PAIXAO - 384 - Convite Casual - Lee, Miranda

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Vivienne estava totalmente perturbada; era a segunda vez naquele dia que Jack a excitava. Não conscientemente, é claro. Ou de maneira deliberada. Ele não tinha ideia dos pensamentos loucos que estava evocando. Ela desviou o olhar, então fez o que sempre fazia quando a vida ameaçava dominá-la. Concentrou-se na tarefa em mãos. – Então, Jack – começou ela, olhando-o com expressão profissional –, diga-me exatamente quais serão os termos de meu emprego. Jack franziu o cenho.

– Se você for lá comigo amanhã, pode inspecionar Francesco’s Folly por si mesma e me dizer quanto tempo acha que levará para completar o trabalho. E, considerando que você estaria me fazendo um favor especial ao aceitar este projeto, eu estou disposto a ser generoso. Vivienne arqueou as sobrancelhas. Jack Stone não era conhecido por sua generosidade. Ele era um homem de negócios justo, mas implacável. – Quão generoso? – perguntou ela. – Muito generoso. – Mas por quê? Tenho certeza de que você poderia conseguir diversos bons

designers para fazer o trabalho por um pagamento muito baixo. – Não quero qualquer outro bom designer, Vivienne. Eu quero você.

Querida leitora, O que você faz para curar uma dor de cotovelo? Devora uma caixa de bombons? Chora em um ombro amigo? Foge para debaixo das cobertas? Vivienne já tentou diversas alternativas, mas levar um fora do noivo e logo em seguida vê-lo no jornal com outra pede medidas drásticas! É aí que Jack Stone aparece com o remédio perfeito: uma ótima oferta de trabalho… E os efeitos colaterais são deliciosos momentos de paixão! Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books

Miranda Lee

CONVITE CASUAL Tradução Deborah Mesquita de Barros

2014

CAPÍTULO 1

– COMO

eu não posso ter Vivienne? – questionou Jack. – Eu sempre tenho Vivienne. Nigel suspirou. Não gostava de desapontar seu melhor cliente, mas não havia nada que pudesse fazer sobre isso. – Lamento, Jack, mas desde ontem a srta. Swan não trabalha mais para a Classic Design. Jack arregalou os olhos, em choque. – Você a demitiu? Agora, foi a vez de Nigel parecer ASSIM,

perplexo. – Dificilmente. Vivienne era uma de minhas melhores designers. Ela pediu demissão. Jack não pôde conter seu espanto diante dessa segunda notícia. Realmente, não conhecia Vivienne muito bem, apesar do fato de ela ter trabalhado para ele nos seus últimos três projetos imobiliários. Ela era uma jovem muito contida, que não se envolvia em conversa-fiada. Seu foco era no trabalho, que era brilhante. Jack lhe perguntara, não muito tempo atrás, por que ela não abria a própria empresa de design de interiores, e Vivienne

respondera que não queria esse tipo de estresse, especialmente agora que estava noiva, prestes a se casar. Ela comentara que não queria mais viver apenas para o trabalho, um sentimento com o qual Jack não se identificara... até o dia anterior. Ele estivera dirigindo pela área de Port Stephens, procurando um lugar adequado para outra casa de repouso, quando se deparara com um pequeno terreno à venda que o impressionara. Não era o que ele estava procurando, nem remotamente. Não era o tipo de terra certa, para começar; não plana o bastante. Também havia uma casa enorme no meio do terreno, erguida

sobre o topo de um morro. Uma casa diferente de qualquer coisa que Jack já vira, com um nome tão estranho quanto a construção. Apesar de saber que estava perdendo tempo, Jack sentira-se compelido a inspecionar Francesco’s Folly. Desde o momento que ele entrara no primeiro dos muitos terraços com vista para a baía, soubera que queria o lugar. Não apenas o queria, como queria morar nele. Loucura, uma vez que Port Stephens ficava a três horas de carro do norte de Sydney. Jack morava num apartamento relativamente modesto de três dormitórios, no mesmo edifício que

hospedava a matriz de sua empresa de construção. Exceto pela localização inconveniente, Francesco’s Folly estava longe de ser uma residência modesta, com oito quartos, seis banheiros e uma piscina com cobertura retrátil que humilharia uma mansão de Hollywood. Como um solteiro convicto, que nunca recebia pessoas em casa, Jack não tinha necessidade de uma casa daquele tamanho, mas não adiantava. Ele simplesmente precisava tê-la, dizendo a si mesmo que talvez estivesse na hora de relaxar e viver um pouco. Afinal de contas, vinha trabalhando seis ou sete dias por semana, ganhando milhões por

duas décadas. Por que não ceder a um capricho uma vez? Não precisava viver no lugar a semana inteira. Poderia usar a casa para passar os fins de semana ou as férias. Assim como o resto de sua família. Pensar no prazer deles em ter um lugar dos sonhos a sua disposição levara Jack a fechar o negócio, comprando Francesco’s Folly naquela mesma tarde por uma barganha, em parte porque era uma propriedade morta, mas principalmente porque o interior era muito antiquado... o que justificava sua necessidade por um excelente designer de interiores, um cujo gosto e ética combinassem com os seus. Irritava-o

que a única pessoa em quem podia confiar para fazer um bom trabalho não estivesse disponível para ele. Mas, então, ocorreu-lhe que talvez esse não fosse o caso. – Quem foi o caçador de talentos que a roubou de você? – perguntou ele, excitado pela possibilidade de que ainda poderia contratar a decoradora que queria para o trabalho. – Vivienne não foi trabalhar para outra pessoa – informou-o Nigel. – Como você sabe? – Ela me disse. Ouça, Jack, se quer saber, Vivienne não está bem no momento. Ela decidiu parar de trabalhar

por um tempo. Jack estava atônito. – Como assim não está bem? Qual é o problema com ela? – Acho que eu posso lhe contar. É algo de conhecimento público, afinal de contas. Jack franziu o cenho. Certamente, aquilo não era do seu conhecimento. – Pela sua expressão – disse Nigel –, imagino que você não leu a coluna de fofocas no jornal de domingo ou viu as fotos. – Nunca leio colunas de fofocas – replicou Jack. – Então, o que eu perdi? Embora, sinceramente, não posso

imaginar uma garota como Vivienne numa coluna de fofocas. – Não era Vivienne. Era o ex-noivo dela. – Ex-noivo... Deus, quando isso aconteceu? O noivado dela parecia tão sólido da última vez que eu a vi, algumas semanas atrás. – Daryl rompeu o noivado aproximadamente um mês atrás. Disse a ela que tinha se apaixonado por outra pessoa. A pobre garota ficou arrasada, mas foi corajosa e seguiu em frente. É claro, o patife alegou que não a traíra enquanto eles estavam noivos, mas o jornal de ontem provou que era mentira.

– Pelo amor de Deus, Nigel, conte-me o que estava no maldito jornal! – A garota por quem Daryl dispensou Vivienne não era uma garota qualquer. Ele a deixou por Courtney Ellison... a filha mimada de Frank Ellison. Vivienne fez o trabalho de decoração na mansão que você construiu para Ellison, então suponho que foi como os dois pombinhos se conheceram. De qualquer forma, o noivado deles foi anunciado na coluna de fofocas. Nas fotos, a garota Ellison está usando um anel de noivado do tamanho de um ovo... assim como uma barriga grávida, deixando claro que o caso deles vem acontecendo há algum

tempo. – Naturalmente, não foi mencionado que o bonito futuro marido de Courtney estivera recentemente noivo de outra mulher. O pai dela teria abafado isso. Não existe um magnata de minas bilionário neste país sem muitas conexões com a mídia. Como você pode imaginar, Vivienne ficou muito abalada com tudo isso. Estava aos prantos ao telefone ontem, o que não é típico dela. Jack não poderia ter concordado mais. Chorar não combinava com o estilo de Vivienne. Ele nunca conhecera uma mulher tão fria e composta como ela. Mas supunha que todos tinham seu

ponto fraco. Balançou a cabeça, arrependendo-se agora de tê-la recomendado para Frank Ellison. Detestava pensar que era, de alguma forma, responsável pela infelicidade de Vivienne. Mas como poderia saber que Ellison tinha uma filha que poria as garras no noivo de Vivienne? Jack encontrara Daryl apenas uma vez, quando dera uma passada rápida na festa de Natal de Classic Design, no ano anterior, mas tinha sido o bastante para formar uma opinião. Certo, então Daryl possuía a aparência de um astro de cinema. E o charme, ele supunha, para quem apreciava pessoas que falavam

demais, sorriam demais, tocavam demais, e chamavam a noiva de “benzinho”. Claramente, Vivienne gostava, já que estivera planejando se casar com o homem. Sem dúvida, com o tempo, Vivienne descobriria que o abandono de Daryl a poupara de um sofrimento de longa duração. Enquanto isso, a última coisa que ela precisava era afundar-se em sua tristeza atual. Jack entendia que ela devia estar arrasada, mas Vivienne não ganharia nada ao se privar da única coisa que a faria se sentir bem sobre si mesma: seu trabalho. – Entendo – murmurou ele, decidindo

um curso de ação. – Por acaso, você tem o endereço de Vivienne, Nigel? Eu gostaria de lhe enviar algumas flores – acrescentou, antes que Nigel lhe dissesse para não se intrometer em assuntos particulares. Nigel olhou para Jack por um longo momento, antes de acessar um arquivo em seu computador e anotar o endereço requisitado. – Eu não gosto da sua ideia – murmurou ele, estendendo-lhe o endereço. – Que ideia? Nigel deu um sorriso irônico. – Ora, Jack, nós dois sabemos que

você não quer o endereço de Vivienne apenas para lhe mandar flores. Vai à casa de Vivienne tentar convencê-la a fazer o que você quer. Que é o quê, a propósito? Outro projeto de casa de repouso? – Não – replicou Jack. – É um projeto pessoal, uma casa de férias que eu comprei e que precisa urgentemente ser redecorada. Manter-se ocupada fará bem a Vivienne. – Ela está muito frágil no momento – avisou Nigel. – Nem todos são tão fortes como você, Jack. – Eu sempre achei que as mulheres são muito mais fortes do que nós,

homens, pensamos que somos. – Jack levantou-se e estendeu a mão em despedida. Nigel tentou não fazer uma careta quando a mão grande de Jack apertou a sua, muito menor. Realmente, o homem não conhecia sua própria força, às vezes. Não conhecia as mulheres como pensava, também. De maneira alguma conseguiria convencer Vivienne a trabalhar para ele. Além do fato de que ela estava num terrível estado emocional no momento, nunca gostara do dono da Construções Stone... algo que Jack obviamente não sabia. Mas, privadamente, ela dissera a

Nigel que era terrível trabalhar com Jack, um viciado em trabalho, com padrões impossivelmente altos, os quais, embora fossem admiráveis por um lado, podiam ser muito exaustivos. É claro, ele pagava muito bem, mas isso não ia ajudá-lo no que dizia respeito à Vivienne. Dinheiro nunca a interessara muito, possivelmente porque ela herdara uma enorme quantia quando sua mãe falecera, dois anos atrás. – Se você quiser um conselho – falou Nigel quando Jack estava à porta –, na verdade, levar flores para Vivienne... não rosas vermelhas... pode ajudar suas chances de sucesso.

Embora Nigel duvidasse muito disso.

CAPÍTULO 2

O ENDEREÇO de Vivienne foi fácil de achar. Era localizado em Neutral Bay, apenas um curto trajeto de carro do escritório da Classic Design, em North Sydney. Achar uma floricultura antes não foi muito fácil. Nem decidir quais flores comprar. No momento que Jack estacionou do lado de fora do prédio de dois andares, onde ficava o apartamento de Vivienne, uma hora tinha se passado desde que ele deixara Nigel. Não sendo um homem que gostava de

perder tempo, foi de maneira exasperada que Jack desceu de seu Porsche preto, carregando a cesta de cravos brancos e cor-de-rosa que a florista finalmente o convencera a comprar. Uma súbita chuva de outono o pegou de surpresa enquanto ele andava até o edifício e entrava no pequeno saguão. Felizmente, não ficou muito molhado, apenas alguns pingos nos ombros e cabelo. Não havia um painel de segurança em lugar algum. O prédio era velho, apesar de bem conservado. Ele apertou a campainha do apartamento dela. Ninguém atendeu imediatamente,

fazendo-o pensar que talvez Vivienne não estivesse em casa. Jack arrependeuse agora de não ter ligado antes. Tinha o celular dela no seu telefone. Apenas presumira que ela estivesse em casa, depois do que Nigel dissera. – Eu sou um idiota – murmurou baixinho, tirando o celular do bolso e acessando o número de Vivienne na agenda. Estava prestes a ligar, quando ouviu uma fechadura sendo girada. Mas não foi Vivienne quem abriu a porta, e sim uma mulher rechonchuda de meiaidade, com cabelo loiro curto e um rosto amável. – Pois não? Posso ajudá-lo?

– Espero que sim – replicou Jack, guardando o telefone no bolso. – Vivienne está em casa? – Sim, mas... ela está tomando banho no momento. Presumo que as flores são para ela, sim? Se deixá-las comigo, eu entregarei a Vivienne. – Eu preferia entregá-las pessoalmente, se não se importa. A mulher franziu o cenho. – E quem é você? – Jack. Jack Stone. Vivienne trabalhou para mim em algumas ocasiões. – Ah, sim, sr. Stone. Ela o mencionou uma ou duas vezes.

Jack ficou intrigado diante do tom seco na voz da mulher ao falar aquilo. Por um momento, perguntou-se o que Vivienne dissera a seu respeito, mas então descartou o pensamento como irrelevante. – E você é...? – Marion Havers. Eu moro no apartamento dois – disse ela, gesticulando a cabeça para a porta ao lado. – Vivienne e eu somos boas amigas, assim como vizinhas. Suponho que, uma vez que você trouxe flores para ela, sabe o que aconteceu. – Na verdade, eu não sabia de nada até que fui ao escritório da Classic

Design esta manhã, a fim de contratar Vivienne para um trabalho. Nigel me explicou a situação, comentando como Vivienne estava triste, então eu pensei em vir ver como ela está. – Muita gentileza de sua parte. – A mulher deu um suspiro suave. – Como pode imaginar, a garota está devastada. Não consegue comer nem dormir. O médico receitou calmantes para ela dormir, mas parece que não estão fazendo muito efeito. Depois desta última catástrofe, acho que Vivienne precisará de antidepressivos. Jack nunca concordara com o jeito que as pessoas recorriam a remédios

para solucionar problemas da vida. – O que Vivienne precisa, Marion, é manter-se ocupada. Este é o motivo principal pelo qual estou aqui. Tenho esperança de convencê-la a fazer um trabalho para mim. Marion olhou-o como se ele estivesse louco, mas então deu de ombros. – Você pode tentar, suponho. Mas não acho que tenha muita chance. Francamente, Jack achava que tinha uma ótima chance. Vivienne podia estar triste no momento, mas ainda era a mulher sensata que ele passara a respeitar muito. Veria a lógica de sua proposta.

– Posso entrar e esperar que Vivienne acabe o banho? – pediu ele. – Eu realmente apreciaria falar com ela hoje. Marion pareceu indecisa por um instante, até que consultou seu relógio. – Tudo bem. Eu não preciso sair para o trabalho antes de meia hora. Vivienne já deve ter saído do banho, então. – Ela sorriu-lhe. – Enquanto isso, eu tomaria um chá. Quer um também? Ou você prefere café? Jack sorriu de volta. – Pode ser chá. – Ótimo. Aqui, dê-me estas flores e siga-me. E feche a porta depois que entrar.

Marion o conduziu por um corredor estreito, que tinha um teto muito alto, paredes brancas e piso de madeira polida. Jack passou por três portas fechadas a sua esquerda, antes que o corredor se abrisse para uma sala, que o surpreendeu por ser tão parcamente mobiliada. Não tinha nada a ver com os cômodos elegantes, porém confortáveis, que Vivienne decorara para ele. Jack olhou ao redor com incredulidade. Onde estavam os calorosos toques femininos que eram a marca registrada dela? Não havia almofadas coloridas ou lustres bonitos, ou qualquer tipo de enfeite. Nem sequer

uma fotografia à mostra. Apenas um longo sofá de couro preto sobre um tapete de cor neutra e uma mesa de centro de madeira da mesma cor do piso. Um único quadro de moldura preta enfeitava as paredes brancas, exibindo uma garota vestida num casaco vermelho, andando sozinha ao longo de uma rua molhada de chuva. Obviamente, uma pintura de qualidade, mas não uma que agradava os olhos de Jack. Apesar da vestimenta vermelha, a garota parecia triste e fria. Como toda aquela sala de estar. Ocorreu-lhe que talvez Daryl tivesse

tirado algumas coisas da sala quando partira. Jack nem mesmo tinha certeza de como sabia que Daryl estivera morando com Vivienne, mas sabia. Ela devia ter mencionado alguma coisa em algum ponto. Ou, talvez, Daryl tivesse mencionado o fato na festa de Natal. Sim, era isso. Ele comentara que ia se mudar para a casa de Vivienne no AnoNovo. Então, era possível que houvesse mais móveis, mais quadros e mais fotos, antes de Daryl partir. A televisão ainda estava lá, Jack notou, na parede oposta ao sofá, sem móveis embaixo ou na lateral. Marion parou para colocar a cesta de

flores na mesinha de centro antes de conduzi-lo à cozinha, a qual, embora pequena, era brilhantemente projetada para incorporar todas as conveniências modernas, e ainda deixava espaço para uma mesa e quatro cadeiras. Evidentemente, tinha sido reformada há pouco tempo, uma vez que os topos do balcão e da mesa eram feitos de um tipo de pedra que se tornara popular durante os últimos anos. Branco, é claro; branco era a cor das cozinhas da atualidade. Assim como eletrodomésticos de aço inoxidável. Vivienne sempre insistia nesta combinação, nas cozinhas que projetava para ele. Mas ela geralmente

incluía um pouco de cor e outros toques decorativos: uma fruteira aqui, um vaso de flores ali. E, sim, alguma coisa colorida nas paredes. Não havia nada assim no apartamento de Vivienne, todavia. Se o apartamento fosse mesmo dela. Talvez fosse alugado. Ele não pensara sobre isso. Só havia uma maneira de descobrir. – Este apartamento é de Vivienne? – perguntou Jack, sentando-se à mesa. Marion olhou por sobre o ombro, de onde estava fazendo o chá. – É claro. Comprado quando ela recebeu uma herança, um tempo atrás. Foi mobiliado do chão ao teto no ano

passado. Não muito do meu gosto, mas cada um tem um gosto, não é mesmo? Vivienne é uma dessas mulheres que não suporta móveis aglomerados. – Posso ver isso. – Gostaria de alguns biscoitos para acompanhar seu chá? – ofereceu Marion. – Por favor – replicou Jack. Era quase uma hora da tarde, e ele não comia desde o café da manhã. – Como gosta do seu chá? – Preto, sem açúcar. Marion suspirou quando levou o chá e os biscoitos para Jack. – Só Deus sabe o que Vivienne está fazendo naquele banheiro. Ela está lá há

séculos. Eles se entreolharam, e Jack sentiu um aperto no peito ao ver a expressão alarmada de Marion. – Talvez você deva bater à porta e informá-la de que eu estou aqui. – Sim, eu farei isso – murmurou Marion e saiu da cozinha. Jack ouviu os passos da mulher no piso de tábuas, depois ouviu a batida à porta, seguida por uma voz ansiosa: – Vivienne, está acabando aí? Eu tenho de ir trabalhar logo, e você tem um visitante... Jack Stone. Ele quer falar com você. Vivienne, está me ouvindo? Quando Jack ouviu uma batida mais

forte à porta, indicando que Vivienne não respondera, levantou-se e correu para onde Marion estava, diante da primeira porta depois da sala. – Ela não responde, Jack – falou a mulher freneticamente. – E a porta está trancada. Você não acha que ela fez alguma tolice, acha? Jack não tinha certeza de nada, então bateu à porta. – Vivienne – chamou. – É Jack. Jack Stone. Abra a porta, por favor. Nenhuma resposta. – Droga – exclamou ele, examinando a porta do banheiro, que era de madeira sólida, mas também antiga, e,

esperançosamente, vítima de cupins ao longo dos anos. Dizendo a Marion para se afastar, ele usou o ombro para empurrar a porta com toda sua força, quebrando a fechadura no processo e soltando a porta de suas dobradiças. Jack quase caiu dentro do banheiro antes de endireitar o corpo para ver qual era a situação. Vivienne não estava em coma ou afogada debaixo da água, vítima de uma overdose de comprimidos para dormir. Estava viva e bem, levantando-se da banheira quando o barulho da porta se quebrando finalmente penetrou os fones de ouvido que ela estivera usando. O

grito agudo comprovou seu choque enquanto ela olhava, boquiaberta, para Jack. Jack permaneceu imóvel ali, totalmente sem fala. Não tinha parado para pensar sobre Vivienne estando nua. Tudo que pudera pensar, segundos atrás, tinha sido sobre a segurança dela. Agora, tudo que podia pensar era sobre a nudez de Vivienne. Seus olhos estavam fixos nos seios nus, que, sem dúvida, eram os seios mais lindos que ele já vira. Arredondados, firmes, com auréolas rosadas rodeando bicos tentadoramente eretos. Jack nunca pensara que Vivienne

tivesse seios grandes, porque ela estava sempre vestida de conjuntos de saia e blazer, os quais escondiam suas curvas. Ele lembrou que, mesmo na festa no Natal que tinha ido, ela usara um vestido largo que escondera o corpo espetacular com sucesso. Um corpo que fascinaria qualquer homem de sangue quente. Infelizmente, Jack era um homem de sangue quente, que não estivera com uma mulher desde o começo de março, mais de dois meses atrás. E seu corpo respondeu imediatamente. Graças a Deus, Marion passou por ele e começou a explicar a situação para uma Vivienne ainda boquiaberta.

Tirando os olhos daqueles seios magníficos, Jack virou-se e voltou para a cozinha, sentando-se, comendo um biscoito, enquanto pensava que realmente precisava arranjar uma vida para si mesmo. Uma vida sexual. Ele era, afinal de contas, um homem viril de 37 anos, no auge de sua sexualidade. Não podia restringir-se a casos de férias ou a encontros ocasionais de uma única noite. Necessitava de sexo em bases mais regulares. Mas isso significava arranjar uma namorada, algo que Jack relutava em fazer. Tivera namoradas antes, e elas sempre queriam mais do que apenas

sexo. Queriam encontros regulares, reuniões familiares, e, por fim, queriam uma aliança no dedo. Mesmo se estivessem dispostas a não se casar e apenas morar com um homem, inevitavelmente, queriam filhos. Jack não queria filhos. Pelos últimos vinte anos, tinha sido pai, assim como irmão mais velho, de suas duas irmãs, protegendo-as e sustentando-as, juntamente com sua mãe, que se tornara inútil quando, inesperadamente, ficara viúva aos 40 anos. Jack estivera com 17 anos quando seu pai morrera num acidente de moto. Depois, fora descoberto que seu pai tinha sido

inconsequente com dinheiro, não possuindo um seguro de vida e deixando uma montanha de dívidas. Sua mãe ficara destruída, não restando escolha para Jack senão se tornar o homem da casa. Jack havia sido obrigado a abandonar os estudos e arrumar um emprego, de modo que eles pudessem sobreviver. Ele sofrera muito por abandonar sua ambição de tornar-se engenheiro, mas não tivera alternativa. Jack trabalhara como pedreiro numa construtora, sete dias por semana, para pagar o aluguel e pôr comida na mesa. Felizmente, tinha sido esperto o bastante para aprender

muito sobre o negócio de construções em tempo recorde, e abrira sua própria construtora, uma que, ao longo dos anos, lhe rendera mais do que o suficiente para sustentar a si mesmo e a sua família. Não lamentava mais não ter se tornado engenheiro. Amava o que fazia. Amava sua família, também; muito. Mas sustentá-los e protegê-los por todos aqueles anos tivera um peso emocional sobre ele. Não restava espaço em seu coração para outra família. Ele não queria uma esposa. Ou filhos. Todavia, queria mais sexo. Mas isso não era tão fácil quanto

parecia. Hoje em dia, ele preferia ter sexo com uma mulher de quem gostasse, não com uma que apenas desejasse. E não somente por uma noite. O que precisava, decidiu, era de uma amante, uma mulher atraente e inteligente que ele pudesse visitar em bases regulares, mas que não lhe fizesse exigências emocionais ou sociais. Jack estava refletindo sobre seu problema quando Marion entrou na cozinha. – Desculpe, Jack, mas eu preciso ir me arrumar para o trabalho. Vivienne pediu que você esperasse aqui. Prazer em conhecê-lo – acrescentou ela, saindo

pela porta dos fundos. Jack fez uma careta diante do pensamento de ficar sozinho com uma Vivienne, sem dúvida, duplamente aborrecida. O que ela devia ter pensado ao vê-lo invadir seu banheiro daquele jeito? – Ouso dizer que ela também não está muito feliz sobre a porta do banheiro – murmurava ele quando Vivienne entrou na cozinha, vestida num roupão branco e pantufas combinando. – Pode apostar que não – disse ela, amarrando a faixa ao redor da cintura. O pensamento de que ela continuava nua debaixo daquele roupão era

desconcertante. Assim como o fato de que o cabelo de Vivienne estava solto, caindo em ondas castanhas sobre os ombros. Jack nunca a vira com o cabelo solto antes. Não tinha ideia de que era tão comprido. Ou tão bonito. Nem mesmo na festa de Natal ela o usara solto, ou ele teria notado. Teria mesmo? Jack nunca prestava muita atenção nas mulheres com quem trabalhava, ou naquelas que pertenciam a outro homem. Aprendera a não complicar sua vida, arranjando problemas com o sexo oposto. Sim, notara que Vivienne era uma garota atraente, porém suas

observações tinham parado aí. Agora, estudando-lhe o rosto mais de perto, descobriu que ela era mais do que atraente. Na verdade, ela era linda, com delicada estrutura óssea, um nariz reto e pequeno, lábios carnudos e olhos verdes maravilhosos. Como ele não notara aqueles olhos, antes? Talvez, porque ela usasse óculos escuros na maior parte do tempo. Olhos que agora o fitavam com o tipo de fúria que teria feito um homem mais fraco tremer. – Espero que você mande consertar aquela porta assim que possível – exigiu Vivienne.

– Eu farei isso hoje mesmo – concordou ele. – Não entendo por que você pensou que eu estivesse lá dentro me matando – continuou ela. – A mera ideia é ridícula. Jack desejou que tivesse confiado em seu instinto de que Vivienne não era do tipo suicida. Mas era tarde demais, agora. – Marion falou que você estava lá há muito tempo – explicou ele, esperando que seu tom calmo amenizasse a raiva dela. – E então, é claro, havia o que Nigel me contou esta manhã. – Oh, sim? – Ela cruzou os braços, dando-lhe um olhar sarcástico. – E o que

Nigel falou sobre mim? – Ele disse que eu não poderia contratá-la para um trabalho porque você tinha se demitido. – Aposto que isso não foi tudo que ele disse. – Não. Ele me contou o que aconteceu com Daryl e a garota Ellison. – Entendo – murmurou Vivienne, o queixo começando a tremer, como acontecia quando uma garota estava prestes a chorar. Jack conhecia bem o sintoma. Prendeu a respiração, incerto do que faria se ela começasse a chorar. Não gostava da ideia de ter de confortá-la fisicamente.

Abraçar mãe e irmãs chorando era muito diferente de abraçar uma mulher por quem ele estava, de súbito, muito atraído. Jack tinha a terrível impressão de que, se a tomasse nos braços nesse momento, poderia cometer alguma grande tolice. Como beijá-la. O que acabaria com qualquer chance de convencê-la a redecorar Francesco’s Folly. Vivienne, sem dúvida, o esbofetearia e o mandaria embora. Felizmente, ela não se dissolveu em lágrimas, firmando o queixo e adotando uma expressão desafiadora. – Bem, isso foi ontem! – declarou ela com o tipo de atitude que Jack não pôde

deixar de admirar. – Hoje é outro dia. Então, Jack – continuou Vivienne, sentando-se na cadeira oposta a ele –, qual é o trabalho para o qual você queria me contratar?

CAPÍTULO 3

VIVIENNE ACHOUa expressão surpresa, no rosto normalmente frio de Jack, satisfatória. Então, ele não era uma máquina, afinal de contas. Certo, ele tinha olhado para seus seios no banheiro, minutos atrás. Mas não do jeito que a maioria dos homens teria olhado. Não houvera luxúria nos olhos azuis. Não houvera nada além de choque. Possivelmente, porque ela não estava morta, como ele imaginara. Vivienne ficara abalada quando

Marion explicara que era isso que os dois tinham pensado, fazendo-a ver como seu comportamento não característico – especialmente sua demissão histérica do emprego – preocupava as pessoas que gostavam dela. Não Jack, é claro. Jack Stone não se importava com ela. Tinha ido lá, e levado flores, apenas para convencê-la a fazer o que ele queria. Não se importava se seu coração estava partido, contanto que ela concordasse em realizar o trabalho que ele tinha em mente. E o coração dela estava partido. Era ruim o bastante ouvir do homem

que você amava que ele não a amava mais. Pior era descobrir, depois, por quem ele a deixara. Pior ainda era ver o tamanho da barriga grávida de Courtney Ellison. A percepção de que Daryl a traíra por meses devastara Vivienne. Principalmente porque ela acreditara quando ele insistira que ainda não havia dormido com seu novo amor. Ela não suportava pensar em como tinha sido ingênua no que dizia respeito àquele homem. Não pensaria mais nisso, prometeu a si mesma. Endireitou a coluna e deu um olhar firme para Jack. A última coisa

que queria era desmoronar na frente de tipos como ele. – E então? Os olhos azuis escureceram, as sobrancelhas grossas se unindo numa expressão confusa. – Está dizendo que você realmente irá considerar minha proposta? – perguntou ele. Vivienne riu. – Não se for uma proposta de casamento. Mas estou disposta a considerar uma proposta de trabalho. Ocorreu-me que eu fui tola em largar meu emprego, especialmente se isso vai fazer as pessoas pensarem que eu estou

prestes a me matar. Então, sim, Jack, diga-me do que se trata e, se eu gostar da ideia, farei isso. Mais uma vez, Jack deu-lhe um olhar que nunca lhe dera antes. Também fez outra coisa: sorriu, um sorriso quase divertido, que era irritantemente inescrutável. Vivienne perguntou-se o que o fizera sorrir. Possivelmente, sua brincadeira sobre um pedido de casamento. No mundo das construções, todos sabiam que Jack Stone era um solteiro convicto. Nenhuma surpresa aí. Como poderia ser diferente? O homem era viciado em trabalho. Não teria tempo para uma

esposa e uma família. Ela nunca o vira com uma namorada, também. Nem mesmo na festa de Natal do ano anterior. Suspeitava, todavia, que ele não levava a vida de um monge. Era muito másculo para isso. “Testosterona ambulante” era como uma de suas colegas da Classic Design uma vez o descrevera. Vivienne entendia o que ela queria dizer. Com mais de 1,80m, Jack possuía ombros largos e um corpo poderoso. O rosto também era másculo, com uma testa alta, nariz forte, maxilar rígido e uma boca grande e benfeita. Cabelo curto escuro e sobrancelhas grossas

completavam o visual masculino. Sem dúvida, muitas mulheres o achariam atraente, apesar da falta de calor e charme. Os olhos azuis eram bonitos, mas estavam quase sempre duros e frios. Raramente brilhavam com humor, como acontecera um momento atrás. Não que isso fizesse alguma diferença para ela. Jack não era seu tipo, e nunca seria. Mas, por alguma razão, tentou imaginar qual era o tipo dele de mulher. Com quem Jack dormia? Quando conseguia encontrar tempo, é claro. Talvez ele tivesse uma amante em algum lugar, disponível para ele apenas para

sexo, sem esperar nada mais. Exceto dinheiro, é claro. O que Jack possuía muito. Vivienne estudou-lhe os olhos, tentando ver se ele era esse tipo de homem. Jack a encarou de volta, a expressão não mais divertida. Um estranho arrepio erótico percorreu a coluna de Vivienne quando ela percebeu que sim, ele devia ter uma amante. Que estranho, pensou, que ela achasse tal arranjo excitante. Deveria ter ficado enojada com a ideia. Mas não estava. Nem remotamente. – Você ficou muito quieta de repente – observou Jack.

– Desculpe. Eu estava pensativa. Estou muito pensativa hoje. Por isso, fiquei tanto tempo no banheiro... pensando. – E ela também ouvira música. Música muito alta, para entorpecer a mente. Por isso, não ouvira ninguém batendo à porta do banheiro. – Pensar muito não ajuda – disse Jack. – Agir é a solução para a maior parte dos problemas. Você precisa se ocupar, Vivienne. Se trabalhar para mim ou para outra pessoa, tanto faz. Mas precisa fazer alguma coisa, não apenas ficar sentada, sem comer e sem dormir, enquanto sua mente a atormenta com pensamentos depressivos. Logo, você

estará se enchendo de remédios, as semanas vão passar e, quando você se der conta, estará desempregada. – Oh... Pelo que parece, não foi somente Nigel quem lhe contou coisas, mas Marion também. – Eles só estão pensando no seu bem, Vivienne. – E você, Jack? Ao me oferecer este trabalho, você está pensando no meu bem? Ele deu de ombros. – Confesso que o seu bem não era a minha prioridade quando cheguei aqui hoje. Mas isso não significa que eu não tenho coração. Acredite quando digo

que um dia você ficará feliz que não se casou com aquele patife. Vivienne cerrou os dentes diante daquelas palavras, por mais bem intencionadas que tivessem sido. Amara Daryl, e levaria tempo para superar a traição dele. Ao mesmo tempo, não estava prestes a se afundar num buraco e permitir que ele a destruísse completamente. Jack estava certo. Ela ainda tinha seu trabalho. – Talvez – replicou Vivienne. – Certo, faça a sua proposta, e eu verei o que acho. Cinco minutos depois, Vivienne teve

de admitir que Jack a surpreendera. E também a intrigara. A última coisa que ela teria esperado era que ele quisesse seus serviços para redecorar uma casa de férias que ele comprara no meio do mato. Bem, não no meio do mato, exatamente. Port Stephens ficava na costa, perto do norte de Newcastle, que era a segunda maior cidade em New South Wales, e não muito longe de Sydney... aproximadamente duas horas e meia de carro. Devido a sua localização, Port Stephens tornara-se uma área popular de férias e descanso. Vivienne nunca estivera lá, mas havia lido sobre o lugar

num programa de viagens. Embora as praias e baías fossem espetaculares, e as diversas cidades salpicadas ao longo da costa, perfeitamente civilizadas, ainda havia muito mato ao redor. Não somente isso. Pelo que Jack dissera, a casa que ele comprara não era uma casa de praia típica, perto da areia. Dava vista para as águas, mas era erguida nas montanhas, e era simplesmente enorme, com uma decoração que lembrava tanto palacetes do Mediterrâneo quanto as mansões de Hollywood dos anos 1950. No geral, Francesco’s Folly parecia fascinante, e redecorá-la seria, sem dúvida, um desafio. Um desafio

consumidor que levaria séculos. Exatamente o que ela precisava no momento. – Tenho de admitir que você me surpreendeu – disse Vivienne. Jack recostou-se. – Mas você está interessada em fazer o trabalho? – Com certeza – replicou ela numa voz firme. – Agora, você me surpreendeu – admitiu Jack. – Eu estava certo de que você diria “não”. Vivienne deu de ombros. – Eu só disse que estou interessada, Jack. Este não é um “sim” definitivo

ainda. – E justo. – Jack olhou para seu relógio, então para ela, e os olhos azuis não brilhavam mais com humor. Ele agia de modo profissional, novamente. – Não sei quanto a você, mas eu estou faminto. Marion falou que não há muita comida aqui, então eu sugiro que você se vista, para irmos a um restaurante. Podemos discutir os detalhes do trabalho durante o almoço. Na verdade, eu não posso contratá-la antes que a escritura da propriedade seja transferida, mas isso não deve demorar. Liguei para meu advogado ontem à noite e pedi que ele apressasse as coisas. Enquanto isso,

tenho certeza de que o corretor de imóveis que está lidando com a venda nos dará as chaves, de modo que você possa olhar o lugar. Eu a levarei de carro lá amanhã. – Amanhã?! – exclamou Vivienne. – Qual é o problema? Não me diga que você tem outro compromisso, porque ambos sabemos que não tem. Vivienne reprimiu um suspiro. Supunha que era inútil pedir que Jack agisse de modo diferente do usual quando estava num local de trabalho, lidando com cada minuto do dia como se estivesse sempre atrasado. Se o homem tivesse uma amante, ela podia imaginar

como seriam as visitas. Ele telefonaria antes para mandá-la se despir, de modo que ela estivesse pronta para servi-lo no segundo em que ele passasse pela porta. Mais uma vez, Vivienne ficou chocada por achar o cenário excitante. Chocada por seu corpo sentir assim, seus mamilos enrijecendo sob o roupão. Graças a Deus, o tecido atoalhado era grosso e escondia tudo. Mas seu rosto devia ter enrubescido, e uma onda de calor percorria suas veias. O que era estranho. Vivienne não estava acostumada a ser sexualmente excitada por seus pensamentos. Sempre precisara de romance para excitá-la. E de um

homem por quem estivesse apaixonada. Seu primeiro pensamento de pânico foi dizer a Jack que não estava com fome, que ele deveria sair para comer e depois voltar. Mas então decidiu que estava sendo tola. Jack não sabia seus pensamentos secretos, ou sentimentos. E ela estava com fome. – Bem, vá se vestir – ordenou Jack. Vivienne fez uma careta, mas levantou-se e foi para o quarto, esperando que a irritação que o jeito mandão de Jack sempre lhe causava dosasse o calor inesperado que ele estivera gerando. Não que ele a estivesse excitando; haviam sido as

imagens sobre uma amante dele que provavelmente nem existia. Por que Vivienne a inventara, disso ela não tinha ideia. Mas jurou tirar a amante imaginária e Jack da cabeça. Todavia, era mais fácil falar do que fazer. Enquanto vestia uma calcinha branca de algodão e um sutiã branco de lycra, que minimizava, em vez de realçar, o tamanho de seus seios, começou a imaginar que tipo de lingerie amantes usavam. Alguma coisa muito sexy, sem dúvida. Possivelmente, não usassem nada, em absoluto. – Oh, Deus! – exclamou Vivienne, e abaixou a cabeça nas mãos.

CAPÍTULO 4

JAKE

cinco chamadas perdidas, fez arranjos para que um homem fosse consertar a porta de Vivienne no dia seguinte e reservou uma mesa para um almoço tardio no tempo que levou para Vivienne reaparecer, vestida de calça preta, blusa branca e uma jaqueta de linho preta. O cabelo ainda estava solto, e ela usava o mínimo de maquiagem, especialmente ao redor dos olhos, que estavam vermelhos. – Você chorou – disse ele ATENDEU

estupidamente, antes que pudesse pensar. Vivienne deu-lhe um olhar sarcástico. – É o que as mulheres fazem quando os homens que elas amam as traem. Lamento, Jack, mas se quer que eu trabalhe para você durante as próximas semanas terá de arriscar presenciar algumas lágrimas. – Tudo bem. Contanto que você não espere que eu faça alguma coisa sobre elas. Ela pareceu perplexa. – Como o quê? – Eu tenho uma mãe e duas irmãs – Jack a informou. – Se eu não as abraçar

quando elas choram na minha frente... o que é depressivamente frequente... eu seria banido da vida delas para sempre. – Você tem uma mãe e duas irmãs? Jack riu da expressão chocada no rosto de Vivienne. – O que você pensou... que eu fui abandonado num local de construção quando era bebê? Ela sorriu. Realmente sorriu. Não uma característica comum de Vivienne, que era uma garota séria. – Não – respondeu ela. – Mas você não me parece um homem em contato com esse lado feminino. – Então, você está enganada. Viver

com três mulheres por grande parte da minha vida significou que eu não tive escolha. Todavia, tive mais contato com o lado feminino delas do que com o meu próprio. Confesso que não sou o tipo de cara que cozinha, lava e envia cartões sentimentais, mas sou muito bom em abraços. – E traz as flores certas quando necessário. Pelas quais eu não agradeci – acrescentou ela, parecendo sincera. – Desculpe-me, Jack. Eu não costumo ser rude. Ou ingrata. Suponho que não estou sendo eu mesma no momento. – Desculpas aceitas. Agora, vamos? O tempo está passando e eu reservei

uma mesa para o almoço. Ela piscou. – Reservou? Onde? – Por que eu não lhe faço uma surpresa? ELE CERTAMENTEsurpreendeu Vivienne novamente, em mais de uma maneira. Não apenas a levando a um restaurante chique de frutos do mar, com vista para a praia Balmoral, mas também pelo jeito como foi tratado pelos funcionários de lá... como se fosse um cliente extremamente valorizado, que merecesse a melhor mesa e o melhor serviço. E foi o que ele recebeu, com os drinques e os pedidos deles levados à mesa sem

demora. Claramente, Jack estivera lá mais de uma vez, o que fez Vivienne imaginar que talvez ele não fosse tão viciado em trabalho, assim. Talvez, ele tivesse uma vida social ativa. E uma namorada, em vez de uma amante. Não que ela fosse fazer uma pergunta tão pessoal. Não diretamente. Mas curiosidade a venceu, no final. – Você vem aqui com frequência? – Ela deu um gole de sua água. Tinha recusado a oferta de vinho. Se começasse a beber, poderia se tornar sentimental novamente. – Sim – replicou ele. – Minha mãe

mora naquele morro ali. Ela adora frutos do mar, então eu a trago aqui pelo menos uma vez por mês. Nós também viemos aqui no Dia das Mães, este ano, com o resto da família. Considerando que minhas duas irmãs estão casadas, com filhos, tivemos de reservar uma mesa bem grande. – Entendo – murmurou Vivienne, então decidiu que queria saber mais. – E você, Jack... não é casado, com filhos? – Se eu dissesse que nunca tive tempo ou energia para isso, você provavelmente não acreditaria. Mas é verdade. Meu pai morreu quando eu tinha 17 anos, deixando a família cheia

de dívidas. Eu precisei abandonar a escola e trabalhar imediatamente. Não fiquei feliz; eu tinha planos de ir para a faculdade e me tornar engenheiro. Tal sonho acabou, mas eu não reclamo. Acabei vencendo com o que tinha. – Você certamente venceu – concordou Vivienne. – Sua empresa não é apenas bem-sucedida, mas é uma das melhores construtoras em Sydney, com a reputação de terminar projetos com o orçamento inicial, no prazo combinado e com boa mão de obra. Jack sorriu-lhe. – Você se esqueceu de mencionar que eu só contrato os melhores profissionais,

o que inclui designers de interiores. – E você esqueceu de mencionar por que, depois que alcançou o sucesso, ainda não teve tempo para casamento e filhos. Afinal, você já chegou ao topo da escada profissional há um bom tempo. – Verdade. Mas chegar lá foi trabalho árduo. Então, havia a responsabilidade de cuidar de minhas duas irmãs mais novas e de minha mãe. De minha mãe, em particular. Mamãe não é a mulher mais forte, emocionalmente. Depois que meu pai morreu, ela ficou despedaçada. Mesmo agora, tende a cair em depressão com facilidade. Algumas pessoas são assim, sabe? É difícil para elas, e difícil

para as pessoas que as amam e cuidam delas. – Sim. – Vivienne falou com mais empatia do que ele poderia perceber. – Com certeza, é. – É uma situação difícil de entender, a menos que você a viva – disse ele, assumindo... erroneamente... que tais problemas não eram familiares para ela. – De qualquer forma, quando eu comecei a ganhar bastante dinheiro, não quis assumir mais compromissos ou responsabilidades. E ainda não quero. Eu... – Ele parou, de repente. – Por que eu estou lhe contando tudo isso? – Ora, Jack, não banque o “machão”

comigo. Não há problema em expressar seus sentimentos, de vez em quando. Mulheres fazem isso o tempo inteiro. Você devia ouvir Marion e eu quando saímos juntas. Se quer saber, eu acho que é doce o jeito que você cuida de sua família, especialmente de sua mãe. Quanto a não querer casamento e filhos... Bem, não há nada de errado com isso, também. Você tem o direito de viver como quer. Eu só estava curiosa. Afinal de contas, você é um “bom partido”. Ouso dizer que houve muitas mulheres o perseguindo ao longo dos anos. – Eu fui alvo em diversos momentos,

sim. – Ele abriu a boca para acrescentar alguma coisa, então a fechou. Naquele momento, a refeição deles chegou... lagostas com batatas fritas e salada. – Oh, meu Deus – exclamou ela com um gemido, olhando para a comida. – Eu não percebi, até este momento, com quanta fome estava. – Eu também estou faminto. Vamos parar com a conversa e atacar. E eles atacaram, toda a conversa cessando, enquanto se concentravam na refeição deliciosa. Vivienne dava um suspiro satisfeito ocasional, enquanto Jack apenas mastigava. Não foi até que

seu prato estivesse totalmente vazio que ela levantou a cabeça, apenas para descobrir que ele também acabara sua lagosta e estava lambendo os dedos com deleite. – Isto estava realmente bom – disse ele. Vivienne não ouviu uma palavra. Porque estava olhando para o que Jack estava fazendo, e tendo os pensamentos mais inapropriados sobre os dedos dele. Aqueles dedos incrivelmente longos... Quando uma fantasia estranha evolvendo Jack e ela preencheu sua cabeça, Vivienne sentou-se ereta, pressionando as costas contra o espaldar

da cadeira. Estava totalmente perturbada; era a segunda vez naquele dia que Jack a excitava. Não conscientemente, é claro. Ou de maneira deliberada. Ele não tinha ideia dos pensamentos loucos que estava evocando. Ela imaginou se seu foco em coisas sexuais tinha alguma coisa a ver com o fato de Daryl tê-la deixado. Durante o último mês, Vivienne questionara, inúmeras vezes, se satisfizera Daryl na cama, embora ele sempre dissesse que sim. Perguntara-se, durante suas reflexões na banheira, se Courtney Ellison fazia coisas estranhas que Daryl

sempre desejara secretamente, e sem as quais não podia viver agora. Talvez, seu próprio comportamento estranho hoje refletisse um tipo de vingança, o desejo louco de provar para si mesma que podia ser tão selvagem sexualmente quanto qualquer mulher. De qualquer forma, não podia negar que estava excitada naquele momento. Se Jack pelo menos parasse de lamber aqueles dedos. Ela desviou o olhar, então fez o que sempre fazia quando a vida ameaçava dominá-la. Concentrou-se na tarefa em mãos. – Então, Jack – começou ela,

olhando-o com expressão profissional –, diga-me exatamente quais serão os termos de meu emprego. Jack franziu o cenho, enquanto pegava o guardanapo de linho e limpava os dedos. – Não posso lhe dar detalhes específicos ainda – replicou ele. – Não até que eu veja o lugar novamente. Se você for lá comigo amanhã, pode inspecionar Francesco’s Folly por si mesma, e me dizer quanto tempo acha que levará para completar o trabalho. Ao mesmo tempo, considerando que você estaria me fazendo um favor especial ao aceitar este projeto, eu estou

disposto a ser generoso. Vivienne arqueou as sobrancelhas. Jack Stone não era conhecido por sua generosidade. Ele era um homem de negócios justo, mas implacável. – Quão generoso? – perguntou ela. – Muito generoso. – Mas por quê? Tenho certeza de que você poderia conseguir diversos bons designers para fazer o trabalho por um pagamento muito baixo. – Não quero qualquer outro bom designer, Vivienne. Eu quero você.

CAPÍTULO 5

AO

que queria Vivienne, Jack tinha feito uma declaração estritamente profissional, a mesma que fizera para Nigel naquela manhã. Mas, enquanto fitava aqueles lindos olhos verdes, percebeu que não queria Vivienne apenas profissionalmente, mas fisicamente, também. Foi uma percepção que o deixou sem fala. Afinal de contas, até aquele dia, nunca se imaginara com Vivienne. Apesar de achá-la bonita, ela nunca o DIZER

excitara antes. Entretanto, já fizera isso duas vezes naquele dia. Uma vez, quando ele a vira nua no banheiro, e agora ali, no restaurante. Foi essa segunda ereção inesperada que o impressionou, porque nada acontecera para lhe causar tal desejo: nenhum tipo de nudez, ou de flerte. Ora, eles estavam apenas discutindo negócios. Mas luxúria estava muito no controle do corpo de Jack no momento. E de sua mente. Sem esforço, sua mente despiu Vivienne, até que ela estivesse nua a sua frente, a imagem tornando sua excitação

quase dolorosa. Meu Deus, o que eu vou fazer agora? Absolutamente nada, veio a resposta racional. Porque não havia nada que ele pudesse fazer. Flertar com Vivienne no estado emocional que ela se encontrava era tanto inconcebível como provavelmente improdutivo. Mas e mais tarde?, perguntou-se. O trabalho que ele lhe pedira para fazer levaria semanas. Talvez, meses. Jack aguentaria esperar tanto tempo antes de fazer uma tentativa? Provavelmente não, se o volume em seu jeans fosse alguma indicação. – Mas por que você me quer? –

persistiu Vivienne. Jack esperou que seu semblante não traísse seus pensamentos, porque eles não tinham nada a ver com trabalho. – Por quê? Porque você é muito boa no que faz – respondeu ele. O garçom chegou naquele momento, tirando os pratos e perguntando se eles queriam sobremesa. Vivienne recusou, assim como Jack, que pediu apenas café para ambos. No momento que eles ficaram sozinhos de novo, ele conseguira bloquear as imagens bombardeando seu cérebro, sua consciência castigando-o por reduzir uma garota como Vivienne a pouco mais

que um objeto sexual. Vivienne ficou muito aliviada pela chegada do garçom, que a impedira de fazer mais perguntas tolas, como aquela de por que Jack a queria especificamente para o trabalho. O que esperara que ele dissesse, pelo amor de Deus? Já sabia que ele gostava do seu trabalho. Ela estivera procurando mais elogios, ou alguma coisa mais... algo que não ousava admitir, nem para si mesma? Quando outra onda de desejo inundou seu corpo, ela levantou-se tão abruptamente que a cadeira quase caiu. Vivienne segurou-a a tempo, dando um

sorriso fraco para Jack, antes de pedir licença para ir ao toalete. Dentro do banheiro, olhou para seu reflexo confuso no espelho acima de pias gêmeas. Deus, o que estava lhe acontecendo? Primeiro, ela tivera fantasias estranhas envolvendo os dedos de Jack, depois tivera a esperança de que ele dissesse que a queria para o trabalho porque a desejava. O que era loucura, considerando que qualquer mulher sabia quando um homem tinha interesse nela. E Jack não tinha. Nunca tivera. Do mesmo jeito que ela nunca tivera interesse nele. Até hoje. De súbito, achava-o muito atraente. E sexy.

Mortalmente sexy. A parte lógica de sua mente dizia que isso tinha alguma coisa a ver com o fato de Daryl tê-la deixado. O abandono dele deixara Vivienne desesperada. Desesperada por alguém que, se não a amasse, pelo menos a desejasse. Mulheres faziam coisas estúpidas depois de ser dispensadas. Uma amiga sua uma vez cortara o cabelo bem curto e o pintara de branco. Outra havia dormido com um homem diferente a cada noite por um mês. Não se chegava aos 27 anos sem ter testemunhado algumas de suas amigas perderem a cabeça por causa de homens.

Vivienne não pretendia cortar o cabelo. Ou pintá-lo de loiro. Nem pretendia frequentar bares, à procura de homens com quem passar a noite. Mas estava terrivelmente tentada a lutar para que Jack Stone a quisesse mais do que para redecorar Francesco’s Folly. Queria que ele a fitasse com fogo naqueles olhos azuis frios. Queria que a desejasse tanto que nada o impedisse de tê-la. Vivienne balançou a cabeça. A quem estava enganando? Nada disso iria acontecer. Ela nem sabia flertar, muito menos brincar de femme fatale. Antes de Daryl, tivera pouquíssimos amantes.

Era tímida no que dizia respeito a sexo. Tinha sido Daryl quem a seduzira, fazendo-a se apaixonar. Vivienne franziu o cenho. Aquilo era verdade? Daryl a fizera apaixonar-se? Como isso soava estranho, como se ela não tivesse tido escolha. Se houvesse alguma coisa do que Vivienne se orgulhava era de sua habilidade de tomar decisões na vida. De decidir. Era isso que estivera fazendo na banheira hoje... decidindo o que faria com o resto de sua vida. Não que tivesse chegado a alguma conclusão sobre a questão. Ainda estava muito triste para pensar racionalmente. No final, apenas relaxara

na água morna e ouvira música, inconsciente do passar do tempo. Quando Jack arrombara a porta, Vivienne ficara totalmente chocada, sem mencionar embaraçada. Não tinha gostado de vê-lo olhando para seus seios nus. Não era uma exibicionista! O que tornava suas respostas sexuais subsequentes ainda mais difíceis de entender. Quando outra mulher entrou no toalete, Vivienne entrou num dos cubículos, onde, com um pouco de sorte, poderia se sentar e pensar em paz. Detestava não estar sozinha para pensar claramente.

Então, o que você vai fazer sobre esta oferta de trabalho de Jack, Vivienne?, perguntou-se. Você não precisa aceitar. Ele não pode forçá-la. Vamos, garota, tome uma decisão! Vivienne mordeu o lábio enquanto considerava os prós e os contras. Rejeitar a oferta não seria uma decisão muito sábia se ela quisesse continuar sendo designer. Jack era um homem poderoso na indústria de construções. Ao mesmo tempo, seria estranho trabalhar com ele num projeto tão pessoal. Sem dúvida, eles passariam muito tempo juntos. Não seria uma situação agradável se Jack continuasse

lhe despertando pensamentos libidinosos. Mas qual era a alternativa? Dizer “não” e ficar em casa, remoendo sua tristeza? Vivienne tremeu com o pensamento. Talvez pudesse viajar para algum lugar. Mas ainda estaria sozinha. Sozinha e infeliz, com nada para distraíla. Era melhor retirar seu pedido de demissão e voltar a trabalhar para a Classic Design, em vez disso. Fugir nunca resolvia problemas. Era preciso enfrentá-los. Encarar a realidade! Certo, então encare isso, Vivienne! Por alguma razão estranha e maravilhosa, hoje você está

loucamente atraída por Jack. E loucamente excitada. Todavia, não existe base para esta súbita atração, ela argumentou consigo mesma. Jack nem mesmo era seu tipo. Vivienne sempre achara que homens grandes eram intimidadores. Talvez essa fosse uma aberração temporária. Talvez acordasse na manhã seguinte e esses sentimentos loucos tivessem desaparecido. Tranquilizada por tais racionalizações, Vivienne decidiu não tomar uma decisão precipitada. Esperaria para ver o que aconteceria no dia seguinte. Se a viagem com Jack para

lá fosse frustrante e confusa, ela declinaria a oferta, dizendo que lamentava, mas que não se sentia disposta para o trabalho. Certamente, Jack entenderia. Ou não? Ela voltou para a mesa deles, encontrando Jack com expressão irritada enquanto ele tamborilava os dedos sobre a toalha de linho branco. Ele era um homem muito impaciente, exigente e descontente, a menos que as coisas saíssem do seu jeito. Pensando nisso, Vivienne concluiu que ele provavelmente não reagiria bem se ela recusasse sua proposta. – O café ainda não chegou? –

perguntou ela, puxando uma cadeira e sentando-se. – Não. Então, você aceita ou não, Vivienne? Seja direta. Vivienne quase sorriu. Oh, sim, as coisas tinham voltado ao normal. Mas ela não seria intimidada a dar uma resposta prematura. – Eu não quero me comprometer antes de ver Francesco’s Folly pessoalmente, Jack. – Tudo bem. Eu a apanharei amanhã cedo. Por volta das 7h. Portanto, não tome muitos daqueles calmantes que o médico lhe receitou para dormir. Vivienne deu um suspiro exasperado.

– Marion é uma boa amiga, mas fala demais. O que mais ela lhe contou sobre mim? – Não muita coisa. Ela disse que o apartamento era seu, e não alugado. Mas somente porque eu perguntei. – Entendo. E por que você queria saber? – perguntou ela, pensando que ele provavelmente quisera avaliar sua situação financeira. Conhecimento era poder, afinal de contas. – Por nenhuma razão específica. Eu apenas fiquei surpreso com a decoração pobre do lugar, que não tinha seu estilo e calor característicos. – Oh – murmurou Vivienne, perplexa

que ele notara. Seu peito se comprimiu, como sempre acontecia quando ela pensava nos motivos pelos quais seu apartamento estava daquele jeito. Quando Marion lhe fizera a mesma pergunta, ela apenas respondera que detestava aglomeração de objetos. É claro, o problema era bem maior do que esse. – Eu reformei o apartamento há pouco tempo – disse ela. – A decoração ainda não está terminada. – Ah, isso explica, então. Pensei que talvez seu namorado tivesse levado algumas coisas ao partir. – Daryl não possuía nada – replicou

ela. – Somente as próprias roupas. – E ela comprara a maioria. O salário dele, como vendedor de celular, não dava para comprar roupas de grife. Deus, como ela fora tola. Inconscientemente, sua mão esquerda foi para o dedo anular da mão direita, onde seu anel de noivado estivera um mês atrás. O qual ela também comprara. Daryl tinha prometido que lhe pagaria de volta. Mas nunca pagara. Atualmente, estava na gaveta de seu criado-mudo, um testemunho visual de sua estupidez. Vivienne percebeu subitamente que

Courtney Ellison devia ter pagado pelo anel de noivado enorme que exibira naquelas fotografias publicadas da seção de fofocas do jornal do último domingo. De maneira alguma Daryl teria condições de comprar um diamante daquele tamanho, a menos que fosse falso. Na verdade, ela não ficaria surpresa se fosse falso. Um diamante falso para combinar com a pessoa falsa que Daryl era. O café chegou naquele momento. Vivienne adicionou creme e açúcar ao seu. Jack optou por café preto. – Ele não a deixou por sua causa, Vivienne – murmurou ele, depois de dar

um gole. – Foi por causa da fortuna que irá herdar um dia, como marido de Courtney. Vivienne ergueu os olhos. – Talvez. Marion havia dito a mesma coisa, e a parte lógica de Vivienne concordava com isso. Mas ela ainda não conseguia se livrar da ideia de que, de alguma forma, a culpa era sua. Talvez Daryl tivesse cansado de sua obsessão com ordem, sem mencionar suas inibições sexuais. Vivienne não gostava de sexo oral, ou de posições extravagantes, em que se sentia exposta e vulnerável. Até mesmo ficar por cima a incomodava.

Daryl sempre dissera que ela não precisava fazer aquelas coisas, se não quisesse; que fazer amor com ela era o bastante para ele. – Nenhum homem em sã consciência deixaria uma garota como você por uma mulher como Courtney Ellison – continuou Jack. – A menos que fosse por interesse. Vivienne poderia ter se sentido lisonjeada, se não tivesse lhe ocorrido que provavelmente Daryl também a conquistara por causa de seu dinheiro. Ela podia não ser tão rica quanto Courtney Ellison, mas não era pobre. Possuía seu apartamento próprio, um

carro e uma conta bancária substancial. Além disso, como uma das designers mais bem-sucedidas de Sydney, recebia um excelente salário. A conclusão de que Daryl nunca a amara, de que o relacionamento deles não tinha passado de uma farsa desde o começo, chocou-a até mais do que a partida dele. Quando Jack viu o rosto de Vivienne empalidecer, decidiu que era hora de uma mudança de assunto. – Antes que eu esqueça, a pessoa que irá resolver o problema da porta de seu banheiro chegará no mesmo horário que eu, às 7h. Não que ele irá consertá-la.

Quando eu expliquei que a porta precisará ser substituída, ele falou que teria de ir lá para tirar as medidas. Vivienne suspirou. – E você confia que um marceneiro vai chegar na hora? Quando eu mandei reformar meu apartamento, logo descobri que esse pessoal tem horários diferentes do resto do mundo. – Então, você deveria ter contratado a minha empresa para fazer o trabalho. Acredite quando eu digo que o marceneiro que agendei chegará a sua casa às 7h. Ele sabe que, se atrasar, eu não o contratarei novamente. – Eu preciso ver para crer.

– Pois você verá. Eu também chegarei na hora. Certifique-se de estar pronta. – Não se preocupe, Jack. Eu sou muito pontual. Jack franziu o cenho diante da depressão que sublinhava aquelas palavras. O cretino de Daryl realmente abalara a autoestima de Vivienne. Se Jack o encontrasse um dia, socaria o homem, sem se importar com as consequências! – Você parece cansada – comentou ele. – Tome seu café, e eu a levarei para casa. Vejo que está precisando seriamente dormir. Vivienne abriu a boca para lhe dizer

que ele não era seu chefe... ainda... de modo que não podia lhe dar ordens. Mas percebeu que ele estava apenas tentando ser gentil. Então, bebeu o café e Jack levou-a para casa. Uma vez lá, ele insistiu em acompanhá-la até a porta. Vivienne estava muito cansada para discutir. – Tem certeza de que você vai ficar bem? – perguntou Jack, enquanto ela inseria a chave na fechadura. Ela virou-se para olhá-lo. – Eu ficarei bem. Obrigada pelo almoço delicioso, Jack. Eu já o agradeci pelas flores, certo? – Sim.

– Ótimo. Eu não estou no meu melhor estado emocional no momento. – Posso ver isso. Mas estará melhor amanhã. E melhor ainda depois de amanhã. – Eu espero que sim. – Eu sei que sim. Tudo que você precisa é fazer o que dr. Jack lhe diz. Até amanhã, então. – Sem aviso, ele abaixou a cabeça e deu-lhe um selinho nos lábios. Foi um beijo platônico, mas quando os lábios dele fizeram contato com os seus o coração de Vivienne parou de bater. Graças a Deus, ele virou-se imediatamente e partiu, sem olhar para

trás. Porque, se Jack tivesse fitado seus olhos depois que levantara a cabeça, teria visto alguma coisa não tão platônica nos seus olhos. – Loucura – exclamou ela com um suspiro. – Eu estou definitivamente ficando louca.

CAPÍTULO 6

– EU SOU um idiota – murmurou Jack para si mesmo enquanto entrava no carro, ligava-o e partia. Sabia que deveria voltar para o escritório. Havia sempre trabalho a ser feito. Em vez disso, voltou para a praia Balmoral, onde desligou seu celular e ficou sentado no carro por um tempo ridiculamente longo, pensando. Então, quando não aguentou mais tentar resolver as coisas em sua cabeça, fez alguma coisa ainda mais fútil: dirigiu

para a casa de sua mãe. Ela estava em casa, é claro. Sua mãe estava sempre em casa, recentemente tendo acrescentado agorafobia a sua longa lista de desordens emocionais. As únicas vezes que ela saíra de casa no último ano tinha sido no Dia das Mães e no aniversário dela, em fevereiro. – Jack! – exclamou sua mãe ao abrir a porta, parecendo surpreendentemente bem. E muito bem vestida. Às vezes, quando ele ia visitá-la, encontrava-a ainda de camisola, no meio do dia. – Você não costuma me visitar em dias de semana – acrescentou ela. – Há algo errado?

– Não – mentiu ele. Era inútil contar seus problemas pessoais para sua mãe. Aquilo apenas a aborreceria. – Eu estava trabalhando na área e resolvi passar para vê-la. – Que ótimo. Entre, então. Você gostaria de um café? – ofereceu ela, enquanto ele a seguia para a cozinha. – Aceito – replicou ele. A cozinha estava superarrumada naquele dia, notou Jack. Sua mãe sempre fora uma dona de casa meticulosa, enquanto eles cresciam, mas após a morte do marido era sempre possível dizer o quanto ela estava deprimida pelo estado da cozinha. Claramente, sua mãe

não estava nem um pouco deprimida naquele dia. – Você vai a algum lugar? – Ele sentou-se à mesa de madeira. Sua mãe deu-lhe um olhar envergonhado, de onde estava de pé, perto da chaleira. – Na verdade, sim. Mas não até às 17h. O vizinho... Jim, sabe? Ele me convidou para jantar. Iremos a um restaurante no caminho de Palm Beach. Não há muitos restaurantes abertos numa segunda-feira à noite, parece. Jack não pôde esconder sua surpresa que sua mãe iria sair, principalmente que ela aceitara o convite de um homem.

– Sim, sim, eu sei – continuou ela. – Faz muito tempo. Mas eu finalmente cansei de minha própria tristeza na semana passada e comecei a conversar com Jim sobre a cerca, nos momentos que ambos estávamos cuidando de nossos jardins. Descobri que era gostoso conversar com ele, e, quando ele me convidou para uma xícara de chá, eu fui. Sei que Jim é consideravelmente mais velho do que eu, mas ele é tão agradável, e eu pensei, o que tenho a perder saindo com ele? – Absolutamente nada, mamãe. Eu acho isso ótimo. – Acha? – Ela levou uma caneca de

café preto para ele. – Você realmente acha? – repetiu, sentando-se do lado oposto da mesa. – É claro. Jim é um homem decente. – Jack conhecera Jim durante os anos que sua mãe morara naquela casa. Ele estava sempre no jardim, e feliz em puxar conversa. – Fico contente que você aprova. Porque este não é o primeiro encontro que tenho com ele. Nós temos ido jantar fora todas as noites, por quase uma semana. – Uau. Jim não perde tempo. Quando sua mãe corou, Jack entendeu. – Uau novamente, mamãe. E que bom

para você. Bom para vocês dois. – Nós não queremos nos casar – confidenciou sua mãe num tom de conspiração. – Apenas queremos companhia. – Eu não a vejo assim feliz em anos. Os olhos azuis dela brilharam. Sua mãe o impressionou ainda mais quando ergueu o queixo e fitou-o diretamente nos olhos. – Agora, eu preciso aplicar minha maquiagem, Jack. Fique e termine seu café, mas eu preferiria que você fosse embora antes de Jim vir me buscar. Não confio que você não dirá alguma coisa embaraçosa.

– Quem, eu? – Jack exclamou, esforçando-se para não sorrir. – Sim, você. Pode ser extremamente sem tato às vezes. – Quem, eu? – repetiu ele, agora sorrindo. – Oh, pelo amor de Deus. – Sua mãe fez uma careta, mas abaixou-se e beijoulhe o topo da cabeça. – Você é um bom filho e eu o amo muito, mas, da próxima vez, pode ligar antes de vir? Eu posso ter um visitante, e não gostaria de chocar você. Não foi até que Jack saiu da casa, dez minutos depois, que parou de sorrir e recomeçou a pensar. Não sobre sua mãe

e Jim, mas sobre si mesmo e Vivienne. Enquanto dirigia para a cidade na hora do rush, recordou-se dos eventos do dia, até o último momento, quando dera um beijo de despedida em Vivienne. Aquele tinha sido o momento que ele percebera que, se a levasse para Francesco’s Folly no dia seguinte, havia um sério risco de que fizesse alguma coisa que estragaria o relacionamento profissional deles para sempre. Jack não queria que isso acontecesse. Valorizava Vivienne como profissional, e a respeitava como mulher. Todavia, hoje ela lhe despertara um desejo que era quase irracional. Jack achara que

tinha controlado tal desejo no restaurante, mas, então, beijara-a e tudo voltara. Com muito mais intensidade. Ele fora tomado por uma vontade desesperadora de envolvê-la nos braços e beijá-la propriamente. Seu esforço para não sucumbir à tentação exaustara tanto sua força de vontade que ele duvidava que fosse capaz de resistir uma segunda vez. É claro, não seria tolo em beijá-la uma segunda vez. Isso era uma certeza. Mas ainda era provável que nutrisse pensamentos sobre fazer muito mais do que apenas beijá-la. O que resultaria no seu corpo ficando excitado novamente.

Jack não queria passar o dia seguinte com uma ereção. Talvez devesse ir a uma boate naquela noite e fazer sexo com uma estranha. Tal cenário o teria excitado uma vez. Contudo, não mais, parecia. O que Jack realmente queria era fazer sexo com uma mulher que conhecia e gostava. Uma mulher com lindos olhos verdes, longo cabelo ruivo e seios espetaculares. Ele bateu as mãos no volante, praguejando em frustração. Sua frustração estava ainda maior quando entrou em seu apartamento. Despindo-se, entrou debaixo de um jato quente de água. Após alguns minutos,

mudou a temperatura do chuveiro para fria, e permaneceu lá até que seu corpo estivesse dormente. Todavia, a água gelada não teve o mesmo efeito no seu cérebro. Nada livraria sua mente da irritante realidade de que ele queria Vivienne como nunca quisera uma mulher em sua vida inteira. Para um homem acostumado a conseguir tudo que queria, o fato de não poder tê-la era exasperador. Se ele fosse um homem das cavernas seria muito mais fácil, pensou. Se um homem das cavernas cobiçasse uma mulher, ele simplesmente lhe daria um golpe na cabeça, a arrastaria para sua caverna e a

estupraria, depois do que ela se tornaria sua mulher. Jack teve de rir ao imaginar o que lhe aconteceria se ele fizesse isso com Vivienne. Ele certamente não teria de esperar o poder da lei para puni-lo. Ela o mataria na primeira chance que tivesse. Deus, o que ele não daria para ter Vivienne em sua cama, não somente uma vez, mas em bases regulares. No momento que saiu do banho e enrolou-se numa toalha, Jack tomara duas decisões. Primeira, não ia fazer sexo com uma estranha naquela noite. Segunda, não se importava quanto tempo levaria, ou o que ele teria de fazer para

que aquilo acontecesse... um dia, Vivienne Swan iria ser sua amante!

CAPÍTULO 7

– ISSO NÃO levou muito tempo, levou? – Jack perguntou enquanto punha os óculos escuros e ligava o Porsche. – Eu lhe disse que o marceneiro chegaria na hora. Vivienne deu-lhe um sorriso frio, antes de colocar seus próprios óculos escuros. Depois de dormir por 14 horas seguidas, ela acordara às 6h com a cabeça clara e uma determinação de tomar controle de sua vida novamente... o que incluía não sofrer por causa das

mentiras de Daryl e não entreter mais nenhum pensamento libidinoso sobre Jack Stone. Ainda foi um alívio, todavia, quando ela abriu a porta para ele nessa manhã, sem instantaneamente imaginar se ele passara a última noite com a amante, ou se outras partes do corpo másculo eram tão grandes quanto os dedos dele. Sim, ainda o achava mais atraente do que no passado. Ele estava bonito, em jeans, camiseta branca e uma jaqueta azulmarinho. Mas seus pensamentos não se tornaram sexuais, nem mesmo quando ele se abaixara para mostrar as dobradiças quebradas para o

marceneiro. Vivienne também foi capaz de acomodar-se no banco do carro esporte, sem se preocupar que estar sozinha com ele seria muito difícil. Sentia-se descansada e relaxada. E quase normal, de novo. Graças a Deus! – Eu me lembrarei de ligar para você da próxima vez que alguma coisa quebrar na minha casa e eu precisar de algum tipo de conserto. Você parece ter todos os contatos certos. – Ligue-me a qualquer hora que quiser – replicou ele. Vivienne franziu o cenho diante do tom caloroso – e não característico – na

voz dele. Supunha que Jack estava sendo gentil, para que ela fizesse o trabalho que ele queria, da mesma forma que tinha sido no dia anterior. Mas ela desejou muito que ele voltasse a ser ríspido e frio, como geralmente era. Dessa maneira, não haveria chance de uma repetição do que lhe acontecera no dia anterior. – Você se importa se eu lhe fizer uma pergunta pessoal? – disse ele. Vivienne arqueou as sobrancelhas. – Quão pessoal? – É sobre Daryl. – O quê sobre Daryl? – Eu só o vi uma vez. No ano

passado, na sua festa de Natal. Eu fiquei tentando imaginar o que há naquele homem para fazer você se apaixonar por ele? A frase que Jack usara sobre Daryl fazê-la se apaixonar surpreendeu Vivienne. Porque era exatamente aquilo que ela pensara: que, de algum modo, Daryl a fizera se apaixonar por ele. – Parece que você não gosta muito dele – comentou ela. – Pode-se dizer que não. – Mas por quê? Você só falou conosco por alguns minutos naquela noite. Jack deu de ombros.

– Eu não preciso de muito tempo para formar opiniões sobre pessoas. – Neste caso, qual foi a sua opinião? – Ele tinha lábia e era um tipo charmoso superficial, em quem eu não confiaria, em absoluto. – Meu Deus! Você realmente não gostou dele. – Não, mas, sem dúvida, você gostava. – Sim... sim, é claro. Eu o amava. Jack gostou do fato de ela ter falado no tempo passado. Também gostou que suas perguntas estavam fazendo Vivienne pensar sobre o canalha com quem ela planejara se casar. Ele

precisava que Vivienne superasse logo os sentimentos que tinha por Daryl. Para seguir em frente. Porque essa era sua única chance de sucesso com ela num futuro próximo. Jack não era um homem paciente, no melhor dos momentos. Rever Vivienne naquela manhã tinha feito pouco para abafar seu desejo, apesar de ela estar usando um conjunto andrógino de calça e blazer pretos, e cabelo preso. Ele sabia agora como ela ficava com o cabelo solto, e como eram os seios debaixo daquela blusa branca comportada. – Mas por quê, Vivienne? – persistiu

Jack. – O que havia para amar sobre ele? Certamente, você não o amava porque ele era bonito, certo? – Não – negou Vivienne, embora Daryl fosse bonito. Muito bonito. – Era mais o jeito que ele me tratava. – Suponho que ele falava todas as coisas que você queria ouvir. Homens vigaristas são muito bons em mentir, Vivienne. E em elogiar. – Verdade – concordou ela. Daryl costumava elogiá-la infinitamente. Pensando agora, podia ver que tais elogios tinham sido exagerados. Ela não era completamente deslumbrante. Ou uma cozinheira tão maravilhosa. E

encarar a evidência do caráter de seu ex-noivo estava deixando Vivienne zangada novamente. Embora a raiva, desta vez, fosse mais direcionada para si mesma do que para ele. Como ela pudera ter sido tão estúpida em acreditar naquelas coisas? Era algum conforto que Vivienne não terminara os arranjos para o casamento deles... como se, no fundo, soubesse que ele nunca aconteceria. – Você se importa se pararmos de falar sobre Daryl? – pediu ela, o tom de voz enfático. – Desculpe-me – murmurou Jack. – Você quer que eu me cale totalmente? É

apenas que a viagem é um pouco longa. Pode ficar entediante se permanecermos em silêncio. Eu posso ligar o rádio, se você preferir. Tenho um pen-drive com centenas de músicas. – Que tipo de músicas? – questionou Vivienne, jurando esquecer tudo sobre Daryl. Não valia a pena pensar nele, de qualquer forma. Por um minuto, Jack pensara que tinha cometido um grande erro em trazer o assunto do ex-noivo de Vivienne. Ela ficara muito tensa com as perguntas. Claramente, ainda amava o cretino. Ou pensava que amava. Perturbava Jack que o velho Daryl provavelmente houvesse

sido muito bom na cama. Homens como ele geralmente eram. Mas e daí? Jack também não era ruim nesse departamento. Sentia-se confiante que, se e quando conseguisse seduzir Vivienne, ela estaria feliz o bastante na manhã seguinte. Não que ele quisesse realmente seduzir Vivienne. Sedução sugeria métodos sorrateiros, como elogios excessivos, o que obviamente era um dos métodos de Daryl para levar uma garota para cama. Jack nunca aprendera a arte da bajulação. Se ele dissesse a uma garota que ela era linda, era porque e l a era linda. Detestava mentirosos e

manipuladores. Agia mais do que falava. Ou, pelo menos, geralmente. Surpreendera-se que, no dia anterior, conversara com Vivienne mais do que já tinha conversado com qualquer mulher. Até mesmo lhe contara sobre sua família, e os problemas que tivera com sua mãe. E não fora tão ruim... Jack decidiu esquecer a música, por enquanto, e continuar conversando. – Você nunca vai adivinhar o que minha mãe fez – disse ele. Vivienne pareceu momentaneamente perplexa pela súbita mudança de assunto, virando a cabeça para olhá-lo. – Eu... não, eu não poderia adivinhar.

O quê? – Ela está tendo um caso com o vizinho. – Céus! Espero que ela não seja a melhor amiga da esposa dele. Isso não é muito bonito. – Não, não, Jim não é casado. Ficou viúvo recentemente. – Então, não é um caso, certo? Quero dizer, um caso sugere alguma coisa ilícita. Ou secreta. – Verdade. Eles estão tendo um relacionamento, então. E não estão apaixonados, ou algo assim. – Como você sabe? – Ela falou. Eles são apenas bons

amigos. E sabe de uma coisa? Eu nunca a vi tão feliz. Ou tão confiante. Logo que mamãe me contou, fiquei chocado, mas depois percebi que essa é a melhor coisa que acontece a ela em anos. – Quando você descobriu tudo isso? – perguntou Vivienne. – Ontem à tarde. Eu fui visitá-la, depois que deixei você. Jack ficou contente quando Vivienne sorriu-lhe. – Você a ama muito, não é? E se preocupa muito com ela. – Mães que moram sozinhas podem ser uma preocupação, em especial as emocionalmente frágeis.

– Sim, isso é verdade. Jack detectou um toque de ironia na observação de Vivienne. Talvez a mãe dela fosse viúva, também. Ou divorciada. Mas então ele lembrou que Marion mencionara alguma coisa sobre Vivienne ter herdado dinheiro recentemente. Isso, no geral, significava uma morte na família. Mas quem? Ele precisava sondar com cuidado. Não queria aborrecê-la. – Você fala como se tivesse alguma experiência pessoal com mães emocionalmente frágeis. – Eu tenho, na verdade. Papai se divorciou de mamãe quando ela ainda

era muito jovem, e mamãe nunca superou o sofrimento. Ela faleceu dois anos atrás. Enfarto – acrescentou Vivienne, esperando que aquilo impedisse Jack de fazer mais perguntas sobre a morte de sua mãe. Se ela lhe contasse a verdade, seria como abrir a caixa de Pandora, a qual Vivienne preferia manter bem fechada. – Que triste, Vivienne. E seu pai? – Oh, eu não o vejo desde que ele abandonou mamãe, quando eu tinha 6 anos. Ele foi para o exterior e nunca voltou. Jack deu-lhe um olhar chocado. – Que tipo de homem faria uma coisa

dessas? Vivienne sabia que havia desculpas para o comportamento de seu pai, mas explicá-las seria mexer na caixa de Pandora, novamente. Ela deu de ombros. – Para dar crédito ao meu pai, ele nos deixou bem providas. Deu à mamãe tudo que eles tinham acumulado durante os dez anos de casamento: a casa, os móveis, dois carros. E pagou pensão alimentícia para mim, até que eu completei 18 anos. – E assim deveria ter feito! – exclamou Jack, claramente ultrajado. – Ele deveria ter mantido contato. Sido um

pai mais presente para você. Presumo que você seja filha única, Vivienne? – Sim, eu sou filha única – respondeu ela, seu peito se comprimindo com o esforço de permanecer calma diante de memórias que preferia deixar enterradas. Jack balançou a cabeça. – Eu nunca consigo entender como alguns homens podem abandonar suas famílias, especialmente seus filhos. Por que ter filhos se você não vai amá-los e cuidar deles? Minha nossa, você viu isso? – exclamou ele, batendo no volante, ao mesmo tempo. – O idiota naquele carro quatro por quatro quase

levou a frente do meu Porsche. Vivienne ficou grata que o idiota do carro quatro por quatro interrompera o que estava se tornando uma conversa desconcertante, dando-lhe a oportunidade de desviar a atenção de Jack para assuntos menos dolorosos. – Então, quanto tempo você acha que levaremos para chegar a Port Stephens? – Humm. Vamos ver... Estamos prestes a entrar na autoestrada. Eu levei duas horas e meia no último sábado, daqui, mas não parei em lugar nenhum. – Você não precisa parar por minha causa – disse Vivienne. – Eu tomei uma grande cumbuca de mingau no café da

manhã, o que, geralmente, me mantém sem fome até a hora do almoço. Jack arqueou as sobrancelhas. – Engraçado. Eu também tomei mingau. E você tem razão... alimenta bem. Mas ainda acho que podemos parar em Raymond Terrace para um café. – Eu não sei onde é isso. Nunca vim para estes lados antes. – Sério? – Para falar a verdade, eu nunca viajei muito. Nunca saí da Austrália. – Ou de Sydney, mas ela não acrescentou isso. Não queria convidar mais perguntas desconcertantes. – Eu também não viajei tanto assim –

replicou Jack. – Se e quando eu tirar férias, irei para lugares que não levam muito tempo de voo, como Bali ou Vanuatu e Fiji. Você me conhece... ocupado, ocupado, ocupado. – Talvez esteja na hora de você diminuir seu ritmo de trabalho. – Eu não poderia concordar mais com você. Esta é uma das razões pelas quais comprei Francesco’s Folly. – Francesco’s Folly – repetiu Vivienne pensativamente. – Você sabe por que a propriedade se chama assim? – O corretor de imóveis disse que Francesco era o nome do italiano que construiu a casa no fim dos anos 1970.

A parte do “folly” será autoexplicativa depois que você conhecer o lugar. Imagino que nosso italiano possuía uma família grande, e que viveu mais do que a maioria de seus membros. Ele finalmente morreu, alguns meses atrás, aos 95 anos. Os dois bisnetos herdaram a propriedade, mas ambos moram em Queensland e querem vendê-la, logo. É onde eu entro. – Não vejo a hora de ver esta casa – murmurou Vivienne. – E eu não vejo a hora de mostrá-la para você.

CAPÍTULO 8

ELES LEVARAM mais

tempo do que o previsto para chegar a Port Stephens, parando por mais de meia hora na Pacific Highway, ao norte de Newcastle. Jack respondeu diversas chamadas perdidas de negócios, e Vivienne teve uma longa conversa com Marion, que ficou feliz ao saber que sua amiga estava se sentindo melhor e planejando voltar ao trabalho, embora não necessariamente com a Classic Design.

Depois de sair de Raymond Terrace, eles levaram quarenta minutos até Nelson’s Bay, a principal cidade litorânea em Port Stephens, onde pegaram as chaves com o corretor de imóveis antes de dirigir para Francesco’s Folly, que ficava perto de uma área chamada Soldier’s Point. Apesar de ter apreciado a viagem e o cenário, no momento em que o Porsche de Jack entrou na propriedade, Vivienne estava ansiosa para ver a casa. E que casa! Apenas de dois andares, mas parecia uma mansão erguida sobre o topo de um morro. Em estilo mediterrâneo, era pintada da cor de

salmão e tinha mais arcos e colunas do que Vivienne já vira do lado de fora de um convento ou de um museu. – Que incrível! – exclamou Vivienne, enquanto Jack acelerava para subir o caminho de acesso íngreme. Jack sorriu-lhe. – É espetacular, não é? – Não uma casa de férias tradicional, mas tenho de admitir que é. Uma mistura louca de uma mansão toscana com um palácio grego. Como é por dentro? – Extremamente antiquada. Acredite quando eu lhe digo que você terá muito trabalho para transformar o interior num lugar onde eu possa viver em bases

permanentes. Mas as vistas, Vivienne, são de tirar o fôlego. – Mas, Jack, a casa é enorme! – disse ela quando o carro se aproximou, e ela pôde apreciar as verdadeiras dimensões do lugar. – Tem certeza de que quer comprar uma casa deste tamanho? Quero dizer... seria diferente se você fosse casado, com uma grande família, como Francesco era. Jack deu de ombros. – Eu tenho duas irmãs casadas e cinco sobrinhos. E uma mãe com um amante. Eles usarão a casa também. Todavia, para ser bem honesto, eu não estou comprando para eles. Estou comprando

para mim mesmo. No instante que entrei num daqueles terraços ali em cima, eu soube que queria morar aqui – continuou Jack, apontando para as varandas, que corriam toda a extensão de ambos os andares. – Talvez não a semana inteira, por enquanto, mas, pelo menos, fins de semanas e férias. Pode me chamar de louco se quiser, mas é isso. Agora, pare de tentar me dissuadir da ideia, Vivienne – acrescentou, dando a volta para os fundos da casa. – O negócio já foi fechado. O fundo da casa era onde as garagens ficavam localizadas, juntamente com a entrada principal da casa, guardada por

duas enormes portas de latão, com fechaduras de latão igualmente enormes. O caminho de acesso também levava a um pátio, os pneus do Porsche fazendo ruídos contra os cascalhos, quando Jack parou o carro na frente de múltiplas garagens. – Deixe isso aí – ordenou Jack quando ela pegou sua bolsa. – Não quero que sejamos interrompidos por telefonemas. Eu também deixarei meu celular no carro. – E quanto a minha câmera? – perguntou Vivienne. – Eu gostaria de tirar fotos. – Sem fotos por enquanto. Apenas

seus olhos. Venha. Ela obedeceu, apesar de pensar que, se concordasse em fazer aquilo, teria aprender de morder a língua muitas vezes. Jack era fanático por controle, em sua humilde opinião. Ela deu um sorriso irônico quando ele impulsionou-a para trás, abriu as portas de latão e virou-se, ainda bloqueando o caminho. – Agora, antes que você me chame de mentiroso, esta parte da casa não está tão ruim. Vivienne quase riu no momento que entrou. “Não está tão ruim” era uma declaração absurdamente fraca para aquilo. O saguão era magnífico, com teto

abobadado, piso de mármore italiano e uma elegante escada em espiral, que levava ao primeiro andar. Em frente, havia uma grande passagem arcada com colunas, atrás da qual ficava uma piscina coberta que parecia se estender infinitamente, antes passar debaixo de outro arco com colunas, e acabar no sol. – Uau! – Foi tudo que ela conseguiu exclamar. – Sim. A piscina é o máximo – concordou Jack. – Não com aquecedor solar, todavia algo que eu gostaria de mandar fazer. Mas esse não é problema seu. O seu trabalho é decorar os cômodos, que são muitos e variados.

Ele continuou: – De cada lado da piscina, há um apartamento independente de três dormitórios – explicou Jack, pegando a mão de Vivienne e conduzindo-a para o lado esquerdo da piscina. Nos últimos anos, Francesco costumava alugá-los no verão. Mas isso foi antes que ele adoecesse. Depois, passou a residir só no andar de cima, e os apartamentos aqui embaixo ficaram vazios, e o lugar todo se dilapidou. – Não parece tão dilapidado assim – comentou Vivienne, tentando manter o foco nas redondezas, e não em sua mão na de Jack. Ela desejou que pudesse

retirar a mão sem parecer rude, mas, antes que tentasse, dedos fortes se apertaram ao redor dos seus. Vivienne arfou quando uma corrente elétrica subiu por seu braço e se espalhou pelo seu corpo inteiro, enrijecendo seus mamilos e causando-lhe um friozinho na barriga. E ela que pensara ter controlado aquela insana atração sexual! – Imagino que a imobiliária mandou uma equipe de limpeza aqui antes de abrir a casa para inspeção – murmurou Jack, ainda andando e levando-a consigo. – Os bisnetos levaram os móveis que quiseram, portanto todos os cômodos estão meio vazios. Isso

enfatizou como o lugar está negligenciado, e eu fui capaz de negociar um bom desconto. Mas chega disso, por hora. Venha ver a vista. Felizmente, ele soltou-lhe a mão, uma vez que eles chegaram ao terraço ensolarado, e Vivienne aproveitou para pôr distância entre os dois, indo para a extremidade e agarrando a barra de proteção com ambas as mãos, como se sua vida dependesse disso. E dependia, na verdade, havendo uma distância considerável do terraço para o morro rochoso abaixo. Não que ela tivesse olhado para baixo por mais de um segundo, seus olhos logo

retornando para admirar a vista, que era espetacular, como Jack prometera. Na verdade, Vivienne nunca tinha visto nada como aquilo, não apenas pela beleza natural do lugar como pelo tamanho e expansão do panorama. A sensação era de que ela estava de pé sobre o pico de uma montanha, olhando, sobre os topos das árvores, para a baía adiante. Não tinha ideia do tamanho de Port Stephens, mas parecia gigantesco! E tão lindo e tão azul! É claro, era um dia de primavera, sem nuvens no céu, então a cor da água refletia o azul do céu. Talvez, num dia chuvoso, a vista não fosse tão espetacular. Mas hoje a

Mãe Natureza estava à mostra, e tirou o fôlego de Vivienne. – Então? – disse ele, em tom convencido. – É uma vista incrível, não é? Vivienne virou-se para encará-lo. – Incrível dificilmente descreve este cenário, Jack – replicou ela. – Acho que, se eu tivesse o dinheiro, também ficaria tentada a comprar esta casa. É uma vista sedutora. – É ainda melhor do andar de cima – disse ele. – Vamos dar uma olhada? O que ela podia dizer? Acho que não, Jack? E não, sinto muito, mas não vou aceitar este trabalho? Ele iria querer

saber por que, e ela não poderia lhe contar a verdade, certo? Não poderia confessar que, subitamente, o desejava com alguma coisa que beirava o desespero. Ele pensaria que ela enlouquecera. O que, é claro, tinha acontecido. – Você não deveria me mostrar os apartamentos no andar de baixo primeiro? – sugeriu ela. – Isso pode esperar. Venha. – Lidere o caminho – disse Vivienne rapidamente, antes que ele pudesse pegar sua mão, de novo. – Eu sigo você. Estar atrás de Jack não era tão fácil. Vivienne teve dificuldade de desviar os

olhos do belo traseiro, especialmente quando ele começou a subir a escada. Desesperada, olhou para os pés, até que eles chegassem ao nível superior, que se abria para um patamar espaçoso, semicircular, sobre o qual um elaborado lustre de cristal estava pendurado. – Imagino que esta foi, um dia, a galeria de arte particular de Francesco – murmurou Jack. – Mas, como pode ver – acrescentou, gesticulando a mão para indicar as diversas marcas onde quadros tinham obviamente estado antes –, todas as pinturas se foram. – Você gostaria que fosse uma galeria de arte novamente? – perguntou

Vivienne. Jack deu de ombros. – Deixo essa decisão em suas mãos. Sei que vou gostar de qualquer coisa que você fizer. Oh, Deus, pensou Vivienne, ciente de que estava entrando numa situação sem escapatória. Porque, na verdade, queria muito fazer aquele trabalho, queria transformar Francesco’s Folly num tipo de casa que Jack amaria. A fé que ele tinha em suas habilidades era extremamente lisonjeira. E a casa em si era um desafio fantástico. Era impossível dizer “não”. No entanto, ela sabia que deveria. Nada de bom

resultaria em trabalhar lado a lado com Jack. Podia sentir isso em seu coração... e em diversas partes do corpo! – Por aqui – instruiu ele, e foi para as portas duplas no centro da parede semicircular, abrindo-as e gesticulando para que ela entrasse, com um gesto floreado do braço. Vivienne adentrou uma imensa sala de estar retangular, a qual soube, instantaneamente, que ficaria fabulosa depois de bem mobiliada. Seus olhos de designer estavam visualizando a sala sem o ridículo papel de parede, as paredes pintadas de branco e os móveis antiquados substituídos por peças

modernas. A lareira de mármore nos fundos da sala poderia ficar, mas o resto teria de sair, principalmente as cortinas pesadas que emolduravam portas de vidro que levavam ao terraço, e que eram horríveis. – Posso ver que sua cabeça de decoradora já está trabalhando, Vivienne. – Jack sorriu, enquanto se dirigia às portas de vidro. – Mas, antes, vamos ao mais importante. A vista! Mesmo de onde ela estava, Vivienne podia perceber que a vista dali era ainda mais espetacular do que a vista do terraço inferior. Mas, para chegar lá, ela precisava passar por Jack, que ainda

estava junto à porta meio aberta, esperando-a. De alguma maneira, conseguiu passar por ele sem fazer contato corporal, quase correndo para o parapeito. Mas, quando fechou os dedos sobre a barra superior, inclinando seu peso contra a proteção de ferro, ao mesmo tempo, todo o cenário subitamente mudou.

CAPÍTULO 9

JACK VIU a grade de proteção ceder um segundo antes que Vivienne gritasse. Inundado por uma carga de adrenalina, ele cobriu a distância entre eles com uma velocidade que, mais tarde, impressionou-o, segurando Vivienne quando ela começou a perder o equilíbrio, os braços se debatendo, os óculos escuros caindo do rosto no vale abaixo. Tudo que ele agarrou no começo foi a parte de trás do blazer dela, mas isso foi suficiente para impedir a queda.

Finalmente, Jack conseguiu circular-lhe a cintura com um braço e puxá-la para longe da extremidade do terraço. Vivienne tombou contra ele, seu grito silenciando enquanto ela lutava por ar, antes que seu choque se transformasse num soluço quase histérico. Desta vez, Jack não hesitou em confortá-la, virando o corpo trêmulo em seus braços e pressionando-a contra si. – Pronto – murmurou ele, um dos braços na cintura de Vivienne, o outro gentilmente massageando-lhe a nuca. – Pare de chorar. Você está segura. Mas ela não parou. Continuou chorando, e Jack suspeitava que a

experiência de quase morrer tinha liberado mais emoções do que apenas alívio. Possivelmente, ela estava chorando pelo que acontecera em sua vida recentemente. De qualquer forma, ter aquele corpo curvilíneo pressionado contra o seu não estava causando paz mental em Jack. Ou paz corporal. Apesar de ordenar que sua libido se acalmasse, ela não lhe obedeceu. Bom senso demandava que ele a afastasse de si. Mas fazer isso enquanto Vivienne estava chorando seria crueldade. Tudo que podia esperar era que ela não percebesse sua ereção. As coisas pioraram, todavia, quando

ela passou os braços ao redor de suas costas e descansou a cabeça na curva de seu pescoço. Agora, Jack podia sentir a respiração dela contra sua pele. Quando ela finalmente parou de chorar, ele tentou afastar a parte inferior do seu corpo, mas isso era quase impossível com o jeito que ela o estava agarrando. – Vivienne. – Seu tom foi um pouco brusco. Vivienne levantou a cabeça, o rosto molhado de lágrimas, os lindos olhos verdes fitando-o com estranha intensidade. Ela plantou as mãos nos seus ombros, colocou-se na ponta dos pés e beijou-lhe a boca. Quando ele

inclinou a cabeça para trás, Vivienne baixou as mãos. – Desculpe – disse ela. – Eu pensei... eu pensei... Oh, não importa o que pensei. Obviamente, eu estava enganada. – Não. Você pensou certo, Vivienne. Eu venho lutando contra meu desejo por você desde que a vi nua naquele banheiro ontem. Algo que surgiu como uma surpresa, admito, mas eu quero você, e gostaria de levá-la para cama mais do que qualquer coisa. Mas não assim, Vivienne. Ela ergueu olhos assustados para os seus. – O que você quer dizer com “não

assim”? Jack suspirou, levantando os óculos escuros para o topo da cabeça. – Seu beijo, agora mesmo. Não foi por mim, não realmente. Foi apenas uma reação a sua experiência de quase morrer. Um desejo instintivo por se sentir viva. – Não – negou ela com ferocidade. – Isso não é verdade. Foi por você. Jack encarou-a, choque deixando-o sem fala. – Não sei se entendo esta súbita atração sexual que sinto por você – continuou ela. – Uma vez que estamos sendo brutalmente honestos aqui, até

ontem, eu nunca gostei de você, muito menos me senti atraída. Foi estranho o jeito que comecei a ter pensamentos embaraçosos com você. – Que tipo de pensamentos? Vivienne meneou a cabeça. – Eu tentei... me livrar de tais pensamentos, porque eles não fazem sentido. Tudo que sei é que quero que você faça amor comigo. Muito. Jack lutou para manter a calma. Apesar de estar louco para pôr as palavras dela em teste, suspeitava que, se quisesse algum tipo de relacionamento com Vivienne, não apenas um sexo rápido, precisava de

alguma sensibilidade em relação ao presente dela, ao seu estado altamente vulnerável. Se ele a levasse para cama naquele momento – havia uma cama king-size na suíte máster –, talvez Vivienne se arrependesse depois. Ao mesmo tempo, a tentação de fazer isso era quase irresistível. – Você não devia falar coisas como essa, Vivienne. – Por que não? É verdade. Loucura, talvez, mas verdade. Ele não gostou da parte de “loucura”. – Beije-me, Jack – suplicou ela. – Por favor. Oh, Deus, pensou ele, sentindo seu

sexo enrijecer dolorosamente. – Se eu beijar você, não irei parar nos beijos. Ela não falou uma palavra, apenas fechou os olhos e entreabriu os lábios, de um jeito muito provocante. Jack gemeu, então a puxou para seus braços. Não foi um beijo suave e carinhoso. Foi um beijo voraz. Ele levantou as mãos e segurou-lhe o rosto, de modo que Vivienne não pudesse escapar do assalto impiedoso de sua boca. Não que ela estivesse tentando escapar; Vivienne gemeu em rendição no instante que os lábios deles se tocaram.

O corpo delgado derreteu-se contra o seu, a barriga dela pressionada contra sua ereção. Isso apenas inflamou mais Jack, levando-o a mordiscar aqueles lábios carnudos, até que eles estivessem inchados e quentes. Ela arfou quando a língua de Jack penetrou-lhe a boca. Ela correspondeu ao beijo com total abandono. Apesar da personalidade aparentemente fria, Vivienne era, sem dúvida, uma mulher apaixonada por baixo da superfície. Uma mulher que gostava e precisava de sexo. A candidata perfeita para se tornar sua amante. Ou até mesmo namorada, se ela assim preferisse. Ele não se importava,

contanto que pudesse tê-la em sua cama com regularidade. Quando Jack afastou a boca da de Vivienne, ela gemeu, os olhos verdes brilhando para ele. – Não fale nada – disse ele. – Eu não vou parar completamente. Quero apenas esclarecer algumas coisas. Vivienne não disse nada, apenas esperou. – Eu não quero que este seja o caso de uma única vez – começou Jack. – Eu gosto de você, Vivienne. Muito. Quero mais de você do que isso. Fale agora, se essa ideia não lhe agrada, de modo que eu não comece a fazer planos para

depois. Se você disser que não gosta o suficiente de mim para considerar um relacionamento, então, após esta vez, teremos de separar nossos caminhos. Porque, uma vez que cruzarmos essa linha, querida, não seremos capazes de trabalhar juntos, a menos que estejamos dormindo juntos. Jack esperou que Vivienne não visse seu ultimato como uma forma de assédio sexual, ou como chantagem. Ele estava apenas lhe apontando os fatos. Não era chefe dela. Ainda. Mas, por Deus, queria ser, especialmente na cama. Imagens ardentes de ela obedecendo a cada comando seu, ou sendo amarrada

nua a vários móveis, totalmente a sua mercê, giraram em sua cabeça. Fantasias tolas, Jack suspeitava. Porque, apaixonada como Vivienne parecia ser, ela não era do tipo submisso. Mas quem sabia? Talvez ela gostasse de ser dominada na cama. – Você não precisa me dar uma resposta agora – murmurou ele para uma Vivienne ainda silenciosa. – Pode ser depois. – Incapaz de esperar mais um segundo, Jack ergueu-a nos braços e carregou-a para a suíte máster. Quando seus óculos escuros caíram do topo de sua cabeça no chão, ele não se incomodou em parar para pegá-los.

CAPÍTULO 10

A

de Vivienne girava com pensamentos conflitantes enquanto ela circulava a nuca de Jack com os braços e enterrava o rosto na parte frontal do pescoço dele. Isso a lembrou que seu senso de decência demandava que ela o detivesse agora. Gostava de Jack mais do que antes, mas fazer sexo com ele não era certo... era? Todavia, a voz da decência era muito mais fraca do que a voz do desejo. O beijo de Jack lhe dera um gostinho do CABEÇA

que estava por vir. Não somente excitação e prazer, mas abandono e satisfação. O tipo de abandono pelo qual ela sempre ansiara, secretamente. O tipo de satisfação que nunca apreciara. De alguma maneira, Vivienne sabia que, nos braços de Jack, ela se tornaria uma mulher diferente daquela que mantivera sua virgindade até seus 21 anos, e que permanecera uma amante tímida desde sua iniciação pouco inspiradora no sexo. Com Jack, ela seria selvagem e devassa. Seus lábios já estavam se abrindo para lhe mordiscar o pescoço, e quando ela fez isso, seu coração acelerou diante da audácia de

sua ação. Então, Jack a estava pondo no chão, no meio de um quarto grande, sem móveis, exceto por uma cama enorme, que parecia nova, a colcha vermelha e branca não combinando nem um pouco com o tapete azul-claro e o papel de parede com motivos florais. Havia um leve cheiro de mofo no quarto, mas era quente, provavelmente porque pegava o sol da manhã, através das portas de vidro que levavam ao terraço. Jack a deixou para ir abrir uma daquelas portas antes de virar-se e balançar a cabeça. – Você tem ideia do quanto serei provocado no trabalho, por causa de

uma mordida de amor no pescoço? – perguntou ele, esfregando o lugar que ela mordiscara. – Eu não consigo imaginar nenhum de seus empregados ousando provocá-lo. Jack riu. – Neste caso, você não conhece bem os homens. – Talvez não – concordou ela. – Não se preocupe. – Jack removeu seu casaco e jogou-o sobre o tapete num gesto tipicamente masculino. – Eu usarei camisa fechada no colarinho por alguns dias. – Ele tirou a camiseta. – Mas, por favor, tente confinar esta sua boca sexy para áreas normalmente cobertas por

roupas. – Sim, chefe – brincou Vivienne, enquanto admirava o magnífico corpo masculino. Os ombros eram impossivelmente largos, os braços, musculosos, o peito, esculpido e bronzeado, com poucos pelos. Os quadris eram estreitos, mas as coxas pareciam muito grossas naquele jeans apertado. Assim como outra coisa parecia... Vivienne sempre achara que nunca se sentiria atraída por um homem grande; que o tamanho deles faria com que se sentisse intimidada. Você estava redondamente

enganada, Vivienne! Ela arfou quando ele abriu o botão do jeans, prendendo a respiração quando ele desceu o zíper. – Por que você não está se despindo? – perguntou Jack, enquanto removia o jeans, revelando um enorme volume sob a cueca preta. – Não me diga que você ficou tímida comigo. Ora, Vivienne, nós dois sabemos que a imagem comportada que você projeta no trabalho não é real. Você é quente, querida. Vivienne, sem dúvida, sentia-se quente no momento. Seu rosto queimava, enquanto ela respirava fundo. Jack deu um sorriso presunçoso.

– Ah, entendi. Você gosta de assistir. Tudo bem por mim – disse ele, e removeu a cueca. Oh, meu Deus... E ela pensara que Daryl fosse razoavelmente bem equipado. Comparado a Jack, Daryl era... Bem, não tinha comparação! Não era de admirar que Jack não se envergonhava de mostrar o corpo. Ele era incrível, pensou Vivienne, seus olhos o percorrendo dos pés à cabeça, mais uma vez. – Você realmente gosta de assistir, não é? – concluiu ele enquanto pegava o jeans descartado e tirava sua carteira do

bolso. – Não posso dizer que assistir passivamente seja meu estilo. Mas com você, adorável Vivienne, eu farei uma exceção. Vivienne ficou atônita quando, depois de tirar um preservativo da carteira e jogá-la em cima do jeans, Jack andou para a cama. Ele estendeu-se sobre a colcha, pondo o pequeno pacote de alumínio sobre o criado-mudo, antes de cruzar as mãos atrás da cabeça e agir como se não estivesse completamente nu, com uma ereção do tamanho da Torre Eiffel. – Certo – declarou ele. – Estou pronto para assistir. Dispa-se. Mas devagar,

por favor. Eu quero saborear cada momento. Quando ela continuou parada ali, imóvel, ele deu-lhe um olhar intenso. – O que você está esperando, Vivienne? Sabe que paciência não é uma de minhas virtudes. Enquanto ela hesitava, seu novo “eu” devasso começou a sussurrar no seu ouvido. Sim, Vivienne, o que você está esperando? Você quer se despir para ele. Quer vê-lo olhando para seus seios do jeito como olhou ontem. Quer ver estes olhos azuis duros brilhando com desejo por você. Mais do que qualquer

coisa, quer abandonar todos os sentimentos de inferioridade que já experimentou em relação a sexo. Jack acha que você é quente. Então seja quente, garota. É agora ou nunca. Suas mãos tremiam enquanto ela removia o blazer lentamente... muito lentamente... como Jack ordenara. Detestava a ideia de deixá-lo cair no chão, tal ato indo contra sua compulsão por ordem. Mas, uma vez que não havia cadeiras no quarto, Vivienne não teve escolha. De uma maneira estranha, deixar o blazer cair no tapete causou-lhe uma sensação libertadora. No momento que levou suas mãos ao primeiro botão

da camisa, ficou surpresa ao ver que elas não tremiam mais. Sua respiração estava ofegante, todavia. Não de nervoso, mas de excitação. Ela observou os olhos de Jack enquanto abria cada botão. Eles não estavam no seu rosto, é claro. Estavam fixos no seu peito. Vivienne ficou levemente incomodada que estava usando um sutiã de algodão branco, não o tipo de sutiã sexy que Jack provavelmente estava esperando. Afinal de contas, ele deixara claro que acreditava que, sob a superfície da profissional séria, ela era uma mulher sexy, que usaria lingerie sexy. Infelizmente, Jack estava enganado.

Ela só podia esperar que ele não se importasse sobre lingerie, quando ela removesse tudo. Os olhos azuis permaneceram fixos no seu peito, enquanto Vivienne removia a blusa pelos ombros e deixava-a escorregar para o chão. A expressão de Jack não mudou diante da visão do sutiã comum, embora ela o tivesse removido rapidamente. Agora, os olhos dele estavam estreitos, os lábios, entreabertos, e a respiração, acelerada. Finalmente, Jack ergueu os olhos para seu rosto. – Alguém já lhe disse que você tem os seios mais lindos do mundo?

– Não – replicou ela, com sinceridade. Daryl costumava falar, o tempo todo, que ela era linda, mas nunca mencionara seus seios, especificamente. – Acho difícil acreditar nisso. Eles são incríveis. Eu poderia passar o dia olhando-os. Mas definitivamente prefiro tocá-los – acrescentou Jack, tirando as mãos de trás da cabeça. Os bicos de Vivienne responderam a tal declaração, tornando-se rijos e salientes. Vivienne removeu o resto de suas roupas num movimento ligeiro, escondendo assim sua calcinha branca de algodão. Ademais, isso não lhe dava tempo de preencher a mente com

pensamentos negativos sobre quadris largos, barriga não tão reta e muitos outros defeitos físicos que a preocupavam de tempos em tempos. Jack podia achar seus seios perfeitos, mas nem todos os homens gostavam de seios grandes, ou de quadris largos. Seu primeiro namorado... um idiota insensível... dissera-lhe que preferia garotas magérrimas. Mas adorara que ela era virgem. Desnecessário dizer que o relacionamento não durou, e Vivienne levara um bom tempo antes de arriscar seu coração – e seu corpo – uma segunda vez. Felizmente, não precisava se

preocupar com seu coração, desta vez, já que não estava apaixonada por Jack. – Você é uma mulher muito linda. – Os olhos azuis ardentes refletiam a admiração dele. – Agora, venha aqui, Vivienne. Já assisti o bastante por um dia. Vivienne nunca se sentira tão sexy... ou tão excitada... na vida, como se sentia neste momento. – Estou indo, chefe – murmurou ela com voz rouca, aproximando-se e parando ao lado da cama. Jack olhou-a com evidente desejo. – Humm. Eu gosto quando você me chama assim.

Por alguma razão louca e maravilhosa, ela também gostava de chamá-lo assim. Estranho, considerando que, normalmente, achava o jeito mandão de Jack irritante. – Certo, Vivienne – continuou ele. – Pegue este preservativo e coloque em mim. Não acho que sou capaz de fazer isso depois de seu striptease. Vivienne também não tinha certeza se era capaz de realizar tal tarefa. Nunca pusera um preservativo num homem, antes. Mas não ia lhe contar isso. Qualquer mulher sexualmente experiente faria aquilo de olhos fechados. Ela abriu o envelope de alumínio e

olhou para o pequeno círculo de borracha. – Tem certeza de que isto vai servir? Jack suspirou. – Dê-me aqui. Feliz, ela entregou-lhe. – Sim, chefe. Eles se entreolharam, e um friozinho percorreu a barriga dela. A velha Vivienne teria imaginado que mais coisas estavam acontecendo entre eles, além de sexo. A nova Vivienne sabia exatamente o que estava causando suas reações físicas. Ela baixou os olhos para onde Jack se protegia com movimentos hábeis dos dedos, sua boca

secando ao imaginar como seria a sensação daquela incrível ereção em seu interior. – Espero que você goste de ficar no topo – Jack falou, ao terminar sua tarefa. Eu geralmente não gosto de abrir mão do controle, mas não ouso tocá-la neste momento. Estou muito perto de um clímax. Então, ajude-me aqui. Estou me sentindo decididamente frágil. Vivienne mordeu o lábio. O que dizer? Se ela confessasse que não gostava daquela posição, ele pensaria que ela estava mentindo. Então, engoliu em seco, dizendo a si mesma que podia fazer aquilo. Já fizera antes.

Brevemente. Duas vezes. Apenas suba na cama. Agora passe uma perna sobre ele. Não pense sobre o que ele pode ver. Apenas se ajoelhe acima de Jack. Isso, assim mesmo. Agora, segure-o na sua mão direita. Deus, ele era grande. E se ele não couber dentro de você? Mas ele coube, deslizando para seu interior com incrível facilidade. Deliciosamente. Vivienne prendeu a respiração, enquanto se abaixava devagar, até que estivesse preenchida de um jeito que nunca fora preenchida antes. Fechou os olhos, de modo que pudesse saborear a sensação maravilhosa enquanto se movia para

frente e para trás. O gemido de Jack assustou-a, e ela abriu os olhos. A fisionomia dele parecia torturada, a respiração estava ofegante, e as mãos grandes estavam cerradas em suas laterais. – Pare de se mexer assim, Vivienne, pelo amor de Deus. Vivienne ficou chocada pelo quanto gostou de vê-lo prestes a perder o controle. – Mas eu quero me mexer – sussurrou ela, erguendo-se um pouco e abaixandose sobre ele num ritmo lento, sensual. Jack não gemeu, desta vez. Praguejou, então lhe agarrou os ombros e rolou-a

para baixo de si. Agora, ela não podia se mexer, as mãos grandes e o corpo poderoso pressionando-a contra o colchão. – Eu deveria saber que você não obedeceria a ordens por muito tempo – murmurou ele. – Você é muito teimosa. – Jack deu um sorriso sexy. Vivienne pegou-se sorrindo, também. – Talvez eu prefira desse jeito. – Humm. Eu não acredito. Mulheres com sua óbvia experiência nunca preferem posições submissas. Vivienne tentou não rir. Mas aquilo era engraçado, considerando quão limitada sua experiência sexual era.

– Você sempre fala tanto assim quando está fazendo sexo? – perguntou ela. – Apenas quando eu preciso me conter. Nunca gostei de acabar uma coisa boa muito depressa. Isso seria especialmente desagradável nesta ocasião, quando, talvez, eu seja relegado a uma única vez. – Oh, não acho que isso seja muito provável, Jack – disse ela, os olhos verdes brilhando. – Não posso me imaginar não querendo pelo menos uma segunda vez com um homem com seus... óbvios atributos. – Deus, era realmente ela falando aquilo?

– É bom saber, Vivienne. Mas, só no caso de você mudar de ideia depois, nós vamos fazer isso do jeito que eu prefiro. Vivienne arfou quando ele se retirou abruptamente, virou-a, passou um dos braços ao redor de sua cintura e posicionou-a de quatro. Deus amado, pensou ela, atordoada. Por mais inexperiente que Vivienne fosse em posições sexuais, não era ignorante. Sabia exatamente o que Jack ia fazer. Podia senti-lo bem atrás de si, mas não podia vê-lo, seus olhos arregalados vendo nada além do papel de parede acima da cama. Resistir não era uma escolha, uma vez que ele a

penetrara novamente, e menos ainda quando ele segurou seus seios e começou a se mover em seu interior. Imediatamente, todos os pensamentos racionais desapareceram de sua cabeça, seu desejo tomando todas as decisões por ela, exigindo que Vivienne também se movesse, seus quadris balançando de modo frenético, seu corpo buscando liberação da tensão quase torturante se construindo em seu interior. Vivienne nunca entendera o conceito de a dor estar intimamente ligada ao prazer. Mas entendeu agora, ainda mais quando Jack começou a apertar seus mamilos já em chamas. No momento que

ela achou que não poderia mais suportar as sensações, Jack removeu as mãos e pressionou a parte superior do corpo dela contra a cama, a posição enfatizando seus quadris e traseiro erguidos, seu rosto ardendo com um misto de vergonha e excitação. Quando ele parou de se mexer, Vivienne gemeu em frustração. – Você gosta disso? – perguntou Jack com voz rouca. Ela tentou soar chocada, mas tudo que sentia era um prazer delicioso. – Sim. – Outra vez, então – murmurou ele e segurou-lhe os quadris, novamente.

Desta vez, investiu mais rápido e mais fundo. Vivienne lutou para permanecer silenciosa, do jeito que geralmente ficava durante o sexo. Tentou abafar os gemidos num travesseiro, mas, no fim, não foi capaz de conter os sons guturais que escaparam de seus lábios enquanto enterrava os dedos na colcha e seu corpo perdia o controle. Vivienne atingiu o clímax com a rapidez de um balão estourando. Num momento, estava suspensa num tipo de agonia erótica, no momento seguinte, toda aquela terrível tensão se dissolveu, substituída por imensas ondas de prazer que a inundaram. Ela mordeu o lábio

para conter um grito. Jack, por sua vez, não se reprimiu, gritando sua satisfação enquanto a abraçava com força e estremecia em seu interior por um tempo incrivelmente longo. No momento que ele terminou, o orgasmo de Vivienne tinha se dissipado, seus membros sucumbindo a uma languidez que a teria feito cair de cara no colchão, se Jack não a tivesse segurado. Com surpreendente gentileza, ele se retirou, antes de abaixá-la sobre a cama, onde Vivienne fechou os olhos e deu o tipo de suspiro que nunca dera antes. Um suspiro que continha nada além de

excitação sexual. – Não vá embora agora – murmurou ele, e deu-lhe um beijo nas costas. Ela teria rido, se tivesse energia. Vivienne vagamente ouviu o som de água correndo. Ele estava tomando banho?, perguntou-se. E foi seu último pensamento antes que o sono a dominasse.

CAPÍTULO 11

JACK NÃO percebeu que Vivienne estava dormindo até que voltou do banheiro. Ela não respondeu quando ele disse que ia até o mercado da esquina comprar suprimentos, e se havia alguma coisa em particular que ela quisesse comer. Pobrezinha, pensou ele, olhando para a forma inconsciente na cama. Vivienne obviamente estava exausta, e não apenas pelo sexo, mas por tudo mais que vinha passando ultimamente. Era melhor deixá-la dormir, pelo menos por um

tempo. Silenciosamente, Jack vestiu-se e saiu do quarto, indo para a cozinha, onde vasculhou armários e gavetas até achar papel e caneta. Escrevendo um bilhete explicativo para Vivienne, retornou ao quarto e pôs o bilhete em cima da pilha de roupas dela, cuidando para não a olhar e ser tomado pelo desejo novamente. Haveria tempo para aquela segunda vez que ela mencionara depois que eles almoçassem. Não que ele tivesse intenção de parar na segunda vez, ou de permitir que Vivienne negasse dormir com ele em bases mais regulares. Todo mundo podia

ver o que ela precisava nesse ponto de sua vida. Além de manter-se ocupada com o trabalho, Vivienne precisava de um homem que a amasse com a máxima frequência possível, que a fizesse ver que a vida não acabara porque ela havia sido dispensada por um caçador de fortunas idiota. Jack acreditava que ele era esse homem. Até mesmo ofereceria sua amizade, se ela quisesse. Ele franziu o cenho diante do último pensamento, lembrando como Vivienne dissera que nunca gostara muito dele. Jack perguntou-se por quê. Entretanto,

isso tinha sido antes de ela conhecê-lo melhor. Eles haviam conversado mais nos últimos dois dias do que durante os anos que Vivienne trabalhara para ele. Jack certamente lhe fizera mais confidências do que já fizera para qualquer outra mulher. Até mesmo lhe contara sobre o amante de sua mãe! Gostava do fato de que Vivienne não fora crítica sobre nada, especialmente sobre sua decisão de não se casar e ter filhos, dizendo que ele tinha o direito de escolher como levar a vida. De certa forma, ela era como ele: uma pessoa pragmática e sensata. Exceto no que dizia respeito ao idiota do Daryl. É

claro que o velho Daryl falara todas as coisas certas para conquistá-la. E continuara enganando-a, até que uma mulher mais rica o levara a desistir de Vivienne. Daryl e Courtney se mereciam, ambos totalmente sem moral e consciência. Vivienne não tinha ideia de sua sorte, ao ter escapado de um casamento com um homem como aquele. Jack estava prestes a sair do quarto, quando um som veio da cama. Por um segundo, pensou que Vivienne tivesse acordado, mas ela apenas se virara e curvara-se numa posição fetal, mostrando a curva provocante do traseiro. Reprimindo um gemido, Jack

levantou a ponta da colcha e cobriu-a. Infelizmente, o tecido só alcançou a cintura delgada, deixando a parte superior do corpo dela à mostra. Enquanto a olhava, ele lembrou-se do incrível ato de amor deles, de como Vivienne gritara ao atingir o clímax. De quão maravilhoso tinha sido estar dentro dela naquele momento. – Melhor não pensar nisso agora – murmurou ele baixinho, e apressou-se para o andar de baixo, saindo e trancando a porta, antes de subir no seu carro e partir. Haveria tempo para tais pensamentos depois que ele almoçasse; seu estômago estava lhe dizendo que era

hora de comer. Jack lembrou-se de ter passado por um pequeno mercado no caminho para lá, onde eles certamente teriam tudo que ele necessitava para o resto do dia. VIVIENNE ACORDOUpara o silêncio, e com a percepção de que, em algum ponto, Jack a cobrira até a cintura. Sentando-se, ela olhou ao redor do quarto, procurando por alguma indicação de onde ele estava. Não havia sons vindos de parte alguma, além de cantos de pássaros a distância. Certamente, Jack não a deixara sozinha na casa, deixara? Sozinha e nua. Um calafrio percorreu sua coluna.

Foi então que ela viu o bilhete. Saindo da cama, abaixou-se para pegar o papel, suspirando de alívio quando leu a mensagem. Não que achasse que Jack fosse fugir. Por que ele fugiria, quando, sem dúvida, acreditava que agora resolvera dois problemas com uma Vivienne? Sua necessidade de uma designer de interiores e sua necessidade de uma parceira sexual. Depois da maneira que ela se expressara na cama com ele, Jack naturalmente concluíra que ela concordaria com qualquer coisa que ele quisesse. Vivienne tinha apreciado cada segundo do ato de amor deles,

deleitando-se com seu novo “eu” desinibido. E que orgasmo espetacular! Por que, perguntou-se, nunca experimentara nada parecido com Daryl? Afinal de contas, estivera apaixonada pelo homem. Todavia, nem uma única vez, tinha perdido o controle na cama, como acontecera com Jack. Nem uma vez, ela atingira o clímax com Daryl em seu interior. O som de um carro subindo a ladeira de acesso à casa deixou Vivienne num pânico momentâneo. Por mais desinibida que tivesse sido durante o sexo com Jack, não queria que ele entrasse e a visse nua.

Pegando suas roupas, ela foi para uma porta que presumia ser a do banheiro. E, sim, era o banheiro. – Oh, meu Deus – exclamou ela, rindo. Vivienne sabia que, na teoria, banheiro cor-de-rosa e preto estivera na moda em algum estágio do século passado, mas ela nunca vira um de perto. Balançando a cabeça em divertimento, entrou e fechou a porta. Após usar o vaso preto e lavar as mãos na pia cor-de-rosa, vestiu-se rapidamente. Estava penteando o cabelo com os dedos quando houve uma batida à porta.

– Você está aí, Vivienne? – chamou Jack. – Eu... sim. Estou me vestindo. – Ela estava subitamente sentindo-se embaraçada. Parecia que a velha Vivienne tinha voltado. – Eu trouxe comida para nós – disse Jack, abrindo a porta e entrando. – Não costuma bater antes? – perguntou ela. – Eu pensei que tivesse batido. – Sim, mas você ainda deveria ter esperado até que eu o convidasse para entrar. – Humm. Seu humor parece ter piorado desde que eu saí. Suponho que

esteja zangada porque eu não fiquei para aquela segunda vez que você queria. Desculpe, querida, mas, além daquele probleminha dos preservativos, um homem do meu tamanho precisa ser constantemente alimentado. Vivienne desejou que Jack não tivesse mencionado o tamanho dele. Ou seu comentário ousado sobre querer, pelo menos, uma segunda vez com um homem como ele. A garota atrevida que falara aquelas coisas parecia ter desaparecido, o que era uma pena. Vivienne gostava muito da garota atrevida, e esperava resgatá-la assim que Jack começasse a fazer amor com ela.

Não que ela tivesse revertido inteiramente para a velha Vivienne, aquela que caíra nas mentiras de Daryl. Tal criatura patética desaparecera para sempre! – Então, o que achou do banheiro? – continuou Jack. – Horrível. Jack riu. – Espere até ver os outros. O pior deles é todo marrom, com uma banheira de hidromassagem verde-oliva no canto. – Bom Jesus. – A cozinha é um pouco melhor, contanto que você goste de pinho. Falando em cozinha, foi onde eu deixei a

comida. Lamento, mas eu só trouxe hambúrgueres, batatas fritas e refrigerante... mas pensei, quem não gosta de hambúrgueres, batatas fritas e refrigerante? Mais uma vez, ele não esperou resposta, apenas pegou a mão de Vivienne e conduziu-a para o andar de baixo e para a grande cozinha estilo fazenda, onde, sim, pinho predominava. Havia balcões de pinho, assentos de pinho e três bancos altos de pinho, alinhados diante do bar de pinho para café da manhã. Não que isso importasse. Vivienne tinha certeza de que Jack ia querer tudo do interior da casa

removido e totalmente refeito. – Sente-se – disse ele, puxando um banco alto para ela, antes de pegar um dos outros dois e carregá-lo para o lado oposto do bar, explicando sua ação: – Preciso manter distância enquanto como. Não posso pensar em sexo e comer ao mesmo tempo, e toda vez que estou perto de você, boneca, penso em sexo. Vivienne não pôde deixar de se sentir lisonjeada pela observação, embora o fato de ele chamá-la de “boneca” fosse um pouco irritante. – Acho difícil acreditar nisso. O sorriso de Jack ampliou-se. – Ora, Vivienne, você não me engana

nem por um minuto com essa encenação. Agora, coma e pare de fingir que não quer voltar para cama tão rapidamente quanto eu. Vivienne abriu a boca para retrucar, então voltou a fechá-la. Porque Jack estava certo. Não fazia sentido negar. Então, ela começou a comer. Nenhum dos dois falou enquanto comiam o hambúrguer, que estava mais delicioso do que qualquer hambúrguer que Vivienne já comera, com o tipo de ingredientes que você só obtinha num pequeno café. As batatas eram douradas e crocantes, com a quantidade certa de sal. Quanto ao refrigerante... bem, era

sua bebida favorita. O único defeito que pôde encontrar foi que Jack levara refrigerante normal, em vez de diet. – Você sabe quanto açúcar tem nesta pequena garrafa? – murmurou Vivienne depois de beber tudo. – Não o suficiente para enviar um foguete à lua – replicou Jack. – Mas o bastante para acender o seu fogo – acrescentou, com um sorriso travesso, os olhos azuis brilhando com intenção sexual. Apesar do coração disparado, Vivienne esforçou-se para parecer fria. Não queria parecer muito fácil. Ou muito ansiosa.

– Eu pensei que você fosse me levar a um tour pela casa antes – disse ela, pegando um guardanapo que viera com o lanche e limpando os cantos da boca. – Então, você pensou errado. Vivienne o fitou com raiva. Era por isso que nunca gostara de trabalhar para Jack. Ele era muito mandão. Era sempre tudo como ele queria. Ela costumava aguentar aquilo quando era funcionária da Classic Design. Mas não precisava aguentar agora. – Eu não tenho querer nesta questão, Jack? Ele pareceu perplexo por um segundo. Mas então sorriu.

– É claro que tem. Longe de mim forçá-la a fazer alguma coisa que você não queira. Eu a respeito muito para isso. Então, o que prefere, Vivienne? Passar uma hora tediosa, olhando a casa, ou ir ter uma diversão fantástica na cama? Vivienne suspirou. – Você é um manipulador esperto, sabia? Ele sorriu. – Eu aceitarei isso como um elogio. – Então, você estaria errado! – Quer dizer que você optou pelo tour? Ela meneou a cabeça.

– Não. Mas isso não significa que eu sempre farei o que você quer. – Tem certeza sobre isso? Vivienne não tinha. Mas jamais admitiria isso. – O seu problema, Jack Stone, é que você está muito acostumado a conseguir tudo do seu jeito. – Tenho de confessar que eu gosto de ser o chefe, principalmente na cama. – Já percebi. – E eu percebi que você gostou assim. Vivienne fez uma careta. Ele era muito arrogante. E muito confiante no que dizia respeito a sexo. Ela imaginou se aquilo se devia ao equipamento

masculino impressionante ou à riqueza de experiência. Qualquer que fosse o motivo, Vivienne não tinha intenção de ser dominada. – Como uma mulher moderna do século XXI, eu espero que qualquer relacionamento sexual que tivermos seja conduzido igualmente por nós dois. – É justo – murmurou ele. – Haverá regras envolvidas – afirmou Vivienne com firmeza. Ele arqueou as sobrancelhas. – Que tipo de regras? Vivienne não tinha ideia. Era hora de improvisar. E rapidamente. – Primeiro, você sempre usará um

preservativo. – Ela não ia lhe contar que estava tomando pílulas. – Você não precisará discutir comigo sobre esta questão – respondeu Jack. – Por isso eu saí e comprei uma dúzia. – Uma dúzia?! – exclamou ela, atônita diante do pensamento de que ele pudesse usar tantas durante uma única tarde. Jack deu de ombros. – Melhor prevenir do que remediar. Além disso, o que não usarmos hoje guardaremos para amanhã. Vivienne piscou. – Como assim, amanhã? Certamente, você precisa trabalhar amanhã? Eu o

conheço, Jack. Sei como é viciado em trabalho. – Verdade. Mas há sempre o depois do trabalho. Eu pensei em levá-la para jantar num bom restaurante na cidade... e depois podemos ir para minha casa. – Você é incorrigível – ralhou Vivienne, apesar de estar secretamente ansiosa para ir à casa de Jack depois do jantar. – Regra número dois é que você me peça as coisas, Jack, não apenas me comunique. – Oh, certo. Você gostaria de sair para jantar amanhã? – Talvez. Eu lhe darei a resposta mais tarde.

– Não. Isso, eu não aceito, Vivienne. Também tenho minhas próprias regras... a principal sendo: se e quando eu lhe fizer uma pergunta, quero uma resposta direta. Porque eu sou o tipo de cara direto. Não faço jogos de palavras. Então, é “sim” ou “não”? Vivienne suspirou. – É “sim” para o jantar. Mas você terá de me perguntar novamente sobre ir para sua casa, depois. Não sei bem como eu vou me sentir sobre mais sexo, depois de hoje. – E que mentira era aquela! Ele deu-lhe um olhar duro, então sorriu.

– Justo. Mais alguma regra? – Eu... não posso pensar em mais nada no momento. Todavia, terei o direito de adicionar regras à lista se alguma coisa importante me ocorrer. – O mesmo vale para mim. – Jack pegou a caixa de preservativos de dentro da sacola plástica ao seu lado. – Certo, agora que sei suas regras e nós acabamos de comer, vou perguntar novamente: você quer um tour pela casa, primeiro, ou mais sexo? Vivienne engoliu em seco. Sabia o que queria dizer, mas simplesmente não conseguia. Jack levantou-se do banco, rasgando

o celofane da caixa de preservativos, enquanto rodeava o balcão para seu lado. – É claro, há uma terceira alternativa – murmurou ele, prendendo-lhe o olhar. – Nós poderíamos combinar os dois. Vivienne apenas o encarou, atordoada demais para falar. Ele traçou um dedo sobre os lábios entreabertos dela. Vivienne arfou quando Jack enfiou este dedo dentro de sua boca. E, subitamente, ela era aquela nova Vivienne, mais uma vez, com toda sua ousadia. Seus lábios se fecharam ao redor do dedo dele, seus olhos verdes brilhando enquanto sua boca explorava

aquele dedo com movimentos sensuais. – Eu vou aceitar isso como um sim – disse ele com a voz rouca.

CAPÍTULO 12

– O QUE você acha que está fazendo? – perguntou Vivienne, quando Jack pegou sua câmera fotográfica e apontoua na sua direção. Vivienne estava reclinada numa espreguiçadeira, vestida com nada além de sua blusa branca, parecendo pecadoramente sexy, com um único botão fechado. – Estou tirando uma foto de minha linda namorada – replicou ele. – Mas eu estou seminua – protestou ela, sentando-se ereta e afastando

mechas de cabelo do rosto. – E meu cabelo está despenteado. Ele riu. – Não seja tola. Você está maravilhosa. – Eu falo sério, Jack. Não quero que você tire fotos minhas assim. E não sou sua namorada. Nós dormimos juntos, nada mais. Jack tentou não mostrar desprazer. Deveria estar contente que Vivienne queria um relacionamento meramente sexual. Era o que ele pensara que quisesse. Todavia, depois de passar um dia inteiro com ela, percebeu que desejava mais do que isso de Vivienne.

– Eu não a teria convidado para jantar fora amanhã, se quisesse somente dormir com você – insistiu ele. – Gosto de conversar com você, Vivienne. E não somente sobre assuntos relacionados ao trabalho. Quero passar tempo ao seu lado fora da cama também. O que deveria estar óbvio, a essas alturas. – Eles não tinham passado a tarde inteira fazendo sexo. Entre tais atos, haviam discutido a remodelação da casa, enquanto Vivienne pegava a câmera no carro e fotografava tudo. – Eu também gosto de passar tempo com você, Jack. Mas... – Então, qual é o problema? –

interrompeu ele e abaixou a câmera. – É muito breve, depois de Daryl? Vivienne o olhou. Para ser honesta, ela não pensara em Daryl uma única vez durante a tarde. Mas, agora que Jack levantara o assunto, ela imaginou se o fato de Daryl tê-la abandonado tão cruelmente era a razão por trás de sua incrível mudança de personalidade. Talvez sua transformação para “Vivienne, a Sedutora” fosse apenas uma espécie de vingança. Ou algo tão autodestrutivo quanto uma vingança. Bom senso demandava que ela recuasse daquela situação por um tempo, até que pudesse pensar com mais

clareza. Concordar em ser namorada de Jack, neste estágio, poderia ser uma decisão tola. Entretanto, ela ainda queria concordar. Muito. Uma coisa era dizer “não” para ter suas fotos tiradas; Vivienne sempre detestara ser fotografada. Outra coisa bem diferente era dizer “não” para mais sexo com Jack. E era isso o que aconteceria se ela se recusasse a ser sua namorada. Jack não era o tipo de homem que tolerava rejeição. Ele provavelmente retiraria sua oferta de trabalho, também. É claro, ela sempre poderia fazer uma sugestão alternativa.

A ideia que lhe surgiu era tão tentadora que seu coração disparou quando a audaciosa contraproposta formou-se em seu cérebro. Jack concordaria. Ele era homem, afinal de contas. E o que ela proporia era a fantasia de todos os homens. – Pelo amor de Deus, fale alguma coisa, Vivienne – disse Jack. – Você deve saber o quanto eu detesto indecisão. – Eu também detesto – devolveu ela. – Então, sim, ainda é muito cedo para eu considerar ser a namorada de qualquer homem. – Especialmente de um que já admitiu ser emocionalmente vazio,

pensou ela, mas não falou. – Nós dois sabemos que amor não tem nada a ver com o que fizemos hoje. Eu não estou mais apaixonada por você do que você está por mim. Mas não há como negar que adoro fazer sexo com você. Mais do que imaginei que fosse possível gostar. Vivienne notou que Jack não gostou muito de sua última sentença. Mas ele alegara gostar de honestidade, e ela estava apenas sendo honesta. – Talvez você fique chocado com o que eu estou prestes a sugerir. – Duvido que alguma coisa que você diga vá me chocar, Vivienne. Portanto, fale.

Vivienne abotoou sua blusa, então respirou fundo, antes de continuar: – Primeiro, deixe-me dizer que eu adoraria fazer este trabalho. – Ela gesticulou a mão para indicar a fachada de Francesco’s Folly. – Mas, como você mesmo apontou, seria impossível trabalharmos juntos agora, sem dormir juntos. Então, pela duração deste projeto, eu gostaria de me tornar sua amante. Ele inclinou a cabeça para trás, arregalando os olhos. – Acho que eu me enganei. Você me chocou. Então, exatamente que tipo de amante você tem em mente? O tipo que

se veste em couro preto brilhante e carrega um chicote? – Não seja tolo – retorquiu ela. – Neste caso, você deve querer dizer o tipo que eu instalo num apartamento chique, com todas as contas pagas, em troca de poder fazer o que quiser com você, quando quiser. – Eu não sou esse tipo de garota também. – Que alívio – disse Jack. – Eu quero apenas ser a espécie de amante que é mantida em segredo. Não quero que ninguém saiba que estamos dormindo juntos. – Por que não? Eu não me importaria,

se as pessoas soubessem. – Bem, eu me importaria. – Por quê? – Porque isso levaria a perguntas de amigos e família que eu não quero responder. – Não que ela tivesse muitos deles. Mas Jack tinha. – Teme que as pessoas pensem mal de você? Vivienne levantou-se. – Sim, é claro – confirmou ela. Além de aquilo ter acontecido logo depois de Daryl, todos sabiam que ela não gostava de Jack. Provavelmente, pensariam que ela enlouquecera. Jack franziu o cenho.

– Você não teria de se preocupar com isso se fosse minha namorada. – Mas eu não quero ser sua namorada, Jack – replicou ela, irritada agora. – Só quero ter sexo com você, tudo bem? Mais uma vez, Jack pareceu não gostar muito de sua resposta. – Tudo bem. Onde? – Como assim, onde? – Onde nós vamos fazer sexo? Não na sua casa, suponho... ou sua boa amiga e vizinha Marion saberia, e então você teria de responder aquelas perguntas que não quer responder. Portanto, resta minha casa ou um quarto de hotel.

Jack ficou pasmo quando Vivienne corou. Deus, ela era cheia de contradições. Na verdade, ele não a entendia. Assim como não entendia a si mesmo. Por que não estava feliz com a ideia de Vivienne como amante? Por que estava tentando alfinetá-la? Nada fazia sentido. Não, sabia exatamente o que o estava perturbando: seu ego tinha sido ferido. Pare com isso, Jack, ele ralhou consigo mesmo. Pense nos pontos positivos: todo o sexo que quer, sem nenhuma das complicações. Sem compromisso. Sem precisar dizer que você a ama. Então, reprima suas

emoções e adote uma postura mais pragmática com relação à oferta de Vivienne, a qual, se você pensar de modo sensato, é muito excitante. – Obviamente, os lugares que sugeri não agradaram – murmurou ele, tentando não soar sarcástico. – Talvez você deva repensar sobre a ideia de eu instalá-la naquele apartamento chique. Tenho condições para isso, e o problema de “onde” ficaria resolvido. Vivienne ficou tentada a dizer “sim”, porque aquilo resolveria o problema do lugar para os encontros deles. Mas tal arranjo ia muito contra sua natureza independente. Sem mencionar sua

consciência. Não queria sentir que Jack estava pagando para fazer sexo com ela. – Como eu disse, Jack, não sou esse tipo de garota. Ouça, tenho uma sugestão alternativa que acho que funcionaria para nós dois. Jack suprimiu um suspiro. – Tudo bem. Fale.

CAPÍTULO 13

– ESTA É a melhor notícia que você poderia ter me dado – disse Marion. Elas estavam tomando chá matinal na cozinha de Vivienne, Marion tendo passado lá para saber como as coisas tinham ido com Jack no dia anterior. Naturalmente, Vivienne não lhe contara toda a verdade, apenas que aceitara a oferta de Jack para redecorar Francesco’s Folly, e que planejava morar no lugar enquanto o trabalho estivesse sendo feito. Todavia, isso não

aconteceria até que a escritura fosse assinada, em duas semanas. Jack hesitara, no começo, diante de sua ideia de ela morar lá, até que ela apontara que ele poderia visitá-la todos os fins de semana, deixando-o livre para se concentrar no trabalho durante a semana. Vivienne declarara, com ousadia, que a espera valeria a pena, prometendo fazer tudo que ele quisesse, sexualmente, por dois dias. No momento que Jack a deixara em casa na noite anterior, tinha começado a gostar da ideia, especialmente depois de ter provado o que ela quisera dizer com “fazer tudo que ele quisesse”.

Vivienne, por sua vez, havia sido bombardeada por dúvidas. Mas ela não as vociferou, seu corpo saciado não tendo a menor dúvida. Dormira como um anjo durante a noite e acordara se sentindo maravilhosamente bem. Já estava ansiosa para ver Jack naquela noite, de novo. Ele prometera levá-la a algum lugar discreto, embora tivesse argumentado que o jantar deles poderia facilmente ser explicado como um jantar de negócios. Ela iria, afinal de contas, trabalhar pra ele. E debaixo dele. Em cima dele, pensou, maliciosamente. Vivienne lutou para conter o calor que

a inundou diante das memórias das demandas de Jack no dia anterior. Posições que ela nunca experimentara antes, muito menos apreciara. Todavia, tinha adorado tudo com Jack. Adorado sexo oral. Adorado cavalgá-lo, com as mãos ao redor da barra de latão aos pés da cama. Adorado que não pudera vê-lo a observando. Dessa forma, ela se perdera no prazer, desligada de tudo, exceto da profunda tensão dentro de seu corpo. Ela gritara no momento do clímax? Sim, tinha certeza de que gritara. – Agora, eu posso viajar na próxima semana sem me preocupar com você –

disse Marion. Vivienne piscou. – Você vai viajar? Marion assentiu. – Eu pensei que você pudesse ter esquecido, com tudo o que aconteceu. Eu vou para a Europa, de férias, lembra? Primeiro para Londres, a fim de visitar alguns de meus parentes, então para Paris, e depois farei um cruzeiro pelo rio Reno. Ficarei fora por quase seis semanas. Você não imagina como estou animada. Faz muito tempo que não tenho umas férias decentes como estas. Mas chega disso agora. Conte-me mais sobre a casa que Jack comprou. Como é

o nome mesmo? – Francesco’s Folly. – Soa romântico. Vivienne riu. – A casa não tem nada de romântico – disse ela, pensando que nunca associaria a casa com romance. Apenas com sexo, juntamente com luxúria e paixão incontrolável. – Eu tenho algumas fotos se você quiser ver – ofereceu Vivienne. O que acabou se provando uma má ideia. Porque ela não podia olhar para os diversos cômodos sem pensar no que eles tinham feito em cada um deles, especialmente naquele quarto vazio, com aquela velha cama de latão.

– Será um trabalho longo – comentou Marion. – Você ficará fora por semanas. Talvez meses! – Possivelmente – concordou Vivienne, pensando que não se importava com quanto tempo demoraria. Marion estudou-a com expressão intrigada. Era difícil esconder alguma coisa de Marion, que era muito boa em ler as entrelinhas. – Eu fiquei surpresa com Jack Stone – murmurou ela. – Ele não é o ogro que você pintou. Gostei dele. – Ele pode ser gentil quando quer alguma coisa de você – replicou ela. O que era verdade.

– Ele também é mais bonito do que eu imaginei – adicionou Marion. – Ele tem uma boa aparência, suponho. – Vivienne falou casualmente, dando um gole do seu café. – Mais do que apenas boa aparência. Mas, então, ele é meu tipo. Eu sempre gostei de homens másculos. Meu Bob era másculo – disse Marion em tom nostálgico, que avisou Vivienne que sua amiga estava prestes a começar a falar sobre o marido há muito falecido. Normalmente, Vivienne não se importava em ouvir as memórias dos tempos felizes de Marion, mas não hoje. Não queria ouvir sobre amor

verdadeiro. E não queria pensar sobre amores perdidos. Seu telefone tocou naquele momento, como uma distração abençoada, até que ela o pegou e viu que era Jack. – Alô – atendeu ela, deliberadamente não falando o nome de Jack, para que Marion não percebesse que alguma coisa estava acontecendo entre eles. – Você dormiu bem? – perguntou ele. – Eu sei que dormi. Vivienne podia ver Marion olhando-a com curiosidade. – É Jack – balbuciou ela, como se não fosse importante. – Foi gentileza sua ter me retornado

tão rapidamente sobre a porta – Vivienne falou ao telefone. Jack entendeu a mensagem imediatamente. – Ah... há alguém aí com você. Marion, eu presumo? – Uau, isso foi rápido – disse ela, e ele riu. – Então, devo esperar o homem que vai trazer a porta nova amanhã? A que horas? – Bem, certamente não às 7h – replicou ele. – Você estará muito exausta para levantar cedo depois do que eu tenho em mente para nós esta noite. Vivienne engoliu em seco,

esforçando-se para não enrubescer. Mas, oh, o calor que inundou seu corpo pelas palavras provocantes... – Meio-dia está ótimo – murmurou ela, impressionada como soava calma. Quem diria que pudesse ser tão boa atriz? – Obrigada, Jack. E, mais uma vez, obrigada por ter me oferecido um trabalho tão maravilhoso. Estou ansiosa para fazê-lo. – Não tanto quanto eu. – Ele riu. – Agora, preciso desligar. Trabalho me chama. Eu apanho você às 19h. E não use nada muito sexy se quiser fingir que é um jantar de negócios. Vivienne abriu a boca para responder,

mas ele já tinha desligado. O que era melhor, com Marion ouvindo atentamente. – Tudo bem – disse ela para a linha muda do telefone. – Adeus. – Eu acho que ele gosta de você – falou Marion instantaneamente. Vivienne pôs seu celular sobre a mesa antes de responder. – O que a faz dizer isso? – Instinto feminino. Quero dizer, ele poderia ter empregado qualquer designer de interiores competente para decorar a casa dele, mas veio procurar você, especificamente. Por mais que Vivienne gostasse da

ideia de Marion, não ia se enganar ao pensar que Jack tivera qualquer outra coisa em mente, além de trabalho, quando tinha ido procurá-la no outro dia. O que acontecera entre eles havia sido inesperado para ambos. – Bem, ele conhece meu trabalho, não conhece? Sabe que eu trabalharei bem. – Eu ainda não estou convencida – disse Marion. – E sabe de uma coisa? Acho que você gosta dele. Vivienne sorriu. – Difícil não gostar de um homem que lhe trás flores, então lhe dá um trabalho dos sonhos. – Sem mencionar incontáveis orgasmos. – Mas você está

certa. Eu gosto muito mais dele do que gostava antes. – Humm. Ele é solteiro, não é? – Sim. E quer continuar solteiro. – Ele tem namorada? Como responder aquilo? – Sim, tem. – Impossível usar a palavra “amante”. – Oh, que pena. Como ela é, você sabe? – Não realmente. Eu só a vi uma vez. – No dia anterior, quando ela fora transformada em “Vivienne, a Sedutora”. – Ela é loira? – Não. Ruiva.

– Oh, como você. Linda? Sexy? Vivienne deu de ombros. – Suponho que Jack acha que sim. – Mas você não acha. – Ela é bonita, suponho. É uma garota trabalhadora. Uma designer, como eu. Jack a conheceu no trabalho. – Deus, aquele jogo de palavras estava ficando complicado. Vivienne desejou que não o tivesse começado. Marion bufou. – Imagino que ela deve estar esperando que ele se apaixone e se case com ela no fim. Vivienne quase riu, porque nada podia estar mais longe da verdade. Mas

não poderia dizer isso. – Suponho que sim – concordou ela. – A maioria das mulheres quer amor e casamento. – Mas não eu. Não agora, pelo menos. Só quero muito sexo. Com Jack. Marion estava franzindo o cenho. – Se ela é designer, por que Jack não a contratou para redecorar Francesco’s Folly? Vivienne precisou pensar rápido. – Acho que ele não quis que ela tivesse ideias de que a casa pudesse ser um futuro lar para os dois. Jack me contou que comprou a propriedade num impulso, quando estava passando por lá,

à procura de um terreno para uma casa de repouso. Eu acho que ele quer que Francesco’s Folly seja seu esconderijo secreto. – Entendo – murmurou Marion, pensativa. – Jack realmente não vai se casar com ela, então? Pobrezinha. Ela irá ficar com o coração partido se não tomar cuidado. Não, eu não ficarei, pensou Vivienne com uma certeza surpreendente. O que estou tendo com Jack não tem nada a ver com meu coração. É um caso, nada mais. Um relacionamento estritamente sexual. – Ela é o tipo de garota que pode

cuidar de si mesma – replicou Vivienne, levantando-se e carregando as canecas vazias para a pia. O que era verdade... na maior parte do tempo. Ela vinha cuidando de si mesma há séculos. Não por escolha, mas por necessidade. Independência se tornara um hábito enraizado. Assim como dureza emocional. Até que ela conhecera Daryl.. Ele tinha penetrado sua pele e quebrado a concha que protegia seu coração. Seu amor por ele a fizera agir de modo não característico e pouco inteligente. Estar com ele tornara Vivienne fraca. E cega. Jack estivera certo ao apontar que ela

tivera sorte de não se casar com Daryl. Ele teria sido um marido horrível, e Vivienne, uma esposa patética. A traição de Daryl ainda doía, mas não tanto quando doera. Talvez porque ela não pensava mais naquilo. – Você está pensando em Daryl, não está? – falou Marion intuitivamente, de onde estava sentada, à mesa da cozinha. Vivienne virou-se da pia e olhou para sua amiga. – Quem? – perguntou ela com total indiferença. Marion riu. – Agora, este é um passo na direção certa.

CAPÍTULO 14

JACK DESCEUde seu Porsche às 19h20, irritado que estava atrasado para pegar Vivienne. Detestava se atrasar, especialmente naquela noite. Mas nem sempre podia controlar o trânsito. Esperava que ela não estivesse zangada com ele. O sorriso no rosto de Vivienne, quando ela abriu a porta, foi tranquilizador. – Você está atrasado – ralhou ela. Mas gentilmente.

– O trânsito na ponte estava parado – explicou ele. – Desculpe. – Não precisa se desculpar. Eu entendo. Vou pegar minha bolsa. Estranhamente, a aceitação de Vivienne de seu atraso irritou Jack. Se ela estivesse tão ansiosa pela noite quanto ele, teria ficado mais aborrecida. Mas, é claro, ela não estava emocionalmente envolvida com ele, estava? Ele era apenas um corpo masculino para Vivienne. Um parceiro de cama com quem ela podia fazer jogos eróticos. Vivienne não queria ser sua namorada. Preferia o papel de amante. Era estupidez de sua parte querer mais,

quando ela era incapaz de lhe dar mais naquele estágio de sua vida. Enrijecendo o maxilar, Jack determinou-se a tratá-la do jeito que ela queria ser tratada... como nada mais do que um objeto sexual. Um brinquedinho pessoal. Não haveria misericórdia para Vivienne. O que significava que o jantar não poderia ser longo. Ele a queria de volta em sua cama assim que possível. Então, enquanto ela voltava, andando na sua direção, ele olhou-a lentamente dos pés à cabeça, não se incomodando em esconder sua intenção libidinosa. Vivienne não obedecera ao seu comando

de não se vestir de maneira sexy, o que o intrigou um pouco. Se ela não queria que ninguém soubesse da natureza do relacionamento deles, deveria ter usado alguma coisa menos... provocante. O vestido era roxo e justo, mostrando o corpo em forma de ampulheta de um jeito que fazia pouco para abafar seu desejo por ela. O cabelo estava preso, mas num estilo sexy, com mechas ruivas caindo ao redor do rosto adorável. Ela estava usando mais maquiagem do que o normal, fazendo os olhos verdes parecerem maiores. E então havia brincos, os longos pendentes de cristal atraindo o olhar para o pescoço elegante

e para o peito mais abaixo. – Eu lhe disse para não usar roupas sexies – murmurou ele, quando ela estava perto. Vivienne deu de ombros. – Eu decidi que uma mulher não sairia com seu amante parecendo horrível. – Verdade – concordou Jack, e, sem pedir permissão, puxou-a para seus braços e beijou-a. Vivienne resistiu apenas por um segundo, e somente porque ficou chocada com o movimento súbito. Era isso que ela queria, afinal de contas... estar nos braços dele, novamente. Sentir o calor do sexo rígido pressionado

contra si. E Jack estava rígido. Muito. Logo ela nem iria querer sair para jantar. Se ele a tivesse impulsionado para dentro e a levado para o quarto, Vivienne não teria protestado. Se apenas ela não tivesse derrubado as chaves no piso de madeira! Jack levantou a cabeça ao som do metal batendo na madeira, dando-lhe um olhar irônico, antes de abaixar-se para pagar as chaves. Vivienne tentou recobrar o controle. Seu rosto estava quente, e seu corpo, em perigo de se derreter. Ela não conseguia falar. Não conseguia pensar. Após endireitar a coluna, ele deu-lhe um sorriso

enigmático. Era divertimento que curvava os lábios de Jack? Ou algum tipo de satisfação estranha? – Eu tranco o apartamento para você – disse ele. Ela apenas o olhou, sua cabeça se clareando aos poucos da névoa de paixão que obstruíra seu cérebro. Não pela primeira vez, perguntou-se por que Jack a excitava tão facilmente, e num nível que quase a dominava. Um beijo, e ela era sua de novo. Fazer tudo que ele quisesse, sexualmente, nunca seria um problema. Porque Vivienne queria fazer tudo com ele, e para ele. Gostava especialmente quando ele era

mandão na cama. Quando ele tomava sem pedir. Que estranho era isso! Ela sempre detestara homens arrogantes e dominadores. Todavia, não detestava Jack. Se fosse honesta, gostava mais dele do que tinha admitido para Marion. Também o achava cada vez mais bonito. É claro, ele estava muito elegante nessa noite, de terno cinza-chumbo, camisa branca e gravata azul da cor dos olhos. O traje lhe dava um ar de sofisticação urbana que ela não vira nele antes. Sempre pensara em Jack como um diamante bruto; ele não parecia bruto naquele terno chique. Ele virou-se e pagou-a o encarando.

Mas não falou nada, apenas lhe entregou as chaves e segurou-lhe o braço, conduzindo-a para fora do prédio. O clima estava mais frio do que Vivienne esperara, depois do calor do dia. Ela parou antes que eles chegassem à calçada. – Acho que eu vou buscar um casaco. – Seu vestido era de mangas três quartos, mas o tecido era fino. – De jeito nenhum – replicou ele com firmeza. – Sem cobertura para você esta noite, boneca. Vivienne fez uma careta. – Importa-se de não me chamar

assim? Eu realmente não gosto. Os músculos faciais de Jack enrijeceram. – Como eu devo chamá-la? Querida? Certamente, não de benzinho? Isso não parece combinar com uma amante. A mão de Vivienne apertou a bolsa. – Por que você está agindo como um idiota de repente? – protestou ela. Ele a fitou por um momento, então suspirou, as feições se suavizando. – Você está certa. Estou agindo como um idiota. Culpa do ego masculino. Eu ainda estou tentando aceitar o fato de que você não quer ser minha namorada. Vivienne ficou tentada a ceder e

d i z e r : tudo bem, eu serei sua namorada. Porque não gostava de pensar que Jack estava zangado com ela. Mas sabia que se arrependeria depois, se cedesse. – Você parecia feliz com nosso arranjo quando me deixou em casa ontem à noite – Vivienne o relembrou. – Além disso, pensei que um relacionamento estritamente sexual fosse perfeito para você. – Eu também pensei. – Então, qual é o seu problema? Sim, Jack, qual é o seu problema? Pelo amor de Deus, contenha-se. Ele deu de ombros.

– Problema nenhum. Mas, talvez, você pudesse ceder um pouco e sair comigo de vez em quando. Num encontro apropriado, quero dizer. – É o que eu estou fazendo esta noite, não é? Ele riu. – Você e eu sabemos que o jantar desta noite é uma preliminar, não um encontro. Ora, eu dei uma olhada para seu vestido e decidi reduzir a refeição para um único prato. Você vai ser a minha sobremesa, linda. Posso chamá-la assim... de linda? – Se quiser – respondeu ela, esforçando-se para controlar seu

próprio desejo. – Ótimo. Então vamos parar com essas provocações inúteis e partir. Quanto antes chegarmos lá e comermos, mais depressa poderemos ir embora. MAS AS coisas não aconteceram desse jeito. Logo depois que eles se acomodaram à mesa da pequena cantina italiana que Jack reservara, perto de St. Leonards, o celular dele tocou, avisando uma mensagem de texto. – Desculpe – murmurou ele, tirando o telefone do bolso. – Preciso dar uma lida rápida. Pode ser família. Por mais que Vivienne admirasse a devoção de Jack à família, desejou que

ele tivesse deixado o celular em casa... como ela fizera. Mas supunha que estivesse sendo irracional. E aquele era o pensamento mais de uma namorada do que de uma amante. Uma amante não se importaria que seu parceiro rico fizesse qualquer coisa, até mesmo que respondesse mensagens de textos enquanto jantasse na sua companhia. A testa franzida de Jack enquanto ele lia a mensagem despertou a curiosidade de Vivienne. – Alguma coisa errada? – perguntou ela. Ele guardou o telefone no bolso. – Não realmente. Era um convite para

uma festa de noivado na semana que vem. – Oh? Quem vai casar? Alguém da sua família, ou um amigo? – Não. É a filha de um conhecido. De um homem de negócios muito rico. – Então, você provavelmente deveria ir. – Eu acho que não. Talvez eu soque o futuro noivo. Vivienne ficou atônita. – Por que você faria uma coisa dessas? O sorriso de Jack foi sarcástico. – O nome dele é Daryl. Naquele momento, o garçom chegou,

trazendo a garrafa de vinho que Jack pedira, impedindo Vivienne de falar alguma coisa que pudesse se arrepender depois. Aquilo também lhe deu alguns minutos para reunir seus pensamentos. Era natural que Frank Ellison convidasse Jack para a festa de noivado de Courtney, refletiu ela. Jack tinha, afinal de contas, construído a mansão de Frank na zona portuária, a mesma que ela decorara no ano anterior. Será que ela recebera um convite, também? Duvidava. Mesmo que Frank não soubesse do recente noivado de Daryl com outra mulher, Courtney sabia. Ou não? Talvez a garota não soubesse que

Daryl já era noivo, quando começara a sair com ele. Vivienne suprimiu um suspiro. Não queria mais pensar em Daryl, ou na nova vida que ele construíra para si mesmo com Courtney Ellison. Ela seguira em frente, e apesar de ter sofrido pelas ações dele, estava se sentindo melhor agora. Muito, muito melhor. No momento que o garçom serviu o vinho, anotou os pedidos e se retirou, Vivienne sabia o que tinha de fazer. Primeiro, ela deu um gole do vinho gelado. Depois, prendeu os olhos de Jack e perguntou seriamente: – Presumo que seu convite diz “e

acompanhante”? Jack teve o terrível pressentimento de que sabia o que estava por vir. – Sim. – Neste caso, eu gostaria de ir com você. E l e sabia! Jack suspirou, em frustração. – Eu não acho que seja uma boa ideia, Vivienne. A expressão de Vivienne tornou-se rebelde. – Por quê? – Porque você não sabe com o quê e com quem está lidando – replicou ele. – Sim, eu sei. Estou lidando com um

cretino traidor, que conseguiu se safar com seu comportamento abominável até agora – disse ela tentando manter a voz baixa para que outras pessoas no restaurante não a ouvissem. – Ele mentiu para mim quando rompeu nosso noivado. Alegou que não foi infiel, que estava fazendo a coisa honrável, me deixando antes que dormisse com sua nova amada. E eu acreditei nele na ocasião! Meu Deus, não acredito como fui ingênua. Ela continuou: – No momento que vi aquelas fotos no jornal, eu deveria ter procurado Daryl e lhe dito o que pensava a respeito dele.

Eu deveria ter lhe causado algum sofrimento, mesmo que fosse apenas um desconforto pelo transtorno que ele causou. Esta é a oportunidade perfeita para eu confrontá-lo. Ouça, talvez Courtney Ellison nem saiba que ele foi meu noivo. Daryl pode ter mentido para ela também. Quero que Courtney esteja ciente do tipo de homem com quem pretende se casar! – Não há a menor chance de que Courtney já não saiba tudo sobre você, Vivienne – declarou Jack com honestidade. – Acredite quando eu digo que o fato de Daryl estar noivo na época atraiu Courtney ainda mais. Sedução é o

jogo favorito dela. Courtney me perseguiu o tempo inteiro quando eu estava construindo a casa do pai dela, e me encurralou num dos dez quartos da casa um dia, completamente nua. Os olhos de Vivienne se arregalaram, mostrando a Jack como ela estava chocada, a reação enfatizando que ela nunca faria uma coisa dessas. Aquele “caso” estritamente sexual que ela estava tendo com ele... não era algo característico de Vivienne. Ela era o tipo de garota que, no geral, queria casamento e filhos, não o papel de amante. – Meu Deus! – exclamou Vivienne,

balançando a cabeça. – E você... você...? – Não. Eu não tocaria em Courtney Ellison nem com uma vara comprida. Era alívio que ele via nos olhos verdes? Jack esperou que sim, porque isso mostraria que ela gostava dele do mesmo jeito que ele gostava dela. – Você não quer estar perto de pessoas como aquelas se não precisa, Vivienne – continuou ele. – São pessoas gananciosas, sem alma. Você é boa demais para eles. Como eu disse, está muito melhor sem alguém como Daryl em sua vida. – Tudo que você diz é verdade. Mas,

num nível pessoal, eu preciso mostrar a Daryl que sobrevivi. Que ele não me destruiu. Se eu for àquela festa com você, será a vingança perfeita. Todo o ar se esvaiu dos pulmões de Jack diante da palavra “vingança”. Nossa, aquilo doía. Ele recostou-se e estudou-a por alguns momentos. – Isso é tudo que eu sou para você, Vivienne? Um instrumento de vingança? – O quê? Não, é claro que não. Como pode dizer isso, depois de tudo que eu fiz com você? Nada daquilo foi vingança. Foi... foi... Bem, foi luxúria – terminou ela, enrubescendo. – Apenas luxúria – repetiu Jack, não

se sentindo feliz com a última declaração, também. – Jack, acredite em mim, eu não sinto mais nada por Daryl, e nosso relacionamento sexual não tem nada a ver com ele. – Não posso dizer que estou convencido, mas eu a levarei à festa se é isso que você realmente quer. – É o que eu realmente quero. – Neste caso, eu tenho uma condição. – Qual? – Uma vez que você mostrar seu rosto e passar a mensagem que pretende, nós iremos embora imediatamente. Não tenho intenção de passar meu tempo de

lazer com pessoas como aquelas. Prefiro estar em outro lugar. Com minha linda amante – acrescentou ele, então sorriu.

CAPÍTULO 15

O SORRISO sexy de Jack foi o bastante para causar um friozinho na barriga de Vivienne. Era incrível a facilidade com que ele a excitava. Um momento atrás, sua mente estivera focada no que ela diria e faria na festa de noivado de Daryl. Um segundo depois, não podia pensar em nada, exceto em estar com Jack, seu corpo reagindo a várias imagens eróticas que se formaram em sua cabeça. Hora de ir ao toalete, decidiu ela,

pedindo licença no momento que o garçom chegou com um prato de pão de alho com aparência deliciosa. – Não demore muito – disse Jack, pegando uma fatia. – Ou eu comerei tudo sozinho. Ela não demorou. Apenas tempo suficiente para esfriar seu corpo superaquecido, e para mudar de ideia sobre ir à festa de noivado de Courtney Ellison. Surpreendeu-a que ela se importasse mais com os sentimentos de Jack do que com sua própria necessidade de confrontar Daryl. Detestava que Jack pensasse que ela o estava usando para vingança. Porque

não estava. – Você ficará contente de saber – começou ela, quando se sentou novamente à mesa e pegou uma das duas fatias de pão que restara – que eu decidi não ir àquela festa, afinal de contas. Jack não pareceu tão contente quanto ela imaginou que ele ficaria. – Ah? E por que isso? – Você obviamente não quer me levar. E eu não quero arriscar estragar o que temos juntos. Ele arqueou as sobrancelhas. – Ouça, para mim, Daryl está morto e enterrado – continuou ela, com firmeza. – Vamos deixar as coisas como estão.

Jack não acreditou naquilo nem por um momento. Daryl não estava morto e enterrado para Vivienne. Ele ainda estava lá, influenciando tudo que ela fazia. O fato de ele tê-la abandonado tão cruelmente por outra mulher era, sem dúvida, uma das razões pelas quais Vivienne tinha ido para a sua cama. Talvez não por vingança, mas devia haver algum elemento de revolta nas ações dela. Certo, então havia luxúria, embora Jack preferisse as palavras paixão e desejo. Vivienne era obviamente uma garota muito sexual, que apreciava sexo em todas as suas formas. Sem dúvida, ela sempre tivera

uma vida sexual muito ativa e criativa com Daryl. E Jack não gostava de pensar em Vivienne fazendo, com o cretino, coisas que fazia com ele! Entretanto, o fato de ela ser tão sexy era uma das coisas que ele adorava sobre ela. Assim como a inegável força de caráter e coragem. Se Vivienne realmente queria ir àquela festa, quem era ele para dizer “não”? – Aprecio suas preocupações, Vivienne. E adoro que você não queira arriscar estragar nosso relacionamento. Mas eu analisei a situação sob o seu ponto de vista, e agora acredito que

seria uma boa ideia para você ir à festa. Do contrário, nunca vai sentir que este assunto está encerrado. Você precisa de uma oportunidade para dizer ao seu exnoivo o que pensa dele. E para provar a si mesma que não é covarde. Ele a surpreendera. Sabia disso. – Então, você está feliz em me levar? – Com certeza. Ah, e aqui está nosso jantar. Vivienne tinha esquecido que tipo de massa Jack pedira; sua mente estava em outro lugar no momento que eles haviam chegado ao restaurante. Felizmente, não era enjoada para comer, e adorava comida italiana. O prato de espaguete

com frutos do mar, colocado na sua frente, era enorme. – Meu Deus! – exclamou ela, pegando o garfo. – Eu levarei a noite inteira para comer isto. – Eu sinceramente espero que não. Vivienne sentiu um friozinho na barriga. Sabia ao que ele estava se referindo, e o pensamento a excitou demais. Deus amado, ela estava ficando viciada em sexo. Precisava fazer alguma coisa, falar alguma coisa, para desviar sua mente do assunto. – Jack. Ele engoliu um marisco com deleite antes de fitá-la.

– Sim? – perguntou, e limpou a boca num guardanapo. Oh, Deus. Por que ele tinha de fazer aquilo? Vivienne olhou para aquela boca deliciosa e pensou em todo o prazer que ela podia lhe dar. O calor que seus pensamentos produziram fez Vivienne apertar as coxas. Deus, quase atingira um clímax ali. Largando o garfo, endireitou as costas na cadeira e forçou-se a se recompor. – Por acaso, você descobriu mais alguma coisa sobre Francesco’s Folly hoje? – indagou ela, sempre tendo achado trabalho uma distração bem-

vinda, quando suas emoções ameaçavam sair de controle. – Sabe quando eu poderia me mudar para lá e começar a trabalhar? – Tenho boas notícias. As coisas devem ser finalizadas até o fim da próxima semana. Depois disso, você pode se mudar quando quiser. – E o meu contrato? – Eu redigirei um para você antes disso. O que me lembra... eu contatei um construtor que conheço para fazer o trabalho atual. Ele é confiável e tem muitos contatos na área. Fiquei pensando... uma vez que você vai morar na casa... que tal se assumisse o trabalho

de gerente do projeto, assim como o de designer de interiores? Eu lhe pagarei a mais, é claro – acrescentou ele e deu outra garfada da refeição. – Quanto a mais? Jack sorriu. – Muito. – Tudo bem – concordou Vivienne, dando de ombros para esconder sua tensão sexual. Falar sobre trabalho não a distraíra em absoluto. – Ótimo. Coma agora. Nada pior do que massa fria. Ela tentou. Mas seu apetite ainda era por outra coisa. Observou Jack deliciarse com a refeição, enquanto ela só

beliscou os frutos do mar, deixando a massa intocada. E bebeu o vinho. A maior parte da garrafa; Jack disse que nunca bebia mais de uma taça quando dirigia. No momento que Jack empurrou seu prato vazio para o lado, o álcool dissipara qualquer sentimento de nervosismo, deixando-a com nada além de um desejo avassalador. – Não está com fome? – perguntou ele. Vivienne engoliu o último gole de vinho. – Não muita. – Quer beber mais alguma coisa? Um conhaque? Café?

– Não, obrigada. – Certo. – Ele acenou para o garçom. Cinco muitos depois, eles estavam na noite fria, Vivienne tremendo enquanto Jack segurava seu cotovelo e a conduzia para o pequeno estacionamento atrás do restaurante. O Porsche estava parado num canto parcamente iluminado, ao lado de um Mercedes vermelho. – Você deve estar com frio – disse ele, andando rapidamente. Então, antes que ela respondesse, Jack manobrou-a para uma pequena lacuna entre a porta de passageiro do carro e uma cerca de madeira sólida. – Isso terá de servir – disse ele, e

pressionou-a contra a porta. – Eu não posso esperar até chegarmos a minha casa, Vivienne. Você deve saber disso. Solte sua bolsa e tire seus sapatos – ordenou ele com a voz rouca. Ela fez isso, então ficou parada ali, ainda tremendo, com as costas contra o carro, enquanto mãos grandes deslizavam para baixo de sua saia e removiam sua calcinha e suas meias de nylon num único movimento brusco. Tais itens se juntaram a sua bolsa no chão. – Levante sua saia até a cintura – comandou Jack. Assim ela fez, chocada por sua

obediência cega a ele. Ouviu barulhos perto, mas sabia que não abaixaria sua saia. Não, a menos que Jack lhe dissesse para abaixar. O que ele não fez. Ele apenas a olhou, então tocou entre suas pernas trêmulas, abrindo-as, antes de inserir dedos no centro úmido e quente de seu sexo. Vivienne gemeu baixinho, depois não tão baixinho. Felizmente, as vozes tinham desaparecido, porque o mundo poderia ter ido assisti-la, e ela não teria parado. Estava muito perto do clímax quando Jack parou e ajoelhou-se na sua frente. Com um grito estrangulado, Vivienne abriu mais as pernas, dobrando os

joelhos de leve para dar melhor acesso à boca dele. A sensação daquela língua provocando seu clitóris pulsante era mais do que ela podia suportar, e ela foi incapaz de conter o grito torturante de liberação que imediatamente escapou de sua boca. Os próximos segundos foram passados numa espécie de nevoeiro. Vivienne estava grata pelo apoio do carro, ou teria caído no chão. Não tinha ciência das ações de Jack, tendo fechado os olhos no momento de seu clímax tempestuoso. Quando achou que poderia sobreviver, sentiu Jack penetrá-la com ferocidade. Abriu os olhos e fitou-o. A

expressão de puro desejo no rosto dele era selvagem. Quando ele ergueu-a, Vivienne automaticamente envolveu-lhe os quadris com as penas, soltando a saia, de modo que pudesse abraçá-lo pelo pescoço. Seu vestido caiu sobre eles como uma cortina. Não que a ação deles fosse sutil. Qualquer pessoa que passasse por ali saberia o que estava acontecendo. Ele gemeu enquanto investia devagar, acariciando-lhe as nádegas ao mesmo tempo. Mas Vivienne não queria devagar. Queria com vigor. E rapidez.

– Mais rápido, Jack – instigou ela, comprimindo-o com seus músculos internos. Ele agarrou-lhe os quadris e investiu com tanto poder que tirou o fôlego de Vivienne. Ele atingiu o clímax quase tão depressa quanto ela atingira, gemendo seu prazer. Vivienne não se importou de ser deixada ainda desejando. O prazer de Jack era o bastante para ela, por enquanto. Ela começou a tremer quando ele abaixou para o chão, o calor do momento dando lugar ao frio da noite. Jack balançou a cabeça. – Nós somos loucos, sabia?

– Sim – concordou ela. – Muito loucos. – Alguém poderia ter visto. – Eu não me importei. – Nem eu. Vamos entrar no calor do carro. – Bem, há um consolo – acrescentou ele, uma vez que eles estavam a caminho, com o aquecedor do veículo a toda potência. – Que consolo? – perguntou Vivienne, ainda meio atordoada. – Eu tive cabeça o bastante para usar um preservativo. – Sim, eu notei – replicou ela. Mas somente depois que ele se retirara.

Vivienne não notara durante o ato. Estivera em outro planeta. Ainda bem que estava tomando pílulas. Estar com Jack tornava-a estranhamente impulsiva. E com ele não era diferente. Eles eram loucos, certo. Loucos um pelo outro. Naquele momento, ela quase lhe contou que tomava pílulas, porque, é claro, seria melhor não ter de se preocupar com proteção o dia inteiro, especialmente se eles iriam ter sexo espontâneo com grande frequência. Todavia, pílulas anticoncepcionais só protegiam contra gravidez, nada mais. Jack não parecia um homem que corria riscos tolos, mas quem sabia?

– No que você está pensando? – perguntou ele quando pararam num farol. – Nada. – Ora, Vivienne, eu a conheço muito bem. Sua mente nunca está vazia. Ela olhou para sua bolsa no colo, onde guardara sua calcinha de algodão. As meias tinham ficado para trás, uma vez que Jack as arruinara ao rasgá-las para removê-las. Finalmente, levantou a cabeça e olhou para ele. – Eu estava pensando em sair amanhã e comprar lingerie sexy – inventou ela. – Contanto que você prometa não destruílas, é claro. Ele deu um sorriso travesso.

– Lamento, mas não posso lhe dar garantias quanto a isso. Você desperta a fera que existe em mim. – Eu desperto? – Você sabe que sim. – Você desperta o mesmo em mim – admitiu Vivienne. – Eu não sou geralmente assim, sabia? – O que você quer dizer? Vivienne desejou que não tivesse falado aquilo. Pois como poderia contar-lhe que nunca antes fizera um décimo das coisas que fazia com ele? Jack provavelmente não acreditaria. Ou, então, começaria a lhe fazer perguntas, perguntas para as quais ela não tinha

resposta. Não queria pensar sobre por que era tão diferente com ele. Queria apenas viver o momento. Dizer e fazer o que quisesse. Ser selvagem e devassa. Ela sorriu. – Quero dizer, eu geralmente não faço sexo em estacionamentos. Mas foi divertido, não foi? Jack também sorriu. – Não teria sido divertido se nós tivéssemos sido presos. – Você pode ser preso por isso? – Imagino que sim. – Você já foi preso? – perguntou ela, feliz em voltar o assunto para ele. – Ainda não. – O farol abriu, e ele

seguiu em direção à ponte. – Você irá passar a noite na minha casa, certo? – O quê? A noite inteira? – Ela não esperara por isso. Mas, instantaneamente, era o que queria fazer. Dormir com Jack, nua, a noite inteira, podendo tocá-lo, beijá-lo quando quisesse. – Você tem algum problema com isso? – perguntou ele, quando ela permaneceu silenciosa. – Eu posso deixá-la em casa amanhã bem cedo, no caminho para o meu trabalho. Você pode entrar de modo sorrateiro, como uma adolescente, antes que Marion acorde e a veja.

– Marion nunca acorda antes das 10h – disse Vivienne. – Não quando está fazendo o turno das 14h às 22h. Ela chega em casa por volta das 23h, e está sempre muito cansada. – Combinado, então. Você passa a noite comigo. – Se é isso que você quer – concordou ela, não demonstrando sua excitação diante da ideia. Jack olhou-a e perguntou-se no que ela estivera pensando quando eles tinham parado no farol fechado. Ele não era um leitor de mentes... muito menos de mentes das mulheres... mas duvidava que Vivienne estivera pensando sobre

comprar lingerie. Vivienne era um enigma. Sempre fria sobre a superfície, mas por baixo, muito ardente. Um caso clássico de fogo e gelo. Sexo entre eles era maravilhoso, e seria melhor ainda sabendo que ele a teria durante a noite inteira. Ele poderia fazer tudo sem pressa, fazê-la esperar mais. Havia alguma coisa infinitamente satisfatória sobre um ato de amor longo e lento, onde a ênfase não era o clímax em si, mas as experiências sensuais. Ele lhe massagearia as costas com mãos gentis, assim como os lindos seios. Usaria óleo e faria Vivienne suspirar de

prazer. Queria dar-lhe mais prazer do que ela algum dia sentira na vida. – No que você está pensando? – perguntou ela. Jack virou o rosto para sorrir. – Eu estava pensando que você não precisa comprar lingerie nova. Porque, de agora em diante, não vai usar nada. O rubor de Vivienne surpreendeu Jack. Por que uma garota que acabara de fazer o que ela fizera enrubesceria diante da ideia de não usar roupas de baixo? Ela era realmente um enigma. Uma mulher de comportamentos contraditórios. O apartamento de Vivienne

exemplificava isso. Por que era tão parcamente mobiliado, quando os designs profissionais dela nunca eram assim? Vivienne tinha a reputação de criar interiores calorosos e confortáveis, que agradavam as pessoas. Tinha de haver um motivo pelo qual ela escolhera uma decoração tão sem alma para o próprio lar. Jack suspeitava que aquilo tinha alguma coisa a ver com o passado familiar de Vivienne, o qual, obviamente, não fora feliz. Ela soava triste quando falava dos pais. Na verdade, parecia não gostar muito de falar de si mesma. O que era estranho. Todas as mulheres que ele namorara no

passado eram ansiosas para falar de si mesmas, contando histórias de vida com detalhes, sem muito encorajamento. É claro, ele não estava namorando Vivienne, estava? Estava apenas dormindo com ela. Por enquanto. Jack não tinha desistido de torná-la sua namorada. Somente adiara o projeto por um tempo. Um dia, esperançosamente em breve, Vivienne perceberia que seria bom para ela namorar um sujeito como ele: um sujeito honesto e direto, que não mentia e não traía, e que poderia lhe proporcionar bons momentos, na cama e fora dela, sem declarações falsas de

amor e compromisso de “até que a morte nos separe”. E quando Vivienne voltasse a confiar nos homens... Jack descobriria o que ela estava escondendo dele. Enquanto isso, ele lhe daria o que ela queria. Sem o menor problema, porque, francamente, naquele exato momento, era o que ele também queria.

CAPÍTULO 16

– É INCRÍVEL que ele tenha conseguido encontrar uma porta igual a sua – disse Marion, olhando para a nova porta do banheiro de Vivienne. – Incrível que o homem chegou na hora combinada para fazer o trabalho também. – Jack disse que todos os seus trabalhadores chegam no horário – murmurou Vivienne, feliz com a porta. Tinha sido pintada da mesma cor, Bert explicando que ele tirara uma lasca da tinta quando fora lá pela primeira vez.

Ele levara somente meia hora para remover a porta velha e colocar a nova. Marion chegara, uma vez que vira Bert indo embora. – Neste caso, ligarei para Jack se eu precisar consertar alguma coisa. – Faça isso – disse Vivienne. – Jack só contrata trabalhadores pontuais, honestos e cujos serviços tenham alta qualidade. – Humm. Um homem difícil com quem trabalhar, então – comentou Marion. – Difícil. E exigente – concordou Vivienne. – Mas justo. – De qualquer forma, certifique-se de assinar um contrato. Você não pode

confiar demais, mesmo se Jack for normalmente um homem justo. Ele pode tentar pagá-la com bens, em vez de com dinheiro vivo. Não há segurança nisso. No que diz respeito a dinheiro, até o homem mais justo pode ficar tentado a tirar vantagem. E você está vulnerável neste momento, Vivienne. E ficará mais ainda nas próximas semanas, sem eu aqui para aconselhá-la a ser cuidadosa. Jack não alcançou tanto sucesso profissional sem ser um pouco implacável, ocasionalmente. – Não se preocupe. Eu não permitirei que ele se aproveite de mim. Mas posso relembrá-la que você nunca me

aconselhou a ser cuidadosa com Daryl? Marion suspirou. – Tenho de confessar que Daryl me enganou também, o bonitão demoníaco. Pensando agora, ele parecia bom demais para ser verdade. Sempre pronto a fazer elogios, se entende o que quero dizer. – Sim, entendo perfeitamente – replicou Vivienne, lembrando-se da maneira exagerada que ele a elogiava. Não apenas sua aparência, mas outras coisas, também. Coisas que ela sabia que não eram verdadeiras. Mas acreditara que ele fazia tais elogios porque estava cego por amor, quando, na verdade, ela estivera cega.

Jack, por outro lado, era sutil nos elogios. Sim, dizia que ela era linda e, quando eles faziam amor, mencionava a beleza de seus seios e de seu traseiro, mas não se estendia nas palavras, pelo que Vivienne era grata. No que ele se estendia... principalmente na noite anterior... era em fazer amor com ela. Jack lhe mostrara que sexo não precisava ser sempre ligeiro, em lugares incomuns ou em posições extravagantes. Ele a surpreendera com a maneira que era capaz de prolongar as preliminares, explorando cada centímetro de seu corpo, antes de penetrá-la e levá-la a

mais um orgasmo espetacular. Então, depois de um pequeno descanso, durante o qual eles ficaram aconchegados na cama, conversando sobre os planos que tinham para Francesco’s Folly, eles haviam feito amor novamente. Mais uma vez, de maneira lenta e preguiçosa, com Jack permanecendo em seu interior pelo que pareceram séculos enquanto brincava com seus seios e dizia que eles eram lindos. Vivienne sabia que deveria estar exausta hoje. Contudo, sentia-se mais viva do que nunca. Não via a hora de rever Jack, naquela noite.

– Eu preciso ir me arrumar para o trabalho – disse Marion, interrompendo seus pensamentos. – Agora, esqueça sobre o cretino de Daryl. Ele não merece seus pensamentos. Até amanhã, querida. O conselho de Marion lembrou Vivienne de sua decisão de ir à festa de noivado de Daryl. Novamente, ela não sentia mais tanta vontade de ir. Para ser honesta, Daryl estava desaparecendo de sua mente. Sim, ele não merecia ficar impune depois do que fizera. Mas ela realmente teria coragem de confrontá-lo na festa de noivado dele? Jack não quisera levá-la, no começo, então

mudara de ideia, falando alguma coisa sobre fechamento... e provavelmente estava certo. Vivienne suponha que podia fazer aquilo. Jack não permitiria que nada de ruim lhe acontecesse. Disso Vivienne tinha certeza. Ele era um homem confiável. Vivienne estendeu o braço para fechar a porta do banheiro e sorriu. Oh, sim, Jack podia ser confiável. Imaginou se deveria lhe enviar uma mensagem de texto, dizendo que o homem da porta tinha ido e feito um trabalho esplêndido. Sim, faria isso, mas não lhe telefonaria. Ele dissera que não gostava de ser interrompido por telefonemas, quando

estava no trabalho, a menos que houvesse uma emergência. Mas Vivienne queria tanto contatá-lo. Seria como tocá-lo. Adorava tocá-lo. Com um tremor de prazer, ela foi para a cozinha, onde deixara seu telefone. – MARION FALOU que eu devo assinar um contrato com você – falou Vivienne para Jack, mais tarde naquela noite. Eles estavam na cama do apartamento dele, aninhados um nos braços do outro, saciados e contentes. – Ela diz que não devo permitir que você se aproveite de mim, e então comentou que, para ter alcançado tanto sucesso profissional, você devia ser implacável.

Jack arqueou as sobrancelhas. – E você concorda com ela? – Não. Eu não o considero implacável. Você é um homem durão e difícil de lidar, profissionalmente, mas é justo. E eu disse isso a Marion. Todavia, eu não a informei de que seu lado pessoal é bem mais suave. Jack riu. – Não foi isso que você falou minutos atrás. Disse que eu era rígido como uma pedra. Ela deu um tapa de brincadeira no peito másculo. – Não seja tolo. Sabe o que eu quis dizer. Eu estava falando sobre o jeito

que você ama sua família, especialmente sua mãe. Um homem que ama a mãe não pode ser ruim. – Verdade? Eu pareço ter lido em algum lugar que Hitler amava a mãe. Ela o fitou. – Você acabou de inventar isso. Jack fingiu uma expressão chocada. – Você acha que eu não leio? – Eu não disse isso. – Saiba que eu leio o tempo inteiro. Ontem mesmo, eu peguei uma cópia da Playboy num local de construção e li a revista de capa a capa. Artigos muito interessantes lá. Agora foi a vez de Vivienne rir.

– Aposto que sim. Agora, fale sério, você gosta de ler? Porque eu gosto. Muito. – Não posso dizer que é meu passatempo favorito – admitiu ele. – Eu não poderia viver sem um livro. Leio todas as noites antes de dormir. Ou costumava ler – acrescentou ela, pensando que não lera uma palavra desde que começara seu relacionamento com Jack. Ele a deixava muito exausta, depois de suas noites de paixão. – Se isso é verdade, por que não há prateleiras cheias de livros em sua casa? Ou você os guarda debaixo da cama? Eu ainda não estive lá.

E nunca estará, pensou Vivienne com uma onda de pânico. Não queria estar com Jack na cama que compartilhara com Daryl. Uma pequena parte sua ainda temia que, se ela fizesse isso, talvez voltasse a ser a parceira de cama patética que tinha sido com Daryl, o que, às vezes, perturbava-a. Se tivesse amado Daryl, não teria sido mais fogosa com ele? Por que não apreciara sexo com ele do jeito que apreciava com Jack? Isso não fazia sentido. – Eu não guardo os livros que leio. – Vivienne respondeu a pergunta de Jack. – Eu compro dois de cada vez de um sebo, e quando acabo de ler, devolvo-os

e compro mais dois. Não faz sentido guardá-los depois de ler, faz? Jack deu de ombros. – Não sei. Você sempre poderia emprestar para amigos. Marion não lê? – Sim, mas não o mesmo tipo de livro que eu leio. Ela gosta de romances, e eu gosto de policiais. – Entendo – murmurou Jack. – Eu gosto de assistir a filmes policiais na tevê. – Eu também gosto. Quais são seus favoritos? – perguntou ela, e eles conversaram sobre filmes, Jack descobrindo que Vivienne gostava de policiais que misturavam histórias de

crimes com relacionamentos, não de policiais sem romance. – Então, você gosta de um pouco de romance em suas histórias – apontou ele. – Contanto que não seja só romance. – Sim, suponho que gosto. – Agora, você me contou mais cedo que vai levar Marion ao aeroporto no sábado, certo? – Sim. – A que horas? – Por volta das 13h. O avião as logo depois das 15h. – E você ficará com ela até o avião partir? – Sim. Eu não poderia deixá-la lá

sozinha. – É claro. Eu não estou reclamando. Estou apenas tentando organizar o fim de semana. Originalmente, eu ia sugerir que nós fôssemos para Francesco’s Folly no sábado e passássemos a noite lá, mas isso não é muito prático, considerando que você não chegará do aeroporto antes das 16h. Então, enquanto você está ocupada, eu irei visitar minha mãe, e, de noite, levarei você para jantar em algum lugar especial. Se você quiser, é claro – acrescentou ele, aderindo à regra de Vivienne que ele perguntasse antes. Então, se você quiser, pode passar a noite aqui, e iremos para o norte no

domingo de manhã, a fim de passarmos o dia lá. O que acha? – Parece maravilhoso – concordou Vivienne, enquanto, privadamente, se preocupava, porque aquilo parecia mais coisa de namorada do que de amante. Jantar em algum lugar especial, passar o domingo com ele. Todavia, contanto que eles mantivessem o relacionamento secreto, não importava quanto tempo passassem juntos. Manter segredo do relacionamento sexual era importante para Vivienne. Ela não queria que as pessoas a considerassem tola, saindo de uma “fria” e entrando em outra. Afinal de contas, Jack nunca se casaria com

ela. Ele tinha deixado isso claro. Entretanto, se ela não cometesse a tolice de se apaixonar... novamente... não havia razão para temer ser machucada por ele. – Ótimo – disse Jack, em tom satisfeito. – Agora, acho que é hora para aquela segunda vez...

CAPÍTULO 17

– VOCÊ NÃO costuma me visitar num sábado – observou a mãe de Jack durante o almoço do sábado seguinte. Ele lhe telefonara na noite anterior, dizendo que apareceria por volta do meio-dia, e ela o convidara para almoçar. Jack pôs uma fatia de beterraba na boca, antes de responder. Nossa, ele adorava saladas, embora detestasse fazê-las. Detestava cozinhar qualquer coisa. Brevemente, imaginou se

Vivienne era boa cozinheira. Talvez ele pedisse que ela lhe preparasse uma refeição qualquer dia, embora não naquela cozinha antisséptica dela. Como ele queria saber por que ela era tão cínica no que dizia respeito à decoração do próprio apartamento! – Eu não poderia vir amanhã – explicou Jack. – Vou para Francesco’s Folly ver o lugar, novamente. – Ele lhe contara tudo sobre a propriedade durante o telefonema da noite anterior. Sua mãe não ficara tão surpresa quanto ele imaginara que ela ficaria, embora, talvez, isso se devesse ao fato de Jack ter dito que ela e Jim poderiam ter fins

de semana românticos lá, uma vez que a reforma fosse concluída. – Você terá de me levar lá um dia desses – sugeriu ela. – Eu prefiro não fazer isso até que a reforma acabe. Na verdade, eu não vou sozinho, amanhã. Vou levar uma designer que contratei para fazer a decoração interna da casa. Ela já fez diversos trabalhos para mim. – Como ela é? – O que você quer dizer? Eleanor fez o possível para adotar uma expressão ingênua. Sabia, por experiência passada, que Jack não gostava que ela o questionasse sobre as

mulheres de sua vida. Algum instinto lhe dizia... possivelmente o instinto materno... que essa garota podia ser diferente. – Bem... ela é jovem? Comum? Bonita? As perguntas usuais. – Eu não sei quantos anos Vivienne tem. Uns 27 ou 28 anos, acho. E ela é atraente. Tem lindos olhos verdes e um corpo incrível. Ah! Então ele notara os olhos e o corpo da garota. E que nome bonito: Vivienne. – Solteira? – Sim. Ela era noiva, recentemente. De um caçador de fortunas que a deixou

por Courtney Ellison. A filha de Frank Ellison, sabe? O magnata das minas. – Sim, eu sei quem é. Que horrível para ela. Deve estar devastada. – Vivienne está melhor sem um homem como ele. Era ciúme que ela ouvira? Ou apenas desgosto? Jack detestava homens que traíam, e possuía forte senso de responsabilidade e integridade. Ele seria um ótimo marido para alguma garota. Algum dia. – Vivienne pensa assim? – perguntou Eleanor. Jack olhou para o prato. Ela finalmente pensava assim? Era o que

parecia quando ela estava ofegando sob ele. Ou quando estava saciada em seus braços. Todavia, para ser honesto, Jack ainda não tinha certeza se o ato selvagem de Vivienne na cama não era apenas aquilo. Um ato. Não que ele achasse que ela fingia orgasmos. Oh, não, ninguém podia fingir daquele jeito. – Talvez não. – Ele respondeu a pergunta de sua mãe. – Mas, esperançosamente, ela logo pensará. Assim que falou a palavra “esperançosamente”, Jack soube que cometera um engano. Ergueu a cabeça para encontrar sua mãe olhando-o intensamente.

– Você gosta desta Vivienne, não é? Jack não tinha por que negar. – Sim – replicou, e comeu um aspargo. – E ela gosta de você? – Sim. – Você está dormindo com ela? Jack largou o garfo com um suspiro. – Ora, mamãe. Eu tenho 37 anos. Não é da sua conta com quem eu durmo. – Você é meu filho, e seus relacionamentos sempre serão da minha conta. Não é como se eu fosse ficar insistindo para você se casar, é? Embora eu pudesse fazer isso, se adiantasse. Sempre achei que você será

um excelente marido para uma garota sortuda. E um excelente pai também. Jack fez uma careta, então voltou a comer sua salada. – E se ela se apaixonar por você, Jack? – Ela não vai se apaixonar por mim. Nosso relacionamento não é assim. Estamos apenas nos divertindo, sem complicações e sem nada sério. – Jack falou aquilo sabendo que era verdade, mas subitamente pegou-se desejando que não fosse. – Oh, Jack, intimidade física geralmente leva a sentimentos profundos para uma mulher. É difícil ser íntima de

um homem e não se envolver emocionalmente. E se você se apaixonar por ela? Já pensou na possibilidade? Exasperado, Jack cerrou os dentes. Nunca deveria ter contado a sua mãe sobre seu relacionamento com Vivienne. Vivienne estava certa: era melhor manter aquele tipo de relacionamento em segredo. – Não seja tola, mãe. Eu não me apaixono. Ela riu. – Você não decide se quer se apaixonar ou não, Jack. Simplesmente acontece. Jack ignorou-a.

– Eu gostaria de conhecer Vivienne. – Mamãe, nosso relacionamento não é sério. Você não precisa conhecê-la, e acho que ela não apreciaria a ideia. Vivienne e eu estamos completamente relaxados sobre nossa relação, e nenhum de nós irá se apaixonar! Eleanor suspirou. Certo, Jack podia proclamar que não estava se apaixonando pela garota Vivienne, mas talvez ainda nem percebesse que isso já estava acontecendo. E estava. Ela ouvira o ciúme na voz dele, quando Jack falara sobre o ex-noivo de Vivienne. Acima de tudo, essa era a primeira mulher sobre quem ele falava com a mãe, em anos.

– Tudo bem, eu vou parar de perturbá-lo com este assunto. – Ótimo – replicou Jack. – Agora, eu gostaria de terminar minha refeição, se você não se importa.

CAPÍTULO 18

– COMO FOI a visita para sua mãe? – perguntou Vivienne para Jack enquanto eles estavam a caminho de Nelson’s Bay na manhã seguinte. – Eu me esqueci de perguntar ontem à noite. Na verdade, ela estivera tão ansiosa para estar com ele no sábado à noite, não tendo visto Jack no dia anterior, que não tinha sido capaz de se focar em nada, exceto no quanto o queria. Jantar no restaurante fora uma experiência difícil, e Vivienne mal podia lembrar o

que comera. Havia sido necessário muito autocontrole para não fazer coisas absurdas durante o trajeto de táxi para o apartamento de Jack – ele não levara o carro, porque queria tomar alguns drinques –, especialmente quando ele a beijara e deslizara a mão por baixo de sua saia, ao mesmo tempo. Ela tremeu agora ao recordar quão perto chegara de atingir o clímax quando Jack a massageara através da calcinha. Ele retirara a mão antes disso, deixando-a desesperada de desejo. Irritando-a e parecendo inabalável. Mas aquilo era apenas fingimento da parte de Jack, como ele lhe mostrara assim que

eles tinham entrado do apartamento, amando-a contra a porta, nenhum deles se incomodando em se despir propriamente. O fato de que Jack não usara um preservativo só foi notado por eles depois, e ele pedira desculpas, enquanto Vivienne não se preocupara muito, uma vez que estava tomando pílulas. Ela confessara isso ao ver como ele estava chateado. Pelo resto da noite, Jack não usara proteção, assegurando-a de que estava perfeitamente saudável. Tinha sido maravilhoso não se preocupar com proteção, sem mencionar deliciosamente prazeroso.

Jack olhou para Vivienne antes de responder. – Foi bom. Minha mãe fez minha salada favorita para o almoço. A propósito, eu contei a ela que comprei Francesco’s Folly e que contratei você para redecorar a casa. E que eu iria levar você para lá hoje – acrescentou ele, omitindo o fato de que sua mãe pedira para conhecê-la. – Oh? Ela não achou estranho? Jack a fitou. O que havia com as mulheres que, frequentemente, tiravam conclusões certas? O misterioso instinto feminino, talvez. – Não vejo por que ela acharia. Eu

expliquei a situação. Como você trabalhou para mim antes. Muitas vezes. – Talvez, Jack, mas hoje é domingo, não um dia de trabalho. Jack deu de ombros. – Minha mãe sabe que eu frequentemente trabalho sete dias por semana. Se você quer alguma coisa para se preocupar, que tal a nossa ida para aquela festa de noivado no próximo sábado? Paparazzi, sem dúvida, estarão por perto, e talvez sejamos fotografados. Como você vai explicar isso para as pessoas, se a nossa foto sair na coluna de fofoca de domingo? Vivienne não tinha pensado sobre

aquilo. Todavia, uma vez que pensou, não ficou muito preocupada. – Duvido que isso aconteça. Nós não somos celebridades, Jack. Você mantém um perfil público discreto, e eu não sou ninguém. Eles não irão nos fotografar. – Eu apenas achei que deveria avisála. – Certo, eu estou avisada. Agora, podemos falar sobre outra coisa? Não quero pensar no próximo sábado. Nem estou com vontade de ir, mas vou. Será como ir ao dentista. – O que você quer dizer com isso? – Eu odeio ir ao dentista. Tolice, realmente, uma vez que meu dentista é

muito gentil. Mas a primeira vez que fui nele, eu não ia ao dentista há mais de dez anos. Fiquei tão nervosa alguns dias antes da consulta que quando cheguei à cadeira, quase vomitei. Vivienne continuou: – De qualquer forma, ele me deu anestesia e não doeu nada. Depois disso, comecei ir a cada seis meses para check-ups, mas ainda me sentia enjoada por dias, antes da consulta. Finalmente, tomei consciência de que sofrer antes de chegar à cadeira era uma perda de energia. Treinei-me para não pensar sobre aquilo durante os dias que precediam a próxima consulta. Todavia,

ainda me permito uma pequena explosão de nervos no momento que estou sentada lá. Farei o mesmo na festa de noivado... pensarei sobre isso quando nós estivermos subindo os degraus da mansão de Frank Ellison. – Duvido – murmurou Jack. Vivienne deu de ombros. – Certo, talvez eu tenha de pensar um pouco na festa, de antemão. Eu preciso comprar um vestido, para começar. De jeito algum vou aparecer desarrumada. O convite diz Black-tie? – Sim. – Neste caso, é smoking para você e vestido longo para mim. Você tem um

smoking? – Eu comprarei um. – Você pode alugar, sabia? – Eu sei, mas sempre prefiro comprar a alugar. Então, por que você deixou passar tanto tempo entre as visitas ao dentista? – perguntou ele, achando estranho que uma pessoa tão perfeccionista negligenciasse os cuidados com os dentes. – O quê? Ou, eu... isso faz dez anos, quando eu tinha 17 anos. Depois que meus pais se divorciaram, mamãe não me levou mais ao dentista. Eu não pensei sobre isso, até que, no último ano do ensino médio, tive uma dor de dente

horrível. – Mas por que sua mãe não a levou? Ela não podia pagar ou algo assim? – Não. Minha mãe tinha dinheiro. Ela... ela... Oh, isso é muito complicado, Jack. Por favor, eu não quero falar sobre o passado. Sobrevivi e meus dentes estão bem agora. Vê? – E ela sorriu para exibir os dentes brancos e perfeitos. Jack só precisou estudar os olhos de Vivienne para saber que ela podia ter sobrevivido, mas que carregava cicatrizes emocionais até hoje. Lendo as entrelinhas, ele concluiu que a mãe dela devia ter entrado em depressão depois do divórcio. Divórcio era como uma

morte para algumas mulheres. Ele lembrava como sua própria mãe ficara deprimida após a morte de seu pai, e quanto tempo ela levara para se recuperar. Parecia que a mãe de Vivienne nunca tinha se recuperado. Em vez disso, negligenciara a própria filha. Jack teria perguntado mais, porém uma olhada para ela mostrou que Vivienne se fechara completamente. Ele decidiu mudar de assunto. – Talvez nós precisemos fazer algum trabalho na casa hoje, Vivienne. Ela virou olhos alegres para ele. – Oh? Que tipo de trabalho? – Nada muito estressante. Mas quero

decidir como faremos as renovações. Se apenas trocamos o que está lá ou se derrubamos as paredes. – Eu definitivamente não o aconselho a derrubar paredes, Jack. A planta baixa da casa é ótima. É o que está dentro dos cômodos que precisa ser trocado. Especialmente os banheiros e a cozinha. Os quartos só precisam de nova pintura e tapete. E móveis, é claro. Além daquelas cortinas horríveis que têm que sair. Talvez você possa pensar sobre vidro isolante nas janelas. E escuros, para evitar a claridade do sol da manhã. – Uau. Você já andou pensando em algumas coisas, não é?

– Bem, eu não tinha nada para fazer na sexta-feira, então comecei a planejar. – Boa garota. – Eu não vejo a hora de me mudar para lá. Eu estava pensando em ir no próximo domingo. Contando que meu contrato esteja pronto até lá, é claro. – No próximo domingo, está bem. E nós redigiremos e assinaremos seu contrato esta semana. – Excelente. – Tem certeza de que você não vai achar muito solitário lá? Vivienne meneou a cabeça. – Eu estou acostumada a morar sozinha, Jack.

Outro comentário enigmático. Um que ele gostaria de explorar, mas decidiu não fazer isso. Não ainda. – Para lhe dizer a verdade, eu estou ansiosa para ir. De certa forma, Jack também estava. Por que naquela última semana ele tivera dificuldade em se concentrar no trabalho depois de fazer amor com Vivienne por metade da noite, todas as noites. Era um construtor que punha a mão na massa, e não era mais tão jovem como costumava ser. Ficara satisfeito por ter uma desculpa para não vê-la na sexta à noite, aproveitando a oportunidade para se recuperar.

Todavia, não conseguira dormir com a mesma rapidez que dormia quando estava na cama com Vivienne. Sexo era um calmante poderoso, sem dúvida. Mas ele tinha um trabalho importante para completar nas próximas semanas, com um prazo apertado no contrato. Não podia relaxar, ou permitir que seus homens relaxassem. Seus operários seguiam sua liderança. Jack sabia que não seria capaz de resistir a Vivienne enquanto ela estivesse em Sydney, mas seria diferente quando ela estivesse morando em Francesco’s Folly. Ele sentiria a falta dela, mas isso tornaria os fins de semana ainda mais doces. Ele

podia até imaginar como se sentiria quando chegasse numa sexta-feira à noite, cheio de saudade. Pingos no seu para-brisa fizeram Jack gemer. Ele detestava dirigir na chuva. Principalmente na chuva pesada, que era exatamente o que estava enfrentando meia hora depois. A parada usual deles no Raymond Terrace foi um alívio, mas quando correram para o Porsche e entraram ainda chovia forte. – Eu detesto esse tipo de chuva – resmungou Jack. – Atrasa muito a vida de um construtor. – Pelo menos, você não precisa se preocupar com a chuva em Francesco’s

Folly. A maior parte do trabalho é do lado de dentro. – Verdade. Quanto tempo você acha que vai demorar? Eu gostaria que tudo estivesse pronto antes do Natal. – Isso depende de quão confiável é o construtor que você contratou. – Ele é muito confiável. E, se ele não for, eu contarei com você para usar o chicote. Vivienne riu. – Eu pensei que tivesse lhe dito que não sou este tipo de garota. – Talvez não na cama, mas você é autoritária no trabalho. Não esqueça, eu a vi em ação. Você quer tudo do seu

jeito. – Olhe quem fala! – Nós somos muito parecidos, não somos? Eles se entreolharam, seus olhos rindo. Então, Jack ficou surpreso quando uma estranha emoção subitamente o inundou. Ele voltou os olhos para a estrada, unindo as sobrancelhas numa expressão intrigada. – Você gosta de mim agora, não gosta, Vivienne? A pergunta dele surpreendeu-a. Depois a preocupou. Porque aquilo a forçava a encarar o fato de que gostava

mais de Jack a cada dia que se passava. Quanto tempo levaria para que gostar... combinado com luxúria... se transformasse em amar? Mais uma semana? Um mês? Seis meses? Vivienne temia que, no momento que a reforma de Francesco’s Folly estivesse completa, ela estivesse muito apaixonada por Jack. Entretanto, soubera o que estava fazendo ao se envolver com ele. Jack não escondera o fato de que não queria casamento e filhos; que não estava procurando “amor eterno”. Apenas amizade e divertimento. Ele nunca lhe mentira. E era isso que ela mais gostava sobre ele.

– Muito – respondeu com sinceridade. Quando o coração de Jack inchou com felicidade, as palavras de sua mãe lhe voltaram à mente. Você não decide se quer se apaixonar ou não, Jack. Simplesmente acontece. Deus amado, pensou ele. Mas não com tristeza. O que era irônico. Sempre acreditara que não queria o cenário de amor e casamento, especialmente a parte de filhos. Quisera liberdade de uma carga ainda maior de responsabilidade. Mas quando o amor o golpeava... como obviamente acontecera... você queria abraçar tais coisas. Ele não podia

pensar em nada mais desejável do que se casar com Vivienne e ter filhos com ela. Isso não era incrível? Incrível, mas também problemático. Afinal de contas, ela não o amava. – Que bom – disse ele distraidamente. – Veja, a chuva parou. O que também era bom. Jack duvidava que Francesco’s Folly fosse tão maravilhosa na chuva. E queria que a casa fosse sempre maravilhosa. Queria que Vivienne se apaixonasse pelo lugar, assim como por ele. Aquilo podia levar um tempo, mas ele não estava com pressa. Ela assinaria o contrato para trabalhar com ele até que a reforma inteira se completasse. Isso

lhe dava diversos meses para alcançar seu objetivo, embora Jack suspeitasse que precisaria de cada um deles.

CAPÍTULO 19

ELA MENTIRA para Jack sobre ser capaz de controlar seus nervos na festa. Na manhã do sábado seguinte, acordou com o estômago se revolvendo, o qual piorou quando ela lembrou que o dia de enfrentar Daryl finalmente chegara. Vivienne não passara a noite anterior no apartamento de Jack porque tinha uma hora marcada no salão de beleza, na rua do seu prédio. Normalmente, gostava das horas que passava lá a cada seis semanas, cortando o cabelo,

fazendo escova, pé e mão. A dona do salão, uma mulher com quarenta e poucos anos, era alegre e conversadeira, fazendo com que todas as clientes se sentissem melhor por visitar o salão. Mas nada faria com que Vivienne se sentisse melhor essa manhã. – Que cor de esmalte você quer? – perguntou a manicura. – Vermelha – replicou Vivienne, pensando no vestido vermelho que estava pendurado do lado de fora de seu guarda-roupa. Era muito longo para ser pendurado dentro, e lhe custara uma pequena fortuna. – Vermelho escuro e brilhante.

– Este é muito popular – sugeriu a garota, erguendo um esmalte vermelhoescuro. – Chama-se Mulher Escarlate. Há um batom para combinar, se você quiser comprar. Vivienne suspeitava de que as garotas ganhassem comissão se as clientes comprassem seus produtos. No geral, ela não dizia “sim” para tais ofertas, preferindo comprar esse tipo de produto online. Mas, hoje, disse “sim” ao batom. Podia não estar se sentindo confiante sobre aquela noite, mas, sem dúvida, pareceria confiante! A EXPRESSÃO no rosto de Jack quando ela abriu a porta para ele, às 20h, foi

gratificante, mesmo se seus nervos estivessem à flor da pele. Vivienne também ficou grata pela distração de quão fabuloso Jack estava em seu traje black-tie. Não apenas alto, forte e lindo, mas muito sofisticado. – Uau, Jack! – exclamou ela, antes que ele pudesse abrir a boca. – Você está incrível. E o smoking parece ter sido feito para você. Ele sorriu. – Na verdade, foi. Eu não consegui encontrar um que me servisse, então não tive alternativa. E devo dizer o mesmo sobre seu traje. Vermelho combina com você.

Estranhamente, vermelho não era uma cor que Vivienne usara antes. Sempre achara que a cor chamava muita atenção. Mas queria chamar atenção naquela noite. O vestido ainda tinha um brilho que combinava com o batom e o esmalte. O modelo também não era seu estilo usual, sendo muito justo. E, embora fosse de mangas longas e decote alto, as costas eram muito cavadas, juntamente com uma abertura na saia que subia até os joelhos... possivelmente feita para que a pessoa que usasse o vestido conseguisse andar. – Você parece ter saído de um daqueles filmes glamorosos de

antigamente – observou Jack. – Especialmente com este penteado. Vivienne ergueu a mão para tocar o bonito pente que prendia um lado de seu cabelo para trás do rosto, o outro lado, com ondas sedosas caindo sobre o ombro, num estilo usado por estrelas de cinema dos anos 1940. – Você gosta mesmo? – perguntou ela, seu estômago se contorcendo de nervoso. – O que há para não gostar? – replicou Jack. – Você está maravilhosa e sabe disso, portanto não banque a modesta comigo. Se a intenção do seu visual é fazer seu ex-noivo se

arrepender e a nova noiva dele sentir inveja, então você vai conseguir. Espero que você não se arrependa. – Por que eu me arrependeria? – questionou Vivienne, em desafio. – Eu não fiz nada do que posso me arrepender. – Ainda não. Apenas lembre que, se você atira balas nas pessoas, elas podem atirar algumas de volta. Mas agora é tarde demais. Cinderela vai ao baile. Vivienne fez uma careta. – Não posso imaginar Cinderela usando um vestido com este, você pode? – Não – disse ele, e olhou-a de cima a

baixo, com expressão de desejo. – Neste caso, nós combinamos, porque você está longe de parecer um príncipe encantado – retrucou ela. – Vamos. Quanto antes chegarmos lá, e eu falar o que preciso falar, mais cedo poderemos ir embora. – E mais depressa meu estômago vai parar de se revolver! Jack não falou uma palavra até que eles estivessem a caminho. Felizmente, quando falou, não foi sobre aquela noite. – Você está de malas prontas para se mudar para Francesco’s Folly amanhã? – É claro – respondeu Vivienne. – Eu sou uma pessoa muito organizada. Já

está tudo no porta-malas do meu carro. – Eu irei para sua casa por volta das 9h, e você pode me seguir com seu carro. – Tudo bem. Você está com as chaves da casa? – Ainda não. Nós teremos de pegá-las no caminho. Eu também combinei com o construtor para ele passar lá por volta das 13h, de modo que você possa conhecê-lo. Ele se chama Ken. Ken Struthers. – Certo. – Os pais de Daryl estarão lá esta noite? Vivienne foi pega de surpresa pela

mudança de assunto. – O quê? Não, ele é distante da família. – Por que será que isso não me surpreende? – Ele disse que eles não eram boas pessoas. Daryl foi colocado num orfanato quando tinha apenas 10 anos. – E você acreditou nele? Vivienne suspirou. – Sim, na época, eu acreditei. Mais tolice da minha parte. Mas não se preocupe, aquela tola não existe mais. Daryl poderia me falar que o mundo é redondo, agora, e eu não acreditaria nele. Eu desprezo o homem, e pretendo

lhe dizer isso. Como você apontou, Jack, esta noite se trata do fechamento de uma história. Jack olhou para Vivienne, vendo os lábios pintados de vermelho pressionados numa expressão determinada. Oh, Deus, pensou ele. Ia ser uma noite difícil.

CAPÍTULO 20

A SEGURANÇA

na mansão Ellison era reforçada. Jack teve de ser checado aos portões, na lista de convidados do guarda. Ele até mesmo precisou mostrar a carteira de motorista, o que enfatizou a declaração de Vivienne que nenhum deles era reconhecido como celebridade. Não havia paparazzi perto do portão; havia um helicóptero pairando acima, o qual poderia estar cheio de fotógrafos. Ou de mais seguranças. Frank Ellison era paranoico

no que dizia respeito a proteger sua casa e sua privacidade. Quando foi direcionado a um estacionamento imenso, Jack sentiu uma onda de orgulho por como a casa parecia magnífica à noite, iluminada por centenas de lâmpadas que Frank pedira que ele instalasse em todos os lugares: a fachada, o telhado, o jardim, sem mencionar cada um dos doze degraus que levavam à entrada imponente. – Esta é a maior casa que você já construiu? – perguntou Vivienne enquanto ele a guiava escada acima, segurando-lhe o cotovelo. – Com certeza – replicou ele. –

Presumo que esta é a maior casa que você já decorou também. – Sim. Eu levei mais de seis meses, mesmo com muitos ajudantes. – A casa levou dois anos para ser construída. – Posso imaginar. Espero que você tenha ganhado muito dinheiro com isso. Ele sorriu-lhe. – Muito. – Ótimo – murmurou ela, e lá estava aquela expressão determinada novamente. Uma vez que eles chegaram à grande varanda da frente, com portas igualmente grandes que os separavam da

festa do lado de dentro, de onde podiase ouvir a música do lado externo, Vivienne respirou fundo e endireitou os ombros. – Não é tarde demais para mudar de ideia – Jack falou baixinho, mesmo enquanto alcançava a campainha. Mas era tarde demais; ambas as portas se abriram antes que o dedo dele conectasse com a campainha. E lá estava Frank Ellison, tão imenso quanto a casa. Com cerca de 60 anos, ele era grande, com o rosto ruborizado e uma barriga maior ainda. – Eu disse a eles para deixarem as portas abertas – reclamou ele, antes de

notar os recém-chegados. – Jack! Você veio. Estou tão feliz por isso. E quem é esta criatura deslumbrante do seu lado? Ele não reconhecera Vivienne, Jack percebeu. É claro, ela estava muito diferente da aparência que tinha em suas roupas de trabalho. Mesmo assim... Vivienne achou que não a reconhecer era típico do homem. Ele mal lhe falara durante os meses que ela trabalhara em sua casa. Eles tinham tido uma única conversa decente quando ele fora à Classic Design para contratar seus serviços. – Dinheiro não é objeção – dissera

ele. – Certifique-se de que todos saibam disso. Eu quero que a casa pareça pertencer a um membro da realeza. Ou a um sheik bilionário. Entendeu, garota? Ela havia entendido. E entregado o que ele pedira. O lugar era palaciano, desde o piso de mármore italiano até os lindos móveis, todos peças de antiguidades, o ar de opulência enfatizado pelas obras de arte caras penduradas em cada parece. – É Vivienne, sr. Ellison – disse ela, com um sorriso frio. – Vivienne Swan. Eu fui a decoradora de interiores desta casa. Não se lembra de mim? Ele não pareceu nem um pouco

embaraçado. – Sim, é claro que eu me lembro de você. Apenas não a reconheci neste vestido vermelho espetacular. Então, você e Jack são namorados? Eu não sabia disso quando ele me disse que você era a melhor designer de interiores em Sydney. Uma recomendação tendenciosa, hein, Jack? – Ele sorriu. – Não que você não tenha feito um trabalho fabuloso, garota. Na verdade, vocês dois fizeram um trabalho fabuloso. Eu não podia ter ficado mais feliz com o produto final. Não podia estar mais feliz esta noite, também, com minha filha finalmente encontrando

alguém macho o bastante para engravidá-la. E então que concordasse em se casar com ela! Vivienne percebeu então que Frank Ellison não tinha ideia de que ela um dia fora noiva do noivo da filha dele. Obviamente não se recordava de Daryl com ela na festa de inauguração da casa. O que era bom para Vivienne. Ela não havia ido lá para mostrar coisa alguma coisa a Frank Ellison. Com a chegada de outros convidados naquele momento, Frank disse para que Jack e Vivienne entrassem, enquanto voltava sua atenção para outro lugar. – Ele não sabe que você foi noiva de

Daryl – sussurrou Jack enquanto eles passavam debaixo do enorme candelabro, no ostentoso hall de entrada. – Não – concordou ela. – Talvez Courtney também não saiba. Pensando bem, eu não estava usando um anel de noivado quando nós viemos à festa de inauguração de Frank. Daryl tinha me pedido em casamento, mas... ainda não tinha comprado o anel. – De modo algum admitiria, na frente de Jack, que ela finalmente comprara seu próprio anel de noivado. Isso seria humilhante demais. – Ela provavelmente sabe apenas o que Daryl lhe conta, que deve ser um monte de mentiras.

A risada de Jack foi seca. – Courtney sabia sobre você, Vivienne. Eu apostaria meu dinheiro nisso. Naquele momento, a garota em questão, resplandecente num vestido que fazia o de Vivienne parecer comportado, estava subindo os três degraus que separavam o saguão da imensa sala de estar. O vestido dela era preto e sem alças, o decote era tão baixo que cobria apenas os mamilos de Courtney. A saia larga efetivamente escondia a barriga grávida, e as sandálias tinham os saltos mais altos que Vivienne já vira na vida. Brincos de diamantes estavam

pendurados dos lóbulos de Courtney. Por mais que tentasse, Vivienne não podia achar um defeito na pele da garota, no nariz arrebitado ou na boca em formato de coração, embora se perguntasse quanto daquilo era natural e quanto se devia às habilidades de um cirurgião plástico. Afinal de contas, Frank não era nem remotamente bonito, portanto os genes da beleza não vinham do pai. Provavelmente vinham da mãe, quem quer que ela fosse. Frank Ellison tivera muitas esposas, e todas exuberantes. Homens como ele não se casavam com mulheres comuns. De qualquer forma, o cabelo loiro de

Courtney não era real, a raiz escura entregava isso, embora combinasse com ela. Ninguém podia negar que Courtney Ellison era uma criatura muito sexy; a admiração de Vivienne por Jack aumentou pelo fato de ele ter resistido aos avanços da garota. Daryl veio andando um pouco atrás da noiva, uma taça de champanhe na mão, não notando Vivienne ainda. Ele estava olhando para trás... para uma morena bonita que lhe sorria de forma convidativa. Ele não mudara nada, pensou Vivienne, olhando da morena para ele. Não havia dúvida de que Daryl estava

elegante em seu terno escuro e gravataborboleta, mas não tinha uma presença tão marcante como a de Jack. Enquanto ele atravessava o hall, Vivienne começou a ver a fraqueza nas feições de Daryl. Até mesmo viu defeito no jeito que ele usava o cabelo, uma mecha loira caindo na testa num estilo muito jovial para um homem com mais de trinta anos. Vivienne ficou contente ao perceber que não sentia ciúme ou inveja da situação. Se alguma coisa, sentia um pouco de pena de Courtney, que teria o bebê de Daryl. Ele seria um péssimo pai. – Jack! – exclamou Courtney, e deu-

lhe um beijo no rosto, ao mesmo tempo enviando um olhar intrigado para Vivienne, como se tentando lembrar-se de onde a conhecia. – Que prazer vê-lo novamente. Obrigada por ter vindo. E obrigada pelo presente adorável que você enviou. Vivienne arqueou as sobrancelhas. Jack enviara um presente para eles? – Minha mãe sempre diz que uma garota nunca tem ferros demais – disse Jack com um sorriso, enquanto Vivienne quase arfava. Ele dera um ferro à filha de um bilionário que nunca passara uma peça de roupa na vida? Courtney pareceu desconcertada,

indicando que não tinha ideia do que ele realmente enviara. Daryl finalmente alcançou a noiva, apenas para ver sua ex-noiva parada a sua frente. – Meu Deus! – exclamou ele, a voz alta e fina. – Vivienne! A cabeça loira de Courtney inclinouse para trás enquanto ela olhava para Vivienne, depois para Daryl, então para Jack. – Esse é algum tipo de brincadeira cruel? – demandou ela, enrubescendo de raiva. – Em absoluto – replicou Jack em tom sedoso. – Daryl seguiu em frente, assim

como Vivienne. Ela e eu nos tornamos... bons amigos. Você não guarda mágoas porque teve seu namorado roubado, guarda, Vivienne? – Imagine, querido – respondeu ela, feliz que Jack nem piscou diante do termo carinhoso. Vivienne decidira, no calor do momento, não ter uma discussão verbal com Daryl. Estar ali, com Jack ao seu lado, era a melhor vingança. Podia ver que Daryl estava chocado. E furioso. Assim como Courtney, o que significava que a garota soubera a seu respeito o tempo inteiro. Ela podia não ter reconhecido Vivienne, do mesmo jeito que o pai autocentrado

não a reconhecera, mas soubera. Vivienne não sentiu pena da garota, em absoluto. Ela estava recebendo o que merecia: Daryl como marido, com toda sua vaidade, ganância e egoísmo. – Você me fez um grande favor, Courtney – acrescentou Vivienne, com um sorriso brilhante, enquanto tocava o braço de Jack carinhosamente. Os olhos azuis de Courtney escureceram. – Verdade? Frank juntou-se a eles, impedindo que qualquer conversa sobre o assunto continuasse. – Não fiquem parados no saguão,

pessoal. Vamos para onde comida e vinho estão sendo servidos. Eu ficaria muito chateado se você não experimentasse algumas das iguarias que encomendei, Jack. E você também, Vivienne. Caviar da Rússia e trufas da França, sem mencionar diversas caixas do melhor champanhe. Não há nada como champanhe. A meia hora seguinte transcorreu bem... o que significava que ninguém havia criado uma cena... mas Vivienne podia ver que Courtney estava aborrecida. A fisionomia dela dizia isso. Vivienne ficou contente por ter se empenhado tanto para se arrumar. Sabia

que estava bonita. Quando Frank finalmente os deixou sozinhos, Vivienne e Jack foram para o enorme terraço dos fundos. – Então, eu sou querido agora? – Foram as primeiras palavras de Jack enquanto eles andavam ao longo da piscina olímpica bem iluminada. Não havia ninguém por perto. – Desculpe, eu não pude resistir. Achei que Daryl acreditar que eu segui em frente tão rapidamente quanto ele era uma vingança melhor. Você não se importou, certo? É claro que eu me importei, pensou Jack.

– Em absoluto – mentiu ele. – Achei que você se conduziu de maneira brilhante. Muito melhor do que falar coisas das quais pudesse se arrepender depois. Dignidade é sempre a melhor política. – Pensei que honestidade fosse a melhor política. – Isso também. – Neste caso, quero lhe dizer o quanto eu apreciei ter você ao meu lado esta noite, Jack. Posso honestamente dizer que você é muito mais homem do que Daryl algum dia poderia ser. O coração de Jack disparou. Esperançosamente, seu semblante não

evidenciou o quanto aquele elogio significava para ele. Porque, apesar de Vivienne alegar que o admirava, ele sabia que ela ainda não estava pronta para se apaixonar de novo. – Gentileza sua dizer isso... querida – disse Jack, sorrindo. – Presumo que você não quer ir embora ainda. – Não acho que deveríamos – respondeu Vivienne, apesar de querer ir embora. – Frank pode ficar ofendido, e ele não é um homem que você deve ofender. Eu não me importo, mas ele é um inimigo poderoso que você pode ter, Jack. – Eu não ligo a mínima para Ellison.

Sobreviverei sem o apoio dele. Mas, se você quiser, ficamos por um tempo, e provocamos Daryl mais um pouco. – Boa ideia. Agora, eu preciso ir ao toalete. Todo esse champanhe... Espere por mim aqui, tudo bem? – Dando sua taça vazia a Jack, ela virou-se e foi para dentro da casa. Jack observou-a, pensando em como Vivienne tinha classe. O tipo de mulher que um homem teria sorte de desposar. Ele suspirou, então pôs as duas taças de champanhe sobre a mesa mais próxima. Estava prestes a se virar e voltar para dentro da casa – decidira encontrar Vivienne e sugerir que eles

fossem embora –, quando viu Daryl saindo do vestiário da piscina, apressadamente subindo o zíper da calça. Uma morena sexy seguiu, rindo e ajeitando as próprias roupas no corpo. Quando Daryl viu Jack observando-os, falou alguma coisa para a morena, que desapareceu, enquanto Daryl se aproximava de Jack com uma expressão culpada nos olhos. – Não é o que você pensa. – Veio o clichê. – Por que você se importa com o que eu penso? – retornou Jack friamente. – Eu não me importo. Só não quero que você crie problemas para mim e

Courtney. – Eu não dou a mínima para o que você faz, amigo. Apenas fique longe de Vivienne. Daryl riu. – Eu não voltaria para ela, acredite. Vivienne não é somente fanática por ordem, como também é horrivelmente tediosa na cama. Só Deus sabe o que você vê nela. Um belo corpo, todavia. Dou esse crédito a ela. Jack cerrou os dentes. Havia um limite para o que um homem apaixonado podia suportar. Ele socou o estômago de Daryl antes que pudesse evitar, fazendo o outro homem se dobrar de dor. E então

ele fez algo muito melhor do que cair aos pés de Jack. Segurando o estômago, estupidamente tentou endireitar o corpo, tropeçando na beira da piscina antes de antes de cair, os braços se debatendo loucamente dentro da água. Ele não gritou, graças a Deus; provavelmente não tinha ar suficiente nos pulmões. Mas conseguiu tossir quando subiu à superfície, e nessa altura, Vivienne havia voltado do toalete. – O que aconteceu? – perguntou ela, vendo Daryl se debatendo dentro da água. – Ele está bêbado? – Ele me bateu! – disse Daryl.

– Ele mereceu – replicou Jack. Daryl finalmente chegou à borda da piscina. – Eu vou pegar você – ameaçou ele. – Contarei a Frank que você me agrediu, e ele irá arruiná-lo. Jack imediatamente se aproximou e abaixou-se para segurar uma das mãos de Daryl, esmagando-lhe os dedos, enquanto sussurrava em seu ouvido: – Fale uma única palavra e eu contarei a Courtney sobre a morena com quem você acabou de sair do vestiário. Aquilo o calou, especialmente quando a própria Courtney apareceu, também querendo saber o que tinha acontecido.

– Apenas um acidente, benzinho – disse Daryl, depois que Jack o puxou pela mão e tirou-o da água. – Eu me abaixei para lavar as mãos e perdi o equilíbrio. Nada de mais. – Mas você arruinou seu terno novo! – resmungou ela. – Pelo amor de Deus, é só um terno – devolveu ele, obviamente irritado. Jack podia ver o começo de uma boa discussão ali. O que era quase tão satisfatório quanto bater no imbecil. – Vamos para casa, Vivienne. – Ele pegou-lhe o braço. – O que você quis dizer com “ele mereceu”? – sussurrou ela, enquanto

Jack a conduzia para dentro da casa, atravessando a sala e indo para o saguão. – O que Daryl falou para que você o atacasse? – Mais tarde, Vivienne – respondeu ele, incerto de que motivo daria. Porque o que Daryl dissera machucaria Vivienne, e Jack não queria isso. Certo, ela era excessivamente organizada, mas e daí? E quanto a ser tediosa na cama... De que planeta Daryl vinha para pensar assim? Vivienne era qualquer coisa, exceto tediosa na cama. A observação do outro homem era muito estranha. Felizmente, Vivienne ficou calada até que eles estivessem dentro do carro e

partindo. Mas, então, a curiosidade feminina a venceu. – Eu não aguento esperar mais, Jack – declarou ela, quando ele parou num farol. – Quero saber o que aconteceu entre vocês dois. E quero a verdade. A pura verdade e nada além da verdade. – Tem certeza sobre isso, Vivienne? – Absoluta. Eu só quero saber o que ele falou para que você o socasse. Estive pensando, e presumo que foi alguma coisa ruim ao meu respeito. – Não tão ruim. – Fale de uma vez, Jack. Sem mentiras agora. E seja direto. – Tudo bem – concordou Jack,

percebendo que não tinha outra saída. Pelo lado positivo, poderia lhe fazer algumas perguntas que sempre quisera fazer. – Ele disse que você era fanática por ordem e tediosa na cama. Ele olhou para o lado, a tempo de vêla corar furiosamente. – Entendo – murmurou Vivienne. – Bem, suponho que ele apenas falou a verdade. – Não seja ridícula. Certo, então você é um pouco rígida no que diz respeito à ordem, mas isso não é um crime. Quanto a ser tediosa na cama... Bem, nós dois sabemos que essa é uma mentira descarada – acrescentou ele, tentando

fazê-la sorrir. Ela não sorriu. O farol abriu e Jack acelerou, chateado que a noite prometia acabar mal. – Eu não vou permitir que você fique calada, Vivienne – disse ele, quando o silêncio se estendeu. – Quero saber por que Daryl disse que você era tediosa na cama. Porque isso não faz o menor sentido para mim.

CAPÍTULO 21

VIVIENNE

SABIA ,

pela expressão no rosto de Jack, que nada menos do que a verdade o satisfaria. O que era justo, ela supunha. Apenas esperava que ele não tirasse conclusões erradas sobre o motivo pelo qual ela havia sido diferente com ele, sexualmente. Não queria que Jack pensasse que era porque ela se apaixonara, ou que tal processo começara antes que Vivienne se desse conta. Pois como não se apaixonar por um homem que vinha ao seu resgate com

flores e um trabalho fascinante no momento que você mais precisava? Um homem que salvava sua vida e a abraçava, então fazia amor com você com uma paixão tão maravilhosa que tinha efeitos curativos? E o mais importante era o jeito que Jack a apoiara nessa noite. Oh... a satisfação que ela sentira ao descobrir que ele tinha batido em Daryl, e depois dito “ele mereceu”. Jack era seu herói, seu cavaleiro em armadura brilhante. O homem que ela amava. Verdadeiramente amava. O que Vivienne sentira por Daryl não passara de uma miragem.

Mas não podia dizer isso a Jack. Se dissesse, ele correria um quilômetro. E ela não suportaria. Talvez, ele nunca a amasse de volta, mas Vivienne não podia arriscar fazer alguma coisa para perdê-lo. Então, poderia lhe dizer outras coisas. Não mentiras exatamente, mas não a verdade completa. – Isso não pode esperar até que eu chegue em casa e tire este vestido? Ele franziu o cenho. – Esta não é uma estratégia de procrastinação, é, Vivienne? Porque eu pretendo obter algumas respostas. Não pense que pode evitá-las seduzindo-me. Vivienne piscou. Agora, aquela era

uma ideia! Não uma ideia certa, todavia. – Não seja tolo, Jack. Eu estou apenas desconfortável. Este vestido é horrivelmente apertado. Jack sabia que ela estava adiando o momento, mas não protestou mais, apenas a levou para casa e conduziu-a para dentro, onde ela escapou para o quarto, dizendo-lhe que não demoraria. Ele sentou-se no sofá de couro preto, sua determinação em obter respostas aumentando com o tempo que Vivienne levou para emergir. Quando ela finalmente voltou, estava usando o mesmo roupão branco que estivera naquele dia fatídico que ele tinha ido lá

para contratá-la, menos de duas semanas atrás. Suspeitava que ela não estivesse usando nada por baixo desta vez, também. O cabelo estava solto agora, cascateando sobre os ombros. Por mais sexy que Vivienne parecesse, Jack estava determinado a não ser distraído de seu objetivo. – Você quer café? – ofereceu Vivienne. – Aceito. – Ele levantou-se e seguiu-a para a cozinha, que estava impecavelmente limpa, como sempre. Ver a casa de Vivienne novamente sublinhava o fato de que a mania de organização dela beirava à obsessão.

– Eu ainda não tenho muita comida para lhe oferecer – murmurou ela, e virou-se da chaleira para lhe dar um sorriso irônico. – Alguém tem me levado para jantar fora todas as noites. – Sorte sua. Mas eu não quero comer, Vivienne. Quero conversar com você. Vivienne respirou fundo, então se virou e levou as duas canecas de café preto para onde Jack estava sentado, à mesa da cozinha. – Vamos começar pela acusação de Daryl sobre você ser tediosa na cama – disse ele. – Presumo que você não era a mesma com Daryl que é comigo. Isso está correto?

– Bem... sim – admitiu ela. – Se quer saber, eu não fiz com ele a maioria das coisas que fiz com você. – E por quê? – perguntou Jack, ainda temendo que ela estivesse representando com ele, induzida por algum tipo de revolta, por ter sido abandonada por Daryl. – Você só estava fingindo ser sexy? Representando algum tipo de papel comigo? Ela ficou, sem dúvida, chocada. – Não! Eu nunca fingi com você, Jack. Jamais. Adorei tudo que fiz com você... não sei bem por que sou tão diferente com você. Foi simplesmente assim, desde o começo. Você me desperta

sensações que Daryl nunca despertou. Eu também não entendo bem o que acontece. Só sei que adoro fazer sexo com você, e não abriria mão disso por nada no mundo. Jack gostou de ouvir aquilo. – Nós realmente temos uma química poderosa – murmurou ele. – Agora, já que estamos tendo uma conversa honesta, pode me contar por que sua casa é como é? Não falo tanto da parte da arrumação excessiva, mas sim da falta de decoração. Porque, honestamente, Vivienne, isso não combina com você. O primeiro instinto de Vivienne foi

fechar-se. Mas então percebeu que, se não pudesse contar aquilo para o homem que amava, para quem poderia? Todavia, não ia ser fácil. Não que achasse que Jack seria crítico: ele tinha experiência com mães emocionalmente frágeis, de modo que entenderia melhor do que a maioria das pessoas. Ela suspirou. – Eu terei de voltar para os anos antes de meu pai nos deixar... – Eu estou ouvindo – disse Jack gentilmente. Ela o olhou por um longo momento, antes de continuar. – Você já assistiu àquele programa de

tevê sobre acumuladores compulsivos? – Sim, uma ou duas vezes. – Jack ia acrescentar que tinha ficado chocado pelo estado de algumas das casas que aquelas pessoas viviam, mas desistiu a tempo. Vivienne suspirou novamente. – Posso ver, pela expressão do seu rosto, que você entendeu. Sim, minha mãe era uma acumuladora compulsiva. Jack sentiu-se mais triste do que chocado. Por Vivienne. Que tipo de infância ela tivera, crescendo num lugar imundo como o que ele vira naquele programa de televisão? – Entendo – murmurou ele. E

entendia. Podia imaginar que filhos de acumuladores compulsivos cresceriam como os pais ou se tornariam completamente opostos. Isso explicava por que Vivienne tinha compulsão por limpeza e ordem na própria casa. E explicava a falta de decoração. – Então, foi por isso que seu pai partiu? – Sim. Ele não podia mais suportar aquilo. – Sua mãe sempre acumulou objetos, de maneira compulsiva? – Não. Quando eu era pequena, mamãe costumava manter a casa impecável. Mas depois que meu

irmãozinho morreu... com apenas uma semana de idade... ela ficou muito deprimida. Alguns dias, não conseguia nem sair da cama. – Seu pai não a levou a um médico? – Ela se recusava a ir. Jack assentiu. – Então, foi quando a compulsão começou? – Sim. Ela não apenas não se livrou de todas as coisas que havia comprado para o bebê, como começou a comprar mais. Roupas. Móveis. Brinquedos. Como se Brendan ainda estivesse vivo. Nós poderíamos ter suprido as necessidades de metade dos bebês da

Austrália com o que ela comprou. Costumava ir às compras todos os dias, até que um dia recusou-se a sair de casa. Depois disso, descobriu como fazer compras on-line. – Então, sua casa não era suja, apenas cheia de roupas de bebê? – Era suja também. Impossível limpar cômodos quando eles estão entulhados de coisas. Não havia um espaço na casa... ou uma superfície em parte alguma... sem nada. A cozinha também. Até mesmo a pia. No fim, nós vivíamos de lanche que pedíamos por telefone. – Isso era tudo que você comia? Pizzas e lanches?

– Sim. Por um longo tempo. Mas, quando eu comecei o Ensino Médio e percebi que estava engordando, bati os pés e exigi comida saudável. Mas mamãe não estava interessada em cozinhar, e a cozinha era um desastre. Eu tentava limpá-la quando chegava da escola, mas o trabalho tornou-se exaustivo. – No fim, eu negociei e consegui mudar para a suíte máster, que tinha um banheiro e espaço suficiente para que eu instalasse minha própria cozinha pequena. Apenas um micro-ondas, uma torradeira e um frigobar que papai deixara para trás em seu escritório de

casa. Convenci mamãe a me dar uma mesada do dinheiro que papai enviava, de modo que eu pudesse comprar comida e roupas para mim. Quando eu estava em casa, só ficava naquele cômodo. É claro, eu não podia levar ninguém para dormir lá, então não tive muitas amigas íntimas, até que deixei a escola e me mudei. Não tive namorados também. Naquelas alturas, eu não possuía muitas habilidades sociais no que dizia respeito ao sexo oposto. Eu fui virgem até os 21 anos, o que é considerado um recorde nos dias atuais. – Eu concordaria com isso, para alguém tão linda como você. Linda por

dentro e por fora, Vivienne. E corajosa, também. Esta é uma história muito triste, mas você sobreviveu, e por isso eu a admiro. Então, quanto tempo atrás sua mãe teve o enfarto? Vivienne fez uma careta. – Ela não teve realmente um enfarto. Tropeçou sobre as coisas que empilhara na escada, caiu e quebrou o pescoço. Eu avisava que um dia ela sofreria um acidente na casa, mas mamãe não me ouviu. É claro, depois que eu me mudei, as coisas ficaram muito piores. As escadas estavam praticamente bloqueadas com objetos. Não somente as coisas do bebê, agora, mas outras

coisas que ela não precisava: sapatos, bolsas, abajures, enfeites. Quando ela não atendeu ao telefone uma noite... eu ligava todas as noites... fui lá e encontrei o corpo dela à base da escadaria. – Oh, Vivienne. Isso deve ter sido horrível para você. – Foi. – A memória ainda tinha o poder de entristecê-la. Ela amara sua mãe, apesar de tudo. Não que algum dia se sentira amada, em retorno. Talvez por isso tivesse sido tão suscetível a Daryl. Porque ele dizia que a amava o tempo todo, levando-a a acreditar naquilo. O que mais a devastara tinha sido descobrir que tais declarações de amor

eram falsas. Pelo menos, Jack não lhe mentia. Vivienne respeitava isso. Quando ela olhou para cima e viu a fisionomia preocupada dele, deu um sorriso triste. – Está tudo bem, Jack. Eu não vou chorar. Francamente, a morte de mamãe foi um alívio. Ela viveu infeliz por anos e anos. Não me surpreende que ela não tenha cometido suicídio antes. Frequentemente ameaçava fazer isso. De qualquer forma, depois do funeral, eu contratei uma empresa para tirar tudo de dentro da casa, então uma equipe de limpeza. Eu não suportava a ideia de fazer nada lá. Doía muito até mesmo

olhar para a casa. Uma vez que a casa estava limpa e vazia, eu a leiloei. Queria me livrar do imóvel logo, e não me importava com o preço que conseguisse. Vivienne continuou: – Estranhamente, foi vendida por um bom preço. O corretor explicou que, apesar de um pouco dilapidada, a casa ficava numa localização valorizada, e o terreno era grande. Recebi dinheiro o bastante para comprar este apartamento e reformá-lo, e ainda sobrou o suficiente para atrair tipos como Daryl. Até que ele encontrou alguém muito rico, é claro – acrescentou ela.

Jack apertou os dedos ao redor da caneca quando ouviu a amargura na voz dela. Quanto tempo levaria até que ela superasse tudo que acontecera com o imbecil? Ele acreditava que Vivienne não amava mais Daryl, porém esse tipo de traição era difícil de esquecer e impossível de perdoar. Também tornava uma pessoa relutante em confiar. Paciência, Jack, disse a si mesmo. Paciência. – Como eu já falei diversas vezes, Vivienne, você está melhor sem tipos como ele. Ainda é jovem. Tem a vida inteira pela frente. – Comigo, ele queria dizer, mas não podia. Ainda não. –

Muito tempo para se casar e ter filhos, se for este seu desejo. Enquanto isso, pode ser egoísta por um tempo. Faça coisas que lhe deem prazer. Viva o momento. Você está ansiosa para decorar Francesco’s Folly, não está? Os olhos dela se iluminaram. – Oh, sim. – Todavia, preciso insistir, eu quero a decoradora que normalmente contrato, não aquela que decorou este apartamento, muito obrigado. Ela riu. – É justo. – E pense, além do prazer e satisfação que obterá de fazer um trabalho

brilhante, você me terá todos os fins de semana. Isso não pode ser tão ruim, uma vez que você gosta tanto de sexo comigo. E meu desejo será tão grande, depois de ficar sem vê-la por uma semana inteira, que você não será capaz de me acompanhar. Vivienne sorriu. – Você não deveria me desafiar, chefe. Eu sou competitiva por natureza. E obsessiva por vencer. Posso garantir que você pedirá por misericórdia antes de mim. – Eu só tenho uma coisa para dizer sobre isso, mocinha. – O quê?

– Aceito o desafio.

CAPÍTULO 22

VIVIENNE ANDAVA pelo apartamento do piso superior, acendendo todas as luzes – escurecia mais cedo no inverno – e verificando se tudo estava em ordem. Decidira terminar essa área de Francesco’s Folly primeiro, enquanto morava num dos apartamentos do andar de baixo. Era a parte mais fácil de mudar, mas ainda levara quase dois meses para completar, principalmente porque alguns dos móveis que ela encomendara tinham levado seis

semanas para chegar. Mas estava muito feliz com os resultados, e achou que Jack também ficaria. Ela não o deixara ver nada ainda, provocando-o que era tudo branco e preto e horrivelmente minimalista, com nada além de um sofá de couro preto, móveis de vidro e Picassos falsos nas paredes. Vivienne não via a hora que Jack chegasse naquela noite, porque aquela noite seria a grande revelação. Sentia-se tão excitada como uma criança na manhã de Natal, olhando para seu relógio enquanto descia a escada, passava pela piscina e ia para o terraço, de onde

poderia vê-lo chegar. Eram quase 18h. Jack logo chegaria; ele geralmente saía de Sydney por volta das 15h. O trânsito de sexta-feira era pesado, todavia. Ele às vezes atrasava, mas quando ficava preso no trânsito ligava para avisar. Jack tinha esse tipo de consideração. Ele também lhe levava um lindo buquê de rosas vermelhas toda sexta, o que Vivienne achava muito doce. Aquilo lhe dava esperança de que os sentimentos de Jack por ela estivessem gradualmente se tornando mais fortes. Então, um dia, talvez ele decidisse que não queria ficar solteiro para sempre, que casamento, filhos e uma vida em Francesco’s Folly

era tudo que sempre quisera. Mas Vivienne não permitia que suas esperanças fossem muito grandes. Os fins de semana dos dois eram maravilhosos, mas nos últimos tempos, às vezes, Jack parecia estranhamente silencioso e pensativo. Eles costumavam compartilhar uma garrafa de vinho no terraço, toda tarde de sábado. No último fim de semana, quando ela lhe perguntara no que ele estava pensando, Jack respondera: “Na vida”. Uma resposta estranha para ele, que não era do tipo de ficar sentado refletindo daquela forma. Vivienne temia que ele terminasse o

relacionamento deles depois que Francesco’s Folly estivesse pronta. Era um pensamento deprimente, e um que ela se recusava a ter com frequência. Por enquanto, estava feliz. Ou tão feliz quanto uma garota podia estar nessas circunstâncias. Entretanto, tomava cuidado para não fazer ou falar alguma coisa que pudesse estragar o resto do tempo deles juntos. Nunca lhe contara que o amava, mesmo quando as palavras estavam na ponta da língua. Seu coração disparou de alegria, como sempre, quando ela viu os faróis virando no caminho de acesso aos pés do morro. Jack estava em casa.

Seguramente em casa. Vivienne entrou na casa para esperálo. Não correu para a porta da frente. Fazer isso seria demonstrar muita carência. Então foi para a cozinha, verificar se a carne ao molho de curry estava pronta. Estava. Ela sempre cozinhava para Jack na sexta à noite, sabendo que ele estaria muito cansado para sair, depois da longa viagem. Além disso, gostava de guardar a energia dele para outras coisas. – Querida, eu cheguei – anunciou ele, entrando, uma mão segurando rosas vermelhas, e a outra, uma garrafa de champanhe.

– Esta é para comemorar a grande revelação? – perguntou Vivienne, sorrindo. Por um segundo, ele hesitou em responder. Então, deu-lhe um beijo breve nos lábios. – É claro. Para que mais seria? Por que, perguntou-se ela, a voz de Jack soava tão estranha, como se ele estivesse desapontado com alguma coisa? Ela falara algo errado? Fizera algo errado? – Eu fiz sua carne favorita. – Vivienne apressou-se para colocar o champanhe na geladeira. Quando se virou, encontrou-o arranjando as flores no caso

que estava sempre pronto sobre o balcão de pinho. – Você sabe que não precisa me comprar flores toda semana. – Mas eu gosto. – Ele sorriu. – Vamos, é melhor você me mostrar tudo antes de qualquer outra coisa. Eu sei que é isso que quer fazer. Você não falou de outra coisa durante a semana inteira. Mas, esteja avisada, se eu não gostar, você estará encrencada. – Oh, meu Deus – exclamou ela com preocupação fingida, porque sabia que ele ia gostar. Ele gostou. Na verdade, amou. As paredes eram pintadas de cor de creme e formavam o pano de fundo perfeito para

os móveis que ela escolhera: peças estilo Mediterrâneo, feitas de madeira rica, o que dava ao lugar a uma sensação de solidez, mas também a sensação calorosa que ela vira nas fotos dos palacetes toscanos, que pesquisara na Internet. Os sofás e poltronas da sala eram estofados com uma linda estampa colorida. A lareira permanecia, a antiga madeira pesada em volta tendo sido substituída por mármore italiano em tom marrom com listras douradas. Os dois banheiros e a cozinha eram brancos, é claro, mas ela usara o mesmo mármore marrom nos balcões e pias. As torneiras e acessórios eram dourados.

Os tapetes nos quartos eram escuros, contrastando com as cores claras das paredes. O que mais agradou Jack – e, consequentemente, Vivienne – foi a escolha dela das obras de arte, tanto nas paredes internas do apartamento como na galeria de arte no patamar superior. Não originais e nem valendo uma fortuna, os quadros exibiam paisagens famosas e facilmente reconhecidas: lindas praias e barcos graciosos; montanhas grandiosas e vales pitorescos. As molduras eram caras, todavia. Algumas douradas, outras brancas, dependendo de onde estavam

posicionadas. – Você gosta, chefe? – perguntou ela, quando ele ficou parado, olhando para uma paisagem do mar por um longo tempo. Estava pendurada acima da lareira, na sala, e era de uma praia espetacular numa costa inexplorada. – Até demais – replicou ele. – Como você pode gostar de uma coisa “até demais”? – Aquilo era algo peculiar para se dizer. Jack não respondeu, apenas se virou do quadro e atravessou as portas que levavam ao terraço. Ele saiu na noite fria, indo para onde a grade de proteção enferrujada e quebrada tinha sido

substituída por painéis de vidro espesso. Vivienne o seguiu, incerta do que estava acontecendo. Ele permaneceu junto ao parapeito por um longo tempo antes de virar-se para encará-la. Ela estava tremendo de frio. – Sinto muito – disse ele abruptamente. – Eu pensei que pudesse fazer isso, mas não posso. Não mais. – Fazer o quê? – perguntou Vivienne, de súbito sentindo o estômago enjoado. – Esperar... até que a reforma de Francesco’s Folly fosse finalizada. Então era isso, pensou ela com desespero. Ele ia terminar o relacionamento deles.

Ela queria gritar que não estava pronta. Que precisava de mais tempo com ele. Mas então percebeu que nenhuma quantidade de tempo seria suficiente. Se ele não a amasse como ela o amava, que sentido fazia adiar a separação inevitável? – O que está tentando dizer, Jack? Você não me quer mais? É isso? Ele arregalou os olhos. – Meu Deus, mulher, isso não poderia estar mais longe da verdade. Eu a quero todos os minutos do dia. Eu amo você, Vivienne, tanto que não poder dizer estas palavras está me matando aos

poucos. Não posso continuar fazendo este jogo. Pensei que pudesse esperar até que você se apaixonasse por mim, antes de me declarar, mas descobri que não sou capaz. Vendo este lugar hoje... este lugar absolutamente glorioso... eu não quero viver aqui sozinho. Quero viver aqui com você. Como marido e esposa. – Marido e esposa? – repetiu ela. Jack podia ver que a chocara, mas nada iria impedi-lo de falar tudo agora. – Sim, eu sei que disse que não queria me casar e ter filhos. Mas isso foi antes que eu me apaixonasse por você, Vivienne. Amor muda as coisas, faz

você querer mais. E sim, sei que é, provavelmente, muito cedo para você. Mas acha que poderá me amar algum dia? Você já gosta de mim, e gosta de sexo comigo, então me amar não é um passo tão grande assim. Jack fez uma pausa, então continuou: – Eu lhe prometo que, se você se casar comigo, farei tudo que estiver em meu alcance para fazê-la feliz. Eu jamais a trairei. E lhe darei tudo que você quiser. Pode ter cem filhos, se assim desejar. Não, espere... talvez não tantos, mas dois ou três. Não, três não é um bom número. Quatro seria melhor. Então, o que me diz, minha linda

Vivienne? Pode pelo menos pensar sobre isso? Ela não falou uma única palavra. Apenas o olhou, então começou a chorar. Oh, Deus, pensou Jack, freneticamente. O que aquilo significava? Ela estava feliz ou triste? Naturalmente, ele envolveu-a nos braços e esperou até que o acesso de choro passasse. No momento que ela parou de chorar, Jack estava congelando no vento. – Acho melhor entrarmos – murmurou ele e conduziu-a para a sala, fechando as portas do terraço. – Desculpe-me –

continuou, com tristeza. – Eu não deveria ter falado nada. Disse a mim mesmo para ser paciente, mas não sou um homem paciente. Agora, suponho que arruinei tudo. – Não, não – negou Vivienne apressadamente, os olhos verdes brilhando para ele. – Você não arruinou coisa alguma. – Não? – Jack, eu estou apaixonada por você há séculos. – Está? – Sim, eu também não queria falar nada porque estava esperando que você se apaixonasse por mim no fim. E, sim, é

claro que eu me casarei com você, meu Jack querido, maravilhoso e adorado. – E ela ergueu os braços para colocar as mãos quentes nas faces ainda geladas dele. Era estranho, pensou Jack, que a felicidade pudesse fazer um homem adulto chorar. Ele lutou para conter as lágrimas que subitamente inundaram seus olhos, mas foi inútil. Essa era uma batalha que não venceria. E então era ela quem o estava abraçando, dizendo repetidamente o quanto o amava. Eles choraram juntos, depois se beijaram, depois riram, chamaram um ao outro de tolo por não

terem sido honestos. Então, desceram e abriram o champanhe para comemorar a felicidade, antes de voltarem a subir para cimentar seu amor do jeito que casais cimentavam seu amor desde o começo dos tempos. O jantar foi esquecido até mais tarde naquela noite. Muito, muito mais tarde.

CAPÍTULO 23

ERA

de verão, três semanas antes do Natal. O céu estava claro e azul, o era ar quente, e a noiva estava muito linda. Não que sua Vivienne fosse menos do que linda em qualquer situação, pensou Jack, segurando-lhe ambas as mãos e fitando os adoráveis olhos verdes. Eles estavam de pé no mesmo terraço onde tudo começara, todos aqueles meses atrás. O juiz de paz estava de costas para a vista, enquanto os COMEÇO

convidados estavam reunidos de cada lado dos noivos, a fim de testemunhar a cerimônia. Não que houvesse muitos convidados. É claro, a família de Jack já adorava Vivienne. Mas quem não a adorava? Ela era uma pessoa genuinamente adorável. Jack lhe comprara um anel de noivado no dia seguinte de seu pedido de casamento, um grande diamante com esmeraldas, para combinar com os olhos dela. Mas eles haviam esperado a reforma de Francesco’s Folly terminar, antes de se casarem. Pintada de branco agora, com um telhado de terracota, a casa erguia-se

sobre o topo de sua montanha, destacando-se como uma joia brilhante, cercada por arbustos exuberantes. Do lado de dentro, o resto da casa estava completamente transformado. Vivienne tinha dado total liberdade as suas habilidades de designer, não fazendo tolas concessões apenas porque iria morar lá permanentemente, agora. Parecia que ter contado a Jack sobre a compulsão de sua mãe de acumular objetos a libertara de sua ansiedade com relação a uma maior quantidade de móveis e objetos decorativos, embora ela ainda não gostasse se cômodos desarrumados ou com excesso de

móveis. Quanto ao esquema das cores, ela obviamente preferia cores neutras, com toques coloridos para contrastar. Como crianças ocupariam os cômodos, Vivienne escolhera sofás e poltronas de couro para os apartamentos do andar de baixo, porque eram mais fáceis de cuidar. E nada pálido para tais apartamentos: vermelho e preto dominava. Ela também usara granito preto em vários topos de balcões, em vez do mármore marrom que usara no andar de cima. Novamente, alegando que estava pensando nas crianças, Vivienne mandara construir diversas

prateleiras na sala para acomodar brinquedos, bugigangas, fotografias, e, sim, alguns livros velhos. Jack ficara feliz quando Vivienne comprara, recentemente, uma estante para a sala no andar de cima, uma linda antiguidade que agora estava repleta de livros, nenhum dos quais Jack lera, embora ainda pretendesse ler. Vivienne nunca voltara a viver em Sydney, tendo vendido seu apartamento. Eles tinham decidido que, uma vez que a casa estivesse pronta, Jack dividiria seu tempo igualmente entre ali e Sydney, até que pudesse expandir seus negócios e abrir uma filial da empresa na área de

Newcastle. Vivienne já criara um site para seu negócio de designer, e estava recebendo algumas ofertas de trabalho. Ela não quisera tentar um bebê até que eles estivessem casados... e Jack planejava investir no projeto assim que possível. Ele estava realmente ansioso para ser pai... mais do que teria imaginado possível. Vivienne apertou-lhe os dedos, levando-o de volta ao presente. – Nós agora estamos casados – murmurou ela com um sorriso doce. – Você pode me beijar se quiser. Jack beijou-a, enquanto todos aplaudiam.

– Então, onde você estava durante a cerimônia? – sussurrou ela, depois que ele levantou a cabeça. – Eu estava pensando sobre torná-la uma mãe esta noite. – Não acontece rápido assim, Jack. Talvez tenhamos de esperar meses. VIVIENNE ESTAVA certa. Ela não se tornou mãe naquela noite. Mas engravidou no começo do novo ano. De um menino. Quanto a Francesco’s Folly, sempre foi um lar feliz, repleto de risadas e amor. Jack e Vivienne tiveram quatro filhos: dois meninos e duas meninas. Vivienne continuou trabalhando, embora

apenas meio-período. E Jack? Ele desistiu de seu vício por trabalho e devotou mais tempo a sua família. Sua mãe nunca se casou com George. Mas eles ainda estavam felizes, morando em casas vizinhas e viajando constantemente. As duas irmãs de Jack e suas famílias se hospedavam em Francesco’s Folly com frequência, especialmente no Natal, quando todos os primos se divertiam juntos, fazendo churrascos e indo à praia. E todos adoravam a casa. Às vezes, numa noite de verão, quando Vivienne se sentava em seu terraço favorito, tomando vinho branco

gelado e admirando a vista gloriosa, imaginava Francesco no céu, olhando para ela e se sentindo muito contente que sua casa adorada estava sendo habitada e amada. E era num desses momentos que ela agradecia a Deus por tê-la salvado do desastre todos aqueles anos atrás, e lhe enviado um homem como Jack para amar. Sua vida não era perfeita. A vida de quem era perfeita? Mas era muito boa. Realmente muito boa.

PLANO OUSADO CAROLE MORTIMER – Nós três não estávamos sentados juntos numa igreja bem parecida com esta há apenas algumas semanas? – O tom de Michael era zombeteiro ao se dirigir ao irmão mais novo, Gabriel, sentado à sua direita no primeiro banco da igreja apinhada de convidados. Inquieto, o irmão de ambos, Rafe, estava sentado à sua esquerda.

– Sim, com certeza – confirmou Gabriel. – A diferença é que, na ocasião, você e Rafe foram os meus padrinhos e agora nós somos os dele. – Há quantas semanas foi isso exatamente? – Michael arqueou as sobrancelhas grossas. – Cinco maravilhosas semanas. – Gabriel sorriu ao pensar em seu casamento recente com a amada Bryn. – Certo. Já lhe contei sobre a conversa que tive com Rafe naquele dia, quando ele me assegurou enfaticamente que não acreditava nessa história de “um amor para a vida inteira” e que não tinha a menor intenção de se casar?

Gabriel lançou um olhar a Rafe, contendo um sorriso ao notar como ele estava pálido e tenso enquanto aguardava que a noiva chegasse à igreja. – Não, não contou. – Ah, sim. – Michael acomodou-se mais confortavelmente no banco. – Foi quando nós dois já estávamos do lado de fora da igreja, e você e Bryn posavam para as fotos. Se bem me lembro, Rafe tinha acabado de receber uma ligação de uma de suas garotas e... – E agora não é o momento, nem o lugar para você mencionar essas coisas! – retrucou Rafe zangado. Seu breve relacionamento com a parisiense

Monique havia terminado vários meses antes de ter conhecido a futura esposa. Os três irmãos D’Angelo eram os proprietários das prestigiadas casas de leilão e galerias de arte Archangel em Nova York, Londres e Paris. Até recentemente, dirigiam as três galerias num sistema de rodízio informal, que variara de acordo com a permanência de dois a três meses de um dos irmãos em cada país, dependendo de quais exposições ou leilões haviam acontecido nas respectivas galerias. Agora, depois do casamento de Gabriel com Bryn, este ficava principalmente em Londres, Rafe passaria a maior parte do

tempo em Nova York, tão logo tivesse se casado com Nina, e Michael estaria no comando da galeria de Paris. – Nina está cinco minutos atrasada – resmungou Rafe olhando pela décima vez para o relógio de pulso. – É de praxe a noiva fazer o noivo ficar esperando – interveio Gabriel despreocupado. – Um exemplo de como “os poderosos podem cair”, não é mesmo? – acrescentou calmamente, dando continuidade à conversa com Michael. – Ah, sem dúvida – concordou o irmão mais velho. – Pelo que observei, ele tem estado como um cordeirinho

desde o dia em que conheceu Nina. – Abriu um sorriso imperturbável diante da expressão contrariada de Rafe. – É o que o amor faz – assentiu Gabriel sabiamente. – Você será o próximo, Michael. O bom humor dele se dissipou de imediato. – Não creio – disse com convicção. – São as famosas últimas palavras? – É um fato – declarou Michael com severidade. – Jamais vou permitir que mulher alguma me deixe nesse estado. – Indicou a visível agitação de Rafe com um olhar significativo.

Próximos lançamentos: PAIXÃO 385 – PLANO OUSADO – CAROLE MORTIMER PAIXÃO 386 – A SEDUÇÃO NÃO MENTE – SARA CRAVEN PAIXÃO 387 – PROVA DE PECADO – DANI COLLINS PAIXÃO 388 – DIAMANTE IMPERFEITO – SUSAN STEPHENS PAIXÃO 389 – ACORDO COM BENEFÍCIOS – SUSANNA CARR

PAIXÃO 390 – PRETENDENTE AO TRONO – MAISEY YATES

379 – PROMESSAS DE ILUSÃO – LUCY MONROE Demyan Zaretsky precisa de Chanel Tanner para que seu país não quebre. Mas ela não sabe disso e se deixa envolver pela sedução dele. E quando descobrir a verdade, pode ser tarde demais para salvar seu coração… 380 – PAIXÃO NEGADA – ANNE MATHER Dominic Montoya pode ajudar Cleo a desvendar sua origem. Mas aproximar-

se dele é muito perigoso, ainda que irresistível… E, em uma ilha paradisíaca do Caribe, tudo pode acontecer! 381 – NEGÓCIO ARRISCADO – CAROLE MORTIMER Gabriel D’Angelo foi o responsável pela ruína da família de Bryn Jones, agora, porém, é o responsável por alavancar sua carreira como artista plástica. E este reencontro pode despertar sentimentos adormecidos há muito tempo… 382 – CORAÇÃO VINGADOR – SHARON KENDRICK

Catrin ama Murat. Mas, ainda que vivam um caso tórrido e intenso, ela sabe que nunca poderá ser sua esposa, e resolve que o melhor a fazer é partir. E agora, como o sultão reagirá diante dessa rebeldia? 383 – CONQUISTA FATAL – CAROLE MORTIMER Rafe D’Angelo está acostumado a dispensar suas conquistas. Por isso, quando Nina Palitov o deixa depois de uma noite de paixão, ele fica inconsolável. Agora, seduzi-la novamente é uma questão de honra!

NOVO

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VIDA Joanne Rock clique aqui e leia o 1º capítulo!

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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

L516c Lee, Miranda Convite casual [recurso eletrônico] / Miranda Lee; tradução Deborah Mesquita de Barros. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Harlequin, 2014. recurso digital Tradução de: A man without mercy Formato: ePub Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-398-1408-4 (recurso eletrônico) 1. Romance australiano. I. Barros, Deborah Mesquita de. II. Título.

14-10348

CDD: 828.99343 CDU: 821.111(94)3

PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM HARLEQUIN BOOKS S.A. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: A MAN WITHOUT MERCY Copyright © 2014 by Miranda Lee Originalmente publicado em 2014 por Mills & Boon Modern Romance Arte-final de capa: Isabelle Paiva

Produção do arquivo ePub: Ranna Studio Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4º andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921380 Contato: [email protected]

Capa Teaser Querida leitora Rosto Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14

Capítulo 15 Capítulo 16 Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22 Capítulo 23 Próximos lançamentos Créditos
PAIXAO - 384 - Convite Casual - Lee, Miranda

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