LAUDO PSICOLÓGICO N2- FINAL

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LAUDO PSICOLÓGICO 1. Identificação Nome: Charlene da Silva Sauro Data de nascimento: 08/11/1995

Idade: 23 anos

Estado civil: Solteira Natural: Manaus

Escolaridade: Superior Incompleto

Profissão: Auxiliar Financeira Responsável: Bianca Natally Azevedo Terrazas- CRP 422787 Solicitante: A paciente realiza acompanhamento profissional sob abordagem psicanalítica, entretanto, o processo de avaliação foi sugerido por uma amiga que cursa psicologia. Finalidade: Laudo solicitado para análise dos sintomas que geram crises de ansiedade bem como pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos.

2. Descrição da Demanda A avaliada sofre há três meses com sintomas elevados de ansiedade, mas há anos se manifestam de forma branda. Demonstra agonia por não arrumar os pratos da mesma forma na mesa. Costuma verificar 10 vezes a tranca da porta a noite, precisa ir para as faixas corretas de trânsito senão entra em sofrimento, sempre que toca alguma coisa com 1 dedo, tem que tocar com todos os outros da mesma mão, usa lenço umedecido e álcool gel com frequência, não permite que sapatos entrem em casa e só consegue guardar o celular no bolso direito. Cursa economia e irá se formar no ano que vem. Trabalha na empresa do pai na área de contas a pagar e gosta do que faz. Tem uma namorada há quatro anos, com quem mora há três meses. Não gosta da namorada do pai e tem dificuldades de relacionamento com ele por achar que apresenta comportamentos dominadores e machistas. Tem dois irmãos, 1 de 24 anos a quem não se dá bem por ter um ego inflado e comportamento machista, e 1 de 7 anos com quem tem bom relacionamento por ter a atitude de deixar as coisas acontecerem e não precisar de controle. Se diverte com os amigos e melhores amigas

(primas e amigas da época da escola pois com os da faculdade não possui muita intimidade) tomando chopp sujo e jogando boliche. Sempre gostou muito de esportes, porém não tem tempo para praticar e sempre foi muito competitiva. Espera conseguir fazer mais coisas que gosta e pretende abrir um negócio com sua mãe, que sugere parceira em restaurante. Suas crises de ansiedade aumentam a depender de acontecimentos específicos como brigas com seus irmãos ou quando está muito apaixonada, onde sente que consome muito do seu tempo fazendo com que atrase o que está fazendo. Se considera muito estressada e quer que “alguém de fora” a julgue. Não gosta de ficar sozinha, sente nojo das coisas e sujeira nas mãos com frequência. 3. Procedimento Foram realizadas 2 sessões ocorridas nos dias 23 de março de 2019 e 6 de junho de 2019 onde foram aplicados testes psicológicos como Escala Yale-Brown de Obsessões e Compulsões (Y-BOCS), cuja funcionalidade é avaliar a gravidade dos sintomas do TOC e é composta por dez questões (cinco para obsessões e cinco para compulsões) cada uma com escores de 0 a 4 sendo 40 o escore máximo, indicação de sintomas extremamente graves, escore de 16 ou mais, que indicam um nível considerado doença. Sintomas abaixo desse nível são considerados leves ou subclínicos (CORDIOLI, 2014)1. Posteriormente utilizou se o Inventário de Obsessões e Compulsões (OCI-R)2, usado para avaliar a gravidade dos sintomas obsessivo-compulsivos que constitui em uma escala afirmativa autorrespondida com 18 afirmativas relacionadas aos sintomas do TOC e pontuações que vão de 0 a 4 sendo o máximo 72 pontos . Ainda, o Questionário de Crenças Obsessivas (QBC- 44)3, destinado a auxiliar profissionais de saúde a identificarem crenças disfuncionais relacionadas ao transtorno. É composto por 44 afirmações, graduadas em uma Escala Likert de 1 a 7, onde 1 é discordo plenamente e 7 concordo plenamente e as questões são divididas em 3 domínios de crenças disfuncionais.

1

CORDIOLI, Aristides Volpato; GREVET, Eugenio Horacio. Psicoterapias abordagens atuais. Ed.4. Editora Artmed, 2014.

2

BORTONCELLO, Cristiane Flôres. Tradução e adaptação do Obsessional- Beliefs Questionnaire-OBQ-44. 2011. 100 fls. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul, 2011. 3

BORTONCELLO, Cristiane Flôres. Tradução e adaptação do Obsessional- Beliefs Questionnaire-OBQ-44. 2011. 100 fls. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul, 2011.

Também, foi aplicado o Inventário de Personalidade para o DSM-5 (PID-5) que de acordo com Krueger et al. (2012), consiste em autorrelatos que medem a presença e severidade dos traços patológicos descritos no modelo de personalidade do DSM5. Ainda, aplicou se a Lista de Sintomas do Transtorno Obsessivo Compulsivo que visa a elaboração de uma lista de sintomas através de um caderno de exercícios composto por questões, que se referem aos sintomas considerados mais frequentes distinguidos em obsessões, compulsões e evitações (CORDIOLI, 2014). Por fim, utilizou se o BFP- Bateria Fatorial de Personalidade (NUNES et al., 2010), usado para avaliar a personalidade a partir da análise de facetas com escores visando obter uma solução de seis fatores. (MELO-SILVA et al. 2016)4.

4. Análise Segundo Silva (2017)5 o Transtorno Obsessivo Compulsivo- TOC é considerado um dos quadros mais desafiadores da psiquiatria e psicologia atuais. Para ela, “as obsessões são pensamentos ou ideias recorrentes de caráter intrusivo e desagradável que causam muita ansiedade e consomem uma parcela significativa do tempo”. Já as compulsões, “conhecidas popularmente como manias, são comportamentos, ações ou atitudes repetitivas que o indivíduo adota com o intuito de reduzir a ansiedade provocada pelos pensamentos obsessivos” (2017 p.1-2). Observações e dados apurados na primeira sessão constataram que a paciente há anos sofre com ansiedade mas nos últimos três meses os sintomas tornaram se intensos e manifestos em comportamentos compulsivos que a levaram a se “sentir compelida a executar uma atividade em resposta a obsessão” pois em seu relato, afirma precisar sempre limpar as mãos com lenços umedecidos e álcool gel (APA, 2013 p. 238)6. Leite (2020)7 considera que comportamentos compulsivos são realizados por conta do medo ou aflição, sentimentos evidenciados na vivência da paciente ao relatar que precisa arrumar os pratos da mesa de forma simétrica, verificar 4

MELO-SILVA, Lucy Leal; SHIMADA, Milena; TAVEIRA, Maria do Céu. Interesses profissionais e personalidade: estudo correlacional entre o BBT-Br e a BFP. Revista Brasileira de Orientação Profissional, v. 17, n.1, p. 31-42, jan.-jun. 2016. 5

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes e Manias. Editora Principium, 2017.

6

APA, American Psychiatric Association. Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais- DSM V. Porto Alegre. Editora Artmed, 2013. 7

LEITE, Madson Márcio de Freitas. A eficácia da Análise do Comportamento no Tratamento a pacientes com Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).Id online revista Multidisciplinar e de Psicologia, v.14, n. 50, p. 513-524, mai. 2020.

10 vezes a tranca da porta da casa à noite e precisar ir para as faixas adequadas do trânsito senão entra em sofrimento. Segundo ele, esses sofrimentos ocorrem devido a um “pensamento de conteúdo catastrófico como contaminar-se, contrair uma doença grave, cometer falhas, ou ser responsável por acidentes” (CORDIOLI, 2008 apud LEITE, 2020 p.517). Ainda de acordo com o autor, indivíduos com TOC acabam por levar uma vida de temores no dia a dia devido ao medo, dúvida ou pensamentos impróprios. Tais fatores contribuem para o reforço dos surtos de agressividade da paciente ao perceber que seus planos não dão certo. Ainda, para o autor, estes sentimentos e suas compulsões causam sofrimento psíquico não só na pessoa, mas na família também, algo evidenciado na vivência da avaliada quando afirma que suas crises de ansiedade aumentam ao lidar com seus irmãos ou quando se encontra “apaixonada” (VERMES; ZAMIGNANI, 2002 apud LEITE, 2020). Também, demonstra irritabilidade quando outros cometem ações impensadas, pois se sente no dever de resolve las, reação que para Foa e Kozak (1985), conforme citado por

Franklin e Foa (2016 apud HARLOW, 2016)8, é considerada uma

manifestação de medo, comum em indivíduos com transtornos de ansiedade que realizam avaliações equivocadas sobre as ameaças e atribuem um valor negativo excepcionalmente elevado e, como resposta, reagem fisiologicamente diante da situação. Outra reação evidenciada na paciente, são as crises de ansiedade, pois, de forma recorrente, consomem muito do seu tempo e a faz atrasar o que está fazendo, sofrimento que, segundo Leite (2020), traz problemas, pois na tentativa de adquirir alívio, o indivíduo adota comportamentos obsessores e isso o faz desperdiçar muito tempo em sua vida diária (CAMPOS; MERCADANTE, 2000 apud LEITE, 2020). De acordo com relatos observados na segunda sessão, a paciente afirma se sentir “mais neurótica” com aumento de “nojo” das coisas. Tal sensação confirma o que Foa e Kozak, (1985) conforme citado por Franklin e Foa (2016 apud HARLOW, 2016) aborda, ao afirmar que indivíduos com TOC sentem diversas formas de medo e que o simples fato de ter um pensamento inaceitável, como de acordo com o relato da avaliada, o de cozinhar com as mãos sujas, por exemplo, aumenta a probabilidade da ocorrência de cozinhar assim, além do medo de viciar em medicamentos que a

8

FOA, Edna B; FRANKLIN, Martin E. Transtorno obsessivo-compulsivo. In: HARLOW, David H. Manual Clínico dos Transtornos Psicológicos: Tratamento Passo a Passo. 2.ed. Porto Alegre: Artmed 2016. p.155-198.

leva a não querer tomá-los. Isso se dá devido a representação sobre estímulos temidos, respostas baseadas ao medo e seu significado que são percebidos como equivalentes às ações em si. Ainda de acordo com os autores, indivíduos com o transtorno apresentam defesas cognitivas, excitação excessiva que os leva a não se habituar, premissas incorretas e regras equivocadas de inferência, fatores notáveis no comportamento da paciente quando relata não permitir que sapatos entrem em casa e ao acrescentar “minha mãe me ensinou assim”. Conforme resultados apurados na Escala Yale-Brown de Obsessões e Compulsões (Y-BOCS), que avalia a intensidade ou a gravidade dos sintomas do TOC, a paciente apresenta escore de 25, nível de gravidade elevado suficiente para se considerar presença de doença. Também, apresenta sintomas obsessivocompulsivos em nível mediano, resultado comprovado segundo o Inventário de Obsessões e Compulsões (OCI-R), instrumento autoaplicável que avalia sintomas de desordem obsessiva compulsiva (COSTA et al., 2011)9. Consoante Bortoncello (2011)10, o Questionário de Crenças Obsessivas (QBC- 44) destina se a investigar fenômenos de avaliação subjetiva e identificar grupos de crenças disfuncionais, o que, segundo resultados da avaliada, na descrição responsabilidade e estimação de risco, seu percentual foi equivalente a 85% classificação acima da média, revelando forte tendência a crer que deve impedir ou reparar algum dano para si ou para outros, pois pode se considerar ser ou vir a ser causa dele. Os resultados do teste BFP- Bateria Fatorial da Personalidade evidenciam sua alta capacidade em se preocupar com as necessidades dos outros ao buscar ajudar a resolver seus problemas bem como, segundo o Inventário de Personalidade para o DSM-5 (PID-5), apresenta elevados nível de ansiedade a 70%, perfeccionismo rígido 80% e exigência pessoal, fatores que também contribuem para seu empenho ao realizar atividades de curto e longo prazos. Também, de acordo com o BFP no quesito instabilidade, mostra forte tendência a agir impulsivamente diante de um desconforto psicológico e a tomar decisões precipitadas para “ignorar, suprimir ou neutralizar tais

9

COSTA, Deise Bernardo da; LOURENÇO, Thyala Maria Alexandre; SILVA, Jandilson Avelino da; VICENTE, Maria Luíza Tomaz Bezerra. Inventário de Obsessão-Compulsão: Análise da validade de um instrumento reduzido de prevalência temática dos sintomas do TOC. Revista Psico, João Pessoa, v. 42, n. 4, p. 519-526, out./dez. 2011. 10

BORTONCELLO, Cristiane Flôres. Tradução e adaptação do Obsessional- Beliefs Questionnaire-OBQ-44. 2011. 100 fls. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul, 2011.

pensamentos, impulsos ou imagens com algum outro pensamento ou com a execução de alguma ação” (LEITE, 2020 p. 516-17). Consoante resultados da

Lista de Sintomas do Transtorno Obsessivo

Compulsivo, a avaliada demonstra percentual de 65% nível elevado de medo e desconforto devido a pensamentos obsessivos relacionados a sujeira, germes e outras doenças bem como a checagens, verificações e controle, que representaram 65% do total e a conteúdos diversos com 39% indicando a existência de parte dos sintomas do transtorno como obsessões, dúvidas e preocupações excessivas com surgimento de doenças, comportamentos ritualísticos ou compulsões, repetições e evitações (LEITE, 2020). Também, apresenta pensamentos obsessivos em relação a conteúdos repugnantes de caráter religioso totalizando 36%, indo de encontro a seu nível de liberalismo ao considerar, de acordo com resultados do teste BFP, que valores morais e sociais podem ser relativizados.

5. Considerações Finais Através dos dados analisados, a paciente apresenta crises de ansiedade relacionadas ao âmbito familiar e amoroso, comportamentos compulsivos devido a reações de medo, aflição e desconforto gerados por pensamentos obsessivos de natureza orgânica como germes, sujeira, doenças e relacionados a controle como checagens e verificações, o que reforça suas ações impulsivas e decisões precipitadas. Apresenta sintomas obsessivo-compulsivos como perfeccionismo rígido, e autoexigência, que contribuem para seu empenho em realizar atividades. Possui tendência a crer que precisa reparar ou impedir algum dano, pois sente que pode ser a causa dele, o que contribui para suas reações de irritabilidade diante de ações impensadas dos outros. Entretanto, as reações reforçam sua alta capacidade em se preocupar com as necessidades dos outros, buscando ajuda los a resolver seus problemas. Logo, conclui se que a avaliada apresenta quadro característico de Transtorno Obsessivo Compulsivo - 3003 (F42), com insight ausente/crenças delirantes, pois “está completamente convencida de que as crenças do transtorno obsessivo-

compulsivo são verdadeiras” (APA, 2013 p.237). Segundo Fontenelle et al. (2011)11, pessoas com pouco ou nenhum insight, também chamados de egossintônicos, possuem discernimento crítico baixo, pois o indivíduo não percebe seus sintomas como estranhos a si. Encaminha se para Terapia Cognitivo Comportamental com adoção da técnica de Exposição e Prevenção de Resposta ou Rituais (EPR), considerada, de acordo com Fontenelle et al. (2011), eficaz no tratamento pois propõe uma reversão no quadro de desconforto no paciente, através da exposição as situações ou objetos temidos, contribuindo para o desaparecimento espontâneo da ansiedade. Também, para farmacoterapia junto ao psiquiatra.

Bianca Natally Azevedo Terrazas Bianca Natally Azevedo Terrazas

CRP- 422787

11

FONTENELLE, Leonardo F; FONTENELLE, Júlia M.; LESSA, Larissa da R.; MENDLOWICZ, Mauro V.; SANTANA, Lívia da S; VICTORIA, Mara S. da . O conceito do insight em pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo. Revista Brasileira de Psiquiatria. São Paulo, vol. 32 n.1, p. 1-5, mar. 2010.
LAUDO PSICOLÓGICO N2- FINAL

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