Sempre foi Sorte

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SEMPRE FOI SORTE

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TODO DIA É DIA D

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S O R T E

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uor

rganização

esistir

reino

sperança 3

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DEDICATÓRIA

Dedico este livro primeiramente à Deus, pois sem Ele eu não seria o que sou hoje. Se esse livro hoje é uma realidade, é porque Ele acreditou em mim, me deu forças e me capacitou. Dedico também à todos da equipe Quanto Antes que juntos fizeram todo esse momento especial acontecer. Por fim dedico a todos vocês que acreditaram e reservaram um tempo para esta leitura. Muito Obrigado!

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INTRODUÇÃO X: - Finalmente, só mais 27 minutos pra sextar e eu tô livre – X pensa com um olho no relógio, um olho na janela, um olho na janela e outro no relógio - Eu não vejo a hora de dar 18:00, desligar o telefone e ir pra algum lugar. Afinal de contas, eu...o que? Não podiam deixar pra segunda? – X atende o telefone, um cliente cobrando a última tarefa do dia. Após 15 minutos X desliga – Sim, podiam deixar pra segunda, mas fazer o que se tempo é dinheiro?! Ufa, faltam 5 minutos, achei que ia ficar até mais tarde de novo, já dá pra começar a arrumar minhas coisas e...mais um? Um número desconhecido ligando a essa hora, esse cliente só pode estar brincando comigo...ou deve ser telemarketing, não vou atender...mas...E se for um cliente?! Alô, alô.... deve ser trote, acho que vou desli... Z: - Desculpa tá ligando essa hora, eu... sei lá véio, eu não queria incomodar ninguém tá ligado, mas me cansa mostrar pra todo mundo que tô bem o tempo inteiro, pois ninguém consegue estar bem o tempo todo, é toda hora um responsa, e eu ainda travo todas às vezes que eu olho para as coisas que ainda não realizei, ainda não consigo me encaixar nesse mundo, às vezes eu me sinto mal, me sinto com medo de fazer escolhas erradas, essas coisas que ficam passando na minha cabeça, eu não aguento mais…

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capítulo 1

SUOR Eu sei que você quer saber o que aconteceu depois, mas antes preciso te contar quem é essa pessoa que atendeu essa ligação. Só que vamos fazer um combinado, aqui ninguém se trata pelo nome. Decidi que vou chamar de X, e lhe dou a liberdade de chamar do jeito que você quiser. X é jovem, gosta de estudar, trabalha com...pera, esse é o jeito que todo mundo se apresenta, vou apresentá-lo de uma forma diferente: X é filho, X é irmão, é primo da Maria, é neto do Seu Sebastião. X gosta de música, de ler livro não abre mão, faz esporte todo dia, sobra foco e disposição. X veio pro mundo pra não passar despercebido, sempre ajudando, sempre sendo amigo, o que ele não tinha noção era a importância de ser ouvido... *** X: Alô, você ainda tá aí?...(silêncio) – X pensou por 30 segundos – Vou desligar... Z: Não! Por favor.

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X: Eu preciso ir embora, já tá tarde, e eu já estava contando os minutos pra ir pra casa, mas quem é você? Z: Eu prefiro não falar, você se importa? X: Claro que me importo, você liga pra mim numa sexta-feira final do dia, quer falar comigo, e não quer dizer quem é!? Eu to doido pra ir pra casa, assistir minha série e relaxar depois de um dia louco de trabalho. Z: Ah! Então você é igual eles. E nesse momento o silêncio tomou conta da ligação. X percebeu que estava agindo como a maioria das pessoas, sem se importar com ninguém, sem se preocupar com o motivo daquela ligação, sem se quer pensar no que aquela pessoa precisava, agindo de forma automática e egoísta. Mas, ele sabia que ele não era assim. X tira a mochila das costas, senta na cadeira e começa a ouvir... X: Tá! A gente pode começar de novo? Eu não consigo me lembrar direito de tudo que você falou, pois tinha bastante gente aqui no escritório, mas eu prometo que a partir de agora tudo que você disser eu prestarei atenção. Z: Você promete? X: Prometo, mas você sai confiando em qualquer pessoa assim? Z: Não, mas talvez seja o meu dia de sorte. X: Eu não acredito em sorte, tudo depende de nós pra que as coisas aconteçam.

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Z: E quando tudo foge do nosso controle, quando a gente perde o significado das coisas? X: Eu acredito que as coisas têm o significado que a gente dá pra elas. Enfim, me fala aí o que acontece, eu lembro que você falou algo relacionado a cansaço... de tantas cobranças, algo assim... Z: É que cansei de tanta responsa o tempo inteiro, as pessoas esperam muito de mim. X: Como eu tô te conhecendo agora eu não ia falar isso, mas já que você me ligou né? Eu vou falar... A vida é assim mesmo cheia de dificuldades e desafios, mas você precisa ter determinação e foco, e eu te falo isso, não porque ouvi alguma palestra de Coach, mas porque realmente eu penso e ajo desta forma no dia-a-dia. Z: É fácil você falar isso, sem passar o que eu passo, sem sofrer o que eu sofro, nada do que eu faço está certo, e ainda tem... X: Tem o que?

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TODO DIA É DIA D Barulho não identificado, gritos invadem a ligação. Mãe: Que merda é essa que você está fazendo, eu e seu pai te criamos pra isso? Sai do armário! Chegou a hora de você se assumir. Z: Não é nada disso que você está pensando mãe... Tu-tu-tu-tu...

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capítulo 2

ORGANIZAÇÃO O que a gente não sabia, que aquela noite era só mais uma noite comum para Z. Mal dormida e as horas não passavam... um olho no relógio, um olho no armário, um olho no armário e outro no relógio. Z: Por que ele desligou? Será que eu ligo pra ele de novo? Eu não queria incomodá-lo, o que ele deve estar pensando de mim depois do que minha mãe falou? Será que ele ouviu? Do outro lado da cidade... X tinha o mesmo pensamento, será que ligava? o que Z estaria pensando dele? e também não queria incomodar. X: Bom, vou pro parque treinar, respirar um pouco e depois eu penso no que devo fazer. *** Talvez você deve estar se perguntando o porquê numa situação difícil como essa X vai correr. Afinal, é sábado de manhã, não é mesmo? Mas é isso que as pessoas disciplinadas

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TODO DIA É DIA D fazem em meio a problemas e situações adversas. O foco precisa ser mantido e é necessário fazer aquilo que deve ser feito, quando se tem um objetivo e X tem uma meia maratona para cumprir daqui um mês. Veste o calção de corrida, camisa leve verde fluorescente, bota o relógio, tênis no pé, bebe uma água, come meia maçã, guarda a outra parte para quando voltar. Quase saindo de casa, -opa faltou o fone-, procura uma playlist, hoje o dia pede um rap nacional... 1..2..3..4..5km para, bebe uma água, - bora continuar pra não perder o ritmo, 6..7..8km... para pra respirar... “Cê quer saber? Então, vou te falar Por que as pessoas sadias adoecem? Bem alimentadas, ou não Por que perecem? Tudo está guardado na mente”... “...Eu tô falando é de atenção que dá colo ao coração E faz marmanjo chorar Se faltar um simples sorriso, às vezes, um olhar Que se vem da pessoa errada, não conta Amizade é importante, mas o amor escancara a tampa” 9km quase 10... dá pra continuar “E as pessoas se olham e não se falam Se esbarram na rua e se maltratam Usam a desculpa de que nem Cristo agradou

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SEMPRE FOI SORTE Falô! Cê vai querer mesmo se comparar com o Senhor? As pessoas não são más, elas só estão perdidas Ainda há tempo”. X: Por hoje tá bom, bora voltar... “Não quero ver, você triste assim não Que a minha música possa, te levar amor...” X: Quer saber ainda não vou voltar, vou ligar, dane-se seu eu vou incomodar. Z: C-A-R-A-L-H-O X: É melhor eu desligar. Z: Não pera, eu estava querendo te ligar, mas achei melhor não. X: Eu também pensei em te ligar ontem, mas também achei melhor não. Bom, como você está? Z: Então, eu não estou muito bem, por tudo que aconteceu ontem. X: Quer falar do que aconteceu ontem? Z: Sim. Então, meus pais querem que eu faça um intercâmbio, pois eles acham que essa vai ser a solução de todos os meus problemas… X. Humm... Z: Que foi?

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TODO DIA É DIA D X: E o que você acha? Essa é a solução para os seus problemas? Z: O que eu acho? Pra eles isso não importa, eu não tenho o que decidir, eu não posso opinar. X: Bom, você não me deu detalhes de quem é, quantos anos tem, mas independente de tudo isso, a vida é sua. Calma, eu não estou dizendo que você deve afrontar os seus pais, mas o maior interesse em solucionar os seus problemas deve partir de você e é importante tomar cuidado para não se portar como uma vítima diante das situações. Z: Como assim? X: Só pelo jeito de você falar, eu já percebi que não é isso que você quer, e se você não quer, eu acredito que não é o intercâmbio que vai resolver os seus problemas. Quer dizer, eu não sou médico, nem professor, nem terapeuta, mas é nisso que eu acredito! – Z ficou em silêncio, pensando no que tinha acabado de ouvir – Calma, tenho uma pergunta, como você conseguiu meu número? Z: Eu digitei qualquer número e você atendeu. X: Simples assim? Z: Não né, eu comprei uma lista de ouvintes e seu número estava lá. X: Sério? Z: Claro que não, tá maluco? Eu já te disse que simplesmente digitei um número qualquer. X: Besta, pelo menos você tá de bom humor.

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SEMPRE FOI SORTE Z: Pode parecer estranho, mas trocar ideia com você, sei lá me faz bem sabe!? É como se eu pudesse ser eu. Enfim... você disse que o intercâmbio não resolve os meus problemas, mas então o que eu devo fazer? X: Bom, a primeira coisa que você tem que fazer é decidir. Depois você precisa detectar, desapegar, desenhar e ter disciplina. Z: Nossa, tudo isso? Acho que até eu aprender tudo já teria terminado o intercâmbio. X: Não é tão complicado assim, e se você quiser, eu te ajudo com isso, que tal? Z: Não sei não, eu mal te conheço. X: Esse é o primeiro passo, Decidir. Vou dar um tempo pra você pensar. Z: Beleza, quanto tempo eu tenho? Um dia, uma semana... X: Um minuto. Z: (silêncio) X: Bom, então vou considerar isso como um sim. Z: Tá bom né, tenho outra escolha? X: Tem, é só desligar a ligação e cada um segue o seu caminho. Mas, a partir do momento que você continuar aqui, tem que prometer que vai cumprir com as suas metas. Vou ali beber uma água e volto. Se a ligação não cair, continuamos...

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TODO DIA É DIA D Senão, foi um “prazer te conhecer”. .... Tu-tu-tu-tu (Z fingindo que a ligação caiu) X: Que Filha da puta, me fez perder todo esse tempo pra isso? Isso é pra eu aprender a... Z: Calma! Calma! Pensou que eu ia desistir né? X: Realmente pensei, eu já estava puto contigo, mas que bom que deu o primeiro passo, tomou sua primeira Decisão. Z: Primeira? X: É, agora vem a mais importante. Z: Que é?... X: Se você vai ou não para o intercâmbio. Z: Mas eu não consigo convencer meus pais a mudar de ideia. Como eu vou contar para eles que eu não vou? X: Caraca, foi mais rápido do que eu imaginava. Z: O que? X: Sério? Z: O que ? X: Você já decidiu! Z: Tá, mas como você sabe que eu tomei essa decisão? Essa eu mesmo vou responder para vocês.

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SEMPRE FOI SORTE Muitas vezes as pessoas tomam as decisões sem perceber, isso porque a decisão já está dentro dela, já está tomada e por algum motivo não consegue externar. O ruim é que muitas vezes é gerado um sofrimento sem necessidade. Z: Ah! Então quer dizer que inconscientemente eu já sabia o que eu queria? X: É, não é tão simples assim, mas com o tempo você irá entender. Se trata de uma jornada de você com você mesmo e com o tempo tudo vai ficando mais simples. Beleza tá tudo legal, tá tudo lindo, mas já que você não vai para o intercâmbio, o que você irá fazer? Chegou a hora de decidir! Z: Caraca mais uma decisão? X: Sim, mas calma. Eu sei que quando a gente fala de decisão parece que temos que escolher algo que faremos para o resto da vida, como quando os nossos pais nos cobram pra escolher uma faculdade na qual teremos aquela profissão pra sempre. Z: Verdade, rs. Você também passou por isso? X: Sim. Eu, você e a torcida do Flamengo inteira… Z: Beleza, mas eu não tenho a mínima ideia do que fazer. X: Não tem nada que você gosta de fazer, como hobby? Alguma coisa que veio na sua cabeça enquanto a gente estava conversando? Z: Não, não passou nada pela minha cabeça. Provavelmente vou ter que fazer o intercâmbio mesmo, pelo menos lá eu consigo tirar umas fotos legais rs.

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TODO DIA É DIA D X: Você disse fotos? Z: Sim, com certeza lá teria umas paisagens legais onde eu tiraria umas fotos tops. X: Tá aí uma coisa que você poderia fazer e ganhar dinheiro. Z: Endoidou? Foto não dá dinheiro não. X: Pemmmmm, resposta errada. Esse é o segundo D que falaremos, que é o D do detectar... tá anotando? Z: Anotando o que? X: Estou brincando, mas antes de fazer qualquer coisa na vida, precisamos identificar as coisas que nos limitam, por exemplo: De onde você tirou que fotografia não dá dinheiro? Quantas fotos você já vendeu, quantos trabalhos você já fez? Z: Nossa, que patada! Bota o cavalo na tela aí rs. X rindo: Não é isso, mas vou lhe contar como as crenças são instaladas em nós. Você já percebeu que essa parada de “que isso ou aquilo” não dá dinheiro é uma crença que te limita a fazer algo? Existem dois jeitos, mas vou lhe explicar apenas um, que é por repetição. Por exemplo, quando era criança minha mãe pedia pra ir na padaria comprar pão e quando eu voltava ela falava: “Vai lavar a mão que dinheiro é sujo”, e aí eu cresci com isso na cabeça acreditando que “dinheiro é sujo”. Só que aí vem o grande segredo: Assim como a crença ruim é instalada na gente, a crença boa também pode ficar gravada. Então vamos fazer um combinado?! A partir de agora, a gente não fala sobre crenças ruins?

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SEMPRE FOI SORTE Z: Já sei, descobri que você é Psicólogo. X: Não rs, enlouqueceu? Z: Tá, mas então onde você aprendeu tudo isso? Qual faculdade você fez? X: Faculdade da vida e tem mais… sabe porque eu não quero que falemos sobre crenças ruins? Z: Por que? X: Porque senão eu vou ter que te demitir. Z: Nossa, como assim? Então quer dizer que eu to no reality “O Aprendiz”? (rs) X: Quem nos dera, isso é a vida real mesmo. Porque esse é o nosso próximo D. Z: Nossa quantos D’s? Por acaso seu nome é David...Denis...Demétrio? X: Sem nomes, não era isso que você falou? Mas enfim, vamos voltar para o assunto, calma pensando bem... Duas horas haviam se passado desde o começo da ligação, já eram 12:47. X: Eu sei que estamos evoluindo e eu gosto muito de falar com você, mas agora eu preciso ir, falo com você outra hora. Z: Mas, como assim? Ir pra onde? X: Realmente preciso desligar, depois a gente conversa. ***

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TODO DIA É DIA D Sabe quando a gente está na aula, o professor pergunta se alguém tem dúvida, e falamos que não mesmo não tendo entendido nada? Porém mesmo assim não quer perguntar? Era assim que Z estava se sentindo. As cobranças dos pais para o intercâmbio, o medo da reação deles, a cobrança consigo mesmo, e agora de maneira indireta a cobrança do X em ajudar a decidir. Mãos suadas, frio na barriga, mente agitada. Z anda de um lado para outro e uma ligação que era para ser um pedido de socorro se torna mais um pesadelo, mais um peso, mais uma decisão, mais uma responsa; era tudo que não queria agora. Mas de uma coisa tinha certeza, não queria ir para o intercâmbio, precisava de coragem para tomar sua decisão. Então caminhou até o armário, abriu a terceira gaveta, procurou, procurou e não achou, a porta do quarto abre e sua mãe entra. Mãe: É isso que você está procurando? A gente precisa conversar... Z: Precisamos mesmo... Mãe: Olha, ée...Eu queria primeiro de tudo dizer que entendo tudo que você está passando, queria muito poder te ajudar. Às vezes tento entender tudo que está acontecendo nas nossas vidas, mas não sei como te ajudar, muitas vezes te vejo no seu canto. A mãe sabe que não é fácil, parece que a gente trava uma luta contra nós mesmo todos os dias, não é?! Isso não vai te ajudar. Você mais do que ninguém sabe tudo que a gente passou e passa com seu pai, eu tenho certeza que isso é só um escape pra você, mas você não é igual ele. olha pra mim... Eu quero te ajudar! E é por isso que tomei uma decisão, na verdade duas, toma

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SEMPRE FOI SORTE aqui (passagens para Canadá 28/09/2019 às 09:30). Como você não me deu a resposta sobre o intercâmbio, decidi adiantar as coisas. Antes de te contar a segunda coisa, você também tinha dito que precisávamos conversar, então pode falar... Z: Não, esquece, não era nada (respondeu com uma voz embargada). Mãe: Eu vou internar seu pai. Z: Como assim? Internar? Mãe: Sim, eu não consigo mais, está tudo muito difícil para mim, já estava pensando nisso e depois que eu vi você... Decidi que vai ser melhor para nós três, conto com você. Agora sim estava tudo perfeito na cabeça de Z, só que não. Se eu pudesse comparar tudo que estava passando por ela, eu compararia com a Formula Rossa, montanha russa mais rápida do mundo. Os pensamentos já não tinham mais direção, mais uma bomba caia em seu colo. Z: Se eles soubessem o quanto eu consigo suportar, com certeza não me atribuiriam tantas coisas, mas tudo bem; preciso relaxar, preciso organizar meus pensamentos. Quando acendeu o cigarro, no primeiro trago lembrou que tinha no seu armário, bem escondida uma garrafa que deixara lá caso alguém descobrisse. Ela ficava na sua gaveta de peças íntimas, afinal de contas a sua mãe dificilmente mexeria ali. Z não sabia o que fazer, o fumo o acalmava, mas não o suficiente. No fundo sabia o quanto a bebida o transformava, deixava em outro mundo. Acredito que assim como eu e você, Z, se encontrava no

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TODO DIA É DIA D meio de uma estrada, onde ali tinha uma bifurcação e precisava decidir qual caminho seguir. É incrível, mas nós tendemos sempre optar pelo caminho mais simples, pois acreditamos que ali estará os nossos ganhos. Muitas vezes eles realmente estão, porém eles são os ganhos de curto prazo… Z bebeu tudo, a garrafa tinha aproximadamente 700ml. No mesmo instante, o álcool começou a fazer efeito. Esbarrava nas coisas do seu quarto, jogou todos os seus livros da estante no chão, caiu sobre o pé da cama, começou a chorar. Pela primeira vez na vida clamou a Deus: Z: Deus me ajuda, me mostra o que tenho que fazer.... Nesse instante o telefone toca, era X. Z atende sem responder nada – com vergonha e com medo de que ele percebesse que tinha bebido. X: Hey... Você tá aí? X: Alô? Bem, estou te ligando só para pedir desculpas por ter que desligar àquela hora. Enfim, mudando de assunto queria te contar que estou me preparando para uma prova, vou correr uma meia maratona. Então pensei em te convidar para ir me assistir e depois de lá a gente poderia tomar um Açaí... sou apaixonado!! Assim já aproveitamos e nos conhecemos pessoalmente também.. Sei que eu nem te perguntei se você gosta, mas por você ser legal, eu imagino que sim, pois pessoas que não gostam de Açaí, a gente não deve nem confiar né? Rs. Eai, topa? Ah, e a corrida vai ser dia 28/09, já ia me esquecendo de falar a data, que cabeça a minha…. X não imaginava que aquela não era uma boa hora, aquelas palavras não soaram bem na cabeça de Z. Z: HAHAHA e você corre então? HAHAHA

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SEMPRE FOI SORTE X: Lá vem você com o seu bom humor de novo rs. Sua voz tá um pouco estranha. Z: Cala a boca, você nem me conhece, você não sabe da metade das coisas que eu passo, cansei de você também, meu pai, minha mãe, intercâmbio, eu e agora você. Você vem com aquele papo de decisão, de um monte de “d”, sai daí isso não funciona!!! Ou só funciona em filme, livro, tv, série. Para de pagar de legal, sabe de uma coisa? Eu nem sei porque te liguei mesmo, você disse que não acredita em Sorte né? Mas e em azar? Você acredita? Porque olha, depois de que começamos a conversar, as coisas parecem que viraram mais ainda de cabeça pra baixo... Credo, até com Deus, eu falei, acredita? Isso que ele nem existe hahahaha.. Você acha mesmo que conhece a minha voz? Pra dizer que está estranha. X: Olha, eu não tô entendendo, nem parece a pessoa que eu conversei nessas últimas horas. Você falou sobre azar, sobre Deus, mas e se você olhasse as coisas com outros olhos, sei lá, tipo ressignifica... Z: Xiuu, lá vem você com esses papinhos de novo, isso não existe, N-Ã-O E-X-I-S-T-E X: Bom, ok.. Tchau Tu-tu-tu-tu Z: Isso, desliga mesmo, é assim que todo mundo faz com gente problemática, não é? Desliga, ignora, foge (começa a chorar) *** Desculpa te interromper, sim sou eu, o Narrador. Precisava te alertar de uma coisa e até tentei ficar aqui desse lado sem

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TODO DIA É DIA D falar nada, mas quero te convidar a refletir. Você lembra que ali um pouquinho antes do diálogo deles, o Z pediu para DEUS, um sinal? Será que o X, não era esse sinal? Não estou falando de nenhuma conotação religiosa aqui e sim de que muitas vezes a pedimos para Deus ou para o Universo algum sinal, resposta, etc e eles nos dão, só que nós estamos tão fechados no nosso mundo e na nossa bolha que não abrimos nossos olhos e não nos permitimos enxergar que aquilo que mais pedimos e muitas vezes até já recebemos. O dia se encerra. Um dia cheio de notícias, conflitos e crises, fumaça e álcool. Um dia que a consciência foi deixada de lado e as palavras agressivas expulsaram quem podia ser esperança, quem estava trazendo um novo olhar para Z, mas quem o expulsou foi o seu outro lado, aquele que não mede palavras, nem se quer as ouvem, que não pensa nas consequências… Aquela personalidade que só quer refúgio numa garrafa e num trago de algo que lhe deixe fora de órbita...

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capítulo 3

ORGANIZAÇÃO parte 2 Dias se passaram e não houve nenhuma ligação, nenhum contato. As malas estavam prontas... ouve-se uma voz. Mãe: vamos? Tinha chegado a hora. Colocaram as malas no carro e Z pela última vez pensava em não ir. Mãe: Vai ser bom pra ele... Entraram na carro, e durante toda a viagem Z fica com um olho no pai, e outro no celular, um olho no celular e outro no pai. Fica o sentimento de dúvida se de fato aquilo era o melhor a se fazer... Um abraço apertado, um olhar em silêncio, nessas horas as palavras nem sempre são necessárias. De volta pra casa... Mãe: Você não vai entrar?

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TODO DIA É DIA D Z: Não mãe, eu preciso tomar um ar. Z caminha pelas calçadas de seu bairro tentando digerir tudo que vem acontecendo. O pensamento concentrado todo no pai é interrompido. A mão no bolso traz aquela nota velha esquecida e o apetite de tomar uma pra relaxar é maior do que o motivo que fez deixar o pai ir a poucas horas atrás. Um gole, dois goles, fim da dose e…. “mais uma por favor”! Mais um gole, uma careta, mais um gole, fim da dose...“a última por favor” e outro gole seco, porém maior. O sangue esquenta, copo na mesa e um até logo pro Seu Mané. Voltando pra casa, os pensamentos já estão atormentados, volta tudo aquilo na mente: o intercâmbio, as decisões. Talvez o único amigo que poderia conseguir desabafar foi dispensado num momento de fúria. Tudo isso interrompido ao entrar em casa. Z: Mãe, o que é isso? Mãe: Nada! Z: Como nada mãe? uma seringa? Mãe: Eu já disse que não é nada. Z: Você vai me falar agora o que é isso! Mãe: Ei, perdeu o respeito pela sua mãe? Já disse que não é nada, então não é nada e não se fala mais nisso. Vou me deitar e descansar um pouco, o dia foi cansativo para nós, faça o mesmo e chega de perguntas.

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SEMPRE FOI SORTE Z: Isso não vai passar batido, vai descansar. A velocidade da montanha russa só aumentava, os pensamentos de Z não paravam e quando acreditava que tudo ia melhorar, só piorava. Sabe quando a gente precisa de alguém simplesmente para nos ouvir? Era exatamente isso que precisava. E num ato de coragem decidiu pegar o telefone e discar para X, deixando todo o medo de lado, medo do julgamento, da vergonha e o principal: dele não atender. Z: Alô! X: Oi, nossa achei que nem tinha mais meu número, depois daquela última ligação... Z: Olha, preciso desabafar, aconteceu muita coisa nesses últimos dias e eu só queria alguém pra me escutar, você pode? Eu sei que fui... X: Sim, você foi, sinceramente eu fiquei extremamente chateado e decepcionado, na real eu não entendi absolutamente nada. Z: Então você vai me demitir? X: Demitir? Z: Sim, não é assim que você faz com as pessoas negativas? X: Ué, mas não era você que tinha dito que não acreditava nisso? Z: Disse? X: Sim, bom, deixa para lá, você disse que precisava desa-

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TODO DIA É DIA D bafar... Diz ae, quem sabe eu possa te ajudar. Mas queria te pedir uma coisinha antes? Z: O que? X: Que sejamos sinceros a partir de agora, que tenhamos respeito um com o outro e com as coisas que acreditamos. Z: Tudo bem, combinado. X: Antes de saber tudo que aconteceu nesses últimos dias, quero que conte o que aconteceu na noite daquela ligação. Eu ouvi uma mulher falando algo sobre armário e sobre você estar fazendo algo que não era certo na concepção dela... Z: Sim, aquela é minha mãe, mas eu não queria falar sobre isso por aqui. Será que não poderíamos nos encontrar pessoalmente? Nesse momento as pernas de X balançaram, ele não esperava que aquele encontro pudera acontecer tão breve, afinal de contas, depois da última ligação tinha absoluta certeza de que Z não queria. Mas precisava responder rápido antes que Z mudasse de ideia. X: Claclaro, vavamos sim Z: Tá tudo bem? X: É que.. Enfim, tá sim; quando? Z: Amanhã? X: Hm, deixa eu ver Z: AH, você trabalha né?

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X: Sim, mas estou de férias. Pode ser, onde vamos? Z: Shopping? X: Acredito que seja melhor em um parque, sei lá. Ibira? Z: Pode ser, e o horário? X: 13:05. Z: Mas porque 13:05 e não 13:00 ou 13:10? X: Gosto de ser diferente, vai se acostumando rs, porque será assim das próximas vezes. Z: A minha mãe comprou as passagens, já tenho hora e data marcada da minha partida. (Meio sem pensar, tentando mudar de assunto) X: E você vai? Z: Conversamos sobre isso pessoalmente, ok? X: Tá bom... Até amanhã. *** Caraca, que climão, eu não sei vocês, mas eu estava esperando muito por esse encontro deles, eles são fofinhos né? Mas quando acabou a ligação parecia que tinha acabado o primeiro round de uma luta eterna, o coração dos dois estava saindo pela boca. No corner direito: Z, A pessoa mais decidida da face da terra. Agora já nem consigo mais descrever como estava a montanha russa, acho que deveria estar em uns 6 loopings seguidos, de cabeça pra baixo e indo e voltando. Receoso,

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TODO DIA É DIA D não entendia muito bem o que X queria dizer com “vai se acostumando, teremos mais vezes” e como quase não tinha coisa para se preocupar, colocou mais uma na cabeça, será que deveria ir mesmo? Mas sabia que precisava conversar e que X era a pessoa que tinha se mostrado apta para essa conversa. No corner esquerdo: X, a pessoa mais decidida da face terra, ô pessoa que quando coloca uma coisa na cabeça é difícil de tirar viu? Por incrível que pareça a sensação era a mesma, estava com receio, será que Z tinha entendido a sua brincadeira numa boa? A sensação era que aquele tinha sido o dia da sua prova, de tão cansado que estava e ao mesmo tempo ansioso pelo encontro. Apesar disso, decidiu descansar, pois faltava pouco mais de algumas horas. Manhã do dia do encontro, faltavam 3 horas… Ambos acordaram tarde, pois passaram a noite inteira pensando como seria o tão esperado encontro. X ansioso que é, resolveu mandar pela primeira vez uma mensagem no whatsapp de Z

1:30 antes do encontro Banho OK Dentes OK

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SEMPRE FOI SORTE Perfume e desodorante OK X sai de casa, odeia atrasos. Pra ele, se chegasse lá às 13:05 já estaria atrasado, pois sua meta era chegar às 12:55. Antes de Z sair de casa vai até a cozinha, pega um chiclete, coloca na boca e vai até o lixo jogar o papel, quando abre o lixo se depara com 3 seringas. Mãe: Onde você vai? Z: Eita, que susto mãe. Vou encontrar uma pessoa. Mãe: Nossa, que bom. Não me lembro quando foi a última vez que você saiu daqui pra encontrar alguém, estou feliz por você. Z: Eu também, com medo mas feliz. E, ah, não esqueci da nossa conversa não tá? Quando eu chegar, quero saber de tudo. Mãe: Tá tudo bem, depois conversamos. Z ia saindo quando a Mãe lhe falou uma última coisa Mãe: Tá com medo? Vai com medo mesmo! Te amo muito! E vai logo para você não se atrasar. Z: Tá Mãe, vou esperar o uber aqui fora. No caminho para o parque Z lembrou que não sabia como iria reconhecer X e que não tinham falado com que roupa iriam, portanto decidiu mandar uma mensagem pra ele.

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TODO DIA É DIA D

Nesse instante o coração dos dois batia forte, frio na barriga e mãos geladas. Estavam prestes a se olharem pela primeira vez. X de tão ansioso que estava, chegou às 12:45 e mandou mensagem pra Z.

X Andava de um lado pro outro, sentava, mas pensava que não seria legal se esperasse sentado. Ficava em pé e tinha medo de confundir quem era, preferiu aguardar sentado, com certeza com aquela camiseta seria reconhecido de longe.

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SEMPRE FOI SORTE 05 minutos para o encontro:

O coração de X já estava cansado de esperar, Z lembrou da frase da sua Mãe “Tá com medo? Vai com medo mesmo” 00 segundos para o encontro. Chegou o grande momento, de longe Z avista X com sua camiseta vermelha e seu tênis vermelho ketchup e vai até o seu encontro. Z: Oi. X: Oi (arrepiado), Como você tá? Z: Ah, tô indo... X: Posso te confessar uma coisa? Eu te imaginava completamente diferente. Z: Sério? Mas a surpresa foi boa? Não né? X: Não, eu não quis falar isso. Foi boa sim, relaxa. Bom, senta aí, vamos conversar, tô aqui pra te ouvir. Z: O meu pai foi internado em uma clínica de reabilitação. X: Caraca, como assim? Z: É, e eu tenho o mesmo problema, mas ele chegou num ponto crítico. E no dia que falei tudo que não devia, nem

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TODO DIA É DIA D queria eu tinha fumado um, e tomado várias. X: Nossa, calma. Z: Eu não consigo me acalmar, só me ouve por favor… X: Ok, ok. Pode falar, to aqui pra te ouvir. Mas, é que tô confuso. Z: E ontem tomei mais algumas, e quando voltei pra casa minha mãe estava aplicando uma seringa nela mesma. X: Seringa? será que... Z: Não fala, por favor, eu não quero imaginar o que era aquilo, ou melhor eu não paro de pensar no que ela estava aplicando. Eu não sei mais o que fazer, não sei mais como agir, tá tudo tão difícil pra mim, não sei se consigo mais aguentar tudo isso, às vezes dá vontade... X: Para! Não fala o que você ia falar. Independentemente do que seja, as palavras tem poder. Tenta pensar em outra coisa diferente do que ia falar. Z: Ok, tudo bem, mas está realmente complicado. Meu pai na clínica, minha Mãe aparentemente doente, toda essa dúvida sobre o intercâmbio, toda cobrança em cima de mim mesmo. É louco sabe? Às vezes eu não consigo entender o porquê de tudo isso, eu olho para a galera na internet e todo mundo bem resolvido, viajando, sorrindo e penso o que será que eu fiz para merecer sabe? Só nesses últimos dias eu tive desafios que gente não tem a vida inteira. Não tenho idade pra ter tanta responsa, olha só para você, bem resolvido, pratica esportes, tem disciplina... você é uma pessoa incrível, tá aqui de livre espontânea vontade e com certeza ajuda várias outras pessoas, enquanto eu nem pra

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SEMPRE FOI SORTE isso presto, nem pra ajudar a minha Mãe. Talvez seja por isso que ela não me conta as coisas que tá passando, ou as decisões.. ARGH, que raiva! Odeio ser peso na vida dos outros. X: Ei, parou! A gente precisa organizar essa caixola ai… Caraca que confusão de pensamentos, você precisa ser forte e encarar tudo isso, não quero mais saber de todos os seus problemas, quero te ajudar. Você não é um peso para mim! Sei que não acredita em Deus, mas eu acredito e sei que se você me ligou naquele dia, tinha uma razão e um por que. Não é a toa que eu tô de férias, Ele sabe de tudo, e tá tudo bem. Tem uma frase que minha avó falava que ficou eternizada na nossa família que era... Desculpa, fico emocionado quando lembro dela, a frase era assim: Tá com medo.. Z: Vai com medo mesmo. X: Oxe, você conheceu minha vó? Z: Não besta, minha Mãe disse ela hoje pra mim... X: Caraca, e você não acredita em Deus. Z: E você não acredita em Sorte. X: Agora você me pegou haha. Bom, como eu disse vou e quero te ajudar, essa vai ser a minha missão durante as férias. Nesse momento X levanta, coloca a sua mão sobre o peito e faz um juramento: X: Eu, prometo que vou ajudar você, sei lá mais o que, sei lá mais o que. Z cai na gargalhada junto e pede pra ele sentar.

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TODO DIA É DIA D Z rindo: Para de ser besta. X: Só estou sendo eu mesmo, sou assim e inclusive queria te convidar a ser você. Z: Como assim? X: A gente vive em um mundo de máscaras, as pessoas estão cada vez mais escolhendo ter do que ser. Querem ter carros, mansões, celulares, roupas e esquecem muitas vezes de serem elas mesmas, de seguirem aquilo que acreditam e dane-se o resto, sabe? Dane-se se fotografia não dá dinheiro, é isso que te move? Dane-se! Dane-se se fulano ou ciclano tem a vida ótima, dane-se instagram e face não mostram a realidade de ninguém. Do que adianta as pessoas terem tudo isso e não atenderem uma ligação desconhecida? Não estou falando que foi o seu caso, mas precisamos de menos egoísmo, de menos “eus” e mais nós. E eu queria te propor uma coisa… Z (com receio): Aí que medo! O que? X: Que você me dissesse seu nome. Z: Acho que isso você merece saber, mas antes eu queria te dizer uma coisa. Muito obrigado, de verdade. Você está sendo fundamental para esse começo de mudança na minha vida e principalmente por me ouvir e aguentar as minhas loucuras. Bom, está pronto? Que rufem os tambores.. X bate em suas pernas como se estivesse batendo em um tambor. Z: Me chamo Manuella, muito prazer! X: My name is Guilherme, nice to meet you. Estou treinan-

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SEMPRE FOI SORTE do você para o intercâmbio rs *** Eitaaaaa! Fortes revelações durante esse encontro não? E eu sei que você deve estar se perguntando porque desde o começo a gente não contou para vocês o verdadeiro nome deles. Fizemos isso porque a gente queria mostrar que na nossa concepção de mundo, o nome, a idade, o que faz da vida, pouco importa, pois o que realmente importa é aquilo que somos, fazemos, os nossos medos, enfim.... E acreditamos também que se você chegou até esse momento do nosso livro, é merecedor de saber. Lembre-se que as pessoas que desistiram antes não sabem nem se quer o nome deles, não sabem nem se quer o gênero. E ai vai mais uma lição, estamos às vezes tão perto de uma grande descoberta e desistimos… Gostaria de te convidar a refletir: o que você estava pensando em desistir? Será que não estava na próxima página? Agora vamos voltar pra lá porque o Gui tocou em um assunto importante, será que Manu vai para o Intercâmbio? Lembrando que o dia da viagem dela é o mesmo dia da corrida dele...OMG!!!! *** Gui: Por falar em intercâmbio, você tinha dito que sua Mãe havia comprado as passagens, então você decidiu ir? Manu: Olha Gui, posso te chamar assim né? De verdade não sei, tem tanta coisa passando na minha cabeça. Naquele dia que tudo aconteceu, eu tinha decidido que ia contar pra ela que não iria, mas ela já chegou com as passagens e a bomba do meu pai, não queria trazer mais uma bomba pra ela. Gui: Manu, eu entendo, mas você não pode infelizmente ou

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TODO DIA É DIA D felizmente deixar a sua vida nas mãos dela, você precisa decidir sobre tudo. Não quero que soe como mais uma pressão, mas precisa virar a chavinha, você consegue, porque se não você vai se sair como seu Pai que não tomou a decisão de ir para a clínica e sua Mãe que teve que tomar essa decisão por ele. Tome as rédeas da sua vida! Manu hesitou muito em responder, mas sabia que o que Gui falava tinha razão. Manu: Eu não quero ir, o problema é que já está tudo comprado e faltam poucos dias para a viagem. Gui: Como assim poucos dias? Que dia está marcado? Manu: 28/09 Gui: No mesmo dia da minha corrida…. Esquece o convite que te fiz então. (tentando conter a frustração). Gui tinha as ferramentas e os dons para transitar de uma emoção a outra e rapidinho se recompôs, pois sabia da sua missão ali, ajudar Manu. Gui: Bom, então você precisa decidir mais rápido ainda, até para contar para a sua Mãe o quanto antes. Manu: Já decidi. Gui: Já? Manu (Soltando o cabelo que estava preso): Sim, eu não vou para o intercâmbio, estou decidida e digo mais… Vou parar de beber e fumar, quero ter uma vida saudável. Gui: Uau, se liga, estou arrepiado... Estou vendo outra mulher. Manu: Pois é, chegou o momento. Tudo isso que você disse

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SEMPRE FOI SORTE do meu pai e tudo que você vem me dizendo nesses últimos dias tem feito muito sentido para mim, por mais que não pareça. Me desculpa por ter dito aquelas bobagens, eu acredito que você sabe o que está falando, me transmite confiança e agora mais do que nunca vou precisar de ti. Gui: Conte comigo, parceira! Manu: Tamo junto, parceiro! Gui: Mas, você tem uma difícil missão, chegar em casa e contar essas duas decisões para sua Mãe. Faz aquele discurso (ele levanta para imitar) “Mãe, tenho duas notícias, uma boa e uma ruim, qual você quer primeiro”. O que acha? Manu: Péssimo Gui: Eu sei haha, mas estou falando sério quanto contar pra ela. Manu: Tá né... Beleza, agora que decidi que não vou pro intercâmbio e quero parar de me envolver com bebida e cigarro, o que preciso fazer? Gui: Você precisa de organização e foco. Manu: Já sei, vem D aí, acertei? Gui: Você já me conhece em parcinha haha. Sim, são só 2 D’s, Desenhar e Disciplinar. Eu vejo que muita gente aí quer ter metas audaciosas, tirar planos e sonhos do papel, mas não tem clareza do porque quer aquilo. Você ainda tem tempo? Ou tem hora para ir?

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TODO DIA É DIA D Já tinham se passado 3 horas de conversa. Manu: Tenho tempo professor Guilherme. Gui: Então eu gostaria de pedir para que você fechasse os olhos e queria que durante esses 5 minutos, você imaginasse exatamente como que essa decisão vai afetar a Manu de alguns anos, eu queria que imaginasse daqui a 10 anos, como que a Manu vai estar? A Manu vai fazer exercícios? Vai correr uma meia maratona? Haha, como vai tá a saúde mental da Manu? Ela vai poder deixar o legado dela para as próximas gerações? Eu de verdade não sei o que está passando aí, mas e os seus filhos, eles vão se orgulhar de ti? Eles vão ter orgulho de falar de você, igual você fala da sua Mãe? E como vai ser a sua casa? Quantos quartos ela vai ter? Você vai ter carro? Qual carro é? Como vão chamar os seus filhos? Enfim… Desenha tudo isso aí na sua cabeça, exatamente a vida que você quer ter e a partir de hoje, vai lembrar desse desenho todos os dias que pensar em beber e fumar. Você acha que a bebida, o cigarro e o intercâmbio eles vão lhe ajudar a ter a vida que você desenhou? Manu: Definitivamente não (muito emocionada) Gui: Só que agora vem o mais difícil, porque para alcançar tudo isso, ou melhor, parar de fazer tudo isso, você precisa ter disciplina, precisa aprender a dizer não, e sabe pra quem? Pra você mesmo. Disciplina Manu, nada mais é do que você ser um discípulo de você mesmo. Sabe porquê? Porque eu não vou estar na sua casa, não vou estar nos demais lugares que você frequenta e quem é a única pessoa que passa o tempo inteiro com você? Manu: Eu mesma. Gui: Pois é, você vai precisar dizer não pra si e isso é um

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SEMPRE FOI SORTE jogo onde precisará se controlar. O seu Eu vai dizer: “bebe, fuma” e você vai ter que dizer não. Sabe o que é mais louco? Que só você vai saber a verdade, a única pessoa que sabe dessas suas decisões sou eu, mas você vai poder beber escondida no seu quarto, no seu banheiro e até dizer para mim que não bebeu, mas só quem saberá da verdade será você. Boa sorte, faz sentido? Manu: Porra, ô se faz... Gui: Agora faz o juramento... Manu: Que juramento? Rs Gui: O que eu fiz. Manu: Ai meu Deus, só você. Eu Manu, Juro pra você Guilherme, não sei que lá , não sei que lá haha Gui: Olha, aprendeu direitinho, parabéns. Você é minha melhor aluna. Manu: Também, só tem eu rs Gui: Verdade, mas a gente precisa creditar as pessoas que acreditaram na gente primeiro. Manu: Verdade, você tem razão. Obrigado mais uma vez! Gui: Magina... Posso te dar um abraço? Manu: Claclaro Gui: Eita, engasgou? Rs. Estendendo a mão para ela levantar.

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TODO DIA É DIA D Manu se levanta e abraça Gui, a cabeça dela se encaixa perfeitamente em seu peito, parece que aquela era a posição exata pra ficar, e arrisco eu a dizer que ficariam ali durante uns bons minutos, mas o abraço é interrompido por uma ligação no telefone de Manu. Gui: Atende, pode ser importante. Manu: Número desconhecido, deve ser trote. Gui: Foi assim que eu pensei quando você me ligou rs Manu: Alô? Ligação: Por favor a senhora Manuella? Manu: É ela! Ligação: Aqui quem fala é a enfermeira, estamos ligando para falar sobre a sua Mãe. Ela está internada aqui no hospital Vitória e você precisa vir pra cá agora.

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SEMPRE FOI SORTE

capítulo 4

RESISTIR Manu desligou o telefone e começou a chorar desesperadamente. Gui: O que houve? Manu? Manu? Fala comigo? Manu saiu andando e Gui saiu atrás dela chamando-a repetidas vezes. Gui: Manu... Bom, a gente conhece bem o temperamento da Manu né? Ela é uma mulher de fases, mas aos poucos Gui já ia entendendo como lidar com ela. Do nada, Manu respondeu. Manu: Era a minha Mãe Guilherme, quer dizer era sobre a minha Mãe. Ela está no hospital, me ligaram de lá. Eu não devia ter vindo, eu deveria ter ficado em casa com a minha Mãe, com certeza ela precisava de mim, não vou me perdoar se tiver acontecido alguma coisa com ela. Gui pegou a Manu pelos braços, colocou-a de frente pra ele, olhando nos fundos dos olhos dela e disse: Gui: Para! Você não tem culpa de nada! Calma! Vamos lá

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TODO DIA É DIA D pro hospital, eu vou junto com você, posso? Manu: Balançando os ombros como quem diz tanto faz. Manu já havia chamado o Uber. Dali até o hospital era aproximadamente 15 minutos. *** Já era tarde, mas a culpa não era dela, ou nossa, quer dizer, deles. Eu sei que eu sou sempre bem humorado quando estou falando sobre eles com vocês, mas dessa vez será diferente. Foi triste, restava um vazio em mim, afinal de contas, conheço cada um, eles eram a minha família. Que mulher guerreira, aguentou firme, morreu sozinha e talvez ela já sabia que isso ia acontecer, afinal de contas naqueles dia foram 6 seringas, 3 foram somente as que Manu encontrou. Eu queria poder ajudá-la de alguma forma, mas às vezes eu esqueço que a minha função é apenas contar as coisas. ARGH! Mas, de uma coisa tenho certeza absoluta, conhecendo ela, sei que estava feliz. Mãe é um bicho incrível né? Sabia que não estava bem, mas quando viu a filha ali, com a possibilidade de sair, para conhecer um amigo, não falou nada. Como as outras milhões de mães que existem no mundo, ela pensou primeiro na filha, esse dom que eu queria de verdade poder entender, o dom de ser Mãe. “Deus foi generoso conosco nos permitiu conhecer essa mulher, que lutou até o último dia, sem contar para ninguém o que tinha e que Deus abençoe agora essa família, que possamos saudá-la com uma linda salva de palmas”. Essas foram as palavras do Padre, e assim o caixão desceu. *** Manu estava absolutamente triste e inconsolável, mas Gui sabia que era o momento e o tempo dela. Decidiu ir embora sem se despedir, tinha muita gente ali da família

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SEMPRE FOI SORTE conversando com Manu.

Nessa hora o Gui travou, não esperava que depois de alguns dias teria um encontro a sós com Manu.

Chegando lá o silêncio tomava conta do coração e da casa de Manu. Os olhos marejados entendia que aquela casa não seria mais a mesma sem a sua mãezinha, mas sabia que precisava seguir adiante e como a Mãe dizia, ela teria que ir com medo mesmo. Medo esse que tomava conta, ela não sabia que seria obrigada assumir daquela maneira as rédeas da vida, o Pai longe e Mãe mais longe ainda. O que fazer? Manu subiu as escadas e encontrou a porta do quarto dos pais aberta. Tudo estava exatamente do jeito que a Mãe deixou. Ao olhar para tudo, o choro foi maior do que a vontade de contê-lo... Aquele quarto tinha o cheiro da Mãe, observou em cima da cômoda um papelzinho com uma caneta e foi até lá. Manu se deparou com um bilhete deixado pela Mãe antes de sair:

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TODO DIA É DIA D

“Filha, estou indo ao hospital, está tudo bem com a Mãe, não se preocupe. Logo mais estou de volta! Peça uma pizza para jantarmos, sempre que vou ao hospital volto faminta. Te amo” Aquelas palavras entraram no coração de Manu como uma flecha, ela ajoelhou sobre a cama, abraçou o travesseiro da Mãe e chorou da mesma maneira do dia do enterro. O que mais doía, era que ela não tinha se despedido da Mãe. Decidiu então ir pro seu quarto e ficar um tempinho lá, afinal de contas tinha decidido que encontraria Gui mais tarde.

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SEMPRE FOI SORTE Gui chega na casa de Manu e toca a campainha. Manu abre a porta e chama Gui para entrar. Gui: Como você tá? Manu: Tô indo, vai ficar tudo bem. Vem cá, quero te mostrar uma coisa... Manu leva Gui até a cozinha... Gui: Que isso Manu? Poxa, a gente já não tinha conversado sobre tudo isso? Você não tinha jurado lá no parque? Manu: Calma, eu vou te explicar. Gui: Uhum, sei. Manu: Posso falar? Gui: Sim. Manu: Eu decidi me afastar, isso me fez “perder a minha Mãe”. Fiquei longe quando ela mais precisava de mim por causa disso, se eu não tivesse ido buscar refúgio, talvez teria percebido que minha Mãe não estava bem. Então chega, vou me afastar. Gui: De mim? Manu: Claro que não, das bebidas e do cigarro. Olha aqui nessa mesa, olha quanto tempo da vida eu perdi aqui. Em cima da mesa tinha dezenas de garrafas vazias que Manu escondia debaixo do colchão, e umas 20 caixas de cigarro que escondia para a Mãe não achar. Gui: Manu, a gente precisa conversar.

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TODO DIA É DIA D

Manu: Você não ficou feliz com essa minha decisão? Gui: Não, quer dizer, claro, claro que fiquei. Mas é que estive pensando em tudo isso que rolou com a gente nesses últimos dias, as nossas conversas e principalmente a nossa aproximação….Queria te dizer uma coisa... Manu: Pode falar. Gui: Acredito que você não precisa ser tão radical, porque estive pensando nessa sua mudança, de parar de beber e de fumar e as coisas não funcionam assim. Melhor do que excluir a bebida e o cigarro da sua vida, será resistir a eles, sabe? Tipo, você ser maior que isso, ter a oportunidade de conviver com eles, mas saber dizer não, resistir mesmo, encarar o medo e suportar a dor. Manu: Não sei Gui, vou pensar! Tá com fome? Gui: Tô ficando. Manu: Vamos pedir algo pra comer? Tentar relaxar um pouco a cabeça e falar de umas coisas diferentes.... Gui: Fechou, vamos do que? Pizza? Manu: Hmmm, não sei, mas pode ser vai, to sem ideia. Posso pedir a pizza favorita da minha mãe? Vai ser legal lembrar dela. Gui: Claro, qual era? Manu: Meia calabresa com cebola e meia caipira. Gui: Fechado, pode ser com borda recheada? Manu: Pode sim, achei que você era regradinho, fazia dieta rs.

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Gui: Um dia não tem problema né? Dá aqui o telefone, vou ligar lá. Depois de 28 minutos a pizza chega e eles decidem comer. Enquanto Gui está cortando a pizza, Manu vai pegando os pratos e durante a retirada dos pratos começa a chorar lembrando da mãe e um dos pratos acidentalmente cai no chão e quebra. Gui que estava de costas acaba se assustando, mas ajuda Manu a se recompor. Ela vai até o banheiro, enxuga o rosto e quando volta as pizzas já estão no prato. Os dois se deliciam, comem, riem, que momento incrível para Manu, até eu fiquei com vontade de comer pizza agora! Mas queria te falar uma coisa, não sei vocês, mas já estou shippando muito esse casal. Seria: Magui? Guinu? Façam suas apostas. Mas, a gente sabe do momento da Manu, ela não estava pensando nisso, mas conseguimos ver entre eles uma sinergia muito grande. Manu não estava bem, quando voltou na cozinha para guardar os pratos viu um porta retrato dela quando era criança com a mãe e o pai, e a saudade bateu forte. O choro cogitou a possibilidade de vir, mas ela foi forte, deixou os pratos na pia, ligou a torneira para deixar água cair sobre eles e quando se virou, Gui estava na porta da cozinha olhando para ela exatamente com o mesmo olhar que olhou no dia do parque. Gui: Estou muito orgulhoso de você. Manu: Porque? Gui: Nem todo mundo aguentaria tudo isso que você tá passando.

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TODO DIA É DIA D Manu balançando os ombros como quem diz “e tem outra opção?” Gui dá um abraço em Manu, que o retribuiu. Ambos só rezavam para que telefone, campainha, nada tocasse e que pudessem ficar ali o tempo que fosse necessário. Manu: Tem uma música do Jota Quest que diz que o melhor lugar do mundo é dentro de um abraço. Gui: Sério? Não conheço. Isso significa que meu abraço é bom? Manu, não responde. Gui olha no fundo dos olhos dela, ela coloca a mão na nuca dele, encostam as testas e vão se aproximando cada vez mais, Gui com sua cabeça levemente tombada para a direita e Manu com sua cabeça levemente tombada para a esquerda, vão se aproximando e quando seus lábios estão prestes a se tocar… Gui: Não, não podemos fazer isso (se afastando). Gui vai pra sala, pega sua carteira e blusa, e diz que vai embora. Manu: Não Gui, isso tudo foi um mal-entendido, não vai embora agora não. Fica aqui mais um pouco, estou com medo de ficar nessa casa sozinha, vamos assistir um filme? Gui hesita em responder, pois queria ficar, mas por um outro lado queria ir embora. Se colocou no lugar de Manu e sabia que também não teria coragem de ficar sozinho naquele sobrado após a morte da mãe. Gui: Tá bem, eu fico.

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SEMPRE FOI SORTE Gui senta no sofá enquanto Manu escolhe um filme para ver, mas toda indecisa decide que Gui deve escolher. Agora ele tem a difícil missão de selecionar algo para aquele momento, pois deveria tomar cuidado com todas as possibilidades. Gui fuça, fuça a netflix... Gui: Escolhi. Manu: Qual? Gui: Zootopia. Manu: Desenho Gui? Gui: É... Sem saber bem como explicar. Na verdade Gui escolheu um desenho pois estava com medo de escolher um drama ou terror e aguçar sentimentos e lembranças ruins em Manu, ou de escolher romance e aguçar outro tipo de sentimento depois do quase beijo, então decidiu que iria de desenho que não tinha chances de dar errado. Mas, não deu muito certo, Manu deitou com a cabeça no colo do Gui para ver o filme e ele fazia carinho na cabeça dela. No meio do filme, durante o cafuné Manu capotou. Passados uns 15 minutos aproximadamente, Gui capotou junto. Acabaram dormindo juntos essa noite, não intencionalmente, mas dormiram. Ambos acordaram por volta das 07:00 da manhã com o alarme do Gui tocando, desajeitados no sofá e com dor nas costas. Gui: Nossa, a gente capotou...

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TODO DIA É DIA D Manu: Pois é, falei para você não colocar desenho. Que horas são? Gui: 07:00 Manu: Nossa, que cedo. Porque você acorda tão cedo assim? Você não tá de férias? Gui: Sim, mas eu acordo cedo pra conseguir fazer toda a minha rotina, principalmente ir treinar. Manu: Por falar em rotina... Tá na hora, preciso começar a me mexer, já se passaram alguns dias daquela nossa conversa no parque e tenho que colocar tudo aquilo que desenhei em prática. Como você disse, ao invés de desistir, resistir. Chegou a hora de ser diferente, de fazer aquilo que as pessoas não querem fazer, para alcançar os meus objetivos. Olha, tá aí.. Gui: O que? Manu: Mais um “D” para a sua coleção. Diferenciar Gui: UAU, você tá aprendendo direitinho, vou até anotar aqui esse haha. Gui pega o celular para anotar e nota que precisa ir. Gui: Chegou a minha hora. Preciso ir. Manu: Ir onde? Vai me deixar sozinha? Gui: Má, eu preciso fazer as minhas coisas, tenho minha vida também... Preciso treinar, daqui a pouco tá chegando a minha prova, não posso abrir mão dessa realização. Treinei muito pra esse dia e sei que preciso treinar mais. Manu: Tá bom né? Mas, você pode voltar mais tarde? Sei lá,

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SEMPRE FOI SORTE pra gente assistir um filme completo haha Gui dando um leve sorriso: Vou pensar, nos falamos. Dá um beijo na testa dela e sai. Durante seu treino Gui recebe uma mensagem.

Gui chega em casa, toma um banho e sai para casa de Manu. O trajeto entre a cada deles, de carro dura aproximadamente 40 minutos. Gui chega na casa de Manu, toca a campainha e de longe ouve-se a voz de Manu: Manu: Pode entrar, o portão tá aberto e a porta também, estou aqui no meu quarto, pode subir. Gui entra, dá um beijo na bochecha de Manu e senta ao lado dela na cama. Manu não sabia onde colocar a cara depois dessa vergonha, porque disse pra ele que iria resistir de todo aquele discurso. Manu: Gui, não precisa falar, eu sei, sei que fiz merda, sei que errei de novo, mas eu juro, juro que te mandei mensagem na hora que dei o gole. Gui: Não sei se acredito em você.

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TODO DIA É DIA D Manu: Eu juro Gui, tá aqui a garrafa. Para a surpresa de Gui ela estava falando a verdade. Tinha bebido, não muito, mas o suficiente para deixá-lo preocupado. Ah, e eu não falei aqui pra vocês, mas não sei se deu pra perceber, acredito que sim. Mas o Gui não bebe e nem fuma, é um cara que segue os seus próprios princípios, faz o que acha certo. Não julga ninguém e nem diz que o que o outro faz é errado, respeita todo mundo, mas pela primeira vez passava pela cabeça de Gui se aquilo que estava fazendo e se envolvendo era o certo mesmo. Gui: Preciso pensar, vou descer rapidinho. Chegando na porta Manu, começa a chorar. Manu: Cacete, puta que pariu, eu sou uma filha da pu... Gui: Para com isso. Manu: Eu te decepcionei e me decepcionei também. Achei que eu conseguia, era tão simples, era só resistir sabe? Talvez fosse melhor ter jogado fora… Gui: Não adianta, não iria adiantar. Você precisa aprender a controlar sua mente, não adianta nada guardar, jogar fora, esconder, se na primeira oportunidade sozinha, você vai lá e faz. Manu não responde, nem tem o que responder. Gui senta no degrau da escada e um minuto depois volta ao quarto. Manu tentando ser fofa escreveu em uma folha as seguintes palavras:

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SEMPRE FOI SORTE

“Me desculpa, sou uma idiota. Amo estar contigo e não quero te perder” Gui: Para de se xingar, também amo estar com você. Queria te parabenizar... Manu: Parabenizar? Gui: Sim, você deu um passo importante hoje. Reconheceu seu erro, e fez o mais difícil: Depois de errar, parou de fazer. Você pode não ter resistido de primeira, mas resistiu de segunda. Lembra que eu disse que não ia ser fácil? Você provou na pele hoje, mas agora fica ao seu critério se isso vai acontecer de novo ou não. Manu: Eu prome... Gui: Não precisa mais prometer, já passamos dessa fase. Agora chega de falar, chegou a hora de agir! Chegou a sua hora de ser forte e dizer seus nãos para as escolhas que você fez. E digo mais, queria que aprendesse a se perdoar, ou melhor, seguindo os nossos D’s, se desculpar. Manu: Como assim? Gui: Muitas vezes a gente promete que vai fazer uma coisa, por termos uma meta, um plano e aí quando falhamos, ou quando uma coisa não sai como esperado já queremos desistir. Esse D para a gente não serve rs. É como se a gente mandasse uma mensagenzinha para o nosso cérebro de que não somos capazes, mas estamos errados. Quando eu disse que iria pensar, foi exatamente isso que passou pela minha cabeça, que eu era um merda de não estar conseguindo te ajudar, estava pensando em desistir da minha missão de férias. Mas, não! Eu vou até o fim, e você tem que aprender a se desculpar, a se perdoar, a dizer pra si que tá tudo bem

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TODO DIA É DIA D ter errado. É óbvio, não vai continuar fazendo o mesmo erro, mas a gente pode errar. Às vezes a gente passa a vida inteira desculpando os outros, mas quando é com a gente, nós nos punimos, então a partir de hoje que você possa se perdoar quando sentir a necessidade disso. Manu: Eu me perdoo por ter falhado hoje, mas não vou... Ops, sem promessas. Gui: E eu queria me desculpar de mais uma coisa, de não ter te beijado ontem. Gui beija Manu que não tem nem tempo de reação, a não ser aproveitar esse momento tão esperado por eles, desde ontem. Gente, to feliz aqui viu? Ela não lembrava quando foi a última vez que tinha sido beijada daquela maneira, aquele frio na barriga inicial… Por isso se deixou levar pelo beijo, de dominada passou a ser dominadora, tirou a camiseta do Gui, que tirou a camiseta da Manu e a colocou na cama. Manu não lembrava como era bom sentir aquela sensação de se entregar por inteira para alguém, o clima foi esquentando e esquentando até que Gui interrompe. Gui deitado na cama: Estou sem camisinha. Manu: Xiuuu, você não precisa ser certinho agora e muito menos extremista. Manu beija Gui que cede aos encantos da nossa jovem, uma noite incrível para os dois que terminam a noite agarradinhos, como se tivessem juntos a mais de anos. Quem diria em Brasil? Que esse beijo ia demorar tanto pra sair, mas quando saísse seria maravilhoso assim? Na manhã seguinte, Manu acorda e Gui está sentado na cama. Manu, começava a entender como ele era, um cara que por mais que conseguisse transitar diante das emoções,

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SEMPRE FOI SORTE com ela não conseguir fazer isso 100% Manu: Que foi Gui? Não curtiu a noite? Gui: Claro que curti, foi maravilhosa (dando um selinho nela). É que a gente transou sem camisinha e isso me preocupa um pouco, você sabe o que aconteceu. Enfim, obrigado por isso tudo. Manu: Obrigado você, não me lembro quando foi a última vez que tive uma noite assim. Gui: Eu também não, foi especial; Manu: Muito (dando um selinho nele) e levantando para se trocar. Gui colocando a roupa também pergunta pra Manu. Gui: Você toma anticoncepcional Má? Manu um pouco assustada: Tomo. Gui: Manu, você toma? Manu: Eu tomo Gui, só que com toda essa confusão... Gui: Com toda essa confusão o que?

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capítulo 5

RESISTIR parte 2 Manu: Eu não sei Gui, com toda essa confusão... Gui: Ai meu Deus, eu não acredito. Manu: Calma Gui, eu vou dar uma olhadinha na cartela. Gui: Manu, não brinca com isso. Não é possível… Manu vai até a cômoda do seu quarto, abre a gaveta e procura o remédio, que não está lá. Gui: E ai? Manu: Calma, não tá aqui. Gui: Que calma, me fala onde tá, eu posso tentar te ajudar. Manu vai até a sua bolsa e encontra a cartela, percebe então que já fazia alguns dias que não tinha tomado o anticoncepcional.

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TODO DIA É DIA D Gui impaciente pergunta: E ai, tudo certo? Manu hesita em responder, e abre a brecha necessária para Gui desconfiar. Gui: Manu, me responde. Manu: Tudo certo. Gui desconfiado: Deixa eu ver. Manu: Não Guilherme, acredita em mim, tá tudo certo. Gui: Deixa eu ver então. Manu entrega a cartela com lágrimas nos olhos. Gui pega a cartela e observa que não estava nada certo, então senta na cama e coloca as duas mãos sobre a cabeça, procurando uma resposta para aquele momento. Gui: Eu não acredito que você fez isso com a gente. Depois, você vem com aquele papo de “certinho”, você tem noção do que pode ter acontecido Manu? Você vacilou, você deveria ter tomado os remédios direito ou ao menos não ter deixado com que isso acontecesse, não ter deixado rolar… Manu: Gui, a culpa é nossa, não vem com essa de transferir toda responsabilidade só para mim. Gui: Nossa? Você pirou? Eu não queria ter transado com você, não sem camisinha e você insistiu! Manu: Você não queria ter transado, mas transou, agora já foi, devia ter se preocupado com o anticoncepcional antes!

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SEMPRE FOI SORTE Mas não adianta, agora já foi e eu não vou ficar aqui discutindo. Não é você quem diz que a gente precisa focar na solução e não nos problemas? Olha aí, você fazendo completamente o oposto. Gui pega suas coisas e começa a descer as escadas. Manu: Onde você vai? Gui para no último degrau e olha para o topo da escada, onde estava Manu. Gui: Preciso pensar. Manu: Pensar o que? Você vai sumir né? Não acredito... Gui bate a porta da casa de Manu e sai. Manu: Não acredito que eu fui me envolver com um cara assim, depois de tantos anos sem sair com ninguém, nem se quer me relacionar e quando aparece, aparece um cara desses. Não, calma Manuella, o Guilherme não é esse crápula que você tá desenhando, você sabe, ele te ajudou muito até aqui e não vai te abandonar assim, vai ficar tudo bem, respira. Gui saiu em disparada, não sabia o que fazer, sempre cuidou e planejou para não ter essa responsabilidade no momento errado, e agora a possibilidade de ser pai estava embaralhando toda a sua cabeça, parece que agora a Montanha Russa, não habita mais na Manu e sim no Gui. Foi aí, que decidiu que precisava espairecer um pouco e ligou para um de seus amigos. Gui tinha um mau hábito de achar que todo mundo era seu amigo, ou melhor, seu melhor amigo. Por ser um ser humano muito sociável, acreditava que em cada canto tinha melhores amigos, o que não sabia é que não podia medir todas as amizades com a mesma régua. E

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TODO DIA É DIA D ai, fica minha dica para você, será que você não mede todos os seus amigos com a mesma régua? Será que é justo? Enfim, Gui fez uma ligação e ela foi mais ou menos assim: Gui: Cara, preciso trocar uma ideia contigo. Não, nada não, tá tudo bem, ou melhor, tudo indo, vai ficar tudo bem. Acredito que entrei em um B.O ai… Não, tá louco? Não matei ninguém não pô, só tô precisando tirar umas paradas da minha cabeça. Beleza, te encontro lá, mas não vou beber não tá? Chegando no bar, Gui começou a contar para o seu amigo o que tinha acontecido e o amigo falou pra ele beber um pouco para relaxar. Amigo: Irmão bebe um pouco, vai te relaxar. Gui: Não mano, você sabe que eu não bebo. Amigo: Para de ser tão extremista irmão, tu vai ver que vai te fazer bem, relaxa um pouco. Pela primeira vez na vida Gui começava a se questionar se realmente ele tinha tanta certeza do que fazia, até mesmo dos seus princípios e valores. Seu amigo insistiu mais um pouco e encheu um copo com whisky pra ele. Com a sensação de que precisava retribuir o favor do amigo que estava ali o ouvindo falar, decidiu beber um gole, bebeu um pouco, mais um pouco, e quando viu, os dois já tinham bebido mais da metade da garrafa. Gui já estava um pouco desorientado por conta do ocorrido naquela manhã, mas a bebida o deixou perdido. Já estava perdendo o equilíbrio quando seu amigo o chamou para ir pra uma sala nos fundos do Bar. Sem ter muito comando sobre si, foi. Chegando na sala, viu uma galera debruçada sobre as

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SEMPRE FOI SORTE mesas, no momento que entrou naquela sala, quis voltar, mas o amigo o tranquilizou e disse que não faria nada se não quisesse. Gui sentou em uma cadeira e de longe viu o amigo conversando com um rapaz que lhe entregou dois pacotinhos. De repente o amigo volta para a mesa e diz: Amigo: Gui, dá isso pra ela. Gui: Isso, o que? (pegando um dos pacotes) Amigo: Fica tranquilo, não vai fazer mal. Gui tenta ler o que está escrito no pacote, mas estava tão bêbado que não conseguia ler. Gui: Não sei se tenho coragem. Amigo: Eu vou te ajudar. (Abrindo o segundo pacote e colocando sobre a mesa). Quer coragem? Tó, cheira dessa carreira, que com isso aqui se vai ter coragem pra falar a noite inteira. Gui sem ter consciência de si, abaixa para fazer e o amigo interrompe. Amigo: Calma Gui, apressado. Vou te mostrar como faz. Gui faz logo em seguida e quando levanta a cabeça parece que não é mais aquele que a gente conhecia, era como se algo tivesse tomado conta do corpo dele. Levanta e diz que vai atrás de Manu. Amigo: Não, calma, não é o melhor momento. Gui: Me deixa, eu sei o que estou fazendo.

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TODO DIA É DIA D Amigo: Bom, ok (e dá mais um tiro na cocaína). Gui chama um Uber e segue a caminho da casa de Manu, suando. Cabeça balançando de um lado para o outro e durante o caminho a única coisa que fazia era olhar fixamente para a janela e falava baixinho para si mesmo: Gui: Preciso falar com ela, preciso falar com ela. Uber: Disse alguma coisa senhor? Gui: Preciso falar com ela, preciso falar com ela. Uber estranha mas decide não falar mais com ele. Gui chega a casa de Manu desorientado e toca a campainha. Manu desconfiada do lado de dentro casa se surpreende, e como não estava esperando visitas, finge que não tem ninguém em casa, para a pessoa desistir de tocar, mas Gui sabia que ela estava em casa, então afunda a campainha. Manu: Já vai, meu Deus, quem será? Quando abre a porta se surpreende ao ver o estado de Gui, que entra sem nem dar boa noite. Gui: A gente precisa conversar. Manu: Tá tudo bem? Senta aí (apontando pro sofá). Gui: Eu não quero sentar. Eu só vim te falar que você é uma maluca, é isso mesmo, doida. Você é muito mimada, você acha que tudo tem que sair do seu jeito, tudo tem que ser na hora que você quer, como você quer. Acorda Manuella (gui aumentando o tom de voz).

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SEMPRE FOI SORTE Manu: Não levanta a voz pra mim, Guilherme. Gui: Ou o que? Vai fazer o que comigo? Você não tem ninguém aqui pra te defender Manu, sou só eu e você; e a única pessoa que poderia te defender era eu e o que você fez? Me fez transar sem camisinha com você. Você tem ideia que se eu virar pai agora o quanto isso pode atrasar a minha vida? Não, você não tem, porque você não sabe o que é fazer o seu corre. Manu: Gui, pelo amor de Deus, para. Não estou te reconhecendo, quem é você? O que você fez com o Guilherme? Gui: Eu sou o Guilherme, você fez isso comigo, a culpa é sua. – Gui nesse momento dá um grito que assusta os vizinhos. A CULPA É SUA!!! Manu cai no choro e pede pra Gui ir embora de casa. Gui: Eu não vou embora. Dá um passo em direção a Manu e, de repente, sente uma vontade de vomitar, imediatamente corre para o banheiro que ficava entre a sala e a cozinha, chega à tempo no vaso e vomita, se sentindo um pouco melhor, se levanta para lavar o rosto na pia e percebe que não tem toalha para secar as suas mãos e o seu rosto, então seca o rosto com a camiseta e as mãos na calça. Quando coloca as mãos sobre a calça percebe que tem algo ali em seu bolso… Era o outro pacote que seu amigo tinha dado, relembrando, caminha com ele até a sala. Manu ainda em estado de choque, se encontra com a cabeça entre os joelhos sentada no chão. Quando levanta a cabeça encontra Gui em sua frente, agachado. Manu: Gui, vai embora por favor, depois conversamos

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TODO DIA É DIA D melhor sobre isso. Gui: Tudo bem, eu vou, mas antes quero que tome isso (mostra o pacote para Manu). Manu: Que isso? – Gui tira o comprimido do saquinho e tenta apressar Manu – Gui, calma! Gui: É o melhor a ser feito pra gente. Manu: Não, pelo amor de Deus, a gente nem sabe se eu estou grávida. Gui: É melhor prevenir do que remediar. Manu tenta se levantar e Gui a pega pelo braço. Manu: Você tá me machucando. Gui: É só você tomar, simples, assim ninguém se machuca. Manu: Não, eu não gosto de pílula, você sabe quanto hormônio tem aí dentro? Eu não quero, e nem vou tomar. Gui: Pelo amor de Deus, agora não é hora de pensar só em você, pensa na gente. Manu se solta de Gui e diz mais uma vez que não vai tomar. Gui vai atrás de Manu, pega novamente pelo braço e os dois começam uma espécie de briga por espaço. Gui tropeça em uma mesa de centro e a mesa tomba. Gui: Manu, não é hora pra isso.

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SEMPRE FOI SORTE Gui empurra Manu, que tropeça e cai no chão sem se dar conta de que poderia a ter machucado. Vai pra cima de Manu que não tem tempo de se levantar, pede desculpas, abre a boca dela e coloca a pílula dentro. Gui: Engole, por favor. ENGOLE! Um barulho faz com que Gui e Manu olhem para a porta. Três policiais invadem a casa e Gui se assusta, saindo imediatamente de cima de Manu, que cospe a pílula e se levanta com ajuda da policial. Olhando em volta e vendo a sala toda bagunçada, o outro policial pergunta se está tudo bem e diz que receberam uma denúncia anônima de uma briga entre um homem e uma mulher. A policial que ajudou Manu a leva até a cozinha e pede pra que ela tome um copo d’água para se acalmar, enquanto isso, um pouco transtornado, Gui conversa com os policiais na sala. Gui: Está tudo bem sim. Policial: E o que era aquela cena de quando entramos? Você estava em cima da moça! Gui: Não se preocupe, vocês sabem como é, coisa de casal, não é mesmo? – Gui tenta um tom descontraído, piscando um dos olhos e rindo. Os policiais desconfiam da postura de Gui, afinal de contas sabem muito bem quando uma pessoa está em um bom estado, mas neste momento a policial traz Manu um pouco mais calma para sala e sai para conversar com os outros policiais do lado de fora da casa. Gui: Foi você quem chamou eles né? – Pergunta desconfia-

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TODO DIA É DIA D do pra Manu, que balança a cabeça para os lados, dizendo não. Os policiais retornam e perguntam mais uma vez se está tudo bem e se Manu deseja prestar queixas contra Gui, que por sua vez anda de um lado pro outro da casa. Manu respondeu que não e que só queria que levassem Gui dali, para que pudesse ficar sozinha. Aceitando o pedido de Manu, Gui é encaminhado até sua casa pelos policiais. Quando os policiais saem com o Gui da casa de Manu, ela vai até a porta para acompanhar. Neste momento vê parada do outro lado da rua uma mulher que aparentemente conhecia, mas não se lembrava de onde. A mulher se aproxima e fala com Manu. Mulher: Manuella? Manu: Oi, sim eu mesmo. Mulher: Sou do hospital Vitória, o hospital que sua mãe esteve e vim trazer esse escapulário que a gente retirou dela em um procedimento lá. Nós acabamos esquecendo de te dar na correria porque depois do que aconteceu, a gente começou a agilizar as outras coisas e também cuidar dos outros pacientes, acabou passando batido. Manu: Ah, tudo bem, poxa. Obrigado mesmo por ter se dado o trabalho de me trazer. Enfermeira: Ah, imaginei que você ia gostar de tê-lo. Manu: Sim, com certeza. Você tá aqui fora faz muito tempo?

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SEMPRE FOI SORTE Enfermeira: Cheguei faz um tempinho sim, mas ouvi a discussão e decidi não atrapalhar. Manu: Foi você então que ligou pra policia? Enfermeira: Sim, fui eu, posso entrar para conversarmos? Manu: Claro, desculpa, fica à vontade. Enfermeira: Obrigado. Olha, desculpa, sei que não deveria talvez ter feito isso, mas a gente vê tanta mulher chegando no hospital por ter sido agredida pelo marido, namorado, enfim... Meio que me sinto na obrigação de cuidar para que outras não passem por isso. Manu: Imagina, não precisa se desculpar. Não sabia direito o que fazer, não acho que o Gui iria me agredir, mas ele estava realmente muito estranho, enfim. Obrigado por ter vindo, foi muita sorte você estar aqui e ter ligado para polícia – soltando uma risada triste. Enfermeira: Que foi? Manu: É uma longa história, mas o Gui não acredita em sorte. É muita loucura eu ainda estar pensando que foi pura sorte ter conhecido ele, mesmo depois de tudo isso que aconteceu? A enfermeira respira fundo e segura as mãos de Manu. Enfermeira: Olha, eu imagino que não tá sendo fácil tudo que você está passando, não estou aqui para te dizer o que você deve ou não fazer, até por que você é a única que sabe e só você pode escolher o que passará. Só toma cuidado, afinal, a gente ainda vive em uma sociedade extremamente machista, mesmo em pleno 2019. Nós não podemos mais

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TODO DIA É DIA D nos sujeitar e nem dar força para isso. Eu sei, eu vi no hospital como o Gui parecia ser um cara maravilhoso, mas você também é uma mulher maravilhosa e talvez se seus pais estivessem aqui, não gostariam de ver alguém fazendo isso que ele fez com você. Pensa com carinho, pense em você. – Soltando as mãos de Manu e se levantando – Eu preciso ir agora, amanhã tenho plantão no hospital, mas não se esqueça, nem sempre alguém vai aparecer para chamar a polícia, você precisará cuidar de você mesma. Manu: Sim, você tem razão, eu preciso me cuidar, muito obrigada por ter trazido o escapulário e por todas as palavras, prometo que pensarei com muito carinho em tudo isso. A enfermeira sorri e caminha para ir embora mas quando chega próximo a porta encontra o comprimido no tapete. Abaixa, pega e pergunta pra Manu. Enfermeira: O que é isso? Manu desconversando: Nossa, estava procurando esse comprimido mesmo, precisava tomá-lo, obrigado. Abrindo a porta da casa para enfermeira ir embora. Assim que a enfermeira sai, Manu pega o comprimido, deita no sofá, fica olhando para ele e pensa em tudo que havia passado nesta noite. Que noite hein meus amigos? No dia seguinte Gui acorda mal, sem saber muito bem o porquê. Começa a pensar na noite passada, e percebe que não se lembrava sequer como havia chego em casa. Sua última lembrança era de estar no bar com seu amigo, até tentou

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SEMPRE FOI SORTE se esforçar, mas a cabeça doía e sentia um cheiro forte que o deixava enjoado. Não sabia bem o que era, mas vinha de suas roupas. Ele estava de calça jeans e camiseta, porque chegou em casa tão mal que não tinha nem tomado banho. Tirou as roupas, jogou no cesto e entrou no chuveiro. Depois do banho, tomou um copo de leite, pegou uma maçã e decidiu ir pra casa de Manu com a missão de reorganizar os pensamentos e tentar se lembrar como a noite havia terminado. Manu, que mal conseguiu dormir revivendo a cena da noite passada, estava colocando a casa em ordem depois do furacão Gui ter passado por lá. Pegou a mesinha de centro com a perna quebrada, juntou em uma caixa de papelão e estava colocando do lado de fora de casa, quando Gui chegou. Gui: Acho que a gente precisa conversar. Manu ouve a voz de Gui e vira para olhá-lo. A seriedade e falta de brilho nos olhos de Manu faz Gui estremecer, sem nem saber o porquê. Manu: Precisamos mesmo. Gui: Sobre ontem Manu: Exatamente. – Olha para a mesinha e sem olhar pra ele, entra em casa. Gui segue-a. Gui: Olha eu sei que eu não fui legal ontem, sei que me equivoquei, não deveria ter falado contigo daquele jeito, nem muito menos ter saído daqui e ter te deixado sozinha. Manu sem entender muito o que o Gui ta falando interrompe. Manu: Me deixado sozinha? Sério?

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TODO DIA É DIA D Gui: Sim, depois que a gente transou e eu perguntei se você tomava anticoncepcional, não devia ter perguntado aquilo e nem ter ido embora, sai com um amigo, fui pra casa, capotei e só acordei hoje de manhã. Manu: Você só pode estar brincando. Gui: Eu estou falando muito sério. Manu: Bom, então vou falar sério também. Você não lembra de nada do que aconteceu aqui ontem? Gui: Lembro, claro que lembro. Acabei de te falar, a gente transou, fui embora e te deixei sozinha. Manu: Gui, isso foi ontem de manhã, mas você voltou pra cá ontem a noite transtornado. Você viu aquela mesinha de centro que eu estava colocando lá fora? Gui responde com a cabeça Manu: Você me segurou ontem, acabamos tropeçando, ela acabou caindo e quebrando. Gui: Como assim te segurei? Manu, jamais faria isso contigo. Manu: Você fez Gui, e não só isso, coisas muito, muito piores. Manu conta pro Gui absolutamente tudo que aconteceu na noite anterior nos mínimos detalhes e ele acaba não se lembrando, mas cai no choro, pela primeira vez na frente de Manu. Gui: Não acredito que eu fiz isso com você.

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SEMPRE FOI SORTE Manu: Nem eu, e é por isso... Gui: Por isso o que? Não Manu, calma. Manu: Já tomei a minha decisão! Você me ensinou, que quando a gente toma uma decisão, está tomada, não temos que voltar a trás. Vai doer e já está doendo, mas me ensinou a dizer não também, para poder dizer sim, me ensinou a detectar, me ensinou a despertar, me ensinou a ser diferente e eu quero ser diferente da maioria das mulheres que aceitam essa situação. Não vou correr o risco de ser agredida por você, eu não quero pagar pra ver. Ah, e você me ensinou a demitir também, demitir tudo e todos que nos fazem mal e hoje, ou melhor ontem, você me fez muito mal e eu não quero isso pra mim. Gui: Manu, pelo amor de Deus, me perdoa. Gui abraça Manu e chora, ao mesmo tempo que ela também deixa escorrer uma lágrima de apenas um dos olhos, mas limpa rapidamente. Manu se solta de Gui e olha no fundo dos olhos dele e diz: Manu: Eu te perdoo Gui: Obrigado, eu prometo, que isso não vai mais acontecer, obrigado e obrigado. (limpando os olhos de choro). Manu: Mas a gente não vai continuar isso. Eu te perdoo? Sim, te perdoo, de verdade, mas cada um segue o seu caminho agora. Obrigado por tudo. (vai até a porta e abre). Gui caminha para a porta lentamente com os olhos marejados, mas consciente de que tudo aquilo foi plantado por ele, passa por Manu com a cabeça baixa e sai, Manu fecha porta.

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capítulo 6

TREINO Gui sai da casa de Manu e no caminho de volta pra casa começa a se lembrar pouco a pouco das coisas que rolaram naquele dia. Lembra da ligação para o seu amigo e também da ida até o bar. Sente uma forte dor no estômago, um enjoo... ele não sabia para onde tinham ido seus valores. Gui estava sentindo nojo de si mesmo. Chegando em seu apartamento, corre até o banheiro e vomita na privada, se lembrando do que fez com Manu depois que saiu do banheiro da casa dela. Lembrou de segurá-la e derrubá-la em cima da mesa de centro. Seca o rosto e volta para sala. Parando na porta ele vê exatamente a cena dele em cima de Manu, tentando fazer com que ela engolisse o comprimido e sentindo a ânsia voltar, corre novamente para o banheiro, mas dessa vez não vomita, apenas chora. Se controlando, ele vai então até a cozinha para beber água e em flash, lembra dos policiais entrando na casa. Não dava! Para ele, aquela cena era inaceitável, ele havia agredido Manu. Em um acesso de raiva joga o copo na parede e vai até o banheiro novamente para se olhar no espelho. Olhando pra si mesmo, toma uma decisão: nunca mais iria atrás de Manu. Ele sentia que realmente não a merecia e começou a perceber que algumas coisas na sua vida não estavam corre-

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TODO DIA É DIA D tas. Percebeu que ele media todos os seus “amigos” com a mesma régua e que precisava ter cuidado ao selecionar quem eram realmente seus amigos de verdade. Gui se sentia muito mal com todas as escolhas que havia feito nos últimos dois dias. A dor era tão forte que queria encontrar um jeito de “se punir”, então pensou em desistir de correr. Iria jogar fora 6 meses de preparação. Decidiu que não iria treinar naquele dia, assim teria tempo para pensar se participaria ou não da grande prova. Manu, também ficou mal com o ocorrido. Logo que Gui saiu de sua casa,virou de costas e foi descendo devagarinho, sentando-se de costas para a porta. Começou a pensar em tudo que estava passando: a primeira ligação pro Gui, o encontro no parque, a morte e o enterro da mãe, a conversa com a mãe, a internação do pai, a noite com o Gui e o dia da confusão, tudo, tudo passava pela cabeça dela e completamente sem entender a razão de tudo aquilo, sentia a necessidade de conversar e desabafar com alguém. Pensou em até ir no hospital falar com a Enfermeira, afinal, ela não tinha amigos e as únicas duas pessoas que poderia conversar, era o Gui e o pai, que no atual momento não poderia falar com nenhum dos dois. Pensou em ficar em casa, sabia que seria melhor para poder esfriar a cabeça mas, em alguns minutos tudo fazia lembrar ou o pai, a mãe ou o Gui, toda a história deles ocorreu ali, decidiu então que iria andar pelo bairro. Andando pelas ruas do bairro, parou em frente ao Bar de seu Mané, que a recepcionou muito bem: Seu Mané: Oi minha filha, tudo bem? Meus sentimentos, não quer entrar? Manu entrando no bar: Tudo indo seu Mané, e o senhor

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SEMPRE FOI SORTE como tá? Seu Mané: Forte que nem geléia, fiquei sabendo o que aconteceu com vocês, meus sentimentos. Mas, e aí, o de sempre? Manu: Sim, o de sempre. Seu Mané coloca um copo sobre a mesa e despeja a bebida preferida de Manu, a dose que ela sempre tomava e sai. Manu pega o copo, mas não o tira da mesa. Fica olhando-o fixamente e decide não tomar, dizendo para si mesma que aquilo ali faz parte do seu treino e da sua preparação, que realmente não tinha que excluir aquilo da vida dela e sim resistir, que o caminho era resistir. Imediatamente lembra do pai, e sabia que ia se orgulhar daquela atitude dela, pois tinha consciência de que estava abrindo mão de um prazer do presente para ter um futuro melhor, nada mais e nada menos do que sacando do presente para depositar no seu futuro. Virou para o seu Mané e disse: Manu: O de sempre agora é outra coisa Seu Mané. Espero de verdade que o meu “de sempre” não seja mais isso e que eu não seja mais tão presente aqui. Colocou uma nota de 5 reais e saiu do bar. Seu Mané não entendeu absolutamente nada daquela cena, será que tá ficando doida? Mas ele não queria muito saber e por não gostar de desperdício, pegou a nota, guardou no bolso, pegou o copo e bebeu... Depois passou um pano sobre a mesa e seguiu com seu trabalho . No caminho de volta para sua casa, Manu decidiu que era necessário começar a se mexer, precisava estudar mais sobre aquilo que queria, fotografia. Decidiu então que chega-

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TODO DIA É DIA D ria em casa e começaria a sua nova jornada, decidiu depositar forças no seu futuro, porque senão fizesse quem o faria? Sabia também que quanto mais tempo ocupasse sua cabeça, menos tempo daria forças para as lembranças do seu passado, a partir daquele dia começava uma nova vida. Manu acorda no dia seguinte determinada, focada e com uma tremenda vontade de estudar. Entra no youtube, no google, baixa ebooks, livros físicos, tudo que você possa imaginar e começou. Estava desenvolvendo novas habilidades e competências para conseguir trilhar sua nova carreira. Enquanto Manu, desenvolvia novas competências para conseguir alcançar sua meta, estudar/viver de fotografia, Gui desenvolvia competências e habilidades para não conseguir completar a prova, não treinava e nem se alimentava direito. Começávamos a ver até que o físico dele estava diferente, as gordurinhas localizadas começavam a aparecer… Antes de eu te contar como que foi essa tão esperada corrida eu queria te falar algumas coisinhas que talvez tenham passadas despercebidas. Quando a gente quer alcançar algo, temos que desenvolver novas competências e habilidades, precisamos encontrar pessoas que já chegaram onde a gente quer chegar para poder modelar essas pessoas, modelar os hábitos, os pensamentos, atitudes, enfim… O máximo de coisas que pudermos. Mas o que eu quero destacar, são duas coisas: 1 – Até pro fracasso você tem rotinas e 2 – Crença de merecimento. 1Enquanto a Manu estava “treinando” muito para poder alcançar/ começar os seus objetivos, o Gui tinha puxado o freio e automaticamente parado de correr atrás de algo que ele tanto buscou, logo mais vou te contar o que aconteceu no dia da corrida.

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SEMPRE FOI SORTE 2- A Manu, estava praticamente correndo uma maratona. Parecia realmente que iria participar de uma prova e que precisava acertar o maior número de questões sobre fotografia, mas só estava tão focada e tão obstinada com isso, porque sentia que merecia aquilo. Aumentou o senso de merecimento dela, decidiu correr atrás de tudo aquilo que desenhou no parque naquele dia, mas sabia que para alcançar aquilo que desenhou, que a gente nem sabe o que é, talvez a fotografia estivesse no meio e ela precisava desenvolver novas competências e habilidades para se sentir merecedora disso para alcançar. Porque to te falando tudo isso? Porque muita gente, tem medo de sonhar, tem medo de acreditar e só faz isso porque acha que não merece. Não mereço ter um carrão, isso é coisa de rico. Quem disse? As pessoas morrem de medo de sonhar, por medo de se frustrar. Ai eu te pergunto, se a Manu não tivesse sonhado, ou melhor, desenhado a vida extraordinária que queria, você acredita que teria forças para estar estudando em meio a todo caos? Chegou o tão esperado dia 28, o dia da corrida. Gui decide fazer a prova porque acredita que a palavra Desistir não entra no seu vocabulário. Chega no local da prova com sua camisa verde fluorescente e começa a observar os outros corredores e se compara levemente tendo a sensação de que vai ser mais fácil do que imaginava. Começa a corrida e ele inicia de uma maneira surpreendente para nós, pois está muito rápido, mais rápido do que o normal e a organização começa a olhar pra ele com olhos diferentes, com olhos positivos. Sentem que estão ali frente a frente com um futuro possível atleta. Estava tão rápido, que se distanciou do pelotão principal e na sua cabeça a corrida sairia mais fácil do que tinha imaginado, porém as coisas não seriam

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TODO DIA É DIA D pra sempre assim. Por volta dos 10km ele começou a sentir a sua perna pesando e o tempo já não continuava o mesmo. Então começou a observar o pelotão principal se aproximar e quanto mais corria, mais se desgastava. Foi aí que por volta dos 12,370m sentiu uma dor mais forte e precisou sentar. Conseguiu sentar na calçada e a organização que acompanhava ele e os outros competidores de perto foi imediatamente abordá-lo para perguntar a ele se estava tudo bem. Gui disse que sim e deram uma água pra ele, que decidiu continuar. Aquela pausa e aquela água pareceu que trouxeram pernas novas, mas infelizmente não foi assim. Gui era guerreiro, não queria desistir, não queria jogar fora os 5 meses de preparação,digo 5 porque o último mês não podemos contar… Quando chegou no 15,100km Gui novamente sentiu as dores, parou no meio da rua e abaixou seu tronco, ficando agachado, a organização que já sabia o que havia acontecido, chegou nele e perguntou se não queria desistir, que seria melhor, ele respondeu que realmente estava difícil, mas como faltavam apenas 4,900m queria completar a prova nem que fosse andando, assim a organização aceitou, pois sabia de todo o esforço dos competidores. Gui andou, 500m, 500m, e 750m, faltando exatos 3,150m abaixou de novo e começou se sentir tontura e náuseas, tinha chegado no seu limite. O mental dele o ajudou até ali, mas naquele momento ultrapassava os limites do mental, era somente físico e o físico tem uma resistência, assim, infelizmente Gui teve que ser retirado da prova. O levaram até o início e lá tinha uma base para pronto atendimento, o medicaram e pouco a pouco foi se recuperando, estava pálido, parecia que iria desmaiar, mas melhorou, a organização o parabenizou por todo o esforço e o liberou. Gui voltou para casa nada feliz, totalmente frustrado com o seu desempenho e ainda por cima com dor. A dor da

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SEMPRE FOI SORTE derrota e dor física. Sentia que sua meta não foi cumprida, e ele não tinha como meta vencer a corrida, mas sim completar os 21km, mas nem isso conseguiu. Fez uma análise e percebeu que foram os Detalhes que fizeram toda diferença. Pequenos detalhes fazem grande diferença e nesse o deixaram distante do seu maior objetivo dos últimos meses. “Eu comecei correndo muito rápido, deveria ter dosado a minha ansiedade, com isso automaticamente aumentou a minha respiração, me fez ficar cansado mais rápido, sem contar que a minha ausência no treino e minha negligência na alimentação, resultaram em hoje” Mas, sabia que havia um outro motivo também para ele não ter se saído tão bem: a falta de Manu em sua vida. Percebeu que a saudade já não era um sentimento bom, que aquilo não o fazia mais bem e mesmo tendo jurado que não iria mais atrás dela, voltou atrás e decidiu mandar uma mensagem.

A ansiedade começa a tomar conta de Gui e o nosso menino decide fazer as suas coisas da recuperação da corrida, mas com o olho e o ouvido vidrados no celular. Aguardando

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TODO DIA É DIA D ansiosamente a notificação da resposta de Manu, depois de 3 horas sem o celular ter apitado, decide ir olhar e quando desbloqueia a tela a surpresa: a mensagem não havia nem chegado. Diversos pensamentos pairam pela sua cabeça e o principal deles é que Manu o bloqueou e que não quer mais saber dele, que realmente estava decidida e que não queria nem vê-lo mais. Decide ir descansar e de repente pensa que ela poderia ter passado um dia fora de casa e estava sem internet e com certeza no dia seguinte, o responderia. Sabe quando a gente dorme tarde em um dia e precisa acordar cedo no dia seguinte e a gente passa a noite inteira acordando com medo de perder horário? Foi exatamente assim que o Gui passou aquela noite, mas não com medo de perder horário e sim na ansiedade de acordar no dia seguinte e ter a resposta de Manu, ou ao menos um sinal de vida dela. Mas, sem sucesso. Acorda de manhã e o cenário continua o mesmo. Nem se quer uma resposta dela e ele não conseguia imaginar o que poderia ter acontecido. Decide então ir até lá, pega as suas coisas e vai. 40 longos minutos de espera dentro do Uber e durante todo o caminho, vários pensamentos vinham a sua cabeça mesmo tentando os manter o mais afastados possível. Chegando lá, desce do carro e vai caminhando lentamente até a casa de Manu, com medo do que poderia encontrar lá e da reação dela ao vê-lo. Para em frente a porta e não sabe o que fazer… Se bate, se toca a campainha... Prefere tocar a campainha, toca uma vez, nada, toca a segunda vez, sem resposta, coloca a cabeça sobre a porta pra ver se escuta algo, toca a terceira vez e dessa vez praticamente afundando a campainha, espera 1 minuto e gira a maçaneta, porta fechada.

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SEMPRE FOI SORTE Decide então gritar por Manu, mas lembra do ocorrido na noite da pílula e que talvez os vizinhos o veriam lá, lembrariam dele e achariam estranho. Preferiu não gritar, olhou para trás e viu que o Uber ainda estava lá e que não tinha sido chamado ainda. O Uber olhou para ele e disse: Uber: O senhor vai embora? Já estou aqui há 10 minutos e não tive nenhuma chamada, se quiser eu faço um preço fechado. Gui nem respondeu, simplesmente entrou no carro e deu o dinheiro, saiu de lá totalmente frustrado, era como se o mundo dele tivesse acabado. Ele olhava fixamente para o lado de fora do carro e tentava achar respostas para tudo aquilo. Chegando em casa começou a questionar, será que a Manu morreu? Não, não é possível, não pode ser, ela jamais faria isso, pelo menos não depois de tudo que a gente conversou, mas a intuição do Gui gritava altamente para isso. Preferiu então não pensar mais nisso, quis crer que ela realmente o tinha esquecido e que era a hora de esquecê-la, ou melhor, tentar. Ele pegou o celular mais uma vez na esperança de que tivesse uma resposta dela. Ao abrir whatsapp, o coração já batia mais forte e esperança dela ter ao menos visualizado era grande, pelo menos assim tiraria dele, todo o pensamento do pior. Mas quando abriu, estava exatamente do mesmo jeito, nada de Manu ter lido e muito menos ter chego pra ela. Gui não gostava de tomar decisão de cabeça quente, decide então que vai escutar uma música, para quem sabe mudar um pouco o estado de espírito e como funcionou uma vez, pode ser que funcione de novo; pensou ele. Abriu seu aplicativo e colocou na playlist de rap nacional em ordem aleatória, até que começou a tocar a mesma

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TODO DIA É DIA D música do dia em que estava correndo, no dia que ainda chamava Manu de Z, e bateu uma nostalgia e saudade nele, mas dessa vez como um sentimento bom. Imediatamente, ele não sabia o que fazer e ainda no meio da música decidiu pegar caderno e caneta para fazer uma carta para Manu:

“As pessoas não são más, elas só estão perdidas; Ainda há tempo”.

Este é um trecho de uma música que gosto muito, porque me faz lembrar você. Eu não sou um homem mau, só fiquei meio perdido, mas já me encontrei. Eu estou arrependido pelo que fiz, sei que não quer falar comigo, mas precisava desabafar... Daqui uns dias eu volto a trabalhar e tá tudo muito foda, uma confusão do caramba aqui dentro. Tenho Esperança que um dia a gente possa se reencontrar e recomeçar... E também tenho esperança de que um dia você vai ler essa carta. Gui não sabia o que fazer com aquilo, não sabia se jogava fora, se guardava, porque estava achando muito cafona... Em pleno século 21, escrevendo cartinha de amor? Mas lembrou-se da frase da sua vó e pensou: “Tô com medo? Mas vou com medo mesmo.” Apesar do medo de estar sufocando Manu, ele decidiu colocar a carta nos correios e mandar pra casa dela, tendo agora mais uma preocupação, além da mensagem que uma hora podia ter uma retorno, aguardava ansiosamente para ver se chegaria uma resposta através da carta. Gui passou todos os dias seguintes olhando a caixinha do

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SEMPRE FOI SORTE correio e o celular na esperança de ter algo de Manu. Ah, e por falar em Manu, onde será que anda a nossa menina? Você quer saber? Tem certeza? Não, é melhor deixar pra lá? Bom... Eu sei que agora você acabou de responder: CONTA LOGO! Tá bom, calma, vou contar. Na próxima linha... Acredito que todos aqui se lembram que no dia da corrida do Gui tínhamos um outro evento que poderia acontecer. Lembra? Sim, isso mesmo, era o dia que estava comprada a passagem de Manu pro Canadá. Nesse tempo todo que ela começou a estudar fotografia, lembrou do intercâmbio e viu que talvez seria uma boa oportunidade para poder esquecer um pouquinho das coisas aqui no Brasil e focar nos estudos. Mas calma, não xinga ela tá? Eu sei que é difícil de acreditar, o Gui sofrendo sem nenhuma resposta dela e ela lá fora sem nem dar sinal de vida, cadê o celular dessa criatura? Vou te explicar! Depois da conversa da Manu com o Gui sobre redes sociais, lembra? Ela decidiu se distanciar um pouco de Instagram e Facebook e quando ela e o Gui terminaram, ela deixou de usar ainda mais o celular, porque queria realmente entrar em imersão na fotografia. Pra vocês terem ideia, ela não levou o celular pra viagem, o deixou em casa e levou com ela somente as roupas, documentos e a máquina fotográfica que tinha comprado exclusivamente para isso. Manu estava estudando muito lá, realmente estava determi-

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TODO DIA É DIA D nada, mas as coisas no âmbito pessoal não estavam fáceis e nós sabemos que ela não tinha facilidade em se comunicar com outras pessoas, não era tão sociável e muito menos de fazer amigos. A saudade começou a apertar, vivia em uma cultura extremamente diferente e como não tinha com quem desabafar não se sentia muito confortável pra contar toda sua vida, cheia de reviravoltas para qualquer um, então ficava mais quieta no canto dela. Ia do curso, pro hotel, do hotel pro curso e vez o outro passeava pelas ruas de Ottawa. A única saída que ela encontrara para desabafar além de tirar fotos foi escrever. Manu decidiu escrever uma espécie de diário para os dias ruins, difíceis. E então essa foi a sua primeira carta, dias depois de ter chego em Ottawa.

Sempre fui só, sempre me senti tão distante das pessoas, que hoje me sinto mais perto de quem está longe de mim. Me sinto perto pelo sentimento da saudade... Saudade do meu pai, da minha mãe e principalmente do Gui. Mas, esse é preço da decisão! Tudo o que posso fazer neste momento é aproveitar ao máximo o presente que minha mãe deixou pra mim, cada momento e cada aprendizado que com certeza fará diferença em minha vida. Quando acabou a carta ficou com uma duvida, se guardava aquela carta como se fosse um diário ou se mandava a carta para o Brasil. Decidiu então mandar aquela carta com o endereço do Canadá para a casa dela no Brasil, assim quando voltasse, lembraria de todos os momentos que passou lá e todas as saudades também. Como a casa dela estava vazia no Brasil, juntaria o útil com o agradável. Dias se passaram no Brasil e dias se passaram no Canadá. Gui sem nenhuma resposta de Manu volta a trabalhar e

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SEMPRE FOI SORTE retoma sua rotina de treinos e alimentação, porque decidiu que dali 6 meses procuraria uma nova corrida, agora é uma questão de honra pra ele. Já Manu, continuava a estudar e desenvolver o seu inglês e a fotografia. Estava completamente feliz com a sua evolução pessoal e profissional, embora ainda não tivesse trabalhando. Amanhã será o dia ‘’D’’ para mim, ops para nós. Será o dia em que o pai de Manu sairá da clínica e voltará para a sua casa depois de mais de 40 dias fora. Sua recuperação foi rápida e ele seguiu à risca tudo o que haviam pedido para ele. Gui nos últimos dias havia escrito 4 cartas para Manu e estava decidido a escrever a última carta, que dizia: Amanhã será o dia “D” para mim. Sei que já disse isso milhões de vezes, mas esse será verdade, por isso o chamo de dia “D”. Durante todo esse tempo não tive uma resposta e nem um sinal de vida seu, não tenho ideia do que aconteceu. Se aconteceu o pior contigo, não vou me perdoar e o mais triste é imaginar que não consegui me despedir, mesmo que você tenha ido simplesmente para casa daqueles seus parentes. Enfim, não sei se você lê ou não as minhas cartas, não sei nem se elas chegaram até você... Então, amanhã vou até a sua casa, entregarei essa carta pessoalmente e só saio de lá com uma resposta, mesmo que seja a de nunca mais te procurar” Manu, também escreve uma carta e manda pro Brasil.

Ah que saudade da minha terra. Amanhã é um dia importante pra mim, meu dia “D”. A passagem de volta já estava comprada, mas uma oportunidade de trabalho apareceu e estou pensando seriamente em ficar, afinal pode ser bom pra mim. Nem nos meus maiores sonhos 91

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eu poderia imaginar que isso iria acontecer tão rápido. Sei que tudo é fruto do meu esforço e da minha dedicação. Obrigado Gui, por ter me ensinado a correr atrás das minhas coisas, com certeza sem os nossos “D’s” ficaria mais complicado. Enfim estou decidida… No outro dia, sábado, Gui acorda cedo e está decidido a passar o dia na frente da casa de Manu, com fé e esperança de que ela vai sair uma hora de casa. A ansiedade toma conta: mãos geladas, coração acelerado e a sensação parecida com o dia que a viu pela primeira vez. Aqueles 40 minutos nunca demoraram tanto, e Gui nunca tinha andado tanto de uber como naqueles últimos meses. Finalmente chega na rua de Manu, pegou o envelope com a carta e ficou indeciso, pois não sabia se colocava na caixinha ou se tentaria entregar pessoalmente. Decidiu por na caixinha e esperar do outro lado da rua. Isso era por volta das 09:30 da manhã. Se passaram 2:00 , 3:00, 3:26 minutos, e de repente a porta se abre. Os olhos de Gui saltam do seu rosto, o olhar fixo na porta, e a ansiedade de ver Manu saindo de lá é grande. Foram incontáveis dias, sem nem se quer ter ouvido a voz dela, mas quando a porta se abre por completo a surpresa... Um homem sai de dentro da casa, Gui esfrega os seus olhos, como se não entendesse o que estava acontecendo. Olha a rua inteira para ver se não tinha parado na casa errada, impossível, sabia que aquela era casa certa. Quando de repente, vê o homem abrindo a caixinha do correio e pegando a sua carta de lá, Gui sai em disparada na direção do homem e o interrompe. O homem se assusta e olha para Gui sem entender nada. Gui sem nenhum um pingo de cortesia o pergunta: Gui: Aqui não morava uma menina?

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SEMPRE FOI SORTE Homem: Você deve ser o Guilherme, acertei? Gui: Oxe, como você me conhece? Quem é você? O homem aponta para o nome de Gui na carta e o pede pra entrar, Gui que não tem nada a perder e ainda na esperança de encontrar Manu entra. Ao entrar na casa de Manu, ou melhor, na antiga casa , faz um olhar 360, como se procurasse algo, quando de repente, olha sobre o sofá e reconhece todas as suas cartas ali em cima.

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capítulo 7

ESPERANÇA Ainda sem entender muito bem o que estava acontecendo e quem era aquele senhor, Gui pergunta: Gui: Olha, desculpa a pergunta, mas quem é você? O senhor sem nem se quer ter se apresentado diz: - Eu sou o pai da Manu. Gui: Ah, agora faz todo o sentido. (sentando no sofá). Gui ainda com a esperança de que a qualquer momento o pai chamaria a filha e ela apareceria ali. Enquanto isso, pegava as suas cartas e olhava uma a uma. Gui: Então quer dizer... Pai: Sim, ela não leu suas cartas. Gui: Mas, porque? Não quer me ver? Realmente me esqueceu? Não faz sentido… Pai: Calma, vou te explicar, ou melhor, você mesmo vai entender. (entrega a primeira carta de Manu). Gui então começa a ler e entender toda a história, que

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TODO DIA É DIA D Manu não estava ali e que nem chegara a ler as suas cartas. Dentro do Gui era uma mistura de felicidade e tristeza: triste por ela não ter lhe avisado de sua partida e feliz por sentir falta dele. Gui: Mas, não recebia nem as minhas mensagens. Pai: Ela decidiu não levar o celular, deve ser por isso. Olha, eu gostaria de lhe agradecer muito, por tudo que você fez, pelas cartas e por você estar aqui. Dá para perceber o quanto vocês são especiais um para o outro. Gui: Sim, ela se tornou especial. Se eu te contar como a gente se conheceu, você não vai acreditar… Foi assim... Pai: Não precisa me contar, eu sei de tudo, todos os detalhes. Gui: Sabe? Pai: Sim, deixa eu te explicar. Antes da Manu ter saído do Brasil, ela foi até a clinica que eu estava e me contou absolutamente tudo que aconteceu na história de vocês, tin tin por tin tin. Gui: A ligação? Pai: As ligações, o armário, o parque, o hospital, o enterro, o dia dos policiais, tudo. Gui com um sorriso bobo de alegria: Nem me lembre desse último dia. Pai: Inclusive, dos D’s. Gui: Ah, isso é uma bobagem, coisa de jovem.

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SEMPRE FOI SORTE Pai: Não é não, e vou te explicar o porque. Você com certeza sabe da minha posição, sabe onde estava e o que estava passando, o porque fui parar lá e tudo mais. Depois da Manu ter me contado sobre os D’s e sobre vocês, adotei eles como um método, até para eu organizar e tirar as minhas metas do papel. Veja só: 1. Tudo começa em um ou, de um DESAFIO. 2. Depois precisamos DESPERTAR para isso que queremos, ou seja, acordar. 3. DECIDIR, internalizar que é isso que queremos. 4. DETECTAR, tudo aquilo que pode nos tirar da nossa meta e do nosso foco. 5. DESCULPAR, a gente e os outros, porque uma hora o outra a gente vai errar. 6. DEMITIR, mandar embora tudo e todos que não vão nos ajudar a conquistar aquilo que queremos. 7. DOR, se acostumar com ela, que estará presente durante toda a jornada, transformando-a em nossa aliada. 8. DESENHAR, o que queremos com isso, como será a nossa vida com essa meta, como que vai contribuir para o que eu quero ser e ter. 9. DESEMPENHAR, aprender habilidades e competências com quem já fez aquilo que quero fazer. 10. DEPOSITAR, entender que estou tirando agora pra colher depois. 11. DISCIPLINAR, ser discípulo de mim mesmo, seguir a

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TODO DIA É DIA D risca aquilo que decidi. 12. DETERMINAR, consistência, fazer sempre. 13. DIFERENCIAR, escolher o caminho mais difícil, fazer o que ninguém faz. 14. DETALHES, estar atento a eles, que é o que pode nos tirar da nossa meta, mas é o que pode nos ajudar a chegar lá. Antes de eu te falar esses últimos D’s, queria saber o que aconteceu contigo, do momento que você saiu aqui de casa, até você mandar a primeira carta. Eu sei tudo que aconteceu com ela, mas não sei o que aconteceu contigo. Parece que você tinha uma corrida certo? Gui conta para o pai tudo que havia acontecido, do momento do término, até o dia que mandou a primeira carta, tudo exatamente como foi. E pergunta ao pai se Manu não havia mandado mais cartas. O pai explica que ela mandava cartas toda semana, mas que a carta daquela semana não havia chego ainda. Pai: Olha Gui, parabéns por todos esses D’s que você criou. Você não tem ideia do quanto isso pode e vai contribuir para fazermos deste mundo um mundo melhor pra se viver. É incrível a maneira como você enxerga o mundo, obrigado por ter se preocupado com a nossa menina, doando-se a ela esse tempo inteiro, mesmo que foram pouquíssimos meses, não importa. Você ajudou a Manu a dar um salto de mentalidade incrível, ela teve muita sorte em te encontrar. Gui ficou extremamente emocionado e com os olhos cheios de lágrimas de ver que toda a sua vivência e todos aqueles d’s que criara totalmente de maneira intuitiva ajudou verdadeiramente alguém. Ficou ainda mais feliz que não

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SEMPRE FOI SORTE era somente uma criação dele, mas da Manu, de seu pai e com certeza das milhares de pessoas que passaram pela sua vida, que o ajudam a formar a pessoa que ele era. Gui então da um abraço no pai de Manu e diz: Gui: Cara, eu não acredito em Sorte, ou melhor, não acreditava, mas to começando a achar que isso é verdade. Pai: Eu também não acreditava, para mim era Deus e ponto. Mas depois de ter aprendido tudo isso com vocês, eu comecei a olhar a sorte de um jeito diferente. O pai pega um papel e uma caneta e escreve em uma folha

Pai: E agora Gui, da pra gente ver a sorte com outros olhos? Gui acena com a cabeça e responde: Gui: Com certeza!

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TODO DIA É DIA D Pai: Sabe em qual fase nós estamos? Talvez eu esteja lá no comecinho, na organização, da casa e da vida. Mas, você está na Esperança, do latim spero, que nada mais é do que a confiança em algo positivo e posso até dizer que estou também, pois estou com a esperança de que um dia vocês dois possam se resolver. E prometo, que vou fazer o máximo para poder ajudar vocês e inclusive tomei a liberdade para criar mais dois d’s: 15. DOAR, você se doou esse tempo inteiro para a nossa pequena e com esse método, você se doou para fazer desse mundo algo melhor. É por isso que quero que você me dê seu número e eu darei o meu pra você, porque qualquer novidade eu vou te ligar e se você precisar de alguém pra bater um papo, estarei aqui, para também me doar para você. Gui anota em um papel e entrega para o pai e ele faz o mesmo. Pai: E a última coisa que eu queria que você fizesse, enquanto ainda não temos notícias dela, é que você fosse descansar. Você passou por muitas coisas nesses meses, é importante que relaxe um pouco sua cabeça. 16. DESCANSAR, esse é o nosso último D Gui, às vezes para celebrar a realização da meta, ou às vezes para simplesmente descansar da jornada que foi. Gui fica feliz e motivado com a proporção que os D’s havia tomado, jamais imaginaria o quanto isso faria sentido, e realmente aquilo fazia sentido até pra ele. Feliz levanta-se do sofá, respira fundo e coloca-se de pé na frente do pai dela, estende a mão e o pai levanta-se para cumprimentá-lo. Gui: Obrigado, somente obrigado. Saio daqui completa-

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SEMPRE FOI SORTE mente diferente, vir buscar uma resposta e sai com uma aula, muita sorte a minha. Pai sorrindo: Aula essa que você nos deu. Obrigado você. Os dois se abraçam e Gui caminha até a porta. Nisso o pai de Manu começa a organizar as cartas para guardar e depois de ter juntado todas, vira para Gui, que já estava chegando na porta e o chama: Pai: Gui? Gui girando a maçaneta olha pra trás. Pai mostrando o bolinho de cartas em sua mão: Acho que a história de Magui daria um bom livro em. Gui sorri e balança a cabeça como quem diz, “quem sabe” abre a porta e sai.

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capítulo 8

ESPERANÇA final O tempo passou, Gui havia escutado o conselho do Pai de Manu e descansou, apesar de já não estar mais de férias. Durante aquela conversa já tinha voltado a sua rotina normal de treinos e trabalho. Durante esse tempo Gui não havia escrito nenhuma carta e também não mandou nem uma mensagem se quer para o Pai de Manu. Havia realmente decidido, depois da conversa, que não a procuraria. Tomou a decisão também de não ter mais o contato dela, não queria ficar olhando para a foto e muito menos aguardando ansiosamente por um sinal. Decidiu que focaria em seu trabalho e na próxima corrida, assim como ela decidiu seguir com a vida. Embora, tenha saído feliz da conversa com o pai, decidiu doar-se um pouco para si mesmo, recuperar o tempo perdido e principalmente com a saúde física, as dietas e aos treinos alinhados para pouco a pouco recuperar o físico antigo. Assim, era nítido ver que as gordurinhas localizadas davam tchau pra Gui.

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TODO DIA É DIA D Já em sua carreira profissional as coisas estavam caminhando também. Logo que voltou de férias tinha muita coisa pra fazer e como os focos estavam totalmente no trabalho, sua cabeça não tinha tempo para pensar em Manu, o que era ótimo pra ele. No escritório, em um determinado dia, o seu superior o chamou para conversar e durante a conversa parabenizaram Gui por todo o seu esforço e dedicação dos últimos anos a empresa, dando a ele uma promoção. Automaticamente teria muito mais trabalho e também ganharia mais. Chegando ao fim do dia, os colegas de trabalho de Gui o chamaram para sair e comemorar a promoção, mas Gui disse que naquele dia não poderia ir, pois precisava ficar até mais tarde para trabalhar, teria que fazer hora extra. Olha nosso menino dizendo não novamente, ou melhor DEPOSITANDO, tirando do seu presente para colher no seu futuro. Os amigos obviamente o entenderam, sabiam que o Gui era trabalhador e querendo ou não era uma referência para todos que estavam ali por ter conseguido a sua segunda promoção em 3 anos de empresa. A empresa ficou vazia, todos foram embora as 18:00, mas Gui continuava ali. Sabia que a noite seria longa e a partir daquele dia seus olhos estavam voltados para duas coisas: olho no trabalho, outro nos treinos, olho nos treinos, outro no trabalho. Quando de repente o telefone toca. Gui sem reconhecer o número, atende: Gui: Alô? Uma voz feminina do outro lado da linha responde: - Desculpa tá te ligando essa hora. Eu...

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