20200713 Articulação Textual

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ARTICULAÇÃO TEXTUAL Prof. Bruno da Cruz Faber Centro Cultural Brasil-México Embaixada do Brasil

O que são?

• São os elementos responsáveis por grande parte da organização discursiva; • São articuladores de enunciados; • Possuem uma relação interfrástica; • Podem ser usados em orações coordenadas ou subordinadas.

Classificação dos articuladores textuais (1) • SEGMENTO a) início de turno de fala b) meio de turno de fala c) meio de parágrafos d) início de parágrafos

Classificação dos articuladores textuais (2) Macrofunção discursiva Organização tópica Interação (personagens, narradorleitor) Contrajunção

Microfunção discursiva * Ruptura * Retomada * * * * * *

Interpelação Ênfase (exclamativo/interrogativo) Contestação Quebra de expectativa Retificação Ressalva

Classificação dos articuladores textuais (3) Macrofunção discursiva

Progressão narrativa

Microfunção discursiva

* * * * * *

Mudança de condução da narrativa Adição Progressão temporal (sequenciação) Causa-Efeito Conclusão/Finalização Ênfase (polissíndeto)

«e»

O articulador textual «e» Macrofunção discursiva

Progressão narrativa

Microfunção discursiva

* * * * *

Adição Progressão temporal (sequenciação) Ênfase (polissíndeto) Causa-Efeito Conclusão/Finalização

O articulador textual «e» • Progressão narrativa: adição Exemplo 1: “No dia seguinte, começamos a nos reunir. Eu, a Sarinha e o Ângelo. E foi só começarmos a falar sobre o Brasil, a Sarinha disse que gostaria de voltar” • Progressão narrativa: sequenciação Exemplo 2: “A melhor coisa do mundo na casa do menino maluquinho era quando ele voltava da escola. A pasta e os livros chegavam sempre voando na frente. Depois entrava o menino com seu pé de vento e a casa ventava, os quartos cantavam e tudo se enchia de som e alegria. E a cozinheira dizia: ‘Chegou o maluquinho!’” Note que podemos substituir o “e” por “aí”

• Progressão narrativa: ênfase (polissíndeto) Exemplo 1: “O Senhor fez a luz. E achou que era bom. E com a luz, Ele fez a manhã e a tarde do primeiro dia. E achou que era bom.” • Progressão narrativa: causa-efeito Exemplo 2: “Cara-de-pau suspirou. E o apito apitou. Repetiu a experiência uma porção de vezes e o apito apitava sempre.” • Progressão narrativa: finalização Exemplo 3: “Os homens mal começavam a conviver uns com os outros nas cavernas e aldeias. Para que sua lembrança não se perdesse no tempo eles tinham que inventar um jeito de contar (…) E foi assim que o Homem inventou a Escrita.” Perceba que podemos substituir o “e” por “portanto”

O articulador textual «e» Macrofunção discursiva Organização tópica

Contrajunção

Microfunção discursiva * Ruptura * Retomada

* Quebra de espectativa

• Organização tópica: ruptura Exemplo 1: “Fernando e Bia se separaram há um tempo. E é melhor não ficar perguntando muito essas coisas.” • Organização tópica: retomada Exemplo 2: “Até hoje todos pensam que esta foi a coisa mais importante que aconteceu na Torre de Babel naquele dia. Não foi. E é esta mágica história que aqui vai ser contada. Era um vez…” • Contrajunção: quebra de expectativa Exemplo 3: “O público perdeu a paciência. E nada da apresentação começar” Note que podemos substituir o “e” por “mas”

O articulador textual «e» Macrofunção discursiva

Interação

Microfunção discursiva

* Interpelação * Ênfase

• Interação: interpelação Exemplo 1: - O meu nome é Priscila. E você, como é que se chama? - Pedro, respondeu ele com um sorriso. Nesse caso (interpelação), o articulador “e” frequentemente vem seguido de um vocativo em frases interrogativas. • Interação: ênfase Exemplo 2: - Nossa, como você emagreceu! - E como! Já perdi quase dez quilos. Exemplo 3: - Precisamos pagar a dívida do banco amanhã mesmo! - E de onde vamos tirar todo esse dinheiro?

« mas »

• É o articulador adversativo por excelência. • Escalas das implicações semânticas existentes entre os segmentos coordenados por “mas”: desigualdade > contraste > contrariedade > oposição > negação/rejeição

• Pode ser usados em enunciados implícitos. Exemplo: - Vamos já para casa. - Mas eu não quero ir

O articulador textual «mas» Macrofunção discursiva

Contrajunção

Microfunção discursiva

* Ressalva * Quebra de expectativa * Retificação

• Contrajunção: ressalva Retoma o segmento anterior, apontando uma restrição para que ele seja tomado como verdadeiro. a [pode ser verdadeiro] - MAS (só que) b [restringe/delimita] Exemplo 1: - Você está com sede? Quer água? Pode beber água da torneira. - Mas a gente precisa de água purificada. Há água na torneira - MAS purificada.

(só que) a gente precisa de água

• Contrajunção: quebra de expectativa Há uma negação de pressuposição. Exemplo 1: - Entre, Isabel. Sente-se. A menina aproximou-se da cadeira indicada. Mas permaneceu de pé. • Contrajunção: retificação É feita uma correção da informação. Exemplo 2: - Me esforcei tanto e não passei na prova - Então você realmente não se esforçou. - Mas como não? Fiz todos os deveres de casa e ainda fiquei horas estudando sobre o tema em casa.

O articulador textual «mas» Macrofunção discursiva

Interação

Microfunção discursiva

* Ênfase * Interpelação * Contestação

• Interação: ênfase Quando aparece uma exclamação ou interrogação retórica. Exemplo 1: - O cachorro do vizinho acaba de ser atropelado. - Mas que horror! Exemplo 2: “Mas, gente, que saudades de vocês” Exemplo 3: - Ela fez todo o exercício em dois minutos. - Mas como? Se tinha mais de cinquenta perguntas! • Interação: interpelação Exemplo 4: - Tu foi na casa da Carla? - O correto é “tu foste”. - Ah, tá bom. Mas tu foste na casa da Carla?

• Interação: contestação Se questiona um argumento precedente, explicitando ou não um contraargumento. Exemplo 1: - Oi, boa tarde. Gostaria de me matricular no curso de português. - Pois não! O próximo curso começa em setembro… - Não, não, eu gostaria de começar já. - Mas estamos no meio do ciclo escolar. Exemplo 2: - Pelo modo de falar dele, as pessoas descobrem que o Eusébio é português. - Mas o Eusébio não é português, ele é angolano.

O articulador textual «mas» Macrofunção discursiva

Organização tópica

Microfunção discursiva

* Retomada * Ruptura

• Organização tópica: retomada Exemplo 1: - Os mamíferos são animais… - Professor, você falou que ia falar sobre os anfíbios e até agora nada. - Mas continuando, os mamíferos são animais (…) • Organização tópica: ruptura Exemplo 2: - Quanto é 2x2? E 4x3? E 5x7? E 9x9? - Mas basta de perguntas que já está tarde, amanhã a gente continua. Nesses casos, o “mas” não apresenta valor contrajuntivo, ele é usado como marcador conversacional.

O articulador textual «mas» Macrofunção discursiva

Progressão narrativa

Microfunção discursiva

* Mudança de condução narrativa * Progressão temporal * Adição

• Progressão narrativa: mudança de condução narrativa Exemplo 1: “Eu estava em casa vendo Netflix, mas Maria chegou e já tive que ajudá-la” • Progressão narrativa: progressão temporal Exemplo 2: “Numa noite muito escura apareceu menino vestido de fantasma para assustar os pais. O susto não foi muito grande. Mas, com o fantasma nos braços o papai lhe perguntou: ‘Você não tem medo do escuro?’. E o menino respondeu: ´Claro que não! O fantasma sou eu’”. Perceba que podemos substituir esse “mas” por “aí”

• Progressão narrativa: adição De uso muito pouco frequente, este articulador só ganha sentido de adição quando estiver na expressão “não só… mas também” Exemplo: “Ele não só fez a cama, mas também guardou os brinquedos que estavam no chão”

« Aí » « Então »

• Tradicionalmente, esses marcadores são analisados separadamente, no entanto a taxa de intercambialidade entre os dois é muito alta. • A diferença entre eles parece sustentar-se nos níveis de formalidade/ informalidade. • Geralmente, quando na escrita aparece o articulador “e”, na fala parece o “aí”.

O articulador textual «então»/«aí» Macrofunção discursiva

Progressão narrativa

Microfunção discursiva

* Progressão temporal * Causa/efeito * Conclusão/finalização

• Progressão narrativa: progressão temporal É o valor mais frequente do uso dos articuladores “aí”/“então”. São articuladores fundamentais no encadeamento da narrativa. Exemplo 1: “Os padrinhos e as madrinhas fizeram fila no altar, junto com o noivo, que estava no centro. Aí, a noiva entra acompanha do pai dela.” Exemplo 2: “O procurador continuava a atacar o réu. Aí o advogado de defesa interpelou o juiz. E o juiz pediu para o procurador moderar as suas palavras. Então, o procurador deixou de atacar o réu”

• Progressão narrativa: causa/efeito p ocorre, aí/então q acontece como consequência Exemplo 1: “A semana toda passou de um jeito que eu não gostei nada. E ainda por cima fez um tempo horrível. Chuva, chuva e mais chuva. Então eu fiquei bem deprimida. Achei que nunca mais ia parar de chover” • Progressão narrativa: conclusão/finalização Equivale a “eu concluo, com base no que você/eu disse, que…” Aqui, não é possível usar “aí”, sendo somente usado “então” Exemplo 2: “- Sou negro, da costa oriental da África e falo português” “- Então você é moçambicano”

O articulador textual «então» Macrofunção discursiva

Interação

Microfunção discursiva

* Interpelação * Contestação

• Interação: interpelação Essa função é exercida somente pelo articulador “então" O articulador inicia um segmento interrogativo, presente em um turno de fala. Exemplo 1: - Vocês vão voltar para o Brasil e eu vou ficar aqui sozinho. - Mas que papo é esse. Você é da família como a gente, entende? - Quer dizer que vocês me levam? - Mas é claro! Então você acha que nós vamos abandonar você aí sozinho? • Interação: contestação Aparece em momentos que há uma nítida discordância de pontos de vida. Exemplo 2: - “O tema da prova será os anfíbios”, disse o professor. - “Então por que você passou o semestre inteiro falando dos mamíferos?”, questionou o aluno.

O articulador textual «então» Macrofunção discursiva

Organização tópica

Microfunção discursiva

* Retomada

• Organização tópica: retomada Normalmente, desempenhado pelo articulador “então”. Exemplo: “Observando a pintura do meu amigo Carlos eu fiquei pasmo. Tinha uma mulher com uma perna só, quase nada de um vestido e pouco cabelo. O resto dela desaparecia no quadro. Eu sei que pintar bem não precisa ser pintar tudo certinho feito fotografia. Então não foi tanto o desaparecimento da mulher que me deixou pasmo. Foi porque, com tão pouca dela aparecendo, ela tinha a aparência de uma amiga minha da infância.”

TRANSCRIÇÕES DA FALA

Exemplo 1 • “Meu pai era filho de índio, né. Índia, índia, pega no mato. Porque, assim, os patrões invadiam aquelas área para fazer seus seringais e exterminavam os índios, mandavam matar os índios, porque os índios também matavam o povo que chegava, né. Quando meu avô veio pra ali pro Acre do Rio Grande, ele foi trabalhar com esse certo patrão, ele era casado com uma outra pessoa, né, com uma outra senhora. Aí, meu avô que liderava as ida lá, a busca dos índio. Numa dessas ida, eles que exterminaram uma aldeia, né. Mataram muita muita muita gente, muito índio mesmo. Aí quando tavam voltando acharam uma índia escondida dentro dos negócio do igarapé, né, numas raízes do igarapé debaixo de uma ponte. Aí, mata ou não mata, mata, não mata, meu avô falou ‘Não. Vamo levar ela, a gente entrega ela lá pro patrão, se ele quiser matar, mata lá’. (…)

Exemplo 1 (continuação) • “Aí pegaram a índia, trouxeram. Calculava-se na época que ela tinha uns doze anos, né, era uma mocinha. Aí chegaram e entregaram pro patrão, né. Aí a mulher do patrão botou ela pra… ser ensinado, botou pra fazer as coisa, pra ajudar em casa, né. Foram ensinando, ensinando e ela domou-se. Aí quando foi , acredito que uns dois, três anos depois, a esposa do meu avô faleceu. Aí como meu avô era homem de confiança do patrão, aí o patrão (naquele tempo não casava, dava), aí o patrão deu a índia pra ser mulher do meu avô.” Transcrição feita a partir do vídeo CONTAR PARA VIVER - Narradores do Brasil | Maria Iraildes de Menezes (acessado em https://bit.ly/2ZJzPTa em 08/07/2020)

Exemplo 2 • “Eu tava jogando bola de gude, então eu tava assim nesse plano, debaixo, jogando bola de gude. Aí eu joguei uma bola de gude assim e ela saiu rolando, pã, pã, pã, pã. Aí eu fui atrás daquela bola de gude assim. Quando bola de gude parou, tinha uma bota preta assim. Aí fui subindo o olhar. Quando eu olhei assim tinha um cara de braços cruzados com um sorriso, com uma barba assim. Um sorriso super bonito assim. Aí esse cara olhou pra mim e falou assim: ‘Oi, Pedro’. Aí eu falei assim: ‘Quem é você?’. Aí ele falou assim: ‘Não tá me reconhecendo não, filho da puta?’. Aí eu falei assim: ‘Ronaldo?’. Aí ele começou… aí ele começou a sorrir assim. Aí eu fui, cara. Aí ele começou a sorrir e a gente deu um abraço assim, sabe? E aí foi a mesma coisa daquela magia, entendeu? A gente passou quatro dias juntos, grudados, brincando, jogando bola, conversando. Foi uma coisa de louco. Eu conheci aquele cara, falei ‘Caralho, tô conhecendo o meu pai’. Foi um negócio de louco, isso. Foi uma coisa assim…” Transcrição feita a partir do vídeo CONTAR PARA VIVER - Narradores do Brasil | Pedro Cezar (acessado em https://bit.ly/3gD14p7 em 08/07/2020)

Resumindo Articulador

E

Macrofunção

Microfunção discursiva

Progressão narrativa

* Adição * Progressão temporal (sequenciação) * Ênfase (polissíndeto) * Causa-Efeito * Conclusão/Finalização

Organização tópica

* Ruptura * Retomada

Contrajunção Interação

* Quebra de espectativa * Interpelação * Ênfase

Resumindo Articulador

MAS

Macrofunção

Microfunção discursiva

Progressão narrativa

* Mudança de condução narrativa * Progressão temporal * Adição

Organização tópica

* Ruptura * Retomada

Contrajunção

Interação

* Ressalva * Quebra de expectativa * Retificação * Ênfase * Interpelação * Contestação

Resumindo Articulador

AÍ

Macrofunção discursiva

Progressão narrativa

Microfunção discursiva

* Progressão temporal * Causa/efeito * Conclusão/finalização

Resumindo Articulador

Macrofunção Progressão narrativa (mesmos valores de “aí”)

ENTÃO

Organização tópica

Interação

Microfunção discursiva * Progressão temporal * Causa/efeito * Conclusão/finalização * Retomada * Interpelação * Contestação

Cuidado!

Obrigado pela sua participação! A gente se vê na próxima aula.