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CANNABIS SATIVA: UMA COMPLEXA ABORDAGEM PSICONEUROLÓGICA SOBRE SUA UTILIZAÇÃO– REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
BRUNO BORGES DIAS1 CAMILA CÁSSIA CANZI1 LORENA SENA OLIVEIRA1 LEANDRO DOBRACHINSKI2 SILVIO TERRA STEFANELO2 CAREN RIGON2 1
Acadêmicos do 5º semestre do curso de Medicina da Faculdade São Francisco de Barreiras- FASB, Barreiras/BA – E-mail:
[email protected]. 2 Docente do curso da área de saúde da Faculdade São Francisco de Barreiras – FASB, Barreiras/BA – E-mail:
[email protected] .
INTRODUÇÃO A Cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha, trata-se de uma planta da família das canabiáceas frequentemente encontrada em regiões tropicais e temperada, porém amplamente cultivada no mundo todo, seja sob formas legais ou não. Sua utilização é datada desde aproximadamente 12.000 anos atrás na fabricação de tecidos e cordoaria devido a sua grande resistência a tração. Além disso, a C. sativa foi extensamente utilizada para fins medicinais e espirituais por chineses, indianos e povos indígenas (KALANTI,2001). Dentro desse aspecto, a utilização recreativa da Cannabis também tem datações muito antigas na história mundial. Porém, apenas por volta do século XIX, começaram a surgir os primeiros clubes para utilização recreativa na França, como o “Club des Hashischins”, que eram utilizados para a exploração de experiências com drogas, principalmente haxixe e opióides. Já nos Estados Unidos, a chegada clandestina da maconha foi feita através de mexicanos, que levaram a planta para o sul do país destinada ao consumo. No entanto, essa planta também era prescrita por médicos, que em de certo modo também eram dependentes da utilização da maconha, para tratamento de algumas patologias, fazendo parte da composição de alguns elixires (BALLOTA,2005). Seguindo a linha temporal, de acordo com Carlini (2006), a Cannabis se faz presente desde o processo de chegada dos portugueses nas terras brasileiras, por volta de 1500, compondo velas e cordas das embarcações. No entanto, acredita-se que sua chegada no Brasil tenha sido através de escravos, por isso denominada antigamente de fumo-da-angola. Já no século XVII, a coroa portuguesa apoiou o cultivo da planta em território nacional, visando a produção das velas e cordas, comercialmente já conhecidas, fato que foi crucial para a efetivação da entrada da maconha, principalmente em regiões como Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, dentre outras regiões (BRANDÃO,2014). Concomitante a esse contexto, a utilização da maconha no âmbito da medicina já vinha sendo relatada nos tratamentos da catarata, amaurose, catarro, gonorreia, impotência, dores nos rins, retenção da urina e espasmos pelo médico homeopata brasileiro Dr. Alexandre José de Mello Moraes, com isso, grandes trabalhos acerca da utilização dessa planta foi feita pelo Dr. José Dórea. Para tal pesquisador, negros, índios e mestiços da região norte do Brasil 17º Congresso de Iniciação Científica da FASB, 2019, Barreiras – Ba ISSN 2594-7951
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eram as populações que faziam o maior consumo sob forma de fumo da planta e relacionou o seu consumo às camadas sociais baixas (PEREIRA, 2017). Ao decorrer da implantação da Cannabis em território brasileiro, complexas discussões começaram a surgir mediante a sua utilização tanto no aspecto recreativo quanto no aspecto medicinal. Com isso, diversos estudos foram realizados para desvendar os mistérios acerca da maconha e constatou-se que tal planta apresenta cerca de 400 componentes, sendo aproximadamente 60 substancias canabinóides. Dentre os compostos estudados, o constituinte psicoativo mais potente da Cannabis é o D9-tetrahidrocanabinol (D9-THC), responsável pelos efeitos psicoativos que cursam com um estado de euforia (GONTIÈS, 2013). Sua complexa influência cerebral é ainda de difícil compreensão, porém compreende-se que seja responsável pela indução de sintomas psicóticos em sujeitos mais vulneráveis, sendo compatível com o efeito de aumentar o efluxo pré-sinaptico de dopamina no córtex pré-frontal medial (CHEN, 1990). Além desse integrante, a Cannabis ainda apresenta o canabidiol como um dos seus componentes que não apresenta ação psicoativa, que de fato se diferencia do D9-THC. Segundo estudos, tal canabinóide apresenta capacidade neuroprotetora resultante do seu poder anti oxidante contra os radicais livres de oxigênio produzidos nos neurônios por liberação excessiva de glutamato. (NETZAHUALCOYOTZI-PIETRA ,2009)Também apresenta ação analgésica e imunossupressora, ação no tratamento de isquemias, diabetes, náuseas e câncer, efeitos sobre os distúrbios de ansiedade, do sono e do movimento, bem como no tratamento dos sintomas decorrentes da epilepsia, esquizofrenia, doenças de Parkinson e Alzheimer.(MATOS et al, 2017). Mediante a tal dicotomia relacionada aos compostos presentes na C. sativa, torna-se complexa a discussão sobre a legalização ou não da utilização dessa planta que, em âmbito nacional, é considerada ilegal. Além de envolver fatores políticos, econômicos, culturais e sociais, ainda tem-se necessidade de explorar cientificamente a ação da maconha bem como os seus efeitos colaterais, desenvolvendo, par isso, pesquisas multidisciplinares que possam favorecer estudos na bioquímica médica e na promoção da saúde (FONSECA,2007). Levando em consideração a necessidade atual da busca por estudos que comprovem a eficácia, os benefícios e malefícios da utilização da Cannabis sativa, este estudo tem por objetivo discutir sobre as alterações psiconeurológicas relacionadas a utilização dessa planta tanto no âmbito recreativo quando no medicinal, a fim de promover um maior esclarecimento acerca das serventia da maconha dentro desses aspectos. DESENVOLVIMENTO METODOLOGIA O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica, realizada por meio da identificação, localização e compilação de artigos científicos, publicados em revistas especializadas nas bases de dados da SciELO, LILICAS, PubMed e Google Acadêmico, além das plataformas de revistas virtuais nacionais e internacionais. Do total de 17 artigos e 7 revistas identificados dentre os oferecidos pelas plataformas, foram selecionados 9 dos artigos e 6 revistas após a aplicação de critérios de inclusão: ser 17º Congresso de Iniciação Científica da FASB, 2019, Barreiras – Ba ISSN 2594-7951
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publicado nos últimos 30 anos, ter relação com a temática abordada, possuir dentre os descritores os termos “maconha”, “C. sativa”,”Canabidiol” e “D9-tetrahidrocanabinol”. RESULTADOS E DISCUSSÕES Ao decorrer dos séculos, a Cannabis sativa continua sendo a droga que provoca maior controvérsia quanto à sua utilização para fins recreativos e medicinais (WATSON, 2000). Dentre seus mais diversos constituintes, que são catalogados como sendo aproximadamente 400 compostos, dois tem-se tornado destaque como efeitos completamente antagonistas, a D9-tetrahidrocanabinol (D9-THC) e o Canabidiol (CBD). Segundo estudos, enquanto o D9THC provoca gerando um estado de euforia, o CBD atua bloqueando e inibindo o senso de humor (MATOS,2017). O mecanismo de atuação dessas substâncias e seus efeitos foram elucidados com a descoberta de dois importantes receptores endocanabinoides nos seres humanos. Esses receptores, por sua vez, foram classificados como tipo 1(CB1) e tipo 2(CB2). O CB1 é amplamente distribuído pelo organismo, sendo encontradas principalmente em regiões présinápticas no sistema nervoso central (SNC) que favorecem a apresentação dos efeitos psicotrópicos dos canabinóides, como áreas da memória, do controle motor, da aprendizagem, cognição e emoção. Já os CB2 apresentam-se principalmente em regiões pós sinápticas e nas microglias no SNC, especificamente, e também no sistema imunológico (DEVANE et al, 1992). Dentre diversos estudos realizados, o D9-THC foi classifica como agonista parcial do CB1, contratando com o CBD que atua como agonista inverso do CB2, além de apresentar afinidade com receptores serotoninérgicos do tipo 5-HT1A, envolvidos na modulação da ansiedade e da depressão. (MATOS, 2017). A absorção pulmonar do D9-THC é muito rápida, sendo possível de detecção no plasma logo após a primeira tragada. Com base nas suas propriedades físico-químicas, tal composto é rapidamente disseminado em tecidos altamente vascularizados como o cérebro, principalmente, o que propicia um aumento dos seus efeitos psicoativos relacionadas a ligação com o CB1 (GONÇALVES, 2014). Mediante ao aspecto da interatividade neural de receptores com os compostos presentes na maconha, estudos foram realizados acerca das alterações psiconeurológicas desses constituintes. Segundo Conrad (2001), O CBD possui em destaque dentre suas atividades a ação como anticonvulsivante no tratamento de epilepsias e nas desordens do movimento distônico. Além disso, também pode ser utilizado no tratamento da sintomatologia da doença de Huntington, ainda como antipsicótico e como urgência para casos de insônia crônica.
Em contrapartida, O D9-THC torna-se então responsáveis por efeitos depressores, trazendo a sensação de relaxamento e sonolência quando o indivíduo faz a utilização da maconha sozinha. Contudo, promove um estado de euforia quando consumido em grupo o que pode estar relacionado também à sensação de prazer ao dançar, escutar músicas ou assistir filmes. Em doses altas, pode cursas com perda de parte do desempenho mental, além de poder cursar com alucinações e paranóias. (GONÇALVES, 2014). CONCLUSÃO 17º Congresso de Iniciação Científica da FASB, 2019, Barreiras – Ba ISSN 2594-7951
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A Cannabis sativa ainda é uma planta que envolve complexas discussões acerca da sua utilização. Dentro desse contexto, a maconha pode se apresentar como potencial poder curativo/terapêutico no tratamento de determinadas patologias como a epilepsia, porém pode apresentar um risco à saúde populacional diante dos efeitos tóxicos mediante a sua utilização de forma indiscriminada. Diversos trabalhos apresentam estudos inconclusivos acerca da atuação do D9-THC e do CBD diante da sua complexidade, o que torna necessário estímulo ao desenvolvimento científico nessa área bioquímica. Frente ao presente estudo, fica clara a necessidade de um maior esclarecimento relacionado aos benefícios e malefícios da Cannabis sativa, bem como sua forma de utilização para tais desencadeamentos, a fim de desmistificar preconceitos ainda vigentes e que podem consequentemente, impactar na produção e utilização de medicamentos que possivelmente possam trazer benefícios para a população como um todo. REFERÊNCIAS BALLOTA, D. et al, 2005. Cannabis, uma substância sob controlo permanente. Revista Toxicodependências. Vol 11. Nº1. BRANDÃO, M.D. Ciclos de atenção à maconha no Brasil. Revista da Biologia, São Paulo, v.13, n. 1,p. 1-10. 2014 CARLINI, E.A. A história da maconha no Brasil. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 55,n. 4, p. 314-317. 2006. CHEN J, et al. 1990. Delta 9- tetrahydrocannabinol enhances presynaptic dopamine efflux in medial prefrontal cortex. European Journal of Pharmacology. Volume 190, Issues 1–2, 6.Pag 259-262. CONRAD C., 2001. Hemp- O uso medicinal e nutricional da maconha. Record, Rio de Janeiro. FONSECA,A et al. 2007. Representações sociais de universitários de psicologia acerca da maconha. Estudos de Psicologia I Campinas I. GONÇALVES, G., 2014. Efeitos benéficos e maléficos da Cannabis sativa. Revista Uningá. Vol 20. Nº2. GONTIÈS,B. et al, 2013. Maconha: uma perspectiva histórica, farmacológica e antropológica. Revista de Humanidade Mneme. Departamento de História e Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. V.4 - N.7. KALANT, H. 2001. Medicinal use of cannabis: History and current status. Pain Res. Manage. MATOS, R. et al. 2017. O Uso do Canabidiol no Tratamento da Epilepsia. Revista Virtual de Química. Vol 10. Nº 2. NETZAHUALCOYOTZI-PIETRA et al. (2009). La marihuana y el sistema endocanabinoide: De sus efectos recreativos a la terapéutica. Revista Colombiana de Cardiología. Vol. 12 Nº3. PEREIRA,J, et al. 2017. Cannabis sativa: aspectos relacionados ao consumo de maconha no contexto brasileiro. Revista de Administração Hospitalar e Inovação em Saúde Vol. 15, n.1. Belo Horizonte. RIBEIRO, J., 2014. A Cannabis e suas aplicações terapêuticas. Universidade Fernando Pessoa – Faculdade de Ciências da Saúde.
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