The Sins That Bind Us- Geneva Lee

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RHEALEZA

Tradução: Hera Revisão In: Perséfone Revisão final: Grazi Leitura Final: Aurora Formatação: Cibele Disponibilização: Cibele Grupo Rhealeza Traduções

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GENEVA LEE

Eu não tinha escolha. Não, quando fiz a minha primeira carreira de cocaína. Nem quando eu me tornei mãe solteira. Mas eu mudei, e cada decisão que tomei foi para proteger a mim e ao meu filho de minhas fraquezas, e do meu passado. Até que Jude veio e me fez questionar tudo, até meus próprios segredos. Os pecados que carrego comigo nunca poderão ser descobertos. A vida me entregou pessoas divididas e me deixou só para construir meu próprio mundo, e ele é muito frágil para arriscar uma chance com Jude Mercer. Nós escrevemos nossas próprias histórias. Construímos nossas próprias prisões. Nós tecemos nossas próprias mentiras. Nós cometemos os pecados que nos prendem.

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CAPITULO 1

A

s vezes a vida muda em um instante. Uma mudança tão

violentamente inesperada que suga todo o ar de seus pulmões. Mas, mais frequentemente, a vida muda sutilmente, uma série de pequenos tremores que mal se sente. Uma pessoa deixa de sentir a paixão, pouco a pouco, inconscientemente, da mesma maneira como ela se apaixonou. O trabalho perfeito ou o futuro brilhante nunca se concretiza. O desmoronar do que poderia ser não é abrupto ou trágico. É apenas inevitável. É por isso que me vejo aqui, no porão de uma igreja, uma vez por semana. Eu misturo um pouco de leite em pó, em um café velho. E o único sabor característico é o queimado. Talvez ninguém se importe com o gosto. Ou talvez todos aqui estejam tão acostumados com a amargura, que preferem dessa maneira. Eu tomo uma xicara por hábito. É algo quente para segurar. Eu posso saboreá-lo durante as longas pausas desconfortáveis, ou os momentos embaraçosos na história de um estranho. É um enfeite, mas eu me agarro a ele como a um cobertor, por segurança. Agarrando o copo de isopor, eu viro e bato em uma parede. Não, não é uma parede, é um ele. O líquido ralo e quente desliza sobre a borda e ele evita que arruíne sua camisa, movendo-se com a precisão de um homem que sabe como evitar ser queimado. O tempo passa devagar enquanto o café derrama no chão. Eu já estou considerando como limpar a bagunça, mas quando eu olho para cima para pedir desculpas, meu olhar viaja, por um abdômen musculoso que sua camiseta preta não esconde. Tatuagens em seu bíceps, e eu imagino que elas se estendem até seu ombro, pelo peito esculpido que é visível através do algodão fino. Uma desgastada pulseira de couro marrom envolve seu pulso. Quando eu chego ao seu rosto, eu congelo.

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Seus olhos não combinam com o resto dele, são suaves e quentes, são azul claro com íris azul safira. Eles são um contraste direto com as linhas afiadas de seu corpo e a mandíbula escondida debaixo de uma barba cheia que é tão escura quanto seu cabelo preto e desarrumado. Enquanto olha fixamente para mim, seus olhos endurecem com desprezo. —Desculpe. — Eu dou um passo para trás para permitir que ele passe, procurando por um guardanapo. —Foi um acidente. — Sua voz era tão fria quanto seus olhos. —Acontece. Mas não para ele. Eu posso sentir em suas palavras. Talvez seja por eu ter experimentado durante a minha vida inteira, exatamente o oposto, ser a azarada, sem capacidade de tomar decisões, sua atitude irrita meus nervos. Eu me ericei, esquecendo o guardanapo e o café derramado. —Não precisa ser um idiota por causa disso. Sua sobrancelha arqueia, desaparecendo sob uma mecha de cabelos caídos. —Eu pensei estar sendo muito educado, já que você quase deixou cair uma xícara de café fervendo na minha calça. — Ele se inclinou mais e eu senti um cheiro de sabão e um leve toque de cravo. —Um homem tem que ter suas prioridades. Ele é um daqueles caras, constantemente chamando a atenção para o pau dele como se fosse um tesouro público. Arrogante. Ou seja, um homem. Eu me concentro na raiva borbulhando no meu peito e ignoro que o meu corpo chegou à mesma conclusão. Eu finjo não sentir a suave atração de sua presença, rejeitando os pulos do meu coração, fantasiando em pressionar meu corpo no seu, piscando na minha mente. Eu vou embora sem mais uma palavra, deixando ele e a bagunça atrás de mim. Ele é tão responsável por isso quanto eu e ele poderia usar um pouco dessa responsabilidade ao meu ver. 6

Não é porque eu não confio em mim mesma. Eu me sento, apostando que Stephanie, a líder excessivamente ansiosa do nosso grupo, não se sentará ao meu lado. Quatro dúzias de pernas, das cadeiras metálicas, raspam o concreto enquanto todos se juntam. Stephanie senta ao meu lado. Uma xícara de café não vai ser suficiente para eu me esconder atrás, mas hoje seus olhos estão em nosso recém-chegado: Sr. Arrogante. Não posso culpá-la. Os meus também estavam até eu ouvi-lo falar. Não consigo ver se ele está calmo novamente, ou se o nosso incidente afetou permanentemente o seu humor. Eu não deveria me importar. Irrita-me estar curiosa. Os homens que se irritam por coisas como, café derramado estão no topo de minha lista para evitar. Stephanie consegue se conter antes que alguma baba escorra. Mas ela balança seu cabelo loiro enquanto fala e nos guia em um mantra inútil sobre aceitação e perdão. Foco minha atenção nas palavras. Que eu já disse um milhão de vezes. Eu as gritei no meu travesseiro. Eu as sussurrei como um feitiço. Elas nunca se tornam reais. Por um longo tempo, eu acreditei que ao dizê-las, elas removeriam os pesos em meus ombros. Agora eu sei que sou forte o suficiente para carregar o peso. Apesar de tudo, os pecados não perdoados não diminuem. Você não pode enfeitiçá-los com palavras bem-intencionadas, porque o perdão é concedido e não tomado. —Alguém quer compartilhar? —Pergunta Stephanie. Seu pedido pinga doçura, e instantaneamente sinto falta de Ian, nosso ex-líder, que nunca teve tempo para besteiras. Ele se rendeu a filosofia global, se aposentou e foi navegar na costa. Eu ainda não gostava de sua substituta. Eu me encolho para que ela não me escolha. O compartilhamento deve ser voluntário. Há sempre alguém desesperado para jorrar seus fracassos, ou proclamar suas realizações, mas quando não, alguém é escolhido, até a reunião começar a fluir. Não quero me sentar aqui e encarar um círculo de desconhecidos familiares. Eu não quero ser a primeira a falar. Hoje não.

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—Talvez...— Stephanie vai se distanciando, mas seu olhar está preso no Sr. Arrogante. Eu realmente sinto vergonha por ela. É mais do que óbvio que ela está transando com ele em sua mente. Não poderia ser mais claro se ela tivesse se levantado e feito um desenho pornográfico no quadro-negro do porão da igreja. —Jude. — Ele responde à pergunta não formulada. Jesus Cristo. Jude. Espero que ele tenha uma moto. Então ele pode ser oficialmente o nosso novo rebelde da cidade. Seus olhos piscam para os meus como se ele pudesse ouvir o que eu estou pensando. Eles estão suaves de novo, mas ele não mantém seu olhar em mim. Um arrepio frio dispara em minha coluna e espalha seus frágeis tentáculos através de meu couro cabeludo, enquanto meu coração bate irregular no peito. Espero que ele fale. Quero que ele compartilhe sua história para que eu possa entender o estranho efeito que ele causa em mim. Mesmo agora cercada por uma dúzia de outras pessoas, a conexão entre nós é palpável, um fio palpável, esticando dele para mim. Eu não me sinto assim desde... Bem, nunca. Não por um homem. Certamente, não por um estranho. Mesmo quando ele se afasta e se dirige ao grupo, isso ainda continua lá, nos ligando um ao outro. Ele enfia as mãos nos bolsos e sorri. —Como eu disse, eu sou Jude. Querem o meu currículo? Uma lista de minhas transgressões? Alguns riem. Cada recém-chegado é vítima. —Eu sou Nancy. Eu sou uma viciada. —Uma fala vendida nos filmes. A realidade é um pouco mais confusa do que isso. Algumas pessoas aparecem e começam a derramar suas entranhas, como se o resto de nós tivéssemos um segredo que compartilharíamos e consertaria tudo. Outros sentam e fumam. Eles

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são os que estão aqui porque a sua esposa, marido ou o tribunal exigiram. O pior são os que já vêm com todas as respostas. Você não pode ajudá-los. Então, há aqueles que ouvem. Os que esperam. Eu não tenho ideia de qual Jude é, mas eu sei qual ele não é. Ele não veio espiar, e eu duvido que tenha alguém esperando em casa por ele. Se eu tivesse que apostar, acho que ele está aqui por ordem judicial. Isso explicaria a sua atitude. E talvez haja uma parte de mim que quer o pacote todo, tatuagens, arrogância, problemas legais. Nenhuma mulher quer admitir que nunca superou sua fase de bad boys. Eu nem consigo lembrar-se da minha. É por isso que estou aqui. —Não há necessidade. — Stephanie bate seus cílios, e eu percebo que não sou a única que não passou por essa fase. —Se você quiser compartilhar o que o traz aqui, sinta-se livre. Este é um espaço seguro. Ela desenha um círculo no ar, e eu esmago meus lábios para evitar que uma risada escape, assim como Jude morde seu próprio lábio. Bem, isso é uma coisa que temos em comum. Nós dois vemos o absurdo da nossa situação, no entanto, estamos ambos aqui. É provavelmente a única coisa que temos em comum, eu me lembro. Ele inclina a cabeça um pouco. —Se você não se importa, eu vou escutar por agora. Eu não esperava isso. O fio que me liga a ele puxa e eu olho para cima para descobrir que ele está me encarando. Ele não desvia o olhar desta vez. Seus olhos me penetram, vendo além da imagem cuidadosa que construí para mim. Desta vez eu recuo, por sobrevivência. Uma mulher começa a falar, Anne, eu percebo e ele dirige sua atenção para ela. Seu marido se foi. Isso estava prestes a acontecer. Ela não está surpresa.

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Mesmo enquanto ela relata calmamente esta notícia, meus próprios pensamentos flutuam para dentro de mim. Eu vim hoje para compartilhar meu próprio avanço. Mas eu não quero mais, porque os poucos momentos que eu compartilhei com Jude, um completo estranho, o diminuem. Os anos que eu gastei me redimindo, os sacrifícios que fiz, tudo se despedaçaram quando ele olhou para mim e revelou a verdade. Meu mundo é tão frágil quanto o vidro, mentiras bonitas fundidas cuidadosamente em uma bolha delicada para encobrir a feiura em meu passado. A feiura em mim. Eu sei agora que ele é o diabo, e ele veio coletar meus pecados. Absorvo muito pouco do resto da reunião. Parece que alguém fez asneira. É sua primeira reunião, mas sua chegada é ofuscada pelo Sr. Arrogante. Hoje é o aniversário de recuperação de Charlie. Ele completou cinco meses. Eu sorrio e aplaudo como todo mundo, mas eu estou ciente dos nervos que cavam um buraco no meu estômago. Minha mente permanece em Jude e o mistério que ele trouxe para esta hora monótona da minha vida. Eu frequento esta reunião de NA 1 por quatro anos, e eu assisti pessoas irem e virem. No começo meu coração doeu por cada nova história. Eu não sofro mais com isso. Eu mantenho meus olhos em meu próprio papel, assim eu posso me concentrar em me manter na linha. Não que haja muita tentação nessa pequena e sonolenta cidade. É exatamente por isso que eu acabei em Port Townsend. Há drogas e álcool aqui, como em qualquer lugar. Mas aqui eu tenho o mar e o mundinho isolado que eu criei para mim. Esta reunião me ensinou exatamente o que eu precisava para sobreviver: quanto menos pessoas eu deixar entrar na minha vida, menos chance de me machucar novamente. Eu impedi essas criaturas feridas e selvagens, entrarem em meus pensamentos anos atrás. Isso me mantém segura, então o que nele é tão tentador? O que quer que seja, qualquer que seja essa conexão entre nós, preciso localizá-la e afasta-la de mim. Homens como Jude são perigosos. Não por causa

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NA: narcóticos anônimos.

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de suas tatuagens ou arrogância, mas porque eles veem os limites como desafio. Não posso deixar que as paredes que construí sejam violadas. Eu despejo o resto do meu café no cesto de lixo. Eu nem tomei um gole. Eu só deixei que ficasse frio em minhas mãos. —O que você acha de Jude? —Sondra é da minha idade, mas parece velha o suficiente para ser minha mãe. Depois de anos abusando de remédios prescritos, ela passou para as coisas mais fortes, deixando-a com rugas esculpidas tão profundas quanto às linhas de cocaína que ela tinha cheirado. É um cartaz antidrogas ambulante. Eu dou de ombros, mas não tenho que me esforçar para convencê-la de que não estou interessada. Ela está muito ocupada planejando seu método de ataque. Admiro sua sexualidade decidida, embora eu não finja compartilhá-la. Ela desembrulha um chiclete e joga em sua boca. —Talvez eu possa convida-lo para uma bebida. Ele é novo na cidade, com certeza. Eu me lembraria de tê-lo visto por aí. —Uma bebida? —Repito. —Café. — Ela afasta minha preocupação. —Isso seria bom de sua parte. — Eu não estou pronta para admitir meu próprio interesse, mas se Sondra conseguir com que ele aceite, ela vai descobrir todos os detalhes. Eu faço uma nota mental para perguntar sobre ele na próxima semana. —Eu tenho que ir. Meu... —Eu começo, mas minha desculpa é desnecessária, ela já seguiu para dar a Charlie um abraço muito afetuoso. O gesto comemorativo pinta um tom de rosa, de suas bochechas até as pontas de suas orelhas. Esse não é o meu show. Eu não ofereço abraços nem aperto as mãos. Eu venho, me sento, e tento não fazer contato visual, quando vejo essas pessoas além dessas paredes de concreto. Dou uma hora do meu tempo. Nada mais. 11

Com Sondra distraída, eu aproveito minha chance e sigo para o armário de casacos. O tempo tem sido inconstante, enquanto caminha para a primavera, mas eu sempre posso contar com a brisa do oceano, um pouco fria demais. Enquanto percorro o corredor, paro no meu caminho. Anne está soluçando. A mulher de negócios contida que contou a notícia de sua separação é qualquer coisa menos apática. Ela está tão quebrada quanto o resto de nós. A culpa me toca. Não é assim que ela quer ser vista. É por isso que viemos aqui afinal, para aperfeiçoar a mentira de que estamos bem. Mentiras como essa precisam de prática antes de serem exibidas para que o mundo acredite, e esse grupo é um público cativo. Ela não quer que eu a veja assim, assim como ela não quer que eu, ou qualquer um de nós, saiba a verdade. Seu divórcio não era inevitável. Não foi mútuo. É outra vítima da guerra que ela está lutando contra si mesma. Eu recuo, com planos para recuperar meu casaco no domingo depois da missa da manhã. Então Jude sai das sombras, sua figura alta já familiar, e se junta a ela. Ele não é novo nessas reuniões. Ele fez os movimentos como o resto de nós. Ele disse as coisas certas e assentiu com simpatia nos momentos apropriados. Ele até sabia ouvir, uma habilidade que só um veterano experiente adquire. Agora ele está se aproximando de uma mulher que tem a guarda baixa, para oferecer conforto. Eu pensei que ele era o Diabo, mas agora eu sei que ele pode não ser. O diabo não oferece consolo, mesmo quando ele mente. Mas um anjo é demais de se esperar, e eu tinha deixado de acreditar neles há muito tempo. Mas um homem, de carne e osso e todas as complicações que vêm junto, é a possibilidade mais perigosa de todas.

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Eu não consigo ouvir o que ele diz enquanto ela acena com a cabeça tremendo. Sua mão descansa em seu ombro e eu posso quase sentir o peso reconfortante disso. A fantasia me empurra de volta para o presente e saio sem meu casaco. Sem outra palavra. Sem olhar para trás.

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CAPÍTULO 2 Pelo resto da semana, eu me preparava a cada dia para quando chegar à igreja. Era um ritual inevitável e, embora eu soubesse que os Narcóticos Anônimos só se reuniam uma vez por semana no porão, não podia deixar de me sentir exposta cada vez que cruzava a entrada. Eu não quero me deparar com o misterioso Jude. Eu tinha até procurado reuniões diferentes na cidade, mas eu tinha decidido que esse seria um último recurso. Essa cidade é minha casa. Essa reunião é o meu lugar seguro. Ninguém, especialmente alguém rude, arrogante recém-chegado iria me fazer correr. As chances são boas de que ele seja apenas um visitante, como tantas pessoas que eu vejo nas ruas todos os dias. Os turistas vêm para deliciar-se na cidade portuária e artística, a caminho para lugares mais emocionantes. Seattle. Um cruzeiro no Alasca. Montreal. Aqui é um ponto de passagem, e as pessoas passam, deixando nada para trás, tão transitório como as ondas no mar. É assim que sempre foi, e uma das razões pelas quais escolhi criar uma vida aqui.

Vou deixar as tempestades para o mar e encontrar a paz em terra firme. Uma afirmação que eu tinha escrito há tanto tempo que não me lembro se veio de meus próprios lábios ou de outro. Tornou-se minha verdade. Então por que eu espero, toda vez que vou abrir essa porta vê-lo novamente? Jude é uma tempestade, um tsunami, que eu não estou preparada para enfrentar. Se eu pudesse, eu iria para um lugar mais alto. Eu iria para o Olimpo e subiria até que meus pulmões queimassem ao invés de ser pega em seu redemoinho. Mas não posso fugir da minha vida, então abro a porta, confortada pelo familiar rangido que me cumprimenta. Ignorando o santuário, vou para o salão. Max me cumprimenta na porta, um amplo sorriso em seu rosto. Eu não dou dois passos para dentro antes de ele me atacar. Seus braços finos envolvem 14

minhas pernas, mas eu não o afasto. Em vez disso, eu me abaixo e o pego. Ele se instala no meu quadril enquanto sua professora voa pela sala, gritando para as outras crianças se arrumarem e reunir suas coisas. Max não se parece nada comigo, exceto pelas sardas em seu nariz. Ele não herdou seus rebeldes cabelos escuros de mim. O meu é fino e claro. Ele vai até abaixo das minhas costas. O seu é a definição de um mop-top2. Meus olhos são avelã, puxando para o verde, e os seus são tão azuis como o céu. E ainda assim quando eu olho para ele, ele é o reflexo do meu eu perfeito. —Ele sempre sabe quando você está aqui. — Senhorita Marie pega o olhar de Max, assinalando enquanto fala. —Ele tem um sensor de aranha3, certo? Max acena com a cabeça alegremente, fingindo atirar teias de seus pulsos, e eu me sinto emocionada, lágrimas queimam meus olhos. Eu pisco para encobrilas, mas Marie acaricia meu ombro calmamente. —Um passo de cada vez. —Ela sussurra. —Por sua causa. — Eu dou um beijo na testa do meu filho e aconchego-o firmemente. A srta. Marie tem conversado com o meu filho durante meses, ajudando-o a adquirir habilidades de leitura de lábios, juntamente com sua linguagem de sinais. Marie bufou e sacudiu a cabeça. —Um dia desses você vai ter que aceitar quão incrível você é, Faith. Eu sorrio, porque ela não sabe que eu sou qualquer coisa, exceto incrível. Porque ela não sabe que eu sou muito estranha e quebrada, e que esse garotinho é a única razão pela qual eu me mantenho de pé. Sorrio porque nunca vou convencê-la da verdade, e aprendi há muito tempo a aceitar as coisas que não posso mudar. ***

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Corte de cabelo estilo dos Beatles nos anos 60. Referência ao homem-aranha.

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Vermelho. É a primeira palavra que me vem à mente quando olho para a minha melhor amiga. Ela está desarrumada hoje. Seu cabelo desordenado em duas longas tranças que caem sobre seus ombros. A aba de seu boné de menininho deixa uma sombra sobre seus olhos cinzentos. Mas apesar do conjunto casual, não há nada de menino em Amie. Nossa viagem ao supermercado na quinta-feira à tarde é uma tradição semanal. Começara por necessidade, quando meu filho provou ser um bebê com cólica frequente. Agora ela vinha jogar I Spy4 com Max, enquanto verifico o preço dos legumes congelados. Eu conheci Amie em seu quiosque a beira mar, quando fui pedir um trabalho. Ela deu uma olhada em Max, que tinha apenas nove meses de idade, e me contratou na hora. Logo aprendemos, depois de uma série de incidentes embaraçosos com bandejas, que eu trabalhava melhor nos bastidores. Qualquer outra pessoa teria dispensado alguém tão desajeitado, mas ela me transferiu para a contabilidade e para comprar suprimentos. Funcionou melhor do que esperávamos, e ela se tornou a primeira pessoa a me ajudar a fazer de Port Townsend um lar. Agora ela era uma adição permanente à minha família. Max aponta para um pote de sorvete e seus olhos se arregalam em seu rosto angelical do tipo “tenha pena de mim”. Poderia ceder se não estivéssemos com uma renda definida. Eu trabalho bastante para Amie, mas mesmo com a minúscula pensão que recebo do estado a cada mês, sorvete é claramente um item de luxo. Ele vira seu charme para Amie. Ela me lança um olhar pesaroso e abre a porta do freezer. —Eu disse que não. —Eu digo suavemente. Não que isso importe assim que vire minhas costas. —É para mim. — Ela pisca para ele através da gelada porta de vidro e arranca seu favorito da prateleira: manteiga de amendoim e chocolate. —Talvez eu compartilhe. 4

Jogo educativo

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—Você o estraga. —Não é comum. Amie realmente equilibra seu desejo de satisfazer Max com uma saudável dose de realidade. Quando a tia Amie está ao redor, sua cama é arrumada e seus brinquedos não ficam no chão. Ela comanda um negócio. Mas ela também é capaz de dar os pequenos extras que eu não posso. —É sorvete. Não um pônei. —Ela revira os olhos e eu estendo a mão e puxo o boné até o nariz dela. Ela está certa, mas é sorvete, eu não posso comprar e diminuir o leite. Sorvete não pode ser café da manhã ou encher rapidamente a barriga antes de dormir. —Pare. — Ela me ordena, levantando seu boné. —Parar o que? —De pensar demais. — Ela começa a assinalar para que Max compreenda o arranjo: Podemos compartilhar? Seu sorrisão atinge níveis contagiantes. Não admira que ela não possa negar seus caprichos. Se eu pudesse, eu lhe daria a lua. Não que ele alguma vez peça por isso. Max não pede muito na verdade, apenas pequenas coisas como sorvete. Coisas normais. Eu quero acreditar que ele está muito feliz por querer algo, mas parte de mim teme que eu tenha passado isso pra ele. Conheço o perigo de querer e a atração para o fruto proibido. Eu me viro para que só Amie possa ver meu rosto. —Eu vou pegar. Eu não quero ter que ensinar que somos pobres. —Vocês não são. — Sua boca pressiona em uma linha fina. Já vi esse rosto antes. Geralmente ela usa quando está repreendendo um empregado. —Você o está ensinando a ser esperto. Econômico. Um garoto que tem uma cama quente, comida e muito amor. O amor é tudo que alguém precisa para ser rico na vida. Mais do que isso é apenas brilho.

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—Isso parece um cartaz motivacional. Você tem feito pensamentos positivos de novo, não é? —Eu gostaria de acreditar que poderia corrigir todos os meus problemas simplesmente sendo positiva como ela. —Inferno, sim. — Ela me agarra pelos ombros e me gira. —Você sabe, eu tenho um novo pensamento, impressionante, que abrirá você para o amor. —Eu sou rica o suficiente. —Digo sem rodeios. Adoro a minha melhor amiga, muitas vezes porque ela é exatamente o meu oposto. Quando se trata de questões de amor, estamos em planetas diferentes. Eu aceitei há anos que não havia tal coisa como amor verdadeiro ou almas gêmeas. Mas eu não lhe digo isso. Se alguém ainda encontrar uma alma gêmea, é ela. —Você não quer conhecer um homem? — Ela abaixa a voz para que a mulher perto de nós, não ouça. —Arranjar alguém? Meus pensamentos imediatamente se voltam para o homem da reunião desta semana. Jude. Ele causou uma impressão, e eu o encontrei desempenhando o papel principal em mais de uma fantasia esta semana. Eu planejo expulsa-lo da minha cabeça. —Whoa. — Amie puxa a barra do carrinho, parando. —O que foi isso? Olho ao redor, olhando para tudo, menos para ela. Pizza congelada nunca foi tão fascinante. —Nada. —Desembucha! Onde você o conheceu? —Ela praticamente cacareja com excitação. Eu tiro o meu telefone da bolsa e entrego ao Max. Ele navega melhor do que eu e, em um momento, ele achou um jogo. —Minha reunião de NA. —Eu realmente não preciso dizer mais do que isso. —Então? 18

—Então? — Eu repito. —Nós nos conhecermos? Isso não é uma opção. —Você tem menos opções do que um menu Prix fixe 5. Mais cedo ou mais tarde você vai ter que adicionar mais algumas opções ao menu, ou pelo menos alguns pratos saborosos. —Talvez. —Concordei de forma rancorosa. —Mas não esse cara. Ele tem tatuagens e atitude. Ela descansa o queixo na mão. —Me diga mais. —Isso não é suficiente? — Eu juro que às vezes ela esquece que eu tenho uma criança. —Você é mãe, mas você não está morta. Pare de agir assim. Quero dizer, você tem uma babá sempre disponível. —Ele está nos NA. — Obviamente, ela perdeu essa parte. —Você também. Olha que coisa boa. Você pode conhecer um cara na rua ou em um bar... Eu olho para ela. —Ok, não em um bar. Numa biblioteca. —Porque nós que não passamos as noites bebendo uísque, estamos todos em bibliotecas? Ela continua ignorando a minha interrupção. —Você não sabe quem são esse tipo de caras. Podem ser alcoólatras ou usuários. Ele veio para a reunião. Devia lhe dar uma oportunidade. —Eu queria que fosse assim tão simples, mas... — Eu levanto uma mão enquanto sua boca se abre. —Ele é lindo e ele sabe disso. 5

Restaurantes que servem quantidade de carne com o preço já determinado.

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—Mais. —Ela insiste. Ela obviamente parou de ouvir depois de lindo. —Cabelo escuro. Olhos azuis. —Tatuagens que eu quero traçar com a minha língua. Eu mantive isso para mim. —Tudo o que estou dizendo. —Amie abaixa a voz de forma conspiratória. —É que você precisa transar. Eu abro a porta do freezer, permitindo que o vidro fique entre nós enquanto pego um saco de ervilhas congeladas. —Eu não preciso transar. —Resmungo enquanto atiro o saco no carrinho, ignorando a tentativa de Max de pegá-lo. —Ninguém jamais precisou transar tanto quanto você. —Sua voz sobe um tom e ganha um olhar serio da mulher do outro lado do corredor. —Ele é a única prova de que você já foi para a cama com um homem. —Prova suficiente, você não acha? — Eu desvio dela e sigo em direção ao corredor de cereais para pegar o Cheerios 6 que esqueci. Amie balança a cabeça com uma risada enquanto me segue. No carrinho, Max começa a fazer sinais: —O que é tran-sar? —Bom trabalho, tia Amie. — Eu gemo, dando um olhar bravo. —Ele está ficando muito bom em leitura labial. — Ela pega uma caixa de uma porcaria açucarada que eu nunca compro para meu filho e acena para ele. Ele balança a cabeça ansiosamente, muito facilmente subornado pela promessa de marshmallows para o café da manhã, para lembrar-se de sua pergunta. —Foi mal. — Ela sussurra enquanto estuda a caixa.

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Cheerios: É uma linha de cereais matinais da Nestle.

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—Não é grande coisa. Eu também me esqueço. —A leitura labial é nova, cortesia do incrível novo professor de educação especial que começou no distrito escolar este ano. —Três meses e ele já fez mais progresso do que eu já consegui. —Com sua comunicação. — Amie adiciona. —Ninguém pode substituir você. Não é a primeira vez que ela me diz isso. Tenho certeza de que ela tomou como sua missão pessoal, me elogiar diariamente desde o momento em que nos conhecemos. —Obrigada. —Digo suavemente. —Pelo quê? — Ela encolhe os ombros como se não tivesse ideia. —Por ficar comigo, nessa neurótica experiência de ser mãe solteira, em que me encontro por todos esses anos. —Obrigado por me deixar ficar perto de você. Eu não perco a ênfase em suas palavras. —Eu não posso deixar todo mundo entrar. —Concordo, e você fez um trabalho admirável em filtrar os podres. Mas, docinho, ter um pau, não desqualifica automaticamente uma pessoa para a amizade. Eu olho para ela. —Eu mal posso esperar para explicar o novo vocabulário pitoresco de Max na pré-escola. —O que? Max não estava olhando. —Ela joga as mãos para cima em rendição. —Eu não vou sair com esse cara. Eu nem mesmo sei por que eu lhe falei sobre ele. —O que tinha me possuído para compartilhar isso me fugia agora.

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—Você se sentiu atraída por ele. —Ela me informa. —E se você se esqueceu disso, naturalmente você está confusa. —Não foi isso. Mas ela não está mais prestando atenção, em vez disso ela pegou um pepino do carrinho e segurou-o sugestivamente. Neste momento, ela fica na parte de trás do carrinho, Max não pode ver. —Eu posso te dar um pouco de educação sexual. Mesmo contra vontade, eu ri enquanto ela corria os dedos sedutoramente pelo comprimento. —Acho que me lembro da essência. —Tem certeza? — Seus olhos se arregalam com malícia. —Não tenho certeza se a gerente verá com bons olhos o abuso de vegetais. —Uma voz rouca interrompe por trás de mim. Eu giro em direção a ela, cuidando de manter uma mão no carrinho de compras. Todas as escapatórias inteligentes e negações bruscas que eu desenvolvi ao longo de cinco anos sendo solteira, me abandonam quando eu o vejo. Ele deve ter comprado ações em uma empresa de camisetas. Onde ele trabalha lhe permite se vestir tão casualmente? Ou talvez seu chefe apenas seja uma mulher que não se importa com o show? Amie aparece ao meu lado, segurando o pepino. —Eu não sou o gerente. —Ele a tranquiliza e gesticula para seu carrinho, que contém alguns pacotes de papel marrom embrulhados do açougue e uma solitária coroa de brócolis. —Embora eu apreciasse uma demonstração.

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—Não na frente do garoto. — Amie diz como desculpa, mas ela está olhando entre nós agora. Sem dúvida ela já está se lembrando da descrição que eu dei do meu homem misterioso. —Isso é uma pena. — Ele não está olhando para ela enquanto fala. Seus olhos me estudam e depois olham para Max, que agora está abraçando a caixa de cereais. Pelo menos não terei que me preocupar em ceder à minha curiosidade. A existência de Max acabou de selar esse caixão para mim. —Faith, certo? — Jude pergunta, sua atenção ainda em Max. —E quem é esse? Max não olha para cima, e antes que eu possa explicar, Jude se dirige para ele, agachando-se para fazer contato visual com meu filho. Eu quero ignorar como o gesto toca meu coração. Antes que eu possa dizer a ele que Max não fala, Max alcança e toca em seus lábios. —Oh meu Deus, me desculpe! — Eu corro para o lado de Jude, balançando a cabeça para Max. —Não tocamos em estranhos, querido. Seus olhos brilhantes focalizam meus lábios enquanto eu falo e ele franziu o cenho enquanto os lia, começando a fazer sinais. Eu engulo um sorriso, incapaz de parar meus lábios de se curvarem. Ele já tem a minha atitude. —Está tudo bem. —Intervém Jude. —Ele lê os lábios? Eu sou grata que ele não fez a pergunta óbvia. Max é jovem o suficiente para que estranhos, às vezes, pensem que ele está sendo tímido. Mas Jude, o próprio Sr. Arrogante, percebeu a precisão de seus dedinhos enquanto se moviam. Eu não tenho que dizer a ele que meu filho é surdo, ou explicar porque, ou responder às perguntas ligeiramente pessoais que a maioria das pessoas não resiste em fazer.

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—Principalmente. — Eu atiro um olhar para Amie. —Parece que ele está ficando melhor nisso. Sinto muito que ele... —Não é realmente um problema. — Jude sacode o cabelo de Max, e em vez da habitual pontada de pânico que eu tenho quando um estranho se move para tocar meu filho, meu coração salta. Eu sinto que ele pula uma batida e, em seguida, imediatamente assume o seu ritmo novamente. —Ele estava tentando me mostrar que precisava ver meus lábios. E assim ele me deixa agradecida. Ele me deixou em dívida. Eu passo para frente e tento casualmente empurrar o carrinho. Jude dá um passo para trás e enfia as mãos nos bolsos. É um sinal de rendição, mas não perco a veia que tenciona em seu pescoço. Não tão casual como eu esperava. —Humm, eu posso apresentar a minha colega de quarto? — E professora

de educação sexual amadora, eu adiciono silenciosamente. Gesticulo para minha amiga que está fingindo estudar sua trança. —Amie, esse é... Eu finjo vacilar. Não havia necessidade de ele saber que eu estava falando sobre ele. Ele não precisa da satisfação de saber que seu nome, seu rosto e seu corpo estão todos gravados em minha memória. —Jude Mercer. —Ele oferece. Jude Mercer. Eu me odeio por tomar nota de seu nome completo. Amie aponta para ele, a mão estendida. —É um prazer conhecê-lo. Nós teríamos que trabalhar seu entusiasmo. Ele provavelmente pensa que eu tenho falado sobre ele durante dias, pela maneira como Amie está olhando para nós dois. Faço uma nota mental para nunca, nunca mencionar outro homem para ela.

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—Visitando nossa pequena armadilha turística? — Ela continua. Meu Deus. Claro, ela vai iniciar uma conversa com ele. Jude sacode a cabeça, sua atenção presa na tela que Max está mostrando. —Eu gosto desse jogo, também. Talvez possamos jogar algum dia. —Ele fala claramente, cuidadosamente moldando seus lábios. Mas ele não grita nem desacelera. Jude não é complacente com ele como a maioria das pessoas. Nada disso justifica a proposta vazia que ele acabou de fazer para meu filho, que brilha alegre com a atenção. —Você vai deixar a cidade em breve? — Eu não formulo minha pergunta gentilmente como Amie nem tento esconder o frio cobrindo minhas palavras. —Não. — Ele se endireita como se sentisse meu desafio, e sorri. — Comprei uma casinha perto da água. Eu só posso processar uma única palavra: porra. —Então nós seremos vizinhos. — Amie é inconsciente da tensão. Ela joga um braço em volta do meu ombro. —Faith e eu dirigimos um pequeno bistrô perto da beira-mar. O World’s End. Você deveria ir até lá. Vou fazer algo especial, a moda da casa. —Talvez eu vá. — Sua resposta percorre toda a minha pele. Ele fala com ela, mas ele não tira os olhos de mim. —Eu acho que vou te ver por aí. — Jude diz significativamente. Ele dá um toque de mãos abertas em Max e desaparece pelo corredor. Ao meu lado Amie ri, mas eu não a ouço. Um nó familiar se forma no meu estômago: o desejo de correr. Eu nunca fui de ficar e lutar. Meu instinto de sobrevivência sempre me obriga a fugir, mas não posso fugir dessa vez. Passei os últimos quatro anos criando obstáculos para que eu nunca mais corresse. Com o oceano às minhas costas, pensei que seria capaz de ver o perigo vindo antes que minhas barricadas estivessem ameaçadas. Não vi Jude chegar. 25

CAPÍTULO 3 Anteriormente Vovó ia para a cama às oito. Quando as meninas vieram morar com ela depois do acidente, nenhuma delas tinha questionado esse fato. Se não estivessem cansadas quando ela anunciava que era hora de ir dormir, elas usavam lanternas para brincar de bonecas e ler livros na escuridão. Em seu décimo terceiro aniversário, Faith estava ligada em romances, enquanto Grace tinha descoberto como escapulir pela janela. A princípio, Faith ficava acordada e imaginava o que aconteceria se sua irmã não voltasse antes do amanhecer, mas ela sempre voltava. Levou um ano para arrumar a coragem de perguntar para onde estava indo, e outro ano para decidir que queria fugir com ela. Agora elas se pareciam exatamente iguais, o mesmo cabelo loiro escuro ondulado que passavam das omoplatas, um nariz arrebitado na ponta. Os olhos de Grace eram mais verdes do que avelã, embora Faith soubesse que ela era invejosa. —De jeito nenhum. — Grace nem considerou antes de recusar. —Fique em casa e leia os seus livros. —Eu quero ir. — Faith choramingou, pegando uma das camisas descartadas de Grace. Ela olhou no espelho e se perguntou como seria colocá-la. Foi revelador. Se vovó soubesse que Grace tinha tops assim... Mas vovó não sabia. Grace não disse nada enquanto aplicava outra camada de rímel. Ela tremulou os cílios algumas vezes, em seguida, virou-se para encarar a irmã. —Olha, essa não vai ser o seu tipo de festa. Nós não vamos trançar cabelos uma das outras ou jogar gire a garrafa. —Eu sei. —Faith tomou uma decisão. Ela provaria que ela sabia exatamente no que estava se metendo. Puxando a camisa por cima da cabeça, ela colocou a camisa de Grace. Ela era magra o suficiente para que não precisasse de um sutiã.

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—Eu posso ver seus mamilos. — Grace apontou. —E daí? —Faith deu de ombros, esperando não corar. Sua irmã suspirou e jogou um sutiã levanta tudo. —Aqui. Você não precisa de cada indivíduo na Pioneer Square tentando te apalpar. —Pioneer Square? — A coragem de Faith começou a drenar lentamente. Pioneer Square não era exatamente o bairro mais agradável de Seattle na luz do dia. Há alguns meses atrás, Faith tinha testemunhado uma transação de drogas em uma esquina perto da estação de metrô. —Isso é um problema? Ela não ia desmascarar seu blefe. Faith balançou a cabeça. —OK. Verifique se ela ainda está dormindo. Custou manter a calma enquanto ela ia na ponta dos pés pelo corredor para espreitar o quarto de Vovó. Ela estava indo para uma festa. Que sendo em Pioneer Square significava que não era apenas uma festinha, enquanto os pais de alguém estavam fora da cidade. Esta era de verdade. Quando ela chegou ao quarto de sua avó, ela se lembrou do que estava usando. Se ela não estivesse dormindo, ela teria dificuldade em explicar por que parecia uma stripper, mesmo uma stripper elegante. Vovó estava roncando. Oh meu Deus, isso aconteceria. O estômago de Faith embrulhou e ela se agarrou. Fechando os olhos, ela se lembrou de que estaria lá com Grace. Sua irmã pode ser selvagem, mas não arriscaria suas vidas. Pelo menos, ela esperava que não. Arrastando suas mãos ao longo da parede de gesso frio ela voltou para o quarto cuidando para evitar as tábuas barulhentas no piso de madeira. Era bobagem estar tão animada e tão nervosa ao mesmo tempo. Haveria bebidas e 27

meninos. Definitivamente meninos. Será que um deles a tocaria? Ela queria embora nunca admitisse isso, nem mesmo para Grace. Hoje à noite, em vez de deitar na cama e imaginar os dedos de um menino escorregando entre suas pernas para esse ponto dolorido que ela tocava no escuro, ela poderia finalmente experimentar a coisa real. Ela não teria medo, não esta noite. —Tudo bem? — Grace perguntou quando ela reapareceu. Faith engoliu em seco e balançou a cabeça. Grace não se preocupou em pedir detalhes, em vez disso abriu a janela do quarto. Essa era parte boa dos minúsculos bangalôs antigos que compunham a maior parte de sua vizinhança: eram velhos. Não precisava qualquer esforço para subir ou descer. Apesar de tudo, faltava um pouco da emoção que ela esperava. Era quase fácil demais fugir. —Você tem que fechá-lo até aqui. — Grace a instruiu, deixando uma lacuna de dois centímetros. —Mais que isso não vai ficar aberta. Confie em mim, você não quer isso ao abrir às 4 da manhã. —Eu me lembro de quando você aprendeu isso. — Faith disse secamente. Ela tinha ido procurar uma chave de fenda velha e usou para abrir quando Grace bateu timidamente na janela. —Nunca é demais lembrar. — Grace sorriu, colocando sua bolsinha na transversal. Ela se parecia assim quando sorria? Felina e tímida? Grace sorriu como se tivesse segredos, e Faith odiava isso. Ela mesma era tão transparente quanto um frasco de vidro. Não havia nada de interessante ou excitante sobre ela. Seus pais haviam morrido. Ela morava com a avó. Ela era direita. Nem uma gota de escândalo encontrado. A festinha era em uma casa caindo aos pedaços na periferia da Pioneer Square, mas um pouco mais afastada do centro do que Faith tinha imaginado. Algumas meninas de sua idade a olharam com curiosidade, enquanto ela entrava, grudada em Grace. Demorou alguns minutos para ela perceber que as pessoas não estavam olhando para ela, eles estavam olhando para ambas. Ela deveria estar acostumada com a atenção. Sendo gêmeas idênticas significava crescer com 28

o comentário constante dos que passavam por elas. Isso era diferente de alguma forma. Havia algo calculado naqueles olhares. Anos mais tarde, ela entenderia que eles estavam respondendo à novidade delas serem um par. Novidade sempre foi uma mercadoria valiosa nesses círculos. Abria as portas, carteiras e garrafas. Por enquanto, só deixou uma sensação desconfortável. Grace saltitou até o sofá e colocou as mãos nos quadris. Sob um cartaz amassado de Kurt Cobain estava sentado um cara com um cavanhaque e brincos. —Onde estão as boas bebidas? Um sorriso surgiu no seu rosto. Que aumentou quando avistou Faith. —Você trouxe sua irmã. —Ele observou enquanto se levantava. —Olhe só com seus olhos. — Grace alertou. Ele não respondeu, mas em vez disso acenou em direção ao corredor. Puxando uma chave do bolso, ele destrancou um quarto e acendeu uma luz escura. Faith seguiu sua irmã para dentro. Cores estranhas brilhavam nas paredes. Um colchão dobrado no canto como uma cama desfeita. Todo o quarto parecia a um desses vídeos que mostravam para assustar as crianças em sala de aula sobre saúde. Faith havia assistido aos vídeos e agora ela estava aqui. Antes que ela pudesse decidir se esse colchão assustava ou a excitavaGrace passou-lhe uma garrafa de vodka. Parecia água, mas quando a levou aos lábios, ela ardeu em suas narinas. Seus olhos estavam sobre ela, observando para ver o que ela faria. Ela pressionou a borda do vidro à boca e inclinou a cabeça para trás. Por pura força de vontade ela segurou os engasgos. Havia algo satisfatório enquanto queimava sua garganta e construía um incêndio em sua barriga. Depois de mais algumas doses, ela sentiu-se confiante e destemida. Era como ela imaginou que Grace se sentia a maior parte do tempo. A tímida Faith se foi. A boa menina Faith se foi. Pelo menos, por algumas horas. E foi libertador. Bebida após bebida, ela pôs-se livre enquanto construía sua própria prisão.

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CAPÍTULO 4 Anne não está nada bem. Depois de observar sua conversa em privado com Jude, eu não deveria me surpreender. De alguma forma ainda me surpreendo. Talvez porque eu sempre achei que ela tinha suas coisas resolvidas. Carreira de sucesso. Bem vestida. Eu conseguia vê-la no restaurante com o marido e dois filhos. Ela era o sonho americano, mas a julgar pelos círculos ao redor dos olhos e as rugas, que ela não se preocupava em disfarçar, ela vivia o pesadelo americano como o resto de nós. Não a vida de um viciado. Isso não é uma coisa que realmente tememos. Mas, o medo de nós mesmos. Medo de não sermos capazes, de nossas fraquezas, de nossas falhas mortais, e que nosso vício vai nos atrair de volta com promessas de esquecimento, ou nos permitir afundar na auto aversão que almejamos. Porque esse é o segredo. As drogas e o álcool, não nos fazem sentir melhor. Quando você está drogado você se odeia livremente, e isso é bom, porque você não é responsável naquele momento. Você é livre para ser o seu pior inimigo, livre para ser a pessoa que se esconde dentro de você. Uma pessoa que é menos. Menos do que você tinha planejado ser. Menos do que você poderia ser. Acho que todo mundo se sente assim, mesmo as pessoas que não são viciadas. Ou não usuários, de acordo com o termo do grupo de apoio. Exercício. Café. Netflix. Pessoas. Todo mundo é um viciado; todos nós temos a nossa droga. É que alguns dos nossos venenos custam mais do que outros. Anne cruza e descruza as pernas. Ela balança a cabeça quando Stephanie pede a ela para compartilhar. Ela está se fechando, e não há nada que qualquer um de nós possa fazer sobre isso. Pelo menos, ela está aqui. Ao contrário de outras pessoas. Como Jude. Ele não está aqui, o que prova que eu estava certa sobre ele. Más notícias. Depois de nosso encontro no supermercado, Amie passou os últimos dias me implorando para dar uma chance a Jude. Eu não estava inteiramente certa do 30

que ela queria dizer com isso. Ele não estava batendo na minha porta convidando para sair ou me ligando. Eu duvido que nosso encontro no setor de congelados pressagiasse os sinos de casamento. Amie discordava. Alto. Na frente da equipe. Na frente dos clientes. Via mensagens de texto. No meu correio de voz. Acho que em um outdoor qualquer dia desses. Ele entra bem na hora, como se meus pensamentos o atraíssem. Ele parece diferente hoje. Nenhuma camiseta. Em vez disso ele está vestindo uma camisa de botão passada a ferro. As mangas enroladas até os cotovelos, como se não soubesse o que fazer com o traje de homem de negócios. Eu posso vê-lo assim. Terno e gravata se dirigindo a um escritório para... O quê? O que faz este homem que surgiu no nosso pequeno porto parado? Ele disse à Amie que se mudou para cá, mas eu não o vi no centro da cidade. É aí que a maioria trabalha. Não há muito na periferia. Talvez ele tenha um desses escritórios acima das lojas e restaurantes que estão sempre para alugar. Um advogado? Um contador? Nada se encaixa nele. Eu estou tão distraída com Jude Mercer que eu não percebo que Stephanie decidiu pegar no meu pé. —Faith. —O aborrecimento de Stephanie rompe meus pensamentos. Todos os olhos estão em mim, mas sinto o dele penetrar na minha pele. —Oh, me desculpe. Hã, o que? —Gostaria de falar? —Ela pede. Desta vez eu sou a única frustrada. —Não. —Estalo. —Eu avisarei, quando e se eu quero compartilhar, Stephanie. O silêncio cai sobre a sala. Nada respira ou se move. E então ele limpa a garganta. —Eu vou. — Jude pula em seu socorro. Porra Jude. Eu quero dizer a ele para pegar sua atitude paciente e de cavalheiro e enfiar no rabo. Isso não me impressiona. Isso só me faz querer gritar, porque os homens perfeitos, não andam em grupos de apoio. Mantenho minha boca 31

fechada e cruzo os braços sobre o peito, para segurar as minhas palavras dentro de mim. Ouvir é uma habilidade que eu aprendi estando no grupo e agora eu preciso empregá-la. —Vá em frente. — O rosto de Stephanie é admirável, embora ela não esteja olhando para mim. Ela vê sua disposição como um sinal, de que ela está fazendo algo certo. Eu vejo como realmente é. Ele salvou a minha bunda para me envergonhar. Jude olha para o chão de cimento, e eu me vejo fazendo o mesmo. Na superfície polida, eu vejo o contorno da minha cabeça, mas nada mais. Sem detalhes. Nenhuma expressão. Apenas a sugestão de uma pessoa refletida de volta para mim. —Eu estive pensando sobre as pessoas que eu deixei para trás. —Ele admite em voz baixa. Todo mundo fica quieto, seu tom captando a nossa atenção. —As pessoas que você deixou ou... —A fala inútil de Stephanie atrapalhando. —Eu deixei. Uma em particular. O que acontece quando alguém desiste de você? —Ele pergunta. Ninguém responde. esperamos ele continuar.

Nem

mesmo

Stephanie.

Nós

simplesmente

—Eu desisti dela para me salvar, e eu fico pensando que vou encontrar a paz com a minha decisão. — Ele passa a mão sobre sua mandíbula enquanto faz uma pausa. —Mas eu nunca encontro. Eu continuo voltando e esperando alguém fazer alguma mágica, um pensamento que altere a vida. —Não há nenhuma fórmula. —Interrompo sem pensar. —Se você está procurando uma resposta para resolver tudo, não há uma. —Então por que continuar vindo? Nós somos as únicas duas pessoas na sala agora. Jude e eu olhando um ao outro. 32

— Hábito. É no que somos bons, não é? Ele inclina a cabeça, mas não me acha inteligente. Seus olhos azuis só refletem uma profunda tristeza enquanto olham para os meus. Uma eternidade passa e nenhum de nós fala enquanto o ar fica pesado entre nós. Finalmente, Stephanie começa um mantra, mas eu não estou ouvindo. Ela deixou passar o momento. Pessoas como eu e Jude sabemos que não há. Sabemos que estamos em busca de um prêmio que não existe e que estamos realmente perdidos no mar. **** No carro eu aumentei a música até os alto-falantes de merda crepitar. Eu preciso abafar meus pensamentos e a voz de Jude. Como ele ainda pode ser tão idealista? Presumi que ele estava nisso há algum tempo, com base em seu comportamento nas últimas reuniões semanais. Mas nenhuma quantidade de música pop irracional poderia apagar o olhar em seus olhos. Gotas de chuva caem no para-brisa enquanto manobro para sair do estacionamento da igreja. Não é uma tempestade por isso não há razão para parar, mas de alguma forma o meu carro desacelera para acompanhar os seus passos. Jude se inclina e eu aceno para ele entrar no carro. Não há como abaixar a minha janela, a menos que eu queira levar uma hora para levantá-la novamente, mas ele hesita, como se considerasse a minha oferta. Se eu fosse inteligente eu daria o fora e o deixaria para trás, mas meu carro não é exatamente apropriado para corridas. Antes que eu possa fazer o convite, ele abre a porta e desliza em meu Honda Civic. Ele não combina com este carro, ou este mundo. Jude é muito casual, o tipo de tranquilidade que vem com anos de prática. —Desculpe, eu não posso abaixar a janela. — Por que diabos eu estou pedindo desculpas a ele? E por falar nisso, estou lhe dando uma carona? Ele corre um dedo sobre o botão. Seus olhos amolecem com preocupação, derretendo partes de mim que eu achava que estavam permanentemente congeladas. —Quebrado? 33

Eu aceno enquanto minha garganta fica seca. Bato o volante com a palma da mão, sacudindo-o. —Ele já viu dias melhores, mas desde que funcionem todas as manhãs eu não me importo. —Eu poderia dar uma olhada. A oferta paira no ar e eu não sei se digo sim ou não. Eu não sei como dizer qualquer coisa para Jude, o que me irrita e me fascina, e faz um monte de outras coisas para mim que eu não tenho palavras para descrever. —Por que você está sendo tão bom para mim? — Eu deixo escapar e imediatamente eu gostaria de poder afundar a questão no poço que se forma instantaneamente no meu estômago. —Você prefere que eu seja ruim para você? Não consigo olhar para ele. Não que esteja escondendo muito bem minha vergonha. Minhas bochechas ardem. Por um momento eu considero seriamente dirigir até uma árvore, para evitar ter que enfrentá-lo novamente. —Eu só estou dizendo que você não foi bom comigo quando nos conhecemos. —Se me lembro bem, você que quase derrubou uma xícara de café ruim em mim. E aí está: a razão pela qual eu não confio em Jude. Havia muito mais sobre aquele primeiro encontro. Mesmo agora, enquanto ele ri, há uma tensão. —Eu estava nervoso. Você me pegou de surpresa. —Uma confissão. Isso é duas em um dia. —Eu escolho acreditar, porque ele não está me dando outra escolha. —Algo em você me faz querer confessar os meus pecados. — Sua voz é baixa, vibrando com um significado inegável. 34

Desta vez, eu sou a única se esforçando para rir. —É o nome. —Faith. —Ele disse meu nome antes, mas desta vez ele fala com uma familiaridade que dá um nó dentro do meu peito. —Conte-me. Qual é a minha penitência? —Você está com garota errada. — Eu me esforço para manter meu tom leve quando tudo que eu sinto é Jude Mercer se atando a esse nó e me puxando em direção a ele. —Não é católica, então? —Não, há muito tempo. Eu não acho que Deus tem muito interesse em pessoas como eu. —Eu acho que esse é o ponto de Deus. Ele tem interesse em todos. — Jude comenta. —Católico, então? —Pergunto. Desta vez, ele ri. —Não, há muito tempo. Eu chego a uma bifurcação na estrada e paro o carro, esperando ele me dizer qual caminho percorrer. Ele não faz imediatamente. Em vez disso, senta-se em silêncio olhando para nossas opções. Finalmente, ele aponta para a esquerda. Tomo a curva acentuada no centro da cidade, e na minha vida, para as velhas casas vitorianas que ficam na encosta com vista para o porto. É um monte de ruínas. Na esquina uma senhora excessivamente pintada detém a pousada reinante da cidade. Cada parte de seu exterior colorido estende-se à frente de seu gramado impecavelmente mantido. Apenas algumas casas abaixo outra casa está quase caindo aos pedaços, metade derrubada pelo último proprietário que ficou sem fundos para completar a renovação. —Eu amo estas casas. 35

Eu nem sequer percebi que falei em voz alta até Jude perguntar: —Por quê? É uma pergunta inocente, mas a maneira como ele perguntou fez parecer íntimo. —Elas são todas diferentes. Únicas. Com torres, cores parecendo casas de gengibre7. Eu cresci em um bairro bom, mas todas as casas eram caixas de biscoito, estrategicamente espalhadas ao longo da rua para que todos tivessem o mesmo tamanho de quintal. —Você não parece o tipo que se encaixa em uma caixa. —Ele observou, pensativo. —Eu não. —Você está me fazendo desejar ter comprado uma dessas. —Ele admite. —Você não comprou? — Estou um pouco desapontada e não me incomodei em esconder isso. —Você gostaria de mim se eu tivesse? —Eu gosto de você. — Mas minhas palavras saíram muito apressadas. O resultado de ter boas maneiras, ao invés de atenção. —Você é uma mentirosa terrível, Faith. — Ele se vira para a janela e traça uma gota de chuva, que desliza pelo vidro. —Eu ainda não me decidi sobre você. — Agora eu sou a única a confessar. —Nós nos encontramos em circunstâncias difíceis. É provavelmente sábio desconfiar de um homem que você encontra em uma reunião de NA. —Ele não se voltou para mim e de alguma forma ele estava me lendo. Ou talvez ele soubesse desde o momento em que nos conhecemos, onde residia minha hesitação. 7

Gingerbread house, ou casas de gengibre. Tradicional casinha de doces feita especialmente para o natal. Tradição que começou na Alemanha e inspirada na história de João e Maria. Não difundido no Brasil.

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—É provavelmente sábio desconfiar de uma mulher que você encontra em uma reunião de NA. —Retruco. Porque essa é a verdadeira questão. Não apenas como nos conhecemos, mas porque nós dois estávamos lá. Estamos ambos quebrados e nem uma imaginação enorme pode juntar nossas peças. —Não é um dos princípios de nosso grupo, o anonimato? Pelo que sei nos encontramos no corredor de alimentos congelados. Tudo o que sei sobre você é que você tem uma criança doce, uma melhor amiga bastante para frente, e que você é um completo raio de sol. —Ele diz secamente. —Para frente é uma boa maneira de descrevê-la. Eu lhe permito reescrever a nossa história, porque eu o quero, porque eu quero Jude, por ser o homem que tratou meu filho como se ele fosse a pessoa mais interessante do mundo. Eu não quero que ele seja o homem com a resposta arrogante e olhos duros que apareceu no meu grupo de apoio. E talvez ele não queira que eu seja a mulher que está tão fodida que, após anos de sobriedade, ela ainda se encontra sentada em uma cadeira num porão de uma igreja uma vez por semana. —Eu não conheço tudo de você, Faith. Qual é o seu sobrenome? De onde você veio? Você é casada? Ele está falando retoricamente e ainda assim me pego respondendo. —Kane. E eu não sou casada e eu disse que vim da cidade. —Eu acho que há mais na sua história do que isso. — Mas ele não força mais informações. Ao contrário, ele aumenta o volume do aparelho de som. —O que Faith Kane ouve? Eu dou de ombros, enquanto as notas cativantes finais da mais recente canção de Taylor Swift desaparecem, seguida por uma melodia mais pesada, mais soul. Eu não sei o nome do artista, mas sei da canção. Talvez eu não queira saber

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porque as palavras que ela canta são minhas. Sem pensar eu começo a cantar junto com ela, esquecendo por um momento que eu estou no carro com Jude. Eu me perdi no dia em que te conheci. Agora eu não tenho certeza para onde estou indo. E você vai partir meu coração como da vez anterior; Até que eu não acredite mais no amor verdadeiro. Estou em pedaços... Pedaços... A mão de Jude no meu ombro me lembra de que eu não estou sozinha, e me assusto. —É aqui. —Ele diz em voz baixa, apontando para uma entrada de automóveis. —Desculpe. — Eu piso no freio para não perder o retorno. —Não há razão. Eu gostei de ouvi-la cantar, mesmo você errando algumas das palavras. —Eu errando as palavras? Eu amo essa música. O que você é, um especialista? —Eu estou começando a me lembrar de por que eu tinha dado a ele o apelido de Sr. Arrogante. Assim que o carro está parado, eu viro para olhar para ele. —O que eu errei? Ele dá de ombros, mas não posso impedir o sorriso arrogante em seu rosto. —Eu acho que ela canta: “Eu perdi meu caminho”. —Lembre-me de procurar no Google mais tarde. — Aparentemente ele tem um talento especial para estragar as coisas, e eu quase me vi gostando dele. É tão ruim que ele seja assim tão cheio de si. Quem diabos corrige o canto de alguém?

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—Você quer entrar? —Ele pergunta enquanto abre a porta do carro. Quero dizer não, mas ao invés disso eu desato o cinto de segurança. Mantenha suas armas, menina. Bem, se ele pode ser um sabe-tudo idiota, eu também posso ser. —Você sabe que isso não é exatamente uma corrida de curta distância. — Eu informo ao sair e bater à porta atrás de mim. —Quase cinco quilômetros? Achei que você tivesse crescido numa cidade. Meu próximo resmungo morre em meus lábios quando finalmente olho para a sua casa. Se houvesse qualquer dúvida de que ele e eu somos de mundos muito diferentes, isto encerra o assunto. Não é como as casas mais antigas que eu amo, mas ainda é de tirar o fôlego. A casa tinha sido construída para o lado do penhasco, curvando-se ao longo do terreno rochoso para que capturasse uma vista total para o mar de todos os ângulos. Eu ainda estou babando quando Jude pega a minha mão e me puxa para frente. Eu vou porque estou muito espantada para me afastar e porque parte de mim quer saber como é andar em um lugar como este. É tão fora da minha realidade que até a minha imaginação falida não pode imaginar o que tem dentro. Eu mal presto atenção quando ele solta minha mão para digitar o código da garagem. Quando a porta abre, meus olhos pousam em uma motocicleta.

Imagina. Jude me pega olhando e encolhe os ombros. —Houve um tempo em minha vida que eu pensava que precisava disso. —E agora? —É principalmente para mostrar. — Ele acena para o local próximo a ele. —Esse é o meu verdadeiro amor. É um jipe amarelo-canário, é bem distante do que eu o imaginei dirigindo. Algo sobre sua atitude a primeira vez que nos encontramos sugeriu carros esportes daqueles com dois assentos e sem espaço para a bagagem. 39

—Max adoraria isso. —Vacilo quando percebo que trouxe o meu filho para isto novamente. É ruim o suficiente eles terem se encontrado na loja. Max é o meu mundo inteiro, mas há partes de mim das quais eu o protejo. Jude está nessas áreas escuras que ele não precisa saber. —Vou levá-la para um passeio. Eu não falo. O que tem Jude Mercer que me deixa com a língua presa? —Eu deveria ir. —Finalmente forço uma saída. —Eu preciso pegar Max as quatro. Jude pega seu telefone. —Parece que você tem vinte minutos para enrolar. Ao contrário de mim, ele tem uma resposta para tudo, pelo que parece. Sigo atrás dele enquanto ele me leva para a casa principal e minha boca cai aberta. Se o exterior tinha sido impressionante, não há palavras para o interior. Vigas de madeira expostas no teto, combinando com o piso liso de madeira. O mobiliário é mínimo, de linhas modernas quadradas e algumas peças cuidadosamente selecionadas, todos de frente para as janelas do chão ao teto que sobressaem sobre a baía. Hoje a água parece calma, mas as ondas estão lá, como pequenos tremores que cortam como faca através da superfície vítrea e vão tão rapidamente quanto aparecem. Meu coração salta quando sua mão envolve meu ombro e por um segundo meu cuidado rompeu a superfície cuidadosamente equilibrada, como a água. —Aceita uma água? Eu poderia ter refrigerante, mas isso é questionável. —Há um sorriso em sua voz, e entre isso e sua mão ainda descansando em meu ombro o calor começa a se espalhar através de mim. É uma sensação bem-vinda, como voltar para casa, e eu não senti isso por um longo tempo. Afasto-me dele e de tudo o que ele me oferece e pego uma visão de um cavalete na sala. Nele uma tela semiacabada reflete a maré sutil fora da janela. 40

—É lindo. —Sussurro. Eu olhei a água todos os dias durante quatro anos e hoje eu a vi pela primeira vez. Ele capturou o movimento em um confronto de azuis e verdes. —Eu não sabia que você era um artista. É uma coisa estúpida de dizer porque eu não sabia nada sobre ele. Na verdade, não. Só que ele é paciente, que não tem andado de moto, que não tem senso de quando vai chover e que ele é muito mais do que demonstra. Para mim ele é como a tela inacabada, como a pintura aguardando seu retorno e eu quero pegar o pincel e enchê-lo até que eu possa ver tudo dele. —Eu acho que você está olhando para ele com olhos de mãe. — Ele ri quando se vira para estudar a tela. —Os olhos mãe? — Eu repito. —Que diabos é isso? —Ah você sabe. Lembra quando você era criança e sua mãe colocava cada desenho que você trazia para casa da escola na geladeira? —Ele olha para mim e o sorriso desliza de seu rosto. —Minha avó me criou. Minha irmã era a única artística, então... Um músculo vibra em sua mandíbula e relaxa como se a minha história de vida o perturbasse mais do que a mim. —Eu aposto que você faz isso com Max. —Você me pegou. — Me rendo. Eu faço isso com Max o tempo todo, então por que estou pensando na minha mãe e a vida que eu perdi há muito tempo? —Eu acho que o oceano me faz pensar no passado e não no presente. —Como assim? —Ele pergunta, numa voz suave que me dá muito tempo para explicar para ele, mesmo que eu não esteja certa de que posso. Eu me concentro na extensão de cinza azulado que se estende diante de mim aparentemente sem fim. —O oceano é tão grande e insondável, exatamente como uma pessoa. Eu poderia conhecer você por anos e você nunca veria todos os momentos que me 41

transformaram na mulher que sou hoje. Os que estão me formando em quem serei amanhã ou daqui a cinco anos. Ninguém pode realmente conhecer outra pessoa. Nós somos misteriosos como o mar. —Você realmente acredita nisso? —O tom duro enfraquece suas palavras. —Sua irmã? Avó? Ninguém conhece você? Nem mesmo o pai de Max? —Definitivamente ele não. —Minha risada é oca enquanto considero isso. —Elas poderiam ter me conhecido uma vez, mas elas se foram há muito tempo para me conhecer agora. —E Max? —Ele pergunta rispidamente. —Ele só conhece as melhores partes de mim, eu espero. — Dói dizer isso a alguém que compreende o que quero dizer. Eu não tinha que confessar minhas falhas para Jude. Ele as conhece desde o momento em que nos encontramos, e julgando como seus olhos se fecham rapidamente, ele entende muito bem. Quando Jude abre os olhos, ele não olha para mim, ao contrário, ele olha para fora, olhando para além das ondas para seu próprio passado. —É quase quatro. Eu não preciso de outro lembrete de que eu pertenço a outro lugar e a ninguém, no fim de tudo.

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CAPÍTULO 5 Eu ajeito Max com seu iPad no canto do meu escritório antes de me atrever a olhar para a pilha de faturas na minha mesa. O final do mês sempre traz todas as contas para pagar e nada é pior do que quando coincide com o dia de reunião do grupo. Não parece justo que os correios não possam entregar antes das três da tarde. Passei toda a manhã à procura de algo para fazer e agora eu tinha muito e ainda mais, com um peso na cabeça. —Eu decidi parar de cozinhar. — Amie aparece com seu talento habitual para o drama. Se jogando em um canto da mesa, ela puxa sua bandana e enfia no bolso da jaqueta de chefe de cozinha. —Você não quer saber o meu plano b? Pelas minhas contas ela tinha uma dúzia de planos b desde que a conheci. Ela ainda cozinha todos os dias. —Claro. — Eu remexo as faturas começando a filtrá-las mentalmente por prioridade. —Vou ser anfitriã em um programa de culinária. —Programa de culinária? —Pergunto sem tato. —Travel Channel8 ou talvez PBS9 para começar. — Ela começa a destrançar seu cabelo enquanto continua. —Suponho que se a Food Network10 oferecer a quantia certa... —Humm rumm. — Eu aposto que Jude nunca tem que decidir quais contas pagar no final do mês. Enquanto isso eu começo a imaginar se o nosso fornecedor de vegetais gosta de nós o suficiente para manter a entrega se atrasarmos o pagamento. É um dos fenômenos mais irritantes da vida: como poucos são os que como nós estão no meio, há os com tem em abundância e os com nada para dividir. 8

Dedicado a documentários sobre viagens pelo mundo. Serviço Público de Radiodifusão/mais conhecida como PBS) é uma rede de televisão americana de caráter educativo-cultural. 10 É um canal de TV por assinatura dedicado a quem ama a arte da gastronomia. 9

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—Você não está ouvindo uma palavra do que eu estou dizendo. — A acusação de Amie rompe minha amarga e severa critica interior. —Eu estava na verdade. — Eu repeti seus pensamentos sobre Food Network. Talvez eu esteja errada. Há algo mais no meio. É onde ficam os sonhadores, pessoas como Amie. Ninguém nunca disse que ela não pode conseguir exatamente o que quer e é por isso que ela tem um restaurante aos trinta anos. É por isso que ela provavelmente vai conseguir seu próprio programa de TV. Algumas pessoas só sabem como fazer as coisas acontecerem. Eles não são puxados para baixo pelo medo que o resto de nós carrega. —Você está usando esse olhar de bruxa. —Ela diz e suas palavras atacam um ponto muito familiar. Eu arquejo e balanço a cabeça com veemência. —Isso não existe. —Bem, você está obviamente ouvindo, mas inteiramente pensando em outra coisa. — Seus olhos estreitam e eu quero lembrá-la que ela é a única com o jeito assustador de invadir as cabeças das pessoas. —Ou alguém. Talvez um, bad boy gostoso e tatuado com um coração de ouro. Abstenho-me de gritar e atirar-lhe um sorriso sem graça. —É o fim do mês. Contas e lares de idosos são a única coisa em minha mente. —Oh merda! — Sua atitude instantaneamente muda e ela dá uma tapinha no meu braço suavemente. —Precisa de alguma coisa? Eu posso cuidar disso se você quiser dá uma descansada. —Não. — O que eu preciso agora é trabalhar e me concentrar, e esquecer tudo de estranho acontecendo entre mim e aquele cujo nome não deve ser pronunciado. —Eu cuido disso. Eu estou indo vê-la amanhã. Isso é muito chato. Eu poderia muito bem passar o sábado inteiro no carro.

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Não é como se tivéssemos fins de semana verdadeiros, mas eu sei que ela tenta me dar o máximo de tempo possível para ficar com Max no sábado e domingo. Mas, mesmo que eu tenha estado muito distraída esta semana para planejar minha viagem mensal para ver vovó. Eu nunca disse à Amie que eu tenho pavor disso, porque eu não preciso. Quem gostaria de visitar alguém que não se lembra de quem você é? —Eu tenho o fim de semana livre. —Ela diz isso como se não fosse grande coisa ela constantemente sacrificar sua vida por minha causa. —Eu posso vir no domingo. —De jeito nenhum. — Ela dispensa minha oferta e fica de pé. —Eu preciso de você aqui na segunda-feira porque eu tenho um encontro. Este é o tipo de notícia com que eu posso distraí-la para que possamos, finalmente, mudar de assunto. —Diga. —Quem estou enganando? — Amie pressiona as costas da mão na testa e desarruma os cachos suados. Ela se parece exatamente como um personagem das peças de Tennessee Williams 11. Como eu disse, ela tem o toque para o drama. —É com o quiroprático 12. —Eu pensei que esse navio já tinha zarpado. A força se bem me lembro. Ela suspira e ergue os ombros como se não entendesse. —Assim como eu. Ou não foi tão a força quanto eu gostaria de pensar, ou o médico chato tem mais coragem do que eu pensava. Nós duas verificamos imediatamente se Max não está nos observando, mas ele ainda está colado em um jogo do alfabeto.

11 12

Famoso dramaturgo norte-americano. Que trata as doenças pela manipulação das vértebras.

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—Talvez eu devesse dizer não, e forçá-la a trabalhar na segunda-feira. — Eu provoco. —Eu juro que não vou abaixar as minhas expectativas. Só estou preocupada que, quando um homem bom finalmente chegar eu vou estar muito enferrujada. —Ela coloca os braços em linha reta na frente dela e grasna: —Lata de óleo. Lata de óleo. Meus olhos se arregalam e eu me encolho em minha cadeira. —O que? Eu estava imitando o Homem de Lata! Eu sento com um sorriso. —Eu sei. Eu só estava tentando decidir se devo filmar isso para os seus perfis nos sites de namoro. —Agora você estará definitivamente trabalhando na segunda-feira. — Amie faz uma pausa na porta. —Basta pensar quantos pretendentes elegíveis eu vou ter quando tiver o meu próprio programa de culinária. —Ou quantos malucos. — Eu corrigi. Ela sacode o dedo para mim. —Você se importa? Cinderela usava sapatos de cristal e eles não quebraram. Eu preciso de algum conto de fadas e um nível de otimismo aqui. Eu juro para ela que eu ainda acredito no amor verdadeiro, porque é uma coisa agradável para se dizer, e por que parte de mim acredita. Eu a amo e ao meu filho. Eu realmente gosto de alguns de nossos clientes regulares. Mas o romance e felizes para sempre? É por isso que eles são chamados de contos de fadas.

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Há um milhão de razões para que eu mudasse a minha avó para uma clínica em uma cidade a quase uma hora de distância, mas a maioria delas eram mentiras. O fato é que eu quero uma desculpa para não passar cada domingo com um fantasma. Eu verifico o espelho a cada poucos minutos e vejo Max olhando pela janela observando os pinheiros Douglas13 que se elevam majestosamente, como montanhas na distância. A previsão do tempo errou, porque o céu está claro e o ar limpo. Um dos poucos dias que teremos assim até o verão rugir desafiadoramente no Noroeste. No momento em que chegamos na Vovó, Max se contorce com força para eu libertá-lo do cativeiro de seu assento de carro. Eu tenho de lembrá-lo duas vezes para segurar minha mão no estacionamento à medida que subimos os degraus até a porta da frente. Senhorita Maggie, que está aqui desde o dia que Grace e eu deixamos Vovó, sorri amplamente quando ela nos vê. Hoje ela está usando uma calça rosa chocante e batom para combinar contra sua pele morena. —Olá doçura! —Ela grita e Max corre para lhe dar um abraço. Eu não posso evitar inflar um pouco, na alegre saudação, ou com a resposta de Max. — Ela vai ficar tão feliz em vê-lo. —É um bom dia, então? — Tento conter a minha esperança. Ela levanta a sobrancelha por cima dos óculos de leitura. —É sempre um bom dia quando você está respirando, doçura. E é por isso que eu não tento ter esperanças. Eu não tenho uma fonte eterna de positividade para usufruir. Eu quero ver o mundo em tons do arco-íris, mas eu aprendi a apenas esperar o cinza. Max, por outro lado, recebe uma recepção de herói. É por isso que ele gosta de vir aqui. Toda a comunidade trabalha com uma pré-escola local para manter o ânimo dos moradores. Eles estão acostumados a ter crianças ao redor e eles gostam de Max, tanto quanto ele gosta deles. Ele distribui “bate aqui” e abraços como se ele fosse um responsável oficial de cada um. 13

Árvore nativa americana muito parecida ao pinheiro.

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—Eles simplesmente o adoram. —Maggie diz com uma risadinha. —Essa criança é uma luz. Eu mordo meu lábio e vejo como cada pessoa reage a ele. No momento em que ele chega a uma velha cadeira desgastada no canto, ele deixou todos iluminados. Mas ele se vira para nos enfrentar, seu próprio sorriso sumindo do seu rosto. Ele aponta para mim. —Eu não sei onde Frankie está. —Respondo, esperando que Maggie me ajude. —Frankie saiu hoje. — Mas há um significado em seu tom de voz que eu peguei. Já aconteceu antes, mas agora Max está ficando velho o suficiente para lembrar. Esse é o inevitável da vida. Ele pode vir aqui por algumas horas, uma vez por mês e soprar vitalidade para cada alma que ele toca, mas ele não pode impedi-los de morrer. Por enquanto, ele está apaziguado pela sua resposta, mas eu vou ter que falar com ele sobre isso mais tarde. No mês que vem ele vai perguntar novamente e prometi a mim mesma que eu nunca lhe diria mentiras desnecessárias. Eu aceno para ele seguir o corredor comigo antes que ele possa fazer mais perguntas. Eu não quero que ele olhe para sua bisavó como se ela pudesse desaparecer a qualquer momento. Vovó está sentada perto da janela quando chegamos a seu quarto. Seu cabelo branco foi penteado em um coque apertado exatamente como o que ela usava todos os dias da minha juventude. Espanta-me que ela se lembra de como fazer isso. Ela pode vestir-se, fazer sua cama e ler um livro. Seu corpo continua se movendo para frente todas as manhãs, por hábito. Não há nenhuma responsabilidade como a que instiga o resto de nós a sair da cama e ainda assim ela está aqui vestida e esperando por ninguém e por nada. Isso costumava me fazer sentir culpada. Gostaria de dirigir todos os fins de semana, enquanto pudesse juntar o dinheiro do combustível. Quando Max nasceu, eu o levava e ela cantava as canções de ninar que ela nunca esqueceu, 48

enquanto se balançava na cadeira. Eu queria ser quem ela esperava, queria ser sua razão para se vestir. Então, um fim de semana eu deixei algumas fraldas em seu quarto. Na época elas eram um bem precioso e eu não podia me dar ao luxo de deixá-las. Quando soltei Max e entrei, eu encontrei-a sentada junto à janela ainda esperando. Em cinco minutos ela tinha esquecido que eu tinha estado lá. Essa foi a rapidez com que as coisas escorregavam dela. Depois eu passei a vir menos porque doía muito vê-la se apagando a cada vez. Max não se importava que ela se esquecesse dele. Hoje ele corre e se joga a seus pés, pegando a mão fina na sua. Ela lhe dá um tapinha na cabeça e pergunta o nome dele. Ele não precisa ler os lábios para conhecer esta parte do ritual mensal. —É Max, Vovó. — Eu falo. Ela olha para mim com uma careta. —Grace? Um caroço se forma na minha garganta, mas eu me obrigo a balançar a cabeça e sorrir. —É Faith e eu trouxe Max para visitar. —Ah sim. Max. —Ela está ficando muito boa em parecer que está entendo. Nós sentamos e eu digo a ela sobre o trabalho e como Max está indo com a sua leitura labial. Eu digo que o seguro ainda se recusa a pagar os implantes cocleares14 e que eu tenho guardado um pouco mais para pagá-los. Max desenhou o oceano para ela. Não a baía que ela pode ver de sua janela, mas a agitada água selvagem perto de onde vivemos. Ele lhe escreveu uma carta, que eu faço o meu melhor para decifrar. Nós damos a ela vislumbres de nossas vidas enquanto eu silenciosamente rezo para que todos eles permaneçam. Meus pais morreram há muito tempo, mas não foi até que ela ficou doente que eu me senti órfã. —Eu senti sua falta, Grace. É um momento esmagador de clareza então não corrijo. 14

Tipo de implantes para melhorar a audição.

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—Você já ouviu falar de sua irmã? Eu acho que ela deve permanecer na escola. Ela já desvaneceu antes e eu me encontro caindo com ela. —Eu não falo com ela há muito tempo. —Espero que ela esteja bem. Eu me preocupo com ela. —Eu também, Vovó. — Outro pedacinho de mim quebra. Ela se inclina mais perto e sussurra: —E quem é esse? Eu não me incomodo de dizer a ela que não é necessário. Eu não a lembro de que Max é surdo. Ela não guarda uma memória, desde que eu tinha dezenove anos e se ela for se lembrar de uma coisa, eu quero que seja isso. —Meu filho. — Eu bagunço seu cabelo enquanto ele trabalha em sua próxima obra-prima. —Este é meu filho.

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CAPÍTULO 6

Anteriormente

—Pior dia de todos! —Grace anunciou enquanto pendurava sua bolsa sobre uma cadeira na pequena cozinha de sua avó. —Algo para comer? Faltando apenas alguns meses para a formatura, os professores decidiram se tornar masoquistas. A carta de aceitação da Universidade de Seattle orgulhosamente pendurada na geladeira deveria ser como um bilhete premiado, ou de partida, mas sem uma noção clara de como ela pagaria por essa fuga, que não aconteceu. Sua imagem no espelho espiou por trás da porta da geladeira, franzindo a testa. Faith era sua gêmea idêntica. Na maioria das vezes. Se alguém realmente se preocupasse em olhar para elas perceberia que os olhos castanhos de Faith tinham mais verde do que azul. Mas, caso contrário só poderiam ser observadas as maiores diferenças entre as duas no comportamento. Faith era impulsiva. Grace planejava. Faith se apaixonava uma vez por semana. Grace não tinha tempo para os meninos. —Bem, é isso. — Faith levantou o telefone sem fio. —Não há muito mais. Talvez eu possa encontrar o controle remoto no congelador? Nenhuma delas riu da piada. O comportamento de Vovó tinha estado irregular durante meses. No início, não tinha sido nada para se preocupar. Ela não conseguia se lembrar de que dia da semana era ou ela se esquecia de pegar o leite na mercearia. Mas, nas últimas semanas, ela não se lembrava de pegar nada na mercearia. —Ela pensou que eu era você esta manhã. — Grace sussurrou.

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—Isso não é nada novo. — Mas Faith não se incomodou tentando convencê-la ainda mais. Vovó sempre tinha sido capaz de distingui-las. Provavelmente, porque ela criou as duas. Gêmeas idênticas eram um pouco demais para qualquer mulher na casa dos sessenta anos assumir, mas ela tinha feito isso com facilidade. —É para ela. Faith caiu na cadeira ao lado dela e pegou sua mão. —Ei, vamos olhar pelo lado positivo. Ela provavelmente não saberia se você deu uma escapadinha. —Então vamos. — Grace tinha perdido o interesse em festas logo após Faith iniciar. As noites quando ela queria sair Faith arrumava tudo, mas ela nunca forçou Grace a vir junto. Além do mais quando Faith saía, Grace pegava uma garrafa de licor da Vovó. Ela não tinha que compartilhar e ela também não acabaria vomitando nos jardins de Ballard 15 até em casa. Todos ganhavam. Esta noite ela queria mais do que alguns goles apressados de bebida que já estava aguada demais para sentir a deliciosa queimadura. Esta noite ela queria esquecer. —Mesmo? Achei que você tinha parado. —Faith já estava de pé. —Posso fazer sua maquiagem? —Por que não? —Grace deu de ombros, incapaz de sorrir. Se isso significava sair daqui e ficar longe daquela carta e de sua avó, ela estava dentro. O pensamento de passar uma noite assistindo seu futuro lentamente escorrendo pelo cano era demais para suportar. —Onde vamos? —Deixe isso comigo. — Faith piscou. —Em poucas horas você vai estar tão tranquila. Era uma promessa, mas soou como uma ameaça.

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Bairro de Seattle.

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***

—O que estamos fazendo aqui? —Grace agarrou o braço de Faith e começou a sacudi-la. O lugar era a definição de um buraco. Segundo a luz fluorescente piscando, no que era para ser uma cozinha, até as marcas de cigarro no carpete. Normalmente, quando ela se juntava a Faith havia uma festa. Como com pessoas. Mas este lugar assustou-a. Claramente, ela precisava ser um pouco mais participante. —Solte-se. — Faith jogou o cabelo sobre o ombro e puxou sua camisa para baixo para revelar mais decote. —Eu pensei que você queria relaxar. —Eu quero. — Grace hesitou, finalmente liberando o aperto no braço de sua irmã. —Eu só pensei que iria esgueirar-se em um bar ou algo assim. Não há uma festa nas proximidades? —Derrick pode nos levar para um bar mais tarde, mas eu queria parar aqui em primeiro lugar. Grace não perguntou porquê. Ela estava mais interessada no misterioso Derrick. —Não tenha medo. — Faith continuou com uma voz suave. Em seguida, ela estendeu a mão e arrancou o rabo de cavalo da irmã. O cabelo de Grace caiu sobre os ombros, imediatamente fazendo-a parecer mais com sua irmã gêmea. — Derrick vai pirar. Vamos fazê-lo adivinhar quem é quem. A forma volumosa de Derrick encheu o batente da porta, bloqueando o corredor atrás dele, como se ele tivesse sido convocado pelas palavras de Faith. Ele era mais velho, isso era óbvio, com ruguinhas vincando sua testa. Mas, ele se vestia como rapazes de sua classe, com jeans frouxo e uma camiseta descuidada. Mas não havia como negar que Derrick era lindo. Talvez fosse por isso que ele nem tentava. Não no que ele usava ou onde ele morava. Olhos azuis olharam para as meninas, prendendo-as no lugar. Poderia ter sido seu corpo musculoso ou a sombra em sua mandíbula. Mas era mais do que tudo isso. Era a maneira como 53

ele se movia. Foi como seus olhos viajaram descaradamente pelos seus corpos. Meninos tinham olhado assim antes, mas não tinham provocado à mesma reação. Derrick poderia ter uma menina montando-o com a mão agarrando seu cabelo loiro ondulado antes que ela soubesse o seu nome. Grace aproximou-se de Faith por instinto, mas sua irmã apenas passou braço em volta da cintura e puxou-a com força contra ela. —Aposto que você não pode adivinhar quem é quem? —Ela parece assustada. — Derrick sorriu quando fez sinal para Grace. — Mas se você quer tanto tentar me convencer do contrário, eu brinco. —Mais devagar, baby. — Faith sacudiu o dedo. —Ela é virgem, e ela não é para você. Eu só queria provar que eu tinha uma irmã gêmea, já que você não acreditava em mim, porra. —Isso é uma vergonha. — Desta vez não havia nada ocasional quando seus olhos deslizaram sobre Grace. —Mas conversei com o seu lindo traseirinho na minha cama. Se vocês duas são idênticas, ela não deve ser um desafio. Grace endureceu com essa revelação, mas Faith riu enquanto dava um tapinha nas costas de sua irmã. —Eu não tinha dito a ela ainda, idiota. Eu queria que ela o conhecesse primeiro, então ela teria uma ideia. Agora você estragou tudo. Derrick deu de ombros e foi até a cozinha. Faith imediatamente seguiu, afastando alguns passos quando ele puxou uma garrafa de Jack16 do gabinete. Ele estendeu para ela, mas ela balançou a cabeça. —Você sabe o que eu quero. —Ela ronronou. Grace nunca a tinha visto assim, tão evidente em sua sexualidade. Era um espetáculo ousado para um propósito que fez o estômago de Grace revirar. Ela fantasiou com meninos tocando-a. Ela tinha até mesmo deixado o Matt do Conselho Estudantil enfiar a

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Jack Daniels, famosa marca de uísque.

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mão em sua calcinha na volta de uma viagem de campo, mas ele não sabia o que fazer. Como isso chegou tão facilmente para Faith? —Então você sabe o que fazer. — Ele tirou a tampa e tomou um gole. —Não agora. — Faith olhou por cima do ombro e inclinou a cabeça para a irmã. —Então não agora. —Repetiu Derrick. Ele passou por ela, sem se preocupar em deixar a garrafa para trás. Sentando em um sofá marrom chocolate, ele deu um tapinha no assento ao lado dele. Faith correu e caiu ao lado dele, aceitando um gole de Jack, mas seus olhos permaneceram em Grace. Ela não se moveu, ainda de pé desajeitadamente perto da porta. —Junte-se a nós. Mas Grace balançou a cabeça. —Você não pode ficar aí a noite toda. — Faith desvencilhou-se de seu namorado e sentou esticando os braços para sua irmã. —Acho que devemos ir até o bar agora. — Grace disse fracamente. —Bem, mana, temos de convencer Derrick. — Sua atenção voltou imediatamente para a tarefa em mãos. Ela brincou com a gola de sua camiseta. —Eu disse que não vamos sair hoje à noite. — Ele a empurrou. Inclinandose para frente, lambendo seu lábio inferior. —Nós podemos festejar aqui, nós três. —Você sabe, eu acho que tenho um teste amanhã. —Disse Grace. Era uma mentira fraca que não diminuiu o interesse de Derrick nela. —Eu vou ajudá-la a estudar. —Ele ofereceu. —Oh meu Deus, vocês dois se merecem. — Faith ficou de pé. —Vou para o banheiro.

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—Fique longe dos meus remédios. — Derrick falou para ela. Ele deu um tapinha no sofá novamente. —Eu não mordo. —Duvido disso. — Grace resmungou baixinho. Derrick riu. —Você é engraçada. Olha, eu só estou sendo educado. Eu não dou à mínima se você se sentar. Ele se acomodou contra o braço do sofá. Grace observou-o por um momento, seu desconforto começando a mudar para embaraço. Ele era mais velho, mas isso não quer dizer nada. Ela e Faith fariam dezoito anos em duas semanas. Tecnicamente, aos dezessete anos, elas já eram legalmente consideradas adultas. Só não tinha ocorrido a Grace que havia opções românticas fora de sua classe sênior. Ela sentou-se na extremidade do sofá, deixando uma almofada entre eles. —Você quer um pouco? — Ele estendeu a garrafa de Jack. Ela respirou fundo e assentiu. Elas tinham ido para a festa. Uma bebida de graça aqui não significava ter de deixar um cara desprezível suar em cima dela mais tarde. Mas ele não se afastou. Ao contrário, ele deslizou ao lado dela. Seus olhos mergulharam nela enquanto ela tomava um gole. Quando ela devolveu a garrafa, ele não se afastou. —A puta da sua irmã provavelmente já está pegando o meu Vicodin17. — Uma dureza inesperada revestia suas palavras, e Grace se encolheu. —Ela não pode evitar. Ela tem que tê-lo. E você? Você precisa dele tanto quanto sua irmã? —Vai se foder. — Grace bateu as palmas das mãos em seu peito, empurrando-o para trás enquanto ficava de pé. Derrick foi mais rápido. Sua perna esticando para impedir a fuga dela. Desmoronando no chão a seus pés, mantendo um controle sobre ela, antes que ela pudesse recuperar o controle de si mesma.

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Remédio fortíssimo para dor. Tarja preta.

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Seu cheiro acre queimou suas narinas. Derrick agarrou seu cabelo e puxou. Grace se aproximou, enrolando em seus joelhos antes que ele pudesse arrancar os cabelos de suas raízes. A ponta áspera de seu polegar deslizou através de seu lábio inferior, então ele forçou sua boca a abrir. —Se você não pode fechar a boca sua puta, eu vou ter que encontrar uma maneira de impedi-la de falar. Seja qual for a autopreservação que a colocou de joelhos mudou e ela lutou com suas mãos, enfiando as unhas sobre qualquer pele que ela pudesse encontrar. Braços. Mãos. Como ela desejou que pudesse chegar mais para cima e cavar em seu belo rosto. Ele precisava ser marcado como um monstro. Era tarde demais para avisá-la ou Faith. Mas não seria tarde demais para outro alguém. —Que diabos você está fazendo? — Faith deixou cair à cerveja que estava segurando e correu em direção a eles. Empurrando-o para longe, seus olhos brilharam para Grace, cheios de aviso. Era o mesmo olhar que ela lhe dava quando criança quando Vovó estava de mau humor. Ela lidaria com isso. Ela era a irmã mais velha, mesmo que apenas por cinco minutos. Era o trabalho dela. Derrick cambaleou para trás um passo, metade do tempo que levou para ela enviar esse olhar de advertência. Recuperando o equilíbrio, ele apontou para Grace. —A puta da sua irmã precisa de uma lição para ficar em silêncio. —Ela é uma criança. — Faith disparou, cruzando os braços com tanta força que estava quase se abraçando. Era um leve indício de fraqueza, mas foi o suficiente. —Você é uma porra de criança, também. — A mão de Derrick atacou, batendo em sua bochecha. Quando ela tropeçou, ele agarrou seu braço e arrastou-a para mais perto. 57

—É isso aí. — Faith zombou dele, e Grace se encolheu contra o tapete horrorizada que ela se atreveu a confrontá-lo. —Eu sou sua boneca, lembra? Esse é o acordo. Bile subiu na garganta de Grace, e ela mal conseguiu segurar. Queimou como o álcool que tinha tomado aqui. —Então vamos brincar. — Em uma fração de segundo, ele jogou Faith na parede. Arrancando tudo ao redor dela, ele empurrou a saia para sua cintura e arrancou sua calcinha. —Eu acho que ela herdou a língua de você, e eu acho que ela precisa aprender o que acontece com meninas que não ficam quietas. —Derrick! — A voz estava alarmada, mas ela não fez nenhum esforço para fugir. —Não! Não agora. Não agora. Que porra é essa? Grace se apoiou em suas mãos e começou a levantar, mas Derrick foi mais rápido e notou. —Não se mexa, porra ou você ligará para sua avó ir para o hospital! Ambas precisam aprender uma lição. —Ele murmurou. Sua mão prensando entre as omoplatas de Faith. —Não! Ela não tinha certeza qual delas gritou, mas isso não importava. Grace estava de pé agora. —Eu lhe disse para não se mexer, porra! — Ele jogou Faith no chão, mas antes que pudesse alcançá-la, ele pegou Grace pela garganta. —Você quer pagar por seus próprios pecados? Lágrimas ardiam em seus olhos. Ela não conseguia acenar ou dizer que sim com os dedos cortando seu oxigênio, mas ela parou de lutar e isso foi o suficiente. Ele afrouxou o aperto sobre ela, mas não a soltou. Faith não se moveu do chão. Ela ficou lá em um monte de ossos e isso foi quando Grace percebeu que ela já estava drogada. As lágrimas caíam por suas bochechas enquanto o olhar vago de sua irmã bloqueava com o dela. Grace 58

sentiu a torção e a pressão do elástico em seu osso do quadril, mas estava tão distante quanto os olhos de Faith. Derrick cuspiu em sua mão e esfregou abaixo. Ela olhou para cima e abriu um diluvio dentro dela. —Por favor, não. —Grace choramingou, não era ela falando, mas era sua voz. Eram suas lágrimas em suas bochechas. —Assim não. —Fique quieta. —Ele sussurrou. —Ou eu vou transar com ela, também. —Não. — Faith não tinha ideia do que estava acontecendo. Talvez ela tenha ido para dormir com ele, mas Grace não podia simplesmente deixá-lo estuprá-la. Em vez disso, ela balançou a cabeça. —Foda-me, Derrick. Em seguida, ele empurrou violentamente. Grace flutuava, longe de si mesma, e viu enquanto seu próprio corpo arqueava para trás, suas mãos arranhando a parede. Ela engasgou por ar quando ele apertou sua bochecha contra a parede e prendeu-a lá. Dor torcia seu rosto, lembrando-a do momento. Ela era quem ele estava fodendo. Era seu corpo sendo dividido no meio por ele. Ela olhou para o chão e os olhos de Faith chamaram sua atenção. Eles eram tão parecidos com os seus olhos, mas eles estavam assistindo enquanto Grace sacudia e tremia. Faith olhava além dela, os olhos vagos como os de Grace. Isso foi o que sua irmã quis dizer por ser seu brinquedo. Nas mãos dele, ela não era nada mais do que uma boneca, Grace percebeu quando caiu como um trapo descartado quando ele terminou. Depois que ele saiu, Grace se arrastou até Faith e colocou os braços ao redor de seus ombros. Ficaram assim, sem falar, sem se mexer, até que ele reapareceu e jogou um pequeno saquinho a seus pés. —Não a traga de novo aqui. —Ele ordenou enquanto desaparecia na cozinha. Faith não se moveu até que o saco caiu a seus pés. Naquela noite, ela deu a Grace uma linha de cocaína para ajudá-la a esquecer de algo que Faith não conseguia lembrar e Grace nunca poderia perdoar.

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CAPÍTULO 7 A segunda à noite no bistrô é mais bem-sucedida do que o encontro de Amie. Ainda estamos preparando os pedidos finais, quando ela aparece em um vestido de noite. Ela já tirou seus saltos altos. —Chamaram-no mais cedo? — Eu pergunto, passando um prato para um dos garçons. —Isto. —Ela gesticula descontroladamente apontando para o seu próprio corpo. —É desperdício com ele. Desperdiçado. —Eu acho que você está gostosa. — Digo a ela, então eu pergunto para o pessoal da cozinha. —A chefe não está gostosa? Um coro de vaias responde, mas ela enruga o nariz. —Quer que eu assuma? —Não. — Eu a espanto com uma toalha. —Vá para casa, se troque, dispense a babá, e coma uma torta de queijo. Eu não me sinto mal por manda-la de volta para a nossa casa, porque Max já está dormindo por pelo menos uma hora. —Você teve um longo dia. —Então, guarde um pedaço de cheesecake para mim. — Eu provoco. Ela levanta um dedo. —Eu não sou santa, mas para você, vou tentar. Uma hora mais tarde, já estou com umas sobras de cheesecake embaladas. Eu não posso contar que ela não tenha comido tudo quando chegar em casa. Uma das vantagens de ter um restaurante é que sempre temos sobras. 60

Assim que chegar em casa eu colocarei um pijama e vegetarei no sofá. Eu estou fantasiando sobre esta noite quando eu o avisto na calçada: Jude andando em linha reta em direção ao Ninho do Corvo, um dos piores bares de Port Townsend. Eu acho que estou certa sobre ele depois de tudo. Eu devo continuar no meu caminho, mas não consigo. Mesmo enquanto viro o volante e derrapo no estacionamento vazio, eu não entendo como me sinto. Raiva pura no peito. É estranha, mas não desconhecida.

Traição. Será que eu realmente esqueci como é ser traída? Ou empurrei a emoção tão profundamente dentro de mim que não poderia me atingir? Mas Jude a trouxe para a superfície. Vê-lo aqui confirma todas as reservas que eu tinha sobre ele. Eu sabia que ele era má notícia desde o momento em que nos encontramos e eu não tinha errado. Como eu poderia, quando nossos caminhos se cruzavam? Mas talvez não tenha sido um acidente. Talvez ele ainda fosse pior do que eu originalmente suspeitei. Viciados são predadores. Eles farejam os fracos e feridos em volta, e atacam. Na natureza, eles fazem o serviço duro, eliminando os retardatários e a ameaça inerente que eles representam. Talvez seja o mesmo com as pessoas. Estamos todos sujeitos às leis de evolução. Mas com homens assim, homens que caçam, não é uma morte rápida. É lenta. Eles matam pouco a pouco, despojando cada peça até que tudo o que resta é o ar que você respira. Não é vida, viver com medo ou dor. Então, por que diabos eu saí do carro? Alguém está gritando na minha cabeça para voltar. Porque eu queria acreditar nele e estou chateada por não poder. Em vez disso eu atravesso a nuvem de fumaça de cigarro, ignorando as atenções dos homens soltando baforadas. Eu entro, focada no meu alvo. Ele está de costa para mim enquanto analisa o bar. Eu não pensei sobre o que dizer a ele. Eu não tenho nenhum direito sobre este homem e eu definitivamente não tenho nenhuma razão sã para 61

persegui-lo em um bar. E mesmo assim ainda me vejo indo em direção a ele. Pensamentos de ódio surgem na minha cabeça enquanto tento decidir sobre a minha linha de conduta. —Que porra é essa? — E tudo o que vem à tona. Provavelmente porque é a única coisa que realmente quero saber. Não é exatamente que eu precise de uma explicação, do por que ele escolheu vir aqui. É mais eu querendo entender o que estou sentindo. A verdade é que eu quero saber por que estou aqui. Jude se vira e olha para mim com uma expressão confusa. A que você tem quando acorda em um lugar estranho. Mas sua confusão não é o resultado de beber, porque muda rapidamente para aborrecimento. A linha de sua mandíbula aperta quando ele me diz. —Você me seguiu? —Não que isso seja da sua conta. — Totalmente era. —Mas não. Eu vi você enquanto eu estava indo para casa. —E então você me seguiu? — Ele cruza os braços; suas tatuagens esticando sobre seus bíceps definidos. —Eu... Eu... —Exatamente, luz de sol. — A dureza esvai de seu tom de voz, mas suas palavras continuam firmes. Frustração vira raiva. —Eu acho que me importava. Processe-me. E não me chame de raio de sol. Dou a volta, mas não dou um passo para a porta antes de sua mão agarrar meu pulso. —Sinto muito. —Ele diz suavemente. Seu pedido de desculpas me congela no local. Eu devo ir. Nós dois sabemos que não tenho o direito de estar aqui.

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Eu me viro de costas para ele, mas não afasto. —Não devíamos estar aqui. Desta vez eu sou a única certa. Primeira regra de ficar limpo é realmente ficar limpo, até o álcool estava fora dos limites. Jude sabe disso, e apesar de seu pedido de desculpas me parar, não posso ignorar a indiscrição. —Eu tenho que estar aqui, mas você não. Agora eu me afasto balançando a cabeça. —Dê-me uma boa razão. Ele faz uma pausa, como se considerando se quer responder. Uma ruga aparece entre os olhos enquanto ele se concentra. Será que ele está inventando uma história? Algo que vai apaziguar a minha curiosidade? A verdade é bastante simples. São apenas fatos. Mentiras demandam mais esforço. —Não se preocupe. —Eu estalo. Eu não conheço Jude tempo suficiente para saber que tipo de homem ele é, mas eu sei que tipo de homem eu esperava que ele fosse. Como de costume, a realidade é uma decepção. —Faith, me dê uma chance. —Você acha que eu não tento? — Ele é mais insensato do que eu pensava. —Eu dei a você mais chance do que já dei a alguém. A qualquer homem, pelo menos. Ondas de vergonha assolam meu rosto. Eu não conheço Jude Mercer e ele não me conhece. Fim da história. —Espere! — Ele me chama antes de eu alcançar a saída. —Você queria uma boa razão? Eu aceno, me preparando para qualquer desculpa que ele inventou. Mas em vez disso ele não fala, ele pega meus ombros e me vira em direção ao bar. Seus lábios sussurram em meu ouvido.

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—Aqui está a sua razão. Ela me ligou e eu vim convencê-la a sair. Eu não a vi quando entrei, mas agora eu não posso tirar meus olhos dela. Anne. Mas não Anne. Esta não é a mulher valente que se mantém inteira nas reuniões. O cabelo, a roupa, mesmo a ostensiva Louis Vuitton que ela carregava são os mesmos. Mas eu estou olhando para uma bêbada. Alguns copos vazios na frente dela. Mesmo à distância a mão treme enquanto ela leva o copo aos lábios. Lábios que ainda tinham restos de batom. Ela fez um esforço esta manhã, isso era óbvio pela sua aparência, mas seu dia tinha desmoronado e ela foi junto com ele. Seu cabelo cuidadosamente arrumado, está liso de um lado e crespo de outro. Se sua roupa tinha sido passada, eu não posso dizer agora. —Merda. — Não há muito mais o que dizer. —Eu dei a ela o meu número há algumas semanas. —Ele explica. Mas eu não ouço nada. Eu não tenho o número dele, e mesmo embasbacada com uma mulher arruinando a sua vida neste momento, eu fico com ciúmes. Outra prova de que eu sou uma pessoa terrível. —Então ela ligou para você? —Pergunto devagar, e ele veio. —Sim. — Ele suspira, parecendo aliviado que eu estou finalmente entendendo. —Eu não acho que deveríamos correr pelos bares para salvar as pessoas. — Saí da minha boca antes que eu possa engolir. Nojo surge em seu rosto, mas eu vejo. Jude fica tenso visivelmente, os ombros se erguem. Ele não olha para mim quando finalmente fala com os dentes cerrados. —Eu costumava pensar assim também. Então, eu não fui e eu não a salvei. Eu me arrependo todos os dias desde então. —Jude, eu...

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—Vá. —Ele ordena, sua voz áspera. —Eu não lhe pedi para estar aqui e eu com certeza não lhe pedi para me julgar. Ele não está poupando ninguém esta noite. Ele está caçando fantasmas. Talvez Anne chegue em casa com segurança, mas ele não pode consertá-la. Ele sabe disso. Eu sei disso. Eu devo ir. Em vez disso dou um passo em direção ao bar e espero ele me seguir. Hoje à noite ele não vai enfrentar seus demônios sozinho. Quando nos aproximamos de Anne, eu não sei o que dizer. Eu afasto as memórias que tentam vir à tona, memórias de bares, tempo perdido e coisas piores. Muito piores. Jude assume a liderança. Ela olha para cima enquanto coloca a mão em seu ombro, mas seu efeito consolador desaparece quando ela me vê. —Você ligou para ela. — Ela não consegue formar palavras e respirar, mas está claro o que ela quer dizer. —Eu posso ir. —Não. — Há uma finalidade no tom de Jude que não me atrevo a questionar. —Faith quer ter certeza de que você chegue em casa. —Casa? — Anne sussurra, pegando sua bebida. Eu considero afastá-la, mas provavelmente ela jogaria em minha cabeça. —Estou vivendo em um motel. Ele te disse isso? Ele te disse que meu marido não me deixou? Ele me chutou para fora. Minhas próprias filhas não estão autorizadas a me ver. Eu estou presa, apoiada em um canto. Eu subestimei Anne. Principalmente minha percepção dela e de como ela está, neste momento, estão em lados opostos da sua personalidade. Eu não estou falando com Anne, eu me lembro. Eu estou falando com a bebida e a feiura dentro dela. —Ele não me disse nada. — Mas a minha tentativa de acalmar cai por terra. —Então você está transando com ele? —Ela adivinha. —Cuidado. Você tem uma criança? Um marido? Foi assim que o meu me pegou. Ele me pegou

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traindo, mas ele não podia me deixar por isso. Ele disse a minhas filhas que eu tive uma recaída. Ele não podia lidar com a ideia de que eu só queria foder com alguém. —Eu não vou... Dormir com ele, e eu não sou casada. — O esclarecimento escorre de mim. Seus olhos estreitam, as pálpebras caídas sob os efeitos letárgicos do álcool. —Se você não é casada, porque não está transando com ele? —Vamos tirá-la daqui. — Jude interrompe antes que ela possa continuar sua linha de questionamento. Ele joga uma nota de cem dólares no balcão e empurra o copo vazio da mão dela. Precisa de nós dois para levantá-la. Até o momento que chegamos ao jipe, ela desmaiou. Eu me enfio no banco de trás, disparando um pedido de desculpas rápido para Amie por estar atrasada. Amie:

Não

se

preocupe.

O

homenzinho



estava

dormindo quando cheguei aqui. Agradeço e prometo estar em casa em breve, mas a culpa mexe comigo. Eu não estava lá para colocá-lo para dormir, ou dar um beijo de boa noite. Em vez disso estou aqui com duas pessoas que mal conheço. Posso ter errado sobre o porquê de Jude estar aqui, mas não posso negar que o homem tem as minhas prioridades seriamente fora de sua atenção. O hotel fica nos arredores da cidade, longe do bonito centro turístico. Assim como grande parte da cidade, ele está arruinado. Não há ruas de tijolo pitorescas apenas buracos arruinando o asfalto. A estrada leva diretamente para o centro de modo que os turistas não têm que ver a pobreza. Um sinal de néon vibra com a névoa nas janelas, a luz reflete no cabelo escuro de Jude. Anne pode se preocupar que eu vou julgá-la, se ela ainda se lembrar disso amanhã, mas se ela conhecesse os lugares que já estive e os chãos que já dormi, ela não se preocuparia. Depois de levá-la para dentro e trancar a porta, nós

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deixamos a chave com o gerente, que age como se isso fosse rotina. Eu acho que talvez seja. Quando chegamos ao jipe, ficamos na chuva, nevoeiro em volta de nós, e um esperando o outro falar. —Obrigado. — É sincero, mas eu não sei por que ele é grato a mim. Eu o acusei, questionei, e basicamente zombei da ideia de transar com ele, na cara dele. Eu não sei do que ele está me agradecendo. Eu não sei o que dizer, então dou de ombros. —Nada demais. E de alguma forma eu sei que não é verdade. Estar aqui é uma coisa muito importante. Eu não consigo ignorar as batidas do meu coração ou como, mesmo no meio da noite molhada, eu não estou com frio. —Agora, a questão que importa: — Ele é subitamente solene e eu prendo a respiração. —Preciso de uma ordem de restrição? —Você quer uma? — Eu deixo escapar, imediatamente horrorizada com a minha resposta e, em seguida, mais horrorizada com a implicação de sua pergunta. —Não. Não! Como eu disse, eu te vi indo para o bar e bem, e eu não sei por que eu parei na semana passada, mas estava chovendo e você apenas parecia com frio, então eu parei. —Faith! Estou brincando. —Ele sorri para confirmar isso. —Eu definitivamente não quero uma ordem de restrição. Eu poderia gostar se você me perseguisse. —Eu não estou perseguindo você! — Estou muito constrangida. —Relaxe. —Ele me aconselha, mas ele não pode impedir o riso em sua voz. —Eu vou parar de provocá-la agora. —Desculpe. — Coloco uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. —Eu não tenho muita experiência com provocação. 67

—Sem irmão mais velho? Irmã? —Não realmente. — Minha boca fica seca. É verdade, mas é a versão menos complicada. —Eu não posso acreditar que isso aconteceu. Tento mudar o tópico para longe de mim. Jude aceita minha sugestão, olhando de volta para o quarto onde a deixamos dormindo. —Talvez eu devesse ter procurado por garrafas ou drogas. —Ele brinca. — Eu provavelmente deveria ter ficado. Só não parecia certo. Eu não quero fazê-la ter mais problemas com o marido. —Isso soa como um dilema cavalheiresco: proteger sua virtude ou garantir sua segurança. —Eu digo, mas sua rotina de cavaleiro das trevas me impressiona mais do que eu gostaria de admitir. Um sorriso arrogante surge no canto de sua boca, mas ele evita minha descrição. —Quão bem você a conhece? —Anne e eu nunca realmente estivemos no mesmo mundo. Nossos mundos se encontram no NA. Eu pensei que ela tinha tudo resolvido, mas parece que ela errou muito. —Eu não quis desmerecer. Há muito tempo atrás eu decidi dar nome aos bois. Nunca ajuda fingir que você tem uma carta diferente da que realmente tem em sua mão. —Você tenta ativamente encontrar o pior nas pessoas? Isso é fodido, Faith. —Ele cospe meu nome para mim, virando como um insulto. Eu ponho minhas mãos em meus quadris e me recuso a ceder. —Você está certo. Eu não vejo o lado bom das pessoas. Eu não acredito que as pessoas são, basicamente, boas. —Por quê? A pergunta quase me derruba. 68

—Por quê você se importa? —Porque sim. Você não é tão fria como quer que as pessoas acreditem. Você é cautelosa, mas você se importa. —Você não sabe nada sobre mim. — Essa é a verdade. A garoa molha meu rosto. Gotículas amontoam na minha pele e cílios, lentamente fundindo com as gotas que rolam pelo meu rosto. Ele dá um passo para frente e não há nenhum lugar para ir, além da rua escura e a chuva caindo. Em vez disso me mantenho firme, mesmo quando ele se move perto o suficiente para que seu peito roce meus seios. Eu sinto o contato através da minha camisa, através do meu sutiã, através da minha própria pele, despertando sensações que eu tinha apagado da minha memória. —Eu sei que você pegou um estranho, que era muito estúpido para vestir um casaco, e o levou para casa. Eu sei que você vai vestir um avental e anotar pedidos, mesmo sendo desajeitada. E eu sei que seu garoto pensa que você pendurou a lua, e você não pode enganar crianças. —Suas palavras dançam em frente ao meu rosto, e seu corpo quente está tão perto do meu que eu posso senti-lo e não tem nada a ver com o calor úmido entre minhas pernas. —As crianças não sabem. —Sussurro. —Algum dia, quando Max descobrir os erros que eu cometi, ele não pensará muito bem de mim. Quando ele descobrir a verdade, ele vai me ver como eu realmente sou. —As crianças veem melhor do que ninguém. Elas não aprenderam a mentir para si mesmas. É um dom e uma maldição. Acredite em mim, eu amava meu pai, mas eu sabia que ele era um monstro. Ele não precisava dizer mais. Eu não preciso que ele compartilhe essas histórias. Ele carrega suas memórias como cicatrizes e agora que eu realmente o vi, eu não posso ignorar a verdade. Está em seus olhos, a parte que ele não pode esconder. No escuro, eles têm um tom azul-escuro e distante, preso em outro lugar e tempo. Mas eu o quero aqui comigo, me desafiando, me assustando, me emocionando, eu não penso. Eu apenas ajo. Passando os braços ao redor de seus ombros, eu inclino minha cabeça em direção a seu rosto e a tempestade. Eu lhe 69

ofereço os meus lábios e com eles uma escolha: ficar preso no passado ou encontrar o seu caminho para mim. Espero uma eternidade, e quando a boca finalmente encontra a minha, eu sei que minha vida nunca mais será a mesma. Jude se move temporariamente até eu abrir para ele e, em seguida, ele pega minha língua, meu corpo. Seus braços fortes me envolvem, eliminando o último espaço entre nós. Seu abraço é possessivo, mas eu não tento romper. Eu derreto sob sua proteção, mesmo com emoções conflitantes dentro de mim. Então minhas costas estão contra o jipe. Chuva encharca minha camisa fina e eu não me importo. Porque Jude está me beijando, e o que é um pouco de água, quando você já está se afogando. Suas mãos agarram meus quadris enquanto ele se afasta. —Como posso prender você? —Ele pergunta rispidamente. —Não estou indo a lugar nenhum. —Sim, você está. — Ele pressiona a testa na minha, e eu quero mais. Mais contato. Mais tempo. Mais dele. —Um dia você vai encontrar toda a alegria que é capaz de ter, e então você vai voar, raio de sol. Desta vez, eu gosto quando ele me chama de raio de sol como se eu pudesse ser o ponto brilhante que ele precisa em sua vida. —Eu mantenho meus pés no chão. —Eu o lembro. Isto permitir Jude me beijar é a coisa mais selvagem que tenho feito nos últimos anos. —Eu não sonho ou desejo. Não posso arriscar e eu não posso voar. —Então eu vou lhe dar asas.

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CAPÍTULO 8

Eu pulo duas semanas de reuniões e ignoro os telefonemas de Sondra e Stephanie, e de algumas outras pessoas que eu não me lembro de ter dado o meu número. Sem dúvida que a conversa no grupo é de que eu tive uma recaída, e eu tive, mas não de drogas ou bebida. Não, é o pior vício de todos. Ele. E eu ainda não tive um gosto dele desde aquela noite. Eu estaria mentindo se dissesse que não espero ele aparecer no restaurante, ou na minha porta da frente. Exceto que não. Porque ele não sabe onde eu moro. Ele não tem o meu número de telefone. Sua melhor aposta é o bistrô, mas talvez ele lamente o beijo tanto quanto eu. Ou talvez ele seja mais esperto do que eu. Ele me mandou embora naquele dia em sua casa e gostando ou não, eu sou a única que continua o encontrando. Porque, aparentemente, eu sou uma perseguidora louca. A verdade é uma merda. —Vá sair. — Amie me ordena por telefone. —E fazer o quê? — Me jogo de volta no sofá e olho para Max que está feliz brincando com Legos no chão. —É sábado! —E daí? Ela não responde porque desmascarei seu blefe. Nenhuma de nós tem qualquer ideia do que fazer em um sábado. Ela trabalha sempre e eu fico em casa e cuido da roupa e assisto televisão. Mas a roupa está pronta e a lista da Netflix está pequena, desde que assumi um voto de celibato. Eu mal vou ao supermercado. O mundo lá fora parece uma mina terrestre. Um passo errado e eu vou pousar nos braços de Jude Mercer. —Eu vou parar de comprar leite. —Ameaça Amie. —Você tem que sair. 71

—Eu levo Max à pré-escola. —Resposta errada! Vou ter que tomar medidas drásticas. —Traga-o. — Eu desligo antes que ela faça mais ameaças. Uma hora depois eu atinjo o nível mais baixo assistindo um filme feito para a TV. Um desses dramalhões terríveis em que uma mãe solteira se apaixona pelo esteticista de cães, ou algo assim, e eu não consigo desviar o olhar. Amie pode estar certa sobre sair da casa. Reunindo minha coragem, eu vou para o banheiro e encaro o espelho. Eu pareço pálida, mas isso é comum nesta época do ano. Mesmo se eu não tivesse me tornado uma eremita, isso seria o caso. —Pare de ser covarde. — Eu ordeno ao meu reflexo. Poucos minutos depois, estou penteada, perfumada e humana de novo. Não é exatamente um pacote emocionante, mas não vou ter vergonha de ser vista em público. Assim que visto um jeans novo, Max salta pelo quarto e pega a minha mão. Eu não posso fazê-lo parar e me dizer o que está errado, então eu o deixei me arrastar para a sala de estar. A porta da frente está aberta, e eu me ajoelho e começo a fazer sinais rapidamente.

Eu não quero que você abra a porta da frente, baby. Alguém bateu na porta e você não veio. Eu sinto muito. Eu nem sequer me preocupei em ver se tinha alguém lá ainda.

Mas mamãe disse para não abrir a porta. —Eu não permitiria que ele me deixasse entrar. — A porta de tela abafa a voz de Jude, mas não faz nada para reprimir a emoção que corre através de mim. Minha emoção é de curta duração quando levanto e percebo que eu nunca cheguei a abotoar minha calça. Virando de costas, fecho o zíper e o botão e conto até três. 72

Jude ainda está lá quando me viro. —Humm, eu sinto muito. — Corro para a porta e tento abri-la. —Ela emperra. —Outra coisa para consertar. — Ele se reclina no batente da porta, sua jaqueta cinza, aberta o suficiente para que eu possa ver a camiseta branca fina que ele está usando. —Posso entrar? —Claro. — Eu movo para trás e gesticulo para dentro. —Cuidado com os Legos, e não posso garantir que não haja bolachas no chão. Tento me lembrar do que uma mulher deve fazer quando um homem se aproxima, mas, infelizmente a última vez que eu tive um homem em minha casa... Bem, eu não posso fazer isso com Max em casa, mesmo se eu quisesse, e eu não quero com Jude. Ou talvez eu não devesse querer. Jude deve ter causado uma boa impressão no supermercado, no mês passado, porque Max o reconheceu imediatamente e aproveita o meu choque temporário para arrastá-lo para o seu quarto. Que é próximo ao meu quarto. A compreensão me abala e eu voo pelo corredor e fecho à porta do quarto antes que ele veja a calcinha indecente jogada no chão. Mas Jude está levando sua turnê muito a sério para notar minha calcinha atrevida. Quando Max finalmente termina de lhe mostrar todos os brinquedos que possui, eu estou respirando normalmente e tenho certeza de que eu não estou mais da cor de um tomate. Antes de Max poder continuar, Jude se inclina ao seu nível. —Eu preciso ajudar sua mãe com algo. Está tudo bem se eu trabalhar em seu carro? O olho de Max segue seus lábios e ele incha o peito, dando a Jude um aceno de permissão. O homem da casa me deu folga, parece. Cruzo os braços e espero. Eu posso lidar com o que quer que tenha trazido Jude Mercer à minha porta. Eu só precisava abotoar minha calça primeiro.

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—Eu estive preocupado com o seu carro. —Ele diz enquanto passa por mim e coloca a jaqueta no sofá. —Eu pensei que poderia dar uma olhada. Ver o que eu posso consertar. —Oh. — Eu procuro uma maneira educada de dizer para ele ir se foder, porque eu acho que não posso aguentar ficar mais cinco minutos olhando para ele de camisa apertada com sua tatuagem estúpida espreitando para fora da manga. Não sem saltar sobre ele de qualquer maneira. —Isso não é necessário. Eu conheço um cara... —Sim, eu. — Ele interrompe. —Olha, eu trouxe as minhas ferramentas.

Estou bem ciente disso. —Eu não preciso de ajuda. —Deixo escapar. —Você deixou isso muito claro. —Mas ele continua em direção à garagem. —Max e eu temos um acordo. —Mas o que... Ele me dá um sorriso que me faz esquecer minha objeção. —Você terá que falar com Max.

***

Eu não vou falar com Max. Em vez disso eu ando por um tempo. Então tento assistir ao filme novamente, mas eu decido que poderia enviar a mensagem errada, se Jude entra e me pega chorando com um filme de TV. Começo e abandono uma dúzia de atividades antes da hora de fazer o jantar. Água está fervendo no fogão quando Amie passa pela porta da frente. —O que é isso? — Eu olho o pacote dobrado no topo da sua bolsa, mas ela fecha a bolsa antes que eu possa investigar. 74

—Eu trouxe uma coisa. — Malícia cintila nos olhos dela enquanto estende o pacote para mim. —Mas primeiro me diga que ruído profano está emanando de nossa garagem. Procuro uma explicação que não resultará em ela correndo para cobiçar Jude, enquanto ele conserta o carro. —Controle de pragas. —O controle de pragas dirige um jipe amarelo, hein? Eu não sabia que tínhamos um problema de infestação. —Ela olha para a porta da frente. —Se parece tão ruim, talvez devêssemos dá uma olhada lá. —Não é necessário. — Não há nenhum ponto em mentir para ela. Amie é, e sempre foi, uma criatura distraída. —Vamos, eu estou fazendo macarrão com queijo para Max, e você tem um presente para mim. Ela me segue, seu nariz franzindo quando esvazio a caixa azul de macarrão em uma panela de água fervente. Os alimentos processados são uma abominação de acordo com ela. Como mãe de uma criança de quatro anos de idade, eu não detenho tais preconceitos. Uma vez zombei dos pacotes de iogurte individuais e suco em caixa. Agora eu entendo. Mas não tentei impedi-la quando ela puxou um pedaço de cheddar e começou a ralá-lo. Poucos minutos depois, ela está misturando um molho bechamel caseiro com molho de queijo. Pelo menos, Max está acostumado com a versão gourmet dos pratos. Quando ela começa a adicionar o queijo, ela se concentra em mim. —Então, sobre as pragas na garagem... — ela vai diminuindo, esperando eu preencher o vazio. —É realmente grande. —Eu digo com solenidade simulada. —Tinha que ser tratada. Ela balança o batedor para mim, salpicando metade da cozinha com queijo derretido.

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—Ei, nós não temos uma equipe de cozinha para limpar isso. — Eu roubo o batedor dela e jogo-o na panela. —Desembucha. —Ela exige. —Ou eu vou adicionar brócolis nisso. —Por que punir Max? — Me afasto dela para pegar o suco de maçã da geladeira. —Porque eu sei que você vai comer também e você odeia brócolis. O que é ridículo. Você é uma mulher adulta. —Ela faz uma pausa no meio da palestra e retorna ao seu molho. —Então é isso? — Eu me inclino contra o balcão e tento pegar seu olhar. —Você vai me punir com legumes? —Eu tenho de fazer alguma coisa. Esta situação é mais grave do que eu pensava. —Ela diz calmamente sem olhar para longe de seu molho, que para ser justa está chegando perto de ficar no ponto. —Que diabos isso significa? —Pegue a sacola. Eu franzo a testa, mas sua mudança de atitude enigmática e o pacote misterioso são muito tentadores para ignorar. Pegando a sacola, eu espreito para dentro e encontro uma caixa preta longa. —Você comprou para mim mais utensílios de cozinha de novo, os utensílios que eu compro no supermercado são bons. —Isso não é verdade. Aquelas coisas quebraram. Troquei pelo Le Creuset18 meses atrás. Isso é algo que você precisa ainda mais, especialmente agora que você tem um problema com pragas. Não perdi a forma sugestiva, que ela disse pragas. Ela sabe que não é um exterminador na garagem. Mas um presente é um presente, então eu tiro a

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Marca francesa famosa e cara de utensílios domésticos.

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tampa e grito. Um número de palavras passa pela minha cabeça enquanto olho. Grande. Roxo. Longo. Grosso. Mas, principalmente: consolo. —Você está brincando comigo? — Eu jogo a caixa sobre a mesa e me afasto como se fosse uma cobra. —Eu não preciso de um... Um... —Vibrador? —Ela oferece. —A aceitação é o primeiro passo, querida. Você precisa aceitar que sua vagina tem estado sem atividade por tanto tempo que os arqueólogos estão planejando escavar lá. —Isso não é verdade, nem de longe. — Eu não vou segurá-lo, mas não consigo parar de olhar para ele. É para ter uma forma real? Qual é o ponto, se é roxo? —Quando foi a última vez que você teve relações sexuais? —Ela pressiona. —O pai de Max? Eu hesito. É um assunto que não vem à tona. Sem sexo. Sexo surge o tempo todo. Isso é o que acontece quando sua companheira de quarto tem a libido de um menino de dezesseis anos de idade. O pai de Max. Nós não falamos sobre ele. Eu encerrei a conversa a primeira vez que ela surgiu e ela ficou longe do tópico desde então. —Sim, eu acho. É o máximo que estou disposta a compartilhar. —Você acha? — Aparentemente ainda é muito. —Se você não consegue lembrar é ainda pior do que eu pensava. Esta é uma emergência. —Ela abandona o molho e pega o vibrador, tentando empurrá-lo em minhas mãos. Depois de alguns minutos me perseguindo pela cozinha, tentando me mostrar as várias configurações, eu desisto. —Você vai parar? Eu prefiro um de verdade.

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—Você é assexuada19? É isso? —Ela me olha como se pudesse analisar onde eu estava errada. —Não, eu estou cansada, eu sou mãe e eu não tenho tempo para sexo. Se eu quisesse, eu tenho certeza... —Sim, eu aposto que o exterminador de pragas lá ficaria feliz em ajudar. —Ela diz secamente. — Exterminador de pragas? — A voz de barítono de Jude nos interrompe. Eu pulo, mas Amie entra em pânico e joga o vibrador para mim. Nunca tendo sido uma atleta, eu não consigo pegá-lo. Ele cai aos meus pés em toda a sua majestade roxa e rola alguns metros para o centro da cozinha. Jude vê tudo e de alguma forma mantém uma cara séria. —Eu troquei o motor. Agora você pode rolar livremente para baixo sua janela sem medo. Sem grandes reparos necessários. —Ele me informa como se não tivesse um pênis brilhante de plástico jogado no chão. —Eu lhe devo muito. — Eu empurro Amie para frente, pisando em torno dela enquanto ela apanha o brinquedo sexual. —Sobre isso… Eu fixo um sorriso enquanto meu coração começa a bater contra a minha caixa torácica. —Que tal um jantar? —Bem, você está com sorte. Amie preparou o famoso macarrão com queijo. —Eu mordo meu lábio, esperando que as coisas não cheguem mais longe. E esperando que cheguem. —Na verdade, eu quero levá-la para sair. —Você trabalhou. 19

Que não tem atração para pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto.

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—Então eu deveria escolher o jantar, e eu escolho o chinês. —OK! Comida chinesa sem sexo! —Eu explodo. Ele levanta uma sobrancelha, mas não demonstra nenhuma surpresa. —Combinado. Eu nunca misturo comida chinesa e sexo de qualquer maneira. Eu oro para um buraco abrir sob meus pés e me engolir. Em vez disso Max rompe pela cozinha e esbarra em Jude. Mas antes que eu possa me desculpar ou puxar Max, ele se envolve firmemente em torno das pernas de Jude. Max olha para cima e para ele. Apesar de toda a força de vontade que Jude demonstrou nos últimos minutos, ele não pode resistir em devolver o sorriso de adoração no rosto do meu filho. O nó que geralmente sinto em minha barriga perto deste homem enrola-se em torno do meu coração e aperta. Havia uma razão para eu recusar a primeira vez que ele se ofereceu para ajudar com o meu carro. Lembro-me disso agora, enquanto olho para a cena perigosa ocorrendo na minha frente. Eu escolhi acreditar que seria o suficiente para compensar a ausência do pai de Max. Neste momento eu sei que falhei. —Jantar. — Minha voz é tensa e Amie entra imediatamente em ação. —Eu cuido disso. Max e eu vamos sair esta noite. —Ela pega Max e vai para um armário, falando por cima do ombro. —Vocês dois vão em seguida. Eu realmente vou fazer isso? Eu não estou certa que mensagem enviará para Max, saindo com Jude. Mas Jude não me dá uma chance de voltar atrás. Ele se move em minha direção e coloca uma mão na parte inferior das minhas costas, e o contato ligeiro me envia de volta para aquela noite na chuva e o beijo proibido que nós compartilhamos. —Eu vou trazê-la para casa cedo. Pegue sua bolsa.

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Mesmo quando minha mente continua a listar todas as razões disto ser uma ideia horrível, meu corpo mudo para o piloto automático, fazendo exatamente o que ele diz. A sensação de formigamento irradia da ponta dos dedos, até meus braços e para meu pescoço. Excitação. Eu não posso negar a ansiedade crescendo dentro de mim, mesmo com meu cérebro tentando argumentar contra minhas ações. Mas eu não posso lutar contra meus sentimentos quando ele me toca, mesmo de forma tão inocente. Porque o gesto é tão protetor, tão seguro que eu não posso negar o meu desejo de ir com ele.

Desculpe querida, você está perdendo essa batalha . —Se importa se formos no meu carro? —Ele pergunta enquanto me leva para a porta da frente. —Não quer ser visto no meu? — Com toda a justiça, pode não ser uma sucata de metal, mas provavelmente está cheio de velhas batatas fritas e encartes de propaganda. Eu nem me lembro da última vez que me preocupei em limpá-lo. Ele abre a porta dando de ombros. —Eu já fui visto nele. Eu só achei que você poderia gostar de uma vez não ser quem dirige. Tal oferta simples, mas cheia de atenção. Eu estou sempre no controle, a responsável. Mesmo dividindo um monte de tarefas domésticas com Amie, é basicamente tentar encontrar tempo suficiente para cada uma de nós fazer as coisas. Ela tem o restaurante. Eu tenho um filho. Nós ajudamos uma a outra como uma questão de sobrevivência não de luxo. Não me lembro da última vez que entreguei o controle total do meu tempo para outra pessoa. —Isso seria bom. — Eu aceito lentamente. A visão de seu jipe amarelo me dá uma sensação esmagadora. Se ele me pressionasse contra ele agora, eu iria deixá-lo me beijar de novo? E o fato de que estou pensando nisso prova que eu o quero? Ele abre a porta do passageiro para mim e antes que eu possa pará-lo ele me levanta para o banco.

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Eu dou um gritinho enquanto meu coração pula, recordando a última vez que ele agarrou meus quadris. —Eu não sou tão baixinha! —Eu discordo. —Seus lábios curvam em um sorriso de molhar calcinha. No que eu me meti? Eu cruzo meus braços como se pudesse proteger o meu coração e balanço a cabeça. —Cheguei aqui muito bem na outra noite. —Você escalou como se fosse uma parede de rocha. — Ele fecha a porta e se inclina através da janela aberta. —Isto é um encontro, Faith. Goste ou não. O vibrador monstro pode ter lhe dado à impressão errada de minhas expectativas para a noite. —Isto não é um encontro! — Ele já está dando a volta no carro. Se ele me ouviu, ele não responde enquanto sobe no interior. Mas, enquanto muda a marcha do jipe, ele me dá um sorriso malicioso. —Querida, isto é um encontro.

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CAPÍTULO 9 Não precisamos ir muito longe para chegar ao restaurante, o que é bom porque Jude dirige como um louco. Ou ele tinha sido extremamente cuidadoso na noite em que pegou Anne no bar, ou eu estava preocupada demais para notar. Hoje à noite eu me vejo desejando realmente ter feito um testamento. Eu poderia precisar dele mais cedo ou mais tarde. Felizmente, os engenheiros de seu equipamento mortal foram atenciosos o suficiente para fazer todo o interior da gaiola gigante com locais para se segurar enquanto ele faz curvas. Envio uma prece silenciosa de agradecimento quando ele estaciona. Mas ainda estou colada ao meu assento quando ele se aproxima para me ajudar a descer. —Será que fui muito rápido? —Ele pergunta quando me viro para sair do banco do passageiro. —Não. — Eu olho para ele e me afasto. —Mas espere, eu jurei que beijaria o chão, se chegasse aqui com segurança. —Lá se vai minha chance de te dar uma carona. Da próxima vez eu vou deixar você dirigir. Estou muito preocupada pensando na próxima vez para responder, por isso eu me apresso em direção à porta. Ele me alcança, mas não sem esforço. Eu tenho que admitir que eu gostaria de ver o homem bufar. Ele parece ser bom em ação. Claro, ele parece ser bom o tempo todo. —Eu descobri que o Lucky Dragon é a melhor espelunca chinesa na cidade. — Jude abre a porta e espera eu entrar. —É também o único chinês na cidade. — A maioria das meninas não consideraria isto um primeiro encontro impressionante, mas eu estou sem prática.

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Alguns calendários desatualizados nas paredes e apesar das cabines da antiga cadeia de fast food que funcionava aqui, os proprietários penduraram umas bonitas lanternas de papel no teto. De certa forma, tem o seu próprio ar peculiar, completo com os aromas de molho de soja e óleo de fritura flutuando em nossa volta. Não é intimidante como seria um restaurante com várias estrelas, ou um jantar com os pais, então por que me sinto tão quente? Ninguém jamais ficou nervoso em um restaurante chinês antes. Sem perceber limpo as palmas das mãos no meu jeans, com medo de que ele poderia pegar minha mão e descobrir que estou suando. Jude se move em direção a uma mesa e eu entro em pânico. Murmurando uma desculpa sobre a necessidade de ir ao banheiro das senhoras, eu miro para a segurança do banheiro. Agora que a placa de mulheres promete uma zona de quarentena. Jude não virá aqui. Assim que eu fechei a porta, eu percebo que eventualmente, eu vou ter que sair. Procurando meu telefone na bolsa, eu chamo o meu contato de emergência, porque definitivamente estou em crise. Amie responde em um toque. —Um encontro não vai matá-la. Eu nunca disse que ela era boa com crises. No momento eu ignoro esse fato e foco na situação. —Ele foi em direção a uma mesa e eu não sabia se eu deveria esperar ele puxar minha cadeira. Obviamente, eu sou uma mulher capaz, que pode puxar sua própria maldita cadeira, mas é rude não o deixar fazer isso? E se ele nem tentar e eu ficar de pé ao lado dela parecendo uma vadia total? —Faith, literalmente nunca antes na história alguém pensou tanto em um encontro. — Eu posso sentir seu suspiro através do telefone. Ele realmente vibra através do alto-falante. —Isso foi útil.

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—Tire sua bunda do banheiro e volte para Jude antes que eu vá roubá-lo. —Ela me ordena. —Você está de babá. — Eu a lembro. —Onde há uma vontade... —Ela ameaça. —Sério, o capitão solicitou que você retorne ao seu assento. Pare de ser patética e saia do banheiro. Eu desligo apenas para que ela saiba que eu não achei engraçado. Algum dia, quando estivermos velhas e grisalhas ela vai fazer piadas enquanto tenho um enfarte. Eu provavelmente deveria discutir com ela sobre uma intervenção apropriada em crise. Faço uma pausa e olho para o espelho, o que só me lembra de que eu não coloquei uma gota de maquiagem hoje. Não dá muita confiança. Respirando fundo, eu me obrigo a abrir a porta. Jude está em uma cabine e eu deslizo tão rapidamente que quase caio do outro lado. Pelo menos a questão da cadeira está resolvida. —O que Amie disse? —Ele pergunta enquanto me dá um menu. Eu dedico toda a minha atenção para as especialidades do chef. —Não sei do que você está falando. —Você desapareceu pelo tempo de ler uma bíblia. Eu estava começando a me preocupar que você tinha fugido pela janela. Eu jogo o menu sobre a mesa. É provavelmente uma má ideia comer qualquer coisa com o meu estômago embrulhando em nós. Brincando com o meu canudo, dou de ombros. —Porque eu faria isso? —Porque eu praticamente sequestrei você. —Não, você não fez isso. — Eu ainda posso ser legal. Eu tenho a capacidade dentro de mim em algum lugar. 84

—Raio de sol, eu teria me divertido mais sob a mira de uma arma. A garçonete aparece e interrompe a nossa brincadeira, e eu faço o meu pedido de sempre: Frango com gergelim. Jude pede para um exército. Quando ela finalmente para de escrever, eu estou de boca aberta. —Eu amo comida chinesa. —Ele admite. —É difícil de encontrar por aqui. Dezenas de lugares com teriyaki20 e nenhum com galinha Kung Pao 21. Vou levar para casa as sobras e comer por uma semana. Instantaneamente eu imagino me enrolando no sofá e chupando um lo mein frio com ele. A visão me retorce. As coisas poderiam ser tão confortáveis com ele? Não até que eu encurrale as borboletas incansáveis que sinto desde o momento em que nos conhecemos. 22

—O que você ama, Faith? —Ele pergunta. Eu devo ser péssima para se conversar, se ele é forçado a me fazer perguntas importantes a toda hora. Ele pode ter me arrastado para sair esta noite, mas eu não posso mudar o fato de que eu estou aqui. —Música. — Eu começo e, em seguida, as respostas jorram de mim como se tivessem esperando por ele, chegar e fazer esta pergunta há anos. —E da chuva, especialmente quando está enevoado. Café de manhã, mas chá à noite. Amarelo. Cada tom dele. Gatos. —Gatos? — Ele repete. —Não cães? —Eu gosto de cachorros, mas eu amo gatos. Eles são tão maravilhosamente egoístas. Eles apenas ficam por ali e dormem, em seguida, exigem que você os atenda. Jude ri e tudo o que posso pensar é fazê-lo rir de novo. —Parece inveja. 20

Carne ou frango marinado no saquê e molho de soja. Frango marinado com castanha e gengibre. 22 Macarrão com legumes e molho de soja. 21

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—Eu tenho inveja. — Eu admito. —Quem não quer ser um gato de casa? —Não um gato de rua? —Já passei por isso. — Eu aceno para ele. —Vivendo de migalhas e recebendo caridade. Sim, já chega. —Talvez nem mesmo os gatos. — Sua mão está sobre a mesa e me pergunto se ele vai deslizá-la sobre a minha. Eu não tenho sentido as mãos de um homem desde a oitava série. —Eu acho que não. — Eu saboreio minha água vagamente consciente da música tocando em um velho aparelho de som na cozinha. A sala de jantar não está lotada. Todo mundo que entrou depois de nós pediu para viagem. —É a sua canção. — Jude fala quando percebo que estou cantarolando. —Aliás, você estava certo sobre as palavras. Olhei-as. —Eu sei. —Sério? — Eu jogo a embalagem do meu canudo amassado para ele e tento ignorar como isso rebate no peito dele. —Não é fácil para mim admitir quando estou errada. —O que você quer que eu diga? — Ele joga de volta para mim e ele caí no meu decote. Jude atira seus braços para o ar como se ele tivesse marcado um ponto. Eu o retiro e coloco de forma segura na minha frente. —Eu não sei. Talvez você pensasse assim, ou estivesse adivinhando. Dessa forma eu não teria que engolir sapo. —Eu poderia dizer isso, mas eu sabia que você estava errada. — Ele mal pode conter o riso agora e desta vez eu não quero ouvi-lo. Sr. Arrogante voltou em toda sua glória.

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—Você é um filho de uma cadela, arrogante. — Eu informo em um tom de voz perfeitamente agradável. Ele continua a rir enquanto pega seu telefone e começa a digitar alguma coisa. Um momento depois, ele entrega-o para mim. Deslizo pelas letras e descubro exatamente o que eu acabei de dizer para ele. —Você é terrível como vencedor. — Eu estendo o telefone para ele, mas ele balança a cabeça. —Continue lendo. Indo para o final, acho os créditos. Canção escrita por Jude Mercer. —Você perde assim. —Anunciou. —Eu nunca me importei, raio de sol. Estreitando os olhos na esperança de parecer irritada e não humilhada, eu me inclino contra a mesa. —Você poderia ter me dito que sabia. —Isso teria sido muito alarde. —Ele diz incisivamente. —E eu não queria parecer arrogante. —Como você queria parecer, então? Ele me dá um sorriso perverso. —Eu posso pensar em algumas maneiras. —Sem vergonha e arrogante. —Murmuro, mas eu estou muito feliz por ele não estar sentado ao meu lado agora. Há uma possibilidade muito real de que o olhar que ele me deu causou um colapso na minha calcinha. Só espero não ficar colada ao banco de vinil.

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—Eu prometo nunca corrigi-la novamente. — Ele acena um guardanapo de papel no ar. Eu não gosto dessa ideia. —Não! É melhor você me dizer quando estiver fazendo papel de tola. —Posso realmente lhe dizer quando você estiver fazendo papel de tola? —Ele pergunta. —Eu escolheria as palavras com mais cuidado. — Eu aconselho. Sem pensar começo a traçar as setas de metal presa a sua pulseira de couro desgastada. —Isso significa algo para você. —Como você sabe? —Golpe de sorte. —Admito. —Parece que você a usa muito. —Um amigo me deu quando eu estava me sentindo perdido. — Jude faz uma pausa e olha fixamente para a pulseira. —Será que ela lhe mostra o caminho? —Pergunto em voz baixa. —Não, isso me lembra de que eu escolho a minha própria direção. —Por que existem duas setas então? — As formas simples atravessam uma à outra, apontando em direções opostas. —Porque há sempre uma escolha, sobre qual caminho escolher. Eu entendo a importância deste sentimento, mesmo sem concordar exatamente. Alguns de nós não temos o luxo de escolhas. Mantenho o pensamento para mim mesma. No momento em que a comida é entregue, estou tranquila com a situação. Principalmente devido a encontrar a página da Wikipedia sobre Jude e uma lista de todas as músicas que ele compôs. Há um monte delas e eu as conheço todas de cor. Pelo menos, achava que sim. Deveria me envergonhar de passar um encontro inteiro citando as palavras de um homem para ele, em vez 88

disso, eu relaxo. Sabendo que essas músicas vieram dele, finalmente, nos dá algo em comum. E eu estou disposta a dividir. —Oh! — Murmuro esquecendo que tenho a boca cheia de rolinho de ovo. Eu engoli rapidamente. —Você escreveu Rainy Day girl?23 —Você realmente conhece todas as minhas canções. — Ele derruba um Rangum24 de caranguejo fresco no meu prato. Eu não me incomodo em reclamar. Se temos uma mesa inteira de comida eu poderia muito bem aproveitar. —Eu tenho certeza que sim. — Eu abro e quebro os pedaços muito crocantes. —Essa é a melhor parte. —Ele reclama enquanto os pega do meu prato e leva para sua boca. A boca dele. Lembro-me do beijo e me pergunto o que mais ele pode fazer com aqueles lábios. Eu percebo tarde demais que eu estou olhando. —Você canta? —Pergunto a primeira coisa que vem à minha cabeça. —Eu preciso, mas não é muito bom. —Ele me avisa. —Aposto que não é verdade. —Há uma razão para alguém ser pago para gravar as músicas, raio de sol. —Sobre esse apelido. — Eu digo. —Eu não consigo decidir se você está tirando sarro de mim. —Estava na primeira vez que eu disse isso, mas não mais. —Ele admite. —Mesmo? —Sim. Durante toda a semana estive ansioso para vê-la. Eu senti sua falta como o sol nestas últimas duas semanas de chuva, porque você se tornou minha luz. Tentei dar a você algum espaço, mas quando você sumiu por duas semanas 23 24

Menina do dia chuvoso. Salgadinho frito de caranguejo e requeijão.

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seguidas, eu não consegui ficar afastado. —Sua confissão paira no ar, me dói admitir que eu estivesse evitando-o. Então ele me dá uma escapatória. —Você provavelmente estava doente. —Eu não estava. Faz muito tempo desde que estive com um homem. —Eu poderia muito bem guardar meus sentimentos também. Eu não menciono que tem sido um tempo muito mais longo. —O pai de Max? —Ele adivinha. Eu hesito, não querendo lavar a roupa suja em um primeiro encontro. Jude sente minha apreensão e muda de assunto. Ele provavelmente não quer ouvir sobre o meu passado em um primeiro encontro também. —Então, você já pensou em implantes cocleares para Max? —É complicado. — Eu digo lentamente. Não tem como ele querer ouvir os quatro anos de pesquisa que fiz sobre o tema, assim eu vou para a história curta. —O seguro diz que é desnecessário e não tenho como conseguir o dinheiro. —Você gostaria que ele pudesse ouvir? — Seu interesse, sua seriedade irradia dele e, pela primeira vez em muito tempo, eu sei que ele está apenas perguntando. Jude quer ouvir não falar. Isso é um luxo que não tive da maioria das pessoas. —Eu acho. — Eu tenho que considerar. Ninguém nunca me perguntou exatamente isso. —Eu acho que todos nós queremos que nossos filhos sejam perfeitos. Você sabe o que eu quero dizer. Imperfeito. Apenas saudável e temos uma expectativa de que será assim. Levei um tempo para perceber que ele é saudável, e ele tem uma excelente escola que está trabalhando com ele em linguagem de sinais e leitura labial. Então, eu acho que adoraria ouvir sua voz ou cantar com ele, mas isso é apenas eu sendo egoísta. —Eu não acho que é egoísmo. — Ele estende a mão e pega a minha, entrelaçando os dedos. —Eu suspeito que você seja a pessoa menos egoísta que já conheci. 90

Eu começo a revirar os olhos, mas ele aperta minha mão. —Não se subestime. —É o costume. —Sussurro. —Então nós vamos ter que quebrar esse costume. — Ele faz parecer tão simples. Por que o mundo parece mais fácil com ele? Eu quero acreditar que ele está certo e não me vendendo uma bela mentira, mas a experiência me ensinou o contrário. —Eu não acho que seja como parar de roer as unhas. —Isso é mais difícil do que parece. — Seu polegar esfrega círculos na parte de trás da minha mão e eu mal posso processar o que ele está dizendo. —Assim é como vou impedi-la de se subestimar. Primeiro, eu vou me certificar que você saiba o quão incrível você é, todos os dias. Em seguida, em qualquer momento que você se diminuir eu vou chamar sua atenção, porque ninguém está autorizado a falar com você dessa maneira. Nem mesmo você, Raio de sol. —Isso é um compromisso muito sério. — Seu plano me deixa sem fôlego. Eu não sei de onde veio esse homem complicado e profundo como o oceano, mas ele está me puxando para baixo com suas promessas. —Estou falando sério sobre isso. Esse menino tem sorte de ter você, e eu sei que ele te adora. Qualquer um pode ver isso, mas talvez seja a hora de alguém cuidar de você. O ar ao redor é sugado pela sua oferta e eu quero engolir a energia em grandes respirações até que queime as minhas reservas. —Eu não tenho um bom histórico com cuidadores. —Nem eu. — A tristeza está de volta em seus olhos insondáveis e o desejo de envolver meu corpo nele para protegê-lo da dor é esmagador. —Nós não precisamos partilhar as nossas histórias tristes. Nós dois podemos preencher as lacunas. Mas é por isso que podemos cuidar um do outro, porque podemos ver o que está faltando. 91

Eu mordo meu lábio, dividida entre assentir ou puxar minha mão. Jude toma a decisão por mim. Ele abandona a minha mão e pega os biscoitos da sorte na beira da mesa. —Talvez estejamos cismando com isso. —Ele sugere, lançando-me um. —Será que vamos encontrar o sentido da vida aqui? — Eu arranco a embalagem de celofane, mas antes que possa quebrá-lo, Jude agarra a minha mão. —Há um método. —Ele explica. —Quebre. Eu quebro e espero o próximo passo. —Agora você retira a primeira metade e come enquanto lê o seu biscoito da sorte, em sua cabeça. Eu fico olhando para ele como se ele tivesse perdido o juízo. —Não achava que houvesse tantas etapas na criação deste biscoito. —Você quer que sua sorte se torne realidade? —Ele me desafia. —Depende. Eu tive algumas sortes terríveis. O canto dos seus lábios retorce, mas ele continua. —Então você come a outra metade e troca a sorte comigo para eu ler. —Algo mais? É bem trabalhoso, hein? —Eu provoco. Jude não responde. Ao contrário, ele abre seu biscoito e começa o ritual bizarro. Eu me apresso para continuar. Enquanto mastigo eu viro para ler minha sorte: Nós escrevemos nossas próprias histórias. Isso é mais um cartaz motivacional do que uma sorte, mas não é mau. Eu jogo a outra metade na minha boca e encontro o olhar com Jude. O problema 92

com esses biscoitos é que ele leva uma eternidade para quebrar, como isopor seco e eu quase sufoco quando começo a rir. Tudo sobre o momento é ridículo e doce. É perfeito. Trocamos os papeis com o outro e eu leio o dele. — Um pássaro na panela é melhor do que dois voando. Riso explode de mim. —Pior sorte sempre, né? — Ele se junta. —O seu é lindo. —Oh vamos lá. É brega. —Só se você deixar. Ele não me deixa dividir a conta, mas concorda que posso pagar o nosso próximo jantar. Vendo como ele embala as sobras, deixo a ideia de uma próxima vez afundar, e não posso negar que eu quero que haja uma próxima vez. Eu não deveria. É confuso, especialmente tendo em conta nossos passados que evitamos discutir. Duas pessoas podem realmente deixar seus erros para trás? Eu não posso decidir se quero, não se a lembrança me impede de estragar tudo novamente. Jude não me pressiona para conversar enquanto me leva para casa. Desta vez, ele dirige com cuidado, permitindo-me concentrar em meus pensamentos. Quando chegamos à minha casa, ele segue comigo até a porta. É um gesto antiquado, mas faz meu coração disparar. —Você é o único cara que já me acompanhou até a porta. —Digo a ele. —Isso é uma tragédia. — Ele enfia uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Seus dedos deslizam pelo meu rosto e traçam ao longo da minha mandíbula. Meus lábios abrem instintivamente. Jude se aproxima, seus lábios roçando minha orelha. 93

—Eu não vou te beijar novamente até você pedir. Como ele poderia ir de doce para totalmente irritante tão rapidamente? —Você vai esperar bastante. Eu tento ignorar o fato de que, ao tomar essa atitude, eu estarei esperando junto com ele. Atrapalho-me com a maçaneta atrás de mim, eu a agarro e espero que ele dê o primeiro passo. —Talvez eu faça você me beijar, Raio de sol. — Sua respiração faz cócegas no meu pescoço e sua boca está perto o suficiente para que eu saiba exatamente o que estou perdendo. —Então você vai esperar mais ainda. — Eu abro a porta e escorrego para dentro da casa. Se ele acha que vou pegar leve com ele, ele não sabe o que o espera. Eu quero acreditar em todas as suas promessas adocicadas, mas é melhor ele descobrir agora que eu sou uma pílula difícil de engolir.

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CAPÍTULO 10 Com o grupo Encontro rostos preocupados e abraços, sendo que ambos fazem-me sentir estranha. Não há como tranquilizar a todos que estou bem. Acho que é a tendência natural nesta situação. Uma pessoa desaparece e você pensa o pior, mas pela primeira vez em anos eu sinto que não estou pendurada na vida. Eu não estou sendo arrastada. Eu sou a única responsável. Eu nem sequer preciso da minha xícara de café. Stephanie me para antes que eu possa sentar. —Se você precisar falar... —Estou bem. Mas eu poderia muito bem ter falado em latim. —É importante que nós nos perdoemos e deixemos ir os nossos erros. —Anotado. — Eu me afasto dela e pego um lugar tão longe quanto possível de Jude. Não porque eu o estou evitando, mas sim porque eu quero realmente me concentrar. Ele me chama a atenção e dá uma piscadinha. Temos o nosso próprio segredinho. A vergonha e o medo que me atormentaram quando nos conhecemos está dando lugar à ansiedade de um novo afeto. Ninguém sabe sobre nós aqui, e isso parece um pouco safado e é incrível. —Eles estavam prestes a chamar o FBI. — Sondra me informa enquanto sentava na cadeira ao lado da minha. —As pessoas iriam verificar o restaurante e iriam para sua casa. —Tudo isso só porque não vim. Estava ocupada. Ela abre um tubo de reluzente brilho labial e passa sobre a boca. —Espero que ocupada queira dizer transando com ele.

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Seu olhar pisca para Jude, que está envolvido em uma conversa com Bob. Eu me forço a dar de ombros como se eu não tivesse ideia do que ela está falando. —Isso é o que eu pensava. — Ela me dá um sorriso de aprovação. O silêncio cai sobre o grupo quando Anne se levanta e limpa a garganta. Eu me pergunto quantos deles já ouviram falar que ela saiu dos trilhos. Confio que Jude não fez fofoca, mas havia muita gente naquele bar naquela noite. —Eu queria compartilhar que estive sóbria por uma semana. Há uma pausa antes de a sala irromper em aplausos. Sua cabeça cai, não exatamente escondendo seu sorriso triste, e ela levanta a mão. —Eu sei que é para ser uma realização, mas realmente não é quando eu joguei fora cinco anos de sobriedade. —É uma realização. —Sondra salta. —Querida, nós passamos por isso. Somos todos humanos. Um dia de cada vez. O problema é que é fácil levar um dia de cada vez no início. Parece produtivo vencer vinte e quatro horas, mas eventualmente você começa a manter o controle desses dias. Você constrói uma coleção, mas é realmente um castelo de cartas. Não demora muito para jogar esses dias no esquecimento. Sim, nós todos estivemos lá. Esse fato não é reconfortante, quando é o seu mundo que se desintegrou ao redor. —Eu estou dizendo a mim mesma que estou começando do início. Obviamente, não estou tão no controle quanto eu pensei que estava. —Ela admite. Anne torce suas mãos enquanto olha para Jude. —Eu também o coloquei em uma posição terrível, e eu sinto muito. Obrigado por me afastar daquela garrafa. Jude acena em reconhecimento do seu pedido de desculpas. —Não precisa se desculpar.

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—Não. —Ela o corrige. —Talvez você seja mais forte do que eu. Estou certa de que você é. Mas, forçá-lo a entrar em um bar foi terrível. Isso é prejudicial, você percebendo ou não. Sinto muito ter te magoado com minhas ações. É um dos passos. Ela realmente está começando de novo, mas me assusto quando ela se vira para mim. —O mesmo vale para você, Faith. Eu conheço um monte de pessoas aqui que pensam... Está explicado. Anne não foi a única a ser vista no bar naquela noite. Aparentemente, ao contrário de Jude, a minha presença não tinha sido entendida como ajuda. —Você tem que entender, querida. — Sondra diz baixinho: —Você não voltou para grupo. Jude foi o único aqui e seus lábios estavam selados. Porque ele está acima das fofocas mesquinhas de uma cidadezinha. Apesar das melhores intenções desta congregação de almas quebradas, as pessoas falam. —Eu realmente não me importo com o que as pessoas pensam. — Eu respondo ao pedido de desculpas de Anne. —Estou feliz por você estar fazendo o seu melhor, e eu estou orgulhosa de você. Considerando a última vez que eu a vi, que ela me acusou de estar transando com Jude, eu penso que isso nos coloca em um patamar mais elevado. Particularmente desde que seu pedido de desculpas me coloca na cena do crime com ele. Lá se vai o nosso segredinho. O resto da reunião segue a rotina habitual. Algumas pessoas compartilham e Stephanie escolhe outros. Quando eu cheguei aqui eu ouvi cada história, esperando que as palavras me curassem. Agora eu sei que viemos aqui porque precisamos lembrar-nos de nossos pecados. O que eles te ensinam sobre a história? Quando esquecemos o passado, estamos condenados a repeti-los. Este grupo não é para apoiar, é nossa penitência semanal. Nós vamos pagar pelo resto 97

de nossas vidas. Eu acho que é por isso que fica numa igreja. Alguns de nós vêm procurando garantias de que podemos mudar e encontrar absolvição para os outros seis dias da semana. Outros precisam chafurdar na culpa em um esforço para alimentar seu fanatismo. Nós não escapamos dos nossos vícios, eles simplesmente se tornam nossas religiões. —Posso falar com você? — Stephanie pergunta em um tom cortante. Puxo minha jaqueta enquanto a sigo no corredor escuro. Jude me lança um sorriso confuso. —Estamos sendo chamados ao escritório do diretor? —Pergunto. Apenas um deles ri. —Isso não é uma piada. Eu acho que não te preciso dizer como é perigoso começar a tirar as pessoas dos bancos de bares. —Raiva vibra dela. Rola de seu corpo. Ela está certa, essa é a outra razão pela qual eu desejava que Anne não tivesse dito nada. Uma coisa é atender uma chamada de telefone e outra totalmente diferente é, passear pelo próprio inferno. —Quando é que se tornou uma coisa boa a virar as costas para as pessoas que precisam de nós? — Jude corta-a. —Há limites. —Começa Stephanie. —Foda-se seus limites. — Ele não espera para ver sua reação. Mesmo sabendo que ela tem razão, não posso deixar de apreciar como ela se atrapalha a procura por uma resposta. Eu corro atrás dele e pego destravando seu jipe. —Este é um daqueles momentos em que sua moto realmente adicionaria um efeito dramático. —Eu o informo. Mas ele não está com vontade de rir agora.

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—Você concorda com ela? Eu escolho minhas palavras com cuidado. —Você não pode salvar a todos. —Então, não devemos tentar? —Ele ruge. Lá se vai o meu cuidado. —Não é isso. As pessoas têm de querer ajuda. Nós não podemos corrigilos pela força. —Anne queria ajuda. —Ele me interrompe. —E você vai ficar feliz em saber que eu saí do negócio de salvar pessoas há muito tempo. Cristo, eu pensei que você entenderia. —O que diabos isso quer dizer? — Eu estalo. —Não importa. — Ele sobe e acelera indo embora, me deixando para analisar suas palavras. Eu estou um pouco quebrada e olho em direção a faixa cinza no horizonte. Não há paz enquanto recito meu mantra na minha mente. Eu não consigo achar terra firme e Jude é uma tempestade eu tenho que enfrentar.

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CAPÍTULO 11 Anteriormente

A palavra viciada estava na cabeça de Grace muito antes que saísse de seus lábios. Ela nunca teve a intenção de policiar Faith, mas tornou-se impossível ignorar o seu comportamento. As transgressões eram suaves, no começo. Faith não voltava para seu quarto até o amanhecer, ou então se esquecia de mencionar que pegou vinte dólares da carteira de Grace. Era fácil perdoar as pequenas coisas. Quando Vovó não pagou uma parcela da hipoteca da casa porque sua conta bancária estava zerada, ela não tinha dúvidas que foi Faith. Grace suspeitava, e quando Faith não se preocupou em voltar para casa por quase uma semana, foi confirmado. A polícia foi chamada. Queixa foi apresentada. Foi o início de uma longa e infrutífera relação com os poderes constituídos. Eles não tinham problema em rotular Faith como uma viciada. A graduação veio e se foi, assim como Faith. Ela não se preocupou em comparecer, não que houvesse um diploma de qualquer maneira. Quando Grace voltou do pós-festa ela encontrou sua irmã em colapso na varanda da frente, o rosto inchado, com o dobro do seu tamanho e da cor do vestido de formatura de Grace. Na sala de espera do pronto socorro, Vovó pegou a mão de Grace e sentou-se em silêncio enquanto um médico relatava as lesões de sua irmã e as várias drogas em sua corrente sanguínea. —O que precisamos fazer? — A voz de Vovó cheia de cansaço e determinação. Ela tinha conseguido criar as filhas de sua filha e Grace sabia que nada iria impedi-la de fazer o trabalho até o fim. —Ela precisa ser internada em um hospital. — O médico não se preocupou em entregar esta notícia com empatia. Faith era simplesmente outra viciada ocupando o espaço de uma pessoa doente de verdade.

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Demorou alguns segundos para perceberem que ele quis dizer reabilitação. Pela primeira vez, ocorreu a Grace ter vergonha de compartilhar o rosto da irmã. Vovó não se incomodou em vacilar. —O que for preciso. —Seu seguro não vai cobrir isso. —Ele continuou enquanto folheava seu prontuário. —Mas posso conseguir uma cama. Ela realmente precisa ir hoje à noite. Nenhum deles perguntou como pagariam por isso. Grace nunca discutiu com Vovó. Era um fato. Família vinha em primeiro lugar. Vinha antes de taxas e custos. Mais tarde, quando Faith sentou-se com o rosto vermelho e inchado em seu quarto de hospital, e perguntou onde tinham encontrado dinheiro, elas mentiram. Seguro, elas disseram e ela acreditou. Mentiras eram sempre mais fáceis de engolir. Um ano depois, a pequena herança que seus pais tinham deixado tinha sido extinta. Desta vez Vovó hipotecou a casa, acrescentando Grace como uma das proprietárias no processo. —No caso de alguma coisa acontecer comigo. —Ela disse a sua neta. — Ainda há muitas parcelas da casa. Pouco a pouco o problema de Faith assentou, até que viciada deixou de ser uma palavra suja e apenas se tornou seu normal. Faith se foi. Um sábado de manhã, ela saiu e não voltou. Vovó estava desesperada, ligando para as delegacias de polícia. Eles ouviram no início, tomaram sua informação, e uma foto. Grace se perguntou se eles iriam distribuir por Seattle. Se isso chegaria até Ballard25, e as pessoas ligariam quando vissem

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Bairro na região central de Seattle.

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Grace, achando que tinham feito uma boa ação. Seria interminável entre a preocupação e a oração. Mas quando a polícia investigou mais, eles recuaram. Primeiro eles prometeram continuar a busca, mesmo depois que eles verificaram a folha corrida de Faith. Grace sabia. Eles não estavam à procura de sua irmã. Pelo o que eles sabiam, Faith iria encontrá-los. Eles disseram isso a ela pelas costas de sua avó. —Olha, nós provavelmente vamos encontrá-la em Pioneer Square ou perto do mar. — A detetive era gentil, mas não se preocupava em medir as palavras. —Você sabe se ela estava usando de novo? —Eu acho que sim. — Grace admitiu suavemente. — Isso não é culpa sua. Ela tem que ser a única a buscar ajuda. Você não pode forçá-la a ficar limpa. — Ela desapareceu com essa observação. Foi a última vez que a polícia veio com notícias sobre a irmã dela. As pessoas adoram dizer esse tipo de coisas, quando nenhuma notícia é boa, mas o que não querem é admitir é que não ter nenhuma notícia torce seu interior até que você se torne uma sombra. O reflexo de Grace a fez saltar. Ela era um lembrete nada sutil que Faith foi embora, deixando ela e Vovó. Talvez seja por isso que a mente de sua avó começou a ir. Ela se perdeu a procura de outra pessoa. Como muitas outras mães sofrendo o mesmo destino? No começo foi gradual. Pequenas coisas escorregavam da mente dela. Ela deixava as chaves na porta, ou esquecia que não usava óculos. Ela ia até a loja para comprar leite e voltava com pão. Grace tentou minimizar isso no começo. Em seguida, a coisas se tornaram graves. Um aniversário. Onde ela morava. Seu próprio nome. Ela fugiu como areia com a saída da maré. “Pequenos fragmentos de cada vez” até que a mente dela era suave e nova. Pedacinhos que voltavam como as ondas, fragmentos da vida que tinha antes. Nesses dias ela não gritava com Grace quando ela chegava em casa e ameaçava chamar a polícia. Nesses dias ela lembrava que ela era a neta 102

dela. E lembrava-se de Faith. Nunca durava muito tempo. A doença a levaria embora novamente pela manhã. Ou talvez tenha sido a dor que ela descobria a cada vez que ela se via em sua própria pele. Nesses dias ela chorava baixinho no quarto. Ela perguntaria a Grace o que tinha acontecido durante a semana, e Grace dizia que não tinha sido muito, não se preocupando em mencionar que na verdade tinha sido um mês. E então Grace iria encontrar-se novamente sozinha, cuidando de uma mulher que olhava para ela com paranoia. Ela finalmente desistiu e a colocou em uma casa de repouso em Península Kitsap26. Um lugar que ela podia pagar e não mais longe do que uma viagem de balsa. Ela visitava a cada fim de semana no começo. Vovó iria olhar para ela e finalmente sorrir. —Faith, você veio me ver. Sente-se, querida menina e me diga como está a escola. E Grace não a corrigia. Se ela tinha se esquecido dela, pelo menos, ela se lembrava de Faith. Ela tinha esquecido a dor no coração, que era mais do que Grace poderia ter a esperança de fazer.

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Cidadezinha próxima a Seattle.

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CAPÍTULO 12 Você não pode ajudar alguém que não quer ser ajudado. A reação de Jude no grupo me lembrou disso. É uma das primeiras verdades que qualquer grupo de apoio lhe ensina. Grupo de apoio ao câncer? A paciente não conseguirá se não tentar. De vício em jogo? Você não pode mantê-lo longe de um casino se ele quer estar lá. Às vezes você não pode mesmo se ele não quer. Al-Anon27? Para amigos e familiares de viciados? Pare de tentar! Eles quebram a cabeça com este fato. Porque tentar corrigir alguém é uma maneira infalível para se quebrar. Não, o verdadeiro truque é ficar forte, até que a pessoa perceba isso por si. Não é algo que você quer acreditar, se você se preocupa com um viciado. Quando você ama alguém, você quer ajudá-la, cuidá-la, apoiá-la. É por isso que a codependência é tão perigosa. Eu já vi isso em primeira mão, que é por isso que eu não podia ficar cegamente com Jude. Eu entendo o desejo de arrastar alguém em busca de ajuda. Ou longe da garrafa. Ou da agulha. Ou qualquer forma que você escolheu para a sua destruição. Eu também sei que não vai mudar nada. Mas meu ceticismo não faz com que seja mais fácil ficar longe de Jude. Digo a mim mesma que eu não posso arriscar me envolver com um homem que não lida com as realidades da dependência, porque pode significar que ele não tem um controle sobre sua própria sobriedade. —Talvez a gente precisasse de um pouco de distância. As coisas estavam indo rápido demais.

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É um programa de Doze Passos para familiares e amigos de alcoólicos.

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—Você foi a um encontro. — Amie não se preocupou em olhar por cima das cenouras que ela está cortando, para a preparação do jantar de hoje à noite. —Você vai estar pronta para um segundo encontro por volta dos cinquenta anos neste ritmo. —Você acha que eu quero ignorá-lo? — Nos últimos dias eu recusei suas chamadas. Ele tinha até ligado para o The World’s End para encomendar, então agora eu não podia atender ao telefone aqui também. —Eu não estou certa de que posso lidar com Jude, mas me sinto presa, quando eu não estou com ele. Eu me sinto como uma prisioneira. —Então eu poderia sugerir que você saísse para uma visita conjugal? Mais do que alguns dos cozinheiros estavam escutando neste momento. Eu abaixo a minha voz, mas não adianta numa cozinha abarrotada. —Você não acabou de salientar que fomos a apenas em encontro? —Você também me disse que derreteu como manteiga quando ele beijou você. —Ela me lembra, gesticulando com sua faca. —Isso soa como se ele valesse a pena o risco. Dou um passo para trás antes de ser vítima de homicídio. —Não foi só o beijo. Jude me faz sentir tantas emoções que eu não sentia há anos. Raiva. Tristeza. Vertigem. —Você se fechou para qualquer coisa que possa confundi-la. — A sábia Amie apareceu. —Você precisa se abrir para a possibilidade do amor. —Eu certamente estou aberta para ele. — Eu caio contra a parede da cozinha. —Esse é o problema.

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—Isso é um promissor começo. — Ela pisca para mim. Entregando os legumes à sua sous chef 28, ela enxuga as mãos no avental e inclina a cabeça em direção ao escritório. Eu a sigo e ela serve uma taça de vinho, eu pego uma xícara de café, e nós sentamos. Acabei de tomar um gole quando ela me bate com isso: —Você quer fazer sexo com ele? Eu engasgo com o café, pulverizando-o como se eu estivesse em uma comédia. Amie franze a testa enquanto cobre a taça. —É uma pergunta simples. Não morra. —Você o viu. — Eu limpo o café espalhado em minha parte superior, grata porque eu vesti preto hoje. —Claro, eu quero ter sexo com ele. Que mulher não gostaria de ter sexo com ele? —Lésbicas. Mulheres cegas. Esperemos que as mulheres casadas. —Ela conta as possibilidades em seus dedos. —A minoria. — Eu termino para ela. Não há como negar que Jude poderia ter qualquer mulher que ele quisesse. É um desperdício de tempo tentar saber o que ele vê em mim. Atração é engraçada assim, e embora eu seja mãe, eu gosto de pensar que pareço muito bem quando me lembro de escovar meu cabelo. A verdadeira questão é que meu corpo o quis antes. É um triste estado de coisas quando uma mulher adulta ainda derrete por um homem tatuado, com cabelo desarrumado e olhos com alma. Embora uma grande parte da atração inicial surgisse por causa da sua camiseta apertada. Eu o quis desde então. Desde que eu comecei a conhecê-lo, eu anseio por ele. Eu preciso saber como seu corpo vai se sentir contra o meu. —Então você vai para a cama com ele?

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Segundo chefe de cozinha.

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Gaguejo por uma resposta que não me faça soar como uma adolescente com tesão. —Humm, eu acho... Eventualmente. —Louvado seja o Senhor! — Ela pega seu telefone da mesa e começa a digitar furiosamente. —O que você está fazendo? — Eu tento roubar um vislumbre de seu telefone. —Assinando revistas de noivas. — Ela começa a cantarolar a marcha nupcial para dar ênfase. —Oh meu Deus! — Eu pego o telefone dela. —O que? Eu sou uma planejadora. —Então planeje isso. —Eu chamo sua atenção para a razão de ter confiado nela. —Nós não estamos nem mesmo falando um com o outro. —Ouça. — Amie abaixa seu telefone e me agarra pelos ombros. —Você é uma mulher confiante e forte, linda e que merece ser fodida muito duro por aquele pedaço sexy de homem. Vá para lá e pegue-o na cama. —Eu tenho um filho. — Eu a lembro. —E orgulho. —Que é exatamente por isso que você está indo. Nenhuma mulher que se preze iria deixar passar esta oportunidade. —E se ele não quiser? — Eu estou procurando desculpas agora. —Você só está sendo deliberadamente tapada agora. — Ela se levanta e estende suas mãos. —Você usou o vibrador, né? —Eu não vou responder a isso. — Mas eu permito que ela me force a levantar. Não vou admitir que me assustasse. —Eu tenho que pegar Max em uma hora. Isso realmente não me dá muito tempo.

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—Sua falta de ambição está me deixando muito orgulhosa. — Ela me dá um abraço. —Eu cuido de Max. Por favor, não volte para casa até que um de vocês precise de atenção médica. Sim, isso não vai acontecer. —Estarei em casa hoje à noite. —Venha para casa de manhã. Eu não me incomodo em corrigi-la. Amie me empurra para fora da porta, me desejando muitos orgasmos felizes, em voz alta o suficiente para que todo o restaurante vire em suas cadeiras para olhar para mim. Não há nada como sentir que você tem uma cidade inteira atrás de você, e algo ainda mais importante na sua frente. No momento em que eu chego à casa de Jude, eu perco meus nervos. Sentada no meu carro, eu olho para cima em sua casa e a evidência da disparidade entre nós. É incrível como todas as pequenas escolhas que fazemos resultam em vidas tão diferentes. Jude e eu compartilhamos as mesmas falhas trágicas: dependência, dependência excessiva. No entanto, ele vive no topo da colina e eu vivo na base. Nossos mundos nunca foram destinados a colidir. O dinheiro, Max; nada disso deveria me impedir de ir à sua porta então por que eu ainda estou sentada aqui? Um toque suave na janela do passageiro me assusta. Viro-me lentamente, ainda segurando meu peito, para enfrentar Jude. Ele está vindo de uma corrida. Suor brilha em seu cabelo escuro, e sua camisa se apega a seu peito e a superfície plana de seu abdômen. Ele faz um gesto para eu rolar a janela para baixo. Quando eu balanço a cabeça com um não, ele abre a porta. —Eu consertei, lembra? — Diz ele. Não foi por isso que não abaixei, mas isso me lembra de por que eu deveria. Jude se dá. Ele é altruísta com o seu tempo e atenção. Ele não se priva de 108

me ajudar, assim como ele não abandonou Anne naquele bar. Percebendo isso só cimenta o meu desejo de pular nele. —Então você está falando comigo de novo? —Ele pergunta. —Eu acho que sim. — Se para começo de conversa ele soubesse por que eu vim. Eu envolvo minhas mãos firmemente no volante, querendo saber se eu posso encontrar a fodona que eu costumava ser. —Venha para dentro. — Ele não espera para ver se eu vou segui-lo. Jude se arrasta em direção a casa, esticando os braços tentadores sobre sua cabeça e nas costas. Esta é a minha chance de correr. Eu desligo o motor ao invés disso, e me arrasto até a porta da frente. A primeira vez que entrei na sua casa eu estava apavorada. Hoje, encontro-me sem palavras, mas só porque eu estou procurando uma desculpa para estar aqui que não dissolva cada grama de dignidade que possuo. Eu quase posso ouvir Amie me ensinando agora. Jude vagueia na cozinha e pega uma garrafa de água do refrigerador. Ele oferece uma para mim, mas eu balanço minha cabeça. Corro os dedos sobre o balcão de granito enquanto ele toma toda a garrafa. Ele se parece com uma estátua, com a cabeça inclinada para trás e seu corpo à mostra. A única prova que ele não é um pedaço esculpido de arte é o deslizar rápido de sua garganta enquanto ele engole. Quando ele termina, ele joga a garrafa em uma lixeira e se vira para mim. —Será que estamos realmente falando? Porque você está muito quieta, Raio de sol. —Sim. —Digo muito rapidamente. —Quer dizer, estamos ou estaremos. —Você evitou minhas chamadas. — Ele fala casualmente, mas seus olhos estão feridos.

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Minha distância o machucou, mas ele precisa entender, por que às vezes é necessário. —Eu não vim falar disso, mas não podemos seguir em frente se eu fingir o contrário. Eu acho que é difícil para alguns de nós aceitarmos o otimismo. Temos que nos treinar para sermos realistas. —... Ou cínicos. —Ele oferece. —Talvez. —Eu admito. Isto não está indo como eu planejei. —Mas pessoalmente, eu aprendi da maneira mais difícil, que muita esperança pode cegá-lo para os fatos. Ele se aproxima. —Muito pouco pode ser um lugar solitário. Estamos falando de Anne ou de nós? Eu não tenho a coragem de perguntar. —Às vezes não acho que eu sou mais capaz de ter fé. —Sim, você é. — Ele elimina o espaço entre nós. — Você é Faith29. Mas eu não sou. Eu nunca fui. Meu nome é uma mentira. Eu não sou mais capaz de acreditar no meu futuro, do que sou de esquecer o meu passado. —Eu não sou. — Eu digo. —Eu queria poder ser. —Deixe-me ajudá-la. — Sua mão envolve minha bochecha e eu acaricio a palma da mão quente. —Eu vou ter fé em você até que você possa encontrá-la novamente. Fui ensinada que ninguém pode corrigi-lo e tenho evitado deixar qualquer um tentar, mas não posso negar que eu quero Jude e tudo o que ele me oferece. Eu quero que ele acredite em mim para que eu possa ter a força de acreditar em nós.

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Trocadilho com seu nome que quer dizer fé.

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—Você vai me deixar entrar? —Ele pergunta. Eu respondo com meus lábios, esmagando a boca na dele. Não é o beijo dolorido, faminto que imaginei quando dirigi para cá. É melhor. As mãos de Jude deslizam do meu rosto e enroscam no meu cabelo, e me agarro a ele. Nós não lutamos para nos aproximarmos mais, mas nossos corpos mudam à medida que o beijo se aprofunda até que eu moldo meu corpo contra o dele. Eu me encaixo lá, minhas curvas suavizando em sua dureza. Nós somos feitos um para o outro. O pensamento fugaz não pode me assustar, neste momento, porque com ele aqui, eu não tenho nenhuma dúvida de que isso é certo. Jude se afasta, nos deixando sem fôlego. —Você tem certeza disso? Eu respondo com outro beijo, murmurando sim contra sua boca. Ele não precisa de mais incentivo, enquanto me levanta do chão e me leva pela casa. Eu não sei para onde estamos indo e eu não me importo. Quando Jude me deposita em uma cama, eu percebo que devemos estar em seu quarto. Raios de luz filtram pelas janelas eu não posso ver porque eu só tenho olhos para ele. —Eu estive esperando você me beijar de novo, Raio de sol. —Ele diz enquanto começa a se despir. Ele puxa a camiseta molhada de seu corpo. A timidez toma conta de mim, mas eu não viro as costas quando ele se revela. Eu não quero. Isso não é novidade. Esta não é minha primeira vez vendo um homem se despir, mas com Jude tudo parece como se fosse à primeira vez. Ele é ainda mais perfeito do que eu tinha imaginado. A tatuagem que eu tinha visto espreitando da sua manga sobe em espiral por cima do ombro e no peito. Quero perguntarlhe o que significa. Eu quero perguntar-lhe tudo sobre si mesmo, mas mordo meus lábios em vez disso. Meus olhos bloqueiam nos seus quando ele empurra a calça para o chão. Jude cai em cima da cama, arrastando-se sobre mim.

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—Você me tem em desvantagem. — Ele diz rispidamente. Seus lábios movem pelo meu pescoço enquanto ele prende a bainha da minha camisa e lentamente a levanta. Ele tira de mim, mas apenas para puxar pela minha cabeça. As mãos dele escorregam pelas minhas costas e solta o meu sutiã, liberando meus seios. Em poucos minutos... Estou tão exposta para ele quanto ele está para mim, mas eu não sinto vergonha, ou nervosismo. As faíscas onde nos tocamos viram chamas. Fogo constrói lentamente dentro da minha barriga... Até que serpenteia através de minha pele. Quero minha pele tocando a sua em todos os lugares. Eu quero queimar viva. Jude parece pensar o mesmo que eu. A mão nas minhas costas me ergue contra ele e meu corpo arqueia dando as boas-vindas. — Eu tenho imaginado isto desde o momento em que nos conhecemos. — Ele diz em voz baixa, e agora eu sei que ele poderia me ter a qualquer momento. O fato de que ele esperou, que ele me perseguiu, me excita como nada jamais excitou antes, porque sei que não é um simples romance. Isso não é apenas sexo. Isto é real e eu não posso ter medo disso com ele. Sua boca trilha um caminho até o vale entre meus seios. —Quero saborear você.

Ah, meu Deus, quero também. Meu desejo triplica quando ele continua seu progresso até meu umbigo, depois até o vinco entre as minhas coxas. Ele se move entre minhas pernas, e seus lábios mergulham em mim. O calor da sua respiração enviando ondas pela pele sensível. Não me lembro da última vez que estive com um homem assim. Não me lembro da última vez que eu quis um homem assim. Minha cabeça afunda para trás e eu agarro os lençóis quando ele começa seu ataque lento. A língua dele sonda habilmente entre o vinco do meu sexo.

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Agora eu sei que eu irei querer isso todos os dias. Eu irei querer a ele todos os dias. Esse é o problema com uma personalidade viciada, eu acho. Busco a parte de trás da sua cabeça e enrosco o cabelo dele firmemente, segurando enquanto ele me encaminha em direção a uma liberação que me neguei até agora. Como pude pensar que eu poderia viver sem isso? Estou viva. Os franceses chamam o orgasmo de pequena morte, mas eu discordo. É uma vida. Ele está respirando isso para mim, me dando sua essência. Quando eu me despedaço em sua língua, estou tão cheia de sua alma que eu tremo sem parar. Eu ainda estou tremendo quando ele rasteja pelo meu corpo e desliza seus braços na minha cintura. — Ainda tem certeza, raio de sol? — Ele murmura. Desta vez, eu só posso concordar. Meu corpo ainda está tendo espasmos dos efeitos do orgasmo especial. Ele se estica para a mesa de cabeceira e eu ouço o rasgar de papel alumínio. —Eu estou tomando a pílula. —Eu sussurro. —E eu não tenho... Desde antes de Max... Eu deixo-o preencher os espaços em branco. Rubor surge no meu rosto enquanto eu compartilho isso, mas Jude beija o meu constrangimento. —Eu estou limpo. —Ele me tranquiliza. Eu mordo meu lábio quando ele rola o preservativo. Eu tinha estado muito preocupada enquanto ele se despia anteriormente, e um pouco envergonhada de olhar para baixo quando ele tirou a calça, mas agora, quando o senti empurrando contra a minha entrada eu me preparei. Jude espera, parando e me permitindo ajustar enquanto, ele lentamente desliza para dentro de mim. Eu estico e ele preenche. Eu tomo e ele dá. Outro pequeno clímax rola através de mim quando ele chega ao fundo. É uma pequena réplica do que ele me deu e um gostinho do que está por vir. 113

—É isso mesmo, Raio de sol. —Ele me persuade enquanto começa a balançar seu corpo contra o meu. —Eu vou te dar o que você precisa. Vou mantêla segura. Deixe-me cuidar de você. Meu corpo amolece, esmagado pelas sensações e emoções que se aglomeram no meu âmago, mas ele me segura firme. —Oh Deus! Sim, Jude. — O grito estrangulado salta de meus lábios, vindo de um lugar que eu tinha trancado. Aqui com ele eu encontro às partes de mim que desapareceram. Ele me faz inteira e enquanto ele gentilmente empurra dentro de mim, eu sei que nada será o mesmo depois de hoje. Nada será o mesmo depois de Jude Mercer e com essa percepção, eu quebro e me reconstruo em torno dele.

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CAPÍTULO 13 Jude se infiltra em meus sonhos e eu acordo enrolada nos lençóis e úmida de suor. Minhas pálpebras abrem com o brilho suave da manhã vazando pelas janelas. Eu viro e enterro meu rosto no travesseiro, tentando separar o que é real e o que veio da minha mente inconsciente. Lembro-me de seus lábios, suas mãos na minha pele. Desejo aperta em toda a minha barriga e eu agarro o travesseiro. É de manhã. Mexo-me procurando por um relógio. Meu telefone está na mesa de cabeceira e eu o agarro. Amie responde após dois toques. —Estou tão orgulhosa de você, porra! —Diz ela imediatamente. — Detalhes! Preciso de detalhes! Ele foi incrível? Ele é grande? Ele monta você igual a motocicleta que ele deve ter, em vez do jipe? Eu não me incomodo de lhe dizer que ele tem uma motocicleta. Há coisas mais importantes para se preocupar. —Sinto muito. —Eu digo, ignorando tudo o que ela acabou de dizer para mim. —Eu estou indo para casa agora. —Espere, eu disse para você ficar fora a noite toda. — Amie me lembra. —Sim, mas eu disse que não ia. Max está chateado? —Max está na pré-escola. Fiz-lhe panquecas esta manhã e disse a ele que a mamãe estava dormindo. Não me lembro de ter dormido tanto nem uma vez nos últimos cinco anos. —E ele caiu nessa? —Sim, ele também mencionou que achava que mamãe deveria dormir mais vezes, mas isso pode ter sido porque eu fiz panquecas de chocolate. 115

—Você o mima muito. —Eu digo, mas alívio me enche. Max está bem, o mundo não acabou, e eu só tive a melhor noite da minha vida. —Bem, alguém tem que mimá-lo. Sua mãe safada estava fora à noite toda. —Brinca Amie. —Lá se vai ser orgulhosa de mim. Eu vou fingir que você não disse isso. É melhor eu ir. Eu preciso descobrir onde Jude está. —Quer dizer que ele não está deitado nu ao seu lado? — Eu posso ver seu biquinho através da linha de telefone. —Você está arruinando a minha visão. —Eu estou nua. —Eu admito. —Eu já vi você nua. —Ela diz com um suspiro. —E parece que Jude está fora do mercado. —Ele talvez esteja. — É bom dizer isso. —Ele me deixou dormir. —Eu acho que você é a única mimada. —Diz Amie. —Primeiro Max quer deixá-la dormir, e agora Jude. Todos esses homens tomando conta de você. Você realmente deve compartilhar. Não há nada que eu queira mais no mundo de que Amie encontre o cara certo. Uma leve culpa aperta o meu peito. —Uh, uh. —Ela diz como se estivesse lendo minha mente. —Eu realmente deveria falar algo melhor do que fazer piada agora. Você não está autorizada a se sentir mal hoje. Vá encontrar Jude e não venha trabalhar até que você tenha pelo menos mais três orgasmos. —Isso pode ser assédio sexual, chefe. —Eu vou me certificar de colocar o RH atrás dele. Agora, vai, se joga! Mas lembre-se, eu espero detalhes esta noite. Se você puder encontrar uma fita métrica, sinta-se livre para voltar com especificações.

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Eu desligo antes que ela me peça para começar a tirar selfies escondidas com ele. Sem Jude aqui para me distrair eu posso apreciar o luxo de seu quarto. Eu estava ciente ontem à noite que estávamos em uma cama king Califórnia, só porque havia um monte de espaço, e usamos cada centímetro dela. É preciso um grande esforço para me tirar dos lençóis luxuosos. Quando eu fico de pé meus joelhos ainda estão um pouco instáveis. Sigo até as janelas e aprecio a vista espetacular. De um lado, a floresta invade. Abetos Douglas passando pela janela. É como estar em uma casa na árvore de cinco estrelas. Do outro lado, eu pego uma ampla vista para o oceano. É o mesmo em sua sala de estar, mas parece mais íntimo como se ele tivesse engarrafado a perfeição. Ao todo, o espaço tem o efeito de me fazer sentir como se estivesse no paraíso. O mundo fora da casa deixa de existir. A única coisa que posso pensar é no homem e nas memórias que ele me deu na noite passada. Minhas roupas estão espalhadas pelo chão, mas não estou pronta para começar a me vestir ainda, não enquanto eu tenho metade de um dia de folga. Não que isso vá custar a Jude tanto tempo para atender a demanda de Amie. Eu puxo o lençol para fora da cama e me enrolo nele. Fora de seu quarto vejo um corredor estreito. Eu nem me lembro de ter passado por ele na noite passada, mas eu não estava nenhum pouco preocupada. Eu espio pelas portas para ver quartos e banheiros de hóspedes, até o corredor se abrir para uma arejada sala de estar e cozinha. Jude está no cavalete, que é a única coisa bloqueando sua nudez da janela que vai do chão ao teto. Eu faço uma pausa e admiro as costas tonificadas e suas panturrilhas. Não consigo ver o que ele está pintando, mas admiro sua técnica e a curva da sua bunda. Seus músculos tensos deslizam o pincel por toda a tela. Ocasionalmente eu vislumbro uma cor. Ele sabe exatamente o que está fazendo. Não há nenhuma hesitação enquanto ele trabalha. Mas seu corpo em exibição, preso na luz solar, é a verdadeira obra de arte.

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—Deixei fruta fresca no balcão e um café. — Ele fala, não se incomodando em virar. — Eu acho que o açúcar no seu sangue pode estar um pouco baixo. Nós realmente nem tivemos um jantar.

Mas Deus, já tive a sobremesa. Na bancada da cozinha eu pulo em um banco de bar e descubro uma tigela com abacaxi, uvas, morangos, que ele obviamente cortou. O café em uma caneca de aço inoxidável. Quando eu abro o topo, o vapor sai como fumaça. Aparentemente, Jude pensa em tudo. Depois de ontem já deveria saber disso. Furo um morango com meu garfo. —Que horas são? Eu mesmo não me importei em verificar o meu telefone. Eu tinha ligado para Amie em pânico e tinha outras coisas em minha mente quando eu desliguei. —Por volta das 09h30min. —Oh, meu Deus, acho que não durmo tanto assim desde a adolescência. —Bem, você não dormiu a noite toda. —Eu detecto um tom arrogante, Sr. Mercer? — Mexo ao redor da tigela, meu apetite mudando para borboletas no meu estômago. — Eu tenho que admitir, estou bastante satisfeito comigo mesmo. Eu estou muito satisfeita com ele também. Agora posso ver sua tela. Hoje está cheia de traços violentos de azul e cinza, com borrões de amarelo. — Você sempre pinta o oceano? — Pergunto. — Eu ainda não cansei disso. Acho que nunca vou.

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Eu entendo exatamente o que ele quer dizer. É como me sinto sobre isso. Ele continua a pintar enquanto termino meu café da manhã, maravilhando-me de que me sinto tão em casa aqui. Uma garota provavelmente não deve instalar-se após a primeira vez que ela dorme com um cara, mas Jude saiu do seu caminho para me fazer sentir bem-vinda. Além disso, não posso negar o tamborilar das batidas frenéticas do meu peito enquanto olho para ele. Quando eu termino, eu coloco minha tigela na pia, em seguida, caminho em direção à porta de correr que leva para a varanda. Eu paro e espero Jude reconhecer que estou mais perto. Não quero que ele pare de pintar, mas Deus eu quero que ele me toque. Os olhos dele deixam a tela e me admiram lentamente. — De repente eu estou achando a vista mais inspiradora. Um antigo atrevimento toma conta de mim, e largo o lençol. Seu pomo de Adão balança enquanto ele engole. — Agora está muito mais inspiradora. Eu lambo meu lábio inferior, lembrando o gosto dele e viro minha atenção de volta para a água. O oceano não esconde sua força hoje. Espuma branca vinda com a maré rola e a água explode contra a margem do rio. O mar nunca deixa de me acalmar, mas hoje parece entender que não quero ser acalmada. Eu quero ser devastada. Está tão cru, poderoso e faminto... Como eu me sinto. Sem pensar, abro a porta e saio para a varanda. O ar da primavera atinge meu corpo nu, mas não me importo. Estou livre. O rugido da água preenche meu sangue, é revigorante e me espreguiço. O vento bate na minha pele e respiro o cheiro de sal. É melhor do que qualquer droga que já experimentei. Jude vem atrás de mim. Sua proximidade traz uma inebriante adrenalina. Envolvendo os braços na minha cintura, ele me puxa contra ele. Manchando de tinta minha barriga nua. Eu quero ser sua tela. —Você não está com frio? — Ele pergunta. —Não com você por perto. 119

Minhas palavras são um convite, e ele aceita. Girando-me lentamente, nossas bocas se encontram, e embora eu o queira, este beijo é mais que suficiente. Ainda assim, não posso negar o efeito que ele tem no meu corpo, e depois de alguns momentos eu me afasto. Dando a volta eu apoio sobre o parapeito da varanda. Olho por cima do meu ombro. Neste momento nada pode me tocar além dele. Ele parece sentir isso, aproximando-se e segurando meus quadris. — Você é a coisa mais linda que já vi. — Suas palavras me atravessam enquanto sua mão desliza para baixo entre minhas pernas. Já estou pronta para ele e minhas pernas abrem instintivamente. — Você me quer, Faith? — Sim. — Eu sussurro a verdade contra o vento, mas ele ouve. Seu dedo começa a se mover em um círculo contínuo enquanto ele guia a cabeça do seu pau suavemente pela minha abertura inchada. Eu me abro como uma flor, recebendo-o enquanto ele me alarga. É uma sensação deliciosa ser preenchida por um homem como este. Ele poderia pedir qualquer coisa de mim neste momento e eu concederia a ele. — Eu quero te ouvir, raio de sol. Isso é definitivamente um desejo que eu estou disposta a conceder. Eu agarro o corrimão e seguro firme quando ele começa a se mover. Golpe após golpe, ele cria a cena. O oceano diante de mim continua a atacar violentamente. No horizonte distante nuvens cinza preveem chuva. O mundo inteiro está em convulsão, assim como o choque de emoções esmagadoras em meu coração. Jude está à minha volta, tempestade em meu futuro, e eu não consigo encontrar nenhum temor dentro de mim. Ele está me puxando para baixo e eu estou morrendo de vontade de me afogar. Seus dedos beliscam e amassam enquanto ele continua a conduzir profundamente dentro de mim. Na superfície eu estou no controle. Estou segurando as pontas, mas por baixo, estou agitada. Prazer constrói no meu âmago, rolando em silêncio, enquanto eu ganho força, e então eu chego aí topo, meus gritos escapando dos meus lábios como o rugido do oceano abaixo. Jude se inclina, beijando meu pescoço enquanto começa a gemer. 120

—Me sinto tão bem. Eu seguro o corrimão com uma mão e agarro a dele que está entre minhas pernas, puxando-o até a minha barriga e entrelaçando os dedos firmemente com os seus quando ele goza. Quando ele para ficamos assim por um longo tempo, duas almas entrelaçadas na natureza: o homem e a mulher, primitivo e atemporal. —Você está começando a tremer. —Ele diz. —Entre. Vamos aquecê-la. Eu não sinto frio, mas eu o sigo de qualquer maneira. Eu não posso recusar o seu desejo de cuidar de mim. Tem sido muito tempo desde que alguém tentou. Jude vai pegar um cobertor e eu ando para espiar a tela. Ele acrescentou algo nela: linhas, uma grade, e depois a figura suave, abstrata de uma mulher. Eu sei que sou eu. —Eu não estou pronto para adicionar os detalhes. —Ele diz quando coloca o cobertor nos meus ombros. —Eu quero acertar, mas suspeito que isso possa levar uma vida inteira. Eu sorvo uma respiração longa e seguro até que meu peito arde com o esforço. —Eu sei que você não acredita que pode realmente conhecer alguém. — Ele continua, quando eu não falo. —Mas eu não vou desistir. —Eu quero que você me conheça, mas é impossível. Você pode não gostar de mim, quando me conhecer. —Digo baixinho. Ele me envolve em seus braços enquanto nós olhamos para a mulher sobre a tela, anônima e conhecida. Ela é uma contradição, assim como eu. —Então posso não gostar de você. —Ele concorda. —Eu suspeito que eu possa me apaixonar por você em vez disso.

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CAPÍTULO 14 Às vezes a vida passa por você e você fica tentando se agarrar a cada momento precioso. Quando seu filho nasce e sorri pela primeira vez, ou rola, ou começa a andar. Isso acontece tão rapidamente. Quando Max era um bebê, eu me apaixonava por ele mais a cada dia. Eu nunca pensei que isso aconteceria de novo. Eu não estou completamente pronta para admitir que aconteceu. Jude se senta no chão da sala de estar com Max praticando a linguagem de sinais enquanto eu considero isso. Estamos juntos por quase um mês, não muito tempo depois que eu finalmente cedi e o beijei novamente. A noite que acabei em sua cama. O tempo está voando, e em momentos como este, quando o vejo com meu filho, sinto como se eu não pudesse respirar. Eu quero dizer que está indo muito rápido, mas é emocionante. Embora existam regras. Ele nunca passa a noite. Nós não beijamos na frente de Max. Às vezes, Jude segura minha mão, mas ele não é meu namorado, e eu não sou sua namorada, mesmo que nós dois saibamos que somos. Não posso arriscar Max ficar mais ligado a ele do que já está. Quem estou enganando? Nós dois estamos ligados. Eu continuo espiando seu progresso. Max adora ser um professor. É natural para ele. Claro, ele tem um aluno muito disposto. Estou espionando-os, quando Amie chega em casa. —Como as coisas estão indo? — Eu pergunto a ela. A primavera chegou oficialmente em Port Townsend com sua névoa e fluxo cada vez mais constante de turistas. Isso também significa que a pré-escola está em férias de primavera, e que não estou indo para o restaurante. —Estamos bem. —Ela despacha minha preocupação, mas tem círculos escuros nos olhos. 122

Ela está lá mais do que o habitual. Eu estou fazendo o que posso em casa, fazendo encomendas e pagando contas, mas honestamente, ela precisa de mim lá, se por nenhum outro motivo, só para mantê-la sã. Alguém tem que ser capaz de tirar a chef da cozinha quando ela está perdendo a cabeça. —Apenas mais alguns dias. —Eu a tranquilizo: —Então, você não será capaz de se livrar de mim. —O que é apenas alguns dias? — Jude pergunta entrando na cozinha. —Max fica sem escola pelo resto da semana. — Eu digo a ele, mas ele já sabe. Estamos ambos tentando fingir que ele não está bancando a figura do pai. —Deixando-me sem minha mão direita. —Amie acrescenta, envolvendo um braço no meu ombro. —Lembre-me de lhe dar um aumento quando você voltar. —Eu vou fazer isso. —Prometo a ela. —Você sabe, se você precisa tanto dela... —Jude hesita. —Eu poderia cuidar de Max por alguns dias, mesmo que apenas por algumas horas. Amie e eu compartilhamos um olhar. É um tema delicado. Eu exigia que a maioria das babás passasse por um nível de segurança que o FBI se surpreenderia. Se eu tivesse tido um namorado antes, eu certamente nunca teria deixado Max com ele. —Isso seria ótimo. — Amie se anima. Eu fico besta com ela e sua boca traidora. Jude nota e me dá um sorriso tranquilizador, aquele que faz meu estômago vibrar. —Se você não está bem com isso tudo bem. Tudo que você tem a fazer é dizer não. Mas eu estou tão acostumada a dizer sim a Jude.

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—Ok. —Digo finalmente. Surpresa rompe em ambos os rostos, mas sabiamente nenhum deles diz nada. —Ok, eu vou pegar ele amanhã. —Jude não consegue conter sua excitação. Coisas de menino foram se filtrando em nossa casa durante as últimas semanas. Um novo PlayStation, brinquedos de dinossauros, uma máscara do Homem-Aranha. Ele só pode ser uma criança, como o meu filho. Eu só posso imaginar o quanto ele vai estragar Max esta semana. —Eu deveria ir para casa. — Jude diz: —Eu preciso terminar algumas linhas da partitura nesta nova canção para que eu possa focar no homenzinho esta semana. —E porque você está aqui? — Amie finge inocência. —Eu continuo achando coisas para consertar. —Ele espia para a sala de estar. Max está assistindo TV, e Jude aproveita a oportunidade para me dar um beijo rápido. — Vejo você pela manhã, raio de sol. Ainda estou sorrindo quando eu fecho a porta atrás dele. — Estou começando a suspeitar que ele quebra as coisas, assim ele pode vir consertá-las. — Amie diz. O sorriso some do meu rosto. Com Jude indo embora, preciso lidar com o elefante na sala. — Está tudo bem? Eu sei que ele está sempre aqui. — Como se eu me importasse. Você acha que eu conseguiria fazê-lo pintar meu quarto? Seria muito mais barato do que contratar um pintor. Você só tem que pagá-lo com sexo quente. Ignoro a última parte. 124

— Você vai me avisar se for demais? — Sim, eu prometo. — Ela diz dramaticamente. — Mas, você sabe, que pode ficar por lá algumas noites. Eu sou completamente capaz de cuidar de seu filho. Já fiz isso antes. Eu sei que ela é, mas é mais do que isso. — Não quero que Max pense que o abandonei por Jude. — Digo-lhe. — Ele nunca vai pensar isso. — Ela diz. — As coisas só estão indo muito rápido. Não quero que ele seja arrebatado por isso. Não quero que se machuque. — Você não pode colocá-lo em uma bolha, querida. — Quem me dera. — Eu admito. —Eu sei. —Eu enlouqueci deixando Jude levá-lo por essa semana? — Pergunto. — Não, e por isso você está garantindo que eu não enlouqueça. Você não estava lá para me acalmar, e demiti um dos cozinheiros. — O que? — A revelação, temporariamente me distrai de meu dilema com Jude. Ela ergue as mãos. —Eu estou dizendo a você, eu não posso ser confiável quando você não está por perto.

Confiança. Isso é exatamente com o que eu estou preocupada. —Quero dizer... — Eu continuo esquecendo seus problemas com os cozinheiros. —Eu acho que eu deveria estar preocupada em deixar Max com ele. E se ele foge com ele? E se ele o vende como escravo infantil? E se... 125

—Pare! —Exclama Amie. —Você precisa parar de ler histórias do Facebook. —Eu sou mãe. É meu trabalho me preocupar. —Você faz um baita de um bom trabalho com ele, mas também é preciso não ficar louca. Basicamente é preciso garantir a sanidade. —Ela pega meus ombros e me olha nos olhos. —Olha, qualquer um pode ver que Jude ama aquela criança. Eu coro furiosamente com a implicação de suas palavras, que Jude não apenas ama aquela criança. É algo que estamos enrolando por semanas. Amie não pressiona o assunto, no entanto. —É sobre como você dois se conheceram? —Ela pergunta. Eu balanço a cabeça. —Deveria ser. Eu deveria estar preocupada. Por que não estou preocupada? —Você é uma mulher sozinha. —Você trouxe esse assunto. — Eu indico. —Eu só estava perguntando. —Ela diz com um gemido. —Então não. Jude nunca perde uma reunião. Ele nunca mostra qualquer sinal de recaída. Estou mais preocupada com a minha capacidade de permanecer direita e limpa do que com a dele. —Isso é impressionante. — Amie levanta uma sobrancelha. —Porque eu nunca me preocupei que você teria uma recaída. —Sua crença em mim é surpreendente. —E bem fundamentada. —Ela desfaz o nó enquanto começa a desempacotar a comida que ela trouxe para o jantar.

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Eu pego pratos, sorrindo amplamente. —Nós só precisamos de três. —Ela diz. Olhando para baixo, eu percebo que eu tinha pegado um para Jude também. —Você sabe, se vocês dois querem, humm, como coloco isso? Morar juntos? Eu não vou ficar ofendida. Eu sempre posso encontrar um apartamento. —Ela diz casualmente. Amie ainda precisa ver a casa de Jude para entender porque eu insisto em estar aqui a maior parte do tempo. —Nós poderíamos todos praticamente nos mudar para a casa de Jude se fosse o que eu quisesse. —Eu não acho que você está entendendo o que quero dizer. Eu sinto que talvez seja hora de vocês dois ficarem sozinhos. Eu aponto meu polegar em direção à sala de estar e ao menino assistindo Homem-Aranha. —Nós nunca vamos ficar sozinhos. —Você sabe o que eu quero dizer. Quando estiver pronta não se preocupe em me dizer. —Eu não estou pronta. —Digo baixinho. —Eu não vivi com um homem desde meu pai e eu nem me lembro dele. —Eu só quero que você tenha a sua família. —Amie diz. —Você é a minha família. — Estou ofendida por ela. —Sim, mas em algum momento isso pode mudar, e isso é bom. Dobro algumas toalhas de papel para servir de guardanapos enquanto considero isso. 127

—Quando eu vendi a casa da minha avó, eu pensei que nunca me sentiria em casa novamente, especialmente quando a minha irmã se foi, mas você abriu suas portas para mim. Esta é a minha casa. —E sempre será, doçura. — Amie promete: —Mas não confunda obrigação com sentimento. Homens como Jude vem só uma vez na vida. No fundo eu sei disso. —É muito cedo para sequer falar sobre isso. —Digo finalmente. —Nós só nos conhecemos por alguns meses. —Isso não importa. Quando você sabe, você sabe, ou assim me disseram. Eu quero acreditar na possibilidade do verdadeiro amor tão ferozmente quanto Amie. Estou disposta a trabalhar por isso e eu quero acreditar que isso está vindo para mim, mas a única coisa que já fui capaz de encontrar foram problemas. ***

Alguns dias se passaram, e Jude não matou, sequestrou, ou vendeu meu filho ao circo. Em vez disso, ele o levou a um aquário local. Juntos, os dois construíram uma obra-prima de Lego na sala de estar. Hoje ele o trouxe para o World’s End. Max cumprimenta os frequentadores, enquanto Jude se inclina sedutoramente sobre o balcão da atendente. —Eu estava pensando em levar o homenzinho para Seattle. Eu acho que ele realmente gostaria do Centro de Ciências do Pacífico. —Não! — Eu estalo e imediatamente me sinto estúpida. Não é culpa dele não conhecer cada memória dolorosa do meu passado naquela cidade. —Quero dizer, eu preferiria se você não fosse longe demais com ele. Jude não discute. Ele não salienta que Seattle fica menos de duas horas de distância ou questiona o meu raciocínio. Em vez disso, ele diz: 128

—Tudo bem, mas isso significa que eu vou ter que comprar mais Legos. Eu amplio meus olhos fingido horror. —Em breve vamos ter que viver em uma casa de Legos. —Esse é o meu plano, Raio de sol. Você não está animada? —Ei, eu tenho uma pergunta para você. —Hesito, tentando encontrar a coragem de abordar o assunto. —Você acha, e você pode recusar se quiser que gostasse de ir visitar a minha avó conosco neste fim de semana? Tentamos vê-la uma vez por mês, mas eu pulei o mês passado e estou me sentindo mal por isso. Deixo de fora que eu estive tão envolvida com Jude que eu tinha esquecido. —Eu adoraria. Pode ser uma viagem prática. Talvez eu possa convencê-la de que existe um mundo além de Port Townsend e que não é tão aterrorizante como você pensa que é. Eu engulo o caroço na minha garganta. Seattle não me assusta, mas as memórias em cada esquina naquela cidade sim. Jude não pareceu notar minha preocupação. —Vamos te deixar em paz. Antes que eu reaja, ele me beija na frente de todo o restaurante. Max vê e sorri amplamente. Eu enxoto os dois, muito perturbada pela demonstração pública de afeto para repreendê-lo. —Ele está ficando atrevido. — Amie fala da cozinha. —Isso não é contra a regra número dois, é? Eu posso dizer exatamente o que ela acha das minhas regras. —Sim, é. — Eu resmungo.

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—Ei, se anime, raio de sol. —Ela diz, me chamando pelo apelido dele. — Significa apenas que você está o fazendo querer quebrar as regras. Eu desapareço no escritório para ficar sozinha com meus pensamentos. Eu sei bem por que as regras estão lá.

***

—Oh docinho, sentimos sua falta! — Maggie grita quando chegamos à casa de repouso, no sábado. Ela puxa Max em um abraço de urso apertado. —Eu sei, eu sou terrível. Estivemos ocupados e eu não consegui vir aqui no mês passado. —A culpa aumentando dentro de mim pelas últimas semanas, se derrama. —Não se martirize. —Maggie diz. —Você está aqui agora e isso é tudo que importa. A porta da frente abre e os olhos de Maggie alargam apreciativamente quando Jude entra em cena após estacionar o carro. Ele tira seus óculos escuros e pendura na gola da sua camiseta azul. —Maggie, esse é Jude. —Ainda estou um pouco enferrujada com apresentações, mas eu deixei de fora os detalhes. Qualquer conclusão que ela chegue sobre eu trazendo um homem aqui provavelmente é correta. — Prazer em conhecê-la. — Ele segura sua mão. — É muito bom conhecê-lo. — Maggie ignora sua mão estendida e abraçao. — Tenho rezado para que a senhorita Faith trouxesse um homem. Max me poupa de ouvir quanto tempo ela tem rezado por mim, agarrando minha mão e, em seguida, ele agarra a de Jude. Ele nos leva pelo corredor, Jude

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se exibindo para todos na sala comunitária. Muitas das idosas se abanam deliberadamente. — Eu não contava em ficar tão envergonhada. — Digo a Jude baixinho. — Eu só posso imaginar o que elas pensam. Na mesma hora um dos velhinhos dá uma piscadinha. — Acho que eles estão sacando sobre nós. — Jude responde e eu bato nele divertidamente. Hoje Vovó está voltada para a janela quando entramos. — Olá, Vovó. — Eu falo com ela. — Trouxe Max e um amigo para visitá-la. Ela se vira lentamente, seus olhos estreitando. —Quem é você? Maggie entra no quarto atrás de nós, determinação sombria no rosto dela. — Agora, Marilyn. Esta é a sua neta, Faith e seu bisneto, Max e eles trouxeram um amigo. — Eu não a conheço. — Vovó repete. — Sou eu, Vovó... —Me curvo e tento pegar a mão dela, mas ela se afasta. — Grace? — Ela pergunta. Sorvo uma respiração afiada. — Faith. — Eu a corrijo. — Onde está Grace? —Ela pergunta, procurando por ela no quarto. — Me desculpe, ela não está aqui. —Me levanto completamente confusa. O quarto se fechando em torno de mim e eu mexo em um botão na minha jaqueta. —Talvez devêssemos ir.

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Mas Jude se senta ao lado de Vovó. —Quem é você? —Ela olha para ele com suspeita. —Meu nome é Jude, senhora. —Você não vai encontrar nenhum dinheiro para drogas aqui. — Ela diz para ele. —Eu escondi tudo. Não posso confiar nas minhas garotas. —Você pode confiar nela. — Jude diz gentilmente. —E você pode confiar em mim. —Humm. — Vovó relaxa em sua cadeira e começa a embalar. — Isso é o que ela diz toda vez. É isso que Faith diz toda vez e depois a TV vai sumir. — Maggie, você pode levar Max para visitar a sala comunitária lá embaixo? Ela acena e o leva pelos ombros. Ele é muito jovem para entender exatamente o que há de errado com a Vovó, e ele provavelmente acha a nossa conversa confusa. Pelo menos é o que espero, que ele fique de fora disso. — A TV está lá embaixo na sala comunitária. Ninguém roubou. — Eu digo para Vovó. — Não me desrespeite, garotinha, você sempre está me desrespeitando. Deve ser uma melhora ela reconhecer quem eu sou, mas não é. — Faith me disse que você costumava viver em Seattle. — Jude tenta iniciar uma conversa, mas Vovó não liga. — Você não vai me distrair. Eu tenho meus olhos em vocês. — Depois de mais alguns minutos de acusações eu saio pela porta. Jude vem atrás de mim. — Eu sinto muito, sinto muito por isso... —Não há nada para se lamentar. Ela está doente, raio de sol. Só lamento porque eu sei você sofre ao vê-la assim. 132

— Ela não pintou uma imagem muito bonita de mim, não é? — Eu não posso esquecer. Jude poderia estar disposto a deixar o passado, mas eu não posso. Nunca terei o perdão dela ou a compreensão. Ela nunca verdadeiramente me reconhecerá como algo mais do que a viciada que eu era. Ele agarra minha mão. —Podemos conversar sobre isso no carro, mas agora vamos para casa. Casa? O que é isso? Esta deve ser tanto minha casa como qualquer outro lugar. Eu não pertenço a nenhum lugar. Minha avó deveria estar na minha casa, mas não tenho nada para firmar raízes nesta terra além de Max. Uma mãe deve oferecer um abrigo permanente para o filho dela e deixar seus erros para trás. Maggie distraiu Max com muitos doces e eu tenho que pará-lo antes que ele acidentalmente vire um diabético. — Eu sinto que viemos até aqui para nada. — Eu digo depois de colocarmos Max no carro. — Cristo, Faith. Pare de se desculpar. —Ele rosna. Instantaneamente suaviza o rosto. — Sinto muito sobre isso. Quando eu subo no banco do passageiro estou mal segurando as lágrimas. Minha garganta está apertada com o esforço de contê-las. Nós dirigimos em silêncio por um tempo, deixando a cidadezinha costeira e dando a volta através das estradas curvas que levam à Port Townsend. Geralmente eu acho esta parte da viagem tranquila, mas não hoje. — Meu pai me batia. — Jude diz do nada. — Não importa agora. Eu fiz as pazes com ele há muito tempo. Acho que eu estou só dizendo isso porque eu sei o quanto dói quando as pessoas que deveriam te amar não amam. Pelo menos sua vó tem uma desculpa. — Jude... —sussurro o nome dele, incerta do que dizer. — Eu não quero sua piedade, raio de sol. Quero que saiba que você pode falar comigo. Eu sei que você está sofrendo. 133

Quem me dera que não estivéssemos no carro, então eu poderia abraçálo, mas no momento só temos palavras. Apertando a mão, abro uma porta que mantive fechada. — Ela não foi sempre ruim. —Digo com uma voz trêmula. — Ela tentou, mas foi difícil. Minha irmã e eu, nós tivemos muitos problemas. Há uma longa pausa. Jude olha para mim e vejo uma tempestade em seus olhos azuis. — Você nunca fala sobre sua irmã. — Você nunca fala sobre seu pai. —Eu aponto. — Tão ruim assim? — Ele pergunta. — As pessoas nem sempre tem que bater em você para te magoar. Eu a amava tanto. Ela era minha melhor amiga, e me destruiu vê-la se destruir. — Onde ela está agora? — Sua mão aperta a minha. — Eu não sei. Essa é uma verdade. Em algum momento, tomei a decisão de não deixá-la me machucar, e isso significava deixá-la ir inteiramente. Ela não sabe onde me encontrar mesmo se ela quisesse. — Eu admito, e parece duro ao sair da minha boca. — É uma verdade que eu mantive engarrafada por tempo demais, mas acredite, ela não quer me encontrar. —Por que você pensa assim? —Porque ela já teria. Se ela me amasse como eu a amo, se ela amasse a qualquer um de nós como nós a amamos, ela me encontraria. — Ela sabe sobre Max? — Ele pergunta. — Sim. — Respondo em uma voz oca. — Ela sabe sobre ele. — Faith. — Ele começa, e então ele faz uma pausa por um longo instante. — Você sabe que pode me dizer qualquer coisa, certo? — Sim. — Eu olho pela janela e foco nas nuvens se movendo rapidamente através do sol. Eu queria que fosse verdade. 134

CAPÍTULO 15 Anteriormente

Quando a porta se abriu bem depois da meia-noite numa quarta-feira, Grace deveria ter agarrado o taco de beisebol ou chamado a polícia. Em vez disso, ela caminhou lentamente até a porta da frente. Elas olharam uma para a outra por um longo momento, nenhuma delas falou. Três anos, e seu rosto não havia mudado. Ou talvez tivesse. Talvez tivesse mudado sutilmente como o dela tinha. Havia diferenças, mas eram leves: uma cicatriz na testa de Faith, um corpo que ainda não tinha crescido completamente. Ela estava usando um top frouxo, mas que não escondia seus ossos se projetando de sua pele. Nenhuma delas quebrou o contato visual. Faith notou que o cabelo de Grace estava mais curto? Ou que ela tinha parado de usar sombra roxa? Ela acabou de ver a si mesma? Grace se lançou para ela e colocou os braços firmemente em torno dos ombros de Faith. —Onde você estava? — A pergunta saiu dela antes que ela quisesse. Faith estava frágil, e Deus sabe o que lhe tinha acontecido em sua ausência. Grace tinha flertado com as pessoas erradas tempo suficiente para imaginar. Havia algo de assustador em sua irmã agora. Seus joelhos estavam nodosos e as pernas instáveis. Parecia que a qualquer momento ela poderia desaparecer da vista. Grace não permitiria que isso acontecesse. —Você não precisa me dizer. —Eu vou. — Faith prometeu. —Mas agora eu preciso dormir. Posso ficar aqui? Como se Grace fosse deixá-la sair. —Sim. Você pode ficar na minha cama. —Podemos compartilhá-la? Como quando éramos pequenas? Grace sorriu apesar do nó na garganta. Uma única lágrima escorreu pelo rosto de Faith.

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—Senti sua falta. Naquela noite, Grace observou sua irmã enquanto ela dormia, com medo de fechar os olhos. Era um belo pesadelo, tê-la de volta. Mas tanto quanto ela tinha sonhado com esse dia, sua mente vagava com os pensamentos do que Faith tinha experimentado. Algo tinha finalmente a trazido de volta para casa. Na manhã seguinte, as duas sentaram desajeitadamente a mesa da cozinha de Vovó. Faith comeu cereal enquanto Grace observava. —Eu senti falta desta casa. — Faith deixou cair a colher na tigela vazia. Ela se inclinou para trás para absorver tudo. —Eu estou vendendo. — Grace lhe disse suavemente. —Cuidados com a Vovó são muito caros. Eu posso pagar alguns anos de cuidado para ela com os lucros da venda da casa. —E depois? — Se ela se chateou com essa revelação, ela não mostrou. Grace não tinha visto sua irmã assim desde que ela era uma adolescente. Ela tinha sido a prática, a equilibrada e Grace tinha estragado tudo isso a arrastando para uma festa louca. Era o erro que a fazia odiar a si mesma. Era a razão porque ela nunca corrigiu Vovó quando ela pensou que era Faith, porque Faith deveria ter sido a única a estar lá. Faith era para ser a única que poderia contar, e ela teria sido se Grace nunca tivesse lhe dado uma bebida. —Eu vou conseguir um emprego melhor. Arrumei algumas aulas na faculdade comunitária. Eu tenho meus companheiros. —Não era nada para se gabar na opinião de Grace. Esperava se transferir para a Universidade de Seattle, mas então Vovó precisou de cuidados em tempo integral. Um trabalho tinha sido sua única opção. Como se viu, eram necessários três empregos: um de tempo parcial em uma livraria, servindo mesas algumas noites por semana, e trabalhando no Centro de Ciências do Pacífico nos fins de semana. Ainda mal pagava as contas. Vender a casa era a melhor escolha e também a mais difícil. Faith agarrou a mão dela.

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—Eu vou conseguir um emprego, também. Nós vamos fazer isso funcionar. Elas poderiam fazer funcionar, Grace disse a si mesma. Que outra opção elas tinham? E Faith estava em casa. Grace faria isto funcionar mesmo se a matasse. Sua irmã merecia uma segunda chance de verdade, e juntas elas poderiam fazer isso acontecer. Talvez depois de alguns meses, as duas estariam na faculdade. Se elas dividissem os custos, era uma possibilidade real. E mesmo se Grace nunca conseguisse voltar para a faculdade, ela tinha algo mais importante agora. Ela tinha a sua irmã de volta.

***

No início, ela pensou que Faith estava passando por uma abstinência. Apesar de sua promessa de arranjar um emprego, ela dormia em horários estranhos. Várias vezes Grace a ouvia através da porta do banheiro. Depois de algumas semanas, quando piorou em vez de melhorar, ela bateu na porta fechada e entrou. Grace segurou o cabelo de sua irmã na nuca e esperou que ela terminasse. Faith se sentou sobre os calcanhares e limpou a boca. Depois de alguns momentos, ela cruzou as pernas trêmulas sob ela. —Desculpa. —Fico feliz que não seja eu. — Grace vasculhou o gabinete da pia até que encontrou um elástico de cabelo e entregou a ela. Depois se sentou na cerâmica azul lascada. —Porque, eu não posso estar aqui. —Olha, eu sei que eu sou péssima. Eu continuo pensando em desistir e então resolver tudo.

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—É apenas a abstinência. — Grace disse suavemente. —Nós já passamos por isso antes. E desta vez ela ficaria, acrescentou ferozmente. Ela não confiava em si mesma para dizer isso em voz alta. Ter Faith de volta ainda parecia frágil, como se a menor pressão poderia assustá-la. Ela iria atravessar isso, porque agora ela sabia com o que estava lidando. —Não isso. — Faith sussurrou. —Não. —Grace admitiu. —Por que da última vez eu fodi tudo. Eu não entendi. Nós não entendemos. Eu não sabia que você era... Ela não teve coragem de dizer viciada. Parecia muito dura. —Uma viciada? — Faith disse para ela. —Uma fodida? Uma perdedora? —Não diga isso! —Doía mais ouvi-la dizer do que tinha doído quando Grace tinha finalmente admitido isso para si mesma anos atrás. —É a verdade, maninha. E estou bem. Confie em mim. Eu fui chamada de coisa muito pior. —Mas, apesar de suas afirmações, a voz de Faith estava vacilante. Ela não estava bem com quem ela era e Grace não podia culpá-la. Era algo que ambas tinham que enfrentar um dia, mas que não era o que incomodava Grace. —Quem te chamou de pior? Você não deve ter contado a ele sobre mim. —Ele, hein? — Faith levantou uma sobrancelha e sorriu fracamente antes de fazer uma careta e agarrar seu estômago. —Você nunca escolhia os vencedores. — Grace falou com uma voz calma, com medo de se trair. Sua irmã nunca tinha falado sobre aquela noite com Derrick. Tanto quanto Grace poderia dizer, ela nem sequer se lembrava do que tinha acontecido. Grace esperava que não.

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—Conte-me sobre isso. Eu já acabei com tudo. Desta vez Grace levantou uma sobrancelha. —É difícil de acreditar que eu realmente namorei um cara agradável por um tempo, eu sei. — Faith disse defensivamente. Se ele era tão bom, por que ele a deixou continuar usando? Ela guardou o pensamento para si mesma. Esses caras eram o passado de Faith. Grace simplesmente tinha que ter certeza que eles não apareceriam novamente. —Claro, eu estraguei tudo. — Faith continuou quando Grace não falou. — Ele não sabia sobre as drogas e quando ele descobriu... —Você não precisa me dizer. — Ele não era ruim. Ele tentou me ajudar, mas eu não estava pronta. Eu nem sequer disse adeus. Chamei um velho amigo... — Faith engoliu em seco e apertou uma mão sobre sua boca. Um momento depois, ela voltava para o vaso sanitário. Grace esfregou suas costas enquanto ela vomitava. Não havia razão para desenterrar isto tudo, não enquanto seu corpo estava sob tanto estresse. — Talvez devêssemos ver um médico. Eles podem ter alguns conselhos sobre quanto tempo vai demorar para limpar seu organismo. — Médico parece ser uma boa ideia... —Faith não soltou o vaso. — Mas eu sei quanto tempo vai levar. Cerca de mais sete meses. — Sete? — Grace repetiu em descrença. — Acho que não demorará muito tempo. — Grace... — Faith disse o nome dela suavemente e a compreensão dela ocorreu em um horror lento e agonizante. De alguma forma grávida parecia uma palavra mais suja do que viciada.

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—Não se preocupe. Considerei minhas opções. Acho que devo mantê-lo. — Ela começou a divagar. Suas palavras caíram tão rapidamente quanto as perguntas na mente de Grace. — Quem é o pai? — Grace deixou escapar. Faith, bufou como se isso fosse uma pergunta ridícula. —Eu não tenho ideia... E acredite, isso é provavelmente uma coisa boa. Esse garoto nunca vai ser parte desse mundo. Juro por Deus. Grace engoliu o resto das perguntas que ela queria fazer. Faith estava certa. Não importa como isso aconteceu, ou como elas fariam isso funcionar. Esse garoto não ia ser parte desse mundo. Esse bebê vai ser a sua salvação.

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CAPÍTULO 16 Aos domingos comemos comida chinesa. Tornou-se uma rotina antes que eu percebesse o que estava acontecendo. Jude chegava com sacolas do Lucky Dragon para nós quatro, e sentávamos como uma grande família feliz. — Talvez eu devesse dizer alguma coisa. — Eu peguei uma pilha de pratos do armário e passei para Amie. — Ele te alimenta, não analise excessivamente. Não é parte de uma conspiração... — Ela agarrou os pratos e desapareceu na sala de estar. Parecia uma conspiração, no entanto. Talvez porque está se tornando impossível resistir à força dele. Jude está se tornando algo constante. Dias sem ele são raros. De alguma forma nos reunimos para jantares em família. Ele entrou no meu coração, e agora ele está se sentindo em casa. Quando viro para a sala de visitas, eu encontro-o abrindo as embalagens. Ele olha para cima, e dá um sorriso largo. Meu coração lateja. Eu quero ser a sua casa. Nós comemos porco Moo de Shu e eggrolls 30, passando as embalagens um para o outro enquanto Amie solta umas piadas. Ela se senta no chão ao lado de Max enquanto Jude e eu ocupamos o sofá. — Temos uma mesa de jantar... — Aponto em direção a ela com meus pauzinhos. — Comida chinesa, pizza, não são alimentos formais... — Jude pega um pedaço de frango com gergelim e leva-o para os meus lábios. Eu estreito meus olhos quando dou uma mordida.

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Refogado de carne de porco com: repolho, broto de feijão, cebolinha, alho, cogumelo e ovos. Dentro de uma panqueca fina.

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— Eu estou criando uma criança, lembra? Ele já deixa migalhas por todo o lado. — Ele sabe que os domingos são especiais. — Amie me tranquiliza, inclinando-se para beijar Max na cabeça. Meu coração está cheio, apesar das minhas dúvidas anteriores. Estar aqui com os três só envia mais amor, até que me sinto inchando com tanta alegria e afeto. Jude se inclina e sussurra no meu ouvido. — Obrigado... — Viro para enfrentá-lo, e o olhar em seus olhos de azul centáurea31 queima este momento em minha memória. Jude retorna sua atenção para a festa, mas eu desapareço ao fundo. O tempo diminui enquanto guardo estes pequenos detalhes na memória, o riso arrebatador de Amie e seus olhos cinzas brilhantes, Max desastrado com os pauzinhos, o calor do homem ao meu lado, seu corpo, seu sorriso, sua alma. Eu não mereço nenhum deles, mas eu nunca vou deixá-los ir. — Bem assim... — Jude inclina-se sobre a mesa de café e me traz de volta ao presente. Ele ajusta o aperto de Max nos pauzinhos, mas eles imediatamente escorregam de seu controle. — Espere, homenzinho. — Jude agarra meu pulso e puxa o elástico para cabelo. Os polegares permanecem por uma fração de segundo, como se ele só precisasse me tocar. É um gesto inocente que Max não pega, mas Amie levanta as sobrancelhas à minha frente. Uma de nós está definitivamente apaixonada com a ideia de Jude Mercer. Ele enrola o elástico no pauzinho e, em seguida estica a embalagem de eggrolls em direção ao topo. — Como uma mola. — Ele anuncia, enquanto mostra a Max sua invenção. Max se ilumina, mas não são os pauzinhos, que o faz brilhar. Se Jude partir amanhã, este menino nunca mais será o mesmo. Nenhum de nós.

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Popularmente conhecida no Brasil como escovinha, marianinha. É um azul forte puxando para o violeta.

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Eu empurro o pensamento da minha mente e foco neste momento. Max derrama apenas metade da caixa de arroz no chão com seus pauzinhos arrumados. — Vamos tirar à sorte para ver quem vai limpar? — Eu aponto para o arroz caído no tapete. — A vida é uma bagunça, raio de sol. Algumas bagunças são feias, mas esta é uma bonita. — Jude diz com uma voz suave como se fosse um sábio. Ele distribui biscoitos da sorte enquanto limpo a emoção da minha garganta. Agora, todos nós estamos acostumados com a cerimônia. Até mesmo Max espera até que todos terminamos nosso biscoito para passar sua sorte para Jude. — Um sonho que você tem, se realizará. — Jude lê. — Essa é uma boa sorte, homenzinho. Max olha de Jude para mim com um sorriso endiabrado Oh-ohh. Eu troco o meu com Amie e leio rapidamente o dela. — Você é talentosa de muitas maneiras. —Na cama. —Ela acrescenta. —Diga-me algo que eu não saiba. —Ela me sopra um beijo, e eu jogo o pedaço de papel nela. —Eu estou guardando o meu. —Jude diz, mas eu arranco dele. — Você vai ter uma segunda chance. —Na cama? —Amie provoca, fingindo choque. Eu mostro a língua para ela. — Quando a felicidade bate, abra a porta. — Jude lê o meu, ignorando nós duas.

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Ouvir isso dos seus lábios faz meu coração retumbar contra o meu peito. Max começa a fazer sinas: Por que os biscoitos da sorte da tia Amie sempre falam sobre estar na cama? —Falando em cama. — Amie salta murmurando um pedido de desculpas sobre a cabeça de Max. —Por que não vamos nos arrumar para ir dormir, homenzinho? Max abraça Jude. Admito que eu queria fazer a mesma coisa: pendurar em Jude e nunca soltar, especialmente quando se trata de deitar. Mas o meu lado materno se anima, sacudindo a cabeça e me lembrando de que este é o apego clássico. Quanto mais eu permitir esse comportamento, mais ele vai sofrer quando Jude nos deixar. Mas antes que eu possa afastar o menino de seu deus, Jude o carrega. —Eu cuido dele. Vocês duas relaxem. Seu sorriso atinge os olhos, franzindo as bordas, e me atinge por dentro, arrancando meu coração de seu ritmo. Eu ignoro os sinais de alarme na minha cabeça a favor dessa sensação gloriosa. Assistir Jude levar Max para a cama é como ver a peça de um quebra-cabeça que estava faltando. Apenas se encaixa. Perto de mim Amie suspira pesadamente e inclina a cabeça no meu ombro. —Você acha que ele vai te engravidar antes do casamento? Podemos ter que procurar vestidos de maternidade brancos. O momento acabou. —Oh meu Deus. — Eu me afasto dela e foco em limpar as embalagens e pauzinhos. Deixo as sortes em seus lugares, realmente não querendo jogá-las fora. —Eu não vou ter seu bebê ou me casar com ele. Amie cruza os braços e faz beicinho.

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—Você tem certeza? Eu acho que só de ver isso eu já engravidei. Como você consegue se impedir de transar com ele o tempo todo? Apesar de tentar arduamente segurar, o riso derrama de mim. Eu lanço o lixo na lata e, em seguida, inclino no balcão, segurando meu estômago com espasmos por causa do esforço. Amie se junta a mim e eu sei que ela nunca vai desistir dessa obsessão com casamento. —Eu... Não... Estou certa do por que isso é tão engraçado. — Eu gaguejo entre gargalhadas. —Porque é verdade. —Ela diz, sem fôlego. —Não tente me dizer que você espontaneamente não ovulou naquele momento. Eu jogo um guardanapo na cabeça dela e a deixo lá para terminar a limpeza. Na ponta dos pés vou pelo corredor, eu espreito no quarto de Max. —O elefante estava com muito medo de dizer olá. — Os lábios de Jude movem com cuidado e mesmo que Max não possa ouvi-lo, sua voz se move ritmicamente. É um som suave: ouvindo-o ler uma história para dormir. Mas as emoções dentro de mim batem, e eu não posso negar que eu quero, o que eu estou vendo agora. Pelo meu filho. Quero Jude. Eu quero esta vida impossível com ele. Pressionando meu ombro contra a parede, eu tento me concentrar. Mas a paz que busco não pode ser encontrada. Em vez disso só há esta necessidade louca que eu nunca senti antes. As peças que faltam e Jude me mostram que não são parte de uma imagem, são parte de mim. Eu sofro por ele e é estranho esta incrível sensação de conforto, de pertencer, ele me deu faíscas tão ardentes. Aumentando dentro de mim, a voz de Jude se tornando combustível para o fogo até que eu ache que posso realmente entrar em combustão. Eu não me mexo quando Amie passa por mim. Ela não para até que atinja a porta do quarto. 145

—Acabei por hoje. Eu acho que vocês dois poderiam querer algum tempo sozinhos. Desta vez, me animo com a implicação não muito sutil em suas palavras. Sua porta fecha e eu fecho meus olhos. Ouço até perceber que ele está perto do fim da história, então eu me obrigo a ir embora. Ela recolheu os restos e os colocou sobre o balcão. Embalo-os ou coloco-os na geladeira? Eu nem sei o que sobrou, mas não importa, já que Jude gosta de tudo. Porque eu quero ter Jude aqui. Porque amanhã eu quero ligar e oferecer para esquentar as sobras para ele. Porque eu quero vê-lo amanhã. —Não vai me deixar levar nada para casa. — Ele se inclina contra o balcão, as mãos fortes segurando a beirada. Deveria ser um movimento totalmente inocente, mas o gesto deixa seus músculos tensos até que todos os tendões estejam em exibição. Eu realmente não preciso ver isso. Afastando meus olhos dele, faço uma pausa e estendo a embalagem. —Eu estava brincando, Raio de sol. — Ele pega e coloca-a de volta no balcão. Território neutro. —Você não quer isso? — Eu me viro para perguntar. Eu vejo o deslizar de sua garganta como se estivesse engolindo minha pergunta. A tensão no movimento de seus braços segue pelo seu corpo até que ele está pronto para atacar. Talvez ele já estivesse tão dolorido quanto eu, mas eu não posso evitar, além de me contorcer sob o seu olhar possessivo. Eu inflamo essa ferocidade. Eu sou a tempestade que perturba as piscinas azuis pacíficas de sua íris. E perceber isso vence o meu medo. Porque eu desfaço este homem.

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Eu quero dizer algo, mas minha boca está vazia. Antes que eu possa encontrar as palavras seus lábios encontram os meus. Ele bate contra mim, e eu sou impotente contra sua força. Ele está me levando para o desconhecido e eu não me importo se me afogar. Meu corpo molda ao seu enquanto ele desliza a mão na minha bunda, me levantando. Eu me enrolo ao redor dele, instintivamente pressionando o centro do meu querer contra sua virilha. Um rosnado baixo vibra por ele e seus braços me apertam mais. Eu quero o que ele vai me dar. É a única necessidade que eu sou capaz de processar e me abro para ele, permitindo que a língua acaricie através de meus dentes e, em seguida, massageie sobre a minha. É um convite e eu respondo enredando os dedos em seus cabelos. Eu aperto com força, desesperada para possuí-lo, tanto quanto ele a mim. Quando ele encosta-se à mesa da cozinha, nós dois entramos em ação, desabotoando e desafivelando tão rapidamente quanto nossos dedos impacientes permitem. Saindo do meu jeans, volto minha atenção para o seu corpo. Eu trilho a palma da minha mão sobre a tinta preta de sua tatuagem e então dou um passo para frente e afundo meus dentes em sua pele. —Cristo, raio de sol. —Ele resmunga, mas antes que eu possa registrar isso como uma reclamação, ele me empurra-me na mesa e desabotoa meu sutiã. Eu passo o braço para tirá-lo e meu pulso bate numa caixa de lápis de cor. Nossos olhos bloqueiam enquanto eles se dispersam no chão e antes que eu possa levantar a bandeira branca, estou de volta em seus braços. Jude chuta a porta que dá para a garagem. —Vou consertá-la mais tarde. —Ele promete, puxando-me pela porta. Girando-me ao redor, ele faz uma barricada com os nossos corpos. —Segure. Eu envolvo meus braços em seus ombros e me agarro a ele enquanto ele libera seu pau. Sinto seu calor cutucando a minha barriga. Sua barba arranhando contra a minha bochecha enquanto sua boca se inclina em direção ao meu pescoço. 147

—Eu não consigo ser paciente. —Ele me avisa. —Não seja. — Eu imploro. Ele não precisa de persuasão. Sua mão desliza entre as minhas coxas e empurra minha calcinha para o lado. Minhas costas nuas batem contra a madeira quando ele empurra para dentro de mim. O peito de Jude esmaga contra meus seios enquanto seu peso me oprime. Eu me perco no ritmo. Na queda e na maré. Há apenas o curso e a inevitabilidade gloriosa, violenta de estar abandonada e cheia. Estou em seus braços. Ele me completa, e esta revelação assustadora sobrecarrega os meus nervos. Uma onda surge dentro de mim e eu quebro em cima dele. Jude me pega enquanto me quebro e captura meus lábios. Ele me ancora, segurando-me firmemente a ele; firmemente a este momento. Ele me beija enquanto encontra sua própria libertação. Beijos tranquilizadores. Beijos promissores. Beijos desesperados. Eu quero provar todos eles. Quando eu sinto o calor escorrer de dentro de mim, nossas bocas se afastam mesmo continuando unidos. Sua respiração é quente no meu rosto enquanto descansa sua testa contra a minha. Eu não falo. Em vez disso eu saboreio o pulsar dele dentro de mim e o doce sabor dele persistente na minha língua. Quando ele finalmente rompe o silêncio, ele não faz nada para quebrar a magia. —Deus, eu quero ficar, linda. Eu quero levá-la para a cama e fazer amor com você à noite toda. Eu me permito imaginar: essa vida impossível que ele continua balançando em uma corda para me atrair. Eu quero ir para a cama com Jude e eu quero acordar com ele.

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—Não podemos. — Eu não escondo o arrependimento de minhas palavras. Não é um sentimento que eu analiso, muitas vezes, e a amargura se instala no meu coração. —Eu sei, mas isso não significa que eu não posso desejar. —Ele murmura, roçando a minha orelha. —Eu não vou dormir esta noite sem você. Estou por um fio. Então me deixe fingir por um minuto que eu não tenho que descê-la, me vestir e ir para casa para uma cama vazia que não se parece mais como se fosse minha. —Você nunca esteve na minha cama. —Sussurro e eu mal posso ouvi-lo sobre as batidas do meu coração. Ele se afasta para olhar-me nos olhos. —É onde eu pertenço, porque eu pertenço a você. O martelar no meu peito começa a doer e eu desvio o meu olhar. —E na parte da manhã, quando eu não puder arrastar a minha bunda para fora da cama, você vai mudar de ideia. — Eu brinco fracamente. Eu não posso deixar o meu jogo de faz-de-conta virar realidade. —Não faça isso. —Ele me para. —Não pense que eu não sei exatamente o que estou lhe pedindo, Faith. Eu sei e entendo o que isso significa. —Eu não estou... —Pronta. —Ele acaba por mim. —Eu sei disso também, mas eu preciso que você entenda uma coisa. Vou esperar o tempo que for preciso. Eu não vou a lugar nenhum. E um dia eu vou levá-la para aquela cama e fazer amor com você à noite toda. Uma lágrima inesperada desliza pelo meu rosto. —E na parte da manhã?

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—Eu vou fugir da cama e assistir a desenhos animados com Max enquanto você se recupera. — Um sorriso de menino surge em seu rosto. —Quando você coloca assim. — Eu sorrio, mesmo quando mais lágrimas escapam. Eu não posso esperar. —Um dia. —Ele diz em voz baixa. É mais do que eu posso esperar e muito mais do que eu mereço, mas quando ele finalmente me libera me colocando em pé, não posso deixar de imaginar isso. Jude dá a minha roupa e abotoa o meu jeans, roubando beijos todo o tempo. Ele não disse mais nada quando me deu um beijo de boa noite e subiu em seu jipe, então eu deito na cama e fico olhando a noite, sonhando com um dia.

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CAPÍTULO 17 A agência dos correios está extraordinariamente tranquila para um dia de semana. De todas as vantagens de viver numa cidadezinha na América, era que o acesso aos serviços públicos nem sempre é um sofrimento. Normalmente eu passo mais de uma hora de espera na fila para pegar selos, encomendas e enviar os inúmeros cheques que mantêm o World’s End em funcionamento. Hoje, leva menos de dez minutos, o que deixa uma hora para minha pausa para o almoço. Pego meu telefone e gasto cinco minutos debatendo se envio uma mensagem para Jude. —Você não está na escola. — Falo em voz alta. A senhora passando por mim no estacionamento olha com curiosidade, como se fosse a primeira vez que ela via alguém falando sozinho. Parabenizo-me quando encontro coragem para clicar em enviar. Jude me recompensa com uma resposta imediata. Sua casa fica a poucos minutos de distância, mas a viagem de carro é linda hoje. O sol se libertou da prisão sombria da primavera, e enquanto o meu carro sobe a falésia, o vento bate contra ele, sacudindo as minhas janelas. A porta da frente está aberta quando eu chego, e eu dou um passo hesitante para dentro antes de chamar. —Jude. —Aqui. — Eu sigo a voz para a cozinha, onde ele está em cima de uma banqueta. Antes que eu possa apreciar verdadeiramente o jeans surrado que ele está usando, vejo a garrafa no balcão em frente a ele. —O que você está fazendo? —Eu pergunto em voz baixa. —Encarando meu inimigo. —Ele diz. —Ele sempre pensa que vai ganhar. 151

Eu me forço a dar alguns passos para mais perto. Parece que seu inimigo já ganhou, a julgar pela conversa louca. —Você andou bebendo? —Eu deixo escapar. Tato não é o meu forte. Eu passei muito tempo com Amie, que considera isso uma falha de caráter. —Não, raio de sol. — Ele segura um lápis, revelando um notebook e uma partitura na frente dele. —Estate Studios, em sua infinita sabedoria, quer contratar uma nova canção para um futuro astro do country pop. —Country pop? — Eu gaguejo dramaticamente. —Isso é realmente importante? —Sim, é enorme. — A julgar pelo seu tom, é melhor não me aprofundar. —Então, por que o inimigo? — Eu estudo a garrafa, mas não a pego. Faz um longo tempo desde que eu estive tão perto do melhor uísque West Tennessee. Mas noto algumas coisas: a garrafa está cheia, o líquido de cor âmbar no interior não foi diluído com água, e o selo na garrafa está intacto. —Qual é a constatação de sua investigação? —Ele pergunta. —Você não é culpado. —Digo. —De qualquer coisa, a não ser imprudente. Você acha que é uma boa ideia ter isso aqui? Uma das primeiras regras de ficar limpo é ficar longe da tentação. Jude, no entanto, parece ter sua própria visão sobre os doze passos. —Tenho esta garrafa especial de uísque desde o dia em que completei vinte e um. — Ele acena o lápis no ar como uma varinha. —Sente isso? Em algum lugar, um conhecedor de Bourbon apenas sente um inexplicável toque de tristeza. —Então a garrafa tem quase dez anos de idade? —Nove. —Ele me corrige. —Não me envelheça, raio de sol. Sento no banquinho mais distante dele e olho no que ele está trabalhando apenas para descobrir que as partituras estão totalmente em branco. —Então 152

você está sentado com uma garrafa fechada de bebida e pedaços de papel em branco. Por quê? —O novo astro pop da Estate, Jensen Nichols, precisa de uma canção que vai colocá-lo no mapa, ou assim eles dizem. —Ele empurra a garrafa alguns centímetros para longe de nós, raspando seu fundo de vidro em todo o granito. O barulho irrita meus ouvidos. —Sobre uísque? —Eles gostariam de uma canção otimista sobre um garoto que incendeia a casa de seu pai abusivo e alcoólatra. Minha mão voa para minha boca. —Lembre-me de não ouvir qualquer música country pop. —Exatamente. — Jude diz secamente. —Mas eu disse a eles que eu escreveria isso. Isso que eu não entendo. Estendendo a mão, eu entrelaço as nossas. —Você quer me dizer por quê? —Porque eu pensei que talvez fosse hora de enfrentar meu velho inimigo. —Ele murmura, com os olhos colados ao uísque. —Eu não sabia que você era um alcoólatra. — Eu não estou certa do que dizer a ele, mas estou bastante certa de que não deveria ser isso. —Eu não sou. Meu pai era. —Ele fez alusão a esse fato anteriormente, mas eu nunca quis pressioná-lo para compartilhar mais. —Eu pensei, se alguém poderia falar sobre um menino sendo levado a assassinar seu pai alcoólatra, seria eu, mas eu estou tendo um probleminha com a parte da vingança. — Jude empurra seu banco para trás e fica de pé, agarrando a garrafa. Ele se aproxima e coloca no armário em cima da geladeira. —Não é tão inspirador quanto pensei que seria. 153

—Eu sei que não estou na indústria da música, por isso não considere isso como a opinião de um especialista. Mas se eu fosse você, eu iria diria a eles para irem se ferrar. Jude dobra de rir —Vou citá-la, raio de sol. Eu aposto que você não esperava vir aqui e me falar sobre limites, em sua pausa para o almoço, mas estou tão feliz que você veio. Eu dou de ombros, sonhando um pouco sobre o fato de que ele está feliz em me ver. —O que posso dizer? É apenas mais um dia de trabalho. —Você está com fome? — Ele pergunta. —O que você tinha em mente? —Um sanduiche. Eu mordo meu lábio e recuso com a cabeça. —Salada? De novo não. —Nós poderíamos pular direto para a sobremesa. —Ele oferece, e eu balanço minha cabeça entusiasticamente. Jude se aproxima e pega a minha mão, me puxando da cadeira e levando em direção ao corredor. Nosso tempo é limitado, então mantemos rápido e quente, namorando enquanto caminhamos. Jude começa pela calça jeans e puxa a minha. Eu caio de costas na cama, mas ele me acena com o dedo.

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—Minha empregada me diz que eu mantenho o lugar muito limpo. —Ele diz, caminhando para trás em direção à janela. —Eu tenho pensado em uma maneira de sujá-lo. —Ah, é? — Eu levanto uma sobrancelha. Quando eu o alcanço, ele se inclina. —Eu estou com fome também, raio de sol. Ele conecta um braço na minha cintura e me gira para enfrentar a janela. Com um empurrão suave, ele me pressiona contra o vidro. Meus braços se esticam para cima da minha cabeça quando ele cai de joelhos atrás de mim e estimula as minhas coxas a se afastarem. —Veja como o vidro está impecável? —Ele murmura, atingindo entre as minhas pernas. Passando a mão ao longo do meu sexo inchado, febril. —Você pode se ver. Abra seus olhos. Eu respiro fundo e faço o que ele pede. Meu rosto olha para mim. Embora não seja um reflexo como num espelho, em vez disso, eu sou tão transparente como um fantasma. —Coloque as palmas das mãos contra o vidro. —Ele instrui. — E se empurre para trás. Quero que você veja o quanto eu aprecio provar você. Engulo, abruptamente autoconsciente da perspectiva, mas faço o que ele diz. Olhando para baixo, vejo seu rosto, emoldurado pela carne cremosa de minhas coxas e isso me enche de calor. — Isso é bom, raio de sol. —Ele diz, antes de começar a lamber e chupar. Os dentes mordem divertidamente o cume duro que ele sabe tão bem pressionar. Quando sua boca avidamente cai sobre ele, minha testa vai para frente, batendo contra o vidro. Um segundo depois, a sucção melada para. —Você tem que continuar olhando. —Ele me adverte. Leva cada pedacinho de controle próprio que eu tenho para manter meus olhos abertos enquanto sua língua desliza dentro de mim. A janela não oferece nenhuma 155

resistência enquanto arranho o vidro. Em vez disso, deixo marcas desesperadas e impressões digitais oleosas com o meu despertar. Quando minhas pernas começam a tremer, ele apoia seus braços em volta delas, segurando-me firme enquanto monto as ondas de prazer. Eu caio contra a janela, esmagando meus seios no vidro. Jude se move atrás de mim, mas quando ele alcança a minha entrada, eu encontro um pouco de energia para girar e me ajoelhar diante dele. —Olhe para mim. —Eu lhe ordeno. Eu não vou deixá-lo ter toda a diversão. Eu não preciso do vidro para ver enquanto o levo na minha boca, arrastando meus lábios ao longo de seu comprimento. Meus olhos piscam para cima e encontro o rosto tenso e as pálpebras pesadas olhando para mim. —É isso mesmo. —Ele persuade enquanto rodo a minha língua em torno de sua ponta. Incentivada por seu olhar luxurioso. Eu abaixo ainda mais, ignorando minha resistência natural até que ele bate contra o fundo da minha garganta. Coloca sua mão no meu cabelo e agarra com força, me pedindo para gozar e engoli-lo no calor úmido da minha boca. Ele não precisa me dizer que eu pareço bonita; ele me mostra ao não afastar os olhos dos meus enquanto desliza seu pau suavemente em mim. Um por um, os músculos tensos até que ele morde o lábio. Ele não me avisa que ele está prestes a gozar, porque eu não preciso de um aviso. Eu me dei a ele e ao seu prazer, e é a mais bela vista de se ver, o êxtase agonizante em seu rosto quando ele se libera. Eu continuo sugando enquanto ele pulsa contra a minha língua até que ele se afasta e me levanta. Eu deveria voltar ao trabalho, mas eu não digo nada. Em vez disso, nós rastejamos juntos para a sua cama, envolvendo braços e pernas até que somos uma única massa. Jude dá um beijo na minha testa, em seguida, se move para cima, enterrando seu rosto no meu cabelo enquanto começa a cantarolar baixinho. A melodia é familiar, mas é lenta e triste. Eu aninho contra seu peito, respirando o cheiro dele, enquanto tento entender.

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—Escreveu uma canção para mim. —Sussurro quando eu finalmente a reconheço. —Escrevi. —Ele diz continuando a cantarolar uma versão triste de uma música que nós dois sabemos de cor. Ele se afasta um pouco e me olha nos olhos. —Você é meu raio de sol. Ele não canta as palavras. Ele as promete. Eu posso ser seu raio de sol, mas enquanto derreto em seus braços, eu entendo que ele é a razão de eu queimar.

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CAPÍTULO 18 O tópico de hoje é cautela. Não é algo que eu precise aprender, desde que cada decisão que eu tomo passa pelo meu departamento interno de análise. —Ficar limpo pode ser tão intoxicante quanto o que nos trouxe para a reabilitação e podemos nos tornar viciados em recuperação. —Stephanie lê isso do mais recente livro de autoajuda que ela está divulgando. A mulher deve trabalhar no mercado editorial. Ninguém gasta tanto em livros do que ela. Ela fecha o livro e olha significativamente ao redor da sala. —Isso toca você? Alguns de nós olhamos desconfortavelmente para o outro. Sondra finalmente suspira. —Sim. —Ela se oferece. —Quando comecei a vir aqui, eu perdi alguns amigos. —Por que você acha que isso aconteceu? —Os olhos suaves de Stephanie estão cheios de preocupação quando ela pergunta. —Alguns deles não eram bons para mim.

Passei por isso, pensei. —E outros não entendiam se eu estava melhor, porque eu tinha que vir aqui. Eu perdi um namorado assim. — Sondra bate as unhas de acrílico enquanto fala. —Quantos de vocês experimentaram isso? — Stephanie espera nós levantarmos as mãos relutantes antes que ela comece seu sermão. Aparentemente, esta é a sua nova tática em sua batalha para salvar nossas almas. Eu nunca tive alguém que não entendesse por que eu venho a estas reuniões. Eu nunca tive que me explicar. Amie aceita sem questionar, mas ela 158

também fala ao universo. Ela está um pouco mais sintonizada com suas necessidades espirituais que a maioria. —Então, o que faz você continuar vindo, mesmo em face da adversidade e de mal-entendidos? Algumas pessoas murmuram respostas. Hábitos. Oficiais de condicional. Pelo menos nós estamos sendo honestos. —Porque não há cura. —Respondo quando todo mundo fica em silêncio. Jude está a poucas cadeiras de distância, e ele se inclina para frente, apoiando os cotovelos sobre os joelhos. Todo mundo espera que eu continue.

Bom trabalho. Eu odeio chamar a atenção para mim, mas para minha surpresa, eu continuo. —As pessoas querem acreditar em dietas milagrosas e rápidas, pílulas mágicas. A sociedade gosta de comprar respostas. Nós estamos aqui porque sabemos que não podemos. Nós precisamos de lembretes de nossos erros. Temos de escolher ativamente não estragar nossas vidas. —Então o que você diria para as pessoas que não entendem isso? — Stephanie interfere, buscando a moral de sua lição. Eu olho para Jude, Sondra e Anne antes de me mexer em minha cadeira e dar de ombros. —Eu não perco meu tempo com eles. —Você não acha que está sendo dura? — Stephanie atrapalha minha resposta. 159

Eu bufo. Duro seria deixá-los perto de mim. —Não. Eu não tenho autopreservação extra para compartilhar. Eu preciso da minha. O que ela não entende e as pessoas com quem ela está falando não entendem, é que estamos nos protegendo de nós mesmos, e de quando nós inevitavelmente estragaremos tudo de novo. Se eles não conseguem ver isso, eu não posso ajudá-los. —Interessante. — Ela abre o livro e começa a ler uma nova seção. Jude pressiona os lábios. Eu suspeito que ele está tentando não rir do quanto ela ficou nervosa. O resto da reunião é tão perspicaz quanto. Jude bate seu ombro contra o meu quando me encontra na porta. É o mais perto de uma demonstração pública de afeto que vou permitir. Lá fora, o sol espreita apreensivo através das nuvens. A primavera decidiu ser tímida este ano, mas está começando a finalmente aquecer. —Não compartilha a sua autopreservação, hein? — Ele provoca. —Não. —Nós caminhamos para os nossos carros. Eu ainda insisto em dirigir. Eu não compartilho minha autoconfiança também. Ele chega ao seu jipe e se ajeita no assento do motorista antes de me chamar. —Posso vir hoje à noite? Eu ruborizo, lembrando-se da noite anterior. Mordendo meu lábio, eu aceno. Aparentemente é autocontrole que eu estou perdendo.

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***

Jude fica além da hora de dormir. Eu deveria lhe pedir para ir para casa, porque quanto mais tempo ele fica mais perto estou de quebrar minhas próprias regras. Em vez disso, eu me vejo enroscada nele no sofá. É inocente agora, mas conforme os minutos vão passando e a hora ficando mais tarde sua proximidade começa a me alcançar. Max está dormindo. Amie saiu essa noite e a quem estou enganando? Após aquele breve encontro na garagem estou me sentindo um pouco mais ousada. —Um centavo por seus pensamentos, raio de sol? — Ele me pergunta. Eu deslizo minha mão sobre o seu estômago, saboreando a forma como os meus dedos vibram sobre seu abdômen definido. —Eu acho que eu prefiro lhe mostrar em vez disso. — Respondo. Ele não tenta me convencer do contrário, o que significa que ele quer quebrar as regras também. Em vez disso, ele se estica para trás, cruzando os braços atrás da cabeça e me dando um sorriso arrogante. Eu rastejo para frente e monto nele. Agora, eu tenho autocontrole suficiente para manter minhas roupas, mas não vai durar muito tempo. Abaixando-me, eu roço meus lábios nos dele. Sua mão enorme ataca e me pega pelo meu pescoço. —Não temos tempo para ser envergonhados. —Ele suspira. Nós colidimos em um emaranhado de pernas e línguas. Sua mão desliza pela minha camisa acariciando meus seios por cima do meu sutiã. Há algo deliciosamente adolescente sobre isso. Nós não deveríamos estar fazendo isso, e ainda assim, não podemos afastar nossas mãos um do outro, mas há limites e nós dois sabemos disso. Isso não significa que não podemos ultrapassa-los, no entanto. Sua virilha começa a moer contra mim, e eu não posso evitar mover meus quadris enquanto nossos beijos se aprofundam. Eu estou tocando-o através de suas roupas, querendo mais e de alguma forma, conseguindo me segurar. Tudo isso me deixa mais louca. Seu pau está duro. Eu sinto esticar através de seu jeans, e eu descaradamente me esfrego contra ele através do algodão da minha calça e o cetim da minha calcinha. 161

—Eu quero ver você gozar. —Ele sussurra. Isso me faz gemer, e eu mordo o lábio para manter a calma. —Ninguém está aqui, baby. —Ele insiste. —É só você e eu. Culpa corre através de mim, a carga perpétua de ser uma mãe e uma mulher. Max está na cama há horas, mas ainda parece errado, embora pareça oh, tão certo. Eu enterro meu rosto em seu pescoço para abafar os sons que eu começo a fazer. Sua barba arranha minha testa e sua mão está sob meu sutiã agora, apertando e torcendo meu mamilo enquanto eu me contorço em cima dele. Sua respiração começa a acelerar, combinando com a minha quando uma mãozinha bate por cima do meu ombro. Nós pulamos, tentando ajustar as roupas bagunçadas. A culpa no rosto de Jude trai como me sinto. —Por que você está fora da cama? —Exclamo, mas os olhos de Max estão voltados para o chão. Ele está se mexendo desconfortavelmente em seus pés, e eu me aproximo e pego o seu queixo. Ele olha timidamente para nós dois e meu coração afunda. Isto é exatamente o que eu queria evitar. Por que você está fora da cama? Eu faço os sinais. Seus lábios tremem e ele esfrega a barriga. Jude pula. Não está se sentindo bem homenzinho? Mas eu já estou de pé levando Max de volta para seu quarto. Viro-me e falo por cima do ombro. —Acho que vou vê-lo amanhã. —Eu não tenho que sair. — Jude diz significativamente. Sim, você tem, eu penso. Em vez disso, eu me obrigo a dar de ombros. Eu quero que ele esteja aqui quando eu voltar, mas eu preciso que ele saia. Eu forço um sorriso quando coloco Max de volta sob as cobertas. Você só precisa descansar, amigo. Mamãe está no quarto ao lado. Venha se precisar de mim. Eu beijo sua testa, mas ele ainda parece perturbado. O que está errado? 162

Estou em apuros? Eu fecho os olhos e tento manter minha compostura enquanto minhas mãos rapidamente respondem. Não, é claro que você não está em apuros. Estou sempre aqui para você. Não importa o que. Eu massageio suas costas por alguns minutos até que sua respiração fica superficial e suas pálpebras vibram com sonhos se aproximando. Jude ainda está no sofá quando eu finalmente volto. —Você realmente deve ir. — Desta vez eu estou comprometida com o que estou dizendo. —Faith, eu... Mas eu ergo a mão para detê-lo. —Eu fiz as regras por uma razão e, obviamente, eu não posso confiar em mim mesma quando você está por perto. —Então eu vou fazer melhor. —Ele promete. —Eu quebrei as regras, também, lembra? —Elas não eram suas regras. —Digo dando de ombros. Canalizo indiferença, mas em vez disso, isso sai plano, tão vazio quanto à ideia de ele ir. —Como diabos não são minhas regras. Você não precisaria delas, se não fosse por mim. —Eu sempre tive essas regras. —Digo, defensivamente. —Quantos homens você já saiu desde que Max nasceu? Ele descobriu meu blefe. Minhas mãos apertam em punhos ao meu lado. —Não preciso que você me analise. Jude olha para fora da janela e nós dois nos calamos. 163

—Sinto muito, Faith, eu não estou tentando forçar as coisas com você, mas nenhum de nós deve se conter, tampouco. É natural que um homem e uma mulher que tenham sentimentos um pelo outro queiram ter intimidade. —Acho que sim, mas isso é algo que eu não sou capaz. — Eu me forço a dizer, mesmo sentindo meu coração começando a partir. —Não se deixe levar. Não deixe a culpa dizer algo que você não quer dizer. — Não é um conselho. É uma ordem, e eu me irrito com o tom firme de sua voz. —Minha prioridade número um é proteger Max e ter certeza que ele não se machuque. —Você acha que eu iria machucá-lo? — Jude pergunta em um tom estrangulado. —Não, mas o que acontece daqui uns meses, se você decidir que quer voltar para Seattle? Ou LA? Eu não sei onde nos encaixaríamos na foto. —Você é a foto. Todo o resto é o fundo. — Jude diz suavemente. Eu quero ir com ele, mas eu resisto. Ele diz as coisas certas e ele quer dizêlas. Então, por que não posso deixar que ele me ame? Quando eu não respondo, ele muda de tática. —Talvez nós precisemos colocar isso em prática. Eu tenho feito umas pesquisas sobre implantes cocleares. —O que?! — Eu grito. É o último lugar que eu esperava que essa conversa fosse parar. —Eu sei que você disse que a companhia de seguros não pagaria por eles, mas isso não é realmente um problema agora. —É um problema. — Eu o parei. —Porque eu não tenho o dinheiro para eles. 164

—Eu tenho. —Jude, eu sinto muito. Eu não posso deixar você fazer isso e mesmo se eu deixasse há tantas coisas a considerar. —Como o quê? — Ele pressiona. —Eu sei que você não está pronta para que isso seja real entre nós, mas é real para mim e para ele. Eu amo o seu filho, e eu quero o que é melhor para ele. Eu não tenho uma família para cuidar. —Não, você não tem. —Digo incisivamente. Dou alguns passos para trás para que possa me inclinar contra a parede. Jude se levanta e se aproxima de mim. —Eu encontrei a minha família. Nós dois sabemos disso. É hora de começar a me deixar ser parte dela. Deus, eu quero, mas eu sei como é confiar em alguém. —Por que você quer que ele tenha os implantes, de qualquer maneira? Para que possamos transar no sofá? Para que possamos fazer o que quisermos, porque ele vai ser capaz de nos chamar? Os olhos de Jude estreitam e os ombros tencionam. —Não é isso e você sabe. —Ele é perfeitamente capaz de se comunicar com a gente. Nós não precisamos fazê-lo passar por um procedimento desnecessário apenas para que possamos ser egoístas. —Não é egoísta querer o que é melhor para ele. —Jude ruge. —E como você sabe o que é melhor para ele? — Eu exijo. —Você não é o pai dele. Você não esteve aqui todos os dias durante os últimos quatro anos. Ele pára a poucos passos de mim. —Eu estou aqui agora.

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Mas eu posso dizer que o que disse o feriu. Anseio poder retirar, mas isso precisava ser dito. Quanto mais tempo fingirmos que isso é algo diferente do que realmente é, mais nós dois vamos nos machucar. Nós olhamos um para o outro enquanto tento arrumar a coragem para dar o próximo passo, mas é Jude quem finalmente fala. —Amar vocês dois é a coisa menos egoísta que eu já fiz. Eu sei que você acha difícil confiar em outras pessoas, e eu estou tentando ser paciente com isso. Mas, caramba, mais cedo ou mais tarde você vai ter que aceitar que eu não vou a lugar nenhum. Aperto o batente da porta para me impedir de correr para os seus braços. O reaparecimento de Max garante isso. Mesmo no corredor escuro ele parece doentio. —Uh-oh. — Eu mudo para o modo mãe instantaneamente, mas antes que eu possa reagir, ele abre a boca e vomita por todo o tapete. Eu fecho meus olhos e procuro a fonte interna de força materna que eu preciso nesse momento. —Apenas vá. —Digo baixinho para Jude antes de me virar e levar meu filho para o banheiro. Tiro suas roupas pegajosas e ajudo-o a lavar sua boca. Eu estou seguindo o fluxo. Não há nada que eu possa fazer para um doente de quatro anos de idade. Nenhum medicamento que possa lhe dar. Eu só posso ficar lá, segurando sua mão e limpando-o. Esse é o trabalho que aceitei no dia em que ele nasceu. Por que vocês estavam brigando?

Max faz sinais. É por

minha causa? Eu guardo esta leve evidência de que mandar Jude embora é a melhor coisa possível para o meu filho. —Não. —Digo a ele. —Estamos apenas conversando. Por favor, peça-lhe para não ir. Max pede. E aí está. Ele o quer aqui tanto quanto eu o quero. Tanto quanto Jude quer estar aqui. Ainda assim eu 166

sei que é melhor forçá-lo a ir, porque não vai ser sempre assim. Eles podem não entender isso agora, mas um dia eles entenderão. Eu cochilo afagando Max. Quando cambaleio com os olhos turvos para a sala, eu vejo que o vômito foi limpo. Acho Jude passando o pijama de Max da máquina de lavar roupa para a secadora. Ele não olha para mim. —Vou embora em um segundo. Eu só não queria que você tivesse que lidar com tudo isso. Lágrimas surgem nos meus olhos. —Sinto muito. —Digo baixinho. Ele se inclina segurando a beira da máquina de lavar e dá um suspiro profundo. —Eu sei o que vamos enfrentar, Faith e eu sei por que você está preocupada. Eu não posso prometer-lhe que eu nunca vou cometer um erro. Mas eu posso prometer-lhe que tudo o que tenho e tudo o que eu sou é seu. Ele espera eu responder, e eu sei o que espera. Eu deveria dizer a mesma coisa, e eu quero, mas eu sei que se fizer, será uma mentira. Quando eu não falo, ele se vira e segura meu queixo. —Descanse um pouco, raio de sol. Ele precisa saber a verdade, mesmo que isso signifique perdê-lo. Abro a boca pronta para derramar todos os segredos sórdidos e memórias torturadas do meu passado. Em vez disso Max começa a chorar, e minha cabeça cai para frente. —Segunda rodada. —Eu cuido disso. — Jude diz com firmeza. —Você vai para a cama dessa vez. Parece que nós teremos uma longa noite.

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Nós. Nós teremos uma longa noite. Sem hesitação. Sem expectativa. Jude escolheu ficar ao meu lado e ao lado de Max. Ele me empurra em direção ao meu quarto e, em seguida, corre para Max sem um beijo. Eu não me importo. Se ele realmente acredita que este é o lugar onde ele pertence, e se é isso o que ele quer, então suas prioridades estão no lugar certo. Agora ele precisa estar com Max. Enquanto me aconchego debaixo das cobertas e na cama, minhas pálpebras ficam pesadas mesmo quando minha mente ficando dando voltas, pensando nas coisas que ele precisa saber. Ele precisa saber por que Max é surdo e ele precisa saber os pecados que me trouxeram para esta cidadezinha. Mas acima de tudo Jude precisa saber do que eu estou fugindo.

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CAPÍTULO 19 Anteriormente

O choro nunca parava. Cada minúsculo ruído que ele emitia aumentava o pânico dela. Expandia-se, pressionando contra seu peito até que ela pensou que explodiria. Quando Grace saísse para o trabalho, ela iria deixá-lo no berço e deixálo chorar até que um deles caísse no sono. Faith sonhava com rostos que tinha deixado para trás. Havia um monte de gente ruim que tinha deixado na Califórnia, mas havia os que foram amáveis, também. Alguém estava sempre disposto a compartilhar um canto ou oferecer um sofá. Mais do que algumas vezes, um homem tinha a acolhido em sua casa. Alguns deles se apaixonaram por ela e ela se apaixonou por suas camas quentes e lençóis limpos. Ela transou com a maioria deles. Era parte do arranjo. Ela tinha feito amor com um. Max tinha os olhos dele. Seus gentis olhos azuis que a faziam querer ser alguém melhor do que ela era. Ele disse que ela tinha que ter fé em si mesma, porque estava em sua natureza e sua mãe deveria saber disso quando a nomeou assim. Ela queria acreditar nele. Ela poderia tê-lo amado. Ela o deixou quando descobriu que estava grávida. Ele não era do tipo que apoiava um vício. Ela prometeu-lhe ficar limpa e então ela estava de joelhos e pior, suportando isso. Teria o machucado saber disso. Teria o destruído se o bebê acabasse por não ser dele, e ela sabia que teria sido incapaz de dizer. As possibilidades eram limitadas sobre quem tinha gerado o bebê. Ela tinha sido fiel a ele exceto quando pagava pelo que ele não poderia prover. Quando Max dormia, ela o imaginava no quarto que seu pai lhe teria dado. Teria uma pequena vista para o oceano. Ele amava o som das ondas. Cada vez que ela imaginava, a visão brilhava para dela, como aquelas primeiras bebidas que tomou anos atrás. Talvez ela fosse viciada nele também, mas ela sabia que ele tinha sido um porto seguro. Ela queria acreditar que ela poderia amá-lo, mas o amor não estava no acordo que tinha sido feito.

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Se alguém amava era Grace. Ela deveria amar Max, mas cada vez que ela procurava essa emoção, ela não achava. Talvez o amor não fosse de graça, e ela não estava disposta a pagar o preço solicitado. Ela olhou para o teto já no limite e considerou isso enquanto Max chorava no quarto. Faith não se preocupou em sentar-se quando a porta da frente bateu. —Cristo, Faith! Você não pode ouvi-lo? —Grace não se incomodou em esperar por uma resposta. Poucos minutos depois, o choro havia cessado e ela apareceu, segurando Max. —Ele só quer ser pego no colo. Faith suspeitava que ele queria ser amado, mas ela não disse nada. É por isso que ele se acalmava com Grace e não com ela. Uma pontada familiar de dor a golpeou, ficando em sua pele. Ela estava começando a odiar Grace. Isso ela podia sentir. Ela sentia isso há anos. Ela odiava Grace por ser tudo o que ela não poderia ser, e a si mesma por tudo o que ela era. A presença de Max só reforçava essa verdade. Externamente, ela deu de ombros. —Ele chora o tempo todo. Grace sentou no final do sofá e suspirou audivelmente. —Olhe... —Ela começou. —Eu sei que isso é um ajuste. É para mim, também. Mas talvez você devesse consultar seu médico. —Não comece com isso de novo. — Faith cortou. Ela sabia muito bem que remédio não corrigiria coisa alguma. Ela tinha tentado todos. —Você não tem que tomar qualquer coisa, se você está com medo. Grace ainda estava sob a impressão de que Faith queria ficar limpa. Ela acreditava que Faith tinha fugido dessa vida, quando na verdade ela tinha fugido da verdade. Isso ficou claro agora. —Não vai funcionar. — Até onde sabia não havia nada mais a dizer. —Então vamos, pelo menos sair de casa. — Grace pediu, as primeiras notas de frustração surgindo em sua voz.

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—Eu acho que nós deveríamos ficar em casa por alguns meses. — Isso provavelmente não era verdade, mas parecia que poderia ser. Todas as outras regras sobre estar grávida e ter um bebê faziam tanto sentido para ela. —Oh meu Deus, eu já não estou sugerindo, eu estou exigindo. Você não é uma inválida, você é mãe! —Ela empurrou balançando em seus pés, embalando Max com cuidado. Ele tinha finalmente caído no sono e agora ela queria ir embora. Mas enquanto levantava, ele abriu um olho sonolento, sorriu bobamente como se Grace fosse inebriante, e se acomodou em seus sonhos. Era como ela deveria exatamente parecer. Era o problema de estar perto de sua irmã, ela era um reflexo sempre presente do que Faith secretamente desejava. Grace era seu espelho mágico, mostrando-lhe o caminho certo para fazer as coisas. —Tudo bem. — Ela concordou com relutância. Ela iria tentar. Ela não tinha mais nada para dar para eles, além de esforço. Elas foram para o Pacific Science Center onde Grace trabalhava e revezavam segurando Max. —Eu acho que ele é grande o suficiente para um carrinho de criança. — Grace disse. Ela embalava-o suavemente enquanto vagavam pelo jardim das borboletas. —Eu só tenho que poupar um pouco pelas próximas semanas. —Eu vou conseguir um emprego. — Ela conseguiria. Era bom dizer isso. Essa merda de ficar em casa tinha que parar. Grace bufou e inclinou a cabeça para baixo para Max. —Você tem um emprego. Mas eu não quero isso. Em vez disso, ela balançou a cabeça quando uma grande borboleta monarca pousou no ombro de sua irmã, em seguida, escorregou para a testa de Max. —Isso significa sorte! —Grace sorriu amplamente. —Você vai ser abençoado, homenzinho. 171

A garganta de Faith se contraiu com o nó que estava perpetuamente nela. Talvez Max já fosse. Elas deixaram Max molhar sua mãozinha na piscina da maré baixa no museu e riram quando ele bateu descontroladamente, molhando a ambas com água salgada. Algumas das crianças se reuniram na beira da exposição espirrando água de volta, enquanto brincavam alegremente até que um voluntário do museu lhes pediu para parar. Em seguida, elas o levaram para o planetário e mostraram as estrelas. Naquela noite, ele caiu no sono, sem um gemido. Ele tinha finalmente visto um pouco do mundo além da casinha deles. Se ele soubesse o quão grande o mundo era e as possibilidades aterrorizante que continha. Faith ficou acordada, olhando para o teto, desejando que ela pudesse ver as estrelas. Na parte da manhã, ela desapareceu dentro daquele vasto mundo assustador sem pensar duas vezes.

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CAPÍTULO 20 Jude e eu precisávamos de um tempo de adulto. Não o tipo de tempo que passamos nos pressionando contra portas de garagem, mas do tipo sério, cara-a-cara, tempo ininterrupto para conversar. Por isso, convidei-lhe para sair. É bobagem eu ainda me sentir tonta quando ele disse sim. Uma vez que este é o meu encontro, escolhi o restaurante. Eu decido manter a sua zona de conforto. Thai Gardens fica num cantinho do centro da cidade. É um pouco mais romântico do que minha sala de estar, com cadeiras em tons de ameixa suave e estátuas exóticas, embora permaneça parecendo casual. —Tailandês? — Ele pergunta quando estamos indo para a nossa mesa. Abro meu guardanapo e coloco-o em meu colo. —Eu pensei que eu expandiria seus horizontes. —Eu acho que vou ter de confiar em você. Confie em mim. Isso pode não durar muito tempo. Seus olhos piscam para a minha mão, e eu congelo. Eu nem percebi que eu tinha pegado meu garfo e começado a bater nervosamente contra o tampo da mesa. Jude remove o utensílio suavemente e une seus dedos nos meus. Normalmente, esse gesto me acalma, mas eu sei por que estamos realmente aqui esta noite. Sim, precisamos de tempo de adulto. Precisamos de tempo sem Max e Amie. Precisamos de tempo longe do sofá e longe de uma reunião de NA para realmente conhecermos um ao outro. Embora ele tenha sido nada mais do que aberto sobre sua vida, eu não posso dizer o mesmo de mim.

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Quando se trata de Jude, estou sem controle. É uma emocionante sensação vertiginosa, se eu cair eu sei que ele vai estar lá para me pegar, mas eu não posso pedir-lhe para me dar mais de si mesmo até que ele saiba a verdade. A garçonete aparece e Jude pede a ela sugestões. Meu estômago é um grande nó e eu o deixo escolher por mim. Ela balança a cabeça um pouco quando vai embora, provavelmente, maravilhando-se com o grande número de coisas que ele pediu. Enquanto isso, eu decido se a verdade vai melhor com os pratos principais ou com os aperitivos. —Aliás, eu quero dizer... — Jude começa, enquanto mergulha um canudo em seu chá gelado. —Você está linda esta noite, raio de sol. Eu não posso impedir o sorriso do meu rosto, apesar do motivo sombrio, eu escolhi um vestido realmente bonito do meu armário. —Amie fingiu desmaiar quando me viu. —Digo a ele. —Eu acho que é uma surpresa que eu possuo algo além de jeans. —Eu vou admitir que eu gosto desses jeans e o que eles fazem para a sua bunda, mas você está deslumbrante esta noite. Eu aliso meu vestido preto de crepe, de repente, autoconsciente. Eu empilhei meu cabelo em cachos acima da minha cabeça e até mesmo fui tão longe ao aplicar delineador nos olhos, um líquido bastante complicado, bem como batom. —Você também está bonito. —Tento desviar um pouco da atenção para longe de mim. Ele corre um dedo em volta da gola de sua camisa de botão preta, e dá de os ombros. —Eu nem chego perto de você.

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Eu me pergunto se ele vai pensar o mesmo quando eu finalmente esclarecer tudo. O nó no estômago fica mais apertado, e eu engulo água tentando me acalmar. Claro, eu então bato o copo sobre os dentes de meu garfo, derrubando-o sobre a mesa. —Oh meu Deus, eu sinto muito! —Corro para impedir a água de escorrer antes que derrame em sua calça. Eu não posso nem fazer as coisas simples direito. Jude agarra a minha mão e eu percebo que estou me xingando baixinho. —Não é uma grande coisa. —Ele diz em voz baixa. A atendente da mesa corre agitada com panos secos, limpando os cubos de gelo. Eu me vejo desejando que fosse tão fácil limpar meus outros erros. Preciso me controlar. Não posso esperar fazer qualquer sentido se eu começar a compartilhar tudo agora. Os principais pedidos chegam e eu vou contra o meu próprio prazo auto imposto. Felizmente o aroma picante, o alho flutuando entre os vários pratos distrai Jude. —Vamos ver se isso é bom. — Ele espeta um camarão com o garfo e estala-o na boca. —Não tenha um orgasmo. —Eu brinco enquanto ele revira seus olhos. —Qual deles é este? — Ele pergunta depois de engolir. —Humm, eu acho que é camarão de sogra 32. —Então eu não sei por que todo mundo reclama. —Ele diz. —Porque esta é uma droga de sogra, que eu quero levar para casa. Eu forço uma risada enquanto meu estômago vira. —Bem, é o único que você vai ter para levar para casa.

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Camarão marinado, empanado e frito.

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A piada cai, então eu mexo a minha comida no meu prato incapaz de dar uma única mordida. —Faith. —Ele diz depois de alguns minutos. —Você não é a única que cresceu sem uma família. Eu sei que é difícil para ele dizer isso, porque ao contrário dele eu tenho um filho agora, e uma avó que eu ainda posso ver, mesmo que ela não esteja muito bem. Ainda assim, eu aprecio que ele entende como me sinto, mesmo que ele só tenha uma pequena noção da magnitude da minha perda. Eu abandono a minha tentativa de comer. Cruzo minhas mãos sobre a mesa, eu me preparo. —Há algumas coisas que eu deveria lhe dizer. Ele levanta a mão para me cortar. —Não vamos contar nossas histórias tristes. Não podemos rever o nosso passado, raio de sol. Só podemos decidir o que acontece em seguida. —Nós escrevemos nossas próprias histórias? — Eu levanto uma sobrancelha. —Exatamente. —Ele diz com um sorriso. O nó dentro de mim começa a afrouxar. Talvez ele esteja certo. Talvez eu não deva sobrecarregar Jude com os meus pecados. É demais esperar que eu possa ter uma segunda chance, mas ele me faz querer sonhar. —Espere, não era o que a sorte disse no nosso primeiro encontro? — Pergunto quando caio em mim. Ele enfia a mão no bolso de trás e puxa a carteira para recuperar um pedaço enrugado de papel. Quando ele passa para mim, lágrimas vem aos meus olhos. —Você o guardou. 176

—Eu mantenho os bons. —Ele diz em voz baixa. Eu levanto os meus olhos para encontrar os dele. —Estamos falando de sortes, ou... —É uma política geral. —Ele me assegura. Eu entrego de volta para ele, juntamente com o meu coração. Eu quero que ele o mantenha seguro. —Você tem muitos desses aí? —Você não gostaria de saber. — Ele pisca. Caímos em brincadeiras alegres. Jude me alimenta de vários curries e macarrão que pediu, e nós decidimos que ele gosta de comida tailandesa, tanto quanto de chinesa. Isto é como deveria ser: fácil. Talvez nós já sofremos o suficiente para ter a felicidade agora. —Devemos voltar aqui. Talvez a gente possa alternar entre este e Lucky Dragon aos domingos. —Sugiro. —Será bom fazer algo diferente. —Ele diz, enquanto mantém aberta a porta do restaurante. —Você acha que o homenzinho vai gostar? Eu franzo os lábios e considero isso. —Pode ser um pouco picante demais para ele, mas podemos tentar. Falar sobre Max e fazer planos com ele no nosso futuro vem tão facilmente para nós. Jude pode estar certo. Talvez tudo o que posso fazer é me concentrar em encontrar um final feliz para nós três. —Quer dar um passeio? —Eu proponho. Ele me dá uma checada, limpando a garganta um pouco enquanto os olhos permanecem em minhas curvas. —Você não vai ficar com frio com esse vestido? —Eu gosto do vento, lembra? Especialmente o do mar. — A rouquidão filtra no meu tom e seu rosto ilumina com a memória da nossa primeira manhã.

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Infelizmente, não seremos capazes de reviver aquele momento na praia de acesso público ao longo do centro de Port Townsend. Em vez disso eu tiro meus saltos e andamos lado a lado ao longo da costa rochosa. Os dias estão ficando mais longos e ainda há uma lasca rosada de sol no horizonte. A cada passo, uma pedrinha bate contra a sola do meu pé, mas eu não me importo. Eu respiro o ar salgado, Jude, e a possibilidade mágica do crepúsculo. Mas, quando a tira de luz do dia dilui, o ar vindo da água fica mais frio. —Você está tremendo. —Jude observa. Parando, ele envolve seus braços em volta de mim e esfrega as mãos ao longo da minha pele nua para me aquecer. —Deveríamos encerrar a noite. Eu levanto a minha cabeça para que eu esteja de frente para ele. —E se eu não quiser? Jude lambe o lábio inferior, e sei que ele pegou a implicação nas minhas palavras. —Sua casa ou a minha? —Eu pergunto. —Às vezes eu desejo que isso não fosse uma pergunta. — Ele me puxa para perto, deixando sua última declaração pendurada entre nós. Sinto que não é a pergunta com que ele está preocupado. Minha respiração acelera. Eu não estou pronta para ele pedir alguma coisa. Eu preciso de mais tempo. Afastando para trás, ele roça o polegar sobre meu lábio inferior, seus olhos queimando tão intensamente quanto a ponta azul de uma chama. —Minha casa está vazia. —Ele diz finalmente. É uma resposta que eu quero, em vez da pergunta que eu temo. Eu relaxo em seu corpo sólido. —Amie insiste que você não volte para casa até de manhã. —Ele continua.

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—Ela insiste, né? — Eu pergunto. —Você está de conspiração com a minha melhor amiga? —Vou ganhar ou perder pontos se eu disser que sim? — Há um sorriso em seu tom. Eu engulo e tomo uma decisão. Se eu estou escrevendo a minha própria história, então como eu quero que este capítulo termine hoje à noite? —Sua casa. —Eu sussurro. —Será que eu parecerei impaciente se eu jogá-la sobre meu ombro e correr para o carro? — Ele está tão perto de mim agora que eu sinto o calor de sua respiração. —Nem um pouco. — Eu tranquilizo-o. Parte de mim espera que ele faça isso. Estamos rindo como bobos no momento em que chegamos à rua, mas ele só começou a subir para o jipe quando meu telefone começa a tocar. —Desculpe! — Mas ele acena para o meu pedido de desculpas. Eu o pego e respondo rapidamente quando vejo o número piscando na tela. —O que há de errado? —Oh doçura, é sua avó. —A voz amiga de Maggie está cheia de preocupação. —Eu odeio ligar, mas ela está tendo um ataque e nada vai acalmála. Algumas das coisas que ela está dizendo... Bem, eles estão como loucos, criança. Eu acho que lhe faria bem vê-la. Eu fecho meus olhos e inclino para trás no assento. Agora não é realmente uma boa hora, mas Maggie nunca me ligou assim antes. —Eu posso tentar. —Bem, ela está jogando coisas pelo quarto durante toda a noite, falando sobre você e sua irmã.

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Eu aperto o telefone firmemente como se ele pudesse sair do meu controle. Vovó nunca fala sobre nós duas. —Eu vou estar aí o mais rápido que eu puder. — Eu desligo o telefone e dou a Jude um sorriso de desculpas. —Ela está bem? — Ele pergunta. Sem dúvida, ele ouviu a maior parte de nossa conversa. —Eu honestamente não sei. Maggie nunca me pediu para ir até lá antes, e... —Você vai estar com sua avó. —Jude interrompe. —Eu posso lidar com esperar pela outra vez. —Você tem certeza? — Eu mordo meu lábio, pensando se Amie irá estender sua oferta para me deixar ficar fora toda a noite de amanhã. Jude vira no sinal e inverte seu caminho, indo para minha casa. —Claro que eu estou certo. Podemos não ter muitos familiares, raio de sol, mas nós vamos ficar com esses que nós temos. Ele estaciona na calçada, em seguida, desliga o carro. —Você quer que eu vá com você? Eu balanço a cabeça negativamente. Se Vovó está falando sobre nós duas, então eu quero fazer isso sozinha. Depois das coisas que ela disse na primeira vez que o levei para vê-la, eu estou mais do que um pouco apreensiva sobre o que ela vai revelar sobre o meu passado. Ele acena com a cabeça compreendendo. —Vou verificar o homenzinho. Você vai me chamar quando você chegar em casa? —Sim. —Eu prometo-lhe, entretendo a possibilidade de que eu poderia estar de volta antes que seja tarde demais para ir à sua casa. 180

Jude agarra meu quadril e me puxa para perto dele. —Amanhã à noite? —Absolutamente. —Suspiro. Ele beija-me sem sentido, deixando-me com um lembrete de que não importa o que hoje o detém, ele vai estar lá na parte da manhã. ***

Os poucos bens aos que Vovó se manteve fiel ao longo dos anos estão espalhados no chão. Um álbum de fotos. Um pedaço de barro que uma de nós pintou para seu aniversário. As roupas espalhadas sobre a cama. No canto um retrato de meu avô está em ruínas. Maggie não estava exagerando quando ela me ligou. —Sinto muito, doçura. — Maggie diz enquanto estamos na porta e inspecionamos a destruição. —Os médicos pensaram em dar-lhe algo para acalmá-la, mas eu achei que deveríamos tentar ter você aqui primeiro. Pelo menos ela não está mais jogando coisas por aí. Em vez disso, ela se senta na cadeira de balanço olhando para a janela, chorando baixinho para si mesma. Eu cruzo até ela, cuidando para não pisar em qualquer de suas coisas. Ajoelhando em frente a ela eu pego a sua mão. —Vovó. —Eu chamo-lhe com uma voz suave. —Oh, ela está morta. Ela está morta. —Ela murmura entre lágrimas. Eu engulo em seco e me forço a perguntar: —Quem está morta? —Ela está morta, ela está morta. —Ela repete. —Eu não pude ajudá-la.

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Ela vira o rosto cheio de lágrimas para o meu. Estendendo a mão acariciando a sua mão frágil no meu rosto. —Eu sinto muito sobre sua irmã. Eu respiro fundo e coloco a minha mão sobre a dela. Pressionando-o na minha bochecha, eu fecho meus olhos. —Eu estou bem aqui, e ela está em Los Angeles. É mentira. Eu não tenho nenhuma ideia de onde minha irmã está. A última vez que a vi, ela mencionou a Califórnia, por isso é um palpite tão bom quanto qualquer outro. Há uma abundância de drogas para uma menina bonita no Estado dourado. —Não, ela está morta. A determinação firme em suas palavras me paralisa. Sentando sobre os calcanhares, procuro em seu rosto e encontro o reconhecimento. Esta não é ela presa no passado. Ela está aqui comigo agora. —Vovó, do que você está falando? Ela se vira e aponta para sua cômoda. É preciso toda a força em mim para me levantar e caminhar até a gaveta aberta. As maiorias das coisas estão saindo ou jogadas no chão, mas há um pedaço de papel dobrado lá dentro esperando ameaçadoramente. Eu apalpo enquanto o abro e leio. Meu mundo gira ao meu redor, e eu me apoio na cômoda. Eu não preciso ir muito além da primeira linha. Correndo de volta para a minha avó, eu seguro-o enquanto minha mão treme. —Quando você conseguiu isso? Há quanto tempo você tem isso? —Eu sinto muito. O que é isso? —Ela pergunta. A ausência calma se instalou sobre suas características. 182

Eu não terei nenhuma resposta dela esta noite, mas o papel que eu estou segurando é resposta suficiente. Eu dobro-o de volta e, em seguida, mais uma vez para garantir. Colocando-o em um bolso da minha bolsa, onde ninguém vai encontrá-lo. Se Maggie não tivesse ligado esta noite... Mas eu não posso ficar pensando nisso. Eu me mexo para arrumar seu quarto. Até o momento que eu acabo ela está perguntando quem eu sou. Eu sou apenas mais um rosto sem nome para ela. Maggie me para na porta da frente e me dá um grande abraço, mas eu não posso sentir. Estou muito dormente. —Obrigada por ter vindo. Desculpe-me, eu arruinei seu fim de semana. — Ela pede desculpas. —Não foi nada. — Eu forço um sorriso, mas não posso olhá-la no rosto. —É difícil quando ela fica assim. —Ela diz, interpretando erradamente que estou chateada por isso. —O médico quer vê-la na parte da manhã. —Eu vou tentar passar amanhã. Domingo, no mais tardar. —Eu prometo. Desta vez eu vou manter essa promessa. Eu vou vir todos os dias até que eu possa pegá-la em um bom dia. Ela pode não ter todas as respostas, mas o pedaço de papel pesando em minha bolsa diz o contrário. Estou quase saindo pela porta quando Maggie chama. —Aliás, foi bom conhecer seu homem! A sensação vertiginosa que normalmente acompanha as conversas sobre Jude está ausente. Hoje essa noite a roubou de mim. —Obrigada. —Digo simplesmente, movendo-me para sair. —Eu queria saber se ele iria encontrá-la. Eu fecho a porta e me viro para ela. 183

—O que quer dizer? —Pergunto, já temendo a resposta. —Bem, ele veio aqui procurando por você. Velhos amigos, ele disse. Conheceu na Califórnia, não foi? —Ela estuda meu rosto não sendo capaz de esconder sua curiosidade com a minha reação. Eu engulo e aceno, percebendo por que Jude não queria revisitar sua história durante o jantar. Ele estava deixando partes de fora também. —Ele não mencionou que ele veio aqui. —Digo finalmente. —Sim, e ele visitou sua avó também. Ela estava tendo um bom dia. — Maggie continua, completamente alheia. —Eu não posso acreditar que eu me esqueci de mencionar isso. Um homem como esse vem aqui à procura de Faith Kane, e eu me esqueço de dizer-lhe. —Ele a encontrou. — Eu digo em voz baixa. —Sim, ele encontrou, não foi? Destino funciona de maneiras misteriosas. —Você não disse a ele que eu estava em Port Townsend? — A pergunta rasga pela na minha garganta. —Eu nunca faria isso, mesmo ele sendo muito bonito. Política de privacidade, lembra? Eu só esperei que ele fosse encontrá-la por conta própria. —Claro. —Digo, minha boca secando. —Eu acho que eu tenho sorte que ele me encontrou.

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CAPÍTULO 21

Eu dirijo para casa a uma velocidade que excede em muito a imprudência. As árvores são um borrão de tinta na janela do carro, assim como a minha vida. Eu tenho um milhão de perguntas que eu preciso que sejam respondidas, mas exigi-las significa abrir a parte de mim que eu tranquei. Jude não tinha acontecido na minha vida, ele tinha a violado. Descobrir por que pode destruir a esperança para nós completamente. Quando a placa para Port Townsend surge à vista, eu sei que há uma escolha vindo. Eu posso pegar a estrada para minha casa ou para a sua. Eu escolho a mais conhecida, mas assim que viro na minha rua eu noto seu jipe: um toque de amarelo na noite escura. A decisão foi tomada para mim. Ele fez isso comigo novamente. Quando eu chego à porta da frente, paro no limiar. Eu não posso nem entrar na minha própria casa. Ela está contaminada também. Assim como ele me contaminou. Ele está dentro da casa. Ele está dentro da minha vida. Eu quero-o fora de ambas. —Por que você está aqui? — A raiva treme na minha voz quando eu lhe chamo da porta. Jude joga alguns brinquedos espalhados em uma cesta antes que ele siga para mim. Eu passo para a varanda para que não acorde Amie. —Eu queria verificar você. Amie disse que não estava em casa ainda, então eu fiquei preso colocando o homenzinho na cama. —Você deveria ir. — Eu olho o passado dele, tentando ver um futuro sem ele.

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—O que está acontecendo, raio de sol? —Ele pergunta. Quando eu não respondo, ele estende a mão e inclina o meu queixo até que nossos olhos se encontram. — Você sabe. — Duas palavras simples que dizem tudo. A simplicidade não diminui o peso da acusação. No mínimo, eu sinto isso mais agudamente agora. Traição. Medo. Debaixo da dormência paralisante dessas emoções, tristeza espera por mim. Jude não me pressiona para continuar. Ele não me enche com perguntas. Porque ele sempre soube que este momento chegaria. —Eu não tinha certeza do que esperar. — Eu admito, afastando-me dele. —Enquanto eu dirigia para casa imaginei o que você ia dizer, como que você explicaria isso. —Eu tenho me perguntando a mesma coisa por meses. — Ele não dá nenhuma desculpa, ou me insulta fingindo ignorância. Mas ele não tenta me alcançar novamente. Seus ombros se esticam e um músculo contrai em sua mandíbula. Ele está na defensiva. Eu não posso culpá-lo. Eu me sinto tão alerta quanto ele. —Quando você ia me dizer? — Eu exijo. — Quando você ia me dizer? —Ele repete, mas eu ignoro-o. —Você sabia de tudo o tempo todo. — Eu procuro em seu rosto por um indício de que estou errada, mas a verdade está em seus olhos. —Por que você não me disse que ela estava morta? Seus olhos se fecham enquanto ele sorve uma respiração profunda. Jude abre a boca e fecha novamente. —Você não sabia? — A compreensão sai suavemente dos meus lábios. —Não. — Ele murmura. —Eu não sabia. Sinto muito por ouvir isso.

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—Mas isso não é desculpa para o que você fez. Você veio aqui procurando por ela. Por quê? —Eu não estou dando-lhe mais tempo para processar a sua morte do que eu recebi. Eu quero que ele sinta. Eu não quero estar sozinha com esse conhecimento cru, vulnerável. —Eu vim procurando por ela. —Ele confessa em voz lenta. Ele faz uma pausa para processar seus pensamentos e eu quero gritar para ele continuar. Eu preciso de respostas, eu preciso delas agora. —Eu a encontrei em vez disso. —Ele finalmente diz. —E você sabia. — Minha voz rompe sobre a questão, as lágrimas caindo através da fina camada de autocontrole que me apego desde que cheguei aqui. — O tempo todo. Você entrou na minha casa. Você foi para a cama comigo. Você me chamou pelo seu nome. Agora que eu estou enfrentando isso, meu estômago revira, violentamente agitado com as informações até que eu me sinto enjoada. —Você chamou a si mesma pelo nome dela. — Não há nenhuma advertência quando ele fala. Nenhuma condenação. Somente tristeza. Ele não cai nas minhas mentiras. Ele viu através delas. Eu tiro o papel dobrado da minha bolsa e em seguida, jogando a bolsa pela porta de entrada. Empurrando-o contra o peito, eu começo a soluçar. —Aqui estão as respostas que você está procurando. Seus olhos ficam nos meus enquanto ele abre o papel. Ele tem que apertar os olhos para ler sob a fraca luz da varanda. Ele desliza sobre isso, e eu sei o que ele está lendo. O meu nome. Não, o nome dela. Data e o modo da morte. 187

Data. —Um ano. —Ele diz quando a informação o atinge. —Faith Kane morreu há um ano e a prova disso estava escondida na gaveta de meias da minha avó. —Eu não sabia. — Jude dobra o papel de volta e o estende para mim. Sua língua desliza por seus lábios. Eu o odeio, porque aqueles lábios nunca me tocarão novamente. Eu o odeio, porque ele nunca foi meu. Eu o odeio, porque eu pensei que eu finalmente encontrei algo verdadeiro. Mas ele é apenas uma ilusão. Eu sempre suspeitei que ele era bom demais para ser verdade. Eu não posso imaginar o que ele realmente pensa de mim. —Eu não estava certo o que pensar quando te conheci. — Sua boca rouba meus pensamentos. Lembro-me de como seus olhos brilharam naquele primeiro encontro. Jude gentil. Jude salvador. No entanto, ele lentamente me aqueceu. Em seguida, ele foi curioso. Eu tinha interpretado mal cada momento que tínhamos compartilhado. Ele nunca me quis. Ele tem me analisado e Deus sabe mais o quê. —Eu pensei que você estava apreensivo. Eu pensei que talvez você percebeu que era uma má ideia se envolver com alguém que conheceu em uma reunião de NA. Nós construímos uma relação inteira em uma mentira. —Não. — Sua voz é firme quando me para. Jude agarra meu ombro e eu posso dizer que ele quer me sacudir, mas ao invés disso ele agarra meu braço protetoramente como se ele tivesse que me manter a salvo de mim mesma. — Nosso relacionamento começou como uma mentira, mas não é uma mentira. Eu te amo. Todo o resto não é importante. —Como você pode dizer isso? — Eu grito. Eu me perguntava se ele nunca diria essas palavras. Agora é tarde demais. Sem pensar eu empurro-o. —Por que você está aqui? Por que você está aqui? 188

Eu continuo empurrando-o. Ele aguenta, tropeçando para trás passo a passo. Ele não tenta me parar. Quando suas costas batem na porta da frente, ele agarra meus pulsos e prende-os em seu peito. —Ela me mandou um cartão postal. Ele não dizia nada, além de Port Townsend. —Como você sabia que era dela? —Eu pergunto em voz baixa. —Ela assinou. Eu não sabia o que significava. —Mas você veio aqui. Você comprou uma casa aqui. —Isso significava alguma coisa. Ele não podia negar isso. —Eu não fiz isso por causa dela. —Ele esclarece. —Eu percebi que ela deveria estar em apuros, então sim, eu vim à procura dela. Eu encontrei você em vez disso. Mas eu não posso ver o passado que nos aproximou. —Ela deve ter significado muito para você. —Eu pensei que sim. —Ele admite. —Mas agora eu acho que ela estava me levando a você. Eu luto contra seu aperto, porque eu não posso pensar claramente com Jude me tocando e eu preciso manter minha cabeça no aqui e agora. Eu finalmente desisto quando ele não me solta e olho para ele. —Você veio para ela. Você ficou comigo. Estive à sombra da minha irmã pela maior parte da minha vida, eu não vou ser mais sua substituta. —Eu tentei ficar longe de você. Eu não entendia por que Faith me trouxe aqui, mas eu não podia deixar de vir. Eu lhe devia muito. —Jude libera seu aperto no meu braço, e eu esfrego meus pulsos. Ele estende a mão para fazer isso para mim, mas eu me afasto.

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—Por quê? — Mas eu não estou perguntando a ele, eu estou me perguntando. Por que eu devo tanto a Faith? Que misteriosa influência ela tinha sobre mim, sobre ele, sobre todos nós, por todos esses anos? Por que não podemos nos libertar? —Eu conheci Faith em uma festa. Eu congelo quando ele começa a contar sua história. —Eu não sabia muito ao conhecê-la, eu a encontrei no meu quarto de hóspedes em uma poça de seu próprio vômito. —Ele diz. —A maioria das pessoas chamaria a polícia. —Digo friamente. —Eu não sou a maioria dos homens. Eu sei disso, isso é o que está tornando tudo muito difícil para mim. Eu assisti Jude salvar a todos e estupidamente acreditei que ele poderia me salvar. —Como é geralmente o caso em LA, —Ele continuou. —Havia um médico na festa e ele a checou. Quando ele me garantiu que ela não estava em perigo, eu fiz minha empregada limpá-la e eu a coloquei em uma cama. Ela dormiu por dias e quando ela acordou, parecia um animal ferido. Ela era tão frágil quanto um passarinho rebelde. Eu não podia deixar o mundo exterior quebrá-la mais. —Então, você apenas a deixou ficar? —Pergunto incrédula. —Você não deixaria? —Ele rebate. — Ela contou-me sobre sua família. Como sempre a porta se abria para ela. Ela me disse que elas nunca desistiram dela. Havia tanta tristeza nela e eu só queria curá-la. —Você não pode. — Sussurro. Ninguém nunca consertou Faith, e agora ninguém jamais conseguiria. —Eu sei disso agora. Levei muito tempo para aprender. Ela ficou por algumas semanas. Gradualmente ela ficou mais forte e nos conhecemos.

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Eu quero perguntar se ele sempre pegava os vira-latas, mas eu sei a resposta. Jude: O santo padroeiro das causas perdidas. Um homem que vai resgatar uma desconhecida num bar. Um homem que chega e conserta a janela do carro da mãe solteira. Um homem que trata uma criança como se fosse à pessoa mais importante do mundo. Jude coleciona pessoas e tenta consertá-las. Ele simplesmente não acredita em causas perdidas — ele é único. —Você a amava? — Eu pergunto mesmo não querendo saber a resposta. —Eu gostava bastante dela. Havia algo que me atraía para ela. Ela me mostrava partes de si mesma e, em seguida, ela as esconderia novamente. Fingia que poderia ser feliz por um tempo. Talvez fosse tudo um jogo. Ela me disse que ela chegou à festa com um amigo, e eu nunca a pressionei por mais. Eu apenas dei-lhe o espaço para se curar. A primeira vez que eu a encontrei fora de si, eu a desculpei. Eu deveria ter visto isso chegando. —Sua voz é oca com as memórias, preso em um passado não tão distante. —Eu pensei que se eu estivesse lá, eu poderia ter evitado. Eu realmente não sabia com o que eu estava lidando então. —Você estava procurando por ela no NA. Você nunca foi um viciado. —A compreensão me atinge com uma clareza horripilante. Ele se vira para mim. —Nós não somos todos viciados? Eu sou. Eu sou viciado em consertar pessoas. Quero salvá-las. Tenho certeza de que psiquiatras teriam um trabalhão comigo. Imaginem: um homem adulto com problemas com o pai. Mas eu não preciso pagar alguém para me dizer que eu estou fodido, raio de sol. Papai me bateu. Ele bateu na minha mãe. Eu era muito jovem para protegê-la e quando finalmente pude, já era tarde demais. Bati nele e ela ficou ao lado dele quando ele me chutou para fora de casa. Ele a tinha quebrado, e eu deixei-o fazer isso por muitos anos. —Não é o seu trabalho corrigir as pessoas. —Eu digo. —Não era sua responsabilidade salvar sua mãe. Não era seu trabalho consertar Faith.

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—Mas, não é? —Ele pergunta. —Por que você vai a essas reuniões? Você tem mais autocontenção do que qualquer pessoa que eu já conheci. Qual é a sua droga? Eu não respondo. Nós dois sabemos por que eu vou. —Você não é ela. — Jude nivela seu olhar comigo. —Sinto muito por isso. —Eu atiro de volta. Eu não preciso dele me dizendo que eu tenho vivido uma mentira, ou que nada disso é meu. Eu construí uma vida para ela em vez de uma para mim. Faith teve a segunda chance que eu nunca poderia me dar. —Quando eu te conheci, eu achei que ela era a mentirosa. Ela era tão boa nisso. Eu honestamente não sabia ao certo até hoje. —Você nem sabe o meu nome? — Eu sussurro. Eu compartilhei a cama deste homem. Eu me apaixonei por ele, e eu só sou um fantasma agora. —Grace. Claro que eu sei seu nome. Ouvir isso apunhala meu coração. —Por que você diz às pessoas que ela morreu? —Ele me pergunta, mas eu não lhe respondo neste momento. Ele vê através de mim e ao fazê-lo, ele está me desvendando. Estou nua diante dele, completamente nua através de uma verdade que eu tinha enterrado há muito tempo. Grace morreu para mim a muito mais tempo do que Faith. —Eu quero que você vá embora. — Nós estamos em silêncio, nossos olhos se encontram, mas nenhum de nós vê o outro. Jude não faz mais perguntas, não me pressiona pela verdade. Ao contrário, ele caminha para a noite e deixa isso para trás comigo.

*** 192

Não existem respostas no fundo da garrafa, mas isso não me impede de olhar lá. Amie acha que eu não sei sobre seu esconderijo. Eu nunca toquei no assunto, porque isso nunca foi um problema para mim antes. Não foi um problema saber que tinha isso em casa, porque eu sou uma grande mentirosa como Jude. O esconderijo nunca me tentou. Esse fato não é reconfortante. Amanhã vou chorar pelo meu passado e meu futuro. Hoje à noite eu quero esquecer. Eu acabo com uma garrafa de uísque e pego qualquer outra coisa que eu posso encontrar. Sento-me à mesa da cozinha e bebo até que eu esteja com os olhos turvos. Uma dica do meu rosto reflete no vidro da garrafa. É deformado e ainda familiar como o sorriso no rosto de estranhos. Eu não quero ver seu rosto olhando para mim. O nome dela, a vida dela, os erros dela. Eu carrego todos eles, e agora eu tenho que continuar tendo seu rosto. A garrafa voa para o outro lado da sala e bate contra a parede antes de eu perceber que eu a joguei. Um minuto depois, a luz do corredor liga e Amie aparece, segurando um taco de beisebol. Ela ainda está meio adormecida com seu cabelo vermelho empilhado como uma fogueira em cima de sua cabeça. Quando ela me vê, ela deixa cair o bastão. —Faith? —Ela chama enquanto entra na cozinha. —Não... — Eu começo a rir. Fazendo minha cabeça nadar. —Sem Faith aqui. —Que diabos? — A voz dela vai diminuindo enquanto observa os restos destroçados da garrafa de uísque. Ela olha como se isso fosse se transformar em outra coisa, então ela olha para mim. Avançando mais, ela agarra meu copo e cheira. —Jesus, o que está acontecendo? —Eu precisava de uma bebida. — Eu digo a ela, me recostando na cadeira. —Foi um dia terrível. 193

Ela coloca o copo na máquina de lavar e gira para mim. —Isso é sobre Jude? —Sim. — Eu aceno com a cabeça, em seguida, sacudo de novo. —E não. Quer dizer, Jude é terrível, mas eu sou terrível também. Na verdade, somos feitos um para o outro. —Você não está fazendo nenhum sentido, querida. — Ela usa a voz geralmente reservada para as crianças. Eu aceno minha mão descontroladamente no ar. —Nada disso faz sentido. Quero dizer, olhe como muitas pessoas horríveis tem dinheiro. Ou quantas pessoas maravilhosas tem câncer. A vida é uma merda, minha amiga. Os sortudos partem mais cedo. Faith partiu mais cedo. Ela não é a que está aqui, desapontando sua melhor amiga. Ela não está aqui fingindo que seu coração não está partido. Ela não tem que encarar o fato de que o sol nascerá amanhã, mesmo que não devesse. —Vamos. — Amie insiste, tentando agarrar meu braço e me levantar. — Vamos levá-la para a cama. Você precisa dormir. Nós podemos conversar amanhã. —Dê o sermão para mim agora. Espere, eu vou fazer isso por você. Eu sempre fui boa nisso. —Eu levanto o dedo e o agito quando vou começar. —Você tem muito para viver e você trabalhou tão duro. Todos deslizam às vezes. Nossas falhas nos tornam humanos. O que importa agora são as suas escolhas. Você pode optar por ficar sóbria. Amie levanta uma sobrancelha, seus lábios pressionados levemente. —Você ouviu isso? — Eu viro meu dedo para mim mesma. —Eu posso escolher ser sóbria, mas esta noite eu escolho ser bêbada.

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—Eu quero que você comece a explicar agora. — Amie estala os dedos, como se ela pudesse me tirar disso. —Ou o que? Você vai chamar a minha mãe? Ela está morta. Meu pai? Ele está morto. Minha irmã? Acontece que ela também morreu. Minha avó? Parece uma morta também. —É um pouco deprimente recitar a lista para ela. —O que quer dizer com a sua irmã estar morta? —Amie pede lentamente. —Encontrei a certidão de óbito na gaveta de meias de Vovó. Surpresa! — Eu ergo minhas mãos no ar com excitação fingida. —Todos esses anos, eu estive esperando ela voltar e ser a minha família novamente e desde o ano passado, minha avó sabe que ela está morta. Bem, ela não sabe. Ela não conseguia se lembrar, no fim das contas. Amie puxa uma cadeira e se senta ao meu lado na mesa. Tomando minha mão, ela envolve na dela. —Eu sinto muitíssimo. Ela está desculpando o que aconteceu como se eu estivesse bêbada, porque eu descobri sobre a minha irmã. Se fosse assim tão simples, mas eu não acho que eu estou bem para explicar isso para ela agora. Em vez disso, me atenho aos fatos. —Overdose. —Digo a ela. —Não há surpresa nisso. Eu nem sei como eles encontraram minha avó. Ela nunca veio a visitar. —Eu não posso acreditar que eles não lhe disseram. — Amie comenta. Eu não digo a ela que é porque eles não podiam me encontrar, porque eu passei anos cobrindo minhas próprias pegadas. Ou que eu não sei como Faith descobriu onde eu tinha ido. Ela enviou um cartão postal para Jude. Seu atestado de óbito encontrou seu caminho para a minha avó. Ela sabia que eu estava aqui em Port Townsend, e que eu tinha seu filho. E ela nunca veio. —Eu quero beber mais. — Eu sussurro.

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—Eu não acho que seja uma boa ideia. — Amie dá um tapinha no meu braço e de repente, estou mais chateada do que eu estive em anos. Batendo os punhos contra a mesa, eu repito: —Eu quero beber mais. Você pode me dar ou eu posso ir buscar. Sua escolha. Amie inclina para trás e cruza os braços. —Precisa de um pouco mais para me impressionar, querida. —Tudo bem. — Eu tropeço em meus pés e sigo até a garagem. Eu nem sequer me preocupei em olhar para o que eu estou agarrando. —Eu vou me ajudar, então. Sua cabeça cai para frente quando ela suspira: —Quanto tempo você sabe que elas estavam lá? —Desde que me mudei com você. — Eu abro a tampa e bebo direto da garrafa. —E você nunca...? — Ela está confusa agora. Eu não posso exatamente culpá-la. —Bebi? Eu realmente não bebo. Você vê, era minha irmã, que tinha o problema com as drogas. —Eu explico. —Você nunca usou drogas? — Amie pergunta com uma voz estrangulada. Ela olha para mim como se ela estivesse olhando para um estranho. É como eu me sinto quando olho no espelho. —Oh, eu usei. —Eu a tranquilizo. —Um pouco de coca aqui. Um pouco de erva, é claro, mas isso não importa. Ela sempre foi a única que não poderia dizer 'não'. —E você? — Amie pergunta suavemente. 196

—Eu não poderia dizer 'não' a ela. — Eu confesso. Faith era meu vício e eu estive procurando por ele desde então.

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CAPÍTULO 22 Anteriormente

Faith voltou para casa. Ela sempre voltava. Sentar em frente à Faith era como olhar para uma casa de horrores. Era o mesmo rosto, mas agora ele estava desgastado com a experiência. Onde quer que ela tenha ido, o que quer que ela tenha feito, a fez envelhecer prematuramente e ela estava tentando esconder isso. Seu batom framboesa somente destacava sua pele pálida e olhos anelados. Ela movia os lábios nervosamente enquanto suas mãos mexiam com seu cabelo. Isso pelo menos era familiar. Grace podia lembrar que sua irmã fazia isso, mas agora o cabelo estava cortado curto e seus dedos voltavam vazios. Ela se acomodou tamborilando-se sobre a mesa em vez disso. —Como você me encontrou? — Grace tinha sido forçada a vender a casa de Vovó. Foi o último lugar em que ela tinha visto Faith antes que ela desaparecesse. —Meu namorado encontrou. Eu não perguntei como. —É claro que ela não tinha. Faith nunca fazia as perguntas desconfortáveis. —Por que você está aqui? — Grace não tinha nenhum problema em ser direta. Sua irmã tinha retornado por uma razão. Ela suspeitava que fosse por Max. Faith deu um longo suspiro e levantou os olhos para Grace. —Eu cometi um erro. Eles disseram que a aceitação era o primeiro passo, pensou Grace. Ela aprendeu muito no grupo de apoio semanal que tinha começado a participar. Ele havia substituído às reuniões noturnas que ela tinha ido ao começo. Aqueles onde ela procurou respostas de porque as coisas tinham dado tão terrivelmente errado. Grace tinha levado Max para as reuniões quando bebê, mas como ele ficou mais velho e ela tinha descoberto mais sobre os ciclos que Faith estava 198

presa, ela gradualmente descobriu que tinha se tornado viciada em sua busca, tão viciada como a sua irmã tinha sido. Passar todos os dias trazendo à tona o passado não mudaria isso. No entanto, Grace continuou a ir apenas por ir. Era uma coisa triste se sentir confortada por estar perto de pessoas quebradas, mas ela lentamente havia construído um mundo a partir disso que não a fazia se sentir tão sozinha. —Você acha? — Sua resposta saiu mais dura do que ela queria. Talvez porque hoje ela não estava se sentindo para a aceitação e perdão, e todas as coisas que ela tinha se esforçado para ensinar a si mesma nessas reuniões. — Passei o último ano me perguntando se a polícia bateria na minha porta. —Eu sei. Sinto muito. —Faith não olhava sua irmã no olho. —Eu quero vêlo. —Você quer vê-lo? — A pressão aumentou no peito. Estava tudo saindo agora. A raiva. A tristeza. O terror e frustração que ela estragaria as coisas e arruinaria uma vida inocente. —Passei o último ano alimentando-o, levando-o para consultas médicas, e ficando acordada a noite toda com ele. Onde você estava quando ele engatinhou ou se levantou pela primeira vez? Onde você estava quando ele teve febre da dentição? —Eu quero vê-lo agora. —Faith acrescentou o agora como se isso tivesse qualquer significado. —E antes? — As palavras tremiam dela. —Por que não antes? —É complicado. — Faith lambeu os lábios. —Esclareça-me, porque temos todo o tempo do mundo. — Ela não acrescentou que não havia nenhuma maneira no inferno que ela deixaria Faith ver Max. Agora não. Talvez nunca.

Calma. Ela está tentando fazer a coisa certa, finalmente . Finalmente, mas tarde demais.

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—Jason e eu estamos ficando sério. —Ela começou. —Quem é Jason? — Grace interrompeu. —Meu namorado. Bem, mais como meu noivo. —Um lento sorriso insinuou em seus lábios rosados quando um arrepio subiu pela coluna de Grace. —De qualquer forma, ele realmente gosta de crianças. Ele tem dois com sua exesposa. Ela realmente não o deixa vê-los. Ele não pode esperar para conhecer Max. Grace engoliu, mas não podia digerir o significado nas palavras de Faith. —Há quanto tempo você o conhece? Sua língua deslizou sobre os lábios. —Anos. Ele não é só um cara, maninha. Se isso era para tranquilizá-la, falhou em todos os níveis. —E quanto tempo tem que se divorciaram? —Grace perguntou suavemente. —Alguns meses. — Qualquer outra pessoa poderia ter corado com esta revelação dada a resposta anterior, mas Faith dispensou a questão levianamente. Grace não se preocupou em buscar mais esclarecimentos. Deveria tê-la chocado que Faith tinha se envolvido com um homem casado, mas isso não aconteceu. Esse era o problema. E se ela realmente o conhecia há anos, ele a vira usar drogas. Ele poderia até mesmo ser o que fornecia. Realmente só restava mais uma pergunta. —É o pai de Max? —Eu pensei que ele poderia ser. — Faith admitiu. —Mas eu soube quando ele nasceu que não era. —Como?

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Isto rendeu um rubor. —Jason é negro. Eu realmente não sabia até que Max nasceu. —Você tem alguma ideia de quem é o pai? —Isso explodiu dela, mais acusação do que pergunta. —Houve realmente apenas outro cara nesse tempo. — Mas ela não compartilhou mais, em vez disso sua voz aumentou um tom. —Eu quero vê-lo, Faith. Ele é meu filho. Você já disse a ele sobre mim? O que você disse? A cabeça de Grace começou a girar. Ela balançou, mas não ficou mais clara. Ela fechou os olhos e tentou manter a calma. Faith estava aqui por seu filho com um cara qualquer e sem explicação. —Ele é muito pequeno para entender, mas não, eu não lhe disse que sua mãe partiu quando ele tinha uma semana de idade. Eu pensei que era melhor poupá-lo disso, também. —Também? O que isso quer dizer? O que aconteceu? —As palmas de Faith bateram sobre a mesa e, pela primeira vez, desde que se sentou ela parou com a inquietação. —Ele é surdo, Faith. — Ela se atreveria a perguntar por quê. Mas Faith sentou-se e fez uma careta. —Tudo bem. Jason tem dinheiro. Existem cirurgias e outras coisas para corrigir esses tipos de coisas, certo? —Cirurgias altamente invasivas. — Então Jason era um trapaceiro com um monte de dinheiro que conhecia Faith há anos. Desta vez, ela não poderia disfarçar a dor aumentando em seu estômago. —Você não se importa com o porquê de ele ser surdo? Ela pareceu momentaneamente confusa. —Eu acho que... houve um acidente?

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—Não, isso foi de propósito. — Agora tudo estava saindo. Todas as coisas que ela queria gritar para Faith quando os médicos falavam sobre os tratamentos de Max. O fato de que a polícia tinha aparecido na casa procurando drogas. —É um defeito de nascença. Um resultado direto de sua mãe usar drogas enquanto estava grávida. —Eu mal usei. — Mas a defesa de Faith foi fraca e curta. Ela estava grávida quando voltou para Seattle, mas não de muito tempo. —Será que você usava, enquanto ficou comigo? — Era tudo o que precisava saber. —Depois que você descobriu que estava grávida? —Grace. —Seus olhos corriam ao redor da cafeteria como se ela estivesse buscando por bisbilhoteiros. Ela lambeu os lábios novamente. —Apenas algumas vezes. Você não entende como é difícil apenas desistir e atravessar a abstinência. Eu tinha que passar. Ela estava usando agora. Grace suspeitava, mas na última meia hora Faith havia provado isso. A inquietação. O lamber dos lábios. Ela estava fodida agora. —Você não pode vê-lo. — Sua voz era tão fria quanto o frio ultrapassando seu corpo. —Eu sou a mãe dele. — Faith chiou. —Você não pode me manter longe dele. —O tribunal me concedeu à custódia quando você se mandou. —Era uma mentira. Grace tinha simplesmente fingido ser ela. Com o mesmo rosto e DNA idênticos, tinha sido fácil o suficiente apenas assumir o papel. Claro, isso também significava carregar o fardo dos pecados da Faith. Grace tinha aguentado silenciosamente os médicos a julgando. Ela tinha cortado os laços com a maior parte da velha vida de Faith e a sua, e assumido cuidar de Max como se ele fosse seu próprio filho. Em algum lugar ao longo do caminho ele havia se tornado seu filho. Ela não pensava em si mesma como reserva em sua vida. —Vou apresentar uma petição. Jason tem dinheiro, lembra? Eu não quero ter que envolver advogados. Eu só quero o meu filho. 202

E ali estava. Ela não estava lá para visitar. Ela estava lá para levá-lo embora a uma vida de instabilidade e dor de cabeça. —Bem. Você pode vê-lo, mas você não pode simplesmente fugir com ele, Faith. Prometa-me. —Eu não vou. —Era uma mentira. Ambas sabiam disso. Faith só tinha um verdadeiro talento: desaparecer. Ela desapareceu da vida de Grace na última vez tão rapidamente como tinha aparecido. Ela era uma mágica e seu truque era a cocaína. —Quando? — A boca de Grace estava seca quando ela perguntou. —Hoje à noite? —Faith sugeriu ansiosamente. —Jason não pode esperar. —Eu gostaria de encontrar Jason, antes que ele encontre Max. Faith ficou tensa, ombros se enquadrando. —Por que você não confia em mim? A resposta a essa pergunta era muito longa e dolorosa para Grace suportar. Em vez disso, ela estendeu a mão e pegou a mão trêmula de Faith. —Eu só preciso. Ele é um estranho e eu tenho que cuidar de Max até que endireite as coisas. —Ok. —Faith deixou escapar um longo suspiro. —Mas eu não quero esperar para ver Max. Eu posso vir hoje à noite? Grace assentiu, o buraco em sua barriga se transformando em uma cratera. Não faria mal Faith ver Max e enquanto ela jogasse pelas regras de Grace, ela poderia manter as coisas sob controle. Ela esperava. Ela embalou Max para dormir em seus braços e finalmente o colocou em seu berço por volta das nove e meia. Seu jantar estava frio sobre a mesa. Ela não quis comer antes e ela não sentia vontade de comer agora. O fato de que Faith 203

não tinha aparecido era tão devastador quanto um alívio. Jogando o macarrão indesejado no lixo, ela começou a lavar os pratos. Amanhã ela iria falar com um advogado, apenas no caso, embora ela suspeitasse que ela não tinha qualquer direito no menino. Ela poderia alegar abandono. Muitas meninas fogem e deixam seus bebês com as mães? Como isso era diferente? Deixando os pratos na pia, ela tirou seu velho laptop, o que Vovó tinha lhe dado quando ela se formou e orou para que ela pudesse pegar o sinal de Wi-Fi de algum vizinho. Depois de algumas tentativas, ela encontrou um que não estava protegido por senha, mas antes que pudesse terminar de pesquisar os advogados, houve uma batida na porta. Não, era mais como um estrondo. A pessoa continuou golpeando como um exército invasor. O instinto de Grace correu para ela, acostumada com os meses antes que ela soubesse que Max não podia ser acordado pelo ruído. Ela espiou pelo olho mágico e, em seguida, abriu. Faith cambaleou para dentro, examinando a sala, e um momento depois, um homem alto, magro a seguiu. Olhando para os dois, Grace se viu refletida nos olhos castanhos vítreos de Faith. Ela mordeu o lábio antes que começasse a gritar. Se houvesse alguma dúvida antes, ela tinha certeza agora que sua irmã não estava sóbria. —Onde ele está? — A voz de Faith soou com uma nota de alarme. —Eu disse que queria vê-lo esta noite. Grace correu na frente dela, bloqueando-a do pequeno corredor do apartamento. —Ele está na cama. Esperamos e você não apareceu. —O que? São apenas oito horas. Jason e eu fomos jantar. —São quase dez. — Ela não conseguia controlar o tremor em sua voz. — Ele vai para a cama as sete, o que você saberia se você estivesse aqui durante o ano passado. —Eu pensei que tínhamos resolvido isso, maninha. Eu estou aqui agora. 204

—E drogada. —Ela acusou. —Não, não, não. — Faith bateu as mãos dramaticamente. —E eu disse que queria conhecer Jason primeiro. — Grace olhou Jason desconfiadamente. Seu cabelo cortado rente à cabeça e sua pele de ébano acentuava suas maçãs do rosto altas. Ele estava bem vestido como nenhum dos parceiros habituais de Faith. Mas havia uma calma, uma sensação de autoridade que ele exalava que a deixou desconfortável. —Você está dando-lhe dinheiro ou drogas? Sua sobrancelha arqueou lentamente. Até agora, tudo o que o homem fez, ele fez com precisão. —Baby, eu não lhe dou nada. Eu cuido dela. —Mas você não tira nada dela, não é? —Ele não estava usando. Ele estava muito contido, mas Grace tinha encontrado seu quinhão de caras ansiosos presos com mulheres viciadas. As mulheres que fariam qualquer coisa para conseguir a sua próxima dose de droga. As mulheres que estavam muito ansiosas para cumprir toda fantasia depravada. Escravas dispostas cuja liberdade era concedida apenas quando tinham sido utilizadas. Então elas rastejavam para outra pessoa mais fodida com fantasias mais fodidas. Grace não poderia evitar, além de imaginar o quão longe no buraco do coelho sua irmã tinha caído. —Por que sua esposa o deixou? — Ela queria respostas e ela queria rápido. Jason estava conectado? Será que ele tinha a esperança de ficar com Max, também? —Aquela vadia. — Ele balançou a cabeça, e por um momento, a fachada calma escorregou. Jason esfregou as mãos. —Ela queria cada gota de mim. Cada peça. Eu não poderia ter uma coisa para mim mesmo, e então ela começou a inventar mentiras. Grace imaginava que tinha algo a ver com a sua irmã, mas ela não perguntou. Ela só queria saber mais sobre este homem e suas intenções. Que tinha dito a ela mais do que suficiente. Jason veio em sua direção. 205

—Por quê? O que você ouviu? —Que você adorava crianças, e que você queria conhecer Max. Ele apoiou-a contra a parede e acenou para Faith ir em frente. —Eu adoro. Eu estive ansioso para conhecê-lo. Minha ex-esposa vadia não me deixa ver o meu. Ela afirma que eu sou um pai impróprio. Você pode acreditar nisso? Obviamente, a mulher tinha sentido. Mais que Faith que tinha se permitido ser jogada em um canto. Jason poderia ter estado no controle alguns minutos atrás, mas agora ele parecia desequilibrado como se falar de sua família tivesse afrouxado alguns parafusos. Assim que sua irmã estava fora de vista, Jason se inclinou mais perto, estudando seu rosto. —Absolutamente idênticas. Agora eu estaria mentindo se eu dissesse que não fantasio como a maioria dos homens. O que você acha? Eu poderia cuidar de você também. Teríamos Max e seríamos uma grande família feliz. Feliz. Seu estômago embrulhou e ela estava grata que não comeu mais cedo. Ela não tinha certeza do que um homem como este faria se ela vomitasse em cima dele. Se ela se contorcesse para longe ele iria tentar impedi-la? Faith já estava no quarto. Será que ele a deixaria verificar Max? Ela não conseguia decidir, então ela ficou pressionada contra o gesso frio. Um grito agudo decidiu por ela. Ela bateu em Jason enquanto corria em direção ao quarto, mas antes que ela chegasse a ele, Faith apareceu segurando Max. Ele tinha se acalmado, mas seus olhos estavam vermelhos e sonolentos. —Vê? Ele reconhece sua mamãe. —Faith murmurou, acariciando o cabelo sedoso e escuro de Max. Assim que ela falou com Grace, a cabeça de Max virouse e encontrou os olhos de Grace. Imediatamente, ele gemeu e estendeu os braços. Ele conhecia a mãe dele. O coração de Grace inchou ao mesmo tempo em que batia freneticamente em seu peito. Ela estendeu a mão para ele, mas Faith virou. —Você está bem. Sua mãe tem você. 206

Max começou a chorar, lutando para virar a cabeça ao redor para encontrar Grace. —Deixe-me apenas acalmá-lo. Ele está confuso. —O pânico tremeu em suas palavras, apesar de seus melhores esforços para parecer calma. —Por que ele iria entrar em pânico? — Faith estalou. —Ele está comigo.

Porque ele não conhece você. Porque você parece comigo, mas você é uma estranha. E talvez Max pudesse sentir que a mulher segurando ele era uma versão distorcida de quem cuidava dele. Não era algo que ele poderia entender na sua idade, o que só tornava mais aterrorizante. A respiração de Grace acelerou, mas ela resistiu ao impulso de hiperventilar. Faith ignorava isso inteiramente. Seja qual for o desejo que a trouxe de volta aqui não foi o instinto maternal. Ela vasculhou o quarto e apresentou Max para Jason como um troféu. Bile subiu na garganta de Grace e ela engoliu de volta. Max era uma das fantasias de Jason. Se ele não poderia ter sua família, ele pegaria outra. —Ele não é perfeito? — Faith perguntou e por um segundo ela soou como sua mãe. —Perfeito não. — Jason disse com uma risada. —Ele não pode ouvir, certo? Eu pensei que você estava mentindo para mim sobre ele não ser meu, mas a pele não mente. —Será que isso importa, baby? —Sua maternidade mudou imediatamente para discussão. —Nahh. Eu acho que não. —Ele pegou Max e segurou-o no ar. O bebê soltou um grito agudo e Jason sacudiu-o ligeiramente. —Você já lê os lábios, homenzinho? Você precisa relaxar.

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Jason começou a rir novamente, olhando para Grace como se ela estivesse na brincadeira. —Você tem uma mala para ele? —Faith perguntou, voltando para o quarto. —Você tem um assento de carro, ou mamadeira de bebê, ou fraldas? — Grace jorrou a lista de itens essenciais, rezando para acertar algo e fazê-los perceber que eles não estavam preparados para levá-lo. Ela só precisava de um pouco mais de tempo. —Apenas me dê o seu. — Faith riu como se isso fosse à solução óbvia. Os olhos de Grace pousaram no taco de beisebol que ela mantinha perto da porta para quando os velhos amigos de Faith apareciam. —Você não vai precisar mais dele. Basta pensar, maninha, você vai ser uma mulher livre. Ela poderia acertar Faith, mas Jason era maior e ele estava segurando Max. —Espere! — Jason interrompeu. —Vamos levá-lo agora? Baby, eu tenho alguns negócios na cidade antes de ir para casa. Podemos buscá-lo em seguida. Além disso, eu não vou deixar meu homenzinho usando merdas desgastadas como esta. Onde você conseguiu isso, no mercado de pulgas? Alívio a inundou. Grace poderia ter corado se alguém tivesse reparado como as coisinhas de Max eram baratas, mas agora ela estava pendurada por um fio. Isso era o que ela precisava: tempo para encontrar ajuda. —Eu acho que você está certo. —Faith deu de ombros, contraindo os lábios. —Você pode arrumar as outras coisas, mas nós não precisamos das roupas obviamente. Eu vou passar aqui amanhã e ajudarei. Jason tem reuniões. Grace balançou a cabeça, com medo de dizer qualquer coisa que a fizesse mudar de ideia. —Coloque-o de volta na cama. — Jason ordenou, entregando o bebê como se ela fosse sua babá. —E considere minha oferta. 208

Ela obrigou-se a balançar a cabeça novamente. Ela tinha que mantê-los felizes. Se eles achavam que tinham ganhado, eles sairiam e voltariam amanhã. Grace abraçou Max, seus gritos tornando-se gemidos. —Vejo você amanhã. — Faith beijou a testa de Max, deixando para trás uma marca de batom rosa. Ela não se preocupou em limpá-lo. Grace seguiu-os até a porta. Ela esperou seus passos desaparecerem pelo corredor antes de trancar e travar. Eles tinham ido embora. Por agora. A mão de Max estendeu e tocou seu rosto, chamando sua atenção para baixo, para o seu rosto. Mesmo que ele tivesse se acalmado, seus olhos estavam avermelhados e algumas lágrimas furtivas se aglomeravam no canto, esperando para cair. —Está tudo bem. —Ela acalmou. Ele não podia ouvir e ele não conseguia ler os lábios, mas de alguma forma ele sabia, sentindo a vibração de sua voz. Max aconchegou a cabeça contra seu ombro, à direita sobre o coração e adormeceu. Sentia-se seguro, mas ela sabia que ele não estava. Amanhã Faith voltaria. Pela primeira vez em muito tempo ela não tinha confiança nas ações de sua irmã. Mas Grace podia ver um futuro que Faith não podia. Faith acabaria de volta nas ruas quando Jason se cansasse dela, e o que aconteceria com Max? Ele seria jogado fora como sua mãe? Ou ficaria com Jason, um homem sem vínculos com ele, um homem cujas próprias crianças tinham sido arrebatadas dele? Como tantos outros momentos de sua vida, Grace não tinha escolha. Ela colocou Max em seu berço e ele sorriu em seu sono. Ela era sua mãe se não por nascimento, mas pelo coração e sangue. Agarrando uma mala, ela começou a empilhar fraldas e leite dentro dela. Lentamente, ela recolheu todas as coisas que ela sabia que Faith precisaria: sua certidão de nascimento, o pequeno álbum de fotos que Vovó tinha reunido antes, a girafa que ele gostava de mastigar. A última vez que ela desapareceu ela deixou tudo para trás. Grace encontrou a caixa de itens que ela tinha guardado para sua irmã. Toda a vida de Faith cabia agora em uma caixa. Ela embalou rapidamente, embora parecesse que seu mundo tivesse

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acalmado conforme as horas passavam, trazendo-a mais perto da hora que ela não poderia enfrentar. Em seguida, ela foi até o armário e pegou uma mala. Eles não precisavam de muito. Só o que pudesse caber nas malas. Ela não tinha um carro no momento, mas o ônibus ainda estava funcionando e havia a balsa. Jogando alguns produtos de higiene pessoal no topo das roupas que estavam impecáveis na gaveta, que não eram muitas, ela parou e pegou a foto que ela tinha dela e Faith no aniversário de quinze anos delas. A última antes das coisas darem muito errado. Ela tirou a foto do quadro, rasgou ao meio e jogou a foto de Faith no topo de suas coisas. Então ela rasgou a outra metade e fechou a mala. Mesmo com a dúvida arranhando, ela não carregava nenhuma culpa. Max tinha duas mães. Pela manhã, ele nunca precisaria saber disso.

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CAPÍTULO 23

Amar um viciado é viver dividido entre esperança e luto, pego em uma interminável repetição das cinco fases do luto. Esta noite arrancou a esperança e só restou a tristeza. Quatro anos atrás, eu tinha fugido com Max para protegê-lo. Eu passei os anos seguintes tentando entender o que tinha acontecido com a minha irmã. Agora que ela se foi, há mais perguntas do que nunca. Mas o mais perturbador de tudo não tem nada a ver com ela. O que aconteceu comigo? Lá fora, a chuva começa a bater contra a janela em uma melodia fora de ritmo que aumentava gradualmente para um rugido maçante enquanto a tempestade se intensifica. É uma chuva estranhamente violenta para o noroeste do Pacifico. Não posso deixar de pensar em quando eu era criança e meu avô me disse que quando chovia significava que Deus estava chorando. Algo sobre isso acalma a dor maçante e o vazio no meu peito. Amie tirou a garrafa e as chaves do carro antes de desaparecer em seu quarto. Eu não posso culpá-la por me deixar aqui no escuro. E honestamente, eu devo ficar confortável sozinha, presa em minhas próprias memórias. Eu estive presa neste lugar por tanto tempo. A verdade não me libertou. Em vez disso, ela me trouxe para o meu próprio dia do julgamento final. Eu bato meus dedos sobre a mesa, tentando corresponder ao tamborilar da chuva no vidro. É algo para me ocupar agora que eu parei de chorar. Vou deixar que Deus chore por mim agora. Talvez ele esteja de luto por Faith.

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É engraçado crescer carregando esses nomes pesados. Faith33. Grace34. Minha mãe acreditava em ambos os conceitos, e ela levou toda essa crença com ela para a sepultura, não deixando nada para quem ela deixou para trás. Olhando para baixo, eu percebo que eu ainda estou no meu lindo vestido que eu usei esta noite para Jude. Jude, o traidor. Jude, o coletor de almas perdidas. Jude, o meu Jude. E o Jude que não pertence a mim. Eu quero apagá-lo da minha mente. Eu sabia que ele era um furacão quando nos conhecemos, e agora a tempestade rompeu. De pé, eu puxo a parte de trás do meu vestido, tentando alcançar o meu zíper e não me importando se eu rasgá-lo. Ele tocou este tecido, e eu quero a memória de seus dedos o mais longe possível de mim. Com um puxão rápido, ele cai no chão aos meus pés. Mas com ele saindo, eu percebo que eu não posso apagar a minha própria pele. Eu ainda posso sentir onde as pontas dos dedos tocaram sobre a minha pele nua. Talvez com o tempo, essa sensação vai desaparecer junto com esta tristeza brotando em mim. Mas, por agora, a lembrança dele gruda em minha pele. Eu chuto meus sapatos e abro a porta de trás. O vento uiva no seu caminho para ser levado de volta para o mar. Quando as primeiras gotas de água me atingem, eu libero o meu próprio grito estrangulado. Não é um grito. Pelo contrário, isso vem de um lugar que eu tenho mantido trancado. Ele leva o seu tempo, arranhando seu caminho para sair de mim e ir para o mundo. Eu passei os últimos cinco anos com medo, perguntando se eu poderia proteger a criança preciosa que eu escolhi como minha. Hoje à noite esse cobertor reconfortante para o medo foi roubado de mim. Minhas lágrimas vêm novamente, incentivadas pela água, me batizando na escuridão. Eu choro pelas escolhas que fiz, e pela irmã

33 34

Fé Graça

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que eu deixei para trás. Eu choro pelo o que é, e pelo que nunca será. Eu choro por mim mesma. Eu choro até que eu não sei se são lágrimas ou se é chuva. Tudo o que eu era é lavado, deixando-me exposta e nova. Estive lá por tanto tempo que não sei como ser outra pessoa. Não sei se quero ser outra pessoa. Essa revelação me assusta, e eu caio de joelhos. Na tentativa de compreender Faith, eu segui os passos que ela deveria ter seguido. Só em um eu fiquei presa: confiar em um poder superior. Religião sempre foi difícil para eu entender. Acho que eu acredito que existe um Deus, mas não pretendo entendê-lo. Certamente não temos um relacionamento, mas renascer aqui, no meio da noite, fria, molhada, seu nome está nos meus lábios. —Porquê? —O vento pega minha pergunta e carrega-a para o céu. — Porque você tenta e tira? Porque você nos quebra com a perda? Realmente não estou à procura de respostas. Agora o que eu quero é a solução. Eu quero entender como me refazer, assim como eu quero entender como eu vou enfrentar o amanhã quando ele finalmente chegar. Eu ergo meus braços para o céu como se pudesse alcançar as respostas. Em vez disso, uns braços fortes, familiares envolvem minha cintura e me levantam do chão. Meu corpo me trai, sentindo o conforto quando quero sentir ódio. — Deixe-me ir! — Eu grito, chutando contra seu domínio sobre mim. Mas Jude não ouve enquanto me carrega de volta para a casa. Eu vejo Amie esperando na porta da frente. Ela não diz uma palavra... Quando ele me leva ao meu quarto. —Me coloque para baixo... —Eu luto contra seu domínio, batendo-lhe descontroladamente. Finalmente, ele me põe de pé e dá um passo para trás. —O que você está fazendo aqui? —Exijo, fazendo o meu melhor para ignorar que estou encharcada e seminua. — Amie me chamou. — Ele diz em uma voz baixa. 213

Traidora. Eu cruzo meus braços para ocultar os primeiros tremores dos calafrios em mim. Jude abana a cabeça enquanto me avalia. — Você está toda molhada. —Diga-me algo que eu não sei. Mas ele não fica para discutir comigo. Ele retorna um momento mais tarde com uma toalha. Eu arranco dele antes que ele tenha a audácia de tentar me secar. — Você pode ir agora... — Eu dispenso-o. —Amie está preocupada comigo. — Amie está preocupada com você, e eu também. —Ele diz. —Eu vi a garrafa. — Notícias de última hora. — Zombo dele. — Eu não sou a viciada. Se eu quiser tomar uma bebida, não há nenhum problema. Mas ele não cai nessa conversa. — Se isso for verdade, então por que não bebeu? Não é sobre o quanto você bebe; é sobre como isso afeta sua vida. —Amie pode ter convidado você aqui para um sermão, mas eu não. —Desculpe. — Ele aperta a ponte de seu nariz, e eu sei que ele está procurando as mesmas respostas que eu. Em outra vida, eu seria estúpida o suficiente para tentar encontrarmos juntos. — Eu só não quero vê-la acabar... — Eu não sou ela. — Eu o interrompo. — Não ouse insinuar que eu sou ela. É uma coisa fodida de se dizer tendo em conta, mas a verdade é que eu nunca fui ela. Eu carregava os pecados dela quando ela não podia, mas eu escolhi

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o caminho difícil. O que levava direto para cima, e eu o escalei. Eu escolhi Max. Eu escolhi o difícil ao invés do fácil. Eu escolheria todas essas coisas novamente. — Eu sei. — Jude é gentil. — Tenho um milhão de perguntas para você, mas não duvido de quem você é. Eu conheço seu coração, mesmo quando pensei que você tivesse um nome diferente. —Você queria que eu fosse ela? —Eu atiro a pergunta para ele. Ele deve ter percebido logo no início que eu não era, então por que ele continuou por perto? — Por que você ficou depois que você percebeu? —Não sei. — Ele admite. — Não podia ficar longe de você. Eu continuei correndo para você. — Você continuou indo às reuniões. — Eu o lembro. — Eu fui atraído para eles, para você. No começo eu disse a mim mesmo que eu precisava saber o que aconteceu com ela. Pensei em te dizer que a conhecia. — Por que não disse? — Eu aperto a toalha em volta de mim como um cobertor de conforto. — Porque você cantou as palavras erradas na minha música e você gosta de comida chinesa, e você é uma mãe incrível. Acredite, eu sei que você não é ela. Eu nunca iria querer que fosse. Eu só quero você, raio de sol. — Não é possível. —Balanço a cabeça. — Você acha que me conhece, mas Max não é sequer meu filho... — Tudo o que ele acredita que descobriu de mim é uma mentira. Este homem perfeito que roubou o meu coração é uma mentira também. Há algumas coisas que você nunca pode ter de volta. Nossa fundação foi construída sobre a areia afundando, e tudo à nossa volta está desmoronando. —Não. —Ele diz suavemente e eu sei que ele pode ver nos meus olhos. — Não temos que desistir.

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Não temos? Talvez seja o que eu quero ouvir. O amanhã ainda não chegou. Eu não tive que enfrentar o que ele vai trazer, ou como a verdade parecerá à luz dura do dia, por isso hoje eu deixo cair à toalha. Minha mão segue para trás de mim e desata meu sutiã. Eu deixo-o cair, juntamente com o conhecimento que esta noite trouxe. Amanhã, eu vou juntá-los do chão. Hoje à noite, eu me darei para Jude. Quando eu pressiono o meu corpo contra o dele, ele resiste, mas eu emaranho meus dedos em seu cabelo e roço seus lábios nos meus. —Mostre-me. — A proposta sai dos meus lábios. Eu não sei o que ele pensa que virá pela manhã, mas ele aceita meu convite agora. Suas mãos fortes apertam minha bunda, levantando-me dos meus pés. —Leve-me para a cama. —Sussurro. —E me ame hoje à noite. — À medida que entro em colapso sobre o colchão, ele move-se em cima de mim, seus lábios arrastando do meu pescoço até meu ouvido. —Eu ainda vou te amar na parte da manhã. Eu queria que isso fosse verdade.

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CAPÍTULO 24 Quando eu abro meus olhos, a luz do dia é como um tambor de guerra em minhas têmporas. Eu bebi mais do que eu pensava. Meu braço se estende, deslizando sobre a metade vazia do colchão. A única evidência de que Jude estava aqui é o lençol enrugado que ainda mantêm a forma do seu corpo. Minha cama está vazia assim como meu coração. Eu não tenho o luxo de definhar ou chorar. Não, eu mergulhei no meu egoísmo na noite passada. Esta manhã eu tenho que começar a fazer as coisas direito. Enquanto me visto eu imagino o que eu vou dizer para Amie. Eu preciso sentar, compartilhar toda a história, e espero que ela entenda por que eu fiz o que fiz. Max é outra história. Ele não vai entender. Ainda não. Algum dia eu vou lhe contar tudo e pedir o seu perdão. Agora que eu sei que Faith está morta, eu deveria ter um direito legal a ele como parente mais próximo. Desde que não há nenhum pai na certidão de nascimento, eu duvido que os tribunais estejam interessados em lidar com seus erros para encontrá-lo. Mesmo que eles o descobrissem, que homem ia querer a responsabilidade assim batendo em sua porta? Primeiro, eu vou falar com Amie, então eu vou arrumar um advogado. É bom ter um plano. Quando eu deixo meu quarto para encará-la, eu ouço desenhos animados na televisão e bacon fritando no fogão. A porta de Amie abre antes de eu chegar ao corredor, e nossos olhos se encontram. Aparentemente Jude não correu ao amanhecer. Eu respiro fundo. —Posso ter um minuto com ele? Ela balança a cabeça, mais uma vez optando por não dizer nada, e volta para dentro de seu quarto. Pigarreio baixinho quando me aproximo da cozinha e ele olha por cima do ombro. Jude desliga o fogão quando me vê, e começa a servir o café da manhã. 217

Encostada na porta, eu assisto tentando decidir o que dizer. Ele carrega o prato para Max. —Eu sei que não é para ele comer lá normalmente. — Jude diz quando retorna. Domingo é a única exceção a esta regra. —Mas eu pensei que seria melhor se... Ele não termina a frase. Meu filho pode não ser capaz de ouvir as palavras comoventes que ambos sabemos que estão vindo, mas se ele estivesse aqui ele iria senti-las. Jude me oferece um prato, e eu balanço minha cabeça. —Eu não estou com fome. —Ainda assim, você deve comer. — Mas ele não me força ainda mais. —Obrigado por ter vindo. —Digo finalmente. Eu não quero arrastar ou exigir saber o que ele pensou que iria conseguir. Amie tinha ideia do que estava realmente em jogo quando ela o chamou por socorro. —Eu sempre vou vir. —Ele diz. Eu sei disso porque eu o vi fazer isso. Ainda assim, saber como seu coração é não significa que eu posso ignorar o que realmente nos uniu. —Eu acho que você deveria ir. —E se eu não quiser? — Jude massageia sua mandíbula e o leve indicio escuro que ele ainda não fez a barba esta manhã.

E se eu não quiser? Eu balanço minha cabeça, apagando o pensamento. —O que você quer? Fingir que nada disso aconteceu? Voltar a me chamar pelo nome dela? Você está certo, não podemos mudar o que aconteceu conosco no passado, mas essas coisas ainda aconteceram, e eu não vejo como podemos ir, além disso. Você sabia quem eu era, sobre o meu passado, sobre ela e você entrou na minha vida e escondeu isso de mim. 218

—Eu vou passar o resto da minha vida mostrando-lhe o quanto eu lamento por isso. —Ele diz. —Você não precisa. — Eu impeço-o. —Eu sei que você lamenta. Assim como eu sinto muito ter mentido para você. Eu te perdoo, e eu espero que você me perdoe, mas isso não significa que nós podemos continuar com isso. —Raio de sol... —Ele começa a se aproximar de mim, mas eu estendo a mão. —Eu preciso que você vá agora. Ele para em seu caminho, seus olhos olhando para o teto como se estivesse procurando esse poder maior que fomos ensinados a crer. —Basta responder a uma pergunta. —Ele finalmente diz. —E eu vou embora. Eu devo isso a ele. —Você não me ama? É a única pergunta que eu não quero enfrentar e a única que eu nunca vou escapar. Eu concordo. Responder é suficiente. Jude mantém a sua palavra. Ele não fala quando passa por mim. Ao contrário, ele vai para a sala de estar e se ajoelha ao lado do sofá. Eu desvio meus olhos quando ele começa a fazer sinais para Max. Eu não posso lidar com vê-lo dizendo adeus. Mas quando eu me viro, Max joga seus braços em volta do pescoço de Jude e o segura até Jude se soltar. Eu me movo para estar com Max. Eu não vou ser capaz de explicar-lhe o que está acontecendo, mas eu posso segurá-lo. Jude permanece em silêncio enquanto se levanta para sair. Ele faz uma pausa para inclinar-se e beijar a minha testa. Eu assisto meu coração sair pela porta sem outra palavra. Os braços finos de Max travam em torno de minha coxa, e eu olho para baixo em seus olhos grandes e temíveis. Uma piscina de luto está nos oceanos azuis de sua íris. Como eles podem ser tão claros e brilhantes e ainda refletirem tanta tristeza? 219

A dor corta meu peito como uma faca, eu caio de joelhos e olho nos olhos do meu rapazinho. Eu nunca tinha o visto sentindo tanta dor, mas de alguma forma eu vi essa dor nestes olhos antes. Eu olhava para esses olhos em um rosto diferente. Eu sei agora que eu estive cega. Porque não importa o que eu digo a mim mesma, este é o filho dela e esses são os olhos de Jude.

***

Dei por garantido a capacidade de respirar por toda a minha vida. Eu sei, porque eu não posso respirar enquanto bato freneticamente na porta de Amie. Ela abre. Ela está apenas meio vestida e eu não me importo. —O que há de errado? —Ela pergunta enquanto entro no quarto. Eu não sei por onde começar. Isso não me impede de me jogar na cama e deixar toda a história derramar. Amie não fala enquanto confesso. Ela simplesmente pega um travesseiro e escuta. Quando eu termino seu rosto está em branco. Eu não posso dizer o que ela está pensando. —Então, deixe-me ver se entendi. —Ela começa lentamente enquanto processa tudo o que eu acabei de revelar. —Você sequestrou o filho de sua irmã. Eu abro minha boca, mas ela balança a cabeça. —Eu não estou julgando. Eu apenas não posso pensar em um termo melhor. —Ela acrescenta rapidamente. —Você levou-o para protegê-lo, porque ela estava nas drogas. —Sim. —Admito. O peso que normalmente recai sobre o meu peito parece um pouco mais leve. Não soa tão terrível vindo dela. —E ela nunca veio procurar por ele? —Amie pergunta. 220

—Não. Ela enviou à Jude um cartão postal então ela sabia que estávamos aqui. —É a parte da história que eu não consigo entender. O postal é prova de que Faith sabia onde eu tinha levado Max, mas ela nunca veio atrás dele. De alguma forma, a polícia sabia onde entregar a notícia de sua morte à minha avó. Eu passei os últimos quatro anos esperando ela aparecer na minha porta querendo outra chance, temendo isso o tempo todo. —Parece que ela era tão egoísta como você pensou que ela era. — Amie acrescenta. —Mas talvez ela não fosse. —Digo, lembrando um provérbio macabro. — Talvez seja como na Bíblia, quando as duas mulheres levam o bebê para Salomão. Amie bufa com os lábios franzidos. —Acho que não conheço essa. —Ele diz que já que ele não sabe qual delas está mentindo, ele vai ser justo e cortar o bebê ao meio. Então, elas podem tê-lo. —Não. — Amie me para. —Não a faça ser uma mártir agora. Eu a ignoro. —A verdadeira mãe deixa o bebê. É assim que ele sabe. —Isso não quer dizer que ela era sua mãe biológica, doçura. A verdadeira mãe amava a criança. Ela ia sacrificar tudo para ter certeza de que ele estivesse seguro. —Ela me corrige. —Então você não acha que eu sou louca? — Eu sussurro. —Oh, eu sei que você é louca. — Amie brinca, mas nós dois sabemos que vai custar muito mais do que uma piada para aliviar o clima. —Talvez eu seja louca por não pensar que você seja louca. Você sabe o que, precisamos parar de usar a palavra louca. Você fez o que tinha que fazer. Qualquer um podia ver isso, Jude inclusive.

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Pego um travesseiro e enterro meu rosto nele por um minuto para repelir o ataque de pânico que seu nome provoca. —Ele mentiu para mim. — Eu lembro quando eu finalmente ressurjo. —E você mentiu para ele. Não estou dizendo que vocês dois não precisam de aconselhamento de casal, mas qualquer um pode ver que o homem ama você e Max. —Como lhe digo? — Eu pergunto a ela. Amie pode ter fé de que podemos resolver as coisas, mas eu não sou tão estúpida. Nossos pecados nos unem. Eles não nos libertam. —Você acabou de dizer a ele. —Ele tem o direito legal sobre Max e eu não. E se ele levá-lo embora? — Há outras dúvidas também. Eu as mantenho para mim. Como: se ele está apaixonado por ela e eu sou apenas a opção reserva? E se eu sou uma substituta barata para a menina que ele perdeu? Amie revira os olhos e joga o travesseiro que ela estava segurando em minha cabeça. —Ele não vai fazer isso. Você o conhece bem para pensar isso. —Eu conheço? Porque, como se vê, eu realmente não sei nada sobre ele. —Digo. —Você sabe as coisas importantes. Não tente convencer-se do contrário.

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CAPÍTULO 25 Jude mantém a distância o que me dá o espaço que preciso para me concentrar em chegar a um acordo com a minha dor e minha culpa. Por insistência de Amie eu concordo em ir a um terapeuta onde eu aprendo a dizer às palavras que me assustam. Co-dependência. Estupro. Grace. Eu desperdicei anos tentando aceitar o passado de Faith. Agora eu preciso aceitar o meu e recuperar minha vida. É um pouco mais complicado explicar isso para o resto do mundo. Amie começa a me chamar de Grace e a equipe no Worlds End segue sua liderança, sem dúvidas. É estranho ouvir o meu nome nos lábios de outras pessoas. Eu tenho o conforto de que para Max eu ainda sou apenas mãe. Isso me motiva mesmo em meio ao caos do luto. Dra. Allen diz que o meu nome não é importante porque essa é a identidade que me foi dado. O que importa é quem eu escolho ser. Mas ela ainda me faz tirar a caixa de sapato que eu mantive escondida na parte de trás do meu armário e trazê-la para uma sessão onde ela gentilmente me incentiva a desempacotar meu passado. —Como isso faz você se sentir? —Ela pergunta enquanto me passa minha carteira de motorista. Eu corro meu dedo sobre o nome Grace Kane. Ainda nem expirou a validade.

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—Eu não tenho certeza. —Admito. —Eu sinto que eu deveria me sentir mais eu. —Você ainda está dormente. Isso vai mudar com o tempo e vamos trabalhar com as coisas quando elas vierem. —Ela me encoraja a compartilhar mais e eu me encontro em um novo grupo de apoio. Desta vez para sobreviventes de estupro. É engraçado, eu passei todo esse tempo indo às reuniões e aprendendo a aceitar as minhas falhas. Eu as entreguei a um Poder Superior e eu levei as coisas um dia de cada vez, quando o que eu realmente precisava era ouvir que não foi culpa minha. Eu tinha escolhido me agarrar à vergonha e a culpa. Eu permiti isso me definir e ofuscar quem eu era. Precisou de várias reuniões para compreender. Eu choro quando eu percebo que é a verdade. Aprender a aceitar o evento que moldou tanto o meu passado significa aceitar a realidade torcida que eu criei para mim mesma. Cada dia eu dou um novo passo. Eu coloquei a carteira de motorista na minha bolsa e retirei a dela. Entrei em contato com o advogado. Eu mudei meu nome em minhas contas. É incrível como todas essas pequenas ações combinadas ajudam a construir essa Grace Kane em alguém que não desapareceu. Ela vive e respira. Ela ama e tem esperanças. Ela se torna eu.

***

Pequenos passos transformam-se em grandes passos. Depois de semanas de pesquisa e consultas, encontro-me na sala de espera do Hospital Infantil de Seattle. —Sente-se. — Amie me ordena. Eu caio na cadeira ao lado dela. Eu nem sequer percebi que eu estava andando. 224

—Ele vai ficar bem. —Ela diz. —Eu sei disso. —Digo, mas eu realmente não queria dizer isso. Racionalmente, eu sei que ela está certa. Infelizmente, meu lado materno paranoico não pode ser calado com tanta facilidade. —Eu não posso acreditar que isso está realmente acontecendo. —Amie diz enquanto vira as páginas de uma revista antes de jogá-la sobre a mesa. Não há nenhum ponto em fingir que posso me concentrar em outra coisa senão o que está acontecendo por trás das portas da sala de operação. —Eu não posso acreditar que você disse 'sim'. —Eu não. —Admito. —Eu sei, o seguro disse. —Ela diz secamente. Isso é apenas parcialmente verdade. O seguro tinha invertido a sua opinião sobre Max receber implantes cocleares, mas isso não era o que tinha finalmente me convencido a continuar. —Max decidiu. —Digo a ela. —Nessa última consulta, o médico perguntou se ele queria os implantes para que ele pudesse ouvir. Ele nem hesitou quando ele fez sinal que 'sim'. —Então é isso que fez você finalmente mudar de ideia. — Amie relaxa, esticando as pernas na frente dela. Eu não lhe digo que Jude tinha muito a ver com a minha mudança de pensamento, principalmente porque seu nome está fora dos limites. Outra das minhas regras, e eu não posso ser a única a quebrar. No fundo, eu não posso ignorar que ele foi o único que me incentivou a estudar a possibilidade. —Por que não chamá-lo? — Amie quebra meus pensamentos. —Eu sinto muito. O que? —Pergunto perturbada. —Jude. É isso mesmo eu disse o nome dele. —Ela encara, desafiando-me a repreendê-la. 225

—Ele ainda existe. Ele ainda está na cidade. Você não pode mudar esse fato. —Acredite em mim, eu sei. Dra. Allen diz que é hora para dizer a ele. Amie balança a cabeça, mordendo o lábio inferior. Ela está querendo dizer a Jude à verdade sobre Max há semanas, mas ela fez um trabalho admirável em manter sua opinião para si mesma. —Você vai? —Ela pergunta. —Eu suponho, já que é uma recomendação médica. — Nenhuma de nós rir da piada. —E se ele não falar comigo, ou ele pedir a custódia, ou... —Você vai ficar louca com todos esses se’s. Às vezes você tem que parar de fantasiar sobre a situação e enfrentá-la. —Você provavelmente está certa. —Digo a contragosto. —Diga isso para o meu agente. —Ela diz concedendo um indulto do tópico. Passamos o resto do tempo que Max está em cirurgia com discussões sobre sua audição para Playing With Fire 35, um novo reality show de culinária. Eu não estou surpresa que ela passou na última rodada de escolha de elenco. —Eu não sei como vou viver sem você, se você estiver fora por seis semanas. —Vocês podem vir comigo. —Claro. —Eu minto. Los Angeles é o último lugar que eu quero ir, mas estou aprendendo que é bom poupar os sentimentos de alguém com uma mentira branca. Outra dica retirada na terapia. As portas da sala de operação abrem e o cirurgião sai puxando a máscara de seu rosto. 35

Brincando com fogo.

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—Senhora Kane? —Ele chama. Levantando-me, eu enxugo minhas palmas das mãos suadas no meu jeans. Amie agarra minha mão enquanto esperamos uma pequena eternidade para ele se aproximar. —A cirurgia correu muito bem. Max está em recuperação. Ele ainda não está acordado, mas você gostaria de voltar e sentar-se com ele? —Engolindo as lágrimas doendo na garganta, eu aceno. Amie aperta minha mão e solta. —Eu vou ficar aqui fora. —Você pode vê-lo assim que movê-lo para o seu quarto. —O cirurgião informa à ela. Dentro da sala de recuperação, máquinas fazem um suave bip quando as luzes se apagam. Max parece tão pequeno na cama do hospital gigante com os olhos ainda fechados. Eles rasparam o cabelo em volta do local do implante, e é estranho ver os tubos e transmissores acima das orelhas. —Ele vai ser capaz de ir para casa amanhã. —O cirurgião diz. —E em algumas semanas após curar, nós vamos poder ligá-los. —Obrigada. —Eu sufoco. —Vou deixar vocês dois. Eu sento ao seu lado, acariciando o braço dele e chamando-o de volta para mim. As pálpebras de Max vibram quando ele sai da anestesia. Em poucas semanas, todo o seu mundo vai mudar. Pelo menos ele tem uma mãe que entende esse sentimento. Seus olhos turvos se iluminam quando eles finalmente me encontram. Está tudo bem homenzinho, eu faço os sinais, eu estou tão orgulhosa de você. Ele pergunta se Jude ainda está aqui. Balanço a cabeça e ele começa a me contar uma história sobre como Jude estava na sala de cirurgia. Leva-me alguns 227

minutos para perceber que ele está contando um sonho de quando ele estava sob os anestésicos. —Ele não podia ficar. —Digo baixinho, sabendo que eu não estou falando de um sonho agora. O rosto de Max cai, o lábio inferior tremendo um pouco, mas ele faz uma carinha valente. Está na hora. Manter Jude e Max separados não está protegendo qualquer um deles. Eu me perguntei uma vez o que o pai de Max pensaria se aparecêssemos em sua porta. Sei agora que Max será bem-vindo. Eu não posso dizer o mesmo de mim.

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CAPÍTULO 26

Desde que constatei a morte de Faith, fiz uma prioridade visitar Vovó tão frequentemente quanto sou capaz. Cada semana espero que ela vá estar lá esperando eu chegar. Quero respostas que eu duvido que ela vai me dar. Hoje, trago Max. É a primeira vez desde a cirurgia, e apesar de alguma dor, ele está ansioso para mostrar seus implantes para todos na casa de repouso. — Bom Senhor! — Maggie exclama enquanto examina-o. —Isso não é legal? Max sorri para ela, mesmo quando ele começa a fazer sinais. — Ele quer que eu te diga que, quando o médico ligar, ele será capaz de ouvir. Estamos em contagem regressiva e Max informa a toda à gente que conhece. Eu e Maggie agitamos nossas cabeças em confusão enquanto ele passa de residente para residente. — Eu queria ter metade da sua energia. — Maggie diz com um suspiro pesado. —E ele mal saiu da cirurgia. —Sua resiliência me surpreende. Então, novamente, Max sempre me surpreendeu. Quando chegamos ao quarto da minha avó, faço uma pausa para reunir a minha força, mas Maggie me empurra para a porta. —Ela está tendo um bom dia. —Ela diz. —Não perca tempo se preocupando.

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Maggie volta pelo corredor, chamando Max. Ele pula pela porta atrás de mim e vamos encontrá-la sentada em sua cadeira favorita. Ela não está olhando pela janela. Em vez disso seus olhos estão brilhantes e ela segura os braços. —Olá, Grace. — Vovó me cumprimenta. Eu olho em um silêncio atordoado enquanto ela acaricia seu colo e Max foge de novo. Durante anos, ela não me reconheceu. Ela pareceu quando eu estive aqui da última vez, mas isso é diferente. Vovó dá a Max um livro e ele é imediatamente absorvido. —Eu nem sempre podia distingui-las. —Ela admite enquanto corre os dedos pelo cabelo. —E este é o seu filho? Este é um teste maior do que eu esperava enfrentar. —Não, este é filho de Faith. —E onde está Faith? —Ela pergunta. Ela não se lembra de tudo. O atestado de óbito está em casa e agora eu estou feliz que ela não pode se lembrar de que o recebeu. Os fatos simples e sucintos de sua morte, digitadas em tinta preta fria vai me assombrar pelo resto da minha vida. —Faith se foi. Ainda é difícil dizer. Ainda é difícil aceitar que não só a minha irmã se foi da minha vida, mas ela nunca mais vai voltar. —Ela morreu? —Pergunta vovó. É como se ela cortasse toda a tortura emocional desnecessária. —Sim. —Digo baixinho. —Então, agora este é o seu filho. — Não é uma pergunta. É um fato. Eu não sei como lhe dizer que Max sempre foi o meu filho e sempre será meu filho. Eu não sei como lhe dizer o quanto eu estraguei tudo nos últimos anos e quanto eu ainda estou estragando, mesmo que eu tente mudar. Mas, mais do que qualquer coisa, eu não sei quanto tempo eu vou tê-la aqui comigo. É agridoce 230

estar com ela, finalmente. Eu passei tanto tempo querendo que ela me visse por quem eu era que agora eu estou desesperada para fazê-la lembrar. O fato é que eu não preciso desperdiçar este precioso tempo que tenho com ela com meus pecados, eu não preciso pedir-lhe perdão. Quando for a hora da minha sentença, não será ela sentada me julgando. —Eu sinto sua falta. —Eu digo. —Sinto muito, eu não estive aqui, garotinha. Eu gostaria de poder dizer que eu estou aqui para ficar. —Ela estende a mão para mim. —Eu desejo isso também. — Mais do que qualquer coisa. —Mas eu sei que você tem as coisas sob controle, Grace. — Suas palavras são ferozes. —Você sempre tem. —Você realmente acredita nisso? — Eu pergunto a ela. —Eu sei. Eu sei que você sempre carregava o fardo dos problemas de sua irmã em suas costas. Às vezes eu temia que fosse mais do que isso. Desculpe-me se eu fui dura com você. Eu não quero perder você também. Eu quero dizer a ela que ela nunca perderá qualquer um de nós, porque parte de mim ainda quer acreditar nessas lindas mentiras. Mas amanhã ou dentro de uma hora ou talvez nos próximos poucos minutos, ela vai ter esquecido novamente. Eu preciso parar de dizer mentiras para outras pessoas e especialmente para mim. Vovó não me pergunta mais sobre Faith. Ela não me pergunta como Max veio parar sob meus cuidados. Ela não me pede uma lista de cada erro que eu já cometi. Em vez disso ela me pergunta o que estou fazendo no trabalho e como Max está na escola. Eu digo-lhe que ele apenas está na préescola, então eu digo a ela que ele é surdo. —Eu sei disso. —Ela diz, os lábios torcendo em um sorriso triste. —Eu me lembro de algumas coisas. Acalma-me saber que algumas informações chegam nela. É um fato que eu vou me agarrar quando for vê-la outra vez e ela olhar para mim com os olhos

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em branco. Eu vou saber que as coisas importantes chegam até ela, eu vou saber que ela sabe quem Max é em algum nível e que ela o ama tanto quanto eu. Nós passamos um ano em questão de minutos. Não consigo contar as histórias rápido o suficiente. Eu não posso lhe dizer o suficiente sobre o que aconteceu na minha vida, e pela primeira vez em muito tempo eu percebo que muitas coisas boas aconteceram ao longo dos últimos quatro anos. Max me deu tantas belas memórias. Eu tenho uma melhor amiga incrível e uma vida incrível. —Não é perfeito. — Eu digo a ela: —Mas é meu. Fiz-me um lar do qual estou orgulhosa. Nossos olhos se encontram e eu me vejo refletida nela. Eu me vejo, eu vejo Grace. —E o homem que veio com você da última vez? —Ela pergunta. —Algumas coisas realmente não se esquecem! —Você não esquece um homem assim. — Vovó me diz. —Algumas coisas não mudam com a idade. —Não, você não se esquece de um homem como Jude. Eu gostaria de poder, por vezes. —Eu admito a ela. Ela dá um suspiro. —Será que ele estragou tudo ou foi você? —Os dois um pouco. —Ele traiu você? —Ela pergunta. —Não. —Ele usou você? —Na verdade não.

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E ele não usou. Jude estava tão confuso quanto eu. Nós nunca quisemos dizer nenhuma dessas mentiras. Acabou acontecendo. A verdade tinha sido muito nebulosa por muito tempo. Grace tinha se perdido. No entanto, ambos mentimos e ao fazê-lo, nós cobrimos o passado o que minou qualquer chance que tínhamos de futuro. —Então por que não podem consertar as coisas entre vocês dois? —Ela interrompe meus pensamentos. —É complicado. —É sempre complicado entre um homem e uma mulher. Seu avô, que Deus o tenha, era um bom homem, mas ele com certeza sabia como foder tudo às vezes. Eu seguro minha cabeça enquanto rimos. —Ele conhecia Faith. —Digo a ela. —E? —E isso não significa alguma coisa? Ele veio da vida dela. —Será que ele lhe dava drogas? — Vovó pergunta. Eu verifico para ter certeza de que Max ainda está lendo antes de balançar a cabeça. —Não, ele tentou ajudá-la, mas ele não pode. —Então, do que você tem medo? Faço uma pausa e sorvo uma respiração profunda, porque eu sei exatamente do que eu tenho medo. Eu sei exatamente por que eu empurrei Jude Mercer fora da minha vida. —Temo que não possa ser ela. Vovó aperta minha mão firmemente. 233

—Não, você não pode ser ela, Grace. Não importa quanto você tente. Nunca foi seu trabalho substituí-la. Não para mim, não para seu filho, e não para este... Qual é mesmo o nome dele? —Jude. — Dói dizê-lo. —Jude. —Ela continua não perdendo o ritmo. —Ninguém. Nenhum de nós quer que você a substitua. Queremos você. Então, o que importa se este Jude a conheceu no passado. Ele está aqui com você agora? —Sim. Não. Não sei. Eu fui a que o empurrou para longe. —Então você precisa ser a que diz estar arrependida. Não é o trabalho de um homem consertar tudo, garotinha. —E se ele não puder me perdoar? —Ele já perdoou. Eu não me lembro de muito, Grace, mas eu me lembro como ele olhava para você. Esse é o tipo de amor que deixa uma marca. Acredite em mim, você é tudo para aquele homem. Se ele não tivesse perdoado você, ele teria ido. Mas eu suspeito que você não precise nem perguntar. Eu quero dizer mais a ela, quero derramar todos os detalhes, mas lembrome que o tempo é precioso. Em vez disso Max mostra-lhe sua linguagem de sinais, e eu traduzo para ele enquanto ele lê seus lábios. Ela bate palmas e lhe dá abraços. Ela o adora. É o mais perto que ele já teve de uma família além de mim, Amie e Jude. Estar com Vovó, mesmo que por alguns breves momentos nessa hora fugaz, me lembra de que eu quero isso para ele. Eu não preciso de uma grande família. Eu nunca tive uma grande, mas eu quero a família que eu escolhi. Os que estão em meu coração, e eu não posso negar o lugar de Jude Mercer lá.

***

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No caminho de casa eu ligo o rádio, maravilhando-me que em algumas semanas Max será capaz de ouvi-lo. Entre o medicamento que ele ainda está tomando e a energia incansável que ele derramou sobre os moradores nesta tarde, ele já está adormecido. Eu continuo verificando pelo espelho retrovisor como se ele pudesse desaparecer. Sua mão está sob o queixo e me pergunto com o que ele está sonhando. Uma melodia familiar soa nos alto-falantes e eu aumento o volume, tentando lembrar onde eu ouvi isso antes. Os céus cinzentos me deixaram nada, além do azul; Fiquei preso aqui pensando em você. Você era o meu raio de sol. Agora há apenas chuva. Você nunca foi minha. Agora só há dor. E agora eu sei o que eu deveria dizer; Eu sempre estarei aqui; Eu sempre te amarei. Por favor, Deus, não leve minha menina embora. Na noite passada eu sonhei que você estava aqui ao meu lado. Eu acordei para encontrar minha cama fria e solitária. Você era o meu raio de sol. Eu deveria ter dito que Você sempre seria minha.

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Gostaria de poder te abraçar. E agora eu sei o que eu deveria dizer; Eu sempre estarei aqui; Eu sempre te amarei. Por favor, Deus, não leve minha menina embora. A voz de Jude começa a cantar em minha mente, abafando a estrela pop. A música se desvanece na voz do dj. —Esse é o mais novo hit de Piper Rose: Não a leve embora. Eu não sei sobre você, mas essa canção me dá um aperto no peito. Há rumores de que a canção é sobre sua ex-namorada... Eu puxo para o acostamento e estaciono o carro. Segurando o volante, eu tento me concentrar, mas eu não posso recuperar o fôlego. Eu sei exatamente sobre quem essa música é. —Isso não significa nada. —Eu digo em voz alta, acostumada a mentir para mim mesma.

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CAPÍTULO 27 Jude concorda em me encontrar no Thai Gardens. Parece apropriado dado que eu o trouxe aqui para lhe dizer a verdade há algumas semanas. O restaurante é uma linha divisória física entre a minha vida de antes e minha vida agora. Naquela noite, ele tinha me convencido a deixar meu passado para trás, mas essa era a verdade. Ela tinha o hábito de sair. Esta notícia será dada do meu jeito. Chego cedo e sento em uma mesa de canto, pedindo somente um copo de água. Esperar é sempre a parte mais difícil. Claro, eu acho que é um pouco masoquista chegar meia hora antes da hora combinada. Nada sobre esta situação está sob meu controle, então se isso significa chegar aqui cedo para fazer valer meus direitos, que assim seja. Amie passou à tarde no modo animadora de torcida, que é porque eu estou realmente aqui. Tanto quanto eu quero controlar esta situação, não posso prever como Jude vai reagir. Esse pensamento me aterroriza. Nós nunca realmente sentamos para conversar depois daquela noite terrível. Joguei a memória daquelas poucas horas finais que passei com ele, e em algum lugar além da dor e da traição, há amor. A garçonete aparece e olha significativamente para o meu copo. —Gostaria de pedir outra coisa? —Eu estou esperando alguém. —Eu digo a ela. Não é como se este lugar estivesse cheio em uma noite de domingo.

Domingo. Meus pensamentos voltam para o domingo e o que costumavam significar. Eu não tinha conscientemente escolhido este dia da semana para me

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encontrar com Jude, mas talvez em algum lugar bem no fundo, eu estava agindo por hábito. —Eu vejo que você ainda está com a intenção de expandir meus horizontes. — Jude aparece atrás da garçonete, e eu engulo, tentando digerir a visão dele. Ele não se parece com ele, mas de alguma forma ele está melhor. Nada de camiseta, nem jeans, nem mesmo um botão aberto. Hoje à noite ele está vestindo um terno, um desses de três peças que mostra sua forma magra, muscular. Obviamente feito sob medida para ele. Claro, eu costumava pensar que fui feita para ele também. —Você... Hum... Você está... — Eu procuro a coisa certa a dizer. —Estou vestido exageradamente. —Ele responde para mim. —Sim, mas você está bem. Quer dizer, o terno parece bom. — Oh, cale a boca, eu me ordeno. Jude sorri, mas não é o sorriso largo, expansivo que normalmente ilumina todo o rosto. Este é contaminado com hesitação como tudo sobre o nosso relacionamento. —Eu tive uma reunião em Seattle. —Ele me diz enquanto desliza para dentro da cabine. —Oh, eu não sabia que você estava fora da cidade. — É uma coisa estúpida de dizer, já que eu não sei nada sobre sua vida no momento. —Alguns executivos de gravadoras estão na cidade. Eles esperam que o novo álbum do Piper Rose alcance o disco de platina, o que, aparentemente merece almoço grátis. —Eu não sabia que havia essa coisa de almoço grátis. —Digo e os meus pensamentos derivam para a canção que eu ouvi no rádio.

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—Não era. —Ele diz. —Como se vê, eles me querem de volta em Los Angeles. Eles querem me contratar exclusivamente na Estate Records, o que significa ficar escravizado em seu estúdio. —Isso é incrível. — Eu forço as palavras da minha boca. Minha felicidade por ele tem um gosto mais amargo do que doce. Caímos em silêncio, em seguida eu pego meu copo. Mais uma vez, eu me vejo segurando um copo como um salva-vidas. Eu estou exatamente onde eu estava no dia que nos conhecemos, mas desta vez eu não tenho a proteção de um grupo de apoio. —Você está indo? — Eu finalmente pergunto quando ele não dá mais detalhes. Eu não sei qual eu quero que seja a sua resposta. —Eu realmente não decidi. —Ele admite. Estendendo a mão, ele puxa o nó da gravata e afrouxa de seu pescoço. —Neste momento, não há nada que me mantenha aqui. Eu deslizo o meu dedo pelo meu copo, desenhando uma linha através da condensação. —Suponho que não. Isso pode mudar após o que estou prestes a dizer-lhe, ou pior, ele poderia decidir levar Max com ele para Los Angeles. Se ele escolher envolver a lei, ele pode destruir o sistema frágil que eu plantei aqui. —Cristo, me diga que eu tenho uma razão para ficar, Faith. — Assim que ele diz o nome dela, ele fecha a boca. —Está tudo bem. —Digo automaticamente. —Eu ainda me pego dizendo Faith quando as pessoas perguntam meu nome, mas estou reaprendendo. Ele precisa saber que eu estou tentando. Eu quero que ele saiba que eu não sou apenas uma louca varrida que tomou a custódia de seu filho.

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—Eu estou vendo uma terapeuta e estamos trabalhando nisso. Estou carregando minha carteira de motorista. Eu até fui ver onde eles enterraram Faith. A mão de Jude começa a rastejar sobre a mesa, mas então ele para. Eu não sei o que é mais estranho: o pensamento dele me confortando ou que ele esteja muito cauteloso para tentar. —Eu te disse uma vez que você não tem que me contar a sua história triste. —Ele diz. —E o que estou prestes a fazer é minar isso, mas eu tenho que saber por que. Agora é a minha oportunidade para lhe dizer toda a história, expor o enigma do quebra-cabeça para que ele possa ver a imagem toda. Talvez se eu tiver sorte, ele vai encaixá-los sem me fazer realmente dizer as palavras. —Faith apareceu há alguns anos atrás. Ela estava lutando para ficar limpa, e ela estava grávida. —Digo a ele. —No início, eu pensei que tudo ia dar certo. Vovó já estava na casa de cuidados assistidos, e eu estava trabalhando em três empregos. Ter Faith de volta parecia uma bênção. —Mas... —Ele pede. —Depois que o bebê nasceu, ela não pôde lidar com o stress. Nós não sabíamos então que Max era surdo e que sua condição pode ter contribuído para a sua agitação. Eu acho que não deveria ter sido uma surpresa, dada a sua história com drogas. Uma manhã eu acordei e ela tinha ido embora. —E ela simplesmente o deixou com você? — O desgosto colore o tom de Jude. Ele despenca de volta contra o banco, balançando a cabeça. —Ela não era saudável, Jude. —Digo a ele. Ele abre a boca para protestar meu esclarecimento, mas eu impeço-o. —Isso não é uma desculpa. É apenas a realidade da situação. —O que fez você vir para cá?

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—Ela voltou para Max com um cara com quem ela estava dormindo. Ele tinha má notícia escrita na cara. Ela me disse que tinha que provar a ele que Max não era seu filho. —Isso é um problema estranho para se ter.— Suas palavras são tensas, e me pergunto se ele suspeita como essa história termina. Meu doce, Jude quebrado, quer desesperadamente juntar todos os pedacinhos danificados das pessoas e torná-los inteiros. É claro que ele está esperando um final feliz. —Sua esposa o havia deixado, provavelmente porque ele estava dormindo com Faith. —Eu digo. —Olhando para trás, depois de tudo. Ele não era o seu fornecedor, mas ele certamente estava permitindo ela usar. —Você honestamente acha que é por isso que sua esposa o deixou? —Que outra razão ela teria? — Eu indico. —Hoje em dia, a maioria das mulheres não deixaria um homem que quer criar seus filhos sem uma boa razão. —Eu não sei. Algumas pessoas não conseguem perdoar quando são enganadas. Eu fico querendo saber o que Jude Mercer acha que é um erro imperdoável. —Faith apareceu no apartamento, tirou Max do berço. Eu poderia dizer que ela estava usando cocaína. Todos os sinais estavam lá. Então havia esse tal de Jason, e ele deu um olhar para Max e disse: 'Bem, ele não pode ser meu.' —Como ele sabia? Eu giro meu canudo na minha água. —Vamos dizer que era óbvio. —Será que Faith nunca disse quem era o pai de Max? Balanço a cabeça, engolindo em seco. Essa é a verdade. Faith nunca me deu um nome. Eu descobri isso sozinha. 241

—Eu os convenci de que eu precisava ajeitar suas coisas, e eles voltaram para o hotel. —E? — Jude sussurra. —E eu arrumei tudo de Max, sua certidão de nascimento, suas roupas. Eu ainda tinha mais coisas de Faith também. Ela nunca se preocupou em levar com ela quando ela saía correndo. Qual viciado pensa que vai precisar de uma certidão de nascimento? —Minha boca está seca, raspando as palavras, enquanto eu me pergunto se a absolvição virá no final deste conto. —Eu embalei tudo e saí. Eu peguei uma balsa, e então um ônibus, e eu continuei indo até chegar à água. Vi uma placa do World’s End, e eu pensei que era Deus tentando me dizer algo. Vovó não estava longe, e quem viria me procurar aqui? —Será que Faith voltou? —Ele pergunta. —Não. As mãos de Jude deslizam de volta para a borda da mesa e segura até que os nós dos dedos ficam brancos. —Ouvir que ela lhe mandou um cartão postal é a primeira indicação de que eu tive que ela sabia para onde eu tinha ido. —Digo a ele. —Ela deve ter entendido que Max estava melhor com você. —Ele diz. Uma piscina de lágrimas se forma na borda do meu olho. Eu pisco e caí sobre minha bochecha. —Você realmente acredita nisso? —Eu sei disso, raio de sol. — Ele solta seu domínio sobre a mesa. —Mas por que ela me enviou esse cartão? —Quando ela voltou e viu Max, ela parecia saber quem era seu pai. — Eu digo a ele, minha voz vai diminuindo. Eu desapareço de volta para a cena no meu apartamento, olhando para ela enquanto ela estudava seu filho com o reconhecimento estampado em seu rosto. 242

—Por que ela me enviou esse cartão? —Ele repete, procurando uma resposta que ele já sabe. Está em sua voz agora. —Eu acho que ela enviou porque você é o pai dele. — Eu nem tenho certeza se minhas palavras são mais do que um suspiro, mas os olhos de Jude fecham. —Você tem alguma prova? —Não. — Parece bobo afirmar que eles têm os mesmos olhos. Sua garganta engole isso. Ele está fazendo o que pode para manter suas emoções sob controle, mas os nossos sentimentos estão ganhando o melhor de nós dois. —Quando é o aniversário de Max? —02 de junho. —Digo a ele. —Ele vai fazer cinco este ano. — É menos de um mês. Meu estômago revira nervosamente, sabendo que este pode ser o último aniversário que passo com ele. Jude permanece em silêncio, mas eu posso ver as engrenagens girando enquanto ele conta os dias, meses e anos. —A última vez que a vi foi em outubro. —Ele me diz. Confere. —Você pode fazer um teste de paternidade. — Eu ofereço a ele. —Mas estou certa de que ele é seu. Não há outra razão para ela ter lhe enviado o cartão postal. Em sua própria maneira distorcida, Faith estava tentando dar a Max o que ela não podia. —Eu não estou certo do que eu devo dizer a você. —Ele diz. —Você quer alguma coisa de mim agora? Por que você está me dizendo isso agora? O frágil fio segurando meu coração se rompe.

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—Eu não quero nada. Eu só queria que você soubesse. —Há quanto tempo você sabe? — Sua voz sobe um nível, enquanto ele luta para manter-se calmo. —Eu percebi isso na última vez que o vi. Eu poderia dizer-lhe que não havia indícios, ou que ambos éramos estúpidos por não ver, mas realmente, eu apenas olhei em seus olhos e vi você lá. O silêncio cai sobre nós. Eu não consigo nem me ouvir respirar. É o silêncio sobrenatural que domina o mundo antes do relâmpago cortar o céu, mas não há lugar para se esconder. Nenhum terreno é seguro. Eu tenho que enfrentar esta tempestade. Jude esfrega sua nuca com a palma da mão distraidamente. —Você sabe que eu o amo. —Ele me diz. Eu congelo. Eu sei para onde estas palavras estão nos levando. —Eu quero ser parte de sua vida. —Ele continua. Eu não tenho coragem para perguntar onde eu me encaixo nesse quadro. —Você tem que dizer alguma coisa. —Ele diz finalmente. —Ele é seu. —Digo a ele. —Realmente não importa o que eu digo. Você pode levá-lo para longe de mim. Você pode levá-lo para Los Angeles. A verdade tem um gosto amargo na minha língua. —Eu não vou fazer isso com ele. —Por quê? — Eu explodo. —Eu não sou sua mãe. Eu tenho confrontado essa realidade desde aquela noite. Passei as últimas semanas aprendendo a me chamar pelo meu próprio nome, e a única coisa que isso me ensinou é que o meu mundo é feito de mentiras.

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—Você não é uma mentira para ele. — Jude interrompe com uma voz suave. —Eu não vou tirá-lo de você, mas você vai ter que descobrir como me perdoar porque eu vou ser parte de sua vida e... Ele vai diminuindo, deixando o resto de sua sentença persistir no ar, ou talvez seja apenas uma ilusão. Será que ele quer ser parte da minha vida também? Eu pego meu menu e me escondo atrás dele enquanto as lágrimas começam a cair livremente. A garçonete leva isso como um sinal de que ela pode finalmente se aproximar de nossa mesa. Não deve haver nada mais estranho do que pairar em segundo plano enquanto duas pessoas estão brigando, exceto não perceber quando uma delas está em lágrimas. —Você está pronta para pedir? —Ela bate seu lápis sobre o bloco de papel. Jude olha para mim com expectativa, mas eu não estou pronta. Eu não tenho certeza se um dia eu estarei. Em vez disso, eu largo meu menu, murmurando um pedido de desculpas, e fujo. Eu não aprendi nada depois de tudo, ou talvez fugir é a única coisa que eu sei.

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CAPÍTULO 28

— Winnie não apareceu. — Amie grita para o escritório sobre o barulho da cozinha. —Você pode servir no salão? —Você acha que é seguro? — A última vez que servi uma mesa, um homem tomou um banho de chá gelado. Seu rosto redondo aparece no batente da porta, um lenço amarrado em seu cabelo. —Estou desesperada. Além disso, eu vou demiti-la, então esta pode ser a última vez. Murmuro uma série de palavrões enquanto pego um bloco de pedidos. Felizmente é a habitual multidão de turistas que estão muito ocupados tirando selfies em frente do grande mapa da parede para notar que eu estou me movendo na velocidade de um caracol. Se eu for cuidadosa eu poderei sobreviver a isto. Pego um pedido da cozinha e por pouco evito derramar diretamente em uma cliente. —Sinto muito! — Eu deixo cair os pratos em uma bandeja perto como se fossem cobras. Eu sabia que ia acabar sendo picada na bunda esta noite. —Não sinta. — É Sondra e agora que as minhas mãos estão livres ela envolve seus braços em mim. Eu aceito o abraço de Sondra com alguma hesitação. Ela dá um passo para trás, agarrando meus ombros. —Onde você esteve? Temos andado muito preocupados com você. —É uma história muito longa. — Digo. —Mesmo se eu pudesse te dizer, eu não saberia por onde começar.

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—Isso tem alguma coisa a ver com Jude? Ambos pararam de ir ao mesmo tempo. —Nem sua sombra azul-marinho pode minar o olhar astuto em seus olhos. —Nós dois participávamos sob falsos pretextos, mesmo tendo boas razões para estar lá. —É fácil pensar que você está melhor. —Ela me lembra. —Especialmente quando você está em um novo relacionamento. Acredite em mim. Você ainda tem que dar tempo para a sua sobriedade. Eu lambo meus lábios secos. Este não é o momento nem o lugar para discutir isso. —Eu acho que eu não encaixo lá. —Você encaixa em qualquer lugar que você quiser. Eu vou vim ver você de novo se eu não ver seu rosto bonito no grupo na próxima semana. —Ela me avisa antes de se despedir. Eu fico olhando para a comida que eu deixei esfriar, desejando que alguém entregasse para mim.

***

Eu falo com Amie sobre isso. Falo com a Dra. Allen. Eu falo comigo mesma. Nós todos concordamos que eu preciso fechar esse capítulo da minha vida. —Não é este o passo onde eu corrijo os erros que eu cometi com as pessoas? —Essa é uma maneira de olhar para isso, Grace. — Ela empurra os óculos para a ponta de seu nariz e me olha sobre as bordas. —Quanto tempo você vai a esse grupo? 247

—Cerca de quatro anos. — Eu admito. —Durante esse tempo, foi todo mundo perfeito lá? Não por qualquer definição da palavra. Tínhamos algumas pessoas entrando e saindo do nosso grupo, mas na maior parte do tempo sempre houve um grupo central comprometido, mesmo quando eles tinham tido uma recaída recente. —Nem de longe. —Então você está me dizendo que eles erraram? O que eles fizeram? —Mentiram, traíram, roubaram. Alguns deles acabaram de volta na prisão. Outros perderam suas famílias. —Por que você acha que eles voltaram e contaram isso? —Ela pergunta. —Eles não tinham que estar lá. Eles escolheram continuar com o grupo. Por quê? —Porque eles sabiam que entenderíamos e que ouviríamos. —Sem julgamento. — Dra. Allen atira. Eu não estou inteiramente certa do que eu fiz para cair na categoria de livre julgamento, mas concordo em ir. Eles sempre confiaram em mim com seus segredos, eu preciso confiar neles com minhas verdades.

***

—Se ele estiver lá, o que você vai fazer? — Amie me pergunta naquela manhã. —Ele não vai estar. Sondra diz que ele não está indo mais. —Eu não lhe disse que Jude me ligou todos os dias desta semana e que estou com muito medo de ouvir as mensagens. Ela sabiamente não diz nada, mas nós duas sabemos que 248

eu não posso evitá-lo por muito mais tempo. Confrontar isto, derramar minhas entranhas para as pessoas que confiaram em mim, é minha volta de aquecimento 36. Eu pensei que eu estava pronta para enfrentar Jude, e em vez disso sai correndo do restaurante. Este grupo me deu força e disposição para enfrentar meus demônios. Talvez eles pudessem me ajudar uma última vez. Todos me abraçam, até Anne. A reunião começa com a citação de alguma nova afirmação que Stephanie encontrou em um de seus livros. Eu não sei, então eu sento em silêncio, meu coração contando cada segundo até que eu vou estar no local. Quando eles acabam, Stephanie não apela por voluntários e ninguém fala. Algumas pessoas olham em minha direção. Está sendo me dada a palavra. Agradeço pela livre e espontânea pressão. — Acho que eu gostaria de compartilhar. —Digo, forçando um sorriso no meu rosto, mas antes de continuar, a porta se abre. Jude desliza, despercebido por todos exceto por mim. Ele não senta. Em vez disso, ele espera nas sombras, braços cruzados sobre a fina camiseta cinza. Óculos de sol cobrem seus olhos encantadores. Sondra estende a mão e me dá tapinhas nas costas, como se para me encorajar a continuar. Eu vim aqui para essa finalidade e posso também ser julgada de uma vez. — Meu nome é Grace. — Começo, sabendo que vou ter a atenção de todos. Algumas pessoas começam a sussurrar, mas Stephanie silencia-os. — Isso provavelmente é uma surpresa para vocês, já que vocês sempre me conheceram como Faith. Faith era minha irmã. Ela era viciada em drogas, e há alguns anos, ela deu à luz um menininho bonito. Ele teve sorte. O vício da mãe só levou sua audição. Ele poderia ter perdido muito mais. Ela o abandonou comigo, e quando ele tinha nove meses, ela voltou, procurando por ele. — Eu conto a minha história. Eu não encubro as escolhas que eu fiz ou os pecados que cometi. Ninguém fala. Ninguém interrompe com os bem-intencionados conselhos tão 36

Termo usado nas corridas de automóveis. É a volta antes de ir para o tudo ou nada.

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frequentemente compartilhados neste grupo, mas ninguém me diz que quer que eu saia. — Eu vim aqui procurando por respostas. —Digo-lhes. — Eu queria entender como ela escolheu seu vício em vez de seu filho. O que aprendi foi que eu era viciada, nela. Estava exposta à ideia de que poderia curá-la. Então continuava voltando, buscando alguma fórmula mágica, e quando não a encontrava, deixava a culpa tomar conta de mim. Se ela não ficasse limpa, eu tomaria o lugar dela. Vou cumprir a pena dela. Eu criaria o filho dela. — Levei muito tempo para entender por que fiz isso. Provavelmente parece estúpido para vocês, mas eu perdi a visão de quem eu era. Ela me engoliu inteiramente, sem sequer tentar. Descobri que ela morreu há algumas semanas. — Sondra aproxima sua cadeira da minha e coloca o braço em volta do meu ombro. Algumas pessoas murmuram seus pêsames. —Passei todo esse tempo fingindo ser ela, porque eu me importava mais com ela do que comigo. Eu estava obcecada com quem ela poderia ter sido se tivesse ficado limpa. O amor nos torna as pessoas que esperamos ser. Eu pensei que se eu a amasse o suficiente, ela voltaria. Ela seria a pessoa que eu sempre suspeitei que ela pudesse ser. Eu não sabia que eu estava dando todo o amor e não deixando nenhum para mim. Minha terapeuta me pediu para vir aqui. —Eu dou de ombros, sabendo que mais do que algumas pessoas podem entender isso. —Ela me disse que eu precisava enfrentar as pessoas que eu sinto que enganei. Soa familiar? Bob acena do outro lado da sala. —Mas, realmente, eu queria voltar e agradecer. Somos todos viciados. A maioria de nós simplesmente fecha os olhos para esse fato. Nenhum de vocês faz isso. Vocês enfrentam. Levei muito tempo para ver que vocês estavam me mostrando como ser forte. Vocês estavam me dando à coragem que eu precisava para me acertar com meu passado. Sinto muito ter mentido para vocês. Eu sinto muito que eu violei o vínculo de confiança com que todos concordamos quando passamos por aquelas portas, mas sou muito grata porque eu me encontrei aqui.

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Ninguém fala, mas algumas pessoas limpam as lágrimas dos olhos. Jude desliza para fora da porta. Ele já ouviu esta história, e eu já lhe pedi desculpas. Não há mais ninguém, além de mim mesma para perdoar. —Eu acho que eu deveria ir. —Digo, ficando de pé. —Você pode ficar. —Stephanie oferece calmamente, e um coro de outras vozes se juntam a ela, mas eu balanço minha cabeça. Eu não conto que eu já tinha encontrado um novo grupo de apoio, ou sobre o estupro. Eles já carregaram meu fardo por muito tempo para aguentar outro, mas não vão me deixar sair pela porta. Sondra me dá um abraço apertado. —Nós não estamos com raiva de você. —Ela sussurra. —Então é hora de parar de enlouquecer a si mesma. Anne não me abraça uma segunda vez, mas ela me dá um leve sorriso. —Já que eu acho que você não vai voltar. —Ela adivinha, —Eu tenho um último conselho. Enfrente seu passado e, em seguida, deixe-o ir. —Vou tentar. —Eu prometo. Ninguém me questiona sobre isso, porque isso é tudo o que qualquer um de nós pode sempre fazer, esperar que ainda sejamos capazes de mudar, e acreditar que ainda há páginas em branco para preencher nossas histórias.

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CAPÍTULO 29 O perfume quente de baunilha me chama de meus sonhos, ou pelo menos chama o meu estômago, que começa a rosnar com firmeza. Eu puxo um travesseiro sobre minha cabeça, mas não adianta. Eu estou com muita fome para dormir agora. —Por que você tem que me torturar? —Pergunto sonolenta a Amie enquanto eu me sirvo uma xícara de café. —Você não costumava dormir tanto. —Ela diz, apontando a espátula em minha direção. —Você está ficando mole. Aperto minha caneca em ambas as mãos, esperando esfriar. Max já está à mesa, cortando uma pilha de panquecas. Eu abandono minha caneca e ofereço. Quer ajuda? É incrível pensar que na próxima semana, posso não precisar fazer sinais para ele. Ele balança a cabeça, um sorriso bobo estampado em seu rosto. Atrás de mim, Amie começa a cantarolar. Meu coração bate quando eu reconheço a melodia. Eu ainda não confirmei que Jude escreveu a canção, mas eu sei disso bem no fundo. Está em todas as estações de rádio pelas últimas duas semanas. Toda vez que toca, eu sento, ouço e sofro. —Vocês dois estão em um terrível bom humor esta manhã. —Eu digo, recuperando a minha xícara de café. —É um dia bonito. — Amie murmura. —A previsão do tempo diz que vai ficar em torno de 15 graus e ensolarado. Verão estará aqui antes de nós percebermos. —Ela se vira e chama a atenção de Max. —Não está chegando o aniversário de alguém? Ele balança a cabeça, a boca parcialmente aberta com um monte de panqueca dentro. Eu puxo seu prato e corto uma pilha em pequenos pedaços. 252

—O que você quer para o seu aniversário? —Eu pergunto a ele. Seus olhos piscam para Amie, mas antes que eu possa questionar o que estão maquinando, uma batida de metal ecoa através da porta da garagem. Eu pulo para meus pés. —O que é que foi isso? Amie acena com desdém. —Nada, embora você provavelmente deva ir dizer a Jude que o café da manhã está pronto. Eu olho feio ela. Perto de mim, Max começa a rir. —Você está tão encrencada. — Eu chio para ela, mas paro na porta da garagem e ajeito o meu cabelo atrás das orelhas. Não há nada que possa ser feito sobre a camiseta e o short que eu ainda estou usando desde ontem à noite, mas correr para o meu quarto para me trocar vai lhe dar muita satisfação. Eu abro a porta e grito café da manhã, então sou calada rapidamente por Amie atrás de mim me impedindo de sair da cozinha. —Senta essa sua bunda e coma algumas panquecas. —Ela ordena, empurrando um prato em minhas mãos. Há um outro prato à mesa. Jude entra e casualmente levanta a camiseta para limpar o suor da testa, revelando o abdômen perfeito por baixo. Do fogão, Amie fala. —Obrigada. Eu me pergunto se isso é o que ela vai dizer quando eu estiver matando-a mais tarde. Seus olhos encontram os meus, e eu faço a única coisa que posso pensar em fazer, sorrir. Não é acolhedor e hospitaleiro, mas não é forçado também. Pelo

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contrário, é hesitante e tímido, o tipo de sorriso que você dá a um estranho que você deseja conhecer. —Seu carro estava fazendo um barulho estranho. Ouvi no outro dia. Não só ele está em pé na minha cozinha, virando meu corpo de dentro para fora, ele também está me dando más notícias. —Você pode consertar? — Amie salta. —Havia um parafuso faltando no cárter de óleo. Não deve ser um problema. Eu não sei como agradecer. As palavras ficam na minha garganta. Ele segue para a pia e começa a lavar as mãos, esfregando o sabão ao longo de seus antebraços. Eu não posso evitar, além de apreciar a forma como os fluxos de água deslizam para baixo em sua pele. Estou tão incrivelmente ferrada. —Oh meu Deus, olha a hora. — Amie exclama, puxando seu avental sobre a cabeça. —Eu prometi que estaria no restaurante antes da multidão do brunch37 chegar. Eu olho para ela. —Quando estiver sentada no meu julgamento por assassinato, eu vou usar isso como evidência de que fui levada ao crime. Max continua a empurrar comida em sua boca, mas eu só posso olhar para a minha comida. Jude não tem o mesmo problema. Ele dá uma mordida e geme de prazer. O som disso dispara através de mim e entre as minhas pernas. Eu conheço esse som intimamente. Jude segura uma garfada quando ele vê que eu ainda não comecei a comer. 37

Muito comum nos EUA, é uma mistura de café da manhã com o almoço.

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—Você tem que experimentar isso. —Ele me pede. Deus me ajude, mas depois de todo esse tempo, eu não posso dizer não, então dou uma mordida e redescubro a fome que tinha me forçado a acordar. Jude dá mais algumas mordidas, em seguida, faz uma pausa para fazer sinais para Max. Você parece diferente, homenzinho. Max salta em sua cadeira, apontando para os implantes no lado da cabeça. O que é isso? Jude faz sinais animadamente. Max responde de volta que eles estão lá para ajudá-lo a ouvir. Então eu posso ouvir a sua música. Eu quase engasgo com a comida na minha boca. Pegando a minha água, eu tomo goles apressados para lavar o nó na minha garganta. —Vou escrever uma canção para você. —Jude promete a ele. Seus olhos azuis voam para os meus. —Eu escrevi uma para sua mãe. Eu quero ouvi-la, Max faz sinais. —Ela ainda não me disse se gostou. —Jude diz, seus lábios voltados para Max, mas ele está falando comigo. Nós olhamos um para o outro até que Max aparece entre nós. Eu balanço minha cabeça, tentando limpar a sensação vertiginosa que me contagiou. O que posso lhe dar? Pergunto ao meu filho. Eu sei o que quero. Ele pega a minha mão e puxa para o centro da mesa. Ele faz o mesmo com Jude, unindo-as. Não há eletricidade como você lê nos livros, quando nossas peles 255

se tocam. Em vez disso sua mão está quente na minha. A única coisa que eu sinto é uma paz reconfortante seguida por uma pontada de saudade. —Parece que ele sabe exatamente o que quer para o seu aniversário. — Jude diz. Ele se lembrava de que estava chegando. Claro que sim. Sentada em frente a ele agora, eu percebo que Jude não é um mistério. Há sombras em seu passado. No entanto, ele escolheu viver na luz. Não importa onde nossas vidas nos leve, é reconfortante saber que há alguém lá fora que ama Max tanto quanto eu. Max puxa a manga de Jude, e ele olha para longe de mim. Eu me sinto mais fria, sem seus olhos em mim. Max pergunta se Jude vai estar lá quando eles ligarem seus implantes. Jude olha para cima, com os olhos em busca de permissão, e eu aceno. —Eu não perderia isso. —Ele promete. Peço licença para lavar os pratos, e limpo furiosamente meus olhos assim que estou de costas para os dois. Jude vem atrás de mim, passando em volta para colocar o prato na pia. Seu braço faz o contato com a minha cintura nua, e eu resisto ao impulso de recostar nele. —Estou quase terminando lá fora. —Ele diz. —Você tem planos para o resto do dia? Balanço a cabeça, não confiando em mim para falar. Ele se afasta de mim, e eu sinto falta do calor de seu corpo. Quer ir dar um passeio? Ele pergunta a Max, que responde pulando para cima e para baixo. —Vamos nos arrumar. —Digo timidamente. Toda uma ducha fria depois e eu ainda estou sentindo a mão de Jude apertando a minha e seu braço roçando contra mim.

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Eu acabo de sair do banho quando Jude aparece. —Max está assistindo desenhos animados. —Ele me diz. —Eu peguei os sapatos. Eu aperto minha toalha em volta do meu peito. —Deixe-me vestir e eu estarei pronta. Eu não sei por que eu me sinto constrangida. Ele viu-me muito mais despida do que isso. —Eu acho que vou me limpar um pouco, se você não se importa. Não há muito que eu possa fazer sobre as roupas. —Ele diz, apontando para o suor e manchas de óleo, mas o resto precisa lavar. —Eu vou colocar sua camisa na secadora. — Digo. —Não vai fazer muito, mas vai tirar o suor. Enganchando seu polegar em torno da bainha, ele puxa sobre sua cabeça e estende para mim. Eu conheço esse corpo em exposição, mas tê-lo visto antes não me faz querer menos agora. Peço licença apressadamente, fechando a porta atrás de mim. Jogando a camisa de Jude na secadora, me encosto contra a parede. Vá devagar. Dra. Allen diz que eu preciso de tempo para curar, e para aceitar que os meus relacionamentos mudaram. Eu sei que é verdade. É por isso que eu tenho mantido Jude à distância, mas vê-lo assim me lembrou de que alguns sentimentos não mudam. Espero dez minutos, ouvindo o zumbido da secadora, antes de puxar a camisa de volta e levá-la para ele. Ele está lavando seu cabelo na pia. Suas mãos massageando o sabão em seus sedosos cachos negros, colocando os grandes músculos de seus ombros à mostra. —Dê-me uma mão. — Ele chama por cima da água escorrendo.

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Eu coloco a camisa na prateleira de toalhas e vou timidamente para ele, colocando a mão debaixo da torneira. Eu ajudo a lavar o sabão do cabelo na nuca. Neste ângulo, vejo três palavras escondidas entre os símbolos tribais tatuados por cima do ombro. Eu sei tanto sobre este homem, mas ainda há mais para descobrir se eu estiver disposta. Quaere veritatem tuam. Traço as letras. —O que isto significa? Jude pega uma toalha, e eu dou um passo para trás enquanto ele envolve a toalha em sua cabeça. —Isso significa buscar a verdade. —Que verdade é essa? —Pergunto. —Eu costumava pensar que isso significava beleza, amor e sucesso. —E agora? —Sussurro. Ele joga a toalha no chão e se aproxima mais. —Você. —Ele murmura. —Você é a verdade que eu estive procurando por toda a minha vida. Ele segura meu rosto em sua mão, mas quando seus lábios inclinam sobre os meus, um corpinho se contorce entre nós. Nós rimos. —Eu acho que alguém está pronto para ir. Jude agarra a camisa e a veste. Lidere o caminho. Max corre para a porta, e eu corro para acompanhá-lo. Quando eu finalmente pego-o, pergunto fazendo sinal. —E o nosso carro? Ele balança a cabeça e aponta para o jipe amarelo.

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—Eu acho que isso é com o seu pai. — Eu digo a Jude por sobre a cabeça de Max. Pergunte a sua mãe, Jude fala para Max, que completa suplicando os olhos para mim. —Tá. Jude pega o assento do meu carro e nós acondicionamos no jipe. O calor da tarde já está tomando conta, então ele abre os lados da capota. Com Max no carro, Jude dirige com cautela, me permitindo finalmente desfrutar do passeio que ele me prometeu meses atrás. Eu coloco minha mão para fora da janela permitindo a brisa cortar as lacunas entre meus dedos. Meu cabelo chicoteia ao redor do meu rosto. Eu não pergunto para onde estamos indo. Não importa. Virando-me, eu verifico Max, cujo sorriso vai de orelha a orelha. —Eu acho que ele gosta. —Jude comenta. Ele sai da estrada para o estacionamento do parque Chetzemoka. Ele salta do carro, insistindo em levantar Max do jipe e colocá-lo no chão em segurança. —Eu sou novo nesta coisa de pai. —Ele sussurra para mim. —Como eu estou indo? —Perfeito. —Murmuro. Max pega nossas mãos e nos arrasta para um balanço. Quando chegamos lá, Jude se agacha na frente dele. —Eu quero falar com sua mãe. —Ele diz. —Tudo bem? Max acena antes de correr para subir no brinquedo do playground. —Vamos. — Jude diz, pegando a minha mão. Olhando em volta vejo uma pequena passarela que foi construída sobre um trecho de um riacho. —Isso é lindo. —Digo, olhando ao redor. —Eu nunca estive aqui. 259

É isso que Jude vai me mostrar, todos os lugares bonitos que também estive alheia para ver? Será que ele vai me ajudar a finalmente encontrar a beleza no mundo que eu tenho ignorado? As tábuas de madeira rangem sob os nossos pés, e fazemos uma pausa no ápice, apoiando-nos no corrimão para ver quando Max começa a balançar. —Eu não sei como fazer isso. —Digo baixinho. Existem centenas de razões pelas quais estar aqui com Jude é uma má ideia, mas não posso negar a única razão que não é. Ele está no meu coração, e eu não quero nunca libertá-lo. —Eu estive pensando sobre isso, e eu acho que eu arrumei uma solução. —Ele me diz. Espero ele compartilhar, e ele se estica para trás para tirar sua carteira. Um momento depois, ele me dá um papel de biscoito da sorte. —Você vai ter uma segunda chance. —Eu leio, então eu rio. —Eu pensei que tinha jogado isso fora. —Eu lhe disse que eu guardo os bons. Eu tinha a sensação de que ele poderia vir a calhar. —Seus dedos roçam ao longo do meu pulso. Talvez seja a hora de adotar a mesma política. —Vamos começar de novo. —Ele sugere. —Sou Jude. —Grace. —Sussurro. —É bom conhecê-la, Grace. Na verdade, parece que eu estive esperando conhecê-la por toda a minha vida. Eu procuro seus olhos, e lá eu encontro a minha verdade. Relaxando a minha mão, eu deixo deslizar o papel da sorte dos meus dedos. O vento leva o pedaço de papel, e ele flutua na água abaixo. —E se eu precisar de uma segunda chance? — Jude me pergunta. Eu corro minha mão para baixo em sua mandíbula.

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—Você nunca mais vai. —Eu sou muito bom em estragar as coisas. —Ele me avisa. —Eu aprendi a perdoar. Eu estava quebrada quando conheci Jude. Eu ainda estou, mas com ele estou mais perto de consertar. Juntos, estamos quase completos. Seus lábios inclinam sobre os meus, seus braços fortes se apoiam em meus ombros enquanto ele me aproxima. Quando os lábios fecham sobre os meus, eu sei que eu encontrei o meu para sempre.

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EPÍLOGO

—Eu não acho que está nivelado. —Grace diz com um suspiro de frustração enquanto se vira para examinar o quadro em cima da lareira. Temos dois caminhões de mudança quase cheios na frente, e ela está ocupada em pendurar quadros. Eu largo a caixa que eu estou carregando e me junto a ela na sala de estar. —Eu vou ajudá-la com isso mais tarde. — Eu prometo, agarrando-a pela cintura, eu a giro para me enfrentar. —Eu tenho sonhado em pendurar esta pintura ali desde que você me deu no último Natal. —Ela me diz. —Ainda é seu segundo presente favorito, então? — Eu pergunto, mas ela balança a cabeça. —É o meu presente favorito do último Natal. Eu me afasto para trás e olho para ela com surpresa. —Eu lhe dei uma casa no Natal passado. Especificamente, a casa em que está de pé no momento. —Eu sei disso. —Ela diz. —Mas esse quadro faz com que este seja nosso lar. Largando meu aperto em sua cintura eu ando mais e ajusto sua posição. —Está melhor? —Perfeito. Eu paro e admiro com ela por um momento. É a minha primeira tentativa real de um retrato. Tenho espontaneamente pintado Grace em várias ocasiões, 262

mas esta peça foi inspirada por uma fotografia que a melhor amiga de Grace capturou de nós no verão passado. Grace, Max e eu sentados em uma grande rocha com vista para o mar. Tinha sido um considerável esforço escalar a maldita coisa, mas nós conseguimos, ajudando Max ao longo do caminho. Eu pendurei a fotografia no meu cavalete e, lentamente, a pintei por meses. Eu ainda não sabia se eu tinha conseguido transmitir como o vento pegou seu cabelo ou como Max parecia entre nós. Eu estava apontando para algo na água, mas olhando para essa memória perfeitamente capturada, parecia como se eu estivesse apontando para o nosso futuro. A foto havia conseguido mostrar exatamente o que eu sentia no meu coração, durante dois últimos anos: esta é a minha família. Eu esperava dar a Grace o mesmo presente, e olhando para ela agora eu sei que eu dei. Eu permaneço na sala de estar, absorvendo a sensação de casa e de família por mais um momento antes de voltar ao meu trabalho. Tinha me custado um ano e meio convencer Grace a finalmente vir morar comigo. Então nós tínhamos levado mais seis meses para remodelar a sua casa dos sonhos. A casa tinha ficado disponível apenas alguns dias depois que ela finalmente disse sim para a pergunta que eu tinha feito há mais de um ano, e eu sabia que era um sinal. Havia ainda muito a fazer no exterior da velha casa para devolvê-la a sua glória vitoriana original, mas a localização não poderia ter sido mais perfeita. Debruçada sobre a encosta com vista para o centro com uma quantidade generosa de espaço no jardim em torno da casa, parecia como um antigo farol de Port Townsend. Eu tinha ouvido histórias de horror sobre remodelação e reforma, mas nada poderia me impedir de dar a Grace o seu sonho. Como se viu, todo o processo tinha nos aproximado mais do que nunca. Nós tínhamos demolido a cozinha e derrubado andares. Nós tínhamos escolhido as cores da pintura e os azulejos. Nós tínhamos desarrumado vezes o suficiente para ter que trazer empreiteiros, e eu não mudaria nada.

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—Isso me lembra, —Digo pegando a mão dela enquanto me viro para a porta da frente. —Nós ainda não decidimos o nome para colocar na caixa de correio: Kane ou Mercer? Ela enruga o nariz. —Contanto que não seja Kane-Mercer. —Você já deixou bem claro o que pensa sobre esse sobrenome. — Eu a provoco. Durante o processo judicial em que resolvemos todos os documentos de Max, tínhamos debatido sobre se deveríamos ou não mudar seu sobrenome. —Kane-Mercer soa como um serial killer 38. —Ela diz. Esse tinha sido seu argumento, também. —Eu ainda acho que Max Mercer soa como um herói de quadrinhos. —Eu indico. —Então é perfeito para ele. Não tenho nenhum argumento aí. Max é meu milagre. Sua bondade e amor concederam-me mais alegria do que eu pensava ser possível nesta vida. Mas ela não vai me distrair do debate Kane-Mercer. —Vamos falar sobre isso mais tarde. — Eu a advirto. Ela sabe que é uma ameaça, mas ela apenas levanta a sobrancelha como se aceitando o desafio. Eu beijo o sorriso do seu rosto e recupero a caixa que eu abandonei perto do pé da escada desenhada por Max. Ele está sentado em sua cama fazendo um desenho. Espreito por cima do ombro detectando três figuras e uma forma menor que eu não consigo entender. Sentando na cama ao lado dele, eu espero ele parar de desenhar e olhar para mim.

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Assassino em série.

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—Quem você está desenhando, homenzinho? —Pergunto-lhe, fazendo sinais, juntamente enquanto eu falo. Os implantes cocleares que recebeu há dois anos tem sido um ajuste para todos nós. Temos sorte que sua mãe se esforçou tanto com a aprendizagem da linguagem de sinais, o que me incentivou a fazer o mesmo. Ser capaz de comunicar com ele através de uma língua que compreenda está lentamente ajudando-o a unir os sons de nossas palavras com a forma dos lábios e as palavras para fazer sinais. Tem sido uma batalha difícil, mas ver quanto progresso ele já fez faz tudo valer a pena. —Nossa família. —Max faz sinais enquanto algumas consoantes acompanham a viagem sobre sua língua. —Eu gosto, mas o que é isso? — Eu aponto para a forma no canto inferior da página. —Nosso cão. —Ele faz sinais para trás com um sorriso. —Não temos um cão. —Ainda não. —Ele responde. Eu acho que eu sei exatamente o que ele está planejando pedir para este Natal. Vou ter que ver este presente com sua mãe. Embora, eu não posso imaginar uma adição mais perfeita para este capítulo da nossa vida, exceto talvez uma coisa. —Eu vou continuar trabalhando. —Digo a Max. —Você já arrumou suas coisas para o jantar? Ele pula e corre para seu armário. Seu quarto na casa é o único que nós realmente descompactamos. Nós estávamos preocupados em fazer sua transição tão suave quanto possível, mas não houve problemas até agora. Ele está tão ansioso quanto eu para ter a nossa família sob o mesmo teto.

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Max puxa sua camisa e gravata, segurando-a para mim. —Boa, cara. — Eu chamo. Ele joga no chão e corre para me atacar. Eu pego-o, balançando-o em um abraço de urso, então eu dou um passo para trás: —É melhor pendurar isso. Ele faz como é dito, e eu vou lá para baixo para pegar Grace lutando com uma caixa nos degraus da varanda. Eu pego dela, verificando seu rótulo e transportando para a cozinha. —E agora? — Eu pergunto a ela assim que eu coloco em cima do balcão. Amie projetou o espaço. Foi o único ambiente que confundiu Grace e eu. Cor creme nas paredes e armários pretos. Algo sobre o design acolhedor e a pia fez com que parecesse o centro de nossa casa. É claro, o enorme fogão Viking que Amie escolheu provavelmente terá melhor aproveitamento quando ela vir nos visitar. —Eu posso levar as coisas sozinha. — Grace diz, plantando as mãos nos quadris. Eu estou contente que alguns anos juntos em nada diminuíram sua veia obstinada. —Eu não quero que você se machuque, raio de sol. Ela revira os olhos. —Então isso vai levar o dia todo. A verdade é que eu só quero fazer isso com ela. Quero levar as caixas de sala em sala, abrir minha vida com ela ao meu lado. —Eu tenho algumas coisas para o quarto. — Ela finalmente diz.

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Eu a sigo para fora para os caminhões de mudança apreciando a leve brisa na minha pele suada. Agarrando a nossa cabeceira, eu levanto sobre a minha cabeça. Grace corre para a porta para mantê-la aberta. É preciso um pouco de esforço para subir a escada em caracol, mas eventualmente ela está em nosso quarto. —Onde você quer? — Eu pergunto a ela. Ela olha em torno do perímetro, com os olhos sugestivamente ficando luxuriosos. —Em toda parte. Eu me inclino contra a parede enquanto ela passa por mim. Agarrando a barra de sua camisa, eu puxo-a para mais perto. —Continue falando assim. —Digo. —E nós nunca vamos terminar. Você não quer uma cama aqui? —Nós temos uma parede. — Ela aponta. —E pisos e um chuveiro. Eu não preciso dela me dando um inventário de todos os lugares que vamos ter que batizar ao longo das próximas semanas. —Podemos ter um chuveiro, mas não temos nenhuma toalha, raio de sol. —Tudo bem. —Ela choraminga, e eu não posso resistir ao impulso de lhe dar uma prévia do que está por vir. Colocando-a contra a parede, eu corro minhas palmas para baixo de seus ombros. Eu quero fixar os braços sobre a cabeça e dar-lhe mais um gostinho, mas mesmo com o sangue filtrando para meu pau, eu estou ciente de seus gatilhos. Ela se sente segura comigo, e eu nunca vou fazer nada para minar isso; em vez disso, eu paro meus lábios em sua clavícula sigo até seu pescoço e depois a curva que leva direto para a boca. Eu a beijo devagar, saboreando a plenitude exuberante de seu lábio inferior, gemendo enquanto ela passa rapidamente a língua sobre os meus, enquanto nossas bocas se abrem uma para a outra. Juntos, estamos aprendendo a arte de ir devagar. Até agora, tem sido muito gratificante. 267

Quando finalmente me afasto, ela cora. Eu bato meu dedo no nariz. —Eu vou arrastar a cama para o andar de cima. —Digo, acrescentando. — Para esta noite. Ela morde o lábio enquanto balança a cabeça, e eu quase perco a vontade de continuar a arrumação até que ela gentilmente me empurra para longe. —Vamos trabalhar então. —Aliás... — Eu a chamo ao sair pela porta. —Prometi a Max que teríamos a noite comida chinesa. —É domingo. —Ela diz com um sorriso que prende meu coração. Grace Kane me ama. Toda vez que eu percebo isso, eu me apaixono por ela novamente. Esta mulher que canta muito alto no carro e ama muito ferozmente. Ela não é tão frágil como pensa que é, mas isso não a impediu de se importar muito. Ela está aprendendo os limites. Nós dois estamos. Todos os dias nós damos novos passos juntos e separados, mas nós sempre encontramos o nosso caminho de volta para o outro.

***

Há uma quantidade enorme de caixas na sala de estar. Conseguimos limpar ambos os caminhões, mas vai demorar semanas para arrumarmos as vidas que trouxemos conosco. Acho Grace sentada de pernas cruzadas em uma pilha de caixas. —Eu não estou certa de onde o papel higiênico está. —Ela admite.

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—Podemos comprar no nosso caminho para jantar. Ela franze a testa para esta sugestão. —Pensei que comeríamos aqui. —Você sabe onde os garfos estão? Ou os pratos? —Eu pergunto a ela. —É mais fácil sair. —Eles vão nos mandar pauzinhos. Ela está determinada a minar o meu plano para tirá-la de casa. —Eu acho que nós precisamos ficar longe de todo o caos um pouco. Eu ofereço a minha mão e ela pega. Puxando-a para seus pés, eu aperto seu bumbum. —Agora, vamos lá em cima trocar de roupa. —Eu não acho que eu preciso me arrumar para ir ao Lucky Dragon. —Ela diz, assim que Max aparece na escada usando camisa de botão e gravata. —Bem, ele está arrumado. —Digo, fingindo estar surpreso. Ela resmunga algo sobre estarmos estabelecendo um padrão muito alto e corre para subir as escadas. Me junto a ela, abrindo a mala e retirando uma toalha. —Eu pensei que você não sabia onde toalhas estavam. —Ela diz. —Eu gosto de estar preparado. —Digo a ela. —Além disso, eu sabia que estaria uma bagunça suada quando terminasse hoje. —Você é minha bagunça suada. — Ela beija meu ombro em seu caminho para verificar as caixas.

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Tomo banho rapidamente, permitindo que a água quente mergulhe em meus músculos doloridos. Parando quando cai sobre mim, eu me centro. Estou aqui com ela. Eu dei a Grace seu sonho, e ao fazê-lo, fiz o meu se tornar realidade. Quando eu termino de me vestir, eu penteio meu cabelo e me incentivo a olhar no espelho antes de finalmente ir lá para baixo. —Isso é tudo que consegui encontrar. —Ela diz, apontando para um vestido de verão leve. Eu franzo a testa, percebendo que eu deveria ter embalado algo para ela também. —Eu não quero que você sinta frio. —Eu não vou com você ao meu lado. —Onde você encontrou isso? — Ela gesticula para a camisa de botão cinza que combinei com jeans. —Eu rotulei minhas caixas muito bem. —Digo a ela com uma piscadela, e ela revira os olhos. Levamos o carro dela. Eu tive que usar todos os trunfos que eu tinha quando seu antigo Civic finalmente quebrou, mas ela finalmente me deixou lhe comprar um Grand Cherokee. Ela não podia argumentar que seria um carro mais seguro e mais confiável para ela e Max. Nós nos ajeitamos nele depois que eu verifiquei que Max estivesse sentado corretamente. —Eu gostaria que tivéssemos sido capazes de ter o nosso primeiro jantar em casa. —Ela diz melancolicamente, seus olhos demorando em nossa casa enquanto dirigimos em direção ao Lucky Dragon. —No próximo domingo vamos fazer isso direito, raio de sol. — Eu prometo a ela. —Nós vamos ter Renee, e nós saberemos onde os pratos estão. Ela ri disso, pegando a minha mão enquanto manobro na estrada íngreme.

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—Acho que você está certo. É uma coisa a menos para se estressar. Tem havido tão pouco stress na minha vida agora que ela está nela. Eu já não me vejo preocupado com o passado. Embora, eu olhe para o futuro. É mais fácil desfrutar de todos os dias, agora que tenho ela para compartilhar minha vida. O estacionamento do Lucky Dragon está vazio quando paro. Isso não é incomum, já que é principalmente para entregas, mas quando chegamos na porta, encontramos um sinal. —Fechado para um evento privado. —Oh não! — Grace chora enquanto ler. —Isso não vai me impedir. Bato na porta de vidro, e Sr. Cho prontamente abre. Grace me encara com horror como se ignorar o aviso afixado fosse semelhante a crimes contra a humanidade. —Jude... —Sr. Mercer. —O proprietário do restaurante me cumprimenta. —Entre, entre. O olhar de horror no rosto de Grace desvanece-se em confusão. Max e eu compartilhamos um olhar conspirador, animados que o nosso plano está funcionando, mas ela percebe. —O que vocês dois estão fazendo? —Ela exige quando entramos. Eu não me incomodo em responder, não querendo arriscar mais suspeita. Sr. Cho mostra-nos uma mesa no centro do restaurante. Ele colocou uma toalha de mesa de linho branco e umas margaridas em um vaso. Há até mesmo umas velas acesas. —Você fez isso? —Ela me pergunta enquanto observa tudo.

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—Eu pensei que nós deveríamos ter um jantar elegante em um dia tão importante, mas eu também queria comida chinesa. —É uma tradição. —Ela brinca comigo enquanto tomamos nossos lugares. Eu tinha premeditado o menu com o Sr. Cho para garantir que todos os nossos favoritos estivessem prontos. Max está passando por um surto de crescimento, e ele quase consegue comer seu peso em comida. Nós sentamos planejamos o que vamos plantar no jardim e Max faz seu pedido por um cão. O sorriso de Grace está radiante toda a noite, e eu o guardo na memória. Algum dia eu vou pintá-la assim, mas eu nunca vou lhe fazer justiça. —Eu não acredito que você fez isso. —Ela diz quando Sr. Cho vem dar uma verificada, juntamente com três biscoitos da sorte. —Eu queria fazer que hoje memorável. —Você já fez todos os meus sonhos se tornarem realidade. —Ela diz. Eu levanto uma sobrancelha. Estendendo a mão, eu pego a dela. —Todos eles? Nossos olhos se encontram. Apenas encontrar o outro completou nossas vidas, mas isso não significa que não há coisas que eu ainda quero, e quero com ela. Grace se afasta e passa para os biscoitos da sorte. Nós caímos em silêncio à medida que começamos o nosso ritual. Ela está muito ocupada lendo o dela para perceber que o meu ainda está no meu prato. Max pisca ao meu lado. Então, ele me passa sua sorte. —Você vai ter um cão. — Eu leio em voz alta. Isso é o que eu recebo por não perguntar o que ele tinha escolhido para colocar em seu biscoito personalizado. —Isso é muito específico e pontual. —Sua mãe diz, estreitando os olhos.

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Max levanta as mãos, mas o seu sorriso travesso prejudica sua pretensão de inocência. —E o seu? — Eu pergunto a ela. Ela engole, e percebo as lágrimas brilhando em seus olhos verdes. —Ele diz que todos os meus sonhos se tornaram realidade. — Sua voz treme enquanto ela lê. Ela funga e passa o dedo na borda do olho. —O que o seu diz? Agora ela já descobriu que eu arranjei todas as sortes, mas eu acho que ainda posso surpreendê-la. —Eu não sei. —Digo, segurando o meu para cima. —Trapaceiro. —Ela diz. —Tudo o que estiver lá dentro não vai se tornar realidade agora. —Eu estabeleci as regras. Eu posso mudá-las. —Oh sim? O que você quer mudar? Eu fico de pé e passo para o seu lado da mesa. A respiração de Grace acelera quando chego mais perto. —A partir de agora, eu acho que nós deveríamos compartilhar todas as nossas sortes. —Às vezes, nossas sortes são chatas. —Ela sussurra. —Não há ninguém com quem eu prefiro ter uma sorte chata. —Digo a ela enquanto me abaixo lentamente a um joelho. A mão de Grace voa para sua boca enquanto eu abro meu biscoito, revelando um pedaço de papel dobrado em volta de um anel de diamante. —Por que não começar com esta sorte? — Eu sugiro.

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Seus olhos não deixam os meus. Ela pega e puxa o papel com dedos trêmulos. —Eu não acho que possa lê-lo. —Ela admite. —Eu estou tremendo muito. Eu tiro o anel, deixando cair o biscoito sobre a mesa e o seguro para ela. Ela faz uma pausa antes que me permita deslizá-lo em seu dedo. —O que ele diz? —Ela pergunta, dando o papel para mim. Eu pego, mas eu não me preocupo em olhar. —Ele diz que eu te amo. Diz que você me deu mais amor do que eu jamais pensei que merecia. Diz que se você fez isso através das tempestades que enfrentamos, podemos atravessar qualquer coisa. Diz que vamos envelhecer juntos em cadeiras de balanço na varanda da frente. Diz que você me deu seu coração, e não passa um dia que eu não agradeço a Deus por isso. —Isso é muito para um pedacinho de papel. — Ela está chorando agora, mesmo que esteja sorrindo. —Sinto muito. —Digo, com um sorriso curvando meus lábios. —Ele quer dizer tudo isso: você aceita se casar comigo? —Sim. — Ela mal consegue falar a palavra antes que eu esteja beijando-a. Max fica entre nós, e eu estou tão feliz que ele está aqui para compartilhar o momento em que o meu último sonho se tornou realidade. Naquela noite, estamos todos muito tontos para dormir. Quando Max finalmente se rende, eu vou na ponta dos pés para o andar de baixo, tentando não tropeçar nas caixas. A casa está tranquila, e depois de alguns minutos procurando, eu acho Grace na varanda olhando na direção do mar. —Está muito escuro para apreciar a vista. — Eu falo. —Eu não posso vê-lo. —Ela diz, quando chego por trás dela e encosto seu corpo contra o meu. —Mas eu sei que ele está lá.

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Há tantas coisas na vida que podem ser ditas para descrever: amor e esperança. Houve um tempo quando eu questionei se eu poderia merecer pedir esses presentes. Embora, mesmo assim, eu me agarrei a eles, recusando-me a viver em um mundo onde a escuridão ofuscava suas possibilidades. Essa crença inabalável quase me destruiu. Agora, segurando-a, estou certo de uma coisa: Eu sempre tive fé, mas fui salvo pela graça.

FIM

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The Sins That Bind Us- Geneva Lee

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