Um amor estrangeiro

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Um amor estrangeiro Sheila Cruz

Copyright © 2015 Sheila Cruz

Capa: Jéssica Gomes Revisão: Valéria Avelar Diagramação Digital: Bianca Sousa Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera

coincidência. Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora. Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Sumário Prólogo: Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9

Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22

Capítulo 23 Capítulo 24 Capítulo 25 Capítulo 26 Capítulo 27 Capítulo 28 Capítulo 29 Capítulo 30 Capítulo 31 Capítulo 32 Capítulo 33 Capítulo 34 Capítulo 35

Capítulo 36 Capítul 37 Capítulo 38 Capítulo 39 Epílogo Sobre a autora:

Prólogo: Enfim o dia que eu tanto temia estava chegando, amanhã às 15:00 horas estarei pegando o voo da minha amada terra natal Curitiba para o Rio de Janeiro, ou seja, vida nova, tudo novo, ai que medo, só tenho uma amiga no Rio e não conheço mais ninguém, mas vamos lá... Minha vida não pode continuar do jeito que está, se eu pudesse voltar no tempo a cerca de 4 anos, jamais teria ficado com Enrico meu ex-noivo, mas não podemos prever o futuro, não é mesmo?

Conheci o Enrico no meu segundo ano de faculdade de educação física, tinha apenas 19 anos e ele 29, eu era só uma menina boba e sem experiência na vida, tudo era novo, pois era praticamente meu primeiro namorado sério, os outros foram coisinhas sem importância, acho que na primeira semana já estava apaixonada, afinal só tinha transado uma vez e por falar nisso, foi bem ruim, não gosto nem de lembrar, mas meu ex―noivo era um fofo no primeiro ano do nosso namoro, depois começou a ficar ciumento demais e me podar de todas as

formas possíveis, devagarzinho me afastou de todas as minhas amigas, do pessoal da faculdade, dos funcionários da escola de dança na qual trabalhava, de repente me vi sozinha e vivendo somente para ele. Como nunca havia tido um relacionamento sério, sempre achei que tudo era normal, pensava que por Enrico ser extremamente apaixonado agia desta forma, ai começaram as brigas, uma atrás da outra, as sextas-feiras na qual ele sempre dava um jeito de sumir e me deixar sozinha, às vezes eu ligava a noite e seu telefone estava na caixa

postal, enfim foram vários episódios, ano após ano na qual eu era enganada e não conseguia enxergar isso, até que em uma sexta-feira depois de ligar várias vezes e não obter retorno, resolvi aceitar o convite de uma amiga que fez faculdade comigo e vivia me convidando para sair e fomos até a Praça da Espanha para tentar sentar em algum barzinho e tomar um chopinho, afinal era um daqueles dias que estava fazendo um calorzinho agradável e merecia ser passado ao ar livre, quando chegamos na esquina do barzinho minha amiga parou bruscamente me

fazendo dar uma trombada nas suas costas e disse: ― Bianca, vem comigo aqui para trás da árvore ― fiquei na dúvida do que ela estava falando e porque deveríamos nos esconder. ― Amiga, desculpe não queria que você descobrisse assim, desta forma ― fiquei sem entender, do tipo você está louca. ― Mas do que está falando Amanda? ― Ela fez cara de dor e vi que estava com receio de me contar o porquê estava me segurando ali.

― O Enrico está sentado com outra garota no bar e outro casal, como se fossem namorados ― fiquei pálida e sem reação, passavam tantas coisas na minha cabeça, como os anos que me anulei para fazer tudo que ele gostava e pessoas que deixei de lado para não desagradá-lo e disse: ― Amanda, há quanto tempo você sabe ? ― Ela titubeou sem querer me contar. ― Bianca, desde a época da faculdade que você começou a namorá-lo, eu presenciei várias vezes ele saindo com outras

garotas, esbarrei com o Enrico em algumas baladas ou barzinhos ― titubiei e tive que me sentar na calçada para não desmaiar. ― Por que você nunca me contou nada? Como pode me deixar no escuro sendo minha amiga? ― Ficou desconcertada e não soube o que dizer. ― Eu sempre te vi apaixonada e você o defendia em tudo, faltou coragem de contar, no começo dizia a mim mesma que logo ele iria parar, mas o tempo foi passando e nunca aconteceu.

― Bianca, o Enrico nunca será fiel, se no começo do namoro agia assim, você imagina agora? ― Fiquei sem reação, levantei e permaneci atrás da árvore observando. A menina era muito bonita e bem diferente de mim, alta e loiro e devia ter por volta dos 28 anos, estava bem-vestida e parecia encantada por ele. Também pudera Enrico é bonito, alto, cabelos loiros, olhos verdes e no auge dos seus 33 anos, qualquer mulher teria interesse. Porém não me contive, segui em direção à mesa com a Amanda em meu encalço, tentando me puxar para evitar aquela cena.

― Olá amigo, quanto tempo não nos vemos. Acho desde a época da faculdade ― Enrico empalideceu, rapidamente tirou a mão do ombro da garota e não sabia o que fazer com a mesma. O encarei cheia de ódio e buscando uma explicação. ― Ah, como sou relapsa. Deixe-me apresentar para seus amigos e acompanhante ― estendi a mão e os cumprimentei. ― Olá seu Bianca, estudei com o Enrico ― a loira já foi se adiantando toda simpática. ―

Olá,

sou

Sabrina,

namorada do Enrico ― lancei um olhar que valia mil palavras. ― Sério, e quanto tempo vocês estão namorando? ― Ela respondeu animada. ― Ah.. faz 1 ano não é, amor? ― choquei-me de como fui feita de tola, tentei disfarçar minha dor, mas estava difícil, então decide me recolher com a melhor máscara de artista. ― Ah que legal, parabéns ao casal, espero que sejam muito felizes ― mas o que mais me derrubou, foi que ele nem se mexeu

do lugar, para tentar me dar uma satisfação, simplesmente permaneceu calado. Quando dei as costas, Amanda me seguiu sem saber o que fazer para me consolar, mas não havia nada a ser dito para amenizar a tristeza, o mal já estava feito e o que restava era juntar os cacos e ser feliz, sempre fui uma pessoa positiva que olhava para frente. A depressão me acometeu por uns 03 meses, pois também sou filha de Deus e merecia viver meu luto. Enrico tentou falar comigo de todas as formas, mas mudei o

número do meu celular e na minha casa ele nem se atrevia a ligar, papai era capaz de puxá-lo pelo telefone. Mas após este período, voltei ao normal, à menina alegre e de bem com a vida antes do meu ex-noivo. Tinha sorte pois meus pais me deram todo suporte e amor necessário para me levantar. Dediquei-me ao trabalho, que, aliás, amo de paixão, dançar é como voltar ao lar , me põe em outro plano, e me faz feliz. Em um sábado saímos para dançar e quando ia embora, tive o desprazer de encontrar-me com

Enrico. Não houve dúvida e sai andando, ele veio atrás e segurou meu braço. ― Porra, estou há 03 meses tentando te encontrar. Você só me ignora, mudou o número do celular, tentei na escola de dança e me informaram que seus horários foram aterados. Caramba Bianca, não faz isso com a gente, ficamos 4 anos juntos, me deixa tentar explicar meu lado e a gente vai ficar bem novamente. Ri da sua pretensão, devia me achar uma burra, não é possível.

― Enrico, por acaso tenho cara de palhaça? Porque esta é única explicação para seu atrevimento, meu querido você está namorando, volte pra ela e seja feliz. ― Olha, eu sei que errei, mas aquela garota não significa nada para mim. Eu te amo Bianca, nós fomos feitos um para o outro, a gente já foi tão feliz juntos, e podemos ser de novo. Depois que você foi embora, fiquei abatido, não conseguia comer ou dormir, preciso estar ao seu lado novamente Bi, me perdõe, não

posso viver sem teu amor. Aquelas palavras doeram profundamente no coração, mas não conseguiria confiar de novo, porque se nunca foi fiel em 04 anos, não seria agora, era somente tapar o sol com a peneira. ― Enrico, lamento muito. Mas nesses três meses que estamos separados eu mudei demais, não consigo mais me ver com você, acho que no fundo não era feliz, estava acomodada em uma rotina, cada um tem que seguir seu destino, será melhor para ambos.

Ele me olhou como se eu tivesse antenas na cabeça, sem acreditar no que disse, e de repente o olhar se transformou de meigo para rude e sibilou: ― Como assim não era feliz? Você só pode estar brincando comigo, não é? ― Permaneci em silêncio, não queria dar atenção para o que estava falando, assim se cansaria e iria embora, mas para minha surpresa, ele ficou agressivo e me sacudiu. ― Você vai parar agora mesmo com essa bobagem, Bianca! Você é minha noiva e seu lugar é

comigo. Não vou permitir que faça esta besteira, jogando a nossa vida no lixo desta forma, por um deslize bobo que dei. A indignação me tomou, deslize bobo? O cara me traia a maior tempo e se acha no direito de ficar bravo. Pode ir parando, meu amigo. ― Enrico me solta, está me machucando, você não presta mesmo, tem a cara de pau de ainda ficar indignado com tudo isso, pois te digo que estou bem e não te quero nem pintado de ouro.

― Bianca, isso não vai ficar assim, está me escutando? Você vai voltar, nem que seja a última coisa que eu faça ― e saiu pisando duro como se estivesse cheio de razão. Minhas amigas que estavam de longe e começaram a rir diante do atrevimento, mas enfim ninguém deu crédito para aquelas ameaças, mais é aí que mora o perigo. Após aquele dia minha vida virou um inferno e não tinha mais sossego para nada. Foram 04 meses de puro assédio, porque Enrico parecia um ensandecido em meu encalço. Seguia-me até o trabalho, se eu

fosse até alguma balada, ele aparecia do nada. Desconfiei que colocou alguém para me seguir, e já não aguentava tamanha pressão. Até que um dia foi à gota d´agua, conheci um gatinho em um pub e o mesmo ia me dar uma carona, estava indo em direção ao seu carro, quando Enrico apareceu e pelo jeito estava bêbado. ― Onde você pensa que vai, Bianca? ― Cansada das cenas sem cabimento disse: ― Não te devo satisfações, não sou mais sua noiva e pode nos deixar em paz, por favor. Ficarei

imensamente feliz ― sua expressão endureceu e percebi que enrijeceu e cerrou o maxilar. Para minha surpresa avançou para cima do rapaz, lhe dando golpes de soco no rosto, totalmente descontrolado, estremeci e gritei por socorro, o rapaz que estava comigo conseguiu lhe dar um chute na barriga e o mesmo tombou e nesse ínterim o gatinho saiu correndo e deixandome para trás, não pude acreditar em tamanha covardia, como pode me deixar com o Enrico daquele jeito? Quando percebi que ia sobrar para mim, tentei correr também. Entretanto, ele foi mais rápido e me

segurou pelas pernas me fazendo cair no chão, bati as costas com força. Fiquei alguns segundos meio atordoada, mas assim que me recompus levantei. Porém, Enrico colocou meus braços para trás de modo a deixar-me indefesa. Jogoume dentro do seu carro, parecia enfurecido e totalmente fora do controle. Tentei-me desvencilhar, mas ele era mais forte, e me jogou no banco de trás sussurrando no ouvido: ― Fique quietinha, que vamos relembrar os velhos tempos, quando eu te comia bem gostoso e

você queria mais. Porque se acha que te deixarei livre para outros está muito enganada. Se não for minha, não será de ninguém ― Entrei em pânico. Ele ia fazer me estuprar? Enrico fedia a álcool e cigarro e estava fora de si, lutamos ferozmente, recebi um soco no rosto de modo que me deixou meio fora do ar, me senti enojada e pensei em como um dia pude amar aquele homem. Ele me dominou e por um momento perdi a esperança, mas como um milagre, estava passando uma viatura da polícia militar fazendo a ronda do bairro. E notaram que havia algo errado

dentro do veículo, foram momentos tensos quando a polícia nos abordou e pude sentir um alívio imenso, Enrico recebeu ordem de prisão por ser pego em flagrante. Meus pais foram chamados para me buscar na delegacia. Sabia que meu ex, não ficaria detido por muito tempo, porque seu pai era um famoso advogado rico e também cheio de conhecidos no mundo da política. Enfim, este é nosso país que as leis não são cumpridas. E agora um mês e meio após o acontecido sabia que tinha que tomar uma decisão, ou seja, ir

embora da minha cidade a qual nasci e cresci, deixando meus pais e amigos para trás.

Capítulo 1 Finalmente o avião esta pousando na cidade maravilhosa, foram tranquilos os 50 minutos de voo e logo me encontrarei com a minha amiga Carol, na qual tão carinhosamente me ofereceu para ficar na sua casa até eu me estabelecer em definitivo. Já com as minhas bagagens na mão, fui até a área de desembarque encontrá-la. ― Carol que saudades ― gritei quando a avistei. ― Não posso acreditar que faz tantos anos

que não nos vemos. ― Isso Bi, desde que fui embora de Curitiba. Amiga vamos logo, porque não quero receber uma multa de estacionar em local proibido. Dirigimo-nos a seu apartamento em Ipanema que ficava a umas 4 quadras da praia. Um lugar agradável, com padarias e mercados bem próximos, ou seja, já amei de cara o bairro e senti que minha vida seria maravilhosa morando por ali. Nos primeiros dias fui me

adaptando aos poucos, quis tirar uns 10 dias de folga, fazia tempo que não sabia o que era férias, fui à praia e caminhei pelos arredores de onde morávamos de modo a conhecer a vizinhança. Fiquei maravilhada com tudo, apesar das pessoas falaram que o Rio é perigoso, achei um pouco de exagero, basta você tomar cuidado e tudo ficará bem. O sotaque dos cariocas era o que mais me divertia, são pessoas de alto astral e simpáticas. Cativando-me e fazendo pensar que minha decisão de mudar de ares, foi mais que certa.

Nas 03 semanas seguintes, distribui meus currículos em algumas escolas de dança e academias que tinham aulas desse gênero em suas grades, teria que ter calma para não conseguir um emprego ruim. Outra opção seria tentar dar aula em escolas para crianças, apesar de saber que não pagam tão bem, mas não posso ficar parada. Passado uma 01 semana, ligaram-me para fazer entrevista em uma academia, fiquei empolgada. Quem sabe já não era o destino sorrindo para mim. A mesma

ficava localizada em Copacabana. No qual eu poderia ir de metrô, fiz a entrevista com o dono. Um rapaz bonito e de muita presença, chamado Tony. O mesmo ia precisar contratar porque a professora atual recebeu uma proposta para ir embora para Inglaterra e precisava de alguém urgente. Tony elogiou meu currículo, porque apesar de ser jovem fiz 10 anos de ballet clássico e me especializei em danças latinas como salsa, tango e zouk, ou seja, tudo que ele precisava. Avisaramme que iriam entrar em contato o quanto antes, sai de lá esperançosa

e pensando positivo. Na sexta-feira da mesma semana, me ligaram dizendo que a vaga era minha e que começaria na segunda-feira. Foi a melhor notícia para começar o fim de semana com chave de ouro. Resolvemos sair para comemorar, afinal ia fazer um mês que mudei e já conseguira um emprego em uma das melhores academias do Rio, que sorte grande eu tinha. As coisas foram caminhando conforme o esperado e logo me acostumei a tudo. Trânsito, calor extremo e a quantidade muito

grande de turistas no calçadão. Fiz novos amigos no trabalho, me afeiçoei a alguns vizinhos que sempre foram gentis e percebi que Tony estava disposto a ser mais que apenas meu empregador. Volta e meia dava-me carona e também me convidava para sair. Entretanto, eu sempre tinha uma desculpa e nunca fui adepta de misturar as coisas. Mesmo ele sendo bonito, era meu chefe e prefiro manter a distância. Em um sábado, Carol resolveu me tirar do quarto. Já fazia tempo que estava na rotina de trabalho-casa, e ela dizia que eu ia

virar uma árvore enraizada no apartamento. ― Bi, para onde você quer ir? ― Falou minha amiga empolgada. ― Sei lá Carol, eu não conheço as baladas daqui, sou a pior pessoa para perguntar ― Carol revirou os olhos e disse: ― Não foi isso que eu quis dizer, vou me expressar melhor. Você quer ir a uma balada ou um barzinho? ― Agora entendi o questionamento. ― Ah, eu não sei... Confio na sua escolha ― falo rindo, sabia que

me levaria em algum lugar muito bom e que estivesse na moda. Ela era a cara da balada em pessoa. Nos vestimos de forma bem sensual, nunca mais tinha ficado com alguém depois do meu exnoivo. Preciso tirar a teia de aranha da boca, me olhei no espelho e gostei do visual. Estava com um vestido de paetê preto e bem justo ao corpo, o qual marcava bem as curvas, afinal eu não era nenhuma feiosa. Tenho cabelos compridos e pretos, sou magra, mas sempre tive quadril, bunda e peito. Algumas amigas dizem, que sou parecia com a Nina Dobrev da série Vampire

Diaries, mas onde será que está o meu Ian Somerhalder, tiver que rir dessa comparação. Saímos por volta das 23:00 horas. A Carol tinha carro e não dependíamos de carona. Ao chegarmos a balada que fica na Barra de Tijuca, a fila dava volta no quarteirão. O lugar deve ser bom mesmo, para estar tão cheio. Logo avistamos uma amiga na fila e furamos sem o menor constrangimento, fingindo que ela já guardava nossos lugares. ― E aí Valéria, tudo bem? ― Disse Carol.

― Tudo ótimo, amiga, que bom que encontrei vocês. Porque levei um bolo de uma conhecida e assim não fico sozinha ― disse rindo. ― Essa é Bianca. É uma amiga de infância que veio de Curitiba morar comigo. ― Prazer, Valéria. Como vai? ― A mesma me deu um sorrisão e começamos a conversar e senti que nos demos bem de cara. Esperamos por cerca de 30 minutos e conseguimos entrar. O lugar é espetacular, tem dois andares e o visual muito moderno. Houve um

pouco de dificuldade para chegarmos ao bar, pela quantidade de gente na pista de dança. Pedimos nossas bebidas e ficamos ali contemplando aquela multidão de corpos dançando. Até que senti uma mão em meu ombro, quando virei me deparei com Tony, meu chefe, todo sorridente. ― Olá querida, resolveu sair um pouco de casa? ― Tive que rir, porque até o Tony estava pegando no meu pé. ― Ah sim! Eu fui obrigada. Ou teria levado uma surra da amiga que mora comigo ― após meu

comentário, ele percebe a Carol e vi que seus olhos se arregalaram. Fato que acho normal, porque minha amigucha é maravilhosa. Loira, alta e corpo perfeito, sintome na obrigação de apresentá-los. ― Desculpe minha falta de educação. Essa é Carolina e nós moramos juntas, Carol este é Tony, meu chefe. Os dois engataram em uma conversa, e ficamos Valéria e eu sobrando. Decidimos dar uma volta para ver os gatinhos. Assim que chegamos à pista, começou a tocar uma música que adoro, Don´t you

worry child - Swedish house máfia e ali nos acabamos de tanto dançar. De repente o vi, um homem perfeito. Alto, por volta de 1,90 e cabelos castanhos bem claros, quase loiros. Um corpo maravilhoso de ombros largos e braços com músculos nada exagerados. Só não consegui enxergar a cor dos olhos, porque estava escuro e cheio de luzes brilhando, mas aposto que deviam ser claros. Meu Deus, que homem lindo, não conseguia parar de admirá-lo, minha respiração ficou até mais curta e o coração acelerado. Parecia uma boba quase

de boca aberta o admirando, mas era óbvio que ele nem me notou. Passou perto de mim e continuo andando, puxei a Valéria e disse: ― Olha que lindo ― ela o viu e respondeu: ― Nossa, maior filezão amiga, como não tinha visto antes? ― tive que rir do termo que usou. ― Põe file mignon nisso ― Valéria me respondeu. ― Vamos segui-lo, quem sabe não tem mais amigos bonitos como ele para mim ― e começamos a segui-lo e para minha surpresa ele parou para falar com Tony. Eu não acreditei, mas me

mantive um pouco afastada, esperando o momento certo para nos aproximar. Então do nada apareceu uma loira aguada e se pendurou sem seu pescoço. ― Bi, estes bonitões nunca estão disponíveis. Somente os feios e os vira-latas estão sozinhos ― tive que rir com sua comparação, que talvez estivesse certa. E logo o homem perfeito desapareceu com a loira aguada, fiquei até murcha depois da sua saída. Após sua presença, todos ficaram sem graça e minha balada perdeu o charme. Só não fui embora logo, porque a

paquera entre Carol e Tony estava dando frutos e logos os dois estavam se agarrando num canto. Valéria e eu conversamos e dançamos à noite toda. Por volta das 4:00 da manhã, fomos embora para o nosso merecido descanso. Afinal domingo ninguém trabalha e com certeza dormiríamos o dia inteiro. Demos uma carona para Valéria e ficamos fofocando sobre o quanto Carol ficou impressionada com Tony. Porém, já avisei que ele é bem galinha. Justamente para não criar expectativas. Algumas meninas que

davam aula já tinham se envolvido e meu chefe não era muito chegado em um compromisso sério. Entretanto, Carol é uma pessoa mais relax e disse que só iria aproveitar um pouco do seu pau, nós demos muita risada com isso, que pessoa mais liberal essa garota.

Capítulo 2 Já haviam se passados uns três meses e estávamos perto de novembro, quando Tony chamou a mim e os outros professores para falar sobre a apresentação de dança do fim de ano. Na qual já era o quarto ano consecutivo que estava sendo realizado, com intuito de angariar fundos para uma comunidade carente e para divulgar a escola e a academia. Fiquei um pouco surpresa e inclusive soube no mesmo dia, que havia várias

empresas de pequeno e grande porte que patrocinavam o evento desde o primeiro ano. Decidimos o tema e todos deram novas ideias que serão implantadas nos ensaios, confesso que minha empolgação, porque em um dos intervalos das apresentações dos alunos. Farei uma performance em dupla de dança contemporânea com Bob, um professor que dá aulas de salsa e zouk junto comigo, a partir de segunda-feira começaremos a ensaiar a todos, ou seja a rotina ficará bem mais agitada. Fui para casa exausta e

quando dormi, aquele homem perfeito da balada não saía da minha cabeça. Me pergunto se existe criatura mais idiota? Pensar em um cara que nem me notou e provavelmente tem namorada. Ah, Bianca acorda sua tonta, vá procurar alguém que esteja ao seu alcance. Ficou esnobando o Tony, veio a Carol e agarrou, agora já era. No outro dia saí de casa um pouco mais cedo e tomei café na padaria perto do trabalho, 05 minutos após estar sentada, tive a impressão que havia alguém me

vigiando. Ao me virar, havia um homem por volta de uns 50 anos que me fitava incessantemente, mas ao ser confrontado com meus os olhos, virou o rosto tentando encobrir seu interesse. Agora esse tiozão com a idade do meu pai vai ficar me paquerando? Entrei na academia e fui encontrar-me com as alunas da manhã. Costumo dar aulas de bale clássico, tenho 3 turmas pela manhã, e boa parte são crianças e adolescentes. À tarde, ensino salsa e alguns dias à noite de zouk. Minha semana é bem produtiva e não tenho

do que reclamar. Pago minhas contas e ainda consigo guardar um dinheirinho. Estou economizando para comprar um carro no futuro, enfim, os dias passaram voando e chegou a segunda no qual começaríamos os ensaios. Bob é uma pessoa maravilhosa e um grande parceiro profissional. Às vezes noto várias alunas com ciúmes das brincadeiras que fazemos. Entretanto, não me intimido com isso, prezo um bom relacionamento no ambiente de trabalho. Entre uma aula e outra temos 1 hora de pausa. E

começamos o ensaio, escolhemos a música e iniciamos os primeiros passos para uma coreografia perfeita. Porque modéstia à parte, Bob e eu, nascemos para dançar. E nos entrosamos muito bem logo de cara. Algumas pessoas assistem nosso espetáculo e após o termino, saímos para tomar uma água e chamar os alunos para o início da aula. Uma loira com cara de poucos amigos, fitava-me incessantemente. Me fiz de desentendida e dei seguimento nas atividades. À aula terminou e a mesma teve a audácia de tirar satisfações.

― Para quem é nova por aqui, não acha que está colocando as manguinhas para fora rápido demais? ― Pouco me importei e murmurei: ― Desculpe não entendi o que você está falando. ― Claro que sabe! Não se faça de tola para mim. O Bob está saindo comigo e espero que você mantenha suas patas longe dele ― eu devo ter algum imã para gente louca, não é possível. ― Olha, como é mesmo seu nome? ― Ela empina o nariz e diz:

― É Rebeca ― eu olho bem na cara dela para que não haja dúvidas. Porque não quero arrumar confusão com ninguém. ― Olha Rebeca, da minha parte, pode ficar tranquila. Bob é um amigo e colega de trabalho. Mas se me permitir, gostaria de te dar um conselho. Ele sai com você e a torcida do flamengo, acho melhor não criar expectativas com essa relação ― ela me fita com desprezo e sibila: ― Realmente não me lembro de lhe pedir algum conselho. E para sua segurança, é melhor ficar longe

do meu caminho. Se quiser manter seu emprego. Porque sou amiga íntima de Tony e posso reclamar de você. Ressaltando suas péssimas qualidades de professora ― que ódio dessa garota nojenta. Só porque tem dinheiro, gosta de pisar nos outros. Mantive o equilíbrio e guardei meu mau gênio. Porque se eu o liberasse, ela ia sair correndo dali com a marca de cinco dedos no rosto, aquela criatura sem bunda. Mantive-me afastada da cobrinha à aula toda, deixei somente Bob auxiliá-la. Estou fugindo de gente assim, cheguei em

casa exausta e querendo descansar. Pouco tenho cruzado com a Carol, porque a pobrezinha só tem hora para entrar no trabalho, a de sair fica em aberto, e com isso não temos tempo para curtir nossa amizade. No dia seguinte, cheguei no horário e a tarde o Tony me chamou. Fico um pouco intrigada, pois ele quase não aparece no terceiro andar, onde ficam as salas de dança, mas tinha quer ir até lá para saber do que se tratava, o mesmo pediu para eu sentasse. ― Bi! Você teve problemas

com algum aluno? ― Fiquei surpresa com o seu comentário, sempre me dei bem com todo mundo. ― Não Tony. Não me lembro de nada fora do normal, por quê? ― Ele parece nervoso de abordar o assunto, mas em seguida explicame. ― Tive uma reclamação de uma aluna, dizendo que somente os homens são bem tratados nas aulas e despreza as mulheres. Isso é verdade? ― Fico vermelha, porque já sei quem está tentando me prejudicar.

― Olha Tony, fique totalmente à vontade para perguntar sobre a minha conduta com outros alunos e até para os professores. Tenho a consciência limpa e sei que sou muito profissional e dedicada ao que faço ― ele se mexe desconfortável e sem graça. Mas não me aborreço com isso, porque só está tentando preservar o bom ambiente do local. ― Bi, desculpe te chamar por algo que nem sei se é verdade. Mas de antemão, peço que você entenda meu lado. ― Claro Tony, fique à vontade, confio plenamente no seu

julgamento e até prefiro que isso seja averiguado. Assim a verdade irá aparecer e não teremos mais problemas em relação a isso ― ele sorri e diz que estou dispensada. Saiu soltando fogo pelo nariz, com ódio daquela desbundada. Que Deus me dê à sabedoria e não força, porque se seu pegar aquilo, juro que jogo em alto mar. O pior foi ter que aturar a cobrinha à noite e fingir que nada aconteceu. Olha o que temos que engolir para ganhar um salário honesto. Enfim, para não deixar a patricinha nojenta com mais raiva,

marquei com Bob de ensaiarmos na hora do almoço e longe dos olhos de terceiros. Melhor prevenir as futuras dores de cotovelo. Nossa coreografia se transformava e ficava cada dia mais linda e técnica. Espantava-me como dançávamos bem e como nossos corpos se encaixavam com facilidade. Confesso que em certos momentos sentia até uma excitação, porque nos tocávamos na coreografia e estou sem sexo há algum tempo. Daqui a pouco estarei subindo as paredes de tanta seca. Em um dos nossos ensaios, Bob me convida para sair. Tomar alguma

coisa e decidimos ir ao bar que fica perto da academia. Quando chegamos, tenho a mesma sensação de estar sendo vigiada e olho para o lado. Vejo o mesmo senhor que esteve na padaria, não é possível que esteja me encontrando com este homem de novo. Que coincidência, mas aquilo fica na minha cabeça, penso que ele deve trabalhar pela região, só pode ser. Bob me questiona e diz: ― Está tudo bem? ― Penso se devo contar a ele sobre Rebeca, mas mudo de rumo, por temer que tire satisfações com a mesma e o

cenário piore para meu lado. ― Não é nada, só estou cansada ― ele sorri e faz cara de safado. ― Se quiser, podemos ir para meu apartamento e te faço uma massagem. O que acha? Prometo que irá ficar relaxada rapidinho ― eu penso que até seria uma boa ideia se não houvesse uma loira sem bunda e assassina querendo me prejudicar e faço minha melhor cara de amiga do ano. ― Bob você é um gatinho. Entretanto, trabalhamos juntos e quero manter meu emprego e um bom ambiente profissional.

― Mas na escola não há nenhuma política de não relacionamento entre funcionários Bianca, ou seja, somos livres para fazer o que quisermos, não acha? ― Claro que acho, mas não posso dizer nada a ele e continuo fazendo cara de desentendida. ― Eu sei disso, meu amigo, mas prefiro manter nossa amizade ok? ― Sinto-o decepcionado e sussurra: ― Você quem sabe linda, mas se mudar de ideia, estarei aqui. Bob é um fofo e conversamos

por horas, fico sabendo que divide apartamento com mais 02 caras e que sua família é do interior do Rio. Tenho a certeza de estar adicionando mais um amigo a lista. No fim de semana, descido ir à praia e convido a Carol. Pegamos nossas cadeiras e saímos felizes e contentes para pegar uma corzinha. No caminho ligamos para Valéria, que promete nos encontrar e quando finalmente estamos todas reunidas na areia, tive uma visão do paraíso. O homem perfeito, aquele deus nórdico, que tem povoado meus sonhos há meses. Não posso

acreditar. Ele está vindo bem próximo a água, conversando com Tony, acho que agora é minha chance, cutuco as meninas e pergunto: ― Olhem quem está vindo por ali, Carol? ― Ela se anima toda, encolhe a barriga e fala: ― É o Tony, vou levantar e passar por ele ― eu também me levanto, mas para minha infelicidade. Do nada aparece a loira oxigenada sem graça, puta merda, essa menina não desgruda, mas depois penso que a única que não se manca sou eu mesma. A

garota provavelmente é namorada dele e nada mais do que normal, estarem passeando na praia, me desanimo e volto a sentar na minha cadeira, Carol me olha e sussurra: ― Bi, por que sentou? ― Aceno para que olhe para o lado e respondo: ― Ah, Carol, olha quem colou do lado dele? ― Ela ri. ― Pois é amiga, acho que você não tem sorte. Provavelmente deve ser namorada dele, é a segunda vez que os vemos juntos. ― Eu ainda tinha um pingo de

esperança que pudesse ser somente uma ficante, mas está bem difícil acreditar nisso. Carol por sua vez, passa perto de Tony e o mesmo a chama. Minha amiga faz aquele ar de surpresa, e tive que sorrir. Acredito que a globo está perdendo uma ótima atriz. Os dois começam a conversar e Tony a convida para ir até seu apartamento. Que inveja, terá sexo à tarde toda e eu ficando com o meu sexo mumificada de tanto tempo que não sei o que é isso. Logo ficamos Valéria e eu, com a maior dor de cotovelo.

Naquele mesmo dia. Decido não me fazer tão de difícil, primeiro homem que se mostrar interessado eu me jogo. Tenho que sair deste período de deserto, ou vou enlouquecer com a falta de sexo, preciso que ser menos amiga. Às vezes até percebo uns olhares e sorrisos de alguns sarados malhando quando passo na academia e simplesmente não faço nada. Sou uma tonta, e preciso demostrar mais o que quero e deixar de ser puritana. Carol só volta para casa quase meia-noite e diz que está acabada, explanando mais detalhes da sua tarde sensual.

No domingo, fomos à praia de novo, mas ficamos somente na parte da manhã, o sol estava muito forte e por ser curitibana, não estou acostumada a receber tanto raios solares no corpo. Às semanas passam voando e finalmente está chegando a nossa apresentação, as roupas que mandamos fazer estão quase prontas e as coreografias de professores e alunos e afiadas. Bob e eu repassamos exaustivamente nossa apresentação, porque segundo Tony, os patrocinadores estarão presentes e haverá até alguns políticos na plateia. Ou seja, tudo deve sair na mais perfeita

harmonia. Quando estou chegando em casa, decido passar no mercado que fica uma quadra de casa. E na saída, vejo o mesmo cara que vi das outras duas vezes. Fico temerosa, porque de início achei que podia trabalhar perto da academia, mas vê-lo aqui perto do meu apartamento é explicito demais e preocupante. Desconfio que está me seguindo, tomo coragem e tento abordá-lo, mas ao perceber que o vi, sai andando e contínuo chamando-o, me ignora e resolvo parar e voltar para casa. Entretanto,

aquilo não para de povoar minha cabeça, o que aquela criatura está fazendo atrás de mim? Não tenho nenhuma prova para ir até a delegacia, afinal só o vi umas 3 vezes. Tenho que começar a ficar atenta, se há alguém atrás de mim quando estou indo e voltando do trabalho. Vou atentar-me a isso. Quando chego em casa o porteiro me avisa que há um buquê de rosas. Que estranho, pois quem iria mandar flores para mim? Afinal não tenho nenhum ficante no momento, abro o cartão e está escrito:

“Sinto falta do seu cheiro e do gosto da sua boca, nunca vou te esquecer” Estremeço e lembro-me de Enrico. Não pode ser, ninguém da minha família jamais diria nada a ele e nem Amanda, deve ser alguma brincadeira da Carol, só pode. Tento ligar para ela, mas chama até cair, estou ficando paranoica, não tem como meu ex-noivo me achar. É melhor deixar isso para lá, tenho certeza que não se trata dele.

Capítulo 3 Quando entro no apartamento, resolvo ligar para meus pais, afinal a última vez que nos falamos faz quase 20 dias. Marco Antônio e Patrícia são pais maravilhosos e sempre me apoiaram em todas as decisões da vida. Principalmente papai, que dizia que estaria ao meu lado para o que fosse necessário. ― Oi pai, tudo bem? ― Digo feliz. ― Oi minha filha, que saudade. Aqui está tudo bem e você?

― Eu também estou bem pai, mas me deixa perguntar uma coisa, vocês tem notícias do Enrico? ― Fica mudo. ― Não querida, nunca mais escutei falar dele, por quê? ― Na hora fico sem saber se digo a verdade ou invento alguma coisa, mas resolvo abrir o jogo, porque não gosto de mentiras. ― Não é nada de mais pai, é que recebi flores e achei suspeito. ― O sinto a tenso e sibila: ― Mas havia algum cartão? ― Digo que sim e relato o que

estava escrito. ― Meu amor, também estou achando estranho, mas vou tentar sondar no escritório de advocacia do pai dele e te aviso. ― Mas pai, como vai fazer isso? ― Digo assustada, pois não o quero envolvido nisso diretamente. ― Você se lembra da Magnólia, aquela engenheira que trabalha comigo? ― respondo que sim. ― Então a prima dela é recepcionista no escritório do pai dele, e a mesma disse que vai sondar a prima para saber

informações sobre Enrico. ― Ufa ainda bem que meu pai é um homem inteligente e bem relacionado, assim não se envolverá cara a cara com este doente. ― Ok pai, pelo menos fico mais tranquila que não será você. ― Filha, relaxa, não sou estúpido de bater de frente, precisamos primeiro saber como anda a vida dele, se está com outra pessoa e viajando ― depois falamos algumas amenidades e conversei com dona Patrícia, que aliás, já avisou que daqui há 2 semanas virá com meu pai me

visitar. Fico nas nuvens, porque apesar de amar Carol, sinto saudade dos meus pais e amigos. E recebê-los por uns dias, iria amenizar este buraco no peito. As semanas passam voando e finalmente o fim de semana da visita chega. Fui buscar os meus pais no aeroporto Santos Dumont de ônibus. Porque papai alugou um carro, para fazermos turismo no Rio e já fui intimada a ser a guia turística. Sorri com esta proposta, pois logo eu, que não conhecia muita coisa, mas como gosto de aventuras e desafios, topei na hora.

Meus pais resolveram ficar em um hotel para não abusar da hospitalidade da Carol, protestei no começo, mas não teve jeito, disseram que se sentiriam mais à vontade e resolvi não criar caso. Meu pai comentou comigo sobre a recepcionista que abriu o jogo e contou todas as fofocas da vida de Enrico para Magnólia. ― Filha, pelo que a recepcionista disse, o Enrico está namorando novamente, pelo menos são os rumores que correm no escritório. E a moça já até apareceu por lá, então não acredito que seja

ele, deve ter resolvido te esquecer e seguir em frente. ― Tomara pai, porque eu confesso que fiquei bem assustada e ainda estou. Mas como ele está namorando, deve realmente ter me esquecido. ― E deixamos o assunto de lado. De manhã fomos ao Cristo Redentor, amaram e ficaram de boca aberta da beleza do Rio e depois nos dirigimos ao Pão de Açúcar, que em minha concepção é até mais bonito que o Cristo, visitamos o morro Santa Tereza, para comermos uma feijoada

famosa e deixamos para visitar o Jardim Botânico no outro dia. À noite apesar de cansados, decidimos ir até a Lapa, porque vir na cidade maravilhosa e não visitar este bairro boêmio é a mesma coisa de não ter vindo. Sentamos em um barzinho que tinha samba de raiz e os dois se acabaram de dançar, foram ótimos momentos que tivemos, e também arrumei um par para dançar comigo. Tudo bem que o cara devia ter quase a idade do meu pai, mas era animado, simpático e tinha maior ginga no pé. Sentou conosco para tomar uma cerveja e jogar uma conversa fora.

Fico feliz de meus pais serem pessoas tão leves e de bem com a vida, sempre sorrindo e vendo o lado bom das coisas. Só tenho a agradecê-los por me criarem da mesma forma, porque uma coisa eu aprendi nos meus 23 anos de vida, pessoas de alto astral, sempre se recuperam mais rápido das dificuldades da vida e eu sou uma prova disso. Ao sairmos de lá, me deixaram em casa e seguiram para o hotel. E claro, no outro dia foi aquele sacrifício para levantar cedo. Quem mandou beber tanto

garota? Carol pôde ir conosco, por ter trabalhado no sábado, pobre amiga com estes horários doidos de enfermeira, ninguém merece. Às vezes trabalhava todo o fim de semana, seguimos para o hotel e fomos até o botânico e depois para praia no qual nos divertimos a tarde toda. À noite fui levá-los ao aeroporto e chorei bastante ao me despedir. ― Menina pare de chorar ― disse minha mãe tentando se controlar, mas uma lágrima já escorrendo pelo olho. ― Não fale de mim dona

Patrícia, que seus olhos também estão vermelhos ― meu pai se juntou ao nosso abraço e ficamos os três agarrados nos lamuriando, prometendo não demorarmos tanto de nos ver. Quando fui para casa, fiquei pensando no quanto sou extremante agarrada a eles, principalmente ao papai. Gosto muito da minha mãe, mas com ele sou mais afetiva, temos mais cumplicidade, e até quando perdi minha virgindade tive coragem de lhe contar, tamanha afinidade que nos envolve. Não gosto nem de pensar que um dia

posso perdê-los, fico sem chão e com lágrimas nos olhos. Na segunda de manhã, acordei daquele jeito com a maior preguiça, pois o fim de semana tinha sido animado e estava morrendo de vontade de ficar na cama. Ainda mais que o dia estava nublado e com cara de chuva, fui para o trabalho de metrô. E me mantive atenta, para perceber se estava sendo seguida. Mas graças a Deus não tive o desprazer, talvez fosse coisa da minha cabeça. Sempre chego à academia uns 20 minutos mais cedo, não gosto da

correria de chegar toda descabelada e atrasada, prefiro entrar antes e me trocar com calma, quando chego ao meu armário quase caio para trás. Está escrita de batom bem grande na porta à palavra vagabunda. Meu sangue corre na veia a mil por hora, minhas mãos abrem e fecham em punhos tamanha a minha vontade de bater em alguém e fico imaginando quando foi que está criatura escreveu isso. Deve ter sido no sábado à tarde, quando a academia já estava fechando. Sinto-me envergonhada com as pessoas que devem ter passado por ali e visto

aquilo. Um nome me vem à cabeça, Rebeca, ah santo Deus, juro que mato alguém hoje, quando estou para sair do vestiário. Encontro com uma das professoras, que me chama em um canto e comenta que havia visto aquela barbaridade assim que chegou. ― Bianca, sabe que não temos muita intimidade, porque você fica em outro andar, mas vou te dar um conselho de amiga, saia daqui a vá direto falar com o Tony, porque já vi algo parecido acontecer por aqui e a corda sempre arrebenta do lado mais

fraco ― sorri, porque sabia que ela tinha boas intenções ao me dar este conselho. ― Você tem razão Sônia, não posso deixar as coisas chegarem a este ponto. Vou tomar alguma providência, mas mesmo assim obrigada por se preocupar ― saio dali e marcho direto na sala do meu chefe, bato na porta e vou entrando. Tony está ao telefone e pedi que eu aguarde um minuto. ― Olá minha querida, como vai? ― Olhei-o com uma expressão não muito feliz e ele riu. ― Vamos lá, me diga o que está acontecendo

― abaixo a cabeça e começo a desabafar. ― Olha Tony, eu nunca gostei de ser dedo duro e tenho pavor disso, mas a situação está caminhando para algo ruim e tenho obrigação de te deixar a par de tudo ― ele se mexe na cadeira e presencio sua preocupação. ― Claro Bianca, pode falar o que está te atormentando ― me ajeito e narro tudo o que aconteceu, ele franze a testa, levanta as sobrancelhas em um gesto de compreensão. ― Olha Bianca! Eu agradeço

que você tenha vindo falar comigo, mas infelizmente não tenho como fazer nada. Porque no vestiário não há câmeras de segurança na qual comprovem que foi a Rebeca, ou seja, será sua palavra contra a dela e acredito que isso irá gerar mais atrito ― Fico pensativa e triste, porém sei que Tony está coberto de razão, não há provas contra aquela maluca e infelizmente tenho que engolir este desaforo. Mas ele diz: ― Sei que você não tem culpa de nada e que também é uma excelente profissional, mas te peço que tente ficar o máximo possível longe desta garota. À mesma entrou na

academia na mesma época que você e já está causando confusão ― estranhei o comentário dele, pois ela tinha me dado a entender que era antiga, mas enfim agradeci e fui dar minhas aulas, afinal sou paga para isso. O dia passou rapidamente e conforme foi anoitecendo comecei a ficar ansiosa, porque teria que ficar na mesma sala que aquela megera. Enfim, graças a Deus ela ficou na dela e nem se aproximou. Para evitar qualquer provocação, me mantive calada e afastada de Bob, que era o alvo de toda

desavença. À aula chegou ao fim e pude respirar aliviada. Ao termino, Bob veio me perguntar se tinha acontecido alguma coisa, por estar quieta. Respirei fundo e contei o que havia acontecido. ― Bi, eu nem sonhava que toda esta confusão estivesse acontecendo por minha causa. Desculpe-me gatinha, você não merece nada disso. Essa garota é uma louca, eu fico com ela às vezes, mas não temos nada sério... Olha nem sei o que te dizer ― vi que estava envergonhado, mas não quero mais confusão para o meu

lado e o melhor é não sermos vistos mais juntos fora do horário de trabalho, pelo menos até esta criatura deixar de cismar comigo. ― Bob você mora no meu coração de verdade, e sei que sabe disso. Mas não quero ter problemas com a Rebeca, então prefiro me manter distante de você nas aulas e nenhum tipo de contato fora do ambiente profissional. ― Ele fica surpreso e diz indignado: ― Gatinha, isso não é justo com a gente poxa, não podemos a deixar atrapalhar nossa vida assim desta forma ― mas do que ele está

falando? Será que estamos conversando sobre o mesmo assunto? ― Bob do que você está falando? Nós continuaremos sendo amigos, só que mais afastados. ― Mas e o lance que está rolando entre nós? ― Nossa o Bob confundiu totalmente nossa amizade, mas gosto dele e não quero perdê-lo. ― Não está rolando nada entre nós amigo, estamos apenas nos conhecendo, mas tudo dentro da amizade, ok?

― É acho que eu confundi um pouco a interação que nós temos, achei que estava caminhando para algo mais ― vi que ficou sem graça, mas logo se recuperou e disse: ― Amigos? ― E estendeu a mão para mim eu dei meu melhor sorriso e disse: ― Sim, amigos para sempre ― com isso não ficaram pontas soltas e nem mal-entendidos, cada um sabia sua posição no jogo.

Capítulo 4 Finalmente chegou o grande dia da apresentação. E como era sábado não acordei tão cedo como o de costume. Porém, estava a fim de pegar uma cor antes do show e resolvi ir até à praia. Fiquei lá por 2 horas e como não sou tão branca e me queimo rápido, logo estava com uma aparência saudável e a pele levemente bronzeada. Cheguei em casa e juntei minhas coisas em uma mala e refiz mentalmente, para ver se não estava esquecendo nada, inclusive a roupa de balada, porque

conforme à noite anterior, marcamos de sair após o espetáculo para comemoramos o sucesso. Olhei no relógio e já estava quase na hora da Augusta passar, iria pegar uma carona com uma professora que morava para os lados do meu apartamento. Entrei no carro e fomos jogando conversa fora até o teatro onde iriamos nos apresentar. O cenário estava lindíssimo, a equipe responsável pela montagem estava de parabéns, nos encaminhamos aos bastidores para nos preparar e fazer os últimos ensaios dos alunos de

modo a cronometrar as entradas de cada um. A energia positiva transbordava no ar. Estamos animados e bem conscientes de que dependia de cada um, para que o espetáculo fosse perfeito e transcorresse conforme o esperado. Não sei por qual motivo, mas sentia que algo bom ia acontecer naquele dia, mamãe sempre dizia que sou meio bruxinha, porque sinto uma sintonia diferente quando algo irá me acontecer. Mas sempre foi assim desde criança, e espero que seja algo ótimo, porque estou com

minha cota de coisas ruins no topo da cabeça. Decido que está na hora de me arrumar e sigo para o camarim. Neste começo ficarei com um vestido de bailarina simples, porque somente irei subir ao palco para acompanhar minhas alunas de balé clássico. Já prevejo que será um barato, na sua maioria são crianças de 6 a 10 anos. E sou do tipo que adora ensinar e por não serem tão pequenas, já sabem dançar bem e ao mesmo tempo não são tão grandes para terem um gênio insuportável como as

adolescentes. Termino de colocar meu vestido rosa bebê que se compõe, um body bem justo e saia curta e esvoaçante, prendo meu cabelo em um coque e coloco brincos pequenos e discretos, como uma gota de diamante rosa. Olhome no espelho e me sinto linda, involuntariamente começo a me lembrar da primeira vez que entrei em uma sala de dança. Era uma menina de 6 anos, que só tinha o sonho de ser bailarina e fazer parte de uma grande companhia de dança. Enfim o primeiro sonho não saiu. Mas faço o que amo e não tenho a menor dúvida disso.

Reúno minha turma num canto, tentando repassar alguns passos mais difíceis e ficamos nos preparando psicologicamente para nossa entrada. No ato da dança o palco seria enfeitado com coisas do século 18 recriando o cenário referente a coreografia do lago dos cisnes e tudo estava perfeito. Foram colocadas algumas poltronas, cortinas e pilastras, os objetos são de ótima qualidade, nos posicionamos até sermos chamadas. O momento seguinte foi emocionante e com as cortinas fechadas entramos e as bailarinas foram tomando seus lugares.

Mantive-me em um canto que não apareceria. Porque somente minhas meninas que iriam brilhar. Porém minha curiosidade foi maior, me posicionei bem ao lado da entrada e saída dos camarins e quis dar uma olhada no público. Fiquei admirada, o teatro estava lotado e vi que as primeiras fileiras dos assentos, eram para os patrocinadores. Os observei e notei que se tratam de pessoas de dinheiro. Homens bem vestidos em seus ternos caros e as mulheres em modo desfile, cabelos arrumados e bem maquiadas. Quando meus olhos pararam bem nos assentos

que davam para o meio do palco, não pude acreditar... Meu homem perfeito estava lá. Senti o coração acelerar, a mão suar, dei um passo para trás, de modo a me esconder. Logo caio na real, o espetáculo já ia começar e preciso primeiramente concentrar-me, afinal, sou a professora e líder. Retomo minha postura e sinto raiva dos meus devaneios, sou uma idiota em achar que ele ia me notar. Sendo que não me viu das duas vezes que nos encontramos e fora que ele estava com a loira aguada ao lado, mas mesmo assim não justifica nem ter me olhado, poxa sei que não sou

feia, parecia que tinha uma tarja preta no meu rosto. Que ele nem passou os olhos sobre mim, mas tudo bem, preciso me concentrar nisso primeiro, depois penso o que vou fazer. A voz do apresentador, começa a narrar à história do lago dos cisnes e as cortinas se abrem, minhas menininhas começam a dançar ao som de Tchaikosvy e foram 3 minutos de apresentação, no qual ao final as mesmas foram aplaudidas de pé. Fiquei tão orgulhosa como uma mãe que assiste à apresentação dos filhos,

no término quando já haviam saído de cena, todas correram em minha direção e me abraçam. Palavras não poderiam descrever o quanto estava satisfeita com o desempenho espetacular. Entretanto, meu trabalho ainda não estava concluído. A última dança da apresentação, seria feita por Bob e eu, e estávamos um pouco nervosos. Afinal, era a primeira vez que a escola colocava professores em uma apresentação individual. Este ano seria um piloto para os próximos, no qual queríamos mostrar a nossa experiência e nada melhor do que uma performance.

Passadas mais alguns grupos, chegou o nosso momento. Eu suava frio, mas não pelo fato de me apresentar em público, pois essa fase eu já havia superado. Mas sim, porque o homem que tem mexido com os meus sonhos estes últimos meses estava lá fora, sentado na primeira fila. Isso sim, me desestabilizava e me causava calafrios, sentia-me ridícula, nunca tivemos nada e ele nem sabia da minha existência. Provavelmente tinha namorada e nem se daria conta da minha presença. Enfim, enchi meu peito de ar e pensei. Seja o que Deus quiser, o máximo que

irá acontecer, é que irei recuperar meu juízo e parar de pensar neste cara. O apresentador fala um pouco sobre a história da dança contemporânea e avisa que é uma apresentação profissional dos professores da escola. E a música começa a tocar e que música maravilhosa, a escolhi porque sinto que seja algo que toca na alma, daquela que os pelos do braço se levantam e te faz viajar, The Cinematic Orchestra - To build a Home. Começamos a nos movimentar em total sintonia, já

conhecíamos bem a coreografia e tínhamos uma simetria muito grande em nossos corpos. Sabia que tinha alguém muito especial assistindo e dancei com toda a minha energia para ele. Fui sensual, intensa e apaixonada naqueles minutos, parecia que fazíamos amor no palco, mas o que passava na minha mente é que tinha feito uma apresentação para uma pessoa em particular. Para mais ninguém e assim que viramos fomos aplaudidos de pé, tamanha empolgação da plateia. Mas meus olhos foram automaticamente em sua direção.

Na hora senti um baque no estômago. Porque olhava-me incessantemente, me deixando desnuda. Tamanha fome e voracidade descritas em seu rosto e finalmente percebi ser notada. Felicidade e euforia que não cabiam em mim, mas fiquei contida. Afinal não sei se tem namorada e qual é sua história para ir me alegrando tão facilmente. Quando saímos do palco, Bob me abraçou tão forte que quase me esmaga e brinco com ele: ― Hei, calma aí colega, desse jeito vai quebrar os ossos do

meu corpo ― olha-me com sedução e diz: ― Na verdade, estou com vontade de fazer outra coisa bem diferente do que quebrar seus ossos ― sussurra ao ouvido. ― Bob, eu já te falei que somos amigos, não é? ― Digo de maneira séria e fitando seu rosto bonito. ― Eu sei o que me disse, mas a maneira que dançou comigo mostrou outra coisa. Parecíamos que estávamos fazendo amor e olha que fiquei bem animado com está

pequena amostra, imagina o que pode acontecer na vida real, entre quatro paredes, estou excitado ― diz se aproximando, mas sou salva com a chegada dos outros professores e vejo a decepção do meu amigo e sussurro de volta: ― Bob, depois a gente conversa melhor, tá ― ele pisca charmoso e acena com a cabeça. Caminho para os camarins para me trocar. Como estou suada de tanto dançar sou obrigada a tomar um banho de gato na pia, pois não há chuveiros. Prefiro isso, a ir para o coquetel toda grudada. Seco-

me, passo um perfume e coloco minha roupa de balada. Combinamos, que vamos esticar a noite em uma boate do momento. Olho minha imagem e fico satisfeita. Com um vestido dourado de paetê com as costas toda nua, ponho um salto preto e sei que não vou fazer feio com os convidados e me encaminho o quanto antes. A maioria dos professores já foi para lá, só eu fiquei de retardatária. Aliás, como sempre, Carol vive reclamando da minha demora, realmente preciso ser mais rápido nesse quesito.

Caminho para o salão, onde as pessoas conversam e interagem umas com as outras. Vou parando e recebendo os elogios de alguns pais e colegas, inclusive recebi flores de uma aluna e meus olhos se encheram de lágrimas. Sou uma professora coruja, penso comigo mesma e de repente, sinto uma energia diferente, um arrepio na nuca e o vejo conversando com um senhor elegante que deve ter por volta de uns 65 anos. No mesmo instante, ele também se vira e não consegue disfarçar que está me observando descaradamente, com certeza minhas bochechas ficam

ruborizadas e tento me entrosar com alguns colegas da escola de modo a disfarçar meu constrangimento. Vou ao banheiro e quando saio, ele está na porta me aguardando. ― Oi... Podemos conversar? Já que só estamos no olhando ― diz dando um sorriso de lado. Que para minha perdição é tremendamente sexy. Sorrio também um pouco tímida e digo. ― Claro, meu nome é Bianca, sou professora de balé e dança latina ― fico tímida, de não saber como me portar diante daquele homenzarrão em minha

frente. Que aliás, é mais alto do eu via de longe. Senti-me pequena e delicada diante da proximidade. ― Eu sei quem você é. Me informei ao seu respeito com o Tony, pena não a ter visto antes. Mas acho que agora, irei me matricular na academia o mais rápido possível ― corei feito um pimentão, ele era bem direto e digamos até um pouco arrogante no seu modo de falar. Mas até o momento eu estou gostando de tudo que estou vendo e escutando. ― Nossa, você é bem rápido no gatilho, não perdeu tempo, não

é? ― Replico sarcástica. ― Não perco tempo quando sei o que quero ― me diz com seu olhar intenso, não consigo segurar. Dou risada e falo com toda a simpatia. ― Ok senhor não perco tempo. Qual é o seu nome? ― Thommas Krause, sou uns dos principais patrocinadores do evento, aliás, é seu primeiro ano aqui, não é? ― Diz juntando as sobrancelhas em dúvida. ― Sim, Tommas. Sou nova na escola e esta é minha primeira

apresentação. ― Você não é daqui do Rio? Seu sotaque é engraçado, meio cantado ― caçoa do meu sotaque. ― Sou de Curitiba, mas falando em sotaque o seu também é bem estranho... Você não é brasileiro? ― Sou alemão, moro no Brasil há dois anos. Mas falo português fluente, porque minha mãe é brasileira e sempre fez questão que eu aprendesse sua língua. ― E seu pai é alemão? ―

Digo remoendo minha curiosidade de saber mais dele. ― Isso mesmo, meu pai é alemão e somos de Frankfurt, conhece? ― Não conheço nada na Europa, dizem que a Alemanha é lindíssima, quem sabe um dia ― digo abaixando meu rosto, me sentindo pobre e sem cultura. Provavelmente ele conhece a Europa inteira e eu no máximo, fui até os Estados Unidos para estudar, mas olhando para as roupas do mesmo, já percebo que tem dinheiro. E fora que sendo

patrocinador com certeza deve ser empresário. Um homem viajado e culto. ― Então Bianca, você gostaria de sair para jantar comigo? ― Borboletas voarem no meu estômago e fico arrepiada dos pés à cabeça. Não consigo acreditar que meu homem perfeito e deus nórdico, que aliás, é mais lindo do que imaginava, está aqui na minha frente me convidando para sair. Fico alguns segundos processando a informação e ele sussurra: ― Olha, sei que abordei você de forma direta, mas sou um

cara legal, não precisa ficar com medo. Prometo que não vou fazer nada que você não queira ― sussurra cheio de malícia, me fazendo ficar excitada. Ah, se ele soubesse que faz muito tempo que não faço sexo, com certeza, sairia correndo daqui com medo de ter se deparado com uma ninfomaníaca. Mas claro que não posso demonstrar, tenho que me comportar como uma mocinha recatada, coisa que não sou, mas Tommas não precisa saber. ― Não é isso. É que nós funcionários da escola havíamos

combinado de sair para uma balada, após o espetáculo e infelizmente não posso furar com meus colegas de trabalho ― digo me desculpando. ― Eu posso ir com você? ― Ele me questiona educadamente, se aproximando e colocando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha. Na hora sinto vontade de procurar um banheiro e acabar com a minha seca de meses, mas me controlo. ― Ah, claro, sem problemas, vou verificar qual é a boate que iremos e te aviso. Só um minuto ―

saio em disparada atrás de Tony. ― Tony, onde que o pessoal está combinando de ir? ― Ele me fita com um riso nos lábios, e questiona-me. ― Por que você quer saber? ― Eu já sacando a piadinha digo: ― Você quer me perguntar alguma coisa, Tony? Desembucha ― falo sem paciência. ― Está interessada em saber para falar para alguém? ― E se faz de desentendido. ― Como se não soubesse o motivo, não é? ― Dou uma

gargalhada. ― É para seu amigo chefinho, ele me convidou para jantar, mas como vamos cair na noite, ele quer ir também. ― Bi, apesar de Tommas ser meu amigo, te falo que não é alguém para se levar à sério. Só tome cuidado, ok? Estou te alertando porque gosto muito de você e sei que é uma garota legal e de bom caráter, não merece se envolver com qualquer vira-lata ― me adverti todo preocupado. ― Obrigada por me avisar Tony, provavelmente faz isso com a melhor das intenções, mas pode

ficar tranquilo, não espero nada dele. ― Iremos na Winner. O Tommas conhece, já foi comigo algumas vezes. ― Ok Tony, nos vemos mais tarde ― e pisco para ele, me dirigindo ao meu alemão, que me espera conversando com outras pessoas. Aviso a ele o nome e nos dirigimos à saída do salão do teatro. Quando o vallet trás seu carro, quase caio para trás quando estaciona uma porsche cayenne

preta. Nossa! Eu sabia que ele tinha dinheiro, mas não imaginava tamanha ostentação. Que aliás, não pode nem ser chamado de carro, porque está mais para uma nave. Meu gentleman me abre a porta e depois segue para seu lado e partimos para a noitada. Ao chegarmos, à fila dava a volta no quarteirão, mas claro que nem chegamos perto dela, Tommas não parecia alguém que ficasse em uma. Rumamos direto à entrada da área vip e fomos encaminhados para o andar de cima em um espaço perto da cabine do DJ. Assim que

chegamos o camarote estava vazio, mas pouco a pouco o pessoal foi chegando e todos foram se entrosando. Logo vejo a Augusta, que vem em minha direção e olha para Tommas, obviamente sou educada e os apresento. Ela sorri de lado e arqueia a sobrancelha como quem quis dizer: sua safadinha nem ia me contar. Faço com a mão um depois a gente se fala, e ficamos conversando e dançando. Toda a galera da escola e academia foi chegando, inclusive Tony e a bagunça foi geral. Meu lindo

alemão avisa que vai ao banheiro e passado uns 30 minutos estou me acabando de dançar com uma dose de whisky com energético que amo de paixão. E nada de ele voltar ao nosso espaço. Começo a ficar preocupada, será que passou mal e desmaiou, são tantas possibilidades que povoam minha mente que resolvo ir atrás daquela delícia humana e quando chego ao bar que fica de frente ao banheiro masculino fico paralisada. Tommas está encostado no balcão com os braços ao redor da cintura de uma ruiva com cabelo cor de salsinha desbotada no maior bate-papo, sem

nem notar minha presença. Olho aquela cena sem saber o que fazer, aí penso. Tenho duas opções, ir para cima dele e sair por baixo como a ficante deixada de lado, ou sair daqui e pegar o primeiro gostoso que me der bola e aí ele vai ver quem é o trouxa de verdade. Na hora meu gênio ruim fez a escolha por mim, é óbvio que não irei ser desrespeitada por ninguém, pode ser o mais bonito da face da terra. Fiz meu caminho de volta, soltando fumaça pelo nariz e procurando pela vítima perfeita. Quando de repente chega o Bob na

área vip e meu plano começa a ser executado. Nossos olhares se cruzem e sei que há uma química rolando no ar, dou risada e penso como vai ser fácil me vingar daquele babaca europeu. Chego perto de Augusta e lhe conto tudo. Ela fica horrorizada e diz que é melhor eu deixar pra lá. Ela não me conhece, passado uns 10 minutos, o cara de pau volta como se nada tivesse acontecido, tudo bem que nós não tínhamos nos beijado ainda, mas eu tinha vindo para boate com ele, maior falta de respeito sendo que tinha demonstrado interesse por mim, não tive dúvida e falei:

― Nossa achei que água de salsicha tinha te matado ― ele me olha como quem não entende nada. ― Do você está falando Bianca? ― Olhei-o cinicamente. ― Aliás, é ao contrário, pois você é quem estava esmagando ela no balcão do bar ― ele franze a sobrancelha e diz: ― Ela é somente uma amiga, nada mais ― eu dou risada. ― Agora está na moda apalpar as amigas... Interessante ― ele sorri abertamente. ― Está com ciúmes Bianca? ― Eu bufo e saiu

andando. Nessa hora toca uma música que adoro Justin Timberlake-sexy back, meus olhos procuram por Bob, nos encontramos e começamos a dançar de forma muito sensual e provocativa, sorrimos o tempo todo, me sinto linda e desejada em cada estrofe, suas mãos tocam minha cintura. Dou uma olhada de rabo de olho e Tommas está parado ao lado de Tony, com uma cara nada amigável e me sinto muito bem, ou seja, vingada. Que prove do próprio veneno. Quando a música acaba, Bob pergunta se quero ir embora com ele e digo que

sim, que vou apenas pegar minha bolsa. Na chapelaria pego minha bolsa e depois sou empurrada na parede, por uma montanha de músculos e olho para cima. Vejo fogo em seus olhar, Tommas está morrendo de raiva. ― Onde você pensa que vai? ― Não que seja da sua conta, mas vou pegar uma carona com Bob. ― Você veio comigo e vai embora comigo, Bianca. ―Tive que rir, aquele alemão é muito petulante e mandão.

― Você não manda em mim Tommas, vou embora com quem eu quiser ― levanto o queixo para deixar bem claro minha rebeldia. Ele sorri de lado daquele jeito lindo que quase me mata e rosna. ― Vamos ver ― e vai me arrastando até a porta, ignorando meus protestos e tapas em seus braços. Chegando a portaria, me obriga a entrar no carro e dirige sem dar uma palavra. E aquilo me incomoda por demais.

Capítulo 5 Após dirigir cerca de uns 35 minutos, vejo que estamos novamente no meu bairro, Ipanema, não me contenho e pergunto. ― Como sabe onde eu moro? ― Ele dá uma risadinha e diz: ― Quem disse que estamos indo para sua casa? ― Fico confusa na hora, sem saber o que pensar. ― E para onde estamos indo exatamente? Ele

me

ignora

completamente. Fico na minha, pensando em como vou fazer para sair desse carro e ir embora. E quando ele para no semáforo, me aproveito do fator surpresa e abro a porta com tudo. Tommas fica passado e começa a esbravejar me chamando de irresponsável por sair no meio do trânsito. Caminho para a calçada com todo cuidado para não ser atropelada e nem olho para trás, retiro meu saltos e começo a caminhar pelo calçadão. Poxa fiquei tanto tempo sonhando acordada com este cara e ele não passa de outra babaca com o ego gigante, aliás, gigante igual a ele,

que homem grande pai do céu, chego até a estremecer só de imaginar aquele alemão me pegando de jeito, que pena que é tão mulherengo e sem consideração. Mas depois de Enrico, estou fora de gente desequilibrada e fico por alguns momentos divagando, e nem percebo alguém se aproximando, quando sinto um solavanco e sou agarrada pela cintura, sendo que meus braços são presos na parte de trás das costas e quando olho pra cima, vejo aqueles olhos azuis me fitando com tamanha fúria e fome, que sinto minhas pernas fraquejarem. Fico excitada pela

brutalidade que me segura em seus braços, não deixando dúvidas sobre quem está no comando. ― Não dê mais um passo, ou juro que sento você nos meus joelhos e vou te dar umas palmadas com direito a plateia ― seu desejo foi uma ordem. Porque não consegui mais me mover, apenas nos encarando com um desejo nos consumindo. ― Venha, deixei meu carro encostado no meio-fio. E espero que não tenha tomado nenhuma multa e sem gracinhas, mocinha. Entrei no carro em silêncio.

Mas na verdade a tensão, era uma prévia de que muitas coisas iriam ser faladas. Porque estávamos fervendo e havia um tesão palpável no ar. Logo chegamos em frente a um prédio luxuoso de frente para a praia, que eu sabia ser um por andar, estacionamos na garagem e ficamos dentro do carro por alguns minutos, alguém precisaria quebrar aquele gelo. E provavelmente seria eu. ― Olha Tommas, desculpe sair do seu carro daquela forma. Eu não costumo ser assim, mas acho que não começamos esse nosso

lance muito bem. Talvez seja melhor deixarmos para lá e sermos somente amigos, ok? Ele dá uma gargalhada e olha para mim como se eu fosse uma louca. ― Você só pode estar brincando Bianca, olhe para nós dois? Estamos fervendo de tanto tesão, desde que nos vimos naquele teatro. Esse gênio difícil e boca atrevida, me deixa estimulado, gosto do que não é fácil, pois a sensação de conseguir é muito mais prazerosa ― ele chega próximo ao meu rosto e sinto sua respiração

com hálito de whisky e incendeio de tanto desejo, nosso beijo começa devagar, como se estivéssemos nos conhecendo. Devagarzinho ele vai tomando tudo e ao mesmo vai se tornando urgente, esquadrinhando cada canto da boca, nossas línguas se tornam uma dança perfeita, um encaixe gostoso e sensual, as mãos passeiam pelo meu corpo, hora apertando, hora puxando. Começamos a ofegar e Tommas, em alguns momentos geme palavras em alemão, meu meninão delicioso, está todo entregue ao momento tanto quanto eu. Mas um carro entra na garagem, nos fazendo voltar à

realidade de que estamos em público. ― Vamos subir para meu apartamento ou seremos presos por atentado ao pudor ― sorrimos e já senti que o clima entre nós voltou ao normal. Tommas apertou o botão da cobertura, digitou um código de segurança e logo me puxou para seus braços me aconchegando em seu corpo esculpido, fazendo subir mil borboletas por minha barriga e aumentando a expectativa do que aconteceria entre nós. Fitei-o e senti todo o meu sexo latejar

naquele instante. Aquele homem despertava em mim meu lado mais selvagem e visceral, desejos obscuros que nunca pensei sentir por ninguém. Lambi meus lábios que estavam secos tamanha a loucura da química que nos assolava, quando a porta do elevador abriu em seu andar, ele me puxou e só tivemos tempo de chegar até o hall de entrada. Tommas atacou minha boca de tal maneira que mal conseguíamos respirar, tamanha a animosidade do nosso beijo. Estávamos nos engolindo literalmente, senti minha calcinha encharcada com a excitação. Suas

mãos desceram até minha bunda e as apertaram com força de maneira possessiva, não deixando dúvidas que eu era sua, no mesmo instante me puxou para seu colo e enlacei as pernas em seus quadris, foi me carregando por um corredor escuro que acredito ser o quarto, não parávamos de nos tocar nenhum instante. Sentia seu pênis duro na entrada do meu sexo procurando espaço naquilo que era seu por direito. Estava extasiada com sua destreza, com mãos que eram ágeis. E estou amando isso. Me senti à vontade e apesar de ser

nosso primeiro encontro, não estava envergonhada, o desejei por tantos meses, que valia a pena ter coragem. Tommas levantou, ligou seu iPhone no dock station e deixou uma música bem sensual tocar, olhou para mim e sussurrou: ― Tira roupa e dance para mim, bonequinha safada ― seu olhar era duro e esfomeado me dando total poder naquele momento. Fiquei um pouco sem reação, pois jamais havia feito isso em

meus 4 anos junto com Enrico. Tive certo receio se ele iria pensar mal de mim, sobre estar fazendo tudo isso no primeiro encontro. Mas que se dane esse lance de moralismo. Só estávamos nós dois naquele quarto e o que fizermos ali não interessa a ninguém. Cada um que tome conta da sua própria vida, joguei meus preconceitos para o fundo do meu cérebro e tratei de reagir. Enquanto no iPhone tocava Partition Beyonce, me senti hipnotizada pela música e deixei meu lado mais devasso tomar o controle.

Puxei uma cadeira, sentei e abri minhas pernas acariciando meus seios, olhei bem nos olhos dele e sorri de lado começando minha performance de modo bem sensual. Senti que engolia seco e respirava com dificuldade, notava a força que fazia para se manter no lugar e impassível, para não levantar e me tomar de uma vez. Comecei a descer as alças do vestido, seus olhos se arregalaram e pomo de adão subia e descia freneticamente, o vestido caiu aos meus pés me deixando somente com um sutiã de renda preto e uma calcinha minúscula da mesma cor.

A devassa que mora em mim estava reinando mais do que nunca. Arranquei toda lingerie e joguei em cima dele, sorri de lado da mesma forma que ele fazia comigo e me sentei com as costas levemente encurvadas para trás. Quando senti seu cheiro de perfume amadeirado nas minhas narinas, suas mãos possessivas puxavam meu cabelo com muita força para trás, degustando meus lábios com tamanha ferocidade que pareciam que iam ser arrancados. Me pegou no colo fazendo-me sentir tão pequena perto do seu

tamanho, porte, altivez e jogou-me na cama no qual pude sentir cada pedaço do seu corpo bem-feito, braços fortes e pernas longas e musculosas, homem viril e cheio de gás para gastar. Ali Tommas me possuiu sem a menor delicadeza e para minha surpresa, gostei de ser solicitada daquela nova forma, sem muito romantismo e sim à coisa da pele e do toque em si, transamos várias vezes durante a noite, dormíamos, acordávamos e transávamos novamente e posso dizer que foi delicioso.

Logo que abri os olhos fiquei olhando meu alemão dormindo, aproveitei e admirei sua beleza loira, senti uma vontade de ficar o dia inteiro agarrada a seu corpo, mas sabia que não podia, Tommas era um cara livre e não tinha me prometido nada. Não posso ser infantil e ficar imaginando um conto de fadas, nem percebi que já tinha acordado quando me puxou para seus braços sorrindo. ― Bom dia, bonequinha linda, dormiu bem? ― Imagina que eu ia responder sem ter escovado o dente no maior bafão, coloquei a

mão na boca e respondi que sim com um aceno de cabeça. Ele deu uma gargalhada e arrancou minha mão da boca e me deu um beijo, tentei fugir, mas não teve jeito, nós dois estávamos com bafinho mesmo. Aceitei o beijo e depois ficamos rindo. ― Não precisa ter vergonha de mim Bia, isso é a coisa mais normal do mundo, ninguém acorda com aroma de flores na boca depois de dormir ― corei violentamente por ficar encanada com algo tão bobo, mas minha relação era tão esquisita com

Enrico que vejo em pequenas coisas que não tínhamos tanta intimidade assim. ― Ok Tommas, você tem razão, estou sendo estúpida, prometo que não vou sair correndo para o banheiro na primeira oportunidade ― ficamos um tempão na cama namorando, confesso que também estava amando este outro lado meigo que mostrou agora cedo, carinhoso e atenciosos. Ah se eu pudesse ter o pacote completo, mas não posso iludir-me com isso. Quando

estávamos

começando um novo round de sexo maravilhoso, escutamos à campainha tocando. Tommas pediu para eu esperar no quarto, mas como sou uma curiosa nata, vesti uma camisa dele e me prostrei perto da escada. Aí sim, comecei a reparar melhor em seu apartamento. Pintado nas tonalidades de bege e branco que não era nada como eu imaginava. Achei que seria algo frio e impessoal como geralmente são as casas de homens solteiros, mas me surpreendi com um lar alegre e bem decorado, suspeito que o mesmo tenha passado pelas mãos de alguma designer de

interiores e me arrisco a dizer que uma das boas, porque tudo estava em harmonia em uma mistura com móveis modernos e algumas peças mais antigas. Ah esqueci de dizer que mora em um duplex e o quartos ficam na parte de cima do apartamento, que pude contar, são 4 quartos, aliás, é um exagero para alguém sozinho. Quando o mesmo abre a porta vejo que sorri abertamente e abraça alguém, que de onde estou não consigo enxergar e nem ouvir. Fico na expectativa, ele faz com a mão para a pessoa entrar e quando vejo

quem é, quase tenho uma síncope, é a loira aguada que achei ser sua namorada. Mas se fosse mesmo ele estaria convidando ela para entrar? Claro que não né Bianca, que pergunta idiota. Fico curiosa imaginando qual é a relação deles afinal. Meus sentidos ficam aguçados naquele momento, os dois se encaminham para a cozinha e vejo que a mesma carrega algumas sacolas plásticas, porém para que eu possa escutar o que eles conversam preciso descer a escada, e resolvo fazer isso e ficar atrás da parede que divide a

cozinha em estilo americano da sala. Quando me aproximo escuta a voz da loira azeda, e percebo que os dois estão falando em inglês, ainda bem que meus pais sempre se preocuparam que eu tivesse outra língua, portanto entendo perfeitamente o que estão conversando. ― Nossa Tommas, faz uma semana que a gente não se vê, isso porque trabalhamos no mesmo lugar, hein ― ela diz manhosa. ― Nem me fala Mel, estou

trabalhando tanto, desde que fechamos contrato para fazer reparos nos navios daquele armador francês, minhas atividades têm se multiplicado ― a loira encosta-se na bancada da cozinha e sibila: ― Então, eu trouxe alguns pães e bolos para gente. Podemos tomar café agora? Tommas se move desconfortável e diz que está com uma pessoa no quarto esperando por ele. A loira com a voz de gato com asma, sorri e solta uma pérola.

― Hum quer dizer que tem uma garota te esperando? Posso entrar na brincadeira também? ― Estou em choque com o comentário, nossa essa garota é bissexual, gente? Meu alemão chega perto dela, e a abraça pela cintura e lhe dá um beijo na boca, sem acreditar naquilo que meus olhos estão vendo, esse desgraçado estava me beijando agora a pouco e está se roçando nesta vaca branquela? Tudo bem que, olhando-a de perto agora, a cachorra é bem bonita, parece uma modelo alta e magra, mas estou com raiva e

prefiro encontrar somente defeitos. Tommas se justifica. ― Mel, é a primeira vez que saio com a Bianca, não sei se curte este tipo de sexo a três ― Ela gruda em seu corpo e começa a se esfregar no das pernas e percebo que ele se excita. Não consigo mais presenciar aquela cena, está forte demais presenciar aquilo. Subo a escada correndo e volto para o quarto, preciso dar o fora daqui antes que os dois comecem a transar na bancada da cozinha. Acho meu vestido e troco de roupa rapidamente, calço meus sapatos e

quando estou pegando minha bolsa que estava largada no chão perto do seu closet, a porta se abre e vejo meu meninão se aproximando todo gostoso, de calça de pijama e sem camisa. ― Hei Bia, por que já está de roupa? ― Eu o fulmino com os olhos, no qual um olhar vale mais que mil palavras. ― Olha Tommas, pode voltar para os braços da sua namoradinha estrangeira, estou indo embora ― ele solta uma gargalhada e diz: ―

Que

feio

escutando

conversa escondida ― o encaro com olhos mortais. ― Não quero pegar baba dos outros, prefiro que peguem a minha ― levanto meu queixo em sinal de afronta. ― Bia, qual o problema em nos divertirmos a três? Garanto que será extremamente prazeroso para todos ― aquilo foi a gota d´agua. Quem ele acha que sou? Se a loira aguada curte estas pirações, eu estou fora... Minha praia é outra. Eles que façam bom proveito. ― Escuta aqui, Tommas... ―

Falo exasperada e somos interrompidos pela baranga metida à modelo e a mesma se dirige a mim falando português, tudo bem que fala bem errado, mas consigo entender perfeitamente. ― Olá, prazer, meu nome é Melanie Balzer, sou amiga e filha do sócio do pai de Tommas e você? ― Fico totalmente sem graça, pois não esperava que a garota invadisse o quarto, dou a mão porque afinal tenho educação. ― Sou Bianca Giordana e não sou o brinquedinho da vez de Tommas ― ela sorri pelo meu

comentário ácido e fala. ― Ah, Tommas gostei dela, tem a boca bem atrevida, espero que saiba usá-la para fazer bem outras coisas ― Fico enojada com seu comentário e a mesma vem para cima, tentar tirar minha roupa. Com um reflexo que nem eu sabia ter, dou uma bofetada em sua cara deixando meus cinco dedos em seu rosto. Melanie mesma me lança um olhar mortal e Tommas prevendo que o círculo se fechará, se coloca entre nós, antes de nos atacarmos. ― Sua insolente quem você pensa que é para me bater? ― A aguada

logo tenta se crescer sobre mim. ― Não mandei você encostar a mão em mim ― ficamos nos fitando com um olhar ameaçador. ― Fique com a sua amiguinha Tommas, pelo visto vocês se merecem - falo e dou meia volta saindo do quarto, meu alemão vem no meu encalço e me segura o braço. ― Não seja infantil Bia. Foi só uma sugestão, se você não curte, vou falar para a Mel ir embora e nos deixar sozinhos. A aguada não contente desce a escada e se intromete na conversa.

― Tommas, deixe-a ir querido. Posso encontrar alguém mais quente para jogarmos ― olho para ele e vejo descontentamento por ela estar se metendo. ― Mel! Posso resolver isso sozinho, sem sua ajuda ― ela faz uma cara de ódio quando me olha e sobe para o quarto, ele se aproxima e tenta me beijar, desvio o rosto, ele o contrai e diz: ― Espere aqui vou conversar com a Mel para que nos deixe a sós, não fique brava, ela é uma boa pessoa, só ficou com raiva pela bofetada que levou ― penso

comigo mesma, acho bem difícil aquela víbora ser uma boa pessoa e quando Tommas sai me deixando sozinha, caio na real que aquela situação não é para mim. Somos de mundos diferentes, tanto na classe social, quanto incompatíveis sexualmente, nunca vou aceitar dividi-lo com outra mulher, esses comportamentos não fazem a minha cabeça e faço o que é sensato, vou embora.

Capítulo 6 Já na rua, sinto alívio e angustia ao mesmo tempo. Apesar de ser sábado às 9:00 da manhã e as ruas já estão cheias. Caminho pelo calçadão. Fico divagando que apesar de termos nos conhecido oficialmente somente ontem, esses meses que fiquei sonhando com ele foram bons. Pena que a realidade é bem outra e sei que tenho que ter os pés no chão, chega de relacionamentos complicados e gente desequilibrada. Tudo que vivi com Enrico já foi uma escola e

estou bem treinada com cafajestes. Sinto minha bolsa vibrar e paro para procurar o celular. Vejo que é Bob me ligando. Nossa, tinha o esquecido, coitado, deixei-o plantado e fui embora com outro, maior sacanagem da minha parte; Mas como não sei qual desculpa darei, prefiro não atender. Ao recusar, vejo 10 ligações perdidas de ontem, terei que inventar algo bem convincente para que possa me perdoar, mas depois penso nisso. Estou toda bagunçada, cheirando a sexo e com roupa de balada, acredito que não serei bem

vista se pegar um ônibus. Então descido chamar um táxi para ir para casa. O apartamento está um silêncio total, Carol deve ter chegado do plantão muito cansada e desmaiado. Tiro minha roupa e vou tomar um banho, embaixo do chuveiro penso em tudo que aconteceu novamente e descido tentar esquecer meu lindo deus germânico, é o melhor para ambos. Tento encontrar uma boa desculpa para dar ao Bob; Ele é meu amigo e pisei na bola profundamente. Pego o celular e descido ligar logo para finalizar esse assunto.

― Alô ― responde com uma voz de sono. ― Bob é a Bianca, pode falar? ― Oi linda o que aconteceu? Poxa fiquei preocupado e te procurei pela boate inteira ― fico com peso na consciência, afinal não gostaria que ninguém fizesse o mesmo comigo, mas vamos lá contar uma mentirinha. ― Desculpe Bob, devia ter te ligado ontem, mas bebi demais e misturei várias destilados. Quando fui buscar minha bolsa comecei a

me sentir mal. Fui ao banheiro e vomitei tudo que tinha no estômago, quando saí fiquei com vergonha de não estar bem e achei melhor ir para casa, não queria te dar trabalho, pois não era obrigado a ficar cuidando de uma bêbada não é mesmo? Ele ficou alguns segundos em silêncio e fiquei me perguntando se a mentira não tinha sido convincente o suficiente. ― Bi, nunca mais faça isso, você me ouviu bem? ― Fico confusa sobre o que ele estava falando, se dá mentira ou sobre a

bebedeira. ― Você poderia ter passado muito mal em casa e aí quem iria te ajudar? ― Ufa ele acreditou na minha desculpa, pelo menos não vou perder o amigo. ― Imagina Bob! quando cheguei em casa fiz um chá e até que isso acalmou meu estômago, mas obrigada pela preocupação ― ele soltou o ar e disse: ― Bi, independentemente de qualquer coisa, somos amigos e saiba que pode sempre contar comigo ― como estou muito carente tive vontade de chorar, bem que eu poderia estar interessada

nele e não no safado do Tommas, que provavelmente nunca se importará comigo, mas infelizmente a vida é assim mesmo, sempre queremos aquilo que não podemos ter. Despeço-me do meu amigo dizendo que segunda nos veremos e vou dormir porque minha noite foi bem agitada. Acordei à noite, isso porque Carol bateu no meu quarto para saber se estava viva. Contei tudo para minha amiga que deu muita risada e também ficou com raiva de Tommas pelo atrevimento da sua amiga loira aguada, mas me disse o

mesmo que já tinha decidido. Combinamos de sair bastante e conhecermos o máximo de gatinhos que conseguirmos. O domingo passou rapidamente e não fizemos nada, ainda cansadas, eu da minha noite intensa de sexo e Carol do plantão no hospital. A segunda-feira chega sem novidades o dia todo. Na terça à noite antes de começar minha primeira aula de zouk, tive que ir até a sala de Tony levar uns novos cronogramas, bato na porta e ele me diz para entrar, quando olho para dentro do seu escritório, fico muda.

Tommas está sentando de frente para sua mesa e vejo que me olha com desejo e intensidade, de maneira visceral, sem nem ao mesmo disfarçar. Fico chocada, não esperava encontrá-lo tão cedo. E Tony sentindo o clima pigarreia. ― Oi Bi, em que posso ajudá-la? ― Me recomponho e disfarço que estou sem chão. ― Estou trazendo o novo cronograma de aulas conforme nos solicitou ― ele sorri e pega a papelada da minha mão, Thomas,

educadamente fica em pé e vem me cumprimentar com um beijo no rosto. ― Olá Bianca, como vai? ― Com esta proximidade tenho certeza que virei um morango, tamanho o constrangimento. ― Oi Tommas, estou bem obrigada ― ficamos nos encarando sem saber bem o que fazer e mais que depressa descido dar fim a este momento constrangedor. ― Bom Tony, tenho que subir, vou dar a próxima aula, com licença ― fecho a porta e saio em

disparada pelo corredor com o coração acelerado. Quando escuto o barulho da porta sendo aberta novamente. ― Bia ― escuto a voz de Tommas. ― Espere por favor ― sua voz é como um comando nos meus sentidos, fico paralisada de costas. ― Desculpe pelo que aconteceu. Não estava esperando que Melanie aparecesse sem avisar e quando voltei para sala e não te encontrei, não tinha seu número de celular para ligar.

Finalmente viro de frente para meu alemão, com medo de não conseguir ser forte e resistir ao seu charme e digo: ― Tudo bem Tommas, não estou com raiva ― ele sorri abertamente se sentindo confiante. ― Ok, então me passa seu telefone que pode... ― Já corto sua intenção sem deixá-lo terminar. ― Olhe Tommas, volto a falar... É melhor sermos somente amigos e preciso subir que minha aula está para começar. Tchau ― saio o mais depressa que posso, se continuar perto dele sei que vou

fraquejar e me lançar nos seus braços, pois só senti vontade de beijá-lo e inalar seu cheiro de homem viril. Chego à aula vermelha de subir correndo pela escada. Tento me concentrar nos movimentos que estou ensinando aos meus alunos e por duas vezes, Bob me chama atenção por estar com a cabeça na lua. Preciso curtir as músicas, mas está bem difícil. Meu alemão não sai dos meus pensamentos e quando a aula termina dou graças a Deus, pois a atenção está muito longe da sala de aula. Vou até meu armário

pego minhas coisas, tomo uma ducha e saiu pela porta da academia usando uma legging branca e uma blusinha estilo bata azul. Escuto alguém me chamando, olho para trás perplexa e sem acreditar, Tommas está parado na porta do seu carro me fitando. ― Oi Tommas, achei que já tivesse ido embora ― tento ser simpática e indiferente, mas acho que não estou conseguindo. Meu alemão dá uma gargalhada e sibila: ― A quem você quer enganar com esta história de sermos amigos, Bia? Não preciso de muito para ver

que fica toda nervosa quando está perto de mim ― fico indignada com o tamanho do seu ego, que cara mais metido, mas tento não me deixar abalar com sua presença marcante. ― Vejo que o seu ego continua grande e intacto como sempre ― ele nem se abala com o comentário ácido. ― Entra no carro Bia, vou te levar em casa ― que mandão, será que está achando que sou algum de seus funcionários? Que vou seguilo como um carneirinho, não me conhece mesmo.

― Obrigado, Tommas mas vou embora de metrô mesmo ― fecha a cara e perde a paciência. ― Fiquei até agora te esperando e não vou embora sozinho ― diz estressado, mas não dou o braço a torcer, pois, se ele pensa que vai me dobrar com essa chantagem barata está bem enganado. ― Não me lembro de ter pedido que me esperasse, sinto muito que tenha perdido seu tempo ― meu deus nórdico me olha imponente depois dá aquele sorrisinho de lado, que dá uma

vontade de morrer e sussurra: ― Ok, Bia nos vemos amanhã ― Entra no carro e vai embora me deixando confusa e com medo.

Capítulo 7 Cheguei em casa sem saber o que pensar e nem o que fazer. O que será que Tommas quis dizer com até amanhã? Esse alemão me confunde de todas as formas possíveis, sinto-me uma idiota perto dele, sem noção de como me comportar e agir, uma verdadeira maçaroca de sentimentos. Tentar ser fria e impessoal é bem difícil, e ficará ainda mais se o que temo for acontecer. Será que Tommas passará a frequentar a

academia? Era só que me faltava, pois se não paro de pensar neste homem quando estou longe, imagina frequentando o lugar que trabalho. Nossa! Não quero nem cogitar essa possibilidade, pois aí sim, estarei literalmente bem fodida. Imediatamente transfiro meus pensamentos para outras coisas, não quero estar abitolada com este assunto; E resolvo fazer o jantar. Carol chega uns 30 minutos depois e lhe conto tudo. ― Chuta quem apareceu na academia? ― Sibilo rapidamente.

Ela sorri como quem já matou a charada. ― Alguém alto e gostoso? ― Fala debochando e fazendo gestos com as mãos. ― Sim, esse mesmo. Estou abalada até agora amiga, não imaginava revê-lo tão cedo. ― Olha Bia, pelo modo como você o descreveu, deve ser um cara que não gosta de receber um não. Então, tome cuidado, ok? Você pode ser só um joguinho e quando conseguir o que deseja, a sua confiança, vai cair fora.

Fiquei preocupada com as palavras da minha amiga e senti uma tremenda insegurança. Gostaria de ser mais experiente e vivida, mais ainda sou jovem e com muitas experiências para viver pela frente, e espero lá na frente olhar para trás e sorrir de todas elas. Termino o jantar e descido deixar o assunto de lado. Afinal este cara não pode se tornar o centro da minha vida. No dia seguinte, as horas passam voando e desço ao vestiário para me trocar, quando saio, me deparo com Tommas saindo do vestiário masculino.

― Oi bonequinha, pronta para irmos? Já ia mesmo te procurar ― me olha divertido como se estivesse em uma piada pessoal. Fico atônita sem saber o que responder. ― O que está fazendo aqui Tommas, decidiu visitar Tony todos os dias? ― Ele se aproxima com uma pantera e sussurra: ― Tony sempre me convidou para vir malhar em sua academia e resolvi prestigiar meu amigo ― sorri daquela maneira deliciosa. Sei que estou em sérios

apuros, porque, Tommas é como um pedaço de bolo de chocolate com recheio de doce de leite, no qual você não pode comer, pois está em um regime muito rigoroso, mas infelizmente seu cérebro não consegue entender essa parte e fica teimando em querer devorá-lo. Retiro toda força de vontade do meu ser e replico: ― Bom para você, aqui nós temos equipamentos de ponta e ótimos professores, sábia escolha ― sussurro de forma profissional e imparcial, tentando manter total distância.

― Eu sempre sei fazer boas escolhas Bia, sou um homem de bom gosto ― e me olha de maneira lasciva, dando duplo sentido às palavras. ― Parabéns e seja bemvindo. Mas tenho que ir que já esta tarde ― avanço para saída, mas sou surpreendida pela sua mão que me paralisa e sussurra no meu ouvido: ― Quanto mais tentar fugir, mas te desejo morena. Só de olhála sinto um tesão incontrolável, uma vontade tremenda de te jogar no chão e montar em você ― sou

indefesa perto do seu domínio, como um animal encurralado pelo predador. Mas não me intimido e faço algo bem perigoso, fico na ponta dos pés e chego bem perto da sua boca quase a tocando. ― Boa noite, Tommas, bons sonhos ― vejo que ele engole seco e depois sorri abertamente. ― Boa noite delícia a gente vê amanhã. E assim acontece pelo resto da semana, meu alemão me oferecendo carona e eu sempre me esquivando de suas tentativas de

cafajeste. Na sexta-feira logo pela manhã, Tony nos chama e avisa que precisa fazer uma reunião com todos os professores de dança depois do almoço no intervalo das aulas, assentimos e ficamos curiosos sobre o tema. ― Bom, imagino que devam estar curiosos sobre o conteúdo da reunião, mas já adianto que não precisam ficar preocupados, não haverá nenhum corte ― sorrimos com seu comentário e automaticamente relaxamos. ― Pessoal hoje de manhã recebi uma ligação da dona da Cia. Malu

Magalhães e para aqueles que já conhecem, é uma das mais importantes companhias de dança do Estado do Rio de Janeiro e a mesma me solicitou se eu poderia ceder alguns professores para um espetáculo que será apresentado em março do ano que vem, talvez vocês estejam estranhando tal pedido, mas calma que vou explicar detalhadamente. O departamento de cultura, entrou em contato com a Malu solicitando a apresentação que será na semana do aniversário da cidade do Rio e um grande banco será o responsável por patrocinar todos os custos,

portanto, não se preocupem que irão receber uma boa quantia por isso, mas quero deixar claro que ninguém é obrigado a aceitar, isso fica a cargo de cada um. ― Ficamos nos fitando em dúvida, mas fui a primeira a responder. ― Tony pode contar comigo, será uma grande oportunidade ― o mesmo sorri abertamente e acena com a cabeça, e logo em seguida todos os outros professores aceitam. ― Hoje a Malu virá até aqui, para conhecê-los pessoalmente e dar uma pequena prévia de como o

espetáculo será produzido. Vocês podem estar aqui às 20:00h? Para mim será tranquilo, pois é exatamente o horário que termina minha aula e de Bob, e os outros também concordam. Estamos todos reunidos em uma das salas de dança e Malu conversa animadamente de modo a sanar as dúvidas de cada um, de cara já estipulamos os horários de ensaios. Concordamos ser após o horário do almoço, na qual temos um bom tempo livre, antes das

nossas aulas. Enveredamos em mais alguns temas, tentando de todo modo que fosse bom para ambos, enfim, a hora realmente voou e quando vi já eram quase 22:30h. Bob prontamente se ofereceu para me dar uma carona, mas neguei, pois não queria criar nenhuma expectativa sem fundamentos, que sempre procurava de alguma forma tentar se aproximar, e já bastava que o deixei esperando na semana passada, não sinto prazer passando as pessoas para trás. Desci apressadamente e quando sai na porta da academia,

Tommas estava dentro do carro distraído e nem notou quando me aproximei, hoje eu provavelmente aceitaria sua carona, pois era tarde, e tinha um pouco de receio de estar tudo deserto no caminho para o metrô, no meu dia a dia eu saia às 20:00h, e havia lojas e padarias abertas, mas nunca sai tão tarde assim, o sentimento de autopreservação falou mais alto. Porém, ao me aproximar da sua janela, escutei sua conversa em inglês. ― Claro, Mel a gente pode se ver quando você quiser ― e

sorri abertamente para loira aguada enquanto está no telefone ― fico enfurecida, pois com certeza está marcando uma suruba com a amiguinha vagabunda. Meu orgulho e gênio ruim vence meu medo, me agacho e passo escondida pelo carro, rapidamente consigo chegar na calçada sem ser vista e avanço em rumo ao metrô que fica alguns quarteirões daqui. Quando estou chegando a dois quarteirões do metrô, passo em frente a uma rua sem saída, que há um monte de lojas fechadas e escuto um barulho de choro de

criança, paraliso e fico atenta, em busca da origem do som. Será que estou alucinando e escutando coisas, digo para mim mesma. E resolvo ficar em silêncio para tentar escutar de novo, e novamente o chorinho insistente de bebezinho. Entro em pânico, pois pode ser alguma criança abandonado nesse beco, apesar de estar escuro entro sem hesitar e encho-me de coragem para descobrir o que está acontecendo. Quando me aproximo, vejo um embrulho no chão. Na mesmo instante corro e agacho desfazendo a manta e para minha surpresa é apenas um boneco de

plástico que faz som de artificial. Fico paralisada sem saber o que pensar. Porque alguém deixaria um boneco todo enrolado, fazendo barulho em uma rua saída? Sinto os pelos da nuca se arrepiarem e percebo que posso ter caído em uma emboscada, fui inocente de ter entrado neste beco sozinha e rapidamente me levanto, pronta para correr, quando recebo uma bofetada no rosto e sou jogada na parede batendo a cabeça com muita força, e por alguns segundos vendo estrelas. Mas logo me recomponho, um homem alto e forte

vestido de preto, com uma máscara de palhaço está parado a minha frente, não diz nada, apenas me observa incessantemente, tento fugir novamente, mas o mesmo me prende na parede, me imobilizando totalmente, fico apavorada sem saber o que fazer para fugir daquele monstro, o mesmo cheira meu pescoço, cabelo e começa a subir as mãos pela minha perna, em um movimento devasso, mostrando bem quais eram as suas intenções. Não posso acreditar no que está acontecendo comigo, tentativa de estupro de novo, não posso crer

nisso. Por que logo eu? Como fui idiota de cair nessa armadilha. Começo a me debater em uma tentativa de não me render facilmente, prefiro me machucar inteira, mas não vou ser uma presa fácil para este nojento, filho de uma puta. E em um segundo de descuido dele, consigo acertar meu joelho bem no meio de suas pernas, com toda minha força, o fazendo urrar de dor e desabar ao chão. Começo a correr enlouquecidamente e grito sem parar por socorro, assim que viro a esquina e pego a rua principal

avisto um motoboy passando, e sacudo os braços para ser vista e graças a Deus o rapaz dá a volta e vem ao meu encontro. ― Moça, o que está acontecendo? Pergunta o motoboy nervoso, não consigo segurar a miríade de emoções dentro do meu peito e começo a chorar compulsivamente, tentando explicar o ocorrido, o mesmo me segura pelos ombros tentando me acalmar, dizendo que vai ficar tudo bem, que agora estou segura. No mesmo instante escuto um barulho de freada na nossa frente e vejo a

visão mais linda do mundo, meu alemão descendo do carro correndo e empurrando o pobre rapaz que procura me consolar. ― Tommas largue-o por favor, ele só está me ajudando ― meu deus germânico demonstra confusão e aguarda uma explicação. ― Acabei de sofrer uma emboscada neste beco e quase fui estuprada ― sibilo tremendo por inteiro, ainda fora do ar e choro copiosamente. Tommas me abraça forte e tenta me acalmar. ― Shiiiii... Vai ficar tudo bem, Bia, não vou deixar ninguém

machucar você ― logo em seguida se vira para o motoboy, pede desculpas e pergunta se pode ficar comigo, até ele ir dar uma olhada no beco. ― O desgraçado fugiu, não há nada lá, venha vou te levar em casa, bonequinha ― agradecemos ao rapaz e seguimos para seu carro. ― Tem alguém para ficar com você no seu apartamento? ― Respondo que não pois, hoje a Carol está de plantão, então ele muda a rota e diz: ― Vamos ficar na minha casa

então, não quero deixá-la só, posso perceber que está em choque ainda ― assinto com a cabeça porque estou tão abalada que não consigo pronunciar uma palavra sequer, e somente quero me sentir protegida e cuidada.

Capítulo 8 Por todo o caminho seguimos em silêncio. Eu sem vontade alguma de pronunciar nada e ele respeitando meu momento. Deitei minha cabeça no encosto do banco e deixei minha mente vagar por aquelas cenas terríveis, me senti uma desafortunada do universo, por passar por isso duas vezes, e lamentei por diversas mulheres no mundo que não tiveram a mesma sorte que eu, como aquela estudante de fisioterapia de 23 anos na Índia, que foi estuprada por 5 homens em

um ônibus em movimento e morreu 13 dias após seu ataque. Fiz uma prece mental em agradecimento a Deus, por ter sido poupada de ter meu corpo violado brutalmente, por alguém que não é digno de ser chamado de homem e muito menos ser humano. Em meu mundo próprio, naqueles minutos fico divagando e nem me dei conta que estávamos estacionados na garagem de Tommas e caio na real, quando sinto sua mão tocando as minhas. ― Hei Bia, vamos subir? ― Aceno com a cabeça e abro a porta,

logo meu alemão está ao meu lado me abraçando pelos ombros. Quando chegamos à porta do elevador o mesmo me vira de frente para ele e diz: ― Vai ficar tudo querida, confie em mim.

bem,

Começo a sentir um tremendo nó na garganta e pressinto que vou desabar em pouco tempo, e até me espanto por não ter acontecido ainda, Tommas me segura em seus braços e é uma forma de dizer que estou segura. Quando entramos em seu

apartamento, ele me pega no colo com muita facilidade, como se fosse uma boneca de espuma de tão leve, mas este gesto me faz bem e posso dizer que alivia um pouco a angustia no meu peito. Caminhamos para seu quarto e ele me deita em sua cama, tirando meu tênis. Ficamos nos olhando por alguns segundos. Meu lindo levanta, pega um cobertor e põe sobre mim de modo protetor para que me sinta confortável. ― Você quer que eu durma no outro quarto? ― Diz em uma voz terna, fazendo um carinho em meu

rosto. Balanço a cabeça negativa e logo sussurro:

numa

― Fique comigo, não quero me sentir sozinha Tommas, porém não conseguirei ter sexo, ainda estou muito abalada. Ele junta as sobrancelhas como se estivesse bravo e murmura: ― Bia, jamais iria tentar algo com você depois do que passou, não sou insensível a tal ponto. Me preocupo com seu bem-estar físico e mental. Não te trouxe aqui para

me aproveitar da situação. Envergonho-me de ter feito tal comentário, óbvio que Tommas é um homem de caráter e jamais iria propor isso. ― Desculpe, não devia ter lhe dito isso. ― E fico sem graça com as minhas palavras. ― Não tem problema linda, agora deite e tente dormir, você precisa descansar ― Tommas sai do quarto e logo volta sem camisa e com calça de pijama. Está lindo e me pego o admirando. E logo percebo que devo estar parecendo

uma louca de boca aberta e me recomponho. Viro para o outro lado e sinto ele me puxar contra seu corpo. Estamos de conchinha, com ele respirando bem perto do meu pescoço. ― Boa noite bonequinha, sonhe comigo ― sibila e sinto que está sorrindo, me fazendo sorrir também. ― Obrigada ― digo em um sussurro. ― Obrigado pelo que, Bia? ― Por estar cuidando de mim, depois do que aconteceu, isso

significa muito, pode acreditar. Ele hesita em responder e depois sibila de forma baixa, quase sussurrando. ― Bia, sei que nos conhecemos a pouco tempo e estou estranhando muito as minhas atitudes. Mas sinto vontade de ti proteger, de estar perto, não me pergunte o porquê, pois não sei explicar, mas estou sendo muito sincero. Meu coração acelera de felicidade, não posso acreditar que ele está me falando que precisa

estar perto de mim, involuntariamente, meus lábios formam um sorriso de pura empolgação, por saber que sente as mesmas coisas que eu. Mas estou esgotada emocionalmente e logo o cansaço cobra seu preço. Meu corpo está exausto e me entrego aos braços de Morfeu, com Tommas dormindo logo atrás. Acordo no sobressalto sem saber onde estou. Então lembro-me de tudo que aconteceu. Automaticamente viro e vejo meu Deus Germânico sentado em uma poltrona me fitando com olhos

misteriosos, ele caminha até a cama. ― Bom dia, bonequinha, dormiu bem? ― Se aproxima, abaixa e beija meus lábios. ― Bom dia, Tommas, dormi como uma pedra. ― Sorrio e digo: ― Estava bem acompanhada. Me fita cheio de carinho e fala: ― Vamos descer para tomar café, você não jantou ontem à noite e nem eu. ― Vou só ao escovar meus dentes.

banheiro

Assim que Tommas sai do quarto, me encaminho para o banheiro para fazer minha higiene pessoal e tomar um banho. Logo desço e uma mesa enorme cheia de guloseimas está a minha disposição e ele está trabalhando em pleno sábado, coitado, um verdadeiro workaholic, penso comigo mesma. Quando me vê, estende o braço e puxa-me para seu colo, me dá vários beijos gostosos nos lábios e cheira meu pescoço me deixando totalmente arrepiada e à mercê dos seus carinhos. ―

Coma

Bia,

pois

precisamos conversar sobre ontem, ok? No mesmo momento já me sinto desconfortável e sem apetite, detesto comer sabendo que tenho algo ruim para fazer depois da refeição, Tommas junta as mãos sobre a mesa e diz: ― Sei que o assunto não é agradável, mas precisamos conversar sobre o que aconteceu. Começo a me remexer na cadeira, não gostando do rumo que a conversa está tomando, sei que Tommas só quer meu bem, mas não

estou a fim de retomar este assunto, afinal nada pode ser feito. ― Tommas, me desculpe, mas não quero falar sobre isso, já te contei o que aconteceu e infelizmente ele estava de máscara e não pude ver seu rosto, não há como identificá-lo, melhor colocarmos uma pedra sobre este assunto ― sibilo fazendo uma carranca. Para que perceba que não vamos continuar por este caminho. ― Bia, eu entendo, mas preciso saber o que deu na sua cabeça para entrar sozinha naquele beco ― fico irritada pela

insistência desse alemão, que cara teimoso. ― Olha eu escutei um choro de bebê e entrei naquele beco sem pensar, quando cheguei era só um boneco enrolado em um pano e percebi que tinha caído em alguma emboscada. Quando tentei fugir já era tarde ― digo falando alto para que perceba que nada tenho a acrescentar, que não temos como saber quem me atacou. ― Por que está tão resistente de me contar sobre isso, Bia? Não confia em mim? ― Sinto uma raiva tremenda, pois quero mais é

esquecer este inferno, já passei por isso duas vezes, e só me recuperei quando esqueci o assunto e segui em frente. Mas Tommas com sua teimosia germânica, não se dá por vencido e continua a me aporrinhar as ideias. ― Boneca, tente lembrar de algo estranho no ataque. Algo que possa ser importante para contarmos a polícia. Polícia... Me desespero, porque não quero envolvê-los, não quero viver nada do que vivi no passado, estouro e grito:

― Tommas chega... Já sofri demais por causa dessa merda de estupro, não posso mais passar por isso de novo. Um silêncio se instala na mesa e ficamos nos fitando de modo desafiador e meu alemão teimoso levanta a sobrancelha. ― Como assim, de novo? ― Então percebo que falei demais, droga eu tinha que abrir minha boca e falar isso? Agora seria uma novela e uma verdadeira inquisição, Tommas me colocaria na fogueira se não abrisse minha boca.

― Tem coisas do meu passado que não gosto de ficar falando e talvez, nem você irá querer saber ― Digo na esperança que ele não insista. ― Pode acreditar que tudo que seja relacionado a você me interessa, comece a falar mocinha ― fico aborrecida, porque sei que está é uma batalha perdida, ninguém diz não ao Sr. Teimosia e me preparo psicologicamente para tocar neste assunto, que não traz boas lembranças, falo detalhadamente tudo que me aconteceu com Enrico e no final

Tommas fica parado, olhando para fora da janela da sala, de forma pensativa, ocultando qualquer reação as coisas que relatei. Sinto uma miríade de sentimentos, entre saber se foi certo contar-lhe ou se deveria ter omitido o que aconteceu. ― Bia, será que você não percebe que aquilo não foi coincidência? ― Fala com o dedo em riste na minha direção e fico em duvida sobre o que ele está falando. ― Do que você está falando? ― Do ataque, aquilo não foi

aleatório, ele estava te esperando, provavelmente tinha alguém te seguindo e foi tudo armado. Na hora meu cérebro desbloqueia algumas cenas e me lembro daquele homem mais velho me seguindo algumas vezes e das flores, e como uma névoa que se dissipa, percebo quem está por traz disso. Lágrimas descem pelas bochechas sem que eu consiga pará-las. E sinto-me vazia, sem perspectiva e totalmente fora de rumo. Acabaram de puxar meu tapete e estou em queda livre. Caminho para o quarto, pois

preciso pegar minhas coisas para ir embora, Tommas interrompe meus passos e me aperta em seus braços. ― O que está fazendo? ― Pergunta nervoso. ― Preciso ir embora do Rio o quanto antes, se Enrico me pegar novamente, não sei o que fará comigo ― falo entre soluços de um choro compulsivo. ― Olha para mim, Bia? ― Faço o que ele manda. ― Não suporto ver você desse jeito, saber que seu ex, está usando o dinheiro e influência para te perseguir, me

deixa muito zangado, e quando me sinto assim, costumo me tornar extremamente malvado e impiedoso. Mas quero que saiba que Enrico acabou de encontrar um competidor à sua altura. Não uma moça ingênua, que não tem como se defender, mas um homem de igual para igual, que tem como lutar com as mesmas armas. ― E te prometo, bonequinha, que está segura ao meu lado, não vou deixar ninguém te machucar entendeu? Fico extasiada com sua promessa, e me sentindo realmente

protegida por ele.

Capítulo 9 Tommas puxa-me pelo pulso e me faz sentar no seu colo no sofá da sala, olha nos meus olhos e diz: ― Bia, mas para que eu possa te manter segura, preciso que você me escute e obedeça, entendeu? Como estou sem saber que rumo tomar, descido escutá-lo. E assim finalizar uma decisão. ― Você não deve andar sozinha à noite, de forma alguma. Fico atônita, porque costumo

ir embora todo dia às 20 horas da academia, e me pego pensando em como farei está proeza. ― Sei o que está pensando bonequinha, mas fique tranquila. Tenho ido para academia todos os dias e ficarei te esperando para te levar em casa, como fiz esta semana que passou ― diz sarcástico. Me repreendo mentalmente por tê-lo feito de bobo estes dias, mas no fundo, sei que para este alemão, nada pode ser tão fácil. ― Ok, Tommas. Mas e

quando não puder por conta de qualquer imprevisto, como faço? Durmo na academia? ― Tento me manter impassível diante de sua ideia. ― Nada disso linda, na minha empresa temos um motorista para algumas situações de eventualidades ou viagens, eu peço que a leve em casa. Sei que não está certo ficar na dependência deste homem. Mas que saída eu tenho? Sinto um ódio gigantesco por Enrico. Por estar me privando de viver minha vida em total liberdade e ter sido tão

inocente e não ter previsto, seu jogo doentio. Mas não adianta chorar o leite derramado, tenho que ser consciente que esta é minha única opção de segurança. ― Sem problemas, eu aceito sua ajuda, mas se por acaso você cruzar com a minha amiga Carol, nas vezes que for me levar em casa, por favor não comente nada com ela. Tommas levanta sobrancelha em sinal de dúvida.

a

― Por que não quer que ela

saiba? ― Carol é muito protetora, e se sonhar que Enrico está me perseguindo é capaz de nem conseguir dormir à noite, e irá ligar para os meus pais para contar. E não quero e nem posso envolvê-los nisso. Seu Marco Antônio, largaria tudo para me ajudar, com certeza iriam vender o que possuem em Curitiba e iriamos morar em alguma cidadezinha longe dos centros urbanos. Só de pensar nisso sinto a bílis subindo pela garganta. O fato de por culpa minha estragar a vidas

de meus adoráveis pais. Sinto-me impotente e desesperada. ― Hei, você não tem culpa de nada, Bia ― sorrio acidamente de seu comentário. ― Como não? Fui eu que trouxe esse psicopata para nossas vidas. ― Linda, você não sonhava que ele era assim, esse tipo de gente usa uma máscara e esconde suas reais intenções. Infelizmente só descobrimos da pior forma possível. Por favor, não se torture por causa desse infeliz.

Meu alemão cheira meu cabelo e começa a beijar meu pescoço de forma sedutora, me fazendo relaxar e esquecer um pouco do meu drama. ― Que tal passar o fim de semana comigo? ― Abro um sorriso e me sinto como um balão de gás, a ponto de explodir de felicidade. ― Ué, não vai trabalhar hoje, senhor Workaholic? ― Sibilo de forma cínica. Tommas dá uma gargalhada e diz:

― Está vendo boneca, você já está sendo uma péssima influência para mim. Me dá um beijo delicioso de desentupir pia, que me causa um frio na espinha e faz minha musculatura lá de baixo se contrair de tamanha excitação, esse homem ainda vai acabar comigo. ― Pensei em fazermos um piquenique, o que acha? ― sibila meu lindo. Solto outra gargalha e Tommas olha-me confuso, como seu eu fosse uma louca.

― Não gargalhada, Bia carranca.

entendi ― faz

sua uma

― Você não parece um homem de parque e piquenique. Diria que está mais para clube de praia badalado, cheio de mulheres com biquínis minúsculos e silicone. Tommas comentário e diz:

analisa

meu

― Aí que você se engana, já fui muito de curtir estas coisas, mas hoje sou um cara mais eclético e sossegado. Com o passar do tempo e a idade, vamos nos cansando de

certas lugares, tudo se torna repetitivo e algumas pessoas tão vazias, que se passa a ter outros conceitos. ― Desculpe, não quis te julgar, é que você passa outra imagem ― sussurro. ― Bom, agora terá a oportunidade de conhecer meu outro lado, o que poucos conhecem. Sou muito reservado e tenho poucos amigos, aliás posso contá-los nos dedos. Tony, por exemplo é um deles, uma das poucas pessoas que vieram em minha casa.

― Como se conheceram? ― Tommas sorri como se fosse uma piada pessoal. ― O que foi? Qual a piada? ― Talvez você não goste da minha resposta linda, mas ok, sou uma pessoa sincera e livre de preconceitos. ― Desembucha, Tommas ― ele ri da minha impaciência e diz: ― Conheci o Tony porque a Mel queria que fizéssemos um ménage juntos, mas eu não curto fazer isso com homens, somente com mulheres.

Fico de boca aberta com a revelação e enojada com a tal Melanie. É mais vagabunda do que eu esperava. Tommas percebe meu desconforto e tenta se explicar. ― Bia, sei que ficou chocada, mas tente entender, sou solteiro e nunca tive que dar satisfações a ninguém. E fora quando não há vínculos emocionais, tudo se torna válido, sendo somente sexo por sexo. Por mais que não curta essas coisas, tenho que entender o lado dele, o mesmo não tem relação afetiva com nenhuma garota, pode

fazer o que quiser. Descido mudar de assunto. ― Bom, se vamos fazer o piquenique, preciso passar na minha casa e buscar minhas coisas, pode ser? ― Claro, vou me trocar e nós já vamos. Fiquei fazendo um tour pelo apartamento, tudo muito bem decorado, até mesmo os banheiros dos quartos, cada detalhe de um bom gosto tremendo e que exalava riqueza e sofisticação. Quando Tommas volta, fico

olhando e me perguntando como um ser pode ser tão másculo e sensual, como se tivesse passado na fila da beleza umas dez vezes e dou risada com tal pensamento. Está vestido com uma camisa preta em gola V bem justa no tórax e uma bermuda cargo caqui. ― Que foi morena, está dando risada sozinha? ― Foi um pensamento meio imbecil que tive. Nos dirigimos ao carro e seguimos para minha casa, chegando na portaria do prédio

descido convidá-lo a subir. ― Quer subir ou prefere esperar no carro? ― Vou subir com você e te ajudo a descer com as suas coisas. Passamos pelo porteiro que nos cumprimenta e rumamos para o elevador, abro a porta com cuidado, com medo de me deparar com Carol de calcinha na sala, mania de quem mora sozinha. E quando finalmente percebo que o ambiente está seguro para se transitar, convido Tommas para sentar no sofá. Sigo para o quarto

da Carol, abro a porta devagarzinho, e a vejo em um sono profundo de dar gosto, fico com pena de acordá-la e decido somente deixar um bilhete avisando que passarei o fim de semana com meu alemão. Rumo para o quarto e começo a juntar as minhas coisas, pego minha menor mala de rodinhas e jogo algumas mudas de roupa e produtos de higiene. Logo sinto mãos apertando na minha cintura, viro-me para o meu lindo, que me dá um enorme beijo nos lábios e diz:

― Vim te buscar morena, estava sentindo falta do seu cheiro, do seu corpo gostoso. Fala de modo sacana e começa a se roçar no meio das minhas pernas. Sinto sua ereção e como está animado. ― Tommas, minha amiga está dormindo, vamos sair logo daqui ou iremos fazer barulho e acordá-la. Ele ri e sibila: ― Realmente Bia, você é bem barulhenta e geme bem alto. Dou uma gargalhada porque sei o quanto sou escandalosa, meu

quarto precisa ser à prova de som. ― Então, onde vamos fazer o nosso piquenique? E o principal, precisamos comprar o que vamos levar. ― Vou te levar ao parque Lage, conhece? ― Já escutei falar, mas não tive o prazer de conhecer ― digo animada com o passeio. ― Então vai conhecer hoje. Vamos que já são 10 horas e ainda temos que comprar as coisas. Descemos e Tommas logo guarda minhas coisas no porta

malas e nos deslocamos em direção ao parque. No caminho paramos e compramos várias guloseimas em um empório chiquérrimo, e quase caio para trás ao ver valor das compras, colocamos pouquíssimas coisas no carrinho e ficou 320,00 reais, eu hein, não pagaria isso nem morta. Mas estava amando cada segundo com ele, que é tão carinhoso e me surpreende a cada instante, no empório parecíamos namorados de mãos dadas e nos acariciando á todo momento. Quando

chegamos,

para

variar encontramos dificuldade em estacionar, porque em um sábado ensolarado, seria impossível encontrar o parque vazio. Mas enfim, nada poderia estragar o fim de semana, bom assim espero.

Capítulo 10 Saímos do carro carregando as nossas compras e procurando um espaço para nosso piquenique. Logo avistamos o lindo casarão antigo da família Lage e decidimos nos sentar de frente e perto do chafariz. Fiquei animada com tamanha beleza desse parque, apesar de já estar a quase um ano no Rio, não tinha tido tempo de visitá-lo e me arrependi de não o ter feito antes. É tão bonito quanto o Jardim Botânico, mas possui um charme

próprio dos anos 20, mesclado com uma linda fazenda, me senti em um filme antigo com tal paisagem. Mesmo estando cheio, ainda havia lugares vagos no grande gramado em frente à antiga casa, nos acomodamos de forma preguiçosa e estendemos a canga para acomodar todos os quitutes sobre ela. O clima entre nós estava calmo e íntimo, parecia que nos conhecíamos a anos e não somente a poucas semanas, me fazendo deixar para trás toda a angustia que havia passado no dia anterior e

logo pela manhã. Tommas tinha esse poder sobre mim. Energizando-me e tomando tudo para si, com ele, conseguia esquecer meus problemas e tristezas, acreditando que o futuro poderia reservar algo muito melhor. Ele me deitou sobre a canga no qual havia espaço de sobra para nós e as comidas, e se acomodou ao meu lado, com a cabeça apoiada em um dos braços. ― Tem ideia do quanto é linda? ― Disse-me quase em um

sussurro. Abri um sorriso escancarado e dei de ombros. Sempre me senti envergonhada ao ser elogiada. ― Sou uma pessoa normal. Não me sinto nem feia e nem bonita, acho que estou mais para comum. Ele balança a cabeça de forma negativa e sibila: ― Você não tem noção de como chama a atenção morena. É alta na medida certa, tem um corpo lindo e esbelto e um tom de pele maravilhoso ― dá uma gargalhada

e diz: ― Faria muito sucesso no meu país, no meio daquele monte de gente branca. Com certeza chamaria a atenção pela beleza exótica. Me senti lisonjeada pelas suas palavras e nos beijamos de forma carinhosa. Com tal proximidade fiquei curiosa para conhecer mais daquele homem na minha frente, pouco sabia sobre a família e rotina de Tommas, somente as poucas informações que recebi logo que nos conhecemos.

― Posso te chamar de Tom? ― Ele acena positivamente e responde: ― Claro Bia, apesar de ninguém me chamar assim, nem mesmo minha família, não me incomodo com isso ― fico nas nuvens que aos poucos vamos nos entendendo e desenvolvendo certa intimidade. ― Você sabe a minha idade mais eu não sei a sua Tom e nada sobre a sua vida. Ele fica pensativo e se instala um silêncio incomodo entre nós. E

logo me arrependo de ser uma abelhuda de boca grande. E tento consertar meu erro. ― Tudo bem Tom. Se você ainda não se sente confortável para falar sobre sua intimidade, eu entendo e não vou ficar chateada por isso. Ele parece se recuperar de um transe e me olha intensamente. ― Não me incomodo de falar sobre isso, é que você é diferente das outras pessoas que me envolvi. Só tive duas namoradas sérias e nenhuma delas parecia se importar

muito sobre quem eu era ou quis saber muito sobre minha família. Mas digo que estou vendo seu interesse de forma positiva, pois sei que é uma garota de atitude, corajosa e cheia de caráter. Bia, mesmo que nosso envolvimento não dê em nada, saiba que pode contar comigo para ajudá-la em qualquer coisa. Nunca vou deixá-la cair nas mãos daquele monstro. Prometo que encontraremos um jeito de se livrar desse cara para o resto da vida. Fiquei entorpecida com seu comentário de que poderíamos não dar certo, mas Tommas nunca me

prometeu amor eterno e deveria me sentir agradecida por estar se arriscando em me ajudar com aquele sociopata do inferno. Guardei minha apatia no fundo da minha alma e tentei me recuperar rapidamente. ― Vou cobrar a carona todos os dias hein ― sussurrei de forma divertida. ― Ah morena faço questão de levá-la para casa, mas claro que no fim tudo tem um preço ― sibila me fitando sarcasticamente com um olhar que me despia. E para provocá-lo pego uma banana,

começo a descascar de forma lenta e insinuante, colocando uma grande porção na boca, simulo discretamente como se estivesse chupando e dou uma bela mordida. Vejo que fica excitado e seu olhar percorre meu corpo, despertando o desejo de tocá-lo em todas as partes e me perder em seu corpo delicioso. Tommas avança na minha direção, puxando-me para seu peito e sussurrando ao meu ouvido: ― Quando eu te pegar, pode acreditar que não terei pena, vai ficar uns bons dias sem sentar

morena gostosa. Vamos esperar uns 10 minutos até a minha ereção abaixar e vou procurar alguma trilha nesse parque, para que eu possa te comer. Vejo que seu pomo de adão sobe e desce de forma rápida, demonstrando sua ansiedade e impaciência. Mentalmente me parabenizo por despertar essa necessidade excruciante em Tommas. Quase a ponto de perder o controle. Nos levantamos e Tom pedi a um casal que olhe nossas coisas com a desculpa de que precisamos

ir ao banheiro. Por dentro me sinto uma adolescente que está ao ponto de cometer uma traquinagem e tenho a impressão de Tommas partilha do mesmo sentimento. Nos encaminhamos para uma das trilhas e ficamos vasculhando até encontrarmos o local perfeito, com muito mato em volta e sem ninguém por perto. Meu alemão me segura pelo cabelo, puxando o pescoço para trás, deixando-me totalmente à mercê do seu domínio de homem rude, visceral e animalesco. Sintome como um fantoche na mão do

titereiro, no qual só consegue obedecer aos seus comandos. ― Tira a roupa e deita de perna aberta ― fraquejo perante a autoridade que este alemão tem sobre mim. ― Quero te ver inteira nua, esperando para ser fodida. Obedeço no mesmo instante, sem pestanejar, mas por dentro me sinto pulsar e fico com os nervos à flor da pele. ― Vou te saborear até você gritar ― sou arrebatada numa miríade de sentimentos e me entrego totalmente aquele ato

lascivo no meio do mato. Tommas me tomou de todas as formas possíveis e imagináveis, e ficamos por mais de uma hora nos deliciando como dois animais em seu habitar natural. Quando acabamos, me senti satisfeita e com a sensação de missão cumprida. Tom era surpreendente e sabia arrancar cada gota de prazer do meu corpo, me deixando em completa exaustão. Pegamos o caminho de volta da trilha e rimos muito com nossa loucura, já pensou se algum funcionário do parque nos pegasse

em pleno ato? Seriamos presos por atentado ao pudor, mas nem isso aplacou a libido de ambos. ― Nunca fiz uma loucura dessas em um lugar público Tom, com risco de ser pega. Mas confesso que adorei, me senti uma adolescente. ― Mas você ainda é bem novinha, eu que já não tenho mais idade para isso. ― Realmente a pessoa depois dos 40 deveria ser mais responsável ― olho para ele e percebo que está com uma

carranca, não achando a mínima graça. ― É brincadeira Tom, você tem cara de no máximo 30, acertei? ― Ele sorri de lado e murmura. ― Quase acertou, tenho 34. Isso te assusta, ser 11 anos mais velho que você? ― São 10 anos, faço aniversário daqui a alguns dias mocinho. ― Que dia, exatamente? ― Dia 22 de dezembro, sempre tive sorte, ganhava dois presentes, aniversário e natal.

― Hum... Estou vendo que não vou conseguir escapar de dar dois presentes também ― fala gargalhando. Quando chegamos perto da nossa canga o casal que estava tomando conta já tinha ido embora. Mas tivemos sorte de não sermos roubados, decidimos comer rapidinho e ir embora. Resolvemos dar uma passada na feira de artesanato em Copacabana. Estou querendo comprar umas cangas novas e sei que lá iria encontrar modelos lindos. Recolhemos

tudo

e

nos

dirigimos ao carro, no maior clima descontraído e leve possível. Fomos conversando sobre amenidades e desfrutado de cada toque e beijo roubado nas paradas do semáforo, parecíamos estar em uma bolha vivendo nosso romance. Deixamos o carro em um estacionamento perto da feira e seguimos a pé e de mãos dadas. Estava lotada de pessoas passeando e comprando, notava-se que boa parte se tratava de turistas, que se denunciavam pelo sotaque. Tommas até encontrou alguns conterrâneos alemães, mas preferiu

não se manifestar, pois afinal eram desconhecidos. ― Hum com este calor deu uma vontade de tomar uma água de coco geladinha, você topa, Tom? ― Vá procurando sua canga que vou comprar para nós ― Tom se afasta e fico vagando entre as barraquinhas, em busca de algo me agrade. Passo por uma barraca que vende umas saídas de praia maravilhosas, fico encantada com as cores, e a leveza dos tecidos, faço a anotação mental para voltar

ali outro dia com mais dinheiro. Avanço para a próxima barraca, a procura da canga perfeita e esqueço tudo que está a minha volta, quando sinto alguém se colar nas minhas costas e congelo de medo ao virar meu pescoço. Vejo aquele homem mais velho que me seguiu algumas vezes e no qual tenho certeza de ser comparsa de Enrico, o mesmo sorri diabolicamente e diz soltando um bafo nojento de nicotina, na minha cara. Senti meu estômago embrulhar e quis gritar por socorro, ele percebendo minha intenção já se

adiantou e disse: ― Não tente fazer nenhuma besteira sua biscate, ou te furo aqui mesmo, na frente de todos. Fico atônita e sem reação, como se alguém tirasse minhas forças e não sobrasse mais nada para lutar. O que esta criatura queria de mim? Me levar para Enrico? Juro que se estivesse em um lugar sozinha, ele teria que me matar. Mas não posso pôr a vida daqueles inocentes que estavam ao meu redor em risco, seria muito egoísmo.

Quando de repente sinto um tranco e caio no chão e logo em seguida vejo o velho ser arremessado longe, é tudo muito rápido. Escuto Tommas gritar corre e me puxar para que possamos fugir dali, corremos sem parar, e a todo momento Tom olha para trás. Para nosso alívio, na direção oposta vem três policiais fazendo a ronda pelo calçadão e os mesmos percebem nossa agitação e avançam em nossa direção. Tom conta a história um pouco por alto de que quase fui sequestrada em uma barraca e no

mesmo momento dois policiais correm para tentar localizar o meu algoz, mas infelizmente o meliante já tinha sumido. O outro oficial ficou para nos auxiliar e entender o que aconteceu. Logo que a adrenalina passou, comecei a sentir o preço do ocorrido sobre o meu corpo e a exaustão tomou lugar. Tommas percebendo como estava abatida, solicitou ao policial que fossemos a delegacia no dia seguinte. E o mesmo no acompanha até o estacionamento. Tommas me levou para seu

apartamento e todo o caminho segurava minhas mãos em sinal de apoio e conforto. Quando chegamos, alemão foi categórico.

meu

― Você viu logo que eu estava sendo encurralada por aquele maldito? ― Tommas acena positivamente. ― Eu voltei e fiquei um tempo de longe te admirando, enquanto passeava nas barracas toda distraída. Aí percebi quando ele tentou te arrastar. Vi que só conseguiria te salvar se o pegasse

de surpresa, antes que usasse a arma que estava na cintura. ― Ele podia ter te machucado Tom ― choramingo para mim mesma. ― Mas não machucou e estou bem aqui na sua frente ― sibila racionalmente. ― Enquanto não pegarmos este desgraçado você não anda sozinha, entendida? ― Fiquei em pânico, sem saber o que dizer. ― Enrico está desesperado para pegá-la. A qualquer momento vai cometer um erro e temos que

estar preparados para isso. Amanhã vamos à delegacia deixar a polícia a par de tudo, e vou contratar um detetive para descobrir qualquer coisa sobre ele e sua família. ― Também vou contratar um segurança, que virá buscá-la em casa e quando eu não puder te levar da academia, irá embora com ele ― fico preocupada, porque não passo de uma assalariada e como irei pagar tudo isso? ― Tom não tenho como custear o salário de um segurança, você enlouqueceu?

― E quem disse que irá pagar por isso? ― Fez uma carranca de quem não aceita ser contrariado. ― Mas você não é meu namorado para ter esse gasto comigo, agradeço tudo que está fazendo, mas não posso aceitar. ― Você não tem opção linda, não irei permitir que aquele lixo humano chegue perto de você, eu pedi para confiar em mim, não terei sossego sabendo que está correndo perigo. Senti

todo

o

carinho

e

proteção que meu lindo direcionava para mim. Como não me apaixonar por este homem? Mesmo sabendo que pode me deixar a qualquer instante, meu sexto sentido dizia que podia confiar nele. E naquele momento comecei a perceber que estava frita, pois meu coração já estava tomado por Tommas Krause do começo ao fim.

Capítulo 11 Naquele mesmo dia mandei uma mensagem para Carol, pedindo que me avisasse assim que terminasse seu plantão. Achei melhor deixá-la avisada sobre todo o ocorrido. Infelizmente as coisas estavam mais graves do que imaginávamos. Logo em seguida ela respondeu, perguntando se estava tudo bem. Respondi que sim, mas que tinha algo sério a lhe contar. Já no fim do dia, Carol entrou em contato. ― E aí Bi, estou preocupada

amiga. Você está em casa? ― Diz ansiosa. ― Eu estou bem, Carol. Neste momento estou na casa de Tommas. Você pode vir até aqui? ― Murmuro calmamente para não a assustar. ― Claro amiga, sem problemas. Estou indo aí agora, só me passe o endereço. Envio o endereço completo, e vou me juntar a meu alemão na sala, resolvi que seria melhor Carol ficar sabendo de tudo o que aconteceu. Quando ela chega, vejo que

fica deslumbrada com o luxo do duplex de Tommas e olha tudo com admiração, me fazendo ter vontade de rir da cara que ela faz. Olha para mim e dá uma piscada como quem diz: “Se deu bem hein”. Balanço a cabeça e sorrio de volta. Tommas a recebe de forma educada e amável, fazendo-a se sentir em casa. E como meu alemão sempre pensa em tudo, pedi nosso jantar em uma conhecida cantina italiana. Perto da sua casa. Jantamos de maneira descontraída, conversando sobre o dia a dia e amenidades da vida.

Percebi que Tommas se deu muito bem com ela de cara, os dois não paravam de conversar. E em pouco tempo já estavam caçoando de mim. Fiquei brava com minha amiga, que contou para Tommas sobre algumas das minhas manias, como por exemplo, me tornar insuportável se não comesse algum doce após o almoço, ou sobre um travesseiro velhinho que tenho desde criança e não aceito que ninguém tente jogálo fora. Tommas gargalhava com as tais revelações e disse, que assim que fosse ao meu apartamento

novamente iria jogar fora meu travesseiro, levantei minhas sobrancelhas e o desafiei com toda as forças. ― Está para nascer o homem que vai jogar fora meu trapinho baby, meu querido. Ele sorri abertamente aceitando o desafio e diz: ― Acho que este homem nasceu há 34 anos ― rebate com a maior cara de sem vergonha, se levanta da sua cadeira e me dá o maior beijão, tirando-me o fôlego. Carol dá uma tossida para

sinalizar que ainda está no recinto. ― Hei, me poupem do filme pornô de vocês, esperem eu ir embora. ― Diz de maneira descontraída, pois minha amiga é a pessoa mais cuca fresca desse mundo. Demos risada de seu comentário, mas resolvi partir para o assunto sério. ― Amiga agora que já jantamos temos que ter a nossa conversa séria. Pode ser? ― Claro Bi. Vim aqui por este motivo, mas confesso que estou

temerosa com tanto mistério. Então respiro fundo e conto para Carol tudo que aconteceu, nos mínimos detalhes e com a ajuda de Tom, acrescento mais alguns pontos fundamentais. Minha amiga fica imóvel como se tivesse sido atingida por um raio, com os olhos arregalados, de terror e surpresa, vejo no seu semblante uma miríade de emoções. Carol está estarrecida como eu fiquei quando descobri quem era meu perseguidor. ― Deus do céu Bi. Isso só pode ser um pesadelo. Este Enrico é um psicopata muito perigoso, tem

que estar atrás das grades. Vocês já foram à delegacia? Anunciamos que isso será feito amanhã e Tommas aproveita para avisá-la que a partir de segunda, terei um segurança que irá me levar em casa quando Tom não puder. E principalmente, ele tenta tranquilizá-la dizendo que não irá sossegar, enquanto não colocar Enrico atrás das grades. Vejo os seus olhos lacrimejarem. ― Tommas, muito obrigada por tudo que está fazendo pela Bi, não sei como agradecê-lo. Porque, apesar de nós não sermos irmãs de

sangue, á considero como tal. Nós nos conhecemos desde novas e o amor que sentimos uma pela outra, mesmo morando longe, nunca diminuiu. Vejo que Tommas fica sem graça e diz o mesmo que sempre fala para mim. ― Estou fazendo isso de coração, Carol. Bia é importante para mim ― fala em um sussurro e faz um carinho em minha mão, deixando-me mais apaixonada do que já estou. Carol vai embora e Tom

comenta que simpatizou muito com ela, que inspira sinceridade e confiança. E só tenho a concordar, Carol sempre esteve ao meu lado em boa parte de minha vida. E mesmo quando se mudou com seus pais para o Rio nunca deixamos de nos falar. ― Como nosso dia foi bem agitado que tal ficarmos em casa e vermos alguns filmes? ― Diz Tommas me abraçando. Amei a ideia. Realmente depois de todo o ocorrido, não estava com a menor vontade de ficar passeando pela noite carioca.

Meu lindo pediu uma pizza e começamos a olhar a programação da TV a cabo, em um canal de filmes clássicos ia começar o lindo P.S: Eu te amo. Perguntei se Tommas já tinha visto, ele sorriu e disse que não era muito de filmes de romance, mas como percebeu que eu queria vê-lo, resolveu deixar passando. Como sempre não consegui segurar as lágrimas, mesmo já tendo assistido duas vezes. Tom me perguntou por que eu estava chorando e falei: ― Não há como não chorar

quando se perde alguém que se gosta tanto, de forma prematura e tão triste. ― Você já pensou se por acaso se apaixonasse perdidamente por uma mulher, e a pedisse em casamento e depois de estarem vivendo felizes. Ela morresse de uma hora para outra? Tommas refletiu com o que disse e percebi uma sombra de dor em seus olhos, mas não consegui identificar quais eram os sentimentos que o tomaram naquele instante.

― Nunca me apaixonei a este ponto Bia. De querer viver o resto da minha vida ao lado de alguém. Mas posso dizer que se aquele desgraçado a tivesse tirado de mim hoje. Eu estaria me sentindo o pior homem do mundo. Deprimido como a protagonista do filme. O coração acelera, porque tenho esperanças que Tommas esteja realmente se apaixonando por mim. Sei que ainda é cedo, mas a vontade que tenho de estar ao seu lado, tem tomado constantemente meus pensamentos. Ele faz um carinho no meu

braço e me puxa para seu colo, como sempre me sinto pequena nos braços daquele alemão, sento-me de frente para ele, com as pernas abertas e apoiadas nas suas coxas, fazendo nossos sexos se encostarem. Minha libido começa a dar sinais e iniciamos nossa dança sensual no sofá mesmo, Tommas passa suas enormes mãos sobre meu corpo, me deixando mole e totalmente excitada. Rebolo totalmente sobre seu colo, o fazendo gemer e soltar palavras em alemão que me são

incompreensíveis. Tais sons são como combustíveis aos meus ouvidos e me fazem ficar corajosa. Fico em pé com meu sexo quase em frente ao seu rosto e tiro minha calcinha de maneira descarada, o fazendo respirar fundo. Tom me agarra rudemente, joga-me no sofá, abre minhas pernas e me degusta com sua língua perversa. Confesso que vejo estrelas e naquela noite, utilizamos vários cantos da casa para as nossas performances.

Capítulo 12 Passamos o domingo inteiro em casa. Curtindo aquela preguiça gostosa de um domingo nublado, mas extremamente quente e abafado. Ora ficávamos na cama e tirávamos um cochilo, ora na piscina esticados nas espreguiçadeiras da cobertura, tomando um sol. Aproveitamos este momento de sossego na piscina para nos conhecermos um pouco mais, falarmos sobre nós mesmos e família.

― Como são seus pais Tom? ― Sussurro curiosa, querendo conhecer um pouco do homem que descobri estar apaixonada recentemente. ― São pessoas normais ― brinca. Faço uma cara feia, como quem diz: Você entendeu minha pergunta, engraçadinho. ― Posso dizer que são pais normais, Bia. Minha mãe como eu disse é brasileira e morava no Rio, antes de casar com meu pai. ― Quando o estaleiro foi

aberto no Brasil, meu avô trouxe o meu pai para ajudá-lo a estruturar tudo. E foi nessa época que se conheceram. ― Meu pai é o típico alemão fechado e frio. E disse que a alegria da minha mãe, enchia seus olhos. Fazendo com que ela não saísse de sua cabeça ― fala de maneira divertida. ― Minha mãe era comprometida, mas seu Hans não desistiu, até que ela terminasse seu namoro e aceitasse ficar com ele. Então você já viu que persistência é uma característica muito forte da família Krause.

E olha-me sedutor, me fazendo entender que eu não tinha saída. E terminaria em seus braços, mesmo que não quisesse. Dou uma gargalhada e digo: ― E vejo que humildade também não é um traço da sua família, não é? Tommas abre aquele sorriso lindo, mostrando seus lindos dentes brancos e responde: ― Realmente não somos muito humildes. Pois, sabemos do nosso potencial. Reviro

os

olhos

sem

acreditar no ego gigante, esse alemão é um metido. ― E sua mãe, como ela é? Vejo os olhos de Tom brilhar de admiração ao falar dela. ― Mamãe é linda e jovem. E não aparenta os seus 55 anos. Passaria facilmente por alguém de 46. Sempre cuidou muito da alimentação e corpo. Já meu pai aparenta a idade que tem 65. E diz não se importar muito com estas coisas. ― Mas posso dizer que são bem apaixonados. Apesar de meu

pai ser um cara durão e comedido, sempre amoleceu quando o assunto era a dona Leila. Nunca tive dúvidas que vivem juntos porque são felizes. ― Eu também tive muita sorte com os meus. Sempre demonstraram se amar e se respeitar. Recebi uma ótima educação. E sempre nos demos extremamente bem. O amor foi algo que fluía com muita facilidade lá em casa. Sei que sou muito abençoada em relação a isso. Tom faz afago em meu rosto e diz.

― Eu percebi desde o começo, pelo modo como fala deles, de maneira tão respeitosa e cheia de admiração. ― Sou apaixonada por eles, mas principalmente por seu Marco Antônio. É meu porto seguro em tudo. E sempre fui mais grudada com ele. Amo profundamente minha mãe e sei que posso contar com ela para qualquer coisa. Mas minha relação com meu pai é algo mais estreito, é até estranho, mas parece que nasci da barriga dele ― falo sorrindo da piada. ― Tenho uma ligação tão

forte com ele, que até quando perdi minha virgindade, não consegui deixar de contar. Achei que ia brigar comigo, mas foi ao contrário. Ficou preocupado em como eu estava, e me aconselhou a me cuidar para não engravidar. Quando falei isso para minhas amigas, elas morreram de inveja por meu pai ser tão descolado e amigo desse jeito. ― Realmente seu pai é uma cara desencanado. Se eu tiver uma filha, não sei, se conseguirei ser assim, tão racional. ― Por isso eu o amo demais, por sempre estar ao meu lado

quando mais preciso. Por ter apoiado meus sonhos, investido financeiramente na minha carreira e o mais importante. Ter me educado de forma tão positiva, sempre ensinando a ver o lado bom das coisas, apesar dos obstáculos. ― Agora entendo porque você é uma mulher tão decidida e obstinada, puxou a sua família. Eu aceno positivamente, porque realmente devo tudo a eles. Enfim o domingo passa voando e a semana começa corrida. Tommas me leva à academia logo

cedo e vai trabalhar. A semana corre que nem percebo e todos os dias, sou levada e trazida ao final do expediente. Este homem que demonstra zelo com a minha segurança. Na quinta-feira, no restinho da nossa aula de zouk, Bob resolve fazer uma brincadeira para descontrair os alunos. Que pareciam estressados pela pressão do dia a dia. Coloca uma música totalmente diferente do repertório de zouk, e diz todo animado que devemos dançar para esquecer

nossos problemas e começar o fim de semana com energia renovada. E começa a tocar a música de John Newman - Love me Again, nos contagiando de imediato. Todos na sala começam a se remexer freneticamente de maneira descontraída e alegre, deixando para trás o mau humor. Bob me puxa e dançamos juntos do mesmo jeito que o pessoal do clipe desta música, interagimos de forma divertida e quando vimos todos os alunos estão ao nosso redor, nos imitando. Nos acabamos de dançar esquecendo

tudo ao redor, eu não paro de sorrir. Porque meu amigo tem esse clima leve, sempre de bom humor e feliz, e contagia todos ao redor. Ao final de música, vejo que algumas meninas cochicham e olham para porta. Quando me viro, vejo Tommas de braços cruzados, me olhando com uma expressão nada feliz. Já sinto cheiro de briga no ar, e pela carranca, sei que vai sobrar para mim. Dou um sorriso, mas que não é retribuído. Para minha infelicidade Bob se aproxima, de maneira íntima até

demais, como se ainda estivéssemos dançando e fala. ― Você quer uma carona, linda? Pensei que talvez a gente pudesse comer alguma coisa. Escuto a voz de Tommas como um trovão cortando a sala. ― Eu levo a Bia para casa todos os dias, não se preocupe com isso ― sibila incisivo para que não haja dúvidas. ― Esse cara é seu namorado? ― Sussurra para que somente eu escute. Mas Tom deve ter um ouvido

biônico, pois responde no mesmo instante. ― O tipo de relação que Bianca tem comigo, só diz respeito a nós dois. E não precisa oferecer carona, pois a tenho levado todos os dias. E com licença temos um compromisso daqui a pouco. Vejo que Bob fica ofendido pela grosseria de Tommas e me sinto de mãos atadas, pois também não quero magoar meu amigo e colega de trabalho. ― Bob, obrigada e amanhã a gente se fala ― assim que meu

alemão vira as costas eu olho para meu amigo e gesticulo sem voz um desculpe. Sigo Tommas soltando fogo pela venta, quem ele pensa que é? Garanto que deve continuar sendo amiguinho da tal Melanie, com quem já transou várias vezes e se acha no direito de destratar meu amigo, só porque estávamos dançando juntos. Vou acabar com essa palhaçada agora mesmo. Quando chegamos ao estacionamento, o manobrista traz seu carro e entro em silêncio. Tom dirige bruscamente, querendo

demonstrar insatisfação. ― Vamos passar na sua casa para você pegar suas roupas, quero que durma na minha hoje. Fala de maneira autoritária, como se eu não tivesse nenhuma escolha. E só ele mandasse na relação. Sinto a fúria sobre minhas veias e digo. ― E você não vai me perguntar se quero, ou se estou livre para isso? De repente eu podia ter alguma coisa para fazer Tom. ― Tipo o quê? Sair com seu

colega de trabalho? ― Murmura ironicamente. ― Talvez você ache que sou como você, Tommas. Que deve ficar com duas ao mesmo tempo. Mas já te afirmo que não sou adepta a triângulos amorosos. Tommas cerra o maxilar e vejo que ficou extremamente aborrecido com meu comentário. ― Não percebe que aquele cara quer transar com você? ― Diz exaltado. ― Sim, Tommas, eu já percebi, mas ele também sabe que

não estou interessada e que a única coisa que posso oferecer é minha amizade. ― Mas ele parece não se conformar só com isso. ― Bob é meu colega de trabalho e tento manter um clima amigável entre nós. Por favor tente não criar problemas no meu ambiente profissional, Tom. ― Não sei se consigo Bia, é difícil saber que ele tenta se aproveitar sempre que tem oportunidade. E você parece que não se dá conta.

― Eu sei me defender, Tommas, e vamos falar a realidade. Você continua com a sua amizade colorida com a Melanie? Pois eu nunca tive nada com Bob. Se remexi de forma desconfortável e não me olha quando responde. ― A Melanie é minha amiga desde a adolescência, fora que é filha do sócio do meu pai, sempre vamos ter contato, Bia. Não posso fazer nada em relação a isso. Reviro meus olhos com raiva, porque sei que ele está fugindo da

minha resposta. ― Não foi isso que perguntei. Quero saber se vocês ainda estão transando? O fito à espera de uma resposta sincera. ― Desde quando comecei a sair com você, Bia, não transei com mais ninguém. Satisfeita? Sorri sem conseguir disfarçar minha felicidade. ― Sim. Estou muito satisfeita ― respondo animadamente. ― Então vamos passar na sua

casa e pegar suas coisas. Feliz pelo rumo da nossa relação. Aceito dormir em sua casa e descido não dar andamento na discussão. ― Antes que eu esqueça, temos um jantar beneficente para ir no sábado, você tem roupa para este tipo de evento? Fico um pouco surpresa pelo convite. Pois até o momento só frequentamos restaurantes, boates e parques. Nada mais explícito que isso, mas resolvo aceitar. Apesar de ficar um pouco preocupada, se

saberei me comportar em um ambiente assim. ― Depende, Tommas, não tenho nada muito chique. Só vestidos simples que usaria numa boate. ― Amanhã à noite, vamos em uma loja de uma amiga da minha mãe, e você escolhe um vestido bem bonito ― fico envergonhada, por não ser do mesmo nível social dele, e ter roupas espetaculares. Mas não vou me diminuir devido minhas origens, pois o principal que é caráter, eu tenho de sobra.

― Ok, gatinho, vou aceitar seu presente. Ele sorri pela minha gracinha e segura minha mão enquanto dirige. E me sinto a garota mais sortuda do mundo.

Capítulo 13 Logo que entramos no carro. O sistema de som se conecta automaticamente com a playlist do celular de Tom e começa a tocar uma sessão de músicas dos anos 80 e 90, transportando-me em lembranças para minha casa. Que saudades da minha cidade, da família e amigos. Tudo que tive de abandonar, por causa daquele desgraçado. Mas ao mesmo tempo caio na real, que também estou em uma nova fase, tanto profissional, quanto amorosa. Sem todo este

drama, jamais teria tido coragem de cair no mundo e refazer minha história. Como diz o ditado, há males que vem para o bem. Em minha divagação interior, Tommas segura minha mão e diz: ― Sinto que você está em outro lugar. Menos aqui ― fala em um sussurro. ― Escutando esta música do Goo Goo dolls – Iris, me senti em Curitiba novamente, fui criada escutando músicas antigas. E isso despertou saudades de casa. Mas é normal né, faz quase um ano que fui

embora. Acho que só estou um pouco nostálgica hoje ― dou risada para disfarçar minha tristeza. Vejo que Tom fica pensativo com meu comentário, mas não quero dar mais trabalho do que já estou dando. ― Tá tudo bem, Tom. Foi só uma saudade boba da minha cidade. Acho que é a proximidade do meu aniversário e natal, não é nada de mais. ― Não gosto de ver você triste, Bia. Mas entendo sua reação. Porque logo que vim morar aqui,

também sentia muita saudade da família e do meu país. Mas vou ser sincero. Nós temos que aprender a ser felizes com o que temos e onde estamos, por mais que seja difícil. ― Você tem toda razão. Mas não quero ficar remoendo este sentimento, pois sei que não é nada bom. Meus pais sempre me ensinaram que devo tentar ver o lado positivo de tudo. E sei que o melhor cenário é seguir em frente, sem olhar para trás. Meu alemão me dá um beijo casto nos lábios e seguimos em silêncio, na qual ambos digerimos o

que foi falado. Passamos em meu apartamento rapidamente para pegar minhas roupas, Tom pedi que eu faça uma mala para o fim de semana. Aviso para Carol que vou dormir fora e logo vamos para sua casa. Quando pergunto.

chegamos



― Sua empregada deixou alguma coisa pronta? ― Sou muito comilona, não consigo ficar mais que quatro horas sem comer nada. ― Você é igual

aquele

bichinho do videogame o pac-man, conhece? Come bastante e não engorda. Dou risada, porque apesar de não ser um jogo da minha época, eu já vi esta plataforma. ― Apesar que danço bastante, enquanto dou minhas aulas, mesmo assim, sei que tenho uma boa genética. Meus pais são magros e não tenho tendência a engordar. Posso me considerar uma pessoa de sorte, porque tenho praticamente uma jiboia no estômago.

Tom dá uma gargalhada e diz: ― É verdade, morena. Ainda bem que tenho bastante dinheiro, ou estaria pobre agora, de tanto fazer compras no mercado. Olho para ele e faço cara de indignação. Ele solta outra gargalhada com a minha expressão. ― Como se você comesse pouco, não é? Come como um pedreiro na hora do almoço e está falando de mim ― ficamos neste clima leve, brincando um com o outro. No dia seguinte, Tommas me

deixa na academia logo cedo e vai trabalhar. O dia passa voando com tantos afazeres. O ensaio para o aniversário da cidade anda de vento em poupa e no final da tarde Bob aparece, uns 30 minutos antes da nossa aula de zouk começar. ― Bi, será que posso falar com você um pouco? ― Sibila de forma preocupada, juntando as sobrancelhas, na qual fica com a expressão mais séria. ― Claro Bob, pode falar. ― Sei que é adulta e dona do seu próprio nariz, mas fiquei

preocupado com o jeito possessivo daquele gringo. Pensei que ele fosse me matar só com os olhos e te trancar em casa, para não cruzar mais comigo. ― Diz rindo da sua piada. ― Tommas é um pouco esquentado, mas tem um bom coração Bob, não vai fazer mal a você. Fique tranquilo. ― Mas pela conversa dele, vocês estão namorando? ― Vejo curiosidade e preocupação estampados. ― É um pouco estranho, mas

não estamos namorando. É que Tom está preocupado com a minha segurança. Por isso me leva em casa todos os dias ― falo de maneira vaga para não explicar o motivo real das minhas caronas. Mas vejo que isso não o convence. Fica me fitando esperando mais explicações. ― Mas por que tanta preocupação, por acaso aconteceu alguma coisa? Aqui até o metrô, não é perigoso assim. Fico desconfortável sem saber o que responder, e vejo que

ele percebe que estou escondendo algum fato. ― Bi, não quero me intrometer na sua vida, mas sou seu amigo. Pode me contar qualquer coisa. Saiba que importo com a sua segurança também, se precisar, eu posso levá-la em casa também. Várias vezes eu me ofereci, você que não aceitou. Fico na maior saia justa, sem saber o que dizer, procuro uma saída na minha mente. E esta parece um campo de futebol vazio. E resolvo abrir o jogo com meu amigo, na esperança de que saiba

guardar segredo. ― Bob, o que vou te contar, tem que ficar entre nós, ok? ― Sussurro com medo de alguém nos escutar. ― Claro Bi. Pode confiar que jamais vou abrir minha boca. ― Ok. Bom, eu vou resumir porque não temos muito tempo ― começo a contar toda a minha sina com o maldito do Enrico e percebo várias expressões no seu rosto de raiva e pena. ― Posso dizer que não tinha ido com a cara deste gringo. Mas

agora ele ganhou uns 10 pontos comigo, por estar te ajudando com tanto empenho. ― Por que você não me falou antes? Eu também tentaria fazer alguma coisa. ― Eu fiquei tão sem chão, com tudo que aconteceu, que não quis envolver ninguém nesse pesadelo. Tommas foi quem tomou a frente e foi tomando todas as providências. Mas obrigada mesmo assim Bob, sei que posso contar com você em qualquer situação. ― Claro que pode Bi. Mas

por favor, me mantenha informado de tudo que a polícia descobrir. Eu ficarei mais tranquilo sabendo o que está acontecendo. ― Pode deixar amigo, eu aviso sim ― vejo que seu sorriso não alcança seus olhos, ele está com pena de mim. E me sinto péssima com esta sensação de impotência. Nossa aula transcorre bem e até a Rebeca que costuma sempre soltar uma farpa, estava quieta naquele dia. Dei graças a Deus, porque sempre que toco no assunto de Enrico, fico para baixo e me

sinto desgastada emocionalmente. Com certeza não estava para brincadeiras e gracinhas. A única coisa que mais queria, era ver meu alemão e curtir minha sexta-feira e mais nada. Quando desço, Tommas está me esperando no estacionamento falando ao celular, ao me avistar, vejo que fica nervoso e logo encerra a ligação. Sou tomada por um ciúme tremendo e minha vontade é questioná-lo sobre quem estava ao telefone. Mas me controlo, afinal, não sou sua namorada e não posso ficar

pressionando. ― Vamos morena? ― Sibila desconfiado. ― Claro querido, a hora que você quiser ― digo de maneira sarcástica, sem conseguir segurar meu mau gênio. ― Porque sarcástica, Bia?

está

sendo

― E você, por que está me olhando desconfiado? ― Nada oras, estou normal. ― Eu também, Tom. Sei que ficou puto com meu

jeito, mas algo me diz que está me escondendo algo. Seguimos para tal loja da amiga da sua mãe. Ele tenta disfarçar e começa a conversar sobre outros assuntos. De carro e com trânsito, levamos cerca de 30 minutos até o estabelecimento. Que devo admitir. É uma loja chiquérrima, que com certeza não teria dinheiro para comprar nada por ali. Tommas pega na minha mão e adentramos. De cara, vejo três moças muito bem-vestidas e de boa presença. Uma delas, uma ruiva alta e simpática vem nos atender, Tom

diz que é amigo da Malu, a dona da loja, com sorriso no rosto nos mostra toda a nova coleção de vestidos de festa. Fico deslumbrada com cada modelo, todos com tecido de ótima qualidade e corte perfeito. Experimento vários e meu alemão atento como uma águia, opina em tudo. Quando saiu do provador com um vestido vermelho tomara que caia, que molda meu corpo e tem um belo decote nas costas, com cauda sereia, vejo que Tommas fica em silêncio me olhando intensamente. ― O que foi? Está feio? ―

Falo sem graça. ― Feio? Você está a maior gostosa nessa roupa. Acho que terei que ir armado. Fico sem graça porque a vendedora está presenciando tudo, mas logo desencano. A moça está sendo muito simpática conosco e não há motivos para timidez. ― Bom então vou levar este. Porque também o adorei. Tommas me incentiva a levar bolsa e sapatos. Que combinam perfeitamente com a roupa. Saio de lá nas nuvens, parecendo uma

criança que acabou de ganhar um brinquedo novo. Isto é mal de mulher, não podemos ver uma loja. No outro dia, Tom me deixa em um salão perto da minha casa e combinamos que vai me buscar às 19 horas no mesmo local, resolvi me arrumar por lá. Faço uma escova lisa com cachos nas pontas e prendo o cabelo somente de um lado, deixando o outro solto em mechas. A maquiagem foi marrom, esfumado com sombra preta, dando um visual sofisticado e elegante. Coloco um colar na cor prata com strass, que ganhei dos meus pais no

meu aniversário de 18 anos. Olho-me no espelho e vejo outra pessoa. Uma mulher e não uma menina. Me sinto cheia de classe e bem cosmopolita. Totalmente diferente da garota de uns meses atrás. E um sentimento bom, de mudança, corre nas minhas veias. As profissionais do salão elogiam, dizem que vou abalar a festa com minha beleza. Tenho que rir com estas meninas. Quando Tom chega e desce do carro para me ajudar a entrar, por causa do vestido, meu alemão para na minha frente e diz:

― Minha vontade é de te levar para minha casa e trepar à noite toda com você morena gostosa, mas infelizmente não posso deixar de ir a este jantar. Porque tenho que representar meu pai, então vou ter que esperar algumas horas para poder me acabar neste corpo delicioso. Suas palavras me deixam excitada e sensível, sinto meu corpo implorando por um orgasmo. E tento me distrair e pensar em outras besteiras. Quando chegamos ao salão de festas que fica na Barra da

Tijuca, já na entrada, observo que é puro luxo, só pelos carros que são entregues aos manobristas. Ao adentrarmos no ambiente, observo toda a decoração em bege, dourado e marrom. No teto, grandes lustres de cristal em formato de pera iluminavam o ambiente, deixando o salão com uma iluminação íntima, as mesas forradas com toalha cor de palha e flores pequenas nos tons bege, ocre e roxo. Quebrando um pouco o visual sério do ambiente. Logo nos primeiros passos, somos abordados por alguns casais

mais velhos que vem nos cumprimentar e perguntam a Tommas sobre sua família. Após cerca de 20 minutos de apresentação aos seus conhecidos, nos encaminhamos para nossa mesa. Assim que nos acomodamos fico observando tudo, tentando me portar a altura do meu acompanhante e agradecendo mentalmente por ter visto no Youtube um vídeo que mostra como comer com todos aqueles talheres, sei que não vou fazer feio. Passados alguns minutos, escuto uma voz esganiçada logo atrás e meus pelos do braço se arrepiam.

― Oi Tommas, que saudade querido ― diz sensualmente e beija seu pescoço, deixando a marca de batom, sei que está fazendo isso para me provocar, mas não vou cair no seu joguinho. ― Olá Mel, tudo bem? Não é para tanto, nós trabalhamos na mesma empresa, esqueceu? ― Diz Tom de maneira rude, percebendo a jogada da loira aguada. ― Sinto sua falta sempre, você sabe disso ― fala se oferecendo como uma cadela no cio, falando português de forma estranha, cheia do sotaque.

Minha vontade, é de virar a mão na sua cara, mas me controlo com toda a força do meu interior para não fazer vexame na frente das pessoas. ― Mel, não cumprimentar a Bia? ―

vai

― Não tinha a reconhecido, sabe como é né, quando a ralé veste uma roupa melhor fica irreconhecível ― balbucia toda melosa. Sinto minha face queimar de tanta raiva e sei que minha noite vai ser infernal com aquela desgraçada

pegando no meu pé.

Capítulo 14 Apesar de saber que não devo aceitar as provocações de Melanie, não tenho sangue de barata correndo pelas veias. E logo me exaspero com seus comentários maliciosos. ― Nossa Melanie, também não tinha te reconhecido. É a primeira vez que vejo uma vaca de vestido longo. Aliás, nunca tinha visto um animal de fazenda em um jantar beneficente. Vejo que ela se desestabiliza com meu comentário e perde a

compostura totalmente. Porque jamais esperava que eu fosse dar o troco à altura, das suas palavras ácidas. ― Olha aqui sua pobretona... ― Mas a corto na hora e nem deixo terminar de despejar suas atrocidades. ― Inclusive a imprensa está te procurando para uma entrevista. Se eu não me engano, é o pessoal do Globo Rural. Você deve ser bem famosa, porque as reportagens só costumam ser de vacas premiadas. Ela fica nervosa e começa a

falar se fazendo de vítima e percebo que tentar manipular a situação a seu favor. ― Tommas você vai deixar está garota desclassificada, me ofender deste jeito? Vejo que Tom respira fundo e está sem paciência. Só não sei se irá sobrar para mim ou para Melanie. ― Não vou te defender Mel. Sinto muito. Mas você começou com as grosserias, agora aguente. E ainda veio a nossa mesa sem ser chamada, espero que isso não se

repita. Seus olhos transparecem puro ódio e se pudesse me mataria sem titubear. Mas não tenho medo dessa lagartixa desbotada, pouco me importo com o que acha. E volto a me sentar de frente para o salão, contemplando o vai e vem dos convidados. Logo ela sai de cena com o rabo entre as pernas, nos deixando sozinhos novamente. Deixamos o assunto de lado e ficamos conversando sobre alguns figurões que estão desfilando no salão. Tom me mostra o governador do Estado do Rio, que acena para

nossa mesa de modo cordial. Em seguida, passa alguns artistas da rede Globo e fico deslumbrada de poder vê-los tão perto. Mas me contenho para não fazer nenhuma tietagem. Nossa mesa fica completa em pouco tempo, e sentam três casais ao nosso redor. Todos são simpáticos e aparentam ser mais velhos. Ao meu lado senta uma moça linda, junto com seu marido e são extremamente divertidos. Ronald tem concessionárias espalhadas por todo o Rio de Janeiro e Heloísa é uma arquiteta

de sucesso, mas percebo que apesar de serem ricos, são pessoas simples e de bom coração. Sem ostentarem luxo ou riqueza. A conversa fluía de maneira leve e descontraída entre nós, de modo que me senti mais relaxada naquele ambiente pomposo e cheio de requinte. A banda já estava tocando desde a hora que chegamos, mas no começo o repertório era de músicas mais tradicionais como Frank Sinatra, depois passaram para anos 80 e 90. E assim ficou tudo mais interessante, fiquei viajando com

tanta diversidade e de repente começa a tocar Richard Marx Right here waiting. Meus olhos se enchem de lágrimas, porque diz exatamente o que sinto por Tommas. Mesmo sabendo que talvez ele não me ame, mesmo ele machucando meu coração, eu ainda estarei esperando.

“Aonde quer que vá... O que quer que você faça... Estarei bem aqui esperando por você... Seja lá o que for necessário

Ou como meu coração fique partido... Estarei bem aqui esperando por você... (Richard Marx - Right here waiting)

Nesse exato momento, Tom me chama para dançar. E ficamos ali em nossa bolha, agarrados e sentindo a letra desta canção nos envolver. Dizendo o que sentimos um pelo outro. Era tão bom senti-lo colado ao meu corpo, dançávamos no ritmo da música, em certo

momento meu alemão sussurrou que eu estava linda e que se sentia um homem de sorte, por eu estar ao seu lado. Dançamos mais duas músicas e ficamos nesse clima romântico, até voltarmos à mesa. Nós circulamos pelo salão de mãos dadas e interagimos com alguns conhecidos de Tommas. Todos me trataram muito bem e me senti como se fosse sua namorada, tive que rir do meu pensamento. Sabendo que Tom nunca me prometeu nada. Mas resolvi focar meus pensamentos nas ações do momento e parei de divagar.

A banda parou de tocar dando uma pausa e foi à vez do DJ entrar em cena, novamente estávamos nos divertindo na pista. De longe vi Melanie nos olhando com total desprezo e desaprovação. E resolvi ignorá-la, sabendo que nada podia fazer, a não ser curtir sua dor de cotovelo. Começa a tocar David Guetta Ft. usher - Without you, e me acabo de dançar com ele atrás de mim, se roçando nas minhas costas, cheio de más intenções. Aquilo verdadeiramente não ia dar certo, sabia que estávamos mais que

excitados em plena pista de dança, e meu lado promíscua não estava querendo me abandonar. Tom apertava meu quadril com força, como se quisesse me possuir naquele exato momento. E isso me fez sorrir sem parar, porque sabia que meu menino já estava se descontrolando. Gemeu em meu ouvido de forma erótica. ― Morena, você está querendo me fazer passar vergonha? Vamos ser presos por atentado ao pudor, logo as pessoas vão ver o tamanho da minha ereção

na calça. Dou meu melhor sorriso diabólico e digo descaradamente. ― Vamos procurar algum banheiro e podemos resolver seu probleminha aí embaixo. Ele sorri de lado e vejo suas pupilas dilatadas, tamanho seu desejo em transar. ― Você está me saindo uma perfeita safada Bia, mas adoro isso. Vamos lá matar nossa vontade. E saímos como loucos procurando algum banheiro que ficasse longe do salão e

principalmente dos convidados. Pois ninguém era obrigado nos ouvir gemendo. Avistamos um banheiro mais afastado e percebi que era usado pelos funcionários. ― Tom acho que aquele banheiro é dos funcionários, acho que não vão se incomodar se o usarmos por alguns minutos ― temos um acesso de riso do nosso atrevimento e nos trancamos logo em seguida. Meu alemão me sobe na pia e beija minha boca de forma rude e

intensa. Nossas línguas se atacam constantemente. Tom desce o zíper do meu vestido me deixando somente de calcinha e esta só fica no meu corpo por alguns segundos. ― Linda, temos que ser rápidos para não sermos pegos, apesar que este medo está me deixando bem excitado ― diz cheio de luxúria. Tommas passa a mão por todo meu corpo e lambe meus seios de forma arrebatadora me deixando na beirada do êxtase. Nem percebo quando colocou o preservativo e me possui intensamente, dominando

e me tornando uma massa de sensações. Ficamos naquele ritmo frenético e insano que nem vimos o tempo passar. Estávamos ali usufruindo de forma deliciosa o nosso prazer e degustando alucinadamente do corpo um do outro, até que chegamos ao ápice. Ficamos com a respiração acelerada, acalmando o coração. Ajeitamos nossas roupas, e Tom abre a porta sem fazer barulho, para não chamarmos a atenção dos funcionários. Caímos na gargalhada quando já estávamos caminhando pelo corredor, tamanho à nossa

audácia. Digo a ele que vou terminar de me limpar no banheiro feminino e nos separamos um para cada lado. Logo que entro já me encaminho para uma cabine para que possa me limpar e arrumar meu vestido a qual me vesti correndo e estava todo desalinhado. Me ajeito adequadamente para tirar a aparência pós sexo e saiu para me olhar no espelho. Passo a mão no cabelo para colocar alguns fios que haviam escapado do penteado, molho um pouco a nuca para aliviar o calor e me preparo

para seguir para o salão. Quando saio pela porta, vejo Melanie parada no corredor em frente ao banheiro, sigo de cabeça erguida fingindo não vê-la, mas a mesma se põe a minha frente. ― Saia da minha frente Melanie ― ela sorri debochada: ― Vai aproveitando enquanto pode queridinha, quando Tommas se cansar de ser babá, vai te chutar sem a menor pena. Suas palavras me atingem como um torpedo e fico atônita sem querer acreditar que meu alemão

tenha comentado sobre meu problema com aquela pilantra. Mas tento me refazer para que ela não perceba que fiquei desestabilizada. ― Acho que a ração que anda comendo, está afetando seu cérebro. Que história é essa de Babá? ― Ela dá uma gargalhada e parece uma galinha cacarejando. ― Além de pobre é burra? Mas serei mais clara para que seu raciocínio lento me acompanhe ― sibila arrogante. ― Quando Tommas cansar de bancar o motorista e guarda-costas

pra proteger você do noivinho pirado, ele vai desaparecer sem dar a menor satisfação. Aí eu quero ver quem te ajudará com o psicopata que está na sua cola ― sussurra maldosamente, com alegria nos olhos. Naquele minuto me sinto desequilibrada, e uma completa idiota por ter acreditado em Tom. Como ele pode contar meu segredo para aquela cretina? Sendo que nem para os meus pais eu havia revelado. Ele sabe que Melanie me odeia e como pode me expor desta forma?

A raiva me domina e pareço um touro mirando sua vítima no meio da tourada, só vejo vermelho a minha frente. E parto para cima daquela cadela. A empurro na parede, segurando seu pescoço e cravando minhas unhas nele. Mesmo ela sendo mais alta não consegue se soltar tamanha a adrenalina do meu corpo. Vejo que ela fica assustada com minha reação e seus olhos estão arregalados. ― Fique com ele sua vadia, pois vocês se merecem.

E saio em disparada para mesa afim de pegar minha bolsa e ir embora daquela maldita festa. Quando chego à mesa Heloisa me avisa que Tommas está no salão e pediu para que eu o procure. Dou um sorriso amarelo e sigo para porta sem me despedir de ninguém. Assim que chego a portaria do salão de festas pergunto para o segurança qual é o endereço daquela rua e ligo para um rádio táxi. Estou

angustiada

com

a

espera, doida para ir para casa. Quando o táxi encosta e vou embora, o peso da situação me apodera e as lágrimas correm soltas. Realmente sou muito inocente, fui enganada duas vezes. Será que ele contou meu segredo enquanto transava com aquela maldita? Choro copiosamente, porque o amo muito e vou sofrer feito uma louca de tanta saudade. Mesmo que tenhamos ficado juntos apenas um mês e alguns dias, parece que faz uma década de relacionamento.

Meu celular começa a tocar. Olho no visor e vejo aquele nome que irá me atormentar por dias a fio, meu coração se aperta de tristeza. E tenho uma vontade imensa de atender, mas preciso ser forte e seguir em frente. Tommas não serve para mim, no fundo eu sabia, mas preferi me enganar achando que poderia mudar. Mas enfim, tenho problemas mais sérios para enfrentar daqui para frente e este se chama Enrico.

Capítulo 15 O taxista a o me ver chorando desolada tenta ser gentil e pergunta. ― Você está bem moça? Por acaso está sentindo alguma coisa? ― Coitado se ele soubesse o verdadeiro dramalhão mexicano que minha vida se tornou. Com certeza sentiria pena de mim. ― Estou bem sim, obrigada. Foi só um término de namoro um pouco traumático ― digo tentando sorrir para disfarçar minha tristeza profunda. Porque o pobre senhor não merece uma passageira, quase

tendo um infarto de tanto chorar em seu carro. Tento me controlar e me manter em silêncio para refletir todo o acontecido, o motorista não contente em ver minha cara de desilusão. Tenta me animar um pouco. ― Mas você é uma moça tão linda e elegante. Duvido muito que irá ficar sozinha por muito tempo. Olha se eu fosse bem novinho, já me candidatava para a vaga ― diz brincando e sorridente. Aquilo de certa forma tem um

efeito positivo e sei que no final tudo irá dar certo, mesmo quando parece tão incerto. Sorrio e digo: ― O senhor devia arrasar os corações na sua juventude, hein ― falo sorrindo de seu comentário. E ele me conta sobre alguns de seus namoros, de quando era jovem e solteiro. Percebo que era bem mulherengo, mas logo diz que quando casou tomou vergonha e se dedicou somente a esposa. Foi bom ter pegado aquele táxi. Aquele senhor conseguiu me acalmar, com sua conversa fácil e assuntos engraçados.

Paguei ao taxista e subi. Ali estaria no meu ninho e poderia chorar até os olhos pularem do rosto, sem dar um show para os estranhos. Subi o elevador segurando as lágrimas. E quando abri a porta, já estava soluçando. A sala estava escura, mas a televisão estava ligada. Com o barulho do meu choro, vejo o vulto de minha amiga se levantando do sofá e vindo em meu socorro. ― O que aconteceu amiga? Foi o Enrico que te fez alguma coisa? ― Sibila de forma atropelada e nervosa.

― Não Carol. Foi o Tommas que me traiu desta vez, aliás, eu devo ter algum problema para perceber pessoas de caráter duvidoso. Porque sou sempre passada para trás. Minha amiga fica espantada e diz: ― Ok. Me conte o que aconteceu primeiro, para que eu possa entender melhor. Aí relato toda a minha noite, até chegar ao momento da verdade, a qual Melanie vomitou saber de todos os meus problemas.

Carol me olha e nada diz, parece analisar todo o ocorrido e continua me encarando. ― Ué. Não vai dizer nada? Justo você que sempre tem algo a acrescentar. ― Amiga, tem algo errado nisso aí. Você deveria ter ido conversar com ele. Sei que pode parecer suspeito à primeira vista, e que parece até óbvio que foi Tommas quem contou para aquela sirigaita, mas como estou de fora consigo ver as coisas de forma fria e imparcial.

― Não confio naquela criatura invejosa e seu alemão não parece fazer o tipo de gente fofoqueira. Apesar de nós conversamos apenas uma vez. Mas sei quando uma pessoa inspira credibilidade e confiança. E senti isso de forma muito intensa em Tommas. Fico atordoada com o que ela diz e sinto a dúvida começar a corroer as minhas entranhas. Naquele momento começo a questionar-me se tive à atitude correta com ele, saindo sem confrontá-lo.

Por alguns segundos estou em uma verdadeira guerra interior, sem saber qual deverá ser o próximo passo. Pensando em qual estratégia deve ser tomada, quando minha amiga chama minha atenção. ― Primeira coisa Bi, mande uma mensagem para ele avisando que está em casa. Deve estar preocupado com seu sumiço. Fico ainda raciocinando suas palavras. ― Bi, manda logo um whatsApp. Qual a dificuldade? ― Reviro os olhos com sua

insistência. ― Calma. Estou só pensando em o que vou dizer e que atitude vou tomar daqui para frente. Porque com certeza não quero outro Enrico na minha vida. Carol fica furiosa comigo e sibila. ― Olha aqui Bianca, você ficou quatro anos no seu mundo de fantasia. Mas vou te falar tudo que vi em Enrico. Que você se negava a enxergar. Ele era egoísta, imaturo e fingido. Vivia tentando te mudar, por não se agradar do seu jeito simples e humilde de ser. Queria te transformar em uma dessas

socialites vazias e sem objetivo na vida. Fingia gostar da sua família e seus amigos, mas nunca conseguiu me enganar. Tinhas atitudes muito egoístas e sempre te deixava em último plano. Não acho justo compará-lo com Tommas, que até o momento está fazendo tudo para te ajudar. E vou longe, se fosse ao contrário, Enrico nem estaria mais com você, pode acreditar. Suas palavras são duras, mas sei que mereço escutá-las, mesmo não gostando. Minha amiga tem total razão em tudo que disse sobre meu ex-noivo, só que dói escutar

tantas verdades de uma vez só. Abaixo minha cabeça envergonhada com as minhas atitudes infantis e no fundo sei o que devo fazer. Quando pego meu celular para enviar uma mensagem para Tom, o interfone toca e Carol se levanta para atender. Fala com o porteiro e logo depois me olha. ― Tommas está lá embaixo querendo subir, avisei para o Manuel que pode liberar sua passagem, ok? Aceno com a cabeça de forma positiva e espero minha

amiga desligar o aparelho. ― Carol. Obrigada pelos conselhos e sei que tem razão sobre tudo que disse. Vou tentar ser justa com ele e escutar seu lado ― sussurro de forma triste, sabendo que minha amiga está decepcionada comigo. ― Exatamente amiga, escute primeiro o que ele tem a dizer, antes de condenar. E vou pegar o carro e dormir na casa dos meus pais. Amanhã de manhã estou por aqui ― sorrio fracamente e a vejo sair.

Fico ali divagando até que a porta se abre e vejo um Tommas aborrecido e nervoso. Me encarando. ― Sabe quanto nervoso eu passei com o seu sumiço? Comecei a achar que Enrico tinha finalmente conseguido pôr as mãos em você, Bia. Estava quase indo até a delegacia registrar seu sumiço. E ainda por cima não atendia o telefone. Vejo que meu alemão respira com dificuldade, contendo todo o seu pânico.

― Vai ficar me olhando com a essa cara, ou vai dizer o que aconteceu? ― Fico sem graça, porque sei que fui errada em ir embora e não avisá-lo, mas estava brava e de cabeça quente. ― Desculpa Tommas, deveria ter avisado que estava indo, não foi minha intenção te deixar nervoso. Ele fica me fitando esperando que eu realmente conte o que aconteceu e vejo impaciência em seus olhos. ― Quando saí do banheiro,

Melanie estava na porta me esperando. E me falou várias barbaridades. Inclusive comentou que sabe sobre Enrico ― seu rosto demonstra surpresa no primeiro instante e compreensão logo em seguida. ― E você acha que fui eu, quem contou para Melanie a sua história? ― Logo que me falou fiquei transtornada e com raiva. Fui embora achando que você tinha traído minha confiança. Mas quando cheguei aqui e conversei com a Carol, consegui esfriar a

cabeça e dar o benefício da dúvida. Vejo que fica entristecido e magoado com o que disse, mas preciso saber a verdade para que possa definir meus sentimentos. Me sinto em uma montanha russa de sensações e sem saber como me comportar. E aguardo ansiosa sua resposta. ― Bia, eu jamais trairia sua confiança contando algo tão íntimo da sua vida. E ainda mais para Melanie, que demonstra plenamente não gostar de você. Fico triste que desconfie tanto de mim, a ponto de ir embora, sem que eu pudesse me

defender. Sua linguagem corporal diz que está indeciso se me olha ou vai embora. E fico com o coração na mão com medo de ter sido injusta com a pessoa que mais tem me apoiado nestes últimos dias. Um silêncio sepulcral se instala entre nós e estou sem saber como agir. ― Mas acho que já sei como a Mel descobriu tudo. Há alguns dias liguei para o detetive particular da minha sala e contei tudo que te aconteceu nos mínimos detalhes. Relatei desta forma, para que saiba do perfil de quem estará

investigando. E tive uma estranha sensação de estar sendo vigiado, me mexi na cadeira e quando olhei para trás, vi um vulto saindo pela porta. A princípio achei que se tratava de Abigail, minha secretária. Que talvez tivesse entrado e me visto ao telefone, e resolveu voltar depois. Mas agora já sei quem estava me espreitando na sala. Fico muda me sentindo o pior dos seres humanos e me dando conta que Enrico havia conseguindo me contaminar. Estava me tornando tão egoísta e insensível como ele.

Desconfiando de tudo e todos. A vergonha ricocheteando meu rosto. ― Eu deveria ir embora, já que você não confia mesmo em ninguém. Assim as pessoas não te desapontariam, pois, estariam fora da sua redoma pessoal. Mas eu simplesmente não consigo ficar longe. Te confesso que não sei em qual momento, derrubou minhas barreiras e foi se instalando dentro de mim. Mas eu gosto demais de você morena, mais do que eu queria ou devia. Sussurrando isso perto de mim, sinto uma vontade enorme de

chorar, mas me contenho e avanço para os braços do meu amor, imediatamente Tommas me puxa e cruzo minhas pernas em seu quadril. Ficamos nos beijando desenfreadamente. Até cairmos no sofá e nos armarmos intensamente, cheia de saudades e amor. Coisa que até então nunca tínhamos feito. Naquela hora não estávamos transando, estávamos fazendo amor pela primeira vez.

Capítulo 16 Naquela noite, fizemos amor umas três vezes e nem me importei de fazer isso bem no sofá da sala. Afinal, Carol havia saído e só voltaria no outro dia. Nos tocamos de forma íntima e carinhosa, como se fosse à primeira vez. E naquele ato não havia só luxúria e desejo, mas outros sentimentos como doçura e adoração. Senti Tom me amando de corpo e alma. De uma maneira totalmente oposta, aos nossos primeiros encontros. Sentimentos distintos brotando

naquele coração frio e distante. E a esperança batia desenfreada no meu peito, me fazendo ter expectativas quanto ao futuro, com meu alemão ao meu lado. Acordar em seus braços, sempre era algo prazeroso e revigorante. E compartilhar tal intimidade, só fazia aumentar nossos sentimentos. Tommas estava tão arraigado em mim, quanto eu nele. Às vezes me sentia temerosa. Por não saber mais onde eu começava e ele terminava. Sabia que talvez, um dia, tivesse que dizer adeus, e tais

pensamentos me deixavam em pânico por minha sanidade. Acho que nunca amei alguém com tanta força e intensidade. E entender isso me deixou totalmente desestabilizada. Me remexi em seu peito, o que o acordou no mesmo instante. ― Oi linda, bom dia, dormiu bem? ― Olhei para seus lindos olhos azuis, que me encantaram, desde a primeira vez que os vi. ― Bom dia para você também lindo. Dormi como uma pedra, afinal teve alguém que me deixou exausta ― falo

maliciosamente. ― Tenho tenta gana em te comer, que às vezes me preocupo em te machucar. Se eu passar dos limites me avise. Dou uma gargalhada com seu comentário. Porque mal sabe ele que sinto a mesma coisa. ― Tom tenho o mesmo desejo por você. Não se preocupe, em nenhum momento me machucou. Relaxe, ok? Ele acena positivamente. Ficamos ali curtindo aquele abraço tão bom, que nos esquecemos do

mundo. Ou seja, nem lembramos que estávamos completamente pelados no meio da sala. Quando a porta se abre e Carol aparece e nos pega em flagrante. Só tive tempo de puxar uma almofada para tentar cobrir as partes principais, Tommas na hora ficou de bruços e deixou sua bunda totalmente exposta. Carol de maneira descarada solta uma gargalhada e diz: ― Uau, não me incomodo de ter esta visão todo dia... Opa, quero dizer do bumbum do Tommas,

porque de mulher pelada estou fora. Prefiro me olhar no espelho. E sem ficar sem graça, Carol continua seu ataque. ― Por acaso você tem algum primo, alemão? Mas olha tem que ser parecido com você viu... ― Corto-a porque sei que minha amiga é totalmente sem noção e digo: ― Carol... Desculpe, mas nós queremos ficar sozinhos ― reviro meus olhos para que minha amiga perceba que está sobrando. ― Ah, claro que empata foda

que eu sou!!!! Desculpe gente, foi mal, podem voltar ao que estavam fazendo. Só não façam muito barulho, porque estou lá no quarto. E Tommas, quanto ao primo, eu estava falando sério, ok? Estou na fila ― diz brincando e saí saltitando para seu quarto. Minha amiga é uma verdadeira figura, estou para conhecer alguém mais desinibida e desencanada que ela. Tom me olha e tem um acesso de riso, pela cara de envergonhada que estou. ― Que foi Tom? Não entendi, por que está rindo?

― Você morena. Ficou toda encabulada porque estávamos pelados. Não consigo entender o motivo de tanto constrangimento por causa disso. Fico atônita com seu comentário, porque no Brasil não temos costume de ficarmos sem roupa na frente dos nossos conhecidos. E ao meu entender nada disso é normal. ― Morena, em alguns países da Europa e principalmente na Alemanha, não vemos a nudez como algo sujo e pecaminoso. Para os alemães nosso corpo é a extensão

de quem somos. Há uma expressão muito usada em meu país que chamamos de FKK- Freie Korper Kultur, que a tradução em português é cultura do corpo livre. Não tem um conotativo sexual ou sensual. É simplesmente você se sentir bem consigo mesmo. Em alguns parques, praias ou lagos, o governo dá um espaço para os naturistas, ou seja, você verá pessoas tomando sol sem roupa. E isso é normal e totalmente legal. Com o tempo se acostuma. Mas é claro que nem todos os alemães fazem isso, por exemplo, eu fui criado de modo a sair do banheiro sem roupa. Para o meu pai

isso é normal, já minha mãe por ser brasileira, nunca gostou dessa mania. Mas com o tempo foi se acostumando. Fico pensativa sobre o que Tommas disse e sei que no fundo está certo, não devemos ter vergonha de quem somos. Mas fui criada no Brasil, e acho que não sei viver de outra maneira. ― Tom sei que tem razão, mas aqui fomos condicionados a viver dentro deste padrão. Não sei pensar e agir de outra forma, então é normal que me sinta envergonhada diante desta situação.

― Tudo bem linda, eu entendo. Mas e aí, o que você quer fazer hoje? Está um tempo gostoso, de repente podemos pegar uma praia ou até ficarmos na piscina da minha cobertura. Na mesma hora lembro que prometi a Augusta que ia passar em uma feira de adoção no meu bairro, para dar uma força com as papeladas que as pessoas têm que preencher para adotas os bichinhos, mas sei que Tommas não tem obrigação alguma de entrar nesta empreitada. ― Desculpe, gatinho. Eu

marquei com a Augusta, aquela minha colega de trabalho da academia, que ia dar uma ajuda na feira de adoção de cães e gatos, aqui no bairro. Mas não quero tomar seu tempo. Pode me deixar lá e depois peço à Augusta me traga em casa. Assim não corro nenhum perigo de andar sozinha. Vejo meu lindo sorrir abertamente, achando graça como se eu falasse algo engraçado. ― Além de linda, inteligente e sexy, ainda faz caridade para os animais, não podia ter escolhido melhor ― na mesma hora mostro a

língua para ele debochando do que disse. ― Que mentiroso... Não sou nada disso. Estou mais para uma garota normal, cheia de defeitos e com bastante problemas nas costas ― sibilo dizendo a verdade. Mas meu alemão não deixa por menos. ― Pare com isso linda, no final tudo vai dar certo, você vai ver. Aceno positivamente e tento pensar que sim, que Deus sempre estende sua mão, para os que tem fé e é nisso que irei focar.

― Bom, como eu quero passar o meu domingo com você, será que posso ajudar também? ― Arregalo os olhos com seu pedido. E penso que este homem maravilhoso na minha frente, sempre me surpreende. ― Claro gatinho, vou avisar a Augusta. Já pego o endereço com ela. ― Mas só tem um detalhe Bia, tenho que passar em casa, para tirar esse smoking e colocar um jeans. Pode ser? ― Está ótimo, vou tomar um

banho rapidinho e podemos ir. Me arrumo bem rápido e em 20 minutos estamos saindo. Descido colocar um short jeans, uma regata vermelha e uma rasteirinha de miçanga para compor o visual. Tom dá um tapa na minha bunda, e me elogia dizendo que estou deliciosa. Tenho que rir com este tarado de plantão. No caminho para casa de Tom, recebo via WhatsApp o endereço da feira que se localiza na rua, Visconde de Pirajá, na praça Nossa Senhora da paz. E sei mais ou menos onde fica.

Quando chegamos ao seu prédio, descido aguardar na garagem, enquanto o mesmo se arruma. O conheço suficiente para saber que, se eu subir, vamos demorar muito para sair. Então prefiro ficar lá embaixo. Quando volta, nos dirigimos até a feira e vamos jogando conversa fora pelo caminho. ― Não sabia que gostava de animais morena, nunca tocou no assunto ― sibila relaxado enquanto dirige. ― Adoro gato, cachorro.

Aliás, se um dia eu tiver uma casa, vou ter vários bichinhos. Meu lar vai ser praticamente um zoológico. Quero ter passarinho, coelho e tudo que tiver direito ― brinco sobre este assunto. ― Quando eu era pequena, sendo filha única meus pais tinham pena, porque eu não tinha ninguém para brincar. E para suprir isso, eles compraram um gato que se chamava Amendoim. Foram os melhores anos da minha vida, mas quando eu tinha 16 anos, ele ficou doente e morreu. Foi bem difícil aceitar a sua morte, mas tive que seguir em frente. E nem por isso fiquei amarga ou traumatizada.

Sabia que fazia parte da vida e quando eu comprar meu próprio apartamento, com certeza irei adotar outro Amendoim. Tom quando para semáforo, me olha e diz:

no

― Isso mesmo linda, não deixe os tropeços da vida, tirarem sua alegria. Por mas que seja difícil à gente perder alguém ou animal de estimação. Acredito que não devemos nos fechar. E ficamos conversando sobre este assunto, logo Tom estaciona perto da praça e já avistamos os

toldos e gaiolas com os pequeninos fazendo baderna. Assim que nos aproximamos, avistamos Augusta, que veem em nossa direção. ― Bi e Tommas, obrigada por terem vindo. Estamos sempre precisando de qualquer tipo de ajuda. Aquelas ferinhas não são fáceis de controlar. Seguimos para o toldo maior e logo Augusta nos apresenta para os responsáveis pela ONG e alguns outros voluntários. Minha amiga me pedi para ficar com a parte

burocrática da minha aérea favorita. Gatos, ou seja, toda pessoa que quiser adotar, tem que assinar alguns documentos, no qual se declara responsável pelo animal. Não podendo abandoná-lo e se declarando capaz de suprir suas necessidades. Quando chegamos a esta barraquinha menor. Há duas gaiolas, uma com gatos já adultos e outra com gatinhos menores, que devem ter várias idades, de um mês até uns cinco meses. Brinco um pouco com os adultos e depois vou direto olhar a gaiolinha dos

pequenos. Me apaixono de imediato por um gatinho que deve ter apenas um mês, o bichano é todo branco com exceção da orelha, focinho e rabo que eram cinzas. E o trapaceirinho sendo bem esperto, já agarrou no meu braço, sabendo que ia ganhar minha atenção. O peguei no colo, fazendo carinho. Mas não podia ficá-lo mimando o tempo todo, pois tínhamos trabalho a fazer. Ajeitamos tudo, limpamos a bagunça dos pequenos encrenqueiros. Colocamos água e comida. E em poucos minutos,

algumas pessoas foram aparecendo. Podemos dizer que o resultado final foi bem satisfatório, conseguimos dar em adoção cerca de 10 gatos. E isso para apenas um dia, é um saldo maravilhoso. Fiquei surpresa com o jeito de Tom com os pequenos felinos, que no começo deram um verdadeiro baile em meu alemão, mas que no decorrer do dia foi se sobressaindo. No fim da tarde, o meu gatinho preferido ainda estava lá à procura de um lar. E aquilo me deixou extremamente triste. Pegueio no colo novamente afagando sua

cabecinha e disse: ― Se eu morasse no meu próprio apartamento, juro que levaria você comigo amiguinho. Mas infelizmente não posso. Gostaria muito que tivesse encontrado um lar ― Tommas fica olhando com muita atenção e sorri. ― Bia espera só um pouquinho que vou ali na tenda maior e já volto ― ué, o que será que ele foi fazer ali? Vejo que ele fica conversando com um dos responsáveis e que depois assina alguns papéis e minha curiosidade fica a flor da pele.

Enquanto isso fico batendo um papo com meu novo amiguinho, aproveitando que ainda temos tempo. Tommas volta com o sorriso aberto e sussurra. ― Vamos morena ― automaticamente me levanto e vou devolvê-lo a gaiola. Quando Tom diz: ― Espera! Ele vai conosco ― olho espantada, como se Tom fosse um alienígena. ― Como assim ele vai conosco? Você o adotou por acaso? ― Murmuro sem acreditar.

― Sim, morena. Agora esse rapazinho é nosso. ― Mas Tom! Onde eu moro é da Carol. E ela não é do tipo de pessoa que gosta de bicho de estimação em casa. E ainda mais um que pode enfiar a unha no sofá. ― Eu sei Bia, mas o molecão aí, vai ficar comigo ― fico de boca aberta, sem acreditar no que estou escutando. ― Tommas tem certeza do que está fazendo? Gatos podem viver até 15 anos, ele vai passar uma boa parte da sua vida com

você. Adoção é algo sério... ― Tom imediatamente me corta. ― Bianca, eu sou adulto e responsável para saber o que significa adotar um animal. Estou fazendo isso de livre e espontânea vontade. E condeno pessoas que maltratam animais. E espero que nunca passe pela sua cabeça que eu possa fazer isso. Me encolho com seu jeito de falar e percebo que não gostou nem um pouco do meu comentário. Mas enfim, deixo o assunto para lá e vou curtir meu novo amiguinho.

― Ok! Eu só falei para ter certeza. Mas mudando de assunto, temos que comprar uma casinha para ele e ração também. ― Acabei de fazer isso, vamos pegar aqui atrás e já o colocamos dentro. E para variar, nosso menininho temperamental fez o maior show para entrar em sua nova casinha. Augusta nos agradeceu por tudo e nos parabenizou pela adoção e seguimos nosso caminho, felizes demais com o novo membro da família.

Quando entramos no carro, descido ir sentada atrás com ele, para que não se assuste muito no trajeto. ― Qual será o nome dele Tom? ― Pergunto porque ele ficará mais tempo com Tommas do que comigo. ― Você sabe qual é o nome dele morena. O que me disse quando estávamos vindo para cá? Sorrio sem acreditar que finalmente eu terei meu Amendoim de volta. ― O nome dele pode ser

Amendoim? Sério? ― Na mesma hora meus olhos se enchem de lágrimas de alegria, porque sabia que este pequeno rapazinho iria trazer muita alegria para nossas vidas.

Capítulo 17 Amendoim foi o tempo todo miando dentro do carro, que criaturinha geniosa. Já vi que este pequeno bichano não vai ser fácil. No caminho, resolvemos passar em um pet e comprar mais ração e alguns brinquedinhos para que se distraísse dentro da gaiola. Levamos também um arranhar, para que nosso amiguinho, não resolvesse afiar suas unhas nos lindos móveis de Tommas. Já estava temerosa que meu alemão surtasse, quando descobrisse que os

felinos, adoram escalar os sofás e camas, e que no meio dessa folia, sempre deixam um rastro de furos por onde passam. Mas Tom não precisa saber disso ainda. Quando chegamos ao apartamento de Tom, desci a gaiolinha do Amendoim com todo cuidado, pegamos todas as suas tranqueiras e nos dirigimos ao elevador. Subimos pela garagem, quando parou no térreo, entrou uma moça com uma menina linda que devia ter uns cinco anos, a mesma estava de vestido rosa e em seus cabelos castanho claros usava uma

maria Chiquinha. Ela olha o gatinho com curiosidade de criança e diz: ― De quem é este gatinho lindo? ― Fala com sua voz infantil. Quando vou responder para aquela pequena princesinha, Tom toma a minha frente e responde primeiro. ― Esse molequinho aqui, se chama Amendoim. Minha namorada e eu o adotamos hoje ― Surpreendo-me com a sua resposta e sem ação por finalmente ser chamada de namorada. Mas dentro

do peito há uma verdadeira apresentação de escola de samba, meu coração está quase saindo pela boca. Porém, me comporto como uma lady, reprimindo a vontade de dar um salto no ar. A linda menininha sorri e sussurra para mãe. ― Também quero um, mamãe ― Tommas sorri para sua vizinha e encolhe o ombro, em um gesto de quem diz desculpe pelo transtorno. Cinco andares depois mãe e filha descem e nós continuamos até a cobertura. Ao chegarmos à sala,

abrimos a porta da gaiola e Amendoim todo assustado saí correndo e sumindo pela casa. Tom me olha preocupado, esperando que eu faça algo. ― Fica tranquilo, Tom. Ele só vai se aproximar da gente, quando tiver se acostumado com a nossa voz e cheiro. Quando eles mudam de ambiente, ficam desconfiados e com medo, temos que dar um tempo para sua adaptação. ― Ainda bem que você conhece bastante sobre gatos. Porque eu já ia achar que ele está

doente. ― Imagina! Esse comportamento arisco é completamente normal. Então o que podemos fazer agora? ― Tom diz que está morrendo de fome e seguimos para cozinha, vamos fuçar na geladeira e ver o que há para comer. Pergunto se ele quer jantar e o mesmo acena positivamente. Resolvo fazer um strogonoff de frango, que é rápido e não dá trabalho. Enquanto me mexo pelo ambiente, fazendo nosso jantar. Percebo que Tom me olha

incessantemente, como se quisesse dizer alguma coisa. E não aguento e pergunto. ― O que foi lindo, está tudo bem? Parece preocupado. ― Ele continua me olhando: ― Semana que vem, é seu aniversário. Já tem ideia do que iremos fazer? Fico sem saber como falar, que na próxima semana meus pais estarão aqui no Rio, afim de comemorar meu aniversário e natal. Mas infelizmente não posso deixálos de lado para ficar com ele.

― Tommas, na terça-feira, meus pais chegam de Curitiba e vão ficar até o natal. Infelizmente com eles aqui, não tenho como deixá-los sozinhos para te encontrar. E nem posso fazer, já que quase não os vejo. ― Acho que seria uma ótima oportunidade de conhecer o sogro e a sogra, não acha? ― Sussurra no meu ouvido. E ali vejo que meu relacionamento com Tommas, realmente está seguindo para outro nível. Que embutido naquela frase, está o tão esperado. Você quer

namorar comigo? ― E como minha mãe sempre diz: “Quando uma porta se fecha, Deus sempre abre outra e nunca nos deixa na mão”. Naquele momento faço uma retrospectiva de que tudo que senti por Enrico. Que foi apenas uma sombra, perto do que Tom desperta em mim. Meus sentimentos por ele são extremamente profundos. Às vezes acho que não sei mais viver sem sua presença. E resolvo brincar com meu garotão. ― Hum... Isso foi um pedido de namoro? ― Falo sorrindo entre dentes.

― Foi sim, morena, você é menina de família. Merece um pedido formal. Dou uma gargalha com seu comentário. ― Obrigada, pelo menina de família. E sim, eu aceito o seu pedido. Agora nosso namoro é oficial. Ficamos nos agarrando por alguns minutos e até que lembro que meu strogonoff está no fogo e o empurro para que se comporte. Naquele domingo ficamos ali na sala, namorando e vendo um

filme. Amendoim sumiu completamente. Talvez no dia seguinte, esteja pronto para aparecer. No outro dia, Tommas me deixa por volta das 10h na academia e segue para trabalhar. Pergunto se irá confrontar a Melanie sobre o ocorrido, que diz ainda não saber como irá tratar este assunto. Subo para minha sala na qual minhas lindas alunas já me esperam, enquanto o dia passa me pego perdida em pensamentos. E sem acreditar como minha situação

com Tommas evoluiu. De mulherengo e sem perspectiva, para namorado zeloso e cheio de futuro. É algo realmente inesperado. E sinto-me afortunada por tê-lo conhecido em uma fase tão ruim. Em meu intervalo à tarde, ligo para meus pais que avisam que chegarão terça-feira depois do almoço. E que não preciso me preocupar que irão seguir direto para o hotel. Fico matutando. Em que momento os avisarei que estou namorando. Com certeza ficarão surpresos, por eu não ter mencionado nada até agora. E

espero que não fiquem chateados comigo. Não quero desapontá-los de forma alguma. No fim do dia Tom está à minha espera com uma cara nada boa. Desconfio que tenha rolado algum mal-estar com a loira aguada da Melanie, porém fico aguardando ele se manifestar sobre o assunto. Quando chegamos à porta do meu prédio, meu alemão estaciona junto a calçada segurando o volante com as duas mãos. Sinto tensão na sua linguagem corporal, está nervoso. Como se estivesse acuado. ― Tommas, fale logo o que

está acontecendo? ― Sibilo irritada por seu silêncio. ― Foi alguma coisa com a Melanie? Vocês se desentenderam? ― Disparo a falar nervosamente. ― Não Bia! Não tem nada a ver com a Melanie. Se fosse, seria mais fácil ― seu semblante está esgotado, e percebo uma luta interna em contar o que está acontecendo. ― Pode falar amor. Você se arrependeu de me pedir em namoro? ― Digo tentando brincar para descontrair o ambiente. Tom dá um sorriso sem graça e diz:

― Claro que não morena, tenho certeza absoluta que quero você na minha vida. Não duvide disso nem por um instante, ok? Aceno positivamente e fico aguardando me contar o que está acontecendo. ― Bia o investigador entrou em contato comigo, após fazer uma investigação minuciosa sobre a vida do Enrico. E as notícias são as piores possíveis. Um silêncio incômodo me separa da verdade e fico segurando a respiração.

― Enrico e sua família estão ligados a uma rede de tráfico humano. Eles mandam mulheres e crianças para a Europa e alguns países da Ásia, para serem vendidas como escravas sexuais. A quadrilha no qual faz parte, chega a ganhar cerca 30 mil de dólares por pessoa aliciada. Quando Tom me olha, estou branca como papel e sinto todo meu rosto formigando. Pressinto uma crise de pânico a qualquer instante. Meu amor me abraça e diz que não devo ter medo. Mas como não vou ficar apavorada depois de saber

disso? Não estou mais lidando com um ex-noivo louco. Agora nós estamos falando de um bandido altamente perigoso. E temo pela vida dos meus pais e de Tommas, não posso colocá-los em risco. Mas o que posso fazer? Sou apenas uma garota que vai fazer 24 anos, boba e sem experiência na vida. Não tenho ferramentas para lutar contra este demônio. Tom puxa meu rosto em sua direção, sei que está tentando me acalmar. Mas dentro de mim, é como se eu gritasse por socorro e

ninguém me ouvisse. Estou por um fio, entre a razão e a insanidade. E de repente, uma exaustão me toma e fico ali parada catatônica. Esperando algo que ainda não sei, acontecer. Talvez um milagre. ― Bia, olha para mim. A Polícia Federal, tem um mandato de prisão contra eles, é só uma questão de tempo para conseguirem achálos. O investigador de polícia quer conversar com você. Vou pedir que venha até minha casa, assim ficaremos mais à vontade. Respondo que sim, porque ainda não sei que rumo devo tomar

e as más notícias não param. ― Tem outra ação que devemos tomar linda. Seus pais precisam saber o que está acontecendo. ― Não quero meus pais envolvidos nisso, Tom. Já dei trabalho demais, por não saber julgar o caráter das pessoas. Eles não merecem passar por tudo isso. ― Eles precisam saber o que está acontecendo, Bia. Não pode deixá-los no escuro. Desculpe, mas serão avisados. Penso em discutir sobre isso.

Porém minha apatia leva a melhor e fico calada aguardando as cenas do próximo capítulo.

Capítulo 18 De repente sinto-me suja. Com uma sensação amarga na boca, como se nada mais fizesse sentido. Fiquei sufocada de estar dentro daquele carro, em um ambiente apertado e senti que precisava sair dali naquele momento. Abri a porta e desci apressadamente em direção ao hall do prédio. Quando apertei o botão para abrir a porta do elevador, me dei conta que nem havia me despedido de Tommas. Mas espero que ele entenda meu desespero.

Entrei no apartamento que estava completamente escuro, provavelmente Carol não estava em casa. Somente encostei a porta e segui direto para o banheiro, precisava tomar um banho, sentirme limpa novamente, tirar todo aquele peso que oprimia meu coração e pesava na alma. Uma miríade de sentimentos me tomou naquele momento e senti a dor de ser enganada por anos, de conviver com alguém que não conhecia. De ter compartilhado minha vida com um homem maléfico e peçonhento. Como pude sonhar em casar com aquele ser desprezível?

Entrei no chuveiro totalmente vestida e comecei a esfregar minha pele, queria tirar qualquer vestígio de Enrico. Uma necessidade excruciante de me sentir limpa e livre da nossa história. As lágrimas de revolta e angústias estavam represadas nos meus olhos, não conseguia liberá-las. E o gosto da bile, já subia pela garganta. Sinto as mãos de Tommas tocarem carinhosamente nas minhas costas e me dou conta que nem havia o escutado entrar. Meu alemão percebe que estou passando mal, e me carrega para o vaso

sanitário, ponho para fora tudo que comi naquela tarde. Tom amorosamente segura meus cabelos e meus ombros de modo que não me machuque. Quando levanto a cabeça e fito seus olhos, só vejo tristeza e preocupação. ― Bia, me dê suas mãos. Vamos tirar estas roupas molhadas e voltar para o banho, vou entrar com você. Imediatamente ficamos nus e entramos no chuveiro. Tom me lava com carinho e ternura, sem qualquer intenção sexual. Simplesmente quer que eu relaxe e

me sinta melhor. Fito diretamente seu rosto, e vejo aqueles olhos que me atraíram desde o começo, ao qual me apaixonei à primeira vista, um azul tão vivo e penetrante que me tiravam o fôlego a todo instante. E sussurro aquelas palavras que jamais quis que saíssem da minha boca. ― Não podemos mais ficar juntos, Tommas. Será melhor se afastar de mim. Tom me decepcionado.

fita

confuso

e

― Por que isso, Bia? ― Fala em um sussurro. ― Eu sou uma bomba relógio e para sua segurança, é melhor não estar perto quando ela detonar ― sibilo com a voz rouca e doída de tanta tristeza. Porque está sendo a decisão mais difícil que já tomei na vida. Não posso arriscar perder as pessoas que amo. ― Tom, vou procurar o Enrico e fingir voltar para ele. Talvez isso acalme o ego dele. Vou pedir ajuda da Polícia Federal, posso ser uma isca, mas preciso que esteja longe de tudo isso. Vocês

precisam estar à salvo desse caos ― falo nervosamente. Tommas me lança um olhar reprovador e diz: ― Você só pode ter enlouquecido, se acha que Enrico é tão estúpido de cair neste seu plano descabido. Linda, não seja ingênua, esse cara é um psicopata ardiloso. Nunca vai se deixar enganar por essa recaída repentina, por seu retorno do nada. É óbvio que saberá que há algo a mais nisso. ― Não temos outra saída Tom, vou ter que arriscar. Entenda

que não posso te perder. Apesar de estarmos juntos há apenas dois meses eu te amo. Pode parecer loucura, mas tudo que vivi em quatro anos com Enrico é só uma sombra, perto do que estou vivendo com você. Quando estamos juntos é tão intenso, verdadeiro, profundo. Isso me faz pensar que estive te esperando à vida toda. Digo com olhos cheios de lágrimas, por ser a mais pura verdade e vejo seus olhos lacrimejarem juntamente com os meus. ― Nunca mais diga que vai

me deixar bonequinha. Não quero viver sem você. Entendeu? ― Abaixo a cabeça porque acabei de me declarar e não recebi a resposta que imaginava. Mas aceito, talvez Tom precise de mais tempo para compartilhar do mesmo sentimento. ― Bia, estamos nessa juntos até o final e tudo vai dar certo. Você confia em mim? Fito seu rosto lindo que tanto amo e aceno positivamente. ― Ok. Agora junte suas coisas e vamos para minha casa. Temos um molequinho chamado

Amendoim nos esperando. Quando chegamos ao seu apartamento, Amendoim já nos recebe cheio de alegria e peripécias, trazendo alegria ao ambiente. Aquela noite, graças ao meu pequeno amiguinho, consegui me desligar das minhas angústias e curtir aqueles momentos agradáveis. Pela manhã, Tom me dá os parabéns, afinal, é terça-feira, dia 22, meu aniversário e em seguida me deixa no trabalho, e avisa que terei um segurança me vigiando dentro da academia. Fico surpresa

com isso, mas não reclamo, por me sentir mais segura. Afinal aquele ambiente é cheio de pessoas desconhecidas, entrando e saindo. Melhor nos precavermos. Durante o dia fico ansiosa, por saber que meus pais estão chegando na hora do almoço. Por volta das 13 horas, papai me liga avisando que estão a caminho do hotel, sinto-me aliviada por chegarem bem. Apesar de não estar no clima para comemorações, faço força para não ser a estraga prazeres da minha família. E fico matutando

onde posso levá-los. Faço algumas pesquisas pela internet pelo meu celular e decido por um restaurante de frutos do mar próximo a lagoa Rodrigo de Freitas. Nada muito caro, porém é sofisticado e bem frequentado. Recebi abraços e beijos dos colegas de trabalho e do meu querido chefe, Tony, que deu um vale presente de uma loja de maquiagens importadas caríssima no shopping. Oba, sei que farei à festa com este cupom. Ao fim do dia, estranho Carol não ter que ligado para me cumprimentar.

Talvez aquela doida, na correria, tenha esquecido. Descido mandar uma mensagem a lembrando, mas não obtenho retorno. Quando estou descendo a escada em direção à saída, sou abordada pelo segurança que avisa que Tommas irá se atrasar e que me levará para casa. Nossa, que estranho. Tom atrasado e Carol sumida, bem no dia do meu aniversário. Mas penso que só pode ser alguma coincidência. E sigo de carro com o novo segurança, que por sinal é um rapaz bem gentil e simpático.

Agradeço à Deus, por não ser alguém fechado e sisudo. Quando chego em casa, nenhum sinal dela e começo a me preocupar com sua ausência. Mando uma nova mensagem e resolvo falar com a minha mãe. Combinamos que meus pais irão passar no meu apartamento para me buscar e de lá seguiremos para o tal restaurante. Pelo menos eu consegui falar com os dois sumidos. Tomo um banho de 30 minutos bem relaxante, passo um

bom esfoliante na pele. De modo a deixá-la macia e sedosa. E sigo para o quarto para escolher uma roupa bonita para esta noite. Resolvo usar um vestido curto e de alças colorido, que é justo no busto e desce rodado da cintura para baixo. Com este calor de dezembro é impossível colocar roupa com muito tecido, tudo deve ser leve e fresco. Faço uma maquiagem mais pesada nos olhos e clean na bochecha e lábios. Quando estou no espelho admirando meu visual, meu celular toca e vejo que finalmente Carol

deu sinal de vida. ― Oi, Bi. Desculpe por ter sumido o dia todo, mas meu plantão foi a maior loucura. Tive problemas o dia inteiro e mal consegui parar para almoçar, amiga. E desce que estou te esperando aqui embaixo. Acho estranho que ela não tenha subido para se arrumar e questiono. ― Ué, você não vai subir para se arrumar, Carol? ― Na verdade, eu fiquei com medo de acontecer algum problema e trouxe uma roupa para sair. E

quando meu plantão terminou, tomei banho e me arrumei no hospital mesmo. Mas chega de conversa que estou te esperando. Desço na mesma hora e resolvo esperar meus pais lá embaixo junto com a minha amiga. Assim podemos conversar um pouco, já que não estamos nos vendo sempre. Quando chego, Carol está deslumbrante com um vestido azul curto de manguinha e um decote v nas costas, que sei que irá arrasar esta noite. Assim que me avista vem na minha direção e me abraça

calorosamente. ― Parabéns, amiga. Te desejo muita saúde, paz, amor e felicidade. E digo que tenho fé, que todos os seus problemas irão se resolver. Sorrio por saber que todas as suas palavras são sinceras e do fundo do coração. Carol é sempre muito positiva e isso neste momento me faz bem. Minha amiga ajeita sua roupa e diz. Chegou uma encomenda para mim e o pessoal deixou guardado ali no salão de festas, vamos lá

buscar e portaria.

voltamos

aqui

para

E seguimos conversando para parte de trás do condomínio, quando chegamos à porta estava fechada e tudo escuro. Carol mexe na maçanete que abre na hora e de repente escuto um monte de gente gritando surpresa e à luz se acende. O salão estava completamente enfeitado e tudo de extremo bom gosto, estou perplexa por nunca imaginar ter uma festa surpresa. E começo a olhar para todos os lados e de cara já vejo meus pais. Corro e os abraço, de

modo a matar a saudade de tantos dias sem vê-los. Logo em seguida vem novamente meus colegas de trabalho e amigos me abraçarem. E tudo se torna uma verdadeira bagunça e caos. Todos querem falar ao mesmo tempo e me cumprimentar. Passados alguns minutos de confusão, uma mão passa na minha cintura e sinto seu perfume cítrico amadeirado. Não preciso vê-lo para saber de quem se trata, fito o rosto de quem tanto amo na minha frente. Está lindo com uma calça jeans escura e uma camisa verde musgo de manga

dobrada até os cotovelos. Seu corpo alto e atlético é de parar o trânsito e percebo o quanto sou sortuda por estar ao meu lado. Tom, sem a menor vergonha me beija na frente de todos e fico vermelha como um tomate, por meus pais estarem no mesmo recinto e presenciarem tudo. Então escuto um pigarro, olho para o lado e seu Marco Antônio com seu belo sorriso, estende a mão para Tommas. ― Prazer rapaz, sou Marco Antônio, seu sogro.

Tenho um acesso de riso de ver meu alemão sem graça, e não saber como agir.

Capítulo 19 Tommas, na mesma hora estende a mão para meu pai e vejo que se recompõe rapidamente. Apesar de saber que meus pais viriam para passar esta data comigo, acredito que meu alemão não esperava ser confrontado de maneira tão direta, mas este é o estilo do seu Marco Antônio. Direto ao ponto, porém fico tranquila. Pois meu pai é educado, brincalhão e de bom coração. Jamais seria rude com Tom sem motivos. Sei que está fazendo isso

para testá-lo. Para checar se realmente é um homem de verdade, ou um bebê chorão, que irá correr na primeira pressão. ― Prazer Marco Antônio. Meu nome é Tommas Krause e sou namorado da Bia ― diz meu alemão com seu português cheio de sotaque, mas de maneira firme e forte. Vejo que papai sorri, pois Tom passa no seu primeiro teste. Com certeza sua resposta o agradou claramente. ― Oh, vejo que temos um

gringo na família agora. Mas me diga, de onde você é Tommas? ― Sibila divertidamente, adorando a nova descoberta. Percebo que Tom relaxa pelo tratamento tão descontraído do sogro. ― Sou alemão. Nascido e criado em Frankfurt. Mas falo português, porque minha mãe é brasileira. Papai solta uma gargalhada daquele seu jeito tão peculiar, feliz e fala: ― Bia, minha filha, dessa vez

você se superou. Um alemão? Tom sorri também, porque percebe a maneira brincalhona de agir do meu pai e logo os dois engatam em uma conversa descontraída, no qual papai relata sua ida até a Alemanha a trabalho. Mamãe logo aparece ao meu lado e vejo que olha de maneira curiosa para Tommas. Aguardando ser apresentada. Papai mais que rápido já os introduz a conversa. ― Vida... Esse rapaz bonito e bem-apessoado é nosso genro. Se

chama Tommas. Mamãe me lança um olhar interrogativo e apenas dou um sorriso amarelo que diz, que em outro momento conversaremos melhor. Por ser extremamente educada, assenti e cumprimenta Tom, de modo afável e polido. Pressinto que primeiro quer conhecê-lo antes de ser muito falante. Dona Patrícia, ficou imensamente arredia, após todos os problemas que tivemos com Enrico. Acho que prefere que as ações digam mais do que meras palavras bonitas.

― Olá Tommas, como vai? Meu nome é Patrícia. Tom muito esperto, já a elogia para ganhar alguns pontos com a sogra. ― Nossa, diria que vocês estão mais para irmãs, do que mãe e filha ― e imediatamente o rosto de mamãe se ilumina, como uma árvore de natal. Papai também está todo cheio com este comentário tão galante. Tenho que admitir, este alemão sabe como ganhar as pessoas. Em

poucos

minutos

nos

encaminhamos para uma mesa que foi reservada para nossa família e trato de matar a saudade e aproveitar cada segundo. Papai está muito curioso para saber detalhes do meu relacionamento com Tom e desanda a esquadrinhá-lo. ― Então como vocês se conheceram? ― Murmura Marco Antônio em seu melhor modo detetive. ― Foi em uma apresentação de dança pai. Tommas era um dos patrocinadores do evento e também

é amigo pessoal do meu chefe ― percebo surpresa e apreensão nos seus olhos. ― Então, você é empresário, Tommas? ― Começo a olhar para papai e demonstrar que todo aquele interrogatório já está ficando um pouco incômodo. Mas ele finge que não percebe. ― Sim. Minha família tem estaleiros espalhados por vários países. E meu pai conheceu minha mãe, quando meu avô estava montando um empreendimento aqui no Rio.

― Então sua mãe é carioca?! ― Sibila mamãe toda empolgada com a história romântica dos pais dele. ― Bem os homens da minha família gostam das brasileiras ― faz esse comentário e pisca para mamãe. Vejo ela se derreter toda e penso. Pronto já ganhou mil pontos com a sogra. Em pouco tempo, engatamos um assunto agradável em nossa mesa e a todo instante, alguém vem nos cumprimentar ou conversar conosco. Aproveitei e apresentei Tony para meus pais e de cara já vi

que ali nasceu uma amizade. Marco Antônio com seu temperamento descontraído e brincalhão, e mamãe cheia de meiguice e doçura sempre ganham novos adeptos. E enquanto todos interagiam fiquei observando e analisando. Que se não houvesse a ameaça de Enrico, hoje, minha vida seria perfeita. Com um namorado lindo e que está me oferendo um futuro promissor e pais maravilhosos que me apoiam a todo instante. Mas a realidade era bem outra, e por trás de todos aqueles momentos descontraídos, havia uma ameaça viva e latente. E a panela de pressão podia explodir

a qualquer momento. Mamãe que me conhece muito bem percebe que estou ausente e distante. ― Filha está tudo bem? Você parece um pouco desanimada ― sussurra olhando nos meus olhos. Tento disfarçar, pois não quero acabar com a comemoração daquele dia. ― Só estou cansada mãe. Hoje o dia foi puxado, e estou ensaiando para o aniversário da cidade, junto com as minhas aulas. Parece que meus músculos estão um

pouco fadigados. Dona Patrícia me olha desconfiada e apenas sorri. Não sei se consegui enganá-la, mas hoje não pretendo sabotar nossa linda comemoração, com revelações devastadoras. ― Bom você vai trabalhar mais dois dias e depois é natal. Aí terá alguns dias de descanso até semana que vem ― aceno positivamente, porque realmente esses dias servirão para um pequeno descanso. Nesse momento, Tommas faz

um convite surpreendente que me deixa de pernas bambas. ― Vocês já têm programado para o natal?

algo

Meu pai responde que talvez passássemos na casa dos pais da Carol, mas não confirmamos ainda. ― Que tal vocês passarem o natal na casa dos meus pais? Eles costumam passar o fim de ano no Brasil e adoram dar festas natalinas. Seria um prazer recebêlos. Olho imediatamente para papai a procura de sua aprovação

ou reprovação. Porque afinal eles vieram ficar comigo e prefiro que eles decidam onde. Seu Marco Antônio, me fita com seus lindos olhos castanhos, cheios de carinho e compreensão e sorri. ― Claro Tommas. Adoramos festas de natal, podem contar conosco. Tom em seu modo power simpático, sugeri que devido a hora já estar bem avançada, deveríamos cantar parabéns e cortar o bolo. Mas tímida, como sou, tento

sair pela tangente e me esquivar deste mico. Porém ninguém me deixou pular esta parte. Todos protestam e gritam ao mesmo tempo. Totalmente sem graça me prostro de frente do bolo com meus pais ao lado e espero toda aquela bagunça de gritos e palmas acabar. Tommas está bem a minha frente do outro lado da mesa e sorri escancaradamente do meu constrangimento. Quando o bolo começa a ser servido. Resolvo matar a curiosidade e pergunto a papai se

foi sua ideia à festa. Ele sorri e acena negativamente. Na hora fico intrigada, porque se não foi meu pai, quem fez aquela festa tão bonita e cheia de elegância? Nota-se que o buffet foi de muito bom gosto. Toda a decoração em branco, dourado e Rose. E arrisco a dizer, que até lembra uma festa de casamento. E mais que depressa me conscientizo que pelo grau de elegância, deve ter sido feita pelo meu namorado. ― Tom, foi você quem fez

tudo isso? ― Meu gatinho me olha e apenas sorri de lado. Não posso acreditar, no tanto de dinheiro que está gastando comigo. ― Amor a gente podia ter saído para Jantar. Não precisava ter gastado uma fortuna fazendo festa. Pelo jeito, meu comentário não o agradou, porque na hora fechou a cara e bufou. ― Bia, pode acreditar que não ficarei pobre com estes pequenos agrados. E por favor vamos deixar está besteira de lado.

Hoje é dia de comemoração. Reviro meus olhos, porque brigar com este teimoso, é pura perda de tempo, pois no final, ele sempre tem a última palavra. Ficamos rodando pelo salão conversando com alguns colegas de trabalho e já era quase 22:00 horas. Quando o porteiro veio me avisar que havia uma encomenda na portaria. Me dirigi até lá e havia um lindo arranjo de flores. Que aliás, posso afirmar que são bem exóticas. Há um suporte de bambu com orquídeas, gérberas e lírios, e todos na cor amarela. O mesmo está

decorado de maneira que a flores se entrelaçam entre sim. Realmente este buquê é um arraso. Já desconfio que isto seja coisa do meu namorado, que gosta de gastar. Sinto-me abençoada, por ter alguém tão especial e zeloso comigo. Que se preocupou em me fazer feliz, em um momento tão difícil e que está sempre atento a todos os detalhes. Imediatamente vou à caça do famoso cartão, com a curiosidade à flor da pele. E neste instante escuto um celular tocando e fico procurando de onde vem o som. Rapidamente percebo que dentro do

cesto de bambu a um celular preso junto às flores. E sorriu da peripécia do meu alemão, este homem não tem limites mesmo. Mais que rápido atendo a ligação sorrindo. ― Fale querido, já recebi suas flores e são realmente lindas. ― Que bom que você gostou, Bianca e ah... Feliz aniversário, meu amor. Você não pensou que eu tinha esquecido esta data tão especial, não é? ― Ele grita bem alto para que não deixe de escutar. ― Bianca você não tem saída. Eu vou conseguir te pegar, nem que

seja a última coisa que eu faça ― desligo na mesma hora, com o desespero percorrendo as veias. Naqueles segundos sinto todos os pelos do braço se arrepiarem e a vertigem toma conta da minha cabeça, apoio-me no balcão do hall de entrada, para não desmaiar. Quero gritar para aquele diabo me deixar em paz, mas minha voz está presa na garganta sem ter para onde ir. A sensação de claustrofobia toma conta de mim e sei que estou a caminho de uma crise emocional, algo que nunca pensei que ia desenvolver. Arrasto-

me de volta ao salão de festas, respirando com dificuldade. Preciso sentar para não desabar e a primeira pessoa que vejo logo na entrada é Carol, que vem em meu auxílio. ― Que foi Bia? Você está branca. ― Preciso sentar Carol, vou desmaiar ― e tudo fica escuro.

Capítulo 20 Desperto desorientada e sem entender o que estava acontecendo. Noto que não estou mais no salão de festas e sim deitada no sofá da sala de estar do apartamento da Carol. A primeira pessoa que encontro a frente é mamãe. Seus olhos estão vermelhos e inchados. E percebo um misto de preocupação e tristeza enquanto me fita. Após alguns segundos vejo que estou rodeada de pessoas. Tommas, papai, Carol e Tony. Todos demonstram ansiedade para

entender o motivo do meu desmaio e logo sou interpelada por meu namorado. ― Bia, você está se sentindo melhor? ― Aceno positivamente, porque após aquela adrenalina de falar com Enrico, e estar aqui na casa da minha amiga a salvo, me deixa com uma leve sensação de segurança. ― Mas o que aconteceu, querida? ― Questiona mamãe, com extrema meiguice. Não sei o que dizer, porque meus pais ainda não sabem da

perseguição do meu ex-noivo. E meu olhar para Tom diz tudo e vejo que se remexe desconfortável. ― Bia, pode falar o que aconteceu, porque acabei de contar tudo aos seus pais. Fico brava com sua revelação, eu mesma gostaria de ter contato a minha versão para eles. Mas entendo a atitude de Tommas e não o condeno. Abaixo meus olhos me sentindo envergonhada por todo o desgosto que darei para Marco Antônio. Mas tento concluir meu pensamento.

― Acabei de receber um arranjo de flores na recepção e no cesto de bambu tinha um celular amarrado. No começo achei que fosse uma surpresa de Tommas. Mas quando o celular tocou e atendi ― sinto a emoção aflorar em meus olhos, que ficam marejados. ― Era a voz de Enrico, que me avisou que mais cedo ou mais tarde, vai conseguir me pegar. Tommas segue em minha direção, com os olhos flamejando de ódio. ― Cadê este arranjo, Bia? ― Sua voz rouca ecoa pela sala,

tentando disfarçar sua ira. ― Está na portaria. ― Vou lá buscá-lo. Esperem aqui. Nesse ínterim, papai que está em um canto sentado, fica me observando com extrema cautela. E percebo certa amargura em sua feição. ― Filha, por que você não nos contou o que estava acontecendo? ― Envergonhada com seu questionamento, porque tudo que escondi foi para não os preocupar.

Respiro fundo, para explicar meus motivos. ― Pai, eu sei que estou errada de esconder de vocês o que estava acontecendo. Mas tudo que fiz, foi evitar mais aborrecimentos. Vocês não merecem sofrer, devido uma má escolha. Entenda que por minha culpa, Enrico entrou em nossas vidas, e vocês não podem ser penalizados por isso. Papai se aborrece com minha afirmação e se senta à minha frente. ― Filha, você é o nosso maior bem. Não há nada material

que nos seja mais importante. A sua felicidade e segurança, é tudo que nos importa. Se algo de ruim lhe acontecer, nós não sobreviveríamos a isso. E estou realmente desesperado com o que está acontecendo. Confesso que tenho vontade de vender tudo e sumir com você pelo mundo. Mas diante das notícias que recebi, sei que de nada adiantaria. Porque aquele escroto, provavelmente tem bons relacionamentos em outros países e pode nos rastrear facilmente. Marco Antônio se sente como eu, de mão atadas.

No mesmo instante a porta se abre e Tommas volta com o celular na mão, com uma expressão fechada e aborrecida. ― Vou ligar para o número que Enrico usou, e lhe dizer umas boas verdades ― fico em pânico com esta possibilidade. Porque não quero irritar ainda mais este nojento. ― Tom, por favor, não faça isso. Só vamos irritá-lo ainda mais ― sussurro em forma de suplica, para que ponha a mão na consciência.

― Eu pouco me importo que este desgraçado se sinta ultrajado. Se fosse homem de verdade, viria pessoalmente me confrontar. E não ficar se escondendo pelas sombras como vem fazendo. ― Mas eu não quero que nada de ruim aconteça com você, amor. Por favor, vamos deixar isso na mão do delegado ― mas teimoso como ninguém. Me ignora e age de sua própria maneira. No mesmo instante ele faz a ligação e coloca no viva-voz, e escutamos a voz daquele ser tão desprezível, ecoar pelo cômodo.

― Olá, Bia. Não diga que já está com saudade de mim? ― Papai se descontrola e avança para cima do aparelho. ― Escuta aqui seu porco nojento, fique longe da minha filha ou juro que acabo com você, nem que seja a última coisa que eu faça. Enrico dá uma gargalhada desprezível e sibila ironicamente. ― Olha a quem temos a honra da presença. Meu amado sogro, finalmente deu as caras. Pensei que nem se importava mais com a filhinha mimada. Afinal, só

quem tem atrapalhado minha vida é o alemão, filho da puta ― Tom anda de um lado para o outro, tentando conter seu ódio e segura o braço do meu pai de modo a chamar sua atenção. Para que o mesmo não pronuncie nada. ― Só vou te dar um recado seu psicopata. Eu espero que a polícia te encontre primeiro, porque se eu o pegar antes, sua sentença será de morte. Vou meter um tiro bem no meio dos seus olhos. Porque tipos como você nem são seres humanos e merecem ir direto para o inferno.

Enrico fica ensandecido com o atrevimento de Tommas e dispara descontroladamente. ― Pensa que eu tenho medo de você seu alemão brocha. Não fui pego até agora e não serei nunca. Tenho dinheiro e influência, e sempre irei me safar de qualquer coisa. E quando menos esperar, terei a Bianca comigo, bem embaixo do nariz de vocês. ― Duvido muito que sua quadrilha esteja com você, enquanto consuma sua obsessão doentia. Tenho certeza que está sozinho nessa loucura. E quando

menos esperar irá cometer um erro e iremos te pegar em cheio. Enrico está descontrolado e grita ao telefone. ― Não sabe com que está mexendo seu desgraçado, juro que irei matá-lo com minhas próprias mãos. Graças a Deus, finalmente finaliza a ligação.

Tom

Fico por alguns segundos tentando digerir toda aquela conversa e percebo que estou suando em bicas, tamanho estresse e medo sobre o rumo que tudo tem

tomado. Mamãe que está ao meu lado e segura minha mão de repente à solta, e olha para todos ao redor. Tom é o primeiro a se manifestar. ― Pelo visto eu tinha razão. Ele está sozinho nessa empreitada e será mais fácil pegá-lo desta forma. Seria bem mais complicado encurralar este doente, se estivesse junto com seus comparsas. Papai que estava em transe, finalmente se manifesta. ― Filha, acho que deve sair do seu emprego e ficar conosco em

Curitiba. Sua mãe está de férias e pode ficar com você em casa. Fico surpresa com seu comentário e perdida em como devo proceder. Tom vem em meu socorro e avisa que devemos ter calma, para não agirmos na febre do momento. ― Marco Antônio, eu tenho uma proposta mais ousada para fazer. Mas claro... Tudo que farei será para segurança da Bia. Meus pais tem uma casa na Itália, na região da Toscana que fica praticamente vazia o ano inteiro.

Acredito que seja uma boa ideia tirá-la do Brasil agora, e torcermos para neste período a Polícia Federal consiga prendê-lo. E fique tranquilo porque teremos cuidado. Me aborreço por estarem decidindo minha vida, como se eu não estivesse na sala. ― Vocês falam como se eu não estivesse aqui. Posso decidir meu destino também? Papai fica bravo com o que eu disse e retruca. ― Bia, tudo que estamos planejando é para seu bem, não seja

ingrata minha filha. Entendo que estejam preocupados, mas quero ter o direito de decidir. ― Pai eu sei disso, mas é da minha vida que estamos falando. Vamos resolver tudo juntos ― Tom me fita com carinho e acena positivamente. ― Pode falar, amor. ― Eu aceito a proposta do Tommas pai. Espero que não fique chateado. Mas vou me sentir mais segura ficando um pouco longe do Brasil e principalmente, não

colocando vocês em perigo. Papai me abraça, sorri e diz que respeita minha decisão e que fica tranquilo porque sabe que Tom se preocupa com minha segurança, mas avisa que irá conosco quando formos conversar com o delegado responsável pela busca de Enrico. Quer ficar por dentro de toda investigação e saber quais providências serão tomadas. E quem se pronuncia logo em seguida é Tony, que se manteve calado e somente prestando atenção a toda movimentação.

― Bia, quando você voltar de viagem, terá seu emprego de volta. Não tenho o que desabonar do seu profissionalismo e nem como pessoa. Sempre será bemvinda na academia e saiba que fará muita falta ― abraço meu chefe com todo carinho e gratidão, por saber que posso contar com sua amizade. ― Obrigada Tony, não sei como agradecê-lo ― ele sorri e aperta meu nariz dizendo. ― Volte logo ― sorrio de volta e aceno positivamente.

Então Tommas anuncia que após o natal partiremos para Toscana para o nosso novo refúgio e sinto meu coração acelerar com medo do desconhecido. Meus pais voltam para o hotel. Tom e eu, seguimos para sua casa e nosso ninho de amor. Fico brincando com Amendoim tentando me distrair de todo aquele furacão que se abateu em minha vida. Mais uma coisa eu prometi a mim mesma. Lutar até findar todas as minhas forças. Enrico não ia destruir minha sanidade e nem minha felicidade. ― Amendoim, vamos ter que

viajar por uns dias e vou ter que arrumar algum lugar para você ficar. Mas prometo que não vou demorar muito, ok. Vou sentir sua falta molequinho lindo ― ele vem para o colo e dá aquele miado como se entendesse o que estou falando. Dou risada com as peripécias do bichinho. Tomo banho por último e rumo para o quarto, Tom já está deitado. Me aguardando na cama. Nos deitamos um de frente ao outro e ficamos nos olhando com extremo carinho e palavras não ditas.

― Tom, você vai largar sua vida aqui e ficar comigo na Itália. Sei que está fazendo um sacrifício enorme por mim. Às vezes me sinto constrangida de estar atrapalhando seus negócios. Ele faz um carinho no meu rosto, beija meus lábios com devoção e sussurra. ― Faz cerca de 2 anos que não tiro férias e vou aproveitar este período para fazer isso. E o pai de Melanie está no Brasil e pode ficar no meu lugar cuidando da empresa. Só temos que passear bastante e curtir cada segundo, juntos.

Promete que vai tentar esquecer essa confusão? Respondo que sim e ele me abraça novamente. No dia seguinte logo pela manhã, passamos no hotel para buscar meus pais e seguimos para sede da Polícia Federal na avenida Rodrigues Alves no centro. Conversamos com o delegado Bernardo Alvares, que nos deixou a par de alguns assuntos sobre o caso de Enrico e sua ligação com a quadrilha de tráfico humano e nos avisou que a polícia já tinha uma pista quente sobre o paradeiro de

seus pais. Espero que aquele casal de pilantras sejam presos o quanto antes. Saímos de lá sem grandes novidades, mas com a esperança renovada de que a justiça seria feita e algum momento.

Capítulo 21 Após sairmos da sede da Polícia Federal, segui diretamente para academia. Como o expediente seria somente meio período, ia me despedir dos meus colegas de trabalho e levar meus pertences pessoais embora. Tom me deixou na escadaria e seguiu para sala de Tony, para que pudessem se despedir. Quando mencionei para a maioria que estava me desligando da escola, muitos tentaram especular o motivo. Porém fui o

mais sucinta possível e disse que eram por razões pessoais. Augusta estranhou minha partida repentina, mas respeitou minha privacidade dizendo que se precisasse de algo, era só avisar. A despedida mais difícil foi com Bob, porque criamos uma amizade muito verdadeira nesses meses dando aulas juntos. ― Poxa Bia, por essa eu não esperava. Confesso que tinha esperanças que o alemão aprontasse alguma e você me desse uma chance. Mas estou vendo que cheguei tarde demais ― fala de

maneira divertida, descontrair o ambiente.

tentando

― Se Tommas não tivesse aparecido, quem sabe o que teria rolado entre nós ― sussurro segurando sua mão. ― Obrigada por tudo Bob. Pela sua amizade e bom humor. Por ser um excelente companheiro de trabalho. E espero que a gente se veja em breve. ― Você fala de um jeito que parece que está indo embora do Rio. Após seu comentário abaixo a cabeça sem graça, porque não

posso dizer a ninguém os meus verdadeiros planos. Ele percebe meu constrangimento e diz: ― Tudo isso por causa daquele idiota do seu ex-noivo? ― Bob, quanto menos as pessoas souberem melhor. Meu ex é bem perigoso, se sonhar que alguém do meu convívio sabe do meu paradeiro, isso pode acabar muito mal. Ele balança a cabeça em sinal de desagrado e volta a me fitar. ― Bem, te desejo muita sorte

e espero que tudo se resolva o quanto antes. E se voltar para o Rio, apareça para rever os amigos. Abraçamo-nos apertado e digo que sentirei muita falta das suas brincadeiras e piadas. Desço a escada em direção a sala do meu chefe, para me despedir e entregar minha carteira de trabalho. E mais uma vez Tony reforça sua promessa. Que poderei retornar ao trabalho assim que tudo tiver resolvido. O agradeço com o coração partido e lhe digo que amei cada minuto trabalhado naquele lugar. Seguimos para o apartamento

da Carol, de modo a fazer minhas malas e dar feliz natal para minha amiga, afinal passaríamos a virada na casa dos pais de Tommas. Algo que estava me deixando com o estômago revirado de tanto medo e ansiedade. Quando chegamos a sua casa na parte da tarde, Carol tinha acabado de levantar e estava de pijama ainda, mas como uma boa cara de pau, não estava nem aí com a presença de Tom na sala. Nós duas seguimos para o quarto e minha amiga me ajudou a fazer as malas. Ficamos mais de

uma hora conversando sobre o futuro. E o que achávamos que nos esperava. ― Bia, aproveite para descansar e passear. E curta muito seu namorado. Pense que esses dias serão como férias e não que está fugindo de Enrico. Porque se encarar as coisas de forma positiva, tudo no final se ajeita. Deus nunca vai te abandonar e estará sempre ao seu lado. Lembre-se da parábola pegadas na areia. Meus olhos ficam marejados com seu otimismo e aceno positivamente.

― Obrigada por tudo amiga... E saiba que você é minha irmã de alma... Aquela que sempre esteve ao meu lado quando eu mais precisei. Abriu suas portas sem pensar duas vezes, me demonstrando todo carinho do mundo. Te amo muito Carol. E vou sentir saudades das nossas conversar e risadas ― uma lágrima escorre pela minha bochecha e sei que logo vou abrir o berreiro. Carol tão emocionada quanto eu. Pega o celular e de repente começa a tocar See you again do filme velozes e furiosos, que em

minha opinião, é um tributo à verdadeira amizade. Começamos a dançar e chorar na mesma proporção, parecia loucura, mas as lágrimas, não eram de tristeza e sim de saudade, como dizia a tradução da melodia, E lhe direi tudo quando te vir de novo. E aquilo era só um até logo e não um adeus. Tom apareceu no quarto e ficou em silêncio vendo aquela cena tão hilária. Quando nos viramos para porta, ele sorriu, daquele jeito charmoso e disse que nos esperava na sala. Carol mais que depressa o segura pelo braço e

lhe dá um abraço. ― Cuide bem dessa mocinha hein alemão, ou corto seu amigo aí embaixo ― Tom dá uma gargalhada do atrevimento dela. ― Depois dessa ameaça, vou dar o meu melhor. ― Então aproveita e vai levando as malas dessa moça. E Tom sai arrastando minhas duas malas lotadas de roupas e sapatos. Saio de lá renovada, sabendo que logo estarei de volta.

Na quinta-feira, ao anoitecer começo a me aprontar e resolvo usar um vestido acima do joelho, já que Tommas avisou que não será necessário usar longo. Faço babyliss no cabelo, no qual o deixa com cachos bem grossos e definidos, na maquiagem um visual marcado nos olhos e clean no restante do rosto. O vestido tomara que caia todo rendado em preto e branco, fica colado ao meu corpo, mas de maneira elegante e não vulgar. Quando Tom me vê, solta um assoviou e diz que eu estou gostosa naquela roupa. Começo a rir, quando me puxa e tenta levantar

meu vestido, dou uns tapas em sua mão, e digo que pare para não amassar a roupa. Seguimos para casa dos pais de Tom, que percebe que estou calada e e totalmente tensa quando estacionamos. ― Morena relaxa. Meus pais são bem simpáticos e pessoas extremamente simples, aposto que vão adorá-la ― passa a mão no meu rosto de modo a tirar a expressão de tensão e me dá um beijo casto nos lábios. Tento

acreditar

em

suas

palavras e avançamos para à porta da frente. A mansão onde eles moram é espetacular. A casa é rodeada por um jardim lindo e bem cuidado, que exala riqueza e bom gosto. Arrisco a dizer que estou em uma cena de filme tamanha a pompa da propriedade. As portas de vidro são enormes e demonstram a suntuosidade do lugar. Uma empregada abre a porta e sorri para o meu namorado. Tom a abraça e me apresenta. ― Conceição, esta é minha

namorada, Bianca ― a mesma me cumprimenta gentilmente e avisa que seus pais estão na sala de estar. A cada passo dado, me sinto suar por todos os poros e minhas pernas tremem involuntariamente. Sabia que Tommas era rico, mas não imaginava tanto. Agora visualizando a casa da sua família podia mensurar a sua fortuna. Dúvidas começam a povoar minha mente, mas tento jogá-la para o lado, por saber não ser o momento adequado. Um casal mais velho nos

avista e vem em nossa direção. Percebo pela aparência do homem que se trata de seu pai, porque os dois são imensamente parecidos. Já a mulher é morena, de olhos castanhos e extremamente elegante. Eles abraçam Tom e me cumprimentam em seguida. ― Olá Bianca ― diz sua mãe. ― Escutamos falar muito bem de você. Prazer, meu nome é Leila e este é meu marido, Hans ― estendemos as mãos amigavelmente. ― Obrigada e agradeço o

convite para passar o natal. ― Imagina querida, será um prazer receber você e sua família. E falando nisso, onde estão seus pais? ― Eles já estão chegando. Minha mãe teve um pequeno contratempo, coisas de mulher ― vejo que minha sogra acha graça e avançamos para sala onde se encontram outros convidados. De longe noto a presença de Melanie, que me queima com os olhos. Finjo que não a vejo e mantenho meu melhor sorriso no

rosto. Conforme Tom havia me falado seus pais eram simpáticos e hospitaleiros. Leila me apresentou para alguns de seus amigos aqui do Rio e em seguida conheci sua mãe, a avó de Tommas, uma senhora sorridente e bem-humorada como a filha. Até que chegamos ao espaço onde a loira aguada e mais algumas pessoas estavam sentadas. Leila me apresentou a todos, Melanie simplesmente fez um aceno com a cabeça e ao seu lado estava uma mulher que aparentava ter uns 50 anos e também exalava elegância e luxo, me olha de cima abaixo e fez um barulho com a boca, como se

estivesse em desgosto profundo. Senti meu sangue ferver e tive vontade de perguntar qual era seu problema, mas mantive a educação e bom humor. Logo que nos afastamos, Leila me pediu desculpas pela grosseria de sua amiga. ― Bia, desculpe pela falta de educação de Savannah. Ela é amiga íntima da Melanie, e pelo que vejo tomou as dores dela ― sorrio e sibilo. ― Não se preocupe Leila, sei como lidar com a Melanie. Ela

pensa que me assusta, mas pouco me importo com os seus ataques de menina mimada. Leila me conta que gosta de Melanie, mas que sabe que ela não é a pessoa certa para o seu filho, pois é superficial e sem identidade. E que termina sempre fazendo tudo que Tom manda. Penso comigo mesma, ponto para mim. A loira sem graça nem tem a aprovação da sogra. Passados alguns minutos, meu alemão vem me avisar que meus pais estão chegando e decidimos esperá-los na porta de entrada.

Mamãe está esplendorosa em um tubinho preto, com pedras bordadas no busto e papai de calça social e um blazer da mesma cor da calça. Os dois fazem um par perfeito, ficar no chinelo. Ao vê-los sei que esta noite de natal promete.

Capítulo 22 Meus pais quando nos veem na porta, já abrem aquele sorriso costumeiro. Esse casal adora uma festa e um arrasta pé, e não se fazem de rogados quando o assunto é folia. Acredito que puxei deles essa alegria de viver. Mamãe me abraça e cochicha que estou linda nesse novo modelo. Sorrimos em plena cumplicidade e nos dirigimos para entrada principal. Vejo que meus pais passam lentamente pela porta, admirando toda a beleza

minimalista da casa. Marco Antônio assovia e brinca com Tom. ― Vou tomar cuidado para não esbarrar em nada. Eu prometo ― murmura cheio de gozação. Tom que não vale nada, entra na brincadeira. ― Se for um dos vasos preferidos de mamãe, a gente joga os cacos embaixo do sofá ― os dois gargalham de sua piada, e continuamos avançando para a sala. Sinto-me tão feliz, por eles terem vindo passar o natal comigo, e ainda mais agraciada, que estão se dando tão bem com Tom.

Quando Leila nos vê, segue em nossa direção. Faço as devidas apresentações e percebo a simpatia que circula entre eles. Papai com seu jeito expansivo, faz algumas brincadeiras e arranca alguns sorrisos. Mamãe com sua doçura e delicadeza, conquista qualquer ser humano. Imediatamente Leila puxa os dois e começa as devidas apresentações aos convidados. Tommas e eu, decidimos ficar sentados em nosso canto, apreciando a festa que está tão agradável. Trinta minutos depois, todos

voltam ao nosso lugar. Inclusive Hans, que engata em uma conversa com meu pai, sobre um futuro projeto de expandir seu estaleiro. Seu Marco Antônio que trabalha como engenheiro e tem total conhecimento no assunto, dá algumas dicas de melhores construtoras a se contratar. Leila passa a conversar com minha mãe e vejo que se dão bem logo de cara. Tom sussurra no meu ouvido. ― Acho que nossos pais já ficaram amigos ― eu sorrio de poder apreciar esta cena. ― Desde que me conheço

por gente, sempre foi assim. Meus pais adoram festas e se socializarem com as pessoas. No meio dos seus amigos e família, são considerados o casal 20 ― fico refletindo sobre o que acabei de falar. ― Sabe Tom, às vezes tenho medo de casar e ter menos do que isso que eles têm. Eu cresci vendo meus pais se amando e respeitando. Não posso aceitar nada menos do que amor. Tommas sorri e murmura: ― Eu te entendo morena.

Também fui criado no meio de amor de verdade e sempre temi não o encontrar ― sorri maroto. ― Por isso fiquei solteiro até agora. Eu tive dois namoros, mas nenhum foi nada importante. Até por que eu era bem jovem na época e nem tinha maturidade para saber distinguir o amor verdadeiro. Seu comentário aguça a minha curiosidade e fico em chamas querendo saber mais sobre os seus antigos relacionamentos. ― Agora fiquei curiosa. Pode me contar sobre as suas namoradas?

Ele coça a cabeça, demonstrando certo desconforto e depois dá de ombros. ― Nossa, faz tanto tempo, mas vamos lá. O primeiro namoro, eu tinha 17 anos e me engracei com uma garota da minha classe. Ficamos juntos por um ano, mas não foi nada sério, por exemplo, eu nem conheci seus pais. Nós curtíamos nosso tempo juntos na escola. Bom, a segunda foi na faculdade, eu tinha acabado de completar 21 anos, fazia Engenharia Naval e ela Medicina ― vejo que Tom entra numa espiral

de memórias e ficar perdido por alguns segundos em seus próprios pensamentos. Toco em sua mão, o trazendo de volta à realidade. ― Foi a única vez que gostei muito de alguém. Namoramos por três anos, até que terminamos nossos cursos e Irina teve que voltar para sua cidade. Tentamos namorar de longe, mas foi impossível vencer as barreiras da distância. E com o tempo o relacionamento foi esfriando e resolvemos terminar amigavelmente. Percebo que Tom ficou triste

ao comentar sobre esta garota e sinto o ciúme me corroendo pelas beiradas. Mas como sou uma mulher convicta do meu potencial, jogo esse sentimento para o fundo da minha mente, e tento deixá-lo longe da minha cabeça, porque eu quem estou aproveitando estes momentos e não a Irina. Resolvo mudar de assunto. ― Vamos ter que levar bastante roupa de frio, não é? Olhei a temperatura de Florença nessa época do ano e pode variar entre a máxima de 10 graus e mínima de 1, ou seja, vamos passar muito frio ―

sibilo assustada. ― Não é tão frio, morena. Na Alemanha é bem pior o inverno. Os italianos têm sorte que suas baixas temperaturas são bem mais amenas do que no meu país. Fico apavorada e digo: ― Então só irei visitar a Alemanha no verão. Tom aperta meu nariz de forma travessa, falando: ― E se um dia a gente for morar lá? Então, é melhor você conhecer o lugar na sua época mais crítica.

Estou tentando analisar sua frase. Será que isso é um pedido para que eu more com ele? Bom sei lá, vamos deixar o tempo passar e ver no que vai dar. Logo o pai de Melanie chega e Leila nos apresenta. Fico surpresa ao constatar que é um homem educado e simpático, ou seja, totalmente diferente da filha. Minha sogra nos fofoca que Harold namora Savannah, a amiga chata e antipática de Melanie, e que é separado da mãe da megera. Então as coisas começam a fazer sentido e entendo seu comportamento

agressivo para com o relacionamento com Tom.

meu

Com o avançar das horas, minha sogra anuncia que devemos nos dirigir para área da piscina. Onde a ceia será servida. A parte de trás da casa é um espetáculo à parte. Uma piscina olímpica no formato retangular e um espaço coberto e rodeado de pilastras romanas. Tudo de extremo bom gosto. Mais à frente podemos avistar um gramado bem verde e aparado, rodeado por palmeiras e alguns coqueiros. As mesas foram dispostas na área coberta e em

volta da piscina. Jantamos em um verdadeiro clima festivo, Hans e Leila são anfitriões extremamente agradáveis e nos deixaram muito à vontade. Nos sentimos como membros da família e sorri ao perceber o quanto são amorosos com seu único filho. Notei que havia amor de sobra naquele lar e que sempre iriamos nos dar bem, por termos sido criados da mesma forma. Com a chegada da meia-noite, alguns convidados foram se despedindo e o salão esvaziando. Enquanto Tommas leva alguns

amigos até a porta junto com seus pais, resolvo me aventurar até o outro lado da piscina para tomar um ar. O calor de dezembro mesmo à noite, está feroz de suportar. Ouço alguns passos e olho para trás achando ser Tom, mas para minha surpresa é Savannah, que continua a me olhar com extrema arrogância. Finjo que não a vejo e lhe dou as costas, prefiro nem disfarçar que sua presença não é bem-vinda. ― Fico me perguntando o que Tommas viu em alguém tão insignificante como você, que não

passa de uma suburbana, sem sobrenome e sem pedigree. Deve ser sexo mesmo, como Melanie falou. Bufo com seu comentário maldoso e uma fúria assassina me domina, porque realmente estou cansada da loira aguada e seus acessórios indesejáveis. ― Quer dizer que a Melanie pediu para a namoradinha do papai vir me atacar. Que coisa feia, uma mulher na sua idade, fazendo serviço de pombo correio ― começo a rir quando olho para sua cabeça e me lembro de algo muito

engraçado. Ela se irrita com as minhas gargalhadas e murmura: ― Qual a graça, sua morta de fome? ― Este penteado ridículo que fizeram na sua cabeça. Você está parecendo uma cacatua, aquele papagaio de topete. Ela fica vermelha de ódio do meu sarcasmo e tenta me ameaçar. ― Você não sabe com quem está mexendo sua pobretona caça dotes, aproveite enquanto pode, sua boa vida está prestes a acabar ―

sinto um mau presságio com suas palavras, mas não me deixo dobrar. Quando estou para responder tamanho desaforo dessa madame com cara de Botox, vejo de relance alguém saindo das sombras das palmeiras e viro-me de repente. Melanie corre para cima de mim e me empurra para dentro d´agua. Caio como uma ancora dentro da piscina e minha cabeça passa a centímetros da borda de azulejo. Demoro uns segundos para voltar à superfície e quando me dou conta a confusão está armada. Tom pula na piscina para me

ajudar a sair e meus sogros discutem nervosamente com Melanie e Savannah. Tom me senta na borda e começa a procurar por qualquer machucado. Papai e mamãe ficam ao meu lado preocupados com o que aconteceu. Leila perde a paciência com a megera filha e a manda embora de sua casa. Ela grita que está sendo injustiçada, até que Tommas se enfeza e pega Melanie pelo braço a sacudindo freneticamente, cheio de raiva, bravo e com pouca paciência.

― Qual o seu problema sua louca? Eu te avisei que não era mais para chegar perto da minha namorada. E olha o que você fez, tentou machucá-la. Eu perdi o pouco de consideração e amizade que ainda tinha pela sua pessoa. Agora só sinto nojo e desprezo. ― Harold ― Tom se dirige a seu pai, que está pálido e envergonhado com a á filha. ― Quando eu voltar de viagem, quero Melanie longe do estaleiro. Ela que trabalhe em outra unidade, e de preferência que seja em outro país.

A loira aguada se desespera e começa a chorar e se pendurar nos braços de Tommas. ― Me perdoa Tommas. Não percebe que amo você desde adolescente? Sempre fiz tudo que pediu, porque queria agradar. Até coisas que eu não queria eu fiz. Meu alemão cerra o maxilar e fecha o punho de raiva dessa criatura abusada. ― Eu nunca te prometi nada e nem te dei qualquer esperança. Se anulou porque quis, sempre foi sem personalidade e opinião. E nunca

mais chegue entendeu?

perto

da

Bia,

Melanie vem até mim e diz com puro ódio nos olhos. ― Você ainda vai se arrepender de ter nascido, sua vadia. Harold se enfeza e sai arrastando sua filha e a namorada cabeça de cacatua, nos deixando completamente embasbacado com a sandice de Melanie.

Capítulo 23 Fico sentada na borda da piscina assimilando o tamanho das insanidades de Melanie. Arrisco a dizer que essa loira poderia ser parente de Enrico no quesito obsessão. Minha mãe preocupada chama a minha atenção, temendo que eu esteja em choque pelo que aconteceu. Mas a cada dia que passa, sinto-me mais forte e destemida com os obstáculos que tenho ultrapassado. Aquela garota fraca e amedrontada morreu desde que tudo isso começou.

Se Enrico, Melanie e sua trupe, pensam que irão me derrubar, estão redondamente enganados. Envergo-me, mas não quebro, agacho-me, mas não caio. Todos terão uma prova, da força de vontade de alguém que está lutando até o fim por sua liberdade. Não permitirei que ninguém tire meu direito de ir e vir, ou minhas escolhas pessoais. Saio do transe e fito dona Patrícia, que me encara com olhar de compaixão e amor. Não quero preocupá-los e dou um pequeno sorriso, no qual demonstra que estou bem e pronta para outra.

Papai me levante e coloca seu blazer nas minhas costas, em um gesto de carinho e proteção. ― Estou bem papai, foi somente o susto. A única coisa que estou sentindo neste momento é um pouco de frio. Vamos entrar assim posso me aquecer na sala. Leila caminha até nós e diz que irá trazer uma roupa seca para que eu fique confortável. Olho para Tommas, que está com a feição contorcida de ira e percebo que não é um bom momento para que eu fale nada.

Logo minha sogra me traz um vestido e retiro minha roupa molhada. Hans, pai de Tom resolve quebrar o silêncio que se instaurou na sala. ― Marco Antônio, pode ficar tranquilo. Que amanhã mesmo eu converso com Harold que é meu sócio, e tomaremos as providências de mandar Melanie para um estaleiro em outro país e a mesma ficará bem longe da Bianca. Papai acena positivamente, mas suspira. ―

Hans,

acho

pouco

provável que aquela garota sossegue somente com a transferência para outro país. Na minha concepção a tal Melanie é mais perturbada do que se imagina. Tommas, por favor, tome muito cuidado nesta viagem e de forma alguma sinalize onde vocês estão para qualquer pessoa do convívio dela. ― Somente vocês e Carolina, sabem para onde estamos indo. Nem com Harold comentei meu destino ― vejo que meu pai relaxa diante de tal revelação. ― Pai, não fique preocupado,

vamos ficar bem. Não foi o senhor que me ensinou que devo tentar sempre ver o lado bom das coisas? ― Ele fita-me com carinho e ganho um abraça. ― Sei que te criei bem, filha. Para ser uma mulher forte e positiva em todas as adversidades. E confio em Deus, que tudo dará certo ― meu pai encara Tom com atenção e sibila. ― Tommas, agradeço tudo que está fazenda pela Bia. Sei que está abdicando temporariamente da sua vida pessoal e profissional para mantê-la longe dessa sujeira. Só te

peço uma coisa, à mantenha segura. Só ficaremos bem, porque sabemos que o nosso bebê está a salvo daquele doente. Se algo acontecer com ela, não temos mais razão para viver. Meu pai se emociona ao falar dessa forma e vejo que seus olhos estão marejados e cheios de sentimento, mamãe o abraço e logo em seguida estamos em um abraço coletivo. Meus sogros ficam nos observando e sorrindo, presenciando aquele delicioso momento família a se desenrolar.

Decidimos que está no momento de ir embora, porque no outro dia embarcaremos na hora do almoço para Itália. A despedida dos familiares foi um pouco melancólica, mas o até breve foi mencionado a todo instante. E saímos com a promessa de ligarmos assim que colássemos nossos pés fora do avião. Chegamos ao apartamento de Tommas e fui ficar um pouco com o bebezinho Amendoim, sabia que iria sentir muito sua falta. Este pequeno está conosco há pouco tempo, mas já tem lugar cativo nos

nossos corações. Até Tom fica todo derretido com o nosso amiguinho. ― Tom, quem vai ficar com o Amendoim enquanto estivermos fora? ― Já sibilo lembrando que o mesmo precisará de cuidados na nossa ausência. ― A minha empregada virá aqui todo dia para vê-lo e alimentar. Não se preocupe com isso, ok? Aceno positivamente sabendo que será bem cuidado enquanto estivermos fora. ― E aí linda, ansiosa pela

viagem? ― Diz de maneira divertida e tentando pescar se estou bem-humorada, após todo o ocorrido. Sorrio com sua artimanha e dou um beijo bem sedutor em seus lábios. O clima na mesma hora muda e Tom se torna um predador sexual. Nos agarramos freneticamente, como se o mundo fosse acabar a qualquer momento. Saboreio seus lábios de maneira intensa e sinto a necessidade excruciante de recebê-lo no meio das minhas pernas.

Somos só desejo, paixão e tesão. Sem pestanejar, o alemão se apodera literalmente do meu corpo, nos fazendo um só. Seus toques, carícias e loucuras me deixam em êxtase e me perco em nossas peripécias sexuais. Tom me penetra vigorosamente, mostrando o homem viril e animalesco que me domina sexualmente. Olho para aquele gigante delicioso que exala masculinidade e sorrio. Posso dizer que sou a mulher mais sortuda deste mundo. Alcançamos nosso orgasmo juntos e deitamos satisfeitos,

agarrados um ao outro. O cansaço nos alcança e nos jogamos nos braços de Morfeu em um sono pesado e constante. Acordamos por volta das 8:00 horas, porque nosso voo será às 12:00 horas no aeroporto Tom Jobim e com previsão de chegada à meia-noite em Roma. Mas estou tranquila, todas minhas roupas acomodadas na mala, era somente me trocar e ir para o aeroporto. Apesar de toda a situação estou extremamente feliz de poder fazer uma viagem para a Itália com meu namorado. Acredito que este

tempo que passaremos juntos, irá nos aproximar muito e teremos tempo de sobra para nos conhecermos intimamente. Olho para Tom e vejo em seus olhos felicidade e ansiedade para iniciarmos nossa aventura e isso me faz saber que estamos no caminho certo. Ao embarcar fico embasbacada com a primeira classe da companhia aérea. Coisa de filme, poltronas largas e com um estofado bem fofo, no qual há um aparelho de massagem, uau. O espaço entre os bancos é imenso e se reclinam de forma que parece uma cama. Edições de revistas

famosas do mundo o planeta. Jornais importantes como New York Times, entre outros. Mesmo estando em um ambiente apertado, tudo exala luxo e riqueza. Aproveito cada instante, porque sei que jamais teria dinheiro para viajar nesta pompa. Tom me observa atentamente, porque pareço uma criança que está aprendendo a mexer no brinquedo novo. ― Você vai gostar de viajar nesta companhia aérea, o serviço de bordo é excelente e fora que é o menor tempo de voo para Roma.

Fico curiosa sobre quanto tempo passaremos sentados dentro desta cabine e sussurro. ― Quanto tempo de voo até Roma? ― São 12 horas de voo direto, mas tente dormir o máximo que puder, que irá chegar quando menos imaginar. Penso comigo, que 12 horas é muito tempo para ficar trancada no ar e que duvido muito que passe rápido. Como sinto enjoo nos voos, tomo um dramim e caio num sono

bem profundo devido a medicação. Acordo com Tommas me acariciando dizendo que o jantar está sendo servido. Ainda sonolenta tento me situar e escolher uma opção dentre três pratos, decido comer caçarola de carne com molho rôti, purê de batata, legumes e mix de folhas verdes. E para beber tomo uma taça de vinho branco para acompanhar Tom. Tudo uma delícia, tenho a sensação de estar comendo em um famoso restaurante gourmet, só que estamos a milhares de metros do chão. Meu namorado insiste para que eu fique um pouco acordada e faça a

digestão do jantar antes de tirar uma soneca de novo. Noto que as pessoas da primeira classe, não são como eu esperava. Imaginava mulheres cheias de maquiagem e vestidas de maneira impecável, homens elegantes e exalando luxo e requinte. Porém os que circulam a minha frente, são totalmente ao contrário do que sonhei. Todos estão com roupas simples e confortáveis e não passam de cidadãos comuns. Resolvemos assistir um filme de terror e como nossas telas são

separadas, ligamos na mesma hora para que possamos vê-lo simultaneamente. A todo instante aperto a mão de Tommas e em certos momentos fecho meus olhos com medo da cena que se desenrola. Tom caçoa do meu medo descabido e diz que pareço uma criancinha pequena, que não sabe distinguir a fantasia da realidade. Quando o filme chega ao fim, estou de cabelo em pé e com medo até de ir ao banheiro sozinha. Levantamos juntos e ele diz que me espera na porta, para que eu não

fique tão amedrontada. Realmente é ridículo uma mulher da minha idade com medo de levantar sozinha no escuro, em um avião lotado de gente, mas sempre fui assim e dificilmente irei mudar. Voltamos para nosso assento e caio em um sono profundo novamente e assim se sucede por 12 horas continuas, no acorda, levanta para ir ao banheiro, come mais um pouco e dorme novamente. Até que aterrissamos aeroporto internacional

no de

Fiumicino e sei que nossa estadia aqui será algo mágico e inesquecível. Passamos pela alfândega e rapidamente nos dirigimos às esteiras para retirar nossa bagagem. Tom brinca que está começando a achar que me mudei definitivamente para Florença, pelo peso das malas. Quando chegamos ao portão de desembarque, vejo um senhor com uma plaquinha com o nome de Tom escrito e imagino que seja o nosso motorista. Assim que nos aproximamos, ele nos cumprimenta em inglês e nos encaminha para o

estacionamento. Tommas me avisa que ficaremos uns dias em Roma para fazer turismo e depois iremos para sua casa em Florença. Adoro a surpresa e sei que esta viagem promete.

Capítulo 24 O motorista nos deixa em frente a um hotel lindíssimo que segundo Tommas, foi construído no final do século 18 e está localizado perto da Fontana di Trevi, via Veneto e a escadaria da Trinità dei Monti da Praça da Espanha. Fico abismada com a arquitetura antiga e moderna ao mesmo tempo, o famoso estilo do mundo antigo. Apesar de ser à noite, ainda consigo ver várias coisas interessantes e que chamam a atenção na fachada. Um funcionário

vem ao nosso auxilio e carrega as malas naqueles carrinhos dourados, me sinto uma diva de Hollywood. Rapidamente adentramos ao hall e nos dirigimos à recepção para que possamos fazer o checkin. Tom conversa em inglês com o recepcionista e assina alguns papéis de nossa estadia e em poucos minutos somos liberados para subir ao quarto. Agradeço aos céus pela agilidade e pouca burocracia do local, assim nos jogaremos no nosso merecido sono, porque 12 horas de voo, não é para qualquer um. Mesmo sendo de

primeira classe, não consegui relaxar como se estivesse em uma cama bem macia. Quando entro na suíte, fico embasbacada com tanto requinte e luxo. Aprecio cada detalhe ao redor. Um quarto enorme com as paredes em tom bege discreto. E quatro pilastras no estilo romano, posicionadas ao redor da cama, mais a frente há uma sala ampla com um sofá de dois lugares e mesinha de centro. Um pouco ao lado, há um janelão de vidro que no momento está coberto por uma cortina fofa e bem adornada.

Quando deito na cama, posso visualizar o teto cheio de pequenos entalhos feitos em lajotas e pregadas uma ao lado da outra. Realmente a suíte foi decorada para um hotel 5 estrelas. Levanto e me dirijo ao imenso janelão que mostra uma vista de tirar o fôlego, nosso quarto tem vista para um lago imenso e atrás deste lago tem uma pequena floresta, porém por ser à noite, fico com a vista um pouco restrita e decido deixar para ver melhor no dia seguinte. Sigo para o banho e o banheiro não deixou nada a desejar

em relação ao quarto, tudo extremamente bem decorado e com visual romano. Tom me acompanha na banheira e ficamos conversando e relaxando, até que resolvemos deitar, porque o desgaste físico já estava cobrando seu preço. Combinamos de acordar bem cedo, apesar de termos dormido pouco. Iriamos dividir o passeio do Vaticano em dois dias, devido à quantidade de lugares a se visitar. Em Roma está gelado por causa do inverno, a temperatura por volta de 9 graus. Coloco uma meia calça de lã embaixo da calça jeans

e calço uma bota e uma meia térmica. Visto uma blusa de lá bem quente e por cima um casaco bem grosso e reforçado. Um dos benefícios de ter morado em Curitiba é que tenho roupas de frio aos montes e não me espanto com esta temperatura. Tomamos um café da manhã reforçado, pois iremos andar o dia inteiro e tomamos a decisão de pegar táxi em vez de alugar carro. Quando estamos no caminho Tom me mostra alguns lugares da cidade o qual já é sua terceira visita, vejo tudo da janela do carro

e percebo o porquê de Roma ser um destino tão visitado pelos turistas. A cidade é um espetáculo de cultura e história. E sinto-me imensamente agraciada de poder conhecer tudo isso ao lado do homem que estou apaixonada. Tommas é um companheiro espetacular, seu bom humor me contagia. E por conhecer a cidade das viagens anteriores, me mostra tudo que eu nem sonhava em conhecer. Ao descermos em frente ao Vaticano já nos dirigimos a entrada, Tommas estava com os ingressos que foram comprados pela internet. E por ser tratar de uma cidade-estado a segurança é

acirrada, de modo a evitar ataques terroristas. Todos os visitantes são obrigados a passar por um detector de metais e as bolsas por um raioX, mas após estes procedimentos já estamos dentro da praça de São Pedro. E aí começa a viagem cultural. Meu alemão me relata alguns detalhes daquela linda praça e um pouco do que se passou naquele lugar. Tiramos fotos e nos dirigimos à Basílica, este é um dos pontos turísticos mais procurados em Roma e logo mais estará completamente tomado pelas pessoas. Temos que aproveitar enquanto o movimento é devagar.

Antes de adentrar a nave, alugamos um aparelho de áudio que tem tradução para várias línguas, e conforme você avança para cada parte da igreja, ele narra um pouco da história e curiosidade daquela espaço. Foi a melhor ideia que tivemos. A igreja é um espetáculo à parte, por ser o maior edifício religioso do catolicismo e o mais visitado templo cristão do mundo. Avançamos para as duas obras mais famosas que são o Baldaquino e o Trono de São Pedro. O Baldaquino é uma escultura

que fica acima do túmulo de São Pedro que foi um dos doze apóstolos de Jesus e que foi provado estar enterrado neste local e o Trono de São Pedro fica no fundo da Basílica e se trata de outra escultura que remonta a cena de quatro homens segurando um trono e acima deste há várias figuras de anjos voando e o mais impressionante é que tudo que reluz é ouro. Fico embasbacada a fortuna reunida em um só lugar. É espantoso saber que são extremamente antigas e continuarão sendo preservadas para futuras

gerações. Continuamos nossa peregrinação e adentramos a novas salas. Vejo esculturas em mármore, pinturas, vitrais e cúpulas que jamais pude imaginar. E que transpiram história e conhecimento. Tommas levou uma máquina fotográfica semiprofissional e tiramos fotos incríveis, pena que não podemos postar nada nas redes sociais, pois isso anunciaria onde estamos e não podemos nos permitir tal descuido. Encontramos alguns brasileiros em nossa caminhada, mas optamos em ficar em silêncio e seguir nosso passeio.

Gastamos mais de quatro horas para fazer todo este percurso e saímos de lá já na hora do almoço. Estávamos a ponto de desmaiar de fome, porque andamos demais e infelizmente não tive a ideia de levar nada na bolsa para enganar o estômago. Sou uma principiante mesmo. Tom conhece um bom restaurante, que fica cerca de 15 minutos de carro dali e assim pegamos outro táxi, na esperança que o mesmo não esteja tão lotado. Demos sorte que a fila de espera estava minúscula e aguardamos somente cerca de 20

minutos. Ao sentarmos, o garçom vem nos atender e de imediato fazemos nossos pedidos. Para entrada nos servem alcachofras na manteiga e de prato quente comemos risoto de palmito com carpaccio. Fiquei um pouco receosa de comer o tal carpaccio, pois se trata de carne crua, cortada em finas fatias, temperada com molho de mostarda e limão. Mas graças aos céus o medo foi em vão, o prato é bem delicioso. E com a fome que estava comeria até pedra se fosse necessário. De sobremesa degustamos um delicioso tiramisú, que estava de lamber os dedos de

tão saboroso. Resolvemos caminhar pela redondeza e conhecer o bairro. De mãos dadas com meu amor, caminhamos pelas lindas ruas de Roma, conhecendo o bairro. O povo italiano é bem simpático e são muito comunicativos. Tom arranhava um pouco da sua língua local e com isso não tivemos dificuldade em nos locomover. A cidade é limpa e sua paisagem é composta por construções antigas e ruelas de pedra. Boa parte do que vemos nos remete ao charme do século 17 e 18. Estou amando cada minuto nesta metrópole tão rica de

cultura e conhecimento. Como estávamos um pouco cansados pela longa caminhada da manhã, pegamos um ônibus e descemos em frente à Fontana di Trevi, que não estava tão lotada, pela época do ano não ser a mais propícia ao turismo, e fora que é fim da tarde, e o frio já se tornava mais intenso, com a chegada da noite. Ficamos de frente para a fonte e posso contemplar o esplendor da escultura, tão magnifica como tudo que vi até este momento, a Fontana di trevi mede 26 metros de altura e tem como fundo o Palácio de Poli. No seu centro vemos a estátua de

Netuno sobre uma carruagem em forma de concha sendo puxada por dois cavalos marinhos. Há outras figuras importantes na cena das águas, mas não tenho o conhecimento necessário para identificar cada personagem. Faço algo tão rotineiro entre os turistas, jogo uma moeda que segundo a lenda pode me trazer sorte ou me fazer voltar novamente a Roma. Mas como sou uma romântica incurável, prefiro a primeira opção. Fecho meus olhos, fico de costas e mentalizo algo que quero muito, jogo a moeda pelo

meu lado direito. Quando abro meus olhos, Tommas está um pouco a minha frente tirando várias fotos desse momento. Sorrio e fico envergonhada, por ter este ato eternizado pela fotografia e sussurro: ― Sei que sou boba de acreditar nessas crendices sem fundamento, mas gosto de pensar que o Universo está sempre me dando uma chance de ser feliz. Que vou jogar esta moeda, e todas as coisas ruins irão desaparecer e só restará as boas, para que eu possa tocar minha vida ― dou de ombros

pelo que disse. Ele se aproxima e me beija intensamente, demonstrando muito carinho e paixão. ― Eu gosto do seu jeitinho de menina inocente e principalmente da maneira como vê as coisas. Não deixe ninguém apagar a sua luz interior, Bia. Esta chama de bondade é o que mais se destaca na sua personalidade, bonequinha. Eu aprecio muito as pessoas que são autênticas e não se alteram para impressionar ninguém. Suspiro com esse elogio tão

sincera e sei que a cada dia, amo mais este homem.

Capítulo 25 Depois de sua declaração tão carinhosa na fonte, decidimos voltar para o hotel, já era fim de tarde e anoitecendo. Caminhamos cerca de quatro quadras e chegamos ao nosso destino. No caminho conversamos sobre tudo que vimos durante o dia e a grande simpatia do povo romano, que muito se parece com os brasileiros em termos de comportamento espontâneo. Quando chegamos a suíte, vou direto para o banho, apesar de

estar frio, andamos muito e estou me sentindo suada de tanta andar. Logo que saio do banheiro escuto Tom falando ao telefone em inglês e tento aguçar minha audição de modo a escutar a conversa. Sei que não é educado fazer isso, mas estou em uma fase que pouco me importo com etiqueta, e o que vale é matar a curiosidade. Tommas o chama pelo nome e vejo que se trata de um homem, e o mesmo se chama Angelo. Relaxada por saber que não é uma ameaça feminina, saio da sala de estar, e caminho para o quarto. Deixando ele bater

papo. Como não sei o que iremos fazer à noite, coloco o roupão do hotel e aguardo meu namorado voltar para o quarto e resolvermos o nosso próximo passeio. Tom entra no ambiente sorrindo e diz que esteve ao telefone conversando com um grande amigo e parceiro comercial. O Tal Angelo, havia ajudado Tom com alguns negócios no porto de Livorno no qual a família do meu alemão também tinha um estaleiro. E através deste favorecimento nasceu uma grande amizade.

Tommas avança na minha direção, me dá um beijo delicioso de fazer nossas línguas dançarem na boca e pergunta: ― Você já foi em alguma balada gay? ― Comenta com o semblante preocupado, e confesso que não entendo sua reação. ― Nunca fui. Mas não tenho preconceito nenhum, em relação a isso. Mas estou confusa com seu questionamento. Por que está me perguntando isso? ― Porque meu amigo é casado com outro homem e estão

querendo aproveitar a noite de sábado para dar uma esticada em algum clube LGBT. Você tem algum problema com esse assunto? Sorrio e fico feliz que tenha me consultado antes de aceitar, e como sou livre de preconceitos bobos e sem fundamento, digo sim ao convite. ― Claro que aceito amor. Não tenho problema nenhum em relação a isso, tive muitos amigos gays, quando dava aulas em Curitiba e até recebi alguns convites para conhecer algumas baladas do gênero, mas Enrico só

faltava enfartar quando eu tocava no assunto. E sempre deixei pra lá, não queria arrumar briga. Pode contar comigo, diga a seus amigos, que hoje a diversão é garantida. Vejo Tom ficar satisfeito com minha decisão e contemplo orgulho em seus olhos, e diante dos nossos novos planos, me arrumo de acordo com o ambiente que iremos, sei que nas baladas posso usar o que quiser, nada é proibido. Coloco um vestido preto liso, bem colado ao corpo e com um belo decote em V para destacar meus seios. O mesmo fica acima das coxas e ressalta

minhas curvas. Calço um salto alto e abuso dos acessórios, para desviar da simplicidade do vestido. Faço uma maquiagem bem carregada para durar a noite toda e Tommas logo aparece me agarrando e dando leves mordidas no pescoço. ― Olha morena, estou até com medo dos gays decidirem tirar uma lasquinha da minha namorada ― damos risada. ― Você está maravilhosa com este vestido colado. Deixa sua bunda bem empinada e estou com água na boca.

Sua mão não para de apalpar minha bunda e logo se curva para esfregar sua ereção nas minhas coxas. Eu o empurro sabendo que se nos deixarmos levar, não haverá balada alguma nas próximas horas, e sussurro: ― Quando voltarmos, prometo que deixarei você fazer o que quiser comigo. Sei que estou arriscando minha pele, prometendo tal insanidade, mas confio no meu amor, que jamais irá se comportar de maneira ruim comigo. Tom me dá um olhar malicioso e cheio de

promessas e diz: ― Promessa é dívida, Bia. Vou fazer o que quiser e não pode reclamar. Fico com um pouco de receio e aceno positivamente. Como só iremos para a balada por voltas das 22 horas e ainda temos 2 horas pela frente, resolvemos comer no restaurante do hotel que fica no terraço. Logo que chegamos fico deslumbrada com a vista. De lá pode-se ver uma boa parte da cidade e a lateral da Fontana di Trevi. O lugar se torna

único e romântico com tal cenário e juntos desfrutamos de uma comida maravilhosa e requintada. Tive vontade de repetir, porém sei que não seria muito elegante da minha parte. E apesar do frio, não resisti e pedi um gelato de creme brulée. Que foi algo além do imaginado de tão gostoso e crocante. E com barriga cheia e felizes com o nosso programa, partimos para noitada. Ao chegarmos à porta, fiquei um pouco decepcionada, porque a boate parecia um prédio normal de três andares, sem nada de mais. Porém, havia uma pequena multidão

distribuída, na grande fila em sua entrada. Tom sacou o celular e tratou de ligar para seu amigo, a fim de sabermos onde estavam. Segundo Angelo, deveríamos no encaminhar para fila vip e mencionar seu nome, que teríamos à passagem liberada. Estou feliz, porque se fossemos enfrentar aquela fila dando a volta no quarteirão, entraríamos somente à meia-noite. A percepção que tive do lado de fora, mudou completamente, quando pisei no hall do clube. O mesmo por dentro parecia

um castelo medieval, suas paredes eram feitas de pedra e a decoração remetia a um filme de época. Muitos castiçais de bronze e prata com velas acesas. Os lustres também de ferro, porém um pouco escurecidos, adornados com lâmpadas em tom vermelho escuro, para deixar o ambiente mais misterioso. Tecidos brancos, desciam em camadas do teto, tornando tudo mais rústico e com certo ar feudal. Em alguns pequenos palcos, haviam gaiolas gigantes no qual homens e mulheres dançavam, com roupas minúsculas. Observo tudo, com extrema curiosidade e

surpresa, pois jamais imaginei que uma boate gay, pudesse ser tão bonita e de muito bom gosto como aquela. Tom abre caminho com seu tamanho, e segura minha mão de modo a chegarmos à área vip sem qualquer problema. Percebo os olhares gulosos e cheios de desejo de alguns homens para meu namorado, e tenho vontade de dar uma gargalhada, porque Tommas segue sério e de cenho fechado, de maneira a não dar confiança para nenhum cara. Chegamos em uma escadaria larga, e Tom avisa para o segurança

que vamos subir para encontrar com Angelo. A parte de cima não fica para trás do andar debaixo e cada vez fico mais embasbacada com tamanho requinte. Avistamos um cara alto e moreno, meio gordinho, que acena em nossa direção, vejo pela alegria de Tommas que realmente Angelo é um grande amigo. Os dois se abraçam e conversam por alguns segundos e logo Tom me apresenta em inglês, como sua namorada. O mesmo me abraça também e se mostra um cara alegre e comunicativo. Ainda bem que falo inglês, porque não entendo quase nada de italiano e ficaria

voando na conversa. Seguimos para o camarote e vejo que tem alguns amigos de Angelo, que nos apresenta a todos, e para minha sorte, boa parte dos italianos falam inglês, somente dois não entendiam nada do nosso batepapo. A galera era animada e não estava para brincadeira, todos eram gays, então o clima por ali estava bem descontraído e bombástico. Ao descobrirem que eu era brasileira e professora de dança, me fizeram dançar no meio da roda. Não tive como fugir das suas brincadeiras e entrei no clima da alegria.

Quando eu menos esperava, começou a tocar uma música de axé da Daniela Mercury toda remixada, jamais esperei ouvir uma música brasileira naquele lugar e a multidão da boate foi ao delírio. O som era realmente contagiante, e o pessoal não parava de agitar o corpo. Dancei com meus novos amigos até os pés começarem a doer, devido à altura dos meus saltos. Então decidi ficar descalça e aproveitar cada momento. Olho para trás e vejo Tommas em pé sorrindo e fitando aquela cena. Ele vem até mim e diz:

― Fico tão contente de ver você assim. Solta, feliz e despreocupada. Não quero mais ver esses olhos lindos chorando e nem tristes. Prometo que vou sempre te dar motivos para sorrir. Esfrego meu rosto em suas mãos como um gato, necessitando de carinho e Tom me abraça logo em seguida e ficamos em um canto um pouco mais afastado, namorando e curtindo à balada juntos. À noite passou como um relâmpago, mas sei que vai deixar boas lembranças, principalmente

pelos novos amigos que fizemos em Roma, que prometeram nos visitar no Rio no próximo verão. Apesar de ter bebido bastante e ter ficado um pouco alta, ainda estava no pleno controle e fui a primeira a avisar a Tommas, que deveríamos ir embora, pois já eram quatro horas da manhã e se não dormíssemos logo, no outro dia estaríamos imprestáveis e sem condição de fazer qualquer passeio. Nos despedimos e seguimos para o hotel. No táxi comecei a cochilar, pois o cansaço de andar o dia todo, e balada até aquele

horário, começou a cobrar seu preço. Tom sussurra em meu ouvido: ― Pode se animar mocinha. Lembra-se da sua promessa? Olho para ele me fazendo de desentendida. Como se não soubesse o que estava sendo falado. Mas meu alemão não tem nada de bobo e sibila. ― Não mandei você fazer promessas que não podia cumprir, morena. Ficou rebolando essa bunda gostosa no meio do camarote. Agora vai ter que

aguentar toda a minha animação de fim de noite. Arregalo os olhos e tento espantar meu cansaço e penso comigo mesma, que o peixe morre pela boca. Chegamos a nossa suíte e vou direto para o banho tirar o suor do corpo, porque dancei horrores. Quando estou embaixo daquele jato maravilho, escuto a porta do box sendo aberta e sinto o corpo de Tom colado ao meu. Um arrepio corre pela minha espinha e todos os meus pelos ficam arrepiados.

Meu alemão toca meus mamilos que endurecem ao toque, um gemido gutural escapa da minha boca e vejo que isso alimenta o lado selvagem daquele homem. Tom me empurra contra parede do box e pressiona sua ereção na minha bunda e diz com a voz rouca que tanto amo. ― Me provocou a noite inteira dançando sensualmente. Balançou essa bunda gostosa de um lado para outro. Eu estava salivando de vontade de pegá-la. Agora vamos transar até o fim do dia e não tenho pressa para acabar

― fala num sussurro cheio de tesão e luxúria. Sinto-me louca por este homem e sei que no fundo Tommas será minha perdição.

Capítulo 26 Colocando-me de frente, sou empurrada na parede de azulejo, sinto-me arfar de excitação pelo que irá acontecer, sei que meu alemão não irá aliviar para o meu lado, e expectativa é o meu primeiro nome. Fico ofegante e ele se ajoelha na minha frente, enquanto a água quente escorre pela lateral. Todo o meu corpo está sensível ao seu toque, as minhas partes estão em chamas à espera de muita atenção. Ofego

completamente

ensandecida, quando ele passa seu nariz pelo meu sexo, e estou a um passo de enlouquecer só com este gesto. Tommas é um homem experiente e sensual, sabe que me fazer esperar, só irá me deixar subindo pelas paredes. E o mesmo abusa disso. O desgraçado me deixa à beira do precipício, os músculos do meu sexo se contraem de tanto desejo e posso sentir minha umidade escorrendo pelas pernas. Quando estou quase protestando por sua demora, ele finalmente enfia o rosto entre minhas pernas. E sei que minha

consciência e razão, já se perderam em algum lugar do caminho. Sou somente sentidos e tesão naquele momento. Seguro-me no box para não desabar no chão, porque o homem ajoelhado na minha frente me ataca sem piedade e sou massa de sensações sem limite. Uma miríade de sentimentos transpassa minha mente, fazendome ficar fora do meu corpo. Tom me chupa sem parar e sei que estou perto de cair em um torpor sem igual. Um gemido insano escapa da minha garganta e sou tomada por um orgasmo intenso e excruciante.

Ofego sem parar, enquanto ele se levanta com a maior cara de safado satisfeito. Fica em pé com toda sua altura, e percebo o quanto sou pequena diante deste gigante do prazer. Segura-me pelo quadril e impulsiona para que eu suba no seu colo e mesmo molhados, nos carrega até o quarto, em silêncio absoluto, como se não me desse permissão para falar ainda. Seu jeito mandão e dominador deixa-me nas alturas. Nunca pensei em me apaixonar por alguém assim, que toma tudo para si e te faz sentir tão

viciada e sem controle do próprio corpo. Tom caminha até uma gaveta na qual estão alguns dos seus objetos pessoais e retira um vibrador de plástico transparente, arregalo um pouco os olhos e certo temor toma conta da minha mente naquele instante. Nunca fui de usar estes brinquedinhos, e fico temerosa sobre como ele irá manuseá-los. Mas ao mesmo tempo tento relaxar e curtir o momento sem preconceitos e com a cabeça aberta à novas experiências. Avança em minha direção com o andar de um predador felino e fico hipnotizada com tamanha beleza e

masculinidade. Tommas é um exemplar que exala testosterona por todos os poros e te faz pensar que tirou a sorte grande de tê-lo como namorado. Olha em meus olhos e diz: ― Ainda está com sono, morena? ― Fala de maneira sacana, sabendo que o sono foi embora há muito tempo. Sorrio de maneira sensual e respondo:

bem

― Um pouco... Mas tudo depende de você fazê-lo ir embora ― vejo seus olhos brilhar pelo

desafio, e sei que estou mexendo com marimbondo africano. Tom abre minhas pernas e puxa meu corpo para ponta da cama e continua de pé, me fitando como se eu fosse um manjar delicioso que está à disposição para ser degustado. ― Já usou este brinquedinho alguma vez, Bia? ― Aceno negativamente, pois não pretendo ficar dando muitos detalhes sobre minha antiga vida sexual com o Enrico. Tommas

sorri,

como

se

lembrasse de alguma piada e sussurra: ― Ótimo! Quero ser o primeiro em muitas coisas em sua vida e te garanto que irá adorar esta nova experiência. Vou te vendar para que sinta as coisas mais intensamente e se houver algum desconforto, me avise, Ok? Digo que sim e fico em plena expectativa de sentir coisas novas e prazer em dobro. Logo em seguida ele coloca uma máscara preta com elástico e já não posso ver mais nada, fazendo

o sentido do tato ficar mais aguçado. Estou em alerta e suspiro em meio da expectativa. Tom passa algo viscoso e gelado no meio das minhas pernas e suspeito que seja algum gel para aumentar o prazer, porque logo em seguida, sinto meu sexo esquentando. O barulho do vibrador ecoa pelo quarto e mexo-me sem parar aguardando o brinquedo ser introduzido. Quando penetra e começa a vibrar devagar, sinto um pequeno desconforto, mas nada ruim, passados alguns segundos Tommas começa a beijar-me e

apertar meus seios e quando menos espero, o vibrador é colocado na potência máxima e tudo ao meu redor começa a girar. Fico ensandecida com tanto prazer, o vibrador, juntamente com os beijos de Tom me tiram do eixo. Meu alemão se esfrega no meu corpo de maneira frenética e entro em uma espiral de sensações sem igual. Chego ao limite e novamente tenho um orgasmo fenomenal. O cansaço começa a cobrar seu preço e o desgaste quase chega a me apagar por um momento. Apesar de não enxergar nada,

pressinto que Tom me observa e ainda não sei qual será seu próximo passo. Ele levanta da cama, escuto alguns sons e logo o colchão cede novamente, suas mãos arrancam a mascará e ele fala bem rente ao meu ouvido: ― Fica de quatro Bia e vira de frente para o closet ― vejo que ele abriu as duas portas do imenso closet que temos na nossa suíte e lá há dois espelhos gigantes e podemos ver perfeitamente nossas imagens. Confesso que sempre tive um fetiche de me ver transando e

com aqueles espelhos enormes a cena será bem interessante. ― Você está tomando remédio? ― Respondo que sim e ele sibila. ― Não quero mais usar camisinha morena. Tem algum problema para você? ― Não tem problema amor e não tenho nenhuma doença também. Antes de vir embora de Curitiba fiz todos os exames de DST e estou limpa. ― Mantenha seus olhos bem aberto enquanto eu te como e não feche em nenhum momento,

entendeu? ― Adoro sua voz rouca e autoritária, e todos os pelos do meu corpo se arrepiam mediante aquele homem visceral e animalesco. Tommas me penetra de maneira certeira, puxa meu cabelo para trás sem piedade e estou entregue a toda a sua luxúria e desejo desenfreado. A cama parece que irá se partir ao meio, o suor escorre pela barriga e costas. A cena que se desenrola através do espelho é algo lindo e extremamente erótico, um casal se amando profundamente, sem

amarras e inibições. Um homem viril e robusto no auge da sexualidade em seu modo predador, subjugando sua fêmea no cio. Meus olhos estão vidrados na nossa imagem. E começo a ficar fora de mim novamente. Tenho medo de ter outro orgasmo e desmaiar de tanto cansaço. Tento me manter fria e no controle das sensações, mas está bem difícil. Começo a sentir aquele tremor tão conhecido novamente e sei que o prazer irá me rasgar. Meu alemão percebe que estou chegando perto novamente e acelera. ― Isso morena, se entrega

bem gostoso para o teu homem ― e seu sussurro é minha perdição, me agarro ao prazer pela terceira vez e fico totalmente destruída. Tommas goza logo em seguida, gemendo alto e forma gutural nas minhas costas. Desabamos na cama e ficamos colados por algum tempo. Tom levanta e me pergunta se quero tomar uma ducha, afinal, estou toda melecada, mas meu cansaço é tanto, que escuto sua voz lá no fundo e apago em pouco segundos. No dia seguinte, acordo com meu amor grudado nas minhas costas. Adoro dormir de conchinha,

é tão romântico. Mas a necessidade fisiológica fala mais alto, e tento sair da cama sem acordá-lo, afinal, dormirmos já praticamente com o dia amanhecendo, e vejo que está em um sono profundo ainda. Avanço para o banheiro, faço minha higiene íntima e tomo uma ducha bem quente e gostosa. Visto o roupão felpudo do hotel e saio para o nosso quarto. Vou atrás do celular e vejo que são meio-dia. Nossa, apagamos totalmente e hoje praticamente é um dia perdido. Provavelmente ficaremos como duas preguiças na

cama. E algo engraçado veio a minha mente, lembrei-me da preguiça gigante do filme a Era do Gelo. Hoje nós dois seremos dois Sids, com a bunda preguiçosa o dia todo no quarto. E começo a rir sozinha da minha besteira e quando olho para cama, Tom está acordado me olhando e sorrindo. ― Está louca, rindo sozinha? ― Começo a gargalhar imaginando aquele homem delicioso no papel de Sid, aquela preguiça desengonçada e feia. Mas que ao mesmo tempo é tão divertida. Pulo na cama subindo em

cima do seu quadril e digo: ―

Bom dia Sid. Dormiu

bem? Ele junta a sobrancelha em meio à dúvida e confusão, tentando entender do que estou falando. ― Não lembra do personagem desastrado da Era do Gelo, a preguiça gigante? Ele finalmente mata a piada e sorri. ― Mas por que sou o Sid? ― Não é só você, somos nós dois, porque vamos ficar como

duas preguiças gordas aqui no quarto o dia todo ― ele gargalha com meu comentário. ― Você não existe, Bia, mas amo esse seu jeito sapequinha de menina. Fico toda cheia com seu elogio e começo a beijá-lo sem parar. E ele diz que precisa ir ao banheiro, mas aviso que para levantar tem pedágio. Precisa me beijar dos pés à cabeça. Sua fisionomia já se altera e vejo que entra no modo safado novamente. Que criatura insaciável,

não se cansa nunca, para minha alegria. Começa a beijar meu pescoço e vai descendo. Quando chega a minha barriga, tomo um belo de um susto, suas cocegas me pegam de surpresa e me lanço para frente, nos fazendo rolar e cair da cama. Demos muita risada na nossa peripécia e tratamos de voltar para nosso ninho de amor, sabendo que o dia seria muito longo e cheio de deliciosas brincadeiras. Depois que Tom voltou da sua chuveirada, combinamos de sair à noite para jantar e ele me

avisa que no outro dia pela manhã, precisa passar no escritório de Angelo para acertar algumas coisas pertinentes ao estaleiro do porto de Livorno, mas diz que posso ir com ele, porque será uma reunião bem rápida e depois ficaremos com a tarde livre para nos divertirmos. Ficamos agarrados o dia todo assistindo a alguns filmes e em certas cenas picantes, resolvíamos recriar as mesmas em nossa cama. Tirando uma tarde inteira para maratona sexual.

Capítulo 27 Após jantarmos no restaurante do hotel, resolvemos dar uma caminhada nos arredores e fazer a digestão do que comemos. Roma por ser a capital, é considerada uma cidade bem agitada para os italianos. E podemos comprovar isso pela quantidade de bares e restaurantes, que vimos em nosso percurso. À noite romana fervia em quanto caminhávamos pelas estreitas ruas de pedra do velho continente, a qual nos impulsionava a querer

ficar ainda mais, curtindo a euforia noturna deste povo tão simpático e comunicativo. Mesmo com o frio beirando os 10 graus, isso não tirava a determinação dos jovens e turistas de aproveitar mais uma noitada na bela metrópole. Sentamos em um bar cheio de mesas e cadeiras na calçada, para tomar uns drinques e espantar o frio que teimava em se instalar no corpo. Tomamos uma bebida típica chama Aperol spritz que nada mais é, do que licor de laranja, com vinho branco, água tônica e uma fatia de laranja. E

apesar da mesma ser bem forte, posso dizer que aprovei veemente. Pois o sabor era doce e cítrico ao mesmo tempo, e totalmente diferente de qualquer drink que já tenha experimentado. Gostei logo de cara, mas não abusamos na dose, pois no dia seguinte, eu acompanharia Tom até o escritório de Angelo e de lá, eu ficaria fazendo um tour pela redondeza, até que a reunião dos mesmos chegasse ao fim. Ou seja, teríamos que acordar cedo e não seria nada inteligente, enchermos a cara logo na véspera.

Enveredamos no assunto Angelo. E Tommas me atualizava sobre o imenso carinho que nutria pelos pais e tios de seu amigo. Porém pontuou com desagrado que se ressentia do irmão do meio de Angelo, mas não quis estender o assunto, de modo que não entendi qual era o problema entre eles. Como já se aproximava da meianoite, decidimos pagar a nossa conta e irmos caminhando lentamente até o nosso destino. Enquanto fazíamos nosso caminho de volta, vimos um casal bem jovem encostado em um muro

de um grande casarão em uma rua pouco movimentada e percebíamos pelos gemidos, que os mesmos estavam aproveitando bem cada segundo de seu amasso. Sorri com aquela cena e lembrei da minha adolescência em Curitiba, de quantos apertos, beijos e bolinadas levei, enquanto era imprensada em vários muros na cidade. Tempos bons aqueles e que deixaram saudade. Tom me fita com a maior cara de ordinário e sussurra: ― Eles estão aproveitando bem o escurinho, hein, morena ―

puxa com força minha cintura e me gruda ainda mais a ele, sei que está tão excitado quanto eu, com a cena que vimos agora a pouco. Eu o paro no mesmo instante e faço minha melhor performance ninfomaníaca. ― Está com inveja deles, Tommas? Duvido que tenha coragem de fazer a mesma coisa! ― Sibilo de maneira direta e sensual, e percebo que me encara ainda processando meu atrevimento e seu olhar se transforma no mesmo instante, aceitando o desafio.

Pode parecer loucura, mas esse alemão desperta o que há de mais erótico e cheio de luxúria em minha personalidade. Com Tom sinto-me uma loba em busca de satisfação constante e não consigo negar meus instintos mais primitivos. Tom parece ensandecido a procura de um lugar para nos satisfazermos, e sorrio com sua aflição em não termos encontrado ainda. Caminhamos por duas quadras, até acharmos o lugar ideal. Uma ruela sem saída, que só tem estabelecimentos comercias, e na

qual todos, àquela hora, estavam fechados. Encostamo-nos em um vão, que nos protegia, para aqueles que passassem pela rua lateral, e ali começou nosso joguinho de sedução. Seu olhar expelia sexo e fome. E sei que a brincadeira acabou faz tempo. Suas mãos junta meu cabelo e os puxa de lado, de modo que nossos lábios ficam quase colados. Sinto sua respiração ofegante e pressinto meu homem a ponto de perder o controle. Tommas se ajoelha e abaixa minha calça e calcinha de uma vez.

Fico com vontade de gemer bem alto, mas tento me conter para não chamar atenção para visitantes indesejáveis. ― Prenda suas pernas no meu quadril e não se solte de jeito nenhum, porque não vou ser delicado gostosa. Adoro esse lado rude e animalesco do meu namorado, aproveito cada minuto daquele sexo desenfreado no beco. E quando acabamos nosso momento íntimo, tratamos de sair daquela rua sem movimento, e

fomos embora abraçados e felizes com tamanha ousadia e descaramento que tivemos agora a pouco. Afinal, o medo de sermos pego, era o combustível para o nosso tesão. Ao chegarmos ao hotel, tomamos um banho juntos e logo desmaiamos na cama. Por volta das 3:00 da madrugada acordei sentindo náusea e um gosto estranho na boca. Logo identifiquei que era o sabor da bebida que tinha experimentado no barzinho, e ao que parecia tinha me feito muito mal e me arrependi amargamente de

ter abusado daquele drink. Fiquei sentada ao lado de Tommas na cama e meu namorado estava totalmente apagado e absorvido pelo cansaço. Ali fiquei curtindo aquele maldito enjoo por mais de uma hora, na esperança do meu organismo conseguir combater aquele mal-estar. Exausta de não me sentir bem e sem conseguir dormir, me dirigi ao banheiro, coloquei a cabeça no vaso sanitário e forcei-me a vomitar. O alívio foi imediato e prometi a mim mesma, nunca mais abusar do álcool. Porém ao

amanhecer, percebi que estava com muito sono, pela noite mal dormida e avisei Tom do meu problema da madrugada. Ele compadecido com a minha causa, disse para eu dormir mais um pouco e encontrá-lo mais tarde no escritório de seu amigo. Acenei positivamente porque ainda estava grogue e sem disposição. E mergulhei nos braços de Morfeu novamente. Despertei por volta das 10 horas, já me sentindo revigorada novamente. Levantei-me e fui diretamente tomar um banho e fazer minha higiene matinal. Enquanto

tomava minha ducha me lamentei profundamente de ter abusado na noite anterior e ter ficado em péssimo estado pela manhã. Quando volto ao quarto, percebo que Tom tinha deixado um bilhete e alguns euros. Leio de imediato:

Morena Deixei algum dinheiro para que possa pegar um táxi e para qualquer eventualidade. Te espero no escritório do Angelo, conforme endereço abaixo. Bjs, para a bailarina mais

linda do mundo. Seu Tommas

Fico toda pomposa com o elogio e sonhando com uma vida compartilhada. Tem dois meses que estamos juntos, mas parece uma vida inteira de convivência e celebro cada momento ao seu lado. Tom desperta o melhor em mim, e me fez voltar a acreditar que posso ser feliz novamente. Que apesar da péssima experiência com Enrico, nem todo mundo gosta de ludibriar e mentir. Que as pessoas podem nos

surpreender, quando permitimos que elas façam parte da nossa rotina. E fico mais exultante, é de ter me permitido desfrutar disso outra vez. Sem medo, sem culpa e sem consciência pesada. A felicidade bateu na minha porta e deixei-a tomar seu devido lugar de direito. Após divagar por um tempo, percebo que já passam das 11 horas e quero chegar antes do horário do almoço. Olho-me no espelho do closet e aprovo meu visual. Estou com um vestido de linho de gola alta na cor marrom

escuro e meia calça de lã preta fio 120, por cima jogo um sobretudo branco bem quente e pesado, calço uma bota de cano longo e salto médio. Faço uma maquiagem leve nos olhos, um pouco de blush, rímel e estou pronta para sair. Resolvo me informar na recepção sobre o táxi, e me informam que posso tomá-los na frente do hotel. Um manobrista solicito, me ajuda a conseguir um táxi, e logo estou em movimento seguindo para o edifício Montesano no centro de Roma. No caminho o motorista

tenta puxar assunto, porém, sinalizo que não falo nada em italiano, que bem simpático sorri e acena com a cabeça gentilmente. Sinto vontade de gargalhar com esta coisa de mimicas quando não falamos a mesma língua. Quando chego ao destino agradeço o senhor em inglês e pago a corrida. O centro comercial de Roma tem muito charme e acompanha o estilo do resto da cidade. Faço uma pequena busca do endereço conforme o tenho escrito no bilhete e o acho com facilidade. A rua é larga, mas não chega a ser uma

avenida. É bem movimentada com o vai e vem de alguns pedestres e turistas, e se compõe de vários prédios antigos de três a quatro andares. E percebo que os arranhacéus não tem espaço naquele cenário. Tudo inspira o século 18 e fico pensando como deve ser interessante viver em um ambiente, que o antigo se opõe ao moderno na mesma proporção. Resolvo pegar meu celular e mandar uma mensagem via whatsApp para Tom, avisando que estava na frente do prédio a sua espera. Recebo uma resposta um

minuto depois, Tommas fala para eu passear pelas lojas que logo irá descer para me encontrar. Caminho disputando um espaço na calçada entre os transeuntes e fico deslumbrada com tanta diversidade. Há várias boutiques e lojas populares espalhadas entre os prédios. Muitas roupas chamam minha atenção, sinalizo mentalmente para passar por algumas delas quando Tom estiver livre. Afinal, sou mulher e filha de Deus, tenho o direito de ter meu momento consumista durante a viagem. Claro, que não posso sair

gastando, estou desempregada e o que trouxe de dinheiro, foi graças a minha pequena poupança e uma ajudinha do papai, que jamais iria permitir que eu ficasse pendurada financeiramente em meu namorado. Aliás, me recordo que foi uma verdadeira briga sobre quem iria pagar minha passagem aérea, mas no final Tommas conseguiu convencer meu pai, que iria usar as milhas do cartão de crédito que iriam expirar em breve. Mas percebia-se que seu Marco Antônio não estava nada feliz com aquela situação.

Enquanto caminho, noto como alguns homens italianos me olham descaradamente e vejo que a fama deles, não é à toa. Não disfarçam e te encaram sem o menor pudor. Enquanto estive andando com meu namorado, não percebi nenhum olhar a mais que chamasse a atenção, porém, agora que estou sozinha sinto-me um pedaço de carne sendo admirada na vitrine do açougue e dou risada com tamanho atrevimento desse povo. Continuo fazendo minha peregrinação do consumo, quando o celular vibra no bolso do sobretudo e vejo que é uma mensagem de Tom pedindo que

eu o espere no hall do prédio. Retorno devagarzinho pela calçada e já estou na entrada do mesmo, quando esbarro em alguém que sai apressado dos elevadores. Meu celular cai no chão e se parte em dois. Bateria para um lado, e o resto do aparelho para o outro. Falo um palavrão em português, me ajoelho e fico tentando montá-lo rapidamente. Um homem se ajoelha também para me ajudar, se dirige a mim em italiano, consigo entender que foi ele que trombou em mim e acho que está pedindo desculpas.

Quando levanto meus olhos, fico perplexa com tamanha beleza daquela criatura. É tão alto quanto Tommas, mas sua pele é branca e levemente bronzeada, tem cabelo curto e castanho, e seus olhos são de um azul tão límpido que tive impressão de estar vendo o mar. Me recomponho rapidamente e digo em inglês que não falo sua língua. Ele sorri mostrando dentes brancos e perfeitos e responde-me em inglês também: ― De onde você é? ― Fala um inglês cheio de sotaque. ―

Sou do Brasil ― ele

agora sorri escancaradamente e me entrega o celular montado. ― Sei que parece clichê, mas as brasileiras são realmente muito bonitas e você não foge à regra. Sorrio sem graça com sua cantada e sei que é melhor eu cortar essa conversinha, afinal meu namorado está descendo a qualquer momento. ― Obrigada, mas acho que vou subir, meu namorado deve estar me esperando. Seus olhos transmitem que ficou decepcionado com minha

resposta e tenta se recuperar. ― Ah, claro. Desculpe se fui inconveniente. É óbvio que uma moça bonita como você não estaria sozinha. Sorrio fracamente demonstrando meu desconforto e dou um passo para trás. Não quero muita aproximação para que não haja nenhum mal-entendido, pois continua a me olha intensamente, vasculhando todo meu corpo e sussurra: ― Poderia só me dizer seu nome, brasileira?

Não sei se devo respondê-lo e sair andando como uma verdadeira mal-educada ou se repondo, porque na verdade, não há nenhum problema. ― Meu nome é Bianca ― falo baixo e timidamente. Ele estende sua mão para me cumprimentar e faço o mesmo. ― Prazer Bianca, me chamo Luca Bartoli e tenho um escritório aqui no prédio. Um silêncio constrangedor se instala entre nós e não sei bem o que fazer, pois não quero estimular

nenhum avanço. ― Bom, você já está subindo mesmo para encontrar seu namorado? Aceno que sim e ele sibila. ― É uma pena, gostaria de convidá-la para tomar um café aqui na confeitaria da frente. Logo atrás de mim escuto uma tosse e me arrepio, porque sei que estou encrencada, quando me viro Tommas fuzila o Luca com um olhar frio e dissimulado. ― Que surpresa em vê-lo Luca, vejo que conheceu minha

namorada, Bianca ― e na mesma hora passa seu braço em volta da minha cintura, em sinal de posse. Sinto-me como se eu fosse um poste e Tom fizesse xixi em sinal de marcação de território. Luca arregala os olhos com esta revelação e vejo desagrado em sua face. ― Foi um prazer em conhecê-la, Bianca e espero que esteja gostando da visita ao meu país. Se precisar de alguma coisa, tome meu cartão e pode me procurar a hora que quiser ― estende o papel em minha direção e

pego automaticamente, mesmo sabendo que Tom vai bufar com minha atitude. Mas como os dois se conhecem não posso ser grosseira com o rapaz. Luca sai sem despedir de Tommas, que está bufando e falando o um monte de coisas em alemão. Acredito que devam ser vários palavrões, pois está vermelho e inquieto. Olho para meu namorado que me fita com uma carranca de mármore, como se eu tivesse culpa do que aconteceu.

― Vamos almoçar, apesar que realmente fiquei sem apetite agora. Quando vai se afastar de mim, eu o puxo e rosno: ― O que foi aquilo, Tommas? Não está achando que eu estava flertando com aquele cara, não é? ― Ele suspira e diz que não. ― Eu sei não estava paquerando, mas estou puto com o atrevimento do Luca, de te entregar o cartão na minha frente. Nem teve respeito comigo. Ego masculino ferido é uma

desgraça. Ficam todos malhumorados quando se sentem ameaçados, mas preciso entender melhor quem é este Luca. E principalmente saber porque os dois parecem não se suportarem. Tom pega minha mão e diz que vamos almoçar em um restaurante ali perto do prédio e que depois podemos fazer um tour pelo centro. Digo que após o almoço gostaria de olhar umas roupas que havia me apaixonado naquela rua mesmo, e meu namorado que agora aparenta estar mais relaxado, sorri e me beija

carinhosamente.

Capítulo 28 Logo que chegamos ao restaurante, à recepcionista nos avisa que há uma pequena fila de espera de cerca de dois mesas na nossa frente e resolvemos aguardar, afinal já são quase 13 horas e qualquer outro lugar provavelmente teremos que aguardar também. Enquanto isso, ficamos jogando papo fora e olhando o movimento da rua. Após 20 minutos nossa espera chega ao fim e conseguimos uma excelente mesa, junto a um janelão que dá de frente

para Via Del Corso. Assim podemos ter uma visão imediata, do vai e vem das pessoas que transitavam sem parar pelos arredores do centro. Fazemos o nosso pedido, que aliás, foi bem diferente desta vez. O menu escolhido foi frutos do mar. Apostamos em um belo risoto que possui camarão, lula, lagosta e polvo, e o mesmo estava de lamber os dedos. E de sobremesa a escolhida foi panna cotta de calda de frutas vermelhas, que consiste em um doce feito com creme de leite, e gelatina com toque de

baunilha, posso afirmar que é um manjar dos deuses, se pudesse comeria duas taças, mas prefiro me controlar, afinal estou há alguns dias sem fazer exercícios físicos, e se continuar nesta levada vou me tornar uma porpeta. Tommas comenta que sempre que vem à Roma, aproveita para almoçar ou jantar neste restaurante, pois é o melhor da região, e a partir daquele momento ficamos conversando sobre várias amenidades e coisas sem importância. Pedimos à conta e nos encaminhamos para calçada, para

iniciarmos nossa peregrinação pelas ruas do centro. Porém o assunto Luca nunca foge da minha mente e estou com a língua coçando para entender de onde se conhecem e o porquê de não se gostarem. Entretanto, por constrangimento fico esperando o momento certo para entrar no assunto e não parecer tão abelhuda. E como este momento nunca chega, resolvo ser xereta e intrometida e o confronto sem meias palavras. ― Tom, sei que não é da minha conta, mas de onde você conhece o Luca? ― Como estamos

de mãos dadas o sinto enrijecer, como se o assunto o desagradasse. ― O Luca é o tal irmão do Angelo da qual eu comentei. Nós tivemos um pequeno desentendimento e o mesmo resolveu me odiar, sem motivo algum. Confesso que achei bem esquisita esta explicação do meu namorado, porque pelo olhar que o Lucas lançou para Tommas, achei que fosse matá-lo. E fico matutando com meus botões sobre o que realmente aconteceu e não me aguento.

― Desculpe Tom, mas pela maneira que te olhou, não acho que foi um desentendimento bobo. Não está faltando alguma informação para me contar? Tommas bufa sem paciência e percebo que está história é mais profunda, do que ele tenta demonstrar. ― Bia, esquece isso, minha linda. Foi algo sem importância e não quero perder meu tempo falando do Luca enquanto estamos passeando e curtindo essa bela paisagem. Olha quanta coisa legal temos para fazer ― e aponta para

as boutiques e lojas espalham a nossa frente.

que se

― Vamos comprar uma roupa bem bonita e esquecer esse assunto, ok? Fico possessa, porque Tom está apenas tentando me ludibriar com coisas materiais, para que eu esqueça desse assunto. E por hora é isto que farei, mas em outro momento vou pressioná-lo novamente, até descobrir a verdade. Caminhamos mais uns 20 passos e nos dirigimos para uma

boutique na qual havia ficado apaixonada pelos seus modelitos. Tudo exala bom gosto e um ar descolado, até que começo a ver os preços das etiquetas. E a realidade e o desanimo me dominam. Quando se converte para o real, as roupas ficam mais caras do que no Brasil e fora do meu orçamento. Anuncio a Tom que devemos ir embora, porque a loja é fora dos meus padrões. Tom sorri, me beija e diz: ― Do que você gostou, amor? ― Olho para cara dele e pisco. ― Bom... Gostei de metade

da loja, tudo aqui é extremamente lindo e diferente do que temos no Brasil. Mas a minha realidade é outra e não cabe no meu bolso. Ele pisca de volta e sibila: ― Escolhe algumas peças, que vou te dar de presente ― quando vou protestar e negar veemente, por não poder abusar mais, ele me corta. ― Não me venha com esta conversa que já abusou muito da minha boa vontade, Bia, você é minha namorada, quero pode te dar presentes quando eu quiser. Qual o

problema disso? ― Fico pensando por alguns instantes e realmente Tom tem razão, não é nada de mais ser presenteada pela pessoa que amamos. ― Ok, senhor resmungão, eu aceito seus presentes. É só que não quero ser um peso nas suas costas e às vezes sinto-me envergonhada de não poder estar contribuindo com meu dinheiro ― ele fita-me e faz cara de bravo. ― Linda, pode acreditar que não ficarei pobre comprando estas roupas, isso não é nada perto dos lucros que temos com os nossos

estaleiros. Fique tranquila que se precisar de grana, eu peço um dote para o sogro ― gargalho com sua piada, pois coitado do meu pai. Teria que trabalhar o resto da vida e mesmo assim não chegaria nem perto do dinheiro da família de Tommas. Resolvo deixar a timidez de lado e parto ao ataque, compra lá vamos nós!!! Separo um sobretudo caramelo com botões dourados, o mesmo por ser rodado, pode ser usado como um vestido ou como um casaco. Eu o experimento e fica

perfeito. Tom elogia e comenta que é a minha cara. Separo mais algumas peças como um vestido de paetê prata sem mangas, duas calças jeans e dois suéteres lisos. De quebra ainda pego, uma bota marrom escura forrada com pele de carneiro e alguns lenços lisos e estampados, que manteriam meu pescoço bem aquecido naqueles dias gelados. Sabia que tudo ficaria uma fortuna, mas fechei os olhos e tentei aproveitar o momento. Fomos ao caixa e como eu já esperava quase caio para trás. O total deu 700 euros, que para os

meros mortais da classe média, ficaria absurdamente caro. Respiro fundo e assisto meu amor pagar, sem nem pestanejar. De lá ficamos caminhando por mais algumas vitrines e Tommas resolve comprar algumas camisas de botão. O ajudei a escolher e demos por encerrado a nossa tarde de consumo. Pegamos um táxi para retornar ao hotel. Assim que chegamos à suíte, meu alemão, me avisa que partiremos no outro dia para Florença e que decidiu alugar um carro, para que possamos ir conhecendo algumas

cidades que ficam no trajeto, assim podemos vê-las com calma e tranquilidade. Tommas me mostra no mapa que Roma fica a 278 quilômetros de Florença e levaremos cerca 3 horas e 23 minutos para chegarmos se tocássemos direto, mas como iremos parando, devemos demorar bem mais. Combinamos de sair por volta das 7:00 horas da manhã, para aproveitar a luz do dia e curtir cada parada. No dia seguinte, saímos no horário combinado e deixamos para tomar café da manhã em algum

lugar na estrada. Claro que como sou esfomeada, sempre levo alguma besteirinha na minha bolsa, prefiro me precaver a ficar passando fome pelo caminho. Estamos sentados confortavelmente no banco de um Volvo Xc90 preto, o carro é uma verdadeira máquina, tanto de motor, quanto de conforto. Um lindo SUV, na qual eu nem tinha visto pelas ruas do Rio. Segundo meu namorado, esse carro ainda será lançado no Brasil. Aproveitamos cada segundo da nossa viagem e paramos em

vários lugares para respirar um pouco de ar fresco e nos deliciar com o visual de montanhas, penhascos e lindos campos verdes. Tudo é mais bonito e exuberante do que um dia pude imaginar. Quando as pessoas diziam que a região da Úmbria e Toscana são espetaculares, não estavam fazendo jus ao verdadeiro cenário que se desenrolava a nossa frente. Tudo é pitoresco e singular em cada vilarejo, o que nos faz sentir vontade de ficar um pouco mais. Seguimos o percurso conforme o estipulado e ainda paramos para

almoçar em Ovieto, na região da Úmbria e depois Sarteano, já na região da Toscana. Comprei alguns docinhos e petiscos para movimentar a economia local e degustar da culinária italiana. Quando chegamos a Florença, já era fim do dia e à noite já está caindo. Me espreguicei no banco do carro, pois o cansaço estava começando a dar sinais da viagem cansativa. Mas me mantive acordada, porque queria fazer companhia para Tommas, até estarmos em nosso destino. A casa da família de Tom não

era tão grande como a do Rio e nem tão moderna. A mesma seguia a linha das casas da região da Toscana. Tinha aparência antiga e grandes janelões de madeira, que davam para um lindo jardim que ao lado tinha uma bela piscina. Amei já de cara e pressenti que passaria grandes momentos ao lado do homem que amo. Aquele casarão nos proporcionaria dias inesquecíveis e este sentimento pulsava bem forte dentro do meu peito. A sensação que se instalava em meu coração é que depois de tudo que passássemos ali, nós nunca mais seriamos os mesmos. A

nossa história seria marcada à ferro e isso seria permanente e decisivo no meu relacionamento com Tommas. Entramos na casa e ele foi me puxando para mostrar todos os cômodos, tudo era bonito e bem cuidado. O antigo casarão tinha o aspecto do início do século 19. Avançamos para o quarto e Tom brinca que espera que a cama velha aguente o baque das nossas brincadeiras. Acomodamos as malas na suíte, porém estamos tão exaustos que a arrumação no guarda-roupa,

ficará para o dia seguinte. Vamos até o centro de Florença fazer umas compras para abastecer a geladeira e dispensa, e combinamos de proceder dessa forma, pelo menos umas duas vezes por semana. O percurso até o centro histórico da cidade é de cerca de 10 quilômetros e lá posso ter uma prévia do que conheceremos no próximo dia. Entretanto como estamos cansados, compramos o necessário e voltamos para casa. Tomo um banho, quando saiu descido fazer algo para jantarmos. Faço um macarrão à bolonhesa,

com uns pedaços de linguiça calabresa. Acompanhando uma taça de vinho para ornar com a massa e nos deliciamos com o saboroso jantar. Ali sentados na sala jantar, descido retornar o assunto do Luca, porque aquela desculpa esfarrapada ainda está me incomodando. ― Tom, por que você não tenta se aproximar do Luca de novo? Se você diz que o aconteceu não foi nada de mais, se desculpe com ele e faça sua parte. Tom mostra seu desagrado revirando os olhos com o que eu disse.

― Você ficou interessada nesse cara? Por que não consegue deixar esse assunto para lá, Bia? Isso não te interessa ― fico com raiva pelo modo como me responde e também respondo a altura. ― Sei que não tenho nada a ver com isso, mas Angelo é seu amigo e você deveria tentar consertar as coisas com o irmão dele. E esta história não está me cheirando nada bem. Algo me diz que você aprontou alguma coisa com o Luca e agora está se fazendo de vítima. Percebo que ele fica tenso e

cerra o maxilar e penso comigo. Bingo! Toquei em seu ponto fraco. Realmente meu namorado fez alguma sacanagem com o Luca e não quer me contar. ― Escute Tommas, não tenho nada a ver com seu passado. O que fez antes de mim, é algo na qual não posso te cobrar. Pode ficar tranquilo e me conte o que aconteceu entre vocês. Tom passa a mão no cabelo e quando começa a dar estes tiques é por que não está confortável com algo.

― Ok, senhora delegada. Vou dar meu depoimento, antes que seja levado para o pau de arara ― caio na gargalhada com seu sarcasmo e faço cara de paisagem esperado ele me contar tudo. Tom fica alguns segundos em silêncio, e acho que está meditando sobre o que irá me dizer. ― Vamos meu amigo, desembucha ― ele me fita com uma carranca e sibila: ― Nós brigamos há sete anos, eu tinha 27 e ele 25. Erámos dois moleques no auge da

juventude. Luca fazia faculdade de Direito e começou a namorar uma colega de classe no quarto ano do seu curso. E até onde eu sei, eles namoraram por quase cinco anos e aí ela terminou com ele do nada. Na mesma época, eu estava aqui em Roma, ajudando meu pai com alguns negócios no porto de Livorno e viemos até a casa do Angelo. Meu amigo me convidou para sair, porque segundo ele, queria distrair seu irmão que tinha levado um fora da namorada e estava para baixo precisando se divertir. Quando estávamos na balada, eu os deixei no bar bebendo

e fui até o banheiro. Quando saí, a tal ex-namorada que se chamava Natalie, estava na porta me esperando, e como eu a conhecia, nós nos cumprimentamos e começamos a conversar. ― Sempre percebi que ela se insinuava discretamente para mim, mas nunca comentei nada com ninguém. E quando estávamos ali no corredor conversando, a garota fez questão de deixar bem claro as suas intenções. Me contou que namorava com Luca a muito tempo e estava cansada da mesmice, e que queria experimentar novos ares. E

perguntou comigo.

se

podia

começar

Fico abismada com a biscatice da tal Natalie, por que sair com o amigo do ex-namorado, poucos dias depois de ter terminado, era o fim. Nem esperou o defunto esfriar. E Tom continua seu relato. ― Na hora fiquei meio cabreiro se deveria ficar com ela ou não, porque não queria que Luca ou Angelo nos vissem juntos. Mas ela deixou bem claro que só queria sexo e nada mais, então vi uma oportunidade de ter algo fácil e sem

compromisso. Eu pedi que me esperasse na porta da balada, porque eu iria inventar uma história para Angelo e sair com ela para um motel. Mas a garota falou que tinha fetiche de transar dentro de uma balada e sugeriu que fizéssemos isso em uma salinha de materiais de limpeza, que ela disse estar vazia. Confesso que fiquei excitado e o melhor era que a ex-namorada dele era bem bonita, nem pensei direito. Só queria me dar bem e sentir prazer imediato. Ficamos na salinha transando, quando alguém começou a bater na porta, no início achei que fosse o funcionário da limpeza. E

quando a abri, para minha surpresa era o Luca que estava ali parado. Ele me deu um soco na cara e foi me empurrando para dentro, começou a gritar comigo e a com a Natalie, a chamou de vagabunda e disse que eu não passava de um traidor. Me senti muito mal e nem tentei me justificar. Depois fiquei sabendo que foi uma amiga da exnamorada que nos viu entrando ali, e com raiva da situação, foi lá contar tudo para Luca. Fico irritada de como Tommas pode ser tão egoísta, tudo bem que eles não estavam mais

juntos. Mas ele é amigo do Angelo e de toda a família, e nem levou isso em conta. E fora que há tanta mulher no mundo, porque se engraçar com a ex. Agora entendo por que o Luca não o suporta, e com toda razão ficou magoado. ― Você tentou se desculpar pelo que fez? ― O questiono de maneira direta. ― Claro. No dia seguinte eu liguei para o Angelo, que me deu um belo sabão, e pedi que me ajudasse a me desculpar com seu irmão. Ele marcou um almoço, mas sem dizer a Luca que eu iria

aparecer. Porém deu tudo errado, quando me aproximei da mesa, ele se irritou e terminamos discutindo ainda mais, berrou que nunca iria me perdoar. Enfim, deixei para lá e vivemos nesse cabo de guerra até hoje. Fico analisando suas palavras e sei que Luca tem razão de ter raiva de Tommas, mas já se passaram tantos anos e quem sabe eles conseguem por uma pedra em cima. ― Tommas você sabe que Luca tem razão de estar magoado, nada justifica a traição de uma

amizade. Porém já se passou tanto tempo. Por que não tenta se aproximar de novo? Quem sabe agora que vocês estão mais maduros, talvez ele consiga deixar para lá e seguir em frente. ― Hum... Duvido muito. Pela cara que fez quando me viu ontem, acho bem impossível, Bia. ― Tenha mais fé na vida amor. Não custa nada tentar, acredito que pensar positivo sempre dá certo. Meu alemão fica pensativo, matutando se realmente eu tenho

razão no que estou falando e sibila: ― Tive uma ideia. Daqui a uns dias vou convidá-los para passar uns dias aqui e o que acha? ― Acho ótimo. Será um bom começo para vocês reatarem amizade. Tommas fica introspectivo e acena positivamente. Acredito que apesar do passado conturbado do meu namorado, ele está se mostrando ser alguém que merece um voto de confiança.

Capítulo 29 Acordamos tarde, porque ficamos vendo televisão até de madrugada no dia anterior. Estamos nos comportando como pessoas que estão de férias, mesmo sabendo que provavelmente iremos demorar para voltar ao Brasil. Mas independentemente do tempo que ficaremos em outro país, o intuito é aproveitar cada momento e segundo um ao lado do outro. Tento não pensar no amanhã e nem em como os meus problemas terão um desfecho. Estou como um ex-

viciado, vivendo um dia de cada vez e afirmo que hoje este é meu lema. Aproveitar o agora, porque o amanhã a Deus pertence. Quando me levanto da cama, meu estômago já protesta dando o ar da graça. Sorrio, porque tenho plena consciência da minha condição de mulher comilona. Vou ao banheiro fazer minha higiene matinal e deixo Tommas deitado e desmaiado na cama, sem dar o menor sinal de que está com disposição para levantar. O frio faz isso com as pessoas, nos deixa no modo preguiça gigante.

Quando olho pelo janelão do quarto, a fim de fitar o lindo jardim que fica na parte da frente da casa, fico extasiada com o que vejo. O gramado está completamente branco com a geada da madrugada. A visão é de tirar o folego e fico encantada com o serviço da mãe natureza. Sinto-me abençoada de poder vivenciar tudo aquilo com esse alemão ao lado. Tenho uma ideia mirabolante e decido me vestir para pôr meu plano em ação. Coloco uma legging térmica, duas blusas bem grossas e um casaco reforçado corta vento.

Nos pés calço um tênis com meia de lã. Porque só de chegar perto do vidro, já sinto à umidade do frio que está lá fora. A temperatura deve estar por volta dos 5 graus, e o frio e vento não dão trégua. Tremo quando saiu pela porta e tento me adaptar o quanto antes a o clima invernal, mesmo sabendo ser uma tarefa difícil. Saímos de um verão extremo de 40 graus, para um inverno de 10. Aja saúde para aguentar tanta mudança climática. Avanço até a garagem, onde pude notar que há várias coisas

guardadas e fico na esperança de encontrar o que tanto almejo. Mergulho de cabeça em minha busca por uma lona e passado cerca de 30 minutos, encontro à peça desejada. Verifico se a mesma é grossa e resistente para desempenhar seu devido papel, e sorrio comigo mesma em constatar que é mais que suficiente para começar minha aventura. Procuro por uma ladeira no quintal da casa. E por alguns segundos relembro da minha infância, de uma viagem que fizemos para Urubici, Santa

Catarina, para vermos neve nas férias de julho, essa lembrança ficou bem marcada na minha mente. Papai sempre nos levava a lugares divertidos, e fazia nossas férias serem memoráveis. Fico divagando sobre aquela época tão feliz e a saudade bate feroz em meu peito, que chego a sentir uma pontada em meu coração. Meus pais são pessoas esplendidas e faz falta não poder vê-los sempre que desejo. Porém devo aceitar que a vida nem sempre será como planejamos, e sei que o importante é sabermos que estamos todos bem, seguros e com muita saúde.

Retorno a minha atividade e acho um declínio ideal para começar meu esporte radical. Descida de lona pelo morro. Sei que vou levar alguns tombos e que principalmente não tenho mais idade para isso, mas pouco me importo. A intenção é sair da rotina e se divertir com o que temos. Sento em cima da lona, segurando com firmeza as pontas da mesma de modo a tentar me manter em cima enquanto desço morro abaixo. Tomo fôlego e a adrenalina dá sinal de vida e percorre todo meu corpo. Mentalmente conto até

10 e dou impulso. De longe escuto alguém gritando e reconheço a voz de Tommas, que provavelmente não deve estar entendendo nada. A emoção da descida é algo contagiante, a lona escorrega sobre o gelo do gramado, dando um efeito de esqui, me fazendo deslizar barranco abaixo. Porém durante o percurso há um pequeno monte que me faz ser lançada para frente e saiu rolando para longe do meu tapete. Quando aterrisso em um ponto distante, vejo Tom correndo com cara de espanto e preocupação. Está vermelho e

esbaforido, devido ao esforço da descida e se ajoelha ao meu lado, gritando e questionando se estou sentindo alguma coisa. Caiu na gargalhada, porque foi somente o susto e penso que deveria repetir o meu feito radical. Meu namorado fica puto com minha falta de responsabilidade e murmura: ― Se eu soubesse que estava com palhaçada, não tinha nem saído do lugar para te socorrer. ― Não fique bravo amor, estou só me divertindo ― falo

descontraída, para que a carranca em seu lindo rosto desapareça. ― Bia! Você podia ter se machucado na descida, enlouqueceu? ― E o fito de maneira passiva e respondo. ― Não seja dramático Tom. Você não esquiava quando morava na Alemanha? ― Claro. Sempre esquiei, desde pequeno. Mas a quantidade de neve na qual praticávamos, era bem superior a isso. Aliás, esse gelo aqui no gramado não é neve, é só um resquício da geada dessa

madrugada. ― Eu sei disso. Mas se não tenho neve para fazer um esqui bunda, uso o que tenho. Tommas fica me encarando aborrecido e logo sua feição se suaviza. ― Você é uma menina muito arteira, Bia, do tipo que vai me deixar de cabelo branco antes do tempo ― sorrio com seu comentário, e volto a olhá-lo com ar de sapeca. ― Mas gosto do seu jeito espontâneo, de quem é feliz da forma que é ― fica pensativo por

uns instantes e me questiona. ― Você quer aprender a esquiar? ― Fico analisando sua proposta e no fundo sei que vou aceitar. Sempre tive vontade de praticar este esporte. Mas morando no Rio fica impossível. ― Quero sim, mas aqui na Toscana tem lugar para isso? Tom acena positivamente e fico surpresa, jamais imaginei que naquela região belíssima, houvessem lugares especializados para este esporte. Meu namorado sinaliza para eu me arrumar, que vamos fazer aquilo que tanto quero.

Animação, é meu primeiro nome e fico eufórica com esta nova possibilidade, adoro aprender coisas novas e esquiar definitivamente está na minha lista. Tomo um banho rápido e volto ao quarto para me vestir. Coloco a mesma roupa que estava usando, com a diferença que agora calço uma bota de pelo de carneiro para aquecer os pés. Tomamos um café da manhã reforçado, sabendo que nosso dia seria puxado e Tommas me mostra através de seu tablet, duas estações de esqui conhecidas na região, que são

consideradas moderadas para quem está aprendendo. Uma se chama Monte Amiata e a outra Abetone, decidimos que Abetone será a escolhida, por ser mais perto e ter tantas atrações como a outra. A viagem de carro será curta, pois Abetone fica 1 hora e 30 minutos de distância de Florença. E como esta época as estradas estão tranquilas, estimamos chegar dentro do tempo estipulado. O caminho é perfeito e devido à geada, ainda há alguns gramados brancos e cobertos por gelo. O visual é espetacular e se torna um show à parte em todo

percurso. ― Você sempre foi deste jeito... Impulsiva? ― Analiso o que me diz. ― Sim. Costumo fazer o que gosto, sem ficar pensando muito. Sou feliz comigo mesma e com minhas escolhas. ― Coitado dos seus pais morena, você deve ter sido uma criança bem elétrica e cheia de disposição ― diz de maneira divertida e cheio de humor. Gargalho com as lembranças de uma infância maravilhosa e

cheia de bons momentos, na qual fui muito feliz e curti tudo que uma criança podia desfrutar. Apesar de ser filha única, nunca tive problemas em arranjar alguém para brincar. Sempre havia meus primos e amigos da escola, nunca me senti sozinha ou desamparada. Entretanto, sonhei em ter irmãos, para dividir as broncas ou aprontarmos em dupla, mas infelizmente, mamãe não conseguiu ter outros filhos e tiveram que se contentar só comigo. ― Papai dizia que eu valia por três e que tirava seu sossego. E

que se tivesse tido outro filho como eu, estaria velho aos 30 anos ― lembro-me que sempre fui uma menina com energia para dar e vender. E cheia de euforia para brincar por um dia inteiro, chegava a dormir tarde da noite, porque queria aproveitar mais um pouco. ― Meus pais chegaram a me levar a um médico, porque achavam que eu tinha algum tipo de distúrbio, pois alguns dias eu me recusava a deitar e queria continuar brincando no quintal. Mas graças a Deus, era só disposição de sobra. Então a pediatra recomendou a

minha mãe, que me matriculasse em várias atividades físicas, assim eu me manteria cansada na hora de dormir. E foi aí que entrei no balé, fiz natação, aula de piano e inglês. Meu dia era cheio de compromissos de forma a manter minha mente e corpo ocupados. ― Acho que você ainda é aquela menina inquieta de anos atrás. ― Sou nada. Estes dias tenho ficado bem sossegada com você, só hoje que aprontei um pouquinho, para fugir da rotina.

― É morena, estou vendo que vou ter um belo desafio em te manter com uma rotina bem ativa todos estes dias ― lançando-me um olhar safado, que não foi necessário nenhuma palavra para ser decifrado. Fiquei excitada divagando o tanto de coisas que poderíamos fazer para passar nosso tempo, o sexo era o que mais se destacava em minha mente fértil. Credo Bia! Você só fica pensando nisso desde que conheceu Tommas, recrimino a mim mesma. Porém, a quem estou querendo enganar, meu namorado despertou

algo que já estava lá, incubado e que provavelmente Enrico nunca teve competência para fazer vir à tona. Com meu alemão sinto-me sensual e este sentimento é libertador. Por muito tempo me segurei com medo de ser mal compreendida. Entretanto com Tom, posso ser eu mesma e me libertar de todas as formas. Nosso relacionamento não tem o peso do preconceito e falsa moralidade, podemos nos entregar à sexualidade sem reservas e amarras. Tom põe a mão no meu joelha e pergunta o que estou pensando.

― De como fiquei safada depois que te conheci, mas confesso que estou mais feliz assim. Porque me sinto livre para viver minha sexualidade plena com você ― meu olhar escurece e abaixo meu rosto. ― Coisa que nunca consegui viver antes, com meu exnoivo. Enrico era um babaca egoísta, nem é parâmetro para um relacionamento. E gente assim, jamais irá satisfazer o outro parceiro plenamente. Confesso que Tommas tem toda razão. No começo do nosso relacionamento, nossa vida sexual

era boa. Mas depois, Enrico começou a ficar desleixado e não se preocupava muito em me manter satisfeita. Não sei como pude aguentar aquilo por tanto tempo. Fui extremamente ingênua e relapsa comigo mesma, e não ter dado um basta antes. ― É... Mas agora estou aqui. Com o homem mais gostoso e comedor da Alemanha. Olha como sou sortuda, meu amigo. Sorrimos da minha piada e continuamos com um bate-papo gostoso dentro do carro.

Não demorou muito e chegamos a Abetone, de cara vejo o quanto o lugar é turístico e bem estruturado. A entrada da estação é rodeada de estacionamentos e lojas para venda e aluguel de trajes e equipamentos. Estacionamos bem próximo ao início do parque e quando descemos do carro, Tom me indica uma loja ao lado. Lá alugamos nosso traje que é composto por uma jaqueta bem quente e calça que são totalmente a prova d´agua, juntamente com os equipamentos que serão utilizados na minha

primeira aula. Visto a roupa alugada por cima da que estou vestindo e agora vou para pior parte, me adequar com as botas. Coloco primeiro a bota que aparentemente parece ser menor que o meu pé. Reclamo com o rapaz que está me ajudando, mas o mesmo avisa que a mesma deve ficar bem apertada no pé. Tento me acostumar, mas está difícil. Tommas avisa que é normal incomodar, até que me acostume. Mas confesso que não imaginava que o pior estava por vir. Andar com a bendita bota foi

um desafio à parte, houve um momento que quase desisti de aprender e arranquei aquele troço do meu pé. Mas nunca fui de fugir de um obstáculo, e a todo momento dizia a mim mesma, que logo aquele incomodo ia passar. Devagarzinho nos encaminhamos para a bilheteria e Tom pedi que espere parada, que iria comprar nossos ski pass, o nosso passe de entrada. Coitado, deve ter percebido que estou andando como uma pata e se sentiu compadecido pela minha causa. Quando volta, seguimos para

o teleférico fechado que cabe 04 pessoas e irá nos levar até a pista Campi Scuola que é destinada para pessoas que irão fazer aulas e que desejam esquiar em pistas menos íngremes. Assim que chegamos já identificamos quem é meu professor e o mesmo já se disponibiliza a me ajudar a colocar meu equipamento para começarmos a aula. É um rapaz jovem e com certeza temos a mesma idade, ainda bem que fala muito bem inglês, pois não entendo nada de italiano. Seu nome é Alessio, e começamos a nossa aula. Tomo alguns tombos,

que acredito que sejam normais, afinal andar na neve com o esqui é equivalente a colocar sabão em piso de porcelanato. Mas depois de 1 hora de aula, já estou conseguindo ficar de pé e me apoiar muito bem nos dois bastões. O Curso inteiro se estende a 2 horas. E posso afirmar que já consigo esquiar em pistas pouco íngremes sozinha. Tommas que havia saído para esquiar sozinho, volta ao final do curso. Resolvemos pegar uma pista de dificuldade leve, para que eu possa acostumar com tudo. E

alegro-me com esta nova experiência. E o melhor ainda, é fazer isso com alguém tão apaixonante como este alemão maravilhoso, que se mostra um cavalheiro até o fim do dia, sempre ficando ao meu lado e me auxiliando em todo o percurso. No fim do dia, após devolvermos tudo que alugamos, fico com a sensação de dever cumprido e sonho realizado. Posso fazer mais um x na minha lista de desejos. E sorrio olhando pela janela. ― Está sorrindo para o nada,

morena? Fito meu menino e sinto uma vontade imensa de dizer que o amo, que conhecê-lo mudou completamente minha vida. Que sua presença me faz um bem enorme e me mostrou que posso ser eu mesma, sem medo de ser feliz. ― Só estou feliz de poder estar com você aqui, mesmo diante das circunstâncias. Essa viagem está sendo maravilhosa. E poder conhecer um lugar tão lindo em sua companhia é magnifico. ― Sei que não sou de falar

muito o que sinto, que sou um pouco seco em relação a me expressar. Mas te conhecer me fez mudar e repensar muitas coisas, que antes nunca dei muito valor. Tommas se inclina e me beija apaixonadamente. Pode parecer besteira e ingenuidade da minha parte, mas involuntariamente acho que meu alemão acabou de me confessar que está apaixonado.

Capítulo 30 Enquanto estava no carro a caminho para Florença, fiquei repassando o nosso dia e senti-me extremamente abençoada por ter alguém tão alto astral ao meu lado. Tommas além de lindo, era um cara inteligente e bem-humorado. Tirei o bilhete premiado da loteria ao conhecê-lo, e pensar que no começo achei que era pura perda de tempo. Que Tom não passava de um bon-vivant da alta sociedade. Graças a Deus tem se mostrado um verdadeiro cavaleiro

no cavalo branco, e totalmente diferente do que se comportou quando nos conhecemos. Posso dizer com propriedade que este homem é uma caixa de surpresa, e que nos últimos tempos tem me surpreendido de maneira muito positiva. Ao avançarmos no caminho para casa de Tom, vejo vários enfeites de natal e percebo o quanto me deixe levar pela nossa bolha romântica, e esqueci completamente que amanhã é véspera de ano novo. Temos que decidir qual rumo tomaremos da nossa vida. Se

faremos algo íntimo, somente para nós dois, ou se participaremos de alguma comemoração. Com certeza haverão diversos clubes e restaurantes com festas de virada de ano e teremos uma infinidade de opções para escolher. Comento com meu alemão sobre o esquecimento da festa da virada, ele sorri e diz que também não lembrou. Ficamos debatendo sobre a melhor opção e resolvemos ficar no conforto do nosso lar, para fugir um pouco da badalação e das noites frias de Florença. O fato de estarmos longe de casa de maneira

forçada, talvez esteja nos deixando um pouco nostálgicos. ― Amanhã teremos que ir até a cidade comprar tudo que precisamos ― afirmo a Tommas, porque com certeza o centro comercial irá ficar fechada. Tirando os pontos turísticos, o restante provavelmente só abrirá as portas no sábado de manhã. Analiso sobre o que farei de ceia e resolvo que ao chegar em casa, vou pesquisar na internet o menu que farei amanhã durante o dia.

Ficamos conversando sobre amenidades e rindo sobre a aventura da neve, adorei cada segundo naquela estação de esqui. E combino com Tom, de voltarmos novamente, antes de irmos embora. Chegamos em Florença por volta das 18 horas, e o cansaço já evidente em nossas feições. O dia de esforço estava dando sinais de várias maneiras, senti dores no corpo todo, dos muitos tombos e tropeços que tomei durante as aulas. Bocejei umas mil vezes dentro do carro, e Tom dizia que a qualquer momento eu iria engolir

sua cabeça de tanto que abria a boca. Esse meu alemão tem cada tirada. Logo que entramos na garagem, escutamos um barulho de coisas sendo derrubadas. Fiquei em alerta total, com medo do que poderia aparecer a nossa frente. Meus pelos do braço e nuca se arrepiaram ao mesmo tempo. O pânico se instalou no meu rosto e toda à descontração dos momentos atrás, desapareceram imediatamente. Tom me encara, põe um dedo sobre os lábios, de modo a me

pedir silêncio. Abre o porta-luvas do carro, tira uma arma, destrava e pede com um gesto que eu aguarde ali sentada. Fico temerosa pelo que pode se desenrolar a qualquer momento e rezo em silêncio para que não seja nada de mais, e que Deus guarde e proteja meu amor. Não posso perdê-lo de forma alguma e esta possibilidade, nem devia estar povoando minha mente. Assim que Tom sai do veículo, pulo para o lado do motorista e travo as portas logo em seguida. Ele some pela garagem em

direção a casa e a cada segundo que se passa, a ansiedade me consome por completo. Estou quase enlouquecendo de ficar sozinha e sem poder ajudá-lo. E resolvo segui-lo de forma a saber o que está acontecendo. Quando estou saindo do carro, pelo canto do meu olho esquerdo vejo um vulto de algo passando pela porta do carro e parece estar agachado. Fico paralisada e não abro a porta de imediato. Do banco do motorista, me viro para trás à procura por algo que não consegui identificar,

se foi alguém ou algum bicho, que passou naquele espaço. O coração acelera quando a maçaneta do veículo é puxada, olho para o lado e vejo Tommas em pé, me fitando pela janela. O alívio é imediato e aciono as travas para destrancá-la. Jogo-me em seus braços, tamanho é a alegria de saber que está em segurança e Tom me encara compadecido da minha agonia. ― Calma morena, está tudo bem. Tem algumas caixas reviradas na cozinha, mas fora isso não

encontrei nada de alarmante. Franzo a testa com as suas revelações e aviso sobre a sombra que passou à alguns instantes. Tom volta a ficar tenso e começa a caminhar novamente pela garagem e para nossa surpresa, quem sai detrás de um entulho de ferramentas é um cãozinho todo sujo e magro e nos fita todo assustado. ― Olha quem era nosso invasor, Bia! Esse sujeitinho feio e pulguento ― sibila Tom com a mão na cintura e o encarando de cara feia.

Suspiro alto de alívio e meus nervos que estavam à flor da pele, começam a voltar ao normal. Olho para aquela criaturinha magra, feia e desnutrida, e a tristeza toma conta do meu coração. Pobrezinho não deve ter família e ninguém para abrigá-lo. Encaro Tommas com o olhar do gato de botas e meus olhos ficam marejados. ― Ah não, Bia... Daqui a pouco todos os animais que acharmos pela rua, você irá querer levá-los para casa ― faço cara feia do seu comentário e me defendo.

― Não posso salvar a todos. Mas alguns como este, nós podemos fazer algo a respeito ― e o fito novamente, esperando seu veredito. ― Ok, Madre Teresa de Calcutá dos animais ― solto uma gargalhada com sua comparação descabida e sem fundamento. Estou longe de ser uma protetora feroz da causa. Realmente tenho um amor incondicional por animais, e a maioria fica à mercê da maldade do ser humano. Sempre que puder ajudarei e espero nunca me

arrepender disso. Quando era pequena, todo mês chegava com um cachorro ou gato em casa, papai ficava louco comigo, porém, nunca me desautorizou a fazer estes resgates. No final, sempre encontrávamos um lar para os pequeninos. ― Você não é o único a reclamar, eu quase enlouquecia papai também ― Tom me encara e torce a boca em sinal de desaprovação. ― Só espero que ele não coma todos os móveis restaurados da minha mãe.

― Não seja chato Tom. Ele é um cachorro e não um bode ― sigo para meu novo amigo de modo a lhe dar algo para comer. Avanço devagar na direção dele, para que possa confiar em mim, e não tentar fugir. ― Oi amiguinho... Tudo bem? ― Estendo a mão para que ele possa cheirar. ― Vamos entrar para comer? ― O cãozinho, permite que eu faça um carinho na sua cabeça e vejo que seu pelo está todo embaraçado, amanhã provavelmente teremos que procurar um pet shop para tosá-lo e

passar algum remédio para pulga. Por ser um rapazinho forte e ter sobrevivido até agora, decido chamá-lo de Hércules. E sorrio com esta constatação. ― Hei amiguinho, agora você tem nome e se chama Hércules. ― Por que Hércules, Bia? Com certeza não deve ser por sua beleza ― fala cinicamente. ― Porque ele era um semideus da mitologia grega, e era conhecido por sua coragem e força, assim como este amiguinho que sobreviveu a todas a dificuldades

até agora, imagina o tanto de coisa que deve ter passado para ficar vivo até hoje? ― Digo isso e meus olhos marejam novamente, sinto muito pena de cachorros e gatos jogados pela rua. Se eu pudesse cuidaria de todos, mas sei que isto é apenas um sonho. Meu namorado me fita com carinho e balança a cabeça como quem diz que sou um caso perdido. Hércules passa a confiar em mim e me segue até a cozinha, lá pego uma vasilha de plástico média e coloco um pouco do resto do jantar de ontem, esquento no micro-ondas e

dou para ele comer. A comida some em poucos minutos e percebo que o mesmo estava faminto, coitadinho. Arrumo um cantinho na cozinha com um cobertor velho bem fofinho e junto coloco outra vasilha de água. Espero que ele não faça sujeira por ali, e antes de dormir pretendo sair pelo quintal para que possa fazer suas necessidades. Subo para tomar banho, porque estou exausta e preciso de uma cama urgente. Tom está saindo do banheiro e me puxa para seus braços. Nos beijamos castamente e diz:

― Morena, você sabe que quando formos embora, não poderemos levar Hércules conosco ― sussurra de maneira afirmativa, não deixando nenhuma dúvida. ― Eu sei Tom. Nós podemos deixá-lo em alguma ONG, para que possam encontrar um lar, é melhor do que deixá-lo na rua, passando fome e frio. Tom faz um carinho no meu rosto, me beija novamente cheio de carinho e sussurra: ― Apesar de saber que nos dará trabalho ter um cachorro em

casa. Gosto que você se preocupe com ele, seu coração é melhor do que o meu. Sempre se importa com os menos favorecidos. Fico contente com seu elogio, sinto-me amada e apreciada de todas as formas e um lampejo desagradável pisca na minha mente. Na época em que estava com Enrico, insistia que eu fosse uma socialite vazia, tal como sua mãe. Tentou de várias maneiras me manipular e forçar uma mudança na qual eu não queria. Diversas vezes me senti culpada, por não ser aquilo que ele precisava. Mas hoje

sou grata por ter sido firme e não permitido suas sandices sem limites. Sigo para minha chuveirada e quando volto para o quarto, meu amor está dormindo. Fico velando seu sono e cheiro seu cabelo com toda delicadeza para não acordá-lo. Como posso amá-lo tanto em tão pouco tempo? Parece loucura, mas é a mais pura verdade. Tom está entranhado no meu coração de tal forma, que se perdê-lo ficarei completamente destruída. E uma miríade de emoções toma meu corpo naquele momento.

Chego perto do seu lindo rosto e confesso aquilo que tanto temo sentir e sussurro quase sem sair as palavras da minha boca. ― Eu te amo seu teimoso, apesar do pouco tempo que nos conhecemos. Você está enraizado na minha alma, querido. E acho que vou te amar para o resto da vida. Seus olhos tremem e fico apavorada que ele tenha escutado. Mas logo se aquieta e dorme novamente. Em seguida caio em um cansado e profundo sono. No dia seguinte, desperto

logo cedo, olho no relógio, são 6:00 horas, e imediatamente lembro de Hércules e que deveria ter saído com ele ontem para fazer suas necessidades. Desço a escada temendo o furacão que encontrarei, mas para minha surpresa meu amiguinho não tinha feito nada no chão. Logo que me abana o rabinho e segue na minha direção, abro a porta e o deixo sair para fazer suas necessidades, o frio está feroz lá fora e pela minha experiência deve estar uns 7 ou 8 graus. Aguardo no batente da porta, de forma alguma ficarei exposta a esta friagem.

O pequenino entra saltitando e fazendo graça e logo volta a deitar no cobertorzinho. Desconfio que Hércules também esteja com preguiça e frio nesta manhã de véspera de ano novo. Ponho mais comida no seu pote e volto para cama, porque ainda estou com preguiça. Durmo novamente e acordo por volta das 9:30, olho para o lado e Tommas não está mais na cama, de longe escuto Hércules latindo e Tom falando com ele. O engraçado é que não consigo entender nada do que está sendo dito. Chego próximo

e percebo que meu namorado está conversando com o cachorro em alemão, e óbvio que eu nunca entenderia nada mesmo. ― Por que está falando em alemão com o Hércules? ― Tom se assusta com a minha presença sorrateira e dá um pulo. ― Nossa Bia, você chega tão de mansinho que tomei maior susto ― responde com a mão no coração, como se estivesse tentando se acalmar. Como meu namorado é exagerado. ― Ah desculpe, nem percebi

que cheguei sem fazer barulho. Mas então, por que está falando em alemão? ― É a minha língua natal, morena, penso em alemão antes de falar em português. Então quando estou sozinho ou com alguém da minha família, já é algo natural falar a língua que fui criado. Realmente ele tem razão. Se eu morasse em outro país, provavelmente sempre iria tentar falar português quando estivesse perto da minha família. ― Você tem razão, mas agora

por favor volte a falar algo que eu entenda ― sibilo sorrindo, sua língua é extremamente difícil e acho que nunca conseguirei aprendê-la. Tommas avança em minha direção, me dá um tapa na bunda e diz: ― Schön ― pronuncia me olhando com muito carinho. Faço um vinco na testa, porque não faço a menor ideia do que foi dito e ele traduz. ― Eu disse linda ― beijo sua boca provocativamente e logo corto o barato, mediante suas mãos

empolgadas. ― Temos que ir até a cidade, precisamos comprar os ingredientes da ceia e remédio para pulgas para Hércules. Cinco minutos depois estamos a caminho para o centro comercial de Florença e seguimos direto para o Pet shop, porque provavelmente deve fechar mais cedo que o mercado. No começo foi um pouco difícil, mas graças ao modesto italiano de Tommas, conseguimos nos comunicar um pouco e saímos de lá com shampoo, remédio para combater pulgas,

caminha forrada, coleira e vasilhas para água e comida. Nosso menininho vai ganhar tudo novo. Após isso, vamos direto para o mercado e compramos tudo que precisamos para nossa comilança da virada. Ao chegarmos na porta de casa, há um bilhete no portão que está endereçado a Tommas. Meu alemão sorri com o que lê e diz que foi seu vizinho, e que está nos convidando para dar uma passada em sua casa à noite. Tommas comenta que a família da casa ao lado, são todos

britânicos e vem passar as férias na Itália de vez em quando. Recorda que os conhece há cerca de 5 anos e que seus pais, tem uma imensa amizade com eles. Combinamos de dar uma passada antes da virada, para cumprimentá-los. Quando entramos, troco todos os apetrechos de Hércules e vou direto para a cozinha, mas tarde darei banho e passarei seu remédio. Faço um salpicão de frango, arroz com lentilha e mais tarde, irei terminar de assar o chester que

compramos pré-assado. Para sobremesa fiz um pavê de sonho de valsa com morango, nesse ínterim esquentei a comidinha que sobrou de ontem e fiz um prato para o meu amor, e depois disso ele só apareceu no fim da tarde, estava no quarto vendo seus e-mails e trabalhando um pouco. Quando saímos para ir até seus vizinhos, era por volta de 21 horas e como estava frio, coloquei um vestido marrom claro, de mangas, meu sobretudo caramelo novo com botas de salto. Fiz uma maquiagem leve e apenas sequei o

cabelo com secador. Enfim, me senti linda e pronta para conhecêlos. A casa tinha o mesmo estilo da casa dos pais de Tom e podia-se notar que também são pessoas de posse. Logo que chegamos fomos recebidos pelo casal que são os donos da propriedade e aparentam ter a mesma idade dos meus sogros. A casa estava com várias pessoas, inclusive algumas eram italianas. Fomos apresentados a todos, alguns obviamente meu namorado já conhecia. E teve uma garota que percebi certo desapontamento quando nos viu juntos, a mesma foi apresentada como sobrinha dos

donos e notei seus olhares compridos para cima do meu alemão. E divaguei comigo mesma, com certeza está criatura já foi algum rolo desse alemão, mas resolvi ficar no meu canto, porque tudo aconteceu antes do meu período e não posso ficar criando caso, por algo que não foi na minha época. As horas passam rapidamente, os convidados são extremamente agradáveis. Fiz uma amizade muito grande com a neta mais nova do casal Warren, que se encantou comigo e ficou o tempo todo ao meu lado. Como íamos passar a virada sozinhos,

prometemos almoçar com eles no dia seguinte. Demos adeus e seguimos para nosso canto. Avisei a Tom que iria subir para pegar o laptop e chamar meus pais no Skype. Quando cheguei ao nosso quarto, abri meu computador e liguei o aplicativo, nesse espaço, abri também meu e-mail e congelei quando vi algo familiar. Havia uma mensagem que na parte do assunto estava escrito: CADÊ MINHA BORBOLETINHA? ― Tudo dentro de mim se contorceu de nojo. E fico com vontade de berrar para que aquele porco me deixe em paz, até

que meus pulmões estourem. Lembro-me que ele dizia que meu sexo depilado parecia uma borboletinha que ele tinha o maior prazer de capturar. Esta lembrança asquerosa, faz a bile subir pela garganta e ficar um gosto amargo na boca. Tudo estava indo maravilhosamente bem. Por que aquele demente não podia me esquecer? Respirei fundo e tentei me controlar, não abri a mensagem por medo e decido chamar Tommas para saber, o que devo fazer. Grito para que suba até o

quarto, ele aparece imediatamente, franze a testa de maneira confusa e percebe que estou pálida e desnorteada. ― Que foi morena. Aconteceu alguma coisa com seus pais? ― Rapidamente mostro o computador e digo que pelo assunto a mensagem é do Enrico. Ele se levanta e fica tenso com as minhas palavras, na mesma hora diz que não abra o e-mail de forma alguma. Que através disso, Enrico pode hackear meu IP e tentar descobrir onde estou.

Fico apavorada e Tom tenta me tranquilizar. ― Olha Bia, se ele descobriu seu endereço eletrônico e te mandou mensagem, é porque ainda não sabe onde você está. No fundo está tentando te ludibriar para você ficar curiosa e abrir a mensagem. Mas somos mais espertos e não vamos deixar rastros. É melhor não entrarmos em contato com o seu pai hoje. E amanhã vou pedir o computador do Robert e mando notícias através do outro aparelho. Ok? Sussurro que sim e descemos

para fazer nossa ceia. Tommas faz de tudo para tirar minha atenção desse assunto e resolve fazer algo muito romântico. ― Vem vamos dançar, não quero ver este rostinho lindo todo tenso e infeliz. Esquece o que aconteceu minha linda. Não deixe aquele filho da puta, estragar nossa festa ― sorrio de verdade, confio plenamente no meu namorado e sei que fará de tudo para me proteger. Tom pega seu celular coloca no dock station, seleciona a música e fico ali contemplado todo o carinho que aquele homem está

tendo comigo. Extasiada com sua beleza e ternura, são tantos sentimentos misturados, que são quase palpáveis. Posso senti-los lotando a sala. Quando a música começa a tocar, me arrepio totalmente. Tom avança na minha direção me fitando com tantas palavras não ditas, mas que são mencionadas através dos nossos olhos, que não se separam nunca. A letra desta canção diz tanto e talvez mais do que possamos falar. O ambiente é preenchido com sua melodia You and me - lifehouse. Dançamos juntos, com nossos

corpos colados e as palavras saem sem que eu possa impedi-las ou até porque já não suporto mais escondê-las. ― Eu te amo, Tom... Mais do que jamais eu pude imaginar. E sinto tanto medo, que fico apavorada, aterrorizada com meus sentimentos. Ele não me diz a mesma coisa e isso é como uma faca no coração, mas simplesmente me abraça com toda força e me beija apaixonadamente. Automaticamente minhas forças vão se ruindo e me entrego de corpo e alma aquele

momento. E fazemos amor ali, no meio da sala.

Capítulo 31 Acordo com uma fresta de luz solar explodindo nos meus olhos e noto que o dia amanheceu. Adormecemos no sofá, no meio da sala, para ser mais exato. Olho ao lado e vejo meu alemão dormindo de bruços em um sono profundo e tranquilo, totalmente alheio de qualquer preocupação. E todas as recordações da noite anterior voltam como um furacão na minha mente, quando declarei abertamente meu amor e recebi somente um silêncio em troca. Fico quieta na

paz daquela manhã, tentando entender o que está acontecendo, se sou dramática demais e sem paciência para esperar o momento certo. Se estou iludida e acreditando em uma história romântica que só existe na minha cabeça. Analiso friamente tudo que estamos passando nos últimos tempos e só posso acreditar que nada foi forçado e imposto. Tudo tem sido tão natural e verdadeiro, que me recuso a ficar encucada, achando que estou forçando a barra em nosso relacionamento. Tenho certeza que Tom não está comigo apenas por sexo ou pena, com a

pressão de todos os acontecimentos. Se não gostasse de verdade de estar ao meu lado, já teria caído fora e fugido sem olhar para trás. Penso comigo mesma. Calma Bia! Não seja afobada. Sua hora chegará e ele ainda vai dizer que está apaixonado. Mas a maldita ansiedade fica ali espezinhando e tentando tomar espaço. Começo a pensar em outras coisas e a mensagem de Enrico me vem à cabeça e um mau pressentimento dá sinal de vida, sei que devo contar aos meus pais sobre isso, mas fico

receosa de estragar seu ano novo com más notícias, resolvo não contar nada sobre o ocorrido. Olho novamente para aquele homem lindo esparramado ao meu lado, meus olhos marejam de tanta emoção e posso dizer com propriedade, que já não sei viver sem o seu amor. Tommas está entranhado dentro de mim. E penso que sua ausência me faria sofrer horrores e não gosto nem de cogitar tais pensamentos negativos. Ele se mexe num espreguiçar gostoso, lento e abre aqueles olhos azuis como o mar em um lindo dia

de verão. Pisca repetidamente e se vira em minha direção, um sorriso verdadeiro nasce em seus lábios, que mostram um gesto simples e cheio de promessas. Tento sorrir de volta, mas falho em fingir que está tudo bem. Tom percebe meus anseios e me puxa em seus braços. Um de frente para o outro, nossos olhos sem se desviar. Em uma demonstração de respeito e carinho. E sussurra: ― Antes de você dizer que me amava, eu já sabia ― fala cheio de convicção. ― Como você tinha tanta

certeza? ― Questiono cheia de curiosidade. ― Seus olhos não conseguem esconder nada morena. São tão vivos e expressivos, que já diziam o que sentia antes de qualquer palavra ser dita. Sorrio pensativa, porque papai sempre falou isso. Dizia que meus olhos nunca mentiam. E sempre fui assim. Extremamente transparente com meus sentimentos e quando amava ou odiava algo, estava lá, escrito na minha face. Fico sem graça, porque

com certeza meu amor estava estampado como uma bandeira no mastro, há muito tempo. ― Sou uma pessoa que tem dificuldades em dizer o que sente, Bia. Meu pai diz, que puxei ao meu avô, que também era deste jeito. Não sabia mostrar afeto em palavras. E sou do tipo precavido, que prefere ter certeza antes de falar qualquer coisa. Desculpe amor, sei que está magoada com meu silêncio, mas quero que saiba que você é muito importante para mim, e que não consigo nem pensar em ficarmos longe um do outro.

Sinto sua falta e me preocupo com seu bem-estar. Só não sei nomear meus sentimentos e nem quero fazêlo. Bom... Pelo menos por enquanto. Fico triste com tudo que está me revelando, e tento me recompor e dar a volta por cima. Prefiro ser aquela que está com o sorriso falso no rosto, do que a chorona que fica pelos cantos. ― Relaxa alemão. Se você não quiser tem quem queira ― falo de maneira descontraída, tentando tirar aquele clima pesado do ambiente.

― Sério? E quem seria? ― Sibila levantando uma das sobrancelhas em sinal de dúvida. ― Hum, deixe-me organizar a lista. Tem alguns italianos bem assanhadinhos, que ficaram se oferecendo nos meus passeios pela cidade e tem também o Luca, que quis tomar café comigo ― digo brincando com a situação. Mas na hora Tommas fecha a cara, como se tivesse tocado em um assunto proibido. ― Hei! Não precisa fazer esta cara, eu estava brincando. Acho que precisa tomar café da

manhã para melhorar seu mau humor ― sibilo ironicamente. ― Meu problema não é fome morena. Mas não posso baixar a guarda para o Luca, ele pode tentar me prejudicar de alguma forma. E tenho medo que tente me atingir através de você. ― Do que você falando Tommas? Como assim através de mim, não estou interessada nele. ― Mas ele ficou interessado em você, e isso sem saber que era minha namorada. ― Deixe de besteira, o

importante é se desculpar e se reaproximar dele. Assim essa birra sem cabimento acaba e tudo volta ao seu devido lugar. Bom pelo menos eu esperava que tudo desse certo. ― Vou falar com o Angelo semana que vem e vamos marcar aquele jantar. Assim eu tenho a chance de me desculpar com o Luca, e espero realmente que me perdoe. Aceno positivamente abordo outro assunto.

e

― Tommas, posso usar um

dos quartos que está vazio para me exercitar? ― Ele parece confuso com meu pedido e questiona. ― Se você quiser, podemos nos matricular em alguma academia na cidade, afinal estamos a poucos quilômetros do centro. ― Não é necessário. Estou sentindo falta de dançar e para isso não é preciso uma academia. Basta uma sala, meu celular e disposição para mexer o corpo. Ele sorri e diz que ali é a nossa casa provisória que posso fazer o que quiser. Fico empolgada

com sua carta branca e penso que mais tarde vou fazer minha peregrinação atrás de um espaço adequado para isso. Me levanto a fim de fazer minhas obrigações do dia e fora que iremos almoçar com os Warren, e tinha que deixar tudo adiantado. Levo Hércules para sua jornada de necessidades matinais e juntos corremos pelos gelados gramados da casa. Nos divertimos à beça, e esse felpudinho segue meu ritmo sem se mostrar cansado e doente. Fico orgulhosa que esteja se recuperando bem.

Tommas me chama da porta do quintal com uma caneca de leite na mão e dá risada das nossas peripécias na grama. Venho correndo e o abraço com tudo, quase derrubando o leite no chão. Tom protesta e me beija. ― Eu não sei quem é mais irracional. Você ou Hércules ― murmura alegremente revirando os olhos. ― Acho que somos iguais. Entramos e nos dirigimos à cozinha para comer nosso desjejum. ―

Preciso

fazer

uma

sobremesa para levar para os Warren, o que você recomenda? Tom fica pensativo e diz: ― Faça algo que só tenha no Brasil, com certeza eles vão adorar. ― Será que eles conhecem brigadeiro? ― Pergunto na esperança de poder fazer uma sobremesa que não me dê trabalho. ― Eu acredito que não conheçam. Mas enfim, se eles não gostarem, pode ter certeza que eu vou adorar. Gargalhamos dá sua cara de menino pidão e decido dar

andamento ao meu prato típico. Faço duas latas de leite condensado, porque acredito que todos irão gostar, e escalo Tommas para me ajudar a enrolar, mas o preguiçoso, já reclama. ― Leva essa travessa e eles que comam direto na colher. E aliás, morena, que delícia esse doce. Nossa você cozinha muito bem. Está pronta para casar ― e me beija com a boca melada de chocolate. Empurro seus ombros e falo: ― Imagina que vou fazer

isso, pode ficar sentado e terminar de enrolar sua parte ― o encaro séria, me fazendo de brava, mas Tom gargalha, como quem diz não acreditar nem um pouco na minha seriedade. ― Se você ficar sem calcinha se esfregando no meu colo, prometo fazer bolinhas da travessa toda ― encaro meu namorado fazendo cara de santinho e tenho um acesso de riso. Como este homem é safado e atrevido. Mas resolvo fazer sua vontade, só que de uma maneira diferente. Ajoelho-me na sua frente, abaixo sua calça do pijama, meu

alemão me fita cheio de malícia e lascívia, quase não acreditando no meu descaramento, que é tanto quanto o dele. ― Continue enrolando o brigadeiro ou paro de brincar com seu amigo aqui embaixo ― dou uma ordem, sem esperar ser contrariada. Sei que Tom está adorando essa minha postura mandona. Suas íris se dilatam e ficam mais escuras, tamanha é a excitação e luxúria que se estampam em seu lindo rosto. Passo brigadeiro em volta do seu pênis e o chupo como se fosse

um sorvete de chocolate delicioso. Tommas se descontrola e fica ensandecido de desejo, tenta tocar em meu cabelo, mas não permito. ― Vou parar agora se me tocar de novo. E volte a fazer as bolinhas ― enquanto o satisfaço, ele treme e tenta continuar suas atividades. Tenho vontade de rir, porque os brigadeiros, estão tortos e esquisitos. Uma bola enorme e outra minúscula. Mas confesso que está se esforçando ao máximo para conseguir fazer alguma coisa, tendo em vista que estou tirando seu autocontrole e divirto-me

imensamente com isso. ― Ah morena que isso! Nossa, estou ficando louco com essa boca safada ― sinto-me a guru do sexo e não lhe dou uma trégua nem por um segundo. Quando se liberta em minha garganta e quase joga as travessas no chão, me levanto ofegante e digo: ― Se recupere que ainda tem muito trabalho a fazer ― me dirijo à porta do banheiro e sinto um puxão no braço. Tommas está grudado nas minhas costas e

sussurra: ― Onde pensa que vai sua boca dura? Acabou o papel de sargento? Mas agora quem manda sou eu ― me empurra no sofá e arranca minhas roupas e passa suas mãos melecadas de chocolate no meu corpo e ali nos acabamos por mais de uma hora. Às 13 horas estamos prontos nos dirigindo para casa do vizinho britânico. O casal Warren nos recebe de braços abertos e cheios de alegria, nos fazem se sentir em casa, com tanta cordialidade. A sua neta que se chama Jéssica, logo

vem no colo e começamos a conversar, a pequena mostra-me seu quarto e bonecas, e juntas brincamos de chá da tarde. Almoçamos no fim do dia e a bagunça foi geral, todos querendo falar ao mesmo. Adoro isso, porque sendo filha única, sempre senti falta de ter família grande. Quando terminamos a refeição ajudei as mulheres a recolher a louça da mesa e colocálas na lava-louças e ao retornar à sala, vejo a sobrinha dos Warren sentada ao lado de Tommas conversando animadamente. Toda

hora ela toca em seu braço e põe a mão na sua perna e aquilo começa a irritar-me profundamente. Mas quem deve tomar uma atitude é Tom e colocá-la em seu devido lugar. Passo em frente aos dois, pego Jéssica no colo e a levo para o quintal de modo a brincarmos no balanço. Fico me remoendo, mas coloco algo em minha cabeça. Não posso ficar querendo dar um show toda vez que Tommas cruzar com alguma ex-ficante. Recuso-me a usar este personagem no meu dia a dia. Fazendo o papel da namorada

ciumenta e raivosa. Acredito que ele tem que se posicionar como um homem comprometido e afastar qualquer garota oferecida, deixando bem claro que não está interessado. Enquanto estou divagando sobre a minha recente decisão. Tom aparece caminhando lentamente na nossa direção e o vejo sem graça, receoso e confuso sobre o que esperar. Fico reclusa brincando com Jéssica, sem lidar muita atenção. E sinto que ele está incomodado por ser ignorado. ― Não quer ficar lá na sala com a gente morena? ― Pela

primeira vez desde que chegou, eu o fito no fundo dos olhos e murmuro: ― Pode ficar tranquilo Tom. Estou bem por aqui, a sua amiga é que deve estar sentindo sua falta ― ele enrijece o maxilar em sinal de desagrado. ― Bia! ― Exclama irritado, e fala pausadamente como a conversar com uma criança petulante. ― Não é nada disso que está insinuando. Eu e Debra não temos nada, além de uma boa amizade.

Continuo o encarando, esperando que termine de falar sua desculpa esfarrapada. Sei que não está interessado nela, mas não posso dizer o mesmo da sobrinha oferecida. Porque seus olhares desejosos para cima do alemão, não passaram despercebidos. ― Você pode não estar com nenhuma intensão, mas acho que ela não pensa desse jeito. Mas gostaria de te fazer uma pergunta. Posso? Ele se remexi no banco de madeira próximo ao balanço e acena positivamente.

― Você já transou com essa garota? ― Procuro seus olhos, no momento do questionamento e aguardo sua resposta. Engole a saliva e me fita surpreso, provavelmente não esperava ser interpelado referente a este assunto. Mas sei que a verdade será dita. Tom pode ter todos os defeitos do mundo, mas acredito que mentiroso não está em sua lista. ― Sim ― responde de cabeça baixa, como se tivesse sido pego roubando um doce. Como eu já sabia a reposta, não fico espantada com sua

revelação. ― Eu já sabia, como você mesmo diz. Os olhos das pessoas costumam denunciá-las e os de Debra estavam gritando que gostaria de ter outra chance. Tom se levante cabrero e se aproxima de nós. Jéssica brinca sem tomar conhecimento do assunto e eu fico lhe dando total atenção, fingindo indiferença sobre a sua presença. ― Olha Bia, sei que esta situação não é agradável, mas não posso apagar meu passado e as

coisas que fiz. Infelizmente em alguns lugares cruzaremos com garotas que fiquei, e não há nada a ser feito. Nos olhamos com muitas palavras não ditas e retruco. ― O problema não é cruzar com ex-ficantes e sim não as colocar no seu devido lugar. A garota te toca a cada cinco segundos e está toda cheia de sorrisos insinuantes. Se você impuser uma distância, a moça irá se mancar e perceberá que não está agradando. Mas pelo que vi, você gosta de receber uma atenção

feminina. Não me aguento e falo o que penso. Provavelmente iremos discutir por causa disso, mas não vou ficar aguentando este desaforo calada. ― Você está cheia de ciúmes e com o bom senso bloqueado. Não fiz nada além de ser educado e simpático, como tenho sido com todos naquela casa. Espero que você pare de ver coisas ondem não existem. ― Ok, senhor Krause. Um dia teremos esta mesma discussão,

só que estaremos em posições diferentes. E quando você estiver no meu lugar, espero que se lembre da nossa conversa. Dou a discussão por encerrada, seguro nas mãos de Jéssica e volto para sala com o intuito de ir embora. Para mim aquela tarde deu o que tinha de dar e preciso gastar minha energia em outro lugar. De preferência distante de Tommas, para amansar minha raiva.

Capítulo 32 Disse adeus a todos que estavam na sala, exceto à sirigaita Debra, que também não fez questão de me cumprimentar. A antipatia entre nós foi mútua. Tommas depois do nosso confronto, permaneceu no quintal e não deu as caras. Na verdade, pouco me importei com sua birra de menino mimado e voltei para casa espumando de raiva. Agradeci mentalmente por Tom ter deixado uma chave reserva comigo e me dirigi para entrada da

frente. Logo Hércules estava em meu encalço querendo carinho e atenção. Brinquei com meu amiguinho e o levei para o quintal de modo a fazer suas necessidades e não deixar nenhum presente desagradável pelo chão da cozinha. Enquanto estávamos fazendo nossa algazarra na grama, percebi que havia uma edícula de vidro e madeira bem perto da piscina, como a mesma tinha portas de correr, tentei olhar lá dentro. Forcei a maçaneta, mas a mesma estava trancada, vi alguns cavaletes apoiando algumas telas e deduzi, que, provavelmente aquele lugar

devia ser usado como atelier da minha sogra. E uma ideia se passou pela minha cabeça. Poderia usar aquele espaço para me exercitar. Guardaria os materiais da Leila e deixaríamos a sala pronta para ser usada. Sorri diante da minha nova empreitada e fiquei satisfeita em poder ocupar meu tempo e disposição em algo que não seja agradar meu namorado. Empolgada e com energia renovada, resolvi dar uma volta pela vizinhança junto com Hércules, que ficou todo

satisfeito, abanando o rabinho, quando coloquei a coleira e demonstrei que iriamos dar uma volta pela rua. Deixei um bilhete sobre a mesa, avisando a minha saída, para que Tom não se assustasse em não me encontrar. Por incrível que parece eu estava feliz comigo mesma, aquela briga com o alemão não havia tirado meu bom humor. E o melhor de tudo, foi ter dito o que pensava a Tommas, naquele instante tive a sensação de alma lavada, de verdades reveladas. E este sentimento de poder ser e dizer o

que se pensa é libertador. Enquanto caminho pelas estreitas ruas do bairro onde estamos localizados, fico pensando no relacionamento que tive com Enrico. Dou risada me recordando da garota tola e ingênua que eu era, que aturava todas a ordens estapafúrdias do meu exnoivo, se moldando a tudo que ele queria e desejava. E fico exultante ao perceber que hoje sou uma pessoa diferente. Mais feliz, decidida e pronta para lutar. Devo reconhecer que o mal que Enrico me causou, transformoume em uma mulher forte e focada no

próprio bem-estar. Cansei de ser a menina fantoche e sem vontade própria, de agora em diante sempre irei priorizar meu bem-estar a qualquer custo. E isso inclui em falar a verdade, quando algo me desagradar. Sinto muito que Tommas não tenha gostado do que disse, porque nosso relacionamento sempre seria baseado na sinceridade e respeito mútuo. Continue caminhando com meu cachorro e divagando acerca do nosso desentendimento, o bairro é bem bonito e o estilo das casas são bem parecidas. E tudo naquele

lugar remete a paz e tranquilidade, sem bagunça ou desordem na rua. Continuei pela calçada e me assustei ao escutar uma freada repentina bem ao meu lado. Tom estava com uma carranca ao me fitar pela janela. Não entendi sua atitude, sendo que deixei um aviso que havia saído para andar com o cachorro. ― O que você tem na cabeça, em sair uma hora dessas andando por um bairro deserto? ― Fiquei analisando suas palavras, tentando chegar a um denominador comum, afinal são 17:00 horas, e havia uma

pequena luz solar no céu, apesar de ser inverno. ― Mas não é tarde Tommas e outra, eu deixei um bilhete em cima da mesa avisando. Justamente para não o deixar preocupado. ― Acho que as vezes você esquece o motivo pela qual viemos para cá, Bia. Seu ex, maluco, está te procurando. E ele adoraria te encontrar andando sozinha por um bairro deserto. Assim você facilitaria bem a vida dele. Fico puta com seu comentário maldoso, mas ao mesmo tempo

penso que Tom tem razão. Não posso ficar dando moleza ao acaso, e andar por ruas desabitadas, não é muito inteligente da minha parte. Resolvo ser coerente e entro no carro sem reclamar, abro a porta de trás e acomodo Hércules no tapete do banco traseiro. Sei que meu alemão vai surtar se colocá-lo sentado no banco, e opto por não desencadear outro conflito. Fazemos o caminho da volta em silêncio e fico no meu canto, por não ter nada interessante a acrescentar. Quando estacionamos na garagem, logo libero Hércules

para andar e Tommas vem em meu encalço. ― Por que foi embora da casa dos Warren sem me avisar, Bia? ― O encaro nos olhos e murmuro: ― Achei que você nem ia perceber minha falta ― digo de forma irônica. Ele bufa irritado e retruca de maneira direta. ― Não seja infantil, Bia. Eu já disse e vou repetir, não tenho interesse algum em Debra. Se antes que era solteiro, não tive interesse

em levar nada adiante. Imagina agora que estou namorando? ― Então por que não a colocou em seu devido lugar? Muito pelo contrário, ficou todo sorridente e deixando ela encostar em você a todo momento. Não sou tola Tom, percebo quando um homem se sente envaidecido pelo assédio de uma mulher. Continuamos discutindo sem chegar a um ponto em comum, e aquilo foi me cansando profundamente. Até que disse que estava cansada e sem paciência para assuntos mal resolvidos. Subi

para o quarto, afim de tomar um banho e descansar um pouco. Saí do banheiro, troquei de roupa e fiquei deitada na cama lendo um livro sobre romance sobrenatural, adoro vampiros que são seres místicos e sensuais. Pode ser até um pouco adolescente, mas amo histórias com esse enredo. Me perco e viajo totalmente no romance. Tom entra mudo, toma seu banho e sai calado do quarto. Sei que poderia acabar com a nossa briga se desse o braço a torcer, mas não pretendo facilitar a vida do

meu namorado. Continuo imparcial e não quero ser a primeira a pedir desculpas. Até porque, sei que não estou errada, e resolvo relaxar e deixar as horas passarem. Enquanto estou entretida com a história que está mais que emocionante, escuto uma batida na porta e levanto meu rosto em direção ao barulho. A porta está aberta com apenas uma fresta e neste vão, surge um cabo de vassoura com um lenço branco amarrado na ponta. E o mesmo é balançado de um lado a outro como se fosse uma bandeira em sinal de

paz. Gargalho com a empreitada do meu namorado e meus olhos ficam marejados, porque sei que teve que guardar seu orgulho e usar toda a sua criatividade para me pedir desculpas de maneira tão engraçada e divertida. Quando abro a porta, ele sorri de forma tão linda e verdadeira, que a minha mágoa se desfaz, e resolvo deixar nossa briga de lado e curtir o momento. ― Não quero dormir longe de você morena. Acho que estou

mal-acostumado ― seus olhos me pedem desculpa e se tornam límpidos e sinceros. ― Também não quero dormir sozinha, vem logo antes que eu mude de ideia. Ele rapidinho pula para meu lado, se aconchegando ao meu corpo. Ficamos alguns segundos quietos e pensativos, mas o principal era o fato de estarmos juntos. Temos uma necessidade excruciante de nos tocar, de sentir a pele um do outro. Sei que o desejo

sexual entre nós é altíssimo, mas fora isso existe a coisa da cumplicidade, de nos entendermos somente com um olhar. Algo que não podemos negar. ― Você ainda está brava comigo? ― Me interpela Tommas, com um olhar pidão e cheio de significado. Tenho vontade de rir, com sua cara de menino inocente. Mas não me faço de rogada e respondo à altura. ― Estou chateada sim, Tom. Mas não posso forçá-lo a ver o meu

lado, infelizmente isso você terá que descobrir sozinho. Resolvo mudar de assunto, para evitar qualquer desgaste. ― Será que posso usar aquela edícula que fica junto a piscina, para me exercitar? Meu namorado pensativo e sibila:

me

olha

― Eu havia pensado a mesma coisa, ali ficaria perfeito para você dançar, inclusive vou solicitar uma visita de uma vidraçaria, para colocar um espelho bem grande naquela parede.

Fico lisonjeada com cuidado, mas como ficaremos temporariamente, não necessidade de gastar com supérfluo.

seu aqui vejo algo

― Amor, não precisa de nada disso, afinal não ficaremos tanto tempo aqui. Somente à sala está ótimo. Amanhã cedo dou uma geral no espaço e ficará excelente para eu me exercitar. Tom franze a testa e sinal de reprovação e murmura: ― Eu quero te mimar, Bia. Não seja estraga prazer e deixe-me

arrumar aquela sala do meu jeito. Nos encaramos com carinho e aceno que sim. Logo em seguida, ele muda de assunto. ― Estou pensando em fazer aquele jantar esta semana. O que acha? Então me lembro da sua ideia de tentar se reaproximar de Luca e dou a maior força. Afinal, isso já é um bom sinal de arrependimento. ― Claro Tommas. Acho a iniciativa muito válida, e com certeza o Angelo vai te ajudar a se desculpar com seu irmão.

Tom levanta uma sobrancelha e fala: ― É espero que isso dê certo. Estou um pouco receoso, mas vou seguir com o combinado.

Capítulo 33 A semana passou bem tranquila. Sem brigas ou desentendimentos, até estranhei um pouco, Tom estava um verdadeiro gentleman, não que ele não fosse sempre educado e prestativo. Mas estes dias estava de forma exagerada. E às vezes sinto um pouco de medo de tanta calmaria. Tommas conseguiu com os Warren o laptop emprestado e finalmente entramos em contato com meus pais via Skype. A saudade e a alegria são imensas,

cada vez que os via na tela do computador o coração palpitava e acelerava. E a sensação de aperto dava um nó na minha alma. Mas dizia a mim mesma, que o importante é que estavam bem e seguros e todo o esforço de ficar longe valeria a pena. Mostrei a casa para eles, mamãe ressaltou que a beleza da arquitetura na região da Toscana é bem singular e única. Narrei os passeios em Roma, destaquei as maravilhas das pequenas cidadelas que beiravam a rodovia no caminho para Florença. E até comentei a

gargalhadas da nossa aventura na estação de esqui. Fiz à minha maneira, toda cheia de empolgação e de forma apressada. Eles riam das fotos que mostrei e ficaram felizes, por verem que estávamos curtindo cada minuto das nossas pequenas férias. ― Oh, filha, você está com uma carinha ótima... Mais relaxada, sem toda aquela tensão ― fala papai todo emocionado. ― É pai. Uma pausa de toda aquela energia negativa, está me fazendo muito bem e fora que Tom tem sido um companheiro

extremamente agradável e atencioso. Não posso reclamar de nada. Nós temos nossos desentendimentos de casal, mas nada fora do normal. Mamãe que já havia falado bastante comigo, me deixou a sós com meu pai. Por saber que nós precisávamos do nosso momento, juntos. Aqueles minutos em que eu desabafava e necessitava dos seus conselhos. Contei a ele sobre como estava meu relacionamento com Tommas e sobre ele não dizer que me amava. E Marco Antônio em

toda sua sabedoria disse: ― Eu prefiro pessoas como Tommas, do que aqueles que só dizem as coisas no calor da emoção minha filha. Seu namorado está certo. Aprenda uma coisa Bia, palavras, o vento leva. As ações dizem mais do que um mero eu te amo, ditos para preencher o silêncio. O que me disse, foi como um tapa e me fez enxergar, que tudo que meu namorado tem feito para me ajudar até hoje. Tem sido uma verdadeira declaração de amor, e arrisco a dizer que muito maior, do

que um mero balbuciar de lábios. E isso me deixou tremendamente aliviada e envergonhada, de ter ficado tão chateada. Agradeci papai pela sua compreensão e maturidade. Prometendo que nos falaríamos em breve. No meio da semana fomos à cidade para que Tommas me mostrasse à beleza de Florença. Com seus casarões e arquiteturas de dois mil anos. Um lugar que transpira história, cultura e arte. Estima-se que 40% do acervo artístico do país está nos museus e

ruas de Florença. E afirmo que é uma verdadeira viagem no tempo, até para aqueles que não são aficionados pelo tema. Em um dos dias que fizemos o passeio, tive uma bela surpresa ao chegar em casa. O espaço que ficaria minha sala de dança estava pronto. E aliás, foi transformado praticamente em uma sala de academia. Pulei de alegria e fiquei dando saltos no ar. Tom era maravilhoso comigo. E fez tudo na completa surdina, para me surpreender quando chegássemos da cidade. E funcionou.

Eu o beijei com paixão e disse mais uma vez que o amava. No dia seguinte, Tom avisoume que no sábado à tarde receberíamos, Angelo, seu marido e Luca. Fiquei tensa, porque a partir daquele momento à sorte estava lançada. E espero que os dois se entendam acabando com aquela briga antiga e sem sentido. Tommas não quis que eu tivesse trabalho em cozinhar e disse que pediríamos comida em um restaurante muito conceituado da região, e que trariam a comida quente no horário estipulado.

Mesmo assim, quis fazer uma sobremesa bem brasileira para meus amigos Angelo e seu companheiro e lá fui para cozinha me assegurar que tudo saísse perfeito. Decidi fazer um brigadeirão de micro-ondas, que ficou delicioso, e de lamber os dedos. Disformei, marinei com granulado e coloquei na geladeira. E como tudo já estava planejado e bem encaminhado, resolvi usar minha sala nova e queimar algumas calorias. Afinal, já estava extrapolando há algumas semanas, e

comecei a sentir minhas calças mais justas. Bora correr atrás do prejuízo. Coloquei uma roupa que sempre uso para treinar, um top curto de malha e uma calça legging preta. Gosto de sentir-me confortável quando estou dançando. Até tenho algumas roupas mais esvoaçantes. Mas naquele instante, iria treinar sozinha para recuperar o tempo perdido e ajudar a perder alguns quilinhos. Me dirigi à sala nova, coloquei o celular no dock station e fui selecionar as músicas

preferidas. A empolgação já me consumia, já fazia algumas semanas que tinha deixado de dar aula. Dançar para mim, tinha o mesmo conotativo de respirar e comer. Havia se tornado uma necessidade básica. E ali, naquele instante ia voltar ao meu tão conhecido paraíso, minha zona de conforto. Selecionei Get me bodied da Beyonce, que desde sempre é uma das minhas cantoras prediletas e me perdi no balanço e batida da música. Deixei meu corpo reconhecer o ritmo, e me acabei no

momento. Mergulhei nos movimentos e deixei todas as frustações, problemas e infelicidades da porta para fora. Fiquei com tanto calor que deixei a porta aberta para entrar um ar fresco, e fui para o celular mudar de música novamente. Coloquei Just Dance da Lady Gaga e lembrei de uma coreografia que fiz para uma competição de dança que participei em São Paulo, e resolvi executá-la naquele momento. Concentrei-me para recordar dos movimentos e comecei cada passo.

Enquanto estava perdida na melodia e totalmente concentrada na minha imagem no espelho a frente, eu o vi se aproximar do batente da porta. Luca. Estava lindo, imponente e seguro de si. O seu semblante mostrava certa tensão, e entendi que a situação com Tommas o devia deixar desconfortável. Por alguns segundos hesitei e quase parei minha coreografia no meio. Então uma ideia maligna se instalou na minha mente. Se Tommas se diz tão seguro e sem ciúmes, acredito não ter problemas em continuar dançando, enquanto Luca está

olhando. E naquele instante, o mau gênio levou a melhor do que o bom senso. Continuei meu momento fingindo não o ter visto. E antes de desviar meus olhos do espelho, pude vir que o mesmo me secava descaradamente, tive vontade de sorrir. E constatei que homem sempre se perde, quando vê uma bunda e um belo par de pernas se mexendo. E para fechar com chave de ouro, dei um salto no ar, coisa que não fazia a bastante tempo e estava enferrujada. Ao olhar para trás, vejo que

Tommas, Angelo e seu marido Marcelo estão parados no quintal assistindo tudo. Tento fazer cara de surpresa, de que não percebi que Luca estava parado na porta. E imediatamente vou cumprimentá-lo com beijo no rosto, que sorri abertamente, mostrando seus dentes brancos e perfeitos. ― Bem, quando meu irmão disse que você era bailarina, não dei muito crédito. Mas parabéns, estou impressionado. Fiquei sem graça com seu

elogio e pela forma como me inspecionava literalmente, mas fui simpática e agradeci. Imediatamente os outros se aproximaram. Tommas fitava Luca e a mim com olhos de águia, e percebi que tentava disfarçar seu descontentamento. Abracei Angelo e Marcelo fazendo aquela festa com meus novos amigos. E o marido de Angelo disse que adoraria me ver dançando, desconfio que o mesmo estava querendo ver o circo pegar fogo entre Lucas e meu namorado.

Tommas já cortou o barato de todo mundo. ― Gente a Bia está treinando a tarde toda, deve estar cansada e faminta. Vamos deixar este espetáculo para outro dia. Marcelo levantou a sobrancelha em sinal de surpresa e disse que não havia problema, olhou para mim e piscou. Meu amigo também percebeu que o alemão ficou azedo de repente. ― Bia, não quer tomar um banho e trocar de roupa? Olhei

para

minhas

vestimentas e realmente estava indecente para receber as visitas. Ficar com a barriga de fora na frente dos meninos, não era muito legal. E Marcelo que tinha chegado atacado, não teve perdão nos comentários. ― Toma cuidado viu, alemão. Essa menina bonita, com um corpo desse, vai ter um monte de gente com olho grande ― logo em seguida, encarou Luca e deu risada. Tom fez uma carranca e comprimiu seus lábios em uma linha fina, para exprimir seu

desaforo: ― Eu confio no meu taco, Marcelo, sei do meu potencial ― fiquei vermelha como um tomate, detesto ser o centro das atenções. E aquelas provocações já estavam tomando um rumo perigoso. ― Bom, meninos, vou tomar um banho e já desço para tomarmos café juntos. Sai em disparada para meu quarto, tomei uma ducha rápida. Em seguida sequei o cabelo, coloquei um vestido preto de mangas e uma meia calça fio 80 e botas cano

curto. Fiz uma maquiagem leve, somente um rímel, lápis, blush e batom. Eles estavam na sala me aguardando. Ajudei a levar os bolos, pães e tortas que tínhamos comprado para mesa de jantar e começamos a degustar as maravilhas da culinária da culinária italiana. Luca e Tommas quase não se falavam e percebi que o clima entre eles não parecia ter melhorado. E comecei a questionarme se um dia melhoraria. Ficamos jogando conversa fora à mesa e acabei sabendo que

eles tinham um apartamento no centro de Florença e que vieram preparados para passar o final de semana. Angelo e seu marido eram extremamente divertidos e falavam besteira o tempo inteiro. Passei momentos hilários com aqueles dois. Tom tentava relaxar, mas via seu incomodo mediante Luca, que não parecia nem um pouco a fim de entrosamento com seu anfitrião. Ali, naquele instante, comecei a me arrepender de ter sugerido que os dois tentassem se reaproximar novamente. Talvez

tivesse sido melhor deixar pra lá. Luca não parecia disposto a dar o braço a torcer. Ficamos na sala de estar o resto da tarde e as horas foram passando de maneira rápida. Luca ficou puxando conversa comigo, perguntando sobre minha vida no Brasil. Respondi amigavelmente, mas sempre percebendo o desconforto do meu namorado. Porque às vezes, algumas perguntas eram muito íntimas e descabidas. Quando anoiteceu, Tom solicitou ao restaurante que trouxessem nosso jantar. A comida

estava cheirosa e fumegante, senti água na boca ao avistá-la na mesa. Avançamos para a mesa de jantar e nos acomodamos nas cadeiras e para minha surpresa Luca sentou bem ao meu lado e na outra ponta Tommas. No fundo sabia que aquilo não daria certo, Luca estava flertando comigo e nem se dava ao trabalho de disfarçar na frente de ninguém. Via os olhares de reprovação dos meus amigos para Luca. E o mesmo fingia ignorá-los. Se arrependimento matasse, com certeza eu estaria seca e

esturricada naquela sala. Onde eu estava com a cabeça quando incentivei tudo isso. E o pior é que fiquei dançando para aquela criatura e com certeza o mesmo estava se sentindo confiante, achando que eu estava retribuindo seus galanteios. Meu gênio ruim me meteu em uma bela confusão. Estava temerosa que a qualquer momento meu namorado perdesse a paciência com os atrevimentos do rapaz. Iniciamos o jantar em um clima meio pesado e todo momento Luca ficava trocando mensagens

com alguém. Eu torcia para que fosse alguma garota o convidando para sair, e que ele desistisse de ficar nos atormentando naquela mesa. Já estava cansada de ficar desviando das suas perguntas maliciosas e cheias de sentido duplo. Quando fitava Tommas, seus olhos estavam em labaredas e sabia que logo sua educação e paciência iriam se exaurir. Ao final da nossa refeição Luca pediu a palavra. ― Eu quero agradecer a Tommas por ter me recebido tão amigavelmente em sua casa e

confesso que nem esperava tanta simpatia da sua parte. Mas enfim, obrigada pela gentileza. E gostaria de presenteá-lo com algo que sei que gosta muito. Fiquei feliz com suas palavras e comecei a relaxar lhe dando certo crédito. Porque afinal todo mundo tem direito a uma segunda chance. E de repente, Luca percebeu que Tommas só queria sua amizade novamente. A campainha tocou na porta da frente e levantei para atender. Na porta tinham duas garotas que apesar de não falarem inglês

entendi que procuravam por Luca. Fiz um sinal para que esperassem e fui ao seu encontro. ― Luca, tem duas garotas procurando por você ali na frente ― fiquei intrigada sobre o que elas estavam fazendo ali. Ele sorriu escancarado e se dirigiu para entrada. E do nada as duas moças entram em nossa casa, fiquei olhando aquela cena sem entender nada. Luca era um abusado mesmo, como podia convidar suas amigas sem nos perguntar antes. ―

Olha

Tommas,

seus

presentes chegaram ― meu alemão ficou branco e vi que estava sem palavras pela primeira vez na vida. ― Está envergonhado? Pelo que sei, nunca ligou de transar com prostitutas e adora um ménage à trois. Mas claro, diante da minha generosidade, acredito não ter problema algum em transar com a sua namorada. Fiquei estarrecida com seu atrevimento e joguinho de vingança. Tudo bem se quisesse agredir Tom, mas me envolver, no seu assunto mal resolvido, foi demais. E meu namorado estava soltando fogo pelo

nariz de raiva. ― Luca, vá embora e leve suas amiguinhas com você. Essa sua birra já foi longe demais ― diz Tommas tentando se manter no controle. ― Qual o problema, Tommas? Não quer dividir a sua namorada comigo, não seja egoísta amigo. Pode até assistir se quiser, só não deixo participar porque este negócio de trio não é comigo ― olho para Angelo e Marcelo que estão sem reação, sentados, e vejo que Tom se levanta e irá partir para cima do seu adversário. Penso

rápido e tomo uma atitude que jugo ser correta, antes que as coisas saiam do controle. ― Luca ― chamo sua atenção de forma rude e direta, sem deixar dúvidas do meu desagrado. ― Você acha que mereço ser tratada desta forma? Ele empalidece e abaixa a cabeça. ― Sei que Tommas foi desonesto e injusto com você. Que pisou na sua amizade. Mas vir aqui, e me desrespeitar, não é a solução. ― Por favor, vá embora e

leve suas convidadas. Aqui é uma casa de família, apesar do histórico do anfitrião ― falo lançando uma farpa para meu alemão, porque tudo que está acontecendo, é porque ele não souber guardar seu pau dentro da calça. Luca me fita nos olhos e vejo vergonha e arrependimento. Sei que é uma boa pessoa e está fazendo isso no calor da mágoa. ― Sinto muito, Bia. Você realmente não merece esse show de horrores, me desculpe. Se dirige a Tom cheio de

rancor e diz: ― Você é tão desprezível e ainda consegue encontrar uma moça doce e meiga como a Bia. Que injustiça! Vira as costas e vai embora com suas amiguinhas logo atrás. Angelo, envergonhado com a atitude do irmão, logo quer ir embora. Mas tomo à frente da confusão. ― Angelo! Você não tem culpa de nada, pare com isso. Seu irmão só está com raiva e sei não quis me machucar.

Marcelo me ajuda e logo o clima fica leve de novo. Mudamos o foco da conversa e pouco tempo depois estamos gargalhando e brincando um com o outro. Por volta da 1:00 da manhã, nossos amigos foram embora para seu apartamento e nós ficamos sozinhos novamente. Apesar de saber que Tommas não tinha culpa de nada, ainda fiquei remoendo as palavras de Luca na mente. E sinto um gosto amargo na boca, na qual o medo e o ciúmes tentam ganhar espaço na minha cabeça. Fico receosa que

Tom comece a sentir falta da sua vida de solteiro, das várias mulheres e casos que sempre teve a sua disposição. Que se canse de ter apenas uma mulher na sua cama, ao invés de duas ao mesmo tempo. E começo a ser assolada pela insegurança e falta de confiança. Tom percebe minha apatia quando estamos indo dormir e vem se deitar ao meu lado, puxa-me para seus braços e sussurra: ― Desculpe tudo que aconteceu hoje. Você foi a mais afetada e nem tem nada a ver com isso.

Abaixo o rosto sentindo tristeza e raiva por tudo que está povoando minha mente e digo: ― Realmente Tom. Ele queria se vingar de você e terminou me ofendendo no percurso. Mas tudo bem né, seu passado vai sempre se chocar com seu presente ― dou um sorriso sem graça, mas tento não fazer drama. ― E você tinha razão quando nós brigamos na casa dos Warren. Eu tenho que impor minha posição de homem comprometido diante das garotas que já fiquei ― fico abismada com sua declaração e de

queixo caído. O que aconteceu com aquele homem vaidoso que gostava de receber um flerte. ― E posso saber o que te fez mudar de ideia? Ele dá aquele sorriso torto que amo de paixão e murmura: ― Quando eu vi o Luca te olhando, cheio de desejo na porta da sua sala de dança, fiquei fora de mim. Só não fiz nenhuma besteira, porque lembrei-me de suas palavras e sabia que não tinha direito de cobrar nada. Como eu já falei, sou difícil de dizer o que

sinto. Mas quero que saiba que morro de ciúmes de você e chego a ficar cego e desestabilizado ― tive vontade gargalhar e dizer bemvindo ao clube meu bem, mas guardei meu sarcasmo para mim. Colei meu corpo ao meu namorado, cheia de carinho e sussurrei: ― Não fique preocupado amor, sou apaixonada por você. Ficamos nos olhando com olhos gulosos e cheios de promessa. ― Obrigado pelo que fez

hoje, Bia. Você evitou que a minha situação com Luca piorasse ainda mais ― seu olhar ficou límpido e verdadeiro. ― Às vezes acho que não te mereço morena. ― Se você continuar sendo este namorado maravilhoso... É claro que me merece sim ― ele dá um sorriso lindo e me beija cheio de vontade. E ali pressinto que a madrugada vai ser longa.

Capítulo 34 Realmente nossa noite foi bem longa e marcada por muito sexo e peripécias sacanas. Tommas é um homem cheio de desejos e muito consciente da sua sexualidade exacerbada. Às vezes, acho que ele não deve ser humano, tem um fogo e uma disposição de um triatleta. Se não fosse empresário, iria sugerir para trilhar pelo caminho do atletismo, porque força física, disposição e resistência não lhe faltam. Tenho certeza que se não fosse bailarina e

professora de dança, não conseguiria acompanhá-lo nesse quesito. Já teria sido consumida com tanta atividade física. Após aquele episódio terrível, não tocamos mais no assunto Luca e preferimos colocar uma pedra em cima. No domingo, encontramos Angelo e Marcelo para almoçar. E fizemos planos de viajarmos juntos para Veneza e passarmos alguns dias. Afinal, ir até a Itália e não conhecer a cidade dos canais é praticamente um sacrilégio. Depois que os deixamos, passeamos pelas

redondezas para fazer a digestão da massa, que aliás, os italianos que me perdoem, mas não vi nada de mais. Acredito que as nossas sejam mais bem recheadas.

UM MÊS DEPOIS...

Tommas a cada dia que passa está mais cheio de carinho e atenção. E comecei a relaxar na questão das minhas paranoias e inseguranças. Sempre penso nas palavras de papai, e deixo o barco correr seu rumo natural.

Passei a treinar todos os dias na nova sala e aqueles quilinhos que estavam deixando a calça mais justa, foram eliminados gradativamente. Tom se matriculou em uma academia do centro após começar a sentir os sintomas do sedentarismo, ele estava morrendo de medo de aparecer alguma dobrinha em sua linda barriga sarada. Infelizmente comer e não fazer nada só dará nisso. Falava com meus pais toda semana, era um compromisso sagrado que nunca foi negligenciado. Eles precisavam

saber que tudo estava ocorrendo dentro da normalidade. Isso lhes transmitia uma sensação de calmaria e segurança gigantesca. E a vida foi tomando seu rumo esperado. Certo dia, Tommas precisou ir até a filial em Livorno. E fiquei sozinha e entediada. Várias ideias mirabolantes começaram a se formar em minha mente. E sorri diante de tanta criatividade. Vou recriar a cena de um filme romântico e minha primeira providência é fazer o jantar. Opto por um fricassê de frango com arroz

branco e de sobremesa mousse de chocolate. Subo ao quarto e faço meu dia de spa caseiro. Começo com uma hidratação nos cabelos e pele, depilação em todos os lugares pertinentes e escolho um sapato de salto bem bonito. Nesse ínterim mandei uma mensagem para Tom de modo a saber em quanto tempo chegaria, poucos segundos depois, recebo a resposta me avisando que em duas horas estará em casa. Tive que correr para completar todas as tarefas e faltando 5 minutos desci e fiquei na

sala aguardando ansiosamente. Passaram-se 20 minutos e Tom chegou. Com cara de estressado e mostrando pouca paciência. Dei risada internamente, porque sabia que assim que me visse sua expressão iria mudar na hora. O ambiente estava perfeito. O jantar na mesa, com algumas velas ao redor, que proporcionavam uma leve iluminação na sala. Despertando uma sensação de sensualidade, intimidade e mistério. No exato momento em que

Tommas se virou e me fitou, notei sua feição se alterar, passando de aborrecido para surpreso. Avança em minha direção com aquele sorriso torto lindo e caminha como um predador em busca do abate de sua presa. Seus olhos azuis brilham como diamantes e transmitem uma mensagem de luxúria e desejo, sem nenhuma palavra ser proferida. Quase sem respirar, me obrigo a reagir diante de tamanha apreciação descarada. Tenho que admitir, que a cena que recriei desperta a libido de

qualquer homem. Estou totalmente nua, com exceção de uma gravata ao pescoço e sapato alto. Sentada em uma posição sensual com os dois pés cruzados sobre a mesa. A inspiração veio do filme Uma linda mulher, que tem como protagonistas Julia Roberts e Richard Gere. Que em minha opinião é um clássico pelos aficionados por romance. Tom se aproxima sem desviar os olhos e sussurra com aquela voz de timbre rouco e cheio de promessas. ― Que maravilha chegar em casa aborrecido e encontrar essa

gostosa pelada me aguardando com o jantar na mesa. Ah, Bia... Você me surpreende a cada dia, às vezes penso que não a mereço mesmo ― de imediato me suspende e sou colocada em seu colo. Saqueia minha boca de forma selvagem e rude. Estou enlouquecida com tanta fome voltada ao meu corpo e prevejo que o jantar ficará em segundo plano. Suas mãos e lábios estão em todos os lugares ao mesmo tempo. E sei que o sexo será cru, rude e animalesco da forma Tommas de ser, mas sou apaixonada pelo modo

como transamos e não quero imaginar nada diferente disso. Tom me penetra enquanto estamos na cadeira e ali cavalgo em seu colo como se não houvesse amanhã. Aquele homem forte, possessivo e grande, suspende-me em seus braços de modo a auxiliar nos movimentos de vai e vem, tornando tudo uma miríade de sensações e perco-me sentindo suas partes no meu corpo. Estamos perto da nossa libertação, respiração acelerada, corpo suado. Inalo seu cheiro de homem viril, que deixam meus

sentidos aguçados e choramingo que o amo. Em poucos segundos meus pelos se arrepiam e parto-me em mil pedaços, com Tom me acompanhando com um gemido gutural. O silêncio pós-gozo, predomina na sala. Sendo interrompido pela respiração pesada de cada um. O encaro cheia de carinho e palavras não ditas. Somente querendo desfrutar da sua companhia. Em momento algum sinalizo que quero me levantar e Tommas muito menos. Entretanto,

meu

estômago

resolve dar as caras e ronca bem alto. Caímos na risada e Tom murmura: ― Vamos alimentar a jiboia que mora no seu estômago, antes que ela saia da toca e decida me engolir. Desço do seu colo e finalmente degustamos do maravilhoso jantar no qual fiz com tanto carinho. Ele me elogia e diz que se surpreende pelo fato de cozinhar tão bem. Fico cheia de orgulho, e devo essa proeza à dona Patrícia, que sempre me aconselhou ao fato de saber me virar sozinha,

independentemente de ser solteira ou casada. Comer, todos nós precisamos e o melhor de tudo, é não precisar de terceiros para fazêlo. Após o nosso jantar, ainda percebo um clima tenso e pesado. Fico especulando sobre o motivo de Tom não ter relaxado depois das nossas brincadeirinhas. E sei que o detetive que mora em mim, vai entrar em ação. ― O que aconteceu, amor? Está estranho desde a hora que chegou... É alguma coisa séria no estaleiro? ― Fico tentando

especular o acontecido.

que

pode

ter

Ele se mexe no banco, passa a mão no cabelo e solta a bomba. ― O delegado, Bernardo Alvares da Polícia Federal, me ligou mais cedo para contar sobre algumas novidades do caso. Me avisou que o seu ex-sogro e sogra, foram presos, porém não conseguiram encontrar Enrico. Fico decepcionada, porque no fundo tive esperanças que todos fossem pegos de uma vez, mas espero Tom termina de relatar todo

o ocorrido. ― Mas o delegado resolveu me alertar, por que segundo seu exsogro, o Enrico deixou o país a poucos dias. E o pai dele diz não saber o seu paradeiro. Fico em alerta e os velhos medos e receios voltam à tona com toda velocidade. ― Bia! Ninguém sabe onde o Enrico pode estar, mas prefiro não me arriscar de ficar no mesmo lugar por muito tempo. Estou pensando em irmos passar uns dias na Alemanha. Assim você conhece

meu país e um pouco da sua cultura. Tento sorrir para disfarçar meu abalo emocional e sussurro: ― Claro Tom, vai ser um prazer conhecer a Alemanha e tomar um pouco da cerveja quente ― minha voz sai mais tremida e aguda do que eu esperava, mas recomponho-me imediatamente. Tommas segura meu rosto e dá um beijo casto e cheio de carinho. ― Não fique com esses olhinhos assustados minha linda, prometo que tudo vai dar certo.

Confio plenamente nas promessas do meu namorado e procuro olhar os acontecimentos de maneira positiva. Sem pensamentos negativos e pessimistas. ― E quando nós iremos embora então? ― O questiono para saber quando devemos arrumar nossa bagagem. ― Daqui a uns dois dias. Porém, vamos passar em Roma primeiro e de lá partimos para Frankfurt. Digo que sim e começo a preparar meu psicológico para

outra mudança. Principalmente para me despedir de Hércules, que fiquei apegada em tão pouco tempo. Felizmente, encontramos um lar para nosso amiguinho. Os caseiros da família Warren se ofereceram para adotá-lo, chorei horrores em nossa despedida. Entretanto, fui embora com a sensação de dever cumprido e alma lavada. Sabendo que Hércules seria feliz e bem tratado em sua nova casa. Enquanto estamos no carro, o silêncio se instala no ambiente. Já estou com saudade do meu cachorrinho e fico com o coração

doído e lágrimas nos olhos. ― Hei, não fique triste Bia... Eles vão cuidar bem do pulguento ― olho feio para Tommas e ele dá risada. ― Só vou sentir saudades ― sibilo respirando fundo, tentando controlar o choro. ― Quando tudo acabar, a gente volta aqui para visitá-lo, ok? ― Digo que sim. Me aconchego em seu corpo, de modo a não atrapalhar enquanto dirige. E agradeço a Deus pelo namorado maravilhoso que tenho.

Quando chegamos a Roma, nos hospedamos no mesmo hotel e Tommas avisa-me que no dia seguinte irá até o escritório de Angelo. Tenho o dia livre para passear, porque o voo para Alemanha será somente às 22:00 horas. O alerto para não entrar nas provocações de Luca e o mesmo somente revira os olhos, ignorando meus avisos. Espero não ter nenhuma surpresa com esses dois encrenqueiros. Logo pela manhã Tom se arruma para sair e está mais lindo do que nunca. Usa um terno cinza

chumbo e camisa azul claro. Parece um modelo da Vogue. Mas não fico tecendo tais elogios, para que seu ego não vire um balão meteorológico. Por volta das 10:00 horas levanto e vou me arrumar para dar um passeio. Quando estou pronta, o telefone do quarto toca. Atendo e a recepcionista avisa que o Luca está me aguardando na recepção. Fico intrigada com sua chegada e curiosa para saber o motivo da sua visita. Por um momento chego a pensar em dar alguma desculpa e não descer. Mas

a curiosidade me consome e resolvo recebê-lo e acabar logo com este mistério. Luca está maravilhoso em seu terno cinza claro de três peças, que tem um caimento perfeito em seu corpo esbelto e bem distribuído. Fita-me de maneira ansiosa e arrisco dizer que está preocupado com minha reação. Mas educada como sou, o cumprimento de maneira gentil e amável. E o convido a sentar no sofá da recepção. Aguardo suas palavras que não vem. O mesmo me observa e

nada diz, então resolvo quebrar o silêncio. ― Então Luca. O que você gostaria de falar comigo? ― Ele parece despertar de uma hipnose. Então abaixa a cabeça e sorri sem graça. ― Err... Desculpe Bia. Acho que fiquei perdido no seu olhar... Mas não foi para elogiá-la que vim até aqui. Na verdade, quem me incentivou a vir até esse hotel foi meu irmão. Preciso me desculpar de maneira correta. Olhe, sei que o modo como te tratei naquele dia foi imperdoável, mas gostaria de te

pedir desculpas mesmo assim. Você é uma pessoa maravilhosa, gentil, meiga e tem feito muito bem para o Tommas. Confesso que estou bem surpreso de como ele tem agido com você. Todo ciumento, protetor e apaixonado. Ele realmente não se parece com aquele imbecil de anos atrás ― Luca fala sem parar e depois fica em silêncio, pensativo e divagando. Encara-me novamente e termina suas justificativas. ― Enfim... Vim até aqui para pedir desculpas a você e Tommas. Estou embasbacada com seu arrependimento e quase sem

acreditar em tamanha mudança. E por mais que pareça difícil e pouco confiável, algo no meu interior diz que aquilo é verdadeiro e sem fingimentos. Então relaxo e sorrio abertamente para meu novo amigo. ― Fico muito feliz em ouvir isso, Luca e tenho certeza que Tommas também irá gostar. Apesar de ser sério e até meio seco às vezes, ele não gosta de ficar brigado e nem que guardem mágoa das suas atitudes ― pisco para Luca e concluo meu pensamento. ― E olha que falo por experiência própria.

― Será que ele vai aceitar me receber ― vejo que Luca teme a reações de Tom. Mas sei que meu namorado não é tão ogro como parece e logo o tranquilizo. ― Talvez ao vê-lo, fique um pouco receoso. Mas aposto que vai aceitar escutá-lo. Ficamos no sofá conversando por mais de uma hora, e ao sentir fome, percebo que já é hora do almoço e resolvo convidá-lo para almoçarmos no restaurante do hotel. Entre brincadeiras e risadas, nosso almoço passa voando. O

celular me alerta de uma mensagem e vejo que Tommas está voltando da reunião. Nos dirigimos até o sofá novamente e ficamos no aguardo de Tom. Logo meu deus nórdico desponta no hall e desfila em nossa direção. Quando se aproxima, percebo uma carranca no lugar do rosto lindo e relaxado que costuma acompanhá-lo. E me levanto para apaziguar qualquer mal-entendido. ― Olha amor, quem veio nos visitar ― sinalizo de maneira

relaxada, para que perceba que não precisa se aproximar todo armado e tenso. Ele fita Luca e a mim tentando decifrar alguma mensagem. Como se perguntasse em silêncio, se era necessário se armar para alguma batalha. Me aproximo e digo num sussurro: ― Está tudo bem, querido. Escute o que ele tem a dizer primeiro, porque veio de coração aberto. Meu namorado balança a cabeça em sinal de entendimento e

se senta perto do seu amigo. Saio de fininho e deixo os rapazes se entenderem sem minha presença no recinto. Subo para o quarto e fico aguardando o término da conversa cheia de expectativas. Depois de uma hora e meia, Tom aparece com os olhos brilhando e o semblante de quem está em paz consigo mesmo. E um alívio gigantesco toma meu corpo. Conheço aquele sentimento de dever cumprido, a sensação de ter uma pedra de cem toneladas retirada das costas. E contemplo a serenidade espalhando-se em sua

face. Tom se dirige em minha direção e deita ao meu lado de barriga para cima, olhando para o teto e sussurra: ― Obrigado, amor. Mais uma vez me ajudou com esse seu jeitinho especial ― nos viramos de frente e digo: ― Mas eu não fiz nada, dessa vez os créditos são do próprio Luca. Ele acaricia meu cabelo. ― A forma como você lidou com a situação o deixou desestabilizado. Luca nunca foi de

maltratar mulher ou desrespeitar as pessoas. Isso o agrediu de alguma maneira, que o chamou a razão novamente ― vejo aprovação em Tom e sei que tudo acabou bem. ― Conversamos bastante e foi colocado um ponto final no assunto. ― Nossa, que ótima notícia amor. Estou vendo o alívio em seu rosto. É uma sensação boa, não é? ― É uma sensação maravilhosa. Antes eu tentava não pensar muito no que aconteceu, porque me incomodava demais. Mas agora, depois de tudo resolvido. O bem-estar é gigantesco

e causa um sentimento bom. ― Isso se chama perdão e sempre faz bem à alma mesmo. Tom está totalmente animado, após este episódio e decidimos sair para caminhar e aproveitar as últimas horas em Roma. Depois de retornarmos, arrumamos as malas e rumamos para o aeroporto. Lá ficamos na sala da primeira classe da companhia aérea. E digo com propriedade que dinheiro pode não trazer felicidade, mas o conforto que ele traz é muito bem-vindo. Desfruto de todas as regalias que a empresa alemã oferece como

Buffet, wi-fi, jornais, revistas, bebidas e tenho direito até a kits de cremes e sabonetes para o corpo da L´occitane. Como sou pobre convicta, não me faço de rogada e levo meus kits numa boa. Tom dá risada do meu olho grande, porque peguei logo dois. O voo dura cerca de 2 horas e chegamos por volta de meia-noite em Frankfurt. Após passarmos pela imigração no qual o funcionário da alfandega cismou comigo e ficou fazendo uma verdadeira entrevista. Estamos na área de desembarque aguardando um táxi e o frio na

cidade está de congelar os cabelos. Fico de pé divagando que ali naquele momento, mais uma página da minha história está sendo virada e o desconhecido me causa arrepios.

Capítulo 35 Frankfurt não era bem como eu imaginei, porque o antigo e o moderno se confrontavam a todo instante. Claro que os casarões e arquiteturas mais velhas eram em maior proporção. Mas havia muitas construções arrojadas. Desde arranha céus a casas mais modernas. E pela janela do carro, fiquei como expectadora. Absorvendo todas as imagens que se passavam pela minha frente. Nunca em 100 anos, pude imaginar que iria visitar Frankfurt

no auge do inverno. E menos ainda estar ao lado de um alemão lindo, que é nativo da cidade. O cenário é espetacular, a cidade está coberta de neve. A cor branca cobre boa parte dos telhados e calçadas das ruas. Uma típica visão de janeiro em pleno inverno. Tom me mostra algumas coisas e narra um pouco da história da sua cidade. Meu alemão fala que tem alma de brasileiro, mas que ama sua terra natal e que em alguns momentos sente saudade do seu povo. Eu o entendo. Estou fora do Brasil a quase dois meses e já estou

sentindo falta de tudo. Comida, família, amigos e até dos meus conterrâneos. Mas não quero nem cogitar a ideia de que ele volte a morar na Alemanha. Prefiro não alongar o assunto. Em nosso trajeto, observo tudo atentamente, tentando absorver tudo que vejo. Paramos em frente a um prédio baixo de no máximo 4 andares, enquanto Tommas paga o taxista e retira nossa bagagem, fico olhando tudo ao meu redor. A rua tem prédios no mesmo estilo e algumas casas com aquele telhado

pontudo que é marca registrada de lugares frios. Sorrio, porque é tudo tão diferente do Brasil, que tenho a sensação de estar em outro mundo. Enquanto me deslumbro mediante a tantas informações. Ele chama minha atenção. ― Bia! Está com uma cara de espanto... Sei lá, meio aérea. Tudo isso é sono? Ou não gostou do lugar? Dou risada, porque a minha cara está mais para deslumbrada. O bairro que Tommas mora é uma graça e bem distinto de onde ficamos na Itália. E confesso que

essa diversidade me deixa extasiada. Sempre quis conhecer outros países e culturas variadas, pessoas diferentes. E poder viver isso com Tommas está sendo muito gratificante. ― Imagina Tom! Seu bairro é uma graça, parece ser bem familiar e sossegado. Mas vamos subir que estou bem cansada e não vejo a hora de tomar um banho e descansar. Enquanto entramos Tom fala um pouco sobre o bairro, que se chama Sachsenhausen. E que fica próximo há alguns museus e

atrações turísticas. Pegamos o elevador e quando entro no apartamento, fico surpresa novamente. O mesmo é antigo, porém muito bem decorado e com cômodos amplos. Tommas me conta que é alugado, pois seu apartamento antigo, foi vendido logo que se mudou para o Brasil. Vasculhamos tudo. Olhamos todos os detalhes como quartos, banheiros, cozinha, sala e área de serviço. Quando fico satisfeita paro e resolvo desfazer a mala. Quase às 3:00 horas fomos

deitar, estamos completamente esgotados e exauridos. No dia seguinte, acordamos por volta das 10:00 horas e combinamos de comer na rua. Não havia comida no apartamento e ainda era necessário fazer compras, entretanto, antes de sairmos, Tom resolve me presentear. Fico chocada com seu carinho inesperado. Entrega-me uma caixa preta quadrada e me pego tentando adivinhar o que pode ter lá dentro. Quando a abro fico estarrecida. Tem um colar lindo de ouro e o

mais bonito de tudo, são os pingentes, composto por três correntes e em cada uma, tem pingente pendurado. O primeiro é um gato que acredito que simbolize o Amendoim, o segundo é uma patinha e na hora penso em Hércules e última é uma bailarina. Quando levanto o meu rosto e o fito, meus olhos estão marejados. Jogo-me em seus braços, não pelo presente, mas pelo carinho de tê-lo escolhido, pensando em cada significado. ― É um presente simples, Bia. Mas sei que cada pingente tem

um significado importante para você. ― Foi um dos presentes mais lindos e cheio de carinho que já recebi, amor. É perfeito, obrigada. ― Só te peço uma coisa ― Tommas sussurra com a feição séria. ― Não o tire enquanto estivermos viajando. Gosto de vêla com algo que dei ― estranho seu pedido, porque nem sempre esse acessório ficará bonito com todas as roupas, mas decido não o aborrecer. Afinal, depois desse gesto seria uma grosseria da minha parte.

Tomamos café em uma confeitaria perto de sua casa e comi um delicioso bolo alemão de natal. Que parece um panettone coberto de açúcar. Após sairmos de lá, andamos um pouco pelo bairro para conhecer as redondezas. O mesmo tinha bastante movimento, porém não era nada exagerado ou barulhento. Com alguns comércios próximos ao nosso prédio e de fácil acesso para outras regiões. Com as horas avançando, resolvemos ir até a casa dos pais de Tommas, que já haviam retornado do Brasil após o ano

novo. Tom aluga um carro pela internet, que é entregue em nossa porta. Entramos na luxuosa BMW X5, posso afirmar que o carro é um show automobilístico. Com espaço interno satisfatório e acabamento de ponta. Todo em couro bege e madeira escura, papai ia adorar andar nesta máquina. Seguimos para casa de Hanz e Leila que fica situada em um bairro mais afastado do centro da cidade. Quando chegamos, novamente me vejo extasiada com tanto requinte e bom gosto. Leila

sabe como decorar um ambiente doméstico. Somos recebidos com extrema simpatia e gentileza pelos meus sogros. Leila é uma mulher inteligente, boa anfitriã e divertida. Graças a Deus nos demos bem desde o princípio e pude vê-la como uma aliada de peso em nosso relacionamento. Hans apesar de ser mais calado e contido, tem se mostrado um tanto engraçado em nosso almoço. Rolamos de rir com ele nos contando piadas em português, o mais divertido era seu sotaque.

Tivemos ótimos momentos juntos e pude conhecer intimamente os pais de Tommas. Leila contoume sobre a difícil adaptação na Alemanha e falta que sentia do seu país, cultura e familiares. Quando ficamos sozinhas, Leila resolveu me perguntar sobre Enrico e vi em seus olhos que não havia julgamento e nem desaprovação. Narrei detalhadamente sobre o nosso noivado e tempo juntos. E que meu ex-noivo se escondia na capa de um falso cidadão da sociedade. Minha sogra arregala os olhos enquanto eu

falo e pude perceber seu temor referente a todos os acontecimentos. ― Enfim... Essa é a minha história ― fico um pouco receosa. Porque intimamente, tenho receio de que Leila pense que estou pondo seu filho em risco. Entretanto essa mulher rica e poderosa me surpreende mais uma vez. Ela me abraça e percebo um soluço de choro. Fico atônita sem saber como devo agir e ao nos largarmos encaro seus lindos olhos castanhos que agora estão vermelhos e inchados pelas

lágrimas. A mesma sorri e sussurra: ― Você é tão jovem e cheia de vida, não merecia estar passando por esta provação querida. Só de imaginar, o que seus pais estão sentindo, fiquei abalada ― Leila dá um sorriso fraco que não alcança seus olhos. ― Sempre quis ter uma menina, mas devido a complicações no parto de Tommas, não consegui segurar nenhuma gravidez. Tive que me contentar em ser mãe de filho único. E agora olhando para você, penso que eu poderia ter uma filha na sua idade. Realmente

foi

gratificante

ouvir isso da sua boca e ali soube que nascia uma afinidade entre nós. Que poderia contar com Leila para qualquer coisa, que nas entrelinhas estava sendo adotada. Tommas entra na sala e percebe nosso estado, fica preocupado e se dirige a mãe. ― O que está acontecendo? Por que vocês estão chorando? Leila dá risada, faz um carinho no rosto do filho e fala de maneira carinhosa. ― Nada de mais filho. Só estamos nos conhecendo um pouco

mais e acho que ando muito sentimental ultimamente ― minha sogra pisca para mim e se levanta. ― Bia! Você disse que sabe tocar piano, será que pode nos dar uma pequena amostra do seu talento? ― Fico vermelha como um tomate e envergonhada diante do seu pedido. ― Você sabe tocar piano morena. Por que nunca me disse? ― Ah, sei lá. Nunca entramos nesse assunto de música. Por isso nunca mencionei nada. Leila leva-me para o seu

lindo piano de cauda, que está posicionado em um canto da sala. Estou nervosa, porque fora os meus pais e minha professora. Nunca toquei para ninguém. Meus dedos tremem e suo em bicas com receio de fazer feio na frente de seus pais. Começo as notas tentando desenferrujar meus dedos, afinal não toco a cerca de dois anos. Mas quando começo, é como andar de bicicleta, o cérebro se recorda automaticamente e a melodia flui de maneira natural. Naquele instante me desligo e interpreto a linda música de Chopin - The Entertainer.

O som era melodioso, intenso e divino como foi o artista. E enquanto dedilhava cada nota, recordando da partitura, tive uma lembrança de papai que amava me escutar tocar e dizia que eu nasci com alma de artista. Marco Antônio sempre me incentivou nas aulas e cursos de dança. E a única coisa que me pediu, foi que aprendesse a tocar algum instrumento e no começo fiz para agradá-lo, entretanto com o tempo fui me apaixonando de verdade. E hoje posso dizer com toda convicção, o piano me faz viajar e transpor qualquer sentimento ruim. Fico de

alma lavada e coração aquecido. E quando termino minha música estou renovada e cheia de alegria. Leila, Hans e Tommas aplaudem encantados. E percebo que agradei minha pequena plateia. Minha sogra me abraça novamente e diz: ― Menina, você é muito talentosa. Não é todo mundo que sabe tocar tão bem Chopin. Dou uma risada sem graça e aviso que tive aulas de piano por 6 anos. Tom me encara cheio de

admiração e sei que ganhei alguns pontos com todos naquela casa. A tarde foi mais que agradável e decidimos ir embora para nosso apartamento, mas pelos olhares do meu namorado a noite seria cheia de promessas bem picantes. E adorei tais ideias. Quando chegamos, tomei uma ducha e coloquei uma camisola bem bonita para seduzi-lo e deixá-lo com pensamentos bem animados. Achei que ao me aproximar da cama, iria ser devorada viva pela sua impetuosidade e lascívia, que meu alemão já ia se deliciar no meu

corpo. Entretanto, sua reação foi bem diferente do esperado. Estava encostado na cabeceira da cama e me puxou para ficar aninhada em seu peito, me aproveitei da situação e alisei seu peito duro, acariciei sua pele cheirosa e sedosa. Tudo nele me fazia vibrar e despertava a minha libido. Sentia-me uma loba no cio, em busca de libertação. Entretanto, com aquela atitude, Tom estava querendo me dizer ou mostrar algo. Então fiquei aguardando seu próximo passo. de

― Ah Bia! Você é uma caixa surpresa, morena. Nunca

imaginei conhecer tantos talentos em uma pessoa só ― sussurrou cheio de carinho, acariciando meus braços. ― Imagina Tom! Sou uma mortal comum como qualquer pessoa da minha idade ― digo revirando os olhos, porque realmente não tenho nenhum talento acima do normal. ― Você é especial, linda, boa filha, leal, vê sempre o lado bom das coisas e busca sempre cuidar de algum animalzinho de rua toda vez que os encontra ― dou uma risada alta do seu último

comentário, porque sei que é verdade. Gostaria de ter uma casa bem grande para cuidar de vários bichinhos, mas a vida nem sempre é da forma que sonhamos. ― E isso me faz ser tão talentosa? ― Te faz ter várias facetas na mesma mulher, e isso é bem incomum em todos os relacionamentos que vivi. Com você, estou vivenciando algo novo e sem precedente. Às vezes assusto-me com a rapidez dos meus sentimentos, porque tento entendêlos da maneira correta ― fito seus

olhos e vejo confusão e receio, como se tentasse lutar contra algo que está sentindo, como se temesse o que está passando em sua cabeça naquele momento. ― O que sinto por você, foi mais longe do que jamais pensei e com certeza eu te... ― O celular de Tommas começa a tocar antes de terminar a frase e fico frustrada, subindo as paredes e com raiva de quem está ligando. Escuto de longe Tom falar com seu pai e parece ser algo importante. Tom fica com a feição preocupada e se agita no mesmo instante. Porém, não consigo

entender nada, por que falam em alemão e deixa a compressão impossível. Logo que termina, Tom senta na ponta da cama e está em um silêncio sepulcral. ― Houve uma explosão no estaleiro aqui da cidade, matando dois funcionários e ferindo cinco. Vou precisar ir até lá para me inteirar do que aconteceu realmente, enfim, dar assistência aos que precisam ― Tom está abatido e preocupado. E com toda razão, perder funcionários desta forma não deve ser agradável. ―

Ok amor. Vá tranquilo,

que te espero por aqui. Ele se troca e sai em disparada para encontrar seu pai que já estava a caminho. Fico chateada pela perda de vidas inocentes. E a tristeza me toma só de imaginar esposas, mães e filhos lamentando seus entes queridos. Enquanto estou divagando sobre esta tragédia a campainha toca. Fico confusa, Tom tem a chave e o medo volta a me assolar. Espio pelo olho mágico e não posso acreditar na cara de pau de

quem está na minha porta. Abro a porta cheia de fúria e não faço questão de disfarçar. E a figura alta, magra e loira a minha frente, me fita cheia de altivez. ― Melanie?

O que

você

quer

Capítulo 36 Estou com a porta aberta de frente para Melanie. Aguardo seu pronunciamento por alguns segundos e nada sai de sua boca, mas continua me fita cheia de ódio e rancor, não preciso de uma bola de cristal para saber que me detesta. Fico em dúvida se bato a porta na sua cara ou espero por alguma resposta. E para minha tristeza, sou empurrada e ela entra sem ser convidada. Seus passos são seguros, bem calculado e exalam riqueza e elegância. E quem a visse

de longe, acharia que está lidando com uma mulher fina e cheia de classe. Entretanto, a verdade é bem diferente disso. Não passa de uma garota insegura, mimada e sem amor próprio. ― Você sabia que não é de bom tom deixar uma pessoa em pé na porta esperando... Ah, esqueci, você não deve conhecer muito bem dessas regras de etiqueta, não é mesmo? Dou uma risada sarcástica, porque realmente ela me dá pena. Mas não me deixo ser vencida por suas provocações infantis de jardim

da infância. ― Bem... Outra regra de etiqueta, é que você deve oferecer algo para a visita beber ― diz a magrela cheia de pose. Aí penso em mandá-la à merda e depois volto atrás. Serei mais criativa dessa vez. ― Ah claro! Como sou relapsa ― cruzo meus braços na frente do peito. ― Hum... Temos cianureto de potássio, veneno de rato com chocolate quente e urina com suco de cranberry. Eu recomendo a urina, por não ser

letal. O que prefere? Encara-me com menosprezo e retruca cheia de si. ― Se eu fosse você, começaria a ser mais humilde, porque pode precisar da minha ajuda Bianca. A cobra pronuncia meu nome pausadamente em tom de deboche. Como se tivesse uma carta na manga contra mim. Fico alerta a sua ameaça velada. E algo me diz que Melanie sabe mais do que demonstra. ― Do que você está falando

garota? Anda logo e desembucha. ― Não seja ingênua Bianca! Logo seu ex-noivo bandido vai pôr as mãos em você. É só uma questão de tempo. Suas palavras me deixam desconfortável. Porque elas são ditas de maneira segura e cheia de certeza. Como se Melanie estivesse de posse de alguma informação valiosa ― a fito desconfiada sem saber qual é o seu objetivo. ― Se for esperta, vai aceitar a minha proposta ― olha-me cheia de si, como se ela fosse um oásis

no meio do deserto. Fico em silêncio aguardando a tal proposta, que pelo pouco que a conheço deve ser algo estapafúrdio. ― Te ofereço uma quantia bem razoável em dinheiro, passaportes e documentos com nome falso. Assim seu ex nunca vai conseguir encontrá-la. E você pode se mudar para qualquer lugar do planeta sem ser encontrada. Mas claro, tudo tem um preço. ― E qual é o preço? ― Você vai embora sem se

despedir de Tommas e nunca mais irá procurá-lo. Fico chocada com o que me oferece. É óbvio que deve ser uma furada. E quem me diz que estes documentos não são frios e quando passar em algum aeroporto ou fronteira não serei presa. Para Melanie, seria ótimo me colocar fora de circulação. Deixar-me longe de Tommas, com caminho completamente livre para suas armações. ― Você realmente acha que sou idiota para acreditar no seu discurso de boa samaritana? Que

não vou desconfiar das suas armações? ― A olho intensamente de maneira que entenda que não está lidando com uma tonta. ― É a sua melhor opção querida. Porque quando seu noivinho te pegar, não desejo estar na sua pele. Ergo meu nariz e resolvo deixar de ser sensata. Vou colocar está criatura no seu devido lugar. ― Se ponha daqui para fora, porque não é bem-vinda ― avanço na sua direção cheia de ímpeto e raiva pelo seu atrevimento de

propor aquilo. De pensar que eu iria me deixar ludibriar por uma arapuca mal planejada. ― Quando ele te pegar, você vai lamentar não ter ido embora ― seus olhos estão em labaredas, crispando de rancor. ― Como tem tanta certeza que Enrico vai me achar? ― A confronto. Porque desconfio que Melanie está envolvida com ele. Afinal, os dois tem algo em comum. Destruir-me totalmente. ― Seu noivinho é envolvido com gente da pesada, querida. Mais

cedo ou mais tarde ele vai conseguir o que quer. E quando Tommas se cansar de ser o anjo da guarda, o seu reinado irá acabar, ficará desprotegida e aí, bingo. Ponto para o bandido. Pronuncia as palavras cheia de júbilo e satisfação. Minha intuição diz que Melanie é mais perigosa e baixa do que parece. Que em sua proposta está embutido o alerta de cuidado. E dou minha cartada final. ― Avise para o Enrico que prefiro morrer a ficar ao seu lado. Que depois que conheci um homem

como Tommas, não aceito uma cópia fajuta e de péssima qualidade. Melanie arregala os olhos e tentar disfarçar sua ira. ― Não sei do que está falando, não tenho contato com este tipo de gente. Sou de uma família tradicional, não confraternizo com bandidos ao contrário de você. Me enfureço com sua conversa fiada. Seguro seu cabelo com uma mão e dou um tapa bem forte em seu rosto. A puxo com bastante força e a ponho para fora.

Cansei de suas ameaças silenciosas e pelo que percebi, Melanie está bem envolvida com este psicopata. Quando a empurro para o corredor e fecho a porta, a louca grita junto à porta. ― Você me paga Bianca. Tentei te dar uma chance de se salvar, mas cuspiu em minha oferta. Saiba que não irei parar, até ver o seu fim. Tommas não ficará com você. Eu juro. Estremeço diante de suas palavras de maldição. E ali percebo que a loira declarou guerra

abertamente e que não irá descansar até acabar comigo. Nas horas seguintes, estou abalada e sem concentração. Tento ler um livro, ver televisão, ficar na internet. Mas nada tem efeito. O que me disse fica repercutindo na minha cabeça “Saiba que não irei parar, até ver o seu fim”. Um calafrio percorre minha espinha, como se uma premonição tivesse sido anunciada. Peço a Deus que guarde minha família e as pessoas que amo. Porque não saberei lidar com a culpa, se alguém se machucar por minha causa.

Tento me distrair de qualquer jeito, infelizmente não posso ligar para meu namorado, com os problemas que estão ocorrendo no estaleiro. Resolvo chamar papai no Skype. Desta forma me distraio e esqueço daquela angustia traiçoeira. ― Olá meu amor. Como você está? ― Papai me cumprimenta todo feliz e de alto astral. Sorrio fracamente, tentando encobrir minha apatia. Porém, ele me conhece como ninguém.

― O que foi filha? Por que está com essa carinha de desconsolada? Penso em algo rápido. Marco Antônio não é uma pessoa fácil de se ludibriar. E tenho que ter algum argumento para meu estado de espirito. ― Não é nada sério, pai. É só briguinha de namorado ― dou um sorriso de lado para tentar enganá-lo e graças a Deus, ele morde a isca. ― Filha! Já falei para ter paciência com seu namorado. Vocês

estão a pouco tempo juntos. Seja sábia e madura, meu amor, que tudo vai dar certo. Quando ele estiver seguro do que sente, vai se declarar numa boa. Aceno positivamente e logo mudo de assunto. Porque os chamei para saber como estão e matar a saudade. ― E como vocês estão papai? Mamãe já chegou do trabalho? Por causa do fuso horário no Brasil, naquele momento é fim da tarde na Alemanha.

Mamãe logo aparece na tela me mandando um beijo. Mantenhome firme e converso normalmente com os dois. Em momento algum toquei no assunto de Melanie ou deixei transparecer o que estava acontecendo. O fato de estarem bem e seguros era reconfortante para minha alma perturbada. Passava-me a falsa sensação de calmaria e bemestar. E naquele instante, era tudo que precisava para me manter nos eixos. Conversamos por cerca de 20 minutos e papai me conta sobre o novo projeto da empresa, no qual

terá que viajar diversas vezes para uma cidade vizinha à Curitiba. Narro um pouco sobre Frankfurt e nos despedimos com a promessa de conversar na próxima semana. As horas passam e nada de Tom chegar, fico preocupada e querendo notícias. Não quero ligar para não o atrapalhar. E quando estou quase surtando de tanto silêncio, escuto o barulho da chave, virando na fechadura. O alívio me toma, quando vejo sua figura passar pela porta. Ele avança na minha direção

com o rosto contorcido de tristeza e se senta no sofá ao meu lado. ― E então, o que aconteceu? ― O questiono sobre o acidente. Tom respira fundo e sibila: ― Tudo indica que foi um incêndio criminoso, Bia. Não é certeza ainda, mas pelo modo como as coisas foram deixadas, é o mais provável. Meus pelos se arrepiam e tenho vontade de me jogar pela janela. Não é necessário ser um gênio para saber quem está por trás de tudo isso. E a culpa me

espezinha mais uma vez. Terei de conviver com o fato de duas pessoas terem morrido e outras 5 no hospital, por causa da vingança obsessiva do Enrico. Lágrimas descem sem controle e fito seus lindos olhos, que me encaram cheios de ternura. ― Não faça isso, Bia! Não foi culpa sua e nem temos certeza de nada ― dou uma risada sarcástica e solto um comentário ácido: ― Oh, claro. Do nada terroristas resolveram atacar um

estaleiro na Alemanha. Por favor, Tom. Não me venha com essa. Sou a única culpada pela dor destas famílias. Meu namorado me segura pelos dois braços de modo que o encare de frente. ― Me prometa que não fará nenhuma loucura? ― Abaixo minha cabeça sem saber o que dizer. ― Me prometa, Bia! Digo que sim, mas estou confusa e triste demais para ter certeza do que estou dizendo. ― Nós teremos segurança 24

horas por dia e você jamais sairá sozinha. Ok? Aceno positivamente e o mesmo me abraça tentando me proteger e confortar. Depois disso sobre a loira cobra.

conto

tudo

― Bia! Desculpe... Mais não acredito que Melanie possa estar envolvida com o Enrico. Ela é meio doida, mas não se meteria com gente da laia dele. Fico brava que Tommas não acredite nas minhas suposições. Melanie já demonstrou vários

indícios de sua obsessão e desequilíbrio. O que mais ela precisa aprontar, para que o alemão se dê conta da sua falta de caráter? ― Tommas, entendo que não queira acreditar, por ela ser sua amiga de infância. Mas se tivesse presenciado seu ataque psicótico aqui na sala, me daria razão. Tom continua resistindo a ideia de sua amiga ser uma bandida e me aborreço profundamente com sua defesa. Decido não levar o assunto adiante, porque estou desgastada emocionalmente e fisicamente. Tenho a sensação de

estar com um saco de 50 quilos nas costas e preciso me livrar desse peso. Tomo um remédio para enjoo, que sei que fará dormir em poucos minutos e desabo na cama esperando o cansaço me engolir. Pela manhã Tommas acordame, dizendo que precisa se dirigir ao escritório para resolver algumas coisas pertinentes ao acidente e que voltará até a hora do almoço. Levanto-me cheia de preguiça e sentindo o corpo moroso devido à medicação tomada na noite anterior.

Tomo uma ducha e faço minha higiene matinal. Quando me dirijo à cozinha, Tom já havia deixando torradas prontas e suco de fruta na jarra. Meu amor é um anjo mesmo. Abro meu laptop para sapear algumas coisas. Quando estou no Facebook olhando as notícias dos amigos. Meu computador trava e o cursor começa a mexer sozinho. Entrando em páginas desconhecidas, no qual nunca acessei. A impressão é que está com algum vírus e o pior acontece. A câmera do meu aparelho se abre e do outro lado da tela vejo meu

pior pesadelo. Fico sem ar e sem reação, o choque toma conta do meu corpo e pressinto que o ataque de pânico está me engolindo. Os pelos do braço e nuca se arrepiam, e o gosto de bile sobe pela garganta. Aqueles olhos que tanto amei um dia, hoje só demonstram ódio, rancor e maldade. E vejo as labaredas da insanidade consumirem suas íris. Transformando suas feições que anteriormente eram bonitas e ternas, em algo maligno e diabólico. O Enrico que se apresenta na minha

frente é uma sombra de quem foi um dia. ― Olá, borboletinha linda! Que saudade de sentir seu cheiro, sua pele e seu gosto. Mas você tem sido uma menina muito má e me dado muito trabalho. Tive até que provocar um acidente por sua causa. E te pergunto. Quantos mais terão que morrer por sua causa? Fico paralisada com sua loucura. Enrico simplesmente tira a máscara, mostrando o psicopata frio e desalmado que é. Sem um pingo de culpa ou remorso narra tudo que fez e ainda brinca com a

situação. ― É uma pena que algumas pessoas tenham virado churrasco, no ocorrido. Mas é a vida, alguns perdem outros ganham. ― Seu cretino... Filho da puta. Como ousa desdenhar daqueles coitados que morreram por sua culpa? ― A ira e raiva é tanta, que fico fora de mim e vômito toda minha indignação na sua cara. ― Prefiro morrer, a ter que me deitar com um porco como você. Me sinto enojada só de olhá-lo na sua cara.

Enrico se agita e vejo que toquei no seu ponto fraco. Aproxima-se da tela com o olhar inflamado e grita completamente fora de si. Com olhos de alguém totalmente desequilibrado: ― Morrer! ― Ele dá uma gargalhada maligna. ― Morrer seria muito fácil, borboletinha. Você irá sofrer dia após dia, irá desejar o túmulo do que ficar em minhas mãos. E se arrependerá de ter me desprezado e jogado fora meu amor ― estremeço com suas palavras e um nó se forma em minha garganta. ― E aquele seu

namoradinho de merda, vai sofrer as consequências de ter me irritado ― faço a única coisa que me vem à mente, fecho o computador com toda força para cortar a conexão. Fora de mim e desesperada, sei o que devo fazer, mas me falta coragem. Procuro forças no meu interior para executar minha árdua tarefa. Não posso deixar que Enrico acabe com a vida do meu amor. Será necessário afastá-lo o quanto antes. Não posso deixar mais ninguém sofrer por minha causa, já basta as duas vidas que foram ceifadas. Preciso dar um jeito de tirar Enrico da Alemanha, e a única

maneira, é indo embora sozinha e deixando meu namorado para trás. Será difícil abrir mão de seu amor, doçura e carinho. Porém, não posso ser egoísta e continuar com meu conto de fadas, enquanto outros inocentes morrem. Faço uma pequena mala com alguns pertences, pego meu passaporte e em seguida ligo para Tommas. Lhe devo uma ligação de despedida e preciso escutar sua voz pela última vez e que Deus me ajude nessa fuga.

Por Enrico

Bia é uma fraca, como sempre. E estou conseguindo minar sua sanidade. Cada pessoa inocente que atinjo, vejo sua boa vontade ruir e se dissipar. Está tão desestruturada emocionalmente, que vai cair na minha armadilha com facilidade. Basta que eu lhe mostre minha pequena surpresinha, que irá reconsiderar na hora e voltar para minhas mãos conforme tenho esperado por tanto tempo. Confesso que estou excitado e ansioso para tocá-la novamente. Vou usar e me

fartar de seu corpo e depois descartá-la como se fosse lixo. Bianca será vendida para o mercado Russo, já tenho até um cliente interessado em comprar uma escrava brasileira. Será bem engraçado quando ela colocar os olhos naquele velho asqueroso e pervertido. Terá que o servir sexualmente, até que ele se canse e a mate. Bianca sofrerá até o fim de seus dias e isso me deixa exultante e com vontade de transar. Aquela vadia irá se lamentar por tudo que me fez. Eu juro. Ninguém diz não

para mim.

Capítulo 37 Quando vou ligar para meu namorado, resolvo interromper a ligação, porque lembro-me dos seguranças que estão no hall do prédio. Com certeza Tom não irá aceitar minha decisão e mandará que me interceptarem. Tenho que ser mais esperta e sair primeiro. Desço sem a mala a procura de uma saída de escape. E vejo que posso escapar pela aérea dos funcionários, que é um corredor pequeno, que dá acesso à parte de traseira do edifício. Subo

novamente e pego meus pertences que estão na pequena mala de rodinha, a carrego na mão, de modo a não chamar a atenção e consigo sair do prédio conforme meu plano inicial. Na rua começo a vagar sem saber que rumo devo tomar, mil pensamentos povoam a minha mente e nenhum faz sentido. A única coisa no qual tenho certeza, é que preciso me despedir de Tommas e finalizar esta etapa. Antes de seguir para o aeroporto. Enquanto caminho sem destino, avisto uma pequena praça

rodeada de bancos e um singelo jardim no meio a adornando. Dirijo-me para um banco que fica em um canto discreto e ali inicio o meu martírio. O celular toca quatro vezes. Até que ouço aquela voz rouca e grave, que fez girar meu mundo em diversas situações. Naqueles poucos segundos antes de começar a falar, tantas imagens povoam minha cabeça. Nosso primeiro encontro, a decepção de achar que aquele alemão era mais um mulherengo passando em minha vida. A sua teimosia em conquistar-

me, as diversas vezes que esteve ao meu lado, quando todo este suplício começou. Apesar de nunca dizer que me amava, considero-me uma mulher de sorte, pelo simples fato de tê-lo conhecido. Tommas me transformou completamente. Passei da água para o vinho. Mostrou-me que devo ser sempre autêntica e verdadeira em um relacionamento e não apenas aquilo que esperam de mim. Entrei menina ingênua e saí mulher completa. A dor ainda sonda e espezinha meu interior, porém sei que estou cuidando de quem eu amo. A tristeza de perder qualquer pessoa do meu convívio teria um

efeito devastador e irreparável na minha alma. Uma música antiga, dos anos 80 fica passando pela minha cabeça nesse momento fatídico. Chama-se I want to know what love is do Foreigner. Eu quero saber o que é o amor Eu quero que você me mostre Eu quero sentir o que é o amor E quando penso nesse refrão, sei que Tom mostrou-me tudo isso. E a tristeza se expande pelo meu

corpo, que agora dói de saudade. ― Oi Tommas! Preciso conversar. Você tem um tempinho? ― Claro amor. Você está com a voz estranha. Aconteceu alguma coisa? ― As lágrimas estão represadas nas bordas dos olhos. Mais a determinação de protegê-lo é bem maior. ― Eu vou te amar para o resto da vida Tom... Nunca vou te esquecer. Tudo que vivemos foi tão perfeito, tão verdadeiro e intenso. Vou levar comigo o cheiro da sua pele, o som da sua voz e as imagens

dos seus olhos. E isso vai me confortar nos meus dias de solidão e tristeza ― o silêncio do outro lado é excruciante e sei que está magoado com a minha decisão. ― Não faça isso, Bia! Espere-me em casa. Estou saindo agora e vamos dar um jeito em tudo. Não percebe, que é isso que aquele crápula quer? Está minando suas forças, mexendo com o psicológico. Te fazendo se sentir culpada para te pegar sozinha. ― Sinto muito. Mas não posso te perder... E nem permitir que ele machuque alguém que amo

― as palavras saem sussurrada da minha boca, tamanha a dificuldade em pronunciá-las. Então escuto aquilo que tanto almejei em nosso relacionamento. E lamento ser tarde demais. Um soluço é ouvido do outro lado da linha e percebo que meu namorado está chorando. Fico atônita. Tommas é a pessoa mais forte e dura que conheço. E nunca pensei em presenciar tanta fragilidade da sua parte. ― Bia! Não vá embora, por favor. Será que não percebe que eu te amo. Sei que sou a porra de um

covarde e tive medo de dizer o que sentia. Mas não quero e nem posso viver sem você... Me preocupo com sua segurança. Quero saber que está bem, e ao meu lado. Só de imaginar que aquele lixo pode te tocar, fico enlouquecido de ódio. Sou consumida pela tristeza. Infelizmente não podemos ficar juntos e o peso dessa revelação é devastadora. Me transformo em uma massa de emoções e uma miríade de sentimentos fica girando dentro da minha cabeça. Seguro-me no banco para não desmaiar. Porque o descontrole quer tomar o

lugar da razão. ― Adeus amor. Obrigada por tudo ― e desligo com lágrimas que descem sem o menor esforço. Aperto o aparelho nas mãos, para tentar segurar meu desespero. Tento encontrar algum fio de esperança, mas meu pobre coração se negar a querer continuar sem ele. Puxo lá do fundo a pouca de coragem que me resta, arrasto minha mala e avanço a procura de um táxi. O meu celular vibra sem parar, sei que é ele, tentando me fazer mudar de ideia. Desligo o aparelho de modo a não perder o

ímpeto de seguir adiante. Pego o primeiro táxi que passa e sigo meu destino. Quando chego ao aeroporto, encosto-me em um canto discreto e tento decidir qual será meu o destino. Pretendo viajar para algum país da América Latina para passar um tempo. Com a pequena poupança que tenho, consigo sobreviver por alguns meses. Quem sabe tenho sorte de arrumar algum trabalho temporário. Pensei no Chile ou Uruguai, mas ainda não me decidi. Vou atrás de algum balcão de informações sobre quais

companhias aéreas fazem esta rota saindo de Frankfurt. Quando avanço pelos corredores, alguém segura o meu braço. E na minha frente está um homem alto de cabelo preto, por volta de 45 anos, que me encara com olhos frios e apáticos. E diz em inglês: ― Tem uma ligação para você ― fico em pânico. Olhando para os lados, tentando achar uma rota de fuga. Não me renderei facilmente, posso levar um tiro e não me importo. Não sairei daquele

aeroporto. ― Me solte ou vou gritar. E não esqueça que aqui é cheio de policias. O grandão não se mexe um centímetro e muito menos eu arredo o pé. Ficamos nos desafiando por uns segundos. Ele sorri e murmura: ― O chefe tem algo seu, nas mãos. É melhor atender a ligação. Quando pego o aparelho temendo o que posso escutar. ― Olá, borboletinha linda.

Por que a pressa? Ah, temos tantas coisas para compartilhar ainda. ― Você pensa que vou sair daqui pacificamente? Está bem enganado, seu porco nojento. É melhor mandar seu homem atirar em mim, porque irei berrar até perder a voz. ― Você não vai fazer isso, Bia. Sabe por quê? Porque seu pai está nas mãos dos meus homens no Brasil ― dou uma bufada sabendo que é mentira, falei com papai algumas horas atrás e o mesmo estava em casa.

― Mentira! Falei com meu pai á pouco tempo e estava feliz e seguro em casa. Conta outra, seu babaca. Ele dá uma gargalha alta e sussurra: ― Você se tornou uma gatinha selvagem, Bianca. Gostei desse novo estilo, está mais excitante e sexy. Prefiro assim, do que aquela mosca morta de antes. Fico irritada com seus comentários inoportunos e descabidos. E perco a parca paciência que ainda me resta.

― Fala para esse escroto me soltar ou vou começar a gritar. ― Olha o vídeo lindo que gravei em sua homenagem ― e fico ali parada sem chão. Papai está amarrado em uma cadeia, com uma mordaça na boca. Seus olhos estão cheios de pânico e vê-lo daquela forma acaba comigo. Não tenho saída, terei que acompanhar aquele imundo. Mas antes preciso negociar com Enrico, de modo a salvar meu pai. ― Eu acompanho seu capanga, mas solte o meu pai, Enrico.

― Você não está em posição de fazer exigências sua vadia ― acompanhe-o e depois vamos ver o que irá acontecer. Rango os dentes em desagrado por não conseguir libertá-lo agora. Mas não desistirei até que esteja a salvo. O escroto me segura junto a seu corpo até a saída e na área de embarque há uma Van de vidro fumê nos esperando. Antes de entrarmos o grandalhão com cara de gangster pega meu celular e o joga no chão, fazendo com que se parta em vários pedaços.

Entro em silêncio e sei que meu destino é incerto. Temo por papai e a única coisa que penso é em sua segurança. Rodamos bastante. Acho que cerca de 1 hora e vejo que seguimos longe de Frankfurt por uma rodovia bem movimentada. Tantas coisas rondam minha mente e já não penso em minha segurança. Só quero salvar as pessoas que amo. Paramos em frente a um galpão velho que mais parece um armazém. Seu capanga me puxa com brusquidão e sem nenhuma

delicadeza. E adentramos por uma porta lateral. Lá dentro está uma verdadeira bagunça, parece um lugar que são guardadas cargas que vem de navio, porque há um container aberto cheio de caixas de madeira. Sou colocada sentada dentro deste container e fico bem próxima de algumas caixas abertas. O homem senta em uma cadeira um pouco afastada e fica me observando como uma águia. Acredito que Enrico não deva ter chegado ainda, se não já estaria ali se vangloriando de toda esta merda.

Estou nervosa e aflita. Sei que dificilmente sairei viva daquilo tudo, mas não posso esmorecer, papai precisa de mim. Ainda não tenho ideia do que fazer, mas tenho que tomar alguma atitude. Escuto a porta ao lado ser aberta, mas como estamos de costas, não consigo ver de quem se trata, e quando menos espero, Enrico está em pé na minha frente. Seu semblante é cansado e percebo que emagreceu bastante. Bem feito, deveria era estar morto. Olha-me intensamente, como se eu fosse um troféu para sua prateleira. E o que

vejo é um homem quebrado, louco e desequilibrado. Totalmente sem rumo e que não soube lidar com a rejeição. Enrico foi criado sem limites por seus pais, que jamais lhe diziam não. Fazendo seus gostos conforme era solicitado. E tais atitudes, adicionado à vida do crime, criaram um monstro desalmado e sem limites. Uma pessoa capaz de tudo para ter seus desejos satisfeitos. ― Não te disse que ia voltar para mim, borboletinha? Não quero escutar seus absurdos e vou direto ao ponto.

― Como conseguiu pegar meu pai? ― Ele sorri como se estivesse recordando de uma piada. ― Seu pai é um tolo e bobo como você Bianca. Foi tão fácil, que me revolto de não ter feito isso antes. Nós roubamos o celular de uma amiga de trabalho dele e usamos o aparelho para enviar uma mensagem. Ali ela pedia ajuda porque tinha se envolvido em um acidente de carro e dizia o local onde tudo aconteceu. Seu pai tentou ligar de volta, mas o aparelho já estava desligado. Então o bom samaritano, saiu para salvar a

mocinha e nós o pegamos. Simples assim. Meu Jesus! Fico em pânico, preciso ajudá-lo e não sei o que fazer. ― Enrico, deixe meu pai fora disso. Eu já estou com você. Sintase vencedor nesse jogo. Não precisa dele para nada. ― É verdade, eu sempre ganho e não preciso do Marco Antônio para nada, mas lembra que eu disse que você ia sofrer? Então isso faz parte do pacote vamos torturar a Borboletinha ― a

revolta me domina e grito: ― Nãooooo. Deixe ele em paz, por favor! Enrico pega um laptop, abre e aciona a câmera. Vejo papai amarrado, porém sem mordaça e o mesmo está pálido e fica nervoso quando me vê. ― Filha, você está bem? ― Sim pai, não se preocupe ― tento lhe transmitir uma falsa calmaria, entretanto papai não se ilude com minha encenação. ― Me desculpe por ter caído nesta armadilha toda, meu amor, eu

terminei pondo você em risco. Não devia ter cedido filha, agora está aí, na mão desse desgraçado. Enrico encosta-se em meu corpo e começa a provocar meu pai. ― Olá, Marco Antônio! Quanto tempo, não é mesmo? Veja que agora Bia e eu formamos um casal novamente. Mas claro, por pouco tempo. Fico confusa e algo me diz que não quero saber do que vem pela frente. ―

Deixe-me

esclarecer

melhor os fatos, sogrinho. Sua filha será vendida como escrava sexual para um figurão russo e nunca mais irá por seus olhos nela ― a criatura fala cheio de alegria, como se estivesse dando uma boa notícia. A desesperança tenta tomar espaço. Mas não posso entrar na onda da apatia. Tenho que lutar até o fim pela minha família. Papai grita palavras de ofensas a Enrico. Está quase tendo uma síncope de tanta loucura que se desenrola na sua frente. ― Seu mimado de merda, despeitado. Deixe minha menina em

paz. Venha aqui lidar direto comigo, seu covarde de uma figa. ― Uau! O sogrinho perdeu a compostura. Acho que não é uma boa ideia me desafiar ― sibila repleto de sarcasmo e exalando maldade. ― Foda-se, o que acha ou pensa, seu imundo ― papai está descontrolado e vejo pela tela suas veias do pescoço quase saltando para fora, estou muda e não sei o que falar ou fazer. Fico tentando pensar em algo que possa negociar com ele. Mas naquele momento minha cabeça está vazia como uma

concha. E pior acontece. ― Bom! Já me cansei desse papo chato com seu pai, Bianca. Como você mesma disse, ele não serve para nada. ― Armando, atire nele e jogue-o em um matagal para sangrar até morrer. Arregalo os olhos sem acreditar no que se desenrola na tela do computador e um grito emerge da minha garganta. ― Nãoooooooooo... favor, eu faço qualquer coisa.

Por

E vejo o tal capanga atirar no

meu pai, o fazendo tombar da cadeira desacordado. São segundos de um silêncio sepulcral e estou em choque sem conseguir sentir nada. Meu mundo de repente está vazio e sem sentido, só fica um vento zunindo em minha cabeça. Visualizo a tela e papai não se mexe. Não sei se está morto ou sem consciência. E ali constato que nada mais me interessa, Enrico acabou de esmigalhar minha alma e espirito. Tirou uma das pessoas que mais me importa no mundo. E se quiser me matar pode fazê-lo, já estou acabada mesmo. Entretanto,

não irei sozinha. Esse desgraçado vai para o inferno junto comigo, nem que eu tenho que arrastá-lo com as próprias mãos. Paro de chorar e fico muda sem lhe dar o gostinho do meu sofrimento. Minhas lágrimas estão caindo dentro do meu coração e meu interior é que está sentindo o baque da perda. ― Achei que gostava mais do papaizinho, já parou de chorar ― fiquei muda e não respondi suas sandices. Porque meu plano agora era outro.

Seu celular toca novamente. Ele e seu capanga saem do container me deixando sozinha e imóvel. Olho ao redor buscando algo que possa usar para atacá-lo e um objeto me chama a atenção. Em uma das caixas de madeira que está quebrada, há um prego meio para fora. Olho novamente e eles ainda não voltaram. Forço a ponta junto com meu sapato, que cede saindo em minha mão. Imediatamente o escondo na roupa e volto para o meu lugar. Preciso ficar sozinha com este doente para conseguir começar

o que planejo. E sem perceber, lembro-me de um filme que assisti em 2011. Chama-se doce vingança e conta a história de uma escritora que foi violentada, espancada e quase morta. Por um bando de caipiras do interior. Entretanto, a moça escapa da morte por um tris e se vinga de um por um. E começo a formular minha ideia de lhe dar o que realmente merece. Sei que estou em um caminho sem volta, que minha alma ficará maculada para sempre se eu der andamento no que precisa ser feito. Mas não tenho escolha, já perdi demais e inocentes pagaram por isso. Meu

ex-noivo pagará por tudo que fez, com uma morte lenta e dolorosa. Assumirá a responsabilidade de cada indivíduo que condenou a uma vida de desgraça e danação, quando os vendeu, lhes tirando o direito da liberdade. Farei isso pelas mulheres e crianças que foram negociadas como um objeto pela sua quadrilha. Se não posso acabar com todos, farei estrago pelo menos em um. Com esta decisão selo o destino de Enrico, e pronuncio o veredito: culpado.

Capítulo 38 Por Tommas

Ainda não acredito que Bia tenha tomado esta atitude. Como pode ser tão ingênua de achar que me deixando será a solução para seus problemas? Preciso agir rápido antes que ela saia do meu apartamento. Imediatamente ligo para um dos seguranças, que tem uma cópia da chave, peço para que entre e avise Bianca que está proibida de sair. Já estou a caminho de casa e meu corpo está

em alerta de tanta adrenalina que circula pela corrente sanguínea. Aquele desgraçado conseguiu o que tanto queria. Sugar as forças da minha menina, fazendo-a se sentir culpada pelas vidas que foram perdidas. Bato no volante e sinto a dor se espalhar em minha palma, me fazendo contorcer os lábios. Meu celular toca novamente e atendo sem olhar o visor. Estou agitado demais para tirar meu foco da rua, tento me acalmar para não causar um acidente. Quando escuto aquela voz asquerosa do outro lado da linha,

que desperta meus piores demônios interiores. Tenho uma sede assassina de pegá-lo e destrinchálo com meus próprios punhos. Este cara não passa de um mimado psicopata e precisa ser detido o quanto antes. E afirmo com todas as letras, que sou o primeiro da fila a lhe se ensinar que em mulher e criança nunca se bate ou maltrata. ― Olá, Tommas! Não te disse que ela ia ficar comigo? ― Reteso no momento. Com medo do que ele está falando. Encosto o carro junto à calçada e respondo a sua provocação.

― De que merda você está falando seu escroto ― ele ri com vontade e a câmera do meu celular é ativada, vejo Bia sentada no chão. Está toda descabelada e seus olhos estão vermelhos de tanto chorar. Uma dor se instala em meu peito e quase fico sem ar de vê-la desamparada e assustada naquele canto. O terror espezinha a minha alma e sei que estou realmente zangado com este crápula. Minha fúria é implacável e impossível de ser detida. Enrico é um homem morto. ― Eu juro que vou te achar

seu filho da puta e vou te matar de uma forma horrível. Não ouse tocar na minha mulher ― grito fora de mim, com todos os sentidos em alerta e posição de guerra. ― Jura nada! Não passa de um alemãozinho de meia pataca. Enfim, te liguei só para cantar vitória e dizer que vou me fartar no corpinho da sua bailarina gostosa. E desliga na minha cara. Fico ali tremendo da cabeça aos pés, tentando pôr a cabeça no lugar. Preciso pensar com racionalidade e não colocar tudo a perder. Mas sabendo que Bia, está em seu

poder, fico enlouquecido e tenho vontade de esmurrar tudo a minha frente. Ligo para o delegado Bernardo e relato tudo que aconteceu. Ele disse que vai entrar em contato com a Interpol, pois estão na cola da quadrilha que Enrico faz parte. Por se tratar de crime organizado e envolver vários países. Eles são acionados imediatamente e tem um interesse profundo de pegá-lo para que possam chegar aos cabeças do grupo. Como eu o alertei que Bia está usando um colar com

rastreador, sou solicitado que espere em minha residência, que as autoridades alemãs entrarão em contato comigo o quanto antes. Fico aliviado sabendo do seu envolvimento, por que as chances de sucesso aumentam. Logo em seguida o segurança me liga avisando o que já tinha conhecimento, Bia não estava em casa e lamento que minha menina esteja passando por isso. Quando chego ao meu prédio e adentro em nosso quarto, sinto uma tristeza tão grande de ver o ambiente vazio, minha morena faz

falta e sua ausência é percebida em toda a casa. Arrependo-me amargamente, de não ter dito antes o que sentia e o temor tenta ganhar espaço na minha cabeça. E se ele matá-la antes de conseguirmos chegar? Não suporto a ideia de viver em um mundo em que Bia não exista. Sou duro na queda e difícil de sentir as coisas. Quando finalmente me apaixono, não posso permitir que a tirem de mim. Sei que sou um estúpido por não ter sido um namorado melhor, abro meu celular e vejo seu lindo rosto

na tela. Em várias poses que tiramos ao longo da nossa viagem à Itália. E a tristeza me assola e choro como um bebê em busca do conforto materno, permito toda dor ser extravasada na privacidade do meu quarto. Quero minha namorada de volta, na segurança dos meus braços. Sabendo que está bem e protegida ao meu lado. Mas hoje é apenas um sonho e estou à mercê da eficiência da polícia alemã. Faço algo que nunca fiz em toda a vida, ajoelho-me e rogo a Deus. Nunca fui uma pessoa ligada à religião, mas sinto uma vontade imensa de pedir pela vida do meu amor. E

imploro que tenha misericórdia dela. Enquanto estou pleno lamurio, meu celular toca novamente e vejo um número desconhecido. Atendo temeroso e ressabiado. Mas logo o alívio me inunda novamente, a Polícia Federal da Alemanha está assumindo o caso e pedem que eu me encaminhe até a sede para que possam discutir a melhor estratégia para resgatar a Bia. Faço conforme o acordado e logo me vejo no meio de uma verdadeira cena de filme policial. Ansiando para estar o

quanto antes com minha menina.

Por Bianca

Quando percebo que Enrico está falando com Tommas, sinto uma tristeza imensa de envolvê-lo nisso. Gostaria de ter poupado todos ao meu redor desta merda. Se pudesse voltar no tempo e mudar meu destino, não perderia nenhum minuto para alterar minha história. Mas a realidade é outra e tenho que ter coragem para desempenhar meu papel com maestria e inteligência.

Enquanto meu algoz se gaba para Tom, eu fico analisando as possibilidades de pegá-lo de jeito. Não posso deixar nenhuma ponta solta ou brechas em minhas ações. Tudo deve ser perfeito para que não haja falhas. Enrico some das minhas vistas e logo escuto um bate-boca vindo da parte de trás do armazém. Bem onde fica a porta lateral. No começo não consigo identificar as palavras, mas percebo que as pessoas estão se aproximando do container que estou sentada. E as vozes alteradas logo ganham rostos

e personalidades. Não posso dizer que estou surpresa com uma das figuras que se prostra a minha frente. Mas a outra foi uma aparição bem desagradável. De um lado encontrase Melanie em seu estilo perua deslumbrada e do outro Rebeca a garota que me provocava em diversas situações na academia. Fico tentando entender qual a posição da mesma naquilo tudo e não chego a nenhuma conclusão. Quase bato o queixo no chão, tamanha minha indignação de saber que a garota que cismava comigo

no meu emprego, fez tudo de caso pensado. E constato que podia confiar em poucos no meu cotidiano. ― Olá Bianca! Feliz em me ver? ― Sibila Melanie com aquela voz chata e irritante. Tenho vontade de lhe dar uma surra. Ignoro-a e finjo que não escutei. Ela teima em me provocar e continua sua tortura psicológica. ― Responda sua vadia nojenta. Antes que eu lhe dê uma surra e te deixe toda quebrada ― como Melanie se agacha e está com

o rosto próximo ao meu, não perco a oportunidade e cuspo diretamente na sua face. Ela se assusta e cai de bunda no chão. Enrico e Rebeca soltam uma gargalhada, à deixando mais zangada ainda. Melanie retira uma pequena pistola da sua bolsa e empurra na minha testa. Sinto o gelo do metal em minha pele e o pavor volta a atacar. Sei que Melanie é desequilibrada e não responde bem a situações de pressão. Não é

prudente de minha parte provocála, sendo que estou em desvantagem. Fico em silêncio para tentar acalmá-la. ― Cadê a onça agora que estou armada? ― Fala com desdém, ridicularizando minha posição. Abaixo a cabeça com o intuito de salvar minha vida e a mesma se aproxima novamente, puxando meu cabelo com toda força. ― Não abaixe a cabeça quando eu falar com você, sua

desclassificada. Escute bem, porque esta será a última voz que escutará. Tommas ficará comigo, enquanto seu corpo apodrece em uma vala qualquer ― estou em alerta e pressinto que ela endoideceu de vez e irá me despachar a qualquer instante. ― Melanie se acalme que eu resolvo isso ― diz Enrico sem um pingo de paciência na voz. ― Bianca é uma mercadoria vendida e não pode ser danificada. Não quero ter problemas com este cliente. Mas Melanie está fora de controle e demonstra pouco se

importar com suas reprimendas. ― Estou me lixando para seu cliente. Quero minha vingança e quero que seja agora. A arma é engatilhada e me encolho com medo do meu destino. Escuto um estouro e solto um soluço de pavor. Devagar abro meus olhos e vejo Melanie morta com um tiro na cabeça, caída bem ao meu lado. E mais a frente, Enrico com uma Glock na mão, tão frio e sem sentimentos que assusta qualquer ser humano. Rebeca dá uma risada e

abraça meu algoz de maneira sensual. Como se aquela cena a atiçasse e liberasse seu lado cheio de lascívia. ― Nossa, amor! Você é bom de pontaria mesmo hein, fiquei até acessa agora. Vamos deixar essa sem sal e a defunto juntas. E podemos nos divertir na salinha lá dentro ― sussurra se insinuando como uma gata no cio. Tenho vontade de vomitar só de escutálos. E vejo que são perfeitos um para o outro. O psicopata e desiquilibrada. Enrico a beija violentamente

na boca e depois a solta de forma brusca e rude. ― Depois Rebeca. Agora tenho contas a acerta com a Bianca. Vá embora e fique no esconderijo. Assim que terminar aqui, passo lá para te buscar. A garota faz uma cara de desagrado, mas com o olhar de Enrico, resolve obedecê-lo e nos deixar sozinhos. ― Foi você que mandou a Rebeca entrar na academia para ficar me vigiando? ― Claro, borboletinha. Meus

olhos tinham que estar em todos os lugares. Fico aterrorizada em saber que fui vigiada o tempo inteiro. E tenho até medo de pensar que outras pessoas que conheço possam estar envolvidas. ― Mas vamos deixar de papo, porque logo que mato alguém fico com um tesão absurdo. E você será meu alívio imediato. Engulo o nojo que se espalha em meu corpo e tento ser fria para não demonstrar minha aversão. Enrico me levanta do chão e

de maneira grotesca me empurra para que caminhe até a sala na parte de trás do galpão. Seguro a ponta do prego que está embolado dentro da roupa. Essa ação me remete a segurança e preciso desse sentimento para ter coragem de ir até o fim. Nunca matei ninguém e também nunca pensei em fazê-lo. Mas o destino me empurrou para isso e tenho que eliminar essa ameaça o quanto antes. Entramos em uma sala pequena, que possui um sofá de tamanho médio e uma mesa média com telefone e algumas bolsas em

cima. Enrico me joga no sofá. Abre umas das bolsas e começa e retirar seus apetrechos que logo percebo serem de tortura. Joga em cima de mim um chicote, algema e duas cordas. ― Está com medo, Bianca? ― gargalha e sussurra: ― Fique mesmo. Porque não serei nem um pouco delicado, provavelmente ficará sem sentar por uns dias ― sibila cheio de si, exalando orgulho e egoísmo. E penso comigo mesma. Isso Enrico! Vá aproveitando seus últimos minutos de vida, porque eu

também não serei delicada quando matá-lo aos poucos.

Capítulo 39 Meu corpo está em alerta total. Todos os sentidos aguçados e prontos para o confronto e luta. Disfarço com a cabeça baixa, para que não veja minhas intenções através dos meus olhos. Que sempre expressam demais o que sinto. Enrico se aproxima e desarma o sofá, o transformando em uma cama e criando mais espaço para o que deseja fazer. Estou em silêncio, preparando-me para o ataque. Ele se aproxima e cheira meu

pescoço. Sinto um nojo tremendo que me acomete da cabeça aos pés. Enrico vira para pegar uma algema e pressinto que é chegado o momento. Retiro o prego da minha roupa, e com todo o rancor que domina meu corpo. Enfio com força em seu pescoço, o desgraçado cambaleia e cai de joelhos. Geme cheio de dor e agonia, não consegue acreditar que foi pego de surpresa. Tenta estancar o sangue, se esforça para ficar de pé. Dou outro golpe na barriga perto das costelas, o desgraçado urra, se debate e me ofende com palavras chulas. Luta copiosamente pela vida e me

deleito em ver seu sofrimento. ― Está doendo, querido? ― Ele se contorce e choraminga de dor. Sem piedade avanço e furo suas duas pernas. O mesmo está se esvaindo em sangue e comemoro alegremente meu feito. Algemo suas mãos cheia de grosseria. ― Então, quem está indefeso agora? Ele me encara com ódio chispando pelos olhos e diz: ― Não irá sair com vida daqui. Meus capangas irão matá-la

quando pisar lá fora. Dou uma gargalhada alta. Porque estou fora de mim e sem equilíbrio. ― Não me interessa se sairei viva daqui. Minha missão é suicida, Enrico, totalmente Kamikaze. É tudo ou nada, é matar ou morrer. Não tenho nada a perder. Você atirou no meu pai, nem sei se está vivo. Destruiu minha sanidade. Minou meus sentimentos bons e só deixou os ruins. E agora vai pagar muito caro por isso. Ele arregala os olhos e

finalmente percebe meu estado real. Fora dos eixos e sem rumo. ― Por favor, Bia! Ajude-me, preciso de um médico urgente. Você não é assim ― o mesmo implorava para minha boa consciência. Mas os sentimentos bons que reinavam em mim, desapareceram e só sobrou rancor e vingança. ― Cala boca seu saco de lixo, imundo. Não faz a menor ideia do que te espera ― e inicio uma verdadeira sessão de tortura medieval. Tirei toda sua roupa, o

chicoteei até deixá-lo em carne viva. Furei diversas vezes seus braços e pernas. Ele gritou, se urinou e pediu clemência como uma criança desamparada. Entretanto, eu estava ausente do meu corpo e não conseguia parar. Sabia que havia passado dos limites, que minha vingança estava completa. Enrico estava acabado e quase morto. Mas algo ainda me instigava a molestálo. Despertei que era necessário dar um basta. Voltei até a bolsa sobre o sofá, a procura de alguma arma. Quando achei uma faca, não tive dúvida, cravei-a em seu peito

Ele tentou tomar fôlego, porém foi em vão. Engasgou com o próprio sangue e aos poucos puder ver o sopro da vida deixando seus olhos. Até ficarem vidrados e fora de foco. Finalmente o meu algoz estava morto e poderia viver minha vida com liberdade e esperança. Quando terminei sua tortura, estava coberta de sangue da cabeça aos pés e não conseguia raciocinar nada com clareza. Sentia-me oca como uma concha e tudo ao meu redor era vazio e sem importância. Pensei em planos para o futuro, mas nada aquietava aquele lobo que

urrava dentro do meu peito. No fundo eu sabia que tirar a vida de outra pessoa, iria arrancar um pedaço da minha alma e me mudar para sempre. Não queria pensar em nada, só ficar em um canto escuro e aceitar minha dor. Não sabia como iria poder ajudar minha mãe se meu pai estivesse morto, sendo que não consigo levantar nem a mim mesma. Me encolhi no sofá e fiquei dentro de mim. Precisava fugir da realidade e de toda aquela sujeira. Escutei barulho de tiros e muita gritaria, mas estes sons eram

abafados e não permiti que perturbassem meu transe. Permaneci imóvel e mergulhada em meu mundo interior. Senti alguém batendo no meu rosto, mas eu não tinha reação e nem conseguia focar em nada real. Só queria dormir e esquecer quem eu era. Fui levantada, abraçada e carregada no colo. As cenas ao meu redor se desenrolavam como um borrão e um filme no modo acelerado. Nada fazia sentindo ou tinha importância. E quando percebi, me desliguei profundamente e caí em

um sono pesado. Quando acordei estava em uma cama de hospital, com alguns fios colados no meu peito e uma agulha me enviando soro no braço. O barulho de bip martelava minha cabeça como um mantra incessante e enlouquecedor. Estava sozinha naquele quarto branco, e a calmaria reinava absoluta, fazendome suspirar de alívio. Sento-me desajeitada e as recordações voltam como um torpedo. E a velha sensação de vazio e solidão espezinha a minha alma.

Alguém abre a porta e minha linda sogra, tão querida e cheia de vida, adentra ao recinto me fitando com pena e preocupação. ― Que bom que acordou querida. Você está sentindo alguma coisa? Penso em meu pai. E a agonia retorna rapidamente, me fazendo curvar de tanta preocupação. Sussurro em um fio de voz: ― Meu pai, Leila... Ele foi baleado. Avise à polícia para tentarem procurá-lo, disseram que o jogariam num matagal.

― Marco Antônio foi encontrado querida e está sendo operado, sua mãe ficou de nos avisar assim que a cirurgia terminar. Fico feliz por saber que papai está vivo e triste por estar em cirurgia. Mas prefiro pensar positivo para não atrair energias negativas. Leila sendo uma pessoa maravilhosa e cheia de carinho, abraça-me e diz: ― Acabou meu amor, você está livre de tudo isso. Prenderam

seus comparsas, inclusive uma moça brasileira chamada Rebeca. Não fique temerosa por nada, seu martírio chegou ao fim. Dou um sorriso verdadeiro e a abraço de volta. Nesse instante a porta se abre e comtemplo o rosto cansado e sofrido de Tom. Nos fitamos em olhares sinceros e cheios de promessa. Não precisava que as palavras fossem ditas, pois a mensagem que transmitíamos valia como discursos de 10 folhas. Estava carente, indefesa e quebrada. Só queria um afago, um colo, um gesto de carinho e dormir

até esquecer aquilo tudo. Leila percebe o clima do ambiente se alterando e nos deixa sozinhos para matar a saudade. ― Ah, Bia! Tive tanto medo de te perder. Quase enlouqueci de desespero ― murmura com a voz rouca e baixa. ― Eu só me lamentava de não poder te ver mais. Achei que seria meu fim, que nunca mais poderia fitar seus lindos olhos azuis. Contemplar seu rosto perfeito. E uma dor ruim me acometia e tirava o fôlego.

Ficamos abraçados, sentindo a presença um do outro. Queria tocá-lo sem parar, para acalmar a ânsia que me consumia. ― Te amo, morena. Como nunca pensei que fosse amar algum dia ― vejo muita sinceridade em sua declaração e qualquer dúvida que existiu em nossa relação um dia, desapareceu naquele instante. Devagar meus sentidos estão voltando ao seu devido lugar. Minhas dores vão se acalmando e minha culpa se desfazendo. Com a presença de Tommas, tudo toma forma e ganha sentido.

As peças se encaixam devidamente. E o destino cumpre seu papel. Meu alemão é a cura das minhas feridas e bálsamo para a minha alma. Finalmente estamos percorrendo a estrada que nos foi planejada um dia e espero estarmos sempre juntos no fim da nossa jornada. Recebo alta, logo após ter acordado. Segundo o médico, não era necessário ficar internada se não houver nenhum dano físico. Seguimos para o apartamento de Tommas somente para pegarmos

nossas coisas e voltarmos para o Brasil. No caminho, ele me conta como conseguiu me encontrar naquele lugar. O colar estava com um rastreador e foi usado para sinalizar onde estávamos. A polícia alemã foi acionada a pedido da Interpol e através de alguns funcionários de Enrico que terminaram abrindo o bico, alguns líderes de quadrilha foram encontrados. ― Morena, você quer me contar o que aconteceu dentro daquela sala com Enrico? Fico tensa e inquieta. Não

quero mais desenterrar aquele meu lado obscuro. Preciso enterrar aquele episódio para sempre e seguir em frente. ― Não. Nunca mais quero falar sobre aquilo. Vamos fingir que nada aconteceu. Tom fica pensativo e logo em seguida acena positivamente. Antes de irmos embora, sou obrigada a passar na delegacia e dar meu depoimento. Achei que poderia ser acusada por tê-lo matado. Entretanto, foi mencionado no meu depoimento que o matei por

legítima defesa. E na verdade era a mais pura realidade. Tommas alugou um jato para não perdermos tempo e chegamos à Curitiba 12 horas depois. Do aeroporto, seguimos direto para o hospital. Porque a única informação recebida até aquele momento é que papai tinha reagido bem à cirurgia. Quando avisto mamãe na sala de espera, a mesma se levanta e corre em minha direção chorando. Foi uma cena emocionante e todos ao nosso redor, também se debulham em lágrimas. Mamãe diz que meu pai só sobreviveu, porque

o tiro não acertou o seu peito e sim na parte debaixo, pegando uma costela e um pedaço do fígado. Seguimos para o quarto e papai dormia, devido à quantidade de remédios que lhe são ministrados. Mamãe e Tommas vão até o restaurante comer alguma coisa, enquanto fico ali velando o seu sono. Observo sua respiração subindo e descendo. E agradeço a Deus por tê-lo poupado, apesar de tudo que ocorreu. Sou abençoada de estar aqui, o fitando com vida.

Meu pai sempre foi e sempre será meu herói. E sei que daria sua vida em troca da minha. Levantome e beijo sua testa em sinal de respeito e demonstrando todo o amor que sentimos um pelo outro. Quando encaro novamente seu rosto, o vejo acordando com lágrimas nos olhos. Me fita cheio de amor, alívio e ternura. Suas pupilas estão dilatadas de tanta alegria. ― Minha menina está viva, obrigada meu Deus ― sussurra bem baixo e quase não consigo escutálo.

― Sim pai. Estou bem e segura, não se preocupe ― não quero que se emocione, porque está fraco e passou por uma cirurgia delicada. ― Não se esforce pai, não pode se exaltar demais. Mas teimoso como é, não se dá por vencido. ― Aquele lixo foi preso? Você está segura? Não quero estender o assunto e sou direta. ― Eu o matei pai, acabou. Vamos pôr uma pedra nesse assunto.

Ele percebe minha inquietação e dor. E entende que o assunto deve ser enterrado para sempre. Marco Antônio fica no hospital por 5 dias e depois recebe alta para se recuperar em casa. Já estamos em Curitiba há 15 dias e me vejo um pouco perdida, sem saber que rumo dar a minha vida. Voltar para o Rio ou ficar na minha cidade natal. Mas a quem estou querendo enganar? Sou completamente apaixonada por Tommas e o simples pensamento de ficarmos separados, me deixa triste

e abatida. Em uma quinta-feira à noite, ele me leva para jantar num restaurante bem gostoso na rua 15 de Novembro e me dá duas caixinhas de veludo de presente. A curiosidade fica a mil e dou risada. ― Hum... Fiquei curiosa amor ― sorrio. Pareço uma criança quando ganha um presente e não se contêm para abri-lo. ― Essa é a melhor parte. Ver você se contorcendo querendo saber o que tem dentro ― sibila Tom sorrindo das minhas manias

infantis. Abro a primeira caixa e tem uma pulseira de ouro vermelho com um lindo pingente de chave. Olho para ele e sorrio, Tom sempre faz pequenos gestos que aquecem meu coração. Mas ele sinaliza que para a surpresa estar completa preciso abrir à segunda. Quando avanço para a outra, fico estarrecida com o conteúdo. E o coração acelera vertiginosamente. Tenho vontade de gritar de alegria. Entretanto, controlo-me. Pois afinal, estamos em um restaurante e não pegaria bem ficar pulando como uma

maluca em volta da mesa. Pego a pulseira e o anel e coloco sobre a mesa. Tommas me fita cheio de amor e ternura. Posso ver a felicidade estampada em suas feições. ― Pode parecer meio piegas o que vou falar. Mas não me importo, sempre fui um cara durão e com dificuldades de dizer o que sente. Depois de quase perder você, desejo amadurecer esse meu lado e crescer emocionalmente. Nunca mais quero me arrepender de não ter dito o que sinto ― vejo que seus olhos estão marejados e

demonstram a dor que passou. ― A chave é do meu coração e o anel simboliza que finalmente achei a mulher da minha vida. Você me dá a honra de ser a senhora Krause? A alegria define esse momento e digo com propriedade que sou uma mulher feliz e realizada. Estou aqui, diante do homem que me mudou completamente e ele nem faz ideia disso. Tommas mostrou-me mesmo que inconscientemente, que devo me amar e respeitar em primeiro lugar e para ser feliz, jamais

devemos nos anular em um relacionamento. Encaro seus lindos olhos que lembram um mar azul e profundo e respondo com toda a certeza do mundo: ― Sim. Você foi a melhor coisa que surgiu na minha vida. Trouxe um turbilhão de emoções e cor para os meus dias que eram chatos e sem expectativa. E prometo dar sempre o melhor de mim no nosso relacionamento. ― Eu não tenho dúvida disso, Bia. Você trouxe emoção e coração acelerado para minha vida ― sussurra sorrindo da própria

piada. Nos beijamos apaixonadamente e seguimos para contar para meus pais. A festa foi geral. E papai pediu para falar com Tommas em particular. Já imaginava que era a famosa conversa de homem para homem, mas minha curiosidade levou a melhor, e fiquei atrás da porta do quarto, tentando escutar o que era dito. ― Estou te dando o maior tesouro que tenho nessa vida. Não a faça sofrer ou se verá comigo. Está entendido?

― Fique tranquilo, Marco Antônio. Tenho um exemplo em casa de casamento feliz, se estou dando este passo, é porque tenho certeza absoluta. ― E eu acredito nisso Tommas. E saiba que não estou ganhando um genro e sim um filho ― escuto que conversam mais alguma coisa, mas resolvo fugir, antes de ser pega no flagrante. Após esse episódio voltamos para o Rio e a vida foi seguindo seu rumo. Voltei ao trabalho e Tommas à empresa. Harold, pai de Melanie vendeu sua parte na sociedade.

Estava chocado e arrasado com o fim trágico da filha. Tommas não quis ir ao seu enterro, ficou magoado demais com as armações da amiga. Tive pena do seu desfecho, porque morreu por não saber seguir adiante e aceitar as negativas da vida. O casamento aconteceu 4 meses depois, Tommas dizia não fazer sentido em enrolarmos muito, por que já morávamos juntos. A cerimônia foi um show à parte. Porque casamos à noite e na praia, mais especificamente na Barra da Tijuca. Fechamos em um

hotel de alto padrão que fica do outro lado da rua. A cerimônia aconteceu na areia, entretanto a festa seria no salão de festas. O mais engraçado é que o tema foi festa a fantasia. Casei vestida de Cleópatra e Tommas de pirata. A cerimônia religiosa foi linda e regada de muita emoção. Para homenagear minha avó, deixei que o pastor da sua igreja, fizesse nosso casamento. E confesso que não me arrependo, todas as palavras que foram ditas, nos encheram de uma profunda alegria. Quando o reverendo

sinalizou, o pode beijar a noiva, foi uma verdadeira bagunça. Tommas sussurrou bem baixo em meu ouvido: ― Você não faz ideia da minha felicidade, Bia. Sinto uma paz tão grande, de saber que estaremos sempre juntos. ― Eu também, Tom. Quero ficar andando de bengala ao seu lado ― e sorrimos como nunca. A festa foi divertida por demais. Aproveitamos cada minuto com nossos convidados e familiares. E pude conhecer o

restante da família de Tom, que vieram da Alemanha prestigiar nosso momento. A lua de mel foi no Havaí, um lugar que sempre sonhei em conhecer. E os momentos que passamos juntos foram inesquecíveis e apaixonantes. Não havia tensão ou ameaça eminente, só amor, certeza de felicidade e bons momentos dali para frente. Tudo foi perfeito e inesquecível. E ficará em minha memória até o fim dos meus dias. Passado um ano de casados, à vida corria seu rumo natural e nosso relacionamento, ia de vento

em poupa. Nunca amei tanto a rotina, pois ela vinha com a sensação de segurança e liberdade. Às vezes tinha a impressão de que tudo que vivenciei, não passou de um pesadelo. E pensar desta forma, de certa maneira era reconfortante e dava-me a falsa ilusão de que nunca precisei sujar minhas mãos com sangue. Quando fizemos aniversário de um ano de casados. Cheguei mais cedo, por volta das 18:00 horas. Porque queria bolar alguma surpresa para o meu marido. Entretanto, eu quem fui

surpreendida. A mesa do jantar estava posta e algumas velas adornavam o ambiente. Sorrio com sua criatividade e bom gosto. Ele me abraçou e nos beijamos deliciosamente. ― Quero entregar seu presente, Bia ― sibila todo charmoso, fazendo-me sentir a mulher mais afortunada da face da terra. ― Eu também tenho um presente para você ― digo querendo mostrar o meu primeiro. ― Ok. Vamos abrir juntos

então. Trocamos nossos embrulhos e a curiosidade está a mil. Quando abro meu embrulho e vejo o que tem dentro. Fico confusa e sem entender nada. Há um móbile de berço, que são várias ovelhas penduras em uma nuvem e o mais engraçado é que estão enfeitadas com um laço rosa. Levanto o meu olhar e Tommas sorri como uma criança em expectativa. ― Por que me deu isso? ― Porque quero ser pai,

amor. Logo vou fazer 36 anos e não vejo a hora de ter uma menininha pulando pela casa ― me emociono com seu pedido e ao mesmo tempo dou risada com sua pretensão. ― E quem disse que nosso primeiro bebê será uma menina? ― Meu sexto sentido diz isso. E sei que será uma menina. Do canto dos meus olhos escorrem uma lágrima e uma emoção desconhecida toma o meu coração. A vontade de ser mãe começa a aflorar e passo a amadurecer esse pensamento.

Epílogo Quatro meses depois, fiquei grávida e a alegria da família foi completa. E para minha surpresa, realmente estava esperando uma menina. Esse meu marido deve ter consultado um oráculo, não é possível. Os meses que seguiram foram tranquilos e não tive nenhum tipo de complicação na gestação. Entretanto, Tom insistia em tratarme como um bibelô e isso rendeu algumas brigas e discussões desnecessárias. Até tentou me fazer sair do emprego. Porém, fui firme e

não arredei o pé na minha decisão. Ao final dos noves meses, mamãe e Leila vieram passar uma temporada no Rio. Queriam me auxiliar com a neta e curtir o primeiro bebê da família. Quando Mariana nasceu, foi o momento mais emocionante da minha vida. Nada poderia me preparar e nem posso descrever o que senti ao vê-la pela primeira vez. Foi como se todos na sala tivessem sumido e ficamos somente nós duas nos curtindo e conhecendo. Cheirei sua pele, beijei sua bochecha e transmiti todo

a carinho que uma mãe amorosa pode oferecer. Apesar de Mari estar suja e inchada, pude perceber como parecia com o pai e seu cabelo com certeza ia ser bem mais claro que o meu. Mari crescia de maneira saudável e cheia de energia. Aos 9 meses ninguém mais a segurava de tão arteira. Tom era só alegria com a disposição da filha e gargalhava com as suas descobertas e peripécias. O pobre do Amendoim se escondia da sua mão ligeira, mas sempre cuidava da irmãzinha quando nos distraímos por alguns

segundos. Os meus pais e sogros eram um espetáculo à parte. Por ser a única neta de ambos, Mari pintava e bordava com eles. Nunca vi meu pai ser tão mole e paciente com um ser humano, e ele sempre dizia que mimar e brincar era a função dos avós, que a parte de educar e repreender ficava por conta dos pais. E ele tinha completa razão disso. Leila e Hanz quando vinham da Alemanha, chegavam carregados de brinquedos, e às vezes até ficavam com a neta, para que nós

pudéssemos sair um pouco e curtir a noite como um casal normal. Certo dia chegamos em casa e Hans estava com a Mari nas costas, andando de cavalinho por toda a sala. Demos muita risada, de ver aquele homem grande e imponente naquela posição para alegrar a netinha. Mariana é uma criança esperta, alegre e cheia de vida. Meu pai dizia que era igual a mim quando pequena, não parava um minuto e dava uma canseira em qualquer adulto que tivesse disposição de enfrentá-la. Diversas

vezes, peguei Tommas cochilando na cama, ao tentar fazer nossa filha dormir. A criança era dura na queda e não se rendia tão facilmente ao sono. Certa noite, acordei sozinha em nosso quarto e fui atrás do meu marido, que estava velando seu sono da Mari. Achei a cena tão linda e íntima, que recordei da minha infância. Quando acordei diversas vezes de madrugada, com papai me cobrindo. Sabia que a Mari, teria tanta sorte quanto eu tive. Tommas é um pai exemplar e amoroso. E nada lhe

faltaria, tanto emocional, quanto material. Nossa menina cresceria e se tornaria uma mulher forte, decidida e equilibrada. E nesse curto espaço de tempo, vejo o quanto fui agraciada pela vida. Com uma família linda e um marido maravilhoso. E quem disse que conto de fadas não existe?

FIM....

Sobre a autora: Sheila Sheila Ferreira da Cruz tem 38 anos e casada. Profissional da área de Comércio Exterior e atualmente mora em São Paulo. Sendo natural de Santos. Intitula-se como uma leitora voraz e ama os gêneros romance, ficção, mistério e suspense. Seus autores prediletos são: J.K. Rowling, Dan Brown, Nicholas Sparks e E. L. James. Começou a escrever como um hobby, uma maneira de aliviar o stress do dia a dia. Entretanto,

descobriu um novo mundo, e se viu apaixonada na arte de criar personagens e contar histórias. Desde o começo foi incentivada pelo marido, que se tornou seu fã número 1. Adora viajar, conhecer novos países e culturas diferentes.

Entre em contato: Facebook: Martino autora

Sheila

Cruz

e-mail: [email protected] Wattpad: Sheila_cruz_martino
Um amor estrangeiro

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