JESS 288 - Abby Green & Susan Stephens - Forças do Destino - Jess 288

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CINDERELA EM APUROS

Abby Green

Ela tinha um plano... só não previu as consequências.

Desesperada para salvar o pai, Rose O'Malley acha que é hora de armar um golpe. Mas, quando encontra Zac Valenti e a força da sua sensualidade, sabe que não conseguirá enganá-lo. Antes que ela possa cancelar seus planos, o solteiro mais cobiçado de Manhattan a leva às alturas e à sua cama! Saindo de fininho como uma Cinderela culpada, ela jura que nunca mais verá Zac... até que ele descobre que Rose está grávida e insiste ficar

com a mãe e o bebê sob o seu controle.

UM FUTURO PARASusan Stephens DOIS Nove meses para conquistá-la!

Para Cassandra, trabalhar nas colinas da Toscana é o jeito perfeito de fugir do passado. Até que o dono do local decide fazer uma visita e atrai a atenção dela. Marco di Fivizzano não consegue tirar os olhos da linda jardineira, por isso decide descobrir quem a loira misteriosa é de verdade – em um jantar ou em sua cama! Nos braços de Marco, Cass se entrega completamente, encontrando a

liberdade que sempre desejou... até ela descobrir estar ligada ao bilionário para sempre!

Querida leitora, Sabe aquelas histórias que te prendem do início ao fim? Esse mês Jessica está assim. E tenho certeza que você vai adorar! Em Cinderela em apuros, de Abby Green, Rose acha que é capaz de fazer qualquer coisa para ajudar o pai. Mas vai colocar à prova essa resolução quando a mãe de Zac Valenti faz uma proposta indercorosa e impossível de resistir: que ela engravide de Zac em troca de cuidados médicos para o seu pai. O que Rose não esperava era ser seduzida por um momento de paixão

e acabar se envolvendo mais do que gostaria. Já em Um futuro para dois, de Susan Stephens, o que está em jogo é um segredo que Cassandra tenta manter oculto. Mas Marco di Fivizzano não se importa com o que ela não está dizendo. Ele só quer saber qual a forma mais rápida de têla na sua cama. Porém, quando sentimentos surgem, nada será capaz de ficar entre eles. Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books

Abby Green Susan Stephens FORÇAS DO DESTINO Tradução Ligia Chabú Rodrigo Peixoto

2017

SUMÁRIO Cinderela em apuros Um futuro para dois

Abby Green

CINDERELA EM APUROS

Tradução Ligia Chabú

CAPÍTULO 1

O CORAÇÃO de Rose O’Malley estava disparado. Sua pele estava pegajosa, as palmas de suas mãos, suadas, e ela sentia-se tonta. Estava basicamente exibindo todos os sinais do início de um ataque de pânico, ou de algum tipo de crise emocional, bem ali, sentada sobre a tampa fechada de um vaso sanitário no banheiro de um dos hotéis mais exclusivos de Manhattan.

O ambiente opulento apenas a

O ambiente opulento apenas a fazia se sentir pior, acentuando o fato de que ela não deveria estar lá. Seu reflexo no espelho atrás da porta da cabine mostrava uma estranha. Uma estranha elegante. Seus cabelos loiros, normalmente na altura dos ombros, estavam presos num coque sofisticado na altura da nuca. Rose viu que tinha um pescoço. Nunca o notara antes. Somente a metade inferior do seu rosto era visível, porque o resto estava escondido por uma máscara preta e dourada. Seus olhos verdes brilhavam de modo quase fervoroso.

O batom vermelho nos lábios combinava com o rubor das faces. Ela pôs o dorso da mão no rosto quente. Alívio a inundou por um momento. Era isto: estava ficando gripada. Ignorou a vozinha apontando que eles estavam numa primavera quente de Nova York e racionalizou que não poderia sair lá fora agora... infectaria as pessoas mais importantes de Manhattan com seus germes. Mas, quando ia se levantar, com seu vestido preto brilhando no espelho, a porta do banheiro foi aberta e duas mulheres entraram, conversando animadamente. Rose

voltou a se sentar, sentindo-se fracassada. É claro que não estava gripada. Mas ainda não estava pronta para fazer qualquer contato humano. Felizmente, estava na última cabine, a mais distante da porta. Esperaria até que elas fossem embora. Uma das mulheres que entrara falou num sussurro indiscreto: – Oh, meu Deus. Você o viu? Quero dizer, sei que ele é muito sexy... mas, seriamente? Acho que meus ovários explodiram. O tom da outra mulher foi maldoso: – Bem, isso é um desperdício. Todo mundo sabe que ele não quer

que qualquer filho que possa ter herde a fortuna da família... ele até mesmo mudou de nome para se distanciar! A amiga ficou incrédula. – Quem rejeitaria bilhões de dólares e um nome de família tão antigo? Rose experimentou um desconforto no estômago. Sabia exatamente quem: o homem mais famoso da festa. Zac Valenti. Ele estava lá. Ela tivera a esperança de que ele não estivesse presente. Mas estava. E, agora, as palpitações estavam de volta. As mulheres continuaram fofocando, enquanto mexiam em

suas bolsas. – Todos pensavam que ele estava tendo um colapso ou algo assim depois que deixou Addison Carmichael esperando no altar, mas o homem literalmente renasceu das cinzas. As vozes se tornaram mais baixas, e Rose inclinou-se na direção da porta para ouvir. – Dizem que ele é agora o homem elegível mais rico dos Estados Unidos. – Mas você viu a vibração que ele envia? Muito frio... e mal-humorado. Tipo, você pode olhar, mas não pode tocar. A outra voz tornou-se sonhadora:

– Eu sei... Esses tipos introspectivos são tão atraentes. A amiga bufou audivelmente. – Acho que isso tem mais a ver com o fato de que ele é uma mina de ouro ambulante para qualquer mulher que conseguir que ele seja o pai de seu bebê. Ele pode não querer a fortuna da família, mas a mãe do filho dele terá acesso à famosa fortuna Lyndon-Holt. Conforme aquelas palavras reverberaram, Rose perdeu o equilíbrio e colidiu com a porta da cabine com um estrondo. Fungou em horror quando o toalete foi preenchido com silêncio, então ouviu sussurros apressados e o barulho de

saltos no solo, enquanto as mulheres saíam do banheiro. Ela sentou-se sobre o vaso e esfregou o ombro que batera na porta, sentindo-se histérica. Como aquelas mulheres haviam apontado, Zac Valenti era o homem com menos probabilidade de se tornar pai, graças ao seu bem documentado distanciamento da família, cujo motivo ninguém sabia. Mas isso não impedia as especulações quanto ao porquê. Ele nem sequer tinha ido ao funeral do pai, quase um ano atrás. Depois da briga e da morte do pai, uma nova versão de Lyndon-Holt vazara para a imprensa, revelando que, se Zac tivesse um filho, menino

ou menina, essa criança herdaria toda a fortuna Lyndon-Holt, em vez de Zac... contanto que ela carregasse o nome Lyndon-Holt, é claro. Muitos suspeitavam que os detalhes do testamento tivessem vazado de propósito. Então agora, se Zac Valenti fosse pai, ele sofreria uma grande pressão para não negar o direito de herança ao filho, e a mãe da criança teria uma influência nisso... inclusive no nome da criança... Algo do que Zac Valenti estava, sem dúvida, consciente, e que estava provavelmente por trás do testamento convenientemente vazado. O que levava Rose O’Malley ao

O que levava Rose O’Malley ao motivo pelo qual estava lá. Para seduzir Zac Valenti... um dos solteiros mais cobiçados do mundo... com seu objetivo sendo, por mais impossível que pudesse parecer, tentar engravidar do filho dele. Rose pensou naquilo com o que tinha concordado. Somente agora, um dia depois, o pânico que a levara a tomar tal decisão diminuíra um pouco, fazendo-a perceber que fizera um pacto com o diabo. A conversa que tivera com sua empregadora, sra. Lyndon-Holt, ainda estava vívida em sua mente... tão vívida quanto os olhos azuis frios da mulher.

A mãe de Zac Valenti a ajudara a assinar o contrato, dizendo: – Você agora está unida aos termos desse acordo, Rose. Se você ficar grávida de mim, e garantir que lhe dê o nome Lyndon-Holt, seu filho herdará tudo. E, assim que eu tiver a confirmação da sua gravidez, seu pai irá para uma clínica e receberá o melhor tratamento médico para a condição dele. A sra. Lyndon-Holt continuara: – Mas, se você violar os termos do contrato sigiloso e revelar esses detalhes para alguém, será processada com toda força pela minha equipe legal. Se você tiver o bebê, mas não cumprir os termos, eu

a esmagarei. Desnecessário dizer que uma disputa legal entre mim e – ela olhou Rose de cima a baixo – uma empregada não é uma briga na qual você vai querer entrar. A magnitude do que estava em jogo atingira Rose, levando-a a responder: – O que a faz pensar que um homem como seu filho olharia duas vezes para alguém como eu? A mulher mais velha a estudara com olhos estreitos. – Um homem cínico e vivido como Zachary...? Ele não vai deixar de notar uma beleza jovial como a sua. Você precisa apenas se assegurar de que a coisa vá além disso.

Rose voltou ao presente e se olhou no espelho. Ela não se sentia jovem ou bela. Sentia-se ridícula, manchada. Extravagante. Com as faces quentes e batom vermelho nos lábios. Num acesso de desgosto, ela pegou alguns lenços de papel e removeu o batom. Não podia fazer isso. Nunca deveria ter concordado com um plano tão absurdo. Levantou-se, pretendendo sair daquele lugar e dizer a sra. LyndonHolt que ela encontrasse outra pessoa para ser sua cobaia. Mas então pensou em seu pai e voltou a se sentar pesadamente. Viu o rosto cheio de dor de seu

Viu o rosto cheio de dor de seu pai. Pálido. Perdendo as esperanças. Jovem demais, aos 52 anos, para estar enfrentando a morte certa, se não recebesse a operação de que necessitava. O tipo de cirurgia que estava muito além do alcance de um exchofer e uma humilde empregada, com o mais básico plano de saúde. Era fato que a sra. Lyndon-Holt usara o medo de Rose em sua vantagem. O pai de Rose trabalhara como motorista dos Lyndon-Holt até que o sr. Lyndon-Holt falecera, depois do que a sra. Lyndon-Holt contratara novos funcionários, sem sequer um agradecimento pelos anos

de serviço. Rose mantivera seu emprego, entretanto, e tinha sido um alívio na época. Logo depois disso, seu pai começara a se sentir mal, o que culminara no diagnóstico de uma condição cardíaca rara, fatal, se não tratada. Rose batalhou com sua consciência. O pensamento de seu pai sucumbindo a um declínio inevitável era insuportável demais. Ela já perdera a mãe... muito jovem. Seu pai era tudo que lhe restava. Eles não possuíam outra família na América. E ele podia ser salvo facilmente. Se fosse operado. Uma operação que a sra. Lyndon-Holt

concordara em pagar, se Rose fizesse aquilo... Ela fitou seus olhos brilhantes e faces vermelhas. Disse a si mesma que tentaria encontrar Zac Valenti, mas se não conseguisse... ou se o encontrasse e ele não a olhasse uma segunda vez, então ela iria embora. Pelo menos, saberia que tentara. ZAC VALENTI olhou em volta do enorme salão de bailes de sua localização antissocial, encostado em um pilar nos fundos da sala. O espaço opulento brilhava com joias que gritavam o status social de seus donos como sinais de neon em suas cabeças.

Uma mulher cheia de joias passou por ele, cuja mão não parecia forte o bastante para carregar o enorme anel de rubi no dedo anular. Então ela o avistou, e ele pôde ver os olhos da garota se arregalarem por trás da máscara de penas, enquanto ela quase tropeçava. Evidentemente, sua própria máscara discreta não escondia sua identidade. Como se ele precisasse de prova que ainda era um jovem rebelde de Manhattan, depois de causar o maior escândalo que abalara a ilha durante décadas quando ele, Zachary Lyndon-Holt, o garoto de ouro e herdeiro que se tornaria o rei

de Nova York, rompera com a família e abrira mão de sua herança. Sem mencionar deixar a noiva plantada no altar numa das igrejas mais antigas de Manhattan. Addison Carmichael, a americana de sangue azul, desde o topo da cabeça loira e olhos azuis até os dedos dos pés, não passava de um produto de seu passado e criação... e era absurdamente obstinada. Em menos de um ano, ela se casara com um descendente de uma família de políticos famosos, e era atualmente a esposa do senador de Nova York. Quando Zac a encontrara agora, ela lhe sorrira... sua ruptura com a família, de alguma maneira, tinha

diluído a humilhação pública de Addison. Ele não se preocupara sobre lhe causar trauma emocional... não era como se eles tivessem tido uma história de amor. O relacionamento fora uma farsa, como o resto de sua vida, na época. E Zac só podia agradecer por ter descoberto a verdade feia em sua família antes de embarcar numa prisão criada por seus pais. Ele praguejou e corrigiu-se: criada por seus avós. Zac crescera acreditando que eles eram seus pais, até o dia que descobriu que isso não era verdade, quando então seu mundo desabou.

Mas ele permanecera em pé. E, depois do choque vivenciado, descobrira que tudo que importava era a traição horrível das duas pessoas que o tinham trazido ao mundo. Uma firme resolução de honrar seus pais verdadeiros o preenchera... em vez de honrar aqueles que o tinham criado como se ele fosse um hóspede desagradável em sua própria casa. Naquele dia, Zac sentira seu destino pessoal nascendo das cinzas, longe do peso opressor do nome Lyndon-Holt, o qual nunca o deixara muito confortável. Então, ele o descartara, juntamente com tudo que

estava ligado àquele nome. E nunca olhara para trás. Estava determinado a tornar o nome Valenti tão honroso quanto aquele com o qual ele nascera. Devia isso ao seu pai italiano imigrante, que tivera a temeridade de apaixonar-se por uma princesa Lyndon-Holt e, aos olhos da família dela, ele manchara a beleza aristocrata da mulher... O fato de que boa parte da riqueza de Zac agora vinha de sua carreira recém-descoberta como dono de hotéis e boates também lhe causava satisfação... porque ele sabia o quanto isso enfureceria sua avó. Sem mencionar as manchetes de jornal que haviam se seguido à

inauguração de sua última boate, quando a supermodelo, atualmente considerada a mulher mais linda do mundo, fora vista saindo de seu apartamento na manhã seguinte. Então, por que você não está retornando os telefonemas dela?, uma vozinha perguntou, e Zac tentou ignorar. O sexo tinha sido... adequado. Mas o encontro deles o lembrara daquela sensação de desconexão que ele experimentara ao descobrir que sua família o enganara. Como se nada fosse verdadeiro. Como se ele fosse uma farsa... Mas ele não era uma farsa. E aquelas pessoas podiam olhá-lo e cochichar o quanto quisessem...

porque Zac Valenti estava apreciando ser um lembrete constante de que todos eram parte da farsa, assim como ele fora. Um lembrete de que todos eram hipócritas. Ele rolou os ombros dentro do smoking de três peças, sentindo-se claustrofóbico e irritado com a direção de seus próprios pensamentos. Olhou em volta, procurando distração. Uma onda de movimento em sua visão periférica o fez olhar para sua direita. Ele pegou-se estudando atentamente a figura delgada de uma

mulher num vestido preto longo e decotado nas costas. Ela olhava para um ponto distante. E parecia tão comum. Todavia, alguma coisa sobre ela fez Zac estreitar os olhos, percebendo que o vestido dela era puramente sedutor. Ela se moveu então... alongando-se disfarçadamente, como se procurasse alguém na multidão... e o vestido revelava poucas, porém óbvias curvas. Seus olhos viajaram ao longo da coluna delgada, para onde os cabelos loiros se erguiam num coque, revelando um pescoço gracioso. As pontas da fita preta da máscara dela balançavam entre as mechas louro-avermelhadas, e Zac sentiu

uma vontade insana de desatá-las. Virá-la, de modo que ela o encarasse. Ele queria ver-lhe o rosto. Balançou a cabeça, perguntandose o que estava acontecendo. Mulheres não costumavam atrair a sua atenção sem tentar. Então ela se virou, e a consciência se tornou muito mais forte. O vestido preto insinuava uma quantidade incomum de pele clara, embora ela estivesse coberta do pescoço ao tornozelo, e Zac pegou-se prendendo a respiração enquanto olhava para os seios dela. Eram pequenos, mas num formato lindo, firmes e projetados contra o tecido fino. Evidentemente, ela não usava

Evidentemente, ela não usava sutiã, uma vez que o vestido não cobria suas costas. O pensamento enviou uma onda de calor diretamente para seu sexo, e Zac descobriu-se sentindo os hormônios de um adolescente cativado pelas primeiras fotos de mulheres nuas. As feições da mulher estavam obscurecidas pela máscara, mas ele podia ver uma boca carnuda e um queixo delicado. Tudo sobre ela era gracioso... feminino. Ela segurava uma taça de champanhe e, de onde ele estava, podia ver que os nós dos dedos delicados estavam brancos. Zac percebeu que ela parecia desconfortável.

Ele franziu o cenho, mas, naquele momento, ela pôs a taça na bandeja de um garçom que passava e virou-se novamente. Era como se tivesse tomado algum tipo de decisão. Ela começou a andar na direção oposta, quase em pânico, mas não chegou longe, porque um grande grupo de homens bloqueou-a. Ela agitou-se, como se tentasse achar outra saída. O interesse de Zac aumentou de um jeito que ele não sentia há muito tempo... se é que sentira alguma vez. Porque se havia uma coisa que sabia sobre esta multidão era que ninguém ali hesitava... sobre nada. Eles achavam que tinham direito a tudo. Então, ela era uma anomalia, e Zac

de súbito estava acordado deliciosamente distraído.

e

ROSE ESTAVA sentindo um misto de medo e alívio. Não conseguia ver Zac Valenti em parte alguma. E, no momento, só queria sair de lá... daquele salão abafado, repleto de pessoas vestidas como pavões brilhantes, ao qual ela não pertencia, num vestido que a fazia se sentir uma prostituta. A estilista que a sra. Lyndon-Holt contratara tinha sido como um oficial de Exército, gritando para Rose se vestir. Quando ela tentara protestar, a mulher lhe dera um olhar gelado e dissera:

– Eu recebi uma ordem, e você vai usar este vestido. A humilhação inundou Rose ao pensar nas instruções que a estilista recebera: Ela precisa parecer boa o bastante para chamar a atenção do meu filho, mas vulgar o suficiente para que ele acredite que ela vai aceitar o convite. Sentiu alívio diante da ideia que Zac Valenti devia ter ido embora. Rose assegurou-se de que ele não a teria olhado uma segunda vez, de qualquer forma. O homem saía com supermodelos, pelo amor de Deus! Não com empregadas pálidas e sardentas que trabalhavam exaustivamente.

Rose ainda estava bloqueada por um grupo de homens, e cerrou as mãos em punhos, determinada a forçar sua passagem, se necessário. – Sinceramente espero que você não esteja planejando bater no prefeito de Nova York. Tenho certeza de que ele a deixará passar, se pedir com jeitinho. A voz era profunda e sexy, e estava muito perto da orelha de Rose. Ela virou-se e colidiu com um corpo alto e poderoso. Teve de olhar para cima, e mais para cima, a fim de ver o rosto do homem. Seu coração parou de bater. Nem mesmo a pequena máscara preta escondia a identidade dele.

Zac Valenti. Ele não fora embora. Estava bem ali. A máscara obscurecia a parte superior do rosto dele, mas não os olhos azuis brilhantes que a encaravam. Ele era famoso por aqueles olhos. Alguns diziam que eram gelados, mas, no momento, tudo que ela podia sentir era um calor perturbador se espalhando pelo seu corpo. Fotografias nunca poderiam tê-la preparado para vê-lo em carne e osso, pensou ela. Zac Valenti era muito alto, e os ombros pareciam largos o bastante para bloquear o salão atrás dele. Os

cabelos

eram

castanhos,

Os cabelos eram castanhos, grossos e ondulados. A pele era bronzeada, o maxilar, firme, e a boca, incrivelmente sensual. Ele exalava o tipo de charme que vinha com uma criação impecável e riqueza inestimável, fazendo Rose pensar em como imaginara Jay Gatsby de The Great Gatsby, quando ela lera o livro. Aristocrático. Intocável. Impossivelmente lindo. Um ser resplandecente. Uma emoção estranha perturboua. Consciência sexual, percebeu. Era como ser plugada numa tomada elétrica. Sua vida relativamente isolada com seu pai, depois da morte de sua mãe, não lhe permitira

conviver muito com o sexo oposto. Rose estivera ocupada se preocupando com seu pai e com a angústia na qual ele mergulhara. Zac Valenti virou a cabeça para um lado. – Suponho que você possa falar? Rose voltou ao presente e assentiu. – Sim, eu posso falar. – Que alívio. – Ele estendeu uma mão e sorriu. – Zac Valenti... prazer em conhecê-la. O sorriso dele brilhava como o sol. Rose precisou se controlar para não dizer: Eu sei exatamente quem você é. Ela respirou fundo. – Eu sou Rose. Uma mão quente e forte envolveu

Uma mão quente e forte envolveu a sua. Entre as pernas, seu sexo pulsou em reação. – Apenas Rose? Ela ia dar seu sobrenome, quando pensou em algo e se conteve. Talvez ele reconhecesse o nome... ela e o pai haviam trabalhado para a família Valenti. – Murphy. Rose Murphy – respondeu ela, dando o nome de solteira de sua mãe. – Com sua cor de pele e um nome desses, você só pode ser irlandesa. Rose estava suando. – Meus pais emigraram para cá um pouco antes de eu nascer. Rose recolheu a mão. Embora o

Rose recolheu a mão. Embora o tivesse encontrado, não deveria fazer isso. E homens como Zac Valenti não deveriam ter guarda-costas rodeando-o? Entretanto, ele não tinha. Era como um lobo solitário. Aquele fora um plano louco que ela não podia executar. Deu um passo atrás. – Eu preciso... ir embora. – Sem uma dança? Ele estendeu a mão novamente, e Rose sentiu um tipo diferente de pânico. – Eu não sei dançar. – Acho difícil acreditar nisso... quem não sabe dançar? Alguém que cresceu observando as

Alguém que cresceu observando as garotas de sua classe indo para aulas de dança e que enterrou sua inveja porque sabia que seus pais não podiam pagar as aulas. Subitamente zangada por estar nessa posição, e nesse lugar, Rose retrucou: – Bem, eu não sei... e realmente devo ir. Ela virou-se, apenas para sentir uma mão circulando seu braço e girando-a de novo. Por que ele não a deixava ir? Ela já estava sentindo remorso por seu jeito ríspido. Aquilo não tinha nada a ver com ele. Bem, tinha... mas ele não sabia de suas intenções abomináveis.

Oh, Deus. Rose sentiu-se nauseada. Ele estava segurando-a pelos braços agora, e ela ergueu os olhos para o rosto perfeito. Ele parecia preocupado. – Eu não quis ofendê-la. – Você não me ofendeu. Eu fui tola. Desculpe. A boca máscula se curvou de maneira sexy. – Essa foi a nossa primeira briga? Um friozinho alarmante percorreu a barriga de Rose. – Você é muito sutil – observou ela, mesmo enquanto escondia sua surpresa por ele não ser mais... arrogante. Não imaginara que Zac

seria tão charmoso. Não esperara gostar dele. Mas então, pensou com ironia, se ela estivesse lá como uma das garçonetes uniformizadas, ele não a teria olhado duas vezes. Ele sorriu. – Eu tento. Então, deslizou as mãos pelos braços dela, fazendo seu coração disparar e sua pele se arrepiar. Especialmente quando ele roçou contra as laterais de seus seios. Ele pegou-lhe a mão e começou a conduzi-la para a pista de dança, onde casais balançavam coladinhos ao som sedutor do jazz. Rose colocou sua outra mão sobre

Rose colocou sua outra mão sobre a dele e tentou se libertar. Ciente de muitos olhares curiosos, sussurrou com desespero: – É sério, eu nunca... Ele olhou-a por sobre o ombro. – Confie em mim. Eles estavam na pista de dança agora, e Zac posicionou-a na sua frente. Então, segurou-lhe a mão direita e abriu a outra em suas costas desnudas. Puxou-a para mais perto, e ela tropeçou de leve, colidindo com o corpo másculo. Todos os pensamentos desapareceram da cabeça de Rose. O motivo pelo qual ela estava lá. Quem ela era. Tudo de que tinha

consciência era a sensação de estar tão perto daquele homem, cada centímetro do corpo alto e poderoso em contato com o seu. Uma mão grande traçava pequenos movimentos contra a pele de suas costas. E eles estavam se movendo em círculos ao longo da pista. Rose não sentia seus pés. Estava flutuando. Seus mamilos estavam rijos, pressionados contra o vestido. Ela nunca tivera tanta consciência de si mesma como mulher antes. Corou e abaixou a cabeça. Um dedo sob seu queixo ergueu-lhe o rosto novamente. Apesar da máscara, ela

podia ver que Valenti parecia incrédulo. Ele balançou a cabeça. – Você é real? – É claro que sou real – respondeu Rose automaticamente, voltando a tomar ciência do ambiente ao ver uma mulher passando, fitando-a com uma expressão condescendente. Ela ficou tensa. – Ouça, sr. Valenti, eu realmente deveria... Ele puxou-a para mais perto e sussurrou: – É Zac. Senhor Valenti faz com que eu me sinta um velho. E não sou um velho... ainda. Ela

engoliu

em

seco.

Ele

Ela engoliu em seco. Ele certamente não era um velho. Era jovem, dinâmico e viril. E Rose não podia acreditar que estava nos braços dele. – Sabia que você é a única mulher aqui que não está usando joias? – observou ele. Rose pensou em algo para dizer, enquanto olhos azuis incisivos a estudavam. – Eu... fiquei com medo de perder alguma coisa. Zac franziu o cenho. – Suas joias não estão no seguro? Rose amaldiçoou-se. É claro, as joias de todas aquelas mulheres estariam no seguro. Todavia, a única

joia preciosa que ela possuía era o anel de noivado de sua mãe, e esse tinha mais valor sentimental do que valor real. Ela deu de ombros. – A moda atual é que menos é mais. A mão de Zac se moveu então, lentamente ao longo de suas costas, e seu corpo inteiro esquentou. Ele murmurou com voz rouca: – Eu não poderia concordar mais. Fuja... rápido, fuja!, uma voz falou na cabeça de Rose. Ela estava num jogo de apostas altas e não estava remotamente preparada para ele. Entretanto, uma vozinha a relembrou que ela não tinha muita

escolha. Se quisesse que seu pai amado melhorasse. Vivesse. – Que tal se nós sairmos daqui? Irmos para algum lugar menos... abafado? A voz de Zac interrompeu seus pensamentos e sentimentos de culpa. Rose não era desonesta e nunca contara uma mentira na vida. Entretanto, estava enganando esse homem com cada palavra que saía da sua boca. Com a sua mera presença. Mas o calor estava realmente sufocante. Escolhendo mais tempo para pensar sobre sua situação, Rose replicou: – Ótima ideia. Zac sorriu, e não foi, nem de

Zac sorriu, e não foi, nem de longe, um sorriso educado. Todavia, antes que ela pudesse mudar de ideia, ele pegou sua mão e a estava conduzindo para fora da pista de dança e entre a multidão. Rose tinha consciência de que poderia puxar a mão, se libertar e escapar por uma entrada lateral, mas... traiçoeiramente... não fez isso.

CAPÍTULO 2

UMA VEZ que eles estavam no vasto saguão de mármore, o maior fluxo de oxigênio ajudou a liberar uma dose atrasada de cinismo que zombava de Zac por estar tão impressionado com uma mulher. Entretanto, não pôde deixar de perceber que fazia tempo que não se sentia tão vivo. E certamente mulher alguma lhe causara esse nível de excitação. Ele levou-a para uma área isolada e,

assim que a olhou, sentiu-se incapaz de controlar sua libido. O rosto dela estava vermelho, e o peito, se movimentando rapidamente. Zac precisava vê-la. Removeu sua própria máscara e jogou-a num cesto de lixo próximo. Viu os olhos da garota se arregalarem, e seu corpo pulsou com desejo. – Agora você – murmurou ele suavemente. – Eu quero vê-la. Por um segundo, ela hesitou, dando a impressão de que se recusaria e iria embora... Mas então tirou as mãos das suas e levou-as à nuca. –

Espere...



Zac

praguejou

– Espere... – Zac praguejou silenciosamente. Sua voz parecia muito carente. Ela o encarou, os braços levantados. – Eu quero fazer isso. Vire-se. Lentamente, ela abaixou os braços e obedeceu, oferecendo-lhe as costas desnudas. Zac teve de se conter para não deslizar as mãos pelas laterais do vestido e segurar-lhe os seios. Apenas imaginar os bicos daqueles seios pequenos contra sua pele deixou o nível de sua excitação em órbita. Mas ele desfez o nó da máscara, deixando-a cair. Ela pegou-a na mão, na frente do rosto, e Zac virou-a mais

uma vez, uma onda de antecipação o preenchendo. E, quando ela ergueu o rosto para o seu... ele parou de respirar. Ela era maravilhosa. Mas de um jeito diferente das mulheres lindas que Zac conhecia. Ela era suave... delicada. Pequenas sardinhas trilhavam o nariz reto e pequeno. As maçãs do rosto eram salientes, e a boca era carnuda, como um botão de rosa. Rose, realmente. Sem batom. Pronta para ser beijada. Olhos verdes com reflexos dourados prendiam os seus. Eles ficaram se entreolhando por longos segundos... até que Zac percebeu que ainda estavam num

lugar público. Ele nunca se perdera assim... num momento. Como se ela fosse uma criatura sobrenatural, num mundo encantado que o cativara. Sentindo-se exposto, ele respirou fundo e deu um passo atrás. Rose piscou, os longos cílios pretos contrastando com as sobrancelhas claras. Subitamente, Zac queria vê-la fora dali, como se aquilo ajudasse a neutralizar essa sensação de não estar mais conectado com a realidade. Ele pegou-lhe a mão novamente e começou a conduzi-la para a parte principal do saguão, enviando um sinal silencioso para que o porteiro fosse buscar seu carro. – Espere... aonde nós vamos?

Ela estava puxando a mão de Zac, e ele parou para fitá-la. Havia cautela nos olhos verde-esmeralda. Mulheres não eram cautelosas com Zac. Eram confiantes, sedutoras. Determinadas a conquistá-lo. Não essa. Sinos tocaram em sua cabeça, dizendo-lhe para desconfiar. Mas o calor no seu corpo abafou o som. Zac a queria mais do que algum dia quisera uma mulher. Havia algo nela que falava com um lado animalesco seu. – Iremos para uma de minhas boates. Rose arregalou os olhos, parecendo quase relutante. Então disse:

– Tudo bem. Zac franziu o cenho. – Apenas... tudo bem? Você não se importa com qual delas? – Ele tinha três das melhores boates de Manhattan. – Eu deveria? A pergunta inocente o pegou de surpresa. É claro que ela não deveria. Mas, em sua experiência, todas sempre queriam ir para o lugar mais badalado de todos. Zac puxou-a para mais perto. – Eu escolho, então, certo? Ela apenas assentiu. Ele queria muito beijá-la, mas nunca dava demonstrações públicas de afeto, e estava consciente dos milhões de

olhos curiosos sobre eles. Então, afastou-se. Alguém pigarreou por perto. – Senhor Valenti? Seu carro está aqui. Zac agradeceu o homem e conduziu Rose para fora, onde o manobrista estava segurando a porta de passageiro aberta. Depois, ajudoua a entrar no seu carro esporte prateado. Quando se acomodou atrás do volante, virou-se para vê-la olhando à frente, as mãos unidas no colo, ainda segurando a máscara. Estava visivelmente tensa. Um sentimento estranho o preencheu. Preocupação.

– Eu posso levá-la para casa, se você preferir. Pessoalmente, ele preferiria andar sobre carvão quente a deixá-la fora de sua visão. Mas não iria admitir tal fraqueza. Após segundos intermináveis, ela o encarou com uma expressão determinada. Como se tivesse tomado algum tipo de decisão. – Não. Eu quero ir com você. Zac experimentou uma onda perturbadora de triunfo. Ignorando o sentimento, pegou-lhe uma das mãos e entrelaçou os dedos nos dela. Um gesto relativamente casto, mas que pareceu carnal quando ele viu os olhos de Rose se dilatando. Ele levou

a mão delicada à boca e beijou-lhe os dedos. Um aroma doce e suave preencheu suas narinas. Tentador. Inocente. Seu corpo enrijeceu em antecipação. – Bem, então vamos. ROSE ESTAVA consciente de que tivera duas oportunidades de recusar o convite de Zac Valenti graciosamente e ir embora. Antes que aquela farsa continuasse. Mas, quando ele a olhara no saguão, ela concordara antes que pudesse se conter, hipnotizada pela beleza masculina. E que desculpa tinha para ter dito “sim” agora? Nenhuma.

Todavia, enquanto Zac dirigia pelas ruas de Manhattan, Rose sentiu, pela primeira vez na vida, uma vontade de se rebelar, de fazer algo que ela queria. Que era passar mais alguns momentos ilícitos na companhia dele. Ela nunca se sentira tão inebriada. O jeito que ele removera a máscara... era o mais perto de um momento erótico que Rose já experimentara... Seu coração ainda batia freneticamente. Ela nunca tivera muita chance de flertar; seu tempo fora ocupado com trabalho e cuidando de seu pai. Era tão ruim assim querer um pouco mais da atenção desse homem?

Sim, porque sabe que, se ele soubesse quem você é, e por que está aqui, expulsaria você do carro num minuto... Aquilo quase a fez pedir para Zac parar o carro, mas ele estava parando do lado de fora da boate agora, a qual parecia ser no porão de um edifício alto e moderno. Zac olhou-a. – Estou feliz que você veio comigo. E, simplesmente assim, todas as boas intenções de Rose foram substituídas por puro desejo. Ele desceu do carro e rodeou o capô para abrir a porta de passageiro, o corpo poderoso realçado pelo terno elegante.

Depois que ele a ajudou a descer, Rose viu a longa fila de pessoas querendo entrar na boate. Também percebeu uma onda de atividade entre o porteiro e alguém que parecia muito obsequioso quando viram quem tinha chegado. O dono e chefe deles. Subitamente, houve uma cacofonia de chamados: “Zac! Zac!”, e Rose teve uma vaga noção dele pondo um braço ao seu redor e protegendo-a, enquanto a conduzia por uma porta ao lado da porta principal, que estava sendo mantida aberta por um dos guarda-costas. Do lado de dentro, ele virou-se para ela.

– Você está bem? Felizmente, os paparazzi não nos alcançaram. – Sim. – Rose tremeu diante da mera ideia de sua foto saindo na primeira página dos tabloides. O pensamento era assustador. Mas ele a estava olhando fixamente agora, e era muito difícil se arrepender de estar lá. Embora ela soubesse que aquilo estava errado. – Vamos? Ele estendeu uma mão, indicando que ela o precedesse ao longo de um corredor estreito, com um tapete luxuoso e paredes escuras. O lugar gritava pecado e decadência, e era um mundo à parte de tudo que ela já experimentara.

Outra onda daquele espírito de rebeldia a percorreu. Só mais alguns minutos, assegurou-se. Então ela iria embora. Ela andou na frente de Zac, sentindo a batida de música vibrar em volta deles. Estavam se aproximando de uma porta, e, como por mágica, ela foi aberta por um jovem bonito num terno. Ele assentiu de modo reverente quando eles entraram. Rose encontrou-se no que era claramente o espaço VIP, com seus assentos de veludo e mesas brilhantes. Uma escada levava à pista de dança, que era no andar de baixo.

A base da escada era guardada por outro segurança. A pista de dança estava repleta de pessoas usando poucas roupas e parecendo supermodelos. A boate local perto de onde ela crescera, na Bliss Street, no Queens, nunca poderia tê-la preparado para esse espetáculo sofisticado. Ela ficou hipnotizada por longos segundos, então sentiu um arrepio na pele e olhou para ver Zac inclinado com um braço no corrimão da escada, estudando-a com um sorriso. Ele estava segurando duas taças de champanhe e entregou-lhe uma. Rose aceitou, e ele bateu a taça na sua.

– A... novos amigos. – A novos amigos – ecoou ela, dando um gole do líquido borbulhante. Zac pegou-lhe a mão e conduziu-a para o assento... em formado semicircular, ao redor da mesa. Ela sentia-se nervosa, agora que só estavam os dois nesse espaço íntimo e parcamente iluminado. Gesticulou para a pista de dança abaixo e perguntou: – É aqui que você vem para inspecionar seu reinado? Em algum momento, a gravataborboleta de Zac tinha sido desfeita, e o botão superior da camisa estava aberto. Assim como o colete. Havia

espaço entre os dois, mas, com a camisa branca estendida sobre o estômago reto e uma mão grande descansando perto da cabeça de Rose, ela se sentiu tão quente como se eles estivessem se tocando. Alguma expressão indecifrável cruzou o semblante de Zac. Parecia desgosto. Mas desapareceu antes que ela pudesse analisar. – É uma vista mais bonita do que o piso do prédio da bolsa de valores. Ele deu de ombros, fingindo indiferença, mas Rose não achou que ele fosse indiferente àquilo. Podia dizer que ele estava muito consciente de tudo que acontecia. – Eu não saberia como é – replicou

– Eu não saberia como é – replicou ela. – Nunca estive lá. Os olhos de Zac se estreitaram nela. – Então, conte-me sobre você. Eu não a vi por aqui antes... Ela deu uma risadinha quase histérica. – Isso é porque eu não sou daqui. Zac franziu o cenho. – Mas você é nova-iorquina? Rose deu um gole do champanhe. As palavras da sra. Lyndon-Holt lhe vieram à cabeça. Não minta... ele descobrirá num instante. Seja honesta. Ele não irá conectar você com o lugar. Foi embora antes de você começar a trabalhar para nós.

O estômago de Rose estava revirado. Ela não podia acreditar que chegara até lá. Achou que a qualquer momento acordaria na cabine do banheiro. Talvez tivesse batido a cabeça, além do ombro... – Rose? Ela olhou para Zac Valenti. Isso não era um sonho. Ele era tão real quanto ela. A excitação guerreou com o medo e a culpa. Rose engoliu em seco. – Sim, eu sou nova-iorquina. Do Queens. A verdade é... – hesitou ela, tentada a contar tudo, mas então se lembrou de sua assinatura naquele contrato sigiloso e soube que não

poderia. Independentemente do que acontecesse. Foi como uma bofetada. Não podia contar a verdade a Zac, mas podia lhe dizer isto: – O fato é que sou apenas uma empregada... Eu não deveria ter ido ao evento mais cedo, porém meu chefe me deu uma entrada. Este não é meu mundo. Eu não sou especial, realmente. Rose quase desejou que a informação fizesse Zac Valenti recuar em horror. Mas a expressão dele apenas endureceu de um jeito que não parecia direcionado a ela. – O mundo é tão seu quanto de qualquer pessoa, acredite.

Ela ficou surpresa diante daquelas palavras. Não esperara que ele expressasse solidariedade. Então ele tirou a taça de sua mão e colocou ambas sobre a mesa. Levantou-se do assento, puxando Rose consigo. – Eu quero lhe mostrar uma coisa. Ela hesitou. Não deveria estar prolongando isso, mas havia alguma coisa intensa na expressão dele. Com fraqueza, Rose murmurou: – Mas nós acabamos de chegar aqui. Ele a fitou. – Você realmente quer ficar? Rose olhou em volta da boate... era espetacular e muito sedutora, mas

não a impressionava. Como um lindo quadro sem profundidade. Ela meneou a cabeça. – Não. Ele esboçou um pequeno sorriso, então a conduziu de volta pelo caminho que eles tinham percorrido... exceto que, em vez se dirigir à entrada da boate, Zac estava passando por uma porta secreta que os levou a um saguão enorme e silencioso. Um homem uniformizado se aprumou atrás de um balcão de segurança assim que avistou Zac. – Senhor Valenti, eu não o esperava tão cedo. Zac levantou uma mão.

– Relaxe, George, eu estou bem. – Boa noite, sr. Valenti. – Ele assentiu para Rose. – Senhora. Eles estavam entrando num elevador agora, e um friozinho na barriga zombou da inabilidade de Rose de fazer o que ela sabia que deveria: ir embora. Zangada com sua própria fraqueza, ela liberou sua mão e tentou não ficar tão consciente de Zac no pequeno espaço, mas era difícil, quando ele o dominava. – Para onde estamos indo, exatamente? Olhos azuis brilhantes a encararam. – Confie em mim. Ele falara aquilo duas vezes agora.

Ele falara aquilo duas vezes agora. O homem era um completo estranho; entretanto, ela estava permitindo que ele a levasse aonde quisesse. – Eu mal o conheço. Ele inclinou-se contra a parede do elevador, as mãos nos bolsos, e arqueou uma sobrancelha arrogante. – Realmente acha que eu teria alertado uma testemunha para o fato de que estou com você, se eu pretendesse cometer uma ação perversa? Calor a inundou diante da expressão nos olhos de Zac, que dizia que a cabeça dele estava repleta de

todos os tipos de deliciosas ações perversas. O elevador parou então, e Zac disse: – Eu prometo levá-la de volta para George, se você não quiser ficar... Ela ia perguntar “Ficar onde?”, quando as portas se abriram. Rose saiu do elevador e piscou, impressionada. Era como entrar num outro mundo. Era um jardim, com algumas partes como uma campina selvagem, e outras como um jardim inglês organizado. Rose nem percebeu que tinha andado tanto até que viu que estava no meio de um enorme espaço

verde, numa passarela pavimentada central. A sombra escura do Central Park era visível a distância, e luzes piscavam dos prédios que os cercavam, dando a ilusão de estarem suspensas no ar, entre as estruturas altas. – Esta é a coisa mais linda que eu já vi – exclamou ela, maravilhada, pensando em sua mãe, que amara jardins. – Levou um tempo para completar o lugar. Ela olhou para Zac, compreendendo. – Você construiu isto...? Quanto tempo levou?

CINCO ANOS, para ser preciso. Mas Zac não disse isso. Conduziu Rose para um terraço elevado que dava vista para a direção oposta. Quando eles estavam diante do parapeito, ele posicionou-a na sua frente e passou os braços ao seu redor, descansando as mãos sobre a grade, uma de cada lado dela. Prendendo-a contra si. Zac cerrou os dentes, mas seu corpo reagiu mesmo assim, perante a provocação das nádegas de Rose contra ele. Ela estava tensa. Novamente, não uma reação comum nas mulheres que ele conhecia. Numa onda de excitação, ele

Numa onda de excitação, ele inclinou-se para frente e apontou: – Está vendo ali? É o Rockefeller Center. A cabeça de Rose moveu-se para a esquerda, afastando-se de Zac, e ele lutou para não pressionar a boca naquele pescoço desnudo. O aroma dela era leve e floral. Doce. Sexy. Inebriante. Reprimindo seu desejo, ele apontou para a direita. – Ali é o Carnegie Hall. A Times Square fica logo adiante. O rosto de Rose estava perto do dele agora, virando-se para seguir a direção do seu dedo. Ela tremia de

leve, as mãos agarradas na grade de proteção. – É isso que você faz para impressionar mulheres? – Ela abafou uma risadinha. – Tenho de admitir, está funcionando. Zac endireitou o corpo, surpreso pela indignação que sentiu. Ele não era anjo, mas ressentiu-se da insinuação de que aquela era uma rotina banal. Ele virou-a de frente para si. Os olhos verdes estavam enormes. Luminosos. – Eu não trago mulheres aqui em cima. Você é a primeira.

ROSE

ENCAROU

o

homem

mais

ROSE ENCAROU o homem mais desejável de Manhattan, contra o pano de fundo de uma cidade brilhante que ele podia comandar com um mero estalo dos dedos. Aquele era o tipo de vista que novaiorquinos só conseguiam ver se enfrentassem uma fila para subir no edifício Empire State ou em atrações similares. E era o quintal de Zac Valenti. Era tudo tão inesperado... especialmente essa fatia de paraíso verde que ele criara, a qual era tão mágica. Ela queria muito acreditar que ele estava apenas tentando seduzi-la, porque isso a ajudaria se sentir

desgostosa consigo mesma... e com ele. O que lhe daria o ímpeto necessário para partir. Mas não conseguia se mexer. Ele estava mentindo? Mas por que mentiria? Como se Zac precisasse impressionar uma mulher com um mero jardim... mesmo se esse parecesse pairar magicamente acima de uma das cidades mais vibrantes do mundo. O pensamento de que talvez ela fosse a primeira mulher que ele levava lá era sedutor demais para resistir. Como se sentindo sua hesitação, seu desejo de acreditar nele, Zac segurou-lhe a nuca de leve. – Eu nunca conheci ninguém

– Eu nunca conheci ninguém como você, Rose. Você é diferente... Ela quase riu. – Você pode falar isso de novo. Seu coração batia freneticamente no peito. Rose não estava mais cônscia das redondezas, apenas do fato de que ele a olhava como se ela fosse realmente... especial. Rose possuía uma essência romântica que não mostrava para o mundo e, apesar de sua falta de experiência, tinha uma desconfiança saudável sobre homens e amor. Você não podia ser uma mulher morando no século XXI em Nova York, e não saber que contos de fadas só existiam em filmes ou livros. Mas

Zac Valenti era perigoso, porque a fazia desejar algo que Rose vira entre seus pais. Ele a fazia pensar que, talvez, contos de fadas fossem possíveis... A cabeça de Zac abaixou-se naquele momento, e então a boca dele estava cobrindo a sua, e os pensamentos dela desapareceram. Conto de fadas era a última coisa na mente de Rose agora, sob o toque habilidoso da boca de Zac. Calor a percorreu, inundando cada zona erógena, soprando fogo no seu sistema nervoso, até que ela estivesse em chamas. Ele segurou-lhe o rosto nas mãos agora, deslizando a língua por sua

boca, de modo que ela abrisse os lábios e o aceitasse. O poder do beijo foi de tirar o fôlego, assim como foi a arrogância com a qual ele, calma e metodicamente, continuou roubando sua sanidade. Rose somente percebeu que estava agarrando-lhe a cintura quando seus dedos encontraram músculos rígidos. Ela estava arfando quando Zac deixou sua boca para beijar ao longo de seu maxilar. Ele a puxou para mais perto, uma mão deslizando para baixo de seu vestido. Dedos quentes roçavam perigosamente perto de seu seio, enquanto Zac usava a outra mão para

soltar seus cabelos e entrelaçar os dedos nas mechas sedosas. Rose inclinou a cabeça para trás, dando-lhe melhor acesso ao seu pescoço, e a boca dele trilhou fogo contra sua pele. Ela sabia que deveria estar fazendo algum esforço para parar aquilo, mas a tentação de mergulhar mais fundo nesse mundo novo de sensações era muito grande para resistir. Ela sentiase poderosa, feminina. Desejável. Zac levantou a cabeça do pescoço dela e olhou-a. Então, moveu sutilmente os quadris, e a ereção evidente lhe disse como aquilo era real. E as palavras dele: – Eu quero você.

A voz dele soou gutural e quase ríspida. Isso deveria tê-la chocado, mas não chocou. Porque, ali naquele terraço, com vista para a cidade brilhante, Rose se sentia desconectada de tudo, exceto do momento e daquele homem. A rispidez e excitação de Zac ressonaram fundo em seu interior. Ela lutou para tentar controlar o desejo louco de dizer sim. Pôs as mãos no peito largo, forçando algum espaço entre eles. Sentia-se desmazelada, com os cabelos soltos em volta do rosto e a boca inchada dos beijos dele. – Eu não... faço esse tipo de coisa. Zac finalmente endireitou o corpo

Zac finalmente endireitou o corpo e deu um passo atrás. – Você acreditaria em mim se eu dissesse que também não faço? O espaço entre eles devolveu a razão à mente de Rose. Porque ela sabia muito bem que Zac podia não ter levado uma mulher ao seu jardim, mas ele fazia esse tipo de coisa. Com muita frequência, se as colunas de fofocas falassem a verdade. Ela afastou-se, consciente da umidade reveladora entre suas pernas. Cruzou os braços sobre o peito, o calor residual deixando-a irascível. – Talvez você não faça isso aqui, mas seduz mulheres em todos os

lugares. Então, não, eu não acredito quando você diz que “não faz esse tipo de coisa”. A expressão de Zac endureceu, dando a Rose um vislumbre de um lado mais intimidador daquele homem, que ela ainda não vira. – Eu não sou um monge, mas não sou cafajeste. Sou sincero com mulheres e, quando tomo uma amante, sou fiel com ela por quanto tempo durar. Nós nos divertimos, depois nos separamos. Eu não me comprometo. Eu não me comprometo. Rose detestou a onda de dor que tais palavras lhe causaram. Ela ergueu o queixo.

– E é isso que você está oferecendo aqui? – Ela censurou-se, sentindo-se péssima. Mostre uma boate bonita e um jardim secreto no topo a uma garota do Queens, e ela irá comer na sua mão. Acrescente um dos solteiros mais lindos do mundo, e ela estará pronta para fazer muito mais. Mas é por isso que você está aqui, uma vozinha a relembrou. Então, quem era ela para julgá-lo? Ele não merecia seu julgamento! Rose desviou daqueles olhos azuis penetrantes, antes que ele percebesse alguma coisa, seu estômago embrulhado e seu cérebro congelando diante do pensamento de que o que ela fora enviada para

realizar chegara tão perto de se tornar realidade... Zac praguejou atrás dela e, embora ela o conhecesse por apenas algumas horas, pôde imaginá-lo passando uma mão pelos cabelos. – Sinto muito – murmurou Rose, friamente. – Sem dúvida, você está acostumado com respostas... mais sofisticadas. – Não é isso – retrucou ele. – Estou zangado comigo mesmo. Não tenho o hábito de tentar seduzir mulheres meras horas depois de conhecê-las. Lentamente, ela virou-se para encará-lo. O rosto dele estava ilegível, mas os olhos brilhavam. O

nervosismo de Rose diminuiu. Ela não duvidava da sinceridade dele. Aquele homem era orgulhoso. Mais orgulhoso que qualquer pessoa que ela conhecera. Ela poderia pelo menos ser honesta sobre aquilo. – Eu nem mesmo o conheço. Zac deu aquele sorriso sexy e se recostou contra o parapeito, as mãos atrás do corpo. – A maioria das pessoas pensa que me conhece. Rose deu de ombros. – Isso é compreensível, suponho. Ele virou-se novamente, inclinando-se contra o parapeito. Olhou para a vista por um longo

momento, então olhou de lado para ela. A voz tinha uma qualidade resignada: – Que tal um café, depois peço para meu chofer levá-la para casa? A onda de desapontamento foi aguda, embora Rose soubesse que deveria agradecer por aquilo. Zac estava obviamente entediado. – Tudo bem – concordou ela. Disse a si mesma que dava boasvindas à chance de ficar sóbria, embora mal tivesse bebido. Mas sentia-se inebriada... inebriada por esse homem. Zac apenas assentiu, não mostrando emoção alguma diante da

concordância dela, e Rose precedeuo no caminho ao longo do jardim. Ele direcionou-a para uma porta diferente dessa vez, não de volta para o elevador. Abriu-a e indicou que Rose entrasse primeiro. Ela desceu uma escada em espiral, então ele estava passando por ela para abrir outra porta de madeira. Um vasto espaço com janelas de vidros do chão ao teto foi revelado quando Rose atravessou a soleira. – Este é meu apartamento. É claro que ele tinha o apartamento abaixo do jardim. Acima da boate. Provavelmente era dono do prédio inteiro. – Fique à vontade. Como gosta do

– Fique à vontade. Como gosta do seu café? Distraída pela vista do lado de fora das janelas, Rose respondeu: – Com pouco açúcar, por favor. Ela entrou na área de estar, com seus sofás luxuosos e mesinhas de centro contendo fotografias e livros de arte. Uma estante formava uma parede divisória, com livros e DVDs. O estilo minimalista era visível, porém moderado. – Café? Rose saltou ao som da voz dele, quando estava de pé, estudando os DVDs, e olhou para a xícara que Zac lhe estendia, notando que ele removera o paletó e o colete, e que a

camisa branca estava aberta no colarinho. Ele gesticulou para as prateleiras. – Você não vai contar para ninguém sobre minha predileção sobre vídeos de Kung-Fu, vai? Rose forçou um sorriso e tentou ignorar o disparo no coração. – Não. As luzes da grande cidade ao redor iluminavam o espaço enorme, e o ambiente era muito sedutor. Ela aproximou-se de uma janela, tentando colocar algum espaço entre os dois. Tome o café e vá embora... antes que você se perca de novo. Ela maravilhou-se diante da vida

Ela maravilhou-se diante da vida privilegiada que Zac levava, embora ele não demonstrasse o ar de complacência que ela percebera nos outros. Pessoas como seus pais... sua mãe. – Então... você disse que é empregada...? As palavras de Zac a fizeram olhálo. Ela teve de esconder um sorriso diante da expressão curiosa dele. – Significa que eu sou uma daquelas trabalhadoras invisíveis que organiza seu mundo, de modo que, quando você se virar, nada esteja fora do lugar. Ele fez uma careta. – Ai.

Rose deu de ombros. – Esta é a realidade. – Você não parece amarga – observou ele. Rose o fitou. Não era amarga, em absoluto. Ter vindo da classe trabalhadora nunca lhe incomodara. Ela tivera o amor dos dois pais e sabia que isso era a coisa mais importante do mundo. Motivo pelo qual precisava salvar seu pai... Rose desviou o olhar rapidamente. Sentia-se culpada novamente. Não podia fazer aquilo. Pôs sua xícara sobre a mesa mais próxima e o encarou, firmando-se. Mas suas palavras secaram na boca.

Zac a olhava com tanto desejo que um tremor de excitação a percorreu. Silenciosamente, ela instruiu a si mesma: Diga: Obrigada pelo café, mas eu realmente devo ir. Porque eu nunca teria conhecido você se não fosse por... E então Zac falou: – Por que acho que você está prestes a fugir, e que, se você fugir, eu nunca mais a verei?

CAPÍTULO 3

AS PALAVRAS de Zac foram como um soco no estômago de Rose. Porque eu estou prestes a fugir, e você nunca mais me verá. Ela sabia que, se saísse de lá agora, nunca mais o veria, porque essa tinha sido uma experiência absurda. Ela jamais esperava se encontrar nessa situação, e talvez fosse por isso que concordara com o plano extremo... porque nunca entrara na

sua cabeça que poderia se tornar realidade. Todavia, apesar do fato de que ela estava lá, o que acontecera entre eles era... sem precedentes, acordando os desejos adormecidos de Rose. E ela sabia que, se quisesse... contra todas as probabilidades... seria capaz de cumprir as demandas da mãe dele. Mas não podia fazer isso. Não agora que o conhecera. Não podia enganar esse homem e usá-lo no plano da mãe dele. Não tinha esse direito. E ela nunca deveria ter ficado tentada. Jocelyn LyndonHolt apelara para seu medo e vulnerabilidade. Para sua falta de

recursos. E se aproveitara da doença do pai de Rose para fazer isso. Por um momento, Rose se sentira apavorada o bastante para concordar. Mas agora, encarando a realidade de colocar o plano em ação, sabia que não conseguiria conviver consigo mesma se fizesse aquilo. Precisaria encontrar outro jeito de tentar salvar seu pai. – Eu tenho de ir embora. Olhos azuis brilhantes a fitaram, e uma mão se fechou sobre seu braço. – Por quê? Dê-me uma boa razão. Raiva a inundou... raiva por estar nessa situação com o único homem que não poderia ter. Rose puxou o braço, libertando-se.

– Porque eu não deveria estar aqui. – Quem disse? Ainda mais irritada pelo tom arrogante dele, ela cruzou os braços sobre o peito. – Nem todo mundo tem de se curvar ao poderoso Zac Valenti. Zac franziu o cenho. – Eu não espero que todos se curvem a mim. Mas eles sempre farão isso, por você ser quem é. Aquilo não era justo. A raiva de Rose se dissolveu. Zac não era o objeto de sua ira. Ele era o objeto de alguma outra coisa... algo muito mais ardente. E se ela não partisse agora...

Em pânico, ela olhou em volta, procurando sua bolsa. Não conseguiu avistá-la, e olhou para Zac. – Sinto muito. Mas eu... realmente preciso ir. A expressão dele endureceu... novamente um vislumbre de um lado mais intimidador. – Você é casada? Tem um amante? – Não! – respondeu Rose, chocada. – Nada disso. Ele cruzou os braços sobre o peito. – Então, conte-me, Rose, por que você precisa fugir? – Ele consultou o relógio. – Está perto da meia-noite, mas não acho que você vai virar

abóbora, e ainda está com seus dois sapatos. Alguma coisa enfraqueceu dentro de Rose... alguma resistência à qual ela estava se agarrando desesperadamente. Zac preenchia sua visão, preenchia cada sentido com seu carisma e masculinidade. E tudo isso estava fixo nela. Ela ouviu-se admitindo: – Eu não quero ir embora. A expressão de Zac relaxou imediatamente. Ele descruzou os braços e aproximou-se, segurandolhe o queixo. – Então não vá. Fique, doce Rose. Fique comigo esta noite. Ela fitou os olhos azuis profundos

Ela fitou os olhos azuis profundos e imaginou como seria passar a noite com o homem mais excitante que já conhecera. Uma voz sedutora sussurrou sobre sua pele fervendo. Você pode fazer isso, se quiser... aproveite esta noite e faça dela seu segredo para sempre. Um toque estridente de telefone fez Rose sair da fantasia. Ela observou Zac tirar um celular do bolso, olhar para a tela e praguejar. Ele a olhou. – Desculpe... preciso atender... é uma chamada importante pela qual eu estava esperando. Mas não se mova... O telefone continuou tocando...

O telefone continuou tocando... insistente. Zac a estava olhando, esperando sua promessa de que ela não iria embora. Rose finalmente murmurou com voz rouca: – Tudo bem... Mas, enquanto o observava se afastar, com aquele corpo poderoso, soube que acabara de mentir. Essa era sua última chance. Ela precisava ir... agora. Pelo menos, pensou enquanto achava sua bolsa e saía do apartamento, não acrescentaria mais transgressões a sua alma já manchada. Não trairia esse homem. E nunca mais o veria.

Com o peito apertado, Rose mordeu o lábio enquanto descia no elevador para o térreo... um lembrete não muito sutil de onde ela pertencia no mundo. Não à terra da fantasia nas alturas, mas às ruas, entre os milhões de outros nova-iorquinos anônimos, que nunca experimentavam o mundo rarefeito habitado por pessoas como Zac Valenti. Rose partiu pelo saguão principal e silenciosamente agradeceu George, o porteiro, que parecia ocupado com outros residentes. Ele mal a olhou. Quando ela emergiu nas ruas, viu o carro de Zac e o motorista por perto, e saiu na direção oposta,

chamando um táxi. Sabia o que tinha de fazer agora. Quando ela retornou à residência Lyndon-Holt, entrou pela entrada de serviço e foi direto para a sala dos empregados, onde deixara suas próprias roupas, depois de se arrumar mais cedo. Depois de trocada, cedeu a um impulso de último minuto, pondo na mala o lindo vestido, sabendo que era errado. Mas esse seria seu único lembrete tangível que teria de uma noite fantástica com um homem maravilhoso, quando as possibilidades haviam parecido infinitas... mesmo se apenas por um momento.

Saiu da casa, depois de deixar um bilhete para a sra. Lyndon-Holt. Sinto muito, o plano não deu certo. Estou me demitindo sem aviso prévio. Um pouco depois, no metrô de volta para o Queens, Rose agarrou sua sacola no colo, dizendo a si mesma que era ridículo experimentar essa sensação de perda. Conhecera Zac Valenti e se deleitara na companhia dele como milhares de outras mulheres... por um breve momento. Ela não era especial para ele. Devido a sua falta de sofisticação, ela

o intrigara, nada mais. Estava fazendo a coisa certa. A única coisa que podia fazer. Queria desesperadamente que seu pai melhorasse, mas não à custa de brincar com a vida de outra pessoa. UMA SEMANA depois, Rose estava andando para casa, depois de fazer compras com suas últimas economias. Felizmente, ela arrumara um emprego, trabalhando algumas horas por semana numa loja de produtos naturais, mas precisava de outro emprego... e logo... se quisesse melhorar o plano de saúde deles, de modo que seu pai tivesse uma chance

de ficar na lista de espera para a cirurgia de que necessitava. Mas isso levará meses, uma vozinha a relembrou. Meses que ele não tem. Rose reprimiu o pânico. Podia fazer aquilo. Era jovem, saudável. Relativamente forte. Trabalharia em cinco empregos, se conseguisse encontrá-los. Não se arrependia de ter saído de seu emprego na casa dos LyndonHolt. Nâo conseguiria encarar aquela mulher de novo. Sentia-se suja só de saber que concordara com aquilo, que quase fizera aquilo. Rose estava tão mergulhada em seus pensamentos que mal notou o

carro preto elegante andando ao seu lado e parando ao mesmo tempo que ela, quando ela ia atravessar a rua. Um arrepio na nuca a fez parar, todavia, e ela viu a figura muito familiar emergindo de trás do carro, onde a porta era aberta por um chofer. Como se materializada por seus pensamentos, a sra. Lyndon-Holt, resplandecente em suas roupas de grife, estava contra o pano de fundo da velha rua do Queens, e falou de modo arrogante: – Entre comigo no carro, Rose. Acho que temos algumas coisas a discutir.

HORAS DEPOIS, vestida de camisa branca, gravata-borboleta preta e uma saia preta na altura dos joelhos, com seus cabelos presos num coque no topo da cabeça, Rose segurava uma bandeja de canapés, de modo que os convidados pudessem se servir. A voz fria da sra. Lyndon-Holt ainda soava em sua cabeça: – Eu preciso relembrá-la de que você assinou um documento legal? Posso processá-la por violação de contrato, se você desistir agora. Rose protestara no banco traseiro do carro, mas em vão. Até mesmo tentara convencer a mulher que Zac a mandara embora.

A resposta a isso tinha sido: – Se Zachary não está interessado em você, então por que passou a semana procurando-a? O coração de Rose disparara, e ela perguntara: – Como a senhora pode saber disso? – Eu sei tudo em que meu filho está envolvido, acredite. E ele quer você. Tolamente, Rose se entregara ao murmurar: – Verdade? A sra. Lyndon-Holt dera um suspiro impaciente. – É claro que ele está interessado, garota tola. Fugindo dele, você

despertou-lhe o interesse. Mulheres não fogem de Zachary Lyndon-Holt, e meu filho parece ter achado sua falta de sofisticação intrigante. Como se Rose precisasse daquele lembrete. Seus protestos de que ela não fugira numa tentativa de instigá-lo tinham sido ignorados. E a sra. Lyndon-Holt a relembrara cruelmente de suas preocupações quando dissera: – Não esqueça por quem você está fazendo isso, Rose. Seu pai. Ele não merece sofrer por sua falta de ação, merece? No fim, a ameaça de uma ação legal e o lembrete do motivo pelo

qual ela assinara o contrato haviam levado Rose a aceitar um papel com um endereço e instruções da sra. Lyndon-Holt do que usar. Então era por isso que ela estava agora servindo um almoço em um dos endereços mais exclusivos de Manhattan, que abrigava uma das coleções particulares de arte mais famosa do mundo, apenas exibidas para poucos selecionados, em ocasiões como aquela, uma ou duas vezes por ano. Rose rezou para que Zac não aparecesse, e assegurou-se de que, se ele aparecesse, provavelmente nem se lembraria dela, apesar do que a mãe dele alegara.

Mas, no momento que estava pensando isso, um murmurinho soou ao redor, e ela olhou para cima a fim de vê-lo entrando pela porta principal do salão. Rose quase derrubou a bandeja, e teve de lutar para equilibrá-la nos braços. Seus nervos ficaram à flor da pele e seu sangue ferveu. Ele estava vestido num terno cinza-chumbo e ouvindo atentamente algo que o anfitrião dizia enquanto o cumprimentava. Rose não conseguia respirar. Estava apavorada que ele virasse a cabeça e a visse. Num reflexo de pânico, ela virouse para tentar ficar fora da linha de

visão dele... e colidiu com outra garçonete que estava logo atrás. Sua bandeja já estava instável em suas mãos, e Rose assistiu, impotente, quando as duas bandejas se inclinaram e viraram de pontacabeça, espirrando os conteúdos dos canapés nos convidados próximos, antes de caírem no tapete persa, obviamente inestimável. Um silêncio mortal preencheu o ar. ZAC ESTAVA tentando parecer interessado no que o anfitrião falava, mas sua mente estava em outro lugar. Mais especificamente numa mulher de aproximadamente 1,70m, curvas

delgadas e cabelos loiroavermelhados. E o rosto de um anjo que inspirava pensamentos e desejos não angelicais. Ele ainda não podia acreditar que ela partira naquela noite. Depois de fitá-lo com aqueles grandes olhos verdes e dizer tudo bem. Ele não deveria ter atendido ao telefonema. Ela escapara por seus dedos como areia movediça. Mulher nenhuma fugira de Zac. Nunca. E, embora isso o deixasse ainda mais intrigado, o desejo insaciável que ela lhe despertara era sem precedentes. E a necessidade de saber mais sobre ela. E por que

diabos sua equipe não a encontrara ainda? Subitamente, houve um barulho alto de metal, e Zac virou a cabeça para ver duas bandejas caindo no chão, juntamente com seus conteúdos. Ao mesmo tempo que ele agradecia silenciosamente por ser liberado da atenção de seu anfitrião, notou uma cabeça loira-avermelhada perto da área tumultuada. Os cabelos estavam presos num coque. Acima de um pescoço longo. Seu coração disparou. Não podia ser ela. Mas, então, ela virou a cabeça de leve e Zac viu um perfil familiar. A pele muito clara... Era ela. O reconhecimento o

Era ela. O reconhecimento o preencheu numa onda de calor e alívio. Ele não a deixaria escapar por seus dedos novamente. ROSE TINHA ficado gelada e pegajosa, enquanto tentava reunir os canapés espalhados. A outra garçonete ralhou com ela: – O que há de errado com você? Por sua causa, provavelmente perdemos nossos empregos e eu preciso deste trabalho. Rose olhou para a outra garota. – Eu sinto muito. Não sei... – Agora – uma voz profunda interrompeu –, não acho que alguém vai perder o emprego por causa de

um simples acidente, certo, sr. Wakefield? Rose ficou imóvel. Aquela voz. Bem acima de sua cabeça. A voz dele. Ela olhou para sua esquerda e viu sapatos caros. Outra pessoa estava dizendo: – Em absoluto. Por favor, vamos sair e esvaziar a área... – E, então, Rose sentiu uma mão se fechando em seu braço e levantando-a. Até que ela estava parada diante de um peito largo familiar. Não conseguia respirar direito. Mal percebeu pessoas limpando a sujeira ou Zac afastando-a da área do acidente. Estava surpresa que suas

pernas funcionassem; ela não podia senti-las. Ele estava abrindo uma porta e conduzindo-a para uma sala cheia de livros. Rose sentiu como se estivesse num sonho. – Você está bem? Ela finalmente levantou a cabeça, e aqueles olhos azuis eram mais brilhantes do que ela lembrava. O maxilar de Zac estava barbeado. Ela queria tocá-lo. Rose assentiu. – Você... me reconheceu? Zac sorriu. – Eu a conheci uma semana atrás, Rose. Minha memória ainda funciona bem. E você era

memorável... mesmo se não tivesse fugido. Finalmente, ela conseguiu reagir. Liberou o braço e deu um passo atrás. Zac inclinou-se contra a porta e pôs as mãos nos bolsos. – Você disse que ficaria. – Disse ele, em tom de acusação. Rose foi defensiva. – Não disse exatamente isso. Eu disse, tudo bem. Mas eu sabia que precisava ir embora... – Por quê? Rose desviou o olhar. Sentia-se dividida em duas: entre a parte sua que estava eufórica por vê-lo de novo

e a parte que sabia que aquilo era tudo uma armação. Ela o encarou outra vez e gesticulou para o uniforme que usava. – Porque esta é quem eu sou. – Pelo menos, isso era verdade. – Eu não faço parte do seu mundo, sr. Valenti, e acho que só se sentiu atraído por mim porque sou um pouco diferente. Zac afastou-se da porta, parecendo tenso. – Você é diferente, sim, e é porque brilha mais do que todas as outras mulheres aqui. Rose meneou a cabeça. – Por favor, não diga isso, sr.

– Por favor, não diga isso, sr. Valenti. Não é verdade. Ele se aproximou, e ela recuou, até que teve de parar porque havia uma parede de livros as suas costas. Zac agigantou-se sobre ela, mas Rose não se sentiu ameaçada. Sentia-se como se estivesse se abrindo de dentro para fora. Como uma flor desabrochando no sol. – Pensei que nós já tivéssemos ultrapassado o estágio do “Senhor Valenti”? Ele estendeu as mãos e, com dedos hábeis, desfez o coque no topo da cabeça dela. Seus cabelos caíram em volta dos ombros. Ele deslizou os

dedos entre as mechas, e Rose teve vontade de ronronar. – Eu os prefiro assim... um pouco selvagens e rebeldes. O coração dela disparou contra as costelas. Os olhos de Zac a encararam. – Você é uma mulher difícil de achar... sabia? – Você me procurou? – Rose não acreditara realmente naquilo, e ouvir dele mesmo a confirmação era inebriante. Ele assentiu. – Eu não consegui tirar você da cabeça, nem esquecer o seu gosto... tão doce. Rose lutou para não deixar suas

Rose lutou para não deixar suas pernas virarem geleia. – É porque eu fui embora... você não está acostumado com mulheres o deixando. Alguma coisa brilhou naqueles olhos hipnotizantes, e a boca dele endureceu. – Eu não faço jogos, Rose. Ela levou um segundo para entender que ele achava que ela estava dizendo que partira de propósito. Rose meneou a cabeça. – Eu não fui embora para provocálo. Fui porque precisava ir... Assim como você precisa ir agora... antes que isso vá longe demais. Novamente.

– Por que lutar contra isso, Rose? A atração entre nós é... explosiva. Zac ergueu-lhe o queixo, pôs a outra mão no quadril dela e abaixou aquele rosto lindo para o seu. Era explosiva, e Rose não conseguiu sair da zona da combustão. A boca sensual tocou a sua, e aquilo pareceu tão certo. Tão necessário. Tão excitante. Após um momento de hesitação, Rose levantou os braços e envolveulhe o pescoço. Queria arquear o corpo no dele, e tremeu com o esforço que precisou para não fazer isso. Sentiu o gemido de aprovação de Zac, quando ele a puxou para mais perto ainda. Seus seios estavam

pressionados no peito largo, seus mamilos enrijecendo com o contato. Uma batida persistente à porta finalmente quebrou a magia. Zac se afastou, olhos ardentes, impaciência estampada no rosto, enquanto gritava: – Sim? – Senhor Valenti? O sr. Wakefield está lhe procurando. Zac praguejou silenciosamente, mas não tirou os olhos de Rose. – Diga-lhe que preciso ir embora. Uma coisa surgiu. Eu ligarei para ele. A resposta abafada veio através da porta: – Muito bem, senhor. Zac olhou para ela por um longo

Zac olhou para ela por um longo momento. – Eu nunca desejei tanto uma mulher como desejo você, Rose. Alguma emoção na voz dele tocou-a, mas Rose mordeu o lábio para não retribuir. Então, Zac pegoulhe a mão e começou a conduzi-la para outra porta na sala. Ela tentou detê-lo. – Espere... eu estou trabalhando aqui. Tenho de voltar lá. – Não mais. Você vem comigo. Rose liberou a mão, pânico misturando-se com excitação diante do tom autocrático de Zac. – Espere um minuto. Você não pode me fazer perder meu emprego.

O fato de que aquele não era um emprego, mas apenas o trabalho de um dia, graças às armações da mãe dele, foi esquecido diante da arrogância de Zac. O maxilar dele enrijeceu. – Você pode voltar lá e continuar servindo, comigo pairando sobre seu ombro, ou pode me acompanhar agora. E, se o emprego é tão importante para você, posso lhe arrumar outro em qualquer lugar desta cidade, amanhã cedo. Rose apenas o olhou. Sem fala. Ele se aproveitou disso e aproximou-se. – Eu não vou deixar você sumir da minha vista novamente. Então,

podemos fazer isso do jeito rápido, partindo agora, ou do jeito lento, partindo mais tarde. Você é quem sabe. Rose pensou em desafiá-lo voltando ao trabalho, mas, com Zac a rodeando, ela derrubaria muito mais bandejas antes que seu turno acabasse, e já atraíra atenção suficiente para si mesma por um dia. Percebendo seu vacilo, ele falou: – Pare de pensar. Isso é simples. Eu quero conhecer você. ROSE TINHA ido com ele. É claro que tinha. Porque era fraca e porque quisera ir, assim como porque temia a maldade da sra. Lyndon-Holt e o

que o futuro reservava para seu pai, se ela não obedecesse. Ela não soubera bem o que esperar, uma vez que concordara em partir com ele, mas Zac pedira para o motorista parar no Central Park, por onde eles haviam caminhado de mãos dadas e conversado sobre livros, filmes e seu amor mútuo pelos americanos de Nova York. Ele comprara sorvete numa barraca, e agora eles estavam sentados, olhando o Reservoir de Onassis e Jacqueline Kennedy, enquanto pessoas passavam correndo. Rose roubou-lhe um olhar, perguntando:

– Você não deveria estar trabalhando? Ele inclinou o rosto para o sol do fim de tarde e fechou os olhos, antes de reabri-los e fitá-la. – Eu escapei do trabalho hoje. O coração de Rose disparou no peito. Nem em um milhão de anos, ela teria imaginado passar algumas horas na companhia de Zac Valenti assim... como se ele fosse um sujeito comum, e não um dos bilionários mais famosos. Durante a última semana, ela vira a última edição da revista Forbes na banca, com a foto dele na capa e a manchete: O novo bilionário mais poderoso da América? O

crepúsculo

caía

sobre

O crepúsculo caía sobre Manhattan no momento em que eles saíram pelo lado sul do parque, e Rose pôde ver o prédio de Zac a distância. – Eu posso ver o seu jardim daqui. – Ela apontou para onde a folhagem verde se sobressaía sobre as paredes. Quando Zac não disse nada, ela o olhou. A gravata dele estava afrouxada, o primeiro botão aberto. O paletó estava pendurado num dedo, jogado casualmente sobre o ombro. Os cabelos, bagunçados pela brisa. O coração de Rose apertou. Oh, Deus. Ela estava encrencada. Ele virou-se para encará-la. – Não acredito que estou dizendo

– Não acredito que estou dizendo isso, mas há uma estação de metrô do outro lado da rua... ou eu poderia pegar o meu carro e levá-la em casa. Por um momento, Rose ficou desapontada. Ele não a queria. Não depois de conversar com ela e perceber como ela era tediosa. E então ele continuou: – Mas eu não quero que você vá para casa. Quero que passe a noite comigo. Rose tremeu por dentro, enquanto alívio a percorria. Era pegar ou largar. Sem jogos. Zac a queria e não perderia tempo fingindo o contrário. Ela desejou que pudesse aceitar livremente o que ele estava

oferecendo, sem elos atados. Todavia, os elos pareciam estar se apertando cada vez mais. Ela ainda o estava enganando. A cada segundo. Liberou a mão da dele e deu um passo cambaleante atrás, como se embriagada pela mera presença de Zac. Balançou a cabeça. – Sinto muito... Eu não posso. No momento, ela preferiria arriscar a ira da sra. Lyndon-Holt a trair esse homem. Deu outro passo atrás, depois outro. Olhou para o outro lado da rua e aproveitou o trânsito lento para atravessar. Com o coração batendo dolorosamente, parou do outro lado

da rua e olhou para Zac, cuja expressão estava dura. Ele não a perseguiria novamente. Ela sabia disso. Um homem como Zac Valenti logo esqueceria uma empregada que insistia em ser difícil. E a mãe dele encontraria outra pessoa para enganá-lo. Rose precisava se concentrar no seu pai... não complicar suas vidas, potencialmente engravidando de propósito! Sabia que muitas mulheres aceitariam aquele plano com prazer, sem qualquer dúvida. E subitamente ela ficou zangada com o pensamento... o que era irônico,

considerando que era ela quem o estava enganando atualmente! Que confusão! Ela precisava ir embora. Andou para a entrada do metrô e olhou para a enorme abertura abaixo. Estava escuro, frio e úmido. Olhou novamente para a rua, e Zac continuava parado lá, vigoroso e banhado pela luz do sol. Rose nunca quisera tanto uma coisa quanto queria voltar para ele. Queria esquecer suas responsabilidades. Queria esquecer os elos. Queria fingir que o encontrara por coincidência, exatamente como ele acreditava. Não queria descer naquele buraco escuro e nunca mais ver Zac.

A fantasia que criara em sua cabeça por um breve momento naquela noite, quando admitira para ele que não queria ir, um pouco antes de o telefone de Zac tocar, ganhou vida em sua cabeça... Você pode fazer isso, se quiser... tome o que ele está oferecendo e vá embora. Ela hesitou? Poderia... realmente? Sabia que não podia lhe contar tudo, mas e se fosse brutalmente honesta sobre quão inocente era? Certamente, ela perderia seus atrativos, então? Um homem acostumado com amantes experientes dificilmente iria gostar da ideia de ensinar uma novata...

E, se ele ainda a quisesse depois disso, Rose se certificaria de que não houvesse gravidez. Ele se certificaria. Afinal de contas, não era isso que aquelas mulheres no toalete do hotel haviam dito? Zac Valenti era o último homem a se permitir cair numa cilada desse tipo. Rose virou-se contra a onda de pessoas se apressando ao seu redor. Como se sentindo sua mudança de ideia, Zac atravessou a rua, vindo na sua direção como uma pantera em busca de sua presa. Os olhos azuis estavam presos nos seus, até que ele parou a sua frente. Uma comunicação silenciosa se passou entre eles. Tem certeza? Sem

mais jogos. E do fundo do ser de Rose veio apenas uma palavra quando ela pôs sua mãe na dele: Sim. ZAC SENTIA-SE eufórico. Impulsivo. Fora de sua zona de conforto. Como se estivesse enlouquecendo um pouco. Quando na vida andara no Central Park durante uma tarde, de mãos dadas com uma mulher? Ou parara para comprar sorvete? Ou tirara folga do trabalho? A resposta era... nunca. Todavia, no momento em que ele vira Rose naquele salão, seu cérebro tinha parado de funcionar normalmente.

A única coisa que o impediu de apertar o botão “Stop” de seu elevador privado agora, e erguê-la contra a parede, com as pernas envolvidas em sua cintura, foi o fio de controle que o relembrou que ele era um homem civilizado, não um animal. Fora a única coisa que o impedira de praguejar quando ela se afastara e atravessara a rua, pouco tempo atrás. Mas, então, Rose tinha ficado parada à entrada da estação de metrô, parecendo pensativa... e sem se mover. E, no momento em que ela o fitara, Zac vira puro desejo nos olhos verdes. E quase gritara em triunfo. Porque

E quase gritara em triunfo. Porque soubera então que essa mulher misteriosa que enfeitiçara seu corpo e mente ia ser sua. A última semana lhe mostrara que ele estava mais à mercê dos seus hormônios do que quisera admitir. Para um homem que sempre se sentira no controle de sua vida, mesmo quando ela girara numa direção completamente inesperada, essa era uma sensação perturbadora. Ele não equacionava mulheres com hormônios ou com desejo desenfreado. Zac vinha de um mundo onde lógica reinava. Onde emoções mostravam fraqueza. Desde cedo, ele

tivera de seguir um código rígido de regras. Embora pensasse ter abandonado tudo aquilo, não tinha realmente. Apenas vivia por um conjunto diferente de regras agora. O legado de seus pais lhe mostrara que emoções descontroladas levavam à ruína. A vida deles... e a sua... havia sido arruinada por paixão impulsiva. E, embora Zac quisesse se vingar deles mais do que qualquer coisa, também queria provar que podia se controlar. Que sua vida não seria destruída como as deles tinham sido. Rose o mantinha momentaneamente sob domínio, e ele não gostava disso. Não confiava nisso. Então, quanto antes pudesse

exorcizar o sentimento, melhor. E esse era apenas o começo.

CAPÍTULO 4

O

de Zac estava levemente diferente da outra noite, enquanto o sol se pondo o banhava numa luz dourada. Rose estava ofegante e forçou-se a diminuir o ritmo da respiração. Ao entrar no apartamento, ela havia tirado a mão da de Zac e andado para uma das janelas, subitamente agitada. Perguntando-se mais uma vez se era louca... sem mencionar egoísta. APARTAMENTO

Ela olhou para fora e pôs uma mão

Ela olhou para fora e pôs uma mão no vidro, como se isso pudesse ajudar a ancorá-la nesse espaço fantástico. Ele veio parar ao seu lado, e o ar tremeu entre eles. Sua respiração ofegante voltou, juntamente com uma onda de pânico. O que ela estava fazendo ali? Tentou preencher o silêncio: – É tão lindo aqui. Você tem muita sorte. A voz de Zac foi baixa e profunda: – Eu sei como este lugar é lindo, acredite, e sei quanta sorte tenho. Rose finalmente o olhou, e ele estava com as costas inclinadas contra o vidro. Tinha removido a

gravata e o colete, e estava estudando-a. Ela se sentiu envergonhada. Usava pouquíssima maquiagem, a qual já devia estar derretida agora, fazendo seu rosto brilhar. Seus cabelos estavam soltos e despenteados, graças a ele. Ela vestia as roupas mais simples. Em resumo, totalmente oposta à mulher que ele conhecera uma semana atrás. – Por que você me quer? – perguntou ela. Olhos azuis intensos a encararam. – Porque você é mais linda do que qualquer coisa que eu já vi na vida. – Eu não sou... realmente não sou... – Rose abaixou a cabeça e seus

cabelos caíram para frente, cobrindo seu rosto. Zac colocou-os atrás de uma orelha e ergueu-lhe o rosto com um dedo sob seu queixo. Estava bem na sua frente agora. – Sim, você é, Rose. E eu a quero por isso e também porque não conseguirei pensar de novo até que tenha você. Ela podia sentir-se caindo numa toca de coelho, sem nada nas laterais em que se agarrar. Exceto por Zac. Ele se aproximou mais, até que seus corpos estivessem se tocando. Ela agarrou-lhe a camisa para se manter em pé, tentando não cair completamente na toca. E, então, Zac

abaixou a cabeça, e seu mundo foi reduzido a isto: sim. Os beijos dele eram como néctar... Ela gemeu dentro da boca de Zac, e ele aprofundou o beijo, iniciando uma dança erótica de línguas. A mão de Zac deslizou para sua cintura, então mais para baixo. Ele apertou-lhe o traseiro sobre o tecido da saia, a mão grande envolvendo sua carne firme. Rose afastou a boca, incapaz de pensar em como continuar fazendo mais de uma coisa ao mesmo tempo. Descansou a testa contra o pescoço dele, ofegando. Zac afastou-se apenas o bastante para que pudesse levá-la até o sofá mais próximo. Ele sentou-

se e, sobre as pernas bambas, Rose o seguiu, caindo nos braços fortes, deitada no colo dele. Tentou se sentar, mas ele não permitiu. – Eu gosto de você assim. Rose apenas o olhou, e ele beijou-a novamente, fazendo-a esquecer os protestos. Ele estava alisando seu peito, segurando um seio, apertandoo gentilmente. Ela gemeu. E então a mão hábil estava deslizando por baixo da sua saia, tocando-lhe a pele, subindo mais, segurando seu seio mais intimamente, encontrando o bico por baixo da renda e beliscando-o devagar.

Rose afastou a boca da de Zac mais uma vez e o olhou, sentindo-se em chamas. Zac puxou a renda do sutiã dela para baixo, e agora estava tocando seu seio desnudo. Ele parecia quase selvagem. – Desabotoe sua blusa. Eu quero ver você. Com mãos que tremiam, ela obedeceu. Sua camisa foi aberta e Zac olhou, rubor pintando suas faces. – Exatamente como imaginei... linda. – E, então, ele abaixou a cabeça e beijou-lhe o seio, provando o botão rijo de seu mamilo, lambendo-o, tomando-o na boca e saboreando-o. Zac desnudou o outro seio e deulhe o mesmo tratamento. Rose teve

de pressionar uma coxa contra a outra para tentar conter a sensação se construindo em seu centro do prazer. Porém, como um leitor de mentes, Zac estava deslizando a mão entre suas coxas agora, forçando-a a abrilas. Ela o olhou, ciente de que sua blusa estava aberta, seus seios, desnudos. Ele pressionou contra seu sexo através da calcinha. Dedos exploradores deslizavam para cima e para baixo. Rose agarrou-lhe um dos braços, como se isso pudesse mantêla ancorada. Não podia acreditar que estava se comportando de maneira tão devassa, deixando-o tocá-la tão intimamente, levando-a para um

lugar que ela somente explorara sozinha até agora. Mas não conseguia encontrar a voz para mandá-lo parar. Zac puxou a nesga de sua calcinha de lado e tocou-a com precisão, sabendo exatamente onde era mais sensível. Rose mordeu o lábio. Ele continuou olhando-a, enquanto deslizava os dedos por suas dobras escorregadias, destravando todos os seus segredos; então, penetrando-a com os dedos, gentilmente no começo, antes de acelerar o ritmo e provocá-la sem remorso. O polegar massageava seu clitóris, e Rose tentou se controlar, mas foi impossível. Atingiu o orgasmo nos

braços dele, jogando a cabeça para trás e entregando-se às sensações incríveis. Pareceu levar um século para que ela voltasse ao planeta Terra, flutuando numa nuvem de satisfação que nunca experimentara antes. Levantou a cabeça, sentindo-se atordoada. Zac a estava olhando e murmurou: – Você é tão responsiva. E então Rose se viu como ele a via... nua da cintura para cima e da cintura para baixo. As pernas abertas. Ela corou, mortificada. Eles estavam no apartamento há meros minutos, e ela já estava gemendo no colo dele... reagindo sem a menor sofisticação

com a qual ele certamente estava acostumado. Rose libertou-se do abraço e moveu-se para a ponta do sofá, abaixando sua saia e unindo as laterais da blusa. Zac sentou-se ereto. – Rose... o que foi? Ela não o ouviu. Estava se censurando. Devia ter lhe contado a verdade antes de agora. Não prometera isso a si mesma para justificar ter ido ali com ele? Mas esquecera, no calor do momento. – Rose? Seus pensamentos foram interrompidos, e ela olhou para Zac, que estava do seu lado agora. A barba

já começava a despontar no maxilar. Os cabelos caíam para frente, e o rosto lindo era de tirar o fôlego, mesmo agora. – Há uma coisa que você precisa saber – murmurou ela numa voz baixa. – Eu sou virgem. ZAC LUTOU para entender aquilo, com a onda de luxúria nublando seu cérebro. – O que você disse? Corando violentamente, ela repetiu: – Eu sou virgem. Por um longo momento, ele pôde apenas olhá-la. Então, aos poucos, absorveu aquelas palavras, pensando

em como ela havia sido responsiva e notando como ela segurava as laterais da blusa unidas. Ele subitamente precisava de espaço. Levantou-se e perguntou numa voz rouca: – Quantos anos você tem? – Vinte e dois. Zac meneou a cabeça, mal podendo acreditar naquilo. – E você nunca...? Rose levantou-se, os braços cruzados sobre a blusa para tentar mantê-la fechada. A saia ainda estava erguida sobre as coxas. Ela parecia desalinhada... sexy. E ele podia ver que ela não imaginava o quanto era atraente.

Alguma coisa em seu interior se apertou. Ela evitou seus olhos. – Eu nunca tive um namorado... não assim. Nunca quis fazer sexo com ninguém... Somos apenas eu e meu pai em casa. Ele enfrenta problemas emocionais desde que minha mãe morreu, então eu não saio muito... A sensação de aperto no peito de Zac aumentou, sua cabeça girando conforme absorvia completamente a revelação da inocência de Rose. Aquilo o atingiu fundo... especialmente depois de todos os segredos e mentiras que descobrira

sobre sua própria família. A tragédia que resultara disso. Sabia que deveria mandá-la embora. Ele não dormia com virgens. Assim como não tinha relacionamentos. Era de um mundo que destruíra qualquer ilusão de que a inocência ou famílias felizes existiam... Entretanto, descobriu-se incapaz de fazer o que sabia que deveria. Aproximou-se de Rose e ergueulhe o queixo com um dedo. Assim que seus olhares se encontraram, ele soube que não a deixaria ir. Apesar da inocência dela. Queria torná-la sua com uma ferocidade que o abalou.

– Você disse que nunca quis fazer sexo com ninguém... quer agora? Após um longo momento, que deixou os nervos de Zac à flor da pele, Rose assentiu. Honestidade era algo que ele valorizava agora, acima de quase qualquer coisa, e, naquele momento, aquela mulher na sua frente representava algo que ele nunca experimentara antes. Um tipo de pureza. Zac fechou o espaço entre eles e puxou-a para mais perto, seu polegar deslizando pela pele dela, que era suave como uma pétala de rosa. Ela recebera um nome adequado. Olhos

verdes

o

fitaram

em

Olhos verdes o fitaram em surpresa. – Você não vai... me mandar embora? O pensamento fez Zac se sentir selvagem. Ele escondeu a emoção. – Por que eu faria isso? Ela engoliu em seco. – Porque eu sou inexperiente. A expressão de bravata de Rose, misturada com algo muito mais vulnerável, fez Zac se sentir estranhamente protetor. Ele balançou a cabeça. – De jeito nenhum, Rose. Você não vai a lugar algum. Ele pegou-lhe a mão a fim de conduzi-la para seu quarto, antes que

a tomasse no chão como um animal, mas ela apertou sua mão, fazendo-o parar e fitá-la. Ela estava pálida agora... preocupada. – Eu não estou... tomando pílula. Você precisa nos proteger. Alívio fez o peito de Zac expandir. Por um momento, ele temera que ela tivesse mudado de ideia. Mas Rose estava preocupada com proteção. Assim como ele. Ela não precisaria ter se preocupado com isso. Ele segurou-lhe a nuca e beijou-a na boca. Seu corpo já estava respondendo com um desejo voraz que não esperaria. – Não se preocupe, eu cuidarei da nossa proteção... acredite.

A preocupação de Rose apenas tornava a honestidade dela ainda mais pronunciada. Zac sabia que, se ela fosse mais experiente, provavelmente tentaria se aproveitar disso. Mas ela não era. Ele conduziu-a para seu quarto, antecipação fazendo seu sangue ferver. Havia alguma coisa incrivelmente visceral sobre saber que nenhum outro homem tocara essa mulher. Que ele seria o primeiro a... marcá-la. Ela seria sua. Zac balançou a cabeça de leve, como se tentando se livrar desse tipo de fantasia primitiva que não lhe era comum. Ele associava sentimentos animalescos com negócios. Não com

prazer na cama. Ou, pelo menos, tinha sido assim até agora. Ele soltou a mão de Rose e virou-a para olhá-la aos pés de sua cama. Os olhos verdes estavam enormes, a boca carnuda ainda inchada pelos seus beijos. Os mamilos estavam evidentes sob o tecido da camisa. Zac lutou por controle. Ela era inocente. Ele estava quase com medo de tocá-la. Incerto se conseguiria se controlar. Praguejou silenciosamente. Nunca se sentira nervoso assim antes. – Tire a minha camisa. Quando ela se moveu para frente, a própria blusa se abriu mais,

revelando as curvas tentadoras dos seios desnudos. Ele teve de fechar as mãos em punhos para se impedir de tocá-la. E, então, Rose estava desabotoando sua camisa, dolorosamente devagar. Os dedos delicados roçavam contra sua pele quente em carícias tentadoras. Zac cerrou o maxilar. Quando a viu mordendo o lábio em concentração, uma gota de suor rompeu em sua testa. As pequenas mãos estavam perto de seu cinto agora, e ele não pôde aguentar mais. Pegou-lhe as mãos nas suas e ergueuas, pressionando um beijo no centro de cada palma dela. Seu peito se apertou quando ele

Seu peito se apertou quando ele sentiu a leve aspereza que falava do trabalho doméstico de Rose. Sentiu raiva por ela precisar fazer aquilo, e detestou a si mesmo naquele momento por ter sempre estado com mulheres que gastavam mais dinheiro em manicures do que Rose provavelmente ganhava em um ano. Ele abaixou-lhe as mãos e soltou-a, então tirou sua camisa de dentro da calça, removendo-a e deixando-a cair no chão. Os olhos verdes estavam fixos em seu peito. Ela enrubesceu. Ele pôde vê-la fechando uma das mãos, como se para se impedir de tocá-lo, e Zac pegou a mão em questão, abrindo-

lhe os dedos e posicionando-a no centro de seu peito. O toque queimou mais do que a carícia mais sedutora. Ele removeu a própria mão, e, hesitantemente, Rose começou a explorar, traçando os músculos sob sua pele. Quando a unha dela roçou seu mamilo, ele arfou, sentindo sua ereção pressionar a calça. Nunca soubera que era tão sensível ali. – Eu machuquei você? Ele meneou a cabeça, encantado diante da preocupação genuína no rosto dela. – Não... pelo contrário. O rubor de Rose aumentou. As mãos deslizaram para seu abdômen e

mais para baixo. Ela ia matá-lo. Ela o olhou, como se pedindo permissão. Zac apenas assentiu. Estava sem fala. Rose abriu seu cinto e o botão acima do zíper. Ele quase se sentiu embaraçado diante do volume proeminente dentro de sua calça. A cabeça de Rose estava abaixada, os cabelos brilhantes caindo para frente. Mais rebeldes que na outra noite, e eram de uma cor muito incomum. Loiros, mas com tons vermelhos. Ele imaginou se a cor era natural. Saberia com certeza quando visse... Ele abafou um gemido de prazer. Ela estava abaixando seu zíper agora,

os dedos roçando sua ereção. Ela olhou para cima, e ele gentilmente tirou-lhe as mãos de si. – Eu não vou durar muito, se você continuar me tocando assim. – Desculpe. Zac balançou a cabeça e ergueu o queixo delicado. Como ela podia não saber o que estava fazendo com ele? Porque ela era inocente. – Não se desculpe. Ele soltou-a para se livrar da calça, antes de dizer: – Eu quero ver você. Rose mordeu o lábio por um momento, então levou as mãos à saia, descendo-a lentamente, até que a peça caísse no chão. Os seios ainda

estavam desnudos, e eroticamente empinados pela moldura do sutiã abaixo. Zac pensou que aquela era a coisa mais sensual que já experimentara. Ela levou as mãos atrás e abriu o sutiã, que também caiu no chão. Os seios altos, de formato perfeito, estavam agora completamente expostos para seu olhar ardente. Um pequeno bico rosado e ereto tocava cada um. Sua boca aguou. Ele queria prová-los novamente. Rose levantou as mãos para se cobrir. Gentilmente, ele as abaixou. – Você é linda. – Ninguém me viu assim antes. Excitação o percorreu diante da

Excitação o percorreu diante da confirmação de que ele seria o primeiro que a conheceria intimamente. – Obrigado por confiar em mim. Alguma coisa brilhou nos olhos verdes então, mas desapareceu tão depressa que ele podia ter imaginado aquilo. Porque quase parecera culpa. E por que ela se sentiria culpada? Rose removeu a blusa. E então estava apenas de lingerie branca e simples... o que, mais uma vez, pareceu muito erótico para Zac, depois de anos vendo mulheres desfilando na sua frente em todo tipo de lingerie sofisticado. Palavras

e

pensamentos

se

Palavras e pensamentos se fundiram em puro ardor. Rose tinha membros longos, delgados e pele clara. Curvas delicadas. Cintura alta. Pequenas sardas salpicavam nos braços e peito. Domando a fera em seu interior, Zac pegou-lhe a mão e conduziu-a para a cama. – Deite-se, querida. – O termo carinhoso saiu facilmente de sua boca, quando ele normalmente não o usaria. Mas ele mal notou. Ela sentou-se na cama e recostouse, os seios balançando com o movimento. Zac tirou a cueca e jogou-a longe, observando Rose fixar os olhos na sua ereção. Ele tocou-se,

como se isso pudesse acalmar um pouco o calor, mas os olhos verdes se arregalaram, e Zac pôde sentir a umidade na ponta de seu pênis. Pegou o preservativo que mantinha numa gaveta próxima. Ele nunca precisara deixá-lo preparado assim, antes. Quase como se pudesse esquecer. Rose observou seus movimentos, enquanto se sentava com as mãos sobre a cama, as pernas dobradas e unidas. – Deite-se. Lentamente, ela obedeceu, olhando-o. Zac posicionou-se ao seu lado na cama enorme, colocando uma mão sobre a barriga dela. – Eu vou fazer com que isso seja

– Eu vou fazer com que isso seja bom para você... mas talvez doa um pouco no começo. Apenas confie em mim, tudo bem? Ela assentiu. Ele abaixou a cabeça e beijou-a, longa e apaixonadamente, puxando-a para mais perto. Rose era suave e sedosa, mas estava tremendo sob seu toque. Ela entregou-se com doce abandono, mas então, de repente, afastou-se, ficando tensa. Olhou para as grandes janelas no quarto. – Pessoas não poderão nos ver aqui dentro? Zac recordou-se como uma de suas amantes anteriores lhe pedira especificamente para amá-la contra o

vidro, por essa exata razão, o que deixou um gosto amargo em sua boca agora. – Não, tem proteção... – Oh... certo. Ela relaxou, e Zac deslizou uma mão do pescoço elegante até o seio, segurando-o e apertando-o, vendo o bico enrijecer. A respiração dela acelerou, gratificando-o. Ele inclinou-se e pôs a boca na doce oferta de Rose, luzes explodindo atrás de seus olhos, enquanto deslizava a língua na carne firme, então tomava o mamilo na boca. Os gemidos baixos e o jeito que os dedos dela acharam seus cabelos fizeram sua ereção crescer ainda mais.

Zac levou uma mão para onde as coxas de Rose estavam unidas. Gentilmente, encorajou-a a relaxálas, e ela se abriu. O aroma almiscarado da excitação feminina atingiu suas narinas, e ele teve de levantar a cabeça para clareá-la. E encontrou grandes olhos verdes fitando-o, lábios carnudos e rosados. Os bicos dos seios molhados da sua boca. Seu pênis reagiu diante da visão, e ele soube que não aguentaria muito mais tempo. Explorou os cachinhos sedosos que escondiam o centro do prazer feminino, e quase gemeu alto quando sentiu a umidade ali. Ela estava pronta para ele, novamente.

Zac removeu-lhe a calcinha e não pôde resistir a tentação de prová-la. Desceu o corpo pela cama e enganchou as pernas dela em seus ombros. Ela levantou a cabeça. – Zac...? – Shhh. Volte a deitar. Ela deitou, e ele pressionou beijos na parte interna das coxas delgadas, antes de explorá-la mais intimamente. O cheiro de Rose era mais inebriante do que o perfume mais caro do mundo. Ele lambeu as dobras secretas e inseriu a língua no canal apertado. Ela puxou seus cabelos dolorosamente, mas nem isso

conseguiu distraí-lo. Zac estava enlouquecendo-a, lutando contra a vontade de encontrar sua própria liberação. Ela estava se contorcendo agora, e ele ergueu uma mão para segurar um seio, apertando-o no momento em que ela atingiu o clímax... o corpo se convulsionando tão poderosamente quanto antes. O pensamento de que ele nunca deixaria de desejar essa mulher incrível lhe ocorreu, mas foi apagado por sua necessidade de enterrar-se dentro dela, ou enlouqueceria. Zac deslizou para a parte superior do corpo de Rose e viu um sorriso sonhador no rosto dela, antes de se

proteger com o preservativo e posicionar-se entre as pernas delgadas. – Pronta? – Ele soou gutural. Desesperado. Ela assentiu, ainda parecendo um pouco atordoada. Ele penetrou-a cuidadosamente, aos pouquinhos. Ela estava úmida, mas era apertada. Mãos pequenas circularam seus braços. – Eu estou bem... continue. Zac levou as mãos para baixo do corpo dela e moveu-a de leve, ajoelhando-se, apartando-lhe as pernas ainda mais. Ela arfou quando ele aprofundou um pouco a

penetração, e envolveu-lhe as pernas em volta dos seus quadris. Então, inclinou-se e beijou-a com paixão, então avançou mais... e com mais vigor. Engoliu o gemido de Rose e emitiu seu próprio gemido. Recuou. Ela estava ofegando, as unhas enterrando nos seus músculos. Zac hesitou ao ver como ela estava pálida. – Você está bem? Após um minuto, ela assentiu. – Eu... acho que sim. Zac levou uma mão abaixo e encontrou o botão sensível, massageando-o, sentindo um tremor de reação ao longo de sua extensão. Enrijeceu o maxilar, tentando manter

o controle de seu corpo, quando tudo que queria era investir vigorosamente dentro de Rose, até que visse estrelas por uma semana. Ele se moveu devagar, penetrando e recuando, sentindo o corpo dela relaxar. Testosterona o inundou diante do pensamento de que era o primeiro homem a experimentar isso com ela. Zac a abraçou, enquanto estabelecia um ritmo mais acelerado. Seus vestígios de controle desapareceram rapidamente quando as pernas de Rose o apertaram mais, os mamilos roçando no seu peito. E então, quando os quadris dela começaram a fazer pequenos

círculos, ele não pôde aguentar. Investiu fundo e, de alguma maneira milagrosa, sentiu as contrações do clímax de Rose o comprimindo, antes que ele liberasse um prazer tão intenso que não teve consciência de nada por longos momentos, exceto das batidas frenéticas do seu coração. Quando finalmente voltou a si, percebeu que estava esmagando Rose na cama, cobrindo-a com seu corpo pesado, enterrando o rosto no pescoço dela. Pequenas pulsações percorriam sua extensão de vez em quando. Seu corpo respondeu. Zac levantou a cabeça para olhá-la com incredulidade. Sexo nunca tivera esse efeito nele antes.

A cabeça de Rose estava virada para o lado; os olhos, fechados. Ela não estava mais segurando seus braços, e uma sensação fria diminuiu seu desejo. Ele afastou-se e a viu se encolher de leve. Sentira a reação do corpo de Rose... tivera certeza de que ela estava bem. Mas tomara seu prazer sem consideração com o bem-estar dela? Ele deitou-se ao seu lado e a viu fechar as pernas... também viu o sinal de sangue no lençol. Sentiu como se alguém o tivesse golpeado no estômago. Zac puxou o lençol, cobrindo o corpo dela. Sua voz soou

insuportavelmente rouca em seus próprios ouvidos. – Rose... você está bem? Eu a machuquei? ROSE SABIA que não poderia evitar a pergunta de Zac para sempre. Podia sentir o peso do olhar dele quase como sentira o peso do corpo másculo sobre o seu. Deliciosamente. Devagar, ela virou-se para encarálo, e viu os olhos azuis se arregalarem em choque. – Você está chorando. Eu machuquei você... mas pensei... Ela não percebera, até aquele momento, que estava chorando, mas

meneou a cabeça e enxugou uma lágrima, sentindo-se exposta. – Não... – Quando ela viu a incredulidade no rosto dele, levantou um braço, o lençol descendo. – Não. Você não me machucou. Ela balançou a cabeça. – Então...? Rose respondeu honestamente: – Eu nunca imaginei que pudesse ser assim. Foi... lindo. Ela encolheu-se por dentro. “Lindo” era uma palavra ineficaz para o que acabara de acontecer. Tinha sido intenso... dor, prazer e calores misturados. E prazer que ela nunca conhecera. Zac estendeu o braço e tocou-lhe o

Zac estendeu o braço e tocou-lhe o queixo, como se ela pudesse quebrar. – Tem certeza? Ela assentiu, virando o rosto na mão dele, antes de fitá-lo. – No começo... quando você... – Rose corou. – Doeu. Mas a dor não durou... se transformou em outra coisa. Zac deitou-se sobre as costas e puxou-a contra seu peito. Ela pensou na boca dele entre suas pernas e enrubesceu de novo. Ele tocou-lhe o rosto quente e sorriu. – No que você está pensando? Rose abaixou a cabeça, envergonhada por já estar ardendo

de desejou por ele outra vez. – Em nada. – Mentirosa – murmurou ele, e ela pôde ouvir um sorriso na voz profunda. A verdade era que essa noite inteira era uma mentira. Mas, pelo menos, ele usara proteção, pensou ela aliviada. E então Zac a estava aconchegando mais e dizendo: – Descanse agora. Ela sabia que tinha acabado... que era hora de levantar e partir... mas seu corpo estava tão saciado e deliciosamente pesado que ela se agarrou mais um pouco ao sonho e dormiu.

CAPÍTULO 5

QUANDO

ZAC acordou, seu corpo parecia estranhamente pesado; entretanto, mais leve do que sempre. Ele franziu o cenho, os olhos ainda fechados. Era uma sensação tão bizarra. Tinha ciência que seu pênis também parecia pesado; todavia, saciado. Seu corpo inteiro doía de um jeito que ele nunca experimentara antes.

Um pensamento vago lhe ocorreu:

Um pensamento vago lhe ocorreu: estava doente? Então um aroma feminino muito distinto penetrou suas narinas, e ele estava subitamente desperto. Abriu os olhos. Não estava doente. Rose. Doce Rose... abrindo-se para ele com tanto abandono. E, simplesmente assim, seu corpo não estava mais pesado... estava acordando. Ganhando vida. Um caleidoscópio de imagens surgiu em sua mente... seios firmes com bicos pequenos e rijos, pele clara, coxas se abrindo para ele. Sua língua provando a doce essência, sentindo os músculos femininos se apertarem ao seu redor, cabelos

loiro-avermelhados, olhos verdes... Deslizando para dentro do canal escorregadio... tão estreito que ele pensou que morreria. Virgem. Sua. Zac levantou a cabeça e olhou em volta do seu quarto, vendo o sol da manhã se infiltrar pelas janelas. Ele nunca dormia muito depois que o sol nascia, então isso era desconcertante. A cama ao seu lado estava vazia, mas os lençóis estavam emaranhados, e o cheiro de Rose permanecia lá. Ele não sonhara aquilo. Mas, então, pedaços de um sonho voltaram a sua mente: o traseiro dela aninhado ao seu corpo, Rose virando-se, erguendo o rosto,

angulando-se de modo que ele deslizasse por entre suas pernas... Ele inseriu-se dentro dela, ouvindo-a arfar... houve gemidos e sussurros... – Você está muito dolorida? Ela balançara a cabeça, os olhos verdes brilhando. – Não, continue... E então Zac continuara, investindo mais fundo e mais forte, uma mão segurando-lhe o seio, a outra entre a junção das pernas delgadas, tocandolhe o clitóris e atingindo o clímax quando ela respondeu com tanto fervor que ele parara de respirar... Zac franziu o cenho. Ele não usara proteção no sonho, e nunca deixara

de usar proteção, portanto aquilo não podia ter sido real. Entretanto, parecia tão real. E onde ela estava agora? Ele se levantou, vestiu um moletom e foi procurá-la no apartamento, após checar o banheiro. Não havia sinal da mulher que passara a noite em sua cama. Ou qualquer indicação de que ela usara o banheiro. O pensamento de Rose em algum lugar... com o cheiro dele no corpo e as marcas do ato de amor na pele clara... foi suficiente para excitá-lo novamente. Zac fez uma careta. Onde ela estava? Mas o apartamento estava vazio. Silencioso. Ela se fora. De novo. Ele

se sentiu vazio. Uma sensação nova para um homem que normalmente deixava mulheres em seu rastro. A sensação de que havia algo errado voltou. Seu apartamento parecia intocado... Ora, ele estava tão desesperado por uma conexão real que sonhara tudo aquilo? Tivera algum tipo de fantasia erótica louca? Mas sua intuição lhe dizia que tinha sido real. Seu corpo estava muito relaxado para aquilo ter sido apenas um sonho erótico. Ainda assim... Zac não tinha certeza. Voltou para o quarto, sem saber bem o que estava procurando, até que viu: a inconfundível mancha de sangue nos lençóis.

Então, havia sido real. Ela era real. Ele foi até as janelas. Não gostava que Rose continuasse fugindo. Isso o fazia se sentir desequilibrado, exposto... como se ela soubesse de alguma coisa que ele não sabia. Zac olhou para a cidade brilhando no sol da manhã. Ela estava em algum lugar lá fora. Ele a encontraria... Teria sucesso desta vez. Então, se certificaria de que ela não fosse alguma criatura misteriosa que bagunçava sua cabeça... duas vezes. E Zac a esqueceria, como esquecia todas as mulheres com quem dormia. Porque mulheres como Rose Murphy não existiam realmente. Simplesmente não existiam.

APESAR DE seu esforço, Zac não a encontrou. Não uma semana depois que ela partira, nem um mês, nem dois meses. Fazia quatro meses desde que ele a tivera em sua cama, e seu corpo ainda ardia por ela. Somente por ela. Qualquer outra mulher o deixaria frio. Aquilo era irritante, e o lembrava das repercussões da paixão que queimara entre seus pais, a qual acabara levando à destruição deles e a uma vida de mentiras e segredos para ele, crescendo numa prisão de ouro, com dois cuidadores severos e frios. Uma batida soou à porta do seu escritório, e ele virou-se de onde

estava olhando, para o centro de Manhattan com uma carranca. – Sim? Seu assistente executivo entrou. – Nós a achamos, Zac. Mas não acho que você vai gostar disso. O coração de Zac acelerou, calor fervendo em seu sangue. Então ele franziu o cenho. – Como assim, eu não vou gostar disso? O homem mais jovem pôs um dos jornais mais populares de Nova York sobre a mesa de Zac, uma manchete enorme proclamando: Empregada de Manhattan ganha o grande prêmio Lyndon-Holt com gravidez! E abaixo da manchete havia uma

E abaixo da manchete havia uma foto de Rose... O’Malley, não Murphy... parecendo assustada. Ele avaliou a situação num instante e gelou por dentro. Uma palavra explodiu em sua cabeça: Tolo. Tolo. Tolo. Estava certo em acreditar que mulheres como ela não existiam... porque claramente não existiam. Zac leu o artigo, absorvendo o fato de que ela trabalhara para sua avó como empregada na casa de família dele. Um nó apertou seu peito. Ele devia ter reconhecido a obra de sua avó. Ela não fizera aquilo sem a ajuda de uma cúmplice disposta, todavia... Zac não ergueu os olhos do jornal.

Zac não ergueu os olhos do jornal. Estava se contendo para não perder o controle. Apenas falou, num tom controlado que escondia sua ira crescente: – Encontre-a e traga-a para mim. Agora. ROSE ESTAVA sentada no banco traseiro do carro dirigido pelo chofer, enquanto eles atravessavam a ponte sobre a ilha de Manhattan. Não era como se ela tivesse tido escolha quando aquele homem assustadoramente taciturno aparecera no seu local de trabalho e dissera: – Eu estou aqui para levá-la até o

– Eu estou aqui para levá-la até o sr. Valenti. Ela soubera que esse encontro era inevitável. Soubera desde que tivera a confirmação de sua gravidez, aproximadamente dois meses atrás. E, se fosse honesta consigo mesma, soubera bem antes disso... porque eles haviam feito amor novamente naquela noite, na luz do luar, em momentos sonhadores entre o sono e o estado de vigília. Rose teria acreditado que tinha sido um sonho se não fosse pela inegável memória da força pulsante do clímax de Zac em seu interior. Quando ela acordara, antes de

amanhecer, tentara se convencer de que fora tudo um sonho. Mas não tinha sido. E, por mais apavorada que tivesse ficado ao contemplar a possibilidade de estar grávida, também sentira um imediato senso de aceitação e proteção pelo bebê... mesmo antes de não ter seu próximo ciclo e seus medos se tornarem reais. Ainda assim, ela precisara de toda coragem para confirmar a gravidez, porque sentira que, assim que certa pessoa soubesse, seu bebê estaria correndo algum tipo de perigo. Em momento algum... mesmo quando a gravidez fora confirmada... lhe ocorrera contar a sra. Lyndon-

Holt. Seu único pensamento havia sido como contaria para Zac, um dia. O fato de que agora possivelmente tinha um jeito de salvar seu pai era algo que ela não se permitira contemplar, porque sabia que não seria capaz de conviver consigo mesa se usasse seu bebê no ventre como uma espécie de barganha... e seu pai nunca quereria um neto usado dessa forma, também. Mas a sra. Lyndon-Holt a encontrara. Assim como antes, e justamente quando Rose pensara que estava finalmente longe do radar da mulher, depois de não a ver por meses. Em vez disso, Rose descobrira que

Em vez disso, Rose descobrira que estivera muito perto do radar da mulher, que era mais determinada e mais influente do que Rose imaginara. E agora tudo fora tirado de suas mãos da pior maneira possível. No banco traseiro da mesma limusine preta, parada numa rua vazia do Queens, a sra. Lyndon-Holt abrira seu tablet e lhe mostrara foto após foto. As fotos documentavam Rose e Zac saindo do evento onde ela trabalhara como garçonete e passeando no Central Park. Mostravam os momentos no metrô, onde Rose tomara sua decisão fatídica de ficar. E, então,

mostravam-na saindo do apartamento dele na manhã seguinte, desalinhada, com uma expressão triste no rosto. Triste porque ela acreditara que nunca mais o veria. Não havia necessidade de fotografias do que tinha acontecido nas horas não registradas. Era muito óbvio. E, desde então, cada movimento seu tinha sido seguido. A sra. Lyndon-Holt apenas esperara Rose passar o momento crítico da gravidez, antes de contatá-la. Quando Rose tentara sair do carro, a mulher a segurara com uma mão surpreendentemente forte. Rose a olhara, sentindo-se entorpecida.

– Está esquecendo seu pagamento? Rose respondera com uma frieza que escondia o medo que sentia. – Eu não quero nada da senhora. A outra mulher dera um sorriso malévolo. – Talvez não você ou o bebê no momento... mas seu pai poderia usar uma ajuda, não poderia? Ou você vai deixá-lo morrer, sabendo que poderia salvá-lo, se não fosse por seu orgulho teimoso? Eu preciso lembrála de que você assinou um contrato sigiloso? O que significa que nunca pode contar a ninguém o que combinamos? E não pense, nem por um segundo, que meu filho irá gostar dessa notícia. É de conhecimento

comum que ele não quer um filho. Portanto, Rose, eu sou toda a esperança e apoio que você tem no momento. É só eu dar um telefonema e seu pai terá a chance de viver por muitos e muitos anos. Rose ficara quente e fria ao mesmo tempo. Como se precisasse ser lembrada da conversa que ouvira no toalete, naquela noite fatídica. Zac Valenti era a última pessoa com quem ela podia contar. E seu pai... Jocelyn Lyndon-Holt estava certa de uma maneira doentia... como Rose poderia conviver consigo mesma, sabendo que negara a seu pai a chance de estar bem novamente?

Uma sensação de futilidade a inundara. E a percepção de que, por suas próprias escolhas e ações, ela agora estava numa cilada. E simplesmente assim, sem precisar falar outra palavra, a sra. Lyndon-Holt tivera Rose exatamente onde a queria. Com incrível precisão, seu pai fora transportado para um hospital particular, onde estava fazendo a preparação necessária antes que se submetesse à cirurgia muito cara em duas semanas. Ele acreditara na explicação que Rose lhe dera: que a sra. Lyndon-Holt fizera um gesto de caridade para a ex-funcionária. Que ironia!

Ela olhou pela janela agora, os olhos secos, mas doendo por dentro. Um tipo de resolução solidificara-se em seu interior, uma vez que ela percebera que tinha de enfrentar aquela situação. Havia sido muito egoísta, acreditando que pudesse tomar alguma coisa que nunca lhe pertencera... uma noite com Zac Valenti... e, agora, precisava enfrentar as consequências de suas ações. E se seu pai lucrasse com tudo isso, recuperando a saúde, então teria valido a pena. A saúde de seu pai e a nova vida crescendo em sua barriga. Uma vida que ela nunca se arrependeria de ter

criado, independentemente do que acontecesse de agora em diante. Não importava se seu filho herdaria uma vasta fortuna ou não, porque Rose nunca pensara em lucrar pessoalmente do acordo que fizera com a mãe de Zac, apesar do que assinara. Todavia, não podia culpar mais ninguém por suas ações. Apenas sabia que daria a própria vida para proteger seu bebê de danos, e jurou agora que ele ou ela não sofreria por causa de suas ações, independentemente do que Rose tivesse de fazer para assegurar isso. O prédio de Zac apareceu à frente, e o carro parou perto do meio-fio.

“Valenti Enterprises” estava escrito em letras pretas sobre a estrutura de aço. De maneira enfática. Poderosa. Rose tremeu. Ela fugira da cama de Zac naquela manhã e dera uma última olhada para ele, deitado ali com um deus grego, o lençol enrolado na parte baixa do corpo, revelando um vislumbre de pelos indo em direção à masculinidade potente que a tirara de órbita. Tinha sido difícil tirar os olhos dele, e ainda mais difícil ir embora, imaginando que nunca mais o veria. Esperando guardar aquela noite na memória como um segredo precioso. Mas, agora, não havia esperança

Mas, agora, não havia esperança de que isso permanecesse precioso ou secreto. Tudo desmoronara, e ela não podia culpar ninguém, exceto a si mesma. A SUBIDA para o escritório de Zac pareceu levar meros segundos. Rose mal teve tempo de reconhecer a ironia do fato de que o tempo voava quando você menos queria que voasse, quando um homem elegantemente vestido estava abrindo uma porta enorme e conduzindo-a para dentro de uma sala vasta. Ela o viu imediatamente, o que a fez parar assim que entrou. Zac estava sentado atrás de uma grande

mesa de madeira. Rose mal ouviu a porta se fechar atrás de si. A cadeira tinha um encosto alto. Todos os móveis eram... imponentes. Ele parecia maior do que ela lembrava, embora estivesse sentado. Havia uma barba por fazer no maxilar firme, e os cabelos de Zac estavam desalinhados, como se ele tivesse passado as mãos neles. E, então, ele levantou-se, e o cérebro de Rose congelou. Zac pôs as mãos sobre a mesa, inclinando-se um pouco para frente. Rose teve a desconfortável sensação de que ele estava deliberadamente mantendo a mesa entre os dois. Os olhos azuis a percorreram de

Os olhos azuis a percorreram de cima a baixo. Os lábios sensuais se curvaram. – Você acha que pode me enganar com outro traje comportado, srta. O’Malley? Senhorita O’Malley. Um misto de choque, culpa e tristeza a inundou. É claro que ele sabia seu nome verdadeiro agora. Ela se sentiu encabulada em calça preta e camisa branca, o uniforme que usava para trabalhar num pequeno restaurante no Queens... um dos três empregos que Rose tinha no momento. Seus cabelos estavam presos num rabo de cavalo, e ela não usava maquiagem. Ela apertou a alça de sua bolsa nas

Ela apertou a alça de sua bolsa nas mãos, em frente a sua barriga. – Eu não estou tentando enganar ninguém. Sua voz soou forte, e Rose agradeceu silenciosamente. Estava determinada a não o deixar ver quão difícil essa situação era para ela. Tudo que queria era se desculpar, tentar explicar. Exceto que não podia explicar. E a oportunidade de qualquer pedido de desculpa já passara há muito tempo. Zac emitiu um som rude. Então, rodeou a mesa e recostou-se sobre a mesma, cruzando uma perna longa sobre a outra e também os braços. Rose tivera pequenos vislumbres

Rose tivera pequenos vislumbres desse homem, e tais vislumbres haviam sido intimidadores. Agora, ele poderia ser um completo estranho, tão distante estava do homem sedutor que a enfeitiçara tão facilmente. A boca de Zac se comprimiu, como se ele estivesse se lembrando de alguma coisa desagradável. – Então, eu estou curioso... quanto uma prostituta virgem está cobrando hoje em dia? Isso presumindo que você era realmente virgem? O sangue foi um toque engenhosamente autêntico, se não era real. As palavras cruéis devastaram Rose.

– Não foi assim. – Ela suplicou silenciosamente: Por favor, não arruíne tudo. Zac endireitou o corpo e falou em tom gelado: – Foi exatamente assim. Rose ergueu o queixo, embora estivesse mortalmente ferida. Já. E tinha certeza de que ele mal começara o ataque. – Eu não sou uma prostituta. Tem certeza disso?, zombou uma vozinha. Zac bufou. – Também não é uma empregada dócil e invisível. Seriamente espera que eu acredite que as duas vezes que nos encontramos foram felizes

coincidências, apenas para que você desaparecesse no ar e, de repente, emergisse meses depois, alegando estar grávida de um filho meu? Rose abriu a boca para confirmar que o bebê era dele, mas Zac não terminara. – Você parece estar esquecendo que é de conhecimento comum agora que a casa onde você trabalha como empregada é a casa da minha família. Ela queria corrigi-lo... não estava mais trabalhando lá... mas ele riu então, e foi uma risada sarcástica. – Tenho de admitir a perspicácia de vocês duas ao usar o velho truque... a armadilha do mel, ou, em outras palavras, a armadilha sexual.

Rose encolheu-se por dentro, percebendo que ele assumira que ela tramara com a mãe dele. Zac se aproximou e parou na sua frente, a expressão desgostosa. – Mas seu tipo particular de mel veio com um gosto amargo depois. Rose sentiu-se protetora em relação ao seu bebê, detestando as palavras ofensivas. Interrompeu antes que ele pudesse falar mais. – Eu não trabalho lá há quatro meses. E não foi assim. Eu juro... O olhar mortal de Zac disse-lhe o que ele pensava de sua fraca tentativa de se defender, então Rose fechou a boca. Ele começou a andar ao seu

redor, como um tubarão. Ela olhava em frente, rígida e tensa. Ele falou atrás dela: – Se você está ou não trabalhando lá atualmente não vem ao caso. Conte-me... você ganhou um bônus por engravidar, ou foi um acordo de “tudo ou nada”? Rose estava apertando tanto sua bolsa que não ficaria surpresa se fizesse furos no couro. Recusou-se a se virar e repetiu: – Não foi assim. Zac bufou outra vez. – Presumindo que você esteja grávida, e que o bebê seja meu, eu diria que você ainda está empregada. Então, essencialmente, essa é uma

transação que muitos chamariam de... – Pare! – gritou Rose. Zac a rodeou e parou na sua frente, arqueando uma sobrancelha. – Que defesa veemente. Os olhos azuis baixaram para onde a bolsa cobria sua barriga. Ela estava naquele estágio da gravidez em que sua barriga finalmente parecia mais definida, e detestava se sentir tão consciente de seu corpo agora. Como se ele se importasse com sua aparência. Como se ela devesse se importar! Rose reuniu sua força diante da condenação de Zac. – Eu estou esperando um bebê seu,

– Eu estou esperando um bebê seu, e eu era apenas uma empregada. Não estou dizendo que aqueles encontros não foram engendrados para nos unir... – Ela parou, sabendo que, por mais que tentasse se defender, não podia negar que, em algum nível, Zac estava certo. Mas ele nem estava ouvindo. – Por mais que eu queira acreditar no contrário, suspeito que você esteja mesmo carregando o meu filho. Jocelyn Lyndon-Holt é tão obcecada com a linhagem preciosa da família que nunca deixaria uma coisa tão importante escapar do plano. Não, ela não deixaria. Rose sabia muito bem disso, e sentiu-se enojada

ao pensar na mãe dele. A voz de Zac foi dura: – No momento que você aceitou dinheiro dela para me seduzir deliberadamente, cruzou uma linha que milhões de mulheres cruzam todos os dias nesta cidade. E cada uma delas provavelmente tem mais integridade do que você. Rose lutou para manter o queixo erguido. Isso era o mínimo que ela merecia. Mas, mesmo assim, não pôde evitar dizer: – Eu não queria fazer isso. Fui embora naquela primeira noite. Zac deu um passo atrás, incredulidade estampada no rosto bonito.

– Aquilo foi só uma trama para me incitar a perseguir você. A querê-la. Amargura queimou Rose por dentro. É claro que ele pensaria assim. – Eu não perguntarei novamente – continuou ele. – Diga-me qual foi o valor para brincar de Deus com minha vida e me dar um filho que eu nunca quis ter. A raiva que surgira num rompante drenou novamente. Ele estava certo. Aquilo era exatamente o que ela fizera. Brincara de Deus. Entretanto, não podia responder-lhe. Porque, como poderia dizer que o preço tinha sido a vida de seu pai, quando tal vida estava suspensa num equilíbrio

tão delicado no momento? Rose não podia violar o contrato sigiloso. Se fizesse isso, seu pai sofreria. Não se importava com o que aconteceria com ela. Mas não se tratava mais apenas dela. Diante da clara hostilidade de Zac, tudo que ela podia pensar era no fato de que estava fazendo aquilo por seu pai. Para salvá-lo. Isso tinha de valer a pena. E ela precisava proteger o bebê inocente que carregava, que não merecia esse insulto. Zac a estava encarando agora, silenciosamente exigindo uma resposta, e Rose falou a única coisa que podia: – Eu não vou lhe contar nada.

ZAC OLHOU para Rose, e sua raiva se transformou em ira. Eu não vou lhe contar nada. É claro que ela não lhe contaria. Ela não queria arriscar o acordo financeiro fantástico, sem dúvida, do qual usufruiria quando o filho... filho dele... recebesse aquele nome detestável e entrasse na linhagem para herdar a fortuna Lyndon-Holt. Zac estava perigosamente perto de perder seu controle e não gostava de admitir que mesmo antes, quando sua vida tinha sido despedaçada, ele não se sentira tão volátil. Jurara nunca se permitir ser colocado nessa posição novamente... à mercê de

segredos e mentiras. Todavia, lá estava ele, beirando a exata situação. Virou-se abruptamente evitando aquele rosto pálido e olhos enormes e andou para a janela. Não conseguia olhar para ela e não fraquejar. Não sabia bem o que esperara, mas esperara que Rose mostrasse algo diferente da personalidade inocente que projetara as duas vezes que eles haviam se encontrado antes. Esperara vê-la confiante. Triunfante. Gananciosa. E ela não parecia se sentir assim. Ou não ainda, pelo menos. Aqueles enormes olhos verdes estavam cheios de alguma coisa que zombava de Zac

por sua fraqueza inicial. Porque ele acreditara nela. A revelação de que ela usara a inocência física como uma barganha naquela noite o deixava furioso. A virgindade de Rose podia ter sido real, mas todos os outros momentos tinham sido falsos. Ele lembrava-se de persuadi-la a ficar e daqueles olhos o fitando com tormento inacreditável. Como se ela realmente tivesse de lutar com sua consciência. E então ela fugira, aperfeiçoando o ato, antes de reaparecer na semana seguinte. Que tolo ele fora em pensar que aquilo havia sido mera coincidência! Por mais que Zac quisesse expulsá-

Por mais que Zac quisesse expulsála de seu prédio e de sua vida para sempre, não podia. Ela estava grávida. Ele notara a cintura mais grossa que ela tentava esconder embaixo da bolsa. E detestava que tivesse notado. E que o fato não esfriava seus hormônios. Ora, assim que ele vira a foto de Rose no jornal, sua libido ganhara vida. Grávida. Zac ainda estava tentando aceitar o fato de que provavelmente era o pai. Nunca contemplara essa realidade, determinado a se certificar de que o nome Lyndon-Holt morresse com sua avó. E ele lhe dissera, anos atrás, que ela podia levar seu legado

amargo para o túmulo ou deixá-lo para um abrigo de gatos, por tudo que ele se importava. Entretanto, sabia que, por mais que quisesse culpar a mulher em seu escritório agora, e sua avó, ele era o único culpado. Quem tinha sido fraco era ele. Abrira mão de sua vigilância assim que pusera os olhos na beleza não adornada de Rose. Uma beleza que ficaria manchada em seus olhos para sempre, agora. Zac tivera momentos de desconfiança, mas os ignorara, permitindo que o desejo carnal prevalecesse. Ele fora o tolo que sucumbira ao doce ato de amor durante a

madrugada, quando ela obviamente... apesar da inexperiência... percebera a oportunidade e se aproveitara dela. Envolvendo-o tão deliciosamente em seu corpo apertado que Zac nem percebera que não era um sonho, porque nunca sentira nada como aquilo antes. Mas não havia sido um sonho. Era um pesadelo real. E agora sua fraqueza significava que tudo que ele quisera fazer para vingar as pessoas que tinham lhe dado vida era em vão. Zac ficou imóvel então, quando algo lhe ocorreu... uma pequena possibilidade. Um jeito de ainda poder vencer. Conforme a ideia se enraizou na sua mente, pela primeira

vez desde que recebera a notícia, sua raiva diminuiu um pouco. Porque havia uma maneira de virar esse jogo. Um jeito de acabar com o plano desprezível de sua avó. Um jeito de vingar seus pais muito mais profundamente do que ele sempre antecipara. Dando vida a outro nome. O nome de seu pai. Valenti. Quando Zac se sentiu um pouco mais no controle, virou-se, mas ver Rose parada ali no seu escritório ainda o atingia como um soco no estômago. Os olhos verdes pareciam grandes demais. Ele também notou que ela parecera ter perdido peso, tornando-se ainda mais delicada.

Aquilo lhe causou uma sensação estranha. Indesejada. Ele precisava se concentrar. Lembrar quem ela era. O que ela fizera. E tentar salvar alguma coisa dessa confusão. – Sente – disse ele, de maneira mais rude do que pretendera. Ela não se moveu de imediato, e Zac aproximou-se e puxou uma cadeira, preocupado por ela parecer mais pálida agora. – Sente-se. Antes que você caia. Ele se viu servindo um copo de água para ela, antes mesmo que registrasse o impulso. Depois que Rose bebeu a água, um pouco da cor voltou às faces pálidas.

– Não há necessidade de falar comigo como se eu fosse um cachorro, e eu não sou uma flor se desmanchando. Com qualquer outra mulher, Zac teria ficado apavorado com seu comportamento, mas aquela era ela. Ele circulou sua mesa e sentou-se, afrouxando a gravata e abrindo o primeiro botão da camisa, sentindose sufocado. Era hora de avaliar com o que estava lidando exatamente. – Presumo que você assinou um contrato? A cor no rosto de Rose relaxou Zac. Ele disse a si mesmo que era satisfação que ela decidira não tentar continuar enganando-o. Ótimo... ele

a queria mostrando quem ela era de verdade. De modo que não seria difícil lembrar-se da ousadia que fora necessária para vender a virgindade e o útero pela maior oferta. Ela deu outro gole da água. Quando o olhou novamente, pareceu endireitar os ombros, como se estivesse se preparando para uma batalha. Ele disse a si mesmo que ela ainda nem sabia o que era uma batalha. – Então? – perguntou ele, impaciente. Rose engoliu em seco, o movimento da garganta levando sua atenção para o pescoço elegante. Ele lembrou-se de ter traçado aquela área

com a língua... E, subitamente, a irritação foi unida por uma onda de luxúria tão intensa que Zac agradeceu por estar sentado. Detestou-se por ainda desejá-la. Não podia acreditar nisso. Mesmo depois da pior traição, sua libido ganhava vida com essa mulher. Atormentava-o saber que seu próprio corpo podia perpetuar a traição. – Eu não posso lhe contar nada – respondeu ela. Zac levou um momento para absorver as palavras; então, levantouse com raiva. Afastou-se da mesa... de Rose. Poucas pessoas tinham

coragem de enfrentá-lo, e ele quase sentiu respeito por ela. Mas, quando se virou, apenas falou friamente: – Não pode me contar nada. Você quer dizer que não vai me contar nada. Desgosto por tudo que ela representava e pela óbvia conspiração de Rose com sua avó o fez perceber muito rapidamente que ele precisava controlar essa situação. Como se ela pudesse sentir o que estava por vir, questionou: – Por que você está me olhando assim? Havia um leve tremor na voz de Rose, mas Zac disse a si mesmo que

era medo, porque, em algum nível, ela devia desconfiar agora que não o venceria. – Eu assumirei total responsabilidade por minhas ações. Começando de agora. – O que você quer dizer? Zac a fitou, enrijecendo os músculos do seu corpo contra o efeito que ela exercia sobre ele, mesmo agora. – O que eu quero dizer, minha doce e venenosa Rose, é que eu irei limitar os danos e que você virá comigo. Rose se levantou da cadeira, a bolsa caindo no chão, o copo ainda na mão dela.

– Do que você está falando? Zac saboreou a expressão de pânico no rosto dela. – Estou falando sobre o fato de que eu farei tudo que estiver em meu poder para me certificar de que esse bebê não pertença ao legado LyndonHolt. Ele notou que ela empalideceu, claramente vendo os lucros pessoais em risco. – Mas... você não pode fazer isso. Eu sou a mãe do bebê. Tenho o direito de decidir o que acontece com meu bebê. Aquelas palavras tiveram forte impacto em Zac. Meu bebê.

Seu bebê. Ele ia ser pai. Isso finalmente começava a parecer real. Uma emoção completamente estranha surgiu, surpreendendo-o com sua força. Ele percebeu que era uma sensação de posse. Uma necessidade de proteger. E tal sentimento apenas solidificou sua decisão. – É também o meu bebê... ou você esqueceu esse detalhe pertinente? – Ele não esperou resposta. – Esse bebê será um Valenti, anote minhas palavras. E eu farei tudo que for necessário para que isso aconteça. Ele leu pânico naqueles olhos verdes expressivos, e viu a mão de

Rose apertar tanto o copo que os nós dos dedos ficaram brancos. Num instante, Zac estava do seu lado, sem perceber que tomara a decisão de se mover. Tirou o copo da mão dela e colocou-o sobre a mesa, zangado pela sua reação impulsiva. Quando viu como ela estava pálida, teve de reprimir o forte instinto de tranquilizá-la. Isso, seguindo-se à necessidade de proteger seu filho não nascido, era quase uma zombaria. Precisava lembrar quem ela era, e que Rose era mercenária o bastante para engravidar a fim de construir seu ninho.

CAPÍTULO 6

ESSE

será um Valenti, anote minhas palavras. A cabeça de Rose estava girando. Isso não era o que ela esperara, em absoluto. Pensara que receberia a raiva e hostilidade de Zac sim, mas então achara que ele a expulsaria de seu escritório, dizendo que nunca mais queria ouvir falar dela ou do bebê. BEBÊ

Entretanto, ele estava dizendo

Entretanto, ele estava dizendo que... queria o bebê? A reação inicial de Rose a isso foi de pânico. Se a sra. Lyndon-Holt acreditasse por um segundo que ela estava violando o contrato, sem dúvida tiraria seu pai do hospital particular num piscar de olhos... Mas juntamente com o pânico havia outra coisa... algo muito mais perturbador... uma sensação de alívio porque Zac não estava rejeitando o filho. E aquilo a abalou demais, porque ela percebeu que não se permitira imaginar que ele talvez quisesse reconhecer a criança. Zac estava, de súbito, perto demais, o aroma másculo

obscurecendo o que ele dizia, quase obscurecendo o tumulto que ela estava desesperadamente tentando esconder. Rose parecia não conseguir raciocinar direito e deu um passo atrás, como se algum espaço entre eles pudesse ajudar. Zac, inconsciente dos verdadeiros motivos de seu tumulto interior, falou em tom zombeteiro: – Não precisa parecer tão preocupada. Graças à carga que você carrega, seu futuro financeiro está garantido, independentemente do que aconteça. Mas eu irei controlar a situação de agora em diante. – Como assim? Ele a encarou com olhos estreitos.

– Essa história já está por toda a imprensa e, até que eu saiba com o que estou lidando, vou mantê-la diante da minha vista. Você se mudará para o meu apartamento, hoje. Ela arfou. – Mas isso é ridículo! Você não pode me manter lá. Eu tenho um emprego. Moro no Queens. Zac balançou a cabeça. – Não mais. Para onde eu for, você vai. Rose sentiu o sangue drenar de seu rosto. As paredes pareceram se fechar, embora fossem de vidro. – Nós não estamos na era medieval. Você não pode me forçar a

fazer isso... seria um sequestro. Ele fitou-a com olhos gelados. – Não será sequestro, querida... longe disso. Você está progredindo na vida... exatamente como planejou quando entrou naquele salão de eventos com todas as intenções de me seduzir para sua cama virginal. ALGUMAS HORAS depois, Rose estava diante das janelas que iam do chão ao teto do apartamento de Zac, olhando a vista. Registrou vagamente que já observara aquela vista em todos os períodos do dia agora: manhã, tarde, crepúsculo e noite. Antes, tinha parecido a vista mais privilegiada do mundo. Agora... era

como se houvesse barras nas janelas. Porque ela estava numa verdadeira prisão. A única coisa que a impedira de fugir de Zac mais cedo fora a percepção de que ele a encontraria e a traria de volta. E também, embora Zac não confiasse nela, Rose também precisava ficar de olho nele. Ela temia que ele fizesse alguma coisa que colocasse em risco os cuidados de seu pai e, até que a cirurgia acontecesse, Rose não podia correr esse risco. Não quando seu pai estava tão perto de recuperar a saúde. Começou a se recriminar. Ela colocara a si mesma e ao bebê no meio de uma batalha amarga entre

Zac e a mãe. A enormidade das consequências de suas ações era grande demais para suportar no momento, e Rose lutou para manter o controle. Se é que ela possuía algum controle sobre a situação... – Tentando pensar numa saída dessa situação? Ela enrijeceu diante da voz de Zac e pensou em como um homem tão grande podia se mover tão silenciosamente. Não olhou para ele quando ele parou ao seu lado. Temia mostrar quão vulnerável se sentia agora. – Parece que eu não tenho muita escolha, exceto ficar aqui por enquanto – respondeu ela.

– Não, você não tem escolha. Rose o fitou brevemente, mas foi o bastante para absorver aquela gloriosa beleza masculina. Ele trocara o terno por roupas mais casuais: calça esporte e uma camiseta polo de mangas compridas. Ela desviou o olhar e engoliu em seco. – Aparentemente não. Mesmo que ela não quisesse reconhecer aquilo, porque sabia que era unilateral, podia sentir a eletricidade entre eles. E seu centro da feminilidade parecia pulsar com cada movimento que Zac fazia. Ela podia vê-lo agora pelo canto do olho, os braços cruzados,

casualmente encostado contra o vidro. Exatamente como ele fizera naquela última tarde. A sensação de déjà vu foi instantânea e vívida, fazendo-a se lembrar de quando estivera tremendo inteira em antecipação. – Por que você fez isso, Rose? As palavras dele pegaram-na em algum lugar entre o passado e o presente, e Rose o olhou, confusa por um momento. – Por que fiz o quê? – Você sabe muito bem o quê. – Ele enviou um olhar expressivo para a barriga dela, antes de fitar-lhe os olhos novamente. – Teve a ideia quando ouviu os funcionários da

casa fofocando? Imaginou que tivesse uma chance de chamar a minha atenção? Então, você foi até sua chefe com um plano audacioso de engravidar do próximo herdeiro da fortuna Lyndon-Holt, garantindo a si mesma uma vida ociosa de luxo como resultado? Ela sentiu-se enojada. – Eu lhe disse... não foi assim. Zac pareceu considerar suas palavras por um segundo, então assentiu. – Talvez não... Eu não ficaria surpreso se a ideia tivesse sido dela. Uma ideia que você ficou feliz em aceitar... – Pare – disse Rose. – Eu já falei

– Pare – disse Rose. – Eu já falei que não posso lhe contar nada. Ela se sentia muito quente sob o olhar azul intenso. Como se ele estivesse mentalmente despindo-a, assim como fizera fisicamente naquele dia. Colocando-a na cama, antes de partir seu mundo em pedaços... literal e figurativamente. Raiva por Zac ter sido capaz de seduzi-la tão facilmente a fez murmurar: – Nós éramos dois lá. Eu pedi para você nos proteger. Zac endireitou o corpo numa postura ereta. – Não pense por um segundo que não estou assumindo a

responsabilidade por minhas ações. Estou ciente de que fizemos amor sem proteção, e lidarei com as consequências. Rose levou a mão à barriga. – Este bebê não é uma consequência. – Está me dizendo que esse bebê é mais do que um meio para um fim, para você? Por favor, não insulte minha inteligência. A vista de Rose estava embaçando... com raiva, disse a si mesma. Porque, se não focasse na raiva, temia desmoronar. – Este bebê não é apenas um meio para um fim. – Subitamente, alguma coisa que Rose vinha suprimindo

explodiu em seu interior... uma terrível compulsão de saber... e antes que pudesse se conter, disse: – Naquela primeira noite que nos conhecemos, você agiu como se aquilo significasse alguma coisa... como se não fosse um tipo de encontro comum para você. Zac ficou imóvel. O rosto se transformou numa máscara, não transparecendo nada. Rose já estava arrependida por ter falado aquilo. Mas era tarde demais. Ele estava se aproximando com passos graciosos. Zac parou tão perto que ela teve de levantar a cabeça para olhá-lo. – Oh, significou alguma coisa, sim – murmurou ele em voz baixa.

O coração de Rose disparou. Ele ergueu uma mão e traçou seu queixo com um dedo, enviando fogo pelo corpo dela. O passado estava se aproximando perigosamente do presente... – Você quer saber o que significou? Rose assentiu, mesmo sabendo que não ia gostar da resposta. – Significou que você despertou meu interesse... que era exatamente o seu plano. O fato de que nós tivemos uma química mútua incrível apenas facilitou o seu trabalho. Rose abriu a boca para protestar novamente, mas Zac pôs um polegar

sobre seus lábios, impedindo-a de falar. Quando ele se aproximara tanto que seus corpos estavam se roçando? Rose não conseguia raciocinar... O polegar de Zac traçava seus lábios agora, e o olhar dele estava lá. Ardente. Desejoso. – Sabe o que também significou? Ela não conseguia se mover. Era como se ele estivesse falando sozinho. Então ele acrescentou: – Significou isto... Antes que Rose pudesse reagir, Zac envolvera sua cintura com o braço e estava cobrindo-lhe a boca com a sua. Quatro meses de desejo

contido fez Rose não hesitar por um segundo, correspondendo como se passado e presente tivessem se fundido, e houvesse somente essa... sensação abençoada de chegar em casa. ZAC SABIA que não pretendera beijar Rose por nenhuma razão, exceto para provar um ponto. Quando ela perguntara se o encontro deles tinha “significado alguma coisa”, se enchera de fúria. Ela ainda estava tentando enganá-lo... Mas, assim que seus lábios tocaram os dela, sua motivação foi esquecida, e sua libido muito

frustrada falou mais alto, procurando prazer e satisfação. Rose o abraçou pelo pescoço, trazendo o peito para mais perto do seu. Os seios dela estavam maiores? Ele ansiava por tocá-los, testar o peso e a firmeza. Sua mão levantou, subindo pelo quadril e cintura dela... E foi a evidência do corpo mais largo de Rose que o trouxe de volta à realidade. Não porque seu desejo diminuíra, mas porque aquela deveria ser uma lição, e ele estava arriscando perder tudo de novo. ZAC AFASTOU-SE de Rose tão abruptamente que ela arfou. Ela

abriu os olhos para descobri-lo parado a alguns metros de distância, olhando-a. Sua boca ainda estava aberta, seu sangue fervendo... mas, quando ela registrou que a figura de Zac estava impecável, sem um fio de cabelo fora do lugar, chamou-se de tola. Fechou a boca e cruzou os braços, detestando que sua respiração estivesse ofegante. Traindo sua fraqueza. – Por que fez isso? – perguntou ela. – Você perguntou o que “significou” a noite que nos conhecemos e nosso encontro subsequente. Significou que

tínhamos química física, pura e simplesmente. Que eu queria levá-la para minha cama. E que, embora eu estivesse inconsciente de seus planos, o resultado final teria sido o mesmo. – O resultado final...? – Sim. O resultado final é que nenhuma mulher tem uma posição fixa na minha vida... nem mesmo aquelas que lutam arduamente por isso. E nem mesmo aquelas que engravidam com o objetivo de enriquecerem às minhas custas. Ele sorriu então, mas o sorriso não foi verdadeiro. – Você é boa para uma garota inocente. Tenho de lhe dar esse crédito. Quem sabe? Talvez tenha

praticado muito. Talvez esse bebê nem seja meu... mas não vai a lugar algum até que eu tenha certeza. E, se a paternidade for confirmada, não se iluda. Ele, ou ela, será um Valenti. Força alguma na terra irá impedir isso. Essa criança não vai sofrer por causa de sua traição e ganância. Ela ficará sob a minha proteção, e a extensão de seu envolvimento será negociada comigo. Diante da declaração... da perspectiva do que aquilo podia significar... Rose sentiu o medo fechar sua garganta. Sentiu-se fraca e disse a si mesma que não era por causa daquele beijo. O sofá estava

roçando a traseira de seus joelhos e ela sentou-se. Tentou racionalizar, tranquilizarse. Ele não faria isso... Mas, ao estudar aqueles olhos azuis repletos de desgosto, ela soube que ele faria. Zac Valenti já mostrara ao mundo o que fazia com pessoas se opunham a ele. Expulsava-as de sua vida como uma doença contagiosa, sem o menor remorso. Era famoso por ter deixado a noiva no altar, sujeitando-a à humilhação pública. E aquela era uma mulher que nem mesmo o traíra. Rose sabia que ele faria muito pior com ela. Amargura a preencheu ao perceber que ele ainda duvidava que

fosse o pai do seu bebê. Considerando a ansiedade que ela sofrera nos últimos meses, e o excesso de trabalho que pegara a fim de melhorar as chances de o seu pai fazer a cirurgia, a ideia de ela ter tido outro amante era risível. No momento, sabia que não suportaria outra rodada de palavras ferinas, ou, pior, outra prova de que Zac não sentia nada por ela, beijando-a. Ele a beijara apenas para provar um ponto. O fato de ela ter se entregado tão facilmente a consumia. Talvez fosse melhor assim... Melhor ter descoberto quão distante ele estivera o tempo todo. Melhor do que tê-lo adivinhando o quanto

perder a virgindade para ele tinha significado para ela. Se ele soubesse disso um dia... O pensamento a fez suar frio. Ela levantou-se. – Se isso é tudo por hoje, eu estou cansada. Gostaria de ir dormir. – Isso não é tudo, na verdade. Rose o olhou e odiou-o naquele momento. – O que mais você quer? – Seu passaporte. Precisaremos apanhá-lo em sua casa no caminho para o aeroporto amanhã... juntamente com quaisquer itens pessoais que você queira levar. Rose balançou a cabeça, confusa. – Do que você está falando?

– Eu tenho negócios na Toscana. Ficaremos na Itália uns dez dias. Rose abriu a boca para protestar, mas Zac a interrompeu: – Isso não está aberto para negociação. Você irá comigo. Ela assistiu, boquiaberta, quando ele se virou e saiu andando. Mas, antes que Zac desaparecesse, virou-se novamente. – Há algumas refeições prontas na geladeira, preparadas por minha governanta. Sirva-se. – Estou surpresa que você vai me permitir comer – retrucou ela. – Certamente seria preferível se eu morresse e saísse da sua vida para sempre.

Zac bufou, e Rose imediatamente arrependeu-se de sua explosão infantil, mas estava cansada e faminta, e sentindo-se claustrofóbica diante do pensamento de ir a qualquer lugar com aquele homem. – Naturalmente, eu estou preocupado com seu bem-estar... presumindo que você está carregando meu filho, até que o contrário seja provado. E, para tal fim, marcarei o melhor ginecologista de Manhattan assim que retornarmos da Itália. Ele olhou-a de cima a baixo. – Pedirei que uma estilista envie algumas roupas para você, antes de partirmos.

Aquilo era demais. Irritada, Rose protestou: – Eu tenho muitas roupas. – Isso não era verdade, e suas roupas estavam começando a apertar na cintura. Ela ainda não tivera tempo de investir em roupas de maternidade. – Embora eu esteja tentando mantê-la longe da imprensa até que a paternidade do bebê seja confirmada, não posso garantir que o interesse irá acabar. E, enquanto seu nome estiver ligado ao meu, você parecerá adequada para a situação. Depois que ele partiu, Rose sentou-se no sofá como um peso morto. É claro que tudo com que Zac

se importava era com o bebê e com a aparência dela. Um homem que saía com supermodelos não queria ser visto com pessoas de padrão inferior. Rose pensou em seu pai então, perdida em todo aquele tumulto, e jurou telefonar-lhe assim que estivesse sozinha em seu quarto. Felizmente, ela não fizera planos de visitá-lo até mais perto da cirurgia. Ele acreditava que ela estava trabalhando e não queria atrapalhar seus turnos. Por mais que Rose quisesse ir até Zac agora e dizer-lhe que não iria a parte alguma com ele, sabia que não podia, pelas mesmas razões que lhe permitiram levá-la para lá. E, tinha

de admitir, a ideia de sair da órbita da sra. Lyndon-Holt era tentadora. Rose pôs uma mão protetora em sua barriga e fechou os olhos, assegurando-se de que superaria aquilo. Essas, afinal de contas, eram as consequências de suas ações, e ela precisava enfrentá-las. De alguma maneira. ZAC OLHOU para a silhueta da figura delgada contra a vista bucólica. O sol italiano do fim de verão estava glorioso, enviando raios dourados e vermelhos enquanto se punha no oeste. Uma brisa suave movia os cabelos de Rose, e Zac teve de

admitir que aquele era um cenário magnífico para a beleza dela. Rose estava de pé sobre um muro baixo de pedra... o perímetro de sua mansão na Toscana, o qual dava vista para quilômetros e quilômetros de campos montanhosos, não longe da cidade de Siena. Rose estava usando um dos trajes que ele mandara enviar para o apartamento, antes que eles deixassem Nova York. Os tecidos caros combinavam com ela. O jeans justo se agarrava às pernas delgadas como uma segunda pele. Os pés estavam calçados em sandálias de couro sem salto. E então, na parte superior do corpo – onde o traseiro

arrebitado e as costas delgadas não davam indicação que ela estava grávida –, um casaquinho de cashmere, que ela vestira por cima de uma blusa sem mangas, no avião. No momento em questão, Zac observara o tecido macio se moldar às curvas deleitosas. Seus dedos tinham coçado de vontade de tocá-la, e tudo em que ele pudera pensar era sobre quão difícil fora parar de beijála no dia anterior. Ela se curvara no assento ao seu lado, olhando pela janela como se nunca tivesse visto o mundo de cima antes. Mesmo depois que o avião se nivelara no ar. Irritado, Zac havia perguntado:

– Você nunca andou de avião? Ela o olhara. – Sim, mas eu nunca saí dos Estados Unidos. Ela falara aquilo em tom de desafio, e a consciência de Zac pesara. Então, Rose se virara novamente e o ignorara pelo resto do voo. Zac sabia que parte da sua irritação vinha do fato de que ela não estava se comportando como ele esperara. Em absoluto. E isso o deixava muito desconfiado... o que não era uma coisa ruim, considerando a maneira efetiva como ela o enganara. Ele

respirou

fundo

agora,

Ele respirou fundo agora, lembrando a si mesmo de que o que importava era a situação geral. Estivera tão concentrado em se livrar da sua família e formar sua fortuna nos últimos anos que nem sequer contemplara o que queria a longo prazo. Diante da perspectiva de um bebê, precisava contemplar. O que não era uma coisa ruim. Porque agora ele sabia o que queria acima de qualquer coisa: que o nome Valenti sobrevivesse e se fortalecesse novamente. Que fosse reconhecido como uma força. Podia não ter escolhido Rose O’Malley para ser a mãe de seu filho,

mas a conspiração lhe trouxera uma oportunidade de ouro, e Zac não a deixaria escapar... independentemente do plano secreto que Rose armara com sua avó. ROSE SABIA que Zac estava atrás dela, estudando-a. Podia quase ouvir o cérebro dele funcionando. Ela ficou feliz por ter alguns momentos para explorar sozinha o local. Deveria ter sabido que não demoraria muito antes que ele viesse checar sua hóspede inconveniente. Durante todo o voo para a Itália, Rose estivera consciente dos olhos de Zac sobre si. Era como se ele estivesse apenas

esperando que ela fizesse alguma coisa. Mas Rose não sabia o que era. A vista à sua frente era de tirar o fôlego. Seu pai sempre lhe dissera como a Irlanda era verde, mas aquilo era mais verde do que qualquer coisa que ela imaginara. O que fazia seu coração doer, porque sabia o quanto seu pai queria visitar sua terra natal novamente, para espalhar as cinzas de sua mãe. E, se a cirurgia não fosse bem-sucedida, isso teria de ser algo que ela faria, algum dia... Rose reprimiu os pensamentos negativos. Seu pai faria a cirurgia. Isso era tudo que importava. Era o que fazia essa situação valer a pena.

Zac descrevera esse lugar como uma “mansão”. Para Rose, todavia, parecia mais um castelo medieval. Um castelo enorme, com terraços, gramados e lindos jardins floridos. Havia até mesmo uma piscina num numa área isolada, e parecera deliciosamente convidativa. Zac parou ao seu lado agora, e todos os pelos do corpo de Rose se arrepiaram. Felizmente, o cashmere cobria seu peito e braços, escondendo a reação física. Ela não pôde evitar comentar: – Este lugar é lindo. – Sim, é. Rose o fitou. Enquanto ela estivera explorando a região, ele trocara o

terno que usara no avião por uma calça jeans desbotada e uma camiseta de mangas compridas, com as mangas erguidas para revelar antebraços fortes. Vê-lo assim, contra esse pano de fundo, era quase demais para absorver. Ela instantaneamente se sentiu deselegante, apesar das roupas novas. Zac estava recuando agora, dizendo: – Maria preparou um jantar leve. Nós comeremos no terraço... por aqui. Rose estava tão distraída pelo traseiro incrível no jeans que ele

quase sumira de vista antes que ela se mexesse. Um caminho ladeado por flores brilhantes levou a um terraço, onde uma mesa estava posta com toalha branca, um pequeno vaso de flores e velas. Uma mulher rechonchuda com um rosto sorridente segurou-lhe o braço e conduziu-a para a mesa, tagarelando num inglês precário. Rose a conhecera antes. Ela era Maria, a governanta. A mulher italiana tinha um jeito maternal carinhoso, e Rose se pegara à beira das lágrimas, lembrando-se de sua mãe. Ficara chocada ao ouvir Zac conversando com ela no que parecia italiano fluente.

Ele estava sentado à mesa agora, abrindo um guardanapo no colo, pegando uma fatia de pão e despejando azeite sobre ele. Parecia distante e, quando Rose se sentou e serviu-se de pão, disse: – Não se sinta obrigado a ser educado e jantar comigo. Eu teria ficado perfeitamente feliz em comer na cozinha com Maria. – Que certamente seria uma companhia mais agradável e não perturbaria seu equilíbrio. Zac deu-lhe um olhar severo. – Não banque a mártir. Não combina com você. E eu não deixarei que explore Maria, fazendo-a servir o

jantar em dois lugares apenas para que você fique mais confortável. Rose o olhou com raiva. – Isso não é justo. É claro que eu não pretendia explorar Maria. Naquele momento, Maria apareceu, levando o antepasto e sorrindo para Zac como uma mãe carinhosa. Zac sorriu de volta para Maria, e ver o rosto dele tão transformado roubou o ar do peito de Rose. Mas, assim que Maria se retirou, o sorriso desapareceu, e Zac ocupou-se com a comida. Olhou para o prato vazio dela. – Você não gosta de antepasto? Rose forçou-se a comer um pouco,

Rose forçou-se a comer um pouco, sabendo que não poderia deixar Zac arruinar seu apetite. Isso não era bom para o bebê. E, uma vez que ela provou a comida deliciosa, seu apetite se abriu imediatamente. Apesar de seu nível constante de tensão, Rose descobriu que estava relaxando, conforme a noite caía, trazendo o canto melódico dos pássaros nativos. O céu parecia de veludo, com fitas cor-de-rosa, e o ar estava quente e fragrante. Olhando para Zac agora, ela pensou que talvez ele tivesse nascido para isso. Ele parecia um verdadeiro italiano, e, pela primeira vez, Rose se

perguntou sobre a origem do rompimento entre ele e a família. – Em que tipo de negócios você está envolvido aqui na Itália? Soando distintamente relutante, ele respondeu após alguns segundos: – É uma mina aqui perto. Estava desativada, mas nós fizemos algumas explorações e descobrimos uma nova mina de ferro. Rose franziu o cenho. – Eu não sabia que você estava envolvido com a indústria... pensei que lidasse apenas com finanças e com negócios de hotéis e boates. Ele arqueou uma sobrancelha. – Há muita coisa que você não sabe sobre mim, Rose.

Zac estava certo... o que ela realmente sabia a seu respeito? Assustava-a pensar em quão facilmente confiara nele no começo. E ele apenas tivera de beijá-la no dia anterior para que ela começasse a se derreter de novo. Zac levantou-se abruptamente, pondo o guardanapo sobre a mesa. – Se me der licença, preciso fazer alguns telefonemas. E você deveria ir dormir cedo... parece cansada. Se Rose se sentira inferior mais cedo, agora se sentiu a criatura mais sem brilho do mundo. Duvidava que muitas mulheres tivessem coragem de aparecer na companhia de Zac

com uma aparência menos que deslumbrante. Ele estava indo embora, quando ela o chamou. – Presumo que eu devo ser vista, e não ouvida, pelos próximos dez dias? Zac virou-se, visivelmente tenso. – Não se preocupe, Rose. Eu não esquecerei que você está aqui. Ele se foi, e Rose murchou como uma bexiga, toda a tensão deixando seu corpo. Ela detestava estar sempre nervosa perto de Zac, quando ele mal a tolerava. Alguma coisa perigosa tocou suas emoções agora que ela não estava sendo observada. Se ao menos aquelas duas primeiras vezes com ele

não tivessem sido tão mágicas... se ao menos ela não tivesse ficado tentada a tomar o que ele estava oferecendo e se convencido de que tudo ficaria bem... Rose meneou a cabeça. Precisava parar de pensar assim. Não tinha arrependimentos. Pôs uma mão sobre a barriga e respirou fundo, tentando não deixar o sentimento de estar totalmente sozinha dominá-la. Recusava-se a ceder a tal vulnerabilidade. Metera-se nessa situação e deveria fazer o melhor possível dela.

CAPÍTULO 7

DURANTE

dias, Rose teve momentos quase agradáveis. Uma onda de exaustão parecera atingi-la depois da primeira noite, e ela passara a maior parte de seu tempo dormindo, tirando longas sestas durante a parte mais quente do dia. Então Maria levara-a ao vilarejo local no dia anterior, e Rose tinha adorado ver o mercado e as lojas de artesanato. TRÊS

Zac saíra e voltara à mansão, às

Zac saíra e voltara à mansão, às vezes usando um helicóptero, e não oferecera compartilhar outra refeição com Rose. Ela se acostumou a comer sozinha no terraço e dizia a si mesma que não se importava. Como poderia se importar? Estava num dos lugares mais incríveis do mundo e sendo tratada como uma princesa. Nadara na piscina mais cedo e estava deitada numa espreguiçadeira ao lado agora, tentando ler um livro que pegara de uma prateleira na confortável saleta. Outra coisa sobre essa casa era que não lembrava a decoração asceta do apartamento de Zac em Nova York. Ali era mais como um lar. Rose podia

imaginar uma família lá... crianças correndo pelos caminhos e jardins... Ela abaixou o livro e fechou os olhos, perdendo-se no devaneio por um momento, um sorriso inconsciente curvando seus lábios... ZAC ESTAVA parado na sombra de uma árvore perto da piscina. Rose estava reclinada numa espreguiçadeira, de biquíni. Apesar de ser um biquíni respeitável, seus olhos devoraram os membros delgados e os seios altos, como se ele nunca tivesse visto uma mulher seminua antes. Seu corpo enrijeceu num instante, e ele censurou-se por sua reação. Ela

nem mesmo estava tentando ser sexy. Estava com uma mão sobre a barriga, e Zac sentiu o louco impulso de aproximar-se e colocar sua mão ali, também, e... sentir por si mesmo? Ela já conseguia sentir o bebê chutando? Num esforço de reprimir o desejo, ele ergueu os olhos para o rosto dela e viu o sorriso estampado ali. Vinha sentindo culpa por tê-la deixado sozinha nos últimos três dias. Culpa ridícula. Ela só estava lá porque ele queria ficar de olho nela. Ademais, estava em meio ao luxo. Maria, que era claramente fã de Rose, parecia pensar que era seu dever dar a ele um relatório das atividades de Rose. Então ele sabia

que ela vinha dormindo muito. E que havia ido ao mercado e adorado o passeio. E lá estava ela agora, com um sorriso enigmático nos lábios. Zac lutou contra o que parecia ser um sentimento de ciúme daquele sorriso ou do que o estivesse causando. Por que ela não sorriria?, racionalizou. Ela tirara a sorte grande, exatamente como planejara. Tinha o bebê dele na barriga, e nada nunca mais lhe faltaria. Exceto que, no momento, Rose não parecia uma manipuladora demoníaca, e sim a criatura misteriosa de que Zac gostara quando a conhecera.

Como se ouvindo seus pensamentos, Rose virou a cabeça e abriu os olhos, os quais encontraram os dele. O sorriso desapareceu imediatamente. – Eu não ouvi você. Zac saiu das sombras e viu Rose pegar um roupão curto e colocar em volta de si mesma. – Nada que eu não tenha visto antes – disse ele. Ela enrubesceu. Como ela ainda conseguia projetar tanta inocência, quando a evidência de sua traição era clara como o dia? Alguma coisa sobre o sorriso enigmático que estivera no rosto de

Rose momentos atrás o fez querer testá-la. – Eu irei à mina, verificar o progresso lá. Você pode ir comigo, se quiser. Ele se arrependeu do impulso assim que falou as palavras. A mina não era lugar para uma mulher... muito menos uma mulher grávida. Mas ela o fitava com aqueles olhos grandes, e algo nas profundezas verdes o impediu de retirar o convite. – Verdade? Essa era a última resposta que Zac esperara. A maioria das mulheres que Zac conhecia correria quilômetros de qualquer coisa que parecesse tediosa

ou relacionada a trabalho, mas Rose parecia excitada. Tardiamente, ele tentou fazê-la mudar de ideia. – Não é tão interessante assim. É sujo e empoeirado... – Eu não ligo... mas não quero atrapalhar você. Sentindo-se confuso agora, mas também querendo ver quão longe ela iria antes de desistir, Zac replicou: – Você não vai me atrapalhar. Ela levantou-se rapidamente. – Eu vou trocar de roupa. – Vista algo prático... como jeans e camisa de manga comprida. Foi somente quando Zac estava esperando pelo retorno de Rose que

ele percebeu que a excitação percorria seu sangue. Tentou suprimir o sentimento, dizendo a si mesmo que não era porque ela iria acompanhá-lo à mina. Estava apenas testando-a. Nada mais. E estava intrigado para ver quanto tempo duraria o interesse de Rose. Sem dúvida, ela só estava procurando uma oportunidade de lhe pedir um favor. Mas, então, ela emergiu minutos depois, com um jeans desbotado, tênis e uma camisa leve de mangas longas, os cabelos presos num rabo de cavalo e uma expressão ansiosa no rosto, perguntando: –

Está

bom

assim?



E,

– Está bom assim? – E, subitamente, Zac não tinha mais certeza de nada. Exceto da onda de calor em seu corpo. Com a voz rouca, respondeu: – Está bom. Iremos no jipe. ROSE ACOMODOU-SE no banco de passageiro, sentindo-se ridiculamente animada pelo convite de Zac. Esperava que não parecesse um cachorrinho ansioso, suplicando por afeição. Zac dirigia o jipe com a mesma confiança que fazia tudo mais. Rápido, porém não rápido demais. Suave. A paisagem campestre em volta era espetacular.

– Eu não acredito que há minas aqui – comentou ela. – Parece uma pena tão grande estragar este cenário. Zac deu um pequeno sorriso. – Creio que a população da área acha que destruir um pouco o cenário vale os benefícios de ter uma indústria local. Rose nunca se sentira mais consciente de ter estudado somente até o Ensino Médio. Corou com embaraço. – Bem, é claro. Eu não quis dizer... – Sei o que você quis dizer – interrompeu Zac. – Eu concordo... parece mesmo um pecado interferir nesta vista. Esta é uma das poucas minas que ainda está funcionando...

a maioria foi esvaziada. É raro achar uma fonte inexplorada de minerais brutos. Ele a fitou então, mas Rose continuou olhando à frente, reconhecendo que parecia estar havendo uma trégua nas hostilidades. Ela não queria falar nada que provocasse a língua ferina de Zac novamente. Então ele a surpreendeu, perguntando: – Como você está se sentindo... com a gravidez? Nós não falamos sobre isso. Você tem enjoos matinais? Rose olhou-o brevemente, então levou uma mão à barriga.

– Estou ótima, felizmente. Só tive enjoos nos primeiros dois meses, depois passou. De vez em quando, se eu sinto um cheiro muito forte, fico levemente enjoada. E, na minha última consulta, minha médica disse que tudo parece bem. Mas preciso fazer um ultrassom por volta da vigésima semana. – Eu tenho um ginecologista local de plantão, se você precisar de alguma coisa. E o hospital em Siena fica a uma curta distância de helicóptero. Rose sentiu-se estranhamente tocada ao saber que ele organizara aquilo. Até que pensou que a preocupação de Zac se devia ao

futuro herdeiro, o qual parecia importar a ele tanto quanto à mãe dele. Ela ainda não sabia o que causara a discórdia entre eles e imaginou se algum dia saberia. Uma coisa que ela notara no vilarejo no dia anterior lhe veio à mente, mas, embora Zac estivesse sendo educado agora, Rose não queria pressioná-lo, perguntando sobre assuntos pessoais. – Obrigada... isso é tranquilizador. Mas tenho certeza de que não precisarei usar o hospital aqui. O resto do trajeto foi feito num silêncio surpreendentemente fácil, enquanto Rose observava as montanhas, cujo verde foi

diminuindo gradualmente. Uma enorme entrada de pedra se aproximou, e Zac atravessou um portão, acenando para um guarda que inclinou o chapéu para ele. Eles seguiram um caminho sinuoso para uma ravina profunda, onde aberturas e túneis eram visíveis. Rose tremeu diante do pensamento de descer numa mina escura dentro da terra. Acima do solo, o lugar parecia abandonado, mas Rose estava fascinada em pensar nas riquezas que eram obviamente extraídas da terra. Seguiu Zac para fora do jipe, e ele a conduziu para um grande escritório Portakabin, onde lhe deu uma

jaqueta de alta visibilidade sem mangas, um capacete e uma máscara para cobrir a boca. Ela o olhou, e ele disse: – Isso provavelmente não é necessário, mas não vou correr riscos. É claro. O bebê. Rose pôs a máscara e seguiu-o para fora. Zac estava conversando com um capataz e olhando em volta da pedreira. Ele apresentou-a para o homem, e ela desceu a máscara momentaneamente para cumprimentá-lo... apenas para que Zac fizesse uma carranca e cobrisse sua boca com a máscara novamente.

A boca de Rose formigou onde ele tocara, e ela amaldiçoou sua reação. E se ele a beijasse de novo? O pensamento a fez tropeçar, no caminho que eles percorriam, mas braços fortes a envolveram tão rapidamente que ela não conseguiu respirar. Rose afastou-se do abraço, murmurando, sem fôlego: – Estou bem. Ficou grata pela máscara agora, sentindo seu rosto queimar. Ela fez o possível para ignorar sua reação, enquanto eles continuavam o tour pela pedreira. Rose ficou tocada quando o capataz falou em inglês, obviamente para que ela pudesse

entender o que ele estava dizendo. E todos que eles encontravam cumprimentavam Zac com uma deferência mais adequada a um nobre. Quando ela ficou para trás em um ponto, olhando para um dos poços cavernosos abaixo com fascinação, outro homem de terno parou para esperá-la. Ele lhe fez algumas perguntas educadas, depois contou: – Esta região estava tendo uma morte lenta, até que o signor Valenti voltou e investiu na mina. Nós todos sabíamos que havia a possibilidade de mais minas, mas ele foi o único que se importou o bastante para investir. Foi um grande risco, mas

valeu a pena, e o povo lhe agradece por isso. O homem foi chamado por alguém antes que pudesse continuar, e agora Rose estava mais intrigada do que nunca. O que teria induzido Zac a arriscar investindo numa mina na Toscana, quando a indústria praticamente morrera? Ele estava andando na sua direção agora, e o coração de Rose disparou. Ele era tão lindo! – Acabei aqui. Podemos ir agora. Rose consultou o relógio e ficou surpresa ao ver que duas horas tinham se passado. Estivera tão envolvida com aquele lugar

interessante que não percebera o tempo passar. Eles devolveram suas jaquetas e capacetes e, quando estavam de volta no jipe, Rose falou: – Obrigada por ter me trazido. Eu adorei conhecer o lugar. Zac arqueou uma sobrancelha desconfiada. Rose escolheu ignorar o óbvio ceticismo dele e perguntou: – É para cá que você tem vindo desde que nós chegamos? Olhando para a estrada à frente, ele respondeu: – Para cá e também para Siena. Vou abrir um novo hotel lá em alguns meses. – Uau. Você está realmente

– Uau. Você está realmente marcando seu território. Antes que Zac pudesse responder, o telefone tocou no carro. – Você se importa se eu atender? É importante. – Em absoluto – replicou ela. Ele atendeu a ligação e falou em italiano rápido. Rose não entendeu uma palavra, mas gostou de ouvir a voz profunda parecendo melódica na língua estrangeira. E, quando uma onda de cansaço a preencheu, ela curvou-se de lado e fechou os olhos... Apenas por alguns minutos, prometeu a si mesma. Rose acordou ao som de uma batida gentil à porta. Sentou-se e

percebeu que estava na sua cama. Desorientada, murmurou: – Entre. Maria abriu a porta e anunciou em seu inglês cuidadoso: – Signor Zac está no terraço... jantar em dez minutos. Rose agradeceu e Maria saiu. Então, ela lembrou-se de ter fechado os olhos no jipe, pensando em descansar por alguns minutos, enquanto Zac estava ao telefone... mas devia ter dormido profundamente... Como chegara ao seu quarto e a sua cama? A percepção de que Zac, sem dúvida, a carregara... Oh, Deus, ele provavelmente pensara que ela

fingira estar dormindo para seduzi-lo em seu quarto. Ela levantou-se e trocou de roupa, escolhendo um vestido azul-marinho na altura dos joelhos e sandálias de salto baixo. Lavou o rosto para despertar, aplicou uma maquiagem leve e escovou os cabelos. Então, censurou-se. O que estava fazendo, se arrumando para um homem que mal tolerava sua presença? Enquanto andava para o terraço, perguntou-se por que Zac faria uma refeição na sua companhia e também percebeu que o vestido estava colado demais as suas curvas,

principalmente aos seus seios, que já estavam um número maior. Mas, a essas alturas, ela estava muito perto, e Zac já a vira, levantando-se. Rose forçou um sorriso. – Desculpe. Eu não pretendia dormir daquele jeito. Deve ter sido como carregar um saco de pedras para dentro da casa. Zac olhou-a com um brilho nos olhos que causou um friozinho na barriga de Rose. – Não foi incômodo algum. – Então ele franziu o cenho. – Mas tem certeza de que você está bem? É normal dormir assim? Eu quase chamei o médico.

Rose quase tropeçou ao chegar à cadeira. Ele ficara preocupado? Ela meneou a cabeça. – Não, é perfeitamente normal, segundo minha médica. Fadiga na gravidez pode ser muito debilitante, mas eu me sinto bem agora. Na verdade, seu sangue estava fervendo, e ela se sentia mais viva do que se sentira em meses. A médica também lhe dissera que talvez seu desejo sexual aumentasse quando ela chegasse ao terceiro trimestre. Desnecessário dizer que isso tinha sido a última coisa na mente de Rose na época, mas agora ela entendia o aviso. Zac serviu-lhe um copo de água

Zac serviu-lhe um copo de água com gás. Depois, sentou-se e deu um gole do vinho, observando-a. Felizmente, Maria chegou com o primeiro prato, dissipando um pouco da tensão. Enquanto eles tomavam a deliciosa sopa de entrada, Rose disse a si mesma que estava sendo ridícula ao pensar que vira alguma coisa nos olhos de Zac quando chegara. Eram apenas seus hormônios e pensamentos desejosos. Pensamentos perigosos. Enquanto saboreava o prato principal, Rose lembrou-se de Zac encontrando-a perto da piscina mais cedo naquele dia e do jeito intenso

como ele a olhara. Novamente, ela tivera a sensação de que ele estava esperando que ela fizesse alguma coisa. Sentiu-se envergonhada ao se lembrar de seu devaneio... uma família morando naquela casa linda, preenchida com sons de risadas... Detestou que ele a observara naqueles momentos privados... E, simplesmente assim, seu apetite desapareceu. Ela abaixou os talheres. Zac imediatamente perguntou: – Não está com fome? Rose forçou-se a ser educada. – A comida de Maria é sublime... mas eu não como muito desde que minha mãe morreu.

– Quantos anos você tinha quando ela morreu? – Catorze. Ela lutou contra o câncer por quatro anos... A verdade era que o plano de saúde deles não tinha sido suficiente para garantir o melhor tratamento para sua mãe. As listas de espera que ela tivera de enfrentar haviam feito a doença ganhar força e triunfar. Motivo pelo qual Rose tivera tanto medo em relação à doença de seu pai, imaginando que a mesma coisa aconteceria... Zac a trouxe de volta ao presente. – E seu pai? Rose ficou tensa. Detestava continuar enganando-o. Respondeu

de forma vaga: – Ele está em Nova York. – Irmãos e irmãs? Rose meneou a cabeça, evitando olhá-lo. – Não, somente eu. – Deve ter sido difícil, depois que sua mãe morreu. Ela o fitou agora, surpresa. – Sim, foi. Meus pais eram muito devotados um ao outro... a perda quase destruiu meu pai... mas ele precisava pensar em mim. Seu pai perdera parte de sua alma quando a amada esposa morrera. Sentindo-se emotiva e percebendo que a conversa estava indo em

direção a áreas perigosas, Rose tentou distraí-lo com outro assunto. – Quando eu fui ao mercado com Maria ontem, visitei a igreja local. – Para pedir perdão por seus pecados? Rose conteve a vontade de morder a isca. Em vez disso, ignorou o comentário e disse: – Minha mãe era religiosa, e eu me acostumei a ir a igrejas com ela, onde ela acendia velas para problemas de diversos amigos. – Ela continuou rapidamente, no caso de Zac querer provocá-la com outro comentário ferino: – Há um bonito cemitério perto da igreja, então eu fui dar uma olhada e notei que Valenti parece ser

um nome muito proeminente aqui... Estava por todo o cemitério, na verdade... o nome de família mais comum... Ela parou quando viu a mão de Zac apertando a taça de vinho. Também notou que ele empalidecera. Subitamente, ele se levantou, a cadeira fazendo um barulho alto no terraço de pedra. Perplexa pela reação dele, Rose falou de modo hesitante: – Zac...? Ela levantou-se e andou para onde ele estava parado, olhando para o campo. A luz do crepúsculo os cercava. Rose sentiu que tinha se

intrometido em algo extremamente privado. Olhou para o perfil forte. E então, antes que ele falasse qualquer coisa, ela entendeu. Por isso, ele parecia tão à vontade lá e falava italiano fluente. Zac era de lá. Aquela era a sua terra. Ela podia ver isso agora, estampado nas feições orgulhosas dele. – Eles são seus parentes... Mas como...? Um músculo saltou no maxilar de Zac, mas finalmente ele disse: – Meu pai. Ele era Luca Valenti. Nascido e criado aqui no vilarejo. Ele trabalhou na mina local até emigrar para Nova York, quando tinha 25 anos, procurando uma vida melhor.

Rose franziu o cenho, não compreendendo. – Mas seus pais... Quero dizer, sua mãe... ela é... Ele interrompeu, olhando-a agora. – Ela não é quem você pensa. Jocelyn Lyndon-Holt é minha avó... não minha mãe. – Mas como? – Rose capturou o olhar seco de Zac e acrescentou: – Bem, obviamente sua mãe deve ter sido... – Filha dela. A única filha dela. Simone Lyndon-Holt. Rose percebeu então que nunca pensara por que Zac adotara o nome Valenti. Ela fora trabalhar na casa Lyndon-Holt logo depois que ele

partira e tinha vagas memórias das afirmações da imprensa, à época, de que ele inventara o nome. Mas era seu nome de verdade. – Mas como sua mãe conheceu seu pai, se ele era...? – Um imigrante? – suprimiu Zac em tom amargo. Rose assentiu. Ela era filha de imigrantes, então não falara de modo ofensivo. Ele suspirou, claramente relutante em falar sobre aquilo. Mas Rose estava muito ávida por informações para lhe dizer que não precisava continuar. Essa, estava descobrindo, era a herança de seu filho. – Meu pai conheceu minha mãe

– Meu pai conheceu minha mãe quando ele foi contratado para trabalhar nos jardins da casa. Ela tinha 21 anos e estava prometida em casamento para um homem de uma família de posição similar. Ela se rebelou, depois de uma vida sendo criada naquele mausoléu, e, após conhecer meu pai, ela rompeu o noivado. O tom amargo de Zac disse a Rose que ele não estava falando apenas sobre a experiência da mãe. – O caso deles foi apaixonante, e meu pai encorajou minha mãe a fugir com ele... o que ela fez. Eles se casaram em Nova York e, quando voltaram, ela estava grávida de mim.

Com o coração disparado de medo, Rose percebeu que queria saber mais e, ao mesmo tempo, não queria, porque sentia que aquilo não seria bom. – Quando eles voltaram para confrontar meus avós... para lhes apresentar um fato consumado... meu avô, que ainda era vivo na época, disse a minha mãe que ela morrera para eles e que, se ela atravessasse a soleira novamente, eles se certificariam de expulsar meu pai do país, expondo-o por não ter um visto válido de trabalho. Desnecessário dizer que eles a deserdaram completamente. Zac olhou para Rose por um

Zac olhou para Rose por um momento, antes de desviar o olhar. – Meu pai queria trazer minha mãe de volta para cá, para a Itália, mas a gravidez dela era difícil, então eles tiveram de ficar em Nova York para garantir a segurança dela... e a minha. Rose imaginou se era por isso que Zac se certificara de ter acesso a médicos e hospital e por que estava preocupado com seu bem-estar. Ele continuou: – As coisas se complicaram. Meu pai sofria cada vez mais pressão para ganhar dinheiro e sustentá-los. Ele tinha quatro empregos em determinado momento, e foi

enquanto estava num trabalho de construção que se envolveu num acidente. Rose arfou. – Ele foi levado ao hospital, mas não tinha um documento de identificação consigo, e mal estava consciente. Entrou em coma e levou uma semana antes que minha mãe conseguisse achá-lo. O choque a fez entrar em trabalho de parto prematuro, e no momento que eu nasci... um mês antes da hora... meu pai havia morrido. Rose pôs a mão na boca, como se pudesse conter o choque que sentiu. A voz de Zac era desprovida de emoção agora.

– Minha mãe estava pobre... sem o apoio dos pais e sem qualquer qualificação para trabalhar. Em seu desespero, ela fez a única coisa que sentiu que podia fazer. Levou-me aos meus avós e pediu-lhes que cuidassem de mim. Eles disseram que ficariam comigo com uma condição: se ela partisse e nunca mais voltasse. – Oh, Meu Deus... Zac... Mas ele continuou: – Tudo que importava a eles era ter um herdeiro do sexo masculino. Minha avó só tivera uma filha... minha mãe... e meu avô nunca a perdoara por isso; então, eles agarraram a oportunidade de

restaurar o equilíbrio quando puderam. Zac inspirou fundo, então prosseguiu: – Minha mãe partiu naquele dia e, uma semana depois, o corpo dela foi encontrado nas águas do East River. Meus avós haviam mantido o desaparecimento dela em segredo, de alguma maneira, e a morte de minha mãe mal foi mencionada nos jornais. O escândalo foi absorvido na sociedade de Manhattan e escondido... como inúmeros outros escândalos. Eu fui aceito como filho deles... como se fosse normal um casal beirando os 50 anos surgir com um bebê do nada! Enquanto eu

crescia, ouvi conversas sobre uma irmã mais velha que cometera suicídio, mas nunca soube quem ela era realmente. Ele olhou para Rose e continuou: – Anos mais tarde, na manhã que eu ia me casar, uma mulher foi me visitar... ela era uma velha amiga dos meus pais... alguém que morara no mesmo prédio deles. Ela ficara grávida na mesma época que minha mãe... E me contou tudo, e também que minha mãe a procurara depois de ter me deixado com meus avós, arrasada, mas sabendo que tinha feito a única coisa possível para garantir minha segurança e meu futuro. Ela fizera essa amiga

prometer que ficaria de olho em mim e no meu progresso, e, um dia, quando ela sentisse que era a hora certa, deveria me contar a verdade. Quando eu confrontei meus avós, eles nem sequer negaram a história. Zac fez uma pausa, e Rose perguntou: – Por que você nunca tornou isso público? – Eu disse aos meus avós que, se eles me deixassem seguir com minha própria vida, cortando todos os laços, então eu não revelaria a verdade ao mundo. Na época, adotar o nome de meu pai era o suficiente para mim. Rose se condoeu dele. Queria tocálo, mas ele parecia tão distante.

– Sinto muito – murmurou ela. – Seus pais não mereciam isso, e nem você. Ele a olhou com incerteza. – Oh, eu não sei... Tive uma criação privilegiada, nada me faltou. Todas as oportunidades me foram oferecidas. Havia até mesmo uma conversa sobre eu me candidatar na política num futuro distante... estava tudo mapeado. O sarcasmo dele feriu Rose, e ela disse em voz baixa: – Eu sei que não pode ter sido fácil... do contrário, por que você teria partido assim que descobriu? Zac virou-se para encará-la de frente agora.

– Você não pode imaginar como foi. Eu só lhe contei isso porque quero que entenda o que está por trás da minha determinação de criar esta criança como um Valenti. Nada irá me deter, Rose. Após um longo momento, ele virou-se, andou para a mesa, bebeu o que restava em sua taça de vinho e deixou o terraço. Rose abraçou a si mesma e pensou: Eu sei como é, na verdade. Ela vivera naquela casa, também, embora nos aposentos dos funcionários, e apenas enquanto estava trabalhando. Podia imaginar muito bem o que aquele ambiente frio devia ter feito com uma criança que carregava os genes

de seu pai italiano, mas nem sabia disso. E, claramente, Zac a via como outra parte da traição dos pais. Rose abaixou a mão para sua barriga, emoção a dominando. Como poderia negar a essa criança seu verdadeiro direito de primogenitura? Depois de tudo que Zac acabara de lhe contar? A reação dele diante da notícia de um bebê não era surpreendente. Rose nunca se sentira tão impotente na vida, ou tão sozinha. Queria desesperadamente ser capaz de fazer a coisa certa... mas como?

CAPÍTULO 8

ENQUANTO ZAC entrava na mansão na noite seguinte, depois de um dia no hotel em Siena, estava lutando contra emoções que nunca experimentara antes. A primeira delas era arrependimento... por ter se aberto tanto com Rose na noite anterior. Poucas pessoas sabiam a verdade sobre sua herança, e agora ela era uma delas. Justamente Rose, que

mais tinha o potencial de prejudicálo. Mas ele fora pego de surpresa quando ela mencionara que o nome Valenti era um nome comum da região. E quem ia passear num cemitério, de qualquer forma? Rose. A mulher que continuava misteriosa, mostrando diferentes facetas e recusando-se a se comportar como ele esperava. A emoção nos olhos verdes na noite anterior o tocara fundo, lembrando-o daquela primeira noite, quando ela o olhara com desejo. Mas então ela o deixara. Era tudo parte de um ato, disse a si mesmo. Durante aqueles dois

encontros, ela soubera o que estava fazendo e quem ele era. E estava fazendo isso de novo. Uma vez que ela descobrira que estava grávida, poderia ter tentado fugir dele em Manhattan e procurado refúgio com sua avó, mas Rose não fizera isso. Tinha ido até ele, quando ele mandara buscá-la, e estava ali agora. Ela era esperta o bastante para tentar mantê-lo ao seu lado. Ou, talvez, isso fosse algo que Rose e sua avó haviam combinado... Ele reprimiu o arrependimento por ter se aberto. Era bom que ela soubesse que nada o impediria de manter esta criança longe da herança

venenosa Lyndon-Holt. Ela passaria o recado para sua avó. Zac parou diante da piscina e ficou irritado ao ver que estava vazia. Já procurara Rose em todos os lugares possíveis da casa. Onde ela estava? Um barulho metálico subitamente veio da área da cozinha, seguido por um palavrão. Zac seguiu o som. Ele estava intrigado porque sabia que era a noite de folga de Maria. Quando ele parou à porta da cozinha, uma onda de pura luxúria explodiu em seu plexo solar. Rose estava descalça e usando um vestido florido solto na altura dos joelhos. As faces estavam coradas pelo exercício. Os cabelos estavam

presos, mas mechas escapavam e colavam à pele visivelmente úmida. E tudo que Zac queria era erguê-la sobre a mesa da cozinha, despi-la do vestido, enterrar sua ereção dolorida naquele centro apertado e, finalmente, encontrar sua liberação. Seu corpo gritava de desejo. Ele enrijeceu o maxilar, para recobrar o controle. Então, finalmente registrou outras coisas: um cheiro delicioso de comida e o fato de que Rose estava segurando a mão embaixo da torneira. Assim que ele percebeu que ela se machucara, estava ao seu lado num instante, pegando-lhe a mão e olhando para a mancha vermelha.

– O que aconteceu? – demandou ele. – O que você estava fazendo aqui? ASSUSTADA DIANTE da proximidade repentina de Zac, Rose puxou sua mão machucada e colocou-a debaixo da água fria novamente. – Queimei a mão numa assadeira. Eu estava fazendo jantar... Maria me deixou instruções. Rose não estava preparada para ver Zac assim. Estivera vacilando o dia inteiro entre dizer a si mesma que tinha de ser honesta com ele agora, depois do que ele revelara, e lembrar que assinara o contrato e que as

consequências de o violar podiam ser perigosas para seu pai. Não podia confiar em Zac... Ele a odiava. Por que ele não aproveitaria uma oportunidade de puni-la, permitindo que o pai dela sofresse? Embora, no fundo, Rose não acreditasse que ele fosse capaz de ferir uma pessoa inocente, o risco era muito grande. – Maria deixou o jantar por sua conta? Ela geralmente deixa comida na geladeira. – Eu disse a ela que cuidaria do jantar. Queria experimentar uma receita de lasanha. Rose sentiu-se embaraçada agora, como se fosse óbvio que ela estivera

devaneando, fingindo que aquela era sua casa, e ela estava cozinhando para pessoas que a amavam. Aquela não era sua casa e nunca seria. – Como está sua mão? Ela tirou a não debaixo da água e fechou a torneira. – Vai ficar boa. A lasanha está quase pronta, se você quiser um pouco... – Eu não a trouxe aqui para ser minha cozinheira, Rose. Ela envolveu a mão num pano de prato úmido e o olhou, detestando o efeito que Zac lhe causava. – Eu sei exatamente por que estou aqui, Zac. Gosto de cozinhar e estava

fazendo jantar para mim... e para você, caso quisesse. Os olhos azuis a percorreram, e ela sentiu sua pele arrepiar. Então, ele afastou-se, quase como se alguma coisa sobre ela fosse contagiosa. Sem dúvida, sua figura não era agradável: descalça, suada, cheirando a comida... Eu tenho ingressos para a ópera em Siena esta noite. Você come, e nós sairemos em uma hora. Rose abriu a boca para rejeitar o convite... ou melhor, a ordem... mas ele se retirou antes que ela pudesse responder. Então ela pensou: Por que não? Por alguma razão, Zac estava lhe oferecendo uma noite na ópera.

Ela não perderia a chance de sair e ver mais daquele país incrível. Quanto ao seu devaneio de cozinhar para pessoas amadas? Bem, cozinhar para uma só pessoa não era tão ruim, e o resto da lasanha poderia ser congelado. O fato de que isso trouxera memórias dolorosas do período após a morte de sua mãe, quando seu pai trabalhara até tarde para evitar voltar para a casa que o lembrava da ausência da esposa, não foi tão bemvindo. Porque Zac Valenti era a última pessoa com quem ela deveria desejar ter algum tipo de conexão.

ZAC

ESPERARA

recobrar o equilíbrio

ZAC ESPERARA recobrar o equilíbrio uma vez que saíra da cozinha e se distanciara do delicioso cheiro de comida caseira e da imagem tentadora de Rose brilhando com um tipo de domesticidade erótica que ele nunca encontrara antes. Ele lembrava-se de ter entrado na cozinha da casa de seus avós um dia, quando tinha por volta de seis anos, e olhado em volta do lugar repleto de cheiros deliciosos, pessoas e coisas. Até que sua babá lhe dera uma bronca por estar lá. Aquela havia sido a primeira vez que ele vira uma cozinha. O fato de Rose despertar uma fantasia reprimida sobre cozinha era

extremamente perturbador. Ele apenas a convidara para a ópera para destruir a imagem dela na cozinha. Qualquer coisa para colocála de volta num ambiente onde ele se sentiria mais no controle. Todavia, apesar de seus esforços, um pouco do controle lhe escapava. Rose estava sentada do seu lado na seção VIP da casa de ópera de Siena. O teatro passara por uma grande reforma ultimamente... graças a um investimento seu... e agora o teto era aberto, e a lua iluminava o palco enquanto a ópera Tosca era representada. Rose estava usando um vestido preto de seda. O decote era redondo,

mostrando uma boa parte de pele alva sedosa, então caía abaixo do busto até o chão. Mangas bem curtas revelavam braços bem torneados. Em qualquer outra mulher, Zac teria suspeitado que se deviam a horas numa academia, mas sabia que ela ganhara os músculos de horas de trabalho manual. Pela primeira vez, Zac teve de admitir entender um pouquinho do porquê alguém como Rose agarraria uma chance de sair de sua situação. Entretanto, ele ainda não vira evidência de alguém que fosse muito gananciosa. Ela se recusava a lhe contar qualquer coisa sobre o acordo que

fizera com sua avó, portanto Zac não sabia o que sua avó prometera a ela. Se Rose lhe contasse, ele poderia negociar. Por outro lado, se ela quisesse colocá-lo contra Jocelyn, não teria lhe contado tudo? Talvez Rose tivesse recebido uma quantia tão grande de dinheiro que acreditava que ele não poderia cobrir? Tais incertezas o irritavam profundamente, porque ele não gostava de lidar com o desconhecido. E pior do que suas dúvidas era a consciência que tinha dela. Aquele aroma... aquelas curvas, mais pronunciadas com a gravidez. E essa coisa primitiva que ele sentia... cada

vez mais forte quando ele via a barriga de Rose. Meu. Isso o lembrara da noite que ele lhe tirara a inocência... quando quisera marcá-la como sua. Foi somente quando Zac viu Rose aplaudindo entusiasticamente que ele percebeu que perdera toda a apresentação, porque estivera tão fixado nela. Novamente. ROSE ESTIVERA tão perdida na linda apresentação ao ar livre que quase fora capaz de bloquear o homem ao seu lado. Quase. Mas, de vez em quando, uma coxa grossa roçava a sua, ou seus cotovelos se conectavam. O aroma másculo de Zac penetrara

suas narinas em diversos momentos, causando-lhe ondas desejo. Todos estavam de pé agora, e se movendo, e Rose sentia-se embraçada pela emoção que a pegara desprevenida. Ela levantou-se e evitou os olhos astutos de Zac. Enquanto eles saíam para a rua no meio da multidão, alguém pisou no vestido de Rose, e ela tropeçou para trás, dando um gritinho de susto. Zac firmou-a, puxando-a para seus braços. O homem que pisara no seu vestido se desculpou, e Rose sorriu, mais abalada pelo homem a segurando do que por sua quase queda. Ele continuou abraçando-a. Rose

Ele continuou abraçando-a. Rose estava em chamas... cada curva pressionada contra aquele corpo sólido. Por que ele não estava se afastando, soltando-a? Logo, ele perceberia o quanto ela o desejava, e Rose não suportaria essa humilhação de novo. Ela tentou recuar, mas ele apenas a apertou mais. Foi quando ela sentiu a inconfundível ereção pressionada contra sua barriga. Arregalou os olhos, quando adrenalina bombeou seu sangue. Zac falou ironicamente: – Não pareça tão chocada. Não é como se você ainda fosse inocente. A memória daquele beijo voltou...

A memória daquele beijo voltou... o jeito como ele parecera tão frio depois, tão composto, enquanto ela estivera terrivelmente exposta em seu desejo. – Mas eu... pensei que você não... – Acho que a evidência fala por si mesma. Ele se moveu de leve, e Rose quase gemeu, mal ouvindo a admissão dele. Sabia que ele não gostava de sentir-se daquela maneira. Isso era óbvio, pela expressão carrancuda de Zac. E foi o bastante para fazê-la se libertar e descer os degraus apressadamente. Zac a alcançou, todavia, e pegou sua mão, mantendo-a do seu lado. Eles andaram em silêncio até onde

um chofer os esperava para levá-los de volta até o local em que o helicóptero aterrissara mais cedo. Dentro do helicóptero, Zac prendeu Rose ao assento, as mãos grandes roçando contra seus seios sensíveis. Ela mordeu forte o lábio... e ele quando ela o fez. Zac usou o polegar para liberar o lábio dela, esfregandoo em seguida. Sentindo uma pulsação entre as pernas, ela observou Zac rodeá-la e sentar ao seu lado. Ele não a olhou de novo, mas Rose teve a estranha sensação de que um diálogo silencioso acontecera entre eles, e ela concordara... com o quê?

Temia que soubesse, por mais que quisesse negar aquilo. A resposta estava em todas as zonas erógenas que pulsavam em seu corpo. A ansiedade a preencheu quando o helicóptero pousou no terreno da mansão, e Rose desesperadamente tentou recobrar o controle do seu corpo. Porque sabia que, assim que eles descessem, Zac a olharia com expressão desdenhosa, e ela teria feito papel de tola. Novamente. Não importava o que o corpo dele tivesse dito. O silêncio de Zac e a velocidade na qual ele dirigiu o jipe de volta para a casa pareceram apenas confirmar a

suspeita de Rose de que ele a queria fora de sua vista assim que possível. Quando eles pararam, ela quase caiu do jipe. Estava ansiosa para colocar distância entre eles, antes que ele visse seu nervosismo. Estava quase dentro da casa, quando Zac falou atrás dela: – Aonde você pensa que vai? Ela virou-se lentamente para ver Zac parado na frente do jipe. Ele estava desatando o nó da gravata e abrindo o primeiro botão da camisa. Rose sentiu uma gota de suor escorrer entre seus seios. Mal conseguia respirar. – Eu vou dormir... Zac aproximou-se, e ela arfou ao

Zac aproximou-se, e ela arfou ao ver o desejo ardente nos olhos azuis. Ficou enraizada no lugar, embora soubesse que deveria se virar e ir embora. Ele a detestava, porém a queria. E ela era fraca... e o queria. Então, ele estava na sua frente, tocando-a, puxando-a para si. E, quando ele abaixou a cabeça e cobriu-lhe a boca com a sua, Rose soube que estava cedendo porque queria desesperadamente fingir, por alguns momentos, que talvez ressentimento não fosse tudo que Zac sentisse por ela...

A

BOCA

de Zac estava sobre a de

A BOCA de Zac estava sobre a de Rose, e ele estava se afogando naquela doçura suave. Correspondendo ao beijo, ela o abraçou pelo pescoço, e nada mais importava naquele momento. Exceto aquilo. Ela. Agora. Ele sabia que, se não se mexesse, enquanto ainda tinha controle sobre suas funções motoras, eles poderiam acabar no chão ali mesmo, e Zac esperara demais para tomá-la como um animal faminto. Ele ergueu-a nos braços e carregou-a para sua suíte. O quarto estava no escuro, e Zac pôs Rose no chão e acendeu a luz. Queria ver cada centímetro daquele corpo deleitoso.

Estava cansado de lutar contra seu desejo por ela. Ele tirou o paletó, deixando-o cair no chão. Sem tirar os olhos dela, tirou a camisa, também. Rose estava parada a sua frente, parecendo hipnotizada pela visão. E alguma coisa brilhava nos olhos verdes... algo que ele não queria ver, porque misturava o presente ao passado. – Vire-se – disse ele numa voz ríspida, tentando não trair seus sentimentos. Mas, quando ela se virou, ele esqueceu tudo sobre qualquer coisa. Desceu o zíper do vestido, que acabava bem acima das nádegas,

antes de deslizar o tecido dos ombros delgados até a cintura dela. Em seguida, ele puxou os grampos que prendiam os cabelos dela num coque elaborado e deixou-os cascatear nos ombros de Rose. Sedosos, fragrantes. Zac queria enterrar o rosto neles, mas contevese. Esse era o tipo de coisa que homens loucos e apaixonados faziam. Em vez disso, ele focou-se em despi-la. Removeu-lhe o sutiã e segurou os seios, que estavam maiores e mais lindos. A auréola rosada cercando os bicos também estava maior. A experiência da gravidez de Rose era altamente

erótica. Ele beliscou os bicos, então, e ela tremeu, arfando. Zac beijou onde o pescoço elegante encontrava os ombros delgados, e o gosto da pele de Rose entorpeceu seus sentidos. Quando ela se virou para encarálo, Zac estava se sentindo selvagem. Ele arrancou o resto de suas próprias roupas, enquanto Rose se livrava do vestido e da calcinha. Automaticamente, Zac foi pegar a proteção na gaveta do criado-mudo, mas então parou ao perceber que não precisava mais disso. Ele abaixou o olhar pelo corpo dela, absorvendo as curvas deliciosas, e uma curva em particular: o inchaço da barriga.

Agindo sob um impulso que não conseguiu ignorar, tocou ali, abrindo a mão sobre a área volumosa. Ainda estava macia... mas ele pôde sentir a rigidez abaixo. Uma emoção desconhecida tomou conta dele, fazendo-o se sentir poderoso de um jeito que nunca se sentira antes... e também humilde. Por um louco momento, quis se ajoelhar e pressionar a boca na barriga dela... O desejo foi tão forte que quase o derrubou. – Zac...? Ele olhou para cima e o sentimento passou. Luxúria o envolveu, causando-lhe alívio. – Deite na cama, Rose.

Sem hesitar, ela sentou-se, e Zac tocou-se, sentindo a gota úmida na ponta de sua ereção. Mas então alguma coisa estranha o preencheu. Ele queria apagar o que acabara de sentir, e deu um passo à frente, saboreando o olhar ávido de Rose em seu corpo. No momento que ela ia começar a deitar na cama, ele disse: – Espere... eu quero que você me tome na sua boca. Prove meu gosto, Rose. Ela o fitou, e ele viu ardor nos olhos verdes, assim como incerteza. Cada célula do seu corpo estava gritando pelo toque de Rose. Ela afastou a mão dele do pênis e

Ela afastou a mão dele do pênis e estendeu a própria mão experimentalmente, envolvendo-o nos dedos. Zac arfou. – Massageie-me. – Pelo amor de Deus, ele quase suplicou. Ela moveu a mão para cima e para baixo, arregalando os olhos quando ele engrossou ainda mais. O pequeno polegar deslizou pela ponta da ereção, espalhando o fluído, e Zac teve de morder a língua. Então, com uma rápida olhada para cima, ela inclinou-se para frente e o tomou na boca. Desajeitada, no começo, mas logo pegando o jeito. Ela o massageou, provocou-o e lambeu-o até que Zac não sabia

como ainda estava de pé. Estava prestes a imobilizá-la, de modo que pudesse tomar a boca de Rose e encontrar sua liberação, quando alguma coisa o deteve. Ele não podia fazer isso. Não podia exigir isso dela... Zac libertou-se da boca de Rose, e ela o liberou, olhando-o. Ele gentilmente colocou-a no meio da cama, acomodando-se ao seu lado, o corpo tenso com antecipação. Abriu as pernas dela com uma mão, sentindo-se mais animal do que homem, e explorou o seu centro. Teve de lutar para não a penetrar com mais força do que sempre, e foi devagar. Era uma tortura... uma

tortura deliciosa... enquanto sentia, centímetro por centímetro, o centro quente aceitá-lo e abraçá-lo. Quando ele estava tão profundo que mal conseguia respirar, Rose arqueou o corpo contra o seu e emitiu um gemido baixo e longo. Zac não conseguiu se mexer por um momento. Alguma coisa já parecera tão perfeita? Não. Então ele começou a se mover, e a perfeição foi ofuscada. Os olhos de Rose estavam fechados quando ele lhe ergueu uma das pernas e prendeu-a em volta do seu quadril. – Olhe para mim – comandou ele. Ela abriu os olhos, encarando-o

Ela abriu os olhos, encarando-o enquanto ele se mexia em seu interior. A intensa batalha foi vencida quando ela começou a lhe arranhar as costas com as unhas, o corpo tremendo contra o seu enquanto ela suplicava por liberação. Somente então Zac liberou o demônio em seu interior, e seus mundos colidiram numa explosão quase assustadora em sua intensidade. HORAS DEPOIS, Zac estava sentado na beira da cama, vendo o dia nascer nas montanhas da Toscana. Sentia-se virado do avesso... exposto. Percebeu um movimento

atrás de si na cama, e ele levantou-se e pegou sua calça. Ouviu a voz sexy e sonolenta falando: – Zac...? Aonde você vai? – E soube o que precisava fazer. Ele deixara sua guarda baixar na Itália. Contara coisas demais para Rose, na outra noite, e isso provava que, se tivesse a chance, ela se infiltraria completamente na vida dele. Ele virou-se. Ela estava erguida sobre um cotovelo, o lençol mal cobrindo os seios. Zac recordou-se como era sentir-se mergulhando naquele calor perfeito e sentir a pressão da barriga de Rose contra si. Previsivelmente seu corpo

respondeu, desespero o preenchendo. – Eu não vou a lugar algum... mas você vai. Você vai voltar para Nova York hoje.

CAPÍTULO 9

A

de que Rose estava sobrevoando a terra de seus pais não foi ignorada por ela, enquanto olhava pela janela do avião. Infelizmente, estava muito alto para ver qualquer coisa da ilha verde, mas seu coração doeu por sua mãe e seu pai. Ela havia ligado para o hospital logo depois que o avião particular de Zac decolara e falado com seu pai. A cirurgia aconteceria em pouco mais IRONIA

de uma semana... dois dias depois que Zac estivesse de volta em Nova York. Seu pai parecera animado, e isso, pelo menos, acalmava um pouco seu espírito desolado. Desolado porque ela agora sabia que perdera seu corpo, coração e alma para Zac Valenti. E ele não se importava com ela. Ele parara na sua frente naquela manhã, e cada linha do corpo poderoso gritara arrependimento pelo que tinha acontecido na noite anterior. Arrependimento e rejeição. E então Rose piorara as coisas, porque tolamente achara que tinha de tentar alcançá-lo... fazê-lo entender. Não suportava a ideia de

que ele acreditasse que ela quisera fazer aquilo com ele. Rose se ajoelhara na cama, o lençol a sua volta, murmurando: – Você precisa acreditar quando eu digo que nunca quis trair você, Zac. O rosto dele assumira aquela máscara de indiferença que ela detestava. – Você diz que não queria fazer isso, mas fez. Por que, Rose? Eu não estou no humor para charadas. Ela ansiara por lhe contar toda a história. Confessar sobre seu pai... Mas, diante daquele olhar gelado, sentiu-se insegura. Incerta. Como ele podia mudar de ardente para frio tão facilmente? Ele apenas a desejava.

Não se importava com ela. E Rose não podia correr o risco de que ele não se importasse com o que acontecesse com seu pai. Sentindo-se derrotada, ela replicara: – Esqueça. Zac tinha balançado a cabeça. – Você claramente tem um plano, Rose, e eu sei qual é. – Sabe? Ele assentiu. – Você vai esperar até o bebê nascer, e então vai me colocar contra minha avó. É isso, não é? Vai vender meu bebê pela maior oferta... Mas vai esperar até lá... até que todos

saibamos exatamente o que está em jogo. Puro choque a percorrera, enquanto Zac andava de um lado para o outro. – Eu já lhe disse que farei qualquer coisa para criar meu filho como um Valenti – continuara ele. – E, se isso significar pagar o preço mais alto, eu pagarei. Já fiz isso antes e sobrevivi. Posso fazer de novo. Rose sentira, então, animosidade e ódio emanando dele. Apesar da noite anterior, nada mudara. As coisas estavam piores, na verdade. Ele se ressentia dela pelo que via como sua fraqueza. Uma fraqueza da carne. E o coração de Rose apertara no peito.

Finalmente, Zac falara: – Essa é a última discussão que teremos sobre esse tópico até que o bebê nasça... e, acredite, quando ele nascer, eu estarei pronto para lutar pela custódia, Rose. Quando você voltar para Nova York, irá se mudar para o apartamento ao lado do meu pelo restante de sua gravidez. Podemos nos comunicar por meio de nossos assistentes. Zac partira antes que Rose pudesse se recuperar do choque diante daquele pronunciamento, e o helicóptero decolara antes que ela tivesse conseguido encontrá-lo novamente. Para dizer o quê?, zombou de si

Para dizer o quê?, zombou de si mesma agora. Para dizer tudo que deveria ter tido coragem de dizer, antes. Tarde demais. Estivera errada sobre Zac. Ele era tão implacável quanto a avó, sim, mas era ele quem tinha as razões válidas. O que os avós haviam feito com Zac e com os pais dele era cruel demais. Tinham privado Zac da oportunidade de conhecer as duas pessoas que mais o amaram. Tudo para continuar a linhagem preciosa da família. E proteger a vasta riqueza deles. Rose entendia agora por que era tão importante para ele ser parte da

vida do filho. Zac não faria nada que prejudicasse o bebê. Ele o amaria. Mesmo se sempre a odiasse por tê-lo traído. Rose sabia o que precisava fazer agora. Sabia que isso não mudaria nada entre ela e Zac, mas daria o poder de volta a ele e garantiria que o filho deles fosse criado honrando os avós. Os avós verdadeiros. A PELE de Zac arrepiou-se assim que ele entrou no apartamento, quase uma semana depois. Parou do lado de dentro da porta. Ela estava lá. Não partira, como ele ordenara. O aroma de Rose ainda estava no ar. Sentiu aquela emoção traidora no

Sentiu aquela emoção traidora no corpo, que não sentia desde que ela deixara a Itália. Ele não queria vê-la. Sabia que era irracional, mas a memória dela, ajoelhada sobre a cama, com o lençol agarrado aos seios, naquela manhã, quando ela o tomara e o levara ao clímax... E, na manhã seguinte, ele a mandara embora antes mesmo que tomasse consciência do impulso. Alguma coisa o perturbara profundamente... uma rejeição da tentativa de Rose de tentar se aproveitar da intimidade deles, que não deveria ter acontecido. Ele nunca deveria ter cedido aos

Ele nunca deveria ter cedido aos seus desejos básicos na Itália. Censurava-se por não ter sido forte o bastante para resistir a ela. Soubera que Rose era traiçoeira. Mas precisara tê-la. Uma necessidade impossível de conter, na época. Todavia, dormir com ela apenas aumentara seu desejo interno. Vinha tendo sonhos perturbadores desde que ela partira: Rose numa cama de hospital, os cabelos dourados cascateando em volta dos ombros. As faces rosadas pelo trabalho de parto. Um sorriso largo curvando a boca sensual. A expressão maravilhada, enquanto ela olhava para uma cabecinha escura aninhada

em seu seio. Então ela olhou para Zac, e um encantamento tão grande o preencheu que ele não conseguiu se mexer. Rose curvara o dedo no sonho, como se o chamando, mas os pés de Zac tinham se movido para trás, contra sua vontade. Ele queria alcançá-los... mas eles estavam sumindo... então Rose abaixara a mão e voltara sua atenção ao bebê. Zac esfregou o peito, inconsciente de que estava tentando dissipar o aperto ali. Então, abaixou a mão. Bastava. Recuperaria o controle de sua vida. Ele adentrou mais o apartamento. Rose estava sentada no sofá e,

quando ela o viu, levantou. – Eu pensei que tivesse lhe dito para se mudar antes da minha volta? – Zac andou para o bar e serviu-se de uma dose de uísque. – Eu me mudei – replicou ela. Ele virou-se. – Então? A que eu devo a honra? Rose enrubesceu. – Eu preciso falar com você por alguns minutos. Zac consultou seu relógio. – Eu tenho um evento beneficente para ir... isso não pode esperar? Rose aproximou-se um pouco, as mãos unidas a sua frente. – Não vai demorar. Eu preciso lhe explicar uma coisa... Bem, tudo, na

verdade. Alguma coisa no interior de Zac ficou imóvel diante da intensidade do olhar dela. E, agora, ele estava intrigado. – Meu carro virá me apanhar em meia hora. Você tem 15 minutos. ROSE AMALDIÇOOU seus nervos, muito consciente em seu jeans e camisa lisa. Zac claramente não gostara de vê-la, e isso doera mais do que ela imaginara que doeria. Mas sabia que, se não fizesse isso agora, perderia a coragem. E queria lhe contar antes que a avó de Zac tivesse a chance de chegar a ele. Fizera uma grande aposta mais cedo e rezava para que

tivesse feito a coisa certa, pondo sua confiança em Zac. A vida de seu pai dependia disso. – Então...? Ele pusera o copo sobre o bar e estava parado com as mãos nos bolsos. Parecia intimidador. Poderoso. Para colocar alguma distância entre eles, Rose foi para perto das janelas. Encarando-o, respirou fundo. – Sua avó me procurou com o plano de armar para você. – Foi você ou ela, e, para ser franco, não importa realmente quem começou isso. Ouça, se você não vai me contar nada novo... Inundada por emoção, Rose o

Inundada por emoção, Rose o interrompeu. – Importa, sim. E eu preciso lhe contar por que eu disse sim, em primeiro lugar... – Ela pausou para respirar. – Foi por meu pai. Zac franziu o cenho. – O que seu pai tem a ver com isso? As pernas de Rose estavam tremendo, então ela se sentou outra vez na cadeira mais próxima. Olhou para Zac. – Tudo. Ele a estudou, e ela quase achou que ele iria embora, mas ele disse: – Continue. – Se eu lhe contar, você precisa me

– Se eu lhe contar, você precisa me prometer uma coisa, primeiro. A boca de Zac se comprimiu. – Você não está na posição de barganhar. Rose levantou-se novamente. Precisava estar forte para isso. – Eu também quero que este bebê seja um Valenti, Zac. Não quero nenhuma parte no esquema de sua avó. Mas, se eu ficar contra ela por você e este bebê, preciso que você me dê a mesma recompensa que ela está me dando. Zac ficou furioso e começou a andar de um lado para o outro. – Agora você está disposta a negociar?

– Não é uma negociação. – Ela falou tão alto que Zac parou de andar. – Eu nunca pude lhe contar sobre o preço que ela me pagou, porque isso nunca foi sobre dinheiro... – Ora, por favor... – Não foi – repetiu Rose enfaticamente. – Se não era sobre dinheiro, então sobre o que era? Rose suspirou, sentindo-se entorpecida agora. – Meu pai está doente. Muito doente. Precisa de uma cirurgia no coração, e é uma das cirurgias mais caras do mundo. Ele foi motorista de

sua família por anos. Você o conhece. Rose pôde ver Zac tentando computar a informação, e finalmente ele falou com incredulidade: – Séamus O’Malley? Ele é seu pai? Rose assentiu, sentindo-se emotiva. – Sim. Tudo começou alguns meses atrás. Ele não estava se sentindo bem, e nós não sabíamos o que estava errado. Depois de exames, os médicos descobriram que era o coração. Ele me contou sobre os resultados ao telefone, quando eu estava trabalhando na casa da sua avó. Nosso plano de saúde é bem básico. Foi uma notícia devastadora,

porque sabíamos que nunca teríamos condições de pagar a operação. Rose continuou: – Mas, antes que eu vá mais longe, preciso que você me prometa que vai assumir os cuidados com meu pai, protegê-lo de quaisquer possíveis consequências por eu ter lhe contado tudo. A cirurgia será em dois dias. Se ele não operar, não vai viver até o fim do ano... Sua voz falhou, mas Zac pareceu intocado. – Por que eu faria isso? – Porque meu pai é uma parte inocente nesta história. Ele não merece sofrer por causa dos meus erros.

Zac aproximou-se, as feições ameaçadoras. – Eu sou um erro agora? – Eu não quis dizer isso, Zac. Falo do erro de ter deixado sua avó me usar como um peão para atingir você, e então tudo saindo de controle. Zac olhou-a por um longo momento. – Eu checarei se o que você diz é verdade. – É claro – concordou ela. – E, depois, você vai ajudá-lo? – Rose pensou que ajoelharia, se necessário. Zac ficou silencioso por tanto tempo que ela sentiu o fio de esperança em seu interior começar a

desaparecer. Talvez ela não o tivesse julgado corretamente. Ele não cederia... não para ela. Ela estava prestes a admitir derrota, quando ele assentiu. – Se seu pai estiver mesmo doente, e não tiver participação nisso, então, sim, eu o ajudarei. Agora, conte-me. Tudo. Rose foi tomada por um imenso alívio. Então registrou a impaciência de Zac e começou a falar: – Quando descobri sobre meu pai, fiquei arrasada. Sua avó me encontrou chorando num dos quartos. No começo, ficou irritada que eu não estava trabalhando, mas,

quando eu expliquei o motivo, ela pareceu interessada... Rose sabia que Zac entendera. Sua avó tinha visto a oportunidade e a agarrara. – Ela me apresentou um plano de ir a em evento e abordar você. Falou sobre eu seduzi-lo... engravidar... mas, honestamente, eu estava tão desesperada que metade do que ela falou não fez sentido. E depois, quando absorvi melhor a ideia, achei que as chances de o plano dar certo eram mínimas. Só posso dizer que eu estava em pânico, e sua avó estava me oferecendo o dinheiro para pagar a cirurgia de que meu pai precisava. No dia seguinte, ela estava com o

contrato sigiloso redigido... Mesmo enquanto eu assinava, sabia que estava fazendo a coisa errada, mas senti tanto medo por meu pai. Zac ainda não entregava nada com sua expressão. Rose continuou: – Eu passei a maior parte da noite que nós nos conhecemos escondida no quarto do hotel. Percebi que não podia fazer aquilo. Estava louca. E morrendo de medo de encontrá-lo. Rezei para que você tivesse ido embora, de modo que eu pudesse dizer a sua avó que não tinha dado certo... Zac baixou o olhar para a cintura de Rose e murmurou de modo

inexpressivo: – Mas nós nos conhecemos. Rose pôs uma mão sobre a barriga. – Sim. – Depois, nos encontramos de novo... e não por acaso. Ela corou de vergonha. – Não, não por acaso. Mas também não por minha escolha. Depois que eu deixei você naquela primeira noite, escrevi um bilhete para sua avó, dizendo que eu não podia continuar com o plano, incluindo meu pedido de demissão. Fui para casa no Queens e resolvi tentar cuidar do meu pai sozinha, mesmo se tivesse de trabalhar em cinco empregos... Mas, então, ela me

achou uma semana depois... contou que você estava me procurando... Rose parou, com medo da reação de Zac, mas ele continuou impassível. Ela prosseguiu: – Sua avó me lembrou que eu tinha assinado documentos legais e que, se eu não cumprisse o plano, ela me processaria. Tive medo de que ela fizesse coisas ainda piores, como lutar pela custódia do meu bebê. Zac quase explodiu. – Qualquer um sabe que ela não teria chance de lutar contra os direitos de uma mãe biológica. Uma onda de raiva preencheu Rose, e ela sentiu-se humilhada.

– Como eu ia saber disso? Sou uma empregada, Zac. Completei o Ensino Médio aos 17 anos, sem qualificações. Quando uma das mulheres mais ricas do mundo para na sua frente com um documento assinado, é difícil não acreditar que ela tem o poder de aniquilar você. Ademais, ela me fez assinar um contrato sigiloso... motivo pelo qual achei que eu não podia contar nada a você. Rose estava ofegante após sua explosão e percebeu que suas mãos estavam fechadas em suas laterais. Relaxou-as e tentou recobrar o controle, antes de continuar. Sabia

que precisava se desnudar completamente. Ela ergueu o queixo. – A verdade é que, por mais que ela quisesse me coagir a obedecer, com ameaças de uma ação legal... eu queria ver você novamente. Voltar para o seu apartamento com você naquele dia foi a coisa mais egoísta que eu já fiz, mas pensei... acreditei que pudesse ter aquele momento... contanto que eu me certificasse de que você usasse proteção... Rose ficou em silêncio sob o peso da evidência de que todas as suas boas intenções não a tinham protegido... ou protegido ambos. Como se lendo sua mente, Zac

Como se lendo sua mente, Zac falou: – Por mais interessante que isso tudo pareça, estou inclinado a ver o fato de que você engravidou como uma parte calculada do plano, independentemente de quão relutante você diz que estava em seguir com o plano. Rose lutou contra o desespero. Sabia que era improvável que Zac acreditasse nela... mas, pelo menos, ele ouvira e concordara em cuidar de seu pai. Isso tinha de bastar por hora. Ela não viu motivo para lhe contar que encontrara a avó dele naquela tarde. Zac logo descobriria. Ele cruzou os braços.

– Se eu fizer isso e ajudar seu pai, como sei que você não vai lutar comigo pela custódia do meu filho? – Porque eu estou pondo a vida do meu pai em suas mãos. E estou lhe dizendo que quero que meu bebê tenha o seu nome. O seu nome verdadeiro. Assinarei qualquer coisa que você quiser. A boca de Zac torceu-se. – Acho que você provou quão adepta é dessa ideia, pelo menos. O telefone de Zac tocou no bolso, então, e ele consultou seu relógio antes de fitá-la. – Eu preciso ir a esse evento. Farei o discurso de abertura. – Ele pôs a mão no bolso interno e estendeu um

cartão. – Ligue para meu assistente e dê a ele todos os detalhes de seu pai. Assim que eu confirmar que ele é inocente, providenciarei para que os cuidados dele sejam colocados no meu nome. Simples assim. Semanas de agonia, e agora o pensamento de que ela deveria ter contado tudo para Zac desde o começo apertou seu coração. Rose pegou o cartão, e ele estava quase atravessando a soleira, quando ela chamou: – Espere... Ele parou e virou-se. Sem qualquer emoção no rosto. Enquanto ela se sentia destruída por dentro. – Eu... só queria dizer que sinto

– Eu... só queria dizer que sinto muito. Nunca pretendi que nada disso acontecesse assim. Ela ainda se recusava a se arrepender de ter engravidado, mas sabia que ele não gostaria de ouvir isso agora. – Não tenho certeza de que você não pretendia, Rose, mas me contou o suficiente por ora. Como apontou, seu pai não deve ser punido por suas ações. Então ele se foi. Rose sentou-se no sofá, subitamente fraca e tremendo inteira. A falta de emoção nos olhos de Zac ainda a feria profundamente. O fato de que ele nunca acreditaria que

ela não o enganara de propósito, apesar do que ela lhe contara, era devastador. Nos momentos após o ato de amor deles na Itália, Rose acreditara que talvez ele sentisse alguma coisa por ela, além de ressentimento. Vira um brilho nos olhos azuis... Mas, obviamente, tinha sido apenas seu pensamento desejoso. Todavia, um fiozinho de esperança ainda se recusava a morrer. Se houvesse qualquer chance de persuadir Zac a acreditar que ela nunca quisera traí-lo, então não valia a pena tentar? Mesmo se tivesse de contar a ele como se sentia. Mesmo

se tal perspectiva a fizesse se sentir fraca novamente. Rose sabia que, se não tivesse se apaixonado por Zac – provavelmente desde o instante em que o vira pela primeira vez –, essa cadeia de eventos nunca teria acontecido. Era o fato de que ela o quisera tanto que levara a essa situação, e ele precisava saber disso. Determinada e com o coração disparado, Rose foi para seu antigo quarto e vasculhou o guarda-roupa, até achar o que estava procurando. ZAC NÃO sabia o que falara durante o discurso de abertura, mas devia ter se

saído bem, porque pessoas estavam vindo abraçá-lo e parabenizá-lo. Ele não sabia o que falara porque seu cérebro ainda estava tentando assimilar tudo que Rose lhe contara. Ela queria que ele acreditasse que ela fizera tudo aquilo pelo pai doente. Zac lembrava-se de Séamus O’Malley. Ele sempre fora gentil com Zac e o deixava sentar no banco da frente do carro quando seus avós não estavam por perto. O sotaque dele costumava fascinar Zac, e ele lhe contava histórias da Irlanda e dos grandes guerreiros irlandeses. Mas, se tudo que Rose dissera fosse verdade, então por que ela não lhe contara aquilo desde o começo? É

claro que ele teria ajudado o pai dela. Zac podia realmente acreditar que Rose tinha sido praticamente chantageada por sua avó para enganá-lo com uma gravidez? Zac pensou no rosto frio e imperioso de sua avó e uma palavra ressonou em sua cabeça: sim. Subitamente, a conversa ao seu redor parou e um aroma familiar penetrou suas narinas. Todos olhavam para alguém atrás dele, e Zac virou-se lentamente. Rose estava a sua frente, no mesmo vestido preto que usara na noite em que eles haviam se conhecido. O tecido colava em cada

curva do corpo dela e na área levemente arredondada da barriga. Os cabelos dourados estavam soltos e ela não usava maquiagem; entretanto, parecia radiante. Sua encantadora misteriosa. Sua traidora. – O que você está fazendo aqui? Ela aproximou-se. – Eu preciso falar mais uma coisa. Ciente do interesse das pessoas em volta, Zac disse: – Agora não é o momento para continuar esta conversa. Ele viu a pulsação do pescoço de Rose batendo freneticamente, e seu próprio sangue pulsou em resposta. – Agora é um momento tão bom quanto outro qualquer.

Zac segurou o braço de Rose e afastou-a dos olhos espreitadores. Quando eles estavam num canto vazio, ele a soltou. – Então? O que é tão importante que não podia esperar? Ela respirou fundo. – Preciso que você saiba que sempre houve muito mais do que isso para mim... desde a primeira noite que nos conhecemos. A última coisa que eu queria fazer era traí-lo... ou prejudicá-lo... Embora eu soubesse que estava sendo egoísta em voltar para seu apartamento naquele dia, disse a mim mesma que você se certificaria de que estivéssemos protegidos. Pensei que pudesse

tomar uma fatia do que você estava oferecendo, depois sumir e nunca mais vê-lo. Seria meu segredo, que eu guardaria no coração para sempre. Rose gesticulou para o próprio vestido. – Eu só queria lhe mostrar que a garota que você conheceu naquela noite era a garota que pensou que eu fosse. Inacreditavelmente ingênua e inocente. Mas eu me envolvi em algo com o que não sabia lidar. E, sim, havia um plano, mas eu odiei cada momento que o enganei. Ela pegou-lhe a mão e posicionoua sobre a pequena barriga. Zac sentiu que ela estava tremendo. – A verdade é que eu me apaixonei

– A verdade é que eu me apaixonei por você, Zac, e não me arrependo nem por um segundo que vamos ter este bebê, não importa como ele veio, porque, para mim, este bebê nascerá do amor. ESTE BEBÊ nascerá do amor. Por um segundo, o peito de Zac inchou com uma emoção que parecia euforia. Então ele lembrou... na verdade, aquele bebê havia sido concebido em traição. O fato era que Rose estava grávida, então podia falar o que quisesse. Ele de repente se lembrou de quão reverente se sentira quando tocara Rose naquela tarde que ela voltara

para seu apartamento. Tinha sido como nada que ele experimentara antes. Ficara encantado pela aparente honestidade dela... Mas Rose não fora remotamente honesta... Sabia exatamente o que estava fazendo. E, em momento algum, tentara contar a verdade. Ele tirou a mão debaixo da dela e disse friamente: – Eu não apreciei essa representação pública. Rose franziu o cenho. – Não é uma representação. Zac levantou uma mão. – Por favor... eu não quero ouvir isso. Ela deu um passo atrás e o olhou.

– Você ainda não confia em mim. Zac deu uma risada sarcástica. – Confiar? Acha que uma declaração de amor em público irá me convencer a abandonar a razão? – Ele meneou a cabeça. – Você realmente não precisa fazer isso, sabia? Uma vez que assinar o contrato preparado por meu advogado, eu me certificarei de lhe oferecer conforto pelo resto da sua vida. Você percebeu que, como pai do bebê, eu ia vencer qualquer batalha contra minha avó, e está apenas mudando de aliado. Eu entendo. Reconheço alguém que luta para sobreviver, porque também vivi isso.

Rose apenas o olhou. Ele pôde ver a luz desaparecendo dos olhos verdes. A luz da esperança, pensou estranhamente, e, por um momento, quase esqueceu tudo e abraçou-a. Ela empalidecera... Mas, então, ela deu outro passo atrás e sorriu. – Você tem de admitir que valia a pena tentar. Zac teve a sensação de que alguma coisa estava rachando dentro do peito. Algo que não tinha o direito de existir. Porque isso significava que, em algum nível, ele ainda sentia uma fraqueza fatal por essa mulher, e uma parte sua quisera que aquelas palavras fossem verdadeiras.

Ridículo. Aos cinco anos de idade, Zac impulsivamente abraçara sua avó um dia, apenas para que ela o empurrasse com tanta força que ele caíra e batera a cabeça numa mesa. Então ela dissera: – Nunca mais me toque assim... entendeu? Ele teve de forçar um sorriso agora, porque esse não veio facilmente. – Sempre vale a pena tentar, Rose. Então, Zac virou-se e partiu, lutando contra o impulso de olhar para trás e ver o rosto dela. Quando finalmente retornou ao grupo onde estivera antes e olhou

para trás, ela havia ido embora. ENQUANTO ROSE arrumava sua mala, um pouco depois, no apartamento ao lado do de Zac, ainda se sentia meio entorpecida. O fato de que tinha ido lá naquele vestido, em público, e declarado seu amor por Zac, não mudara nada. O fato de que ela concordara com a acusação dele de que aquilo era apenas uma representação era algo pelo que Rose não iria se castigar agora. Tinha uma vida inteira para fazer isso. Seu bebê seria seu foco principal agora. E seu pai. Ela olhou ao redor do quarto uma

Ela olhou ao redor do quarto uma última vez. O vestido preto estava sobre a cama, e, dessa vez, Rose não o levaria consigo, porque era o último lembrete que queria. Então, ela pegou sua sacola e partiu.

CAPÍTULO 10

– PARECE QUE

ela está falando a verdade, Zac. A cirurgia do pai de Rose é amanhã. E não descobrimos nenhuma outra transferência de fundos. É literalmente apenas o custo do hospital. Não temos motivo para acreditar que o pai dela esteja envolvido nisso. Zac recostou-se em sua cadeira do escritório. Com uma vaga sensação de medo o preenchendo, murmurou: – Obrigado, Simon. Você pode

– Obrigado, Simon. Você pode providenciar para que todos os custos sejam cobertos? – É claro... e você ainda quer ir em frente com o contrato que redigiu? – Sim, o mais breve possível. – Embora aquilo o fizesse se sentir mal agora, também. – Considere isso feito. Após terminar a ligação, Zac levantou-se e foi para a janela, sentindo-se inquieto. Nervoso. Podia ver a Estátua da Liberdade. E a Ponte do Brooklyn. Era dali que ele vira sua ressurreição. Entretanto, agora o senso de realização que geralmente experimentava não veio. Tudo que podia ver era o rosto de

Tudo que podia ver era o rosto de Rose na noite anterior, quando aquela luz desaparecera dos olhos verdes e ela murmurara: – Valia a pena tentar. Quando ele retornara ao seu apartamento, não havia sinal de Rose, exceto o doce aroma feminino que ainda permeava o ambiente, abalando-o o suficiente para fazê-lo inventar uma desculpa e ir até o apartamento ao lado. Quando ninguém atendera a campainha, o porteiro o deixara entrar, mas Zac não a encontrara lá dentro, também. Todas as roupas que ele tinha lhe comprado estavam penduradas no armário. E o vestido

preto estava estendido sobre a cama na suíte máster. Então, ele achara um pedaço de papel sobre a mesa perto da porta, com seu nome ali. Zac, obrigada pela oferta do apartamento, mas estarei mais à vontade em casa, no Queens. Ficarei com meu pai no hospital até depois da cirurgia, então, quando ele voltar para casa, eu o ajudarei a se recuperar, se tudo der certo. Uma vez que você não queria mais me ver, tenho certeza de que não vai se importar com isso. Assim que o bebê nascer, eu

entrarei em contato para informá-lo de que tudo está bem, e talvez possamos discutir planos para o futuro. Enquanto isso, você pode me enviar o contrato, ou qualquer outra correspondência, para meu endereço no Queens. Rose Só de pensar na carta agora fazia Zac se sentir mal. E ele detestava o sentimento. Não era exatamente isso que dissera que queria? Que Rose desaparecesse da sua vida? Ela lhe oferecera o escape perfeito e, uma vez que assinasse o contrato, ele poderia se assegurar de que seu

filho seria criado como um Valenti. Teria o que queria e poderia seguir com sua própria vida... Então, por que se sentia tão inquieto? E por que não conseguia parar de pensar no que ela falara sobre a noite que eles tinham se conhecido? – Tive esperança de que você tivesse ido embora, mas então nós nos conhecemos... Eu realmente não quis trair você... Isso o fez lembrar como Rose parecera desesperada para escapar na noite que eles haviam se conhecido. E como ela insistira, diversas vezes, que precisava ir embora, apenas para que ele a persuadisse a ficar. Seduzindo-a.

Desgostoso por alimentar tais dúvidas, Zac virou-se... no exato momento em que a porta do seu escritório foi aberta e a última pessoa que ele queria ver no mundo entrou, seguida por seu assistente. – Zac, desculpe-me, eu disse a ela que você não queria ser perturbado, mas ela não me ouviu. Ele conseguiu falar friamente: – Tudo bem, Daniel. Pode nos deixar a sós. Acho que posso lidar com minha avó – acrescentou Zac com raiva. A porta foi fechada, e Zac olhou para a mulher que o empurrara para rejeitar sua afeição. Ela media apenas

1,50m, mas parecera gigante quando Zac era criança. Não mais. Ódio o preencheu. Independentemente do que Rose fizera, aquela mulher era a arquiteta por trás do plano. Desde que o marido morrera, Jocelyn se tornara mais zelosa com o nome da família. Como se ainda tentasse agradar o marido falecido. Zac cruzou os braços sobre o peito. – A que devo o prazer de sua visita, avó querida? Jocelyn Lyndon-Holt, vestida num traje sofisticado, estava pálida e vibrando com fúria mal disfarçada. Ela aproximou-se e jogou um maço de papéis sobre a mesa.

– Você pode dizer a sua pequena prostituta que eu não apreciei a visita dela ontem e que ela enfrentará a força de minha equipe legal, se pensa que pode violar o contrato que assinou comigo. Sem mencionar o contrato de sigilo. Desnecessário dizer que a imprensa terá um dia cheio quando descobrir que ela deliberadamente seduziu você para ganho próprio. O medo que Zac sentira solidificou-se em seu âmago. Ele olhou para os papéis sobre sua mesa. Papéis rasgados. Linguagem legal: Eu, assinada abaixo, concordo em... Eu concordo em nunca revelar... Ele olhou para sua avó.

– Ela visitou você? A fúria da mulher mais velha foi revelada na voz tremida. – Ela teve a audácia de ir a minha casa e exigir me ver... para me dizer que queria que o filho fosse um Valenti. Ela é uma tola ingênua e romântica se ouviu sua história triste, e agora acha que você pode lhe oferecer algum tipo de final feliz. Nós dois sabemos que isso não existe... não é, Zachary? Nós dois sabemos que isso não existe... Zac sentiu como se alguém tivesse lhe trazido de volta à vida... Ele não tivera esperança, desde que descobrira sobre seus pais, que talvez

existisse um final feliz? Não baseara sua inteira ressurreição em algum tipo de esperança por... algo mais? Não se permitira acreditar nisso no sentido emocional, depois de uma vida inteira de amor negado, então canalizara sua esperança no trabalho, acreditando que poder preencheria a falta desse algo mais. Então conhecera Rose, e o buraco se abrira novamente... mostrando-lhe que ele queria muito mais, que queria acreditar em pureza e honestidade. Até descobrir que ela o traíra e se sentir um completo tolo. Ele se aproximou da avó e perguntou: – Quando Rose foi vê-la?

– Isso é tudo o que lhe importa? Quando sabe que eu posso esmagar você e sua reputação? Ele conteve-se para não a sacudir. – Conte-me agora... ou eu enterrarei o nome Lyndon-Holt tão profundamente que ninguém nunca se lembrará dele. Sua fúria mortal pareceu atingi-la. – Ontem à tarde – respondeu Jocelyn. – Ela nem mesmo quis dinheiro, garota burra. Só queria que a cirurgia do pai fosse paga. Eu deveria ter sabido então que ela era uma tola sentimental, e tive minhas dúvidas... especialmente quando ela deixou um bilhete, dizendo que não podia continuar com aquilo... mas

então eu a forcei encontrá-lo de novo, e ela realmente engravidou... Zac gelou. Não podia mais negar a verdade. Tudo se encaixava. Rose realmente tinha sido uma mulher assustada e inocente. Muito ingênua, porém inocente. Ele conseguiu se controlar e falou friamente: – Primeiro, Rose não é burra. Nem remotamente. Segundo, você encontrou uma empregada devastada e se aproveitou disso. Usou a vida do pai doente dela para manipulá-la. E tem a coragem de julgá-la? Os olhos azuis de Jocelyn LyndonHolt se estreitaram no neto. Sem sinal de amor ou emoção.

– Você é realmente filho da sua mãe, não é? Repetindo a história. Apaixonou-se por uma inocente ingênua, quando poderia ter tido tudo, Zachary. Não haveria limite para onde você poderia ter chegado. Zac apenas balançou a cabeça. Pensou em si mesmo olhando para onde deixara Rose, no salão de bailes na noite anterior, e vendo nada além de um espaço vazio. Pensou no apartamento vazio e no bilhete dela. – Você está certa – concordou ele. – Eu poderia ter tido tudo, mas deixei escapar. Agora, suma da minha frente... antes que eu mande expulsá-la.

ROSE SEGURAVA a mão de seu pai. Lágrimas nublaram sua visão quando ele abriu os olhos e murmurou: – Roisín, é você, querida? Ela enxugou as lágrimas. – Sim, papai, sou eu. Estou aqui. Ele olhou em volta. – Acabou então? E eu ainda estou vivo? Rose deu uma risada cheia de alívio e gratidão. – Sim, acabou. E, sim, você está vivo. A cirurgia foi um sucesso. O médico disse que você tem mais uns trinta anos de vida, no mínimo. Seu pai sorriu. – O que eu vou fazer nos próximos trinta anos?

Ela pegou-lhe a mão e colocou-a sobre sua barriga. – Para começar, vai me ajudar com o bebê, e contar a ele tudo sobre sua origem. – Então, não foi um sonho? Ela meneou a cabeça. Não tinha sido um sonho. Mas era um pequeno pesadelo, na verdade, agora que ela teria de descobrir como lidar com Zac e as repercussões da violação do contrato com a sra. Lyndon-Holt. Mas, por enquanto, tudo estava bem. Seu pai estava seguro, e isso era tudo que importava. Ela se preocuparia com o resto mais tarde. Seu pai franziu o cenho. – O pai, Roisín...

– Shhh – interrompeu Rose. – Não pense sobre isso agora. Eu lhe contarei sobre ele quando você estiver se sentindo mais forte. – Ela inclinou-se e beijou o rosto de seu pai. – Descanse agora... é necessário. Sem protestar, seu pai suspirou e voltou a dormir. Rose endireitou o corpo e saiu do quarto. Estava exausta. Aliviada, porém exausta. E, embora não estivesse com fome, precisava comer. Desde a outra noite, seu apetite desaparecera, mas não pensaria sobre aquilo. Já tinha seguido o corredor, quando lembrou que deixara sua bolsa no quarto de seu pai. Virou-se

para voltar... e colidiu com uma parede. Uma parede com mãos e braços, firmando-a. Uma parede que possuía um aroma familiar. Uma parede que não era realmente uma parede. Ela olhou para cima e sua cabeça girou. A parede era Zac Valenti. – Rose? Você está bem? Ela se recompôs, mas estava muito tonta para lidar com Zac agora... se não estivesse alucinando. – Eu só preciso comer alguma coisa. Com a típica eficiência de Zac, dentro de cinco minutos, Rose estava sentada a uma mesa da cantina do hospital. Ele pusera um prato de

espaguete de aparência duvidosa a sua frente e a estava olhando. Então disse: – Esta é a coisa de aparência mais comestível aqui. Coma um pouco. Muito exausta para lidar com a realidade de que ele estava lá, ela obedeceu e comeu a massa borrachuda, lavando-a com água. Quando se sentiu um pouco mais forte, perguntou: – Por que você está aqui, Zac? Ele recostou-se na cadeira. – Eu queria me certificar de que seu pai estava bem. – Obrigada. Eu fui informada de que você assumiu as contas de sua avó. Não imagina o que isso...

– Pare – interrompeu ele, parecendo um pouco zangado. – Não precisa agradecer. Minha avó não tinha o direito de se aproveitar de você assim. Seu pai trabalhou para ela... o mínimo que merecia era ajuda no momento de necessidade. Rose queria se beliscar. Porque só podia estar sonhando. Zac continuou: – Ouça... a outra noite... naquele evento... foi difícil para eu acreditar que você estava falando a verdade. O coração de Rose disparou. – E você acredita agora? Ele assentiu. – O que aconteceu? Zac suspirou.

– Eu estava começando a desconfiar que tinha entendido tudo errado, então minha avó me procurou. Contou que você rasgou o contrato na frente dela e declarou sua intenção de que este bebê fosse um Valenti. Quando eu voltei da Itália e você explicou tudo, eu não sabia que você já tinha ido ver minha avó. Por que não me contou? – Fui vê-la primeiro porque precisava que você soubesse que eu tinha colocado minha confiança em você, mesmo antes que tivesse uma chance de me explicar. Mas, quando você voltou, eu estava nervosa... com medo da sua reação. Não achei relevante mencionar sua avó, uma

vez que você concordara em ajudar meu pai. A voz de Zac continha tristeza. – Não, seu primeiro pensamento não foi maximizar sua própria defesa... foi seu pai. – Então ele perguntou, curiosamente: – O que teria feito se eu tivesse dito “não”? Rose deu de ombros, envergonhada por essa evidência de que houvesse confiado nele tão implicitamente. – Eu não pensei tão longe. Zac estudou-a por um longo momento. – Quando nós nos conhecemos... você me encantou. Eu nunca tinha conhecido alguém como você.

Acreditei que era quem dizia ser. E então... me senti um tolo. O que apenas confirmou que nada tão puro podia existir. Rose sentiu emoção crescendo. – Mas eu era quem dizia ser. Não pude contar nada porque estava apavorada com o que sua avó pudesse fazer com meu pai. – Rose parou, uma preocupação familiar voltando: – Ela vai me levar ao tribunal? Zac pareceu feroz. – É claro que não. Minha ameaça de revelar a verdade sobre meu parentesco foi suficiente para fazê-la contemplar a emigração. Rose arregalou os olhos.

– Você faria isso? – Está na hora de contar a história dos meus pais, da qual eu não me envergonho. Ela se sentiu ainda mais emotiva agora. – Acho que você está certo... a memória de seus pais não merece ficar guardada para sempre, como se eles tivessem feito alguma coisa errada. Subitamente, Rose sentiu-se muito vulnerável, agora que sabia por que ele havia ido até lá. Ele estava obviamente arrependido, mas também parecia acreditar no que ela lhe dissera na outra noite... que ela o amava. E, sem

dúvida, ele estava com pena dela. A mãe do filho dele... apaixonada por ele... que trágico. Zac devia se sentir duplamente responsável agora, e o pensamento a fez se sentir humilhada. Rose levantou-se. – Obrigada por ter vindo até aqui, mas eu realmente preciso me dedicar ao meu pai agora. E estou grata por sua ajuda com a cirurgia, mas pretendo pagá-lo de volta. Sei que levará anos, mas eu pagarei. Agora Zac pareceu zangado, levantando-se também. – Eu não vim aqui exigir pagamento. Vim porque... Rose ergueu a mão, detendo-o,

Rose ergueu a mão, detendo-o, porque não queria ouvi-lo falar sobre responsabilidade. – Por favor... vá embora. Tenho certeza de que você está ocupado, e podemos conversar sobre arranjos para o bebê outra hora. Ela começou a sair da cantina e ouviu: – Rose... droga. – Mas continuou andando. Se ela parasse, ele veria seu estado de nervos. Ao chegar ao andar de seu pai, olhou para trás e deu um suspiro trêmulo quando não viu Zac. Sentiu um misto de alívio e desapontamento. Alguns minutos depois que ela

Alguns minutos depois que ela entrou no quarto de seu pai, uma enfermeira apareceu e lhe entregou um bilhete, murmurando com uma piscadela: – Querida, se aquele homem voltar aqui, por favor, mande-o na minha direção. Rose forçou um sorriso e abriu o bilhete, que era curto: Eu não vou embora. Estarei no hotel da região. Se precisar de alguma coisa, me ligue. Zac. Seu coração traidor pulsou. Ela não ligaria para ele. Não precisava de nada de Zac Valenti... certamente

não do óbvio senso de obrigação dele. Mas, naquele momento, como se para relembrá-la que ela precisava de algo dele... uma vida inteira de apoio... sentiu um pequeno chute na barriga. Lágrimas de emoção encheram seus olhos. Por que o bebê resolvera fazer sua presença conhecida justamente quando seu pai autocrata aparecera? – É AQUI que ela está dormindo? A voz zangada acordou Rose, e ela abriu os olhos para ver Zac agigantando-se sobre seu colchão no chão do quarto de hospital de seu

pai. Um enfermeiro parecia se encolher diante de Zac. – Isso realmente parece uma acomodação adequada para uma mulher grávida? O enfermeiro corou. Rose sentou-se e pôs uma mão sobre a cabeça, sentindo-a girar. Não dormira muito bem e sentia-se fatigada. Zac agachou-se na sua frente. – Você está bem? Antes que ela pudesse responder, ele praguejou e ficou de pé novamente. Estava ao telefone em segundos, dando instruções, e Rose viu o enfermeiro aproveitar a chance para escapar de mais censura.

Ela se levantou quando Zac estava guardando o celular. Ele segurou-lhe o braço. – Quando foi a última vez que você comeu uma refeição decente ou dormiu propriamente? Rose piscou. Não lembrava. Zac praguejou outra vez. – Certo... basta. – Ele conduziu-a para fora do quarto, dizendo: – Meu carro está lá embaixo. Meu chofer irá levá-la para meu hotel, onde você vai... – Zac ergueu uma mão quando ela abriu a boca para protestar. – Onde você vai tomar café da manhã e dormir no meu quarto por algumas horas. Depois disso, eu arranjarei um quarto para você.

– Mas eu não posso ir embora! Meu pai... – Seu pai ficará bem. Eu ficarei com ele. – Mas você está ocupado... Zac levantou o telefone. – Nada que eu não possa resolver daqui. Agora, vá... ou eu porei você sobre meu ombro. O pensamento de Zac a tocando e vendo o quanto ela ainda o queria foi suficiente para colocá-la em movimento. Ela deu uma olhada no pai, que ainda dormia, e acompanhou Zac escada abaixo. Ele falou com firmeza: – Eu não quero vê-la até depois que você dormir e almoçar.

Sentindo-se confusa, Rose obedeceu, e teve de admitir que ser cuidada era tanto sedutor quanto perigoso. Quando ela voltou ao hospital, mais tarde, sentindo-se muito melhor depois de horas de sono, seguidas por um banho quente e refeição, parou à porta de seu pai e absorveu a visão. Zac estava sentado perto da cama, conversando com seu pai, que estava rindo de alguma coisa que Zac acabara de falar. Os dois olharam para cima e a viram ao mesmo tempo, e seu pai estendeu a mão. Ele já parecia bem melhor. – Roisín, olhe quem está aqui!

– Roisín, olhe quem está aqui! Zachary Lyndon-Holt... – Seu pai parou e olhou para Zac. – Desculpe, filho, é difícil lembrar que você não é... Zac sorriu. – Sem problemas, sr. O’Malley. Seu pai ficou vermelho. – Pare com isso. É Séamus para você. O coração de Rose inchou tanto que ela pensou que pudesse explodir. Porque, o que aconteceria quando Zac ficasse entediado com sua responsabilidade e fosse embora de novo? Ela entrou no quarto e falou educadamente para Zac:

– Eu estou aqui agora. Certamente, você tem coisas que precisa fazer... Ele piscou, mas levantou-se da cadeira. Então disse: – Uma palavrinha, Rose? Antes de eu ir? Ela assentiu e o acompanhou para fora do quarto, depois que ele se despediu do seu pai. – Ouça, Zac... – Não, ouça você. Eu não vou a lugar algum, e vou lhe dizer como vai ser. Há um quarto para você no hotel. Nós revezaremos nas visitas do seu pai, até que ele tenha alta, e não há nada que você possa fazer sobre isso. A boca de Rose ficou aberta, e o

A boca de Rose ficou aberta, e o olhar de Zac pousou ali. Eletricidade ferveu entre eles. Ele ergueu os olhos. – Até mais tarde, Rose. Então, virou-se e partiu, deixandoa frustrada, irritada, grata... e, de modo geral, muito confusa. DURANTE A semana que se seguiu, eles desenvolveram uma rotina. Zac ia ver seu pai pelas manhãs, ficando até depois do almoço, então Rose ficava até tarde e ia para o hotel dormir. Ela e Zac mal se viam e não conversavam mais, porém ela sabia que a hora de uma conversa chegaria.

Sobre o que aconteceria quando o bebê nascesse. Seu pai adivinhara que Zac era o pai do bebê, mas felizmente parecia inclinado a deixar Rose e Zac em paz por ora. No momento em que seu pai recebeu alta do hospital, Zac já tinha tudo organizado. Eles foram levados para casa num carro luxuoso... com uma enfermeira do hospital que passaria alguns dias na casa, certificando-se de que tudo estava adequado para a recuperação dele. A casa havia sido modificada na ausência de Rose, a fim de acomodar as necessidades médicas de seu pai, e Zac também arranjara cuidado de

enfermagem 24 horas por dia. Quando ela abrira a boca para protestar, ele apenas a olhara categoricamente. Ele também contratara uma mulher da região que conhecia Rose e seu pai para ir cozinhar para eles e arrumar a casa. Às vezes, Rose quase preferia que estivesse lutando para fazer tudo sozinha, porque não queria dever nada a Zac, mas então olhava para seu pai na cama, na própria casa, tão relaxado, e se sentia egoísta. UMA SEMANA depois, Zac praticamente voltara à cidade por tempo integral, mas ligava para Rose umas cinco vezes por dia, para saber

das novidades. Os nervos de Rose estavam tão à flor da pele que ela saltou quando a campainha tocou. Abriu a porta para um entregador segurando uma caixa grande e um envelope. Quando ela pegou os itens, o homem murmurou: – Fui instruído para esperar um bilhete em retorno. Rose o deixou entrar e se servir de água na cozinha, enquanto ela ia à sala de estar abrir a caixa. Tirou o papel de seda de cima para ver o tecido preto familiar. Puxou o vestido preto... e soltou-o quando uma onda de mortificação a inundou. Lembrou-se de estar diante de Zac

Lembrou-se de estar diante de Zac declarando seu amor... e do jeito como ele tirara a mão de sua barriga. Como se tivesse sido queimado. Ela leu o cartão de dentro do envelope. Por favor, me encontre no meu apartamento esta noite. Um carro estará esperando por você. Venha quando estiver pronta... Zac Rose sentiu-se enojada. Era isso então? Ele os ajudara... mais do que ela imaginaria... e agora queria cobrar seu preço? Ela sentiu-se zangada, desapontada... mas resignada. Devia

a Zac. E, se ele queria que ela fosse a ele como um carneiro de sacrifício... neste vestido que simbolizava tanto... então, que escolha ela tinha? Mas Rose manteria a cabeça erguida, e ele nunca saberia o que aquilo lhe custava. Ela escreveu um bilhete rápido do outro lado do cartão e deu ao entregador, que partiu novamente. ERA TARDE quando Rose finalmente atravessou a ponte em Manhattan. O carro a esperara por horas. Ela não fizera de propósito, mas a enfermeira estava preocupada com a temperatura de seu pai, e Rose

quisera esperar até ter certeza de que ele estava bem. Sentia-se uma pilha de nervos. Estava usando o vestido, prendera os cabelos num coque e se maquiara. O carro parou na frente do prédio de Zac, e o porteiro lhe disse para subir, pois o sr. Valenti a aguardava. Ela pegou o elevador particular que dava entrada direta para o apartamento dele, suas mãos transpirando de nervoso. A sala de estar estava silenciosa. Nenhum som. Ele não estava na cozinha. Rose olhou rapidamente nos quartos. Sem sinal de Zac. O bebê chutou então, como se a instigando a continuar procurando.

Ela voltou à sala de estar e viu uma porta aberta, reconhecendo que era a porta que levava ao jardim. Sua pulsação acelerou, enquanto ela subia a escada circular. A porta no topo estava aberta, e Rose saiu ao ar livre, experimentando a sensação de déjà vu. O ar estava agradável. Luzes brilhavam. O jardim era tão mágico quanto ela lembrava. Ela seguiu o caminho e subitamente entendeu por que Zac construíra esse jardim... obviamente, para os pais. Então uma voz familiar quebrou o silêncio: – Pensei que você não viesse. Ela ergueu os olhos para ver Zac,

Ela ergueu os olhos para ver Zac, vestido num smoking, parado no pequeno terraço acima do jardim. O coração de Rose disparou. O bebê chutou novamente. Ela pôs a mão sobre a barriga. – A temperatura do meu pai subiu. Eu quis esperar abaixar. Zac franziu o cenho. – Ele está bem agora? – Sim, obrigada. Zac não se moveu, e Rose continuou andando, muito ciente dos olhos azuis observando-a e de seus próprios movimentos. O vestido não era de grávida e estava ainda mais esticado sobre a barriga do que da última vez.

Ao chegar perto de Zac, ela parou. Pensara que conseguiria manter a cabeça erguida, dar-lhe o que ele quisesse, depois partir. Mas agora, na frente dele, isso não era tão fácil. Passado e presente estavam se misturando. Ela deu um passo atrás. Muita emoção a envolvia, assustando-a. Zac estendeu uma mão, como se quisesse tocá-la, e ela entrou em pânico. – Sinto muito. Eu pensei que pudesse fazer isso... mas não posso. – Do que você está falando? Rose gesticulou para o vestido com uma mão tremendo. – Disto. Você quer provar algum

– Disto. Você quer provar algum ponto... Talvez queira um caso por um tempo... até que fique entediado e me dispense... Eu sei que lhe devo, Zac... eu lhe devo mais do que poderei pagar algum dia. Mas não acho que posso fazer isso. Ele aproximou-se então, com uma expressão selvagem no rosto. Rose soube que recuara quando bateu na grade de onde eles tinham admirado a vista naquela primeira noite. – Você acha que eu a trouxe aqui assim para realizar algum tipo de fantasia distorcida? Que eu quis vê-la neste vestido só para seduzi-la por uma quantidade de tempo limitada? Ele colocou as mãos sobre a grade,

Ele colocou as mãos sobre a grade, prendendo-a ali. – Você me deve... – continuou Zac. – Eu sei que devo! – interrompeu Rose. – Ninguém sabe disso melhor do que eu. Ele segurou-lhe o queixo, e cada célula do corpo de Rose pulsou em reação. – Pelas últimas semanas, você tem me mantido a distância, e eu não permitirei isso... não quando você disse que me amava. Por que age como se não me amasse? Rose perdeu o fôlego. Queria desaparecer. Isso era tortura. Era crueldade da parte de Zac.

Furiosa pelo jeito como ele a estava humilhando, ela disse: – Porque eu não sou masoquista. Motivo pelo qual não posso fazer isso... – Quando comecei a falar que você me deve, eu ia dizer que você me deve a sua confiança. Sabe por que eu lhe pedi para vir aqui neste vestido? Rose tentou ignorar o que ele falara sobre ela lhe dever confiança. Acreditar nisso era perigoso demais. – Porque você quer que eu comece a lhe pagar... Porque o vestido o excita... Porque eu o embaracei quando apareci no evento... Não sei, Zac... – Você está certa sobre uma coisa:

– Você está certa sobre uma coisa: você, nesse vestido, me excita. Rose tremeu. – Mas a verdadeira razão é porque eu quero recomeçar. Quero que recriemos aquela noite... exceto que, dessa vez, sem qualquer manipulação envolvida. Somos apenas duas pessoas que nunca nos vimos antes. Sem planos. Mal ousando respirar ou ter esperança, Rose sussurrou: – Por quê? Se tudo que você quer é um caso... – Suas palavras, não minhas. – Ele meneou a cabeça. – Ainda não entendeu, não é? Eu não a trouxe aqui para que durma comigo, ou

para continuar um caso temporário. Você está aqui porque tudo que sempre acreditei que era importante não significa nada, a menos que você esteja comigo. Ele não tinha acabado. – Eu não quero só uma noite... ou algumas semanas ou meses. Quero todas as noites e todos os dias. Quero você, eu e nosso bebê... juntos. E quero isso para sempre. Rose balançou a cabeça com incredulidade, o coração batendo freneticamente. – Você não acreditou quando eu lhe contei como me sentia... Como sei que acredita em mim agora? Zac foi intenso.

– Porque eu acredito naquela garota que conheci que estava em tamanho conflito... que apenas queria fazer a coisa certa, mas estava se apaixonando, assim como eu. Acredito na pureza do que sentimos um pelo outro, independentemente da maneira que nos conhecemos. Aquilo era demais. A esperança era demais... Zac desconfiara dela por tanto tempo... Rose desvencilhou-se e virou-se de costas para ele, segurando a grade com ambas as mãos. Sua garganta doía, seus olhos ardiam. E, então, ela fechou os olhos quando o sentiu atrás de si, envolvendo os braços ao seu redor. Mãos grandes se abriram

sobre sua barriga com uma possessividade que fez seu sangue pulsar. Ele sussurrou sobre sua cabeça: – Eu a amo, Rose, e não vou deixála ir. Não até que você acredite em mim. Ela estava chorando agora, silenciosamente. Mas ele podia sentir seus soluços e abraçou-a até que parassem. O bebê chutou sob as mãos de Zac, e ele falou com voz emocionada: – Viu? São dois contra um. Enquanto ele a abraçava e ela olhava a vista, Rose sentiu alguma coisa louca enraizar-se em seu interior. O passado e o presente... e o

futuro? Podia realmente começar ali de novo? Ela virou-se nos braços dele. Fitou profundamente os olhos azuis e não viu nada exceto pura verdade. E uma pergunta. Ela poderia dar outra chance a eles? Confiar nele? Rose libertou-se do abraço e deu um passo atrás. A dor que viu nos olhos dele quando ela se afastou disse-lhe tudo. E ela nunca mais queria ver aquela dor ali. Respirando fundo, Rose estendeu a mão. – Eu sou Rose O’Malley... prazer em conhecê-lo. Os olhos de Zac brilharam. Com alívio. Alegria. E com amor. Ele

sorriu e apertou sua mão. – Zac Valenti... o prazer é todo meu. – Ele inclinou a cabeça de lado. – Com sua cor de pele e um nome desses, você só pode ser irlandesa? Com o coração aos saltos, ela respondeu: – Meus pais emigraram para cá antes de eu nascer. Zac continuou segurando sua mão e começou a puxá-la na sua direção. – Por que eu não a vi por aqui antes? Rose deu um sorriso trêmulo. – Eu sou do Queens, e apenas uma humilde empregada. Zac a puxou para seu corpo e murmurou numa voz embargada

pela emoção: – Por acaso, humildes empregadas são meu tipo favorito de pessoas. – Ele entrelaçou os dedos nos cabelos de Rose. – Eu poderia beijar você, apesar de termos acabado de nos conhecer? A voz de Rose tremeu. – Somente se você prometer nunca parar. – Isso – falou Zac com reverência, enquanto abaixava a cabeça em direção à dela – eu posso prometer. E então, naquela noite, na linda cobertura, no meio de um jardim mágico e sob um céu escuro aveludado, eles recomeçaram.

EPÍLOGO

Um ano depois

ZAC

VALENTI olhou em volta do enorme salão de bailes de sua localização antissocial, encostado contra um pilar nos fundos do espaço. Mulheres passavam, cheias de joias. Ele mantinha uma carranca. Então alguma coisa atraiu sua visa periférica e ele olhou para sua direita, vendo uma chama de dourado e

verde aproximando-se. Sua esposa, seu amor, sua vida. Ela emergiu da multidão, sorrindo-lhe. Os cabelos estavam presos num coque, e ela usava um vestido verde sem alças que fazia seus olhos parecerem joias. As únicas joias de que ela precisava. Além das alianças de casamento. Quando ela chegou ao seu lado, Zac abraçou-a e sentiu o que sempre sentia... como se uma parte sua estivesse se encaixando de volta no lugar. Rose o fitou, os olhos brilhando. – A fofoca no toalete hoje é sobre a súbita decisão da tal de Jocelyn

Lyndon-Holt partir num cruzeiro ao redor do mundo. Zac sentiu a tensão familiar diante do nome da mulher, mas também sentiu alívio. Ele dera uma recente entrevista exclusiva para uma revista financeira, finalmente revelando a verdade sobre seus pais e detalhes de seus negócios italianos até então pouco conhecidos. Esse cruzeiro era a tentativa de sua avó de escapar da situação. O fato de que ela seria perseguida por repórteres durante toda a viagem era satisfatório. Assim como o contrato legal que ele a obrigara assinar, o qual tinha sido a única chance dela

de assegurar que o nome LyndonHolt vivesse para sempre. A fortuna Lyndon-Holt deveria se tornar uma fundação filantrópica, com um de seus principais beneficiários sendo uma nova instituição beneficente criada por ele e Rose, a qual arrecadaria verbas para cirurgias médicas caras para aqueles que não podiam pagar. O pai de Rose se recuperara completamente, e eles haviam ido até a Irlanda com as cinzas da mãe dela logo depois do nascimento da filha deles. Desnecessário dizer que Simona May Valenti, nomeada em homenagem à avó paterna e à avó materna, era a queridinha do avô.

Eles a tinham batizado três meses atrás, na igreja perto do cemitério onde os ancestrais de Zac estavam enterrados. Era também onde haviam se casado, antes do nascimento de Simona. Itália era seu segundo lar agora, e eles iam para lá o máximo possível. Zac falou agora: – Estou menos interessado em fofocas e muito mais interessado em ver quão rapidamente eu posso tirála deste vestido, sra. Valenti. Rose o abraçou pela cintura, pressionando-se contra ele, e o corpo de Zac respondeu imediatamente. – Bruxinha – murmurou ele, e ela sorriu, ciente do efeito que lhe

causava. Ele a posicionou na sua frente, tanto para disfarçar a reação do seu corpo como para torturá-la um pouquinho. E sorriu ao ver os olhos verdes se dilatarem. – Que tal irmos para um lugar menos... abafado? Rose sorriu. – Ótima ideia. Então eles perceberam um momento de déjà vu ao mesmo tempo... lembrando-se daquela primeira noite, quando haviam dito as mesmas palavras. Rose sussurrou com voz rouca: – Leve-me para casa, Zac.

E assim ele fez. Eles foram para sua nova casa em Greenwich Village e, depois de dispensarem a babá, observaram sua filhinha dormir pacificamente. Zac olhou para Rose por um longo momento. Às vezes, assustava-o reconhecer como ele desperdiçara a vida, apenas sentindo um desejo de vingar seus pais e querendo acumular mais riqueza e poder. Precisara conhecer e se apaixonar por Rose para descobrir o verdadeiro significado da riqueza. E agora sua filha enfatizava tal significado um milhão de vezes. Rose pôs a mão na sua, e ele a olhou, muito emocionado para falar

qualquer coisa por um momento. Ela sorriu, e Zac viu tudo o que estava sentindo espelhado nos olhos verdes. – Eu sei – murmurou ela suavemente. – Eu também. Então ela começou a sair do salão, puxando-o consigo, com um sorriso travesso e muito feminino no rosto, enquanto eles se dirigiam ao seu quarto. E, naquele espaço privado, Zac deixou-a fazer o que ela bem entendesse com ele... porque sabia que ela era a única pessoa que podia torná-lo inteiro outra vez. Para sempre.

Susan Stephens

UM FUTURO PARA DOIS

Tradução Rodrigo Peixoto

CAPÍTULO 1

CRAVANDO

pá na rica terra toscana, Cassandra sorriu ao pensar na sorte que havia sido conseguir um trabalho na Itália. Ela adorava viver ao ar livre, usando seu corpo em todas as suas possibilidades. E o que poderia ser melhor do que trabalhar ouvindo o som do canto dos pássaros, ao lado de um rio cristalino? O seu trabalho era auxiliar SUA

a plantação sazonal em uma grande propriedade. E a equipe em que ela trabalhava tinha direito a um dia livre todas as quartas-feiras, o que lhes dava um respiro bem no meio da semana. E nesse dia ela ficava com o terreno para si, e a sua imaginação voava, com Cass pensando ser a mulher com as rédeas daquelas terras nas mãos... o que seria ainda melhor se não estivesse usando botas repletas de lama e um macacão que rasgara ao roçar em algum arame farpado, além de um boné de basebol na cabeça, tão desbotado quanto o short que ela vestia. As terras estavam a quilômetros da

As terras estavam a quilômetros da cidade mais próxima, e a solidão daquele local era uma bênção, especialmente após o tempo que passou trabalhando em um supermercado, na sua terra natal, antes de viajar à Itália. Além disso, estar sozinha por ali era bem melhor do que ser obrigada a encarar o dono daquelas terras. Marco di Fivizzano, industrial italiano, não aparecera por lá desde a sua chegada. E ela não tinha qualquer pressa em conhecer um homem que, segundo os jornais, não tinha coração e podia ser mais frio que uma peça de mármore de Carrara. Mas eu não preciso me preocupar

Mas eu não preciso me preocupar com Marco, murmurou Cass, movendo a pá que cravara no solo. Afinal, ela não conseguia imaginar um homem como ele gastando um tempo de sua atribulada agenda viajando de Roma para aquele fim de mundo, bem no meio da semana. Quando perguntou a Maria e Giuseppe (a guardiã da casa e o faztudo local) se e quando conheceria seu chefe, eles simplesmente se entreolharam e deram de ombros. E isso seria uma coisa boa, refletiu Cass, voltando a cuidar da terra e preparando os buracos onde plantaria algumas sementes. Ela não tinha medo do trabalho duro, mas

nem por isso aquele esforço poderia ser chamado de fácil. Sempre fora rebelde, embora tal rebeldia tivesse estado apenas em sua mente. Era insolente, segundo a diretora da escola onde estudava, mulher que ficou furiosa ao ver que Cass se recusava a chorar até nas horas mais embaraçosas. Aliás, o pior dia da sua vida foi quando seus pais foram presos por tráfico de drogas. Porém, ainda bem jovem, Cass já era uma menina determinada a não se deixar abater com facilidade. No entanto, um detalhe ainda a deixava perplexa. Se seus pais não eram o tipo de pessoa que a diretora da sua escola sonhava ter por perto,

por que continuava aceitando o dinheiro que eles pagavam pelas mensalidades? Por outro lado, ela não aguentava demonstrações de esnobismo. E seu falecido pai, mais conhecido como o infame Jackson Rich, estrela do rock, nunca teve problemas na hora de pagar as mensalidades, que eram caríssimas, mas ainda assim os funcionários da escola sentiam inveja dele, da sua linda mulher e de Cass, sua filha. Deixe o passado no passado, pois ele deve ficar por lá, e desfrute do sol da Toscana... E fazer isso era tarefa fácil, pensou Cass, feliz. O sol brilhava em seu

rosto, aquecendo sua pele, e o cheiro de orégano selvagem era intoxicante. Aliás, estava bem quente para a primavera italiana, e aquele trabalho era infinitamente melhor que o que ela tivera anteriormente, quando desperdiçava sua vida e sua juventude atrás do caixa de um supermercado. Fechando os olhos, ela sorriu ao pensar em suas escolhas: um uniforme de náilon que a deixava sem movimentos ou a roupa confortável que usava naquele dia? Ela não respondeu. Cass adorava trabalhar com plantas, e certo dia implorou ao dono do supermercado para permitir que

ela trabalhasse na seção de jardinagem, prometendo-lhe que suas plantas nunca mais morreriam se estivessem nas mãos dela. Ele a olhou como se ela fosse uma louca e respondeu que gostava de ver suas “meninas” sempre limpas, sem sujeira de lama. No mesmo dia, ela lhe entregou sua carta de demissão. Secando o rosto com uma das mãos, ela olhou em volta. Depois estirou os braços, como se pudesse tocar o sol. Pássaros cantavam, abelhas zumbiam, e já era possível ver as frutas resultantes do seu trabalho aparecendo nos galhos verdes. Em um impulso, ela pegou o telefone para tirar uma selfie e enviar

à sua madrinha, que ela adorava e com quem morara após a morte dos pais. Ao aceitar aquele trabalho, sua ideia era juntar um dinheiro e comprar uma passagem de avião para enviá-la à Austrália, para que a mulher pudesse visitar o filho. O ideal seria conseguir comprar a passagem antes do aniversário dele, mas isso seria sonhar alto demais. Após enviar a foto por e-mail, ela recebeu uma resposta quase imediata da madrinha: Você está com uma aparência de quem não para de se divertir! No entanto, sugiro que tome um banho antes que alguém a veja. Beijos.

Sorrindo alto, ela espantou uma abelha, mas logo percebeu que o som que ouvia não vinha de um inseto, mas de algo bem maior... algo que se aproximava cada vez mais, lançando uma sombra naquele ensolarado dia toscano. O seu coração acelerou quando ela viu o helicóptero negro se aproximando das árvores e pairando acima da sua cabeça. Ele tampou o sol e acabou com a calma do local por conta de um enorme barulho e da poeira lançada ao ar. Protegendo os olhos, ela tentou ver quem estaria lá dentro. Porém, ao ver que na lateral do helicóptero estava escrito “Fivizzano Inc.”, ela nem precisou exercitar muito sua imaginação.

Poderia apostar que se tratava do “Mestre”, como Giovanni e Maria chamavam “o homem que deve ser obedecido”. Sim, ele estava chegando por ali. E, sem dúvida, chegava sem avisar. Caso contrário, Giovanni e Maria nunca teriam tirado o dia de folga. Mas ela daria conta do recado, pensou Cass, determinada. Estava acostumada a situações complicadas. Tudo o que faria seria manter-se longe do caminho daquele homem, e nada aconteceria. Mas o seu coração continuava batendo forte enquanto o helicóptero descia dos céus, lentamente, como se fosse uma ave sinistra, agitando a

grama e espantando os pássaros que cantavam nas árvores mais próximas. Ela nunca conhecera alguém que fosse acostumado a andar de helicóptero. Cravando a pá no chão, Cass percebeu que suas mãos tremiam. Secando as mãos no short, ela ficou paralisada onde estava, com uma pose pretensamente petulante. A porta do carona se abriu, e uma figura alta e com pose de comando, vestido de maneira imaculada, desceu do helicóptero. Marco di Fivizzano era muito mais bonito do que a imprensa deixava entrever, e por um momento ela ficou paralisada olhando para ele.

O que estaria acontecendo com ela? Por que tinha medo? Ela não fizera nada errado. O que é isso?, ele pensou, franzindo a testa, mas logo se lembrou de que sua secretária mencionara algo sobre uma nova contratação temporária durante o verão. Mas ele não estava com a menor vontade de falar com ninguém naquele momento. Porém, Giovanni e Maria devem ter conversado com aquela pessoa e lhe revelado uma regra básica de convivência por ali: ninguém deveria se aproximar dele quando estava em sua propriedade toscana. Murmurando baixinho, ele se lembrou de que aquele era o dia de

folga de Giovanni e Maria. E saíra da cidade com tanta pressa que só pensara na maneira mais rápida de chegar até ali. No entanto, seria obrigado a lidar com aquela situação. Aliás, ele imaginou que o novo membro de sua equipe de jardinagem seria um homem mais velho e experiente, não um menino franzino. Aproximando-se, ele parou assim que ela girou o rosto para encará-lo. Uma mulher em farrapos? Sem maquiagem? Com os cabelos escondidos sob um boné de basebol? Pernas torneadas... corpo violão, mamilos sem sutiã pressionados

contra a camiseta de algodão, rosto atraente... O corpo de Marco respondeu de maneira violenta, em aprovação. Por baixo da lama, do suor e das bochechas vermelhas havia uma mulher muito atraente. E jovem. O boné estava cravado fundo em sua cabeça, escondendo seus olhos do brilho do sol, como se ela não ligasse a mínima para vaidade... e isso era uma grande novidade para Marco. Suas roupas eram uma camiseta suja de lama, ajustada na altura dos seios fartos, e um short curto que enfatizava suas pernas longas e finas. Observando-a, ele viu que a menina não era tão jovem quanto parecia em

um primeiro momento, e nem parecia intimidada com a presença dele... pelo menos até então. Aliás, aquela menina não parecia assustarse com nada, ele pensou, ao ver a maneira como o encarava. – E você é...? – perguntou ele, de repente. Em contraste com seu humor irritável, ela parecia relaxada e até capaz de divertir-se com a situação. – Cassandra Rich – respondeu ela. – Sua nova jardineira, sabe? Algo naquele sobrenome chamou a atenção de Marco, mas por quê? – Vou trabalhar aqui durante o verão – disse ela. –

Onde

estão

os

outros

– Onde estão os outros jardineiros? – Estão de folga por uns dias. Eu estou sozinha. – E consegue dar conta disso tudo sozinha? – Por uns dias, sim. – Que bom – disse ele. – Não sou tão frágil quanto pareço e não vou decepcioná-lo. – Se fosse me decepcionar, você não teria sido contratada. – Algo mais... ou posso voltar ao trabalho? – perguntou Cassandra. – Obrigado, pode voltar ao trabalho. Cassandra tremeu dos pés à cabeça. O que estaria acontecendo

com ela? Ele entrou na casa e, ao terminar a jornada, os dois se encontraram novamente. – Terminei por hoje – disse ela. – Poderia me contar algo sobre você, já que estará por aqui durante todo o verão? – pediu ele. O que ela poderia lhe contar? – De onde você veio? – insistiu ele. – Da Inglaterra. De uma região chamada Lake District. – Conheço. Você tem família? – Eu morava com a minha madrinha. – Não tem pais? – Morreram. – Sinto muito.

– Isso aconteceu há muito tempo – disse ela. Há quase dezoito anos, pensou Cassandra. – Vamos entrar – sugeriu ele. – Maria e Giuseppe estão de folga hoje – disse ela, relutante. – E daí? – Ela deve ter deixado algo preparado na geladeira para você comer – comentou Cassandra. – Mas, caso não tenha deixado, eu me ofereço para preparar. – Tudo bem. – Eu não cozinho muito... – Faça o que for possível. E entraram na casa. – Pode tomar um banho antes –

– Pode tomar um banho antes – sugeriu ele. Ela foi tomar um banho rápido, depois voltou à cozinha. Nesse meio-tempo, Marco também aproveitou para tomar um banho. E se sentiu fresco e revigorado. Cassandra era como a versão feminina do Indiana Jones, e ele deveria estar preparado para interagir com uma mulher tão decidida. CASSANDRA PRECISAVA se acalmar antes que Genghis Khan voltasse à cozinha. O que havia de errado com ela? Tentando se acalmar, decidiu

Tentando se acalmar, decidiu preparar uma omelete. Após os anos com os pais, que foram um completo desastre, culminando com uma tragédia, no tempo em que passou com a madrinha ela aprendeu diversas coisas, até a cozinhar... embora não muito. Porém, no fundo, ela sabia que poderia lidar com Marco di Fivizzano. Nada do que ele pudesse fazer seria pior do que os anos antes de Cassandra ir morar com a madrinha. Depois de conseguir preparar uma omelete perfeita, ela a colocou em um prato, junto a uma tigela com

salada de folhas frescas. Nesse exato momento, ele entrou na cozinha.

CAPÍTULO 2

EMBORA

MARCO estivesse determinado a tratá-la como qualquer outro membro de sua equipe, só de ver Cassandra Rich debruçada sobre a pia da cozinha, limpando uma panela, ele ficou louco. O movimento de seus quadris era perfeito. Porém, infelizmente, ela trocara de roupa. As anteriores, rasgadas e sujas de lama, tinham dado lugar a uma roupa mais

ajustada e limpa. No entanto, uma leve mancha de barro no seu pescoço parecia implorar para ser limpa com uma lambida. – Espero que goste da omelete – disse ela, com aparente sinceridade. Ele voltou seu olhar para o lindo prato que ela acabara de deixar sobre a mesa. – Está com uma aparência ótima – disse ele, com um gesto de aprovação –, mas cadê o pão? Ele percebeu um fulminar nos olhos de Cassandra, mais ou menos como ficaram no jardim, e logo depois ela disse, em tom triste: – Vou pegar um pedaço para o senhor.

Por algum motivo, esse discurso subserviente o desagradou. – Pelo amor de Deus, pode me chamar de Marco – disse ele. Ele não sabia ao certo se ela estaria ou não usando um tom de brincadeira, embora tudo parecesse indicar que sim, e Marco sentiu seu sangue correr com mais força pelas veias ao aceitar tal desafio. – Isso é apenas uma refeição simples – explicou ela, depois que ele murmurou um agradecimento e se sentou à mesa. Minha tentativa de aliviar a frustração fritando ovos falhou completamente, pensou Cass. Dessa vez, Marco di Fivizzano

Dessa vez, Marco di Fivizzano parecia ainda mais improvavelmente atraente do que na primeira vez que o viu. Baixando os olhos, para se certificar de que sua camiseta não deixava os seios à mostra, ela percebeu que seus mamilos praticamente o cumprimentavam de tão excitados. Antes, vestindo um terno bemcortado, com uma camisa branca impecável e uma gravata de seda cinza, seu chefe estava incrivelmente atraente, mas, naquele momento, usando uma calça jeans justa (e ela já dera uma olhada nas formas das pernas de Marco), com uma camiseta preta, também ajustada, que deixava

à mostra os músculos do seu torso e braços, a visão daquele homem era algo que beirava o inacreditável de tão bela... – Pão? – Ele voltou a perguntar. Além de tudo, Marco parecia ser o homem mais rude que ela conhecera na vida. Cassandra procurou o pão com um olhar penetrante. Aquela enorme cozinha parecia cada vez mais menor... isso porque o magnetismo animal e masculino de Marco invadia e tomava conta de todos os espaços com uma velocidade impensável. – Você já comeu, Cassandra? – perguntou ele. Ela ficou surpresa com a pergunta,

Ela ficou surpresa com a pergunta, mas não tinha qualquer intenção de se sentar para comer ao lado dele. – Não estou com fome – respondeu ela, embora sempre ficasse morrendo de fome após passar um tempo trabalhando ao ar livre. – Vou comer algo mais tarde. – Estou vendo que come pouco – disse ele, deixando a faca sobre a mesa. – Você está magra demais. Tirando o fato de ela nunca ter sido chamada de magra (ela adorava comer e nunca trocava um bom prato de comida pelo prazer de entrar em uma roupa um número menor), aquele comentário parecia muito fora de lugar. Marco não

deveria tocar em assuntos tão pessoais com ela. Você adora o seu trabalho... lembra? Respirando fundo para tentar se acalmar, ela mordeu a língua. Aquela menina prendera totalmente a atenção de Marco. Embora ela não fosse perfeita, como ele esperava que fossem todas as mulheres italianas (mesmo após ter tomado um banho, ela continuava com pequenas manchas de lama em seus braços e pescoço), pelo menos não era boba. Da mesma forma, ela não se parecia em nada com as mulheres que trabalhavam no mundo dos negócios e que orbitavam

em volta dele, e com as quais Marco costumava se dar muito bem. Cassandra é singular... e nem tudo nesta propriedade toscana é perfeito, ele disse a si mesmo. Aliás, ele sempre gostou do ar um pouco desleixado daquele lugar. – Gostou da omelete? – perguntou ela, assim que ele comeu o último pedaço. – Muito – admitiu ele. Ele não percebera o quanto estava esfomeado até se sentar para comer... e só então percebeu o quanto aquela cozinha era diferente da que tinha em Roma, que era toda em aço e granito preto, enorme e intocada. E ele não mudaria nada naquele

E ele não mudaria nada naquele lugar, pensou, dando uma olhada ao redor. Logo depois, seu olhar crítico retornou a Cassandra. – Como você conseguiu esse trabalho? – perguntou ele. – Uma amiga da minha madrinha me recomendou – respondeu ela. – Ela também é jardineira, e muito boa profissional. – E quem a contratou? – perguntou ele, franzindo a testa. – Você... Quer dizer, a sua... Cassandra ficou muda. Ela não tinha a menor ideia sobre a hierarquia das pessoas que trabalhavam para ele. – A minha secretária particular? –

– A minha secretária particular? – perguntou ele. – Ela é a única pessoa da minha equipe com autoridade para contratar funcionários para trabalhar em minhas propriedades. – Sim. Deve ter sido ela – respondeu Cassandra, embora não tivesse a menor ideia sobre quem estavam falando. Aliás, com os olhos de Marco cravados sobre ela, Cassandra não parecia saber o que dizer. – Eu ainda não li o seu currículo – disse ele, sem, em nenhum momento, afastar os olhos dela. – Quais são suas qualificações para ter conseguido esse trabalho? Ela

não

tinha

nenhuma

Ela não tinha nenhuma qualificação especial, apenas sua paixão por plantar e pela natureza em geral. – Eu aprendi tudo sozinha – admitiu ela. E seus conhecimentos vinham sobretudo de livros sobre jardinagem. Aliás, o seu livro de cabeceira era O jardim secreto. – E quanto aos seus trabalhos anteriores? – perguntou ele. Ela ficou olhando para Marco (querendo entender como decifrálo), enquanto ele afastava o prato da sua frente. – Trabalhei no supermercado perto da minha casa... no caixa, mas

também repondo mercadoria – respondeu ela. – E a sua educação? Seus estudos? – perguntou ele, franzindo ainda mais o cenho. Sim, ela estudara em uma escola de prestígio, mas nunca fora uma aluna muito dedicada, e tal fato levou seus professores a deixá-la um pouco de lado. Cassandra não era muito aplicada às aulas ou às avaliações. Ela não tinha um histórico escolar de que pudesse se orgulhar. – Eu não tenho nenhuma qualificação formal – admitiu ela, preferindo deixar a questão em pratos limpos, na tentativa de evitar

novas perguntas sobre aquele assunto. E Cassandra faria de tudo para que ele não ligasse seu sobrenome ao famoso escândalo envolvendo os seus pais... pelo menos naquele momento. Por outro lado, por que ela lhe revelaria muito mais coisas... se até então ele não lhe revelara nada sobre si mesmo? Ela entendia que, para Marco, seria uma curiosidade natural querer saber mais detalhes sobre uma estrangeira que surgira na sua frente. Mas um homem tão poderoso e rico quanto Marco di Fivizzano poderia descobrir o que quisesse com um único telefonema. Portanto, se

estivesse interessado em saber mais sobre ela, que fizesse isso, que telefonasse para alguém. Fique calma, ela disse a si mesma. Sim, parecia inteligente da sua parte dizer a si mesma que se mantivesse calma, mas Cassandra podia imaginar o que um homem como Marco di Fivizziano poderia fazer caso descobrisse fatos sobre o seu passado. A mídia devassara a história de uma menina que ficara sozinha em uma casa repleta de drogas, enquanto seus pais boiavam mortos na piscina. Se ele descobrisse isso, e todos os outros fatos desconcertantes sobre a sua vida, Marco teria a certeza de que ela era

louca... o que não refletia em nada a realidade da vida de Cassandra. Tudo o que ela queria era poder voltar ao passado e ajudar os pais a vencerem aquele terrível problema que acabou com as suas vidas. Ela o observou se levantar da mesa. Perceber que Marco a rondava a deixou desconfortável, até mesmo vulnerável, mas ele foi embora da cozinha sem olhar para trás e sem dizer uma única palavra em agradecimento. – Que homem rude! – disse ela, olhando pela janela enquanto ele atravessava o jardim. Mas ele era deslumbrante. E como caminhava

lindamente... com aquele corpo inacreditável de tão perfeito. Para ela, tudo mudara completamente após a chegada de Marco di Fivizzano por ali. Só uma coisa parecia continuar como sempre: O jardim secreto ainda servia como seu melhor refúgio diante das agruras do mundo real. ELE DORMIRA mal. Aliás, praticamente não dormira. Por que tentar florear a situação? Vestindo sua calça jeans, ele passeou pelo quarto. Marco deveria estar sozinho naquela casa, tendo todo o espaço exclusivamente para si,

mas ela estava por ali... em um quarto logo após o jardim. Ele sentiu o sangue correndo com força pelas veias ao olhar para a janela do quarto de Cassandra, que ficava em frente ao seu. E Marco surfou na internet em busca de alguma informação sobre ela. E encontrou certas coisas. Ela era filha de um famoso cantor de rock, Jackson Rich, e da sua louca e linda esposa, Alexa Monroe. Sendo assim, por que trabalhava como jardineira? O que teria acontecido com todo o dinheiro da sua família? Jackson Rich alcançara um sucesso enorme na carreira. Ele

teria sido capaz de gastar tudo o que ganhara? Cassandra não parecia ter dinheiro. Portanto, tudo o que Marco foi capaz de imaginar era que Jackson teria perdido até o último centavo de sua fortuna comprando drogas e gerando dívidas milionárias com os traficantes que o serviam. E, pensando nisso, não sentiu pena de Jackson Rich. Marco sempre trilhara sua própria estrada, nunca tivera a ajuda de ninguém. Rich, por sua vez, deve ter se curvado ao sucesso e ao seu próprio ego, tornando-se um alvo fácil da decadência. Ele deve ter cavado sua própria desgraça. Ainda

assim,

Marco

parecia

Ainda assim, Marco parecia decidido a oferecer à Cassandra uma oportunidade. Nada garantia que ela teria herdado a fraqueza dos pais. Porém, se Cassandra não passasse de uma caçadora de fortunas interessada em aproveitar-se do dinheiro de Marco, pior para ela... Marco não tinha espaço para uma concubina em sua vida romana. Muito menos para uma concubina que vivia suja de lama. As mulheres romanas eram lindas, sabiam se vestir, sabiam conversar, sabiam se comportar... na cama e fora dela. E ele duvidava de que Cassandra estivesse interessada em adquirir qualquer desses hábitos...

Com a possível exceção do último, pensou. Chegara a hora de lembrar a si mesmo que ele era um homem decidido a evitar as complicações da vida a qualquer custo. Sua infância lhe provara que as mulheres não eram muito confiáveis, e Marco não tinha nenhum motivo palpável para mudar de ideia sobre isso. Cassandra Rich podia ser interessante e atraente, mas não passaria disso. ELA DORMIRA demais! Saindo correndo da cama, Cassandra deu uma olhada ao redor, perdida, tentando localizar suas roupas. O simples quarto logo após o jardim

era o mesmo de sempre... a casa era a mesma de sempre... o cheiro das flores que entrava pela janela era o mesmo de sempre... até o canto dos pássaros reunidos na árvore mais próxima era o mesmo de sempre. Mas tudo mudara, por culpa de Marco. Esqueça seu chefe! Ela deveria estar pronta para trabalhar no jardim, como sempre... mas não estava. Esquecê-lo? Sim, eu vou esquecê-lo, pensou Cassandra, determinada, até finalmente correr em direção à janela do quarto... e vê-lo! Uma coisa desse tipo jamais acontecera em sua vida.

Homens altos, morenos, desconhecidos e donos de corpos perfeitos não costumavam rondar sua existência, muito menos os que chegavam a bordo de sinistros helicópteros pretos, exigindo que os alimentassem. E sim, ela lhe prepara comida no dia anterior. Mas seria capaz de administrar melhor a situação naquele segundo dia? Aliás, será que alguém neste mundo seria capaz de administrar a presença de Marco di Fivizzano? Ao abrir as cortinas, ela o viu atravessar o pátio. Ele parecia mais lindo a cada vez que o via... e também mais perigoso e rude, mais

determinado, mais invencível, mais sério. Especialmente naquela manhã, pois Marco deixara para trás o seu look perfeito para a cidade grande. Os homens que rondavam a imaginação de Cassandra não se pareciam muito com ele, mas Marco os deixava com um ar extremamente patético. E sua calça jeans bem recheada foi a responsável por colocar ainda mais combustível às fantasias exageradas de Cassandra. Fantasias fora de lugar, loucas. Além da calça, ele usava uma camisa com as mangas enroladas até os cotovelos, deixando à mostra seus antebraços musculosos. Aliás, ele parecia ser feito unicamente de músculos. E ela

teria que ser feita de pedra para não pensar como seria dividir uma cama com um homem daqueles... No entanto, ela não tinha tempo para esse tipo de coisa! Não tinha mesmo, ela pensou, percebendo que Marco se aproximava de sua janela. Ele teria percebido que Cassandra o observava? Seus instintos animais estariam mais aguçados naquela manhã? Ela deveria ser mais discreta, caso quisesse manter o seu trabalho. Ao sair do banho e enrolar-se em uma toalha, ela pensou na sua vasta coleção de roupas. Aliás, de vasta a sua coleção não tinha nada, pois se resumia a um vestido de verão (caso

fosse necessário, em algum momento), duas bermudas, meia dúzia de camisetas e duas calças jeans... além de um pulôver, pois alguma noite poderia ser um pouco mais fresca que o normal. No entanto, por que estava pensando no que vestir, se passaria o dia trabalhando no jardim? Em qualquer outro momento, ela teria vestido a primeira coisa que aparecesse à sua frente... e que seria uma bermuda e uma camiseta. Afinal de contas, ela trabalhava com a terra e não estava tentando alcançar um posto de destaque nas empresas de Marco nem querendo encontrar uma vaga em sua cama.

Mas que roupa íntima deveria usar? Ela ficou observando sua cintura marcada sob a toalha. Escolheria algo confortável, sem dúvida! E isso importava, pois passaria o resto do dia trabalhando e deveria se sentir bem enquanto isso. Decidiu vestir sua maior calcinha e um top que escondia bem os seus seios fartos. Maria e Giuseppe estavam de volta, e ela aproveitou para fazer algumas perguntas durante o café da manhã. No entanto, eles sabiam tanto quanto ela sobre os planos do chefe para os próximos dias. Giuseppe

mencionou algo sobre a visita de Fivizzano aos vinhedos próximos, pois ele parecia disposto a escolher alguns vinhos para uma importante festa em Roma, e essa foi a única coisa relevante que ela descobriu antes de voltar ao trabalho. ALGUNS DIAS se passaram, depois outros mais, e ela praticamente nem vira o chefe durante esse tempo. E Cassandra vivia repetindo para si mesma que isso era uma coisa ótima (que ela preferia viver livre daquele tipo de pressão), mas ao mesmo tempo não parava de procurar por ele. Não conseguia se conter nesse

sentido. Marco di Fivizzano era uma atração irresistível. Por meio de Maria, ela ficou sabendo que Marco passava um bom tempo inspecionando sua propriedade. Sem dúvida, a sensação de Cassandra era a de estar sempre “um degrau abaixo dele”, pois Marco era o senhor da casa e ela não tinha nada a ver com sua vida. Não havia nada em comum entre eles, da mesma maneira como não havia motivo para um encontro (mas ela poderia continuar sonhando, pensou Cassandra, enquanto reunia suas ferramentas para voltar ao trabalho). Sonhar não custava nada, e sonhar era seguro... ou era seguro, até Marco

aparecer naquela casa. Bastava um olhar por parte dele e Cassandra sentia seu corpo tremer dos pés à cabeça. Seu coração saltava no peito. E ele apareceu... com uma roupa formal e dirigindo uma Lamborghini. Estaria preparado para um encontro? E por que ela deveria se preocupar com isso? Por que aquela linda calça que ele usava, junto com aquela camiseta azul, deixava ainda mais evidente sua pele bronzeada? Bobagem. Se ao menos ela pudesse ver os seus olhos...

Mas ele os escondera atrás de óculos escuros, e sua expressão estava escondida dela. Melhor assim. Ou Cassandra queria que Marco pensasse que ela estaria interessada nele? Ela voltou a trabalhar na terra, fechando os buracos onde distribuíra algumas sementes, antes que a chuva começasse a cair. Pois choveria. Levantando-se, ela sentiu a brisa em seu rosto. Maria lhe dissera que, embora a casa e a propriedade parecessem muito antigas e indestrutíveis aos olhos de Cassandra, tudo aquilo era muito vulnerável aos elementos da natureza, assim como qualquer outra

coisa que existisse sobre a face da Terra. O percurso do rio fora alterado ao longo dos séculos, passando a representar um perigo à casa. Maria também lhe contou que, em uma terrível tempestade caída em 2014, algumas árvores foram arrancadas da terra e o rio transbordou. Aquele foi um momento singular, gerando consequências que até então não tinham sido totalmente superadas. Até os pássaros deixaram de cantar no momento da tragédia. Ela percebeu que Marco estava olhando para o céu tingido de um amarelo ácido, repleto de nuvens raivosas. Por um instante, ficou

pensando se ele estaria disposto a usar um guarda-chuva, mas logo percebeu que homens como Marco di Fivizzano nunca se molham, pois graças a uma divina alquimia as nuvens nunca se concentram sobre suas cabeças. Mas sempre caem em pobrescoitadas como eu, ela pensou, em tom seco, e cravou sua pá com força na terra próxima aos seus pés. ELA ESTAVA fazendo a mesma coisa novamente... deixando-o louco com aquele corpo repleto de lama, mas irresistível. Nenhuma mulher jamais o atingira daquela maneira. E ele duvidava que as mulheres que

conhecera anteriormente soubessem lidar com uma pá. Além disso, elas certamente não teriam a audácia de que Cassandra dispunha ao utilizar seu corpo como ferramenta para um trabalho pesado como o de jardinagem. Ela era uma mulher muito física... e complexa. Aliás, com um passado como o seu, poderia ser diferente? Ele lera todos os artigos de jornais possíveis, e ficou sabendo detalhes sobre aquela terrível tragédia. Ficou sabendo também por quanto tempo ela fora negligenciada, até ser adotada por sua madrinha. A mídia especulou, e ele também estava disposto a especular, sobre como uma tragédia ocorrida com os pais

podia afetar de maneira indelével a vida de uma criança. O seu eterno pé atrás no que dizia respeito às mulheres estava abrindo espaço a uma curiosidade singular em sua vida... uma curiosidade sobre aquela jovem jardineira. Mas desde quando ele se tornara um homem cauteloso? Ligando o motor da sua Lamborghini, ele olhou para o jardim onde Cassandra trabalhava. Sua camiseta parecia empapada de suor e lama, revelando mais do que ela gostaria de seu corpo. E Marco ficou imaginando como seria poder beijar aquela pele agora queimada pelo

sol... uma pele sedosa. Sem sombra de dúvida, seria um grande prazer. Ele atravessou os portões da propriedade, tentando se distrair dos pensamentos sobre Cassandra ao recordar todas as mulheres que passaram por sua vida... na Toscana e fora dela. Mulheres sempre loucas para dividir uma cama com ele, especialmente a sua cama naquela propriedade, pois todas sabiam se tratar de seu refúgio mais privado, mais misterioso. E Marco se lembrou de várias mulheres que tinham o dom de fazê-lo sorrir... até o momento em que ele se cansava de suas histórias repetitivas. E ele conhecera também mulheres que o

desafiavam intelectualmente... e outras que, de tão lindas, eram capazes de atrair sua atenção por uma noite, e nada mais. E todas queriam a mesma coisa: uma parcela do poder de Marco, além de sexo e dinheiro. Algumas poderiam se transformar em ótimas esposas, mas nenhuma delas usaria um macacão de jardineira nem transformaria uma atividade de horticultura em uma obra de arte quase pornográfica. As pernas nuas de Cassandra brilhavam na direção dele, como se estivessem sedentas por sexo, e ele trincou os dentes ao observá-la trabalhando com a pá. Ela estava se esforçando ao máximo fazendo

aquele trabalho, e para Marco era impossível não pensar em como ela se sairia na cama. MAS POR que Marco estava olhando para ela? Cassandra não parava de se perguntar isso, ao mesmo tempo em que notava a proximidade da tempestade, que estava prestes a cair. Ele provavelmente a observava para saber se Cassandra fazia bem o seu trabalho. Por conta disso, ela nunca mais olharia para ele. Mas por que estava olhando para ele? Sinceramente: ela olhava porque queria olhar. E bastava um olhar de

relance de Marco para fazer Cassandra estremecer e perder o chão. Mas isso era culpa da sua imaginação trabalhando sem cessar. Tinha de ser isso, não podia ser outra coisa, ela pensou, quando a Lamborghini de Marco finalmente desapareceu, atravessando os portões. Não eram poucas as mulheres decentes que caíam de amores por homens nada apropriados, e na maior parte dos casos isso não dava em nada... Marco di Fivizzano era uma fantasia distante, ela disse a si mesma, enquanto ainda podia ouvir o motor do seu carro, mas logo em

seguida uma forte trovoada a pegou de surpresa.

CAPÍTULO 3

MISTÉRIO

RESOLVIDO.

Marco fora almoçar com o prefeito. Mas ela deveria ter ficado tão aliviada quando Maria lhe contou isso? Por que estava sentindo ciúmes? Que loucura! Volte ao seu jardim, onde tudo parece fazer sentido para você. Afastando os cabelos dos olhos, ela voltou a segurar a pá, deixando Maria e Giuseppe livres para

aproveitarem a festa que estava acontecendo no vilarejo próximo. – Cuidado com a chuva – disseram eles, e Cassandra voltou a olhar para o céu. Depois acenou para o casal de amigos e ficou feliz ao perceber que teria uma tarde inteira sozinha naquele lugar, trabalhando sem parar em um lindo jardim. Mas a sua felicidade não durou muito tempo. Ela deveria ter tomado mais cuidado com a ameaça de chuva, pois sem que Cassandra percebesse as gotas começaram a cair com vontade, e os raios riscavam o céu de uma ponta à outra. Não seria seguro continuar ali fora, e ela poderia ajudar Maria

adiantando algum trabalho pendente na cozinha. Rapidamente, tudo ficou escuro. O ar estava pesado. A natureza parecia em cólera. Ela pegou suas ferramentas e correu em direção à casa. Quando chegou à porta da cozinha, já estava empapada. Aproveitaria para checar se as janelas estavam bem fechadas antes que a chuva aumentasse ainda mais. Ela correu escada acima, e naquele momento a tempestade era total. Era como se todos os raios do inferno rodeassem a casa, testando suas defesas. Ela cobriu os ouvidos com as mãos quando um trovão a deixou arrepiada, e tremeu quando um raio

pareceu cair bem perto da janela. Para ter certeza de que a casa continuava de pé, ela bateu com os pés no chão repetidas vezes. Acalme-se! Algumas coisas precisam ser feitas! Ela acendeu as luzes e se sentiu melhor de maneira instantânea, mas, enquanto descia as escadas, elas voltaram a se apagar. A casa ficara sem energia. No escuro, ela apalpou uma porta, dizendo a si mesma que sabia o que estava fazendo. Encontrando um interruptor de luz, ela ligou e desligou, movida mais pela esperança do que pela expectativa. Nada aconteceu. Ela procurou seu telefone. A linha

também fora cortada. A casa tinha uma linha de telefone fixo no térreo... Não funcionava. Afastando-se das escadas com todo o cuidado, ela gritou ao sentir gotas frias de água atingindo o seu corpo. Voltando às escadas, ela se agarrou ao corrimão como se aquilo fosse a sua salvação, tentando pensar no que fazer. Querendo se acalmar, repetiu para si mesma que aquela casa estava de pé há séculos, e que Marco a renovara por completo. Portanto, ainda que o rio alterasse seu curso, a casa teria fundações suficientes para não sair boiando. Ela estava em segurança, e tinha a certeza

de que qualquer dano poderia ser facilmente sanado. Se viveram tempestades similares no passado, Marco certamente teria preparado a casa pensando no pior. Porém, se o rio transbordasse e a estrada para o vilarejo fosse fechada, ela ficaria ilhada. E caberia a ela se resolver sozinha. QUANDO O dia virou noite, bem no meio da tarde, todos perceberam que uma terrível tempestade estava a caminho. Pedindo desculpas, Marco foi embora cedo da recepção com o prefeito, e ao descer as escadas percebeu que o corrimão tremia. Tudo parecia sentir o drama vindo

do céu, e o tempo estava virando rápido demais. Bem mais rápido que o esperado. Algumas pessoas diziam que poderia ser uma tempestade tão devastadora quando a de 2014, e pensando nisso ele ligou para Maria e Giuseppe, pedindo que permanecessem na cidade. Foi então que eles lhe disseram que a Signorina Rich não os acompanhara à festa. Ela continuava dentro da casa. E quem sabe que tipo de perigos enfrentaria? Cassandra Rich era um aborrecimento de que ele não precisava. Haveria algo positivo quando aquela mulher estava em envolvida em alguma história?

Qualquer outra mulher teria sido atraída como um ímã à festa da cidade, menos Cassandra. Ah, não. Tinha que ser ela a única representante da sua equipe deixada para trás no momento em que caía uma tempestade terrível. Se o rio transbordasse, as autoridades fechariam a ponte e ele nunca conseguiria chegar em casa. Havia sacos de areia postos ao lado da porta da cozinha, mas Marco não sabia dizer se ela seria capaz de utilizá-los, e havia também um gerador de emergência caso a luz fosse cortada. E a luz seria cortada, ele pensou, olhando mais uma vez para o céu. Raios gigantescos cortavam as

nuvens, criando terríveis fragmentos negros espalhados pelo céu. O som que lançavam à terra era assustador. Mas então, de repente, o barulho cessou, e por um momento reinou o mais absoluto silêncio. Porém, também de repente, a chuva começou a cair com força, em gotas congelantes. Correndo para o carro, ele sabia que não poderia perder um segundo, caso quisesse atravessar a ponte antes de os serviços de emergência a bloquearem. O carro dele foi o último a passar. Homens vestindo uniformes o avisaram de que seria melhor voltar. Ele agradeceu o aviso, mas os

ignorou. Na verdade, ele adoraria poder voltar. E grunhiu ao ouvir o som metálico do carro ao girar o volante com força, tudo por conta de uma árvore que caíra em sua direção. O motor do carro funcionava no limite máximo. A água começava a cobrir as rodas, e os limpadores não eram rápidos o suficiente para garantir uma mínima visibilidade pelo para-brisa. Ele acelerava com único pensamento em sua mente. Cassandra estaria sozinha no escuro, presa em sua propriedade. E ainda que isso tivesse acontecido por vontade própria, ela continuava sendo um membro da sua equipe, e

era obrigação dele garantir a sua segurança. Aliás, Marco podia imaginar o alívio que ela sentiria ao vê-lo chegar para salvá-la do perigo. Ele nunca ficou tão feliz ao ver sua casa. No entanto, ficou menos feliz ao perceber que as águas atingiam os degraus de entrada. Estacionando, ele correu em direção à porta da frente. Enfiando a chave na porta, ele empurrou, mas não conseguiu abrila. Ele usou o ombro para fazer mais força, mas isso não fez qualquer diferença. A casa estava no escuro. Ele deu uma olhada ao redor e gritou. Não havia qualquer sinal de vida por ali. Onde ela estaria? – Cassandra!

Emoldurando o rosto com as mãos, ele olhou por uma das janelas, mas tudo o que via era a escuridão lá dentro. Girando o rosto, deu alguns passos para trás. Foi levemente divertido perceber o quanto o chão estava empapado, ainda que, até então, salvo do alagamento total graças aos buracos que Cassandra fizera para plantar suas sementes. Ele correu em direção à porta dos fundos. Ela estava completamente aberta. O coração de Marco saltou no peito. Cassandra teria saído correndo pela noite escura? Ele olhou ao redor. Gritou. Não havia nenhum sinal de vida por ali. Muita gente morrera fazendo esse tipo de coisa.

– Vai ficar parado aí ou vai me ajudar? Ao ouvir sua voz, ele girou o rosto. Uma luz fraca a emoldurava. Ela estava na cozinha, completamente empapada, com os cabelos colados às costas e escorando a porta com sacos de areia. – Aquelas velas apagaram de novo – gritou ela, olhando para o hall. – Você poderia fechar a porta e acendê-las para mim? – Solte isso! – gritou ele, enérgico, enquanto tirava o paletó. Em um segundo, estava ao lado de Cassandra. – Acenda você as velas. Eu pego os sacos de areia. Ela fez que não, afastando-o com o

Ela fez que não, afastando-o com o cotovelo. O leve contato entre os dois foi elétrico. – Se quiser me ajudar, pegue outro saco de areia! – gritou ela. – O rio já deve ter subido neste momento. – Sem dúvida – comentou ele, em tom seco, ainda tentando arrancar um saco de areia das mãos de Cassandra. E finalmente deixou o saco em cima de outros. Era por isso que ele não conseguira abrir a porta da frente. E naquele momento Cassandra enrolava os tapetes persas. – Venha me ajudar – disse ela, impaciente. – Será mais rápido se nós dois fizermos isso juntos. – Ainda não foi acender as velas? –

– Ainda não foi acender as velas? – perguntou ele, franzindo a testa. – Você não tem educação? – disparou ela, com um tom de voz tão profundo e forte quanto o dele. Marco estirou o corpo, surpreso. Ninguém jamais falara assim com ele. – “Obrigado” seria um bom começo – disse ela, mantendo o tom afiado. Um trovão pesado interrompeu a discussão entre eles. E um raio assustador fez com que Cassandra arregalasse os olhos, e Marco percebeu. – Você está a salvo – insistiu ele, quando as forças da natureza fizeram

uma pausa em suas demonstrações. – Se não parar de chover logo, nós ficaremos com água até o pescoço... literalmente – disse ela. – Aqui... pegue isso. Ela entregou a ele uma toalha para secar a água que vencera a barricada de sacos de areia. Em vez de permanecer encolhida em um canto, esperando a chegada do seu príncipe encantado, a Signorina Rich estava se mantendo firme no controle da situação. Ele ficou surpreso ao perceber isso, e também se surpreendeu ao perceber que gostava da reação dela. A verdade é que ele gostava de Cassandra. Isso parecia

algo impossível de ser represado. Ele admirava sua força. – Bem...? Você vai me ajudar a enrolar esses tapetes ou não? – perguntou ela, olhando na direção dele enquanto acendia algumas velas sobre a mesa do hall da casa. Ele adoraria ajudar a Signorina Rich a fazer muitas coisas, mas enrolar tapetes não estava no topo da sua lista. Estava tudo dando certo para ela, até o momento em que resolveu atravessar a sala mal iluminada e prendeu o pé em um tapete. Ela quase caiu, mas Marco a segurou. Em um mero instante, ela percebeu o quanto se sentia bem nos braços dele.

A luz das velas deixou clara uma mudança na cor dos seus olhos, que passaram de azuis a negros. Ela segurou a respiração, quase como se pensasse que Marco a beijaria naquele instante. E será que ela lutaria contra esse beijo? Será que gritaria feito uma louca? Isso era irrelevante para ele. Ele poderia querer beijá-la, poderia até tentar beijá-la, mas nunca seria tão autoindulgente. O tempo é o senhor do prazer, ele murmurou, bem baixinho, em tom seco, enquanto a segurava. – Cuidado quando resolver andar pelo escuro – disse ele. O olhar que ela lhe lançou sugeria

O olhar que ela lhe lançou sugeria que se assustar com uma leve queda, ou com qualquer outra coisa, era sua última preocupação naquele momento de emergência. – Vamos seguir em frente? – sugeriu ela. – Os tapetes? – apontou ela. Ela fazia cada vez mais esforço, e os sentidos de Marco ficaram em alerta quando seus corpos se roçaram. Ela vai ficar aqui, ele pensou. Ela não poderia ir a lugar nenhum. Sendo forçados a trabalhar juntos, Cass ficou surpresa ao descobrir como um conseguia ler as intenções do outro tão bem. Sim, eles

formavam uma ótima dupla. E era um prazer ver Marco lançando mão de sua poderosa força física. – Vou tirar as coisas do caminho, para que você possa levar esse tapete à sala de jantar – disse ela, segurando a respiração, enquanto Marco colocava um dos tapetes no ombro, um tapete pesado, mas que para ele parecia um saco de penas de ganso. Abrindo a porta, ela deixou espaço livre para que ele passasse, e acabou sendo surpreendida girando o pescoço para seguir contemplando seus movimentos. As suas mãos se roçaram. Seus corpos se tocaram. Suas respirações entraram em uníssono quando ele girou o rosto.

Os dois estavam perigosamente próximos... – Bom trabalho – disse ela, dando um passo atrás. E nesse momento ela percebeu que, na pressa de escapar dele, disse algo que parecia deixar entrever que seus papéis na vida tinham mudado e que Marco passara a ser seu assistente. Mas tudo bem. Ela não poderia fazer nada quanto a isso. Nada. – Aonde você vai? – perguntou ele. – Para a minha cama – respondeu Cassandra, girando o corpo e dando de ombros. – Já fizemos o que poderíamos ter feito esta noite. Mas primeiro vou tomar um banho... para tentar me aquecer. Estamos sem luz,

mas a água deve continuar quente no reservatório. E prometo que não vou usar tudo. – Vai tomar um banho no escuro? – perguntou ele. – Eu me viro... e vou levar algumas velas. – Ela olhou para o punho de Marco pousado na moldura da porta. Será que ele tentaria evitar que ela fosse embora? A tensão entre eles aumentou subitamente. – Você está com pressa de fugir de mim – disse Marco. E suas palavras murmuradas a atingiram em cheio. – Eu estou com frio –disse ela, dando uma desculpa, abraçando o próprio corpo e fingindo-se de frágil.

Ela duvidava que Marco acreditasse naquele teatro, mas ele ao menos tirou a mão da porta. – Você se saiu muito bem esta noite – disse ele, afastando-se. – E agora estou congelada – insistiu ela, dessa vez em um tom de voz mais forte. E isso não estava muito distante da verdade, pois ela estava completamente ensopada. – Se você conseguisse ligar a luz... – sugeriu ela, esperançosa. Marco franziu os olhos e olhou para ela. – É melhor você tomar o seu banho – disse ele, aliviado. – E não se esqueça de tranquilizar a sua madrinha de que está segura. Uma

tempestade como esta com certeza terá sido notícia internacional. E ela é a única pessoa que poderia estar interessada – acrescentou ele, como malícia. Mas não... ele não dissera nenhuma mentira. Não há mais ninguém. De certa maneira, ele queria se certificar disso... – Vou ligar para a minha madrinha assim que a linha telefônica voltar. – Você obviamente pensa muito nela. – A minha madrinha é a mulher mais maravilhosa do mundo. Ela me acolheu... – Quando meus pais morreram.

Marco pareceu pensativo. – Sim, eu sei – disse ele. Ela endureceu os lábios, relutando em dizer qualquer outra coisa. O quanto ele saberia? – Por que você a deixou para vir trabalhar na Toscana? – perguntou ele. – Esse é um ótimo trabalho – disse ela, com franqueza. – E eu não posso simplesmente viver dela. Ela encontrou essa oportunidade para mim quando eu deixei meu último emprego. E o encontrou por meio de um de seus amigos, outro jardineiro muito competente. Seria grosseiro de minha parte recusá-lo. Embora talvez devesse ter feito,

Embora talvez devesse ter feito, Cass refletiu, enquanto Marco continuava a olhar para ela. Ele estava começando a deixá-la nervosa. E ela decidiu lhe oferecer um pouco mais. – Eu poderia facilmente conseguir emprego em outro supermercado. No entanto, esse trabalho é perfeito para mim. – Perfeito – ecoou Marco, sem qualquer comentário ou expressão. Ele poderia querer saber mais, mas ela não conversaria sobre sua vida privada com alguém que era praticamente um desconhecido. – Não pegue um resfriado – disse ele.

Ela não precisou de mais um aviso. Cassandra o deixou e saiu correndo pelo jardim, sem olhar para trás. Subindo as escadas que levavam ao seu quarto, ela sentiu como se o diabo estivesse colado às suas costas. ELE PERMANECEU em silêncio quando Cassandra o deixou sozinho. Ela administrara aquela crise com uma calma impressionante, e passara a intrigá-lo mais do que nunca. Aparentemente descomplicada e aberta, Cassandra era, na verdade, um livro bem fechado. E ele queria saber mais sobre ela. Cassandra poderia ser terrível acatando ordens, mas era uma brisa de ar fresco para

ele. Tendo trabalhado ao lado dela, Marco sentia a sua falta... ele queria aquela mulher na sua cama. E seria um bobo se a seduzisse, ele pensou, firme. Afinal de contas, ele nunca dormia com suas funcionárias. Marco aliviou a tensão física cuidando de aspectos práticos, ligando o gerador e verificando o jardim, para avaliar os danos. E suspirou ao ver que as mudas de Cassandra tinham sobrevivido, quando árvores que existiram durante séculos estavam deitadas, quebradas no chão. Ele deveria lhe oferecer um contrato de longo prazo, apenas para que Cassandra construísse canais de drenagem para

aquela casa. Tendo verificado se os sacos de areia estavam fazendo seu trabalho, ele ficou maravilhado ao se lembrar de que ela conseguira arrastá-los até o local correto. Ele estava tentando esgotar-se fisicamente, em uma tentativa de deixar Cassandra fora de sua mente. No entanto, isso não impediu que seu corpo a desejasse... ou que sua mente tentasse examinar todos os detalhes que sabia sobre ela. Cassandra Rich era a mulher mais perturbadora que ele já conhecera na vida. Ela era tudo o que ele normalmente evitava. Era muito jovem, muito ingênua e ainda não tinha se posicionado diante de suas

escolhas... outra coisa de que ele gostava nela, como descobriu. Havia mulheres demais em seu mundo, mas Cassandra Rich era real, ele concluiu, com um encolher de ombros. Se ele fosse surpreendido por uma nova tempestade, gostaria de ter Cassandra novamente ao seu lado... ou preferia contar com um daqueles homens brutamontes que costumavam ajudá-lo? Claro que escolheria Cassandra. Sempre! Ele sorriu ao subir as escadas. Restavam tão poucas surpresas na vida que ele quase agradecia a chegada de Cassandra àquele mundo remoto e distante. Tão poucas surpresas?

Ele estava a ponto de receber a grande surpresa de sua vida. E parou de repente, bem na porta do seu quarto. A sua janela estava fechada, mas as cortinas estavam abertas... e a luz do quarto de Cassandra estava acesa. ELA NUNCA saberia dizer o que a levou a fazer aquilo. Só podia ser resultado de tantos filmes e fotos de revistas, além de imagens sobre que tipo de tentação poderia atrair um homem como Marco. A mulher que ela resolveu encarnar deveria ser uma sedutora, fatal... tudo o que a “eficiente Cassandra”, como a chamavam no

supermercado, certamente não era. Mas nada faria com que ela interrompesse sua fantasia. Talvez fosse o calor da noite e o fato de ter um homem como Marco por perto, embora a uma distância segura, que a fizeram querer explorar sua própria sexualidade não de maneira apenas irresistível, mas imperativa. Ela sentia falta dos momentos de diversão, mas a Toscana parecia fazer renascer algo no interior do seu corpo. Trabalhar ao lado de Marco certamente liberara algo de dentro dela, pensou Cass, intrigada... e essa foi a desculpa que ela usou para dançar pelo quarto como se estivesse

em uma pista de dança, enquanto esperava que sua banheira enchesse de água. Em seus sonhos, ela dançava para ele... e Marco assistia, claro. Na vida real, ele nunca desejaria uma mera jardineira, mas por que tolher a diversão por conta da realidade? Em pouco tempo ela encerraria seu trabalho por ali, e Marco estaria para sempre longe da sua vida... mas naquele momento ela ainda poderia dar asas à sua imaginação, aos seus sonhos! Parando para respirar um pouco, ela resolveu olhar pela janela. As luzes do quarto de Marco estavam desligadas e o cômodo estava vazio. Graças a Deus! Por um momento, ela

sentiu uma espécie de preocupação. E se ele a estivesse espiando entre as sombras? Mas não. Ali estavam apenas ela e a luz da lua, e Cassandra poderia continuar com a segunda parte do show, dançando em seu palco imaginário, sob a luz da lua, entre holofotes oníricos... ELE FICOU paralisado observando Cassandra começar a tirar a roupa. Ela ficou de costas para ele, e estava fazendo uma performance lenta, não um ágil strip-tease. Quando a camiseta foi arrancada do corpo, passando por cima de sua cabeça, ele viu uma pontinha dos seus seios... e ficou chateado, pois, no ângulo em

que ela estava, seria impossível ver muito mais. No entanto, a sua imaginação rapidamente entrou em ação, tentando construir uma imagem total daquela maravilha... e ele grunhiu, pensando que teria mais uma noite vazia pela frente. Deixando a camiseta cair no chão, ela tirou o elástico que segurava seu rabo de cavalo e soltou os cabelos, que caíram em cascata pelos seus ombros e costas. Passando os dedos entre os cabelos, ela tremeu um pouco, como se o toque dos fios sedosos excitasse a sua pele nua. Ainda se movimentando com toda a calma do mundo, ela abriu o fecho da calça jeans, depois levou as mãos

às costas e enfiou-as no cós da calça, que começou a baixar, revelando sua cintura. Quando ela arqueou as costas, era quase como se apresentasse seu traseiro à apreciação de Marco. E ele aprovou. Ele ficou paralisado quando ela se livrou completamente da calça. Muitas mulheres tinham tentado seduzi-lo ao longo dos anos, algumas poucas conseguiram certo êxito, mas nenhuma o deixara sentindo tanto desejo quanto ela. Ele ficou assombrado ao ver Cassandra passando as mãos com suavidade ao redor dos seios, como se apreciasse a vista daqueles mamilos tanto quanto ele... E Marco

ficou louco de desejo vendo tudo aquilo. Quando Cassandra roçou um dos mamilos com os dedos, ela pareceu deixar escapar um gritinho por conta de uma dor suave e deliciosa. Deixando a cabeça cair para trás, ela finalmente tomou os dois seios nas mãos, como se o convidasse a sugá-los. Ele ficaria louco se continuasse olhando tudo aquilo por muito mais tempo. E ficou tenso quando ela passou as mãos pelo ventre... chegando a mais um ponto que Marco adoraria poder explorar. Ela continuou passeando as mãos levemente, e mergulhou os dedos entre as coxas. Quando voltou

a subir as mãos, ele deixou escapar um gemido lento, e só então percebeu que estava um bom tempo com a respiração presa. Cassandra parecia tão inocente... mas aqueles eram os gestos de uma mulher muito sensual, uma mulher que sabia exatamente como torturar um homem. Por conta de toda a sua força física e seu comportamento aberto, Cassandra era a mulher mais feminina e desejável que ele poderia imaginar. Além disso, a maior surpresa da noite foi descobrir que Cassandra era também a mulher mais eroticamente provocante que ele conhecera na vida. E Marco ficou pensando se ela abria espaço ao

autoprazer. O braço esquerdo de Cassandra se movia muito lentamente. Ela estaria se tocando de uma forma íntima? Ele nunca ficou tão excitado ao ver uma mulher fazendo isso. Ele estava em agonia. O QUE estou fazendo?, ela se perguntou, de repente, em choque, parando por completo a sua performance. Ela devia estar dormindo tranquila em sua cama. Mas sentira uma vontade súbita de aliviar a tensão ao ver que a tempestade perigosa passara, que a casa sobreviveria intacta... mas já era hora de parar com aquele show fora de lugar.

Cassandra teria perdido completamente a cabeça? Ela nem fechara as janelas... Pegando a toalha que separara para o seu banho, ela escondeu o corpo, depois foi dar uma olhada pela janela, com medo de estar sendo observada. As cortinas do quarto de Marco estavam fechadas, graças a Deus. Fechadas? Mas não estavam abertas antes? Ela não tinha certeza. Só se lembrava de ter visto o quarto dele com as luzes apagadas. Talvez estivessem fechadas. Aliás, provavelmente estariam, ela pensou, querendo acreditar nisso.

CAPÍTULO 4

ELE ESTAVA tenso no café da manhã, e por um motivo óbvio. Cassandra, por sua vez, parecia estar completamente relaxada, com suas bochechas rosadas à mostra. Após sua atuação certeira no momento da tempestade, e após sua incrível performance de strip-tease mais tarde, ela aparentava estar tranquila, calma e amigável como sempre. –

Desculpe...

você

não

quer

– Desculpe... você não quer mesmo comer ovos? – perguntou ela, enquanto ele grunhia, lembrando-se de Cassandra dançando sob a luz da lua. – Ovos são bons... ovos, sim. Obrigado – respondeu ele, meio sem jeito, arrumando o corpo na cadeira e tentando não pensar em Cassandra e em suas atividades noturnas. – Minhas habilidades na cozinha são muito básicas – disse ela, enquanto seguia em frente com o trabalho. – Maria deve voltar hoje, e amanhã você terá uma comida melhor. E então ela se curvou para guardar uma panela, fazendo com que seu

short jeans deixasse as linhas de seu quadril bem desenhadas aos olhos de Marco. E ele adoraria poder mapear aquela área com uma das mãos, enquanto com a outra lhe ofereceria prazer... – Mais pão? Ovos? Café? – perguntou ela. – Não, obrigado – respondeu Marco. E, quando ela o encarou, ele não pensou em café da manhã, mas sim em mergulhar naquele corpo que parecia lhe dar as boas-vindas, com o objetivo único de atingir o cume do prazer. Suas pernas longas e finas se enrolariam em sua cintura, e ela se moveria ao ritmo do corpo de

Marco. Os gritos suaves de Cassandra o deixariam ainda mais louco... e ele atingiria o ápice várias vezes, assim como ela. No entanto, Marco se endireitou na cadeira quando ela disse, com uma das mãos pousadas na testa: – Há algo errado por aqui... Ele piscou os olhos. – Como? – perguntou Marco. – Está faltando alguma coisa. – O quê? – Sabão para a máquina de lavar louça – respondeu ela. – O que você está dizendo? – Não temos sabão para a máquina de lavar louça – repetiu ela, franzindo a testa.

Isso quase destruiu o charme que Cassandra exalara na noite anterior. Porém, ao contrário de se mostrar perdida, ela rapidamente resolveu a situação de outra maneira. Cassandra era incrível. MARCO DI Fivizzano a estava deixando louca. Ele ia começar a limpar o jardim após a tempestade, quando ela se arrumou para ir às compras, e ele estava com o torso nu e uma enxada nas mãos, exatamente igual aos homens que povoavam suas mais loucas fantasias. Aliás, aquilo parecia uma fantasia tornada realidade. Mas quem era ele, afinal? Ele era o seu chefe, um

homem rico e poderoso, um homem que poderia deixá-la literalmente na pior. No entanto, nem sabendo disso ela conseguia deixar de pensar nele. Ele aguçava a sua curiosidade. Todo mundo tem uma história interessante por trás, mas Marco nunca permitira que ninguém se aproximasse dele a ponto de revelar segredos inconfessáveis. E ela não se importaria em cavar até descobrir tais segredos... Aliás, ela adoraria cavar qualquer coisa entre aqueles músculos perfeitos dos ombros de Marco... Mas o encanto foi abruptamente quebrado quando Maria apareceu em casa, falando muito e bem alto. Ela

chamava por Marco. Cravando a enxada na terra, ele seguiu em direção à casa. A vida às vezes é muito injusta, murmurou Cass, em tom seco, quando Marco e seu lindo corpo desapareceram no interior da casa. Mas sempre surge o momento de uma segunda chance... Ela passou a tarde no vilarejo, onde tudo estava tranquilo e calmo após a tempestade. Mas Cassandra ainda tinha algum trabalho para fazer no jardim, e queria se certificar de que nada saíra do lugar, por isso voltou à casa assim que pôde, e ficou surpresa ao encontrar Marco na cozinha, esperando por ela.

– Deixe isso aí por enquanto – disse ele, assim que ela começou a guardar as compras que fizera. – O que houve? – perguntou ela, franzindo a testa e ficando de pé. – Nós precisamos conversar – respondeu ele. Ela sentiu um arrepio, e foi impossível não pensar que poderia estar à beira de perder o seu trabalho. E ela não aguentaria perder aquele trabalho. Era um trabalho perfeito para ela. Era o seu primeiro passo para longe da escuridão. Finalmente, após o terrível período de trevas que a acompanhava desde a infância, ela começava a enxergar uma luz no fim

do túnel. E isso acontecia ali, naquele lugar, na Toscana. – Venha ao meu escritório – disse Marco. O tom de voz dele era duro, o que só fez aumentar a apreensão de Cassandra. Já no escritório, ela deu uma olhada ao redor, tentando decifrar alguma coisa, mas não havia qualquer dica à vista... da mesma maneira como nada parecia suavizar o momento. Não havia nada quebrado por ali... nem papéis sobre a mesa. O escritório estava muito bem arrumado. Perfeitamente limpo, além de ricamente decorado, embora de maneira sóbria. E Marco não a convidou a se sentar. E ela não teria

se sentido confortável se ele a tivesse convidado para se sentar. Ele resolveu ser direto: – Eu tenho um problema – disse Marco. – Um problema? – perguntou ela, e por um momento sua mente se recusou a aceitar a ideia de que Marco di Fivizzano poderia ter algum problema na vida... muito menos um problema que gostaria de compartilhar com ela. – Preciso da sua ajuda, Cassandra – explicou ele um pouco mais, examinando-a com um de seus olhares duros. – O que eu poderia fazer por você? – perguntou ela, pois, ao menos que

ele estivesse em busca de conselhos sobre a propagação de pragas ou quisesse conversar sobre como administrar o solo em um país que era formado basicamente por uma longa peça de pedra, ela não tinha a menor ideia de como poderia ajudálo. Porém, de alguma maneira, ela meio que duvidava que Marco a tivesse levado ao seu escritório para conversar sobre jardinagem. – Eu sofri uma decepção – disse ele. – Ah. Eu sinto muito – comentou Cassandra. Ela o teria decepcionado? Será que o trabalho dos seus sonhos seria mesmo jogado às traças?

– Não por conta de você – explicou ele. E circundou a mesa, posicionando-se à frente dela, curvando o corpo e cruzando os braços sobre o peito. Franzindo os olhos, ele a observou como se Cassandra fosse um bolo entre vários outros dispostos na vitrine de uma confeitaria... e como se ele estivesse tentando decidir qual levaria para casa. Mas ela não gostou nada desse olhar, por isso resolveu tomar a iniciativa: – O que eu poderia fazer por você? – perguntou ela. Marco demorou um tempo para

Marco demorou um tempo para responder, e isso deu a ela uma chance de observá-lo um pouco. Ele sempre se barbeava quando estava passando uns dias na Toscana? Será que ele conseguia relaxar naquele lugar, assim como ela se sentia relaxada? Ela tremeu levemente, percebendo que o olhar de Marco recaía sobre os seus lábios. E só então notou que o olhar de Marco se tornara sexy, embora de maneira não intencional, claro. Mordendo o lábio inferior, ela endireitou o corpo e adotou uma postura mais profissional. – Eu preciso de você em Roma – disse ele.

– Em Roma? – perguntou ela, como se tivesse acabado de entrar em transe. Roma... uma cidade sempre lotada, sofisticada, radiante. Ela não poderia ir a Roma! Mas resolveu manter a calma, e perguntou: – Você tem um jardim por lá? – E sentiu seu coração batendo mais forte ao pensar na possibilidade de cuidar de um jardim urbano. Seria uma experiência muito diferente. E na imaginação de Cassandra esse jardim seria fechado e calmo, além de nem um pouco parecido com o que havia por ali, na Toscana. Mas um jardim... Sim, se fosse esse o problema, ela poderia ajudá-lo. – Não tem nada a ver com jardins

– Não tem nada a ver com jardins – respondeu ele, impaciente. – Eu patrocino um evento de caridade todos os anos, e sou o anfitrião. – Sei... – murmurou ela, franzindo a testa. Mas na verdade ela não sabia de nada, e não estava entendendo o que acontecia. Aliás, a sua mente parecia uma tela em branco esperando pela pintura de Marco... e ele poderia pintar qualquer coisa naquela tela. – É um jantar – explicou ele, como se ela soubesse do que se tratava. – E eu preciso de alguém mais, de uma acompanhante, ou restará um espaço vazio ao meu lado. O que seria imperdoável, ela

O que seria imperdoável, ela pensou. – O organizador da festa de caridade deveria me acompanhar durante o jantar – disse ele, parecendo cada vez mais impaciente. – Mas surgiu um imprevisto familiar. – Quer dizer que restará um assento vazio ao seu lado – disse ela, franzindo a testa, como se tudo aquilo fosse um mistério insondável aos seus olhos. – Não, não restará nenhum assento vazio – retrucou ele –, pois você estará sentada nele. – Eu? – perguntou ela, sendo tomada pelo horror. Isso era tudo o que ela passara a sua vida inteira

evitando, e Cassandra não tinha qualquer intenção de participar de um evento desse tipo. – Não entendo por que você está tão chocada – disse Marco, ao perceber sua reação. – Eu só estou convidando-a para me acompanhar a uma festa. O que haveria de errado com ela? Qualquer outra mulher cairia aos seus pés ao receber um convite daqueles, mas não Cassandra. Ah, não... Ela o encarava como se Marco sugerisse que ela participasse de um evento com algum tipo de tortura... de uma orgia romana, por exemplo. – Um evento de caridade em Roma? Um jantar? – perguntou ela,

ficando pálida e franzindo ainda mais a testa. – Não entendo por que é tão difícil para você entender o que estou dizendo. Tudo o que você precisa fazer é dizer que sim. Eu vou providenciar as roupas, o cabeleireiro, a manicure. Você terá todos os profissionais disponíveis... tudo o que for preciso. Os olhos dela se arregalaram, e depois ela disse: – Você está de brincadeira? – Estou falando muito sério. – A reação de Cassandra o assustava. – Eu acabei de convidá-la para me acompanhar no maior evento do ano.

– Mas... eu não posso – insistiu ela. – Simplesmente não posso fazer isso. Não posso mesmo. – E Marco a encarava, incrédulo. – Eu acabaria tropeçando no meu próprio vestido, dando cotoveladas nas pessoas... – Espero que isso não aconteça – disse ele. – Você está falando sério... – comentou ela, assustada, como se Marco estivesse falando em uma língua estrangeira e como se, por conta disso, ela não conseguisse entender muito bem o que ele dizia. – Você me quer ao seu lado, na mesa principal de um evento de caridade... em Roma? – Sim. Eu quero – confirmou ele.

– Sim. Eu quero – confirmou ele. Quantas vezes mais ele teria que repetir isso para Cassandra? Ela fez que não com a cabeça. – Eu sinto muito, Marco, mas só de pensar em usar um vestido de festa, salto alto, esse tipo de coisa... deve ser como, para você, pensar em vestir um macacão de jardineiro e passar o dia sujo de lama dos pés à cabeça. – Lembre-se de que já me sujei de lama no jardim desta casa – disse ele, começando a perder a paciência. – Mas, claro, se você não se sente à altura... O coração de Cassandra saltava no peito. Marco só podia ser um louco...

ou talvez estivesse mesmo desesperado. Caso contrário, não faria uma proposta desse tipo a ela. – A questão é que eu funciono melhor em um jardim – explicou ela, em tom firme. – E não funciono nem um pouco em um... evento desse tipo. – Estou disposto a pagar por isso – disse ele. Isso a fez parar. E logo depois Cassandra perguntou: – Você pretende me pagar? Quanto? – E perguntou tudo isso pensando em sua madrinha. Marco revelou uma soma em dinheiro que fez o rosto de Cassandra ficar pálido.

Como ele imaginava, a menção de uma grande soma viraria o jogo... Todas as mulheres têm o seu preço. Mas Cassandra começou a murmurar alguma coisa parecida a um não... e um não era algo que ele não poderia aceitar naquele momento. Ele aumentou o teor da sua pressão, tentando colocá-la nos trilhos. – O que você pretende fazer quando for embora daqui e voltar à Inglaterra? Pretende trabalhar de novo no supermercado, recolocando produtos nas prateleiras? – perguntou ele, em tom de desafio. – Por que não? – retrucou ela,

– Por que não? – retrucou ela, tentando não demonstrar reações exageradas ao escárnio de Marco. – Esse é um trabalho honesto, e eu fiz ótimos amigos no supermercado. – Da mesma maneira como poderá fazer ótimos amigos em Roma – disse ele, demonstrando uma óbvia frustração em seu tom de voz. – Amigos com jardins fabulosos que precisam de muito cuidado e atenção. Aliás, participando dessa festa, você no mínimo conseguirá atingir uma boa rede de possíveis trabalhos. Ela piscou os olhos e pareceu reconsiderar o seu convite. – Você me apresentaria a essas

– Você me apresentaria a essas pessoas? – perguntou ela. E ele respondeu: – Bem... a minha equipe poderia fazer isso. E você ganharia o seu dinheiro, além de ter essa chance de aumentar sua cartela de clientes. Eu não vejo nada de errado nessa história. Nem ela via nada de errado... ou pelo menos era o que Cassandra deixava transparecer em seu rosto. Ele ficou completamente absorto ao vê-la mordendo o lábio inferior... um lábio carnudo, adorável. – Eu suponho... – Você vai aceitar o meu convite – disse ele.

– Eu suponho que, se isso for ajudar... – Isso vai ajudar – afirmou ele. – Mas eu trouxe apenas um vestido na minha mala – disse Cassandra. – Eu já disse que vou providenciar um vestido para você usar – retrucou ele, em um tom que demonstrava pouca paciência, mas forçando-se a manter a calma. – Depois do evento, eu vou pagar pelo vestido – disse ela. – O vestido e todas as outras despesas serão parte do seu pagamento. Você poderá ficar com o vestido após a festa – disse ele,

demonstrando enorme generosidade, pelo menos aos seus próprios olhos. Ela pigarreou e franziu a testa. – Você terá tudo de que precisar – disse ele. – Eu vou garantir isso. – E você está mesmo falando sério sobre todas essas coisas? – insistiu ela. – Cassandra, eu nunca digo coisas que não sejam sérias nem verdadeiras – respondeu Marco. E se acalmou, certa de que ela diria sim. – Eu preciso de um tempo para pensar – pediu Cassandra. – Não – respondeu ele, de imediato. – Eu quero uma resposta agora. Sim? Não?

ELA NÃO poderia fingir não estar ansiosa ao pensar em voltar àquele mundo de sofisticação que se provara tão duro em sua infância. Mas era verdade que o dinheiro oferecido por Marco fora importante, pois poderia ser uma oportunidade de ouro para que ela conseguisse comprar a passagem da madrinha para a Austrália. Uma oportunidade que talvez nunca mais surgisse em sua vida. E Cassandra deveria se lembrar disso sempre, assim como tentou se lembrar no momento em que entrava em um dos hotéis mais exclusivos de Roma. No fundo da sua mente, resistia à suspeita de que Marco a

comprara. Mas ao menos ela poderia se reconfortar pensando que a recompensa seria bem empregada. Por outro lado, ela era uma jardineira, não uma socialite, e nenhum vestido de costureiro famoso seria capaz de alterar isso. E era tarde demais para se preocupar com esse detalhe. Ela estava em Roma, acompanhada por um dos funcionários da equipe de Marco, em pleno lobby de um hotel caríssimo. Cassandra ficou tensa quando o gerente do hotel se aproximou. As lembranças de sua infância eram poucas e enevoadas, mas sem dúvida ela passara algumas noites da sua

vida em locais como aquele quando criança. O pai dela usava as mulheres como moeda de troca, e a imprensa vivia magnetizada pelo seu charme irresistível. Bem parecido com o charme de Marco, por sinal. Porém, no caso do pai, essa série infinita de infidelidades acabou ferindo profundamente o coração de sua mãe. E Cassandra jurara que permaneceria distante desse mundo... mas lá estava ela. Cassandra engoliu em seco várias vezes quando o gerente se curvou à sua frente e sorriu. Ela precisava se lembrar de que estava ali por uma

boa causa, e que só assim conseguiria comprar aquela caríssima passagem de avião para a Austrália. – Espero que tenha uma boa estadia no nosso hotel, signorina – disse o gerente do hotel, com estudado e perfeito chame. – Tenho certeza de que sim – respondeu ela, mentindo para agradá-lo. Aquele hotel era praticamente igual à casa dele, além de muito bonito. Estava localizado em uma das principais avenidas de Roma. Era sofisticado e ao mesmo tempo discreto, como se fosse um vestido de festa lindo, feito sob medida, por uma casa de alta costura.

E naquele mesmo dia ela aprendera muito sobre vestidos de alta-costura, pois antes de chegar ao hotel visitara o atelier de um estilista especializado “no estilo preferido do Signor di Fivizzano”, de acordo com o funcionário de Marco que a acompanhava. Atelier é a palavra chique para um local de trabalho que contém uma sala de provas pouco confortável, como ela descobrira naquele dia. Sala essa onde o estilista media todo o corpo das clientes, como fizera com ela, para que assim pudesse projetar um vestido, que mais tarde seria floreado, aprovado, transformado em realidade e experimentado pela

mesma mulher. Esse processo tomaria um bom tempo e, no caso de Cassandra, o evento estava próximo. Não havia tempo a perder, por isso ela resolveu colaborar, sempre com um sorriso estampado no rosto. – Preciso deixá-la sozinha – disse o funcionário de Marco, fazendo uma breve reverência. – A senhora terá meia hora para descansar, e logo depois chegarão seus assistentes. – Meus assistentes? – perguntou ela. Tarde demais! Após fazer uma reverência ao gerente do hotel, o funcionário de Marco começara a tomar seu caminho, desaparecendo da vista de Cassandra.

O rosto do gerente se transformara em uma máscara profissional, sem qualquer expressão visível, mas Cassandra deveria levar em conta que o tal homem a tratara com perfeição, mesmo vendo-a vestida em suas roupas simples. Ela usava um vestido barato, que parecia interessante quando o comprou, mas que não seria um modelo muito usado naquele hotel. E percebeu isso ao ver seu reflexo em um dos espelhos do lobby. Sem contar aquela estampa... – Signorina... – disse ele, com mais um de seus gestos estudados. – Nenhum gasto foi medido. – Ele a levou em direção aos elevadores. –

Três cabeleireiros esperarão pela senhora na nossa melhor suíte... no último andar do hotel. Três cabeleireiros? Por que, se ela não era um monstro de três cabeças? Enfim..., foi o que ela pensou quando as portas do elevador se abriram. Eles saíram em um lobby discretamente decorado em tons creme, com uma pequena pintura de Calígula entre romanos dependurada na parede. Ela não precisou de mais nada para sentir um arrepio na pele. – Eles chegarão em poucos minutos – disse o gerente do hotel, abrindo as portas da suíte com um floreio.

E a suíte era pelo menos duas vezes maior do que a casa da sua madrinha. Havia janelas abertas sobre a paisagem de Roma... e o mobiliário era uma feliz mistura de antiguidades com peças modernas. Sim, a vista era incrível, mas em sua mente só existia a imagem de Marco. E bastou com que ela se olhasse uma vez em um dos espelhos do quarto para temer que ele pudesse perceber o seu erro assim que Cassandra entrasse no salão do jantar de caridade. E tinha mais uma questão.... que homem gastaria tanto dinheiro com uma mulher de quem não esperava receber mais do que uma companhia

passageira em uma festa de caridade? As fantasias eram uma coisa legal, mas a realidade era outra história... especialmente para um homem tão viril e potente, um homem que faria Gengis Khan parecer um tampinha. No entanto, Cassandra deveria evitar esses pensamentos e essas fantasias envolvendo o seu chefe. Afinal, acima de tudo, ela queria manter seu trabalho de jardineira na Toscana... E tomou um susto ao ouvir alguém batendo na porta. Abrindo-a, ela deixou espaço para que a equipe entrasse na suíte. – Onde ela está? – perguntou um dos homens, encarando-a. Cassandra pressionou o corpo

Cassandra pressionou o corpo contra a porta, assustada com aquele escrutínio. Tudo o que podia imaginar era a coleção de erros que o tal homem estaria enxergando em sua aparência. Franzindo os olhos, o homem lhe perguntou: – Você é a Signorina Rich? E seu tom de voz não poderia estampar com maior clareza o seu horror. – Acho que sim... – respondeu ela, sorrindo e atenta à reação do cabeleireiro. O homem não sorriu. Ele simplesmente ergueu as

sobrancelhas, examinando-a com ainda mais calma. E quase grunhiu. – Muito bem. Sendo assim, deveríamos começar – disse o homem, mordendo o lábio inferior. – Estou vendo que terei muito trabalho pela frente. – Quais são exatamente as suas instruções? – perguntou ela, dando uma olhada nos demais profissionais de beleza que tinham entrado na suíte. Eles pareciam carregar uma série de instrumentos de tortura, além de uma enorme quantidade de caixas de maquiagem e perfumes. O chefe dos cabeleireiros consultou seu telefone. – Faça o que puder com ela – disse

– Faça o que puder com ela – disse ele, lendo uma mensagem que alguém lhe enviara. E esse alguém só poderia ser Marco, que não parecia esperar muito dela. Sendo assim, não existe pressão, pensou Cassandra, resignando-se ao seu destino.

CAPÍTULO 5

– E

grande revelação! Venha, querida, tente colocar uma expressão de alegria nesse rosto! – disse o cabeleireiro, que Cassandra descobrira chamar-se Quentin, além de ser a pessoa mais teatral que ela conhecera na vida. – A vida de muitas pessoas depende de que você cause uma boa impressão nessa festa. E, pode acreditar em mim, essa gente A

que estará por lá tem dinheiro de sobra... Cass sorriu quando Quentin segurou suas mãos. Ele conseguira deixá-la mais relaxada... e acabou surpreendendo-a ao tornar aquela experiência uma grande diversão. Sempre que ela se preocupava, pensando não ser capaz de fazer ou usar alguma coisa, Quentin a animava. Ele era o melhor para injetar confiança em Cassandra. Movendo levemente os lábios, ou tocando nos cabelos de Cassandra, ele conseguia fazer com que qualquer coisa se tornasse correta. A experiência dela com Quentin foi um desses casos em que a primeira

impressão era definitivamente um total engano. Quentin acabou se mostrando um homem muito divertido. – Você está linda – disse ele. – Por que será que não consigo acreditar em você? – perguntou ela, fazendo uma careta. – Eu não tenho a menor ideia – disse ele. – Nigel, traga um espelho, por favor. A sala ficou em completo silêncio e Cassandra ficou sem palavras. – Então? Não vai dizer nada, minha querida? – perguntou Quentin. Ela não poderia dizer nada. Estava tomada por uma forte emoção. Em

geral, Cassandra era uma mulher que gostava de manter os pés bem presos na terra e, após anos tentando se esquecer do passado, sem quase nunca se olhar no espelho, pois temia se parecer demais à mãe... aquilo foi choque. Será que a sua mãe sentia o mesmo? Será que ela vivia se sentindo como se fosse uma carne sendo preparada para um festival gastronômico? Ela se lembrava muito bem, e sabia que sua mãe tentava, de forma desesperada, manter o interesse do pai de Cassandra, e o pior era viver sendo comparada às fãs geralmente bem mais novas do

roqueiro superstar. A vida dela devia ter sido terrível... – Querida... – disse Quentin, ansioso. – Você está bem? – Sim, eu estou bem – respondeu ela, erguendo o rosto e abrindo um sorriso. Quentin e sua equipe tinham trabalhado duro, e era seu dever demonstrar gratidão pelo que tinham feito. – Eu não saberia como agradecê-los o suficiente – disse Cassandra, a Quentin e a todos os presentes. Para deixá-la completamente sem graça, as pessoas começaram a aplaudi-la, e pouco depois todos aplaudiram com força. – Não vou fingir que foi fácil –

– Não vou fingir que foi fácil – disse Quentin, admitindo seu esforço com um suspiro –, mas acredito ser fruto do meu toque de gênio ter sido capaz de transformá-la desta maneira. ONDE ELA estaria? Ele a esperava há muito tempo. Marco olhou para o seu relógio, depois para a porta. O evento aconteceria na sua cobertura, bem no centro de Roma. Cem patrocinadores cuidadosamente escolhidos estavam na espera. Eles levantariam muito dinheiro aquela noite, e tudo tinha que sair da maneira mais perfeita possível. Cassandra não poderia se atrasar. Em

pouco tempo eles se sentariam para o jantar, e seria impensável que Marco tivesse uma cadeira vazia ao seu lado. Mas sua agitação interior foi abruptamente interrompida quando Cassandra entrou na sala. Todos pararam de falar e ficaram olhando para ela. A mente de Marco ficou vazia... Ela estava lindíssima. De onde viera tudo aquilo? De onde surgira aquele sorriso que parecia encantar todos os presentes? Ele estava acostumado a vê-la coberta de lama, debruçada sobre uma pá... Ao vê-lo, ela sorriu, mas seus olhos estavam arregalados ao perceber a quantidade de gente espalhada pelo ambiente. Ela saíra completamente

de sua zona de conforto, embora fosse uma boa atriz e tivesse conseguido dar um passo à frente com enorme confiança. Só Marco foi capaz de perceber um leve tremor em seu caminhar, todos os demais estavam muito atraídos por ela para perceber qualquer coisa. Mas por que ela chegara sozinha? Onde estaria a equipe de Marco? De um momento para o outro, ele começou a sentir uma necessidade forte de protegê-la, e segurou a respiração enquanto ela caminhava na sua direção. Só então ele percebeu que Cassandra não precisava de ninguém para cortejá-la, e que era

capaz de atrair a atenção de todo mundo sem fazer muito esforço. – Finalmente você chegou – disse ele, em tom seco, quando Cassandra parou na sua frente. – Boa noite para você também – disse ela, em um murmúrio, estendendo a mão. – Eu não estava numa posição que me permitisse apressar as coisas. – Erguendo o queixo, ela o encarou. – Acho que dei mais trabalho aos cabeleireiros e maquiadores do que eles esperavam. Ele ficou de boca aberta, admirando-a ainda mais por conta da sua honestidade. – Eu duvido – disse Marco. – Sinto muito se o fiz esperar –

– Sinto muito se o fiz esperar – disse ela. – Esse tipo de transformação demora tempo demais. E então, você aprova? – perguntou Cass. – Aprovo, claro – respondeu ele, embora mantendo seu tom frio e distante. Ela estava magnífica, parecia uma rainha... uma deusa, e ninguém naquela sala parecia deixar de perceber isso. – Estou bem o suficiente? – perguntou ela, com uma nota de preocupação real em seu tom de voz. – Claro que está – respondeu ele, sem aquecer o tom de voz. – E você acha que Quentin a deixaria sair

antes que ele estivesse completamente satisfeito? Ela sorriu. – Acho que não – confessou ela, passando uma das mãos pelo vestido. E o tal vestido era feito de uma fazenda azul que parecia uma fiel representação do céu, cortado à perfeição para moldar sua figura. Ele estava disposto a oferecer um bônus ao estilista por ter projetado e executado um vestido tão perfeito para Cassandra. O tom de azul ressaltava a cor dos seus olhos e, embora o decote fosse mais alto do que ele gostaria, talvez Marco estivesse equivocado em suas preferências. Essa poderia ser a nova

tendência no mundo da moda: instigar, mas sem revelar muita coisa. E Marco acabou concordando que isso era mais provocador do que deixar tudo o que Cassandra tinha em abundância em total evidência. O vestido fora desenhado de uma maneira tão precisa que Marco ficou pensando se haveria espaço para roupa íntima sob ele. E apostaria que não. E o cabelo... meu Deus! Que cabelo! Que penteado! Os fios estavam soltos, e ao serem tão compridos pareciam uma capa dourada enquanto ela caminhava, caídos sobre as suas costas. Costas que estavam nuas... o que ele só

reparou quando ela se virou. O vestido não era nada decotado na frente, mas mergulhava de maneira vertiginosa na parte de trás, chegando quase à linha onde começava o seu traseiro. – Vamos nos sentar? – sugeriu ele, sentindo uma necessidade urgente de livrá-la do espectro dos olhares de tantos homens famintos. – Por que não? – retrucou ela. Por que não? Porque ele queria levá-la diretamente à cama. Aquela noite estava se tornando uma tortura que ele jamais conhecera em sua vida. Ele a levou em direção à mesa e afastou a cadeira para que Cassandra se sentasse. Marco estava

determinado a fazê-la se sentir à vontade, pois o ato de relaxar era um pré-requisito fundamental à sedução. Ele contratara os mais importantes chefes de cozinha de Roma, e a comida estava deliciosa. Cassandra começou comendo pouco, mas ele a tentou diversas vezes... sorrindo. No fim das contas, ela estava tão tranquila e relaxada que acabou pegando alguns pedaços de comida do prato dele, pois tudo estava gostoso demais. Além disso, Cassandra exalava charme em direção aos demais convidados. Ele nunca tivera uma companhia assim. Em geral, as mulheres que o acompanhavam

queriam aparecer a qualquer custo, e também queriam ser apresentadas ao maior número de convidados possível. Mas Cassandra simplesmente deixava entrever seu charme natural, e todos, do destacado diplomata ao mais alto aristocrata, rapidamente se deixavam cair por seus encantos. – Você não comeu quase nada – disse ela, apontando para o prato de Marco. – Estive muito ocupado olhando para você. Ela ficou corada, depois girou o rosto para responder à pergunta feita por um convidado sentado na outra ponta da mesa.

Marco olhava para ela de uma maneira que fazia o seu corpo tremer por inteiro. – Gostaria de dançar comigo? – perguntou ele. – O quê? – retrucou ela, olhando para ele com cara de boba. – Eu perguntei se você gostaria de dançar comigo – repetiu Marco. – Então, gostaria de dançar comigo? Dançar com Marco di Fivizzano? Ele estaria louco? Ela não tinha o menor senso de ritmo. – Você sabe dançar? – perguntou ele. – Sou conhecida por meus dotes nesse sentido – respondeu ela, brincando.

– Nós somos os únicos que continuamos sentados nesta mesa – disse Marco, dando uma olhada ao redor. – E você está preocupado, pensando no que as pessoas vão dizer caso não dance comigo? – perguntou ela. Ele abriu a boca e ergueu uma das sobrancelhas. Certo, então Marco não estava preocupado com o que as pessoas pensariam... mas talvez ela estivesse. Afinal, o que estava fazendo ali, ao lado de Marco di Fivizzano, entre as pessoas mais influentes de Roma? O que a sua mãe pensaria de tudo isso?

Ela sentiu uma pontada de dor, pois se lembrou de que sua mãe morrera há muito tempo, quando ainda era bem jovem. – Apenas diga que sim – pediu ele. E ela ergueu os olhos. Mas permaneceu sentada... Porém, sabendo que todos perceberiam, acabou se levantando, e acompanhou Marco à pista de dança. Não seja ridícula, ela disse a si mesma, firme, quando ele a tomou nos braços e Cassandra sentiu uma vontade súbita de desmaiar. – Relaxe – disse ele, sorrindo. – Eu não poderia dançar com um poste. – Eu não posso dançar com você – disse ela. – Eu avisei.

– Eu vou guiar a dança – retrucou ele. E pouco depois o corpo de Cassandra seguia o dele... em um ritmo perfeito. E Marco a pressionava contra ele. No fim das contas, dançar com ele não era ruim. E a música italiana era animada. Aquilo era tudo tão charmoso... – VOCÊ DANÇA muito bem – disse ele. – Deveria dançar mais. Mas com quem ela dançaria... e onde? Marco certamente não estaria dizendo que eles poderiam voltar a dançar juntos. E ela nunca mais dançaria com outro homem, pois comparada à dança com Marco

qualquer nova experiência seria uma total decepção. Aquela estava se transformando em uma noite mágica, uma ocasião mágica, e ela aproveitaria a oportunidade ao máximo, pois sabia que tal momento não se repetiria em sua vida. Mas um dos convidados se aproximou, perguntando: – Eu poderia dançar um instante com esta linda dama? – Você se importa se eu permitir que o embaixador dance com você? – perguntou ele. – Você? Permitir? – retrucou ela. – Claro que é a senhorita quem escolhe os seus parceiros – disse o

embaixador, sorrindo. – Sendo assim, eu adoraria dançar com o senhor – disse ela, afastandose dos braços de Marco e aceitando o convite do embaixador. E Marco ficou observando-a. Ele poderia não ser sensível, mas estava adorando a oportunidade de observá-la. MARCO SENTIA a falta de ter Cassandra nos seus braços. Ele estava pagando pela presença dela naquele baile. Poderia tolerar uma dança com o embaixador, mas, quando outro convidado mais jovem se aproximou, querendo a sua oportunidade, ele

voltou à pista de dança e recuperou Cassandra. – Peço a sua licença, embaixador – disse ele. – Sei que o senhor entenderá. Afinal, o leilão está a ponto de começar. Vamos, Cassandra? Ela o encarou, mas não disse nada. – Sinto muito se sou obrigado a negar-lhe a companhia desta adorável jovem – disse Marco ao embaixador, que fez que sim com a cabeça. – Haverá outras oportunidades – disse o embaixador a Cassandra. – Espero que sim – respondeu ela, com um lindo sorriso nos lábios. – Tem peças lindas no leilão –

– Tem peças lindas no leilão – disse Cassandra a Marco, assim que se sentaram. – Gostou de alguma coisa? – perguntou ele. – Sim, gostei – respondeu Cassandra. – Do quê? – Desse quadro lindo com um cachorro desenhado... Eu adoraria poder comprá-lo e dar de presente para a minha madrinha. Mas tudo bem... imagino que deva custar centenas... talvez milhões... No entanto, sonhar não custa nada, certo? Os dois sabiam que aquele quadro poderia valer uma fortuna, ainda

mais em um leilão de caridade. Em parte, ele adoraria poder dar um lance e comprar o quadro para ela. Mas o que o mundo diria de um gesto desse tipo? Aliás, fazendo algo que surpreendeu a ele próprio, Marco cobriu uma das mãos de Cassandra com a sua, como se quisesse lhe dar força. Gestos assim não eram do seu feitio, mas Cassandra tinha algo especial...

CAPÍTULO 6

O

chegou ao fim e todos começaram a ir embora. Grande parte das pessoas mais velhas se retiraram, como Cassandra percebeu. Os contatos profissionais que ela planejava fazer não seriam tão simples. Vendo Marco do outro lado da sala, ela pensou que aquele poderia ser um bom momento para pedir que ele lhe apresentasse a algumas LEILÃO

pessoas. No entanto, a distância, ele parecia voltar a ser o milionário inalcançável de sempre. Um homem frio e calculista. Ela não sabia o que fazer. As pessoas passavam ao seu lado como se Cassandra não estivesse presente. Ela voltava a começar a odiar aquele mundo... Por isso foi a um canto, querendo apenas observar, e acabou ouvindo Marco dizer: – Aquela menina de azul, sentada ao meu lado durante o jantar... ela não é ninguém. Cassandra ficou chocada. Um frio intenso invadiu o seu corpo. No entanto, ele estava sendo sincero.

Aquela era a mais pura verdade: ela não era ninguém. Quando voltasse à casa, Cassandra acabaria trabalhando em um supermercado novamente. Esse seria o seu destino, como o próprio Marco lhe sugerira. E ouvi-lo dizer tais palavras serviu como um aviso para ela. Os dois não tinham mesmo nada em comum. Ainda assim, Cassandra sabia que não fora de bom tom dizer isso a outra pessoa. Marco não deveria tratá-la dessa maneira na frente dos seus convidados. O que ele diria se ela fizesse o mesmo? Graças a Marco, ela não queria conversar com mais ninguém. E foi abrindo caminho entre as pessoas,

chegando ao banheiro, onde se trancou. Ao se olhar no espelho, viu refletido o rosto de uma desconhecida, de uma atriz. Exatamente. Ela era uma atriz representando um papel. Mesmo não sendo ninguém, ela se descobriu capaz de fazer isso. E representando o seu papel ela seria paga pelos serviços que prestara, e esse fora o seu objetivo ao aceitar o convite de Marco. Saindo do banheiro, ela deu de cara com Marco. – O que você está fazendo? – perguntou ele. Cassandra ficou paralisada ao ouvir a voz dele.

– Vou pegar um táxi para ir embora daqui – respondeu ela, finalmente. – Tenho uma equipe que se encarregará disso – retrucou Marco. – E vai obrigar essas pessoas a trabalhar de madrugada? – Claro que não! Eles virão de manhã cedo. E até então eles dois ficariam sozinhos? Era isso? – Por que você está tão nervosa, Cassandra? – perguntou ele. – Você acha que pode me insultar impunemente? – Insultar? Do que você está falando? – Você... fala como se a sua equipe

– Você... fala como se a sua equipe lhe devesse favores eternos. Aliás, você me disse que essa festa seria uma ótima oportunidade para que eu conhecesse pessoas e aumentasse minhas chances profissionais... mas você passou a noite inteira me ignorando. Aliás, eu nem sei por que aceitei o seu convite. – As oportunidades estão no ar, Cassandra. Cabe a você aproveitá-las. Tinha muita gente por aqui. – Muita gente do seu mundo – retrucou ela. – E, embora eu goste de conversar com as pessoas, ninguém parecia interessado em conversar comigo. Uma ajuda sua poderia quebrar o gelo... Ou será que você

não queria que ninguém descobrisse que a sua companhia nesta noite era uma mera jardineira? – Não seja ridícula. E o embaixador? Você conversou com ele. A embaixada está repleta de lindos jardins. Seria uma ótima oportunidade para você. – Sim, o embaixador era um homem interessante, mas eu deveria ter tirado vantagem daquela situação? – Por que não? – perguntou Marco. – Seria uma atitude calculista da minha parte, o que não é legal. – Essa é a sua opinião. – Sim, claro.

– Mas talvez você não esteja certa, Cassandra. – Sério? Eu gostei do embaixador, a gente se deu bem, mas nem cogitei conversar sobre trabalho com ele. – Ele poderia ser uma porta de entrada para outro mundo... – Assim como você? Talvez eu não queira conhecer esse outro mundo. Aliás, eu talvez já o conheça. Mas você não sabe de nada, Marco. Você vive em um mundo privilegiado, sem nunca olhar para fora dele. – Você não poderia estar mais distante da verdade, Cassandra. – Marco, você sabe o que é ser descrita como uma ninguém? – perguntou ela.

Ele arregalou os olhos. – Quem disse isso? – perguntou Marcos. – Você! Aliás, é isso o que você pensa de todo mundo que trabalha na sua equipe? Todos nós somos “ninguém”? – Eu não sei do que você está falando... – Eu ouvi o que você disse. Quando um convidado perguntou sobre mim, você disse que eu não era ninguém. – Ah... Então eu gostaria de explicar. Eu estava conversando com um dos maiores doadores para a nossa caridade, com um homem que

está sempre em busca de novos possíveis doadores... – Sendo assim, eu não serviria de nada para esse homem, certo? Aliás, eu não poderia fazer nada prático para ajudar na sua obra de caridade, certo? – Eu tenho certeza de que você poderia fazer muita coisa pela minha obra de caridade. Mas talvez não devesse ser tão emotiva, Cassandra. Ela deu de ombros. O seu rosto parecia em chamas de tão quente. Ela poderia estar exagerando... – Talvez eu não tenha dinheiro, mas poderia oferecer o meu tempo, Marco... – Sem dúvida – concordou ele.

O fato de os dois viverem em mundos tão opostos era o que impossibilitava um bom entendimento, ela percebeu. O mundo de Marco a assustava, pois ela o conhecia e não tinha boas lembranças do tempo em que o frequentara. – Você deve estar achando que eu sou uma estúpida, além de exagerada... – De jeito nenhum. – Mas eu fui uma boba ao permitir que você me vestisse... imaginando que teria algum interesse em passar esta noite comigo. – Você é uma mulher muito decidida, Cassandra.

– Sou. – E se saiu bem esta noite. – Você está zombando de mim? – Não! – murmurou ele. – Sou muito grato a você. E sinto muito se não me esforcei... se não quebrei o gelo... – A verdade é que seus convidados não vieram aqui em busca de uma jardineira nova – disse ela. – É... Eu não tinha pensado nisso. – Nem eu. – Acho que nós dois nos enganamos. – Sim. – Vamos fazer as pazes? – perguntou ele. – Vamos – disse ela, apertando a

– Vamos – disse ela, apertando a mão de Marco. – Tenho algo para você – disse ele. – Para mim? Mas você já me pagou o suficiente. – Meu Deus... O que você fez? – perguntou ela, chocada. – Por favor... eu quero ser capaz de realizar os sonhos de alguém. E ela ficou olhando para o quadro com o cachorrinho. – Isso deve ter custado uma fortuna – disse Cassandra. – Ao contrário do que você pensa, eu sei reconhecer o valor sentimental das coisas... não apenas o monetário. Agora você já pode dar esse quadro de presente...

– Eu não posso aceitar. – Não é para você, é para ela. Você deve aceitar – insistiu ele. – Não sei o que dizer... – Ela deve ser uma pessoa muito especial. – É, sim. Não duvide. Marco ficou olhando para Cassandra, que admirava o quadro. Pouco depois, já relaxados da tensão, Cassandra terminou em seus braços, e Marco a beijava. Chocada, ela tentou resistir, mas foi inútil. A explosão de sentimentos foi instantânea. E o cheiro dele era tão bom... Ela nunca vivera nada parecido. Ela queria sentir todo aquele corpo musculoso colado ao

seu, um corpo impossível de descrever com palavras. O que havia entre eles era uma chama ardente. Mas ela se afastou, sem fôlego. No entanto, precisava de mais, muito mais... E Marco começou a beijar os seus ombros, clamando por ela, sugandoa, deliciando-se. Cassandra chorava e ria ao mesmo tempo, enquanto ele aproveitava para se livrar das próprias roupas, ficando com o peito exposto aos olhos dela. Cassandra poderia explorá-lo o quanto quisesse. E passou uma das mãos pelo seu peito... deixando escapar um gemido. Logo depois, deixando que o

Logo depois, deixando que o vestido caísse pelo corpo de Cassandra, ele aproveitou para tomar um dos seios nas mãos. – Eu quero lhe oferecer o maior dos prazeres – disse ele. – Você terminará implorando por mais. – Tudo bem... No entanto, Cassandra não tinha a menor intenção de ser uma parceira dócil. Ela também queria responder aos seus anseios. E com um movimento rápido baixou a cueca de Marco, segurando firme o seu traseiro, que era puro músculo. Ela ficou paralisada por um instante, e só depois resolveu analisar sua ereção. Seu membro era grosso e estava em

uma posição quase perpendicular ao corpo. Nesse momento, ela sentiu uma vontade louca de tê-lo no interior do seu corpo, imediatamente. Mas Marco preferia esperar... Encarando-a firme, ele trincou os dentes e tomou seus dois seios nas mãos, acariciando-os com cuidado até chegar aos mamilos. Cada centímetro do corpo de Cassandra reagia ao seu toque de uma maneira surpreendente. No entanto, Marco continuava mantendo certa distância entre eles dois, e por conta disso ela não era capaz de sentir sua ereção contra a própria pele. Cansada de tanto

esperar, ela roçou seu corpo contra o dele... dos pés à cabeça. E Marco parecia gostar da força e determinação de sua parceira. Mas não seria tão fácil... e ele se afastou. – Você está gostando deste jogo – disse ele. Ela não disse nada, mas abriu um sorriso que a delatou. – Você acha que pode lutar contra mim? – perguntou ele. – Eu sei que posso – respondeu Cassandra. E ao dizer isso ela tremeu, exultante... e Marco aproveitou para deixar que ela se livrasse do vestido,

que continuava preso entre os seus pés, caído no chão. Ele a observou por alguns instantes, depois voltou a tocar seus mamilos... e Cassandra se entregou a Marco, que finalmente resolveu arrancar a calcinha do corpo dela. – Posso? – perguntou ele. Ela não disse nada. – Você deve me dizer o que quer fazer, Cassandra. – Eu quero você. Eu só quero você – murmurou ela. – Você me quer de que maneira? – Dentro de mim. Bem dentro de mim – respondeu ela. E Marco jogou os braços de Cassandra para o alto, apoiando-a

contra uma parede, deixando-a de pé por conta do peso do seu corpo contra o dela. Nesse momento, ele arrancou sua calcinha com um gesto bruto, determinado. E logo depois agarrou seu traseiro. Cassandra abaixou os braços e começou a passar os dedos entre os cabelos escuros de Marco. Ele não fugiria, mas se recusava a beijá-la. E Cassandra sabia por quê. Marco não queria que ela fechasse os olhos. Queria que ela visse tudo o que estava acontecendo. Queria manter o controle e também o contato. E ela também queria tudo isso. E queria ver as reações de Marco, que estava

tão faminto por prazer e entregue quanto ela.

CAPÍTULO 7

– AGORA? – SUGERIU Marco, em tom suave. Antes que ela pudesse responder, ele a penetrou, primeiro com a ponta de sua ereção; depois, invadindo-a por inteiro. – Você é tão apertadinha... e tão molhadinha... – murmurou ele, entre grunhidos. E ele era tão grande. Ela engoliu em seco, deliciada com o choque que

sentira, mas Marco fez um movimento mágico com as mãos e ela ficou sem palavras por conta do desejo e do prazer que sentiu. Isso feito, ele saiu completamente do seu corpo. Cassandra tinha as unhas dos dedos cravadas nos ombros dele. – Então... – disse ele. – Mais rápido e com mais força? – sugeriu ela. Expirando todo o ar dos pulmões, Marco aceitou tal sugestão, mas nada poderia ter preparado Cassandra para o que se seguiu. Eles fizeram amor durante toda a noite, em todos os cantos da cobertura. O apetite que sentiam um pelo outro era insaciável. E, quando

ela finalmente se entregou ao sono, deitada na cama de Marco, um sorriso estava estampado em seus lábios. MARCO ACORDOU ao amanhecer, e seus primeiros pensamentos foram direcionados ao seu trabalho. Saindo da cama, ele ficou olhando para Cassandra. Ela dormia profundamente. A noite foi ótima, mas chegou ao fim, ele pensou. Sua própria mãe vivera uma mentira ao lado de um homem rico. Ele não cometeria o mesmo erro. Após tomar um banho, ele se vestiu para o novo dia. Cassandra

despertara e se revirava na cama como um gato sonolento. – Marco... volte para a cama – disse ela. Ele franziu a testa. – A noite foi ótima, querida... – Aproximando-se da cama, ele beijou a bochecha de Cassandra. – Mas eu preciso ir embora. Deixei seu dinheiro na mesinha da entrada. Por um momento, Cass pareceu não ter entendido o que ele dissera. Mas logo se lembrou de que aquele era o dinheiro que a ajudaria a pagar a passagem da madrinha para a Austrália. Porém, isso não a fez se sentir melhor. Nesse

meio-tempo,

ele

fora

Nesse meio-tempo, ele fora embora. Descendo correndo da cama, ela enrolou um lençol ao redor do corpo. Cassandra se aproximou da janela e viu Marco saindo do prédio. Ela se sentia completamente vazia por dentro. Banhada em lágrimas, afastou-se da janela. A noite anterior fora importante para ela, e Cassandra presumia que também teria sido para ele. Querendo parar de tremer, ela tomou um demorado banho. Depois, ignorando as roupas da festa, que continuavam caídas pelo chão, ela voltou a vestir o que chegara ali

usando: suas próprias roupas, velhas e desgastadas. Quando o táxi avisou que estava na porta do prédio, ela tremeu ao pegar o cheque deixado por Marco. Ficou observando o valor e a assinatura. O que estaria pensando quando aceitara aquela quantia exorbitante? Nesse momento, uma segunda chamada do táxi a fez voltar à realidade. – Estou descendo – respondeu ela. – CASSANDRA? CASSANDRA? Ele procurou por toda a cobertura? Onde ela estaria? Marco queria um sorriso de boas-vindas, e talvez algo mais...

Nada. A casa estava vazia. Não havia qualquer sinal da presença de Cassandra por ali. Exceto o cheque, que continuava pousado na mesinha da entrada. Ele pensou em ligar para o seu celular, mas desistiu. Cassandra devia estar de volta no hotel, por isso acabou ligando para lá. Mas a recepcionista lhe informou que a Signorina Rich simplesmente passara para pegar seu passaporte e sua mala e saíra imediatamente para o aeroporto. Ela o abandonara? Mas ele era o seu chefe. Ela não poderia simplesmente desaparecer. Marco ligou para sua secretária

Marco ligou para sua secretária particular: – Encontre-a. – Sim, senhor – respondeu a secretária, sempre disposta a servir ao patrão sem necessidade de maiores explicações. CASSANDRA NÃO queria ser facilmente localizada. Sua experiência na Toscana não acabara bem, e ela não queria terminar a vida como a sua mãe. A mulher que estivera em Roma não era ela. Ou pelo menos não era a mulher que ela gostaria de ser. Ela era Cass, pura e simplesmente... não uma socialite louca por sexo.

Mas nem tudo dera errado. Sua madrinha já viajara à Austrália, graças a uma ajuda enviada pelo filho, e alugara sua casa para ganhar um dinheiro extra, seguindo a recomendação de Cassandra. Por conta disso, ela poderia se esquecer por completo de Marco, pois nem do seu dinheiro precisava mais. Assim que chegou, resolveu anunciar seus trabalhos como jardineira, e logo depois começaram a surgir propostas de trabalho. Ela alugou uma casa nova, pequena, mas adorável. Tudo corria bem, até que, em um encontro de família, uma tia idosa perguntou se ela estava grávida. – Claro que não – respondeu

– Claro que não – respondeu Cassandra. – Por que está perguntando isso? – Uma menina forte e jovem como você não deveria se sentir mal... Eu tive seis filhos, sei quais são os sintomas. – Mas está enganada, tia. No dia seguinte, após terminar sua jornada de trabalho, ela correu a uma farmácia e comprou um teste de gravidez. Marco usara proteção, ela sabia disso. Mas a própria bula do teste explicava que nenhum método era infalível. E sim, o teste deu positivo.

– UMA LIGAÇÃO da Signorina Rich? –

– UMA LIGAÇÃO da Signorina Rich? – perguntou Marco, assustado. Há quanto tempo não sabia nada dela, três meses? Por que ela estaria ligando para o seu escritório? – Tenho uma reunião às 10 em ponto. Diga a ela que estou muito ocupado para conversar ao telefone, mas que enviarei o cheque. Durante o resto do dia, ele não parou de pensar em Cassandra... e também em sua mãe. E Marco se lembrou de que, no dia em que sua mãe morreu, ele jurou que se tornaria um homem rico. E começou como carregador de lixo... até chegar ao topo. Cassandra, por sua vez, também

Cassandra, por sua vez, também era uma sobrevivente, e ele sabia disso. – A reunião das 10 horas está pronta para começar – avisou a secretária. – Obrigado – disse Marco, tentando se esquecer de Cassandra para se concentrar no que havia de mais importante em sua vida: o seu trabalho. O TEMPO passava e Marco continuava se recusando a atender as ligações de Cassandra. A gravidez logo se tornaria óbvia, e ele precisava conhecer a verdade. Ela contou tudo à madrinha, que continuava na

Austrália, e recebeu uma boa dose de animação vinda do outro lado do mundo. Ao saber que Cassandra seria mãe solteira, a madrinha se ofereceu para voltar imediatamente. Mas Cass disse que não seria necessário. Havia amigos por perto, e ela estava recebendo ótimos cuidados médicos. A única coisa que não contou à madrinha foi a dificuldade para contar tudo a Marco... – Será que o Signor di Fivizzano teria um minuto livre hoje? – Ela voltou a perguntar à secretária. – Sinto muito, signorina... – Quando resolveu passar uma noite comigo, ele não estava tão

ocupado – retrucou ela, cansada de tantas negativas. – E eu fiquei grávida. Será que você poderia dizer isso a ele? Obrigada. E desligou o telefone. ELE NÃO disse nada quando sua secretária lhe passou o recado de Cassandra, mas a sua mente estava a mil por hora. – Obrigado – disse ele. Grávida? Ele teria um filho? Como isso era possível? Ele sempre fora tão cuidadoso... Marco nunca perdia o controle, sempre usava proteção. E ele não queria ter filhos. Por que gostaria de tê-los, com o seu

histórico de vida? Ela seria capaz de amar um filho? Uma criança mudava tudo... Será que Cassandra teria feito isso de propósito? Ela não era virgem... Cansado de tantas dúvidas, Marco resolveu telefonar para ela, mas acabou descobrindo que Cassandra mudara de número. Cassandra é diferente de todas as outras mulheres. Será que você se esqueceu disso? Não. Ele não se esquecera. Cassandra não era uma mulher frágil. Ela nunca lhe pedira nada. Quem a obrigara a fazer tudo fora ele. E foi Marco quem lhe oferecera

um vestido, maquiagem, penteado... e depois o cheque. – Quero que façam uma busca imediata – pediu ele ao seu diretor de segurança e investigações. Em pouco tempo, ele teria uma série de informações sobre Cassandra, pois sua equipe era infalível.

CAPÍTULO 8

ELA DESISTIRA de entrar em contato com Marco. Caso um dia se encontrassem, porém, seria nos termos dela. Cassandra poderia não ter seu dinheiro nem seu poder, mas não aceitaria o comportamento insultante de um homem que parecia não acreditar na sua gravidez. A ideia de ser mãe solteira e sem dinheiro não era atraente, mas ela lutaria. Afinal de contas, se Marco

era um exemplo de como os ricos e famosos viviam, ela seria feliz por ser pobre e desconhecida. Mas não tão feliz por estar novamente se sentindo mal. No entanto, o médico lhe garantira que isso passaria logo. E tudo isso seria por uma boa causa, ela disse a si mesma, firme, enquanto seguia para a cama, em mais uma tentativa de se acalmar. Depois pegou o telefone, pois queria conversar com o gerente do supermercado onde voltara a trabalhar. Cassandra lhe pediria para mudar seu turno naquela jornada.

ELE

LIGARA

para o piloto, que

ELE LIGARA para o piloto, que preparava o jato. As investigações da sua equipe não o decepcionaram. Saber que Cassandra vivia uma vida exemplar não o surpreendeu, pois ele a conhecia. Mas Marco queria vê-la pessoalmente. E queria também fazer um teste de DNA quando o bebê nascesse. Ele chegou à porta do modesto endereço. Bateu três vezes. Esperou. Bateu novamente. A porta se abriu, e lá estava ela. – Marco – disse Cassandra, assustada. Vê-la com aparência tão fraca o deixou chocado. Ela parecia frágil, incapaz de fazer qualquer coisa.

– Posso entrar? – perguntou Marco. Ela deu um passo atrás, muda. O interior da casa era pequeno, mas funcional, e muito bem arrumado. – Por que não me disse que estava grávida assim que descobriu? – disparou ele. – Eu... tentei entrar em contato com você, mas você não me atendia. – Você deveria ter ido a Roma. – Para você é fácil... pois sempre tem um jatinho à disposição. – Em primeiro lugar, você nem deveria ter saído de Roma... mas poderia ter me enviado uma mensagem, poderia ter escrito.

– Você acha que eu sou tão fria, Marco? Eu não sou como você. Queria vê-lo pessoalmente, ouvir sua voz... Não poderia enviar a notícia de um bebê por mensagem. – Como você está? A sua aparência não é boa. Você parece exausta. – Estou grávida, Marco. Quer se sentar? – Obrigado, mas vou ficar de pé. Estava sentado no avião, depois no carro que me trouxe do aeroporto. – Sinto muito se interrompi sua agenda sempre tão atribulada. – Chega... – disse ele, em tom suave. – Por que você veio aqui, Marco? O que você quer?

– Quero ver você. Saber como está. – Você não atende o telefone... mas veio até aqui? Aliás, como me encontrou? – Este vilarejo não é muito grande... – E você me espionou... Como ousou fazer isso? – E você foi embora sem me dizer nada. Como ousou fazer isso, Cassandra? – Você me pagou! Só me queria para uma noite de sexo. – Não... – Não? Você mal falou comigo durante o evento de caridade. Depois, quando todos foram embora...

– Você caiu nos meus braços. – Eu não caí nos seus braços – retrucou ela. – Caiu. Quer dizer, nós caímos nos braços um do outro. – Quer algo para beber? – perguntou ela, evitando o olhar de Marco. – Tome você um copo de água, depois se sente – sugeriu ele. – Mas você chegou de viagem... merece um drinque... – Sente-se. Relutante, ela se sentou. Não teria outra alternativa. – Eu vim até aqui para levá-la a Roma comigo, Cassandra. – Como?

– Você não pode ficar aqui. Faça uma mala pequena. Você poderá comprar o que quiser em Roma. Partiremos assim que estiver pronta. – Eu ainda não aceitei... – Mas vai aceitar. Se você ama o seu bebê, vai aceitar. Ela deveria viajar com Marco, pelo bem do seu filho, como ele sugeria? Será? Estaria sendo egoísta ao querer ficar sozinha naquela casa? – Quer ajuda com a mala? – perguntou ele. – Não, obrigada. Mas para onde você pretende me levar? – Para Roma, como eu já disse – repetiu ele, em tom brusco. – Os melhores médicos estão lá. Você vai

morar na minha cobertura, claro. Aliás, para onde acha que eu a levaria? – Para Roma – murmurou ela, baixinho. Que tipo de vida ela levaria em Roma? Para muita gente, Roma seria um destino dos sonhos, mas para ela... Marco agira de maneira muito estranha por lá. Por outro lado, o que ela faria após o nascimento do filho? O que aconteceria depois? Ela foi tomada por uma série de questionamentos. Estava cansada. Fraca. O médico prometera que essa fase passaria, mas estava durando uma eternidade. – Cassandra?

Ela ergueu os olhos. – Avise quando a mala estiver pronta. – Eu não vou viajar com você. Preciso pensar na sua proposta. – Pensar no quê? – Na minha vida... na vida do bebê. – Que tipo de vida você oferecerá a ele aqui? – E que tipo de vida eu terei trancada na sua cobertura romana? – Tente ser racional, querida... Eu não vou aprisioná-la. Vou tratá-la como uma hóspede. – Como uma hóspede? Mas a sua vida é muito diferente da minha. – Sim, mas eu não posso mudar

– Sim, mas eu não posso mudar isso. – Os paparazzi vivem atrás de você... – Você aprenderá a ignorá-los. – Por enquanto, eu preciso aprender a ser mãe. – Você não é uma mulher que desiste dos desafios, certo? – Eu nunca fiquei grávida na vida. – Você precisa de ajuda, Cassandra, e sabe disso. O que é mais importante para você? Você está pensando em si mesma ou no bebê? – No bebê, claro. – Sendo assim, acabou a discussão. Venha comigo e eu prometo que tudo ficará bem.

– Eu preciso de um tempo, até amanhã de manhã... e lhe darei minha resposta. ELE NÃO poderia negar o pedido de uma grávida, por isso resolveu passar a noite em um hotel local. A sua frustração era enorme, e Cassandra o deixava impaciente. Por conta de tudo isso, já no hotel, ele não aguentou e ligou para Cassandra. – Eu vou lhe responder, Marco, mas preciso de um tempo. – Você já sabe o que quer fazer. Você não é uma mulher indecisa, Cassandra. Eu quero ouvir a sua resposta agora.

– Você está certo – disse ela, após um breve silêncio –, eu preciso descansar. Mas esse mal-estar vai passar. Eu não posso ir a Roma e ficar parada. Concordo em viajar com você, mas eu preciso de um trabalho. E não quero que a sua influência determine a minha vida. Não quero depender do seu dinheiro. Se aceita os meus termos, venha me pegar de manhã. Em vários anos no mundo dos negócios, ele nunca fora obrigado a aceitar qualquer termo ou decisão sem negociar antes. – Você está aí, Marco? – perguntou ela, já que ele não dizia nada.

– Estou. – Concorda com os meus termos? Ele sabia que deveria concordar, mas também sabia que qualquer termo era negociável. Por outro lado, a saúde de Cassandra não poderia ser abandonada à própria sorte.

CAPÍTULO 9

CASSANDRA TINHA plena certeza de que refletira bastante sobre tudo antes de ir para Roma, mas a situação era muito pior do que ela imaginava. Trocar sua casa pequena e aconchegante pela imensa e impessoal cobertura de Marco era como ficar presa em uma ilha deserta. A porta impressionante se abriu ao corredor muito familiar,

com seu quadro de Calígula, e Marco se virou para sair. Ele não lhe deu nenhuma explicação. Mas por que daria? Marco trabalhou durante o voo e ficou ao telefone enquanto estava na limusine. Seria o fechamento de algum negócio importante, ela percebeu, a julgar pelo seu discurso decidido e sua expressão severa. Eles não tinham conversado nenhuma vez durante a viagem, e estavam tão distantes como se tivessem voltado a ser apenas o bilionário e sua jardineira substituta. Ela se encolheu de vergonha quando o motorista colocou sua mala puída no corredor, antes de seguir

atrás de Marco. Sua bagagem parecia ferver no chão de mármore e, quando ela foi buscá-la, uma empregada tão formal quanto seu uniforme a levou, antes que Cass tivesse a chance de tocá-la. – Seu quarto está pronto, signorina. – Obrigada. Cassandra sentiu o corredor girar. Tudo estava acontecendo muito rápido. Ela seguiu a empregada pelos cômodos do que seria o seu lar nos próximos meses. Como concordara com isso?, ela pensou, enquanto acariciava a barriga. Ela sabia que sua saúde fizera com

Ela sabia que sua saúde fizera com que isso fosse necessário, mas mesmo assim seu coração afundou no peito ao olhar em volta. Sabia o quão ingrata poderia parecer, mas não precisava de tudo aquilo. Ela trocaria aqueles lindos ambientes por algumas palavras calmas com Marco. – Se precisar de algo mais, signorina... A empregada parou junto à porta. – Não, obrigada. – Cass queria ficar sozinha. – Se mudar de ideia, por favor, me chame pelo telefone da casa. – Obrigada – disse de novo, perguntando-se o que o pessoal que trabalhava para Marco pensaria dela.

Nada, ela adivinhou. Eles provavelmente já tinham visto muitas mulheres irem e virem sem sequer cumprimentá-los. Quando a porta se fechou, ela se virou lentamente. Tudo era belo e muito espaçoso. Porém, embora fosse uma cobertura incrivelmente impressionante e magnífica, parecia mais um hotel exclusivo do que uma casa. As pessoas dormiam e às vezes comiam ali, mas nunca deixavam uma marca pessoal. Não havia fotografias, troféus, lembranças. Absolutamente nada que desse uma dica sobre o tipo de homem que morava ali. Talvez fosse essa a

intenção de Marco. Ele tinha a reputação de ser um homem frio e distante. Mas não na cama... Isso tudo está acabado, disse ela a si mesma, com sensatez. Ela estava grávida. Ele estava desconfiado. Estavam num impasse. E não havia nada a fazer sobre isso. A empregada lhe trouxe uma ceia leve, com uma deliciosa salada e pão fresco. Quando o telefone tocou, seu coração deu um salto e ela se apressou em responder, apenas para ouvir o tom de voz frio do chef de Marco, perguntando o que ela gostaria de comer e onde ela gostaria de comer. Ela disse que preferia ficar

na suíte. Não queria enfrentar a opulência do grande salão sozinha, muito menos a sala de jantar ainda maior. Ela acabou de comer e afastou o prato. Atravessando o quarto, Cassandra abriu a porta. Havia apenas silêncio no corredor que conduzia à cozinha. Adivinhando que a equipe teria ido para casa, ela levou sua bandeja e encontrou o chef e a empregada jantando. – Ah, desculpe, eu não quis... Eles olharam para ela, que se afastava novamente. A cozinha era o lugar deles, não dela, o que os seus olhares hostis lhe disseram claramente. Aquela era uma

configuração muito diferente da propriedade rural de Marco, onde Maria sempre recebia Cass na cozinha para uma conversa amigável. A cozinha de Marco em Roma podia ter todo o tipo de utensílios conhecidos pelo homem, mas não tinha a única coisa que a cozinha de Maria podia se gabar de ter em abundância: afeto. Se ao menos pudesse ter o bebê na Toscana. Por lá o ambiente não era tão formal, e Maria e Giuseppe sempre a trataram como um membro de sua família. Mas não seria tão fácil para Marco ficar de olho nela na Toscana, suspeitou Cassandra. Cruzando os braços, ela voltou

Cruzando os braços, ela voltou para o quarto. Sentia-se solitária e perdida. E estava presa naquele lugar. Até melhorar, não conseguiria procurar um emprego. A vista além das janelas do chão ao teto parecia ecoar seus sentimentos. O céu estava uniformemente cinzento, e as vidraças gigantes estavam salpicadas de chuva. Uma teimosa névoa descia sobre Roma, ocultando a vista magnífica. Pressionando as mãos contra a superfície fria, inflexível, ela olhou para fora, sabendo que Marco estaria lá, em algum lugar... mas onde? Ela não sabia com quem ele estava, nem

mesmo se estaria em casa àquela noite. E isso não era da sua conta. Sem nada para fazer, ela decidiu tomar um banho em uma banheira grande o suficiente para dois. Levou dez minutos para a banheira encher, e dois minutos para tomar um banho. Saindo da água, ela pegou uma toalha e foi para a cama. Cobrindo-se até o queixo, Cassandra olhou em volta, para o que devia ser o quarto mais luxuoso em que ela já dormira. Mas ela se sentia como se estivesse em uma prisão... ELE PASSOU algumas noites fora do apartamento, sabendo que Cassandra

seria bem cuidada. Sua equipe tinha instruções estritas para não deixar ninguém entrar. E ninguém sair? Cassandra precisava descansar. Ele fora muito firme a respeito disso. Ela estava sobrecarregada e ainda não parecia bem. Marco agendara um check-up para ela com um dos principais médicos de Roma, um homem conhecido por sua discrição. Ela ficaria no apartamento até fazer os exames. E Marco lhe enviara uma mensagem com o número de contato do médico, caso precisasse ligar para ele, juntamente com seu próprio número de emergência, que era

monitorado por seu pessoal todos os dias. Ok. Essa foi a resposta dela. Ele não podia culpá-la por ser seca. Ele próprio não falava muito. Quanto menos dissesse, melhor, concluiu, lembrando-se das confissões bêbadas de sua mãe, depois de aceitar que o homem que ele chamara de pai nunca os levaria de volta. Ele sempre pensou que as confidências embaraçosas que ouvira aos oito anos o marcariam para o resto da vida. E Marco nunca compartilhara seus sentimentos com ninguém desde então. Ele nunca imporia esse tipo de coisa a alguém. Sua vida mudara de um dia para

Sua vida mudara de um dia para outro, quando ele estava com oito anos. De filho de dois pais amorosos, ainda que distantes, ele se tornara o único cuidador de uma mãe alcoólatra, e acabou sendo afastado de seus pais, o que só piorou a situação. Ele olhou para o telefone e pensou em ligar para Cassandra, mas desistiu da ideia. Era melhor que se afastasse dela. E por quanto tempo faria isso? Ele sorriu ao se estirar nu na cama. A reação de seu corpo ao pensar em Cassandra dizia que não seria muito por muito tempo.

ELA OUVIU a porta se abrindo, quase ao mesmo tempo em que ouviu a empregada e o cozinheiro saírem. Eles eram os seus carcereiros. Porém, sendo absolutamente sincera, a verdade é que ela precisava disso tudo. Após diminuir o ritmo, sua saúde melhorou, como o médico previra. Ela ficou tensa, ouvindo passos se aproximando. Quem mais tinha a chave da porta? Só podia ser Marco. Seu coração estava trovejando. Era a primeira vez que o via desde que fora para o apartamento. Tomando consciência da situação, tendo se permitido relaxar, ela rapidamente penteou os cabelos com

os dedos e colocou uma cor nos lábios, ficando zangada consigo mesma por ser tão óbvia. Ela deveria estar descansando, certo? – Posso entrar? Para que perguntar, se já estava dentro? Seu coração batia tão forte que ela não podia confiar em si mesma para falar. Ela queria ficar zangada com ele por não ter lhe dito nada sobre quando voltaria... ou se voltaria. Mas estava louca por companhia (pela companhia de Marco), e seu coração saltou no peito ao vê-lo, embora ele parecesse mais sombrio e ameaçador do que nunca em seu terno imaculado.

E também mais distante, pensou Cassandra, enquanto ele a encarava fixamente. Eles realmente eram de dois mundos opostos. – Não é tarde demais, certo? – perguntou ele. É muito tarde, ela pensou, caindo sobre os travesseiros, enquanto ele adentrava o cômodo. Marco tirava o fôlego dela. Ele era tão bonito, tão moreno, tão atraente... e havia muito perigo naqueles olhos frios e distantes. Ela estava determinada a não deixá-lo perceber o quanto a afetava. – Acho que posso ficar acordada tempo suficiente para dizer “olá”. Ela deu de ombros, como se ter

Ela deu de ombros, como se ter um homem como Marco em seu quarto não a deixasse em uma enorme desvantagem. Cassandra estava desarrumada, praticamente nua na cama, enquanto ele parecia acabado de sair das páginas das colunas sociais. Segurando o travesseiro, ela o abraçou como um escudo. – Eu não esperava por você hoje – disse Cassandra. – Eu não disse quando voltaria – admitiu ele. – Fez uma boa viagem? – Sim, querida – disse ele, seco, lembrando a Cassandra que as coisas

que fazia não tinham nada a ver com ela. Ela prendeu a respiração enquanto ele chegava mais perto. Não era possível fugir ou recuar. E Cassandra não costumava fazer esse tipo de coisa. Ela se mudara para Roma por vontade própria, com a intenção de recuperar sua saúde. Aliás, foi por isso que Marco a levara para lá... certo? Enquanto pensava nisso, ela percebeu o olhar de Marco. Era um olhar que ela sabia que deveria ignorar, mas seu corpo pensava o contrário. E não era apenas seu corpo clamando por ele. Era sua alma, seu ser, sua essência fazendo isso

também. Afinal de contas, Marco era o pai de seu filho. Era o seu companheiro. E ela o desejava. Desejava estar em seus braços novamente. Ela queria se perder nele, queria que se tornassem um só. Seu mundo saiu do eixo quando ele se sentou em sua cama. Marco não disse nada. Não precisava. Ele apenas a puxou para seus braços. – Diga que não quer isso... e eu paro – sussurrou ele, com voz rouca. Ela poderia ter pressionado as mãos contra o peito dele em algum tipo de protesto fraco, mas não faria força, pois não queria afastá-lo. Cassandra não sabia se eram os hormônios da gravidez ou não,

apenas que a maneira como Marco a fazia se sentir não podia ser ignorada. Não era apenas o sexo ou o prazer que ele lhe dava, era estar com ele... apenas estar com ele... e estar perto dele. Não havia ninguém que pudesse fazê-la se sentir do jeito como ele fazia. Ela o ajudou a tirar o paletó e observou-o afrouxar a gravata. Ficou sem fôlego quando ele a puxou contra seu corpo, e gemeu quando sua mão deslizou pelos botões de seu pijama para acariciar os seus seios. Seu toque era tão familiar. Ela conteve uma respiração, perguntando a si mesma se um dia respiraria novamente.

E Marco começou a provocar seus sentidos, deslizando o dedo com leveza por seus mamilos enrugados. – Seus seios estão maiores – comentou ele, com aprovação, enquanto tirava o resto de suas roupas. – Eu gosto disso. E ele era magnífico. Nu e completamente ereto, Marco di Fivizzano era um homem grande, robusto, sem aquela imagem de playboy geralmente associada a ele. Marco era um homem que carregava sacos de areia e troncos. Era o pai de seu filho. E ela o desejava – sem perguntas, críticas, ou reclamações. Ela o desejava da maneira mais

primitiva possível. E queria estar com ele. Cassandra não esperava que ele se agachasse ao seu lado, muito menos que encostasse a palma de sua mão muito suavemente em seu ventre... mas foi exatamente isso o que ele fez. Erguendo a cabeça, ele afastou a mão e lhe deu um beijo demorado. Ela prendeu a respiração, mas, no momento em que Marco se afastou, ele voltou a ser seu amante. Ainda assim, naquele único momento em que ele fora outra pessoa... acabou se demonstrando um homem cuidadoso. Alguém que ela gostaria que fosse o pai de seu filho. Marco logo a distraiu. Enterrando

Marco logo a distraiu. Enterrando seu rosto em seus seios, ele segurou seus pulsos acima da cabeça, juntos, então usou as mãos e a boca para entretê-la, fazendo-a arquear os quadris em sua direção na tentativa de ficar mais próximo dela. – É isso o que você quer? – perguntou ele suavemente, enquanto passava as pontas dos dedos em seu corpo. – Sim – confirmou ela, tremendo de excitação, sabendo por quanto tempo Marco poderia reter seu prazer se ela não lhe respondesse. Ele tirou a calça do pijama e a atirou longe, e ela enlouqueceu, querendo mais... e quase gritou na

primeira vez em que ele a tocou. Marco sabia exatamente o que fazer. Não havia provocações agora, apenas uma pressão suave no lugar certo, e um ritmo confiável e carinhoso. E Cassandra não tinha outra opção... a não ser se libertar. – Isso foi tão bom! – exclamou ela, ofegante, quando a sensação explosiva diminuiu o suficiente para que pudesse falar. – Parece que sua percepção saudável da vida e do sexo está totalmente restaurada – observou Marco, seco. – Parece que sim – concordou ela. – Melhor agora? – perguntou Marco.

– Ainda não – disse ela, rapidamente. Ele sorriu. – Você quer mais? – Por favor… Quando Marco encaixou uma de suas coxas fortes entre suas pernas, ela exclamou suavemente, antecipando uma nova onda de prazer. Sentia-se entregue e exposta, deliciosamente excitada. Ela adorava como ele gostava de assistir. Isso sempre aumentava o nível de sua excitação. E Cassandra não se conteve, não poderia se conter. Ela não tinha poder para isso, e ainda estava gemendo de prazer quando Marco se posicionou sobre ela.

– Vou ser gentil – prometeu ele. E manteve sua palavra, e ela descobriu quão extraordinário esse sexo novo e gentil poderia ser. Marco conseguiu estender seu prazer por mais tempo. E ela o ouviu sorrir suavemente ao perceber que Cassandra tinha dificuldade para adiar o clímax. Seu corpo teve espasmos de satisfação e ela se aqueceu em sensações. Quando ela finalmente relaxou, Marco deslizou lentamente para dentro do seu corpo, acomodando-se profundamente e movimentando seus quadris para que ela se perdesse de novo, de novo e de novo... Saindo de dentro dela com uma

Saindo de dentro dela com uma deliberada falta de pressa, ele fez uma pausa, olhando para ela. Seu rosto era magistral e pensativo, enquanto ele a observava segurar seus braços e mexer o corpo com avidez. A última vez em que fizeram amor antes de ela adormecer foi tão violenta que Cassandra poderia muito bem ter ficado inconsciente... e ela só acordou quando Marco saiu da cama. – Aonde você vai? – disse ela, estendendo a mão para puxá-lo de volta. E se sentou na cama, mas se sentia solitária naquele colchão imenso e vazio. –

Você

precisa

dormir.



– Você precisa dormir. – Abaixando-se para beijar sua bochecha, ele acrescentou: – Eu também. Tenho muita coisa para fazer amanhã. Mas não se preocupe – acrescentou ele, em tom seco –, voltarei de manhã para ver se precisa de mais alguma coisa, antes de sair. – Sua boca sexy curvou-se em um sorriso, enquanto ele caminhava nu para fora do quarto. Ele era muito bonito e sabia disso. Aquela noite fora maravilhosa para ela, suas emoções foram inteiramente estelares, mas e para Marco? Teria significado apenas sexo para ele? De repente, ela se sentiu trêmula e vulnerável, perguntando a si mesma

se, sem perceber, se voluntariara para a posição de amante de Marco di Fivizzano. Afinal de contas, para que outro posto uma jardineira estaria qualificada no mundo de um bilionário? Quanto mais ela pensava sobre isso, mais parecia que as necessidades de seu corpo governavam sua cabeça. Estava morando no apartamento de Marco por vontade própria. Estava sob sua proteção. E tudo o que lhe restava de positivo era a reverência com que ele beijara sua barriga, mas até isso começava a preocupá-la. Um homem como Marco di Fivizzano precisaria de um herdeiro. Ela seria apenas um útero conveniente?

CAPÍTULO 10

NA

seguinte, Marco saiu cedo, como avisou que faria, e não foi ao quarto dela, como prometera. E por que ela queria que ele fizesse isso? Não era melhor tentar mantê-lo a distância enquanto estivesse por lá? Ela não sabia mais nada... A gravidez transformara seu cérebro em mingau, Cassandra concluiu. Ela nunca dependera de ninguém além de sua madrinha... e MANHÃ

certamente nunca ficava pensando se um homem queria transar com ela antes de levantar da cama. Se ela perdera o respeito por si mesma nesse nível, era hora de voltar a raciocinar como a mulher que Cassandra era antes de engravidar. No curto período em que estava na cobertura de Marco, ela se tornara muito complacente. Em breve, limparia os sapatos dele e prepararia seu banho. E nem sequer lhe restava o enjoo matinal para usar como desculpa. Então, por que estava vivendo daquela maneira? As coisas tinham que mudar. Cassandra levou a bandeja para a cozinha. Quem se importava com o

que a criada e o chef hostis pensariam a respeito de ela querer fazer algumas coisas? Cassandra tinha braços fortes e um par de mãos perfeitamente capazes, e não precisava de ninguém agindo por ela. Ela agradeceu o chef pelo café da manhã e se desculpou por não terminá-lo, alegando que comera muito no jantar da noite anterior. – Mas estava delicioso – disse ela, agradecendo-lhe. – Precisa de algo mais, signorina? – perguntou a criada. – Não. Obrigada – respondeu Cassandra. Ao fechar a porta, ela amaldiçoou sua audição perfeita.

– Há algo de errado com minha comida? – reclamou o chef. – Ela está grávida – sussurrou a criada. – É por isso que não consegue comer. – Ele engravidou essa menina? Cassandra congelou, depois ficou tensa, quando ambos começaram a rir. – Já era hora – declarou o chef, esquecendo-se de que Cass poderia ouvi-lo, ou talvez não se importando com essa possibilidade. – Um homem como ele precisa de um herdeiro. Ouvir seus próprios pensamentos ecoando na cozinha fez com que Cass congelasse.

– Não sei por que ele escolheu essa mulher, quando há várias outras da sociedade que ficariam gratas por gerar um herdeiro dele – disse a criada. Houve um silêncio, e então a criada acrescentou: – Notícias como essa valem dinheiro, sabia? Cass ouvira o suficiente. Não era responsabilidade dela repreender a equipe de Marco, então ela se conteve e se afastou. Tinha de acreditar que o chef e a criada permaneceriam leais a seu empregador e guardariam o segredo. A lealdade, em qualquer casa, é uma regra tácita, certo?

E A notícia da deslealdade em sua equipe chegou quando ele estava em uma reunião. Sua assistente pessoal enviou uma mensagem para que ele não fosse surpreendido pelos relatos que já apareciam on-line. Ele permaneceu exteriormente impassível, mas por dentro estava furioso. Marco era um homem reservado, que não gostava que sua vida privada circulasse por aí. E não queria isso para Cassandra. Por isso a mantinha em sua cobertura tranquila. Ele queria que seus últimos meses de gravidez passassem calmamente e em segredo. Ninguém deveria estar falando sobre ela, muito

menos seus funcionários de confiança... Equipe de confiança? – Minha assistente pessoal seleciona uma lista de possíveis funcionários, e vocês deveriam verificá-los – disse Marco, criticando sua equipe de investigadores. – Vocês deveriam ser os melhores. Foi por isso que os contratei. E vocês estão despedidos. – Ele desligou quando eles começaram a dizer, se desculpando, que o chef e a criada tinham sido cuidadosamente verificados, mas não havia como determinar a natureza humana. Todo mundo tem seu preço, ele pensou, irritado, mostrando nada

além de sua fúria crescente enquanto cancelava sua próxima reunião. Por que tratar de negócios era algo tão descomplicado, e tudo o que dizia respeito ao seu relacionamento com Cassandra era tão complexo? Ele estava realmente preocupado com o que as pessoas falavam? Ou teria sido finalmente forçado a enfrentar o fato de que sua vida estava mudando? Nunca mais seria o mesmo. Agora havia uma criança na equação, uma criança que provavelmente era dele. Possivelmente era dele, ele emendou. Agora ele tinha que se perguntar por que nunca poderia confiar em

seus sentimentos. Por que não acreditava em Cassandra? O passado o assombrava? A equipe da cobertura já fora demitida quando ele chegou por lá, mas não havia sinal de Cassandra. Seus batimentos subiram enquanto procurava por ela. Ele verificou em toda parte, sabendo que ela não poderia deixá-lo. Para onde ela iria? Ela estava recuperando sua saúde em Roma e já parecia muito melhor. Ele ligou para a empresa de táxi (ligou para todas as empresas da cidade), mas ninguém havia levado uma jovem inglesa grávida para o aeroporto... nem para qualquer outro lugar, aliás.

Então, onde ela estava? Com os pensamentos longe, ligou a TV para ver o noticiário enquanto andava pelo apartamento. O assunto dos jornais o chocou, irritou-o. Estava concentrado nele e em Cassandra. A foto que usaram dele o fazia parecer um demônio do inferno, barbado e montado em uma Harley. Sabia Deus onde a teriam encontrado! A foto de Cassandra mostrava um anjo, de rosto e temperamento doce, como uma mártir que ele prendera a uma estaca. A imprensa não apenas explorava a história, mas produzira todo um programa sobre o assunto. Marco

tinha que encontrá-la antes que os paparazzi chegassem... Tarde demais! A notícia passara de fotografias de arquivo a fotos recentes. Mas ele não ficou por perto para desligar o aparelho. Cassandra estava no parque do outro lado da rua, e os paparazzi estavam pululando por ali. AGORA EU entendo, pensou Cass, enfiando as mãos nos bolsos de sua calça de maternidade enquanto caminhava, olhando para baixo. Certo... Devia ser essa a forma como seus pais se sentiam o tempo todo, e não apenas algumas vezes. Ela nunca entendera as pressões que eles

tinham sofrido, até aquele momento. Viver desse jeito deve ser uma infâmia, ela pensou, mordendo os lábios. Os jornais estavam repletos de imagens de uma criança brincando entre seringas descartadas e garrafas vazias, e a internet tinha uma longa memória do que os valentões na escola tinham aproveitado para fazer. Nem sua madrinha poderia protegêla de tudo. Em seus anos de adolescência, dominada por hormônios, ela pensava de forma diferente sobre a notoriedade de seus pais, imaginando que deveria ser glamoroso e maravilhoso estar

rodeada de tanta atenção o tempo todo. Porém, naquele momento, ela podia ver que aquelas foram reflexões equivocadas de uma criança. Seus pais tinham jogado fora suas vidas nas drogas e no álcool, mas deviam ter ficado assustados e feito uma tentativa desesperada de prosseguir com aquela vida de celebridade. E então veio aquela briga estúpida, que terminou com os dois mortos na piscina. E Cassandra ainda ficava confusa, pensando que tal briga não poderia ter sido resultado apenas de uma discussão sobre quem tomara a última garrafa de cerveja!

Mas eles deviam estar sob uma incrível pressão, tendo que lidar com isso diariamente, ela refletiu, enquanto olhava para trás, por cima do ombro. Cassandra não seria facilmente intimidada, mas aquilo a assustava. E, se os repórteres a perseguiam em suas roupas de maternidade, com o cabelo preso precariamente, eles não teriam misericórdia de ninguém. Eles não estavam interessados em fotos bonitas. Isso não dava dinheiro, ela supôs. Eles eram como hienas, alimentando-se de problemas e sofrimento. Eram hienas com câmeras, colocando-as em seu rosto. Microfones, celulares, câmeras de

televisão... até mesmo membros da sociedade estavam pegando tudo o que pudessem pôr em suas mãos para ter uma foto melhor da amante grávida de Marco di Fivizzano. Eles queriam examiná-la, observar todos os seus defeitos e fraquezas, para que pudessem expor isso ao mundo. Especialmente sua barriga. E ela quase riu alto quando um homem se ajoelhou à sua frente para tirar uma foto, e então deu uma volta para capturar outra imagem. – Isso é ridículo! – exclamou ela, apenas para ser atingida por uma enxurrada de perguntas: – Você tem alguma declaração a dar?

– Você sabe o sexo do bebê? – Vai morar com Marco quando ele nascer? E então, como um milagre, Marco surgiu ao seu lado, protegendo-a, com força, poder e presença suficientes para dispersar a multidão. – O que você está fazendo? – perguntou ele, dirigindo sua fúria para os paparazzi quando a colocou firmemente sob a proteção de seu braço. Dessa vez, Cassandra não tentou resistir quando ele a afastou das câmeras. – O que parece que estou fazendo? Queria um pouco de ar fresco – respondeu ela.

– Eu entendo, mas por que não me ligou? – Não queria incomodá-lo– admitiu ela. – E eu não poderia ficar na cobertura nem um minuto a mais... com as pessoas rindo de mim. – As pessoas da minha equipe? Elas foram demitidas. Foi um erro de julgamento de minha parte... eu deveria ter verificado suas referências. – E eu não deveria ser tão patética, mas a gravidez está me deixando emotiva o tempo todo. Cassandra olhou para trás e ficou contente ao ver os repórteres recuando. Ela adivinhou que eles não estavam muito interessados em

enfrentar Marco no seu estado de espírito atual. – Você acha que sua equipe fez isso? – perguntou ela. – E quem mais alertaria a imprensa? – perguntou ele, enquanto exibia seu cartão de segurança dos controles do sistema de entrada privada. Marco segurou a porta para ela; depois, deixou-a bater na cara das hienas. – Eles disseram que isso daria dinheiro – disse Cassandra. – Um ganho de curto prazo. Nenhum deles trabalhará novamente nesta cidade. Eles nunca serão confiáveis depois disso – afirmou Marco.

– Então esse dinheiro provará ser uma faca de dois gumes? – Sem dúvida, mas eu só estou interessado em você. Você está bem? Ela olhou para Marco e viu uma preocupação genuína em seus olhos. – A sua equipe reforçou meus pensamentos sobre você estar me usando para fazer sexo... para ter uma criança, um herdeiro. – Marco franziu o cenho. – Eu tive que sair da cobertura para aliviar minha cabeça... e isso ajudou, embora não da maneira como eu esperava. Isso me ajudou a entender como meus pais se sentiam quando eram perseguidos por tantos paparazzi. – Esta é a primeira vez que você

– Esta é a primeira vez que você fala sobre eles – disse Marco. – Sim. Assim como você, eu deixei o passado para trás por tanto tempo que não é fácil falar sobre isso com ninguém. Porém, mesmo tantos anos após as suas mortes, eu ainda me sinto culpada. – Você também... – murmurou ele. – Eu era implacável quando adolescente. Só enxergava o fato de que meus pais tinham me abandonado quando eu era pequena... – Ela parou, notando que Marco ficara tenso. – Eu disse algo que o aborreceu? Ele não disse nada, mas um músculo pulsou em sua mandíbula. E

Cassandra adivinhou que ele se sentia como ela, que anos de silêncio não poderiam se desfazer em uma noite. – Há algo mais... – disse ela, enquanto as portas do elevador se abriam. – O quê? – perguntou Marco. – Eu posso ajudá-lo. – Você pode me ajudar? Ele olhou para ela, incrédulo, enquanto o elevador se dirigia para o piso da cobertura. – Você não tem tempo para lidar com tudo, por isso acabou com aquelas pessoas em casa. – E qual é a sua sugestão? – perguntou ele.

Marco não estava acostumado a ser desafiado. Que pena... Ela tinha algo a dizer, e ele não a impediria. Era crucial que Marco pudesse confiar nas pessoas que trabalhavam em sua casa. – Você deve tentar contratar mais pessoas como Maria e Giuseppe. E, se você permitir, posso ajudar a encontrá-las. – Quando Marco fez que sim com a cabeça, alegre, ela acrescentou: – Pense no quanto você seria mais eficaz se pudesse delegar mais. Talvez você não ficasse tão distante... você poderia tentar fazer isso com a sua equipe, e depois comigo. Ela deve ter percebido o olhar de

Ela deve ter percebido o olhar de Marco, que era como um aviso para recuar, mas, em vez disso, ela o encarou. Ele admirava sua ousadia. Depois daquela experiência no parque, ele poderia ter esperado que Cassandra ficasse abalada e que não pensasse em ninguém além de si mesma, mas ela sempre estava pensando nos demais. – Vamos ficar do lado de fora de casa o dia todo? – perguntou ele. – Você não respondeu à minha pergunta – disse ela. – Aceita a minha ajuda para recrutar o seu pessoal? – Não há necessidade disso. Eu

– Não há necessidade disso. Eu mesmo me encarregarei dessa situação. Ela inclinou a cabeça para um lado, para olhar para ele. – Marco... eu teria passado em seu processo de seleção? – perguntou Cassandra. Sua pergunta o silenciou. Marco olhou para ela, percebendo que a resposta provavelmente seria “não”. – Deve ser muito chato para você ficar parada na cobertura o dia inteiro – admitiu ele. – Você precisava descansar, mas agora está bem o suficiente, e eu posso ver que precisa de algo para fazer. Vou telefonar para a embaixada amanhã e

perguntar se há algum trabalho em meio período para você, tudo bem? Ela fez que não com a cabeça. – É muito amável da sua parte, Marco, mas não é necessário. – O que você quer dizer com isso? – perguntou ele. – Eu já telefonei para a embaixada. Para ser mais precisa, liguei para o número privado do embaixador. Número que ele me deu na festa de caridade. E pensei sobre o que você disse... e percebi que eu não o estaria usando e que realmente tinha algo a oferecer. Seria um bom trabalho, e eu estaria disposta a trabalhar nos jardins da embaixada de graça, embora ele não saiba disso. Ao ouvir

minhas palavras, ele concordou que eu seria uma ótima funcionária para a embaixada. – Você conseguiu um emprego? – perguntou ele. – Consegui, Marco. Eu tenho um emprego – respondeu Cassandra. Seu instinto protetor saltou para fora do peito. – Depois da experiência de hoje, você aceitaria trabalhar todos os dias com os paparazzi acompanhando cada movimento que fizer? – perguntou Marco. – Você não pretendia telefonar para me arranjar um emprego?– Antes que ele pudesse responder, ela acrescentou: – E não será todos os

dias. O trabalho na embaixada é de meio período. – Se eu tivesse encontrado um emprego, teria sido diferente. – De que maneira seria diferente? – Ela o desafiou. – Eu teria me assegurado, em primeiro lugar, da sua segurança. – Você sabe tão bem quanto eu que os jardins da embaixada têm uma segurança tão boa que nem um verme entraria por lá... quanto mais hienas. Essa é a solução perfeita, Marco. Ninguém chegará a menos de um quilômetro de mim – acrescentou ela, com confiança. – Você poderia ter me contado o que planejava fazer – disse ele.

– Assim como você, que sempre me diz o que vai fazer a cada dia? – retrucou Cassandra. Houve um longo silêncio, e então ele disse, de modo tenso: – Essa não é a questão! – Não? Pensei que fôssemos iguais... ou um de nós é mais igual que o outro? Eu não preciso pedir sua permissão antes de fazer algo. Ou será que preciso? Eu realmente aprecio o que você fez por mim. E sei que eu não estava bem quando cheguei por aqui, e sei que fui muito teimosa para admitir isso na Inglaterra... mas agora estou bem o suficiente para voltar ao trabalho. – Você ainda precisa descansar –

– Você ainda precisa descansar – disse ele. – Eu não preciso descansar. Estou bem. E ficarei ainda melhor quando estiver trabalhando em um jardim. Ela se recusava a recuar. E Marco amava seu ímpeto, mas isso o incomodava. – O que você está fazendo, Marco? – perguntou ela. Estendendo a mão, ele tirou o único elástico segurando os cabelos dela, para que caíssem em ondas rebeldes ao redor de seus ombros. Juntando-os de novo, ela os colocou firmemente no lugar. – Devo tomar isso como um sinal? – Marco perguntou.

– Sim. Um sinal de que preciso de ar fresco – disse ela, olhando fixamente para ele, até que parou. – E o jardim do terraço? – O jardim do terraço? Você nunca mencionou um jardim no terraço para mim. Você está me dizendo que há um jardim por aqui? – perguntou ela. – Eu vou lhe mostrar. Ele a conduziu por um caminho que os levou a uma das vistas mais magníficas sobre Roma. – Nossa.... – murmurou ela, tão surpresa que, por um momento, nem notou o jardim cuidadosamente preparado e apenas aproveitou a

vista. – E pensar que eu nem sabia que isso estava aqui... – Eu devia ter mostrado para você – admitiu Marco –, mas raramente venho aqui... – E você mal podia esperar para fugir assim que chegamos – disse ela, cuidadosa em manter sua expressão neutra. – Talvez... – admitiu ele. – Mas agora que você sabe que temos um jardim aqui, não poderia se ocupar cuidando dele? – Para preencher minhas horas vazias, você quer dizer? – Ela deu de ombros. – Isso é lindo, Marco, muito bonito, mas foi planejado até a última polegada e cuidadosamente

preparado. Não há nada para fazer por aqui, exceto admirar. E eu preciso de mais do que isso. Preciso de um emprego adequado. – O bebê não é suficiente para você? – perguntou ele. – Minha pergunta é: eu estarei sendo boa para o bebê se apenas me sentar aqui, sem fazer nada, esperando que nosso filho chegue? Marco se encolheu um pouco diante da menção a um suposto nosso filho. – Você nunca aceitará que eu poderia tornar a sua vida mais fácil, Cassandra? – perguntou ele. – Eu não quero uma vida fácil. Só quero a chance de fazer o trabalho

que amo. Ele parecia entender isso. Virando-se, estendeu a mão para capturar uma mecha de cabelo perdida atrás de sua orelha. – Eu poderia admirá-la... se você não fosse tão malditamente irritante – admitiu ele. Ela bufou, irônica, depois relaxou um pouco. Talvez fossem ambos culpados de se levarem muito a sério, às vezes. – Vou tentar ser digna de sua admiração... e um pouco menos irritante – prometeu ela. E então, pela primeira vez, eles compartilharam um sorriso. Logo depois, deixaram o belo jardim no

terraço e desceram para a parte principal da cobertura, onde ela permaneceu, enquanto Marco perambulava pelo quarto. A tensão crescia entre eles e ameaçou engoli-la quando Marco ficou na frente dela. – Venha para a cama comigo, Cassandra – sugeriu ele. Marco sentia a respiração presa em sua garganta enquanto olhava para ela. E Cassandra conhecia aquele olhar ardente em seus olhos, e seu corpo estava desesperado para corresponder. Aquilo não tinha nada a ver com os hormônios da gravidez. Ela desejava Marco, e não apenas fisicamente, mas com cada parte de sua alma.

Inclinando-se para frente, ele roçou os lábios nos dela. Vários segundos se passaram. Era como se o tempo estivesse parado naqueles momentos potentes e carregados. Descansando as mãos nos braços de Marco, Cassandra permitiu que ele a levasse para o quarto. Colocando seu braço em volta dos ombros de Cassandra, ele fechou a porta e abriu sua camisa, deixando-a cair. Então mergulhou a cabeça para morder a alça do sutiã dela, que rasgou e descartou também. Depois tirou seu jeans de maternidade cuidadosamente. Segurando sua mão, ele a conduziu para a cama e

afastou os lençóis do caminho, colocando-a gentilmente sobre os travesseiros. – Vire-se – pediu ele – e espere por mim. Ela o viu se despir e sentiu sua excitação crescer. O corpo de Marco era uma obra de arte masculina. Uma visão brutal. E ela mal podia respirar de excitação quando ele se juntou a ela na cama. Estendendo seu membro atrás dela, ele pousou a mão em sua lombar. Ela respondeu imediatamente e, arqueando as costas, esperou ansiosa, antecipando seu primeiro toque. Depois de colocá-la na posição que

Depois de colocá-la na posição que queria, Marco a segurou e delicadamente, abrindo suas pernas, deslizou a ponta de sua ereção dentro dela, até ter certeza de que ela estava relaxada. Então a penetrou profundamente. E Marco quase não precisou se mexer quando a fome do desejo tomou conta dela... – Que tal? – perguntou ele em tom suave quando, depois de um tempo, ela ficou em silêncio de novo. – Muito agradável – respondeu ela, sorrindo para o travesseiro. – De novo? – Eu acho que sim, não? Eles fizeram amor tantas vezes que ela perdeu a conta, e cada vez foi

melhor do que a anterior. E depois ela dormiu, segura nos braços de Marco, e acordou enquanto ele fazia amor com ela novamente. – Como você faz isso? – murmurou ela, ainda meio adormecida. Ele a acalmou e continuou a se mover constantemente, para frente e para trás. Cassandra permaneceu quieta e silenciosa, bancando a receptora agradecida de prazer, sem que nenhum esforço fosse exigido dela. E ela não tinha nenhum argumento contra isso, até porque estava se tornando a experiência mais incrível de sua vida. Só de pensar em

Marco fazendo o que estava fazendo, e com tanta habilidade, era suficiente para fazê-la perder o controle. Como tal sensação a dominava, ela gritou seu nome e seu corpo sofreu vários espasmos de prazer. Quando ela se acalmou, Marco começou tudo de novo. O sexo não era um fim em si mesmo, ela sabia disso tão bem como qualquer outra pessoa. Porém, até que uma solução fosse encontrada para aquela situação, o sexo continuaria sendo a única coisa que os aproximava.

CAPÍTULO 11

O

de Cassandra nos jardins da embaixada era ainda melhor do que ela esperava. E ela sorria ao voltar para a cobertura, pensando que gostava de todos com quem trabalhava, e estava até aprendendo a língua italiana. Trabalhando com as plantas que amava, com as mãos no solo e a cabeça em um lugar melhor, poderia até começar a imaginar a cobertura TRABALHO

de Marco como sua casa... pelo menos, por enquanto, sem se preocupar muito com o que aconteceria no futuro. Uma coisa era certa. Ela já amava seu bebê e faria tudo para dar a seu filho a melhor vida possível. Aliás, duas coisas eram certas, pensou Cass, ao ver o passaporte em sua bolsa. Ela decidira voltar à Inglaterra para o nascimento da criança. Não poderia arriscar ficar na Itália só porque Marco parecia estar trabalhando mais do que nunca. E ele estava tentando evitar se envolver de uma maneira mais profunda com ela... ou talvez estivesse tentando exorcizar seus próprios demônios. Fosse lá

como fosse, seu filho nasceria em breve, e ela estava determinada a dar um futuro estável para o bebê, ao contrário do que teve quando criança. Marco estivera em uma viagem de trabalho nos últimos dias e estaria de volta naquela noite. Pensar nisso a comoveu, mesmo deixando-a mais determinada do que nunca a falar com ele, a fim de lhe explicar quais eram os seus planos. O tempo estava se esgotando em sua gravidez, e Marco precisava enfrentar o futuro. Era um futuro que esperava que compartilhassem com seu filho, mesmo que Marco e ela vivessem em países diferentes.

Ela não ficou ociosa enquanto ele esteve fora. Além de seu trabalho na embaixada, entrevistou novos funcionários para trabalhar na cobertura. Queria conquistar seu espaço. Ela queria que Marco soubesse que não estava esperando que ele fizesse tudo. E também pretendia lhe dizer que estava bem o suficiente para voltar para casa. Sim, embora estivesse grata por Marco ter permitido que se recuperasse em Roma, estava pronta para voltar para a Inglaterra. As lágrimas tomaram seus olhos ao pensar em deixá-lo. Ela estava se apaixonando por Marco, Cass

percebeu, enquanto escovava o cabelo. No entanto, não havia se, mas ou talvez. Ela se apaixonara por um homem muito complexo que estava voltando para casa naquela noite, então deixaria o cabelo solto... para ele. MARCO PARECIA exausto ao entrar. E também parecia gloriosamente impressionante em um terno azulmarinho tão escuro quanto seus olhos. Sua camisa branca estava aberta no colarinho e a gravata de seda estava pendurada. Cassandra não precisava que ele dissesse que fora uma viagem difícil.

Seu cabelo estava emaranhado, sua barba estava densa e seu cenho estava tão marcado que ela sabia que Marco passara por momentos difíceis, embora seu rosto se iluminasse ao vê-la. – Cara mia, você está linda. Era a primeira vez que Marco a chamava de sua. Em vez de se ressentir, ela gostou disso, talvez mais do que devesse, tendo em mente o que ela tinha a lhe dizer. Cassandra era uma mulher independente, mas gostava do sentimento de pertencimento, bem como de não estar sozinha. O “linda” ela tomaria como um tempero. Sabia que não estava linda. O espelho lhe

dizia isso todos os dias. Ela estava inchada, pesada e... Cass voltou sua atenção para Marco, dizendo: – Você parece exausto. Posso lhe trazer uma bebida? Ele sorriu e deu de ombros. – Eu deveria cuidar de você, cara. – Está certo, então. – Ela sorriu. – Podemos nos revezar. Ele se aproximou de Cassandra e a prendeu contra a parede. – Isso reaviva suas memórias?– perguntou ele, olhando para ela com o mais leve dos sorrisos em sua face sombria. – Algumas – admitiu ela. E Cassandra desejava que ele a beijasse.

Ela queria sentir seu corpo duro pressionado contra o dela... – E isso?– murmurou ele, raspando sua pele sensível contra a barba, enquanto traçava uma linha suave de beijos ardentes por seu pescoço. – Mais algumas lembranças parecem estar voltando à minha mente – admitiu ela, maliciosa. – E agora? Ela fechou os olhos e sentiu um pequeno tremor, quando as mãos grandes de Marco seguraram seus seios. – Você tem os seios mais magníficos do mundo, Cassandra. – E você não fechou a porta – disse

– E você não fechou a porta – disse ele. Ele a fechou com o pé. – Melhor agora? Enquanto fazia essa pergunta, ele colocava a mão entre suas pernas, fazendo com que sua resposta só pudesse ser um tremido: – Ainda não... Ela olhou para cima e soube que Marco podia perceber o calor em seus olhos. – Tem alguma coisa que eu possa fazer para melhorar a situação para você? – perguntou ele. – Sim... Movendo as mãos para envolver seu rosto, ele a beijou... muito

gentilmente. Foi um beijo terno, do tipo que nunca haviam compartilhado antes, um beijo que provocara cada terminação nervosa em seu corpo. – O quarto? – perguntou ele, dando de ombros. – Se você acha que é melhor... – sussurrou ela. – Em sua condição, bater contra a parede provavelmente não seria aconselhável. Tente não parecer desapontada. Prometo recompensála com algo de que você vai gostar muito, também. – Tem certeza?– Ela o desafiou, em um sussurro. – Tenho certeza – respondeu ele.

E Cassandra ofegou quando ele a colocou em seus braços. – Você vai ter que esperar enquanto eu tomo banho – disse ele, com relutância, quando a colocou na cama. – Por quanto tempo? – reclamou ela. Os olhos de Marco estavam cheios de promessa, e ela estava ofegante de excitação quando ele voltou. Secando seus cabelos negros, espessos e ondulados com uma toalha, ele tinha outra envolta em seus quadris. Marco era tão bronzeado e musculoso que ela se perguntou se algum dia se cansaria de olhar para ele. Marco só teve que trocar um olhar

Marco só teve que trocar um olhar com ela para ficar excitado. E, enquanto ele seguia na direção dela, tudo o que podia pensar era em prazer. Ele sabia exatamente do que ela precisava, e seu apetite combinava com o dela. Seu olhar caiu para sua boca. Ela nunca experimentara algo como aquela fome que consumia tudo. E estava trêmula quando ele ficou na frente dela. Seus cabelos grossos ainda estavam úmidos e colados à sua barba. Ela sorriu um pouco ao ver que ele não se barbeara. Atraindo-a para seus braços, ele beijou seu pescoço. E então, envolvendo-a, moveu-se com ela no ritmo de alguma música silenciosa.

Depois ele a virou, rodeando sua cintura com os braços, e sussurrou em seu ouvido: – Eu amo essa posição, com você de costas para mim... é perfeito para fazer amor quando você está grávida. – Trata-se de uma posição perfeita para quando eu não estiver grávida também – respondeu ela. Ela podia sentir sua necessidade dura pressionando-a. E isso a deixava mais desejosa do que nunca. Marco a levou para a cama. – Eu preciso disso... – gemeu ele, penetrando-a. – Eu também – ofegou ela, enquanto sua respiração se acelerava. Marco

se

apoiou

em

seus

Marco se apoiou em seus antebraços, para manter o peso fora dela, enquanto olhava para baixo. Aquele olhar foi o suficiente para excitá-la. – Imaginei que você também precisasse disso – provocou-a, quando um violento orgasmo levou seus pensamentos embora em uma explosão de luz. – Mais? – perguntou ele. E a virou de lado, do jeito como ela gostava, e sussurrou: – Flexione seus joelhos quando eu penetrá-la lentamente, e eu vou tocála enquanto isso... A mão dele mal chegara ao seu destino e ela já parecia pronta para o

clímax. – Acho que você gosta disso – murmurou ele. Apoiando o queixo em suas costas, ele esperou enquanto ela ofegava. – Definitivamente – confirmou ela. – Você está pronta para mais? – perguntou Marco. E ele só teve que repousar a mão em suas costas para que ela pudesse elevar seus quadris, de forma que ele pudesse segurá-los e, lentamente, tomá-la de novo. Movendo-se de forma ritmada e poderosa, ele a estimulou com a outra mão, levandoa ao mais profundo clímax.

CASSANDRA ESTAVA dormindo tão pesadamente que ele decidiu levar seu café na cama. Ela deveria descansar... mas ele não estava sempre dizendo isso a ela? No entanto, Marco devia dizer a si mesmo que a mantivera acordada durante metade da noite. Ele não conseguia se cansar dela. Nunca se sentira assim. Nunca fizera amor com uma mulher durante toda a noite e a acordara de manhã fazendo amor com ela. E, claro, ele nunca preparara um café da manhã, pelo menos desde que tentou convencer sua mãe a comer nos últimos estágios de seu

alcoolismo, um pensamento que destruiu seu idílio atual. O padre que fez o enterro de sua mãe providenciou para que ele tivesse um teto sobre sua cabeça e que fosse à escola, com comida suficiente em sua barriga para mantê-lo em pé durante o dia. O orfanato foi uma experiência aterrorizante, mas ele sobreviveu a ela. Não havia nada nesse mundo que não pudesse superar... com exceção de seus sentimentos por Cassandra. Mas ele não poderia lhe oferecer nada mais do que isso, pensou, enquanto se encaminhava para o quarto. Ele não mantinha qualquer

tipo de compromisso há muito tempo e nunca enganaria Cassandra. Ela acordou lentamente e sorriu com o rosto ainda pressionado contra o travesseiro, enquanto ele carregava a bandeja de café da manhã para dentro do quarto. – Você preparou café da manhã para mim! – exclamou ela com prazer. Apertando os lábios, ele deu de ombros. – É do meu interesse manter suas forças. – Pare de agir com tanta rigidez, Marco. Mesmo que esteja brincando, eu sei que você é mais amável do que parece. Existe um monte de

sentimentos dentro de você, mas você tem medo de mergulhar neles. – Medo? – perguntou ele, tenso, preparando-se para se retirar enquanto colocava a bandeja. – Eu sei. Você não tem medo de nada... exceto do que está dentro de você – disse ela, perdendo o sorriso. – Mas todos nós temos demônios do passado para lutar. – Não sei o que você está querendo dizer. Ela olhou para ele por um momento e então estendeu a mão. – Venha aqui… – Preciso trabalhar… – Por favor – insistiu ela –, me dê sua mão.

Ele franziu a testa, mas fez o que ela pediu. Tomando-a, ela guiou a mão dele por baixo dos lençóis. – Você pode senti-lo? Seu filho está dizendo “olá”. – O meu... – Ele recuou, mas ela segurou sua mão e, com mais força do que ele tinha imaginado que ela possuía, trouxe a mão de Marco de volta e a fez descansar sobre sua barriga. – Não fique assustado – sussurrou ela. – Nós dois somos novos nisso. Os bebês não vêm com um manual, e eu não quero que você perca nada. Ele fraquejara uma vez... e acabou beijando sua barriga. E tinha

sobrevivido a isso. O milagre da vida era algo a que ele mesmo não conseguia resistir. Marco acalmou sua respiração e depois se acalmou, e então sentiu... sentiu o pequeno pulso da vida tentando chutar sua mão. – Dio! Eu posso senti-lo. – Seus olhos estavam cheios de admiração quando ele se virou para ela. – Esse é o seu bebê! Cassandra o olhou fixamente durante uns bons momentos, depois disse: – É o nosso filho. HAVIA TANTO que Cassandra queria dizer a Marco. Ela queria chegar até

ele de uma maneira que quebrasse todas as suas questões, mas, antes que pudesse fazer isso, Marco tinha que confiar nela... confiar nela o suficiente para lhe dizer por que se tornara assim. – Marco? Ele estava se dirigindo rapidamente para a porta e parecia aflito. No entanto, ela sabia que ele havia sentido o mesmo momento de admiração e felicidade que ela experimentara quando sentiu seu filho chutá-la pela primeira vez. O que havia com esse bebê que assustava Marco? O que abalara os alicerces de seu mundo? Se sua única preocupação era que o bebê fosse

realmente seu, Marco poderia resolver isso com um teste. Porém, ela suspeitava de que fosse algo mais do que isso, algo tão devastador que moldara a vida de Marco. E queria saber o que era, para que pudesse ajudá-lo. Esses pensamentos a atormentavam, embora ela continuasse tendo um dia produtivo. Cassandra fora autorizada a redesenhar uma pequena parte do jardim da embaixada e não percebera o quão tarde era quando finalmente terminou. O motorista de Marco, um homem idoso chamado Paolo, estava esperando por ela. Paolo tinha um charme cortês e insistia em levá-la

até a porta da cobertura. Enquanto subiam de elevador, ele lhe deu uma pequena mostra do passado de Marco. – Ele é um bom homem – disse Paolo, virando-se para encará-la. – Eu trabalhava para o pai dele, sabe? – Para o pai dele? – Ela ficou instantaneamente alerta, mas Paolo já estava tenso, como se soubesse que tinha falado demais. – Você costumava trabalhar para o pai de Marco? – repetiu ela, pois precisava tentar obter mais informações. – Sim – disse Paolo, sem dizer mais nada. – Então, como veio trabalhar para Marco?

Paolo pensou nisso por um momento, como se estivesse pesando sua lealdade a ambos os homens. – Levei Marco ao funeral do pai – revelou Paolo, finalmente. – Ele queria mostrar seu respeito a um homem que nunca lhe mostrara nenhum, especialmente quando Marco era criança e mais precisava dele. Tenho trabalhado para Marco desde então. – Obrigada. Obrigada por me contar isso. Antes que pudesse se conter, ela o envolveu em um abraço. Paolo ficou surpreso, mas era italiano, então entendia grandes emoções. – Desculpe, não posso contar nada

– Desculpe, não posso contar nada mais – acrescentou ele, dando de ombros. – Não acho que esteja contando nenhum segredo se eu lhe disser que o pai de Marco era um homem difícil. Nós nunca fomos próximos como sou com Marco. Mas eu sou um homem leal... e já falei demais. – Entendo. E eu não deveria ter perguntado nada a você. Mas ela estava feliz por ter perguntado. – Você deveria descansar um pouco – disse Paolo, quando as portas do elevador se abriram. – Tenha cuidado para não exagerar nesta fase da gravidez.

Paolo a viu entrar com segurança. E, quando Cassandra fechou a porta, recostou-se contra ela e embalou sua barriga crescente. Queria muito saber mais coisas sobre Marco, mas pelo menos Paolo a ajudara a dar o primeiro passo. Só podia esperar que um dia Marco confiasse nela o suficiente para contar o resto. E decidiu ficar acordada até que ele voltasse, para tentar convencê-lo a contar mais.

CAPÍTULO 12

ELE VOLTOU à cobertura depois da meia-noite, tendo ficado fora deliberadamente para tentar analisar seus sentimentos. Cassandra estaria dormindo quando voltasse. Ele não queria falar com ela, com sua mente fatigada depois do trabalho, depois de sentir o bebê chutar. Isso o abalara demais. Sentir aquela pequena vida sob suas mãos tornara tudo muito real. Em poucos meses, Cassandra seria

Em poucos meses, Cassandra seria mãe, e ele... Ainda não tinha certeza de nada. Ao negar a certeza da paternidade, estava condenado a esperar no limbo. E não tinha certeza se queria ser pai, muito menos se estava à altura da tarefa. Ele não tinha tempo para uma criança. Não estava programado para desfrutar de uma vida familiar tradicional. Que tipo de exemplo poderia dar? E o que o fazia pensar que poderia fazer algo melhor do que o homem que o repudiara, ou do que o pai biológico que nunca quis conhecê-lo? Ele não era tão egoísta para pensar que dominava tudo o que existia neste mundo, inclusive a

paternidade. E não podia tratar Cassandra como se ela fosse apenas mais um negócio. Ele precisava de mais tempo... – Marco? – Você ainda está acordada? – Esperei por você. Ela estava apoiada na cama, com a cabeça sobre uma almofada. E parecia muito jovem, muito grávida e muito vulnerável. Ele atravessou a sala e deu um beijo em sua bochecha. – Você devia ter dormido, carissima. – Não consegui dormir. Eu tinha que falar com você. – Sobre o quê? Ele franziu o cenho e se endireitou.

– Seu passado... – disse ela, com franqueza. – Eu quero entendê-lo, e não posso fazer isso, a menos que você se abra. De pé, Marco se afastou dela. Todo o calor que existira entre eles evaporara dele. Ninguém invadia seu passado. Ninguém. – O bebê – disse ela, mantendo a calma. – Nosso filho me dá o direito de saber mais sobre você. – Ela pausou, quando ele bufou. – Se você me explicasse por que os sentimentos o assustam... Ele deu meia-volta para perfurá-la com um olhar fixo. – Eu não tenho medo. – Acredite em mim, Marco, eu

– Acredite em mim, Marco, eu entendo... – Você não entende nada. Ela ficou em silêncio por um momento e, então, completamente imperturbável por seu tom áspero, ela disse: – Fale um pouco sobre o seu pai. – Que pai? – retrucou ele, incapaz de se importar se a machucaria. Ela tocara a sua ferida e torcera uma faca nela. A expressão em seu rosto devia têla assustado, o que Marco percebia pela sua linguagem corporal, mas ele não poderia parar, e disse: – O homem que chamei de pai me repudiou, junto com minha mãe. Ele

nos jogou na rua quando descobriu que eu não era seu filho. E fez isso na véspera de Natal – acrescentou ele, amargamente. Cassandra ficou pálida e parecia horrorizada. Mas Marco deveria saber que ela não pararia por ali. – E a sua mãe? O que aconteceu com ela? O olhar de Marco teria feito qualquer um se afastar, mas não Cassandra. – E a sua mãe, Marco? – Ela o pressionou novamente. – Ela morreu quando eu era criança – disse ele, bem rápido. A morte de sua mãe na pobreza e

A morte de sua mãe na pobreza e na miséria era algo que ele preferia esquecer. Ele nunca conseguia pensar nisso sem se sentir culpado, como se um garoto de oito anos pudesse, de alguma forma, salvar aquela situação. – E você? – perguntou Cassandra. – O que aconteceu com você quando sua mãe morreu? – Fui morar num orfanato. Ela ficou em silêncio, depois disse: – E o seu verdadeiro pai? Ele riu amargamente. – Meu verdadeiro pai? Ele não tinha interesse em mim. Quando a árvore do dinheiro se enrugou e morreu, ele foi embora. Cass ficou chocada, em silêncio. O

Cass ficou chocada, em silêncio. O que Marco lhe dissera fazia seu coração doer por uma criança que crescera pensando que nunca poderia ser amada. Mas ela sabia que havia algo além... – Por que o homem que você chamava de pai o repudiou? Ele não o amava? – Quem sabe? – O olhar afiado de Marco ficou sem foco quando ele olhou cegamente a distância. – Talvez ele tenha me amado um dia... Eu achava que sim, mas, depois que soube a verdade, ele mudou comigo. A criança vai com a mãe, disse ele, e isso é tudo que eu sei. Paolo me disse que ele nunca perdoou a si mesmo,

que era um homem mudado depois disso e que o choque do adultério de minha mãe o desequilibrou naquela noite... além da maneira como ela fingira, durante tantos anos, que eu era filho dele. Ele lamentou o que tinha feito até o dia em que morreu, disse Paolo, mas estava orgulhoso demais para voltar atrás. – Ah, Marco... Não havia palavras para consolálo. Só o amor durante um longo período de tempo poderia fazer isso, e agora eles tinham que conversar sobre o futuro, sobre o filho de Marco e sobre ela. Pela primeira vez, ela colocou as mãos contra o peito dele quando

Marco tentou envolvê-la em seus braços. – Não, Marco. Nós precisamos conversar. – Conversar?– Ele franziu a testa. – Sobre o quê? – Sobre o futuro, é claro. – Que futuro, cara? Suas palavras cortaram seu coração, mas ela continuou: – Não posso ficar em Roma para sempre. – Por mais três meses? – Marco deu de ombros. – Pensei que você fosse feliz. – Eu sou feliz e adoro o meu trabalho na embaixada, mas tenho que voltar antes de o bebê nascer.

Os lábios de Marco se apertaram quando ele fez que não com a cabeça, como se não pudesse entender sua preocupação. – Você não tem nada com que se preocupar – disse ele, tirando a camisa. – Não esta noite, pelo menos – insistiu ele quando ela mudou de posição, inquieta na cama. – Você está cansada. Estou cansado... – Mas não podemos deixar as coisas prosseguirem desse jeito – disse ela. Sentando-se, ela procurou em seus olhos algum tremor de reação a isso, mas tudo que podia ver era calor. – Por que não podemos? – perguntou Marco, sorrindo

sombriamente enquanto se movia para beijar os seus lábios. – Tudo está perfeito, Cassandra. – Perfeito? – perguntou ela. – Durma agora – disse ele. – Eu vou tomar um banho, depois vou para a cama. E fechou a porta do banheiro com alívio. Ele não queria conversar sobre o futuro até que o bebê nascesse e ele pudesse ter certeza de que era o pai. Falar sobre o passado trouxera tudo de volta para ele, e Marco nunca submeteria uma criança à experiência que pela qual passara. Sim, ele trouxera Cass para Roma para cuidar do que poderia vir a ser seu herdeiro. E reivindicaria a

criança caso fosse realmente sua, e providenciaria o cuidado financeiro. Mas emocional? Isso seria um passo muito grande para ele. Quando saiu do banho, viu Cassandra ainda apoiada nos travesseiros, ainda esperando para falar com ele. Deveria saber que ela não desistiria. Porém, apesar de admirar sua perseverança, sua resposta não tinha mudado. – Depois do que me disse esta noite, Marco, eu sei o quanto isso deve ser difícil para você. – Você não sabe de nada – disse ele, jogando a toalha sobre uma cadeira. Ele não tinha a intenção de gritar

Ele não tinha a intenção de gritar com ela, mas o passado era só dele. Era uma ferida que ele não mostrava a ninguém, e Marco tinha sido descuidado aquela noite. Ele se sentia mais culpado do que nunca, quando Cassandra, gravemente pesada e desajeitada, saiu da cama. – Não – disse ela, balançando a cabeça para ele. – Você não pode evitar o passado, Marco. Ele nos fez o que somos, e você e eu temos que enfrentar isso. Eu nem consigo imaginar o quão terrível deve ter sido para você ser abandonado pelo homem que pensou que fosse seu pai. Ser rejeitado dessa forma deve ter

sido terrível para você, mas, se continuar afastando as pessoas, porque está preocupado que possam fazer o mesmo com você, você não viverá... só existirá. Você nunca conhecerá o prazer da verdadeira amizade, muito menos do amor. Estamos juntos nessa, Marco, quer você goste ou não. – Ela olhou para baixo enquanto embalava sua barriga. – Este bebê é seu tanto quanto meu, e eu tenho que saber no que estou entrando... o que o futuro guarda para todos nós. Isso não é tudo sobre você – disse ela com raiva, quando ele balançou a cabeça e se virou. – Nunca pensei que fosse tudo

– Nunca pensei que fosse tudo sobre mim – disse ele, voltando-se para encará-la. – Não consigo ver como o meu passado afetaria... – Então você está cego. – Ela piscou. – É um bebê, Marco, uma vida preciosa, então não se refira a nosso filho novamente de uma maneira tão desdenhosa. Seu passado tem tudo a ver com a maneira como você está reagindo. Seu passado é a razão pela qual você não pode confiar em mim... é a razão pela qual você continua evitando acreditar que estou carregando seu filho. Você está horrorizado com a perspectiva de uma repetição de sua própria infância. Mesmo quando tiver a

prova de que o filho é seu, você ainda vai querer saber se poderá ser melhor do que o homem que um dia chamou de pai... esse homem que abandonou você, sem falar no seu pai biológico, que nunca se preocupou contigo. Ele não disse nada e, após alguns instantes, Cassandra continuou falando: – Eis uma boa notícia para você... eu também não sei que tipo de mãe vou ser. E não tive exatamente o melhor dos começos nesta vida. Porém, ao contrário de você, não fujo dos meus sentimentos. Vou fazer o melhor que posso para o meu filho... e, se isso não atingir o seu alto padrão, lamento! Se eu não for boa o

suficiente para o meu filho, vou melhorar e melhorar até acertar. – Você não entende... – Ah, sim... sim – argumentou ela, com firmeza. – Eu sei que você se importa. Eu sei que, por mais que tente esconder, você se importa comigo e com o nosso bebê, e sei que fará tudo que puder para proteger nosso filho do tipo de rejeição que você experimentou. Sei que você é um bom homem... – Não me pinte como um tipo de santo, porque eu não sou. Mesmo que o bebê seja meu, eu não tenho a capacidade de amar uma criança. – Capacidade? – perguntou ela, incrédula. – Esta é a primeira vez que

ouço falar de o amor ter limites, ou de um coração ter fronteiras. Seu coração se expandirá para incluir o bebê, e seu amor crescerá. A irritação e a frustração por uma situação a respeito da qual ele não tinha controle atingiu seu peito. – Como poderia fazer uma dessas coisas, quando não sinto nada? – Eu sei disso – insistiu ela, com ferocidade. – Mas nós não podemos continuar assim. – Por quê? O que há de tão ruim nisso? – perguntou ele. – Você tem um ótimo trabalho, um trabalho que ama, e vive em um dos mais belos apartamentos de Roma... – Uma prisão, com um homem

– Uma prisão, com um homem que não sente nada? Sua risada triste o gelou. De repente, ele percebeu o quão perto chegara de destruir a vigorosa e espirituosa moça. – Minha vida aqui não é real – disse ela, com uma voz calma que o perturbou mais do que a raiva dela poderia perturbar. – É ilusão. – Mas parece real... – Isso porque nada mudou para você, Marco. Ele forçou uma risada curta, mas Cassandra se distanciou da emoção e avaliou calmamente as coisas enquanto as via. – Sim, moro aqui, em sua fabulosa

– Sim, moro aqui, em sua fabulosa cobertura, e eu o desafio com perguntas difíceis que você não quer responder, mas nós não somos próximos... não mesmo. Eu sou mais uma conveniência para você do que qualquer outra coisa, Marco. Você só quer sexo – retrucou ela, com uma pequena careta. – Quanto ao sexo, você nunca reclamou – disse ele. – Aonde quer chegar, Cassandra? – Estou focada agora no nascimento do bebê. – Como qualquer outra mulher que está esperando um bebê – disse ele. – Qualquer outra mulher grávida

– Qualquer outra mulher grávida pode fazer planos para quando seu bebê nascer, mas eu não posso – explicou ela. – Esta não é a minha vida real, e eu não estou vivendo em uma casa real. Estou morando na casa de outra pessoa. Na sua casa, na sua cobertura, que é mais como um hotel de luxo. – Ela olhou ao redor. – Você não tem nada pessoal aqui. Não há desordem, nenhuma bagunça. O que acontecerá quando eu trouxer o bebê para casa? Onde você vai organizar suas grandes festas? – Essa deve ser a menor das suas preocupações. Ela não estava ouvindo. – Para onde eu irei quando tiver o

– Para onde eu irei quando tiver o bebê? – Seu olhar perturbado encontrou o dele. – O que vai acontecer, Marco? Se eu não me impuser, nunca vou saber. Nós nem conversamos sobre isso. Você parece querer esconder o futuro, como se ele nunca fosse chegar... – Pare – murmurou ele, puxandoa para seus braços. – Essa história está perturbando você e o bebê... – Sim. Você está certo – concordou ela, saindo de seu abraço. – Eu devo descansar... mas pelo bebê, não por você. SAINDO DA cama na manhã seguinte, Cass abriu as cortinas em outro

glorioso dia romano... o dia em que ela finalmente encarou a verdade: seu caso não estava indo a lugar algum. Não havia mais tempo para desperdiçar em devaneios. Ela precisava decidir algo. Se Marco não quisesse fazer parte dos seus planos, que assim fosse. Se ela queria mudar, tinha que mudar as coisas. Se Marco não tivesse tempo para conversar com ela quando estivessem juntos na cobertura, então ela teria que o perseguir e obrigá-lo a ter essa conversa em outro lugar. Pegando o telefone, ela ligou para o seu escritório. Previsivelmente, ele estava em uma reunião. Ela deixou uma mensagem, pedindo que ele

retornasse sua ligação, mas, como não recebeu qualquer resposta na hora seguinte, decidiu seu próximo movimento. Não foi fácil tomar essa decisão. Ela nunca fingira ser a pessoa mais corajosa do mundo, mas Marco precisava ouvi-la. Vestida discretamente, ela telefonou para Paolo pedindo que a levasse ao escritório de Marco. Ela não queria envergonhá-lo na frente de sua equipe, mas, como a gravidez já não era um segredo, sua aparência certamente não causaria muita agitação. Ela perdeu um pouco de confiança quando o carro parou na frente do

edifício branco e brilhante de Marco. Sua boca secou quando viu a logomarca discreta da Fivizzano Industries. E não precisava ser uma grande logomarca, já que o impressionante prédio de Marco ocupava metade do quarteirão.

CAPÍTULO 13

MARCO NÃO poderia ter ficado mais surpreso quando sua secretária lhe disse que Cassandra estava na sala de espera do escritório. Murmurando baixinho, ele se perguntou o que Cassandra estaria fazendo. O que era tão urgente que ela não poderia esperar para falar em casa? Ele se levantou quando ela entrou na sala.

Marco

parecia

ameaçador,

Marco parecia ameaçador, emoldurado pela janela iluminada atrás dele. Ela se recusava a ser intimidada, embora sua secretária loira e esbelta o tivesse lembrado de que Marco teria outro encontro em dez minutos. Aquela seria a recepção usual para as mulheres que apareciam inesperadamente, ou ela estava recebendo tratamento especial por estar grávida? – Cassandra. – Marco. – Por que você está aqui? – Posso sentar? – Claro. Ela notou que, embora confuso,

Ela notou que, embora confuso, ele não deixou de ser cortês. Ela só podia rezar para que isso durasse. Não duraram. – O que você quer? – perguntou ele, brusco, com toda a graça do amante italiano desaparecendo com o choque de vê-la ali. – O que eu tenho para falar com você é importante, Marco. – Você tinha que vir ao escritório para falar comigo? – perguntou ele, sem qualquer sentimento em sua voz. – Nós moramos no mesmo apartamento – afirmou, com o mesmo tom frio. – Apartamento esse no qual você evita falar comigo sempre que pode.

– Eu passo mais tempo com você do que com qualquer outra pessoa. Sim. Na cama. Suas bochechas ficaram vermelhas diante do olhar impassível de Marco. – Verdade. Mas ainda não falamos sobre o futuro. – Isso de novo? – Sim, Marco. Isso de novo. – Ela o encarou. Aquela não era a mulher que ele conhecera na Toscana, e sim uma leoa que defendia seu filhote, ele refletiu, enquanto Cassandra colocava as mãos finas sobre a barriga. Ela era tão diferente de qualquer mulher que ele tivesse conhecido que

Marco ficou confuso por um momento, e, quando sua secretária bateu discretamente na porta, para lembrá-lo de seu próximo encontro (fictício, claro), ele foi bastante brusco com ela. – Sem mais interrupções, por favor. Segure todas as chamadas, até novo aviso. – Sim, senhor. Sua secretária fechou a porta com um cuidado exagerado, provavelmente em resposta à tensão na sala, ele pensou. – Bem...? – perguntou ele, fixando seu olhar em Cassandra. – Está na hora de ir para casa. Ele se virou para olhar pela janela

Ele se virou para olhar pela janela sabendo que, se qualquer outra mulher tivesse dito isso, ele ficaria aliviado. No entanto, Marco se sentia tudo, menos aliviado. – Por quê? – perguntou ele, suavemente. – Sua atitude diante do futuro me diz que preciso planejar a longo prazo – insistiu Cassandra, tentando parecer calma, porém exaltada. Os hormônios da gravidez estariam furiosos novamente, ele suspeitava. – E, embora você pense que minha vida como hóspede no seu apartamento seja boa, eu quero ter uma casa adequada para o meu bebê... e isso significa voltar para a

Inglaterra. Essa não é uma decisão impulsiva, ou algo que você possa creditar à minha corrente de hormônios, mas a coisa sensata a fazer. E tenho que ir em breve. Caso contrário, eu não poderia voar. Além disso, preciso preparar as coisas para o bebê enquanto ainda posso. – Parece que tudo está resolvido. Ele se sentiu insultado, descartado, supérfluo. Na sua vida, era sempre ele quem tomava as decisões. Outras pessoas as executavam. Não o contrário. – Não posso ficar aqui até o nascimento nem enfrentar um futuro incerto. Eu preciso me organizar – disse Cassandra.

Ele fez uma ligação. – A signorina Rich está pronta para partir, Paolo. Entrada da frente? Sim. Obrigada. Colocando o telefone no suporte, ele encontrou o olhar chocado de Cassandra. – Eu sempre quis o que é certo para você, Cassandra. MARCO É um canalha frio e insensível. E eu tenho toda razão em querer ir embora. E quanto mais cedo melhor! Ela estava em estado de choque ao seguir a fria secretária de Marco até o hall de elevadores. E ficou ainda mais agitada quando a mulher permaneceu ao seu lado, até

Cassandra entrar no elevador e suas portas se fecharem. Ela estaria verificando se Cassandra iria mesmo embora? E informaria ao seu rígido chefe que a missão fora cumprida e que outra mulher tinha finalmente partido? Ela estava exagerando, pensou, recostada contra a fria parede de aço do elevador. Era isso o que ela queria. Ela queria ir para casa, e ninguém a deteria. Detê-la? Marco praticamente a expulsara! Estou exagerando de novo, ela disse a si mesma, com firmeza. Seriam os hormônios da gravidez novamente... e por isso ela estava segurando as lágrimas. Ela esperava mais dele,

esperava uma emoção real, mas deveria ter se lembrado de que Marco di Fivizzano não era capaz de sentir nada. Ela estava começando a se perguntar se seria melhor cortar todos os laços. Marco era uma contradição assustadora: muito terno e amoroso em um momento, e completamente distante e insensível no outro. A volta para a cobertura foi rápida. O trânsito estava bem tranquilo. Cassandra estava se sentindo melhor, mais pronta para o próximo estágio de sua vida, sem saber que um segundo choque esperava por ela. A primeira coisa que notou quando ela

atravessou a porta foi sua velha mala surrada no corredor. Alguém preparara a mala para ela. A empregada, ela supôs. Marco devia ter ligado do escritório. Ele preferia que ela tivesse ido embora antes de sua chegada. Por alguma razão, seu olhar passou para a mesinha da entrada, onde, no passado, Marco deixara um cheque para ela. Seu coração apertou quando viu uma mensagem esperando por ela. Não tinha a letra de Marco, que devia ter ditado para a empregada. Era certamente breve e direta ao ponto:

Ligue para o meu escritório quando estiver pronta para partir. Meu jato está pronto para levá-la para casa. Marco.

Ela se recostou contra a parede e deslizou lentamente para o chão. Deveria ter sabido com que facilidade Marco poderia se afastar dela. Era tarde demais para pensar sobre todas as coisas que ela queria lhe dizer... não haveria chance para isso. Por que desperdiçara a oportunidade de lhe dizer que ela nunca o afastaria de sua vida, e que, quando o bebê nascesse, ele poderia visitá-los a qualquer momento? Cassandra olhou para a mala,

sabendo que ligaria para ele quando o nascimento estivesse próximo, e mesmo antes disso, para tranquilizálo de que tinha dinheiro suficiente para sustentar a si e ao seu bebê até conseguir um emprego. Ela queria poder lhe contar sobre a maravilhosa creche e escola primária de seu vilarejo. Mais do que qualquer outra coisa, ela queria dizer a Marco que o amava. Independentemente do que Marco pensava dela (ou do que fosse capaz de sentir por ela), ela queria lhe dizer isso. Descansando o rosto em seus joelhos, ela cruzou os braços sobre a cabeça, como se isso pudesse afastar o mundo. Porém, ela sabia que era

tarde demais. Marco libertara seu lado frio e vazio, e não haveria volta para ele. Ela deveria saber que, para um homem com tanto sucesso na vida, Marco dificilmente permitiria que qualquer situação ficasse estagnada, e que, uma vez que entendesse que ela queria mais do que ele poderia lhe oferecer, Marco a deixaria para trás. Isso não impedia que ela o amasse, ou se lembrasse de cada vez que ele foi quente, ou engraçado, ou sexy, ou terno com ela. O amor realmente não tinha limites, ela refletiu, quando se levantou, desajeitada. Cassandra tomou um banho e pegou algumas roupas limpas na

mala. Depois, ligou para o escritório dele, mas a mesma secretária fria atendeu o telefonema e a assegurou de que passaria a mensagem ao chefe. Desligando, ela disse a si mesma que sua saída era a decisão certa para os dois. Marco pertencia a Roma, e ela não poderia ficar ali à sua espera. Mas... se essa era a decisão certa, por que ela se sentia tão vazia? Porque não havia certezas na vida e porque Marco sempre se recusara a discutir o futuro. Claro que ela se sentia vazia. Cassandra não tinha ideia se o veria novamente, mas ela estava começando de novo, e isso era bom. O passado magoara ambos, tornando impossível um futuro

juntos. Quando o bebê nascesse, eles chegariam a um acordo, mas no que dizia respeito ao seu relacionamento pessoal... Não havia relacionamento pessoal, exceto em sua cabeça. Ela tentara fazer com que Marco se comprometesse com um futuro do qual ele não queria fazer parte. Não era do feitio dela admitir a derrota, mas seria a única alternativa naquele momento. Cassandra duvidava que Marco quisesse ter qualquer tipo de vida com ela longe da privacidade de sua cobertura. Ele provavelmente estaria contente por ela estar indo embora.

Poderia continuar com a sua vida de sempre. Ela congelou quando a porta da cobertura se abriu... mas, como deveria saber, não era Marco, e sim seu motorista, Paolo. – Está pronta? – perguntou Paolo, caloroso como de hábito, quando pegou sua mala. – Sim. Obrigada. Ela deu uma última olhada para a cobertura e se perguntou se alguma vez se sentira tão vazia, embora Marco tivesse feito tudo o que ela pedira. Ele a deixara livre para que pudesse cortar todos os laços que os uniam.

E MARCO ficou olhando o jato partir. Observou enquanto desaparecia atrás de uma nuvem. Ele nunca vira alguém partir. Nunca tinha tempo nem vontade. Mas voar para casa era a coisa certa para Cassandra. Era a coisa certa para os dois. Então... por que parecia tão errado? Seria um golpe contra o seu orgulho masculino? Nenhuma mulher o deixara antes, mas Cassandra não estava feliz em viver com ele em Roma. Cassandra era diferente. Ela estava grávida, talvez de um filho seu... Esse pensamento assombrava-o enquanto Marco cortava caminho pelo prédio do terminal movimentado. Ela

precisaria de cuidados até o nascimento da criança, ele pensou, e tinha razão em prosseguir com seus planos para o futuro. Planos dos quais ele fora excluído. Planos dos quais ele não queria fazer parte... Será que ser apenas notificado sobre os fatos seria suficiente para ele? Teria que ser. – Sem comentários! – grunhiu ele, enquanto os paparazzi aglomerados o perseguiam até a porta. Antecipando a confusão que isso criaria, Paolo deixou o carro esperando por ele com o motor ligado. Ele entrou no carro e partiu. Nunca se sentira tão em conflito.

Quando ela desse à luz o bebê, um simples teste de DNA poderia lhe dizer tudo o que ele precisava saber. Ninguém, nem mesmo Cassandra, poderia impedi-lo de se comprometer, mas até mesmo um teste de DNA positivo não apontaria para um futuro no qual ele comprometesse suas emoções com Cassandra e o bebê. Financeiramente, sim. Ela teria todo o apoio. Mas emocionalmente... Ele não demoraria muito a receber essa resposta, e estaria totalmente ocupado nesse meio-tempo com seu trabalho. Sua equipe lhe informaria se houvesse um problema. Esse era o

fim de seu envolvimento pessoal com Cassandra Rich. Marco ficou pensando, tentando convencer a si mesmo de que acreditava nisso, até que entrou em um apartamento vazio, e pela primeira vez em sua vida experimentou a solidão. A cobertura era muito grande para ele. Era vazia e impessoal. Como ele não tinha notado isso antes? E se viu vagando de quarto em quarto, procurando algo de Cassandra para segurar, para guardar... e, sim, para acalentar. Ele deveria ter se lembrado de como ela era meticulosa. Para uma mulher saudável, vigorosa e muito física, ela tinha a mente organizada

de um estudioso. Mas também era peculiar, ele se lembrou com um sorriso, enquanto caminhava para a janela a fim de olhar para o céu. E havia momentos em que ela podia ser adoravelmente confusa. Em resumo, ela era prática e natural. E também imprevisível, atrevida e conflituosa. Era uma mulher forte. Ela queria ir embora e o deixara. Ela era Cassandra. Ele olhou tudo lentamente, na esperança de detectar algo que ela tivesse deixado para trás. Se Marco tivesse encontrado o lenço que Cassandra usava em volta do pescoço, ele o teria trazido para o rosto e inalado profundamente... na

esperança de sentir um rastro de seu perfume. Mas não havia nada, e ele desistiu. A cobertura o perturbava. Estava muito quieta. Ele colocou uma música. Amava músicas, e essa peça de jazz discreta geralmente o acalmava, mas naquele dia o irritava, porque o lembrava da dança que desfrutara com Cassandra. Desligando o aparelho de som, ele se jogou no sofá e pegou o jornal intacto daquele dia. Folheando as páginas, mal olhava para elas, e estava prestes a deixá-lo de lado, quando viu uma foto que o deteve. Uma cadeia de lojas populares de moda de baixo custo copiara o

vestido que Cassandra usara para o evento de caridade. Apenas para esfregar sal na ferida, aparecia uma foto de Cassandra entrando no edifício, absolutamente deslumbrante. A descrição sobre a foto de Cassandra dizia: “Eis a versão de bilhões de dólares.” Deixando o jornal de lado, Marco fechou os olhos, e pela primeira vez ficou contente por Cassandra ter ido embora de Roma, para que pudesse escapar do que estava acontecendo com ele. Ele ainda podia se lembrar do choque que sentira ao vê-la usando aquele vestido. Sua transformação

fora completa, de garota a uma mulher única... e muito bonita. A partir disso, foi inevitável que se lembrasse do sexo, um sexo incrível e de que tanto gostava. Ele nunca conhecera algo assim e duvidou que ela tivesse conhecido. Era bem possível que uma criança tivesse sido concebida naquela noite. Eles tinham certamente dado o seu melhor. Ele nunca fora tão imprudente... Com um som de autocomiseração, ele se levantou e foi para a cama. Tudo o lembrava Cassandra: seu quarto, a cama, o chuveiro. Havia algum lugar na cobertura em que não tivessem feito amor? Ele alguma vez se livraria de seu

Ele alguma vez se livraria de seu fantasma? E queria se livrar? Ele não dormiu. Andou durante metade da noite e cochilou o resto do tempo, com todos os pensamentos voltados para Cassandra. Logo que amanheceu, ele ligou para sua equipe querendo ter certeza de que ela chegara em segurança. Eles o asseguraram de que sim. Marco desligou o telefone e olhou em volta, sabendo que aquela seria a sua vida a partir de então. A sua vida solitária e amarga.

CAPÍTULO 14

UMA COISA seguia a outra. Era como se o destino estivesse conspirando contra ele. Sua carga de trabalho nunca fora tão pesada e, quando se tornou necessário que ele visitasse o Reino Unido, para conhecer algumas propriedades que estava pensando em comprar, ele estava em conflito. Tinha tentado manter distância de Cassandra. Eles não tinham um

futuro juntos, e era melhor evitar reacender chamas antigas. E Cassandra, por sua vez, parecia estar indo muito bem sem ele. Ela seguia tão obstinadamente independente como sempre, e para sua frustração não ligara nenhuma vez para Marco. Ela estava projetando jardins em vez de cavar a terra, sua equipe lhe dissera, acrescentando que, em sua opinião, não havia motivo para preocupações, visto que Cassandra estava cuidando bem de si mesma. Sem ele. Cada vez que Marco se sentava ao computador, lia os e-mails novamente, como se pudessem de alguma forma trazê-la mais perto.

Era possível que um relacionamento a distância fosse o melhor que seu coração de pedra pudesse administrar, ele refletiu, em tom sério, ao voltar à pilha de trabalho em sua mesa. Enquanto o passado o dominasse, a distância seria a melhor coisa para Cassandra. E, embora ele não tivesse dificuldade em aceitar a responsabilidade se o teste provasse que era o pai do bebê, quase certamente isso significaria cumprir seu dever a distância... o que provavelmente seria tão bom quanto. Afinal, o que ele poderia oferecer a uma criança, além de seu dinheiro? Sentando-se, ele afastou todos os

Sentando-se, ele afastou todos os pensamentos do trabalho. Marco recebia relatórios diários sobre o progresso de Cassandra, e isso deveria ser suficiente para ele. Mas não era suficiente. Ele sentia como se algo precioso pudesse escapar de suas mãos. Havia possibilidade de mudança? Ou Marco reviveria os erros do pai, e tudo por causa de seu orgulho? ELA SENTIA mais falta de Marco do que poderia expressar em palavras. Era como se tivesse sido completa um dia... e agora faltasse uma parte vital de sua vida. Marco estava com problemas, e ela não poderia ajudá-lo

até que ele estivesse pronto para ajudar a si mesmo. Ela odiava admitir, mas estava prestes a aceitar a derrota. Nunca. A palavra derrota não fazia parte do seu vocabulário. Cassandra sorriu pesarosamente e mordeu o lábio, enquanto o imaginava voltando ao seu escritório quente, enquanto ela estava ali, congelando o traseiro no pomar de um vizinho que estava tentando recuperar. Marco poderia tornar sua vida muito mais fácil do que isso. E talvez pudesse... se ela estivesse preparada para se vender, mas não estava. E continuaria pensando assim, mesmo supondo que Marco

gostaria de ficar por perto depois que seu bebê nascesse. Ela não tinha ideia do que ele queria fazer. Poderia haver uma batalha de custódia, uma vez que fosse provado que ele era o pai de seu filho. E Marco devia saber que não havia mais ninguém. Ele tinha investigadores suficientes. Recostada contra o tronco da árvore, ela olhou para os ramos retorcidos. Havia pássaros voando em círculos em um céu hostil, cinzento, o que a fez pensar no calor e na luz do sol da Toscana. Ela estava tão preocupada com Marco... Aquele seria um longo e solitário Natal. Ela esperava voltar a ver Marco, mas não

o veria até perto do Ano Novo, quando daria à luz o bebê. MARCO EXAMINOU o último relatório da sua equipe no Reino Unido. Não havia nada de novo nem nada com que se preocupar, eles disseram. Mas isso não era bom o suficiente para ele. Marco sentia a necessidade de ouvir tudo aquilo dos lábios de Cassandra. Como ex-membro da sua equipe, ela ainda era sua responsabilidade. E Marco ligou para ela, mas não houve resposta. Estaria ignorando seus telefonemas? E ele ficaria parado, sem descobrir?

Com seu piloto de férias, ele mesmo pilotou o jato até Londres. Sentiu-se melhor por estar no comando... até desembarcar e tentar atravessar o aeroporto, o que foi um inferno. Os paparazzi estavam esperando por ele, e a única pergunta que todos faziam era se seguiria diretamente para o hospital. Marco olhou o telefone. Quantas chamadas perdera? Havia sete de Cassandra e três de sua equipe. Ele sabia o que isso significava. A única coisa que ele não podia controlar era o nascimento da criança. A natureza determinaria o tempo, não ele. Essa era uma constatação humilhante para um

homem que controlava todos os aspectos de sua vida, sem exceção. Aquele não seria o fim de sua viagem no que dizia respeito ao nascimento de uma criança, mas apenas o começo. Marco estava prestes a aprender que dar à luz não era algo que vinha pronto ou num calendário adequado. Nem lhe conferia o automático “acesso total” a que ele estava acostumado a receber. Nenhuma das enfermeiras do Christmassy, hospital onde, segundo fora informado, Cassandra estava a ponto de dar à luz, lhe diria quando ou onde o parto aconteceria. Sua melhor alternativa seria pegar o elevador até a maternidade.

Marco podia pensar em todas essas coisas práticas de maneira lógica, mas os sentimentos dentro dele estavam descontrolados. Ele estava confuso e assustado. E estava tão longe de sua zona de conforto que não tinha respostas, apenas perguntas. E apresentar seu passaporte como prova de identidade não significaria nada por ali. Ele foi obrigado a ficar atrás, afastado, e começou a se sentir cada vez mais perturbado por não exercer nenhum poder por ali. Marco queria ver Cassandra. Ela estava esperando por ele. Como poderia ajudá-la se não o deixavam vê-la?

– Pelo que sei, a senhorita Rich é bastante capaz de seguir sozinha – disse-lhe uma parteira de aparência feroz, usando um gorro dourado por conta da temporada de festas natalinas, quando Marco usou seu habitual tom assertivo. – Ela não precisa de um estresse adicional agora – acrescentou ela, ficando de pé entre ele e a porta da sala de parto. – Eu não estou aqui para estressar Cassandra – insistiu ele, quase enlouquecendo, enquanto sua mente tentava penetrar além da porta firmemente fechada, para descobrir o que estava acontecendo lá dentro. O hospital tinha várias maneiras de mantê-lo sob controle, Marco

descobriu. Seu passaporte teve que ser entregue e verificado, e mesmo assim ele foi obrigado a esperar até que pudessem confirmar seu relacionamento com a senhorita Rich. Depois que colocou uma máscara, uma bata e cobertura nos sapatos, pôde entrar no quarto com temperatura controlada, onde Cassandra estava em trabalho de parto, com um estoicismo que todo mundo, menos ele, considerava notável. Marco estava fora de sua zona de conforto, tendo sido lançado de cabeça em uma situação completamente nova... e, como ele

mesmo admitiu silenciosamente, alarmante. Mas deixaria tudo isso de lado agora que estava com Cassandra. Seu coração era atingido por vários tipos de emoções e preocupações com ela. Ela parecia tão jovem... muito nova para estar passando por tudo aquilo. Mas quando o viu, Cassandra estendeu a mão para ele. – Marco... você veio...– Seus olhos se iluminaram enquanto ela lhe estendia a mão. Foi esse olhar que o deteve. Ele emitia amor, confiança e gratidão, e Marco não merecia nada disso. Portanto, ele não poderia nem deveria encorajá-la.

Ame profundamente... e sofra. Ele não aprendera isso? – Marco? Ela parecia preocupada, então uma enfermeira o empurrou para fora do caminho. – Pode se sentar aqui – disse a enfermeira. – Ou fique de pé, a menos que pense que pode desmaiar. Ele olhou para a enfermeira. Cassandra acalmou a situação. – Será que ele poderia segurar minha mão? – perguntou ela, daquele jeito que fazia a pessoa se sentir aquecida e ter vontade de fazer coisas para ela. – Você gostaria? – perguntou uma enfermeira a Marco, como se tivesse

dúvidas sobre isso. Ele notou os olhares trocados pela equipe. Eles conheciam as notícias sobre a sua vida e não tinham uma boa opinião sobre ele. E por que teriam, quando só tiveram acesso à sua história retratada pelos paparazzi? E pareciam ter uma opinião pior ainda ao vê-lo junto a uma mulher em trabalho de parto. – É claro que eu gostaria... eu preciso – insistiu ele. E ficou ao lado de Cassandra rapidamente. De dor, ele entendia. Da necessidade de segurança, ele entendia. E também poderia entender que uma experiência nova e

assustadora ficaria melhor se compartilhada. Era o olhar de Cassandra que o deixava perplexo. Como ela ainda podia se sentir assim sobre ele, quando Marco não poderia lhe oferecer nada em troca? – Como posso ajudar? – perguntou ele à mesma parteira de aparência feroz, agora mascarada e vestida como ele. Marco se sentia inútil, parado junto à cama. – Fique ao lado dela. Isso é tudo que você pode fazer. Se ela pedir para sair, saia. Se nós pedirmos para sair, saia mais rápido ainda. Entendido? Ele trincou os lábios e concordou. A tranquila eficiência da equipe o

A tranquila eficiência da equipe o impressionou. Uma aura de calma intencional prevaleceu, e não era permitido atrapalhá-la. Cassandra era o centro da atenção de todos, como deveria ser, e agia da forma como ele esperava. Ela emitiu um único som quando agarrou a mão dele, depois seu pulso, e finalmente seu braço, tudo com uma ferocidade que ele não imaginava que ela fosse capaz. Marco foi atraído para aquilo. Ela o atraiu para que ele fizesse parte de sua experiência... uma parte muito pequena, mas necessária. E então um bebê chorou. E chorou bem forte, ele notou,

E chorou bem forte, ele notou, com alívio. – Seu filho – disse a parteira, colocando a criança nos braços de Cassandra. Cassandra tinha um filho. Seu rosto estava fascinado quando ela olhou para o minúsculo pacote enrugado em seus braços. – Ah, Marco... Cassandra não podia parar de olhar para o bebê. Ela estava mapeando cada característica do menino de uma maneira que só uma mãe pode fazer, pensou Marco, a partir de seu escasso conhecimento do que uma mãe era capaz de fazer. Seu cérebro ainda estava

freneticamente tentando juntar toda a nova informação. A expressão no rosto de Cassandra era nova para ele. Aquela situação era nova para ele. Um amor natural e novo o confrontou. Não havia como escapar. Estava consumido por ele. E Marco não estava preparado para aquilo. – O que você acha dele?– Cassandra perguntou, com seu olhar ainda fixo no bebê. – Parece saudável – observou Marco, tentando não olhar muito de perto. – Robusto – corrigiu ele, enquanto um pequeno braço se agitava, como se a criança quisesse pegá-lo. – Não é bonito?– Cassandra

– Não é bonito?– Cassandra perguntou, suavemente. – Aposto que você era exatamente assim quando nasceu, Marco. – Olhando para ele, Cass sorriu e sua expressão o aqueceu. – Não quer segurá-lo? – Não tenho certeza – disse ele, ficando nervoso quando confrontado por uma vida tão pequena. – É claro que quer – respondeu a parteira. Tomando o bebê dos braços de Cassandra, colocou-o nos dele. Quando seus braços fortes se fecharam em torno do pequeno pacote quente, ele ficou sem fôlego. Aquele bebê era, de alguma forma, familiar. Era como se Marco estivesse

revendo alguém que conhecia, após uma ausência bem longa. Foi um momento decisivo, um choque, um alerta, e também um dilema que ele nunca esperaria enfrentar. E Marco não esperava sentir nada, muito menos essa explosão em seu coração. Seu coração não apenas bateu mais rápido, mas decolou, inchou, explodiu. Ele chorou. – Marco? Cassandra tinha preocupação em sua voz. Um controle rígido permitiu que ele se recompusesse e entregasse a criança a ela. – Obrigado – disse ele, sem jeito,

– Obrigado – disse ele, sem jeito, pois nenhuma palavra poderia explicar o que sentira. – Ele é seu filho, Marco – disse ela, encarando de novo o rosto minúsculo. – Não há dúvida, certo? – Não há como negar – concordou a mesma parteira, sorrindo carinhosamente enquanto olhava para o bebê. – Nós ainda não sabemos – retrucou Marco. Ele estava fugindo da realidade... e também do seu instinto, um instinto que gritava que aquele bebê pequeno e vulnerável era seu filho, e isso o deixava temeroso. Poderia proteger a criança, quando não conseguira

proteger a própria mãe? Poderia amar seu filho, quando o homem que ele chamara de pai tinha falhado em amá-lo? Transtornado pelo amor, ele estava correndo perigo de ser destruído pelo medo de perdê-lo novamente. Era como se o ar tivesse congelado no momento em que disse aquelas palavras. Todos na sala permaneciam imóveis, como se não pudessem absorver o que ele dissera, muito menos a razão para dizer isso naquele instante, no momento mais inapropriado possível. Ele sentiu como se o tempo e o espaço tivessem parado como uma reprovação à sua

observação grosseira, enquanto todos se voltavam para olhá-lo. – Não podemos ter certeza de que é meu – disse Marco, voltando ao tom sem emoção que sempre usava nos negócios. E então deu de ombros. – Só a ciência poderá fazer isso. Era como se, depois de ter cavado o buraco, ele tivesse que continuar a cavar. Parecia que a parteira queria empurrá-lo para dentro de um buraco e preenchê-lo com cimento. – Ah, Marco... – Cassandra murmurou. Entregando o bebê à parteira, ela estendeu a mão para ele, como fizera quando ele entrou pela primeira vez no quarto. – Não tenha

medo – sussurrou ela, para que só ele pudesse ouvir. E Marco enrijeceu e olhou para ela como se Cassandra fosse uma estranha. – Preciso ir agora. Seus olhos imploraram para que ele ficasse. – Sim, eu preciso ir. Eu não sabia quanto tempo isso levaria. Tenho compromissos... – Estou vendo que sim – disse ela. – Desculpe por ter demorado tanto. Ela estava se desculpando? Marco ficou profundamente envergonhado. Tinha que sair de lá ou arruinaria sua vida. Precisava de tempo e espaço, de uma oportunidade para pensar

sozinho e poder aceitar a verdade. Ele tinha medo do amor, era aterrorizado por isso. Tinha medo de perdê-lo e de perder Cassandra. E Marco sempre manteve seus sentimentos engarrafados, desde criança, e tais sentimentos estavam ameaçando afogá-lo exatamente quando Cassandra estava mais vulnerável, quando mais precisava dele. – Vou providenciar o teste de DNA assim que puder – disse ele. – Você... – murmurou Cassandra. – Já não falou o suficiente? – sibilou a parteira, olhando fixamente para a porta. Ele não se movera. Cassandra

Ele não se movera. Cassandra ficara branca de choque, mas então seu choque se transformou em fúria e, apoiando-se na cama, ela gritou, com raiva: – Sendo assim, consiga uma ordem judicial! Só então você pode fazer seu teste de DNA! Enquanto uma enfermeira correu pelo quarto para acalmá-la, a parteira o conduziu até a porta. – Saia – murmurou ela friamente. Ela estava certa. Ele era um monstro. Marco sempre soube disso. Era um monstro que não merecia amar ou ser amado. Ele ficou imóvel diante da porta, sem se dar conta dos murmúrios

dentro do quarto. Marco não podia ter certeza da vida de quem estava arruinando. Talvez de todos eles. E ele não podia suportar ouvir Cassandra se desculpando. Mas dissera aquelas coisas terríveis e tinha que acabar com aquilo. Fez uma ligação e uma solicitação. As festas de Natal tinham causado atrasos no laboratório, mas para Marco di Fivizzano tudo era possível. E, sim, ele teria resposta que queria em poucas horas. Seriam as horas mais longas de sua vida. Erguendo o colarinho de sua jaqueta, ele saiu do edifício, apenas para encontrar um exército de

paparazzi esperando por ele. Forçou seu caminho por entre eles, mal sabendo para onde estava indo. Marco queria estar com Cassandra e com o bebê, mas sabia que não merecia. – Sem comentários – disse ele, quando os fotógrafos o perseguiram pela rua. – É um menino? – Será o seu herdeiro? – Quer se casar com sua jardineira? – O que você comprou para ela no Natal, Marco... ou o bebê é o seu melhor presente? Normalmente, ele ficava de pé e lutava, mas não tinha forças naquele

momento, então seguiu adiante. Eram apenas 16 horas e já estava escuro devido ao inverno. Marco caminhou sem ter ideia de para onde estava indo. Percebendo que não receberia nenhuma resposta dele, a multidão se dispersou. As ruas estavam cheias de compradores de última hora carregando pacotes pesados. E, ao conseguir passar por toda essa gente com relativa facilidade, os repórteres, com todo o seu equipamento, logo ficaram para trás. Ele voltou sua mente para aspectos práticos. Isso parecia ajudar. Marco providenciaria seguranças para Cassandra e o bebê. Pegando o

telefone, ele fez os arranjos e continuou andando. As vitrines das lojas estavam acesas por conta da alegria do Natal, mas ele se sentiu entorpecido... até que uma menina e seu namorado saíram dançando de uma grande loja de departamentos e o garoto jogou seu cachecol em volta do pescoço da garota. – Pode ficar – insistiu o garoto, enquanto riam e se olhavam. – Não quero que fique com frio. – E você? – perguntou a garota. O menino puxou-a para si. – Não preciso disso. Tenho meu amor para me aquecer. Marco não podia acreditar que acabara de ouvir algo tão brega, e por

um momento não conseguia entender o porquê, mas então se lembrou... e as lágrimas tomaram seus olhos enquanto ele olhava para a loja. E resolveu entrar naquele ambiente iluminado, onde comprou o cachecol mais quente e colorido que pôde encontrar. – Sim, por favor, embrulhe para presente. Aquilo não parecia grande coisa, mas o lenço era um elo vital entre o seu passado e o que acontecera naquele dia. E alguma parte sensata (ou talvez insana) de seu cérebro queria desesperadamente que significasse algo para Cassandra. Ela era sua vida.

Cassandra era sua única preocupação quando saiu da loja. Ele não podia acreditar que saíra da enfermaria do hospital, deixando Cassandra e seu bebê sob cuidado de estranhos. Enquanto caminhava, dizia a si mesmo que eles estariam em boas mãos. Aquela parteira feroz não deixaria ninguém fazer nada com ela. Mas deixá-los sozinho não era certo. Lidar com a enormidade do nascimento e da criação da vida provou que ele era emocionalmente inadequado. E não era hora de fazer algo sobre isso? Por mais de vinte anos ele empurrara o passado para longe, mas

agora tinha o lenço e um link com o passado que faziam sentido para ele. Só podia esperar que também fizesse sentido para Cassandra. O chão estava escorregadio e frio. A neve caía, e as condições invernais o lembravam da noite em que fora jogado na rua com a mãe, aos oito anos. Ele estava congelando, e ela parou para tirar o seu lenço e amarrá-lo ao pescoço dele. Sendo assim, ela cuidara dele... Marco agarrou o embrulho, e então se lembrou de olhar para a casa onde o homem que acabara não sendo o seu pai (o homem que ele amara com todo seu coração) lhe

dera as costas sem mesmo dizer adeus. Era isso que ele tinha acabado de fazer com Cassandra? Tal pensamento o espantou. Longe de evitar o passado, ele o convidara de volta... oferecendo-lhe um lar em seu frio e insensível coração. Ele parou de andar e percebeu que estava em uma ponte. Olhando para a água, Marco observou o movimento constante do mar e aceitou que a vida seguia em frente, exatamente como ele deveria fazer. Cruzando os braços para se acalmar, voltou para o carro.

NINGUÉM

FICAVA

no hospital por

NINGUÉM FICAVA no hospital por muito tempo depois do nascimento de uma criança, a menos que houvesse complicações, e a experiência de Cassandra fora tranquila. Seu garotinho estava saudável, e não passou muito tempo até que ela entrasse em um táxi para voltar para casa, com um bebê recém-nascido nos braços. Seu filho. O filho dela. Seu Luca. Ela lhe dera um nome italiano por causa do pai, com quem tanto se assemelhava (sobretudo quando franzia as sobrancelhas). E Cassandra sentia tanta pena de Marco... e lamentava que ele não se permitisse sentir nada, nem mesmo o

amor pelo filho. No entanto, Marco podia sentir emoção. Ela tivera provas disso na sala de parto, quando ele chorou ao segurar Luca pela primeira vez. Mas Marco recuara rapidamente atrás de suas barricadas, tornando-se mais uma vez o homem frio e distante, um homem que nem mesmo seu filho pequeno tinha o poder de alcançar. Enquanto o táxi parava na porta de sua casa, Cassandra se perguntou o que Marco estaria fazendo. Ele deveria estar ali para aproveitar aquele momento. Levar um filho para casa era um momento tão especial...

Ele devia estar mais ferido do que ela imaginava. Mesmo depois de segurar seu filho nos braços, Marco conseguira se desligar. Ele não tinha ideia do que estava perdendo, ela pensou, enquanto olhava o rosto de Luca. Seu coração estava pronto para explodir de amor. – Espere um pouco, minha querida. Eu vou ajudá-la – insistiu o taxista. – Existe alguém disponível para cuidar de vocês nos primeiros dias, certo? – Sim, claro – disse ela rapidamente, vendo o rosto preocupado do motorista. Ele era o tipo de homem de bom coração que enviaria sua esposa para

cuidar dela, e Cassandra teria gostado da garantia de uma pessoa experiente para apoiá-la. Porém, mesmo com seus escassos conhecimentos sobre cuidados com bebês, ela estava determinada a fazer isso por conta própria. Era melhor começar dessa forma, em vez de colocar demandas injustas sobre outras pessoas. Mas estava apreensiva, admitiu, quando o taxista abriu a porta de casa para ela. Agradecendo-lhe, ela disse “boa noite”, sabendo que, uma vez que passasse do limiar da porta, estaria realmente sozinha com o bebê na sua pequena casa. Sim,

aquela

era

uma

casa

Sim, aquela era uma casa minúscula, mas era pequena e confortável, e ela ficaria bem ali, e Luca também. Cassandra olhou para o seu rosto adormecido, e silenciosamente prometeu ao filho todo o amor e cuidado que poderia lhe dar. No entanto, qualquer que fosse o brilho que tentasse colocar em sua nova vida, seus passos ainda ecoavam quando ela entrou na casa vazia. Por mais aconchegante que tivesse tornado seu pequeno ninho, eles ainda estavam sozinhos. Vou conseguir superar isso, Cassandra disse a si mesma, enquanto cuidadosamente colocava

Luca em seu moisés. Eles a avisaram no hospital que poderia sentir uma pontada de tristeza... – São os hormônios se regulando – disse a parteira. – Quando sair daqui, você descobrirá que cada dia é uma nova aventura para você e seu filho. Ao ouvir isso, ela concordara, sem querer interromper a amabilidade da parteira... mas naquele momento estava sozinha, com uma longa noite pela frente, sem saber muito bem o que fazer. Ligue o computador, compre alguns livros, faça pesquisas, prepare as mamadeiras, fraldas e qualquer outra coisa que for necessária... e faça isso agora, enquanto o bebê dorme.

Ela se sentia melhor tendo um plano. Estava cansada e desejando sua cama, mas tinha coisas a fazer. E planos para o futuro.

CAPÍTULO 15

– VOCÊ

igual ao seu pai – murmurou ela, deixando Luca dormindo profundamente no moisés, no andar de cima, enquanto descia as escadas para preparar mais mamadeiras. E Luca provavelmente seria tão exigente quanto o pai, Cass refletiu, enquanto acendia todas as luzes para fazer o lugar parecer alegre. Ela colocou mais toras no fogo ardente e É

ligou o aquecimento. Ainda estava escuro lá fora e a neve estava caindo. Havia tão poucas horas de luz no inverno... Ela voltou às sombras do cômodo e viu um elegante carro preto estacionado sob a iluminação da rua. Marco colocara pessoas para observá-la? Acabara de voltar da janela, quando um barulho na porta a fez saltar. Atravessando o quarto, ela olhou fixamente pelo olho mágico e deu um passo atrás. Marco! Ela hesitou. Seu instinto inicial foi não o deixar entrar. Ela não poderia enfrentar uma repetição do drama no

hospital. Mas ela o amava. Como poderia dizer não, quando tudo dentro da casa era quente e aconchegante, e Marco estava de pé em sua porta, batendo os pés, com os ombros curvados contra o vento e a neve? Suas emoções ainda estavam confusas quando ela destravou as trancas e abriu a porta. – Se for sobre o teste de DNA... – disse ela. – Não é isso – garantiu ele. Com o rosto envolto em sombras, Marco parecia mais intimidador do que nunca. – Como você sabia que eu estava em casa?

– Informação privilegiada. – Sua equipe? – Ela trincou os lábios. – Sua parteira. Finalmente consegui convencê-la de que tenho os melhores interesses em relação a você. – E como fez isso? – perguntou Cassandra, em tom de suspeita. – Eu conversei com ela. Algo que talvez devesse ter tentado fazer com você. Tal admissão a fez suavizar um pouco. – Não quero problemas, Marco. – Ela ainda estava na frente dele. – Meu bebê está dormindo... – Não estou aqui para causar

– Não estou aqui para causar problemas, Cassandra. O que aconteceu no hospital... – Foi imperdoável – disse ela. – Sim – concordou ele, sombrio. – Foi. – Então, por que está aqui agora? – Para explicar. Não quero incomodá-la, mas... Ele parecia tão esperançoso, embora ela ainda estivesse desconfiada. Marco era o pai de seu filho, mas seu comportamento terrível no hospital a chocara a ponto de ela pensar que ele nunca mudaria. Foi preciso que uma grande quantidade de neve caísse do telhado

e aterrissasse nos ombros dele para que ela agisse. Nesse momento, Marco sorriu e exclamou: – Justiça divina! Ela também sorriu. – É melhor você entrar – disse ela. – Mas vamos nos livrar disso primeiro. Na ponta dos pés, ela limpou a neve de um dos ombros dele, enquanto Marco limpava o outro. – Sempre prática, menina Cassandra... – disse ele, seco. Ela abriu um espaço para deixá-lo entrar em casa. – Sou uma mulher, Marco... como tenho sido desde o dia em que nos

conhecemos. Boa resposta, mas no fundo não importava o que ele fizesse ou dissesse, pois ela o amava com todo seu coração, e sempre o amaria. – Por que está aqui? – perguntou ela, assim que Marco fechou a porta. Por que estaria ali? Porque não podia ficar longe dela. – Marco – disse Cassandra – me dê sua jaqueta. Vá se aquecer junto ao fogo... Seu punho fechou em torno do envelope que ele estava carregando, o envelope que ele ainda não abrira. Ainda estava fechado. Continha o resultado do teste de DNA. – Onde está o bebê? – perguntou

– Onde está o bebê? – perguntou ele, olhando ao redor. E foi consumido por uma vontade incontrolável de ver a criança que abandonara no hospital. – Está lá em cima, dormindo. Você pode… Ela o convidaria para ver o bebê? A voz dela sumiu, como se Cassandra tivesse pensado melhor ao se lembrar do seu desprezível comportamento na enfermaria. – E você, Cassandra? Como está? Ela parecia “bem”, como Cassandra diria, mas estaria bem de fato? Não deveria estar descansando? – Eu? – perguntou ela, surpresa. – Estou muito bem, obrigada. – E seu

rosto relaxou. Ele franziu a testa. – Não tem ninguém para ajudá-la por aqui? – Você acha que eu preciso de alguém? Tenho amigos que prometeram me ajudar, mas ainda estou me acostumando a ser mãe, e estou feliz com a minha própria companhia por enquanto. – Você não deveria estar de repouso? – Não sei ao certo quanto descanso Luca vai me permitir. Vou descansar quando puder. – Luca? – perguntou ele. – Foi o nome que dei para o meu filho.

Um brilho voltou aos seus olhos, como se ela o desafiasse a discordar do nome que escolhera... ou com o fato de que ela acabara de fincar sua estaca no chão, deixando claro que era mãe solteira e poderia muito bem sobreviver sem ele. – O que é isso? – perguntou ela, enquanto olhava para o envelope na mão de Marco. – Acho que você já sabe... – disse ele. – O teste. – Ao falar isso, seus olhos se tornaram frios. – Você fez um teste de DNA com meu filho sem a minha permissão? É claro... – murmurou ela, pensativa. – Tudo é possível para Marco di Fivizzano.

Mas isso não foi correto, Marco. Quando você fez isso? Alguém entrou na maternidade e pegou uma amostra do meu bebê? – Não houve nada de errado nisso – assegurou ele, tranquilo. – Você mandou alguém furar o calcanhar do meu bebê e pegar uma amostra do sangue de Luca... e está querendo me dizer que isso não é errado? Seus olhos eram como pontos de fúria em seu rosto. – Ouvi dizer que a saliva funciona muito bem. – E eu deveria ficar tranquila com a ideia de alguém enfiando um objeto

estranho na boca do meu bebê recém-nascido? Ela estava furiosa e magnífica. Se ele estivesse em posição de escolher uma mãe para seu filho, quem melhor do que Cassandra? – Você não tem nada a dizer sobre isso? – Eu pedi para a parteira em quem você confiava. Ela não queria fazer isso, mesmo com uma ordem judicial, mas acabou aceitando a tarefa antes de entregá-la a qualquer outra pessoa. Segurando Cassandra, ele passou os dedos entre os seus cabelos, tentando fazer com que ela se aproximasse.

– Você me perdoa? Com uma risada incrédula, ela se afastou. – Não vou perdoá-lo. – Ela olhava para ele, pálida. – Então? Não vai abrir? Ela olhou para o envelope em sua mão. Lenta e deliberadamente, ele o rasgou na frente dela e deixou cair os pedaços de papel no chão. – Não preciso disso. Eu confio em você e conheço nosso filho – disse ele. Enquanto se olhavam, uma série de sentimentos surgiu na mente de Cassandra. Depois do que lhe pareceu uma

Depois do que lhe pareceu uma eternidade, ela disse: – Você pretende esclarecer isso? Enquanto a tensão na sala diminuía, Marco sentiu o ar lhe faltando. Seus ombros relaxaram e seu rosto estampou um sorriso. Ele se deixou cair de joelhos e se achou o homem mais sortudo da Terra enquanto recolhia a prova desnecessária de que a criança que dormia no andar de cima era dele. Marco não precisava de um pedaço de papel para lhe dizer o que já sabia. Ele soube, no momento em que a parteira colocou o bebê em seus braços, que aquele menino era seu. Ele simplesmente não queria admiti-

lo (a si mesmo nem a Cass), e não porque não quisesse a criança, mas porque a queria tão desesperadamente. E pela primeira vez em sua vida ele se perguntou, como se perguntara mais uma vez, se tinha o que era necessário para ser pai. E não apenas pai, mas um bom pai. O melhor. Embora se lembrasse do que Cass lhe dissera sobre os bebês não virem com um manual, ele pensou que poderia aprender a fazer isso... Eles poderiam aprender juntos. QUANDO ELA desceu as escadas, depois de alimentar Luca e colocá-lo

de volta para dormir, percebeu que Marco tinha mantido o fogo aceso. – Sente-se – convidou ela. – Obrigado por alimentar o fogo. – Você quer conversar – adivinhou ele. – Quero sim. – Sentada, com algum espaço entre eles, ela virou um olhar preocupado para o rosto de Marco. – Creio que a infância é o fundamento das nossas vidas. Ela nos torna quem somos. – A infância certamente nos ensina o que não queremos – disse ele. – E o que fazemos... – replicou ela, gentilmente. –

Nós

nos

esforçamos

para

– Nós nos esforçamos para algumas coisas, e fazemos o nosso melhor para evitar outras – disse ele, com um dar de ombros. – Será mesmo tão simples, Marco? Não foi tão simples para mim. Eu olho para trás e vejo meus pais de forma diferente hoje, que sou mais velha. Mas meu passado está bem documentado, enquanto o seu está bem escondido. – E você quer saber por quê? – perguntou ele. – Você é o pai do meu filho. Seria estranho se não quisesse... para que eu possa entendê-lo melhor. O nascimento de seu bebê o transformara de um modo profundo

e fundamental, liberando alguma parte oculta dele. – Conte alguma coisa sobre a sua mãe. Você consegue se lembrar dela? – Claro que sim. – Ele franziu o cenho enquanto pensava. – Como você disse, eu vejo as coisas de forma diferente agora. Mas, quando criança, eu me sentia sobrecarregado por ela. Agora posso ver que ela cuidou de mim... do seu jeito, mas ela estava fraca. – Você não deve se culpar por como se sentia quando era criança. Você resolveu isso como um adulto. – Eu costumava culpá-la por tudo. Por me tirar do homem que pensava ser meu pai e por não ficar com o

homem que era meu pai biológico. Mais tarde, soube que meu verdadeiro pai a abandonara e que o homem com quem ela se casara não tinha interesse em um filho bastardo... quando descobriu a verdade sobre minha filiação. Eu enxergava minha mãe como uma vagabunda bêbada que tinha dormido com vários homens... e que em seguida tentou fingir que eu era filho de seu marido. Recusei-me a enxergar que suas recaídas alcoólicas e sua dependência de drogas eram resultado de sua doença, e que ela precisava de ajuda, e não de um filho que a culpasse. – E quando ela morreu? –

– E quando ela morreu? – perguntou Cass, gentilmente. – Eu recolhia sobras de restaurantes para que nos alimentássemos, e um chef teve pena de mim. Ele me levou para o calor da sua cozinha, me limpou e me ensinou a cozinhar. Quando fiquei órfão, ele me apresentou ao padre local, que encontrou uma vaga para mim em um abrigo de crianças e se certificou de que eu receberia educação. Educação e um teto seguro sobre a minha cabeça... e isso se provou ser a chave para tudo o que sou hoje. E, respondendo à sua pergunta, eu não tenho nada de nobre a oferecer como explicação.

Odiava minha mãe pelo que ela tinha feito com a própria vida. – O que o fez mudar de ideia? Ele parou um momento e então abriu uma risada. – Um cachecol – revelou ele, dando de ombros de modo incrédulo. – Quando estava saindo do hospital, depois de você dar à luz, eu me lembrei que o clima estava muito semelhante ao da noite em que minha mãe e eu fomos jogados na rua. Lembrei que eu tremia... e que minha mãe tirou seu cachecol para amarrá-lo ao redor do meu pescoço. Então... ela cuidou de mim. – Claro que sim. – Levantando-se impulsivamente, Cass passou os

braços ao redor de Marco. – A vida dela deve ter sido um poço sombrio de sofrimento... e ela não tinha ninguém para ajudá-la a sair de lá. Marco ergueu seu olhar. – Foi preciso um bebê nascer para eu me lembrar do que minha mãe fez por mim naquela noite. Então eu me lembrei de várias outras pequenas coisas que ela fez antes de ficar muito doente. – Mas você lembrou! – Cass apontou. – Aprender a amar novamente é algo lento e arriscado, Marco. – Como você deve saber... – murmurou ele, tirando um fio de cabelo de seus olhos. – Eu gostaria

que você descansasse – murmurou ele. – Você vai precisar de todas as forças para cuidar do nosso filho. Ouvir Marco dizendo “nosso filho” era tão bom... mas ela precisava obter mais dele antes de poder a ter certeza de que realmente deixara o passado para trás. – E você, Marco? E você? – Eu? Ele nunca admitiria qualquer fraqueza, ela sabia disso. – Sempre acreditei que admitir nossa fraqueza é um sinal de força. E você está fazendo tudo o que pode para ajudar a mim e ao nosso filho. Portanto, algo me diz que você está

reconciliado com o passado, mas ainda não reconheceu esse fato. – Não posso ligar um interruptor e fazer tudo certo – disse ele. – Mas pode dar um passo de cada vez... como já fez, e como está fazendo agora. Mas eu preciso que você se comprometa, que avance... ou terá que ir embora. Ela fez uma pausa, dando um tempo para ele pensar. – Você está me expulsando? – perguntou ele, incrédulo. – Para um estranho, isto pode parecer uma cena familiar tradicional, com nós três aconchegados em nossa pequena casa. Mas eu não quero cenas, Marco,

eu preciso de mais do que isso. Precisamos de um plano. Luca precisa de segurança, e eu também. E, antes de fazer qualquer plano, eu preciso saber se estamos avançando juntos ou separadamente. Nós conversamos sobre o passado, e agora temos que falar sobre o futuro. – O que você quer que eu diga? Ela sentiu um arrepio de medo, sabendo que Marco poderia ir muito longe, mas não o suficiente... e Cassandra não poderia arriscar-se a deixá-lo voltar ao seu passado sombrio agora que tinham Luca. – Você não é o único se arriscando aqui. Eu também estou, mas o mais importante é o nosso filho. E, se está

falando sério sobre não querer que a história se repita, você precisa pensar sobre o seu lugar na vida de Luca... porque eu não vou permitir que entre e saia quando bem entender. Não era agradável dizer tudo isso a ele, mas havia uma criança em que pensar. – O nascimento de Luca mudou você, mas eu preciso estar certa, Marco... O Luca precisa de você. – Você não pode me impedir de vê-lo. Marco se levantou, com um ameaçador lembrete do seu poder. – O que me impediria de levá-lo embora comigo agora? – perguntou ele.

– Eu! – disse ela, levantando-se para impedir que Marco se aproximasse do filho.

CAPÍTULO 16

– SEJA

RAZOÁVEL,

Cassandra. Eu

quero ver o meu filho. – Não. Você não pode ter tudo, Marco – disse ela, ao pé da escada. – Você acha que todo mundo o obedece, mesmo a mãe do seu filho. Se você acha que seu valor reside apenas no seu dinheiro e poder, então tudo o que posso dizer é que deve ter uma opinião muito ruim sobre si mesmo. – Você faz tudo parecer tão

– Você faz tudo parecer tão simples, Cassandra. – Porque é simples! – exclamou ela, com frustração. – Você pode ser o dono de tudo na sua empresa, mas este é o meu território, a minha casa, e ainda estou esperando por uma resposta à minha pergunta. Que papel você pretende desempenhar na vida de Luca? – Se você voltar para Roma comigo, eu pretendo desempenhar um papel total na vida dele. – Ele franziu a testa. – E não entendo por que está me olhando assim. Você viverá rodeada de luxo. Cass fez que não com a cabeça, em desespero.

– Se você não sabe o que há de errado com essa declaração, eu não posso ajudá-lo. Por que trocaria minha casa aconchegante pela sua cobertura estéril, onde nunca vejo você, e onde eu sou recepcionada por estranhos que não me deixam mover um dedo... e onde sou perseguida pelos paparazzi toda vez que saio do prédio? É isso que você quer para o seu filho? Por que gostaríamos disso para Luca? Posso ser a primeira mulher no mundo a dizer isso, Marco, mas você não tem nada a me oferecer que eu não tenha aqui dez vezes melhor. Quando eu era pequena, morava em uma mansão não muito diferente da sua casa na

Toscana, mas foi o lugar mais infeliz em que me lembro de ter vivido. Eu estava sempre com fome, com medo... – Isso não aconteceria em Roma – declarou Marco, com absoluta confiança. – Não – concordou Cass. – Mas eu trocaria um conjunto de problemas por outro... seria o isolamento em vez da fome, a incerteza em vez do medo. O resultado final não seria a felicidade, nem mesmo o progresso... e não estou falando apenas de mim. Estou pensando em nós três. E não quero que Luca experimente a incerteza constante na qual você e eu crescemos. Não aprendemos nada

com essa experiência, certo? Você deve ter desejado uma vida diferente. Eu sei que sim. E construiu uma vida bem-sucedida e muito diferente para si mesmo. Sendo assim, por que levar seu filho de volta ao passado? Vamos continuar. Vamos seguir em frente. Vamos aproveitar esta oportunidade. – Isso é tudo o que eu sempre quis. – Mas de acordo com suas condições! – exclamou Cass, com exasperação. – Você quer tudo de acordo com seus termos. – Assim como você – argumentou ele. – Eu sou defensiva – admitiu ela. – Esse é meu legado do passado, mas agora tenho um filho a considerar, e

meu trabalho principal é proteger Luca. Pretendo fazer tudo o que posso por ele, e acredito que posso fazer o melhor aqui, não em Roma. Ele riu amargamente. – Você espera que eu largue tudo e venha morar aqui? – Não. Eu sou realista. Sei que não pode fazer isso. – O que você quer, então? – perguntou ele. – Qual é a solução, Cassandra? – Não sei – admitiu ela, fazendo que não com a cabeça. Algo em seu abatimento o tocou. Ele nunca vira Cassandra desse modo. Ele a reduzira a isso? Roubara toda sua certeza e confiança? Se o

tivesse feito, nunca se perdoaria. Teria sido como pegar uma das preciosas plantas de Cassandra e esmagá-la com o calcanhar. – Farei o que você quiser – disse ele. – Qualquer coisa? – murmurou ela. – Não posso perdê-la. Não posso – disse ele, suave e atentamente. Ficaram em silêncio por um longo tempo, até que ele se lembrou do que tinha deixado no carro. – Tenho uma coisa para você. – Para mim? Ele nunca comprara nada para ela. – Um presente de Natal – explicou ele. – Não é grande coisa.

Cassandra balançou a cabeça com preocupação. – Mas eu não tenho nada para você. Ele fez que sim com a cabeça e sorriu com pura felicidade. – Você tem certeza disso? Acho que você acabou de me dar o presente mais precioso do mundo: um filho é um presente que não tem preço. Quer ver a pequena coisa que trouxe para você? – Por que não vamos dar uma olhada no nosso filho primeiro? – sugeriu ela. A expressão no rosto de Marco disse a Cass tudo o que ela precisava saber. Era a primeira vez que estavam

juntos como um casal, olhando para o filho deles. – Você tem razão – disse Marco. – Ele é lindo. Cassandra sorriu de pura felicidade enquanto acariciava os cabelos negros, macios e fofos do filho. O rosto de Luca ainda estava enrugado e rosado, com uma expressão franzida e perplexa, enquanto ele se acostumava à vida. – Ele se parece mesmo comigo. Os olhos de Marco brilhavam como aço enquanto sorria para ela. Ela inclinou o queixo para lhe lançar um olhar irônico. – Suponho que, caso se pareça com você quando crescer, não será

muito ruim... Eles deixaram o filho adormecido e desceram. – Quer seu presente? – perguntou Marco. – Gostaria muito – respondeu ela. – Eu já volto – prometeu ele. E sentiu como se tivesse asas nos calcanhares ao correr para o carro. Ele mergulhou no banco de trás, pegando o pacote com o presente que comprara para Cassandra. Voltando à casa, entregou a ela. Ela abriu e ficou em silêncio. – Entende? – perguntou ele. – Eu estou na mesma estrada de aprendizado que você, e nem sempre consigo acertar...

– Mas acertou dessa vez – disse ela, acariciando o cachecol. – Posso... – Por favor – disse ela. Ele tirou o cachecol do embrulho e envolveu no pescoço dela. – Adorei – sussurrou ela. – Obrigada. – Obrigado, você – disse ele, enquanto inclinava a cabeça para beijar Cassandra levemente. – Eu a amo. – Eu também o amo – disse ela, sorrindo –, mas nem sempre é fácil. Seus olhos se iluminaram. – E você é tão fácil... – comentou ele, com um sorriso leve. – Vai me ajudar a dar um banho

– Vai me ajudar a dar um banho em Luca? – Claro que sim. Colocando o braço em volta do ombro de Cassandra, ele a levou de volta para o andar de cima. E Marco só teve que tomar Luca em seus braços e deitá-lo na água morna, mantendo-o seguro, para saber que sem Luca e Cassandra ele não era nada, não tinha nada. Mas será que conseguiria convencer aquela mulher espirituosa, irritante e complexa a se juntar a ele, em uma vida que seria desafiadora desde o início? – Pode passar para mim agora. – Ela estava segurando uma toalha.

Ele fez isso com o máximo cuidado, e então viu que Cassandra o observava com um pequeno sorriso no rosto. – Eu sou tão fofa quanto você? – perguntou ela. – Você nunca se pareceria comigo. – Como eu pareço? – perguntou ela. – Está buscando elogios? Ela sorriu. – Por que não? – Você parece uma mulher apaixonada. – Que estranho... – Ela fingiu surpresa. – Não consigo imaginar por quê. – Se sua imaginação não vai tão

– Se sua imaginação não vai tão longe, que esperança eu poderia ter? – Nenhuma – concordou ela. – Fique comigo, Cass. Minha vida não significa nada sem você. Eu quero que nós três vivamos juntos, onde você quiser. Não precisa ser em Roma... talvez na Toscana – murmurou ele. – O campo é muito melhor para uma criança... – Toscana... – ecoou ela, com seu rosto iluminando. – Não sei por que não pensei nisso antes – admitiu ele. – Tinha outras coisas em mente? – sugeriu ela. – Talvez... – Você acha que teremos mais

– Você acha que teremos mais filhos? – perguntou ela, pensativa. – Por que não? Você é boa em fazer as coisas crescerem, não é? Ela sorriu. – E você não é tão ruim assim... Ele ficou distraído por um momento, imaginando-se chutar uma bola de futebol com seu filho nos belos jardins que Cassandra projetaria e cuidaria na propriedade toscana, lugar que sempre amara mais do que qualquer outro. – Marco? – Case comigo, Cassandra. – Casar com você? – Por que não? Ninguém mais aceitaria um convite desses.

– Ninguém o toleraria, não é? – sugeriu ela. Ele abriu um sorriso, depois ficou sério. – Não quero mais ninguém. Eu só me importo com você, com o que você quer, o que pensa... – Eu o amo, Marco. Eu sempre o amei, desde o início. – Sendo assim, agora podemos ser uma verdadeira família. Você está dizendo sim à minha proposta? De repente, ele não tinha certeza de nada, e a resposta de Cassandra importava mais para ele do que qualquer outra coisa. – O Luca precisa saber que o amor é para sempre, que seus pais são para

sempre, e se você puder me prometer que... – Para sempre não parece suficiente para mim. Trazendo Cassandra para perto, ele a beijou lentamente, depois com paixão crescente, até que Luca ficou com ciúmes da distração dos pais e começou a chorar. – Parece que temos um homenzinho com fome por aqui. – Preparo uma mamadeira? – Não, obrigada. Vou alimentá-lo eu mesma. Quando você chegou, as mamadeiras se tornaram desnecessárias. – Eu tenho minhas vantagens – brincou ele.

– Luca pensa o mesmo – concordou Cass, irônica, sentando-se na cama para amamentar o bebê e deixando um espaço para que Marco se sentasse ao seu lado.

EPÍLOGO

TRÊS ANOS se passaram... – No que está pensando? – murmurou Marco, envolvendo Cass pela cintura. – Neste momento... ou há alguns minutos? Marco deu de ombros e disse: – Eu sei no que você está pensando agora. – Como? – Cass perguntou, embora soubesse a resposta. Ela só

queria ouvi-lo dizer. – Eu posso sentir você amolecendo em meus braços. – Você me deixa assim... Como faz isso? – Ela gemeu, pressionando-se contra ele. – Por conta de uma série de resultados positivos? – sugeriu ele. Ela sorriu e jogou a cabeça para trás, convidando-o a mais beijos. – Então, no que estava pensando para colocar aquele olhar sonhador no rosto? – Estava pensando que isso era inevitável – admitiu ela. – Você e eu? – Nossa família... vivendo aqui nesta propriedade toscana. Não sei

por que não pensei nisso imediatamente. – Ela olhou para cima. – E Quentin e Paolo, eles vêm regularmente? – Você acha que Quentin e Paolo são bons amigos? – São mais do que isso, eu acho – disse ela, sorrindo. – Eles estão com o bebê agora? – Minha madrinha e nossas duas fadas madrinhas estão com nossa filha e Luca. Da última vez que olhei, os cinco estavam dormindo. – Isso nos dá muito tempo. – Não, Marco, não temos tempo! O que está fazendo? Marco, eu preciso parecer respeitável –

protestou ela, enquanto ele a deitava na grama. – A minha jardineira pode conviver com um pouco de grama nos cabelos – disse ele, aproximando-se dela. – Só preciso dizer o quanto a amo. E também o quanto minha família significa para mim... E devo tudo isso a você. – Pois eu acredito que sua contribuição à nossa família é igual à minha. – Se você insiste... – murmurou ele, sorrindo. – Eu insisto. – Nunca imaginei uma coisa dessas... felicidade e família. – E eu nunca imaginei encontrar

– E eu nunca imaginei encontrar alguém como você. Quando você chegou naquele helicóptero chamativo, meu primeiro pensamento foi pegar minhas ferramentas e matá-lo. Para piorar, eu estava completamente suja de lama! Marco sorriu. – Acho que vamos desperdiçar uma tarde linda... Mas você está certa, devemos receber nossos convidados... Ao longe, ela podia ver uma névoa de poeira anunciando os primeiros visitantes. Com um grito de surpresa, ela se levantou. – Eles chegaram! Eu perdi a noção

– Eles chegaram! Eu perdi a noção da hora. Não estou bem vestida! Marco sorriu para ela. – Vá se vestir – disse ele. – Eu cuido dos visitantes. – Formamos uma boa equipe – respondeu ela, correndo para a casa. – A melhor! – gritou Marco, feliz. COM LUCA, de três anos, sentado em seu colo e a bebê Cristina dormindo na sombra ao lado, Marco observava com orgulho como sua bela esposa, a mulher que dera sentido à sua vida, levava pessoas curiosas e ávidos jardineiros a uma visita guiada ao belo jardim que criara. Suas mudas

estavam completamente crescidas e tinham explodido em flores. Assim como as mudas, seus filhos estavam crescendo bem, tudo graças ao amor e cuidado de uma mulher que era mãe, amante, além de amiga. Cass projetava jardins para outras pessoas, o que lhe dava uma vida interessante e variada, mas também permitia que passasse muito tempo com as crianças. Quando os visitantes se foram, ela serviu o lanche das crianças, enquanto Marco cortava lenha. Os invernos podiam ser frios na Toscana, e ele tinha uma família para aquecer. Quando as crianças estavam na

Quando as crianças estavam na cama, Cass encontrou Marco vestindo calça jeans e sem camisa. Nunca se acostumaria a vê-lo assim... Era uma visão magnífica, bronzeada, repleta de músculos. Cravando seu machado na terra, ele caminhou até ela. Logo depois, eles entraram na casa quieta. As crianças estavam dormindo. Eles foram direto para a suíte e Marco seguiu para o chuveiro, onde ela entrou em seguida. – Marco... eu estou completamente vestida! – Não por muito tempo, cara... – E a beijou longa e lentamente. – Você tem ideia do quanto eu a amo?

– Não deve ser nem metade do quanto eu o amo. Estou apaixonada. – Minha mulher... – sussurrou ele no seu ouvido. – Mãe dos meus filhos. Minha amiga. Minha amante. A mulher que eu amo mais do que a própria vida.

Lançamentos do mês: PAIXÃO 493 – HERDEIRO INESPERADO – Sharon Kendrick Lisa Bailey sabia que seu caso com o príncipe Luc não tinha futuro. Mas um último encontro a deixou inesperadamente grávida! Agora Luc deve reclamar seu herdeiro a qualquer custo. Lisa pode ser uma noiva inadequada, mas se tornará sua rainha! COLEÇÃO PAIXÕES CLÁSSICAS 004 – A REDENÇÃO DO SHEIK – Olivia Gates Ao príncipe Haidar Aal Shalaan não será negado nem o trono de sua terra

natal nem Roxanne de volta em sua cama, mesmo que ela finja sentir desgosto pela paixão que ainda há entre eles. DESEJO 261 – A FAMÍLIA MONTORO 3 DE 3 Segunda chance para a paixão – Jules Bennett Depois de escapar por pouco de um casamento de conveniência, Will Rowling vai atrás do que quer. E o que ele quer é Cat Iberra – a empregada do pai, e a mulher que ele perdeu quando era mais novo. Será um beijo o suficiente para reviver a sedução? Tentação e dever – Charlene Sands

Juan Carlos Salazar II nunca pensou que se tornaria rei de Alma. Mas quando um segredo explosivo o torna o próximo na linha de sucessão, ele está pronto. Mas em breve ele terá que escolher entre seu comprometimento ou seu coração... JESSICA 288 – FORÇAS DO DESTINO Cinderela em apuros – Abby Green Rose pretendia dar um golpe em Zac para salvar o próprio pai mas, depois de se apaixonar, decidiu cancelar seus planos. Só que agora ela descobriu que está grávida e o solteiro mais cobiçado de Manhattan

quer Rose e seu filho sob seu controle! Um futuro para dois – Susan Stephens Para Cassandra Rich, a Toscana é o lugar perfeito para fugir do passado. Marco, o dono da villa, não consegue tirar os olhos da linda Cass. Nos braços de Marco, Cass se entrega completamente, encontrando a liberdade que sempre desejou... até que ela descobre estar grávida e ligada ao bilionário para sempre! COLEÇÃO DOCE ROMANCE 003 Felizes... para sempre? – Teresa Carpenter Jesse não precisa de um resgate, mas

Jesse não precisa de um resgate, mas Brock, como um bom soldado, não vai deixá-la passar dificuldade grávida. Um casamento de conveniência apenas no papel pode criar um pouco de estabilidade para Jesse, mas, quando Brock volta para casa ferido em batalha, esse acordo vai se tornar muito mais complicado... Fica comigo! – Raye Morgan Diana Collins mal pode acreditar que sua antiga paixonite secreta, Cameron Van Kirk, está de volta à cidade e se oferecendo para ajudá-la. Ela está grávida e guardando um

enorme segredo, mas não pode resistir. E agora?

Próximos lançamentos: PAIXÃO 494 – COMANDO DO AMOR – Sharon Kendrick Gregorio de la Cruz não se importa se Lia Fairbanks o considera responsável por arruinar sua vida. Lia sabe que não pode confiar nele, mas Gregorio é incrivelmente persuasivo, e não demora para que ela se veja incapaz de resistir à sedução desse bilionário! COLEÇÃO PAIXÕES CLÁSSICAS 005 – O DESEJO DE UM SHEIK – Olivia Gates Ninguém tem como contestar que o filho de Lujayn é de Jalal. Com isso,

casamento sse torna a única solução, pois Jalal é candidato ao trono de Azmahar. Mas será que esse herdeiro inesperado pode acabar com suas pretensões? Ou ele será a chave para a vitória? DESEJO 262 – PROMESSA DE CONQUISTA Fácil de amar – Maureen Child Kelly Flynn faz o autor best-seller Micah Hunter sentir coisas que nunca imaginou sentir. E agora ela precisa da sua ajuda. Para agradar a avó, Kelly pede que Micah finja que estão noivos. Mas ele vai aproveitar a chance para passar mais tempo com

Kelly... até a paixão começar a parecer muito real! Difícil de domar – Dani Wade Presley Macarthur sempre foi o patinho feio, mas quando um acordo de negócios ruim a deixa na mão do dono de estábulo Kane Harrington, ela se encontra no meio de uma transformação inesperada. Kane tem um plano para Presley, mas nada nesse plano previa que ele criasse sentimentos por ela. JESSICA 289 – SEDE DE PRAZER Tomados pela paixão – Jennifer Hayward O mundo de Angelina vem abaixo quando Lorenzo Ricci entra pelas

portas da sua festa de noivado e exige que ela cancele o casamento – porque eles ainda estão casados! Ela deixou o formidável italiano para salvar seu coração, mas agora Angelina deve reconsiderar sua situação... Proposta sedutora – Louise Fuller Quando Rollo pega a atriz desempregada Daisy Maddox em flagrante invadindo seu escritório, ela está completamente em suas mãos. Mas Rollo precisa de uma esposa temporária para fechar um acordo, e agora Daisy vai ter que lidar com uma mistura de emoções. A cada beijo ardente, ela descobre que

existem vantagens inesperadas nesse jogo de chantagem... COLEÇÃO DOCE ROMANCE 004 Nosso amor – Rebecca Winters A conexão entre Irena e Vincenzo foi instantânea, mas ela estava destinada a se casar com outro homem. Agora Irena está grávida e sozinha, e quando Vincenzo fica sabendo dos seus problemas, ele a pede em casamento! Mas ele está prestes a descobrir que o bebê é seu... Seu amor, sua vida – Liz Fielding Grace McAllister pensou que ser a barriga de aluguel da sua irmã seria um ato totalmente generoso, mas secretamente ela queria que o bebê

fosse mesmo dela, concebido em uma noite de paixão com Josh Kingsley. Mas quando uma tragédia acontece, Josh está prontamente ao lado de Grace e da pequena Posie.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

G83f Green, Abby Forças do destino [recurso eletrônico] / Abby Green, Susan Stephens; tradução Ligia Chabu , Rodrigo Peixoto. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Harlequin, 2017. recurso digital hb Tradução de: An heir to make a marriage + Bound to the tuscan billionaire Formato: epub Requisitos do sistema: adobe digital editions Modo de acesso: world wide web ISBN 978-85-398-2556-1 (recurso eletrônico) 1. Romance irlandês. 2. Livros

1. Romance irlandês. 2. Livros eletrônicos. I. Stephens, Susan. II. Chabu, Ligia. III. Peixoto, Rodrigo. IV. Título. 17-46104

CDD: 828.99153 CDU: 821.111(415)-3

PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM HARLEQUIN BOOKS S.A. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: AN HEIR TO MAKE A MARRIAGE Copyright © 2016 by Abby Green Originalmente publicado em 2016 por Miils & Boon Modern Romance

Título original: BOUND TO THE TUSCAN BILLIONAIRE Copyright © 2016 by Susan Stephens Originalmente publicado em 2016 por Miils & Boon Modern Romance Publisher: Omar de Souza Gerente editorial: Mariana Rolier Assistente editorial: Tábata Mendes Arte-final de capa: Isabelle Paiva Produção do eBook: Ranna Studio Editora HR Ltda. Rua da Quitanda, 86, sala 218 – Centro – 20091-005 Rio de Janeiro – RJ – Brasil Tel.: (21) 3175-1030 Contato: [email protected]

Capa Texto de capa Querida leitora Rosto Sumário CINDERELA EM APUROS Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Epílogo

UM FUTURO PARA DOIS Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Epílogo

Próximos lançamentos Créditos
JESS 288 - Abby Green & Susan Stephens - Forças do Destino - Jess 288

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