ROMANTISMO_REALISMO_A LITERATURA PORTUGUESA_MASSAUD MOISÉS

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MAl.ili^lll) MOlslls Do Autor i lhtÉq I !Í ílhl&rü do Machado de Assis, 9 vols., S. Paulo, Cultíx, 19ô0I !,rfi I (l ,r0 Íâtçáo, introdução geral, cotéjo e texto, prefácios ê notas) Àl iillr Álrí t l'(,Ítu{ruesa, S. Paulo, Cullrix, í960; 33red.,2005. llirnâoltrrx(, Ítêâlismo e Modêmismo, vols. ll e lll da Presença da LiteratuÍa Ítt,rluíl a, §. Paulo, Difusâo Européia do Livro, 1961; 2'ed., vol. lll, l0í17,

(.ÍrÍlü$, l

vd V 1971;4red.,vol.

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111,1974.

I hlca. S. Paulo, Cultrix, 1963; 14'ed.,2001. (Seleçâo, prefácio e

xrhrh)

l,l l t:l{A'l'LlRA POR'IUGUESA

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,{ (líl${ôo l-ilêrária, S. Paulo, Melhoramentos, 1967; 13'ed., Poesia, S. I'nuhr, (;ultrix,20031 16r ed., Prosa-|, S. Paulo, CullÍix,2003; 19" êd. lfrrinn ll, S. Paulo, Cultrix,2003: 18'ed. l,rirltiqflr) IJicionáÍio de LiteÍatuÍa Brasilêira, S. Paulo, Cultrix, 1967; 6'ed., ;,1){,ü ((jo-organizaÉo, co-direçãoe colaborãçâo) llírírlur$ Portuguesa Através dos Texlos, S. Paulo, Cultrix, 1968; 29'ed.,

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lrl|rÍ luríl Brasileira

Através dos Textos, S. Pãulo, Culkix, 1971i 24'ed., ')ot't4 AAnÀltxír I ilerária, S. Paulo, Cullrix, 1969; í4'ed., 2003. I rtr JÍririll ri, (k'Termos Literários, S, Paulo, Cultrix, 1974; 1í'ed.,2002. {l l:r1r|,l,orluguês, S. Paulo, Cultrix./EDuSq 1975i 5red., 1999. (Seleçáo, Â

lrrllllrlltçüo e notas) ll!1lEturí Mundoe Forma, S. Paulo, CultÍix/EDUSP, í982. I lhl(nio dü l..iteratura Brasileira, 5 vols., S. Paulo, Cultrix/EDU§P, '1983I

lí)ll1r,

3 vols., S.

Paulo, Cultrix, 2001, vol.

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Das Origens

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ll{ün{xrlismo, 1' ed., 2001; vol. ll 1' ed., 2001; - Realismo, Simbolismo, ,,,l lll .Moder-nismoi 1.ed.,2001. il i,iril,rl0Ílor do Rebanhos ê Outros Poemas, dê Femando Pessoa, S. l'i{r rlil. í lítrix/E DUSP, 1988, 7t êd.,2004, (SeleÉo ê inlroduçáo) I r'rilrt,Ílo I \rr!ioa: O Espelho e a Esfinàe, S. Paulo, Cultrix/EDUSP, í 988:

,'r,,I llllll i!.i llrrir ír(xkr$rio$ír em Perspectiva, 4 vols., S. Paulo, Atlãs, '1992-1994. {l irÍrür Írítrlr) (! diÍoçào) /lt i *lÀlli à lik,r,lrla$ ern Portugal. vol. l- Séculos XIV a Xvlll, Lisboa, l,laniltrlrr r, lltll/, v{rl. ll^- Séculos XVIII e XlX, 2000, l{,1ixrIr rlr,Ârrerll I rcÇlloô Utopia, S. Paulo, Cultrix,2O01, 1red,, 2001. A

33'Ediçáo

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VII ROMANTISMO (1825-1865 )

PRELIMINARES O primeiro quartel do século XfX presencia a diluiçâo do Arcadismo

e o simútâneo âparecimento de âtitudes anunciadoras dum moyimonto contriírio: é o perlodo chamado de Pré-Romantismo. Portugal, estÍeitamente únculado ao que se desenrola nos outÍos paÍses da Europa, espelha a radiciú tÍa sfoÍmação cultural e hístôrica operada em seguida aos acon" tecimentos relacionados com a R€voluça:o Francesa (1789), em colseqüência dos quais entÍa em crise o sistoma das monarqúas absoluústas, dando lugar ao liberâlismô como coÍpo de doutrinas sócio-políticas e à a§censão da Burguesia.

A transladaçlo da Corte de D. João VI para o Brasil, em 1808, cons" titui â chaÍnâ do estopim âtado a uma nação de súbito tomada verdadeiro barril de pólvora, como deconência da invasão napoleônica. Eletrizados os ânimos, inicia-se um pÍocesso de reação que intenta livrar Portugal da constr0ngedoÍa conjunturâ e fâzê-lo acert& o passo com as demais naçôes euÍopéias. Em 1817, já expulsos os franceses e estando as rédeas

I

do governo nas mãos de Beresford, general inglês que combateu NapoleÍo em tenas portuguesâs, Gomes Freire de Andrade articula uma conspiração dc caráter liberal, mas é denunciado, preso c enforcado. Três anos depois, estala no Porto uma revolução com idénüco propôsito, e toma-se ütoriosâ, graças à adesão de Lisboa e do resto do Pâís. Em 1822, elabora"se a Constiluiçlio, de acordo com o novo cÍedo político, âo mesmo tempo que se proclama a independência do Brasil. Seguem-se anos turbulentos, a comcçar do fim do Vinüsmo (como veio a chamar-se a revolução de 1820) e passando pela revolta em Vila Franca do Xira (imcios de 1829), que recebeu o nomc de Vilafrancada.

(Me

A luta pelo poder entre D. Miguel e D. Pedro I Portugâl) ocupa os anos seguintes: vitoÍioso o primeiro, o segundo arma.se na llha Terceira para depor o irmão. Em princÍpios de 1833, o bem armado exér.

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(l(1 l). Pcdro invade Portugal pelo norte, em Mirdclr. enqurnto o l)r,(tuo da Terceira desembarca no Algalve. A ConvençÍlo tlc livrrriunonte, crrr 1834. obrigando D. Miguel a abardonr o trono e o PaÍs, dri pur Íirrdas rs lutas pela implantação do Liberaüsmo em Portugal. D. Pedro l;rpolla sua filha, Maria, pala ocupar o trono, mas o clima de desordcn inl!,rnir conlinua até 1847, quando se inicia o periodo conhecido como l{cgr:'

dades românticas: subietivisno, culto da saudade, exrlio, a melancolia, ir solidrlo, ns ÍuÍnas, otc.

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ner{cio.



dentro dessa conturbada atmosfera que se deve compreender o aparecimeflto do Romantismo, expressão literária do recém-inaugurado ciclo ideológico. Enquadrado em momento tão cítico parâ a histôria de Pôrtugal, entende'se por que â aceitâçâo da reforma rcmânti0a não foi pronta nem calorosa: só a acalmia trazida pela Regeneração permitirá

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Graças a essrs lillinlxs caractedsticas é que o poema passou a ser considerado inlro(llrlor rkr llornilntismo em Portugal. Em 1865, com a Suestdo (\)i hftl,lillrlrt ht,{urrrruil romântica e tem iÍucio o Realismo

l

enr Porlugxl.

()Rlí;liNSi lX) l{l)M^Nll§M() l)c modo genérico, o espírito rlii\li,rr flrlli r.rrr r'rirft, krgo rl ertlrirrla tlo srjcukr XVI|l. quando irrompem

l,rarrç{ Irr llrirrrcrrirs l xllrlrisllrçôgs c(nrlrir o cull(, dos irntigos e o dogmâ(iurxr dnr lrglrli, onr coascqti€rciil da "Quc«rla dos e Modernos" ^ntigos do espírilo car{in\:,ldr ctr l6ti7 e tcrminada em l7l5) e & dillsão

rI

Contudo, as origens do Romantismo devem ser procuradas na Inglatcrra e na Alemaúa, uma vez que à França coube o papel de coordenador, amplificador e divúgador do movimento. Como se sabe, a Escócia está geograficamente separada da Ingla. tcÍra pclas montânhas Cheviots, chamadas as "híghland§" ("terÍas altas") rhr sul. Afé a segunda metad€ do século X\rl, a separaçâo foÍa também lirllii.ística e cultuÍa.I, sem contaÍ as lutas entre os dois países úinhos, tlu(: sô se con§deram terminadâs no reinado da Rainha Ana, a l9 de ruuio dc 1707. Nese interva.lo, a IflglateÍra exporta paÍa a Escócia os produtos do Classicismo fraacês, em tudo contrfuio à liteÍatur8 popular es" cocesa que existira até fins do século XVI e que agora se reduzia à trans. missão ôÍal. Tudo, razões poüticas e literárias, conüdava a uma rebelilo que visasse a instaurar o pÍesígio dessas velhas lendas, baladas e cânções que corriam na voz do povo. O primeiro a erguer.se contra a referida poe§â clássica foi o escocês Allan Ramsay (1686-1758), a pàÍliÍ de 1724, quando publica uma antologia de velhos poemas escoces€s, sob o titu. lo de The Evergrem, a que se s€gue outÍa coletâneâ de velhas canções, The Teatable Miscellany (172+1727), e, por fim, The Gentle Shepherd (1725), onde anunciâ o aparecimento da poesia baseada no sentimento

INTRODUÇÃO DO ROMANTISMO EM PORTUGAL * EM 1823, Garrett exila-se nâ Inglatera, onde trava contacto com â obra de Byron e de Walter Scot1, e, portanto, com o Romantismo ,nglês, e enfronha-se no tcatÍo de Shakespeare. No ano seguinte, está flo Hayre (França), onde concebe escrever um poema aceÍca de Camões, mas interÍompe.o para se dedicar à elaboraçâo de Dona Branca. Em 1825, ultimâ e publica o longo poema nanatiyo Cqmoes, diyidido em l0 cantos e escdto em decasn'labos bruncos, No prefácio, revela o quanto sâbia que sua obra continhâ novidades:

"A índole deste poemâ é âbsolutamente novl: s assim nio live rxiirnplar a que mc arrimasse, Dern nortc quc scguissc l'or mtrts n(h(t Lln 16 ntvegulos.



i2

sabor agridoce do

tcsinI0.

o florescimento do ideário romântico entre os letrâdos portugueses.

Conheço que elc está fora das rcgras; t (luc ric pck)s pÍircípi()§ cliis" sicos o quiserem julgar, nfo eflcontrarâo scniio irrcgularidutlcs c dcfci. tos. Porém declaro desde já que não olhei a rcgras nem a princÍpins, quc nío consútei Horácio nem Aristóteles, mas fui insensivelmentc depós o coração e os sentimentos da natureza, que n6o pelos ciilculos da arte e opemções combinadas do espírito. Também o não fiz poÍ imitar o estilo de Byron, que tã'o ddiculamenÍe aqú macaqueiam hoje os tanceses a torto e a diÍeito (. . .). Não sou clásico nem romântico." Mais adiante, referindo-se ao eixo do poema, declara que "a ação do poema é a composiç[o e publicação dos Lusíadas". Todaüa, a troma dramáüca é motivada pela úda sentimentâl do poeta, especialmentc o amor por Natércia, de onde o poema acabar sendo uma espécie de biografia sentimental de Camões: ao ver de Ganett, o épico teúa sido um romântico perfeito em sua odiséia amorosa. Em Camões, observa.se a presença de elementos clássicos, fruto da formação Êlintista de Garett: os decassílabos brancos, o vocabulário, as figuras, a sÍntese dos Lus{adas (caúos VII e VIII), a par das noü-

o

da nâturezâ.

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O exemplo não ficou sem eco: dar por diânte, suÍgem numerosos escritores, escoceses e ingleses, tangidos pela "escola do Sentimento" contra a "escola da Razão". Vejamos alguns deles: James Thomson (170O 1748), autor de The Seasons (1726-1730), enformadas por uma yisão clás§ca do mundo na qual já se percebem tÍagos de sentimento da Natureza; Edwud Young (1683-1765), jd mencionado como autoÍ de The Complaint, ot Night Thoughts on LiÍe, Deth and Immoftaliü (1742.1745), dá início à poesia notuÍna e funérea; Samuel Richardson (1689-1761), corrsidcrado precursor do Íomance, com Pomeb (1740-1741), Cbritsa Norktwc (17411748) e St üarles Gmndison (1753-1754), e tân1os oütros. I 13

I)c lodo o quadro das origens inglesas e escocesas do Romantismo, o caso da poesia ossiânica, que fez dcitar rios de tinta no século XVlll e XIx. Em síntese, as coisas passaram-se do seguinte modo: o es, cocés James Macpherson (1736-1796), corneçou a pubJicar, em 1?60, a prcsuntiva tradução em prosa de poemas escútos por Ossian, um velho bardo escocês do século III d. C. O éxito imediato levou-o a prosse. guir na tarefa de fazer coúecida uma tão rica e oÍiginal tradiçâo poetica, e desse modo, até 1763, vai dando a conhecer outros "fragmentos" ossiânicos. A impressão causada foi a de espânto e surpresa, e logo al" Buns trechos foraÍh traduzidos pâra outrâs línguas, sobr€tudo os refcrentes a "Fingal" e "Temora". Embora aguardassem üftte ou mâis anos para seÍ inteirâmente traduzidas, as baladas e cânções de Ossian se bene" r0ssitlta

ficiaram em pouco tempo de generâlizado aplauso em toda a Europa culta do tempo. Em meio ao unânime elogio, ouviarn-se ürus vozes discordantes: não poucos elevavam o bardo gaélico ao dvel de l-[omero e Yirgr1io, quando não acima. Imitadores, seguidores, epigonos multipiicaram-se por toda a pade na segunda metade do século XVIII e no decorrer do século Xf,K. O ossianismo tornou"se forte côrrente literáriâ. a cuta influência ncnhum país europeu ficou imune. Quando se descobriu que tudo não passava de mistificaÇiio. pois o autor dos poemas era antes Mac, pheNoü que Ossian, já era irrernedjavelmente tarde para impedir"lhe a profunda e benéfica influência. tanto mais que o "tradutor" certamente não precisâria do artifíÇio para lazer valer o scu talcnto e inspiruçio. De qualquer forrna. as rrovidadcs que 0 ossiarismo airusulrlava (a sinlplicidade voolbular c sirlílicl. rr rrrclotliu nlturlrl c cspontinea da frâse. geralnrrnte curlr 0 (h rrc{)rlr i!.1stívrl u lrrlos. rrnr acentuado prirnitivismo no s!nlilnl'lit() du Nrrlrllez;r. ri:r grrr'tIir cr r.lvela (entendida como uma suce§são Iinear de cpis(xlir:s ligados ptrr url ncxo mâis ou meno§ arbitÍário' com vistas à distrnçào do leitor, pck) entÍelaçâmênto do enredo) Parece teÍ casado melhor com o cspÍrilo poÍtuguês dominante na vigência do Ro' mantismo. Com isso; cxerceu tamanha influência que impediu algumas obras de virem â ser aütônlicos romances (entendendo-se o romance co mo uma §imultan€idade pÍismáticâ de vdrios planos dÍamáticos com vis' tes a ofereceÍ uma síntese rlo mundo). PaÍa tanto, basta nâo perder de vista es narrativas longas dos maiores ficcionistas do tempo, Garrelt, Her' culano, Camilo e Júlio Dinis, ÍesPeitando-se a§ caractensticas de cada

l2§

i Uflr. Salta âos olhos o compromisso com a novela, tendo em contâ as naturais diferonças do modo de ser e época em que cada

urn p,oJ*iu .u" obra. Por isso, ao falar do romance rcíúntico em geral, e tl'o portuguCs, em paÍticulff, há que ter presente sua aüança com a nõvela, prosadores mencionados, ainda merecem referência, em.bora ligeira, .!é. dos outras figurâs, a_saber: Francisco Maria goràalà (iiüf _isor1, cnadoÍ do romance m arítimo (Eugênio , 1864 A Nau de Viagem, lgSO-lgS l, etc.), ArnaJdo Gama (t828.1869), iniciou-se sob a égide -de Êucênio Sue com U Gênio do Mal (4 vols., t856-185?), seguido lor uma sé-rie de volumes em tomo de acontecimentos de várias- epocis hiúrlcas ( freraades_ e Ficçõa, 1859; I/m motim hti cem onos, úOt; O Sarseni-Mor ae

r!y., I1864; \01. O Segredo do Abade, 1864i A Uttima O Filho do Baldaiq.

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iicotau,

l86e Honra ou Louanm, $OA; O eoru ae Leça,.1872, etc.). Ainda denho do romance histórico, alg- àe neUefo d.a Srlua (Mocidade de D. lo(Ío V, 1851; Ltigrimts , iuoii",-iAà11, t".

Joâ: de Andradc Corvo, autor de tiní Áno no Corte lgs; cm 4 volurnes, Antônio de Oliveira Silva Gaio (lg3O-lS7O),çASo-tílSq, autor duÍ!

romaÍce histórico. e ainda hoje apreciado e üdo'por certo';úblico, rlrd_ - Episódios das Lutas Ciyk porruguesas de ig20-1g34 (lg6g), An, tônio Jose Coelho tousada (1829-lS5r), autor de um .rnuii., .í ,.rposta ao. Onde esti a felicidade?, de Camilo, com o 6tulo d.e Na Consciência.(1857), e de dois Íomances histôÍicos (Os Tnpiiros _ *Àor", e.cúyica^do séaio XIV (1857), e I Rua Esrl.tra (Zl'ed., 1857), Antônio de OliveiÍa Marrecr (1805-1889) toÍnou.s€ importanie *rí, economista, dotado duma lucidez incomum no seu'tempo tioiOri"orno gt"" m.er:tutes- de b'conoruia polítka, lBJg). quc como autor dc ràmances histórtcos _(Mqnuel tle &rusu .\cpilvatla. I d43; () C.orule Soberano ài ey tetu, lE44 c 1853). No que respcità à narativa pussional, dois escritofs Jrrjrpayram o terÍeno em que Camilo viriu logo nrais â nolâbilizâr-se: ll J,91oqe Azevedo (1811.1854), âutor dO Céti;.o e O Mi§a tro, po (lõ51), onde pelpassa a influência de Eugênio OB4g) Sue e Balzac. Antônio Pedro Lopes de Mendonça. jÍ referido no- tópico ao 1or*rfis*o, ou_ M:oglt dum Doido (1846). onde igualmente se iercebe o tim!o, lu

no

bÍe daqueles dois prosadores franceses,

A

HISTORIOGRAFIA

-

Como nÃo podia deixar de seÍ, a âtivi-

I

dade. historiográÍica acompaúou metamoifose geral rrazida pelo Romanhsmo, .bm consonância com as demais particuluidades desie mov! menlo, o exemplo próximo vinha da França (pois o rêmoto yinha da Alemlnx:),. sobr.gtygro graças às obras e às doutrinas historiográÍicas de Frar(787.1874\, Jules Michelet (1798.1S74) e Ãugustin Thierry !91,^_Uy1r^o1 (1797_-.18"13\. Defendiam a importância dàs idéias, Aá co, A, uiA,

tã.a.

ern Hlstôria, preconizando, para o historiador, métodos de rigor e t')_(\

balhos de erudição pâcientemente armados sobre o exame de monumentos, arquivos, documentos inéditos, com "a ambição de trtingir a verdade sob todas as formas" conrô queria Thierry (Drx ans d'études histori. ques, 1834). Todavia, à justcza, ixr rigor metodológico empregado na

rcconstituição de épocas ltisfilricrrs, urmava-se o recurso à imaginaçâo, segundo um conceito lihcnrl o subjctivo dc Histôria: o historiador insinuava-se nas obras, cxpunlrn por rncio rlclas suas idéias e não temia dar caráter pessoal iI intcrprctitçilo dos t'llos. co llnto que asentasse sm documentos indiscutivelmentc fidedignos. Dnr sunrir; entendiam a histo-

riogÍÂÍir ao mesmo tcmpo como ciência c como iLrtc. A Íenovação dos métodos cíticos cm historiografia na=o deixou de se fazeÍ presente no Romantismo português. Tomândo por base uma úlida e ampta erudiçâo beneditinamente acumuladâ no curso do século XVIII, alguns historiadores pÕem-se a Íeinterprotâr o passado nacional com o mesmo espírito de rigor e busca da verdade. Com fazê-lo. retomavam um fio partido no século XVI e só por momêntos reâtâdô no sé. culo XVII, graças à obra de Frei Lús de Sousa: a historiografia recup,era a personalidade perdida e alça-se ao plano em que a colocara Fernâo Lopes.

Ao mesmo tempo, alguns dos mais importantes histoÍiadotes românticos também valorizavun o papel da fantasia no esforço de reconstruÇlo do passado, e, parâ na:o compromcter a verdade histórica, preferimm esclever narrativas histódcas, em que davam ssas à imaginaçâo sem úolentar demasiadamente o documento e os fatos nele contidos, Além de Herculano, o maior deles todos e mais adiante estudado,

merecem realce os seguintes historiadores: Rebelo da Silva, já mencionado, autor de D. JotÍo II e a Nobreza (1857) e ltistôia de Portugdl nos séculos XYll e XVIII (1860.1871'), José Mariâ látino Coelho (1825-1891), prosador dotado de inwlgares qualidades, em historiogrâfia cuitivou nâo ú a biografia (Luís de ümões, 1880; I/avu da Goma. l8Í)4; Marqués de Pomhal, 1905, etc.), como também largos painéis. lcrrerô em que se notâbilizou com uma obra ainda v:úiosa (l/tl/í)ri,ia Politíca e Militar de Poragal rlesde ot F.ins tlo Xl4ll Stiutlo tU llil4.3 vols., 1874.1891),

Simão Jos€ da Luz Soriano (lltO2"lll9l) enrbrenhou-se particulârmente na historiogÍafia de assuntos c() tcfilpoÍiineos, com erudita e inâlterada paciência. de quc rcsulttranr ohras de largo Íôlego informativo mas coÍnprometidas pela prolixidadc e t.) pessoalismo interpretativo (I*irdria da Guerra C.livil e do lilitahelü'imento do Gotemo Parlamentat em Porrugal, 19 vols., 1866-1890; lli$kiria do Cerco do Porto,2vols., 1846-1849; Vida do lvlarquês tle Sti du llandeira,2 vols., 1887-1888; Ilistôrk do Rei.

rudo de D. José

I

e da Administtoçdo do Marquôs de Pombal,2

vols.,

1867, etc.).

tra_

t27

O PRIMEIRO MOMENTO DO ROMANTISMO

A útória

das idéias românticas enr Portugal nâo foi pronta nem depois que se resolyeu o problema da sucessão de D. Joâo VI é que o novo figurino eotÍou a dominar efetivamente. Impediam.no a força dâ inércia Íepresentâda pela reação conservadora de individuos educados segundo os moldes clássicos e absolutistas. Estes, por sua y€2, possuÍam tâl força persuasiva. que os pdmeiros Íomânticos aderem ao novo credo em meio a contÍadições que se manterão irresolúveis ainda poÍ muito tempo. RefiÍo-me de modo particulaÍ a Ganett, Herculano e Castilho. Duâs circunstâncias apÍoxima-os üvamente, em que pese à diferença de tempeÍamento, de talento, etc,, que nelês é fácil observar: primeiro, contribuirâm, cada qual a seu modo, para a definiçâo e o êxito da revolta romântica em Po ugâl; segundo, porque formados na tradição neoclássica, d€ que jamais se libertaram. Em resumo: românticos em espírito, ideal e ação política e literária, mas ainda clássicos cm mui unânime:

ó

tos aspectos da obra que legaram,

Com Garrett, Herculano e Castilho, temos o pÍimeiro ,.momento', do Romântismo poÍtuguês, a que sucedem outros dois, conforme os estágios evolutivos do pensamento instalado em 1825.

GARRNTT

João Batista da Silva Leitão de Almeida Ga ett nâsceu no poÍto, em 1799. Aos dcz anos, em nzão das gueÍÍâs napoleônicas, é levado para a llha Terceira (Açores), ondc faz os primeiros estudos. Em 1816, se-

gue paÍa Coimbra, a cursaÍ Direito e a compor poemas de sabor arcádi. co mais târde reunidos no volume lrir'cd de Joao Mínb a (1829), e ten. tâÍ o teatro (escreve entâo LuÜécia, reprasentad,a em 1819, Mérope, Àfon" so de Albuquerque, (htdo, !;,agedia repÍesentâda em 1821, etc.). No mesmo ano em que leva à c€na a última peça, forma-se, adquire súbita e duüdosa notoriedade com a publicação dum poema, Retrato de yênur, em homenagem à Pintura, câsa-se com uma jovem de catorze anos e ingressâ no Ministério do Reino. Em 1823, compelido pela revolução liberalista, exila-se na Inglaterra, onde entÍa em contacto com

o teatro de Shakes-

pearc e com o Romântismo. De lá, muda.se paÍa o Havre (França), a gaúar a üda, e a escreveÍ poesia dentro dos novos modelos: Camões (1825) e D. Branca (1826). Regressa a Portugal, mas em 1828, com a subida de D. Miguel ao trono, vê-sc forçado a reexilar"se na lnglateffa, onde sc de. moÍa pouco tempo, passaado para a França e de ld para a Ilha TerceiÍa, a fim de engajar.se no exército liberal de D. Pedro IV, sem nunca perder dc vista a publicaçâo das obras üterárias e doutriná âs que vai compon-

umr vidil rtlrihuilda e aYentuÍesca. Em 1832, parlicipa dô rlcrnbarque dls forças liberalistas nô Mindelo e e§creve, enquanto du,u ,, c"r"i, di) Pollo, o tlrtt rlet Sannna (sÓ publicado em 1845"1850). llciostuladrr ir ordçnr ltcionrtl, tr tlcsignado para trâtar dos negócios de l'(n tugll iurlo lto llrtvrtrrt, trr'lpr (lli-l'{"183ó). De volta a LisboB, separ,r ,,.: ii,r rrrullr,, (' r|i inlr'r(r à r'rtrtt prtrtlt rt cm filvol do teatro nacional (funrlx(Í,) .lo lr,.llrrr rl, ll Mrrtirr ll t' tlrr (llnscrvat(rrio Drâmático, 1838). lili l8.ll, r',rrrlrr'r,r' ÀrL'llirL' l)t'vrll., (llr('llre dilrli uma filha Dois anos rrlirr,, l;rrrlr, irriirr ir ltllltllrilçxrr tllrs l'trtlrttr ut Minlru Tena'. granjeara delrtrlrv.rnr'llr. rtrrtttr'ittlit uultto rlitttrli c lrotncttt tlc lalcnto e combâtivo. N1'vrr irutor(\, Io(luvill, ttulpilltl"illc it inltSinllÇl(), ttru dos quais, pela Vis,'rrrrtlr:r,rit ú;t l,uz, lhc itrspiraLí i$ l'blla§ (:utdur ( l{t5-l) linI I852, é norrrrtlo Mlnislro dos Negócitls L]strmgeiros, c llo lno seguinto' Visconric c Prr do Reino. Essas homenagcns, porém, eram o seu canto de cisrro: fdece a t) de dezembro de 1854, deixando incompleta uma n:urâtivr de tcma brasileiro, l lelena. CârÍett cultivou ü oÍatória parlâmentar (Discursos Parlafie tares, 1871), o pensamento doutriniirio e pedagógico (Da Educaçdo, 1829; l\tralgal na Bolança da Eurcpa. l831i Bo§queio du História da Poesia tlo

$1n mslo a

Línguu Pora"guesa, publicado como Introdução to Pamaso Lusitano ov Poesias Seletas, 5 vols., 1826-1834), o joÍnali§mo (colaborou nO Oonista, 1826;0 Chtveco Liberdl., 1827 | O hecursor, 1831), a poesia, a

e

Drosir d€ ficcÀo e

'

o teatrô.

Nu poesia, Ganett evolui de uma fase aÍcádica, filintistâ (O Âetrato de Í/ênus, 1821 Lírica de Jo(xo Mhimo, 1829) para uÍna fa§e ro' úãr\tica (Cúmões, 18251 D. Brunca, 1826; Adozinda. 1828' mais tarde incoroorada ao Romanceiro e Cnncioneíto Gercl, 3 vols', 1843-1851; Floris sem Frulo, 1845, Folhas Cadas, 1853) A primeira fase, menos importànte que a segundâ, denota a acêitação da atitude literária. que rnircou a caiÍeira dc Garrett: uma pennancnte conten§ão racional ou irtcleclurl iirpede breza psicológica em fâvor da riqueza ânedótica, facilidade na suS0stiio dc atmosfcras de terror e mistério a ponto de cair no convencional. lilcraluÍr dc cntrelenimento, etc. Todavia, o cixo ao rcdor do qual gira todâ a importância de Canilo r i constitúdo p€la novela passiulâ|. Dmbora rtâo a tivesse introduzido em Portugal (o papel cabe a D. Joalo de Àzevedo, ruloÍ óO LYtico e O Misantropo, e â Antônio ?edro Lopes de Mendonça, autor de Ceirus da Vid.a Contemporônea e Memórits dum Doido), definiu-a no gosto público e nos ingredientes fundamentais, monopolizou.â totalmente depois de ceÍta âltura e tornou-se-lhe o mais alto representante. Para alcanç{-lo, Çamilo contava com determinados favores, dentÍe os quais predominavam os lances de avênturo galante com que pontilhou sua existênoia e um especial talento c sensibilidâde pffa trataÍ dos problemas do coração. A novcla camil.iana muda apenas e sempre no tocânte ao enredo, embariúhado s variado até ondc permilia a imaginaçâo do ficcionista: altera-se corlstantcmente a disposiçâo dos ingredientes, â tessituÍâ cpisódica, o ponto dc vista em que se coloca o flovelista, mas o módulo central permanece invnriavelmentc o mesmo. Na verdade, PaÍte sempÍe duma situação única para estabelecer cm câda naffatlva uma das inúmeras variações que lhe estão impucitas: sempÍe o amor imposível e superior, ou marginal aos preconceitos sociais, que brota do mais fundo dâ carne e da I aLná, levando ao dewario os apaixonados com as pÍomessas duma bemavenlurança üa de regra malogada. Sentimento incendiáÍio, wlcânico, impetuoso e alucinânte, Íeali za-se üvÍemente à margem e à reveüa do câsamcnto, mus cm nítido litígio contÍa restos inconscientes de moralismo burguês, visíveis nâ peÍturbação opcrarla no nÍvel dos irttpulsos, ruflctirttlu rlorcs dc consciêncis prcvocatl:rs pcl:r crrrçiio srrciitl. llslxs, rnr vcz dc rnl(,rluçcr. estimulam ainda Íllüi§ () p,oc(rss(, ilnor(rslr. lr ilt$li r ttttatrlrt.o trttrtlr violcnta e invencÍvel paixâo r;uc cor(llrz u. lrclsol,lScls l corrtpor llÍ-sç conr furor quâse pri-

mitivu, irrstirli!(,, prú-lô[iço. l4ralllrlin ro lirlitc da anestesÍâ moÍal, âs' penonügcns gurrhirrrr lirrçl ç iusliliüllivx lrtrl cníicntar as injunções do meio e dr corrsciirrcia, c tllr livrl r:xflrtsilr ao impulso dos sentidos e dos sentinrenl(rs. l\)r (\rlro l:r(lr, l lr.ntpcrx(urit passional sobc à proporFo que o amhiettc rru l cinrs(ri(in(iir lirrr»uh cntraves à consccuçÍo do

que pretendem os prillirgo,rislnrt r;rrr'r dizcr: il rrl,s(:§sÍo atttorosa rlessnvolve.se nos apâixona(los ptralolirnti:rrlcr il rcrrsirçiÍo tlc t;uc vivorr Iuma socie' dade burguesa, cârl0toriz luh) pri úlpio rh quc o scntimcnlo deve

dr

147

i)(nl(hrrlt os ilmíItcs ao ca§arnento sacÍamentado. Quanto mais â socie'

itr(lr, (,s coagt, lornbrando-lhes os co§tumes em uso, mais se abandonam,

.t

{ooviclo}- c justificados, à paixão de que se nutÍem e em que se consomem. l)csse modo, Camilo coloca fÍente â fÍente âs "râzões do coração" c ils rilzões da sociedade burguesa oitocentista, temerosa de enftaquecer'se pch concessâo de direitos éticos iÍIdíyiduais que po§sam pÔÍ-lhe em crise os dogmas, as @nvenções e as modas. Ao Íim de contâs, umâ equação inçquivocamente burguesa, uma vez que aPena§ em tâl sistema social se €xplica semelhante conflito: ao reagiÍ contÍa a burguesia, as heroínas e os heróis Íomanticos não deixam de agir burguesmente: dpicos buÍguê§e§, sofrem a "fatal.iilade" do amor precisameni" porque o julgam 'ipecado" ou porque o meio social, manietando-os mentalm€nte, se incumbe de convencê"los disso

.

.,

Tanto é assim que Camilo oscila entre extremos, ora fazendo as personagens lograrem seu desvúado intento, mas submetendo-as às san(Carlotl ções sociais, como a ida paÍa o convento, o suicídio e a lo]'rcwa

Ãngela

,

1858; Estrelas Finestas ,

18621'

Amor de Perdiçdo , 1862; A Doida

do Candal, 1867), ou revelando-as destitúdas de

suPorte§ morais ou espi-

dtuais câpâzes óe assisti-lâs no vácuo que se forma ao Íim de toda paixão, por mais ardente que sela (Onde estd a felicidade? 18561 Um homem de Bios , 1856; Memóias de Guilherme do Amoral, 1865). Ora fazendo que âs pemonâgens descubram os beneficios morais contidos nos padrões burgues€s e reencontrem a paz de espírito, a cura da doença paisional, no "exílio" campesino e no ca§amento (EsrlelaJ Propícias, 1863', Ámor tle Salwçdo, 1864). Camilo, afeiçoado ao exame dessas dutlidades do sentimento burgu€s, parece oPtaÍ pela última hipótese tâo-sômente pârtr siltisfa?cr às leitoras contcmporâneas, ou potqu€

úa obúgado a viver da produçâo dc folhetins: num caso e noutro, erâ'lhe fácil inverter o ângulo da artálise e o desfecho das nÀÍrativâs Contudo, o prccesso resulta artificial, Postiço e foriado, Pelo Íneno§ na pena de se

Câmilô, mais afeito a nos dar panoramas trágico§ c dmmáticos e nfio mo' nótonos e inexpresivos, como os da estupidificante felicidade burguesa. Ressalve-se a hipôtesê dE a !:novela de salveção" cofiesPonder a um recôn" dito ideal do ficcionista que âs circunstâncias da vida não o deixaram realizar. Mais ainda: noveüsta urbano acima de tudo, Camilo cultivou os temas campesinos com especial sentído de humanidade, "realismo" e flagrância psicolôgica, como se pode ver também nas Novelas do Minho (12 vols., 1876), qúe incluem uma obÍâ-pdma, laria Moisés. Maior relevo ganha a excursa-o do Íiccioni§tâ paÍa o câmPo quando sabemos que seu ruralismo §erviu de prenúncio às Muheres da Beiru, de Abel Botelho, c ao telurismo beirão de Aquilino Ribeiro. . Em matéria de ingreüentes novelescos ou motivo§ da ação, Camilo enrprega invariavelmente os mesmos, mas em permanente conflito: o amor t.l

x

I

passional, a honra e o dinheiro. Como se deduz, o estrato social onde lutaÍn tais força-s é a pcquena-burguesia, especialmente a do Porto. O pro cesso empregado por Clrrnrilo na composição baseia-se antes de tudo na observaçâo direta da classe nrCdia portuense, e valendose, nâo raro, da pÍópriâ expedênciâ. Cumilo corncç; por scr um arguto observador - entre iÍônico e sensívei dr rculidudc social sua contemporânea, a tal ponto que, como vimos, rritl ooflsclluii Ícirlizilr-sc como autoÍ de ÍIovelâs histó" ricas. Sobre os dados tlc obscrvlçrio. (irrnrikr lplica sua poderosa e invulgar imaginâQão, quc os filtÍr e lhes dá clrJtct. I)(morü ílqui uma das gran" dezas da obra camiliana: a imaginação crildora c lrlnsfiguradora. dotada de tão siÍrgular força que sempre consçBue destruir íl nonotíJnia que pode" ria resultar do uso contínuo daqueles poucos iÍIgrcdicntes !làrralivo§Outro dom superior de CamiJo quc cumpre lemhrtr: o de ser um nato contador de histórias, dono dum estilo todo seu, e que fez escolu, de quem conhece os segredos da Língua, tanto a etudita, como a popular

ou regional. Müito do mérito e do fâscínio camiliano. - fasdnio persistcnto ainda hoje, como atesta o grande número de estudiosos e admira' dores de sua obra, * vem daí. Diga-se de passagem, Camilo compreen" deu lucidamente a importância do apuro da linguagem como condição de sobrevivência de suas novelas. No prefácio à segunda eüção do Amor de Perdiçdo, datado de setembro de 1865, confessa: "Estou quase convencido de que o romance, tendendo â apelar da inÍqua sentença que o condena a fulgir e apagar-se, tem de firmaÍ sua dumção em alguma espécie de utilidade, tal como o estudo da âlma, ou a puÍezâ do dizer. E dou mais pelo segundo merecimento; que a alma está sobejamente estudâda e desvelada nas literatuÍas antigas, em nome e por amor d8s quais muitâ gente abominâ o romance moderno, e jura morÍeÍ §em ter lido o melhor ão mais apregoado autor." É com justiça considerado me§tre e clássico do ldioma. Daqui decorre que suas novclas, não obstantc a rcpêtiÇão de moti vos e o derramado passional c triigico, contêm utna cspécic de verosimi' llrançu prinordirl; gÍs(:ls aos dotts dc ohscrvatlot 0, sobrcludo. dc imâgina.

livo. (liuniLr pfxhr srrrprccrrrlor conr «:rtlisntrr itlSurs itspcctos da enove. h(lir l)sicr)hrl,til ilrri)11ilia. (llr( pnlr.rrr Çr)l'rirl)()tt(let ttritis it uma tendência inütt no :{'t hlrtit (, lllto ils llllluxsôr:s srxiiiri§. A csses dons se acrescênta

o culto rla lrlrrrrr u,rrrrt*ilrr. lírrrlrtrlir, rrlltrttrlit I ctiptltttittea, capaz de arrastar o leilor rlc r.rrrrqlkr x rllr(]§iio ltlrt o tlcscttllcc, agarrado ao fluir dos episódios, coÍr)(, sl p.tlor rtrt(r lrnir rov*lit de capa e espadâ ou Policial. Tudo isso faz tlclc urrr rkrs rrr;tiorrs prrsatlotcs. sc nú) (', nlaior. do Portu-

gal oitocentistâ, rrnú cs|)ricio tlc llílzrtr: p(rllttÉ(tfl

(lll(

procurclLt,

il

sua

maneira, compor a "cotnór.lil ltttttt:ttrt" rla hurgtttsilt tlo lcntpo. Para o fim tla vidlt, cottt rr vitt'rtia rLr l((llrlirltx) à |lauhctl c clo Natu' ralismo à Zola- Camilo cttvetcdl ptia nrrva ntrxla e cscrcve quatro roman" 149

r'{:rí, urlr)

lriris rovclüs (ársiáro Ma«irio, 1879; A Cnria, l88O; A Brasi1882; Vulcões de Lamt, 1886). Aparentemente, Camilo

htrt ,lt lhtzirts,

t(.[(ií)ravil, 0m resposta ao desafio lançado por quem ele intitulà de "Mi. rrlra ()uerida Amiga" na dedicatôda de Eusébio Macdrio, fazeÍ a sátirra cJrlcalurcsca dos novos processos, como permite supoÍ a "Advgrtêflciâ" À printeira edição do Íomance: "A 'História NatuÍâl e Social de uma F[mÍlia no Tempo dos Cabrais' dá Íõlego para dezessete volumes compactos, bons. duma profunda compreensão da sociedade decadente. Os capítulos inclusos neste volume são prelúdios, uma sinfonia 'offenbachiana, a gaita e berimbâu, da abertura de um grande charivâri de trompões foÍes bramindo pelas suas guelas óncavas, metálicas. Os pÍocessos do autor são, já se vê, os cieníficos, o estudo dos meios, a orientação dâs idéias pela fatúdade geo$ôfica, âs incoeroveis leis fisiológicas e climatédcas dô temperâmento e da temperatura, o despotismo do sângue, a tirania dos nervos, a questão das raças, a etiologja, a hereditariedade inconsciente dos aleijões de famíia, tudo, o diabo! (. . .; É o que se faz nas folhas preliminares destâ obÍa úolenta, de combate, destinada a entrar pelos corações dentro e a saiÍ pelas merciarias fora." Entretanto, no "Prefácio da segunda ediçâo", o ficcionista dcsmancha a imprssslio iniciâl: "cumpr€-me declarar que eu nã'o intentei ridicu. Iarizar a escola realista". Mesmo que haja sátira e caricatum nos romances desa fase, de resto coerente com as demais obras anteriormente !,ubücâdâs, o certo é Camilo ter.se adaptado com extrema facilidade ao novo processo romanesco, o que nos obriga pelo menos a desconfiar. A adesâo aos métodos rcâlistas e naturalistas peÍmite crer l) que não cram inteim. mente cstranhos ils pretcnsõ0s "rcalislas" de Camib, 2) que o romancisla

usou da sátira. ainda

que involuntíria, movido por

despeito: talvez

se

sentisse espoliâdo com o êxito do novo credo estético, visto acreditar que apenas correspondia ao quc ele ünha reiüzando hii tcrnpos. Aliás, o próprio Camilo nos fornece argumentos capazes dc ÍrtnsÍbrmaÍ a hipótese em certeza. No mesmo "Prefácio da s€gunda ediçâo" de Eusébio Mac(irio, diz ele da nova corrente liteÍária, tmnsmitindo opinião de pessoa da farníia: "É a tua velha escola com uma adjetivaça-o àe casta esirangeira,

e uma profusão de ciência compÍeendida na'Introdução aos tÍês reinos'. A.lém disso, tens de pôr a filosofia onde os românticos puúam â sênt! mentalidade: deÍivar a moral das bossas, e subordinsr à fataiidade o que, pelos velhos procsssos, se imputaya à educação e à responsabilidadc. Com" preendi, e achei que eu, há vinte e cinco anos, já assim pensava, quando Bâlzac tinha em mim o mais inábil e ordinário dos seus disopulos," ldéia análoga expõe no "Prefácio da quinta ediça-o" do Ámor de Perdiçdo, de 8 de fevereiro de 1879, anterior Ao Eusébio Mactirio. Sendo ou não sátira rlo Realismo e do NatuÍalismo, êsses quatrc romances acabaram por se tornâÍ obrâs marcantes da nova estética e dos pontos altos da Íicção

l40

camiliana, exatamente poÍque a Câmío fâltou ter vivido uns anos depois, ou não ter sido um escravo da pena, para realizar na íntegra um ambicioso plano, implJcito em suas virtualidades de êsc toÍ. S€u "realismo" não confunde quando o interpretâmos como ntanifestação antecipâda duma metamorfose estética apenas em gsstuÇâo duÍ[nte os anos que levou a compor o Íetrato da burguesia portuelsc. Feito o bâlanço, é de crer que o brilho Àinda vivo de sua ohra vcnlríl just üente da aliaaça entre observaÇão e fantasia, quc o Rcalisnro desconhcccri para favorecer a yisão objeliva da realidade.

O TERCEIRO MOMENl'o DO ROMANTISMO

Como vimos, Camilo transita do frltra-RomaÍrtjsmo, descabelado, histérico e piegas, pâra um Naturalismo coerente com suas tendências de cronista da sociedade burguesa da segunda mctade do século XIX. Nele se corporifica, poÍtanto, a âgonÍa do ideal romântico e o despontar das novas corentes ideológicas de odgem frânces. Nesse crepúsculo ainda s€ localiza um târdio floÍescimento literário que corresponde ao terceiro momento do Romantismo, em fusâo com remânescentes do Ultra-Rô. mantismo bruxuleante. Desenrolando-se grosso modo duÍante os anos seguintês a 1860, esse perÍodo é marcado pela presença de poetas, como João de Deus, Tomás Ribeiro, Bulhão Pato, Xavier de Novais e Pinheiro Chagas, e de um prosador, Júlo Dinis. Colocados no final do processo romântico, já extemporâneos ou retâÍdatáÍios, pudÍicam até o extrcmo as caÍacterísticâs românticas, como é o caso de João de Deus, ou âderem ao carcomido exemplo de Castilho, como Piúeiro Chagas, ou se tornâm figuras de transiçio, como Tomás Ribeiro, Bulhso Pato e Jú[o Dinis. Este e Joâo de Deus são as figuras mais relevantes do momento. Tomás Ribeiro (1831"1901) mistura â influência de Castilho com a de Victor Hugo, o que explica o caráter entÍe passadista e progÍessista de sua poesia. Bscreyeu o Dom laime (1862),1ongo poema patrioteiro em nove cântos, considerâdo por Castilho à altura de rivalizu com Os Luuirrlar, opiniâo dispâratâda que provocou celeuma na época, A Delfiru do Mrl (18ít8). longo tr»oema em dez cantos, Sons que passaz (18ó8), coletiinrja qllc inserc o poema "A Judia", largamente recitado e aclâmâdo no tempo, lzrigcrar ( ltl80), e obras em prosa. Bulh:io Pirlo ( I lt19-l 9 I ?) começa ultra"romântico (Pr.resias, I 850; Versos, 186"2), c cvulrri, at[rvés duma sátira às vczes cortante. para atitudes realistas c pírÍ)irsiUrils llltquittt. 1866, sua obra muis conhccida; Canl*itirur. caryões e çiio da Tarde, lllír6l (irrrro,r ,\titiut§, lÍ173i drr'os, 1888; O Livto út Monr (;útgi«ti, /./ii.?,l. llir)()); csçrcycu prosâ taÍÍ,béÍn (Memóio\3 vols., I tt9.t).

(

t,i!

l5l

l,'nrrrllno XívicÍ de Novais (1820-1869) dirigiu uma folha literri

b nlo (1852-1855) e publicou Poesías (1855), r'{ovas Poesro§ (1858) t'u,slat Póstumas (1870), em que satirizava o UltÍa'Romantismo derrítrlrdo c retórico. Cuúado de Machado de Assis, a ele deveu, ao mer()s cÍD paÍte, o relativo êxito de sua poesia entÍe os liteÍatos brasileiros üh" Ü

r

do tcmpo. Manuel

Piúeiro Chagas (1842-1895) cultivou a poesia à Casülho. corn Poema da Mocidade (1865), que motiyou a Auestdo himbrd, corrrcço da batalha entÍe românticos e realistas, o romance (Tristezas à Bei' ra.Mar, 1866. A Flor Seca, 1866, etc.), o teâtro (.4 Morgadinha de Yalfior, 1869, etc.), a historiografia (Historia de Portugal,8 vols., 1869-1874; Hhtôria Alegre de Portugal, 1893, Migalhas dc História Pottuguesa, 1893) c cntica literáriâ (Ensaios CYítícos, 1866, Nouos Ensaios Críticos, 1867). É de interesse episódico e, âssim mesmo, em razão de suâ obra póetica. JOÃO DE DEUS

Joâo de Deus Ramos nasceu em S. Bartolomeu de Messines, em 1830. Em 1849, ingressa no curso de Direito em Coimbra, mas apenas o conclui após dez anos de estúrdiâ e vadiagem acadêmica. Depois duma estâdâ em Beja, em 1869 é eleito deputado a côntragosto e vâi para Lisboa: nesse mesmo atro estréia em poesia com Flores do C-ampo. Em 1876, publica a Cartilhu Maternal, e dá iÍucio a uma intensa aÇlo pedâ' gógica. Venerado como unr mestrc pelos realistâs (especialmentc Antero e Teófilo Braga), morrc em 1896, cm Lisboa. Sua ohru poitica, rcuniu-a Te(rfilo Braga em dois volumes, Carnpo de Flores, saÍdos em 1893, o nrcsrno firzcndo com suas.&osas, áparccidas em 1898. Poeta nato, a vida de Jo6o de Deus foi âpenas poesia. Urico de incomum vibração interior, pôs-se à margem da falsa notoriedade c dos rúdos da vida liteÍária e manteve-se fiel até o Íim a um dedgnio e§tético (e humano) que lhe transctndia a vontade e a vaidade. Contemplativo poÍ exc€lência, sua poesia é a dum "exilado" na terra a mirâr vaguidades e por vezes a se deixar contaminar pelas estimulações do pltrno concreto. Sua poesia bipaÍte-se em tiico-amorosa e sab'rica, conforme os dois volumes de Campo de Flores, das quris a primeiÍa d s mais importante, sobretudo pelas Canções, Cançonetas, Odes, ldílios e Elegias. O Amor é o motivo peÍmanente na poesia dc Joâo de Deus: embora o Ultra-Romantismo tenha conduzido os temas amorosos ao limite da pieguicc, o pc,eta consegue insuflar-lhes cârgâs novas e descobrir-lhes rccântos até cntiio pouco ou nada explorados. Para consegui-lo, João de Dcus dá um

tiÍo de misericórdia no Ultra-Romantismo

(inclu§ve' em 1863, no jor'

nal O Beiense, condenara-lhc sunrlÍiamente os excessos), e retoma a tra' dição lirica esquecida, md'ct»uprcendida ou desprezada durânte. a he' gemonia romântica: o lirisnro trovadoÍesco, ou o que dele hcala vivo no õurso do tempo, e a pocsia lÍriç+anlorosa de Camões. O Poeta integÍa toda essa masia lírica em sua scnsihilidade e, purificando-a até onde se' rÍa possível, constrói umu pocsia dc timbre prtiprio' acrescentando à tra' diçãà os achados dc seu cxccpcionll tílcolo lírico. Vem daí que, sendo antiultra-romântico, niio foi realistu ou parnasiano, embora vivesse numa época em que a "e§cola nova" tloutiravlt plcnametlte, llhado entre o agonizante Ultra-Romantismo e as novas doutrinas, permaneceu fiel a si pióprio, ganhou o resPeito dos moços da geÍaçaio dc 70 c acabou sen' do-o mais iomântico dé quantos fizeram poesia em Portugal: com efci' to, foi preciso que as coerçõ€s estéticâs do Romantismo houvessem de" sapareciào para que um lírico genúno como João de Deus realiza§se sua poesia inteiramente à vontadê, isto é, romarlticamente. Poesia da sedução, da coÍte ou da comunicâção duma experiên' cia âmorosa já rcalizida ou por realizar, adquire cabal exPrcssltro ras Con-

ções, Conçoneta§, Odes e ldt'lios. Nesses poemas, corÍe um sentimento iirico-amoroso que pressupõe scmpre um forte idealismo a conduziÍ a mente de João tle Deus. Íd idealisrno, ondc rcssoa a voz do Camões lÍ' úco e o platonismo renascentista, dirige'se no sentido da mulher e do Amor: o poeta busca o sentimento amoÍoso no máximo de sua pureza âbstrata, encarnâda na mulher que a sua imaginaÇão cria idealmente Visão espiritualista da bem.amada, não Poucas vezes tránsformada numa verdadeira atitude mistica. à custa de diafanizar Progressivamente a contemplaç6o amoÍosa e as palavras que a trânsmitem A expectaçío mistica-lembÍa o lirismo medieval, inclusive pelo fato de se contrapoÍ a uma clara tendência reâlista:o espiÍitualismo completa-se com a Presença de notas

eróticas subterÍâneas, mâs suficientemente escaldântes para afugentar

a sentimentalidade Íomântica e

aquecer

o

pocma de ntodo a lhc dar fo'

ros dc verdade e tensâo intemâ.

Por outro lado, cssc idcalisnto rlgttrttlts vczcs cscollre carninhos me" c d (rrllio (lxo Jolto dc I)cus' lundamente afiaiga' do na Ícira c ut vivr"ittciit rll r;otrliç:iitt lttttttiltta, faz vibrar másculas e filosóíltras rrolirr clcgírcits scrt illtlll trrt tir:ulLr XIX, corno se Pode veÍ no poema "VirJa". unt tls dcle' í\r,,,,u,1',,,t ,,',. l'litrt,,,' /rit \i','rt/"r, tr ;rtrrrla 'l' Âtll|tir: lto vcr lrlrrltcisttto tltl (lollcílio ll(\ (rirrri rr\ r';ttltllll rlrr itlllrrrllttr(r: plitrrtir;t rr ( (irll(luislils Plnl remclr:rtr:itll.;ts {l(. l'rtlrl,}. rtr'11rrtrllt. o ('tisliltttisttlo-lrri 'ir I Ri:vo^llrlrlllllíll)(l: l{üvoluçit)i pcln ,i,", ,, ,,,rt, Àrrlr:ro propt4ltir Crislianismtl quc o do Inlis é não I{cvoluçào ir aritig,l: lrrçrrr, ,l.r urtrttlo Doze assinaturls lL:v;r orIIrIrrrrtLrrIrr: ÀrLrllr'

t!o rnuncltt tttodcrtto".

À terçeirl conferêircia, efetuada â 5 de junho' por Augusto Serointitulâ-s€ A l.iteraturu Portuguesa, e nela o orâdor afiÍma a deca' 'rrenlrô. dl l-jterttura Portugucsa por falta de originaüdade e gosto' evi' clôrrcia

rlcrrlc nit poesia, no romànce, no dramâ c na cítica que entío se Prati-

,:rrurrr urr'l\xtug.rl. Parâ remediar â situação, aponta o, caminho do Cris' tirrisrrrrt. crtlçrrrliiltl colno cs§cncialmenle divcrso do Catolicismo' ( al,c rr lrçrr tlc Qucirós proferir, a 6 de junho,-a quarta conferên eirr, rrlr ri lrlrrlrr rk ,'Í l,itarut;rq Nova (O Realismo Como Novu Expres' yi, ,!u ,ltt, ). À|,rri;ittrlr su ls itlóias dc Proudhon, pregâ,a revoluç[o que ," ui,,t,u,,1r:r',,,,,i,, tra lrolílic'lt, rr ciônciâ e na vida social Parâ ta[to, havia ouc (()l{i(l(.rirrr l rl, r.llllr:r lllll l)lt)dltt\J social' condicionrdo a detcrmi_ ,',r,ru, n*i,t,o. A lrrr rtr' rlrrslr.r[irits obscrvaçiies, Eça cdtica âceÍbamenle o R,,nrrrirsrrr,, t r['lcrrrtr ,, llr':rl,!rrlr). colno t corleflte estética que realiza o r:0nsrirr:io r'rrlr('iloLlil rlr'.ttlc t'lr lllcio socili Crurhel' na pintura'

sr:rvcttt llrI rl, r'rIrtlIl,t outltlir íi()trl("r l{ rir. .ltrl.i l'l Qtrttt'r't tL' l"ntuut' ó prolerida rltscortrt actrcit dil nccessidade rl, irrrrlr,,Irrr Â'1,'ll,' ('r'r'llri' ru l') ^ ^l'()1 lll' ils lirÍtllils 0 lipos' e Por flm' .l r:r(illllrllill {lr) rtl!lll1) r {l(}s llrtri l}il\1lil ,,,H",,irrçr,, r'rrr l\rr titp.:rl N,t rltttltt'r 'liitp;trltrr r'los iutecL§sores, o confe",",,,ri*1,, ,,1i,,,,,, rr rlr,:tttl,'tr, i'r rl'r lltsttttt r:otlto rr"sullante da aliança cntre a Igrr:ll t o llrrlrrrl l':trI lr'',,rlvct " Prrrhl'ltttll, 0ntendc que.uÍge operar-Se

[illuhcrt, rlir l'icçlio,

scpitil ç,t,, ,,,,t,,, atttltor r' lrtl'trtoYtt ;r libcrtlade do pen§amento' ' eotrli t erlr. i;t ' tl(' lrll(!riu dc SIIomão Sáraga, gavitâria ao dí)s I list t ttiü ltttt't (ltlitttt tlt',lesar, mas não se Íealizou: âs confe' redor ^'scxlir "dou' ,Oncias tint,un, riitkr suspcrrsits' itcoitttadas de exporem e sustentârem tÍinas e DroDosic('ruri qtlc irlnÇilnl a religião e âs instituiçõe§ pouticas do Ettnao; J sendr, ccrlo qtrc tJi\ fatos, além de constitúem. um âbuso do direito'de reuniSo, olcrrdclrl clüra e diÍetamente a§ leis do reino e o código da monarquia. que os poderes públicos têm a seu cargo manter It

fundamental

161

c lilzcr respeitaÍ", como Íezava a portadâ do Marquês d'Ávila e de Bolarna, de 26 de juúo de 1871, afixada nas portas do Cassino Lisbonense.

'lolhidos de suÍpÍesa, os organizadores das conferências protestam veerncntemente pelos jomais. por folhetos avulsos, dentrc os quais sobressai o de An-1ero, intitulado ürta ao Exmo. António José d'Ávita, Marquês dAvila, Presidente do Conselho de Ministros, e por requeímentos solicitando fosse julgado em tribunal o seu diÍeito de reunião. Tudo em vão. No câlor dos protestos, Alexandre Herculano abandona o silêncio de seu "exíio" em Val-de.Lobos e escreve uma carta aceÍcâ d,A Suptessa-o das Conferências do Cassino, em que se colocs inteirâmente contra â sus.

*.

pensâo das conferências, embora discorde de algumas idéiâs de seus patrocinadores. Como sempre, não faltou quem aplaudissc o ato gôvernamen-

tal, como fez Piúeiro Chagas. Com terem sido deÍinitivâmentc suspensas, llcaranr sem cleito outras que estavam programâdâs: o Sociolisnú. por Jaime llatalha Reis,,'1 l?epú-

blica, pot Antero. ,4 Instruúo

hinitio,

por Âdollb

C informa Joel Serrão na introduçilo à edição da Obm Com" pk'tu de Ccxirio Verde (1964). Ainda mais, coletando mateÍial dispeno crfl jorniris, organizou-o arbitrariamente em duas seções,,,Crise RãmaIescil" e "Naturais", divisâo essa que pressupõe umjúzo cdtico a desenvo! ver. Por fim, em mais de um poema descobriram.s€ variantes, que por vezes rurelhoram o texto, mâs que nÂo podem ser ÍigoÍosamente atlibúdas a Silva Pinto. A referida ediçío de Joel Serrão - a mais bem cuidada âté lroje feúa -. além de abolir a repartiçâo dos poemas operada por Silva Pinto, coloca os poemas em ordem cronológica formando qurtrô gnrpos (,873-1874. 1875.1876. 1877-1880 e t88l-t886), e junti outrõs não inclúdos nO Livro de Cesdio Verde e tlgÚmas cartas do poeta ao amigo rl,.kr",

dileto, ao Conde de Monsaraz e a Mariano Pina. A curtâ c anônima existência de Cesário Verde não conheccu qualquer reconhecimento durânte o seu trânscorÍeÍ. Pasou despercebido em sou tempo, e assim Íicôu, até que, de alguns anos a está parte, a cdtica começou a dar-lhe a devida importância, graças à sua poeiia, dotada de e-strmha, força c capaz de se pôÍ ao lado das mais significativas da época. 5 quc Cesário Verde reuniu um conjunto de fatorà bastante especiais, e suficientemente fortes para o tomâr, a um tempo, autônomo e gmnde poeta. Assim, de Baudelaire herdou, por identificação de sensibilidade e de poslurâ yital, a atitude lirica perânte o mundo, embora difira rad! calmente dele no drama que serve de mola para a conduta poéticâ. Esta filiaç.io, ou coincidência -. pois o parentesco estético é quasi sempre um caso de coincidência. - impõc desdc logo uma clâssificacão única oara a poesiu d0 Cesário Vcrde: serve de trânsito entre o Romüntismo ó R"o" que lismo, de um lado. e dc portc de passâgcm pura âlgumas das atitudes estaÍão em môda na estética simbolistil e rra modernista. Tâl caÍáter t-ransitivo explic igualmcnte suâ posiça-o sui-geneis em face do inconformismo revolucionário da geraçío ai 70. Voltaao para seu estigma de poetâ, âlheio às lutas ideológicas em curso, Cesiírio VeÍde só de passagem e pela rama se deixou contaminar pela atmosfera contemporânea. O pensamento socialista, que levava ú atitudes de rcvoltâ e de reforma social, tocalhe de passagem a poesia, e, sssim mesmo, §em cor política: o lâdo estético de scu compoitamento diante da vida atenua ou desfaz de pÍonto aquilo que, na sua poesia, poderia reconhecer"se como luta de classes, defesa do proletaúado, etc. Ouvindo as tais vozes interiores, perseguia seu coos lntimo sem se preocupar com as modas literárias. e com a geral incompreensl'o dos leitores dos jornais onde publicava rus poemas. Explica-se âssim que sua poesia continuâsse presa a certos matizes románticos pouco ou nada explorados em Língua Portuguesa, e abrisse, por isso mcsmo e pelas demaii razões, caminhos novos até à data vagamente pressenüdos, Cesário Verde trazia,

n par de uma hipersensibilidade raiando pela morbidcz c o tbsurdo delirante (o que o irmana, involuntariamenie, com outros Brirrrdcs rxretas do tempo), denso, compacto e neuroüzante indiürlualisrno. qu(! o pu. nha a salvo das coâçOes culturais e o mantiúa Êel ao chrunarlo das raÍzes- do sentimento poético. Vem dar a superficial aÍinidade com o que lhe corria em deredor e a simultânea iorça antecipadora de sua poesia.

Esse pormenor, que é a marca do grande artista de qualquer tempo, colfere a Cesáúo Verde o impoÍtância que merece. Nele, cm sua poesia, pela primeira vez se inverte a Íelâção Poeta x Mundo: seu ,.realismo,,. ou algo que as§m se denomine, é só fotográÍico na aparência, o que colidia, em prinopio, com a poesia voluntariamente revôlucionária dos homens de 70.vAo invés de retratar o objeto exterior, para o qual se volta sempre, o poeta identificao com o que lhe vai na sensibilidadi e na corsciênciâ poéticâ, isto é, com o seu mundo interior. A realidade obietiva funde-se, portanto, com a reiúidade subjetiva, de molde a formar uma unidade que anula as diferenças de plano visual ou de colocxÇâo do indiuduo diante das coisas. Por outras palavras: somente por um grande es. forço é que o poetâ conseguo enxergaÍ um plano, formado das Ãisas fora de si, distinto de outÍo plâno, composto das imagens dentro de si. Originâ-se, em suma, umr entidade única, objetivo-subjetiva, ou vice-versa, em que o subjetivo sempre dii a nota, de modo qui o objetivo exterior s€ja- visto como proloflgâmento da mente do po;ta. e, pôftânto, destiturdo de existência autônoma. Com isso a invoiaçào, a mentalizaÇAo do objeto é que é a realidade, o '.realismo"; o ,.ser" fora do poeta citá em segundo plano, como inferior e decorrente. Tudo isso é, a rigor, postura

platônica müto compÍeensível. _ De passagem, impoÍta considerar que tal proceso, se envolvido de dandismo e de excesivo amor à Literatur3 no pior sentido da palavra,

podia levaÍ ao refinamento artificial e posudo de um Eugênio de Castro. Não é o qu€ acontece com Cesário Virde.'iDotado dum temperamento anti-"liteÍário" por excelência, projetâ-se nas coisas exteriorei (pessoas, _ macldame, piche, repolho, rolhas, peixe, etc.) com todo o peso de sua feÍvilhânte vida intedor, a fim de apreender a imagem fugaz das coisas, em perpétuo dinamismo*,É entâo que nas"e u po.,-,sia do cotidiano, do trivial,

_pois

o

poeta necessita ver-se continuamente nas coisas, pâra atin.

gir o claro eqúlÍbrio do verso, elo entre seu drama e a poesiaf Entende.se

que a duplicidade inicia.l dos planos, com o anseio de fiiar o instante que pasJa,-e a certezt de que o próprio po€ta ó que está passando, * leva Õe" s.irio Verde a colocar-se numa zona limítrofã de estiadas que conduzem ao Imprêssionismo e ao Expresionismo. Ao mesmo tempo, a complc_

xidlde de sua poesiâ, graças a haver nelâ a expressâ'o do caos dum nru,',,l,, (!rr que as sensações mais desencontradas se embaralham, se corríirrrrk:rn.

t7(\

tn

lllfi] clÍrio il olhos aberto§, ou num pesadelo interminável, aproxima-o tkquilo quc veio a ser o movimento surealistâ. Virando as costâs à po€sia lírico-amorosa, de larga voga no Roman" li§ 10 e mesmo antes, Cesário Verde percone em sua reduzida trajetória poética a.lgumas fases, mais ou menos cofiespondentes às dâtas escolhitlas por Joel Scrrão para agrupar-lhe os poemas. Na primeira fase intcgrada pclas primicias literárias - o poetâ está sob a influência de João Penha: além de preocupado com o rigor da forma, apanágio da poesia pamâsiana, Cesário cultiva um cinismo de fachada, transformado em humorismo e displicência, que tlpenâs mascaram o despontar duma inquie,

tâ sensibilidade que talvez ainda nÃo se conheça integralmente. O certo é que, por entre âs malhas duma indiferença mais ou menos poética, se percebe o poeta â claudicar e a extravasar um sentimento do mundo que não condiz com as experiências joco-sérias de João Penha: E at passo tao cahdo como a Morte , Nestd velht cdode tdo sombia, Chorando aflitamente a mihha sorte E prelibando o ctilix da agonio.

Na fase seguinte, transcorida em 1875.1876, Cesário amadurece e encontra seu caminho; embora nã'o seja a melhor fase, já aqui o exemplo baudelaircano auxilia o poetâ a ver a realidade cotidiani e a transfigurá-lt antiliricamente, cm espasmos plásticos, como quenl pretend€ssc compor unr quadrc irnprcssionista, isto i, ao natural. no côntacto direto com a realidadc.

Nos anos seguintes, 1877-18lt0. Cesário "rlcscohrc" a cidade e os

seus mistérios: o cotidiano 'hatural" entra"lhe em chcio na poosia, mas não vem de agora: já em 1875, escrevendo â Silva Pinto, confessava: .,Eu

nío sou como muitos que estão eo meio dum grande ajuntarnento de gente completamente isolados e abstratos. A mim o que me rodeia é o que me preocupâ." E o que rodeia é a paisagem citadina, com seus odoÍes, coÍes, rúdos, luzes e esp€ctros.

Ne última fâse, depois de 1881, Cesário abonece a cidade e um gênero de vida que chegou â embÍiagá-lô. Agora, ao contrilrio de antes, confessa na cârta a MaÍiano Pina (16.7-1879):,'descuido-me deploravelmente do que me rodeia," Seu amor à cidade transforma.se em amor ao campo: "Eu não faço nada, falto de estÍmulos, aborrecido contra cstâ gente da cidade a que tenho raiva como â um marreco. Ao menos, pelo campo âindâ hd coisas primitivas, sincerâs, e uma boa paz regular; embora a existência n[o apÍcsonte alterações nenhumas, o caminhar da es. taçâ'o, a mudança quase insensÍvel no.âspecto da natuleza todo o ano, i ldmirável, sugestivo." Ao mesmo tempo que soluça:o de seu caso pesI

7li

soâl e mesmo fruto dc sua lortuitâ rtividxd{r (ls ügriculbr, iutcgraça-o na paisagem "natural" ainda corrsspurdia x() urconllo dos tctrras e motivos mais propicios à utilizaçÍo Llc suir sclsibilidüdc c dos dors de figuração impressionista dfl rcalidldc. Nr) collt clo cum o ar livrc, o pocta encontrava o àaDirat prriprio plrir o $u viscerd impÍessionismo, e o sedativo para sua scnsibiliditrlc, doc,tlirr)cuIc vibrantc no atrito cônr a cidâde: "No campoi cu aclto rcle ir rnuu quc nls anima; / A claridadc,

a robustez, a açÍo."

Ao sotuÍno dc aÍltcs, sucedc agora a claridadc. à rlorbidcz. a robustez, à inação. a açâo: bipolaridadc ta to mais parrdoxd quanlo rnais sabemos que esse elogio ao câmpo e à vida csportiva traduzia o desejo de preserviu â saúde que entaio lhe fugia a passos largos; c que as Írnleriores excentricidades citadinas eÍam fruto dum organismo onde ainda nâ--o sc hâviâ manifestado a doença que o vitimaria. De qualqucr forma, a poesia do cotidiano, com todo o seu desprezo ao convencional, teria largo cumo nâ poesia moderna, o que garante a Cesário Verde o reconhecido e merecido papel de precursor, como se pode verificur no exame da poesia dum Mário de Sd-Carneiro e dum Fer, nando Pessoa.

A POESIA METAFISICA. ÀNTERO DE QUENTAL

À poesia do cotidiâno contÍapõe'se uma tendência poética de senlido contÍário, dirigida para I respostâ às indagaçôes que a consciência rlo homem formula, desde sempre, entre âterrâda e esprançosa: "que sou?", "por que sou?'i, "de onde vim?", "paxa onde vou?", "que é que valc?". "por que a morte?", etc. Trata-se, como se nota, da poesia meI

xlisica. ou tÍanscendental.

Correspondendo a umâ linha de força que rcmonta à Idade Média, cnntigs dc amor, a poesia de clucubração existencial permaneceu lrl ('irn(xrs c Bocage. No século )íX, afora incidentais ressurgências ,'lr §orlrls rh' Passos, Joâo de Deus, Gomes lral e Guerra Junqueiro, é r.rll rlL: (Jucntal que esse gêneÍo de poesia enconlra o seu mais ,rll,,^lltflo rfl)rr,:iflrln lc. Neste século, continua ainda presente na cosmovirrlr rlr l;r,rlitrrrlo ltssoa, Mário de Sá-Cameiro, Jôsé Régio, Miguel Tor-

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iorrrrrirrrlo dos nomes que compõem o elenco principâ] de se verificar que representam o meporslr lrl)rlutrx'sl crt sua evolução histórica. Todavia, é para-

lxr(lirs coll t.r([,trr'H rx{ilxÍisica, piuâ

llrur rh doxai cpc ri riL.iir" Ixrlt o r,rtÍÍcr marcadamente confessional e ególatra do lirisrno portulluriri luri;r supor o contrádo. O fenômeno tem explicaçiÍo: a p(xisiü rrulallsieir rrrsct'rirr srnrpre como uma via de escapc ri trr-

l/e

[ú,11u fio(,grÍlic!, históricâ e cultural em que Yive

o

homem portugués,

l.lrcltÍriüado num território diminuto entre o continente eurcpêu e o Occuno Atlâütico. Pelas csracteristicas próprias assumidas pelo movintcnto r€ulistâ em Portugal, essa angústit chega ao paroxismo, supeÍan-

do a restant€ atividade poética e inclusive desrespeitando os postulados positivistas. que subestimavam as cogitações meta{ísicas e sugeriam uma poesia experimenLü, a serviço da revolução social em marcha.

Antero TarqiÍnio de Quental nasceu em Ponta Delgada (Açores),

em 1842- AÉs os p meiros estudos em sda cidade [atal, vâi para Coimbra estudar Direito. Em pouco tempo, mercê de sua personalidade superior, ganha prestrgio de hder entre os companh€iros. A publicação de seus primeiros venos confirma-lhe o Íenome e insinua-lhe um caminho

para o futuro. Em l8ó5, plublica as Odes Moderflas, que, juntamente com as Tempestades Sonoros e a Viv-o dos Tempos, d,e Tcófilo Braga, publi. cadas no ano ânterior. desencadeiam a revoluçâo literária chamada @aer. tdo Coimbrd. Formado. vai a Paris tentar pôr em práticâ, como tipógrafo, suas idéias socialistas e humanitádas, mas desilude-se e, depois duma rápida viagem a Nova Iorque, regressa a Lisboa, onde entra para o gÍupo do Ccruiatb (1868), e logo s€ torna o seu mentor. Em 187i, orienta as Conferências do Cassino Lisbonense e nelas participa ativamente. Nos anos Fguintes, procura instalar em Portugal o pensameoto socialista, ligândo-se a associações op€ráÍiâs e mantendo relações com membros avançados do movimento proletádo internacional. Mais uma vez, porém, de. sengana"se. e afâsta-se do con!,Iüo social, imerso em seu drama e na meditação das idéiâs igualitárias que diligcncia a concrctizar. Nessu mesmâ altura. entra ír sentir os priÍrciÍos achaques duma misteriosa moléstia que o acomparharú ató o finr dos rlias. Ap(ls os acontecimentos relacionados com o Utimatum inglôs (1890). Artcro renasce pua a âÇâo

proselitista, Íiliando-se à "Liga Patriótica do Norte". Todavia, ainda uma vez malogÍa redondamente. Com isso, o pesimismo em que vive meÍgulhado desde algum tempo, avoluma-se e atinge o máximo. I)esalentado, sentindo fechadas para si todas as sardas nâ direçâo dum len! tivo para os males fisicos e píquicos, volta à t€ÍÍa natal como em busca duma derrâdeira esperançâ. Em vão: também encontra cerrada a porta que o conduziria de regresso aos mitos da infância. Só lhe resta uma, a do suicídio, que comete a ll de setembro de 1891, com dois tiros na boca.

Antero cultivou a poesia e a prosa polêmica e filosóÍica. No pri. m€iro caso, temos: Odes Modemas (1865), himavetas Romtinticas. Versos dos Vinte Anos (1871), Sonetos Completos (1886), rRrbs de Extínta Luz (1892). No setundo, seus escritos estÍo coligidos sob o ütulo de ?losas (3 vols., 1923, 1926,1931). Para compÍeensão do caso âÍteriano, aindâ po§ sucm interesse as Cafias de Antero de Quental (1921), as Artas liédi-

llto

tas de Antero de Quental a Oliyeir« lllortins (1931) c as (httds o Ántônio de Azevedo Costelo Branco (1942\. Privilegiado, "escolhido" prra il rqalizaça-o de grandes obras, An-

tero viveu todâ uma údâ torluÍirda rxr llI do conciliâr opostas idéias, não raro nascidas em clima fcbril, c a a(jiio que lhes dcsse razão de cxistênciâ. Apesâr dos giguntescos 0sÍorços, o Ícsultado foi nulo, porquanto era essenciâlmentc voüacionado punr t contcmplação ou para a especulação metafísica, e não para o uonrbrtc illivo: ao mesmo tempo que revelava alto pendor para o jogo scdcntiirio rlls icliias. cra hepto na tentativa de as pôr em prática. Além disso, ali lentava idóias demasiado utópicas c-visionárias e muito acima das possibüidades dunra só vida.

E que a Antero faltava umr qualidadc (ou deÍcito): o dogmâtismo cego e surdo, próprio dos doutrinadores medíocres ou dos pcnsado, res "iluminados" fiústica ou Íâcionalmente, Ao contrário de sectaÍismo. agitava-o uma terrível indecisâo, fruto de incomum inteligência, semple a ver as contradições das idéias, as verdades e as não-verdades em cho" que. Coloca-se aqui o dmma anteriano: queÍeÍ sem poder, ou querer e n5r)-querer simultaneamente, pois desejava o impossvel, o absurdamente pedeito, ditado pelo intelecto mas irrealizável na ordem prática das coisas. E a sua imensa curiosidade intelectual conduzia"o a receber influências de pensadorcs e filósoÍos divergentes e contÍaditórios. Pou" ca importância teria tal ecletismo se Antero possulsse uma condição capaz de congraçar as afltinomias e apararJhes as arestas: uma definida d! rctriz ideológica. Dostiturdo dela, tornou-se um campo fértil para o embate dâs tendências filosoficas oitocentistas, uma espécie de símbolo dos irntâgonismos ideológicos da época. A obra literfuiâ dc Antero, a poéticâ e a em prosa. âtestâ de mo(lo pirlcDto a sofridc luta dc um espÍri1o a procurâr-se, a dissecaÍ-se e, con. lerrlxlrl,r§]lnlrrlc, a dcsiÍrtcgÍaÍ-sc pouco a pouco, até o aniquilamen-

to lirrll. À rvrrluçio (Primeíros Contos, l8'76i Amor Dit:ino, ltl'l'l: Arrt»*hts. l8()5; .4,rÍrf.l§, Amores,..,78971A Nosst GenI(. l()00. ,l (itrttahint.l,)l\\ ( ('t)tnéLliu Burguesa (Os Noivos, 1879., Sttlústi) M tltt'it'tt . ll'18 1.,,1 Itrxlf tu ll. i1g115111111ç , 1895; O Famoso Gal r«d, l$(lli: I tittur,h ç|| t.nt, ltrlt)|, tlus qulis a primeira pârte contém lriror r!l,'r.r,\(. ,lr. ;r r.Irrrll:lr viriivchrrqrls contprometida pelas "facilirlltrlIr" rlr'(rlít(it r(!rtil, (:ottt(, sc l()tIort !tl(\lí l|() lçntpo. JOsé FÍancisco rlr' lrrrrrllrlr (i!r:llro (18('l"l(,08) ntlor (lí)r l4utt Ánor$ (lli9l), uma r'oIr.|;rIrr.,r rlt .oll{rs (nr(lc rcllui a lertrhrarrçl srrrtlosa clrrm 1'rris-os-Mon, tr: r'ri rrIr', vuzldr rrurrr lirguagenr iflpressionisl ínrerlcr lírica, a ecoar rl(lrrr c illi rr voz dLr l'rialho de Almeida, ntu sern llre empanar o brilho oIigrrral c o lctnpcÍamento de aulêntico narrador dc histórias curtas. () ('orrdr: dc Àrnoso (Bernardo Pinhciro 1855-1919) gozou de alguma notoricdutle no tempo, gaçâs inclusive ao prefácio de Eça de Queirós rrtr scu volunre de mntos, inlitulado Azulejos (1886). Outros prosa" rlrrrcs rcrlistas e natumlistas, hoje completamente esquecidos: José Auguslo Vicira, Júlio l.ouÍenço Pinto, Jaime de Maga.lhães Lima e ()rI

11)§,

ticas.

Assim, por exemplo, o adultério é €xplicado, no romance realistâ, como decorÍênciâ de câusas predominantemente educacionais e mc. rais: ucio socia.l, fruto de convenções, âinda que com bases patológicas.

No

Íomance nÍrturalistâ, resultü de distúrbios Íisiológicos

e

psiquiátd.

cos, na:o obstante as relações sociais também estejam presentes.

O CONTO - O conto segue, pouco mais, pouco menos, a idêntica orieÍtaçâo, tornando-se, com o ReâlisÍno, "fôrma" de eleiçâo, espécie de pedra de toque da prosa de ficção da época. Tanto é assim que se trata de uma quadra de grandes romancistas, mas também de mestres do conto, dlüdidos BntÍe o Realismo e o Naturalismo, e algumas vezes contagiados de Impressionismo. No cultivo do romance e do cônto reústâ, são tepresentântes de primcira grandeza Eça de Queirós e Fialho de Almeida, Íespêctivarnen. te. Merecem ainda ser lembrados, embora em plano inferior, os seguintes Íiccionistâs: Abel Botelho (1854.1917), seguindo na esteiÍa de Zola, qrlo. curou fazel "a análise de (. ..) exemplares humanos tüanizados pela diátese das fâculdades afetivas", numa séÍie de ÍomÀnces sob o ltulo de Pdk,logia Social (O Bara:o de Latos, l98l;, O Livro de Aldo, 18951' Amanhr, l90l , Fatal Dilema, l90'l e hóspero Fortuna, l9l0). Fora da séde: ,tem Ram&lio. .. (1900) e Os kizqros (190.4) e um [wo de contos, r]íal]reres ,Jrr /lrtra (1898), onde está do melhor que nos legou. FÍancisco Teixeira

t,,-l

EÇA DE QUEIRÓS José Mâria Eça de Queirós nasceu na P(rvoa de Varzim, em 1845.

l'in ('oimbra, estuda Direito e liga-se a uma ruidosa geraçâo acadêmica, q tüsiasm0da com as idéias de Proudhon e de Comte- Conhece Antero 0 iriciu sua cârreira literiiria com a publicação de folhetins, mais tarde

rcunirlos srrh o lílulo de Pruys Bdrbaras (1905), Durante L Suestdo Coim/r?r, nliul(irl-sc à margem, como simples €spectador. Formado, segue p:rr:r I rslroir. ir lcrt;rr 0 ldvocacia. Mais adiante, liga-se ao grupo do Ce,/,til//,, íllir,ltl lrrlcr.rrlrt pr» Antero, dep-ois de passar algum tempo diriprrr,li' rrlrr lrrlr.rl r.rrr livrrnr (l)ht to de Evtsra, 1867). Em l8ó9, viaja ao lrprl IIr,r ljr/ri x rcprrrl lc t (lt inauguÍaça:o do Canal de Suez, de que vat trrrtll,tr l, /r,'(t1,,, l,rrhlir:irIr postumamente (1926). NO Íegresso, parliciprr rlrr,i t ttDlflttthlu\ ,ht ('ttriitk) ljlihoucnse (1871) e em seguida estíi c r Lr.rrlrr rrrrrIr,«lllrrrrirlr,rr!rl rIr ('orrsclho. condição para que possa ittgrc*rat rr:r r'.llrttJ (IIIrL]rrIiIIIr'.t, rr!rtxr (i (h seu dcscjo. l)c suil csl0da cnr l,ciItir l .rs lttll\i.r,), rra\r. lhc .r trrrIrtirçlio l)xÍil csCrcvCt O ('rinC lo lhlrc tlutnt (lSi/';) r,ril r.trrrilt!!r,, ri rrrrrnrtrIr r'itrrsrrl rnr lll\rl{ulllr, ca{rt ctrr llr.,irrl (lnBhrtcnl),.lldc licil viloa (18?.]), ltír lo rlrt ^lrtrrrlirrlt, uté l8?ti. lriralttttrtlc. ir:rrrriliull sr 1t;l,t I'lrrr, rr.ulllrrrlr lstilr unl vclho sonho. Nrt lrltZ lxrt;rttçrrr;r rll,t, Ill]irrçir ctrt Nr.lltlly, ('ilsx.s0 c (rIlrc-

gc-se mais do que nunca à criaçâo liteÍária. liares e amigos, falec€ em 1900.

É aü que, cercado de fami-

Reunindo conalições Pessoais e históricas ProPiciadoÍas do traba-

lho intelectual, Eçâ de Quehós tornou'se dos máioÍes ProsadoÍes em [,rn' gua Portuguesa, alcançando sêÍ, na estetâ de CarÍett, uma espécie de fuüsor de águas linttiÍstico entÍe a tradição e a modemidade' Tem exercido consideiável influência em Portugal e no Blasil, até os nos§os dias. Eca de Queirós cultivou o romance, o conto, o jornâlismo, s litentura de'viagens e a hagiografia. Romance: O Mistéio da Estmda de Sin' na (em colaboraçío com Ramalho Ortigão (1871)' O Qime do Padre Amaro (1875), O- kimo &asílio (1878), O Mandartm Ç879), A Rehquio (1887). Os Maias (1888), A llustre üso de Ramires (1900)' A Cone* pondência de Frodique Mendes (19Co), A C\dade e as Senqs (1901),,4 'Capital (1925). O Conrle d'Abranhos (1925), Ahtes e Cia. (1925). Con' to, Coniot (190:). Jorn!úismo, litelatuÍa de Yiagens e hagografra: Wa (hmwnha Alegre (2 vols., 1890-1891), @rtas de Inglaterm (1903), Posas i\irbaras (1905), Ecos de Paris (1905), Cartas Familiares e Bilhetes de Pans O}OT), Notas Contemponineas (1909), O Egito (1926), Uti'

tuigirus (1912), etc. Toda esa ricâ pÍoduçã'o liteÍrfuia Podc ser arrumada em tÍês fâs€s fundamentais, conforme o eixo em tomo do qual girava a curiosidade de Eça. A primeira fase da caneüa queirosiana começa com artiSos e cÍô' nicas- oubücados entre 1866 e 1867 na Gareta de Portugal e gosluma' mente coligidos no volume hons &irbams, e termina em 1875, com a publicação dO Clime do Padrc Amato ' Fase de indecisão, PÍePamção e orocura, dum escritor ainda jovem e lomântico, à mercê duma hetero-

mas

rênea influência, especialmente de origem fianctsa, tendo à fÍente Bauáehire e Gérard de Nerval De mi§tura, o fascínio por Hein€ e Hoffman, tudo convêÍgindo para a formag§o de atmosferas de mistério e desgarra' da fantasia, travestidas numa linguagem Írica e melíIlua. PeÍlenc€m ainda a esa fase pÍepaÍatória: O Mistfro da Esfiüda de Sintra, uma e§Écie entle sério e jocoso, escrito de parceria com Ramade romance policial, -e de Eça a,{s Farpo§, iomal satírico dirigido a colaboração lho Ortigão, por Ramalho, mais tarde rcunida em Uma Compnha Alegre. Em swa: um moço de talonto, em disPonibilidade para a aventuÍâ do espÍrito, expe" rimenlando aÍma§, no encalço dum caminho próprio. Do Ponto de vista literârio, é a fase menos imPoíânte da carÍeira de E9' embora tenha interese para o seu coÍIecimento como homem duÍânt€ a juvontude, e do escÍitoÍ nwn estágio ainda primário, m8§ em que já se üslumbra o orosador do fututo. Com a pubLicação da veÍsão dehnitiva dO Clime do Padre Atruro (ltt75), que Eça üúa escrevendo desde 1871, inicia+e a segunda fase r!. sut carrcira, que se estende mais ou menos até 1888, com a publica-

'

lrln

is tcorins do Realismo iconoclasta a partir de 1871, Eça colocl-sc »oh rr lxrrrlcira da República e da Revolução, e paJsl l cscrcvcr, crl çoorcrrliir qtrn iu idéias aceitas, obras de combate às irstituiçirür vigcrrlcs (MrrrrIlilri;r, lgrcja, Burguesia) e de ação e reforma socilrl. I:ris rorrlrrts rrrn[,Ír)ltisnrrn-se çr»n o ideário da geÍação de ?0, c v:tI.rr e,rrrrn llugrltrk', rutltrrrit rlclirírnrdo. retrato da sociedade porll,íur)ix srir rlrrluulrilrxrlit, ,:tBtlrl,, ,'rrt lirgut6sm oriSinal, plástica, já ç6o dos Muias. Arlcrirrtlo

rlrt,lrr,llr qrtitltrllrll'r riurl( lrtl't(rr:ls (lc scu estilo: naturaüllrrcrrtta, vl,4{,r rrrr:rlivr), g»r.,rsrlo. "onrlirlatlc" iutidcclamatória. .lrrllr.*'llu.r, o penrlrr trtl{o l,irrll (1rlo lttisrtto trtclitnctilico c para a sá" rrl11r1r.grrtrl;r

rllrl,.

t||ir l, ir rqlrlr, rtlilizrtrlitl ,,:slru (t(n sl,lildzir e gragt, llL:ilinelttc transforrrr:rvcir rrrr rso (luc vcnr tlo rirUcub d quclas oriaiuras cscolhidas pelo r!§.rlor cr|llo rxcnrplos lipioos duma sociedade deliqüesccntcmenlc hi1úcrrlir. Siio Lr»lances de "atualidade", "crônicas de costumes", âinda ,x,ic rclxtivarncnic vivos, gÍaçâs à focalizaçio de algumas mazelas conslnolcs do homcrr (como o Consclheiro Acácio, símbolo da rulgaridade pcrhrrir. tr viciosx. c o Primo Baílio, donjuan hipócrita, e assim por diaÍI. l(1. ('0flr orl0 seguinrlo o exemplo de Balzac, e aproveitando a experrôrrr:u dr lillubcrt. Eça intenta ofereceÍ um painel tâo vadado quânlrr 1xr:rsivrl tla socictlade portuguesa contemporânea: O Oime do Po
ROMANTISMO_REALISMO_A LITERATURA PORTUGUESA_MASSAUD MOISÉS

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