2) Olho e retina

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UFRJ – Fac. de Medicina – “RESUMÃO DO CORUJÃO” (M2, 2014.2) Novo semestre, novos apontamentos... Saudações do Dinno, meus queridos.

PCI de Neurociências – blocos 3 e 4 ANATOMIA E HISTOLOGIA DO OLHO E DA RETINA

(aula de 19/08 – Elenice)

1) Relações anatômicas do olho - O olho é um órgão que possui sua própria caixa óssea protetora – a órbita – e tem como função principal a fotorrecepção – transdução da energia luminosa em potenciais de ação. - Sua origem embrionária é mista: --- O tecido da retina vem do ectoderma neural (portanto, é tecnicamente parte do Sistema Nervoso) --- Enquanto os outros tecidos vêm do mesoderma associado. - Sua mobilidade é conferida por 3 pares de músculos extrínsecos ao globo ocular: --- Mm. retos superior e inferior --- Mm. retos lateral e medial --- Mm. oblíquos superior e inferior - E tem também íntima associação com: --- O nervo óptico, que interliga a retina ao quiasma óptico, cruzando o canal óptico do esfenoide. --- O nervo oculomotor, que também inerva músculos intrínsecos do globo ocular. --- A glândula lacrimal e o saco nasolacrimal, partes do sistema lacrimal. --- Vasos sanguíneos e o tecido adiposo da órbita (mecanoproteção – proteção contra choques) - A artéria oftálmica é um ramo da carótida interna que entra na órbita junto ao nervo óptico pelo canal. --- É ela quem fornece ramos (profundos e superficiais) para vascularizar o olho e outras estruturas na órbita. * A artéria central da retina (um ramo profundo) irá irrigar o nervo óptico e a retina. * E o chamado sistema coriocapilar é formado pelas arteríolas que irrigam a camada coroide (vide adiante) (essa parte da vascularização já foi a primeira de muitas que ficaram confusas)

2) Estrutura das pálpebras - As pálpebras têm como funções principais proteger o globo ocular e promover a secreção, distribuição e drenagem lacrimais. - São formadas pelas placas tarsais, de consistência fibroelástica, que têm duas porções: (1) A porção cutânea – formada por epitélio (pavimentoso estratificado queratinizado) + tecido conjuntivo denso --- É aquela que se associa à musculatura esquelética orbicular do olho – que fica na lâmina acima da placa tarsal. * E há ali também a inervação sensorial e os anexos cutâneos: folículos pilosos e glândulas exócrinas (vide a seguir) (2) E a porção conjuntiva – é mais pronunciada na pálpebra superior, onde há as fibras tendíneas do m. levantador da pálpebra superior.

- Há 4 tipos de glândulas nas pálpebras: (1) As glândulas tarsais (de Meibomio), glândulas sebáceas longas e modificadas * Sua secreção (de composição característica) forma a camada mais externa do filme lacrimal, retardando a evaporação da lágrima (2ª camada: aquosa) e o ressecamento da conjuntiva abaixo. (2) Algumas glândulas sebáceas típicas, de secreção oleosa, conectadas aos folículos pilosos dos cílios (3) As glândulas ciliares, tipicamente sudoríparas (4) E as glândulas lacrimais acessórias, de secreção serosa e associadas a células mioepiteliais – na pálpebra interna superior e também junto ao saco nasolacrimal.

2.1 – A túnica conjuntiva - A conjuntiva é uma membrana mucosa fina e semitransparente – exceto em casos de inflamação (as “conjuntivites”) – que protege o olho contra microorganismos. - Ela reveste as pálpebras internamente e também recobre a esclera em toda a área visível do olho (“parte branca”, fibrosa – vide mais adiante) --- Isso só não ocorre no trecho do globo ocular recoberto pela córnea – trecho do globo ocular onde a esclera foi modificada para transmitir e refratar a luz –, bem à frente da íris (“parte colorida”) e da pupila (“parte negra”) - Ela é composta por várias camadas, mas merecem menção 2 delas: --- Uma camada epitelial, onde encontramos as células caliciformes – pela secreção da mucina que forma a última lâmina do filme lacrimal e interage com a superfície da córnea tornando-a um meio hidrofílico. --- E a camada do estroma, subjacente. * Na reflexão superior (porção onde se dobra – entre o globo ocular e a pálpebra), e também na inferior, a conjuntiva forma um fundo de saco chamado “fórnice”.

3) Câmaras e meios refrativos do olho - São 3 as câmaras do globo ocular: (1) A câmara anterior – entre a membrana córnea e a íris (2) A câmara posterior – entre a íris e o cristalino (3) A câmara vítrea – maior do globo, é delimitada pela retina (e pelo cristalino anteriormente) - E agora, os 4 meios refrativos (ou dióptricos) do olho – ou seja, capazes de modificar o trajeto dos feixes luminosos que os atravessam. (1) A córnea – 1ª lente (2) O humor aquoso – que circula pelas câmaras anterior e posterior. (3) O cristalino – 2ª lente (4) E o humor vítreo – que se restringe à câmara vítrea.

3.1) A córnea - É a estrutura transparente – ou seja, refrativa / meio dióptrico – que compõe a túnica fibrosa (mais externa) do olho junto com a esclera (vide mais adiante) * O limiar de separação entre córnea e esclera é chamado “limbo” (esclerocorneal). - De fato, é avascular como toda a esclera em torno, precisando ser nutrida por difusão a partir: --- do humor aquoso (internamente) --- do filme lacrimal (externamente) --- e de capilares da região do limbo (perifericamente) - Porém, apresenta inervação, que distribui terminações nervosas livres --- Daí a sua extrema sensibilidade ao toque. - Funciona mesmo como uma lente convexo-côncava (abaulada) através da qual os raios luminosos penetram nas câmaras anterior e posterior do olho. - Tem 5 camadas: (1) O epitélio externo é do tipo estratificado não queratinizado

(2, 3 e 4) A camada de Bowman, o estroma (bem mais espesso) e a membrana de Descemet (5) E o endotélio corneal, epitélio do tipo pavimentoso simples.

3.2) O cristalino Falência da acomodação relacionada à idade (presbiopia) ocorre devido à perda da elasticidade capsular e do enrijecimento do cristalino. O cristalino é relativamente desidratado e suas fibras contêm proteínas especiais, o que gera sua transparência. A catarata é qualquer opacidade, congênita ou adquirida, do cristalino. - É uma lente biconvexa (discoide), transparente como a córnea, mas de consistência mais elástica – fibroelástica. --- Isso porque é formada por uma massa de células alongadas e anucleadas – as fibras cristalinianas, repletas da proteína “cristalina” – e envolvida por uma cápsula elástica. - Além disso, há uma camada de células epiteliais que recobre apenas a face anterior do cristalino. * A parte voltada para a câmara vítrea, de fato, não possui revestimento epitelial. - A cápsula elástica é capaz de se deformar – por tração do corpo ciliar através das fibras da zônula (vide adiante) – para realizar a “acomodação visual”. --- Isso permite que formemos o foco exato da imagem (que cruza a córnea e o humor aquoso) lá na retina. * Falência da acomodação relacionada à idade (presbiopia) ocorre devido à perda da elasticidade capsular e enrijecimento do cristalino. * Já qualquer fator que cause opacificação da lente (por alteração das fibras cristalinianas), de forma congênita ou adquirida, leva à catarata.

3.3) O humor aquoso - É o fluido que preenche as câmaras anterior e posterior do olho, que se comunicam através da pupila. - Sua produção é constante – fluido renovável – para manutenção da pressão intraocular e do formato da córnea. (1) A produção se dá na periferia da câmara posterior, no “corpo ciliar” (vide adiante) --- Dali, ele nutre o cristalino e circula até a câmara anterior, onde nutrirá a córnea. (2) E a drenagem se dá no ângulo da câmara anterior, na “malha trabecular” (também chamado espaço de Fontana) --- Esse retículo consiste em microcanais, revestidos por endotélio, que drenam para o canal de Schlemm, que por sua vez drena para a rede venosa da esclera. --- Tudo isso se localiza naquela região do “limbo” (vide acima) * Alterações nesse aparelho de drenagem cursam com a patologia conhecida como glaucoma – aumento da pressão intraocular.

3.4) O humor vítreo - É o fluido gelatinoso / viscoso (rico em glicosaminoglicanos) que, junto ao arcabouço semirrígido da esclera, mantém a forma do olho. - Além disso, permite a incidência dos raios luminosos sobre a retina e ainda ajuda a nutrir o cristalino. * Sua formação se deve ao “Canal de Cloquet” (restos dos vasos hialoides embrionários – ?)

4) As 3 camadas do globo ocular (≈ 2,5 mm de espessura total) 4.1 – A esclera *É o principal integrante da chamada túnica corneoescleral = córnea + esclera em torno + conjuntiva sobrejacente. - Essa estrutura recobre todo o globo (exceto no trecho de córnea e saída do nervo óptico), sendo formada por tecido fibroelástico denso – principal componente: fibras colágenas. - Tem espessura variável, embora não ultrapasse 1mm. --- Mesmo assim, é como um “arcabouço” que confere proteção e manutenção da forma do globo ocular. * De fato, um aumento ou diminuição sutil do eixo axial desse arcabouço causa desvios de refração bastante comuns – miopia, hiperopia. --- Além disso, é nela onde se inserem os músculos extraoculares (retos e oblíquos). - É avascular e tem pouca celularidade, mas apresenta vasos em sua superfície. - Suas camadas são: (1) A episclera (2) A substância própria da esclera (ou cápsula de Tenon) – é uma rede de fibras colágenas espessas (3) e a lâmina supracoroide – repleta de fibras colágenas e elásticas finas, além de melanócitos. * Entre a episclera e a substância própria, há o “espaço de Tenon”, onde se acumula tecido adiposo – importante à movimentação do olho. *Patologias relacionadas são as “esclerites”: inflamações graves e progressivas, associadas a doenças sistêmicas (como o Lupus Eritematoso Sistêmico) e que podem causar muitas complicações– até mesmo perfuração do globo ocular.

4.2 – A úvea (ou túnica vascular) - É constituída por 3 estruturas: a íris e o corpo ciliar (anteriormente) e a coroide (nas demais regiões do globo) --- Compreende, assim, toda a camada média, entre a esclera e a retina. --- Só é descontinuada no orifício da pupila e, como a esclera, no ponto de emissão do nervo óptico. - A íris é a “parte colorida” visível do olho – tecido conjuntivo + fibras musculares + vasos + células pigmentares. --- Sua principal função é agir como um diafragma, controlando a incidência da luz na retina e assim evitando lesão. --- Suas fibras radiais ou dilatadoras são inervadas pelo S. N. Simpático, que induz a midríase (aumento do diâmetro pupilar) --- Já suas fibras circulares ou esfinctéricas são inervadas pelo S. N. Parassimpático, que induz a miose (oposto ao anterior) * Além disso, sua pigmentação – reflexo da concentração de melanócitos – também evita lesão intraocular: olhos “azuis” têm menos pigmento (basicamente, melanina), enquanto olhos “pretos” contêm mais pigmento e, assim, maior proteção. - O corpo ciliar é o trecho de úvea no qual a íris se continua, e também a coroide (posteriormente) --- Em sua superfície (porção epitelial) na câmara posterior do globo ocular, há os processos ciliares – projeções que produzem o humor aquoso e também as fibras da zônula – de consistência elástica, embora tenham fibrilina em vez de elastina. --- E em seu interior (porção estromal) fica o músculo ciliar, que se prende a essas fibras zonulares para formar o ligamento suspensor do cristalino, que traciona a lente para promover a acomodação visual.

- A coroide é um corpo ciliar “estreitado”, sem processos nem músculo ciliares --- É formada por tecido conjuntivo frouxo ricamente vascularizado (por aqueles ramos da artéria oftálmica), e ali se forma a chamada “barreira hematorretiniana”. --- Também se subdivide como a esclera em 3 camadas: (1) epicoroide (fibras elásticas) (2) estroma (camada coriocapilar) (3) e lâmina basal da coroide, já em íntimo contato com o epitélio pigmentado da retina. * Patologias relacionadas são as “uveítes”, crônicas ou agudas, de etiologias diversas (doenças autoimunes, certas infecções virais ou bacterianas) ou ainda de etiologia desconhecida. --- Elas podem causar dor, fotofobia, glaucoma, descolamento da retina e mesmo cegueira irreversível.

4.3 – A retina - É a camada mais interna do globo ocular, descontinuada apenas nas porções da íris e do orifício pupilar. - Entretanto, sua citoarquitetura varia bastante, havendo uma divisão básica em: (1) Retina fotossensível – muito mais espessa, reveste a maior parte da câmara vítrea. (2) E retina não fotossensível – simples, reveste a porção mais anterior, adiante da “ora serrata” * A ora serrata é mesmo o limiar, bem definido, entre o epitélio complexo fotorreceptor e aquele que não tem capacidade sensorial (sem cones, bastonetes nem as demais células que participam do sistema visual). - A camada mais interior da retina – dita camada pigmentada – é a única que se continua nas duas porções da retina. --- Repleta de melanócitos, ela tem a função de minimizar a reflexão da luz no interior da câmara, inibindo o fenômeno do “ofuscamento”. - Sua cor avermelhadas se deve, além da rede vascular, ao pigmento “rodopsina” dos bastonetes (vide aula à parte) - As células da retina fotossensível basicamente se dividem em 4 tipos: (1) Células fotorreceptoras (cones e bastonetes), cujos núcleos estão apenas na camada nuclear externa (2) Neurônios condutores (células ganglionares e as bipolares) (3) Neurônios associativos (células horizontais e as amácrinas) (4) Células de sustentação (da glia, tipicamente: células de Muller, astrócitos) (vide a seguir sua organização)

5) As 10 camadas da retina e seus grupos de neurônios (1) A limitante interna é a mais superficial (em contato com o humor vítreo) --- É uma camada fina e eminentemente fibrosa. (2 e 3) Depois, vêm as camadas condutoras, onde se formam as fibras do nervo óptico --- A camada de neurofibrilas (por onde correm as fibras ainda não mielinizadas e dispersas do nervo) --- E a camada ganglionar (onde se localizam os corpos das células ganglionares) (4) Em seguida, vêm a plexiforme interna --- É onde os prolongamentos das células bipolares (e também das amácrinas) fazem sinapses com as cél. ganglionares (5) A camada seguinte – a nuclear interna – é relativamente complexa, pois apresenta diversos tipos de núcleos: --- De células bipolares, amácrinas, horizontais e das células de Muller.

(6) A plexiforme externa é onde os cones e bastonetes fazem sinapses tanto com células bipolares – circuito vertical – quanto com células horizontais – de inibição lateral. (7) A nuclear externa é onde se localizam os núcleos de cones e bastonetes. (8) A limitante externa é bem irregular, correspondendo à região de adesão entre cones e bastonetes e as células de Muller. * Essas células de Muller nada mais são do que glia modificada, com funções sustentatória e regulatória. (9) Enfim, vem a camada fotorreceptora, onde estão os prolongamentos de cones e bastonetes que acumulam pigmento e fazem fototransdução. (10 E, por último, está a camada pigmentar, que acumula melanina e está em íntimo contato com a coroide.

* Nota-se, assim, que o estímulo luminoso atinge, primeiro, muitas camadas não sensíveis da retina, antes de excitar os cones e bastonetes.