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SINOPSE
Nós éramos melhores amigos, então viramos inimigos. Amada. Protegida. Querida. Houve um tempo em que Ranieri Andretti me fez sentir essas coisas. Isso foi antes da família dele vir atrás da minha. Ele deveria me esquecer. Nós seguimos caminhos separados. Deveria ter ficado assim. Mas agora ele está de volta na minha vida e ele é meu novo chefe. Eu quero odiá-lo. Ele é meu ex melhor amigo. Meu atormentador. O chefe da família Andretti. Mas não importa o quanto eu tente... Eu não posso ficar longe.
NOTA DA AUTORA Ei, leitores! Espero que gostem deste livro, mas antes de iniciar a leitura, aqui estão algumas informações úteis. Este livro acontece simultaneamente com Niccolaio Andretti e Bastiano Romano. Pode ser lido como um livro autônomo, mas a maioria gosta de lê-lo na sequência da série. Com tanto, tanto, tanto amor, Parker.
DEDICATÓRIA Para Chloe, e todas as almas puras cujas velas se apagaram cedo demais.
RESSENTIMENTO Re-sentimento (substantivo) Amarga indignação por ter sido maltratado.
RESSENTIMENTO Desapontamento.
Fúria.
Medo.
Todas
as
emoções
solitárias e dolorosas por direito próprio. Combinadas, elas formam ressentimento. Como a surpresa da injustiça se desvanece, assim também a raiva e o medo se desvanecem, deixando a decepção. Mas o que acontece com o desapontamento é que está tudo na sua cabeça. A decepção é seu cérebro se ajustando ao fim de uma velha realidade, descobrindo o fim da maneira como você um dia pensou que as coisas eram. E talvez isso seja uma coisa boa. Faça sua própria realidade. Nunca se contente com menos do que você merece. E se alguém o decepciona, nunca se culpe por esperar demais deles. O ressentimento e o desapontamento desaparecem. O verdadeiro amor não desvanece.
PRÓLOGO
O ressentimento é como beber veneno e esperar que a outra pessoa morra. – Carrie Fisher
Quando você é criança, traição é quando seu melhor amigo se junta com outra pessoa para um projeto escolar. Ou sua paixão do Jardim de Infância não o convida para a festa de aniversário dele. Ou você encontra uma nota de vinte dólares no chão durante o recreio, e seu pai faz com que você a entregue à senhora mal-humorada dos Perdidos e Achados da escola, que provavelmente acabará embolsando a nota para si. O que não deveria ser é a pessoa de quem você pensava que poderia depender, seu melhor amigo em todo o mundo, tornando-se seu atormentador. Ranieri Andretti deveria ter se esquecido de mim. Eu pensei que ele tinha. Não conversamos desde que eu parti para a faculdade e, tanto quanto eu sabia, ele havia esquecido que eu existia. Mas não importava o quanto eu tivesse tentada, nunca poderia esquecer meu antigo melhor amigo.
Afinal, ele também não poderia.
CAPÍTULO UM
Raiva, ressentimento e ciúme não muda o coração dos outros – só muda o seu. – Shannon L. Alder
11 Anos Atrás — Você já recebeu seu horário de outono? — Eu tirei o meu do meu fichário rosa e o deslizei pela mesa. A diversão forrou os lábios de Ranie enquanto os olhos dele deslizavam pelo meu horário. Sempre com estilo, seu cabelo escuro era curto nos lados e mais comprido na parte superior em um corte de cavalheiro que lisonjeava seus olhos verde-esmeralda, e ele era tão classicamente bonito, que fazia meu estômago sentir como se um saco de Pop Rocks 1 tivesse explodido por dentro. Muito em breve, ele seria bom demais para ficar comigo na parte de trás da loja de conveniência do meu pai. Eu não admitiria se ele perguntasse, mas eu não estava entusiasmada com nosso ano de calouros na Diavolo High. Eu estava 1 Pop
Rocks são balas que possuem bolhas pressurizadas de gás carbônico que causam uma pequena reação quando são dissolvidas na boca, é como se elas estalassem/explodissem na boca.
preocupada. Preocupada que Ranie descobrisse o quanto ele era mais legal do que eu, e que nossos nove anos de amizade fossem em espiral pelo cano abaixo. Irracional? Provavelmente. Ranieri Andretti era a melhor pessoa que eu conhecia, incapaz de me desapontar. Minhas inseguranças não eram irracionais, mas papai gostava de me lembrar a cada chance que tinha, o quão dramática e irracional poderia ser uma jovem de 14 anos. Ranie falou em um leve sotaque sulista que eu nunca havia captado em todos os meus anos de vida na Flórida: — Aqui. — Ele alcançou o bolso de trás de seu jeans preto, puxou uma folha de papel e jogou-a na minha frente. Eu desdobrei o papel, esticando as dobras e li seu horário:
O Período: time de Futebol masculino, Treinador Kevin 1º Período: Geografia Humana Avançada, Sr. Schlesinger 2º Período: Álgebra II/Trigonometria Avançada, Sr. Franks 3º Período: Saúde, Sra. Rutgers 4º Período: Biologia Avançada, Sra. Slight 5º Período: Inglês Avançado, Sr. Richards 6º Período: Espanhol II, Sra. Gutiérrez
Ranie era inteligente, e eu tinha certeza de que ele poderia lidar com essas aulas, mas eu não sabia porque ele estava frequentando-as. Ele odiava a escola. Odiava qualquer coisa que o impedisse de sair com seu irmão mais velho durante os dois anos que lhe restava antes de Niccolaio sair da Flórida para a faculdade. — Eu não entendo, Ranie. Seu nome se formou em meus lábios, tão único, perfeito e meu. Eu adorava poder dizer isso todos os dias, e ele respondia sem falta. — O que há para entender? — Ele sorria, e era o mesmo sorriso que ele tinha desde que era criança. O mesmo sorriso que agraciou seu rosto quando nos tornamos melhores amigos, e ele me disse que era meu e de mais ninguém. E ele cumpriu essa promessa todos os dias durante os últimos nove anos. — Este é o meu horário. Tipo, literalmente idêntico. — Você faz parte do time de futebol masculino da universidade? Parabéns, baby. — Oh, você sabe o que quero dizer. — Eu faço uma varredura do horário de novo. — Estou falando de todo o resto. Como... como você fez isso? Aquele sorriso do diabo, tão convencido e presunçoso que eu o odiaria se já não o amasse. — A mãe de Lacy Ryan é a administradora chefe da Diavolo.
Meu coração cambaleou. Lacy Ryan me odiava, e embora minha aversão por ela não fosse tão enfática, eu aceitaria de bom grado uma ordem de restrição se me fosse oferecida. — Oh. Ele rolou os olhos. — Ela não é tão ruim assim, Gallo. Não é tão ruim assim? Desde a pré-escola até o ensino médio, ela aproveitou todas as oportunidades possíveis para me intimidar. Eu era uma pessoa que sabia perdoar, mas não era tão perdoadora assim. A única razão pela qual eu não tinha dito ao Ranie era porque eu sabia como ele reagiria. Quando alguém que ele amava era ferido, Ranieri Andretti era um furacão imprevisível, causando a ruína como se ele tivesse nascido para isso. Seu apelido no campo de futebol era Caos, mas a nomenclatura era muito mais apropriada fora do campo. A última coisa que eu queria era que ele se metesse em problemas enquanto me protegia. Seu pai já desaprovava nossa amizade, e era por isso que nós fazíamos isso na sala de descanso da loja de papai em North Beach ao invés da megamansão de Ranie na parte da cidade de Miami Beach. — Tanto faz. — Devolvi-lhe seu horário. Ele apertou minha mão enquanto o tirava de mim. As pessoas assumiam que namoramos. Nós não namoramos. O momento em que nossa amizade começou foi o momento em que tínhamos formado uma bolha ao nosso redor, porque não
precisávamos de mais ninguém além de um do outro. Ele era dono do meu coração, mas eu também era dona do dele. — Você não entrou em sua aula de culinária. — Ele sabia o quanto eu queria me tornar uma chef quando crescesse. — Não está disponível para calouros. — Eu encolhi os ombros. — Há sempre o próximo ano. E não mude de assunto. — Eu o estudei. — Sério, porém, o que há? Por que você copiou meu horário? A alegria fugiu de seus olhos, e ele se levantou, percorreu a mesa, sentou-se ao meu lado e agarrou minhas mãos. — Carina, — ele só me chamava assim quando estava falando sério, — eu am... Um estrondo alto interrompeu seu discurso. Eu me levantei e corri da sala em direção à frente da loja. Um braço forte se enrolou na minha cintura, puxando-me para dentro do peito de Ranie. Ele me levantou e me carregou até o escritório do pai com um braço. — Me solte! — Eu lutei contra seu aperto. Os gritos do lado de fora ficaram mais altos e eu estava começando a me preocupar com a segurança de papai. — Eu preciso ajudá-lo! Ranie cobriu minha boca com sua mão e sussurrou no meu ouvido: — Acalme-se, Carina. Você não pode ir. Pode ser perigoso. Mais uma razão para ir lá fora e ajudar o papai. Eu me esforcei mais contra seu aperto.
Ele apertou seus braços ao redor da minha cintura, e em qualquer outra situação, aquelas Pop Rocks estourariam do meu peito até a minha barriga. — Acalme-se, e eu soltarei. Ok? Eu empurrei em uma última tentativa de me soltar, mas quando não funcionou, eu me acalmei, relaxando meu corpo contra o dele. Ele me soltou, girou meu corpo ao redor para enfrentá-lo, e segurou um dedo em seus lábios, a mensagem clara: cale-se. Ele piscou para o monitor, e eu empurrei quando uma imagem de Luigi, segurando meu pai pelo colarinho de sua camisa, encheu a tela. Virei-me para Ranie, a traição transmitindo alto e em bom som do meu rosto. — Que diabos é isto? — Car... — O que o consiglieri de seu pai está fazendo ameaçando o meu pai? O consiglieri era o principal conselheiro do chefe da máfia. Ele não agiria sem a permissão do pai de Ranie. — Baby, eu... — Você sabia disso? Foi por isso que você me impediu de correr lá fora? — Sacudi a cabeça, o desgosto e a adrenalina subindo pelas veias, e me dirigi para a porta, com a intenção de ajudar meu pai.
Ranie agarrou meu braço, seu aperto firme e gentil. — Não vá lá fora. Eu o empurrei para longe. — Esse é meu pai! — Eu não sabia. Eu juro, Carina. Eu te agarrei para evitar que você se colocasse em perigo. Seus olhos me suplicaram, e eu queria acreditar nele – eu precisava acreditar nele – mas era do meu pai de quem estávamos falando. Depois que mamãe nos deixou, ele e Ranie eram tudo o que me restava. Mas Ranie nunca me colocou na cama à noite e procurou por monstros debaixo da minha cama. Isso era tudo papai, e ele estava lá fora. Sozinho. — Deixe-me ir, Ranie. — Ele é perigoso. — Exatamente! — Shh! — Ele baixou sua voz. — Fale baixo. Se algo acontecesse com você, Carina, eu não conseguiria viver comigo mesmo. Eu irei lá fora. Está bem? Deixe-me falar com Luigi. Eu acenei com a cabeça, mas por dentro, já estava preocupada com ele também. — Tudo bem. Assim que ele saiu, minha cabeça se virou para a tela. Aumentei o volume o máximo que pude sem chamar a atenção para minha presença.
Luigi tinha papai inclinado para frente, pressionado contra o balcão de vidro até onde seu corpo permitisse. — Você sabe o que acontece quando você perde seu pagamento de proteção? Já lhe demos uma flexibilidade antes por causa de sua filha, mas você não pode continuar nos fodendo. Isso não soou bem. O pai de Ranie, Cristiano Andretti, me odiava. Se alguma coisa, ser meu parente deveria ter prejudicado a causa de papai. Papai sibilou. — Amanhã, eu te darei isso. — Você faça isso porque se não o fizer, sua outra mão será a próxima a ir. — A próxima? O que você está falando... ahhhhhh! Assim que os gritos de papai chegaram aos meus ouvidos, eu saí correndo do escritório dos fundos e entrei na área central da loja. Luigi já tinha abandonado o navio, e Ranie estava nas máquinas de refrigerantes, molhando uma toalha grossa. Corri para papai e peguei sua mão esquerda. Passando o sangue e os hematomas crescentes, dois dedos dobrados desajeitadamente para a direita. — Oh, meu Deus. O que aconteceu, papai? — Eu peguei a toalha da mão de Ranie e a encostei na palma da mão de papai o mais gentilmente que pude. Ele lutou para manter seus estremecimentos à distância, mas eles atravessaram seu estoicismo e partiram meu coração. — Não se preocupe com isso, querida. Não é nada.
— Nada? Nada?! Ranie deslizou a toalha dos meus dedos trêmulos. Eu tentei puxá-la de volta. — Nem fale comigo, Ranie. Dinheiro de proteção? Do meu pai? Você está louco?! — Pressionei a toalha até o pior dos sangramentos. Um martelo ensanguentado colocado no balcão ao lado da mão do papai. Eu desviei meus olhos e olhei fixamente para Ranie. — Você deveria estar aqui fora! Eu confiei em você! O que aconteceu, Ranie?! — Carina, eu... — Sabe de uma coisa? Eu não posso nem olhar para você agora mesmo. Vá embora. — Mas... — Saia! — Eu gritei, jogando a toalha no balcão e empurrando Ranie o mais forte que pude. Foi a pior briga que já tivemos em nove anos de amizade. Agora eu sabia que tinha sido injusta. Ranie sempre foi bom para mim, meu mais feroz protetor e uma das duas pessoas com quem eu sempre pude contar. Eu tentei me desculpar. E tentei. E tentei. E tentei novamente.
Avanço rápido cinco meses, e começava a parecer que eu era a única caloura em Diavolo sem amigos. E Ranieri? Eu estava certa. Ele tinha descoberto que era muito legal para estar comigo, e aqueles nove anos de amizade que eu tanto apreciava poderiam muito bem nunca ter acontecido. A cada dia que passava, Ranie só tinha conseguido ser mais... mais de tudo. Mais admirado. Mais bonito. Mais popular. Ele era o calouro que andava com os mais velhos e juniores, Niccolaio sempre de um lado dele e uma porta giratória de lindas garotas do outro. E sua última conquista foi a Lacy Ryan, meu bullying de infância. A hora do almoço em Diavolo era a pior. Sentava-me no extremo mais distante da cafeteria, em uma mesa, em sua maioria sombreada pelo escuro. Era assim que eu gostava. Quanto menos visível eu era, mais sã eu era. Depois que Ranie deixou de ser meu amigo, todos que eu pensava que eram meus amigos tinham tomado isso como permissão para me intimidar, xingar e me atormentar nas costas dele. Eu tentei me esconder neste canto. Às vezes funcionava. Às vezes não funcionava. Uma bandeja de almoço caiu ao meu lado com uma batida forte! Eu pulei de surpresa e me virei para enfrentar o agressor. Olhos verdes que me lembravam os de Ranie encontraram os meus. Seu queixo esculpido, maçãs do rosto
proeminentes e nariz aquilino eram bonitos como os de Ranie, mas enquanto Ranie tinha cabelo escuro e um corte de cavalheiro, o cabelo deste estranho era loiro e mais comprido. — Olá. Eu sou Brody. — Ele estendeu a mão. Meus olhos varreram de um lado para o outro, tentando descobrir se alguém mais estava vendo isto. Eu esperava que não. — Talvez você não queira fazer isso. — Apertar sua mão? Você está doente ou algo assim? — O sorriso que ele me presenteou era de boa índole. — Eu tenho um sistema imunológico muito forte. Eu larguei no meu sanduíche de geleia e manteiga de amendoim. — Não, eu quis dizer sentar-se ao meu lado. Talvez você não queira sentar-se ao meu lado. — Por que não? — Eu sou persona non grata. — Esse é um nome estranho, Persona Non Grata. Rolei os olhos, mas um sorriso puxou meus lábios. Já faz algum tempo que alguém brincava comigo. — Estou falando sério. É suicídio social sentar-se perto de mim. Ele encolheu os ombros. — Eu não estou muito preocupado com esse tipo de coisa. — Provavelmente porque ele era facilmente um onze em uma escala de um a dez. As garotas de Diavolo o comiam. Sentar-se ao meu lado não mudava o quão atraente ele era.
Eu inclinei minha cabeça para o lado, assumindo seu comportamento descontraído. — Por que eu? — Você tinha esta mesa só para você. Achei que preferia me apresentar a uma pessoa do que a uma mesa com dez pessoas, cujos nomes eu esqueceria assim que me dissessem. Eu peguei seu horário que ele tinha jogado em sua bandeja de comida. — Então, você é novo aqui? — Transferido de SoCal. Eu acenei com a cabeça dele. — Isso explica o cabelo. — O cabelo? — Ele passou uma mão através dos fios loiros dourados. — Longo. Beijado pelo sol. Surfista clássico. Ele fez um som desaprovando. — Isso é um estereótipo, e na verdade eu não sur... Eu gritei, empurrando minha cadeira para trás enquanto a água encontrava meu cabelo, pingando pelo rosto abaixo e ensopando minha camiseta branca. Lacy ficou a alguns centímetros de mim, uma garrafa de água vazia em sua mão. Eu cobri meu peito com meu braço, esperando que ninguém pudesse ver através de minha camisa fina. Meus olhos se desviaram para Ranie, trancando com os dele do outro lado da cafeteria com precisão laser. Ele pode ter me abandonado como amigo, mas não tolerava o bullying. Se
ele o visse, geralmente falava alto. Era a única parte boa da minha vida hoje em dia. Mas quando eu olhava para ele, ele me absorvia por uma fração de segundo antes de focalizar em Brody. Esperei por ele para dizer algo. Qualquer coisa. Ele não disse nada. Em vez disso, ele se voltou para Niccolaio e sussurrou algo em seu ouvido. Niccolaio respondeu, e os dois começaram uma conversa acalorada, ignorando completamente a minha agitação. Os sussurros começaram logo em seguida. Alguém reuniu a coragem de rir. Depois outra pessoa. E outra pessoa. E outra. Logo, a cafeteria inteira estava rindo de mim. Brody tirou o suéter e o entregou para mim. Eu deslizei o suéter de algodão macio sobre minha camisa molhada, agradecida por pelo menos alguém estar do meu lado. Ele provavelmente perceberia logo que a amizade comigo não valia a pena para ser excluído na Diavolo, mas até lá, eu aceitaria qualquer ajuda que pudesse conseguir. Do outro lado da sala, os olhos de Ranie pegaram os meus, permanecendo sobre o suéter. Ele se levantou, com determinação consumindo sua postura, mas Niccolaio o puxou de volta para baixo. Eles trocaram palavras apressadas, e as sobrancelhas de Ranie franziram profundamente antes que ele se acomodasse adequadamente em seu assento. Voltei minha atenção para Brody, sentindo-me tola. Ranie não era o herói. Ele era o vilão.
Sentei-me
durante
todo
o
almoço,
encharcada
e
tremendo, meu orgulho não me permitiu correr e me esconder. Alguém se aproximou de mim e fez uma piada sobre meu cabelo molhado. Foi como se, ao não me defender, a proibição não falada de Ranie de me intimidar na sua frente tivesse sido levantada. Brody atirou de volta e, por um momento, eu me senti protegida novamente. Quando o sino tocou durante o quinto período, mantive minha cabeça erguida enquanto passava por Ranie com Brody flanqueando meu lado esquerdo. Minhas mãos estavam em punhos, fazendo tudo que podiam para esconder meus tremores. Eu não sabia o que esperava de Ranie. Um pedido de
desculpas?
Uma
explicação?
Uma
espécie
de
reconhecimento de como minha vida tinha ficado horrível? Isso foi pedir muito depois de nove anos de ser tudo um para o outro? Em vez disso, seus olhos permaneceram mais uma vez no modo em que o suéter de Brody moldava minha estrutura magricela antes de olhar para o Brody e virar as costas. Niccolaio me deu um olhar simpático, mas eu sabia que ele estaria sempre do lado de Ranie. Meu coração caiu, e a esperança que vinha preservando desde que eu e Ranie deixamos de ser amigos desapareceu. Depois
do
incidente
da
cafeteria,
o
bullying
cresceu,
transformando-se em um monstro que nem mesmo os rígidos professores de Diavolo conseguiam controlar.
Pelo menos eu tinha Brody. Mas era para ser Ranie.
CAPÍTULO DOIS
Que hoje seja o dia que você deixa de ser assombrado pelo fantasma de ontem. – Steve Maraboli
O Presente, onde nada mudou. Deslizei um refrigerante para uma das strippers, que havia derramado aguardente em sua lingerie. Fred correu até nós do outro lado da sala, seu cabelo branco voando com a pressa, e a empurrou de volta para o camarim. — Não, não. Nisso não! Ela olhou para baixo para sua lingerie, um sutiã rosa e preto apertado e um conjunto de calcinha. — O que há de errado com isto? — Você parece gorda nele. — Típico de Fred. Nunca foi alguém de medir as palavras ou, não sei, agir como um ser humano civilizado. Ela cruzou os braços, cada pedaço justo em sua indignação. — Eu sou gorda mesmo.
— Bem, eu não quero que você se pareça com você. Não no meu clube. — Ele se voltou para mim. — O que você está fazendo aqui atrás? Fora! Fora! Peguei minha bandeja de servir, rolei os olhos e me dirigi para minha seção. Fred era dono do The Down & Dirty, mas ele já tinha passado do seu auge e provavelmente vai se aposentar em breve. Diziam por aí no strip clube que ele estava falando em vender o lugar, e havia atualmente uma guerra de lances entre duas pessoas poderosas. Em uma cidade onde havia um excedente de acompanhantes de alto nível e um déficit de strippers, ele provavelmente lucraria um bom dinheiro. Paula, conhecida no The Down & Dirty como Honey Cocker, passou por mim. Ela era uma garçonete, como eu. Ao contrário de mim, trabalhar aqui não era seu último recurso. Ela vivia para o The Down & Dirty. Vinha para trabalhar com um sorriso genuíno todos os dias. Eu agarrei o braço dela. — Fred está de mau humor. Talvez você queira se afastar. Ela arranhou o nariz. — Deus, ele não poderia se aposentar já? Eu dei nos ombros. O Fred era um chefe horrível? Sim. Mas sabendo da minha sorte, seu substituto só seria pior. Paula estendeu a mão e ajustou o tecido azul-pastel-bebê da minha baby-doll. Ela combinava com a cor dos meus olhos, saltos, e a peruca que escondia meu cabelo loiro escuro.
— Oh, meu Deus. — Paula torceu meu corpo até eu enfrentar a sala VIP. — Ele é perfeição. Eu chamo dibs2. Meu sangue esfriou. Certamente, eu estava alucinando. Tinham passado sete anos, mas o cabelo dele era o mesmo – um corte de cavalheiro limpo. A alguns centímetros e meio, ele se destacava com aquelas mesmas maçãs do rosto afiadas e uma linha de mandíbula definida. E embora eu não pudesse ver seus olhos a esta distância, eu sabia que eles eram verdes como um trevo de quatro folhas. — O que você está fazendo aqui? — Eu sussurrei. Ele não podia me ouvir, é claro, mas era instinto querer falar com ele. Os sete anos que se passaram desde a última vez que nos vimos não tinham mudado isso. Nem aqueles quatro anos de puro inferno do colegial. — O quê? — Paula me encarou por uma fração de segundo antes de devolver seu olhar para ele. — Nada. Mas isto era tudo menos nada. Ranieri Andretti estava aqui. Meu primeiro amor. Meu tormento do colegial. Minha grande traição. Eu suguei o fôlego e recuei, forçando-me a
No original “I call dibs”, significa quando uma pessoa reivindica algo antes que outra pessoa possa fazê-lo. É como se ela dissesse “eu vi primeiro, agora é meu”. 2
manter a calma enquanto me dirigia para a sala de descanso para encontrar Fred. No fundo, ouvi Paula chamando por mim, mas a ignorei. — O que você está fazendo aqui? — Fred agarrou meu cotovelo e me guiou até um canto vazio da sala de descanso. Tirei a mão dele de cima de mim. — Eu tenho que ir. — O quê? — Estou mal do estômago. — Eu não me importo. Você sabe como esta noite é importante para mim? — Ele esfregou a parte de trás do pescoço e jurou. — Estou prestes a fechar a venda de uma vida, e preciso de você servindo bebidas no VIP. — O quê? — Eu me afastei dele. — Eu-eu... mas essa não é minha seção. — Você é a minha melhor garçonete. — Não, eu não sou. — Você tem um diploma universitário. — Eu desisti. — E então você foi para a faculdade comunitária. — Eu também desisti depois de um semestre lá. — Cruzei meus braços. Esta conversa foi como um rolo de filme dos meus fracassos.
— Ele a pediu. — Quem me pediu? — Um dos meus compradores. Oh, meu Deus. Havia alguma chance de que não fosse o Ranie? Mordi meu lábio inferior. — Eu não acredito em você. Fred ergueu seu telefone, um texto datado de dois minutos atrás, exibido na tela. Ranieri: Envie a garçonete de cabelo azul para cá. Ranie não poderia saber que era eu. Mesmo que não nos víssemos há sete anos, a peruca e as camadas sobre camadas de maquiagem pesada me fizeram quase irreconhecível, e eu estive tão longe. Meu estômago realmente se sentia enjoado desta vez. — Eu realmente não me sinto bem. — Não vai demorar muito. As náuseas nublaram meu cérebro. — Sério, eu vou vomitar. — Segure-o. Bílis levantou até o topo da minha garganta. Eu engoli, tentando ao máximo empurrá-la de volta para baixo. — Não consigo, Fred!
— Faça isso, então você pode ir. — Não... Ele me empurrou para fora da sala de descanso antes que eu pudesse protestar. Eu debati minhas opções. Eu realmente precisava deste trabalho. A loja de papai estava perdendo dinheiro por segundos, mas não importava quanto tempo passasse, não importava o quanto de dívidas acumuladas, ele não conseguia se separar dela. Ele era como Leo no Titanic – ele poderia ter ficado na borda dos destroços do navio de Rose e continuar flutuando, mas escolheu afundar com o navio. Provavelmente pensou que era nobre também. Eu estava convencida que um pedaço de papai pensava que, se ele vendesse a loja, a mamãe não seria capaz de encontrá-lo caso ela decidisse voltar. Já haviam passado quinze anos desde que ela nos deixou, e eu não estava segurando minha respiração para que ela voltasse, mas meu pai ainda estava. Eu não tinha no meu coração o desejo de confrontá-lo. Mesmo que isso significasse que eu tivesse que abandonar a faculdade para trabalhar e ajudar a pagar o aluguel para eu mesma, papai, e uma loja que eu odiava com cada fibra do meu ser. A verdade é que eu não tinha outra opção senão ignorar meus nervos, acalmar a bílis subindo pelo meu corpo e lidar com a minha realidade. Coloquei minha bandeja de servir atrás
do balcão e fiz meu caminho até a mesa VIP, arrastando meus passos e esperando que o cabelo e a maquiagem fossem suficientes para apagar minha identidade. De perto, Ranie era mais devastador do que eu me lembrava. Cabelo grosso e escuro, mais preto do que a noite mais escura. Lábios cheios, um tom de vermelho sedutor o suficiente para deixar o sangue invejoso. Olhos verdes vibrantes, tão vívidos que parecia que uma floresta viva havia ficado presa em suas íris. Como poderia um homem que eu odiava, um homem que eu não tinha mais o direito de entender, ainda provocar uma reação da minha parte? Eu desviei meus olhos de Ranie, que ainda não havia se virado para me enfrentar, e me dirigi ao resto de seu grupo de cinco pessoas. — Os senhores gostariam de alguma coisa para beber? — Olá, querida. — O da extrema direita manteve sua voz baixa, então eu tive que me aproximar para ouvir. Um truque clássico do livro. Trabalhando no The Down & Dirty, eu tinha visto tudo. — O que você tem para mim? Eu olhei seu terno. Ele estava bem ajustado, mas a parte superior estava ligeiramente desajustada de baixo para cima. Provavelmente algo em liquidação, de duas marcas diferentes com padrões quase idênticos que ele pensou que ninguém notaria que eram diferentes. Mas ele tinha tomado o cuidado de mantê-lo engomado e passível de parecer sob encomenda, o que significava que ele
gostava de manter as aparências de riqueza. Minha aposta era que ele iria atrás de algo chamativo, algo ostensivo que falava de dinheiro, e com o negócio iminente, eu sabia que Fred estava pagando a conta. — Lagavulin single malt. Temos um malte de 37 anos atrás. Ele vacilou um momento, parando para dar uma olhada no caminho de Ranie. Faz sentido. Era uma garrafa de três mil dólares, vendida no clube pelo valor de seis mil. Não era algo que se pedia sem a aprovação do chefe. E eu não tinha dúvidas de que Ranie era o chefe. Eu me forcei a não olhar para o Ranie. — Por conta da casa, é claro. O Sr. Engravatado acenou com sua aprovação e eu tentei suprimir meu sorriso. Fred teria um ataque se soubesse que eu tinha empurrado uma das garrafas mais caras que ele ofereceu em uma conta da casa, mas foda-se Fred. O sorriso passou pelos meus lábios, e quando olhei para a minha direita, Ranie estava me encarando, a cabeça dele se inclinou levemente para o lado e as sobrancelhas dele franziram como se não conseguisse me colocar no lugar. Eu congelei, insegura do que fazer. O que eu deveria ter feito era jogar casualmente e continuar como se nada estivesse errado. Em vez disso, entrei em pânico, girei, e quase corri para o bar, onde arranquei duas garrafas de Lagavulin, o vinho com o custo de mais de um ano de aula na Duke após minha bolsa
de estudos. Não que isso importasse, sendo uma desistente da faculdade e tudo mais. Além disso, isto era Miami Beach, onde a renda média anual era superior a dois milhões de dólares por residência. Doze mil dólares. Centavos. Eles não saberiam a diferença. Procurando no clube por Fred, eu o vi conversando com alguns clientes habituais, então me escondi na sala de descanso. Quando ela passou por mim, eu agarrei a mão de Paula. Dei-lhe o meu melhor sorriso de – não estou fazendo nada de errado. — Me faz um favor? A cautela tomou conta de suas pequenas feições. Ela me conhecia tão bem. — Depende. O que você quer? — Assuma a seção VIP para mim? Seus olhos quase lhe saltaram da cabeça antes que ela se lembrasse de jogar com calma, e eu apostaria qualquer coisa que sinais de dinheiro passaram pela sua cabeça. — Eu fico com as gorjetas? Eu lhe disse. Eu resisti ao impulso de rolar os olhos. — Claro. — Eles já pediram? — Serviço de bar. Duas garrafas de Lagavulin.
Ela fez uma pausa. — Você acha que eles vão dar gorjeta de vinte por cento? Foda-se. Talvez. Ranie era rico e tinha modos suficientes para dar gorjetas grandes, mesmo em garrafas caras. Se ele daria os vinte por cento padrão, eram cento e vinte e quatro dólares que eu estava perdendo. O suficiente para pagar aluguéis, utilidades e parte do aluguel da loja do papai para o mês. Eu deveria sugá-lo e enfrentar meu demônio, mas... — É por conta da casa. — Eu estava me convencendo de que pular fora era uma boa ideia quando eu deveria ter me concentrado em convencê-la. Mas estar
perto de
Ranie
nunca
deixou
de
me
transformar em uma bagunça. Quando criança, tinha sido graças a sentimentos que eu não tinha idade suficiente para entender. Como adulta, eu percebi o quanto eu estava realmente ferrada. Ranie era magnético. As pessoas se cansavam no ginásio, nas salas de aula e no trabalho, tentando ser o que Ranie naturalmente era – inteligente, rico, forte e sedutor. Não era justo que ele chegasse a ser os quatro, mas eu sabia em primeira mão o quão injusta era a vida. Paula riu e deu uma olhada no Fred. — Fred vai odiá-la. Eu encolhi os ombros. — Ele já odeia, mas não vai me despedir. — Eu tinha minha parte de clientes regulares, e isso significava dinheiro estável. A ganância sempre vence no final.
— Espere... esta é a mesa do Hottie McHottie3? — Sim. Ela me olhou como se eu estivesse louca, encolheu os ombros e partiu para a Lagavulin. Talvez eu também devesse ter ido embora. Isso teria sido a coisa mais sensata a fazer. Em vez disso, eu espreitei o lado da sala de descanso, precisando ver Ranie, mesmo que de longe. Ele parecia tão bom quanto antes, se não melhor. Seu guarda-roupa havia amadurecido desde a última vez que o vi. Ele havia passado de jeans de grife e camisetas Henley macias para um terno perfeitamente feito à mão. The Down & Dirty atendia a uma multidão rica. Eu já vi ternos caros antes, mas já fazia um tempo que eu não via um corte tão bonito. As garçonetes e strippers se aglomeravam aos clientes mais bem vestidos do bar, mas eu sabia que era melhor. A quantidade de dinheiro com que alguém estava disposto a usar para si mesmo e a quantidade de dinheiro com que estava disposto a usar para os outros eram duas coisas totalmente diferentes. Foi por isso que eu nunca fui cega pelas roupas vistosas. Tudo o que eu precisava saber sobre um homem, eu podia ver em seus olhos. A partir das emoções que eles tinham.
3
O apelido é como se fosse uma referência a um cara gostoso que consegue todas as mulheres.
Os olhares chamativos eram dos piores garotos da fraternidade e dos homens brilhantes da classe média alta, que sentiam que mereciam o serviço sem a taxa de serviço. Os olhos simpatizantes davam uma boa quantia de dinheiro. Alguns homens entram, veem uma garçonete em um clube de strip, e dão uma boa gorjeta por piedade. O orgulho estava fora da equação há tanto tempo, que eu não me sentia mais suja por causa das gorjetas de pena. Os olhos frios e distantes eram outro bilhete de loteria. Esses caras eram os meus favoritos. Os noventa e nove ponto nove por cento, que não tinham noção do valor do dólar. Pelo que eles sabiam, um galão de leite custava um Benjamin 4, talvez dois, e as centenas que eles empurravam no meu caminho eram facilmente esquecidas. Esses caras nem sempre eram os mais brilhantes, mas havia sinais sutis de riqueza. Sinais sutis que Ranie compartilhou neste momento. Um terno preto, liso, mas feito sob medida, feito de tecido subestimado, mas caro, que poucos podiam pagar. Sapatos de couro italianos escuros, feitos à mão. Uma camisa lisinha. Sem gravata. Dois botões de cima desfeitos. E uma aura distintamente
inacessível,
não
afetada,
como
se
não
importasse quem ele impressionava, porque nenhum de nós, pessoas pequenas, éramos importantes. Como Paula fez seu caminho até ele, ele pediu sem dar uma olhada no cardápio. Outra coisa que as pessoas ricas 4
Um Benjamin é como se fosse uma nota do século, ou seja, uma nota de 100 dólares.
fazem. Quem precisava de um cardápio quando o preço não importava, e você tinha pessoas que se esforçavam para acomodar todos os seus desejos? Enquanto isso, eu fiquei de pé, tremendo na minha babydoll – era muito curta e eu era muito alta. Com um e setenta e cinco de altura, meus saltos me colocavam quase a dois metros de altura. Eu me destacava na multidão, mesmo entre as melhores strippers de Miami Beach. Disseram-me que eu tinha envelhecido bem, meu rosto estava notavelmente livre de rugas. Mas também, eu tinha apenas vinte e cinco anos, quase vinte e seis. Mas isso era antigamente nos anos de stripper – pelo menos aqui, onde a idade média de uma stripper daria a uma assistente social um ataque cardíaco. Eu era magra, mas só porque não tinha condições de pagar muita comida. Meu peito era pequeno, graças à minha mãe, sua mãe e a mãe de sua mãe, que gostavam de transmitir seus genes. E debaixo da peruca, camadas de base, cílios falsos e uma estúpida quantidade de sombra, eu era geralmente a menina loira de olhos azuis que preferia viver a vida descalça e natural. Não porque eu era bonita o suficiente para
todo
o
simplesmente
movimento
#NoMakeUp
não
tempo
tinha
e
e
nem
#NoFilter. dinheiro
Eu para
maquiagem. Meu saldo bancário era menor que a dívida do meu cartão de crédito, e eu mal conseguia pagar as contas. Essa era a minha vida.
Foi assim que o tempo me tratou. Claramente, o tempo amava Ranie mais do que ele me amava. A última vez que o vi, aos dezoito anos de idade, eu pensava que ele era um homem. Eu tinha me enganado. Desde então, ele tinha preenchido sua moldura. Os músculos magros esculpiram seu corpo em uma máquina invejável, indutora de hormônios. Ele ainda era, sem dúvida, rico, embora eu nunca esperasse que isso pudesse... — Para o que você está olhando? Eu me empurrei. — Nada. Fred franziu suas sobrancelhas. — Então, volte ao trabalho. — Mas você disse que eu podia ir embora. — Se você cuidasse do VIP. Mas você não cuidou. — O queixo dele se apertou. — Você empurrou-o à Paula, então termine seu turno. Ótimo. Ao final da noite, meus pés tinham calos, e eu só precisava chegar em casa. Agora. Saí do beco de trás, mancando para o meu Civic de merda, degradante de 89, com meus saltos altos demais que valiam mais do que meu carro. — O que você está fazendo aqui?
Eu congelei. Tinha se aprofundado e amadurecido, mas eu reconheceria essa voz em qualquer lugar. — Eu trabalho aqui. — Por quê? Virei-me lentamente, mais incerta do que jamais havia sido em minha vida. — Boas gorjetas. Não que fosse da sua conta. Meu coração estúpido e tolo bateu assim que meus olhos encontraram os dele. Quatro anos de ódio no colegial não apagaram nove anos de amor, mas, maldição, eu desejava que apagasse. Ele estava encostado na parede de tijolos, braços cruzados, parecendo mais suave e perigoso do que qualquer homem à espreita no beco de um clube de strip-tease tinha o direito de ser. — Besteira. Para que serve um diploma se você está servindo mesas em um clube de strip-tease? Eu cruzei os braços, sem saber porque estava entretendo esta conversa. Por que eu não disse apenas: “Vá se foder”, e saí antes que meu coração fraturado pudesse se despedaçar irrevogavelmente. Sempre parecia estar em prontidão ao redor deste homem. Eu levantei meu queixo. — Não que seja da sua conta, mas eu não tenho um diploma.
— Mas você foi para Duke. — Suas sobrancelhas franziram, e ele parecia quase chateado. Eu não pensei na ideia de que Ranie pudesse ter se importado com o que aconteceu comigo desde que ele me abandonou de sua vida. A esperança inútil e implacável havia me feito uma tola antes, enganando-me repetidamente durante todo o ensino médio, e Carina adulta sabia que não devia confiar em Ranieri Andretti. Se ao menos meu coração pudesse pular a bordo. — E desisti prontamente – Espere. — Eu dei um passo atrás como se a distância pudesse enroscar minha cabeça em linha reta. — Como você sabia que eu fui para Duke? Ele se endireitou da parede e deu alguns passos propositais em minha direção. Minhas pernas vacilaram, divididas entre meu cérebro exigindo que fugissem e meu coração implorando que ficassem. Outra chance! Outra chance! Ele implorou em sua batida estúpida. Somente Ranie ainda podia controlar meu coração depois de tudo o que ele havia me feito passar. Ele alcançou meu cabelo, onde uma mecha loira suja e ondulada havia caído da minha peruca azul. O cérebro finalmente ganhou, e eu dei alguns passos atrás. Ele baixou a mão. — Não era assim que deveria ter acontecido. — O quê?
Ranie voltou a me olhar, mas eu vacilei e dei mais um passo para trás. Olhos verdes de menta me estudaram antes dele se virar, dirigiu-se para a porta do beco e gritou atrás dele: — Eu vou consertar isso. Consertar o quê? Não era assim que eu esperava que nosso primeiro encontro em sete anos se realizasse.
CAPÍTULO TRÊS
Como fumar é para os pulmões, assim é o ressentimento para a alma; até mesmo um sopro é ruim para você. – Elizabeth Gilbert
O tempo cura todas as feridas. Quem inventou essa besteira provavelmente fumou algumas ervas (maconha) em seus dias de folga, depois de se empanturrar de cogumelos. O tempo pode ser uma cadela vingativa. As feridas faziam muitas coisas, mas com certeza não curavam. As feridas inflamavam. Fato. Não importa o quanto você tenta escondê-las, elas deixaram cicatrizes. Cicatrizes feias e salientes. Fato. Deixam
você
vulnerável
para
mais
ferimentos
e
amontoam peso como calouros universitários. Fato. Rompa seu menisco algumas vezes e me diga novamente como você se sente curado em poucos anos, quando seus joelhos rangem a cada passo que você dá, e um único golpe pode deixá-lo aleijado.
Carina Amelia Gallo foi a pior ferida de todas. Daquelas que lhe lembravam que ela ainda estava lá uma vez que você finalmente enganou a si mesmo para acreditar que ela havia sarado. Eu culpei meu coração. O coração era o estúpido, sempre espreitando sua cabeça de vez em quando, fazendo-me pensar se finalmente eu poderia encontrar Carina e fazer as coisas certas. As pessoas achavam que pensar com seu pau era terrível, mas pensar com seu coração era pior. Pelo menos uma ereção podia ser suavizada. Mas não, não o meu coração. Meu coração era um filho da puta duro, tão implacável que me fez pensar onde aquela tenacidade esteve quando eu estava estudando para meus GMATs5. Obrigado por nada, Coração. Eu estava preparado para fazer uma oferta baixa no The Down & Dirty e ameaçar Fred Rollins para a ceder. Eu já fiz isso antes sem remorsos. O Restaurante Bixby Fine. O Hotel Atticus.
O
Complexo
de
Compras
Constantine.
Todos
comprados abaixo do valor de mercado, juntamente com 99,99% dos meus outros negócios de lavagem de dinheiro. Luigi olhou o dossiê na minha mão de seu assento do outro lado da minha mesa. — O pacote vai ser um problema? O pacote.
5
É um teste de admissão para medir a aptidão de uma pessoa formada.
Ah. Declaração do ano. Carina era o pacote inteiro, e outro, e outro, e outro, e outro. Olhos largos, inocentes e inesquecivelmente azuis. Nariz inerte. Lábios rosados e cheios. Bunda de Miami-girl, cintura estreita, e seios não tão grandes e nem tão pequenos, não me importaria de tê-los emoldurados na minha mesa. E por baixo daquela peruca azul ondulada, ondas longas e louras, feitas para puxar na cama. Nenhuma dessas coisas havia sido incluída no dossiê que um dos meus homens havia compilado sobre a atividade de Carina nos últimos sete anos. Alguém sairia com a mão quebrada se estivesse. Eu fechei o dossiê e o empurrei para algum lugar na minha gaveta, onde o recuperaria assim que Luigi e seus olhos curiosos me deixassem em paz. — Não. Sem problema. — Eu peguei minha caneta de assinatura e peguei o contrato que meus advogados impiedosos tinham escrito. — Traga Frank para dentro. — Fred. — Tanto faz. Não importaria em alguns minutos se seu nome fosse Fred, Frank, ou Fuck. Ele estava recebendo vinte milhões dos meus dólares, por um negócio pelo qual eu normalmente pagaria apenas dez, e eu estava recebendo o melhor imóvel de
Miami Beach para lavar o dinheiro Andretti, e Carina Amelia Gallo debaixo do meu polegar. Eu teria pago qualquer coisa por este último.
— Pai, você tem que começar a cuidar melhor de si mesmo. — Coloquei uma tigela de espaguete na frente dele, junto com um garfo. Normalmente eu estocava sua cozinha com comida congelada e passava por lá tantas vezes quanto podia para cozinhar comida de verdade para ele. Esta era minha única saída para exercitar meus músculos de aspirante a cozinheira, e meu pai era teimoso. O indicador e os dedos médios de sua mão direita ainda se dobravam desajeitadamente do trabalho sujo de Luigi, mas papai se recusava a aprender a usar sua mão esquerda. O que significava que coisas, como cortar vegetais frescos e mexer na comida, doem como o inferno, e o bico como sua chef pessoal
não remunerada e a comida de microondas eram minhas melhores apostas para conseguir calorias em seu corpo. Ele não tocou no espaguete. — O que a deixou de mau humor? — Nada. Do que você está falando? — Você tem zumbido pela cozinha como se tivesse substituído seu sangue por bebidas energéticas. Eu suspirei. — Eu vi Ranie no trabalho ontem. Ele suspirou, e uma miríade de emoções – todas indecifráveis – passou pelo seu rosto. — Oh? Como foi isso? Eu era a pior. Meu pai não precisava de um lembrete do que havia acontecido com a mão dele. Ele não precisava me ouvir falar de Ranie. Eu podia desabafar em outro lugar. Era para isso que Brody servia. Eu abanava a cabeça. — Sinto muito. Sei que você provavelmente não quer falar sobre a família Andretti depois de... bem... — Está tudo bem, querida. Fale-me sobre Ranie. Como ele estava? — Ele parecia... o mesmo? Mas diferente. Mais velho. Mais maduro. Mas, ainda Ranie. — Ele a reconheceu? — Papai sabia tudo sobre meu trabalho. Fale sobre embaraçoso.
O que eu digo a isso? Oh, ei, papai. O filho do homem que ordenou que Luigi fodesse seus dedos esperou por mim depois do trabalho. Sabe, no meu trabalho no clube de strip local. E de alguma forma ele sabia que eu tinha ido para Duke. Disse que ele também consertaria sabe Deus o quê. É melhor não dizer absolutamente nada. — Olhe, pai. — Eu enxuguei a última louça molhada. — Vamos falar sobre isso em outra ocasião. Brody está me esperando há dez minutos. Só passei por aqui para ter certeza de que você está comendo. — Eu o beijei na sua têmpora, peguei minhas chaves do gancho de chaves, e a tirei de lá antes que ele pudesse me fazer qualquer pergunta embaraçosa. Eu pensei muito em Ranie ao longo dos anos. Ele foi meu melhor amigo. Meu tudo. E não importava o que acontecesse, eu sempre amaria o garoto que um dia conheci. Mas cada vez que eu esquecia o que havia acontecido, tudo o que eu tinha que fazer era olhar para a mão de papai, e a culpa me sufocava. Ranieri Andretti era meu inimigo. Eu nunca mais me esqueceria.
Eu precisava do meu salário. O aluguel deveria ser pago em poucos dias e, sem meu cheque, eu seria despejada. Era dia, então The Down & Dirty estava bastante vazio, exceto para a equipe, mas ainda não consegui localizar Fred. Eu me aproximei de Paula. — Você já viu o Fred? — Você ainda não soube? — A excitação iluminou o rosto dela. — O quê? — Fred vendeu o clube. Adivinhe isto... — Oh, não. — Hottie McHottie comprou-o. Simplesmente ótimo. Eu queria ficar surpresa, mas não fiquei. Eu sabia que era inevitável assim que Fred insinuou que Ranie era um comprador em potencial. — Você sabe onde ele está? Preciso do meu cheque. Ela acenou para o escritório, e quando eu saí, ela gritou: — Lembre-se! Eu disse dibs! Eu engoli meu orgulho e bati na porta do escritório. — Entre. — Se ele engarrafasse aquela voz sedosa e rica, ele poderia vendê-la por muito mais de um milhão de garrafas de Lagavulin finamente envelhecidas. Ele tinha aquele velho e macio sotaque sulista raramente ouvido nessas partes da Flórida, e se eu pudesse me comunicar com os mortos, eu
agradeceria ao pai de Ranie por deixar cair o sotaque italiano que seu bisavô tinha e adaptar o do Sul. Ou talvez eu o amaldiçoasse por isso, porque isso me deixava fraca de joelhos, e meus joelhos estavam muito perto do meu coração para me confortar. Abri a porta, e não importava quantas vezes eu tivesse visto Ranie de infância, nada poderia me preparar para Ranie adulto. Dei um passo adiante, passando pela porta até onde eu ousava. O que foi meio passo. — Eu preciso do meu salário. Ele pegou um talão de cheques, e eu esperei sem jeito enquanto ele o preenchia. Ele segurou o cheque para mim e eu o peguei sem olhar, cuidando para não tocar nossos dedos antes de eu sair o mais rápido que pude. Quando finalmente cheguei na calçada, ainda não suficientemente longe dele, olhei para o cheque e franzi o cenho. — Que porra é essa? — Voltei para o escritório, abri a porta sem bater, e acenei com o cheque no ar. — Que diabos é isto? — Seu cheque de pagamento... — Há um zero a mais atrás dos duzentos. Ele estendeu sua mão. Eu lhe dei o cheque e bati meu pé impacientemente enquanto ele o consertava. Quando ele me devolveu, eu quase lhe joguei o cheque de volta.
— Vinte mil dólares?! Você está falando sério? Duzentos. Esse é o meu cheque de pagamento. Não dois mil e, certamente, não vinte mil. Ele encolheu os ombros. — Qual é o problema? Eu atirei o cheque para ele. — Eu não preciso do seu dinheiro de piedade. Apenas me dê o que eu trabalhei para que eu possa ir embora. Ranie ficou de pé, contornou a mesa e se aproximou de mim. Eu dei um passo atrás e outro até que fui pressionada contra a porta. Ele alcançou a minha mão, soltando facilmente os punhos em que haviam sido enrolados. Tocando-o novamente, senti como se estivesse descendo de uma rodovia com sirenes soando à distância. Tinham se passado onze anos. Eu não o sentia desde aquele dia na loja do meu pai quando ele enrolou o braço na minha cintura e me impediu de ajudar o meu pai. Eu tentei me afastar dele. Tentei empurrar para fora aquele seu cheiro de groselha negra, bergamota italiana, maçãs francesas, abacaxi real, rosas, amadeirado, jasmim marroquino, patchouli, almíscar, carvalho, âmbar-cinzento, e um pouco de baunilha. Mesmo todos esses anos depois, ele ainda usava a mesma loção pós barba, e eu ainda poderia listar cada ingrediente melhor do que os químicos poderiam citar a tabela periódica. Eu ainda tinha a garrafa meio vazia que eu tirei de seu
banheiro durante aquele verão antes do colegial, e nunca consegui resistir a um cheiro, mas cheirava melhor nele do que na garrafa. Patético, patético, patético. Ele colocou algo em minha mão e enrolou meus dedos ao redor dele. O cheque. Puta merda. Eu tinha basicamente vinte mil dólares na minha mão. Mas não importava o quanto eu precisasse, eu nunca poderia descontá-lo. Droga. O orgulho era uma coisa tão inconstante. Eu o senti murchar, ferido quando me lembrava do meu pai. Eu podia passar fome sem piscar um olho, mas permitir que o pai sofresse não era insondável. A verdade era que nós dois precisávamos desse dinheiro. Eu apertei o cheque, movimentei-me, e saí sem dizer uma palavra. Não que eu estivesse mantendo o controle, mas parecia uma outra perda. Pouca coisa havia mudado nos últimos sete anos. Eu ainda era a conquistada e Ranie era mais uma vez o conquistador. Mas não da próxima vez. Não havia nenhum valentão do colegial à vista, e eu era uma mulher crescida, de rua, mais do que capaz de cuidar de mim mesma. Ranie descobriria isso. Ranie aprenderia muitas coisas, nenhuma das quais me incluía ajoelhando diante dele. Se ele quisesse voltar à minha vida depois de todos estes anos
e atirar dinheiro de piedade em mim como se eu fosse seu caso de caridade pessoal, ele tinha outra coisa a seu favor. Ranie: 1. Carina: 0. Mas mesmo com a pontuação. ...e eu ganharei.
— Para onde você está indo? — Luigi chamou atrás de mim. Eu parei no terraço por respeito, mas não me virei para enfrentá-lo. Em vez disso, eu peguei a vista do jardim e do labirinto que Carina e eu costumávamos brincar quando éramos crianças, quando papai não se preocupava em dizimar minha amizade com ela. Eu o amaldiçoava e sua volontà del re. Em italiano era a vontade do rei – o desejo moribundo do chefe da máfia ao seu antecessor. E até que eu cumprisse a volontà del re de meu pai, eu não podia nomear meu próprio consignatário e estava
preso ao seu, Luigi. O problema era que eu não sabia qual era a sua volontà del re, e Luigi não me dizia. — Eu vou confrontá-lo. Minha mão agarrou o corrimão com mais força. Miami Beach era uma cidade de milionários e bilionários, mas eu tinha os melhores imóveis, uma das maiores rendas, e a maior potência. Eu controlava tudo o que acontecia nesta cidade. Ou assim eu pensava. As pegadas de Luigi soavam vagamente atrás de mim. — Nada de bom virá do confronto com Piero Gallo. Voltava sempre para o pai de Carina. Eu respeitava o homem. Sempre o fizera. Que era a única razão pela qual ele ainda estava vivo depois de estar consistentemente no meio de todos os meus problemas. — Isto começou com ele. E termina com ele. Luigi se aproximou de mim até que ficamos lado a lado, olhando para o labirinto de sebes. — Termina? — Não por morte. — Carina nunca me perdoaria. — Mas isto precisa acabar de alguma forma. — Não por falar com o Sr. Gallo. Eu me voltei para enfrentá-lo, examinando-o de uma forma que normalmente fazia os homens menores vacilarem. — Ele está de alguma forma envolvido na volontà del re?
— Não. Isto é apenas um conselho de seu consignatário. Sugiro que você o aceite. Seus lábios se curvaram, e eu observei como seus traços envelhecidos se enrugavam enquanto ele sorria. Ele parecia bem para sessenta, mas isso não me enganou. Ele já deveria ter se aposentado, e eu quase me senti mal em tirar meu doce traseiro de cumprir a vontade do rei. Quase. Ele falou novamente: — Houve um tempo em que um chefe ouvia seu consignatário. — Houve um tempo em que os patrões podiam escolher seus consignatários. — Cumpram a volontà del re, e você pode. Eu me movi, terminei com esta conversa. As pessoas geralmente eram descartáveis. No final, ou o desapontavam, ou o traíam, ou ambos. Niccolaio tinha me ensinado isso quando ele matou nosso tio e se juntou à família Romano. A vida simplesmente confirmou sua lição uma e outra vez. Eu amava Luigi como um pai. Mas as opiniões dele não eram tão importantes quanto as minhas. Não se tratava de uma vida de homens, cheia de experiências mundanas. Esta era a família Andretti. O império Andretti. E neste mundo, eu só podia confiar em uma pessoa – em mim mesmo. E isso significava que eu tomava minhas próprias decisões.
Eu enfrentaria Piero Gallo, e conseguiria o que queria. A filha dele.
CAPÍTULO QUATRO
O tempo não sara todas as feridas, somente a distância pode diminuir a picada delas. – Shannon L. Alder
Gallo chegou ao The Down & Dirty precisamente na hora certa, em ponto. Ainda a garota pontual que eu conhecia há tantos anos. Eu me perguntava o que mais seria o mesmo. Será que ela ainda era engraçada? Inteligente? Mal-humorada? Responsável? Confiável? O tipo de garota que se importava mais com os outros do que com ela mesma? Ela não me deu tempo para contemplar, pois fez seu caminho direto para mim, determinação evidente em seus olhos azuis-marinhos do Caribe. O propósito naqueles olhos grandes como bolinhas de gude fazia meu pau tremer, a peruca azul me fez reconsiderar minhas fantasias, e seu rosto sem nada era a cereja no topo da mulher mais quente que eu já havia visto em minha vida – passado, presente e futuro. — Olha, — ela colocou as mãos em seus quadris, — Você é meu chefe, mas não vamos tornar isso esquisito. Eu sorri. — Como você está fazendo agora mesmo?
Ela me ignorou. — Conversamos quando o trabalho requer, e quando não requer, ignoramos um ao outro. Entendeu? Não. Não entendi. Se ela quisesse me ignorar, ela tinha outra coisa vindo para ela. Eu. Eu inclinei minha cabeça e apreciei aquela fachada de durona que ela usava tentando tanto me convencer. — Você realmente acha que... Ela se virou e saiu para o vestiário. Ela. Porra. Saiu. Luigi se aproximou de mim ao meu lado. — Ela vai ser um problema? — Não. Ela era o oposto de um problema. Se alguma coisa, todos, menos ela, eram um problema. Incluindo Luigi. Eu me virei para enfrentá-lo. — Por que você está aqui? — Tinha que ver por mim mesmo. — Ver o quê?
— O chefe da família Andretti dirigindo um clube de strip. — Ele olhou para o clube, torcendo o lábio com desdém. — Santi foi pego hoje. Merda. Santi tinha sido enviado para a fronteira AndrettiRomano em Maryland. Era um território perigoso para patrulhar e, portanto, um castigo adequado por foder minha prima e largar sua bunda no dia seguinte. Rastreei meu maxilar com meu polegar. — Ele está bem? — Ele vai viver. Não será cem por cento, mas ele viverá. Mensagem entregue. Enquanto eu dirigia um clube de strip, que eu deveria ter passado para um dos meus caporegimes, meus homens estavam fazendo seu trabalho e levando balas. Este “The Down & Dirty” não era nem mesmo um trabalho para o qual meu sub-chefe estivesse apto. Mas ao ver Carina Gallo naquela noite, todos os meus planos mudaram. Eu a queria, e ela estava aqui. A matemática me pareceu simples.
Dez anos atrás — Você tem certeza de que vai ficar tudo bem? — Eu puxei meu vestido vermelho-sangue, o único que eu tinha. Ranie o tinha comprado para mim no meu aniversário no verão passado. Um mês antes do que tinha acontecido na loja do meu pai. Era o segundo ano, e esta foi a minha primeira vez usando-o. Eu teria escolhido outro vestido se tivesse dinheiro para isso, mas... bem, eu iria para a faculdade, conseguiria um emprego, e coisas como dinheiro para um vestido seriam um pensamento posterior. Brody me abraçou com o braço em volta dos ombros. — Vai ficar tudo bem. Confie em mim. Eu fiz. Na verdade, confiei. Durante o último semestre do primeiro ano e durante todo este primeiro semestre do segundo ano, Brody esteve lá para mim. Todos. Os. Dias. Eu pensava que ele duraria alguns dias. Talvez uma semana, no máximo. Em meus sonhos mais loucos, eu não poderia ter previsto que ele me apoiaria por um ano inteiro. Pela primeira vez desde que eu
e
Ranie
seguimos
caminhos
diferentes,
eu
genuinamente esperançosa para o meu futuro. — Está bem. Não sei porque estou tão nervosa. Mentira.
estava
Estava nervosa porque esta era a minha primeira festa do colegial e estava tecnicamente estragando tudo. Brody tinha sido convidado, mas não eu. Nunca eu. Brody e eu subimos a entrada, eu em meu Chuck Taylors e vestido com decote V profundo e ele em seu jeans ajustado e uma camiseta branca. Ele manteve seu braço pendurado no meu ombro, levando meu corpo distraído até a escadaria da frente para as enormes portas duplas enquanto eu entrava na mansão com os olhos bem abertos. Eu estive na propriedade de Ranie muitas vezes, mas isso foi há cerca de cinco anos atrás quando éramos crianças, e o pai dele ainda tolerava nossa amizade. Esta mansão era menor do que a de Ranie, mas ainda assim era impressionante. O tipo de monstruosidade espaçosa, branca e dourada típica dos mega-milionários de Miami Beach. Brody apertou seu braço ao meu redor, puxando-me para mais perto de seu corpo em uma tentativa fracassada de me confortar. — Você está tremendo. — Não se preocupe comigo. — Contei até dez em minha cabeça, forcei-me a acalmar e empurrei as portas duplas de mogno. Os “Seventeen Forever” do Metro Station pulsavam dos alto-falantes embutidos em toda a casa. Álcool caiu sobre as calças jeans do Brody enquanto empurrávamos nosso caminho
através da multidão indisciplinada. Chegamos à cozinha, onde ele tirou algumas fotos, e eu peguei no refrigerador um vinho. Brody e eu estávamos dançando quando vi Niccolaio. Fizemos contato visual, e a multidão se separou enquanto ele se aproximava de mim. Eu dei um passo atrás, e minhas costas encontraram o peito de Brody. Ele deslizou seu braço em torno de mim e estabilizou meu corpo. Niccolaio olhou o braço de Brody ao redor da minha cintura. — O que você está fazendo aqui? Eu estreitei meus olhos e inclinei o queixo para cima. — Olá para você também, Niccolaio. Por que você está me tratando assim? Ele suspirou e observou a multidão curiosa antes de baixar sua voz. — Veja. Meu irmão está por aqui em algum lugar. — Ele olhou novamente para Brody, depois voltou os olhos para os meus. — Ele podia vê-la a qualquer momento. — Como isso é problema meu? — Apenas... ele tem muito em que pensar. Você não entenderia. Eu cruzei meus braços. — Eu faria se ele não tivesse me deixado como amiga dele. — Eu suspirei e olhei para Brody, a adrenalina e meu humor de festa já se foram. — Podemos ir embora? Eu não quero mais estar aqui.
Brody aumentou seu aperto na minha cintura. — Você tem certeza? Eu acenei, irritada com a satisfação que se desenrolava no rosto de Niccolaio. Eu sabia que ele não era uma pessoa má, e o que quer que estivesse fazendo, ele provavelmente achou que era o melhor para seu irmão, mas foi às minhas custas. E isso doía muito, vindo de alguém que eu conhecia a vida inteira. Brody soltou seu aperto na minha cintura e, juntos, abrimos caminho até a porta. Alguém esbarrou em mim, enviando-me para o corpo de Brody. Ele passou um braço protetor sobre meus ombros, e eu me inclinei para dentro dele, na esperança de evitar qualquer contusão da multidão. Eu fiquei de olho em Ranie. Apesar do que havia se desdobrado no último ano e meio, eu o olhava de qualquer maneira. Patético, sim, mas eu ainda me importava com ele. O amor não desapareceu da noite para o dia. Eu congelei quando passamos por Ranie ao lado da porta. Ele tinha uma garota pressionada contra a parede, seus lábios escovando contra o pescoço dela. Lacy. Ela riu enquanto me viu. Ela inclinou a cabeça para cima e sussurrou algo em seu ouvido. Ranie virou-se para me encarar, seus olhos encarando o vestido antes de pousar no braço de Brody ao meu redor. Eu me senti nua diante dele, e vestindo este vestido – o vestido
dele – pareceu-me uma ideia pior do que eu já havia pensado que era. Ele me bebeu sem palavras por mais um momento antes de voltar para enfrentar Lacy, dispensando-me como se eu não fosse nada. Nem seu passado, nem seu presente, e certamente, não seu futuro. Ele descansou sua palma sobre o quadril dela, e meu coração parou. Ele enrolou uma mão ao redor da nuca delgada dela, e minha alma se fraturou. Ele pressionou seus lábios contra os dela, e eu fiquei destroçada. A esperança. A fé. A coragem. Tudo se foi. Em seu lugar estava a decepção. O estúpido era que eu sabia melhor. Eu merecia mais. Eu nunca entenderia porque Ranie, o melhor cara que eu já tinha conhecido, não podia me dar isso, mas eu não ia me contentar com menos do que eu merecia. Não havia futuro para o Ranie e para mim. Isso ficou claro.
Em casa, rasguei aquele estúpido vestido vermelho e o joguei na lata de lixo. Por mais que eu tentasse, não conseguia superar a sensação de Ranie em mim. Ele não tinha me tocado esta noite, mas estava em todos os lugares. Tudo nesta sala – neste maldito apartamento – fazia-me lembrar dele. Eu precisava sair daqui. Agora. Eu me enfiei num par de jeans skinny rasgados, joguei um agasalho de capuz sobre minha cabeça e escorreguei nos meus Chucks. Em uma decisão de última hora, peguei o vestido vermelho, sabendo que, se o deixasse no lixo, eu o pegaria e o devolveria ao seu cabide no meu armário, onde ficaria tirando sarro de mim por anos e anos. Assim que cheguei ao parque próximo, joguei o vestido no caixote do lixo mais próximo e rastejei até o topo do brinquedo do parquinho público. Deitei-me sobre o metal barato revestido de plástico, olhando para o céu noturno. Nem Miami Beach nem North Beach tinham sido boas para mim, mas eu não podia odiar seus céus estrelados. A chuva quente caía sobre mim como um chuveiro quente demais, obscurecendo minha visão. Uma sombra descansava sobre meu rosto, e eu comecei a disparar para cima até que
um cheiro familiar me atingiu o nariz. Ranie baixou seu capuz e se deitou ao meu lado. Eu deveria ter me movido. Eu tinha acabado de prometer nunca me contentar com menos do que eu merecia. Para eviscerar qualquer esperança que eu tinha de um futuro para Ranie e para mim. A mesma esperança que alimentou minha infância, pois me apaixonei cada vez mais por ele, apesar da zona de amigos em que nós tínhamos colocado firmemente desde o início. Mas, maldito seja, se aqueles Pop Rocks não me deixaram com uma bagunça no estômago com seus estúpidos e caóticos saltos. Fechei os olhos, desfrutando da sensação de chuva que me salpicava o rosto. — O que você está fazendo aqui? A voz dele patinou sobre minha pele e afundou nos meus ossos, deixando sua marca. — Passei por sua casa e entrei no seu quarto, mas você não estava lá. Imaginei que você estivesse aqui. Não estava perdido em mim como ele me conhecia bem. — Responda minha pergunta. Por que você está aqui? — Eu…— Ranie sem palavras não era um Ranie que eu conhecia. Ele se deslocou e eu pude sentir seu hálito alaranjado de Tic-Tac na minha bochecha. — Você sabe que eu te amo, certo?
Meu coração tremulava, mesmo sabendo que ele não queria dizer esse tipo de amor. — Certamente não me pareceu. — Você não entende. É... complicado. — Descomplique isso. — Eu peguei suas mãos e olhei-o nos olhos, pedindo-o para se abrir para mim. — Ajude-me a entender. — Não podemos ser amigos. — Não essa besteira de novo. — Virei-me para o meu lado, então me afastei dele. — Se você não vai me dar uma explicação, então vá embora. Apenas vá embora, Ranie. — Vamos lá, Gallo. Gallo. Como se fôssemos amigos novamente. — Você não pode aparecer do nada depois de um ano e meio me ignorando. — Eu respirei fundo, tentando forçar a emoção a sair da minha voz. — O que você quer de mim, Ranieri? — Eu... — Ele agarrou minha cintura e me virou para enfrentá-lo. Eu quase chorei ao sentir o seu toque novamente. Era como a chuva depois de uma seca. Comida depois de um jejum. Amor eterno depois de um coração partido.
Seus punhos se agarravam como antigamente, quando ele se segurava para não fazer nada. Minutos passaram antes que seus dedos se desdobrassem lentamente, e ele alcançou meu rosto. Ele puxou uma mecha de cabelo molhada atrás da minha orelha, arrastando o movimento o máximo de tempo humanamente possível. — Posso te beijar? — O quê? A respiração dele provocou meus lábios. — Posso te beijar? — Ele repetiu, como se não tivesse perdido tanto tempo me ignorando. Minha respiração tremeu, e eu engoli o máximo de emoção e indignação que pude. — Eu mereço melhor. — Sim, você merece. Você merece tudo. Ele pressionou seus lábios contra os meus, esmagandoos em mim como se pudesse empurrar nove anos de amor em um só beijo. Eu abri minha boca para dizer “Como você se atreve?”, mas ele escorregou sua língua pelos meus lábios. E o estúpido e tolo coração embaçou meu cérebro sem sentido, até que eu devolvi seu beijo, meu coração na garganta, ao encontrar sua língua com a minha, precisando estar mais perto dele. Foi o meu primeiro beijo. E foi descuidado, molhado, aquecido e perfeito. Ele respirou em minha boca, e eu o engoli, tentando absorver o máximo dele que pude. Era uma noite úmida sob as estrelas. O Tic-Tac laranja usado como moeda.
Risadas dos domingos de espaguete na cozinha. Éramos nós, e eu estava tonta. Com vertigem. Sem fôlego, como a chuva úmida que grudava o meu cabelo ao seu rosto, escorregava entre nós e empilhava umidade sobre nossa pele encharcada, como pequenas amantes acariciando-as umas às outras. Ele me virou de costas e se deslocou, então pairou sobre mim, seu corpo inteiro colado ao meu enquanto sua língua acariciava o céu da minha boca. Eu queria mais. Precisava de mais. Passei meus dedos debaixo de sua camisa, explorando as bordas duras de cada músculo abdominal, mais definidas do que eu havia me lembrado que eram. Os trovões dispararam pelo céu, e momentos depois, seguiram-se relâmpagos. Nós nos afastamos, e Ranie olhou para o céu como um lutador de olho no seu maior rival. — Deveríamos entrar. Eu a acompanho de volta ao seu apartamento. Eu hesitei, querendo prolongar isto... o que quer que isto fosse. — O que acontece agora? Os nós dos dedos dele escovaram levemente minha bochecha, e ele os deslizou pelo meu rosto até chegar ao meu queixo. Com seu polegar, ele empurrou meu lábio inferior para baixo, separando meus lábios. — Pergunte-me o que eu quero. Eu falei ao redor de seu polegar, minha língua escovando levemente contra sua pele com cada palavra: — O que você quer?
— Você. Ele pressionou seus lábios contra os meus para dar mais um beijo. Foi curto e doce, e assim, tão certo. Ele me empurrou, ficou de pé, e me ajudou a levantar. De mãos dadas, ele me acompanhou de volta para casa, como ele teria feito naquela época. Eu estava sorrindo no dia seguinte, quando chegou a hora do almoço. Voltei-me para Brody, que me observou como se eu tivesse acabado de brotar uma coroa e declarado esta escola meu território. — O quê? Ele balançou a cabeça, um sorriso leve enfeitando seus lábios. — O que te deixou toda sorridente? — Nada. — Mas o sorriso nunca saiu do meu rosto enquanto
esperávamos
na
fila
para
a
comida,
e
eu
discretamente fiz uma varredura na cafeteria por Ranie. Como de costume, conversas se prolongaram enquanto ele e Niccolaio entravam na sala. Seus olhos pegaram os meus, permaneceram em Brody e voltaram para Niccolaio. Eu esperei que ele se aproximasse de mim. Para acenar. Reconhecer-me. Qualquer coisa depois daquele beijo. Em vez disso, ele tomou um lugar entre Niccolaio e Lacy e me ignorou. O mesmo no dia seguinte. E no dia seguinte.
E no dia seguinte. Ranie tinha razão naquela noite, ele tinha roubado meu primeiro beijo – eu não entendi. Mas eu entendi que tínhamos acabado antes de começarmos.
CAPÍTULO CINCO
A culpa é a raiva dirigida a nós mesmos – com o que fizemos ou não fizemos. O ressentimento é raiva direcionada aos outros – no que eles fizeram ou não fizeram. – Peter McWilliams
Presente — Qual é o inferno do seu problema? — Gallo entrou em meu escritório, sem ser convidada e sem aviso prévio. O sutiã de renda revelador e a calcinha colada em sua pele me deixou duro em um instante. Empurrei minha cadeira mais abaixo da escrivaninha, e eu com ela, enquanto ajustava minha ‘madeira’6 debaixo da, bem, madeira. — Sabe, para alguém que insiste tanto em me ignorar, com certeza está fazendo um trabalho horrível. —
Eu
adoraria
ignorá-lo,
Ranieri.
Eu
realmente,
realmente adoraria. Mas quando você faz merdas como esta, — ela acenou uma folha de papel no ar, — é muito difícil, porra.
O personagem usa a expressão “wood” que significa ereção, mas a palavra também pode significar madeira. 6
Isso foi uma, duas, três palavras de maldição desde que ela entrou. Foi engraçado. Eu sorri, arranquei a folha de papel da mão dela, e o segurei. Ela tinha impresso o e-mail que eu lhe enviei ontem à noite. É claro, ela tinha. Ela era dona de um telefone da era Backstreet-Boys. Provavelmente não tinha nem internet, muito menos e-mail. Eu entreguei de volta o papel e desviei meu olhar para a tela da minha área de trabalho, assim não tive que ficar olhando para a tentação em lingerie. — Qual é o problema? Ela arrancou-o dos meus dedos. — O problema é você. Quem você pensa que é, dizendo-me que eu não sou mais uma garçonete aqui? — Eu sou seu chefe. E você foi promovida a gerente. — Eu devolvi meu olhar para ela, e foda-se, ela era linda. — Não é como se eu tivesse te despedido. — Eu não ganhei essa promoção. — Ela cruzou os braços, e os seios dela saltaram no movimento. Meu olhar permaneceu por um segundo muito tempo antes de eu levantar os olhos para os dela. — Eu acho que você merece. — Ninguém mais pensa isso. As pessoas já estão falando. — Que se fodam as pessoas. Você e eu sabemos que nenhum deles importa. — Um brilho malicioso cintilava em meus olhos e eu não conseguia segurá-lo, mesmo que quisesse. E eu não queria. — O que eles estão dizendo?
— Uggggh! — Era adorável como ela estava nervosa. Realmente. Eu estava sorrindo mais do que jamais havia sorrido desde... bem, desde que éramos amigos. — Eles estão dizendo que estamos fodendo, não estão? — Não é engraçado, Ranieri Luca Andretti. — Ela se lembrou do meu nome do meio. Eu estava radiante. — É um pouco engraçado. — A irritação nos olhos dela aumentou, mas foi tão cativante, que mal consegui me acalmar. — Quer que eu esclareça as coisas? — Como? Eu apontei para a porta. — Eu poderia sair agora mesmo e anunciar que não estamos fodendo, mas gostaria que estivéssemos. Ela fez uma careta. — Você pode deixar esclarecer as coisas, devolvendo-me meu antigo emprego. — Não vai acontecer, Gallo. — É Carina para você. Pare de agir como se ainda fôssemos amigos, Ranieri. — Seria tão ruim se fôssemos? — Sim. — Ela deu um passo atrás, distanciando-se o mais longe de mim que a sala permitiria. — Porque num segundo seríamos perfeitamente felizes e no segundo seguinte
o tapete será arrancado de debaixo de mim e eu ficarei consertando um coração partido. — Eu fiz, Gallo? — Carina, — ela corrigiu. — Responda à pergunta. Ela cruzou os braços, a postura defensiva anulando a minha diversão. — Você fez o quê? — Eu quebrei seu coração? Ela me encarou diretamente nos olhos, seu orgulho tão inabalável quanto sua determinação de me odiar para sempre. — Você o eviscerou. Minha mandíbula se apertou. — Sinto muito. Eu quero dizer isso. — Talvez você sinta. Não muda nada. — Você alguma vez vai me dar outra chance? — Apenas me dê meu antigo emprego de volta. — Não. — Eu olhei para o conjunto dela. — Seja minha gerente. Será que eu a queria fora dessas roupas que deixavam tudo a mostra? Em público, sim. Será que eu a queria aqui, ao meu lado? Claro que sim.
E ela teria um salário mais alto e um melhor ambiente de trabalho. Eu poderia lidar com os rumores, fazer com que todos calassem suas bocas idiotas. Por que isso era, sequer, uma discussão? Ela inclinava o queixo para cima. — Não. Há muito mais dignidade lá fora com uma bandeja de garçonete do que aqui dentro com você. — Ela se virou e saiu porta a fora. Certo, então ela ficou brava. Ela tinha todo o direito de estar. Mas eu a descongelaria. Eu sabia o que queria. Eu sempre soube. E eu estava finalmente em condições de persegui-la. — Espera, o quê? — Brody balançou a cabeça, incrédulo em cada respiração. — Pensei que tínhamos acabado com aquele cara quando nos formamos no colegial. Eu gemi. — Nós acabamos, Brody. Eu tinha acabado de informá-lo sobre Ranie comprando o clube e minha promoção não merecida. Eu não queria que ele se preocupasse – ele sempre se preocupou – mas as vantagens de ter um melhor amigo era ter alguém para ajudála a suportar as porcarias da vida. Eu não mencionei como meu coração ainda se lembrava de Ranie como se ele estivesse impresso no meu corpo. Como eu me peguei tentando dar uma olhada nele ao terminar meu último turno como garçonete.
Será que eu estava feliz por parar de desfilar no The Down & Dirty em lingerie diante de olhares de desagradáveis? Claro que sim. Mas eu não entendi os motivos de Ranie. Ele poderia ter me tido quando éramos adolescentes. Tudo o que ele tinha que fazer era pedir. Ao invés disso, ele me ignorou durante todo o ensino médio e, por sua vez, eu fui intimidada dia após dia. Agora, ele estava de volta, e esperava que eu, de repente, ficasse bem? Meu coração pode ter sentido falta dele, mas meu cérebro não. Brody me atirou uma camisa. Eu a peguei. Estava velha, desleixada e tinha buracos em lugares onde não deveria haver buracos. — Você está falando sério? Eu estudei Brody. Ele tinha cortado seu cabelo louro há algumas semanas, e agora estava cortado num corte de cavalheiro, como a versão Fantastic Sam7 do penteado de Ranie. Brody tinha crescido em sua estrutura alta, e ele podia ser modelo ao luar. Tive pessoas ao longo dos anos me perguntando por que nunca fui para Brody. Talvez eu devesse ter pensado nisso. Eu amava o Brody. Eu realmente amava. Mas eu não o amava dessa maneira. Quando olhava nos olhos verdes de Brody, tudo o que via era como eles não eram tão vívidos quanto os olhos verdes de Peter-Pan de Ranie.
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É a maior rede americana de serviços completos de cabeleireiros nos EUA e no Canadá.
Mas, em momentos como estes, eu suspeitava que Brody gostava de mim. Atirei a camisa de volta para Brody. — Você pode me encontrar uma camisa que não me faça parecer uma sem-teto dos anos oitenta rejeitada? Ele me deu a pior peça do meu armário a noite toda. Ele claramente não queria que eu fosse nesta viagem de negócios noturna com o Ranie, mas não era como se eu tivesse muita escolha. Ranie não tinha cedido, e a falta de desistir, o que era inaceitável, fez de mim sua gerente. Aparentemente, ele estava procurando expandir The Down & Dirty para South Beach e queria que eu o acompanhasse em procuras a um imóvel. — Por que você está indo, C? — Eu já lhe disse. Apenas um ano deste salário, e eu posso colocar a loja do pai de volta nos eixos e talvez sair desta cidade sugadora de almas. — Eu estava recebendo um salário de seis dígitos, mais do que receberia em cinco anos trabalhando como garçonete no The Down & Dirty. — Ei, eu vivo nesta cidade sugadora de almas. — Eu o visitaria, é claro. — Enviei um sorriso em sua direção. — Ou você é sempre bem-vindo para vir comigo. Ele arqueou uma sobrancelha. — Só um ano? — Um ano, — eu jurei.
Quão difícil poderia ser?
Dez anos atrás. Desliguei o telefone na cara de Niccolaio. Ele estava no meio de uma frase, mas eu não estava com disposição para as suas besteiras. Era o mesmo velho discurso “fique longe da Gallo” que me irritava durante os últimos dois anos. Ao crescer, eu já tinha ouvido o suficiente do meu pai. Eu não precisava disso de Nick também. Um sênior aleatório combinou com meus passos. — Onde vamos hoje à noite? — Será que ele não percebeu como era patético idolatrar uma criança de quinze anos? Dificilmente tinha colocado um pé em solo Diavolo High e meu status de rei já tinha sido cimentado para o novo ano. Típico. Deveria ter sido o trono de Niccolaio, mas, de alguma forma, ignorando todos e geralmente não ligando para nada,
eu me tornaria o evasivo e misterioso bad boy de uma das histórias do Wattpad de Gallo e da coroa roubada de Nick. Eu não a queria, mas ele também não a queria. Então, onde isso me deixou? Ser perseguido por minha marca pessoal de groupies, como Justin Bieber em uma turnê esgotada. Ele era outro dos prazeres secretos de Gallo, e como se eu precisasse da lembrança dela, ela passeava pelo corredor, parecendo mais gostosa do que qualquer garota de macacão tinha o direito de ser. Eu me lembrava disso. Eram minhas da peça de teatro da escola que vestimos na sexta série. Um dos ombros havia sido deixado propositadamente desabotoado, expondo um cropped curto rendado que ela não tinha o direito de usar. Ela apertou a cintura e os cortou em shorts curtos, e suas pernas longas espreitavam por baixo do tecido jeans. Foda. Me. Brody se aproximou dela por trás e cobriu seus olhos como se fosse o Chad Michael Murray fazendo uma audição para um RomCom (comédia romântica) de grau B. Um sorriso se espalhou pelo rosto dela, e ela riu de algo que ele disse. Seus seios pequenos, subindo a cada risada, e eu o peguei olhando para eles sob a renda da camisa dela. Bastardo. Um sorriso tocou meus lábios. Eu me perguntava como ele se sentiria se soubesse que, todo esse tempo depois, minha
garota ainda usava minhas roupas. Ela arrancou as mãos dele – boa garota – e quando ela abriu os olhos, eles pousaram nos meus. Alguns metros e um oceano de miséria nos separaram, mas ela me pegou olhando fixamente. Foda-se. Ela segurou meu olhar. Olhe para longe. Olhe para longe. Olhe para longe. Eu não sabia quem eu estava implorando – eu ou ela? — Então... para onde estamos indo de novo? — Perguntou o sênior novamente. Salvar a pele claramente não era o seu forte. Agradecido pela interrupção, eu me voltei para ele e enfrentei a multidão que se reunira ao meu redor, como peixes famintos que caçam camarões, assim como os que Gallo e eu costumávamos atirar em lagos. — Uma festa. Sempre a oportunista, Lacy se inclinava para dentro de mim e falou: — Minha melhor amiga está dando uma. — Ela cutucou uma menina. — Certo? A pobre garota guinchou e acenou com a cabeça como as bonecas bobblehead8 que Gallo e eu costumávamos roubar da loja do pai dela quando tínhamos oito anos. — Tanto faz.
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Essa boneca tem a cabeça maior que o corpo e ficam balançando para frente e para trás.
Eu não me importava quem fazia a festa, desde que Gallo não estivesse lá. Porque, se eu a visse usando algo meu novamente, nem mesmo um furacão poderia arrancar minhas mãos dela.
Presente. Ele me pegou no parque, onde havíamos compartilhado nosso primeiro beijo. Provavelmente não foi a melhor das ideias, mas meu pai tinha passado pelo meu apartamento, e enquanto morávamos em unidades próximas um do outro, eu não podia expulsá-lo. E entre papai me pegar com Ranie e eu me encontrar no parque, eu escolhi o último. Ranie ficou em frente ao parquinho, olhando para o lugar onde eu dei meu primeiro beijo há tantos anos. Aproximei-me dele o mais silenciosamente que pude por trás, mas com minha velha mala sendo puxada atrás de mim, interrompi a noite tranquila.
Ainda assim, ele olhava fixamente para aquele lugar, mesmo quando eu estava ao seu lado. Aquele beijo havia me assombrado durante a última década, e eu não precisava ficar em frente ao parquinho público ao lado do objeto de meus desejos para me lembrar dele em alta definição. Por isso, desviei meu olhar para Ranie. O poste de luz iluminava seu rosto, e ele usava um longo casaco preto de designer sobre seu terno feito sob medida, apesar da noite úmida e quente de abril, como se nem mesmo o calor da Flórida pudesse tocá-lo. As sombras acentuaram suas maçãs do rosto altas, e embora eu não tivesse esquecido o quão devastadoramente bonito ele era, ele ainda me roubava o fôlego. Eu estava preparada para a raiva e o confronto, mas enquanto estudava seu rosto e a emoção em seus olhos, a luta em mim esvaziou. — O que há de errado? Mesmo assim, ele manteve seus olhos verdes de Kryptonita
treinados
naquele
local.
—
Minhas
fontes
encontraram Niccolaio esta manhã. Ele está em algum lugar da cidade de Nova York. Eu tinha ouvido falar de como Niccolaio matou seu tio e fugido. Cristiano Andretti tinha vasculhado a cidade em busca de seu filho. Nos seis meses seguintes, eu vi soldados Andretti em todos os lugares aonde eu ia. Mais de sete anos depois, eu imaginava que Niccolaio ainda estava livre. — O que você vai fazer?
— Eu coloquei uma recompensa nele. Cinco milhões de dólares. Eu engoli um suspiro. — Mas ele é seu irmão. — Sangue não significa nada. Família não significa nada. Não muda o fato de que as pessoas desapontam você. — Ele se virou para me enfrentar. — Você, de todas as pessoas, deveria saber disso. Eu suguei o fôlego. — Isso foi desnecessário. Não fale de minha mãe. — Eu não estava falando de sua mãe. Isso deixou o meu pai. O que não fazia sentido nenhum. Além de lamentar sobre a mãe, meu pai nunca me havia desapontado. — Podemos ir? — Eu não tinha tempo para os enigmas dele. Eu queria terminar este fim de semana. Ele acenou com a cabeça e andou para o Range Rover. Quando eu fiquei para trás, as rodas da minha bagagem de má qualidade pegando cada fenda no pavimento, ele rolou os olhos, carregou minha mala e acelerou seu ritmo. Eu era alta, mas ele era mais alto, e eu corri para alcançar seus longos passos. Ele abriu a porta do passageiro para mim, esperou até eu me acomodar no banco e a fechou. Jogando minha mala no porta-malas, ele deslizou suavemente para dentro do banco do
motorista e ligou o motor. — Sobre o que eu disse antes... — Ele fez uma pausa e demorou a continuar. — Você pode esquecer tudo o que eu disse? Mordi meu lábio. — Eu não contaria nenhum de seus segredos. — Durante anos, eu já sabia tudo sobre os atos nefastos de sua família e nunca havia contado a ninguém. Nem mesmo ao Brody ou ao meu pai. — Eu sei. Ele encontrou meus olhos, e nós compartilhamos um olhar. Compreensão. Apreciação. Respeito. Encheram o carro, cada segundo da história mais doloroso do que o próximo. Eu precisava que este fim de semana – este ano – passasse rapidamente, porque estava ficando claro o quão implacáveis eram os sentimentos que antes tínhamos compartilhado.
CAPÍTULO SEIS
O pior ressentimento que qualquer pessoa pode ter é um que você se sente justificado para manter. – Louis Gossett, Jr.
Enviei um texto para Isa, minha empregada, para levar a Spaghetti em uma caminhada. A Spaghetti era a mistura de husky com labrador de olhos azuis e pelo branco. Eu a tinha conseguido como filhote há sete anos, e a última coisa que eu precisava era que Gallo a visse. Ou que ela descobrisse que o grande e mau chefe da máfia tinha uma cachorra chamada Spaghetti. — O que estamos fazendo aqui? — A voz de Gallo tremeu enquanto eu passava os portões da propriedade de minha família. Exceto pelo meu pessoal do dia a dia, só eu vivia aqui. Tio Luca, mamãe e papai estavam mortos, e Niccolaio estava morto para mim. Em breve, ele estaria realmente morto. E quando eu terminasse minha volontà del re, o que eu não tinha pressa de fazer, Luigi também não teria razão para passar por aqui.
Eu a olhei de relance. — Estamos parando em minha casa. Eu tenho que me trocar e pegar minha bagagem. — Oh. — Ela saiu do carro em passos trêmulos quando eu estacionei, e uma inquietação se espalhou pelo rosto dela quando ela entrou na mansão pela primeira vez em mais de uma década. Quase duas. — Parece a mesma coisa que eu me lembrava. — Eu não mudei nada. — Eu acenei com a cabeça para Matteo, meu mordomo, enquanto ele nos abria a porta. — Parece tão... vazio. — Os olhos de Gallo se alargaram, e ela me deu um giro com a cabeça. — Sinto muito. Eu não quis dizer isso. Sinto muito pelo seu pai. — Ela até fez a tristeza ficar bonita. — Você ouviu falar sobre isso? Ela estava andando na minha frente, dirigindo-se para a minha ala da mansão como se fosse apenas ontem desde a última vez que ela veio aqui, mas às minhas palavras, ela se virou. — Brody me disse, e seus amigos do colegial lhe disseram. Certo. Brody. Aquele filho da puta. Eu engoli minha irritação com o babaca que estava tentando roubar minha garota desde que pôs os olhos no que era meu. — Isso aconteceu três anos atrás. Em quatro de dezembro. — Eu abri a porta do meu quarto e a deixei entrar primeiro.
Ela pegou um travesseiro – seu travesseiro de quando tínhamos dormido no Jardim de Infância e na escola primária – e se deitou na beira da minha cama. Eu nem achei que ela percebesse o que estava fazendo, ou qual travesseiro ela estava usando. — Sinto muito, Ranie. Eu sei o quanto vocês eram próximos. Não conseguia imaginar como me sentiria se meu pai falecesse. A verdade é que eu estava um pouco zangado por ela não ter estado lá por mim quando isso aconteceu. Ela deveria estar. Se tantas pessoas não tivessem se intrometido em nossa amizade, eu não tinha dúvidas de que Carina Gallo e eu estaríamos juntos agora mesmo. Provavelmente, até mesmo casados. Mas essa não era a nossa realidade. E não importava o quanto eu tentasse desligá-la, não conseguia deixar de estar apaixonado por ela. Foi por isso que eu a afastei todos aqueles anos atrás. Foi por isso que eu tinha pedido um favor para lhe conseguir aquela bolsa de estudos em Duke. E era por isso que meu pulso batia na minha garganta sempre que ela estava por perto. Peguei a bagagem da Louis Vuitton no meu armário e voltei para a área central do meu quarto. Honestamente, eu poderia ter um dos funcionários da minha casa arrumando-a para mim, mas não pude resistir de ver Gallo em minha casa
depois de tanto tempo. E ela parecia em casa aqui. Verdadeiramente. Os olhos dela encontraram os meus quando eu saí do closet. Suas bochechas estavam corando e ela tinha minha gaveta de cabeceira aberta como a pequena bisbilhoteira que ela sempre foi. — O que é isto? Eu engoli meu gemido. Eu não precisava olhar para saber do que ela estava falando. — Não se intrometa, Gallo. Ela tirou o vestido vermelho da gaveta. — Você guardou isto? Mas eu o joguei fora naquela noite no parque. E, assim como um bobo, patético e apaixonado que eu era e ainda sou, eu o tinha tirado do lixo assim que o vi. E o mantive ao lado da minha cama por mais de uma década, depois que mandei Isa lavá-lo com o sabão que Gallo sempre usava. Ela o segurava no nariz e o cheirava, com o rosto atordoado. — Isto cheira a… Você. Cheira como você, Gallo. Como rosas; e magnólias; e madeira de cedro; e maçãs; e noites úmidas de verão no parque, onde roubei o que foi seu primeiro beijo; e os domingos de espaguete na sua casa Gallo, onde cozinhamos espaguete na cozinha de seu pai, como se fôssemos marido e mulher, e você era a chef que sempre quis
ser; e aqueles lindos olhos azuis de hortênsia de que eu sentia tanta falta que comprei um cachorro com os mesmos olhos azuis e lhe dei o nome de Spaghetti. Peguei o vestido de suas mãos, coloquei-o na gaveta e virei-me para sair. — Estamos atrasados para nosso voo. — Voo? — Ela se mexeu, mas olhou de volta para a gaveta, uma pergunta na ponta da sua língua. Eu não deixei que ela a expressasse. — Eu não gaguejei. Eu era um idiota, mas odiava me sentir vulnerável. Talvez se nosso relacionamento fosse o que já era, eu teria contado tudo a ela. Mas nossa história não era algo que eu pudesse cortar como manteiga. Estava cheio de ossos e cartilagens que precisavam ser colhidos, picados e manuseados com cautela. — Mas South Beach fica a apenas duas horas e meia de carro de Miami Beach. — Exatamente. Enviei um texto ao meu assistente para que o avião fosse preparado para decolagem o mais rápido possível. Para ser honesto, eu não tinha planejado voar. Estava ansioso por duas horas e meia em um carro com Gallo, mas eu entrei em pânico quando ela viu O vestido e, como um pré-adolescente nervoso em um encontro com uma garota fora de seu campeonato, desfocou a primeira coisa em que pensei.
Eu precisava que Gallo me desse uma chance de reconquistá-la, e eu ficaria amaldiçoado se eu a assustasse primeiro.
O voo privado de vinte e quatro minutos, de desperdício de combustível, passou em silêncio. Eu ficava olhando para Ranie, que parecia confortável banhado em luxo mas desconfortável sob meu escrutínio. Mas eu não pude evitar. Ele tinha ficado com o vestido. Ele. Manteve. O. Vestido. Eu não sabia como me sentia a respeito disso. Certo, isso era mentira. O bater do meu pulso consumiu meu corpo, e cada vez que eu olhava para ele, eu achava difícil respirar. Havia tantas perguntas que eu queria fazer, mas não conseguia fazer porque tinha medo das respostas dele. Com medo de que, se ele dissesse o que eu acho que diria, eu cairia. Mais forte do que eu jamais havia caído.
Quando chegamos ao hotel cinco estrelas em que Ranie fez nossa reserva, eu mesma já havia me silenciado. — Você tem certeza? — Ranie parecia um homem não acostumado a não conseguir o que queria, pois perguntou, pela quinta vez, se eles tinham ou não um quarto extra. Foi ele quem reservou uma suíte Ele-e-Ela9 para nós, e agora era como se isso fosse a última coisa que ele queria. Eu estava quase ofendida, exceto que também não estava muito interessada em dividir um quarto com ele. Não quando as emoções corriam tão altas entre nós. A senhora da recepção, que tinha passado de flertadora a apreensiva, desgastada a cada reiteração, repetiu: — Sinto muito, Sr. Andretti, mas o hotel está completamente lotado. Nós já cancelamos e reembolsamos um cliente habitual quando você fez a reserva de última hora esta manhã. Ele endireitou. — Bem, cancele e reembolse outra pessoa. — É quase meia-noite, senhor. — E? — Eu... eu... — Ranie, — eu interrompi, tendo pena dela. — Está tudo bem. Vamos dividir um quarto. Nada de mais. Exceto que era um grande negócio.
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Suíte com espaços separados para o casal.
Uma grande porra de negócio. — Este é o meu hotel. Estarei condenado se não conseguir um quarto no meu próprio hotel. Claro, era o hotel dele. Eu mal podia pagar um apartamento de estúdio de merda, e ele era dono de um hotel à beira-mar em South Beach. — Eu entendo isso, mas é tarde, e quero dormir. — Eu bocejei por precaução. — Podemos simplesmente ir para a cama? E se você quiser seu próprio quarto amanhã, você pode assediar a pobre senhora pela manhã. Ele estreitou os olhos. — Eu não assedio as pessoas. — Oh, meu Deus. — Discutir com ele era inútil. Eu me virei para a senhora hostilizada. — Posso ter a chave do quarto? — Quando ela me entregou uma, eu fui até o elevador e disse atrás de mim: — Siga, se quiser. Eu não ligo. Eu vou para a cama. Ele me seguiu, e quando as portas do elevador se fecharam, voltamos ao silêncio excruciante. A este ritmo, podíamos fazer um filme mudo desta viagem. Mas ele se voltou para mim, e a urgência em seus olhos, como se esta viagem estivesse se afastando dele, falou mais do que as palavras jamais poderiam.
Meu coração mergulhou e precisava correr para fora do meu corpo. Toda mulher merecia um homem que olhasse para ela como Ranie estava olhando para mim. Como se nada mais o satisfizesse, a não ser eu. Ele se aproximou de mim, seu controle escorregou visivelmente. — Por que é que você é a única mulher que pode me colocar de joelhos? — Não te vejo ajoelhado. — Minha falsa bravata foi uma porcaria, mas era a única coisa que estava entre nós e as más decisões que eu queria tão desesperadamente tomar. Ele se abaixou lentamente. — O que você está fazendo? — Eu o peguei nos ombros, tentando levantá-lo de pé. — Levante-se! — Você quer que eu me ajoelhe, e eu me ajoelho. — Ele olhou para cima para mim. — Diga-me o que você quer de mim, Gallo, e eu o farei. — Queria que você voltasse no tempo, e queria que não tivesse me ignorado. Queria que você apagasse os últimos onze anos, em que eu senti que não conhecia meu melhor amigo. — A realidade me encharcou instantaneamente. — Você não é mais meu melhor amigo. Eu não te conheço. Não sei se você ainda
embebe
seus
cereais
em
leite
até
que
fiquem
nojentamente encharcados. Não sei se você ainda deixa seus calçados amarrados porque odeia amarrá-los de volta. Não sei se você ainda procura o enredo do filme on-line antes de
assistir a um filme porque odeia surpresas mais do que qualquer outra coisa. Eu. Não. Conheço. Você. Ranie. Ele se endireitou em seus pés, seus movimentos foram lentos e propositados. As portas do elevador se abriram, mas nenhum de nós se moveu. Ele se estendeu, e a mão dele tocou o meu rosto. — Você vai me conhecer? Se eu dissesse que sim, parecia que estava perdoando tudo o que ele tinha feito comigo. Partindo meu coração. Ignorando-me. Permanecendo de pé enquanto todo o corpo estudantil me aterrorizava por quatro malditos anos. Mas, meu Deus, eu queria dizer que sim. Você merece mais, Carina Gallo. Eu odiava aquela vozinha. Era o diabo no meu ombro ou o anjo? De qualquer forma, dei um passo atrás e sussurrei: — Não.
Dez anos atrás — Onde você estava hoje à noite? — A voz de papai veio do corredor, ecoando do chão de mármore dourado. Nas sombras, ele parecia sinistro, mas eu supunha que esse poderia ter sido o ponto. — Eu estava com Niccolaio. — Eu comecei a passar por ele. — Fomos a uma festa algumas ruas abaixo. A amiga de Lacy a chamou. O pai gostaria disso. Ele tinha me pressionado para persegui-la, e ela tinha sido uma boa distração por um tempo, mas eu queria a coisa real. Não a imitação de cabelos loiros e olhos azuis de Gallo. E se eu fosse honesto, nunca deveria ter me contentado com Lacy quando ela me perseguiu. Eu me sentia só. Ela estava lá. Nada mais. Foi uma má decisão em uma vida cheia de más decisões. O pai bloqueou o caminho. — Então, por que você estava em North Beach? Eu congelei. — Você está me seguindo? — Responde à pergunta, filho. Corri uma mão cansada pela minha cara abaixo. — Sim, eu estava em North Beach.
Beijando o amor da minha vida. Sua voz rígida se endureceu. — Você estava com aquela garota Gallo? Sim, e se eu estivesse do meu jeito, eu estaria com ela a cada segundo de cada dia. — Você me disse para me afastar dela. — Eu disse. — Ele me perseguiu. — É melhor você se lembrar disso, ou sabe o que vai acontecer. Foda-se, pai. Eu encontrei os olhos dele. Minutos passaram antes que ele finalmente olhasse para o lado. Eu me virei e me dirigi para a porta da frente. — Onde você está indo? — Ele estava perdendo o controle sobre mim, e ele sabia disso. — Eu estou falando com você! E porque eu estava bem ciente de que ele poderia fazer de minha vida um inferno – já estava fazendo – eu disse atrás de mim, — Tio Luca! A única pessoa, além de Niccolaio, que meu pai não tinha roubado de mim.
Presente. Eu não vou desistir, Gallo. Ranie tinha me dito isso antes de pegar um travesseiro e um cobertor da cama king size e ir para o sofá na área comum da suíte. Eu havia fechado a porta do quarto, tentando colocar o máximo de limites entre nós. Isso não ajudou. Passei a noite virando e revirando. Ele fez parecer tão simples, como se eu só precisasse dizer “Sim!”, e todos os problemas que nos atormentavam iriam se dissipar. Mas nada poderia mudar o que havia acontecido no colégio e eu não podia começar a perdoá-lo se ele não se explicasse. Mesmo que fosse ridiculamente engraçado que ele tivesse mantido o vestido vermelho todos esses anos depois. Ranie saiu do banheiro, seu cabelo molhado e uma toalha branca fofinha enrolada na cintura. Pequenas gotas de água deslizaram pelo peito, empurrando suas linhas em V definidas, e desaparecendo sob a toalha que nada fez para esconder sua impressionante protuberância. Eu me virei, mas não antes que ele me visse olhando.
— Você parece cansada, Gallo. Eu estou, graças a você. Mantive meu rosto treinado na tela plana, onde Uma linda mulher havia voltado de um intervalo comercial. — Estou bem para nossas reuniões de hoje. Ranie tinha um livro de corretores imobiliários para os potenciais imóveis que o The Down & Dirty poderia expandir. — Então, o tempo de confissão... — Ele fez uma pausa, e eu me voltei imediatamente para ele, esperando que finalmente ele esclarecesse a escola secundária. — Eu não quero expandir The Down & Dirty. Minhas sobrancelhas franziram. — O quê? — Quero dizer, eu vou, se é isso que você quer. Eu revirei meus olhos. — Eu não quero saber do The Down & Dirty. Por que estamos aqui se não para expandir o clube? Ele teve a audácia de não parecer culpado. — Miami Beach é tóxica. Sempre foi. Precisávamos fugir dali. — Quem é 'nós'? Porque eu não fui consultada sobre nada disso. — Eu quero você, Gallo. — Ele se ajoelhou, então ficamos à altura dos olhos. — Está bem? Dê-me só este fim de semana. Por favor.
Eu abri minha boca para recusar. De verdade. Mas me vi dizendo: — Sim, — porque este era Ranie, e eu o amei em um momento da minha vida. Talvez este fim de semana com ele fosse o que eu precisava para seguir em frente.
CAPÍTULO SETE
Ressentimento, amargura e velhos rancores eram coisas mortas, que apodreceram as mãos de quem os agarraram. – Winston Graham
Nove Anos Atrás — O que você está fazendo? Brody pulou enquanto eu me aproximava dele por trás, todo seu corpo sacudindo ao som da minha voz. Eu sorri, não acostumada a ser capaz de esgueirar-me para cima das pessoas, mas ele parecia concentrado com a cabeça baixa e os dedos pressionados contra as grades do meu armário. Eu ainda conseguia ler com dificuldade a palavra “Perdedora” que havia sido pintada em spray no metal azul há alguns meses. Fiquei bastante impressionada com a equipe de limpeza. Eles tinham feito alguns juniores esperarem sete meses para que as pichações em seu armário fossem limpas, mas “Perdedora” foi lavado do meu armário quando eu voltei depois da aula. Mesmo a tempo, porque Ranie ficou diante do meu armário, olhando de relance o que sobrou da palavra na
pintura azul feia. A tristeza pintou seus olhos, junto com algo que parecia, mas que não podia ser, arrependimento. Agradeci ao zelador no dia seguinte, mas ele alegou que não limpou. E eu estava grata por sua ignorância fingida, mesmo que a piedade tenha ferido meu ego. Brody virou-se para me enfrentar. — Nada. Apenas vi algo saindo do seu armário e tentei voltar a enfiá-lo. — Oh. Obrigada. — Eu espreitei ao redor dele e vi meia folha de papel dobrada saindo da minha grade do armário. — Você está fazendo um trabalho horrível. — Meu divertimento aumentou quando alcancei com meu dedo indicador e a enfiei de volta em meu armário com um soco. Brody rolou seus olhos para mim, e eu o esbarrei levemente com meu quadril. Coloquei minha combinação do armário, com o cuidado de inclinar meu corpo para mantê-la escondida. Minha paranoia era alta, mas em minha defesa, se o corpo estudantil pegasse minha combinação, eu encontraria todo tipo de coisas adoráveis em meu armário até o pôr-do-sol. A folha de papel dobrada flutuava até o chão enquanto a porta do meu armário se abria. Eu me curvei para pegá-la, e quando me levantei, meus olhos encontraram os de Ranie. Seus olhos mergulharam para o papel na minha mão, balançaram para Brody que olhou a folha de papel com concentração incomum e voltou para seu armário. Eu poderia jurar que vi os cantos dos lábios dele inclinarem-se para cima antes que ele enterrasse seu rosto em seu armário.
— O que é isso? — Brody acenou com a cabeça para o papel. — Um panfleto? Eu o abri e o fechei imediatamente quando vi a linha de cima: — Querida garota de olhos azuis. — Era provavelmente uma carta de ódio, e eu não queria mais piedade de Brody. Ele já tinha o suficiente em seu prato com sua última chance de fazer os testes neste fim de semana e as finais do time de basquetebol chegando. — Nada. — Enfiei o papel no bolso de trás, onde ele ficaria até eu passar por uma lixeira. — Tenho que ir para a aula. Vejo você no almoço? Ele acenou com a cabeça, distraindo as características de seu rosto bonito. — Até mais, Gallo. Eu pausei, inclinando minha cabeça. Só Ranie me chamava de Gallo. E quando me virei para pedir ao Brody que não o fizesse, ele já estava fora, e o corredor estava começando a clarear. Eu tirei a carta do bolso, desamassei e joguei-a no caixote do lixo sem lê-la, mas, por capricho de última hora, a recuperei. De relance para cima e para baixo no corredor para ter certeza de que eu estava sozinha, eu aplainei a carta contra um armário aleatório, suavizando as rugas e vincos.
Querida menina de olhos azuis,
Viu o que eu fiz lá? Mas, realmente, por que você está tão triste, Gallo? Você não costumava ser assim. Você costumava sorrir toda vez que olhava para o céu e acenava oi a estranhos aleatórios porque eles olhavam bem para você. Onde está aquela garota, Gallo? Eu sinto falta dela. Você provavelmente não vai responder a isso. Tudo bem. Eu não mereço e, sinceramente, não sei bem o que eu faria se você respondesse de qualquer maneira. Você já se sentiu como se fôssemos Romeu e Julieta? Falando em segredo. Amantes de estrelas traiçoeiras. Esse tipo de coisa. Isso é um exagero. Eu fico sem resposta tanto quanto você. Você poderia imaginar se a peça fosse apenas Romeu? Romeu a pincelar depois de uma Julieta esquecida. Romeu observando de longe, já que é unilateral. Romeu se engajando em monólogos grandiosos, sozinho. Romeu desesperadamente apaixonado. E durante todo o tempo, Julieta nunca soube. Ou talvez ela apenas o ignore. Mas ei, ambos acabariam vivos. Você provavelmente pensa que sou louco. Espero mudar isso um dia. Um dia, eu ascenderei e a levarei comigo, mas tenho a sensação de que você já estará lá. Talvez então possamos estar juntos. Assinado, Outro Grandioso Monólogo de Romeo Solitário P.S. Eu só guardei a merda idiota porque eu sou aquele idiota que escreve cartas de amor em caneta.
Uma carta de amor. Para mim. Carina Amelia Gallo. Era quase inacreditável, e se eu não estivesse segurando nos dedos, eu teria pensado que teria sonhado com esta carta. Talvez tenha sido uma brincadeira. Nada disso fazia sentido de qualquer maneira. Foi escrita como se fosse uma de muitas, e noventa e nove por cento dela parecia enigmas e balbuciantes, mas uma palavra se destacou – Gallo. O solitário Romeu havia me chamado de Gallo. Assim como Ranie faz.
Presente — Alguma coisa errada? — Ranie virou-se de lado, seu corpo escovando contra o meu, enquanto a cama fluía sob o peso de seus movimentos. Quando ele me pediu para lhe dar este fim de semana, eu não pensei que ele quis dizer deitado na cama, vendo a versão de Leo Di Caprio de Romeu e Julieta no Pay-per-View. Mas era
exatamente isso que estávamos fazendo há cerca de quarenta minutos. — Não. Só pensando. Sobre aquela carta de ‘Romeu Solitário’, todos aqueles anos atrás. — Sobre? Eu engoli um milhão de perguntas sobre o passado que eu não podia fazer por medo de que ele me negasse novamente. — South Beach. Eu nunca estive lá. Podemos explorar a cidade? Foi estranho saber que eu estava sendo cortejada ativamente. Cada ação de Ranie, eu estudei. Cada palavra. Cada
movimento.
Cada
respiração.
A
satisfação.
Desapontamento. Tudo o que ele fazia gerava uma reação binária, e não era justo para ele, mas também não era algo que eu pudesse ajudar. Eu suspirei de alívio quando ele acenou com a cabeça. Fui trocar minhas calças de ioga e a camiseta caída no ombro, mas ele me puxou até a porta, e eu não me dei ao trabalho de protestar. Em sua calça de moletom e camiseta branca justa, este foi o mais casual que o vi desde que nossa amizade terminou, e eu não queria arriscar isso. Eu me esforçava para acompanhar seus longos passos. — Onde estamos indo?
Como tínhamos voado, não tínhamos carro, mas em vez de usar o serviço de carro de seu hotel como eu pensava, ele me levou até o Metrorail10. Eu nem pensei que alguém com seu patrimônio líquido soubesse que ele existia. — Quando as coisas ficavam muito difíceis em casa, Niccolaio costumava me levar para South Beach. Passávamos nosso dia no Metrorail porque papai não conseguia rastrear nossos telefones através de todo este cimento subterrâneo. — Ele agarrou minha mão e pagou os dois dólares cada um por nosso caminho através dos portões de metal torcidos. — Eu ainda venho aqui às vezes. Não com a frequência que eu gostaria. Isto deve ter sido uma separação pós-amizade. Ranie estava colorindo nos detalhes de sua vida, as coisas que eu havia perdido desde que tínhamos nos separado. Ele estava me dando a oportunidade de conhecê-lo. Tudo o que eu tinha que fazer era aproveitá-la. Eu me calava, esperando que ele continuasse e me desse mais. Qualquer pedaço de sua vida que eu pudesse devorar. — O Metrorail não para em nenhum destino turístico, então são principalmente os nativos que andam. É como uma cidade aqui embaixo. — Ele me levou para além das multidões agitadas. — Todo este dinheiro, e eu nunca estive em Nova York. Nunca vi seus metrôs. Mas isto, — gesticulou ele, — é a próxima melhor coisa.
10
Sistema de transporte ferroviário rápido de Miami.
— Por que você não vai para Nova York? Ele agarrou minha mão, para que não nos perdêssemos um ao outro, enquanto passamos por um grupo de pessoas entrando no próximo trem. — Eu não posso. Cada família tem suas fronteiras, e elas não podem ser passadas. Já estive em território De Luca e Camerino. — Ele manteve sua voz baixa, e eu me aproximei para ouvi-lo acima de todo o barulho. — Mas a família Romano tem uma disputa de sangue de gerações com a minha, e a família Rossi está ligada à família Romano pelo casamento e pelo sangue. Ambos territórios estão fora dos limites. — Então, você vem aqui. Ele acenou com a cabeça. — Venha, veja isto. — Ele passou por um canto, e uma melodia suave correu para mim. Foi uma interpretação melancólica “River Flows in You”, de Yiruma. Ele nos levou mais perto e jogou uma espessa pilha de notas de cem dólares no chapéu virado para cima na frente do músico idoso, que saudou Ranie pelo nome. — Wesley esteve aqui todas as vezes que eu visitei, sempre tocando aquelas teclas como se tivesse nascido com elas presas em seus dedos. As pessoas passaram por nós, mas Ranie me colocou na frente dele e envolveu seus braços ao redor do meu corpo, protegendo-me contra a multidão. A música flutuava pelo ar, enchendo a estação com suas descendências lamentosas, como uma sala de concertos suplantada na vida real. Eu fechei
os olhos, e a multidão ribombou ao fundo, mas o barulho só aumentou a canção, enchendo os mergulhos e subindo na melodia de uma forma que os instrumentos não conseguiram. Eu não conseguia medir o tempo que passamos na estação, meu corpo pressionava contra o dele, ouvindo Wesley tocar. O tempo era incalculável ao redor de Ranie, outra coisa que ele desafiava ilogicamente. Quando os dedos do pianista ficaram doloridos e meu estômago resmungou, Ranie me levou para fora da estação. Caminhamos para conseguir comida, mas cinco minutos depois, quando meu estômago rosnou novamente, Ranie rolou os olhos e chamou um táxi, o que nos levou ao Rocky's, um restaurante subterrâneo em uma área endurecida de South Beach. — Deixe-me adivinhar... — Caminhei cuidadosamente pelos degraus íngremes. — Sem rastreamento celular por aqui? Os lábios dele apareceram. — Você não sabia? Seu homem é um rebelde. Meu homem. Ele não quis dizer isso, mas foi bom ouvir isso. Eu queria Ranie. Era inegável a esta altura. Exceto que eu queria mais a verdade, e minha verdade era que eu não deveria querê-lo, mas eu nunca tinha parado de verdade. Eu precisava construir muros ao redor do meu coração.
Rapidamente.
Sete anos atrás — Por que você ainda olha para ele dessa maneira? Eu balancei minha cabeça de Ranie, que driblou a bola no campo de futebol, para Brody. — O quê? Brody bateu com um dedo na direção de Ranie, seus movimentos bruscos e rápidos. — Por que você ainda olha para ele dessa maneira? Eu me esfreguei nas arquibancadas. Só porque meu traseiro estava dolorido por ter ficado sentada por um tempo inteiro. Certo. — Eu não sei do que você está falando. Só que eu sabia. Quatro anos haviam se passado desde que eu e Ranie seguimos caminhos separados, e a esperança empurrou e puxou meu coração, como um jogo sem fim de puxão de guerra. O comportamento lamentável não era algo a ser defendido, então fingi ignorância. — Sim, você sabe. — Um brilho leve de suor brilhava da testa de Brody. Ele puxou o colarinho da camisa e enfiou a manga direita no braço com um puxão impaciente. — A
primeira coisa que você faz quando entra na cafeteria é virar a cabeça para a mesa dele. — Só para ter certeza de que Lacy Ryan não está lá! — Você vai a todos os jogos de futebol, e nem sequer gosta de futebol. — O espírito escolar é importante, certo? — E de alguma forma, todos os anos, de caloura ao sênior, você acaba em todas as mesmas aulas que ele. Agora isso não foi culpa minha, então me agarrei a ele como se isso me absolvesse de todos os outros pontos válidos dele. — Eu não tenho nada a ver com isso! Culpe a escola. Seus lábios enrolados num sorriso feio, e eu não conseguia entender porque ele estava tão... tão zangado. Ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas os aplausos agitados sacudiram as arquibancadas. Que bom. Eu não queria ouvir o que ele tinha a dizer. Voltei-me para o jogo. A bola descansou no fundo da rede do time adversário, e a multidão cantou o nome de Ranie. Ele tinha marcado, e eu perdi. Enquanto seus companheiros de equipe batiam e gritavam, ele corria para a meia linha, nunca um para dançar a vitória. Mas quando seu pé bateu no círculo central, ele olhou para as arquibancadas, e como se soubesse onde procurar, seus olhos encontraram os meus. A vitória brilhava neles.
CAPÍTULO OITO
Um ressentimento de longa data contra o mundo pode queimar mais calorias do que você possa imaginar. – Paul Russel
Presente — Para onde agora? — Inclinei minha cabeça para Ranie e escondi meu sorriso com a surpresa no rosto dele. Já passava da meia-noite e ele já me tinha levado pela cidade, mostrando-me todos os seus lugares favoritos de South Beach, entrelaçando histórias sobre o porquê dele correr para South Beach. O passeio particular Ranieri Andretti Tour: South Beach Edition foi suficiente para me convencer a me mudar para cá, mas eu podia senti-lo escondendo algo de mim – o grande segredo que ligava as pequenas histórias do porquê de ele ter precisado de um lugar longe de casa. E se ele não ia me contar, eu ainda não tinha terminado esta noite. Eu ia apertar seus botões até que ele cedesse. Mesmo que passássemos o resto desta noite e amanhã bem acordados.
— Sério? — Yep. — Eu disse estendendo o P, tentando me manter o mais casual possível. — Ouvimos um mini-concerto no Metrorail, almoçamos no Rocky's, dividimos churros enquanto alimentávamos os patos no lago, atiramos armas de água em pedestres do telhado do hotel, comemos teppanyaki em um lugar onde funcionários e chefs falavam exclusivamente japonês, e terminamos a noite roubando moedas da fonte do meu hotel e tentando esgueirá-las nos bolsos das pessoas, bolsas e sacos de compras. O que mais você gostaria de fazer? Quando ele colocou assim, eu me senti gananciosa por querer mais. Mas eu não recuei. — Mais uma coisa. Dê-me mais uma coisa. — Bem, eu disse que lhe daria tudo o que você quiser. Eu arqueei uma sobrancelha. — E tudo o que tenho que fazer é pedir, gênio? — Se eu fosse um gênio, você só teria três desejos. Eu levantei um dedo. — Primeiro desejo, eu quero fazer algo divertido. — Seu desejo é uma ordem. Segundo desejo?
— Eu quero tirar estas pernas. Elas estão doridas como o inferno. — Eu ri quando ele se inclinou para frente para que eu subisse em suas costas. Ele prendeu seus braços sob minhas pernas e esperou que eu enrolasse meus braços ao redor de seu pescoço antes de me levantar. — Terceiro desejo? Eu me inclinei para ele, meu nariz escovando o ponto sensível abaixo de suas orelhas. Senti-o estremecer sob mim. — Eu quero a verdade. O que aconteceu conosco? Ele engoliu com força. Senti o pomo de Adão dele loucamente contra meu braço. — Não posso lhe dizer isto. — Mas você disse que tudo o que eu tenho que fazer é... — Perguntar. Eu sei. — Ele virou a cabeça, tentando dar o melhor de si para encontrar meus olhos comigo de costas. — Mas não é apenas o meu segredo. Outra pista misteriosa. Eu aceitaria, por enquanto, mas não desistiria. Ele deu um passo à frente. Apertei meus braços mais forte em torno dele, e ele estava tão grudado em mim, que meu corpo se iluminou de necessidade. — Você não vai me carregar o caminho todo, vai? — Diabos, não. Você é pesada.
Mordi o pescoço dele com suas palavras, e ele gemeu, forçando seu aperto em mim. — Retire isso de volta. — Nunca, se isso significa que você vai me morder de novo. Rolei meus olhos. Ele deslocou meu peso, então segurou a maior parte dele em seu lado direito, tirou uma nota de cem do bolso e o segurou em direção à rua. Dois táxis pararam instantaneamente e ele abriu a porta para um deles, deslizoume pelas costas e me ajudou a entrar no banco de trás. Ele fechou a porta. — Parque Rylafax. O taxista olhou para mim como se Ranie tivesse acabado de me raptar, seus olhos me pedindo para piscar três vezes se eu estivesse em perigo e duas vezes se eu estivesse bem. E eu não estava bem. Na verdade, não. No Metrorail, meu coração frágil ganhou um ou dois batimentos. Quando Ranie tirou o molho dos meus lábios no Rocky's e lambeu-o de seu dedo, reconsiderei minha posição ao dormir com ele. Quando ele me deu churros no lago, eu estava a ponto de perguntar se ele poderia me dar algo mais. Algo ao sul da fronteira. Quando ele me entregou uma pistola de água e atirou um jato de água em um turista do telhado, eu desejei que
tivéssemos doze anos novamente, tendo brigas de água no parque onde mais tarde compartilhamos meu primeiro beijo. Quando ele pediu para nós, no que eu presumi ser japonês fluente, no restaurante teppanyaki e os olhos da bela garçonete brilharam de interesse, eu quis pegar a camisa do Ranie, puxá-lo para mim e plantar o maior beijo em seus lábios, como um cachorro com testosterona em um concurso territorial de mijar. E quando pegamos as moedas da fonte em seu hotel e ele me ensinou a ser uma batedora de carteiras invertida11, eu me senti livre e entusiasmada pela primeira vez desde que nossa amizade se dissolveu. Então, eu fiquei bem? Não. Mas pestanejei duas vezes mesmo assim.
O Parque Rylafax era um parque montanhoso adjacente ao
aeroporto
e,
tanto
quanto
pude
ver,
um
lugar
Batedora de carteiras invertida, porque ao invés deles furtarem das pessoas, eles estavam colocando moedas nas coisas delas (bolso, bolsas, sacolas). 11
extraordinariamente barulhento para completar o melhor encontro que eu já tive. Diabos, eu nem tinha certeza se era um encontro, mas nenhum outro rótulo me parecia certo. — O que você está fazendo? Ranie abriu a fechadura do parque fechado – claro, que ele teria uma chave – e nos levou para o lado do parque, onde havia uma fileira de armários. — Niccolaio e eu deixamos cobertores e lanternas aqui há muito tempo, mas não tenho certeza se eles ainda estão aqui. — Ele olhou para a fileira antes de se encontrar um armário à esquerda do centro. — Aqui está. Quando ele se torceu na combinação e a fechadura se abriu, um sorriso genuíno se espalhou pelo seu rosto. Ele me entregou um cobertor, colocou o outro sobre seu ombro, pegou uma lanterna longa e fechou novamente o armário. — Era o meu aniversário? Um sorriso largo substituiu seu sorriso. — Talvez. — No passeio de táxi, ele havia mencionado que tinha vindo aqui no colegial. Mas isso foi depois que ele me largou como amigo, mesmo assim ele fez a combinação do armário na data do meu aniversário? — É fácil de lembrar. Certo. 18 de julho de 1992. 18-07-92.
Não é exatamente 11-11-11. Levantei uma sobrancelha. — O que estamos fazendo em um parque escuro sozinhos à noite? — Não havia um único poste de luz à vista. Ele acendeu a lanterna e me levou em direção ao centro do parque. — Você vai ver. — Era tarde, mas ele gritou para ser ouvido no parque vazio, o som dos motores dos aviões interrompendo cada sílaba. Peguei a mão que ele ofereceu porque, apesar do meu orgulho exagerado, não queria tropeçar estupidamente no escuro. Quando chegamos ao centro da colina mais alta do parque, ele endireitou seu cobertor no chão, agarrou o que estava na minha mão e fez um gesto para eu me deitar. Ele se esticou ao meu lado, de modo que estávamos ombro a ombro, nossos corpos inteiros inclinados pela colina e pressionados contra a manta macia e felpuda. Ele balançou o outro cobertor, o mais grosso, sobre nossos corpos, apesar do calor da Flórida. Eu me inclinei para frente para sentar, mas ele esticou seu braço para fora, bloqueando-me, de modo que eu permaneci contra a grama coberta pela manta. Virei minha cabeça para enfrentá-lo, mantendo as costas pressionadas até o chão. — O quê? Ele encontrou meus olhos, a antecipação transbordando em seus. — Espere por ele. — Esperar por...
— Grite. Nem um segundo depois, ele soltou um grito que me assustou, e quando a porra de um avião voou apenas com os pés acima de nós, meus gritos cresceram mais alto do que os dele. Uma vez que passou, meus cabelos estavam bagunçados do vento e meus olhos brilhavam de alegria. — Que diabos foi isso? — Eu respirei fundo, tentando acalmar o palpitar do meu coração. — Haverá mais? — Muitos voos12 decolarão em breve, então sim. Ele agarrou minha mão, e eu o deixei, entrelaçando nossos dedos de uma maneira que eu separaria os detalhes mais tarde. Este momento era extraordinário demais para arruinar com nossa história manchada. Ele apertou minha mão. — Fique pressionada até o chão, está bem? Eu acenei com a cabeça. — Isso foi... — Fiquei sem palavras. — Eu sei. Senti o mesmo na minha primeira vez. Está tecnicamente fechado ao público por razões óbvias de segurança, mas comprei a Rylafax assim que fiz dezoito anos.
12 A autora usa aqui os chamados red-eye flights, que significam, os voos corujões, ou seja, são aqueles
voos programados para partir à noite e chegar na manhã seguinte.
Eu resisti à vontade de sacudir a cabeça. Eu não deveria ter me surpreendido. Eu tinha um desejo avassalador de construir uma casa na beira do parque e vir a esta colina todos os dias para o resto da minha vida, e ele era dono deste lugar. Pelo menos quarenta aviões decolaram e voaram bem acima de nossos rostos antes que parassem de vir. Eu nunca me havia sentido tão empolgada quanto neste momento, deitada ao lado de Ranie debaixo de aviões decolando. Nenhuma droga, álcool ou substância poderia substituir o compartilhamento de novas experiências com alguém que você amava. E eu o amava. As últimas vinte e quatro horas haviam me lembrado porque eu amava Ranie quando deveriam me lembrar porque eu não deveria ter amado. Ele se virou para me enfrentar, e foi exatamente como naquela noite no parquinho, nós dois deitados lado a lado. E como naquela noite, seu hálito provocou meus lábios, e ele perguntou: — Posso beijar você? E embora eu estivesse falando sério, eu zombava, — Mereço melhor. E eu merecia. Eu merecia a verdade.
Um sorriso nostálgico inclinou seus lábios para cima, cheio de pesar, remorso e carinho. — Sim, você merece. Você merece tudo. Ele bateu seus lábios nos meus, colidindo-os contra mim como se pudesse afastar onze anos de ódio de nossas almas com um beijo. Eu o devolvi, meu coração na garganta, enquanto enfiava minha língua em sua boca, precisando estar mais perto dele. Déjà-vu percorria minha pele, e o prazer saturava cada receptor meu, mas ao contrário de nosso primeiro beijo, este não poderia ser visto por uma criança menor de 13 anos 13. Ele acariciou minha língua com a dele e me puxou para cima dele, então eu montei seu corpo. Eu era alta, mas ele era mais alto, e a maneira como nos encaixamos me embalou como um banho quente depois de um longo dia. Seu hálito ainda tinha gosto de Tic-Tac laranja, e nós ainda nos deitávamos sob as estrelas de uma noite úmida na Flórida. E ainda éramos nós, e eu ainda estava tonta, com vertigem, e sem fôlego. Mas ao invés da chuva cair sobre nós, era uma luxúria que consumia décadas de vida. Eu esfreguei meu núcleo contra ele, gemendo em sua boca enquanto meu clitóris encontrava sua ereção através de nossas roupas. Ele me virou de costas até pairar sobre mim e
A personagem usa aqui o termo PG-13 que é a classificação indicativa para maiores de 13 anos, pois é considerado conteúdo inadequado para crianças menores de 13 anos. 13
empurrou contra mim, como se estivesse me fodendo apesar de seu moletom fino e minhas calças de ioga mais finas. Tirei meus lábios dos dele e os segui pela mandíbula até o pescoço. O pomo de Adão dele se moveu enquanto eu corria minha língua ao longo dele, seguido por meus dentes. Puxando seu moletom por sua bunda firme, deslizei minhas mãos para a frente de suas cuecas de boxer e agarrei seu pau com meus dedos. — Foda-se, — ele assobiou. Ele agarrou minhas mãos e as colocou sobre minha cabeça, prendendo-as com uma de suas grandes palmas. Com a outra, ele deslizou minhas calças e calcinhas de ioga até os meus joelhos, até que eu estava nua diante dele. Quando ele enfiou um dedo na minha boceta, ele deslizou tão facilmente para além da umidade, eu corei, agradecida por ele não poder ver a cor das minhas bochechas na escuridão da noite. Usando seus dentes, ele puxou minha camisa para baixo, e seus lábios envolveram meu mamilo, sugando-me através do meu sutiã. Ele enfiou mais dois dedos e eu afundei neles, cavalgando com fervor em seus dedos grandes, um gemido nos meus lábios cada vez que a palma da mão dele escovava contra o meu clitóris. Quando ele moveu seus dedos, eu gozei, gritando seu nome mais alto do que eu havia gritado a noite toda.
Eu pressionei minha testa contra a dele depois que desci do meu orgasmo. Ele escorregou seus dedos para fora de mim e balançou contra minha boceta. A cabeça de seu pau havia escapado de seus boxers, e quando ele esfregou contra meu clitóris molhado, eu soltei um gemido. Com minhas mãos ainda presas por sua mão esquerda, ele levantou os dedos e traçou meus lábios com eles, cobrindome com minha umidade. Ele pressionou um beijo contra minha boca, sua língua lambendo o rastro molhado de gozo que tinha deixado em meus lábios. Eu podia sentir o meu gosto enquanto ele deslizava sua língua pelos meus lábios e acariciava o céu da minha boca. Ele puxou para trás, e eu mal conseguia perceber o sorriso satisfeito em seus lábios no escuro. — Para onde agora? Para lugar algum. Eu acordaria amanhã, querendo a verdade, mas agora mesmo, em seus braços, eu estava finalmente feliz novamente.
CAPÍTULO NOVE
O ressentimento é... um sentimento rechaçando ou re-lutando com alguns eventos no passado. Não se pode ganhar, porque você está tentando fazer o impossível – mudar o passado. – Maxwell Maltz
Eu acordei quando um pássaro pousou ao lado da minha cabeça. Abri minha boca e gritei, e uma palma enorme cobriu meus lábios e um risinho encontrou minhas orelhas. — Isto não é engraçado. — Minha voz estava abafada sob a palma da mão de Ranie. Empurrei do peito dele, um emaranhado de cobertores tornando levantar-se mais difícil do que deveria ter sido. — É um pássaro, não um orgasmo. — Eu não gritei assim tão alto ontem à noite. Ranie riu como se não acreditasse em mim, e o pássaro fugiu com uma gritaria barulhenta, como se estivesse tomando o lado de Ranie. Eu fiquei de pé enquanto Ranie dobrava os cobertores. Nós os devolvemos aos armários, onde eu, a
responsável, liguei para um Uber porque o telefone de Ranie havia morrido ontem à noite. Cada passo em direção ao elevador da entrada estava relutante porque eu sabia que esta viagem estava chegando ao fim e com ela, o único fim de semana que eu havia prometido dar a Ranie. Eu queria a verdade. Eu merecia a verdade, e não cederia até consegui-la. Ranie entrou no elevador primeiro. — O que há de errado? Eu o segui, e as portas se fecharam. — Nossa viagem noturna terminou. Os olhos dele se desviaram para mim. — Diga a palavra, e podemos ficar juntos. Isto não tem que acabar. Baixei minha cabeça. — Não. Seus dedos encontraram meu queixo e levantaram minha cabeça até que eu estava a centímetros de seus lábios. — Diga a palavra. — Não. Ele alcançou atrás de mim, puxou o freio de emergência, em seguida, alcançou e arrancou o fio da câmera de vigilância com um puxão de seu pulso. — Diga a palavra. Eu dei um passo atrás quando ele se aproximou de mim, e minhas costas bateram na parede espelhada do elevador. — O que você está fazendo?
— Pergunte-me o que eu quero. — Não. Ele se ajoelhou até o rosto ficar nivelado com minha boceta. — Pergunte-me, Gallo. — O-o que você está fazendo, Ranie? Os dedos dele passaram pela bainha das minhas calças de ioga e ele as deslizou pelas minhas pernas. Ele manteve contato visual comigo e se inclinou para frente. Seus dentes rasparam meu clitóris através de minha calcinha. — Quantas vezes você fantasiou com isso quando estávamos no colegial? O tempo todo. — Nunca. — Eu soltei um gemido. — Você foi mau para mim. Ele empurrou minhas calças de ioga para longe dos meus pés, e eu saí delas, sem saber se eu queria prolongar ou parar isto. — Mentirosa. Você me queria. Eu via a maneira como você me olhava. — Como eu olhava para você? — Como você está olhando para mim agora. — Ele rasgou minhas calcinhas em duas e as jogou descuidadamente atrás dele. — Como se você me quisesse em cima você. Dentro de você. Debaixo de sua pele. Como se você quisesse me consumir. — A boca dele se agarrou ao meu clitóris, e eu estava perdida. Ele o acariciou com a língua.
Uma vez. Duas vezes. Três vezes. Eu joguei minha cabeça para trás e gemi, prendendo meus dedos em seu cabelo com tanta força, que deve ter sido doloroso. Mas ele não reclamou. Ele agarrou minha perna e a prendeu sobre o ombro, pressionando sua língua mais profundamente em minha fenda. Virei minha cabeça para o lado e encontrei meus olhos no espelho antes de descer para Ranie. Ele tinha uma mão agarrada em seu pau através de suas calças de moletom, e se acariciou enquanto fodia minha boceta com a língua. Eu estava perto. Tão perto de me desfazer. — Estou perto. Ele puxou para trás, e o ar fresco escovou contra a minha umidade. — Isto não tem que acabar. Diga a palavra. Eu tentei e falhei em empurrá-lo de volta para mim. — Isto é cruel. Ele se inclinou para frente e empurrou meu clitóris com a ponta de seu nariz, provocando um gemido de mim. — Tudo o que você tem que fazer é dizer as palavras. Diga-me que você quer isto. — Quero que você me faça gozar, Ranie.
O calor brilhava através de seus olhos, e sua voz estava rouca quando ele falou. — Diga-me que você quer nós. — Não até você me dizer a verdade. Diga que sim, meus olhos imploraram. Ele estava a ponto de dizer não, e meu corpo murchando quando uma voz hesitante rompeu a névoa cheia de sexo. — Uh, desculpe-me? Aqui é o gerente. Ainda não temos certeza do problema, mas estamos fazendo o nosso melhor para consertá-lo rapidamente. O corpo de bombeiros foi chamado e chegará em breve. A irritação brilhou nos olhos verde-grinch de Ranie, e ele puxou
o
freio
de
emergência
enquanto
eu
deslizava
tranquilamente minhas calças de ioga de volta. Ranie não tinha jogado limpo, e eu posso ter sido a responsável, mas nunca tinha dito que eu era a madura. Eu queria vingança. Em breve. — Onde estamos indo? — Mais uma vez, acelerei meu ritmo para alcançar Ranie enquanto percorríamos o lobby do hotel. — Para casa, certo? Ele deu uma gorjeta generosa ao carregador de malas, enquanto o homem alto carregava nossas malas no carro da cidade que o hotel nos ofereceu. — Temos mais uma parada primeiro.
Eu saltei para o banco de trás enquanto Ranie segurava a porta aberta para mim. — Foi uma viagem de um dia para o outro. — Minha mão estendeu e impediu o fechamento da porta. — A noite acabou, então vamos para casa. — Eu fechei a porta na cara dele. — Temos um compromisso que não podemos perder, — gritou ele do outro lado da porta. Eu rolei pela janela. — Para casa. — Compromisso. — Casa. — Compromisso. Meu Deus, era como se fôssemos crianças de novo. Só que agora ele era meu chefe. — Está bem. Que seja rápido. Ele acenou com a cabeça, percorreu o carro e entrou no banco de trás pela porta oposta. — Sempre em frente, — ele ordenou ao motorista. — Eu lhe direi quando virar. Ranie nos levou a uma área rica de South Beach, onde palmeiras revestiam os calçadões imaculados e areia branca se estendia para cima e para baixo na costa de água-marinha. Ficamos em frente a um espaço comercial vazio em frente à praia em uma área linda de South Beach que tinha conseguido ficar escondida dos turistas. A multidão era grande a esta hora,
mas eu não me importava, pois tinha a vista para a praia de águas claras do outro lado da rua. Virei-me para Ranie e levantei uma sobrancelha. — Pensei que não estávamos aqui para procurar locais para o The Down & Dirty 2.0. Este seria um lugar horrível para um clube de strip, a propósito. E era mesmo. O espaço vazio foi imprensado por dois restaurantes de família. Dificilmente algo que gritasse: — Entre para um par de tetas! Ele manteve seus olhos centrados em mim. — Seria um lugar horrível para um restaurante? — O quê? Ele deu um passo mais perto. — Seu restaurante. Eu recuei com um passo atrás. — O que você está dizendo, Ranie? — Você parou de seguir seus sonhos... — Eu não tive escolha. Os sonhos não eram esta entidade sem limites, que os filmes, os livros e os políticos os faziam crer. Eles estavam ligados
por
nossas
oportunidades,
por
nossas
responsabilidades, pelos privilégios que possuíamos ou que nos faltavam.
— Agora você tem, Carina. — Ele entrou com um código na porta e me levou para o espaço amplo. — Se há algo que eu quero para você, exceto estar com você pelo resto de minha vida, é que você siga seus sonhos e seja feliz. Ele havia se lembrado. Nossos domingos de espaguete sempre foram minha desculpa tola para passar mais tempo com ele, mas ele sempre os tinha tratado com seriedade, como se fossem prática para minha futura carreira como chef. O espaço era perfeito para um restaurante. O local ocupava o principal imóvel de South Beach com tráfego generoso de pedestres; as janelas do chão ao teto ofereciam muita luz natural; o espaço enorme era mais do que suficiente para encher com mesas e cadeiras; e além do buraco da parede de espreitar, eu podia ver que a cozinha era enorme. Este era o sonho de um chef de cozinha. Era o meu sonho. Mas não era real. Não podia ser. Eu me virei para Ranie. — Não posso aceitar isso de você. Seus braços desafiadores cruzaram-se sobre seu peito. — Por que diabos não? — Nós nem estamos namorando. Nós... nós não somos nada, Ranie. — Eu andei pelo chão. — Eu não posso aceitar algo assim de alguém para quem não sou nada. — Você não é... — Ele me tocou no ombro e parou meus movimentos. — Pare de andar, maldição. — Com as duas mãos sobre meus ombros, ele se inclinou para baixo e me olhou nos
olhos. — Você não é nada, Carina. Você é tudo, e eu quero você. Eu levantei meu queixo. — Diga-me a verdade. Conte-me o que aconteceu. — Não. — Se você se importasse comigo, você me diria a verdade. — Eu não posso te dizer a verdade. — Um gemido frustrado lhe escapou dos lábios. — Eu faria se pudesse, mas não posso. E isso não significa que eu não me importe com você. Não significa nada além de que Eu. Não. Posso. Dizer. A. Você. — Ele respirou fundo, sua expressão preocupada buscando piedade do meu coração fraco. — Você ainda me ama. Você está apaixonada por mim. Eu vejo isso em seus olhos. Eu ouço quando você fala comigo. Eu sinto quando você cede sob meu toque, como você fez no elevador. O elevador. Onde ele não lutou de forma justa. Onde ele usou meu corpo contra mim. Onde ele usou meu desejo contra mim. Obrigada por me lembrar, idiota. — Você. Este restaurante. Nós. — Eu empurrei meus ombros para trás, levantei a cabeça e reforcei nosso contato visual, de modo que ele sabia que eu estava muito séria. — É
uma boa fantasia, mas é só isso. Até que você me diga o que aconteceu, nada disso jamais será realidade. Eu recuei e me afastei dele. Se ele não quisesse lutar de forma justa, eu também não iria.
A saia do vestido de verão curto de Gallo levantou enquanto ela subia o degrau para o jato privado. Eu inclinei meu corpo, para que o entregador de malas atrás de mim não tivesse um show gratuito do conjunto de lingerie branca que ela usava embaixo do vestido. — Gallo... — Eu avisei. Ela estava vestindo este vestido curto para me irritar. Pela mesma razão que ela saiu nua depois de seu banho mais cedo, ela voltou para mim enquanto deslizava suas calcinhas brancas de renda. Eu tinha admirado a maneira como seus lábios de sua boceta brilhavam quando ela se dobrava por trás,
imprensada entre aquela sua bunda perfeita, como o lanche dos meus sonhos. E quando ela balançava as calcinhas em suas pernas longas e esbeltas, eu quase podia imaginar seus seios cheios saltando a cada movimento. Por trás, eu até peguei o movimento, de dar água na boca, da lateral do seu seio. Eu queria fodê-la, e foi preciso tudo de mim para eu não dobrá-la sobre a cama e afundar meu pau em sua boceta apertada e quente. Ela olhou para mim sobre o ombro. — Sim? Eu falei com os dentes cerrados, — Apresse-se. Ela tomou o assento mais distante de mim, acenou docemente para o entregador de malas adolescente excitado antes dele sair, e se deslocou para me enfrentar. — Eu não estava ciente de que estávamos com pressa. As portas do avião se fecharam. A aeromoça derramou um uísque puro para mim e um copo de água para Gallo. Assim que a aeromoça mergulhou para fora do compartimento, Gallo separou as pernas. A saia curta de seu vestido subiu, expondo sua roupa íntima. Uma mancha molhada manchou o centro de suas calcinhas, e eu quis chupá-la com a língua. Eu agarrei meu copo. — Você está brincando com o fogo. — Conte-me o que aconteceu com a gente e você pode me ter. Inteira. — Ela se levantou, determinação evidente em seus
olhos enquanto me perseguia, e por um breve momento, fiquei orgulhoso dela por ser tão forte. — Você já é minha. Era sua vez de ajoelhar-se diante de mim. — Eu não sou sua para tocar. — Cuidado, — eu adverti. Porque ela era minha. Sempre foi. Ela colocou uma palma em cada uma das minhas coxas revestidas de terno. — Eu não sou sua para beijar. — Suas mãos escorregaram para cima, parando sem tocar o meu pau dolorosamente duro. — E eu não sou sua para foder. — Seus dedos escovaram minha fivela do cinto, a proposta ficou clara como o dia. — Mas eu poderia ser. — Não posso te dizer o que aconteceu. Ela deslizou o couro para fora do laço de metal. — Por que não? Eu engoli o uísque, nunca precisando mais de força líquida do que precisava agora. — Não é meu segredo para contar. Ela desabotoou minhas calças. — Se envolve você e eu, é tão nosso quanto de qualquer outra pessoa.
Eu agarrei as barras do meu assento. — Eu fiz uma promessa. Ela puxou na borda de minhas cuecas boxer, e meu pau estalou livre e se encostou em sua bochecha, quase no comprimento do rosto dela. Era a coisa mais quente que eu já havia visto, e jurei, se a CIA enviasse Carina Gallo a Guantanamo, ela teria todos aqueles detentos derramando seus segredos mais sujos até o pôr-do-sol. Não que eu fosse deixar essa porra acontecer. Seu hálito quente acariciou meu pau enquanto ela falava, — A quem? Ela olhou meu pau assim como todo homem sonha que uma mulher olhasse para seu pau – como se ela tivesse sido presenteada com o Santo Graal, e ela não estava bem certa de que poderia caber tudo em seu apertado… pacote. Seus olhos se alargaram com a luxúria que ela não podia ou não se preocupava em esconder, e a determinação espreitava atrás daqueles lindos orbes azul marinho. — Para quem? — Ela repetiu antes de envolver seus lábios carnudos ao redor do meu pau e me levou até que minha cabeça escovasse a parte de trás de sua garganta. Ah, foda-se. Eu fechei meus olhos e gemi. — Ao seu pai. Porraporraporraporraporraporraporra.
Ela puxou para trás imediatamente. — Ao meu pai? Meu pau estava duro e nu na frente dela, e nós estávamos conversando. Sobre. O. Pai. Dela. Era quase vergonhoso como a minha ereção não mexia nem um centímetro. — Foda-se. Não era para você ouvir isso. — Meu pai, — repetiu ela. Surpreendida. Acho que eu a choquei. Deslizei minha Calvin Klein sobre minha rígida ereção, um pouco envergonhado. Meu pau havia sido pressionado com força contra suas amígdalas, e foi o pai dela que a chocou. Ego, conheça o golpe. Minha garganta se fechou. — Esqueça. — Não posso. — Carina. — Eu peguei as mãos dela. Ela as arrancou e cruzou os braços. — Conte-me tudo. Agora. Ou terminamos, e eu vou embora. Eu rangia os dentes e me mantinha em silêncio. Que se foda o meu pai. Que se foda o Niccolaio. E o Piero Gallo que se foda. Durante o resto da viagem de avião, ela se sentou o mais longe possível de mim, o rosto dela virou para a janela. Ela não
falou quando aterrissamos. Ela não falou quando eu a deixei. E ela não falou quando eu lhe perguntei, como uma merda de uma rejeição musical da High School Musical, quando eu a veria em seguida. Eu tive minha chance – duas chances, de fato – e arruinei as duas. Eu a arruinei.
CAPÍTULO DEZ
No coração de toda raiva, todos o rancor, e todo o ressentimento, você sempre encontrará um medo de que espera permanecer anônimo. – Donald L. Hicks
— Tenho algo para lhe dizer. Eu precisava confrontar meu pai, mas a gravidade revestiu as características de Brody. Além disso, ele estava me esperando do lado de fora da minha porta da frente há muito tempo, então acenei para ele continuar enquanto eu virava a fechadura da minha porta e entrava no meu apartamento do estúdio. Ele limpou a garganta enquanto seguia atrás de mim. — Eu vi Ranie falando com seu pai há pouco tempo atrás. Eu estava tirando os saltos, mas, às suas palavras, eu congelei. — Quando? — Antes de você me dizer que o tinha visto novamente.
Eu chutei meus sapatos, virei-me para enfrentar Brody e coloquei meus punhos fechados sobre meus quadris. — E por que você não me disse? — O cara te fodeu, e demorou uma eternidade para você se curar. — Ele se babou. — Por que eu iria querer falar sobre ele? Eu ainda não estava curada. Ranie era uma cicatriz, marcada na minha pele durante os mais de vinte anos que eu o conhecia, e a cada segundo que passava, a cicatriz só se aprofundava. Pode ter ficado invisível, mas eu a sentia. Ela foi levantada e moldada como a dúzia de quase beijos que tínhamos compartilhado na escola; a amizade que ele tinha me concedido apenas para arrancar o amor dos meus dedos; e as mentiras que continuavam a se amontoar entre nós, como uma pilha de roupas rejeitadas após uma limpeza completa, até que eu não podia mais ver o garoto que um dia conheci. — É justo. — Deixei minha mala de merda na porta e mergulhei na minha cama, precisamente a três passos do tapete de boas-vindas. Brody deitou-se ao meu lado, como sempre havia feito no passado, já que não havia espaço no meu apartamento de estúdio para um sofá que caberia mais do que a bochecha esquerda da minha bunda. — Desculpe.
— Não é culpa sua que eu tenha um gosto horrível por caras. — Inclinei minha cabeça sobre seu ombro. — Mas não em amigos. — Eu o olhei de relance. — Sério, não tenho ideia do que faria sem você. Ele se virou para o lado, então ele estava um pouco acima de mim. Quando ele se inclinou para frente e seus olhos se fecharam, eu me empurrei para trás. Fiquei nervosa, insegura do que dizer. Os olhos dele se abriram e vi o desanimo em seu rosto todo. Ele pulou da cama. — Sinto muito. Eu dei um passo atrás. — O que foi isso? Ele deu um passo na minha direção. — Eu... Eu dei uma ajuda. — Você acabou de tentar me beijar. — Eu sinto muito... Eu não podia deixá-lo falar. Eu tinha medo do que ele diria. — Você pode ir embora? Por favor? Falarei com você amanhã. — C, eu... — Por favor. — Mas, Carina, eu... — Agora, Brody! Eu não posso... — ESTOU APAIXONADO POR VOCÊ!
Minha mandíbula caiu. Será que todos na minha vida escondiam algo de mim? Ele deu um passo mais perto. — Diga alguma coisa. Eu não queria machucá-lo, mas também não queria levar isso adiante. Claramente, eu tinha feito algo errado nos últimos onze anos. — O que você quer que eu diga? — Que você me ama, também. Eu suavizei a minha voz. — Mas eu não amo. — Eu engoli. Duro. — Há quanto tempo você está apaixonado por mim? Seu olhar se deslocou para a parede acima da minha cabeça, onde um quadro horrível da IKEA ficou pendurado na minha tentativa de embelezar esta lixeira. — Bastante, desde que te conheci. Eu queria zombar, mas me abstive. Por pouco. — Amor à primeira vista? — Você estava tão solitária, vulnerável e desolada naquela cafeteria. Minhas sobrancelhas dispararam. — Você se apaixonou por mim porque eu estava quebrada? — Eu me apaixonei por você depois disso. — Ele sugou o fôlego. — Não, você não estava quebrada. Você estava triste, e eu me aproximei de você porque queria ser eu a fazer a garota bonita e solitária feliz.
Talvez fosse o meu olhar, mas quando lhe pedi para sair novamente, ele me escutou. Suas palavras haviam sido... doces? Assustadoras? Eu não sabia, mas também não queria lidar com isso. Porque tudo voltou para Ranie. Brody tinha razão na primeira vez. Eu estava quebrada, e Ranie tinha sido o único a me quebrar.
Esperei quatro horas na cozinha de papai antes dele chegar em casa do trabalho. Ele tinha um apartamento estúdio como eu. Não tinham os dois quartos onde eu havia crescido, mas era o mesmo prédio. Uma vez que eu me mudei, o proprietário nos deu apartamentos de estúdio lado a lado com desconto. Pequenas misericórdias. O pai jogou suas chaves no gancho. — O que você está fazendo aqui? Eu acenei para a tigela de espaguete no jogo de mesa em frente a mim. Já estava muito frio, mas eu não estava com vontade de aquecê-lo para ele. — Coma.
Ele agarrou um garfo e sentou-se. — Espaguete? — É domingo. — Eu assisti enquanto ele torcia o macarrão ao redor do garfo e enfiava o espaguete na boca. Ele falou ao redor de uma boca cheia de comida. — Está frio. — Você estava atrasado. — Não sabia que você estava me esperando. Inclinei minha cabeça para o lado, examinei-o, e disse, quando ele estava no meio de uma mordida: — Eu estava com Ranie. Passamos o fim de semana juntos em South Beach. Ele engasgou-se com o espaguete. Esperei alguns segundos antes de ficar de pé e agarrei um copo de água para ele. Ele tomou um gole. — Obrigado. — Por que você mentiu para mim? — Pensei que se eu não dissesse sobre o quê, ele me preencheria os espaços em branco. O rosto dele ficou paralisado, e ele deixou cair o garfo que tinha segurado. — Ele lhe disse? — Sim, — eu menti. — O que eu quero saber é porque eu tinha que ouvir dele e não de você.
Ele puxou sua cadeira para trás e ficou de pé abruptamente, fazendo-a cair no chão com um violento estrondo. — Não posso falar sobre isso com você. Meus braços cruzaram, e meu olhar pesado nunca vacilou. — Se você me quer em sua vida, não há outra opção. — Eu estava preparada para seguir em frente com minha ameaça? Maldito se eu soubesse. Mas os segredos tinham arruinado meu passado, e eu não os deixaria arruinar meu futuro. — Querida, não. — Por que, pai?! — Em meus vinte e cinco anos de vida, eu nunca havia levantado minha voz no papai, no entanto, minha voz ressoava bem alto no pequeno apartamento, agitando aos dois. Ele puxou silenciosamente sua cadeira e se sentou. A queda de seus ombros apunhalou meu coração. — Eu não podia dizer à minha filha que a mãe dela teve um caso com o pai de seu melhor amigo. Era a minha vez de ficar pálida. Ele estudou minha cara. — Você não sabia. — Pai, preciso que você pare de mentir. — Minhas mãos se apertaram em punhos, mas eu as escondi debaixo da mesa de jantar. — Eu não sei quem você está protegendo neste momento, mas com certeza não sou eu.
— Querida, eu não posso... — Você vai, ou eu vou. — Estava na hora de começar a me colocar em primeiro lugar. As pessoas me tratavam com base em suas expectativas em relação a elas, e eu não seria persuadida a esperar menos. Ele engoliu suas palavras, e o silêncio desceu sobre nós. — Sua mãe conheceu Cristiano Andretti quando ela foi buscála na casa de Ranie. Ela começou... a vê-lo depois disso, toda vez que ela ia buscá-la. Eu baixei os olhos. Lembrei-me de como ela estava vestida quando veio me buscar. Uma vez até lhe disse o quanto ela estava bonita quando apareceu com seu vestido fluido, seu cabelo encaracolado e seu batom vermelho. Ela desapareceu “para o banheiro” por uma hora, e eu não tinha pensado em nada disso porque eu estava muito ocupada brincando com Ranie, e eu era muito jovem para saber o que isso significava de qualquer maneira. Quando ficou claro que meu pai não tinha intenção de continuar, eu zombei. — Estou aqui todos os dias para você nos últimos vinte e cinco anos, e você ainda está guardando os segredos de mamãe. Você ainda é leal a ela. Meu pai empurrou a tigela para longe dele. O garfo caiu para fora do lado e se caiu no chão. — Não é o segredo de sua mãe. É meu. — Ele baixou a voz até não gritar mais comigo,
mas suas palavras só cortaram mais fundo. — Eu não era suficiente. — Isso é ridículo. — É mesmo? Olhe para este lugar. Você mesma disse, uma e outra vez. — Ele fez um grande gesto por todo o apartamento. — Sua mãe queria mais. Ela merecia mais! Então, quando Cristiano pediu à sua mãe que nos deixasse, ela o fez. — Pare de inventar desculpas para ela, pai! Eu tinha dez anos! Dez! Ela não tinha o direito de sair. — Ele lhe deu a vida glamurosa que ela sempre quis. A vida que ela merecia. — E você lhe deu uma família. Insuficiência puxou as bordas do meu coração, mas eu a empurrei para longe. Se havia algo que eu sabia com certeza, era que eu era desejada. Ranie havia passado os últimos dois dias confirmando o que eu já deveria ter sabido. Era a vez de papai descobrir, e eu esperava, para o bem de ambos, que ele soubesse. Meu papai desviou os olhos. A culpa – tanta culpa os consumiu. — Ele a instalou em um apartamento de cobertura na extremidade oposta de Miami Beach, mas alguns anos se passaram, e ela estava sozinha e queria voltar para casa.
Ele engoliu. — Nós estávamos resolvendo as coisas. Cristiano não queria que ela saísse, então ele tentou mostrarlhe como, — sua garganta se moveu, — eu não era suficiente para ela. Não era bonito o suficiente para ela. Não havia sentimento suficiente. Não havia dinheiro suficiente. Quando você estava no oitavo ano, querida, Cristiano teve seus capangas por perto. Dinheiro de proteção, eles tinham chamado. E eu o paguei. Era tanto dinheiro, e eu paguei. Eu só queria você a salvo. — Mas você não conseguia manter os pagamentos, — eu sussurrei. Ele balançou a cabeça. — Não. — Onde está mamãe agora? Cristiano tinha ido embora. Não havia razão para que ela não voltasse para casa. Meu pai deu de ombros, algo que parecia muito parecido com dor que transbordava em seus olhos. — Eu não sei. Sempre achei que talvez ela tivesse muita vergonha do que tinha feito. Eu mexi no meu lugar. — Por que você está sofrendo por ela? Por que você não vende a loja e sai desta cidade de merda? Você está com perda de dinheiro por todo lado, — gesticulei no apartamento, — e olhe onde moramos! Você poderia comprar um bom rancho em um estado barato e se aposentar com o
dinheiro da venda da loja. Talvez encontrar alguém para amar novamente, papai. — Mas eu a amo. Eu não conseguiria raciocinar com isso. Eu sabia em primeira mão como era o amor ilógico. Eu desviei a conversa. — O que tudo isso tem a ver comigo e com Ranie? — Cristiano nos deu um ultimato. Se Ranie parasse de passar tempo com você, ele baixaria a taxa de proteção. — E você foi por isso? — Eu pensei que podíamos ser uma família novamente! — Partiu meu coração! — Eu bati com meus punhos na mesa. — Isso me quebrou! — E eu sinto muito! Eu cometi um erro. Eu balancei a cabeça. — Eu não entendo. Por que Ranie concordou com isso? — Porque ele te amava, e eu lhe implorei. — Brody disse que viu você e Ranie juntos recentemente. — Ele queria te contar tudo, e eu lhe pedi que não contasse. — Por quê?
— Eu estava envergonhado! — Ele arrancou seus olhos de mim, incapaz de encontrar meu olhar, e quando seu volume nunca diminuiu, foi como se ele estivesse gritando para si mesmo. — Tanto tempo passou! Tinha medo de que não olhasse para mim da mesma maneira! Eu tinha medo de perder você! Eu me levantei e contornei a mesa para enfrentá-lo, porque o fato de meu pai não poder me olhar nos olhos me golpeou duramente, como um golpe inesperado de um lutador de MMA. — Você estava certo e errado. Não vou olhar para você da mesma forma, mas você também não vai me perder. — Afinal de contas, ele ainda era meu pai. — Eu preciso ir. Falaríamos sobre isso mais tarde e eu o perdoaria, porque ele havia tentado me proteger. E embora suas intenções se tornassem menos puras, ele ainda era meu pai, e eu sabia o que era estar apaixonada sem sentido. — Aonde você vai? — O pai finalmente perguntou quando meus dedos escovaram a maçaneta da porta. — Eu preciso encontrar Ranie.
Passei pelo Down & Dirty, mas quando não consegui encontrar Ranie, fui parar no condomínio de Brody. Ok, então eu estava nervosa, e precisava de tempo para me reerguer. Roma não foi construída em um dia. Deslizei a chave reserva de Brody da pedra falsa na frente de sua casa e deslizei-a para dentro da porta. Ele não estava em casa, mas eu também não estava com pressa para confrontá-lo. Seu lugar era pequeno, mas limpo, com móveis de bom gosto. Ele trabalhava como eletricista, então ganhava um dinheiro decente, mas não jogaria dezoito buracos no country club com o resto dos milionários e bilionários de Miami Beach a qualquer momento. Abaixo da tela plana da sala de estar havia uma prateleira por cima de uma lareira. Molduras cheias de fotos de Brody e eu forravam a prateleira da lareira, junto com algumas quinquilharias que representavam sinais de nossa amizade ao longo dos últimos onze anos. Houve um tempo em que eu pensava que Brody poderia gostar de mim como mais do que um amigo. Tinha sido durante
nosso
segundo
ano
do
ensino
médio,
mas
rapidamente depois que eu tinha pensado nisso, ele tinha encontrado uma namorada. E depois outra. E outra.
Desde então, ele tinha tido uma sequência constante de namoradas, mais do que eu podia contar, e era um dos solteiros mais elegíveis de North Beach. E foi por isso que ele me pegou de surpresa esta manhã. Mas, olhando agora para sua casa, minha presença neste lugar era assustadora. Eu estava em quase todas as molduras. Eu estava lá para quase todas as compras de móveis e lascas no piso de madeira. Eu pensava que era uma situação típica de melhor amigo, mas eu só tinha tido um outro melhor amigo em minha vida para compará-lo – Ranie. E eu tinha me apaixonado por ele. Duas vezes. Meus dedos escovaram sobre a pequena caixa de madeira que eu havia comprado para a Brody no segundo ano de Natal. Tínhamos ido ao encontro de troca, acordado um orçamento e nos separamos para caçar presentes um para o outro. Levantei a tampa, puxei a folha dobrada de papel, alisei as bordas e congelei quando reconheci a caligrafia familiar. A minha. Só que esta carta não era para ele.
CAPÍTULO ONZE
O ressentimento é uma união de tristeza e maldade. – Samuel Johnson
Nove Anos Atrás Talvez eu estivesse em uma alta de RomCom após uma maratona de o Diário da Princesa, seguido por Titanic, Diário de Uma Paixão e alguns outros títulos de comédia romântica de mesmo gênero. De qualquer forma, eu escrevi uma resposta à carta do Solitário Romeu em minha assinatura com tinta turquesa. Se Ranie era o Solitário Romeo (e ele tinha que ser porque era o único a me chamar de Gallo), ele merecia uma resposta, e se não fosse, talvez não fosse tão ruim tentar falar com ele novamente. Éramos os melhores amigos há nove anos. Um ou dois anos de luta era apenas uma mancha no grande esquema das coisas. — Diga-me novamente porque estamos fazendo isso. — Brody encostou-se a um armário, sua voz ecoando ao longo do corredor vazio.
— Shh! — Eu dei uma bofetada na boca dele. O objetivo de pular a aula era para que ninguém pudesse nos pegar, e eu não precisava de sua grande boca arruinando meu plano. — Nós não estamos fazendo nada. Eu estou fazendo. — Com minha mão livre, levantei a carta para meus lábios e pressionei um beijo para fora, meu brilho labial de chiclete deixando uma marca no papel. — Estou fazendo isto porque me foi dada uma carta de amor e preciso responder. É justo. Ele lambeu minha mão, que ainda estava pressionada contra sua boca, e eu a puxei para trás, enruguei meu rosto com nojo, e limpei seu cuspe em sua polo perfeitamente pressionada. — Não vamos assistir RomComs neste fim de semana. Eu encolhi os ombros. — É a sua vez de escolher os filmes este fim de semana de qualquer forma. — Encontrei o armário e me movi para deslizar meu bilhete para dentro, mas a mão de Brody bloqueou meu caminho. Suas sobrancelhas sulcadas. — Este é o armário de Ranie. — Eu sei. — Ele é um idiota. Ele odeia você. Obrigada por me lembrar. Eu suspirei, aborrecida por ter que me repetir. — Ele é um idiota? É. Neste momento, ele é, mas nós éramos amigos.
Eu gosto de pensar que aquele cara que eu conhecia e amava ainda está lá. Se possível, o cenho franzido dele se aprofundou. — Amava? Eu não sabia porque sentia a necessidade de me defender, mas eu sabia. — Você não pode ser amigo de alguém por nove anos sem amá-lo. Ele levantou uma sobrancelha, o interesse afligia suas feições. — É mesmo? — Sim. — Eu o empurrei para o lado com meu quadril. — Agora, mexa-se. Meu coração bateu enquanto eu deslizei a carta para dentro do armário. Estava arriscando meu coração, e se não recebesse uma resposta, ficaria esmagado. Novamente. Mas Ranie era o tipo de cara pelo qual valia a pena lutar. Ele era meu protetor. Meu amigo engraçado. Meu passado, meu presente e meu futuro. E meu melhor amigo. Valeu a pena lutar por isso. — Esta é uma má ideia, — repetiu Brody. Ele estava apenas sendo seu eu protetor habitual, mas isso estava me irritando. Eu dei a ele um sorriso falso. — Eu sei que você odeia o cara, mas eu realmente apreciaria se você pudesse me apoiar nisto. Eu já estou nervosa o suficiente. — Minhas palmas
estavam tão pegajosas, que nem conseguiam formar punhos adequados. — Chega de negatividade da sua parte, senhor. Ele segurou as duas mãos para cima. — Está bem, está bem. — Eu tenho que ir para a aula. Vamos rever as precauções de segurança para a dissecação de ratos na aula de hoje. Eu provavelmente deveria pegar o máximo que puder, para não fazer algo estúpido como apunhalar minha parceira de laboratório. Não que eu não me importasse de chatear a Lacy Ryan. — Ou deslizar uma nota de amor para dentro do armário de algum idiota. Eu estreitei meus olhos. — Ei! Certo, talvez isso tenha sido um pouco idiota. Ele riu. — Esse foi o último golpe. Eu juro. — Vejo você esta noite! — Joguei minha mochila sobre o ombro e deixei Brody sozinho no corredor. Esperei o resto do dia por uma resposta de Ranie. Qualquer coisa. Esperei no dia seguinte também. Mas os dias se transformaram em semanas, as semanas em meses e os meses em um ano. Depois, no dia seguinte. E no dia seguinte. E mesmo assim, sem resposta.
E então lembrei-me do que Brody havia dito naquele dia que eu havia recebido minha carta de Solitário Romeo. Adeus, Gallo.
Presente Havia hordas e hordas de cartas debaixo de minha resposta ao Solitário Romeu. Eu roubei a caixa e fugi da casa de Brody, não me dando ao trabalho de trancar atrás de mim. Sem me falar em ver Ranie e papai juntos, eu poderia perdoar. Mas roubar as cartas de Ranie para mim – e eu não tinha dúvidas agora que elas eram de Ranie – era imperdoável. Eu não podia ir para casa porque estava zangada com o meu pai. Não podia correr para casa de Brody porque ele tinha me traído e não podia ver um futuro onde pudéssemos ser amigos novamente. E eu não podia correr para The Down & Dirty porque Ranie era o dono, e nós estávamos brigados. Aqueles eram os três homens da minha vida, e todos eles haviam mentido para mim massivamente em um momento ou outro. Mas o único que tinha tido boas intenções – o único que realmente só tinha o meu bem-estar em sua mente – era Ranie.
E por acaso era por ele que eu estava apaixonada. Dirigi até o parque perto do meu apartamento e subi no parquinho, com a caixa na mão. Minhas mãos tremeram enquanto eu tirava as cartas e as espalhava diante de mim na base de metal ralado e coberto de plástico. Havia dezenas destas cartas, e todas elas não tinham data. Eu agarrei a mais próxima de mim. Hoje eles serviram torta de maçã na cafeteria. Tinha gosto do seu cheiro, e quando eu segurava o papel de embrulho vermelho, não conseguia tirar a memória de você e daquele vestido da minha cabeça. – Solitário, Romeu Amante de maçã E ele tinha mantido esse vestido. O tio Luca levou a família para comer italiano hoje. Meu pai não parava de reclamar de como o espaguete não era autêntico o suficiente. Eu queria tapar a boca dele com um pouco do seu espaguete – espaguete de domingo, mas depois me lembrei que você me odeia. Queria que você não me odiasse. Eu quero espaguete de Domingo. E cozinhar na casa de seu pai. E atirar molho um no outro e culpar o gato do vizinho quando seu pai perguntar. Eu quero você. – Solitário, Romeu Desejo de Espaguete
Ranie e eu poderíamos ter sido felizes. Poderíamos ter sido Romeu e Julieta, reunidos em segredo, malditos sejam nossos pais. Brody tirou isto de mim. Aprendemos a mecânica básica de um banheiro hoje na aula de Life Skills14. Juro, o Sr. Clarke deve ter puxado o autoclismo centenas de vezes. E cada vez que ele descarregava, eu ficava pensando que eu era aquela água, minha vida rodopiando em círculos caóticos pelo ralo. O tio Luca está morto. Mamãe está morta. Niccolaio se foi, e provavelmente também morrerá em breve. E eu só quero minha melhor amiga de volta. Volte, Gallo. Eu te amo. – Solitário, Romeo Descarga de Banheiro
Uma lágrima deslizou pela minha bochecha. Eu deveria estar lá para ele. Ele era meu melhor amigo e eu teria suportado toda a sua dor se isso significasse, por um segundo, que ele teria se sentido ainda um pouco melhor. A primeira gota de chuva caiu na minha bochecha. Corri para enfiar as cartas na caixa e as escondi em local coberto, onde ficariam a salvo da chuva. Eu não estava pronta para ir para casa, então me deitei ali, sob o céu escuro e chuvoso de abril. Deitada debaixo da chuva assim, senti como se tivesse dez anos de idade novamente, correndo ao redor do playground 14
Life Skills seria uma aula que é ensinada habilidades para a vida.
com Ranie, brincando de Princesa e Dragão. Eu era o dragão, e eu o tinha feito brincar de princesa. E ele o fez, porque me amava. Talvez ele sempre amou. Ranie subiu no brinquedo, sua aproximação quase silenciosa graças aos salpicos incessantes da chuva forte e úmida. Ele se estabeleceu ao meu lado, suas costas pressionadas contra o metal barato revestido de plástico, seus olhos fixos no céu escurecido. Seus olhos sangravam lágrimas de gota de chuva, enquanto
os
escorregaram
meus pelas
sangravam minhas
lágrimas
bochechas,
reais. sem
Eles dúvida
misturando-se com a chuva estrondosa, como um encontro de amantes furiosos finalmente. Ranie se estendeu e escovou o máximo de umidade que pôde do meu rosto. — Você me odeia? — Eu não te odeio, Ranie. Seria muito mais fácil se eu odiasse. Sua mão caiu para o seu lado e descansou entre nós. — Eu te procurei na casa de seu pai. Ele me contou o que aconteceu. — Ele hesitou. — Ele está preocupado com você. — Eu o perdoarei. Eventualmente. — Eu me virei de lado e enfrentei Ranie, cruzando meus dedos com os dele. — Você me perdoa? — Pelo quê?
— Todo este tempo que desperdiçamos poderia ter sido gasto juntos. Eu deveria ter sabido melhor. Você nunca me machucaria de propósito, mas eu o vi com todas aquelas garotas, e isso me confundiu. O
arrependimento
engoliu
seu
semblante.
—
Eu
precisava afastá-la. Você não desistiria. — Porque eu te amava. E eu deveria ter te amado o suficiente para ver além das ilusões. — Você não poderia adivinhar. Eu me sentei, e a emoção subiu na minha garganta, dificultando a fala, mas eu empurrei as palavras honestas para fora, porque ele precisava ouvi-las. — Você não entendeu. Me mata que eu te amasse tanto, mas não conseguia ver além de tudo. Era como a multidão animada na estação de trem, cobrindo o som das teclas do pianista. Mas ao invés de ouvir a melodia por baixo das distrações, eu fui engolida pela multidão. Ranie também se sentou e se inclinou para frente até ficarmos à altura dos olhos. — E você não entendeu. Nossos anos separados não importam. Não quando temos o resto de nossas vidas para passar juntos. Eu te amo, Carina Gallo. Sempre amei. Sempre amarei. Seus lábios pressionados contra os meus, escorregadios da chuva, e era tão doce e tão familiar, que eu queria me perder
em seu toque, mas sabia que jamais o faria. Não quando estava impressa em minha memória para sempre. Ele me levantou com um braço e me moveu até que eu me sentei entre suas pernas. Inclinei-me para frente e pressionei meu peito contra o dele, empurrando-me para dentro do beijo. Era lábios em guerra, dentes em choque, e línguas em duelo, compensando o tempo perdido. Foram nove anos de amor de infância e onze anos de calamidade. Eu empurrei sua camisa sobre sua cabeça e a joguei para o lado. Ela pousou longe do brinquedo, mas nenhum de nós piscou um olho. Ele gemeu quando eu puxei meu vestido pelos braços e do meu corpo. Eu o joguei para longe de mim. Ele tirou um preservativo de seu bolso, uma pergunta nos olhos. Eu balancei a cabeça. Eu tomava pílula e estava limpa, e confiei nele para não me machucar. Os olhos dele estavam aquecidos e corri para desabotoar o jeans, abrir o zíper e deslizá-los pelas pernas. Ele estava nu por baixo, e seu pau saltou para cima, batendo na barriga. Finalmente, isso estava acontecendo. Este momento havia vinte anos, e meu cérebro me implorou para saboreá-lo. Ele estava nu, e lindo, e meu, e foda-se, eu estava saboreandoo. Eu precisava dele agora. Eu precisava dele rapidamente. E eu precisava dele com força. Ele abriu meu sutiã, jogou-o fora, e rasgou minhas calcinhas de novo. Mas eu sacrificaria todas as minhas calcinhas se isso significasse que eu o tinha. Estávamos ambos
nus um diante do outro pela primeira vez, e o choque e a luxúria nunca enfraquecendo dos nossos olhos. — Deslize sua boceta no meu pau, — implorou ele. Da minha posição acima dele e da maneira como o desespero brilhava em seus olhos sedentos de luxúria, eu me sentia mais poderosa do que jamais havia sentido em minha vida. Empurrei seus ombros para trás até que suas costas foram pressionadas contra o chão. Sua mão agarrou seu pau e ele se posicionou na minha entrada. Baixei minha boceta sobre sua ereção e fechei meus olhos. Meu corpo se ajustou ao seu tamanho e saboreei a sensação de minhas paredes estreitas agarrando seu pau. — Carina, — ele rosnou enquanto se empurrava para dentro de mim e empurrava com força. Adorei como ele me fodeu, como se soubesse que eu poderia aguentar. — Se você não me montar agora mesmo, vou te foder até que você não consiga andar, vou te girar e te virar de costas, — ele agarrou minha bunda com força e suas unhas cavaram em minha pele sensível, — e espalhar meu esperma naquela bunda perfeita com minha mão enquanto eu te espanco por me provocar. Eu chorei com as palavras dele e balancei meus quadris para frente. — Diga-me como você me quer. Ele se sentou, e meu clitóris se roçou em sua pele. — Para sempre.
Meu riso se transformou em um gemido enquanto ele chupava a mancha abaixo da minha orelha. — Eu quero dizer, como você quer que eu te foda? — Você confia em mim? Eu acenei com a cabeça. — Sempre. Ele me levantou, e eu enrolei minhas pernas em volta de sua cintura e me empurrei mais profundamente para o seu pau enquanto ele nos levava para as paredes gradeadas do brinquedo. A chuva quente escorria pelo seu rosto, gotejava pelo queixo e salpicava seu peito enquanto ele falava: — Segure as barras. — Ele rasgou uma tira de tecido de sua camisa enquanto eu agarrava a barra acima de mim. — Assim você não escorrega. — Ele apertou um beijo nos meus lábios, depois amarrou meus pulsos à barra com o tecido. Ele puxou-a, certificando-se de que ela não se soltasse. Meus lábios encontraram os dele, e ele agarrou seu pau e o acariciou uma vez antes de esfregar a cabeça de sua ereção no meu clitóris. Eu me empurrei para frente, balançando meus quadris para encontrar seu pau. A frustração surgiu através de mim enquanto as amarras mordiam meus pulsos. Ele me parou com um tsk-tsk. — Não seja gananciosa, Gallo. Se você não consegue se controlar, eu posso ainda amarrar suas pernas. Eu estreitei meus olhos. — E se eu não gostar de BDSM?
Ele estendeu a mão e esfregou o polegar no meu lábio inferior, dividindo-o. — Isto não é BDSM. É um estilo. — Ele moveu seus lábios para o meu ouvido até que eles escovaram contra o lóbulo enquanto falava. — E você gosta disso. — E como você saberia disso? Ele chegou entre nós e acariciou os lábios da minha boceta antes de separá-los e afundar três dedos dentro. — Ensopada. Enrolei uma perna na cintura dele e o puxei para mais perto de mim. — Cala a boca e me foda já. Ele riu e me deu o que eu queria, empurrando para dentro de mim e acertando meu ponto g em sua primeira tentativa. Ele agarrou minha outra perna e a enrolou em torno de sua cintura, também, dirigindo cada vez com mais força em mim. Eu joguei minha cabeça para trás e gemi. Não importava o que eu havia sentido por ele no passado, do amor à frustração, do desespero à raiva, eu sempre soube que fomos feitos um para o outro. Seu corpo era um par perfeito para o meu. Seu longo e grosso pênis, um estiramento perfeito para as paredes apertadas da minha boceta. Seus impulsos se aceleraram, e eu encontrei cada um deles, balançando meus quadris avidamente. Fechei meus olhos e descansei minha cabeça contra seu ombro, saboreando a sensação de, finalmente, estar conectada a ele. Eu queria que ele ficasse em mim para sempre.
— Mais, — eu implorei. Ele se inclinou para frente e mordeu meu mamilo. Ele escovou a língua contra ele. Uma vez. Duas vezes. Três vezes, antes de chupá-lo, alcançou entre nós, e escovou a almofada de seu polegar contra o meu clitóris. — Goze no meu pau, — insistiu ele. Eu estava perto. Voando cada vez mais perto enquanto faíscas piscavam atrás dos meus olhos, e Pop Rocks viajou através do meu corpo, enchendo minhas veias com algo que era, sem dúvida, amor. Meus olhos voaram abertos, e eu sussurrei: — Eu te amo, Ranieri Luca Andretti. E então eu gozei. Minhas paredes se apertaram em seu pau, e ele me seguiu logo depois, derramando-se dentro de mim. Quando ele puxou para fora, eu baixei minhas pernas, e seu esperma escorreu por elas. Ele usou seu indicador e seus dedos médios para limpar minha coxa interna, empurrou seu esperma de volta para dentro de mim e gemeu ao ver. Eu senti seus dedos massageando minhas paredes. Ele era um provocador tão sujo. — Ranie... — Shh, — ele implorou. — Deixe-me desfrutar da visão da minha porra possuir sua buceta por mais um segundo.
Ele colocou seus dedos contra meus lábios, efetivamente me empurrando. O seu esperma manchou meus lábios, e eu pulei minha língua para fora, escovando seus dedos enquanto eu o provava. A chuva lavou o resto de seu esperma, mas eu ainda o sentia em mim. Ao meu redor. Dentro de mim. Ele me alcançou e me desamarrou, e nós ficamos em silêncio, levando um ao outro até que a chuva morresse, mas nossos sentimentos permaneceram inabaláveis. Dando um passo adiante, ele usou seu corpo para me encurralar contra a parede do brinquedo. — Eu te amo, Carina Amelia Gallo. Você foi feita para mim, e não importa onde você esteja ou quanto tempo passe, eu sempre a encontrarei, porque nosso amor está fadado, e Romeu precisa de sua Julieta. Deslizei por baixo dele, peguei a caixa de madeira e a abri. Entreguei a nota a ele. — Está nove anos atrasado, mas acho melhor tarde do que nunca. — Apertei um beijo nos lábios dele. — Julieta também precisa de seu Romeu.
CAPÍTULO DOZE
As bactérias de ressentimento criadas: a distância transformada em desconfiança; a desconfiança se transformou em amargura; a amargura ao ódio, que é, afinal de contas, uma espécie de amor doloroso. – Johnny Rich
ERA VOCÊ, RANIE. SEMPRE FOI VOCÊ. – Monólogo Sentimentalista de Merda da Julieta Amadora
EPÍLOGO
O ressentimento de um bom homem é a coisa mais difícil de suportar. – Publilius Syrus
Um ano depois — Você tem certeza de que quer fazer isso? Meus olhos dispararam para Niccolaio, e eu o nivelei com um brilho até perceber que ele estava brincando. Eu não o conhecia tão bem quanto antes, mas eu o conheceria. Eventualmente. Eu ainda estava me acostumando a tê-lo por perto e a não querer matá-lo, mas essa era mais a história dele para contar do que a minha. Além disso, estranhou-me que ele tivesse largado o sotaque para se misturar no Norte. Ao nosso lado, Luigi bufou. — Ria, velhote. — Eu olhei para o smoking dele. — Eu poderia mudar de ideia sobre ter um cara de oitenta anos como um dos homens do noivo.
— Cinquenta, — ele corrigiu. Niccolaio grunhindo. — Se você tem cinquenta anos, eu ainda não nasci. — Faz sentido. O seu nível de maturidade está mais ou menos aqui. — Luigi baixou a mão até que ela pairou um centímetro acima do chão, e eu jurei ter ouvido suas costas racharem. — Não se preocupe. Vai se desenvolver quando você chegar à puberdade. — Eu ainda não cheguei à puberdade, — brincou Niccolaio. — Qual é a sua desculpa? Eu me levantei quando Luigi abriu sua boca, uma réplica certamente na ponta da língua. Ele desviou seu olhar para mim. — Aonde você vai? — Ver minha noiva. — Mas isso é azar! — Eu não acredito em azar. A porta bateu atrás de mim, e quando cheguei à sala onde Gallo se preparava para nosso casamento, eu a espiei por trás da parede estendida. Um estilista estava mexendo no cabelo dela enquanto ela se esforçava para deslizar sua cinta-liga pela perna. Além de seu pai, ela não teve nenhuma madrinha de casamento. Por mais que Brody tivesse tentado, Gallo não
conseguia perdoá-lo, e eu estava cem por cento bem com isso, porra. Mas desde que nos mudamos para South Beach, ela se abriu para o mundo, e eu não podia imaginar um cenário onde alguém não a amasse. Ela faria novos amigos. Amigos que não manipulavam e eram coniventes e não estavam secretamente apaixonados por minha mulher. E até então, eu era feliz por ser seu único melhor amigo. Eu saí das sombras e o estilista arfou. Ele tocou seus lábios com as pontas dos dedos. — Não, não. Oh, não. Você não pode estar aqui. — Ele deu um passo à frente e tentou me empurrar para fora. — Isto é azar. Eu não estava pagando para ele me irritar, então eu me abaixei debaixo do braço dele e ignorei suas ondas frenéticas, empurrando meu caminho para minha futura esposa. Eu empurrei suas mãos para o lado, peguei a cinta-liga e deslizei minhas mãos sob o vestido de noiva dela. Era branco e fofo, e ela estava linda nele, mas tudo que ela vestia também ficava. Esta cinta-liga de renda, por outro lado, despertou meu interesse. Eu a deslizei lentamente pela sua perna, e enquanto não conseguia ver o que estava fazendo debaixo de todas as camadas de tecido do vestido de noiva, eu podia senti-la. Ela era macia, e lisa, e minha. Tão. Porra. Minha.
O estilista finalmente teve o senso de nos deixar em paz, e logo, o único som na sala era a dificultosa respiração de Gallo. — Isso foi indelicado. — Ela gemeu quando eu coloquei a cinta-liga em sua parte superior da coxa e deslizei meus dedos para sua buceta molhada. Ela estava sempre tão, tão molhada para mim. Eu movi as calcinhas dela para o lado e provoquei o seu clitóris com meus dedos. — Se alguma coisa, a culpa é sua por me distrair. Ela estava manchando sua lingerie de noiva com sua excitação, e eu não queria nada mais do que lamber a lingerie. Ela inclinou a cabeça para trás e balançou os quadris para frente, tentando encontrar minha mão. — Você nem deveria estar aqui. — Eu poderia ir embora. — Não se atreva. — O que você diz de sairmos daqui e irmos mais cedo para nossa lua-de-mel? — Pressionei um beijo contra o pescoço dela. — Vou fazer valer a pena. — Temos convidados. Tínhamos o pai dela, meu irmão, Luigi e Spaghetti. Eu duvidava que algum deles se importasse.
Tirei minha mão de debaixo do vestido dela e me endireitei, ignorando seus protestos. — Vamos lá. — Peguei a mão dela e a puxei para cima. — Aonde vamos? — Perguntou ela, mas ela me seguiu igual. Eu nunca tinha sido do tipo idiota, mas tive que admitir que adorava o quanto ela confiava em mim. — Para o nosso casamento. — Só começa daqui a uma hora. Eu encolhi os ombros. — Todos estão aqui. — Ranie! Eu girei e a encarei. Percebi que a amaria tanto em um corredor vazio como em uma capela de casamento cheia, e não queria nada mais de que ela fosse minha esposa. Agora. Ela me encarou com um olhar desnorteado colado em seu rosto inocente, mas eu sabia que minha noiva marota ainda estava molhada entre as pernas e, no que me dizia respeito, essa era a melhor condição para dar a ela meus votos. — Carina Amelia Andretti, eu prometo amá-la através do tempo e da adversidade. — O que você está fazendo? — Dizendo meus votos. — Belisquei o traseiro dela. — Pare de interromper. É indelicado. — Eu me esquivei do soco dela no estômago. — Prometo amá-la mesmo quando você
queimar o pão no jantar, e você vai queimar, porque não importa o quão grande chef você seja, você nunca conseguirá acertar o pão. — Uma gargalhada rasgou meus lábios quando ela bufou. — Eu prometo te amar mesmo quando você se recusar a usar o Vestido Vermelho... — Estava no lixo! — ...e, especialmente nos domingos de espaguete. Eu te amei quando éramos jovens, e te amarei quando formos velhos. Prometo te amar mesmo quando toda esperança estiver perdida, e você achar que não há como isso funcionar, porque funcionará, Gallo. Você é isso para mim. — Eu não serei Gallo tão cedo. Eu me inclinei e lhe beijei o nariz. — Você sempre será Gallo para mim. Mas você está certa, e eu gosto mais de você usando meu nome. — Bem, prometo te amar através do tempo e da adversidade, mesmo quando você queima água como só você poderia, mesmo quando você goza antes de mim... — Isso foi uma vez! Ela levantou uma sobrancelha. Eu balancei a cabeça. — Você estava usando aquela peruca azul pela segunda vez. Isso não conta. Niccolaio entrou no corredor. — Vocês vão se casar agora mesmo?
— Ninguém te convidou, — brinquei ao mesmo tempo em que ela gemeu, — Cala a boca, Nick! Gallo sorriu. — Eu estava terminando os meus votos. — Ela se inclinou e sussurrou ao meu ouvido enquanto seu pai, Spaghetti, Niccolaio e Luigi se reuniam ao nosso redor. — Prometo amá-lo, quer você esteja do outro lado do mundo, quer tenha suas bolas afundadas dentro de mim. — Ela se endireitou. — Prometo te amar, quer você esteja feliz ou triste. Mas quando você estiver triste, eu farei minha missão de colocar um sorriso em seu rosto. Prometo ser sempre a sua Julieta Monólogo e Amante de Merda, e quer você ainda me ame ou não, eu sempre o amarei, e você nunca mais será o Solitário Romeu. Apenas Romeu. Meu Romeu. O pai de Carina, que havia sido certificado on-line, limpou a garganta. — Agora você pode beijar a noiva? — Ele disse isso como se fosse uma pergunta, como se estivesse no corredor o confundisse. Ela agarrou meu rosto e me beijou, pressionando seus lábios com força contra os meus. — Acabamos de nos casar no corredor, uma hora antes do nosso casamento. E eu não queria que fosse de outra forma. Eu me ajoelhei sob suas costas e levantei seu estilo de bombeiro. — Lua-de-mel. Agora. Nunca fomos normais de qualquer maneira.
Um ano depois Ele tinha me vendado os olhos. Ouvi a Spaghetti ofegante enquanto ela corria de volta para nós, e quase pude imaginar seus olhos azuis vivos brilhando à luz do dia. Olhos azuis que lembravam os meus para o meu marido. Os olhos, ele admitiu, foram o fator decisivo para adotar Spaghetti porque ele tinha se perdido de olhar para dentro dos meus. Eu estendi a mão para o braço do Ranie. — Estou com esta venda nos olhos há uma hora! Sei que pegamos um voo, e a menos que esta viagem termine com sexo perverso, vou ficar desapontada. Ele me deu um tapa na bunda. — Você não confia em mim? — Sempre, — respondi honestamente. — Então, você vai adorar. — Ele tirou a venda dos olhos. — Abra seus olhos.
E ele estava certo. Eu realmente adorei. Cobri minha boca com minha mão, boquiaberta. Desde a última vez que estivemos aqui, ele tinha fechado todo o parque Rylafax e construído uma casa na borda. Era uma casa de fazenda clássica, uma versão superdimensionada da casa do rancho que meu pai tinha se aposentado no ano passado, exceto que a minha estava colocada em nosso parque. Um avião voou por cima, lembrando-me o quão especial este lugar era para mim. Eu ri e girei em círculo, tão feliz e tonta, como eu estava desde que Ranie e eu fizemos as pazes naquele dia no parquinho. Spaghetti se juntou à minha celebração, correndo em círculos ao meu redor, latindo para minhas risadas, para os aviões, e para sua própria maldita cauda. Ranie enrolou um braço ao meu redor e me puxou até seu peito. — Sabe, as pessoas normalmente reclamam de viver perto dos aeroportos. Eu olhei para os acres e acres de grama verde e colinas. — Do que há para reclamar? — O barulho. — Casei com um chefe. — Pressionei um beijo na garganta dele e sorri contra sua pele. — Tenho certeza que você encontrou uma solução?
— E se eu não tivesse achado? — Eu te amo o suficiente para que você não note o declínio. Ele estreitou os olhos e me beliscou o traseiro. — Você é tão esperta. — Ele se aproximou atrás de mim e abriu a porta da casa. — Para sua informação, eu encontrei uma solução. — Ele encolheu os olhos. — Uma solução à prova de som de dez milhões de dólares. Imagine o isolamento acústico de um estúdio de gravação, mas em uma casa de dez mil metros quadrados. — Aí está o meu chefe. Ele me levou para dentro da casa, passando pelo grande hall de entrada, e para a enorme sala de estar. A casa era linda, mas poderia estar em ruínas e eu teria adorado. Nos últimos dois anos, este homem tinha me dado tudo. Seu coração. O restaurante à beira-mar. O bebê crescendo na minha barriga. Eu vi a parede atrás do sofá, e meus olhos se alargaram. — Você as emoldurou. Dúzias de molduras verde-esmeralda encheram a parede, e em cada uma delas, nossas cartas de amor foram exibidas com orgulho. No centro, como um núcleo, descansava minha carta, rodeada por uma espantosa moldura azul escura. — Não sei como lhe agradecer. Ele sorriu. — Eu sei.
Eu ri enquanto ele rasgava minha camisa em pedaços, e meus olhos ficaram presos nas cartas de novo. Romeu não era mais tão solitário, mas Julieta ainda tinha uma queda por monólogos e merdas sentimentais.
AGRADECIMENTOS Chloe, obrigada por me dar os melhores três anos da minha vida. Você esteve lá desde o início desta viagem louca, e todos os dias, eu gostaria que você pudesse estar lá até o final. Sinto sua falta, garotinha. Todos os dias. A cada hora. A cada minuto. A cada segundo. Obrigada a Rose e Bauer por serem os melhores filhotes de cachorro de sempre. Vocês dois, junto com Chloe, me ensinam a amar e a ser amado todos os dias. Não seria sempre bom? Obrigado a L, por passear os filhotes quando eu tenho que escrever e ser minha outra metade. Sou provavelmente o maior punhado de qualquer menina deste planeta, mas vocês me fazem sentir como uma princesa todos os dias. Você é o Romeu para minha Julieta. Obrigada, Heather, por ser sempre meu ombro para rir, apoiar-me, chorar e berrar. 99,99% de certeza que fico irritada, mas você lida comigo com tanta graça, que não acredito que tenho um mauzão como você como amigo. Obrigado, Odette, por ser minha melhor amiga escritora para sempre. Você me dá tantas ideias com minha história e a parte menos divertida de escrever-marketing (vomitar). Você também está sempre presente para mim, e é de segunda natureza querer lhe enviar uma mensagem sobre TUDO.
Obrigada, Carla, por lidar com minhas mensagens esporádicas e dar seu máximo apoio. Você sabe que é minha garota e que está sempre presa a mim. Obrigada, Heidi, por amar os cães, e a mim e aos meus livros. Você é tudo o que eu quero e preciso em um amigo, e eu prometo que não te tomo como certa. Obrigada, Krista, por dirigir minha página de fãs no Facebook, por ser minha doce mãe ursa e por ser um ombro no qual eu posso me apoiar. Eu te amo, eu te amo, eu te amo. E por último, mas não menos importante, obrigado aos leitores, blogueiros e a todos que compartilham meu trabalho nas mídias sociais. EU OS AMO A TODOS! XOXO,