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Sumário SINOPSE .................................................................................................................................................................... 8 GLOSSÁRIO ............................................................................................................................................................ 9 CAPÍTULO 01........................................................................................................................................................ 11 CAPÍTULO 02 .................................................................................................................................................... 27 CAPÍTULO 03 ..................................................................................................................................................... 44 CAPÍTULO 04 .................................................................................................................................................... 54 CAPÍTULO 05 .......................................................................................................................................................71 CAPÍTULO 06 ..................................................................................................................................................... 91 CAPÍTULO 07 ................................................................................................................................................... 105 CAPÍTULO 08.................................................................................................................................................... 119 CAPÍTULO 09 ................................................................................................................................................... 135 CAPÍTULO 10.................................................................................................................................................... 150 CAPÍTULO 11 ..................................................................................................................................................... 166 CAPÍTULO 12 .................................................................................................................................................... 183 CAPÍTULO 13..................................................................................................................................................... 194 CAPÍTULO 14 ..................................................................................................................................................... 211 CAPÍTULO 15.................................................................................................................................................... 224 CAPÍTULO 16 ................................................................................................................................................... 238 CAPÍTULO 17.................................................................................................................................................... 248 CAPÍTULO 18 ................................................................................................................................................... 259 CAPÍTULO 19 ....................................................................................................................................................273 FIM ............................................................................................................................................................................ 279
SINOPSE Caçadora de todas as coisas ruins e paranormais, a sarcástica bruxa Morgan Maxwell sabe que precisa se recuperar antes de continuar a caçada ao vampiro adorador de demônios que tentou matá-la, aos seus amigos e ao resto do mundo. Isso até ela receber uma intimação do seu distante pai para ajudar a resolver os horríveis assassinatos de lobisomens e shifters que vivem em suas florestas. A última coisa que Morgan quer fazer é ver o homem que a jogou de lado quando era criança, mas nem mesmo ela consegue deixar a amargura e o ressentimento impedi-la de ajudar a acabar com os assassinatos e as mutilações de inocentes. Porém, resolver os assassinatos será a menor das suas preocupações. Alex - um homem que Morgan se encontra terrivelmente próxima - tem uma participação pessoal neste caso, e que Morgan teme que os separará para sempre. Ties That Bind é o segundo livro da série de fantasia urbana Spire Chronicles. Copyright 2016, Ashley Meira
GLOSSÁRIO ✓
Falso-Corrigan – nome atribuído por Morgan ao vampiro feiticeiro que
adorava demônios, fisicamente semelhante a sua mãe biológica e que utilizava o seu nome. ✓
Corrigan – Nome da mãe da Morgan
✓
Linhas Ley – são supostos alinhamentos entre vários lugares de interesse
geográfico e histórico, tais como monumentos megalíticos, cumes, cordilheiras e cursos de água. ✓
Fortune Square – Praça da Fortuna.
✓
Poção Abissal do Sono – Poção utilizada para assassinar Lady Cassandra
Maxwell, chefe da família Maxwell, mentora de Morgan. ✓
Vácuo em pó – Ingrediente para a elaboração da Poção Abissal do sono
✓
Infernalista – Usuário de magia que vendeu sua alma ao demônio em
troca de maior poder mágico, bem como a tutela magicks demoníacos. ✓
Magicks – Não deve ser confundido com —mágica— de palco. Magick
é a arte de utilizar forças naturais ao nosso redor para provocar mudanças. A magick é neutra, nem boa nem má. O praticante decide como gostaria de concentrar essa energia natural. ✓
Sigilo – Símbolo inscrito ou pintado, considerado como tendo poder
mágico. ✓
Inferni – Língua dos demônios.
✓
Pináculo Congelado – Local que abriga os mestres dos infernalistas, os
seres que merecem um destino pior do que o Inferno, os que eram demasiados perigosos para ser dado até mesmo a chance de existir entre todos os outros.
✓
Exército Celeste – Anfitrião Celestial. (Heavenly Host)
✓
Tribunal do Inferno – Corte formada pelos duques de Lúcifer. (Court
of Hell) ✓
Satanica Potestas – Mágica rudimentar rara.
✓
Hellhounds – Cães infernais
✓
Garou – Lobisomens
✓
Protean – Shifters
✓
Rogue – Desonestos
✓
Umbral – Reino dos Ceifeiros – Terra das Sombras
✓
Oricalco – Metal amarelo valorizado nos tempos antigos, provavelmente
uma forma de latão ou uma liga semelhante. É um tipo de metal que teria sido usado em Atlântida, citado em —Crítias—, de Platão. De acordo com Crítias, o oricalco era considerado muito valioso, depois apenas do ouro. ✓
Regia Mortis – Corpo governante dos ceifeiros.
✓
Limbo – Local para onde os ceifeiros enviam almas antes de passarem
para o céu ou para o Inferno. ✓
Erva moura – Planta relacionada com a batata, tipicamente com bagas
pretas ou vermelhas venenosas. Vários tipos de erva moura foram utilizadas na produção de medicamentos fitoterápicos.
CAPÍTULO 01
Não havia nada além do som da minha respiração e do farfalhar das folhas enquanto eu corria atrás do meu alvo. O céu era de um roxo pálido e uma névoa leve e transparente pairava no ar, contorcendo-se nos ramos escuros das árvores que nos cercavam. Minhas pernas estavam latejando e meus pulmões queimavam enquanto corríamos. Alex estava à minha direita, um pouco mais a frente. A folhagem espessa acima de nós impedia que a lua nascente fosse de qualquer ajuda; havia pequenos orbes de luz voando ao nosso lado: luzes fantasmas - um dos primeiros feitiços que aprendi. O trio de demônios estava à nossa frente, suas formas humanas ainda no lugar enquanto corriam pela floresta. Normalmente, seu ritmo seria demais para um humano, mas caçadores como nós eram impregnados de habilidades físicas aprimoradas que nos permitiam acompanhá-los. Com esse tipo de movimento, era difícil para eu mirar em qualquer um deles. Era ainda mais difícil focar, bem, em qualquer coisa quando havia mil pequenos galhos e pedras traiçoeiras para evitar tropeçar. Não que cair no meu rosto não fosse uma ótima maneira de passar uma noite de sábado. Ao contrário de mim, Alex não parecia nem um pouco enfraquecido. Seus cabelos negros e curtos grudavam na pele de alabastro por um fino brilho de suor, mas ele não estava de todo incomodado. Havia uma lâmina em suas costas e uma pistola amarrada na sua coxa. Ele sacou a pistola uma vez que se
aproximou do grupo e disparou um tiro na parte de trás da cabeça do demônio de cabelo preto. Uma bala normal não teria feito nada, mas os caçadores usavam uma arma de grande impacto. O demônio caiu. Ele não estava morto, mas ficaria aleijado por tempo suficiente para Alex tirar a cabeça dele. E ele teria feito exatamente isso se um cão infernal não tivesse investido contra ele do nada. Os cães infernais pareciam versões gigantes e raivosas de dobermanns que tinham comido muitos cachorros quentes1. Seus estômagos estavam distendidos e os músculos inchados sob a pele cinza manchada. Eles eram grandes, feios e perigosos como o Inferno. — Por que são sempre cães infernais? — Eu chorei. — Não há gatos entre os demônios? Um dos demônios, uma garota baixinha com cabelo ruivo espetado, virouse com um sorriso cheio de dentes. —Os gatos são piores! — Puxa, obrigada. — Revirei os olhos e disparei uma lança de gelo em sua direção. — Ah, baby, isso é frio! — Ela gritou de volta, rindo enquanto se abaixava. A lança zumbiu sobre sua cabeça antes que eu a destruísse, vendo-a se fragmentar em uma explosão de geada branca. Eu não estava tentando atingi-la tanto quanto a atrasar, mas não teria me importado em empalá-la - um comentário que precisaria arquivar na minha pasta, ‘coisas que eu não deveria dizer em voz alta’.
1
No inglês: hot-dog = cachorro quente, um trocadinho.
Eu me virei e, na verdade com um objetivo desta vez, atirei um pico de gelo no cão infernal atacando Alex. A besta soltou um gemido quando foi repelida. Eu segui em frente avançando e lançando uma bola de pura força mágica nele. Os feitiços de forças não eram realmente algo em que eu era ótima - sempre fui mais parcial com a magia chamativa que acompanhava as artes elementares. Ainda assim, os feitiços de força na escola de magia eram os que continham maior potência bruta, o que os tornariam meus favoritos se não tivessem uma única ressalva fatal: eles eram invisíveis. Eles eram ondas puras de energia altamente pressurizada. Basicamente, era difícil atingir um alvo com uma arma que você não podia ver, e mesmo com uma mira, eu não era tão precisa com meus ataques. A essa distância, porém, foi um tiro fácil - mesmo para uma desajeitada meio cega como eu. Como um bônus, estar a apenas dois metros de distância significava ouvir todos os seus ossos quebrarem enquanto meu ataque devastava o cão infernal. Talvez seja hora de investir em alguma terapia. Não, deixar coisas - e pessoas - em chamas era toda a terapia que eu precisava. Eu corri e me ajoelhei ao lado de Alex, conjurando um rápido feitiço de cura sobre ele. —Você vai drenar sua magia novamente. — Disse ele, levantando-se e puxando seu facão. Ele andou até onde o cão infernal estava se contorcendo, suas pernas musculosas dançando ao redor como uma marionete em uma corda, enquanto esperava por seus ossos quebrados se regenerarem. Alex não lhe deu chance enquanto esfaqueava a criatura através do cérebro antes de cortar sua cabeça em um golpe limpo.
Matar um demônio, ou qualquer coisa sobrenatural, de uma forma que não envolvesse destruir completamente o corpo, sempre me deixava desconfortável - como deixar um trabalho incompleto - mas não era uma boa ideia incendiar algo no meio de uma floresta. Então me contive e não reduzi o corpo a cinzas, não importando o quanto isso me deixaria mais tranquila. — Eu pensei que você pudesse estar ferido. — Eu disse com um sorriso insolente. Um golpe como esse não o teria perturbado muito, mas era divertido provocá-lo. Ele retornou meu sorriso com um dos seus próprios, e meu estômago se agitou com a visão de seus olhos azuis quentes. O cara realmente era bonito demais para ser um caçador. Espere, não, Morgan, se concentre na caça. Eu balancei a cabeça para limpar a imagem incrivelmente detalhada de Alex deitado nu na minha cama; seu rosto definitivamente não era a única coisa boa que ele tinha. —Eles estão fugindo. — Disse Alex, e retomamos a caçada. Correr era uma coisa que eu não sentia falta de quando estava na ativa. Sério, eu estava sempre correndo. Sempre. Era a forma mais chata de exercício que já encontrei. Desde que tive minha bunda chutada há três meses por um verdadeiro exército - bem, doze demônios mais oito vampiros - de enquanto procurava por minha mãe desaparecida, eu estava presa em uma "licença administrativa" em Haven, uma das Ordem das capitais dos caçadores e o lugar onde cresci. Agora eu já deveria estar de volta em meu setor designado: Manhattan. Mas, cerca de um mês atrás, uma caravana de demônios foi massacrada e Alex veio me acusar de fazer isso. Ele também era um caçador e herdeiro da família
Campbell, encarregada de investigar os assassinatos. Minha tipo ‘prima’, Lily, chamou isso de "encontro fofo". Menos fofo foi o que se seguiu: o assassinato da única figura materna que realmente tive, o que levou à descoberta de uma conspiração para quebrar uma das fechaduras do Pináculo Congelado - uma prisão no Inferno que contêm as piores criaturas que já existiram. Ah, e havia também um louco vampiro feiticeiro que adorava demônios, e que parecia com a minha mãe biológica, e ainda usava o nome dela. Eu o chamei de ‘Falso-Corrigan’. Ele é um idiota. Quando Lady Cassandra morreu, deixou vago o assento de chefe da família Maxwell - uma das quatro famílias da Ordem na América. Desde que ela me escolheu como sua sucessora, eu tive que ficar na cidade até o Conselho - o corpo governante da Ordem - decidir se estou ou não pronta para assumir o controle. Sabe, porque eu ainda sou jovem e fofa e não deveria me tornar o chefe da família por mais uma década ou duas. — Foi bom da parte deles nos esperar. — Eu ofeguei, meus pulmões cheios de fogo, quando os demônios voltaram à vista. O cara que Alex acertou estava debruçado e sem fôlego. Sim, eu conheço o sentimento, cara. Através de respirações pesadas, decidi que realmente queria o trabalho como chefe da família. Não haveria caça de verdade - e mais importante, nada de corridas. Embora eu tivesse certeza de que os jogos políticos eram muito mais perigosos do que todas as forças do Inferno juntas, incluindo os lobisomens, vampiros e todos os outros seres sobrenaturais que queriam me matar. Os demônios estavam reunidos em torno de algum buraco no chão, presumivelmente cavando algo. Não importava. Eles mataram uma inocente família de cinco pessoas, então precisavam ser abatidos.
A Ruiva se virou para nos encarar, lambendo os lábios, quando paramos a poucos metros de distância. Alex tinha sua arma apontada para o terceiro demônio, uma mulher loira com um rabo de cavalo. Minha mão envolveu minha própria arma, mas era mais por segurança do que qualquer coisa. Com luzes fantasmas ou não, era improvável que eu conseguisse uma mira precisa. Além disso, quem precisava de balas quando você podia enfiar uma lança de gelo nos olhos de alguém? A Ruiva tinha um sorriso arrogante enquanto levantava as mãos. — Não podemos todos apenas nos dar bem? — Talvez se você não tivesse abatido uma família inteira. — Alex cuspiu. Seu rosto estava torcido em uma careta e uma aura de malícia emanava dele. Alex foi adotado por um caçador viajante que tinha derrubado o demônio que matou toda a sua aldeia - incluindo seus pais - então sua raiva era compreensível. Eu só esperava que isso não turvasse seu julgamento. — Eu suponho que vocês não estariam dispostos a se entregarem? — Perguntei. Eu sempre perguntava. Eles sempre diziam que não. Acho que eu era apenas otimista. — E deixar o tribunal nos julgar? — Disse a Loira. Ela estava se referindo ao Tribunal do Inferno, que era basicamente a versão flamejante e cornuda do Exército Celestial. — Foda-se. O fato de que Lúcifer está nos deixando ser condenados por matar um monte de patéticos... Um tiro soou e a Loira recuou, um buraco entre as sobrancelhas. Eu olhei para Alex com espanto. Santa mira, Batman. No entanto, a bala só serviu para enfurecê-la mais e ela nos atacou. Houve um som agudo assobiando. Dor arranhou minhas costas quando fui derrubada no chão. O peso contra meu corpo desapareceu menos de um
segundo depois, e eu me levantei apenas para ficar cara a cara com um cão infernal. Ele rugiu para mim, os fios grossos de saliva escorrendo por suas mandíbulas salpicando meu rosto como gotas de lava malcheirosa. Enviei uma explosão de força, derrubando a fera e permitindo-me voltar a ficar de pé. Minhas costas doíam como mil sóis queimando, e eu podia sentir o sangue escorrendo pela minha pele das marcas de garras que o idiota me deu. Uma rápida olhada para a minha esquerda mostrou Alex lutando com a loira, mas eu desisti da chance de olhar mais de perto em favor de sair do caminho de outro cão infernal. Retrocedendo, contei cinco deles - dois para cada demônio se você contar o que Alex decapitou. Apesar do fato de ter sido ele quem tirou a cabeça do irmão, os cães infernais pareciam perfeitamente satisfeitos em ignorá-lo e circular ao meu redor. Seus longos dentes pontiagudos, como adagas de estilete em suas bocas, estavam a mostra quando eles rosnaram. E as pessoas perguntavam por que eu preferia gatos. De repente, eles pularam em mim. Eu caí de joelhos e conjurei uma barreira. A cúpula azul-claro vibrava enquanto bombardeavam contra a superfície. Eles rugiam, atacavam e agarravam a barreira ao meu redor em uma dança sinistramente sincronizada. Eu teria achado quase bonito se eles não estivessem tentando me matar. O que uma barreira faz é converter qualquer dano físico infligido a ela dano que teria mutilado o conjurador se não tivesse sido levantada - em dano mental. O assalto era algo que os magos eram treinados para resistir, mas todos tinham seus limites. Invocar uma barreira não era particularmente difícil, mas manter uma com cinco feras tentando destruir você, era o suficiente para causar
um aneurisma para uma vida inteira. Ainda assim, prefiro ter uma enxaqueca assassina a ser morta. Um riso de menina atravessou os grunhidos e mordidas, me dizendo que não teríamos que correr atrás da Ruiva novamente. Respirando fundo, endureci minha vontade e canalizei energia ao longo das paredes da barreira. Liberando a respiração, abri a barreira, forçando a energia acumulada para fora em um círculo em volta de mim. Uma grande rajada de vento passou ao meu redor com a liberação de uma força tão pesada, chicoteando meu cabelo castanho encaracolado em um ninho de pássaro ainda maior do que provavelmente já estava. Um punhado de pancadas soou e me levantei, examinando os resultados. Alex conseguiu decapitar o demônio masculino; sua cabeça descansava a poucos metros de distância da ruiva excitada. Ainda assim, a Loira o mantinha ocupado, parecendo que acabara de sair de um filme de Bruce Lee pela maneira como ela o cercava. Minha bomba mágica de estilhaços derrubou dois cães, mas poderiam curar se eu não acabasse com eles completamente. Eu puxei outra barreira quando um dos outros cães pulou para mim. Se fosse uma luta músculos contra músculos, não haveria como vencer. Como suas formas monstruosas revelaram, os cães do Inferno eram mais musculosos que qualquer outra coisa. Mesmo com a minha magia, houve momentos em que não pude atacar com bombas incendiárias ou com gelo - como quando eu estava cercada por um monte de cães infernais e não conseguia atirar nada sem ser devorada pelo resto de seu bando. Uma área de feitiço de efeito funcionaria, mas isso drenava bastante e acertaria tudo no local, incluindo Alex.
O cão infernal se recuperou da minha barreira e eu saí para o lado para evitar outro ataque. Eles eram muito rápidos! Forçando-me a pensar rapidamente, esperei até que um deles se agachou antes de ir em direção a Ruiva, rolando para longe quando cheguei a ela. Ela soltou um grito alto e deu um passo para o lado, desviando do cão infernal que saltou em nossa direção. — Toro! Toro! — Ela gritou, as pontas dos dedos crepitando com eletricidade. Parecia que eu era a única bruxa aqui que estava preocupada em começar um incêndio florestal. Tanto pela pressão dos colegas. Rolei quando ela jogou um raio em mim que atingiu uma árvore, enchendo o ar com o cheiro esfumaçado de madeira queimada. A loira atrás soltou um som de asfixia quando Alex a apunhalou no peito, o metal brilhante de sua lâmina se tornando um vibrante carmesim. Ele arrancou a arma e, de uma só vez, cortou a cabeça dela. Outro grito excitado soou, e eu caí na minha bunda esquivando-me do soco do demônio restante. Estava vagamente consciente do choramingar atrás de mim quando chutei os pés da Ruiva, acertando um golpe nela pela primeira vez em toda a noite. Foi uma vitória de curta duração. Ela nos rolou e sentou no meu peito, chovendo uma enxurrada de golpes contra o meu rosto. O primeiro soco encontrou o alvo e houve um estalo agudo quando a dor quente e branca inundou meu queixo. Eu consegui colocar uma barreira para absorver os outros golpes, mas isso fez com que parecesse que eu estava recebendo um soco no cérebro. Com o ataque em minha mente, era muito difícil me concentrar em lançar outro feitiço. Aparentemente, eu não era tão boa em encontrar o meu Zen como pensava. Talvez eu devesse parar de meditar e começar a tricotar ou algo assim.
Na verdade, tentar encontrar uma maneira de superar minha pontaria de merda, provavelmente era uma melhor utilização do meu tempo. Gorros de tricô eram tão fofos, no entanto. Espere. O meu objetivo. Era uma luta com meus braços presos debaixo das pernas da outra garota, mas consegui segurar minha arma. Porra, eu juro que essa coisa nunca foi tão difícil de destravar antes. Com todos os meus esforços voltados para a minha arma, escorreguei e deixei minha barreira cair. A ruiva ficou mais do que feliz em me penalizar esmagando meu nariz. Sangue inundou minha boca, o gosto doentiamente picante deslizando sobre minha língua e descendo pela minha garganta com bile concentrada. Eu finalmente consegui liberar a arma da melhor maneira possível antes de puxar o gatilho. A dor pulsou em volta do meu pulso quando o recuo da arma torceu meu membro de uma maneira não natural. Eu ofeguei com a sensação, sufocando em sangue. O demônio gritou, segurando o lado do rosto enquanto o sangue escorria por entre os dedos. Eu me virei e pressionei o cano da minha arma contra a testa dela. Virando a cabeça para minimizar os respingos, puxei o gatilho uma vez, duas vezes e uma terceira vez. O ar fresco da noite soprou contra o meu rosto salpicado de sangue, fazendo-me tremer. O silêncio filtrou-se pelas copas das árvores e espalhou-se pela clareira. Nem mesmo o zumbido silencioso de insetos ou o farfalhar das folhas soou, como se todos eles morressem com os demônios. Se o fizessem, eles eram traidores e mereciam ser queimados. O que seria ótimo porque então eu poderia queimar esses corpos. Levantei-me, recarreguei minha arma e guardei no coldre antes de limpar meu rosto. E agora havia sangue
em minhas mãos. Por que achei que era uma boa ideia? A premeditação era uma habilidade na qual eu continuava esperar crescer. Alex estava em meio a uma pilha de cães infernais mortos com sangue encharcado através de suas calças, mas ele parecia bem em todo o caso. Muito bem. Fui até ele e perguntei. — Alguma chance de conseguir que você arraste todos esses corpos para longe das folhas para que eu possa queimá-los? — Depende. — Ele deu de ombros. — O que eu ganho com isso? — Eu não me preocupo com eles estarem realmente mortos no caminho de volta. — Relaxe. — Ele segurou minha bochecha, limpando um pouco do sangue. — Eu matei muitos demônios como estes. Você nem sempre tem que colocar fogo nas coisas. — Um sorriso puxou seus lábios enquanto ele falava. — Talvez você devesse ver alguém sobre isso. — Oh, por favor. — Eu zombei e agarrei seu pulso. — Talvez você devesse ver alguém sobre o seu fetiche por esfaquear as coisas nas pessoas. — Não coisas. Minha espada. — Isso apenas reforça meu ponto. De muitas maneiras. — Eu mostrei a língua para fora e imediatamente fiz uma careta quando mais sangue entrou nela. O sangue de demônio sempre tinha um gosto defumado, para não mencionar que era ruim consumir grandes quantidades dele. — Podemos apenas terminar isso e ir para casa? Eu quero tomar banho tipo, por dias. Talvez com companhia. — Acrescentei com uma piscada, deixando entrar sangue no meu olho. Foda-se isso. — Tudo bem. — Alex se aproximou, presumivelmente para colocar um beijo na minha testa, mas recuou com uma carranca. Sim, boa sorte em
encontrar uma mancha não sangrenta no meu rosto. — Deixe-me apenas ‘resolver meus problemas’ primeiro. Com essas palavras, ele caminhou em direção aos corpos sem decapitação, girando a espada com um pouco de entusiasmo.
Quando voltamos para a minha casa, o sangue já estava seco e começava a formar crostas em alguns lugares muito desconfortáveis. A casa estava vazia. Lily, a sobrinha de lady Cassandra e minha ‘tipo’ prima, já muito mencionada, ficou comigo desde que descobriu o corpo de sua tia no mês passado. Ela provavelmente ainda estava ajudando na clínica, mas achei que logo estaria em casa; Lily raramente perdia uma noite de Alex cozinhando. Alex ainda tinha um quarto reservado na pousada local, mas ele passava a maior parte de suas noites comigo. Foi estranho a primeira vez que ele se ofereceu para vir um pouco mais cedo e fazer o jantar, mas me forcei a passar por isso. Aparentemente, meu estômago era o verdadeiro tomador de decisões na minha vida. Quando me tornei caçadora, disse a mim mesma que seria inútil investir romanticamente em alguém, que era melhor manter relações sexuais casuais. Este era um trabalho perigoso, afinal. Seria egoísta da minha parte me envolver com uma pessoa e depois morrer, deixando-a sozinha. E se envolver com um caçador? Isso encabeçava a lista de coisas idiotas que eu poderia fazer. Eu não queria ficar sozinha também.
— Lar doce lar. — Eu tirei minha jaqueta arruinada. — Não leve a mal, mas eu definitivamente não sinto vontade de fazer sexo enquanto tenho sangue endurecido por todo o corpo. Sangue molhado, talvez. Mas sangue seco? Completamente desanimador. — Acho que posso deixar passar só desta vez. — Disse Alex. Chuveiros eram uma benção além da crença. Tomei o calor reconfortante enquanto observava a água tingida de vermelho deslizar pelo ralo até que a única cor que restava era o branco do mármore sob meus pés cansados. A sensação familiar da minha carne se juntando puxou minhas costas. Eu ainda não entendia como minhas habilidades de regeneração funcionavam. Eu acho que nunca me preocupei com isso - quem se importa, desde que isso salve a minha vida, certo? Tudo o que eu tinha descoberto era que isso tendia a ser rápido com o mais grave dos meus ferimentos e só funcionava em cortes e algo quebrado. Então, ser esfaqueado, rasgado, baleado ou quebrar qualquer osso e perder dentes poderia desencadear a regeneração, mas socos, contusões e todas as outras coisas dependiam de mim. O que significava que eu não poderia usar brincos e que estaria ostentando uma linda contusão, graças a psicótica Ruiva Tinkerbell2. Pelo menos meu nariz não estava quebrado, embora Alex tivesse que redefini-lo. É melhor ele estar me fazendo um bolo por essa experiência, o bruto. Eu praticamente pulava as escadas enquanto descia com a minha camiseta enorme, o cheiro de frango me atraindo para a cozinha. Alex estava arrumando a mesa enquanto usava aquele ridículo avental ‘Beije o Cozinheiro’ que Lily me deu um ano como piada. Deveria haver uma lei contra me deixar perto de um
2
No Brasil a personagem Sininho de Peter Pan
fogão. Quer dizer, a única pessoa pior do que eu na cozinha era ela, e isso é só porque eu, ao contrário da minha própria natureza, ainda não consegui incendiar nada. Alex sorriu quando entrei na cozinha. — Lily ligou. Disse que se atrasaria e que era para guardar algumas sobras. — Mhm. — Balancei a cabeça distraidamente, tentando não babar sobre toda a comida. — Oh, e mais uma coisa.— Ele se aproximou e passou um braço em volta da minha cintura. Seus lábios pressionaram contra os meus, quentes e firmes, e eu derreti contra ele, passando meus dedos pelos seus cabelos. Havia um sorriso pateta e satisfeito no meu rosto quando ele se afastou. — Isso é tudo? — Eu perguntei. Teria sido modesto se meu estômago não tivesse decidido começar a rosnar mais alto do que qualquer um desses cães infernais. — Cale a boca. — Murmurei contra seu peito enquanto ele ria. Eu estava no meu terceiro prato quando o telefone tocou. Alex foi atender, dando uma olhada preocupada em toda a comida que empilhei. Ei, eu era pequena. Pessoas pequenas queimavam energia mais rápido. Não tenho ideia se isso é verdade. — É Rowan. — Disse ele, colocando o telefone no viva-voz e sobre a mesa. Rowan tinha sido uma das maiores caçadoras da Ordem há mais de seiscentos anos atrás. Quando ficou mais velha, ela - junto com um punhado de outros caçadores - concordou que, em suas mortes, suas almas seriam colocadas em novos ‘vasos’ para guiar futuros caçadores. Infelizmente, esses ‘vasos’ eram limitados a uma variedade de animais menores, como pássaros, gatos e assim por diante. Eu não sabia os detalhes do ritual. Apenas o Conselho sabia e eles não mostravam interesse em compartilhar isso com ninguém.
Agora, Rowan estava no corpo de uma gata preta fofa com olhos verdes penetrantes. Ela se tornou minha parceira quando Lady Cassandra decidiu que eu seria uma boa candidata para liderar a família Maxwell. Naqueles anos, Rowan tinha se tornado como uma segunda (ou terceira, tecnicamente) mãe para mim e também uma amiga íntima; a chance de falar com ela novamente me fez sorrir de orelha a orelha. Desde que impedimos que o primeiro cadeado no Pináculo fosse quebrado, Rowan esteve isolada com o Conselho enquanto eles resolviam sobre tudo o que havia acontecido. Costumávamos passar todo o nosso tempo juntas, e agora eu não a via há mais de um mês. Esperava que este fosse o telefonema que me diria que ela voltaria para casa em breve. — Rowan. — Eu sussurrei. — Morgan. — Sua voz rouca era um bom som para as orelhas doloridas. — Você tem se comportado? — Nunca. — Eu disse. — Você sabe, ainda me surpreende como consegue discar com as suas próprias patas. — Alex, por favor, arranhe ela para mim. —Ele já me arranha toda. Alex bufou, depois riu e balançou a cabeça bem-humorado. — Isso é uma ligação social, Lady Rowan? Morgan nunca admitiria isso, mas sente muito a sua falta. Eu bati no joelho dele e dei a ele meu melhor olhar falso e severo. — Ele é um mentiroso imundo. — Vocês dois têm muito em comum, então. — Ela disse. — E eu sinto menos sua falta agora. — Eu pensei que você não sentia falta de mim em tudo?
Eu fiz beicinho, alternando entre encarar Alex e o telefone. — De qualquer forma, — Disse Alex, inclinando-se para pressionar um beijo na minha testa. — o que podemos fazer por você? Rowan suspirou de um jeito que eu ainda estava surpresa que um felino pudesse fazer. — Há um problema. A severidade em seu tom me fez sentar em linha reta. Alex e eu trocamos olhares antes de falar de novo, a leveza na minha voz desapareceu. —O que há de errado, Rowan? Você está bem? — Estou bem. — Ela parou por um momento. —É o seu pai.
CAPÍTULO 02
Antes da ligação, eu poderia ter comido outro prato cheio ou dois. Agora, até mesmo olhar para a comida me deixava doente. Eu me inclinei para trás na cadeira, trazendo um dos meus joelhos para abraçar. Alex sentou-se, mas permaneceu em silêncio, provavelmente sentindo meu humor, o que não era difícil, considerando que eu estava irradiando ondas de desprezo. Você provavelmente poderia surfar neles. Não, droga. O surfe era feito na água. Qual cidade da Ordem está localizada perto da água? Dovesport. Que família governa lá? A família Wallace. Como tipo, Sullivan Wallace. Como meu pai. Como foda-se isso. — Ele pediu sua ajuda em relação a um assunto importante.— Disse Rowan. Minha mandíbula apertou enquanto eu tentava afastar o tom de alívio que veio sobre mim, por saber que ele não tinha se machucado. Esse era um homem com quem eu não falava desde os oito anos, quando ele me disse que estava me mandando embora. O homem que mal conseguia me cumprimentar durante as reuniões da Ordem. Eu tinha o mínimo de sentimento em relação a ele, ao lado da indiferença desdenhosa, e isso me fez fazer uma careta. Ele perdeu o direito de ser meu pai quando me entregou dezoito anos atrás. — Há uma abundância de caçadores em Dovesport. — Eu disse, pressionando meu queixo contra o meu joelho para esconder o beicinho que estava se formando.
— Ele perguntou por você, pelo seu nome. — Bem, ele pode ir se foder. — Acho que eu não estava acima da amargura mesquinha ainda - eu teria que continuar trabalhando a indiferença desdenhosa. As sobrancelhas de Alex se juntaram e ele franziu a testa. — Morgan. — O quê? — Eu disse petulantemente. — O homem não disse mais do que um curto olá para mim em dezoito anos e agora ele me chama 'pelo nome'? — Eu balancei a cabeça. — Dane-se isso. Ele nem se incomodou em me ligar. — Ele é seu pai. — Disse ele. — Eu não tenho pai. Os olhos de Alex se arregalaram. — Morgan! — Chega. — Rowan interrompeu em uma voz cortada. — Este é um assunto sério. — Da última vez que Sullivan — Eu cuspi o nome - ele não chegou a reivindicar o título de pai. — pediu para me ver, foi para me dizer para arrumar minhas coisas para que ele pudesse me enviar para morar aqui. — Talvez ele queira fazer as pazes. — Disse Alex. Meus dedos enrolaram em torno da borda da cadeira enquanto minha amargura crescia, rastejando sobre mim como vinhas estrangulando e deixando um gosto horrível em minha boca. — Então, ele está dezoito anos atrasado. — Algum de vocês quer saber qual é o problema real ou precisam ligar para Trish para o aconselhamento de casais? — Retrucou Rowan. — Nós não somos um-... — Eu mordi meu lábio. Já havia bastante acontecendo sem lançar questões de relacionamento na mistura. — O que é? Aparentemente, eu não cortei rápido o suficiente, porque a temperatura na cozinha caiu cerca de vinte graus dos ombros frios de Alex. Minha raiva se transformou em culpa enquanto eu o observava ofegar em seus lábios, sua
mandíbula fazendo aquela impressão de quebra-nozes e desviando o olhar. Ótimo. Não é que eu não gostasse de Alex. Eu gostava. Eu realmente gostava. Mas isso não significa que era inteligente me envolver com ele. Bem, mais do que eu já estava. Meus sentimentos não mudaram a realidade de nossas vidas, de nossos trabalhos. Eu sabia que ele queria que nos tornássemos algo mais do que um namoro casual, e eu sabia que minhas palavras o machucaram. O que eu não sabia era como consertar as coisas sem me comprometer com um relacionamento que nos deixasse com o coração partido. — Há uma guerra entre os Garou e os Protean que chamam de Casa a Floresta de Dovesport. — Disse Rowan. Aquilo era estranho. Claro, Garou e Protean não estavam exatamente nos melhores termos. Em geral, a única coisa com que eles concordavam era que vampiros e demônios eram abominações, o que era equilibrado pelo fato de que demônios e vampiros achavam que eles eram pouco mais do que animais selvagens. Então, pelo menos, não era um ódio unilateral. De quatro lados. Tanto faz. Ainda assim, qualquer uma das tribos ter declarado guerra era desconhecido nesses dias, especialmente aqueles que moravam perto de Dovesport. No passado, muitas guerras foram travadas entre os Garou e os Protean por território e locais de caça, mas eles aprenderam a viver em paz. Talvez apenas para evitar a extinção pelas mãos da humanidade; suas guerras violentas chamaram muita atenção das pessoas de fora que temiam por suas vidas. A maioria das duas raças evitava a sociedade humana, preferindo manterse nas selvas. Eu só conheci um punhado de suas raças nas cidades, e pelo que
soube, eram completamente diferentes de seus irmãos reclusos. Isso era algo sobre a cultura que as tribos transmitiam para os seus. Rogues não aprendiam nada até que eles concordassem em se juntar à respectiva tribo e passar por uma cerimônia em que eles se provam, geralmente através de combate. Eu não pude deixar de pensar que isso pode estar relacionado ao que aconteceu no mês passado. Era apenas um pensamento incomodando no fundo da minha mente, mas estava lá, no entanto. Primeiro, alguém tenta abrir a prisão mais perigosa do Inferno. Agora, há uma guerra entre duas raças que estão em paz há séculos? Dois eventos atípicos, ambos ocorrendo em cidades da Ordem. Era um pouco demais para ser só uma coincidência. Eu disse isso para Rowan, que concordou. — É certamente estranho. —Disse ela, parecendo cansada. — O Conselho encontrou alguma coisa sobre o talismã que o FalsoCorrigan deixou para trás? — Perguntei. — Eu vejo que você ainda está usando esse nome. Eles descobriram que o talismã foi criado através do uso de magia demoníaca e mortal. Magia poderosa. — O que não é surpreendente, considerando que foi abandonado por um infernalista vampírico. — Eu cruzei minhas pernas debaixo de mim. — Magos podem ser transformados tão facilmente quanto qualquer outro humano, e você sempre ouve sobre grupos de ‘Justiceiros’ vampíricos limpando ninhos de vampiros adoradores de demônios. Ao contrário de lobisomens e shifters, vampiros e demônios não estavam em terreno instável, mas equilibrado. Eles não ficavam nem no mesmo terreno se pudessem. Vampiros, como um todo, temiam os demônios - tanto os poderes infernais quanto a influência corrupta. Claro, eles nunca admitiriam ter medo. Não, eles negariam, todos politicamente corretos, dizendo que foram
condenados o suficiente sem consorciar-se com os agentes da Serpente, mas você sempre poderia encontrar vestígios de desconforto, uma tensão de ombros, quando o infernalismo fosse mencionado. Demônios achavam engraçado. Eles não viam os vampiros como algo mais do que seres humanos sem pulso e procuravam corrompê-los tanto quanto os humanos normais. Bem, aqueles que não concordavam com as ordens de Lúcifer para restringir as interações com outras espécies, que eram suficientemente altas para serem desconfortáveis, pelo menos o fizeram. É quase como se demônios não gostassem de jogar pelas regras ou serem gentis com os outros. Vai saber. — Eu disse a você o que encontraram. — Disse Rowan. — Eu não disse que era útil. Suspirei. — Pelo menos agora sabemos com certeza que o Falso-Corrigan está trabalhando para um demônio poderoso. Adorável. — Se fosse fácil, todo mundo faria isso. Ipos está trabalhando para descobrir mais, mas Lúcifer ainda está se acalmando de sua visita a Miguel. Segundo ele, o Rei do Inferno está trancado em seu quarto, destruindo coisas nos últimos três dias. Rindo, eu disse. — Eu ainda digo que um reality show com esses dois faria bilhões. Um rápido olhar para a expressão de pedra de Alex revelou que ele ainda estava pensando no meu comentário sobre casais. Incrível, como se eu já não me sentisse uma idiota total. — Eu gostaria de estar lá quando você sugerisse essa ideia para eles. — Disse Rowan. Eu praticamente podia ver a cauda dela girando em diversão.
Corri a mão pelo meu cabelo. — Honestamente, prefiro fazer isso que encarar Sullivan. — Você precisa começar a voltar...— Eu estou, Rowan. Eu tenho caçado. Inferno, acabamos de voltar de uma caçada algumas horas atrás. — E desde que seu pai te chamou pelo nome... — Qual nome? — "Minha filha." Meus olhos se arregalaram com indignação. O que deu a ele o direito de me chamar disso? — Este não é meu nome. — Chega. — Disse Alex. — Eu vou para Dovesport.— — Ele não chamou você. — Disse Rowan. — Bem, eu sou o que ele está recebendo. Ela não quer ir. — Ele lançou um olhar que me fez sentir como se eu tivesse cinco anos de idade. — Eu ainda estou na corrida para assumir a família Campbell, então não é como se ele estivesse recebendo alguns recrutas. Se uma guerra começar, será ruim para todos nós. Eu tenho um amigo que mora em Dovesport. Vou ligar para ele e ver se pode ajudar. Sem outra palavra, Alex se afastou, deixando-me pequena. Eu olhei para o frango agora frio, chegando a cutucá-lo debilmente com o garfo. Ele estava certo, eu não queria ir. E Alex podia se controlar - tenho certeza que ele se saiu melhor hoje do que eu. Esperava que, quando ele voltasse, não estivesse mais chateado comigo. Ou eu poderia crescer um pouco e falar com ele. — Morgan,. Eu deixei cair o garfo. Certo, Rowan ainda estava na linha.
— Você pode dizer ao meu.. Sullivan, que não vou, por favor? — Eu perguntei em voz baixa. Houve um silêncio do outro lado da linha que me fez sentir ainda pior do que o gelo do meu não namorado. (Por que esse termo me incomodava tanto?). — Você vai. — Não, eu não vou. Rowan soltou um suspiro pesado. — A razão pela qual os Garou e os Protean estão prestes a guerrear é porque eles estão sendo assassinados. Corpos de ambas as tribos estão sendo encontrados na floresta com seus órgãos e pele removidos. Eu empurrei o prato de comida para longe de mim. — Isso é… — Mau. — Sim, sem merda, Rowan. Desculpe. — Eu disse assim que as palavras saíram da minha boca. Tomando uma respiração profunda e calmante, continuei. — Então, os dois lados pensam que o outro fez isso? — Um mata o outro, depois o outro lado mata por vingança e assim por diante. Essa é a teoria, de qualquer maneira. A linha oficial do partido de ambas as tribos é que ninguém cometeu assassinatos. — Isso é triste. As mortes, quero dizer. Mas eu ainda não vejo a necessidade de estar lá. Alex é perfeitamente capaz de lidar com as coisas. — Você está sendo egoísta. Meu queixo trancou e eu tive que forçar as palavras a saírem uma a uma. — Estou ciente. Obrigada. Também estou ciente de que não é profissional rejeitar um pedido de ajuda por causa de sentimentos pessoais, mas não acho que seja muito profissional chamar sua filha para cuidar de um caso que qualquer pessoa que ele tenha em mãos também possa fazer. Os caçadores em
Dovesport não são idiotas, Rowan, e sem querer ofender Alex, eles são quase tão capazes quanto ele. Sullivan não precisa chamar ajuda externa de qualquer um. Eu posso estar agindo egoisticamente, mas ele também está. — Você não sabe disso. — Nem você! — Minhas unhas deixaram marcas profundas em forma de crescente em minha palma enquanto eu tentava reinar na fúria que seus modos irreverentes estavam conjurando. Ela sabia como eu me sentia sobre aquele homem, provavelmente melhor do que qualquer outra pessoa agora que Lady Cassandra tinha ido embora. Por que diabos ela estava agindo assim? — Como você pode esperar assumir a família Maxwell quando age como uma criança? — Suas palavras saíram cortadas, e eu podia ouvir o estresse em sua voz enquanto ela tentava controlar seu temperamento. — Você é capaz de...Eu bati minhas mãos na mesa e me levantei, não dando uma olhada nos talheres que haviam caído no chão. — Como. Você. Ousa. Você sabe que sou boa no meu trabalho e sabe que sou a melhor escolha para assumir. Lady Cassandra não tomaria uma decisão assim levemente. Então, você quer insultar a minha maturidade? Bom. Quer me ligar nessa coisa fodida que tenho com meu pai? OK. Mas você nunca, jamais, insulte minhas habilidades. Liderança ou não. Eu não mereço isso. Não de você. — Olá? — Uma voz delicada chamou do foyer. Lily colocou a cabeça na cozinha um momento depois. Seu curto cabelo ruivo sobressaía em ângulos estranhos e seus redondos olhos cor de avelã estavam afundados, cansados a ponto de seu brilho quase dourado ser pouco mais que uma brasa moribunda. Apesar de sua fadiga, ela ainda tinha o pequeno sorriso doce que parecia estar colado ao seu rosto.
— Ei, Mimi. Onde está o Alex? Oh, você está no telefone. — Ela colocou a mão sobre a boca. —Desculpa. — Tudo bem. — Eu disse, ansiosa para sair daqui. — Venha dizer oi para Rowan. — Rowan! — Lily correu até a mesa e se sentou ao meu lado com um sorriso animado. —Como você está? Está tudo indo bem com o Conselho? Como está Ipos? Ele ainda está aí? Diga a ele que sentimos falta dele. Foi muito bom tê-lo por um tempo depois... você sabe. Ter uma casa cheia tornou mais fácil lidar com a perda da tia Cass. — Seus olhos se obscureceram ainda mais, mas se animou quando percebeu que eu estava olhando para ela. — Embora fosse meio estranho estar ao redor de Ipos e Alex, considerando que ambos dormiram com Morgan. Eu gemi. — Lily! — Desculpe. — Ela me deu um sorriso que qualquer outra pessoa teria achado inocente, mas eu conhecia. —Tanto faz. Rowan? Rowan começou a encher Lily sobre tudo enquanto eu me levantava para sair. Aquela garota poderia continuar por horas, significando que Rowan não seria capaz de se afastar por um tempo. Bom. Eu estaria dormindo ou fingindo, quando a gatinha se libertasse das garras da obrigação social. Alex estava no quarto quando cheguei lá. Ele vestia uma calça larga de pijama, então sabia que ele não estava planejando me deixar hoje à noite. Er, sair de casa esta noite. Sim, totalmente não é um lapso freudiano. Eu levei um momento para admirar os gomos esculpidos de seu peito antes de entrar no quarto e fechar a porta.
Sua pele estava quente quando passei meus braços ao redor dele e dei um beijo em seu ombro. Ele me abraçou de volta e relaxei um pouco mais contra ele. Parece que ele não estava tão bravo depois de tudo. — Você conseguiu falar com seu amigo? — Eu perguntei. — Seu telefone estava desligado. Vou tentar novamente amanhã antes de sair. Eu balancei a cabeça contra o peito dele. Seus dedos entraram no meu cabelo. — Você mudou de ideia? Eu realmente esperava que ele estivesse falando sobre meu pai e não sobre nosso status de relacionamento. Ficar com raiva sempre me deixava cansada; a última coisa que eu precisava agora era uma discussão de coração para coração. — Eu realmente não quero ir. — Sussurrei contra seu peito. — Eu não quero vê-lo. — Eu sei que você odeia quando as pessoas se intrometem em sua vida pessoal, mas seria tão ruim ver seu pai de novo? Se ele realmente tem um motivo oculto para chamar-lhe... — Ele tem. — Então, esta é a melhor maneira de descobrir o que é. Além disso, não seria prejudicial impedir que uma guerra fosse iniciada. Se os lobisomens e os shifters se atacarem com força total, todas as pessoas em Dovesport estariam em risco. — Você está supondo que eu quero saber o que ele está fazendo. — Eu disse, ignorando seu segundo ponto. — Não demorou muito para saber que você odeia estar no escuro, Morgan. — Eu odeio o meu pai muito mais. — Eu me afastei dele e caminhei em direção à janela. O vidro estava frio contra o minha têmpora, acalmando o
agravamento borbulhando dentro de mim. — Minha mãe desapareceu quando eu tinha quatro anos. Nos dois anos que se seguiram, as únicas vezes que realmente via meu pai era quando tomávamos café da manhã. Quando eu tinha seis anos, ele parou de aparecer. Se eu tivesse sorte, conseguia vê-lo uma vez por mês. Eu coloquei uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e olhei para o tapete de pelúcia debaixo dos meus dedos para evitar olhar para a janela. O reflexo que vi no vidro parecia-se mais com a menininha de coração partido que eu era há dezoito anos do que a mulher que sou hoje. — Foi no meu oitavo aniversário. Eu realmente não tinha amigos, então estava sentada ao piano com um instrutor muito frustrado quando um dos homens do meu pai disse que ele precisava me ver. — Eu soltei uma respiração instável. Droga, eu não posso acreditar que essa merda ainda me afetava. — Eu fiquei tão animada na época. Pensei que era o melhor presente de aniversário que eu poderia ter conseguido: meu pai ligar para mim. Ele finalmente queria me ver de novo. Ele me levaria para tomar sorvete e passaria o dia todo comigo, assim como eu desejei quando apaguei minhas velas nos últimos quatro aniversários. Meu instrutor ficou indignado quando saí do meu lugar e corri para o escritório do meu pai. Ele estava olhando pela janela, as mãos cruzadas atrás das costas. Ele nem se incomodou em olhar para mim quando disse que eu iria morar em outro lugar. Então, ele me disse que eu estava dispensada. — Morgan... — Toda vez que o vejo - ou até penso nele - a lembrança daquele dia toca na minha cabeça. — Eu terminei, tentando manter minha voz firme enquanto contornava Alex para sair da sala. O olhar de pena em seu rosto era algo que eu
nunca quis ver. Além disso, não tinha mais nada a dizer sobre isso, e não havia nada que ele pudesse dizer que ajudasse. O quarto de Lily ficava no final do corredor, à esquerda. Eu entrei, indo direto para o armário. Revelar tudo isso me fez sentir nua e minha falta de calças não estava ajudando. Ninguém nunca ouviu a história toda. Tenho certeza que Lady Cassandra sabia mais do que deixava transparecer. Rowan também. Mas eu nunca tinha compartilhado pessoalmente a história. Eu coloquei uma calça de moletom de Lily, franzindo a testa enquanto apertavam meus quadris - a magreza de supermodelo de Lily não se misturava bem com a minha forma mais talhada antes de pular na cama. No primeiro ano depois que me mudei para cá, aquele momento com meu pai se repetiu e repetiu na minha cabeça. Eu me tranquei no quarto que Lady Cassandra me deu e olhei pela janela, assim como meu pai fez, e me perguntei o que fiz de errado, o que fiz para fazê-lo me odiar tanto que teve que me mandar embora. Levei anos para empurrar completamente as memórias. Eu acho que foi apenas na metade do meu segundo ano na academia que parei de acordar em lágrimas. Depois disso, aprendi a canalizar toda a minha frustração e confusão para ter sucesso. Eu disse a mim mesma que as razões do meu pai para me mandar embora eram irrelevantes, que era sua bagagem, seu erro, não meu. Funcionou, eu não seria a caçadora que sou hoje se não fosse por ele desistir de mim, embora o fato de eu dever algo de quem sou a ele fizesse meu estômago enrolar. Lily abriu a porta. — Mimi? — Eu pensei que tinha dito para você parar de me chamar assim.
— Você disse. Desde que tinha onze anos. Eu não acho que está funcionando. — Ela se sentou ao meu lado na cama. — Então... essa é a sua maneira de entrar em minhas calças? — Obviamente. — Revirei os olhos. —Houve uma coisa com Alex.— — Uma coisa? — Uma coisa. Eu olhei para ela, para as linhas finas e pálidas que se estendiam para cima e para baixo em seus braços. Eram lembranças de sua captura nas mãos do Falso-Corrigan e seu cúmplice idiota, Vaughn. Eu tinha uma pequena cicatriz semelhante à dela no meu ombro. Foi feito por uma faca mágica – provavelmente magia negra, trabalhada por um poderoso feiticeiro. Isso serviu como um lembrete do que aconteceu na última vez que eu (espero) cheguei perto de descobrir algo sobre minha mãe. Foi também a única lesão que minhas habilidades regenerativas nunca foram capazes de curar completamente, daí a minha teoria de que era magia maligna. No início, me incomodou que algo fosse suficientemente poderoso, perigoso o suficiente para deixar uma marca como essa. Mas olhando para as longas listras nos braços de Lily, e imaginando os que eu sabia estavam em seu peito, eu me senti mesquinha. Eu tinha uma pequena cicatriz, enquanto ela parecia um poste de gato. Irônico, considerando que Rowan deu-lhe essas cicatrizes - e ainda não tinha dado uma palavra de explicação sobre o porquê diabos fez isso. Mesmo que Lily tenha dito que isso não a incomodava, eu não poderia deixar de me sentir responsável por essas lesões. Se eu conseguisse descobrir o que estava acontecendo antes, ela não teria sido sequestrada.
— Falando de coisas... — Lily foi até seu armário e disse por cima do ombro. —Rowan me disse uma coisa. Merda. — Ela me disse que alguém, que para minha segurança não será nomeado, solicitou sua presença.— — Como se eu fosse um servo maldito. Ele pode ligar à vontade. — Bufei. O mundo ficou escuro e meu nariz foi invadido pelo cheiro de amaciante. Eu suspirei um profundo aroma agradável antes que Lily tirasse seu pijama do meu rosto. — Ela também me disse que as pessoas estavam morrendo e que coisas ruins estavam acontecendo por causa disso. — Coisas ruins sempre acontecem quando as pessoas morrem. — Eu disse. Em seu olhar aguçado, acrescentei. — Alex vai cuidar disso. — É claro. — Ela assentiu antes de seu olhar satisfeito cair em confusão. — Espere, por que ele está indo? Colocando suas coisas de família de lado, seus caçadores podem lidar totalmente com isso por conta própria, certo? — Certo. Mas como não vou, será um sinal de boa fé enviar alguém. — Você quer dizer que vai parecer menos ‘foda-se’? Eu coloquei um dedo nos meus lábios. — Shh. Temos que ser politicamente corretos sobre isso. — Ele nem mesmo é de Haven. — Shh. — Tudo bem. — Lily falou. — Quanto tempo você acha que vai demorar para ele acabar com isso? — Quanto tempo eu acho que vai levar para deter uma guerra em potencial? — Eu dei de ombros. — Não sei.
— Você acha que conseguirá lidar ficar sem ele? Eu olhei para ela. Ela respondeu com outro sorriso ‘inocente’. Sim, continue assim, garota - aquela merda bonitinha para de funcionar quando você passa dos vinte e quatro. — Vocês teriam bebês fofos. — Disse ela. Oh. Meu. Deus. Peguei um dos travesseiros e bati contra o rosto dela. Ela soltou um grito estridente e balançou para fora da cama. Eu a persegui até o armário, batendo nela com um travesseiro que juro era mais fofo do que o meu. Eu teria que levar comigo quando isso acabasse. Ela bateu a porta do armário na minha cara, sua risada insultada atravessando a madeira. — Você nunca me pegará viva! — Eu não preciso de você viva! — O que? Ei! Eu deslizei pela porta, abraçando seu travesseiro enquanto nós duas caímos na gargalhada. — Somos tão perdedoras. — Disse Lily entre risos. — Eu peguei isso de você. — Grossa. Nós explodimos em outro ataque de riso, parando apenas quando parecia que meus lados iriam explodir. Conjurei uma bola de neve e assisti-a flutuar sobre a minha palma por um momento antes de segurá-la perto do meu rosto, deixando esfriar minhas bochechas em chamas. — Mimi? — Ela chamou em voz baixa. — Hmm?
—Vai ficar tudo bem, não é? A maneira como Rowan falou, parecia que muitas pessoas tinham sido feridas. Eu apertei o travesseiro. — Tenho certeza que Alex e os outros caçadores podem cuidar disso. Eles poderiam. Tudo o que precisavam fazer era encontrar quem matou a primeira vítima e encontrar uma boa razão pela qual eles foram mortos. Esta era provavelmente uma rivalidade amarga que saiu do controle. Provavelmente. — Eu vou dormir, ok? — Eu disse, em pé para deixá-la sair. Ela pegou a mão que ofereci e se levantou, me puxando para um abraço. — Noite, Mimi. Eu a abracei de volta. — Noite.
Alex teve a decência de parecer culpado quando voltei. Não era estritamente necessário, mas me fez sentir um pouco melhor. Ele já estava debaixo das cobertas, mexendo em seu telefone, que rapidamente deixou de lado quando deslizei para a cama. Sua mão levantou para segurar a minha. Eu dei um aperto rápido e puxeio para um beijo, nossos lábios se movendo juntos em uma dança praticada. Parecia cansado, mas satisfatório, como voltar para casa depois de um longo dia. Talvez o problema dos shifters e lobisomens realmente tenha sido baseado em alguma pequena questão, ou talvez a guerra realmente tenha surgido. De qualquer forma, as pessoas estavam sendo mortas, seus corpos mutilados. Além
disso, Alex estava certo: eu realmente odiava estar no escuro, especialmente quando se tratava da minha família. É melhor que isso não seja um caso de ‘curiosidade que matou o gato’, ou eu seriamente assombraria a merda de algumas pessoas. Especialmente o Sr. Eu Vejo Pessoas Mortas aqui. Puxei os cobertores mais acima de nós e descansei a mão no peito de Alex, sentindo a batida constante de seu coração sob a palma da minha mão. — Eu vou com você.
CAPÍTULO 03
Se minha vida fosse um programa de TV, haveria uma mudança de cena, e Alex e eu já estaríamos em Dovesport. Mas não era, e eu não estava recebendo seis dígitos para ter um interesse amoroso peculiar em algum cara com uma máscara e capuz, embora aceitasse essa oferta em um piscar de olhos se ela surgisse - aposentadoria precoce no Havaí, aqui vou eu. — Havaí? — Alex perguntou, um sorriso divertido no rosto. Oops. Eu sorri de volta. — Só pensando em voz alta. Ele soltou um zumbido suave e me puxou para mais perto, os cobertores nos envolvendo em um casulo quente. — Eu não sei sobre o Havaí, mas pelo menos você poderá ver o oceano amanhã. — Eu acho que sei como é o mar. Existe mesmo uma diferença real? — Eu balancei minha cabeça no travesseiro algumas vezes. — Você sabia que os travesseiros de Lily são mais macios do que os nossos? — Seus. — Ele corrigiu. —Ela trocou o dela pelo seu depois de sua primeira semana aqui. Boquiaberta, eu me apoiei para poder olhar para ele. — E você está me dizendo isso agora? Que tipo de besteira desleal é essa? — Sinto muito. — Ele pressionou um beijo no meu ombro mas o sorriso que senti contra a minha pele me disse que ele não estava arrependido em tudo. Garoto bonito idiota. — Vamos sair via portal amanhã de manhã, então?
Eu gemi e caí contra o peito dele. — Eu nunca vou entender essa coisa que você tem sobre acordar cedo. Não é saudável. — Na verdade, é muito saudável. Lady Maxwell não te forçou a acordar cedo quando você morava com ela? — Ela fez. — Eu disse, empurrando para trás a dor surda que surgia sempre que pensava nela. Deus, eu sinto muito a falta dela. Tentando afastar a tristeza, acrescentei. — Eu também fui arrastada para fora da cama quase todos os dias na academia. — E não se acostumou? — Nope. — Eu disse, colocando o ‘p’. — Além disso, quando foi a última vez que você ouviu falar sobre um vampiro ou demônio ou o que quer que fosse, indo atrás de alguém enquanto o sol estava nascendo? Vivemos em um mundo da noite e, como tal, devemos ajustar nossos hábitos de acordo. — Que é basicamente sua tentativa de dar uma razão profunda para dormir demais. — Não é dormir demais se você nunca acordar cedo. Alex bufou e beijou minha testa. — Então, você vai me dizer o que trouxe essa mudança de coração? — Eu matei Lily e comi seu coração, então agora estou bem. — Isso explica todos os risos e os gritos. — Ele ficou em silêncio por um momento. —Estou feliz que você esteja vindo comigo. Vai ser divertido trabalhar com outra pessoa. — A vida de um caçador pode ser bastante solitária. — Eu admiti. — É por isso que estou feliz porque em ter a Rowan. — E eu? Eu atirei-lhe um sorriso tímido. — Você também, eu acho.
Alex franziu o rosto, mas não respondeu. Era uma coisa boa também, porque não acho que seria capaz de dizer nada de volta; a fofura de sua ação me deixou sem palavras. Ainda cheio de surpresas, senhor Campbell? Meus dedos traçaram padrões aleatórios ao longo do seu peito. Surpreendentemente para um caçador havia poucas cicatrizes nele. A minha cura sobrenatural fodona era o porquê de eu não ter nada mais do que uma pequena cicatriz no meu ombro, mas não tinha ideia de como ele fazia isso. Acho que você tem que ser extremamente cuidadoso quando não pode magicamente se curar de uma faca no peito. Eu embaralhei minhas pernas ao redor inquieta. — Você acha que seu amigo foi convidado para investigar os assassinatos? — Assassinatos? — Certo, você saiu antes que Rowan mencionasse isso. Os corpos de ambos, lobisomens e shifters, foram encontrados esfolados com seus órgãos removidos. Eu não sei quem foi morto primeiro, mas aparentemente ambos os lados estão acusando o outro e isso continua aumentando. — Quais são as chances de o assassino não ser de nenhuma das tribos? — Eu não sei, mas duvido que ambos os lados abriguem um assassino. As tribos que residem na floresta de Dovesport são honradas. Eles não poderiam se estabelecer tão perto da cidade se não fossem. — Espero que possamos descobrir mais quando chegarmos lá. — Disse Alex. — Tenho certeza de que Tom será útil; ele tem um talento para manter os dedos em muitas tortas. — E eu espero que isso não seja um eufemismo. — Eu disse enquanto tentava apagar as luzes. — Seria muito estranho se não fosse.
— Bem, eu ficaria nervosa em comer torta em volta dele. Como vocês dois se conheceram? Você o acusou de assassinato também? — Eu provoquei. — Totalmente. Eu faço isso para todas as pessoas que gosto. — Ele me puxou de volta para si. Eu imediatamente relaxei contra seu peito, o calor emanando do seu corpo contra minhas costas me acalmando. — Nós éramos colegas de quarto na academia. A última vez que o vi foi cerca de dois anos atrás em um caso, algum ninho de banshee em Seattle. — Como ele é? — Tom é... — Seu nariz enrugou daquela maneira que eu acho absolutamente adorável enquanto ele tenta encontrar as palavras. — Ele é um patife, por falta de um termo melhor. Ele é o tipo de cara que está sempre falido e que quer ganhar dinheiro rápido. A vida era uma festa e uma fuga constante e Tom era aquele cara que todo mundo pensava que iria falhar e queimar - mas pelo menos ele se divertiria fazendo isso. — Ok, e vocês eram amigos? Como eles chamavam vocês dois, de fogo e gelo? — Os opostos se atraem. — Ele riu, sua respiração fazendo cócegas no meu pescoço e farfalhando meu cabelo. — Eu não sei, Tom era charmoso. Todo mundo gostava dele. Eu era bem desajeitado e quieto quando criança, então invejava isso. — Bem, você é muito charmoso agora. — Eu balancei para encará-lo, enroscando nossas pernas juntas, e o beijei. O que havia sobre Alex que me fazia querer estar constantemente envolvida com ele? Fosse o que fosse, isso me assustava. Mas não odiava isso. — Obrigado. — Ele murmurou contra meus lábios.
— Então, algum dos esquemas de Tom ‘fique rico rápido’ deu certo? — Perguntei, tentando me concentrar em outra coisa que não fosse como nossos corpos se encaixando perfeitamente. — Ele é um bilionário agora? — Ele é um caçador, que deve dizer tudo o que você precisa saber. — Ei, a Ordem fornece um salário suficiente para ter uma vida confortável. A menos que você seja uma daquelas pessoas que fodem o tempo todo e precisam continuar comprando poções, armas, munição... — Eu acenei com a minha mão como se isso pudesse magicamente completar a lista. — Ou você é o único provedor de uma grande família. Ou acontece algo ruim que acaba custando muito dinheiro. — Ou você tem um vício em jogo. — Ou um vício em sapatos. — Eu posso me dar ao luxo de ter um vício em sapatos. — Eu disse. — Não estou tão preocupada em ser atropelada por um carro e ter que pagar as contas do hospital, então não tenho orçamento para esse tipo de emergência. — E para aqueles de nós que não têm habilidades super curativas? — Que tal conseguir um contador? E comprar menos. — E se você tiver uma doença debilitante? Até a magia não pode curar coisas como câncer ou esquizofrenia. — Você não é uma bola de sol otimista? Olha, não posso comentar sobre o sustento de uma família, e eu me recuso a comentar sobre obter alguma doença debilitante, mas na maioria das vezes é tudo sobre como lidar com seu dinheiro corretamente. Por acaso eu tenho um pequeno ninho escondido. — Apertei meus lábios e dei-lhe um olhar exagerado de suspeita. — Em algum lugar seguro.
— Alguma conta bancária secreta fora daqui? Ou apenas enterrou uma caixa no seu quintal. — É fofo como você acha que eu me daria o trabalho de cavar alguma coisa. Ele revirou os olhos. — Eu também economizei dinheiro, mas na maioria das vezes uso paras coisas raras que encontramos como fichas de barganha em vez de vendê-las por dinheiro. Eu tento manter os favores que devo ao mínimo. — O mesmo, mas eu sou muito gananciosa para não vender as coisas para mim. Um desses favores que devo provavelmente vai me incomodar um dia - e não da maneira divertida. — Hmm. — Disse ele, acariciando o queixo. — Então, posso pedir emprestado alguns dólares? Eu zombei e rolei de volta para o meu outro lado, puxando um dos seus braços em volta de mim.
Cada cidade da Ordem tinha pelo menos um templo. Eles eram menos um lugar de adoração - embora muitos o usassem para isso - e mais como um local de reunião para negócios importantes da Ordem. Eles foram projetados com base em edifícios religiosos; o templo em Haven foi inspirado na Basílica de Santo Estevão, em Budapeste, até seus lindos tetos de vidro colorido. Claro, os desenhos aqui eram menos artísticos e mais especialmente desenhados com sigilos contra o mal, mas eles ainda eram bonitos quando a luz brilhava através deles.
Sempre que os chefes das famílias vinham visitar, o Templo era onde eles se reuniam e realizavam reuniões. Os templos eram considerados neutros nenhuma luta era permitida e qualquer um que quebrasse essa regra era tratado imediatamente. Passamos pelos bancos e pelos fundos, onde tudo realmente acontecia. Havia uma porta de madeira que nos levava até as entranhas cavernosas da igreja. Nossas pegadas ressoaram quando descemos as escadas, a luz fraca fazendo com que nossas sombras lançassem as combinações distorcidas da forma humana contra as paredes de pedra cinzenta. Lily ficou chateada com a nossa partida rápida, mas entendeu a urgência da situação. Ela também entendeu que, sob nenhuma circunstância, era permitido estar perto de uma festa enquanto eu estivesse fora. Eu liguei para Rowan para informá-la que estava indo depois de tudo e fui recompensada com uma imposição materna disfarçada como um elogio antes que ela desligasse. Ela também me disse que os homens de Sullivan estariam esperando por nós no Templo de Dovesport e que eu deveria me comportar a menos que quisesse me tornar seu novo poste de afiar as garras quando voltasse. Eu sabia que ela não estava blefando. No fundo de cada templo havia uma série de salas cheias de portais mágicos que nos permitiam viajar para uma variedade de lugares. Eles levavam principalmente as outras cidades da Ordem ao redor do mundo, mas havia algumas exceções dignas de nota. Como o Inferno, por exemplo. Hoje, nossa viagem de Minnesota para o Maine levou alguns segundos, em vez de horas. Seriamente, atrapalha as viagens. A magia por trás dos portais foi desenvolvida pelos ceifeiros - os seres que vieram libertar as almas de seus corpos após a morte. Eu nunca tive que lidar
com um ceifador antes, mas eu os tinha como uma das minhas entidades sobrenaturais favoritas. Principalmente porque nenhum deles jamais tentou me matar. Quero dizer, eles definitivamente virão atrás de mim quando eu morrer, mas ainda faltava muito tempo. Esperançosamente. Cada um de nós tinha uma mochila cheia de roupas e outra bolsa cheia de suprimentos diversos. Eu normalmente não me importava em trazer muito talvez um par de itens raros no caso de não conseguir informações com dinheiro regular. Ou ameaças de violência. Ou violência real. Alguns usuários de magia preferiam carregar um punhado de aparelhos ou talismãs mágicos para ajudálos a se concentrar, e até mesmo fortalecer seus poderes, mas eu preferia não fazer isso se pudesse. Essas coisas levavam tempo, para não mencionar ingredientes raros e caros, para criar. Se eles fossem perdidos ou destruídos, seria uma dor substituí-los. Além disso, eles poderiam se tornar uma muleta. Nunca é uma boa ideia se tornar dependente de um objeto, mágico ou não. — Então, para onde estamos indo? — Alex perguntou enquanto procurávamos pela porta certa. — Eu não sei muito sobre portais. — Eu disse, intencionalmente interpretando mal suas palavras. — Eles só podem ser criados em certos lugares - com poucas exceções - o que provavelmente é o motivo pelo qual as cidades da Ordem são construídas sobre Linhas Ley. Eu acho que os fundadores pediram ajuda aos ceifeiros para decidir os locais, na verdade. Embora seja preciso um grande esforço para eles, seres de grande poder - arcanjos, duques, Lúcifer e o resto desses caras - são capazes de criar um portal temporário nas Terras das Sombras que se abre em quase qualquer lugar deste mundo. Eles não podem criar um portal em qualquer lugar da Terra; portais - permanentes ou
não - só podem ser criados em locais especiais do nosso lado. Não faço ideia do porquê, mas... — Tão fascinante quanto o seu discurso é, — Disse Alex, sua voz um zumbido aborrecido. — eu estava perguntando sobre seu pai. Eu deveria saber que Alex não deixaria passar algo. Ele era como um pitbull que morde sua bunda. Um pitbull bonito. Que certamente poderia morder. — Morgan? Eu fiz uma careta para ele. — Eu estava tendo uma fantasia. Ele retornou minha carranca com um olhar inexpressivo. — Envolvia você respondendo a minha pergunta? — Nem um pouco. — Eu disse. — Mas se você quiser saber... — Seria bom. — Uma casa grande e uma saudação estoica. Alex esperou que eu continuasse, mas quando ficou claro que eu tinha acabado, ele me pressionou. — E? — E... se ele não os substituiu, os cozinheiros fazem um bom trabalho. — Terminei com um encolher de ombros quando entramos na sala. As salas dos portais eram meio assustadoras. Não eram paredes brancas com anéis azuis e laranja que você poderia percorrer - ou cair - repetidamente em um loop imparável. As únicas luzes da sala eram dos próprios portais. Havia oito deles nesta sala, alinhando nas paredes em um padrão circular. Suas formas longas e ovais emanavam uma névoa espessa e inquietante de um roxo escuro, quase preto, que ondulava em uma dança sobrenatural. Rowan disse que a névoa era a manifestação física das energias residuais do Umbral - o reino dos ceifeiros. Quando os portais foram criados, os ceifeiros introduziram os elementos naturais do mundo deles para manter os portais
abertos. Os ceifeiros tendiam a ser secretos por natureza, de modo que era tudo o que ela podia me dizer. Os tentáculos parecidos com garras eram realmente muito frios, e quando se aproximava de um portal, sussurros suaves passavam por você. Os portais pareciam espelhos gigantes, embora não mostrassem reflexos, apenas um abismo oco. Eu costumava olhar para eles para ver se algo olhava de volta. Rowan me disse que eu estava sendo ridícula, mas sustentei que poderia haver alguma coisa divertida acontecendo durante os milésimos de segundo que eu desperdiçava piscando. Alex olhou em volta. — Não é suposto ter um guarda? — Pausa para o banheiro? — Eu dei de ombros. — É o quarto. Vamos. — Você tem certeza? — No melhor cenário: acabamos no Inferno. Pior cenário: acabamos em Dovesport. — Eu acho que você entendeu isso de trás para frente. Eu olhei para ele. — Eu realmente não fiz. Não havia nenhum túnel mágico ou vácuo que nos sugasse, deixando-nos esparramados no chão em nosso destino. Andar por um portal era como estar submerso em água gelada. Meu coração pulou uma batida e soltei um suspiro estremecido enquanto passava, os tentáculos escuros enrolados em minha volta como um velho amante. O mundo ficou em silêncio por um momento antes dos sussurros me dominarem novamente, anunciando minha chegada a Dovesport.
CAPÍTULO 04
— Senhorita Wallace, é um prazer finalmente conhecê-la. — Disse um homem alto com cabelos louros para trás, estendendo a mão. Eu queria mencionar que era ‘Maxwell’, mas em vez disso forcei um sorriso educado no meu rosto e apertei sua mão. — Também é um prazer conhecê-lo. Alex apareceu ao meu lado e o homem loiro se aproximou para apertar sua mão também. — Senhor Campbell, é um prazer conhecê-lo. Eu sou Jonathan. Os homens apertaram as mãos e felizmente, Alex conseguiu mantê-lo envolvido em uma conversa enquanto saíamos. O nível mais baixo era como uma ‘masmorra medieval’ como o de Haven, então eu não estava derramando nenhuma lágrima por ter que sair daqui. Quando o ar salgado do mar atingiu meu rosto e olhei para os prédios brancos da cidade, tudo o que queria era voltar para dentro. O templo de Dovesport ficava em uma pequena colina com vista para toda a cidade. A vista estava tão bonita, igual quando eu era pequena. Consegui convencer Alex a dormir, então chegamos mais tarde do que ele pretendia, mas a hora não fez nada para diminuir o charme da cidade à beira-mar. Ondas azul-cobalto ondulavam suavemente contra a costa que levava às docas, e seus navios gigantes régios estavam orgulhosamente de encontro à tela cinza pálida que era o céu. Uma massa vibrante de cores misturava-se no meio da cidade - um jardim de flores, se bem me lembro.
Mas não importava o quão bonito Dovesport fosse, ela não poderia segurar uma vela para as memórias feias que eu tinha daqui. — Seus pais te levavam muito aos jardins. — Jonathan disse enquanto seguia minha linha de visão. — Meu pai costumava trabalhar para o seu, e eu assumi quando ele se aposentou. Quando eu era criança, ele costumava me contar tudo sobre seus dias no trabalho. Pelo que me disse, sua mãe gostava particularmente de rosas brancas e você costumava insistir em visitar as hortênsias pelo menos três vezes antes que seus pais a levassem para casa. — Eu não lembro. — Franzi meus lábios - memórias de uma família morta não eram a minha ideia de um bom tempo. Meu tom fez Jonathan franzir a testa, mas ele não comentou sobre isso. Alex colocou a mão no meu ombro no que foi provavelmente uma tentativa de conforto. Eu dei de ombros, sentindo-me muito espinhosa por estar de volta aqui. Dezoito anos evitando este lugar e agora aqui estava eu. Tudo o que eu queria era acabar com este caso para poder voltar para minha casa. Meu verdadeiro lar. Jonathan podia falar sobre a minha infância tudo o que quisesse mas tudo que eu lembrava era uma casa grande e assentos vazios na mesa de jantar. O que há sobre os seres humanos que nos lembrávamos mais sobre as coisas ruins do que as boas? Quando chegamos ao carro, Alex sentou no banco da frente enquanto eu amuava no de trás. Jonathan estava mais do que feliz em jogar de guia turístico, exaltando as virtudes da cidade e respondendo às perguntas de Alex. Os cidadãos daqui - e na maioria das cidades da Ordem - viviam com vidas bem monótonas. Estas eram as cidades mais seguras da Terra. Ninguém que vivia aqui estava em perigo real e o nível de vida era bom. Bem, tão bom quanto
os chefes das respectivas famílias o deixavam, mas o Conselho interviria se as coisas parecessem estar indo colina abaixo. Enquanto dirigia, continuei voltando às palavras de Jonathan. Talvez eu pudesse obter algumas informações das pessoas que trabalhavam para Sullivan enquanto minha mãe ainda estava por perto. Eu tinha pensado em perguntar ao próprio homem, mesmo que o pensamento me fizesse querer enrolar e morrer, mas me lembrei de como ele ficava fechado quando eu a mencionava. Inferno, depois que ela desapareceu, ele trancou todas as fotos dela. Além de uma memória menos vívida, eu não sabia nada da minha mãe fora de sua aparência e o fato de que ela era uma bruxa e uma perita fabricante de poções. Mas as pessoas da casa a conheciam. Deve haver algo que eles poderiam me contar sobre ela, sobre o tipo de pessoa que era. Havia também uma chance, mesmo que minúscula, que eles tivessem informações sobre o Falso-Corrigan. A imagem dele puxando o capuz para revelar um rosto do qual eu tinha lembranças difusas de criança, brincava na minha cabeça. Suas feições eram definitivamente mais angulares, mas não havia como confundir aqueles olhos cinzentos que eu costumava correr atrás quando era criança. Seus olhos eram mais frios, astutos, mortos até, mas eram tão parecidos que eu não conseguia descontar isso. E ele usar o nome da minha mãe tornou ainda mais improvável que fosse uma coincidência. Toda essa introspecção estava me irritando e fazendo minha cabeça doer. Abaixei a janela, esperando que o ar do mar me acalmasse. Não fez. Em vez disso, lembrei-me de uma infância passada olhando pela janela e vendo os navios que chegavam, imaginando se seria o que traria a minha mãe. Se ela voltasse para nós, meu pai pararia de me ignorar. Seríamos uma família
novamente. Maldição. Eu poderia ser muito piegas assistindo novelas melosas em Haven. E eu poderia ter feito isso sem colocar calças. Fodam-se as calças. A casa da família Wallace - que era uma espécie de equívoco, já que todos em uma cidade da Ordem levam o mesmo nome de família - parecia a mesma da última vez que eu a vi. Era uma mansão imponente com um jardim simples, mas elegante. Um caminho primitivo de paralelepípedo ia da calçada até a porta da frente vermelha escura que contrastava bem com o prédio branco. Jonathan parou e saiu para abrir a porta para mim. Ele até estendeu a mão para eu pegar, que cavalheiro. Cada passo que eu dava para a porta da frente parecia um passo mais perto da cadeira elétrica, que soava muito melhor do que isso agora. Estou ciente de que estou sendo um grande bebê sobre isso, mas... eu não quero. Alex estendeu a mão para pegar a minha em um aperto reconfortante, o que não fez nada para me fazer sentir melhor. Eu sentia como se estivesse vestindo um suéter de lã grossa que dava coceiras em um clima de cem graus ser tocada só piorou. Jonathan nos conduziu além do vestíbulo, nossos passos batendo ruidosamente pelo piso de ladrilhos pretos e brancos. Ele parou na frente de um par de portas duplas, as luzes brilhantes fazendo seu cabelo cheio de gel brilhar. Meio que me lembrava manteiga, mas pela primeira vez, eu estava desconcertada demais para estar com fome. — Sir Wallace está esperando por você aqui. — Disse ele, abrindo a porta. É bom saber que nada mudou desde que fui enviada embora. As paredes eram de um azul claro, forradas com molduras brancas. Havia uma lareira à direita, as chamas lançando um brilho delicado no arranjo das três peças.
Os dois homens que estavam sentados no sofá à nossa frente eram tudo menos delicados, no entanto. Ambos estavam do lado mais velho, pelo menos entre quarenta e poucos aos cinquenta anos. O homem da direita era o mais corpulento dos dois, com uma mecha de cabelos brancos e pequenos olhos azuis. Ele tinha uma cicatriz profunda, suas bordas irregulares e irritadas, espreitando da gola de sua camisa xadrez. Parecia que não tinha tido a chance de curar corretamente e foi forçado a fechar em um grito de morte feio. O homem da esquerda me pegou de surpresa. Ele era mais alto que seu companheiro, seus profundos olhos castanhos afundados acima de pesadas bolsas roxas. Seu cabelo era grosso, cortado no mesmo estilo militar que sempre foi, mas a cor marrom escura que eu lembrava havia sido substituída por um cinza distinto. A última vez que o vi foi no funeral de Lady Cassandra, mas eu estava tão ocupada tentando não chorar enquanto cuidava da Lily, que não tinha prestado muita atenção nele. Mesmo nas reuniões da Ordem antes do funeral, sua pele estava mais firme e as rugas no rosto não estavam tão severas. Teria sido fácil confundi-lo com outra pessoa, mas eu reconheceria sua mandíbula forte em qualquer lugar. Eu acho que essa foi a primeira vez desde meus oito anos que realmente tive a chance de ver meu pai de perto. Não deveria me surpreender quão velho ele ficou nos últimos dezoito anos, mas aconteceu. Se o aroma agradável flutuando ao redor da sala fosse qualquer indicação, eles estavam tomando café antes de chegarmos, mas colocaram suas xícaras de lado para se levantar e nos cumprimentar. — Morgan Wallace e Alexander Campbell. — Jonathan introduziu, gesticulando para nós antes de virar para os dois homens. — Este é Sir Sullivan Wallace e seu braço direito, sir Wright Wallace.
O homem mais baixo apertou nossas mãos com um sorriso agradável que não chegou aos olhos dele. — Um prazer conhecê-los. Sua reputação precede os dois. É uma honra ter dois belos exemplos da Ordem aqui conosco hoje. — Sua maneira de falar lhe dava uma batida com alma, o que me lembrava dos pregadores que podiam levar uma multidão de fiéis a um frenesi. Wright, seu braço direito. Mesmo? O nome do cara já me lembrava de um vilão de Stan Lee3, mas certo4. Eu marcaria o nome dele como o meu jogo de palavras favorito do mês, se não estivesse muito ocupada tentando não vomitar com o pensamento de ter que realmente interagir com meu pai. — É um prazer conhecê-lo, Sir Wright. — Forcei, soando apenas um pouquinho enjoada. Uma sensação estranha fluiu pelo meu braço enquanto apertávamos as mãos, como se eu tivesse acabado de mergulhá-lo em uma poça profunda de lama ou o membro tivesse adormecido espontaneamente. — Por favor, apenas me chame de Wright. — Sua voz era áspera, como a de um fumante de longa data, e a essa distância eu podia detectar o cheiro de nicotina e uísque nele. — É bom finalmente colocar um rosto no nome, senhorita Wallace. Meu sorriso já enjoado aumentou ainda mais com o uso desse nome, e me vi considerando o quão ruim seria uma gafe para corrigi-lo para "Maxwell". Sullivan provavelmente me expulsaria. Sabe, novamente. Ser capaz de fazer piadas sobre traumatizar memórias da infância significava que eu poderia ser capaz de passar por isso depois de tudo.
3
Criador de heróis e histórias em quadrinhos da Marvel. Tinha o costume de criar personagens com iniciais — dobradas—: Peter Parker, Bruce Banner, por isso a associação com Wright Wallace. 4 Trocadilho: right (certo)/Wright – a pronunciação é a mesma no inglês.
— É uma honra conhecê-lo, Sir Wallace. — Disse Alex, apertando a mão de Sullivan. Sullivan deu-lhe um breve aceno de cabeça antes de me olhar. — Morgan. Meu estômago revirou ao som dele usando meu nome depois de todo esse tempo, mas eu consegui dar-lhe um breve aceno de cabeça. — Sir Wallace. Vamos começar a trabalhar? Sentei-me antes que minhas pernas pudessem ceder. Nem mesmo a lareira poderia combater o frio dentro de mim, e fiquei espantada que minha agitação ainda não tivesse chegado ao ponto da minha magia agir ao meu redor. Eu suponho que seja uma coisa boa, queimar esta casa não faria nada para melhorar a situação. Embora isso possa me fazer sentir melhor, o que era outra caixa de vermes que eu não queria abrir. Os três homens sentaram-se enquanto Jonathan se curvava e se desculpava, fechando a porta silenciosamente atrás dele. Apesar dos meus melhores esforços, não conseguia parar meu pé, batendo meu calcanhar no chão em um ritmo de beija-flor. Era um hábito nervoso que eu tinha quando era mais jovem. A regressão já estava começando, parecia. Impressionante. Nós fizemos apenas as apresentações e eu já estava exausta. Eu não queria nada mais do que me apoiar em Alex e implorar para ele me levar para casa. Eu não faria isso, claro. Por todos os meus lamentos, eu ainda era uma profissional - uma qualidade que detestava mais a cada segundo que passava. Além disso, Sullivan provavelmente formaria uma hérnia se ele achasse que alguma coisa estava acontecendo entre eu e Alex. — Direto ao ponto. — Disse Wright. — Eu gosto disso. Um verdadeiro tubarão, assim como seu pai.
—Estamos ansiosos para acabar com esses assassinatos .— Alex me deu um olhar cauteloso quando Wright terminou de falar, provavelmente percebendo o esforço hercúleo que eu estava fazendo para não sacudir o homem. A voz de Sullivan ainda era o mesmo tenor severo de quando eu era uma criança. Era o tom de um homem que estava sempre no controle e acostumado a conseguir o que queria. —Devo admitir, estou surpreso em vê-lo aqui, senhor Campbell. Eu só requisitei a Morgan. — Requisitou. — Como se eu fosse um contratado que ele pudesse chamar à vontade. Eu lutei contra um sorriso de desprezo, mas não pude conter a profunda condescendência na minha voz enquanto falava. — Bem, imaginei que você precisaria de toda a ajuda que pudesse conseguir. Você sabe, já que aparentemente todos os caçadores desta cidade são incapazes de lidar com isso. Quero dizer, por que mais você precisaria me chamar como se eu fosse-... — O que Morgan quer dizer, —
Alex disse, rapidamente me
interrompendo. — é que é um pouco estranho ser chamada quando Dovesport é o lar de tantos caçadores capazes. Eu franzi meus lábios, mas não discuti. Deixei isso para Alex ser politicamente correto ou o que for. Inferno, esse provavelmente era o nome do meio dele. A testa de Sullivan se contraiu e ele olhou para Alex em desaprovação. — Você a chama de 'Morgan'? — Sim, esse é o meu nome. — Inclinei para trás e cruzei os braços enquanto Alex parecia ter sido pego com a mão na minha camisa. Foi hilário, mas eu nunca contaria a ele. Até hoje a noite.
A mandíbula de Sullivan se apertou quando nos encaramos, minha raiva rapidamente substituindo qualquer ansiedade que eu pudesse ter tido. Levou menos de cinco segundos para afastar os olhos de mim, embora eu tivesse certeza de que teve mais a ver com o fato de que ele não podia mais me intimidar com o olhar. — Eu tenho minhas razões para pedir-lhe para lidar com isso. — Disse ele. — Pelo que ouvi de suas façanhas, isso não deve ser demais para você lidar. A julgar pela sua relutância, no entanto, talvez os rumores de suas habilidades tenham sido muito exagerados. Eu me perguntei se a bebida dele ainda estava quente o suficiente para queimá-lo se chutasse a mesa em cima dele. Forcei a me lembrar de que era uma profissional e perguntei. — Quem morreu primeiro, um shifter ou um lobisomem? — Um shifter. — Disse Wright, sua expressão de pesar tão exagerada que ele poderia ter passado por uma caricatura em movimento. — Visão horrível. Absolutamente terrível. — Os shifters mencionaram ter algum suspeito? — Perguntou Alex. — Não. — Disse Wright. — Ambos os lados se recusaram a falar conosco. Eu acho que é egoísta da parte deles, considerando que seu pequeno banho de sangue vai se espalhar sobre nós. Dovesport tem mais pessoas vivendo aqui do que as duas tribos juntas. Egoístas. — Ele balançou a cabeça. — Verdadeiramente egoístas. — Se eles não falaram com vocês, como ficaram sabendo dos assassinatos? — Perguntei.
Uma criada entrou segurando uma bandeja de café fresco. Com um arco educado, ela colocou novas xícaras na mesa. O vapor subia enquanto ela servia o café para nós, seu aroma rico me acalmou um pouco. — Um amigo chamou minha atenção. — Disse Sullivan. — Ele é confiável? — Evitei olhar para ele em favor de assistir o creme que derramei fazendo meu café virar bege. — Precisamos falar com ele. — Ela é confiável, sim, mas você não pode falar com ela. — Posso perguntar por que, senhor? — Alex já estava tomando sua bebida. Eu tinha uma teoria de que ele era incapaz de queimar sua língua, mas esse fenômeno foi ofuscado pela maneira esquisita como ele tomou seu café: dois açúcares, sem creme. Não havia teoria possível de como ele poderia beber aquele veneno - você precisava de creme, simplesmente precisava. Sullivan olhou para a xícara. — Ela não está por perto no momento. — O que você achou até agora? — Alex disse. — Não muito. — Wright falou quando serviu sua quinta colherada de açúcar. — Corpos de ambos, Lobisomens e Shifter’s, estão surgindo na floresta, seus órgãos e pele removidos. Uma vez que Sir Sullivan soube disso, organizou um grupo para investigar. — É só isso? — Disse Alex. — Nada sobre quem eles eram, sobre suas posições de poder dentro de sua tribo? E seus companheiros e família? — As mortes foram aleatórias. — Disse Sullivan. — Nenhuma conexão além da espécie e maneira de morte. — Podemos ver os corpos? — Perguntei, derramando-me mais uma dose de café. Se havia uma coisa boa em estar aqui, era o café. Eu planejei roubar um caminhão dessas coisas da cozinha antes de sairmos.
— As respectivas tribos os levaram de volta para a cremação. — Disse Sullivan. — Eles não queriam que nós corrompêssemos os corpos. — Tenho certeza que eles já foram corrompidos. — Murmurei, traçando um dedo ao longo da borda da minha xícara. Alex se virou para mim. — Você quer ver se as tribos falarão conosco? Existe alguma chance de você conhecer um deles da época da sua infância? Dei de ombros. Depois que minha mãe foi embora, passei a maior parte do tempo dentro de casa. Então, a menos que o cachorro que eu costumava ter fosse na verdade um lobisomem, eu não tinha nada. Isso teria sido muito legal, no entanto. Talvez eu procure algo sobre a adoção de um bebê lobisomem... Ok, isso soou errado em pelo menos três níveis diferentes. E ilegal. Eu prendi um cara por fazer isso uma vez. Ele estava sequestrando-os porém, não adotando. São os pequenos detalhes que importam. Estava claro que Alex esperava mais de uma resposta minha, mas eu não tinha mais nada para dar. Estar nesta casa parecia errado. Eu meio que esperava olhar para baixo e ver um par de minúsculas pernas brancas penduradas no sofá enquanto pequenas e gorduchas mãos envolviam em torno de um copo de plástico cheio de suco de maçã em vez de botas arranhadas e uma xícara de porcelana cheia de café. Olhei para o lado como se Rufus, meu filhote, estivesse deitado ali, abanando o rabo curto e moreno. — Bem, se todo esse negócio obscuro está resolvido por agora, por que não aproveitamos essa oportunidade para nos conhecermos melhor? — Disse Wright, servindo-se de mais café antes de enfiar açúcar suficiente em sua xícara para colocá-lo em um coma diabético. — Está ficando tarde, afinal de contas. Vocês podem começar sua investigação amanhã.
Era tarde? Eu esperava que sim. Isso significava que a sensação de que essa conversa tinha sido dolorosamente longa não estava apenas na minha imaginação. Alex assentiu. — Parece bom. Há uma pousada com um quarto livre nas proximidades? — Quartos. — Sullivan corrigiu com firmeza, seus olhos correndo entre nós. — Vocês dois vão ficar aqui até que este caso seja resolvido. — Isso não é necessário.— Eu disse. — Eu digo que é. — E eu digo que não é. Veja como isso é eficaz? — Obrigado pela sua hospitalidade. — Disse Alex, atirando-me um sorriso tenso cheio de uma mensagem que escolhi ignorar. — Eu não vou ficar aqui. —Bufei. — Morgan! Meu queixo caiu quando eu, junto com Sullivan e Wright, nos viramos para olhar Alex com olhos arregalados. Aquele filho da puta acabou de gritar comigo? Ele fez. Ele sabia como eu me sentia sobre o meu pai, e sabia que a merda ficaria estranha entre nós. É por isso que eu disse a ele que não tinha que vir - embora fosse um movimento reconhecidamente foda se ele não tivesse vindo. Ainda assim, qual era seu dano? Eu sabia que vir aqui era uma má ideia, mas não achava que Alex seria o único a tornar isso óbvio. — Ok, então! — Wright bateu palmas e levantou-se, os olhos ainda pequenos, apesar de estarem desconfortáveis. — Alex - Posso te chamar de Alex? Por que não mostro a você seu quarto? Agora. — Hum... — Alex gaguejou.
— Basta ir. — Braços cruzados, eu andei até a janela, mantendo as costas para ele. Estava nublado antes, mas agora o céu estava claro. Noites em Dovesport eram lindas; as estrelas pareciam tão próximas que você queria alcançá-las e tocá-las. Respirei fundo e tentei me distrair procurando constelações no céu, mas havia tantas que eu poderia citar sem enlouquecer. Eu me inclinei contra a parede e tentei não abrir um buraco na parte de trás da cabeça de Sullivan. Flexionando minha mão, a que Wright balançou, eu a examinei, procurando por um sinal de algo estranho. Que sensação estranha foi essa quando nos tocamos? — Wright é um feiticeiro? — Perguntei. — Não, ele é um caçador normal. Ex-caçador. —Disse Sullivan. — Um shifter desonesto quase arrancou sua garganta alguns anos atrás. Seu coração e pulmões estavam muito danificados para ele continuar caçando. — É de onde ele ganhou aquela cicatriz? — Sim. — Ele leva isso para o lado pessoal? Tipo, preciso procurar preconceito contra shifters? — — Sim. — Disse Sullivan. Bem, beep-boop para você também, homemrobô. — A possibilidade de guerra o preocupa, mas ele não perdeu o sono pelas mortes. Eu queria perguntar se ele havia perdido o sono por causa daquelas mortes, mas disse. —Você ainda não me disse por que me quer aqui. — Eu queria alguém em quem pudesse confiar para lidar com isso. Bem, isso foi... bastante tocante. O gelo amortecido do meu coração descongelou um pouco com as palavras dele antes de outro calafrio o atingir.
Era provavelmente uma mentira para me manter complacente; ninguém podia confiar em alguém que mal conhecia e não falava em quase duas décadas. Foi só porque eu era filha dele? Em uma família normal, claro, mas não fazia sentido no nosso caso. — Você não precisa de alguém em quem ‘confie’ para lidar com isso. Um caçador competente - ou as centenas que você tem à mão - seria suficiente. O que você precisa de mim? Ou há alguma participação pessoal nisso para você? — Tentei cobrir a esperança naquela última pergunta com forte suspeita, mas minha voz ainda soava estridente aos meus ouvidos. Sullivan suspirou e se virou para mim, parecendo ainda mais velho do que quando cheguei. — Prometi a alguém que isso terminaria pacificamente. Os caçadores aqui cuidam de si mesmos - como deveriam - mas isso pode obscurecer seu julgamento. Eu precisava de alguém que fosse objetivo, independentemente da situação. Cassandra acreditava na família, mas ela era implacável quando se tratava de justiça. Eu esperava que essa qualidade estivesse em você. Ouvi-lo dizer o nome dela parecia uma violação, mas afastei o sentimento. — Você acha que um caçador pode ser responsável? Ele olhou para as mãos entrelaçadas. — Só acho que essas atrocidades têm um toque humano. Debati quanto profissional seria em dizer que isso é uma vaga besteira, mas sabia que ele não iria ceder, mesmo se eu continuasse pressionando. —Se o agressor é realmente humano, duvido que os shifter’s fiquem felizes em vê-lo ser pego-... — Um crime dessa natureza é motivo de execução. — Disse Sullivan.
— Pelo Conselho. — Eu disse. — As tribos vão querer se vingar pessoalmente. — Eu duvido que o Conselho vá protestar em entregar a parte culpada humana ou não. Minha preocupação é pegar os assassinos, não condená-los.— — Quantas mortes no total? — Descobrimos quase uma dúzia de corpos, mas tenho a certeza de que há mais. Esperava um número alto, mas não tanto. Mais de uma dúzia de assassinatos. Como isso era possível dentro ou perto de uma cidade da Ordem? Quem teria as bolas para-... — Você recebeu o relatório sobre a morte de Lady Cassandra? — Perguntei. Ele assentiu. — Minhas condolências. Eu agradeceria, mas ele poderia ter dado suas condolências no funeral junto com todos os outros ao invés de me ignorar o tempo todo. — Assassinar o chefe da família Maxwell - por procuração - mandar alguém para massacrar uma caravana de inocentes e planejar quebrar as trancas do Pináculo... Alguém com coragem de fazer isso em uma cidade da Ordem não teria problema em fazer algo como isso em outra cidade. Isso fez com que Sullivan olhasse para mim. — Você acha que o mesmo homem está por trás disso? — Ele certamente é descarado o suficiente. — Eu não tinha ideia se foi o Falso-Corrigan. Talvez eu estivesse apenas empurrando-o para a equação porque queria ir atrás dele, ou talvez ele realmente estivesse por trás disso. Eu não tinha provas, mas meu instinto me dizia que era o último. Caso contrário,
dois incidentes de assassinato em massa em duas cidades separadas da Ordem em menos de dois meses seriam uma coincidência. Eu não acredito em coincidências. — Eu não acredito em coincidências. — Disse Sullivan. Eu não tinha certeza se nossa maneira de pensar deveria me fazer sorrir ou franzir a testa. — De qualquer forma, precisamos de provas e, se ele for o responsável, precisamos encontrá-lo. — O vampiro se chamou de Corrigan. — Eu disse, notando o quanto ele se encolheu ao ouvir o som do nome da minha mãe. A ação durou meio segundo, mas para um homem que era conhecido por sua cara de pôquer, podia muito bem ser considerado horas. — Você sabe alguma coisa sobre ele? Você viu o talismã que deixou para trás? Ele abaixou a cabeça, o fogo lançando formas bruxuleantes na encosta de suas costas enquanto destacava seu perfil. Seu nariz era reto e pontudo, perfeito, na minha opinião - uma admissão que me doía desde que quebrava a minha regra de não dizer coisas boas sobre o homem que me abandonou. Meu nariz era mais redondo, mais curto, aparentemente um ‘presente’ da minha mãe, embora eu não conseguisse lembrar exatamente como era o dela. Mas você sabe, processo de eliminação e, possivelmente, falta de compreensão sobre como a genética funcionava. — O Conselho contatou todos os chefes de família a respeito da ameaça ao Pináculo e o responsável. Além disso, no entanto, não sei nada. Tanto o vampiro quanto seu talismã são um mistério. — Você tem certeza de que nunca viu esse talismã ou o símbolo antes? — Como no pescoço da mãe ou talvez em um de seus livros? Ela tinha uma tatuagem na bunda, talvez?
— Tenho certeza. — Você também não sabe nada sobre o Fal- ele? — Não com esse nome. — Ele disse suavemente. — É possível que nos conheçamos, mas sem uma descrição clara-... — Ele parecia com a minha mãe. Houve uma pausa grave, longa e pesada o suficiente para me deixar desconfortável. Todos os envolvidos deram uma descrição de Falso-Corrigan: cabelos ruivos ondulados, olhos cinzentos e assim por diante, mas não é como se tivéssemos dito: ‘Basicamente ele é uma versão maligna da mãe de Morgan.’ Não havia razão para Sullivan saber. Eu me senti mal com a franqueza com que falei, embora tenha reprimido o pedido de desculpas. O calor do fogo foi subitamente ineficaz, então me movi para ficar na frente dele. Pequenas manchas pretas dançaram diante dos meus olhos enquanto eu olhava para as chamas, mas não consegui desviar o olhar. — Você ouviu alguma notícia sobre ela? — Tentei novamente. Outro momento de silêncio se seguiu. Meu pai trouxe seu maldito silêncio sobre minha mãe. O negócio todo estava ficando tão antigo que eu não ficaria surpresa se ele tomasse forma, apenas para desmoronar em pó. —Nós teremos que falar sobre ela eventualmente. Você não acha que mereço saber sobre minha própria mãe? Desta vez, ele nem sequer teve a chance de responder. Alex empurrou as portas. — Houve outro assassinato.
CAPÍTULO 05
Dentro do carro estava cheio de tensão enquanto Sullivan nos levou pessoalmente ao local do ataque. A insistência de Wright de que não haveria nada de novo para encontrarmos foi a única palavra dita o caminho todo. Tão irritante quanto achei sua tagarelice, eu meio que entendi de onde ela estava vindo. O chefe da família pode ter nos convidado, mas duvido que eu ficaria muito feliz se caçadores ‘de fora’ fossem solicitados a fazer um trabalho que pudesse ser tratado localmente. Ainda assim, nós estávamos aqui e ferir sentimentos - seus ou meus - não nos impediria de fazer o nosso trabalho. Tanto Alex quanto eu insistimos em ver o corpo antes de ser movido; talvez tivéssemos sorte e pegássemos alguma coisa. Dei uma olhada para Alex, que estava sentado perto da janela oposta. Seus ombros estavam rígidos, mas eu esperava que fosse mais sobre o assassinato do que por minha causa. Não parecia certo tê-lo chateado comigo. Alex geralmente era tão composto. Ser capaz de provocar uma reação tão forte assim significava que ele realmente se importava comigo. Parecia uma conquista. Uma realização desconfortável, mas muito agradável. Eu honestamente não tinha ideia. Como deveria resolver esse caso quando eu não conseguia descobrir como estava me sentindo? O corpo foi deixado na base de uma pequena colina na floresta, quase trinta minutos fora das muralhas de Dovesport. O outono tendia a atingir a cidade
cedo e com força, de modo que apenas algumas folhas perdidas ainda se agarravam aos ramos nus que pairavam sobre nós. Havia pedras grandes e um toco de árvore ocasional para olhar fora como nós viajamos da estrada principal para o corpo. Passei meus braços em volta de mim e reprimi um arrepio, desejando ter usado uma jaqueta mais pesada. Havia quatro homens na pequena clareira, reunidos em torno do que assumi ser o corpo. Wright apontou para um penhasco íngreme alto o suficiente para eu considerar uma montanha, dizendo que os Shifter’s viviam além dela. Os homens estreitaram os olhos quando conjurei algumas luzes fantasmas para nos dar mais visibilidade e suas sobrancelhas ergueram para a bola de fogo que produzi em minhas mãos em concha. Danem-se, eu estava congelando minha bunda aqui. Eles poderiam me queimar na cruz se quisessem - pelo menos eu ficaria quente. Havia talvez um pouco mais de cem usuários de magia que serviam como caçadores para a Ordem, então suas reações não eram inesperadas. A maioria das bruxas, feiticeiros, magos - seja qual for o termo que você preferir, eles são basicamente os mesmos - tendem a preferir a companhia de seus pares. A Ordem os mantinha na mesma opinião que qualquer entidade sobrenatural: aceitável até eles começarem sua merda e as pessoas reclamarem. Enquanto havia mais de nós na Ordem do que demônios, não estávamos nem perto da norma. Isso, no entanto, significava que eu poderia ser capaz de pegar algo que eles não pudessem. — Deixe-nos passar. — Ordenou Sullivan. Os homens se separaram mais rápido que o Mar Vermelho para revelar o corpo.
Era um shifter. Uma leoa pelo que ouvi de um dos homens contando a Wright, como ele sabia, eu não sei. Não havia quase nada para identificá-la. De acordo com o que nos foi dito, o corpo estava faltando toda a sua pele. Partes dela eram rosadas, nuas como um gato Sphinx 5, e outras partes mostravam músculos reminiscentes daqueles pedaços gigantes de carne que mantinham pendurados nos açougues. Havia uma longa incisão de baixo do queixo até o rabo. Ela parecia vazia, e eu sabia que se olhássemos dentro, a maioria, se não todos os seus órgãos não estariam lá, junto com os ossos. Havia buracos onde seus olhos estavam e sua boca, esticada no que era um rugido ou um grito de agonia - eu realmente esperava que fosse o primeiro - estava desprovido de dentes, deixando apenas linhas de fendas profundas ao longo de suas gengivas. O tempo frio e seco preservou o corpo bem o suficiente, mas não tinha como isso ser uma matança nova. Eu não era especialista em animais, mas diria que ela está aqui há pelo menos dois dias. Nesse período de tempo, eu não tinha certeza do que havia sido tomado pelos assassinos e o que a vida selvagem havia eliminado. Eu me ajoelhei na frente dela, cobrindo meu nariz por causa do cheiro de podridão misturado com o ar frio. A partir daqui, o ar estagnado carregava uma sugestão de ferro do sangue que a chuva de alguma forma não conseguiu lavar, sustentado pelo cheiro de terra e folhas mortas. A terra úmida sob ela estava descolorida. Sangue. Ela foi morta e ‘colhida’ aqui. Meus olhos examinaram sua forma arruinada, observando cada detalhe enquanto tentavam encontrar alguma anomalia. A luminescência das luzes
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Sphynx, ou gato pelado canadense, é uma raça de gatos originária do Canadá, e que é conhecida por não possuir pêlos. Semelhante às esfinges egípcias.
fantasmas a banhou num brilho misterioso, e fiquei tentada a apagá-las e pedir uma lanterna quando notei as pernas dela. — Alex. —Eu chamei. Ele se ajoelhou ao meu lado, e apontei para os vergões vermelhos e irritados acima de suas patas. — Marcas de cordas em torno de seus membros. — Faz sentido. — Disse ele. —É difícil matar um Shifter ou Lobisomem. Normalmente, são necessários pelo menos três caçadores bem treinados para derrubar um. — Caçadores. — Repeti. — Humanos. Um lobisomem - ou shifter - não teria tanta dificuldade. Eles não precisariam de amarrações. Além disso, por que amarrá-la se você vai matá-la? Alex olhou para o corpo, o rosto bonito mesmo sob a luz etérea. — Quando eu era mais jovem, meu pai adotivo me levou para acampar. Certa vez, um grito horrível chamou nossa atenção e nos deparamos com um grupo de pessoas. Eles estavam esfolando um cervo vivo e precisaram de pelo menos dois homens para segurar os membros do animal para que ele não se debatesse. — Isso é... — Eu cobri minha boca e olhei tristemente para as cavidades oculares da leoa. — Isso é muito foda. Por que eles fariam isso? Você acha que isso aconteceu aqui? — Meu pai disse que algumas pessoas não gostam de esperar até que o animal morra. — Então que cortem sua maldita garganta. — Eu disse. — Não fodam com ela viva. Ele deu um olhar simpático, mas não me tocou, o que me fez sentir pior. — Outros apenas gostam de ver o animal sofrer. Isso explicaria as marcas, no entanto. — Ele pegou sua pata e segurou-a, gesticulando em torno das marcas.
— Veja como parece crua? O resto de suas pernas estão limpas, o que significa que os assassinos não tocaram nelas, mas a pele aqui está toda rasgada. Ela lutou forte o suficiente contra o que quer que estivesse aqui rasgasse sua carne. Tenho certeza que eu lutaria tão duro se estivesse sendo esfolada viva. Ele estava certo, porém, as feridas pareciam semelhantes aos pulsos de humanos quando eles lutavam contra a corda, mas isso só trouxe outro problema. — Não há como qualquer tipo de corda conseguir segurar um shifter. — Eu disse. — Até os mais jovens conseguem passar por isso. E quando eles são adultos, as únicas coisas que podem segurá-los são algemas feitas de oricalco6 ou ferro puro. — Nenhum dos quais deixa este tipo de marcas. — Disse ele. — Existe algo mágico que poderia fazer isso? Eu balancei a cabeça. Ambos, shifters e lobisomens, tinham uma alta resistência à magia. O usuário de magia teria que ser bastante poderoso para ser capaz de enfrentar uma criatura como essa, e haveria energia mágica residual ao redor deste lugar, o que não existia. Alex passou a mão pela carcaça dela. — Outra coisa que não faz sentido. — Nada sobre isso faz sentido. — Eu disse, meus lábios se curvando em sua ação. —Ela foi esfolada com uma faca. As tribos não condenam o uso de armamento? — Eu acho que sim. Então, novamente, tenho certeza de que as garras não são a melhor ferramenta para esfolar as coisas. Não bem, pelo menos. Tem certeza de que era uma faca? 6
Metal amarelo valorizado nos tempos antigos, provavelmente uma forma de latão ou uma liga semelhante. O oricalco era considerado muito valioso, depois apenas do ouro.
— Olhe para a boca, há uma punhalada no topo. Por que usar uma faca para esfaqueá-la, mas não para esfolar? — Alex se levantou e se virou para os outros. — Todos os corpos estavam assim? As mesmas partes faltando, as marcas, tudo? — Acho que sim. — Disse um dos homens. — Nós realmente não tivemos a chance de ‘fazer o inventário’. As tribos ficam realmente irritadas quando profanamos os corpos e outras coisas. Mas o esfaqueamento da boca é novo. Então, tudo o que tínhamos era que quem estava fazendo isso era forte ou um grupo habilidoso - e tinha conhecimento suficiente para esfolar um animal e remover seus órgãos, presumivelmente sem danificar nada. Ah, e eles tinham um item misterioso que poderia prender suas vítimas. Isso estreitou nossa lista para... Quase todas as criaturas sobrenaturais ou caçadores existentes. Impressionante. Bem, acho que isso significa que é hora de usar meus artifícios femininos. E com isso quero dizer magia. Era ridículo, mas eu estava com medo de tocar o corpo de tal forma que causaria sua dor extrema. Eu não conseguia nem imaginar o que ser esfolado vivo deve parecer. Para morrer em tal agonia... Eu encontraria quem fez isso e os faria pagar. Ela estava seca, mas suave onde a toquei, como couro gasto. Meus dedos formigaram enquanto eu os movia através dela. Havia leves traços de magia ao longo de seu corpo, embora não do tipo que sugerisse a presença de um conjurador - os padrões eram muito estéreis para ser de qualquer coisa animada, mas apenas um item mágico. Ela foi esfolada com algo mágico? Quão difícil era esfolar uma criatura sobrenatural, afinal?
Meus dedos roçaram contra os vergões ao redor de seus tornozelos e eu fiz uma careta. Magia. Cem por cento. Puta merda, objeto mágico. Alfinetadas se espalharam pela minha mão, pesando como se eu tivesse passado a última hora sentada nela. O que quer que foi usado para amarrá-la era definitivamente mágico, e deixar uma impressão tão forte depois de todo esse tempo significava que tinha que ser poderoso. É claro que sim, as malditas coisas eram capazes de conter um shifter que estava tentando fugir de ser esfolado vivo - com certeza que faria qualquer um dar duzentos por cento, o que em termos cambiais era o equivalente físico do Hulk no ranking. A faca também deve ser mágica, para que todo o seu corpo ainda tivesse vestígios de magia. Eu não era um gênio da matemática, mas uma poderosa faca mágica e poderosas combinações mágicas geralmente equivaliam a um monte de coisas ruins. Fechando os olhos, coloquei as duas mãos nela e me concentrei na magia. Um arrepio percorreu-me e eu tive que resistir ao impulso de me afastar. Ela estava congelada; o frio correu pelos meus braços e profundamente em meus ossos. Por que eu achei que ingressar na Ordem era uma coisa boa? Eu poderia estar em uma pequena e confortável loja de poções trabalhando na mais nova marca de Viagra do mundo, em vez de sentir a carcaça de uma vítima de tortura. O frio estava dificultando a concentração. Eu me afastei. Magia poderia ser uma coisa complicada e volátil, especialmente quando era estrangeira. Você nunca sabia o que poderia estar caminhando dentro. Eu não tinha ideia do que foi usado nesse corpo, exceto pelo fato de que foi algo muito poderoso. Como em, não algo que eu queria mexer, quer queira quer não. Isso poderia chocar, fritar minha mente, ou qualquer outro monte de coisas desagradáveis que me deixariam catatônica ou morta.
Respirei fundo e rolei meus ombros antes de tentar novamente. As coisas melhoraram desta vez, mas não foi a magia que peguei. Foi ela. Vislumbres da floresta passando rápido. Nervosismo, arrependimento - ela não deveria estar aqui tão tarde, mas precisava coletar ervas. Ela precisava. Uma queda. As árvores estavam de lado agora. Ela está cercada por sombras. Confusão. Pânico. Raiva. Terror. Pedras soltas cortaram minha mão quando me empurrei para trás, me afastando dela. Senti uma presença calorosa que imediatamente reconheci como Alex atrás de mim. Seu peito estava firme quando caí contra ele, minhas pálpebras tremendo enquanto tentava recuperar o controle sobre os meus sentidos. Eu me virei, agarrando o ombro de Alex por sua querida vida, enquanto a bile subia e cobria minha língua. O frio não se registrou mais, a única coisa que eu podia sentir era meu coração batendo no meu peito. Minhas pernas estavam dormentes. Eu precisava-... — Morgan —. Alex me segurou pelos ombros. — Morgan, respire. O que aconteceu? Balancei a cabeça, cobrindo as mãos com os meus dedos congelados e trêmulos. — Ela estava apavorada. — Eu imagino que sim. — Ele sussurrou. — Você viu mais alguma coisa? — Nada de útil. Os ligamentos eram mágicos. Poderoso. A faca também. — Eles poderiam ter sido comprados ou encomendados? Você disse que não sentiu um usuário de magia - é possível que eles estivessem por perto, mas não usassem a magia? — Trabalho personalizado, provavelmente. — Eu disse, levantando-me com as pernas trêmulas. — Não tenho certeza. Quanto a um conjurador, é possível. Mas qualquer um que use magia acha difícil não fazer isso. Mesmo que
eles reprimam ativamente, essa coisa é reflexiva. — Eu me concentrei em seus olhos azuis calmantes, tentando dissipar o toque mau na minha cabeça. — Houve prazer. Quem fez isso gostou de vê-la sofrer. Ela-... — Eu entendo. — Ele esfregou as mãos sobre os meus braços, me dando calor. Eu posso estar me sentido uma merda, mas o fato de que ele estava me tocando novamente fez as coisas um pouco melhores. — Talvez você devesse deitar. Eu vou ver se consigo entrar em contato com o espírito. — Eu estou bem, só um pouco atordoada. — Isso era uma mentira. Eu sentia como se estivesse me afogando. Voltando ao lugar onde minha infância morreu, vendo o homem que a matou, Alex gritando comigo, então experimentar os últimos sentimentos de uma mulher que foi caçada e esfolada viva não era exatamente a receita para um bom tempo. — Por que eu não te levo de volta para o carro?— Perguntou Wright, guiando-me pelo cotovelo. A pressão de sua mão trouxe de volta a sensação de quando o conheci e me fez sentir como se estivesse sendo arrastada ainda mais. Quando estávamos perto do carro, ele falou de novo. — Ouça, senhorita Wallace-... — Max- Morgan. — Morgan, pode não estar no meu lugar dizer qualquer coisa do tipo, mas talvez você ficasse mais tranquila se eu tentasse convencer seu pai de que vocês não são necessários aqui? — O que? Os pequenos olhos de Wright se moveram ao redor. — Este é um problema que podemos resolver sozinhos. Além disso, você não parece muito feliz por estar de volta aqui, especialmente depois disso.
Bem, isso foi embaraçoso. Fazia todo o sentido para mim porque reagi dessa maneira depois de escanear o corpo, mas a maioria das pessoas apenas veria uma mulher pirando sobre um cadáver mutilado. Independentemente disso, eu precisava me recompor. Só porque estar perto de Sullivan parecia que eu estava rolando nua em uma lixa, isso não significava que eu poderia apenas morder sua cabeça. Ele era uma figura proeminente em nossa sociedade. Além disso, eu tinha muita experiência em estar perto de pessoas de quem não gostava, embora eu geralmente tenha que disparar nelas no final. — Agradeço sua preocupação. — Respondi. — Mas sou profissional. Posso me controlar e tenho toda a intenção de descobrir quem está por trás desses assassinatos. Se uma guerra irromper, ela pode se espalhar por essas tribos e ninguém quer que isso aconteça. — Sim, gatos e cachorros na gargantas um do outro - ninguém quer isso. — Murmurou Wright baixinho enquanto abria a porta para mim. Ignorei o comentário dele e deslizei tremendo quando toquei os assentos de couro gelados. Uma chama conjurada, quase cegando nessa escuridão, me aqueceu enquanto eu a segurava na minha mão e ponderava minhas descobertas. Shifters e lobisomens mortos, itens mágicos de tortura, partes do corpo colhido e tribos não cooperativas. Coloque tudo junto e você tem... uma bruxa com frio que não tinha ideia do que diabos estava acontecendo. Este não parecia o trabalho de um Lobisomem, disso eu tinha certeza. Isso simplesmente não fazia sentido. Por que matar por órgãos? As tribos eram autossuficientes - elas negociavam com bens comuns. O dinheiro não era necessário para elas, então não tinham necessidade de vender órgãos no mercado negro, que é praticamente a única coisa para que essas peças poderiam ser usadas. Sem mencionar que tanto os Lobisomem quanto os Shifter’s eram
espirituais demais para tolerar tal profanação dos mortos. Não havia razão para que eles colhessem partes do corpo, a menos que as vítimas fossem alvejadas especificamente e a mutilação fosse só para nos tirar do rasto. Eles não realizavam reuniões para resolver disputas? Eu não conseguia ver o ponto em matar pessoas e jogar os corpos assim. Os líderes das tribos também não aprovariam assassinatos inúteis. E com tantas mortes, alguém deve ter notado alguma coisa, certo? Deve haver algum tipo de pista sobre quem são os perpetradores. Perguntas demais, respostas insuficientes: a autobiografia de Morgan Maxwell. — Você está se sentindo melhor? — Alex perguntou quando deslizou ao meu lado. Sua mão alcançou a minha instantaneamente, sua pele ainda fria do ar da floresta. — Precisamos pegar quem está fazendo isso. — Eu disse com um fogo na minha voz. —Não há desculpa para o que eles fizeram. É uma tortura pura e simples. Ele assentiu, estendendo a mão para colocar algumas mechas do meu cabelo atrás da minha orelha. — Nós vamos. Nós vamos encontrá-los, e vamos levá-los à justiça. Sua coxa roçou na minha e eu me inclinei totalmente contra ele para pressionar um beijo em seus lábios. Todo o meu estresse pareceu desaparecer com aquele beijo. Dane-se o Havaí, poderíamos apenas ficar neste carro. Aparentemente não. Alguém limpou a garganta e nos separamos. Doía fisicamente parar por causa da expressão bufando de Sullivan. Parecia que ele estava prestes a engolir a língua, o que era irônico, considerando que eu estava
prestes a fazer o mesmo com Alex, cujas bochechas estavam do mais bonito tom de vermelho. — Espero que você tenha conseguido encontrar algo útil em seu exame do corpo. —Disse Sullivan, franzindo os lábios enquanto se sentava ao volante. Havia muita desaprovação em seu olhar para um espelho retrovisor lidar; eu meio que esperava que o vidro se quebrasse sob um escrutínio tão intenso. — Eu não consegui muito do seu espírito. — Disse Alex. — Ela sofreu muito para permanecer coerente. — Você é um médium? — Perguntou Sullivan. — Sim senhor. — Eu vejo. — Disse ele. — Vamos voltar agora. Wright retornará com os outros quando terminar aqui. Conte-me mais sobre o que você achou. Sullivan ligou o carro e os dois homens discutiram nossas descobertas enquanto ele dirigia. Pelo que Alex havia me dito antes - através de uma conversa muito sexy entre os travesseiros - os médiuns só podiam falar com espíritos dispostos. Eticamente falando, claro. Eles sempre poderiam forçar um espírito a prestar atenção, contanto que não se importassem com a possibilidade de refutação venenosa. Fantasmas podem ser realmente malvados se forem empurrados contra a parede, especialmente aqueles que morreram em mortes violentas. Geralmente, os médiuns tentavam ser atenciosos e não faziam mais do que estender a mão e pedir permissão para falar com o fantasma que procuravam. Isso também se aplicava aos espíritos deste mundo, embora os ceifeiros fizessem um bom trabalho enviando as almas. Era preciso muita força de vontade e poder regular para que um fantasma se forçasse de volta ao mundo dos vivos.
— Tudo o que ouvi foi esse som misturado entre um rugido e um grito quando perguntei sobre sua morte. — Disse Alex. — A última lembrança que ela teve, que não a aborreceu, foi deixar o marido dela para se esgueirar e colher ervas. — Ele soltou um suspiro pesado, passando a mão pelo cabelo. — O nome dela era Alice. Ela tem um filho de dois anos. — Tenho certeza que muitas das vítimas tinham famílias. — Disse Sullivan categoricamente. — Mais uma razão para que todo esse caso seja resolvido. Olha só, todo mundo, é o ‘Senhor Atencioso’. Poderia o Falso-Corrigan - sério, eu precisava de um nome melhor para ele - realmente estar por trás disso? Ele certamente parecia poderoso o suficiente para criar objetos mágicos que poderiam deixar uma impressão duradoura, e ele obviamente não dava a mínima para mijar no território da Ordem. Inferno, ele provavelmente está em cima disso. Oh Deus, não, essa não é uma imagem que eu gostaria de ver. Tentei recordar a sensação de sua magia daquela noite na fábrica. Ele só lançou dois feitiços: um feitiço de ligação em Ipos e uma barreira. Eu estava muito ocupada lutando contra os capangas de robe para notar o primeiro, e a barreira estava muito longe para eu tirar alguma coisa dela. Um círculo de ritual - como o que ele montou para quebrar a primeira trava do Pináculo - emitia energia mágica com base em sua natureza, não na do conjurador, então isso não poderia me ajudar. Ocorreu-me que eu realmente não sabia nada sobre o vampiro misterioso, além do fato de que ele queria soltar criaturas tão ruins que tiveram que criar uma prisão especial para eles. No Inferno. Assim, até mesmo Lúcifer conseguiu melhores resultados do que eles e se rebelou contra Deus. Então, além do fato de que o Falso-Corrigan era uma vadia louca, eu não tinha nada. Eu deveria
estar de volta, em Nova York, onde poderia trabalhar com alguns contatos. Há uma grande presença de vampiros lá, sem mencionar muitos visitantes, e alguém sempre sabia algo sobre alguém, mesmo que fossem um mago vampiro insano adorador de demônios. Eu me pergunto se ele tinha isso escrito em seu currículo. — Sir Wallace, — Eu disse. — há alguma chance de você conseguir uma reunião com as tribos? — Eu já disse a vocês que eles fecharam as fileiras. —Ele disse, entrando na garagem. —Ninguém é permitido entrar ou sair. Não a menos que eles se esgueirem, como a mais recente vítima. — Alice. — Eu disse com uma borda na minha voz. O mínimo que ele poderia fazer era usar o nome dela. Sullivan fez uma pausa, inspirando profundamente e expirando. — Tem sido um longo dia. Tenho certeza de que você deve estar exausta. Seu antigo quarto foi preparado. Você se lembra de onde é? — Sim. — Eu disse, reprimindo cinco comentários maliciosos. — Vocês dois podem ir em frente, então. Eu ainda tenho alguns negócios para cuidar.— Dispensados, saímos do carro e seguimos para dentro.
Era como se o tempo tivesse parado no meu antigo quarto. Minha cama queen-size estava no meio da parede oposta, com mesinhas de cabeceira de cada lado. Havia estantes de livros à esquerda, e entre elas estava a janela de sacada
que eu costumava sentar quando lia. À direita, havia uma cômoda e uma porta branca que levava ao banheiro. Eu me lembro do quarto cheirando a jasmim e chocolate, da minha mãe e minhas viagens para a cozinha, respectivamente. Agora havia apenas o cheiro de amaciante e ar frio. É assim desde que mamãe partiu. Vazio e sem vida, como se toda a alegria da casa tivesse desaparecido junto com ela. Eu dei um passo para trás, saindo. — Posso dormir no seu quarto? — É claro. — Alex passou um braço em volta dos meus ombros quando fizemos o nosso caminho pelo corredor. — Eu sinto muito sobre antes. Eu não pretendia gritar com você. Batendo no meu queixo, fiz um grande show considerando seu pedido de desculpas. — Eu não sei... você realmente não parece arrependido. — É mesmo? — Ele sorriu, abrindo a porta para revelar um quarto com paredes azuis escuras e uma cama no canto direito. Seria um pouco apertado, mas seria bom para nos aconchegarmos juntos. Pode também me chamar de Marshmallow com o quão suave eu fiquei. A lareira à esquerda rugiu para a vida com um aceno de minha mão, e eu ansiosamente absorvi o calor enquanto me despia na frente das chamas. — É. — Sorri para ele por cima do meu ombro. — Eu acho que poderia te perdoar, se você me dissesse que realmente encontrou algo novo na cena do crime e não quis dizer nada na frente de Sullivan. Ele arrastou as mãos pelos meus lados, deixando arrepios em seu rastro. — Eu acho que vou ter que encontrar outra maneira de me desculpar. — Nós precisamos-... — Bocejei alto, as lágrimas pinicando meus olhos. Limpei-as, junto com a ideia um tanto insana de cauterizar meus canais lacrimais. — Precisamos nos encontrar com as tribos e convencê-las de que
queremos ajudar. Com tantas mortes, talvez eles tenham reconsiderado suas opiniões sobre ajuda externa. — Ou eles vão nos matar. — Com licença, eu devo ser a negativa aqui. — Você é negativa e eu sou positivo, é isso? — Ele disse, seus lábios roçando contra a concha da minha orelha. — Bem, um positivo e um negativo fazem um negativo, então talvez seja melhor se nós dois formos negativos. Ele riu, e eu não pude evitar seguir o exemplo, sorrindo mais do que o dia todo. — Então, nós provavelmente vamos morrer? — Pelo menos vamos morrer juntos. — Eu me inclinei para beijar sua bochecha. Alex se virou e capturou meus lábios. Sua língua dançou contra a minha e o desejo líquido correu pelas minhas veias, acumulando-se entre as minhas pernas. Meu gemido se transformou em um gemido amargo quando ele se afastou. Havia um sorriso completamente satisfeito e sem remorso em seu rosto quando ele olhou para mim. — Parece que você está ficando macia. — Por favor. — Coloquei as mãos no meu estômago. — Duro como aço. Ok, eu realmente precisava parar de mentir para ele. Isso não conta, porque era óbvio que meus abdomens eram inexistentes. Eu ainda era muito magra ser um caçador não permitia a chance de crescer uma barriga de cerveja, mas eu não estaria ganhando prêmios de fisiculturismo em breve. Alex apertou meu estômago. — Eu gosto de ter algo macio para segurar. — Idiota.
— É um elogio. — Ele me deu um rápido beijo nos lábios. — Agora, já que você está quase nua, por que não toma banho enquanto pego o jantar? — Você pode ir, mas não estou com fome. — Você tem certeza? Você não comeu o dia todo. — Você nos fez panquecas no café da manhã. — Eu disse, empinando para a cama e pulando para ela. — Estou exausta e não tenho como comer depois do que acabamos de ver. E do jeito que cheirava. — Você ainda deve comer um pouco. Talvez alguma fruta ou algo assim? — Eu odeio frutas com o estômago vazio. — Você odeia qualquer coisa que não esteja frita em qualquer estômago. — Na verdade, eu só tenho um estômago. — Digo com um sorriso insolente. Desta vez, quando ele me tocou, suas mãos estavam quentes. Eu apreciei a sensação de seu suéter macio contra o meu corpo, embora preferisse muito mais a sua pele. Pequenas vitórias, eu acho. — E você me chama de suave. Talvez eu deva te chamar de Marshmallow em vez disso. Suas sobrancelhas se uniram, como um garotinho que foi informado de que ele não poderia comer um biscoito. — Com quem você usa esse nome agora? Oh, certo. Eu enterrei meu rosto em seu ombro e ri baixinho. — Deixa pra lá. Ei, você já conseguiu falar com seu amigo? O corpo de Alex endureceu. Eu me afastei para ver uma expressão conflitante escurecendo seu rosto, as rugas entre suas sobrancelhas gravadas mais fundas do que antes. —Eu tentei ligar para ele de novo quando Wright me levou até aqui. Quando ele não respondeu, perguntei a Wright se ele o conhecia.— Ele caiu contra mim, e eu nos movi, então estávamos sentados lado a lado na cama. Seu cabelo fazia cócegas no meu ombro enquanto ele
descansava a cabeça lá. — Wright disse que Tom e alguns outros se ofereceram para investigar essas mortes. Eles desapareceram na floresta há dois dias. Ninguém ouviu falar deles desde então. Eu o abracei apertado. — Eu sinto muito. Você tem alguma coisa dele? Eu posso tentar localizá-lo. Ele endireitou-se, seus grandes olhos azuis brilhando com esperança. — Mesmo? — Claro. — Acariciei sua bochecha. — Eu quero ajudar. Não gosto de ver você tão chateado. Minhas bochechas queimaram com a confissão. Isso me fez sentir toda contorcida por dentro para admitir algo tão vulnerável, mas Alex era importante para mim. Eu posso estar pulando a arma aqui - nós nos conhecemos há pouco mais de um mês. Mas olhando para ele agora ... Eu me inclinei contra ele. — Você é importante para mim. Minhas costas bateram na cama antes que eu pudesse piscar. Os lábios de Alex estavam firmes contra os meus, uma fome derramando dele em mim, como um calor derretido sobre minhas entranhas. Emaranhei meus dedos em seu cabelo macio e escuro e puxei-o para mais perto, pressionando nossos corpos corados um contra o outro. Nós só nos afastamos quando a necessidade de ar era muito grande, e eu fiz uma nota para descobrir uma maneira mágica de ficar sem oxigênio. Ele arrastou beijos no meu queixo, parando para pressionar seus lábios contra o meu ponto de pulsação. — Uau. — Eu respirei. — Ele é, tipo, seu melhor amigo ou algo assim? Outro gemido escapou de mim quando ele se afastou. Ele riu, o som ofegante e quente, e escovou a ponta do nariz contra o meu. — Eu nunca pensei
sobre isso, mas sim, acho que ele é. Como disse antes, eu era um garoto quieto; Nunca realmente tive amigos. Tom foi o primeiro a se interessar. Claro, nós éramos colegas de quarto, então teria sido estranho se nos ignorássemos o tempo todo, mas ele parecia genuinamente interessado em me conhecer. — Talvez ele estivesse ‘interessado’ em você. — Com base na quantidade de garotas que ele via toda semana, vou dizer não. — Super compensação. — De qualquer forma, — Disse ele, revirando os olhos. — Tom realmente me tirou da minha concha. Sem mencionar que ele salvou minha vida mais vezes do que eu posso contar. Eu puxei suavemente as pontas do cabelo dele. — Você também o salvou, certo? — Não é realmente algo que você mantenha a pontuação. — Eu acompanho. — Admiti com um sorriso tímido. — Não, eles me devem quatro resgates ou qualquer coisa, mas eu gosto de lembrar onde estão todos. — Você é uma senhora assustadora, senhorita Morgan. — É uma coisa boa que gosto de você, então. Seu sorriso era angelical e meu coração acelerou com a visão. — Eu também gosto de você. — Ele disse gentilmente, girando um dos meus cachos com o dedo indicador. — Você é importante para mim também. Bufei suavemente e desviei o olhar, muito envergonhada para encontrar seus olhos. —Imitador. Alex acariciou meu pescoço antes de se sentar. Eu gritei (sim, realmente) em protesto e levantei as mãos para ele. Infelizmente, ele não foi influenciado
pelos meus encantos femininos e se levantou, apertou uma das minhas mãos e anunciou que ia jantar. E sim, eu ia comer alguma coisa. Por consideração e pelo lindo resmungão. Forçando-me a levantar, fui para o banheiro do outro lado do corredor. Não havia como dormir com a morte nas minhas mãos. Depois de tudo que vi e senti esta noite, não parecia que eu pudesse esfregar com força suficiente. Eu sabia que o mal existia no mundo e, embora ache que tive sorte em evitá-lo, certamente cheguei perto algumas vezes. Esta foi uma deles. A revelação não fez nada além de me fazer sentir pior. A água estava escaldante neste momento, e eu esperava que me limpasse com o calor, apesar de saber que isso era impossível; ninguém escapava dessa vida sem nenhuma cicatriz, figurativa ou não. As últimas marcas vermelhas furiosas deixadas pelo meu banho quente desapareceram quando Alex retornou. Consegui segurar o sanduíche que ele me trouxe, mas tive dificuldade em adormecer. Muitos pensamentos estavam correndo pela minha cabeça. Havia tantas perguntas para responder. Muitas. Eu temia que não pudéssemos resolver tudo. Estava certa sobre esta cama ser um ajuste aconchegante. Foi maravilhoso. A presença familiar de Alex me cercou, seu cheiro de sabão fresco e chuva como a primavera - me trouxe um grande conforto enquanto minha mente corria. Meu nariz pressionou contra seu peito, e eu respirei profundamente, me sentindo mais segura a cada segundo que passava. Parecia que eu estava no meio de um furacão, agarrada aos escombros como um pequeno pedaço de destroço, tentando encontrar clareza no olho da tempestade. Eu só podia esperar que minhas águas se acalmassem, espelhando as ondas pacíficas que vi quando olhei para a cidade esta tarde.
CAPÍTULO 06
Quando eu era criança, costumava correr de volta para o meu quarto e chorar quando meu pai começou a evitar o café da manhã comigo. Eventualmente, eu me acostumei com isso, mas sempre havia uma parte de mim que esperava que ele aparecesse. Essa parte teve sua morte final hoje quando eu, através da neblina do sono, o vi sentado na cabeceira da mesa. Eu não tinha certeza se era porque Alex tinha me arrastado para fora da cama na madrugada - minhas habilidades de ser uma pessoa matutina estavam lá em cima com a minha capacidade de tolerar uma banshee7 gritando bem no meu ouvido - ou por causa do próprio homem. Tudo que eu sabia era que ia matar Alex por me fazer descer aqui. Um voto que provavelmente significaria mais se eu não estivesse atualmente apoiando todo o meu peso contra ele e usando seu ombro como travesseiro. Pelo menos o café da manhã parecia bom; torradas, ovos e bacon - junto com um monte de outras coisas que não importavam. Na verdade, se as pessoas não estivessem me encarando, eu teria pegado o prato de bacon e voltado para o meu quarto. Talvez eu comesse na banheira assim como em casa. Exceto que desta vez, não teria um gato mal-humorado empoleirado na beirada da banheira, olhando para mim em desaprovação até que eu lhe desse um pedaço. — Parece que o rei realmente se dignou a nos agraciar com a sua presença. — Eu murmurei, minha voz grave com o sono. 7
Banshee: Ser fantástico da mitologia irlandesa, seu grito pode ser ouvido a quilômetros de distância
Alex olhou para mim e me sentou na vertical. Tudo o que percebi foi que eu estava caindo, enterrando meu rosto em meus braços sobre a mesa. — Morgan. — Disse ele com um sorriso educado. — Levante-se. — Não. — Gemi. — Eu caí há dez minutos atrás e veja o que aconteceu. — Ela nunca foi uma pessoa matinal. — Disse Sullivan. Ele deu um gole no café. — Quais são seus planos para hoje? Ainda sonolenta, rolei minha cabeça para considerá-lo sonolenta. A mulher mais velha que encheu sua xícara parecia familiar, as linhas gravadas em seu rosto envelhecendo, mas não dissipando os traços que vi em minha juventude. Eu não conseguia lembrar o nome dela, mas acho que estava grávida da última vez que a vi. O sorriso que ela me deu quando se afastou parecia exatamente o que tinha antes quando arrulhei pelo jeito que seu bebê me chutou através de seu estômago arredondado. Ela estava esperando uma menina, se bem me lembro. Ela deveria ter dezoito anos agora, não deveria? Eu me pergunto se ela ainda está na cidade. — Vamos rastrear um velho amigo meu. — Disse Alex, colocando calda em suas panquecas. — Então, veremos se podemos obter uma audiência com as tribos lobisomens ou os shifter’s. — Entrar em seu território pode ser considerado uma ação hostil. — Disse Sullivan. — Você era um caçador. — Eu disse, minha voz clareando surpreendentemente bem para alguém ainda meio adormecido. — Você deveria saber o quão perigoso essas coisas podem ser. É o risco do trabalho. — Eu ainda sou um caçador. — Ele disse bruscamente. — Senhor Campbell, quem é seu amigo? — Tom, senhor. Ele foi uma das pessoas que desapareceu na floresta.
Uma expressão contemplativa caiu no rosto de Sullivan. — Aqueles homens estão presumidamente mortos. Uau. Sério, eles deveriam forçar as pessoas a fazerem aulas de Boas Maneiras antes de terem permissão para supervisionar uma família. — Meu feitiço. — Eu cortei com um bocejo alto. — Desculpa. Meu feitiço pode rastreá-lo, independentemente dele estar vivo. Exceto se tiver qualquer intervenção mágica, é claro. A conversa cessou quando o meu apetite começou, e eu pude cavar o bacon que estava guardando como um dragão semi-ambicioso. Ainda juro que poderia viver de bacon pelo resto da minha vida, mas toda vez que tentava provar isso, Rowan me tentava pedindo pizza ou comida chinesa. Pensei nessas memórias com um sorriso irônico. Ela tem sido uma mãe para mim como Lady Cassandra tinha sido. Eu sinto falta dela. Talvez esse fosse outro dom especial que eu tenha: perder as mães. Se esse fosse o preço que eu tinha que pagar pela super cura, então prefiro sofrer uma morte lenta depois de ter meu coração perfurado por um taco de baseball. Cinco pedaços de bacon celestial depois, notei que Sullivan ainda estava olhando para mim. O homem tinha um rosto esculpido em pedra, então eu não podia lê-lo muito bem, mas provavelmente era uma aposta segura assumir que ele não estava impressionado ou desaprovando. Ou ambos. Eu olhei para ele. — O que? Sullivan sacudiu a cabeça, os olhos baixos. — Esta não é a vida que você deveria estar vivendo.
Sim, desaprovando. Forcei os últimos pedaços de bacon na minha garganta, meu apetite desaparecendo tão rapidamente quanto havia chegado. — O que exatamente eu deveria estar fazendo, então? Sentada em casa e tendo bebês? — Isso não é o que eu disse. A vida de um caçador é perigosa... — Sim, sei que é. — Eu disse, minha voz subindo a cada palavra. — Eu tenho vivido por quase dez anos assim. E, de alguma forma, consegui ser boa o suficiente para ser considerada a sucessora do chefe de uma das famílias. Então, acho que esta é a vida que eu deveria estar vivendo. Se você tivesse alguma ideia melhor, então talvez não devesse ter me expulsado! — Morgan, acalme-se. — Alex assobiou. Eu mal podia ouvi-lo com o sangue correndo em minhas veias. As luzes piscaram, meu coração bateu mais e mais rápido quando as pontas dos meus dedos ficaram brancos sob a pressão de apertar a borda da mesa. Ele estava falando sério? O velho estava insultando minhas habilidades e capacidade de lidar com esse tipo de vida e... Houve uma batida rápida na porta e Jonathan entrou. — Desculpe incomodar seu café da manhã. Achei que vocês gostariam de saber que um shifter atacou os guardas da cidade há uma hora.
A prisão estava úmida e fria, pior ainda pelo inverno invasivo. Nossos passos ecoaram pelos corredores estreitos, a iluminação fraca esticando nossas sombras contra a pedra cinza - era a única vez que eu passava de um metro e oitenta sem saltos altos arrepiantes. Cruzei meus braços, minhas pontas dos dedos não mais brancas, mas um profundo vermelho-púrpura do frio. Eu peguei um casaco mais grosso em nosso caminho para fora da casa, mas decidi
renunciar as luvas. Eu não era fã; era muito difícil mover meus dedos com elas. Claro, eu não seria capaz de usar meus dedos se eles caíssem de frio, então vou anotar isso em "merda que eu nunca vou aprender". Nós seguimos o guarda até as celas enquanto ele nos preenchia de informações. — Um dos nossos homens o encontrou desmaiado nas ruas ontem à noite, fedendo a sujeira. Houve relatos de brigas de bêbados em torno da área, e com base no estado de alguns dos homens que pegamos, estou supondo que algo um pouco mais do que humano deu um soco neles. — Disse ele, bocejando alto e esfregando os olhos. — De qualquer forma, o cara não parecia machucado, então o trouxemos para dormir e planejamos interrogá-lo mais tarde. Logo depois que mudamos de turno esta manhã, ele ficou louco: se transformou em um leão gigante e atacou. Por sorte, havia alguns caçadores dormindo aqui também.— Ele parou na frente da cela mais afastada da entrada e se virou para nós. —Eles conseguiram subjugá-lo antes que fizesse muito mal. — Alguma vítima? — Perguntou Alex. — Não, senhor. Três guardas estão no hospital e um dos caçadores tem um braço quebrado mas, por outro lado, tivemos muita sorte. — O guarda passou as chaves para mim e acrescentou. — Leve o seu tempo. A política diz que temos que manter quaisquer membros da tribo sob custódia até que seu líder ou um representante venha buscá-los. Geralmente leva um dia ou dois. Pessoalmente, acho que é só ensinar uma lição aos seus membros desobedientes Balancei a cabeça enquanto ele continuava seu discurso, me mantive mexendo com as chaves na mão para manter alguma circulação fluindo pelos meus dedos. Demorou um minuto para outro guarda colocar a cabeça para fora e chamar o Tagarela para ajudá-lo com alguma coisa. Alex e eu soltamos suspiros aliviados antes de entrar na cela do shifter.
Ele estava inconsciente, a cabeça curvada contra o peito, revelando uma bagunça de cabelos negros encaracolados. Tudo o que ele tinha era um par de calças soltas, provavelmente fornecidas pelos guardas depois que voltou para a forma humana com sua mercadoria à mostra. Seus braços estavam amarrados para trás com correntes e seus tornozelos amarrados às pernas da cadeira. Notei que as correntes eram feitas de oricalco, então pelo menos não teríamos que nos preocupar com ele se libertando. Alex era esperto o suficiente para manter distância de mim, seja pelo bom senso ou pelo jeito que meus olhos se estreitavam sempre que ele chegava perto demais. Eu ainda não superei sua coisinha no café da manhã, e não perdi o fato de que esta foi a segunda vez que tivemos um desentendimento em dois dias. Nós nunca batemos cabeças antes disso, então eu não sabia o que fazer com isso. O que sabia era que poderia acrescentar à lista de razões pelas quais odiava estar nesta cidade. — Você pode acordá-lo? — Alex perguntou, cruzando os braços e encostando na parede. Tudo bem, como regra geral, não toco em pessoas que tiveram que ser subjugadas por agressão, especialmente quando elas podiam se transformar em animais raivosos que comiam mulheres pequenas como eu como aperitivos, mas fiz uma exceção desta vez. Sua pele estava úmida, seu pulso forte sob as pontas dos meus dedos. Shifters e lobisomens tendiam a ter batimentos cardíacos mais rápidos e temperaturas mais altas em geral, então eu não achava que isso fosse algo ruim. Deixei meu toque demorar um momento; sempre achei fascinante sentir o pulso de alguém. Era vida, vida pura, correndo sob sua pele, pressionando para bater
contra a minha. Fechei meus olhos e levei um minuto para aproveitar a sensação antes de começar com os meus negócios. Deixei escapar uma descarga de eletricidade em seu sistema, depois outra onda mais forte quando ele não se mexeu. Suas pálpebras tremeram e eu recuei, bem fora do alcance do seu braço. Um par de olhos castanhos profundos espiava entre fios de cabelo emaranhados. O tinido de correntes ecoou pelo espaço enquanto o shifter testava suas amarras. Quando ele levantou a cabeça, vi que também havia uma corrente em volta do pescoço. Se tentasse a transformação, o oricalco não se estilhaçaria, mas o pescoço o faria; inteligente e horrível. — Você deve ter uma ressaca infernal. — Eu franzi o nariz com a minha voz saltando contra as paredes de pedra. — Você só fica de ressaca se parar de beber. — Sua voz era profunda e áspera, como uísque e arrependimento. — Não há muito álcool na prisão. — Disse Alex. O shifter cheirou o ar, nos olhando de cima a baixo. — Vocês não são daqui. — Nem você. — Disse Alex. — Mais perto do que você é, garoto. Eu olhei para ele enquanto eles se estendiam e mediam. Ele parecia cansado, mais cansado do que apenas uma noite de bebedeira e uma surra causariam. Com base na quantidade de barba por fazer no rosto, ele não se barbeava há dois, talvez três dias e as bolsas embaixo dos olhos diziam que estava acordado duas vezes mais tempo que isso. Havia um vazio em seus olhos - assombrados, como se não tivesse mais nada a perder. — Qual é o seu nome? — Perguntei.
— Morda-me. — Fofo. — Eu disse. — Isso é estranho, ou seus pais eram apenas peculiares? — Metade e metade. — Por que você está aqui? — Alex perguntou. O homem zombou e balançou a cabeça. — Porque vocês me acorrentaram. Sullivan e Wright apareceram na porta e se aproximaram de nós. Wright parecia ansioso, aparentemente ele não gostava de estar perto do shifter desgrenhado. O rosto de Sullivan era a mesma pedregosidade gárgula. — Você está acorrentado porque tentou matar os guardas. — Disse Sullivan. — Fodam-se os guardas. — Ele cuspiu, voltando-se para olhar para mim. — E foda-se você. Todos os caçadores precisam pagar. Wright se virou para Sullivan. — Viu? Eu te disse, senhor. Ele é apenas outro selvagem. — Selvagem? — As correntes fazendo barulho se tornaram ensurdecedoras nesta terra de sonhos acústica enquanto o shifter lutava em suas amarras. Suas feições estavam torcidas em um rosto feroz, ironicamente, enquanto ele rosnava para Wright. — Quem você está chamando de selvagem, seu lixo idiota? Diga isso na minha cara, em vez de se esconder atrás do seu chefe. Lixo idiota. Aparentemente, lemos do mesmo livro de insultos. Legal. Eu dei um passo para frente para me ajoelhar perto dele novamente. — Estou aqui para pegar quem quer que esteja assassinando seu povo. Isso é tudo. Eu só quero conversar.
Ele segurou meu olhar, mas parecia que estava a cem milhas de distância. Quando falou de novo, sua voz era pouco mais que um sussurro abafado. — Belos olhos, honesta. De todas as coisas que eu esperava ouvir, essa não era uma delas. — Hum, obrigada. Eu puxei a minha mãe. — Sério? Meu filho tem os olhos da minha esposa. Eles são da mesma cor que a sua também. — Ele disse, seu rosto torcido como se o próprio pensamento de sua família o machucasse. — Por favor, Morgan. — Disse Wright. — Você está perdendo seu tempo com essa fera. — Mais um insulto, seu fodido gordo, e eu vou arrancar sua garganta. — Rosnou o shifter. — E como você planeja fazer isso? — Wright perguntou com um sorriso de merda. —Essas correntes são de oricalco. Se você mudar, seu pescoço vai quebrar como um galho. — Ele deu um passo para frente e se inclinou, pressionando o rosto na frente do shifter. Daqui eu podia ver a máscara de ódio que ele estava usando, suas feições torcidas em um sorriso demoníaco. Era uma diferença tão grande em relação ao seu comportamento educado e despretensioso que cambaleei para trás, uma ação que não passou despercebida pelo nosso amigo não tão peludo. As palavras de Wright eram tranquilas, mas com a acústica e minha proximidade, consegui captar a maior parte. — Honestamente, espero que você faça a mudança, seu mestiço estúpido, só para que eu possa ver você morrer. O shifter ficou selvagem depois disso, seus olhos brilhando vermelhos enquanto suas feições se voltavam para uma máscara animalesca. Eu tive que sair da cela antes que o barulho me ensurdecesse. Droga, Wright, entendo seu
ódio pela espécie, mas dê uma maldita pausa. Há alguma chamada para decoro. Sullivan ordenou que Wright saísse e, com grande reticência, o seu homem braço-direito obedeceu. —Minhas desculpas, senhor. — Disse ele. — Eu apenas acho-... — Sua opinião foi deixada bem clara. —Eu disse, ambos aborrecidos com ele e esperando que minha atitude obtivesse algum feedback positivo do shifter. Talvez eu fosse melhor nessa coisa política do que pensava (eu não era). — Eu acho que você deveria ir. Afronta se espalhou pelo rosto redondo de Wright, mas antes que ele pudesse responder, Sullivan falou. — Ela está certa. Minhas desculpas a vocês dois. Wright estava simplesmente preocupado com as medidas de segurança usadas para manter o prisioneiro - medidas que ele agora pode ver são bastante satisfatórias. — Ele deu a Wright um olhar penetrante. — Estamos indo embora. Com sua partida mais que satisfatória, nossa atenção foi atraída de volta para o shifter sentado entre nós. Ele ia ser ainda mais difícil de quebrar agora que Wright o fez ficar mais fora de si. — Conte-nos sobre os assassinatos. — Disse Alex, aparentemente canalizando o Robocop. Eu poderia ficar preocupada de que Sullivan o infectou, mas Alex já era parecido com ele a esse respeito. Ok, isso definitivamente não era algo que eu precisava entender. Ew. Ew, ew, ew. Nunca compare Alex a Sullivan novamente. Ew. O shifter fixou seu olhar em Alex, olhando-o para baixo. — Foda-se. Os olhos de Alex se estreitaram e ele apertou a mandíbula, mas não se mexeu. — Tom Wallace. Ele e um grupo de caçadores desapareceram na floresta há alguns dias. Você sabe o que aconteceu com eles?
— Por que eu deveria me importar com um pobre mijo-... Alex avançou e agarrou a corrente ao redor do pescoço do outro homem, levantando-o. —Ele é dez vezes o homem que você jamais será. Todos eles são, seu filho da puta. Agora quero algumas respostas. O shifter apenas deu a ele uma risada depreciativa. Alex girou o punho. Um som alto de fratura sinalizou o impacto, mas não foi o shifter que gemeu de dor. Alex recuou, segurando a mão enquanto o outro homem ria ainda mais. Eu ficaria preocupada mas ainda estava chateada com ele. Além disso, Alex deveria saber. Bater em um shifter, mesmo em sua forma humana, era como bater seu punho em uma parede de concreto. Empurrando meu aborrecimento com ele de lado, eu me aproximei e cuidadosamente segurei seu pulso. Uma luz dourada brilhou ao redor da minha mão, curando o membro danificado. A mandíbula de Alex ainda estava apertada o suficiente para quebrar nozes, os músculos do pescoço estufados com uma raiva quase reprimida. Ou não reprimida, já que ele acabou de dar um soco no cara. Eu não era avessa as formas mais fortes de interrogatório. Sabia que algumas pessoas não falavam a menos que fossem ultrapassadas por seus limites, mas isso não significava que eu gostasse, e com certeza não significava que não fosse tentar usar o açúcar antes do ácido. Uma vez que Alex foi curado, coloquei uma mão firme em seu ombro, silenciosamente dizendo-lhe para recuar. Pelo menos seu comportamento tornaria mais fácil o ato de jogar como ‘bom policial’. Eu me ajoelhei na frente do shifter. — Meu nome é Morgan. Ele zombou. — O que? Agora você quer jogar de bom policial?
— Não é como se fosse ficar mais difícil depois dos outros dois. — Eu disse. Alex bufou atrás de mim. — Acho que não. — Ele estalou o pescoço de um lado para outro da melhor maneira que pôde com as correntes em volta dele. — Você está perdendo seu tempo, porém, garotinha. Eu não tenho nada para você. — Olha, as pessoas ficam chateadas. — Eu disse. — Às vezes, elas bebem e acordam em lugares estranhos. Talvez fiquem surpresas e apenas... ataquem. Eu estou perto? Ele desviou o olhar e não disse nada. — Ninguém de qualquer tribo quer se encontrar conosco. — Continuei esfregando minhas mãos juntas. Agora que a situação se desfez um pouco, meu corpo estava começando a lembrar do quão frio estava aqui. —Nós só queremos descobrir quem está cometendo esses assassinatos horríveis e parálos. Mas não temos nenhuma informação. Se você souber de alguma coisa que possa nos ajudar a fazer isso ou encontrar nossos amigos... O shifter bufou, seus ombros tremendo quando soltou uma risada amarga. — Seus amigos morreram gritando, assim como eles mereciam. Alex me empurrou para o lado e agarrou o homem novamente. — Seu filho da puta! O que diabos eles fizeram com você, hein? Seu fodido doente! — Alex! — Agarrei seu ombro e tentei afastá-lo. — Alex, pare. Este não é o caminho. Ele me deu uma cotovelada de lado. — O Inferno que não. Rangendo meus dentes, eu alcancei novamente a frente, eletricidade crepitando sob minhas unhas. Ele sacudiu quando o toquei, seu braço se erguendo e soltando o shifter. Eu o empurrei de volta e fiquei entre eles.
— Para. Trás. — Eu disse. Ele olhou para mim, e por um momento, fiquei preocupada que realmente fosse me atacar. Dei a ele o mais sério olhar que pude reunir. — Alex, por favor. Suas mãos estavam cerradas em punhos quando as levantou. Fiquei tensa, a magia queimando através de mim, antes de relaxar novamente quando ele simplesmente cruzou os braços e recostou-se contra a parede. Voltei para o homem. — Desculpa. — Não se desculpe por mim. — Disse Alex. — Não me diga como falar, como Sullivan. — Eu disse, lançando lhe um olhar por cima do ombro. — Isso é completamente diferente. — Vão fazer seu drama em outro lugar. — O shifter zumbiu. — Eu já estou com muita dor. — Não vamos embora até você nos conte o que sabe. — Eu disse. — Eu já fiz. Seus ‘amigos’-... — Qual o seu nome? — Eu disse. — Você sabe isso, não sabe? — Atrevida, não é? — Seus lábios se levantaram em um pequeno sorriso. — Marshall. Meu nome é Marshall. — Prazer em conhecê-lo, Marshall. — Mhm. — Como você sabe o que aconteceu com os caçadores? Você os viu? — Um passarinho me contou. Bem, não é um passarinho, mas você entende a essência. Engolindo, perguntei. — Por que eles foram mortos? — Por que não?
Eu franzi meus lábios, batendo um dedo contra o meu joelho. Ok, nova tática. — Fale-me sobre sua família.— — Interrogador e negociador tudo em um. Não tenho sorte? — Você é casado. Qual é o nome da sua esposa? Marshall parecia estar prestes a adoecer de novo, o olhar assombrado em seus olhos aumentando dez vezes. — Carma. — O nome da sua esposa é Carma? — Você. — Ele se inclinou para mim o melhor que pôde. — Não posso falar sobre minha esposa. Carma é a razão pela qual seus malditos amigos caçadores estão mortos. Carma é a razão pela qual todos vocês vão receber o que está vindo. Você quer parar esses assassinatos? Você acha que eu acredito nisso? Foda-se. Mentir para mim não vai funcionar. Você pode ser tão legal quanto quiser, brincar de família comigo - até pedir para ver fotos do meu filho. Tanto faz. Eu sei que tipo de monstros você são. — Sua voz caiu para um sussurro perigoso. — Agora, terminamos aqui?
CAPÍTULO 07
Meu cabelo estava em uma trança apertada nas minhas costas, me fazendo parecer uma imitação de Lara Croft - ou assim eu gostava de pensar. Uma garota poderia sonhar. Eu usava jeans e botas de caminhada marrom, junto com um suéter verde justo. Chamaria de camuflagem, mas as árvores eram estéreis, então vou chamar de ‘parecendo bem’ em vez disso. Ei, eu estava presa na cidade do passado de pesadelos da infância e tendo problemas com o meu… hm, Alex; vestir-se - por falta de uma palavra melhor - era a única coisa que me fazia sentir bem agora. Minha arma estava no coldre na minha coxa e eu tinha o colar que Alex tirou do apartamento de Tom em volta do meu pescoço. Ele saiu para pegá-lo enquanto fui para casa trocar de roupa. Provavelmente foi uma tentativa de ficar longe de mim por um tempo, mas estaria mentindo se dissesse que o sentimento não era mútuo. Infelizmente, esqueci-me de lhe dizer que seria mais fácil se ele me trouxesse um pouco de cabelo ou algo que tivesse sido, sabe, parte do corpo de Tom, mas o punhado de palavras cortadas que havíamos trocado ao sair da prisão não era exatamente propício para a comunicação. Talvez Alex tenha passado muito tempo comigo, porque está pegando minha falta de paciência. Tanto faz. Prometi encontrar seu amigo - vivo ou morto - e ia fazê-lo. Além disso, se ele e seu grupo estivessem realmente mortos, pelo menos teríamos a chance de encontrar mais pistas. Era uma maneira insensata de pensar, mas eu
não estava feliz com o jeito que o desaparecimento de Tom estava fazendo Alex agir. Eu tinha sido tão volátil quando Lily estava desaparecida? Bem, de qualquer forma, talvez eu não conhecesse Alex tão bem quanto pensava. Eu sabia que ele estava sofrendo, e não importava as nossas diferenças, eu me sentia triste por ele. Mas isso não dava a ele o direito de me empurrar ou sair assim - nada aconteceu - mas ainda queria aliviar sua dor. Eu o queria de volta. Meu estado de espírito tumultuado - e a amargura reconhecidamente injustificada em relação a Tom - tornou impossível para eu captar qualquer lampejo de suas últimas lembranças. Felizmente, não precisava simpatizar para seguir um caminho mágico. A simples corrente de prata nos levou até a periferia da cidade, passando pelas muralhas e entrando na floresta. Nosso impasse silencioso não nos permitia formar um plano para o que aconteceria se nos deparássemos com lobisomens ou shifters hostis. Pessoalmente, eu estava esperando que alguém que encontrássemos fosse amigável, mas considerando o comportamento de Marshall, era mais seguro dizer que teríamos que lutar para sair. Não que eu não goste de ser atacada por animais gigantes sobrenaturais, mas.... Oh, espere, eu não quero isso. Eu só espero que eles não tentem atacar enquanto estou distraída com o meu feitiço de rastreamento. Prosseguimos com cautela, apesar de cada passo que dávamos soasse como um tiro estalado em meus ouvidos; se eu podia nos ouvir andando, eles certamente o fariam. As florestas estavam tão vazias quanto ontem e a luz do sol tentando atravessar as nuvens espessas fazia tudo parecer ainda mais desolado do que na noite anterior. O ar estava parado, silencioso. Parecia mais que estávamos caminhando pelo cemitério do que por uma floresta.
Eu acho que nós estávamos andando por ambos. Tentei acompanhar o caminho que tomamos para tornar a volta para casa mais fácil, mas foi difícil fazê-lo enquanto seguíamos o feitiço. Com o feitiço de rastreamento em vigor, o mundo à minha volta fica desfocado e um caminho branco brilhante aparece em foco, levando-me ao proprietário do item. Eficaz, mas muito perturbador - como a visão de túnel vezes dez mil. Tudo ao meu redor estava desbotado, e depois de memorizar um pouco do caminho brilhante, parei o feitiço com uma forte expiração. Meu pé bateu em um seixo, e eu tropecei para frente, raspando a mão em uma árvore próxima quando me apoiei. Examinei cuidadosamente a minha mão em busca de farpas, como um demônio de madeira, e suspirei de alívio quando não encontrei nenhuma. Havia alguns arranhões e um pouco de sangue, mas isso se curaria momentaneamente. — Você está bem? — Alex perguntou. Apesar de nossa distância atual, sua preocupação me fez sentir confusa por dentro. — Sim, apenas um arranhão. — Eu tropecei em uma rocha - caminhar pela floresta não é algo que eu estou acostumada. Ele lambeu os lábios e assentiu desajeitadamente. — Apenas tenha cuidado. Balancei a cabeça para trás, tentando não pensar sobre o quanto doía que ele não quisesse me tocar. Alex não parecia cansado enquanto seguíamos em frente, mas eu sentia como se meus pulmões estivessem prestes a explodir do frio e pelo esforço. Não havia muitos lugares nas cidades para os quais você tinha que caminhar regularmente, então não é como se eu tivesse a chance (ou o desejo, honestamente) de praticar. Quanto mais longe íamos, mais quieto parecia ficar. Parecia impossível - a floresta estava em silêncio desde que entramos, mas parecia que tínhamos
entrado em outro mundo. O vento que soprou não pareceu afetar a área ao nosso redor, nem mesmo a moita se moveu ou mexeu. Eu sabia que as florestas ao redor de Dovesport eram antigas, mas este lugar parecia positivamente antigo. Estávamos nos aproximando do coração da Linha Ley? Nós continuamos indo para o oeste, pelo caminho, deixando rastros triturados sob nossos pés como se fôssemos titãs pisando sobre a terra. Eles eram menos esparsos8 aqui por alguma razão, a sujeira debaixo de nós era muito mais desordenada do que perto das bordas desses bosques. De repente, o caminho cintilante desapareceu com uma nuvem de brilho e poeira, e o mundo entrou em foco sozinho. A área não parecia diferente do resto da floresta, mas havia uma estranha corrente fluindo sob meus pés. Magia. — Alex, pare. Ele virou-se para mim. — O que é? — Alguém colocou um feitiço ao redor da área em frente. Eu não posso mais seguir esse caminho. — Que tipo de feitiço? — Ele perguntou, vindo mais perto. Levei um segundo para apreciar sua proximidade antes de me ajoelhar e colocar minha mão no chão. A corrente vibrou. Ela pulsava sob a terra, como se a terra estivesse viva. Nós estávamos definitivamente próximo da Linha Ley. Muito próximo. Meu ritmo cardíaco acelerou devido a sua influência e eu tinha certeza de que, se olhasse no espelho, minhas pupilas estariam completamente dilatadas. A sensação era indescritível. Poder. Alegria. Calma. Se eu conseguisse algum sinal de Wi-Fi aqui, eu me mudaria em um segundo, mesmo que isso significasse estar perto de Sullivan.
8
Esparsos: em desordem, espalhado.
Mais adiante estava a magia de um tipo diferente, seus efeitos reforçados pela proximidade do ponto crucial da Linha Ley. Tinha que pertencer a uma das tribos, mas eu não estava familiarizada o bastante para identificar qual delas. Planejava passar alguns dias lendo sobre lobisomens e shifter’s quando tudo isso acabasse. — Um feitiço de proteção, acho. — Eu disse. — Definir limites e alertar sobre intrusos. Pode ter outros efeitos também. Indesejados, se o usuário mágico não souber como lidar com a transmissão tão perto de uma Linha Ley. Eu não sei o suficiente sobre qualquer magia de curso para dizer mais. — A Linha Ley está aqui? — Perto daqui, sim. Alex pescou algo do bolso - uma bússola - e olhou para isso, junto com a área ao redor. —Circunferência da proteção? — Hum, grande. — Dei de ombros. — Se eu tivesse que adivinhar, isso abrange toda a aldeia. Eu não tenho ideia do tamanho disso. Ou a qual tribo pertence. — Lobisomem. — Disse ele. — A aldeia dos Shifters está no topo do penhasco perto de onde encontramos Alice, lembra? — Eu realmente não consigo ver com o feitiço. — Esqueci. Desculpa. Pelo menos sabemos que os shifters não os têm. Isso significa que Marshall poderia estar mentindo. — Ele franziu os lábios. — Precisamos continuar nos movendo. — Se nós violarmos essa linha, arriscaremos irritar uma aldeia inteira de lobisomens. Lobisomens. Sabe, aquelas coisas que levam um punhado de caçadores para matar. Um. Para matar um. — Estou ciente, Morgan.
— E você quer entrar no covil deles? — Perguntei. — Você não quer visitá-los, afinal? — Sim. — Eu me levantei. — Eu só quero ter certeza de que você está bem com isso. — Porque seria muito horrível se você quebrasse como fez na prisão e fizesse com que todos na vila nos atacassem. — Não fui eu quem disse que precisávamos continuar andando? — Ele disse. A falta de expressão em seu rosto não era um bom sinal, mas pelo menos ele ainda não havia armado a arma. Segui atrás dele, tropeçando e escorregando em várias pedras e folhas. Sério, havia uma razão pela qual eu preferia a cidade; a única natureza em que estava interessada em caminhar era areia, areia de praia. O sol já estava completamente perdido, um perdedor em sua batalha contra o espesso véu de nevoeiro. Meu relógio dizia que era um pouco mais tarde, então pelo menos não teríamos
que
nos
preocupar
em
perambular
por
aqui
à
noite.
Esperançosamente. Minhas queimavam a cada passo e todas as formações de árvores começaram a parecer as mesmas. Parecia que estávamos andando em círculos. — Alex. — Chamei, olhando para a árvore ensanguentada na minha frente. — Olhe para esta árvore. — Corri meus dedos ao longo da casca áspera, esquadrinhando as pequenas manchas de vermelho perto do meio. — Sobras de uma caçada? — Ele perguntou. — Não. — Olhei para a minha mão curada. — É meu. Esta é a árvore na qual raspei minha mão. Alex olhou em volta com uma carranca. — Eu pensei que tudo parecia familiar, mas isso pode acontecer na floresta.
—Nós andamos em círculos. — Eu disse. — O feitiço de fronteira; eu não acho que podemos passar a menos que eles nos deixem. Nós só vamos acabar andando em círculos uma e outra vez. — Você pode destruí-lo? Balancei a cabeça. — Não com tão pouca informação sobre o feitiço. Além disso, quebrar suas proteções definitivamente pareceria um ataque contra a tribo. — Que tal sair por aí? — Ele disse. — Podemos procurar a área por um caminho. — Tenho certeza que não vai haver um buraco. — Nós temos que tentar, não é? — Ele cruzou os braços, seu pé fazendo sons rápidos de tap-tap-tap contra a sujeira. Lambi meus lábios rachados. — Eu não disse que não devíamos tentar. — Então, vamos. — Ele disse impaciente. — Devemos nos separar para cobrir mais terreno. Embora eu não fosse contra a ideia de passar algum tempo separados, já tinha visto filmes de terror suficientes para saber que dividir era a pior ideia possível. — E se nós perdermos? — Ou formos mortos. Ou torturados. Ou torturados, depois morto. — Eu lembro onde o limite da linha é. Se eu precisar voltar, vou andar até ver essa árvore novamente. Você pode seguir o colar até que ele desapareça através do limite e faça o mesmo. Tentei pensar em algo para dizer - para convencê-lo de que esse não era um bom plano, mas não consegui pensar em nada novo além de me separar em territórios de lobisomens potencialmente hostis, foi uma má ideia. — Eu ainda acho que essa não é uma boa ideia.
— Vamos, Morgan. — Ele gemeu e revirou os olhos. Ah, claro, eu estava sendo o mais difícil hoje. — Era você quem queria resolver este caso e sair o mais rapidamente possível. — Sim, resolver o caso. — Eu cruzei meus braços. — Não me separar e ser morta. Terror clássico, cara. — É uma aldeia de lobisomens. Nós provavelmente seríamos mortos mesmo se estivéssemos juntos. Ele estava tomando o comentário que fiz ontem à noite sobre nós dois sermos seriamente negativos, parecia. — Bem útil. — Ok, poderíamos pegar um deles, mas mais do que isso e estamos ferrados. — Realmente não fazendo o seu caso. — Apenas uma volta, ok? — Ele olhou para o relógio. — São 1:30. Vamos por meia hora ou até que acabemos magicamente de volta. Estreitei meus olhos para ele, deixando escapar uma respiração longa e profunda. — Bem. Mas apenas trinta minutos ou eu juro-... — Trinta minutos. — Disse ele. — Eu prometo. Eu o assisti ir embora, pavor me enchendo com cada passo que ele dava. Isso era uma ideia muito ruim. Eu já me arrependi disso, mas se corresse para detê-lo, só causaria mais problemas e honestamente, eu não queria discutir. Novamente. Pela quarta vez em dois dias e pela terceira vez em um dia. Droga, eu realmente preciso de uma bebida. Depois de debater se deveria esperar aqui por meia hora, decidi que não machucaria se pudesse encontrar alguma coisa. Talvez eu encontrasse uma pessoa amigável que pudesse ajudar. E talvez eu me transformasse em um demônio e me trancasse no Pináculo. Ou talvez começasse a chover unicórnios.
Estremecendo ao pensar na bagunça que sairia, parti na direção oposta de onde Alex havia ido.
Costumava pensar que as árvores eram bonitas, até românticas. Agora, eu tinha meio que vontade de queimar toda a floresta. Quando eu voltar, vou comprar uma libra de erva de gato e encher uma pequena sala antes de jogar Rowan e trancar a porta como pagamento. Deslizei minhas mãos pelas minhas coxas, enviando magia de cura através dos meus músculos doloridos. Era difícil decidir o que era pior: isso ou o café da manhã com meu pai. As palavras de Marshall tocaram uma e outra vez na minha cabeça. Ele estava tão bravo, tão quebrado. Não fazia sentido. Alguma coisa aconteceu entre os caçadores e os Shifters? Sullivan teria mencionado algo assim, não teria? A misteriosa amiga dele não lhe disse que caçadores eram suspeitos de assassinatos? Ele disse que parte do motivo pelo qual me chamou foi porque eu não tinha vínculo com os caçadores daqui; ele sabia que as tribos não estavam se matando o tempo todo? Magia fluiu sob meus pés enquanto eu olhava para o espaço na minha frente. As árvores tinham sido podadas, a vegetação rasteira quase desapareceu e o chão havia se espalhado. Era mais fácil se mover aqui, mas isso não importava muito se o feitiço me enviasse em círculos. Ajoelhei-me e senti o chão novamente, procurando onde a magia era mais forte. Era difícil dizer com as Linhas Ley interferindo, mas a magia dos
Lobisomens era diferente. Tudo o que eu tinha que fazer era pegar isso. Mas então o que? Havia uma maneira de romper a Linha, mesmo que por um segundo? Eu poderia me apressar enquanto era rompida, mas meu problema poderia ser recompensado com um bando de lobisomens furiosos. Além disso, eu entraria sem o Alex, o que também era uma má ideia. Gostaria de saber se haveria um momento em que eu tivesse uma escolha que envolvesse até mesmo uma boa ideia. Meu corpo instantaneamente relaxou quando senti o pulso da terra sob meus dedos. A magia dos Lobisomens era tão antiga quanto a floresta ao nosso redor. É uma pena que as tribos se recusassem a ensinar sua magia a forasteiros; eu adoraria aprender algo assim. Eu tenho sido negligente em meus estudos, em muitas coisas ultimamente, mas era hora de juntar minhas coisas. Aprender novas magias era uma das minhas coisas favoritas. Com cada feitiço que aprendi, senti um passo mais perto de minha mãe. Ela era - é - uma bruxa poderosa. Será que ela aprendeu as mesmas coisas que eu? Eu me perguntava como ela se sentia quando estava aprendendo esses feitiços, se tinha alguma dificuldade com isso. Eu não queria nada mais do que encontrá-la e perguntar. Havia tantas perguntas que precisava que ela respondesse. A primeira é: — Por que você me deixou? Empurrando minha melancolia para o lado e me focando no colar de Tom, segui o caminho brilhante, tomando cuidado extra para sentir a linha limite. O problema com esse tipo de feitiço era que ele mostrava o caminho mais rápido para um objetivo, enquanto apenas contabilizava a colocação de paredes e portas. Por exemplo, o caminho passaria por qualquer coisa no caminho, mas seria direto pelas portas, mesmo se elas estivessem trancadas ou seladas de alguma outra forma. Funcionava na maior parte do tempo. Geralmente, havia
algum tipo de pista sobre como proceder quando chegasse a um beco sem saída. Geralmente. Agora, estava olhando para uma verdadeira trilha de pó de duende que não pude seguir por causa da magia dos lobisomens. Eu me perguntava o que pessoas normais faziam com suas tardes. Fechei os olhos, lutando contra a fadiga e uma enxaqueca em rápida formação, e tentei redirecionar o caminho. Era como tentar enganar a magia, fazendo pensar que não havia como eu passar por essa direção. Basicamente, estava construindo uma parede na frente do caminho. Minha cabeça latejava com o esforço de tentar jogar uma versão invertida do Jogo da Cobra9. Só que desta vez, a cobra era uma idiota que não entendia que minhas paredes deveriam ser evitadas. Eu não tenho problema em reunir e disparar explosões de magia ou convocar pequenos tufos. Até mesmo ler coisas e pessoas, embora exaustivas e às vezes irritantes, não era tão difícil. Mas ter que se concentrar e navegar usando apenas a minha mente? Essa merda era difícil. Era infinitamente mais fácil fazer algo quando eu tinha um referencial físico. Atirar um pedaço de gelo em alguém não era diferente de arremessar um dardo. Claro, não era uma habilidade particularmente convencional, mas estava conectada a uma ação real. E, por último, verifiquei que ninguém construíra com sucesso uma casa - ou mesmo uma parede - usando apenas o poder de sua imaginação. Eventualmente, tive que forçar meus olhos abertos. Minhas pernas estavam ficando vacilantes de tentar demais, e se eu já não estivesse ajoelhada, teria caído. Piscando algumas vezes para limpar minha visão, concentrei-me no colar
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Jogo antigo dos celulares Nokia.
novamente. Havia uma chance, ainda que pequena, de que Tom não estivesse dentro dos limites da área e que esse caminho fosse simplesmente o caminho mais rápido para ele. Era uma lógica, mas prefiro seguir em frente do que sentar perto de uma árvore e esperar por Alex voltar. Eu me arrastei à frente, tentando lutar contra as pancadas na cabeça, concentrando-me na beleza da natureza ao meu redor. Uma das coisas que mais amava em estar na cidade era o quão caótico poderia ser. Olhar para as luzes brilhantes da janela e desfrutar do silêncio enquanto o resto do mundo corria com suas vidas, trouxe um sorriso ao meu rosto. Era como estar sentada em uma pequena ilha enquanto uma tempestade assola em torno de você. Pacífica, mas selvagem - um lembrete de que você é apenas uma pequena parte de um universo gigante. Isso era diferente. Tudo aqui me faz sentir como se eu fosse parte da terra. Era libertador. O ar estava fresco e limpo, não havia pessoas gritando através das paredes, ou carros buzinando enquanto corriam pelas ruas, jogando água em pedestres desafortunados. Havia apenas as árvores imponentes e os passos suaves dos animais que viviam entre eles. É provável que haja os passos barulhentos dos seres sobrenaturais que vivem aqui também, mas isso não suporta toda a vibração ‘calmante’ que eu estava procurando. Apenas quando pensei que o torno mental em volta do meu crânio estava prestes a se soltar, a gravidade me lembrou de que eu não deveria me ausentar mentalmente enquanto caminhava por uma floresta. Uma rajada de ar frio girou em torno de mim quando tudo caiu de lado e os vários detritos espalhados pelo solo úmido atingiram meu corpo. Rolei e aterrissei com um grunhido alto no fundo do que parecia ser uma colina muito longa.
Deixei outra onda de magia de cura fluir sobre mim, já imaginando a ladainha de contusões que decorariam meu corpo esta noite. E do jeito que as coisas estão indo hoje, não acho que Alex vai beijar qualquer uma delas. Ok, menos de pensar nele beijando meu corpo, mais de rastrear seu melhor amigo morto. Veja, esses são os tipos de coisas que as pessoas normais nunca têm que dizer. Enquanto eu tirava o pó e começava a me levantar, avistei uma forma escura que me fez recuar e recolher um raio na minha mão. Felizmente, e embaraçosamente, acabou por ser uma pequena abertura de caverna. Deixei a eletricidade desaparecer - a última coisa que queria fazer era irritar uma aldeia de lobisomens colocando as árvores perto de sua casa em chamas. Minhas costas atingiram uma árvore bem colocada enquanto o mundo nadava na minha frente. Poções de mana10, por que você não pode ser real? Em vez disso, por que você não poderia trabalhar da maneira que eles fazem nos jogos? Era possível criar poções de mana, mas elas eram o equivalente mágico da metanfetamina. Vai te manter por um tempo, mas isso vai acabar com você a longo prazo. Tentei reativar o feitiço de rastreamento para ter uma ideia de quanto mais magia poderia lançar, mas acho que o fato de que tudo ao meu redor estava quase tão embaçado sem o feitiço era um grande indício do quanto eu ainda tinha. A trilha reluzente, no entanto, levou a algum lugar inesperado: exatamente dentro da caverna que confundi com um animal selvagem.
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Poções revitalizantes, típicas de jogos de vídeo game.
Era muito pequena para ser chamado de caverna, na verdade. Na verdade, isso me lembrou mais do buraco de coelho que Alice caiu - o personagem da história, não a última vítima. — Espero que eu não termine como a última Alice. — Murmurei. Estava aberta para tentar coisas novas, mas ser dissecada viva não era uma delas. Cada fibra do meu ser me disse para ir encontrar o Alex. Eu não tinha ideia de como navegar por esses bosques, porém, que garantia eu tinha de poder nos trazer de volta a esse lugar exato? O que deveria fazer, apenas caminhar para a frente da árvore ensanguentada até que caísse de novo? Além disso, se isso fosse uma armadilha, eu não queria que Alex se machucasse. Suspirei. — Para as entranhas, lá vamos nós.
CAPÍTULO 08
Ajoelhei-me junto à abertura e conjurei três luzes fantasmas, observandoas pairar em volta de mim antes de sugá-las e rastejar para as profundezas. No começo, estava feliz em ficar de pé - o mundo girava menos quando eu estava de quatro - mas depois de alguns minutos de rastejar, uma dor se formou na base da minha coluna que me fez querer me enrolar e morrer. De repente, caminhar pela região selvagem não parecia tão ruim. Calafrios correram pelas minhas mãos e joelhos enquanto eu avançava ao longo da terra argilosa. O zumbido de magia era mais fraco aqui, mas crescia em intensidade quanto mais eu rastejava. Eu me sentia como um rato em um labirinto, sendo conduzida pelos minúsculos filetes flutuando ao meu redor. Tentei ignorar quantas leis de filmes de terror eu estava quebrando: separar do seu parceiro, vagando em túneis escuros e assustadores, e me recusando a pedir ajuda. Dane-se a série de Lúcifer e Miguel, um filme do que eu estava fazendo agora poderia quebrar as bilheterias. Não parecia haver um fim à vista. Minha expectativa aumentava a cada curva que não levava a uma saída, mas sim a outro túnel escuro para continuar rastejando. O caminho se inclinava de vez em quando, levando a alguns momentos de parar o coração quando eu deslizava para baixo. Acho que eu deveria me acostumar com isso. Quer dizer, havia pelo menos oitenta por cento de chance de eu ir para o Inferno.
Os túneis eram estreitos demais para um lobisomem ou leão atravessarem, mas um ser humano de tamanho médio poderia rastejar facilmente. Normalmente, lutar em lugares tão apertados seria desconfortável, mas factível. Com a minha energia drenada, no entanto - especialmente contra um ser com resistência mágica - uma luta provavelmente não terminaria bem para mim. Eu esperava que nenhum deles pudesse sentir minha magia, embora isso fosse improvável. Mesmo que, por algum milagre, não percebessem a minha magia, não haveria nenhuma maneira deles não conseguirem sentir o cheiro do humano sangrando e suado ao redor de seus… o que quer que fossem esses túneis. Ocorreu-me que não tinha ideia. Talvez eles pudessem me dar o prêmio ‘Grande Idiota do Ano’ antes de me comerem. Você sabe, como um prêmio de consolação. Tudo parecia estar se aproximando de mim e tive que parar algumas vezes para encontrar meu centro. Suor enchia minha testa e deslizava pelo meu rosto. Apesar da atmosfera úmida, ainda estava frio. Correntes de vento passavam, provocando um espirro quando roçavam minha pele úmida. Escolhi focar no positivo: o ar era um sinal de que eu estava chegando perto do fim. Por duas vezes, considerei voltar para Alex, mas eu tinha ido longe demais para fazer uma viagem de volta. Respirando fundo, conjurei o feitiço de rastreamento novamente. Os vislumbres levaram mais adiante, então eu sabia que estava indo no caminho certo. Se apenas o feitiço me dissesse o quanto mais longe estava. Não muito, parecia. Os túneis se abriram em uma pequena sala quadrada apenas alguns minutos depois. As paredes eram feitas de barro e havia tochas lançando bordas duras e quadriculadas ao longo das coisas dentro. Eu coloquei a mão em uma caixa próxima para me manter firme enquanto o sangue corria através dos meus membros agora distendidos. Ugh, ficar na vertical era tão
superestimado. Eu ficaria feliz de me enrolar no chão novamente se minhas costas não começassem a gritar no segundo em que comecei a me curvar. Eu parecia estar em uma sala de armazenamento; mercadorias secas estavam penduradas em vigas no teto e o caixote em que eu estava encostada estava cheio de sacos de arroz. Então, ou eu acabei de descobrir pessoas toupeira, ou estava dentro da toca do lobo. Eu não tinha uma preferência. Limpei o suor da minha testa e rastejei para a porta. O som de passos estava ausente, mas eu não era tola o suficiente para acreditar que estava segura. Ainda assim, não havia outras pessoas vagando enquanto eu explorava as salas subterrâneas. Era incrível como havia potencial para outro mundo aqui embaixo. Se eles quisessem - ou precisassem - a tribo poderia viver aqui por um bom tempo. Eu me atrapalhei com o meu telefone para ligar para Alex, mas não consegui ter sinal, que era outra razão pela qual eu preferia a cidade. Preocupação me dominou quando pensei nele. Ele estava seguro? Tinha que estar. Por favor, deixe-o estar em segurança. Eu não sabia com quem estava falando, mas espero que tenham me ouvido. O barulho de correntes atraiu minha atenção para o leste. Segui o som para descobrir uma sala maior com escadas que levavam para cima. Quando tentei a porta no topo, no entanto, ela estava selada. Magicamente selada. Eu não seria capaz de passar por isso. Sério, qual era o ponto de eu ter magia? Talvez quando isso terminasse, eu poderia pedir à tribo que me ensinasse algumas delas. Abandonei a porta e continuei em direção aos sons, meu ritmo desacelerando enquanto vozes começaram a vagar pelos corredores.
— Você! — Gritou uma voz masculina rouca e quebrada. Parecia que ele estava dizendo outra coisa, mas as palavras rapidamente se dissolveram em um grito. Sombras dançaram ao redor das paredes quando me aproximei. Uma das sombras se moveu estranhamente, e eu me aproximei para investigar, formando uma barreira apenas no caso. Mas eu estava muito cansada, muito devagar, e não consegui reunir a energia para fazer nada mais do que me virar bem a tempo de pegar a forma de uma pessoa. Algo agarrou a parte de trás do meu pescoço e a parede disparou em minha direção, seguida por um som alto e estridente. A dor se espalhou por minha têmpora e nariz quando o sangue encheu minha boca. Então o mundo ficou escuro.
Acordei com uma dor de cabeça que chutou a bunda da última. Era bom saber que não importava o quanto as coisas fossem ruins, elas sempre poderiam piorar. Em algum lugar à esquerda havia tochas emitindo um brilho alaranjado quente, mas elas não chegavam longe o suficiente para iluminar todo o caminho até aqui. Eu estava pendurada no teto. Meus pulsos estavam amarrados sobre a minha cabeça e o peso das correntes ao redor dos meus tornozelos me puxou para baixo, deixando-me com uma dor ardente em meus ombros enquanto me movia.
Ao contrário do resto das salas subterrâneas, esta área cheirava a sujeira, suor, fezes e sangue, tudo sustentado pelo cheiro rançoso de umidade pura que me faria vomitar se tivesse comido nas últimas duas horas. De repente, eu não me arrependi de mordiscar apenas alguns pedaços de bacon no café da manhã. Meus braços estavam dormentes, mas quando tentei me ajustar a uma posição mais confortável, alfinetes e agulhas passaram por eles. Tudo era pura dor. Eu não pude nem mesmo unir um pensamento coerente, muito menos um feitiço para me tirar daqui. Agucei meus ouvidos, mas os únicos sons eram as correntes quando me movi. Lembrei-me de ter minha cabeça batida contra a parede. Esses caras não se seguravam. Mas, talvez eles fizeram, desde que meu crânio não foi completamente esmagado dentro, apesar de estar amarrada como um pedaço de carne, junto com os gritos que ouvi anteriormente, me disse que eu iria preferia estar morta no momento em que eles terminassem comigo. Demorei mais alguns minutos, mas finalmente consegui piscar sem sentir que alguém estava empurrando um picador de gelo nos meus olhos. Eu ainda não consegui lançar nada. Talvez uma explosão pequena e sem foco de algo na ponta dos meus dedos, embora eu devesse estar tocando fisicamente meu alvo; qualquer coisa que precisasse de concentração estava fora de questão. Mas o que devo transmitir? Qualquer fogo que eu conjurasse agora aqueceria as correntes e queimaria minha pele enroladas à ela. Não havia como eu derreter meus pulsos só para me libertar. Isso curaria, com certeza, mas eu nunca me mutilaria dessa forma, e não estava com pressa de descobrir como seria. O gelo me causaria congelamento e a eletricidade não faria nada. A magia de força funcionaria se conseguisse focar energia suficiente, o que eu não conseguiria no momento, mas provavelmente quebraria todos os ossos do meu
pulso. Outro punhado de camadas em um bolo de opções de merda. Apenas uma boa escolha. Isso é pedir muito? Vir para cá sozinha foi um erro que admiti há muito tempo, apesar de ganhar um lugar no meu Hall das Falhas. Eu queria que Alex estivesse comigo. Na verdade, não, não queria que ele fosse acorrentado também. Deveríamos estar em minha casa, na minha cama, enroscados em uma pilha de cobertores. Não aqui, onde minhas dores de infância estavam voltando para me assombrar e minha cabeça era batida nas paredes. — Hey. — Uma voz masculina sussurrou. — Você acordou? Demorou algumas tentativas antes que eu conseguisse formar algo mais do que alguns sussurros roucos. — Sim. — Sussurrei de volta, minha garganta queimando com cada palavra. — Estamos sozinhos? — Tecnicamente. — Ele disse em uma voz que era ainda mais áspera do que a minha. — Não há guardas patrulhando, mas os Lobisomens são rápidos. Impressionante. Depois de conhecer Marshall, eu não estava esperançosa em conseguir os Shifters do nosso lado, mas não parecia que os lobisomens também seriam amigáveis. De qualquer forma, eu me esgueirei para o território deles, então talvez tudo isso tenha sido apenas um grande mal-entendido. Sim. Totalmente. — Há quanto tempo eu fiquei desacordada? — Perguntei. — Um cara entrou e interrompeu o 'questionamento' de seu amigo para anunciar que havia te flagrado. Isso foi há duas horas. Duas horas. Se já faz tanto tempo, posso ter recuperado mais energia do que pensava. — Há quanto tempo você está aqui?
— Não faço ideia. Três dias, talvez? Wright mandou você ?— Ele perguntou antes de gemer de dor. — Não é exatamente o time de resgate que eu estava esperando. — Wright? — Wallace. Merda, não me diga que você é civil. Como você se envolveu com isso? O pensamento de que isso era algum tipo de armadilha - um interrogatório suave dos lobisomens - passou pela minha cabeça, mas não consegui me importar. O que eu tenho a esconder? — Eu sou uma caçadora. — Eu disse. — Eu sei quem é Wright, só não entendo o que ele tem a ver com qualquer coisa. Sullivan me enviou. — Tecnicamente. — Eu rastreei um dos caçadores desaparecidos até aqui e acabei sendo nocauteada. — Wright é o único que-... Não importa, toda essa merda que eles estão fazendo está tomando seu pedágio em mim. Como você nos rastreou? — Magia. Sou uma bruxa. — Quanto de ‘suco’ ainda resta? — O que é zero menos zero? Ele soltou uma risada ofegante que desceu em tosses seguido por outro gemido de dor. — Estou esperando que haja alguma brecha de matemática que faça disso cem. — Pode ser. Estou me danando para a matemática. — Eu disse. — Onde está o resto do seu grupo?— — O último cara - garota, na verdade - morreu esta manhã, então acho que você encontrou o único caçador que restou. — Pode não parecer. — Eu disse sem entusiasmo. — Mas estou feliz.
— Oi, feliz. Eu sou Tom. Bufei uma risada, lamentando a dor que atravessou meu peito. — Obrigada, agora sei como isso se sente. — Desculpe, hum... — Morgan. — Prazer em conhecê-la. Inclinei minha cabeça para trás em uma tentativa de aliviar o torcicolo no meu pescoço. — Da mesma forma. Por que eles te levaram? — Porque eles são completamente loucos? — Se fosse isso, você teria sido morto no primeiro sinal. Tem que haver mais nisso. — Não há. — Ele insistiu. — Nós estávamos na floresta. Eles nos pegaram e decidiram que jogar 'torture os humanos' seria um divertido jogo de fim de semana. Considerando que ele tinha sido torturado por lobisomens por dias, Tom estava certo de ser tendencioso contra eles. Eu não comprei as palavras dele, mas não estava familiarizada o suficiente com nada aqui para jogá-las pela janela. Por que os Lobisomens levariam um grupo de humanos para torturar sem motivo? Marshall mencionou carma e disse que os caçadores estavam mortos. Mas ele era um shifter - por que os Lobisomens disseram às pessoas que supostamente entraria, em guerra com alguma coisa? Está todo mundo ficando louco? Esqueça, todo esse pensamento fez minha cabeça doer ainda mais. Eu poderia descobrir tudo depois que escapássemos. Se nós escapássemos. — Eles disseram alguma coisa? — Perguntei. — Eles mencionaram os assassinatos ou Shifters?
— Não, cara. Eu te disse, eles só queriam nos foder. Tem certeza de que você não tem mais nada? Você é a única esperança que temos de sair daqui. Nenhuma pressão, certo? Eu me sentia um pouco mais descansada, o que me transformou de atropelamento morto para atropelamento um pouco menos morto. Passos de bebê. Com a mãe de todas as enxaquecas tendo drenado a maior parte da minha magia, e agora lamentando apenas comer aqueles poucos pedaços de bacon no café da manhã, eu confiaria em uma criança de cinco anos para produzir melhores resultados. Mas eu não queria ficar por perto e ser torturada, e definitivamente não queria morrer. Mexi a mão ao redor para ver se poderia soltá-la. A dor era insuportável - sério, foda-se a gravidade - mas consegui formar um pequeno espaço entre meus pulsos e a corrente. Isso ia doer como o Inferno, mas não é como se eu tivesse uma escolha melhor. Enterrei meu rosto no ombro para abafar o grito e concentrei-me em formar um pequeno orbe de pura força no espaço que fiz. Meus olhos estavam apertados em concentração, mas a dor nem registrou minha dor de cabeça. Um segundo depois, a dor de cabeça perdeu para agonia que explodiu através de mim quando soprei a esfera, quebrando as correntes e meus pulsos. Meu corpo bateu no chão com um baque ensurdecedor, meu ombro abafando o que teria sido um grito estridente. Tudo queimava como um exército de formigas irritadas decididas a fazer um buffet do meu corpo. Minha cabeça, tronco, braços, pulsos - especialmente pulsos - todos latejavam em conjunto. Minhas costas se curvaram, me enrolando em uma bola enquanto o sangue corria através das minhas juntas previamente bloqueadas, enviando um milhão de agulhas de ácido sobre meus braços. Esta foi literalmente a pior ideia, e ainda foi a melhor que eu tive.
— Você está bem? — Perguntou Tom. Dei-lhe um gemido baixo. As lágrimas que caíram pelo meu rosto deveriam ter sido quentes, mas com o jeito que eu estava queimando, elas eram um alívio fresco contra a minha pele. Demorou algumas manobras adicionais, e com isso eu quis dizer me mexer ao redor e tentar não soluçar como um bebê, mas consegui entrar na posição fetal para tocar a corrente ao redor dos meus tornozelos. — Você pode me levar para fora? — Eu gemi. — Tire-nos daqui e eu vou casar com você. Enquanto eu apreciava a sua coragem, ele apenas passou quem sabe quanto tempo sendo torturado a menos de duas horas atrás. Eu duvido que ele pudesse andar sozinho. Enterrando meu rosto no meu ombro, respirei fundo e formei outro orbe entre meus tornozelos e a corrente, rasgando o metal com uma cacofonia de tinidos afiados. Talvez fosse porque eu estava muito distraída com a dor que tinha, mas não doeu tanto desta vez. Também poderia ser devido à pequena proteção que minhas botas permitiram - agradeça por todo esse couro. Usei a pequena magia que escorria para remendar meus ossos o melhor que pude; nesse nível de exaustão, eu não tinha certeza de quão eficazes seriam minhas habilidades de regeneração. Se eu estivesse morrendo, eles chutariam imediatamente, mas não importa o quanto pareça, quebrar esses ossos não me mataria. Vergonha. Meu corpo ficou mole por alguns segundos, e eu me deliciei com a pequena pausa - trocadilho não intencional - antes de me arrastar pelos cotovelos até as barras da cela. Meus dedos mutilados tocaram o metal frio, e desta vez, não consegui silenciar o grito de dor que correu pela minha mão e pelo meu braço.
Esperei por um momento longo e tenso, meus ouvidos atentos a quaisquer passos que chegassem. Quando nada aconteceu, me preparei mais uma vez. Esta não era a hora de desistir. Eu precisava me esforçar mais, ultrapassar meus limites normais. Com uma respiração profunda, levantei meu braço o mais alto que pude e arrastei as pontas dos dedos infundidas pelo fogo, observando enquanto o metal brilhava em uma laranja brilhante e começava a derreter. O calor roçou no meu rosto e estar tão perto das barras queimou meus dedos, mas lutei contra a dor; meu corpo inteiro estava queimando de qualquer maneira. A menos que eu deixasse isso me afetar, estava imune ao calor - ou frio da minha magia, mas não dos objetos afetados. Metal derretido escorria pela minha pele e lágrimas gordas escorriam pelo meu rosto mais uma vez. Eu mal conseguia segurar meus gemidos de dor. Esperançosamente, os Lobisomens apenas assumiriam que era um dos meus próprios choramingos por causa de um dedo torto ou algo assim, embora não tivesse certeza de que qualquer coisa que eles fizessem para mim se comparasse ao que eu estava fazendo comigo mesma. Empurrei-me para trás e repeti a ação com as barras ao lado das que eu já havia derretido até que havia um buraco de tamanho médio. Eu podia sentir a pele dos meus cotovelos rasgar, meu sangue arrastando pelo chão, enquanto me arrastava para a próxima cela. — Por favor, me diga que você está nessa. — Você parece que está na minha frente. — Disse ele. Eu entendo que ele passou por muita coisa, mas esse hábito de ser dolorosamente inútil não estava fazendo nenhum favor a nenhum de nós agora. Foi torturante, mas consegui derreter um buraco em suas barras também. Uma única luz fantasma flutuou na sala e desapareceu por um momento antes
de reaparecer na palma da mão aberta de Tom. Acho que os lobisomens não acharam que precisariam acorrentá-lo depois de dias de tortura. A luz não era forte o suficiente para eu entender sua aparência, mas ele poderia ter três cabeças por tudo que me importava agora. — Você teve a chance de olhar em volta do lugar quando eles trouxeram você? — Eu ofeguei. Por favor, por favor, me diga que ele era um caçador tão bom quanto Alex disse que era. — Mais ou menos. — Disse ele, rastejando pelo buraco. — Há um quarto com algumas escadas que levam para cima. Você sabe onde é? — Se bem me lembro, sim. Dei-lhe instruções sobre como voltar ao túnel da sala da escada. Quando terminei, estendi a mão e coloquei minha mão em seu ombro, enviando o máximo de magia de cura que pude para ele. Não foi muito, mas foi o suficiente para que ele pudesse me carregar, por mais lento que fosse o ritmo. A viagem das nossas celas para a sala de armazenamento foi um enorme borrão. Toda a preocupação que tive em ser pega ou Tom não ser capaz de me carregar por todo o caminho foi perdida quando me deixei reclamar pela exaustão. Acordei com o cheiro de carnes curadas e a visão de um moreno desgrenhado. Tom era de tamanho médio, com cabelos castanhos encaracolados e olhos cor de avelã. A barba grossa cobria suas bochechas cavadas e bolsas profundas e escuras puxadas em seus olhos vermelhos. Ele estava descalço, e o que restava de sua roupa esfarrapada estava coberta de sangue e sujeira.
— Você vai ter que engatinhar o resto do caminho. — Ele sussurrou, seus olhos treinados na porta. — Acha que pode fazer isso? Consegui um aceno brusco e segui atrás dele, enquanto o mundo diminuía ao meu redor. Sabia que não tinha escolha a não ser sair ou morrer tentando. Se eu pensei que rastejar para este lugar foi difícil, então rastejar para fora dele era uma tortura em um copo de dez galões feito de vespas. Vespas mutantes. Isso disparou lasers de seus olhos do caralho. Meus cotovelos arruinados fizeram a maior parte do trabalho pesado, e eu não ficaria surpresa em ver nada além de ossos quando conseguisse sair. Especialmente depois daquelas encostas estúpidas que me faziam sentir como se estivesse escalando o Everest. Eu era capaz de trabalhar ocasionalmente meus joelhos para me dar um impulso, mas não era realmente necessário; Tom não estava se movendo muito mais rápido do que eu. Eu não tinha ideia de quanto tempo fazia desde que começamos a engatinhar, mas estava frustrada o suficiente para considerar explodir todo este túnel. Não havia como eu ter forças para fazer isso, mas pensar em maneiras de trazer tudo para baixo me distraía o suficiente para me manter em movimento. Eu estava em um estado de fuga enquanto nos movíamos para frente, e com o túnel tão escuro, não poderia dizer se estava desmaiando ou se meus olhos ainda estavam abertos. Podem ter sido minutos, horas ou até mesmo dias, mas finalmente, como se por um milagre, a luz começou a passar pelo ombro de Tom e uma brisa suave passou pela minha pele. Eu não tinha energia para falar, mas o Tom sabia. — Puta merda. — Ele sussurrou, sua voz tão baixa que eu mal podia ouvilo. — Nós fizemos isso... Nós conseguimos, porra.
A visão da liberdade impulsionou-o para frente e logo a brisa suave se transformou em um vento gelado que cortou minha pele. Eu não me importei. Depois de toda a dor correndo através de mim e rastejando através do túnel que poderia muito bem ter sido feito pelo idiota de Satanás, foi literalmente uma lufada de ar fresco. Minha palma saboreava a textura das folhas secas no chão, macia e espinhosa ao mesmo tempo. Doeu, mas significava que eu estava quase fora. A liberdade estava bem ali, a poucos metros de distância. Mas eu não consegui mais. Meu corpo parecia ter sido feito de chumbo sólido e fiquei meio flácida no meio do túnel. — Alex? — Tom soou dez anos-luz de distância. — Cara, o que você está... — Morgan! De tudo o que estava acontecendo, a minha aparência deveria ser a última coisa da lista nos meus pensamentos, mas não pude deixar de pensar em como Alex me encontrou agora. Eu estava coberta de sujeira, sangue, suor e sabe Deus o que mais. Meu cabelo estava desgrenhado, saindo em lugares estranhos e emaranhado com sangue em outros. Deus sabe como eu cheirava, mas certamente não era sabão. Eu nem tinha certeza se ainda tinha todas as minhas unhas, embora tivesse certeza de que um pulso estava fazendo uma coisa estranha, flexível e desossada. — Quebrado. — Eu consegui dizer. — Sinto muito. — Alex disse enquanto me puxava pelos meus ombros. Eu gritei de dor e ele pressionou meu rosto contra seu peito. — Está tudo bem. Acabou. Eu vou levar você de volta para a segurança, ok?
— Tudo bem. — Eu disse, partes iguais delirantes e sem fôlego. Eu nem tinha certeza se as palavras que estava tentando dizer estavam traduzindo corretamente. — Você está bem? Ele me deu um olhar triste e me levantou no estilo noiva, pressionando-me perto contra ele. Eu me enrolei nele com um gemido satisfeito. — Estou bem, Morgan. Claro que estou. Você é quem passou por tudo e está perguntando a mim? — Ele xingou baixinho. — O que diabos você estava pensando? Como pôde sair sozinha assim? Eu queria lembrá-lo de que dividir foi ideia dele em primeiro lugar, que eu estava apenas explorando a área como ele pediu, mas não queria brigar. Não queria que nós brigássemos novamente. Tudo que queria era ficar em seus braços para sempre. Meus olhos se fecharam e fiquei flácida, pressionando um beijo fraco em seu peito. — Temos que ir, cara. — Disse Tom. — Sim. — Alex respirou. — Eu posso encontrar o caminho de volta, apenas apoie-se em mim. — Tem certeza? — Ele perguntou. — Eu tenho uma bússola. Posso navegar. — Disse Alex. — O que eles fizeram com você? — Os bastardos torturaram a mim e meus amigos. — Tom cuspiu. — Eu sou o único que conseguiu sair. Graças a Morgan aqui. — Eles a machucaram? Eles fizeram-... — Não, cara. Eles não chegaram até ela. Tudo o que eles fizeram foi derrubá-la. — Eu vou matá-los. — Alex rosnou. — Eles vão pagar, porra.
Eu escolhi acreditar que pelo menos parte de sua raiva estava na preocupação por mim e apreciei o calor que a revelação trouxe. Quão perto cheguei de perdê-lo hoje, para nunca mais vê-lo? O pensamento trouxe lágrimas aos meus olhos, seguidos por mais lágrimas quando o primeiro ataque de choro fez todos os nervos do meu corpo brilharem de dor. — Morgan? — A voz de Alex estava pesada de preocupação. — Tenho certeza que ela quebrou alguns ossos. — Disse Tom. — Não posso culpá-la por chorar. Ela é dura como o Inferno, no entanto - quebrou-os e ainda conseguiu rastejar através desses túneis. — Eles ficaram em silêncio por um tempo antes de Tom falar de novo. — Ela é solteira? — Cara. — O que? Eu só estou perguntando. — Você passou os últimos dois dias sendo torturado. — Isso me deu uma nova perspectiva sobre a vida. Eu não precisava abrir meus olhos para saber que Alex estava rolando os dele. — Não parece diferente da perspectiva que você tinha antes, Tom. — Cara, se você está interessado nela, apenas diga. — Tom-... — Meninos. — Gemi, o som mais alto do que eu pensava que poderia administrar nessa condição. — Se vocês vão brigar por mim, esperem até que eu esteja acordada e tenha gelatina para jogar em vocês.
CAPÍTULO 09
O sinal sonoro que invadiu minha mente me fez pensar que eu tinha cochilado durante um episódio de 24hs11. Eu não tinha o hábito de assistir TV enquanto estava ‘alta’ desde que tinha vinte anos, e esse sentimento estúpido que estava sentindo atualmente era ainda mais como uma viagem do que quando Rowan e eu acidentalmente colocamos fogo em uma remessa inteira de maconha. Ok, quando eu acidentalmente coloquei uma remessa inteira de maconha em chamas. Quando abri meus olhos, fui saudada com a visão de um teto branco imaculado e uma mistura doentia de cheiros que eu poderia apenas rotular: ‘Eau de Hospital’. Era irônico como o cheiro de antisséptico e o que mais diabos eles usavam por aqui, me fez sentir ainda mais doente. Sullivan estava sentado perto de mim, segurando minha mão no rosto, o que já era chocante o suficiente. Então, vi a expressão dele. Ele parecia infeliz. Seu cabelo estava desgrenhado como se tivesse passado as mãos umas cem vezes, e seus olhos estavam vermelhos e vítreos como se estivesse chorando e prestes a começar uma segunda rodada. Ele respirou fundo, estremecendo e apertou minha mão. Incapaz de processar os sentimentos que suas ações provocaram, deixei minha cabeça cair para o outro lado para olhar o IV12. Essa merda era incrível; Eu precisava pegar o nome do que quer que eles estejam me dando para que pudesse ver mais sobre isso para mim depois. 11 12
24 horas é uma série de televisão, cada temporada acontece no período de 24 horas. Intravenosa: é uma via de administração que consiste na injeção de agulha ou cateter contendo medicação.
Com meu movimento, o rosto de Sullivan caiu de volta em sua máscara estoica e ele pousou minha mão na cama, fazendo-me pensar se seu comportamento um segundo atrás não tinha sido nada mais do que uma ilusão das drogas. Bem, a magia foi legal enquanto durou - e para ele parecer preocupado comigo era definitivamente mágica. — Morgan. — Wright chamou, aparecendo um segundo depois. Com o olhar de desaprovação de Sullivan, ele limpou a garganta e disse. — Senhorita Wallace, fico feliz em ver que você está bem. Foi-me dito que você entrou na fortaleza dos Lobisomens e resgatou nosso único sobrevivente. O que você descobriu? Tom disse alguma coisa para você? — Wright, ela acabou de acordar. — Disse Sullivan. Talvez fossem as drogas, ou o jeito que meu estômago estava rugindo alto o suficiente para desafiar até mesmo o mais feroz leão shifter, mas eu não tinha absolutamente nenhum interesse em entreter Wright. Apesar da minha rabugice pós-sono, havia uma voz dentro de mim que, enquanto os dois falavam sobre algo que as drogas me impediam de se preocupar, gritou: ‘Algo está errado.’ Mesmo que eu tenha descartado sua explosão na prisão, sabia que havia algo sobre ele. Eu sabia disso desde o momento em que nos conhecemos e apertamos as mãos. O pensamento passou pela minha mente grogue duas vezes antes de chegar em casa. Sentei-me, soltando um grito enquanto o mundo girava. — Morgan! — Sullivan correu e colocou uma mão de apoio no meu ombro. — Você precisa se deitar.— — Mão. — E disse quando voltei para mover os travesseiros para que eles me apoiassem. — A mão dele.
— Sua mão? — Wright andou em nossa direção com olhos ansiosos. — O que tem sobre isso? O que ele disse? Sullivan estendeu a mão para afastar o outro homem. — Afaste-se, Wright. Puta merda, eu estava presa no meio do caminho entre a Terra do Sono e Vale das Drogas. Eu balancei e arregalei meus olhos como se isso me ajudasse a encontrar o meu equilíbrio. Sullivan percebeu minha desorientação e consertou os travesseiros atrás de mim para que eu pudesse ficar sentada, mas ele não tirou a mão do meu ombro. — Preciso deixar essa merda simplificada no sistema de ar da minha casa. — Eu murmurei, jogando a cabeça para trás contra os travesseiros. Wright riu, embora parecesse forçado até mesmo através da minha situação ‘alta’. — Tom disse a mesma coisa. Alex está com ele agora, mas o médico parecia ansioso para expulsá-lo. Ele está bem espancado, mas você chegou a tempo. Os bastardos o torturaram. — Wright cuspiu, fazendo uma careta enquanto balançava a cabeça. —Eu te disse que eles eram animais, senhor. Bestas vis. Isso só prova o que falei. Sua própria filha foi capturada. — Eles não disseram nada. — Soltei em um rápido suspiro para fazê-lo parar o que soou como o início de um longo monólogo de ódio. — Nem vi ninguém além de Tom. — E o que ele disse? — Wright pressionou. Por que diabos você não pergunta diretamente ao homem? — Nada. Disse que achava que estava lá por alguns dias e que seus captores eram Lobisomens. — O que é exatamente o que Tom falou antes. — Sullivan olhou para Wright com um olhar inexpressivo que eu só podia sonhar em alcançar. — Eu não vejo o que você está tentando encontrar aqui, Wright.
O tom de Sullivan fez com que Wright desse alguns passos para trás, com um sorriso calmo no rosto. — Com todo o respeito, senhor. — Disse em uma voz suave. — Tom passou os últimos dois dias sendo torturado. Eu pensei que Morgan poderia saber mais. — Claramente, ela não sabe. — Disse Sullivan. — Ela precisa descansar agora. Wright parecia que queria protestar, mas nos deu um aceno de cabeça e saiu do quarto. O silêncio que se seguiu a sua partida me permitiu classificar meus pensamentos. Quando apertei a mão de Wright, senti a mesma sensação pesada que senti quando toquei Alice. Ele e Tom estavam envolvidos. Possivelmente o grupo com quem ele estava, também. É por isso que os Lobisomens os pegaram e é por isso que Tom perguntou se Wright me enviou. Wright estava interessado no que Tom me disse por que estava preocupado que o homem mais jovem pudesse ter derramado algum tipo de segredo. Eu acho que ele tinha; Eu teria menos probabilidade de conectá-lo a Wright se ele não tivesse mencionado o nome dele. — Peço desculpas por seu comportamento. — Disse Sullivan. Balancei a cabeça, feliz que o mundo não caiu com a ação. Eu não tinha certeza se podia confiar nele o suficiente para acusar seu braço direito sem nada além de evidências circunstanciais. Eu nem sequer poderia dizer a Alex que suspeitava que o melhor amigo dele estivesse envolvido, não com o quanto ele estava louco por tê-lo de volta. Eu era uma mulher sem país. Eu nem tinha minha gata. — Acho que não vamos conseguir uma audiência com os Lobisomens. — Eu disse.
Sullivan cruzou os braços e começou a andar de um lado para o outro. — Talvez. Eu entrei em contato com minha amiga e a deixei saber o que aconteceu. Eles podem ser capazes de marcar uma reunião. — A misteriosa amiga de antes? Ele desviou o olhar. — Você está confortável? Precisa de alguma coisa? Cinco cheeseburgers de bacon e batata frita seria legal, mas... — Onde está Alex? — O senhor Campbell está com o Tom. — Sullivan fez uma pausa, franzindo os lábios. — Ele não deixou o seu lado o tempo todo em que você estava inconsciente. A única razão pela qual partiu, foi porque o amigo dele acordou. Ele ficou comigo. Eu consegui um sorriso sonolento ao pensar nele ficando ao meu lado por... — Quanto tempo passou? — Alex disse que encontrou vocês dois em torno das cinco.— Ele verificou seu relógio. —Já passam das onze. — Houve outro longo período de silêncio antes dele falar de novo, tropeçando em suas palavras como um adolescente. — Ele… deve se importar muito com você. Para se sentar ao seu lado. Por seis horas. Isso é-... — Ele pigarreou, mas não continuou. Espero que Alex tenha se importado. Pelo menos, parecia. — Há quanto tempo você esteve aqui?— — Desde que ele me ligou, é claro. Eu sou seu pai. Mhm Certo. Como se estar aqui por algumas horas fizesse esquecer a ausência por dezoito anos. Mais, se você contasse o tempo que ele passou me ignorando antes de eu me mudar. — Morgan, precisamos conversar. — Disse, sentando-se novamente com um olhar sério.
Dei de ombros, meus ombros doendo. — Eu obviamente não vou a lugar nenhum. Sullivan soltou um suspiro cansado e passou a mão pelo rosto. —Há algo que preciso te contar, mas primeiro quero falar sobre esse garoto. — Alex. — Eu corrigi, olhando para frente. — Ele é apenas um amigo. — Eu não sou um idiota, Morgan. Posso te dizer que vocês dois são mais que isso. Você pode? Porque eu com certeza não tenho ideia. — Eu já tive essa ‘conversa’, então se isso é-... — É uma má ideia envolver-se com ele. Eu olhei para ele, incapaz de conter minha curiosidade. — Por quê? O que você ouviu sobre ele? — Não tem nada a ver com a sua reputação. — Disse ele. — É sobre entrar em qualquer relacionamento-... — Isso não é da sua conta. — Disse, boquiaberta com sua audácia. Ele estava seriamente estava vindo com essa coisa de pai para mim? Tarde demais, cara. — Tipo, em tudo. — Você tem um trabalho perigoso-... — É o mesmo trabalho que ele tem. — Exatamente. — Sullivan enfatizou. — Se ele morrer, você será deixada sozinha. — Isso não pareceu ter sido um problema para você quando minha mãe estava aqui. Era a mãe - trocadilho não intencional - de todos os golpes, mas eu estava indignada e me importava exatamente zero de merda. Ele não tinha o direito de entrar aqui e começar a agir como se fosse meu pai, como se fosse algo mais
para mim do que algum estranho que me abandonou quando eu era uma garotinha. Tirei o soro e me levantei para andar ao redor. Desta vez, minha fúria impediu que as drogas inclinassem o mundo para o lado. — Sua mãe era diferente. — Por que? — Estremeci com os azulejos frios sob meus pés. Onde diabos estavam minhas botas? Encontrando-as perto de uma cadeira onde estavam minhas roupas, as agarrei e coloquei. — Ela era mais esperta que eu? Mais forte? Simplesmente melhor? Porque eu não sei. Eu nunca tive a chance de aprender nada sobre ela. Ou você, nesse assunto. Você acha que sou fraca? É disso que se trata? É por isso que ela é diferente? Porque ela era inteligente e forte o suficiente para deixar você? — O rosto de Sullivan ficou vermelho e ele parecia prestes a explodir, mas eu ainda não me importava. Balancei a cabeça e peguei minhas roupas da cadeira. — Foda-se isso. — Morgan! — Sullivan chamou da porta enquanto eu corria pelo corredor. — Alguém a pare! Porcaria. Corri pelo elevador e entrei na escada. Felizmente, eu não estava em um andar alto e logo fui saudada pelo ar da cidade quando me encostei à parede para recuperar o fôlego. Exaustão, drogas e descidas de escadas não se misturavam bem. Empurrei de volta e continuei; as pessoas estariam vindo para mim. Andei mais dois quarteirões, procurando algum lugar para me esconder. Era difícil me concentrar com todos olhando para mim, ou com o ar frio perfurando meu frágil roupão de hospital. Minha bunda estava a meio caminho congelada quando me deparei com uma placa que dizia Dovesport Bar e Hospedaria. Oh querida, você me tem no bar.
O bar ficava no primeiro andar e parecia um pub inglês antiquado, com iluminação fraca e música suave. Gostei, era caseiro e tinha bebidas. Dez de dez. Eu me aproximei do barman, um homem alto e bem construído com uma barba com sinais de fios brancos. —Onde é o seu banheiro? Ele me olhou de cima a baixo. —…Esquerda mais longe. Virando a esquina. — Obrigada. Fui para uma cabine, ignorando o suspiro indignado de uma velha senhora vestida de maneira primorosa e vesti minhas roupas sujas, limpei a sujeira delas o melhor que pude, mas só acabei espalhando a lama ao redor. Por que a mágica não funciona como em Harry Potter? Eu mataria por um feitiço de limpeza. Saí da cabine, aliviada porque a velha tinha ido embora e fui até a pia para jogar um pouco de água no rosto. A mulher no espelho estava uma bagunça, seu cabelo castanho escuro era um ninho de passarinho emaranhado e havia contusões escuras ao redor dos felizmente não mais quebrados - pulsos. Provavelmente os tornozelos também. O hematoma que o demônio ruivo me deu era um tom de púrpura brilhante no lado esquerdo do meu queixo e havia uma contusão vermelha ao longo da minha têmpora onde fora batida contra a parede. As mangas da minha camisa estavam rasgadas nas pontas e havia rasgos no meu jeans. Além disso, cheirava a antisséptico e lama. Apesar de tudo isso, ainda consegui ser atingida no segundo em que me sentei no bar. O que havia de errado com os homens? Esse homem específico era grande, com o nariz arrebentado e um boné de beisebol cobrindo todo o cabelo. Meu nariz enrugou quando ele chegou mais perto, o cheiro de cerveja
irradiando dele como uma nuvem tóxica. Ele cheirava pior do que eu, o que deveria ganhar algum tipo de prêmio. — Hey, baby. — Ele tinha a fala arrastada, seus olhos desfocados. — O que uma coisinha linda como você está fazendo aqui sozinha? — Eu sou gay. — Eu disse sem rodeios antes de virar meu banquinho para longe dele e sinalizar ao barman. — Uísque puro, por favor. O cara foi embora resmungando baixinho, não me incomodei em tentar pegar suas palavras, tudo o que queria era uma bebida. O barman colocou o copo na minha frente. Eu peguei, bebi e pedi outro. Teria que ligar para Alex para vir me buscar - e pagar - antes que a noite acabasse, será que ainda tenho meu telefone? Antes que eu pudesse me dar um tapinha e checar, uma voz feminina divertida falou à minha esquerda. — Você poderia ter se livrado dele de outra maneira. Ela tinha uma cachoeira de cabelo turquesa que chegava até a cintura e profundos, escuros, olhos negros. Havia um sorriso coquete no rosto dela enquanto olhava para mim, o queixo apoiado em uma mão. Ela não parecia humana, mas também não parecia perigosa. Não no momento, de qualquer maneira. — Sim. — Balancei a cabeça, culpa substituindo o meu aborrecimento; dizendo que não tinha sido legal. — Isso é mais rápido, no entanto. — Verdade. — Ela disse, ainda sorrindo no lugar. — Eu sou June. — Morgan. Eu não sou gay, a propósito. Bem, garota, cara, demônio realmente não me importo - mas não estou de bom humor agora.
June riu novamente, jogando a cabeça para trás para revelar um pescoço de porcelana. Sua pele era incrivelmente perfeita. Definitivamente não é humano. Vampiro? — Isso é uma vergonha, docinho. Como vou continuar? Peguei meu copo reabastecido e bebi antes de pedir um terceiro. — Bem, eu bebo. — Ora, ora. — Disse ela, tomando um gole de sua cerveja. — É por isso que você está aqui, então? — Isso é o que parece? — Parece que você foi atropelada por um carro. — Disse ela. — Mas ei, todo mundo tem seus problemas. Eu só estava curiosa. — Qual é a sua história, então? — Muita morte por aqui. Tomei uma bebida do meu novo copo, mais devagar desta vez. — Ceifeiro? — Mhm. — Ela disse de uma maneira cantada. Essa não foi uma reviravolta interessante? Sempre quis conhecer um ceifeiro, então acho que poderia contar isso como uma coisa boa que saiu desta viagem. A menos que ela tentasse me matar. E se meu padrão persistisse... Pelo menos eles fazem isso sem dor. Eu acho. — Vocês não são normalmente visíveis. — Eu disse. — Estou fora do meu turno. — Você espera que eu acredite que ninguém na cidade está morrendo agora? Ela riu. — As pessoas morrem a cada segundo, docinho. Isso é com o ceifeiro local, no entanto. Estou aqui apenas para bisbilhotar.
— A Regia Mortis enviou você? — A Regia Mortis era o corpo governante dos ceifeiros, como o Exército Celeste ou o Tribunal do Inferno. — Não. Se nós investigássemos toda morte estranha ou assassinato em massa, nunca teríamos tempo para fazer nossos trabalhos reais. Estou fora de serviço e peguei o vento disso. Pensei que seria interessante. — Ela encolheu os ombros. — Não é. Queria comentar sobre sua insensibilidade, mas o que eu poderia dizer? Ela era uma ceifeira; eles lidavam com a morte o tempo todo. Isso provavelmente era manso em comparação com outras coisas que ela tinha visto. — Fora de serviço? — Nós não ceifamos 24/7, docinho. Bem, nós meio que fazemos - só não o ano todo. — Justo. — Terminei minha bebida e pedi outra. Quem disse que você não deve misturar narcóticos fortes com álcool? — Você encontrou algo? Ela mostrou os lábios pintados de rubi em um beicinho. — Ah, você só está falando comigo para obter informações? Isso machuca. — Fui chamada para ajudar a resolver isso. — Eu disse, sorrindo para seu comportamento. Finalmente, alguém divertido, despreocupado e fácil de conversar. — Qualquer informação ajudaria. Além disso, tenho certeza que você é quem começou a falar comigo. — Nada de preliminares, hein? Não que eu acredite que você seria capaz de se apresentar com todas essas bebidas. — Foram só três. — Olhei para o copo vazio e para o garçom. — Quatro agora. Isso não é muito para mim. — Isso explica por que você está com os olhos vidrados. — Ela disse. — Remédios.
— E bebida? — June sorriu. — Eu gosto disso. Então, você está bebendo aqui porque não tem pistas? — Estou aqui porque quase morri, o cara com quem quero levar as coisas a sério - sabe, exceto meus intensos problemas de compromisso - está chateado comigo e com o resto do mundo, e meu pai está tentando agir como ‘pai’ apesar de não termos nos falado em dezoito anos. — Bem, pais ausentes se inserem em minha área de especialização, então posso garantir que você não está bebendo o suficiente. Com namorados não tenho experiência, no entanto. Desculpa. — Não se preocupe, tenho certeza que o uísque vai consertar isso também. — De volta aos negócios, então. Infelizmente, — Ela acrescentou com outro beicinho. —eles têm um Shifter sob custódia. Você falou com ele? — Sim. Ele quer todos os caçadores mortos. — Não posso culpá-lo. Tenho certeza de que a última pessoa que morreu foi sua esposa. Eu me endireitei e olhei diretamente para ela. — Alice? June encolheu os ombros. — Eu não sei. Jack, o ceifador local, acabou de mencionar isso para mim. — Oh, porque eu vi a Morte, e seu nome é... Jack. June bufou e sinalizou ao barman por outra cerveja. — Eu tenho um primo chamado Balthazar se isso faz você se sentir melhor. Isso não me fez sentir pior. — Jack contou mais alguma coisa sobre as mortes? — Elas são horríveis. — June olhou em volta e acenou para as escadas nas costas. — Suba para o meu quarto.
Terminei minha bebida e balancei a cabeça. — Ainda não estou de bom humor, desculpe. — Isso quebra tanto meu coração, não foi isso que eu quis dizer. Olhei em seus olhos insondáveis, eles pareciam intermináveis poços de noite, todos os ceifeiros tinham olhos assim? A escuridão desapareceu por um momento quando ela revirou os olhos. — Não. —... eu não quis dizer isso em voz alta. — Ok, ok. Conte-me mais lá em cima. — Ela se levantou e acenou para o barman. —Coloque essa merda dela na minha conta, Ron. Ron assentiu, limpando um copo. — Sim, senhora. O quarto de June era pequeno, mas bem cuidado, com uma cama de um lado e uma lareira do outro, acendi o fogo por hábito e June soltou um assobio suave. — Agradável. — Obrigada. Então, todos os ceifeiros parecem humanos? — Perguntei, encostando-me na porta. June tirou os sapatos e sentou-se em uma posição de ‘índio’ na cama. — Você já considerou que todos os humanos se parecem com ceifeiros? — Galinha e o ovo? — Muito bem. — Disse ela. — Eu nunca pensei em perguntar. De qualquer forma, para voltar à sua pergunta original... Jack me disse que essas mortes não estão sendo feitas pelas tribos. Isso chamou minha atenção, e eu me movi para sentar na cadeira ao lado da cama dela, tentando manter uma expressão neutra. — Estou ouvindo.
— Jogar sem noção não é realmente o seu jogo, é? — Ela levantou a mão quando ia protestar. — Você ficaria muito mais indignada se já não suspeitasse disso sozinha. De qualquer forma, você sabe que os Shifters e Lobisomens são muito espirituais e toda essa merda para realmente começar a rasgar seu próprio tipo - ou primos ou algo - à parte. Mesmo que isso fosse algum tipo de vingança, eles não mutilariam os corpos. — Humanos. Caçadores. — Vê? Sem surpresa. — Não. — Suspirei, enterrando meu rosto em minhas mãos. — Apenas desapontada. — Alguém que você conhece? — Alguém que meu… amigo conhece. Eu acho. — Você acha que ele sabe o que esse amigo fez ou você acha que é ele? — O último. Eu não suponho que você tenha provas? — Não a menos que você possa intimar Jack. E você não pode.— June sacudiu a cabeça. —Desculpe, docinho. As tribos sabem, no entanto, o que é provavelmente por isso que o Cara da Prisão quer todos vocês mortos. Seu caso está praticamente concluído. — O que você quer dizer? — Os lobisomens pegaram o grupo por trás de tudo, certo? Jack veio para colher, tipo, quatro - acho que foram quatro - ontem. Aparentemente, os lobisomens estão roubando boas respostas. Vergonha que eu não pude ver, parecia um momento divertido. Bem, não para os caçadores, obviamente. — Respostas? — Eu perguntei. — Por que eles não disseram a Sullivan se encontraram os assassinos? — Porque ele os impediria de fazer sua vingança de sangue?
— Ponto justo. — Além disso, você confiaria em caçadores se eles matassem sua família? — Outro ponto justo. Mas que tipo de respostas eles estavam procurando? June encolheu os ombros, os cabelos brilhantes escorregando por cima do ombro como seda. — Jack ouve coisas quando vem para coletar as almas, mas ele não fica por perto. Esse é o nosso negócio: as almas. Nada mais. — Obrigada. — Levantei-me e sentei-me imediatamente quando tudo ao meu redor se turvou. — Whoa calma, docinho. — Disse June, vindo para me firmar. — Eu acho que você precisa dormir. Pegue a minha cama. Se eu estivesse mais acordada, teria feito um comentário sobre ela tentando me levar para a cama, mas, como estava, tudo que consegui dizer foi. — Estou bem. Ela revirou os olhos e me guiou para a cama. — Ceifadores não precisam dormir, de qualquer forma, docinho. — O lençol com estampa de tartan parecia o paraíso enquanto ela deslizava sobre mim. — Não se preocupe, serei uma dama perfeita. — Se você não precisa dormir, por que você alugou um quarto? Ela sorriu e me deu uma piscadela. — As camas têm outros usos, docinho, agora é hora de dormir. Eu balancei a cabeça, mas deixei o cheiro do perfume de lavanda de June acalmar-me para dormir, de qualquer maneira.
CAPÍTULO 10
O cheiro de lavanda desapareceu quando acordei. Uma rápida olhada no relógio e percebi que eram quase três da manhã, o que me dizia que não dormi tanto quanto esperava. Outra coisa boa sobre a regeneração sobre-humana era a falta do efeito do álcool sobre o meu corpo, de modo que não houve sonolência ou enxaqueca de ressaca para me impedir de sair da cama. Não, minha preguiça fez isso sozinha. Estiquei-me languidamente e deliciei o conforto que me envolvia. Sério, estava tão quente aqui, a única coisa que faria isso melhor seria Alex. Sentei-me. Merda, esqueci completamente. Saindo da cama, examinei o quarto. June se foi, ou pelo menos parece. Os Ceifadores conseguiam se tornar invisíveis, mas eu não tinha certeza se isso só funcionava quando eles estavam ‘na ativa’. Gritei, perguntando se ela estava aqui espiando. Não houve resposta. Não me fez sentir melhor, mas não achava que nada aconteceria até que este caso fosse resolvido e eu estivesse de volta em Haven com Alex. De preferência sem ele me odiando por entregar seu amigo. O pensamento pesou em mim, tirando a força das minhas pernas. Senteime na cama e passei a mão pelo meu cabelo, estremecendo quando atingi uma massa emaranhada de nós. Alex me disse que não demorou muito para saber que eu odiava estar no escuro. Bem, não demorou muito para saber que ele era um grande defensor das regras. Alex era honrado e justo. Ele entenderia, não é? Ele acreditaria em mim, certo?
Pensei na maneira como ele agiu com Marshall e comigo, na prisão, e minha confiança instável se desfez em pó. Demorou mais quinze minutos para me levantar sem sentir que o mundo estava desmoronando. Meus olhos foram para a mesa de cabeceira onde tinha um pedaço de papel com meu nome. Espero que as coisas funcionem com o seu ‘tipo’ namorado. Se não funcionar e você quiser se divertir, me ligue! 555-0828. XOXO June. Legal. Acho que ela realmente foi a melhor parte desta viagem. Embolsando a nota, saí da hospedaria, mantendo-me atenta a um lampejo de cabelo azul selvagem contra a iluminação fraca. Não havia nenhum, observei com um pouco de desapontamento quando alcancei a rua. Ela foi a primeira ceifeira que conheci, até agora, e fiquei impressionada. Se todos os ceifeiros fossem tão legais quanto ela, nos daríamos bem. O ar da madrugada estava ainda mais frio do que na noite anterior, eu não trouxe uma jaqueta comigo naquela tarde porque esperava estar de volta a casa de Sullivan antes do anoitecer e porque eu era muito, muito inteligente. Esfreguei meus braços em busca de calor e comecei a andar pela rua. O cochilo e o ar frio serviram bem para limpar meus pensamentos, e me senti abrandada enquanto olhava para o oceano de estrelas. Dovesport realmente era uma cidade bonita - um jardim eterno, o oceano, céu claro... Era o tipo de lugar que eu adoraria viver, pena que toda vez que pensava nisso, meu coração caía no meu estômago enquanto eu lutava contra as lágrimas. Eu procurei meu telefone, mas não consegui encontrá-lo, o que significava que ou deixei no hospital ou o Lobisomem pegou quando me derrubaram. Fanfoda-tástico. Minha arma também estava faltando, junto com o coldre, bem, não
é como se estivesse com vontade de falar com alguém. E mesmo sem uma arma, ainda tinha magia para me defender. Continuei meu passeio ao luar. Graças a June, agora estava certa de que Wright e Tom estavam envolvidos nos assassinatos. E se os lobisomens mataram o resto do grupo de Tom, então eles eram os únicos que sobraram. Eu tinha que levá-los para conversar. Mas como? Levaria muito tempo para criar um soro da verdade, e como os faria tomar? O soro era muito nojento para entrar na bebida de alguém sem que percebessem. Outra maneira seria coletar evidências para que pelo menos eles pudessem ser detidos, mas que evidência havia? Eu poderia dizer a Sullivan o que sabia, mas e se ele não acreditasse em mim e dissesse a Wright? E se eu contasse a Alex sem provas sólidas, e ele surtasse? — Indo a algum lugar, senhora? Aparentemente, consegui andar todo o caminho até o muro ao redor da cidade sem perceber, o guarda olhou para mim quando deixei a compreensão penetrar. — Já te vi em algum lugar antes? — Ele perguntou. — Não que eu me recorde. — Respondi com um encolher de ombros indiferente. — Eu só queria um pouco de ar fresco. — A essa hora da noite? — Está mais fresco agora. — Uma explosão de ar pré-inverno provou meu ponto, passando por nós quando terminei a frase. O guarda assentiu. — Sinto muito, senhora, mas com todos os incidentes recentes, apenas os caçadores podem passar pelos muros à noite. — Eu sou uma caçadora.
— Só que não vejo nenhuma arma, no entanto. Desculpe, mas é praxe... — Ele cortou, com os olhos arregalados enquanto olhava para a eletricidade crepitando ao redor da minha mão estendida. Dei a ele um sorriso educado. — Não se preocupe, vou ficar bem. — C-certo. — Ele se afastou. — Hum, tenha cuidado, senhora. — Obrigada. Eu não tinha intenções de ir além dos muros quando saí da hospedaria, mas achei que não faria mal pensar com a quietude da natureza. Ficaria apenas perto dos muros para evitar ser comida por shifter’s ou por lobisomens. Ou titãs - embora isso parecesse legal. E aterrorizante. Principalmente aterrorizante. A floresta parecia assustadora à noite, mas também parecia mágica. Havia luzes ao redor dos muros. Essas, juntamente com a lua quase redonda, faziam as árvores nuas parecerem quase brancas, como figuras nuas congeladas no meio de uma dança contorcida. Havia silêncio aqui, os únicos sons eram o suave arrastar de minhas botas enquanto eu andava mais perto da floresta. Traços de pinheiro encheram o ar quanto mais perto eu chegava, oprimido pelo cheiro de madeira e sujeira. Esta era geralmente a parte em filmes de terror, onde o idiota que decidiu passear pela floresta assustadora sozinho era arrastado ou assassinado. O pensamento me fez parar, a ponta das minhas botas bem na frente do chão de terra da floresta. Coisas ruins vinham de três em três, e as duas últimas visitas que dei por essas florestas me causaram apenas dor e tristeza. Eu realmente queria tentar o destino novamente? Fiquei na fronteira, incapaz de decidir, pelo menos as palavras de Marshall faziam sentido agora. Não era de admirar que ele quisesse nos rasgar depois do que aqueles caçadores fizeram com sua esposa. Nunca a conheci e mesmo assim até eu queria torcer o pescoço de Wright. Mas se Wright estava envolvido, por
que ele não foi capturado? A resposta para isso e para o resto das minhas perguntas ficou nas mãos dos Lobisomens. E possivelmente dos shifter’s, já que Marshall sabia o que estava acontecendo. Alguém limpou a garganta e meu coração pulou no peito. Minhas mãos brilharam brancas enquanto me preparava para jogar algumas lanças de gelo. Uma figura sombria saiu de trás de uma das árvores e encostou-se nela. — Quero te dizer que não vou fazer mal. Ou sei lá como dizem. — A figura disse, sua voz jovem e masculina. O brilho em volta das minhas mãos desvaneceu-se, mas não desapareceu, era impossível eu baixar a guarda depois de tudo o que aconteceu. Fiz a varredura dele com a minha magia, tentando sentir o que ele era. Sua aura uivou para mim, um lamento agudo que me sacudiu até os ossos. Lobisomem. Um jovem, se ele me deixou lê-lo tão facilmente. Ele tinha me rastreado de sua masmorra? Se assim for, a coisa ‘não fazer mal’ não ia colar. Dei um passo para trás. — Quem é você?— — Quem é você? — Sua reação traiu ainda mais sua juventude. Ele continuou, excitação atada em sua voz. — Na verdade, não importa. Pergunta idiota. Eu sei quem é. Você é meu-... Eu não conseguia ver nada sobre ele além do fato de que tinha talvez entre 1,70m e 1,80m de altura, e estava prestes a enviar luzes fantasmas para que pudesse vê-lo. — Seu...? — Eu disse. — Um, alvo? Não do jeito ‘eu vou comer você’. Mais como ‘eu devo te encontrar’, não comer, prometo. — Ele ergueu os braços sombrios num gesto de inocência.
— É meio difícil confiar em alguém cujo rosto eu não consigo ver. — Disse. — É difícil dar um passo à frente quando suas mãos estão brilhando. — Eu poderia acertar você a partir desta distância também. — Sim. — Ele disse. — Você realmente não está fazendo um caso aqui. — Você é praticamente à prova de magia. — Eu disse. — Isso não vai te matar. — Pelo que ouvi sobre as bruxas, cortar a cabeça não vai te matar, mas tenho certeza que você não quer passar pela experiência. — Eu... não tenho ideia se isso realmente me mataria ou não. — Isso era algo para pesquisar e definitivamente não testar. — E isso não é uma coisa de bruxa. — Mesmo? Bem, eu prometo não arrancar sua cabeça, então. — Não está ajudando, mas se você sair, vou parar com a mágica. — Isso provavelmente era uma coisa ruim para prometer, e desta vez eu não tinha nem bebida no sangue, remédios ou Alex para culpar. — Sem ofensa, mas você percebe que significa, tipo, nada, certo? — Então, nós vamos apenas conversar assim? A figura encolheu os ombros. — Está funcionando até agora. — Como você sabe? — Nenhum de nós está morto ainda. — Isso seria tão verdadeiro se você se mostrasse. — Talvez. — Talvez? — Levantei uma sobrancelha. Era assim que todos os Lobisomens tribais agiam?
— Eu vi minha xamã fazer algumas coisas muito loucas com a magia dela, então... — Quantos anos você tem? — Quantos anos você tem? — Cara, trabalhe comigo. — Revirei os olhos, mas mantive a magia fluindo. Ele não parecia ser um perigo, mas eu não baixaria minha guarda ainda. Quando não respondeu, eu disse. — Tenho vinte e seis anos. — Acabei de fazer dezoito anos. — Qual o seu nome? — Morgan! Minha reação foi instantânea. Assim que a voz atrás de mim gritou, virei para trás, batendo em algo sólido antes de girar e disparar uma explosão de gelo para frente. Não foi forte o suficiente para realmente doer, apenas desconcertar o atacante para que eu pudesse dar uma olhada melhor, depois disso, imediatamente me senti mal. — Desculpe, Alex. — Disse timidamente. Alex olhou para mim, seu rosto torcido de dor enquanto agarrava seu estômago. — Ow. — Você se esgueirou em cima de mim. — Ow. Assim que eu estava prestes a me desculpar novamente, o farfalhar de galhos chamou minha atenção, e me virei a tempo de ver a figura sombreada desaparecer. — Espere. — Eu disse. — Maldito arbusto. — Afigura murmurou, olhando para baixo e presumivelmente chutando um arbusto. — Você nem está vivo.
— Plantas são coisas vivas. — Eu disse. — Mas deixe o arbusto de lado, ainda quero conversar. Alex veio ao meu lado, fazendo barulho enquanto caminhava para evitar ser repreendido novamente. — Com quem você está falando? — Um amigo. — Falei. — Ou assim espero. Você veio até aqui para me encontrar, não foi? Diga-me o porquê, por favor? — Quem diabos é ele? — Alex assobiou. — E, por que está se esgueirando por aí? — Livre-se do seu amigo rabugento e poderemos conversar. — Disse o estranho. Alex cruzou os braços e olhou para a escuridão. — Eu não vou a lugar nenhum. — Que vergonha. — Disse ele. — Então eu vou. — Não, espere. — Dei alguns passos para frente, mas Alex me segurou. — Droga, Alex. — Não vou deixar você sair sozinha novamente. — Ele afrouxou o aperto, mas não soltou. — Diga-me o que está acontecendo. Pelo amor de- — Ele é um lobisomem e queria conversar, ok? — Um lobisomem. — Alex repetiu. — Como os lobisomens que te capturaram e planejavam torturar você hoje? — Tecnicamente, foi ontem. E foi ela que se esgueirou pelo nosso território, então nós a pegamos. Nós não iríamos torturá-la, no entanto. — O garoto parecia ofendido, como se a ideia de torturar alguém fosse impossível. O que era estranho desde que eles torturaram aqueles caçadores. Eles mereceram se realmente fossem os responsáveis por isso, mas ainda assim. — Aquele buraco foi selado, a propósito. Você não voltará mais lá.
— Por que havia um túnel ali, de qualquer maneira? — Perguntei. Alex gemeu. — Morgan.— — O que? Estou curiosa; era um túnel muito longo. — Eu sei, certo? Rastejei através dele para ver onde levava e pensei que nunca terminaria. — Disse o garoto. — Não temos certeza do que é, no entanto. Ou as crianças cavaram um túnel para esgueirar-se para o depósito e roubar comida extra, ou cavaram do depósito para fugir, o que é estúpido porque geralmente não temos-... Alex o interrompeu. — Por que você está aqui? — Para conversar? — Vocês sequestraram, torturaram e mataram um grupo de caçadores. — Eles estavam nos matando. — O Inferno que estavam! — O que você acha?— Perguntou o menino. — Eu só-... — Não você. — Ele zombou. — Ela. Morgan. Franzi meus lábios com o olhar de expectativa que Alex me deu. Coloquei a mão em seu braço e dei a ele o ar mais aberto que consegui. — Alex, acho que ele está dizendo a verdade. O olhar de traição em seu rosto partiu meu coração, mas não tanto quanto quando ele arrancou o braço do meu alcance, se afastando de mim. — Você está falando sério? Levantei minhas mãos em um gesto apaziguador. — Deixe-me explicar. —Explicar? Você quer justificar a tortura e o assassinato!
— Claro, quando isso acontece com a sua espécie, é 'tortura e assassinato'. — Disse o menino. — Mas quando é Lobisomem ou Shifter sendo mutilado, então não tem problema, certo? Alex soltou uma expiração lenta e profunda. — Isso não foi o que eu disse. — Chega. — Dei um passo em direção a Alex, recuando quando ele recuou. — Todos nós queremos que os assassinatos parem, certo? Alex, você sabe que não podemos desistir da oportunidade de ouvir o lado deles. — Foda-se isso. — Oh meu Deus. — Fiquei de boca aberta para ele. — Você está sendo uma criança. — Eu estou agindo exatamente como você faz quando está perto do seu pai. — Foda-se. — Retruquei. — Isso é diferente. — O que há de errado com ele? — Perguntou o menino. — Você torturou meu melhor amigo! — Você não, o pai dela. Ele é um cara legal. — Você conhece meu pai? — Eu fiz uma careta. — Você gosta do meu pai? — Sim, ele é legal. — Então por que você não está falando com ele em vez disso? — Alex perguntou. — Por que se aproximar?— — Hum, porque os caçadores estão matando a nossa espécie e é meio que julgar as pessoas de um jeito errado? Tipo, cara, você não quer falar com a gente porque matamos seus amigos, então, por que nós iríamos querer falar com vocês?
Alex estava irradiando uma raiva odiosa tão intensa que eu tive que dar um passo para trás. — Ok, vamos dar um passo de cada vez. Primeiro - olhei para a figura - você sai do escuro. — Voltei-me para Alex. — Vamos apenas ouvi-lo, por favor. Alex apertou a mandíbula de um lado para o outro, seus lábios apertados com tanta força que fiquei com medo de engoli-los. Depois de um período de silêncio, ele finalmente assentiu. — Tudo bem. — O menino resmungou quando se adiantou. Ele era o garoto-propaganda da boa aparência; tinha uma mandíbula forte e quadrada, maçãs do rosto salientes, lábios carnudos e grandes olhos azuis, na sua cabeça havia cachos loiros de aparência suave. Suas roupas consistiam em uma camiseta simples, jeans e tênis. Tudo somado, parecia um menino perfeitamente normal... que poderia se transformar em um lobo de grande porte. Ele acenou e nos deu um sorriso educado. — Oi. Ah, ele é a coisinha mais fofa. Eu acenei de volta. — Oi. — Fale o que precisa e saia. — Alex parecia estar chupando um limão. O garoto franziu os lábios, mas forçou o sorriso a permanecer. — Prazer em conhecê-lo também. Aproximei-me e fiquei entre eles. — Qual o seu nome? Seu sorriso aumentou quando ele olhou de volta para mim. — Tamlin. E não sou realmente aquele que quer falar com você, embora não me importasse de ter a chance de te conhecer melhor depois. — Adicionou com uma piscadela tímida. Sério, ele era fofo demais. E eu quis dizer isso de um modo geral, não de um jeito sedutor. A carranca de Alex deixou claro que ele discordava.
— Mas por enquanto, — Continuou o garoto. — você terá que vir comigo. — O Inferno que ela vai. — Alex me puxou de volta. — Estou levando você para casa. — Relaxe, Romeu. — Disse Tamlin. — É apenas uma conversa. — Como se fosse apenas 'tortura'? — Alex atirou de volta. — Já expliquei isso. — Você não explicou nada. — Alex começou a me levar de volta para a estrada principal. — Você só espera que a gente aceite sua palavra. — O líder da tribo quer sua ajuda, Morgan. — Disse Tamlin. — Você também pode trazer seu cão de guarda, se quiser. Eu queria comentar sobre um lobisomem fazendo uma piada de cachorro, mas já estava muito preocupada sobre como Alex reagiria ao apelido. Para seu crédito, não agiu como eu esperava, em vez disso, parou e respirou fundo, não disse nada, apenas acenou para Tamlin, sua mandíbula de volta no modo Quebra-Nozes completo. Meu braço ficou frio quando ele soltou em favor de seguir o lobisomem. Eu segui atrás deles, nada ansiosa para caminhar pela floresta novamente. — Como você me encontrou? — Perguntei. — A xamã. — Gritou Tamlin por cima do ombro. — Eu estava perguntando a Alex. — Embaraçoso. Tamlin passou a mão pelos cabelos. — Embaraçoso. — Vocês dois poderiam ser gêmeos. — Alex murmurou. — Quanto a como te encontrei, o guarda me ligou, bem, ele ligou para o seu pai. Quando você fugiu mais cedo, Sir Wallace mandou os guardas para encontrá-la. O guarda reconheceu a foto.
— Sullivan tem fotos minhas? — Minhas sobrancelhas se uniram. — Fotos atuais? — Não, eu tenho. — Oh. — Duplamente embaraçoso. — Duplamente embaraçoso. — Tamlin sussurrou em voz alta. Uau, isso é realmente estranho. — O que você estava pensando, afinal? — Disse Alex. — Você acabou de fugir. Você tem alguma ideia de como estávamos preocupados? — Nós? — Eu disse. Convoquei algumas luzes fantasmas para me ajudar a ver. Os garotos poderiam estar felizes sentindo que estavam andando pelo abismo, mas eu não estava lidando com essa merda. Embora achasse que não fosse tão escuro para Tamlin - sentidos lobos e tudo isso. — Seu pai se preocupa com você mais do que pensa. — Disse Alex. Uma luz fantasma flutuou até o rosto dele e ele enrugou o nariz quando isso bateu em cima dele. — Você está fazendo isso de propósito? — Eu não estou fazendo isso. Talvez elas apenas gostem de você, porque são luzes fantasmas. — Provoquei, esperando que seu humor se acalmasse um pouco. — Mhm. — Ele disse secamente. Como não parecia mais chateado, então decidi chamar de empate. — Ei, Tamlin. — Eu disse. — Sem ofensa, mas qual é exatamente a nossa garantia de que você não vai nos matar? — Bem, eu prometi que você não se machucaria. — Não realmente. — Eu disse. — Você só disse que eu não seria comida.
— Oh. Oops. — Tamlin passou a mão pelo cabelo de novo, no que presumi ser um hábito nervoso. — Bem, o líder da tribo e a xamã passam o juramento de que nenhum dano virá a você, e que você será autorizada a sair ilesa, não importa qual seja a sua decisão. — Ele se virou para me dar um sorriso insolente. — Eu também dou a minha palavra, se isso ajudar. Eu queria beliscar suas bochechas, como ele é fofinho... Alex não parecia tão encantado com o jovem Garou quanto eu, mas ele não tentou matá-lo ainda. Já era alguma coisa, tenho certeza que pensou em pelo menos seis maneiras de fazer isso, no entanto. Quantas maneiras existem para matar um lobisomem? Seria inadequado perguntar? Provavelmente. Tamlin se moveu confiantemente pela floresta, sem emitir nenhum som. Seus movimentos eram graciosos, como se fosse parte da floresta. Ele praticamente deslizava pelo mato como se fosse água. Havia um pequeno sorriso em seu rosto o tempo todo, e eu não tinha certeza se era porque estava realmente se divertindo ou se era apenas sua expressão padrão. Ele parecia um tipo fácil de cara, então talvez fosse o último. Agora que não havia um corpo mutilado para examinar, eu podia apreciar a floresta à noite. O ar estava mais fresco durante a hora das bruxas e o cheiro de pinheiro ficou mais forte quanto mais viajávamos. Respirei fundo para apreciar completamente o cheiro. Eu não tinha certeza de para onde estávamos indo, embora achasse que voltaria para a linha de fronteira que descobrimos anteriormente. Era difícil acreditar que haviam passado vinte e quatro horas desde a última vez que estivemos aqui; parecia mais como anos. O zumbido familiar de magia me atingiu, e me ajoelhei para tocar o chão novamente.
— Limite do feitiço. — Disse Tamlin. — A xamã o usa para impedir que pessoas indesejadas tropecem em nós, embora acredite que você já saiba disso. Assenti. — Magia Lobisomem, certo? — O único tipo que usamos. Bem, o único tipo de magia que os usuários da nossa tribo usam. — Você não pode usar magia? — Perguntei. Tamlin sacudiu a cabeça. — Não. Desapontei minha mãe um pouco, mas ela disse que não era uma grande surpresa, considerando quem meu pai é. — Seu pai não é mágico? — Perguntei, olhando para Alex. Ele não parecia estar interessado em nossa conversa. Em vez disso, estava fazendo buracos no chão até o ponto em que fiquei preocupada dele colocar as folhas em chamas. Ouvir que seu melhor amigo pudesse estar por trás de esfolar e destruir um monte de pessoas aparentemente inocentes, machucava muito. Eu queria consolá-lo, ajudar, mas ele parecia se afastar sempre que eu fazia o menor movimento para me aproximar. — Não. — Disse Tamlin. — Não teria importado se ele fosse Lobisomem, mas tanto faz. Provavelmente não seria uma boa ideia me dar o controle do fogo enquanto moramos em uma floresta. Olhei para ele. Então, faria amizade com um lobisomem. Com bom cabelo. Embora um mestiço? Primeiro um ceifador e agora ele. Estou encontrando todo tipo de pessoas interessantes hoje à noite. — Então, o feitiço se diferencia por espécie ou…? — A xamã sabe se a pessoa que está passando é humana ou Lobisomem ou qualquer coisa, na verdade. A magia está definida para permitir apenas a entrada de pessoas específicas, qualquer outra pessoa é enviada em círculos.
Isso era muito útil. Teria sido ótimo ter quando Lily e eu éramos crianças fazendo casas na árvore, com certeza. Continuamos nossa jornada em paz. Eu me deliciei com a magia que emanava da terra, deixando-a fluir através de mim como uma música lindamente escrita tocando em meus ouvidos. O fluxo e refluxo eram revigorantes. Não foi até que Tamlin acenou com a mão no meu rosto que percebi que tinha parado de andar. — Linha Ley? — Ele perguntou. — Hum, sim. — Eu abaixei meus olhos, envergonhada. — Não se preocupe com isso. Acontece com todos os usuários de magia aqui. O mesmo para os conjuradores da tribo Levin. O acampamento deles está no lado oposto do coração da Linha Ley. — Eu sabia. — Disse com um sorriso. — Então, como o coração é? Tamlin encolheu os ombros. — Não sei. Só os xamãs são permitidos lá. Um suave brilho alaranjado que reconheci como o fogo emanava do horizonte, e os murmúrios suaves de pessoas vagavam de um lado para o outro. Tamlin se virou e estendeu a mão para as luzes. — Chegamos.
CAPÍTULO 11
O assentamento Lobisomem era surpreendente para uma cidade no meio da floresta. Era grande e... civilizado. Havia cabanas de troncos dispostas em um padrão circular ao redor da fogueira gigante no meio da cidade. As cabanas à direita pareciam ser para uso comercial, com várias bugigangas em exibição, e algumas pessoas limpando e empilhando cadeiras apesar da hora tardia. As cabanas à esquerda estavam escuras, com apenas uma ou duas janelas iluminadas. Casas residenciais. O crepitar da fogueira e o farfalhar de uma vassoura no chão de madeira eram os únicos sons fora nossos passos. Apesar dos olhares desconfiados que recebemos, a aldeia parecia um lugar agradável para se viver;. Simples, mas satisfatório. Meu peito doía com o pensamento do quanto eles sofreram ultimamente. Quantas dessas cabanas estavam faltando pessoas? Quantas crianças como a de Alice estavam com saudades dos pais? O que estava acontecendo com o filho de Alice, afinal? Seu pai estava na prisão e sua mãe se foi - quem estava cuidando dele? E a aldeia Shifter? Era o mesmo? Como eles se sentiram quando descobriram o primeiro corpo mutilado? Teria sido alguém como Alice - uma esposa, uma mãe? Todos esses pensamentos me pesaram como um par de punhos de milhares de toneladas puxando minhas entranhas. Tamlin nos levou pelas construções e ao redor da fogueira para uma casa maior no final do caminho, quase fora do alcance da luz da chama. Ele segurou
a porta aberta para entrarmos. Bem, eu entrei. Alex pairou em torno da porta parecendo que preferia mastigar seu braço. O jovem Lobisomem olhou entre nós desajeitadamente. — Este provavelmente seria um mau momento para pedir-lhe para entregar suas armas? Os olhos de Alex se arregalaram e ele se virou para olhar para Tamlin como se tivesse crescido uma segunda cabeça. — Você está louco? — Depende para quem você perguntar. — Disse ele. — Talvez você não deva conhecer minha mãe. Olha, não se preocupe, você tem a magia de Morgan para-... — Proteger contra uma manada de lobisomens que são resistentes à magia? — Perguntou ele. — Nós somos na verdade um ‘bando’. E já prometi que vocês não vão se machucar. — Tamlin encostou-se à porta e cruzou os braços. — Desista de suas armas ou espere lá fora. Com um olhar que prometia um doloroso estripar, Alex tirou a espada e empurrou-a para Tamlin. Houve um pequeno estalo quando tirou a arma e a entregou também. Satisfeito, Tamlin levou-nos a uma sala de estar pequena, mas aconchegante, onde um homem de aparência rude aguardava. O homem era enorme; ele parecia mais musculoso do que qualquer coisa. Mesmo sentado, percebi que tinha mais de um metro e oitenta. Tinha talvez quarenta anos e era bastante bonito em um tipo como o Hugh Jackman13 - o que tornava o fato de que ele era um lobisomem hilariamente irônico. Ele compartilhava os olhos de Tamlin, tanto em forma quanto em cor, embora pequenas rugas se formassem ao redor de seus olhos quando ele os estreitou
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Ator que interpreta o Wolverine.
em nós. Tamlin disse que seu pai não era um lobisomem, talvez esse homem fosse primo ou tio? — Vou deixar vocês três sozinhos. — Disse Tamlin com uma reverência educada. — Fique, Tamlin. — O homem mais velho bateu no lugar ao lado dele antes de virar para nos dirigir a palavra, sua voz era profunda e rouca, lembrando-me de chocolate quente e fogo quente. — Eu sou Alistair, alfa do bando Winter. — É uma honra conhecê-lo. — Eu disse, curvando-me como Tamlin, mantendo um olho cauteloso em Alex. — Sou Morgan Maxwell. — Alex Campbell, senhor. — Ele disse educadamente, intimidado por Alistair tanto quanto eu. Alistair tinha uma presença poderosa e autoritária, forte o suficiente para silenciar até mesmo a raiva de Alex. Não era surpresa; um alfa conduzia um bando inteiro de criaturas terrivelmente poderosas com problemas de controle. Ele não teria durado muito se não conseguisse respeito. Eu não acompanho a política de Dovesport, mas o status das tribos próximas às cidades da Ordem era discutido quando os chefes de família se encontravam, e não me lembro de ouvir sobre quaisquer mudanças na liderança. Isso significava que Alistair era o alfa da Winter por pelo menos dezoito anos, isso não era muito longo em anos de lobisomem, mas ainda assim era uma conquista. — Alistair. — Ele gesticulou para nós nos sentarmos no sofá em frente a ele. — Temos muito a discutir. — Você está acusando os caçadores de assassinato. — Alex, ironicamente acusou.
Alistair nem sequer piscou um olho com a irritação do outro homem. — Você está chateado. Isso é compreensível, mas você me mostrará respeito em minha própria casa, garoto. — Sua voz se aprofundou em um rosnado baixo. — Meu povo e as pessoas que chamo de amigos estão sendo abatidos e colhidos por seus caçadores. Minha preocupação não é a espécie ou aliança daqueles que fizeram isso - apenas que eles paguem. Espero que você não sinta nada menos do seu povo. — E a tortura? — Alex perguntou através de uma mandíbula trancada. — Precisávamos de respostas sobre suas motivações e organização. No entanto, não vou fazer a você à desonra de mentir e dizer que não foi uma recompensa agradável. — Disse Alistair, sua voz caindo em um tom baixo perigoso mais uma vez. — Você acha que os caçadores que fizeram isso, fizeram uma matança limpa? Eles cortaram a carne de corpos ainda vivos e os ao meio, ouvindo-os e observando-os sofrerem enquanto removiam pedaços dos órgãos até que nada lhes restasse de dignidade. Então, eles jogaram fora o que foi deixado como lixo. A sala ficou em silêncio depois disso. Alistair se inclinou para frente, seus olhos brilhando em ouro fundido enquanto suas pupilas se estreitavam em fendas finas. O ar formigava com o que eu só podia assumir que era a presença dominante de um alfa. Encheu a sala, quase palpável, e nos cobriu com uma cortina de medo. Já enfrentei lobisomens antes, claro, mas nunca um alfa. Lobos renegados por sua própria definição não eram alfas, e os bandos Lobisomens raramente atraíam a atenção dos caçadores, então eu nunca havia conhecido um alfa antes. E se eu tivesse me envolvido em combate com um, duvido que estivesse aqui hoje.
Imagens voaram em minha mente de como seria para um alfa deslocar e saltar em nós, e recuei no meu lugar. Alex também se derreteu contra o sofá, cautela em seus olhos azuis enquanto tentava mas não conseguia se firmar. Eu sabia que todos os lobisomens reagiam ao humor do alfa e Tamlin não era diferente. As veias nos braços do garoto loiro se arquearam enquanto ele agarrava o braço da cadeira, o pescoço apertado e os dentes arreganhados. Ele estava tentando resistir à mudança, a tensão que seu corpo mostrava contrastando com sua expressão. O desconforto e a tristeza estavam pintados em seu rosto jovem, como um garotinho cujo pai apenas gritou com ele na frente de alguém. — Nós — comecei, surpresa com o quão sólida minha voz estava. — sentimos muito por vocês e pelas perdas da tribo Levin, Senhor-... — Alistair.— Ele corrigiu. — É só que o homem que... escapou é importante para o meu amigo aqui. — Coloquei a mão no ombro de Alex, deixando escapar um suspiro de alívio que não percebi que estava segurando quando ele relaxou embaixo de mim em vez de ficar tenso ou me empurrar. Alistair levantou uma sobrancelha, um canto dos lábios se arqueando. — Você quer dizer o homem que você ajudou a escapar?— — Eu não sabia que ele estava envolvido naquela hora. — Olhei para as minhas mãos, fazendo uma careta de como elas estavam pegajosas uma contra a outra, como se estivesse segurando uma lesma. Eu era apenas uma grande imbecil ou ele era tão assustador? Uma espiada para ele confirmou que, sim, ele era realmente muito assustador. E eu era possivelmente uma grande covarde. — Você acredita nela, Tamlin? — Alistair disse, seus olhos ainda treinados em mim.
Tamlin não hesitou. — Sim, senhor. E não só eu. Você sabe que minha mãe, er, a xamã concorda. — Sempre fiel à família, vejo. Embora eu prefira muito mais se você mantivesse essa lealdade exclusiva para essa família. — Alistair franziu a testa. — E sim, sua mãe deixou sua opinião bem clara. O problema é que ela baseia sua opinião nas palavras daquele homem.— — Ele é um bom homem, tio. — Disse Tamlin. — Claro que você pensaria assim. Não esqueça que ele é um homem que não fez nada para impedir seu próprio povo. — Ele não tinha provas, e sua posição torna difícil para ele bisbilhotar. Alistair desdenhou. — Isso é uma desculpa, garoto. Sua discordância desceu para sussurros que devem ter sido claros para eles, mas foram incompreensíveis para mim. Voltei minha atenção para Alex. Eu estava esfregando círculos em seu ombro com o polegar, tentando acalmá-lo enquanto desfrutava egoisticamente do contato; era como se não tivéssemos nos tocado carinhosamente em meses. O fato de que nós não nos conhecíamos há mais de um mês mexia na minha cabeça, e dessa vez não consegui me livrar disso. Como poderia me importar tanto com alguém que eu, realisticamente, mal conhecia? Eu não fazia ideia. Mas gostava, me importava, realmente me importava. Eu me aproximei dele, apreciando a maneira como nossas pernas roçavam juntas. Ele se inclinou para mim e foi embaraçoso o quão feliz isso me fez. — Oi. — Eu falei. Minha tolice pareceu relaxá-lo um pouco e ele me deu um pequeno sorriso cansado.
— Sinto muito pelo Tom, querido. — Sussurrei o mais suavemente possível, sabendo que não ajudaria muito com a super audição de um lobisomem. — Eu sinto muito. Ele balançou sua cabeça. — Eles não têm nenhuma prova. Tudo isso são apenas palavras. Mesmo que caçadores estejam envolvidos, isso não significa que Tom esteja. — As coisas apontam para ele. — Peguei suas mãos maiores nas minhas e dei-lhes um aperto suave. — Quando toquei o corpo de Alice, houve uma sensação estranha - como se meu braço tivesse sido empurrado em areia movediça ou algo assim. A primeira vez que apertei a mão de Wright, senti a mesma coisa. —E daí? Wright pode estar envolvido, mas isso não significa que Tom-... Segurei a mão para detê-lo. Doía vê-lo se esforçar tanto para racionalizar isso. Segurei sua bochecha, meu polegar acariciando as minúsculas e quase invisíveis sardas em seu nariz. — Quando acordei, uma das primeiras coisas que Tom perguntou foi se Wright me enviou. — Wright é o braço direito de Sullivan, claro. Alistair falou. — Se você quer provas, a xamã proverá isso. Ao contrário do que você pode pensar, nós não capturaríamos nem puniríamos ninguém sem ter certeza de que eles eram culpados. Alex apertou minha mão. — Que prova você tem? — Tamlin. — Alistair acenou para o menino, que se curvou mais uma vez e saiu da sala. —Nossa xamã comunicou-se com os espíritos dos que partiram; ela viveu suas memórias finais. Eles, através dela, identificaram os caçadores que encontramos na floresta como seus assassinos.
— Os espíritos com certeza estão muito traumatizados. — Disse Alex. — É impossível que eles se comuniquem de maneira coerente. Pela sobrancelha erguida de Alistair, eu disse. — Alex é um médium. — Eu não sou especialista em magia, nem nas artes que o meu pessoal usa. — Disse o alfa. — Tamlin foi buscar a xamã. Ela vai explicar. Mordi meu lábio inferior, tentando o meu melhor para conter uma piada de ‘busca’. Havia um grupo de apoio para pessoas viciadas em trocadilhos e ironia? Alex concordou com as palavras do homem, mas a maneira como ele estava cortando a circulação na minha mão me disse que ainda não estava a bordo. A porta se abriu para revelar uma mulher. Ela era musculosa, mas não abertamente. Seu cabelo, um loiro pálido e dourado, estava amarrado em uma trança francesa que pendia sobre o ombro esquerdo. Com Tamlin ao lado dela, estava claro que eles estavam relacionados. Dos cabelos loiros aos olhos, até mesmo suas linhas Nórdicas mais refinadas se espelhavam nele. A única coisa que ele não parecia ter herdado dela era o queixo, que era mais quadrado e esculpido, em comparação com o dela que era curto e esguio. Ao contrário das roupas modernas de seu filho, ela usava um vestido creme de mangas compridas antiquado que passava por seus pés e um pesado envoltório azul em volta dos ombros. Ela se curvou e nos deu um sorriso conhecedor. — É um prazer conhecêlos. Eu sou Catherine, xamã do bando Winter. Nós dissemos nossas saudações e ela gesticulou para que a seguíssemos pela porta.
— Ouvi coisas boas sobre você, senhorita Wallace. — Disse ela enquanto nos arrastávamos atrás dela. — Seu pai fala muito bem de você. No entanto, devo pedir desculpas, senhor Campbell, sei muito pouco sobre você. As palavras de Catherine foram ditas em uma cadência calma e rítmica. Suas palavras pareciam dar a impressão de que ela marinou sobre todos e cada uma delas com muito cuidado. Ela falava com uma neutralidade que vinha de anos de prática e uma sabedoria de muitos anos de experiência. Eu poderia dizer que era uma mulher que não perdia palavras, e que qualquer coisa que tivesse a dizer valeria a pena ouvir - e que seria boa conselheira. O jeito que ela exalava confiança em cada poro me lembrava de Lady Cassandra, o que me deixou ainda mais cautelosa. Por outro lado, ela também possuía a mesma aura de calma que Lady tinha que me fez sentir à vontade, era confuso, mas eu entendi. Foi em parte um engano; Lady Cassandra diria que ‘as águas mais calmas eram as mais profundas, o que tornava muito mais fácil afogar um viajante desavisado’. Posso ter parafraseado um pouco - o ditado sempre mudava, mas o significado se manteve. Também notei que Catherine tinha um pequeno sorriso constante em seu rosto, assim como Tamlin, embora o dela parecesse que sabia de um segredo que ninguém mais na sala fazia. — Está tudo bem, senhora. — Disse Alex, igualmente amolecido por seu comportamento. Tremi enquanto caminhávamos, esperando que no nosso destino tivesse uma lareira. — Para ser honesta, se tudo o que ouviu falar de mim foi de Sullivan, você sabe tanto sobre mim quanto o Alex. — Dificilmente.— Disse ela. — Apesar do que você pode pensar, seu pai segue as histórias de suas façanhas com bastante diligência.
— Oh... — Fiquei em silêncio, incapaz de processar completamente as palavras dela. Meu pai realmente deu a mínima? Talvez ele só quisesse saber se eu ofuscava seu bom nome. Provavelmente. …Talvez. — Meu filho — Continuou ela. — mencionou que o jovem que escapou hoje era um bom amigo. — É. — Alex corrigiu. — É, claro. — Ela se curvou, sabendo que o sorriso ainda estava no lugar, apesar de Tamlin ter desaparecido há muito tempo em favor de nos atirar olhares nervosos. — Você é um médium, sim? Você tentou se comunicar com Alice e falhou. Alex assentiu e a conversa morreu ali. Entramos na cabana ao lado de Alistair e Catherine nos levou para o porão. Era uma sala quadrada de tamanho médio, com uma lareira redonda de pedra no centro. Catherine acenou com a mão e um fogo resplandeceu na lareira, enchendo a sala com tons de vermelho e laranja. Eu me pergunto se pareço tão legal quanto ela quando fazia isso. Quando chegamos ao pé da escada, notei que havia uma grande prateleira e uma mesa contra a parede oposta, muito parecida com a que eu tinha no meu próprio porão. Pelo que pude ver, a prateleira tinha tantos ingredientes, se não mais, que os meus, embora suas habilidades organizacionais fossem reconhecidamente muito melhores. — Os médiuns respeitam muito os mortos. — Disse Catherine. Alex cruzou os braços. — Como deveria ser. Eu estava prestes a sugerir que ele deveria tirar o pau da sua bunda apenas um pouquinho - você sabe, já que estávamos sozinhos com dois lobisomens e
um deles era um mago - mas então, lembrei-me do quanto me sentia mal sempre que Alex me chamava de pirralha com meu pai, e de repente eu não conseguia pensar em nada para dizer. — Alistair disse que você nos daria provas. — Eu disse à ela. — Como? E como sabemos que você não usa sua mágica apenas para nos enganar? — Só posso lhe mostrar a verdade, criança, não posso forçá-la a acreditar. No entanto, na verdade, eu não vou mostrar a você. — Disse ela. — As vítimas vão. Eu vou convocá-las. — Você não pode forçar um espírito a aparecer. — Disse Alex. Ele deu um passo à frente e eu corri para segurá-lo. — Acalme-se, senhor Campbell. É isso que eu quis dizer sobre ser atencioso com os mortos. — Alex abriu a boca para responder, mas ela rapidamente o interrompeu. — Existem muitos métodos de comunicação com os mortos. As magias tribais de ambos os Lobisomens e Shifter’s, a comunhão educada e discreta dos médiuns, e as provocações mais poderosas dos magos os necromantes, para ser específico. — E suas magias têm um jeito pacífico de chamar os mortos? — Perguntou Alex. Ela se virou para as chamas, seu perfil banhado em sombras. — Embora nossos métodos sejam diferentes, nós chamamos aos mortos como os médiuns fazem: alcançando através do véu e solicitando uma audiência. No entanto, existem maneiras de obter informações de um espírito sem obrigá-los ou forçálos. — Como? — Perguntei, colocando a mão no braço de Alex enquanto ele se erguia.
— Ao invés de pedir a um espírito para nos dizer o que aconteceu - já que eles geralmente estão muito chocados para serem coerentes - nós pedimos que nos mostrem. Pode ser muito doloroso, até mesmo traumático para o conjurador, mas é mais gentil do que forçar um relato verbal. É uma maneira útil de saber coisas que um espírito não pode descrever com precisão. Afinal, nossos olhos processam coisas das quais nem estamos cientes. O lançador se coloca no corpo do espírito durante seus últimos momentos, sentindo e vendo o que viu. Como eu disse, a experiência pode ser difícil para o lançador, então é usada apenas como último recurso. Os resultados, no entanto, quase sempre são muito úteis. Isso soou aterrorizante. Viver através do processo de ser esfolado vivo só para ver o que aconteceu? Não é de admirar que eles o usassem como último recurso. O próprio pensamento me fez estremecer. — Embora difícil de dominar, — Continuou Catherine. — isso não é um talento exclusivo do meu pessoal. Não existem muitos médiuns na Ordem? — Há alguns. — Disse Alex. — Os médiuns são seculares e com a perseguição dos necromantes, eles se fecharam ainda mais. Era verdade. De fato, quando Alex me disse que era médium, fiquei bastante surpresa. Todas as espécies e indivíduos sobrenaturalmente talentosos tendiam a manter seus iguais próximos. Se não porque gostam um do outro, então porque eles se entendem melhor do que um estranho. Mas mesmo esses grupos tinham seus desafetos. Os Lobisomens tinham lobos desonestos, espíritos tinham espectros, os faes tinham... todos, e magos e vampiros tinham infernalistas. Magos, cadelas comuns que somos, tinham dois outros grupos de párias: taumaturgos e necromantes.
Mesmo se você descontasse os rumores de práticas menos legais envolvendo cadáveres, os necromantes ainda eram idiotas pomposos. Eles se ressentiam do fato de que os médiuns nasceram com a capacidade inerente de comungar com os mortos, enquanto eles tinham que aprender a arte através de um estudo exaustivo. Por alguma razão, aqueles que decidiram se especializar fortemente em necromancia acabaram sendo os filhos da puta mais perversos do mundo (essa seria a parte em que incluímos os rumores acima mencionados). Além disso, eles geralmente eram ricos e entediados, o que significava que participavam de coisas que até mesmo o próprio Satã desaprovava apenas para se divertirem. Por exemplo, trazer os mortos para transformá-los em seus escravos pessoais ou denunciar agressivamente os médiuns por terem uma habilidade que eles se ressentem por não terem naturalmente. Os mais ricos e cruéis até contrataram mercenários para caçar médiuns na esperança de exterminar a ‘competição’. Ah, o mundo paranormal, tão unificado, tão amoroso. Catherine levantou uma sobrancelha. — Certamente os médiuns da Ordem se reúnem e compartilham seus talentos? — Claro que sim. — Alex franziu a testa. — Eles são muito habilidosos. Nós todos somos. — E, no entanto, parecem saber pouco mais do que você. Ou talvez eles simplesmente guardem seus dons para si mesmos. É uma vergonha, essas coisas devem ser compartilhadas entre os colegas. — Catherine deu a palavra uma expressão solene, mas não pude deixar de sentir que ela estava - pelo menos em parte - voltando para ele por causa de sua irritação. —Mesmo sem a inerente falta de poderes mágicos de um médium, você poderia aprender muito mais se estivesse disposto.
Alex engoliu em seco, como se estivesse fisicamente engolindo seu orgulho. — A única coisa que quero aprender agora é a verdade sobre o que aconteceu. — Claro. — Catherine assentiu e deslizou para a prateleira nas suas costas. — Senhorita Wallace-... — Morgan está bem. — Morgan, você tem alguma experiência com necromancia? Balancei a cabeça. — Percebo. — Ela olhou através das poções alinhadas na frente dela. — Se você tivesse, todos nós poderíamos fazer isso da mesma maneira. Você terá que usar uma poção em vez disso. — Ela virou para mim, um frasco com líquido branco nublado em sua mão. Fiapos de fumaça flutuavam quando ela abriu a tampa. — Beba isso. O frasco estava agradavelmente quente quando ela colocou em minhas mãos. Alex pegou meu pulso e perguntou. — O que é isso? —Em suma, a poção permitirá que ela experimente o contato com um espírito da maneira que um médium faria. Eu cheirei a poção. Apesar do quão quente era, o líquido cheirava a ar frio com um toque de algo doce. Enviei minha magia através do vidro, tentando rastrear os ingredientes individuais. Não seria tão preciso quanto simplesmente degustar a mistura, mas isso arruinaria o sentido de digitalizá-la primeiro. Os Lobisomens tinham sido amigáveis até agora - além de toda a confusão onde minha cabeça bateu contra uma parede de tijolos - mas ainda havia um puxão de paranoia enquanto eu examinava a poção. Eu não tinha experiência suficiente com a magia deles para fazer uma avaliação lógica, então o mínimo que podia fazer era procurar por ingredientes venenosos ou perigosos.
— Posso beber primeiro. — Catherine ofereceu com um sorriso divertido. — Se isso fizer você se sentir melhor. Alex arrancou o frasco da minha mão e devolveu a ela. — Faça. Sem hesitar, ela tomou um gole, segurou o frasco até a luz, certificando-se de que poderíamos ver o líquido que sobrava, e engoliu em seco alto para enunciar seu ponto antes de entregar a poção de volta para mim. No canto mais distante, os ombros de Tamlin tremiam enquanto ele pressionava os lábios. Absolutamente. Precioso. Eu queria uns cinco dele. Eu segurei o frasco. — E lá vai. O líquido era de textura cremosa, com notas de baunilha e gengibre e desceu suavemente, embora a falta de efeitos externos sobre minha pessoa me deixasse nervosa. Grandes explosões ou vômitos dramáticos de sangue que eu poderia suportar, mas um monte de nada agora normalmente significava que alguma merda profunda cairia mais tarde. Alex estava certo, eu odiava o desconhecido. Mas foi isso que me tornou uma boa investigadora, então havia equilíbrio. — Você vai se juntar a nós, Tamlin? — Perguntou Alex. Ele colocou um braço em volta do meu ombro enquanto seus olhos corriam entre mim e o garoto loiro. O carinho me fez sentir melhor e eu, oportunista, enterrei meu rosto na curva do pescoço dele. — Nah. — Tamlin foi para a prateleira. —Estou aqui apenas para o revés. Essas memórias podem ser muito difíceis para se recuperar. Minha mãe é muito durona. — Ele piscou para Catherine, que balançou a cabeça com carinho e entregou a ela o que quer que ele pegou. —Mas é melhor prevenir do que remediar. Não faço ideia de como vocês dois vão lidar com isso, no entanto. Eu dei a ele um olhar inexpressivo. — Isso é reconfortante.
Catherine voltou para a lareira. — No Espírito-... — Trocadilho totalmente intencional. — Disse Tamlin com um sorriso tímido. Oh, eu realmente gosto muito de você. — ...De revelação completa. — Continuou ela. — Vou aproveitar as memórias de vários que partiram para mostrar que as mortes foram cometidas pelas mesmas pessoas. —Muitos deles ainda estão no Limbo? — Perguntei. — Terras das Sombras. — Disse Alex. — Limbo é onde os ceifeiros enviam almas antes de passarem para o céu ou para o Inferno. — Ou escolhem permanecer nas Terras das Sombras da Umbra. — Disse Catherine. — O limbo é apenas o primeiro passo. Alguns espíritos resistem a passar devido ao trauma, outros devido à raiva, e outros ainda por pura teimosia. — Ela se moveu para o outro lado da lareira. — É triste, mas verdade. Por favor, fiquem em lados separados da lareira, distantes um do outro, mas continuem de mãos dadas. Relutantemente, me afastei do cheiro familiar de Alex e fiquei em frente a Catherine, o grande fogo obscurecendo tudo, exceto as pontas do xale. Alex ainda estava segurando minha mão, o que era reconfortante - se eu fosse ser esfolada viva, eu o queria comigo. Catherine fechou os olhos e a copiei, vibrante laranja perfurando minhas pálpebras. Ela começou a cantar em uma língua antiga, provavelmente a língua de seu povo. Eu podia ouvir o fogo acender e chiar, e sabia que ela devia ter jogado os ingredientes que Tamlin a entregou nas chamas. Meu coração começou a bater forte contra o meu peito. Apertei a mão de Alex com mais força, deslizando um dedo para o ponto de pulsação dele. Seu pulso não parecia anormalmente rápido, apenas algumas batidas acima da
média. Isso acontece quando uso minha magia, então eu assumi que seria o mesmo para Alex. Ele não estava preocupado, então. E se ele não estivesse preocupado, eu não precisava estar. Eu esperava que não.
CAPÍTULO 12
Aqui eu estava em casa. Andei entre as árvores como um peixe nadando através da água, as folhas reconfortantes debaixo dos meus pés descalços. Sapatos eram bons, mas eles confinavam - amarrações feitas para os delicados pés do Homem. Era melhor ser livre. Minha camisa saiu em seguida, e enquanto eu olhava para os músculos bronzeados e esculpidos de um corpo que certamente não era meu, percebi que o ritual de Catherine tinha funcionado. Eu não tinha certeza de quem era esse corpo, mas sabia o que aconteceria com ele. Alex estava aqui? Nós estávamos todos no mesmo corpo? Eles poderiam ouvir meus pensamentos? Esses milagres desapareceram enquanto eu/o homem continuava andando. Ainda havia folhas nas árvores, os corpos de seus irmãos cobrindo o chão da floresta até que não havia mais nada de sujeira para ver. O sol poente beijou o horizonte e banhou os vermelhos, laranjas e amarelos da floresta em uma luz dourada radiante. Uma folha carmesim caiu na frente dos meus olhos, levantei uma grande palma bronzeada para pegá-la. Virei-a na minha mão algumas vezes antes de deixá-la juntar-se a suas irmãs. Comecei a correr, a floresta correndo por mim em um borrão de marrons e amarelos. O sangue correu por minhas veias e meu coração bateu acelerado no meu peito. Correr era aparentemente emocionante quando meus pulmões não estavam ameaçando explodir. O ar fresco da floresta era tudo de que eu precisava. Meus músculos esticavam da maneira mais deliciosa, minha
mandíbula puxava, e meus ossos realinharam-se, a adrenalina fazendo toda a experiência ser incrível. Eu estava de quatro agora e o mais real rugido saiu da minha boca. Eu era um leão. Eu era rei. Outro rugido magnífico soou enquanto corria entre as árvores. Minha juba se agitou ao vento, e eu não conseguia pensar em nada melhor do que isso. Um cheiro me chamou a atenção. O almíscar de húmus tingido com aquela sugestão especial do sobrenatural que os caçadores possuíam. O grupo estava fora para se divertir? Não importava, suponho. Correr de caçadores nunca tinha sido um problema antes. A Ordem era uma amiga. Uma aliada. Cinco deles surgiram; duas mulheres e três homens. Nenhum deles era familiar para o shifter cuja memória eu estava, mas reconheci Tom. Ele não era tão magro como tinha sido quando nos conhecemos, e seu rosto estava barbeado, mas não havia dúvidas sobre ele. Uma sensação de mal-estar me encheu, e eu tomei uma boa decisão, decidindo me divertir nas partes mais profundas e protegidas da floresta. Uma das mulheres acenou e caminhou em minha direção, fazendo com que eu parasse. Os outros quatro pareciam e cheiravam tão nervosos quanto ela. O suor agarrava o cabelo castanho curto em seu rosto e seu coração batia tão alto que eu podia ouvi-lo como se ela estivesse pressionada contra mim. Mas ainda assim ela acenou. Talvez estivesse em apuros? Esse pensamento foi o que fez me aproximar dela lentamente, parando a poucos metros de distância. Então, um dos outros jogou alguma coisa. Pulei para trás, mas os objetos pareciam me seguir. Eles bateram nos meus tornozelos, unindo minhas patas. Os galhos no chão nem sequer registraram enquanto eu me contorcia sobre eles, me debatendo contra minhas amarras. Não eram puros de ferro, nem
oricalco, mas eu não conseguia me libertar. Magia entorpecia minhas extremidades, mas a dor, como quaisquer amarrações infernais que eles usassem na minha carne, era muito real. — Puta merda, ele estava certo. — Tom sussurrou, dando um passo hesitante em minha direção. — Funcionou. — Tudo bem. — Disse a garota de cabelos castanhos. — Isso significa que a faca que ele nos deu também funcionará. Entregue-me e vou matá-lo. Um corte limpo. Um homem de cabelo escuro e penteado deu um passo à frente, seus olhos redondos perfurando os meus. Estava segurando uma adaga, e não precisava ser um mago para saber que aquilo estava transbordando de magia negra. Esse era o tipo de merda que nós, pessoalmente, levávamos para casa, onde os chefes das famílias pudessem entregá-lo ao Conselho, para que os selassem sob a melhor proteção possível. Não parecia um artefato antigo. Não, parecia elegante, novinho em folha. O punhal não tinha cabo, era preto puro, com uma faixa vermelha ao longo da borda da lâmina, que parecia ter sido afiada ao ponto da impossibilidade. Havia uma aura visível de fumaça negra ao redor, quase obscurecendo totalmente a arma. A fumaça não parecia incomodar o resto deles, e eu me perguntei se era a única capaz de vê-la, se a minha magia me mostrava coisas escondidas aos olhos dos outros. — Cara, — Disse Tom. — dê a ela. — Espere. — Disse o homem. — Eu li em algum lugar que é melhor tirar a pele enquanto o animal ainda está vivo. — Ken, isso é doentio. — Disse a outra mulher. Tinha cabelo castanho também, com um longo rabo de cavalo que roçava o traseiro dela. — Isso é
apenas... doente. O que há de errado com você? E como diabos você vai impedilo de se debater enquanto faz isso? Essas cordas o mantém amarrado, não paralisado. Aumentei minha luta enquanto ela falava, rugindo descontroladamente na esperança de que alguém do meu bando estivesse por perto para me ouvir. As amarras ao redor dos meus tornozelos estavam cortando com tanta intensidade que parecia que logo atingiriam o osso. Eu não teria pensado que era possível com a minha força sobrenatural, mas estava claro que estes eram objetos muito perigosos. Eu podia sentir a magia ao redor deles. Pareciam o mesmo que as ondas que emanavam da adaga, o que significa que provavelmente eram feitas pela mesma pessoa. Minhas pernas ficavam mais pesadas quanto mais eu lutava. Esse era outro efeito dos ligamentos? Eu rugi mais uma vez e dobrei minha luta. Essas amarras acabariam se quebrando. Eu tinha que ficar forte. Eu tinha que continuar lutando. — Vocês podem sentar nele ou algo assim enquanto eu faço. — Disse Ken. — Vamos, vocês querem o dinheiro ou não? O chefe disse que essas partes são vendidas por uma tonelada de dinheiro. Tom sacudiu a cabeça. — De jeito nenhum cara. Eu não vou fazer isso. A morena curvada revirou os olhos e se aproximou para agarrar minhas pernas traseiras. Eu chutei-a e ela rolou para o chão com um grunhido. — Droga, Tom — Disse ela. — Cresça e me ajude. Se você não fizer a sua parte, não terá o dinheiro. — Apenas mate-o. — Disse Tom. Seus olhos nunca ficaram em mim por mais de um segundo. A quinta pessoa, um homem musculoso com um corte militar e uma tatuagem de uma águia no bíceps esquerdo, falou. — Olha, você não quer
ajudar, tudo bem. Tudo o que está fazendo é demorar mais. Mas quando voltarmos, o chefe vai ouvir que você não fez nada, e então você não será pago. Então, - ele bateu a mão no ombro de Tom - o que você tem que se perguntar é: você tem dinheiro suficiente para pagar o aluguel na semana que vem? Tom suspirou, passando a mão pelos cabelos, mas concordou. Ele e a garota de cabelos curtos colocaram seu peso nas minhas pernas traseiras. Com o peso deles e os efeitos de drenagem das amarras, eu não consegui afastá-los, não importa o quanto tentasse. Os outros dois pegaram minha frente, posicionando-se de uma forma que não me permitia mordê-los. Meu coração bateu no meu peito e, desta vez, não foi por excitação. — Merda! — Ken balançou o braço, franzindo a testa para o punhal. — Essa porra deixa meu braço dormente. — Isso torna o braço de todos dormente, idiota. — O terceiro homem rosnou. — Se você não consegue lidar com isso, então venha até aqui e segureo enquanto eu faço. Rugi novamente, furioso por ser considerado nada mais do que um pedaço de carne. Quem esses humanos achavam que eram? Eu era um rei e eles planejavam me abater? Queriam me esfolar vivo? Essas criaturas repugnantes, eu poderiaMeus pensamentos foram cortados por uma horrível dor em meu flanco. E o mundo ficou escuro.
Agora eu era um lobo, uivando de dor quando a faca cravou na minha carne. Sangue quente correu para o meu lado, se agrupando perto do meu rosto enquanto eu observava a mancha de vermelho sujo através de um filtro nebuloso. Sangue forçou o caminho para fora da minha boca, cobrindo o interior cheio de líquido quente, repugnantemente picante. Eu podia sentir as cordas cortando meus ossos, mas quando abri minha boca para gritar de novo, nada saiu além de um ruído repugnante.
Eu era um lobo novamente, menor desta vez. Fêmea. — Merda. — Ken sussurrou enquanto eu gritava um rugido torturado. Minhas pernas pareciam estar em chamas. Tudo era uma gigantesca onda pulsante de machucado em mim de novo e de novo. — Seu idiota! —A mulher de cabelos compridos gritou. — Como você conseguiu estragar o simples fato de serrar um osso? — Eu apenas pensei ‘mais peças, mais produtos’, certo? — Disse Ken. — Você é um idiota. — Tom murmurou, lutando para me impedir de chutar. O outro homem falou. — Dê-me a faca, eu vou fazer isso. — Não!— Ken segurou a faca em seu peito protetoramente, e através da nuvem escura que encheu minha visão, observei meu sangue penetrar em sua camisa onde a lâmina pressionava contra ela. — É minha. A garota de cabelos curtos revirou os olhos. — Oh, por favor.
— Seja como for.— Cuspiu Ken. — Eu fiz isso na maioria das vezes, o que significa que tenho mais experiência. — Olhando em seus olhos frenéticos, acreditei nele. Era como se ele estivesse cortando as pessoas a vida toda. Eles não pareciam assim na primeira memória. O que aconteceu? Foi a faca? Ou ele simplesmente ficou louco? Talvez sempre tenha sido louco e a faca apenas tenha trazido à tona. — Maldito Inferno. — Ele continuou. — Eu trabalharei nos ossos depois. Vou dar um tempo e vou para os olhos. A última coisa que vi foi a ponta da adaga e o brilho inconfundível de prazer nos olhos de Ken quando ele se inclinou.
— Onde você está indo, Alice? Eu me virei. Era Marshall. Ele parecia mais limpo do que na prisão, sua barba quase desapareceu. As linhas do rosto dele não eram tão profundas; eram mais relaxadas, mais felizes. Até a voz dele era mais leve, menos sobrecarregada. — Precisamos de mais ervas. — Sussurrei, endireitando o meu vestido azul simples. Era grosso e decorado com flores vermelhas. Era o meu favorito; eu o vi em uma de nossas raras viagens à cidade, e Marshall comprou para mim em nosso primeiro aniversário. Lembrei-me da surpresa e da alegria que se apoderaram de mim quando desembrulhei meu presente e o vi descansando ali. — Querida, é muito perigoso. — Marshall colocou as mãos nos meus ombros e olhou profundamente em meus olhos. Meu coração acelerou com a visão de seus quentes olhos castanhos, os olhos pelos quais me apaixonei.
Eu segurei suas bochechas e coloquei um beijo em seus lábios. — Allen está doente, meu amor, e a farmácia esgotou as ervas que precisamos. — É apenas um resfriado. Ele vai ficar bem. Por favor, é muito perigoso. Já passou do toque de recolher. — Ele é nosso filho. — Eu insisti. Um ataque de tosse atraiu nossa atenção para o quarto no final do corredor. — Eu não quero que ele fique com dor, sabendo que poderia ter feito algo para ajudá-lo. Só vou levar alguns minutos. Prometo que não vou longe. Marshall sacudiu a cabeça. — Deixe-me ir então. — Você não sabe quais ervas conseguir, bobo. — Eu ri. — Dez minutos. Por favor, Marshall, vai chover em breve; ninguém estará perambulando pela floresta esta noite. — Nossos lábios se encontraram mais uma vez e passei meus braços em volta do seu pescoço, suspirando feliz contra seus lábios enquanto sentia seus braços envolverem minhas costas. —Eu te amo. Seus olhos brilhavam com adoração. — Eu também te amo. Estava a apenas cinco minutos da aldeia quando o som de um graveto me fez pular. Colocando uma mão no meu peito, senti meu coração pulsar sob a palma da minha mão, respirei fundo e continuei andando. Às vezes, ter uma audição aprimorada não é uma bênção. Era provável que fosse um cervo passando pela borda do penhasco. Se eu desse alguns passos para a direita, poderia espreitar e ver. Eu não fiz, no entanto, porque as ervas apareceram, seus botões amarelos espreitando através dos remanescentes de grama. Eu me apressei, mas meu pé bateu em uma pedra e tropecei. A agradável sensação de mudança se espalhou através de mim. Minhas garras rasparam contra as pedras antes de rolar e cair de quatro. — Finalmente!
— Cara, shh. Eu me virei apenas para ser derrubada dos meus pés. Um grito assustado escapou de mim enquanto cordas penetravam nos meus tornozelos. Como as cordas me seguravam? Era mágica? A situação me atingiu e gritei, o som puxando para outro rugido. Meus olhos dispararam ao redor, pousando no penhasco do qual eu havia caído. Oh Espíritos, eu tinha caído de uma das partes mais altas. Com a distância e a face da montanha bloqueando o som, meu bando me ouviria? Meu próximo rugido foi tão alto quanto consegui, mas foi interrompido quando Ken me apunhalou pela boca. O uivo de dor que se seguiu foi silenciado também, e lágrimas escorreram pelo meu rosto como uma cachoeira. — Role-a mais longe — Tom assobiou. — Estamos muito perto de sua aldeia. Galhos e seixos cavaram minha pele, alguns bem de encontro aos meus olhos. Nada comparado à dor na minha boca ou ao redor dos meus tornozelos. Que tipo de objetos poderia fazer isso? Quem faria isso? Por que eles estavam fazendo isso? Eu só queria juntar algumas ervas para o meu filho doente. — Ainda não estamos longe o suficiente. — Disse Tom. — Pare de ser covarde. — Disse o homem musculoso. — Nós não tivemos nenhum problema até agora. — Não seja tão arrogante. — Tom disse a ele. — Nós teremos mais do que problemas se nos pegarem. — Dane-se. — Disse a garota de cabelos compridos. — Nós ficaremos bem. Vamos apenas nos apressar para que possamos receber o pagamento.
— Já ganhamos bastante dinheiro. — Disse Tom, embora não tenha feito nada para me ajudar ou impedir seus amigos. — Eles também têm toque de recolher agora. Não poderemos continuar assim. — Concordo com Tom. — Disse a morena de cabelos curtos. — Isso está ficando fora de controle. Nós temos mais do que suficiente. — Mais do que suficiente? — Ken zombou, seus olhos afundados e selvagens. — Não existe tal coisa. Cara, estamos cheios de ouro. O chefe diz que agora eles estão escondidos, o suprimento é limitado. Isso significa que podemos cobrar mais. Você não quer mais? — Ela disse que temos o suficiente. — Disse Tom. — Isso não foi um não. Tom mordeu o lábio, desviando os olhos. — Seja como for, cara. Não aja assim, o que há sobre isso. Você só está fazendo isso porque gosta. — E daí? Com o que você se importa contanto que o dinheiro chegue? Eu nunca ouvi você reclamar sobre como fazemos as coisas antes. — Disse o terceiro homem. — Já não é a primeira vez que temos essa discussão! — Temos dinheiro suficiente para pagar o aluguel desta vez. — Disse a morena de cabelos curtos. — Tudo bem. — Disse o homem. — Se não quiser o pagamento deste, vá embora. Tom e a garota trocaram olhares. Depois de uma batida, assentiram e continuaram me empurrando mais para dentro da floresta, muito longe do alcance do meu bando, meu Marshall. Minha visão estava borrada de lágrimas, mas a dor era cristalina. Não havia faca para espantar meus rugidos desta vez, e meus ouvidos tocaram com os repetidos gritos que eles puxaram de mim. Dor branca quente me rasgou com
cada corte. Eu queria me transformar de volta, implorar para eles pararem usando palavras que conheciam de uma forma que simpatizassem. Mas não consegui. Meu corpo não mudaria. Não com por causa da dor; eu mudei enquanto estava ferida antes. Era o punhal? As ligações? Com o choro e a dor, eu não conseguia respirar. Espíritos, por que eu ainda estava viva? Por favor, por favor me mate. Por favor. O rosto de Marshall brilhou em minha mente. Seu sorriso, seus olhos. O jeito que ele me segurava, me beijava, o olhar em seus olhos quando eu disse a ele que estava grávida, quando segurou Allen pela primeira vez. Allen, com seus grandes olhos azuis e sorriso cheio de dentes. Seus dentes estavam nascendo, e ele acabou de dizer 'mamãe' três dias atrás. Não, não me mate. Por favor, por favor, por favor. Eu não quero morrer, por favor! Eu vou tomar toda a dor, você pode pegar o que quiser, por favor, deixe-me ver minha família novamente! A dor desapareceu apenas por um momento, quando a percepção me atingiu. Eu nunca ouviria meu bebê me chamar de ‘mamãe’ novamente, nunca o veria sorrindo para mim novamente, levantando para mim suas pequenas mãos gordinhas. Nunca mais veria Marshall, nem sentiria seus braços em volta de mim ou mais olharia para seus amados olhos castanhos. Aqueles olhos foram a última coisa que vi antes que tudo ficasse preto mais uma vez.
CAPÍTULO 13
— NÃO! Eu bati no chão, lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto da mesma forma que a de Alice. A dor parecia tão real. Mesmo agora, meu corpo formigava com os efeitos remanescentes da magia vil daqueles itens. Não era mais a sensação lenta e agonizante de minha pele ser esculpida ou meus ossos serem serrados, mas os pensamentos repassavam minha mente, deixando-me pouco mais do que uma bagunça lamentável tremendo no piso de concreto enquanto eu abria caminho para a bile cobrindo minha garganta e língua. Algo roçou meu braço e eu pulei, deixando um tremor nervoso. — Sou eu. — Alex disse suavemente. — Você está segura agora. Apesar de suas palavras, foi impossível não perceber o jeito que seus dedos tremiam quando seguraram minha cintura - a maneira como suas palavras saíram em uma respiração apressada, como se ele estivesse tentando se convencer tanto quanto a mim. Eu me agarrei a ele, odiando o jeito que estava tremendo, mas me consolando com o fato de que não estava sozinha em me sentir assim. A chama que ardia ao nosso lado era de um azul pálido, quase branco. Era uma coisa estranha de se notar, mas tudo ao meu redor passava de forma lenta; Eu estava vendo, mas não vendo, minha mente em um nevoeiro pesado. Minhas lágrimas encharcaram seu suéter, e soltei outro suspiro estremecido. Os olhos de Marshall encheram minha mente por um segundo antes que o
marrom se tornasse azul, as bordas se alargando quando mudavam de forma. Os olhos de Alex. Agarrei sua bochecha, puxando-o para perto até que nossas testas estivessem pressionadas juntas. Suas pupilas estavam largas até o ponto em que seus olhos eram quase inteiramente negros, mas ainda eram seus olhos. Pensei em Alice, em como seus últimos pensamentos eram sobre o marido e o filho, como ela estava disposta a sacrificar tudo para vê-los novamente. Eu entendi. Talvez não na medida em que ela fez, mas ainda podia me relacionar. Eu me agarrei a Alex com tanta força que meus dedos se apertaram. Seu rosto ficou embaçado quando uma nova onda de lágrimas se espalhou. Desmoronei contra ele, tremendo violentamente. Debaixo do medo e da dor, havia uma poça de raiva borbulhando dentro de mim. O jeito que esse cara, Ken, se comportou, o monstro que se tornou... Eu não sei como eles o torturaram, nenhum deles, mas sabia que não era o suficiente. — Você está bem? — Eu choraminguei. — Você viu também. Ele-... — Eu não posso acreditar que fez isso. — Alex sussurrou. — Ele tentou recuar algumas vezes, mas sempre cedeu. Eu não posso acreditar... — Ele franziu os lábios, enterrando o rosto no meu cabelo. Eu poderia acreditar. Eu não tinha certeza do que dizer sobre o quão cansada estava de que a depravação deles não me surpreendia mais. Suas ações me surpreenderam, sim, mas as profundezas na qual eles afundaram enquanto continuavam suas atividades era pior. Ver os resultados dessa depravação ainda me feria, mas eu era grata. Isso me fez sentir humana. Esfreguei as lágrimas dos meus olhos com uma mão, pressionando a cabeça de Alex no meu ombro com a outra. Seu aperto em torno de mim ficou mais forte e nos sentamos lá, nos confortando na presença um do outro.
Uma vez que minhas lágrimas secaram e eu pude, parcialmente, respirar pelo nariz novamente, me afastei dele. A essa distância, as veias avermelhadas de seus olhos eram surpreendentemente claras, embora eu não estivesse prestes a ferir seus sentimentos viris apontando isso. Empurrei alguns fios de cabelo para longe do seu rosto, dando-lhe um sorriso trêmulo. Suas mãos estavam úmidas contra as minhas, mas ele conseguiu devolver o meu sorriso com um sorriso desanimado. — Você está se sentindo melhor? — Ele perguntou. — Você está sempre preocupado comigo. — Eu disse. — Mesmo quando está sofrendo. — Olha quem está falando. — Ele fechou os olhos e suspirou. — Eu vou ficar bem. — Eu não ficarei. — Eu disse. — E-eu quero estar lá para você, do jeito que você está para mim. Este é provavelmente o pior momento para ter essa discussão... — Franzi os lábios, esperando que o quarto estivesse escuro o suficiente para cobrir minhas bochechas em chamas. — Parece que tudo é sobre meus problemas. Quer dizer, eu sei que não nos conhecemos há tanto tempo, mas...— Deus, isso era muito embaraçoso, especialmente desde que percebi que não havia como Catherine e Tamlin terem perdido uma palavra do que eu disse. O sorriso de Alex foi mais genuíno desta vez. — O que aconteceu para manter as coisas... Eu apertei a mão sobre sua boca e o silenciei. — Há uma criança aqui. — Hey! — Gritou Tamlin, franzindo a testa por causa de sua posição perto de Catherine. —Eu não sou uma criança! Catherine riu fracamente quando se inclinou contra ele. — Eu acho que você acabou de provar seu ponto, minha querida.
— Eu ia dizer casual. — Alex se levantou, me puxando para ele. Eu olhei em seus olhos, me forçando a memorizar cada detalhe. — Talvez você tenha mudado de ideia. — Talvez. — Ele repetiu. — Se vocês dois já acabaram... — Catherine parou. Seu sorriso de sabedoria estava de volta no lugar, a exaustão que ela mostrou há poucos segundos atrás, desapareceu. — Isso foi prova suficiente para vocês? — Quantos? — Eu perguntei. — Sullivan disse que houve pelo menos uma dúzia. — Alice foi a décima quinta. — Disse ela. — Aqueles caçadores falaram de um 'chefe', você sabe quem poderia ser? — Eu acho que é por isso que eles estavam interrogando-os. Alex assentiu. — Achamos que é Wright, o braço direito de Sullivan. — Wright, o certo.14— Disse Tamlin com um sorriso de menino. — Eu amo esse nome. Título. Tanto faz. — Sullivan não vai - não pode - agir sem provas. — Disse Catherine. — Quando chegamos pela primeira vez, — Disse Alex. — Sir Wallace mencionou que tinha uma amiga lhe dando informações. É você, não é? — É. — Ela apontou para as escadas. Nós fizemos o nosso caminho em fila indiana enquanto ela continuava a falar. — No entanto, minha palavra sozinha não fará nada. Quando experimentei essas visões pela primeira vez, notei que o punhal e as cordas tinham magia - magia negra. Agora, alguém como eu não pode ser visto andando pela cidade tentando rastrear a fonte. Mas um
14
Tamlin repete o trocadilho: —Wright the right— – right=certo.
mago convidado por Sullivan... me disseram que os usuários de magia da Ordem tendem a ficar com a sua própria espécie? — Todos os seres do mundo preferem ficar com sua própria espécie. — Eu disse. —Normalmente, pelo menos. Mas sim, os magos da Ordem preferem se inscrever em postagens que exigem força-tarefa especializada. Ela nos levou a uma sala de estar. Afundei em um sofá que jurei era a melhor coisa que já tinha experimentado, deixando escapar um suspiro feliz quando Alex passou o braço em volta do meu ombro. — É uma sorte, então — Disse Catherine. — que Sullivan tenha uma conexão pessoal com um usuário de magia independente. Convidar você seria muito menos suspeito. Em um mundo perfeito, ele teria te convidado, mas ele não acreditava que você aceitaria nada menos do que uma convocação direta, que ele não pode emitir sem um motivo. Sullivan me conhecia melhor do que eu pensava. — Você conseguiu capturar todos aqueles caçadores sem mim. — Eu disse, sufocando um violento bocejo contra o ombro de Alex. Aparentemente, duas sestas curtas depois de queimar toda a minha magia não foram suficientes para me colocar de volta na melhor forma. Vai saber. — Mas não o chefe deles. — Disse ela. — Eu gostaria de poder dizer que foi uma surpresa ouvir que Wright está por trás disso, mas não é; seu desdém pela nossa espécie é bem conhecido. — Devemos dizer a Sir Wallace. — Disse Alex. — Ver o que ele pode fazer. Tamlin olhou entre nós, os olhos se demorando em minha carranca. — Morgan não concorda. Alex se virou para mim, mas o evitei olhando para o chão. — Eu não concordo. Se Sullivan fosse capaz de fazer alguma coisa, já teria feito.
Precisamos encontrar provas antes que ele possa agir; o Conselho não vai tolerar justiça vigilante. Não de seus caçadores. — Que prova? — Ele perguntou. — A adaga. — Disse Catherine. — As amarrações também. Nenhum deles foi encontrado com os caçadores, e um deles admitiu que Ken passava os itens para Wright quando terminavam. Nenhum deles sabia o que ele fazia com os objetos, no entanto. — Espere. — Disse Alex. — Você sabia que era Wright? Então, por que nos perguntar?— — Para ver se você sabia ou se precisávamos lhe contar. — Disse Tamlin. — Duh. Quero dizer, vamos lá, o nome do cara o faz parecer que deveria ser um vilão do Batman. — Eu gosto de você. — Eu disse. Ele piscou para mim. — E eu de você. — Tamlin.— Catherine bateu nele. — O quê? — Ele disse com um biquinho adorável. — Você sabe que eu não quis dizer isso assim. Catherine riu, sacudindo a cabeça. — De qualquer forma, o que sabemos não importa tanto quanto pudermos provar isso. — Acha que Wright é burro o suficiente para deixar essas coisas em sua casa? — Perguntou Tamlin. — Eu acho que ele é muito paranoico para armazenar essas coisas em qualquer outro lugar. — Eu disse. — Eu sei que seria. Mas… — Mas? — Disse Alex.
Dei de ombros. — Eu não sei quão bem seria capaz de dormir com essas coisas em minha casa. Eles são muito, bem, malignas. Havia literalmente uma nuvem escura ao redor da adaga. Ele levantou uma sobrancelha. — Eu não vi uma nuvem. —Nessas situações, você vê o que o espírito viu e sentiu, mas quaisquer observações adicionais que você produz são por suas próprias habilidades. A habilidade mágica de Morgan permite que ela veja coisas que pessoas normais não conseguem.— Catherine sussurrou algo para Tamlin e ele saiu da sala. — Eu vejo gente morta.15 — Eu disse. Alex estreitou os olhos para mim, mas não detectei malícia. — Precisamos encontrar essas armas e tirá-las de circulação. Há uma razão para entregarmos essas coisas ao Conselho. Alex se virou para Catherine. — Você é uma bruxa. — Xamã. Ele assentiu. — O que você observou? — Quem ou o que fez isso é muito poderoso. Eles também provavelmente se aliaram a um grande mal. — Ela disse, uma sombra cruzando seu rosto. Se foi capaz de provocar uma expressão tão sombria dela, eu não duvidei de quão grave era. — Aqueles caçadores fizeram coisas abomináveis por vontade própria, mas como você viu, o homem que empunhava a faca parecia ficar mais e mais depravado. — Você acha que ele foi influenciado pela faca? — Disse Alex. — Cara, a nuvem negra do objeto mágico é do mal. — Eu disse.
15
Referencia a frase clássica do filme —Sexto sentido— (1999).
Tamlin voltou com o chá e alguns murmúrios baixos sobre por que eles não podiam investir em alguns saquinhos de chá porque ele odiava fazer chá à moda antiga. Eu acho que ele foi bem. O chá era amargo, mas nada que um pouco de açúcar não consertasse. Meu nariz enrugou quando tomei outro gole. Ok, muito açúcar. — Quanto mais poderoso for um item, maior a probabilidade de efeitos colaterais horríveis, independentemente das intenções com as quais ele foi feito. — Disse Catherine. Ela levou a xícara de chá aos lábios e franziu a testa. — Tamlin. — Sim. — Ele disse com relutância. — Você usou cinco punhados, não é? — Sim. — Suas sobrancelhas pálidas se uniram. — É o número de pessoas mais um. — Menos, querido. Menos um. Tamlin franziu os lábios, estendendo a mão para levar o açúcar para a mãe. — Mais um açúcar, então. — Há mais de você? — Perguntei. — Eu gostaria que houvesse mais de você. — Um dele é mais que suficiente, asseguro-lhe. — Disse Catherine, pegando o açúcar. Acabou sendo mais três açúcares, e é por isso que eu odiava matemática. — Voltando ao assunto em questão. — Disse Alex. — Wright passa a maior parte do tempo trabalhando com Sir Wallace, então precisamos encontrar um tempo em que ele está fora e procurar em sua casa.
— Se ele estiver mantendo essas coisas em sua casa, ele vai ter guardas. — Eu disse, observando que Alex não tinha colocado açúcar em seu chá. Eu não sei como reagiria se ele pedisse creme. — Talvez seja uma mansão assustadora cheia de armadilhas. — Disse Tamlin. — Você sempre poderia atraí-lo para nós o interrogarmos. — Você quer dizer torturá-lo. — Disse Alex. — O que aconteceu com meus amigos foi tortura. — Disse Tamlin, todos os traços de humor desaparecendo de seu rosto. Parecia um adulto, ainda que jovem, pela primeira vez. — O que vai acontecer com ele é justiça. — Sullivan não permitirá tal coisa. — Disse Catherine. — Já vai ser difícil o apaziguar sobre o que aconteceu com os outros caçadores, mesmo que eles fossem culpados. — Você quer que eu fale com ele? — Perguntou Tamlin. Toda a maturidade deixou suas feições enquanto um brilho animado iluminou seus olhos. Ele parecia mais do que feliz por uma chance de falar com Sullivan, mesmo que isso significasse ouvir gritos. — Essa não é uma conversa com a qual você possa lidar. — Disse ela. — Além disso, ele ainda estaria com raiva de mim por omitir isso dele. Sinos de aviso soaram na minha cabeça e eu olhei para Alex, que me deu um olhar confuso. — Como você conheceu Sullivan? — Os líderes tribais e seus xamãs se encontram com ele duas vezes por ano para discutir as coisas. — Disse ela. — Nós nos conhecemos assim. — Isso é ao mesmo tempo informativo e vago. — Eu disse a ela. — Eles não deixam você ser xamã até que domine isso. — Disse Tamlin. Um sorriso divertido puxou os lábios já curvados de Catherine. — Se você quiser saber mais, então talvez devesse perguntar a ele.
— Certo. — Eu disse. — Nós não temos esse tipo de relacionamento. Sabe, onde nós realmente falamos um com o outro. — Dizem que seu amigo não colaborou muito durante seu tempo com a gente. — Disse Catherine, voltando-se para Alex. O súbito desvio do tema do meu pai só me deixou mais desconfiada. — Talvez você possa obter mais informações dele. — Sua tortura não funcionou, então você quer que eu tente. — Disse ele. Tamlin tinha um olhar no rosto que dizia: ‘Cara, isso de novo?’ E me senti culpada por concordar com ele. Não tão culpada, considerando o que Tom tinha feito. Depois de experimentar o que as vítimas passaram, eu não pude deixar de me sentir pessoalmente envolvida nisso. Fiquei surpresa por Alex não sentir o mesmo. Sua conexão com Tom deve ser mais forte do que eu pensava. Eu acho que ainda teria uma grande queda pelo meu melhor amigo, mesmo que descobrisse que ele estava fazendo merda assim. Gostaria de obter o seu lado da história, para entender o que os fez fazer isso. Eu apertei a mão dele. — Alex, por favor. — Eu não posso acreditar que você está bem com isso. — A decepção em seu rosto me fez sentir pior do que qualquer olhar que Rowan já tinha me dado. — Eles capturaram você também. Você não estava nessas visões, mas eles ainda mantiveram você presa. Tom me contou o que eles fizeram com ele. Eles poderiam ter feito o mesmo com você. — Nós não-... — Tamlin levantou-se, mas sua mãe o puxou para baixo com um aceno de cabeça. — Eu não vou fazer isso. — Disse Alex. — O que Tom fez foi horrível, mas não desculpa suas ações. Nós já temos uma ligação com a casa de Wright,
não precisamos falar com ele. E se o fizermos, obteremos as respostas por conta própria.— — Como você tentou na prisão? — Eu disse. — Porque isso não foi exatamente amigável, também. — Era a coisa errada a dizer, mas eu estava exausta depois daquela sessão de cinema em 3D, e minha boca estava dura o suficiente para controlar nos melhores momentos. — Isso foi diferente. — Como? — Eu estava procurando por Tom! — Ele exclamou, puxando a mão e levantando-se. — Ele foi capturado, Morgan. — E eles estavam procurando o homem por trás da tortura e assassinato de seus amigos e familiares. — Meu temperamento explodiu com sua teimosia, mas tentei manter minha voz calma. — Como somos diferentes? Você já esqueceu o que os espíritos lhe mostraram? Acabamos de viver essa agonia, Alex, exceto que somos um milhão de vezes mais sortudos porque ainda estamos vivos. Incapaz de conter minha raiva, balancei a cabeça e saí da casa de Catherine antes de dizer algo de que me arrependeria. Era como se todo o sentimento que compartilhamos no porão tivesse desaparecido. Foda-se os relacionamentos, eles eram muito complicados. Eu nunca tive esse problema quando estava dormindo com Ipos. Foi uma época ótima. Nós brincávamos, conversávamos, fazíamos muito sexo e nunca tivemos uma discussão que durasse mais do que o tempo que demorava pra chegar a uma cama - ou qualquer outra superfície sólida onde não fôssemos perturbados. Isso, no entanto? Com todos os sentimentos e desentendimentos e ser um adulto maduro em um
relacionamento comprometido? Era tudo muito difícil; Eu não sabia se valia a pena. Soltei um gemido frustrado. Foda-se. O ar frio me acalmou um pouco, mas tudo o que fez foi trazer a culpa de volta. Eu não sabia mais. Entendia por que Alex estava canalizando seu interior, mas por que ele não podia pelo menos tentar ser civilizado até que ficássemos sozinhos? Ele poderia desabafar para mim tudo o que queria, eu poderia aguentar; entender. Insultar esses caras só pioraria as coisas. Eles também sofreram. Andei até a fogueira e segurei minhas mãos perto das chamas. Estava em silêncio agora, as poucas pessoas que vimos ao entrar tinham ido embora, as portas trancadas e as janelas fechadas. A atmosfera teria sido enervante em outro momento, mas agora eu apreciei a paz. Se Alex não quisesse usar o Tom, então teríamos que entrar na casa do Wright e esperar o melhor. Era má escolha versus má escolha. Devo ter sido um tirano genocida em uma vida passada ou algo assim. Como poderíamos entrar? Precisávamos de provas para iniciar uma investigação formal e precisávamos investigar para encontrar provas. Era um catch-2216 ao máximo e eu odiava isso. Entrar furtivamente significava lidar com guardas particulares, o que significava lutar, o que significava que as pessoas poderiam chamar os guardas da cidade para investigar o barulho, o que nos trouxe de volta para: Foda-se isto. Eu poderia entrar na casa de Wright usando um feitiço de invisibilidade. Provavelmente me daria um aneurisma a cada passo que daria, mas seria possível. Não havia como usar o feitiço em mais de uma pessoa; eu nem sabia
16
Catch-22, no Brasil Ardil-22: situação sem saída, uma armadilha.
se alguém poderia fazer isso. Mais uma vez, eu me vi desejando ser como Harry Potter para poder vestir uma capa de invisibilidade. Precisaria fazer poções de mana, elas ajudariam a diminuir a vantagem. Embora pudesse ser mais benéfico fazer o feitiço sem qualquer poção para ajudar a construir minha força e tolerância. — Provavelmente seria melhor praticar isso em uma situação menos perigosa. — Eu murmurei em voz alta, observando uma nuvem espessa de neblina se formar com as palavras. — Provavelmente. — Uma voz profunda disse atrás de mim. Eu me virei para ver a massa gigante de músculos que compunham Alistair. Ele me deu um sorriso diabolicamente lindo e disse. — Eu não tenho ideia do que você está se referindo, mas provavelmente. Eu sorri de volta. — E eu pensei que você fosse todo negócios. — Há um tempo para os negócios e um tempo para o prazer. Propositadamente ignorando o tom muito abafado em sua voz - e culpando o fogo pelo jeito que meu rosto esquentou - eu disse. — Nós... eu vou tentar recuperar as provas necessárias para condenar Wright. — E seu amigo? — Alistair perguntou, cruzando os braços. — Alex é um bom homem. — Eu disse. — Ele está machucado agora, mas sei que fará a coisa certa quando se curar. — E se ele não se curar a tempo? — É por isso que estou aqui. Porém quero deixar uma coisa clara. Houve um brilho divertido nos olhos do alfa. —Oh? Dei um passo mais perto dele, sentindo o cheiro de pinho e o almíscar masculino único de Alistair. Eu precisava conhecer mais lobisomens. — Tanto Wright quanto Tom pagarão pelo que fizeram. Do nosso jeito. Sem mais
sequestros, sem mais mortes, sem mais shifters bebendo sua dor e lutando com caçadores na cidade. Eles serão tratados e ninguém mais se machucará. Termina com esses dois. Alistair olhou para mim, a diversão em seus olhos dançando tão descontroladamente quanto às chamas ao nosso lado. Ele mostrou os dentes em um sorriso, a ação fazendo-o parecer cinco vezes mais bonito e dez vezes mais intimidante. — Nós temos um acordo. Lide com seus homens; Joshua e eu faremos o mesmo. — Joshua é o líder da tribo Levin? — Bando. — Disse ele. — Eles são um bando. Nós somos uma Alcateia. É mais fácil para os humanos usarem ‘tribo’, por isso não os corrigimos, mas tenho certeza de que você não terá problemas para lembrar. — Vou tentar o meu melhor. — Eu estendi minha mão e ele a envolveu em sua muito maior, sacudindo-a. — Ela é um pouco jovem para você, tio. — Disse Tamlin, chegando até nós com aquele sorriso travesso. O profundo e caloroso riso de Alistair ecoou pelo centro vazio da aldeia. — E muito selvagem para você, garoto. — Sim — Ele disse secamente. — Esse é o problema. Alistair bateu a mão no ombro do jovem. — Eu vou deixar você trabalhar seus encantos muito limitados em nossa convidada aqui. — Limitados? — Tamlin engasgou, colocando a mão no peito enquanto o olhava com indignação. — De fato. Mas use-o enquanto puder, esse seu charme infantil deixará de funcionar daqui a alguns anos. — Alistair me deu um último sorriso. — Boa noite, Morgan.
Dou-lhe boa noite, imaginando se minha mãe realmente foi uma xamã Lobisomem; eu certamente parecia ter muito mais em comum com esses dois do que esperava. Ficamos em silêncio observando a ampla estrutura dos ombros do alfa ficar cada vez menor e finalmente desaparecer na escuridão. Depois que ele se foi, Tamlin se inclinou para frente, preenchendo minha visão com sua pele macia e olhos brilhantes. Ele acenou, mexendo os dedos como uma criancinha. — Oi. — Oi. — Eu disse com um sorriso bobo. Que fofinho. — E aí? — Você confia em seu namorado? — Ele perguntou com toda a sutileza de um aríete. Parece que ele herdou mais coisas de seu tio do que sua mãe. — Quero dizer, ele é seu namorado, então, duh. Mas você acha que ele pode tentar fazer algo pelas suas costas, talvez até falar com o amigo dele? — Pedir-lhe informações ou uma explicação? Talvez. Avisá-lo para correr? Não. Alex não faria isso. Ele está ferido e traído, mas sabe o que é certo e errado. Ele é como o Robocop. Justiça está em seu sangue. Ele fará a coisa certa. — Você tem certeza? — Ele perguntou, sua expressão caindo. — Eu só quero ter certeza que tudo corra bem. Somos uma alcateia muito próxima. Bem, todas as alcateias são próximas, é por isso que eles-... — Tamlin. — Certo, desculpe. — Ele suspirou. — É só que... essas pessoas eram minhas amigas, minha família. Coloquei a mão em seu ombro. Parado ali, Tamlin parecia um garotinho. Esqueci o quão jovem ele realmente era; dezoito anos pode ser a idade em que a lei o reconhece como adulto, mas ainda era jovem demais para lidar com isso. Shifter’s e Lobisomens tinham vida longa, claro, mas a morte era sempre difícil
de lidar. Pensei em lady Cassandra e, de repente, o fogo gigante rugindo ao meu lado pareceu perder todo o seu poder. — Eu sinto muito. — Disse suavemente. — Eu prometo que as pessoas responsáveis serão pegas. Ele olhou para mim, seus olhos azuis pálidos brilhando à luz do fogo. — Promete? Oh, querido. — Eu prometo. Tudo vai acabar. Ele assentiu e levantou um braço para esfregar os olhos. — Não diga a ninguém que você me viu assim. — Claro. — Eu ri. Porcaria, eu não deveria ter feito isso - adolescentes não gostam de ser ridicularizados. — Sabe, as senhoras amam um homem que sabe chorar. — Cale a boca. — Ele resmungou, atirando-me um olhar petulante. Era fofo demais para eu me preocupar em ter irritado um lobisomem; Eu meio que esperava que sua forma de lobo fosse um cachorrinho pequeno. Ele arrastou os pés para os lados, evitando contato visual. — Ei, posso te fazer uma pergunta? — Claro. — Por que você odeia seu pai? Não. Nuh-uh. Alerta vermelho, alerta vermelho, nós temos um Inferno de situação por aqui. — Eu... Huh? — Bom. Suave como cascalho, Morgan. — Ele é um cara legal. — Disse Tamlin. — Ele é legal, engraçado, esperto, e realmente se importa com você. — Parece que você está tentando nos marcar um encontro, o que está errado em todos os níveis possíveis. — A distância entre vocês dois o machuca. — Continuou ele. — Ele se culpa-...
— Bem, ele deveria, porra! — Eu me afastei dele, minha magia fritando as pontas do meu cabelo. — Por que todos acham que têm o direito de me dizer como lidar com meu pai? Você, Rowan, Alex... Não é da sua conta o que acontece com ele. O que diabos faz todo mundo ser tão especialista?! — Eu só queria ver se vocês poderiam consertar as coisas. — Ele parecia como se eu tivesse acabado de chutar o seu cachorro, mas eu estava muito chateada para me sentir mal. — Mas por quê? Por que você está tão interessado no que acontece com meu pai? Ele hesitou por um momento, os olhos se movendo como um ladrão. — Porque ele é meu pai também.
CAPÍTULO 14
Não me escapou que esta foi a terceira vez que eu me afastei de uma conversa nas últimas vinte e quatro horas, mas não me importei. Quero dizer, eu não tinha ideia de como as outras pessoas lidariam com o fato de o lobisomem infantil bonitinho que conheceram fosse seu meio-irmão, mas até que alguém me entregasse o manual, faria as pazes enquanto prosseguia. Como sempre. Por alguma razão, esse pensamento me incomodou mais do que deveria. Talvez tenha sido porque eu tinha vinte e seis anos e toda a minha vida foi uma bagunça gigante de perguntas não respondidas e decisões adiadas. Ou talvez tenha sido porque fui para a floresta no meio da noite. Ou talvez fosse porque acabei de tropeçar em outra pedra; as malditas coisas estavam brotando do chão enquanto eu passava, juro. Envolvendo meus braços em volta de mim, enviei calor das pontas dos meus dedos para o resto do meu corpo. O calor queimou através de mim no início, como o choque que você tem quando acidentalmente toca algo quente, antes que ele se estabilize em um calor agradável. Eu realmente precisava melhorar o controle da quantidade de magia que conjurava. A última coisa pela qual queria ser conhecida era por sempre explodir minha carga muito rapidamente. Um dos principais desafios que tive foi convocar muito ou pouco poder. Demais e eu me queimava, ou como neste caso, literalmente me queimei. Se a minha saída fosse muito baixa, eu teria que amplifica-la, o que geralmente terminava comigo demorando uma eternidade para aumentar ou elevando-a
muito alto, o que me levou de volta ao problema número um. Nesse momento em particular, no entanto, fiquei feliz pela explosão de calor escaldante. Isso me disse que não estava sonhando com tudo isso, embora eu não tivesse certeza de quão bom isso realmente era. — Morgan! Parei de correr e esperei que Alex me alcançasse. Pequenas baforadas de névoa branca escaparam de sua boca e cercaram seu rosto quando ele parou na minha frente. Isso me fez pensar o quão longe consegui ir, para ele parecer tão sem fôlego. Ele estendeu as mãos, revelando minha arma e coldre. — Eles tiraram de você quando foi capturada mais cedo. — Disse ele. Recoloquei o coldre na minha perna enquanto Alex continuava a falar. — Você está bem? Tamlin voltou e disse a Catherine que você fugiu depois que ele contou sobre seu pai. — O pai dele? Meu pai. — Eu fiz uma careta. — Deixa pra lá. Se ele quiser Sullivan, pode tê-lo. Alex agarrou meu braço quando comecei a me afastar. — Sullivan é o pai de Tamlin? Ele - O que - Como-? Eu me afastei e peguei o braço dele, levando-o para frente. — Eu suponho que você vai me dizer se estamos prestes a cair de um penhasco? —Esta é a direção certa, se é isso que você quer dizer. Vamos falar sobre isso? — Sobre dicas de como fazer bebês? Já agimos bastante para que você soubesse disso. Se você quiser informações sobre cruzamentos, terá que perguntar a Sullivan - ele é aparentemente um especialista. Ok, bruxas não são realmente uma espécie diferente, mas eu ainda estou contando isso. Faz sentido,
no entanto; com um novo bebê por perto, não é de admirar que ele parecesse esquecer que eu existia naquela época. Eu parei, o sangue drenado do meu rosto quando ele me atingiu. — Ele tem dezoito anos, Alex. Isso é oito anos mais novo que eu. Oito, bem na idade em que eu tinha quando Sullivan me mandou embora. Diria que foi uma coincidência - sabe, se eu fosse uma idiota. Talvez seja por isso que minha mãe foi embora, porque ele a traiu. — Morgan, duvido que seu pai-... — Pare de ficar do maldito lado dele. Nem todos os pais são bons. — Tropecei em outra pedra e bati o queixo no chão primeiro, meus dentes cortando minha língua e meus lábios. Eu xinguei, estremecendo com o quão alto o som ecoou ao nosso redor. Engolindo riachos de sangue, me empurrei de volta. Foda-se a natureza. Foda-se tudo. Eu estava indo atrás de Wright imediatamente e indo descobrir onde ele escondeu sua merda. Talvez eu o esfole, vou ver se ele gosta. Tenho certeza que há um feitiço para isso em algum lugar. Poderia até improvisar. Seria mais confuso, mas me sentiria melhor. Pelo menos por enquanto. — Você está bem? — Alex perguntou. Eu tentei, mas não pude parar de olhar para ele. Com a queda, a parede e o demônio ruivo – o que eu mais odiava era que não conseguia pensar em uma maneira de fazer tudo rimar - todo o lado esquerdo do meu rosto estava variando em tons de roxo. — Eu vou viver, embora com o humor que estou, Wright pode não conseguir o mesmo, mas foda-se ele. — Vamos esperar até amanhã. Quando você estiver com um humor melhor, nós podemos-...
— Porque um novo dia fará toda essa merda parecer melhor? Porque se eu for dormir, Wright será preso? As vítimas do assassinato voltarão à vida, e toda essa merda com Sullivan simplesmente desaparecerá? Alex parou de andar. — Você sabe o que, Morgan? Nem todos nós somos sortudos o suficiente para ter pais vivos. Pode valer a pena. — Oh, meu Deus. — Eu gemi. — Querido, sinto muito por seus pais. Realmente sinto. Mas Sullivan não é seu pai; ele não colocou você em nenhuma dessas porcarias. Então, pare de colocar seus problemas familiares em mim! Desta vez, não fui eu quem foi embora.
Wright vivia em um lar surpreendentemente modesto; Acho que vender partes de pessoas inocentes não era tão lucrativo quando você tinha que dividir o dinheiro de seis maneiras. Ainda assim, era um espaço considerável para um homem solteiro. Wright tinha uma família? ‘Conheça o seu inimigo’ era provavelmente a coisa mais importante que um caçador tinha que lembrar. Eu sou rebelde. Sua casa era antiquada, colonial de dois andares com um jardim morto na frente e um punhado de proteções básicas espalhadas por toda a construção. Eles eram do tipo que você coloca para se sentir melhor, mas isso não passou mais do que a aula de jardim de infância mais lenta do Inferno. Eu realmente precisava falar com o Conselho sobre como tornar as proteções avançadas obrigatórias, mesmo em cidades da Ordem.
O céu estava se iluminando em uma madrugada escura. As pessoas iriam acordar em breve, então tinha que agir rápido antes que eles olhassem pela janela e vissem uma garota suja e de aparência selvagem se esgueirando. Esta não era a melhor das ideias, mas uma mente chateada raramente tomava boas decisões. Além disso, não é como se essa fosse a primeira ideia que tive desde que cheguei aqui. Toda essa viagem foi uma bagunça de ideias ruins, sentimentos ruins e brigas ruins. Por que quebrar o padrão agora? Olhei para a madeira vermelha escura da porta da frente de Wright antes de me ajoelhar e pressionar minha mão contra a calçada. Enviei uma grossa explosão de magia no chão, formando uma teia em minha mente criando-a ao longo do chão. Este não era um feitiço que eu usava frequentemente. Na maioria das vezes, as coisas que eu caçava podiam sentir-me - ou a minha magia - a uma milha de distância. Isso, ou o lugar em que eles estavam se escondendo era grande demais para eu cobrir com meu nível atual de poder. Pensei no Falso-Corrigan e franzi a testa; ele era definitivamente o usuário de magia mais forte que já conheci, embora eu não tivesse ideia de quão longe seu poder realmente iria. Amarrar um Duque do Inferno não era uma tarefa fácil, mas ele disse que havia reaproveitado um feitiço básico. Talvez ele não fosse tão poderoso quanto realmente era inteligente. Então, novamente, quão inteligente é alguém que decide servir a algo super ruim? O que diabos eram as coisas presas no Pináculo? Tudo o que ouvi foi que elas eram, bem, super ruins. Ugh, eu não tenho tempo para isso. Com um lembrete rápido de que ser louco não significava necessariamente que você fosse estúpido - apenas olhe para mim - empurrei o pensamento do Falso-Corrigan de lado o mais forte que gostaria de literalmente empurrá-lo de um penhasco.
Eu estava usando um feitiço de detecção de vida. Com isso, pude ver quantas pessoas estavam dentro do local segmentado e quais eram suas posições. A segunda parte não era tão útil sem conhecer o layout do local, mas me ajudaria a avaliar quantas pessoas estavam mais próximas do meu ponto de entrada. Ignorando a dor muito familiar circulando em um aperto de morte em torno do meu crânio, levantei a teia mental até onde estimava ser o segundo andar. Minha cabeça parecia explodir quando percebi que, alegria das alegrias, este lugar poderia ter um porão. De acordo com a minha varredura excruciante, não - ou pelo menos não havia ninguém lá embaixo; o feitiço revelou pessoas, não quartos. — Feitiço estúpido que exige foco real e não explodir as pessoas. — Eu murmurei sob a minha respiração. Esfregando minhas têmporas, tentei formular um plano. Havia pelo menos quatro guardas no térreo e dois no segundo, junto com outra pessoa que assumi ser Wright. Sete no total, provavelmente todos humanos - caçadores. A maioria dos caçadores não era especialista em arcanos, mas eles podiam se esquivar de uma lança de gelo e disparar uma arma muito bem, então não posso entrar com as mãos em chamas. Eles estavam se movendo, o que significava que Alex não era o único que tinha um fetiche por uma vida saudável. Sério, por que dia existe mesmo? Um feitiço de invisibilidade era uma verdadeira merda científica. Não era a coisa toda de camaleão onde ajusto meu corpo para imitar os padrões ao meu redor. Se fosse, minha cabeça teria explodido depois de dois segundos. Não, era mais tentar fazer minha pele e roupas transparentes. O que significava tentar afetar fisicamente as propriedades da minha pele. O que significava que eu
estaria orando para alguém inventar um lubrificante cerebral para o gangbang mental que eu estava prestes a passar. Rastejei para a parte de trás da casa, sorrindo com a visão de uma porta dos fundos. Ela estava trancada quando tentei abri-la, mas é para isso que a micha17 serve. Sim, michas, não são mágicas. Elas eram como armas; às vezes era mais fácil voltar à velha escola. Como todas as atividades furtivas, todos os movimentos que eu fazia parecia que estava dançando e sacudindo maracás. Uma vez que a porta foi destrancada, sentei-me com as costas contra ela e chutei tanta sujeira das minhas botas quanto pude. Não havia nada que eu pudesse fazer sobre o meu cheiro, no entanto. Dei uma fungada, franzindo o nariz com o cheiro de suor, sujeira, álcool e uma fina nuvem de Eau de Hospital. Bem, os mendigos não podem escolher. Geralmente, a melhor maneira de trabalhar com magia nova ou difícil era encontrar uma maneira de ancorá-la em algo que você já conhecia - como o Falso-Corrigan redirecionou Satanica Potestas para prender Ipos. Ou, para um exemplo menos grosseiro, toda a coisa de lança de gelo/dardo. Às vezes era mais complicado, como fazer seu corpo desaparecer. Para mim, era tudo visualização. Magia selvagem e ofensiva era apenas uma explosão natural, mas com outras magias e rituais, eu imaginava formas - como a teia - ou objetos ou o que mais fosse necessário. Neste caso, eu me imaginaria desvanecendo para o nada. Uau, isso soava assustador. Minha mão estava ainda mais pálida do que o normal quando olhei para ela, comparando aos últimos dois dias. Deus, realmente tinha sido apenas dois
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Conjunto de ferramentas para abrir trancas, fechaduras, portas.
dias? Eu não deveria estar surpresa. Quando me concentrei no membro, tentando fazê-lo desaparecer, meu estômago roncou como um urso descontente, e percebi que não tinha comido nada além dos poucos pedaços de bacon no café da manhã de ontem. Com essa percepção, toda a minha energia pareceu evaporar. Droga, Morgan, mate-se. Você já fez esse tipo de coisa várias vezes. O que é um dia ou cinco correndo na baixa? Uma aparente terceira voz na minha cabeça me lembrou do quanto paguei por aquelas ‘várias vezes’. Eu calei a boca. Levou tempo e determinação fria, mas eventualmente meus dedos começaram a piscar fora da vista. Eu estava pronta para beber o café de um país enriquecido com Red Bull quando consegui deixar todo o meu corpo invisível de uma só vez, e xingava minha mãe por sempre me dar magia em primeiro lugar, no momento em que consegui me manter transparente - sem voltar a cintilar à vista. O xingamento não parou, já que eu tinha que manter minha concentração o tempo todo em que estava lá. A porta se abriu silenciosamente, permitindo que eu deslizasse para dentro sem ser detectada. O cheiro de uísque flutuou ao redor, me deixando ainda mais enjoada com meu estômago vazio. Pelo menos meu odor não seria tão óbvio quanto eu pensava. Levei um minuto para refletir, considerando o meu hábito de fugir e fazer coisas estúpidas sempre que ficava chateada - o que aparentemente era o tempo todo - exatamente como consegui ficar viva por tanto tempo. Ao agradecer a qualquer idiota que pensasse em não colocar guardas pela casa ou perto da porta dos fundos fosse uma boa ideia, um dos homens apareceu bem na minha frente. Congelei, soltando um leve suspiro quando ele passou um centímetro de distância de mim sem esbarrar. Meus passos eram
silenciosos, apesar de quão alto eles pareciam contra o chão de madeira, enquanto eu me arrastava para longe dele, mantendo um olhar atento para qualquer outro pedaço de músculo contratado que pudesse esbarrar. Normalmente, não seria muito difícil deixá-los inconscientes, mas normalmente, eu não estava canalizando toda a minha energia para um feitiço de invisibilidade. Meu coração batia no meu peito como se estivesse canalizando Rock a cada passo que eu dava. Era impossível pensar. De certo modo, isso me lembrava de andar por aí com um feitiço de rastreamento: tudo estava embaçado, os guardas se transformaram em formas amorfas enquanto eu passava por eles. Exceto que desta vez, não foi o feitiço que afastou as partes desnecessárias da realidade, foi minha mente incapaz de processar muito mais do que o feitiço. A preocupação me roeu enquanto eu continuava. Nesse estado, não sabia muito sobre os guardas além do gênero. Todos eles tinham armas padrão da Ordem, então tinha que ficar de olho nisso, mas não seria um grande problema a menos que eles atirassem na minha cabeça. Na verdade, eu não tinha ideia se isso me mataria. Era possível que eu pudesse me curar, embora devagar. As minhas habilidades de regeneração ainda funcionarão se meu cérebro for danificado? Elas pareceram funcionar bem quando minha cabeça bateu, mas isso não era o mesmo que um buraco literal no meu crânio. Não estava com pressa para descobrir, de qualquer forma. Um dos degraus rangeu quando, lenta mas seguramente, subi as escadas. Parei no meio do caminho quando um dos homens olhou diretamente para mim, desviando meu olhar para que ele não sentisse que estava sendo observado. Demorou quarenta segundos torturantes (sim, eu contei), mas ele finalmente relaxou e desviou o olhar.
A casa parecia espaçosa do lado de fora, mas rastejando por dentro parecia estar se esgueirando por um maldito palácio. Eu finalmente cheguei a um par de portas duplas brancas com um guarda na frente delas. Isso era o escritório ou o quarto de Wright. Pelo que me lembro, havia duas pessoas de um lado do segundo andar - uma parada e outra não. Wright provavelmente estava lá, então, o que significava que eu deveria guardar aquele quarto para mais tarde. Se eu fosse Wright, não gostaria de deixar meus guardas perto dos objetos malignos que poderiam corromper quem quer que os manuseie. Então, era no quarto em que ele estava ou que estava desocupado. Ainda havia outro guarda por conta, provavelmente em patrulha. Encostei-me à parede e fechei os olhos, tentando lembrar o que minha teia pegou enquanto aproveitava a chance de descansar. Ainda usando a parede como suporte, movi-me na direção oposta das portas duplas. De vez em quando eu olhava para o meu corpo, certificando-me que não conseguia ver nada além do chão. Não demorou muito para encontrar outro guarda, feminino, encostado em uma porta. Ela não estava patrulhando, e com base no jeito que bocejou e fechou os olhos, não achei que planejasse fazê-lo tão cedo. Como diabos eu ia movê-la? Não havia outros guardas neste andar, e não parecia que as patrulhas seriam um problema. Eu me esgueirei e a agarrei, colocando uma mão sobre sua boca e pressionando a outra contra sua têmpora, enviando eletricidade através de meus dedos. Endorfinas inundaram através de mim quando o feitiço da invisibilidade se dissipou e minha mente pulou de alegria quando a pressão girando em torno dela desapareceu. O corpo da caçadora estava caído contra o meu quando peguei a fechadura da porta. Ela ficaria bem quando acordasse. Esses caçadores poderiam estar
fazendo o trabalho deles, sem saber o que Wright estava fazendo, então eu não queria machucá-los. Inocente até que se prove o contrário e tudo mais. A porta se abriu com um clique suave. Olhei dentro da sala, enviando tentáculos de magia para farejar qualquer armadilha. Uma súbita explosão de magia negra me bateu na bunda e eu contive um gemido quando minha cabeça bateu na outra mulher. A magia que os itens exalavam deixaria restos de seu poder mesmo depois de serem removidos, e a quantidade de mágica em torno significava que, se eles não estivessem aqui, não teriam ido muito longe. Não havia nada perigoso que eu pudesse sentir, então abri a porta e rapidamente arrastei Dorminhoca comigo. O escritório lembrava o do meu pai, uma comparação que me fez torcer meu rosto quando pensamentos sobre Tamlin e minha mãe entraram. Havia uma grande mesa no centro da sala, com grandes estantes atrás e ao longo das paredes laterais. Puxei a mulher inconsciente pelo carpete e a escondi debaixo da mesa para que ninguém a visse se passassem. Levantei-me, esticando as costas e sorrindo pelo satisfatório estalo produzido pela ação. Magia Negra é uma merda. Era como um pântano horrível cheio de lama borbulhante que o puxava para dentro, escorrendo pela sua garganta e sufocando você com veneno amargo. Pelo menos, isso é o que pareceu quando senti. A sensação deslizou sobre mim, acoplando com o meu cansaço, e eu tive que me apoiar na mesa para me manter firme. Precisaria de dez cheeseburgers e três semanas de sono depois que tudo isso acabasse. Deus, parecia que um milhão de insetos estavam rastejando sobre o meu corpo. A sensação era mais forte atrás de sua mesa, então movi os livros de lado, revelando um cofre. Suspirei. Se houvesse um feitiço que me permitisse passar
por objetos sólidos. Poderia haver tal feitiço, por tudo que eu sabia, mas não estava a ponto de mexer com a física mais do que já tinha feito hoje especialmente quando isso poderia acabar comigo perdendo uma mão. — Foda-se. — Sussurrei enquanto olhava para a fechadura. Eu não era a pessoa mais técnica, mas até eu conhecia uma fechadura de impressões digitais quando via uma. Não havia como a coisa mágica ser inflamável, e eu duvidava que Wright misturasse explosivos com seus objetos de valor, então deveria estar tudo bem em usar fogo. Bem, ‘tudo bem’ não era a palavra certa, algo como ‘não explodir’ seria mais preciso. Quem teria acreditado que menos de vinte e quatro horas atrás, eu estaria realmente tentando evitar que minha mão fosse derretida? Realmente precisava começar a carregar analgésicos comigo. Coloquei minha palma contra o cofre, sentindo o metal frio e suave sob a minha pele. Não ficou frio por muito tempo, porém, queimando rapidamente enquanto eu derretia através dele. Infelizmente, a precisão necessária para derreter a porta sem danificar seu conteúdo significava que eu tinha que estar tocando a superfície, porque a vida era uma merda quando você estudava como atirar bolas de fogo gigantes e evitava aprender qualquer coisa que precisasse de precisão. Fiz a minha cama e agora estava queimando nela. Muito parecido com as barras da minha antiga cela, o metal derretido queimou minha pele, mas desta vez fui capaz de me apoiar contra a parede e limitar meus sons de dor a respirações pesadas e difíceis. No segundo em que meus dedos tocaram o ar, puxei meu braço para trás. Meu estômago traidor grunhiu com o cheiro de carne queimada. Felizmente, a maior parte da minha fome diminuiu com a visão da minha mão. A pele no topo praticamente desapareceu, deixando apenas ossos metacarpo manchados de
sangue cercados por carne borbulhante. Lágrimas borraram maior parte, mas eu ainda podia dizer - e sentir, Jesus, porra, eu podia sentir - quão ruim era. Tentei olhar pelo lado positivo dizendo a mim mesma que ganharia o primeiro lugar em qualquer concurso de Halloween. Não ajudou. O tempo não estava do meu lado, mas percebi que tinha ganhado um fôlego depois do que fiz na minha mão. Encostada na mesa, derramei fortes lágrimas e esperei minha mão curar. Não houve qualquer dor na cura em si. Foi mais uma pressão nauseante, embora não fizesse nada para diminuir a dor da minha lesão real. Costumava olhar para as minhas feridas com uma fascinação mórbida, apenas observando e sentindo tudo voltando; era bom saber que, se eu visse um terapeuta, eles teriam mais com o que trabalhar do que apenas com questões familiares profundas. Considerando a minha exaustão, não foi a melhor das ideias, mas a dor era tão intensa que não pude deixar de bombear magia de cura na minha mão para acelerar a regeneração. Quando terminei, embalei minha mão no peito, com muito medo de flexioná-la, caso a dor ainda estivesse lá. Não estaria, mas eu não estava interessada em arriscar uma dor fantasma. Havia um buraco gigante no cofre, e assim que o metal esfriou, foram necessários pouco mais do que alguns puxões firmes para a porta se abrir. — Filho da puta!
CAPÍTULO 15
A coisa toda de ‘inocente até provar a culpa’ era difícil de segurar quando tudo que eu queria era dar uma de ‘Exterminador’ e atravessar os corredores, derrubando qualquer coisa no meu caminho. Eu sabia que não teria ocorrido tudo bem, mesmo se estivesse em boa forma, o que não estava nem perto do caso agora; os caçadores não eram ingênuos. Não importava se eles eram apenas guardas, o treinamento básico nos dava o suficiente para sermos perigosos. Os malditos itens não estavam aqui. Eu sabia que havia uma chance de que eles estariam, mas o Inferno era um chute na bunda. Na esperança de que não fodi a minha mão para nada, puxei os documentos dentro do cofre e comecei a olhar através deles por qualquer coisa incriminadora. Não parecia haver nada relacionado aos assassinatos, e eu estava prestes a desistir quando uma foto caiu das páginas. Uma fotografia do talismã do Falso-Corrigan. Era um pedaço arredondado de osso humano com um símbolo parecido com um sinal de infinito quebrado gravado nele. Tenho certeza de que deveria haver algum significado por trás disso, uma conexão para qualquer culto a que ele pertencia, mas ninguém havia encontrado nada até agora. Eu acho que foi isso que aconteceu - era meio difícil encontrar algo de concreto em um símbolo que
parecia
ser
vendido
'Dungeons&Dragons'18. 18
Jogo de RPG de fantasia
em
qualquer
coisa
rotulada
como
Também não tínhamos nada com osso. Era velho, amarelado com a idade e parecia carbonizado em alguns lugares, mas não havia informações sobre de que parte do corpo era. Pelo menos, nada que o Conselho revelou. Falar em evitar influência maliciosa é bom e tudo mais, mas você não tem uma organização dedicada a combater criaturas paranormais juntas por pura virtude. Magia negra, contatos do submundo ou o que for - alguém tinha que ter alguma coisa. Não que eu achasse que o Conselho estivesse escondendo informações... por motivos maliciosos. Wright esconder a fotografia em seu cofre era estranho, mas não tão estranho quanto os arquivos extras que ele tinha com o mesmo símbolo. Senteime na mesa e olhei as páginas. Não era muito, mas revelou que o Falso-Corrigan foi quem criou as cordas e a faca. Um viva, para caçadores paranoicos que mantinham registros. A descoberta não me surpreendeu nem me satisfez, mas foi o suficiente para aumentar minha curiosidade. Estava drenada demais para processar tudo certo então; teria que esperar até que o caso fosse oficialmente resolvido. Com isso em mente, continuei procurando nas páginas por mais informações condenatórias. A maior parte era um monte de notas escritas às pressas com perguntas anotadas nas margens, mas me dava alguma coisa. Havia algumas notas sobre a verdadeira identidade do vampiro que foram riscadas. Aparentemente, ele se apresentou a Wright como 'Morgan'. Adorável. Também havia perguntas sobre por que um vampiro adorador de demônios decidiu terceirizar a caça furtiva a caçadores, o que era uma boa coisa para perguntar. Por que o Falso-Corrigan estava fazendo isso? Tinha que ser mais do que dinheiro. Eu estava começando a ver um padrão. Ele seduziu Vaughn com
dinheiro e com a promessa de poder para conseguir que o caçador agora morto o ajudasse a reunir ingredientes para esse ritual. Agora, ele estava aqui, seduzindo Wright com dinheiro para colocar as mãos em partes de shifters e lobisomens para... o que? Outro ritual? — Melhor que não seja outro fodido apocalipse acontecendo. — Bufei, olhando para a caçadora inconsciente caída debaixo da mesa. — Eu acabei de parar um. Mais ou menos. Ipos parou. Com o fogo do Inferno, que foi muito foda. Por que eu estou falando com você? — Era um passo acima de falar comigo mesmo, acho. As anotações de Wright indicavam que ele não tinha ideia do porquê o vampiro precisava desses ingredientes, mas ele não parecia se importar. Eu não consegui encontrar nenhuma conexão comigo ou com minha mãe lá. Wright não sabia como ela era? Era possível. Depois que minha mãe desapareceu, todas as fotos dela na casa pareciam ter desaparecido também - quem sabe o que meu pai fez com elas. Talvez eu perguntasse se poderia tê-las quando isso terminasse. Havia fotos de Wright se encontrando com... Eu não tenho um novo nome inteligente para ele. Elas eram de alta qualidade, de perto. Surpreendeu-me que, hum… Foda-se, Falso-Corrigan funciona bem. Surpreendeu-me que ele permitiu que essas fotos existissem - não havia como ele não saber que elas estavam sendo tiradas. Meu lado narcisista disse que era para me provocar, e eu não tinha certeza se estava errada. A pessoa nessas fotos era definitivamente ele - era o mesmo rosto: feições finas, olhos frios. Olhos cinzentos. Eu quase tinha esquecido exatamente o quanto ele parecia com minha mãe e o lembrete me irritou. Essas fotos e anotações seriam suficientes para incriminar Wright? Encontrar o cara que tentou destravar o Pináculo tinha que ser o suficiente para
que Sullivan o segurasse até encontrarmos os itens. Dobrei os documentos, colocando-os em meus bolsos antes de mudar de ideia e encaixá-los no interior de minhas botas agradavelmente espaçosas; Wright não era o único caçador paranoico por aqui. — Ei! Deslizei da mesa bem a tempo de uma bala passar por mim, chamuscando as pontas do meu cabelo. Obrigada pelo aviso, cara. O que ele fez, pulou as aulas sobre abordagens furtivas? Eles literalmente passaram um semestre inteiro na academia ensinando isso. — Eu não acho que você ouviria-... Ele disparou outro tiro, a bala atingindo a parte de trás do cofre de Wright com um tilintar impotente. — ...uma explicação? — Sim, provavelmente não. Disparei um choque de eletricidade sobre minha cabeça. Com o baque surdo que se seguiu, levantei um pouco e olhei em volta, vendo o guarda no chão. Bom, pensei que ele poderia ter se abaixado. Eu me aproximei para ter certeza de que ele estava nocauteado, mas tive que encostar na parede ao lado da porta quando mais dois guardas apareceram, o som de passos batendo sinalizando que os dois restantes estariam aqui em breve. Quatro contra um não soou bem, mas ei, sobrevivi a uma emboscada com uma dúzia de demônios alguns meses atrás. Não é nada demais. Sim, eu estava intencionalmente ignorando a parte em que quase morri. Um estalo ensurdecedor soou, e rolei para longe, olhando para os buracos no chão na minha frente. Espingarda. Ok, semi-grande. Eu ainda tinha a vantagem - esta sala ficava no final do corredor, o que significava que eles só
poderiam se aproximar de um ou dois de cada vez. Eu poderia - Oh, foda-se. A estratégia era para o paciente bem descansado. A eletricidade crepitava em volta dos meus dedos curvados como um emaranhado de chicotes, quase silenciando o som da próxima explosão de espingarda. Pressionei minha mão contra o chão, achatando o raio em um disco. Espiei para fora da porta e deslizei o disco direto como se estivesse jogando hóquei de ar, esperando que chegasse ao meio do grupo. Assim que chegou, detonei-o como minhas barreiras e lanças de gelo. O som estava abaixo do esperado, pouco mais alto do que um curto-circuito, mas acho que nem tudo pode ser um choque - um trocadilho totalmente intencional - e terror. Seus corpos voaram e bateram contra as paredes antes de cair. Cinco no corredor e um debaixo da escrivaninha fizeram seis, então o único que restou foi Wright. Sim, foda-se a estratégia. Força bruta todo o caminho. Verifiquei os corpos para me certificar de que eles estavam todos nocauteados. Nenhum deles parecia seriamente ferido. Espero que eu não viva para me arrepender disso. Ou viveria - alguns arrependimentos não valem a pena. Wright fugiu no segundo em que viu os corpos, então eu tinha que chegar até ele agora. Corri para o outro lado do corredor, deixando escapar um grunhido de dor e surpresa quando algo apareceu ao meu lado. Reflexivamente, lancei um relâmpago na direção do ataque. Agora que o choque tinha passado, a dor se espalhou pelo meu abdômen, com o sangue escorrendo pela minha camisa. Não foi fatal, mas ainda doía. — Quem diabos usa um silenciador? — Eu gemi. — Não foi um silenciador. — Wright disse, saindo de entre o novo grupo de homens que apareceram no andar de baixo. — Você só não estava prestando atenção.
— Sim, essa sou eu. — Ignorando a bala presa no meu estômago, olhei para as dez armas apontadas para mim antes de me concentrar em Wright. — Prestei atenção suficiente, no entanto, para saber que você era suspeito desde o início, embora não tenha certeza do que exatamente você possuía para começar a esfolar pessoas inocentes vivas. Quero dizer, eu entendo que você é racista e tudo, mas não achei que fosse um psicopata. O rosto rechonchudo de Wright se contorceu em uma máscara de raiva e as rugas formaram sulcos pesados em sua testa enquanto toda a pretensão jovial desaparecia. — Você não sabe nada sobre mim. Você está me chamando de racista? Aqueles selvagens arruinaram minha vida inteira. Eu devo perdoar isso? No fundo, eles são todos iguais: animais selvagens. Só porque eles estão jogando de bons agora não significa-... — Cale a boca. — Eu rosnei, magia circulando no meu interior. — Você caçou pessoas inocentes. Eles eram filhos e filhas, mães e pais - eles tinham amigos e familiares que os amavam! Tudo do que eles eram culpados era ser da mesma espécie que o cara que te fodeu. Eles só queriam viver suas vidas, você foi quem os caçou. E quando isso aconteceu, você nem se importou se eles sofreram. Tudo o que queria era colocar as mãos no maior de número de órgãos possível para ganhar algum dinheiro extra. A magia que me assolava acelerou minha regeneração, e meu recém curado intestino forçou a bala de Wright para fora. Aterrissou no chão atapetado silenciosamente enquanto o buraco se fechava. Normalmente, doeria como, bem, ser baleado e ter a bala arrancada, mas a raiva lavou a dor. Alguns dos caçadores ao redor de Wright baixaram suas armas, olhando de mim para ele com incerteza.
— Foda-se! —Ele gritou. — Eu perdi tudo. Depois daquela caçada, eu não consegui mais trabalhar. Minha esposa me deixou, fiquei falido - tudo desmoronou! Não foi difícil tomar a decisão. Alguns animais mortos por dinheiro que poderiam salvar uma vida. — Sua vida não é mais importante que a deles! — Eu gritei, dando um passo à frente. O mundo sangrou em uma massa de cinza e agarrei o corrimão da escada em busca de apoio. Todos os caçadores ficaram alertas com a ação, com as armas prontas para atirar na morena cambaleante. Seria engraçado se eu não me sentisse como dez toneladas de lixo. Fechei os olhos e respirei fundo, esperando que ninguém notasse o jeito que meu braço tremia quando me levantei. Regeneração idiota, você poderia pelo menos me deixar escolher quando curar para que você não use toda a minha força. Tenho certeza de que, se meus poderes pudessem falar, eles me repreendiam por ser tão temperamental. Fiquei feliz que eles não podiam. — Minha vida foi arruinada por causa deles! — Os olhos de Wright estavam esbugalhados e cuspe voava de sua boca a cada palavra. Sua crença fervorosa seria admirável se não me deixasse mais doente do que a bala que acabara de expulsar. Apenas balancei a cabeça debilmente, sem saber se poderia considerá-lo mais humano. Ele com certeza não poderia ser chamado de membro da Ordem. — Você é uma desgraça. — Eu disse, dando a todos o olhar mais enojado que poderia reunir. — Todos vocês. Nós somos caçadores. Nós somos a Ordem. Nosso trabalho é proteger a todos contra ameaças sobrenaturais. Não protegemos apenas as pessoas que gostamos e não diferenciamos seres por raça ou credo ou o que for. A última vez que verifiquei, não éramos nazistas para
sairmos por aí matando alguém que odiamos. E para quê? Se você vai vender sua alma, pelo menos faça por algo mais do que apenas dinheiro. — Ela está certa. Doze pares de olhos voltaram sua atenção para a porta da frente quando Sullivan entrou. Ele estava sozinho e Deus sabe qual a razão. Isso era algum tipo de traço familiar que eu nunca conheci? Era tão enfurecedor quando eu fazia isso? Eu tinha um novo respeito pela paciência de Alex e Rowan. Ele era o chefe de uma maldita legião de caçadores e veio sozinho. Não parecia incomodá-lo; ele tinha as mãos enfiadas casualmente nos bolsos enquanto entrava no lugar. Apenas dois caçadores ainda tinham suas armas levantadas no momento em que ele parou na frente de Wright, mas seus braços caíram no segundo em que os olhou. Ok, quem precisa trazer um exército quando você pode converter um? Eu gostaria que isso fosse um traço familiar. Sullivan olhou para o seu ex-braço direito. — Afaste-se, Wright. Isso foi longe o suficiente. — Senhor, eu-... — Não perca seu fôlego. Eu ouvi tudo. — A autoridade em sua voz cresceu enquanto ele falava. — Todos vocês, larguem suas armas e recuem. Suas ordens foram realizadas imediatamente. Era quase cômico como todos os dez caçadores conseguiram estar tão em sincronia - suas armas foram colocadas no chão e os homens deram três passos para trás como se fossem uma só mente. — Você está bem, Morgan? — Perguntou ele. — Você está sangrando. Com sua atenção dirigida a mim, a raiva voltou correndo. Essa é a tal coisa: quando eu ficava brava, cada pequena coisa que alguém fazia piorava. Especialmente se eu já estava brava com eles porque, digamos, tinham um
fodido filho bastardo e não me dizia. Então, Sullivan apontando o óbvio - como se eu não tivesse notado o sangue quando fui baleada - me irritou muito mais do que deveria. Engoli tudo, sabendo que não havia razão para começar a agir como uma cadela. Isso poderia esperar até que eu tivesse mais tempo para me enfurecer, completo com ritmo e o braço acenando. — Estou bem. — Larguei o corrimão com esforço. O mundo não caiu, então achei que tudo ficaria bem. — Ele é o único por trás dos assassinatos, mas acho que é óbvio agora.— Sullivan assentiu. — O senhor Campbell me contou tudo. Você encontrou os itens que eles usaram? — Não. — Eu disse. — Havia alguns arquivos interessantes em seu cofre, no entanto. Os objetos estiveram definitivamente lá recentemente. — Quão recentemente? — Baseado em quão forte a magia remanescente está, eu diria não mais do que doze horas. — Eu também gostaria de dizer que estou muito orgulhosa de mim mesma por soar tão profissional quando tudo que quero fazer é colapsar no chão. — Onde-...— Wright interrompeu Sullivan segurando uma arma na cara dele. Os caçadores se entreolharam, e então suas armas. Sullivan nem piscou. — Pense bem, Wright. Você não está em condições de lutar. — Não é preciso muita habilidade para disparar uma arma desta distancia, chefe. —Wright cuspiu a última palavra. Sullivan acenou com a mão ao redor. — Existem outros dez caçadores aqui. — Sem mencionar que caçadores ainda estavam brincando de se entreolhar, então eu não tinha certeza do que Sullivan estava querendo dizer. — E então? — Ele zombou. — Não é meu trabalho cair com você?
— Nós somos amigos. Wright soltou uma risada depravada. — Amigos? Você acha que somos amigos? Você nem saberia quem sou se eu não tivesse me jogado aos seus pés! Você não sabe nada sobre mim e não se importa. Não, você está muito ocupado brincando com essas feras. Eu não ficaria surpreso se você estivesse experimentando a culinária local também. Acho que deveria chamá-lo de peludo, hein Morgan? — Ele falou por cima do ombro. — É assim que eles conseguiram sua lealdade, 'amigo'? — Você está fora de si. — Grunhi, deixando de lado como suas palavras ressoaram em mim. Minhas razões para ficar com raiva de Catherine não tinham nada a ver com a raça dela, no entanto. Além disso, posso ter tido problemas com ele, mas Sullivan ainda era meu pai - o chefe de uma família da Ordem. — Afaste-se, Wright. — Qual é o problema? — Ele perguntou, virando-se para mim enquanto mantinha a arma apontada para Sullivan. — Não quer lutar contra um aleijado? — Isso não é-.. — Você deveria me mostrar algum respeito, criança. Eu tenho sido um caçador por mais tempo do que você esteve viva. Eu ainda tenho alguns truques na manga. — A raiva em seu rosto mudou para uma certeza. Eu trouxe minha magia para frente, mas não fui rápida o suficiente. Wright tirou algo do bolso e bateu no chão. A fumaça encheu a sala junto com o som de quatro tiros. Tudo congelou enquanto eu tentava entender o que poderia ter acontecido, mas passei por ele. Evocando uma enorme rajada de vento, forcei-o a ir para a fumaça. Janelas se despedaçaram, a porta da frente arrancou suas dobradiças, e todos lá embaixo
foram jogados contra a parede. Impressionante, ainda usando muito poder. Lá vai. — Encontrem-o! — Gritei enquanto os caçadores lutavam para se recompor. Apenas dois foram capazes de se levantar e sair correndo. Eu me sentiria culpada por nocautear - ou pior - o resto deles, mas tudo o que importava agora era o homem sangrando no chão. Usar aquela área em um estado tão agitado me drenou. Tropecei escada abaixo, caindo os últimos degraus e aterrissando com força no meu cotovelo. Ignorei a dor e me arrastei em direção ao meu pai. Não era uma visão bonita. A força do feitiço o derrubara tão forte quanto os outros. Seu braço estava torcido em um ângulo esquisito e sua camisa branca limpa agora era um vermelho escuro, pontilhado com quatro pontos mais escuros. Ajoelhei-me ao lado dele, engolindo bile enquanto meus joelhos estavam encharcados pela rápida formação de sangue debaixo de sua pessoa. Segurei minhas mãos trêmulas sobre seu corpo e examinei-o. Seu braço estava quebrado, seu ombro estava fraturado e ele bateu o crânio contra o chão. Havia apenas uma bala no corpo; eu tinha que tirá-la antes de começar a curá-lo. Sua respiração estava rouca enquanto ele tentava engolir algo. Eu o virei para que pudesse tossir o sangue antes de colocá-lo de costas novamente e segurar sua bochecha. — Espere. — Eu disse em um sussurro de pânico. — Apenas espere. Eu vou curar você, mas primeiro preciso tirar a bala. Não há nenhum feitiço entorpecente, então isso vai doer. Ele se aproximou de mim. — M-Morgan... Eu o silenciei. — Guarde sua força, ok? Apenas poupe sua força.
Porra, ele parecia tão pálido, tão fraco. Ele estava bem há um segundo atrás e agora... Eu apertei a mão sobre a minha boca enquanto lágrimas quentes caíam pelo meu rosto. Elas caíram mais quando percebi que meu rosto e minhas mãos estavam agora cobertos pelo sangue do meu pai. O líquido penetrante passou pelos meus lábios, e eu vomitei um pouco, virando-me para cuspir tudo antes de puxar meu cabelo para longe do meu rosto, ignorando o fato de que estava apenas me sujando mais de sangue. A bala estava perto de seus pulmões, entre duas costelas. Sussurrando um rápido pedido de desculpas, cavei um dedo no buraco em seu peito. Estremeci com seus gemidos de dor, mas continuei. Seu sangue parecia fogo contra o meu dedo congelado enquanto eu continuava cavando. — Eu preciso abrir o buraco um pouco mais. — Apesar dos meus melhores esforços, minha voz ainda estava trêmula. — Eu sou uma idiota tão estúpida, nem sequer trouxe o fórceps ou algo fodido. — Morgan... — Cale-se! — Minhas lágrimas estúpidas estavam me cegando e esfreguei violentamente meus olhos com a manga ensanguentada. — Você quer morrer? Bem, você não pode. Você é meu pai e eu posso odiá-lo, mas não odeio você. Então, você não pode morrer. — As palavras saíram de mim. A revelação em minhas palavras teria me atingido muito se eu não estivesse atualmente vasculhando o interior do único pai que não era um gato que eu tinha. — Você é um idiota. — Eu disse, continuando meu choro em uma tentativa fraca de me distrair. A raiva sempre funcionou, então por que não estava funcionando agora? — Você me manda embora e tem uma criança com algum lobisomem mágico. Então, você me ignora por dezoito anos e só me liga de volta porque tenho magia e você precisava de ajuda. Você é um idiota. Um
imbecil idiota. Mas você também é meu pai e eu não quero que você morra, ok então, por favor, não morra. Por favor, não morra. Repeti as palavras como uma oração entre soluços interrompidos. Eu poderia jogar duro e frio, tudo que queria, mas quando chegava a hora, eu era muito mais fraca do que deixava transparecer. Brincar de ser forte nunca foi um problema antes, mas a represa estava quebrada agora. Finalmente, minha unha atingiu algo sólido. Ele não gritou de dor, então assumi que o que bati não era osso. Murmurando outro pedido de desculpas e enxugando mais lágrimas, eu abri o buraco ainda mais, tentando tirar a bala. — Morgan... — Sua voz estava quebrada, pouco acima de um sussurro. — Eu disse para calar a boca. — Choraminguei. — Apenas cale a boca. Você vai ficar bem, então cale a boca. — Eu sinto muito. — Sua mão tremia quando ele levantou para mim novamente. — E-eu amo... Soltei um gemido desumano e cegamente estendi a mão, apertando a bala quando a encontrei, segurei o mais forte que pude com todo o sangue fazendo minha mão escorregar como um bebê golfinho. Ele não parecia se importar, e a percepção de que eu estava segurando a mão do meu pai enquanto ele estava sangrando até a morte me fez quebrar em outro ataque de choro. Uma sombra apareceu sobre mim e a voz de Alex soou. — O que-... — CHAMEM UMA AMBULÂNCIA! — Berrei, gritando de alívio quando a bala foi finalmente removida. Joguei-a de lado e coloquei minha mão livre em seu torso, meu tremor ficando pior quando senti como seu peito mal se movia. Bombardeei seu corpo com magia de cura, virando minha cabeça para cuspir a bílis que corria com meus esforços, o sabor normalmente picante como lama contra a minha língua.
Minha visão estava cheia de uma luz dourada embaçada enquanto eu o curava, sussurrando que tudo ficaria bem. Não tinha certeza de quem eu estava tentando convencer.
CAPÍTULO 16
Eu já estava encharcada de sangue, por isso não me incomodei quando caí no peito do meu pai, agarrando-me a ele pela minha vida enquanto soluçava como um bebê. Eu o curei. Todos os buracos de bala estavam fechados e parei o sangramento, mas eu não tinha foco suficiente para consertar seus ossos. Os médicos teriam que cuidar disso. Se o corpo dele sobreviveria ao trauma e a perda de sangue ainda era um mistério - eu não tinha experiência médica suficiente para saber. — Você é forte. — Sussurrei em seu ouvido. — Eu sei que você é. Você é forte e vai superar. Você me ouviu? Você vai viver. Não é um pedido, é uma ordem. Eu ainda tenho muitas coisas para te dizer, para te perguntar, então você não pode ir embora, ok? Você não pode. Por favor, não vá embora. Ele estava fraco demais para falar ou se mover - e o fato dele ainda estar acordado era nada menos que um milagre - mas seus dedos se contraíram no meu joelho. A ação me fez chorar mais, embora eu tivesse certeza de que qualquer coisa que ele fizesse agora me faria chorar mais. Eu não o soltei até que as sirenes tocaram e as pessoas vieram correndo. Os paramédicos me empurraram para o lado para cuidar de Sullivan, e eu fiquei lá enquanto Alex corria para mim. Tudo, das pontas das minhas botas até o topo da minha cabeça, estava encharcado de sangue. Era quente, pesado e pegajoso contra mim, a lembrança da mortalidade do meu pai me deixando perto da catatonia. Alex estava aqui,
no entanto. Ele veio. Estendi a mão para ele, minha mão manchando seu suéter. Ele pegou, levantando-me contra ele em uma posição sentada. — Morgan, você está bem? Você está machucada? — Ele. — Choraminguei, olhando para as costas dos paramédicos enquanto eles se amontoavam ao redor do meu pai. — Ele está... Alex virou minha cabeça para encará-lo. — Ele vai ficar bem, Morgan. Faleme sobre você. Você está bem? Fisicamente? Talvez. Mentalmente? Nem mesmo perto. — Eu tenho que ir atrás de Wright. Ele fez isso, tem que pagar. — Tentei me levantar, mas o sangue sob meus pés fez tudo escorregadio. — Não. — Alex me segurou. — Você está fora. Você não comeu nem dormiu. — É minha culpa — Eu disse enquanto mais lágrimas avançavam. Fodase isso. No segundo em que estivesse descansada, ia cauterizar meus malditos dutos lacrimais. — Não é sua culpa. — Se eu tivesse sido mais forte, se tivesse descoberto mais cedo... Alex segurou meu rosto, seus dedos firmes contra a minha pele. — Isso não é culpa sua. Nada disso é culpa sua. Você fez o melhor que pôde. — E não foi o suficiente. — Chorei, enterrando meu rosto em seu ombro como uma criança. — Nunca é o bastante. Lady Cassandra, Lily, e agora... Por favor, Alex, eu preciso encontrá-lo. Ele suspirou, segurando-me contra si como se estivesse com medo de eu desaparecer. — Eu vou com você.
Balancei a cabeça furiosamente. — Não. Você vai se machucar como ele fez. Eu não quero isso. Eu te amo, então tenho que te proteger. Ele não pode te tirar de mim. Eu não vou o deixar fazer isso. Eu não percebi que as palavras haviam escapado, mas Alex pulou sobre elas imediatamente. — Você o que? Acariciei sua bochecha, fungando. — Eu te amo. Eu sei que é o pior momento possível e talvez seja cedo demais... e não sei. Mas amo você e não quero que se machuque, então por favor. — Eu também te amo. — Ele disse no que era quase um sussurro. — E se você me ama da mesma maneira, então sabe o quanto eu também não quero que você se machuque. — Eu vou me curar. — Lamentei. — De lesões, não exaustão. — Ele me puxou para os meus pés, e caí contra ele quando pontos escuros assaltaram minha visão. — Vê? Não é bom ter você desmaiando no meio da luta. — Eu vou ficar bem. Temos que nos apressar antes que ele escape. O feitiço de rastreamento - pegue um pouco do cabelo dele. — Ele é praticamente careca. — Ele ainda estava se preocupando como uma mãe galinha. — E de jeito nenhum você vai usar magia, não até se curar. — Pele, então. Algo. Qualquer coisa. — Eu disse, ignorando seu último comentário. Como exatamente ele esperava que eu desligasse algo tão natural quanto respirar? — O quarto dele está no andar de cima, vá lá. — Morgan, não. Você me ouviu? — Magia é reflexiva. É como me dizer para não piscar. — Bem, esse reflexo pode matar você.
Ele estava certo. Eu sabia, mas não sabia como parar. Eu me afastei dele, respirando fundo para limpar a minha cabeça. — Vou tentar, mas não há barra de mana. A magia atrai minha energia e não sei como bloqueá-la. Eu posso continuar usando até que apague. Ele me deu um olhar aguçado. — O que você não vai fazer. — Prometo tentar.— Alex assentiu e me puxou de volta para ele. — Tom ainda está no hospital.— — Sortudo. — Ele pode saber onde está Wright. — Mas? — Não. — Disse ele. Eu queria colocá-lo no fogo. Amorosamente. — Podemos rastreá-lo à moda antiga. Balancei a cabeça, avistando os paramédicos levando meu pai embora. — Para onde vocês estão levando ele? — Pergunta estúpida, mas escapou de qualquer maneira. Uma mulher de cabelo loiro curto afastou-se da maca para falar comigo. — Estamos levando ele para o hospital. Seus sinais vitais parecem estáveis. Balancei a cabeça rapidamente novamente, não ouvindo nada que já não soubesse. —Cuidem bem dele, por favor. — Estamos esperançosos. — Disse ela, dando-me um aceno educado e se desculpando. Alex correu atrás dela e eles trocaram algumas palavras antes dele voltar e pegar minha mão. — Eles vão nos dar uma carona para o hospital. — Quando não respondi, ele gentilmente puxou meu braço. — Vamos lá, você pode ficar com seu pai.
Eu me inclinei contra ele. — E você? Ficará? Ele limpou o sangue da minha testa e deu um beijo contra a pele recémexposta. — Claro. Passei o caminho inteiro com uma mão na de Alex e a outra segurando a do meu pai.
As enfermeiras tiveram a gentileza de me emprestar um uniforme e me deixaram usar o chuveiro. Meus dedos enrolaram com todo o vermelho em volta dos meus pés. Meu longo cabelo parecia grosso, cheio de sangue, apesar do jato de água quente já ter lavado tudo. Fiquei tentada a pegar uma tesoura e cortar tudo. Ou queimá-lo, embora com base na maneira como meus braços tremiam enquanto me esfregava, magia não era uma boa ideia. Enquanto vestia o confortável uniforme rosa e amarrava meu cabelo em um coque molhado e pesado, uma enfermeira entrou no vestiário. Ela era delicada e educada, e me ofereceu um cardigã de lã. — Eu acho que você não vai ficar aqui por muito tempo e está muito frio lá fora. — Disse ela. — Seu amigo já está com o... suspeito? Caçador? Eu não sei. Eles estão no quarto 402. Escorreguei no cardigã e agradeci antes de sair para encontrar Alex. O quarto 402 ficava no final de um corredor desabitado e o quarto estava vazio, exceto pelos dois homens. Tom parecia uma merda. O mesmo acontecia com o Alex. Eu também. Cada um de nós por diferentes razões, mas era algo que tínhamos em comum. Agora, pode ser a única coisa que temos em comum.
— Ela é a razão pela qual você está agindo como um louco? — Tom perguntou, coçando a sonda presa em seu braço. — Somos amigos, cara. Não deixe que alguns-... Ataquei, saltando levemente quando caí na cama. Minhas mãos envolveram o pescoço de Tom, os músculos ao redor de sua garganta pressionando contra a palma da minha mão. — Onde está Wright? Na periferia, pude ver os olhos de Alex se arregalarem. — Morgan. — Você teve todo esse tempo para tirar isso dele — Eu disse, meus olhos nunca deixando os olhos castanhos de Tom. Ele vai ficar bem; eu não estava apertando o suficiente para matar, não com o jeito que minhas mãos estavam tremendo. Além disso, estávamos em um hospital - eles tinham máscaras de oxigênio. — Agora é minha vez. — Eu acabei de passar dias sendo torturado pelos Garou. — Tom forçou para fora quando apertei mais forte. — Você acha que pode me quebrar? — Eu não vou mentir, sua lealdade é muito admirável. — Sussurrei. — Mas eu também passei algum tempo com os Lobisomens e você sabe o que aprendi? — O quê? — Tom rosnou, seus perfeitos dentes brancos à mostra. A magia se agrupou em minhas mãos naturalmente, como um rio que flui; eu nem percebi até que passou pela ponta dos meus dedos. Pressionei minha bochecha contra a dele. — Eles são mais legais do que eu. Tom soltou um grito de dor quando a pele sob minhas mãos se aqueceu, o fedor de carne queimada enchendo a sala. Um par de mãos agarrou meus lados e eu fui içada no ar, vapor subindo das marcas na pele de Tom. — Droga, Alex. — Lutei contra seu aperto, fios molhados de cabelo escorregando para fora do meu coque. — Coloque-me no chão.
— Cadela louca. — Tom murmurou quando se sentou. — Cale a boca. Você está sendo bombeado de drogas, aposto que já está entorpecido. — Eu tenho a porra de marcas de mãos gravadas no meu pescoço! Ele estava certo. Havia marcas de mãos vermelhas e irritadas em sua pele. Agora que o vapor se dissipou, eu podia ver que partes de sua pele rachadas e outras partes fervendo. Tudo bem, eu exagerei. Ele poderia considerar isso como um lembrete físico do que havia feito. — Isso não é nem perto do que as pessoas que você matou passou. — Disse Alex com os dentes cerrados quando me colocou no chão. Tom desviou o olhar. — Eu apenas os segurei. — Oh. — Eu zombei. — Sim, isso deixa tudo bem. ‘Eu não os esfolei vivos, apenas os segurei enquanto outra pessoa fez isso.’ Foda-se. — Eu estou no hospital. Como você espera que eu saiba onde está Wright? — Ele atirou no meu pai. — Corri para ele novamente, mas Alex me pegou pela cintura. — Ele foi pego, atirou no meu pai quatro vezes no peito e saiu correndo. Onde diabos ele iria? Adivinhe, antes de eu adicionar mais marcas de mãos à sua coleção. Eu soava como uma psicopata, e com o jeito que meu cabelo estava derramando, provavelmente também parecia uma. Náuseas dispararam através de mim enquanto eu lutava contra Alex e a magia se agitando dentro de mim. As luzes piscaram e as janelas vibraram enquanto minha magia corria como uma monção. Fechei meus olhos e tentei relaxar contra o peito de Alex antes que todo o quarto explodisse.
— Whoa, whoa, whoa. — Tom levantou as mãos e olhou para Alex. — Cara, você não me disse que Sir Wallace foi baleado. Há quanto tempo você está aqui e não mencionou isso? — Você não pode jogar como a parte machucada. — Alex disse, virandome, então eu não estava mais enfrentando Tom. — Ele vai ficar bem? — Perguntou Tom. — Você não ficará, se não me disser o que preciso saber.— Eu rosnei. — Ele está inconsciente, mas estável. — Disse Alex. Tom suspirou e passou a mão pelos cabelos. — Não era para ser assim. — Você estava esfaqueando pessoas vivas. — Rosnei, empurrando Alex de cima de mim. — Eu sei. — Tom suspirou novamente. — Não era pessoal. Eu sei, eu sei.— Ele disse quando abri minha boca novamente. — É uma desculpa de merda. Wright era como um mentor para mim quando saí da academia pela primeira vez. Ele era um bom homem, acredite ou não. — Não. — Morgan. — Disse Alex. — Tudo bem. Tom olhou entre nós dois. — Depois que ele ficou aleijado... Bem, um caçador aleijado; se virando sozinho contra um vampiro é uma chaleira de peixe19 diferente do que uma briga de bar com os humanos. Eu levantei uma sobrancelha. — Uma chaleira de peixe? — De qualquer forma, — Disse Tom, estreitando os olhos para mim. — sua vida foi para a merda depois disso. Ele começou a beber tanto que sua
19
Kettle of fish = uma situação desagradável, difícil ou ruim; confusão; bagunça.
esposa se cansou disso. Ela pegou a filha e foi embora, dizendo que não voltariam até que ele se recompusesse. Tudo o que ele fez foi beber mais. Ele não conseguiu manter um emprego, o dinheiro acabou... Todas essas coisas. — Ele tem uma boa casa para alguém com problemas financeiros. — Disse Alex. — Sim. Agora. — Disse Tom. —Sua esposa - ex-esposa - ficou muito doente. Câncer. Depois que ele recebeu a notícia, começou a mudar sua vida parou de beber, conseguiu um emprego e finalmente chegou à ser o braço direito de Sir Wallace. Mas ela continuava ficando mais doente, e as contas médicas continuavam chegando; ele simplesmente não conseguia acompanhar. — Ele lhe contou tudo isso? — Alex perguntou. — Cerca de dois meses atrás, voltei de uma caçada e decidimos tomar uma bebida - recuperar o atraso e tudo mais. Algumas horas e uma merda de bebida depois, ele derramou seu coração. Então, eu fiz uma piada - uma piada - que ele poderia roubar alguns desses artefatos super perigosos que nós deveríamos entregar ao Conselho e vendê-los no mercado negro. Aparentemente, ele me levou a sério. Ou pelo menos fez depois que conheceu aquele cara. — Cara. — Eu disse. — Um vampiro, certo? Tom assentiu. — Não me deu um nome ou qualquer coisa. Apenas disse que ele recebeu uma oferta: órgãos Shifter e Lobisomens por dinheiro. Muito dinheiro. Wright sabia que ele não poderia fazer isso sozinho, então perguntou se eu estava interessado ou se conhecia pessoas que estavam. Eu não ia fazer isso, mas ele me disse exatamente o quanto o cara estava oferecendo. — Ele olhou para nós, arrependimento o envelhecendo dez anos. — Era mais do que qualquer coisa que já tive na minha vida. E isso foi apenas por um corpo. Eu
sabia que era errado, mas tenho aluguel, contas e... outras dívidas. — Ele balançou a cabeça. — Eu sei o que fiz. E não espero perdão. Bom, porque eu não estava dando. Eu também não me sentia mal com isso. Um pouco de pena deles, claro - a vida fica bem feia quando o dinheiro está apertado, especialmente quando as pessoas ficam doentes. Isso não é desculpa para as coisas que eles fizeram. Pelo menos, Tom assumiu isso. Ele até parecia culpado, pelo que eu o respeitava. Um pouco; as sensações e memórias das vítimas ainda estavam frescas em minha cabeça. — Vocês dois são próximos. — Eu disse. — Onde ele iria se estivesse fugindo? — Fora da cidade. — Disse Tom, parecendo totalmente derrotado. — Ele iria parar no cemitério primeiro, no entanto. — Por que? — Perguntou Alex. — Para dizer adeus a sua esposa.
CAPÍTULO 17
O ar frio subiu pelas calças soltas que usava, congelando minhas panturrilhas. Eu estava usando um par de tênis, minhas botas - e os arquivos que eu havia colocado nelas - estavam no chão do quarto de hospital do meu pai. Foi uma decisão da qual me arrependi quando outra rajada de ar gelado girou em torno de nós. Eu deveria pelo menos ter secado meu cabelo; os fios molhados pareciam congelados, entorpecendo meu crânio. Apesar de ser de manhã, o cemitério de Dovesport era tão sombrio e assustador como se estivéssemos nos esgueirando à meia-noite. Como se sentissem o clima, nuvens escuras e pesadas dominavam o céu, bloqueando toda a luz possível e aquecendo a cidade em vários tons de escuridão. Parecia o início de uma tempestade e, por mais bobo que parecesse, eu esperava que um raio chegasse para atacar Wright. Alex estava comigo, nós dois segurando nossas armas enquanto procurávamos pelo ex-caçador. Talvez eu ainda estivesse emocionada com meu pai, porque meus olhos continuavam indo de volta para Alex. Eu ainda não o queria aqui. Até tentei mandá-lo para a floresta e obter apoio dos Lobisomens. Ele apontou que, quando chegasse ao bando, Wright já poderia ter fugido. Estúpido, inteligente idiota. Não era seguro para ele aqui. Sim, ele era um bom caçador, mas meu pai tinha sido um bom caçador. E onde ele estava agora? Na porra do hospital por
causa do homem que estávamos procurando. Eu quase o perdi e não poderia não perderia Alex. O vento uivou, e eu me encolhi com o barulho agudo, girando para mirar a fonte sem forma. Droga, Morgan, encontre seu centro. Olhe em volta. Tenha uma estratégia. Os grossos troncos de árvores forneceriam uma cobertura ampla, e se não houvesse nenhum ao redor de Wright, as lápides também funcionariam. Mórbido, sim, mas prefiro me esconder atrás de uma lápide do que ser enterrada embaixo de uma. Entrar em um confronto trazia sentimentos que há muito me acostumei. Era um pesado véu sobre meus ombros, um peso no meu coração que me dizia que eu teria que tirar outra vida. A sensação era de alívio, tranquilizando-me de que eu tinha investigado o suficiente para ter certeza de que não estava matando um inocente. Mas preparar-se para matar um caçador era uma experiência estranha. A única outra vez que tive que fazer isso, estava mais preocupada em salvar meus amigos e impedir que o Pináculo fosse destrancado do que qualquer um que estivesse no meu caminho. E nem fui eu que matou Vaughn – foi Alex. O pensamento de Vaughn me deixou carrancuda. Dos sete, se você contar com Tom e seu grupo - os caçadores ficaram mal em menos de dois meses, ambos em cidades da Ordem. Mesmo se eu acreditasse em coincidências, esses incidentes me levavam de volta ao Falso-Corrigan. Claro, ele atacou suas necessidades (Vaughn com sua sede de poder, Wright por sua necessidade de dinheiro), mas ele instigou tudo isso. Ele colocou as ideias em suas cabeças. Se você fizer isso por mim, eu posso te dar o que você quer.
Alex sinalizou para mim e acenou com a cabeça à frente. Wright estava lá, ajoelhado na frente de uma lápide. Ele estava dizendo algo, suas palavras suaves como uma oração. Eu o ouvi de qualquer maneira. — Eu vou embora por um tempo, Jenny. Só queria dizer adeus, já que não vou poder visitá-la. Não se preocupe, porém, Elizabeth ficará bem. Coloquei todo o meu dinheiro em uma conta com o nome dela, então quando ela crescer, terá o suficiente para viver. Ela deve ser capaz de manter a casa também, se não a levarem embora. Você adoraria, querida - parece a casa que você costumava descrever para mim, a que planejamos comprar quando pudéssemos comprá-la. Pelo menos nossa garotinha vai se divertir, mesmo que não consigamos vê-la crescer. — Ele soltou uma risada chorosa. — Ela já cresceu, no entanto, não é? Faculdade de Direito, assim como sempre sonhou. Franzi meus lábios, empurrando a emoção que brotou de volta para dentro. Se eu deixasse cada história triste no mundo chegar a mim, não seria capaz de funcionar. Alex e eu nos separamos em direções opostas para emboscá-lo. Sinalizei para Alex ter cuidado. Mesmo a essa distância, eu podia sentir a magia negra irradiando dos artefatos que Wright tinha consigo. — Espero que você possa entender e talvez até me perdoar. — Continuou Wright. — Eu não pegaria nada disso, mesmo que pudesse. Meu único arrependimento é que não encontrei aquele vampiro a tempo de te salvar, quando poderia ter pago por algo que teria te mantido viva. Essas coisas - ele moveu seus braços e assumi que estava gesticulando para os itens - eu não deveria ter trazido elas aqui, elas são… más. Mesmo agora, posso sentir sua mancha deslizando sobre mim. Não admira que Ken tenha enlouquecido. Lamento que seu local de descanso esteja sendo violado por essa magia, mas, por mais mal-intencionados que sejam, elas são poderosas e eu preciso delas.
Teria sido fácil. Apenas um tiro e fim. Eu poderia até usar uma lança de gelo para um golpe melhor. Não teria me drenado muito, e mesmo se tivesse, Wright estaria morto, e eu poderia passar o resto da semana na cama. Mas não joguei nenhuma mágica ou disparei a arma. Eu apenas fiquei lá, ouvindo-o dizer adeus à sua esposa morta. — Essa é a única razão pela qual fiz isso.— Disse Wright, mais alto do que antes. Ele nos sentiu. Claro que, aposentado ou não, ele ainda era um caçador. — Minha filha. Eu fiz isso para pagar a mensalidade, o aluguel dela... Eu tenho que cuidar dela. Ela é tudo que me resta. — Como você acha que ela se sentiria se soubesse o que você estava fazendo? — Alex disse. — É fácil ficar aí e julgar. — Wright zombou. — O que você teria feito na minha posição? Se você estivesse tão envolvido em sua auto piedade que se deixou perder em uma garrafa, se sua esposa deixou você porque não aguentava te ver se autodestruir, se ela morresse porque você não conseguiu se recompor rápido o suficiente. Que diabos você teria feito? — Nada disso te desculpa. — Disse Alex quando nos aproximamos do excaçador, parando a menos de um metro e meio de distância dele. Eu não pude responder. Eu não queria. Tive que dizer antes exatamente as mesmas palavras vazias para cada vilão que explodia justificativas para as coisas hediondas que fizeram. Às vezes as palavras não eram tão vazias, às vezes os monstros eram realmente horríveis e não tinham desculpa. Mas outras vezes, era difícil não simpatizar.
Afinal, o que eu poderia dizer? Que não teria me tornado um bêbado em primeiro lugar? Que eu teria pendurado lá? Quantas outras platitudes 20 eu poderia ter dado a ele, cada uma mais insensível do que a última? Ninguém sabe o que vai fazer em uma situação até que isso aconteça com eles, e sabia que seria difícil para eu não ceder à escuridão se isso significasse que poderia salvar as pessoas que amava. Mas Alex estava certo: absolutamente nada era desculpa para o que Wright tinha feito. É por isso que ele disse, porque essa era a única resposta verdadeira que poderia dar sem admitir que simpatizasse. — Entregue-se. — Eu disse, olhando para ele através do cano da minha arma. — Entregue os artefatos do Falso-... do vampiro que deu a você e nos deixe te levar. — Aqueles caçadores que estavam de guarda em cima de mim eram pessoas boas. — Ele girou o punhal doente em torno de sua mão, a névoa negra girando em padrões aleatórios. — Honrosos. Mas nem todo mundo que passa por Dovesport prospera em honra. O barulho de meia dúzia de travas de segurança sendo soltas soou ao nosso redor. Olhando em volta, descobri que estava errada: eram oito dispositivos de segurança, destravados por cinco homens e três mulheres. Não caçadores, pelo jeito que estavam vestidos. Estavam todos de calças pretas e camisas apertadas com coldres escuros enrolados nos ombros. Mercenários, provavelmente. — Larguem suas armas. — Um deles ordenou em uma voz profunda e áspera.
20
Forma de preencher um discurso com frases que soam inteligentes, todos concordam, e não trazem nada de informação.
Com outro olhar penetrante para os atiradores que nos cercava, Alex acenou para mim e deixou cair a arma. Demorei mais, porque, mesmo com a magia à minha disposição, desistir de uma arma era como desistir de um membro. O mesmo homem falou novamente. — Chutem elas longe. O mesmo com essa lâmina. Quando Alex e eu trocamos olhares desta vez, tentei transmitir meu plano telepaticamente. Eu não tinha ideia se ele me entendia, mas quando largou a espada, fiz o meu movimento. O mundo ficou escuro quando levantei um círculo de espinhos de gelo do chão. Eu não tinha energia para criar um círculo muito grande, mas ele conseguiu espetar uma das mulheres e bloquear as balas dos outros. Um dos espetos quebrou e Alex saltou sobre ele, decapitando a pessoa do outro lado com um corte limpo. As balas dos mercenários estavam lentamente, mas seguramente, cortando o gelo, mas sabia que não havia nenhuma maneira de manter barreiras ao redor de Alex e eu, então isso era tudo que conseguia pensar em fazer. Checando o local onde não parecia haver tantos atiradores, deslizei entre dois dos espetos, mantendo-me atenta à minha arma. Um brilho de metal chamou minha atenção, mas estava ao pé de um homem que tinha mais tatuagens do que pele nua. Tanto para não usar magia. Claro, eu poderia ter lutado lado a lado, mas você não traz punhos para uma luta armada. Um grito de dor saiu dos meus lábios quando uma bala perfurou a pele sob o meu ouvido, quebrando meu queixo. A bala atravessou o osso e saiu pela face oposta, enchendo minha boca de sangue e minha visão com mil sóis em
miniatura. Eu tossi sangue e pelo menos dois dentes enquanto me arrastava para longe, escondendo atrás de uma lápide. O pânico fez meu coração disparar enquanto eu me perguntava sobre Alex. Ele estava ferido? Morto? O pensamento me fez parar congelada, mas canalizei o terror em determinação e olhei pela esquina para encontrar um alvo. Uma das mulheres apareceu. Joguei uma lança de gelo nela, espetando-a diretamente no peito. Isso chamou a atenção de um homem com um moicano e ele correu até ela. Agradecendo-lhe por facilitar o meu trabalho, lancei outra lança. Ele se alojou em seu estômago e caiu. Yeah! Níveis olímpicos de lançamento de dardos aqui, muito obrigada. O estalo de pedra ecoou ao lado da minha orelha e poeira caiu na minha mão quando uma bala passou zunindo. Olhei para o outro lado da lápide, apenas para ser recompensada com outra enxurrada de balas. Ok, lado ruim. Muito mal. Olhei para o cara que peguei para ter certeza que ele ainda estava caído. Ele estava, mas eu não sabia se estava morto ou apenas incapacitado. Desintegrei a lança de gelo; se ele não estivesse morto, iria sangrar pelo buraco em seu estômago em breve. Com o maior número de balas na lápide que chamei de cobertura, tinha que haver pelo menos duas ou três pessoas atirando em mim. Quantos saíram para o Alex? Os buracos no meu rosto estavam se curando, minando minha força, mas sempre que eu tentava suprimir ativamente a habilidade, apenas drenava mais da minha energia. Amaldiçoada se fizer e amaldiçoada se não fizer. Porra. Pelo menos eu não teria que me preocupar em fazer um piercing na minha outra bochecha para equilibrar as coisas. O som da grama embaralhada ficou mais alto. Carreguei um punhado de eletricidade, ignorando a maneira como o mundo escurecia ao meu redor
enquanto fazia isso. Assim que os passos soaram como se estivessem bem ao meu lado, pulei para cima, encontrando rapidamente a figura humana mais próxima e empurrando a carga diretamente para eles. O corpo voou pelo ar enquanto eu corria para me esconder atrás de outra lápide. Olhando para fora agora, vi que tinha batido em um homem e ele bateu em outro, que atualmente estava empurrando seu amigo crocante fora dele. Isso fez três mortos confirmados e pelo menos um incapacitado, deixando quatro ainda chutando. Cuspi o sangue restante na minha boca, fazendo uma careta quando meus dentes começaram a crescer de volta. Pontos pretos e brancos dançavam ao redor da minha visão e a escuridão cobria as bordas da minha visão, fazendo-me sentir como se estivesse vendo coisas através de um velho filtro de filme. Olhei de volta para onde tinha visto a minha arma. O homem tatuado havia se afastado, seu corpo agora parcialmente obscurecido pelos poucos pedaços restantes de gelo. O metal brilhava sedutoramente sob a luz cinzenta opaca. Eu poderia puxar uma barreira e correr, mas havia uma grande chance de acabar caindo de exaustão antes disso; eu não seria capaz de manter uma barreira por mais de dois tiros sólidos, três se estivesse tentando me superar completamente. Quanto poderia piorar apenas para bloquear isso? Eu acho que estava prestes a descobrir. Colocando uma mão espalmada na grama, chutei forte e corri em direção ao meu objetivo. Tiros soaram e meus olhos captaram um vislumbre de uma figura de cabelos escuros que pensei ser Alex quando uma bala se alojou no meu ombro. Isso queimou, ficando pior a cada passo que eu dava, mas perseverei, a arma se aproximando cada vez mais. Outra onda de tiros soou, e desta vez a minha sorte secou quando três me atingiram.
Eu me joguei para evitar mais, cobrindo a grama com meu sangue enquanto rastejava pelo resto do caminho até minha arma. Duas das balas tinham batido no meu lado, uma cortando minha caixa torácica. Aquelas não eram o problema. A terceira foi limpa através do meu pescoço, fazendo com que o sangue jorrasse da ferida de entrada e de saída, bem como da minha boca. Esta semana foi absolutamente uma merda para o meu rosto. O mundo entrou e saiu de foco enquanto eu continuava a me puxar para frente. Quem teria pensado que seria tão difícil engatinhar enquanto se cuspia um rio de sangue? Minhas unhas rasparam contra o cano, e com um grunhido final, agarrei-o. Rolando de costas, esperei que a escuridão se dissipasse o suficiente para eu ver vagos contornos de pessoas. Eu não precisava ver os detalhes; mesmo porque o meu alvo, poderia ser um borrão gigante. Um borrão gigante que esperançosamente não seria Alex. Disparei três rodadas na figura mais próxima, vendo-a cair no chão. Outra atacou pela frente, e consegui distinguir alguns traços femininos antes de colocar um buraco na cabeça dela. Rolei de volta, cuspindo o que tinha certeza que era o último do meu sangue quando os buracos no meu pescoço começaram a se curar. É isso aí. Não havia como eu me esforçar mais. A grama fazia cócegas no meu nariz enquanto eu descansava meu rosto no chão, absorvendo o cheiro de terra, grama fresca e sangue. Passos batendo me forçaram a me empurrar de volta. O homem tatuado gigante estava avançando com um facão erguido, aparentemente sem munição. Apontei e disparei, acertando sua coxa antes que meu pente de balas acabasse e eu ficasse apertando o gatilho de uma arma vazia. O homem estava bem acima de mim, o facão levantado alto quando ele congelou. Sua lâmina enterrou-se no
chão com um som abafado a dois centímetros de distância do meu rosto. Eu olhei para o seu torso, onde a espada de Alex estava saindo. Alex arrastou Wright até mim. — Morgan, você está bem? Eu nem tinha vontade de verbalizar uma resposta, mas as balas do meu lado decidiram que agora era a melhor hora para serem expulsas e acabei gemendo com a sensação. Eu acho que isso foi uma resposta em si. — Estou chamando uma ambulância. — Havia sangue em cima dele e sua respiração era pesada, mas ele parecia estar em melhor forma do que eu. Agonia atravessou-me enquanto eu me empurrava para o meu outro lado para encarar Wright. Seus olhos pálidos estavam leitosos e ele segurava o abdômen, o sangue correndo pelo braço e manchando a camisa branca de vermelho. Isso me lembrou do meu pai e a raiva entorpeceu minha dor por tempo suficiente para eu falar. — O vampiro que se aproximou de você. — Eu suspirei. — Olhos cinzentos, cabelo encaracolado castanho-avermelhado? Wright abriu a boca para responder, mas acabou vomitando sangue. Ele acenou com a cabeça através de sua invasão. — Nome. Detalhes. — Meus braços e pernas estavam ficando dormentes, um milhão de facas imaginárias perfurando minha pele. — Vampiro. — Ele devolveu outro ataque de tosse. — Disse nome... Morgan, mas ele... cúmplice... Alex se ajoelhou ao meu lado, tomando meu rosto em suas mãos e olhando nos meus olhos. Eu o deixei me examinar enquanto Wright abria um pulmão. Merda. Espere. Ele não podia morrer ainda. Revirando-se fracamente, agarrei o braço do velho e enviei feitiços de magia de cura para ele. Isso me fez sentir suja
e muito mais perto da morte, mas todos nós tínhamos que fazer coisas que não queríamos. Foda-se a idade adulta. — Morgan!— Alex me sacudiu quando o mundo ficou preto. — Mantenha seus olhos abertos. Eles estão quase aqui, apenas mantenha os olhos abertos. — Ele arrancou minha mão de Wright. — Não. — Ele... informação... — Eu engasguei. —Cúmplice… Olhei de volta para Wright e ele assentiu debilmente. — Encapuzado... não vi ... mas... — Mas o que?— Alex sibilou, mantendo dois dedos pressionados firmemente contra o meu pescoço, ironicamente onde a bala havia entrado. Como diabos eu ainda estava viva? — Chamei ele... Lucas... — Os olhos de Wright se fecharam e eu o alcancei novamente, mas Alex segurou minhas mãos com força. — Ele ainda está respirando, podemos perguntar a ele mais tarde. Balancei a cabeça para ele, minha bochecha batendo no joelho dele. — Alex... você... — Alguns ossos quebrados. — Disse ele, estremecendo. — Talvez mais do que alguns. Dei a sua mão um aperto fraco, administrando pouco mais do que uma contração muscular. Ele fez melhor, apertando minha mão por uma batida rápida antes de se deitar ao meu lado. Seu rosto estava a poucos centímetros de distância, e eu não queria nada mais do que me aproximar e beijá-lo. Eu me acomodei para olhar em seus cansados olhos azuis quando o som das sirenes se aproximaram.
CAPÍTULO 18
Alex se assustou quando decidi deixar o hospital contra as ordens do médico, mas eu insisti, - no que, definitivamente, não era uma birra - que me curaria muito bem na casa de Sullivan - a casa do meu pai. Também acrescentei que desde que o velho estava sendo dispensado, ajudaria para ele ter alguma companhia. Foi uma desculpa fraca, mas Alex não lutou muito depois que fiz isso. Baseado no olhar assombrado em seus olhos sempre que passava pelo quarto de Tom, eu não achava que ele queria estar aqui por mais tempo do que o necessário. Apesar disso, ele ficou ao meu lado o tempo todo em que fiquei confinada à minha cama de hospital, reconhecidamente confortável. Isso realmente me fez chorar uma vez. Ok, duas vezes, quando acordei e o vi cochilando ao lado da minha cama. Eu culpava as drogas que me davam e que eles se recusaram a me vender. De acordo com Alex, eu fiz beicinho quando o médico disse que não ia ser meu revendedor. Ele era um mentiroso, obviamente, e eu ameaçava incendiá-lo se ele beliscasse minha bochecha e me chamasse de fofa novamente. Sull, (Papai) estava se curando bem, e eu estava ficando um pouco melhor em chamá-lo assim. Eu acho que, apesar de todos os meus protestos, nunca o deixei ir. Ou queria. Chame de ‘ainda uma menina que só queria que seu pai a amasse’. Agora, eu só precisava encontrar minha mãe e todos nós poderíamos viver juntos em uma família feliz... com meu meio-irmão lobisomem e sua mística mãe lobisomem. Isso seria uma visão e tanto.
Por que tudo na minha vida soa como se fosse uma comédia? — Senhorita Wallace? Olhei para cima do meu bolo de canela no meio da mordida, dando a empregada que acabou de entrar um olhar culpado. — Olá. — Eu disse, tentando sorrir através de uma boca cheia de comida. Não funcionou. Aproveitei de Alex cochilando - o que provavelmente era a coisa mais fofa de todos os tempos, mesmo contando com as patinhas de Rowan sonhando caçar ratos enquanto dormia - para atacar a cozinha. Desde que saímos do hospital, ele me dava comida saudável. Bruto. — Eu não acho que o bolo é uma boa ideia para um corpo se curando. — Disse a mulher. Ela era a senhora do café da manhã no dia em que fui capturada. Aquela que estava grávida quando eu era pequena. Eu ainda não conseguia lembrar o nome dela, embora tenha apreciado a preocupação. Rolando meus ombros, notei que ainda havia uma tonelada de dor, bem, em todo lugar. Mas nada poderia me impedir de comer alimentos gordurosos. Pessoalmente, eu não acho que estava indo muito mal para uma garota que levou uma bala no pescoço há uma semana. Talvez sobreviver a uma bala na cabeça não seja tão impossível, afinal. O que parecia impossível era como seria tentador experimentá-lo. Esse novo comportamento quase suicida que escolhi, estava ficando fora de controle. — Estou bem. — Eu disse, resistindo à vontade de dar outra mordida. Esses pãezinhos de canela eram quase melhores que os remédios. — Mesmo. Parece pior do que é. A mulher olhou minha pele nua com desconforto. Com o quanto eles mantinham a casa aquecida, eu saí com apenas leggings e uma regata, revelando
meus braços, que agora eram mais azuis e roxos do que a cor branca usual. Era meio artístico, as cores escuras se espalhando por uma tela pálida como flores desabrochando. Eu era um verdadeiro jardim de rosas quando tirava a roupa. Talvez não rosas, mais como verbenas, que também eram bonitas, por isso funcionava de qualquer maneira. — Você gostaria de outra coisa? — Ela perguntou, os olhos passando entre os hematomas amarelos no meu rosto e os escuros nos meus braços. — Eu estava prestes a fazer o almoço do seu pai. — Doces são o melhor almoço. Ela riu, a ação iluminando seu rosto marrom enrugado. — Você costumava dizer a mesma coisa quando era uma garotinha.— O desejo era muito grande e dei outra mordida, segurando um gemido enquanto a cobertura derretia na minha língua. Céu puro e doce. Não, sério, é melhor que o céu seja feito dessas coisas. Eu vou pecar na minha vida inteira se não for. Bem, pecar mais. — Sério? — Perguntei, engolindo e dando outra mordida quase simultaneamente. — Sim. — Ela disse com carinho, um olhar sonhador e distante em seus olhos. Ela foi até o fogão, onde o vapor estava fluindo livremente de uma pequena panela de metal. — Você empurrava um banquinho até o balcão e subia para pegar qualquer sobremesa que eu tivesse feito naquele dia. Você era pega toda vez, mas nunca parou de tentar. Eu ri da imagem. — Aparentemente, minhas habilidades sorrateiras não melhoraram depois de todos esses anos. Ela riu de novo, mexendo o conteúdo da panela. Encostei-me ao balcão e peguei outro pão, a cobertura fazendo o pãozinho escorregar entre meus dedos
pegajosos. Eu a assisti trabalhar enquanto me perguntava o quão importante era manter minha camisa limpa. Tudo nela gritava 'mãe' e eu me deliciava com o calor que ela exalava. — Suas bochechas eram inchadas como um esquilo, e sua mãe estava sempre ficava dividida entre reclamar ou tirar fotos. Tenho certeza de que há uma coleção inteira de fotos sua comendo em um álbum em algum lugar. Certo, eu ficava me esquecendo de perguntar ao meu pai onde guardava aquilo. Se ele ainda... — Você sabe... Isso é... O meu... Esses álbuns ainda estão por aí? O aroma rico de café encheu a cozinha, e eu babei em torno de outro bocado de cobertura de creme de leite. Magia queimava muitas calorias, então eu era totalmente justificada em comer todo esse prato de diabetes eminente. Totalmente. A senhora colocou uma xícara de café no balcão ao meu lado com um sorriso simpático. — Seu pai colocou todas essas coisas no laboratório da sua mãe. — O laboratório ainda existe? — Mhm. — Ela assentiu, baixando a voz e se inclinando para perto de mim antes de continuar. — Suas coisas ficaram intocadas todos esses anos. Mesmo no quarto do seu pai, as roupas dela ainda estão lá. Eu perguntei onde ele queria que eu as colocasse assim que elas fossem lavadas, e ele me disse para colocá-las de volta onde as encontrei. Ele realmente sente falta dela. Se ela tivesse dito isso para mim na semana passada, eu teria acabado com ela. Agora, enquanto mexia a nata no meu café, tudo o que senti foi a mesma dor profunda que sempre senti quando pensava na minha mãe, só que desta vez ela foi amplificada por um fator dez vezes maior. Quando eu era mais jovem, (dos quatro anos até a última semana) assumi que meu pai estava frio comigo
porque estava com raiva da minha mãe e, por extensão, de mim. Ingenuidade jovem virou amargura e o egocentrismo não me deixou considerar que talvez ele agisse assim porque estava sofrendo também. Acumule outro ponto na minha taxa de cadela, eu acho. Na verdade, coloque dois pontos. — Como ela era? — Perguntei em voz baixa, o tom caramelo do meu café, de repente, a coisa mais interessante do mundo. — Lady Wallace era... suave. — Disse a mulher depois de pensar um pouco. — E graciosa, como um cisne. Seu nariz sempre estava enterrado em algum livro. Mesmo depois que você nasceu, ela arrastava você e lia em voz alta qualquer livro que estivesse lendo no momento. — Ela estava com um sorriso conspirador quando acrescentou. — Tenho certeza que você sabia mais sobre os padrões dos ninhos dos dragões escandinavos do que qualquer outra criança de quatro anos. — Exceto talvez dragões escandinavos de quatro anos de idade. — Eu sorri mas o sorriso desvaneceu-se quando comecei a pensar se essa era a minha mais clara lembrança dela - os dragões se formando em sua palma. — Ela também era muito gentil. — Continuou a mulher. — Sempre tinha uma boa palavra e um sorriso caloroso para todos. Preparou poções para o meu enjoo matinal quando estava grávida. — O rosto dela caiu no final. — Até que ela desapareceu, de qualquer maneira. Inclinando-me para frente, perguntei. — Você se lembra do que aconteceu? — Eu sinto muito, senhorita... — Apenas Morgan. A expressão triste não a deixou quando assentiu. — Sua mãe simplesmente desapareceu. Lembro-me dela saindo do seu quarto tarde da noite. Então, quando acordei na manhã seguinte, ela se foi. Seu pai tentou manter-se forte,
mas logo ficou claro que ele estava tão no escuro quanto nós. Desculpe-me, isso é tudo que sei. Meu estômago sentia e parecia inchado, mas eu não era de deixar o bom senso ditar... bem, qualquer coisa. Neste caso, isso não iria me impedir de comer até que quase explodisse. É apenas um problema emocional se a comida não puder consertar, e a comida só falha se você parar de comer. — Não me lembro se você deu à luz antes de eu sair. — Eu disse, tentando entrar em tópicos mais felizes. — Não. — Disse ela, levantando a expressão. Ponto. — Madeline nasceu alguns meses depois que você foi embora. Ela começou seu primeiro ano de faculdade há alguns meses. Balancei a cabeça enquanto ela dava mais detalhes sobre sua filha, orgulho brilhando com cada palavra. Isso me fez pensar sobre a minha própria mãe. Ela teria falado sobre minhas realizações com tanto orgulho? Ela teria acompanhado a minha vida? Ela ainda estava viva? Servindo-me de outra xícara de café, tentei me concentrar no nome da mulher, (cujo nome eu realmente precisava aprender), mas a conversa sobre filhas acabou me levando a Wright. Ele disse que sua filha tinha acabado de começar a faculdade de direito. Eu me pergunto se ela já recebeu as notícias sobre o pai. Apesar de Alex dizer que poderíamos questioná-lo mais tarde, Wright acabou morrendo na ambulância. Os paramédicos tentaram, mas foram incapazes de trazê-lo de volta assim que ele caiu. O arrependimento me atormentou por isso. Se eu tivesse sido mais poderosa, talvez pudesse ter feito um trabalho melhor em curá-lo. Agi de forma imprudente, correndo por dois dias como se estivesse com metanfetamina. E quando chegou a hora de falar ou
calar a boca, eu fiquei muda. Se eu tivesse sido mais inteligente, teria ficado com força total e curar Wright não teria sido um problema. Se tivesse sido mais forte, mais esperta e uma psíquica foda e... Se, se, se. Eu não estava feliz com os ‘ses’ e a incerteza. Eu precisava saber agora, ser mais forte agora - para explodir tudo até que eu conseguisse o meu caminho. Precisava ver isso, precisava de tudo exposto aos meus pés. Algumas pessoas poderiam aceitar e chafurdar na escuridão, mas não eu. Explodiria o espaço cheio de luz em menos de um segundo. Era como uma sede que eu não conseguia apagar, o que, reconhecidamente, me assustava às vezes. Isso era normal? Isso me fez sentir como um demônio faminto de poder. Exceto que no meu caso, não era o poder que eu procurava, era o conhecimento. Não que eu fosse dizer não a mais poder. — Rosa! — Uma voz chamou do outro cômodo. Rosa - havia pelo menos um mistério resolvido - virou-se ao som, a bandeja de comida na mão. — Sim? — Eu preciso da sua ajuda no jardim! — Em um minuto, preciso levar essa comida para Sir Wallace! — Posso fazer isso. Eu já estou subindo, de qualquer maneira. Prometo que não vou comer a sobremesa. — Acrescentei com uma piscada enquanto pegava a bandeja dela. — Tem certeza? — Rosa perguntou. — Eu não quero incomodar. — Não tem problema. Eu disse por cima do meu ombro, já meio fora da cozinha.
— ... papai? — Eu chamei, batendo na porta com o nó dos dedos. Pensar era uma coisa, mas na verdade, falar o título em voz alta parecia, e soava estranho. Era o pensamento que contava, certo? Com a aprovação dele, entrei em um quarto que não tinha visto em dezoito anos. Bem, isso e praticamente todos os cômodos desta casa, mas eu divago. Seu quarto era basicamente uma versão maior do meu. Rosa estava dizendo a verdade: tudo parecia como antes de eu sair. Não conseguiria dizer com os mínimos detalhes, mas olhar em volta me lembrou de ser uma menininha brincando com a maquiagem de sua mãe. Olhei para os frascos em sua penteadeira com um sorriso carinhoso. Nem uma partícula de poeira em nenhum deles. Até a ordem parecia familiar, embora quase certamente fosse uma nostalgia de desejo. Uma coisa que eu sabia, que com certeza não tinha sido movida era a moldura de madeira no canto. Ela tinha uma foto nossa: meu pai tinha um braço em volta da minha mãe, e um sorriso que eu não via desde que ela foi embora, enquanto ela se inclinava contra ele, os braços segurando um bebê bochechudo e rechonchudo. Nós parecíamos tão felizes... Eu me pergunto se há uma cópia disso em algum lugar. Papai estava encostado na cabeceira de sua cama, parecendo uma criança taciturna com quem eu provavelmente me assemelhava quando era forçada a fazer coisas que não queria fazer. — Os médicos estão sendo ridículos. — Ele disse, sua voz ainda grossa e rouca. — Eu não preciso de mais descanso na cama. Você me escaneou, diga a eles que estou bem.
— Por favor, eu não posso nem os convencer a me dar drogas. — Eu bufei e revirei os olhos, colocando a bandeja no colo dele. Acho que a tensão solta em nosso relacionamento afrouxou seus lábios também. Incapaz de resistir ao impulso, examinei-o novamente para confirmar se estava em boa saúde, o que ele estava. — Você ainda precisa descansar. — Eu disse, tentando encontrar uma maneira civil de dizer minha próxima declaração. — Na sua idade… — Eu posso competir com qualquer homem com metade da minha idade. — Declarou ele, fazendo um movimento para se levantar. Eu o pressionei de volta. — Traga aquele menino e eu vou provar isso. — Deixe Alex fora disso. — Eu disse, ignorando o quão estranho era tocálo. Sabe, agora que ele não estava coberto de sangue e eu não estava chorando como um bebê gigante. Com o cenho franzido no lugar, ele perguntou. — Como ele está? Seu amigo foi liberado do hospital e escoltado através de um portal para o Conselho ontem. Eu assenti. — Sim, Alex estava lá para dizer adeus. — E? — Ele não voltou até que eu estava dormindo e ainda estava dormindo quando acordei, o que é estranho porque ele geralmente está acordado horas antes de mim. — De repente, eu não estou mais com fome. — Disse ele, cutucando sua comida de uma maneira que recusei a admitir que era semelhante a mim. Certo, nada de lembrar a ele que eu estou dividindo uma cama com Alex. Isso trouxe à mente outro tópico que eu estava adiando, no entanto. — Então, Tamlin me disse algo interessante.
Seu garfo fez um horrível som estridente contra o prato. Resistir ao desejo de fazer umas cinquenta piadas sobre estilo cachorrinho e peludo foi mais doloroso do que a bala no meu pescoço - um acontecimento que jamais calarei enquanto viver - mas consegui. Chame isso de uma vitória pessoal. — Bem, estou me esforçando para ser uma doadora de órgãos, ou estou fora da liga? Porque tenho certeza que eu nem combinaria com um lobisomem. — Não é assim que as doações de órgãos funcionam, Morgan. — E agora você tem um rim a menos também. — Eu disse. — Aposto que você gostaria que funcionassem agora, hein? Embora pelo modo como Tamlin fala sobre você, ele provavelmente lhe daria os dois rins. E o fígado dele. — Não era assim que eu pretendia que você descobrisse. — Papai suspirou. — Quando sua mãe… partiu, tudo doeu. No começo achei que ela tivesse entrado nas florestas para colher ervas ou visitar uma das tribos; ela costumava fazer muito isso. Normalmente, deixava uma nota, mas assumi que ela apenas esqueceu. — As rugas em seu rosto pareciam se multiplicar, e peguei sua mão quase instintivamente. Sua mão estava fria, áspera e com calos, mas eu ainda segurava, dando um aperto. — Depois de dois dias, entrei em contato com as tribos. Nada. Ela sempre foi um espírito livre, mas eu não conseguia entender por que ela nos abandonou. Toda vez que você olhava para mim com aqueles olhos - seus olhos - e me perguntava quando a mamãe estava voltando para casa, sentia meu coração quebrar novamente. — A ideia de cauterizar meus canais lacrimais voltou como um bastão de metal na cara com essas palavras, e tive que espremer os lábios para segurar os sentimentos. Papai parecia compartilhar meus sentimentos, e eu fui educada o suficiente para não mencionar o quão enevoado seus olhos ficaram quando ele segurou
meu rosto. — Você parece muito com ela. Mesmo naquela época, todo ano que passava, você se parecia cada vez mais com uma versão em miniatura dela. Eventualmente, eu não aguentei mais, não conseguia lidar com a lembrança da mulher que amo. Eu sabia que não estava sendo um bom pai. Vi o quão miserável você ficava quando eu passava sem dar um segundo olhar. Fui covarde, e não tenho orgulho disso. No entanto, Cassandra é - era - uma boa amiga, e eu sabia que ela cuidaria bem de você. Foi melhor do que mantê-la aqui e ignorá-la. Eu engoli em seco. — Você… descobriu algo sobre por que ela foi embora? Certamente seus contatos... Ele balançou sua cabeça. — Eu procurei. Acredite em mim, procurei. Cada contato que eu tinha, todos os favores que poderia cobrar - tudo isso não levava a lugar nenhum. Ela cobriu seus rastros perfeitamente, desaparecendo como... — Magia? Papai deu um leve bufo que trouxe um sorriso ao meu rosto. — Poucos meses depois de Cassandra te acolher, Catherine se tornou a xamã de sua matilha. Sua mãe, a ex-xamã, tinha acabado de falecer. Acabamos falando um pouco, duas pessoas solitárias que perderam uma pessoa que significava o mundo para elas. Ou duas pessoas, no meu caso. — Você não tinha que me perder. — Eu sufoquei, quase inaudível. Sua mão deixou minha bochecha para descansar sobre a minha mão. — Durante as reuniões da Ordem, quando te vi do outro lado da sala, fiquei impressionado. Você parecia crescer tão rapidamente. Continuei vendo uma versão crescente de sua mãe, enquanto pegava algumas das minhas próprias características em seu comportamento. — Ele riu. — Foi incrível ver como éramos parecidos, apesar de nossa distância.
— Acho que isso resolve o debate entre a natureza e a educação. — Eu queria me inclinar contra ele, mas não ousei romper a parede invisível que coloquei lá. Eu não estava pronta para isso, ainda não. Isso já era bastante esmagador assim. — Bem, você também carrega muito de Cassandra, então eu chamaria de empate. — Então, você e Catherine são...? — Eu parei, me preparando para o golpe final. — Duas pessoas que estavam tristes e sozinhas e acabaram... Eu deixei escapar um barulho selvagem de ruídos que deixariam o Papa Léguas orgulhoso. — Eu sei que estamos fazendo essa coisa toda de consertar a família ou o que seja, mas podemos pular a conversa dos pássaros e as abelhas? Por favor, sério, não termine essa frase ou vou ter que queimar esta casa. — Considere o retorno por você deixar escapar que estava dividindo um quarto com o garoto Campbell. — Ele disse com uma risada presunçosa. — Isso foi um acidente.— Uma risada desagradável me deixou quando percebi. — Assim como é Tamlin, eu acho. — Morgan! — Bem, ele foi? — Eu perguntei, sufocando minha risada. Ele franziu os lábios e olhou para mim, mas não respondeu. — Tamlin foi uma surpresa, sim, mas ele é meu filho e eu o amo muito. — E Catherine? — Uma muito boa amiga e confidente. — Legal. — Balancei a cabeça, esperando que o alívio não fosse muito evidente no meu rosto. — Eu consertei uma questão familiar e ganhei outra.
— Tamlin ficou excitado quando ouviu que você estava vindo. Ele realmente queria conhecer você. — Ele parece legal. Eu acho que o aborreci, no entanto. Papai deu um tapinha na minha mão. — Eu tenho certeza que vocês dois podem resolver isso. — Claro. — Eu disse. — Nós vamos almoçar. Vou levá-lo ao zoológico e vê-lo surtar sobre os lobos. — Não faça isso. — Ele disse categoricamente. Revirei meus olhos. — Foi uma piada. Mais ou menos. Agora, coma sua sopa, provavelmente fria. Vou ver se Alex já acordou. Eu me levantei, mas meu pai segurou minha mão. — Sua primeira manhã aqui, no café da manhã... Algumas das coisas que eu disse podem ter sido mal interpretadas. — Foi minha culpa. — Eu disse. — Eu entendi errado. Esqueça isso. Era verdade. Papai não achava que eu fosse incapaz de ser uma caçadora. Ele só estava preocupado com a minha segurança. Sentimentos quentes e confusos passaram por mim e eu fiz uma nota para socar uma parede mais tarde só para reconstruir um pouco do meu orgulho viril. — Há uma coisa que quero que você tenha em mente. — Disse ele com um olhar sério que imediatamente me colocou em guarda. — Ele parece se importar com você. — Pai. — Gemi. Uau, eu não posso acreditar que tive que esperar até os 26 anos para poder fazer isso. — E estou feliz que você tenha alguém assim em sua vida, mas não se esqueça de que vocês dois estão em uma linha de trabalho muito perigosa.
— Pai, eu sei. — Segurei a mão para detê-lo. Esse era o mesmo argumento que se repetia na minha cabeça toda vez que pensava em levar o relacionamento adiante; eu realmente não queria encarar isso de novo. Na verdade, tenho feito um bom trabalho bloqueando completamente. — Entendo os riscos, e comprometer-me não é algo que faço, como sempre. Quero dizer, estou tentando, mas... Quebrei a minha parede, desmoronando de frente com um suspiro e descansando minha cabeça em seu ombro. Ele endureceu por um segundo antes de envolver um braço em volta de mim. — Eu tive as mesmas dúvidas quando conheci sua mãe. — Ele disse contra o meu cabelo. — Papai? — Hm? — Eu te amo. — Murmurei em seu ombro, feliz por ele não poder ver meu rosto avermelhado. As admissões públicas de afeto eram minha criptonita. Eu não perdi o jeito que ele tremeu quando deu um beijo na minha testa. — Eu também te amo.
CAPÍTULO 19
Conforto e alegria eram palavras que há muito tempo deixei de associar à minha casa de infância, mas agora, encolhida com Alex na cama de casal do quarto de hóspedes... Não conseguia pensar em nenhuma outra palavra para descrevê-la. Eu tinha sorrido em seus braços e estava apenas curtindo a proximidade. Ele ainda estava dormindo quando voltei, o que não foi surpresa - eu fiquei acordada até tarde, esperando que ele voltasse, e ele só retornou depois que cochilei. O forte cheiro de bebida no seu hálito me disse exatamente o que ele estava fazendo. Talvez ele tenha acabado na mesma hospedaria onde conheci June. Estava perto do hospital, afinal de contas. Eu me perguntei se June ainda estava lá. Ela tentou seduzi-lo também, ou só procurava garotas? Sentei-me ereta com o pensamento de Alex a seguindo ao andar de cima. Sentia-me hipócrita, mas faça o que digo, não o que eu faço e tudo o mais. Especialmente desde que sou horrível em tomar boas decisões. A menos que, o mundo de repente girasse ao contrário, e que, fugir e fazer coisas estúpidas quando você estivesse chateado te tornasse um gênio. Os papéis que tirei do cofre de Wright estavam na mesa perto da lareira. Levantei e agarrei-os antes de sentar na posição de índio na frente das chamas. Veja, sentar perto de um fogo enquanto olhava para papéis era outra daquelas coisas que eu fazia que me tirava da lista dos inteligentes. Apesar de estar
olhando e querendo mais informações, os arquivos não forneceram nada de novo. Ele era um vampiro que as pessoas raramente viam, ele tinha um pingente estranho e um monte de nada mais. A única coisa que realmente ajudou foi o nome que Wright me deu: Lucas - mesmo porque Falso-Corrigan era um bocado estranho. Papai não sabia mais nada sobre Lucas, apesar de parecer fisicamente doente quando viu as fotos. Eu entendia como ele se sentiu, quase me molhei quando vi pela primeira vez o vampiro infernal. Eu posso ser capaz de descobrir mais sobre ele quando voltar para Nova York. Ao contrário de nossos amigos peludos aqui, os vampiros tendiam a se reunir em direção a cidades ocupadas, provavelmente pelos rebanhos de pessoas. Alguém pode ter visto alguma coisa. Tirando nossa briga de lado, tentei manter meus sentimentos em relação a Lucas pelo lado profissional. Eu tinha sido insultada antes, e enquanto isso me incomodava, nunca atrapalhava em fazer o meu trabalho. Não por muito tempo, de qualquer maneira. Mas ele mencionou a minha mãe, chamou-a pelo nome, e o jeito que ele parecia me abalou. Eu poderia atribuir isso à coincidência, mas todos nós sabíamos como eu me sentia sobre isso. Sonolento - e muito adorável, embora eu seja tendenciosa - sons saíam da cama quando Alex se mexeu, apoiando-se em uma mão e passando a outra pelos cabelos. Não importava a situação ou o humor, ele sempre parecia muito inocente quando acordava. Eu tirei um momento para apreciar a vista antes de voltar para forçar as respostas das páginas que não tinham mais nada para dar. — Morgan? — Ele chamou, sua voz rouca de sono. Eu fiz um som em reconhecimento antes de rosnar em frustração e juntar os papéis para guardar. Havia um pequeno rolo de papel pardo sobre a mesa
que eu não tinha visto mais cedo. Era novo. Alex trouxe na noite passada? Do jeito que ele está segurando a cabeça, aposto que está passando por uma ressaca infernal. Voltei para a cama e coloquei o rolo de papel na mesa de cabeceira. Sua pele estava quente quando toquei, esfregando suas têmporas enquanto enviava a magia de cura através dos meus dedos. Ele soltou um suspiro aliviado. — Obrigado. — Por nada. — Beijei sua bochecha, sorrindo quando ele virou a cabeça para capturar meus lábios em vez disso. — Como as coisas foram com o Tom? Alex suspirou pesadamente e rolou de costas, cobrindo o rosto com as mãos. — Eu ainda não consigo acreditar que ele era parte disso. Não importa se precisava de dinheiro, não há desculpa para o que ele fez com essas pessoas. Eu realmente me preocupei com ele. —Ele adicionou depois de uma batida, sua voz baixa. — Ele nunca deixou nada derrubá-lo. Por que então não me contou que as coisas ficaram tão ruins? Eu teria ajudado. — Às vezes nosso orgulho nos faz fazer coisas estúpidas. Ou nos impede de fazer coisas inteligentes. — Eu disse. — Confie em mim, sou uma especialista. — Você nunca faria isso. — Disse ele, levantando minha mão para pressionar um beijo contra a palma. — Nunca. — Vai ficar melhor. — Inteligente, Morgan, dê-lhe um pouco de paz de espírito genérica. Talvez, em vez de cauterizar meus canais lacrimais, deveria fechar minha boca. —E u sei que isso realmente não ajuda, mas... — Estou feliz que você esteja aqui. — Disse ele, dando a volta para olhar para mim. Seus profundos olhos azuis me fizeram sentir como se estivesse me afogando em seu calor, mas eu não consegui desviar o olhar. Acho que as águas se acalmaram depois de tudo.
Eu lambi meus lábios, afastando minha cabeça. — Sobre antes, o que eu disse sobre seus pais... — Está tudo bem. — Não, não está. Foi completamente inapropriado, até mesmo... — Minhas palavras foram cortadas com um surpreendente —oomph— quando Alex me puxou para um beijo. Nossos dentes batiam uns contra os outros, mas o desconforto foi rapidamente esquecido quando nos perdemos em sensações mais agradáveis. Ele soltou um gemido sexy e deslizou as mãos para baixo para agarrar minha bunda enquanto eu passava uma perna por cima de seus quadris para montar nele. — Eu deveria estar trabalhando. — Eu disse contra seus lábios, afastandome com um sorriso bobo. — Você está me distraindo, senhor Campbell. Ele me deu um aperto firme e um sorriso completamente sem remorso. — Sinto muito. Revirei meus olhos, mas ri. — Tenho certeza que sente. Agora, por que não consigo algumas dessas comidas que você tem me forçado a semana toda? Ele bufou. — Você nunca vai parar de me culpar por tentar cuidar de você? — Essa é uma punição estranha. — Enruguei meu nariz. — Além disso, se eu posso te fazer se sentir culpado por isso, talvez você esteja fazendo errado. — Eu deveria parar de fazer o jantar, então? — Só se você quiser pedir comida fora pelo resto da sua vida. — Se o McDonalds começar a entregar, você nunca sairá de casa. — Se eles começarem a entregar, ninguém sairia de casa. Ele zombou e me segurou mais apertado, beijando minha bochecha. Que puritano.
— Você falou com Rowan? — Eu perguntei. — Eu tentei ligar para ela ontem à noite, mas não recebi uma resposta. — Ela estava lá com a escolta de Tom, na verdade. — Ele nos rolou para o lado. — O quê? — Sentei-me, mas fui puxada para baixo. — Ela não me disse que estava vindo. Eu não posso acreditar que senti tanto sua falta... é como se ela estivesse deliberadamente me evitando. — Tenho certeza que não é isso. Pelo que ouvi, foi uma decisão de última hora ela aparecer. Ela perguntou sobre você e eu disse que você estava indo bem, mesmo com o seu pai. — Como ela parecia? — Como um gato. — Disse ele categoricamente. — Parecia bem, embora ela quisesse que eu lembrasse que você estará de volta à ativa em duas semanas. — Certo. — Eu gemi. — Nova York, onde as bebidas são frias e as mulheres são provavelmente demônios ou vampiros que querem drenar você de algum tipo de fluido corporal. Não muito exato, mas o mais preciso. — Eu nunca estive em Nova York. — Louco pagão. — É diferente de outras cidades? — Ele perguntou, me cutucando com o joelho. — É Nova York. — E? Eu olhei para ele. — Você está fodendo comigo agora, não é? — Um pouco. — Ele sorriu.
— Bem, — Bufei. — todas as cidades são diferentes. É incrível ver como uma comunidade - todo um mundo sobrenatural - pode existir sem que os humanos percebam; uma cidade dentro de uma cidade. — Sim. — Ele disse com uma voz distante. — Quando eu descobri que tudo aquilo era real - que lobisomens e fadas e todas essas coisas não eram apenas histórias... eu não sei. Foi uma grande revelação para uma criança. Eu o beijei e puxei os cobertores sobre nós. A comida podia esperar. — Eu cresci com tudo isso, então não tenho ideia de como seria. Você se ajustou bem, no entanto. — Tive mais de vinte anos para me ajustar. — Ele sorriu calorosamente e apontou para o rolo de papel pardo. — Você ainda não abriu o pacote? — Não, o que é? — Estendi a mão para ele, puxando a corda que amarrava. — Isso vai me matar? — Provavelmente não. — Disse ele. — Mas, de qualquer forma, você parece atrair, então ... Bati em seu peito, enrolando minha mão em um punho sobre seu coração quando vi o que estava dentro. — Você… — Passei por uma loja de flores no caminho de volta e pensei em você. Lembra-se da primeira conversa que tivemos? — Sobre nightshade. 21 — Disse com carinho. — Eu realmente não chamaria aquilo de conversa. — Brincadeira? Eu dei a ele um sorriso tímido. — Preliminares.
21
Nightshade ou erva moura: Flor da beladona.Vários tipos de nightshade foram utilizados na produção de medicamentos fitoterápicos.
Não era o nightshade no jornal. Era uma rosa branca única entrelaçada com hortênsias, suas pétalas delicadas formando um mural em tons pastel contra o embrulho marrom claro. Eu não gostava de receber flores como presentes odiava vê-las morrer - mas agora, eu não conseguia pensar em nada melhor. Inclinando-me para frente, respirei fundo, suspirando feliz com o cheiro agradável. — Você sabe, — Ele disse. — eu não posso conseguir comida com este cobertor sobre mim. — Comida ou eu? — Dei-lhe um sorriso atrevido até que ele fez um show de debate sobre isso, então com uma careta bati no seu peito novamente. — Idiota. — Você me ama. — Menti sobre isso. —Eu disse com um beicinho. Um sorriso sexy e ardente se espalhou por seu rosto como mel quente e ele subiu em cima de mim. — Eu acho que vou ter que fazer você mudar de ideia.
FIM