Jeaniene Frost - 03.5 Devil to Pay (Conto)

61 Pages • 20,714 Words • PDF • 891.4 KB
Uploaded at 2021-09-24 14:46

This document was submitted by our user and they confirm that they have the consent to share it. Assuming that you are writer or own the copyright of this document, report to us by using this DMCA report button.


Da antologia:

Four Dukes and a Devil. TERCEIRO CONTO DA SÉRIE: (Para ser lido após o terceiro livro, At Grave’s End) Night Huntress

Devil to Pay

(não traduzi o nome deste conto porque é uma brincadeira da Jeaniene com uma gíria marítima usada nos EUA. Significa pagar por seus erros, receber um castigo. Se eu traduzir, mato a intenção do título, que é deixar claro quem está recebendo o troco por tudo que fez, ou seja, o demônio, o DEVIL do título

)

Jeaniene Frost Blake Turner tinha tudo – até um demônio decidir residir em sua alma. Atormentado com apagões e uma trilha de cadáveres em seu rastro, Blake pensa que a vampira Elise é sua melhor chance de acabar com o pesado. É simplesmente uma droga que ele esteja se apaixonando pela linda vamp justo antes de ter que morrer

Créditos:

Equipe Night Huntress de Tradução. Night Huntress [Oficial]

http://www.facebook.com/#!/groups/nighthuntressoficial/ http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=11056656

Capitulo Um

N

o momento em que Blake viu o homem, ele soube que essa noite

terminaria em morte. O problema era que Blake não achava que terminaria com sua morte “Não quero problema,” ele disse, percebendo a estupidez daquelas palavras. Tinha passado da meia noite, ele estava em um beco abandonado com três mil dólares em cocaína – e essa era a boa notícia. “Perdido?” um dos homens perguntou, se aproximando. Os outros três na extremidade oposta do beco se aproximaram também. Não havia escapatória. Blake pode senti-lo se agitar, pressentindo o perigo. Ele não tinha muito tempo. “Vocês precisam ir,” Blake disse, o medo se instalando enquanto ele sentia aquele zumbido familiar começar em sua cabeça. Um deles riu. “Nos dê aqueles pacotes que você acabou de comprar, vadia, e nós vamos.” Por um breve momento, Blake hesitou. Ele comprou a droga com seu último dinheiro e ele precisava dela. Não porque fosse um viciado; Blake nunca tocou em drogas na vida. Não, ele pretendia que sua primeira vez ao usar fosse a última coisa que ele fizesse. Mas aquele zumbido em sua cabeça estava ficando mais alto. Não. Não ainda. Não até eu poder me afastar dessas pessoas... “Leve e me deixe em paz,” Blake grunhiu, arrancando os pacotes do casaco. Um deles pegou os pacotes e então empurrou Blake. Ele balançou e caiu, sentindo gosto de sangue quando sua boca bateu contra uma saída de emergência. Aquele ruído em sua cabeça ficou mais alto. Era tarde demais. “Matem-me,” Blake arfou. Confusão estava estampada nos rostos que o espreitavam. “Ele é louco,” alguém murmurou. Blake olhou ao redor. Nenhum deles tinha sacado uma arma ou faca. Esse

era um beco escuro e infestado de gangues em Columbia Heights, DC (Distrito de Colúmbia). Um deles não podia esfaqueá-lo ou atirar nele? Blake começou a gritar a coisa mais incendiária que pode pensar. “O que vocês estão olhando ai de pé? Você me reconhece da noite passada, quando eu estava fodendo sua mãe?” “Oh, inferno, não,” um deles disse. Eles cercaram Blake, o chutando. Blake girou, não fazendo movimento algum para se defender. Ao invés disso, ele se arqueou na direção dos chutes. O medo cresceu, mas não de morrer. Quebrem meu pescoço, Blake pensou selvagemente. Ou peguem um cano e esmaguem minha cabeça! Eles não fizeram nada disso, porém um deles esmagou o rosto de Blake com o pé, quebrando seu nariz. Blake tossiu sangue mesmo quando seu corpo inteiro se dobrava. Ele estava quase aqui. Blake tentou repeli-lo, mas ele era muito forte. “Qual o problema com você?” Blake urrou com sua última pitada de força. “Matem-me!” Um chute forte jogou a cabeça de Blake para trás antes que seu mundo ficasse branco. Por um breve e abençoado momento, Blake achou que finalmente tinha conseguido morrer e sentiu um alívio devastador. Mas quando Blake voltou à realidade, havia sangue por todos os lados. Algumas pessoas estavam reunidas no fim do beco. Blake não sabia quanto tempo elas estavam lá, mas seus olhos eram de espanto, rostos chocados, brancos como giz. Provavelmente eles nunca viram nada assim, mesmo lá, em uma das piores partes do Distrito. Blake soltou um uivo de desespero quando olhou para o sangue vermelho e espesso cobrindo suas mãos e os corpos ao seu redor. Maldito, ele gritou silenciosamente para o monstro dentro dele. Maldito seja no inferno! Mas esse era o problema. Inferno era de onde veio o demônio dentro de Blake.

A sala de estar de Elise começou a chacoalhar, mas ela mal notou. Estava tão acostumada com as vibrações cada vez que um trem passava que chamava mais atenção quando havia longos períodos de calma. A música dos anos 50 “Jump, Jive and Wail” tocava em seu iPod, um presente recente de seu criador, Mencheres. Elise teria continuado a ouvir música em seus discos, sem importar quantas vezes os trens faziam a agulha pular e arranhá-los, mas uma das lições mais comuns de Mencheres era abraçar as

mudanças do mundo. Alguns vampiros, quando ficavam mais velhos, se retiravam da sociedade e se tornavam tipos eremitas, se apegando as coisas de sua época original. Eventualmente esses vampiros podiam se tornar tão desconectados que o ódio pelo mundo avançando constantemente era um efeito colateral. Elise já era uma solitária. Ela vivia debaixo de um túnel de metrô, não socializava muito com outros vampiros ou humanos e, de longe, preferia música orquestrada ao invés do barulho dos dias de hoje no rádio. Considerando tudo, Mencheres tinha motivos para se preocupar dela escorregar para a estrada eremita, mas ela não odiava o mundo moderno ou suas mudanças. Ela só era mais feliz sozinha. Mais um sacudir das paredes anunciava a chegada do trem das seis e quinze. Elise baixou o livro com um suspiro. Hora de tomar banho e comer, atividades que requeriam que ela saísse de seu lar confortável. Ela vestiu uma regata e calças, acrescentando uma jaqueta apesar da temperatura quente lá fora. Menos roupa significava mais atenção e Elise queria falar com menos pessoas possível. Ela puxou o cabelo em um rabo de cavalo, colocou um boné de baseball e abriu a porta de metal barulhenta. Uma rajada de cheiros a atingiu quando entrou nos túneis que conectavam a seção morta onde ela morava aos túneis operantes de metrô acima. Pelo menos ela não precisava respirar; os odores residuais de indigente que usava esses lugares como residência e banheiro temporários, combinado com o fedor de comida podre, ratos mortos ou outros animais – era ruim o suficiente. Os poucos desabrigados que estavam nos túneis naquela hora não olharam para Elise quando ela passou. De vez em quando um recém-chegado se aproximava dela. Um que não tinha sido avisado sobre ela pelos outros, ou que não tinha ouvido. Elise não se alimentava de nenhum recém-chegado curioso – cheirá-los já era ruim o suficiente – ela só os atingia com o poder em seu olhar e os hipnotizava para deixá-la em paz. Se algum fosse estúpido o suficiente para atacá-la, bem… aquela pessoa não vivia tempo o suficiente para se arrepender. Essa noite estavam apenas os de costume, então Elise passou por eles sem nenhum incidente. Ela andou para fora do túnel e através da plataforma da estação, mantendo a cabeça baixa, sem precisar olhar para saber o caminho. Era tão familiar para ela que poderia fazer a viagem dormindo. Livre da atmosfera fechada, os passos de Elise ficaram mais longos e mais relaxados. Ela até cantarolou enquanto caminhava pela Avenida Connecticut até a academia. A garota atrás do balcão mal olhou para Elise quando ela entrou, mas um aceno de cabeça indicou que Elise não precisava mostrar o cartão de membro. Ela era uma visão regular por lá, poucos funcionário pediam para ver o cartão atualmente. Elise desceu as escadas para a grande quantidade de equipamentos de exercícios. Seu tamanho nunca seria diferente do que é agora, mas os funcionários da academia faziam muitas perguntas se ela, pelo menos, não fingia se exercitar. Depois de vinte minutos na esteira, Elise foi para o vestiário. Ela tirou

a roupa e tomou banho, então escovou os dentes com a escova de dente que mantinha com uns poucos outros itens no armário. Depois de secar rapidamente o cabelo, estava pronta para prosseguir com o próximo item de sua rotina. Algumas noites, quando Elise tinha sorte, ela se alimentava de quem estivesse sozinha no vestiário. Só bastava um brilho de seu olhar para a mulher esquecer que Elise tinha acabado de encurralá-la num canto e bebido seu sangue. Mas a maioria das noites eram cheias na academia. Era mais fácil para Elise andar pela cidade e encontrar alguém sozinho – ou acompanhado por poucas testemunhas para lavar a mente. Hoje, Elise encontrou sua refeição ao longo da Rua Sete, um jovem rapaz que vagava para longe dos amigos no Jardim Sculpture. Ela bebeu dele, fechou os furos com uma gota de seu sangue e o mandou de volta para suas companhias num prazo de dois minutos. Ele ficaria sonolento devido ao meio litro que ela drenou dele, mas de qualquer forma, ileso. Só nos filmes que vampiros precisavam matar para se alimentarem, junto de outras mentiras como estacas de madeira e luz do sol sendo prejudicial a eles. Assentindo às repreensões de seu criador para sair mais, Elise se sentou e leu em um café local ao invés de apenas comprar mais livros e ir direto para casa. Ela até trocou um comentário sobre o tempo com alguém que se sentou na frente dela. Olha ai. Ninguém poderia dizer que ela interagia com humanos apenas para mordê-los. Porém, quando o café fechou, Elise foi para casa de bom grado. Andou pela Capital Lawn, tendo conforto na familiaridade dos reluzentes edifícios brancos e estruturas mais antigas. Então, seguiu pela cidade até chegar à estação onde os túneis se conectavam. Passou pelos poucos viajantes que restavam e pelos túneis inoperantes quando ela sentiu o cheiro de algo que não deixava dúvidas. Sangue, temperado com o distinto odor de morte. Elise apertou o passo, seus tênis mal faziam barulho. Havia bem poucos sem teto nos túneis a essa hora, apesar de suas cautelas serem sem fundamento, já que Elise nunca matou um que não a atacasse primeiro. Porém, aqueles que supunham o que ela era, não se demoravam muito depois de escurecer. Humanos tolos. Só porque ela preferia sair à noite não significava que ela estava presa lá dentro durante o dia. O cheiro ficou mais forte quanto mais Elise entrava no túnel. Mesmo sobre o som de um trem se aproximando, Elise pôde ouvir uma pulsação logo em frente. Quem quer que fosse, tinha se escondido em um dos velhos cantos de manutenção, mas logo descobriria que um ataque sorrateiro era uma má ideia. Quando o homem pisou no trilho, de costas pra ela, ela parou, surpresa. Quem quer que fosse nem ao menos sabia que ela estava lá, e muito menos era uma emboscada. Aquele cheiro forte de sangue e morte exalava do estranho, mas o desespero era ainda mais forte. Ele se equilibrava na borda do trilho como se estivesse indeciso. O trem estaria aqui a qualquer momento. O tolo não tentaria atravessar os trilhos agora, tentaria?

O homem agarrou a cabeça, balbuciando, “Não, ainda não!” várias vezes. O túnel vibrava com a aproximação do trem. Com crescente consciência, Elise viu que o homem ia pular bem na frente dele. No mesmo instante em que ela se lançou para afastá-lo, algo aconteceu. O cheiro desesperador emanando dele mudou para o cheiro asfixiante de enxofre. Sua boca se abriu rosnou enquanto ele girava, agarrando Elise com mais força do que qualquer humano teria. Pontinhos vermelhos brilharam em seus olhos, como fagulhas antes do fogo e, perante o olhar dela, a pele dele pareceu se transformar em uma sombra pálida de cera. “Vampiro,” ele sibilou, agarrando sua garganta. Elise não parou para ver o que estava acontecendo. Ela o socou na cabeça, olhando, com alívio, enquanto ele caia no chão do túnel.

Capitulo Dois

O

primeiro pensamento de Blake ao acordar e ver fita adesiva ao redor

de suas mãos ao invés de sangue fresco foi, Graças a Deus. Um ano atrás, a mesma visão o teria chocado e aterrorizado. Agora era um começo melhor do que a maioria dos dias. Então ocorreu a ele se perguntar onde estava. Ou quem era a loira o olhando com uma expressão indecifrável. Blake olhou ao redor, notando, com alívio, que o cômodo estava sem sangue ou corpos. Também não tinha janelas e estava tremendo com uma poderosa vibração. Ele ainda estava no Distrito? Quanto tempo o episódio mais recente durou? “Você precisa se afastar de mim,” foram as primeiras palavras de Blake. Ele olhou suas mãos e pés atados. Ele se sentiria ameaçado assim que isso fosse registrado. Blake ficou tenso, esperando aquele zumbido em sua cabeça começar, mas até agora, havia silêncio. Ainda havia tempo para a mulher se afastar. “Por que você tentou pular na frente do trem?” ela perguntou. Blake fechou os olhos. Isso, a última coisa que ele lembrava era o trem. “Você me impediu?” ele perguntou de forma incrédula. “Maldição, por quê?” Ela ergueu uma sobrancelha. “Você podia dizer obrigado.” Blake queria estapeá-la. Tão perto de ser livre e ela arruinou. “Você não sabe o que fez, mas você estará cometendo um erro maior se não sair agora mesmo.” Ela olhou de forma aguçada para seus pulsos e tornozelos. “Você acha que pode me ferir?” A lembrança de ser empurrado para dentro de um carro de polícia, algemado, passou pela mente de Blake. Ele vinha lutando contra o barulho em sua cabeça e esperando desesperadamente que as algemas e o assento traseiro reforçado pudessem segurá-lo. A próxima lembrança seguiu sem dó. O carro de polícia estraçalhado, a barreira entre os assentos da frente e o de trás arrancada com chutes e os restos mutilados dos dois oficiais.

“Eu vou te matar.” A voz de Blake era rouca, com auto aversão. “Saia agora, antes que seja tarde demais!” “Você não pode me matar,” ela disse, com certo divertimento em sua voz. “Já estou morta.” Enquanto Blake observava, os olhos dela mudaram. Tornaram-se impossivelmente verdes e começaram a brilhar, brilhantes como luzes de semáforo. Seu sorriso se alargou para mostrar mais de seus dentes, onde seus dois incisivos frontais se estenderam para formar pontas afiadas. Blake se viu sorrindo. Uma vampira o tinha sequestrado. Hoje deve ser um bom dia afinal de contas. Elise observou a reação do homem com interesse enquanto ela revelava sua natureza não humana. Surpreendentemente, ele não pareceu com medo. De fato, a mais estranha expressão de alívio cruzou seu rosto. Ele inclinou a cabeça para trás. “Certo, então. Mate-me.” Ela franziu o nariz. “Você acha que vou tem morder? Não do jeito que você cheira.” Ele emitiu um som impaciente. “Então tampe o nariz enquanto bebe meu sangue. Mas rápido. Não sei quanto tempo antes que ele tome conta de mim.” Elise o analisou. Ela tinha conhecido pessoas suicidas antes, mas nenhuma que exalava o tipo de vibração que esse homem tinha. Considerando o que ela tinha visto depois de agarrá-lo, desviando do trem que estava vindo, Elise tinha uma boa ideia sobre o que o estava levando a se matar. Pessoalmente ela nunca tinha cruzado com alguém na condição dele antes, mas em sua longa vida, ela conhecia pessoas que tinham. “Você está possuído, não está?” Elise perguntou com naturalidade. Os olhos dele se arregalaram como se ele tivesse levado um soco. “Sim,” ele sussurrou. Um espasmo passou por seu rosto, muito cru para ser intitulado de dor. “Faz seis meses.” Ele não parecia ser o tipo que brincava com tábuas Ouija. Talvez ele fosse um daqueles humanos todos que brincavam com espíritos, procurando conseguir o poder maligno do outro lado. “Como aconteceu?” “Um acidente de carro.” As sobrancelhas dela se levantaram, mas ele apenas suspirou. “Eu estava dirigindo para casa do trabalho quando uma mulher pulou na frente do meu carro. Liguei para o 911, tentei ajudá-la, mas ela morreu em meus braços. Testemunhas me isentaram da culpa e eu achei que fosse somente um terrível acidente. Cerca de três semanas depois, os apagões

começaram. Eu ouvia esse zumbido na minha cabeça, então acordava em lugares que não lembrava ter ido, sem ideia do que tinha feito. Achei que estava louco. Então—” Ele parou e engoliu seco, parecendo estar prestes a vomitar. “O demônio começou a me provocar. Deixando recados com uma caligrafia que eu não reconhecia, fazendo vídeos de mim fazendo coisas que eu nem podia imaginar, que dirá lembrar… Não posso viver assim,” ele resumiu, a voz endurecendo. “Aquele demônio fez de mim um assassino, um maldito monstro! Tentei ver um padre, conseguir um exorcismo – nada funcionou. Ele nem deixa que eu me mate. Se você entende o que há de errado comigo, mate-me agora. Você vai salvar vidas se fizer isso, acredite em mim.” Olhos azuis encararam Elise intensamente por baixo de um desordenado cabelo preto. Era difícil dizer como ele realmente se parecia debaixo da sujeira e imundice já que ele vinha vivendo nas ruas por um tempo. Ele parecia estar na casa dos trinta, mas o que devia ter sido um físico atlético e atraente, agora estava curvado com culpa, medo e desespero. Matá-lo seria um ato de misericórdia, Elise refletiu. Não seria difícil fazer. Humanos eram tão frágeis; um tapa de seu pulso quebraria seu pescoço antes mesmo de ele perceber que ela se moveu. Afinal de contas, ela já tinha matado antes, e por razões menos nobres do que essa. Ela tinha quase decidido fazê-lo quando o rosto de Mencheres apareceu em sua mente. Será que ela estava se tornando um daqueles vampiros que se esqueciam o que era ser humano? O quão precioso eram aqueles anos porque eles eram tão curtos? “Qual o seu nome?” ela perguntou, se levantando. A esperança em seu rosto enquanto ela se aproximava era de partir o coração. “Blake Turner. Você vai... vai deixar meu corpo onde pode ser encontrado? Ainda tenho família que deve querer saber o que aconteceu comigo…” “Blake Turner,” Elise disse lentamente. “Não vou te matar. Vou te ajudar.”

Capitulo Três

B

lake olhou ao redor no túnel. “Não estou certo sobre isso.”

“Preciso de ajuda para descobrir se você pode ser salvo ou não,” foi a breve resposta de Elise, enquanto eles continuavam a descer pela passagem. “Manter-te enfiado na minha casa não é uma solução viável.” “Você não pode simplesmente ligar para alguém?” Blake perguntou, achando que casa era uma palavra generosa para descrever o lugar onde ela vivia. Caixão avantajado seria mais apropriado, já que era pequeno, no subsolo, extremamente escuro, além de uma esparsa iluminação e não tinha cozinha, banheiro, chuveiro ou outros confortos. Porém, era um lugar perfeito para manter Blake trancado e afastado de pessoas, por isso, sair de lá não o atraia. Quem diria que ele seria incapaz de convencer um vampiro a matá-lo? Onde está a sede de sangue da lenda deles? Blake também não podia entender porque o demônio ainda não tinha assumido. Qualquer outra vez em que Blake tentou se matar, o demônio apareceu e o impediu. Ele podia sentir que o vampiro não iria matá-lo? Será que era por isso que o demônio estava aguardando seu momento? Ou ele estava esperando por uma oportunidade melhor para aparecer? Tipo agora, enquanto eles estavam indo em direção à estação de metrô e todas aquelas pessoas inocentes. “Isso não é seguro,” Blake repetiu pela décima segunda vez. Ela continuou andando, segurando firme em sua mão como um torno frio. “Meu criador vai saber o que fazer. Vou usar o telefone público na estação para ligar para ele. É mais seguro se você vier comigo do que esperar que você ainda esteja em minha casa quando eu voltar.” “Ele é forte quando se apossa de mim,” Blake disse, quase cuspindo as palavras. Ele odiava o que tinha se tornado – um hospedeiro para o pior tipo de mal. Se a morte era o único jeito de parar o demônio, Blake morreria de boa vontade. Sua vida havia sido arruinada além de qualquer reparo mesmo. Apenas sete meses atrás, ele era um corretor de ações de sucesso. Tinha uma bela casa, ótimos amigos e estava até numa boa com sua ex esposa. Agora ele perdeu tudo, era procurado por múltiplos assassinatos e o único jeito de ele parar o demônio era se matar. Era uma diferença enorme dos dias onde sua maior preocupação era o mercado oscilante de Wall Street.

“Sou mais forte,” Elise disse. Blake a olhou com dúvida. Elise media cerca de 1,62 e se chegasse a quarenta quilos não era muito. Além do mais, ela tinha uma qualidade etérea para sua estrutura óssea pequena que indicava fragilidade. Combinado com seu belo e pálido rosto, Elise lembrava Blake de uma daquelas bonecas antigas que sua ex mulher costumava colecionar. Elise era o tipo de mulher que os homens tropeçavam uns nos outros para proteger, não o tipo que podia lutar com um demônio. Afinal, presas só podiam atingir certo ponto. “Você disse que nunca encontrou um demônio antes. Como sabe que é mais forte?” Elise o olhou de soslaio. “Você fala demais,” ela murmurou. “É cansativo. Não pode parar um pouco?” Blake reprimiu uma exclamação de espanto. Essa era a mulher que devia impedir o demônio quando ele aparecesse? Alguém que não podia nem manter uma breve conversa sem ficar cansada? “Acho que devemos voltar,” Blake disse, enquanto eles faziam uma curva e a estação de metrô apareceu à vista. “Isso não é—” Um zumbido muito alto encheu sua mente imediatamente. Blake só teve um segundo para agarrar a cabeça com força por causa da dor quando sua visão ficou branca. Ele nem ao menos teve chance de avisar Elise antes de o demônio se apoderar dele. Elise ficou espantada quando Blake agarrou a cabeça como se seu cérebro tivesse simplesmente explodido. Ela ainda segurava sua mão; mas assim que ela sentiu o cheiro de enxofre, ele a soltou. Então correu como se a morte estivesse nos seus calcanhares. Ela se xingou enquanto o seguia. Com o demônio o controlando, Blake era rápido, seguindo pelo túnel direto para a estação em um piscar de olhos. Mas Elise também tinha habilidades sobre-humanas, então ela ficou logo atrás dele. O demônio irrompeu pela estação, batendo em qualquer um no seu caminho. As 5:00 da manhã, não havia muitos passageiros, mas o suficiente para que a exposição de sua verdadeira natureza fosse um risco. Elise manteve os olhos e presas sob controle, sabendo que sua velocidade era ruim o suficiente, mas pelo menos aquilo não podia anunciar “vampiro!” para o público em geral. Ela avançou pelas pessoas de forma tão rude quanto o demônio tinha feito, não o deixando ganhar vantagem. Continue correndo, ela pensou friamente. Assim que estivermos livres de todos esses humanos, posso parar de bancar a boazinha. O demônio saiu da estação de metrô e se lançou pela calçada, fazendo as pernas de Blake como pistões. Elise o manteve a sua frente, o deixando pensar que ela não era rápida o suficiente para alcançá-lo, até que chegaram a uma parte menos movimentada da vizinhança. Então ela se lançou para frente com toda sua

velocidade morta-viva, parando o demônio por trás e batendo a cabeça dele na rua. O corpo de Blake enfraqueceu, o cheiro doce de sangue fresco substituindo o fedor anterior de enxofre. Elise virou Blake, avaliando rapidamente seu ferimento. Nenhuma fratura no crânio. O ferimento superficial em sua testa pode ser curado – e seu nariz já estava mesmo quebrado. Ela abriu um dos olhos de Blake. Não havia mais aquele vermelho serpenteando. Sua pele perdeu aquela aparência pálida de cera e bom, ele não cheirava nada mais do que sangue e humano sem se lavar. O demônio se foi. Por enquanto. Elise deixou as presas de for a só o suficiente para passar o dedão sobre uma delas, tirando sangue. Então Elise espalhou seu sangue sobre o corte de mais de 7 centímetros na pele de Blake, observando com satisfação a ferida se fechar lentamente como um zíper mágico tivesse se formado em sua pele. Não ia dar para alimentar Blake com seu sangue. Isso iria curá-lo mais a fundo, como se livrar da concussão que sem dúvida ele tinha, mas também o deixaria mais forte. O demônio dentro de Blake já estava forçando se corpo a limites que nenhum humano seria capaz de manter. Elise não ia acrescentar isso. Mas agora, o que fazer com Blake? Ela não podia simplesmente jogá-lo por cima do ombro e andar até o telefone público mais próximo; isso iria chamar muita atenção. E ela não ia deixar ele lá e correr o risco de o demônio voltar enquanto ela estivesse ausente. Se fosse um pouco mais tarde, então ela podia pegar a primeira pessoa passando por ali com um celular e hipnotizá-lo com obediência enquanto ela ligava para Mencheres. Um rangido chamou a atenção de Elise para o fim da rua. Uma mulher sem teto empurrava lentamente um carrinho de supermercado lotado de vários itens ao longo da calçada. Elise sorriu, então levantou Blake e o enfiou debaixo do braço como uma bola de futebol. “Bom dia,” ela gritou. “Quanto você quer por esse carrinho?”

Capitulo Quatro

B

lake acordou com um cheiro horrível. Com aquele fedor e tudo escuro,

por um momento, ele achou que estava em um depósito de lixo. Então ele ouviu a voz dela. “Pare de se contorcer, as pessoas vão notar.” Levou um segundo para ele reconhecer quem falou. Era a vampira, Elise. Blake piscou e sua visão clareou o suficiente para perceber que estava escuro porque alguma coisa estava sobre seu rosto. Algo que fedia a odor corporal e coisas que ele não queria nem mencionar. Somado a pior dor de cabeça que ele já teve e Blake achou que ia vomitar. Mas ele ainda estava com Elise, mesmo depois de o demônio ter tirado o controle dele. “Alguém foi morto? Ferido?” Blake perguntou, o temor se espalhando sobre ele. “Não. Agora pare de falar.” Perante aquelas palavras, Blake não se importou com a rispidez dela, sua posição que dava câimbras com o joelho pressionado no queixo, o fedor ou a pulsação na cabeça. O demônio tinha se apossado dele – mas a vampira evitou que ele ferisse alguém. Pela primeira vez em meses, Blake sentiu uma ponta de esperança. O que quer que seja a coisa na qual ele estava enfiado, vibrava. Pelo que parecia, Elise o estava empurrando ao longo uma superfície irregular. Estava quente, também, e com o fedor do tecido escuro que o cobria, difícil de respirar. Blake puxou o tecido mofado de cima dele e olhou ao redor. Eles estavam em um cemitério, de todas as coisas, e pelo que parecia, Elise o tinha enfiado em um carrinho de supermercado. “Um carrinho de supermercado?” Blake disse. “De quem são as coisas empilhadas sobre mim?” “Pertencia a uma mulher sem teto, mas não se preocupe, eu paguei por tudo,” Elise disse, dando de ombros. “Foi uma boa forma de transportar você sem chamar a atenção.” “Por que você simplesmente não… confiscou um carro ou algo do tipo?”

Blake perguntou, saindo do carrinho. Seus ossos estalaram assim que ele se libertou daquela posição encolhida. Outro dar de ombros. “Eu não sei dirigir.” Blake olhou para ela com mais choque do que ele havia mostrado quando descobriu que era uma vampire. “Você não sabe dirigir?” Ele repetiu. Elise parecia divertida com sua descrença. “Eu nunca me interessei em aprender.” Acordar em um carrinho de compras de uma pessoa sem teto era ainda melhor do que acordar com a visão de corpos mortos. Não importando sua atual circunstância, Blake estava grato por isso. Ele ainda não sabia como Elise achava que podia ajudá-lo, mas aparentemente ela podia evitar que ele matasse quando o demônio se apoderasse dele. E já que ela o estava levando para encontrar seu criador, talvez aquele vampiro pudesse acabar com sua miséria mesmo que Elise se recusasse a fazer. Era algo para se ter esperança. Era irônico, Blake refletiu. Antes de ser possuído, ele nunca pensou muito sobre a morte além de ter um seguro de vida e se exercitar para ser saudável. Agora, Blake cobiçava a morte como se fosse uma bela mulher. Morte significava que ele nunca mais iria ferir alguém. Morte significava que sua família estaria a salvo. A morte significava que os amigos que restaram nunca teriam que abrir suas portas e ver um demônio do outro lado, escondido na pele de Blake. A morte era o único jeito de Blake derrotar a coisa dentro dele e Blake queria derrotá-la mais do que qualquer outra coisa. O assobio de Elise tirou Blake de suas divagações sombrias. Ela estava assobiando “Beautiful Dreamer” de uma forma suave e melancólica, as notas tão perfeitas como se estivessem vindo de uma flauta. Blake se perguntou como um vampiro, que supostamente não respirava, podia assobiar. Ele quis saber como Elise estava sob a luz do sol sem combustão espontânea, ou como é que vampiros existiam afinal de contas. Tantas coisas que ele não achou que fossem possíveis e que eram. Vampiros? Eles existiam. Demônios? Reais também. Se alienígenas pousassem no monte Capitol amanhã, ele ficaria apenas ligeiramente intrigado. “Se a luz do sol não te fere, por que você vive no subterrâneo em um túnel?” Elise continuou assobiando. Blake achou que ela decidiu ignorá-lo, mas quando as últimas melodias da música terminaram, ela respondeu. “Eu não sei agir bem perto de pessoas.” Sua voz também era suave. Cheia de um tipo de arrependimento desconectado, como se sua falta de habilidade social a fizesse se sentir triste, mas ela não entendesse o motivo. Ela começou a assobiar aquela mesma canção antiga novamente. Blake se sentou, recostando em uma árvore e fechou os olhos. Ele podia quase imaginar que estava em outro lugar, ouvindo a melodia doce e assustadora.

“Você não vai me deixar machucar ninguém, vai?” Elise fez uma pausa. “Não.” Ela continuou assobiando, o som e sua resposta o acalmando, o fazendo se sentir quase… seguro. Blake fez algo que não fazia de bom grado há semanas. Se deixou adormecer. Elise ouviu quando a pulsação e respiração de Blake ficaram mais relaxadas com o repouso. Ela continuou assobiando, apesar de não ser acostumada a respirar tanto assim. Porém, a canção parecia acalmá-lo, apesar de que o motivo por aquilo importar a ela ser um mistério. Ele estando quieto vai chamar menos atenção, ela falou para si mesma, sabendo que era uma mentira. Eles estavam no Cemitério Nacional de Arlington. Não havia muitas pessoas em volta para notar se Blake causasse um tumulto, exceto, talvez, os fantasmas. Era tão estranho, esse sentimento de proteção. Assim que ela se decidiu a ajudar Blake, suas emoções há muito tempo adormecidas, acordaram. Elise não podia evitar admirar a preocupação de Blake por outras pessoas, até mesmo acima da própria vida. Você não vai me deixar ferir ninguém, vai? Fazia muito tempo que Elise não se preocupava tanto assim por outras pessoas, especialmente estranhos. Quando os sem-teto do Distrito de Colúmbia ou elementos criminosos a atacavam – o que acontecia mês ou outro – ela os matava. Não ocorreu a ela não fazê-lo já que tinha justificativa para tal, ela estava salvando alguém de um futuro ataque daquela pessoa. Blake não era responsável pelo que o demônio dentro dele fazia, mas ele estava disposto a morrer para evitar que outras pessoas fossem feridas. Sua força de caráter sob essas circunstâncias extremas levantava um espelho para ela, e Elise não gostava do que viu refletido. Mencheres está certo, ela percebeu. Eu me deixei escapar. Quanto da pessoa que eu era ainda resta? Posso salvar os resquícios antes que a apatia devore o que resta de mim? Ela começou com Blake. Talvez ajudando a salvar sua alma, ela conseguisse um alívio para si.

Capitulo Cinco

U

m Volvo preto se aproximou, dirigindo ao longo de uma área onde

veículos geralmente não eram permitidos. Elise sentiu o poder de dentro do Utilitário. “Aqui estão eles,” ela disse para Blake, o acordando. O Utilitário parou perto deles, interrompendo o que quer que Blake estava prestes a dizer. Duas pessoas saíram, o homem radiando um poder crepitante que o anunciava como vampiro Mestre e uma mulher ruiva que parecia humana. “Bones,” Elise disse, curvando a cabeça na deferência que ele merecia como co-regente da linhagem de Mencheres. Elise podia estar fora de contato com a sociedade dos vampiros, mas todo morto-vivo sabia sobre Mencheres fundindo as linhagens com Bones vários meses atrás. “Elise,” Bones respondeu, com um aceno de cabeça. “Essa é minha esposa, Cat.” Cat sorriu e estendeu a mão. Elise a apertou, achando que a famosa mestiça não parecia como ela imaginava. Com a reputação de Cat e o apelido de Red Reaper, Elise esperava uma presença mais imponente, mas Cat não parecia mais ameaçadora que uma atriz de Hollywood. Blake olhou cautelosamente para os dois recém-chegados. “Os dois são vampiros?” ele perguntou para Elise. “Ele é,” Elise respondeu, olhando novamente de relance para a ruiva meio vampira. “Ela é mais… complicado.” Cat riu. “Essa é uma forma de colocar as coisas.” Ela estendeu a mão para Blake, mas antes que ele ao menos pudesse se mover, Bones afastou a mão dela com um tapa. “Não toque nele Kitten.” A ameaça fria na voz de Bones fez Cat piscar surpresa enquanto Elise sentiu sua raiva incendiar. “O demônio não o tem agora,” Elise disse. “Não há necessidade de agir como se ele fosse imundo.”

“Tudo bem,” Blake disse, olhando para si mesmo com tristeza e nojo. “Eu estou imundo. Se eu fosse ele, não iria querer minha esposa me tocando também.” “Não é sua imundice que me preocupa, mas ela é meio-humana,” Bones disse, com a mão ainda no braço de Cat. “Demônios não podem possuir vampiros, mas sabe-se tão pouco sobre mestiços que não vou arriscar a possibilidade.” “Você não está sendo um pouco paranoico, Bones?” Cat perguntou. “Você me disse no caminho até aqui que o hospedeiro tinha que morrer antes de o demônio poder pular. Bem, ele parece vivo para mim.” “Ataque cardíaco, aneurisma, coágulo sanguíneo, derrame.” Bones contou os itens nos dedos. “Ele é humano, então ele poderia cair morto em segundos enquanto está ali parado. Por isso que eu não queria que você viesse comigo, Kitten.” Cat revirou os olhos, dando a Elise um olhar que claramente conduzia sua exasperação. “Paranoico,” ela repetiu. Então virou sua atenção para Blake. “Desculpe conhecê-lo sob tais circunstâncias, mas vamos te levar para Mencheres e com sorte ele—” “Não!” Blake gritou, suas mãos voando para a cabeça. Elise sabia agora o que aquilo significava. Ela se lançou sobre Blake ao mesmo tempo em que uma rajada de enxofre encheu o ar. Bones também foi para frente, envolvendo um braço ao redor da garganta de Blake e o outro através da elevação no peito do homem. As ardentes luzes vermelhas estavam novamente no olhar de Blake, sua pele ficando pálida a cada instante. “Deixe-me ir,” o demônio sibilou em uma voz que não parecia em nada com a de Blake. Era rouca e aguda, como vidro sendo triturado. “Kitten, ligue o carro,” Bones mandou, não tirando a atenção do demônio. Cat se virou e andou para o carro. Os olhos do demônio a seguiram, então riu. “Catherine.” A ruiva congelou perante a repentina voz feminina mais velha vindo da boca de Blake. Ela se virou, com os olhos arregalados. “Catherineeeeee…” o demônio pronunciou com a mesma voz, mas agora com um tom suplicante. “Por favor, não vá. Ajude-nos. Havia criaturas na porta perguntando por você Catherine. Eles estão nos machucando. Faça-os parar. Não, não, deixe meu marido ir! Não, não toque nele, não... NÃO! Joe, oh Deus, JOE!” “Vovó,” Cat sussurrou, lágrimas nos olhos.

“Seu maldito,” Bones falou por entre os dentes, colocando a mão sobre a boca do demônio/Blake. “Não dê ouvidos a isso, Kitten.” Ela ainda parecia em estado de choque. “Era a voz da minha avó, Bones!” “É um truque,” ele disse firmemente. “Por isso que a melhor coisa a fazer é levar esse pobre bastardo para as salinas e matá-lo.” “Ninguém vai matá-lo,” Elise disse imediatamente. Bones a fuzilou com um olhar fervendo em verde. Seu poder expandiu até parecer que ia queimá-la. “Não seja uma tola.” Cada palavra era uma queimadura. “O único motivo pelo qual eu não quebro o pescoço desse sujeito agora é porque há muitas criaturas vivas ao redor onde o demônio poderia pular. Mas sua vida vai terminar nas salinas. A única forma de se livrar de um demônio é matar o hospedeiro.” Elise era fraca comparada ao poder emanando de Bones, e como o coregente de seu criador, Mencheres, Bones também estava em uma posição de autoridade sobre ela. Mas isso não significava que ela ia desistir de Blake. “Mencheres me disse que eu podia levar Blake até ele,” ela respondeu, sua voz era dura. “Então é para onde nós vamos, não para alguma salina.” A boca de Bones se curvou. “Você sempre foi teimosa.”

Elise apenas o encarou. Você não me conhece, ela pensou. E você pode ser tecnicamente meu Mestre agora, mas você não vai ganhar essa. “Não devíamos ir?” Elise perguntou. Os olhos do demônio se prenderam nos dela. Perverso. Astuto. Antecipando. Você também não vai ganhar, Elise jurou silenciosamente. Determinação brotou nela, mais forte do que qualquer emoção que ela sentiu em décadas. Eu não vou deixar.

Capitulo Seis

E

lise não via seu criador há meses. Isso não era incomum, exceto nesse

caso, Mencheres foi quem se manteve isolado. Uma olhada mostrou que o preço da recente guerra que resultou na morte de sua esposa há muito tempo afastada dele ainda pairava sobre ele. Fisicamente, Mencheres parecia o mesmo. Seu cabelo batendo na cintura estava tão brilhante quanto antes, sua pele cremosa ainda mantinha o tom âmbar da herança egípcia e suas feições eram tão belas e reais como sempre foram. Mas a tristeza se aderia a ele de uma forma tangível, fazendo com que as linhas familiares ao redor de sua boca parecessem mais formar um franzido do que um sorriso. Ela o abraçou, sentindo nenhuma da sua aversão normal ao contato mais próximo. Ao sentir seus braços ao redor dela, a mesma tranquilidade que Mencheres sempre inspirou a arrebatou. Pai, senti sua falta. Quando ele a soltou, Elise tocou seu rosto. “Você parece terrível.” Mencheres forçou um sorriso. “Verdade, mas eu vou melhorar com o tempo.” Tudo cura com o tempo, ele tinha dito a ela logo depois de transformá-la em uma vampira. Elise ainda não tinha certeza se acreditava nisso, mas pelo menos as coisas ficavam dormentes com o tempo. “Conte-me sobre o homem,” Mencheres disse. Blake não estava lá; Bones o tinha levado direto para o porão, onde as celas de vampiros estavam. Cada residência permanente de um vampiro tinha uma sala reforçada para confinar novos vampiros enquanto eles lutavam para controlar a loucura inicial de sangue. Se um vampiro novo não podia escapar de lá, Bones ponderou, nem um demônio poderia. “Ele voltou a si agora,” Elise respondeu, dando de ombros para a memória das longas horas no carro. O demônio tinha continuado a atormentar Cat ao imitar as vozes de seus avós no que – aparentemente – foi a cena do assassinato deles por vampiros. Bones não podia manter a mão sobre a boca do demônio o tempo todo. Não com o demônio mordendo Bones e tentando beber sangue de vampiro pelas feridas. Ou então sufocando quando Bones o amordaçava. Várias vezes, Elise temeu que o temperamento de Bones estourasse e ele matasse Blake, mas eles conseguiram chegar inteiros, porém Cat ainda estava lá fora se recompondo. Mencheres estudou Elise. Ela desviou os olhos de seu olhar examinador. Finalmente, ele emitiu um suspiro pesado.

“Você veio a se importar por um humano.” Não foram as habilidades de ler a mente de Mencheres que a traíram. Aquilo só funcionava em humanos, não em outros vampiros. Mencheres só a conhecia bem demais. “Não faz sentido,” Elise admitiu. “Ele não tem valor nesse mundo, nenhum sentido para prosseguir. E mais, ele quer morrer. Mas eu fui assim também, uma vez. Talvez mais do que uma vez.” O silêncio se esticou entre eles, preenchendo com a lembrança não falada da história deles. Mencheres não precisava ser lembrado que Elise também esteve desesperada para morrer quando era humana. Afinal, foi como eles se conheceram. “Vou tentar,” Mencheres disse finalmente. “Mas pode haver nada que possa ser feito.” Elise colocou a mão no braço dele. “Mestre... pai... obrigada.” O olhar negro de Mencheres estava frio. “Você pode não me agradecer quando isso terminar.”

As braçadeiras de metal prendiam os pulsos, tornozelos e cintura de Blake. Bones o tinha acorrentado à parede de um jeito que deixava Blake saber que o vampiro não estava preocupado se ele fosse ferido no processo. Adicione o brilho verde nos olhos de Bones e as presas se curvando onde dentes normais estariam e Blake soube que ele estava encarando a face da morte. “Ninguém está aqui,” Blake disse baixinho. “Você poderia dizer que foi um acidente, que eu tentei fugir.” Bones lançou a ele um único olhar. “Companheiro, se matar você fosse uma opção, você teria conhecido seu criador horas atrás. Mas não vou dar àquela besta imunda dentro de você a satisfação de sair livre disso. Não até não haver pra onde correr.” A entrada de Elise na sala com um homem alto e de aparência estrangeira impediu a resposta de Blake. Ela tinha a mão na do estranho e Blake se perguntou se esse era seu marido ou namorado. Estranhamente, ele não gostava de nenhuma das opções. “Você tentou controlar sua mente?” o estranho perguntou a Bones, traços de um sotaque não familiar em sua voz. Bones rosnou. “Certamente. O porco não se calava no carro e, por algum motivo, ele ficou atrás de minha esposa durante toda a maldita viagem.” O estranho pareceu pensativo perante essa informação. Blake se encolheu.

“Sinto muito.” O estranho se moveu para o lado e Blake viu que havia um cachorro atrás dele, entre todas as coisas. Elise fechou a porta. Eram só os quatro e um mastim* na sala. E agora? Blake se perguntou. *Cão de guarda. Os olhos do estranho se estreitaram em Blake, então ficaram verdes. Tão brilhantes como olhar dentro do sol, mas de uma cor diferente. Encarando seus olhos, Blake sentiu como se estivesse girando, mas isso era impossível, já que ele estava algemado à parede. Seu coração começou a disparar e um sentimento estranho de pânico cresceu. Elise se moveu para ficar perto dele, sem tocar, mas sua presença era, de alguma forma, tranquilizante. “Esse é meu criador, Mencheres,” ela disse suavemente. “Ele vai te ajudar.” Ninguém pode me ajudar, Blake pensou, então quase recuou com o golpe de mãos invisíveis o agarrando. Que diabo? “Algo está… me apertando,” ele ofegou. Mencheres continuou o encarando com aqueles olhos hipnóticos. “Eu estou.” A pressão aumentou até luzes dançarem em sua visão e ele mal poder respirar. É isso, Blake percebeu. Estou morrendo. “Mestre,” ele ouviu Elise dizer, soando agitada. Não se preocupe, Blake queria dizer a ela, mas não tinha ar suficiente para as palavras. Não tenho medo. Obrigado por tudo que você fez. Na verdade não é um jeito ruim de ir, olhando para seu belo rosto… “Qual o seu nome?” Mencheres perguntou. Sua voz soava longe e ecoando. Em meio à escuridão, incapaz de respirar, Blake se perguntou como o cara esperava que ele respondesse. “Qual o seu nome?” a pergunta foi repetida, com mais ênfase. O rosto de Mencheres encheu a visão de Blake, aqueles terríveis olhos brilhantes o perfurando. Saia, Blake pensou. Deixe-me ver Elise novamente. Ela é a única nessa sala que se importa comigo. “Qual o seu nome?” Com um aperto mais forte. Todos, exceto Mencheres, desapareceram da visão de Blake. Os pulmões de Blake estavam queimando, seu peito tremendo em uma vã tentativa de colocar ar para dentro. “Xaphan,” alguém sibilou. Surpreendentemente, a voz era clara para Blake. Ele seria capaz de ouvir coisas enquanto estava morrendo?

“Xaphan,” Mencheres repetiu. Mais poder atingiu Blake, até haver nada em sua visão exceto preto e ele não pode mais sentir a dor em seus pulmões. “Deixeo.” Uma risada feia ecoou pela mente de Blake. “Não, pequeno Menkaure. E você não é forte o suficiente para me forçar.” Outro aperto. Parecia que fazia tanto tempo desde que ele respirou, Blake não sabia como ainda estava vivo para registrar o aperto como de um tornilho. “Deixe-o.” O zumbido terrível encheu sua cabeça, indicando que o demônio estava prestes a assumir. Blake queria gritar, mas ele não podia se mover, não podia ver, não podia falar. E se isso fosse o inferno? Ele já estava morto e pagando por todas as coisas que fez? Uma série de palavras em uma língua que Blake nunca tinha ouvido penetrou, de alguma forma, em sua consciência. O mais estranho é que era uma voz feminina e não era Elise. Mencheres rosnou. De qualquer forma, foi como soou, e algo tão duro e pesado pressionou contra Blake que ele rezou por misericórdia. Por favor, não. É demais. Pare. Pare! “Saia dele!” Foi um urro que Blake sentiu nos ossos. Em seguida ele estava caindo, luzes ofuscantes fazendo listras. Por alguns incríveis segundos, Blake se sentiu livre de tudo. Até mesmo o som caiu em silêncio, deixando delicioso, tranquilo, bem vindo silêncio. Finalmente… Então as sensações voltaram com um ataque de dor como se algo pressionasse seu peito e seus pulmões pareciam inalar fogo. Dessa vez, quando ele abriu os olhos, ele viu o rosto de Elise sobre o dele. Sua boca desceu, não em um beijo, mas para soprar ar dentro dele. Blake tossiu, inclinando a cabeça porque, de repente, ele precisava respirar aos poucos. As mãos dela – pálidas, frias, suaves – tocaram sua testa. “Você está bem?” Blake não pode responder, ocupado demais em buscar oxigênio para tentar formar palavras. Uma cabeça escura se inclinou sobre ele, cabelo negro caindo ao redor dos ombros dele. “Não posso salvá-lo,” Mencheres declarou sem rodeios. “O demônio dentro dele é forte demais.”

Capitulo Sete

O

sol se pôs há uma hora. Elise estava cansada, a falta de sono dessa

manhã começando a baqueá-la. Ainda assim, ela não aceitou a oferta de Mencheres em colocar outra pessoa para guardar Blake enquanto ela descansava. Parecia cruel demais passar Blake para um estranho para que ela pudesse dormir, especialmente desde que as pessoas estavam agindo como se Blake já estivesse morto. Ela levou Blake à cozinha, sabendo que haveria muito para ele comer. Os humanos que viviam com Mencheres como doadores voluntários de sangue para ele e seu séquito significavam que a cozinha estava abastecida. Blake estava faminto, devorando três pratos de comida antes de parecer envergonhado com seu excesso. O estômago de Elise também reclamou, mas não pelo que Blake estava comendo. Ela afastou a fome com a mesma crueldade que usou para se privar de sono. Blake não tinha muito tempo de vida. O mínimo que Elise podia fazer era tornar esses últimos dias tão confortáveis quanto possível. Com isso em mente, ela se recusou a pegar Blake e começar a jornada para as Salinas essa noite. Haveria tempo o suficiente depois que Blake fosse alimentado e descansasse, ela insistiu a Mencheres e ele não argumentou. Bones foi menos agradável, murmurando que cada minuto que eles hesitavam, o demônio tinha a chance de possuir alguém mais, continuando sua carnificina através de uma nova pessoa. Elise podia ver a lógica de Bones. Até dois dias atrás, ela teria concordado com isso, mas muita coisa mudou nas ultimas vinte e quatro horas. O primeiro pensamento de Blake desde que ela o encontrou tinha sido o que era melhor para outras pessoas. Bom, Elise seria aquela a pensar no que era melhor para ele, e essa noite, não era o enfiando em um carro em uma viagem para sua morte. A morte viria logo para Blake e aquele conhecimento atormentava Elise mais do que sua fome ou falta de sono. Não era certo. Há tempos atrás, foi dada à Elise uma segunda chance. Por que uma não podia ser encontrada para Blake? Mencheres entrou na cozinha, silencioso como uma sombra. Elise estava sentada ao lado de Blake em um banco alto no balcão, perto o suficiente que ela pode sentir e ver a tensão de Blake quando ele notou o outro vampiro. “O que você fez pra mim, na outra sala?” Blake perguntou a Mencheres, sua voz quase casual. “Eu te sufoquei até estar entre a vida e a morte. Era minha esperança de que eu pudesse usar sua condição enfraquecida para forçar o demônio a sair e

enviá-lo para o cachorro,” foi a resposta igualmente calma de Mencheres. “Não funcionou. Sinto muito.” “E você fez tudo aquilo sem ao menos me tocar.” Blake soou confuso. “Você deve ser um vampiro poderoso.” Por um Segundo, Mencheres pareceu cansado. “Não poderoso o suficiente. O demônio em você é antigo e forte. Ele vai ficar mais forte com cada pessoa que destruir, então eu não posso deixá-lo partir livre. “Não, você não pode,” Blake concordou, sua mandíbula se apertando. “Sei melhor que qualquer um sobre as coisas horríveis que ele vai fazer. Isso precisa acabar.” Mencheres encarou Blake. “Você é um jovem muito corajoso. Eu realmente lamento o que deve ser feito.” Elise desviou o olhar. Ela sentiu uma ardência nos olhos, mesmo que fizesse tanto tempo desde a última vez que ela lembrava que isso tinha acontecido. “Mencheres, eu preciso de um barbeador,” Elise disse abruptamente. “Depois de Blake tomar banho, ele pode se barbear.” Blake a olhou surpreso, mas a expressão de Mencheres era amarga. “Você não pode deixá-lo sozinho com o barbeador,” Mencheres disse. “O demônio vai saber o que planejamos. Xaphan vai tentar matar Blake, para poder escapar para um hospedeiro desconhecido antes que Blake alcance as salinas.” Blake pigarreou. “Antes, o demônio não deixava eu me matar. Agora ele quer ter a honra? E o que são essas salinas que eu fico ouvindo a respeito?” Mencheres abriu a boca, mas Elise respondeu, incapaz de evitar a rouquidão em sua voz. “Demônios podem pular para dentro de qualquer coisa viva assim que seu hospedeiro morre, até mesmo um animal há vários quilômetros de distância. Então quando nós... quando você morrer, não pode haver nada vivo por perto por quilômetros.” “Não seria bom se o demônio possuísse um animal?” Blake perguntou. “Quero dizer, um tatu possuído não poderia fazer muito estrago.” “Possessão animal é muito temporária,” Mencheres respondeu. “O objetivo do demônio é voltar para uma pessoa. É fácil forçar um animal a se matar quando pessoas estão ao redor. Você já não notou que alguns animais parecem se jogar no meio do trânsito? O motorista do primeiro carro a atingir um animal possuído seria, por virtude da proximidade do contato, então a próxima pessoa que o demônio possuiria.”

Blake suspirou. “E vai ficando mais e mais complicado, não é?” “Só há um tipo de lugar onde é seguro forçar um demônio a sair,” Mencheres prosseguiu, enchendo o silêncio carregado. “As salinas. Sal é um elemento natural para conter um demônio. Assim que o hospedeiro morre, o sal limita o alcance do demônio a apenas um quilômetro em qualquer direção e não há humanos ou vida selvagem vivendo nas salinas.” Elise gostaria de saber o que Blake estava pensando, então ela poderia… o quê? Dizer a ele que as coisas dariam certo? Não dariam. Havia tão poucas coisas que ela podia fazer para ajudá-lo e saber disso a fez se sentir pior do que inútil. Ela não só tinha falhado em salvá-lo, ela seria um de seus executores. “Ok.” Blake assentiu bruscamente. “Isso faz sentido. Estou contente que vocês saibam como parar isso. Gostaria de ter encontrado vocês mais cedo.” “Parece destino você ter nos encontrado, afinal de contas,” Mencheres disse, encarando Elise. “Demônios se alimentam de raiva, ódio, ciúme – todas as nossas piores emoções. Assim que eles consumirem tudo que podem de uma pessoa, eles se mudam. Elise me disse que você foi possuído quando uma mulher correu na frente de seu carro vários meses atrás. Você entende agora o que aconteceu. O demônio a usou e, então, a deixou se matar para encontrar outro corpo. Eventualmente ele teria feito o mesmo com você.” Mencheres fez uma pausa, seu olhar voltando para Blake. “Você deve ser muito forte. Como regra, humanos não duram muito antes de o demônio os controlar completamente. Para você ainda ter períodos de controle contra um demônio do calibre de Xaphan—extraordinário.” Blake afastou o prato e levantou as mãos. “Você vê o sangue ainda as manchando?” ele perguntou, cada sílaba transbordando de intensidade. “Não há nada extraordinário em ser um assassino e é isso que essa coisa fez de mim.” Elise queria dizer a Blake que não, ele não era um assassino. Ele era a arma e armas não tinham escolha. Mas mesmo que ela acreditasse nisso, as palavras a enganavam. Ela se levantou. Ela pode não ser capaz de dizer coisa alguma para amenizar a culpa de Blake, mas ela ainda podia fazer alguma coisa. “Vamos limpar o sangue de você, pra começar.”

Capitulo Oito

B

lake ficou debaixo do jato quente do chuveiro e fechou os olhos. Isso

era bom. Normal. Costumava ser sua rotina a cada manhã e noite. Agora ele não conseguia se lembrar da última vez que teve um banho quente. O boxe era grande também. Uma daquelas versões em grande escala onde havia múltiplas duchas e duas entradas. Esses vampiros viviam com estilo. Ele estava ensaboando o cabelo pela segunda vez quando Elise entrou no chuveiro. Blake congelou tão completamente que ele nem ao menos fechou os olhos quando a espuma escorreu por eles. Ela estava nua, seu corpo magro e insinuante e tão inacreditavelmente belo que Blake se perguntou por um momento se ele estava alucinando. Elise pegou o shampoo de forma descuidada, pausando para deixar o olhar percorrê-lo. “Sem toda aquela sujeira, você é mais jovem do que achei que era,” ela disse, soando levemente surpresa. Sua mão passou pelo rosto dele, tirando o sabão dos olhos e empurrando o cabelo ensaboado para trás. “Você parece completamente diferente.” Eu podia dizer a mesma coisa sobre você, Blake pensou, incapaz de afastar os olhos da pele pálida, pernas longas, seios pequenos e arredondados e dos cachos entre as coxas. Seu pênis também percebeu, acordando e se esticando para olhar melhor. Blake se virou. Apesar de tudo pelo que ele passou, parecia que ele ainda era capaz de se envergonhar, afinal de contas. “Uh, Elise, não acho que você deva tomar banho comigo,” Blake conseguiu falar. Ele ouviu a água atingi-la quando ela se aproximou. Deus, o pensamento de como Elise pareceria com rios de água correndo por sua pele o deixou mais duro. De repente, o boxe pareceu pequeno demais. “Por que não? Eu tenho que continuar te vigiando e eu precisava tomar banho. Deixei você sozinho para aliviar suas funções corporais, mas é mais eficiente para nós tomarmos banho juntos.” Ela soava totalmente clínica, como se discutisse ir de carro versus pegar um ônibus. Obviamente, estar nua no chuveiro com ele significava nada para Elise. Será que era o demônio nele que a fez considerá-lo menos do

que um homem? Ou era o fato de que ele era humano e ela uma vampira? De qualquer forma, o completo pouco caso de Elise fez a raiva incendiar em Blake. Ele se virou, sua ereção saliente e quase a atingindo no estômago. “Como pode ver,” Blake começou, “há um problema com sua estratégia eficiente.” Assustada, seu olhar passou por Blake de uma forma totalmente diferente de antes, pausando em seu peito e estômago antes de ir mais para baixo. Com a boca entreaberta e a água se aderindo a ela exatamente da forma sensual como Blake tinha imaginado, seu pênis pulou, como se estivesse implorando para ela tocá-lo. Ela se virou e saiu do chuveiro sem outra palavra. Blake fechou os olhos e soltou um suspiro. Então ele começou a atacar o cabelo com shampoo novamente. Elise estava abalada por sua reação a Blake no chuveiro. Ver um homem nu não devia ter efeito algum nela. Tornar-se uma vampira tinha a tendência de matar a modéstia junto com a pulsação, então a visão de corpo nu não tinha o mesmo tabu provocativo que para os humanos. E mais, ela estava acostumada a tomar banho na frente de estranhos, considerando que ela tomava a maioria de seus banhos na academia. Então a onda de necessidade que atingiu Elise quando ela viu Blake nu era uma complete surpresa. Blake tinha os membros longos e musculosos, sua magreza fazendo seu corpo parecer esculpido ao invés de magro. O cabelo crespo e escuro que cobria o peito de Blake se estreitava quando alcançava o estômago e então seguia uma trilha para sua virilha antes de se espalhar levemente pelas coxas. Ao olhar para Blake, Elise ficou espantada com a urgência de tocá-lo. Ela tinha acariciado seu rosto e passado os dedos por seu cabelo antes mesmo de conseguir se conter. Nunca ocorreu à Elise que Blake poderia querê-la. Ela era uma vampira, ele era humano. E mais, ela estava participando em sua morte, um fato que Blake estava bem ciente. Apesar de ele concordar com o porquê de ter que morrer, porém, a posição de Elise como um de seus executores dificilmente justificaria sentimentos afetuosos. Claro, talvez aquele desejo fosse a reação natural de Blake a uma mulher nua – qualquer mulher, até mesmo ela, uma coisa fria e sem vida que era. O pensamento aliviou e entristeceu Elise. Apenas pare, ela disse a si mesma. Uma coisa era quando você estava se forçando a se importar com Blake para não matálo. Agora você está se importando demais. Por que não pode sentir as coisas como uma pessoa normal ao invés de ser constantemente tudo ou nada? Blake saindo do banheiro interrompeu sua severa punição mental. Ele tinha uma toalha ao redor dos quadris, seu cabelo negro tocando os ombros e cacheado de umidade. “Desculpa,” ele disse, com os olhos azuis fixos. “Talvez banhos grupais seja

o que vampiros fazem, mas é mais do que posso lidar.” Elise teve que desviar o olhar. A seriedade de Blake fez seu coração dar uma guinada estranha, como se algo o estivesse puxando. “Eu que sinto muito,” ela respondeu, lutando para manter a voz fria. “Não acontecerá novamente.” Blake pigarreou como se estivesse para dizer algo e então parou. Elise olhou para cima, esperando, mas a boca dele era uma linha apertada. O que quer que ele estivesse prestes a dizer, decidiu não fazer. “Aqui.” Elise indicou a cadeira na frente dela. “Sente-se. Vou te barbear.” Mencheres tinha deixado aqueles itens de necessidade básica junto com algumas roupas para Blake, já que eles eram mais ou menos do mesmo tamanho. Blake não discutiu sobre se barbear. Ele apenas se sentou na cadeira e inclinou a cabeça para trás. Elise se aproximou com o olhar fixo na longa linha da garganta de Blake onde sua pulsação palpitava tão tentadoramente. Ela lambeu os lábios. Como seria prová-lo? Pare, ela se repreendeu imediatamente. Ele precisa da sua ajuda, não do seu egoísmo. Ela cobriu o pescoço de Blake com espuma, trabalhando rapidamente com a lâmina de barbear para que não tivesse que estar tão perto dele. O cheiro de Blake era uma mistura de nervosismo, cansaço e algo mais. Algo picante que Elise não pôde nomear já que não foi capaz de determinar o cheiro natural de Blake sob os odores de sangue e morte que o camuflavam antes. Sua pulsação aumentava cada vez que ela passava a lâmina. Ele estava preocupado com uma vampira segurando um objeto afiado em sua garganta? Se perguntando se ela superaria o desejo por sangue se cortasse acidentalmente sua pele? “Você não corre risco de eu me alimentar de você,” Elise disse depois que ele estremeceu quando ela se inclinou para mais perto para barbear debaixo de seu maxilar. Mesmo com um pouco de creme de barbear se aderindo a pele dele, sem sua antiga barba desgrenhada, ele era mais bonito do que Elise tinha percebido. “Eu ainda cheiro tão mal?” ele provocou. Não. Seu cheiro é maravilhoso e eu gostaria de enterrar minhas presas no seu pescoço e ouvir você gemer enquanto sugo seu sangue. “Não estou, ah, com fome,” Elise gaguejou. Para onde foi sua indiferença gelada? Por que ele a estava afetando tanto? Ela terminou com um último movimento para cima com a lâmina, saltando para trás para indicar com um gesto as roupas sobre a cama.

“São para você. Vou sair enquanto você se troca.” Elise quase correu do quarto, batendo a porta e se inclinando contra ela enquanto segurava com força a lâmina de barbear na mão.

Capitulo Nove

A

maior salina nos Estados Unidos era em Utah. Voar seria o meio mais

rápido para chegar lá, mas mesmo Mencheres tendo um avião particular, ele não escolheu essa opção. Talvez ele estivesse dando a Blake alguns dias para se preparar para sua morte. Dirigir era outra possibilidade, mas tinha suas próprias dificuldades, a menor delas era conforto. Enfiar Blake em um assento traseiro por mais de dois dias enquanto o levavam para sua execução era cruel. E também, o demônio tinha uma grande chance de causar um acidente e matar Blake – com muitas pessoas em volta para pular nelas – se eles estivessem todos espremidos em um carro. Então, Elise ficou aliviada quando Mencheres disse que eles pegariam um trem. Seriam apenas eles três. Bones havia resmungado algo sobre ser cedo demais desde o ultimo trem que ele pegou, o que quer que aquilo signifique, e já que ele ainda mantinha rancor contra o demônio por suas horas atormentando Cat, Elise estava contente que Bones e Cat não fossem. Mencheres reservou duas cabines dormitório para a jornada. Eles levariam quase três dias para chegar às Salinas Bonneville em Utah. Assim que eles embarcaram na Estação Union, Mencheres se fechou na cabine com Blake e ordenou que Elise dormisse na outra. Ela tinha ficado acordada durante a noite e de manhã para vigiar Blake. No entanto, o demônio não o tinha tomado ainda e Blake dormiu como se estivesse drogado. Parecia que, com seu destino selado, ele sentia alívio, enquanto Elise era quem brigava com a raiva e a dúvida. Assim que ficou sozinha na cabine, Elise não achou que seria capaz de dormir, mas seu corpo tinha ideias diferentes. O balançar do trem era familiarmente confortante, a ninando para dormir mesmo que sua mente continuasse girando. Quando ela acordou, o céu estava com sombras escuras de laranja e azul. Quase o anoitecer. Ela dormiu o dia todo. Elise pulou da cama suspensa estreita com a culpa a consumindo. Foramse seis das cinquenta e cinco horas restantes da vida de Blake e ela as passou dormindo enquanto Blake estava trancado em uma cabine com um vampiro que ele mal conhecia. Verdade, ele mal a conhecia também, mas comparado ao tempo que Blake passou com Mencheres, Elise era uma velha amiga. Ela estava de pé e abrindo a porta para a cabine vizinha no segundo seguinte. Blake olhou surpreso ao vê-la na porta, mas Mencheres apenas ergueu uma sobrancelha. “Com sua pressa, alguém pode achar que você estava com medo que eu o

tivesse perdido.” Blake estava olhando fixamente para a parte do meio de seu corpo. Elise olhou para baixo e sentiu um repente de embaraço, entre outras coisas. Não pelo fato de que ela estava tímida por só estar vestindo sua camisa e roupa de baixo, mas pelo quanto aquilo revelava sua ansiedade para vê-lo assim que ela acordasse. “Eu… achei que tivesse escutado alguma coisa,” Elise mentiu. Seu criador a olhou de uma forma que mostrava que ele sabia a verdade, mas Blake pareceu comprar a história. Ele desviou o olhar e tossiu. “Eu estava prestes a ir para o vagão restaurante e jantar. Você queria ir comigo?” “Sim,” Elise disse imediatamente. Um sorriso se espalhou pela boca de Blake. Ele transformava seu rosto em algo deslumbrante, mas também parecia nada familiar nele. Elise percebeu que essa podia ser a primeira vez que o viu sorrir. “Você pode querer vestir alguma coisa.” “Oh.” Lá ia o repente de embaraço novamente, como se o relógio tivesse rebobinado de forma mágica e ela fosse uma garota com seu primeiro namorado. “Claro. Volto logo.” Elise voltou para sua cabine, balançando a cabeça para o jeito estranho que ela estava agindo – e sentindo. Blake se recostou na cadeira em frente de Mencheres. Havia uma mesa suspensa entre eles que se dobrava como um tabuleiro de xadrez. Eles jogaram sete jogos e o vampiro o venceu todas as vezes. “Ela gosta de você,” Mencheres disse baixinho assim que Elise saiu da cabine. Blake bufou. Quem dera. “Ela mal pode tolerar falar comigo por mais do que cinco minutos, então me desculpe se eu discordar.” “Juventude,” Mencheres murmurou. “Tão cega. Falando nisso, cheque mate.” Blake olhou para o tabuleiro. Que inferno? “Seu trapaceiro bastardo,” ele disse, vendo a armadilha em que tinha caído. Mencheres olhou Blake de forma tolerante. “Eu estava vivo antes mesmo do xadrez ser inventado. Se você pudesse me vencer, então eu não teria aprendido muito em meus anos, teria?”

Blake sabia que Mencheres estava por ai há muitos anos. Mais de quatro mil, o vampiro disse casualmente, como se aquele não fosse um número incrível. Ele também contou a Blake a história dos vampiros. Como Cain foi o primeiro depois que Deus o amaldiçoou a beber sangue para sempre como uma lembrança de que ele derramou o do seu irmão Abel. Que eles viviam em uma sociedade estruturada por um Mestre líder e – contrário às frequentes declarações de Hollywood – madeira através do coração era ineficaz em mata-los. Blake não perguntou por que Mencheres estava tão livre em divulgar essa informação. Para quem Blake ia contar? Ele estaria morto logo. Elise voltou. Seu cabelo estava molhado, fazendo com que parecesse um loiro mais escuro. Sua cabine devia ter um chuveiro como essa tinha. Ela vestia calças de algodão com cordão na cintura, o que parecia ser sua norma, mas invés de um casaco de capuz e zíper sobre o top, seus braços e ombros estavam nus. O olhar de Blake se demorou em sua pele pálida e radiante, lembrando-se de como era sem roupas a cobrindo. Típico ele ter conhecido uma mulher como Elise agora, quando ele estava no ponto mais baixo de sua vida prestes a ser terminada. Blake gostaria de tê-la conhecido antes do demônio, quando ele seria capaz de levar Elise para um jantar de verdade, não apenas um lanche rápido no vagão restaurante do trem. Ou a uma peça da Broadway, ou inferno, para um elegante banco de sangue, se fosse o que ela gostava. Elise tinha mostrado a ele mais compaixão do que a maioria dos humanos que ele encontrou nos últimos meses. Ele só gostaria que houvesse algo que pudesse fazer para agradecê-la. Não havia, claro. Tudo que ele podia fazer para mostrar seu apreço era fazer o último capítulo de sua vida o mais fácil possível para ela. Então poucas coisas ainda estavam em seu controle, mas ele podia encontrar seu fim como um homem. Sem se lamentar ou nada daquela babaquice. Muitas pessoas morriam antes da hora. De fato, por causa do demônio dentro dele, Blake foi responsável por algumas daquelas mortes fora de hora. Justiça não contava pra nada quando se tratava de vida – por que ele deveria chorar por não conseguir justiça na morte? “Estou pronta,” Elise disse, segurando a porta de correr aberta. Blake ficou de pé. “Eu também.” E vou provar isso, Elise, quando chegar a hora.

Capitulo Dez

E

lise pegou seu prato, comendo um pouco só para parecer normal para

os outros humanos no vagão restaurante. Blake estava intrigado que ela pudesse comer. Ela ficou em silêncio durante a maior parte do jantar, lutando para pensar em algo para dizer e falhar. Blake não parecia esperar bater papo também. Elise se sentiu frustrada. Ela não podia ao menos ter uma conversa trivial para amenizar a noite dele? Ela estava tão sem prática de como agir em um ambiente social que ficou muda? Ela era uma vampira; ela podia erguer o vagão do trem e carregá-lo se quisesse! Porém não podia propor um jeito de começar uma simples e agradável conversa. Que humilhante. “As coisas estão quietas por quase vinte e quarto horas,” Blake disse. A vergonha a alfinetou, forçando um monte de palavras. “Sinto muito. É que não sou muito boa em conversas. Por anos, eu mal falei com alguém além de Mencheres e, ele me conhece muito bem, poucas palavras são necessárias. Eu gostaria de conversar com você, Blake, mas acho extremamente difícil encontrar as palavras certas para dizer.” Ele olhou fixamente para ela, sua boca se curvando. “Eu quis dizer que o demônio esteve quieto por quase vinte e quatro horas, mas… você quer conversar comigo?” Se Elise ainda tivesse pressão sanguínea, ela teria corado. Claro que Blake estava se referindo ao demônio. Ela era a única focada nela mesma, narcisista tola que ela era. “Não importa,” ela murmurou. A mão de Blake escorregou pela mesa, tocando o braço dela. “Eu gostaria de conversar com você também,” ele disse. Aquele pequeno sorriso em sua boca desvaneceu, deixando seu rosto muito sério. “Se estiver tudo bem.” Seus dedos eram quentes. Blake vestia uma camisa branca de botões, o colarinho aberto, mostrando seu pescoço belamente esculpido e clavícula. Calças pretas ficavam bem nele, enfatizando não apenas sua magreza, mas também a força em suas pernas. Elise engoliu a água em um gole só. Isso era ruim. Ela não se sentia assim com um homem desde – bem. E tinha terminado de forma horrível também.

“Elise?” Blake ainda a encarava. “Tudo bem?” Não. Porque se eu não me afastar agora, se eu não me distanciar de você nesse momento, vou me machucar como nunca em décadas. Minha frieza e apatia são tudo o que pode me salvar. Mas da mesma forma que Blake era impotente sobre o destino que o levava ainda mais para perto das salinas e o fim de sua vida, Elise não podia dar as costas para ele agora. Algumas coisas tinham que ser feitas, não importa o que custe. “Eu adoraria conversar com você,” ela disse. “Vamos voltar para a cabine.” Mencheres não estava na cabine quando Blake entrou. Porém, Elise não parecia preocupada com sua ausência, então Blake não perguntou. Talvez o vampiro estivesse tirando o atraso de sono. Ou encontrando seu próprio jantar. “Aqui.” Blake indicou o banco em sua frente. “É confortável, se você tem uma boa imaginação.” Ela sorriu, mostrando dentes brancos e bonitos sem aquela curva de presas que ele sabia que saiam de sua boca. Mesmo que seu cabelo ainda estivesse úmido e ela não usasse nada de maquiagem, a beleza de Elise era óbvia. Apesar de que ela parecia alheia aos olhares que recebia. Inferno, Blake achou que o funcionário do trem fosse chamá-la para sair quando ele entregou a conta. Era real? Ele se perguntou. Os filmes não foram corretos a respeito de vampiros até agora, mas e se a aparência de Elise fosse algum tipo de ilusão? A visão imaginária de um predador para atrair a presa para mais perto? “Esse é seu rosto real? Ou você se parece...” Blake fez uma pausa, tentando escolher uma palavra inofensiva, “diferente?” Ela franziu a testa. “Eu pareço diferente quando tiro meu disfarce humano, se é o que você quis dizer.” “Sim, isso.” Então ele estava certo sobre o glamour. O que estava debaixo dele? “Posso ver você? Você de verdade?” Os olhos azuis de Elise começaram a ficar verdes, mais brilhantes, até serem pura esmeralda e lançar um brilho na cabine pequena. Ela abriu a boca o suficiente para que Blake pudesse ver a ponta da língua dela tocar duas presas brancas que não estavam lá um instante atrás. “Essa sou eu,” ela disse, com a voz suave e quase hesitante. Blake esperou por mais. Quando nada aconteceu, ele estava confuso. “Eu já te vi assim, logo depois que nos conhecemos, lembra?” “Lembro.” Por um momento ela parecia tão confusa quanto ele. “Achei que você tinha esquecido, já que pediu para ver meu eu verdadeiro...”

Blake não conseguiu evitar. Ele riu, o que fez os olhos dela brilharem ainda mais naquela vibrante tonalidade de verde. “O que é engraçado?” Ela parecia irritada. Blake acenou com a mão, se controlando. “Achei que talvez você estivesse usando algum tipo de feitiço para parecer tão malditamente bonita, mas é apenas você. Não é de se estranhar que Mencheres te transformou em uma vampira. Quem não iria querer manter você por perto para sempre se pudesse?” Sua boca ainda estava aberta, mas agora, era mais com descrença. “Você acha que sou bonita assim? Mas você é humano!” Ela disse como se fosse um motivo lógico de que ele não devia. Blake suspirou. “Não significa que eu seja cego.” Ela pareceu se encolher um pouco na cadeira e desviou o olhar. “Sou uma vampira. Bebo sangue, não respiro e meu coração não bate. Eu não te assusto?” Blake pensou em todas as coisas que tinha visto – e feito, apesar de que ele felizmente não se lembrava daquelas partes – nos últimos meses. Elise, assustadora? Ela não podia ser menos assustadora para ele. “Você não me assusta.” Sua voz era áspera. “De fato, eu acho que você é o mais próximo de um anjo que eu jamais chegarei.” Algo brilhou em seus olhos, os fazendo mais brilhantes. Ele não percebeu até que uma lágrima rosa escorreu por seu rosto. “Oh, Deus, Elise, não chore,” Blake disse. Ele cobriu a curta distância até o outro lado da cabine para tomá-la nos braços, meio preocupado que ela o afastasse. Ela não o fez. Seus braços o envolveram, uma maravilhosa pele sedosa pressionada contra sua bochecha. A temperatura de Elise era mais baixa que a dele, mas não de um jeito gelado, sem vida. Não, o toque suave de sua pele parecia tão vivo quanto o dele. Se ele não soubesse o que ela era, Blake podia pensar que o ar condicionado estava ajustado um pouco abaixo do normal. “Sinto muito,” ela sussurrou. “É errado de minha parte te sobrecarregar com minhas lágrimas. Por favor, solte-me.” Blake não queria. Abraçar Elise parecia mais certo do que qualquer coisa que ele tinha feito em, bem, ele não podia se lembrar de quanto tempo. “Eu também preciso disso,” Blake disse. Em outro tempo, ele teria sido muito cauteloso para admitir tal vulnerabilidade para uma mulher que ele não conhecia muito bem, mas agora esses jogos pareciam perda de tempo. Tempo que ele não tinha.

Ela se moveu para que ele pudesse se sentar no banco estreito com ela ao invés de se equilibrar sobre ela. Blake puxou Elise para seu colo, descansando a cabeça dela debaixo de seu queixo e fechou os olhos. Na calma proximidade deles em mútua necessidade por consolo, havia mais honestidade do que Blake tinha experimentado em todos seus outros relacionamentos. Ela era o que eu procurei em toda minha vida, Blake percebeu, mas não com remorso. Ele percebeu com profunda apreciação por ter-lhe sido permitido conhecê-la antes que fosse tarde demais. “Fui noiva na década de 50.” A voz de Elise mal podia ser ouvida sobre os ruídos do trem. “Edmond não sabia o que eu era. Eu contei a ele que não podia ter filhos, mas ele disse que não importava. Achei que ele aceitaria o resto de mim também, se eu pudesse mostrar a ele que eu o amava realmente. Mencheres me encorajou a contar a Edmond o que eu era, para não começar nosso casamento com tamanha ilusão entre nós. Então, na noite anterior ao nosso casamento, eu mostrei a Edmond minha verdadeira natureza.” Ela estava tremendo. Blake acariciou suas costas. “Ele ficou tão horrorizado.” Era um sussurro cheio de dor. “Ele me chamou de suja, dejeto do inferno. Ele não ouvia, não importava o que eu dizia. Ele fugiu, mas eu pensei que com um pouco de tempo seu medo cessaria e ele voltaria. Ele voltou, na manhã seguinte. Eu acordei e Edmond estava no quarto com pessoas que eu nunca tinha visto antes. Todos eles tinham estacas de madeira, uma tão longa quanto um poste e...” A voz de Elise falhou. Os braços de Blake se apertaram ao redor dela. “Edmond fez com que eles me segurassem. Eu não lutei, porque achei que se Edmond visse que eu não estava lutando com eles, ele perceberia que havia nada a temer de mim. Continuei implorando para Edmond parar, mas...” A voz de Elise mudou. Tornou-se plana e sem emoção. “Edmond enfiou uma estaca em meu coração. Olhei em seus olhos o tempo todo. Ele ficou furioso quando não morri – ele continuou apunhalando mais madeira em meu peito. Eu não podia pensar em meio à dor e finalmente eu revidei. O pescoço de Edmond quebrou quando ele atingiu a parede. Os outros ficaram feridos, mas viveram. Eles fugiram e eu deixei minha casa para viver abaixo da estação de trem nos túneis. Eu basicamente evito pessoas desde então, porque se eu não me importasse com mais ninguém, então ninguém poderia me ferir.”

Capitulo Onze

E

lise esperou pela reação de Blake. Só Mencheres sabia dessa parte de

sua vida, mas como uma vampira e seu criador, ele era claramente suspeito para falar quando se tratava da opinião dele sobre o que ela fez. O que Blake iria achar, sabendo que ela matou seu noivo humano no dia do casamento deles? “Não posso acreditar que ele fez aquilo com você,” Blake disse. Suas mãos sem parar de acariciar as costas dela. “Eu entendo porque Edmond correu. Ter medo do que não conhece – é, eu entendo isso. Mas eu nunca vou entender por que ele tentou te matar quando voltou. Como Edmond pôde fazer aquilo com você, não importa o quanto ele estivesse chocado?” Algo dentro de Elise explodiu. Deve ter sido sua última linha de defesa emocional, porque os sentimentos a percorrendo deixando-a tonta tamanha era a intensidade. Quem podia imaginar que a aceitação desse verdadeiro estranho seria o santo cálice de perdão que ela procurou durante todas essas longas e solitárias décadas? E por que era que ela só tinha o encontrado agora, para ter que perdê-lo tão cruelmente nos próximos dois dias? “Perdi alguém que amava também,” Blake disse. “Eu me casei com Gail logo que sai do exército. Nós dois éramos jovens, sem ideia de como fazer um casamento funcionar. Consegui um emprego no setor de transações comerciais na bolsa de valores e trabalhei do meu modo para ser um corretor de sucesso em Wall Street. Gail terminou a faculdade e começou a lecionar. Ela queria começar uma família; eu queria esperar para que pudesse continuar avançando em minha carreira. Eu estava tão ocupado escalando a escada corporativa que ignorei o que importava para Gail. Não a culpo por ter se divorciado de mim. Às vezes você tem que perder tudo para saber o que tinha.” Isso era familiar para Elise. Ela perdeu tudo quando era humana durante a Grande Depressão, então novamente com Edmond e agora ela tinha o pressentimento de que quando Blake morresse, ela perderia tudo mais uma vez. Por que não podia existir outro jeito de derrotar o demônio dentro dele, além de matá-lo? “Elise.” Blake se afastou o suficiente para ela olhar para ele. “Você poderia beber de mim?” “O quê?” Ela não teria ficado mais espantada se o demônio aparecesse de repente. Ele suspirou. “Não tenho muito tempo e está tudo bem. Mas eu gostaria de

pensar que algo de mim vai durar. Se meu sangue estiver em você, então vou viver o mesmo tempo que você…” Mais lágrimas vieram a seus olhos. Como ela poderia sentir tanta dor quando há apenas alguns dias ela era vazia por dentro? “… mas só se você quiser,” Blake continuou. “Não sei se o demônio em mim faz com que seja desagradável demais para—” Elise fechou a boca sobre sua garganta, a subtaneidade do movimento cortando sua frase. O coração de Blake começou a bater em um ritmo mais rápido e excitado que aumentava sua fome. Ela deixou a língua sondar seu pescoço, provando sua pele. Acariciando sua pulsação. Decidindo onde ela penetraria com as presas. A respiração de Blake acelerou, seu peito roçando no dela com seu movimento rápido. Suas mãos apertavam as costas dela no mesmo ritmo em que ela batia a língua em seu pescoço. “Isso, ahh, vai doer?” ele perguntou com voz surpresa quando ela pressionou as presas contra sua garganta. Elise sorriu. “Você vai ver.” Ela deixou suas presas perfurarem-no lentamente, saboreando o delicado rompimento da pele e o sangue delicioso e quente que fluiu. Blake estremeceu, deixando escapar um gemido que ela ouviu e sentiu contra a boca. Ela esperou, deixando o veneno de suas presas se espalhar mais em sua corrente sanguínea, antes de puxá-lo para uma longa e profunda sucção. As costas de Blake se arquearam e ele arfou. Elise gemeu quando o sangue desceu por sua garganta, aquecendo-a. Incendiando cada sentido sobrenatural que existia nela. Ela tomou outro gole, obtendo o mesmo prazer pela forma que as mãos de Blake a agarravam quanto obtinha do doce sabor de seu sangue. A respiração dele estava entrecortada, a palpitação da pulsação contra sua boca espelhada por seus batimentos cardíacos próximos a seus seios. O cheiro delicioso e picante dele aumentou, a envolvendo. Intoxicando. Encorajando a obter mais. “Deus, sim,” Blake gemeu com o tom de voz se elevando. Elise agarrou sua cabeça, dobrando mais o pescoço para trás e o mordendo novamente. Ele soltou um grito enrouquecido, como um amante pode fazer. Ao mesmo tempo em que Elise tomou um último longo gole, saboreando seu sangue, ela passou o polegar por uma presa e manteve o corte nos furos que ela tinha feito. Eles se fecharam antes de Blake emitir um último som. Ela se inclinou para trás para ver o rosto dele. Seus olhos estavam fechados, fios negros de cabelo caindo sobre sua testa e ele tinha uma expressão sensual, letárgica – e surpresa no rosto.

Seus olhos se abriram logo em seguida, belos e azuis. “Não doeu nada,” ele disse, os lábios curvados em um sorrisinho. Elise riu, brilhante e preenchida pela inesperada felicidade dentro dela.

O cheiro de enxofre a acordou. Blake tinha adormecido em seus braços, ambos reclinados no estreito assento que se passava por cama. Elise não estava com sono. Ela não queria perder um segundo de seu tempo que restava com Blake. Quando aquele cheiro horrível e ardente envolveu Blake, seus braços endureceram e ela se encheu de raiva. Ela estava preparada para evitar que o demônio fizesse mal a Blake – ou escapasse – então ela foi pega de surpresa quando tudo que o demônio fez foi abrir os olhos. “Você e eu precisamos conversar,” Xaphan disse com uma voz baixa e grave. Elise olhou com ódio quando a pele de Blake ficou daquela cor pálida de cera e o vermelho substituiu o adorável azul em seus olhos. “Eu acho que não,” Elise rosnou. Os lábios dele se curvaram em um desdém condescendente. “Vampirinha estúpida, você não vê? Sou sua única esperança para salvar esse mortal.” Mesmo que ela não acreditasse, a esperança se ascendeu nela. “Como? Você está disposto a deixá-lo?” Isso significaria que o demônio iria fugir, mas então Blake estaria livre. Deus a perdoe, ela ficaria bem com isso. “Se eu pudesse fazer isso, acha que eu ainda estaria aqui, mantido por dois insetos sugadores de sangue? Estou enterrado muito profundamente nesse corpo para deixá-lo enquanto ainda tem vida, vampira. Mas vou fazer uma barganha com você.” Não escute. Você não pode barganhar com o mal. Ele sempre vai ganhar se você o fizer. “Qual a sua oferta?” Elise perguntou suavemente. Aqueles olhos malignos brilharam sobre os dela. “Vou te dar o resto da expectativa de vida natural desse mortal se você nos afastar do outro vampiro. Quando o mortal eventualmente morrer, então estarei livre para encontrar um lar melhor.” “Mentiroso,” Elise disse com desprezo. “Você tentaria matar Blake assim que saíssemos desse trem.” Xaphan suspirou. O cheiro de enxofre de seu hálito teria feito Elise vomitar se ainda fosse humana.

“Os anos que restam para esse mortal não são mais do que uma batida de relógio para mim, mas eles significam algo para você, não é? É uma oferta justa. Se você recusar, tentar me forçar para as salinas, vocês todos vão morrer. Você não pode achar que vai me derrotar; Eu sou um dos primeiros Caídos. Eu estava por aí muito antes de Cain ser transformado em um vampiro.” Um medo gelado passou pela espinha de Elise enquanto ela olhava o demônio nos olhos. Não restava nada de Blake neles. Eles eram eternos, cruéis e chamas vermelhas o serpenteavam. Era como se ela tivesse sido permitida das uma espiada no inferno. Como ela e Mencheres podiam pensar em matar algo tão antigo, tão poderoso como Xaphan? E se todos eles realmente morressem nas salinas, seus corpos deixados para apodrecer sob o sol forte, porque ela não pegou a única chance que eles tinham de sobreviver? Ela conseguiria matar Blake, depois do que ele passou a significar para ela? Elise pensou em ter Blake com ela por quarenta, cinquenta, talvez até mesmo sessenta anos. Isso seria mais felicidade do que ela jamais permitiu a si acreditar que encontraria em toda sua vida morta-viva. Pode ser que Xaphan ganhe de qualquer forma, se ela insistisse em levar Blake para as salinas. Talvez se ela aceitasse o acordo agora, no futuro, eles encontrariam outro jeito de vencer Xaphan sem matar Blake ou deixar o demônio possuir outra pessoa. Sério, essa não era a única solução possível, mesmo que isso significasse barganhar com um demônio? “Se você se importa tanto pela vida dele – ou pela sua – você verá que essa é a única escolha…” Xaphan pronunciou lentamente. Ela vislumbrou o rosto de Blake em sua mente, parecendo completamente diferente do que parecia agora com o demônio o pilotando. Não posso viver assim, ele disse quando se encontraram pela primeira vez. Blake tinha provado, incontáveis vezes, que ele preferia morrer a deixar o demônio escapar. No final, essa não era a decisão dela. Era de Blake – e ele já a tinha feito. “Sem acordo,” Elise disse, solidificando sua resolução. “Se todos morrermos te enviando de volta ao inferno, então que seja.” O demônio uivou, se tornando uma massa de movimento lívido e os arremessando contra o teto da cabine como um borrão. Elise não o soltou, se agarrando nele e deixando seus olhares cheios de ódio se encontrar. “Vou te matar,” Xaphan sibilou. Elise não piscou. “Você vai tentar.” De repente, o demônio congelou. Elise relaxou, embora a nova inundação de poder opressivo a apertasse. Mencheres entrou na cabine. “Você fez a coisa certa, minha criança,” ele disse para Elise.

Ela não estava surpresa que seu criador tinha escutado tudo. “Não tive escolha.” Mencheres se aproximou, forçando o demônio para o canto do cômodo pequeno. “Sim, você teve. E você fez a certa.” Elise se perguntou se ela ainda acharia isso mais tarde.

Capitulo Doze

B

lake olhou para o relógio. Oito e meia da noite. Ele tinha menos de vinte

e quatro horas de vida. Elise sentou na frente dele e sua tensão era palpável. Mencheres a tinha forçado a sair essa manhã para dormir um pouco, mas Elise voltou parecendo que tinha passado as três horas na outra cabine acordada. Blake queria assegurar mais uma vez que ela tinha feito tudo que podia, mas talvez falar sobre isso só fizesse as coisas ficarem piores. Seu cabelo loiro estava solto, caindo abaixo dos ombros e ela vestia outro top com calças estilo de yoga. Blake a esteve estudando enquanto ela olhava para a janela, tentando memorizar suas feições. Pequena, nariz reto. A boca que parecia mais sensual do que emburrada. As maçãs do rosto altas e testa lisa. Seus lindos e hipnóticos olhos azuis esverdeados. Sim, se houvesse uma vida após a morte, Blake queria levar a memória de Elise com ele. “Xadrez?” ele perguntou, indicando o tabuleiro. Ela desviou o olhar da janela. “Não sei jogar.” “Hmm. Não sabe dirigir ou jogar xadrez. O que você tem feito com todo o seu tempo?” Seu tom era provocador, mas o rosto dela estava confuso. “Eu escuto música,” ela disse lentamente. “Leio muitos livros. Quando fico impaciente, ando pela cidade. Tem sido o suficiente.” Não parecia suficiente. Parecia solitário. Elise disse que vivia daquele jeito desde a década de 50, mas como ela era antes disso? Blake sabia que ela era muito mais velha que ele apesar de parecer ter uns vinte anos. Quão mais velha? Ele se perguntou. “Quantos anos você tem?” Ela pareceu pensar sobre isso por um momento. “Tudo junto, incluindo os anos antes de eu me tornar uma vampira?” Blake assentiu. “Noventa e nove em setembro,” Elise disse.

Aquele número era tão em desacordo com sua aparência adorável e juvenil que Blake teve que sorrir. “Você não parece ter nem um dia a mais do que noventa e dois,” ele disse com humor irônico. Elise deu de ombros. “Alguns dias, eu me sinto ainda mais velha.” Hoje era um desses dias, se o estresse em seu rosto fosse algum indicativo. Blake procurou aliviar o humor dela. Não havia necessidade de nenhum se lamentar pelo que estava por vir. “Que tal eu te ensinar a jogar xadrez? Não é difícil. Quando o trem chegar em Salt Lake amanhã, você será uma profissional.” “Não quero aprender a jogar xadrez,” Elise repreendeu, então agarrou a ponta da placa de metal embutida e a arrancou da parede. Blake a encarou. “Não faça isso.” De repente ela estava na frente dele, se ajoelhando no espaço vazio onde a mesa embutida estava. “Você não tem que morrer.” Sua voz estava despedaçada. “Posso te levar comigo e te manter seguro. Evitar que o demônio machuque mais alguém...” Blake pegou seu lindo rosto nas mãos. “Você não pode me vigiar cada segundo de cada dia e eu não vou deixar aquela coisa fugir para arruinar as vidas de mais pessoas. Além de você, a única coisa que tem me feito feliz nesses últimos dias é saber que finalmente eu o assustei pra variar. O demônio vai se arrepender do que fez para mim, porque sou o homem que vai derrubá-lo. Não tente tirar isso de mim, Elise.” Seus olhos estavam brilhantes com os cantos tingidos de rosa. Blake não pôde impedir o que fez em seguida. Ele a beijou, precisando do gosto dela como se ele fosse o vampiro e ela fosse sangue fresco. Para o seu alívio, a boca dela se abriu imediatamente, sua língua buscando a dele enquanto presas cresciam dos dentes superiores. Blake não se importou com as presas, mesmo quando aquelas pontas afiadas cortaram sua língua. Elise sugou o sangue enquanto o beijava, sua necessidade crua combinando com a dele e levando a paixão para um nível ardente. Ele a puxou para o colo, gemendo quando ela colocou as pernas em torno de sua cintura. Suas mãos foram para baixo do top, o puxando com impaciência. Então ele piscou quando o viu no chão com o sutiã no momento seguinte. Porém, Blake não se incomodou em contemplar o quão rápido Elise o tirou. Ele pegou seus seios, afastando a boca da dela para beijá-los. Sua pele era macia e lisa em comparação com os mamilos tão enrijecidos. Quando ele chupou e os mordeu gentilmente, Elise gemeu, rasgando as calças dele.

Elas se abriram, rasgadas até o joelho. Blake as tirou, chutando para longe. As calças dela se foram com outro borrão, assim como a camisa dele, até haver nada separando a pele dela da dele. Ele agarrou os quadris dela e arqueou para frente, sua mente explodindo com o aperto quando ele a penetrou. Oh Deus, oh sim! Ele a beijou novamente, passando as pernas ao redor do assento em sua frente, se movendo mais rápido e mais profundamente com ela. Elise se movimentava com ele, o apertando com tanta força que quase doía – mas ele não queria que terminasse nunca. Ele a segurou, movendo-se mais rápido, sabendo que isso seria o mais próximo que ele alcançaria do céu.

O apito do trem ao chegar à estação pareceu uma sentença de morte para Elise. Ela agarrou a mão de Blake. Se fosse possível para vampiros vomitar, ela teria feito quando o trem parou na estação. “Salt Lake City,” o funcionário informou alegremente. Blake apertou a mão dela. “Está tudo bem,” ele disse e endireitou os ombros. Não vou chorar, Elise prometeu a si. Se ele pode ser corajoso assim, eu também posso. Embora ela não se sentisse corajosa. Parecia que ela tinha prata furando seu coração. Como ela iria passar o dia, não fazia ideia. Na noite passada, ela imaginou qualquer opção além da morte de Blake. Transformar Blake em um vampiro não iria funcionar, Mencheres a lembrou quando ela mencionou. Transformar Blake em um vampiro requeria que seu sangue fosse drenado até ele estar quase morto. Então, ainda preso a vida, Blake beberia do sangue de Elise, o que engatilharia sua não morte. Já que a morte natural não aconteceria, se tornar um vampiro não forçaria o demônio a sair. Não, ao invés disso significaria que Xaphan teria uma entrada para possuir um vampiro. Com Blake como um vampiro possuído, quem sabia quais novos horrores Xaphan poderia colocar em prática? Eles estariam lidando com o demônio mais poderoso que jamais sonharam. Não vou deixar o demônio livre, ele tinha afirmado sem rodeios. Mencheres concordou que somente a morte humana, sem sangue de vampiro em Blake, forçaria Xaphan a sair para a armadilha cruel das salinas. Mas sem sangue de vampiro em Blake, sua morte era irreversível. Eles saíram do trem. Elise continuou segurando na mão de Blake porque ela não conseguia aguentar não tocá-lo, mas a mão de Mencheres no ombro de Blake era por um motivo diferente – para contê-lo caso o demônio tentasse fugir de novo. Xaphan tinha se apossado de Blake na noite passada, destruindo o interior da cabine antes que Mencheres o parasse. Elise teve que compelir os funcionários

do trem para que eles não ligassem para a polícia devido à confusão. Todos vocês vão morrer amanhã, Xaphan falou com escárnio antes de rastejar para dentro de qualquer que seja o buraco em que ele se enterrou dentro de Blake. Não, não foi a última vez que eles tiveram notícias de Xaphan. Elise não sabia o que o demônio tinha guardado para eles, mas ela sabia que ele não iria embora gentilmente. Porém, Xaphan não a estava assustando com suas ameaças. Ele só estava solidificando sua decisão em fazer qualquer coisa para garantir que Blake tivesse sua vitória sobre o demônio. Se Blake estava disposto a morrer por isso, então ela também estava. Mencheres tinha dois veículos esperando por eles no estacionamento. Um era um sedan de quatro portas normal, mas o outro era uma van grande. O coração de Elise se apertou ao pensar em carregar o corpo de Blake para a van depois de tudo. Pelo menos ele não seria enfiado em um porta-malas. Esse insulto ela não podia aguentar. “Espere alguns dias para enviar minhas cartas,” Blake disse para ela baixinho. Ele havia escrito para sua família, se desculpando pelo que eles pensavam que ele tinha feito e dizendo que os amava. “Tudo bem.” Ela não contou a Blake que não tinha intenção de enviar aquelas cartas. Ela as entregaria pessoalmente e garantiria, com todo seu poder não humano, que eles não pensassem menos do incrível homem andando ao lado dela. Mencheres parou ao lado da van. “Vou dirigir esse,” ele informou. “Você e Blake me seguem no carro.” Elise não se moveu. Não, não, estava passando pela mente dela em um rugido. Blake se inclinou e muito gentilmente a beijou na bochecha. “Não me deixe agora,” ele sussurrou. Ela assentiu e forçou as pernas a se moverem, um passo depois do outro. De alguma forma ela conseguiu entrar no carro, Blake no assento do motorista ao lado dela. Mencheres ligou a van e Blake o seguiu para fora do estacionamento em direção à manhã brilhante e ensolarada.

Capitulo Treze

B

lake olhou de relance para a paisagem ao longo da Interestadual 80.

Era a primeira vez que ele vinha a Utah. De fato, era a primeira vez que ele estava na região Oeste. Ele ficou a maior parte do tempo na Costa Leste durante seus trinta e sete anos. Nascido em Massachusetts, se alistou no exército depois do colegial, se formou na Penn State*, casou em Nova Jersey, se divorciou em Nova York, foi possuído em Nova York, conheceu uma vampira no Distrito de Colúmbia, morreu em Utah, Blake refletiu. Havia tanto que ele queria fazer com sua vida, mas de alguma forma, ele deixou a maioria ser engolida sob promessas de “mais tarde”. *Apelido da Universidade da Pensylvania. Agora que não havia mais “mais tarde,” Blake não pôde evitar a tristeza que se instalou. Ele gostaria de ter passado mais tempo com sua família. Conhecido melhor seus amigos. Deixar de lado o ciúme e ressentimentos mais rapidamente. Todo aquele tempo, tanto dele desperdiçado, Blake pensou. O que eu não daria para viver tudo de novo, especialmente com Elise ao meu lado. Mesmo que o arrependimento tomasse conta dele, Blake o afastou. Ele escolheu sua vida, do jeito que foi e foi permitido que ele conhecesse a pessoa mais incrível antes de seu fim. E mais, o que ele estava fazendo agora era o equivalente a pular sobre uma granada para salvar dúzias de pessoas, se não fosse mais. Blake manteve a mesma mentalidade que tinha durante os dois anos no Iraque, durante a primeira Guerra do Golfo. Complete sua missão. Não falhe com sua unidade. No momento, Elise era sua unidade. Ele a deixaria orgulhosa dele. “Não quero que você volte para sua casa nos túneis,” Blake disse. Ela olhou para ele com os olhos arregalados. “O quê?” “Não quero que você volte para sua casa nos túneis,” ele repetiu, enfatizando cada palavra. “Não quero você desperdiçando seus próximos cinquenta anos como os últimos cinquenta. Sei que vai ser difícil para você, mas não deixe que te arraste para onde você estava, evitando todo mundo para que não tenha que se importar com alguém. Posso lidar com o fato de morrer, Elise, mas não posso lidar com esse pensamento.” Ela contraiu o maxilar e piscou algumas vezes, mas não respondeu. “Prometa,” Blake disse, endurecendo a voz.

“Prometo.” Suas palavras estavam engasgadas. Blake olhou novamente para a estrada, algo apertado dentro dele relaxando. Elise iria prosseguir. Ela viveria o suficiente pelos dois e, um dia, algum bastardo de sorte apareceria e a faria feliz. E quem quer que ele fosse, Blake o odiava. Parece que ele não tinha deixado o ciúme para trás, afinal de contas. Blake começou a assobiar para se distrair daquela linha de pensamento. Estranhamente, ele se viu assobiando aquela mesma melodia que Elise tinha assobiado no início da semana, “Beautiful Dreamer.” Depois de alguns minutos, um pouco da rigidez deixou a fisionomia dela. “Amo essa música,” ela murmurou. “Era minha favorita quando criança.” “Ela é tão antiga assim?” Blake perguntou, provocando. Ela o olhou de forma melancólica. “Mais antiga. Minha mãe costumava cantar para mim antes de eu dormir. Engraçado, não me lembro do rosto dela, mas lembro de sua voz.” Blake engoliu seco. Com o tempo, ela esqueceria seu rosto também. “Como você se tornou uma vampira?” Elise fixou o olhar na van de Mencheres na frente deles. “Eu tinha vinte e um anos quando a Grande Depressão começou. Meu marido, Richard, perdeu o emprego no primeiro ano, junto com tantas outras pessoas. Depois de vários meses, perdemos nossa casa também. Meus pais estavam mortos, mas a mãe dele estava viva, então ficamos com ela por um tempo. Tive minha filha, Evangeline, nessa época. Dois meses depois de ela nascer, a mãe de Richard morreu. Ela estava atrasada com o pagamento da casa, então o banco a tomou e não havia seguro de vida, então fomos jogados na rua. Alguns amigos de Richard viviam em Hooverviles no Central Park, então foi para lá que fomos.” “O que é uma Hooverville?” Blake perguntou “Era o que todos chamavam de vilas de tendas, depois daquele bastardo, Presidente Hoover. Richard juntou papelão, madeira e sucata suficiente para fazer um abrigo. Todo dia ele procurava por emprego, mas não havia. O inverno chegou e meu bebê ficou doente. A levei para o hospital, mas eles nos mandaram para casa. Ela morreu três dias depois. Duas semanas depois, Richard pulou da Ponte do Brooklyn.” “Oh, Deus, sinto muito,” Blake disse, imaginando Elise como a jovem mulher deprimida que deve ter sido. Ela secou os olhos. “Tento nunca pensar nessa época.” Sua voz era

incrivelmente firme. “Dói demais. Doeu muito na época também, por isso que logo depois da morte de Richard, eu pulei da Ponte do Brooklyn também.” Blake engasgou. “O quê?” Elise assentiu com um olhar distante em seu rosto. “Não me lembro de atingir a água. Só me lembro do frio. Havia pedaços de gelo no Rio East naquele dia. Eu devia ter morrido; a maioria das pessoas que pulam daquela ponte morre, mas Mencheres me encontrou boiando na água e me salvou…” Sua voz sumiu – então ela gritou, “Pare!” Blake pisou nos freios com tanta força que sua cabeça quase bateu no volante. Ele olhou ao redor, mas não havia nada na estrada ou qualquer outro motivo que ele pudesse ver que justificasse a reação dela. “Jesus,” ele exclamou. “Não faça isso de novo. Se eu não estivesse usando cinto de segurança, eu teria passado direto pelo para-brisa e feito Xaphan ganhar o dia!” Elise se virou para olhar para ele, seus olhos verdes queimando e uma expressão no rosto que ele não conseguia nomear. “O rio,” ela murmurou. “O gelo. Claro.” Blake sentiu como se ela estivesse falando uma língua desconhecida. “Do que você está falando, Elise?” Como resposta ela o beijou. Então saiu do carro, desligando o motor e levando as chaves com ela. Elise estava de pé ao lado de Mencheres. Os dois do lado de fora do carro, perto o suficiente para poderem alcançar Blake rapidamente se Xaphan o tomasse, mas longe o suficiente para que Blake pudesse ouvir o que ela estava dizendo. “Você disse, quando me encontrou no rio, que eu não tinha pulsação,” Elise disse atropelando as palavras. “Para todos os efeitos, eu estava morta, mas o rio estava tão frio naquele dia que me deu hipotermia. Minha atividade corporal se reduziu para morte clínica, mas quando você me tirou do rio, você me aqueceu, me deu seu sangue e me trouxe de volta. Se induzirmos severa hipotermia em Blake, seu coração vai parar, assim como sua respiração. Ele estará morto o suficiente para forçar Xaphan para as salinas. Então, assim que o demônio se for, trazemos Blake de volta. É arriscado, mas pode funcionar.” Elise queria desesperadamente que Mencheres concordasse. Mas ele tinha muito mais experiência com demônios do que ela; talvez houvesse algo que ela não estivesse vendo. E se levasse tempo demais desde que Xaphan fosse expelido do corpo de Blake até sua essência ser destruída? Quantos minutos Blake podia ficar morte antes de não dar mais para trazê-lo de volta?

“Venha comigo,” Mencheres disse. Ele a conduziu para a lateral da van. O coração de Elise parou. Mencheres a estava levando para fora do campo de visão de Blake para dizer a ela que isso não podia ser feito? Ele queria dar a ela privacidade enquanto ela irrompia em lágrimas quando ele batesse o martelo com o veredito? Mencheres abriu a parte de trás da van. Lá dentro tinha um container retangular de vários metros de comprimento, com vários aparelhos médicos que ela não conhecia, empilhados em volta dele. Mas o gerador e o desfibrilador portátil ela conheceu de imediato e só havia um motivo para eles estarem lá. “Você sabia,” ela sussurrou. “Você sabia esse tempo todo que havia uma chance de que Blake pudesse ser salvo desse jeito. Por que não me disse?” “Porque você tinha que acreditar que o perderia para perceber o que ele significava para você,” Mencheres respondeu. “Faz muito tempo que você não se importa com alguém. Eu queria isso para você novamente.” Elise olhou mais uma vez para os itens na van. Não havia garantias de que isso iria funcionar e ela tinha muito a aprender em pouco tempo, mas havia esperança. Pelo menos, havia esperança. “Tudo bem,” Elise disse. “Vamos começar.”

Capitulo Quatorze

A

s Salinas Bonneville pareciam um oceano branco e desolado. Elas se

estendiam por quilômetros em uma península que era delimitada a oeste pelas montanhas e ao sul pala interestadual. Mencheres dirigiu até a placa no fim do acesso pela estrada que dizia para os visitantes estacionarem e se aventurarem a pé na parte para turistas. Blake sabia por que eles não iam parar na parte para turistas; eles estavam se dirigindo para o meio das salinas, onde quatro quilômetros era a distância mais próxima entre ele e o fim da barreira de sal. Estava um calor escaldante do lado de fora, mas nesse caso, era um bônus. Na primavera, Mencheres disse, o sal se tornava um mingau em alguns lugares, fazendo com que dirigir fosse impossível – e eles precisavam da van com seus equipamentos armazenados. Mas no meio do verão, o sal era duro, como pedras cristalizadas, permitindo que a van passasse facilmente sobre a superfície plana e brilhante. Blake se sentou entre eles no banco da frente. Havia muitos instrumentos na parte de trás, que seriam usados para matá-lo, se e quando Xaphan aparecesse. Blake não tinha dúvida de que o demônio apareceria a qualquer momento. De fato, ele se perguntava pelo que Xaphan estava esperando. Finalmente, Mencheres parou. Blake olhou ao redor. Havia nada para ver, exceto quilômetros de branco e montanhas à esquerda. Se preparando, Blake respirou fundo. “Ok. Estou pronto.” Apesar do otimismo de Elise em ser capaz de trazê-lo de volta, Blake não acha que iria funcionar. As chances eram que, quando ele morresse, ele permaneceria morto. Ressuscitações com sucesso aconteciam e menos de metade dos casos, ele sabia disso por causa de seu período no exército quando eles o ensinaram triagem de campo. Porém, ele não compartilhou suas dúvidas com Elise. Deixe-a achar que ele morreu acreditando que seria salvo. Por que fazer disso mais difícil para ela? Blake foi para a parte de trás da van. Não tinha muito espaço com todo aquele equipamento. Mencheres abriu as portas e armou o gerador do lado de fora. Não tinha necessidade de arruinar sua pequena chance com envenenamento por monóxido de carbono. Elise indicou o grande recipiente na van, o que para Blake parecia um caixão elaborado cheio de água.

“Será mais fácil se você tirar suas roupas… a maior parte delas, pelo menos.” Ela parecia quase tímida ao dizer isso, como se ele tomasse sua sugestão como voyeurismo pervertido. O coração de Blake se apertou. Vou sentir sua falta para sempre, ele pensou, olhando dentro dos belos olhos azuis esverdeados de Elise. Ele ficou só de cuecas e então a tomou nos braços. Ela o abraçou com força, seu corpo inteiro tremendo como se algo dentro dela estivesse tentando se despedaçar. “Eu sei que não faz sentido, já que nos conhecemos há apenas menos de uma semana, mas Blake, se eu pudesse passar o resto da minha vida só com uma pessoa, seria você,” ela sussurrou. Blake se afastou. Olhou para o rosto dela e viu nele a nua vulnerabilidade, emoção e necessidade. Ele sorriu, afastando uma mecha de seu cabelo loiro. “Não, Elise. Nós nos conhecemos para sempre, porque é esse o tempo que vou te amar.” Então ele a beijou, tentando estampar a sensação dela em sua boca, mãos e corpo antes que a morte viesse para levá-lo. Elise estava ajoelhada ao lado da câmara de água. Blake estava imerso na água glacial por mais de cinquenta minutos. Seu forte tremor inicial tinha diminuído, assim como sua pulsação e respiração. A confusão estava começando a tomar lugar enquanto seus olhos se mantinham fechados e tremendo. “Onde estou? Ele balbuciou para Elise. “Quente demais. Preciso sair.” “Ele está entrando nos últimos estágios de hipotermia,” Mencheres disse baixinho. “Seu corpo deixou de sentir frio e está fornecendo uma falsa sensação de calor. Não vai demorar muito agora.” Elise tocou a testa dele, mas Blake não pareceu sentir. Seu rosto e pescoço estavam para fora, mas o resto estava submerso na água congelada. Tudo do melhor para causar uma parada cardíaca por hipotermia. Se ela pudesse trocar de lugar com Blake, ela o teria feito um milhão de vezes. Os últimos quarenta minutos foram o inferno, o vendo sofrer no container. Seu único conforto era saber que Xaphan ia sofrer também. Ele se apossou de Blake assim que ele deitou na câmara. Xaphan se debateu, tentando quebrar tudo que podia tocar. Mencheres o conteve com seu poder, segurando o corpo de Blake imóvel mesmo que o demônio se contorcesse e lutasse dentro dele. Xaphan sumiu nos últimos trinta minutos. Elise imaginou que o demônio estava descansando para um último round. O coração de Blake falhou várias vezes. Elise ficou tensa, encontrando os

olhos de Mencheres. Breve, muito breve. O pânico fez Elise querer arrancar Blake da água e começar a aquecê-lo agora. E se isso não funcionasse? E se essa fosse a última vez que veria Blake? Bom Deus, como ela poderia aguentar seu coração ser destruído de novo. Blake disse algo que ela não pode entender. Elise se inclinou para mais perto até a boca dele estar quase ao lado de seu ouvido. “O que é, querido?” “Elise.” Seu nome estava distorcido e sussurrado, como se Blake mal tivesse forças para pronunciá-lo. “Cante para eu dormir.” Os olhos de Blake estavam fechados, então Elise não teve que se preocupar com ele vendo suas lágrimas. Ela começou a cantar, mergulhando a mão na água congelada para que pudesse segurar a dele. A respiração de Blake se tornou instável, os intervalos entre suas respiradas ficavam cada vez mais longos. Seu pulso estava irregular também, horas acelerando e então ficando cada vez mais lendo. Quando Elise chegou à última linha da canção, o coração de Blake parou completamente. Ela olhou para ele, se sentindo mais congelada por dentro do que a água gelada que causou sua morte. Os olhos de Blake estavam dilatados, nenhuma centelha de vida neles. Apenas vidrados, como olhos de uma boneca. Elise achou que estava preparada para vê-lo desse jeito. Que ela era forte o suficiente para lidar com isso, mas algo dentro dela se quebrou. Ela arrancou a tampa da câmara e ergueu Blake em seguida. As mãos de Mencheres a impediram rapidamente. Evitando que ela levantasse Blake inteiramente daquela água terrível e assassina. “Espere,” ele disse. “Não,” Elise falou por entre os dentes. “Tenho que trazê-lo de volta!” Mencheres não a soltou e ela sentiu o seu aperto mais do que apenas os braços. “Não. Ainda.” Elise teria lutado com ele, seu próprio criador, em quem ela confiava mais do que qualquer pessoa no mundo. Mas uma rajada de poder no ar ao redor deles a impediu. Vapores de enxofre pareciam entrar no seu nariz e um uivo de raiva encheu a van até ela tremer. “Seus tolos,” Xaphan sibilou. As palavras não saíram da boca de Blake. Elas vieram de trás dela.

Capitulo Quinze

E

lise não teve tempo de se virar antes de as portas da van explodir e

Mencheres foi sugado para fora, para a luz do sol. Ela soltou Blake, cuidadosamente para ter certeza de que sua cabeça estava para fora da câmara e correu para fora da van. “Mencheres!” ela gritou. Nada ao redor exceto quilômetros de sal branco ameaçador e vazio. Onde estava Mencheres? Seu criador era o vampiro mais poderoso que ela já viu, como ele podia simplesmente desaparecer? Alguma coisa bateu nela por trás. Elise caiu, ficando com o rosto cheio de sal. Então ela foi impulsionada para cima e arremessada contra a lateral da van, forte o suficiente para fazer com que a van se inclinasse sobre os pneus. “Traga-o de volta,” Xaphan rosnou próximo a seu ouvido. Elise rodopiou, mas havia ninguém lá. Outro golpe a jogou contra a van novamente. Então outro e mais outro, tudo feito por alguém que ela não podia nem ao menos ver. Elise sentiu gosto de sangue onde seu lábio se cortou. O sol brilhante da tarde, com nuvem o encobrindo, parecia agulhas em sua pele. Algo agarrou o cabelo de Elise, esfregando seu rosto em um pedaço de metal de bordas irregulares do lugar onde seu corpo amassou a van. “Traga-o de volta,” Xaphan disse novamente e ela foi enfiada dentro da van. Blake ainda estava tombado sobre a câmara, sem se mover. Elise o retirou da água, o deitando no chão da van. Ele estava branco como o sal lá de fora, toda a cor de sua pele se foi e sua pele estava fria o suficiente para parecer que ele tinha sido esculpido em gelo. A van balançou violentamente e os equipamentos caíram pelos cantos. “Pare!” Elise berrou. “Se você quebrar tudo aqui, não posso salvá-lo” “Faça agora,” ordenou aquela voz horrível sem corpo. Suas mãos tremiam quando colocou o aparelho para respirar sobre a boca de Blake, ligando a máquina que bombearia ar húmido e aquecido para os pulmões de Blake. Devemos reaquecer seu núcleo lentamente, Mencheres disse.

Muito aquecimento artificial em suas extremidades fará com que gases letais encham a corrente sanguínea de Blake. Por isso, Elise ainda não usou as compressas quentes com Blake. Ela o cobriu com cobertores e colocou a intravenosa para encher uma artéria com sangue aquecido. Outra intravenosa foi inserida para uma solução salina aquecida. Então Elise começou a ressuscitação cardiovascular, forçando o coração imóvel de Blake a bombear. Uma mão invisível a estapeou na boca. “Mais rápido,” Xaphan disse. A voz do demônio parecia aumentar e abaixar ao mesmo tempo. Elise tirou uma seringa com uma agulha longa, enfiando aquela agulha no peito de Blake para injetar epinefrina diretamente em seu coração. Então ela começou as compressões em seu peito novamente. “Traga-o de volta agora,” Xaphan rosnou. A van foi erguida do chão um palmo e caiu de volta, estilhaçando as janelas. Elise pausou para olhar longa e penetrantemente para o rosto de Blake. O demônio vai se arrepender do que fez a mim, ele disse a ela. Não tente tirar isso de mim, Elise. Era o que ela estava fazendo agora mesmo, tirando sua escolha porque doía demais ela honrá-la. Uma dor lancinante rasgou o coração de Elise. Não posso fazer isso. Eu te amo demais para traí-lo desse jeito. Ela beijou os lábios frios de Blake e então se sentou. “Acabou,” ela disse ao demônio. Algo parecido com um tornilho a agarrou em volta do pescoço, a erguendo até sua cabeça bater no teto. “Você vai me obedecer,” Xaphan disse. Ondas de enxofre se enrolavam em volta dela, o cheiro tão denso que parecia estar se entranhando nela. Elise mal podia falar com a pressão em sua garganta, mas ela conseguiu forçar sua resposta. “Vá… para… o inferno.” A van balançou, o metal se curvando, antes de ser erguida e jogada repetidas vezes no chão, Elise usou toda sua força para se soltar da força que a prendia. Ela rastejou em direção a Blake, o cobrindo com seu corpo quando o alcançou. O protegendo de pedaços de metal que cortavam através do ar, cortando sua carne e o equipamento em volta deles. Por alguns minutos que pareceram um pesadelo, parecia que o mundo inteiro estava sendo sacudido e rasgado. Um grito estridente escaldou seus ouvidos, fazendo Elise levantar a cabeça e olhar em sua direção. Na abertura da van arruinada, uma nuvem de chama preta

apareceu. Ela se esticou na forma de um homem com asas longas de pontas enfumaçadas saindo de suas costas. “Morra,” o demônio sibilou. Aquela nuvem inflamada de enxofre foi lançada em direção a Elise e Blake. Elise se preparou, mas não tentou escapar. Ela não deixaria Blake, mesmo que isso significasse sua morte. De repente Mencheres apareceu em sua frente, seu poder crepitando o ar em torno dele. As chamas o alcançaram – e pararam, se dissolvendo em fumaça a meros centímetros de seu corpo. “Você não é mais forte o suficiente, Xaphan,” Mencheres declarou. “Seu tempo acabou.” Xaphan gritou, mas mesmo enquanto aquele barulho horrível ecoava, a fumaça das pontas de suas asas se espalharam. Ela engolfou suas pernas, as dissolvendo debaixo dele. Em seguida os braços, o torso e, finalmente, o rosto escarnecedor, até restar nada de Xaphan exceto o leve cheiro de enxofre no vento. Elise fechou os olhos por um instante. O demônio se foi. Ele não podia mais machucar Blake – ou outra pessoa inocente. Então seus olhos se abriram. “Ajude-me,” ela disse para Mencheres, se mexendo para conseguir ajeitar o equipamento novamente. Mencheres se moveu rapidamente, juntando as partes do equipamento que foram espalhadas ao redor da van, mas o resultado logo foi óbvio. Tudo tinha sido danificado. Os geradores não estavam funcionando, o que significava sem oxigênio aquecido, sangue ou solução salina e a maioria das intravenosas tinham sido cortadas. Elise olhou para os restos dos suprimentos médicos com um pânico paralisante. Eles nunca conseguiriam levar Blake a um hospital a tempo, mesmo se Mencheres o levasse até lá voando e eles precisavam dessas coisas para trazê-lo de volta a vida. Elise tomou sua decisão no momento seguinte, se enchendo de uma determinação de aço. Não vou deixar você morrer. Não vou. Ela agarrou a seringa que não estava quebrada mais próxima que pôde encontrar e enfiou em sua garganta, extraindo seu sangue. Então ela enterrou essa mesma seringa em Blake, injetando seu sangue na artéria dele. “Comece as compressões,” ela orientou Mencheres, soprando dentro da boca de Blake. Mencheres a olhou de uma forma que ela não pôde decifrar, mas ela não se importou com o que quer que significasse. Ela continuou soprando ar para dentro dos pulmões de Blake, pausando somente para retirar mais sangue dela e injetar em Blake. Depois de cinco minutos, ela fez Mencheres parar, mas o

coração de Blake ainda estava em silêncio. “Vamos aquecê-lo mais,” ela disse e agarrou tudo que ainda mantinha calor e empilhou em torno de Blake. Todo o sangue aquecido que restava, bolsas de solução salina era pressionadas em suas axilas e virilha, mais cobertores foram empilhados sobre ele. Elise até mesmo puxou os geradores quebrados para colocar o corpo de Blake em cima deles, já que eles ainda estavam quentes devido a recente atividade. “De novo, mais compressões,” ela disse e injetou outra seringa de seu sangue em Blake. Mencheres obedeceu, manipulando o coração de Blake enquanto ela continuava a soprar ar dentro de sua boca. Depois de vários minutos, Blake parecia mais quente. As esperanças de Elise se sobressaltaram quando seu coração apresentou algumas batidas fracas e irregulares, mas então caiu em silêncio novamente. “Vamos,” Elise gritou de medo e frustração. “Você não está pronto para morrer ainda!” “Elise…” Mencheres disse. “Não,” ela o interrompeu. “Não vou desistir dele.” Ela olhou para Blake – em silêncio, pálido, belo – e fez a única coisa que pôde pensar. Ela mordeu seu pescoço, bem na jugular. “Comece as compressões,” ela disse para Mencheres. Seu tom o desafiava a argumentar. Mencheres pressionou o peito de Blake com aquelas bombadas medidas e controladas. Elise sugava, drenando o sangue de Blake para dentro de si com a ajuda das ações de Mencheres. Ela bebeu profundamente, fria pela temperatura do corpo de Blake, mas sem parar até que o que ela tirou dele fosse letal se ele não estivesse clinicamente morto. “Agora,” Elise disse. “Vamos transferir meu sangue para Blake. Todo ele.” Mencheres encontrou um cateter que não estava quebrado e colocou o fio na garganta de Elise, posicionando a outra ponta para a intravenosa na jugular de Blake. Assim que estava arrumado, Elise fechou os olhos, conduzindo seu sangue para fora de seu corpo e para dentro daquele estreito tubo plástico. Levou dez minutos para Elise se drenar para dentro de Blake. Quando ela acabou, se sentiu tonta, como se não se alimentasse em semanas. Ela encontrou o desfibrilador portátil debaixo dos restos do assento do carro e carregou os eletrodos, pausando somente para enviar um pedido silencioso. Por favor. Não o leve de mim. Então ela enviou os volts para o peito de Blake. O coração dele se agitou

novamente em algumas poucas batidas extras depois do choque, mas então silenciou de novo. Elise carregou o desfibrilador com outra voltagem. O coração de Blake respondeu, batendo sozinho por um minuto inteiro, então se aquietou novamente. Mencheres tocou seu braço muito levemente. “Você fez tudo que pode. Mesmo que isso funcione, o coração de Blake não irá recomeçar a bater o suficiente para ele viver como humano de novo. Ou ele irá se erguer como vampiro ou ele permanecerá morto.” Elise colocou os braços ao redor de Blake. “Então agora esperamos?” Seu criador assentiu. “Sim. Esperamos.”

Epilogo

E

lise olhou para sua casa debaixo da extinta estação de trem no Distrito.

De muitas formas, ela iria sentir falta desse lugar. Mas uma promessa era uma promessa. Ela colocou os livros em um saco, pensando que deixaria a cama e cadeira para outra alma perdida usar. Talvez sua antiga casa fornecesse o mesmo tipo de refúgio para alguém assim como ela precisou nessas últimas décadas. O pensamento a agradou. Um braço a envolveu pela cintura, musculoso e na mesma temperatura que ela mesma. “Pronta para ir?” Elise sorriu e se virou para o abraço de Blake. Ele estava levemente corado por causa de um recente café da manhã de plasma, mas a nova luminescência sedosa em sua pele parecia bem diferente de quando ele era humano. “Estou pronta agora.” Elise estava pronta para muitas coisas, a primeira delas era viver com o homem que amava. E talvez a próxima fosse aprender a dirigir. Ou como jogar xadrez. Agora que ela tinha Blake, as possibilidades, de repente, eram sem fim – e maravilhosas.

FIM… Pela sequencia de leitura aconselhada pela Jeaniene, após esse conto você deve ler o 4º livro da série Night Huntress – Destined for na Early Grave.

            

UNBOUND - CONTO 0.5 – TRADUZIDO. HALFWAY TO THE GRAVE – 1º LIVRO DA SÉRIE NH. ONE FOOT IN THE GRAVE – 2º LIVRO DA SÉRIE NH. HAPPILY NEVER AFTER – CONTO 2.5 - EM TRADUÇÃO. AT GRAVE’S END – 3º LIVRO DA SÉRIE NH. DEVIL TO PAY – CONTO 3.5 - TRADUZIDO DESTINED FOR AN EARLY GRAVE – 4º LIVRO DA SÉRIE NH. MAGIC GRAVES – CONTO 4.5 - EM TRADUÇÃO. FIRST DROP OF CRIMSON – 1º LIVRO DA SÉRIE NHW. ETERNAL KISS OF DARKNESS – 2º LIVRO DA SÉRIE NHW. THIS SIDE OF THE GRAVE – 5º LIVRO DA SÉRIE NH. ONE GRAVE AT A TIME – 6º LIVRO DA SÉRIE NH. THE BITE BEFORE CHRISTMAS – CONTO 6.0 TRADUZIDO

PARA PEDIR E-BOOKS, TIRAR DÚVIDAS E SER UMA KITTEN, ENTRE NA NOSSA COMUNIDADE DO FACEBOOK!

Créditos:

Equipe Night Huntress de Tradução. Night Huntress [Oficial]

http://www.facebook.com/#!/groups/nighthuntressoficial/ http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=110566562
Jeaniene Frost - 03.5 Devil to Pay (Conto)

Related documents

61 Pages • 20,714 Words • PDF • 891.4 KB

183 Pages • 79,007 Words • PDF • 1.5 MB

102 Pages • 23,280 Words • PDF • 719.5 KB

1 Pages • 204 Words • PDF • 110.8 KB

256 Pages • 97,768 Words • PDF • 2.1 MB

162 Pages • 88,392 Words • PDF • 793.3 KB

4 Pages • 796 Words • PDF • 54.8 KB

2 Pages • 128 Words • PDF • 591 KB

195 Pages • PDF • 11.7 MB

45 Pages • 4,601 Words • PDF • 61.6 MB

1 Pages • PDF • 2.3 MB

22 Pages • PDF • 11.9 MB