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Este livro é para pessoas com assuntos delicados, espero que todos eles sejam resolvidos.
Nota da autora Essa é a história mais real que já escrevi, é sobre um assunto muito delicado, me inspirei em pessoas reais e mesmo que não seja uma biografia, Juliet é inspirada em mim, no meu otimismo em pensar que tudo pode mudar. Enquanto escrevia, muita coisa mudou dentro de mim, li muitos livros e me coloquei no lugar das pessoas, é triste quando julgamos alguém, colocamos adjetivos ruins, mas não conhecemos tudo o que já passou. E uma última observação… cuidado com as primeiras impressões sobre alguém. Esse livro é sobre aprender e entender que na nossa vida, sempre haverão assuntos delicados que temos que falar, pois senão morreremos afogados em nossas próprias lágrimas.
O começo de tudo
Quero encontrar um lugar para me esconder, pois minha mente já não é segura e não aguento mais viver assim. Há dias em que acordo sem vontade de continuar, mas sou uma sobrevivente. Devo estar grata por existir? Claro que sim! A vida é complexa e cruel, mas, ao mesmo tempo, é incrível, um paradoxo que entendo quando olho as montanhas e me sinto livre por alguns segundos. Olhando para seus olhos, encontro uma saída fácil, mas difícil, você entende o que eu quero dizer? É delicado. Gosto de pensar que você é o início de tudo de bom e ruim, tantas coisas aconteceram e já não me encontro, mas quero te encontrar. Abro os braços e te espero em um abraço, enquanto ele me assombra com suas palavras duras. Torpor. São muitas palavras e você consegue me entender, fico feliz em saber que apenas uma pessoa nessa cidade sabe quem eu sou. Espero ser a única dona do teu olhar de marte. Porque, você é o meu lugar seguro quando minha mente me trai.
Prólogo
Minha vida é uma bagunça. Tudo sempre começa com meus pais brigando por algo que construíram juntos, a grande empresa de seguros, isso faz uns vinte anos que é exatamente a minha idade. A angústia que me consome todos os dias é a pior coisa que alguém poderia experimentar. Os dois vivem nessa briga desde que eu era pequena, o que é simplesmente um saco. Meio que nunca tive meus pais para mim, sabe? Você se pergunta, então porque não dividem as ações e fica tudo bem? A resposta é que eles simplesmente não querem. Querem é tudo ou nada estão brigando na justiça por isso por enquanto eu vou vivendo no meio dessa confusão. Eles também não podem matar um ao outro porque há um contrato em que diz que se um dos dois morrer o outro é excluído da herança.(Nem se pergunte porque há algo assim escrito no contrato) Onde fico nessa história? A fortuna vai cair nas minhas mãos, mas a única coisa que eu quero é ter liberdade e poder viver minha vida. E agora, estou aterrorizada, pois minha mãe sofreu um acidente e acabei de receber uma ligação. Pode ter certeza que meu coração está apertado, mas não há muita coisa que eu possa fazer.
Muita informação para uma primeira página? Ok, vamos voltar para o início desse dia tão corrido na minha vida.
Capítulo 1 A prisão não precisa de celas, palavras já nos prendem para sempre.— Juliet.
Ouço passos no corredor, um sentimento de agonia surge em meu peito. Tenho quase certeza de que são de Henri, o garoto mais chato que conheço, mas meu pai sonha que um dia nos casaremos. Talvez se eu morresse isso pudesse se tornar realidade, porém não acho que seja possível casar com um cadáver, então nunca seremos um casal. Ele é o único garoto que pode dormir aqui, somos vizinhos desde sempre,
e meu pai, Bruce, deve gostar bastante dele, talvez haja uma razão para isso. Mudando completamente de assunto, estou me arrumando para mais um dia de aula, acordei ansiosa para caramba, estou na frente da minha enorme penteadeira, pensando nas matérias do dia, enquanto penteio meus cabelos longos, negros e lisos. Mary entra no meu quarto(que é tão rosa que parece que um unicórnio passou por aqui, as vezes os pais pensam que somos eternamente crianças), e fico com um pouco de raiva por não poder escolher a cor dele. Por outro lado, Mary sempre foi incrível comigo, cuidou de mim desde bebê, por isso, faço questão de mantê-la aqui. Sim, sou adulta e não preciso mais dos serviços dela, mas amo quando ela está por perto. — Oi querida, já está pronta para tomar café? Assinto e dou um sorriso, a mulher baixinha dá uma piscadela e se retira. Só em falar em comida, meu estômago se revira. Sou magra demais, os meus ossos são bem aparentes(e a minha mãe vive me falando o quanto sou sortuda por ter um corpo de modelo), mas como demais, quando o assunto é cupcake, posso passar horas a fio falando sobre esse bolinho delicioso. Isso me anima e faz o meu coração desacelerar um pouco. A questão é que minha vida é muito complicada e eu não tenho controle sobre nada, as únicas coisas que distraem minha ansiedade, são bolos e música. •• Chego na faculdade mais cedo do que pretendia, as pessoas acenam para mim como velhas conhecidas, mas eu tenho uma amiga. Não podem me privar disso, se é o que está pensando. Não podem me privar de ter amizade, eu quem evito fazê-las, exceto por Amy, que se mostrou fiel a mim e não ao dinheiro que meus pais possuem. As coisas na minha vida são como um furacão, tudo está bem e depois de alguns segundos não há mais nada intacto. Foi assim quando me descobriram. Eu tinha apenas dez anos quando essa guerra sem fim, começou. Saiu nas revistas e desde então, falam sobre Juliet Riviera, a princesa envolvida em toda a situação. E a partir desse dia, eu não tive mais paz. Meus pais resolveram se mudar para uma cidade vizinha, bem mais tranquila e com bem menos habitantes, mesmo que tenham que dirigir até a outra cidade todos os dias para trabalharem. Os dois construíram um império e mesmo que eu não queira nada disso na minha vida, fui afetada por eles. —Juju.— Amy vem até mim com seu enorme sorriso. Não estou brincando, o apelido dela é tubarão… — Oi, miss.—Nos abraçamos e ela revira os olhos, já sei o que vem por aí. Minha amiga é bem insuportável as vezes, mas isso não faz com que eu não
goste dela. — Não sei se você escutou o que eu te disse ontem, mas está na época dos seminários pela faculdade. — E….? Sei do que ela está falando, mas me faço de desentendida, porque sei que ela detesta. Como esperado, vejo uma ruga de preocupação surgir em sua testa. — Esse ano estou vendo muitos garotos lindos de morrer. Posso fingir que desmaiei ou algo do tipo, que tal? — Muita loucura, você não acha? Já tenho um garoto para pensar, que é Henri, e fico enojada toda vez que o rosto dele se materializa nos meus pensamentos, mas, mesmo assim, a deixo continuar. — Vi um loiro que é simplesmente o paraíso, ah aqueles olhos…. Eu desmaiaria para ele. — Cadê o Rick? — Provavelmente atrás de algum rabo de saia.—Amy revira os olhos outra vez, os dois já se envolveram e não deu muito certo, hoje em dia, raramente nos vemos. Rick é(ou era) um colega distante, mas de vez em quando almoça conosco(bem de vez em quando mesmo, não que eu esteja reclamando, porque ele é bem chatinho). Escuto gritos entusiasmados e é a minha vez de revirar os olhos, e depois observo o local movimentado por estudantes alegres. Cadê os garotos que eu sempre vejo nos livros? Onde posso encontrá-los? — E onde está o loiro que você falou? Amy enrola as pontas dos cabelos claros e ondulados, enquanto olha na direção dos garotos pelo corredor. — Faz alguns minutos desde que o vi, então, não faço ideia.— A loira ainda olha ao redor, mas acaba desistindo. Paro de sorrir ao ver Sofie passar por mim com seu cheiro de frutas cítricas, a garota faz questão de fazer uma careta, a menina me detesta, não faço ideia do porque, mas posso superar. Tenho outras coisas pra ame preocupar. — A aula já vai começar, hora de correr. Amy segura meu cotovelo e me puxa em direção à sala de aula, mas algumas pessoas vêm até mim e fazem algumas perguntas bobas. Desde sempre, evito fazer novas amizades, mas as pessoas sempre querem chegar até mim, pegar um pouco da minha fama e isso é exaustivo na maior parte do tempo. — Deve ser um saco ser você….— Minha melhor amiga diz isso, mas
não sabe tudo o que acontece, porque há coisas na nossa família que devemos guardar apenas para nós. — E é, queria que simplesmente acabasse. Sou apenas uma universitária! Queria ter uma juventude normal, com bebidas e tudo o que vem junto. Quem sabe dar uns amassos por aí. — Essa nem parece com você. — Nunca se sabe o que passa na minha cabeça. Queria que fosse mentira, mas é a mais pura verdade. Seria ótimo sair para me divertir, é uma pena que não possa fazer isso sem me sentir perseguida. Meu pai é maníaco por controle, e as vezes faz umas ameaças estranhas, nunca sei quando está por perto ou se há câmeras me vigiando. •• Assim que o sinal toca, sinto meu pulso acelerar, amo quando essa hora chega, pois posso me divertir lendo um bom livro. Como maior parte das pessoas decide fazer uma outra coisa, posso ter paz por uns dois quartos de hora. Ler é a melhor terapia, e quando alguém diz que não gosta, fico incrivelmente magoada, pois é mágico e podemos fingir ser alguém que não somos. Amy tem mais uma aula, mas tenho certeza que não se importaria se eu quisesse ir embora mais cedo sem me despedir. E essa é uma razão pela qual a amo, ela não é pegajosa ao extremo. Sinto cheiro de livro antes mesmo de entrar na biblioteca. Costumo ir até um lugar reservado, escondido pelas altas prateleiras, onde há puffs, e como os alunos não curtem muito a leitura, geralmente fico sozinha, mas consigo ver os pés de alguém antes mesmo de chegar ao local. Não paro de andar, porque posso sentar do lado do estranho, passo pelo ruivo concentrado em um livro de história e jogo minha bolsa de lado antes de sentar no puff estilo saco. Coloco meus clássicos fones de ouvido e coloco a música “Saturn” para tocar, depois de alguns segundos, não consigo relaxar. É meio estranho ficar sentada na frente de outra pessoa, então arrasto um pouco para a parede, fico com a coluna ereta, pego o livro “Orgulho e preconceito” e começo a folhear. Essa é uma nova edição de capa dura e ilustrada, coleciono versões desse livro, eu realmente sou apaixonada pela história. Quem não sonha com um Darcy? É o meu refúgio nos piores dias, quando as coisas estão ruins de verdade, quando vejo as brigas começarem, ou os gritos, ou quando pegam meu celular…. — É estranho se eu falar que gosto de orgulho e preconceito? — O ruivo ao meu lado fala alto e alguém pede silêncio na mesma hora.
Baixo o livro lentamente para poder olhar seu rosto, e tiro um dos fones, por educação. Que droga! Eu não deveria ter feito isso, pois o homem é realmente bonito…. Tem uma barba bem-feita e está sorrindo, vejo uma covinha em seu queixo. Os olhos bastante azuis me fitam com atenção. Clareio a garganta, porque não deveria olhar para ele como uma louca, e sim respondendo a sua pergunta, o que ele disse mesmo? Ah… — Não, esse livro é o melhor de todos os tempos. — Tento ficar séria, mas estou com um sorriso no rosto, e bastante entusiasmada, porque geralmente não tenho com quem conversar sobre livros. — Também acho isso, talvez esteja achando estranho, porque sou homem…. — Claro que não! Isso é muito legal. É uma verdade universalmente conhecida que um homem pode amar orgulho e preconceito. — Esqueço a parte do homem “solteiro” porque não quero que ele pense que estou dando em cima dele. O ruivo solta uma gargalhada, ele parece tímido, suas bochechas estão levemente coradas e sempre que conheço uma nova pessoa me pergunto do que ela sente medo na vida. O meu é acabar sendo como meus pais, não há nada que me assuste mais do que essa possibilidade. — Gentil de sua parte dizer isso, me chamo Julian. — Estende a mão e aperto levemente, sentindo a textura dos seus dedos contra os meus. São macios, mas há alguns calos e me pergunto como os conseguiu. — Juliet. Que estranho, nossos nomes são parecidos…. — Verdade. Gostei disso. Não sei o que falar para continuarmos conversando, e tudo fica ainda pior quando nos encaramos, Julian não parece estranhar, mas eu sim, por isso desvio o olhar. — Qual sua versão favorita do filme? — Pergunta e volto a fitar aqueles olhos claros. — A mais antiga. — Sorrio novamente e percebo que ainda estou com o livro na mão, por isso o deixo de lado. — Eu também. Tudo bem, Juliet, fora orgulho e preconceito, quais são os livros favoritos? Brinco com meus dedos e penso em alguns títulos, vários nomes aparecem e solto uma risada, tento ser fofa, mas acho que não pareceu isso. Ai meu Deus, faz tempo que eu não converso com alguém sem ser Amy,
estou sendo patética! — Acho que se você for um leitor assíduo, sabe o quão difícil é ter um livro, ou até mesmo, livros, favoritos, todos deixam uma marca diferente. — Até os que não gostamos? — Até eles…. — Concordo com você, certa vez eu estava lendo um livro que relatava violência doméstica, detestei a história, mas aprendi algumas coisas. Julian está sorrindo, seus olhos estão brilhando, o que quer dizer que está gostando mesmo da minha companhia, isso é estranho, eu nunca deixo ninguém se aproximar de mim. Tenho meus motivos…. — Não me diga que era violento e depois disso se conscientizou, porque você não parece ser violento…. — Coloco o indicador no queixo, e Julian sorri desviando o olhar e depois me olhando novamente em segundos, esse pequeno gesto faz o meu coração acelerar. Será que ele está flertando comigo? E nesse momento eu acabo de descobrir que ele sabe como jogar charme para as garotas, confesso que é bonito demais para não notá-lo. — Nem se eu quisesse seria violento, mas eu aprendi a ter um olhar mais cauteloso antes de julgar quem passa por isso. Mordo a parte interna da bochecha e mexo novamente em meus cabelos, isso atrai sua atenção e penso em alguma coisa que não seja esse clima agradável entre nós. — Então, você estuda história?— Pergunto por causa do livro em sua mão. — Estudo, mas escrevo poesias e gosto de qualquer livro que me dê algum tipo diversificado de conhecimento. — Seu rosto fica bastante corado agora, não era o tipo de coisa que eu imaginei. Nem de perto, acho que minha respiração ficou um pouco desregulada, de repente, quero saber mais sobre esse ruivo misterioso. — Escreve poesias? Ai meu Deus, isso é incrível… — Você acha? Meus pais odeiam. Mexo nas pontas do meu cabelo novamente e assinto, sempre gostei muito de ler poesias e nunca quis tanto ler quanto agora. — Com certeza, tem alguma coisa por aí? — Jura que não vai rir de mim? Meus olhos estão fixos nos seus quando respondo com firmeza: — Nunca! Julian mexe em sua mochila e pega um caderno que parece ter saído do
passado, encadernado. Ele abre para mim e vejo uma frase. “Há um universo particular em seus olhos” É incrível, fico tentada a passar a página, mas não sei se é isso que ele quer, então devolvo e o sorriso fica nos meus lábios. — Você deve continuar fazendo isso, é bom de verdade, Julian. Rápido e tocante, a garota para quem você escreve deve ser muito especial. — Obrigado e não foi para ninguém em específico. — Um sorriso tímido se instala em seus lábios e não consigo desviar o olhar. Há um clima estranho entre nós, principalmente por ele ter me mostrado algo tão íntimo. Uma frase que mudou muita coisa, sei que não foi para mim(ele acabou de me conhecer), mas me pego pensando se há um universo particular em meus olhos, se um dia alguém vai ver isso em mim. Com certeza ele se inspirou em alguém, e por alguma razão, eu queria ser essa pessoa, queria que alguém me olhasse e pensasse em frases bobas de amor. Tenho apenas 21 anos, mas constantemente me sinto uma idosa de 96, principalmente quando estou conversando com homens. Julian ainda está olhando para mim e meu estômago contrai um pouco, por sorte, meu celular toca, quando vejo o número, mudo de ideia sobre a sorte. — Um momento, preciso atender. — O ruivo assente, então viro a minha atenção para o aparelho grudado no meu ouvido. — Alô? — Juliet? Você precisa vir até o hospital, sua mãe sofreu um acidente. O tom de voz do meu pai não é nem um pouco caloroso, sei que ele não consegue expressar bem as emoções, mas isso é demais até para ele! — Como assim sofreu um acidente?— Parece que todo o sangue esvaiu do meu corpo. Sinto meus olhos ficarem marejados, mas engulo em seco e tento ser o mais forte possível. — O carro dela virou… Você deve estar lendo algum livro, certo? Por isso não viu o noticiário! Bruce fala levemente irritado, como se eu fosse o motivo de alguma coisa. Abro e fecho minhas mãos, que já estão geladas por causa do nervosismo. — Eu estava mesmo. — Olho para Julian e me sinto um pouco culpada, sei que meu pai não gosta que eu converse com estranhos. Especialmente se esses estranhos forem homens. — Bom, venha para cá agora. Eu não tenho escolha, certo? E é quando começo a pensar na minha mãe. Suspiro e encerro a ligação, fecho a minha bolsa e me levanto, as mãos trêmulas não ajudam muito no processo.
— Sinto muito, tenho que ir…. Minha mãe sofreu um acidente.— Enxugo uma lágrima teimosa que cai pelo meu rosto. — Tudo bem, boa sorte com isso, a gente se vê. Saio da biblioteca na mesma velocidade que cheguei. Então é isso, minha vida é mesmo uma bagunça, tenho medo de nunca encontrar o ouro no final do arco-íris.
Capítulo 2 A vida nunca foi um mar de flores.—Juliet.
Chego no hospital e procuro pela minha mãe, não é difícil encontrá-la, vejo paparazzis(que obviamente vieram da outra cidade) tentando descobrir alguma coisa apenas para publicar, esses urubus, sempre querendo ganhar dinheiro às custas dos outros. Minhas pernas não me ajudam e, quase caio antes de entrar no quarto que as enfermeiras me deram permissão para entrar. — Oi, mãe. — Um nó se forma na minha garganta e meus olhos marejam
novamente, não queria ser uma maria mole, mas vê-la nesse estado, me faz querer trocar de lugar e amenizar sua dor. A mulher está pálida, seus cabelos castanhos estão desgrenhados, e sei que ela deve estar odiando isso, pois é bastante vaidosa. — Oi minha filha, ainda bem que ligaram para você. — A voz fraca me deixa em alerta, Lisa é a mulher mais forte que eu conheço. — Como está se sentindo?— Passo a mão pelos seus cabelos para tentar arrumá-los, mas não tenho sucesso. — Melhor do que se tivesse morrido, fui descuidada e o carro…. Bem… — Não quero saber os detalhes, quero que você descanse. Aproximo-me e beijo sua cabeça, quero que minha mãe fique bem para que volte logo à ativa, não gosto de vê-la dessa forma, debilitada. Observo alguns ferimentos, há um corte pequeno na sua sobrancelha e não sei se deixará alguma cicatriz, mas me sinto feliz por ela estar bem, acordada e viva. Já é bastante difícil quando se tem uma mãe, imagina viver sem ela. Não no sentido ruim, mas ela me protege de muita coisa. — Eu até que estava precisando mesmo ficar descansando, ter um tempo para pensar. — Ela faz um gesto apontando para si mesma. — Se estava precisando, podia chamar a atenção de uma outra forma, não quase morrendo. — Ah querida, há formas muito piores de morte, sou quase um zumbi. — Como assim?— Talvez ela esteja muito dopada por causa dos analgésicos, mas assim que ela fica pensativa, sei do que se trata. — Seu pai me matou aos poucos, já nem reconheço quem eu era. — Eu imagino. — É bem parecido com o que ele faz comigo, com toda a invasão à minha privacidade. Falando nele, o homem simplesmente aparece no quarto repentinamente e fecha a porta atrás de si, seu cheiro forte se espalha pelo quarto. Fico pensando se ele escutou a nossa conversa. — O que vocês estão falando? — O tom não é nada amigável e me pergunto como alguém pode ser tão frio assim. Ou pior, como a minha mãe se apaixonou por alguém assim? — Ora, nem nessas horas eu posso ter privacidade? — Resmungo, mas infelizmente ele escuta. — Você está me desrespeitando, Juliet? “Eu quem pago suas contas”, é o que ele quer falar, posso ver isso em seus olhos, mas antes que ele continue, eu respondo: — Não, claro que não.
— Bem… Vá estudar querida, não quero que tire notas baixas porque sua mãe está em um hospital. — Mamãe fala e seguro suas mãos. Ver minha mãe nesse estado é de partir o coração e ver o meu pai tratá-la com tanta frieza, dói ainda mais, se eu pudesse, estaria fora dessa vida há muito tempo, mas não trabalho(nem posso), então…. — Ok, mãe. — Passo a mão em seus cabelos novamente e acabo desistindo de arrumar seus cabelos— Você nunca atrapalharia.—Sussurro e tento dar um sorriso. — Se cuide, tá? — Seus olhos me falam “cuidado com seu pai”. Assinto para deixá-la tranquila e logo em seguida deposito um beijo em sua testa. Minha mãe está sonolenta e hoje eu deveria ficar com meu pai, então fico grata a Deus por não ter dado meu número à Julian. — Vamos. — Bruce coloca a mão em minhas costas e me guia até a saída. Bruce não é o pior pai do universo, entenda. Só não é o melhor também, ele me dá tudo o que eu preciso, e mesmo que passe um pouco na minha cara, deixo, porque um dia estarei fora de toda essa situação. Bem longe dela. E infelizmente, longe da minha mãe também. — Como foi a faculdade hoje? — Boa…. Geralmente eu converso bastante com Bruce, porque isso faz ele não fique estressado comigo. O que eu não entendo é como ele pode ser tão protetor e ao mesmo tempo, tão louco. Eu não posso sair em certos horários, não posso namorar porque ele provavelmente me monitoraria, ou inventaria alguma forma de fazer isso. Vivo praticamente em uma bolha e o meu sonho é sair dela. — Viu os noticiários? Nossa empresa subiu no ranking e… — Eu vi na internet, pai. — Interrompo, mas Bruce nem liga, porque alguém liga para ele e sou ignorada. Melhor assim. Olho para meu pai, observo cada ponto do seu rosto, não pareço muito com ele, todos dizem que sou parecida com a minha mãe. Mesmos olhos, mesmo nariz e uma mistura da boca dos dois. O que as pessoas não sabem é que minha personalidade é diferente dos dois, absurdamente diferente, pra falar a verdade. Não sou confiante como a minha mãe, a mulher fala tão bem com as pessoas, que me pergunto como nasci tão introvertida.(As pessoas gastam minhas energias). Não sou controladora como meu pai, e ele é um pouco machista… tudo
bem, é bastante machista. Nem consigo pensar na quantidade de vezes que ele mandou a minha mãe trocar de roupa. Além disso, eu amo a leitura, e amo escrever. É algo que não quero que ninguém saiba, mas criei um blog com uma identidade anônima, dessa forma ninguém imagina que sou a filha dos Riviera. Suspiro e vou até o carro do meu pai, não antes de algumas pessoas apontarem para nós como se fossemos animais em um zoológico. Não escolhi nada disso, mas é a vida. — Juliet, se importa de passarmos em uma cafeteria antes de ir para casa? — Não. — Lanço um sorriso e recebo outro de volta. Por dentro estou com vontade de chorar, não acredito que fiquei perto de perder a minha mãe…. Vê-la fez com que eu sentisse um aperto no coração. Meus olhos marejam outra vez, pois queria ter ficado mais tempo com ela. É isso o que o amor faz, nós tememos perder alguém de uma hora para outra e sofrer de uma dor irreparável chamada saudade. — Está chorando, querida? Fungo e recolho a lágrima afoita antes mesmo que ela caia. — Essa situação… me deixou um pouco mal. — Venha aqui. — Meu pai me abraça e eu respiro fundo, seu cheiro fica grudado em mim, faz um tempo desde que ele não fala assim comigo. Queria me sentir protegida dessa forma do mesmo jeito que me sinto presa. Um pássaro enjaulado… — Ela não morreu, querida, agora vamos lá. Assinto a contragosto e penso que, em alguns anos e eu posso ter tudo o que sempre almejei. Posso começar minha vida longe de tudo o que me atormenta? Quem sabe eu até me case e tenha alguém para me proteger dos fantasmas que me assombram? •• A cafeteria terminar sendo um saco, meu pai conversa com seus amigos de trabalho(ele cuida da parte financeira), enquanto eu fico com uma expressão vaga no rosto e sorrio vez ou outra. Eu queria muito ter nascido em outra família, uma menos problemática.
Capítulo 3 Tenho inveja de quem não tem pontas duplas no cabelo, o resto é resto.— Amy.
Acordo com o sol batendo no meu rosto, meia hora mais tarde do que o habitual para a faculdade, porém tudo é perto nessa cidade, então me arrumo com mais tranquilidade. Estou penteando meus enormes cabelos negros, quando lembro do ruivo na biblioteca e me pergunto se verei Julian hoje, isso faz o meu coração se agitar um pouco. Tenho graves problemas com a ansiedade.
Escuto uma batida na porta e balanço a cabeça levemente, dispersando meus pensamentos e aviso para entrar, vejo meu pai colocar a cabeça pela brecha da porta e sorrir para mim. — Quer que eu te leve para a faculdade? — Sim, muito obrigada. Bruce continua me observando, com uma expressão orgulhosa no rosto e é nesses momentos em que penso que ele não é tão ruim assim. Independente de tudo, ele continua sendo o meu pai. — Um dia desses você era apenas um bebê.— Solta uma risada, que me contagia. Hoje é um dos dias em que ele está feliz. — Agora já sou adulta. — Para mim nunca crescerá! Deve ser por isso que sempre pega o meu celular, invade a minha privacidade e diz que é para meu próprio bem…. — Enfim, preciso ir um pouco mais cedo hoje, se importa se eu não tomar café aqui? — Claro que não, falando nisso, como vai a Amy? Ai meu Deus, eu não consegui ver meu celular ontem, tinha descarregado e tenho certeza que ela tentou falar comigo, mas não conseguiu. — Bem, eu acho. O celular está na tomada e espero meu pai sair e fechar a porta antes de ir atrás dele. Demora um pouco até o Iphone ligar, mas as mensagens começam a aparecer em minha tela, desenfreadas, todas da minha amiga. “Eu fiquei sabendo da sua mãe” “Você deve estar muito mal” Respondo as mensagens dizendo que conversaremos na faculdade. Mas obviamente ela não verá agora, já que não está online. •• A cacofonia habitual me faz ficar sem energia logo de manhã, é um ponto negativo de ser introvertida, e as pessoas ainda confundem com timidez. Como a minha aula só começa daqui há uma hora, vou até a biblioteca, pelo menos, lá eu posso relaxar um pouco, ficar em silêncio e quem sabe ver alguém em especial. Tenho uma intuição de que o encontrarei e quando chego no mesmo local que estávamos ontem, vejo os mesmos sapatos e quase solto um suspiro de alívio. Quase. — Olha quem está por aqui novamente. — Falo com um sorriso no rosto [1]
quando vejo o ruivo. Julian também sorri para mim e ergue levemente o queixo, sua barba é bem bonita, tenho que admitir. Ele é todo bonito… — E você também, apesar que eu quem deveria falar isso, já que cheguei primeiro. — Touché. Jogo a minha mochila e ao me sentar no puff, é como se um peso tivesse sido tirado de minhas costas, quase como se os problemas não existissem. Posso me esconder em uma bolha com esse desconhecido nem tão desconhecido assim. — Você parece exausta… Penso em contar tudo para ele, um total estranho, esse sentimento é algo que nunca senti, sei que é clichê, mas eu sou assim mesmo. As vezes, se abrir com pessoas que não conhecemos bem é a melhor coisa a se fazer, chame isso de terapia se quiser. Mas acho que é por falta de pessoas para conversar. — Pareço? Só estou preocupada com a minha mãe. — Claro que sim, e você está pálida também…. Coloco a mão no meu rosto, como se isso fosse me fazer melhorar. — Sabe o que eu faço quando estou pensativo? — Não… — É esquisito, porque já me sinto um pouco melhor ao ver a cara de bobo dele. — Penso em coisas aleatórias, por exemplo, agora estou pensando em um ônibus cheio de velhinhos, e nas curvas eles vão para a frente e para trás. Meu Deus! A imagem se forma na minha cabeça, dos pobres idosos segurando a barra do ônibus, caindo uns em cima dos outros. A cena é tão engraçada que estou gargalhando no final. Nunca sorri tão espontaneamente na frente de um garoto. Quando minha barriga está doendo, eu paro para respirar e seco as lágrimas que caíram pelo meu rosto. — Está vendo? Fiz você se sentir um pouco melhor. — Obrigada…. — Falo ainda com um sorriso no rosto. — Por nada, madame…. — Julian bate continência e eu mexo em meu cabelo sem saber o que fazer. Termino ficando encabulada e sinto minhas bochechas queimarem com a vergonha. — Eu preciso ir, tenho aula de espanhol.— Pego minha mochila e jogo nas costas. A hora passou voando, até que ficar com Julian é legal, visto que eu nem
percebi as poucas pessoas indo embora da biblioteca. — Você também? Por incrível que pareça, tenho a mesma aula. — O ruivo dá de ombros e eu repito o gesto. Vamos juntos até a sala e de vez em quando, olho para ele, percebo um corte em seu cílio direito, me pergunto como ele conseguiu isso. Sinto meu celular vibrar e é uma mensagem de Amy. Certas coisas nunca mudam, mas temos aulas diferentes, mesmo assim mando um emoji. Julian senta ao meu lado e ficar perto dele me faz ficar um pouco melhor, até porque esqueci um pouco da minha mãe louca e meu pai controlador. Mesmo que eu não possa gostar dele, ainda é bom ter alguém para achar bonito. Caramba, estou carente demais hoje! Estou parecendo uma adolescente no colegial, e não uma mulher na faculdade. Sou estranha, não posso mudar isso. Não posso negar que fiquei enciumada quando Emma Roques(não gosto de chamar outras garotas de galinhas, mas acho que isso não vale para garotas que destroem os relacionamentos alheios) sentou perto de Julian e ficou arrastando uma asa para ele, provavelmente deve ter sido muito popular no ensino médio e parece nem ter saído de lá. A garota com seus longos cabelos castanhos e uma boca cheia de preenchimento labial, sabe como seduzir os garotos, muito diferente de mim. Emma fez perguntas bobas a ele durante toda a aula e o convidou para ficar com ela durante o intervalo. — Ah, eu tenho coisas para fazer no intervalo. — Julian coça a cabeça, claramente desconcertado, mas Emma não se incomoda, pega um pedaço de papel e anota seu número de telefone. — Você não era assim…— Sussurra, mas acabo escutando, isso deixa uma mosca atrás da minha orelha. Sei que não deveria prestar atenção nisso, mas é quase impossível focar no que o senhor Pace está falando e escrevendo no quadro. — Aqui está meu telefone, pode me ligar. — Ok… Emma se inclina em sua direção e sinto meu rosto esquentar, será que a garota não tem nenhum senso lógico? Estou com muita vergonha alheia. Respiro fundo e jogo o lápis de lado quando vejo que já vai acabar a aula chata, não sou péssima em espanhol, mas a matéria é entediante na maior parte das vezes. Recebo outra mensagem de Amy e fico aliviada, assim eu terei a desculpa perfeita para não encarar Julian e fingir que sou uma garota muito
ocupada. Já estou com as minhas coisas arrumadas quando toca e saio na velocidade da luz em direção à saída, sem me importar nem um pouco em como Emma provavelmente vai ficar com o garoto no final. Avisto a minha amiga arrumando os livros no armário, quando me vê, dá de ombros, os cabelos loiros e cacheados reluzem, já pensei em pintar os fios, mas prefiro meus cabelos pretos, porque eles brilham demais no sol. — Oi, Riviera. — Oi, encontrou o loiro? — Ele está na minha classe esse mês, estou surtando. — Eu sabia que minha amiga estava contendo a animação, podia ver seus olhos brilhando enquanto revelava sobre o homem. Depois de meia hora falando sobre ele, decido acabar o assunto e falo: — Fico feliz que uma de nós esteja desencalhando. — Ah, claro. Meu pai nunca me deixaria namorar com alguém que ele não escolheu. — E como está a sua mãe? — Já teve alta, vou ficar com ela hoje. As pessoas devem estar pensando que sou uma péssima filha, mas ninguém sabe os motivos, ou o porquê de eu não ter chorado e simplesmente aparecer aqui como se nada tivesse acontecido ontem. Mas essa é a vida de Juliet Riviera e a história está apenas começando. Um garoto de uma das fraternidades(conheço por causa da blusa que eles sempre estão usando), vem até mim com um papel na mão, percebo que é um ingresso ou algo do tipo quando está perto o bastante. Franzo a testa e o homem me dá um sorriso(sem mostrar os dentes) encantador, seus cabelos em um topete bagunçado, são da cor de caramelo e olhos da mesma cor me fazem encará-lo por mais tempo do que pretendia. É que eu nunca vi um maxilar tão bonito quanto o dele… — Oi, Juliet… — Conheço você? — O interrompo e me sinto a pessoa mais mal educada do mundo, mas simplesmente não podia babar por ele nem mais um segundo. — Estudamos juntos no ano passado, sabe, aula de escrita criativa? — Ai meu Deus! Me perdoe, não lembro de você.— Não lembro de ninguém, pois sempre ando com a cabeça baixa por aí. Amy passa a mão por meus ombros e isso chama a atenção do bonitão que ainda não falou o nome. — Sou o Rylan Pratt. — O loiro estende a mão, mesmo me conhecendo,
nunca havíamos sido apresentados formalmente. — Já sabe meu nome, então…— Levanto a minha própria mão para não deixá-lo esperando. Nossos olhares se cruzam por um instante e eu pagaria para saber o que Rylan está pensando, nossas mãos ainda estão juntas, porém não me sinto estranha por isso. A maciez de sua mão me impressiona, mas não tanto quanto o calor dela. Rylan sai de seu devaneio e me entrega o que tinha planejado, estou agindo como se gostasse dele, isso é inquietante. Por isso clareio a garganta. — Queria te convidar para uma festa da fraternidade. Já me convidaram inúmeras festas antes, mas a resposta sempre foi não. Meu pai nunca permitiria isso, mas por alguma razão(mentira, a razão está bem na minha frente), eu assinto. — Tudo bem. — Olho para o ingresso bem-feito, e a primeira coisa que me pergunto, é porque eles se dão o trabalho, se no fim, todo mundo entra? — Tudo bem? Ok, nos vemos lá então.— Nos encaramos por mais alguns segundos e nenhum de nós quer desviar o olhar, até que Amy fale: — Vamos embora? Isso faz Rylan dar um breve sorriso e começar a se afastar. Ele me olhou de uma forma tão íntima que se tornou difícil respirar. Ainda estamos na metade da semana, como esses universitários conseguem sair, beber e se divertir com aula no dia seguinte? Rylan se junta aos amigos, enquanto Amy e eu ficamos observando. Seus ombros são bem largos, acho que gosto de ombros largos, porque gostei dos dele, é o tipo de homem que é bonito até de costas. Puxo na memória se Julian tem ombros assim, mas Amy me belisca, a dor me leva de volta à realidade. — Ai, sua doida! — Foi mal, é só que ele é bem gato, pelo visto não serei a única a desencalhar. Você pode pelo menos levar esse gato para a cama. — Amy! Estou me sentindo bem melhor hoje do que estava ontem, espero que as coisas boas comecem a acontecer, porque coisas ruins acontecem o tempo todo. Não sei se aguento mais ficar na minha bolha, talvez se eu começar a sair, meu pai não me proíba mais. É como se uma luzinha acendesse na minha cabeça. Já sou adulta, posso muito bem sair quando quiser e me divertir. Estou na faculdade, ora. Nunca saí antes por causa do medo, mas se eu começar a sair, meu pai
não fique me prendendo tanto, além do mais, preciso aproveitar minha juventude. Mas mesmo tentando ser um pouco destemida, minhas mãos gela, porque algumas vezes, coisas ruins acontecem quando saímos do casulo que nos protege, e é aí que viramos uma borboleta. Um brinde à metamorfose.
Capítulo 4 Tem coisa melhor que um cupcake quentinho?—Juliet.
Estou uma pilha de nervos quando chego na casa da minha mãe, sei que Lisa não me proíbe de sair, o problema é que meu pai mora bem do lado, não tem como sair sem ser vista. — Querida! — Minha mãe abre os braços para mim e me aconchego nos seus ombros. Inspiro profundamente seu perfume doce, é nesses momentos que me arrependo de querer nascer em outra família. Não há ninguém no mundo que eu ame mais que a ela.
— Mãe, queria a sua ajuda em uma coisa. Vê-la sã e salva é a melhor maneira de começar uma tarde, por isso tento não olhar para algumas escoriações em seu braço. Não quero ficar triste. — Antes de mais nada, quero te agradecer por não chorar ontem… Sempre seguro minhas lágrimas o máximo que consigo, tenho medo de que, um dia, eu comece e nunca mais consiga parar. — Eu sou a melhor filha do mundo, né? Recebo outro abraço e lembro da última vez que chorei, foi por uma bobeira, mas quando meu pai me viu daquela forma, havia algo em seu olhar(fiquei apavorada), as lágrimas cessaram no mesmo instante. Ele se baixou e falou bem baixo “Nunca mais chore, odeio pessoas que choram, demonstram fraqueza, você é minha filha, não uma fraca, me ouviu?” As vezes, as lágrimas caem sem querer pelo meu rosto, mas não são tantas assim. O problema é que sou um ser humano, preciso chorar em algumas situações. — No que você queria ajuda? — Uma opinião, na verdade, fui convidada para uma festa e queria saber o que vestir. — Uau, minha filhinha vai a uma festa.— Mamãe começa a fazer uma dança esquisita e me pego sorrindo com o seu jeito maluco. — Não quero que o papai descubra, claro. — Relaxe, Juliet, ele nunca descobrirá.— O tom em sua voz diz que não tem tanta certeza assim. Respiro fundo ao sentir um friozinho na barriga, não sou o tipo de pessoa que faz coisas escondidas dos pais. Lisa segura firme a minha mão e subimos as escadas na maior emoção, em um dia eu não tinha nenhum paquera e no outro, estou de olho em dois garotos. Isso sim, me faz se sentir culpada, não deveria fazer isso. — …Quem sabe aquele vestido que te dei ano passado, o azul-marinho? Passamos pela porta e eu vou até minha cama, a maciez me envolve e fico preguiçosa na mesma hora. Quem resiste a uma cama quentinha? — O quê? Me desculpe, mãe. Não estava prestando atenção. A dona Lisa continua revirando o meu guarda-roupa em busca de algo, não consigo saber se está me ignorando ou realmente não está me escutando. — Perfeito, eu sabia que seria um baita presente! Vai realçar seus olhos. Mamãe pega o vestido e o observa minuciosamente, como se fosse achar algum defeito ou algo do tipo, e depois de alguns segundos o joga para mim. — Meus olhos são castanhos, mãe!— Tento falar sério, mas estou com
um sorriso no rosto, além disso, o tom da minha voz é bastante gentil. Acho que faz um tempão que eu e minha mãe nos divertimos dessa forma, eu seria uma péssima pessoa se dissesse que esse acidente talvez tenha feito bem a ela? Pelo menos, pude tê-la um pouco para mim. — Vai ficar linda com ele. Pego o vestido azul e corro para o banho, quero ver como anda minha depilação, sempre faço, mas as vezes há uns pelos incômodos, sabe? Tiro as minhas roupas e me olho no espelho, preciso fazer minhas sobrancelhas com urgência, mas o que me deixa estressada é o fato de ter ouvido o carro do meu pai chegando. Estou torcendo para que tenha sido um dia estressante, porque geralmente ele se tranca em sua adega e fica experimentando vinhos. Tomo meu banho e deixo a tensão do meu dia se esvair junto com a água. Para a minha sorte, antes das oito horas, estou me maquiando(meu banheiro é do tamanho de uma casa, então sempre trago tudo o que preciso para ele), quando a minha mãe bate na porta pela milésima vez, querendo me ajudar, quase borro o esfumado do meu olho direito. — Mãe, me deixa em paz! — É a Amy, sua besta. Bufo, deveria ficar um pouco mais animada por ir com minha melhor amiga, mas estranhamente não me sinto assim. Achei que só eu tivesse sido convidada. Destranco a porta e deixo a Amy entrar. — Que maquiagem mais comportada! Me deixe ajudar você… Já que ela falou da minha, reparei na dela que está bastante exagerada, tudo nela, na verdade. Seus cabelos presos em um coque e seus olhos carregados de sombra preta combinando com o vestido justo e curto. — Quem é você, e o que fez com a minha amiga? — É porque você nunca vai para as festas, e como nunca me pergunta, eu não falo. — Amy levanta as mãos como se dissesse "Você é que é anti social". Já vi fotos dela antes, mas a realidade é bem diferente. Ainda não sei como me dou bem com Amy, somos como água e óleo, mesmo assim, conseguimos dar um jeito de nos unir. Talvez eu não seja totalmente feita de água. Nunca me soltei o bastante para saber disso. — Não quero outra maquiagem, essa que eu fiz está muito boa. Está a minha cara. Básica e com um esfumado rosa. — Claro que está, Juliet, colocou apenas uma base e um batom claro, pelo amor do pai, né?
Reviro os olhos. Meu pai sempre fala que temos que ter cuidado para não parecermos vadias, e esses pensamentos machistas as vezes se instalam como veneno na cabeça. É quase como se eu ouvisse a voz dele sussurrando “Não seja uma vadia como a sua mãe”. — Eu gosto. Olho para minha gardênia e toco em suas pétalas delicadas, queria ser como uma flor; delicada, cheirosa e impossível desgostar. — Venha aqui. — A loira foi abrindo minha penteadeira e pegando algumas coisas, minha mãe sempre fez questão de me comprar maquiagem, mesmo que eu nunca tenha gostado. Amy tirou a maquiagem que eu já havia feito, pegou o pincel com destreza e passou uma sombra dourada em mim, esfumou com azul, a fiz jurar que não ficaria algo tão marcante. Quando minha melhor amiga acaba e me encaro é como se fosse outra pessoa, me sinto poderosa, se esse é o poder da maquiagem eu quero ficar para sempre assim. — Ai meu Deus, estou muito bonita! — O sorriso que se instala em meu rosto é genuíno. — Eu te avisei, Riviera… Levanto-me e abraço a garota, Amy é especial na minha vida, porque ela é a minha única amiga e sou muito grata por tê-la perto de mim. Amigos são como estrelas, sempre estão por perto para nos iluminar. — Vamos mesmo fazer isso?— Resmungo para mim mesma, pois preciso de coragem. — Isso o quê? Se embebedar? Porque eu quero. — Amy fala com entusiasmo. Penso na possibilidade, essa noite eu quero fazer tudo o que eu sempre tive vontade, mas sempre fui privada pela sensação de ser observada. Meu braço esquerdo fica arrepiado, mas balanço a cabeça e deixo todos os meus medos bem longe de mim. — Vamos fazer isso, então. — Damos um high five e sei o quanto Amy deve estar feliz por finalmente ter conseguido me arrastar para uma dessas festas de que gosta tanto. •• Assim que estamos perto da festa, escutamos o barulho habitual e minhas mãos começam a suar, já foi quase um milagre eu ter saído de casa sem meu pai me ver, mas de alguma forma, isso consegue ser ainda pior. Entro na casa com a cabeça levemente curvada, quem sabe assim as
pessoas não me notam? — Juliet Riviera! Que milagre você em uma festa. Levanto o olhar para Henri e meu coração vai até o chão, o garoto deve ter percebido meu nervosismo, porque toca em meu ombro e diz: — Sei que seu pai não curte muito, então não vou contar nada pra ele. Assinto e tento não transparecer meu medo, Henri é o tipo de pessoa que se aproveita da fraqueza dos outros, não sei como beijei esse embuste tempos atrás. Ok, vou contar como aconteceu… tudo começou em um verão(pra ficar um pouco mais dramático), Henri foi passar uns dias na minha casa, como sempre, e em dado momento ficamos juntos e o garoto foi tão legal que tomei a iniciativa de beijá-lo, acabei me arrependendo porque foi bem estranho. O pior beijo da minha vida. — Obrigada, por isso, acho… E nesse meio tempo, percebo que Amy desapareceu da minha vista, vasculho o local em busca da minha amiga, mas em vez disso, vejo várias pessoas da faculdade por aqui. Meus colegas de classe, pensam que escolhi uma universidade perto de casa para ter praticidade, mas meu pai simplesmente não queria que eu fosse para longe, se fosse minha escolha… Então, dessa forma, ele paga minhas contas e posso ficar sob sua vista criteriosa, é o tipo de pessoa manipuladora/controladora que pensa que todos são bonecos em suas mãos. — Quer tomar alguma coisa?— Saio dos meus devaneios sobre minha péssima vida e me concentro no presente momento, onde Henri está me olhando com um sorriso irritante no rosto. Estou tentando ser legal com ele também, porque se ele me dedurar é o meu fim… Algumas pessoas acenam para mim e gritam, mas não posso escutar por causa da música alta, outras esbarram em mim e não pedem desculpas. Não estou me divertindo até agora e nem sei onde está minha melhor amiga. Pensei que eu fosse aproveitar bastante minha primeira festa de faculdade. — Acho que vou atrás de um coquetel, não precisa me seguir nem nada, foi bom te ver. —Mesmo que você viva por perto, acrescento mentalmente. Passo pela multidão de jovens bêbados e quem sabe, até mesmo, chapados, com dificuldade. Sei que higiene é a última coisa em que devem pensar por aqui, por isso pego um copo em uma estante. Na mesma hora, me empurram com força e eu quase caio.
Não faço a mínima ideia do conteúdo dentro do copo, mas tomo-o de uma vez e o líquido queima enquanto desce pela minha garganta. Fecho os olhos com força, enquanto espero essa sensação ruim passar e olho para os lados em busca de outra bebida que possa amenizar esses efeitos(será que eles bebem coca cola por aqui?). Me apoio na parede e respiro fundo, quando escuto alguns gemidos vindos da escadaria, dou uma espiada e sinto meu coração bater mais rápido quando vejo Julian com a língua na garganta de uma loira, a mulher está em seu colo e a cena toda é excruciante, não por que eu goste dele ou algo do tipo, mas porque eu deveria ganhar o prêmio de maior trouxa de todos os tempos. Sou uma tonta mesmo! Ainda não aprendi que não existe essa, de paixão à primeira vista. Sinto-me sufocada e busco outra maneira de fugir desse lugar, por sorte, não era a única escada, há várias delas pela casa. Vejo mais um casal dando amassos e fico enojada, nunca vi esse tipo de coisa antes, não sei se gosto. Sei que sou uma virgem com quase vinte e dois anos, mas nunca experimentei esse tipo de coisa. Giro várias maçanetas, mas nenhuma delas abre, quando estou quase perdendo as esperanças, uma porta abre, me sinto aliviada e a fecho atrás de mim, o som fica abafado, finalmente dou um sorriso nessa noite. — O quarto está ocupado. — Quando me viro, encontro olhos castanhos e sedutores, o quarto parece diminuir exponencialmente de tamanho em fração de segundos. Eu nem consigo respirar! — Me desculpe, eu… hum… posso ir embora. — Gesticulo com a mão novamente na maçaneta, mas Rylan está sorrindo e balançando a cabeça negativamente. — Tudo bem, vem aqui. Posso ser uma garota comportada, mas santa, isso eu não sou, e ver um garoto tão bonito perto de mim me faz estremecer com possibilidades. Um calor se espalha pelo meu rosto e por outras partes que tenho vergonha só de pensar. Os cabelos macios de Rylan estão bagunçados e gosto mais deles assim, além disso, parece que estou andando a séculos antes de chegar perto dele. — A festa está chata?— Sua voz rouca fica ainda mais sexy, porque ele me dá um sorriso. Toco no meu rosto, para tentar amenizar o calor, mas parece inútil, não sei o que havia naquela bebida, mas parece que ela me deixou fora de mim. — Não é isso, é que eu não curto… esse tipo de coisa, sabe? Sento-me ao seu lado e olhando de perto, seus olhos têm partes douradas,
é quase mágico. E ele está me olhando de uma forma muito James Dean. — Já tive problemas com bebidas, então não é a minha praia também.— O tom de seus olhos parece mudar de cor, como se estivessem envoltos por uma sombra, um sentimento ruim. — É seu quarto?— Tento desviar o assunto e aponto para o outro lado, onde há livros e cadernos em uma escrivaninha. Rylan assente e dá um sorriso, é tão charmoso que eu poderia passar dias inteiros olhando para seu belo rosto, mas alguém como ele nunca se interessaria por alguém como eu. Fala sério, eu sou magrinha e ele é tão… musculoso e tem esses olhos pequenos e encantadores. — Sim, e eu sempre tranco, porque algumas pessoas ultrapassam os limites e sobem para os quartos.— Rylan ergue uma das sobrancelhas e continua:— Mas hoje eu simplesmente esqueci e deixei aberto. — Ai meu Deus, Rylan, quer dizer que… — Certa vez eu estava estudando e um casal simplesmente emburacou aqui e quase… — Não termine essa frase! — Falo, mas estou sorrindo. Não quero pensar em nada relacionado a sexo, porque não quero passar dos limites também. — Não quer ser uma garota rebelde? Reviro os olhos, pois já me sinto bem mais confortável com ele do que alguns minutos atrás. — Não, aliás, porque me convidou para essa festa, hoje? Queria saber o porquê, não o vi entregar a mais ninguém, por alguns segundos penso que Rylan vai me falar que sou especial, mas eu sou apenas sonhadora demais. — Você nunca vem, então pensei em jogar meu charme, e pelo visto deu certo. — Eu quero saber o motivo verdadeiro! — Cruzo os braços e o encaro com uma expressão feroz. Aquela bebida deve ter ativado algum botão de ousadia dentro de mim, pois eu nunca em sã consciência estaria dentro de um quarto, sozinha com um garoto. E nunca estaria tão relaxada assim. — Um garoto ruivo da sua turma quem pediu.— Seus ombros caem como se ele tivesse aceitado a derrota. — Um ruivo alto? Não pode ser! Julian estava grudado com outra pessoa, porque ele me convidaria, se nem gosta mesmo de mim? Além do mais, pensei que ele fosse o tipo de nerd, não um pegador [2]
barato de festas de fraternidade. Na maior parte das vezes, nos enganamos com as pessoas, porque elas usam máscaras e sempre parecem melhores do que são. — Sim, com aquela barba estranha. — Rylan solta uma risada e acabo sorrindo também. — A barba dele é bem bonita…— Balanço a cabeça e me sinto um pouco entorpecida. — Ele não chegou? Achei que eu seria um tipo de cupido para vocês. — Percebo que o sorriso dele desvanece e de repente me lembro da razão de ter subido ser justamente Julian. — Vamos dizer que Julian estava com uma garota lá embaixo.— Empino o queixo, mostrando que já superei o ocorrido. — Como assim? Primeiro ele me pede para te convidar e depois te deixa pra lá? Coloco uma mexa de cabelo atrás da orelha, sem ter muito o que fazer com as mãos e solto um suspiro. — Agora também fiquei confusa. Alguém bate na porta com força e nos interrompe, eu teria caído com o susto se já não estivesse sentada. — Rylan, seu filho da mãe, esqueceu seus livros na sala! Rylan bufa, e pronto, o clima todo acabou, se eu soubesse que a noite se desenrolaria dessa forma, teria ficado em casa, assistindo minha netflix e comendo pipoca de micro-ondas. — Tenho que ir, se quiser ficar… o quarto é todo seu.— Rylan faz uma mesura e eu começo a sorrir. — Eu também tenho que ir, não estou me sentindo muito bem, sabe? Muitos bêbados em um lugar só. Sorrimos e Rylan me acompanha até a saída de seu quarto, estou mal mesmo, nem tive tempo de observar os detalhes, se havia pôsteres de mulheres ou algo do tipo. Ao descer as escadas, vejo Amy dando um amasso em um loiro do seu tamanho, as mãos bobas me fazem revirar os olhos. Sério mesmo? Eu não nasci para isso. A música continua alta demais, vou chegar vários decibéis mais surda em casa nesta noite. — Sinto muito que não tenha gostado da festa.— Rylan grita quando já estou perto da saída. — Não foi de todo mal.— Grito de volta e vejo algo em seu olhar que não sei definir. Podemos encontrar amizades nos momentos mais inusitados…
Chamo um uber e respiro fundo, sei que passei pouco mais do que uma hora, mas simplesmente não me diverti, então pelo menos, ainda posso ficar um pouco com minha mãe e assistir algo. Ao chegar na mansão que meus pais chamam de casa, vejo a luz acessa, eu sabia que a dona Lisa não me deixaria… Ela está me esperando! —Mãe?— Jogo as chaves no sofá e subo as escadas lentamente, ouço vozes e reconheço uma delas. Tapo a minha boca, para não emitir nenhum som, e escuto atentamente a conversa, quase não me movo para não fazer barulho. Meus pelos se eriçam ao escutar um pouco mais. — Você acha que eu posso esquecer o que você me fez? Por que eu não posso!— Meu pai sussurra, mas, ao mesmo tempo, fica perto dela, quase como se quisesse tocá-la. A minha mãe não está gostando, vejo isso pela sua expressão, então fico com medo do que ele vai falar para ela. — Nunca desejei que chegasse a esse ponto.— Ela diz e meu coração acelera com o nervosismo. —Não deveria ter me traído! É como se o chão tivesse aberto e me engolido, não acredito que minha mãe traiu meu pai! Pelo visto, há mais coisas que não sei do que penso. O amor é complicado, uma hora o coração bate feliz quando vê alguém e depois isso simplesmente acaba? Como se nunca tivesse acontecido? Não tem como eu ir até meu quarto, então desço e tento não fazer barulho. Preciso fazer terapia, para tirar tudo de ruim que já passei, toda opressão que vivi. E se meu pai me ver desse jeito, não sei o que pode acontecer. E é isso o que farei a partir de amanhã, ninguém precisa ficar sabendo, certo? Respiro fundo e vou até meu quarto secreto.
Capítulo 5 As vezes, só precisamos respirar fundo e continuar, pensando que tudo vai melhorar.- AD
Acordo com uma sensação ruim no peito, a dor de cabeça não ajuda em muita coisa, tenho tido muitas ultimamente. Há bolsas roxas ao redor dos meus olhos, porque não dormi direito, além do mais, me esforcei bastante para não chorar, porque não queria mais perguntas que não estou a fim de responder. Me arrumo com tanta preguiça e começo a sorrir sozinha, pois já sei que
levarei uma bronca do meu pai por não ter avisado a ele que sairia(isso se ele descobrir). Em dias de merda como esse, gosto de escrever algumas palavras para meu blog. Ainda não falei nada sobre ele, certo? O nome é assunto delicado, porque… bem, isso explica a minha vida. Garota rica, que não quer ser rica, mas que nasceu assim e em uma família completamente louca por poder. As palavras cheias de ódio que escutei ontem fizeram algo dentro de mim mudar, por isso, abro meu singelo guarda-roupa e pego um vestido de alças, preto. Ao vesti-lo, me sinto desconfortável, por deixar muito da minha pele à mostra, por isso, visto uma blusa branca por baixo(dizem que está na moda uma blusa embaixo do vestido e até que fiquei bonita). Talvez não esteja parecendo o visual de uma garota que quer mudar radicalmente, mas essas coisas são difíceis para mim, todo esse tempo estive em um casulo, e agora estou prestes a virar uma borboleta. Uma nova Juliet, vou ser quem realmente sou! Quero sair e ir nas festas, escutar música alta como uma adolescente qualquer. Embora eu possa cortar as festas da lista, porque ontem não foi tão legal assim. Quero sair com garotos e passar a acreditar em signos. Falando nisso, eu nasci em abril, sou ariana, Amy já me falou que arianos são muito energéticos, eu devo ser, só nunca tentei. E aparentemente amam fazer sexo. Só o pensamento me faz sorrir, pois nunca experimentei esse prazer físico e mental. Esse deveria ser um dos pontos principais da lista da rebeldia. Vou até o espelho para pentear meus cabelos e passar um pouco de maquiagem, para aumentar minha autoestima. Escuto um trovão e olho através da janela, é um daqueles dias que o clima parece estar conectado com nossos sentimentos, mas apesar das coisas ruins, vou focar apenas nas boas. Senão meu psicológico estará fu… ferrado. Ainda não estou tão destemida assim. Não sou perfeita, na verdade, estou bem longe disso, mas sou alguém com uma vida de merda, aparentemente muito boa. Quando desço as escadas, percebo que minha mãe ainda está dormindo, então tomo o meu café da manhã em uma velocidade impressionante e recebo uma mensagem de Amy, a garota deve me amar muito mesmo. Isso é bom, porque é correspondido, amo essa louca e seus dentes de tubarão. Quando entro pelos portões da faculdade hoje, realmente me sinto uma nova pessoa, como a fênix que ressurgiu, quase como se existisse poder dentro de mim. Como sempre, as pessoas acenam para mim e faço o mesmo de volta, mas escuto os sussurros, sei que a senhorita certinha Riviera está dando o que
falar por aqui hoje. Empino meu queixo e dou um sorriso triunfante, fui a uma festa e ainda não consigo acreditar na minha ousadia. Algumas frases passam pela minha cabeça. Sempre sonhei em ser escritora, isso deixou o meu pai louco no começo, mas com o tempo ele teve que aceitar(porque eu tenho que escolher alguma coisa na minha vida). Se no dia em que entrei para a faculdade de literatura inglesa eu me senti bem, não chega nem aos pés do sentimento de hoje. — Ai meu Deus, você está linda!— Escuto a familiar voz de Amy atrás de mim. Quando ela tinha chegado? A pestinha tinha me dito que demoraria meia hora… — Oi, gostou do meu visual? — Está gata, e está maquiada também, o que vai fazer hoje?— A loira segura o meu braço e dá uma piscadela. Clareio a garganta quando lembro o que estava indo fazer, e tento arrumar meus cabelos que estão bagunçados por causa do vento. — Eu… tenho coisas para fazer, irei à secretaria. — E aí está a velha Juliet. Faço careta e Amy sorri, mas se afasta de mim e eu vou na direção oposta. A secretaria está uma calmaria quando chego, e agendo uma sessão com a psicóloga da faculdade, pois sinto que é a hora de cuidar do meu psicológico. Depois das coisas que ouvi ontem, decidi que preciso de uma catarse. Há alguns pensamentos me rodeando desde ontem, tipo, será que o comportamento do meu pai é por causa dessa traição? Ou ele é realmente louco? A possibilidade dele já ser machista é a maior opção de todas. Estou tão desatenta que esbarro em alguém na saída, o cheiro amadeirado com um leve toque de menta chama minha atenção. — Ei, parece que alguém está sonhando acordada. Rylan me fita com aqueles olhos semicerrados e castanhos, fico imóvel pois estamos muito próximos, e não quero que ele se afaste. — Me desculpe, as vezes eu fico assim, concentrada demais nos meus próprios problemas… — Sem problema.— O loiro me avalia por um instante e aponta para a porta com a cabeça.— Também vai fazer terapia? Rylan se afasta e eu volto a respirar corretamente, mesmo assim, continuo observando como ele é bonito. — Digamos que eu esteja precisando desabafar.— Dou um sorriso e minha timidez volta com toda a intensidade.
Que droga! Não consigo mesmo ser destemida. — Somos dois… bem, nos vemos por aí… E com uma piscada pra lá de sensual, Rylan me deixa sem forças nas pernas, tenho que me encostar na parede e o observo ir embora. Que costas bonitas você tem… Balanço a cabeça e vou direto para a minha aula de francês, preciso pensar em outra coisa que não aqueles olhos castanhos e encantadores, ou naquela boca bonita e volumosa que ele tem. Umedeço meus lábios e dou um sorriso. •• As estrelas guiam os meus passos quando estou perdida. É quando te vejo, é como se você fosse o sol, porque consegue iluminar o meu dia com apenas um sorriso. Escrevo frases soltas no meu blog. Senti essa frase depois de ter visto Rylan, nem sei o motivo, pois não gosto dele ou nada do tipo, mas a aula está um saco, e ele foi a minha inspiração. É estranho que seja meu primeiro poema sobre amor, os outros são sentimentos ocultos sobre mim. Quando chega a hora do intervalo, respiro fundo antes de me retirar da sala. Me desespero ao perceber que o melhor lugar do mundo está ocupado por Julian. Nem sei como encará-lo depois de vê-lo aos beijos com outra garota. Tudo bem, só nos falamos duas vezes, mas eu já criei uma história bem incrível de amor para nós dois, escritores têm uma mente bem estranha. Eu sou muito ridícula, sei disso. — Oi.— Julian fala com uma timidez que me impressiona. Como alguém pode ser tão fingido? Sei muito bem a verdade. Depois de ter entendido o joguinho dele, não consigo mais vê-lo com outros olhos. — Oi.— A frieza em minha voz me impressiona. — Está com raiva de mim? Fiz algo? — Não, porque eu estaria com raiva de você? Sei me fazer de desentendida como ninguém. Pego o meu livro e começo a folhear, obviamente não estou conseguindo me concentrar em nenhuma palavra, porque Julian está com seus olhos azuis sobre mim. — Foi porque não falei com você na festa? Na verdade, nem te vi. Ergo uma das sobrancelhas e volto a fingir que estou lendo, porém, Julian engatinha até mim e baixa o livro até estarmos cara a cara. — Talvez.— Falo e estranhamente minha voz não falha, mas engulo em seco, porque não estou acostumada com o sexo oposto.
Levanto o livro uma outra vez, e o ruivo volta para o lugar. Sedutor de uma figa! Os pelos do meu corpo estão entendendo tudo errado, mas ter ele tão próximo de mim, fez isso. E outras partes de mim também ficaram animadas. — Você me viu? Foi a garota que chegou em mim, não o contrário. — Não tem que dar explicações para mim, só conversamos duas vezes. — Dou de ombros, como se não estivesse afetada, mas o modo como ele sorri, me diz que não consegui. — Sei disso, mas quero dar satisfações, principalmente, porque eu queria beijar você. Escondo ainda mais meu rosto no livro, não quero que o ruivo veja que estou em chamas, e que também quero beijá-lo. Em quem eu me transformei do dia para a noite? — Imagino como seria a sua boca na minha. Toda a minha tentativa de concentração cai pelo ralo, fecho os olhos com força e sinto uma inquietação dentro de mim, estou tentando me controlar para não avançar nele. — Para, Julian, estamos em solo sagrado!— Minha voz está rouca, e a respiração completamente desregular. — Nos falamos muito pouco, mas sinto atração por você, Juliet. Atração. Claro que não seria mais do que isso, apenas compartilhamos momentos legais, apenas isso, talvez ele tivesse planejado me encontrar aqui e ler orgulho e preconceito. Como eu sou idiota! A onda de desejo vai embora mais rápido do que chegou e baixo meu livro para encarar Julian. Bem que meu pai me alertou que homens são traiçoeiros. Eu sou uma das garotas mais ricas do país, óbvio que os caras viriam atrás. — Ok, não posso controlar isso por você.— Digo como se estivesse entediada e fecho o livro. Julian já está perto de mim novamente, com aquela maldita barba e aqueles olhos azuis, preciso respirar fundo umas duas vezes para me controlar. — Isso é injusto, Juliet, vai mudar de ideia quando sentir o meu beijo. Cão que ladra não morde, é o que eu quero falar, mas em vez disso, pergunto: — Porque estamos conversando sobre isso? Julian coloca uma mecha do meu cabelo para trás, parece bem mais velho com essa seriedade toda. Fico lisonjeada com toda essa atenção. Digo a mim mesma que ele é um babaca, mas também posso tirar uma casquinha, né?
— Eu quem comecei, porque quero sair com você. O que mais uma mulher virgem no seu ápice sexual falaria? A resposta sensata seria dizer não, mas meu corpo está clamando por um sim, então assinto. — Que horas eu vou te buscar? A ficha começa a cair… Se meu pai sonhar que estou saindo para um encontro, nem sei o que acontecerá. Talvez ele tome meu celular e diga que está fazendo isso para o meu bem, porque garotos são maus e eu sou uma donzela em perigo. — Para onde vamos? Prefiro ir sozinha, sabe como é? Feminismo e tals. — Ah, não, eu insisto em ir te buscar. — E eu insisto em ir sozinha. — Tudo bem, Riviera, você venceu, te mando uma mensagem com o endereço do lugar. Começo a sorrir e Julian se afasta de mim, quase como se eu tivesse uma doença contagiosa. — Não tenho o seu número, idiota. O Olhar de Julian para mim confirma que estou flertando corretamente, ou pelo menos, tentando. Nunca precisei flertar com ninguém antes disso. — Talvez eu tenha o seu. Mas que merda… Como ele pode ter o meu número? Quer saber? Deixa para lá. — Tudo bem, nos vemos depois. É a minha deixa para sair daqui e procurar um outro lugar, onde eu não precise lidar com toda a minha tensão sexual adulta. •• Julian realmente me manda uma mensagem assim que chego em casa, me falando a hora e o lugar. Sei onde é, não é tão longe da minha casa. Odeio dirigir, mesmo que eu tenha um carro, mas talvez eu vá sozinha hoje, sem precisar depender de uber ou algo do tipo. Sei que não deveria, mas espero ansiosamente por nosso encontro, então visto um vestidinho preto e ousado para os padrões juliet, isso me dá um friozinho na barriga, mas tenho que me divertir um pouco, em vez de ficar em casa apenas lendo. É um trabalho árduo tirar o carro da garagem da minha mãe, mas quando se passam cinco minutos, posso colocar a música “22” da “Taylor Swift”, e finalmente posso respirar.
— Eu não sei você, mas estou me sentindo com vinte e dois… Sorrio e canto a plenos pulmões, isso tira toda a tensão e ansiedade do encontro. A pizzaria é do mesmo jeito que lembro, vim aqui há mais ou menos uns dois meses atrás, com Amy, no dia eu estava chateada por causa de uma briga entre os meus pais e o local melhorou meu humor. Ademais, aqui tem a melhor pizza do mundo para mim. Aceno para Julian que está sentado perto da janela, o sorriso dele triplica enquanto me aproximo, meus passos são decididos, já que ele ofertou aquele beijo e companhia, porque negar? O homem está muito bonito! Usando uma blusa vermelha de manga longa e os cabelos em um topete perfeito, combina perfeitamente com o paquerador que Julian é, mas prefiro me fazer de idiota. Mais uma vez, preciso dizer que não sou santa. — Oi, senhorita feminista. — Oi. Preciso mesmo ser mais feminista, com todos os ideais machistas que recebi do meu pai na minha humilde vida, as vezes me pergunto absurdos. Tipo, o tamanho da saia da mulher conta em alguma coisa? — Como consegue ficar ainda mais bonita? — E como você consegue ficar ainda mais idiota? Julian sorri e pega a minha mão, não tenho como controlar meu coração, nunca me apaixonei de verdade antes, apenas tive uns crushs aqui e ali. — Quando você vai perceber que tudo o que você quer está bem aqui? Solto uma gargalhada falsa e puxo a minha mão, ele claramente sabe como seduzir alguém, e por isso não quero correr esse risco. Tenho que ser forte. — Vamos mudar de assunto?— Olho para minhas unhas como se houvesse algo de interessante nelas. — De repente, pensei em uma pessoa pulando de cima de um prédio com paraquedas… Lembro da nossa conversa na biblioteca e começo a sorrir, de repente, sou apenas eu, a garota rica e nerd novamente. — É uma bela cena, mas não tão boa quanto uma pessoa sendo exorcizada por um palhaço anão, falando russo. Estamos chorando de tanto rir, recebemos alguns olhares enviesados, mas nessa altura do campeonato nem me importo mais. Pela primeira vez, minha vida não está parecendo um drama mexicano de quinta categoria, pareço apenas normal.
— Você venceu de lavada, um palhaço? Fala sério… Julian é muito bonito, não posso negar que quero muito beijá-lo, apenas para saber como é beijar um ruivo, obviamente faço tudo pela ciência. Quando fazemos o pedido, temos uma briga, quero uma pizza de calabresa e queijo, Julian quer de atum, e acabamos em um meio termo. Atum com calabresa… — Não existe esse sabor, senhorita… Faz muito tempo que não me divirto dessa maneira, claro que eu estava brincando quando fiz o pedido. — Então, me traga duas pizzas, simples. Quando o homem vai embora, claramente irritado por nossa brincadeira, Julian volta a ser sedutor e me encara. — Fica muito bonita quando é mandona. — Pare com isso, Julian, estávamos numa boa, não estrague o momento. — Minha voz está carregada de ironia, mas o ruivo não sorri, está realmente falando sério. — Quero muito te beijar, agora. — Promete que não vai ficar viciado nos meus beijos? Nunca imaginei que soubesse flertar! Mais uma faceta sobre Juliet Riviera que estou aprendendo. — Posso tentar, mas duvido muito que consiga, você parece beijar bem. Respiro fundo, a nova Juliet não tem medo de beijar os homens, não pensa nas bactérias e nas doenças que pode pegar… — Só vai descobrir se me beijar. E então, Julian se apoia em cima da mesa e sua boca cola na minha, agarro sua nuca e o beijo se intensifica, confesso que ele beija muito bem, quase como se precisasse disso para viver. O lugar parece ficar bem mais quente, mas mesmo assim, não fico tão feliz quanto deveria, ainda consigo pensar. Não tem mão boba, mas com certeza, é um beijo muito bom. — Uau.— Digo quando nos separamos e Julian volta para seu lugar. Isso alimenta do ego dele, que abre um sorriso ainda maior e parece realmente orgulhoso. — Uau mesmo, acho que estou viciado. — Você prometeu!— Já estamos sorrindo novamente. — Não, eu disse que tentaria, é bem diferente. Dou de ombros e quer saber? É bom demais não pensar em ninguém além de si mesma. — Hoje deve ter alguma festa de fraternidade, né? — Yeah.
— Depois que terminarmos, podemos passar por lá? Estou com vontade de me divertir.— Quero tentar ir em uma festa novamente. Uau, tem uma pilha extra em mim nessa noite e nem bebi ainda. Quero saber a sensação de ficar bêbada pra valer, só o pensamento me faz ter arrepios. — Você quem manda. Espero não me arrepender disso depois. Parte de mim, a cautelosa, diz que eu devo ir para casa e receber um beijo de despedida, mas a outra quer diversão. Ignoro a velha Juliet. •• A pizza estava deliciosa e comemos até eu ficar um pouco enjoada, talvez eu nunca tenha comido tanto assim, mas foi um encontro muito legal. Julian foi prestativo e sexy todo o tempo, porém há algo de estranho nele, o homem tem um olhar que me diz que esconde algo. Sei que o ruivo é bonito pra caramba, mas não quero me meter em problemas. Quando entramos na casa cheia de bêbados e barulhenta, a mão de Julian repousa tranquilamente em minhas costas. — Da última vez você disse que não gostou muito, espero que agora se divirta mesmo. Reviro os olhos e um garoto negro me oferece um copo de plástico, ele é bem gato para falar a verdade. Não sei o que deu em mim desde ontem, mas estou mesmo precisando de diversão, por isso viro o conteúdo e sei que é cerveja, o cheiro é reconhecível. Preciso de algo mais forte, urgentemente! Ao me virar, percebo que Julian já se afastou de mim, nem consigo ficar desapontada, porque eu já entendi que ele é esse tipo de homem. Essa não é a casa de Rylan, e também não sei porque pensei nele, mas queria que ele estivesse aqui para me impedir de fazer besteira. Embora eu não o conheça bem, vejo algo de especial naqueles olhos castanhos. — Onde posso conseguir uma bebida mais forte?— Pergunto para uma mulher, que me olha de baixo para cima antes de apontar para o que eu acho ser a cozinha. O lugar está cheio de pessoas, deve haver algum tipo de jogo ou sei lá o que fazem em uma cozinha nas festas. — Alguém tem vodka? Ninguém parece me escutar, se bem que, eu acho difícil com todo esse barulho… Abro a geladeira e acho a garrafa que reluz com a luz, o líquido transparente faz meu estômago revirar com a possibilidade de uma ressaca.
Ok, estou pensando demais e eu disse que não faria isso. Só preciso esquecer um pouquinho dos meus problemas. Saio da casa com a garrafa embaixo do braço e tento ver se há alguém que conheço, mas vejo muitos rostos desconhecidos. Sento na grama verde e abro a garrafa, espero alguns segundos antes de encostar minha boca na superfície de vidro e sentir a minha garganta queimar. — Urgh. Balanço a cabeça e espero o ardor passar para tomar mais, é horrível, mas eu tenho um objetivo nesta noite. Tomo outro gole e sinto vontade de vomitar, porque não quero beber, mas me obrigo e fazer isso várias vezes. Espero alguns minutinhos até sentir o torpor me invadir, se eu fechasse os olhos(coisa que não quero) aposto que sentiria o álcool correr pelas minhas veias. Respiro fundo e fico olhando para a garrafa em minha mão, ainda estou pensando demais para alguém que não quer pensar em nada. Sinto vontade de jogar a garrafa para longe de mim, já posso sentir meu corpo ficar mole, mas me obrigo a beber mais, isso deve acontecer com todo mundo enquanto bebe. Começo a sorrir e vejo alguém se aproximando, é Julian, incrível como ele aparece nas horas mais inapropriadas… — Eu te deixo sozinha por menos de meia hora e te encontro com uma garrafa na mão e semibêbada?— Sua voz me diz que talvez ele tenha gostado disso. Julian senta do meu lado e continuo em silêncio, com uma vontade de sorrir e a música se distanciando cada vez mais, talvez até uma porta faça mais barulho que eu. Estou observando uma flor perdida na grama e tão concentrada quanto jamais estive. — Está se divertindo? — Ainda não…— Minha língua deve ter triplicado de tamanho, não consigo falar direito e depois disso, começo a sorrir, porque tudo está muito engraçado. — Vamos dançar? — Se eu… conseguir. Desta vez jogo a garrafa para o lado e só consigo me levantar porque Julian me ajuda nisso, meus pés estão engraçados, parecem gelatinas, isso me faz gargalhar. — Do que está rindo? — Não levanto…— Eu tento falar isso, mas minha língua pesada não
obedece meu comando, a voz sai como um resmungo. — Já está em pé. — Estou?— Olho para baixo e solto mais uma gargalhada, acho que já estou perdendo meu controle. — Bem… em pé não é exatamente como você está. Meu corpo pende para os lados, beber é mais estranho do que imaginei, mas, ainda consigo pensar o suficiente para lembrar dos meus pais, então quando passamos pela porta da casa, pego o copo da mão de alguém(minha visão um pouco está borrada) e bebo de uma vez, não queima como nas primeiras vezes, já é um ponto a favor. — Vai com calma, querida, não vai querer passar mal… Começo a balançar o meu corpo contra o de Julian e estou sorrindo tanto que a barriga dói, nem há um motivo para essas gargalhadas. Julian passa a mão por minha cintura e beija o meu pescoço, de repente me sinto desejável, essa palavra nem combina comigo, mas é exatamente por isso que eu gosto tanto. Estamos nos beijando, a música está tocando, é tão excitante que nem sei o que está acontecendo, o que está havendo, quando menos espero escuto alguém brigar, alguém chama o meu nome. Isso quase me desperta. Meu cérebro tenta conversar comigo, mas estou tão bêbada que não faço a mínima ideia do que está havendo. Caio no chão como uma maria mole e finalmente fecho meus olhos, não sinto dor ao bater minha cabeça, deve ser um efeito colateral da bebida. Nem a música alta me faz perder a vontade de dormir, meu corpo está inteiramente relaxado, provavelmente não lembrarei de nada amanhã. Mas, pelo menos, uma vez na minha vida, não me importo, por isso fecho os olhos e suspiro, as cores vão esmorecendo e meus lábios se movem para cima uma última vez.
Capítulo 6 Tudo fica melhor com o amor.—Maria Pratt.
Tento abrir meus olhos, mas a dor de cabeça que me atinge é bem maior, a claridade não ajuda muito nisso. Espreguiço-me lentamente, os olhos fechados quando sinto a presença de alguém. Pouco a pouco, vou abrindo os olhos, percebo que estou louca o suficiente para não perceber que não estou em casa. Ai meu Deus! O que foi que eu fiz da minha vida? Será que Amy tinha razão quando disse que eu era apenas um furacão
adormecido? —Até que enfim a bela adormecida acordou. Não é a voz de Julian que eu escuto, sim a de Rylan, esbugalho meus olhos ao ver o loiro perto de mim, sentado na cama. Com a luz refletindo nele, os cabelos parecem mais claros e a imagem me atinge de uma forma inquietante. Como se percebesse a situação constrangedora, me levanto em uma velocidade impressionante, puxo o lençol e vejo que estou usando uma blusa enorme e preta. Cadê as minhas roupas? Acrescento mentalmente, mas vejo o rosto dele se contorcer ao ver minha confusão. — Calma, Juliet, não é como se eu tivesse feito algo com você, na verdade eu te ajudei… Respiro fundo algumas vezes e penso no que Rylan falou, aos poucos relaxo meus ombros e endireito minha postura na cama novamente, já que passei a maior vergonha, o que custa passar mais um pouco? — Pode falar o que aconteceu e como diabos eu estou aqui? Não preciso observar muito para perceber que é o mesmo quarto que estive alguns dias atrás, agora que tenho tempo para observar, vejo que não tem nenhum pôster, quase fico aliviada. Não queria ver nada obsceno hoje. Com certeza, não tão perto de Rylan, que é incrivelmente sexy. Enquanto ele fala, é difícil prestar atenção em suas palavras, quando sua boca se move de forma tão sensual, preciso de toda a concentração que me resta para ouvir. — Quando cheguei na festa, vi você bastante bêbada, ninguém estava te ajudando, principalmente o babaca do Julian…— O tom de sua voz não é nada amigável e sinto um embrulho no estômago ao lembrar do ruivo.— Quando ele me pediu para te convidar para aquela festa, achei que estava interessado, saí do caminho completamente. Rylan está resmungando para si mesmo e nada do que diz faz sentido… espere, como assim ele saiu do caminho? — O que Julian tem com isso?— Minha testa está tão franzida que incomoda. Se eu souber que ele fez alguma coisa comigo… — Deixa para lá… mas enfim, não consegui não fazer nada, então te trouxe para cá. Eu vou morrer hoje! Se meu pai tiver percebido que não dormi em casa, toda a minha reputação vai por água abaixo e serei xingada por todos os nomes possíveis, assim como ele faz com a minha mãe.
— Meu Deus, eu fui tão burra! Me desculpe, Rylan, isso não vai mais acontecer.— Falo preguiçosamente com a minha cabeça começando a doer. — Você tem que tomar cuidado com o Julian, ele não é quem parece ser. Como se eu não tivesse percebido isso sozinha… enfim, assinto e falo: — Eu só quero me desculpar por te dar trabalho, sinto muito mesmo. Rylan me fita com aqueles olhos castanhos de um tom quase amarelado e de repente fico muito envergonhada. — Juliet, só quero que saiba que ontem você quase tirou seu vestido na frente de todo mundo. Acho que deveria saber. Tapo minha boca, porque eu me conheço e posso gritar a qualquer momento. Se não fosse trágico não seria a minha vida. Algo me dizia que a sessão vergonha não tinha acabado, mas acho que não tem como ficar pior do que isso. — E falou algo como “Sou uma vadia mesmo, e daí?” Sempre quis falar isso, mas ele não precisa saber disso… — Não tem como ficar pior? — Era apenas isso, não acho que alguém tenha tirado fotos.— Rylan sorri e coloca a mão no meu ombro.—Ainda bem que sou um ótimo amigo. A proximidade de sua mão no meu corpo me faz pensar em algumas coisas indecentes, então engulo em seco para espantá-las do meu cérebro. Boca, boca, boca Além do mais, penso na palavra que ele acabou de falar, “amigo”, Rylan é bonito demais para estar interessado em mim, então acho que realmente quer a minha amizade… Ou está me usando, assim como maior parte das pessoas, é o que meu pai diria, por isso é melhor me afastar de todo mundo. Olha onde ser sociável me levou? Eu quase me despi na frente das pessoas. — Preciso ir embora, já estou ficando envergonhada demais com as coisas que fiz. Coloco as mãos no rosto, mas Rylan as tira e me olha fixamente, nossos olhos ficam perdidos um no outro e os pelos se eriçam. Minha insegurança multiplica, começo a me afastar. — Deve estar faminta depois de ontem, vou te levar em um lugar. Não gosto quando as pessoas são legais comigo, sempre fico com um pé atrás. Preciso sair logo desse quarto, porque ficar perto desse loiro não está funcionando para meu corpo levemente bêbado. — Não precisa… eu nem deveria ter dormido fora de casa, na verdade. Além disso, estou meio enjoada.
Rylan continua sentado, mas ainda está me olhando atentamente, seus lábios se curvam em um sorriso sedutor, eu me apaixonaria facilmente por essa beleza. Mas preciso voltar para o mundo real. — Você não poderia voltar para casa caindo de bêbada, vamos, não me faça te levar pelo ombro. Rylan está sorrindo, mas há um quê de seriedade em seu olhar, por isso cruzo os braços e sorrio também. O clima entre nós, estou me divertindo com ele. — Não acredito que faria isso. — Não duvide de mim, morena. — Preciso trocar de roupa primeiro…— Ergo uma sobrancelha, e aponto para a blusa que ele me emprestou, provavelmente o seu cheiro vai ficar impregnado em mim e isso é bom.— Talvez tomar um banho seja uma boa ideia também. Só em pensar no meu cheio de cerveja e bebida, fico me sentindo ainda pior. — Tudo bem.— Rylan se levanta e abre o guarda-roupa enorme, meu vestido está tão bem dobrado que dou uma risada. — O quê? — Você dobrou a roupa muito bem. — Sou perfeccionista.— Consegui deixá-lo envergonhado, seu rosto enche de cor antes de me deixar novamente sozinha em seu quarto. Suspiro e vou pegar meu celular, que estava o tempo todo no criadomudo, mas sei que há milhares de ligações, espero que nenhuma do meu pai. Se ele ligou para mim é porque já sabe… Ligo o aparelho e vejo as chamadas perdidas da minha mãe, retorno no mesmo momento. Por sorte não vejo o número do meu pai, então talvez tenha me safado. — Alô? — Mãe, oi. — Juliet, desde quando você é irresponsável? Passei a noite em claro! Se, pelo menos, tivesse me avisado… Sinto-me a pior pessoa do mundo inteiro! Não queria que ela se sentisse dessa maneira. — Me desculpe, eu simplesmente não consegui falar com você. Apaguei, não sei como aconteceu. Além da dor de cabeça horrível, as vozes estão mais altas que o normal. — Sei bem como aconteceu, Juliet! Você deve ter bebido muito.
Desculpo dessa vez, mas não haverá uma próxima, senão terei de contar ao seu pai. — Não, mãe, você sabe como ele é… Um nó se instala em minha garganta, e até parece que o mundo ficou contra mim. Se toda vez que eu beber algo desse tipo acontecer, então prefiro viver monotonamente. — Ok, sei que ele é um carrasco, nunca faria isso, mas não faça esse tipo de coisa, você não é assim. — Tudo bem. — E onde você está, aliás? — Mãe, por favor, já sou adulta… — Está namorando escondido? Reviro os olhos e solto uma risada. Esse namorado está tão bem escondido que nem eu sei da existência dele. — Claro que não… se o meu pai perguntar por mim, diz que eu fui pra a casa de Amy. — Juliet… — Mãe, por favor, não seja como ele, me deixe respirar. Já vou fazer 22 anos, posso passar uma noite fora. Fecho meus olhos e escuto um suspiro exasperado do outro lado. — Tudo bem, mocinha, só não engravide, porque aí seria abusar da minha confiança. — Obrigada, mãe.— Se eu estivesse perto dela, daria um abraço sufocante. Desligo e vou até o banheiro, Rylan é realmente perfeccionista, tudo é organizado em fileiras perfeitas sobre a pia. Tomo um banho rápido e me troco em tempo recorde, quando desço as escadas, encontro Rylan mexendo no celular, parece a pessoa mais paciente do mundo. O jeito como seus olhos são focados na tela e a forma como o cabelo cai pelo rosto me faz soltar um pequeno suspiro. — Meu hálito não estava dos melhores, então meio que roubei um pouco da sua pasta de dente.— Aponto para as escadas. Olho ao redor rapidamente e fico aliviada ao perceber que os garotos que moram na casa ainda estão dormindo. — Pode roubar à vontade. Assim não vou precisar te oferecer bala por estar com um humor e bafo de leão. Mostro o dedo do meio, sorrimos juntos e baixo minha cabeça, fazendo com que o cabelo caia como uma cortina no rosto. Rylan levanta e lembro que
ele me ameaçou só por causa de um café da manhã. — Tenho mesmo que ir com você? O loiro se aproxima de mim e ainda estou com um sorriso preguiçoso no rosto, aposto que, com esse corpo, Rylan conseguiria me carregar como se eu pesasse uma pena, então não quero tentar a sorte. Não que eu tenha reparado nos bíceps… — Tem sim, e vai ser impossível não gostar. Semicerro meus olhos e fico tentada a tocar os fios que tocam sua testa, e cerro minhas mãos para não fazer besteira. Ao dar um passo para trás, piso em um copo, a casa inteira está uma bagunça, quase sinto dó de quem vai limpar tudo. — Vamos logo antes que minha mãe me mate por ter chegado tão tarde. Recebo outro sorriso e Rylan segura a minha mão até a saída, nem tenho tempo para pensar em como a sensação do calor de sua pele na minha é boa, e estamos correndo(literalmente) até o jeep preto reluzente. — Porque estamos correndo? — Não quero que você morra.— Franzo a testa sem entender, mas, ao ver uma moto se aproximar, dou um sorriso radiante, diante de seu cuidado comigo. A temperatura deve ter aumentado umas dez vezes, porque meu rosto esquentou tanto que coloco a mão livre nele, como se isso fosse esfriar. Estou parecendo tão boba, o sorriso não deixa meu rosto e Rylan liga o rádio, está tocando uma música da banda “The pretenders”, uma das mais bonitas, “I’ll stand by you”. — Faz um tempo que não escuto essa música… Viro a minha atenção para Rylan concentrado na pista, estamos indo para a cidade vizinha, vejo a placa, até penso em perguntar onde estamos indo, mas não quero saber antes da hora. — Nunca pensei que gostasse desse tipo de música. — Gosto de música antiga no geral.— Ele dá de ombros e encosto a minha cabeça na janela, aproveitando o som, porque não precisamos conversar. Não consigo acreditar que tanta coisa mudou em poucos dias. Tudo mudou. Algo dentro e fora de mim. A música muda para “You’re beautiful” e quando o homem ao meu lado começa a cantar, não consigo segurar minhas gargalhadas. “Você é linda, você é linda Você é linda, é verdade
Eu vi seu rosto na multidão E eu não sei o que fazer Porque eu nunca ficarei com você Sim, ela chamou minha atenção Enquanto passávamos lado a lado Ela poderia ver em meu rosto que eu estava Voando alto E eu não acho que a verei novamente Mas nós compartilhamos um momento que durará até o fim” Não estou acreditando nos próprios ouvidos, quando a música acaba estou rindo tanto que as bochechas e barriga estão doendo. Embora eu esteja sorrindo para evitar o constrangimento, porque a música é bonita e intensa. — Não pensei que fosse dizer isso, mas você tem uma ótima voz. — E eu achando que você estava pensando o contrário. Encosto a cabeça novamente na janela, mas ainda estou sorrindo. Rylan tem uma voz grave e bonita que provocou algumas reações fortes demais em mim. Nunca pensei que fosse ficar excitada por uma voz, mas fiquei até demais. — Mas, nunca pensei que fosse cantar “James Blunt” sem um pingo de vergonha.— Mexo nos botões do ar-condicionado, pois preciso baixar a temperatura, talvez isso esfrie meus pensamentos indecentes. — A verdade é que eu não tenho vergonha de cantar, é uma das coisas que mais amo fazer. — Hum. Conte-me mais.— Viro para o seu lado e cruzo as pernas, mas isso acaba sendo uma péssima ideia, pois minha amiga fica ainda mais agitada. — Promete não falar para ninguém? Reviro meus olhos, porque se ele me conhece, não tenho muitas amizades, na verdade, Amy é a única que sempre fica por perto. — Acho que não tenho para quem contar, nem se eu quisesse. — Nunca quis fazer administração, meu sonho é ser um artista completo. — Um artista completo? Como assim? — Posso explicar depois, e você, qual seu sonho? — Eu te entendo, meu pai não queria que eu fizesse literatura, mas eu sempre quis escrever romances… Essa parte da minha vida é bem pessoal, mas já estou cansada de não falar; de viver em uma bolha minúscula. — Já escreveu alguma coisa? — Talvez…— Sorrio e Rylan desvia sua atenção para mim por alguns segundos.
— Um artista completo pode ser o que quiser.— Ele começa, de repente voltando ao assunto de alguns minutos atrás.— Pode escrever, mas também se arriscar a fazer uns desenhos, quem sabe até vender algumas coisas na praia. — Até isso? E você já teve vontade?— Sorrio e animação dele em me explicar é muito fofa. — Já escrevi; já tentei fazer alguns desenhos, e faço planetas muito bem; e quanto a vender na praia, ainda não tive oportunidade. — Deveríamos fazer isso qualquer dia desses. — Isso é uma promessa? — Talvez. Ei preste atenção na pista, não quero morrer hoje!— Relembro o que ele tinha me dito antes de entrarmos no carro. — Vou cobrar.— Rylan sorri e penso em escrever sobre esse momento, mas se eu sempre escrever sobre ele, meu blog inteiro será uma dedicatória. Coloco meu cabelo para trás da orelha e volto a prestar atenção na pista. Não há silêncio constrangedor entre nós, na verdade é divertido ouvir música com Rylan, me sinto eu mesma, sem máscaras. Desde pequena, sempre tive muito medo de fazer algo errado, perdi a minha liberdade por causa da mídia e descobri que minha família era bem diferente das outras. Então criei um tipo de máscara, para que as pessoas me achassem entediante e não falassem de mim. Funcionou… até agora, mas de alguma forma Rylan consegue me arrancar da bolha de proteção e me deixar completamente exposta. Isso é assustador e incrível ao mesmo tempo. — Chegamos. O lugar é bem tranquilo, Rylan me explica que é uma cafeteria especializada em donuts, tem os melhores da região, vários sabores. Assim que passamos pela porta, sinto sua mão pousar em meu ombro, me guiando até os assentos, tudo é feito com madeira, o que dá um ar vintage. — Queria ter nascido em outra época…— Falo assim que nos sentamos. — Sério? Assinto e olho para o cardápio, pensando em mais alguma coisa para conversar, não quero que Rylan me ache entediante. — Sim, acho que me sentiria mais segura.— Queria poder me sentir segura em todos os lugares, mas com tanta gente falsa me cercando, isso nunca é possível. Abaixo o cardápio e vejo um par de olhos amarelados me encarando em resposta, ele parece extremamente curioso. — Uma verdade por outra? — O que é isso, um tipo de jogo?
— Sim… Tudo bem, eu posso fazer isso, dar respostas sinceras. — Pode perguntar. — Qual é o lugar em que se sente mais segura? Minha resposta é rápida como o coração de um beija-flor: — No meu quarto. — Posso perguntar o porquê? Se fosse outra pessoa, eu não responderia, mas a forma como parece que Rylan se importa, me faz querer responder tudo. — É onde me sinto eu… Ficamos em silêncio por um tempo e graças a Deus o garçom aparece para fazer nosso pedido, nos traz uma água e sinto vontade de morrer quando minha barriga começa a roncar. Faz muito tempo desde que comi alguma coisa, para ser mais exata, foi antes da festa, quando eu estava saindo com outro garoto. Vadia. A palavra brilha para mim, mas a voz do meu pai me parece ridícula agora. A vida é minha, só vou vivê-la uma vez. — Minha vez… isso é tipo, um encontro? Não tinha parado para pensar nisso, eu estou realmente sobre o efeito do álcool. Estava em um encontro ontem e hoje já estou com outro! Meu pai vai me xingar muito se descobrir, mas para a minha sorte ainda não existem aplicativos que rastreiam todos os meus passos(pelo menos, espero que não). — Você quer que seja? A respiração acelera e tento puxar um pouco mais de ar para meus pulmões. — Eu não sei, ontem eu estava com o Julian e… — Vocês estão namorando?— Não deixo de notar a rispidez em sua voz. — Não! Nem perto disso… só nos falamos algumas vezes e ele me convidou para sair. Sou estritamente proibida de namorar, por mim mesma. Não sei se já percebeu, mas meu pai é bem controlador, se ele descobrisse que eu tenho algum tipo de namorado… Provavelmente, ele ficaria o tempo inteiro lendo minhas mensagens, me vigiando(quem sabe, até colocaria alguém na minha cola), e o pior de tudo, todos os encontros seriam monitorados. Eu nunca conseguiria sair verdadeiramente com a pessoa, porque ficaria neurótica. — Mas ele te queria naquela festa e depois vocês saíram, então pensei…
— Não quero namorar… Não sei se é impressão minha, mas Rylan parece triste, talvez eu esteja lendo romances demais, porque sei que não combino com ele. E mesmo que eu namorasse escondido, em algum momento alguém descobriria, já que sou uma figura pública, então prefiro me isolar e sonhar com um romance em vez de vivê-lo. Nossos pedidos chegam, mas não quero que esse clima continue entre nós, então tento quebrar o gelo: — E você, qual seu lugar favorito? Rylan tira a atenção de seu donuts por alguns instantes antes de sorrir para mim, rugas adoráveis se formam em torno de seus olhos. Ah esses olhos. — Esse é um deles, mas há uma exposição de artes que gosto muito. Olho ao redor e vejo alguns quadros cheios de frases, estava tão absorta em meus pensamentos que não vi. “Não tenha medo da sua beleza” “Se isso não for a melhor coisa… minha reputação nunca foi pior, então ele deve gostar mesmo de mim” “Esse é o jeito que te amo” “Não consigo tirar os olhos de você” Não tem um padrão, são canções, talvez importantes para o dono do estabelecimento. Isso me faz gostar ainda mais de Rylan, ter me trazido aqui e ter falado tanto sobre si. — Sabe, o dono desse lugar tem muita sorte… — Porque? — Imagina quantas histórias começam aqui. Rylan me olha e eu sorrio, sei que existem bilhões de pessoas pelo mundo, mas nenhuma delas é tão bonita quanto esse homem me olhando, os olhos castanho amarelados e brilhantes. Os lábios voltados para cima, os ombros relaxados e os braços incrivelmente sexy’s apoiados na mesa. Eu poderia navegar por esse olhar, se eu pudesse me permitir algo, viver um romance e sonhar… Sonharia com Rylan. Para quem não gostava de ninguém, até que estou gostando de muitas pessoas ultimamente. Primeiro, Julian aparece na minha vida com todo aquele papo de “orgulho e preconceito”, agora Rylan me olha dessa forma e me trata tão bem que sinto vontade de chorar. — Preciso contar algo.— Diz repentinamente e ergo a sobrancelha.— O
meu pai é o dono, fico feliz por ter gostado. Sorrio e fico genuinamente feliz por tudo. Agradeço mentalmente à Rylan pela manhã maravilhosa que tive e dou uma espiada no meu celular, vejo uma mensagem da minha mãe. “Que horas você estará em casa, Juliet?” Mostro a tela do meu celular e Rylan faz uma careta, a pior parte é que até assim, ele é o ser humano mais bonito em que já pus os olhos. — Você claramente é filha única. — Sim, eu sou, e você também é, certo? — Sim, sou.— A resposta sai tão baixa que quase não escuto. É aí que percebo que Rylan esconde segredos, e que é tão quebrado quanto eu. Será que é uma boa ideia tentar juntar os meus pedaços com ele e me machucar ou ficar na minha para me reconstruir sozinha? A resposta é que sempre escolhemos mal, porque é a vida e temos que cometer erros para aprender com eles.
Capítulo 7 Posso ser meu próprio príncipe encantado.—Juliet.
Ao chegar em casa com um sorriso de orelha a orelha, encontro minha mãe com um olhar preocupado para mim. O sorriso esmorece, porque penso que fui pega no flagra. — Até que enfim você chegou. — Eu cheguei antes do almoço, não é como se eu tivesse fugido de casa, calma mãe. Para uma princesa presa no castelo, até que vivi um conto de fadas hoje.
Uma pena que isso não pode durar. — Está com um ar presunçoso no rosto. Toco minhas bochechas, e até me sinto a Cinderela quando descobre que o príncipe vai atrás do sapatinho de cristal. — Estou?— Dou um sorriso, mas ele logo esmorece quando escuto: — É porque você descobriu que traí seu pai? Tudo o que senti nessa manhã é rapidamente absorvido por uma simples frase. É quase como se o chão se abrisse e me engolisse. Meus olhos devem ter triplicado de tamanho, como diabos ela sabe que ouvi? — O quê?— Me fazer de desentendida é a única saída, até onde sei, Lisa pode estar jogando uma verde. — Ouvi seus passos na escada, querida, estava tentando de algum jeito conversar com você, por isso liguei tanto. Sento-me no sofá e jogo a cabeça para trás confortavelmente, não quero deixá-la irritada logo de manhã, pois sei que ainda vai trabalhar e isso a deixa uma pilha de nervos. — E eu pensando que meus passos eram como uma pena.— Sorrio, mas ela não acha graça e semicerra os olhos. — A madeira da escada está velha, o louco do seu pai estava concentrado demais na conversa para perceber, mas eu não. — Ah, mãe, isso já passou, faz um tempão que vocês se divorciaram… Fecho os olhos, não quero mesmo ter essa conversa agora, mas parece que não tenho escolha, pois a mulher senta ao meu lado e toca em meu braço. — Quero falar que errei, mas não fui a primeira.— Isso chama a minha atenção, mas não posso dizer que estou surpresa, pois Bruce é o tipo de homem que pode trair, mas não aceita uma traição. Machista. Suspiro e sento novamente, minha mãe está com os olhos focados em mim, passo a mão por meus cabelos, sinto alguns fios se soltando do couro cabeludo. Claro que ela não foi a primeira… — Pode continuar. — Seu pai se interessou por várias mulheres, eu cansei de ser rejeitada, então outra pessoa apareceu, Paul. — Porque não ficou com ele depois se divorciou? — Ah filha, há tantas coisas para falar. E então, passamos o maior tempão conversando sobre tudo o que aconteceu. Bruce havia traído a minha mãe, então sempre que ela pedia que fizesse testes de doenças sexualmente transmissíveis, o homem se enfurecia com ela e a
desprezava. Quando minha mãe conheceu Paul, estava disposta a dar entrada no divórcio e viver sua vida, tentar ser feliz no amor, porém as coisas aconteceram de outro modo. O meu pai descobriu por meio das conversas que os dois trocavam e jurou que se mataria se minha mãe se divorciasse dele, pois havia muita coisa envolvida. Mamãe esperou mais dois anos e finalmente conseguiu sua liberdade do relacionamento tóxico em que vivia, mas eu era apenas uma criança, então ela não quis ficar com Paul. — Você pensou em mim? Obrigada, mãe. Dou um abraço caloroso na mulher que me deu a vida, é possível amar ainda mais uma pessoa? Sei que ela não ganharia o prêmio de mãe do ano, mas é a minha pessoa favorita do mundo inteiro. — Sempre pensei em você, as vezes sinto vontade de desistir da empresa apenas para ficar mais um tempo com você, mas não deixarei Bruce vencer. — Inclusive, amanhã terei que ficar na casa dele. Reviro os olhos com a possibilidade de vê-lo, agora que sei disso. Como alguém pode coagir outra pessoa dessa forma? Espero nunca me apaixonar por alguém como meu pai, porque o homem é controlador e bipolar, e sinceramente, tenho medo dele. O homem sabe como manipular, faz isso como ninguém, quer dizer, matar alguém que está infeliz no relacionamento? — Nunca parei de ouvir coisas ruins dele, Bruce faz questão de passar tudo na minha cara, todo o tempo. Engulo em seco quando lembro das brigas e de como ele falava coisas horríveis com ela, a xingava de nomes que nem consigo pensar e a olhava com desprezo. — Ele é um cretino, mãe. — Juliet, ele é seu pai! — Não deixa de ser um cretino.— Dou de ombros e vejo um brilho no olhar da morena. Lembro das vezes em que ela entrava no meu quarto, no meio da noite, apenas para me dar um beijo e mesmo depois de tantas brigas por causa da empresa, sorria para mim como se fosse a mulher mais feliz do mundo. Nem consigo imaginar o quanto Lisa precisou se esforçar para me mostrar que tudo estava bem, quando na verdade, estava ruindo. Abraço-a mais uma vez e depois de dar um beijo em sua cabeça, vou para meu quarto, preciso processar essas novas informações. Quando a tela do meu celular brilha com uma nova mensagem, decido
esquecer os meus pais e focar na minha vida, em algumas situações, ser egoísta faz bem para a mente. Pego o aparelho e vejo a mensagem da minha melhor amiga. “Está aí?” Até parece que Amy estava adivinhando que tenho novidades quentinhas de Rylan para dar e tenho certeza vai surtar quando eu contar. Sinto como tivesse juvenescido vários anos. •• Enquanto a água cai pelo meu rosto, começo a pensar em Rylan. O homem não sai dos meus pensamentos. Quando esbarramos e ele me olhou daquela forma, temi que fosse derreter. Somente esse pensamento me faz querer beijá-lo, e além disso, escrevi outro poema sobre ele no blog. Teus lábios me provocam de uma maneira muito peculiar, daria muita coisa para senti-los nos meus. A cor que emana dos teus olhos me provoca arrepios. O toque dos teus dedos me fazem desejar por mais momentos contigo. Você consegue provocar meus sentidos e se instala nos meus pensamentos mais sombrios. Sinceramente, se ele tivesse uma namorada eu teria inveja dela, acordar e olhar para aquele rosto deve ser como acreditar que está em um paraíso. Não sou tola ao pensar que Rylan nunca levou outra garota para o estabelecimento de seu pai, mas prefiro acreditar que sou a única com quem ele se importa. A única para quem ele olha e deseja saber como é o beijo. Como será o toque de suas mãos nas minhas? Todas essas perguntas giram na minha cabeça, como se fosse um peão. Quero fugir para longe com ele novamente, deixar que ele se torne um porto seguro, um escape das coisas que me atormentam todos os dias. Ser apenas uma garota com seu All Star branco e comum, e principalmente, não ser herdeira de nada. Lavo meu cabelo mais uma vez com shampoo e deixo tudo isso ser levado com a água, todas as minhas ideias sobre a felicidade sendo levadas pelo ralo. Obviamente, não posso ficar pensativa demais, porque tenho certeza que meu pai perceberia. Tenho que colocar a máscara novamente, fingir que sou esperta o bastante para nunca me apaixonar. Não sou.
Capítulo 8 Um livro e um café podem curar um coração partido.—Juliet
Conversar com minha mãe foi a melhor coisa, e em parte, eu entendi, mesmo sabendo que é errado. Ter um pai assim deveria me fazer desistir do amor verdadeiro, mas só me faz desejar alguém especial e diferente dele. Deito na cama, depois de tomar um banho bem gelado(o clima quente está me matando), aliviada por mais um dia na santa paz de Deus. Passei o final de semana trancada no quarto, lendo e com medo que meu pai descobrisse sobre minhas saídas. Mas depois de um tempo, resolvi desligar minhas preocupações.
Marquei a psicóloga para hoje depois das aulas, preciso desabafar sobre tudo, contar para alguém que possa manter meu segredo. Ao chegar na faculdade, percebo vários olhares em minha direção, pessoas sorrindo de mim na maior cara de pau, sei que passei dos limites, mas todo mundo já fez alguma besteira quando estava bêbado. Se esse é o preço que tenho que pagar por me divertir, tudo bem. — Juliet!— Escuto o grito ensandecido de Amy e reviro meus olhos. A garota vem correndo em minha direção. — Bom dia, pra você também. — Tem uma foto sua…— Enquanto Amy respira fundo para continuar a conversa, meu coração parece que vai sair pela boca, antes que ela termine a frase— De calcinha. — As coisas sempre podem piorar na minha vida?— O sarcasmo em minha voz atrai a atenção de algumas pessoas. Quando eu fico nervosa, falo mais alto do que o normal e isso me deixa irritada. Rylan disse que ninguém havia visto e agora há uma foto minha de calcinha? — Você tem que ver com os próprios olhos. Quando eu pego o Iphone da minha amiga, percebo que as coisas podem piorar sim, porque na foto, claramente estou bêbada, jogada no chão e o vestido levemente levantado, bem exposta. A calcinha de renda vermelha me faz querer morrer. — Quem foi que vazou essa foto? — Recebi de umas idiotas da minha sala, mas disseram que foi um homem que vazou. Garotas não tiram foto de garotas. — Será? Já vi de tudo. Penso em Sofie e em sua raiva sem fundamentos, não quero julgá-la, mas a forma como a garota me olha é assustadora. Estou tentando me manter firme, engulo em seco algumas vezes para segurar as lágrimas, mas não há nada que eu possa fazer para amenizar isso. Uma vez que uma foto é vazada, sempre ficará arquivada. — Está tudo bem? — O que você acha?— Não queria que minha voz tivesse saído tão fria e áspera dessa maneira, mas o que eu posso fazer? Acabei de descobrir que algum filho da mãe fez isso comigo. E agora que todo mundo já viu, é tarde demais. — Não tem como descobrir quem fez isso. — Eu sei, Amy, o que eu devo fazer? — A única coisa que podemos fazer agora, é esperar isso passar.
Suspiro mais uma vez. Queria poder apagar alguns dias da minha vida, mesmo que isso levasse os momentos bons que tive. — Ou tentar achar quem fez isso… — Não mudaria o que ele fez. — Se meu pai descobrir… estou morta, está entendendo, Amy? — Até parece que ele seria mal com você, seu pai te ama. Ele não bate muito bem das ideias, mas não te machucaria. Amy tem uma visão muito boa do meu pai, porque ele sempre a trata de forma gentil, mas se aquele homem descobrir sobre essa foto, ou pior, vê-la, estou morta. Ou talvez, a minha melhor amiga só queira me deixar mais tranquila. Meu pai vai me perseguir por toda a vida e jogar na minha cara que sou uma vadia, que tem uma foto minha bêbada e muitas outras coisas. — Estou apavorada, Amy, mas não quero demonstrar, entende? Meu pai odeia tudo o que envolve festas de universitários e odeia mulheres bêbadas. Já sinto minhas mãos ficarem levemente trêmulas, mesmo que por fora eu esteja indiferente. Olho para o corredor que passo todas as manhãs, vejo as pessoas passarem por mim e sorrirem. Se isso não for o pior… — Tudo vai ficar bem.— Desta vez é Amy que está otimista, pois estou particularmente assustada com tudo o que está acontecendo nos últimos dias. — Realmente espero. O sinal toca, minha melhor amiga aperta minha mão um pouco mais forte, e vai embora para a sua aula, enquanto isso, tudo o que eu queria era chorar em posição fetal. Realmente não posso chorar, porque é isso que eles querem. •• Uma aula depois e eu já quero morrer! Tive que ignorar todos os olhares enviesados, e nunca fiquei tão feliz com o intervalo. Vou até a biblioteca(tenho que me preparar psicologicamente para minha primeira terapia da melhor forma), quem sabe eu me sinta um pouco melhor? Amy não veio comigo e aprecio que me conheça bem o bastante para entender que quero um tempo para mim. — Olha quem está aqui!— Escuto a voz de Julian e sorrio. O ruivo está com os cabelos úmidos e fica extremamente sexy dessa forma, os olhos azuis brilham quando me aproximo. Parte de mim queria vir até aqui para ver esse rostinho bonito, mas há algo de estranho nele hoje, talvez esteja em um dia ruim assim como eu. — Oi.— Aceno e me sento ao seu lado, no mesmo lugar onde ficamos
todas as vezes. — Você parece péssima. — Vazaram uma foto minha, não foi algo muito legal. Vejo o pomo de adão de Julian subir e descer, tenho quase certeza de que ele viu e provavelmente está muito constrangido. — Sinto muito… — Você não tem culpa, além disso fui eu quem te chamei para aquela maldita festa.— Baixo minha voz até virar um sussurro, quando falo:— Deveria ter ficado na minha. Depois que soube sobre a traição da minha mãe, surtei. Olha onde isso me levou… — Mesmo assim, eu devia ter feito algo, deveria ter visto quem fez isso. — Não se culpe, estou falando sério. Julian assente e depois de conversar com ele, fico um pouco mais relaxada, o homem é um bom amigo, não posso negar isso. Além de gostar de orgulho e preconceito, sério! — Imagina um celular caindo na água e virando uma borboleta. E lá vamos nós com a brincadeira de situações improváveis… — Na verdade, estava imaginando um médico com um vestido de princesa enquanto faz uma cirurgia muito importante. Escuto Julian gargalhar e até eu fico impressionada comigo, minhas situações são loucas demais. Como eu disse antes, a mente de um escritor é bastante criativa. — Ele estava de peruca? — Claro! Uma peruca loira e grande, ele até se maquiou e tudo. — Você é uma graça. Dou um sorrisinho e como tudo o que é bom dura pouco, o tic tac do relógio me faz voltar para o corredor, os intervalos são bem curtos por aqui. — Preciso ir. Julian assente e volta a ler quando me afasto. Estou segurando os livros com mais força do que o habitual, os passos apressados e tenho sorte de não haver tantas pessoas nesse exato momento. — Juliet!— Um arrepio percorre o lado direito do meu corpo, o tom de voz rouco me enlouquece um pouco mais, mas, ao mesmo tempo, me tranquiliza. Me viro e encontro os olhos mais encantadores do mundo inteiro, nos meus, não sabia que ele estava tão próximo, por isso quase trombamos. — Rylan, oi. Passo os dedos pela minha testa que estava franzida, a respiração de
Rylan está entrecortada, o que significa que ele estava me procurando. — Vim ver como você está. — Estou bem, obrigada por perguntar. Não sei o que fazer com as minhas mãos, é tão estranho ter um momento legal com alguém e depois encontrar essa pessoa… — Sabe, me importo com você.— Tento parecer indiferente, mas ele fala sem um pingo de ironia e isso amolece meu coração. Depois do impacto inicial, lembro de algumas perguntas que fiz a mim mesma quando soube dessa foto misteriosa. Agora posso fazê-las para alguém que estava lá no momento em que aconteceu. — Rylan, seja sincero, se aquela não era sua fraternidade, o que estava fazendo naquela festa? — Há algumas coisas que não posso contar, Juliet.— Não parece que o loiro está mentindo, na verdade, a sinceridade nos olhos amarelados me espanta. Rylan se aproxima um pouco mais e percebe que algumas pessoas fixam os olhos em nós, mesmo assim, parece não se importar com a plateia. — Você nem gosta de festas!— Dou de ombros e falo o mais baixo possível. — Eu nunca disse isso. — Foi o que pareceu no dia em que entrei no seu quarto. — Não posso te contar o porquê, mas tem que confiar em mim… não está pensando que eu tirei aquela foto, está?— Uma expressão de dor quase física passa por seus olhos e fico mal por duvidar dele. O homem cuidou de mim quando eu estava caindo de bêbada. Lembro da nossa conversa em seu quarto naquele dia, foi estranho Rylan ter falado sobre uma possível foto, mas não acredito que faria isso comigo. — Não sei, estou tão confusa… O desapontamento no rosto de Rylan, me faz ter a certeza de que não foi ele que fez isso comigo. Quando alguém tirou aquela foto, eu estava bêbada, inconsciente, mas agora estou sóbria e magoando alguém que tem sido legal comigo. — Já me chamaram de várias coisas, mas nunca de assediador! Saiba que eu nunca faria isso com ninguém, muito menos com você. — Me desculpe, Rylan… eu não queria…— Ele se vira e eu seguro seu antebraço, o gesto o faz parar por alguns segundos, mas logo em seguida, se desvencilha do meu toque e me deixa sozinha. Tento pensar positivo e torcer para que tudo dê certo no final, até porque, ainda há tempo de colocar tudo no lugar, não é possível que o castelo de Juliet Riviera tenha desabado do dia para a noite.
Capítulo 9 Rylan
Certa vez eu estava no supermercado, quando vi uma garota com seus longos cabelos esvoaçantes andando pela rua, pensativa, o olhar distante refletia tristeza. Tudo aconteceu bem rápido, mas foi como se o tempo desacelerasse enquanto ela andava. Quase desisti de comprar o que minha mãe mandou, porque eu já tinha visto a mesma garota em uma aula na faculdade, mas minha mãe surtaria comigo se eu voltasse sem as malditas compras. Ela sofre de ansiedade, as vezes quando
está em crise fico com medo do que pode fazer. Algumas mulheres da família dela enlouquecem, o maior medo da minha vida é isso acontecer com ela, pois eu não saberia lidar. Por isso eu e meu pai fazemos de tudo para não perturbá-la, isso quase a matou uma vez, eu quase a matei, e até hoje sofro as consequências. Quase como se houvesse uma cicatriz, lembrando das coisas que posso perder se for pego. Mas aquela garota me fez pensar que talvez existam pessoas mais tristes do que eu. Que não estou sozinho. Juliet Riviera sempre esteve longe de todo mundo, com um escudo de diamante protegendo a sua vida. Nunca deixava ninguém se aproximar, mas de alguma forma Julian conseguiu fazer isso, se tornou confiável. E faz poucos dias que descobri que ele fez uma aposta para isso, um completo babaca! Tentei ficar longe de Juliet, quando Julian me pediu ajuda para convidála, mas agora fico com raiva de mim, pois ele não merece alguém como ela. Vou tentar alertá-la sobre aquele idiota, não quero que ela se machuque. Mesmo que Juliet duvide de mim em algum momento. Quando ficamos juntos no outro dia, me senti eu, de uma forma que não me sentia faz tempo. Sem andar pisando em ovos o tempo inteiro. Sem medo de causar um ataque de nervos em alguém. Sem medo de ser descoberto.
Capítulo 10 O tempo nublado é apenas um prenúncio da tempestade, cabe a você escolher o guarda-chuva certo para passar por ela. —Juliet
Nunca me senti tão vulnerável. É como se qualquer pessoa pudesse me atingir; como se eu estivesse no meio de um tiroteio, sem saber para qual direção correr. Consigo sentir meus olhos marejados, enquanto as lágrimas anseiam por uma saída rápida. Parece que todos estão contra mim. Ainda tenho que conversar com a única pessoa que pode me dedurar, que
gosta do meu pai e que não gosta tanto assim de mim. — Henri!— Vejo o homem saindo de uma de suas aulas e me adianto até ele. — Oi. Parece que Henri está vendo um fantasma, talvez esteja tão chocado com minhas atitudes quanto eu mesma estou. — Queria te pedir uma coisa. — Hum? — Sei que provavelmente viu minha foto… — Vi, inclusive quase nem acreditei nos meus olhos. Seguro em sua mão úmida por causa do suor e depois fixo meus olhos nos seus. — Por favor, não conte nada para o meu pai. Meu colega/vizinho solta um suspiro e faz algo que eu nunca esperaria. Seus braços me envolvem em um abraço e mesmo com o barulho de pessoas passando ao nosso redor, nem percebo. É tão estranho Henri estar me tratando bem que quase fico feliz. — Pode contar comigo. — Obrigada. — Somos vizinhos há muito tempo, nunca te deduraria. Criamos um tipo de amizade, Juliet. Quem sabe um dia eu precise de você? Traiçoeiro… Assinto e agora já posso voltar a respirar normalmente, pois mesmo que tenha segundas intenções, quase posso sentir um peso deixando os meus ombros. A ideia do meu pai descobrir sobre essa foto fica cada vez mais distante. Graças a Deus, Bruce não tem o contato de ninguém da faculdade. •• Respiro fundo e deixo o ar oxigenar todo o meu sistema, antes de entrar na sala da psicóloga da faculdade, a sensação é aterrorizante, porque estou prestes a contar tudo para uma completa estranha. Sento-me de frente para a mulher que está na faixa dos seus cinquenta anos, me olha com bastante paciência e isso me tranquiliza. Enrolo meus cabelos no dedo, e preparo para começar a despejar tudo o que vem me aborrecendo nos últimos dias(quem sabe, anos). — O que fez você vir até mim, querida?— O tom de sua voz é como um calmante para mim, então relaxo meus ombros e começo: — São tantas coisas… nem sei por onde começar. — Isso pode parecer um pleonasmo, mas comece pelo começo.— A mulher sorri e vejo que seu nome é Angela, combina perfeitamente com ela.
— Posso te chamar de Angel? — Claro que sim, continue. — Bem…— Vasculho na minha memória, as palavras que eu estava planejando dizer ao chegar aqui— Minha família é um pouco diferente. — Sei disso, impossível não conhecer os seus pais. — Não sei se deveria falar sobre isso, já que eles são conhecidos, mas acho que preciso. Faço uma pausa, mas, pelo visto, Angela quer que eu fale. Certo, terapias são assim mesmo. — Desde pequena, vivo sob pressão, nunca tive a chance de viver a minha vida, sempre vivo em função dos meus pais. Carrego os problemas deles, quase como se fosse uma sombra. — Compreensível… — É exaustivo ficar pensando se eles vão brigar, porque isso acontece com frequência. Mesmo que meu pai, o Bruce, more na casa ao lado, procura motivos para visitar a minha mãe e sempre discutem. — Realmente difícil. Estou com falta de ar e ainda nem terminei de falar todas as coisas que preciso, entretanto já me sinto um pouco melhor com o desabafo. — E então, eu conheci um garoto, mas meu pai é controlador, nunca permitiria… — Você acha que o problema está no seu pai? A pergunta me deixa sem chão, pois eu nunca havia me feito tal pergunta, mas meu subconsciente já havia colocado a culpa em Bruce por toda a minha ansiedade. Falar sobre isso faz tornar real. — Ele me prende como se eu fosse um pássaro, só porque sou a única herdeira do “trono” deles. A princesa trancada no castelo. — Conte-me mais.— A maneira como ela cruza as pernas e parece relaxada me irrita, porque estou com vontade de chorar. — Estou no início da vida adulta, preciso sair e me divertir, fazer novas amizades, embora eu aprecie as que eu tenho, para ser mais exata, apenas uma, e o nome dela é Amy. — Seu pai deixa você ter amizades? — Na verdade, diz que as pessoas só me procuram por interesse, então acho que bloqueei as pessoas da minha vida. Uma lágrima escapa e então mais outra, e mais outras duas, então faço uma pausa para não perder o controle. — Achei que se eu pudesse me divertir por uma noite, as coisas mudassem e agora tudo virou uma grande bola de neve, porque tiraram uma foto
minha de calcinha! — Como você se sentiu? — A primeira coisa que veio na minha mente foi o meu pai, porque se ele descobrir, não sei o que acontecerá. — E você? Se não houvesse seu pai? Como se sentiria? Enxugo as lágrimas com as costas da mão e paro por alguns instantes para refletir no que Angel acabou de me perguntar. Sem o meu pai na equação, muita coisa mudaria. Não que eu queira que Bruce morra, nem nada disso, porque eu o amo, mesmo que ele seja assim. Ele é meu pai! — Acho que eu mandaria as pessoas tomarem naquele canto. — Quantos anos você tem, querida? — Vinte e um. — A minha dica é que aproveite a sua vida, não pense muito no seu pai, eles nem sempre descobrem o que os filhos fazem. Além disso, é só uma foto de calcinha, poderia ser pior. Pode ser uma simples foto, mas me senti humilhada, exatamente o que as pessoas queriam quando espalharam o conteúdo por aí. — E se ele descobrir? — Você já tentou conversar com ele? Desabafar sobre os seus sentimentos? — Bem, não, mas… — Na maior parte das vezes, nós nos privamos por causa do medo. Enfrente o seu medo, Juliet. Respiro fundo mais uma vez e Angela me passa a caixa de lenços. E isso quase me faz chorar mais, mas seguro as lágrimas mais um pouco. — Não deveria falar isso, mas meu pai é um pouco louco… — Mas ainda é seu pai, deveria tentar a conversa, se mesmo assim ele te privar das coisas, você terá que seguir seu coração, se aceita o que ele diz ou não. Assinto e meus lábios se curvam para cima, me sinto bem melhor e a foto já não me incomoda tanto, é só uma foto. E é o meu corpo. — Obrigada, você realmente foi um anjo na minha vida.— Vou até ela e dou um abraço apertado, o gesto surpreende a mim mesma, porque nunca fiz isso com alguém que acabei de conhecer. — É o meu trabalho. Solto uma gargalhada e ao sair da sala, é como se eu fosse uma outra pessoa, totalmente renovada… e com muita vontade de chorar. Terapias são mais estranhas do que imaginei.
E com o fim de mais um dia eu posso ir embora para a minha casa. Pelo menos, é o que eu queria fazer, antes de alguém me puxar pelo braço até uma sala escura e fechar a porta atrás de mim. Ao me virar, vejo que é Rylan, na meia luz posso ver o rosto perto do meu. Com certeza, não queria vê-lo depois de chorar como um bebê ao nascer, meus olhos devem estar horríveis e meu nariz deve estar escorrendo. — Rylan?— A rouquidão da minha voz o faz prensar os dedos contra a minha boca. Meus hormônios não entendem que eu não quero ficar excitada, mas me desobedecem mesmo assim. — Sei que deve estar surpresa. Que talvez eu não devesse falar com você, mas não consigo evitar… — Então me perdoa por julgar você?— É o que tento falar, mas fica difícil quando há dedos que te impedem de pronunciar corretamente as palavras. O loiro passa a mão pelos meus cabelos e sinto algo crescer dentro de mim, essa proximidade entre nós dois nos últimos dias está me deixando confusa. E mesmo que Julian tenha captado parte da minha atenção, Rylan consegue captar bem mais que isso, o meu corpo e todos os meus pensamentos. — Sim, deve estar confusa demais para pensar razoavelmente. Além disso, tenho um convite. — Um convite pra mim? Talvez Rylan não tenha percebido que ainda está com a mão nos meus cabelos e agradeço por estarmos afastados da multidão de universitários. — Posso fazer um pouco de surpresa? — Vai me levar para outra empresa do seu pai? — Podemos falar sem fazer perguntas? Percebo isso e começo a rir, com isso me aproximo um pouco mais de Rylan sem querer, seguro seu braço, onde há uma veia grossa e sexy. As batidas do meu coração começam a acelerar e a velha inquietação volta a aparecer. Os músculos do maxilar dele se tensionam e percebo que ele se sente atraído por mim assim como me sinto por ele. — Sim.— Minha voz sai em um sussurro, engulo em seco, não sei se estava preparada para isso. Não tenho certeza se devo sair com Rylan novamente. Como vou conseguir me controlar e não beijá-lo? — Não vou te levar para lá novamente…— Responde a minha pergunta anterior. Sinto seus dedos encontrando os meus e quando olho para nossas mãos, é como se todas as minhas sensações estivessem ali, concentradas em apenas um
lugar. O beijo que Julian me deu nem de perto é tão erótico quando esses dedos nos meus. Rylan está me torturando, e só piora a cada segundo. Preciso urgentemente sair daqui e inventar alguma desculpa. — Não posso ir, sinto muito.— Tento ser bem clara, mas minhas pernas estão moles e minha voz está falhando. — Por que? — Tenho um trabalho para entregar amanhã. Queria que fosse verdade, mas tenho que mentir, é o único jeito dele me deixar de lado um pouco. — Tudo bem, te vejo amanhã? Tento colocar um sorriso no meu rosto, recusar uma saída nunca foi tão difícil… — Claro. Quando ele tira as mãos das minhas e vai embora, me dando um sorriso de despedida, fico com vontade de voltar atrás e ir com ele, mas isso apenas pioraria a situação. Por isso, respiro e tento gravar tudo na minha memória, para ter certeza de que não foi um sonho. Rylan deixou a porta entreaberta e dou uma espiada enquanto se afasta. Ou um desejo da minha mente de virgem. Hoje, tenho que ir para a casa do meu pai, e se por acaso eu me atrasar, ele vai perguntar onde estava. Não quero um interrogatório. E como a minha mãe voltou a trabalhar, Bruce deve estar com muita raiva. Melhor não testar a minha sorte…
Capítulo 11 Maior parte das vezes, a verdade está na nossa frente, mas precisamos querer vê-la. —Rylan
Acordo com mal humor. Ontem, quando cheguei na casa do meu pai, Mary disse que ele passaria o dia inteiro no trabalho. Nem consigo explicar o alívio que senti ao ouvir isso. Principalmente, porque se o homem estivesse uma fera, me deixaria em paz. Porém, quando desço para tomar meu café da manhã(com meu pijama de
bolinhas), Bruce está com um sorriso no rosto preparando ovos com bacon. — Bom dia, querida! Franzo minha testa, pois é a única coisa que posso fazer, mas meu pai não percebe, pois está muito interessado no conteúdo da frigideira. — Bom dia. Mal consigo abrir meus olhos, tamanho o meu sono hoje, ontem tive um sonho estranho, como se algo tivesse entrado no meu ouvido. Passo a mão pelos meus cabelos e ando lentamente até uma das cadeiras de madeira, tenho certeza que minha voz está extremamente baixa ou até ter soado como um resmungo. — Acordei disposto e como quase nunca passamos um tempo juntos, pensei que seria melhor começar. Sabe quando se escuta uma hiena sorrir? Deve ser algo parecido com Bruce tentando ser gentil comigo. Estou com um sentimento estranho, mas, mesmo assim, assinto e recebo ovos e bacon fumegantes em um prato de porcelana, meu pai não gosta de ser contrariado, então é melhor entrar no papel de filha perfeita. — Como anda suas notas na faculdade? — Todas muito bem.— Pelo menos, uma verdade para contar, quer dizer, imagina se ele me perguntasse sobre as festas? — É… não faz mais do que obrigação, já que quis fazer esse maldito curso. E lá vamos nós. Sabia que ele daria um jeito de estragar tudo. Engulo em seco e tento não ficar triste com o tom frio da sua voz, mas aqui estou eu, dando o meu melhor para não passar o dia pensando nisso. — Sei disso. Sinto muito não ser o que você escolheu. Bruce me olha com um sorriso, e novamente, sinto como se minha coluna fosse se desestabilizar, estou me sentindo como uma presa prestes a ser devorada pelo predador. — Tem conversado com alguém? — Não… Os meus olhos começam a marejar, já sei o que vem a seguida… — Deixe-me ver seu celular, querida, tenho que saber se alguém está tentando te enganar. Achei que Bruce não fosse mais me pedir isso, mas como sempre, eu estava enganada. É claro que ele vai fazer esse tipo de coisa enquanto eu morar por perto. — Pai… tenho 21 anos, sei muito bem quando alguém tenta me enganar. — Tento soar o mais fria possível, mas isso não adianta muita coisa, pois ele
franze a testa e coloca a máscara de ofensa no rosto. — Mesmo assim, me mostre, já que não tem nada a esconder.— Bruce estende a mão e a raiva começa a fervilhar minhas veias, aperto o celular com força o suficiente para fazer os meus dedos doerem. A contragosto, entrego o aparelho e me sinto nervosa, não há nada com o que me preocupar, mas meu coração sempre acelera quando Bruce quer vê-lo. Cerca de dez minutos depois, vasculhando as opções e não encontrando nada, meu pai me entrega o Iphone e dá um sorriso. — É, não tem nada, mas vou ficar de olho. Tento prender minha respiração, a raiva aumentando dentro de mim. Não há uma só lembrança em que ele não tenha destruído. Vou ficar de olho. Como se eu fosse uma garota que vive pelo mundo ou uma drogada que precisa de proteção. Depois de comer o que Bruce preparou, e não conversarmos sobre mais nada, vou até meu quarto. Assim que fecho as portas, me sinto realmente segura, olho novamente minhas mensagens e seguro o celular em meu peito. Nunca tive nada para esconder, mas depois de hoje, sinto que deveria. Meus pensamentos estão confusos, não quero fazer as coisas com raiva e me arrepender depois, isso já aconteceu e agora as pessoas têm uma foto minha de calcinha. Tenho que respirar fundo e seguir em frente, sem pensar em quão presa eu sou, e em como vivo em uma prisão invisível. Coloco o celular entre meus peitos e escuto as batidas ressoarem nele, depois das coisas que senti ontem, fiquei com medo que Bruce fosse descobrir algo sobre Rylan. Isso é impossível, mas sempre sinto como se eu fosse vigiada. Cada segundo do meu dia é assim. Vou dizer como é se sentir dessa forma… assustador. •• Atrasei-me um pouco para a primeira aula, mas descobri que o professor faltou, então estou aliviada. — Oi, Juliet…— Sinceramente, quero entender como uma voz pode causar tantos efeitos em mim, mas essa rouquidão junto com a gravidade dela explicam. Viro-me lentamente e sorrio, mas o que eu não esperava, era que Rylan estivesse tão bonito hoje. Camisa cinza de gola alta, não tem como ser tão sexy tão cedo, tem? — Oi.— Passo a mão pelo meu cabelo, aparentemente nervosa e quando ele tensiona os músculos do maxilar, sinto como se eu estivesse morrendo um
pouco por dentro. Um balde de água fria é jogado mentalmente em mim quando lembro da minha manhã. Desde que meu pai olhou meu celular, fiquei com esse pensamento de que ele está me vigiando em todo lugar, dado o histórico, não acho muito difícil. Uma vez, minha mãe estava voltando para casa quando o encontrou na janela, espiando-a enquanto entrava em casa. Ele queria que soubesse que vigiava ela. — Em que está pensando? — Eu… Hã… nada.— Encosto o braço na parede, tentando parecer descolada, mas sou uma idiota por pensar isso. — Fez seu trabalho? Franzo a testa me perguntando sobre o trabalho, mas logo lembro da mentirinha que inventei ontem. — Claro. — Você é uma péssima mentirosa!— Rylan começa a sorrir e vejo ruguinhas surgirem ao redor de seus olhos, o homem é realmente lindo. Senhor, me ajude! — Me desculpe, eu não queria mentir para você, mas tudo na minha vida é complicado. Rylan cruza os braços e quando o vento passa por nós, sinto seu cheiro, um perfume forte, mas delicioso, e o toque de menta me deixa desconcertada por perceber até os mínimos detalhes. — Só desculpo, se sair comigo. — Rylan! Eu tenho provas daqui a duas semanas. O loiro se aproxima ainda mais de mim, como ele é uma cabeça mais alto, tenho que erguer a minha, os olhos brilham com o sol e é uma imagem tão linda que me deixa sem ar. Dou uma rápida olhada para sua boca e me pergunto se ele tem um sabor tão delicioso quanto seu cheiro. Eu suspiro, literalmente suspiro e me arrependo logo em seguida, porque obviamente ele percebe. — Vamos, aposto que vai se arrepender se não for. Escuto passos se aproximando e percebo uma cabeleira ruiva que me chama a atenção, o sorriso que estava preenchendo o meu rosto é rapidamente transformado em uma expressão séria. — Juliet…— Julian está com os braços cruzados e faço um esforço quase sobre-humano para não revirar os olhos. Apesar de Julian gostar de orgulho e preconceito, e me fazer sorrir, sei de quem gosto mais. E quem é verdadeiro comigo.
— Oi, Julian. — Queria te acompanhar até a sala de aula. Olho a hora no meu celular e vejo que em meia hora, outra aula começa. Umedeço meus lábios e fixo meus olhos em Rylan, antes de falar: — Rylan, a resposta é sim. Antes de me afastar, posso ver o sorriso em seu rosto, corro até o corredor para tentar clarear minha mente, mas Julian me segue com um olhar questionador. — Já estava com saudade desse seu rostinho bonito.— Tenta me enganar mais uma vez com a sua lábia. — Deixa de graça. Julian olha para os lados e quando não vê ninguém, me puxa até uma sala vazia e escura. Já estou ficando acostumada com essa mesma situação e garotos diferentes. Ai meu Deus, eu sei o que ele quer fazer comigo! — Parece que faz anos desde que te beijei.— É a única coisa que ele diz, antes de me beijar, nem sequer tenho tempo para pensar. Meu cérebro está a mil(e confesso que o beijei por um milésimo de segundo), antes de empurrá-lo para bem longe de mim. — Julian! — Me desculpe, é que eu realmente viciei nos seus beijos. — Não pode fazer isso sempre que quiser. — O que mudou desde o nosso último encontro? E o que você estava falando com aquele babaca do Rylan? O fato de Julian pensar e querer controlar a minha vida e as pessoas com quem converso, me faz criar um repúdio cada vez maior dele, coisa que não sabia que era possível. — Quem está agindo como um babaca é você, além disso o que eu falo com ele não é da sua conta! Nunca pensei que o ruivo fosse esse tipo de pessoa, que gosta de controlar. Isso é realmente decepcionante! Nós mal nos conhecemos e ele acha que pode mandar em mim e com quem eu converso? — O.k., há milhares de garotas por aí, posso tê-las na minha mão. Não acredito que beijei esse homem! Além disso, não quero outra pessoa me controlando, puxo a alça da minha bolsa e saio da sala sem falar mais nada. Não consigo acreditar na minha própria estupidez. Como eu não percebi que esse tempo todo Julian é um manipulador desgraçado? Fecho os olhos com força e vou até o banheiro, meus pensamentos
mudam de foco quando vejo o número da minha mãe nas chamadas perdidas. Retorno, mas ela não atende de imediato. — Mas que droga! Olho meu reflexo no espelho. Porque eu tomo as piores decisões? Sei que sou um ser humano e que errar está na programação, mas sempre faço escolhas ruins. É porque nunca posso fazer escolhas. O pensamento simplesmente brota e fico chocada com meu subconsciente. E ainda tem o fato de eu não me achar atraente. Observo minha pele morena, os cabelos longos e pretos, lisos. Sempre achei meus olhos grandes demais, nariz longo, maçãs altas. Porque me sinto tão impotente diante desse tipo de situação? É o questionamento que fica na minha cabeça durante todo o dia. Por algum motivo, a pequena discussão com Julian, me faz chorar e lembro da minha terapia, parece que tudo está ligado. Eu sempre falei que evitaria pessoas como o meu pai, e de repente, um Bruce aparece na minha vida. Sinto como se estivesse cometendo os mesmos erros da minha mãe. Um sábio aprende com os próprios erros, eu deveria saber disso, em vez de estar cometendo-os. Coloco a mão no meu coração e respiro fundo, mas nada o impede de bater loucamente sob os ossos que o protegem. Meus pensamentos são como um campo minado e fico nesse jogo o dia inteiro.
Capítulo 12 A vida é incrível, mas as pessoas não sabem aproveitá-la da melhor maneira. —Amy
— Você está esquisita… É a única coisa que meu amigo diz enquanto andamos em direção da saída da faculdade. Rylan já estava me esperando quando larguei, com as mãos nos bolsos da calça, uma posição realmente excitante. Estamos no começo de março, entretanto o clima já está esquentando há algumas semanas, a primavera está perto e com ela, vem o meu aniversário.
Estou tão absorta nos meus próprios pensamentos que não vejo quando Rylan me entrega uma rosa vermelha. — Obrigada.— Cheiro a rosa e seu aroma é incrível.— Gosto de rosas.— Assim que as palavras deixam minha boca, percebo o quão ridícula pareceram, quem em sã consciência não gosta de rosas?— Digo isso porque eu também gosto de gardênias… ai meu Deus, estou falando demais. Olho para o céu, tentando distrair o meu embaraço, mesmo fazendo calor, vejo umas nuvens mancharem o azul, espero que não comece a chover, porque quando há tempestades, meu pai chega mais cedo em casa. — Você consegue ser ainda mais linda que essa rosa. Sinto o rosto esquentar e dou um sorriso tímido, por sorte, chegamos ao jeep sem que eu morra de vergonha e Rylan abre a porta para mim, um gesto que eu acho incrivelmente gentil. — Obrigada, Rylan, mesmo. — Pode me agradecer depois.— Ele dá uma piscadinha e solto uma risada baixa. Pegamos a estrada e dessa vez eu não penso em ninguém, apenas no tempo que estou tendo com esse homem bonito, até porque, mesmo se eu estivesse sendo vigiada, não me importaria, valeria a pena. — Ei, Rylan, para onde vamos hoje? Tento descobrir dessa vez, mas ele balança a cabeça e olha rapidamente para mim antes de voltar a focar na rodovia. — Não me peça as coisas assim, fica tão fofa que é difícil dizer não. Umedeço meus lábios e cruzo as pernas. — Você me acha fofa? Sorrimos, e eu acho muito estranho alguém me achar fofa, na verdade, ninguém nunca me disse nada parecido. Ah, agora entendi, sou fofa, mas não interessante ou bonita… — Sim, e muitas outras coisas, mas falamos disso depois. O sorriso volta a aparecer no meu rosto. Uma coisa que sei sobre Rylan é que ele gosta de deixar as pessoas curiosas, sempre deixa tudo para depois, isso me mata um pouco por dentro. — O quê? Não pode me deixar ansiosa assim.—Cruzo os braços.— Totalmente injusto. Nunca fui o tipo de pessoa que se abre rapidamente com as pessoas, nem sei quem é essa pessoa que me tornei em menos de um mês, mas essas mudanças estão sendo bem-vindas. Sem medo do que pode acontecer. Se eu morresse, pelo menos teria experimentando coisas diferentes e saído um pouco do meu casulo.
— Vai ficar feliz por não saber antes. — Vou? — Estou apenas deduzindo, nunca sabemos totalmente de alguma coisa. — Você é tão irritante!— Tento falar seriamente, mas estou rindo no final da frase.— Agora estou ainda mais curiosa… Inclino-me e ligo a rádio, mudando as estações para tentar achar algo legal e tornar o clima ainda mais agradável entre nós dois. A concentração dele na pista é sexy e desconcertante, e mesmo me deixando curiosa, Rylan é único e especial. Ele me deixa muito feliz. — Sou mesmo, mas gosto de fazer surpresas. — Bem, eu as odeio, então não sei como podemos ser amigos. Rylan solta uma risada e coloca de volta as suas músicas antigas, ficamos no silêncio agradável, ele até canta algumas, enquanto eu faço uma dança improvisada, nos divertimos até chegar em uma estação de metrô. — A gente vai parar antes? — Não, é aqui mesmo. Esboço um sorriso antes de tirar o cinto de segurança. Estou conhecendo Rylan e já entendi que as vezes é um pouco louco(no bom sentido), porém, prefiro acreditar que iremos nos divertir, só de estar há quilômetros da cidadezinha em que moro já me sinto abençoada. Mesmo que seja em uma estação de metrô. Eu só quero conhecê-lo melhor. Desde aquela noite em que conversamos, sinto que tudo mudou. Não sei como apenas pensar no nome de Rylan faz tudo mudar. Passei a observá-lo com outros olhos, por alguma razão. Sei que sou jovem e que deveria pensar em me formar e ir embora para bem longe, mas talvez isso possa ser adiado. Assim que saio do jeep, sinto o vento no meu rosto, não é uma cidade grande, é uma daquelas em que as pessoas passam e não querem conhecer. Vim de vestido hoje, então está um pouco difícil segurar a saia, ademais queria ter prendido meu cabelo, porque ele está por todo meu rosto. — Gosto desse lugar e espero que goste também. Suspiro e finalmente o encaro, Rylan e seus belos olhos, não sei como ele me enxergou, a Juliet embaixo de todos os escudos e não sei porque permiti isso. — Porque você sempre me leva para longe da cidade? — Sei quem são seus pais, Riviera, ficaria meio difícil as pessoas não fofocarem. Andamos em direção à estação lentamente, não sei o que o loiro preparou para mim e fico ansiosa, as mãos geladas.
— Não gosta de atenção?— Pergunto e espero por uma resposta positiva, porque as pessoas chegam em mim por causa da mídia, é uma das piores coisas em ser eu. Rylan assente e consigo me sentir ainda mais à vontade com ele, um pouco aliviada, porque dessa maneira sei que ele também não gosta dos holofotes virados para si. — Obrigada.— Dou passos maiores para acompanhá-lo e sorrio. — Você me agradece demais. — Porque você fala comigo?— Pergunto o que vem me preocupando nesses últimos dias. Rylan para de andar e eu faço o mesmo, o homem segura meus ombros, de modo que não consigo me mover, apenas olhar fixamente nos seus olhos castanho amarelados. — Desde que conversamos pela primeira vez, soube que se sentia da mesma forma que eu. — Como assim? — Uma pessoa perdida no meio da multidão. Eu poderia perguntar o que ele quer dizer com isso, mas o ponto é que eu realmente entendo. No meio de tantas pessoas, sempre me senti diferente. Uma garota que lia demais e que sempre se isolava, portanto as vezes me sinto mais velha que jovens da minha idade. Respiro fundo e baixo minha cabeça, desviando desses olhos questionadores, não sei se Rylan percebe que ainda está com as mãos nos meus ombros, mas relaxo com o gesto. — Além disso, eu amo o seu estilo.— Um sorriso e uma piscadela. Como meu coração pode ser racional dessa forma? Quase impossível. — Ok, galanteador, não quero chegar tarde em casa, então vamos logo. Rylan desce as mãos e encontra as minhas, engulo em seco e sinto um friozinho estranho na barriga, como se eu estivesse em um parque de diversões pela primeira vez. E então, começarmos a correr na direção da bilheteria. Quando tento pagar, ele não deixa. — Rylan! Não me venha com essa história de pagar para mim. — Na próxima você paga. — Vou cobrar. Rylan deixa a minha mão enquanto faz o pagamento, mas logo depois volta a segurá-la, ainda não acredito que isso está acontecendo. O calor delicioso de suas mãos nas minhas, quase me faz pular de alegria. — Sempre que estou triste venho aqui.
— Está triste?— Coloco um fio teimoso atrás da orelha. — Não, mas queria te mostrar isso. Entramos em um corredor, olho ao meu redor e vejo vários quadros, pintados de maneiras totalmente diferentes, mas que juntos criam uma arte única. Há rosas, mas também há pessoas, animais. Penso nas histórias por trás dos quadros e meus olhos marejam. Uma em especial me chama atenção, duas mãos entrelaçadas, é bem simples, mas representa companheirismo. A história por trás, pode ser sobre uma história de amor que não deu certo no final, mas que foi bom enquanto durou. — Gostou? — É realmente incrível, Rylan. — Você estava um pouco pensativa quando saímos da última vez. — Não foi nada. O loiro fica em silêncio em alguns minutos, mas sei que quer me perguntar alguma coisa. Já até imagino sobre o que é. — Pode me contar.— Sua mão toca meu ombro com delicadeza, o calor sendo transmitido de pele para pele. Fixo os meus olhos nos seus e vejo preocupação, isso acerta em cheio o meu coração porque ninguém nunca pergunta como estou ou quer saber o que estou sentindo. — É só que… — Você não queria ter vindo, não é? Eu forcei a barra, me desculpe. Viro-me rapidamente e tapo sua boca, dessa forma o prenso contra a parede, vejo seus olhos arregalarem, surpresos com minha atitude, porque eu ficaria com raiva dele que tem sido tão gentil comigo? — Rylan, me deixe falar, o.k.? Ele assente e minha mão vai junto, dou uma risadinha e fecho os olhos por alguns segundos, antes de começar a falar: — Foi o Julian… ele me beijou. Tiro a mão de sua boca, mas não consigo falar o resto, de como ele queria me controlar, da mesma maneira que o meu pai faz ou das palavras duras que me disse quando o recusei. — E você gostou?— Posso ouvir sua voz tremular um pouco e sei que não gostou nada do que ouviu. Estamos tão próximos que sinto seu hálito sobre meu rosto, me sinto esquisita, quero tirar a inquietação de seus olhos sedutores. — Primeiramente, eu não queria que ele fizesse isso em uma sala onde qualquer pessoa pudesse entrar. Segundo ele quis tentar me controlar. — Como assim?
Encosto na parede fria ao seu lado, viro o rosto para Rylan, seus cabelos rebeldes e lindos como sempre, seu rosto preocupado. — Ficou com ciúmes por que eu estava falando com você. — Sério?— O homem passa a mão pelos cabelos e vemos algumas pessoas passarem por nós. — Sério, não sei porque isso. — Porque ele gosta de você? A sinceridade de Rylan me espanta as vezes, com certeza, saber que Julian gosta de mim o machuca, sei disso pela forma como ele desvia o olhar para que eu não veja. — Não importa se ele gosta ou não, porque não sou propriedade dele. Além disso, eu não gosto dele. — Não? — Não desse jeito. — Não fique assim, o cara é um idiota. Cruzo meus braços e reviro os olhos, a risada de Rylan soa do meu lado, ao mesmo tempo que ele aperta a minha bochecha gentilmente. — Estou me sentindo muito boba agora, com você fazendo isso. — Isso?— Ele aperta novamente as minhas bochechas e sorri, tento fazer o mesmo, mas Rylan é mais rápido. De repente, estamos correndo e sorrindo, até que eu fico cansada e paro para respirar. Sou bastante sedentária, além do mais, estou sorrindo tanto que minha barriga dói. — Vamos, ainda tem um lugar que iremos. E mais uma vez, Rylan segura as minhas mãos, já até me acostumei com a proximidade. Pegamos um metrô e rapidamente estamos em uma das cidades vizinhas, ainda mais longe de casa. — Tem muitas cidades pequenas por aqui. O trem/metrô não tem quase ninguém, um alívio. A paisagem encantadora me faz sorrir, todas as árvores e casas pequenas, ruas desertas. É como se eu fizesse uma volta ao passado. Rylan está olhando para mim há alguns minutos, pois está na minha frente enquanto observo tudo passar num borrão com a velocidade. — Certa vez, meu pai me trouxe aqui, foi um dos melhores dias da minha vida. Bem antes de criar as empresas, ele tinha tempo para mim. Não esperava uma confissão de sua parte, então cruzo a linha e seguro suas mãos, o loiro fica surpreso e me olha com atenção, depois para nossas mãos. — Entendo exatamente o que você está falando.— Essa é a melhor parte
de andar com Rylan, sei como ele se sente, é como se fosse um espelho ou um alter ego. Maravilhosamente estranho. Rylan desenha círculos invisíveis nas costas da minha mão e ficamos presos no momento, a vontade de beijá-lo só aumenta a cada segundo. — Seu pai também é assim? Quase invento uma história de como tenho um pai legal, mas a verdade é sempre a melhor opção, até porque ele me contou. — Me sinto afastada da minha mãe, e meu pai é bem estranho. — Juliet, se não quiser me contar, tudo bem. Cerro meus punhos e em seguida, arrumo a mecha de cabelo que caiu em sua testa, Rylan é bonito que dói, estou com medo de me apaixonar por ele, pois sei que não sou párea para ele. Tudo bem, sei que minha autoestima é bem baixa, tenho que mudar isso. — Se ele soubesse que estou aqui me mataria.— Engulo em seco e Rylan franze a testa.— Por isso não queria vir, me desculpe. — Ei, ei, não se desculpe. Você é maior de idade, pode sair para onde quer.— Tento ignorar que Rylan está fazendo movimentos circulares com o seu polegar nas costas da minha mão, mas o movimento é altamente erótico. — Sei disso, mas a minha vida não é assim. O loiro vem até meu lado e me abraça, meu rosto se aconchega em seu ombro, sinto o perfume forte me atingir com força e instantaneamente me sinto sem forças. Não sabia que gostaria tanto de estar com alguém, como gosto de ficar com ele. — Se ele souber daquela foto, minha vida já era. — Juliet, ele nunca saberá, não se preocupe. — Você tem muita certeza.— Minha voz sai embargada e me amaldiçoo mentalmente. Não quero demonstrar fraqueza. — Ei, se eu soubesse que você ficaria assim, nunca teria mencionado meu pai. — Desculpe, sou uma boba, arruinando nossa tarde com os meus problemas. — Juliet, não diga isso.— Seus dedos tocam meu queixo e levanto minha cabeça para encará-lo, há algo em sua expressão que não consigo decifrar.— Estamos quase chegando. Voltamos a observar o caminho e tudo volta ao normal, o silêncio com palavras não ditas e a minha vontade de conhecer Rylan fica ainda maior. Quero perguntar qual sua cor favorita e cada detalhe que o envolve, mas
tudo está tão calmo enquanto estou encostada nele, que prefiro ficar quieta por mais um tempo. Nem sei como deixei isso acontecer, alguém que mal conheço estar tão próximo de mim assim. Talvez tenha sido a minha sede por conexão humana. — É a próxima parada. Nos levantamos e pela primeira vez na vida, me sinto completa. Não porque eu precisava de Rylan, mas precisava de alguém com quem pudesse verdadeiramente contar. •• Almoçamos em uma lanchonete, e tudo está perfeito. Saímos com as mãos dadas e andamos pela rua de forma despreocupada. O céu está começando a escurecer, está em tons de rosa e laranja, o momento ideal para o primeiro beijo, mas Rylan está decidido a chegar em algum lugar. — Rylan? — Huh? — Podemos parar por um instante e tomar um sorvete? Aponto para a barraca e logo estamos andando até uma fila, mesmo que esteja ficando frio, gosto de bebidas geladas e sorvete, já falei que amo doces? — Você não sente frio? — Porque temos que beber algo quente quando está frio? É mais interessante fazer o contrário. — Você não existe, Juliet.— Rylan sorri, baixa a cabeça e em seguida se aproxima de mim o suficiente para que eu fique em chamas. Me sinto como uma adolescente rebelde longe de casa, mesmo que eu seja maior de idade e possa sair para onde quiser. Estranho viver em uma vida como a minha, onde tudo é proibido. Olho para os lados como de costume e Rylan faz o mesmo por reflexo. — O que foi? Viu alguma coisa? — Não, era só impressão. — Estou aqui com você, não se preocupe.— Quando ele coloca os braços ao redor dos meus ombros, sinto como se pudesse me proteger de qualquer coisa no mundo. Acho que nunca conheci alguém como Rylan, ele é protetor e bondoso, não se se devo levar minhas preocupações até ele. Não é justo. — Provavelmente ficará com raiva, mas tenho que agradecer novamente, por tudo e por esse dia. — Eu disse que me agradeceria quando o dia acabasse, não antes disso, ainda não chegamos na melhor parte.
Ele não está planejando… — Ei, não me olhe assim, não é nada indecente o que faremos aqui.— Continua quando vê a minha cara de poucos amigos. Chega a minha vez na fila e graças aos céus, Rylan não impede de pagar, me sinto meio constrangida quando alguém paga as coisas para mim. Acho que foi um trauma por causa do meu pai. Meu celular vibra e vejo que é minha mãe, quase solto um suspiro. Não vou atender agora, só depois que tomar meu sorvete. Escolho o sabor de menta, e Rylan me olha com cara feia, mas acabo nem ligando. É o meu sabor favorito… — Não sei como você aguenta… está frio. — Estou com um vestido de manga longa, não se preocupe demais. Escuto uma risada que reverbera por mim, e é quando chegamos em um píer, com alguns barcos amarrados. Meu coração se agita quando penso no que estamos fazendo aqui. — Não espera que eu… Sempre tive muito medo da extensão da água, não consigo negar, uma vez quase me afoguei em uma piscina, até hoje fico impressionada. — Relaxa morena, você vai amar. Termino meu sorvete antes de pagarmos por um barco, que parece ser velho o bastante para naufragar na metade do caminho. Posso ter uma síncope nervosa a qualquer momento, não acredito que vou fazer isso. Odeio não estar em terra firme, nunca sei para onde as águas levarão, mas, mesmo assim, subo e me sento depressa, segurando com força o assento úmido e velho. A instabilidade do barco na água me faz ter arrepios e quando Rylan entra, tenho a sensação de que vai virar conosco. Minha mãe liga novamente e atendo a contragosto, segurando o telefone com toda a força possível, pois não posso deixar meu celular cair na água. — Cheguei em casa mais cedo, porque você ainda não está aqui, Juliet? — Ela nem sequer respira entre as frases. — Mãe, boa tarde para você também. Rylan olha para mim com os olhos arregalados e eu balanço a cabeça, sorrimos, como se fossemos cúmplices. Sorte a nossa por não ser o meu pai. — Quero uma explicação, mocinha! — Aprendeu com o Bruce a ser dessa forma? Dias atrás eu queria sua atenção e não tinha. — Desculpe querida, só queria passar um tempo com você. Engulo em seco e há um aperto no meu peito, escutar isso e mais do que
eu posso expressar, entretanto, ela pode aguentar mais algumas horas. — Chego daqui há algumas horas, me espere com um balde de pipoca. — Tudo bem, e tenha juízo, não quero uma mãe solteira nesta casa. — Mãe! — Vai me dizer que não está com um homem? — Não vou mentir, agora pode me deixar um pouco? Sua risada ecoa através do aparelho de celular e acabo sorrindo também, enquanto Rylan faz algumas caretas do lado real das coisas. Encerro a ligação e o barco já está se afastando do píer, a ligação da minha mãe me acalmou, mas assim que baixo minhas mãos até o joelho, fico com medo novamente. — Preciso mandar uma mensagem de despedida para as pessoas que conheço? — Pare com isso, Juliet, não vamos morrer. Olhe! Vemos uma ponte enorme que parece ter vindo de um livro de história e logo estamos embaixo dela, é estranho e libertador quando vemos algumas pessoas acenarem para nós. Parece que estou em um filme e dou meu primeiro sorriso no barco. Não conhecemos ninguém dessa cidade e posso respirar tranquila enquanto aproveito a brisa fria que bate levemente no meu rosto. Os fios do meu cabelo voam e voam, abro os braços e o loiro na minha frente sorri, é claro que ele sabia que eu gostaria, porque deve se sentir da mesma forma. — Você parece me entender tão bem…— Arrumo os fios rebeldes em um coque desorganizado. — Eu disse que somos parecidos, Juliet. — Isso é estranho, eu odeio essa instabilidade de não estar em terra firme, mas, ao mesmo tempo, gostei bastante. Acho que preciso descobrir mais coisas sobre mim mesma. — Vai me dizer que não sabe nadar? — Eu não sei…— Lembro do incidente no passado e sinto uma náusea ou talvez seja o movimento do barco. A gargalhada dele ecoa pelo vento e sinto minhas bochechas queimarem. Observo o meu reflexo na água calma e escura, me pareço com uma versão melhor de mim. Destemida. É isso o que sou a partir de agora. — Quando vai me dar o número do seu celular? — Porque isso agora?— Pergunto com um sorriso, mas não estou
exatamente brincando. — Quero conversar com você quando não estou perto de você. Quero contar a verdade, mas seria um show de horrores se eu dissesse “Lembra que eu falei que meu pai era estranho? Pois é, ele está sempre vasculhando o meu celular!”. — Você está mesmo empenhado em ser meu amigo. — Com certeza, não quero deixar a oportunidade passar. — Ei, não é como se eu fosse sumir, podemos conversar na faculdade. Arrependo-me no momento em que vejo que Rylan ficou chateado, seus ombros baixam e ele desvia o olhar para a água, longos e tortuosos segundos depois, ele diz: — Tudo bem, se não quer me passar seu número, não vou insistir. Bufo e estendo a mão, não é como se fossemos mandar nudes ou algo do tipo, apenas conversas bobas entre amigos. — O que foi? — Você venceu, Rylan, vou colocar meu número no seu celular, se faz tanta questão. O seu sorriso é triunfante e me sinto uma idiota por ter negado isso anteriormente, não demora muito até ele me entregar o seu Iphone. Penso em como salvar o nome do contato, não quero colocar apenas Juliet. — No que está pensando? — Em uma forma interessante de salvar meu nome no contato, assim, você sempre lembrará de mim. Rylan me olha de uma maneira tão sensual que sinto algumas partes de mim ficarem com um desejo repentino por mais. — Quer inovar? Vamos colocar Bonnie e Clyde.— Rylan estala a língua e eu olho para a tela do celular sorrindo tanto que as bochechas doem, tentando fazer a tensão entre nós dois desaparecer junto com a brisa fria do fim de tarde. — É uma boa ideia. O casal fora da lei, realmente parece muito adequado, pois estou me portando como uma, enquanto meu pai não faz a mínima ideia de onde estou. Não que eu e Rylan sejamos um casal, nem perto disso. Não quero, porque ainda não o conheço bem e ele nem deve gostar de mim dessa forma. — Aqui está, Clyde.— Ele me manda uma mensagem e salvo o contato. Ainda não consigo evitar o sorriso quando Rylan me encara com os olhos brilhantes. O céu já está quase totalmente escuro. Algumas manchas laranjas borram o horizonte e deixam tudo altamente romântico. — Fique parada…
Rylan está com a câmera do celular na minha direção, então sorrio e faço um coração coreano com um das mãos. — Devo ter ficado patética.— Falo brincando, enquanto o homem olha atento para a foto, por alguns segundos, a foto parece a coisa mais importante do mundo, estamos um de frente para o outro e não quero me mover, então há uma forma de ver como saí. Não sem que eu caia do barco. — Ficou linda…— Rylan sussurra para si, mas eu consigo escutar. Eu sou muito boba, essa frase deixa o dia mil vezes melhor, meu coração bate mais rápido e fixo os olhos no loiro estonteante. — Me mostre! Quando ele me passa o celular, vejo que realmente não fiquei tão mal assim na foto, a paisagem atrás de mim é encantadora. — Vou colocar como a sua imagem de perfil de chamada.— Diz quando entrego o celular. — Minha vez de tirar uma sua.— Abro o aplicativo de câmera e ele faz uma pose altamente sexy para mim. Cabeça levemente inclinada e olhar semicerrado, os músculos do maxilar tensionados, e isso faz o seu queixo parecer mais quadrado do que é. Totalmente injusto ele ficar parecido com um modelo, enquanto eu apenas fico razoavelmente bem na foto. — Deixe-me ver. Mostro e o loiro faz uma careta. Talvez ele não tenha gostado, mas vou passar um bom tempo olhando para essa imagem e sentindo saudades desse dia. — Dá para o gasto. Quando penso em revirar os olhos e retrucar com alguma frase, Rylan fica em pé, me deixando aterrorizada. — Rylan, para com isso, estou com medo! O homem abre os braços como se não tivesse me escutado e respira fundo. Me encolho ainda mais no banco e tenho certeza que meu coração vai sair pela boca a qualquer instante. — Deveria tentar o mesmo. — Não sou louca! — Isso não é loucura, é liberdade. Balanço a cabeça e checo mais uma vez a foto em meu celular, os passeios com Rylan são incríveis, acho que nunca me diverti tanto quanto hoje, mesmo que ele esteja em pé e eu esteja morrendo de medo. Nada de bom pode sair disso. Não podemos nos encontrar assim e tudo ficar bem, uma hora alguém vai
descobrir e será o fim. Juro por Deus, se isso acabar eu vou acabar junto, porque Rylan foi a melhor coisa que já me aconteceu. — O que foi?— Ele diz quando se senta novamente, fazendo o barco balançar bruscamente, — É só que… eu me diverti bastante hoje, Clyde.— Ele sorri com o apelido, e isso basta para me fazer esquecer o fio da meada. — Bem, Bonnie, podemos vir aqui sempre que você quiser. Pode ser o nosso lugar favorito, posso compartilhá-lo com você. — Agora é a hora de agradecer? Rylan assente e sorri, um sorriso amigável, então não crio esperança sobre um “nós”, embora meu coração deseje isso com todas as forças. — E é a hora de voltar para casa, sei como seus pais são… Olho para cima, o céu escuro, e lembro que ainda temos que fazer toda a viagem de volta, voltar para a realidade me deixa um pouco triste. •• Durante todo o caminho, ficamos em silêncio e quando Rylan pega seu carro e vamos até a cidade em que moramos, sinto meu coração se despedaçar, porque ele não vai poder me levar até na frente da minha casa. E ao chegarmos no condomínio mais caro da cidade, meu novo amigo para o carro e olha para mim, eu havia dito que ficaria por aqui e fico grata por ele entender isso. — Tem certeza que não quer que eu te acompanhe? — Absoluta… não quero testar minha sorte. Enrolo meus cabelos e tiro o cinto de segurança, ao mesmo tempo em que Rylan toca nos meus dedos e me impede de fazê-lo. — Juliet, você me agradeceu muitas vezes hoje, mas eu quem deveria agradecer. Franzo a minha testa e espero que ele continue e me explique a razão de me agradecer, mas quando ficamos em silêncio, resolvo arriscar. — Porquê? — Por ter ido comigo, sei o quanto é difícil para você. — Acho que estamos ambos agradecidos e, sinceramente, fico feliz em ter ajudado em alguma coisa. Nossos olhos se encontram e não sei se é por causa da garoa que está caindo do lado de fora, que sinto que Rylan vai me beijar. Estou me aproximando sutilmente e dando a chance dele recuar, mas quando não o faz, vou para mais perto do seu cheiro. Quando finalmente sinto o seu hálito e sua respiração entrecortada sobre meu rosto, umedeço meus lábios e meu corpo reage de maneira muito específica.
Bip. Uma buzina ressoa atrás de nós e é quando percebo que estamos empatando outras pessoas de entrar no condomínio, o medo percorre cada célula do meu corpo, quando penso que poderia ser Bruce chegando. — Nos falamos depois?— Minha voz sai fina e sem graça, ainda entorpecida depois do que ele me fez sentir. — Claro.— A dele é rouca e cheia de desejo, mas ignoro, pego a rosa que ele me deu e abro a porta, recebendo o ar frio e alguns pingos de chuva sobre mim. Só assim para me esfriar completamente depois do que acabou de acontecer. Foi legal não pensar nos meus problemas por um espaço curto de tempo, seria muito fácil sair com Rylan e esquecê-los sempre, uma pena que estes me assombram até na hora de dormir.
Capítulo 13 Não podemos apagar o passado, mas ainda temos o futuro. — Rylan.
Nunca vou assumir isso para ninguém, mas sou apaixonada em musicais e filmes da Disney. As vezes faço maratonas de princesas no meio da noite quando não consigo dormir. Hoje é um desses dias. Depois de ter um dia exaustivo ao lado de Rylan, pensei que o sono viria rápido, mas depois que tomei um banho demorado, coloquei “Mulan” para mim e mamãe assistirmos. Quando mamãe quer dormir comigo, não consigo dizer não, por isso
estamos deitadas na mesma cama e o único brilho vem da televisão. Apenas uma pessoa ficou acordada até o fim da história e não foi Lisa. Por sorte, a minha mãe não me questionou nada e por mais sorte ainda, meu pai demorou um pouco mais no trabalho, então fui salva por mais um dia. Penso que apenas eu estou sem sono, mas antes dos créditos passarem pela tela, recebo uma mensagem e sorrio quando vejo que é de quem estava pensando. “Não consigo parar de pensar em você” Tapo a minha boca, com medo de emitir algum som e acordar minha mãe. Tento nem respirar, meus olhos percorrem a mensagem várias vezes, eu realmente li direito, ele está muito gamado em mim! — O que eu faço, Deus?— Sussurro, pedindo uma ajuda ao criador, pois somente assim posso sair dessa confusão em que me meti. “Então não está se esforçando, há coisas melhores para pensar” Penso em acrescentar alguma coisa, mas envio assim mesmo e espero ansiosamente, enquanto vejo os três pontos balançarem na tela de conversa. Assim como todas as vezes que nos falamos, meu coração parece querer sair do lugar. “Acredite, me esforcei muito, mas nunca conheci alguém tão incrível.” Coloco a mão em meu peito, ele está mesmo se declarando para mim? Isso nunca aconteceu, não sei o que fazer e, com certeza, não quero perguntar para a minha mãe qual a melhor opção, seria correr riscos demais. Estou em um terreno perigoso, pois sei que esse amor é arriscado, quase como uma areia movediça, e sei que, quando menos esperar, estarei tão afundada que não verei uma saída. Mesmo assim, meus dedos têm uma resposta rápida. “Acho que você me confundiu com alguém, não é possível que seja essa Juliet/problemática.” Por mais que eu tenha dito em tom de brincadeira, quero que ele entenda que é verdade, não podemos mais viver como se a realidade não existisse. Isso me machuca mais do que a mensagem que ele me manda. “Só vou descobrir se é verdade, quando nos conhecermos melhor” A mensagem de Rylan me machuca, porque sei que ele não vai gostar de me conhecer melhor. Além disso, há muitas coisas que não sei sobre ele. Problema. Problema. Meu cérebro grita, mas uma parte de mim, quer tentar conhecê-lo e pagar para ver onde isso dá. Sorrio, quando penso que, enquanto Julian me leva para as festas e tenta
me fazer feliz, Rylan consegue me enxergar e consegue realizar isso.
Capítulo 14 É melhor se arriscar e quebrar a cara, do que ficar na sua bola de proteção e nunca saber se daria certo.— Amy.
Acordo-me sentindo indisposta e ao tocar minha testa, descubro que estou com febre. Que ótimo! Eu devo ter entrado em contato com alguma bactéria ontem, no meio daquele passeio ou minha imunidade baixou. Nunca vou admitir, mas amei aquele passeio de barco, mesmo morrendo
de medo, pois já que haviam coletes, eu não morreria afogada. Além do mais, tenho quase certeza que Rylan me salvaria. — Juliet!— Mamãe grita da sala, a mulher parece ter um microfone na garganta. Estou sem forças para responder, e nem sei onde está meu celular. Mais alguns minutos se passam, antes de minha mãe entrar no quarto e me ver, devo estar realmente péssima, porque ela franze a testa e vem até mim. — Oh, querida! — Mãe, não estou bem.— Sussurro. Lisa vem até mim e toca na minha testa. — Venha, vou te levar para o médico. — E o seu trabalho? Mamãe senta na cama e passa a mão por meus cabelos úmidos, por causa do suor, o contato me faz fechar os olhos por alguns segundos. — Você é o ser humano mais importante para mim. Que se dane a empresa! Meus olhos marejam, enquanto ela toca no meu rosto com delicadeza. Ela é a mulher mais importante do mundo para mim e a pessoa que mais amo. — Te amo, mãe. — Não me faça chorar logo de manhã! Eu também te amo, agora vamos logo.— Antes de nos levantarmos, mamãe ainda me dá um beijo na testa, sem se importar com o suor que há nela. Nunca gostei tanto de ficar doente quanto hoje. •• Fico preocupada com os assuntos que perderei da faculdade, mas posso pegar com algum colega depois, o fato é que as provas estão perto e não posso me dar mal. — Você está pensativa, Juliet. A cama do hospital não é nada confortável, tenho certeza que ficarei com uma péssima dor na coluna depois. — É que minhas provas estão perto. — Você é inteligente demais para pensar nisso agora. Sorrimos juntas, mas logo depois franzo a testa. — Mãe? — Sim? — Você falou para o meu pai que eu estou aqui? — Sim, mas aquele idiota tinha uma reunião. — Ah.— Por incrível que pareça, estou aliviada. Desde que eu era uma criança, meu pai nunca me deu atenção, na
verdade, eu só recebia gritos. Bruce quase nunca lembrava a data do meu aniversário(atualmente ele faz festas enormes, que eu detesto), mesmo com o facebook avisando. E nunca tive alguém para me aconselhar nos momentos difíceis. Se pagar as contas significa ser pai, eu prefiro nem ter um. — Ficou quieta demais, ficou chateada com seu pai? — Só pensando em como você é minha mãe e pai ao mesmo tempo. — Verdade. E ainda assim, não tenho tempo o suficiente para nós duas. — Não se preocupe, mãe, fico feliz que esteja focada no seu trabalho… e isso deixa Bruce irritado. Sou muito parecida com a minha mãe, mesmo formato de rosto e os olhos quase idênticos, até a cor da nossa pele é igual. A mulher se aproxima de mim e sorri, sua pele não é mais tão jovem depois de todas as preocupações que já viveu, mas, ainda assim, é a mulher mais bonita do mundo para mim. — Desde que sofri aquele acidente, senti na pele como é estar perto da morte, eu tive sorte, mas e se tivesse morrido? — Mãe, não fala isso.— A minha voz começa a embargar, pois não sei como seria a minha vida sem ela ao meu lado. — Por isso, quero me dedicar mais à minha família, ou seja, você. — Posso perguntar uma coisa? — Claro. Seguro as suas mãos e prendo a respiração quando pergunto: — Eu conheci um garoto, ele é sempre tão gentil… o meu pai era assim com você no começo?— Sempre quis fazer essa pergunta para Lisa, antes de desistir de contos de fada. Até porque, se alguém é gentil no início do relacionamento e depois mostrar ter a personalidade de Bruce, eu desisto de qualquer relacionamento. Sinto seus dedos brincando com os meus e Lisa fica pensativa, os olhos em outro lugar, outra época. — Nunca, acho que nunca gostei dele de verdade, mas meus pais sim. Sabe como é, um homem de boa família, classe média, assim como eu. — E então você se casou sem amor? — Querida, nem sempre as pessoas casavam por amor, as vezes só era conveniente, é algo que espero que nunca aconteça com você. — Eu também.— Suspiro e fico triste pelo futuro tão triste que minha mãe teve, porque poderia ter sido muito feliz se tudo fosse diferente. Mas eu não existiria… — Conte mais sobre o tal garoto. — Saímos duas vezes, mas me sinto segura com ele, sabe?
Não quero falar tanto, pois ainda não sei bem o que sinto por Rylan, mas talvez eu fale depois e quem sabe até o convido para um jantar? Sei que seria ir além dos limites, mas preciso dessas coisas. Depois de alguns minutos falando sobre Rylan, mamãe me olha com um brilho esquisito nos olhos que me faz sorrir. — Estou velha mesmo! Minha garotinha está apaixonada… — Mãe! Eu já tenho 21 anos, não é como se eu fosse uma adolescente. — Seus olhinhos estavam mais brilhantes ultimamente. Eu sabia que havia alguém na área. Dou risada, porque minha mãe falando “área” como se isso fosse uma gíria legal é a coisa mais hilária do mundo. — Não tem alguém na área! Eu apenas saí com ele. — Como se sentiu? — Muito feliz… fomos para uma exposição de artes incrível e depois passeamos de barco. — Você andando de barco? Isso é realmente um milagre.— Mamãe balança a cabeça e aperta minha mão. — Eu sei! — Lembra quando tentamos te levar na praia alguns anos atrás? — Como não lembraria? Eu sonhei que meu celular caía na água, fiquei com muito medo que se tornasse realidade. — Você e seus sonhos… O celular vibra na minha bolsa e Lisa traz até mim, já tenho uma ideia de quem seja antes de ver, mas me surpreendo ao ver o nome de Julian. — É ele? — Não, é um outro.— Desvio o olhar antes que ela fale alguma coisa. — Outro? Juliet! — Não me entenda mal, não gosto desse. — Porque? — Ele é controlador, e já tem alguém na minha vida que desempenha bem esse papel. — Ainda bem que mostrou rápido quem é, assim você não se apaixona por ele. — Com certeza. Os braços da minha mãe me envolvem em um abraço e meu coração fica aquecido com tanto amor, Lisa conseguiria derreter até o mais frio dos icebergs se quisesse. Lembro de uma vez que algumas pessoas na escola começaram a caçoar de mim, logo que coloquei o aparelho dentário. Nunca pensei que crianças de
onze anos poderiam ser tão ruins, mas mamãe me levou para passear, compramos sorvete e comemos cupcakes. No final do dia eu já havia esquecido todos os seus nomes. Mas hoje, foi como se eu revivesse aquele dia, contudo foi ainda melhor. Tive o melhor dia com ela hoje.
Capítulo 15 Imaginando, mas quando, mas quando a minha vida vai começar.— Enrolados.
A gripe que peguei foi uma das fortes, se eu não tivesse ido logo para o hospital poderia ter evoluído para algo mais grave e difícil de tratar. Isso me deixou assustada pra caramba. Peço para um enfermeiro um espelho e assim que me vejo, levo um susto. Minha pele está pálida demais e meus olhos arroxeados quase me fazem
chorar de desgosto, sei que não estaria bonita, pois estou no hospital, mas é pior do que eu imaginava. Minha mãe precisou ir trabalhar, e claro que fiquei triste por não ter a companhia dela, mas como está me mandando mensagens o tempo inteiro, o meu humor melhora. Ela não foi é a única tentando falar comigo, entretanto, não respondi nenhuma de “Clyde”, é claro que ele me perguntou diversas vezes onde estou(e a razão de eu não ter ido para a faculdade), talvez até pense que estou com raiva por causa do encontro(porque não nos beijamos). Mas tenho medo de que meu pai dê as caras e peça o meu celular, como fez da outra vez. Agora, Rylan está me ligando, nem sei o que fazer, quero muito atender e saber o que ele quer comigo. Olho para a tela com o coração acelerado. Sei que Bruce não vai aparecer por aqui nesse horário, então, lutando contra todos os meus impulsos, termino arrasando para o lado. — Alô? Escuto a respiração de Rylan, como se ele estivesse muito preocupado… talvez esteja mesmo. — Graças a Deus, Juliet, onde você está? — Não podia te atender, passei mal. — Ah, isso explica tudo. Achei que estava me evitando. Até perguntei para Amy onde você estava ou se tinha falado alguma coisa. Não consigo segurar minha risada, ele foi perguntar para minha amiga sobre mim? Tenho certeza que ela o ignorou, é a cara de Amy fazer isso. — Só estou doente. — Posso te visitar? Penso no quanto eu queria que ele estivesse aqui, para jogarmos conversa fora e quem sabe Rylan pudesse me animar um pouco, mas sei que não podemos. — Não tem como, parece que é bastante contagioso. — Eu corro esse risco. Respiro fundo, penso naqueles olhos e em seguida, lembro do quanto meu pai é obsessivo e controlador. — Mas eu não quero passar nada para você, além disso nos vimos antes de ontem, não é como se você estivesse com saudades. — Estou com muita saudade. Coloque muita ênfase nesse “muita”. Não posso evitar. Seguro o celular no peito por alguns segundos, antes de voltar a colocá-lo no ouvido e responder: — Rylan, nos falamos depois, minha garganta está doendo.
Não é mentira, a garganta está doendo muito e minha voz está esquisita, como se eu tivesse chorado bastante. — Tudo bem, espertinha, mas eu vou continuar mandando mensagens. Reviro os olhos. Rylan está me fazendo correr riscos, mesmo que eu esteja me divertindo, não será assim se Bruce descobrir. Além de tudo isso, tem o fato de eu ter muito medo dele. Apenas eu e a minha mãe, sabemos sobre a coleção de facas e armas que meu pai tem. É bizarro! Para que ele teria algo assim? Em uma das últimas vezes em que saí com ele, estávamos passando por uma loja de produtos chineses e o homem comprou uma espada. Uma espada! Fiquei apavorada quando Bruce disse que era uma das mais afiadas que ele tinha, lembro que fiquei arrepiada e até tive pesadelos. Na hora eu forcei ao máximo um sorriso, o pior é que ele não vê problema nenhum nisso. Queria ter coragem de mandá-lo para um psicólogo, mas por causa dessas coisas, tenho medo do que ele é capaz de fazer. A minha mamãe já foi ameaçada algumas vezes, quando disse que contaria quem ele é atrás das câmeras. “Se você contar, eu sou capaz de te matar. Já pensei em várias formas de fazer isso” Nunca duvidei, é por isso que não quero provocá-lo, até ter meu emprego e viver minha vida. Longe de tudo isso. Hoje é um dos dias em que eu desejo mais do que nunca, saber quando a minha vida vai começar. •• Tenho alta à noite e fico feliz por estar em casa novamente, na minha cama, com as minhas coisas, e o melhor de tudo, perto dos meus livros. É um saco estar no hospital e ter sua privacidade invadida o tempo todo por aqueles enfermeiros trocando o seu soro. — Está confortável?— Mamãe ajeita mais uma vez o travesseiro e me encara com aqueles olhos grandes e castanhos. — Sim, mãe, não se preocupe comigo. Desde o hospital, refleti sobre as coisas que minha mãe me contou e as que eu já sabia sobre meu pai, será que Lisa não está cansada dele? Sei que toda família tem problemas, mas vou contar sobre uma vez em que Bruce quebrou minha antiga cama.
Eu estava deitada, lendo Hamlet, quando Bruce invadiu meu quarto e começou a gritar, apenas porque eu queria passar a noite de final de ano com a Amy, foi um dos piores dias da minha vida, porque ele me xingou e disse coisas horríveis, como “você tem a sua casa, mas está virando uma puta, da mesma forma que sua mãe”. Não merecia aquilo, Bruce poderia ter conversado comigo, mas ficou tão irritado que socou minha cama. Tive que comprar outra. — Você está com aquela cara novamente. — É só que… você não tem vontade de deixar tudo para trás? — Claro que sim, mas minha vida está aqui, não posso simplesmente ir embora. Assinto, nunca havia pensado nesse ponto das coisas, no final minha mãe sempre tem razão. E ainda tem a empresa, que é dividida igualmente entre os dois. E nenhum dos dois quer dar o braço a torcer. — Entendo, mãe. — Boa noite, querida. — Te amo. — Te amo mais.— Recebo um beijo na testa e sorrio. Já estou me sentindo bem melhor, mas sei que o médico disse para eu ficar em casa amanhã, para não correr o risco de pegar outra bactéria. Quando fico sozinha em meu quarto, esse sim é do jeito que eu realmente gosto. As cortinas azuis bebê, com quadros de frases de livros, prateleiras com os meus favoritos. É onde me sinto mais segura em todo o mundo, porque quando fechos essas cortinas, não há nada que possa me ferir ou investigarem sobre mim. Já até esqueceram um pouco daquela foto sinistra, os assuntos na faculdade mudam rápido demais(para a minha sorte). Olho através da janela e respiro fundo, pois um dia estarei bem longe e terei a vida que sempre desejei.
Capítulo 16 Vou torcer para tudo melhorar, porque sou humana e meu coração anda cada vez mais frágil.— Juliet.
Ignorei todas as pessoas que tentaram entrar em contato comigo ontem. Não consegui evitar, cada chamada me fazia lembrar de Bruce e sua obsessão por controle, então passei o dia inteiro assistindo doramas, que são novelas coreanas. Eu particularmente amo. Deixei o celular desligado e me desliguei do mundo. Acordei bem mais feliz, é um novo dia e espero que seja bom. Até o céu
está bonito, estou definitivamente de bom humor. Mesmo que eu tenha dois dias de assuntos da faculdade para pôr em dia. Desço as escadas com disposição e vejo uma Lisa sorridente com seu terno habitual enquanto prepara torradas. — Bom dia, Juliet. — Bom dia. Dou-lhe um beijo e um abraço. Depois do acidente, fiquei mais unida com minha mãe. Ela pode ser chata para caramba, mas é tudo o que tenho. O cheiro dela fica em mim, e inspiro profundamente quando escuto o barulho da torradeira. Vou atrás da geleia de morango(que é nossa favorita) e sento à mesa. — Não vai se arrumar? — Vou tomar café primeiro. Preparo mais algumas torradas enquanto eu e mamãe dividimos as que ela fez. — Hoje estou feliz. — Isso é porque vai encontrar um certo passarinho verde. — Não é por isso. — Não? — Não apenas isso. — Fico feliz quando você está assim, com um sorriso no rosto. Tudo bem, eu tenho um crush por certo alguém, mas quando as coisas estão bem dentro da minha casa(ou seja, meu pai não tem falado muito comigo), termino ficando animada também. Bruce nunca mais fez confusão com a minha mãe e isso me faz ficar aliviada além da conta. Mesmo que eu tenha escutado sobre a traição, nunca mais houve discussões grandes. — Tenho que me arrumar, nos vemos mais tarde?— Falo com a boca cheia de torrada. — Claro. Subo as escadas me sentindo leve, como se nada de ruim pudesse me acontecer. Queria que esse sentimento perdurasse. Estou pensando em Rylan(além do que deveria), e ainda nem nos beijamos, porém a expectativa está grande. O celular vibra na minha penteadeira, meu coração acelera rapidamente antes que eu veja o nome. “Quero passar a tarde com a minha filha” Minhas mãos gelam, respiro fundo e penso na causa disso. Bruce nunca teve interesse em sair comigo e do nada vem com essa história? [3]
Estranho, mas, mesmo assim, respondo com um emoji feliz, como se fosse um reflexo meu, entretanto, eu prefiro furar meu dedo em um espinho de rosa do que passar uma tarde com o meu pai. •• A faculdade está do mesmo jeito e mesmo que algumas pessoas ainda estejam me olhando de um jeito estranho, não me importo. Eu poderia estar no meio de uma tempestade que não me importaria. Porque assim que vejo uma cabeleira loira me encarando, tudo perde o sentindo. Rylan sorri e suspiro, estou sendo patética, mas esse sorrisinho me mata por dentro. — Juliet!— Grita, e eu caminho lentamente até ele, sentindo como se estivesse em câmera lenta. — Oi.— Digo quando já estamos próximos e nos encaramos por alguns segundos. Sou ousada o suficiente para dar-lhe um abraço, Rylan fica surpreso nos primeiros segundos, mas depois retribui fortemente, seus braços ao meu redor são protetores e me sinto sã e salva. Rylan me suspende ao encaixar o queixo na curva do meu pescoço, é uma cena íntima, mas não estamos em um lugar muito aberto. É um lugar entre o corredor e as salas de aula. — Pelo visto não sou o único com saudades. — Claro que não, eu estava com muita saudade do meu amigo. Mesmo com a voz abafada por causa do abraço, sinto sua risada em meu pescoço, o que me provoca cócegas e arrepios em certos lugares. — Estou atrasado para a minha aula, mas nos falamos depois, certo? — Ok. O loiro se afasta e me encara, suas mãos nos meus ombros, enquanto dou uma piscadela. Quem era a Juliet que não se envolvia com garotos, hein? — Eu meio que estou cinco minutos atrasado, mas queria muito te ver. Baixo minha cabeça, nem quero pensar em como meu rosto deve estar avermelhado, toda a minha ousadia é transformada em timidez. — Não quero ser o motivo do sexto minuto de atraso… Rylan levanta meu rosto com seu indicador e nossos olhares se cruzam novamente, aquele estado de euforia toma conta de mim. Amigos não dão olhares íntimos dessa forma, dão? — Valeria a pena. — Rylan! O homem dá uma risada e depois de mais uma piscadela(que me deixa sem ar), vai embora.
Chego na sala de aula alguns minutos mais cedo, e encontro Amy anotando algumas coisas em seu caderno, essa é uma das poucas aulas que temos juntas. — Oi, miss. — Juliet, onde você esteve? Minha amiga me dá um abraço e hoje o meu dia está realmente fora da realidade. Foram tantos abraços que me pergunto se estou no corpo correto. — Ei, estou bem! Só estive doente. — Queria tanto fofocar com você… Enquanto Amy me conta dos acontecimentos do dia anterior, me pego sorrindo por outros motivos. Até lembrar que mais tarde, meu pai pode ter descoberto algo e que talvez eu tenha que aproveitar enquanto estou respirando. Ainda. — Sobre o quê? — Queria te mostrar o garoto com quem fiquei alguns dias atrás. — Outro? — Qual o problema? Sou jovem, linda e tenho uma boca muito atraente. Beijos são necessários. Dou um soco leve em seu ombro e reviro os olhos, porém, ela tem razão, pois só de pensar na boca irresistível de Rylan, fico com vontade de beijá-lo. — O.k. senhora beijoqueira, mostre o garoto. Amy desliza o dedo na tela do celular e sorri com seus dentes de tubarão, antes de me entregar o aparelho com fotos. O garoto é realmente bonito, olhos escuros e sedutores e um nariz longo e fino. — Vai fundo, garota.— Digo e surpreendo até a mim, Amy olha desconfiada, mas logo depois começa a sorrir e começamos a fofocar sobre as novidades no mundo dos famosos. Ainda não estou pronta para falar sobre Rylan… se pudesse, o guardaria em um potinho só meu e ficaria com ele para sempre, mas aí eu estaria sendo controladora assim como meu pai. E tudo o que eu desejo na minha curta vida é nunca me parecer com ele. •• Passo a manhã inteira apreensiva, com um medo excessivo de ficar um tempo com o meu pai, e assim que o carro estilo sedã para na frente da faculdade, o coração acelera. — Boa tarde, minha filha.— Diz Bruce com sua voz grave e seus olhos desconfiados, quando me dá um beijo na cabeça. — Boa tarde, pai.
Como sou uma boa filha, lhe dou um meio abraço, e logo seguimos para onde ele quer me levar, que no caso é um restaurante local, já viemos aqui antes, lembro de um dia em que ele chamou a atenção da atendente. — Uma mesa para dois, por favor. Tudo está correndo muito bem, mas é como se eu estivesse andando sobre cacos de vidro, tenho que ter cuidado com o que falar. Ao sentarmos, o garçom vem até nós e peço o de sempre, lagosta(não é porque sou rica nem nada, mas eu realmente acho o paraíso), meu pai pede o mesmo e fica olhando para seu celular, me ignorando completamente durante alguns minutos. — Então… está indo bem na faculdade? Me seguro para não revirar os olhos. Bruce sempre pergunta a mesma coisa! — Tudo sim. — Você está bonita, querida, está parecida com a sua mãe nessa idade. — Obrigada… — Estava pensando que faz um tempo desde que saímos, então, queria ter um tempo com você. Isso me deixa um pouco sem palavras, ele nunca havia dito isso, e, além disso ele é meu pai, não tem como não ficar sentimental. — Eu realmente sinto falta disso. Não digo ironicamente, porque sempre quis conversar sobre tudo com o meu pai, mas por causa de seu jeito, isso sempre foi um bloqueio. Lembro da minha conversa com a terapeuta e espero que ela esteja certa sobre as conversas. Solto o ar e seguro a mão dele, que acaba surpreso com o gesto. — Sinto muito se não sou o melhor pai, mas tudo o que realizo é para você. Sei que é mentira, porque ele mal fala comigo, mas não vou retrucar quando ele diz palavras tão bonitas. — Eu queria perguntar algo… — Pode falar, querida. — Porque você nunca se casou novamente? Bruce pensa por alguns minutos antes de responder: — Queria poder dizer que nunca esqueci sua mãe, mas isso não é verdade. Sou complicado e as pessoas também são, não consigo conviver com ninguém… bem melhor sair sem compromisso. Que ele é complicado eu sei bem, mas que fosse me falar isso… aí é outra história. E além disso, Bruce é machista para caramba, se fosse uma mulher que ficasse sem compromisso, seria considerada uma vadia.
— Entendo… — Entende mesmo? Ou você só está dizendo isso para simpatizar comigo? As palavras me pegam de surpresa e vejo a raiva cintilar nos seus olhos, não faço a mínima ideia da razão de começar uma conversa assim, mas esse é o meu pai. — C-como assim? — Acha que não sei que me acha complicado? Sua mãe me disse!— Ele puxa as mãos e eu recolho as minhas, sem ação. Minha respiração está entrecortada e os olhos bem abertos. Sinceramente, mamãe não sabe ficar calada? — Eu não disse exatamente isso…— Disse sim, mas ele não precisa ficar sabendo. Em momentos como esse tenho que pensar em algo para aplacar essa raiva e desconfiança do seu olhar, quando ele está assim é capaz de fazer qualquer coisa. — E o que foi? — Acho que você deveria fazer terapia, porque anda muito estressado por causa da empresa. — Você acha que eu sou louco? Quem faz esse tipo de coisa é doido!— A voz alterada dele chama a atenção de algumas pessoas e ele percebe que saiu de controle em público. — Não é não! E eu não quis dizer… — O que andam falando para você na faculdade?— Me interrompe e cerro meus punhos para não perder todo o controle. — Nada, mas isso não tem nada… — Ando preocupado com você, está muito diferente. Sinto vontade de chorar e penso em coisas boas, como por exemplo, o sorriso de Rylan e seu olhar de James Dean. — Deixe para lá, foi uma ideia estúpida. — Muito estúpida, não sabia que você era tão idiota, Juliet. — Me desculpe.— Sei que Bruce quer ouvir essas palavras e faço um esforço sobre-humano para minha voz parecer firme. — Está desculpada, agora vamos mudar de assunto, seu aniversário está chegando. — Eu sei. Meu aniversário é uma das coisas que mais odeio na minha vida, porque meus pais sempre fazem uma festa enorme, onde não conheço ninguém e tenho que sorrir como uma princesa(falsa) que sou.
— Já vai fazer vinte e dois, quer algo grandioso? — Não.— Falo alto e ele ergue uma sobrancelha, perdi um pouco do controle, então tento mais uma vez— Não, pode ser o mesmo de todos os anos. — Ótimo, mandarei os convites o mais rápido possível, esse ano tudo está muito corrido, ainda não tive tempo. Olho em volta, procurando o garçom com a minha lagosta, mas é um prato demorado, então fico frustrada, e nem sequer sei o que fazer com minhas mãos. — Pode me dar alguns para os meus amigos? — Quem são? — Da faculdade, seria bom se eu conhecesse alguém na minha própria festa. Bruce semicerra os olhos na minha direção e cerra os dentes com força, antes de dizer: — Tudo bem, quantos? — Dois já bastam. — O.k. Meu pai recebe uma mensagem e se concentra em seu celular, faço o mesmo enquanto espero o pedido, e recebo uma mensagem de “Clyde”. Dou uma espiada e percebo que meu pai não está interessado nas minhas conversas, por sorte ele está na minha frente, dessa forma não sabe com quem estou conversando. “Ansioso para ver o seu sorriso outra vez” Quase faço biquinho, implorando para que ele apareça e seja o meu príncipe montado no cavalo-branco, mas obviamente seria ridículo. “Isso é um flerte?” Posso até imaginar Rylan sorrindo do outro lado, e estou aqui agitada com apenas uma mensagem. — Juliet? — Oi? Espero que meu rosto não esteja carmesim, porque estou realmente afetada com a mensagem de Rylan, quer dizer, ele quer ver o meu sorriso. — É a sua mãe? — É, está com saudades. — Ridícula…— Resmunga como se eu não conseguisse ouvir e as batidas do meu coração voltam ao normal. É como se ele tivesse jogado um balde de água gelada em mim. “Talvez, posso flertar com você?” Essa mensagem pode mudar tudo entre nós, pois eu havia dito que queria
a amizade, se responder positivamente, será um passo a mais. Reflito por alguns segundos e nesse exato momento a minha lagosta chega. O prato fumegante é colocado na minha frente e como meu pai pediu a mesma coisa, chegou no mesmo momento, até arrisco dar um sorrisinho para Bruce, que faz o mesmo antes de voltar toda a sua atenção para a comida. Seguro meu celular com força e digito rapidamente antes de desligá-lo e guardar no bolso, entretanto, as palavras ficam queimando na minha mente. Escrevi e apaguei várias vezes antes de enviar. “Sim” Tento não ficar ansiosa, aproveitar a minha comida e não pensar na resposta que Rylan me dará, mas é inútil, desde que o conheci, nunca mais fui a mesma. E se essa paixão é a única coisa que pode me fazer voltar a viver, vou segurá-la, nem que seja a última coisa que eu faça.
Capítulo 17 As palavras queimam dentro de mim, e sou obrigada a colocá-las para fora ou pegarei fogo.— Juliet.
Olho mais uma vez para o brilho forte da tela do celular. Estou na casa da minha mãe, em meu quarto, sobre as cobertas. Tudo escuro, exceto pelo aparelho que estou segurando há alguns minutos com a mensagem de Rylan. “Então, prepare-se princesa, para ser cortejada oficialmente”. Rylan é um bobo, concordo, mas é interessante alguém gostar tanto de
mim assim, nem sei se mereço, porque ele é gentil e um homem legal demais para se meter com alguém problemática como eu. Pensei em várias formas de responder a mensagem, e mesmo assim, não consigo digitar nada coerente. E tudo fica ainda pior quando o loiro envia uma selfie dele com um gato cinza, os dois parecem muito fofos, mas a legenda me faz gargalhar. “Será que a princesa aceitará meu cortejo?” E é exatamente por esse tipo de situação que eu gosto de Rylan, porque ele consegue melhorar os meus piores dias e consigo me sentir única e especial ao seu lado. “A princesa é muito gata.” Escrevo e sei que é uma piada péssima, mas não consigo evitar. Vejo os três pontos aparecerem na tela, sinal de que Rylan está me respondendo. Viro-me para o outro lado, com um friozinho na barriga, sentindo como se fossemos outras pessoas. Bonnie e Clyde. “Posso te ligar?” Tento respirar antes de mandar uma mensagem positiva, mas fico com as mãos geladas antes que seu nome fictício apareça na tela, me deixando exasperada. — Oi.— Falo baixinho e escuto sua respiração do outro lado, fecho os olhos e finjo que ele está ao meu lado. — Olá, Bonnie, estive pensando onde será nosso próximo assalto. Dou uma risada e acabo roncando levemente, mas espero que ele não tenha percebido que fui uma porca por um milésimo de segundo. — Não faço a mínima ideia. — Como foi o seu dia? E então, como se Rylan fosse meu diário pessoal, conto como encontrei meu pai e deixei alguns detalhes escondidos, assim como a raiva de Bruce. Refaço a mesma pergunta para ele, porque estou curiosa para saber cada mínimo detalhe. — Fui em um instituto de animais, onde ajudam os que têm doenças de todos os tipos. — Que triste, Rylan! — Na verdade, fiquei feliz em poder ajudá-los com, pelo menos um cheque. E ver os animais foi libertador, eu poderia escrever sobre isso. Saber que eu e Rylan compartilhamos o mesmo amor pela escrita me deixa muito feliz, embora ele seja um artista completo e tenha outras habilidades, como por exemplo, cantar muito bem.
— Nunca conte para ninguém que eu disse isso, mas, eu tenho um blog. — Sério, Juliet? E só me conta isso agora? Sorrimos e ficamos em silêncio por alguns segundos, antes de falarmos ao mesmo tempo, e claro que Rylan me deixa ser a primeira. — O nome é assunto delicado, tenho vários seguidores que compartilham da mesma dor que eu. Rylan fica animado do outro lado da linha, me fazendo jogar o edredom para o lado e começar a andar em círculos pelo quarto. Nunca contei sobre o blog para ninguém e isso é estranhamente inquietante. — Certo, vai ser estranho se eu disser que acompanho o blog? — Sem chance! — Estou falando sério, olhe a foto que vou mandar. Coloco a chamada no viva voz e abro a nossa conversa, segundos depois ele me manda um print de uma das primeiras postagens que fiz. Quando eu estava realmente irritada. — Ai meu Deus, nós pertencemos um ao outro, Rylan!— Falo meio brincando, meio falando a verdade. Dentre tantas pessoas, eu tinha que falar com alguém que acompanha as minhas postagens bizarras? — Você só percebe isso agora? — Como você encontrou o meu blog? — Bem, você sabe que eu escrevo textos aleatórios… o blog apareceu em um anúncio e eu simplesmente não consegui parar de ler. Todas as frases que eu escrevo, são dotadas de sentimentos escuros e profundos sobre as coisas que eu vivo, se isso o tocou, fico feliz em saber que temos algo em comum. — Mesmo que seja sobre “assuntos delicados”? Sento-me na cama e quase caio por causa da escuridão que me ronda, e enrolo as mechas do cabelo enquanto espero uma resposta. — Juliet, precisamos conversar sobre suas piadas… primeiro foi sobre a gata e agora isso? A risadinha que eu dou é bem baixa, pois escuto a campainha soar lá embaixo. Pelo visto, meu pai veio nos visitar. — Não consigo evitar.— Dou de ombros mesmo que ele não consiga ver. — E respondendo à sua pergunta, todos nós temos assuntos delicados, é isso o que nos torna humanos. Solto o ar que estava prendendo por causa de todas as coisas que já passei nesses vinte anos de vida. Brigas e confusões de família, sei que todos
têm seus conflitos e por isso leem o que escrevo. — Obrigada, Rylan. — Você agradece demais. — E você, deveria aceitar mais os meus agradecimentos. — Queria que estivesse aqui, Juliet. Espero mais um segundo, antes de ter certeza que nenhuma briga vai começar lá embaixo, e segundos depois, volto minha atenção para meu príncipe. — Por que? — Porque eu te beijaria. Engulo em seco. O desejo de ser beijada por Rylan vem crescendo e tenho certeza que estou prestes a explodir de tanta felicidade e tesão. — Não fale essas coisas, não coloque mais lenha nessa fogueira. — O problema é que eu quero você, completamente. — Eu sou uma bagunça, Rylan, preciso que saiba disso, antes de ir a fundo. — Mas é a bagunça que eu quero. E é isso, podem chamar os bombeiros, pois estou entrando em combustão. Completamente louca de desejo e querendo que esse fogo se apague porque amanhã é sexta-feira e eu preciso dormir. — Agora me deixou sem palavras. E precisando de um banho bem frio. — Gosto disso. Nos vemos amanhã? — Com certeza. — Tchau, Juliet, boa noite e sonhe comigo. — Espero que sonhe comigo também. — Irei…— A gravidade em sua voz, me faz esperar alguns segundos antes de desligar. Logo em seguida, vou correndo para o banheiro, eu não estava brincando em relação ao banho.
Capítulo 18
O desejo é a melhor forma de expressar os sentimentos.— Amy.
Café é essencial na existência do ser humano, porque se essa bebida acabar, pode ter certeza que o mundo entra em colapso. Não dormi muito bem, todas aquelas palavras me fizeram ficar bem acordada, se me entende… Beberico meu amado café enquanto olho os comentários no meu blog, sempre há algumas pessoas que comentam coisas ruins como “quem escreve isso
deve estar muito deprimido” e se eu realmente estivesse, ficaria muito triste. Mas as palavras que eu escrevo são como uma terapia, uma catarse que eu preciso ter quando não vejo saída para meus problemas. — Parece que alguém acordou cedo.— Mamãe me dá um beijo na cabeça e sorri. — Não consegui dormir muito bem. — Como foi com o seu pai ontem? Ele ficou irritado e lhe chamou de ridícula, porque você foi falar demais. — Normal.— Desvio o olhar e vejo mais um comentário, dessa vez, um positivo. “Você tem bastante talento, já pensou em escrever um livro?” Pego um biscoito e reflito por um instante, isso seria legal, juntar todas as minhas lembranças ruins e fazer um livro, talvez Bruce se interesse em ler e fique irritado. Mas também há a possibilidade de ser um livro muito bom e que vire um best-seller. — Ele não falou de mim? — Não lembro. Algo que aprendi com meus pais, é que as vezes temos que mentir para evitar brigas, um simples comentário pode deixar as coisas complicadas. Como em uma vez em que eu comentei inocentemente sobre uma garota(mais nova do que eu) que Bruce estava conversando, só de pensar nisso me dá nojo, o problema é que mamãe falou para ele, e foi um dia assustador, em que meu pai quase quebrou a minha televisão. Percebe-se que ele sempre quebra alguma coisa minha… normal. Tenho arrepios sempre que lembro do olhar mortal que ele me deu. “Você é uma garota muito falsa, Juliet! Talvez tenha algum desvio de personalidade assim como o lixo da sua mãe”. Acho que nunca chorei tanto na minha vida, ouvir essas palavras do meu próprio pai machuca, sabe? Ademais, ele chamou a minha mãe de lixo e isso me magoou demais. Desde então, não comento nada com Lisa, mas seus olhos questionadores continuam sobre mim. — Não lembra ou não quer me dizer, Juliet? — Realmente não lembro. Por favor, mãe… Lisa me deixa em paz e solto o ar que estava prendendo antes de folhear por alguns textos que escrevi no ano passado. Você tem a minha liberdade em suas mãos, e as vezes penso que nunca
encontrarei a chave dessa prisão em que vivo. A minha liberdade está há anos de distância, mas se eu realmente escrever um livro cheio desses textos, posso ganhar a condicional um pouco antes. — Seu aniversário está bem perto, querida, vai querer algum presente em específico? Quero uma casa bem longe daqui, pode ser? — Não precisa. — A partir de segunda-feira, seus dias estarão cheios, então aproveite para relaxar, quem sabe até encontrar o garoto de quem falou. Coloco as mãos ao redor da xícara quente e beberico mais um pouco de café, para aquietar meus pensamentos sobre esse aniversário estúpido. — O.k. Quero que esse final de semana seja inesquecível. •• Passo a mão mais uma vez na minha testa, esperando Rylan aparecer para contar sobre um lugar que descobri. E como se descobrisse meus pensamentos, vejo o homem mais bonito que já vi na vida, vir em minha direção, as mãos enfiadas nos bolsos ao me lançar um sorriso. Se ele tivesse uma namorada, eu estaria em perigo e ficaria com ciúmes por ela. Graças a Deus esse homem está solteiro! Rylan chega perto de mim com todo o seu corpo incrível e os tremores começam, quero terminar o que começamos ontem no telefone. — Olá, princesa… ou seria gata? Já temos piadas internas? — Oi, gostaria de ir em um lugar comigo? Levanto-me e o encaro, sua blusa branca deixa alguns traços de seus músculos a mostra, é a coisa mais sexy em que já pus os olhos. Umedeço os lábios e mordo o lábio inferior, na minha imaginação estou sensual e espero que Rylan esteja vendo a mesma coisa. É como se esse homem tivesse saído de um dos meus livros e sinceramente isso sempre foi algo que desejei. Deve ser a vida me recompensando. — Claro.— Rylan segura minha mão e em seguida entrelaça os dedos nos meus. Começamos a andar, enquanto alguns pensamentos indecentes me cercam.
O que essas mãos podem fazer? Balanço a cabeça e fico chocada comigo mesma. Umedeço os lábios mais uma vez e sigo até as escadas de segurança. Sei que é bastante óbvio, mas elas levam até uma sala bastante privada, e que a minha mente de virgem pensa em várias coisas. Não me julgue! Não tenho culpa se a paixão está me tornando outra pessoa. — No que está pensando, Juliet? Você não vai querer saber. — Eu queria um lugar para conversarmos, onde eu não ficasse pensando em Bruce, onde eu não me sentisse assombrada por ele. Começamos a descer as escadas e a minha animação atinge o máximo quando chegamos em uma porta fechada. Solto as mãos de Rylan o suficiente para procurar as chaves na minha bolsa(sou amiga do zelador e, bem, ele confia em mim). — Como conseguiu isso? — Isso importa? Ao abrir, vejo o pequeno espaço com produtos de limpeza, e o ambiente perfeito para beijos calientes e escondidos. — Ai meu Deus, Juliet… Vejo o meu desejo refletido em seus olhos ao fechar a porta atrás de nós. A ânsia está tirando toda a minha timidez e me deixando altamente destemida. — Você disse que queria me beijar? Acho que podemos resolver esse problema. Nunca fui uma garota tímida, mas fico impressionada com a minha decisão. O vulcão adormecido está entrando em erupção. Rylan se aproxima e encosta a mão na parede, ao lado da minha cabeça, me deixando bem perto de seus lábios sedutores. Minha boca fica seca enquanto outras partes de mim umedecem. — Juliet, você é uma caixa de surpresas. — Até eu me surpreendo comigo.— Deixo os lábios entreabertos e vejo seus olhos baixarem até a minha boca. Verdade. Aproximo-me um pouco mais e a tensão está me deixando louca, o silêncio está me tirando do sério, mas ficamos nos entreolhando, a respiração sincronizada e entrecortada. Até que Rylan inclina a cabeça e beija o meu pescoço, meu corpo fica febril e pedindo por mais, nunca senti nada parecido. Sua boca e experiente, pois faz movimentos sensuais que me deixam
morrendo de tesão, o que eu não sabia que era possível. Seguro sua nuca e quando o trago para meus lábios, e é como se o mundo parasse, perco a minha respiração quando ele vasculha cada parte da minha boca. Foi bom ter esperado por esse beijo, por que ele é suave no começo, leve e sem preocupações, parece que estou beijando com a minha alma, mas logo em seguida começa a ficar mais selvagem. Não tem como não gostar de algo dessa forma, como se a minha boca tivesse sido feita para a dele. Ao nos separarmos, completamente sem fôlego, anseio por mais, mas Rylan encosta a testa na minha e cerra os punhos. — Juliet, se você soubesse as coisas que eu quero fazer contigo. — Faça, Rylan. O loiro se afasta e me fita com seus belos olhos castanhos, segura meu queixo com as mãos e encosta os lábios nos meus por alguns segundos antes de falar. — Você merece mais do que ser violada em um quartinho de limpeza. — Mas eu quero. Não é como se você fosse tirar a minha virgindade aqui. Quero ser tocada.— Seguro sua mão e conduzo-a até minha barriga. Sei que estou jogando mais fogo no incêndio que criamos. Fogo, conheça a gasolina. Vejo a indecisão em seu olhar, a luta entre o desejo e a consciência. — Não posso passar o dia com desejo reprimido, é deprimente. Quero que me toque, por favor. Rylan me beija novamente, reacendendo a chama e a vontade de me entregar para ele, seus lábios macios me levam para outro universo. Suas mãos descem e vão até minha cintura, me pressionando contra algo duro, solto um gemido e jogo a cabeça para trás. Todo esse tempo lendo sobre coisas do tipo, quem diria que na vida real é dez mil vezes melhor? Perco todo meu autocontrole quando Rylan toca o cós da minha saia, baixa um pouco mais as mãos e encontra o ponto em que está me fazendo enlouquecer. — Quero você na minha cama, Juliet. Beijo o seu pescoço e quando Rylan passa as mãos pela minha blusa e toca meus seios, a pressão nos meus quadris triplica tanto que dói. — Por favor, alivie essa dor, Rylan.— Seguro a barra da sua camisa, mas ele me impede. — Não quero desonrar você aqui, Juliet, mas espero que goste do que eu vá fazer. Quando Rylan se ajoelha eu tento me apoiar na parede e, ao ver ele puxar
minha calcinha, engulo em seco, sei bem o que ele vai fazer e não sei se estou preparada, porque com certeza, ficarei viciada depois que acabar. Ele coloca um dedo dentro de mim e começo a gemer com o prazer que me dá, abro involuntariamente minhas pernas e sinto vontade de arranhá-lo. — Você confia em mim? Eu diria qualquer coisa para ele aliviar o sofrimento da minha adorável amiga, mas como realmente confio nele, assinto, ansiosa. Rylan sobe a minha saia, encosta sua boca na minha parte mais sensível e sua língua se move lentamente, aumentando a dor e fazendo com que eu coloque a mão na boca para não gritar. — Por favor, Rylan… Suas mãos ajudam e eu tremo com o prazer que nunca pensei em ter. Seguro os seus cabelos e faço movimentos que aliviam um pouco da pressão, mas que me levam para mais perto de um provável orgasmo. Leio sobre isso, não sou nenhuma desinformada. Os movimentos de sua língua começam a ficar mais rápidos e reviro os olhos várias vezes antes que um tremor forte e intenso percorra todo o meu corpo. Rylan me segura e por pouco eu não caio, tamanho o calor e fraqueza que isso me provocou. — Juliet… Caímos no chão ao mesmo tempo e sei que ele deve estar sofrendo, porque está com os olhos fechados, sem falar nada por alguns minutos. Me recupero e respiro fundo antes de falar: — Não precisa que eu faça nada?— A voz fraca e extasiada não se parece nada com a minha. — Ainda não… Solto o ar com força pela boca e vejo o membro dele através do jeans, será que ele está tão desesperado por alívio quanto eu estava? — Tem certeza? Seu amigo diz o contrário. — Se você fizer algo com ele, com certeza não vou suportar. Mesmo que Rylan tenha me aliviado, anseio por mais, e tenho que me segurar para não começar a beijá-lo novamente. Pego a minha bolsa no chão(não lembro de ter jogado) e vejo a hora no meu celular. Perdi a primeira aula, mas valeu muito a pena. Ter a minha primeira experiência de sexo oral foi bem melhor do que a aula de espanhol. — Tenho que ir, você vai ficar bem? Rylan me encara pela primeira vez em muitos minutos e morde os lábios, isso me faz suspirar, já estou preparada para mais, mas sei que não vai rolar. — Depois que você sair, encosta a porta?
Sei bem o que ele pretende fazer, então assinto e fico feliz por saber que provoquei isso nele, pois ele provocou a mesma coisa em mim. Subo as escadas com um pouco de dificuldade e ajeito os cabelos que ficaram muito bagunçados depois da experiência que tive. Uma dolorosa e irresistível experiência. Vou para a minha segunda aula, mas não consigo me concentrar em nada do que o professor fala, tudo o que penso são em olhos castanhos e no que eu desejo fazer com o dono deles. •• Horas depois, quando a última aula acaba, a vergonha e desespero pelo que fiz começam a aparecer, nem sei como vou conseguir olhar para Rylan depois do que ele fez comigo. Saio da sala de aula com os olhos bem abertos, mas isso não me torna invisível(infelizmente), então Rylan está sorrindo para mim. — Oi, princesa, quer sair? Pressiono meus lábios com força, com medo de falar alguma bobagem, porque estou me sentindo uma prostituta barata depois de ter pedido para fazer aquilo. — Tenho que ir para casa, meu aniversário está chegando, então tenho compromissos. Se eu pudesse me trancar no meu quarto e ficar lá até morrer, faria isso, mas infelizmente tenho que “encarar” os meus medos, algo que não estou fazendo nesse exato momento. — Juliet…— Rylan segura meu rosto e me levanta meu queixo gentilmente, até meus olhos encontrarem os seus. Será que tem como piorar? — Oi? — Sei o que está pensando… — O quê?— Tento controlar o tremor da minha mão, mas é inútil, a vergonha está em cada parte do meu corpo, lembrando das coisas que eu fiz. — Que eu só estou pensando em sexo? Rylan ergue uma sobrancelha e, se eu não estivesse tão nervosa, teria dado uma gargalhada, mas obviamente estou mais tensa do que pensei. Se ele realmente estivesse pensando em sexo, teria tirado a minha virgindade, mas não o fez, então dou um ponto de crédito por isso. — Claro que não! Só quero ir para casa e ignorar o mundo por um dia. Noto que estou prendendo a respiração, então puxo todo o ar que consigo, mas Rylan tem outros planos, porque se inclina no meu ouvido e sussurra:
— Isso é porque te fiz… — Não, claro que não!— Interrompo-o rapidamente e me afasto. Não quero pensar no desejo que já começou a brotar novamente no meu corpo, como ainda não estou farta dessas sensações? — Claro que é, você está ficando vermelha. — Rylan!— Digo em tom de advertência. Ele sabe que é exatamente por isso que estou com vergonha, mas está falando esse tipo de coisa mesmo assim. — Sei que não está acostumada com esse tipo de coisa. Bufo e finalmente olho para ele por vontade própria. — Não estou, é humilhante ter que olhar para você depois de saber onde a sua boca esteve. — O.k.— Ele levanta as mãos em sinal de rendição— Você venceu, depois te mando um SMS. Hoje terá festa na fraternidade, se quiser passar lá. — Sei bem o que você está planejando, Rylan.— Falo brincando e o loiro sorri ao se aproximar de mim, sua respiração no meu rosto. — Queria fazer uma maratona de séries. Se mudar de ideia…— Ele pega o celular no bolso e me mostra— Estou a uma mensagem de distância. Rylan sai andando e toco no meu coração agitado por sua mera presença. Algumas pessoas passam por mim e não fazem ideia do meu estado interior. Quero passar um tempo com Rylan, mas não sei se meu corpo vai entender isso. Conhecê-lo está no topo da minha lista de coisas para fazer, além do mais, se eu for, podemos ver se somos cinematograficamente compatíveis.
Capítulo 19 As pessoas gostam de odiar, porque é mais fácil que amar.— Rylan
— Quem você pensa que é? Sou Juliet Riviera, obrigada por perguntar, agora me deixa passar. Tento dar um passo e novamente não tenho sucesso, eu estou no lugar errado na hora mais errada. Toda a merda começou quando fui pegar algo para beber. Tudo o que estava sendo oferecido na festa tinha muito álcool, então entrei na cozinha e vi um homem com a mão nas partes mais baixas em uma posição
constrangedora(para mim, não para ele, que ficou sorrindo). Na hora fiquei sem ação, e quando dei um passo para trás, tive a infelicidade de esbarrar com a namorada dele, agora estou tentando convencê-la de que foi um engano. Infelizmente, tem mais um detalhe nessa história toda, a garota é Sofie e parece adorar a situação para arrumar confusão comigo. — Por favor, me deixa passar. O namorado dela continua no chão, provavelmente bêbado, e suas mãos estão a todo vapor enquanto tento argumentar com Sofie de que não fiz isso por querer. — Tenho certeza de que quer tomar o Ty para você. Franzo a minha testa quando escuto o nome “Ty”, nem sequer sei quem é esse garoto, além do mais, o homem em que estou interessada, está lá em cima. Me esperando. — Olhe, não sei se está me confundindo com alguém, mas realmente não quero tomar ninguém para mim, isso é ridículo. Escuto um gemido vindo do canto da cozinha e dou mais uma olhada para “Ty” que parece ter chegado ao seu clímax e, sinceramente, isso é nojento. — Não estou confundindo, já haviam boatos de que você era uma vadia, mas agora posso fundamentá-los. Estou com um olhar presunçoso no rosto, mas ele some quando escuto essas palavras, alguém me chamou de vadia? — Que boatos, garota? Não posso deixar de ficar com medo, mas espero que Sofie esteja blefando ou esteja se confundindo, até cruzo os dedos antes que ela pegue o impulso para falar. — Ah, não ouviu, Juliet?— Assim que ela enfatiza o meu nome, um arrepio percorre minha coluna — Julian falou para alguns garotos que você estava dando mole para ele e depois foi atrás de outro.— Sofie toca o indicador no queixo, como se estivesse se esforçando para lembrar de algo.— Hum, parece que o nome dele é Rylan. — Porque Julian faria isso?— Resmungo, mas ela deve ter uma ótima audição, pois escuta e dá um sorriso esnobe. — Porque Julian fez uma aposta, de que conseguiria ficar com você. Engulo em seco ao ouvir essas palavras. Tanto tempo desconfiando das pessoas e quando finalmente abro o meu coração, coisas desse tipo acontecem. Eu já deveria saber. — E depois me chamou de vadia? — Parece que a santa Juliet, não é tão santa, afinal. Como é ficar com
duas pessoas ao mesmo tempo? Quero gritar com Sofie e dizer que não estou com duas pessoas ao mesmo tempo, mas as palavras ficam presas na minha garganta. Lágrimas teimosas teimam em juntar-se no canto do meu olho, mas busco forças para não deixá-las caírem, é um dos momentos em que tenho que ser forte. — Dois é um número pequeno para vadias e por isso veio procurar o meu namorado? Cerro os punhos e trinco meus dentes por alguns segundos, antes de pegar o resto da minha dignidade. — Não estou com duas pessoas.— Minha voz treme de leve, então clareio a garganta e continuo:— Além disso, pode ficar com o seu “Ty”, fala sério, quem se masturba na cozinha enquanto está havendo uma festa? Jogo a minha trança para trás e finalmente saio da cozinha, com o queixo bem empinado e quase dou socos de comemoração no ar. E então, lembro do que Julian fez comigo… Aquele papo de “orgulho e preconceito” era mentira? Julian me enganou direitinho, pegou o meu ponto fraco e me derrubou, ele acordou uma tempestade dentro de mim. Fala sério, dizer que estou com duas pessoas ao mesmo tempo? Ele pegou pesado! Volto para a sala e saio procurando por Julian, os nervos à flor da pele. Demoro uns dez minutos antes de finalmente encontrar seus cabelos ruivos em meio a multidão de jovens. — Julian!— Grito, mas ele não me escuta, então me aproximo mais um pouco e toco em seus ombros.— Julian! — Olha só quem está por aqui. O ruivo abre um sorriso enorme para mim, mas antes que ele possa reagir, dou um tapa no seu rosto. O gesto o pegou de surpresa. — O que é isso sua louca? — Acha legal fazer apostas com o meu nome?—Grito tão alto que minha voz falha no final. — Ah, descobriu sobre a aposta, uma pena que eu não tenha chegado a outra base. Dou-lhe um empurrão com toda a força que tenho nos meus braços magros. — Tenho nojo de você, Julian! Nunca mais se aproxime de mim. É exatamente por isso que as pessoas estão achando que sou uma vadia, porque Julian os fez pensar isso. Subo as escadas e bato duas vezes na porta de Rylan, a adrenalina ainda
está correndo nas minhas veias. Espero pacientemente Rylan abri-la. Escuto seus passos e quando vejo o seu rosto, abro um sorriso genuíno. — Estava torcendo para que viesse. Ainda estou com a respiração irregular, mas tento me acalmar. — Aqui estou eu. Olho para meus sapatos brancos, a saia da mesma cor e a blusa azul com os ombros à mostra. Prometi a mim mesma que só iríamos assistir séries, nada mais do que isso. — Pode entrar. Rylan semicerra os olhos, mas, mesmo assim, abre espaço para mim e tento não pensar nos seus braços fortes, então fico de cabeça baixa ao escutar a porta fechar. Ele passa os braços pelos meus ombros e beija a minha cabeça. — Ainda está envergonhada? — Mais ou menos. Acabei de dar um tapa na cara de Julian. Falar a verdade é a melhor coisa, sei que não sou tímida nem nada do tipo, mas sou uma garota que nunca havia experimentado certos prazeres, mesmo já sendo uma adulta. — Relaxa, acho que te assustei, foi muito cedo para isso.— Rylan me puxa para um abraço e encosto a cabeça no seu peitoral malhado.— E como assim você bateu em Julian? — Sobre Julian… ele mereceu. E sobre aquilo… eu que implorei. E tão perto dele, sentindo esse cheiro, estou quase implorando novamente. É muito estranho o que a excitação nos faz fazer. — Julian mereceu? — Sim, descobri que aquele babaca fez uma aposta para ficar comigo! Nojento. Rylan toca meu rosto e tento soltar o ar que estou prendendo depois de toda a confusão. Foi libertador dar aquele tapa, mas ainda estou um pouco chateada. — Que série quer assistir?— Pergunta Rylan e se aconchega um pouco mais em mim. Nunca pensei em namorar, mas até que é legal ter alguém por perto, o que me lembra dos boatos que Julian espalhou, mas não quero neutralizar essa raiva agora. — Poderíamos assistir “Black mirror”, já me indicaram bastante.— Falo depois de pensar um pouco. — Seu pedido é uma ordem. Nos deitamos na cama e vejo Rylan escolher com o controle, enquanto isso, posso admirá-lo de perto. Os olhos iluminados pelo brilho que vem da
televisão, a sobrancelha grossa, os lábios grossos. Ele é uma obra de arte para mim, nunca canso de admirar. — Prontinho.— Ele passa a mão pelos meus ombros e eu deito minha cabeça em seu peito. Ficamos assim, deitados, como se não houvesse a música alta, vindo do andar de baixo e como se fossemos nós contra o mundo. Estar com Rylan, faz o meu cérebro se agitar com novas palavras, tento memorizá-las para depois escrever no meu blog. Todo o meu sistema nervoso entra em colapso quando te vejo, ou até mesmo, penso em você. Você é o fogo, sou a gasolina, queimamos mais forte juntos. Pode sentir o calor que emana de mim, querido? Conheço um lugar onde podemos nos esconder, quer me encontrar lá? Quer me encontrar? Não consigo me concentrar nos primeiros minutos do episódio, porque esse texto fala explicitamente sobre o que senti hoje de manhã. Aconchegada nos braços fortes desse loiro sexy, não quero pensar em mais nada, quero largar tudo e ficar com ele. — Posso dormir aqui?— As palavras surpreendem a mim mesma, mas valerá a pena. — Claro que sim.— Ele me puxa para mais perto e descobre que não podemos nos tornar a mesma pessoa, compartilhar o mesmo espaço. Leis da física. Mas seu queixo toca a minha cabeça, fecho os olhos e um sorriso toca os meus lábios. — Está muito cedo para esse tipo de coisa? — Juliet, não pense demais, vai me fazer perder mais um minuto do episódio.— Mesmo assim, ele faz círculos com o polegar no meu braço, o cansaço do dia começa a me derrubar aos poucos. Sei que é delicado falarmos sobre isso, começamos a demonstrar nossos sentimentos agora, mas o sono fala mais alto e meu corpo começa a ficar cada vez mais relaxado. — Se eu dormir, você vai ficar chateado? — Pode dormir, princesa. Recebo mais um beijo no topo da minha cabeça, antes de ceder completamente à escuridão.
Capítulo 20 Você é uma tempestade que invadiu o meu céu azul, e me fez perceber que o cinza é interessante.—Juliet.
É um lindo dia quando se acorda com as pernas ao redor de quem você gosta, melhor ainda se essa certa pessoa está observando o seu sono. — Bom dia, princesa. Gosto quando ele me chama assim, porque as princesas sempre têm um final feliz, mesmo as que mais sofrem. Sou otimista para pensar que todo esse caos vai se transformar no paraíso.
Espero me formar e ir para bem longe, começar a minha vida, assim como a Rapunzel depois que fugiu do castelo. — Ronquei muito?— Espreguiço-me sorrindo e sento na cama espaçosa de Rylan. — Com certeza, até achei que estivesse com problemas graves de respiração.— Pelo tom de brincadeira sei que não é verdade, mas também não sei se é completamente mentira. Todo mundo ronca! — Tudo bem, quero fazer um convite…— Rylan continua me observando, mas agora está apoiado nos cotovelos, os olhos fixos em mim, como estavam a alguns minutos atrás. — Sou todo ouvidos.— Ele coloca a mão livre na orelha e solto uma risada nada bonita. — Meu aniversário está chegando e vou ficar um pouco ausente a partir de segunda-feira. Quero te convidar para a minha festa, você iria? Rylan me puxa para seus braços e beija minhas bochechas, lembro dos lugares que ele já me levou e das coisas que me falou, fico feliz por estar aqui. Ontem quando disse a minha mãe que dormiria fora, ela não gostou muito disso, mas eu já tinha tudo planejado, quero um ótimo final de semana e terei. — Juliet, claro que sim.— Recebo mais um beijo e quando percebo o quão perto estamos, fico com medo de estragar tudo com a minha timidez, mesmo que eu esteja louca de desejo.— Mas antes disso, para onde quer ir? — Podemos pedir comida e ficar por aqui mesmo? — Ótima ideia.— Rylan se levanta, enquanto me perco em devaneios. Não houve nada sexual entre nós, mas dormir na mesma cama mudou o ar. Já ouvi falar sobre vários casais que deram errado porque se jogaram de cabeça em um relacionamento, mas muitos outros foram felizes. Muitas pessoas pensam que um relacionamento é baseado no tempo e na espera, mas vou dizer uma verdade, várias delas acabam em um casamento sem amor, muitas vezes sendo espancadas, porque nunca conhecemos uma pessoa cem por cento. Mostramos nossas melhores partes para desconhecidos e depois as máscaras vão caindo, infelizmente na maior parte das vezes o que há embaixo não é nada bonito. Jogar-se em um relacionamento é ver mais rápido quem está por trás das máscaras, porque quando passamos muito tempo com alguém, esta pessoa não pode se esconder por muito tempo. — O que você quer comer? Se quiser que eu vá em uma das empresas do meu pai…
— Não quero incomodá-lo, podíamos pedir uma pizza. — Com bastante molho? Sorrio e mostro meu polegar para cima. Estou me sentindo preguiçosa depois de passar a noite aqui, lembro da segunda vez, quando Rylan me trouxe e tive uma ressaca. Logo depois de fazer o pedido pelo aplicativo de comida, Rylan deita a cabeça na minha barriga e fica me observando com seus olhos incríveis. Uma hora ou outra esse encantamento vai passar, tenho certeza, quando ele se der conta da bagunça ambulante que eu sou. — Você é uma obra de arte, Juliet. — Eu? Com esse cabelo bagunçado e essa cara de sono? Passo as mãos pelos seus cabelos, sentindo a maciez e fazendo cafuné, porque todo mundo ama esse tipo de coisa. Rylan diz que eu sou uma obra de arte, mas, na verdade, é ele. Uma obra rara que eu quero descobrir como foi feita e todas as suas raízes. — Não poderia estar mais bonita. Ficamos parados, olhos nos olhos como se não existisse nada melhor para fazer, mas temos um final de semana antes da agitação dos preparativos da minha festa. — A comida vai demorar? — Talvez…— Rylan começa a fazer desenhos invisíveis no meu braço e ficamos assim por um tempo, pelo menos até alguém bater a porta, e nos tirando da nossa bolha de proteção. — Rylan, seu desgraçado, tem alguém que quer te ver. Ergo uma sobrancelha e ele dá uma piscadela(caramba, eu amo quando ele faz isso) e se afasta de mim. — Volto já.— Rylan segura a minha mão e dá um beijo caloroso, antes de destrancar a porta e sair do quarto. Enquanto isso, dou uma volta pelo quarto, pois agora que estou com tempo, posso tentar descobrir algo sobre Rylan que ainda não sei. Um exemplo disso é o porta-retratos que está sobre a mesa de estudos, implorando para ser vista, me aproximo e vejo que é uma foto dele com os pais. A mãe de Rylan é jovem e bonita, com os cabelos volumosos e ondulados, enquanto o pai é bem parecido com uma versão jovem do meu… namorado? Com certeza, não sei em que estágio estamos, mas nunca gostei de rótulos, então talvez eu só use esse termo na minha cabeça. Fico imaginando que tipo de problemas a família dele tem, se são sorridentes assim o tempo inteiro, ou se precisam resolver seus conflitos todos os
dias. — Alguém está vasculhando minhas coisas?— Solto o porta-retratos no chão e viro-me com as mãos para cima. Não posso negar minha curiosidade. — Que droga, Rylan, você me assustou! Pego o porta-retratos do chão, e fico feliz quando vejo que não está rachado, devolvo para o lugar onde estava. Rylan chega mais perto de mim e beija o meu rosto. — Está tudo bem?— Pergunto quando percebo uma expressão estranha em seu rosto, não sei quem era a visita, mas claramente não o deixou muito feliz. — Tudo. Ele não quer falar sobre isso e eu não quero que isso estrague o nosso dia, por isso passo as mãos por sua cintura e encosto o meu corpo no seu. Rylan demora alguns segundos para retribuir o meu abraço, mas assim que o faz, me aperta tanto que fico sem ar. Ele está precisando de consolo, a razão eu desconheço, mas eu serei a pessoa que ele precisa. — Sabe, sempre que quiser desabafar, estarei aqui. — Eu sei, mas há coisas que não consigo colocar para fora. Então é por isso a terapia… — Entendo, Rylan, mas quando conseguir, quero estar ao seu lado. Rylan não responde, apenas me puxa para mais perto e encosta a testa na minha, é um gesto tão íntimo que me deixa sem ação. As palavras não são necessárias, pois ele está gritando em silêncio, tentando colocar tudo para fora, e é um pouco agoniante ser parte disso, quase como eu sentisse sua dor. É muito delicado. •• — Tenho certeza que ele não vai fazer isso…— Digo, com a boca cheia de pizza, enquanto assistimos ao primeiro episódio de black mirror. É intitulado de “hino nacional” e sequestram a princesa da Inglaterra, o que pedem é realmente bizarro, mas não darei spoiler. — Será? Rylan assistiu ontem, então já sabe o desfecho da história. Nossos dedos estão engordurados, mas a pizza está realmente deliciosa, com molho extra. A tensão que havia mais cedo já desapareceu e fico grata por isso. — Impossível ele realmente ceder aos caprichos desse sequestrador! — Você salvaria a vida da princesa? Coloco os dedos na boca e viro-me para ele, pensando em sua pergunta, o que seria pior, fazer a coisa mais nojenta do mundo ou deixar a princesa morrer?
— Não faço a mínima ideia, e você? — Tendo em vista que eu sei o final, não salvaria a vida dela. — E a rejeição? — Ele pode sair do país. Ergo a sobrancelha, desconfiada com a sua resposta, mas depois que o episódio acaba, descubro a razão de sua resposta. — Essa série é maluca… A caixa da pizza continua no chão, enquanto estamos deitados, com níveis preocupantes de gordura no corpo. — Quer assistir mais um episódio? Assinto e fazemos isso durante toda a manhã, as temporadas têm poucos episódios, o que facilita as coisas, pelo menos, gostamos mesmo da série. Somos compatíveis cinematograficamente? — Que tipo de filme você gosta? Passar um tempo com ele está sendo bom demais para ser verdade, mas se Rylan gostar do mesmo tipo de filme que eu, não sairemos dessa cama hoje. — Ação, suspense… agora deixe-me adivinhar o seu tipo de filme. — Fique à vontade.— Encosto o queixo em seu peito musculoso e tento não focar em seu abdome malhado e cheio de gomos sedutores. — Imagino que goste de romance e comédia. — Bem, primeiramente você tem um ótimo gosto para filmes e não poderia estar mais errado quanto a mim, sou o tipo de garota que ama terror e filmes sombrios. — Estou impressionado, gosto ainda mais de você agora que sei disso. — Sou diferente. — Sei disso, por isso está aqui comigo, na minha cama. Franzo o nariz ao ouvir isso e penso em alguns filmes que gostaria de assistir com ele, já que gostamos do mesmo tipo de filme, podemos nos divertir bastante essa tarde. — Que tal assistirmos “psicose”? — Tem na netflix? — Já percebeu que sempre respondemos as perguntas com outras perguntas? — Como agora? Caímos na risada e, descubro que o filme que indiquei não tem na “Netflix”, então baixamos pelo torrent e assistimos, queria poder reviver esse dia, várias vezes. •• A noite chega e fico triste por ter que ir embora, mas preciso
urgentemente de um banho e de novas roupas. Felizmente, Rylan me promete que amanhã será muito melhor e que vamos nos divertir bastante. Nem consigo imaginar o que ele está aprontando. Estamos perto do condomínio da minha casa, o carro ligado apenas por causa do ar-condicionado, é claro que ele veio me trazer. — Consegue viver sem mim até amanhã? — Parece que alguém está ficando convencido… — Consegui derreter o seu coração de gelo, então posso ser convencido. Assim que as palavras saem de sua boca, lembro de coisas ruins, como por exemplo, a aposta que Julian fez nas minhas costas. — O que foi? — Só estou chateada com o que descobri na festa… — Ficou muito tempo por lá? — Não fiquei, acho que deveria ter dado mais um tapa em Julian. Rylan toca no meu rosto e é tão prazeroso que tenho que fechar os olhos por alguns segundos, antes de voltar a falar. — Acha que se sentiria melhor? — Talvez não… mas fazer uma aposta? E agora todos pensam que eu estou dormindo com ele e com você ao mesmo tempo. Traduzindo, estão dizendo que sou uma vadia.— Digo as palavras tão rapidamente que me falta ar quando termino. — Não fique assim por causa daquele idiota, eu deveria ter te alertado antes. — Não se sinta culpado por ele, mas estou me sentindo muito mal. Não consigo segurar a lágrima que escorrega pelo meu rosto, deixando um traço molhado por onde passa, deixo mais algumas gotas se acumularem e caírem pelo meu queixo. — Não chore, meu amor.— Rylan me puxa para ele e mesmo com a marcha do carro entre nós, fico aliviada por poder contar isso para alguém, porque obviamente não posso dizer isso para a minha mãe. Nem consigo me alegrar quando ele me chama de “amor”. — Meu castelo desabou do dia para a noite, uma hora eu era a garota intocada e tinha uma reputação, na outra, sou chamada de vadia… isso me afetou mais do que eu percebi. As lágrimas estão a todo vapor, enquanto isso, Rylan faz carinho no meu braço, desde a terapia, ando emocionalmente instável. — Primeiro foi aquela foto horrível e agora isso! Não sei o que fiz para essas pessoas me odiarem tanto assim. — Não precisa de muito para gerar ódio nas pessoas, elas dão o que
recebem, pois é um mundo cruel, Juliet. — É verdade. — Nem pense em me agradecer, sei que está prestes a fazer isso. Solto uma gargalhada e enxugo as lágrimas com as costas da mão. — Me conhece tão bem… Olho para a hora em meu celular e recebo mais uma mensagem da minha mãe, ela praticamente está implorando para que eu chegue logo em casa. — Tenho que ir. — Até amanhã? Assinto e seguro sua nuca, preciso de um belo beijo de boa noite para esquecer os meus problemas por alguns instantes. Ao encostarmos os nossos lábios, é como se o mundo parasse e acabasse ao mesmo tempo, é cheio de vida e extremamente delicioso. Suas mãos grandes estão nas minhas costas, sobem e descem tão rápido que quase entro em desespero. Selvagem, selvagem. Não nos beijamos durante o dia, mas estamos fazendo isso tão bem que não importa, quero essas mãos percorrendo todo o meu corpo. Gemo o seu nome e ele geme o meu. Até me atrevo a lamber o seu lábio inferior e é delicioso demais para poder raciocinar. Quando Rylan passa suas mãos por mim uma última vez, estou quase reconsiderando me entregar para ele aqui nesse carro, mas ele se afasta primeiro. — Juliet… vá… Como posso dizer a ele que minhas pernas ficaram molengas depois desse beijo? Mordo os lábios inferiores e cruzo minhas pernas, ficando arrependida em seguida quando a pressão aumenta e me deixa ainda mais louca. — Um minuto…— Sussurro, sem fôlego, pois minha voz está estranha. Ainda estou me acostumando com todas essas sensações, o meu desejo me cega e faz com que eu tome péssimas decisões. Algo em Rylan me faz sentir mais mulher, coisas que só entendi quando o conheci, naquele quarto, enquanto Julian estava com outra garota. Só em pensar no traste, parte do clima se desfaz, então, dou um último beijo no rosto de Rylan, meus lábios se fixando por alguns segundos, e saio do carro. Mal passo pela porta quando mando uma mensagem para ele. Se toda vez que nos beijarmos for assim, preciso de um extintor por perto, para não causar um incêndio.
A resposta não demora a chegar. Você poderia colocar essa mensagem no seu blog, é sexy demais. Toco nos meus lábios inchados e sorrio para mim mesma, antes de ver a minha mãe deitada no sofá, não preciso me aproximar muito para perceber que está com os olhos inchados. — Mãe? Lisa coloca um sorriso no rosto, mas ignoro e ela levanta os pés para que eu possa sentar. Não preciso me esforçar muito para saber o que aconteceu. Bruce. — Pode me contar o que aconteceu? —Não aconteceu nada. — Mãe, já passamos dessa fase em que você não me conta as coisas. Mamãe senta ao meu lado e paro para refletir que nós temos que enfrentar nossos próprios demônios, todos os dias. — Pensei que você fosse gostar da cor azul para a sua festa, mas quando falei isso para o seu pai, ele ignorou a minha ideia. — Oh, mãe. Eu realmente amo a cor azul.— Abraço-a e ela se encolhe em meus braços, parece tão indefesa que sinto uma dor no meu coração. — Sei disso, mas ele escolheu vermelho. Vermelho, sério? — Não se preocupe com isso, o.k.? — Bruce está cada vez pior comigo, disse que se eu tentasse mudar alguma coisa sem que ele soubesse, faria besteira. — Está repreendido ele fazer alguma coisa com você, nem consigo imaginar. Essa ideia me assusta para caramba. Posso lidar com um vestido vermelho, pois é apenas uma cor. — Juliet, seu pai é doente, precisa de ajuda. Deus me livre tentar ajudá-lo, a última tentativa não foi nada legal, então eu desisti. — Não diga esse tipo de coisa para ele… — O.k., pode me contar sobre o seu dia? Quero boas notícias para variar. — Ela funga e meu coração se parte ao vê-la tão triste assim. — Não teve nada de interessante, apenas começamos a assistir uma série, posso assistir com você depois. — É de romance? Se não for eu não quero. Reviro os olhos, porque não sou uma fã de filmes de romance, prefiro os
livros, mas a minha mãe chora toda vez que vê esse tipo de adaptação, então, naturalmente sou obrigada a acompanhá-la. — Posso dormir com você? Faço essa pergunta, porque sei que Lisa não vai pedir e está precisando de um consolo da sua única filha, queria vê-la ser feliz novamente, ter alguém ao seu lado quando eu for embora. Essa ideia não sai da minha cabeça, quando se trata da felicidade da minha mãe, eu faço de tudo. Eu amo essa mulher, mesmo que as vezes, ela me tire do sério. — Claro que pode, Juliet! Meu nome é uma das poucas coisas que Bruce não escolheu, isso me deixa muito feliz, pois ele não consegue controlar tudo. — Eu te amo tanto…— Falo e me deito em seus ombros. Mães deveriam ser eternas. — Eu te amo bem mais, Juliet.
Capítulo 21 Tome um banho e tente relaxar, uma hora tudo passa.— Juliet
Certa vez, um monge me disse que quando o seu dia estiver ruim, você pode pensar nas coisas pelas quais se sente grato, pois a calmaria vem de dentro e faz maravilhas. Todas as vezes que recebo uma ligação, tenho que me esforçar para não surtar, acho que se eu contar isso para a minha psicóloga, Angela, ela vai me confirmar que é porque eu não gosto de atender o meu pai. Respiro fundo, os olhos fechados em uma posição que vi na internet para
relaxar, pernas cruzadas, as mãos na altura do peito, unidas, ao soltar o ar suavemente. Fico quase meia hora, antes de perceber que não está me ajudando hoje, porque Bruce me mandou uma mensagem, cobrando atenção. — Tem como ser mais bipolar? Escuto um bip do celular e viro-me para a cama para pegá-lo, tem duas mensagens, uma de Amy e outra de Rylan. Juliet, você sumiu ontem, nem falou comigo, estou realmente chateada! A típica Amy carente, geralmente ela não se importa com meus sumiços, mas em algumas ocasiões, fica estressada com isso. Já a de Rylan é bem mais tranquila, é uma selfie dele na academia, deixo os lábios entreabertos, pois com essa regata, posso ter uma ótima visão de seus bíceps e ombros largos. Quer treinar comigo? Quem dera eu gostasse de academia, talvez estivesse com uma grande bunda como as kardashians, mas fazer exercício é a minha ideia de purgatório. Odeio suar e ficar cansada, e treinar traz as duas coisas. Deixo para a próxima(vida), mas pode me mandar mais fotos? Está tão sexy que quase me teletransportei para te dar um beijo. Deito-me na cama e aguardo alguns segundos antes de ter uma resposta, dessa vez, ele mostra um pouco da barriga e juro que estou à beira de um colapso. O corte v de Rylan é de molhar a calcinha, a curva demarcada entre o abdome e a pélvis é de me deixar louca em alguns segundo. Olhe o que você fez comigo, Rylan! Acrescento mentalmente antes de tentar tirar uma foto e mandar para ele. Abro a câmera e ergo levemente a sobrancelha, em uma expressão séria e lábios entreabertos, e o rosto virado de modo que tenha uma boa visão do meu maxilar. Gosto do resultado e coloco um efeito preto e branco antes de enviar. Não costumo usar redes sociais, mas o instagram está praticamente implorando para ser usado, e depois de tanto tempo abro o aplicativo, enquanto Rylan não responde o que achou da minha foto. Deixei de olhar o feed das pessoas, pois todas pareciam felizes demais,
sem mostrar as mágoas e como se o aplicativo fosse o país das maravilhas. Minhas fotos sempre foram as mais sombrias, aproveito para procurar o ig de Rylan, e surtar um pouco mais. Amy me envia um áudio e conhecendo bem a minha amiga, se eu não responder, ela irá me ligar diversas vezes. A voz dela é pura preocupação, e aumento um pouco mais o volume para entender. — Juliet, ouvi umas coisas bizarras… sobre o seu querido Rylan. Uma garota soube de uns boatos a seu respeito, inclusive te defendi com unhas e dentes, mas voltando ao que importa, ela me falou que Rylan não é quem diz ser. Reviro os olhos, porque as pessoas sempre inventam mentiras, não quero ser abalada por elas, mesmo assim, ligo para Amy. — E como ela sabe?— Não sou cortês e vou direto ao assunto, sei que minha melhor amiga tem as melhores intenções, mas não quero que minha bolha de felicidade seja estourada por causa desses rumores. — Juliet… ela viu Rylan entregar um pacote estranho para os estudantes, todos sabem que ele trafica esse tipo de coisa. Paro de raciocinar por alguns instantes, mas Rylan nunca me pareceu esse tipo de homem, será que me enganei novamente em relação a isso? — Trafica mesmo? — Sim, me perdoe, não queria falar sobre isso, mas é meu dever como sua amiga. Seguro o celular com mais força na orelha, não é possível que ele seja um criminoso, eu saberia! — Amy, não consigo acreditar que isso seja verdade. Ela suspira do outro lado da linha e escuto sua mãe gritar pelo seu nome. — Preciso ir, falo com você depois. Jogo o celular para bem longe de mim, enquanto absorvo tudo o que acabei de ouvir, meu coração se desestabiliza de vez e bate descompassadamente. Passo a mãos pelos cabelos e lembro quando Rylan apareceu em uma festa que não era da sua fraternidade. Tudo faz sentido agora! Ele estava lá, porque ia entregar drogas naquela maldita festa. Sinto meu estômago embrulhar quando a realidade chega até mim, com força suficiente de um terremoto. Ele é realmente um “Clyde” na vida real. Balanço a cabeça em negativo e me pergunto se ele usa tudo o que vende, ou se apenas faz com que outras pessoas cheguem mais perto da morte. “Não quero falar sobre isso”, foram as suas palavras sobre a minha pergunta naquele dia da festa, obviamente não queria me falar que estava
traficando drogas. Não sei quando isso aconteceu, mas estou chorando, segurando minhas pernas e me balançando levemente para frente e para trás. Não posso ter me enganado tanto em apenas um mês. As duas pessoas em que me abri escondiam algo, primeiro Julian que fingiu gostar das mesmas coisas que eu, e agora Rylan, para quem quase entreguei meu coração. A mensagem que aparece com o nome “Clyde” me faz chorar ainda mais, porque isso não diminuiu os meus sentimentos, além do mais, tenho que saber se é verdade pela boca dele. Nosso encontro mais tarde está de pé? Pergunto-me para onde ele irá me levar e se me contará a verdade, mando uma carinha sorridente e logo em seguida, Rylan me responde. Tenho algumas coisas para resolver, nos vemos mais tarde. Provavelmente pegará mais carga para distribuir… não queria que esse detalhe mudasse a minha visão sobre ele, mas é um pouco improvável. •• Tomo um banho demorado e relaxante, tentando recarregar as minhas energias, ao chegar no quarto, recuo ao ouvir meu celular tocar. Depois do susto inicial, vejo que é meu pai(parece que ele tirou o dia para me atormentar), coloco o aparelho no ouvido e prendo a respiração. — Juliet? — Oi.— Não tem como ser mais desanimada do que isso. Sento na cama e seguro a tolha firmemente no meu corpo, com os ouvidos bem abertos, temendo que ele tenha descoberto algo sobre mim. — Viu a mensagem que mandei? Sim, mas responder tomou um pouco da minha paz de espírito… — Sim. — Quero que me entenda, querida, me dê mais atenção, não gosto de pedir isso, era para ser sincero de sua parte. — Eu sei, mas eu não gosto de ligações. — Temos muito em comum, era para você perguntar como estou e essas coisas bobas. Bruce está ficando cada vez mais irritado, e minha paciência está se esvaindo aos poucos, esse dia tinha que ficar pior?
— Me desculpe. Se ele fosse um pouco diferente… mas como Bruce é desse jeito, não facilita as coisas, nem consigo me sentir culpada. Depois de tudo o que presenciei e escutei vindo dele, tudo o que quero é distância. Sim, eu o amo, não pense que não, só não aguento conviver com o meu próprio pai, quero me mudar de vez para a casa da minha mãe. — Quero ver mudanças em você, Juliet, está cada vez mais falsa e parecida com a sua mãe. Tento controlar a minha respiração e raiva, mas simplesmente não consigo, elas saem pela minha boca tão rápido que não controlo. — Quer parar de me comparar com a minha mãe? Ela é uma pessoa completamente diferente de mim.— Minha testa franze e eu respiro fundo quando acabo de falar. Depois de alguns segundos, Bruce cai na gargalhada do outro lado da linha, algo que nunca pensei que fosse ser possível, faz muito tempo desde que ouvi sua risada. — Era isso o que eu queria ouvir, agora se me dá licença, preciso voltar a trabalhar, beijos minha filha, amo você. Meu estômago se revira com a raiva que estou sentindo, se ele quer que eu mude, o.k., mas não se arrependa. É como se eu tivesse ganhado impulso para dizer tudo o que sempre quis para ele, não pode ser tão difícil, certo? Ele é meu pai!. Bruce disse que era o que ele queria ouvir e isso me deixa muito preocupada, conhecendo o seu jeito perverso, fico com medo do que pode fazer com essa informação. Toco no rosto, sentindo a frieza de minhas mãos, não quero que meus problemas caiam como uma avalanche em cima de mim, por isso, lembro que tenho um encontro. O céu já está completamente escuro e fico apreensiva, espero que essa noite salve o péssimo dia que tive, para que eu possa ser grata por alguma coisa. Meu guarda-roupa precisa ser renovado, porque faz um tempo que não faço compras, vejo a infinidade de roupas pretas e brancas. Uso essas cores, porque assim não me destaco entre as pessoas. Escolho um top preto e simples, que deixa a minha barriga à mostra, bastante ousado, eu sei, mas quero me descobrir, algo que nunca permiti antes. Um exemplo disso é que eu não sabia que ficar excitada é tão bom, bem… agora eu sei muito bem, se aquilo foi um experimento do que será o sexo,
não sei como me segurei por tanto tempo. Quero me permitir, descobrir novos lugares, pessoas e sentimentos que eu possa escrever. Voltando para o que realmente importa agora, ou seja, as minhas roupas, pego a minha jaqueta jeans e jogo por cima do top, olho no espelho por pouco tempo, até lembrar que preciso achar minhas calças jeans. É um passo bastante importante, lembrar de colocar as calças… Abro as gavetas e encontro algumas opções, mas escolho uma escura que deixa os joelhos à mostra, como é cintura alta, não vou me incomodar tanto com o pedaço de pele que deixarei à mostra. Entro no banheiro e começo a fazer minha maquiagem, não quero exagerar, então opto por um delineador básico e grosso, ao terminar vejo que não errei o traço e isso me deixa muito feliz. Logo em seguida passo um batom vermelho que se destaca na minha pele morena, me sinto estonteante, tamanho o poder da maquiagem na vida de uma mulher. Eu e Rylan temos o timing perfeito, pois assim que termino de passar meu perfume, recebo uma mensagem em que ele diz que está me esperando. Andar pelo condomínio como se fosse uma criminosa em fuga não ajuda em muita coisa, mas fico ligeiramente assustada quando vejo um carro vindo em minha direção. Bip. Quando escuto a buzina que ressoa pelo veículo, meu coração para, não é possível… Tento mover meus pés, mas não consigo, então fico parada na calçada e o carro passa por mim, ao ver o rosto de Rylan, solto o ar que estava prendendo. Podia jurar que era Bruce e se fosse… eu estaria em maus lençóis. Ter que explicar onde estou indo com essas roupas não seria fácil. — Rylan! Eu disse para me esperar lá fora. — Não queria que andasse tanto, e olhando para você desse jeito, percebo que fiz a coisa certa. Dou a volta pelo carro, emburrada, se ele vier com ideais machistas para cima de mim, vou descontar todo o meu humor de leão para cima dele. — Porque fez a coisa certa? Estou muito vadia?— Digo enquanto coloco o cinto. Ele franze a testa e dá a volta com o carro na direção da saída, mas antes que possa responder qualquer coisa, eu o interrompo: — Como você passou pelo portão? Entrar nesse condomínio é muito difícil, será que ele ofereceu drogas
para o porteiro? — Simplesmente disse que vim te buscar. Fecho os olhos, porque preciso parar de pensar em Rylan como um maconheiro, estou julgando antes de saber toda a história. Desde que soube que ele trafica drogas, é como se eu pudesse vê-lo em uma varanda qualquer, com um cigarro nas mãos, ao pôr do sol. Não me leve a mal por ter uma imaginação fértil. — Você ainda não me respondeu sobre minha roupa… — Você me interrompeu antes que eu pudesse fazer isso. Rylan continua com os olhos focados na estrada, mas posso ver que está magoado com o jeito que estou o tratando, tenho que lembrar que ele é o mesmo que conheci naquele quarto. — Me desculpe, estou uma pilha de nervos hoje…— Uma parte dela por sua culpa!— Sei que nunca me acharia uma vadia ou algo do tipo. — Só queria te dizer que está linda e que ficaria muito enciumado por alguém babar por você. Meu coração amolece e fico arrependida por desconfiar dele, mas preciso saber com quem estou lidando. — Hum… era isso mesmo? — Claro que sim.—Rylan olha para mim rapidamente, tirando os olhos da pista, mas lhe dou um tapa. — Pare de olhar para mim e foque na estrada! — Sua beleza está me deixando cego. Não tem como ficar com raiva de Rylan quando ele fala nesse tom de brincadeira, começamos a sorrir e peço para que ele ligue o som, até chegarmos. Rylan coloca o CD “evolve” do Imagine Dragons, e danço loucamente a música “believer” ao mesmo tempo que canto a plenos pulmões, é uma das minhas músicas favoritas. Eu estava quebrado desde tenra idade Tomando meu mau humor para as massas Escrevendo meus poemas para os poucos que olham para mim, levou-me, apertaram-me, sentindo-me que cantam do sofrimento da dor Tomando minha mensagem a partir das veias Falando minha lição de o cérebro Vendo a beleza através da dor
Assim que a música acaba, estou me sentindo calorenta e bastante rouca,
sinto essa música nas minhas veias, tudo parte da dor, eu basicamente escrevo sobre ela. Rylan passa um bom tempo sorrindo da minha performance, e quando enfim chegamos em frente a um restaurante, minha barriga reclama, pois já faz um bom tempo desde que comi. O manobrista leva o carro para longe e fico animada quando Rylan segura a minha mão, já estou acostumada com a sua mão enorme sobre a minha. — Espero que goste daqui. Não consigo me concentrar em nada assim que passamos pela porta de entrada, as luzes avermelhadas fazem tudo parecer uma cena de filme. Observo maravilhada todos os quadros e até as guitarras penduradas na parede. — Rylan, você conhece os melhores lugares! O loiro sorri e encosta os lábios no meu pescoço rapidamente, e seguimos até uma mesa vaga na mesa nos fundos do pub. — É um pub para quem gosta de rock e parece que você estava adivinhando, está vestida nessa temática. A última coisa em que pensei nessa noite foi me vestir como uma roqueira, estou mais para gótica suave, mas Rylan não precisa saber minhas intenções. — Olha, quero falar com você sobre… Não concluo o pensamento, porque a garçonete chega e nos interrompe com o cardápio, mas Rylan está me encarando com a testa franzida. — Vou querer uma porção de fritas e uma coca cola bem gelada. — O mesmo para mim. A mulher vai embora e, finalmente tenho Rylan somente para mim. Mesmo com a música e com a meia luz, o ambiente é agradável, diferente do tópico principal dessa conversa. — O que quer falar comigo? Ele cruza as mãos e fixa os olhos em mim, juro por Deus que não consigo raciocinar bem quando ele me olha dessa forma. Fecho os olhos e lembro do que queria falar. — Isso é estranho, mas fiquei sabendo de algo… que droga, eu não queria falar isso. — Juliet, calma, relaxe.— Rylan encontra a minha mão e a aperta gentilmente. — Rylan, você é traficante? Meu namorado me encara sem saber o que falar e essa expressão me diz tudo, ele realmente é. Puxo a minha mão do calor confortante da sua, enquanto a realidade dá as caras para mim.
Ele tem dinheiro, é só olhar para as empresas que o pai tem e para o carro bonito, e mesmo assim, trafica drogas? Que merda é essa? É divertido? — Eu posso explicar. — Pretendia guardar esse segredo por quanto tempo? — Alguns segredos nunca devem vir à tona, mas eu quero contar a verdade faz um tempo. Bufo com raiva e espero que a garçonete coloque o nosso pedido na mesa antes de perguntar: — Tem uma verdade por trás disso, então? — Claro que tem, Juliet. Por favor, me escute antes de agir como criança. Ai. Nem consigo falar nada depois disso, mas Rylan fecha os olhos, claramente transtornado, enquanto pensa no que me dirá. — Não faço isso porque quero, é uma dívida que está perto de acabar.— Ele solta o ar pela boca e baixa a cabeça, meu coração se parte com o olhar cheio de sofrimento que ele me lança. — Pode confiar em mim, Ry… — Tudo começou quando eu era jovem, totalmente imprudente e espero que não me odeie depois do que eu tenho a dizer. — Acho impossível te odiar, Rylan, fiquei muito chateada quando soube disso por outras pessoas, mas ódio é uma palavra forte demais. — Você ainda não escutou a pior parte… Seguro suas mãos por cima da mesa, afastando a batata frita para o lado e fazendo com que ele continue a história. — Era uma quarta-feira, a minha mãe pediu para buscar o meu irmãozinho na escola, eram apenas uns dois quilômetros, uma distância pequena…— Ele engole em seco e evita ao máximo me olhar, meu braço fica arrepiado, com medo do que ele vai me revelar— mas o que ela não sabia era que eu havia bebido uma garrafa de vinho.— Sua voz embargada e trêmula, faz algumas lágrimas se acumularem nos meus olhos, já posso até imaginar o que aconteceu. — Sinto muito que você tenha passado por isso. — Não entendeu, Juliet? Eu matei o meu irmão! O acidente aconteceu perto da minha antiga casa, e tivemos que nos mudar depois de alguns dias. Meu coração afunda mais um pouco no peito e franzo a testa, porque não termina aqui, sou inteligente demais para prever um efeito dominó nesse enredo. — Você não matou ninguém, acidentes acontecem o tempo inteiro, não se puna por isso.
— Se eu não tivesse bebido, ele estaria vivo. — Ou não… o acidente poderia ter acontecido de outra forma. — Eu acertei o caminhão, foi minha culpa, Juliet, não tente amenizar isso. — Não estou amenizando nada, é a verdade, Ry, não pode passar a vida se culpando por um erro. Erros trazem consequências irreparáveis, mas não podemos voltar para apagá-los, é um caminho sem volta. — E eu vi a minha família inteira se virar contra mim, foi assustador para caralho. Me senti vazio e sozinho no mundo, foi nesse período que quase acabei com a minha vida. Estamos ambos chorando tanto que temos que respirar fundo. Eu, por causa da tragédia que trouxe coisas ruins demais para Rylan, ele porque as lembranças doem, e abrem feridas que já estavam cicatrizadas. — É tão triste, me desculpe… ando muito sentimental ultimamente. — Me desculpe, não gosto de contar essa história, por isso fiz algumas sessões de terapia. Quando esbarrei com ele naquele dia, sabia que ele era quebrado por dentro, mas nunca pensei que fosse tanto assim. Concordo com o que ele disse, alguns segredos devem ficar guardados, pois são delicados demais. — Se não quiser continuar, tudo bem.— Faço carinho em sua mão, mas ele balança a cabeça. Ver Rylan chorar é angustiante, quero muito tirar esse sofrimento dele, mas não posso; — Eu estou bem.—Funga e continua:— Minha mãe já tinha problemas de ansiedade e depois que Noah morreu, ela entrou em depressão, foi horrível, e eu vi tudo aquilo acontecer por minha causa. As lágrimas escorregam pelo meu rosto e espero que eu e Rylan tenhamos um final feliz, pois merecemos depois de tanta merda. Sempre pensei que tivesse uma vida complicada, mas não sou a única, há bilhares de pessoas no mundo, todas elas com uma história de vida na maior parte das vezes, triste. — Implorei para que ela saísse de casa para se divertir, mas a primeira coisa que ela fez foi se entregar à bebida. Meu pai foi o único que ficou ao meu lado, sempre me falando que não era minha culpa, mesmo que eu visse em seus olhos o oposto. — Oh, Rylan… — Pensei que se eu morresse tudo se resolveria, mas depois de raciocinar, percebi que tornaria ainda pior, porque minha mãe perderia seu outro
filho e talvez não suportasse. Fiz isso por ela, não desisti de mim por ela. Acabo de me apaixonar oficialmente por Rylan, meu coração bate ensandecidamente e aperto sua mão com um pouco mais de força, para que ele saiba que estou aqui. — Ainda bem que não desistiu, porque eu estava aqui, precisando de você. Nunca precisei tanto de alguém como preciso de Rylan, pois ele me entende e me consola quando estou mal. — Sei disso, meu amor, quando te encontrei bêbada naquela festa, quis te levar para a fraternidade e cuidar de você, já que não pude salvar meu irmão… não gosto de me sentir inútil. — Você é tão especial, Rylan… nem sei por onde começar, mas pelo que percebi, é um ótimo filho e era um ótimo irmão, não se culpe por algo que fez na adolescência. Não acho que ela tenha sido o culpado pela morte do irmão, pois acidentes são imprevisíveis. Nossa vida é uma vela, hora está acesa, hora se apaga. — Obrigado, Juliet, mas foi por minha causa que entrei nessa cilada, se eu não tivesse bêbado, o meu irmão não teria morrido e minha mãe não teria se viciado em bebidas. — Ela conseguiu sair desse vício? — Graças a Deus, ela conseguiu, mas pegou dinheiro com agiotas perigosos, e é aí que eu entro como traficante. Quando aqueles canalhas ameaçaram matá-la, entrei em desespero, e fiz um acordo. — Falta muito tempo? — Na hora, pensei que estava salvando a minha mãe, mas eu me condenei por sete anos. Falta um mês para a minha liberdade. — Você realmente salvou a sua mãe, meu amor. — Nunca fui pego, mas já cheguei bem perto disso, entretanto, fico feliz em ter ajudado minha mãe. Ao ser ameaçada, ela foi para uma clínica de reabilitação e conseguiu sair dessa vida. Visito os meus pais uma vez por mês, e mesmo que eles estejam felizes, nunca me perdoei completamente. Lembro da foto da família sorridente, o amor fez com que eles superassem tudo, quase sinto inveja deles por causa disso. — Quero te ajudar a passar por isso, Rylan, pode contar comigo. Levanto-me e sento ao seu lado, apenas para lhe dar um abraço. É exatamente por essa razão que eu não gosto de boatos, as pessoas multiplicam o tamanho das informações. Senti a dor dele da mesma forma que sinto o seu cheiro, ficamos unidos,
por vários minutos, até ele clarear a garganta e se afastar o bastante para me encarar. — Podemos comer agora? — Sim e vamos brindar. — Temos razões para brindar? — Claro que sim.— Pego o copo e sorrio, não me importo com os olhos borrados e o nariz fungando.— à nossa vida, por estarmos vivos e por termos nos encontrado. — À nossa vida, e que venham muitos e muitos anos com você. Batemos nossos copos, mesmo que eu seja um pouco cética em relação aos anos, porque nem mesmo consigo imaginar um mês depois de Bruce descobrir sobre nós. — Sabe, agora quero que me conte sobre os seus pequenos segredos, tipo, como foi seu primeiro beijo, se você fica nervoso ao fazer uma apresentação… Enquanto beberico a minha coca, espero que ele pense nesses detalhes, porque quero que a noite melhore, tenha um ar mais leve. — Hum… meu primeiro beijo foi aos seis anos, com a minha prima distante. — O quê? — Não me julgue! Eu tinha seis anos. — É exatamente por isso que estou perplexa! Abro um sorriso e o vejo fazer o mesmo, ele fica tão bonito pensando que deixo um pouco de ar escapar pela minha boca. — E, com certeza fico nervoso quando faço apresentações, lembro de uma vez, no ano passado, em que comecei a gaguejar na frente de todo mundo. Eu vi meus colegas se esforçarem ao máximo, mas falhando miseravelmente na missão de não rir da minha cara. — Podemos tentar fazer alguma aula juntos, no segundo semestre. — Podemos. — Jura?— Levanto meu dedo mindinho, curvado para que ele encerre a promessa. Quando nossos dedos estão unidos, sorrio mais uma vez, esperando que a vida seja generosa e me deixe ser um pouco feliz, em detrimento de todos os ruins que passaram. — Juro. Deito minha cabeça em seu ombro e seguro a sua mão com mais força que o necessário, saber que estamos juntos me deixa feliz. — Qual o seu grande sonho, Juliet?
Observo o seu peito subir e descer com a respiração, mas nada me vem na cabeça, a única coisa que realmente almejo é me libertar do meu pai. — Ser feliz, talvez, é a única coisa que me faz acordar todos os dias… saber que um dia a minha felicidade chegará. — Quer ser feliz comigo? Enquanto o meu pai pagar as minhas contas, não podemos ser completamente felizes juntos. — Sobre isso— Levanto-me dos seus belos ombros e o encaro, precisamos conversar, namorar publicamente não é uma opção— Meu pai não vai me deixar namorar com você. — Fico feliz em saber disso…— Diz ironicamente, mas já contei algumas coisas para ele sobre Bruce, temos que manter isso entre nós. — Assim que eu me formar, podemos ir embora, mas agora, não posso fazer nada. — Já vou me formar, Juliet, e você pode se transferir para outra faculdade, em outro estado. — Eu não quero ser um peso para você, Rylan, não vou aceitar que pague minhas despesas! — E se eu quiser fazer isso? — Não consigo abandonar o meu orgulho, além disso, você não sabe o que meu pai poderia fazer. O celular de Rylan toca e vejo pelo mostrador que é sua mãe, faço um gesto para que atenda e ele o faz. — Mãe, eu estava pensando em você! Ele fica escutando o que ela fala, mas não consigo entender nada(não que eu esteja espionando). Depois de alguns segundos, em que ele murmura algumas palavras para ela, desliga dizendo que a ama. Oh, isso me mata… — Ela não consegue passar muito tempo sem falar comigo, você vai perceber com o tempo que são várias ligações durante o dia. — Queria tanto passar cada segundo do meu dia com você. Os olhos de Rylan brilham para mim de uma forma tão bonita que meus marejam de felicidade, a ansiedade em beijá-lo cresce a cada segundo. — Estou mais ansioso pelas noites. Uma coisa que aprendi sobre gostar de alguém, é que sentimos vontade de fazer loucuras, por exemplo, eu me casaria com Rylan, mesmo que tenhamos passado pouco tempo juntos. — Quando o meu aniversário passar, podemos arrumar um jeito. Rylan dá socos de animação no ar e começamos a sorrir. Esse mês será
difícil, mas ainda temos a internet para matar a saudade. Vai ser bom conhecê-lo ainda mais, mesmo que estejamos distantes, ele pode iluminar minhas noites com o seu belo sorriso. — Vou ligar todas as noites para escutar sua voz antes de dormir. — Ai meu Deus, Rylan, e se eu dormir e começar a roncar? — Posso lidar com isso. — Aposto que se eu roncar, você vai pular fora… não que eu esteja esperando o momento que fará isso, até porque quero passar muito tempo com você… estou falando demais, huh? — Mesmo que você pareça um trator, não vou pular fora. Rylan beija a minha testa e eu dou um meio sorriso. — Eu vou cobrar, hein? Mas pensando bem, espero não fazer isso, quero que lembre de todas as promessas. — Eu irei! — A reputação é uma droga, né? Uma hora, todos gostam de você, na outra estão falando pelas suas costas. — São nesses momentos que percebemos quem estão do nosso lado, Juliet. — Está fazendo aquela carinha novamente, Rylan… — Que carinha? — A que você faz antes de me elogiar, como se estivesse me admirando… ou talvez, como se eu fosse um quadro muito bonito.— Rylan sorri, me puxa para si e me abraça, meus cabelos caem pelo meu rosto como uma cortina preta e densa, e ficamos assim. Romeu e Julieta. Bonnie e Clyde. Espero que nossa história tenha um final feliz.
Capítulo 22 Quando nos despedimos, um pedaço de mim vai com você.— Rylan
Estou no supermercado com a minha mãe, antes de irmos até a costureira, ver o design do meu vestido vermelho. Minha barriga está revirando com a ansiedade do que vem pela frente. — Bruce quer adiar a festa do seu aniversário… Paro de andar e franzo a testa. — Por que? Ele me falou que os convites já estavam prontos! Mais tempo sofrendo…
— E estavam, mas ainda não haviam sido impressos, só precisou mudar a data. Isso significa mais tempo de tortura e mais tempo sem ver o meu namorado. — Vai ser muito tempo depois? — Duas semanas, no início de maio. — Poxa, não vejo razão para adiar… Mamãe dá de ombros e continuamos nossas compras, vou nas bebidas e pego um cooler de morango, sempre gostei de vinho, mas ainda não experimentei desse tipo. — Ainda gosta disso?— Ela aponta para o achocolatado que eu sempre tomava quando era criança. Seria mentira desejar voltar para aquela época, pois desde muito cedo sofri com essa família desajustada, mas quando somos crianças vemos o mundo de outra cor. Somos blindados das coisas ruins. Não sabemos sobre as guerras e conflitos que acontecem ao nosso redor, muito menos que mulheres são espancadas todos os dias pelos seus maridos. — Lembra quando eu caí do escorregador e você me deu um desses? Parecia que meu joelho havia sido curado. Pego a caixa da sua mão e coloco no carrinho, as vezes é bom voltar ao passado, pois há coisas interessantes nele. — Como não lembrar? Um garoto empurrou a minha filha! — E você me defendeu, foi atrás dele e lhe deu uma lição. — Falar por dez minutos ininterruptos não é dar uma lição. Não consigo segurar o meu sorriso, mamãe se torna uma fera para me defender, impossível não amá-la com cada pedacinho do meu ser. Eu morreria por ela sem titubear. O amor é isso, dar a sua vida por alguém. — Inclusive, esqueci de falar com você sobre algo que Bruce me contou. Ih, lá vem. — O quê? — Que você não quer ser parecida comigo, tudo bem que sou uma chata, mas isso me magoou. Eu sabia que havia algo por trás das palavras doces de Bruce, mas não sabia que seria tão cruel! Nunca pensei em magoar a minha mãe com aquela ligação, só quis que ele parasse de me comparar com ela no pior sentido possível. Ele sempre tem uma carta na manga e sempre tem os piores elogios para
dar. Vadia, nojenta, puta. Estou tentando ser uma pessoa melhor, sem toda toxina que recebi durante minha vida. — Não foi exatamente assim que eu falei, ele entendeu errado. — E como foi? Por isso a minha mãe passou a tarde distante de mim… — Bruce falou coisas horríveis sobre você, apenas disse que não sou as coisas que ele me disse. — Aquele homem sempre acha um jeito de me tirar do sério… Quando escuto a sua voz esfriar é que me dou conta do que acabei de revelar! — Não fique nervosa, mãe, e por favor, não conte isso para ele. Suas mãos se retorcem e eu franzo a minha testa, altamente nervosa sob o conflito iminente, não quero nenhuma briga perto do meu aniversário. — Não contarei, mas se por acaso esbarrar com ele… — N-não!— Minha voz está alterada, mas nem isso faz Lisa sair do mundo de raiva dela. Espero que isso não dificulte as coisas para mim. — O.k. farei isso por você. Solto a respiração com tanta força que minha garganta dói. Tenho que pisar em ovos todos os segundos do meu dia e não é uma sensação agradável. •• Ir até a fashionista sempre foi entediante, principalmente a parte de tirar as medidas, porque tenho que ficar parada, como se fosse uma modelo. Além disso, o esboço do vestido está diferente dos outros anos, é um vermelho que dói nos olhos e tem um corte na perna direita, é uma das tendências de moda, mas não entendi a razão de Bruce querer que eu vista isso. Falando no diabo… — Boa tarde, Juliet.— Bruce chega perto de mim e me dá um beijo no topo da cabeça, é inquietante saber que ele está no mesmo ambiente que eu. Mamãe está se preparando para ir embora, porque recebeu uma ligação sobre uma reunião em cima da hora, e tenho que agradecer a Deus por isso, não quero que fiquem juntos depois do que contei para ela. — Oi, queria falar sobre esse vestido, não acha um pouco demais? — Também achei.— Mamãe me ajuda e por um milésimo de segundo, espero que ele mude de ideia e me deixe escolher um modelo. — Achei ideal para a ocasião, ficou sabendo que adiei a festa?
— Mamãe me contou hoje, algum motivo especial? Ele sorri e sinto meu estômago reverberar na mesma medida em que arrepios se manifestam pelo meu corpo. Até o som de sua risada é motivo de medo para mim. — É uma surpresa que preparei para você. — Mas sobre o modelo…— Insisto, com o restinho da esperança que ainda tenho. — Já disse que achei bonito. O problema é que ele não tem a mínima noção de moda, e o vestido, mesmo que seja bonito, é demais para mim. Um dos ombros fica à mostra e a perna oposta aparece quando a pessoa anda, fora isso é normal, e a cor faz a minha cabeça começar a doer. — Por que vermelho? — Juliet…— Seu tom de alerta me faz recuar, ainda não me recuperei da nossa última conversa por telefone, não quero ficar ainda mais irritada com ele. — Bem, estou saindo, tenha um péssimo dia, Bruce. Reprimo a vontade de sorrir quando a minha mãe sai radiante da loja, deixando o meu pai sem saber como reagir, ele está claramente irritado. — Desejo o mesmo ininterruptamente para você.— Sussurra, mas consigo escutar. Ele une as sobrancelhas ao voltar sua atenção para mim, e logo em seguida desvia a atenção para o tecido ao lado do desenho. — Estará linda na festa. Sorte a minha se essa festa fosse cancelada, nem consegui ver Rylan por causa dela, quando mamãe foi me buscar com sua mercedes, ele ainda não havia largado, ficaria contente de apenas vê-lo. — Tenho certeza que sim. — Está debochando de mim? — Claro que não, apenas tenho certeza que será uma festa incrível. Todos vão falar por dias. Literalmente. Tenho sorte por morar longe da capital, caso contrário, minha vida seria bem pior, com paparazzis querendo descobrir os meus segredos e todas essas merdas que fazem para ganhar dinheiro em cima dos outros. — As vezes, precisa controlar sua arrogância perto de mim, Juliet. Eu quem pago suas contas. Infelizmente, ainda não tenho como arcar com elas, ou já estaria bem longe daqui. Bem que eu queria trabalhar, mas da última vez que tentei, quase fui expulsa de casa… meu pai não gostou da ideia.
— Sei disso, mas não fiz nada. — Sinto que não sou amado o suficiente. E os dramas se repetem infinitas vezes… — Sente? Eu te amo, pai.— É o que ele quer ouvir, mas minha voz não sai exatamente como planejei, está fingida, para a minha sorte, ele não percebe. — Também amo você, querida.— Bruce me abraça e a costureira volta com os detalhes da minha roupa e com as medidas. — Prontinho, próxima semana faremos o primeiro teste, vejo vocês em breve. Forço um sorriso, pois a mulher não tem culpa da minha irritação e tenho que ir com Bruce, que me força a sentar com ele no banco de passageiro da frente para “conversar”, ou seja, tentar descobrir algo novo da minha vida. E escutamos música, se tem algo que admiro em meu pai é seu gosto musical. Em poucos minutos já estamos em frente ao condomínio fechado, pedindo permissão para passar. Para a minha surpresa, papai diz para esperarmos um pouco dentro do carro, incapaz de recusar, ficamos alguns minutos em um silêncio agoniante, antes que ele vire para mim. — Descobri algo. Congelo no lugar, sem saber o que dizer, tenho medo de tentar descobrir o que ele sabe. — O quê?— Arrisco, lançando a minha expressão de boa filha. Se Bruce descobriu sobre Rylan, vai me contar que não podemos ficar juntos e mandar alguém me espionar, provavelmente Henri. — Que contou a sua mãe sobre nossa conversa. Como ele sabe disso? Será que ele tem algum aplicativo de espionagem no celular? — Porque você gosta de fazer inferno entre nós? Já nos odiamos o suficiente! Foi ele quem fez inferno entre nós duas e agora está voltando isso contra mim? — Não fiz inferno nenhum!— Franzo minhas sobrancelhas e cruzo os braços, sem me importar se pareço uma criança. — Queria entender você, mas tem se mostrado uma pessoa falsa, nunca sei de que lado está. — Não estou em lado nenhum. — Tem certeza? Sem conseguir falar nada coerente, apenas assinto e deixo que o meu gesto o acalme, mas é o contrário, os olhos dele ficam ferozes e se viram contra
mim com uma raiva, beirando o ódio que me deixa em alerta. — Juliet, eu faço de tudo por você, nunca minta para mim e me responda direito. — Sim, não estou mentindo. Estou com tanto medo que minha voz treme e meus olhos marejam, sei que as pessoas fazem coisas ruins com raiva. — Pode ir embora agora. Abro a porta, minhas mãos estão tremendo muito e isso se torna uma tarefa difícil, ao sair, meus pés se movem rapidamente para a casa da minha mãe. Durante esse mês, vou ficar com ela, foi o único pedido que foi atendido. Ao entrar, fecho a porta e deslizo até o chão, nem tento controlar minhas lágrimas, deixo que elas molhem o meu rosto, porque temos que deixar as coisas ruins saírem. Pego o meu celular e finalmente vejo a mensagem que Rylan havia me mandado. As coisas que Bruce me disse só me fizeram ficar com vontade de ser rebelde, fazer coisas impensáveis. “Nunca deixe a cozinha perto de mim” Como sempre, ele me manda uma foto anexada e consigo sorrir entre as minhas lágrimas por alguns segundos, ao ver que Rylan está com um avental e ele conseguiu queimar os ovos. Fala sério, nem sabia que isso era possível. O seu rosto é todo o problema com que eu quero lidar agora, fico tentada a contar sobre as portas do fundo e sobre o quarto secreto dos filmes que eu criei no porão, mas Rylan tem que lidar com a saudade de mim, se ele aguentar, realmente gosta de mim. “Pode me ligar agora?” Alguns minutos de espera e recebo uma resposta. “Estou com alguns amigos, quando eu chegar em casa prometo ligar” “Você prometeu! E mande um abraço para eles, quero conhecê-los depois” “Prometi e agora estou com ciúmes, porque não quero te dividir com eles” O.k. ele tem uma vida, posso esperar por isso, até porque, meu namorado tem andado muito comigo, e não podemos esquecer os amigos. O que me lembra que eu tenho uma e tenho sido uma péssima companhia. Como não tenho nada de útil para fazer da minha vida, posso ligar para Amy e quem sabe ela passa por aqui? Levanto do chão e vou para meu quarto, meu lugar seguro, porque parece
que em certos momentos da nossa vida, só podemos contar com a própria companhia. E tudo bem. Sem respostas da minha loirinha favorita, vou atrás de um livro na minha estante, acho um que parece ser bem clichê, são esses que me fazem escapar da realidade. São o meu tipo favorito.
Capítulo 23 Um mês depois
Anseio por alguém que me arranque da escuridão e me leve para a luz. — Juliet
Se eu pensava que o meu sofrimento não poderia aumentar, estava enganada, esse mês foi o mais perto que eu tive de conhecer o purgatório, sorte a minha que havia Rylan para conversar à noite, antes que eu fosse dormir. Minha vida antes dele era monótoma, mas conhecê-lo foi como trazer cores vibrantes para a minha vida.
Descubro muitas coisas sobre Rylan sempre que conversamos, por exemplo, ele gosta de caminhar antes de ir para a faculdade e prefere gatos do que cachorros. Assim como eu. Ele não teve uma vida fácil financeiramente, mas seu pai teve uma ideia que fez a família deles se estruturar, isso me deixa feliz. Sei que nenhum de nós ficou feliz ao passar um tempo separado, mas foi bom para aprendermos a lidar com a distância, porque nem sempre poderemos ficar juntos. Entrei no modo automático em relação a minha festa de aniversário, pois sabia que Bruce não me deixaria escolher nada. Aprovei tudo o que ele me mostrava e dessa forma, terminamos aqui, um lugar enorme, com um jardim maior ainda(tem um labirinto gigante), enquanto espero ansiosa a surpresa que meu pai prometeu. Desde que o dia começou, estou sendo mimada; fiz as unhas, o cabelo está ondulado e perfeito, o vestido tem mais glitter do que eu pensava, então estou literalmente brilhando nessa noite de lua cheia. Quando colocam uma coroa em mim, fico com vontade de dar uma boa gargalhada, mas me controlo, já que meu pai entra no quarto e me olha com uma expressão de orgulho. Não imaginei que ele tivesse um olhar tão bondoso. — Minha doce Juliet. A penteadeira à minha frente mostra tudo o que eu não sou, uma garota que consegue tudo o que quer em um piscar de olhos, gostaria de ser mais como ela. — Estava lhe esperando. — Por isso estou aqui, vim buscar minha garotinha. Nem parece o mesmo homem que me fala coisas tão grosseiras, mas se ele está encenando na frente das pessoas, posso fazer o mesmo. Não quero ficar triste antes que a festa comece, além do mais, verei meus avós, os pais da minha mãe. Infelizmente, os meus avós paternos já morreram, talvez de desgosto por terem um filho com Bruce. A irmã da minha mãe também está aqui e sei que a minha prima Catarina também veio, nunca nos demos bem, em minha defesa a garota brigava bastante comigo quando passava as férias na minha casa. Nunca tive sorte com as pessoas. — Vamos logo, então. O detalhe do vestido, mostra toda a minha perna e me sinto desnuda na frente de tantos desconhecidos, assim que anunciam a minha presença.
Abro um sorriso radiante e olhando rapidamente para os lados, tentando encontrar o meu namorado e a minha melhor amiga, eles vieram juntos e, depois de fazermos videochamadas em conjunto, até que gostam um do outro. Mesmo que as vezes, Rylan irrite Amy… Desço as escadas com o queixo erguido, como se fosse a criatura mais confiante de todo o universo, mas por dentro estou tremendo mais do que vara verde. Bruce solta a minha mão quando chegamos ao fim da escadaria e me puxa para um abraço, mas obviamente tem uma intenção por trás. — Cuidado com o que vai falar… — Não sou tão estúpida assim.— Digo com um sorriso, falando entredentes. Se essa noite não me abater, nada mais irá. Dou uma olhada no meu celular, mas está sem sinal, isso significa que será difícil contatar Amy e Rylan, só o pensamento disso me deixa angustiada. — Parabéns, Juliet.— Não faço a mínima ideia de quem seja essa loira bonita, mas já estou acostumada, então mostro mais um sorriso e agradeço. Que droga! Minhas bochechas doem. Depois de meia hora, acabo me frustrando com tanta demora, então vou até o bar e pego uma taça de vinho. Giro a taça e sinto o cheiro, talvez colocar um pouquinho de álcool no meu corpo seja uma boa ideia. Ter que recepcionar os convidados é fácil, difícil é lembrar seus nomes ou se você já os viu, mas como sou uma adulta com alma de velha, que não sai de casa para lugar algum(exceto quando estou com meu namorado secreto), não conheço quase ninguém. Avisto a minha tia e sigo em sua direção, dessa vez o sorriso é genuíno. — Tia Leisa! Faz um bom tempo desde que não a vejo, está diferente, os cabelos curtos trouxeram um ar juvenil para ela. Essa é a parte da festa de aniversário que gosto. — Oi, meu amor.— Nos abraçamos e por um momento, tudo ao redor para, ela é a melhor e mais carinhosa tia do universo. Certa vez fui visitá-la, fiquei com um pouco de inveja da minha prima, por crescer em um lar cheio de amor, diferente de mim, uma pena que Leisa more longe. — Cadê a Cat? — Está andando por aí… você está deslumbrante! Meu rosto esquenta, porque não gosto de receber elogios, e fora Rylan,
não costumo ouvir das pessoas. — Obrigada, já viu a vovó? — Deve estar perto de alguma mesa de doces, mas não diga que eu contei. Dou outro beijo nela, antes de me afastar e ir até a fonte de chocolate no fundo da festa, e como esperado, vejo uma senhora com cabelos grisalhos pegando os bombons disponíveis. Amo a minha família com cada parte do meu ser. — Existe algum crime específico para furto de doces?— Resmungo e assim que a mulher baixinha me vê, abre um sorriso com direito a rugas especiais nos olhos. — Minha querida neta, como está bonita…— Me abaixo para receber um beijo no rosto e meu coração fica aquecido ao saber que ainda recebo amor. — Já estava morrendo de saudades de você, mas cadê o vovô? — Não estava muito bem, dores de barriga, essas coisas acontecem na velhice, daqui alguns dias vamos morrer. — Que coisa horrível vovó! Só de pensar isso, tenho vontade de vomitar, não posso perdê-los. — Todos vamos morrer um dia, essa é a única certeza da vida. — Temos outra… — Qual. — Cupcake é a melhor invenção de todas. Sorrimos e relembro quando a minha avó me levava para as cafeteria, pedíamos cupcakes e tomávamos café com leite. A vovó ficava comigo quando as brigas eram feias demais, mas depois, foi para longe e a vida sem ela perdeu um pouco da cor. — Com certeza, esses bolos são bons demais. Me distraio por alguns segundos, com o olhar preso pela sala enorme, sem nenhuma previsão de quem eu gostaria de ver. — Está procurando por alguém, Juliet? — Já percebeu? — Como não notar esse olhar apaixonado? — Tá tão na cara assim? — Vá atrás dele, e depois me mostre. Beijo a sua testa antes de me afastar com as energias renovadas, mas não o encontro em lugar nenhum, até checo meu celular uma outra vez, infelizmente não há nada. Quase perco as esperanças, mas alguém me entrega um papel, me viro para ver quem é, mas o rapaz já está longe das minhas vistas.
Abro e reconheço a letra, Rylan deve ter me visto e está a minha procura, e fico tão eufórica que demora uma eternidade até que eu consiga abrir o recado. “Juliet, me encontre onde poderemos ficar sozinhos, no jardim, estarei esperando.” Impossível não sorrir com a referência à música de Taylor Swift, procuro o meu pai, mas ele está conversando com alguns sócios da empresa, e aproveito essa oportunidade para fugir. A varanda que dá acesso aos jardins é tão bonita que paro para apreciar, e sigo em direção a uma coluna, onde um jovem cavalheiro me espera com toda a sua beleza em um smoking. — É um pecado ser tão bonito assim, sabia? Rylan vira para mim, como se eu fosse a pessoa mais importante para ele, o centro de seu universo e não consigo segurar a emoção, os olhos marejam facilmente. — Então, está cometendo um pecado mortal, senhorita Riviera. — Senhor Pratt, não o encontrei em parte alguma, quase pensei que tivesse me abandonado. — Podemos deixar as formalidades de lado?— Rylan passa a mão por minha cintura extremamente fina e pareço delicada sobre seus braços— Sou sortudo demais em ter uma morena estonteante ao meu lado. Cubro o rosto com as mãos, ansiosa pelo tempo que posso compartilhar com ele, foi um mês difícil, porque meu pai estava de olho em mim, sempre aparecia na faculdade, então não podíamos dar na cara. Mas sempre que tínhamos horários parecidos, nos encontrávamos na biblioteca, e era incrível. Mesmo assim, não podíamos nos beijar e quando conseguíamos, era incrível. — Pare de falar essas coisas, fico morrendo de vontade de beijá-lo. Realizando o meu desejo, Rylan me beija e é tão gentil que me pego cada vez mais apaixonada, passo a mão pelos seus ombros e lhe beijo mais uma vez. — Vamos para um lugar mais reservado? Qualquer pessoa que sair pode nos ver. Os olhos de Rylan desviam de mim para o labirinto no jardim(sabia que ele poderia ser útil em algum momento), e corremos até chegar nele, com as mãos unidas, entrelaçadas, já estava sentindo falta das coisas que Rylan me faz sentir quando estamos muito próximos. Adentramos o verde e escolhemos várias direções, não sei para onde estamos indo e muito menos qual é a saída, mas não importa, pois tudo o que eu quero está bem na minha frente. — É possível se apaixonar por alguém cada dia mais?— Pergunta e eu
assinto, pois é exatamente como me sinto cada vez que o vejo. Todas as vezes que eu estava nos corredores e esbarrava com Rylan, o coração acelerava e sentia sua falta, ficar longe dele sugou toda a minha energia. — Estou apaixonada por você, senhor Pratt. A expressão dele muda e ele se aproxima de mim, a tensão é quase palpável toda vez que nos aproximamos. Quero que ele me beije como da primeira vez, que ele sugue cada parte de mim e da minha alma. — Como eu desejei ficar sozinho com você… sem ninguém por perto… — Seu hálito queima a minha pele e sem conseguir aguentar nem mais um segundo, seguro sua nuca com força e fico de pé para beijá-lo. Nos provocamos bastante nesse mês, não sei como aguentei e a minha virgindade ainda está de pé, porque a minha vontade era pedir que ele fosse me visitar, mesmo com a guarda levantada do meu pai. Mas eu perderia muito mais do que o status de “virgem”. A boca do meu namorado me provoca com sua língua que vasculha cada parte da minha boca e se move com rapidez para cima e para baixo, me fazendo estremecer de prazer. — Queria poder ir embora, minha parte mais sensível está pedindo atenção demais. — Não mais do que a minha parte. Baixo minha cabeça e percebo que seu membro está animado com o nosso beijo, isso me faz segurá-lo e deixar Rylan com os olhos revirados. — Pare, Juliet…— Sua voz provoca arrepios e me faz fazer movimentos indecentes com a mão. — Não sei se quero. Rylan parece voltar a si e fecha os olhos antes de me afastar. — Não posso fazer isso com você aqui, gosto demais de você, Juliet. Fico frustrada, mas entendo que ele é fofo o suficiente para esperar por mim, mesmo que eu seja a impaciente da história. Arianos e seus impulsos. Depois que o vento bate no meu rosto e que estou com os olhos fechados e há alguns palmos de distância de Rylan, consigo deixar minhas partes baixas um pouco menos acessas. — Obrigada por me esperar.— Falo, respirando fundo para reestabelecer o ar nos pulmões. Rylan quebra o espaço entre nós dois e tapa a minha boca com a sua mão, tenho que engolir em seco para não beijá-lo novamente e mandar tudo para o inferno antes de ceder. — Não me agradeça por isso, todo o tempo que passamos juntos me
mostrou que gosto mesmo de você. — Gosta mesmo? — Antes de nos conhecermos eu já gostava. Franzo a testa com a declaração e fico surpresa, não tanto quanto um som distante que está ficando mais alto a cada segundo. — Juliet, Juliet! Parece que passamos muito tempo longe da festa, esqueci que sou a atração principal, mas não posso ser culpada se há um homem altamente gostoso na minha frente. — Fique aqui por mais um tempo, depois te mando uma mensagem, e volte para a festa, quero poder te seduzir de longe. Rylan dá uma gargalhada e sou obrigada a tapar sua boca da mesma forma que ele fez uns minutos atrás. — O.k.— Sussurra e ao me afastar mando uma piscadela, recebendo outra em troca, acho que fiquei levemente molhada. É fácil sair do labirinto quando tem um som alto te chamando até a saída. Finjo que estou aliviada ao ver os meus pais do lado de fora, e Bruce parece ansioso, ainda não esqueci sua surpresa e isso faz o meu coração palpitar. — Não sabia que era tão difícil sair do labirinto.— Falo inocentemente. — Acho que não deveria ter entrado, então, pois deixou os convidados esperando… Apesar do nervosismo que predomina em mim, ando com graça e postura, acompanhando os meus pais. — Fiquei preocupada…— Mamãe sussurra e ao se afastar, percebo que ela sabe com quem eu estava. Ainda bem que recusei usar aquele batom vermelho, ou estaria em maus lençóis, pois minha boca estaria borrada. Por outro lado, o gloss de morango que estou usando é inocente e não demonstra o que estava acontecendo por trás daquelas paredes de folhas. — Só quis tomar um pouco de ar, está muito quente lá dentro. Mesmo com toda a pressão sobre mim, consegui me divertir por alguns minutos perto de Rylan, e isso já valeu a minha noite. •• — Tenho um comunicado importante para fazer. Exatos dez minutos depois de ter me tirado de perto de Rylan, Bruce está com uma taça de champanhe entre os dedos, os olhos brilhantes e cada parte do meu corpo grita por socorro. Vasculho a multidão e quando vejo que Rylan está perto de Amy, ambos com sorrisos pelo rosto, mandando forças positivas para mim, fico aliviada.
Vê-los me acalma, e espero que essa noite acabe logo, principalmente por causa do salto agulha que estou usando, meus calcanhares estão doendo muito. — Juliet é a minha única filha, não sei se há outros por aí.— Bruce solta uma risada e os convidados o acompanham, até eu esboço um sorriso, mesmo que não haja graça alguma— Então, preparei uma surpresa para ela, nessa data tão importante, são vinte e dois anos. Várias pessoas viram as cabeças para me observar e se eu pudesse pegar a capa de invisibilidade do Harry Potter, sairia correndo daqui. Meu pai volta toda a atenção para mim, como se eu fosse o diamante mais especial do mundo, tremo, pois nunca consigo adivinhar o que ele está pensando. — Conversei com alguns amigos e principalmente com “Ricardo Grunt”, e ele me deu uma ótima ideia.— Assim que o sobrenome “Grunt” deixa os seus lábios, minha respiração fica entrecortada, porque se trata do pai de Henri.— Já somos vizinhos há um bom tempo, então ele pensou… por que não casar os nossos filhos? Automaticamente a minha pressão baixa e sinto uma tontura, isso não pode estar acontecendo. — Você está bem, Juliet?— Mamãe segura o meu braço, pelo tom de sua voz, vejo que está tão chocada quanto eu, mas consegue disfarçar bem. Não há tempo de responder, antes que meu belo pai me puxe para si, com um dos sorrisos diabólicos dele, as palavras fogem da minha cabeça, enquanto olho para a multidão atônita. Nem consigo imaginar como Rylan está se sentindo, o trouxe para a festa apenas para saber que a minha mão será dada a outro. Parece que fui mandada para o passado, onde os pais casavam suas filhas com homens ricos e pagavam dotes, isso é tão antiquado que nem consigo esboçar uma reação. — Olhe para ela, ficou tão feliz que está sem palavras, não é querida? Não sei de onde arrumo forças para assentir e escuto os gritos ensandecidos da “plateia”, eu poderia me beliscar, mas não parece um pesadelo, Bruce é louco e pelo visto, Ricardo e seu filho são ainda mais. — Um brinde aos noivos, Juliet e Henri. Sempre que Bruce falava algo sobre um casamento entre mim e Henri, não pensei que estava falando sério, muito menos que me colocasse em uma emboscada. Nem sequer posso negar o casamento, pois agora foi anunciado publicamente, ele pensou em tudo!
— Cadê o meu genro? Começo a sentir uma tontura misturado a falta de ar. Busco pelo meu namorado em meio à multidão, mas não consigo encontrá-lo, nem sei como está se sentindo, mas parece o fim de um “nós”, ou eu posso fugir e Bruce tentaria me achar em cada canto do mundo. Não seria uma vida feliz. Parece que a vida nunca facilita as coisas para mim, sempre há um jeito de ficar pior. Ao ver Henri, meu estômago se remexe e faz uns sons estranhos, e para a minha sorte, o som da orquestra está alto com o pronunciamento. — Aqui.— O homem também está com uma taça nas mãos, me pergunto se ele sabia dessa empreitada e não me avisou. As duas taças batem e percebo o quanto é real o que está acontecendo, enquanto vários fotógrafos gravam o momento mais triste da minha vida. — Está chorando, Juliet?— O tom delicado de Henri me faz querer chorar ainda mais. Enxugo as lágrimas o mais rápido possível e coloco um sorriso extremamente falso no rosto. — Felicidade…— Não sei como consigo fingir tão bem, mas não tem como recuar agora. Várias pessoas murmuram um “Oh”, mas não fazem ideia do quanto eu queria correr feito louca, nem consigo ser otimista num momento como esse. Estarei presa a um casamento sem felicidade, exatamente como a minha mãe e isso me deixa angustiada em um nível que não sabia ser possível. — Venha aqui, noiva, vamos brindar. Se Henri não sabia sobre esse casamento, está atuando muito bem, os seus dedos encostam em mim e por alguns segundos penso em recuar, mas isso não estaria de acordo com o planejamento do meu pai. Entregam uma taça para mim e mesmo depois de todo esse inferno, consigo bater a minha taça na dele. Prenderam a Rapunzel novamente na torre. — Felicidade aos noivos. Os aplausos me deixam entorpecida. Tento ver uma luz no fim do túnel, mas não há nem mesmo uma pequena faísca. É, sem dúvidas, a pior noite da minha vida.
Capítulo 24 O jeito que uma pessoa se veste, diz muito sobre ela.— Bruce.
Choro por vários dias seguidos e eu estou falando sério, já é o meu quarto dia trancada no quarto. Me encontro em posição fetal, relembrando cada segundo da minha festa de aniversário, e ainda não consigo acreditar na minha vida. A raiva me possuiu completamente, já tentei conversar com Bruce e cancelar esse maldito casamento, mas ele não me deu ouvidos, porque tudo já havia saído na mídia.
Ia ser muito ridículo cancelar! E Rylan tentou me ligar, mas simplesmente não consigo falar com ele, porque tenho medo que acabe tudo entre nós. Até Amy está sendo ignorada por mim, pois sei que tem notícias do meu namorado. Nem sei se estamos juntos. Da última vez que me olhei no espelho, chorei ainda mais por saber que além de triste, estou feia para caramba, os olhos inchados e arroxeados me envelhecem vários anos. — Juliet, comida…— Minha mãe bate na porta de madeira e espera uma resposta, mas solto um grunhido e continuo sem me mover.— Não pode ficar assim, querida. — Posso.— Abraço o meu corpo com mais força, encostando o queixo entre os joelhos. — Posso entrar?— Pergunta, mas não me deixa responder e emburaca.— Não fique assim, filha. — Como eu deveria estar? Que ótimo, já quero chorar novamente! E parei faz menos de meia hora. — Até parece que alguém morreu. Solto uma risada sem graça ao mesmo tempo que uma lágrima corre atrevida pelo meu rosto. — Mãe, não sei se percebeu, mas vou me casar com alguém que não gosto. Lisa deixa a bandeja ao lado e senta ao meu lado, quando me puxa para ela, como se eu fosse uma criança que precisa de carinho, simplesmente não consigo aguentar. Já fui forte por muito tempo, não consigo mais. — Oh, querida, eu também fiquei assustada. — Meu Deus, será que não fui castigada o bastante nessa vida? Estou soluçando e mamãe faz cafuné, não sei como posso lidar com isso, todo o meu pensamento positivo foi para o beleléu. Nem nos meus piores pesadelos eu pensaria que me casaria(à força) com Henri. — E se eu contar que você tem visita? — Não quero falar com ninguém! Além de estar o cão chupando manga, ainda tenho que ser vista dessa forma? Nem brincando! — Não posso mandá-los para casa… Afasto-me dela e deito de bruços na cama, me aconchegando ao travesseiro. Quero ficar miseravelmente sozinha.
— Por favor, não faça isso comigo. Basta uma rápida olhada para o meu pijama de bolinhas, para que eu fique ainda mais deprimida, há vários dias é tudo o que tenho usado. — Eles são seus amigos, Juliet. Não respondo nada, não quero ver ninguém e quero que, pelo menos isso seja respeitado. — Tudo bem, já que insiste… a comida ainda está quente. Espero ela sair do quarto e fechar a porta para respirar fundo e remexer a comida que ela trouxe, estou deprimida, mas minha barriga não entende isso muito bem e passar fome é algo agoniante. Não posso fazer nada, mesmo. Dou de ombros e começo a comer o arroz com porco agridoce(valeu, China), amo comidas asiáticas quando estou na merda e minha mãe sabe disso como ninguém. O que me deixa assustada são mais batidas na porta, estou com a boca cheia de comida e apenas solto um grunhido. Credo, estou parecendo um zumbi. — Juliet, sou eu, fala comigo. Pelo outro lado da porta escuto a voz que me tira do sério e que consegue, de alguma forma, me trazer vida novamente. Mas não posso pensar que podemos ficar juntos. — Me deixe em paz, Rylan, é o melhor que pode fazer. — Não consigo, juliet! Quero a minha Bonnie de volta. — A velha Bonnie não pode falar no momento, pois se encontra morta, junto com a Juliet. Coloco meu prato de lado e me aproximo da porta, cada vez mais perto do homem à qual meu coração pertence. — Daremos um jeito de trazê-la de volta. — Juliet, vamos conversar, podemos dar um jeito nisso.— A voz de Amy parece angustiada e meu coração fica pesado, pois a amo como uma irmã. Engulo em seco, a saliva queima a minha garganta e me esforço ao máximo para não chorar. — Vão embora, estou horrível, não quero receber visitas. Escuto os suspiros de derrota, mas eles não desistem, pois logo em seguida a porta abre e eu congelo no lugar. — Não pode se isolar do mundo, Juliet.— Rylan diz e tenta se aproximar de mim, porém recuo alguns passos, temendo me jogar em seus braços. — Estou falando grego? É difícil entender que quero ficar sozinha? Aperto os lábios com força, temendo desabar ainda mais, a minha vida é
triste, e mesmo que eu queira, não posso mudá-la. — Não vamos te deixar morrer sozinha!— Amy está com os olhos marejados, isso acaba com toda a frieza do meu coração. — O que querem que eu faça?— Meus ombros estão prestes a tocar o chão, tamanha a tristeza que estou sentindo. — Que levante a cabeça e tente se reerguer, faça Henri desistir desse casamento.— A loira se aproxima um pouco mais de mim, mas estou olhando para Rylan, por isso não recuo. — Ele não vai… — Case-se comigo, Juliet.— Rylan aproxima-se e ajoelha na minha frente, me deixando boquiaberta. Tudo fica ainda mais confuso. Não posso fazer isso. — Rylan, eu já estou noiva. Mostro a mão com o diamante reluzente que Henri colocou no meu dedo logo após anunciarem o nosso noivado, já perdi as contas de quantas vezes olhei para a joia e desejei jogá-la para longe de mim. — Desista desse noivado e fuja comigo. Abaixo-me e seguro suas mãos, Amy percebe que precisamos de um tempo, sozinhos, e sai do quarto, fechando a porta em seguida. — Não fui eu quem escolheu casar, mas preciso. Seria ridículo anunciar um casamento e logo depois desistir dele. — Não desista de nós dois. Aproximo-me, sem me importar com o quão feia estou, e encosto a testa na sua, ambos fechamos os olhos, e o calor passa de pele para pele. — Eu já quero ser livre, Rylan, e nunca seremos felizes se fugirmos. Os pelos do meu braço arrepiam quando sinto Rylan me abraçar com força, pensei que não tivesse sobrado lágrimas, mas estava enganada, pois elas molham o meu rosto. — Quero você. Sempre será você.— Ele segura a minha cabeça, enquanto eu desabo na sua frente. As lembranças dos nossos momentos passam como um filme na minha cabeça, no meu coração só há espaço para Rylan, e mesmo que eu case com Henri, ele nunca me terá. — Daremos um jeito. O que me deixa mais triste é saber que não há jeito para isso, vou casar e nunca serei feliz, em nenhuma área da vida. Lembro sobre a nossa promessa de estudar juntos no segundo semestre, e sobre o quanto estava ansiosa por isso. — Rylan, ainda podemos ser amigos.— Minha voz não sai convincente,
pois nem eu mesma acredito nisso. Depois que um homem te beija(lá embaixo), não tem como as coisas voltarem a ser como eram. — Juliet… — Vá para casa, eu nem consigo te olhar sem querer te beijar e isso é horrível. Rylan me pega no colo e me coloca na cama, beija a minha testa e quando está quase se afastando, seguro sua nuca o impedindo. — Podemos nos beijar uma última vez? Ele assente e, antes de realizar o meu desejo, beija as minhas bochechas, e cada parte do meu rosto, logo em seguida toca os lábios nos meus. Sinto-me amada, cada vez que seus lábios tocam em algum ponto do meu rosto e a sensação é maravilhosa. Alguns segundos se passam e ficamos assim, com as bocas paradas, antes que eu passe a minha língua por seu lábio inferior e ele estremeça. Rylan pula em cima de mim e eu enlouqueço de vez, somos perigosos quando estamos juntos, e quando ele beija uma área delicada do meu pescoço, me contorço para trás, minhas pernas o prendem e eu tento lutar(inutilmente) contra o meu desejo. — Rylan… As palavras ficam presas na minha garganta, pois não quero que tome isso como esperança, não podemos ficar juntos, mas droga, como isso é bom! — Juliet…— Estamos completamente sem ar ao nos separarmos, mas Rylan não vai embora, apenas me abraça e ficamos enrolados na cama. — Nosso beijo é sempre muito bom… Ele assente, os olhos fechados, estou com medo de que seja um sonho bom, pois não quero despertar sem Rylan do meu lado. — Ainda não acredito que você é virgem, toda vez que nos beijamos é extremamente sensual. Passo a mão por seus cabelos, da mesma forma que fiz tantas outras vezes, mas agora parece errado, principalmente quando vejo o anel cintilar. — Eu sou! — Tive uma ideia, e por favor, reconsidere… — Pode me falar. — Quero um dia inteiro com você, Juliet, para lhe mostrar que devemos ficar juntos. Não tenho mais forças para tentar convencê-lo do contrário, então o puxo para mais perto e assinto, o queixo batendo em seu peito a cada movimento. — Isso é um sim?
— Esse movimento geralmente costuma ser um sim, a não ser naquele seriado “chaves”. Sua risada faz o meu rosto mexer junto do seu peito, então espalmo as mãos por suas costas. O contato de sua pele com a minha é incrível de uma forma que eu nem sabia ser possível. — Somos como dois ímãs, nos atraímos o tempo inteiro. — Não pode me falar esse tipo de coisa, Rylan. — Porque não? A vida é curta demais para deixar de falar o que penso. Suspiro e fecho os olhos, ainda tão perto e sentindo seu cheiro, esperando que eu nunca esqueça dos momentos que passamos e nem de como eu amo a sua risada, poderia reconhecê-la em qualquer lugar. Espero que esses momentos me salvem quando a minha mente não puder. — Vá embora, Ry… não consigo me segurar quando estou perto de você. — Então não deveria. Passo a mão pelos seus cabelos, tentando deixá-los alinhados e perfeitos depois dos nossos beijos. — Doeu vê-lo abraçar você. — Sei disso… doeu em mim também, porque não pude recuar diante das câmeras. — Vou embora, mas prometo mandar mensagem depois. Assinto e quando o calor do seu corpo deixa o meu, fico pensando em como pude chegar tão perto do paraíso e caí.
Capítulo 25 Pessoas podem estar erradas, mas eu nunca. — Bruce.
Dizem que quando crescemos seguimos os passos dos pais, e eu até poderia, mas minha família é desequilibrada, então, prefiro traçar o meu caminho de uma forma diferente. Ops… espere, eu estou sendo forçada a seguir os passos de minha mãe, casando sem amor, por causa de Bruce, e agora, uma semana depois, três dias depois de encontrar com Rylan, estou tentando não cair em pedaços quando ele
vir me buscar. Sento na varanda da minha casa, balançando os pés(claro que estou usando meu all star cinza), esperando o meu príncipe encantado, e quem dera ele pudesse me salvar. O clima está mais quente, pois o verão se aproxima, mas o vento bate nos meus cabelos e faz o meu penteado perfeito ficar bagunçado. Alguns minutos depois, já estou ficando cansada de esperar, mas vejo o carro dele parar de frente a minha casa, é uma cena que não poderei rever. Bruce está em uma viagem de negócios de última hora, mamãe não foi, mas prometeu ficar de bico calado, por isso estou tranquila, não que a minha vida possa piorar. Se isso acontecer, eu não me importo mais. Ando até o carro, o elástico do vestido branco aperta minhas costelas, mas agora não há mais tempo para trocar, ajeito minha postura e sigo até abrir as portas do jeep. — Que sexy… Ele está com óculos de sol e mordo meus lábios quando semicerra os olhos para mim por trás deles. — Rylan, quem está sexy é você! E até parece que combinamos as roupas.— Entro e coloco o cinto de segurança, observando sua camiseta branca. Está escrito “Incrível” e eu concordo com ela. — Tem horas para voltar para casa? Seus olhos disparam até minha casa, sei que deve estar pensando no meu pai, contei algumas coisas para ele e coisas que ele fala. Passei os últimos dias conversando com Rylan, todas as noites ele me ligava e conversávamos sobre o nosso dia, mesmo que eu não tivesse nada para falar, porque fiquei em casa, mas quando ele me contava sobre sua família, o quanto eles queriam me ver, isso me deixou animada. — Não. Não há nada melhor do que receber o seu olhar, toda a atenção para mim. Tenho uma má sensação, mas ignoro porque quero que esse dia seja incrível, assim como ele está me prometendo. — Preparada? Semicerro os olhos, mesmo que ele não esteja me observando, uns dias atrás ele me deu uma dica de onde me levaria e, confesso que fiquei um pouco assustada, pois não quero me apegar ainda mais. Agora nada mais me segura. — Não sei. — Está tensa…
Remexo as mãos mais uma vez e encostro a cabeça na janela, exatamente como das outras vezes em que passeamos juntos. — Como sempre sabe como me sinto?— Sorrio, mas continuo nervosa. — Porque está quieta e não está falando muito, ainda somos nós dois, sabe? — É a pressão dos últimos dias.— Meu rosto fica quente quando penso em tudo o que aconteceu. Não sei como pude ser enganada tantas vezes em pouco tempo. Henri nunca demonstrou nada por mim e pelo visto, havia sentimentos dos quais nunca tomei conhecimento. — Quer uma massagem? Ergo a sobrancelha e abro um sorriso, já sentindo a tensão ir embora. — Você disse “massagem?”, agora terá que cumprir… — Cumpro com prazer, hoje eu sou todo seu. Engulo em seco e quando percebe o que falou, Rylan segura minha mão, mas continua a olhar para frente. — Sempre serei seu, Juliet. — Rylan… sei que é uma despedida, mas também quero falar como me sinto. — Espere, não diga agora. Sorrio e seguro sua mão ainda mais forte, como se ele fosse sumir ou algo do tipo. — Por quê? — Você verá. Ele estaciona na estrada, onde há uma vista linda de montanhas, gosto de andar com Rylan, pois ele sempre me leva para lugares incríveis. Seria ótimo fazermos uma viagem para outro país. Desço do carro e o sigo, há uma placa enorme mostrando que o lugar é perfeito para fotos e até abro o meu celular para tirar algumas. Encosto-me na cerca de madeira e sinto braços fortes me abraçarem por trás, estou tão feliz quanto nunca me senti antes. — Certa vez, eu estava com os meus amigos e passei nessa montanha, eles foram embora, mas parei aqui e fiquei um bom tempo, observando a forma que as nuvens passam e deixam uma sombra. É relaxante. Levanto a cabeça, mas na posição que estamos, é impossível, então me viro e enlaço seu pescoço. — Quando vai me apresentar seus amigos? — Não são amigos muito confiáveis, por isso não apresentei. — Uh, porque?
— Sou ciumento, o.k.? nunca pensei que fosse confessar isso para você, mas aqui estou eu. — Rá! Agora sei um dos seus defeitos, senhor Pratt, você é ciumento… — Faço cócegas nele e dou um sorriso. — Sou apenas um ser humano. — Estava começando a pensar que era um et, porque não é possível alguém ser tão legal. — Os extra terrestres são muito bonitos, então.— Levanto os seus óculos e faço uma careta, não quero dar o braço a torcer, então falo: — Não seja narcisista. — Você que é muito gentil, mas vou te ensinar a ser um pouco narcisista também. — Agora entendi a razão de tantos elogios, eram um plano sujo. — Claro que sim. Agora, é a hora de você me falar o que estava pensando no carro. Respiro fundo, para tomar coragem, olhando para seus olhos que brilham por causa do sol. Toco em sua testa, úmida com o suor que está caindo. Olhe esse rosto lindo! Não tem como não se apaixonar… — Eu…— Procuro as palavras certas, mas preciso de distância, por isso me afasto, mas ainda fico com as mãos em seu pescoço— Estou apaixonada por você, não que isso mude alguma coisa, mas… — Isso muda tudo— Rylan segura meu queixo e eu reviro os olhos— Agora vou deixar você continuar. — Obrigada. Nunca tive oportunidade de sentir isso antes, de me relacionar, mas você fez a minha vida melhorar. Obrigada por gostar de mim. Não consigo falar mais nada, uma lágrima rasteja no meu rosto, mas tento sorrir, mesmo partida em mil pedaços. — Já conversamos sobre os agradecimentos… — Sei, mas preciso. Você é tão especial, Rylan! De verdade. Encosto minha cabeça em seu peito e escuto as batidas do seu coração. Rylan alisa meus cabelos e desfaz a trança. — Quando é o seu casamento? Fecho os olhos com força quando lembro desse maldito matrimônio. O drama nunca acaba na minha vida, mesmo que eu tente, ele me persegue. — Daqui a quatro meses. — Só isso? Também pensei a mesma coisa, é um período muito pequeno para organizar um casamento, mas o dinheiro pode fazer maravilhas. — Sim, Bruce quer que seja íntimo e só para os familiares mais
próximos. Pessoas que ele conheça, isso quer dizer que eu não conhecerei ninguém, exatamente como na minha festa de aniversário… — Não entendo como um pai possa ser tão ruim. — Nem eu, mas é a vida, ela é irônica, não podemos escolher em que família vamos nos encaixar. Uma vez ele puxou os cabelos da minha mãe na minha frente.— A minha voz fica embargada. — Sinto muito, Juliet.— Rylan me puxa mais uma vez e afaga meus cabelos com carinho.— Você não deveria passar por isso, mas porque ela não denunciou? — Ele pegou uma faca de cozinha assim que a soltou e apontou para ela, me joguei no meio deles, então Bruce baixou a faca. A minha mãe não denunciou porque ele ameaçou me machucar se ela falasse alguma coisa. — Como assim? Seu pai? — Sim, ele nunca me amou, Ry, é difícil quando o seu próprio sangue fala algo do tipo, senti vontade de gritar, mas não mudaria nada. O sol está ficando cada vez mais quente, fico com sede e infelizmente terei que esperar até chegarmos ao destino, pois não há lugar para comprar. — Estou aqui, Juliet e eu estou apaixonado por você, se tivermos uma família, será cheia de amor, prometo amar nossa filha ou filho com toda a minha alma. Enxugo as lágrimas com as costas da mão, mas dou um sorriso, pois estas são de felicidade. — Não pode me falar coisas tão lindas assim… como conseguirei esquecê-lo? — Não se case, Juliet… — E se Bruce me matar? Não duvido que faça esse tipo de coisa ao ser contrariado. — Não posso te perder, Juliet.— Encostamos as testas, o vento faz um barulho estranho ao passar por nós e o abraço com toda a força que tenho. — Tenho medo dele, Rylan, se não tivesse, poderíamos cancelar essa merda de casamento e eu me casaria com você. — Nunca pensei que um lar fosse tão cheio de mentiras como o seu. Quando vi uma matéria sobre seus pais, nunca imaginei o que havia por trás das câmeras. — Eles se odeiam e eu odeio ter que estar no meio de tudo isso. Foram tantas brigas que eu… — Shhhh, não fale mais nada, desculpe por ter falado no casamento. — É bom falar as coisas que nos machucam, Rylan, assim elas param de doer tanto.
Ele assente e quando confesso sobre a minha sede, disparamos para o carro, meu visual um pouco estragado por causa das lágrimas. •• — Não acredito que fez mesmo isso! Estamos em frente a uma bela casa de campo, parece que foi tirada de alguma revista, com um jardim lindo na frente e com os pais de Rylan nos esperando, os conheço por causa da foto que encontrei no quarto dele. — Fiz, eles queriam muito te conhecer. Reviro os olhos, mas sinto borboletas se revoltarem no meu estômago. — Estou muito nervosa. — Estou do seu lado.— Ry segura as minhas mãos e me ajuda a sair do carro. Enquanto ando na direção do casal sorridente, vejo os traços de Rylan presente nos dois, é uma mistura. — Olá, você deve ser a famosa Juliet.— Diz a mãe e pelo visto está mais ansiosa que eu, quando me abraça, fico surpresa e um pouco sem reação. — Sou e você, é? Nos afastamos e percebo o quão próximas estamos, assim posso observar suas rugas enquanto sorri. Pelo visto, todos são bastante felizes por aqui. — Maria Pratt e esse aqui é o meu marido, Joseph. Sorrio com os nomes, mas já me sinto melhor quando Maria nos convida para entrar na casa, é bem simples, mas com móveis planejados sob medida, fico encantada com os detalhes do papel de parede até os porta-retratos. — Posso ver?— Pergunto antes de pegar uma em que Rylan está em uma banheira, apenas uma criança sem os dentes da frente. — Claro, querida. — Você sempre foi lindo, Rylan! Os pais dele acham graça do elogio, mas não falam mais nada. — Sei disso, sou narcisista, lembra? Rylan passa o braço pelos meus ombros e fazemos uma tour pela casa, ao chegarmos na cozinha, peço água e meu “namorado” chama o pai para debater algum assunto particular, se bem que acho que o propósito é me deixar sozinha com sua mãe. — Você é mais bonita pessoalmente. — Obrigada.— Minhas bochechas coram com facilidade diante de palavras tão genuínas. — Não que seja feia nas fotos, mas as vezes elas enganam. — Verdade. Assim que Maria me oferece água, fico aliviada e tomo em poucos
segundos, ao terminar pego um pouco mais. — Acho que nunca vi o meu filho tão feliz assim. Se Maria soubesse o que estamos passando, não falaria em felicidade, mas não quero contradizer nada, hoje posso fingir que namoramos. Tirei aquele anel asqueroso da minha mão hoje pela manhã, mas a presença dele ainda é vívida, não consigo evitar, mesmo que eu não ame Henri é como se eu estivesse o traindo, o que é loucura, já que nunca quis nada disso. Quer saber? Ele quem quis casar comigo, não eu. — Ele quem me faz feliz. — Torço pela felicidade dos dois pombinhos.— A fala agitada me faz lembrar de sua ansiedade, não quero que fique estressada. O sorriso em seu rosto é brilhante e sei que ela já passou pelo inferno de perder um filho, mas hoje conseguiu sair dele e se recuperou, me pergunto se conseguirei fazer o mesmo algum dia. — Voltamos. Somente a sua voz é capaz de transformar o meu dia, e quando ele me abraça dessa forma, é como se nada mais existisse. — Já estava com saudades.— Falo e é a mais pura verdade. — Sou entediante? — Claro que não, tia, mas é que, seu filho conquistou meu coração e agora não consigo mais ficar longe.— O meu tom é irônico, mas nunca falei tão sério em toda a minha vida. Ele é o meu ímã, assim como falou. — Saiam daqui enquanto termino de cozinhar o nosso almoço. Mostre o rio para ela, Rylan. Fico animada para ver o tal rio e andamos de mãos dadas até ele. A família dele é tão legal que parece que nos conhecemos a séculos, isso é bom, pois toda a minha timidez inicial evaporou. Talvez tenha sido o abraço da minha sogra. — Pensando em que? — Seus pais são tão legais… — Fico feliz que tenha conhecido eles em uma fase boa. Com os dedos entrelaçados, andamos e eu posso ver um pequeno riacho com uma casinha de madeira ao lado. — Eu também. — Pule nas minhas costas.— Diz, de repente, me fazendo sorrir. — O quê? — Pule nas minhas costas.— Rylan repete e sorri também, faço o que ele está pedindo e me sinto uma criança boba.
Rylan corre a ladeira e eu quase perco a minha respiração, tamanho o medo de sairmos embolando até o rio. Grito o seu nome várias vezes, e quando chegamos à margem, consigo respirar e sair de suas costas. — Você é louco! — Nunca disse que era são. Ele senta e tira a camiseta, nunca havia se exposto tanto assim na minha frente, isso me faz ficar calorenta, meus olhos voam para o abdome sarado. — Pare de me olhar assim, não vou aguentar. — Porque está se segurando, então? Rylan volta seus olhos famintos em minha direção e tenho certeza que os meus estão da mesma forma, eu quero me entregar. — Tem certeza? — Nunca me importei com a virgindade, mas você sempre quis esperar o momento certo. — Para alguém que lê romances, você não é nada romântica, Juliet. — Também nunca falei que era.— Beijo seu ombro e vejo a luta em seu olhos quando se voltam para mim. — Juliet… — Eu quero você, Rylan, com todas as letras e com todo o meu coração. Ele se vira para mim e logo estou deitada sobre a grama, mas ele para antes de me beijar, o que me deixa frustrada. — Ah não! — Isso não é o ideal, mas tem uma cama na casinha. Além disso estou sem camisinha. Vejo-o cerrar os punhos e voltar para a sua posição inicial, não consigo fazer o mesmo e deixo o sol bater no meu rosto por alguns segundos antes de sentar. — Não pode começar um incêndio e não terminar.— Cruzo os braços como uma criança mimada. — E também não posso te engravidar. Não seria uma péssima ideia… Deito no seu colo e percebo que ele me quer, mas ignoro esse detalhe e toco em seu queixo, os pelos de sua barba fazem cócegas nos dedos. — Tenho uma surpresa para você. — Agora? Levanto-me, animada, e espero ele tirar do bolso uma caixinha de veludo, isso me assusta um pouco, mas ele segura a minha mão e diz: — Não é o que está pensando, bobinha.
Balanço a cabeça e percebo que minhas mãos estão trêmulas assim que tento abri-la. Umedeço os lábios e tiro um pingente com a letra “R” de dentro. — Rylan… eu não comprei nada… — Não precisava, mas quero que use isso na sua corrente. Os dedos dele param nos meus cabelos e os colocam para trás da orelha, me aproximo e lhe dou um beijo. Não quero começar mais um incêndio, e por isso me afasto antes que as coisas fiquem mais animadas. — Pode me ajudar a tirar? Viro-me e ele retira o meu colar, com a maior paciência do mundo, em seguida coloca o pingente que comprou e retira o que estava, guardando na caixinha. — Pronto.— Diz ao colocar a corrente novamente em meu pescoço. — É lindo. Subo em seu colo e o beijo, nada de arrependimentos, nossas bocas grudam e minha língua pede para vasculhar a sua boca, recebendo permissão. As línguas conversam, mas tudo o que sinto é a tristeza de saber que não poderei beijá-lo dessa maneira sempre que quisermos. Quando gostamos de alguém, queremos ficar perto, dar tudo de si no relacionamento, é por isso que quero que Rylan tome uma parte de mim. Quero que ele abdique o meu corpo, pois a alma ele já tem. Sorrio entre os beijos e o empurro para deitar na grama, ficamos dando amassos até ele receber uma ligação do seu pai. — Empata-foda.— Fala antes de atender e eu mordo minha unha, com vontade de continuar o que começamos.— Oi pai… sim, já iremos voltar. Desliga o celular e morde os lábios ao me encarar, isso me faz gemer com a ansiedade. — Mais tarde, Juliet, você será toda minha. A promessa me faz beijá-lo mais uma vez e eu suspiro, pois espero que tudo seja perfeito.
Capítulo 26 A vida é um poço de surpresas, nunca se sabe o que está prestes a acontecer.— Rylan
A tarde na casa dos Pratt foi tão legal que eu nem queria voltar com Rylan, na verdade, fiquei com um pouco de inveja da sua família, nunca poderei desfrutar esse tipo de paz na minha. — Saiba que fica linda enquanto pensa. Viro-me para Rylan, é exatamente assim que quero lembrar dele, os olhos brilhantes e amáveis, e eu sou o centro das atenções pelo menos uma vez na
vida. Todas as vezes que ele me observa enquanto dirige, é tão apaixonante que fico sem ar. Seguro o pingente que ele me deu e fico ansiosa, terei que manter escondido por baixo da blusa. O “R” significa que ele realmente me conhece e isso é mais do que eu possa falar. — Já disse para parar com esse tipo de elogio o tempo inteiro. — É o último dia em que posso falar esse tipo de coisa, a não ser que você fuja comigo.— Há um toque de esperança em sua voz, mas não é assim tão fácil, certo? — Quero não gostar tanto assim de você. — E eu não quero que faça isso. O carro tem o cheiro de Rylan, mas dessa vez parece um pouco diferente, tudo parece mais intenso. Abro a minha bolsa e procuro alguma coisa para mastigar, acho um chiclete com o nome “Kiss”. — Quer um beijo meu?— Brinco, mas ele leva a sério e quando olha para mim, sinto um calafrio na nuca. — Me pergunte isso quando chegarmos ao destino. — Era apenas um chiclete, mas já que não quer… — Coloque na minha boca, não posso pegar. Desembalo o confeito e coloco em sua boca, mas ele é mais rápido e dá um beijo na minha mão, um daqueles molhados e os meus dedos ficam pegajosos. — Eca, Ry! Enquanto ele sorri, limpo a mão no vestido, porque simplesmente odeio quando a minha mão fica grudenta. Aumento o som quando a música “Baby come back”, e canto a plenos pulmões, como se a minha vida dependesse disso, Rylan me acompanha e até que fazemos um belo dueto. — Lembra daquela vez em que eu quase ia na sua casa? — Sim e lembro que eu falei que te expulsaria. — Eu meio que estava no condomínio… — Não acredito! Arregalo os olhos diante dessa confissão e de quão perto chegamos de ser pegos. — Verdade. — Parece até que estávamos namorando à distância, todas aquelas noites em que não podíamos ficar juntos. — Mas nós demos um jeito e funcionou, isso significa que não importa a
distância, funcionamos. Ergo a sobrancelha, mas nem tenho tempo de retrucar, porque Rylan entra em um hotel enorme, o estacionamento é deslumbrante e me faz sorrir de encantamento. — Quer descer e me esperar estacionar? Nervosa, assinto e saio do carro. Ai meu Deus, isso está mesmo acontecendo! Recebo uma mensagem e quando digito a senha, vejo o nome de Henri me perseguir e resolvo ignorar, pois é a única maneira de aproveitar o meu momento com Rylan. — Vamos? Fico ainda mais ansiosa, não porque estou com medo, mas porque esperei muito por esse momento a sós com ele. É como aguardar pelas férias e elas finalmente chegarem. — Suas mãos estão geladas.— Diz quando entrelaça suas mãos nas minhas. — Não é nada demais. — É a sua primeira vez, se não quiser, tudo bem, podemos apenas conversar. — Tudo bem.— Baixo minha cabeça, mesmo depois de tanto tempo, consigo ficar envergonhada perto dele. A recepção é luxuosa, mas Rylan insiste em pagar pelo quarto, um dos grandes, mais caros, depois de alguns segundos, não consigo mais tentar impedir. — O quarto é o 301, sejam bem-vindos.— A recepcionista deve estar acostumada com tantos jovens que passam por aqui, mas é tão constrangedor para mim que fico sem fala. — Ai meu Deus, que vergonha, Rylan!— Escondo-me atrás de sua camiseta e seguimos até o elevador. Meus cabelos estão volumosos e ondulados, culpa do babyliss que fiz antes de sair de casa. Rylan pegou o meu prendedor, então vai ter que ficar assim mesmo. — Estou parecendo um leão! Rylan me puxa em um abraço e só se separa de mim quando a porta do elevador abre. Pausa para mais um momento constrangedor quando vejo dois pares de olhos na nossa direção. Corro até a porta do quarto em que ficaremos, ainda sem me acostumar com esses momentos íntimos com meu ex-namorado. — Não precisa ficar com vergonha, Juliet, somo nós, as mesmas pessoas
que ficam conversando todas as noites. Ao entrar no quarto cheiroso, vou até a cama e me jogo. — Quero conversar um pouco com você.— Bato a mão do meu lado, para que ele se deite. Rylan passa as mãos no cabelo e pula ao meu lado, entrelaça os dedos nos meus e ficamos em uma posição confortável, nos encarando com os rostos muito próximos, sentindo a respiração um do outro. Arrisco um sorriso e ele me acompanha. — Tem uma porta nos fundos da minha casa, um quarto para filmes e até uma pipoqueira.— Faço carinho em sua mão e espero pela resposta. — Isso é um convite? — Entenda como quiser.— Dou de ombros. — Já que quer conversar, lembra quando assistimos aquele filme “10 coisas que odeio em você”? — Impossível esquecer, Rylan, você achou a protagonista muito bonita, passei dias com ciúme. Só de lembrar me sinto um pouco enciumada. Gosto muito quando assistimos filmes pelo telefone, mas nesse dia, fiquei emburrada. — Ah, agora entendi porque você foi dormir logo em seguida. Fecho os olhos, torcendo para que ele esqueça esse assunto o mais rápido possível. — Quero falar as dez coisas que gosto em você. Sinto um friozinho na barriga quando ele desvencilha sua mão da minha e passa os dedos por meus braços, causando arrepios na pele sensível. — Hum… — Gosto dos seus lábios, por que são carnudos e beijam muito bem. Sempre que nos beijamos, fico com sérios problemas. — Posso falas as coisas que gosto em você também? — Claro, vamos fazer assim, cada um tem a sua vez. — Tudo bem, sua vez. Ele ergue a sobrancelha e semicerra os olhos, amo quando ele faz isso, e mordo meus lábios. — Amo quando morde os lábios, porque só consigo ter olhos para eles, mas você inteira merece atenção.— Rylan passa os dedos nos meus lábios e eu estremeço, mas aperto minhas pernas, pois quero saber mais coisas que ele gosta em mim antes de partir para outras bases. — Gosto quando passo nos corredores da faculdade e te vejo, seus olhos são muito lindos, eu os invejo. Passo o dedo em sua sobrancelha e ele sorri, aquele tipo de sorriso que é
quase um nocaute no meu coração. — Juliet, tenho que confessar que quando passa pelo corredor, dou uma olhada para a sua bunda, porque você anda de uma maneira muito sexy. Mordo o lábio inferior, para não ter que confessar que também olho para a bunda dele, quem não aprecia esse tipo de coisa? — Gosto quando conversamos no telefone, porque parece que estamos juntos na mesma cama… — Como estamos agora? — Sim. Rylan se aproxima um pouco mais com a minha confissão, e não demora até falar novamente. — Gosto quando viajamos com o meu carro para algum lugar e você canta as músicas comigo. Juliet, você não canta tão bem, mas eu consigo lidar com isso. Dou um tapa em seu ombro, mas estou sorrindo, ele não está mentindo, sempre gostei muito de cantar, mas nunca tive talento para isso. Que seja! — Gosto de você, porque me entende, além disso, me fez entrar em um barco e perceber que não é tão ruim assim. — Você amou aquele passeio, pode assumir… — A cidade era incrível, não tinha como não amar! — Juliet, você tem uma alma linda, e escreve muito bem, deveria publicar um livro. Seus textos são realistas e reflexivos, uma coisa rara hoje em dia. — Não sou a única que escreve, você é um artista completo! — Isso é uma das coisas que gosta em mim? — Pode ser, já estamos em que número? — Não faço ideia.— Ele se apoia no cotovelo e isso faz o seu bíceps tensionar, tenho que me controlar quando vejo uma veia saltar em seu braço. — Ah, admiro a sua vontade de ir para a academia, queria ser assim. — Se for comigo, vai gostar. — Eu duvido muito… Somos interrompidos quando o meu celular começa a tocar, com toda a movimentação do meu dia, acabei esquecendo de colocá-lo no silenciador. Saio da cama e vou até o criado-mudo, vejo a notificação de chamada perdida. — Vou desligar.— Digo e nem vejo a quem pertencia a chamada. — E se for algo importante? — Retornarei depois.
Jogo-me novamente, aproveitando a maciez do colchão macio me envolvendo e passo o braço pela costela de Rylan. — Rylan, é fácil falar dez coisas que gosto em você, porque estou apaixonada e porque você é tão gentil que me faz querer chorar. — E você, é a pessoa mais ousada e tímida que conheço! Naquele dia quando me pediu para te aliviar, fiquei abismado e maravilhado com a sua atitude. — Não sou tímida, mas como uma garota virgem de vinte e dois anos, fico constrangida com algumas situações e uma delas é um gostosão com a cara em ambientes extremamente prazerosos. — Gostosão? — Rylan, não se iluda, estou com você por causa do seu corpo!— Sorrimos e ficamos alguns instantes em silêncio. Aproveitando a paz de saber que ninguém poderá nos encontrar nesse hotel em uma cidade longínqua. — Juliet? — Huh? — Amo quando conversamos por meio de perguntas. — Amo conversar com você. — E eu estava falando sério quanto aos ciúmes, eu sinto muito informar que sou bastante ciumento. Faço cafuné nele e o vejo fechar os olhos, sem prestar atenção do tic tac do relógio na parede. Quanto tempo nos resta? — Você sempre me leva aos lugares que gosta, mas nunca te levei ao meu lugar. — Podemos ir qualquer dia. Só o pensamento me faz sorrir, embora eu saiba que não será possível, mas não custa sonhar. — Quando o seu pai anunciou o seu casamento, quase perdi a cabeça, Juliet. Levei Amy para casa e depois disso fui para um bar. — Não sabia disso, sinto muito. — A culpa não é sua…— Rylan para por alguns segundos e expira, o ar bate no meu rosto — Bebi a noite inteira, quase fui na sua casa te buscar, mas pensei que talvez você tivesse aceitado, como se eu fosse o seu carro de fuga por alguns meses. — Oh, Rylan, nunca gostei de Henri, ele sempre foi amigo do meu pai. — Desculpe por pensar isso de você, mas fiquei muito irritado. — Exatamente como me senti quando soube que Julian era um traidor, mas no meu caso, era verdade.
— Falou com ele?— Rylan olha para mim com um olhar curioso e isso me faz perceber que realmente é um homem ciumento. Todo mundo tem defeitos. — Queria dar uma lição depois do tapa, mas não quero me tornar uma pessoa vingativa. Mas isso não importa agora, quero saber como você percebeu que eu estava sendo sincera o tempo inteiro… — Reli nossas mensagens e as fotos que você me mandava, então me senti um idiota por desconfiar de você. — Preciso confessar que amo a sua sinceridade, Rylan. — Passei uns dias com raiva de mim por ter duvidado de você, até porque você se abriu para mim como um leque. — Odiei essa metáfora.— Solto uma gargalhada e paro com o cafuné, mas não posso negar que é interessante. — E então, fui até a sua casa. Pedi a ajuda de Amy, mas ela disse que você também não atendia as ligações dela. — Pensei que vocês se odiassem…— Abro um sorriso e rapidamente monto em cima de Rylan. Não sei se ele é o amor da minha vida, pois faz pouco tempo que estamos juntos, mas com certeza, é o rei do meu coração. — Nós realmente nos odiamos…—Sua respiração fica desregular, mas ele continua:— Lembra quando ela derrubou café em mim? — Ela jura que foi sem querer. — Não foi, ela confessou. Impossível ficar séria ao lembrar do dia em que fugimos até a biblioteca e compramos cafés. Eu, Rylan e Amy passamos a manhã inteira conversando, mas depois a loira ficou com raiva quando o meu namorado mencionou os seus dentes de tubarão, o resto você já sabe. — Você provocou uma onça… Rylan troca de posição e fica em cima de mim, o peso é mais prazeroso do que imaginei. — Gosto de provocar. Solto o ar pela boca, a respiração ficando cada vez mais rápida, sinto os seus dedos levantarem o meu vestido e passearem por minha barriga, a sensação é tão boa que fecho os olhos. — Gosta mesmo… Minhas mãos buscam a sua camisa e a puxam para cima, revelando o abdome de que gosto tanto, vejo que fecha os olhos quando vou até o cós de sua calça. Rylan me ajuda e abre o jeans com facilidade, me contorço entre os
lençóis, mas isso só me deixa ainda mais tensa. Quando sinto sua barba por fazer arranhar o meu pescoço, o coração dispara e o puxo contra mim. — Droga, Ry… Arranco meu vestido na velocidade da luz e vejo Rylan explorar o meu corpo com a sua boca, e sinto como se pudesse explodir a qualquer segundo. O tesão nubla a minha visão, é incrível como não me sinto exposta… Sua boca carnuda beija o meu seio sobre o sutiã e o meu corpo inteiro é tomado por um tremor, a garganta dói em busca de ar. — Juliet…— Ele geme quando faço alguns movimentos, tentando aliviar a área entre as minhas pernas que anseiam por isso. Seguro a sua nuca e o trago para a minha boca, esse beijo é mais intenso do que os outros, como se nossas almas estivessem conversando. Nossas línguas brincam uma com a outra e eu me sinto perdida em seus braços fortes, quero que Rylan acabe logo com isso, porque sinto uma dor prazerosa se instalar em minhas partes baixas. É agoniante para caramba! Com toda a ousadia dentro de mim, levo as mãos até o membro de Rylan, que está pedindo para ser libertado e é quando percebo que estamos apenas com roupas íntimas. Quando Rylan tirou a calça? — Ry… Puxo sua cueca para baixo e assim que vejo o que ele esconde, mordo os lábios. Rylan beija meu pescoço e logo em seguida começa a chupá-lo. — Você merece… o mundo aos seus pés.— Ao se afastar, percebo que também está com o desejo brilhando nos olhos. Perco o que resta da minha respiração quando ele puxa a minha calcinha e passa o dedo em mim, seguro o lençol com força. — Juliet… está preparada para mim? Solto um murmúrio, incapaz de falar qualquer coisa coerente, e antes de Rylan entrar em mim, sussurra em meu ouvido, que está completamente apaixonado. O coração da pobre Juliet não aguenta, ah… As pernas trêmulas e sinto nossas partes se encaixarem, é mais do que quando ele me aliviou no outro dia. É hipnótico quando ele é sugado por mim e a dor me invade. — Não preste atenção na dor, Juliet. Foque em mim. Faço o que ele está mandando, e mordo os lábios, me sinto estranha, e quando ele sai de dentro de mim, a sensação é de vazio. Pense em Rylan…
Melhora um pouco quando ele repete o movimento, meu corpo se acostuma com o intruso e começa a se deliciar novamente com ele. Várias vezes depois, começo a ficar ainda mais excitada, uma agonia sem tamanho me invade e a cada estocada, quero arranhá-lo. — Mais, Rylan… Ele ergue a sobrancelha, mas faz o que estou mandando, tudo parece perder o sentindo quando o meu corpo começa a tremer e ele me beija mais uma vez. Meus pulmões reclamam da falta de ar assim que Rylan entra uma última vez em mim e começo a tremer, o meu órgão envolvendo o dele. Caímos na cama e respiramos fundo. Bons minutos depois, quando minha respiração estabiliza um pouco, olho para ele, os cabelos desarrumados me fazem sorrir. — Agora, Ry, você tem uma parte de mim… Seus olhos voltam em minha direção e ele beija a minha bochecha ao escutar as palavras. — Espero que sempre deixe esse pedaço reservado para mim. Rylan brinca com os lençóis e me cobre, precisamos de um banho e percebo bem tarde que não usamos camisinha. — Rylan, você deixou sua semente em mim, mas precisamos passar na farmácia, não quero que ela dê frutos. — Seu pedido é uma ordem, esqueci de colocar a maldita camisinha, me desculpe. — Não peça desculpa, dizem que usar camisinha é horrível…— Segundo Amy, causa assaduras. — Quer tomar banho comigo? Será que é estranho compartilhar o banheiro com alguém? É muito íntimo? Quer saber? Que se dane! Acabei de me entregar para ele. — Por que não? O volume de Rylan não passa despercebido e mesmo estando dolorida, quero mais dele antes de ir embora. Nem sei se conseguirei me despedir disso, agora entendo porque as pessoas gostam tanto de sexo, a conexão humana é muito forte. — Além do mais, quero melhorar algumas técnicas… Rylan beija meu pescoço e sorri. — Nada de timidez dessa vez? — Por que deixou de me beijar? — Tudo bem, agora, vamos para a banheira, porque depois precisamos
dar um jeito nessa bagunça. Olho para os lençóis manchados com o meu sangue, e me sinto extasiada com tudo o que aconteceu. — Depois pensamos nisso.— Enlaço os braços em seu pescoço e ele me suspende, me levando com cuidado até o banheiro. Espero que a segunda vez seja ainda melhor do que a primeira.
Capítulo 27 Muitas vezes, os nossos piores dias, trazem as melhores lições. — Lisa.
Segunda-feira, poderia ser mais um dia de aula, mas estou radiante, andando como se nada pudesse me abater, até ver algo no meu armário, chegando mais perto, percebo que alguém escreveu “vadia nojenta”. Um arrepio percorre minha coluna, as pessoas são ótimas em destruir um dia bom, e em nos colocar para baixo. Escuto sussurros ao meu redor e seguro a minha mochila com um pouco mais de força, mas assim que me viro, esbarro em um peitoral, conheço o cheiro
rapidamente. — Quem escreveu isso? Sofie empurra algumas pessoas e empina o queixo, me sinto humilhada na hora. — Ninguém tem culpa se Juliet é uma vadia louca, agora está de casamento marcado, mas todos sabem que ela não presta. Meus ombros baixam um pouco mais depois de ouvir isso, mas Rylan me abraça, na frente de todos, e antes que eu possa retribuir, escuto uma voz surgir no meio da discussão. — O que está fazendo com a minha noiva, Rylan? Vá arrumar uma para você. As palavras nos fazem recuar e Henri segura o meu braço com força, dói, mas estou com bastante raiva, então puxo meu braço com força e vou na direção oposta até o banheiro. Ao chegar no local, fecho as portas de um box e inspiro profundamente, para acalmar o meu coração, faz alguns minutos que cheguei na faculdade e já sou bombardeada? Analiso o local que Henri segurou e como imagino, está avermelhado, ele é mais idiota do que eu imaginei. A última semana foi horrível, então começo a chorar, não ligo para a primeira aula que vou perder, choro por vários minutos, sem fazer nenhum barulho, pois algumas pessoas entram no banheiro e não quero que escutem. O celular vibra na minha mão e vejo uma mensagem de Amy, não tenho dado tanta atenção para ela desde que descobri sobre meu casamento, então devo um pedido de desculpas. Rylan acabou de me contar o que aconteceu, você não viu a melhor parte, Juliet, eles brigaram por você. Fico alguns segundos, absorta com os próprios pensamentos, incapaz de responder qualquer coisa, não acredito que brigaram por mim! Brigaram? Como assim? Preciso falar com você! Alguns segundos depois, ela me liga e atendo antes do primeiro toque acabar. — Me fale que é mentira! — Eu não poderia… quando cheguei, Rylan e ele estavam discutindo e Henri levou um belo soco.
— Ai meu Deus, poderia ficar pior? — Sim, Julian apareceu e como um babaca que é, não negou o envolvimento de vocês. Fungo e solto um soluço involuntário. — Sinto muito, Juliet, você não merece isso. — Mereço sim, Amy, fui uma tola ao acreditar em Julian, agora estou metida em toda essa merda. — Pare de se culpar! Você nunca pôde cometer erros, Juliet, sempre viveu presa em uma bolha criada por seu pai, se tem um culpado em toda a situação, esse alguém é ele. Volto a chorar, mas Amy não desliga, fica na linha, escutando pacientemente, até que as lágrimas estacionem. — Quer ir embora? Podemos sair e comer alguma coisa. — Passei mais de meia hora chorando, devo estar um desastre. — Então estou indo aí, para a sua sorte, sempre ando com um kit de sobrevivência da beleza. Sempre tive um pouco de inveja da vida da minha melhor amiga, ela mora com os tios e eles são mais amorosos que os pais dela. Além disso, Amy tem tudo o que quer, e é livre para sair a hora que quiser, pois eles acreditam nela. Escuto uma batida no box do lado e sei que ela chegou, abro uma fresta da porta e vejo suas sobrancelhas arquearem quando me vê. — Realmente, sua situação não está nada legal.— Tenta sorri, mas não consigo. Amy vem até mim e me puxa para fora do box, logo em seguida me dá um forte abraço e eu retribuo. Amigos são como estrelas, sempre estão perto quando precisamos de uma luz. — Podíamos viajar depois das provas. Afasto-me e fito seus olhos cor de mel, gosto de irritá-la por causa de seus dentes, mas Amy é linda e simpática, além de ser a melhor amiga do mundo. — Não posso, preciso ficar e organizar as coisas do meu casamento. — E se fossem dois dias? Poderíamos ir à praia.— Amy está tentando me animar, ela costuma fazer isso quando os meus pais brigam e preciso de um colo amigo. — Sou uma péssima amiga, Amy, me perdoe…— Minha voz falha, já estou sentimental novamente. — Nem venha com essa, eu te desculpo mil vezes, ainda nem acredito que vai se casar antes de mim!
Quando éramos menores, eu e Amy falávamos sobre nosso casamento duplo, em como arrumaríamos um homem lindo e alto, e seríamos felizes para sempre e sempre. — Minha vida é horrível, é como se eu tivesse a chave da prisão, mas não pudesse sair dela. — Você é minha irmãzinha e sempre será, ainda pode contar comigo. Damos as mãos e sei que essa promessa é verdadeira. — Henri é pior do que eu pensei, Amy, estou com muito medo, ele apertou o meu braço na frente de todo mundo, como se eu fosse uma prioridade dele. — Rylan pode ser um chato, mas gosta mesmo de você, conversamos bastante nos dias em que você se trancou para o mundo e ele estava arrasado. — Obrigada por tomar conta dele. — Era necessário, queria checar de perto se ele não estava saindo com outra pessoa, se fosse o caso, eu o pegaria de jeito. Solto a primeira risada desde que cheguei na faculdade e dou mais um abraço na minha melhor amiga, fico imensamente grata por tê-la comigo. — Tudo bem, agora precisamos cuidar do seu rosto, talvez colocar um delineador para disfarçar o olho inchado. — Sou toda sua, madame. Amy bate palminhas animadas e começa a passar base no meu rosto. •• Tento ligar para Rylan, mas ele não atende, então vou para casa com Amy e passamos a tarde assistindo filmes bobos e clichês. Eu avisei que era uma bagunça… — Por que minha vida sempre envolve tragédias? Estamos deitadas, vendo os créditos do filme que acabou de começar, mas não consigo focar em nada, minha cabeça está em outro lugar. — Pare de pensar isso, Juliet!— Diz, mas me abraça e encosta a cabeça no meu ombro. O dia inteiro recebi mensagens de ódio e as fotos de calcinha voltaram, tive que bloquear os comentários nas fotos do instagram. — As pessoas acreditam facilmente em boatos, nem se preocupam em saber a verdade… Amy vira a cabeça para mim e força um sorriso. — Verdade, Juliet. As vezes, penso naquela vez em que eu tinha treze anos, em que as minhas “amigas” falaram que eu havia perdido a virgindade. Que droga! Eu era apenas uma criança. Foi realmente horrível esse boato sobre Amy, pois chegou aos ouvidos de
seus tios, ainda bem que o casal é muito mente aberta e preguntou o que estava havendo antes de tudo. — Você ficou muito mal. — Mas veja pelo lado bom, depois disso ficamos ainda mais unidas. Eu e Amy sempre nos conhecemos, mas depois disso, nos tornamos melhores amigas, ela sempre vinha na minha casa e eu preparava chocolate quente. Bons tempos. — Dessa vez, não há nenhum lado bom… ser chamada de vadia é horrível! Além das montagens horríveis em que me marcaram, a última era do meu rosto em uma santa, e do lado havia escrito “Santa Juliet”. — Deve ser por isso que tantas pessoas sofrem de depressão, porque em vez de te ajudarem, te colocam para baixo.— Continuo. O quarto parece ter ficado maior nessa última hora, e ficamos em silêncio, como se as paredes houvessem algo de interessante. — Queria muito te levar à praia…— Amy quebra o silêncio, no mesmo tempo em que meu celular começa a tocar, é de um número desconhecido. — Alô?— Por alguns instantes, penso que é algo relacionado ao meu casamento, mas assim que escuto um suspiro, sei a quem pertence.— Rylan? — Oi, Juliet, eu não tinha a quem recorrer, estou metido em uma confusão. Essas palavras me fazem levantar às pressas, corro atrás de algum papel e quando ele me fala o endereço, meu coração despenca dentro do peito. E eu nem sabia que era possível.
Capítulo 28 Quero tocar em cada parte do seu corpo, para que as minhas digitais te sigam por onde você for.—Rylan.
Chego na delegacia e vou até um homem fardado, leio em seu crachá o nome “Tomas”, infelizmente, não consigo falar nada e o homem fica me encarando como se eu fosse uma adolescente louca. — Oi… eu… — Quer alguma informação? — Quero saber onde está Rylan Pratt.
— Ah… deve ser o fortão. Esse tipo de garoto é problema, querida. Engulo um desaforo, porque ele é uma autoridade e assinto, não sou nenhuma criança e odeio quando alguém tenta me falar o que devo fazer. — Quero pagar a fiança! Como Rylan é réu primário, acho que posso pedir a fiança. Ele nem pôde me contar o que aconteceu e fiquei tão nervosa que Amy teve que me trazer, ela está estacionando o carro, enquanto estou aqui. — Tem certeza? Outra vez, tenho que me esforçar para não falar nada e assinto pacientemente. Eu estava juntando algum dinheiro, para quando acabasse a minha faculdade, mas ainda falta um ano e meio, então posso fazer isso depois. O policial espera mais um pouco, como se quisesse que eu mudasse de ideia, mas depois me pede para ir até as celas, falar com Rylan. Ao ver o seu belo rosto, meu coração se aperta, mas não quero chorar, porque ele está parecendo abatido, suas mãos seguram nas grades da cela. É a cena mais triste que já presenciei. — Ry!— Vou até ele e seguro suas mãos, estamos ambos sem palavras e eu preciso saber como ele acabou aqui antes de enlouquecer— Vou te tirar daqui. Ele assente e eu corro de volta até o policial que estava vendo toda a cena, não parecendo se importar nem um pouco. — Pode acabar logo com isso?— Estou quase implorando, enquanto o homem me olha desconfiado. — Precisamos acertar o valor, me siga. •• O tal do Tomas, quase me fez perder a paciência, mas Amy me ajudou no processo e me acalmou com o olhar. Paguei a fiança, mas nunca imaginei que fosse demorar tanto para ver o meu namorado ficar livre daquela cela asquerosa, como se fosse um animal. Ao chegarmos no carro, todos muito silenciosos, Rylan e eu vamos atrás, com as mãos unidas, o mundo poderia acabar, mas eu não o soltaria. Com a cabeça encostada em seu peito e sentindo sua respiração em mim, me sinto aliviada e sussurro para que Amy nos leve até a minha casa. — Pode ficar comigo?— Pergunto depois de ver a sua testa franzir, pois não posso deixá-lo ir até a fraternidade. — Já está escurecendo… — Não importa, não quero te deixar ir.— Me pressiono ainda mais em seu peito, como se ele ainda estivesse muito distante. Rylan expira e coloca a mão em minha cabeça, e não saímos dessa
posição até estacionarmos o carro na garagem da minha mãe. Olho meu relógio e para a nossa sorte, ainda é cedo o bastante para que meus pais não tenham chegado. Amy e Rylan me acompanham até o quarto “secreto” que eu havia dito outro dia, é bem escuro, pois a luz é bem fraca. Nos sentamos no tapete enorme e preto, mas antes que meu namorado diga alguma coisa, me aproximo e o beijo, rapidamente porque minha amiga está aqui e isso é estranho, mas é um beijo muito bom. — É irritante vê-los juntos, vocês são muito fofos!— Amy reclama e nós começamos a sorrir. Pelo menos, podemos contar com ela para iluminar nossa noite mais escura. — Acho que agora estou preparado para contar o que houve. Assinto e entrelaço minha mão na dele. — Fui fazer a minha última entrega, e não quis te contar, Juliet, porque não queria que se preocupasse… mas, era uma emboscada. — Ai meu Deus, Ry, eu sinto muito. — Ainda não contei tudo.— Vejo ele se preparar e respirar fundo— Fui até o lugar que indicaram, e os policiais já estavam aguardando, pois receberam uma ligação anônima. Rylan dá uma pausa e me encara, os olhos brilhando de raiva. — Foi Henri, vi o carro dele estacionado perto, ele queria que eu soubesse. Penso em Rylan sendo carregado pela polícia, algemado, mesmo sendo inocente, e isso parte ainda mais o meu coração. — Sinto muito, Rylan, isso tudo é culpa minha! Afasto-me, mas ele é mais rápido e segura o meu pulso. — Pare de se culpar, Juliet.—É Amy quem responde, mais rápida que Rylan. — Não consigo! Se eu não tivesse me envolvido com Rylan, nada disso teria acontecido. Meus olhos começam a marejar, mas me proíbo de chorar na frente deles. — Juliet…— Rylan adverte, mas começo a me afastar novamente e pulo na cama, longe o suficiente para pensar melhor. — Sei que vocês não querem que eu me sinta pior, mas é a verdade, e já sou bem grande para encará-la. — Não está sendo coerente, Juliet. Olho para Rylan, e meus pensamentos se tornam mais amenos, como uma tempestade chegando ao fim. Ele não merece que eu despeje tudo de uma
vez dessa forma, ainda mais depois de ser preso. — Me desculpe. Os dois vem até mim e sentam ao meu lado, logo em seguida me dão um abraço ao mesmo tempo. Abraço triplo, penso. — Não mereço vocês na minha vida. — Shii, não fale esse tipo de coisa.— Amy reclama, sua voz mais áspera e acabo sorrindo.— Além disso, Henri é um cretino, estou com ódio que você tenha que casar com ele, Juliet. — Não quero me casar, mas o que posso fazer? Rylan vira para mim, como se houvesse a ideia perfeita. — Se torne uma best-seller até lá e fugiremos. — Não é uma péssima ideia que eu me torne uma best-seller, mas acho pouco provável. — Eu apoio.— Amy me cutuca com os ombros e sorri. Escuto o ranger da madeira da escada, o que significa que a minha mãe chegou, entretanto, escuto uma voz grave e meu sangue congela. — Seu pai está aqui?— Minha melhor amiga pergunta, mas dou de ombros, porque não faço a mínima ideia. O silêncio dura cerca de um minuto, pois logo começamos a escutar gritos, Amy já escutou isso algumas vezes, mas fico envergonhada por Rylan testemunhar, principalmente depois do nosso final de semana com seus pais. — Acho melhor ir embora, Juliet.— Amy levanta e sai pela porta dos fundos. Não a culpo, eu também fugiria se fosse possível. — É sempre assim? — Sim, se quiser ir embora, eu entendo. — Não vou te deixar quando mais precisa. Respiro fundo, inspirando o seu cheiro e esperando que essa confusão acabe logo, mas em vez disso, as vozes ficam mais altas e escuto Bruce perguntar por mim. — Fique aqui, eu já volto. Corro até a cozinha, tentando fazer o mínimo de barulho, desço as escadas e sento na bancada, como se já estivesse aqui. A voz fica cada vez mais alta e quando os meus pais voltam para a sala, me veem e vêm até mim. — Aonde você estava? — Lá fora, mas escutei alguém me chamar e vim até aqui… aconteceu algo?— Fico com medo de transparecer alguma coisa, mas a voz sai relaxada.
— Porque você faltou a prova do bolo hoje?— O ódio fervilhando em sua voz poderia ser sentido há quilômetros de distância. Enquanto ele se aproxima de mim, vejo a minha mãe segurar o seu pulso, tentando controlá-lo. As batidas do meu coração ficam ainda mais fortes e juro que consigo ouvi-las. — Era hoje? Pensei que fosse na semana que vem… — Você faltou por querer!— Grita e fecho meus olhos, sentindo as gotas de sua saliva pelo meu rosto. — Desculpe, eu não sabia que era hoje.— Tento soar o mais inocente possível, mas os olhos dele vasculham cada centímetro do meu rosto, em busca da mentira. Na verdade, eu sabia, mas tive que faltar, pois apareceu algo mais urgente do que um simples bolo. — Juliet, tem que se dedicar a esse casamento, se alguma coisa der errado… Cada encontro que tenho com o meu pai(biológico, apenas), parece ficar pior, tentei evitar encontrá-lo depois da festa de aniversário, mas ele parece mais perturbado que o normal. — Estou me esforçando, mas deveria ter me dito dos seus planos antes de me forçar a casar com Henri.— Cuspo as palavras que estavam na minha garganta a tanto tempo. Foi uma péssima ideia ter dito isso, porque agora ele está me olhando com uma expressão assassina. — Bruce, deixe a menina em paz! — Sempre teve tudo o que quis, sua garota mimada! Algumas lágrimas deixam o meu rosto quando penso na minha falta de liberdade. O dinheiro não me trouxe paz, pelo contrário, me fez ficar presa em um contrato multimilionário. — Bruce, você está fazendo a nossa filha chorar!— Mamãe continua, mas ele não se importa com os meus sentimentos. — Sempre quis um filho homem, e quando você nasceu, aquele serzinho desprezível… nem sei o que senti. Um tapa doeria bem menos, até porque, nunca imaginei que Bruce pudesse me falar esse tipo de coisa, o homem realmente me odeia! — Então porque quer mandar em cada detalhe da minha vida? A raiva já está começando a nublar minha visão, mas a resposta vem em um tapa forte no rosto, não sei o que fiz para merecer esse tipo de coisa, sempre fui uma filha respeitosa. O tipo de garota que não vai as festas, gosta de estudar e ler, sou
exatamente assim, e nunca recebi um elogio. — Bruce, saia de perto da minha filha. Fico paralisada, o rosto ardendo, enquanto Lisa o empurra e chega perto de mim, examina o local, me abraçando logo em seguida. Minha mãe começa a chorar e os segundos passam lentamente. Estou no fundo do poço. — Você sempre controlou nossas vidas, Bruce, nos deixe em paz. — Ainda não terminei de falar. — Saia! Os dois estão alterados e isso me preocupa, mas ainda estou em estado de choque depois do tapa que levei. — Cale a boca, Lisa.— O homem fala tão alto que nos assusta.— Ou eu juro por Deus…— Não termina a sentença, mas fico com medo do que ele pode fazer. Nem quero imaginar o que Rylan está imaginando, porque nesse tom de voz, tenho certeza de que está ouvindo e nem pode interferir. — Controlo a sua vida, porque você é minha filha, não posso mudar isso, mas espero que entenda que tudo é para o seu bem. Como ele pode falar isso? Não percebe o quão perturbado é? — Pai, eu já sou adulta. — Adulta uma ova, além do mais, pago suas contas, tem que me respeitar! Engulo o resto do meu orgulho e assinto. Não quero que essa discussão continue, preciso dormir e esquecer um pouco tudo isso. — Tudo bem, agora posso ir dormir? — Pode. Saio da bancada e vou até as escadas, mamãe continua no mesmo lugar e quando estou no primeiro degrau, Bruce me chama. — Sim? — Não vai dizer a palavra mágica para seus pais? Te odeio com todas as minhas forças? — Amo vocês. Bruce precisa ter uma mente muito conturbada para bater em mim, dizer que não gosta de mim e depois me pedir algo assim. — Durma com os anjos, Juliet.— Mamãe força um sorriso e eu olho para ela como se dissesse “não aguento mais”. — Você também, mãe. Só volto a respirar quando chego no topo da escada, escutando os dois
sussurrarem algumas palavras. Não sei como mamãe consegue viver assim. Se bem que não temos escolha a não ser aceitar. Bruce é louco e um psicopata nato. Seguro o “R” em meu pescoço, nem sei se consigo encarar Rylan depois disso, mas assim que entro no quartinho, fecho a porta e aqui está ele, me encarando preocupado. — O que houve? Escutei tudo daqui. — Não fui à prova de bolo… Rylan me abraça e eu começo a chorar novamente, o tapa que levei já não está doendo tanto, mas meu rosto continua avermelhado. Ademais, estou me sentindo humilhada, acho que ninguém merece ser tratada assim. — Eu tive a confirmação das minhas dúvidas, ele nunca gostou de mim, Ry, mas não pode fazer nada comigo por causa da empresa. Odeio aquela empresa idiota. Depois de alguns minutos chorando e recebendo o afago de Rylan, já me sinto melhor, enquanto ele faz cafuné em mim, percebo o quanto estou tremendo de raiva. — Eu amo quando estou dirigindo muito rápido e você fica com medo e se segura com força no cinto de segurança. Dou um sorriso e olho para ele. — Eu quem deveria estar te consolando, porque acabou de sair da cadeia… — Esqueça isso, agora eu te devo uma. — Não me deve nada.— Seguro o seu queixo e lhe dou um beijo. — Eu não poderia ligar para o meu pai, ele ficaria desapontado em ter que viajar até aqui e me tirar da prisão local. — Rylan, vamos esquecer sobre hoje. Aproximo-me dele e o beijo novamente, minha língua passando pelos seus lábios, minhas mãos segurando o seu rosto. Quando nos beijamos, o mundo inteiro desaparece, somos só nós dois, criamos as regras e podemos fugir da realidade. — Me faça esquecer esse dia.— Suplico e vejo a dúvida em seus olhos, como se me avisasse que sexo não torna as coisas mais fáceis.— Por favor. Todo o seu autocontrole se desfaz e ele monta em mim, pela primeira vez não é selvagem, é caloroso e gentil. As nossas mãos juntas, enquanto ele toma parte de mim, e toda vez que sai eu o desejo mais e mais. — Nunca me deixe…— Digo assim que chegamos ao limite dos nossos corpos. Rylan continua dentro de mim, deitado ao meu lado.
— Eu prometo, Juliet, nunca te deixarei. Dou um sorriso preguiçoso e me enrolo ainda mais nele. — Isso está me parecendo um casamento… — Que se dane o casamento, um pedaço de papel não vai mudar o que sentimos, você sempre será a minha Juliet. — Sua? — Não no sentido de pertencer como um objeto, não sou um homem machista, mas no sentido de que somos feitos um para o outro. — Isso é tão clichê… — Gosto de ser clichê para você.— Rylan beija a minha testa e o dia começa a pesar. — Boa noite, Ry. — Boa noite, Juliet.
Capítulo 29 Quem tem dinheiro e sabe controlar as pessoas, consegue tudo.— Henri.
A parte triste do meu namoro escondido com Rylan, é que assim que acordo, não sinto a sua presença, há apenas um papel, com alguns planetas desenhados. Abro um sorriso de orelha a orelha quando lembro de um dos nossos momentos juntos. Fomos até a biblioteca e mesmo que não pudesse falar nada(a bibliotecária é chata para caramba), o vi desenhando planetas estranhos, achei
estranho por um momento, mas assim que Rylan percebeu que estava sendo flagrado, sorriu e escreveu no papel: “Sabe porque desenhei isso?” Balancei a cabeça em negativo, ele largou a caneta na mesa e tocou no meu queixo, então sussurrou no meu ouvido: — Queria te levar para outro lugar, só eu e você. — E?— Falei baixinho e ele olhou para os lados, tentando descobrir se alguém estava por perto. — Talvez um planeta inteiro fosse suficiente para nós dois. — Tomamos tanto espaço assim? Rylan aproximou novamente a boca dos meus ouvidos e cada palavra dita fazia cócegas, arrepiando cada partezinha do meu ser. — Não, mas estaríamos sozinhos, longe de toda essa bagunça. Além do mais, gosto tanto de você que te quero só para mim. Bruce nunca vai me tirar esses momentos, e isso me deixa feliz, pois nunca conseguiria arruinar o que vivi com Rylan. Hoje tenho que ir até o “ateliê das noivas”, procurar o vestido ideal para o casório e já não fico mais deprimida quando penso no casamento. Sofrer antecipadamente não mudará o futuro. Desde que acordei, algumas palavras ficaram presas na minha mente, esperando a libertação. Pensei bastante sobre escrever um livro e talvez não seja uma péssima ideia. Talvez, eu possa aproveitar as merdas que acontecem na minha vida e transformar em algo bom. Vou até meu quarto, com muito medo, pois a minha mãe ainda está dormindo e não quero acordá-la, essas escadas estão cada vez piores, o que torna tudo um pouco mais difícil. Abro o meu laptop e baixo um aplicativo de escrita. Olho para a tela em branco, e as palavras começam a fluir dentro de mim, através dos meus dedos rápidos. Será que as coisas podem mudar? Já não sei se acredito nisso, vendo onde a minha vida está me levando, é como se eu estivesse atolada até o pescoço na areia movediça, e não tivesse ninguém à vista. Chorar é necessário, talvez a terra seja transformada em rio por causa delas. Fui forte por muito tempo, mas já não consigo segurar as lágrimas, então deixarei elas correrem livremente por meu rosto. Bem-vindos a minha bagunça.
Pego os textos que escrevi no meu blog e acrescento algumas palavras quando jogo no arquivo “docx”, leva a manhã inteira e ainda estou na página 30. Achei que fosse fácil terminar um livro, mas é tão difícil que quando saio de casa para ir ao ateliê, estou frustrada. •• — O que acha desse?— A mulher coloca mais um vestido branco na minha frente e o meu sorriso forçado abre ainda mais. Minhas bochechas estão doendo desde que entrei nesse ateliê/loja. — Encantador.— Seguro o tecido pesado no corpo e olho no espelho. É horrível, com mangas volumosas demais e rendas em lugares estranhos. É necessário renda perto das axilas? Para a minha falta de sorte, Bruce já havia escolhido alguns modelos para mim, segundo ele, sabe exatamente o meu estilo. — Vista, enquanto pego os outros que o seu pai escolheu. Entro no provador e solto um suspiro, o sorriso esmorece na mesma hora, é difícil me mover com esse vestido branco e imenso. — Pense positivo. Pense positivo.— Repito essa frase umas dez vezes antes de começar a tirar minha roupa e virar uma noivinha feliz. Escuto um sino do lado de fora, sinal de que alguém chegou na loja, mas assim que o tom do dono da voz chega aos meus ouvidos, fico me sentindo péssima. — Juliet já chegou? A voz de Henri nunca me irritou tanto quanto agora, desde o desentendimento com Rylan, ele nunca mais tinha falado comigo. — Sim, cerca de meia hora atrás. Está atrasado, seu cretino. Me apresso com o vestido e desejo pela milésima vez, que o mundo acabe antes desse casamento. Setembro é o meu mês favorito, por causa do outono, nunca pensei que fosse odiá-lo algum dia. Dou uma espiada na minha aparência com o vestido e estou ridícula, tenho que segurar a risada quando saio do provador e a vendedora me olha. — Está linda! Mentirosa! — Se encaixa perfeitamente em você, Juliet. Henri está atrás de mim, então me viro para vê-lo, está abotoando a camisa, o que deveria ser sexy, mas ele nunca vai entrar nesse patamar para mim. — Posso dizer o mesmo para você.— Toco o indicador no queixo e olho para suas partes baixas— Esse smoking não está apertando seus pequenos sacos?
Ele para na hora e se aproxima lentamente de mim, a raiva no olhar, mas, mesmo assim, sorri. — Nunca imaginei que gostasse de brincar, Juliet. O que acha de eu mostrar uma foto sua para o seu pai? Cerro meus punhos e o vejo sorrir, radiante por ter me abalado, no futuro ele será exatamente como Bruce. Não posso sequer imaginar ter filhos com esse monstro. — Imaginei que não gostaria, além disso, estou louco para mostrar minhas partes para você. Só o pensamento me faz querer vomitar. — Você nunca tocará em mim! — Isso é o que vamos ver. — Se tentar qualquer coisa comigo, chamo a polícia. Não tenho medo de você, Henri. O sorriso dele desaparece e então pega o terno e coloca, ele é o tipo de babaca que pensa que pode conseguir o que quer. Se eu realmente casar com ele(se o mundo não acabar até lá), vou querer o meu próprio quarto. A vendedora está sem palavras depois do que acabou de escutar, mas como me acostumei com esse tipo de homem, não me abalo. — Pode pegar o próximo vestido? Minha paciência esgotou, mas tenho que ser gentil e fingir que tudo está bem, até porque a minha noite promete ser maravilhosa. — Juliet, você ainda está conversando com Rylan? — Não é da sua conta, por quê? — Sou seu noivo e não quero ser chamado de corno. Com a graça de um cisne, viro minha cabeça para ele e lanço o meu olhar mais inocente. — E eu não queria ser sua noiva, infelizmente as coisas não acontecem como queremos. — Você está com ele? — Oh, não direi se sim ou não. Em certas ocasiões, a minha ousadia me surpreende, ao ver o olhar questionador de Henri, fico feliz por isso. — Juliet, você me paga! — Toda ação traz uma reação, terceira lei de “Newton”.— Dou de ombros e o deixo espumando de raiva. Tenho uma nova missão até o meu casamento, irritar Henri para que ele desista, ou eu estarei realmente ferrada para sempre e sempre… Deus me ajude.
Capítulo 30 Dois meses depois
O.k., aqui estou eu, arrumando os últimos detalhes do meu vestido para o casamento, não sei como não perdi minha sanidade mental nesses últimos dois meses. Daqui há pouco menos de dois meses, irei me casar, todos parecem animados com isso, e eu tento soar feliz, mas por dentro estou um caco humano. Não faço ideia de como Rylan ainda não cansou de mim, pois todas as
noites ele vai para a minha casa e dorme comigo, já virou um costume, mesmo que eu não dê muita atenção por causa do cansaço(em algumas noites eu já estou dormindo, mas Rylan se deita ao meu lado). Ele sempre chega bem tarde e sai bem cedo, mas essas noites me salvam, pois sei que ele realmente gosta da bagunça que eu sou. É tão incrível que Rylan tenha aparecido na minha vida, pois é um raio de sol que insiste em aparecer nos dias mais chuvosos. — Prontinho.— Tento não me mover, pois sempre que faço isso, sinto as pontadas do alfinete nas minhas costelas. Engordei alguns quilos, porque só o que tenho feito é experimentar as comidas do casamento, pelo visto eu posso escolher alguma coisa. — Está perfeito. E realmente está, é simples e elegante, as mangas cheias de renda pinicam na minha pele sensível e o vestido deve pesar mais que eu, porque andar com ele é quase impossível. — Realmente, muito bonito.— A vendedora sorri alegremente para mim e acabo retribuindo. Olhando para mim agora, não pareço a mesma Juliet do livro que escrevi. Ops… Quase esqueci de contar a melhor novidade dentre esses últimos dois meses. Finalmente terminei meu livro e postei antes de ontem, não sabia que levaria tanto tempo. E estou tão nervosa que nem vi os resultados. Tirando isso, não teve nada demais, exatamente como minha vida sempre foi, algumas discussões entre mamãe e Bruce, ele sendo ignorante e nos tratando como lixo… — Mais alguns ajustes e estará mais do que perfeito. Bato palmas e quando me viro, vejo o meu pai me encarando, não sei quando ele entrou, mas não parece nada amigável, assim como todas as vezes que nos encontramos. — Ainda não acredito que a minha filhinha irá se casar.— Fala e o tom de sua voz não parece nada com os seus olhos. Quase me falta ar, mas dou um sorriso e vou para o provador, preciso da ajuda da costureira para desabotoar todos os botões minúsculos do vestido. Liberta do tecido branco, vou até meu pai, que me pede um abraço, acho muito estranho, mas aceito mesmo assim. Ele aproxima a boca do meu ouvido e sussurra: — Você está muito ferrada!— Quando se afasta está sorrindo, como se não tivesse me dito a frase que sempre tive medo de ouvir. Bruce agradece a vendedora Paola, depois de tantas idas e vindas,
acabamos conversando bastante e acho que já percebeu que o meu casamento é uma farsa. Meu cérebro tenta imaginar várias coisas, mas não faço ideia do que pode ter sido. Chegamos ao carro e não tenho coragem de perguntar, porque não quero saber a resposta e depois de tortuosos minutos, cinco, para ser mais exata, ele começa: — Henri me contou que está indignado… Remexo as mãos que estão ficando cada vez mais geladas e para me deixar ainda mais atordoada, Bruce dá o arranque no carro. — Com o quê?— Sinto a minha voz sumir antes da frase acabar. — Bem, ele me falou algumas coisas interessantes, como por exemplo, que você está namorando secretamente com um tal de Ryan Pratt. Ele sabe que é Rylan, mas falou errado para puxar isso de mim, por isso não mordo a isca. — Como ele sabe isso? — Não se faça de desentendida!— Bruce grita e me encolho no canto do carro, engolindo em seco. — Como ele sabe?— Repito, bastante temerosa com o que ele pode fazer comigo. Eu odeio Henri com todas as forças! — Ele disse que não aguentava mais ver o homem sair da casa da sua mãe. Meu Deus, estou realmente muito ferrada. Se Henri sabia sobre nós, porque não falou para mim? — Acho que é um engano. — Pare de mentir, cacete!— Desta vez, ele grita tão alto que fico alguns decibéis mais surda. Fico com medo de ele bater em algum carro ou perder o controle do volante. — Prefere acreditar nele do que em mim? — Ah, Juliet, acredito em Henri, porque ele me mostrou uma foto intrigante… nunca pensei que você gostasse de festas. — Não gosto… eu… — Cale-se, a cada segundo fico com mais ódio de você.— Me interrompe e o carro pende um pouco para a direita. A raiva preenche cada pequena parte de mim, até não sobrar mais nada. — Eu nunca quis me casar com aquele babaca! Que parte disso você não entendeu?
Termino de falar e percebo que entreguei o ouro ao bandido. — Então está confessando o seu namoro escondido, exatamente como a vadia da sua mãe. — Ela não é vadia e eu também não.— Nós não queríamos nos casar, mas fomos obrigadas. — Já mandei calar a boca, antes que eu te bata. Caralho, eu nem consigo olhar para você. Estamos quase chegando em casa, mas não me sinto mais tranquila por isso, tenho que avisar Rylan sobre o surto do meu pai. Ele está fora de si e com certeza, pode me machucar a qualquer momento. — Estou desapontado com você, sua vadia! A traição dói, Juliet, não imagina o quanto. Sem poder responder nada para não aflorar, fico quieta, enquanto o escuto bufar. — Saber que você está traindo antes de casar, me deixa com muito ódio. Não há, nem haverá nada entre mim e Henri, por isso não me importo, depois de refletir sobre a minha situação, para mim não há traição quando não há sentimento. Temos que entender o sentido da traição. É você confiar em alguém e essa pessoa quebrar a sua confiança, se nunca houve isso entre nós dois, não me sinto culpada. — Ele quer cancelar o casamento?— Não sei onde arrumo forças para falar isso, mas o toque de esperança na minha voz não passa despercebido. — Pelo contrário, depois que ele me falou isso, tive uma ideia. Posso ver o olhar diabólico dele, focado na pista, até o pelo do meu dedo mindinho se eriça depois de ouvir isso. — Teve? — Decidimos antecipar o casamento para a semana que vem. Engasgo com minha própria saliva e meus olhos arregalam, devo ter escutado errado ou talvez ele tenha errado as palavras. — O quê? — Isso mesmo, e você vai seguir todos os meus comandos.— Ele desvia a atenção por alguns segundos e me olha, com um sorriso medonho— Sabe por que? — Huh? Estamos na entrada do condomínio e ele me deixa ansiosa até estacionarmos na garagem, os dedos ainda fixos no volante. — Fiz uma pequena pesquisa e descobri que o pai dele tem comércio.
O frio na minha barriga é mais intenso do que qualquer outro que eu já tenha tido, nunca pensei que ele pudesse jogar tão baixo. — O que você fez?— Meus olhos marejam quando penso que ele pode ter feito algo ruim com Rylan ou sua família. Mas Bruce não responde, apenas pega o celular e disca um número, assim que começa a chamar, coloca no viva voz. — Ney? Sobre o que conversamos mais cedo, pode seguir com o plano. — Fala assim que Ney atende a ligação. Não faço a mínima ideia de quem seja Ney ou o que meu pai está planejando, mas meu corpo estremece quando o homem concorda do outro lado da linha. — Pronto.— Desliga a chamada e volta a me olhar, a expressão fria me dá medo.— Se quiser que tudo volte ao normal, seguirá os meus passos, agora saia do meu carro antes que eu te empurre para fora dele. Abro rapidamente e saio, as pernas trêmulas diante de tanta violência. Preciso desesperadamente saber o que ele quis me dizer com essas palavras, não sei o que fez e não sei se quero. Vou até a minha casa me sentindo estranha. Mamãe passou os últimos dias na cama, doente, não faço a mínima ideia se já sabe das notícias sobre meu casamento, se Bruce fez questão de avisá-la primeiro. Essas coisas se espalham como fogo… Vou para meu quarto e tranco a porta, rapidamente mando uma mensagem para Rylan vir até mim o mais breve possível. “Chego em uma hora, te explico depois” Sinto como se estivesse na pior parte do pesadelo, o que houve para ele só vir em uma hora? Bruce deve saber sobre a prisão de Rylan, e se ele plantou provas e meu namorado está em uma enrascada? Essa prisão que Henri arquitetou foi cruel e trouxe uma bagagem ruim para Rylan, as pessoas na faculdade inventaram rumores sobre ele ser de uma gangue local, ele disse que não se importou, mas sei que sim. Bato os dedos como tambores na minha penteadeira, e cada segundo no relógio faz o meu coração se agitar. O mundo já pode acabar… •• Espero por quase duas horas antes de ouvir uma batida na porta secreta do quartinho. Assim que Rylan passa por mim, fecho a porta e me viro para abraçá-lo,
não quero que fale nada antes que eu descubra o que aconteceu. — Ei, eu também estou com saudade.— Ele beija o topo da minha cabeça e eu fico na ponta do pé para encostar o queixo no seu ombro. — Porque demorou tanto? Nos separamos e vamos até a cama, assim que Rylan solta o ar, sei que algo aconteceu. Bruce não estava blefando. — Meu pai teve problemas, os donos dos imóveis resolveram que não somos bons o bastante, e querem o ponto de volta. —Todos de uma vez? — Também achei estranho, mas daremos um jeito. Eu cairia se já não estivesse sentada na cama, então era isso o que Bruce estava falando… Não posso falar a verdade para Rylan, se o meu pai fez isso, pode fazer coisas ainda piores, isso é apenas uma ameaça escondida. — Rylan, preciso falar uma coisa.— Seguro suas mãos, seu sorriso começa a desaparecer assim que percebe a seriedade em meu rosto— Meu casamento foi antecipado. — Sério? Para quando? — Será daqui a uma semana. Não quero chorar, mas minha voz começa a embargar, os olhos de Rylan estão cada vez mais irritados. — Isso é uma despedida?— Se levanta e fica bem afastado de mim, mas é melhor assim. Meus olhos desviam dos seus, porque se eu o encarar, será difícil dizer adeus. — Olhe Rylan, acho que você foi o meu momento de rebeldia.— Errado, esse posto é de Julian, que graças a Deus está me ignorando atualmente, então não preciso mais conviver com aquele traidor. Rylan puxa as mãos e a raiva chega até os seus olhos. — Fui seu momento de rebeldia? Tem certeza, Juliet? Está dizendo que nunca sentiu nada por mim? Me viro para a parede, incapaz de encará-lo num momento como esse, me esforçando ao máximo para mentir para quem esteve comigo durante todos esses meses. — Sim, Rylan, a única coisa que eu realmente gosto em nós dois é o sexo. Depois que falo isso, é como se estivesse atirando na minha própria cabeça, por isso fecho os olhos e espero a sua resposta. — Diga isso olhando para mim!
— Estou com vergonha, vá embora… Rylan segura o meu pulso e toda a minha resistência vai embora, mesmo assim, me esforço para não chorar. — É o seu pai, Juliet? — Por favor, vá embora, não quero ter que encará-lo. Demora alguns minutos antes que ele possa soltar a minha mão e se afastar de mim, os segundos que passam depois disso são os piores. — Fale para mim o que está acontecendo, Juliet. — Rylan, vou me entregar para Henri.— Essa mentira dói em mim, mas é para o bem dele— Talvez eu goste da pegada dele… Faço uma careta para mim mesma, eu nunca deixaria aquele desgraçado encostar um dedo em mim, tipo, nunca. — Pelo visto não sou mais útil para você. Estou indo embora, mas desejo felicidades ao casal, espero do fundo do meu coração que sejam felizes! Cerro os punhos para não responder que minha felicidade está com ele, que meu corpo e alma são dele, pois não posso. — E o pior é que confiei em você, Juliet. Contei meus segredos, e você destruiu o que restava do meu coração. Tive esperanças de poder te salvar, como nunca fiz com o meu irmão, mas não foi o suficiente. Essas foram as palavras mais duras que já escutei na minha vida, tenho que engolir em seco para não desabar. — Não preciso ser salva, Rylan, talvez esse seja o meu destino. — Aceitar todas essas coisas é o seu destino? Se ele soubesse que estou o protegendo… mas mesmo que ele fique com raiva de mim, preciso tomar conta dele. — Sim. — Nunca pensei que fosse esse tipo de pessoa. Achei que fossemos almas gêmeas. Realmente preciso ir embora, e mais uma vez, felicidades.— Ele enfatizou bem o “felicidades”. Se Bruce fizer alguma coisa com ele ou a família incrível que tem, vou me culpar pelo resto da vida, então, mesmo que eu sofra, ele ficará bem e encontrará alguém. Contato que ele seja feliz, posso lidar com isso. Espero alguns minutos para poder chorar, quando tenho certeza que ele se foi, e aí pego o meu celular, os olhos marejados dificultando tudo. “Não temos mais nada!” Em menos de um minuto depois, recebo a resposta. “Boa menina” Preciso desabafar com alguém, então ligo para Amy e peço para que
venha até a minha casa. Se eu realmente fosse a Bonnie, fugiria com o meu Clyde, mas há muito em risco, e não posso me dar o luxo disso.
Capítulo 31 Estamos fora de perigo?— Out of the woods.
Hoje deveria ser o dia mais feliz da minha vida, mas é o mais triste, porque passarei muito tempo com Henri, pelo menos até o meu pai morrer. Aí eu me divorcio desse traste. — Juliet!— É a milésima vez que me chamam e ainda está bem cedo. É o meu dia de princesa, mas nem sequer posso usar o celular. Segundo Bruce, ele não quer ver nenhuma gracinha no casamento, como se eu fosse fugir ou algo do tipo, então confiscou o meu celular.
— Oi. Mamãe vem até mim com a caixa do vestido e coloca em cima da cama, e aqui está ele, se eu pudesse, picotaria em mil pedaços. — Acho que estou enlouquecendo, mãe.— Falo baixo, com vergonha de confessar isso. Lisa olha para o relógio e ajoelha ao meu lado, me encosto na penteadeira, para encará-la melhor. — Juliet, vou falar o que a minha mãe falou quando me casei com Bruce. — Você também foi forçada?— Ironizo. — Eu sei que vivemos em uma prisão com Bruce, mas ele tem suas bondades. — Tem?—Ergo a sobrancelha, e ela se esforça para não sorrir. — O.k., não tem, mas você sabe o quanto ele é perigoso, precisamos tomar cuidado. — O que a vovó disse?— Retomo o assunto anterior. — Nos casamos para amar, não por amor. É a minha vez de sorrir, mas não é exatamente porque estou feliz, e sim porque, ou isso dá muito certo ou acabará em pesadelo. — Não deu muito certo para você e… Henri é uma versão mais nova do Bruce. Não quero isso para a minha vida. — Sinto muito, meu amor.— Vejo uma lágrima deixar os seus olhos. Nunca conseguiremos sair desse ciclo de casamentos planejados… — Não chore, eu espero que você ainda seja feliz.— Digo e passo a mão pela lágrima, deixando os meus dedos úmidos.— Eu te amo, mãe. Mamãe se levanta, os olhos brilhando com as lágrimas e me abraça, é um abraço torto por causa da posição em que estou, mas é o que faz minha sanidade voltar. — Eu também te amo, filha.—Nos afastamos e ela arregala os olhos, lembrando de algo— E com esse “papo”, quase esqueci que seus avós querem falar com você. Fico um pouquinho mais animada e peço para que mamãe os chame, amo aquele casal de idosos mais do que tudo nessa vida. Ver o rostinho da minha avó é tranquilizador, e embora o meu avô seja um chato as vezes, e bem machista, também o amo, a geração dele foi criada com a mente fechada, então posso perdoá-lo. — Meus amores.— Ando rápido na direção deles, para dar um abraço triplo. — Quer que eu os deixe a sós?— Mamãe pergunta, mas nem consigo responder, antes que vovó fale:
— Claro que sim, Lisa, saia daqui.— O tom de sua voz não é ríspido e isso nos faz sorrir. —Tudo bem. Tudo bem. Assim que mamãe sai, vovó me abraça novamente, e os conduzo até a minha cama. Faz meses que tenho ficado na casa da minha mãe, porque não gosto de encarar o meu pai, por sorte, ele deixou. — Como está, querida? Não consegui falar com você naquele dia. Baixo minha cabeça, mas rapidamente volto a encará-los, o calor do meu quarto está insuportável, então ligo o ar-condicionado. — Bem, na medida do possível, ganhei uma festa de casamento, deveria ficar feliz por isso.— Dou um sorriso sem graça e olho para minhas unhas. Vovô olha com a sobrancelha erguida para mim e se levanta, parece que os dois estão cheios de segredinhos, mas vou esperar para ver. — Juliet, eu cometi um grande erro na vida, ter casado a minha filha com aquele brutamonte do seu pai, sem ofensas.— Lança um olhar culpado, mas dou de ombros. — Não ofende nem um pouco. — Não sei se algum dia ele se sentirá mal por fazer essa besteira. — Podem ter certeza que não irá…— É vovó que fala e eu concordo mais uma vez. Bruce já mostrou que não é bom, a maldade está em cada célula daquele corpo e eu devo ser uma idiota por perdoá-lo. — Na verdade, não sinto raiva do meu pai.— Refleti isso desde o incidente com o tal do “Ney” e toda a situação com Rylan.— Sinto pena, ele é perturbado e doente. Sentir raiva é um sentimento que não quero em minha vida, amar é uma de minhas prioridades, o que me leva de volta ao meu livro. — Tenho que confessar algo para vocês.— Seguro na mão da minha avó, e os dois olham para mim, com expectativa.— Escrevi um livro… Preciso contar do meu sucesso para alguém, certo? — Oh querida, fala sobre o quê? — Alguns textos sobre a minha vida, mas isso não importa, porque está no top dos mais vendidos da amazon UK. Vejo a confusão nos olhos deles e isso me faz sorrir. Acontece que, quando as pessoas viram que a criadora do blog havia escrito um livro, a notícia se espalhou rapidamente, foram milhares de páginas lidas e provavelmente serei paga por isso. Ainda nem acredito. — A amazon é um lugar onde publicam os livros digitais.— Explico,
mas continuam com as testas franzidas.— Mas deixem esse assunto para outra hora, acabamos desviando do assunto… — Juliet, viemos aqui para dizer que não se case com aquele garoto mimado.— Vovô fala tão rápido que meus olhos dobram de tamanho. Como explicar a chantagem de Bruce? Mexer nas finanças de alguém que eu am… gosto, é demais para meu psicológico. — Sei que vocês têm as melhores intenções, mas não posso fazer isso. — Tem que fazer, Juliet, é o resto da sua vida. — Calma, hoje em dia existe o divórcio, sabia? Os dois sorriem e balançam a cabeça, meu avô ficou muito chateado por causa do divórcio da minha mãe, para ele, quando se casa é para sempre. — Não gosto desse nome, netinha. — Já está tudo errado nesse casamento, agora vai me escutar mocinha!— Vovó se levanta e vai para junto de seu marido, incrível como os dois ainda se amam, mesmo depois de uma vida inteira.— Casei com o Rob por causa dos meus pais e, no início, brigávamos bastante, mas depois de um tempo começamos a criar interesse um pelo outro, pensei que a mesma coisa fosse acontecer com a Lisa, mas me enganei. — Conheço a história de vocês, mas o vovô sempre foi um bom homem… o Henri é parecido com o meu pai, além disso, ele já apertou o meu braço. Franzo os lábios quando lembro daquele dia que parece distante, mas que ainda me magoa. — Você deveria dizer não na frente de todos os convidados. Para Bruce me arrastar pelos cabelos e criar uma confusão ainda maior? Não parece uma boa ideia. — Juliet, está na hora!— Mamãe grita e respiro fundo. — Estou indo…— Grito e depois me viro para meus avós.— Vejo vocês na cerimônia. Dou um último abraço nos meus avós, porque o meu dia será cheio, tenho que fazer o cabelo, maquiagem e tudo que envolve um dia de noiva. Mas parece que estou em um pesadelo, indo em direção ao purgatório.
Capítulo 32 Diga que me verá novamente, mesmo que seja nos seus sonhos mais selvagens.— Wildest dreams
As portas da igreja se abrem, fico nervosa com tantos rostos virados para mim, enquanto seguro o cotovelo do meu pai, a música começa e nunca fiquei tão desesperada pelo fim de um dia. O buquê de lírios brancos parece pesado na minha mão e estou tão envergonhada que nem consigo encarar Henri pelos primeiros segundos, mas assim que faço, lá está ele, com o seu topete cheio de gel e um sorriso no rosto.
Peço perdão a Deus se já cometi algum pecado muito grande, porque isso deve ser algum tipo de carma. O sorriso que coloco no meu rosto é tão forçado que minhas bochechas doem, e mesmo sabendo que Rylan não está aqui, vasculho o ambiente em busca dos seus olhos incríveis. Cada passo que eu dou parece que me leva em direção ao precipício, não quero segurar as mãos de Henri como se eu gostasse dele, mas Bruce dá a minha mão, depois de beijá-la, como se fosse o melhor pai do mundo. Essas coisas me fazem sentir ainda mais pena dele, o fingimento na frente das pessoas. Tudo está impecável, assim como eu sabia que ficaria, até porque escolhi várias coisas, por exemplo, as flores lindas e delicadas, a orquestra que ainda está terminando de tocar a música matrimonial, cada doce que os convidados comerão quando essa cerimônia acabar. Pelo menos, fiz o meu pesadelo ficar atraente. — Estamos reunidos no nome do pai, filho e espírito santo, amém.— Diz o pastor segundos depois que a música cessa, isso faz o friozinho na minha barriga aumentar. Estou mesmo casando com Henri, esse garoto horrível de quem estou segurando a mão… inclusive, a mão dele sua mais do que o normal e isso é nojento! O pastor continua falando e falando, enquanto isso o vestido está pinicando mais do que eu lembrava, quero me coçar, mas tenho que manter o sorriso no rosto. — Estamos aqui para celebrar o casamento entre Henri e Juliet, e que seja abençoado por Deus. Ele fala várias passagens bíblicas, mas enquanto isso, penso na primeira vez que Rylan me levou para passear, aquela cidadezinha e o trem, o meu coração sempre soube que éramos feitos um para o outro. — Quero que olhem um para o outro.— O pastor diz e pelo seu tom de voz, está repetindo a pergunta, isso significa que fiquei pensando demais. Assim que os nossos olhos se encontram, penso no que a minha avó falou hoje de manhã. “Não se case”. — Vocês não precisam ter dúvidas de que o amor entre os dois será eterno. O que Deus une, ninguém separa. Engulo uma gargalhada assim que as palavras deixam a boca do pastor. Até parece que eu passarei o resto da minha única vida ao lado desse nojento. Henri está assentindo para mim e aperta levemente as minhas mãos,
consegue ser um mestre na enganação exatamente como Bruce. — Segurem a mão direita um do outro. Como não me resta opção a não ser fazer isso, deixo que ele segure a minha mão, como eu fingi estar doente no ensaio do casamento, não chegamos nessa parte, estou à beira de um colapso quando Henri começa a falar: — Eu, Henri, te recebo, Juliet, por minha esposa e prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te na alegria e na tristeza por todos os dias da nossa vida.— Ele é tão cara de pau que consegue ficar com os olhos marejados. Assim que o microfone vai na minha direção eu travo, já nem lembro mais o que é para ser dito, então lanço um olhar de súplica para o pastor, que balança a cabeça para que eu continue. — Eu, Juliet… Recebo Henri…— Achei que fosse mais fácil mentir na cara dele, mas simplesmente não consigo. Os convidados estão ficando agitados, e o pastor diz: — É a emoção tomando conta da noiva, entendemos bem. Respiro fundo e mais uma vez, ele coloca o microfone perto de mim. — Eu, Juliet, te recebo Henri, como meu esposo, prometo respeitar-te e…— Uma pausa, porque não consigo falar isso e percebo que a raiva já está tomando seus olhos— Na saúde e na doença, por todos os dias da nossa vida. Uma ova que eu vou falar que o amo. — Está tudo bem, querida?— Pergunta o pastor como se questionasse a parte que faltou na minha fala. — Sim.— Assinto vigorosamente, para que ele saiba que estou sendo sincera, mas acho que falho na tentativa, pois ele me olha, desconfiado. — Há alguém nessa noite que é contra essa união divina? Que fale agora ou cale-se para sempre. Depois de alguns segundos em puro silêncio, o pastor sorri, claramente animado por casar uma jovem noiva. — Eu os declaro marido e mulh… Minha cabeça baixa, olhando para o meu belo vestido, mas escuto um grito vindo da porta da igreja e meu coração dispara no peito. — Eu protesto contra esse casamento! Abro um sorriso quando vejo Rylan vestindo o seu smoking, provavelmente estava escondido em algum lugar, pois não foi convidado. Escuto os convidados murmurarem um “Oh” em conjunto. — Não posso deixar o amor da minha vida se casar com outro. Olhos horrorizados por todo lugar, mas só consigo olhar para ele. Estou quase chorando, tamanha a emoção de ouvir essas palavras. — O que está fazendo aqui?— Bruce grita e é quando caio na real do que
está acontecendo. Quando eu visualizo a luz no fim do túnel, uma mão me puxa de volta. — Claramente estou impedindo Juliet Riviera de se casar com esse mauricinho. Henri me puxa para perto e estou tão atordoada que deixo. — Saia daqui.— Henri e Bruce gritam em uníssono. — Juliet, antes de nos conhecermos formalmente, te vi e senti algo especial, nunca contei isso porque não importava no momento e quando você demonstrou sentimentos por mim…— Rylan para de falar e se aproxima de mim um pouco mais. Levanto a mão e me desvencilho de Henri, mil pensamentos na minha cabeça. — Rylan… — Não diga nada, só quero que saiba que eu estou perdidamente apaixonado por você, case-se comigo. O pastor que estava apenas escutando, se manifesta: — Isso é um casamento, meu jovem, não pode… — Acha que eles se amam? Eles se detestam! Bruce o encara com ódio e se vira até mim, como se eu tivesse culpa. — Disse para você não inventar nenhuma gracinha!— Grita e as pessoas murmuram. — Eu não fiz nada, eu… — Case logo os dois, pastor!— Ordena e Henri me puxa novamente, mas não presto atenção. — Não.— Digo em alto e bom tom.— Não posso me casar com ele. Puxo a barra do vestido(que pesa pra caramba) e dou alguns passos lentos em direção de Rylan, ambos eletrizados e aquele sentimento de saudade me invade quando estamos a apenas alguns passos de distância. — Juliet, pare agora mesmo! Por reflexo eu obedeço, minhas defesas se erguendo novamente, mas basta um sorriso de Rylan para me fazer feliz. — Desculpe pelo outro dia, nunca foi apenas sexo. Os convidados nos olham, abismados com a minha confissão, mas dou de ombros. — Eu nunca conseguiria levar uma boa vida se você não estivesse nela, não quero apenas namorar com você, embora esses últimos meses de Bonnie e Clyde tenham sido incríveis. Quero que prometa ser minha na frente de todos. Estou quase assentindo quando Bruce vem em nossa direção, está tão irritado que eu lanço um olhar rápido para Rylan antes de dizer:
— Corra! Rylan me toma nos braços e reclama do peso do vestido enquanto vamos até o seu carro, curiosamente em um ponto estratégico de fuga. — Já tinha planejado tudo, huh? — Por que não?— Pergunta e eu sorrio com o nosso estranho jeito de conversar através de perguntas. Ele me coloca dentro do Jeep rapidamente e quando olhamos para trás, Henri está tentando falar algo para Bruce. — Temos alguns segundos antes de ele chegar aqui.— Antes que eu termine de falar, Rylan dispara com o carro. Olho para trás e vejo o meu pai comer poeira, e não estou sentindo um bom pressentimento, ele foi perturbado na frente de muitas pessoas influentes. — Clyde salva Bonnie de ser presa.— Diz e segura a minha mão para um beijo. — Olhe para mim, quase me casei com aquele cretino.— Coloco as mãos no rosto, ainda sem acreditar nos últimos minutos. — É a noiva mais linda do mundo, ainda podemos casar, se quiser. — O casamento é apenas um papel, Rylan, me resta ter você. Rylan sempre fala bastante em casamento, mas ainda nem me formei, não sei bem o que pensar sobre isso. — Sobre o outro dia, me desculpe, não quis te magoar… — Não me magoou, foi o contrário, mas Bruce ameaçou destruir os negócios do seu pai e ele nunca brinca com essas coisas. — Eu percebi que havia sido Bruce, porque assim que acabamos, tudo voltou ao normal nas cafeterias. Me sinto muito mal por ter colocado Rylan nessa situação, pois ele não merece, por isso acabei nessa enrascada, não faço a mínima ideia do que aquele tal de Ney pode fazer. — Para onde vamos? — Para a casa dos meus pais. Sorrio quando lembro dos nossos momentos por lá e da família gentil que me acolheu tão bem. — Juliet, quero que saiba que eu nunca seria feliz com outra pessoa. Coloco um fio que se desfez do meu penteado atrás da orelha, e ao me olhar no retrovisor, vejo a maquiagem impecável se desfazer aos poucos. — Com o tempo você gostaria de alguém e me esqueceria. — Você prestou atenção ao que eu te disse naquela hora? Eu já gostava de você. Fecho os olhos, envergonhada com tanta fofura, não sei se posso lidar
com isso. — Não sou o cara mais rico do mundo, e não sou nenhum tolo em pensar que nunca teremos dificuldades enquanto estivermos juntos, mas sempre serei seu, não no sentido de prioridade…— Rylan relembra o que havia me dito uma vez e eu sorrio entre as lágrimas que caem pelo meu rosto. — Todo o casal passa por dificuldades, mas sei que conseguiremos vencer no final. Caramba, Rylan! Eu gosto mesmo de você! — E eu gosto ainda mais. — Teremos nossa primeira briga, porque é impossível você gostar mais de mim, penso em você a cada dez segundos. — Venci, porque penso em você a cada segundo. Reviro os olhos, e escuto um carro em alta velocidade se aproximar do jeep. — Rylan… acho que temos problema. Sinto arrepios ruins se manifestarem pelo meu corpo, ao ver que é o carro do meu pai. Eu sabia que ele não deixaria barato. — O que ele está tentando fazer?— Rylan pergunta e aumenta a velocidade, seguro no cinto de segurança, nervosa, pois se batermos nessa velocidade, provavelmente morreremos. — Estou com medo, Rylan. — Relaxe, vou despistar ele. Cruzamos um carro e dessa forma fica um pouco mais difícil de Bruce chegar até nós, mas não é o bastante, porque assim que olho para trás, o vejo tentando cruzá-lo também. — Ai meu Deus.— Fecho os olhos e começo a pedir a Deus para sair dessa, sou jovem demais para morrer. Mesmo estando quente, abraço o meu próprio corpo como se estivesse morrendo de frio. Rylan sai do lado direito da pista e ultrapassa mais um carro, com a respiração entrecortada eu me encolho no banco. O carro vira em uma curva e sinto como se o carro fosse sair da pista. — Você está bem? — Sim… Seguimos, mas Bruce não desiste, posso até imaginar a raiva dele sob o vidro do carro. Até sinto uma dor de barriga por causa do nervosismo, estou completamente instável. — Será que ele pegou uma das facas dele?— Falo assustada, mas Rylan sorri, pensando que é brincadeira.
— Faca? Sério? — Nem queira saber…— É uma longa história e não quero que Rylan perca a atenção da pista com a minha falácia. — Que droga, ele não sai de perto! Estamos entrando em outra cidade agora e Bruce continua de marcação cerrada, acelerando ainda mais o carro. Está tentando cruzar o carro atrás de nós, meu sistema nervoso está perto de um colapso. — Aconteça o que acontecer, espero que saiba que eu sempre escolheria você, Rylan. — Ei, nada acontecerá… Não sei porque, mas começo a pensar na música “Photograph” de Ed Sheeran. Minha vida inteira foi horrível, mas ele conseguiu torná-la algo bom, me fez perceber que nada é completamente ruim. Todas as vezes que conversávamos pelo telefone, eu olhava para a foto e pensava “como sou sortuda por viver isso com ele”, ou “talvez eu não cometa os mesmos erros da minha mãe”. Espero por um amanhã melhor e mais fácil, de alguma forma. Só quero que isso acabe. Olho mais uma vez para trás e fico em alerta quando Bruce finalmente consegue ultrapassar o carro, cada vez mais perto do jeep de Rylan. Por alguns segundos penso que nunca conseguirei me afastar dessa vida turbulenta. — Ai meu Deus.— Rylan fala e move o carro um pouco mais para a direita. Acho estranho, mas percebo o que quer dizer assim que me viro para a frente. — Ai meu Deus.— Vejo o carro vindo em direção ao carro de Bruce. Ai meu Deus, ele está na contramão, torço para que me pai desvie rápido e se livre, mas acho que não percebe o perigo e continua onde está. Para mim, é como se estivéssemos em slow motion, mas acontece muito rápido, os carros se chocam e como estão de frente um para o outro, a velocidade é somada. Estilhaços voam em nossa direção, pois o carro estava bem perto, fecho os olhos com força e perdemos o controle, o jeep de Rylan sai da pista, felizmente ele puxa o freio de mão e o carro reduz drasticamente a velocidade. Quando o carro para, a única coisa em que consigo pensar é no poder da raiva, por isso não quero isso para mim. Abro a porta e saio correndo, mesmo com dificuldade por causa desse maldito vestido, o estrago é visto de longe.
— Ai meu Deus.— Repito para mim mesma e dou pequenos passos em direção ao carro do meu pai. As lágrimas nublam a minha visão e Rylan me alcança com facilidade, segurando a minha mão e me puxando para perto. — Não veja isso, Juliet. Com a cabeça no peito do meu namorado, penso que não deveria olhar, mas preciso, até porque ele continua sendo o meu pai, mesmo depois de todas as coisas que fez e disse. — Eu quero… Ele concorda e me leva até o carro destroçado, engulo em seco e começo a me culpar, espero que Bruce tenha escapado, mas assim que o vejo, sei que não. — É minha culpa…— Digo entre soluços.— Ele… — Não é sua culpa, Juliet, ele fez isso. Choro até a ambulância apareça, e Rylan fica sussurrando que tudo ficará bem e beija a minha testa mais vezes do que consigo contar. Levam Bruce para dentro do carro, mas vejo os socorristas balançarem a cabeça em negativo, a cena é tão aterrorizante que me aconchego mais uma vez em meu namorado. — Cuidarei de você, Juliet, eu prometo. Rylan me leva até o seu carro e peço que me leve até a minha mãe antes de ir ao hospital, não sei como será a minha vida daqui para a frente, mas espero que melhore. — Sinto muito, Juliet, estou me sentindo culpado também. — Rylan! Não somos culpados pela raiva de Bruce. A estrada escura me causa uma sensação de vazio, o meu pai acabou de morrer na minha frente e tudo o que penso é no perdão, mesmo que ele tenha me lançado ódio até o último segundo de vida, espero que saiba que eu o amei. Afinal, ele era o meu pai. Mando uma mensagem para a minha mãe contando o que aconteceu, e ela me liga automaticamente. — Bruce morreu? — Sim.— Minha voz está fanhosa porque chorei muito e logo a minha mãe está chorando também. Uma morte nunca é motivo para a felicidade e eu, sinceramente gostaria de deletar esse dia da minha vida, infelizmente não posso fazer nada além de tentar seguir em frente.
Capítulo 33 6 meses depois
— Como você se vê daqui há alguns anos? Mostro o meu melhor sorriso e enquanto dou o autógrafo, penso na resposta. — Não gosto de pensar no futuro, pelo menos, não mais. O presente precisa ser apreciado. Nunca imaginei que fosse tão prazeroso falar isso, mas o meu presente está bom demais, não quero mais pensar no que ainda vai acontecer.
— Gostei muito do seu livro.— Diz e suas bochechas ficam rosadas. — Fico grata ao saber disso. Aconteceram muitas coisas ruins na minha vida, mas um mês depois que o meu pai morreu, uma editora pediu para assinar um contrato comigo, e foi uma experiência incrível. Agora, depois de tanta espera, é o dia do lançamento. Enquanto a próxima pessoa da fila não se aproxima, dou uma espiada para tentar encontrar o meu namorado, mas não o encontro em nenhum lugar. As vezes ele se atrasa e isso me deixa louca da vida! — É um prazer conhecer você, Juliet.— Outra jovem sorridente aparece no meu campo de visão e me entrega outro exemplar de “Assunto delicado”. — Eu que fico lisonjeada em te conhecer. Cada mensagem que recebi de apoio esses meses me fizeram uma mulher mais forte, e Rylan esteve por trás de tudo isso, me dando suporte, me ajudando. Ele comprou um apartamento perto da faculdade e me implorou para mudar com ele… a resposta até agora foi não. A minha mãe ficou bem mal depois que Bruce morreu, mas já está quase superando, e os patrocinadores da empresa estão a ajudando(ela tem um pouco de dificuldade com as finanças, então precisou de muita ajuda), a vida tem que seguir, principalmente quando temos liberdade. A liberdade é incrível, agora posso sair com Rylan para todo o lugar, sem me importar com o que me pai vai achar. Sobre Henri, aquele traste se mudou depois que o deixei no altar, e fico feliz por não ter que encará-lo. Depois de autografar e tirar fotos com as minhas leitoras, escutamos o som de um violão, procuro ao meu redor, mas não encontro nada. O amor é uma coisa engraçada Sempre que eu dou, ele vem de volta para mim E é maravilhoso estar Dando com todo o meu coração Enquanto meu coração recebe Seu amor Oh, não é bom termos um ao outro nesta noite? E estou ao seu lado Mais do que apenas um parceiro ou um amante Sou seu amigo
Quando você ama alguém Seu coração bate tão alto Quando você ama alguém Seus pés não podem sentir o chão Parece que todas as estrelas brilhantes Se reúnem em torno do seu rosto Quando você ama alguém Ele vem de volta para você Quase engasgo ao ver Rylan com o seu violão pendurado no pescoço, cantando para mim, os olhos grudados nos meus, como se eu fosse o centro do seu universo. Do universo que criamos para nós. As leitoras estão suspirando junto comigo, o meu namorado é gato para caramba e está cantando para mim, não há coisa mais sexy. Assim que a canção termina, ele vem até mim e o meu sorriso divertido esmorece quando Rylan ajoelha-se na minha frente, tira uma caixinha do bolso e abre para mim. — Juliet, sempre falei que quero casar com você, mas nunca pedi formalmente, então, aqui estou eu, deixando todo o meu orgulho de lado e me ajoelhando para você.— Ele sorri e eu faço o mesmo, a única diferença é que estou chorando. — Seu bobo, falei que não queria casar!— Não deu muito certo da última vez, mas o tom da minha voz é meloso, pois depois de tudo o que ele fez por mim, eu retribuiria o favor, alegremente. — Umas quarenta vezes… Limpo a meleca que está escorrendo pelo meu nariz, pois não é algo muito agradável de ver. — Juliet, sempre que estamos juntos o meu coração acelera, e sinto que nunca estamos perto o suficiente. Quero passar cada segundo do meu dia ao seu lado. — Isso soou um pouco estranho, é como se você fosse um stalker.— Brinco para descontrair e Rylan se levanta até estarmos muito próximos. — Já falei que sou ciumento… — Ih, agora que lembrou isso não sei se quero casar.— Enlaço os braços no seu pescoço e sua boca encosta na minha testa, os lábios ficam ali por alguns segundos. Antes que eu lembre da plateia e fique envergonhada. — Quero que seja a minha esposa, Juliet, que tenha o meu nome, pois
meu coração já é seu. Franzo a testa e sorrio, não tem como ser mais fofo que isso, então assinto loucamente. — Isso é um sim? — Rylan, porque sempre me pergunta isso? Algumas coisas nunca mudam… — Pode repetir? Quero escutar a sua voz respondendo a pergunta. — Sim, Rylan, eu aceito compartilhar a minha vida com você. Gostou, stalker? — Essa é a minha garota! Todos murmuram um “Own” quando Rylan coloca a aliança de compromisso no meu dedo anelar, estou tão cheia de amor dentro de mim que sinto como se fosse explodir. — Eu amo você.— Ele sussurra em meu ouvido e meus pelos ficam eriçados com o contato de pele com pele. Isso me pega de surpresa, mas depois de viver com Bruce, palavras são apenas palavras. É bom saber que são genuínas e me sinto amada de verdade. — Amo você, do tamanho do universo. Caro leitor, eu realmente o amo. Muito.
Segunda nota da autora Quando eu estava escrevendo esse livro, precisei pensar com Juliet, porque a personagem é inspirada em mim e no meu otimismo além do normal. Realmente espero que tudo fique bem no final das contas, mesmo com toda turbulência. Rylan não é perfeito como vocês puderam ver, mas ele sempre trata Juliet com gentileza, eu queria guardá-lo num potinho de tão fofo. Bruce, infelizmente não é fruto da minha imaginação de escritora, algumas frases dele são reais, e graças a Deus, algumas ações dele não aconteceram(mas poderiam). Como todo autor nacional se vende sozinho, peço para que avaliem o livro, amarei saber o que cada um achou dele. Sinta-se abraçado. Beijos, Mithi. Timidez é sentir vergonha, já a introversão é não gostar de lugares movimentados e ficar sentindo exaustão por isso. [2] Foi um ator norte-americano. Ícone de rebeldia da sua época. [1]
Paixão, quedinha por alguém.
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