apostila fitopatologia

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2010        

Curso Preparatório  ao Concurso MAPA                    

FITOPATOLOGIA      Prof. Adriano Munhoz                            

 

 

CAPÍTULO 1

FERRUGEM ASIÁTICA DA SOJA (Phakopsora pachyrhizi)

1 INTRODUÇÃO A cultura da soja é atacada por duas espécies de fungo pertencente ao gênero Phakopsora, causadoras da ferrugem: P. meibomiae e P. pachyrhizi. A diferenciação das duas espécies é possível por meio da análise do DNA e através da morfologia dos teliósporos e das télias. Phakopsora

meibomiae,

causador

da

ferrugem

“americana”

ocorre

naturalmente no Continente Americano tendo como hospedeiros naturais 42 espécies de 19 gêneros de leguminosas e mais 18 espécies em 12 gêneros quando inoculada artificialmente. A ferrugem americana ocorre em condições de temperaturas amenas (média inferior a 25° C) e umidade relativa elevada, estando localizada no Brasil nas regiões dos cerrados com altitudes superiores a 800 m e na Região Sul. Esta doença raramente causa perdas, sendo que a única epidemia foi registrada na safra 1987/88, em São Gotardo, MG. As lesões produzidas por esta espécie são caracteristicamente do tipo castanhoavermelhada ou “reddish-brown” RB. Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem “asiática” tem origem na China e ocorre na Ásia, África, Oceania, América do Norte e América do Sul. A primeira constatação no Continente Americano foi feita no Paraguai, em 2001 e, no mesmo ano, foi constatada no oeste e norte do Paraná em soja guaxa e lavouras safrinha. A importância da ferrugem asiática se deve a sua alta capacidade de expansão e pelas perdas que causa. Na safra seguinte à sua detecção, estimou-se que a ferrugem já atingia 60% da região produtora do Brasil. Na safra 2008/09 foram detectados focos da doença em praticamente todos os estados produtores de soja do Brasil. As lesões causadas por esta espécie são do tipo castanho-claras ou “TAN”, indicando alta suscetibilidade, mas cultivares tolerantes ou resistentes à P. pachyrhizi podem apresentar

também lesões tipo RB. Atualmente, é impossível diferenciar esta ferrugem da “americana” ao nível de campo. A disseminação do fungo é feita principalmente pelo vento, sendo, portanto difícil evitar a sua dispersão. A severidade da doença está em função das variações nas condições do ambiente, de ano para ano, estação para estação e de local para local. A desfolha precoce da planta impede a completa formação dos grãos, reduzindo a produtividade em índices que podem variar entre 30 a 75%. Desde a constatação da ferrugem em 2001, as perdas de produção foram estimadas em R$ 3,8 bilhões que somados aos R$ 6,5 bilhões gastos com a aplicação de fungicidas totalizam um prejuízo de aproximadamente R$ 10,3 bilhões. Como se pode observar na tabela abaixo, embora os prejuízos causados pelas perdas de produção estejam decrescendo com o passar dos anos o custo com a aplicação de fungicidas ainda é crescente.

2 SINTOMATOLOGIA Os sintomas da ferrugem podem aparecer em qualquer estádio de desenvolvimento da planta, como em cotilédones, folhas e hastes, sendo mais característicos nas folhas. Os primeiros sintomas são caracterizados por minúsculos pontos mais escuros do que o tecido sadio da folha, de coloração esverdeada a cinza-esverdeada, com correspondente protuberância (urédia) na face inferior da folha.

As urédias aparecem predominantemente na superfície inferior, mas podem, esporadicamente,

aparecer

na

superfície

superior

das

folhas.

Progressivamente, as urédias, adquirem cor castanho-clara a castanho-escura, abrem-se em minúsculo poro, por onde é liberado os uredósporos. Os uredósporos, inicialmente de coloração hialina (cristalina), tornam-se bege e acumulam-se ao redor dos poros ou são carregados pelo vento. A medida que prossegue a esporulação, o tecido da folha ao redor das primeiras urédias, adquirem coloração castanho clara (lesão do tipo “TAN”) a castanho-avermelhada (lesão do tipo “reddish-brown”- RB), formando as lesões que são facilmente visíveis em ambas as faces da folha. As urédias que deixaram de esporular apresentam as pústulas, nitidamente, com os poros abertos, o quê permite distinguir da pústula bacteriana, que freqüentemente tem sido confundida com a ferrugem. A ferrugem pode também ser facilmente confundida com as lesões iniciais de mancha parda (Septoria glycines) que forma um halo amarelo ao redor da lesão necrótica, que é angular e castanhoavermelhada. Em ambos os casos, as folhas amarelecem, secam e caem prematuramente. Em casos de ataques severos, as plantas ficam semelhantes a lavouras dessecadas com herbicidas, sofrendo abortamento de flores e vagens e deficiência na granação. Quanto mais cedo ocorrer a desfolha, menor será o tamanho dos grãos e, conseqüentemente, maior a redução do rendimento e da qualidade (grãos verdes). Estágios de outras doenças como a mancha alvo, pústula bacteriana e crestamento bacteriano, podem ser confundidos com os sintomas da ferrugem asiática. Para descartar a ocorrência da ferrugem basta observar a ausência das urédias nas lesões necróticas na face inferior das folhas com sintomas.

3 ETIOLOGIA Dois tipos de esporos são conhecidos em P. pachyrhizi: uredósporos e teliósporos. Os uredósporos, mais comuns, se constituem na fase epidêmica da doença. A penetração ocorre de forma direta através da cutícula. O

processo de infecção depende da disponibilidade de água livre na superfície da folha, sendo necessário no mínimo seis horas, com um máximo de infecção ocorrendo com 10-12 horas de molhamento foliar. Temperatura entre 15oC e 28oC são favoráveis à infecção. P. pachyrhizi apresenta grande variabilidade patogênica e, através do uso de variedades diferenciadoras, várias raças têm sido identificadas. Em Taiwan, foram identificadas nove raças e no Japão, onze. No Brasil, a quebra de resistência em uma safra evidenciou a existência de raças. Quatro genes dominantes com herança independente são conhecidos e denominados como Rpp1 – Rpp4.

4 EPIDEMIOLOGIA O processo infeccioso se inicia com a germinação dos uredosporos que, após a produção do tubo germinativo e formação do apressório, penetra diretamente através da epiderme, diferente das outras ferrugens que penetram através dos estômatos. Cinco a dez dias após a infecção, Urédias desenvolvem-se podendo produzir esporos por até 3 semanas. A temperatura para a germinação dos uredosporos varia entre 8oC a 30oC e a temperatura ótima é próxima de 20oC. Sob alta umidade relativa do ar, a temperatura ideal para a infecção situa-se ao redor de 18oC a 21oC. Nesta faixa de temperatura, a infecção ocorre em 6,5 horas após a penetração, mas são necessárias 16 horas de umidade relativa elevada para que a infecção se realize plenamente. Por isso, temperaturas noturnas amenas e presença de água na superfície das folhas, tanto na forma de orvalho como precipitações bem distribuídas ao longo da safra favorecem o desenvolvimento da doença. O vento é a principal forma de disseminação do fungo, que só sobrevive e se multiplica em plantas vivas, para lavouras próximas ou a longas distâncias. Desta forma, outro fator que favorece o seu estabelecimento é a existência de outras plantas hospedeiras, constituídas por 95 espécies de 42 gêneros de Fabaceae. Entre as plantas hospedeiras no Brasil, estão o kudzu (Pueraria lobata) e beiço-de-boi (Desmodium purpureum) sendo esta última uma planta daninha comum em quase todas as lavouras de soja do Sul e Centro-Oeste, e

cujas lesões e esporulações são visíveis quando o nível de doença na lavoura já é elevado. Figura – Ciclo da ferrugem asiática

5 MANEJO DA DOENÇA O monitoramento da ferrugem e a sua identificação nos estágios iniciais são essenciais para o controle eficiente da doença. Ele deve ser representativo da área, atentando-se para as primeiras semeaduras e para os locais com maior acúmulo de umidade. Na medida em que se aproxima da floração ou quando são constatados focos em lavouras de regiões próximas, o monitoramento deve ser intensificado. Mediante o exame das folhas do terço inferior da planta, busca-se a identificação das pontuações escuras nas folhas, observando-as pela página superior, contra a luz. Na página inferior da folha busca-se verificar a presença de saliências (pústulas). A confirmação da doença pode ser realizada em laboratórios de diagnóstico fitossanitário. Atualmente várias táticas de controle da ferrugem asiática da soja estão disponíveis. Entretanto, a maior parte das pesquisas envolve o uso de fungicidas e a resistência da planta hospedeira. Quando a doença já está ocorrendo, o controle químico com fungicida é, até o momento, a principal medida de controle. O número e a necessidade de reaplicações dependem do estágio inicial em que foi identificada a doença na lavoura e do período residual dos produtos. Os fungicidas dos grupos dos

triazóis e estrobilurinas têm se mostrado mais eficientes para o controle da doença, com diferença na eficiência entre princípios ativos dentro de cada grupo. Os fungicidas podem ser aplicados no início do aparecimento dos sintomas ou preventivamente. Entretanto a decisão sobre o momento de aplicação deve considerar os fatores necessários para o aparecimento da doença ferrugem (presença do fungo na região, idade da planta e condição climática favorável), a logística de aplicação (disponibilidade de máquinas e equipamentos e tamanho da propriedade, a presença de outras doenças e o custo do controle. A utilização continuada de triazóis tem ocasionado o surgimento de populações menos sensíveis a estes fungicidas no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Para evitar este problema, recomenda-se a utilização de misturas de triazóis e estrobilurinas devidamente registrados no MAPA e evitar a aplicação em condição de alta pressão da doença e de forma curativa. Além do controle químico, é importante considerar o manejo da cultura. Variáveis como densidade de plantio, época de plantio, estádio fenológico, espaçamento,

variedade,

quantidade

de

inóculo

residual,

devem

ser

considerados no manejo da doença. Entre as medidas que podem resultar na melhoria da eficiência do controle pode se citar: - o plantio de cultivares mais precoces semeadas no início da época recomendada para cada região, evitando semeaduras em várias épocas e cultivares tardias, para escapar da maior concentração do inoculo; - a densidade de semeadura deve permitir um bom arejamento foliar e uma maior eficiência na deposição do fungicida; - eliminar plantas voluntárias de soja e outras hospedeiras, e não cultivar soja no período da entressafra (vazio sanitário). Com relação à utilização de cultivares resistentes à ferrugem, a existência de raças do fungo dificulta o controle através da resistência vertical. Entretanto, para a safra 2009/10 estará disponível aos produtores de Goiás, Minas Gerais, do Distrito Federal e norte de São Paulo a primeira variedade brasileira de soja

resistente à ferrugem asiática, BRSGO 7560. A utilização da cultivar resistente deve estar associada às demais práticas recomendadas para o controle da ferrugem. Finalmente, deve-se ressaltar que o clima é considerado o fator chave na epidemiologia da ferrugem asiática da soja. Variáveis ambientais são influenciadas pelo macro, meso ou microclima, as quais afetam diferentes processos do ciclo da doença e também influenciam na taxa de progresso e a severidade das epidemias. No campo, a chuva parece ser o fator chave que influencia na severidade da doença em escala regional. Sob condições de seca por período prolongado a doença aparece mais tarde e sua dispersão é mais lenta.

6 PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE À FERRUGEM ASIÁTICA DA SOJA (PNCFS) Considerando a seriedade crescente do problema causado pela ferrugem asiática, o MAPA publicou em 2007 a Instrução Normativa nº 2 instituindo o Programa Nacional de Controle à Ferrugem Asiática da Soja (PNCFS), visando o fortalecimento do sistema de produção agrícola da soja, congregando ações estratégicas de defesa sanitária vegetal com suporte da pesquisa agrícola e da assistência técnica na prevenção e controle da praga. O Programa é composto por instituições públicas e privadas, tais como o próprio MAPA por meio de suas secretarias e superinetendências; Secretarias de Agricultura Estaduais ou seus Órgãos de Defesa Agropecuária; instituições de informações meteorológicas públicas e privadas; iniciativa privada; Instituições de pesquisa públicas e privadas; Universidades; Conselhos e Federações de classes profissionais; e Órgãos de assistência técnica e de extensão rural. O programa prevê a criação de Comitês Estaduais e Grupos Regionais de Controle da Ferrugem Asiática da Soja, constituídos por representantes das instituições que fazem parte do programa. Na normativa estão previstas as atribuições de cada entidade, que vão desde a coordenação do programa,

elaboração de material técnico e educativo, cadastros de técnicos, registro de insumos, diagnóstico fitossanitário, financiamento, monitoramento, fiscalização, cadastro de propriedades, prevenção e controle, informação meteorológica, treinamentos, Identificação de demandas, elaboração de recomendações, alertas e a apuração de denúncias. Além das medidas adotadas pelas instituições, o Artigo 18 da IN nº 2/2007 prevê a adoção de um calendário oficial em cada Unidade da Federação, estabelecendo o período de cultivo da soja, com um período de pelo menos 60 (sessenta) dias sem a cultura e sem plantas voluntárias no campo, período este conhecido como vazio sanitário. Na prática, o vazio sanitário diminui a possibilidade de incidência da doença no período vegetativo, retardando as aplicações de fungicida e, conseqüentemente podendo reduzir o custo de produção. Uma maior eficiência na operação de colheita, o manejo com utilização de herbicidas, o controle mecânico ou a capina manual possibilita a eliminação dos hospedeiros no campo. A sucessão com trigo ou milho, ou culturas de cobertura também são recomendados para reduzir a possibilidade do estabelecimento da doença. Até a presente safra, o vazio sanitário foi oficializado em 12 estados. UNIDADE DA FEDERAÇÃO

PERÍODO DO VAZIO

MT, PR e SC

15/06 à 15/09

DF, GO, MG, MS, SP, TO

01/07 à 30/09

BA, MA

15/08 à 15/10

PA

15/07 à 15/09 e 1/10 à 30/11

7 SISTEMA DE ALERTA EMBRAPA E CONSÓRCIO ANTIFERRUGEM Atualmente, duas importantes ferramentas via internet estão disponíveis ao público interessado no monitoramento e controle de ferrugem asiática da soja: o Sistema de Alerta Embrapa e o Consórcio Antiferrugem. O Sistema de Alerta Embrapa - http://www.cnpso.embrapa.br/alerta/index.php é uma rede de comunicação gerenciada pela Embrapa Soja para informar a assistência técnica pública e privada sobre problemas detectados durante a safra, orientar quanto a possíveis soluções e captar, entre os agentes de transferência, informações sobre o desempenho da safra nas várias regiões produtoras. O Consórcio Antiferrugem - http://www.consorcioantiferrugem.net/- foi criado em 2004, formado por instituições representantes dos diversos segmentos da cadeia produtiva da soja como fundações, universidades, institutos de pesquisa, entidades representantes de fabricantes de insumos e cooperativas de produtores. O objetivo principal do consórcio é levar ao agricultor todas as informações disponíveis sobre a doença e capacitá-lo em manejar a doença. Uma palestra padrão foi elaborada em 2004, com as principais informações disponíveis, e utilizada em treinamentos em todo País. Essa palestra é revisada e atualizada anualmente. Um segundo objetivo do consórcio antiferrugem foi o cadastramento de laboratórios habilitados à identificar a doença e localizados nas principais regiões produtoras do País, para auxiliar na correta identificação da doença. Uma vez confirmada corretamente identificada pelos laboratórios, a informação é repassada ao mapa de dispersão da doença, que é uma forma de alertar a cadeia produtiva para a presença da doença em uma determinada região. Os integrantes do Consórcio Antiferrugem se reúnem anualmente para a avaliação dos resultados e para a discussão das atividades futuras.

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YORINORI, J.T.; NUNES, JR.; LAZZAROTO, J.J.. Ferrugem “asiática” da soja no Brasil: evolução, importância econômica e conrole. Londrina: Embrapa Soja, 2004. 36p. (Embrapa Soja. Documentos, 247).

CAPÍTULO 2

CANCRO DA VIDEIRA (Xanthomonas campestris pv. viticola) 1 INTRODUÇÃO O cultivo da videira (Vitis spp.) pode ser feito, praticamente, em todo o território nacional. A área de uvas no Brasil em 2002, segundo IBGE, foi de 65.381 ha (Tabela 1). O Rio Grande do Sul figura como o principal produtor com área de 36.668 ha ou seja, 56,08% da área total do país.

Na região nordeste, a intensificação do cultivo de videira, o plantio de variedades suscetíveis, além das condições climáticas prevalentes no Submédio São Francisco têm propiciado o surgimento de problemas fitossanitários, afetando diretamente a produção e a produtividade (TAVARES, 1995). Deve-se considerar ainda que a aquisição de mudas sem certificação

1

tem contribuído para a introdução de doenças nesse pólo agrícola (TAVARES & MENEZES, 1991). O cancro bacteriano da videira foi detectado pela primeira vez em parreirais do Submédio São Francisco em 1998, em plantios da cultivar Red Globe (Malavolta Jr. et al., 1998; Lima et al., 1998; Malavolta et al., 1999). No período de 1998-1999, a doença foi detectada em amostras provenientes de vários municípios de Pernambuco, Bahia e Piauí. A incidência da doença variou de 10 a 100% em pomares comerciais, sendo que as cultivares mais sensíveis ao cancro foram a Red Globe e algumas cultivares sem sementes, principalmente aquelas oriundas de Thompson Seedless, cultivares de importância expressiva nas exportações de uva da região (Lima et al., 1999a; Lima et al. 1999b; Lima et al., 2000). Sintomas da doença também foram observados em plantas das cvs. Itália, Festival, Brasil, Piratininga, Patrícia, Benitaka, Ribier e Catalunha, com incidência bastante variável, principalmente, nas cvs. Itália e Benitaka, que mostraram, uma certa tolerância à doença.

2 ETIOLOGIA A bactéria, agente do cancro bacteriano da videira, identificada através de testes bioquímicos, culturais, fisiológicos e de patogenicidade em videira, é Xanthomonas campestris pv. viticola (MALAVOLTA et al., 1999). Os testes de patogenicidade foram realizados em plantas das cvs. Red Globe (LIMA et al., 1998), Piratininga e Itália (NASCIMENTO et al., 1998), nas quais foram reproduzidos os sintomas da doença, completando, assim os Postulados de Koch.

3 SINTOMATOLOGIA Em plantas infectadas, os sintomas do cancro da videira são observados em folhas, ramos, inflorescências e cachos já formados, comprometendo os ramos produtivos e reduzindo a produção. Os sintomas

2

mais característicos da bacteriose são manchas de coloração escura, alongadas e irregulares. Nas folhas, os sintomas surgem como pontos necróticos de 1 a 2 mm de diâmetro, com ou sem halos amarelados, algumas vezes coalescendo e causando a morte de extensas áreas do limbo foliar. As nervuras secam tornando-se escura. Às folhas ficam crestadas, marcadas por uma necrose marginal. Nas nervuras e pecíolos das folhas, nos ramos e ráquis dos frutos formam-se manchas escuras e alongadas, que evoluem para fissuras longitudinais medindo entre 0,5-1,0cm de coloração negra conhecidas como cancros, podendo atingir até 5 cm nos ramos, se aprofundando nos tecidos e provocando o colapso no transporte da seiva. As bagas são desuniformes em tamanho e cor, podendo apresentar lesões necróticas e murcham. A intensidade dos sintomas causados por X. campestris pv. viticola varia segundo o nível de tolerância da variedade à doença e segundo as condições ambientais (LIMA, 2001). Na região do Submédio São Francisco, os sintomas aparecem no primeiro semestre do ano, em épocas de alta umidade relativa e temperatura elevada. A ocorrência de chuvas propicia a exsudação de pus bacteriano a partir dos cancros presentes em ramos, favorecendo a disseminação da bactéria.

4 EPIDEMIOLOGIA As mudas e bacelos de videira infectados são os principais veículos para introdução de X. campestris pv. viticola em áreas onde a praga ainda está ausente. Inclusive, plantas aparentemente sadias também podem veicular a bactéria. Estudos revelaram que superfícies de folhas assintomáticas, provenientes de áreas afetadas, revelaram intensa colonização de X. campestris pv. viticola, cujas células bacterianas ficam aderidas principalmente sobre nervuras e tricomas, no limbo foliar.

3

Restos de cultura infectados espalhados pelo pomar ou aderidos em roupas, veículos, contentores, tesouras, canivetes e luvas não desinfestadas utilizadas na colheita de frutos de plantas doentes também são meios de disseminação da bactéria. Os tratos culturais tais como a desbrota, poda, raleio de bagas, colheita, capina, gradagem, roçagem, pulverizações e até a aplicação de herbicidas por barra podem favorecer a disseminação de X. campestris pv. viticolaI dentro do parreiral. Todos os agentes de ferimentos são importantes para a penetração de bactéria destacando-se os tratos culturais e ventos fortes. Respingos de água de chuva ou irrigação podem transportar a bactéria a longas distâncias, enquanto que a irrigação de sobre-copa, convencional ou pivô central, favorecem a distribuição da doença. A transmissão do cancro bacteriano dentro do pomar pode ocorrer mais rapidamente que entre pomares. Dessa forma, é importante que o viticultor esteja atento ao surgimento de sintomas da doença no parreiral, realizando inspeções periódicas que permitam a detecção de focos iniciais de infecção, retardando ou evitando a disseminação do patógeno e favorecendo o manejo da doença. Após a penetração, a bactéria multiplica-se rapidamente colonizando os espaços intercelulares e atingindo o sistema vascular, sendo transmitida a todos os órgãos da planta. De acordo com CHAND & KISHUM (1990b), fatores como temperaturas em torno de 25 a 30°C e alta umidade relativa do ar proporcionam condições favoráveis ao desenvolvimento do patógeno. A bactéria sobrevive de um ciclo para o outro em plantas infectadas, ou como epifítica em órgãos da parte aérea de plantas, em condições de umidade e temperaturas elevadas. Não sobrevive no solo, persistindo apenas em restos culturais. Em inoculações artificiais com X. campestris pv. viticola observou-se infecção em plantas de mangueira (Mangifera indica L.), cajueiro (Anacardium ocidentale L.), umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda), cajámanga (Spondias dulcis Forst.) e aroeira (Schinus terebenthifolius Radii), bem como neem (Azadirachta indica A. Juss). Com relação ao neem, na Índia, observaram-se nas plantas manchas foliares e cancros em ramos e pecíolos, 4

sintomas semelhantes aos observados em videira. Em cultivares de videira utilizadas como porta-enxertos (IAC 766 e IAC 572), enxertadas com a cultivar suscetível Red Globe também apresentaram a bactéria.

5 MEDIDAS DE PREVENÇÃO CONTROLE E ERRADICAÇÃO – IN nº 9/2006 Por tratar-se de uma Praga Quarentenária Presente (A2), X. campestris pv. viticola é regulamentada pelo MAPA, visando retardar a sua disseminação no território nacional. A Instrução Normativa nº 9/2006 define as cultivares e seus respectivos graus de suscetibilidade à X. campestris pv. viticola, bem como adoção de exigências fitossanitárias para mudas; e as medidas

de

prevenção,

controle

e

erradicação

da

referida

praga,

respectivamente constantes nos anexos I, II e III da IN.

Com relação à suscetibilidade à doença, as variedades de V. vinífera sem sementes são mais suscetíveis que aquelas com sementes e, entre estas, as cultivares coloridas mostram ser mais suscetíveis que as brancas. As cultivares sem sementes oriundas de “Thompson seedless” e a variedade Red Globe, com semente, são as que apresentam maior incidência - até 100%, principalmente no período das chuvas.

5

Na produção de material de propagação será obedecida a legislação pertinente a sementes e mudas e as exigências fitossanitárias relacionadas no Anexo II.

A operacionalização da IN nos Estados depende de ações a serem executadas pelos Órgãos Estaduais de Defesa Sanitária Vegetal (OEDSV), tais como: -

levantamento para detecção e limitação das áreas de ocorrência da bactéria;

-

manutenção do cadastramento dos produtores de uva das áreas atingidas;

-

orientação e conscientização sobre as exigências e as medidas de prevenção, controle e erradicação da bactéria;

-

coleta de amostra para diagnóstico em laboratório oficial ou credenciado, na suspeita de contaminação pela bactéria;

-

na confirmação da ocorrência, notificar o produtor a aplicar uma das medidas constantes do Anexo III;

-

nas propriedades onde for detectada a bactéria, realizar inspeções a cada sessenta dias, no mínimo, a fim de verificar o cumprimento das medidas fitossanitárias;

6

-

viabilizar a destruição/erradicação sumária de plantas isoladas

e

pomares

abandonados

com

comprovada

ocorrência da bactéria, não cabendo ao proprietário qualquer tipo de indenização.

Em contrapartida, cabe aos proprietários rurais, arrendatários ou ocupantes, a qualquer título, de propriedades com ocorrência da bactéria: -

executar, às

suas

prevenção, controle

expensas,

todas

as

medidas

e erradicação determinadas

de pelo

OEDSV ou, caso contrário, não poderão obter o Certificado Fitossanitário de Origem (CFO ou CFOC), necessário para obtenção da Permissão de Trânsito de Vegetais (PTV) para o transporte de frutos;

7

Com relação à eliminação de material remanescente de podas, para evitar a dispersão da doença, a pesquisa tem recomendado a queima do material em local próximo aos focos. Outras medidas são: -

implantar quebra ventos com espécies não hospedeiras da bactéria;

-

evitar irrigação sobre-copa.

Outro procedimento importante previsto na IN é não transportar plantas e partes de plantas de videira das propriedades ou talhões onde for constatada a bactéria. Com relação a este procedimento, como recomendação, deve-se incluir também os parreirais sem constatação da bactéria, já que plantas assintomáticas podem estar infectadas e serem focos em áreas ainda livres. Qualquer material utilizado para multiplicação deve ser obtido de viveiros registrados no MAPA. Com relação ao controle químico, ainda não há produtos registrados no MAPA para o controle do cancro-da-videira. No entanto, produtos à base de cobre têm sido utilizados em pulverizações de plantas e em pincelamento de ferimentos no manejo da praga no Submédio São Francisco (LIMA, 2001). A IN nº 9/2006 estabelece que o órgão de defesa sanitária vegetal da Superintendência Federal de Agricultura – SFA/MAPA do Estado atingido supervisione a execução das medidas previstas na IN. Finalmente, vale ressaltar que X. campestris pv. vitícola está listada como Praga Quarentenária Presente (A2), no Anexo II da IN nº 41/2008, com ocorrência em áreas da BA, PE e CE. Portanto, os frutos produzidos nestes Estados devem atender também a legislação de CFO e PTV para serem comercializados fora de seus respectivos territórios. Eventualmente, alguns estados exigem a P TV também de estados sem a ocorrência da praga apenas para comprovação da origem.

8

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apostila fitopatologia

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