My Nothing Lovely Wife M. Nada A. Esposa

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Minha Nada Adorável Esposa

Kayra Marck

012346-01268-12357-23468-02349-12456-35679 Minha nada adorável esposa

Copyright © 2020 Kayra Marck Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. __________________________________ Minha nada adorável esposa. 1ª Edição — 2020 ___________________________________ Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e / ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Os Yemen Merv estavam falidos e a única maneira que Aslan encontrou de salvar as finanças foi se casando com Sila, uma garota de família rica e que morava com os tios desde que seu pai morreu. Através desse casamento de conveniência Aslan recebeu partes da herança de Sila. Ele pretende usar na fábrica de tecidos dos Yemen Merv. Sila é uma mulher marcada pela sociedade turca. Quando ela tinha apenas dois anos, sua mãe fugiu com um turista americano para seu país de origem. Sem escolha, com apenas vinte anos, ela se casa com Aslan, dez anos mais velho que ela. Sila o julga um homem frio e calculista, que apenas se casou com ela por ter cifrões nos olhos. Com seus sonhos destruídos de se mudar para longe da cidade quando alcançasse a maioridade e se casar com um homem de sua escolha, ela resolve não facilitar em nada a vida do seu marido. Seu desejo é a separação quando completar vinte um anos. Contudo, não será uma fácil missão. Aslan é extremamente envolvente e sedutor e sabe muito bem o que quer e como fazer acontecer. Aslan tem seis meses para provar que é o homem certo para ela.

Sumário Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16

Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22 Epílogo Fim.

Capítulo 1

Turquia, Erzincan, casa dos Ahemet. Aslan Yemen Merv observou a linda garota. Ela estava numa distância de uns cinco metros de distância de onde ele estava. Os lindos e longos cabelos castanhos de um dourado magnífico eram revelados pelo lenço verde que não os cobria completamente. Quando ela se virou e ficou de frente para ele, pode examinar melhor aquele rostinho de anjo. Allah! Que boca linda! Carnuda na medida certa. Então reparou em algo que tinha fugido no começo a sua percepção: apesar de sua expressão serena, havia algo de errado ali. Os olhos verdes emoldurados pelos longos cílios, eram tristes. ―Quem é ela meu tio? ―Quem? ―Atrás de você. Aquela linda garota ao lado da senhora de azul, de lenço negro. Tio Zeki se virou para ver a quem Aslan se referia e fez uma careta quando a avistou. ―Aquela jovem é Sila. Aslan a procurou com o olhar novamente. Nessa hora os olhos de Sila encontraram-se com os dele. A admiração que leu em seu olhar quase o fizera rir de nervoso. Ele era muito confiante. Era primeira vez que tinha a reação de um adolescente em sua primeira explosão de hormônios. Aslan retirou os olho dela com dificuldade e encarou seu tio. ―Allah! Parece uma princesinha. Nunca vi mulher mais linda do que ela.

Voltou a olhá-la novamente, mas ela havia dado as costas para ele. Talvez constrangida pela sua insistência em olhá-la. ―Aslan! Olha para mim. Ela não é para você. Aslan piscou com as falas de seu tio e o encarou: ―Por que diz isso? Ela é casada? ―Não oğul (filho). Ela é uma mulher marcada. Nenhum homem com uma reputação a zelar se casaria com ela. Não gostou da maneira como seu tio se referiu a ela. ―Marcada? Como? O que aconteceu? ―A mãe dela fugiu com outro homem quando ela tinha apenas um ano. Todos sabem dessa história, acho incrível que ainda não saiba disso. ― Por que incrível? Estou pouco tempo em Erzincan. Seus olhos a procuraram novamente e se detiveram nela por alguns segundos, seu tio continuou: ―Ela é novinha. Só tem vinte anos. Está pouco tempo participando das festas. ―É um absurdo isso que estão fazendo com ela. ―É que a fama dela não é muito boa também. Ela sempre foi uma garota muito briguenta. Aslan então olhou ao seu redor e realmente reparou algo de estranho nas pessoas. Sila não conversava com ninguém, só a mulher que a acompanhava se socializava. Um fantoche, arrastada por essa mulher que deveria ser sua tia. Reparou também num grupo de jovens rindo entre si enquanto olhavam para ela. Allah! Ficara tão impressionado com ela que não tinha se

atentado para nada disso. Aslan encarou seu tio novamente: ―Se ela é uma mulher tão desprezada, o que está fazendo aqui na festa? Veio para ser humilhada? As sobrancelhas grossas do tio se ergueram. ―Os tios dela querem casá-la. Casá-la? ―Então ela deve ter um bom dote para estar aqui? ―Aslan disse pensativo. ―Você não está pensando no que eu estou pensando? Aslan encarou seu tio. ―Por que não? ―Por quê? Você tem um nome a zelar. Deixamos nosso nome limpinho para você. Os Yemen Merv sempre se orgulharam muito disso. Aslan a procurou com os olhos novamente. Agora ela estava de cabeça baixa enquanto sua tia conversava com uma senhora. Uma judiação! ―Não é justo o que fazem com ela meu tio. A mãe dela errou, não a garota. ―disse desgostoso ainda com os olhos em Sila. Então encarou seu tio. ― E eu me interessei por ela. Seu tio respirou fundo. ―Aslan, fico feliz que esteja realmente empenhado em mudar de vida e finalmente se casar, mas com aquela garota não. Ela é uma garota problemática. ―Eu quero conhecê-la meu tio. ―Já disse que ela não é mulher para você. ―respirou fundo e continuou: ― Aslan! Você é um rapaz bonito. Veja como as moças

olham para você? Eu reparei nisso desde que cheguei. Você chama muito a atenção. Seu falecido pai também era assim. Por isso, chame alguma garota para dançar, conquiste-a e depois conquiste a família. Imediatamente as falas do tio o fizeram se lembrar de Karli, no choque de realidade que ele sentiu quando foi rejeitado pela família da garota. Quando os pais dela souberam que ele passava graves problemas financeiros, foram contra o namoro. Não ia dar certo mesmo, ele mesmo já começava a se desinteressar por ela. Contudo, não gostou de ser rejeitado por sua condição. Isso o marcou de um jeito muito ruim. ―Para quê? Para eu me sentir humilhado como me senti quando a família de Karli me dispensou? ―Ela não tinha muito recursos. Eles ficaram com medo que fosse passar necessidades. Mas essas moças são endinheiradas. Os pais dariam um bom dote pelo casamento. Aslan soltou o ar. Observou então Sila seguindo os tios, ainda de cabeça baixa e mais uma vez reparou como as mulheres riam dela. A vontade de ir até lá e tirá-la para dançar estava cada vez mais crescendo no seu coração; estava prestes a fazer isso quando seu tio segurou a manga do seu paletó. ―Não! Não faça isso. Com dificuldade retirou os olhos dela e encarou seu tio com o semblante sério. Seu tio continuou: ―Dê uma chance a essas garotas. Todas as solteiras têm o desejo de se casar. Como viu, os rapazes aqui presentes são muito jovens. Com certeza não atrai esse bando de mulheres. Você, com seus trinta anos e sua aparência, tem grandes chances de atrair atenção das famílias presentes.

Aslan suspirou. ―Tudo bem meu tio. Chamarei outra garota para dançar. Seu tio sorriu. ―Isso meu filho! Case-se com uma boa garota e faça a empresa crescer. Aslan passou os olhos pelo salão. Por cada garota ao lado de suas famílias. Nenhuma garota chamou-lhe a atenção como Sila. Ela tinha o mais lindos olhos que já vira e isso em combinação com a sua história de humilhação o deixou ainda mais interessado. No entanto, ele moveu seu grande corpo até uma garota de cabelos negros cobertos com um lenço azul, ela estava ao lado de seus pais. Parou em frente a eles e se apresentou: ―Meu nome é Aslan Yemen Merv. Gostaria de permissão para dançar com sua filha? Os pais da garota conversaram entre si, no mínimo trocando informações de quem ele era. Solteiro, quase trinta anos nas costas e uma fábrica de tecidos a ponto de ir à falência. Não se admirou quando eles o encararam com o olhar altivo. ―Belma, pode dançar com o rapaz. Ela sorriu para ele e deu um passo em sua direção, aceitando seu convite para dançar. Aslan pegou sua mão e a conduziu até o meio do salão, no caminho seus olhos procuraram Sila novamente. A linda garota de olhos verdes o observava de longe, um arrepio correu sua espinha e a vontade de ir até ela e fazer o mesmo gesto removeu suas entranhas. Seu coração disparou, sua respiração agitou, mas ele respirou fundo e encarou Belma, tentando encontrar algum interesse nela.

No meio do salão se posicionaram. Aslan começou a dançar a famosa dança turca. Braços erguidos, cortejando a moça. Pode sentir muitos olhares observando seus passos. Como se mexia com desenvoltura. Tinha aprendido com sua falecida mãe todos os tipos de dança turca. Quando pequeno dançava com ela. Seus olhos se ergueram e procuraram a figura de Sila novamente. Ela estava ali, ainda olhando para ele. O semblante muito sério. Quando seus olhos se encontraram ela baixou o olhar e a vontade de conhecê-la se intensificou ainda mais. ―Para quem não frequenta festas, você dança muito bem. Aslan ouviu as falas de Belma e a encarou. Sorriu para ela. ―Aprendi com minha mãe. E participei de algumas festas também. Não sou daqui, sou de Kayseri. Estou apenas seis meses em Erzincan. ―Sei disso. Aqui todo mundo sabe da vida de todo mundo. Você investiu na fábrica de seu tio, não foi? ―Exatamente. ―Sei também que deseja conhecer alguém e se casar. Ah! A boca grande de seu tio. Com certeza seu passado de mulheres também fora exposto por ele. No mínimo espalhou a notícia de sua mudança de atitude e contara tudo como vantagem, como se ele tivesse ouvido os conselhos dele e por isso o desejo de mudar de vida. ―Verdade. Já tenho trinta anos. Quero me casar, sossegar. Os olhos de Belma brilharam nos dele e ele afastou seu olhos dos seus e, sem se conter, procuraram os de Sila novamente. Deu com os olhos dela atentos a sua figura enquanto dançava. Quando seus olhos se cruzaram, fugiu dos dele e os direcionou para baixo.

―Conhece a história de Sila? Pelo visto não! Se soubesse não ficaria olhando toda hora para ela. Aslan encarou Belma. Ela o olhava com os olhos altivos. No mínimo se sentindo melhor que a linda Sila e muito contrariada por não ser o centro de sua atenção. ―Sim, meu tio me falou e acho um grande erro isso. Ela não deve pagar por algo que não cometeu. Ela ergueu ainda mais o nariz. ―Filho de peixe, peixinho é. Já ouviu essa expressão? Aslan piscou com as falas dela, achando um absurdo seu comentário. ―Sim, mas não concordo. ―Então você não concorda com a atitude do povo? ―ela insistiu. ―Não! ―Não? Então por que não tirou Sila para dançar? Olha tanto para ela e está aqui comigo? ―Perguntou num tom de acusação. Não conseguiu respirar, suas entranhas se revolveram. Por um segundo que pareceu durar horas teve um branco. Estava sem falas, contudo sua mente se forçou a pensar a respeito. Foi então que se deu conta que o ambiente do salão havia mudado, começara uma música mais agitada. ―A música acabou. Vou te levar até seus pais. ―disse, a dispensando. ―Tudo bem! ―ela disse de um jeito altivo. Definitivamente não havia gostado da garota. Aslan caminhou ao lado dela pensativo. A garganta travada com um sentimento de angústia.

A garota estava certa, acabou sendo influenciado pela opinião de seu tio e repetindo o mesmo gesto do povo quando tirou Belma para dançar. Deixando-a com seus pais foi até a mesa de sucos e se serviu de um para tirar aquela secura da garganta. Sorveu uma grande quantidade de suco de uva pensativo: Erzincan era uma cidade pequena, de mente retrógrada, de costumes severos. Sila não poderia estar no pior lugar para morar. Casar-se com Sila significava uma vida de narizes entortados por onde passassem, os filhos sendo desprezados na escola porque a vó deles se comportou como uma fahişe. (Puta) Seu tio se aproximou dele. ―E então gostou da moça? ―Não. Seu tio ergueu as sobrancelhas. ―Não? O que há de errado com ela? Encarou seu tio com cansaço. ―Estou indo embora. ―Já? ―Sim. Amanhã tenho que levantar cedo e uma porção de coisas para resolver. ―Aslan! Fique. Você não gostou dessa moça, mas tem outras famílias aqui. ―Sei que tem, mas o senhor sabe por quem me interessei. Seu tio o encarou calado. ―Filho. Essa garota teve problemas por onde passou. Vivia se metendo em brigas na escola. Ela é realmente lindíssima, mas muito problemática. Não dará uma boa esposa.

Allah! Por que não daria uma boa esposa? Aslan a procurou com os olhos novamente. Sila estava sentada numa cadeira observando as garotas dançarem. Podia sentir o clima ao redor dela: as garotas a encaravam de um jeito altivo, debochado, com certeza se sentindo melhores do que ela. Já os garotões, eles não o enganavam, podia ver a cobiça refletida nos olhos deles, mas não tinham culhões para tirá-la para dançar. Ah e culhões era uma coisa que ele tinha. Ah se tinha! Novamente uma maldita vontade de tê-la para si e protegê-la agitou seu coração. Passou os olhos pelo rosto triste e delicado. Extremamente linda e inocente, essa era a imagem que ela passava e um pensamento obscuro de possuí-la se infiltrou em todo seu ser. Sim, ele a queria, de corpo e alma. ―Hei, você ouviu o que eu disse? Aslan encarou seu tio. ―Você viu como as garotas olham para ela? Não me admiro que ela tenha tido problemas na escola. ―Escolha outra garota. ―Outra garota? E ser sempre olhado como alguém que precisou de ajuda para se reerguer? Com certeza ficarei a mercê da família. Talvez até desprezado. Eles sempre me terão como aquele que eles estenderam a mão. ―Você não sabe! Não pode afirmar isso. Você pode encontrar uma boa família.

―Tio. Pense! E se eu injetar dinheiro na fábrica e as coisas não irem bem? Estamos vivendo uma crise severa. Não está fácil as coisas. E você sabe que eu estou certo! O dinheiro investido nunca será meu e eu sempre terei que prestar contas ao pai da garota que eu me casar. A família vai querer interferir na minha vida. Não sei se quero isso para mim. Seu tio o encarou. Viu seu olhar intenso para ele, a severidade de sua expressão. ―E com Sila? Você se casaria? Miríades de sensações o tomaram nessa hora. Ele soltou o ar e a olhou novamente. Ela parecia uma marionete sendo manipulada por seus tios. Destetava ver aquela garota sendo desprezada. Ele sentiu isso na pele coma família de Karli e olha nem gostava dela. A rejeição lhe ocorrera apenas uma única vez, fora-lhe suficiente para lhe trazer um grande mal-estar. Imagine a garota que deve ter convivido com esse sentimento uma vida inteira. ―Sim. Eu me casaria com ela. Com certeza os tios dela não ficariam no meu pé e, do jeito que eles a tratam, com certeza verão meu interesse como um milagre. Eu lhe dou meu sobrenome e recebo o dote. Eles não têm nada a perder, acho que estão loucos para se livrarem da garota. ―Filho, estamos falando de casamento. É um compromisso sério. Não essa vida de mulheres que levava. Você não pode escolher uma esposa como você escolhia suas mulheres para transar. Aslan riu das falas do tio e então ficou sério: ―Eu sei meu tio. Claro que sei disso. Eu digo e repito, cansei daquela vida. Quero realmente sossegar. Já estou com trinta anos nas costas, uma boa idade para me casar. E pelo que conversei com Belma o senhor já tratou de espalhar isso...

Seu tio ficou vermelho, mas se recompôs: ― Bem, se precisa da minha bênção, não terá. Essa garota pode ser bonita, mas não tem um histórico bom. ―Acho que as pessoas falam demais e julgam demais. ―Aslan disse cada palavra apostando nisso, sem nem mesmo entender muito o que estava sentindo. Não queria pensar muito sobre isso, na verdade só sabia que precisava agir. Seu tio suspirou. ―Você gostou mesmo de Sila. ― Sim, ela é muito linda. Uma princesinha. A mulher mais linda que já coloquei os olhos. E mais, ela parece ser uma pessoa simples e mesmo tão bonita não tem o nariz em pé como tantas que conheço. Ela não merece o peso do olhar das pessoas. ―Bonita ela é, devo admitir. Em questão de beleza você não poderia ter escolhido melhor, mas é só. ―Ela será uma boa esposa meu tio. Ela só precisa de alguém que aposte nela. Seu tio o encarou desgostoso. ―Espero que esteja certo. ―Estou! ―disse enfático. Seu tio suspirou: ―Tudo bem. É sua vida. Falarei com a família do seu interesse e depois marcaremos um encontro com eles e você conhece Sila. Quem sabe a conhecendo melhor você mude de ideia? Aslan sorriu. ―Não sei, pode ser ou ao contrário, pode ser que eu me interesse ainda mais por ela.

―Pode ser...

Capítulo 2

Que homem bonito o sobrinho do senhor Merv. Seus olhos nunca viram beleza igual, incapaz de se concentrar em outra coisa a não ser nele. Se se casasse queria ter uma pessoa como ele, com aquela aura protetora, uma grande força emanava dele. “Ele nunca olharia para você, por que esse interesse?” Perguntou a si mesma e uma vozinha respondeu: “Ele é forasteiro. Não deve pensar como essa gente.” Suspirou e decidiu afastar seus olhos dele. Estava exausta. Sua tia insistia em trazê-la as festas, mesmo que ela não tivesse a mínima chance de se casar. ―Se ficar com essa cara amarrada, dificilmente um rapaz vai tirá-la para dançar ―sua tia disse. Allah! Sua tia estava louca para se livrar dela. E rapaz? Um bando de jovens de cabeça oca e muito jovens para o seu gosto. Um bando de filhinhos de papai e que acatavam tudo que seus pais diziam. ―É a única cara que tenho, minha tia e eles não me tirariam para dançar nem que eu sorrisse. Por que insiste nisso? ―Você é linda Sila. Vamos encontrar um homem com determinação suficiente para querê-la como esposa. Sila balançou a cabeça incrédula, no fundo contente com isso, não via a hora de se ver livre dessa cidade. Seus tios a tinham como um mal a ser tolerado. O testamento causou muitas decepções para os familiares de Sila, seus tios pensavam que seu pai lhes daria algum dinheiro, mas

não fora isso que ocorrera. Ele deixou todo o seu dinheiro para Sila. O homem que se casasse com ela ficaria muito bem. Tio Yavuz, irmão de seu pai, a assumiu, mesmo sabendo que não levaria um centavo. Ele ficou com a grande responsabilidade de criá-la e casá-la bem. Contudo, parecia que eles odiavam isso. Agora seu inflexível e respeitável tio Yavuz estava louco para se livrar dela. Ele tomou isso como uma grande incumbência em sua vida. Ele não descansaria até conseguir essa façanha. Fazia seis meses que frequentava todas as festas que surgiam e nenhum dos rapazes a tirou para dançar, nem ao menos conversaram com ela. Ela sabia que estava em festas erradas. Os homens da alta sociedade não precisavam de seu dinheiro. Contudo não se entristecia com isso. Alcançando a maioridade ela pegaria a sua herança e partiria. Estava torcendo para ficar sozinha até seus vinte um anos. Sempre alimentou o desejo de sair de Erzincan, morar num lugar desconhecido por todos. Por isso seu tio estava agindo rápido. Ele não queria isso para a sua vida. Segundo ele, uma mulher sozinha seria presa fácil para homens aproveitadores. Não queria pensar nisso. Estava cansada dessa cidade, dessa gente, queria ir embora e não seria tola de se envolver assim com algum aproveitador de mulheres indefesas. E agora? Quem se interessaria por ela? Apenas algum rapaz com cifrões nos olhos. Preferia se arriscar com suas escolhas do que com um desconhecido por causa da sua herança. Já tinha jurado a si mesma, que se casasse com alguém motivado por interesse econômico, ela o desprezaria, dificultaria

sua vida até ele pedir o divórcio e a mandasse embora com metade do que lhe era devido. Se seu tio tivesse mente aberta, esperaria ela completar a maioridade e a ajudaria nessa transição. Moraria sozinha tranquilamente. Já havia conversado com ele sobre isso, mas ele foi completamente contra. Suas falas lhe causaram ojeriza. Ele desaprovou sua ideia completamente. Carregado de seu senso de honra ele lhe disse que jamais permitiria que ela vivesse sozinha num mundo tão hostil. Sila suspirou infeliz. Tio Yavuz não era um homem ruim. Apenas fora criado numa sociedade machista, com princípios machistas e cumpria seus deveres como um bom homem turco. Coitado desse infeliz que se casasse com ela.... Sua vida difícil lhe roubou todo sentimento bom que havia em seu coração. Só foi desprezada nesse mundo. Na escola nunca tivera uma amiga de verdade, elas só se aproximavam dela para humilhá-la. Lembrá-la que sua mãe era uma bisca e ela seria igual a ela. Seu pai, depois que sua mãe o deixou, tentou fazer o melhor por ela, mas ele mesmo caiu num estado de depressão que acabou o levando a morte prematura. Ah! Não seria difícil odiar seu marido e fazê-lo desistir dela. Já carregava com ela os pecados de sua mãe que só melhoraria essa façanha de fazê-lo desistir do casamento. Quando ele a conhecesse, pensando encontrar alguma tonta submissa, sairia correndo com o rabinho entre as pernas.

Capítulo 3

Manhã de segunda-feira. ―Como assim, eu não posso conhecer melhor a garota? ―Os tios dela não permitem contato antes do casamento. Eles disseram que será muito bem pago.... Um gemido de desgosto saiu de dentro de seu peito: ―Deus! Eles a tratam com a mesma frieza de quem trata de negócios. Eles nem querem saber quem sou? Se somos compatíveis? Então como serei bem pago, não preciso olhar a mercadoria? É isso? ―Acho que pensam assim mesmo. Na verdade, eles estão meio desesperados para se livrarem da garota― tio Zeki soltou um suspiro ―oğul (filho), desista dessa moça. Acho que ela te fará infeliz. Droga! Ele não conseguia entender ainda qual era a maior motivação do seu interesse, mas uma coisa era certa. Só de pensar em desistir a inquietação lhe revolvia as entranhas. A imagem daquela linda e infeliz garota tinha ficado marcada em sua mente. Contudo resolveu não dar uma resposta para a família de Sila agora. Esperaria. Haveria mais uma festa daqui há uma semana, e ele a puxaria para dançar. Queria entender que sentimento habitava em seu coração. Estava confuso. Ela o atraía muito, mas era o sentimento de pena que falava mais alto? Era o dinheiro? Qual era a sua maior motivação para se casar?

Queria que fosse pelas razões certas. Por isso queria um contato mais próximo, queria pegar a mão dela e entender a química que rolaria entre eles nesse momento. Queria senti-la para maior compreensão de seus sentimentos. ―Tio ainda não lhes dê nenhuma resposta. Participarei da festa dos Elif neste final de semana. Seu tio abriu o sorriso. ―Mas isso é ótimo! Eu me sinto agora aliviado. Aslan riu. ―Não é nada disso que está pensando. Mas deixa para lá... ―Aslan...como assim? Por que quer ir a essa festa se não é para conhecer uma outra moça? ―Tio, vamos ao trabalho. Desça agora e coloque aquele povo para trabalhar. Seu posto como gerente de produção é muito importante. Graças a Allah surgiu a confecção dessas malhas, e se o senhor não acelerar as coisas lá embaixo os operários relaxam. O senhor sabe como é. ―Eu irei, mas essa conversa não terminou. Aslan pegou os ombros dele e o colocou gentilmente para fora do escritório. ―Terminou sim! Chega desse assunto! ―disse fechando a porta. ―Ah, você precisa arrumar essa escada. Tem um degrau que está cedendo. Qualquer hora vamos ver um desastre. ―Quando tivermos dinheiro eu arrumo. É só não pisar nele. ―Vou mandar pintá-lo com os dizeres não pise. Aslan sorriu amargo para ele. Não tinha dinheiro nem para pagar os fornecedores. Agora não era hora para arrumar a porra da escada.

Quando ele saiu Aslan foi até a janela de seu escritório e deixou seu olhar vagar para baixo dele, reparando por um momento no ir e vir dos carros na larga avenida. Mas por pouco tempo, logo seu olhar ficou vítreo, seus pensamentos em Sila, aquela belíssima garota. Mal podia respirar só de pensar em olhá-la bem nos olhos por um momento.

Depois do almoço Sila tirou um cochilo, era o que lhe restava fazer para preencher seu tempo. Seus tios impediram que ela fizesse universidade. Disse que não seria necessário pois ela iria se casar. Oh mente retrógrada! Sila caminhou pelo quarto sentindo o ladrilho gelado debaixo

dos seus pés. Tirou a camisola e abriu seu guarda- roupa. Correu seu olhar por ele. Estava repleto de lindos vestidos, uma composição perfeita para uma mulher que trabalhava fora. Nada ali combinava com uma garota que ficava em casa ou era arrastada para festas que não queria participar. Soltou um suspiro infeliz. Sentia saudades de seu pai. Com certeza ele não a obrigaria se casar com um homem sem gostar. Inclusive esse foi o caso de sua mãe. Ela foi obrigada a se casar com seu pai, mesmo gostando de um americano que visitava a Turquia. Nem a gravidez a impediu de fugir com ele. Não que justificasse o que fez. Sila a odiava por isso. Ela teve coragem de largar um bebê indefeso. Nunca a amou de verdade. Deve ter visto a gravidez com desgosto. E seu pai era um homem bom, ele não merecia passar por todo aquele horrível sofrimento de ser deixado pela esposa e, de quebra, ter que cuidar sozinho de um bebê de colo. Graças a Allah seu pai não descontou nela e nem fora severo em sua educação. Acho que ele entendeu que já sofreria um grande peso com a sociedade machista de Erzincan carregando as iniquidades de Salira, sua mãe. Sila suspirou novamente. No fundo, tia Azira achava que ela carregava a natureza má de sua mãe e mais para frente agiria como ela. Colocou um vestido simples de algodão e se deitou na cama e começou a sonhar com uma vida lá fora. Daqui a pouco sua tia entraria no quarto para conversar com ela e lhe dar conselhos, ensinamentos sobre a vida.

Dito e feito, sua tia entrou no seu quarto. ―Tenho ótimas notícias para você. O coração de Sila disparou. Sila permaneceu sentada na cama enquanto ela puxava a cadeira alta que ficava em frente a escrivaninha. Sentou-se perto dela. Sua tia estava radiante, cheia de expectativas... Com certeza lhe falaria de algum pretendente. ―Uma boa família se interessou por você e veio procurarnos. Então, prepare-se, logo, logo, se Allah permitir, você irá se casar. Ele lhe dará seu bom sobrenome e finalmente apagará esse seu passado negro. Sila meneou a cabeça não acreditando nisso. Sila estremeceu. Estudou num colégio só para garotas. Tinha uma visão muito limitado dos rapazes de Erzincan. Contudo, sempre achou uma missão impossível seus tios casá-la com algum deles. Era nítido que eles também a desprezavam. Quem era esse jovem? Sila afastou esses pensamentos e perguntou: ―Você acredita mesmo nisso? Que as pessoas deixarão de me olhar diferente com meu casamento? ―Claro que sim! ―Tia. Não quero me casar, quero esperar até completar vinte um anos, alcançando a maioridade poderei receber a minha herança e finalmente sair dessa cidade. Viver uma nova vida. Isso sim apagaria meu passado. Por favor! Convença meu tio! Sua tia soltou um longo suspiro, pareceu cansada. ―Sila. Você se casará e pronto! Chega dessa conversa, por favor! Seu tio nunca aceitaria isso. ―Quem é esse jovem? E se eu não gostar dele?

Um olhar sombrio agravou seu semblante e ela lhe fuzilou com os olhos. Sila sentiu seu rosto pegar fogo. ―Não estamos te entregando para qualquer um. Ele é de boa família e trabalhador. ―Meu pai era trabalhador e de boa família e isso não foi o suficiente para minha mãe gostar dele! ―Sila acusou. Tia Azira se ergueu e sua mão foi direto no seu rosto. Sila a encarou horrorizada e levou a mão as faces, onde a pele ardia como se tivesse encostado uma brasa viva. ―Você não seguirá os passos de sua mãe, está ouvindo? Não será a fahişe que ela foi. Você honrará seu marido e aprenderá a amá-lo. Chegou a abrir a boca para dizer umas verdades, mas se calou. Precisava agir com cautela com seus tios e dançar conforme a música e afastar os pretendentes. ―Quando eu irei conhecer o rapaz? Sua tia sorriu. ―Não irá conhecer. ―Como? ―Exatamente isso que ouviu. Você acha que somos bobos? Claro que espantaria de alguma maneira o moço. ―E ele? Irá me aceitar sem nem ao menos ter falado comigo uma vez? ―Você é linda Sila, chama a atenção. Ele gostou de você e pronto. ―Gostou de mim ou do meu dinheiro? Sua tia se levantou. ―Ah! Cansei!

―Responda tia! ―Eu não vou responder nada. E nem é certo ainda. Ele ficou de dar a resposta se irá te aceitar ou não. Tomara que não! ―E eu? Vou precisar ir à festa dos Elif esse final de semana? ―Caso ele não dê nenhuma resposta até lá, sim, irá. ―Gostaria que estivesse na minha pele para sentir como me sinto nesses lugares. ―Não tenha pena de si mesma. Pior se eu te trancasse com vergonha de você. Não percebe que queremos o melhor para você? E entenda que foi numa destas festas, as que condena, que o rapaz te viu e se interessou por você. Sua tia se levantou da cadeira e a carregando consigo, a colocou no lugar, depois saiu do seu quarto dando por encerrada a conversa. Será que era aquele lindo homem? Sobrinho de Zeki? Seu coração disparou. Não, não era ele. O rapaz era lindo demais para ter olhado para ela com interesse genuíno sabendo quem ela era. “Quem será esse homem?” Perguntou a si mesma. “Allah! Nem quero saber! Que esse rapaz desista do casamento!” Novamente seu sonho ter uma vida nova veio com força: o de comprar uma casinha e viver do resto. Planejava também fazer um curso de ourivesaria e apostar no mercado informal. As mulheres adoravam uma bela joia. Imagine então algo criativo, feito à mão. Suspirou. Poderia enfim cultivar amizades sem ser julgada, ou

apontada com o dedo. Conhecer um homem de seu interesse e se casar. Era essa vida que queria para ela.

Capítulo 4

Na sala decorada com perfeição, ela observava a festa dos Elif ao lado de sua tia enquanto ela falava com a senhora Elif. Seu tio estava um pouco afastado delas, conversando com o dono da casa. Eles sempre agiam assim. A primeira coisa que faziam quando colocavam os pés na casa de seus anfitriões era pajeá-los. A música era agradável, as pessoas sorriam, contudo, dentro de si ela trava as mesmas batalhas, a contrariedade de vir a uma nova festa. A raiva de sempre, em ser desprezada pelas pessoas que faziam questão de fazê-la se sentir um peixe fora d'água. Nessas horas ela sempre saia em pensamentos para fora do seu próprio corpo, se imaginando mais velha, pegando sua herança e saindo dessa vila com duas malas nas mãos sem olhar para trás. Viver num lugar em que ninguém a conhecesse seria um verdadeiro paraíso. Mas não! Seus tios insistiam que ela ficasse nesse inferno! Será que seu pai imaginava que seu tio determinaria seu futuro? Obrigando-a se casar? No fundo seu pai queria isso para ela? Seus pensamentos foram cortados quando um homem entrou impondo sua presença no meio de todos. Allah! O sobrinho de Zeki Yemen Merv. Já havia reparado nele da outra vez. O homem era simplesmente fascinante. Ele andava com aquela pose cheia de autoconfiança de quem sabe o poder que tem sobre as mulheres. Lindo era pouco para descrevê-lo. O rosto perfeito, com a mandíbula quadrada, coberta por uma barba bem aparada, com seus cabelos negros e grossos, era

uma perdição. Sua roupa não sugeria riqueza, mas ele se vestia bem. Calça preta que ajustava perfeitamente aos seus quadris moldando aquelas pernas fortes, poderosas. A camisa era de boa qualidade. Algodão egípcio, talvez. Sentiu-se sobrecarregada. Tensa. Aquele estranho mexia com ela de um jeito diferente. Aquele dia quando o avistou entrando lhe deu um calor.... Antes que tirasse os olhos dele, ele virou a cabeça em sua direção e encontrou seu olhar, encarando-a fixamente. Seu coração bateu tão forte que parecia que ia sair do seu peito. Sua respiração se agitou e ela prendeu-a por um momento na garganta. Sentindo-se desconfortável, desviou seus olhos dos dele e focou no copo do seu suco de abacaxi. Contudo, o incômodo formigamento continuou em seu corpo. Podia sentir que ele ainda a observava. Afastou suas emoções descuidadas dizendo para si mesma: “Ele apenas está apreciando sua beleza. Não será capaz de tomar uma atitude. Pare de sonhar com um homem que te amará. Isso não existe dentro dessa vila, aqui os homens são os turcos da pior espécie, extremamente machistas.” Lembrou-se então o que ouviu quando sua tia conversara com seu tio sobre ele: “Ele é de outra cidade. Ele pode ser diferente dessa gente.” Uma vozinha disse ao seu coração e ela estremeceu com esses pensamentos. A música alegre de Omar Kadar, deu lugar a outra, uma mais romântica e triste de Karkan - Kayip. Sua tia conversava com a senhora Efir. As duas estavam a

bastante tempo falando de sua pessoa: como ela era uma coitada por sua mãe ter estragado sua vida. Se era tão desprezada, por que permitiam que ela participasse destas festas? Claro que ela sabia a resposta: para que o exemplo de sua mãe não fosse repetido entre as mulheres. Demonstrando que caso esse mal se repetisse, até sua geração vindoura seria desprezada. Como eles não podia desprezar Salira, por ter fugido, ela que arcava com as consequências. Exaurida dessa vida, soltou um longo suspiro. Erguendo o olhar notou que o belo estranho estava vindo em sua direção. Allah! Sua respiração ficou agitada e seu coração disparou novamente. Com dificuldade retirou os olhos dele e enterrou novamente em seu copo. Ofegou, consciente da aproximação cada vez maior do belo estranho, que caminhava com passos decididos em sua direção, esbanjando força e vitalidade. ―Senhor e senhora Elude, boa noite. Eu gostaria de tirar sua sobrinha para dançar. Deus que voz linda! Tão quente, abrasadora.... Sila ergueu os olhos e deu com os olhos negros dele. Allah! Será que o interesse de um homem passaria por cima do desonroso fardo de seu passado? De perto ele era ainda mais bonito. Não havia ninguém que chegasse aos seus pés dele, nem aqui entre esses cara de alto poder aquisitivo, nem em lugar algum. Reparou que todos os participantes pararam de falar nesse momento, observando seu gesto.

Titia sorriu de um jeito nervoso para ele e seu tio a encarou por um momento e então acenou a cabeça dando seu sim. O estranho ergueu sua mão em sua direção: ―Vem, vamos dançar? Sila estremeceu com seu gesto e pegou a sua mão. Era a primeira vez que pegava a mão de um homem estranho. De um homem na verdade. Seu pai e seu tio não contavam. Allah! Que mão grande. O calor dela emanando por sua pele era agradável e pela primeira vez na vida se sentiu bem quando viu a cara de desprezo das mulheres por ter sido tirada para dançar. Aslan adorou sentir a mãozinha gelada na sua. Adorou seus lindos olhos verdes que às vezes procuravam os seus tentando lê-lo. Um verde muito vivo, e muito observadores também. Sua estatura lhe era muito agradável. Sempre gostou de mulheres pequenas. Com certeza ela sumiria dentro de seus braços. Estremeceu com esse pensamento, seu membro pulsou. No meio da grande sala dos Elif, ele se virou para ela. Sila ergueu seus olhos que deram no queixo forte e bem barbeado, reparou na sua boca firme. Levantou ainda mais sua cabeça e seus olhares se encontraram. Sentiu um grande baque quando deu com os intensos olhos negros focado nos seus. Não conseguiu evitar que um suspiro saísse de sua boca. Com dificuldade abaixou a cabeça escondendo o fascínio que ele lhe provocava. Mas não conseguiu essa façanha por muito tempo e a ergueu novamente para observá-lo melhor, muito curiosa sobre ele.

Allah! Que homem lindo. Sem dúvidas um deus Turco... Ele a deixava tão nervosa... Aslan viu como ela estava tensa, sem jeito, parada olhando para ele. Será que ela sabia dançar? ―Sabe dançar? ―Não. ―disse rouca ―nunca dancei. Ele sorriu. ―Relaxe, Sila. E só olhar para mim. Abra os braços e eu faço o resto. Ela acenou um sim para ele com o coração disparado. Ele sabia seu nome? Burra! Claro que ele sabia! Todos a apontavam na rua. Desde que nasceu não conheceu nenhuma Sila. Seu nome na vila se tornou um nome de desonra. Só existia o nome dela na cidade. Aslan começou a dançar para ela. Allah! Seu perfume entrava em suas narinas conforme ele se mexia, parecia um desafio a sua sanidade. Conforme ele dançava, os braços se erguiam e se abaixavam levemente de um jeito lindo. Ele dançava muito bem! Arfou quando ele se aproximou mais dela, seus corpos se alinhando, quase colados. Estavam tão perto que ela podia sentir o calor emanando do corpo dele. Todos seus sentidos ficaram em alerta e ela apreciou muito esse quase contato. O perfume dele, tão bom!

Aslan sentiu um grande prazer quando seus olhos verdes se encontraram com os dele, mas ela, timidamente, os baixou. Ah! Sua boca era linda, adoraria sentir seus lábios rosas nos seus. Seu membro pulsou só de pensar nisso. Sila era a coisa mais linda que ele já tinha colocado os olhos na vida. Parecia um passarinho frágil, trancafiado e louco para se libertar de todo esse peso. Seus olhos verdes de vez em quando procuravam os seus. Tão meigos, tão tímidos... Um sentimento se agigantou em seu coração conforme ele dançava para ela: daria todo dinheiro do mundo para vê-la feliz... Era uma judiação uma garota tão linda colher aquilo que sua mãe semeou. Não era justo com ela. Contudo, aqui nessa vila, ninguém estava imune a isso ou poderia fugir do seu destino. Antes fosse ele que se casasse com ela do que algum oportunista que a faria sofrer. A dança acabou para a sua infelicidade. Ele estendeu a mão para ela. ―Vem, vou levá-la aos seus tios. Sila concordou com um gesto de cabeça, sem saber o que pensar sobre tudo isso. Os olhos dele pareciam ter um interesse tão genuíno por ela.... Ou... ou era isso que ela queria acreditar? Então por que ele a tirou para dançar? Por que teve vontade? Para desafiar a sociedade? Quando ela parou de frente aos seu tios, ele os encarou

sério. ―Eu me caso com ela. Sila ofegou ao ouvir as palavras dele. Sentiu uma sensação quente correndo por todo seu corpo e isso refletiu em seu rosto que ficou em chamas. Como? Então era ele? Fora ele que se interessou por ela? Era esse homem que sua tia tinha se referido aquele dia? Claro que era! Arrebatada com o impacto que ele lhe causara, ficou sem saber o que pensar sobre isso. Quando ele saiu da festa ao lado de seu tio, Sila pediu licença e foi até o toalete. Caminhou trêmula até lá, muito ofegante. Uma sensação de felicidade de repente a tomou. Quando entrou no recinto se olhou no grande espelho. Nem parecia a mesma Sila. Estava afogueada, os olhos cheios de vida. E todo o seu sonho de se mudar? De receber sua herança e ficar no anonimato? Por que ele lhe abalou tanto? Encostada ao balcão do banheiro, seu olhar ficou parado, uma excitação inexplicável agitava seu coração. Estava confusa com os sentimentos que ele lhe provocara. Nessa hora Belma entrou no banheiro e a encarou com um sorriso nocivo quebrando todos os seus pensamentos. ―Lindo ele, não? Sila encarou a garota. Ela nunca lhe dirigiu a palavra desde aquele dia que rolaram na grama da escola. Sila bateu nela pra valer. Por que resolveu conversar com ela agora?

Coisa boa não tinha ali. Algo no seu olhar lhe dizia que uma bomba estava prestes a ser jogada em cima dela. Preparou-se. ―Muito lindo ―ela disse e foi se afastando de Belma, antes que isso o grande mal de sua boca ferina fosse lançado. Contudo, teve seu braço agarrado e puxado ― esse homem que acabou de dançar é Aslan Yemen Merv. Sila lhe deu um sorriso glacial. ―Obrigada por informar. Eu sei quem ele é. Ela riu. ―Sabe mesmo? Para seu governo, saiba que os Yemen Merv estão totalmente falidos. Se ele demonstrou interesse por você, foi por causa dos benefícios que ele terá nessa relação. Não pense que um homem como Aslan se interessaria por uma mulher como você, que é a herança de Caim e carrega um passado de desonra. Seu coração se apertou no peito, uma raiva silenciosa a invadiu nessa hora. Sentiu o calor invadido seu corpo, o estômago uma poça de amargosa. Claro que era isso! Um homem sabendo quem era, não se interessaria por ela. Ergueu o queixo de um jeito altivo. ―Eu já sabia disso! ―mentiu. ―Não precisava ter se dado ao trabalho de me falar. Ela sorriu com prazer perverso. ―Então irá se casar com ele, mesmo sabendo disso? Como ela fugiria do seu destino? Ela não tinha nada. Só sairia com a roupa do corpo. Não tinha escolha.

―Por quê? Está interessada? Suas palavras pareceram afetar Belma. Ah, com certeza Aslan lhe provocou interesse quando a tirou para dançar naquele dia. ―Não! Eu não quero um homem falido. Não quero me sentir usada e olhada com apenas com cifrões nos olhos. ―Então não tem nada a perder ou para se decepcionar. Boa noite. ―Boa noite? Quem é você para me desejar boa noite? Você é uma vergonha para a nossa sociedade. Dizem até que esses olhos verdes eram do americano. Suas palavras agiram como uma grande bofetada em seu rosto e ela sentiu a cor fugir de suas bochechas, tornando até sua respiração difícil. ―Você não sabia disso, não é? ―A outra disse sorrindo, os olhos brilhando vitoriosos sobre os dela. Sila a empurrou para longe e saiu do banheiro, só então permitiu que as lágrimas viessem à tona. Seu pai não tinha olhos verdes, nem esse cor de cabelo, mas e sua mãe? Nunca tinha visto uma foto dela! Será que seu pai a criou sabendo que ela não era filha dele? Por isso a comunidade a odiava tanto? Por ser bastarda? Sua tia se aproximou dela. ―Sila, por que está chorando? ―Eu sou...sou filha do americano que fugiu com a minha mãe? ―Quem te disse isso? ―Belma.

―Sila, pare de chorar e não pense nisso. Ela está com raiva que Aslan Yemen Merv será seu noivo e a tirou para dançar. ―Tia! Diga a verdade. Eu não sou filha de Hakan Elude, do homem maravilhoso que sempre tive como pai? Sua tia a segurou com força pelo braço. ―Aqui não, Sila. Em casa conversamos. Claro que ela era filha do americano. Sua tia teria negado na hora e não teria lhe dito que falariam a respeito disso em casa. Passou os olhos por todos. E seus cabelos castanhos dourados, não era uma prova disso também? Todos da região tinham cabelos negros, ou castanhos bem escuros. As mulheres para terem esse efeito precisavam pintar. Allah! Estava em sua aparência a resposta. A dor forte provocou um grande aperto em seu coração e seus olhos adquiriram uma frieza glacial e toda a sua raiva direcionou para aquele estranho. E esse homem? Ele só desejava se casar com ela por causa do interesse material! Tem coisa pior que isso? Um sorriso perverso brincou em seus lábios. Ah se eles se casassem, faria da vida dele um inferno.

Aslan entrou em casa com um sorriso no rosto. Linda! Perfeita! Sim, foi isso que viu nela. Casar-se-ia, mas agora entendendo o que o impulsionou. Era

muito mais que o interesse financeiro ali, ou o desejo de querer protegê-la de tudo e todos. Claro que queria isso, mas muito mais que isso, estava encantado com aquela garota de lindos olhos verdes. Ah! E aquela boca... Nasceu para ser beijada repetidas vezes. Tinha certeza de que debaixo de toda aquela fragilidade encontrava-se uma mulher de fibra. Não era como essas mulheres mimadas, que cresceram cercadas de luxo e cheia não me toques. Sila parecia ser diferente delas. Talvez por ter vivido em condições diferentes. Uma vida cheia de batalhas para enfrentar. E ela parecia ser uma mulher que se contentava com pouco e não essas garotas fúteis que havia conhecido ao longo dos anos. Ele a queria para si. Já estava com trinta anos e entendia que estava na hora de sossegar. Claro, que não podia mentir a si mesmo que o fato de estar falido o levou a fazer essa grande aposta no casamento. Vivia dentro de um comodismo, vivendo sua solteirice sem se preocupar em se casar. Mas agora chega! Por que não unir o útil ao agradável? E que agradável... E mesmo porque, para ele conseguir uma mulher, precisava ir para outra cidade, aqui não tinha um prostíbulo e ele não se arriscaria a sair com alguma garota daqui. Seria dor de cabeça na certa. Dilara era um grande exemplo disso. Sorriu pensando em sua noiva, em sua lindíssima imagem. Desde que a vira, ela não lhe saia da cabeça. Em seus sonhos ele a puxava para si e ela correspondia de maneira quente e apaixonada.

Suspirou. Daria seu sobrenome a ela e faria questão de desfilar com Sila, demonstrando a todos o quanto foi acertada sua escolha. Estava apostando alto que seriam compatíveis, que ela lhe seria uma esposa e acima de tudo uma maravilhosa companhia. Amorosa e fogosa na cama. Ah! Com certeza ela era um achado, um lindo tesouro. Tola foi a família e o homem que não a valorizou.

Em casa, embora intimamente soubesse a resposta de sua indagação, Sila apertou seus tios. Queria ouvir a confirmação de suas origens da bocas deles. ―Pronto! Chegamos em casa. Yavuz Elude não era meu pai biológico? É verdade isso? Sua tia olhou para o seu tio, mas não disse nada, foi seu tio Yavuz que deu um passo em sua direção e confessou:

―Não, ele não era. Seu pai biológico é o maldito americano. Sua mãe mesmo confessou isso ao seu pai. Sila balançou a cabeça de um lado para o outro em desalento. Sempre reparou que era mais branquinha e diferente, mas como não conheceu sua mãe e nem os parentes dela que sumiram todos, então pensou ser parecida com ela. Seu pai sempre a amou como uma filha legítima e nunca chegou a cogitar nisso. Encarou seus tios com o olhar altivo. ―Por que não me contaram? Precisou uma pessoa de fora abrir meus olhos para isso? E justo Belma? ―Seu pai não queria que soubesse. Ele te amava como uma filha. ―A vila inteira sabe disso menos eu. ―Ninguém de nossa família espalhou isso, mas conforme você foi crescendo, sua pele, seus olhos e a cor dos seus cabelos foram ficando cada vez mais evidentes e a verdade foi incontestável. Sila permitiu que suas lágrimas se derramassem como cascata de seus olhos. ―Vocês erraram! Deveriam ter me dito. Por isso sou tão desprezada. Sou uma bastarda. Minha mãe fugiu e Hakan Elude não era meu pai biológico. Sua tia se aproximou dela com aquele sentimento de proteção que ela usava quando ela era criança, embora seu olhar nunca lhe passara calor. Eles eram tão frios para ela... ―Filha, não fica assim. Não vai mudar em nada sua situação e nem sua história se você sofrer desse jeito. ―Eu deveria ter morrido no parto, isso sim! Sua tia fungou. ―Não fale assim, Sila.

Sila não queria se casar e aproveitou essa falsa comoção deles para implorar. Quem sabe eles mudariam de ideia. Ela era um mal para eles. Sabia disso. ―Por favor, tio, tia. Deixe-me ir embora. Falta apenas alguns meses para eu completar a maioridade e receber a minha herança. Eu quero viver longe daqui. Em um lugar onde ninguém me apontará o dedo. Seu tio endureceu a cerviz. ―Não! Já disse que não! Você se casará com o rapaz e pronto! ―O senhor sabe por que ele quer se casar comigo? Porque ele está falido! O interesse dele não é genuíno por mim! Sua tia ficou sem falas. Já seu tio se aproximou dela com o olhar duro. ―Não importa o motivo de ele ter se interessado por você nesse momento. Cabe a você conquistá-lo, ser uma boa esposa e ele te amará. Sila riu. ―Ele! Ele! Ele! E eu? Como vou amar alguém que me viu como um casamento conveniente? Deve me no fundo me desprezar como todos? ―Sila! ―seu tio falou em tom de aviso. ―Ah! Estou cansada. Não adianta falar com vocês. Já traçaram meu futuro sem considerar minhas emoções. ―Sim, vai se deitar. Não adiantará em nada você gastar saliva comigo e com sua tia. Já está decidido. Você se casará e pronto. ―Por isso minha mãe foi embora, vocês são tudo um bando de machistas! Estão loucos para se livrarem de mim. Até estão pagando por isso.

Seu tio avançou nela e a pegou pelo braço com força. ―Vai para o seu quarto! Sua garota ingrata! Não sabe que estamos fazendo isso para o seu bem? Bem? Que bem era esse? No quarto Sila se lançou na cama e chorou amargamente. Sua idiota. Quando vai parar de tentar ver o lado bom das pessoas? O que um homem acostumado a ser o centro da atenção feminina queria com ela? Claro que foi movido por interesse! Ela era pior que uma prostituta, eles que tinha que pagar para um homem querer assumi-la. Ela não. Ela tinha que pagar. A madrugada veio e o sono também e com ele imagens daquele homem. Se viu de repente viu encostando seu corpo nele e erguendo as mãos para apreciar a textura de seus cabelos. Suas mãos então a trouxeram mais para junto de si e então sua boca tomou a sua com paixão... Acordou suada, ofegante. Allah! Mas que droga! Nunca dera um beijo na vida, mas aquele homem estava assombrando suas noites. Era sempre assim, ou ela pensava nele e quando se negava a isso, acabava sonhando com ele.

Capítulo 5

Seus tios não perderam tempo. Levou apenas uma semana para que eles aprontassem tudo. A reunião seria simples, já que a alta sociedade, que seus tios tanto prezavam se negaram a ir à festa de seu casamento. Logo nos primeiros convites, eles receberam nãos educados. Humilhados, resolveram fazer a festa somente para os parentes mais chegados ― que eram poucos― e aos parentes de seu noivo. Agora ela passaria pela cerimônia da hena nupcial. Esta cerimônia e toda a festa seriam realizadas na casa do seu tio. Em um quarto separado, ela fora vestida com um traje especial dado por uma tia de Aslan; Fora então colocado uma joia em sua mão, num ritual chamado "Taki". Depois de colocarem um véu de renda vermelha sobre sua cabeça e ela foi levada junto às mulheres, acompanhada por canções e hinos até uma cadeira, onde suas mãos e pés foram tingidos com a hena. Depois desse ritual teve início a canção da jovem Zeynep: Yüksek Tepelere. Enquanto ela dançava, todos passaram a cantar com ela a música que falava do choro de sair de casa e se unir ao seu esposo e deixar seus pais, no caso dela seus tios. A canção era um melodia forte e emocionante e ela chorou nessa hora, mas seu choro não fora por sair da casa dos seus tios e não ter mais o convívio com eles, mas por ter vivido uma vida de humilhações e agora contra sua vontade estava sendo obrigada a se casar.

Depois desse ritual, ela foi até uma sala para a leitura do contrato, onde ela diria seu sim coagido. Seu futuro esposo estaria na outra sala, participando em separado do mesmo ritual, só depois se encontrariam. Sila suspirou. Na leitura do contrato sentiu um grande desgosto quando foi mencionado o valor que seu noivo receberia com seu casamento. E mais, eles não poderiam se separar até ela completar vinte um anos. Nesse meio tempo, ele se responsabilizaria por ela. A separação só poderia ser feita após essa data, onde ela alcançaria a maioridade. Com vinte um anos, caso se separassem, teriam que dividir a herança meio a meio. Sua herança não era pouca, daria para viver bem com esse valor. Com certeza! Resumindo, tinha seis meses para fazer a vida dele um inferno para ele desejar a separação. Aslan se atentou a leitura do contrato. Quase caiu de costas ao saber a quantidade de dinheiro que receberia com o casamento. Não imaginou que fosse um valor tão alto. Mas o que ele conhecia dessa cidade? Da vida das pessoas? Nada! Não tinha ideia que o pai de Sila era um homem de posses. Ele era apenas um forasteiro, viera a pouco tempo para Erzincan. Ele morava em outra cidade, em Kayseri com seu pai até sua morte, só então foi para lá. Com o valor que recebera da venda da casa, resolveu injetar dinheiro em Kumas, a fábrica de tecido que pertencia a seu tio, se tornado sócio dele.

As dívidas eram altas, no entanto, ontem mesmo recebera um grande pedido, lhe trazendo novamente a grande esperança que as coisas melhorariam para eles e ele não precisaria usar a herança da sua linda esposa. Como ele conseguiu essa conta, poderia conseguir outras como essa. Quem sabe as coisas melhorariam para eles de tal forma que ele conseguiria pagar os fornecedores e tudo que estava atrasado. Estudara tanto para quê? Queria colocar em prática anos no curso de administração. Antes de qualquer coisa, queria provar a si mesmo que conseguiria sair do buraco com seus recursos próprios. No fundo, ele não se sentia bem em usar a herança de Sila, só usaria em caso de extrema necessidade. Queria vencer com seus méritos. Ao assinar o contrato de casamento se levantou. Agora era a hora de encontrar sua linda esposa e juntos participarem da cerimônia de casamento.

Contrato assinado Sila se levantou. Agora ela se encontraria com o seu noivo lá fora. Para isso, vestiria os trajes de noiva e um véu branco seria posto em sua cabeça. Iria até ele em cima de uma mula, como nos tempos antigos. Depois de pronta, subiu numa pequena escadinha e alcançou o lombo do animal. Numa cavalgada lenta cercada por uma cação de amor que uma das mulheres cantava e tambores, fora guiada pelo

seu tio até o centro do jardim. Fizeram o caminho entre as duas fileiras de mesas, até onde os convidados os aguardavam. No centro seu tio parou e a mulher que cantava se afastou juntamente com os homens dos tambores. Um silêncio se fez presente. Seu tio a ajudou descer do animal. Só quando estava em pé, seus olhos se ergueram e ela avistou entre os convidados seu noivo. Seu coração disparou e sua respiração ficou agitada ao vê-lo elegantemente vestido com um terno negro, camisa branca e gravata vermelha. Quando os olhos negros encontraram-se com os dela, ela sentiu uma súbita fraqueza nas pernas. Contudo, manteve-se rígida e aparentemente impassível. Ele sorriu para ela calmamente, como se estivesse lhe fazendo um bem e não lhe roubando a sua juventude, a sua liberdade, a sua herança. Sentiu um tremor involuntário que correu por todo seu corpo. Com raiva de seus sentimentos tão contraditórios, reforçou ainda mais sua razão e seus olhos brilharam com rebeldia: "Deve estar mesmo feliz, agora que sabe o quanto receberá ao ter se casado com a tonta aqui." Com esses pensamentos a raiva pulsou dentro de suas entranhas. Nessa hora seu tio lhe ofereceu o braço e ela o pegou. Então, ele a conduziu até seu noivo, que ainda a observava atentamente. Sentou-se ao lado dele, ignorando seu perfume bom que já começava a avançar por suas narinas. Eu o odeio. Disse para si mesma. Odeio todos dessa cidade.

Um bando de hipócritas. Sila lançou um olhar cheio de ódio para Aslan, que era para ser breve, mas seu olhar penetrante segurou o seu. ―Tudo bem? ―ele perguntou. Sua voz com uma entonação preocupada. ―Não. Nada bem. Seus olhos negros se tornaram mais brilhantes e intensos nos seus, tentando alcançar o que ela quis dizer com isso e para o seu conflito ela se viu gostando da forma como ele olhava para ela, tentando decifrá-la, entendê-la. Seu coração disparou e ela ofegou questionando-se que sensações eram aquelas que ele lhe provocava. Com dificuldade desviou os olhos dos dele, já que os dele não se desviavam dos dela. Lembre-se porque ele se casou com você. Esse homem te usará como um objeto. Você estará na vida dele apenas para servilo. Seu corpo começou a tremer de raiva e de repulsa por essa situação. Daria tudo agora para estar longe dali, mas seus sonhos foram desfeitos. Soltou um suspiro e encarou os convidados e sua raiva só aumentou quando viu que olhavam para ela e cochichavam entre si. Com certeza comentando sobre a natureza de seu casamento. Que homem em sã consciência iria querê-la, caso ela não tivesse algo a oferecer? Isso foi mais uma afirmação do que uma pergunta. Com certeza! Seus olhos brilharam pelas lágrimas e ela não permitiu que elas saíssem de seus olhos, segurou também um soluço que quis escapar de sua garganta.

Qual era o problema? Aslan se perguntou novamente ainda observando atentamente sua esposa, notando a maneira incomodada e retraída que ela participava da festa. Então ergueu os olhos e passou pelos convidados. Eles os olhavam atentamente e depois sorriam em tom de deboche. Aslan se sentiu quente por dentro. De maneira implacável lhe incomodou profundamente. Não deveria ter permitido festa alguma, mas os tios dela fizeram questão de fazer, mesmo sabendo a maneira que esse povo olhava para ela. Ficou sabendo que muitos rejeitaram o convite, estavam apenas as famílias do tio dela. E mesmo assim, eles a desprezavam. Povo atrasado! O lugar de ele veio, cada um cuidava de sua vida, e não da vida alheia. Iria abreviar essa festa! Ah se iria! Então a levaria para o seu apartamento e então para o tão esperado finalmente. Estava louco por ela. Não via a hora de tê-la em seus braços. Levantou-se de seu lugar e todos olharam para ele imediatamente. ―Gostaria de agradecer a presença de todos por terem vindo no meu casamento. Quero pedir agora aos músicos para tocarem a dança dos noivos, depois disso deixaremos à festa. Sila ficou estática olhando para seu noivo. O ar ficou preso em seus pulmões pelo gesto de Aslan e ainda mais quando ele pousou os olhos sobre si. Sabia que precisava se levantar, mas suas pernas se recusaram a obedecê-la. ―Vem, Sila.

Ele então lhe ofereceu sua mão. Ela voltou a respirar, mas de maneira ofegante e então bebeu um pequeno gole de seu suco de abacaxi para tirar a secura da garganta e pegando sua mão se levantou. Imediatamente sentiu o calor da mão dele aquecendo a sua que estava tão gelada. Roboticamente se viu sendo guiada por ele em direção ao centro das mesas, seu nervosismo fazia com que seu coração batesse ainda mais rápido dentro de seu peito. Aslan ficou de frente a ela. Engoliu em seco, seus olhos preso aos dele. A música dos noivos entrou e ele abriu os braços, ela fez o mesmo. Linda! Pensou quando viu a língua dela molhando seus lábios secos. Seu olhar se intensificou no dela e ele começou a dançar para ela. Dessa vez sua noiva não ficou tensa como da outra vez, só olhando para ele, Sila o acompanhou com desenvoltura e ele lhe sorriu demonstrando seu prazer com sua dança. Seus olhos faiscaram no dele, e isso fez com que seu coração falhasse. Era sua imaginação ou estava lendo desafio sem seus olhos? Ela estava lhe desafiando ou a todos que a observavam dançar? Resolveu parar com conjecturas e se atentar a mulher que ultimamente não lhe saía da cabeça. Sem conseguir se conter, passou os olhos pelo seu rosto lindo com sua maquiagem perfeita e, pela parte de seu pescoço clarinha, um pouco à mostra. Seu membro pulsou só de pensar que faltava pouco para tê-la para si.

No início da dança chegou a encarar Aslan com o nariz em pé, o olhar altivo, desafiador, mas conforme foram dançando, os olhos dele foram ficando cada vez mais quentes nos seus e ele passou a examiná-la com minúcia e ela cedeu, não conseguiu sustentar sua rebeldia por muito tempo e acabou baixando os olhos para não ler o desejo que começou a transparecer neles. Allah! Ele mexia muito com ela. Isso a preocupava.

Final da dança, Aslan pegou a sua mão e agradeceu a todos. Uma descarga elétrica lhe percorreu o braço e sua respiração ficou agitada quando seu olhar procurou o dela. Os dedos dele apertando sua mão, o calor de sua pele incendiando a dela. Deus! Esse homem passava a imagem de um lobo faminto. Dava para ver isso no seu rosto diabolicamente bonito. Um anjo caído. Vil, porém tentador. ―Agora se troque. Eu te espero aqui para irmos. Deslumbrada com seu esmagador magnetismo, ficou a olhar como uma boba para ele, sem palavras. Só segundos depois acenou um sim. Confusa, assustada com as sensações que ele lhe provocava, libertou-se da mão dele, dando fim ao tormento que o inocente toque acendera no seu íntimo. Tão logo afastou-se dele, sua tia a acompanhou: ―Onde está indo? ―Vamos embora. ―E a festa? ―Vocês a aproveitam. ―Mas...é cedo. O que os convidados irão pensar? Essa é boa! Eles falavam mal dela, um mal a mais não mudaria nada. Pontos para seu noivo. Sua decisão foi muito acertada. Sila virou seu rosto para sua tia e a encarou sem parar sua caminhada até o quarto, que acompanhava seus passos firmes. ―Irão pensar que somos recém-casados e que estamos loucos pelos finalmente. ―Sila disse com uma satisfação perversa,

embora só de pensar nisso a deixava tensa e nervosa. ―Allah! ―Ela exclamou chocada e parou. Sila sorriu diabolicamente e apertou os passos em direção ao seu, "antigo quarto”. Suas roupas já estavam na casa de Aslan, ele mesmo se encarregou de levá-las ontem à noite. Entrou dentro de um vestido preto que havia separado antecipadamente. Escolhera essa cor que refletia bem o estado de espírito que se encontrava, contrária a toda a essa palhaçada que era sua vida. Enquanto se trocava ouviu vozes perto da janela, de duas ou três mulheres conversando entre si. Reconheceu a voz de uma das empregadas de sua tia. Uma delas riu antes de dizer: ―Claro que seria esse forasteiro que se casaria com ela. Sabe o que eu descobri sobre o noivo? Que ele era um grande mulherengo até vir para cá. Sempre teve uma alta rotatividade de mulheres em sua cama e ele nunca se ligou a nenhuma delas. Agora me digam, o que podemos esperar desse casamento? Você acha que ele irá mudar de uma hora para outra? E justamente com Sila? Pau que nasce torto permanece torto. Ele só se casou com ela por causa de sua herança. Muito esperto ele. Pode manter sua vida dupla e ainda colocar a mão no dinheiro dela. Sila fechou os olhos com um súbito espasmo de angústia. Se tinha alguma esperança de que esse homem com quem se casou simpatizasse com ela, percebeu que estava redondamente enganada. Sentiu um grande aperto no peito e uma poça de ácido no seu estômago. Afastou-se da janela e sentou-se na cama.

Por que sofria? Claro que só podia sonhar com o amor longe de Erzincan. Desde menina aprendera isso. Só seu pai um dia a amou de verdade. Nem seus tios a amavam. Sempre reparou na frieza dos olhos dele. Sim, a dureza da vida lhe fortaleceu, mostrando que não deveria apostar nas pessoas, era como construir castelos de areia, com certeza uma hora ou outra eles ruiriam. Através dessas dolorosas lições aprendera se auto preservar. Se não fizesse isso, era como apontar uma arma para si mesma. Não podia ser manipulada por esse homem. Ele já mexia muito com ela. Não podia ficar presa nas grades de uma prisão invisível. Ligada a uma pessoa numa relação unilateral. Não queria migalhas! Precisava desconectar suas emoções, como sempre fizera. Em poucos meses seria livre. Era preciso focar nisso. Com esses pensamentos ficou em pé e saiu do quarto. Avistou seu noivo. Ele a esperava num canto do jardim, ao lado de seu tio, o senhor Zeki Merv. Podia ver pelo olhar de Aslan que ele estava impaciente. Toda hora olhava para a entrada. Quando ele a avistou seus olhos se intensificaram nos dela e ele sorriu. Por que a pressa? Eles não teriam uma relação normal. Mesmo porque, agora iriam para a casa dele e não teria nenhuma sogra ou tia chata exigindo a prova que ela era virgem. Ficara sabendo que seus pais eram já falecidos e seus dois tios presentes eram viúvos. Um deles tinha uma ninhada de filhos.

Todos estavam aqui presentes e eram os que menos a olhavam torto e os que mais se divertiam na festa. O outro tio, que conversava com ele, era sócio dele na fábrica. Este não teve filhos, como seus tios e talvez por isso era tão apegado a Aslan. Contudo, diferente dos dela, que no fundo a odiavam e estavam loucos para se livrarem dela. Conforme caminhava até eles, observou o horizonte além daqueles muros. O vento forte, o céu avermelhado sobre o verde das montanhas era uma bela paisagem, como um sonho para ela. Nunca saiu daquela cidade. Nunca saiu para nada. Adoraria conhecer novos horizontes... Experimentar sensações novas. Ser livre. Seu coração se apertou com esses pensamentos. Tentando encontrar paz dentro de si mesma resgatou a lembrança que faltava poucos meses para isso. Era só mandar esse casamento para o espaço e ganhar o mundo. “Vou encontrar uma vida que eu goste longe daqui, tenho certeza.” Disse a si mesma

Capítulo 6

Quando se aproximou de seu noivo ele lhe sorriu e isso teve o poder de lhe roubar o ar e até esquecer sua dor. ―Vamos? Ela assentiu para ele com raiva de si mesma por ser tão vulnerável a ele. Ele pegou seu braço e a conduziu para fora. Podia sentir o olhar de cada convidado sobre si, a julgando, a hostilizando. Se deparou então com um sedã preto, não era novo. Claro que não seria. O homem com quem se casara estava prestes a falir. Ainda bem que uma das cláusulas de seu contrato de casamento estava que ele poderia apenas usar a metade de sua herança, isso até ela completar vinte um anos. Então se separasse dele, ela levaria essa parte. Aslan abriu a porta para ela. Entrou e acomodou-se no banco. Ele sentou-se a seu lado. Assim que a porta foi fechada, ele se virou para ela e a agonia invadiu-a. Abaixou a cabeça e fingiu ajeitar o vestido, mas sentia sua pele queimar por causa de seus olhos sobre si. No silencio que se seguiu, tinha quase certeza de que seu coração disparado era ouvido por ele, maldito traidor! ―Espero que goste do lugar que moraremos. É alugado, simples, mas é bem arejado. Precisa só de um toque feminino para ficar mais acolhedor. “Não se engane. O ambiente encantador será apenas o inferno mascarado de paraíso. Não se apegue a ele, se ficar na mão dele vai se ferrar de todas as maneiras.” “Lembre-se que as mulheres para esse homem eram apenas

brinquedos. Obtidas com facilidade e postas de lado com pouca lábia.” Sim, elas possuíam um lugar na vida dele, sua cama, para prazeres físicos, mas longe do seu coração. Por isso não se admirava dele ter se casado com ela. ―Hein, você ouviu o que eu disse? Ela ergueu seu rosto e deu com os olhos negros dele sobre si, intrigados. Observando-a. ―Ouvi. Tudo bem ― disse simplesmente para ele. Ele pareceu querer dizer-lhe algo, mas, para o seu grande alívio, mudou de ideia e ligou o carro. Observou-o por um momento, a expressão séria, enigmática... Talvez ele estivesse estranhando o fato de uma mulher não olhá-lo com olhos sonhadores, babando por ele... Muitas mulheres deveriam perder a noção do ridículo só para tê-lo. Ela não era assim. Seus valores eram outros. Sila virou o rosto para o vidro e observou a paisagem árida lá fora. Daria tudo para conhecer pessoalmente a cidade grande, não somente pelas imagens que assistia pela televisão. Seria bom ser uma desconhecida no mundo de desconhecidos. O carro então saiu da estrada pegando uma avenida e ele viajou por alguns minutos. O lugar pelo visto era bem afastado. Então, meia hora depois ele entrou numa pequena rua. Notou então pela casas simples que se tratava de um bairro pobre, periférico. Contudo, Aslan não estacionou em frente a nenhuma delas, mas embicou num condomínio simples.

O porteiro quando o avistou, abriu os portões para ele. O carro então desceu até o subsolo. Ele estacionou numa vaga numerada e desligou o carro. ―Chegamos ― ele disse com um meio sorriso. Ela acenou um sim com a cabeça e abriu a porta saindo antes dele. Não era fácil ficar num ambiente confinada com ele. Aslan parecia maior do que era. Ainda mais intimidador. Esperou alguns minutos para se acalmar. Há algo errado com essa garota. Respirou fundo. “Espero não ter me enganado com ela. E sua adorável esposa não ser a mulher que seu tio o alertou” Aslan disse a si mesmo. Saiu do carro. Odiando o clima estranho que estava entre eles. Aproximou-se dela e colocou a mão em sua cintura. Ela se retraiu, mas não se libertou. Sim, há algo de estranho nela. Ela parece totalmente contraria ao casamento. Bem diferente da mulher que dançara aquela noite. ―Vem comigo, é por aqui. Sila não disse nada, apenas se deixou conduzir por ele. Entraram no elevador e ele apertou o sétimo. Quando as portas se fecharam, ele deu um passo em sua direção. Ela o encarou assustada. A respiração alterada. Num movimento rápido ele a pegou pela cintura e a trouxe para junto de si, tentando quebrar esse gelo que ela colocou entre eles. Deixando claro o que os espera depois que passarem pela porta de seu humilde lar: ela seria dele. Seu coração disparou ante sua beleza. Ela abriu a boca linda, estava ofegante, mas antes que ele a beijasse as portas se abriram.

Droga! ―Salva pelo gongo. ―disse com um sorriso lascivo para ela. Allah! Essa foi a cena mais íntima que ela já tivera com um homem. E que homem! Ela ofegou e tentou se afastar dele, mas ele a pegou pela cintura de um jeito possessivo e a conduziu até a sua porta com o número setenta preso a ela. Enquanto Aslan usava suas chaves, Sila tentou se distrair para espantar seu nervosismo. Reparou que no andar havia mais dois apartamentos. Quando ele abriu a porta, ela entrou logo, mesmo se sentindo tão desorientada. Aslan sorriu. A visão dela olhando tudo no meio da sala lhe deu um grande prazer. Uma bonita imagem, embora seu vestido fosse simples, ele podia imaginar os contornos suaves de seu corpo por debaixo dele. Trancou a porta e se virou para ela. Sila ainda observava tudo calada de costas para ele. ―Está com fome? Sede? ―disse sem tirar os olhos dela, sem perder nenhum de seus movimentos. Ela se virou para ele. Viu como ela engoliu em seco e então ergueu o seu nariz. ―Não, obrigado ―disse num tom seco, pouco amistoso. Isso o incomodou, mas ele sabia como acabar com aquele gelo. Sem desviar os olhos dela, retirou o paletó e a gravata, os jogando no sofá mais próximo. ―O que há? Tenho notado seu retraimento? Tudo isso é timidez? Aslan esperava sua resposta calado.

Sila sorriu e sentindo-se rebelde pela natureza de seu casamento, empinou ainda mais seu nariz. ―Tímida? Não é timidez que está vendo. É revolta por ter sido forçada a esse casamento. Por essa ele não esperava. Ele avançou, Sila deu um passo para trás. — Afaste-se! Não me toque! Apesar da exigência rude, viu o quanto o fato de se aproximar dela a abalou. Todos os sinais de desejo estavam presentes nela, embora ela fizesse questão de esconder dele. O coraçãozinho batendo rápido e a sua respiração agitada a denunciou. Não era medo que via ali. Ele conhecia muito bem as mulheres. Mesmo com sua resistência Aslan sorriu, era seu bárbaro interior crescendo dentro dele. Lambeu seus lábios vagarosamente, num deleite por sentir o quanto ela reagia a ele. ― Estamos casados. Não há mais volta. As coisas não precisam ser assim entre nós. Sila ofegou. O olhar ultrajado que ela lhe deu o fizera sentir-se mal. — Precisam sim! — respondeu irada. —Conheço a natureza desse casamento. Sei o alto preço que recebeu com a minha herança, seu falido dos infernos! Ele não havia se preparado para as palavras dela. Perdeu o raciocínio por um momento. Foi como receber um golpe certeiro no estômago. Ele a estava chamando de um merda de um interesseiro? Tudo bem que isso o motivou no início, mas depois ele sentiu um interesse genuíno por ela. —Verdade Sila. Você se casou com um homem à beira da

falência, mas isso não quer dizer que não podemos nos dar bem... Sila se tornou ainda mais ofegante. Seus olhos verdes estavam atentos a todos os seus movimentos. E Allah! A maneira como seus lábios se separavam e o peito empinado subiam e desciam, o deixavam louco. Agora estava morrendo de vontade de tomar tudo que lhe era devido. — Olhe aqui seu grande idiota! Não seremos um casal comum. Afaste-se e me deixe. Ele piscou para a sua realidade. Como é que é? questionou-se, ainda pasmo com a atitude da garota. Riu alto. Certo da vitória. Como um leão cercando a sua presa ele caminhou lentamente até ela. Sila tentou escapar para o lado, mas ele a agarrou. —Ah.ah.ah...Não vai fugir. Não vou permitir. Debateu-se um pouco, mas foi inútil e ele a puxou mais para si. Ela ergueu o olhar e ele conseguiu sentir o cheiro de sua excitação. Sim, estava muito presente nos olhos verdes que o encaravam agora, um pouco assustados, devo dizer. E que belos olhos. Conseguiu ver agora todas as lindas nuances refletidas neles: verde, um pouco de laranja e azul... Ele sorriu e avançou seu rosto lentamente. O ofegar de sua excitação contradizia totalmente com seu jeito arredio, assim como as pupilas dilatadas lançando brasas. Isso o deixou duro, a ponto de doer. Sua respiração se agitou. —Você me pertence Sila e bem sei que me deseja... Ela riu, fazendo pouco dele embora estivesse trêmula em seus braços.

Seu queixo então se elevou. Dobrando seu joelho, Sila lhe acertou com força as partes baixas. Ele a soltou imediatamente e se inclinou com a mão nas bolas que irradiavam muita dor. —Maldita seja! —disse a encarando furioso e deu com ela o encarando com cara de culpada. Isso o fez manter a calma. Mesmo com tudo latejando, ofegante, se ergueu. — Allah! Isso foi golpe baixo. Allah! Agora entendeu muito bem o significado dessa expressão. Nunca lhe ocorrera isso antes Ela ofegou. —Eu...eu não queria ter te machucado...você que me obrigou a isso. Ele a obrigou a isso? Ela era sua esposa, porra! Ele não perdeu a calma e sem retirar os olhos dela, atento a todos os seus movimentos, começou a abrir os botões da camisa com agilidade. Depois a lançou junto com as outras roupas no sofá. Quando viu seu tórax exposto, Sila se sentiu ainda mais nervosa e engoliu em seco. Allah! Além de trabalhar, com certeza passava horas na academia se exercitando ou ele foi premiado pela natureza. Os músculos bem definidos expostos o deixavam ainda mais aterrador do que antes. Muito perturbador. Excitante... —Estamos perdendo tempo com muita conversa. No momento, isso não nos levará a lugar algum...

Como? O que ele quis dizer com isso? Antes que pensasse no que ele lhe dissera, se viu novamente encurralada em seus braços. Seu corpo ficou tenso, reagindo à proximidade perturbadora dele. Confusa, fechou os olhos. Seu perfume maravilhoso foi enchendo suas narinas a deixando ainda mais fora de si. Allah! Sila clamou em seu interior. O corpo dele estava quente, abrasador e emanou calor para o seu. Imediatamente sentiu uma corrente elétrica subindo sua coluna, deixando-a fraca. Abriu seus olhos. Foi pior, deu com um peito largo, forte, lindo, grande e peludo. Seu controle cada vez mais fora de seu alcance. Sentiu comichões nas mãos com a vontade de tocá-lo. Ela desceu os olhos lutando pela razão que estava lhe abandonando. Aslan segurou seu queixo e a fez olhar para ele. Embora ela tivesse agido mal e demonstrado toda sua rebeldia, seu toque não foi bruto, foi firme, gentil. Queria que ela soubesse que ele não era um bárbaro qualquer. Seus olhos focaram os deles, perdidos. Ele baixou a cabeça e mordiscou sua boca, e sentiu seu estremecimento. Valeu-se disso para correr os lábios pelo seu rosto, indo até a pontinha da orelha e depois seguiu até o seu cheiroso pescoço. Então os deslizou novamente e tomou posse de sua boca. Seu sangue ferveu, circulou com velocidade quando sentiu a maciez dos lábios dela. Com um gemido aprofundou o beijo, a puxando ainda mais para si. Sentiu o quanto Sila estava receptiva a ele. Parou os lábios

em sua linda concha: —Isso se chama atração meu anjo, essa é a primeira lição que irá aprender como minha esposa. Não tem como fugir disso... Aslan a encarou e viu o quanto ela estava ofegante. O olhava sem reação, pasma. —Um conselho. Pare de lutar, não conseguirá vencer a isso... —ele disse com um sorriso diabólico antes de tomar sua boca novamente com a mesma paixão de antes. Sua pele novamente se arrepiou em contato com seus lábios macios. Miríades de sensações o invadiram e ela choramingou de prazer conforme ele aprofundava ainda mais o beijo. Sila gemeu. Sua língua era tão envolvente, provocando a sua... "Então era assim o beijo..." Pensou nada decepcionada. Num gesto rápido ele a pegou no colo e a começou a carregar para o quarto. Sila ofegou, se sentindo perdida, impotente. Sob os lençóis ofegou quando o avistou retirando o restante de suas roupas. Se policiou para não olhá-lo com admiração e desviou os olhos. Como ele estava se demorando, ergueu o olhar e o avistou tirando a última peça. Uma raiva de estar se deixando levar por toda essa situação transpareceu em seus olhos. —Não me olhe com esses olhos de gata brava, sabe que seu corpo não tem poder contra isso. Não demorou muito ele estava sobre ela e antes que pensasse em mais alguma coisa, seus lábios tomaram os seus num beijo possessivo, roubando sua razão, sua mente. Sentiu sua calcinha sendo puxada e então saqueada de seu corpo. Permitiu que ele lhe tocasse onde queria, reagindo aos seus estímulos, gemendo de prazer, não o impedindo, mesmo quando ele colocou o dedo nas suas partes mais íntimas. Aslan se ergueu e a olhou demoradamente, o prazer correu

denso pelas suas veia quando viu o quanto ela estava ofegante e o olhava completamente entregue, seus olhos verdes refletindo todo o seu desejo, de muito, muito mais... Ele sorriu. Quando ela percebeu que ele a contemplava, fechou os olhos. A imagem bonita dele ainda estava em sua mente. Cabelos despenteados, lábios entreabertos pela respiração agitada e seu peito lindo, peludo subindo e descendo pela sua respiração agitada. Allah! Precisava dissociar seus sentimentos! Ele era apenas um homem experiente. Claro que sabia dar prazer, enlouquecer as mulheres; e muito mais que isso, precisava se lembrar que se casara com ela pensando apenas nos benefícios desse casamento. Quem lhe garantia que ele a amaria, ou lhe seria fiel? O desgosto a tomou por reagir a ele, mesmo sabendo a natureza de seu casamento... Nessa hora sua boca foi tomada com um beijo cheio de personalidade, revelando o tamanho do desejo dele, o quanto seu esposo a queria, e sua mente se tornou bagunçada, incapaz de qualquer raciocínio. Seus seios empinaram, seus bicos endureceram com a onda quente que se espalhou em sua barriga. Sentiu imediatamente suas paredes úmidas, latejando, exigindo uma satisfação ainda incompreendida. Desesperada, reconheceu que além do ódio, havia esse instinto da carne e que era mais forte do que ela. Aslan a possuía sem defesas. —Vamos tirar esse vestido, quero você nua —ouviu ele dizer. Como? O quê? Estava tão entregue, tão longe...

Abriu os olhos e deu com ele esperando que ela facilitasse a retirada do vestido. Sentou-se e ainda por cima, desavergonhadamente, ergueu os braços para ele passar o tecido acetinado por sua cabeça, e arrancá-lo de seu corpo. Seu sutiã de renda preta surgiu e com ele a visão de seus bicos duros pelo prazer. Aslan sorriu e seus olhos procuraram os dela e sem que ela tivesse tempo de reação, de pensar qual seria seu passo a seguir, ele tomou sua boca e lhe deu um beijo exigente, fazendo-a perder sua mente. Enquanto sua língua brincava com a dela, suas mãos estavam no fecho do seu sutiã. Sentiu então seus dedos firmes, experientes, de um homem que sabe o quer e sabe como fazer acontecer, abrindo-os Ele então se afastou e puxou o sutiã, o livrando se seu corpo. Seus lábios tomaram os seus novamente, e ele fez uma leve pressão nela para fazê-la se deitar sobre os travesseiros. Deitada, de olhos fechados sentiu quando apaixonadas carícias se iniciaram, fazendo sua pele inteirinha se arrepiar, seu coração disparar, sua respiração se agitar. Suas mãos coçavam para tocá-lo, até agora ela não tinha feito isso. Adoraria sentir seus músculos firmes, a textura de seus cabelos. No entanto, mesmo quando seu corpo estava entregue, reagindo diabolicamente a ele, dentro dela ainda tentava manter sua dignidade. Um gemido de prazer, que mais pareceu um choro, saiu de seus lábios quando ele começou a sugar seus seios. Ele parecia um feiticeiro, dominava a arte de dar prazer como nunca. Foi virada de costas, depois de frente, de lado; a boca dele explorando seu corpo e a levando a uma grande tortura entre o prazer e a insatisfação por causa do desejo de algo maior. Se viu gemendo, latejando, pulsando por ele.... Quando ela não aguentava mais ele a virou para ele.

—Te falaram como funciona as coisas aqui? —Como? Ela o encarou perdida, ele respirou fundo e voltou a olhar para ela. —O passo que vem a seguir? —Sim, titia me explicou —ficou vermelha. —Ótimo. Ele saiu da cama e ela o olhou perdida. Então viu ele abrir a embalagem de algo e revestir o seu membro duro. Camisinha. Titia tinha lhe falado disso também. Ele nem queria ter filhos com ela! Pensou amarga, com raiva, de repente sonhando que ele realmente gostasse dela. Aslan retornou para a cama. Ela desviou os olhos dos dele para ele não ler seus sentimentos estampados ali. Seus dedos se fecharam no seu queixo a fazendo olhar para ele. —Olha para mim. Isso é uma proteção para você não engravidar. Por isso estou usando camisinha. Gravidez não é algo imposto. Planejaremos juntos isso. Droga, disse a si mesma se sentindo balançada com ele falando deste jeito... Ela nem tinha pensado nisso. E se ela queria sair da vida dele, seria melhor sozinha e não carregando um filho. Assentiu. —Que bom. Eu não quero filhos. Viu em seus olhos brilhando em desafio e ele riu alto, riu dela como se ela tivesse falado alguma bobagem.

—Por enquanto te prefiro calada. Sua boca tomou a sua e ele lhe deu um beijo bom. Aquele que a fazia esquecer de tudo ao seu redor. Ele se ergueu e a encarou. Abriu suas pernas com o joelho a deixando tensa. Observou seu membro enorme. Tudo isso vai entrar? —Relaxe. Relaxar? Ele esperava realmente que ela relaxasse? Fechou os olhos com medo do impacto que isso causaria em seu corpo. Sua tia tinha lhe dito que a primeira vez doía. —Serei gentil. Ela abriu os olhos e deu com ele ofegante, com um meio sorriso, se preparando para penetrá-la. A lucidez a tomou novamente e ela abriu os olhos se lembrando da natureza de seu casamento. —Não faça isso. Por favor. Sua boca se apossou da sua e ele lhe deu novamente um beijo possessivo. Enquanto sentia novamente aquela reação diabólica dentro de si, sua mente lutava para continuar lúcida. Tentou afastar-se, mas ele não permitiu, obrigando-a a suportar sua intensa masculinidade. Quando seu corpo começou a corresponder a sua vibrante virilidade, ele se afastou e a encarou ofegante. Com raiva de si mesma, por sentir tanto desejo por esse homem, ficou imóvel, olhando para ele, para não revelar o quanto seu corpo a traía. Ele sorriu, presenciando a guerra dentro dela, que disputava o tempo todo a consciência das coisas. —Vida nova Sila. Uma que aprenderá a gostar. Se entregue —

Sua boca se abriu e ele a silenciou, tocando seus lábios com seu dedo indicador. —Não fale, não pense... só se entregue...Não adianta me olhar com esses olhos frios, sei o quanto me quer. Sim, ele estava certo. Reconhecia que seus instintos mais profundos desejavam tudo aquilo. Então ele olhou para ela, os olhos negros vivos, as pupilas dilatadas. Ele voltou a se apossar de sua boca, suas mãos estimulando os bicos dos seu seios e ela fez como ele pediu, relaxou. Oh, como resistir a isso? Allah! Ele sabe muito bem o que fazer com essas mãos e com essa boca. Minutos depois ele se ergueu. Então a encarou. As pupilas dilatadas. Seu coração disparado, Sila podia ver isso pela sua jugular pulsando. Ele mordicou sua orelha. — Eu quero estar dentro de você... Agora te farei minha. Saiba, que tenho desejado esse momento a ponto de enlouquecer — ele murmurou no seu ouvido, quando fez uma pausa para respirar. Ela estremeceu e ficou tensa. Ele, continuou roucamente: — No começo sentirá desconforto, mas depois garanto que irá gostar. Ergueu-se e se posicionou sem tirar os olhos dela e então a penetrou lento, devagar. Sila começou a sentir sua abertura cada vez mais se expandindo e de repente ele estava dentro dela. Nesse processo sentiu apenas uma leve ardência. E novamente se sentiu surpreendida com isso. Esperava uma grande dor. O encarou espantada, ofegante e ao mesmo temo em expectativa do que viria a seguir. Deu com os olhos de Aslan atentos sobre si.

—Tudo bem? Acenou para ele com a cabeça. O seu olhar penetrante fixouse em sua boca por um momento, e ela sentiu como se tivesse sido beijada. —Ótimo—disse rouco para ela. Com um gemido começou a se mexer dentro dela e a satisfação estampou o rosto dele. Sila fechou os olhos quando começou a sentir a grande vibração que isso lhe provocava. De repente o incômodo deu lugar ao prazer, logo ela estava gemendo com seus movimentos firmes e precisos. O envolveu ainda mais com as pernas sem pensar no que estava fazendo, o estimulando ainda mais com seu rebolado. A necessidade urgente de tocá-lo a invadiu e ela apertou suas costas enquanto ele investia duro nela. Atordoada, limitou-se a gemer de prazer. Allah! Como isso era bom. As ondas de prazer aumentaram e então algo extraordinário aconteceu. Ela sentiu-se latejar longamente ao redor dele com o ápice do seu prazer. Aslan urrou ainda dentro dela e ela abriu os olhos a ponto de ver sua linda entrega. Jogou sua cabeça para trás quando sentiu seu membro duro latejando dentro dela e foi surpreendida com outro orgasmo. Quando tudo terminou ele se deitou em cima dela por um tempo, a sua respiração ofegante em seu ouvido. Sila ficou imóvel, agora se sentindo deslocada. Ficaram um tempo assim. A mente de Sila cada vez mais trabalhando. Ofegante, Aslan se deitou ao lado dela e então a puxou para os seus braços.

Com as lembranças vivas da natureza de seu casamento, ela o afastou. Estava casada com um homem que apenas se casou por causa do seu dinheiro. Virou seu rosto para não olhar para ele. Sentiu seus dedos em seu queixo e ele virou seu rosto em direção a ele. Ela abriu os olhos e deu com seus olhos negros nos seus. —Eu te odeio. Ele sorriu. Isso foi roubando sua mente. — Então, me odeia? —Sim, odeio. Saiba que fui obrigada a me casar com você. — Sila disse, seus olhos faiscando nos dele. —É você deixou claro isso. Isso foi uma surpresa para mim. Pensei que no fundo sonhasse com isso. Como toda jovem. —Ah! Claro! Casar-se, servir o marido, procriar, envelhecer e morrer... — debochou. O sorriso de Aslan foi morrendo. Ele não gostou do que ouviu e se sentou-se na cama. —Preferia então a vida com seus tios. Indo nessas festas onde nenhum homem a tirava para dançar, onde o povo te olhava torto? Sila se sentiu amarga com as falas dele, a dor pela sua condição apertou seu coração e ela saiu da cama, puxando o lençol e se enrolando nele. Ela então riu alto. —A não! Você não está se sentindo meu salvador, não é? Aslan sentiu o sangue fugir de suas faces. Respirou fundo, tentando encontrar dentro de si a paciência. Então se levantou da cama e a encarou. —Repito. Isso tudo é novidade para mim. Quando dançamos

pela primeira vez, eu vi como reagiu a mim, eu realmente senti seu interesse. Sila riu dele e isso aumentou a tensão. —Meu interesse? Jura que pensou que eu estava interessada? Aslan avançou em sua direção se sentindo nervoso, parou pertinho dela, com a respiração ofegante. —Tudo bem, você está com raiva, pois se casou forçada. Isso eu entendi. Só que agora, meu anjo, estamos casados e acabamos de consumar isso. Estamos mais unidos do que nunca —ele disse com um sorriso jocoso, mas no fundo se sentindo amargo. —Então, canim, (minha querida) o melhor que tem a fazer é aceitar isso. —Eu não vou aceitar coisa nenhuma! —Como? Como não? Não estou entendendo aonde você quer chegar? —Faltam apenas seis meses para eu completar vinte e um anos. Depois dessa data podemos nos divorciar... Eu poderei viver minha vida adulta longe de tudo e de todos. Aslan sentiu uma pontada no peito. Ele odiou o que as falas dela lhe provocaram. Uma revolta feroz o dominou. A união para ele era sagrada. Ele não se casou com ela pensando em se separar. Respirou fundo, foi preciso todo seu autocontrole para não sacudi-la com raiva. —Como? —É isso que ouviu! Suas sobrancelhas castanhas se ergueram, e ela o fitou com resolução, como se nada fosse mais certo. Aslan sorveu uma generosa quantidade de ar. Ele passou os olhos pela bela imagem de Sila, agarrada ao lençol, no meio do quarto, olhando para ele como uma gata selvagem.

Ele nunca fugiu de uma luta, e não era agora que iria fugir. Deu um passo em sua direção e viu como ela ficou agitada, reagindo a sua aproximação. Sorriu para ela. —É muito cedo para essa conversa. Acredito até que se der uma chance a si mesma, perceberá que o melhor que tem a fazer é permanecer casada comigo. Acredito que até goste de mim.... Ela o encarou altiva. —O quê? Isso que tivemos não tem nada a ver com gostar. Com amor ou respeito. Quase se engasgou com sua saliva. Que mulher terrível! Tossiu um pouco, antes de sair dentro de si uma risada alta. —Verdade, mas é um bom caminho andado. Ela o empurrou para longe. —Pois saiba, que tudo que conseguirá de mim é o meu corpo, nada que um homem experiente não conseguiria. Allah! Aquilo era demais. Aslan se aproximou mais dela e a pegou pela cintura com força. —Devo dizer que está redondamente enganada. O que tivemos aqui, poucos casais têm... e você não tem experiência nenhuma para afirmar isso. Já te disse, não? Eu gosto mais de você com essa boquinha fechada por enquanto. E sinto, mas agora não me sinto no espírito de jogar conversa fora, estou mais favorável a outras coisas... Sorriu. Debruçou sobre seu corpo, para provar suas palavras e ao mesmo tempo precisando intensamente de um contato maior com

ela. Sentiu seu corpo retesar. Viu como ela separou os lábios com sua respiração ofegante, agora se demonstrando indefesa. Isso o agradou muito. Com uma mão, tomou sua nuca, gostando de ver o suor brotando na sua testa. A outra a puxou mais pela cintura. —Difícil lutar contra isso, não? Isso é um caminho sem volta, canim. Viciará em mim, minha linda e eu estou disposto a provar isso! Sedento pelo desejo de fazê-la admitir que toda a sua obstinação era uma fraude, tomou sua boca com paixão avassaladora. Estava adorando rebater, provocá-la dessa maneira, fazendo morrer todas as suas palavras. Depois do beijo seus olhos procuram os dela. —Você poderá ter uma vida até bem agradável ao meu lado... —Acho que ao contrário, não? Já que se casou comigo por interesse. Por causa da minha herança. Uma ira violenta subiu ao seu coração com as palavras dela, contudo, ao mesmo tempo veio-lhe na mente quem era Sila. Quem era a mulher que se casara: Uma garota que teve uma vida de rejeição e que não acreditava na bondade das pessoas e muito menos no amor. Aslan ergueu a mão e tocou os cabelos dela. Seus olhos negros observando os traços delicados. —As intempéries da vida podem deixar uma pessoa amarga. Desacreditada nas pessoas.... As falas dele mexeram com ela e ela o empurrou para longe, saindo de seus braços, antes que ele completasse suas falas, então o encarou com altivez: —Essa é boa! Eu sou obrigada a me casar, sendo que eu queria outra vida para mim e agora eu sou amarga?

—Então prove! E nesse meio tempo, viva comigo um dia de cada vez, tenho certeza de que irá gostar —ele lhe deu um sorriso lascivo que a fez estremecer. —Eu não preciso provar nada a você! —Sabe, Sila. Sabe o que irá acontecer? Os meses passarão, e você mais para frente se lamentará por todo esse desperdício de emoção tão contraditória... Ela riu. — Acredita mesmo nisso? Você não me conhece mesmo. E aliás, se tivesse a dignidade de ter me conhecido, saber da minha opinião, entenderia que eu era contra esse casamento. Que por mim, eu esperaria até completar meus vinte e um anos e receberia minha herança e estaria longe dessa cidade, dessa vida desgraçada. Aslan meneou a cabeça cansado. Andava trabalhado muito na fábrica, isso ultimamente estava sugando suas energias. E agora tinha que lidar com isso? —Olha, eu estou exausto. Tenho trabalhado como um condenado. Vou me deitar. Você vem? Ou vai ficar parada aí cheia de não me toques? —Está certo, eu me deito, mas não encoste um dedo em mim. Aslan riu perversamente, ele a tinha quando quisesse. Ela não se deu conta disso ainda, contudo não quis discutir. —Tudo bem. Aslan se deitou na cama, soltou o ar sentindo a maciez do colchão. Fizera questão de trocar seu velho colchão por esse tudo para agradar sua nada adorável esposa. —Sabe, além de seus defeitos lamentáveis, o pior deles é que convencido — ouviu ela lhe dizer enquanto se deitava na cama. Ele riu e fechou os olhos, se espreguiçando como um gato, nu, leve e solto.

—Você não viu nada.... Bocejou tranquilo e minutos depois apagou. Sila ainda estava no meio do quarto sem saber muito o que fazer. Resolveu tomar um banho, mas antes, seus olhos observaram aquele grande homem na cama. Intimidante. Suspirou drasticamente antes de cobri-lo com o lençol, então foi atrás de suas roupas no guarda-roupa. Entrou no banheiro e tomou um banho demorado. Depois de vestir uma camisola confortável e decente foi até o quarto. Pensando em um jeito de separá-los olhou tudo ao redor. Deparou-se com algumas almofadas no chão e uma colcha em cima de uma poltrona. Ótimo, ela usaria isso para separá-los. Colocou as três que encontrou entre eles e se cobriu com a colcha que encontrou. Se sentido protegida virou o corpo no sentido contrário ao do seu marido e dormiu. —Mas que diabos é isso? — Aslan protestou quando sentiu aquele amontoado de coisas no meio da cama. Jogou tudo que estava entre eles. Um sorriso repuxou sua boca quando observou sua esposa dormindo. Que rostinho de anjo. Nem parecia a mesma garota de horas atrás... Sorriu largo lembrando a sensação louca de posse que sentiu quando finalmente a teve em seus braços, imediatamente se sentiu duro. Linda. Linda demais. Ela nem sabe o quanto... Com um sorriso perverso puxou devagar a colcha que ela se cobriu

Mas que merda! — Disse alto ao se deparar com aquela camisola enorme a cobrindo. Allah! Jogou o lençol para longe do seu corpo. Deitando-se a envolveu com seus braços, a puxou mais para si, sua dureza roçando seu lindo corpo. Ela gemeu alto, então ficou dura, estática. Sentou-se assustada e virando a cabeça o encarou. Aslan se sentou também e seus olhos se encontram na penumbra do quarto. Ela exibindo aquela carinha assustada, como se estivesse sendo injustiçada o seu semblante cada vez mais se fechando. Não perdeu tempo com as palavras e tomou sua boca, a empurrando contra os travesseiros. A danadinha tentou fugir de seus braços, mas ele a segurou. Então ela o encarou impotente, suspirou exibindo sua derrota. —Você é minha, minutos depois que deslizei essa aliança em seu dedo. Não haverá barreiras entre nós. Não será esses travesseiros e essa camisola que está usando que limitará isso. Ela lambeu os lábios, o rosto afogueado. —Seu bruto! Você não pode me ter toda vez a força. Aslan rio alto, depois a encarou e sorriu amplamente de um jeito perverso. —Então eu te tenho que te tomar a força? —colocou as mãos dela para o alto e mordiscou sua orelha, sorriu ao ver ela se arrepiar com seu gesto. Ele então a encarou — Posso ver seu coração disparado cada vez que coloco minhas mãos em você e não é de medo... Sou um homem experiênte minha esposa. Será que preciso provar novamente o quanto vibra em meus braços?—Ele deslizou os lábios quentes em seu pescoço e a encarou: —Agora

mesmo, deve estar pulsando para eu estar novamente dentro de você... Ela fechou a cara, parecia que estava prestes a chorar. — Você é o homem mais desprezível que eu conheço! — contudo sua voz saiu firme. Aslan a beijou delicadamente no rosto e então a encarou. —Sou? Deve ser uma luta muito grande desejar um homem desprezível como eu, hein? Fingir indiferença quando seu corpo vibra pelo meu num anseio animal. Tomou sua boca e a beijou de um jeito que lhe roubou o ar. Sua língua tremulou sobre a dela, a fazendo gemer de tanto prazer. Minutos depois ele se ergueu e a olhou com um sorriso de vitória. — Está vendo? Não pode me negar, meu amorzinho. Então pare com essa barreira ridícula que não leva a nada. —Tudo bem, admito. Você é um ótimo amante, mas não terá meu coração, minha mente. Daqui a alguns meses serei livre e nada me impedirá disso. Aslan ofegou sentindo-se mal novamente com as palavras dela. Respirou várias vezes para se controlar. As feições dele endureceram ao ponto de assustá-la. —Chega de papo furado. Vamos ao que interessa. Ele então a olhou com aquele jeito arrogante de quem sabe o que quer e a soltando puxou sua camisola arrancando de seu corpo. Seu protesto foi silenciado com um beijo longo. Então suas mãos começaram a agir e logo estavam em todos os lugares, explorando seu corpo, estimulando, exigindo respostas. Não demorou muito para ela suspirar com cada estímulo e desejar muito, muito mais...

Capítulo 7

Deitada de lado, parcialmente descoberta, sentiu um toque no rosto. Murmurou uma queixa, mas o toque insistiu. Sila abriu os olhos e deu com um par de olhos negros nos seus. Sentiu como se o ar ficasse escasso. —Bom dia tesouro. Por um momento pensou que estava na sua cama, na casa de sua tia. Que tudo que havia vivido não passasse de um sonho, ou melhor, um pesadelo. Allah! Esses meses seriam uma tortura para ela. Aslan a encarou atentamente, observando seu peito se elevar, assumindo uma grande quantidade de ar. Seu rostinho lindo se tornando inexpressivo e depois endurecer. —Mal dia, você quer dizer. Estarrecido com sua frieza logo pela manhã, com a insistência dessa garota em piorar as coisas se sentou na cama para examiná-la melhor. —Ainda insiste nesse mal humor? Ainda amarga? Depois da noite quente que vivemos? Dormiu do lado errado da cama? Sila se sentou. —Eu não sou amarga! Já conversamos sobre isso. Eu apenas sonhei com outro tipo de vida para mim. Sua expressão de tristeza o confundiu por um momento. Chegou até sentir remorso por realmente não ter conversado com ela naquele dia que dançaram. Poderia ter se apresentado, perguntado a ela se estava a par de quem ele era e saber a opinião dela sobre o casamento. Jurava que estava fazendo bem a menina.

Ele passou a mão pelo cabelo num gesto irritado. —Sila. Realmente, eu errei. Eu deveria ter conversado com você. Contudo, quando te puxei para dançar, juro que pensei que você sabia quem eu era e por isso estava tão receptiva comigo. Mas que merda! Sim, ela estava! Mas antes de Belma abrir seus olhos, antes de saber o que o levou a querer se casar com ela. —Olha, eu estou cansada. Cansada de tudo isso. Cansada dessa vida de ser tratada como alguém que não tem opinião própria. Sei que entramos num caminho sem volta, mas lembre-se que isso até eu completar vinte um anos. Então vamos ser razoáveis até lá. Ok? Aslan meneou a cabeça sem acreditar ainda que isso estivesse acontecendo com ele. —Você ainda insiste nisso? —Sim, depois desse tempo quero que me dê o divórcio. Sentiu-se a ponto de enfartar, mas escondeu seus sentimentos a encarando com a expressão indecifrável. —O que te atrai lá fora? Ela olhou para longe e sorriu sonhadora. —Quero uma vida nova. Quero me sentir livre. Livre de preconceitos, livre para trabalhar e livre para escolher o homem certo pra mim... Não essa imposição ridícula. Aslan se sentiu muito mal com as palavras dela, não esperava estar ligado a uma mulher que o queria longe da vida dela. Lutou como um ator, orgulhoso, não transpareceu o quanto isso o desagradava, apenas balançou a cabeça em desalento e depois riu amargo.

—O homem certo? Posso saber que homem seria esse? Sentia tão exausta disso tudo. Além da tensão do casamento, esse jeito de Aslan, a forma como ele a tomou, a chocou. Agora estava com uma terrível dor de cabeça e não estava a fim de pensar em nada. Se pudesse fecharia os olhos e adiantaria o tempo para se ver livre disso tudo. —Aslan. Não quero te ofender e nem quero falar sobre isso. Não sei você, mas eu estou morrendo de fome. Ele a encarou cansado. Nunca precisou lutar por mulher nenhuma, isso lhe causava uma grande estranheza. Elas sempre vieram fáceis para os seus braços. —Tudo bem. Vou tomar um banho. Por que não arruma a nossa mesa de café na cozinha? Ela riu. —Como assim, arrumar a mesa? Não temos uma cozinheira? Aslan soltou o ar. —Não meu anjo, se quiser comer, precisa preparar suas refeições. Não vai me dizer que não sabe cozinhar? Ela negou com a cabeça. —Não, não sei nada de cozinha. Papai tinha uma cozinheira e titia também. Nunca precisei fazer nada. —Sua tia não te ensinou a cozinhar? —ele disse parecendo chocado. Sila riu perversamente. Seria uma péssima esposa! —Não. Nem ela sabia cozinhar. Acho que é uma tradição da família. Aslan riu dela.

—Uma mulher que pretende viver sozinha, ser livre como diz e não sabe cozinhar? Ela ergueu o queixo de um jeito altivo. —Exatamente. Como sabe, eu tenho uma herança, eu pagaria uma cozinheira tranquilamente. Aslan sorriu cínico, com vontade de feri-la, imputar o mesmo sofrimento que ela lhe causava na insistência de rejeitá-lo. —Caso nos separarmos terá metade dela, lembre-se disso. A outra metade será minha por direito. Acho que não está enxergando a dura realidade do mundo dos adultos, minha criança. Então, melhor aprender a cozinhar. Sila se sentiu mal com as palavras dele. Sim, ela sabia disso. Esse casamento o beneficiou e muito. —Eu estou a par disso. Limpou as lágrimas rapidamente que rolaram em seu belo rosto. Aslan desviou os olhos dela com desgosto e se levantou. Andou pelo quarto como ele veio ao mundo. Foi até o guarda-roupa e pegou suas roupas e então se virou para ela. Deu com seus olhos na sua figura alta, seus lábios separados com sua respiração ofegante. Viu como ela ruborizou, mas nem isso o agradou. Ela era mestre em estragar tudo. A bela imagem dele nu em combinação com seu olhar duro, eriçou os pelos da sua nuca. Ela se esforçou o máximo para passar uma imagem de indiferença, mas falhou quando sentiu seu rosto quente. —Aproveita e se troque. Espere-me na cozinha, eu te ensino usar a máquina de café —seu timbre de voz saiu cheio de arrogância.

Ela não gostou, mas o que ela esperava afinal? Ela provocou isso! Melhor assim. Não queria se apegar a um homem que se casou com ela por interesse. —Tudo bem. Ela desviou os olhos dele e o esperou entrar no banheiro para ela se levantar da cama. Soltou um grande suspiro quando se viu sozinha no quarto. No guarda-roupa, pegou um caftan verde escuro que estava no canto esquerdo do guarda-roupa, junto com suas outras roupas que Aslan havia colocado nos cabides. Entrou no banheiro valendo-se do vidro do box ser grosso e escuro. Ela não conseguiria vê-lo dali e nem ele a veria. Escovou rapidamente os cabelos e quando se preparava pra escovar os dentes, para a sua surpresa, —já que Aslan não desligou o chuveiro—, ouviu a porta do box sendo aberta. Imediatamente deu as costas para ele. —Que tal unir-se a mim, aqui? E se ele saísse de lá e a envolvesse com seus braços? Não poderia dar as costas para o seu inimigo. Era muito perigoso. Por isso se virou e resolveu enfrentá-lo e seus olhos se encontraram. Deus! Ele molhado era um pedaço de mal caminho. E com certeza ele sabia muito bem disso, convencido ele sorriu para ela, como se soubesse o quanto ele a afetava com essa beleza toda. —Não, obrigada. Já tomei banho.

Ele riu alto, abrindo ainda mais o box. Ela deu um passo para trás assustada. —Não pensei em banho... —Eu...te espero na cozinha —disse com lábios gaguejantes, deixando a escova de dentes e a pasta no balcão. Mas que merda! Podia ouvir o ecoar de sua risada em suas costas. Ai que homem arrogante! Odioso! Respirou fundo em guerra com seus nervos que estavam à flor da pele. Para se acalmar, resolveu explorar o apartamento. A sala era em L, havia também um banheiro social e um quarto que Aslan fizera de escritório. Nele viu o celular piscando em cima da mesa. Aguçando o ouvido, para ver se ele não estava por perto, foi até o aparelho e leu a mensagem: “Olá, meu querido. Você sumiu. Não se lembra mais da sua gata ruiva? Estou com uma saudade imensa de você." Sentiu seu estômago embrulhar e percebeu que havia prendido sua respiração. Fica calma. Estará com ele por pouco tempo. Tentando não se abalar com a vida sexual do seu marido, saiu rapidamente do escritório e foi em direção a cozinha. Até que ela era bem equipada. Muitos armários,

eletrodomésticos e utensílios. Soltou um suspiro e depois apertou as têmporas numa tentativa de minimizar sua dor de cabeça. Nessa hora o perfume masculino se fez presente e percebeu que não estava sozinha. Engoliu a saliva com dificuldade e se virou para ele. O lugar parecia ter encolhido com sua presença alta, grande e esmagadora. Ele estava lindo, vestido com uma camiseta branca e um short preto. E que pernas! Sua razão avisou que ela estava olhando demais para elas e desviou os olhos o mais depressa que pode e encontrou sua expressão divertida. Percebendo seu embaraço, o deus turco abriu ainda mais o sorriso, adorando essa situação. —Vamos ao café? Ela forçou um sorriso que saiu amarelo e assentiu. O jeito dele a olhar agora lhe tirava a paz de espírito, se é que conseguiria ter ao lado dele. Não. De jeito nenhum! Engoliu a pouca saliva tentando salvar sua garganta seca. Ele foi até um armário e pegou um pote preto. —Aqui temos o café. Sila balançou a cabeça concordando com ele. Aslan então lhe deu uma piscadinha parecendo inocente, mas não era não. Tudo nesse homem era ameaçador. Ele apontou com o dedo um aparelho em cima de um balcão ao lado da pia. Insegura, Sila se aproximou dele. —Aqui temos uma máquina de café expresso. Muito fácil de manusear. É só manter o reservatório com água, colocar o café e ela faz o resto. Está vendo essa peça? É só virá-la assim e colocar

o café no compartimento. Então ligar a máquina e esperar acender esse botão que ficará azul. Inspirou profundamente, de repente desejando era entrar numa máquina do tempo e programá-la para daqui há seis meses, até ela completar seus vinte e um anos. —Hein, você ouviu o que eu disse? Sila piscou e olhou para os olhos negros atentos a ela. Sim, eles eram os mais lindos que ela já tinha visto. “Admita isso!” disse a si mesma. —Desculpe-me, eu estava longe. Aslan assentiu com aquele jeito seguro, esbanjando apelo sexual. Seus olhos a fitaram com uma intensa negritude, lhe roubando o ar. —Quando o botão estiver aceso, você apertará esse botão aqui. —E esse outro? Para que serve? Aslan sorriu. —Esse será a próxima lição. Sila assentiu. Aslan foi até um outro armário e veio com duas xícaras na mão. Colocou na grade e apertou o botão. Dois fumegantes café saíram dele e quando finalizou, deixou uma espuma marrom por toda a borda, maravilhosa. —Agora vamos a esse botão que você me perguntou. Ele é para você esquentar o leite. Você o aperta para desviar o vapor para essa haste de ferro. Então gira esse botão e pronto. Quer tentar esquentar o leite? Concentrou-se em acenar um não para ele, para disfarçar o quanto esses olhos negros toda hora procurando os dela mexiam com ela.

—Prefiro te ver fazer primeiro. Aslan sorriu lhe dando arritmia cardíaca. —Tudo bem. Ele abaixou e abriu o gabinete da pia. Pegou uma leiteira pequena e abrindo a geladeira pegou o leite gelado, que despejou nela, rodou o botão e o vapor forte começou a sair pela haste mergulhada no leite. Cresceu uma espuma enorme. —Muito boa essa máquina. —Você verá como ambos, tanto o café como o leite ficarão com um sabor adocicado. Esse homem a deixava tonta, tinha medo de não conseguir afastá-lo de seu coração. Era preciso. —Aposto que sim. —disse com um sorriso nervoso. —Café pronto, vamos arrumar a mesa? Acenou um sim com a cabeça. —Aqui nessa gaveta ficam as duas toalhas de mesa e panos de enxugar pratos. Ele retirou uma e a estendeu sobre a pequena mesa da cozinha, embora o apartamento tenha uma pequena sala de jantar. Droga! Essa cozinha era pequena demais e comer aqui, nessa pequena mesa ao lado dele a fazia se sentir claustrofóbica. Ela se sentou à mesa e o observou colocar tudo nela: As xícaras com os cafés, o adoçante, açucareiro, depois a manteiga, geleias, queijo branco e amarelo, o presunto, pães... Conforme ele fazia essa tarefa, ela não conseguiu deixar de reparar na ondulação dos músculos de seu braço exposto pela camiseta.

Allah! Era tão inexperiente. Estava difícil lidar com um homem como ele. Tudo pronto, ele ocupou a cadeira em frente a dela, seus joelhos se tocaram debaixo da pequena mesa. Seus olhos perspicazes perceberam, provavelmente o quanto ela se abalou com isso, e agora ele lhe dava um olhar quente como o inferno. Ela desviou com dificuldade os olhos dele e colocou açúcar em seu café, então o provou. Hum, muito bom. Ergueu os olhos novamente e deu com os dele a observando. —E então, gostou? Sentiu sua pele arrepiada, ante os olhos atentos sobre ela. —Muito. O sabor fica bem diferente. —Essa máquina é italiana. Ela pertenceu ao meu falecido pai. Ele era um apreciador de café. Ficou sem palavras por saber um pouco da vida dele, contudo, não queria se aprofundar em conhecê-lo e apenas acenou um sim com a cabeça. Aslan era agradável demais e ela não podia ficar presa a um homem quem nem a amaria e lhe seria infiel. Enquanto tomavam café, não se falaram muito. Aslan até tentou puxar assunto com ela, mas depois de seus monossílabos, ele desistiu. Ao terminarem a refeição, Sila o encarou sem graça e desviou os olhos dele com a seguinte pergunta: E agora? —Uma pena eu não poder te proporcionar uma lua-de-mel nesse momento—ouviu ele dizer e ergueu o olhar para ele. —Eu estou muito empenhado em salvar a empresa. Não é um bom momento agora de eu me ausentar. Inclusive, às vezes chego tarde em casa, correndo atrás de clientes, etc. Por causa dos clientes...

Sei... "Você não me engana" Pensou consigo. Ela deu de ombros para ele e se levantou da mesa. —Tudo bem. —Hoje por ser domingo, o bairro fica mais tranquilo. Se quiser podemos sair à tarde, andar a pé pelas redondezas para você conhecer melhor o lugar e o comércio. Sila negou veementemente. —Acho melhor não. Esse bairro me dá medo. Viu a tensão que suas falas provocaram em Aslan, antes de entrar numa briga que não venceria deu um passo para trás pronta a sair da cozinha. —O bairro é periférico, mas é bem tranquilo. As palavras dele saíram carregadas de convicção. Ela o encarou e mesmo assim lhe negou o pedido: —Não obrigada. Ele sorriu jocoso. —Tudo bem, podemos então ocupar nosso tempo juntos com outras coisas, muito mais interessantes.... As palavras dele a deixaram sem ar. Mortificada por ele usar de golpe baixo para persuadi-la a ir. —Tudo bem. Eu saio com você e você me mostra tudo. Ele riu com o canto dos lábios. —Sabia que iria mudar de ideia... Empertigou-se com seu jeito debochado. —Bem, eu vou me deitar um pouco. Estou morrendo de dor de cabeça. Acho que lidará bem com a cozinha sozinho.

Ele se levantou e caminhou com passos seguros em sua direção semelhante a um felino, um predador. Então parou de frente a ela. Deslizou a mão em seu braço, os olhos buscando os seus. Ela se arrepiou inteirinha com o contato sensual. —Tudo bem, mas lembre-se que precisamos preparar juntos o almoço. Durante a semana estará sozinha e precisa aprender a se virar. Ele agora podia ser considerado um homem rico, por que não contratava uma empregada? —Por que não contratamos uma cozinheira? Posso lidar com a casa, mas não com a cozinha. Aslan não tinha condições de pagar uma e não usaria a herança dela para isso. No fundo se sentia mal em ter se beneficiado com ela. Se fosse outra mulher não, mas Sila era diferente. —Nada disso. Você aprenderá a cozinhar. Não há mistério. Seu olhar ficou sobre a boca de Aslan, acompanhando os movimentos conforme ele falava, desviou os olhos furiosa consigo mesma e descontou nele: —Você quer uma empregada e não uma esposa! — disse ácida. Queria que ele a odiasse e queria odiá-lo também, embora estivesse cada vez mais difícil essa tarefa. Ele fechou os olhos como se buscasse por paciência. Sila ficou a olhar aquele rosto tão masculino, cada detalhe dele, sentindo miríades de sensações a tomando: encantamento, confusão e raiva por ele ser tão bonito. Ele abriu os olhos e Sila orgulhosamente elevou o rosto, estufou o peito à espera das falas dele. Ele agora a olhava mais frio e controlado. —Mente vazia é oficina do diabo. Já ouviu essa expressão? E hoje em dia, com o uso da internet, você tem acesso à variados

pratos. Pode buscar no youtube. —Eu não tenho celular — disse com o rosto inexpressivo, embora isso a afetasse muito. Sua tia nunca permitiu que ela comprasse um. Talvez com medo de que ela repetisse os passos de sua mãe e virasse a cabeça como ela virou. Aslan se surpreendeu com as falas dela. —Providencio um para você. Ela se surpreendeu com as falas dele, mas não transpareceu isso. Forçou um sorriso frio. —Obrigada. Agora, depois desse sermão, posso me deitar? O olhar concentrado nela sequer piscou. Ele semicerrou os olhos, avaliando se estava mentindo ou não. —Está realmente com dor de cabeça ou é uma desculpa para fugir da minha presença. Esse é o artificie mais usado pelas mulheres, sabia? A sua dor de cabeça já havia passado, mas mentiu: —Eu estou. Com sua licença. Ele segurou seu braço. —Tenho remédio para dor. —Não quero, obrigada. Ele sorriu jocoso, pegando sua mentira. Pense o que quiser. Ela puxou seu braço de seus dedos e se afastou dele. Aslan olhou para cena dela se afastando desgostoso. Meneou a cabeça desoladamente. Que garota difícil!

Com a história dela, se preparava para alguma espécie de trauma, mas não essa luta no casamento. Um grande desgosto o assolava desde que soubera do desejo dela na separação quando completasse seus vinte um anos de idade. O que ela conhecia dessa vida? Ela seria presa fácil nas mãos de algum oportunista. Sorriu amargo. Era o instinto de proteção que lhe dava esse desejo de lutar por ela? Não, não se engane. De alguma forma tinha se apegado a garota e depois de lhe tirar a virgindade então... Allah! Nunca transara com uma virgem. Sempre saiu com outros tipos de mulheres. As bem resolvidas, desprendida quanto aos valores familiares: dançarinas de boates, garçonetes de lanchonetes ou até mesmo mulheres da vida. Talvez por isso se sentisse tão baqueado.

Sila entrou no quarto e silenciosamente fechou a porta atrás de si. Inquieta não se deitou, resolveu arrumar a cama. Esticou os lençóis e ajeitou os travesseiros, colocou uma colcha por cima. Depois andou pelo aposento observando o quarto, tocando as coisas, como a cômoda marrom antiga, que combinava com o grande guarda-roupa, as cortinas cor de areia. Abrindo mais a janela olhou para fora. O bairro pobre lá

embaixo surgiu; avistou ruas tranquilas, poucos carros nessa ensolarada manhã de domingo. A noite havia chovido, pois elas ainda estavam molhadas. Avistou ao longe uma avenida mais movimentada com vários comércios. Com certeza era ali que Aslan pretendia levá-la. Allah! Precisa ficar firme no seu propósito. Eles sempre passaram por seus sentimentos e manejaram sua vida como quiseram. Com vinte e um anos isso acabaria. Ela teria controle da situação. Poderia dar uma guinada em sua vida. Alimentava todos esses planos — viver longe dali, fazer um curso de designer de joias, quem sabe aulas de culinária. Isso sim era uma tomada de atitude. Não podia continuar nessa passividade. Não podia se contentar com migalhas sempre. Era patético essa vida, a de ser uma boa esposa e seu esposo ter uma vida de distrações enquanto ela o servia.

Depois de arrumar a cozinha, Aslan foi até seu escritório e pegou o celular nas mãos. Soltou o ar quando viu a mensagem de Dilara, uma garota que saiu algumas vezes antes de se mudar para Yoğurtlu. Sua respiração se agitou de nervoso. Não esperava que ela fosse procurá-lo depois das merdas que ouviu.

Dilara foi a mulher que lhe dera mais trabalho em tirar de sua vida. Quando ele terminara com ela, a garota de semblante sempre feliz, se transtornou. Ficou possessa. Ela gostava de pensar em si mesma como a sua namorada, embora ele não a visse assim, nem de longe. Foi um FDP, admitia. Deixou Dilara se iludir com ele, sem pensar muito nos sentimentos dela. Contudo, tinha uma explicação para o que fizera. Ela demonstrou o tempo todo que tinha um espírito livre. Desencanada. Do tipo saidinha. Que não se importava para o que pensassem dela. Tinha uma ânsia de viver fora do comum. Já havia tido várias experiências antes dele, então não achou que ela se ligaria a ele sentimentalmente. Graças a Allah quando terminou com ela foi perto de se mudar. E tão logo fez isso, sumiu do mapa. Deveria ter bloqueado o telefone também. Nem pensou nisso. Porém, ela tinha ficado tão ofendida que não achou que ela o procurasse novamente. Allah! Sila já estava tão arredia com ele, imagine se ela tivesse visto isso? Não só deletou a mensagem como bloqueou o número de Dilara. Aproveitou e fez uma limpa em sua agenda, limpou alguns contatos que ainda estavam ali. Soltou o ar aliviado e ocupou a cadeira em frente ao seu notebook para tentar se concentrar no trabalho, já que sua adorável esposa queria um tempo para si. Contudo não conseguiu se concentrar, se jogou para trás da cadeira com a cabeça longe, precisamente na vida que levara antes de vir para essa cidade. No tempo em que morava com seu pai, vivia numa atmosfera completamente diferente. Trabalhava no Grupo WR e toda a sua energia estava voltada para o trabalho. Cercado por reuniões,

desafios, seu foco era esse, crescer na empresa que trabalhava, manter as contas, já que o dinheiro de seu pai ia tudo para pagar a enfermeira que cuidava dele porque ele sofria do mal de Alzheimer. Então, ele não estava muito preocupado em se unir a uma mulher. Depois de dois anos trabalhando nessa empresa nacional, seu pai morreu. Ele já andava decepcionado com seu trabalho, se dedicava tanto e não era reconhecido. Depois do enterro, seu tio veio visitá-lo, para saber como ele estava. Depois de conversarem muito sobre seu pai, ele acabou se abrindo com seu tio e contou-lhe da empresa que trabalhava; de como se sentia frustrado por ser tão sugado e toda vez que ele achava que eles iriam reconhecer seus esforços, eles puxavam-lhe o tapete. Seu tio depois de ouvi-lo, também se abriu com ele e lhe contou de Kumas. Que também estava enfrentando problemas sérios com a sua pequena indústria de tecidos por causa da crise que assolara o país com a quebra da bolsa. Foi uma surpresa para ele saber disso, ele sempre pagou uma boa quantia ao seu pai e nunca lhe dissera que fazia isso tirando do bolso dele. Seu pai, quando jovem, havia investido em Kumas, comprado uma pequena parte das ações. Então sempre recebia o rendimento delas. —Tio, por que o senhor não me contou que estava com problema? Nós daríamos um jeito. —Seu pai me ajudou muito lá quando estava bem. Ele tinha tino para os negócios—sorriu —não tive coragem de diminuir o valor que eu lhe dava por mês. Você puxou para ele —então ele o olhou calado—se um dia quiser se unir a mim, como sócio, será bemvindo. Preciso de alguém para investir e dar o sangue lá. Uma pessoa jovem como você. Eu estou quase renunciando àquilo tudo.

—Allah! Não tio. Kumas está tanto tempo com o senhor. —Verdade, mas estou velho... Ele havia encarado o tio naquela hora sem falas. —Tio, não faça nada sem falar comigo. Prometo que vou pensar na sua proposta. O tempo passou, as coisas não mudaram na empresa. Aslan então, num gesto corajoso, vendeu a casa que morava e investiu em Kumas se tornando sócio com seu tio. Voltou os seus pensamentos para o seu casamento. Verdade que tudo começou com a necessidade de salvar a fábrica. Isso somou-se a vontade de finalmente sossegar. Ele já andava cansado daquela vida de mulheres. E depois daquela experiência desagradável que teve com Dilara, isso se intensificou ainda mais. Era isso que sua esposa precisava entender. Ele não era mais aquele homem, nem a sombra dele. Aslan piscou saindo das lembrança e finalmente ocupou sua mente fazendo pesquisa no seu notebook de possíveis clientes para entrar em contato para tentar agendar uma visita. Uma hora depois de ter feito isso, enviou lista do que conseguiu para o seu e-mail comercial. Na fábrica ele era multifuncional. Atuava em várias áreas: como controller, gerente de vendas, de marketing. Não podiam se dar ao luxo de contratar uma equipe gabaritada para esses assuntos. Só podia assumir compromisso com sua mão de obra, o coração da fábrica, os ditos chãos de fábrica.

Capítulo 8

Perto da hora do almoço se levantou da cadeira de couro, que pertencera a sua antiga casa onde vivera com o seu pai, — como a maioria dos móveis do apartamento— e se dirigiu ao quarto. Encontrou a porta fechada. Não bateu nela. Era seu esposo. Nunca colocaria uma distância entre eles. Ao contrário, iria sempre lutar pelo casamento deles, tentando quebrar todas as barreiras que surgissem pela frente. Encontrou Sila deitada na cama olhando para o teto com uma expressão pensativa. Quando ela o avistou entrar, se sentou e o olhou arisca. Nem parecia a mesma mulher que tivera nos braços a noite, num sexo ardente e com direito a repetição. Não conseguiu deixar de reparar como ela estava linda agora pela manhã, na claridade do quarto. —Tudo bem? —Perguntou, tentando quebrar essa barreira invisível que ela ergueu entre eles. Ela forçou um sorriso e não disse nada. Ele sabia a resposta. Mas ao invés de se irritar com isso, sorriu. Seus olhares se cruzaram e se prenderam. —Está perto da hora do almoço. Vim te chamar para prepararmos ele juntos. Sila soltou o ar passando a mão nos cabelos castanhos dourados, puxando todos os fios para um lado, eles quase tocavam seus seios chamando ainda mais sua atenção pelo gesto gracioso. —Não estou com fome. E mais! Com todo o dinheiro que recebeu da minha herança, não tem como contratar uma

cozinheira? O rosto de Aslan de encantado se transformou em uma máscara dura. —Já conversamos sobre isso. Somos só eu e você. Não sou exigente para a comida. Que mal há em aprender a cozinhar? —Seria bom ter uma pessoa para conversar. —Você tem a mim— rosnou como um animal enfurecido. Ela riu. —Você quer que eu fique refém de você? De sua atenção? Os olhos de Aslan queimaram nos dela e ela arfou com a intensidade deles. Suas palavras ácidas direcionadas a ele estavam começando a fazer muito mal a ela mesma. Era injusto sentir isso! Não depois de saber com quem estava lidando: Um mulherengo que se casara com ela por causa de seu dinheiro e que agora exigia dela uma esposa adestrada. —É isso que tem medo? Medo de gostar de mim à despeito do patamar baixo que me colocou? Suas palavras mexeram com ela, sentiu sua boca secar, contudo ela ergueu o queixo para ele. —Eu não tenho medo de nada. Aslan sorriu como se não acreditasse. —Tudo bem, então não tem medo. Então prove, e venha comigo até a cozinha e juntos prepararemos o almoço e então você come um pouco, mesmo que esteja sem fome, como diz. Depois, como combinamos, eu te levo para conhecer o bairro. —Tudo bem, mas saiba que eu não tenho noção de nada. Se

bobear coloco fogo na cozinha. Aslan fungou e o seu semblante ficou fechado, pensativo durante um tempo. Ele a encarou. —Vamos fazer o seguinte. Você vem comigo, e me assiste a cozinhar e eu contrato uma cozinheira por um tempo. Não para você se acomodar, ao contrário, para você aprender com ela. O coração de Sila bateu descompassado se sentido desarmada por ele ter finalmente entendido o medo que tinha da cozinha. Ela não sabia nem fritar um ovo. —Obrigada por ter entendido. Ela se levantou da cama. Ele, com os olhos estreitados, se aproximou dela. —Então vamos? Sentindo-se vulnerável perto dele assentiu e deu-lhe um sorrisinho estúpido. Aslan saiu do quarto acompanhado de Sila. Ele não se lembrava de já ter se sentindo assim com uma mulher, tão interessado. Em toda a sua vida, nunca desejou alguém de uma maneira tão intensa. Por isso não estava gostando nada desse jeito arredio, tão arisco dela. Sila o seguiu. Reparou no seu lindo bumbum se movendo, perfeito. Ele é inacreditavelmente sexy, seu andar seguro o deixava ainda mais lindo. Quando chegaram na cozinha ele se virou para ela. —Gosta de menemen1?

Ela acenou um sim, tentando não transparecer o quanto ele lhe encantava com sua beleza: —Gosto. Aslan sorriu com suas palavras como se ele tivesse ganhado um presente. Seu corpo estremeceu com a magnitude de seu sorriso e ela finalmente soltou seu sorriso natural para ele. —Vou colocar tudo que precisaremos na bancada e então farei o menemen. Seus movimentos eram tão seguros, tão naturais, como se ele estivesse acostumado a fazer a sua própria comida há muito tempo. Conforme ele foi executando os procedimentos, observou sua destreza confirmando sua impressão. Ele a encarou. —Chegue mais perto, eu não mordo. Ela riu, viu como seus olhos desceram para os seus lábios por um momento, contudo sua distração tivera um preço e o omelete começou a cheirar na frigideira. —Mas que droga! —ele o retirou apressadamente do fogo— espero que ele não tenha ficado amargo com essa tostada. —Só queimou um pouquinho, você o retirou logo. Ele lhe sorriu de um jeito sexy. —Agora vamos ao Kebab2.—Ele abriu o armário e retirou um aparelho ovalado, com a cabeça chata. O colocou na bancada — essa máquina me salvou várias vezes. É a famosa airfryer. Já ouviu falar? Ele se virou para ela, e encostou o quadril direito na pia com a pergunta no ar, como se ele a convidasse a apreciá-lo sob um novo e lindo ângulo. Allah! Ela não conseguia afastar o olhar daquele lindo rosto

que agora a observava atentamente. Como boba ficou olhando para ele sem falas por um tempo. Ele sorriu com a sua mudez e isso, graças a Allah, a desencantou. —Sim, mas não tenho ideia como funciona. Como disse, não entendo nada de cozinha—sua voz saiu tão trêmula quanto suas pernas. —Entendo, mas isso irá mudar. Logo, logo ficará expert nela. Sorriu para ele, nervosa como uma criança que está indo para o seu primeiro dia de aula. Ah como ela gostaria de acreditar que ele realmente um dia a amaria, mas tinha tanto medo de se decepcionar. As mulheres deveriam fazer de tudo para conquistá-lo.... Ela desconhecia esse sentimento de alguém realmente gostando dela. Tirando seu pai, é claro. Seus tios a encararam como uma missão, apenas preocupados com as aparências, sem afeto. E o resto dessa gente sempre a olhou como algo a ser tolerado. —Se você diz... —disse por fim. Ele lhe deu um sorriso tão magnífico quanto o resto dele. —Tenho certeza disso—ele olhou então para a carne moída na mesa e a encarou—Vou fazer bastante porções, assim amanhã você só esquenta no micro-ondas. Sabe mexer no micro-ondas? Ela assentiu. —Era o que eu mais sabia fazer na cozinha, esquentar comida. Ele a avaliou com os olhos. —Ótimo, então vamos ao nosso Kebab. Como sabe ele é feito de carne moída de cordeiro ou bovina, aqui temos a de cordeiro. Colocamos então um pouco de pimenta e sal. Pistaches. Aqui nesse potinho temos especiarias. Misturamos tudo e pronto, agora é só formá-los desse jeito.

Ela o observou fazendo os bolinhos compridos. Seus olhos se encontraram e ele a encarou de um jeito penetrante, revelando mais do que sua opinião sobre os kebab. Seu coração, o bobão, bateu mais acelerado. Sim, deveria existir o amor genuíno, mas bem longe dali. Viveu tantas coisas que era difícil acreditar que as pessoas que realmente a conheciam pudessem amá-la. Preferia acreditar no inferno que viria com elas do que no paraíso. Estava cansada de se decepcionar! —Fácil—ela disse constrangida—e agora? Ele piscou, como se saísse de um transe. —Agora é só colocar na airfrye, girar esse botão até essa marca e em vinte minutos ficará pronto. Ela o encarou, relutante, já que ele a observava atentamente. —Não deveríamos ter feito o kebab primeiro e depois o omelete? Ele não ficará frio? Aslan sorriu levemente. Ele era malditamente lindo e ela estava diabolicamente sendo abalada por ele. —Sim, nem me atentei para isso. Teremos que esquentar no micro-ondas a porção que iremos comer. —Tudo bem —disse se afastando dele — Como levará esse tempo todo para o kebab ficar pronto, irei para o meu quarto. —Pensei em conversarmos aqui, enquanto isso. Ela o encarou em silêncio, o sorriso dele foi abandonando seu rosto quando viu que ela pensava sobre o assunto. Não podia deixar ele pensar que estava tudo bem, não estava. Ele precisava ouvir isso: —Aslan, nada mudou entre nós. Você pode usar os artificies

que for. Dar uma de bom cozinheiro... Ele não a deixou terminar a frase: —As coisas não precisam ser assim, mas você insiste nisso. O que há por trás disso? Você tem medo de confiar em mim? Tem medo de que eu a machuque, é isso? —Pare. Não vai conseguir me convencer com psicologia barata e muito menos com esse ar sedutor! Ele avançou. Ela recuou até encostar no armário da cozinha. Ele se aproximou devagar e a encurralou. Ela travou a respiração no peito quando viu o quanto ele estava perto. —Eu não preciso seduzi-la. Você sabe melhor do que ninguém que o que temos é como um instinto natural. Sabe muito bem a explosão que acontece quando estamos juntos... Ela o encarou altiva. — Sexo? É só isso que consegue pensar? Eu não sou o tipo de mulher que costuma lidar. Ele sorriu debochado. —Eu sei disso. E não me venha com esse papo que preciso de muito esforço para te levar para a cama. Sei o quanto me deseja. Seu orgulho não a deixa confessar o quanto sente atração por mim. —Melhor eu ir para o quarto. Aslan riu e a pegou pela cintura, a puxando para si. —Saiba que sempre terei um imenso prazer de tocar seu lindo corpo, vendo o quanto me deseja mesmo que seus lábios proclamem que me odeia. — ele disse isso a desafiando e ele lhe deu um sorriso perverso. —Quer apostar? Beijou-a na boca, forçando-a a entreabrir os lábios e lhe deu um beijo de roubar seu ar, estremeceu inteirinha com sua língua na dela.

Ah, ela gostava de sua língua. Ele então segurou seu rosto, viu nos olhos dela a luta que ela travava toda vez que ele a tomava nos braços, uma luta de vontades. Ele a soltou. —Vou facilitar as coisas para você. Pode ir. Daqui uns vinte minutos você vem para a cozinha e almoçamos. Ela desviou os olhos dos dele e sem dizer nada se afastou. Quase correu em direção ao quarto. Chegando nele, atirou-se na cama, percebendo o quanto estava exausta disso tudo. Detestava essa sensação de estar perdendo algo. Ele lhe provocava muitas emoções contraditórias. Era detestável admitir, mas odiava tudo que representava Aslan. Contudo, ainda assim, não mudava o fato dele exercer um grande domínio sobre ela, sobre seu corpo. Já deveria ter se acostumado ao fato de nunca ter nada realmente em sua vida. Tudo era transitório. Era ridículo se sentir assim, ou se lamentar por algo.

O tempo passou rapidamente enquanto permaneceu deitada na cama pensando na vida tão sonhada. Sentiu a presença de Aslan. Seu perfume o precedeu. Piscou para a realidade. —O almoço está pronto. Ela se levantou. Quando Aslan viu seu gesto se moveu em

direção a cozinha. Soltou o ar e foi até o banheiro. Quando estava para escovar os cabelos, parou. O que estava fazendo? Se arrumando melhor para o seu inimigo? Para piorar a situação? Com esses pensamentos colocou a escova no balcão sem escová-los, consciente dos cabelos cheios, desarrumados. Entrou na cozinha e se deparou com uma mesa lindamente arrumada, até um vasinho, contendo violetas, ele havia colocado. Engoliu em seco. Droga! Ela buscou seu rosto. —Para que tudo isso? Eu já não expliquei nossa situação? Os olhos dele transpareciam humor apesar da sua contrariedade visível. —Sim, como aqueles discos de vinil de antigamente riscado, que fica pulando no mesmo refrão da música? Sorveu uma respiração profunda, seu perfume bom entrando em suas narinas. —Então por que insiste nisso tudo? —Perguntou, se sentindo como uma adolescente rebelde e idiota. Ele se aproximou. —A paciência é uma virtude, eu estou a exercitando com você. Estou dando o melhor de mim, embora você insista em me afastar. —Não está acostumado a perder, não é? Está acostumado a esse jogo de sedução.

Ele respirou fundo tentando manter a calma. —Escute Sila, realmente não sou um exemplo de homem. Tenho um passado de mulheres e estou à beira de uma falência, mas isso não quer dizer que eu não possa ser um bom marido. A voz macia, séria provocou palpitações estúpidas em seu peito. Não caia nessa! Precisa ver para crer.Com ela funcionava assim. Ela riu. —Bom marido? Homens como você não conseguem se ligar a ninguém, não tem sentimentos, tudo isso é uma capa de bom moço— atacou—o lobo vestido de cordeiro. Não havia humor ou diversão transparecendo nele agora. Sua expressão era enigmática, como se ele pensasse em suas palavras. Ele avançou e ela quase deu um passo para trás. Parou pertinho dela. —Teremos seis meses pela frente. Você terá a oportunidade de me conhecer melhor. Se ainda pensar assim a meu respeito, eu lhe darei o divórcio. A deixarei livre. Combinado? Ficou tremula, não conseguia nem respirar. Sorrindo ao ver seu estado, puxou a cadeira para ela. Sila se sentou. Calmamente ocupou a de frente a dela. Almoçaram em silêncio. Só um momento ele o quebrou perguntando se a comida estava boa. Ela acenou um sim. —Sim, está ótima. Mais tarde, quando terminaram ele se levantou. —Bem agora a limpeza é por sua conta. —Esse é seu esforço para ser um bom marido? Pensei que

lidaria com a louça suja? —ela perguntou, representando seu papel de péssima esposa. Detestou suas palavras, mesmo sabendo que isso o faria odiá-la, mas esse era o plano. Todavia, diante da provocação, ele não se abalou e sorriu: —Sou seu marido, não seu empregado ou seu capacho. Te espero na sala para conhecermos o bairro. Percebeu seu olhar irritado deixando a cozinha. Quando ele desapareceu, soltou o ar pesadamente sentindo as lagrimas. As limpou se sentindo péssima. A última coisa que gostaria era gostar daquele homem. Um Adônis como ele, jamais a teria escolhido como esposa sabendo quem ela era, se não fosse pelo interesse material. Por isso, não conseguia acreditar que havia por trás um interesse genuíno por ela! Pare de chorar! Fim de história! Levantou-se da cadeira e começou a colocar tudo na pia. O que sobrou colocou num prato só e colocou outro por cima e o guardou na geladeira. Depois se ocupou da louça e sem pressa nenhuma as lavou, enrolou o quanto pode. Quando entrou na sala se deparou com um Aslan todo de preto, calça e camisa. Todo arrumado a esperando. De repente, se pegou o admirando. Allah! Parecia que a roupa fora feita especialmente para ele, sob medida. Não conseguiu deixar de reparar como toda a musculatura de seu lindo corpo estava evidente. Droga, ele era uma bela visão. Tão bela que estava sentindo

uma agitação no coração e borboletas no estômago. Esse homem só pode ser um anjo caído. Um encantador de mulheres. Deveria ter tirado toda a louça dos armários e lavado todas elas só para evitar esse passeio. Os olhos negros intensos procuraram os dela. A sua mandíbula bem desenhada estava rigidamente contraída, talvez por causa da sua exagerada demora. Ele lhe ofereceu a mão. Mesmo não o conhecendo nada, ela podia ver que ele parecia cansado. —Podemos ir? —ele perguntou na linda voz grave, gostosa. Concordou, meneando o queixo. Droga! Ela deveria lhe negar esse passeio! —Ótimo. Ele sorriu, satisfeito com sua resposta. Ah maldição, por que no fundo ela estava feliz de ver a satisfação dele? Ele caminhou até a porta e virou a chave enquanto ela escovava os cabelos com os dedos. Inconscientemente sentiu aquela vontade de ficar bonita. No corredor enquanto Aslan fechava a porta, ela reparou no seu perfil. Perfeito. Com certeza ele tinha uma fila de mulheres loucas por sua atenção. Belma não a enganou naquele dia quando disse de sua falta de interesse. Claro que sentiu inveja quando soube que ela se casaria com ele. Seus olhos lindos a atingiram e ela desviou rapidamente o olhar, tentando recobrar o juízo.

Sentiu seu toque no braço a conduzindo para o elevador que estava com as portas abertas. Entraram. Sila evitou seus olhos, abaixando o olhar. Sentiu os olhos dele o tempo todo sobre si, como um felino, avaliando sua próxima refeição. Graças a Allah as portas se abriram. Ela foi a primeira a emergir no Hall do prédio. Reparou em tudo. As paredes precisando de uma boa pintura, o piso descascado. Respirou fundo e procurou os olhos dele: —O apartamento é seu? Você pretende usar minha herança para se mudar daqui? Ele a encarou levemente surpreso com sua pergunta. Será que finalmente conversariam? —É alugado. Eu injetei todo o meu dinheiro em Kumas. E quanto a me mudar daqui, por enquanto não pretendo. Sila não teceu mais nenhum comentário. Isso era problema dele. Daqui a seis meses estaria longe dali. Graças a Allah no contrato ele não poderia mexer na parte dela até ela completar vinte um anos. Talvez por isso ele desejasse tanto que o casamento desse certo. Pela ambição de colocar as mãos na outra parte da herança. Na calçada ele ergueu os olhos, então seus olhos procuraram os dela e ele apontou: —Iremos por aqui. Mais para frente há uma avenida cheia de comércios. Esse é o nosso objetivo, você conhecer o lugar, caso de necessitar de alguma coisa sabe onde comprar. Ela acenou um sim com o queixo. Ele tocou suas costas a incentivando a andar. Começaram a caminhar lado a lado. Ela podia

sentir os olhos dele sobre si. — Gostaria que as coisas tivessem acontecido de um jeito normal entre nós. Que tivesse me conhecido direito antes de nos casarmos. Ela riu dele. —Não estaríamos casados. Ele respirou fundo. —Não acho. Acredito que gostaria de mim e desejaria esse casamento. Ela riu balançando a cabeça. —Não acredito nisso. Desviou os olhos dele e olhou para frente. Ao longe avistou um jovem de uns vinte e poucos anos. Ele passou os olhos de um jeito apreciativo e sem cerimônia sobre ela. Imediatamente sentiu os braços de Aslan sobre si e seu olhar foi para ele. Ofegou quando observou as mãos grandes dele a pegando possessivamente. Ela se encolheu dentro dos braços dele. Oh, como ela gostava daquilo. Era estranho essa sensação de prazer que ele lhe provocava. Então observou como ele encarava o homem com o semblante fechado. Duro. Os olhos de Sila procuraram o do rapaz e viu que ele já havia desviado o olhar. Com o respeito tomado, tudo sob controle, tentou sair dos braços de Aslan, mas ele não permitiu, a segurando firme pela cintura. Como podia estar acontecendo isso? Como poderia gostar desse jeito protetor sabendo quem ele era?

Um mulherengo falido que a viu como uma grande oportunidade de ganhar dinheiro? Claro que ele não tinha princípios! Claro que ele não sabia o que significava a palavra fidelidade ou família. —Você deveria ter colocado o lenço. —Verdade. Eu me esqueci e você não disse nada. Aslan respirou fundo e assentiu para ela. —O que está achando do bairro? —ele lhe perguntou, arrancando-a de seus pensamentos. Ela então caiu em si, que nem havia reparado em nada. Estava tão longe... Olhou ao redor e deu de ombros. —Parece tranquilo. —E é. Ele não é bonito de se ver, mas é um bairro familiar. Ah, como se ele entendesse disso. —Que bom! —disse dando de ombros. Pararam em uma esquina. Ele a soltou e a encarou. Está vendo essa rua, ela nos levará aos comércios da região. Então, caso precise de algo, é só caminhar até aqui e tomar essa direção. —Entendi. Quando ele estava para agarrar-lhe a cintura, ela segurou seu braço. —Essas calçadas são muito ruins. Melhor andarmos separados.

Aslan estreitou os olhos. Reparou que sua respiração se agitou, como se ele controlasse sua raiva com seu pedido. —Tudo bem. —disse e com um evidente contra gosto deu um passo para trás. Sila continuou sua caminhada, seguida por seu esposo. Aslan fungou. Não gostou nada disso. Sila com esses cabelos castanhos dourados, quase louros, lindos demais por ser naturais e esses olhos verdes alaranjados de uma gata, chamava muito a atenção dos homens. Ela negar sua proteção, seu abraço só piorava as coisas. Aslan novamente reparou como os homens que surgiam no caminho olhavam para ela. Esse bairro era muito tradicionalista quanto aos costumes. As mulheres costumavam se cobrir e as estrangeiras eram tidas como mulheres fáceis, ainda mais Sila que era tão exótica, linda, diferente. Precisava ter uma conversa com ela. Precisava convencê-la a usar o lenço quando saísse, se deu conta disso de repente. Se ela chamava a atenção com ele ao seu lado, imagine sozinha. Logo alcançaram a avenida cheio de comércios. Ele parou e a encarou. —Pronto, chegamos. Sila observou a avenida até que movimentada para um domingo à tarde. Tinha comércios fechados e alguns abertos. — Quer tomar um sorvete? Há uma sorveteria aqui perto. Duas quadras para frente. Foi bom andar, se deu conta de repente. Melhor do que ter ficado fechada em quatro paredes com ele. Isso sim seria uma tortura.

—Tudo bem. —Então, seguiremos nessa direção —ele disse tocando suas costas para direcionar a caminhada até a sorveteria. Tentou ficar indiferente ao fato de suas mãos ainda estarem em suas costas e seu cheiro másculo invadindo seu nariz, mas era uma tarefa impossível; toda vez que ele estava perto, ou a tocava se sentia como um fio desencapado ligado a corrente elétrica e ligado a outro, numa explosão de sentimentos e sensações. Ao longe, avistou um bar de rua e alguns sujeitos os observaram. Aslan a envolveu pela cintura e ela desviou os olhos deles. —Aqui não terá problemas com o povo que te condena, já que é distante de onde morava, contudo o bairro é bem tradicionalista. Para evitar esse constrangimento, você precisa usar o lenço quando vier sozinha para cá. Tal compreensão de estar longe daquela gente da alta sociedade que a julgava pelos erros de sua mãe mexeu consigo. Ela realmente estava aliviada por isso. Sim, detestava admitir isso, mas ele estava certo, precisava usar. Era horrível sentir o olhar predador dos homens, eles quase a despiam com o olhar. —Tudo bem. Seu rosto se iluminou com um sorriso, evidentemente satisfeito por ela ter aceitado suas palavras. —Que bom, que não irá criar caso. Estou pedindo isso não por ter a mente fechada dessa gente, mas para preservar você de futuro constrangimentos. Seus tios morriam de medo de que ela fosse igual sua mãe. Sempre a podou de todas as maneiras que pode, lembrou-se disso de repente.

Será mesmo? Ou como eles, ele não confiava nela? “Afinal, filha de puta, puta é. “disse a si mesma. —Tudo bem. Ele acenou um sim e continuaram a caminhar, sua mão novamente foi posta de um jeito possessivo sobre sua cintura. Pouco tempo depois pararam. —É aqui. Ela girou a cabeça e se deparou com a bonita sorveteria. Um lugar bem agradável. —Gostou? —Sim, bonito lugar. —A frase saiu fraca, sem qualquer entusiasmo. —Vai gostar do sorvete também—ele disse com um sorriso maroto nos lábios e ela se viu admirando-o novamente. Sua razão contestou: Pare com isso! Lembre-se que ele é o lobo vestido com trajes elegantes. Com certeza não há limites ou empecilhos para ele alcançar seus objetivos. Com certeza ele quer permanecer casado com você, sua tonta, para pegar sua outra parte da herança. A manteria como uma empregadinha dentro de casa enquanto manteria sua vida de mulheres. Tudo um jogo de conquista. No mínimo não estava passando a imagem de interesseiro nesse momento, se fazendo de bom marido e tal para você relaxar. Acorda! Não caia nessa!

Fica esperta! Foi tomada pelo sabor amargo na sua boca com esses pensamentos. Nessa hora ele colocou sua mão em suas costas novamente a levando a entrar no estabelecimento. Entrou se sentindo como uma morta-viva. A carga dos últimos acontecimentos consumiu suas forças. Desejava que esses meses corressem rapidamente e acabassem logo. Ocuparam uma mesa perto de um lindo jardim de inverno. O garçom surgiu com os cardápio. Sila olhou desanimada para os variados tipos de sorvetes. —O que há Sila? O que foi agora? Vamos! Diga! Allah me deu duas bolas e nenhuma delas é de cristal. Ela ergueu os olhos e deu com os olhos negros brilhando inquiridores nos seus. —Você sabe, não precisa de bola de cristal para entender. Estou infeliz, me sentindo presa a esse casamento. Aslan foi novamente afetado com suas palavras. Ele via mágoa em seus olhos, dor. Toda hora ela fazia questão de lhe passar a imagem de uma mulher difícil de ser conquistada. —Não se sentirá assim depois da algum tempo. —Afirmou. Contudo questionou-se se o tempo contribuiria mesmo com eles ou os afastaria ainda mais. Ele andava trabalhando muito, chegando às vezes tarde em casa, lutando para erguer a fábrica. Tinha receio disso. Não podia permitir que isso os afastasse. Precisava usar o tempo disponível que tinha da melhor maneira possível com sua esposa, para que isso não ocorresse. Ela não disse nada e olhou para o cardápio novamente. —Já se decidiu? Caso não, o Sundae deles é muito bom.

As palavras dele a afetaram de um jeito muito ruim e ela o encarou. —É? Você descobriu isso quando trouxe alguma de suas mulheres aqui? Ele piscou, sua mandíbula subitamente se contraiu, e todo o encanto se perdeu no ar, indo embora tão rápido quanto veio. —Não, eu nunca trouxe nenhuma mulher aqui. Ela enxergou um outro lado das falas dele: —Claro que não, elas apenas esquentavam sua cama. Nada de se aprofundar os sentimentos, não é mesmo? Friamente seus olhos encaram os seus, suas narinas se dilataram com sua respiração agitada. —Sim, Sila, eu era esse homem. Exatamente assim, mas as coisas mudaram. Concorda? Estamos casados. Não penso mais assim. Ela o avaliou tentando ler a verdade nos olhos dele. Queria tanto acreditar nisso, mas não conseguia. Expirou profundamente esvaziando seu peito. —É esse o problema, não é? Já me pré-julgou interesseiro, um mulherengo sem conserto. Sila respirou fundo. —Eu vou querer o Sundae —disse cortando o assunto. O olhar que ele deu fez seus batimentos cardíacos se agitarem. Ele a olhava com um olhar afiado, com uma emoção que ela não conseguia identificar. O ar ficou repleto de tensão. —Realmente Sila, tudo está contra mim. Por isso que tem medo de gostar de mim e se ver presa a esse casamento por não confiar em mim. Só o tempo te fará me conhecer melhor ou não. Só depender de você, não pode se fechar como uma ostra para isso

acontecer. Ele a havia lido. Sim, não confiava nele. Nada. E sim, tinha medo de abrir seu coração e se ferir como sempre se feriu nessa vida. Mas agora sabia que o golpe seria maior, que ele arrasaria com ela como um tornado, destruindo tudo. Arriscaria seu pobre coração a se apaixonar por ele? Não era uma incauta ou inocente em relação a ele. Ela tinha ouvido a conversa das empregadas de sua tia e lido a mensagem dele no celular. Como entregar seu coração a um homem assim? —É isso, não é mesmo? —Aslan insistiu. —Não quero falar sobre isso. Você conhece minha opinião. Passando esses seis meses, adeus. Aslan endureceu o olhar no seu, mas por pouco tempo, um sorriso perverso surgiu nos lábios dele. —Tudo bem Sila. É assim que você quer. Não discutiremos, seguiremos a vida num lugar onde não há brigas entre nós. Um que nos damos muito bem. Sila sabia o lugar que ele se referiu e o que ele faria com ela, ela podia sentir. Ela abriu a boca para discordar, mas sabia nesse aspecto não havia como; e a expressão segura que ele a olhava a silenciou. Seu rosto corou de um vermelho ardente quando ele abriu ainda mais o sorriso de um jeito lascivo, a fazendo perder as falas. Sila desviou os olhos dele e encarou o garçom que se aproximou da mesa para anotar os pedidos. Estava com o estômago embrulhado agora, não tinha vontade de comer nada. —Uma água.

—Não vai querer o Sundae? —Não, perdi a vontade. —Um Sundae para mim —O garçom se afastou com os pedidos. —Aslan então a encarou. — Nada como o doce para tirar esse amargo que tenho recebido. Sila estremeceu com as palavras dele e desviou os olhos das profundidades negras que a encaravam. Pouco tempo depois o garçom chegou e colocou tudo sobre a mesa. Sila abriu o lacre do copo e o tomou como se estivesse saído do deserto. Ao contrário de Aslan que tomou seu sorvete bem devagar, saboreando cada ingrediente dele. Às vezes os olhos dele procuravam os dela, como se ele estivesse pensando naquelas palavras que a abalaram, como se estivesse matutando tudo que fariam a seguir. Droga, ela não queria esse tipo de extravasamento de sua ira, mesmo que o pulsar de sangue entre suas coxas dissesse ao contrário.

Aslan deixou o dinheiro sobre a mesa e a conduziu para fora. Ela o seguiu como uma condenada, seus nervos as flor da pele, sabendo de antemão o que os esperavam a seguir. Ergueu o rosto e o avaliou conforme andavam, a expressão que viu no rosto dele era de uma satisfação que ele não tentava esconder. Então ele procurou seus olhos e lhe sorriu. Sila desviou os olhos dele, tentando pensar em alguma coisa para afastá-lo de si.

Ele não demonstrou qualquer tendência violenta, dependia de si brecá-lo de um jeito bem convincente. Não podia demonstrar fraqueza! No caminho foi pensando nisso, até que no meio dele tropeçou em algo. Aslan imediatamente a amparou. Só de sentir suas mãos quentes em seu braço e depois em sua cintura estremeceu. Droga! Por que a atração que sentia por ele era tão grande assim? Por que seu corpo não reagia de acordo com sua razão? —Tudo bem? Ela o encarou, engoliu com dificuldade quando deu com os olhos negros nos seus, reparou no desenho dos lábios dele brilhando pelo sol da tarde, apreciando a barba cerrada, sem nenhum fio fora do lugar. Tudo estava errado, ele precisava ser tão bonito? —Tu...do —gaguejou. Droga! Ele sorriu e ergueu a mão. As pontas de seus dedos correram o contorno se seu rosto, leu o desejo nos olhos dele. Ela sabia que se ele pudesse a beijaria ali mesmo. Sila baixou o rosto, quebrando o contato com seus lindos olhos. —Vamos! —ele disse, quebrando o silêncio pesado que ficou entre eles. Fizeram o caminho de volta em silêncio. Agora Sila andava ao lado de Aslan pensativa, desanimada, ainda pensando em um jeito de afastá-lo.

Capítulo 9

Quando entraram em casa o coração de Sila quase parou de angústia e depois acelerou de apreensão. Sem conversas, Aslan pegou sua mão para irem para o quarto. Ela puxou a mão da dele e deu um passo para trás, contudo tropeçou na mesinha da sala. Mãos quentes a seguraram e a trouxeram de encontro ao seu peito duro como uma rocha. Allah! Esse perfume masculino, almiscarado, misturado ao cheiro da sua pele a deixava louca. Sila ficou ali, sem se mover como se estivesse cercada por uma onda magnética. Ele era seu imã de polo positivo e ela o negativo. Sim, mesmo em negação se sentia presa em seus braços. Ergueu o rosto e focou seus lábios, de repente, notando a curva perfeita que eles faziam. Os olhos dele foram para os seus também e ela começou a gritar silenciosamente: Não! Por favor, deixe-me ir. Com sua obstinada recusa, seus olhos se fecharam como se isso o fizesse sumir. Então sentiu sua boca na sua se movendo sensualmente e logo se derreteu. Abriu os lábios para receber de bom grado seu beijo possessivo que lhe roubou o ar. Quando se viu estava respondendo aos seus estímulos com uma ânsia frenética. Momentos depois, muito ofegante, Aslan se afastou para olhá-la. Sila ofegou ainda mais pela luxúria que leu nos olhos dele e seu coração galopou em seu peito. Batia tão intensamente que estava sendo difícil colocar sua respiração em um ritmo normal.

Piscou para ele, como uma idiota vesga, chocada de como ele sempre vencia e, mais uma vez, entendeu que não poderia ir contra sua natureza, seu instinto natural de desejá-lo. Era uma situação difícil de compreender quando se raciocinava direito, mas não quando seu corpo todo pulsava por ele, lhe trazendo uma torpeza de pensamentos, a deixando tão fora de si, tudo era muito claro. Ela era louca por ele. O que lhe restava? Restava-lhe apenas trabalhar sua mente para o momento de deixá-lo, já que seu corpo era um grande traidor. Com a respiração fora de controle reparou que toda a suavidade havia saído dos olhos dele e Aslan a encarava com um brilho obstinado. Entendendo como ela já estava já na dele, endereçou-lhe um daqueles sorrisos arrogantes. Ela lambeu seus lábios secos fazendo-o desviar sua atenção para eles. Ele se inclinou para ela e seu hálito soprou em seu rosto com sua respiração agitada. Seus lábios abertos tocaram seu pescoço e depois correram por toda a sua extensão, mordiscando sua pele sensível. Gemeu e para não cair de prazer, agarrou-se a ele quando sentiu a fraqueza nas pernas. Logo estava no colo dele, sendo carregada para o quarto. Depois na cama. Em seguida vendo-o arrancar as roupas, exibindo seus ombros largos, seus braços fortes, seu abdome perfeitamente esculpido. Era uma guerra perdida lutar por raciocínio diante de tanta

beleza. Ele então se moveu até ela com toda a sua aura masculina, a deixando paralisada, sem nem ao menos conseguir respirar direito. Os músculos brilhando sob a luz do quarto se movimentando em perfeita sincronia, como a de um predador pronto a atacar sua presa. Ajoelhou-se na cama e a encarou. Os olhos escuros fixos nos seus e então ele lhe sorriu sedutoramente escovando para trás de sua orelha uma mecha de seu cabelo. —Nunca fiquei tão duro de desejo como fico com você—ele disse rouco. Não viu isso como um elogio, ao contrário se questionou como podia ficar tão impactada por um homem como ele... Sim, ele era bem experiente no assunto. Virou o rosto, se odiando de olhá-lo com tanta luxúria; lambeu os lábios secos enquanto a raiva tomava seu coração. Ele pegou seu queixo e a fez olhar para ele. —Ei, isso foi um elogio. Não leve isso pelo lado mau. Cada palavra dele era reforçada pelos brilho de seus olhos que estavam cheios de sensualidade e pela mão que deslizava por sua pele provocando-lhe arrepios. Seu coração começou a bater forte e toda a sua bravura desapareceu com a proximidade do corpo dele, seu rosto tão perto, pairando sobre o dela. Para deixar claro quem mandava, os lábios dele tomaram os seus com paixão feroz e a poderosa sensualidade dele a dominou. Que lábios sedutores. Provocadores... Sua língua era mágica ao ponto de conseguir respostas da dela.

E suas mãos...Ah ele sabia tocar onde ela gostava... Logo sentiu os braços dele a envolvendo e a puxando para si. Contra seu peito forte, não ofereceu resistência. Com ele era incapaz disso, entorpecida, mesmo sabendo que precisava ordenar os pensamentos. Precisava raciocinar. Contudo, ele a beijando assim, a tocando tão intimamente nos lugares certos a fazia desejar que tudo desaparecesse no infinito. Enlouquecida, se viu arrancando seu vestido, suas roupas, consciente que lutar era bobagem, ele sempre a venceria ali. Não lutaria mais. Era uma missão impossível. Cuidaria apenas de sua mente para não ser engodada por ele e no momento certo deixá-lo. Com esses pensamentos se entregou plenamente como se não houvesse um amanhã. Quando tudo terminou seu corpo ficou ali ao lado dele, inerte, repassando tudo que sofreu, o quanto já fora desprezada. O bom desse bairro pobre era que estava no anonimato, diferente da vila que morou sua vida inteira. Observou Aslan com os olhos fechados ao seu lado, ressonando. Lindo. Simplesmente lindo. Seu rosto simetricamente perfeito: a barba bem aparada, o nariz no tamanho certo, tão masculino. Os longos cílios que sombreavam olhos maravilhosos. Ah, essa boca era perfeita. Um homem como ele, seria capaz de amá-la? Seria capaz de honrar a união deles, não cometendo deslizes pelo caminho e a tendo como a sua única mulher? Fechou os olhos se lembrando da conversa das empregadas, da mensagem que leu e as lágrimas começaram a descer de seus olhos.

Como confiaria nele? Tinha tanto medo de permitir que ele entrasse fundo em seu coração e depois se decepcionar. Sabia que não seria como brigar na escola com um soco no olho ou um joelho ralado, seu coração ficaria como cacos aos pés dele. Encarou a janela vendo a cortina se mover pelo vento permitindo que a luz do crepúsculo do fim de tarde entrasse. Aslan se moveu na cama e ela o encarou. Ele tentou puxá-la para si, mas ela se esquivou dele e sem uma palavra saiu da cama puxando o lençol e indo em direção ao banheiro. Não queria falar. Não queria pensar em nada. Trancou a porta e depois se sentou na privada se sentindo triste por não conseguir levar tudo na boa, apreciar o momento sem medo de se machucar. Respirou fundo tentando se acalmar. O perfume ainda estava em seu corpo e invadia seu nariz. Se fechasse os olhos poderia sentir seu toque, ouvir a respiração entrecortada no seu ouvido, seus gemidos e a voz profunda chamando seu nome roucamente causando tormento dentro dela. Resolveu tomar um banho, para tirar o cheiro dele e se possível quem sabe com a água apagar as imagens sensuais dos dois minutos atrás. Depois do banho, mais recomposta saiu do banheiro agarrada ao lençol. Para seu alívio o quarto estava vazio, alguns passos sentiu o cheiro de comida vindo da cozinha. Ele estava fazendo o jantar? Allah! À despeito de sua natureza mulherenga, do motivo que o levou a se casar, ele tinha aquele ar de perfeição, em gestos e

palavras. Mas não podia cair nessa armadilha. Não iria até a cozinha, mesmo porque, não queria comer nada. Não estava com fome, por isso pegou sua camisola de vovó e a vestiu e então se deitou na cama e se cobriu. Alcançou o controle da televisão e colocou na novela que acompanhava com sua tia. Minutos depois, quando a novela já tinha acabado, Aslan surgiu na soleira da porta. Ela estremeceu ao ver sua linda figura de short preto exibindo suas pernas peludas e poderosas e uma camiseta branca que marcava bem seu forte tronco. —Eu fiz um ensopado. Está com fome? Seu estômago estava roncando agora e ela adorava ensopados. —Sim, estou. Vai indo, que eu já vou. Ele assentiu sério para ela e sumiu. Desligou a televisão e vestiu um roupão. Respirou fundo e seguiu até a cozinha. Aslan já estava ocupando seu lugar à mesa provando o ensopado quando ela entrou. A mesa estava posta, o prato dela à sua espera. Nenhuma flor no meio da mesa para ornamentar, como ele fez na hora do café. Na verdade, ele parecia meio hostil com ela agora. Sem nem ao menos olhá-la voltou a comer, a ignorando completamente. Era isso que ela queria, não era? Cada um em seu quadrado, contudo isso a incomodou e a confundiu também. Ocupou seu lugar e evitou olhar para ele. O tempo todo focou no seu prato. Allah! Como ele cozinha bem. Precisava dizer isso a ele. Ergueu os olhos e deu com os olhos dele a observando.

—Está uma delícia. Você cozinha muito bem. —Perdi minha mãe cedo e isso nos obrigou a todo tipo de enfrentamento. Sua curiosidade aguçou em relação a vida dele. —Ficou apenas você e seu pai? Sem irmãos? —Sim. —E ele morreu há muito tempo? —Há dois anos. Então vendi a casa e vim para cá, investi todo o meu dinheiro na fábrica. Sila ficou estática com a informação da vida dele, o encarando, sentindo seu coração acelerado e seu estômago querendo embrulhar. Voltou seus olhos para a comida. Não podia se envolver muito, por isso se calou. Queria o menos envolvimento possível, tinha que afastar seus sentimentos dessa realidade que estava vivendo, ela poderia a engolir sem dó. Ele não era o mocinho com uma armadura brilhante. E ela? Mesmo que o espelho mostrasse uma mulher, ela se sentia como aquela garotinha que tanto sofreu na vida e sabia muito bem o que podia esperar dela. Finalizado o jantar, Aslan se levantou primeiro. —A louça é por minha conta — Sila disse erguendo o olhar para ele. Ele soltou uma respiração profunda, parecia cansado. Não disse nada apenas assentiu e deixou a cozinha. Sila suspirou. Horrível essa situação! A arrumação não foi difícil. Aslan era muito organizado e ele deixou apenas pratos e o fogão para limpar.

O ensopado já estava num grande travessa tampada, que era apenas colocar na geladeira. No corredor parou antes da porta e respirou fundo para aplacar seu nervosismo em ter que que encará-lo novamente na intimidade do quarto. Se enchendo de coragem avançou. Deparou-se com Aslan deitado de barriga para cima, descoberto, vestido com um short de dormir. Pensativo encarava o teto. Quando ele sentiu sua presença se sentou. Ficou estática sem saber o que esperar dele. —Sente-se, precisamos conversar. Conversar? Parecia algo sério, e não um papo inofensivo. Sentou-se do outro lado, virada para ele. —Amanhã começa a minha rotina pesada de trabalho. Saio cedo e não tenho hora certa para voltar para casa. Posso tanto chegar cedo como muito tarde. Isso não a surpreendia. Claro que a vida dele não seria controlada e pontual como um relógio. Ele já estava deixando claro sua liberdade de ir e vir. —Tudo bem. É só isso? —Amanhã verei se meu tio conhece uma boa cozinheira. —Eu...mudei de ideia quanto a isso. Aslan ergueu as sobrancelhas. —Mudou? —Sim. Acho melhor você comprar o celular. Eu tentarei reproduzir as receitas. Será até bom para eu me distrair. Suas palavras desfizeram a carranca dele, e ele suavizou a sua expressão.

—Será bom para você. Inspirou de maneira entrecortada. —Concordo. Viril, ele a olhou intensamente e ela ficou presa no seu olhar. Seu coração começou a bater descompassado. Com dificuldade desviou os olhos dos dele. —Meu sono é pesado. Se quiser pode se distrair com a televisão. Não irá me atrapalhar em nada. —Você costuma dormir, assim, tão cedo. Seu olhar se intensificou e ele sorriu, a observou como se quisesse sentir sua reação ao que ele iria dizer. —Quando chego mais cedo em casa aproveito para dormir cedo. Mas posso mudar de ideia com os estímulos certos. Agora ele a olhava mais à vontade do que nunca, a avaliando com um sorrisinho de canto no rosto e ela entendeu bem o que ele quis dizer. —Eu só perguntei por perguntar. E pode dormir, vou assistir televisão como sugeriu. Ele sorriu debochado. —Sabia que seria essa a sua resposta. Sem mais, ele se deitou e se cobrindo virou-se para o outro lado. Sila soltou um suspiro de puro alívio e ao mesmo tempo um sentimento de perda se instalou em seu coração que ela não gostou.

Capítulo 10

Sila acordou com o cheiro forte de café na casa e deu com a claridade do quarto. Girou a cabeça e focou o rádio relógio. Sete horas. Aguçou os ouvidos e escutou o movimento na casa, então os passos no corredor. Então um belíssimo Aslan de terno negro, camisa branca e gravata vermelha surgiu na soleira da porta. Seu coração quase saiu do peito com sua linda presença e seu cheiro maravilhoso que invadiu o quarto. —Bom dia —ele lhe disse, introspectivo. Sila sentou-se na cama. —Bom dia. —disse séria, atenta a todos os seus movimentos. —Eu fiz café. Estou levando a cópia que fiz da chave. Se quiser sair, já sabe, use o lenço. Deixei dinheiro na mesa da sala se precisar de alguma coisa. E quanto ao almoço, você sabe, na geladeira está o que sobrou de ontem. Ela lhe deu um sorriso nervoso. —Está certo. Aslan a olhou por um tempo e então moveu seu grande corpo em sua direção. Quando ele se sentou na cama Sila ficou dura, ereta, tensa olhando para ele. Arfou ante a intensidade da íris negra olhando para ela. Num gesto rápido Aslan enfiou uma mão em sua nuca e a outra ele puxou sua cintura se aproximando dela ainda mais. Surpresa pelo seu gesto Sila abriu os lábios e Aslan tomou sua boca lhe deu um beijo duro. Allah! Era tão boa essa intensidade nele. Aslan estremeceu ao sentir seus lábios de Sila se movimentando sobre os seus. Deliciou-se de vê-la se submetendo

ao seu beijo e adorou sentir seu corpo se esfregando no dele tão disposto, tão receptivo. Do jeito que ele gostava... Quando ele se afastou para olhá-la se agradou de ver seus olhos semicerrados, os lábios rosados inchados pelo beijo. —Até a noite. Tentarei chegar o mais cedo possível—Aslan disse com um meio sorriso e se levantou da cama. Saiu do quarto e ela ouviu seus passos no corredor e então ouviu a porta da sala se fechando. Jogou o corpo para trás, caindo sobre os travesseiros ainda com o coração agitado. Passou a mão nos olhos. Nada estava acontecendo como ela gostaria. Ele era envolvente demais e a cada minuto que passavam juntos mais se sentia se afundando nessa relação. Estava se apegando muito a ele e não deveria.

Tio Zeki entrou no seu escritório. —E então meu filho? Como foi esses dias de casado? Aslan encarou seu tio calado por um tempo, ponderando se lhe contava ou não seu relacionamento conturbado com Sila. Resolveu falar por alto, não se aprofundar no assunto. —Estamos indo, estamos na fase de adaptação.

Seu tio estreitou os olhos. —Você não me parece feliz. —Estou apenas preocupado com a fábrica. —Como assim preocupado com a fábrica? E o dinheiro da moça? Não vai me dizer que não irá pagar o que devemos e tirar umas férias com ela? —Não, não irei usar nesse primeiro momento. Pretendo trabalhar duro e crescer com nossos próprios recursos. E férias, nem pensar. Seu tio o encarou pasmo. —Que recursos? Nosso dinheiro está zerado. —Com essa entrega que faremos das malhas, poderemos respirar um pouco e estou correndo atrás de outros clientes. —Aslan. Por Allah! Agora era para você estar liquidando as dívidas e apreciando seu casamento, saindo com sua esposa, indo viajar com ela. Aslan o encarou com amargor no coração. —Com que dinheiro? —Com que dinheiro? —seu tio repetiu suas falas sem entender. —Com o que recebeu com o casamento, que é seu por direito! —Não meu tio. Não quero mexer nesse dinheiro como já disse. Isso será meu último recurso. Nunca se apaixonara por alguém. Então, realmente, à princípio, fora às festas da alta sociedade com a intensão de unir o útil ao agradável. Casar-se com uma moça de família rica e finalmente ajeitar sua vida financeira. Seria fácil usar o dinheiro dessas dondocas. Elas mesmo exigiriam isso dele. Claro que iam querer viver com

todo o conforto. Então colocou os olhos em Sila. Allah! Que garota linda, delicada, tímida. Tão diferente das mulheres que conhecera e sua curiosidade sobre ela aguçou. Então seu tio veio com aquele papo que ela não era para ele. Allah! As razões disso eram tão fracas que ele ficou bobo que seu tio se importasse com isso. Deu de ombros e para agradar seu tio e partiu para outra. Tentando ignorar o calor incendiário que ela lhe provocou. Evidentemente não conseguiu. Muito pelo contrário. Quando soube da condição de Sila, a sua vida de sofrimento, e seus tios a oferecendo como um banquete para algum oportunista, um sentimento de proteção cresceu dentro dele e resolveu se casar com ela. Já queria mesmo mudar o curso de sua vida. Ser um homem de família. Por que não ela? Sim, ele a ajudaria com Kumas e ele lhe seria um bom marido. A química que havia provado entre os dois garantiria isso. Contudo, o fato de enxergar em Sila uma mulher tão diferente das mulheres que conhecera o brecou e ele não conseguiu se beneficiar do casamento. Ah! Esse conhecimento sobre ela fez com que crescesse aquele sentimento de lutar por Kumas. Entendeu que havia desistido fácil demais. Criou-se nele aquele desejo de provar a ela que ele conseguiria salvar a fábrica sem usar os recursos dela. Enxergou nela uma modéstia tão grande quanto a sua beleza. Tão diferente das garotas que saia e que usavam isso para

benefício próprio, como ganhar presentes, um jantar caro, uma joia. Sila não. Era uma garota que sonhava com o amor. Sim, viu isso nela. Aquele papo de ir para longe, viver num lugar que ninguém a conhecia era nada mais que isso. Conhecer alguém que a amasse sem um passado para atrapalhar. Seu tio cortou a ligeireza dos seus pensamentos: —Allah! Eu não estou entendendo mais nada. Por que se casou então com uma mulher como Sila? Uma mulher tão complicada, tão marcada? Suas entranhas responderam à ardilosa pergunta de seu tio. —No meu bairro ninguém a conhece. No futuro pode ser conhecida pela sua beleza e não por seu passado. Seu tio meneou a cabeça. —Você está pensando pequeno. Se prosperar vai querer comprar uma casa aqui em Erzincan e aí você entenderá o que eu disse. —Eu não morarei em Erzincan. —Não? Erzincan é o melhor bairro para se viver. É o sonho de qualquer um. —Não. Posso comprar uma casa no campo. Em Binkoç por exemplo, lá tem ótimas casas. —Você endoidou de vez? Imagine a distância que terá que percorrer para trabalhar. Aslan deu de ombros. —Vejo outro mais perto então. Valerá o esforço. Não gosto dessa gente.

Seu tio coçou a cabeça. —Você realmente gosta dessa garota, não é meu filho? —Sim, gosto. —Aslan se levantou e o conduziu até a porta. — Agora meu tio, volte ao trabalho e acelere as coisas lá. Hoje estou para receber o gerente de produto de uma fábrica de roupas de bebê. Se tudo der certo, fecharemos negócio. Ele virá conhecer a fábrica. Inclusive, vou até pedir para o pessoal da limpeza dá uma caprichada. Seu tio não disse nada a respeito disso e o encarou atentamente. —Nunca imaginei que se ligaria a alguém. Nenhuma mulher te prendeu por muito tempo. Até com Karli eu tinha minhas dúvidas que realmente gostasse dela. Ele encarou seu tio pensativo. —Verdade. Saiba que mesmo antes de ser rejeitado por eles, eu já me sentia desinteressado. Não ia dar em nada mesmo. —É, Sila realmente te enfeitiçou. Mal sabia seu tio do limãozinho que havia se casado. Mas ainda assim, se sentia incrivelmente enfeitiçado por ela. —Que horas o cliente marcou para vir aqui? —seu tio perguntou quebrando seus pensamentos. —Disse que depois do almoço. —Bem, então vamos trabalhar! E arrume essa escada. —Quando tiver dinheiro eu arrumo. —Uma hora teremos um acidente. Aslan suspirou. —Vou atrás disso, mas não agora.

O dia passou lentamente e mesmo com todo o seu esforço de preencher seu tempo arrumando, limpando o apartamento e lavando roupas, alguns momentos foi assolada pelas imagens sensuais deles, afastando todos os outros pensamentos. Não conseguiu pensar em outra coisa que não fosse o tempo que ficou dentro dessa casa com ele. As imagens se repetindo incansavelmente, embora ela tenha feito de tudo para afugentá-

las, mas foi inútil. Elas teimavam em voltar, contribuindo para que ela ficasse ainda mais agitada. Quando foi à tardinha tentou aplacar seus nervos se distraindo com a televisão, mas conforme o tempo passava e se aproximava da hora de Aslan chegar, mais se sentia nervosa. “Tentarei vir mais cedo para a casa” As palavras dele martelaram novamente em sua cabeça. Quando foi quatro horas da tarde, tomou um banho e se enfiou dentro de sua camisola sem graça e ficou no quarto. Não queria dar a impressão que estava à espera dele. Já havia tomado seu café que havia feito na máquina e comido um pão que encontrou com manteiga e queijo. Então nem a fome a tiraria dali. Várias horas se passaram, apenas o barulho da televisão do quarto se fazia presente e nada de Aslan chegar. Estava com outra mulher? Estava mesmo trabalhando? A cada minuto da demora dele, dois sentimentos a assolavam: irritação e nervosismo.

O relógio do celular de Aslan marcava vinte uma horas e quinze minutos quando estacionou o carro. Finalmente estava em casa. Tinha passado o dia no computador e telefone tentando alavancar as vendas, contatando possíveis clientes. Depois entrou na função de controller, estudando uma maneira de economizar dinheiro, estudando o fluxo de caixa, as

dívidas... Se tinha algo que o preocupava a ponto de dominar sua mente era o trabalho. Tinha planejado estar mais cedo em casa, mas quando não conseguiu fechar negócio de imediato com o cliente que os visitou —ele faria uma pesquisa de mercado antes de bater o martelo com eles— entendeu que não poderia se dar ao luxo de gozar um tempo maior com sua linda esposa. Allah! Como estava cansado. Disse ao sair do carro com uma ligeira dor nas costas. Minutos depois abriu a porta do apartamento e deu com todas as luzes apagadas. Acendeu a luz da sala e entrou. Olhou tudo ao redor, sentindo o ar com um aroma agradável de limpeza. Avançou na sala e deu uma olhada no corredor. Podia ver no corredor escuro, o brilho da televisão saindo por debaixo da porta. O que ele esperava? Que ele chegasse, e ela o recebesse com um beijo? Claro que não seria assim. Ele teria uma grande jornada pela frente para conquistá-la e quebrar toda a resistência de Sila. Fechou a porta e virou a chave na fechadura, afrouxou a gravata e a retirou. Quando se virou para o corredor percebeu que Sila havia desligado a televisão. No mínimo tinha ouvido ele chegar. Soltou o ar e foi até o quarto. Estava todo escuro. Acendeu as luzes. —Sei que está acordada. Você estava até agora assistindo televisão. Sila virou seu corpo para ele e o encarou com o semblante carregado. —Estava me preparando para dormir. Você chegou tarde. Aslan sorriu.

—Sim. Infelizmente não consegui sair cedo. Sentiu minha falta? —Não! E pelo visto você também não. Aslan soltou o ar. Seu limão estava bem azedo e a língua trabalhando a todo vapor. —Estava trabalhando. Havia cansaço no olhar dele, mas ela ainda assim procurou algo mais, querendo enxergar vestígio de outra coisa. —Trabalhando? Viu a razão reluzindo em seus olhos verdes, e o olhar cético que ela lhe deu. Veja a verdade dentro de mim. Eu não irei te machucar limãozinho. Ele disse mentalmente para ela e confirmou isso exercitando sua paciência dizendo: —Sim, trabalhando. Aslan então se lembrou. Na hora do almoço comprou o celular para ela. —Trouxe-lhe um presente. Sila se sentou melhor na cama, ereta. Ele sabia que não era por causa do presente, mas por ele cortar a distância, indo até ela. Essa mulher sempre ficava arisca com ele. Ele se sentou na cama e observou como ela respirou fundo, não gostando nada de sua aproximação. Então ela olhou diretamente para ele, os olhos verdes inabaláveis. Aslan tirou o Iphone do bolso e estendeu para ela. Nem ele tinha um desse. Seu celular era de uma marca mais barata. Ele usou a herança dela para comprá-lo. Será que ela sabia o que era um Iphone?

Sila pegou o celular. —Ele é bem grande. —Sim. Agora podemos trocar mensagens. Meu número está aí na agenda —Aslan disse sorrindo. —Por que não chamadas de vídeo? —ela questionou o avaliando com os olhos. —Claro, por que não? —Aslan disse com um novo sorriso. —Se eu não estiver em alguma reunião importante te atenderei com o maior prazer e caso eu esteja, te ligo em seguida. Sila o observou. Seu coração agitado no peito. Ele parecia tão sincero em suas palavras. Será que suas desconfianças tinham fundamento? Que ele tinha se casado com ela por causa do seu dinheiro era indiscutível, mas e se ele realmente tinha no coração lhe ser fiel, realmente apostar na relação deles? Bem, era muito cedo para se dizer isso. Eles tinham apenas dois dias de casados. Ela desviou os olhos do lindo rosto de seu esposo que agora a olhava com curiosidade e focou no celular, ligou o aparelho e fuçou nele um instante. —Pelo visto, sabe mexer com o celular? —Aslan perguntou, cortando seus pensamentos. Recebeu outro sorriso de Aslan. Allah! Esse homem quebrava qualquer gelo. —Sim... minha tia tinha um igualzinho. De vez em quando ela me deixava mexer nele. Aslan assentiu, passou a não nos olhos, parecia que tinha areia neles. Era o cansaço. —Ótimo. Agora vou tomar um banho e comer alguma coisa?

Já jantou? —Não. Vou esquentar aquele ensopado que você fez para nós enquanto você toma banho —ela se viu dizendo, de repente querendo agradá-lo. —Ótimo. —Disse suavemente para ela. Sua respiração se agitou quando se aproximou mais dela e roçou sua bochecha com a mão, empurrando uma mecha de cabelo para atrás de sua orelha. Os olhos dele se moveram lentamente e ele estudou os seus lábios e toda candura se perdeu de sua expressão e ele a puxou para si, dando-lhe um beijou possessivo, exigente por resposta. Sila correspondeu o beijo com ardor. Como resistir a ele? Se seu casamento era uma mentira, era a mentira mais linda do mundo... Aslan se afastou ofegante para olhá-la. A vontade era tê-la agora. Cansado que nada! Para isso não! Seu membro estava pulsando por ela. Sila sorriu sem graça, percebendo o tamanho da sua excitação. —Tome seu banho, e eu esquentarei o jantar. Estou morrendo de fome. Ela se levantou rapidamente quase o derrubando para trás na cama e caminhou apressada como se estivesse fugindo dele. Ele riu. Ah, pode fugir agora, mais tarde você não escapa.

— Está louca? — Reclamou consigo mesma enquanto se dirigia a cozinha. — Vai com calma. Esse homem não é confiável. Você já estava toda derretida por ele... Afastou a imagem sedutora daquele anjo caído e começou a aprontar o jantar. Colocou o ensopado numa vasilha de vidro grande e depois a enfiou no micro-ondas. Enquanto esquentava lavou o pote que ela

estava guardada e arrumou a mesa. Minutos depois Aslan surgiu, lindo, usando um conjunto de short e camiseta de pijama. Os cabelos molhados pelo banho. Allah! E o cheiro dele, sobrepôs ao do jantar: uma mistura de sabonete e seu magnífico perfume. Se sentindo nervosa com sua presença se sentou à mesa, desviando o olhar dele. —Sabe o que está faltando? Sila olhou para a mesa arrumada e viu que realmente faltava um ingrediente. —O pão. —disse para ele com um sorriso. Aslan sorriu de volta de um jeito muito sexy. —Exatamente. Ele foi até o armário e pegou uma frigideira. Depois de ligar o fogo retirou dois pães e os esquentou nela. Esse homem.... Por que ele tinha que ser tão perfeito, tirando o grande defeito de ter um espírito livre e não se ligar a nenhuma mulher? Com os pães quentinhos em cima de um prato ele ocupou seu lugar à mesa. Comeram à princípio calados a saborosa sopa com o pão, mas não demorou muito para Aslan quebrar a o silêncio perguntando do seu dia. Seus olhos a encaravam tão interessados em sua resposta que ela lhe contou, num breve resumo, como passou as horas no apartamento. —E o seu? —escapou de seus lábios seu interesse. Ele soltou o ar. —Cheio. Estou trabalhando como um louco. Lá faço um pouco

de tudo. Sou marketing, controller, vendedor. Administro. Aslan disse tudo observando sua reação. Sila desviou os olhos dele. Faltava-lhe a coragem necessária para ela se aprofundar. Ela abaixou a cabeça com aquele medo de se envolver muito e se magoar. Enfiou uma colherada grande de sopa na boca para mantê-la fechada, suprimindo sua vontade de saber mais dele. —Ei, o que foi? Ficou calada de repente. —Nada. Estou com fome e a sopa está uma delícia. —disse enfiando outra colherada na boca. Aslan a estudou por um momento, tentando ler a verdade nas palavras dela. —Que bom que gostou—por fim ele disse, com fraco sorriso, talvez desapontado por ela se fechar novamente. Sila desviou o olhar dele, fugindo daqueles olhos intensos e profundos sobre os seus. —Amanhã vou tentar reproduzir alguma coisa—disse e colocou outra colherada de sopa na boca. Aslan limpou a boca com o guardanapo de um jeito muito sexy. Ai que calor. —Caso falte algo, tem dinheiro debaixo do vaso da sala. Aquele que fica sobre a mesa. —É, eu sei. Eu vi. —E não se esqueça do lenço. Você se passa por estrangeira com esses cabelos quase loiros e seus olhos de gata selvagem. E sabe como os homens daqui são e se comportam com elas... Ela estremeceu de desgosto se lembrando o porquê de sua aparência.

—Sim, eu sei. Desviou os olhos dos dele novamente e tentando controlar sua respiração se concentrou no pão e na sopa. Não via a hora de terminar seu jantar. Aslan tinha o poder de desnorteá-la. Quando o jantar terminou, se sentiu aliviada por isso e antes que se levantasse, Aslan assim o fez e retirou os pratos da mesa, quando percebeu que ele ia lavá-los, ela aproveitou essa brecha para ir para quarto. Assim que o alcançou, entrou no banheiro para escovar os dentes. Queria estar na cama antes que ele entrasse no recinto. Ainda se sentia constrangida toda vez que ele entrava nos ambientes. Eles pareciam menores. Tudo se encolhia ante seu magnetismo. Até o ar ficava rarefeito. Seus intentos caíram por terra quando ela emergiu no quarto e deu com Aslan tirando a camiseta do pijama e jogando longe e depois lhe endereçando um sorriso daqueles que a fazia passar mal. Ofegou. Ele estendeu a mão para ela. Sila estremeceu e suspirou de modo entrecortado. —Vem, sem medo e me ame. A palavra “ame” teve um efeito devastador nela, muito forte e ela deu um passo para trás. Aslan viu como ela ficou tensa e isso teve o mesmo efeito de um soco no estômago de ver o quanto ela ainda lutava para manter o casamento no raso. Para quebrar logo esse gelo que isso lhe provocou, avançou e a pegou no colo num só movimento e a depositou na cama

suavemente. Sentou-se em frente a ela e como se faz com uma criança, puxou sua camisola para cima, a livrando de seu corpo. Ela cobriu os seios, ainda resistente a ele. Ele ofegou com sua atitude, não gostando nada disso. Seus olhos procuraram os dela, ainda assustados, olhando para ele, ainda se debatendo com o fato de ele lhe dizer para amálo. —Não pense. Relaxe e se entregue. Esse é o segredo de ser feliz. Tomou sua boca com paixão feroz com a certeza de que isso quebraria todas as barreira que ela havia erguido novamente entre eles. Queria muito tirar todos os seus medos e receios. Aslan nunca desejou algo tão fortemente como isso. Sabia que tinha que ter paciência com ela. O tempo tinha que ser seu aliado, infelizmente um tempo que ele quase não tinha por causa do trabalho... Como anunciado, Sila logo relaxou e começou a corresponder seus beijos. Assistiu ela mesma arrancar seu sutiã e sua calcinha e depois puxá-lo para si. Tendo a mão atrelada a dela, ele as ergueu e começou a torturá-la com seus beijos. Sila gemeu alto e isso o impulsionou a estimulá-la ainda mais. Ah, seu limãozinho era quente e tinha o poder de deixá-lo fervendo. Um gemido gutural saiu de dentro de seu peito, provocado pela boca dela procurando a sua com sede e sua mão apertando sua carne.

Essa era a Sila que ele queria sempre. Insana. Conforme se amavam notou que ela mantinha o tempo todo os olhos fechados, talvez para mantê-lo longe de seu coração. Seu tio um dia havia lhe dito que seu pecado de não se ligar a ninguém um dia viria para assombrá-lo, fazendo-o cair nessa mesma armadilha. Ele gostava de Sila, não apenas a desejava e não queria que as palavras de seu tio surtissem como um maldição e se fizessem verdades. Não! Não podia permitir isso. Aslan escorou os braços no colchão a fim de observá-la mais atentamente. Ela ainda evitava olhá-lo, apenas à espera de seu próximo estímulo. —Olhe para mim—ele disse com rouquidão na voz. Sila gemeu e virou a cabeça. —Não! —Sila. Abra os olhos e olhe para mim! — ele disse e sem se mover, deixando claro que ele só prosseguiria caso ela estivesse toda entregue. Ela precisava encarar a realidade e não viver essa espécie de fantasia ou sonho que ela se colocava. A queria, sem medos, sem receios... Quando ela viu que Aslan não se movia, abriu os olhos. Aslan observou agora os olhos verdes bem vivos nos seus. Ele a beijou e tornou a olhá-la. Ela tinha fechado os olhos novamente. —Assim não. Quero que olhe o tempo todo para mim. Sila ofegou e abriu os olhos novamente, viu chispas saindo dele.

—Por quê? —Quero que nossa imagem fique gravada em você. Ela fungou, mas não disse nada. —E mais! Diga que me deseja, Sila. Quero ouvir isso de seus lábios: “eu te desejo, Aslan” Sila ofegou. —Eu...eu... te desejo. Você sabe disso. Aslan sorriu —então repita comigo: Eu te desejo Aslan —ele lhe corrigiu e mordiscou seu pescoço, lhe provocando ondas de arrepios e então voltou a encará-la. Ela o encarou calada por um momento e por fim confessou ofegante: —Eu te desejo Aslan. Está satisfeito? —Eu também te desejo Sila, você nem tem ideia o quanto. Os olhos dela faiscaram nos dele com suas falas, e ele a beijou com ímpeto. Momentos depois olhou para ela. Seus olhos agora estavam pesados nos dele, subjugada, querendo mais. Muito mais. Tomou sua boca e a beijou novamente com ardor, um beijo feroz, profundo, exigente. Quase perdeu a cabeça e se esqueceu de protegê-los, louco para estar dentro dela. Lembrou-se na última hora. Ergueu-se. Trêmulo abriu a gaveta e pegando a camisinha revestiu seu membro duro. Sila estava lá, olhando para ele, agora havia uma certa braveza em seu olhar. Talvez se odiando por desejá-lo tanto. Olhou para o seu marido, os ombros largos, a postura ereta,

o dourado da aliança brilhando na luz acesa do quarto. Realmente, nenhum homem que já vira era tão lindo como Aslan. Talvez por isso era tão difícil acreditar que essa perfeição toda a amaria, ainda mais sabendo que ele sempre foi tão mulherengo. Leve ondas de pânico correram por seu corpo só de pensar em ficar presa a um casamento de aparências e Aslan tendo uma vida dupla. Não! Não suportaria isso. Desviou os olhos da linda figura dele. Allah! Não queria ficar pensando nisso. Não nesse momento... A cama se moveu e ela se assustou, deu com ele de joelhos sobre ela, a encarando com grande intensidade. —O que tanto essa cabecinha trabalha, hein? Sei um jeito de parar tudo isso. Sua mão subiu até sua nuca e ele a puxou para si. Seus olhos observam seu rosto, cada centímetro com atenção, só então ele a beijou. O coração começou a bater descompassado quando ele se moldou a ela e seus beijos se multiplicaram, por cada pedacinho de sua pele. Ele era tão carinhoso na cama, isso sempre a confundia. Ela o abraçou forte, afastando pensamentos pessimistas e aninhou sua cabeça na curva do pescoço dele desejando que estivesse errada com ele e que ele pudesse amá-la de verdade mesmo sabendo quem ela era. Seu corpo colado ao seu, os lábios dele deslizando por sua boca e depois pelo pescoço; suas mãos passeando pela sua pele de um jeito tão abrasador fez com que sua mente colocasse vida onde

ela acreditava que não tinha, injetando cores vivas na sua ótica preta e branca. Simplesmente vagava por outro mundo quando estava em seus braços. Permitiu-se novamente que seus corpos regessem seus desejos. Sem refrear vontade alguma se permitiu. Suas mãos tocaram sua carne, seus músculos com prazer. Adorava sentir o músculo forte, tonificado. Principalmente de seu bumbum. Secretamente ela ambicionou isso, desde o momento que o avistou: senti-lo, tocá-lo. Aslan a encarou. Não havia saída para ele. Estava apaixonado por ela. Trouxe seu corpo para junto ao seu, sugou seus lábios sentindo arrepios correndo seu corpo, derretendo qualquer resquício da vida vazia que ele levava. Pela primeira vez, ele amava. Podia sentir o sabor disso. Era bom fazer amor com a mulher amada. Era uma entrega tão grande, era algo tão puro e ao mesmo tempo tão ardente. Apertou sua mão contra seus lábios e as beijou. Então se ergueu, se preparando para estar dentro dela. Sila o envolveu com as pernas, sedenta por ele o fazendo sorrir antes de tomá-la mais uma vez para si. —Olha para mim—Aslan pediu com rouquidão na voz. Sila abriu os olhos e os manteve nos dele enquanto miríades de sensações tomavam seu corpo. Ele então aumentou as investidas e ela começou a gemer alto de tanto prazer. Pouco tempo depois ele a levou ao êxtase. Juntos chegaram ao orgasmo e gemeram juntos com a força do seus deleites. Quando tudo terminou, Aslan descartou a camisinha no banheiro, apagou a luz e se juntou a ela na cama. Então a puxou

para os seus braços. Dessa vez ela não protestou, ficou quietinha lá sem se mexer. Aslan dormiu, sabia disso pelo ressonar constante de sua respiração. Com dificuldade Sila saiu de seus braços e se afastou para contemplá-lo. Aslan gemeu, mas não acordou. Ele parecia cansado. Ela então o observou com amargura de alma: havia tantas coisas entre eles, pontos de interrogações que tinham o poder de separá-los, quem sabe o tempo sanaria suas dúvidas e os uniria de vez. Contudo, ainda achava que precisava ir devagar. Não podia ficar impressionada por suas palavras, ou atos, era muito cedo para isso. Lembre-se do que as empregadas disseram! Lembre-se também da mensagem que leu no celular. Quem garantiria que esse homem não iria cometer deslizes? Allah! Não suportaria isso! Preferia levar sua vida longe dali, de todos. Tinha tanto medo de se decepcionar. Sempre atinou que o temor não era ruim e sim um bom freio de ilusões.

Capítulo 11

No dia seguinte sentiu um forte movimento na cama e quando abriu os olhos deu com Aslan já de terno, se ajoelhando. Ele então se inclinou e lhe deu um beijo na testa. —Bom dia. Estou de saída. Sorriu para ele. —Sim, estou vendo. Bom trabalho. — E você? Irá se virar com o almoço? —Disse e, deu um sorriso de canto de lábios, como se estivesse debochando dela, esperando sua resposta. Mas ela não estava pensando nisso, e sim na sua relação com ele. Queria tanto poder confiar nele, apostar nesse casamento! Admirou-o secretamente. Ele parecia tão sincero. Era tão lindo o jeito dele. Observou novamente seus olhos, tão expressivos em um rosto tão belo, esculpido em linhas de expressão que lhe imprimiam força e seriedade. O estômago se retorceu em angústia. A sua demora em responder fez com que ele a olhasse pensativo. —Compre algo para comer. Tem um telefone de um restaurante muito bom e barato preso à geladeira. Tentarei chegar mais cedo em casa e podemos fazer o jantar juntos. —Não, eu tentarei reproduzir algo. Ele sorriu. —É? Como? Tirou a carne para descongelar ou fará algo com

ovo? Ela piscou com as palavras dele. Agora entendeu o risinho que ele lhe deu momentos atrás. —Eu nem pensei nisso —ela disse se sentando, olhando perdida para ele. —Compre comida. E tire a carne para descongelar, a noite faremos um ensopado juntos. —Sim, acho melhor. —Aproveita para explorar a internet. Estude como reproduzir alguns pratos. Comece com os simples. Pode ficar à vontade no celular. No meu escritório tem internet com wifi. Já configurei o celular para você agora cedo. —Tudo bem. —Bem, eu estou indo — Aslan disse e se sentou na cama. Já devia ter se acostumado com ele, mas a beleza dele era tamanha, tão esmagadora que sempre o olhava meio abobalhada. O perfume então, nem se fale, a envolvia como um forte abraço. —Venha aqui e me dá um beijo de despedida. A tensão aumentou e sua respiração também. E Ela respirou fundo, tentando manter seus nervos controlado. Não teve forças para negar. Afastou o edredom e se ajoelhou na cama e lhe deu um beijo na face direita o fazendo rir. —Isso não é beijo da mulher fogosa que se tornou em meus braços, mas da menina que me casei. Ele a puxou para si num movimento rápido, seus lábios maravilhosos tomaram os seus exigindo resposta. Ela abriu os lábios e recebeu sua língua que brincou com a dela. O gosto maravilhoso de pasta de dente invadiu sua boca.

Oh! Como era bom seu beijo. Não adiantava, talvez nunca se acostumasse com tudo isso. O fogo aqueceu suas entranhas com pensamentos picantes. Quando ele finalmente a libertou de seus braços, foi com muita dificuldade que fez a imagem sensual dele desaparecer de sua mente. —Isso sim é beijo —ele disse os lábios bem delineados lhe dando um sorriso zombeteiro Sila baixou os olhos com um sorriso sem graça. Ele lhe pegou os ombro e lhe trouxe para si e lhe deu um beijo na testa. —Até a noite. Ele se levantou da cama. Ela voltou a sua atenção para ele e o observou sair do quarto. Sila suspirou se sentindo triste pela vida tê-la feito assim, tão desconfiada das pessoas. Ele seria o homem perfeito se ela pudesse confiar nele. Ela não era uma criança e sabia que a vida não era um conto de fadas. Essa era a razão dela falando, contudo, não estava conseguindo convencer o seu coração de que essa perfeição se tratava de apenas um sonho impossível. Sorrateiramente ele estava fazendo-a sonhar com a felicidade desse casamento. Desde o início entendera que era uma causa perdida afastálo de si. Allah! Ela foi uma presa fácil para um homem envolvente como ele. Bonito demais. Sexy demais. E pior, ele sabia muito bem disso. O que seria de seu futuro? Se perguntava.

Esperava de todo coração que ele não a enganasse, se passando por bom marido, contudo mantendo sua vida de prazeres carnais.

Aslan saiu de casa com um sorriso no rosto. Sila estava mais passiva e isso misturado a sua avassaladora beleza o deixou duro. Infelizmente tinha que trabalhar. A vontade que teve foi de arrancar a roupa e amá-la outra vez. Ele não se lembrava de alguma vez ter desejado tanto uma mulher quanto Sila. A imagem dela sentada na cama, os cabelos compridos emoldurando seu lindo rosto, seus olhos verdes bem

atentos aos seus era uma linda imagem que ia acompanhá-lo por todo o dia. Até sua vida ganhara um sentido. Estava mais animado para enfrentar sua jornada de trabalho. Vencer os obstáculos e liquidar as dívidas. Queria que sua esposa se orgulhasse dele.

À noitinha, perto das dezenove horas quando Aslan entrou pela porta, seu libido que estivera tão quietinho se acendeu. Sila estremeceu com a imagem maravilhosa dele. Toda vez que o via entrar no recinto reagia como se o visse pela primeira vez ou como estivesse se esquecido como ele era bonito. A sua presença marcante era um firme lembrete do homem que se casara.

Aslan sorriu ao vê-la na sala. Ela estava linda com um vestido florido, nem parecia aquela garota arredia com que se casou. —Boa noite meu anjo. Tudo bem por aqui? Sila não se levantou do sofá e não sorriu e muito menos veio lhe dar um beijo, apenas assentiu séria para ele. —Sim. E no trabalho, tudo bem? Ela o desestabilizava. Ele nunca sabia o que esperar dela. Achou que por estar na sala à sua espera, agiria mais receptiva com ele. —As coisas estão caminhando. Comprou comida no almoço? Ela afirmou com a cabeça. —Comprei. Sobrou bastante. Se quiser esquento para você. Aslan negou. —Combinamos de fazer o jantar, lembra? —Você não está cansado? Cansado ele estava. Não foi fácil seu dia. Mas queria que ela pegasse o gosto pela cozinha. —Estou, mas isso não muda nada. Tirou a carne para descongelar? —Sim. —Enquanto eu tomo banho, porque você não vai adiantando as coisas lá. Corta a carne em cubos e depois coloca pouco o óleo na panela de pressão e a frita até dourar. Ela o encarou insegura. —Cubos? Grande, pequeno, médio? Aslan suspirou. —Um pouco maior que um cubo de gelo.

Ela assentiu para ele. —Está certo. Sila se levantou, contudo antes que ela se dirigisse a cozinha ele interceptou seu caminho e a puxou pelo braço. Isso fez com seu corpo lindo atingisse o dele. Ela ergueu o rosto. Os lábios carnudos se abriram assustado. O coraçãozinho dela batia tão rápido que era possível ver o pulsar dele sobre o tecido fino do seu vestido. Assim como sua respiração agitada. Isso o agradava sempre. Era bom constatar como, sempre que ele a tomava nos braços, seu lindo corpo reagia ao dele. Fitou seus lindos olhos verdes calmamente. Tão linda. Pequena. Tão frágil. Essa linda combinação o deixava louco. —Eu senti saudades—disse e seus olhos negros logo foram atraídos por seus lindos lábios entreabertos. Não suportou a ânsia de tê-los mais uma vez nos seus e tomou-os com ímpeto, lhe deu um beijo cheio de autoridade e dominação. Sila como sempre não decepcionou. O agarrou, correspondeu com ardor. Ele a estreitou mais nos braços e extravasou seu desejo. Só minutos depois a afastou devagar e ofegando muito a encarou. Os olhos ainda dilatados com seu desejo. —Agora vou tomar um banho rápido, se não ficará muito tarde para o jantar. —Não quer comer o que restou do almoço? Eu não estou com

muita fome. —Isso tudo é para se livrar da cozinha? —Aslan perguntou jocoso. —Não, apenas acho besteira cozinhar, sendo que tem comida. Aslan a olhou pensativo. Ele estava duro. Uma vontade suprema em tê-la agora, nesse momento. A cabeça debaixo reagiu pulsando, por isso concordou. —Tudo bem. Então use a carne que descongelou para cozinhar algo amanhã para você comer no almoço e as sobras do que fizer comeremos no jantar. —Eu estou não estou muito segura ainda para cozinhar. Podemos usar a carne à noite e fazermos o jantar juntos? Ele suspirou. —Cozinhar não tem mistério. Se você não colocar em prática seus ensinamentos, nunca irá realmente aprender. —Tudo bem, eu tento fazer o ensopado amanhã. Ele assentiu e a encarou demoradamente. Constrangida, Sila desviou os olhos dos brilhantes e intensos dele. — Allah! Preciso tê-la, canin (querida). Num movimento rápido ele a surpreendeu a pegando no colo. Ela arregalou os olhos. — Chega do conversa! Se não precisamos fazer o jantar, meu banho pode ficar para depois. Sila o encarou completamente sem palavras. O coração batendo violentamente em seu peito e rápidas respirações se fizeram presentes sabendo o que a esperava nos braços dele. Não demorou muito estavam no quarto.

Não levou um minuto suas roupas no chão. Pronto! Estavam entregues a paixão arrebatadora, nesse momento nada importava, apenas ela e o deus do sexo. Depois de muitos toques, a boca dele em vários lugares, naquela doce e suave tortura, Aslan agarrou com força suas nádegas se aprofundou nela, com força e velocidade e o ritmo perfeito se iniciou e com direito a pausas para ele beijar sua boca e lamber seu pescoço. O ritmo então foi aumentando e Sila gemeu alto ouvindo Aslan sussurrar palavras desconexas em seu ouvido. A explosão logo aconteceu, a levando ao gozo intenso e prolongado.

No dia seguinte, girou o corpo devagar para observá-lo. Assim, de olhos fechados, sereno, ele era adorável. Conteve-se para não beijar seus lábios, talvez isso o acordasse. Ia levantar-se. Ele andava chegando tarde, com a desculpa do trabalho. Chegava a hora que bem entendia. Isso agia nela como um coceira que ela não conseguia coçar. Talvez por ser muito jovem, apenas

vinte anos, diferente dele, dez anos mais velho que ela, um cobracriada, experiente o suficiente para levá-la no papo. Não confiava nele. Sempre que ele tomava banho, fuçava em seu celular. Não havia encontrado mais nada, contudo, nem assim seu coração sossegava. Ainda não sabia ainda se desfrutaria do paraíso, ou se conheceria mais uma vez o ardil do inferno. Allah! Não queria pensar nisso, ele a fazia tão feliz. Suspirou e virou o corpo do outro lado da cama e tentou dormir novamente. Pouco tempo depois sentiu o beijo de Aslan e ouviu os passos dele se afastando para mais um dia de trabalho, só então Sila se levantou. Ela foi até o banheiro e olhou-se no espelho. Sorriu para o seu reflexo ao se deparar com um brilho em seus olhos que não havia antes. E pensar que um dia já pensara em tomar veneno de rato e morrer. Se sentia estranhamente feliz. Aslan era responsável por isso. Sua razão às vezes atrapalhava dizendo que ele era mestre na arte de fazer sexo e que ela não deveria ficar deslumbrada com ele... Razão ou coração? Às vezes se dividia entre argumentos e sensações e chegou à conclusão de que só tempo diria no que acreditar. Depois de se trocar foi até a cozinha e se deparou com a seguinte situação. A carne estava preta e cheia de formigas. Ela havia a esquecido em cima da pia.

Viu o copo de Aslan em cima da pia sujo, com certeza ele tinha visto a carne e deixado para ela ver o que acontecia quando ela ficava muito tempo fora da geladeira. Quando ia pegá-la para jogar fora, notou o bilhete na mesa da cozinha. Leu:

Bom dia meu anjo, como viu a carne precisa ficar na geladeira, jamais exposta deste jeito. Depois de jogála no lixo, feche-o e livre-se dele. No corredor há uma portinhola para o descarte. Aslan. Que letra linda.... Sila fez exatamente como Aslan a orientou e se livrou da carne mal cheirosa. Fez um café para ela e começou a lidar com a casa e colocou algumas roupas para lavar. Na hora do almoço, sem carne para cozinhar, resolveu fritar um ovo para si e comer com pão. Quando ia se preparar para fazer seu almoço, ouviu o toque do seu celular. Claro que era Aslan. —Oi. —Leu o meu recado? —Li. —Irá comprar comida? —Não, eu pensei em fritar um ovo, comer com pão e salada. Aslan riu do outro lado, como se apreciasse o fato de ela

tentar fazer algo na cozinha. —Está certo. Então tire uma nova porção de carne para fazermos o jantar. —Ok. Você vai demorar hoje? —Não sei, se não surgir nenhum imprevisto de última hora... Sila soltou o ar se negando a pensar nisso. —Está certo —disse secamente e desligou. Respirou fundo para se acalmar e encarou o fogão. Allah! Era a primeira vez que lidaria com ele. Abriu o monstro do fogão e pegou a frigideira que ele guardava dentro do forno, a mesma que Aslan tinha usado para fazer omelete naquele dia. Colocou uma generosa porção de óleo e acendeu o fogo. Depois de muito brigar com o ovo e três irem para o ralo, — em suas tentativas frustras de depois de abrir a casca mantê-lo dentro dela— resolveu abri-lo debaixo de um prato. Pronto. Por que não pensara nisso antes? Virou o prato e deslizou o ovo até o óleo, que estalou quando o recebeu e deu uma leve estourada. Deu um passo para trás assustada, o coração agitado. De longe do fogão ficou vendo-o fritar. Com um garfo, foi até a frigideira e segurou o seu cabo. Espetou a clara já dura e tentou virá-la do outro lado. Ufa! Conseguiu. Sorriu. Esperou que ele tostasse do outro lado. Quando pronto, com grande dificuldade conseguiu passá-lo para o prato.

Ficou olhando para ele não gostando muito da aparência. Ele estava diferente do que costumava comer, mas para seu primeiro ovo estava bom. O cheiro de óleo queimado a lembrou que precisava desligar o fogo. Desligou. Fez a salada e enfeitou seu prato deixando o ovo em destaque. Num cantinho colocou o pão. Tirou uma foto e enviou para Aslan, com a mensagem: Consegui! Aguardou ansiosa ele responder. Não demorou muito ele respondeu: Parabéns! De fome não morre mais. Ela respondeu: Engraçadinho

A noite chegou e nada de Aslan chegar. Ele havia ligado uma hora antes dizendo que traria o jantar, que iria se atrasar. Isso sempre a incomodava. Aslan era um mistério para ela. Claro que era. Quando ele quis realmente conversar com ela, lhe contar

sobre sua vida, ela sempre o brecou e agora não sabia como se achegar a ele. Tinha vontade de perguntar muitas coisas para ele, mas seu orgulho não deixava. Minutos depois ele chegou. Parecia exausto. —Oi meu anjo. Desculpa a demora —estendeu a sacola com duas marmitas. —Nosso jantar. Por que não o esquenta enquanto tomo banho? Sorriu. —Está certo. Pouco tempo depois jantaram juntos. A comida que ele havia trazido estava uma delícia, mas o silêncio começou a lhe incomodar. Nos minutos que se seguiram, tudo o que ela fez foi olhar para ele, morrendo de vontade de bombardeá-lo de perguntas. Contudo a sua expressão cansada a brecou. Quando terminaram de jantar, Aslan se levantou da cadeira e ela o avistou pegando um remédio. —O que foi? —Estou morrendo de dor de cabeça. Às vezes tenho enxaqueca. Até essa luz me incomoda. Fungou. —Vai se deitar e eu arrumo a cozinha. Ele forçou um sorriso para ela. —Obrigado, adorável esposa. Às vezes nem tanto.

Capítulo 12

Dia seguinte... Sem sono nenhum para permanecer na cama, levantou-se devagar. Foi até o guarda-roupa e pegou uma calça de veludo preta, vestiu então uma camiseta branca e colocou uma blusa de lã da mesma cor da calça, pois estava frio. Antes de sair, relanceou o olhar para o marido que ainda dormia serenamente. Uma bela imagem. Ele estava parcialmente descoberto e tinha virado o corpo no seu sentido. Que rosto lindo. Os olhos fechados, os lábios entreabertos. Observou então o peito másculo coberto por pelos. Sentiu seu corpo aquecer lentamente. Allah! Ele lhe dava calor. Desviou os olhos dele e focou no relógio digital no criadomudo. Seis horas. Hoje era quinta-feira. Daqui à meia hora o celular de Aslan tocaria para mais um dia de trabalho. Pensando nisso, procurou o celular dele com os olhos. Apenas Aslan entrava em contato com ela durante o dia. Perguntando se estava tudo bem, ou se ela precisava de alguma coisa, que ele compraria no seu almoço. Seu orgulho impedia que ela ligasse para ele, ou o procurasse quando ele se demorava no trabalho. Muito diferente da mulher que aquele dia, tinha lhe dito que o chamaria para uma conversar de vídeo. Não queria segurá-lo dessa forma, sob rédeas curtas. Queria

sentir firmeza no casamento, confiar nele. Afastando os pensamentos, saiu do quarto e foi silenciosamente até a cozinha. Arrumou a mesa do café, colocando tudo que achava que Aslan poderia querer agora de manhã. Não sabia o que ele comia. Era a primeira vez que ele a pegaria acordada. Apenas via Aslan quando já estava fechando a porta do quarto depois de ter sentido seu beijo na testa. Manuseando a máquina tirou dois cafés fresquinhos e esquentou o leite deixando-o com uma espuma alta. Ouviu os passos na sala. Seu coração imediatamente se agitou no peito. Se preparou para sua entrada na cozinha. Nunca dava as costas para o seu marido. Sentia-se indefesa. Embora suas palavras saíssem sempre serenas, ele era muito letal em seus gestos. Nunca sabia o que esperar dele. Nesse momento ele entrou. Já vestido para enfrentar seu dia de trabalho. Ela sentiu arrepios na espinha ante sua bela visão. Hoje ele estava especialmente bonito com um terno cinza chumbo, camisa cinza claro e gravata preta. A luz do cozinha iluminando seus cabelos muito negros lhe deram um charme ainda maior. Allah! Não se acostumava com sua beleza, para não dizer que ele era extremamente sexy... esplendoroso. Estremeceu. Sem conseguir se conter reviveu as cenas dos dois na cama e dentro de si se lamentou: ontem ele dormiu direto, nem a tocou.

Aslan arqueou levemente a sobrancelha e abriu um sorriso para ela. —Levantou-se cedo. —É, perdi o sono. Ele observou seu rosto calado, por um breve tempo. Então sorriu debochado. —Espero que seja mais que isso. Que realmente você esteja levando seu lado de esposa à sério —ele disse sorrindo. O quê? Allah! Como ele conseguia lhe tirar do sério. —Como? É isso que se resume ser uma boa esposa? Te servir? Ele suspirou e balançou a cabeça em desalento. —Allah! Sila! Eu não quis dizer isso e foi apenas uma brincadeira —suas falas saíram como um lamento. Não era arrogância que ela estava vendo nele agora e sim fraqueza e ela se sentiu culpada por sempre ver o lado mau das coisas. —Bem —ele olhou o relógio —obrigado pelo café. E quanto a mesa, eu não costumo comer nada pela manhã. Isso confirma minhas palavras que não preciso nada disso. Ah e trarei o jantar essa noite, só faça o almoço, não precisa preparar nada. —Eu esqueci de tirar a mistura de novo... —Sila disse se sentindo agora uma péssima esposa e muito incomodada por isso. Aslan sorriu, mas não disse nada. Avançou e pegou a xícara da mesa e tomou seu café num gole só. Não estava quente? Pelo jeito não.

Ele deixou a xícara na pia e deu um passo em sua direção. Sila recuo alguns passos para trás assustada. Ele chegou bem perto. Seus olhos nos seus. Sua presença esmagadora, seu cheiro e sua respiração quente no seu rosto eram uma combinação tentadora demais, e ela se sentiu fraca, como se ele sugasse suas forças. Sua cabeça se inclinou ainda mais e ficou apenas alguns centímetros da sua. Então sua mão segurou a sua cintura, diminuindo a distância entre eles. A outra segurou seu queixo e ele a beijou lentamente nos lábios. Um beijo suave, quente, macio... Allah! Ele a quebrava desse jeito e sabia disso. Precisava manter Aslan longe de seu coração. Allah! Não podia fraquejar! Ainda não! Precisava entender esse homem. Ele o olhou nos olhos. —Um bom dia para você e....até a noite—disse, e ela viu o duplo sentido em suas palavras. Sua boca então tomou a sua com tudo, e ele lhe deu um beijo duro, sem dó, de arrancar-lhe o fôlego. Só então ele a afastou e olhou novamente. Allah! Ele adorava tirar seu equilíbrio. Um sorriso se formou em seus lábios, os olhos brilhavam triunfantes. Então ele se afastou lentamente e seus corpos por fim se separaram, mas ela podia ainda sentir o calor dele em seu corpo. Ele se virou e deixou a cozinha. Segundos depois ela ouviu a porta se fechar lá na sala. Sila caiu sentada na cadeira. Passou a mão nos olhos,

sentindo como se um furacão acabasse de passar e a deixasse no caos.

A noite chegou e com ela a espera de Aslan. Resolveu tomar um banho para relaxar. Depois, sei lá quanto tempo, saiu do chuveiro e ele ainda não havia chegado. No quarto ergueu os olhos e deu com o rádio relógio. Oito horas. Tentou se distrair com a televisão. Nove horas.

Quem trabalhava até a essa hora da noite? Dez horas. Allah! Como um animal raivoso, andou pelo quarto de um lado para o outro falando um monte de maldições. Dez e meia. Dez e quarenta. Quando ouviu a porta da sala se abrir, olhou o relógio novamente, dez e cinquenta da noite. Saiu furiosa. Tão logo Aslan entrou, ela surgiu, seus olhos fuzilaram seu esposo. Ele estava com uma cara estranha, mas nem isso a brecou: —Onde você esteve até essa hora? E se vier com o papo que estava trabalhando eu não vou acreditar. —Trouxe uma pizza —ele disse a erguendo a caixa. —Allah! É essa a sua resposta? Aslan olhou para cima como se clamasse por paciência a Allah. Então jogou a embalagem que segurava sobre a mesinha da sala e a encarou. —É. Por enquanto é essa a minha resposta —disse retirando o seu terno calmamente. Isso a irritou. Seus olhos então notaram a camisa amassada, bem suja. Por que ele estava sujo desse jeito? Piscou sem entender. “Mantenha a dignidade, isso tudo pode ser um jogo.”, sua razão a alertou.

Ele a encarou, então lhe deu uma risada amarga. —Comprei a pizza no drive thru agorinha, ela está quente. Por que não vai colocando a mesa enquanto tomo banho? Não vou me demorar. Ela piscou com suas palavras. E ele então se virou e se afastou dela até sumir no corredor. Comer? E ela tinha cabeça para comer?! Agora seria assim? Ele chegaria a hora que bem entendesse e a engordaria como um boi cevado? Não arrumou mesa nenhuma. Ficou ali na sala, nervosa, andando de um lado para outro, esperando ele tomar banho e então conversar direito com ela. Nas sombras do corredor ele a encarou de um jeito enigmático. Minutos depois Aslan avançou e entrou na sala iluminada. Seu olhar se intensificou nos dela, a energia dele percorreu seu corpo como uma descarga elétrica. Estava lindo como sempre, vestindo uma camiseta branca o shorts preto de dormir, os cabelos molhados. Cheirando tão bem... Quando ele avançou mais, seu corpo como sempre reagiu ao dele, lhe dando ainda mais raiva. Mais dela do que dele, por sempre ficar tão afetada por ele. —Muito bem. — Parou de frente a ele, cruzando os braços num gesto defensivo. — Eu quero uma explicação. Ele balançou a cabeça e sorriu. —Sei que quer—ele então encarou a mesinha. —Pelo jeito não arrumou a pizza nos pratos. —Não mude de assunto!

Ele riu dela. —Estou cansado, morrendo de fome. E hoje meu dia não foi nada bom, então essa conversa terá que esperar. E até lá, você pensa em um monte de palavras boas e sinceras para pedir desculpas por se irar sem razão com seu marido — ele disse calmamente, seu tom levemente debochado. Allah! Ele nem tentava disfarçar isso! Passou por ela e ela viu o jeito estranho que ele pegou a caixa de pizza e se dirigiu a cozinha. Inconformada com seu gesto arrogante, marchou atrás dele até lá. Elegantemente ele começou a se deslocar por ela, abrindo a caixa e pegando os dois pratos. Foi então que reparou no sorriso dele cada vez mais crescendo, parecendo se divertir com ela. Ah! Ela o odiava. Saiu da cozinha furiosa e foi para o seu quarto. Andando de um lado para o outro, se sentindo um animal ferido começou a dizer para si mesma: —Ele não me tocará mais! Não mesmo! Agora ele me deu grandes motivos para isso, até então eram apenas suspeitas do homem que ele era. Aslan surgiu no quarto. —Não vai comer? O brilho enigmático de seu olhar a enervou ainda mais. —Você acha que eu tenho cabeça para comer depois do que fez? O olhar de Aslan se transformou. Foi do passivo ao gélido. Ele a olhava com uma grande dureza agora. Allah! Quando ele queria, conseguia ser intimidante.

—É? E na sua mente poluída, o que foi que eu fiz? —Antes de ela dizer um sorriso amargo rasgou sua boca firme. —Antes que diga qualquer coisa, minha pizza está esfriando. Se não vai comer, eu vou. Estou morrendo de fome. Então teremos essa conversa depois— ele disse com o timbre autoritário e deixou o quarto. Maldito! Ele estava toda hora se colocando como vítima, como se ela fosse errada. Ah! Ele não a enganaria! De jeito nenhum! Meia hora depois ele voltou para o quarto. Ela o esperava sentada na cama. Quando ele entrou, se levantou com aquele instinto de se proteger de qualquer investida. Sila o encarou com uma postura séria, sem vacilar, apesar do impacto de vê-lo, lindo e com esse ar cansado. Ele respirou fundo e seus olhos se estreitaram, depois os passou por cada pedacinho de seu rosto em vistoria. Ela sorriu amarga. —Todo esse tempo que levou, foi para encontrar uma boa desculpa? Ele não respondeu e ainda riu dela. — E então? — ela disse com raiva, os braços estendidos ao longo do corpo, os punhos cerrados. —Sila... Do que exatamente estou sendo acusado? —O casamento é algo bem sério. —Agora é algo sério? Tão sério para você que quer se separar daqui há seis meses? Sila ficou desnorteada com as palavras dele, então se recompôs. —Isso não te dá o direito de me trair! Casamento é um

acordo de confiança. E você o quebrou, saindo com alguma puta! E não negue! Não me venha com desculpas esfarrapadas! Seu sorriso a fez querer socá-lo… —Então acha que virei com desculpas esfarrapadas? Bem, Sila, saiba que nosso acordo ainda está em pé e intacto. Sila se negou a acreditar se sentindo passada para trás. Como pode nascer tão desventurada? Se ligar a um homem como ele? — Sei que essa é sua natureza Aslan. Confesse. Você não resiste um rabo de saia! — Disse elevando o queixo. —Eu estava no hospital tirando uma chapa. Sendo medicado. Eu tive um pequeno acidente. Como? Hospital? Sendo medicado? Sila piscou aturdida, mas logo a razão a tomou: isso é um jogo e ele é um bom jogador. —Não acredito! —Sim. Acredite. Claro que isso era uma mentira! Ela ergueu a cabeça e apontou o dedo para ele: —Você não me toca mais! Saiba disso! Aslan passou a mão nos olhos, parecia cansado. —Não acredita, então? —Não! —Pois sou e que não acredito que terei que fazer isso! Que

minhas palavras não bastam! Ele foi puxando com dificuldade a camiseta e Sila deu com a região esquerda do seu tórax toda roxa. O encarou pasma, ainda sem entender. Suas pernas fraquejaram, estremeceu, agora se sentindo culpada. — O que aconteceu? —Meu escritório fica na parte mais alta da fábrica. Através da grande extensão de vidros tenho uma ampla visão dela. —E? —Perguntou aceitando sua derrota, vencida. —A escada, que uso para me levar até lá, estava avariada. O tempo e a falta de manutenção foi a causa disso. O degrau cedeu e eu rolei escada abaixo, por sorte, “pra mim é claro”, não quebrei o pescoço. Acho que teria gostado se isso acontecesse. Eu te faria uma viúva alegre. Não gostou da brincadeira “viúva alegre” Seu coração se apertou e isso a fez perguntar na defensiva: —Por que você não me ligou? Avisou do ocorrido? —Se olhar meu celular verá que a acabou bateria. E a dor que eu estava sentindo, na verdade ainda estou sentindo, não me permitiu pensar em muita coisa. Seu coração pulou e depois se apertou novamente, bateu num ritmo todo confuso. Acho que aliviado por ele não tê-la traído e triste por ter desconfiado dele. Contudo, ainda não se rendeu e perguntou na defensiva: —Por que você não pediu para o seu tio me ligar, me avisar? Ele foi com você no hospital, não foi? Interpretando ainda seu jeito rude de falar com ele, Aslan arqueou a sobrancelha perfeita, e a encarou bem sério. —Não. Todos já tinham deixado a fábrica quando eu caí —ele

então pegou a camiseta e a colocou com dificuldade e então a encarou todo dono da razão, da situação. — Agora quero um pedido de desculpas. Nada saiu de seus lábios por um tempo e ela recebeu um olhar duro e penetrante. Sila respirou fundo: —Tudo bem. Admito que errei em ter te julgado. Mas eu tinha todos os motivos do mundo. —Motivos do mundo? Depois dessa vou dormir.

Capítulo 13

Na manhã seguinte, sexta-feira. seis dias de casados. Sila acordou com a luz do sol incidindo em seu rosto. Virouse na cama e percebeu que Aslan já havia saído. Ela sempre acordava com um beijo dele, dessa vez ele não a beijou. Devia estar chateado com ela. Tentou não se abalar por isso. Estava acostumada com a solidão, era assim a sua vida, não por opção. Recostou-se nos travesseiros pensando nisso.

As horas se demoraram a passar. Ela ficou o tempo todo agitada, a culpa por ter desconfiado de Aslan martelando em sua cabeça e raiva também por sentir isso. Quando foi cinco horas da tarde ouviu o som da fechadura. Estranhou o horário. Ele nunca chegava esse horário. Imediatamente desligou a televisão e foi até a sala, ansiosa para vê-lo.

Ele não estava só, o tio dele estava com ele. Com certeza pelo horário e a presença do tio demonstravam claramente que Aslan não estava bem. —O que houve? —Nada — Aslan disse meio mal humorado para ela. —Ele precisa se deitar, não deveria ter saído de casa. Abusou, e agora está morrendo de dor. Não consegue nem dirigir. —Obrigada tio, por tudo. —Aslan o cortou. —Você deveria ter arrumado aquela escada. Bem que eu avisei. —Eu sei meu tio, águas passadas. Zeki assentiu e depois de observá-la acenou com a cabeça para ela numa despedida e saiu. Sila fechou a porta e avistou o marido já no corredor. O seguiu. No quarto ficou olhando para ele, sem saber muito o que fazer. Quando ele tentou tirar o terno ela se apressou em ajudá-lo. —Você já tomou o remédio? —Tomei. Agora eu só quero me deitar para essa maldita dor passar. —Então foi grave sua queda? —Eu trinquei duas costelas. —Você se feriu desse jeito e ainda assim foi trabalhar? Ele não disse nada e se sentou na cama. Quando Sila percebeu a dificuldade de Aslan retirar os sapatos, mesmo com os pés, ela se ajoelhou e o ajudou. Aslan ajeitou os travesseiros e se deitou com dificuldade na

cama, mesmo com ela o ajudando erguer as pernas. Quando ele estava instalado, embora ofegante pela dor, perguntou a ele: —E então? Aslan que estava com os olhos fechados e com cara de dor a encarou: —Então o que, Sila? —Por que não ficou de molho em casa? Ele sorriu amargo. —Como se eu pudesse me dar ao luxo disso. Ela balançou a cabeça. —Eu tenho medo dessa sua ambição. Ele suspirou. — Mais um defeito para a minha lista. Agora eu sou ambicioso? Ela riu dele. —E, por acaso, você não é? Aslan a olhou furioso, inteligentemente Sila recuou, antes de entrar numa briga. Ele não estava bem para isso. Sila foi até a cozinha sentindo um peso no coração. No fundo não gostava de brigar com ele, mas quando se via, estava falando coisas que deveria guardar para si. Ele tinha partes da herança dela, que não era pouca. Precisava se matar de trabalhar? Suspirou, encarando o fogão. Depois de olhar os vídeos do que fazer com ovos, resolveu fazê-los mexidos. Uma receita que parecia ser fácil.

A garota do vídeo apenas besuntou a frigideira com óleo, não exagerou. Ela então jogou partes do que usou para fazer o ovo em uma panela e seguiu passo a passo a receita que assistiu no youtube. “Allah! Não é que ficaram bons?!” —disse a si mesma. Vendo as cores variadas que deixou o tomate, a salsa e a cebola. Ajeitou uma salada de folhas no prato, temperada com azeite, limão e sal. Então colocou os ovos mexidos e ao lado um pedaço de pão. Quando entrou no quarto, Aslan não estava na cama. A porta do banheiro se abriu e ele saiu dele, enchendo o quarto de vapor. Estava com uma camiseta branca e seu short de dormir. Sila ofegou com sua bela imagem. Seus pensamentos fiaram caóticos indo da razão ao sexo despudorado. Nunca deu vida a esse tipo de pensamento. Mas esse era o efeito que Aslan produzia nela. Ele caminhou até a cama, os olhos sempre fixos nos seus. Aproveitou o momento para estudá-lo também. Ele parecia bem. —Você conseguiu fazer o jantar? —Fiz —ela disse orgulhosa de si mesma e baixou o prato para ele ver. Aslan assentiu e então ajeitou os travesseiros e se sentou, apoiando as costas neles. —Você parece melhor —disse para ele. —Sim, o remédio fez efeito. —Que bom. Saiba que não te desejo mal. Ele riu. —Ah, bom saber. Então não tem nenhum veneninho de rato aí dentro? Sila respirou fundo. Resolveu ignorar o comentário dele.

—Toma, segure. Eu vou buscar o suco. Pouco tempo depois ela voltou e ele já havia devorado tudo, estava comendo a fatia de pão que era a única coisa que havia sobrado no prato. —Parabéns! Muito bom —ele disse com um sorriso lindo lhe estendendo o prato vazio. Ela sorriu, quase prestes a sucumbir ao seu feitiço. "Que homem lindo", pensou. "Contudo, perigoso demais" Sua razão argumentou. "Ele é bom com as palavras. Lembre-se que não foi o amor que o motivou a se casar com você. Lembre-se bem disso!" Sila não sorriu em resposta. Pegou o prato vazio das mãos dele e estendeu o suco de uva, que ele tomou num gole só. Ela pegou o copo vazio. —Agora pensei em assistir um filme. Por que não assistimos juntos? Sentiu-se estranha com seu convite. Parecia tão íntimo compartilharem esse momento, mais do que o sexo sem compromisso que faziam. Havia muita coisa reprimida dentro de si. Uma vida de rejeição. Coisas que evitava relembrar para não se ferir. Por isso era mais fácil ver o lado ruim da coisa. Não suportaria ser enganada. Não por ele. Às vezes chegava a se iludir, permitindo que um lado de si lhe dissesse que o tempo lhe mostraria o quanto estava errada com Aslan. — Eu não estou com vontade de assistir filme e ainda não jantei.

—Tudo bem, mas quando terminar o jantar se una a mim, me faça companhia — disse sem retirar os olhos do seus. Sentiu sua face ruborizar e não lhe disse nada, deixando seu pedido no ar se virou e saiu do quarto, indo em direção à cozinha. Contudo o sentimento de perda apertou seu coração, como se estivesse deixando o que a vida lhe oferecia de bom para trás, se embrenhando mais em um mundo de amargura. “Não! Não podia se sentir assim!” “Lembre-se de que sua vida perfeita... não é exatamente perfeita. Vai com calma! Não crie ilusões.” “Ele deve ser ótimo em jogos de sentimentos. Levou sempre uma vida sem compromisso. Só você relaxar e ele aprontará com você.” "Lembre-se de seus objetivos", disse a si mesma. "Você é inteligente o suficiente para não cair em armadilhas.”

Depois que jantou ficou na sala um bom tempo mexendo no celular. O tempo suficiente para Aslan assistir ao filme e dormir. Pouco depois das nove horas se dirigiu ao quarto. Encontrou o marido deitado de barriga para cima dormindo. Tadinho. O tempo que estavam juntos sempre o observou dormir de lado, devia estar bem dolorida a região. Depois de respirar fundo, foi atrás de sua camisola e a

vestiu. Deitou-se de mansinho ao lado dele, com medo de acordá-lo. —Está me evitando? —ouviu Aslan dizer. O coração de Sila disparou e ela olhou para ele, mas ele não olhava para ela, estava de olhos fechados, mas ela sabia que ele esperava sua resposta. —Não queria te atrapalhar. Suas palavras o fizeram virar a cabeça e seus olhos fixaramse nos seus. —Atrapalhar-me? —Sim. —Posso saber no que me atrapalharia ficando ao meu lado? —Você estava assistindo seu filme, como eu não estava muito a fim de assistir fiquei na sala, só isso. Aslan soltou o ar. —Sei que foi criada num covil de lobos. Que sempre foi cercada por gente falsa, mas isso não pode afetar nossa relação. Você percebeu que está fazendo uma leitura errônea de mim? —Errônea? —Sim, errônea. —Aslan. Se coloca no meu lugar. Eu fui obrigada a me casar. Não me casei por opção. Não me casei com o amor da minha vida. Quebrou esse sonho que alimentei desde menina. E pior! O homem que me casei, apenas se casou comigo por causa da minha herança. Então fico sabendo que este mesmo homem sempre foi volúvel em seus relacionamentos e como um passe de mágica se interessa por mim. Justo eu?! Aslan respirou fundo para manter sua calma. —Sila, como você tem um passado, eu também tenho. É isso que você está fazendo, repetindo o que as pessoas fizeram com

você. Está me julgando sem me conhecer. —Não! É diferente. Elas me culpavam sem razão. O grande pecado era da minha mãe. Eu não tenho pecado nenhum. —Ah, agora sou pecador? —Sinto, mas não confio em você—ela disse puxando uma parte da coberta. Então se levantou e pegou o travesseiro. —O que está fazendo? —Vou dormir na sala. Foi saindo do quarto. Sim, estava fugindo. Sempre fazia isso quando sentia seu coração querendo ceder. —Isso, aproveita que estou com dor, que quase não consigo me mover, porque caso contrário, com certeza, essa conversa não acabaria assim. Ela estremeceu com as falas dele, sabia que isso era uma grande verdade. Contra isso ela nunca poderia lutar. Quando Sila deixou o quarto, Aslan se manteve ali processando tudo que ela disse com seu jeito frio. Seu comportamento. Allah! Ele não sabia como quebrar o muro de resistência dessa mulher. Pelo encadeamento lógico dela realmente tudo era contra ele, Sila tinha um fundo de razão, mas ela precisava abrir seu coração. Ela precisava ceder para conhecê-lo melhor, porra! Saber que ele se casou realmente por um interesse real nela e não somente pela porra de sua herança!

Capítulo 14

Sábado. Primeiro final de semana juntos... Pela primeira vez se deparou com Aslan de mal humor. Não sabia se ele estava assim por estar com dor ou por terem discutido ontem. Ambos? Tão logo ele se levantou se enfiou no escritório. Só saiu de lá perto do almoço, só então se dirigiu a ela. Sila estava na cozinha pensando em fazer o omelete novamente quando ele surgiu lindamente vestido com uma calça preta e uma camisa da mesma cor. O semblante fechado, como um de um pugilista. Sila engoliu em seco. —Você não vai fazer omelete novamente, vai? —ele perguntou olhando para os ovos na pia. Ela respirou fundo. —É a única coisa que sei fazer bem. —Tem carne descongelada? Ela acenou um sim. —Ontem separei para fazermos algo com ela hoje. Está na parte debaixo da geladeira. Mas como se enfiou no escritório, achei que não fosse cozinhar. —Como sempre, pensou errado. Pegue-a! A faremos cozida com legumes e molho vermelho. Depois poderemos usar o molho no macarrão. Sila colocou tudo que ele precisou no balcão. Pelo jeito ele estava com dificuldade em se abaixar.

Em guerra com seus nervos, Sila se sentou na cadeira vendoo preparar tudo. Reparou nas mãos ágeis ao cortar os legumes. Como ele lindamente mexia a carne na panela... —Você poderia fazer o macarrão? —Hum? Aslan deu as instruções: —Pegue uma panela grande no gabinete da pia, encha de água, jogue uma colher rasa de sal, regue com azeite e espere ferver. Ferveu, despeje o macarrão e mexa por alguns segundos para ele se separar um do outro e pronto, só esperar o tempo de cozimento. —Como saberei o tempo do cozimento? Está na embalagem a informação? Aslan riu. —Também, mas eu prefiro prová-lo para ver se ele está no ponto certo. —Entendi. Sila se levantou da cadeira. Não sabia por qual motivo estava se sentindo nervosa. Ele está todo dolorido, então isso o torna inofensivo e somando-se a isso, o jeito arredio dele demostrava claramente que ele não estava muito a fim de gracinhas. Ela fez tudo conforme ele a havia instruído. Então ficou ao lado dele mexendo o macarrão enquanto ele colocava o molho de tomate na carne com legumes que ele havia preparado. Ela separou o macarrão um do outro para não grudar e quando estava para se afastar ele segurou seu braço. —Hoje não irá fugir. Sente-se! Vamos conversar. Ela estremeceu com o jeito decidido dele lhe falar. Não argumento, assentiu. Ele largou seu braço e ela se sentou na cadeira e ele ocupou outra.

—Você acha que me interessei por você por causa da sua herança, certo? Saiu dela um riso amargo. —E não foi? Aslan, você sabe que foi assim. Chegou ao meu conhecimento que estava indo à falência. Que foi um gesto extremo se casar comigo para sair das dívidas. As narinas de Aslan se dilataram demonstrando sua irritação. —Pois bem. Quero que saiba que não estou usando sua herança para tentar tirar a empresa do buraco. Essa informação a pegou de surpresa. Não podia ser verdade. Como? Se ele se casou com ela por causa disso? —Aslan, não vamos estragar nosso almoço. —Você não acredita? Como não acreditou ontem, achando que eu estava com outra mulher? Eu precisei retirar a minha camiseta para provar minhas palavras. Quer que eu traga o extrato bancário, para você ver que está tudo lá, que só retirei o valor do seu celular e que por sinal é melhor do que o meu? Seu coração bateu descompassado no peito. Ficou estática, o encarando sem falas. Seria isso verdade? Ela desviou os olhos dele. Por que ele mentiria? E por que ele tomou essa decisão se ele se casou interessado na sua herança? Não sabia como reagir ante a informação, e ao mesmo tempo não queria que ele soubesse o quanto isso a afetava.

Ficou com medo do que ele lhe provocou com suas palavras. Por isso limpou a garganta um pouco antes de responder dizer de um jeito ácido: —Mexi com seu ego masculino, quando te acusei de aproveitador de mulheres, então resolveu se esforçar por mais um tempo? Silêncio, seus olhos cravados em seu rosto e Aslan a analisou por tempo demais. Então respirou fundo e soltou o ar devagar dos pulmões. —Realmente você consegue distorcer tudo—ele disse balançando a cabeça de um jeito desolado e então deu um sorriso amargo antes de se levantar da cadeira. Colocou a mão no tronco quando sentiu dor, a dor física se misturava com outra coisa em sua íris negra. Ele então se afastou e foi olhar as panelas. Allah! Isso foi pior que se ele tivesse gritado com ela. Sila sentiu um peso enorme no coração, como se um elefante tivesse sentado em cima dele. Era tanto medo de se magoar com ele que ela não tinha uma reação normal. As palavras pareciam escapar de seus lábios. Quando se via, estava fazendo merda. Uma sensação ruim tomou seu coração e amargou sua boca. Era tão idiota. E se ele estivesse realmente gostando dela? Estaria pondo tudo a perder! Deu-se conta de repente que estava repetindo exatamente o gesto das pessoas, o julgando sem misericórdia, não dando chance dele provar que podia estar errada. Depois disso Aslan a ignorou completamente. Cuidou de tudo, inclusive do macarrão.

Com o coração ficando cada vez menor no peito, Sila resolveu se mexer. Se levantou e ajudou colocando a mesa: estendeu a toalha, pratos, copos, guardanapos e talheres. Momentos depois se sentaram e comeram em silêncio. Ela se odiando por ser o que era. A mulher amarga que se tornou. Realmente sentia muito! Encarou Aslan sentindo um maldito vazio no coração. Cresceu o desejo de quebrar a animosidade que se formou entre eles, mas não conseguiu. A expressão dele estava tão fechada para ela que ela não encontrou nenhuma brecha para conversar com ele. Sila não estava acostumada a implorar atenção das pessoas. Quando a ignoravam, aprendeu ignorá-las também. Tão logo ele terminou de almoçar ele se levantou sem olhar para ela, sem lhe dirigir a palavra. Um suspiro saiu de seus lábios quando o avistou saindo da cozinha, então as lágrimas caíram como se as comportas de uma represa fossem abertas. Allah! Durante toda a sua vida cruzou com pessoas que só ajudaram a ter uma imagem tão distorcida de si mesma. Tão desacreditada que alguém realmente pudesse amá-la sabendo quem era. Tinha que mudar seu jeito! Aslan poderia sim! Realmente estar gostando dela.

Passaram o Sábado inteiro separados, cada um em seu canto. Só se encontravam nas refeições. Aslan ocupou seu tempo intercalando entre se deitar e no escritório, o tempo todo a evitando. Sila ficou na sua, passou o dia se ocupando com leitura e a televisão da sala. Se preparando psicologicamente para enfrentar a voz grave dele, rude que outrora só falava com ela rindo, ou com

carinho. Mas nem isso ela teve. Aslan não apareceu. A evitou o tempo todo. Sentiu-se péssima com isso. À noite, o silencio ainda se fez presente enquanto comeram o macarrão que sobrou do almoço. Aslan a ignorou completamente. Quando finalizou se levantou da cadeira e se afastou. A angústia que sentiu parecia sólida, pesando dentro do seu peito. Cuidou da cozinha pensando em sua atitude. Precisava mudar. Dar uma chance para o seu casamento. Quando ela foi para o quarto o encontrou deitado de barriga para cima, os olhos fechados. Depois de tomar banho se uniu a ele na cama. —Não vai dormir na sala? —ele a surpreendeu dizendo, quebrando o silêncio do quarto. Seus olhos procuraram os seus, a luz do abajur aceso do seu lado os deixava ainda mais brilhantes. —Não. Por quê? Você quer que eu durma na sala? —Seu lugar é aqui. Sentiu se feliz com as palavras dele, no entanto seus olhos rudes no dela lhe deram aquele familiar aperto no peito: tão sufocante, esmagador... Ele desviou os olhos dos dela e os fechou. Ela se aproximou dele: —Aslan... Ele abriu os olhos que procuraram os seus. O rosto dele perdera aquela expressão carinhosa. Observou sua mandíbula flexionar, parecendo nervoso, irritado. Sila pegou a mão dele, mas ele a puxou das suas. Ela não

permitiu e a segurou forte. Aslan ofegou: —Sila, melhor você dormir. Tenho até medo quando abre sua boca. Por favor, não piore as coisas entre nós. Isso era uma grande verdade. Sua história de vida era triste e quando alguém realmente parecia gostar dela, ela agia com desconfianças. Sim, era lamentável seu jeito. Nunca se sentiu tão infeliz quanto agora. Sila beijou sua mão, o surpreendendo. Então o encarou os olhos negros que se intensificaram nos dela. —Aslan, tenha paciência comigo. Ouviu sua respiração se aprofundar, seus olhos a observarem por um tempo. —Mais? Mesmo com seu jeito arredio, tenho lhe dado carinho, atenção, amor. Não percebe isso? Allah! Não conseguiu evitar que as palavras dele a envolvessem. Este jeito dele dizer o quanto tem se dedicado ao casamento era impossível de ignorar. Lutou para não chorar, mas não teve forças para conter as lágrimas e deixou que elas caíssem: — Estar casada com você me obrigou a enfrentar coisas que evitei por muito tempo —se justificou. —Como o que, por exemplo? —Abrir meu coração, confiar nas pessoas... Aslan soltou o ar. —Você é forte Sila, foi forte o suficiente para enfrentar as situações, mas precisa usar essa mesma força e coragem para

apostar nesse casamento. Precisa aprender a confiar em mim. Nenhum casamento permanece sem confiança. Além de seu histórico ruim, era doente de ciúmes por ele. Só de pensar nele olhando para outra mulher passava mal. —Eu sei... Ele respirou fundo. —Que bom que sabe. Mas a pergunta que faço é: você está disposta a mudar isso? Aprender a confiar em mim? Sua mente dessa vez não oscilou: —Sim, Aslan. Aslan passou uma de suas mãos na barba e a encarou novamente como se não acreditasse no que estava ouvindo: —Allah! Parece um milagre. Verdade mesmo? Ela acenou um sim para ele. Ele fungou. —Allah! Você não sabe como é bom saber que está disposta a mudar. —Aslan estendeu seu braço —vem cá! Deite-se comigo. Parecia mais feliz com suas palavras e era assim que ela queria terminar a noite deles. Sem brigas e com a esperança que tudo pudesse dar certo. Ela se deitou com prazer ao lado dele. A mão de Aslan passou sobre ela com volúpia e então beijou seus cabelos. Suspirou. Sila se ergueu e o encarou lhe deu um leve sorriso quando se deparou com os olhos dele cheios de desejo. Sem hesitar, ele a puxou para ele e a beijou. Foi um beijo duro que a deixou com a sensação de ser muito amada, adorada. O desejo tomou conta de si e ela correspondeu

com ímpeto, louca para fazerem amor. Mas foi só ela pesar seu corpo no dele que Aslan gemeu de dor e levou a mão ao tórax. Ela se afastou. —Aí, perdoe-me. Às vezes me esqueço que está machucado. Aslan suspirou. —A dor me lembra toda hora isso. É uma tortura ficar assim com você e não poder fazer nada, mas tem horas que mal consigo me mexer. A expressão de Sila mudou e ela o encarou preocupada. —Você tomou o remédio? —Tomei, um pouco antes de jantar. —Será que levará muito tempo para você se recuperar? — tentou não demonstrar a ansiedade em sua voz. Aslan sorriu com malícia. —Espero que não, meu anjo. Mas acredito que logo estarei bom. Hoje eu me sinto melhor que ontem, e se as coisas irem nesse ritmo, eu me recuperarei rápido —ele então alargou o sorriso — então tiraremos os atrasos. Allah! Só de pensar nisso é uma tortura. Ela sentiu o rosto pegar fogo e sorriu para ele. Aslan ergueu sua mão e enfiou em seus cabelos e segurando sua nuca, a puxou para si e lhe deu um beijo de arrancar o fôlego.... Sentindo seu corpo entrar em combustão, Sila correspondeu, dando mais que seu corpo, se deixando levar pelo seu coração, alimentando novamente aquele pequeno pedaço de si mesma que dizia que ela deveria apostar no seu casamento. Claro que iria com calma. Já tinha nas costas um mar de recordações que a machucavam sem dó. Minutos depois, assim que Aslan adormeceu. O cansaço também tomou conta de si e adormeceu.

Capítulo 15

Dia seguinte... Domingo. Sila acordou primeiro. Acordou enroscada ao corpo de Aslan, seu braço a envolvendo enquanto sua cabeça repousava em seu peito. Sua mão grande e quente em suas costas. O ritmo suave de sua respiração soprando em seus cabelos indicava que ele ainda dormia. Seus olhos, aos poucos, foram se acostumando com a claridade do quarto. Se ergueu para observá-lo. Podia passar uma boiada no quarto que Aslan dificilmente acordava, só com o toque do seu celular para trabalhar, como se seu cérebro fosse programado para isso. Aproveitou para observá-lo mais detidamente. Assim, de olhos fechados, sereno, ele era adorável. Conteve-se para não beijar seus lábios, talvez isso o acordasse. Ia levantar-se. Já passava das nove horas e ela não tinha o costume de ficar muito tempo na cama depois de acordada. Aslan precisava descansar, se recuperar. Disse para si mesma. Queria vê-lo bem, além disso tinha aquele indecoroso desejo de recuperar o tempo perdido. Estava tão mal acostumada... Deixou seus braços devagar, tentando não acordá-lo, mas sem sucesso. Ele respirou fundo e abriu os olhos lentamente. —Bom dia —ela disse. —Bom dia. Já vai se levantar? —Sim, mas fica aqui quietinho. Eu te trago o café. Por que

não assiste algo na televisão? Aslan deu um sorriso torto, muito sexy. —Isso tudo é para eu me recuperar logo? —ele disse cheio de malícia. Sila sorriu, e cortou esse assunto que a deixava sem graça: —Vou trazer o café.

O dia passou maravilhosamente bem entre eles. Aslan, passou a manhã na cama, contudo, como sempre, lhe ajudou com o almoço. Na verdade, era ao contrário... Riu disso. Ela o ajudava. Sila havia separado peito de frango ontem à noite, o colocando na parte debaixo da geladeira para descongelar. Aslan lhe ensinou a fazer um belo empanado, dourado e crocante e depois

um arroz soltinho com ervas. Como ele cozinhava bem! O tempo todo ficou atenta ao preparo da comida. Algumas vezes se distraia, reparando na linda figura de seu marido e a destreza no prepara das coisas. Tudo pronto, ela colocou a mesa e fez a salada. Quando se sentaram para comer, pela primeira vez se sentiu leve ao lado dele, sem aquele peso de ter que rejeitá-lo, afastá-lo de seu coração. Mais tarde assistiram filmes juntos. Aslan adorava um policial. O dia acabou passando rápido, como um borrão. Entre comilanças e filmes que Aslan havia apresentado para ela, quando se deu por si já era tarde da noite. Antes de apagar a luz do abajur do seu lado para dormirem, a adrenalina correu suas veias, pela pergunta que faria a seu esposo: —Você irá trabalhar amanhã? Ele a encarou fixamente, com seriedade: —Preciso. Você sabe que preciso. Sila assentiu para ele. —Não se esforce muito. Se puder venha mais cedo para casa. Aslan sorriu torto. —Pode deixar, eu virei. Estremeceu de prazer com as falas dele e ele sorriu, parecendo perceber sua reação feliz à promessa dele. Aslan então a puxou para si, sua boca tomou a sua. Sila gemeu, não se conteve e aprofundou o beijo, suas mãos se

tornaram ousadas e procuraram o membro dele e ela o excitou, sentindo-o endurecer e pulsar sob seus estímulos. Um prazer enorme a tomou quando ela fez isso. Aslan a fez olhar para ele. Ele a encarava com surpresa, os olhos cheios de desejo. Ela sorriu e puxou as cobertas dando a entender o que faria. Ele nem precisava se mexer. Ela faria tudo. Com um sorriso puxou seu short e cueca sem tirar os olhos dos dele. Aslan a olhava como estivesse vendo uma miragem, ainda não acreditando em seu gesto, em sua inciativa. Sila o estimulou um pouco, curiosa sobre a parte que lhe dava tanto prazer, sentiu seu membro latejar em resposta e estremeceu de prazer. Então se posicionou em cima dele e o ajudou com a penetração. Momentos depois galopava sobre ele em busca do prazer. Fechando os olhos impôs totalmente o ritmo, tentando não mover muito a cama apenas seu corpo no membro duro e poderoso. De vez em quando olhava a linda imagem de Aslan, os gemidos escapando de seus lábios, se segurando para não gozar antes da hora. Cada balanço de seu quadril ela lhe impunha uma tortura. Enlouquecendo os dois. Não demorou muito chegaram ao clímax juntos. Exausta e satisfeita, se deitou ao lado dele. —Allah! Você me surpreendeu. Obrigado por esse presente —ele disse ofegante, rouco. Sila sorriu e pairou sobre ele e lhe deu um beijo nos lábios.

—Eu... precisava de você. Ele sorriu. —Eu também, mas não sabia como pedir isso... Ela sorriu encabulada e ele sorriu e a puxou para ele, e lhe deu um beijo que lhe roubou o fôlego.

Capítulo 16

Uma semana depois... Sábado pela manhã... Observou o marido dormindo. Ficou imóvel por um tempo, absorvendo tanta beleza, saboreando as recordações de ontem à noite. Sorriu. Fizeram sexo com uma intensidade tão esmagadora. Allah! Ele era o deus do prazer. Suspirou. Agora ia fazer um café para ela e depois dar um jeito na casa e então fazer o almoço. Quem diria ela cozinhando. O Youtube ajudou, mas o grande responsável por isso foi Aslan. Ele lhe deu todas as dicas necessárias. Sorriu ao se lembrar da segunda-feira, que foi o dia que tentou fazer um ensopado. Allah! Foi terrível. Tinha separado a carne na noite anterior e procurou no Youtube como fazer um belo ensopado. Foi para a cozinha animada, pois ele realmente mostrava direitinho como se fazia, mas a sua falta de habilidade atrapalhou. Dando início ao seu desastre, cortou o dedo na hora de transformá-la em cubos médios, como Aslan havia dito, contudo, nem isso a desanimou. Na hora de fritar jogou os pedaços no óleo quente, então a explosão dele em seu rosto, isso a fez largar a panela com tudo, e ela foi ao chão espalhando seu conteúdo por toda a cozinha e quase

queimando seu pé. Allah! Que dia! Depois de limpar aquela lambança toda, resolveu comprar comida pronta e esperou Aslan chegar e totalmente sem graça, se sentindo um zero à esquerda lhe contou o ocorrido. Ele riu de chorar, colocou até a mão na parte machucada pela dor que isso causou. Ela não se embraveceu com isso. Ao contrário, foi um momento gostoso entre eles. Ele a fez rir também, até ela achou graça revendo a cena do seu completo despreparo para enfrentar a cozinha. Então a mágica aconteceu, como sempre... Olhos nos olhos. Boca se procurando, mãos se tocando e fizeram amor. Depois ele a puxou pelas mãos até o banheiro e tomaram banho juntos. Banho tomado entre muitos beijos, foram para a cozinha e com muito charme ele começou a lhe ensinar como se preparava um belo ensopado. Suspirou com a cena dele, lindo lhe explicando cada processo, a fazendo entender que ela havia colocado muito óleo e jogado a carne nele muito quente. Seus olhos saíram das lembranças e ficaram vivos no rosto de seu marido. Sem se conter deu um leve beijo nos lábios dele, em seu coração o desejo que tudo desse certo entre eles. Suspirou. Estava cansada demais para lutar contra o que sentia. Queria deixar seu pessimismo de lado, e todo seu passado de dissabores para trás. Passou a mão nos olhos e observou seu marido. Um anjo dormindo. Estava enfeitiçada por Aslan. Como uma mariposa chamada

para a luz. Seu maravilhoso cheiro a atraindo sempre, sem escapatória. Como podia lutar contra isso tudo? A beleza dele era estonteante, um atrativo sem fim. Mansamente foi até ele e lhe deu um leve beijo. Afastou-se lentamente e deu com os olhos dele se abrindo devagar. Quando as íris negras focou as verdes dela, ele sorriu lentamente. —Bom dia —ela disse suavemente. —Bom dia. Tomando coragem, Sila se achegou mais a ele. Os braços fortes logo a envolveram e a trouxeram mais para perto de seu corpo. Sila o afastou de si. —Vou levantar e aprontar o café. Aslan a puxou para ele e beijou seu pescoço lhe provocando arrepios, então a encarou. —Precisa levantar-se mesmo? —sua voz saiu rouca. As pupilas verdes dela fixaram-se nele, roubando-lhe o ar, fazendo-a estremecer de desejo. Ele não errou naquele dia em dizer que ela se viciaria nele. —Não, não preciso... —sussurrou. —Finalmente resolveu deixar as coisas acontecerem entre nós. Sila abaixou os olhos. Sim, um lado seu queria acreditar no casamento, mesmo que seu start tivesse sido o interesse material. Mesmo com a má fama de Aslan.

Seu coração seria mesmo todo dela? Às vezes se perguntava. —Hei? —Aslan ergueu seu queixo. —Eu me enganei? Ainda pensa em viver sua vida longe de mim? Sila o encarou. —Não, não se enganou. Eu realmente estou deixando as coisas acontecerem entre nós. Seus olhos então olharam meio conflituosos para ele. Aslan a olhou sério, a mandíbula trincada: —Mas você ainda não confia inteiramente em mim, ainda tem reservas comigo? Sim, ela não conseguiu tirar isso de sua mente. Tinha um pequena parte dentro de si que se perturbava quando ele demorava mais no trabalho, que ainda olhava o celular dele procurando mensagens reveladoras. Sila desviou seus olhos dos dele constrangida por ser tão horrível. Detestava isso nela! Mas quantas vezes apostou nas amizades, contudo as garotas se aproximavam dela só para a iludir. Elas diziam que seriam suas amigas, mas na primeira oportunidade elas puxavam-lhe o tapete. Todos homens das festas que participou riam dela. Allah! Foi uma vida com tantos dissabores.... —Hei, Sila. Ainda não confia em mim? Ela ergueu os olhos mais recomposta. —Acho que o tempo vai tirar isso de mim. Baixou o rosto. Aslan ergueu seu queixo para ele. Sustentando seus olhos negros com uma intensidade esmagadora. —Ouça. Entendo por tudo que passou e nunca achei certo você pagar pelos erros de sua mãe. Não percebe que sou

diferente? Sila leu a sinceridade no seu rosto dele, sentiu isso em suas palavras: —Que bom que pensa assim.... —Eu tenho a mente aberta. Mais que possa imaginar. Mente aberta? Isso somado ao histórico dele a amedrontava. Estremeceu. Aslan era bonito demais. Não tinha hora certa para chegar do trabalho. Chegava a hora que bem entendia, como se não quisesse ter amarras. E ela não queria migalhas. Ou ele era completamente dela ou não. Às vezes se condenava e se achava uma idiota por pensar isso dele. Uma voz lhe dizia “Claro que ele lhe é fiel, você que é uma traumatizada, uma desajustada” —O que foi? Não acredita? —Que você tem mente aberta? Acredito. —Contudo, ainda assim não confia em mim? —Como eu disse, só o tempo vai tirar isso de dentro de mim. Sei que preciso me libertar disso. Mas é algo que carrego, sem desejar. Aslan soltou um longo suspiro e o observou por uns instantes. —Tudo bem, eu respeito isso. Agora vem cá —ele a puxou para si em um abraço forte— vou te amar de mil maneiras, duvido que vá querer viver longe de mim... Ah que Allah o ouça! Aslan a beijou suavemente e a olhou com adoração.

Será que ela não entendia que isso era mais que uma preliminar, que realmente ele estava gostando dela? Que seus beijos eram todos destinados a ela? Aslan aprofundou o beijo, momentos depois se ergueu. Os olhos dele procuraram os dela. “Queria dizer a Sila que a amava, que podia fazê-la feliz, mas toda vez que partia para uma conversa mais séria, Sila se encolhia.” “Queria tanto dizer a ela que podia confiar a ele seu coração. Não era mais aquele homem vazio do passado, nem se lembrava mais dele....” Numa voz tão branda para um homem de rosto tão forte disse: —Sila... Permaneceu imóvel recebendo seu olhar. Ele estava para lhe dizer algo, parecia algo tão sério, com medo não permitiu, era muito cedo para acreditar em qualquer palavra dele. Precisava viver para crer. Sila colocou o dedo indicador em seus lábios. —Não diga nada, apenas me ame... Ele soltou o ar. —É isso que tenho feito...Não percebe? Sim ele a fazia se sentir desejada, bonita, mulher. Ele que a fizera apostar na relação, ainda que estivesse engatinhando para sua completa entrega. Ele tomou seus lábios com paixão arrebatadora cortando seus pensamentos e suas envolventes mãos começaram a tocar seu corpo nos lugares certos, arrancando gemidos de sua boca. Tocando de leve sua pele, seus lábios escorregaram

lentamente por sua mandíbula, pescoço e pararam no vão de seus seios. Suas mãos abriram os botões da sua feia camisola e ele os expôs. Lambeu seus bicos túrgidos de desejo, se demorando em cada um deles, fazendo-a se contorcer na cama. Aslan se ergueu para olhá-la. Passou a mão nos cabelos dela, de um tom dourado magnífico, espalhados no travesseiro. Eles lhe emprestavam um ar inocente e ao mesmo tempo tão sedutor. Sila parecia uma deusa da beleza, tão linda que ele acreditava que ela fora massacrada por ser tão bela. Pura inveja. Não havia em Erzincan, nem na cidade que ele morou e até nesse bairro—e por que não na Turquia? — uma mulher mais bela do que ela. Observou seu peito subindo e descendo, onde seu coração batia com força pelo poder da atração. —Tira essa camisola. —disse a ela afastando o lençol. Sila ofegou ao ver ele já pronto para ela. Ontem, sexta-feira, Aslan tomou banho e se deitou sem roupa, a esperando se juntar a ele, mas ele acabou adormecendo. Não fizeram amor e agora ele era todo dela... Ela retirou a camisola sem pestanejar, depois a calcinha. Aslan então pareceu se lembrar da proteção, pois enquanto ela fazia essa tarefa ele saiu da cama. Ela se deitou entre os travesseiros à espera dele. Tudo pronto, ele veio, como um lindo predador, os olhos negros fixos nos dela, deixando claro tudo que a esperava. Se posicionando entre suas pernas, ele a penetrou com lentidão, como se quisesse se deliciar com esse momento. Ela gemeu de prazer ao senti-lo inteiro dentro dela, numa explosão de sensações, que como sempre, a tomavam nesse ato.

Ele, então, começou a se movimentar. Eram agora duas pessoas em maravilhosa sincronia. Fazer amor com ele era tão perfeito que chegava a ser poético... Seu peito começou a subir e a descer com intensidade conforme ele mexia dentro dela. Aslan a observou, os olhos verdes brilhantes, os lábios de Sila entreabertos com sua respiração agitada. Nunca fizera amor com tanta entrega. Chegava a ser assustador isso, ainda mais quando Sila insistia na sua indefinição. Movimentou-se dentro dela freneticamente buscando a explosão de prazer. Sorriu feliz ao vê-la se desmanchar em gemidos. Quando o ápice os tomou, saiu de suas bocas um gemido longo. Então lábios se procuraram e ele a beijou com grande intensidade selando essa maravilhosa sensação. Momentos depois ele se ergueu para olhá-la. —O que deseja fazer nesses dois dias que estou em casa? —Você quer dizer, sair? Aslan pegou a sua mão e deslizou o polegar nela com carinho. —Sim. Eu já estou bem e você ficou a semana toda fechada dentro de casa, só saiu para fazer compras. Por isso imaginei que quisesse ir para algum lugar. Sair para se divertir. Sila se sentou, estremeceu com a ideia. Sorrindo timidamente para ele, passou a mão pelos cabelos trazendo todos os fios para um lado do ombro. Aslan se sentou também, os olhos atentos ao lindo rosto que o olhava com um certo deslumbramento.

—Eu não sei... Não tenho o costume de sair. Fui criada dentro de casa. —disse pensativa— onde você planeja me levar? — perguntou animada. Segundo o seu tio Zeki, Sila passou a sair apenas aos vinte anos, sempre acompanhada de seus tios, mas foi apenas com a finalidade de se casar. Eles a enclausuraram dentro de casa. Quem sabe seu tio estava engando. Por isso perguntou: —Já foi ao cinema? Os olhos de Sila brilharam nos dele. —Não. Sim, como seu tio lhe dissera. Nem no cinema eles a levaram. Incrível isso. —Teatro? —Não. —Já foi a um parque fazer um piquenique? Percebeu que ela ficava cada vez mais constrangida. —O que é um piquenique? —Piquenique é comer ao ar livre, aproveitando a natureza. Geralmente as pessoas levam tudo em isopores ou cestas. —Ah, entendi. Mas hoje eu adoraria ir ao cinema —Sila disse animada como uma criança. Aslan sorriu, não demonstrando seu abalo por ela não ter vivido nada da vida: —Tudo bem, então hoje iremos ao cinema, com direito a pipoca e refrigerante. Os lábios de Sila tremeram antes dela sorrir largo para ele. —Maravilha! —ela exclamou animada o fazendo sorrir.

Allah! Essa garota viveu numa masmorra. Foi isolada do mundo, não se admirava em ler tal contentamento em seus olhos de se divertir um pouco, sair da rotina. Chegava a ser quase infantil.

Capítulo 17

Domingo Como foi bom sair do seu mundinho. Como foi bom ir ao cinema com Aslan ontem. Se sentiu tão livre, sem todo aquele conflito pessoal. Assistiram “O menino que queria ser rei.” Nada como um filme da ação para estrear sua primeira vez no cinema. Foi um lindo filme, de uma magia antiga que encontrou o mundo moderno. Hoje, domingo, planejavam ir ao parque à tarde. Depois do almoço. Estava frio, o inverno se fazendo presente e se fossem cedo morreriam congelados. —Então vamos nos levantar? Tomar café e então faremos juntos o almoço. Já planejou a nossa refeição de hoje? — Köfte, arroz e uma salada. —Ótimo. Vamos fazer o seguinte. Você faz o köfte e eu faço o arroz. Depois preparamos lanches para levarmos no passeio. Sila balançou a cabeça, lentamente, concordando. Cada dia mais se dava conta que Aslan realmente estava apostando no casamento. Todo seu cuidado, seu jeito, suas maneiras. Suspirou. Não parecia a característica de um homem infiel... Nessas horas até lhe dava um certo remorso por duvidar dele, de ainda fuçar em seu celular toda vez que ele estrava no banho. Sempre à procura de mensagens comprometedoras.

Ele quebrou seus pensamentos passando a mão no rosto dela. Imóvel assistiu ele puxá-la para si. Sua língua se apossou de seus lábios e ele a beijou possessivamente. Afastou-se para olhá-la: —Tão bonita...Muito, mas muito bonita...o café ficará para depois —ele disse antes de beijá-la novamente com a mesma intensidade. Ahhhhh! Com certeza.... Como sempre sua mente se desligou e ela o abraçou forte e o beijou de volta, suas mãos correram os cabelos dele enquanto suas línguas se enroscavam e rodavam juntas.

Que tarde maravilhosa. Num lugar cercado por montanhas formadas por uma rica vegetação. O tempo todo andou ao lado do marido, sua mão entrelaçada a dele. Tinham deixado a cesta com os lanches no carro para só comerem no final do passeio, então ficaram livres para explorar o lugar com calma, sem impedimentos.

O parque Munzur Valley era simplesmente fantástico. Segundo o guia turístico, o lugar ficava à 2500 metros acima do nível do mar. Ainda assim, ficava bem perto de Erzincan e seus tios nunca a levaram para conhecer o lugar. Na verdade, seus tios nunca a levaram para canto algum. Adorou conhecer Munzer Su. Um rio de águas agitadas e cristalinas. Pode ver vários peixinhos nadando perto das pedras. Agora, eram oito horas da noite e estavam mortos de cansados. Estirados na cama e quase caindo no sono depois do banho quente que tomaram. Aslan se virou para ela e depois de bocejar perguntou: —Falta alguma coisa em casa? Quer que eu traga algo da rua amanhã. —Não. Pode deixar, amanhã vou sair, vou comprar verduras e frutas. Aslan assentiu. —Tudo bem. E não se esqueça de usar o lenço. Você sabe como os homens reagem a uma estrangeira. E você pode ser confundida como uma tranquilamente. Sila abaixou a cabeça. Era uma bastarda, filha do americano, por isso era tão diferente. —Pode deixar. Sila deu um longo suspiro ainda pensando nisso. —O que foi Sila? Eu disse algo errado? Às vezes me sinto dentro dessa frase: “Tudo que disser será usado contra você.” Suas falas lhe fizeram mal. Não era nada disso! Não queria que ele se sentisse assim. Ela se sentou na cama e o encarou nos olhos.

—Não Aslan, não é nada contra você. —Então por que fez essa cara? Ela respirou fundo e soltou o ar. —É que eu descobri a pouco tempo que sou uma bastarda. Meu pai biológico é o homem que minha mãe se envolveu. —O americano? —ele sorriu. — Eu já imaginava isso. Mas isso não deve te ferir mais! Não tem que se martirizar com isso! Deixe seu passado para trás. —Eu tento, mas não consigo. —Sila, você não verá mais aquela gente. Não precisará mais conviver naquele ambiente, por que se condena então? —Como não? Não me diga que não tem o sonho de comprar uma casa em Erzincan? Logo será atraído pelo bairro chique, bem estruturado de ruas arborizadas... Aslan acenou um não com a cabeça depois de se sentar também. —Não, não pretendo morar lá. Nunca mais verá aquela gente. Apenas visitaremos seus tios se quiser. A adrenalina correu por suas veias com as falas dele. Quem não quer viver em Erzincan? —Todo mundo ama aquele lugar. A vida toda ouvi dizer que nenhum bairro chega aos pés de Erzincan? —ela insistiu, o encarando atentamente, sem perder nada de sua expressão. Seus olhos negros se fixaram-se nos seus. Com a expressão compenetrada ele disse: —Eu não sou todo mundo. Se mudarmos, será para uma casa no campo. Pülümür, por exemplo. É um bairro muito bom, com ótimas escolas. Os olhos dela brilharam nos dele.

Verdade isso? Allah! Esse homem era tão bom. Estremeceu. Allah! Muito bom para ser verdade.... Tão perfeito, até não ser....

Capítulo 18

Um mês de casados. Sábado No terraço da sala Sila ficou olhando para o mundão lá fora, apoiada no parapeito. Um vento frio empurrava seus cabelos para trás. O inverno estava a todo vapor. O dia estava lindo, o sol radiante em um céu sem nuvens. Combinava com seu estado de espírito. Sentia-se feliz, como há muito tempo não se sentia. Era estranho pensar que a cada dia estava mais desencanada com as coisas e mais confiante com relação ao seu casamento. Agora uma grande parte de seu coração lhe dizia que Aslan era o homem de sua vida; com sua natureza tranquila, tão do bem... Contudo, tinha um fundinho de razão que lhe aconselhava ficar esperta com ele. Sim, ainda havia nela alguns sentimentos controversos que as vezes surgiam do nada, mas a vida lhe fizera assim. Nessa hora os espantava, se recusando a isso. Sentiu os braços de Aslan em seu corpo. Uma sensação gostosa a invadiu. Ele a beijou no pescoço. —Bom dia —disse rouco, perto de seu ouvido. Ela sorriu sentindo um estremecimento em seu corpo e se virou para ele. —Bom dia. —Já tomou café? —Não, estava esperando você acordar para tomarmos juntos. —Que esposa dedicada. Tão diferente da minha nada adorável esposa.

Ela riu e o abraçou. Lá estava ela de novo com aquela imensa vontade de lhe confessar seus sentimentos e lhe dizer “Eu te amo!” Mas ainda não estava pronta para dizer o que sentia. Queria confiar inteiramente nele. Apostava no tempo e na convivência. As coisas estavam indo bem entre eles, se encaminhando para isso. Tanto, que nem pensava mais em deixá-lo. Essa era a verdade! Contudo, queria se sentir ainda mais liberta para dizer essas palavrinhas mágicas. Aslan se afastou para olhá-la. —Te falei que meu tio vem à tarde? Sila lhe deu um sorriso fraco. —Sim, você me disse antes de desmaiar na cama ontem. Ele sorriu debochado. —Hum...eu senti um tonzinho de reclamação da minha fogosa esposa? Ela ficou vermelha. —Não claro que não. Eu sei que estava cansado. Então seus olhos negros se intensificaram nos dela e eles trocaram palavras sem abrir a boca. Tão lindo, magnífico... Ela o desejava tanto. Um brilho atravessou os olhos dele com essa compreensão. Sem jogos Aslan se abaixou e, num movimento rápido, a pegou no colo. Ela se agarrou a ele sorrindo. Ele lhe retribuiu o sorriso com um esbanjando charme. Aslan empurrou a porta do quarto com o pé. Avançou por ele carregando Sila. Uma mulher mais feliz, mais

tranquila, sem medo de demonstrar o quanto ela o desejava. Cada dia mais sensual, ainda mais desejável... Às vezes tímida, como ele presenciou lá na sala. Com esses pensamentos, Aslan a beijou como uma grande ânsia, como se não houvesse amanhã. Pouco tempo depois estavam nus na cama, com aquela urgência por satisfação. Ele se afastou dela, mas apenas para escorregar sua boca sobre seu corpo. Ela gemeu demonstrando sua agonia quando sua boca tocou seu ponto mais íntimo. Ele estimulou ali e ouviu ela gemer alto. Ergueu os olhos sabendo que iria encontrar uma Sila atormentada, louca para ele estar dentro dela. Allah! Que mulher linda, sensual e o melhor, toda dele.... Era uma doce e lenta tortura tê-la nos braços gemendo, tão receptiva a seus estímulos. Suas unhas resvalaram sua pele o deixando ainda mais duro e pronto para o passo a seguir. Allah! Precisava ser logo, não sabia o quanto ele iria aguentar. Ele se ergueu vagarosamente, dando tempo de examiná-la por completo. Saiu da cama e colocou a camisinha, então a tomou para si. Sim, ela podia sentir seu membro pulsar sedento por alívio quando ele se encaixou dentro dela. —Agora vem comigo meu anjo e goza lindamente para mim... Não demorou muito gritaram juntos de prazer, seus corpos tremendo, cheio de arrepios pelo gozo alcançado. Momentos depois, Aslan se ergueu na cama para olhá-la. —Pensei em encomendar Pider3 e Baklava4 de nozes. O que acha? Faríamos apenas o chá para o meu tio.

Ela retribuiu o sorriso. —Acho uma ótima ideia. Estou tão insegura. Nunca recebemos ninguém em casa. —Meu tio é tranquilo. Não precisa se preocupar. Se ele estava dizendo...

Ela abriu a porta. —Tio Zeki, Aslan ficou muito feliz em saber de sua visita. Como vai o senhor? Ela afastou o corpo para ele. O tio Zeki não respondeu, não sorriu, apenas a encarou. Como se ele a avaliasse, analisando seu rosto por alguns segundos. Sila ficou constrangida com seu intenso olhar.

Ele piscou, como se saísse de um transe e acenou um sim. —Estou bem. —disse desviando os olhos dela. —Aslan não vai demorar—ela disse sem graça, porque ele a fez se sentir estranha —Entre. Quer beber alguma coisa? Temos sucos de uva e abacaxi. Ele acenou um não constrangido e se sentou no sofá. Sila o encarou sem saber muito o que fazer, então, finalmente, Aslan surgiu na sala. —Tio, que bom que está aqui — tio Zeki se levantou com um sorriso e abraçou Aslan. —Sila. Meu tio te contou, que é a primeira vez que ele vem aqui? Sila forçou um sorriso. —Não, não contou — na verdade ele não disse “nada” deu vontade de dizer. — Eu vou arrumar a mesa do café. Aslan, faz as honras da casa. Seu esposo sorriu para ela. —Vem, meu tio. Venha conhecer meu humilde lar. Tio Zeki sorriu. —Com todo o prazer. Quando eles sumiram no corredor, Sila estava trêmula, o passado a rondando novamente. Com aquele familiar sentimento de tristeza que se sentia quando as pessoas olhavam muito para ela. Tentou não pensar nisso. Na cozinha pegou uma toalha para colocar sobre a mesa de jantar. Feito isso, abriu as caixas com os quitutes e distribuiu em pratos. Então colocou a água para ferver para fazer o chá de hortelã. Turcos adoravam chá, como norte-americanos gostavam de lanches, alemães de chucrutes e brasileiros de café. Aslan era uma

exceção. Ele adorava um café e isso já estava fazendo parte de sua vida também. Depois que tudo ficou pronto, aguçou os ouvidos e percebeu que as vozes saiam do escritório de Aslan. Sila resolveu chamá-los antes que o chá esfriasse, mas não entrou de imediato, curiosa, parou no corredor um momento para ouvir o que eles falavam. —Você tem tanto dinheiro e não usufrui. Era para estar morando em Erzincan já que não quer usar na fábrica. Sila ofegou com o comentário do tio. —De novo meu tio, essa história!? Já disse que não me sinto bem de usar o dinheiro de Sila. Estamos indo bem, o senhor mesmo tem visto como aumentou o número de encomendas. Vamos sair do vermelho meu tio! Aslan... ainda não usou o dinheiro dela? Foi isso mesmo que ouviu? Seu tio respirou fundo. —Tudo bem que pense assim, mas quando pretende se mudar? Vocês são ricos! E vivem como pobres. —Não falta nada. E quanto ao lugar, não posso pensar nisso agora. Preciso reerguer a fábrica, só então pensar no assunto. E vamos mudar de assunto? Seu coração se encheu de alegria. Foi tão bom ter ouvido a conversa. Passou tanto pela refinaria do sofrimento que às vezes precisava ver para crer. Quando Sila surgiu na porta, ela não se continha de felicidade. Sorriu para eles. —A mesa está posta. Aslan sorriu para ela e encarou seu tio.

—Vamos meu tio. Eu e Sila compramos aqueles quitutes que o senhor adora. Passaram uma tarde estranha. O tio de Aslan não relaxou um minuto com ela. Aslan observou sua bela mulher. A beleza dela era estonteante. Hoje ela estava simplesmente linda, vestida com um caftan verde e que combinava lindamente com seus olhos. Os homens com certeza perderiam as falas se a olhassem de perto. Hoje os olhos dela brilhavam com um verde alaranjado, inigualável. Seu tio com certeza não foi imune a isso. Ele levou tio Zeki até a porta. —Devo reconhecer que ela é uma mulher linda e apaixonante. Aslan sorriu. —Sim, meu tio, ela é. —E ela parece gostar muito de você —ele completou. Era bom ouvir isso. A percepção de seu tio lhe trouxe um sentimento gostoso, agradável. —Sim... —ele estava apostando nisso. —Bem, estou feliz que esteja feliz. Que ela tem sido uma boa esposa. —Pode apostar nisso meu tio. Aslan fechou a porta e deu com Sila o observando. Ela se aproximou e o abraçou. Sila suspirou. Foi tão amável, atenta às necessidades do tio de Aslan, mas

apesar de seus esforços ele não se sentiu muito à vontade com ela. Podia sentir ele toda hora a observando quando ela não estava olhando. Soltou o ar triste. Já esperava isso. Seu passado sempre atrapalhava. Talvez eles a olhassem pensando: “Essa garota não é confiável.” —Meu tio gostou muito de você. Ela ergueu os olhos para ele e riu. —Isso é uma piada? Ele agiu estranho comigo o tempo todo. Quase não me olhava direito. Aslan riu, bobinha. —Sim, ele se sentiu inibido, mas isso não quer dizer que ele não tenha gostado de você. Aslan não disse que a beleza dela era responsável por isso. Que seu tio ficou inibido por ela ser tão linda e radiante. Um arrepio passou por ele quando ele se lembrou das mulheres que saiu. Tinha convivido com mulheres convencidas demais e nem eram tudo aquilo. Adorou conhecer Sila e constatar que ela não era assim. Muito ao contrário. Foi essa natureza dela que mais lhe chamou a atenção. E Sila tinha todos motivos do mundo para não ser nada modesta. Ela era uma princesinha. Ela não podia perder isso. Nunca! —Hei, o que foi? Ficou pensativo de repente. Aslan piscou e seus olhos se intensificaram nos dela.

Ela sempre se ofendia quando ele tocava no assunto de sua experiência com as mulheres, mesmo que quando ele mencionava isso era apenas para exaltá-la, nunca ao contrário, por isso ele resolveu ocultar seus pensamentos e mudou de assunto: —Estava pensando de nos deitarmos na nossa cama e procurar uma série ou um filme para assistirmos juntos. Sila sorriu sentindo-se leve, lembrando-se de repente do que ouvira no escritório. Foi bom constatar que realmente Aslan estava empenhado em vencer pelos esforços dele. O abraçou forte feliz e então olhou para ele. —Uma boa ideia. Vai indo e acha um para nós. Eu só vou dar uma ajeitada na cozinha. —Está certo. —Aslan sorriu. —E já sabe, nada de terror. Aslan abriu o sorriso. —Eu sei. Que tal um policial? —Você não gosta muito de filmes de romances, não é? Eu já notei isso. Aslan sorriu. —Pelo visto você gosta. Sila ficou vermelha. —Sim, eu lia romances escondidos da minha tia e na hora de escolher um filme, sempre era um romance. Os olhos de Aslan brilharam em compreensão. Isso explicava muitas coisas, até o jeito arredio que ela encarou seu casamento. Se casara com uma mulher que romântica. Que fantasiava o amor. —Uma ideia. Escolhemos juntos o filme e você me apresenta

um bom romance. Os olhos dela brilharam. —Verdade? Eu tenho um em mente. Duvido que não chore. Aslan riu. —Eu? Chorar? Nunca! —Aposto que chora! Aslan riu alto. —Só quero ver.

Sila riu consigo mesma enquanto arrumava a cozinha. Adoraria ver as lágrimas nos olhos de Aslan. Ele era maravilhoso, mas nunca o viu emocionado. Seria uma gostosa experiência. Dez minutos depois seguiu para o quarto. Aslan a esperava sentado na cama com o controle na mão. Quando ele a avistou, sorriu. —Que tal esse? Achei que tem uma história interessante.

Muito bem acompanhada. É de uma garota que contrata um homem para se passar por namorado dela no casamento de sua irmã. Sila sorriu. —Ele é lindo, gostoso de assistir. Mas vamos assistir outro dia. Com ele não vou ganhar minha aposta. Eu quero ver você chorar. Aslan riu torto. —Esquece! Eu não choro em filmes. Sila riu e estendeu a mão para ele, pedindo o controle remoto. —Posso? —Todo seu. Sila pegou o controle animada. Na busca do Netflix escreveu: “O som do coração”. Perfeito. Esse filme era lindo, forte e emotivo. —Pronto! É esse. —A história de um menino? Cadê o romance? —Tem também. É uma linda história de desencontros. Aslan sorriu e se deitou, abriu os braços para ela se aconchegar neles. —Então, lá vamos nós. Sila fechou as cortinas e se encaixou nos braços dele. Não queria que nada interferisse na atenção de Aslan. O filme iniciou. Ela já havia assistido várias vezes. Sabia o potencial do filme. Conforme ele foi se desenrolando, erguia os olhos para

observar Aslan. Ele nem piscava, atento ao filme. Ele estava gostando. Sorriu. Adorando estar encaixada nos braços dele, ali era seu lugar. O filme então se desenrolou e entrou na parte mais dramática. Na parte que o menino de nove anos, tão apto para tocar, depois de tanto sofrimento e finalmente ter entrado em uma faculdade de música se mostrando uma fera, foi barrado por um oportunista que já tinha o poder sobre ele anteriormente. —Allah! Não é possível que depois de todo o esforço do menino ele não vai poder tocar! —Aslan disse indignado. Sila sorriu. Aslan era tão calmo, tão sereno, tinha uma boa palavra para tudo. Dificilmente se irritava, era bom provocar isso nele. Ele vai chorar! Disse a si mesma apostando no lindo desenrolar da história. O filme avançou e quando o garoto subiu ao palco, Aslan se remexeu na cama. Sila sorriu. Então o menino ergueu as batutas e começou a reger a orquestra. O filme então avançou lindamente entrando no seu ápice e um maravilhoso e emocionante final cheio de reencontros. Um homem que foi separado do seu amor pelo pai opressor da garota a encontra. E o garoto, que regeu a orquestra encontra os pais. Sila ergueu os olhos e observou Aslan. Então viu seus olhos brilhando por lágrimas não derramadas. Quando uma escorreu, ele a limpou rapidamente.

Sila se sentou nas pernas de Aslan e diante dele disse sorrindo: —Você chorou! Ele ficou em silêncio por um momento, talvez bobo ainda por ter se emocionado, como se precisasse de tempo para se recuperar. —Allah! Você venceu! Mas também, que filme! —Estou feliz que tenha gostado. —Foi tocante. Ele sorriu a fazendo sorrir. Seu rosto então foi ficando sério e ele a envolveu com seus braços a puxando contra seu corpo, sua boca cobriu a sua com aquela fome que ela tanto conhecia e adorava.

Capítulo 19

Dois meses de casados. Sábado... Sila se debruçou no vaso sanitário e seu estômago se contraiu novamente e ela vomitou. Allah! O que estava acontecendo com ela? Pensou dando descarga. Fechou a tampa e se sentou nela, ainda se sentindo muito mal para voltar para a cama. Allah! Sempre teve uma saúde de ferro. Só vomitou uma vez quando era criança e agora estava vomitando quase todos os dias. Ontem mesmo, sentiu-se mal e deixou todo, teve que se sentar pois senão teria caído no meio da cozinha. A bile subiu-lhe até a garganta e apressadamente ergueu a tampa novamente e colocando-se de joelhos vomitou novamente. Alguma coisa estava errada. —Sila? O que foi? Trêmula se sentou na privada e encarou Aslan que a olhava preocupado. —Não estou passando bem. Aslan se aproximou dela e a ajudou a voltar para a cama. Quando saíram do banheiro ele a pegou no colo. —Allah! Você está gelada. Ele a depositou na cama e a cobriu então se sentou ao lado dela a encarando ainda preocupado. —O que você está sentindo? —Agora nada, eu me sinto melhor —ela disse erguendo os olhos para o rádio relógio. Seis e meia. Encarou Aslan. — Se não se

importa, eu gostaria de me deitar um pouquinho e tirar um cochilo? É cedo ainda. Aslan sorriu levemente. —Claro. Deite-se, depois conversamos. Sila se deitou, devia estar pálida. Sentia-se tão debilitada. Fechou os olhos e, sentindo o calor gostoso das cobertas e a maciez do colchão, logo dormiu. Aslan ficou olhando para ela. Ela estava doente ou era sinais de uma gravidez? Imaginou sua barriga se desenvolvendo, ela esperando um filho dele. Não era um bom momento, mas ainda assim não conseguiu deixar de sorrir com esse pensamento. Sim, ela podia estar grávida. Naquele dia que ele estava com dor e que ela tomou iniciativa, fizeram sem proteção. Passou a mão nos cabelos dela com carinho. Como ela encarará isso se for verdade? Deitou-se ao seu lado, trazendo-a para junto de si. Ela se aninhou mais em seu peito o apertando em seus braços. Ele escorregou a mão em seu lindo corpo, ficando imediatamente duro. Allah! Ela o deixava louco. Precisou se controlar para não agarrá-la.

―Sila. Sente-se. Eu trouxe suco de laranja para você. Hein, vamos. Acorde. Ela se espreguiçou na cama e bocejou. Notou que ela estava mais corada. Precisava entender seus sintomas e dependendo disso, conversar com ela sobre a possibilidade da gravidez. Com o coração descompassado a observou abrir os olhos verdes. Ela o encarou.

Tão linda. ―Trouxe suco de laranja para você. Ela sorriu e se sentou, acomodou o travesseiro em suas costas e o encarou. Ele lhe estendeu o copo. ―Obrigada ―disse e tomou tudo sem reclamar. ―Eu estava realmente com sede. Aslan se sentou ao lado dela e pegando o copo vazio o depositou em cima do criado-mudo e então a encarou. ―Isso de você vomitar, foi só hoje ou tem sido recorrente? Sila suspirou. ―Eu ando me sentindo estranha. Ontem pela manhã foi a mesma coisa. Acho que comi alguma coisa que não me caiu bem. O coração de Aslan se agitou no peito. ―Sila... Acho que não está doente. Ela sorriu. ―Sim, não deve ser nada sério. Apenas um mal-estar do estômago. ―Não foi isso que eu quis dizer. Ela o olhou confusa. ―Como assim? Aslan se sentou mais perto dela e sorrindo a abraçou e beijou seus cabelos. Por que essa atitude dele? Por que ele estava agindo estranhamente? Aslan a encarou finalmente. Seus olhos fixos nos seus. ―Canin, acho que fomos agraciados. ―Ele disse, então acariciou seu rosto e depois segurou suas mãos entre as suas.

Agraciados? Allah! O que ele quer dizer com isso? Arregalou seus olhos entendendo. Será? ―Lembra do dia que você tomou toda a iniciativa. Então, neste dia não usamos proteção. Como? Era isso que ele estava dizendo mesmo? Gravidez? ―Mas foi apenas um único dia ―sua voz falhou no final. ―Sim. Foi. Mas seus sintomas são bem típicos de uma mulher grávida. ―Que sintomas são esses? Aslan sorriu. Como essa criança totalmente despreparada para vida pensou um dia em morar sozinha? Ficar longe dele? ―Enjoos que surgem do nada, principalmente pela manhã ou provocados por cheiros. Tonturas, fraqueza. Sila sorriu sem graça e baixou os olhos. ―Exatamente isso que tenho sentido. Ele ergueu seu queixo com o dedo. ―Por que não me contou? ―Achei que não era nada, que eu fosse melhorar, mas hoje vomitei novamente. Aslan a abraçou carinhosamente e afastando seus cabelos lhe deu um beijo no pescoço e então a encarou.

―Aslan, e se realmente eu estiver grávida? ―Completará a felicidade que temos tido juntos. Sila o encarou insegura. ― Allah! Parece tão difícil cuidar de um bebê, é tanta responsabilidade. Não sei se serei uma boa mãe. Nunca tive uma referência, um irmão para cuidar. Aslan soltou o ar. Só de pensar nisso o deixava nervoso, mas ele a acalmou com as palavras que ele acreditava: ―Ser mãe é instintivo. Lembra como você era uma desastre na cozinha? E agora está cozinhando muito bem. ―É diferente Aslan. ―Sila disse com o coração descompassado, cheia de preocupação. Aslan sorriu. ―Tem oito meses para você se preparar psicologicamente e você pode ler sobre o assunto na internet. Eu também te ajudarei no que for preciso. Sila sorriu para Aslan se sentindo bem com as palavras dele então o abraçou forte, depois se afastou para olhá-lo. ―Não vejo a hora de saber se estou grávida ou não? O rosto de Aslan ficou sério. ―Tem um jeito rápido de saber. ―Como? ―Sila lhe perguntou animada, revelando ainda mais sua vida de inocência. ―Através de teste. Ele é vendido em farmácias. ―Allah! Então hoje mesmo saberei se estou grávida? Aslan sorriu. ―Não sei, se não me engano só amanhã. Acho que ele precisa ser feito com a primeira urina.

―Só amanhã? ―ela perguntou desapontada então o olhou desconfiada. ―Você é bem entendido no assunto? Por quê? Aslan soltou o ar e seus olhos se estreitaram depois que ela disse isso. ― Sila, não comece. Não sou eu que sou bem entendido no assunto como disse, mas você que cresceu dentro de uma redoma, poupada de tudo. Num mundo criado por seus tio, cheio de desinformação. Sila sentiu seu rosto pegar fogo. Abraçou seus joelhos pensando no que ele disse. Sim, seus tios não conversavam nada com ela. Muito menos sobre sexo, gravidez, ou qualquer coisa do tipo. Talvez com medo que isso despertasse nela sentimentos que eles julgavam que ela tinha de ruim, herdados de sua mãe. Quanto mais inocente ou menos ela soubesse melhor. ―Hei, o que foi? ―Aslan perguntou num tom carinhoso. Ela o encarou. ―Estava pensando no que me disse. ―Quero que pense nisso: eu amo você ― Ele murmurou rouco. Sila sorriu emocionada. Sim, ela acreditava nisso. ―Eu também te amo. Agora foi a vez de Aslan se emocionar e abraçá-la forte.

Dia seguinte Sila acordou bem, sem aquela vontade de vomitar. Talvez Aslan estivesse errado e ela estava apenas doente. Ele lhe deu um pequeno bastão branco e a orientou. Sila foi até o banheiro e fez conforme suas instruções. Pouco tempo depois saiu de lá com ele na mão. Aslan andava de um lado para o outro no quarto, parecia nervoso. Quando ele sentiu sua presença parou de andar e se

sentou na cama. Sila sentou-se ao lado dele. ―Se eu estiver grávida surgirá um segundo risco? ―Exatamente ―ele disse com a respiração ofegante. Sila suspirou e estendeu o bastão na frente deles para que os dois pudessem ver. Pouco tempo depois, o segundo risco começou a surgir muito tímido, o já agitado coração de Sila disparou quando segundos depois o sinal ficou bem forte. Emocionada ergueu os olhos para o seu esposo sem falas. Aslan sorriu para ela e colocou seu rosto entre suas mãos e a beijou com carinho e se afastando um pouco a olhou com adoração. ―Fomos agraciados. ―disse, seu olhar agora era emocionado. Lágrimas borram sua visão. Ela as enxugou com as mãos e quando voltou a ver com clareza se deparou com o olhar emocionado de Aslan, emocionado o suficiente para fazê-la perder o fôlego. ―Sim, fomos―disse com a voz arrastada. Ficaram presos pelo olhar por um bom tempo, como se se as suas almas se conectassem e nesse exato momento a realidade que seriam pais os pegaram de jeito. Aslan então a puxou para si a fazendo se sentar no colo dele. Tomou seus lábios lhe dando um beijo apaixonado.

Capítulo 20

Três meses de casados... —Quem é vivo sempre aparece. —Aslan disse ao seu amigo que acabava de entrar no seu escritório. Ele conhecia Osman desde os tempos de faculdade. Eram parceiros nas saídas aos bares. Antes de viajar, o havia chamado para conhecer a fábrica, mas Osman estava de viagem marcada e não pode atender seu convite. —Então essa é a famosa Kumas? Aslan se levantou da cadeira e abraçou o amigo. Com as mãos nos ombros dele o levou até as janelas de vidro de onde se podia ver todo o chão de fábrica. Os maquinários trabalhando a todo vapor. —Sim. —Pelo visto está indo muito bem. —Graças a Allah! Estou conseguindo aos poucos liquidar as dívidas, pagar os funcionários e manter minhas contas pessoais. Osman sorriu para o amigo. —Estou feliz por você. Aslan alargou o sorriso e Osman continuou: —Uma pena eu não ter conseguido vir antes, cheguei esses dias de viagem. —Eu tentei te ligar, mas o celular só dava na caixa postal. —Você acredita que levei só o celular da empresa? Esqueci o meu. Por isso fiquei incomunicável. —Você poderia ter ligado.

—Cara, eu bem que pensei em ligar, mas era tanta coisa para resolver que envolveu todo o meu tempo. —Tudo bem, o importante que está agora aqui. Vamos conhecer a fábrica, enquanto isso conversamos, colocamos os assuntos em dia? Tenho grandes novidades. —Vamos lá, quero ver tudo. Ah, falando nisso, eu preciso te devolver a chave do seu apartamento. Aslan tinha dado a cópia para ele na semana da mudança. Ele o ajudou a levar alguns móveis da antiga casa para o seu apartamento. —Verdade. Já tinha até me esquecido. Ele riu de um jeito estranho. —Mas antes que me pergunte, não estou com ela. —Não? Então por que tocou no assunto? —Porque tem uma surpresa lá, te aguardando. O coração de Aslan se agitou de um jeito estranho com as palavras dele. Osman sorriu com malícia. Allah! Que surpresa era essa? Osman era seu amigo de putaria, então imaginou o pior. —Cara! O que você aprontou? Ele riu, mas não disse nada. Aslan imediatamente pensou em Sila. Como ele estava viajando, ele não soube de seu casamento. —Osman não sei se sabe, mas eu me casei. Você não fez o que eu estou pensando, fez? Seu amigo o encarou chocado. —Allah! Você se casou?

—Sim, eu conheci uma garota aqui, uma princesinha. Hoje completamos três meses de casados. Vamos ter um filho. Ela está grávida de dois meses. Osman soltou um palavrão. —Cara, acho melhor você ir para casa. Aslan se preocupou. Sabia que ele ia fazer merda! —Por quê? Allah! Que merda você fez? —Cara! Eu... pensei que você estava na seca. Você mesmo disse que aqui as mulheres são todas certinhas que se quisesse alguma coisa precisava procurar longe. Então eu encontrei Dilara e ela perguntou de você. Disse como sentia sua falta e que queria muito conversar. Concordei de ela vir comigo. E pior, eu lhe dei a chave do seu apartamento. —Mas que merda, Osman!

Sila estava arrumando a sala quando ouviu a porta se abrir. Imediatamente virou seu corpo à espera de Aslan entrar, mas seu sorriso morreu quando viu uma linda mulher entrando. A ruiva também não a esperava ali, seu olhar voou na direção dela em choque. —Aslan contratou uma empregada? A fábrica deve estar

indo muito bem. A boca de um rosto bem maquiado se esticou com um sorriso quando viu Sila sem reação. Tirou os olhos sobre si e começou a olhar tudo. Sila ficou de todas as cores vendo a cena, ainda sem conseguir reagir. O cérebro trabalhando, tentando entender o que estava acontecendo enquanto a figura alta da mulher, vestida com uma saia lápis apertada e uma blusa branca, exalando um perfume maravilhoso foi entrando como se fosse se apoderar do lugar. O que estava acontecendo? Por que ela tinha a chave do apartamento? Sila se questionou. Com certeza era aquela mulher que enviou mensagem para seu esposo aquele dia. A tal gata ruiva. Seu coração se agitou no peito como se alguém tivesse injetado adrenalina em suas veias. Sua mente começou a trabalhar e ela se perguntou: Aslan estava mantendo um relacionamento com as duas? Balançou a cabeça afastando estes pensamentos. Não! Não! Aslan não faria isso com ela. Não conseguia acreditar nisso! De repente percebeu que tinha prendido a respiração. Respirou fundo para se acalmar, mas ainda assim a cor não voltou a seu rosto, se segurou na parede para não cair de desgosto no chão e ficou olhando toda a cena em choque. Foi então que reparou num detalhe, a cabeça da ruiva virava de um lado para o outro e essa atitude nela a denunciou. Era a primeira vez que a mulher colocava os pés no apartamento. Sila se encheu de si, recuperando as forças que outrora havia lhe abandonado.

—Hein. Quem diabos você pensa que é entrando aqui deste jeito? A mulher que se dirigia à sacada estacou e se virou para Sila. Seu olhar se intensificou nos dela. —Garota, se enxerga! Olha os modos! Sou Dilara, a garota de Aslan! Tenho todo direito de estar aqui! Sila soltou um riso amargo. —Direito? Eu sou Sila. Esposa de Aslan! Então rua! A outra empalideceu pelo choque. Ficou fora do ar por uns minutos. Se segurou no sofá para não cair de tão abalada que ficou. Demorou para a cor voltar ao seu rosto. —Mentira! —balançou a cabeça —não pode ser. Sila ergueu o anel do dedo, numa posição nada bonita de ser ver. Sua resposta abalou novamente a mulher e ela se sentou no sofá. —Não é possível! Aslan não é esse tipo de homem—ela disse meio que fora do ar. —Sinto pela sua desinformação, mas ele se casou e estamos vivemos muito bem. —FDP. —Bem, agora que está tudo resolvido, deixe a chave e vá embora. Pura maldade chispou dos olhos dela. —Não pense que essa aliança que me mostrou vai segurar Aslan, este que julga ser seu homem. Ele não é de ninguém. Nunca vi um homem colocar tanta mulher no retrovisor. Sila estremeceu com tanto veneno. Sim, ela pensava assim, mas a convivência com Aslan lhe

mostrou que isto tudo ficou no passado. —Saia! —O que? Está nervosa? Você deveria me agradecer em mostrar a você quem realmente ele é. Homens como ele tropeçam no próprio pinto, mas se consegue compartilhá-lo com outras... Nesta hora a porta da sala se abriu com tudo. —Chega Dilara! Allah! Pensei que tivesse entendido que era um ponto final. E agora, como viu, eu me casei. Saia! —Aslan disse entrando no apartamento. Aquele homem paciente, calmo, olhava a outra com uma expressão assustadora. Ao lado dele estava um homem que olhava toda a cena com desgosto, então ele avançou e pinçou o braço da ruiva. —Vamos Dilara, como viu, erramos em te trazer para cá. Perdoe-me Sila, a culpa é toda minha, eu que dei a chave que estava comigo para ela. Estava viajando e não sabia que Aslan tinha se casado. Ele te explicará tudo. —Solte-me, Osman. O que pensa que eu sou? Uma puta para me tirar da sala desse jeito —ela disse tentando puxar o braço. — E você Aslan, não vale um centavo. Não dou seis meses para que esse casamento vá pelo ralo e você mostrar quem realmente é. Só se essa garota for uma tonta de manter essa relação com um homem como você. Pelo visto.... Osman a colocou sobre os ombros e saiu do apartamento com ela de bumbum para cima. —Pare com isso Osman! Aslan fechou a porta e se virou para ela com a respiração ofegante. Enojada pela cena, Sila encarou Aslan furiosa: —Eu não ficarei tropeçando com suas mulheres do passado

vindo reclamar o amor perdido, não é? Aslan que se preparava para se defender, ouviu as falas de Sila e, contra tudo o que eu esperava, o discurso dela deu a entender que ela compreendeu que isso fazia parte do seu passado. Seu coração que batia descompassado por toda essa situação, pela expectativa do momento e com sua amargura de alma, pulsou de certa forma feliz. Usando toda a sua reserva de energia, forçou suas pernas a funcionarem e avançou. Envolveu Sila pela cintura e observou as mãos pequenas se colocando ao redor dele, o corpo dela contra o seu. Isso o deixou mais calmo. Ela então ergueu os olhos e ele captou um brilho altivo em seu olhar, ainda esperando sua resposta. Aslan soltou um grande suspiro. —Não, meu anjo. Garanto que não. E estou feliz que tenha entendido que essa vida de mulheres ficou para trás. As falas de Aslan deslizaram por ela, aterrissando em seu coração que se apertou com aquela sensação aguda de decepção, era aquela mágoa tão familiar querendo invadir novamente seu peito. —Ficou mesmo? Aslan inspirou fundo e demoradamente: —Sila, eu te amo —ele disse cheio de angústia e depois a abraçou apertado, então olhou para ela — Essa mulher, como outras que saí, eram apenas uma expressão de mim mesmo. Vazias. Não ligavam muito para os sentimentos. E eu vivia uma época diferente. Focado no meu trabalho, na doença do meu pai, não estava pronto para ter um relacionamento. Quando vim para essa cidade, vim com a intensão de dar um jeito na minha vida. Estava cansado daquela vida, queria sossegar.

Sila o abraçou forte. Ficou apertada a ele por um bom tempo, sentindo suas mãos alisando suas costas seus cabelos. Ela então o encarou: —Eu acredito em você. —Allah! Você não sabe com estou feliz por isto. Isso significa que você realmente se libertou. Não é mais aquela Sila tão insegura e reprimida que conheci. Sila o olhou demoradamente antes de questioná-lo: —Verdade. Como você conseguiu me amar? O que você viu naquela mulher de pensamentos caóticos? Amarga e cheia de dúvidas? Ele sorriu. —Eu vi uma mulher com um grande desejo de ser aceita e amada. Que não estava preocupada com aparência, com luxo, com nada. Tanto que está comigo nesse apartamento pequeno e horroroso e nunca se importou com isso. Sila se emocionou com as falas dele e abaixou os olhos, Aslan não permitiu, segurando seu rosto para ele. — Você se tornou minha força para lutar pelo nosso futuro. —Oh! Aslan. Eu te amo tanto —ela o apertou nos braços e então o encarou —é tão incrível que me ame dessa forma...eu atrapalhei tanto nosso relacionamento. Ele sorriu se lembrando. —Eu sei, mas eu não desisto fácil. Eu só conseguia enxergar a mulher de fibra, que não se contentaria com menos. Não era um capachinho de mulher como tantas que eu conheci. No fundo adorei saber que tinha opinião própria, embora você tenha me tirado do sério muitas vezes. Sila riu. —Eu te tirei do sério? Você é o homem mais paciente e

amável que eu conheço. Aslan a apertou nos braços. —Eu queria tanto te conquistar. Nunca uma mulher mexeu tanto comigo como você. Ela sorriu de leve para ele. — Aslan, você foi o homem certo. Foi o homem certo para abrir meus olhos sobre tantas coisas. Com você eu me tornei uma mulher mais segura, amada e, portanto, feliz. Não existe lugar onde eu queira mais estar do que em seus braços. Aslan se emocionou e a abraçou apertado e depois a olhou com uma grande intensidade nos olhos. —Como é bom ouvir isso. Você não sabe como fiquei louco no escritório quando Osman veio me visitar e disse que tinha dado a chave para Dilara. Allah! Pensei que ela tinha ferrado com tudo. —Não. Ela entrando no apartamento, dizendo ser sua garota, estava tão fora do contexto daquilo que estamos vivendo. Temos sido tão felizes, tenho visto tanta sinceridade em seus sentimentos e não tive dúvidas que era algum mal-entendido. Ela era uma mulher de seu passado. —Allah! Por que estamos falando dela? Devemos só falar de nós, o quanto somos e seremos felizes juntos. Planejar nosso futuro e o futuro do nosso filho que espera. Sila assentiu e sorriu emocionada. Mais uma vez seus gestos, suas palavras mostravam a ela que era impossível deixar de amar Aslan. E o melhor! Acabaram-se os medos e as reservas que tinha com ele. Hoje foi uma prova disso. Podia-se dizer que confiava nele. Adorou se sentir livre de sentimentos que só lhe trouxeram tristeza. Claro que Aslan fora responsável por isso. Ele contribuiu e

muito para a sua metamorfose. O tempo que ficou com ele enxergou que o quanto estava errada. Aslan era sim, um homem de família. Allah! Ela o amava tanto. Ele realmente era o homem de sua vida. —Vou adorar falar do nosso futuro com você. —E eu vou adorar dar vida a tudo que planejarmos e melhor, quero dar vida a esse seu sorriso que me encanta, sempre. Ficaram abraçados na sala. Sila apertada a ele, emocionada, de repente estavam fora do ar, olhando um para o outro, esquecidos até do ocorrido. Não demorou muito foram levados por fortes sentimentos. O desejo irrefreável logo se fez presente e se beijaram como se não houvesse um amanhã. Pouco tempo depois estavam no quarto, ambos nus, dentro dos braços um do outro se amando como sempre.

Capítulo 21

Sila saiu da cozinha e encarou o marido sentado no sofá lendo o jornal. Ele estava sem camisa, pois estava calor. As pernas fortes cheias de pelos negros cruzadas de um jeito sexy. Aslan abaixou o jornal e a encarou, então lhe deu um sorriso quando a viu sem falas. Sila piscou e sorriu para ele se lembrando do que ia falar: — Titia me ligou e nos convidou para o aniversário de tio Yavuz neste sábado. —Verdade? Depois de tanto tempo deram sinal de vida? — Aslan disse a observando caminhar para perto dele. Sila estava ainda mais linda. Seus contornos ganharam volume. Sua barriga de quatro meses de gestação, a coisa mais linda do mundo. —O que você acha? —ela disse se sentando ao seu lado no sofá. Aslan piscou para a realidade e pegando a mão dela a beijou. Então a encarou muito sério: —Você que decide se quer ir à festa ou não —deixou muito claro isso. —Não sei. Toda aquela gente que me odeia estarão lá. Aslan assentiu. —Sim, estarão. Ela ficou pensativa e então o encarou. —Nós iremos —ela disse com o nariz em pé. Aslan assentiu. —Sábia decisão. Seus tios ficarão tristes se não for.

Ela riu. Eles sumiram. Aslan só podia estar de brincadeira. —Que nada. Eles nos convidaram para não ficar chato. —Sila disse se achegando mais a ele, o envolvendo com os braços enquanto o prendia com seu olhar. —Pode ser. E como eu disse, essa é uma decisão que cabe a você decidir se quer ir ou não. Sila sorriu e o abraçou forte. —Eu vou, mas não quero ficar um minuto sozinha na festa, quero que fique o tempo todo ao meu lado. Aslan segurou seu rosto em suas mãos e a fez encará-lo. —Serei sua sombra. Ficaremos juntos o tempo todo. Sila sorriu e se sentando no colo dele o abraçou forte, depois descansou sua testa na sua. — Isso me passará bastante segurança. —Ficaremos juntos—Aslan confirmou. Sila sorriu, disse animada: —Quero comprar um vestido bem bonito. Você me ajuda a escolher? Aslan sorriu. —Claro. Mas não quero que esconda sua gravidez. Você não tem ideia como está bonita exibindo o crescimento do nosso filho. Sila sorriu e olhou a barriguinha pontuda e depois de alisá-la o encarou: —Eu também faço questão de exibi-la para todos. Estou muito feliz. Quero que todos vejam a minha felicidade. Aslan beijou seus lábios. —Então acabou aquele medo de ser mãe?

Sila suspirou alto. —Claro! Tenho lido bastante sobre o assunto. Quero ser uma ótima mãe. Aslan sorriu. —Você será. Sila abriu mais o sorriso e o puxou para um beijo, então afastou o jornal das mãos dele demonstrando o seu desejo insaciável.

Capítulo 22

Quando adentrou a casa de seus tios, ao lado do marido, se deparou com Erzincan em peso na festa de comemoração dos setenta anos de seu tio. Suas pernas fraquejaram e o presente que segurava tremeu um pouco em suas mãos. Imediatamente parou na entrada da sala. Allah! A casa de seu tio nunca esteve tão cheia. Acho que este povo todo não esperava a sua vinda. Sentiu então a mão de Aslan pressionando sua cintura para que ela avançasse. —Vamos. Você está comigo. Não precisa se sentir constrangida. Achegou-se mais a seu marido cheia de contentamento por ele estar ao seu lado. Não teria nenhuma condição de estar ali se não fosse pelo apoio de Aslan. Sila estava muito consciente que todos acompanhavam seus passos até sua tia, que quando a avistou demonstrou surpresa e tocou o braço do seu tio, dando um sinal com a cabeça para ele e apontou discretamente em sua direção. Quando os olhos de seu tio a focaram, também revelaram sua admiração. Realmente eles não a esperavam. Apenas a convidaram por convidar, para não se sentirem culpados. Caminhou sem pressa ao lado do marido, confiante. Não mais se sentindo vulnerável como outrora se sentia. Agora tinha na alma uma sensação maravilhosa de amar e ser amada. —Sila. Como você está linda nesse vestido —sua tia disse com um sorriso, avaliando seu maravilhoso vestido verde-escuro

que não escondia sua gravidez de quatro meses e realçava ainda mais sua pele alva e seus olhos verde. —Obrigada! —Sila se limitou a sorrir. Aslan a apertou ainda mais em seus braços e lhe deu um beijo nos cabelos, depois lhe endereçou um sorriso lindo que o deixou ainda mais charmoso. Aliás, ele estava de tirar o fôlego. Muito elegante nessa noite; os cabelos sem um fio fora do lugar, a barba muito bem aparada e o corte perfeito de seu terno o deixavam com uma aparência impecável. Extremamente atraente. Encarou seus tios com um sorriso satisfeito: —Minha esposa é mais bela dessa festa. Eu não poderia ter escolhido melhor. Sua tia sorriu nervosa. —Que bom que pensa assim. —Sim. E por que não pensaria? —Aslan questionou. Sua pergunta ficou no ar. Um silêncio pesado caiu e eles que sorriram sem graça. Sila o quebrou quando se desvencilhou dos braços de Aslan e estendeu o presente para o seu tio: —Titio, parabéns. Isso é para o senhor. Seu tio sorriu constrangido e pegou o grande embrulho de papel preto, envolto com um laço branco. Ali continha um lindo terno azul-marinho, sua cor preferida. Aslan a ajudou escolher. —Obrigado. Se me derem licença, vou juntar seu presente aos outros. Divirtam-se. Sila forçou um sorriso. Sua tia sorriu para ela sem graça: —E eu vou dar uma olhada na cozinha para ver se está tudo em ordem —sua tia lhe disse, se afastando também. Nem parecia que tiveram uma vida juntos. Era nítido que queriam quebrar relações.

A atitude dos tios revelava uma coisa: agora que ela estava casada, com seu futuro encaminhado e eles a queriam longe dali. Como se quisessem passar uma borracha na sua existência e todo constrangimento que ela trouxera para a sua família. Isso não a afetou. Antes uma raiva surda e impotente cresceria dentro dela. Agora não. Estava feliz, ao lado de um homem maravilhoso. — Gostaria de dançar, canim? — Aslan sussurrou em seu ouvido dando uma mordidinha no seu lóbulo. Ela se virou para ele e lhe deu um sorriso nervoso, mas não lhe negou o pedido. —Adoraria! — disse e pegou a mão estendida de Aslan, ignorando toda aquela gente que a olhava torto. Quando passou perto de um grupo de mulheres ouviu a voz de Belma em suas costas: —Esse vestido dela deve ser alguma cópia barata de alguma grife. Deve ter usado toda sua herança para erguer este cara falido. Que garota insuportável! Ofegou. Aslan apertou sua mão, a fazendo olhar para ele: —Ignore-as. Elas estão morrendo de inveja. Você é a mulher mais linda dessa festa e de toda Erzincan. Sila soltou o ar e encarou seu marido. Sorriu para ele. —E estou acompanhada do homem mais lindo e charmoso que já coloquei os olhos também. Os lábios de Sila tremerem quando ela notou a música que começou a encher o ambiente. Na Eisai Ena Asteri, de Nikos Vertis. Ela amava essa música. Essa música era um convite ao romantismo. Sempre sonhou dançar um dia assim com o amor da

sua vida. Aslan a virou para ele com um sorriso, então afundou o rosto no peito dele e começaram a dançar, embalados pela música suave: Se você é uma estrela Isto que está me acontecendo e eu tenho tanto medo de machucar uma alma. Coração ferido é meu apelo. Deixe eu viver tudo de verdade. Por favor, seja meu verdadeiro amor, a causa e a razão que eu sonhei. Bem nestes olhos que eu estou olhando tento encontrar o doce amor, finalmente. Então, se você é uma estrela brilhante, brilhando sua luz longe, aqui na minha vida vazia, então nunca queime, nunca mais parta Não deixe esse amor dar errado. Conheço muita luta. Se você é um pesadelo, as luzes se apagam. Apenas deixe-me viver um sonho e que nunca amanheça. Nunca vá. Fique dentro de mim para te amar muito No caminho pelo qual passei, tudo estava escuro; Mas agora você veio uma explosão e eu renasço de novo meu ir e meu desejo precioso é você Então, se você é uma estrela brilhante, brilhando sua luz longe daqui na minha vida vazia. Nunca queime, nunca parta, não deixe esse amor dar errado. Nunca me deixe ir. Fique dentro de mim para eu te amar muito Sila fechou os olhos se sentindo tão bem. A música, o calor

dos braços dele a envolvendo, seu perfume que ela adorava em seu nariz. Fungou na camisa de Aslan à beira das lágrimas. —O que foi? —ele a afastou e reparou em sua emoção. —Sempre sonhei em dançar essa música ao lado da pessoa amada. Estou realizando um sonho. Aslan deu um leve sorriso para ela. —Fico feliz em saber disso. —Obrigada por ter tido tanta paciência comigo. Aslan sorriu. —Você era um diamante bruto que precisava ser lapidado. Sila sorriu de leve com a comparação dele: — Você sempre faz com que eu me sinta especial. — E é. É uma mulher de fibra. Inteligente, educada e fina. Mesmo com toda a adversidade sempre soube se comportar muito bem. Sila riu. —Nem sempre fui assim. Briguei muito na escola quando mais nova. Aslan sorriu. —Eu sei disso. Meu tio colocou empecilhos, para que eu não me casasse com você por causa disso. Sila sorriu. —Verdade? —Sim, essa sua fama de encrenqueira passava a imagem que seria uma péssima esposa. Sila soltou o ar. —No fundo era verdade. Eu era uma péssima pessoa para se

relacionar. —Sim, no começo foi difícil, mas hoje posso dizer que poucos homens têm a sorte de possuir ao seu lado uma mulher tão extraordinária quanto você. A veemência da paixão na voz dele e a paixão que ela via em seus olhos negros era tão forte, tão convincente que a emocionou e Sila o abraçou forte. Continuaram a dançar embalados pela linda música. Sila fechou os olhos e deixou-se levar pela maravilhosa sensação que tomava seu corpo, tão alheia todas as pessoas que deviam olhá-la tentando achar algum defeito nela. Sentiu um beijo de Aslan em seu pescoço e o abraçou ainda mais forte. Sentia-se tão feliz. Estavam vivendo uma ótima fase no casamento, inclusive até procuravam uma casa no campo para morar. Queriam estar instalados antes da chegada de filho deles. Com o final da música pararam de dançar. —Meu tio está aí. Vamos lá falar com ele. Num abraço possessivo que parecia eterno, Aslan a envolveu e a conduziu até o seu tio. —Tio. Não está exagerando na bebida? Está vermelho. Bebida? Sila se perguntou. Seus tios não serviam bebidas. Aslan se abaixou e falou ao seu ouvido: —Ele sempre traz sua garrafinha de vodca nas festas. Seu tio sorriu. —Eu só despejei um pouquinho no suco. —Então chega. O senhor sabe que é hipertenso. —É eu sei—disse entortando os lábios com desgosto. Então

ele encarou Sila —Já lhe disseram que é a garota mais bonita da festa? —Meu marido me disse. —Ah, ele não vale. Pois eu te digo que é. —Obrigada. —Sila disse, seu rosto se encheu de vermelho com seu constrangimento. Não estava acostumada a receber elogios tão sinceros como este. Aslan começou a falar com ele sobre a fábrica, Sila ficou observando os dois. Dava para ver como um gostava do outro. Sila sorriu ao constatar isso. Quem diria! No passado se sentia tão zero à esquerda. Agora não. Se sentia bem, bonita, capaz. Mudara muito. Por dentro e por fora. Um garçom se aproximou e ofereceu uns quitutes salgados de ricota e um outro sucos gelados. Todos se serviram, inclusive ela. Não demorou muito deu vontade de ir ao banheiro. Comunicou a Aslan. —Estarei aqui te esperando. Depois se quiser, podemos ir embora. O que acha? —Acho ótimo. Sila se afastou deles. Sua postura agora era confiante. Estava pouco se lixando para o que pensavam dela. No meio do caminho, Belma surgiu à sua frente o bloqueando. As garotas que a acompanhavam a cercaram também. A expressão raivosa e a tensão em seus ombros demonstravam claramente o quanto ela estava insatisfeita com sua presença —Não pensei que tivesse a coragem de vir à festa mesmo sabendo o quanto não é bem vista aqui! —Belma disse com um sorriso frio. As outras a acompanharam rindo e dizendo que era um

absurdo sua presença. Sila sorriu friamente. Era mestre em fazer isso. —Não vim pela festa. Não preciso de nada distoo. Estou aqui pelos meus tios. Ela riu. —Ah, como se eles apreciassem sua visita. Eles agradecem a todo instante à Allah por se verem livres de você, por ter te se casado. Eles veem isso um milagre. Sila não se abalou por isso, sua expressão não oscilou, continuou a encarando impassível. —Belma, já deixou seu recado, agora sai do meu caminho. —Sabe de uma coisa? Não vejo milagre nenhum! Qualquer garota com seu dinheiro e sem uma família para controlá-lo conquistaria um homem falido como Aslan Merv. Então isso não pode ser considerado um milagre. De repente sentiu a presença de alguém. E pelo maravilhoso perfume soube que eram imediatamente. Aslan surgiu ao lado de Sila. Sua altura, sua beleza gritante ao lado dela as calaram imediatamente. Um silêncio pesado se fez presente. Ele então a envolveu com seus braços lhe passando uma força aconchegante. —Canim, precisamos ir. Temos outro compromisso nos esperando. Os olhos de Sila denunciaram sua felicidade por ter um homem como Aslan, ao contrário de tudo que elas falavam dele. —Claro. —disse com um lindo sorriso para ele, o olhar apaixonado. Aslan sorriu e pegando a mão dela, depositou um beijo sem tirar os olhos dos seus. A maneira quente e apaixonada como ele a olhava lhe lançou um arrepio na espinha.

—Vai Canim. Eu te espero aqui. Sila desviou os olhos de Aslan com dificuldade, o coração disparado. Sim, ele era o homem que se tornou tudo para ela. Com um sorriso feliz encarou as mulheres que a olhavam sem falas agora. As garotas tinham no rosto uma expressão sem graça. Talvez por perceber o quanto ela e Aslan estavam realmente apaixonados. Isso não dava para dissimular. Todas se afastaram de si e Belma não viu outro jeito a não ser engolir sua raiva e se afastar com elas, colocando seu rabinho entre as pernas.

No carro Sila encarou seu marido, sua mão procurou a dele, onde ele deslizou o polegar com carinho. —Compromisso? —Sila perguntou se lembrando das falas de Aslan. Aslan sorriu e levou sua mão aos lábios. —E não? Claro que temos um. Com a nossa cama, nosso ninho de amor. Não vejo a hora de retirar esse seu vestido.

Sila sorriu. Um redemoinho de sensações boas e inquietantes surgiram com as fala dele e os olhos verdes, bem maquilados brilharam. —Hum, esse compromisso —disse num vaivém de emoções que a deixava quente por dentro.

Em casa ficaram olhando um para o outro numa mútua admiração. Os olhos de Aslan correram então seu ventre volumoso, os mamilos rijos e então seu rosto. Seus lábios cobriram os seus tomados de paixão. Mãos grandes apertaram seu corpo a trazendo mais ao seu encontro. Eram eles dando vazão a todo o desejo. Hoje ela sabia que ela era a única mulher que ele desejava

tocar desta maneira. O coração dele era todo seu. Sila suspirou com esses pensamentos o apertando mais nos braços. Aslan sorriu e segurou seu rosto entre as mãos. Então colou seus lábios nos seus, os provando cada um com calma. Ele então tomou sua boca com ímpeto, suas línguas se encontraram, descargas elétricas enrijeceram ainda mais seus mamilos, suas mãos correram seu corpo enquanto ele a beijava apaixonadamente. Só minutos depois ele encostou sua testa na sua carinhosamente. Ficaram assim por um tempo, Sila respirando o ar perfumado que saia da formosa boca de Aslan. —Eu te amo, Aslan —disse roucamente. — Repete — disse se erguendo e a olhando intensamente. —Eu te amo Aslan Yemen Merv. E sou muito grata por me transformar na mulher que sou hoje: confiante e, portanto, muito feliz... Aslan sorriu. Flutuando entre as nuvens mais altas, sem medo de cair, segurou o rosto de Aslan e tomou sua boca com paixão entrando naquele mundo maravilhoso, tão iluminado e que lhe revelaram um mundo de cores e sensações que ela nunca imaginou que um dia provaria.

Epílogo

Num sábado... Sila colocou a última louça no armário. Sorriu ao passar os olhos pela cozinha de sua linda casa no campo. Pronto. Estava tudo em ordem. Abaixou-se para observar Hilal, seu bebê de dois meses que tinha acabado de dormir no carrinho. —Senhora. Por que não se deita um pouco? Aproveita que o bebê está dormindo. Sila soltou o ar. —Eu farei isso Ozima. Quando Aslan chegar, diga que estou no quarto. —Pode deixar. Sila empurrou o carrinho pela casa. Eles não poderiam ter escolhido casa melhor. Era realmente linda. Ainda não se acostumara com tanta beleza. Ao longe avistou lá fora, através das portas de vidro de correr, a linda piscina brilhando convidativa. Sorriu feliz. Nada do que tivesse lhe traria tal felicidade se não fosse isso: poder amar Aslan e saber que ele também a amava com a mesma intensidade. Não era a casa e tudo que podiam desfrutar com a fábrica indo bem e seu dinheiro e sim a compreensão que foi uma acertada decisão permanecer casada com Aslan. Ele era tudo que se mostrou e muito mais... Sila pegou seu bebê e o colocou no berço. Deixou ligada a babá eletrônica e se dirigiu ao seu quarto. Deitou-se na cama confortável à espera de Aslan.

Depois do maravilhoso almoço que tiveram, ele tinha ido cortar os cabelos Almoço feito por Ozima? Não! Feito por ela. Ozima só a ajudava com a limpeza e organização da casa. Aslan criara nela esse amor por cozinhar. Cada dia inovava com novos pratos. Ouviu a porta se abrir e Aslan surgiu no quarto. Sorriu e fechou a porta. Sila correu os olhos pelos cabelos dele agora bem aparados e sorriu. —Ficou lindo com esse corte —disse, sentindo seu corpo pedir pelo dele. Abriu os braços num convite para ele se acomodar em seus braços. Aslan abriu um sorriso largo ao ver meu gesto. —Pelo jeito nosso filho vai demorar para acordar. —Sim, ele acabou de dormir. Com os olhos fixos nos seus, Aslan começou a retirar as roupas que voaram para a poltrona. Sila estremeceu de prazer e com urgência fez a mesma coisa, retirou seu vestido e tudo que atrapalhasse a sensação gostosa que sentia de sua pele nua nos braços dele. Seu corpo pesou no dela, seus lábios percorrem sua pele a fazendo estremecer de prazer. Ele então a beijou daquele jeito que lhe arrancava o fôlego, seu corpo cobrindo ainda mais o seu, num desejo impetuoso. Movida por uma necessidade devastadora de mostrar a ele o quanto o amava, o desejava, ela correu as mãos no corpo dele envolta em uma nuvem de luxúria. A onda de amor e desejo correndo como combustível em suas veias.

Aslan então se ergueu e a olhou por um momento, por tempo demais, como se tivesse voltado no tempo, meses antes, quando ela era uma outra mulher, uma outra Sila. —O que foi? —ela lhe perguntou com rouquidão na voz. —Estava pensando em tudo que passamos até chegarmos aqui. Sim, ela conhecia bem seu marido. Suspirou. — Eu te amo, Aslan. Ele lhe sorriu de leve. —Eu também. Você é a mulher da minha vida. —Eu sei —ela disse rindo nada modesta, muito confiante. Então o puxou para si e o beijou nos lábios com muito carinho e então o encarou. —Agora me ame, antes que nosso filho acorde. Aslan riu alto. —Como quiser, senhora Merv Sila sorriu… Todo seu sofrimento ficou para trás. Hoje era apenas um lembrete de como o mundo podia ser feio e sombrio, mas nem isso a abalava mais...

Fim.

Notes [←1] Menemen é um prato tradicional turco que inclui ovos, tomate, pimentão verde e especiarias como pimenta, pimenta vermelha, cebola, alho, queijo feta, presunto, pastirma, sal e orégano

[←2] Kebab :É feita uma mistura de carne moída (cordeiro ou bovina) com pimenta, pistaches, especiarias etc

[←3] Pide: é como nossa esfiha aberta.

[←4] Baklava: É um doce de massa folhada recheado com ricota e regado ao mel.
My Nothing Lovely Wife M. Nada A. Esposa

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