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DISCURSO DIRECTO, DISCURSO INDIRECTO E DISCURSO INDIRECTO LIVRE O narrador dispõe de três processos para dar a conhecer os pensamentos e as falas das personagens: discurso directo, discurso indirecto e discurso indirecto livre. Discurso directo – Consoamos aqui os três – disse com a pureza e a ironia dum patriarca. – A Senhora faz de quem é; o pequeno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de S. José. Miguel Torga, Novos contos da Montanha
O narrador, após introduzir a personagem, transcreve fielmente as palavras dela, deixaa falar. Este tipo de discurso, tornando mais vivas as personagens, permite imprimir mais força e autenticidade à narrativa. Um enunciado em discurso directo é marcado pela presença de verbos declarativos do tipo dizer, afirmar, acrescentar, etc.; e de sinais gráficos, tais como os dois pontos, o travessão, e a mudança de linha. Discurso indirecto A Mãe bebia as palavras do filho, a beijá-lo todo com a luz da alma. O Pai regressou ao caldo. Mas o menino continuou. Disse que então prendera a cordeira a uma giesta e trepara pela árvore acima. Miguel Torga, Bichos
O narrador reproduz o enunciado de personagens, mas sem as fazer falar. Não é mantida a forma linguística que foi utilizada na fala, apenas é transmitido o conteúdo do enunciado. Este tipo de discurso é também marcado pela presença de verbos declarativos, mas, neste caso, as falas das personagens aparecem em frases subordinadas completivas: “Disse que então prendera...” Discurso indirecto livre Ele então, se fosse a queixar-se! Cada desconsideração do destino! Valia-lhe o bom feitio. Viesse o que viesse, recebia tudo com a mesma cara. Aborrecer-se para quê?! Não lucrava nada! Chamavam-lhe filósofo... Areias, queriam dizer. Importava-lhe lá. Miguel Torga, Novos contos da Montanha
O narrador e a personagem aproximam-se, dando-nos a impressão de falar em uníssono. Este tipo de discurso conserva a expressividade própria do discurso directo, mas, ao mesmo tempo, mantém as transposições de pronomes, verbos e advérbios próprias do discurso indirecto.
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Transposição do discurso directo para o indirecto Discurso directo
Discurso indirecto
– Consoamos aqui os três – disse com a pureza e a ironia dum patriarca. – A Senhora faz de quem é; o pequeno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de S. José.
Com a pureza e a ironia dum patriarca, ele disse que consoavam ali os três. A Senhora fazia de quem era; o pequeno a mesma coisa; e ele, embora indigno, fazia de S. José.
Na transposição do discurso directo para o indirecto, ocorrem geralmente alterações na flexão verbal (modo, tempo e pessoa), nos pronomes, nos determinantes e nos advérbios de lugar e de tempo. As alterações mais frequentes são as seguintes: Discurso directo
Discurso indirecto
Enunciado em 1.ª ou 2.ª pessoa
Enunciado em 3.ª pessoa
Tempos e modos verbais: presente pretérito perfeito futuro modo imperativo Outros pronomes pessoais de 1.ª ou 2.ª pessoa: eu, tu, nós, vós Outros pronomes ou determinantes de 1.ª ou 2.ª pessoa: este, esse, estes, esses meu, teu, meus, teus Advérbios: aqui, cá, aí, ali, lá, agora, hoje, ontem, amanhã, logo
Tempos e modos verbais: imperfeito pretérito mais-que-perfeito condicional modo conjuntivo ou infinitivo Pronomes pessoais de 3.ª pessoa:
Frase interrogativa directa Vocativo
ele, eles Outros pronomes ou determinantes de 3.ª pessoa: aquele, aqueles seu (dele), seus (deles) Advérbios: ali, lá lá então, naquele momento, naquele dia, no dia anterior, na véspera, no dia seguinte , depois Frase interrogativa indirecta Desaparece ou desempenha a função de complemento indirecto
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Exemplo de discurso directo e discurso indirecto: Com que alegria, ao deixar os Olivais, correu à Rua de S. Francisco, a anunciar a Maria Eduarda que lhe arranjara enfim definitivamente uma linda casa no campo! Rosa, que da varanda o vira apear-se, veio ao seu encontro ao patamar: ele ergueu-a nos braços, entrou assim na sala, com ela ao colo, em triunfo. E não se conteve; foi à pequena, que deu logo «a grande novidade», anunciando-lhe que ia ter duas vacas, e uma cabra, e flores, e árvores para se balouçar... – Onde é? Dize, onde é? – exclamava Rosa, com os lindos olhos resplandecentes, e a facezinha cheia de riso. – Daqui muito longe... Vai-se numa carruagem... Vêem-se passar os barcos no rio... E entra-se por um grande portão onde há um cão de fila. Eça de Queirós, Os Maias
Exemplo de discurso indirecto livre: Mariana, excitada, veio dar-lhe a notícia da morte de Jacinto, mas ele Iimitou-se a erguer as espáduas maciças: que se lhe há-de fazer. Procurou uma posição mais cómoda. As noitadas ali moíam-Ihe o corpo até aos ossos. Precisava de ir a Corgos e comprar um divã: com franqueza, não haver nesta casa uma enxerga disponível, uma tarimba que seja, onde estender as pernas à vontade. Arranjos da mulher. Ainda o velho Silvestre não esfriara bem, já ela tinha decidido mobilar tudo de novo. Uma cama de ferro a este, duas cadeiras de pinho àquele, uma cómoda vendida, um armário trocado. Vieram depois as outras mobílias, os tapetes, as louças, os talheres de prata, os reposteiros. Carlos de Oliveira, Uma Abelha na Chuva
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