luta interna. Ela o tentara com algo que ele queria muito, e era um homem que estava acostumado a conseguir o que queria. —Uma corrida contra uma mulher? Você está de brincadeira? Edine observou como um sorriso nojento se formou na boca de Daroch. Aquelas gengivas com poucos dentes, e algumas podres, fizeram seu estômago revirar. — Se você acha que será tão fácil, qual é o problema? Eu sou apenas uma mulher, certo? É uma coisa certa. Ou você está com medo? Edine manteve a expressão imperturbável quando um rugido saiu dos lábios de Daroch. — Perderá o cavalo, esse menino receberá a surra que merece e acredite que jamais voltará a insinuar que sou um covarde. Matei homens por menos que isso, assim que uma cadela a menos não se notará. E tudo por

causa de um órfão de merda. A mãe dele era uma puta que se juntou com um de meus homens quando já estava grávida. Ninguém sabe quem era seu pai. E essa cria bastarda matou a sua mãe ao nascer. Fiz muito por ele não o expulsando do clã a pontapés. Eu não dou a mínima para o que acontece com ele, é apenas um estorvo, então vamos aumentar ainda mais a aposta. Se eu ganhar fico com o cavalo, dou uma surra no menino e me pede perdão de joelhos, puta. se você ganhar fica com o menino. Edine engoliu em seco quando ouviu as palavras de Daroch. Ela nunca pensou que o homem pudesse enojá-la mais do que ela já fazia. — Decidido então —disse Edine. – Mas antes quero sua palavra. — Ummm — disse Daroch, revelando novamente seus escassos dentes. — Isso é um sim? Edine esperou por uma confirmação. Não queria que houvesse algum tipo de mal-entendido depois. Daroch cuspiu no chão enquanto olhava para ela de canto de olho. — É um sim. Edine assentiu com a cabeça. Virou-se e se afastou com a criança alguns metros antes de se abaixar para estar na mesma altura dos olhos de Ed. O garoto ainda estava tremendo. Ele levantou o queixo para dar uma boa olhada nela. Quando verificou os hematomas que estavam se formando na

bochecha, a sua raiva inflamou novamente. —Você está bem, Ed? Nada vai acontecer. Ninguém vai te machucar de novo, está bem? O menino olhou para ela com olhos lacrimejantes. Edine viu tanta dor, tanta vulnerabilidade e anseio naquele olhar que partiu seu coração. — Tudo ficará bem. Olhou para Isobel, que naquele instante se aproximava deles com pressa. — Fique com ele, tudo bem? – disse-lhe quando sua prima estava ao lado deles – E se algo der errado, não olhe para trás. Pegue o menino e corra para o castelo. Você me ouviu? – Edine perguntou abraçando o menino antes de deixá-lo com sua prima. — Edine, não acho que seja uma boa ideia. Esse homem não é confiável. O que você está fazendo? A voz e o olhar temeroso de Isobel a fizeram se concentrar em sua prima. — Ele é muito orgulhoso e arrogante e tem certeza de que vencerá. Essa será sua perdição – ela disse com um sorriso nos lábios. —Edine… – Isobel implorou, mas vendo a resolução nos olhos de sua prima, não pôde deixar de apertar sua mão e assentir. – Voe como o vento e deixe Daroch para trás. Faça-o engolir suas palavras nojentas.

O sorriso de Edine e o brilho em seus olhos disseram a Isobel e Ed Daroch que era isso que ela pretendia fazer. *** —Logan! Logan! Logan ouviu Grant antes de vê-lo. Estava observando o treinamento dos homens de McPherson antes de falar com Campbell. As brigas com McDonall nos últimos dias já haviam ido longe demais. William lhe dera carta branca para interceder entre os clãs em seu nome se a paz estivesse nublada durante os dias em que a reunião durasse. O que o rei menos queria era que aquela ideia que teve, tendendo a unir laços entre clãs, se voltasse contra ele e resultasse no oposto. Logan queria falar com McDonall e Campbell ao mesmo tempo e tentar negociar a postura. Era difícil, mas se tivessem que continuar assim por mais uma semana, poderiam acabar com um deles morto pelo outro. Estava sorrindo pela pressa de Grant quando viu sua expressão, ficou instantaneamente sério e diminuiu a distância que os separava. —O que aconteceu? —Venha comigo – Grant disse com uma urgência em sua voz que fez Logan ficar tenso. —O que diabos está acontecendo, Grant? – ele perguntou novamente exigindo quando, ao chegar na frente dos estábulos, seu cavalo e o de Grant

estavam prontos. — Vou explicar para você no caminho, mas tem a ver com Daroch e Edine. Um rosnado veio dos lábios de Logan antes que eles galopassem sem olhar para trás.

CAPÍTULO XV

Quando viu Isobel ao lado de um menino olhando para o horizonte e não viu sinais de Edine ou Daroch, sentiu o peito se contrair, quase sem fôlego, com medo do que encontraria, mas quando seguiu a direção em que ambos olhavam e viu Edine cavalgando como se quisesse desafiar o vento, parou de respirar. O fato de Daroch estar grudado nos seus calcanhares, galopando com uma agressividade à beira da loucura, deu origem a novos sentimentos nele: O de estrangular Edine e matar Daroch. Quando reagiu, seguiu Grant até onde Isobel estava, descendo do cavalo de imediato. A cara de angústia e ao mesmo tempo de agradecimento dela ao vê-los resumiu que o que quer que tivesse acontecido era grave. Se era verdade o que as mulheres disseram a Grant, que Daroch tinha batido no garoto e que Edine se meteu no meio, insultada por isso, Lachan tinha os dias contados. No entanto, o fato de que ambos estavam cavalgando como se a morte seguisse seus calcanhares não tinha explicação. — Graças a Deus que vieram – Isobel disse, sua voz tremendo um pouco. A raiva de Grant, aquela que era difícil de inflamar, ferveu dentro dele quando contemplou Isobel naquele estado. Ele viu o medo em seus lindos

olhos azuis e sentiu a necessidade urgente de puxá-la para seus braços e segurá-la entre eles, dizendo-lhe que tudo ficaria bem. Ele não queria vê-la assustada, mas com o orgulho e a segurança com que a conhecera. Queria que o desafiasse e transbordasse toda sua fúria com ele, apenas com ele, porque a outra opção, a que estava vendo naquele momento, despertou nele o desejo de matar aquele que ousara assustá-la, despertando um sentimento de proteção em relação a ela, que se nada o impedisse, teria que concordar com Logan, porque ele estava certo. Maldição, a queria para si, queria fazê-la dele e queria com tanta necessidade que suas mãos doíam por não a tocar. — O que aconteceu? – Grant perguntou, tentando se acalmar, afastando os últimos pensamentos o suficiente para se manter frio e controlado naquele instante. — Vão se matar. Malditos inconsequentes – disse Logan entre os dentes com fúria contida quando viu que davam a volta ao chegar ao pé de uma pequena montanha, onde umas árvores dispersas se erguiam orgulhosos. Pará-los não era uma opção. Na velocidade em que cavalgavam, qualquer tentativa poderia provocar exatamente o que eles estavam tentando evitar. Isobel olhou para Logan um momento antes de responder com absoluta certeza. — Nada vai acontecer – disse Isobel com pressa – Minha prima vencerá. Não há ninguém como ela. Fará Daroch desejar não ter apostado em

sua vida. Logan continuou olhando para Edine, e mesmo com todo seu autocontrole e toda sua racionalidade, não conseguia parar o medo de se meter entre eles e tentar dominá-lo. Aquele sentimento desagradável, que não se lembrava de ter como companheiro por muito tempo, o fez cerrar os punhos em um ato reflexo, chafurdando seu desamparo naquele momento em que a única coisa que podia fazer era olhar. O instinto primitivo que havia nele e que se descontrolava quando Edine se aproximava, reclamou o controle e exigiu que assim que a tivesse perto, não a deixaria se afastar dele nunca mais. O sentimento de proteção que crescia como um monstro cada vez que a tocava, cada vez que a olhava, rosnou em aprovação por chegar a essa conclusão. Com esse pensamento aderindo a cada palmo de seu ser, seu olhar não se afastou dela como se dessa forma pudesse evitar que algo lhe acontecesse. Cavalgando, inclinando-se para frente, quase imitando o cavalo, Edine estava tirando vantagem de Daroch. Ele atiçava o seu de forma violenta, tentando alcançá-la. A mestria com que Edine dominava e dirigia Radge era algo digna de admirar. Quando pensou apreciar um gesto de Daroch para pegar o cabelo de Edine em uma tentativa desesperada de contê-la, Logan apertou sua mandíbula e agarrou as rédeas de Patife, lutando com a necessidade de chegar até ela e afastá-la daquele bastardo. Se aquele bastardo a pegasse pelos

cabelos, naquela velocidade e a puxasse, poderia matá-la. Aquela reação inadequada de qualquer Highlander o repugnou e acendeu a raiva que corroía seu interior. — É magnífica, vai ganhar de Daroch. jamais vi ninguém cavalgar dessa maneira – disse Grant com espanto e admiração ao mesmo tempo. Logan engoliu saliva enquanto cada vez se aproximavam mais. — Você falou de uma aposta. O que eles apostaram? – Logan sibilou, querendo saber do que se tratava, implorando para se distrair o suficiente para não enlouquecer cem vezes antes de Edine chegar até eles. Não entendia como a cena que Grant relatou encaixava com uma aposta. Relutante em afastar o olhar de Edine, desviou por um segundo para observar Isobel e a criança. Este último tinha seu rosto virado olhando-o e quando Logan viu os hematomas que estavam se formando no rosto, um grunhido cheio de fúria brotou de seu peito fazendo que o pequeno tremesse visivelmente. Não queria assustá-lo, mas não pôde evitar. Por Deus, era só um menino. — Isobel – Grant disse urgentemente, pedindo-lhe que respondesse. — Daroch estava batendo em Ed – Isobel disse olhando para o menino. – Edine o viu e ficou na frente. Daroch a ameaçou. Por um momento... senti medo – Isobel continuou, visivelmente afetada – E então Edine desafiou Daroch para uma corrida. Você sabe que ele está apaixonado

por Radge. Se Daroch ganhar, Radge é seu e Edine tem que pedir desculpas de joelhos. Se Edine ganhar, Daroch disse que poderia ficar com Ed. Logan olhou para Edine novamente. Como o Grant disse, era incrível. Sentiu seu estômago se contrair pela velocidade a que cavalgava, sua postura, sua elegância, sua ousadia e valentia. Essa era a Edine que conhecia, mas muito mais forte, com uma tenacidade e uma vontade que não tinha visto antes. Ela se colocou na frente daquele menino e enfrentou Daroch sozinha para protegê-lo. O garoto não podia se defender contra aquele homem, um Highlander que fazia muitos dos guerreiros mais experientes estremecerem só com a sua presença. O orgulho e a admiração por Edine aumentaram e tudo o que ela disse a ele da última vez que ficaram sozinhos retornou com uma velocidade incomum, atingindo-o, levando-o a pensar que talvez suas palavras fossem sinceras. Todos esses pensamentos foram relegados ao esquecimento enquanto Edine e Daroch foram vistos com total clareza. Estavam tão perto que era questão de uns poucos segundos ela a teria ali, junto a ele, a salvo. Edine chegou primeiro e os passou velozmente, seguido a uns metros por Daroch que, assim que os superou, saltou de seu próprio cavalo e se dirigiu com passo veloz até onde ela estava. — Você, puta, me enganou...

Lachan Daroch não pôde continuar porque o punho de Logan McGregor bateu em seu queixo, mandando-o direto para o chão. — Que diabos você pensa que está fazendo, McGregor? Você ficou louco ou...? – Daroch tentou dizer quando pôde reagir, entretanto, tampouco pôde terminar essa frase porque outro soco o lançou contra a grama antes que chegasse a se colocar em pé. — Para seu próprio bem não se levante – Logan murmurou com os punhos cerrados. — Logan não, por favor — Edine implorou quando ela desceu de Radge e veio para o lado dele. — Eu ganhei a aposta. Ed fica comigo, se ele quiser. Estamos em paz – ela continuou, desta vez olhando para Lachan. Daroch passou a mão furiosamente pelo lábio inferior e limpou o sangue que escorria dele, resultado dos golpes precisos de Logan. Depois disso, se levantou devagar, sem tirar os olhos de McGregor antes de desviá-lo para Edine, carregado de raiva. — Isso não vai ficar assim. Você trapaceou, vadia, senão nunca teria ganho... Dessa vez, Lachan viu isso acontecer e socou o rosto de Logan, que nem sequer se moveu. Logan, pelo contrário, bateu no nariz do oponente diretamente, sentindo o osso dele esmagar sob o punho quando atingiu o rosto de Daroch. O nariz começou a sangrar profusamente, quando ele caiu

no chão pela inércia do golpe e da dor, enquanto Logan o encarava, deixando claro que, se ele desse mais uma razão para atacá-lo diretamente, o mataria. — Se você fosse esperto, não tentaria se levantar novamente Daroch. Você bateu em uma criança, insultou uma dama e seu comportamento envergonha todos os Highlanders. Se levantar a mão para alguém ou agredir de algum modo... Se olhar para Edine Macleod, será a última coisa que fará. Você está me ouvindo? Me entendeu? –perguntou Logan. — Ela me humilhou, maldição! – Daroch exclamou do chão, cuspindo sangue do nariz e da boca. — Ninguém o forçou a aceitar a aposta. Você se humilhou sozinho. Não deveria tê-la subestimado, Daroch – Logan disse com uma pitada de orgulho em sua voz que não passou despercebida por ninguém, exceto a Lachan, que olhou para ele como se quisesse matá-lo. — A partir de agora terá que cuidar de suas costas, McGregor — soltou Daroch pondo um joelho no chão para levantar-se lentamente. — Não queira me ameaçar — respondeu Logan com um sorriso que era mais perigoso que a lâmina de sua espada. Grant, que até então estava afastado, mudou-se para o lado de Logan antes de se dirigir a Daroch com um olhar duro e uma voz que não admitia responder. — Esta terra é do clã MacLaren. Eu abri minhas portas para os chefes

e membros de outros clãs para executar uma ordem real, mas, que eu seja amaldiçoado se ao fazer isso, permitisse que um menino se machuque ou que uma dama seja insultada, e menos por um Highlander, chefe de um clã que é meu convidado e que abusou de minha hospitalidade, minha confiança e envergonhou com seu comportamento tudo o que deveria ser sagrado para um Highlander – O rosto de Grant parecia esculpido em granito quando suas últimas palavras rasgaram a brisa suave que agitava seus cabelos. – Nada do que aconteceu aqui será divulgado, para que sua humilhação ou a que você pensa ser vítima permaneça entre nós. Seu orgulho estará intacto, mas o resultado da aposta permanece. Ed ficará com Edine e Isobel MacLeod, se desejar, e amanhã, com a desculpa que quiser, você deixará as terras do meu clã. Você não é mais bem-vindo aqui. — Você não pode fazer isso – Daroch exclamou, levantando-se e olhando para Grant com uma cara de espanto. – É uma ordem real! — Nem que fosse uma bula papal. Quero você fora das minhas terras amanhã. Daroch endureceu suas feições, contraindo os lábios e, com um grunhido, deu um passo em direção a Grant. — O rei saberá dessa afronta. Prepare-se para o que você começou, MacLaren. Logan deu um passo à frente encurtando a distância com Daroch.

Queria que as suas próximas palavras fossem o suficiente para afastar qualquer tentativa de Daroch de iniciar uma desavença com o Grant. — Eu não aconselharia você. William me deu plenos poderes para interceder nesta reunião e, acredite, ele não ficará feliz quando souber dos fatos pelos meus próprios lábios. Isso deixaria você em uma posição muito mais vulnerável do que está agora. Você praticamente não tem aliados naturais. Então, se você não quer que o rei repentinamente ache todos os seus assuntos de suma importância e comece a se perguntar por que o clã Daroch está tentando iniciar uma guerra com os McDougalls pela terra legítima destes, recomendo que você saia amanhã e deixe as coisas como estão. Lachan Daroch sentiu vontade de matar Logan e cuspir na cara de Grant. Quem diabos pensavam que eram para ameaçá-lo e expulsá-lo daquelas terras? E sem dúvida queria dar a essa cadela Edine MacLeod o que merecia. Queria-a de joelhos e depois de quatro para que soubesse qual era o seu lugar. Daroch cuspiu no chão antes de olhar para todos cuidadosamente e se afastar para montar seu cavalo. Logan o seguiu com o olhar antes de pousar em Edine. Segurou-a na parte superior do braço, perto do ombro para que se afastasse. Não a queria perto de Lachan. Ele a ouviu gemer baixinho e se encolher, como se algo doesse, mas não tinha exercido nenhuma pressão.

— Seu ombro dói? – Logan perguntou, pegando seu queixo com os dedos para que o olhasse nos olhos quando negou a cabeça, mas sem olhar para ele. Isobel respondeu por ela. — Quando se colocou na frente de Ed, recebeu o golpe que Daroch pretendia dar no menino. Um rosnado rasgou o silêncio vindo da garganta de Logan, perdendo qualquer chance de ser consistente. Ele ia matar aquele filho da puta por colocar a mão nela. Edine tentou detê-lo e Grant teve que segurá-lo em detrimento de sua própria integridade quando viu a intenção de Logan escrita em seu rosto. — Daroch, saia agora mesmo, maldito seja! A não ser que queira morrer hoje – exclamou Grant quando Logan o afastou para ir atrás de Lachan e rasgá-lo em pedaços. Quando Daroch viu a expressão de Logan, seu rosto assumiu uma tonalidade cinzenta antes de estimular o cavalo a sair dali rapidamente.

CAPÍTULO XVI Edine sabia que não poderia evitar aquela conversa por mais tempo. Eles voltaram ao castelo em total silêncio e com Ed montando Radge na frente dela. A única coisa que a criança disse foi que queria ficar com ela e que, por favor, não o mandasse de volta com Lachan Daroch. Depois que Edine o tranquilizou, Ed não voltou a falar. O rosto de todos estava sério e a atmosfera muito tensa. Estava cansada após o estresse que sofreu, e a última coisa que queria era falar sobre isso. Mas Logan tinha outra opinião e não lhe ofereceu uma brecha para escapar. Assim que chegaram, a pegou delicadamente, pelo braço, mas com firmeza, antes que pudesse desaparecer. McGregor apenas informou Isobel e Grant que estava levando Edine para uma conversa, e enquanto Grant assentia, certo de que nada que dissesse atrasaria isso, Isobel tentou reclamar. O rosto de Edine e um não silencioso desenhado com seus lábios, fizeram que sua prima se detivesse, ficando com MacLaren e com Ed. Recusar era algo inútil. Conhecia o Logan suficientemente bem para saber que essa conversa aconteceria, por isso era melhor agora do que mais tarde. Preferia deixar o que aconteceu para trás e poder se concentrar no

estado de Ed que, embora parecesse mais velho em certos aspectos, era apenas um menino de sete anos, assustado e dolorido. Ela não conseguia ficar imaginando quantas vezes antes disso ou coisa pior acontecera. Quantas vezes teria batido nele sem que ninguém fizesse nada? Andaram por vários corredores, sem que Logan prestasse atenção ao que acontecia a seu redor. As pessoas que passaram por eles, alguns membros do clã, outros convidados, olharam para eles curiosos, alguns especulando em silêncio pela confiança que a mão de Logan exalava em seu braço, pegando-a com firmeza e guiando-a com o rosto de poucos amigos, pelo piso térreo. Edine, por seu lado, tentava minimizar danos, esboçando um sorriso e saudando a todos os que se cruzavam com efusividade, a fim de que, quando acabasse aquele passeio pelo interior do castelo, ainda houvesse alguém que não estivesse tirando conclusões sobre os dois. Sem dúvida as opiniões viriam em fila. Quando chegaram a uma pequena sala que Logan fechou atrás deles, Edine deduziu que devia ser para uso pessoal do chefe do clã MacLaren, de acordo com os objetos que lhe eram familiares e que estavam espalhados pela mesa, junto com vários pergaminhos. O punhal com três marcas no cabo ou o broche com o escudo do clã perto do punhal e inclinado para um dos lados eram alguma das coisas em que pôde reparar antes que Logan captasse toda a sua atenção mesmo sem emitir uma só palavra. Não precisava disso, porque o

olhar que estava dando naquele momento era ilustrativo o suficiente para não ter dúvida de que Logan estava com muita raiva. Edine nem tentou descobrir qual tinha sido a principal causa de tal estado. Só sabia que Logan estava se segurando. Podia vê-lo pela forma como apertava a mandíbula ou pela forma como a sua expressão, normalmente neutra, controlada e fria, estava distorcida por um olhar gélido, uma postura tensa e uma respiração acelerada. — Diga de uma vez para que possamos ir e eu possa ver como Ed está – Edine disse, resignada a deixar Logan liberar o que evidentemente estava o comendo por dentro. Estava claro que seria tudo menos agradável. Logan continuou sem dizer uma única palavra. Ele se apoiou na mesa e continuou a olhá-la como se estivesse avaliando como poderia rasgá-la em pedaços mais rápido e com menos sangue. — Se você não falar, eu vou, está bem? Eu sei o que você está pensando – disse Edine cansada. Sabia que o Logan estava a ouvi-la apesar do seu silêncio porque levantou uma sobrancelha às suas últimas palavras – mas o que você queria que eu fizesse? Estávamos sozinhas e Daroch continuou batendo no menino. Estava o maltratando e quando o vi, não pensei nisso. Se voltasse em busca de ajuda, naquele momento, Lachan poderia ter causado um dano ainda maior a ele. Só sei que quando o vi tremendo e aguentando os golpes daquele homem com o dobro do seu

tamanho e era capaz de matá-lo, não hesitei. E eu sei que não deveria tê-lo desafiado, mas foi a única coisa que pude pensar para que o deixasse em paz. Daroch estava ficando difícil e agressivo de novo e pensei que era a única forma de tentá-lo e distraí-lo da espiral de fúria em que estava se enredando. Não foi o mais inteligente, reconheço, mas foi suficiente para detê-lo até que chegassem. E no final não havia nada para se arrepender. Acho que não deveria continuar insistindo nisso. E tinha certeza de que venceria, não estava apostando nada que corresse o risco de perder. A expressão de Logan antes da força dessas palavras era um poema inteiro e Edine foi forçada a explicar. — Sou boa amazona, e já o vi montar. Sabia do que seu cavalo era capaz e sei como Daroch cavalga, eu o observei. Acredita que seja bom, mas não passa de medíocre. Então, me desculpe se minha impulsividade criou problemas para você, mas não lamento por me colocar na frente de Ed ou qualquer coisa que fiz para garantir sua segurança. —Terminou? – Logan perguntou com uma voz tão calma que Edine revirou os olhos. Esse tom de voz significava que ainda havia muito a dizer e não seria divertido. —Você já pensou no que poderia ter acontecido se não tivéssemos chegado? Pensou que talvez Daroch poderia reagir mal ao fato de perder? Como planejou resolver isso quando se voltou contra você, como ele se

revelou, quando foi derrotado? E ainda é pior. Se tivesse feito algo com você, ou com Isobel, que também estava lá, teria começado uma guerra. Maldita seja! Daroch não mostrou limite algum. Edine respirou fundo antes de responder. — Você está certo, mas o que está feito não pode ser desfeito. É tolice pensar no que isso poderia ter causado quando, felizmente, não há nada para se arrepender. Estamos todos bem e nenhuma guerra começou – respondeu com um sorriso. O gesto que fez com as mãos apontando para a porta fez Logan rosnar baixinho. Seu olhar, seu rosto e sua postura adquiriram uma tensão que fez Edine colocar as mãos nos quadris. — E agora o que? – ela perguntou, cansada de Logan pensando que tinha o direito de censurá-la por qualquer coisa. —Você está fazendo isso intencionalmente? Porque se for, está indo maravilhosamente bem. — O que? – Edine perguntou, agora perdida. — Me irritar – Logan murmurou. — Nããão, mas fico feliz em saber que não perdi o toque – Edine disse, tão séria que se não fosse pela faísca divertida que Logan viu em seus olhos, pensaria que estava fazendo isso com intensão criminosa. — Agora eu te estrangularia. Edine fez um barulho com a língua que dizia claramente que sabia

que era apenas palavreado. — Eu não sei por que você se importa tanto. E se for pela feliz possibilidade de começar uma guerra entre clãs, tenho que lhe dizer que você faz isso muito bem sozinho, sem a minha ajuda – Edine respondeu, lembrando o treinamento conjunto que fizeram dias atrás e que terminou com mais lesões do que em um combate real. Logan se aproximou dela com a agilidade de um gato. Edine queria dar um passo para trás para manter distância, mas seu orgulho a proibia, parada ali olhando para Logan como se aquele gesto não a tivesse perturbado de forma alguma. — Não tem graça – Logan rosnou quando viu o sorriso nos lábios de Edine. — Isso é o que você acredita. Teria que ver o seu rosto. Parece que a veia do pescoço vai estourar. Essa aí – Edine comentou de passagem, apontando para o lado esquerdo do pescoço de Logan. Não estava tentando diminuir a importância de tudo o que tinha acontecido. Pelo contrário, depois do medo que sentiu de não poder proteger o Ed e que pudesse passar algo a Isobel por sua culpa, só tentava esquecer tudo. Os tremores que a dominavam e o cansaço eram evidências suficientes de que ela não era tão inteira quanto queria. Logan fechou os olhos, antes de contar até dez. Aquele confronto não

estava em seus planos quando a levou até lá. Tudo o que queria era que Edine compreendesse o perigo que se expos e o que podia ter acontecido se ele e Grant não tivessem aparecido naquele momento. O que fez por Ed foi incrível, corajoso e estúpido, tão imprudente que ele estava secretamente orgulhoso dela, daquele comportamento louco e absolutamente generoso que admirava. Mas as coisas não eram tão simples, e não estaria tranquilo até que Daroch abandonasse aquelas terras. Não tinha certeza de que o orgulho ferido de Lachan e a humilhação de que ele se considerava uma vítima não forjassem algum tipo de vingança contra Edine e isso era algo que ele não podia permitir. Sabia que não podia confiar nela, aquilo tinha ficado para trás. No entanto, isso não o impediu de querer que ela ficasse bem, com certeza. Esse era um sentimento mais forte que sua determinação. Edine prendeu a respiração quando a mão de Logan pegou uma das mechas e colocou-a gentilmente atrás do ombro antes de acariciar sua bochecha com os dedos e a palma dura do homem que havia assombrado sua mente desde que o vira pela primeira. — Prometa-me que até Daroch deixar essas terras, você ficará perto de mim. Edine olhou para ele com a testa franzida. — Acha que tentará algo?

Logan acariciou a pele macia de Edine com o polegar, aquela que o estava deixando louco, lentamente, sem tocar os lábios, os mesmos que ele desejava provar com uma fome voraz. — Prometa-me. Edine procurou nos olhos por respostas. Não queria, nem sequer desejava perguntar se a preocupação que via neles fosse genuína. Um que não nasceu por sua honra, por seu dever ou pela missão que exercia ali, mas por algum sentimento que envolvia levar em conta sua segurança. Essa possibilidade era dolorosa demais para considerar, para pensar, mas quando ela o viu abaixar os lábios nos dela, quando o viu olhar para ela com a preocupação emaranhada em seus olhos, se perdeu. Reduziu o espaço entre eles, ficou na ponta dos pés e passou os braços pelo pescoço de Logan roçando seus lábios, porque precisava dele. Estava há quatro anos sendo forte, frente a tudo e na frente de todos, e apenas por um instante desejava se sentir amada, protegida, sem ter que esconder ou fingir um autocontrole que a exauria e consumia. Precisava de Logan com toda a sua alma. Só por um momento, ela disse a si mesma. Então poderia voltar à sua vida, elevar suas defesas novamente e seguir em frente. Logan sentiu os lábios de Edine nos seus, como uma carícia. Ouviu o suspiro trêmulo de sua boca e seu corpo contra o seu. Os dedos dela se enredaram nos seus cabelos, com muita delicadeza, e o seu cheiro embotou todos os seus

sentidos. Separou os lábios daquele toque agonizante para olhá-la nos olhos, e o que viu neles o convenceu de que naquele momento não estava mentindo. Seu desejo era genuíno e nublava sua visão. Não negou o que os dois desejavam, e aproximou de novo seus lábios numa lenta peregrinação até essa boca que lhe estava esperando e que Logan levava desejando desde que a beijou dias atrás. Naquele instante, parecia que uma eternidade havia passado. Edine tinha esse efeito sobre ele, e quanto mais tirava dela, mais desejava. Tomou-a com firmeza e aprofundou o beijo que os deixava loucos e castos demais para o seu desejo. Ele deslizou a língua entre os lábios de Edine para entrar em sua boca e devorar cada canto dela, com plenitude absoluta, porque era isso que queria de uma maneira selvagem e primitiva. Queria marcá-la e reivindicá-la como dele. Queria se perder no toque daquela pele que o estava deixando louco, no olhar forte e cheio de intenções que Edine destilava, naqueles lábios e dentro daquela boca que o fazia perder a pouca sanidade que tinha toda vez que tentava provar seu sabor, e se embriagava com isso. Tudo isso, unido ao cheiro de seu cabelo, a lavanda, misturado com o de sua pele, agia como um afrodisíaco sobre seus sentidos. Queria se enterrar nela repetidas vezes até que gritasse seu nome, saciada e embriagada de prazer, e que se entregasse livremente a ele de corpo e alma, reconhecendo que era tão seu quanto ele era dela. E ele queria com tanta

força que era uma verdadeira tortura deixar a realidade romper a névoa de seu desejo. Edine se entregou àquele beijo com todo o seu ser. Inclinou-se para mais perto de Logan quase sem fôlego quando sentiu a mão dele sob o vestido, deslizando pela coxa até o centro de sua feminilidade. Queria respirar, pensar que não deveriam ir tão longe, mas Logan não permitiu. Ele continuou a beijá-la vorazmente, com urgência, enquanto engolia os gemidos de Edine quando, entre as coxas, seus dedos encontraram o que procurava, separando os lábios e tocando o botão de carne que culminava seu centro de prazer. Edine se contorceu em seus braços gemendo loucamente. Logan silenciou aqueles gemidos emaranhando sua língua com a dela, penetrando sua boca quando seus dedos penetraram seu sexo e a tocaram sem piedade. Edine pensou que morreria se Logan a soltasse naquele instante. Não podia pensar, nem sequer podia se sustentar. Logan a protegeu, presa ao corpo em um arco perfeito criado ao redor dela com o braço esquerdo, enquanto a tocava intimamente, fazendo-a perder a cabeça. Sentia isso em toda parte, exigindo que se rendesse à sua possessão, engolindo seus gemidos, que não conseguia parar de emitir, mesmo que sua vida dependesse disso. Até que o prazer tomou conta de cada centímetro de seu corpo, fazendo-a explodir em milhares de fragmentos, fazendo-a gritar seu nome, tremendo.

Logan estava prestes a explodir sob seu feliah mor. Ainda com o corpo pressionado contra o de Edine, ele a observou. Tinha os olhos fechados e as bochechas coradas e os lábios inchados e vermelhos, mais bonitos do que nunca depois de se entregar ao prazer. A visão de seu rosto saciado o excitou mais do que pensava ser possível. Não tinha pretendido chegar tão longe, mas quando a sentiu tremer entre seus braços e escutou seus gemidos o único que quis foi que se abandonasse em seus braços, entre suas mãos. Um ruído vindo do corredor o fez voltar à realidade. Se separou um pouco de Edine como se doesse. — Prometa. Edine emergiu da nuvem de prazer que Logan a levou a para se sentir mortificada por permitir que aquilo acontecesse. Suas bochechas deviam estar vermelhas, assim como seu pescoço e seu todo o seu corpo. Ela não podia olhar para ele, não depois da intimidade que acabavam de compartilhar, sabendo que isso não mudava nada do que ele sentia por ela. Ela lembrou a si mesma que ele não a perdoara, que a odiava e, no entanto, a fazia se sentir amada, de uma maneira que lhe roubava o fôlego. Logan a fez levantar a cabeça, colocando os dedos sob o seu queixo. — Edine, olhe para mim – ele disse com voz rouca quando viu seu constrangimento. Edine sabia que Logan não tinha culminado o seu desejo. Sentia-o

duro lá, onde o seu membro escondido pelo seu feliah mor roçava sua cintura. — Eu não me arrependo. Nós dois queríamos. Mas se isso te preocupa, não vai acontecer novamente – Logan continuou, quando viu os olhos de Edine. Era arrependimento o que via neles? Edine o olhou sem poder, sem querer evitar seus olhos por mais tempo. Sabia que Logan havia interpretado seu silêncio, seu medo de que esse momento desaparecesse, como vergonha ou arrependimento, e isso era o melhor. Sabia que ele não a amava. Esperar algo mais era uma ilusão. — Desculpe, Logan – disse Edine com o coração apertado. – Sinto muito por todo o sofrimento que pude te causar. Não foi minha intenção. A expressão de Logan endureceu e seu olhar intenso ficou frio o suficiente para Edine recuar. A carícia na bochecha a surpreendeu. Foram apenas alguns segundos, tempo suficiente para Edine se despedir. Logan nunca poderia perdoá-la.

CAPÍTULO XVII

Isobel esperou do lado de fora do quarto ao lado do Grant enquanto Elisa examinava Ed. Enquanto Logan e sua prima permaneciam desaparecidos, ela tinha ficado ali com o pequeno e com MacLaren. — Está mais calma? Isobel parou de andar de um lado para o outro do corredor para encarar Grant, que estava encostado na parede de pedra e a olhava sem o sorriso habitual. Seu olhar também estava desprovido do sutil cinismo que a deixava tão nervosa. Gostaria de responder de outra maneira, que essa pergunta fosse feita com seu sarcasmo habitual, para que pudesse desabafar com ele. Os nervos ainda atormentavam suas extremidades. Suas mãos tremiam e suas pernas pareciam incapazes de responder com a velocidade habitual. Não queria chorar. O que havia acontecido não era para que ela perdesse a compostura agora e menos ainda diante do último homem que queria que a visse vulnerável. Mas olhá-lo e ver a preocupação impregnada em cada um de seus traços, deixou-a desarmada, vulnerável, diante dele e diante seus próprios temores. — Minhas mãos ainda estão tremendo – disse Isobel em voz baixa

mostrando-as. – Não consigo pará-las. Partiu o coração de Grant vê-la vulnerável. — Venha aqui – MacLaren disse pegando as mãos de Isobel nas dele. Estavam geladas e um leve tremor as mantinha inquietas. Isobel sentiu o calor das mãos de Grant se espalhar pelas dela. O conforto e a segurança que encontrou nelas eram tão intensos e inesperados que as lágrimas que controlara até aquele momento apareceram em seus enormes olhos azuis como se não seguissem a razão. Sabia que desmoronaria ali mesmo, diante deste homem, se ficasse ao seu lado por mais tempo, e não podia se permitir. Não diante dele, que a exasperava e estimulava seu mau humor, tornando-a incapaz de contê-lo, que a desafiou e a deixava nervosa e a fazia se sentir vulnerável como ninguém jamais havia feito antes. Então, quando ela já pensava em se livrar das mãos e fugir para que ele não testemunhasse a sua fraqueza, surpreendeu-se ao se jogar nos braços de Grant, chorando e molhando a camisa de MacLaren como se não houvesse amanhã. Grant não soube como reagir quando Isobel se jogou em seus braços. Não estava esperando. Francamente, quando ela olhou para cima e ele viu seus olhos cheios de lágrimas, pensou que sairia dali como uma alma carregada pelo diabo, mas, em vez disso, ela se refugiou contra seu peito. Grant a abraçou, segurando-a contra ele, a cabeça de Isobel sob o queixo e

protegendo-a com seu corpo. Queria que se sentisse segura, queria que parasse de chorar porque esse som estava quebrando sua alma. Ele descobriu que estava ciente de que poderia suportar qualquer tipo de dor, qualquer revés do destino, mas não podia suportar o pranto de Isobel. — Calma, eu estou aqui. Não chore por favor... você está me matando – Grant disse em voz baixa e suave. – Farei o que quiser, até cairei de joelhos diante de você, mas não chore mais – acrescentou se afastando um pouco, o suficiente para Isobel levantar a cabeça e olhá-lo nos olhos. Isobel parou de chorar, sorvendo um pouco pelo nariz, um gesto infantil que Grant achou irresistível. Grant não pôde evitar. Aqueles grandes olhos tristes que olhavam para ele como se procurassem refúgio em uma tempestade, perdidos e esperançosos. Seus lábios vermelhos, trêmulos e tentadores como a própria vida, e aquela pele macia e bonita demais para não adorar com seu toque. Abaixou a cabeça procurando os lábios de Isobel, famintos, quando um golpe em sua bochecha o puxou para fora da nuvem de excitação em que ele havia sido engolido. — Eu... sinto muito – Isobel disse com o rosto vermelho escarlate e os olhos arregalados. – Não queria te dar um tapa, sério, mas você ia me beijar! – exclamou com um gesto teatral nas mãos que perguntavam claramente por que ele desejaria fazer isso.

Grant deu um passo para trás cruzando os braços sobre o peito. — Poderia ter dito não. Estava tentando te consolar. Nada foi calculado. Também foi inesperado para mim – respondeu com a testa franzida. — Mas é que você tentou me beijar! – Isobel exclamou, como se ainda não estivesse ficado claro. Nesse momento tinha as pernas ligeiramente abertas e as mãos sobre seus quadris. Um sorriso se espalhou pelos lábios de Grant. Ainda lamentava ter perdido esse beijo, mas preferia vê-la mil vezes assim que abatida em seus braços. Com isto podia lidar, não com seu pranto ou sua dor. E maldita seja, se ela estava consciente disso, porque então o teria na palma de sua mão. E assim que esse pensamento passou por sua mente, ele percebeu que não se importava se ela o entendesse, porque se apaixonara por Isobel MacLeod. Dessa pequena rebelde, surpreendente, exasperante, teimosa e diabólica. — Parece que você está tendo um problema com isso – Grant disse um pouco divertido. O rosto de Isobel, já sem lágrimas, endureceu ao ouvir aquelas palavras. — Mas você não pode pretender fazer isso comigo. Você não quer me beijar – Isobel acrescentou como se isso fosse uma verdade universal e Grant estava louco por querer insinuar outra coisa.

— Ohh, sim, eu quero! Muito. O rosto de Isobel não podia ficar mais vermelho. Sua pele, muito pálida, mostrava todo o rubor que podia suportar. Isobel balbuciou algumas coisas incompreensíveis até que ela pareceu se concentrar novamente e olhar para ele com olhos semicerrados. — Este é um dos seus truques para rir de mim, certo? É jogo sujo. Grant deu de ombros como se quisesse sugerir que não se importava com o que ela pensava, que era indiferente. Isobel rosnou baixinho com a clara intenção de não responder sua pergunta. — Estou pensando em algo sujo, mas não é exatamente um jogo. Ou sim? Isso depende de você – ele disse com uma voz sugestiva e um brilho divertido nos olhos. Isobel ficou totalmente escandalizada e um “ohhh” ficou preso na garganta sem poder emitir nenhum som. Grant não aguentou mais e riu alto. — Você é adorável, sabia? – perguntou, dando um passo em sua direção. Isobel também devia ter retribuído, para manter distância dele, mas não o fez. Em vez disso, deixou escapar bobagens que fizeram Grant rir novamente. — Edine sempre diz que os gatos são adoráveis.

Quando Grant parou de rir, voltou a dar mais um passo até ela. — Não continue se aproximando – Isobel disse em uma voz sem convicção. — Do que você tem medo? – Grant perguntou, olhando-a atentamente. — Eu não... não tenho medo de nada... nada. Esse gaguejar nervoso fez Grant sentir uma sensação cálida dentro dele, e quando pensou novamente que era adorável, lembrou-se de seu comentário sobre gatos e não pôde deixar de rir novamente. —Você tem um nome do meio? – Isobel perguntou, como se com essa pergunta pudesse distraí-lo e retardar seu progresso. Grant ficou surpreso com a pergunta, mas respondeu assim mesmo. — Kendrick. Isobel assentiu antes de falar. — Grant Kendrick MacLaren, pare e deixe de fazer tolices ou se meterá em uma boa confusão. Grant riu alto. Não era sua intenção, mas a censura, feita com absoluta seriedade, como se fosse sua avó, tinha sido muito divertida. — Isso não funcionou nem para minha mãe, Isobel Seelie MacLeod. A surpresa que refletiram as feições de Isobel disse a Grant que ela nunca teria imaginado que ele sabia que também tinha um segundo nome e

menos ainda que sabia qual era. — Como sabe isso? – perguntou desarmada. Sentiu algo estranho ao ouvir seu nome completo de seus lábios. Sem querer, seu olhar permaneceu neles e com um arrepio de espanto, sabia que queria experimentá-los. — Porque é hora de você entender que estou interessado em tudo sobre você. Isto não é um jogo, nem uma vingança, nem um passa tempo. É uma necessidade. Vou te beijar e se não quiser que eu faça isso, é sua chance de sair daqui. Só precisa se virar e ir embora, mas se me deixar chegar perto de você e te pegar em meus braços, terá que suportar as consequências. Isobel queria se virar e sair correndo. Sabia que era o que tinha que fazer. Antes, lhe dera um tapa pela mesma coisa que ela queria tentar agora, exceto que naquele momento tudo parecia diferente para ela. Ele disse a ela que beijá-la era uma necessidade. Essas palavras acertaram seu peito, ecoando repetidamente seu interior, aquecendo uma parte do coração que lhe era desconhecida. — Que consequências? – Isobel perguntou levantando a cabeça para que ela pudesse olhá-lo nos olhos. Grant já estava ao seu lado e era impossível manter contato visual se não fosse assim. — Bem – Grant continuou, colocando as mãos na cintura de Isobel e a puxando até ele segurá-la entre seus braços. – Agora é tarde demais para lhe

dizer, mas deixe-me mostrar. Isobel não teve tempo de dizer nada antes de Grant se apoderar de seus lábios, e com sua boca, sua língua e sua paixão a fizeram esquecer tudo. *** Elisa estava exausta. Esses dias estavam sendo infinitos. Além dos membros do clã aos quais visitava, como Beth, cujo parto ela assistira na noite anterior, ou Erwin, cujo braço estava se curando adequadamente, havia pedidos contínuos dos convidados. Além de Edine MacLeod, teve que curar os múltiplos golpes e cortes causados pelo treinamento entre os vários líderes de clãs ali reunidos. O Grant disse-lhe que era para aliviar a tensão, mas depois de ver sobrancelhas e lábios partidos, pancadas em lugares pouco recomendáveis, algum nariz quebrado para sempre, cabeças quase rachadas e cortes profundos, não sabia mais se era para aliviar tensões ou tinham começado uma guerra. Um desses curativos era o que tinha sua mente perturbada todo o momento. Um corte profundo no braço de Duncan McPherson. Ainda se lembrava de como suas mãos, geralmente firmes e quentes, tremiam quando precisou tocá-lo para fazer o curativo em sua ferida. O olhar intenso e fixo nela desse homem também não ajudou em nada a tranquilizá-la. Depois de vários dias, não chegou a nenhuma conclusão sobre seu comportamento confuso. Porque não havia como negar o que era evidente, e isso é que

Duncan McPherson a perturbava como ninguém jamais havia feito. Como se o fato de pensar nele tivesse o poder de convocá-lo, o objeto de seus pensamentos apareceu nas sombras quando Elisa saiu do castelo para ir à sua pequena casa. Há três anos, Grant quis que ela ficasse e vivesse no castelo quando sua mãe se foi. Seu primo não gostava que vivesse sozinha em uma das casas mais afastadas do clã, no entanto, Elisa gostava dessa solidão. Muitos anos em um ambiente caótico e violento. A independência que sua pequena casa lhe dava era algo que a fazia se sentir bem. — Tarde demais para andar sozinha, você não acha? Elisa o olhou ainda assustada por sua presença. Não o tinha visto até que estava quase em cima. Naquela noite a lua cheia iluminava o suficiente para ver suas feições. — Estou em terras MacLaren. Este é o meu clã e é o meu povo. Não se preocupe, eu estou segura. Duncan McPherson sorriu, embora sua sobrancelha levemente franzida mostrasse alguma preocupação. —Não duvido de sua palavra, mas nestes dias há pessoas que não pertencem ao seu clã nas terras MacLaren e eu me sentiria muito mais tranquilo se me permitisse acompanhá-la ou chamar algum dos seus, se preferir, para que faça isso. Elisa não sabia se ela sentia lisonjeada por sua preocupação ou

ofendida pela pouca confiança depositada nela. — Nem um nem outra. Não quero incomodá-lo e tampouco vejo necessidade de que alguém me acompanhe. Sou a curandeira do clã. Acredite que já saí em horas mais turbulentas que esta e, como pode ver, estou bem. Duncan assentiu lentamente. Mas algo dentro de Elisa lhe disse que essa conversa não havia terminado. — Nem sequer fica para jantar? — perguntou McPherson com voz grave e calma. Elisa se envolveu no xale que cobria seus ombros quando o vento frio a alcançou, movendo levemente a saia do vestido. — Não estou com fome – ela respondeu cansada. A voz de McPherson, quente e viril, a alcançou, cobrindo-a mais do que a lã sobre o seu corpo. Elisa não conseguiu deter a sensação que se espalhou pelo peito quando viu o olhar quente e preocupado de Duncan fixado nela. — Você parece exausta. Não devia negligenciar sua saúde. Precisa dormir e tem que comer, senão acabará adoecendo. Elisa sorriu para que Duncan pudesse ver que não estava tão mal quanto ele imaginava. O desejo a atingiu, aquele que a fez pensar em como seria ter alguém que se importasse o suficiente para cuidar de você, se preocupar a ponto de prestar atenção a esses detalhes. O fato de Duncan

perceber que ela não tinha comido, que precisava dormir, era algo que a comovia. Era uma tolice, sabia, mas não podia evitar. Ela nunca teve isso, nem mesmo de seus pais. Seu primo Grant era a coisa mais próxima que ela tinha da família desejada. Se preocupava com ela e estava sempre lá para ouvi-la, mas ele era o chefe do clã e tinha muitas obrigações, por isso Elisa tentava não lhe dar mais motivos de preocupação, ficando quieta o máximo que podia. Odiava ser um fardo para aqueles que amava. Uma mão em sua bochecha a tirou de seus pensamentos, deliciandose por alguns segundos no calor que emanava daqueles dedos que, apesar de fortes e endurecidos por calos, a tocavam com uma delicadeza que a comovia e lhe dava calafrios por todo o corpo. O toque durou segundos. — Está certo. Não vou impedi-la, mas terei que segui-la para garantir que chegue sã e salva – Duncan continuou com uma voz rouca, como se algo o tivesse afetado. — Está brincando, certo? – Elisa perguntou antes de perceber a firmeza no olhar de McPherson. — Com a segurança de uma dama, eu nunca brinco – Duncan respondeu mais sério do que o vira desde que chegou. Algo disse a Elisa que não a faria mudar de ideia. — E quem me diz que não devo tomar cuidado precisamente de você?

Nós mal nos conhecemos – Elisa perguntou, mais por curiosidade, do que porque achava que Duncan poderia fazer algo com ela. Só se conheciam há alguns dias, mas algo lhe dizia que McPherson nunca a machucaria, na verdade, sentia-se mais segura com ele do que havia se sentido em muito tempo. — No primeiro dia me jogou no chão e acabei com lama em partes onde nunca imaginei. Enquanto enfaixava meu braço, depois de fazer um curativo com grande maestria, devo dizer, deixou algumas ervas perto de mim que ainda não sei nomear, mas que produziu uma reação que me causou uma erupção cutânea por dois dias. E tenho certeza de que sua inteligência e tenacidade podem me fazer em pedaços, se assim desejar. Então eu me pergunto quem é que está realmente em perigo. Elisa sorriu abertamente com essas palavras. — Alguém já lhe disse que você é um bom orador? Me convenceu. Se você coloca dessa maneira, não posso me negar, mas apenas se me deixar dar uma outra olhada nesse braço. Não verifiquei novamente desde que fiz o curativo em sua ferida. Elisa viu um brilho nos olhos de Duncan diante de suas palavras que acreditou ter imaginado quando desapareceu instantaneamente. — Está perfeito. Não se preocupe. Elisa cruzou os braços na frente de McPherson, que o fez rir alto.

— Está bem. Me parece justo. Elisa esboçou um sorriso antes de começar a andar, um ao lado do outro.

CAPÍTULO XVIII

Logan esperava alguma forma de retaliação por parte de Daroch, então ele ficou de guarda nas sombras perto da porta do quarto ocupado por Edine e Isobel. As duas subiram depois do jantar. Isso fazia um bom tempo, mas ainda restavam comensais no salão. Logan pôde ouvir pelas próximas horas os passos dos convidados cada vez que alguém pensava em se retirar para terminar em breve nos braços de Morpheus. Ali permaneceu até que os primeiros raios de sol se insinuaram sobre um horizonte tímido. A densa névoa era visível agora que podia divisar os relevos no terreno do lado de fora. Mais convencido de que Daroch partiria sem criar mais problemas, abandonou o pequeno espaço que havia ocupado durante toda a noite e seguiu para o seu quarto. As pernas e o pescoço doíam por ter permanecido durante horas nessa postura precária. Essa, juntamente com a falta de sono, foi a única explicação que conseguiu dar a si próprio para negligenciar as costas quando entrou no quarto, fechando a porta atrás de si. Ele sentiu a ponta da adaga machucando seu braço e parte do peito por um segundo antes de reagir. Era tarde para evitar o ataque, mas rápido o

suficiente para evitar a morte certa. Esse punhal ia direto ao seu coração. O resto foi instintivo. Ele se abaixou, virando-se quando o atacante voltou à carga para tentar terminar o trabalho. Ele errou por pouco, mas deu a Logan a margem necessária para agarrá-lo pelo pulso, impedindo-o de empunhar a arma em sua direção novamente. Se levantou rápido e com um golpe com sua cabeça lhe quebrou o nariz. O desconhecido se dobrou sobre si mesmo pela dor e afrouxou o aperto do punhal, que Logan aproveitou para desarmá-lo. Quando ele ia terminar o golpe para imobilizá-lo, o estranho o atingiu no tronco e no braço ferido, fazendo Logan cerrar os dentes com a facada dilacerante que sentiu em seu peito. Aquele homem era um guerreiro experiente. Aproveitando a fraqueza de seu oponente, tentou acertar Logan novamente em seu braço machucado. Não conseguiu, mas no caminho ele desestabilizou Logan, derrubando-o no chão. Seu grande tamanho, superior ao de Logan, e sua maciça musculatura superaram a agilidade de Logan, que sob ele tentou tirá-lo de cima sem sucesso. Com seu braço quase inutilizado, pouco pôde fazer quando esse homem o agarrou pelo pescoço, apertando com a clara intenção de sufocá-lo. O sorriso do sujeito irritou Logan, cuja situação era tudo menos favorável. Sabia que se não fizesse algo, seria sua última luta. A falta de ar estava fazendo-o perder forças. Com a mão apalpou o chão. Rezou para que o punhal do qual havia desarmado a seu oponente antes estivesse perto. Com a

ponta dos dedos tocou o cabo. Não pensou, e quando o guerreiro olhou para a mão de Logan já era tarde demais. A lâmina enterrada em seu pescoço, jorrava o sangue da incisão precisa. O olhar de descrença fixado em Logan foi a última coisa que o guerreiro fez antes de cair morto ao seu lado dele. *** Elisa estava distraída naquela manhã. Ela não conseguiu dormir depois que Duncan a acompanhou até sua casa. Tinha tentado. Ela estava tão cansada que seria natural, mas, em vez disso, viu-se girando e pensando nos olhos do homem e na intensidade de seu olhar. Então, ao amanhecer, cansada de continuar enrolada nos lençóis, ela se levantou, fez higiene matinal e foi ao castelo. Queria voltar a ver os hematomas do pequeno Ed, para ver se estavam se curando como deveria e no caminho ver Anne. O estômago estava doendo ultimamente e queria ter certeza de que não era algo mais sério. Já tinha uma preparação com várias ervas para aliviar seu desconforto. Quando chegou e atravessou seus portões não esperava se encontrar com Grant pronto para ir atrás dela. Seu rosto extremamente sério confirmou que algo grave tinha acontecido. Quando ele pediu que ela o acompanhasse pelos corredores até o quarto de um de seus convidados, não esperava encontrar um cadáver no chão e Logan McGregor sangrando profusamente no braço e no peito. — Meu Deus! O que aconteceu?

— Um exercício de treinamento que deu errado – Grant disse olhando para ela com um brilho irônico nos olhos. Elisa sabia que ele estava sendo sarcástico. Grant tendia a fazê-lo em circunstâncias tensas como essa. – O que você acha que aconteceu? Atacaram com a intenção de matá-lo e Logan não teve escolha a não ser acabar com ele. – Grant continuou, passando os dedos pelos cabelos e apontando para o cadáver no chão. Quando foi ver Logan naquela manhã para lhe dizer que Lachan Daroch já havia deixado o castelo, o que ele menos imaginou foi encontrar seu amigo ferido e um homem morto no chão do seu quarto. Logan disse que estava bem, mas por causa da palidez do rosto e do sangue manchando suas roupas, ele precisava de Elisa urgentemente. Ter encontrado ela entrando no castelo quando saiu para buscá-la foi uma sorte. Um grito sufocado fez os três olharem para a porta do quarto. — Que diabos...! — exclamou Grant quando viu Edine MacLeod, pálida, atravessar rapidamente o quarto para chegar onde Logan e Elisa estavam. — O que aconteceu? — Perguntou, ainda olhando para Logan. Logan viu a preocupação nos olhos de Edine e isso fez com que a última de suas defesas caísse vergonhosamente sem lutar. — Ele ficou enjoado dançando — Grant respondeu com uma careta. Quando Edine, Elisa e o próprio Logan olharam para ele com cara de

poucos amigos, ele resmungou antes de continuar. — Por que todo mundo pergunta o óbvio? Há um homem morto e você está ferido, acho que não precisa fazer um mapa para deduzir o que aconteceu. Edine levantou uma sobrancelha antes de responder. — Eu não acho que esse tom de “eu sei de tudo” e sarcasmo não fará nenhum bem – disse com uma voz tão severa que o próprio Grant sorriu por dentro. Estava começando a entender por que Logan estava fascinado por Edine, além de quão bonita ela era. A mesma coisa que o levou a perder a cabeça por Isobel: sua língua cortante, seu gênio e sua força. — Deixe-me ver a ferida — pediu Elisa que já estava abrindo sua bolsa de couro para tirar as coisas que ia precisar. — Estou bem. Posso esperar até mais tarde. Eu lembrei quem ele é – Logan disse apontando para o homem deitado no chão – No começo eu não o reconheci, embora ele fosse familiar para mim. Ele é um dos homens de Daroch, a quem Lachan enviou para as terras de Lamont na chegada. Ele disse que estava pagando uma dívida, deixando vários homens por alguns dias. Imagino que este retornou ontem, porque durante todo esse tempo não o vi novamente. — Se foi Daroch, ele pagará, mas isso pode esperar e sua ferida não. Portanto, não seja teimoso e deixe Elisa vê-lo – Grant disse a sério. Ele

conhecia Logan o suficiente para saber que quando algo entrava em sua cabeça era inútil discutir com ele. Mesmo quando sua saúde estava em risco. — Não alcançarei Daroch se perder mais tempo — Logan continuou se levantando com a intenção de sair. Edine ficou na frente impedindo-o de se mover. — Você pode fazê-lo pagar pelo que ele fez em outro momento, mas agora precisa que seja feito um curativo na ferida, por favor. Ouça Grant e Elisa. Por favor… Logan sabia que não podia caçar Daroch. Ao se levantar, a tontura causada pela perda de sangue se tornou mais do que evidente. No entanto, não foi isso que o fez desistir de seu esforço, mas o olhar desesperado de Edine e aquele “por favor” de seus lábios que cravaram em sua consciência. A sensação quente que se espalhou pelo peito ao verificar que Edine estava realmente preocupada com ele, o fez desistir. Ela se importava com ele. E isso não deveria mudar nada, mas na verdade mudou. — Está bem – Logan disse sentando-se e deixando Elisa puxar a camisa para cortá-la e começar e fazer curativo em seu ferimento. Edine não foi embora. Ajudou Elisa a cada momento e pegou a mão de Logan enquanto Elisa queimava a ferida que não parava de sangrar. Logan sabia que ela nem tinha notado esse gesto, mas ele percebeu, e, apesar de doer como milhares de demônios, a única coisa que ele sentiu no final foi o

toque de dedos macios emaranhados nos dele, sentindo-se acariciado pela outra mão de Edine que, tentando confortá-lo, deixou os dedos deslizarem pelo antebraço dele, enchendo-o de paz e um desejo que ele não sentia há muito tempo. Odiou o momento em que ela, relutante, os deixou, acompanhando Elisa. E ele sabia que não tinha sido cauteloso em seus sentimentos quando, depois que eles saíram, Grant olhou para ele com um grande sorriso e uma sobrancelha erguida. Aquilo ia ser mais difícil do que pensava. *** Edine saiu com Elisa e quando entrou o corredor começou a tremer. — Está bem? – Elisa perguntou, levantando-se e fazendo Edine parar também. — Tudo... – Edine não pôde continuar fingindo quando viu a expressão de Elisa. A curandeira do clã olhou para ela com uma expressão que deixava claro que sabia perfeitamente o que estava acontecendo. Apesar de jovem, Elisa MacLaren era uma mulher sábia, observadora, forte e intuitiva. Edine gostou dela desde o primeiro momento em que a viu. — Eu não posso mentir para você, posso? — perguntou, sabendo o óbvio. A recusa de Elisa e seu sorriso deixaram claro. — Estou tremendo. Passei um medo terrível quando vi...

— Eu sei – Elisa disse olhando nos olhos dela. Neles havia compreensão e dor. Aquela sensação profunda nos olhos surpreendeu Edine e a fez pensar no que a jovem havia passado, para que a emoção afogasse suas pupilas. Edine tremeu novamente. Estava tão assustada que não queria nem lembrar. Naquela manhã, ao amanhecer, ela havia chegado ao quarto de Logan com a intenção de conversar com ele antes que todo o castelo estivesse cheio de atividades e era impossível dizer o que queria sem ser incomodado por ninguém. Depois do que aconteceu na noite anterior e como se despediram, não conseguiu adormecer. A certeza e magnitude de seus sentimentos a corroíam por dentro, porque ela nunca deixou de amar Logan. Havia aceitado que nunca ficariam juntos, havia aceitado que ele a odiava e havia aceitado que ele vivesse sua vida longe dela, mas isso foi antes de chegar a este castelo e vê-lo novamente, antes de saber que tudo o que tinha aceitado eram uma série de mentiras e ela só tinha sido letárgica, vivendo uma meia-vida até vê-lo e senti-lo. E então ela acordou de novo, sentindo-se mais viva do que em muito tempo. Apesar disso, sabia que não poderiam ficar juntos. Chegar a essa conclusão, durante a longa noite em que lutara contra seus sentimentos e contra seu senso comum, a estava despedaçando. Quatro anos se passaram e muitas coisas mudaram nesse tempo. Eles não eram os mesmos que juraram

amor eterno um ao outro, mesmo que sentissem que o juramento ainda estava vivo dentro deles como no dia em que foi pronunciado. Mas depois de ambos sofrerem no caminho, depois de recomporem suas vidas que sentido tinha voltar atrás? Não podiam. Amava Logan e sabia que Logan ainda sentia desejo por ela. Não era tão iludida a ponto de pensar que também era amor. O Logan que estava apaixonado por ela morreu no dia em que o abandonou. Este Logan não era o homem que ela lembrava, e apesar disso, mesmo sabendo o que pensava, o homem por quem se apaixonou tinha estado visível para ela em momentos, que estimaria quando se fosse dali. Porque Edine não se enganava pensando que, apesar dessa fraqueza, ele a perdoaria e voltaria a confiar nela. Sentiu isso em cada uma de suas carícias. Eram reais, mas tinham um gosto de adeus. Eram as carícias de um amante que queria, mas sabia que isso não teria um final feliz. Sabia que Logan era o homem mais forte que conhecia e sabia que seria feliz. Ele já havia superado o que aconteceu entre eles. Contar o que realmente aconteceu, contar sobre seu inferno, não contribuiria com nada para o presente, apenas dor, uma dor que os dois não precisavam suportar. Ela carregaria sozinha. Logan havia abalado seu mundo bem organizado, suas medições e reações estudadas, como se estivesse mexendo em um ninho de vespas, e ela reagiu. Agora era sua vez de sufocar esses sentimentos e mantê-los para ela. Seriam preciosos, quando se lembrasse de cada segundo, quando a solidão ou

a tristeza viessem em sua busca. Isso levaria dali. Queria ficar em paz com Logan, talvez recuperar sua amizade. Queria poder se despedir dele sem ressentimentos. Não queria que o passado ficasse inacabado por mais tempo entre ambos Era pedir muito? — Estarei bem – Edine disse com um sorriso vendo a preocupação nos olhos de Elisa pelo tempo que ela passou sem dizer nada, perdida em seus pensamentos. — Se você precisa falar, sou muito boa em ouvir – Elisa ofereceu piscando para ela. Edine sorriu mais abertamente. Definitivamente gostava de Elisa MacLaren.

CAPÍTULO XIX

Os dois dias seguintes foram uma verdadeira provação para Edine. Apesar da condição de Logan, ele partiu com Grant e um pequeno grupo de homens, incluindo Duncan McPherson e Alec Campbell, para alcançar Daroch, acertar as contas e devolver o corpo sem vida do guerreiro que havia tentado matar Logan. Embora McGregor não pudesse culpar Daroch diretamente pela tentativa de assassinato, o fato daquele homem ser um membro de seu clã colocou Lachan em uma posição comprometedora. Daroch era responsável e ele sabia disso, mas sem provas, ele poderia argumentar que o guerreiro sob seu comando agia sem o seu consentimento. E por mais que ninguém pudesse acreditar em tal mentira, essa dúvida era suficiente para que Logan não pudesse esfolá-lo vivo. Então, quando o alcançaram, devolveram seu corpo e McGregor o desafiou. Era o que Logan exigira. Apesar do braço esquerdo ferido, Logan não teve piedade e Daroch acabou com a cabeça na lama, várias costelas quebradas, um nariz quebrado e uma espada no pescoço. Deixou bem claro que se algum dia alguém do seu clã voltasse a atentar contra sua vida, o mataria. O assentimento ante suas palavras dos homens que o acompanhavam, de todos chefes de clãs e os melhores Highlanders que existiam, faz com que Daroch aceitasse que, se

alguma vez ousasse sequer respirar na mesma direção que McGregor, seria um homem morto. Quando voltaram ao castelo e Edine viu Logan, ela conseguiu respirar normalmente novamente. Ninguém poderia suspeitar que estivesse ferido se não fosse pelos sinais externos que evidenciavam. Um lábio rachado e uma postura mais rígida do que o normal. Seus olhos ainda eram aqueles poços insondáveis que atraíam todos igualmente. Edine queria falar com ele mais tarde. Não conseguiu fazê-lo quando foi ao seu quarto e se encontrou com a cena que esteve presente em seus pesadelos as últimas duas noites, salvo que nesses sonhos era o corpo de Logan que via jogado no chão sem vida. Com esse pensamento saiu do salão e se dirigiu ao pequeno salão que as damas haviam condicionado para bordar e conversar tranquilamente quando Lesi a interceptou. Sabia que sua irmã queria falar com ela. Ela tentara várias vezes desde a sua chegada e até aquele momento Edine a esquivara. No entanto, naquele momento, seria muito difícil evitá-la. — Edine, por favor, podemos conversar? Não pense que eu não percebi que toda vez que me aproximo, você sai. — E porque seria isso, Lesi? Edine verificou como o rubor cobria as bochechas de sua irmã.

Parecia que pelo menos teve a decência de corar por tudo que havia feito. — Está certo e é por isso que preciso falar com você. Não... Não vou pedir nada depois disso. Edine ficou tentada a recusar, mas depois de dar uma olhada e ver que a sala estava vazia, ela assentiu e entrou, com Lesi seguindo de perto atrás dela. Sabia que as outras damas tinham saído para dar um passeio, entre elas Isobel com Helen Cameron; e Thorne ia seguindo-as de perto. Edine se desculpou com uma forte dor de cabeça. Isobel a havia olhado interrogativamente, mas depois de dois dias sem dormir, e dos quais sua prima havia sido testemunha, Isobel pareceu aceitar sua desculpa. A única realidade é que Edine queria estar lá caso Logan voltasse. Precisava saber que estava bem. — Pode falar — disse sem se sentar. Queria que aquilo fosse breve. Edine viu sua irmã nervosa pela primeira vez. Desviava o olhar e torcia as mãos uma na outra. — Eu queria te pedir perdão — Lesi disse olhando para ela com olhos suplicantes. Edine viu dor neles, e ainda assim não se incomodou com isso. Essas três palavras não podiam mudar o passado. Ela virou as costas e caminhou pela sala antes de encarar a irmã novamente. — Aprecio essas palavras, mas não é tão fácil. Você não pode esperar

que eu te perdoe. Não depois do que fez. Edine viu o rosto sofrido de Lesi. — Eu sei, mas não sabia que o pai faria o que ele fez – disse, defendendo-se com fervor. Edine se aproximou com raiva queimando em seus lábios. — E como você achou que ela reagiria sabendo que a filha estava grávida de um homem sem estar casada? O que você achou que aconteceria, Lesi? – lhe perguntou com fúria. O arrependimento inundou suas feições antes de falar. — Não sabia que ele era esse tipo de homem, agora eu sei. E também sei que você me defendeu dele a vida toda. Agora eu entendo. — Tarde demais, Lesi — Edine disse segurando um soluço. Lesi tentou se aproximar com um apelo nos olhos. — Não sabia que te daria aquela surra. Eu juro. Não sabia que perderia o bebê. — E talvez não o tivesse perdido se depois de ter me batido até ficar perder os sentidos não tivesse me colocado em uma carroça e me mandado, em pleno inverno e sangrando durante dias, a casa da tia Nerys! Perdi o bebê no caminho, entre buracos e dores desumanas, porque ele deu a ordem de não parar embora sua filha estivesse agonizando. E acredite, que essa dor não era nada comparada com o fato de saber que tinha perdido o meu filho. Quando

cheguei às terras de MacLeod, todos pensaram que era um milagre que ainda estivesse viva. Tia Nerys, quando viu minha condição e exigiu que a curandeira me examinasse, disse-lhe para chamar o para o padre Len para me dar extrema unção. A extrema unção, Lesi! E acredite em mim, que naquele instante tudo que eu queria era morrer, me afastar de toda aquela dor e morrer. E você sabe a única coisa que me fez lutar? Você sabe? – Edine perguntou, incapaz de conter a fúria que fervia dentro dela. – Pensar que Logan viria atrás de mim. Que o amor da minha vida, o pai do meu filho, viria atrás de mim, mas isso nunca aconteceu. Por que isso não aconteceu, Lesi? – Edine perguntou olhando para a irmã, que chorava profusamente. – Diga! – exclamou, fazendo com que Lesi desse um pulo pela raiva que continha essa única palavra. — Porque disse a ele que tinha decidido se casar com outro e lhe entreguei um pergaminho no qual você explicava tudo e lhe dizia que era pelo bem de seu clã. Edine assentiu, mordendo o lábio para tentar se acalmar. — E não contente em destruir meu mundo inteiro, tinha que fazê-lo saber. Como se não bastasse, você teve que se vangloriar de suas ações. Queria que eu soubesse que Logan me odiava, que nunca mais o veria. Por quê? Por que, Lesi? Eu te amava. Você era minha irmãzinha. Eu sempre tentei te proteger – Edine disse desesperadamente.

Lesi não parou de chorar desde que pediu perdão. — Eu estava com inveja. Você sempre era a primeira. Para o pai, para as nossas amigas. Se mamãe já olhou para alguém, era você. E então você conheceu Logan e ele era o homem mais impressionante que eu já tinha visto e, claro, ele preferiu você. O ciúme me corroeu e quando você me disse secretamente que estava grávida, eu sabia. Sabia que essa era minha chance. De que papai soubesse que não era a filha perfeita que ele imaginava. Pensei que te mandaria embora, só isso... Eu não pensei... Edine tremia sem poder se controlar, queria que Lesi fosse embora, não queria continuar com essa conversa. Doía muito. — Não pensou! Pelo amor de Deus, Lesi! Maldição! —Edine disse cruzando os braços em volta da cintura, como se pudesse se proteger dessa maneira de todas as memórias, de toda a dor que em seus dias ela mantinha nas profundezas de seu ser para sobreviver, e naquele momento jorrava por todos os poros da sua pele. Edine reprimiu um soluço e parou de respirar quando através da porta entreaberta, Logan apareceu no Umbral. Sua expressão naquele momento lhe dizia tudo o que tinha que saber. Ele tinha ouvido tudo. Edine fechou os olhos por alguns segundos, esperando que ao abri-los tudo seria um pesadelo. Mas quando ela olhou para o olhar dele carregado de dor agonizante, raiva e frustração, a frágil estabilidade que a segurava naquele momento foi

quebrada. Um gemido saiu de seus lábios antes que Logan a alcançasse e a acolhesse em seus braços, segurando-a firmemente contra ele. E então tudo o que havia sido contido durante aqueles quatro anos se rebelou, assumiu o controle e deixou Edine à sua mercê. Sem poder evitar, os soluços agora incontroláveis saíram de sua garganta como se quisessem arrancar sua pele e as lágrimas em torrentes assolaram seu rosto sem piedade. Estava sem fôlego, como se a própria vida estivesse fugindo, e só conseguiu se agarrar a Logan com todas as suas forças. — Nunca machuquei uma mulher, isso vai contra todas as minhas convicções, mas juro que, se você não sair daqui, quebrarei todos os meus princípios e matarei você. Vá embora! – Logan gritou com Lesi quando ela não saiu rápido depois de suas palavras. Os olhos de Lesi se arregalaram de horror antes que ela se virasse e saísse correndo. Logan segurou Edine contra seu corpo enquanto aqueles soluços desesperados quebravam sua alma. Acabava de chegar depois de dois dias intermináveis, cansado e dolorido, quando a viu no salão, o olhando. Viu o alívio em seus olhos ao vêlo, como se lhe houvesse preocupado o que lhe pudesse passar em sua ausência, e então a pergunta que tinha estado invadindo sua mente nas últimas horas voltou com força e insistência. Por que ela foi ao quarto dele no

dia em que tentaram assassiná-lo? Realmente se importava ou era outro de seus enganos? Com essa pergunta nos lábios, ele a seguiu quando a viu desaparecer. Perdeu-a durante alguns segundos, mas quando passou diante do pequeno salão usado pelas damas durante aqueles dias e escutou sua voz e a de Lesi, parou abruptamente. O tom de Edine era estranho, como se toda a sua contenção estivesse quebrando. Podia sentir o esforço que estava fazendo para impedir que sua voz tremesse. Isso o fez se aproximar da porta e prestar atenção na conversa. O que quer que estivesse perturbando Edine dessa maneira o intrigou. E então ouviu aquelas palavras. Palavras que o fizeram cerrar os punhos e fechar os olhos com força, e o forçaram a se encostar-se à parede de pedra para que suas pernas pudessem continuar a sustentá-lo. Edine esteve grávida? Dele? O significado disso foi demolidor. Ouvir como o havia perdido por culpa da surra que seu pai lhe infligiu, e o tratamento desumano a que ela foi exposta por seu próprio progenitor até quase morrer, a dor em sua voz, isso o destruiu como se tivesse, pregado uma faca no coração e logo a removeram para vê-lo agonizar sem piedade. Uma fúria como nunca conheceu antes o atravessou e se apoderou dele. Tiraram seu filho, Edine, uma vida juntos, e tudo, por quê? As palavras de Lesi tentando explicar alimentaram sua raiva e o grito desesperado de Edine o fez reagir. Abriu totalmente a porta e entrou. Quando viu o tormento e a dor nos olhos de Edine, afogando-se neles, queria matar todos aqueles que a haviam feito

sofrer e prometeu que não descansaria até que os fizesse pagar por isso. Ele diminuiu a distância entre eles e a abraçou, sentindo-a tremer. Ouvi-la soluçar daquela maneira rasgava a alma. E então ele a notou, Lesi, que estava olhando para eles com os olhos arregalados e uma expressão que Logan nem se deu ao trabalho de analisar. Naquele momento Edine precisava dele e não ia falhar. Nunca mais. Ele disse a Lesi para ir embora. E se fosse inteligente, deixaria aquelas terras e ficaria longe antes que Logan questionasse seus princípios e não se importasse de ter seu sangue em suas mãos. Edine chorou com toda sua força pelo que pareceu horas. Durante esse tempo, Logan, a única coisa que ele sabia, além dos dois, era que alguém fechou a porta da sala, dando a eles a privacidade de que precisavam.

CAPÍTULO XX

Logan separou Edine um pouco quando o choro se transformou em um fraco gemido. Precisava ver que estava tudo bem. Os olhos de Edine eram dois poços de dor, incapazes de continuar escondendo alguma coisa. Naquele momento, estavam carregados de incerteza, dúvida, medo. Por quê? — Por que não me disse? – Logan perguntou suavemente, roçando a bochecha de Edine na tentativa de apagar todas as lágrimas que haviam deixado um caminho visível do rosto ao pescoço. Edine fechou os olhos com força antes de abri-los novamente e encarar Logan. Ela não queria que ele soubesse daquilo. Era passado, um que não tinha solução. Voltar para ele só lhe causava dor e angústia pelo que tinha perdido e não podia recuperar. Conhecer o passado só traria dor a Logan, e ela não queria ser a pessoa a infligir tanta emoção nele. — Eu não sabia que estava grávida até você já estar na corte. Estava muito

assustada,

mas

também

iludida.

Esperei

ansiosamente,

desesperadamente, o dia do seu retorno para poder lhe dizer. Eu estava confiante de que as notícias fariam você feliz. Você sempre disse que gostava de crianças e vi você com elas. Então eu só tinha que esperar por você. E

então eu cometi um erro. Mary, que ajudava minha mãe e nós, percebeu que não usara os panos durante o sangramento mensal e começou a suspeitar. Me fez perguntas e, quando soube que desconfiava, contei para Lesi para que me ajudasse. No dia seguinte meu pai sabia e o resto você já ouviu. Logan apertou a mandíbula reflexivamente. Sim, ele ouvira o resto e cuidaria para que o maldito bastardo pagasse pelo que havia feito. — Não consigo nem imaginar o que você teve que passar e só posso me culpar por não estar ao seu lado. Me perdoa por favor. Logan teve que lutar para não perder o controle. Só de imaginar o que teve que passar o deixou doente. Estava com sede de vingança e se sentiu responsável. Eu deveria tê-los protegido, deveria saber. Mas teria tempo para se torturar, agora a coisa mais importante era Edine. Edine ficou séria um instante. Viu a dor nos olhos de Logan ao dizer aquelas palavras, e a frieza delas ao direcioná-las para si mesmo. — Você não sabia – disse em um tom duro e exigente. Queria que Logan entendesse que não teve culpa. — Eu nunca deveria ter deixado você sozinha. — Você não teve escolha – disse Edine tentando que suas palavras entrassem em Logan. – O rei exigiu sua presença na corte. Não podia desobedecer a essa ordem e não sabíamos o que ia acontecer. Você deveria voltar em alguns meses e nos casaríamos. Estávamos prometidos em segredo.

Não havia nada que nos fizesse supor que tudo se complicaria. — Nosso filho... – Logan disse, olhando para ela. Edine viu o constrangimento, a agonia suplicante em suas palavras. — Eu não fui capaz de protegê-lo – Edine disse, como se de repente estivesse muito cansada. Sentiu sua voz distante, como se não fosse a sua. – Se alguém tem que se sentir culpada, sou eu. Essas palavras de repente se tornaram distantes. Ouviu Logan pronunciar seu nome repetidamente. Ela ouviu a extrema preocupação em sua voz, e sentiu como a pegava quase em seus braços para acabar sentada em uma das cadeiras da sala, com ele ao seu lado, tocando sua bochecha, com o rosto quebrado. Percebeu que tinha estado a ponto de perder a consciência. — Estou bem. Já passou – Edine disse balançando a cabeça um pouco, como se pudesse limpar a mente. Agora que ele havia falado com ela e que sabia que estava bem, Logan franziu a testa e sua voz era dura e forte. — Não, você não está. Maldição, Edine, você praticamente desmaiou. Não vai sair da cama novamente até eu mandar. Edine esboçou um leve sorriso. — Você sempre foi mandão – ela respondeu, e a lembrança do que estavam falando antes que a tontura a exaurisse fez seu rosto ficar tenso. Logan soltou uma das mãos e pegou o queixo de Edine para olhá-lo. Ele não

permitiria que ela se esquivasse de seus olhos, muito menos antes de lhe dizer o que pensava. — Nunca diga novamente que você não poderia protegê-lo. Você me ouviu Edine? Diga-me, diga que você entende, porque eu não vou permitir que você faça isso consigo mesma, quando a única que o protegeu de tudo e de todos foi você. Você fez tudo por ele e quase morreu. – A voz de Logan tremeu quando ele disse as últimas palavras. Edine olhou para ele com espanto. Logan nunca perdeu o controle ou a compostura. – Se eu tivesse perdido você também... A intensidade nas palavras de Logan, juntamente com seu olhar, percorreu Edine até que ela ficou sem fôlego. A vergonha de ter desejado sua própria morte a atingiu como nunca antes. — Houve momentos em que desejei morrer. Edine olhou para ele, derrotada. Disse-o, confessara a sua fraqueza. — Sentia tanta dor que, quando entendi o que o padre Len estava fazendo ao lado da minha cama, agradeci e rezei para que fosse rápido. E então pensei em você, e a angústia tomou conta dos pequenos momentos de consciência. Eu não queria te deixar. Edine viu o brilho nos olhos de Logan. — Quando percebi que sobreviveria, todas as noites adormecia implorando que sussurrasse meu nome ao vento. E às vezes eu pensava ter

ouvido meu nome nele, até perceber que isso nunca aconteceria. Perdoe-me, Logan, mas o odiei por isso. E então recebi notícias de Lesi, algumas linhas me dizendo o que ela havia feito, e tudo estava claro para mim. Isso não fez doer menos, mas não podia mais te odiar e isso me rasgou, porque não tinha mais uma desculpa para esquecer você. Não poderia mais te culpar. Estava com raiva de você, com todo mundo, até Brian me fazer ver que eu estava errada. Logan endureceu o olhar. Brian era o homem com quem ela esteve casada. O conhecimento de que aquele homem foi quem a confortou, protegeu e a tocou, fez com que cerrasse os dentes, levado pela cegueira do ciúme. — Ele a fez feliz? – perguntou com toda a calma que encontrou apesar de sua fúria interna. Parte dela teve que desprender-se no tom de sua voz, porque Edine lhe olhou com o semblante franzido. — Ele era um homem bom e me deu muito mais do que eu pude dar a ele. Logan sentou-se na cadeira em frente a ela, incapaz de soltar suas mãos. — Quem conhece você sabe que é impossível. Edine sorriu com relutância. Logan viu os sulcos escuros sob seus olhos, agora que estavam menos inchados após o choro. A palidez e o

cansaço pareciam tê-la esgotado. Naquele momento, ele queria levá-la para o quarto e forçá-la a descansar em seus braços até que ele estivesse completamente convencido de que ela estava bem. — Eu conheci Brian quando estava me recuperando e comecei a fazer pequenos passeios. Ele sabia de mim por Nerys e seu irmão, Thane, e conhecia minha história. Ele pediu para me ver. Não entendi o porquê, acho que foi curiosidade. Ele estava muito doente e não conseguia sair da cama. Era um homem com preocupações e muito inteligente. Acho que se aborrecia até a saciedade. Em certo sentido me lembrava de você. A expressão de Logan ao ouvi-la denotou que o fato o surpreendeu. — No começo foi um pouco estranho, mas depois dessa primeira conversa ele me pediu para visitá-lo. Em pouco tempo, as visitas se tornaram uma ocorrência diária. Sentava-me ao lado de sua cama e conversamos sobre tudo. Ele era um homem muito mais velho que eu e sabia como me dar bons conselhos. Eu o visitava só por breves momentos. Se cansava com facilidade e lhe faltava o ar. Quando recebi notícias de meu pai ordenando que eu voltasse, meu mundo desmoronou de novo. Eu não queria, não podia voltar. Eu até pensei em fugir. Eu não queria colocar minha tia Nerys na posição de ter que decidir, e então Brian me pediu em casamento. No começo eu disse que não, recusei porque não o amava. Ele era um bom amigo, mas eu disse que não podia oferecer nada a ele. Nesse sentido, estava vazia e ainda te

amava. Ele me disse que também não podia se oferecer para ser um marido no sentido pleno da palavra, devido à sua doença, mas que se concordasse, me daria a proteção de seu sobrenome e não precisaria voltar para meu pai. O clã MacLeod seria minha nova família. Logan ainda estava sentindo o chicote dos ciúmes em suas entranhas, mas depois de ouvir Edine, uma parte dele apreciou o fato de Brian MacLeod tê-la protegido quando ele não podia. — Por que você não veio atrás de mim? Por que você acreditou nas palavras de Lesi? – Edine perguntou, e viu que aquelas perguntas haviam afetado Logan. Viu-o se encolher um pouco, como se suas palavras o tivessem machucado. Logan engoliu em seco antes de responder. Essa resposta, depois do que ele sabia agora, não era fácil. Ele não sabia como poderia ter sido tão cauteloso. Ele se vangloriava de sua inteligência e seu poder de observação. E nesse caso ele tinha sido completamente cego. — Vi a letra naquele pergaminho e pensei que era sua. Era a mesma. Não hesitei e, depois de ouvir Lesi, não havia mais espaço para mais nada. Sabia coisas que era impossível soubesse se não era para você e isso me fez pensar que era totalmente confiável. Ela era sua irmã e sabia o quanto você a amava e o quanto eram unidas. Eu nunca pensei que era uma farsa. Não me disse onde você tinha ido. Mas você está errada sobre uma coisa. Eu procurei

por você e, quando descobri onde você estava, o rei me convocou novamente para a corte. Tive que esperar alguns meses para ter certeza de minhas informações e, quando queria ir vê-la, você já estava casada. Então entendi que, se houvesse algum tipo de esperança, com o seu casamento ficaria enterrado. Aquele casamento confirmou tudo o que Lesi tinha me dito. Como permitiu que todo esse tempo nutrisse esse ressentimento em relação a você? E todos esses dias, por que você e deixou ficar cego para tudo isso? Eu tinha o direito de saber – Logan murmurou. – Também era meu filho, você era a mulher que amava, daria qualquer coisa para saber a verdade. Por quê? — Estava vazia, Logan. Durante muito tempo fiquei entorpecida e também recebi informações sobre você. Eu mantive alguns amigos que durante esses anos satisfizeram minha curiosidade. Eu sabia que você estava na corte com frequência e que havia muitas damas exigindo sua atenção. Me disseram que você parecia feliz. Então, depois de tudo o que aconteceu, que direito eu tinha para lhe causar dor desnecessária? Logan endureceu a mandíbula e um olhar que Edine não conseguiu decifrar se instalou em seu rosto. Só sabia que havia prendido a respiração antes disso. Então Logan soltou as mãos e se levantou, colocando distância entre eles como se precisasse desse espaço para poder expressar sua opinião. — Você tinha todo o direito do mundo. Você não entende, realmente? Essa dor não era só sua, era de nós dois. Eu te amei, maldição, mais do que

minha própria vida, e ainda amo. Edine olhou para cima como se todo o ar tivesse saído do peito. Ele disse que ainda a amava? Sentiu os olhos umedecerem. Ela tinha ouvido mal, tinha certeza, mas seu coração martelava no peito ao pensar que aquilo fosse verdade. — O que você disse? – perguntou hesitante enquanto se levantava. Logan caminhou até ela e emoldurou seu rosto com as duas mãos olhando-a nos olhos. — Eu disse que te amo. Eu nunca parei de amar. A intensidade de suas palavras ecoou dentro de Edine. Uma lágrima solitária caiu em sua bochecha e Logan a capturou com o dedo, removendo o rastro. Edine sentiu a pele queimar onde havia traçado o caminho daquela lágrima. — Não há mais ninguém além de você. Nunca houve e nunca haverá. Sou todo seu, Edine MacLeod, até meu último suspiro. Em corpo e alma. Edine sorriu quando essas palavras deslizaram dentro dela. Pensou que seu coração ia explodir. — Eu também te amo, Logan McGregor, e nunca deixei de ser sua. Um grunhido saiu dos lábios de Logan antes de capturar sua boca e devorar cada centímetro dela com uma ânsia desmedida, pelos anos perdidos, pela dor vivida, e por um amor que nunca entendeu outra coisa senão a força

do que eles sentiam um pelo outro.

CAPÍTULO XXI

— Desculpem, senhoras, mas não podem passar. Houve um problema e esta sala não estará disponível por um tempo. Se quiserem, posso pedir que levem o que precisam para o salão principal até poderem voltarem a ela. Os rostos de todas as damas variavam de descrença a aceitação. Grant teve que improvisar. Quando entrou nas cozinhas e se deparou com uma chorosa Lesi McEwen, foi até a sala onde as damas costumavam se reunir para bordar e, ao olhar, encontrou Edine MacLeod chorando como se estivesse transbordando os mares e Logan a abraçando. O barulho vindo de um dos lados o fez reagir. Fechou a porta, dando a eles a privacidade de que precisavam, e ficou de guarda ali. Não queria que ninguém perturbasse essa conversa ou o que estivessem fazendo. Era uma situação comprometedora e ele desejava que Logan pudesse esclarecer o que precisava com Edine sem a preocupação de ser interrompido. Ele viu todas as mulheres aceitarem suas desculpas, exceto uma. Isobel olhou para ele com uma sobrancelha levantada e um rosto circunstancial. Ele não sabia por que achava que poderia ser diferente dessa vez. Aquela mulher o deixava louco. Quando todos se retiraram para o salão, ele viu Isobel se desculpar

com elas e refazer seus passos. O sorriso que se instalou em seus lábios foi suficiente para Isobel olhá-lo desafiadoramente, batendo o pé no chão com impaciência. — Você acabou de mentir, Grant Kendric MacLaren, e não vejo você se arrependendo disso. — Nem um pouco – Grant disse com um brilho malicioso nos olhos que fez Isobel prender a respiração. — Você deveria ter vergonha, mas não vai me distrair com isso – disse Isobel apontando seus olhos com o dedo – então me diga o que está acontecendo. Não consigo encontrar Edine e se o que acontece nesta sala tem a ver com ela e você não me disser, terá que suportar as consequências. Grant assentiu como se estivesse considerando seriamente sua ameaça. — Você vai me torturar até eu implorar? O que será? O chicote ou um monte de brasas? – ele perguntou com uma cara preocupada. Isobel estava com raiva, e ainda mais depois do tom irônico de Grant, mas não pôde deixar de rir, e então viu a mudança na expressão de MacLaren. Ela viu o desejo em seus olhos e a intensidade em seu olhar, como se ela fosse a coisa mais preciosa deste mundo e se sentiu perdida neles. Não podia mais negar a realidade. Estava apaixonada por Grant MacLaren. — Faltam apenas alguns dias para que esta reunião termine. De fato,

já conheço várias uniões que serão formalizadas em breve. Alguns partirão nas próximas horas e não achei que isso acontecesse comigo, mas não posso deixar você ir, mesmo sabendo que não sou o que você deseja, sem pedir algo. Deus, eu não sou bom nisso – exclamou Grant totalmente sério. — Sim – disse Isobel com toda a coragem de que foi capaz. — Sim, o que? – Grant perguntou, imaginando que Isobel não tinha ideia de onde suas palavras estavam indo. — Que você não é nada bom – disse com um grande sorriso. Grant se mexeu inquieto, embora um sorriso travesso se instalasse em seus lábios quando percebeu que Isobel estava se divertindo às suas custas. — Por que não diz, Grant? Eu sei que é difícil, mas você não será capaz de viver consigo mesmo se não reconhecer de uma só vez. Diga “Isobel, você ganhou a aposta e eu caí de joelhos diante de você, porque eu te amo tanto quanto você me ama”. Isobel não sabia onde tinha coragem para dizer isso. E se ela estivesse errada, nunca seria capaz de deixar as terras MacLeod, a vergonha a mataria. Mas a rebeldia, sua língua incapaz de controlar o que ela deveria dizer, e que tantas vezes havia relatado a raiva de todos aqueles que a amavam, a traiu novamente. O rosto surpreso de Grant valeu a pena, embora mais tarde quisesse fugir para o lugar mais remoto e enterrar a cabeça em um buraco. Era a primeira vez que via aquele homem ficar sem palavras.

— Você não pode fazer nada convencional, pode? – Grant perguntou quando conseguiu encontrar a voz depois do que Isobel disse. Isobel encolheu os ombros. O rosto dela expressava tensão e nervosismo, e Grant sabia que amaria essa mulher até o fim de seus dias e que Deus o ajudasse. — Isobel, você venceu a aposta e eu caí de joelhos diante de você, porque eu te amo tanto quanto você me ama e é por isso que só posso lhe perguntar, quer se casar comigo? Um sorriso como o sol de verão iluminou aquele lugar quando Isobel curvou seus lábios antes de selar seus destinos com um sim que Grant rubricou com um beijo lento que deixou os dois sem fôlego. ***

Edine olhou para sua prima e não podia saber qual das duas estava mais assombrada. — O que você disse? — perguntou novamente quando viu Isobel com um sorriso de orelha a orelha. — Grant me pediu em casamento e eu disse que sim. Edine olhou para ela como se estivesse esperando uma segunda cabeça sair. — E onde está aquele caipira ignorante, presunçoso e orgulhoso…? — Está bem, está bem, eu entendi – Isobel disse sem impedir que a

felicidade se refletisse em seu rosto. Era verdade que tinha sido difícil para aceitá-lo, mas agora que havia feito isso, não conseguia parar de sorrir. – No entanto, todo mundo tem o direito de estar errado, o que não é o meu caso, porque Grant é tudo isso, mas é meu. Edine não pôde deixar de sorrir para a onda de posse que permeava as palavras de Isobel. —Você tem certeza? – perguntou mais séria. — Tanto que dói pensar que eu poderia deixá-lo escapar. Edine se aproximou e a abraçou. Ela gostava de Grant, sabia que ele era um bom homem e que faria todo o possível para fazer Isobel feliz. Embora tivesse sido difícil para eles aceitarem, Edine viu que estavam atraídos a partir do momento em que puseram os olhos um no outro. — E agora que esclarecemos minha situação, o que você estava fazendo trancada na salinha com Logan McGregor? – Isobel perguntou quando estreitou os olhos para ela. Edine olhou para a prima e tomou uma decisão. — Eu acho que você deveria se sentar. Há algo que eu quero lhe contar. Isobel ficou imediatamente séria. O tom de voz de Edine a alertou. Isobel sentou-se ao lado dela e ouviu tudo o que sua prima tinha a dizer. Ouviu-a contar sua história com Logan e como chegou às terras

MacLeod, porque e em que circunstâncias. A traição de Lesi, e tudo o que veio depois até chegar ao que aconteceu naquela mesma tarde. Edine observou Isobel passar por toda uma paleta de emoções. Se havia uma coisa que sua prima tinha, era que ela não sabia como reprimir suas emoções nem sabia como escondê-las. Viu-a sofrer, ficar com raiva e se emocionar. Agora que passaram mais de cinco minutos desde que ela terminou de falar, Isobel ficou em silêncio e isso deixou-a nervosa. — Eu vou matar aquela bruxa! — Isobel! – Edine exclamou depois de ouvir o insulto e a raiva por trás deles. — Mas é verdade. Se eu soubesse disso quando a vi, teria arrancado a cabeça daquela bruxa bastarda. — Meu Deus, Isobel, felizmente sua mãe não pode ouvi-la. Você é pior do que um grupo de marinheiros no meio de uma bebedeira. Isobel pegou as mãos de Edine antes de olhá-la novamente. Desta vez, sua raiva parecia ter diminuído e uma umidade suspeita pairava em torno de seus olhos. — Está bem? Eu não sabia que tinha passado por esse inferno, mas você sabe que eu a amo muito. Para mim não é minha prima, mas minha irmã, e sempre será. — Eu sei – Edine disse abraçando Isobel novamente enquanto as duas

enxugavam as lágrimas. — E o que você disse para Logan? Edine sorriu quando descobriu a que sua prima estava se referindo. Logan havia dito a que se casariam antes de deixar as terras MacLaren. Que não iria passar outro dia separado dela. Grant já havia falado com o padre que cuidava das almas daquelas terras para que o casamento fosse o mais rápido possível. — Que a paciência também não é a minha principal virtude. As gargalhadas puderam ser ouvidas durante um bom tempo. *** Grant olhou em direção à porta quando Elisa sorriu. — Quando você ia me dizer? — perguntou ao primo quando saiu de trás da mesa onde estava examinando as contas na última hora. — Quando te visse. Eu te disse que vou me casar? Elisa riu da pergunta de seu primo. — Esta tarde, fiquei sabendo por Helen Cameron. Ela torceu o tornozelo no passeio e, ao examiná-lo, me disse que estava muito feliz por sua amiga Isobel MacLeod ter aceitado sua proposta. Foi quando perguntei se o golpe a atingira fora no pé ou na cabeça. Ela não achou isso muito engraçado. Agora foi Grant quem riu alto. Elisa, sua prima, era sua única família

e, mais que sua prima, era como uma irmã. Ela sempre foi mais madura que a idade dela. Nem queria pensar sobre o motivo desse fato. Seu tio era um homem violento e bêbado, e a esposa, a mãe de Elisa, uma mulher que nunca demonstrara afeto ou preocupação com a saúde da filha. Quando o pai de Grant percebeu isso, já era tarde demais para evitar muitas coisas. Então Elisa começou a acompanhar a curandeira do clã, a velha Besy, quando tinha apenas doze anos, para ficar longe de sua casa o maior tempo possível. E ele se repreendia por não ter percebido isso. — Bem, acho que não tenho rancor contra você. É impossível fazer isso quando o conheço. Elisa sorriu com carinho antes de ficar séria. Grant viu a expressão de sua prima e sabia que algo estava acontecendo. — O que há, Elisa? — ele perguntou se aproximando dela e forçandoa a olhá-lo nos olhos. — Recebi notícias da minha mãe. Grant apertou a mandíbula com as palavras de Elisa. — O que quer agora? — Disse que precisa que eu vá vê-la. Que é importante. Grant amaldiçoou baixinho. — E você não vai acreditar, certo? Não irá.

Elisa segurou uma das mãos do primo entre as suas. — Ela é minha mãe, Grant. — Uma mãe que nunca fez nada por você, nem mesmo a protegeu, e que depois a abandonou ao seu destino para sair daqui sem nem olhar para trás. Elisa sabia tudo isso, sabia muito bem e pensou muito nas últimas duas horas. — Você não lhe deve nada Elisa. — Eu sei, mas se eu virar as costas, então eu estou sendo como ela. Isso não é o que eu aprendi com você. Grant olhou para ela com orgulho. Sua prima era uma das mulheres mais fortes, generosas, nobres e amorosas que ele já conhecera. E ele prometeu a si mesmo há muito tempo que cuidaria para que ninguém a machucasse novamente. Seus grandes olhos estavam olhando para ela agora, pedindo compreensão. — Você não vai sozinha, está em ouvindo? Elisa assentiu. A tensão deixou suas feições. — Vários homens irão com você. Ou vão com você ou não sai daqui – Grant continuou quando viu ela ia protestar – mas você terá que esperar até que esta reunião termine. Agora não posso me separar de nenhum dos meus homens.

— Mas precisa de mim agora, Grant. A expressão de seu primo a fez perceber que não iria desistir. Ele era muito teimoso às vezes. — São vários dias até as terras McIntosh. Não vou arriscar sua segurança. Um barulho na porta fez Grant e Elisa olharem. Duncan McPherson estava ali, e Elisa sentiu as bochechas corarem com a presença dele. — Desculpe interromper. Vim lhe dizer que terei que sair depois de amanhã e, sem pretender, ouvi a última parte da sua conversa. Se a senhorita Elisa quiser ir, eu e meus homens poderíamos acompanhá-la até lá. As terras do Clã McIntosh fazem divisa com as terras do meu Clã. Não seria um aborrecimento, uma vez que está no caminho. Elisa olhou para Grant implorando para aceitar a oferta de Duncan McPherson. Quando Grant assentiu, Elisa olhou para Duncan com um grande sorriso.

CAPÍTULO XXII

O casamento foi no dia seguinte. Logan McGregor não permitiu que nada atrapalhasse dessa vez. Ele amava Edine como nunca amou ninguém e o pensamento de poder perdê-la novamente o fez se desesperar com o desejo de tê-la ligada a ele de todas as maneiras possíveis. Então ele próprio arrastou o padre David para as terras da MacLaren e, diante da mulher mais bonita e maravilhosa do mundo, comprometeu-se de corpo e alma a protegê-la e amála até a saciedade. Ele não disse isso, mas era mais do que evidente pela maneira como a olhava, faminto por tocar cada centímetro dela. Edine usou um vestido dourado com uma borda verde, bordado em um dos ombros com pequenas flores em um tom de verde mais claro que o resto. Seu cabelo solto caía ondulado nas costas. Estavam presentes Grant e Isobel, Elisa, Ducan McPherson, Helen Cameron e Alec Campbell e o pequeno Ed Daroch, que estava feliz em saber que iria com eles e que teria um novo lar. Isobel não conseguiu conter as lágrimas durante a cerimônia. Sabia o que sua prima tinha passado e vê-la tão feliz naquele momento a deixou emocionada. Não podia deixar de suspirar com pequenos soluços a tal ponto que num momento da cerimônia, o padre David, Logan e Edine, se viraram para se certificar de que estava bem.

Isobel quase morreu de vergonha. — Vou ficar quieta — disse, com uma mão gesticulando para que continuassem. A risada de Grant só piorou seu embaraço. Depois que o padre David uniu suas mãos e as atou enquanto falava as palavras que os tornariam marido e mulher, os dois receberam parabéns de todos os presentes. Grant havia preparado um jantar especial para todos naquela noite, não apenas para aqueles que testemunharam o enlace. Havia comida, dança e muitas risadas, especialmente quando Logan e Edine se retiraram. Os comentários, alguns em um tom mais alto, fizeram Edine corar. — Está feliz? – Logan perguntou quando já estavam no quarto que Grant havia providenciado naquela noite, maior do que o que tiveram durante a estadia. Edine sorriu amplamente quando Logan a puxou para ele, passando os braços em volta da cintura dela. — Muito, mas... — Edine disse colocando um dedo nos lábios de Logan, que já estavam traçando o caminho para os dela. — Eu sei que você pode me deixar ainda mais feliz. Espero que você trabalhe nisso e se esforce para alcançá-lo pelos próximos... quarenta ou cinquenta anos? Logan deu um sorriso malicioso quando seus olhos emitiram todo o

amor e paixão que sentia naquele momento. — Vou trabalhar duro. Eu prometo. Edine riu sem poder evitar. Desta vez, não parou o avanço de Logan, que apressou seus lábios lentamente, dolorosamente devagar, mordiscando o lábio inferior, fazendo com que Edine gemesse em protesto, exigindo mais. Logan a puxou contra seu corpo, não ficando entre eles um único resquício, até Edine deixá-lo entrar naquela boca que o deixava louco e que se apressou para tomar. Enlaçou sua língua à dela e, como se tivessem todo o tempo do mundo, se perderam em seu gosto, em sua textura, em seu desejo que ascendia cada vez mais até que precisaram se separar para respirar. Edine descansou a cabeça no queixo de Logan enquanto os dois tentavam recuperar o fôlego. — Tinha toda a intenção de ser delicado e ir devagar, mas se continuarmos assim te tomarei aqui mesmo sem nem sequer chegar à cama. Edine sorriu, embora suas bochechas estivessem vermelhas escarlate. Aquele desejo mútuo que os queimava e deixava loucos, aquela necessidade primitiva que tinham de estar nos braços um do outro, pele contra pele, era tão visceral que mal conseguiam controlá-lo. Entendia Logan. — Faz muito tempo desde que eu... Você foi o único homem com quem dormi, mas não sou uma noiva virgem. Você pode pular o delicado e

lento, mas eu apreciaria a cama. Logan soltou uma gargalhada que ressoou no peito de Edine, ecoando sua própria felicidade. — Acho que posso fazer isso – Logan disse antes de colocar seu rosto em suas mãos e olhar para ela com adoração. —Te amo tanto... Edine fechou os olhos e ficou embriagada não apenas com essas palavras, mas também com a intensidade, profundidade e emoção com que foram ditas. Logan a pegou nos braços, diminuiu a distância para a cama atrás deles, que era a peça central naquele quarto, e colocou Edine nos lençóis brancos. Despiram-se entre o riso e a paixão por momentos agonizantes que os guiaram até ficarem completamente nus um ao lado do outro, e o desejo era a única coisa que prevalecia entre eles. Logan deixou a boca de Edine para descer em seu corpo e beijar cada centímetro de sua pele. Estava custando sua vida para manter o controle, mas não queria se apressar, queria enlouquecer Edine de desejo antes de fazê-la dele. Quando chegou ao peito, circulou a aréola rosada do mamilo esquerdo com a língua, fazendo a pele de Edine se arrepiar. Um pequeno gemido de

seus lábios o fez continuar com aquela tortura. Soprou o mamilo já endurecido e quando Edine arqueou as costas pedindo mais, Logan não se incomodou e o colocou na boca, chupando, lambendo até que ele a ouviu soluçar. Relutantemente, o abandonou, dando ao outro a mesma atenção. Edine agarrou os lençóis com os punhos quando, depois que Logan continuou sua tortura descendo ainda mais, ela sentiu a respiração dele no centro de sua feminilidade. Quando notou os seus dedos tocando o botão de carne que culminava em seu prazer e separou seus lábios, pensou que estivesse morrendo. No entanto, foi quando sentiu a língua penetrá-la que soltou um grito que ressoou fortemente entre as paredes daquele quarto. Não acreditava que pudesse suportar tanto prazer e sabia que, se a tortura continuasse, morreria em seus braços, até sentiu como se partia em mil pedaços, incapaz de conter os gritos que emergiram de sua garganta quando aquela agonia de puro prazer tomou conta de todo o seu ser. Logan não conseguia mais se controlar. Ele a queria com tanta intensidade que explodiria se não a fizesse sua agora. Os gritos e gemidos de Edine o levaram ao extremo. — Olhe para mim, Edine – lhe disse quando seu corpo cobria completamente o de sua esposa, se posicionado entre suas coxas. Logan viu os vestígios da libertação de Edine em seus olhos que se focaram nele antes de entrar em seu interior de uma estocada.

Ele teve que apertar a mandíbula e ficar parado por alguns momentos. Edine se moveu instintivamente sob ele e foi isso que o fez perder o pouco controle que lhe restava. Saiu quase totalmente do interior de sua esposa para se introduzir de novo nela. Suas investidas não foram delicadas ou lentas, mas duras e com um ritmo diabólico. Edine envolveu suas pernas em torno de Logan e seguiu seus movimentos para encontrá-lo, enquanto com as mãos ela segurava as costas de Logan com tanta força que sabia que deixariam uma marca. Edine gritou novamente quando o segundo orgasmo da noite a atingiu com mais força e intensidade do que o primeiro. Logan se lançou várias vezes antes de soltar um rosnado selvagem e cair nos braços de Edine. Quando pôde se mover, ele se mudou para o lado de sua esposa, puxando-a para seus braços. Os dois estavam respirando como se não houvesse ar suficiente para acalmar o peito. — Deus Edine, outra noite assim e você será uma viúva antes do tempo. Edine sorriu, descansando os lábios na pele de Logan. Parecia impossível que, depois de saciado, pois haviam acabado alguns minutos antes, pudesse sentir o corpo de Logan tremer novamente ao seu toque. Ela se sentiu poderosa e incapaz de resistir à tentação, seus lábios beijaram a pele do marido novamente até que ela lambeu o mamilo que a estava provocando. O rosnado gutural que saiu da garganta de Logan a fez querer mais, e

ela continuou explorando com seus beijos até ser virada na cama e com Logan em cima de seu corpo. — Maldição, Edine, você vai me matar. — Você não pode morrer, tem que recuperar o tempo perdido — Edine respondeu com uma carranca e uma voz firme como se fosse uma ordem. O brilho divertido em seus olhos fez Logan sorrir, antes de se perder no corpo de sua esposa mais uma vez.

EPíLOGO

— É lindo, Meg —Edine disse com o pequeno nos braços, que escolheu aquele momento para fazer um pouco de barulho e esboçar o que parecia ser um pequeno sorriso. Os poucos cabelos loiros e grandes olhos cor de mel faziam todo mundo ver a grande semelhança com sua mãe. — Eu não posso dizer o contrário, sou sua mãe — Meg disse com um sorriso. Fazia apenas algumas semanas desde que ela deu à luz, mas parecia tão cheia de energia como sempre. — Eu acho que é lindo também. Meg olhou para Aili com uma sobrancelha levantada. — Sua opinião também não conta, você é tia dele e também está grávida. Quando eu estava, tudo parecia lindo para mim. Edine sorriu ao mesmo tempo que Meg, enquanto Aili franzia a testa. Fazia três meses desde que se casaram. Naquela época, eles estavam juntos com Grant e Isobel nas terras de MacLeod devido à possível união entre eles. Thane e Nerys aceitaram Grant depois de conhecê-lo e ver que tipo de homem ele era. Nerys havia dito a Isobel que Grant olhava para ela da mesma maneira que seu pai a olhava antes de se casarem. Depois os

acompanharam de volta às terras da MacLaren e estiveram presentes no casamento. Edine se despediu dias depois de Isobel com o coração dividido e a promessa de Logan de que os visitariam na primavera. Vozes da porta tiraram Edine de seus pensamentos. Assim que viu Logan entrar com Evan e Andrew McAlister, seu coração bateu rápido, deixando-a sem fôlego. Não sabia se aquele sentimento se acalmaria um pouco, mas agora era impossível permanecer impassível diante dele. E ela também não queria, porque, embora parecesse impossível, a cada dia que passava ela o amava ainda mais. A profundidade de seus sentimentos poderia ser assustadora se ela não soubesse que Logan a amava tão intensamente. A risada de Logan e Evan chamou sua atenção. Parecia que eles estavam se divertindo às custas de Evan, de sua recente paternidade, embora sua expressão não parecesse muito chateada. Eles ouviram Andrew dizer que, desde que seu irmão se tornara pai, não era tão divertido mexer com ele. — Evan McAlister, não faça barulho. Mat está dormindo — Meg disse, franzindo a testa, mas com um sorriso nos lábios. O rosto apologético de Evan, um temível Highlander em toda a Escócia, não tinha preço. Ele se aproximou de Edine para tocar a cabeça do filho e dar um beijo na testa antes de se aproximar de sua esposa e segurá-la pela cintura, puxando-a contra ele.

—Terá que fazer algo para que eu me mantenha calado. O rubor de Meg foi instantâneo, antes que um brilho malicioso aparecesse em seus olhos. — Está bem, eu posso costurar sua boca mais tarde. Evan riu antes de beijar sua esposa. Edine olhou para cima depois de arrumar o pano que o pequeno Mat estava embrulhado para olhar para Logan novamente. Ela sentiu o olhar dele desde que entrou e agora que prendia o dela ao dele, o brilho e a promessa em seus olhos a fizeram corar também. Andrew se aproximou para ver o sobrinho depois de beijar a esposa e colocar a mão na sua barriga enquanto sussurrava algo que fez Aili olhar para ele com adoração. Logan se aproximou de Edine, depois de observar sua família. Suas irmãs, Aili e Meg, estavam felizes e seus casamentos com os irmãos McAlister, contra tudo o que se imaginava um ano atrás, eram uniões seladas com o profundo amor que professavam. Edine sorriu para ele quando ele estava perto dela e sentiu seu coração palpitar. Ela estava mais bonita do que nunca naquele momento, com o sobrinho nos braços. Ele não queria que nada nublasse a felicidade de sua esposa e, portanto, não havia lhe contado a visita que fizera ao sogro duas semanas atrás. McEwen espumara pela boca depois que Logan o fez se ajoelhar e pedir desculpas por tudo o que tinha feito. Ele

estava prestes a matá-lo com as próprias mãos, mas sabia que Edine nunca o perdoaria. Afinal, era o pai dela. No entanto, após sua visita, ele sabia que McEwen nunca mais seria o mesmo homem, e a humilhação diante de seus homens foi completa. Lesi teve bom senso para não aparecer. — Você quer pegá-lo? – Edine perguntou quando Logan tocou a mãozinha de Mat. — Eu acho que ele protestaria se eu o tirasse de seus braços. Eu faria isso – Logan disse vendo seu sobrinho apertar seu dedo com força. — Você não acha que deveria praticar? — Edine perguntou com a voz baixa. Logan desviou os olhos para Aili antes de responder. — Lembre-se, entre mim e Meg são cinco anos. Peguei-a quando era criança e hoje com Mat posso praticar para quando meu novo sobrinho chegar. O olhar de Edine quando Logan terminou de falar o fez ofegar. Ele acreditava que sua esposa havia se referido ao seu futuro sobrinho, mas... Não poderia estar... certo? Não estava sugerindo… Edine começou a se preocupar quando viu Logan olhando para ela atentamente, mas não disse nada. Quando ela notou o brilho aquoso nos olhos dele, Edine assentiu. — Está…?

— Sim — Edine disse nervosamente. Suspeitou disso no mês anterior, mas não confirmou até que o curandeiro do clã McGregor lhe dissesse alguns dias antes. Foi difícil esconder qualquer um dos sintomas, especialmente durante a viagem de dois dias às terras de McAlister, onde as irmãs de Logan moravam com seus maridos. — Meg, você pode pegar seu filho, por favor? – Logan perguntou com uma voz rouca e trêmula. Meg e Aili pararam de prestar atenção em todo o resto para se concentrar no irmão. Aquele tom de Logan não era normal. Era o tom que algo muito grande estava acontecendo. Meg olhou para a irmã antes de se aproximar de Edine e pegar Mat nos braços. Quando o irmão pegou Edine pela cintura e a beijou como se ela fosse sua vida, as duas se entreolharam. E quando as lágrimas de felicidade de Edine se uniram às mãos de Logan sobre seu ventre ainda plano, a excitação encheu Meg e Aili. Depois do que Logan havia sofrido e o inferno vivido por Edine, eles mereciam serem felizes. Com lágrimas nos olhos, Meg e Aili esperaram até Logan soltar sua esposa e, deixando Mat nos braços de seu pai, as duas se aproximaram de Logan e Edine para abraçá-los.

— O que nós perdemos? — os irmãos McAlister perguntaram ao mesmo tempo. O riso dos irmãos McGregor ecoou por toda a sala enquanto secavam lágrimas de felicidade. O amor permeava todos os cantos da sala e quem estava nela. Quem disse que os sonhos não podem se tornar realidade? FIM
Irmãos McGregor 3 - Josephine lys - Sussure meu nome ao vento

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